UNIDADE I – INTRODUÇÃO À LÓGICA II
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UNIDADE I – INTRODUÇÃO À LÓGICA II
1.1 Lógica e argumentação
Podemos dizer que a unidade básica da lógica é o argumento,
pois nele se encadeiam, de um modo que pretendemos correcto,
uma série de razões que nos levam a uma conclusão. A lógica
ensina-nos a pesar, a consciencializar as exigências que
presidem a um pensamento válido. Para tal, ensina-nos a
analisar o encadeamento de provas, procurando verificar até
que ponto elas se justificam.
O argumento
Na vida quotidiana, um argumento é frequentemente sinónimo de
discussão e esta de litígio. Daí por vezes associarmos
argumento a zanga. Contudo, no plano filosófico, o argumento
perspectiva-se num domínio de estrita racionalidade,
procurando-se encadear razões de um modo lógico, sustentando
que é absurdo seguir caminhos diferentes. Portanto, um
argumento destina-se a resolver dissidências e não provocá-
las.
Assim, designamos por argumento ao conjunto de razões que
apresentamos de modo a tornar óbvia uma conclusão. O nosso
interesse é mostrar aos nossos interlocutores que temos
“razões” para aderir a esta ou àquela posição que defendemos.
O que diferencia um argumento de uma descrição é o facto de
nos apresentar razões (indicadores lógicos do argumento) a
favorecerem ou desfavorecerem uma dada conclusão. Por exemplo:
as publicidades.
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Por isso, a linguagem não serve apenas para comunicar. Ela
permite: influenciar as outras pessoas e determinar as suas
convicções e os seus actos; exprimir e “impor” valores
julgados preferíveis e aprovar ou desaprovar atitudes, de
acordo com critérios assentes na força dos argumentos que
legitimam tais aprovações ou desaprovações.
Com base na lógica, não só distinguimos os argumentos válidos
dos inválidos, também compreendemos por que razões os mesmos
são correctos ou incorrectos.
Normalmente, num argumento envolvem-se os interlocutores (o
orador e o auditório) e as razões (provas prós ou contras).
Em lógica, um argumento é válido quando a conclusão do mesmo
decorre das razões que o sustentaram e é inválido quando não
decorre dessas razões.
Argumentar e argumentação
Argumentar é fornecer razões que sejam a favor ou contra uma
determinada tese. A argumentação constitui um acto, por um
lado, de pensamentos e de discurso, o que implica a produção
de proposições, ou seja, enunciados, teses e opiniões que
requerem justificações e provas demonstrativas. Ela ocorre num
acto de comunicação entre interlocutores com uso de princípios
lógicos. Desta forma, a argumentação difere da demonstração
que apenas produz argumentos válidos.
A finalidade da argumentação
Toda a argumentação tem uma das duas finalidades: persuadir
(que com argumentos preferenciais e de ordem emocional procura
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convencer o auditório) ou refutar (negar uma determinada
proposição).
Com a capacidade de dialogar, a competência argumentativa
remete para uma atitude de abertura em relação aos outros;
mostrar-se disponível falar ou influenciar/ouvir e ser
influenciado, o que implica que os interlocutores se
apresentam de igual para igual, no que diz respeito ao direito
de cada um aderir ou de resistir os argumentos do outro.
Podemos concluir que argumentar (e contra-argumentar ou
refutar) implica e exige: tolerância; generosidade
intelectual; respeito pelo outro e pela sua opinião e o
reconhecimento do nosso direito e do outro.
1.2 Noção do juízo e proposição
Enquanto o conceito é a primeira operação da mente, o juízo é
uma espécie da segunda operação da mente, que consiste no
estabelecimento duma relação entre dois ou mais conceitos.
Portanto, o juízo é o acto mental pelo qual a inteligência
afirma ou nega uma coisa da outra. Um juízo é verdadeiro
quando se adequa com a realidade e falso quando não se adequa.
Por exemplo: O Mário é professor. Esta afirmação será
verdadeira quando, de facto, o Mário for professor, pelo
contrário será falsa.
Um ponto importante é de que só os enunciados que exprimem
verdades e falsidades devem ser considerados juízos, pois são
eles que expressam uma relação de concordância ou discordância
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entre dois conceitos ou termos (sujeito e predicado). Assim,
termos soltos não constituem juízos: Lurdes Mutola.
A proposição é a expressão verbal do juízo. No entanto, nem
todas as proposições Gramaticais são loiças. Por exemplo: o
jantar está pronto? (proposição interrogativa); faz o que
deve! (proposição imperativa); meu Deus! (interjeições).
Estrutura do juízo
Todo o juízo é constituído por três elementos fundamentais:
Sujeito (S) – aquilo acerca da qual se afirma ou se nega
algo. A coisa de que ou de quem se fala.
Predicado (P) – é a qualidade ou característica que se
afirma ou se nega pertencer ao sujeito.
Copula – é o elemento de ligação entre o sujeito e o
predicado, representado pelo verbo "ser".
Exemplo: Alguns alunos são inteligentes. Sujeito – alunos;
predicado – inteligentes; cópula – são.
Aos três elementos fundamentais do juízo se acrescenta um
necessariamente: o quantificador que indica se o predicado é
atribuído a todos os elementos da extensão do sujeito ou a uma
parte deles, ou se não é atribuído a qualquer deles.
Juízo categórico
Juízo categórico é todo aquele que afirma ou nega, sem
reservas a relação entre sujeito e predicado. Eles são
introduzidos pelos quantificadores todo ou todos, nenhum e alguns.
Trata-se da forma padrão do juízo que possui quatro elementos:
quantificador, sujeito, cópula e predicado.
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Todo Homem e
mortal
Quantificador
Sujeito Copula Predicado
1.3 Classificação dos juízos
1. Quanto à quantidade:
Universais
O predicado se aplica a todaextensão do sujeito
Ex: Nenhum Homem éCão
Particulares
O predicado se aplica apenas auma parte da extensão dosujeito
Ex: Alguns homenssão inteligentes
Singulares
O predicado se refere a únicoindividuo
Ex: A Clarinda éaluna
2. Quanto à qualidade:
Afirmativos
O predicado é afirmado emrelação ao sujeito
Ex: A Suzana é umarapariga obediente
Negativos
Quando a cópula indica que opredicado não é aplicável aosujeito
Ex: O Ruben não éum bom estudante
3. Quanto à inclusão ou não inclusão do predicado no sujeito:
Analíticos
Quando o predicado estácompreendido no sujeito
Ex: O quadrado temquatro lados iguais
Sintéticos
Quando o predicado não estácontido na noção do sujeito
Ex: Os Macuas sãopacíficos
4. Quanto à dependência ou não da experiencia:
A prior A sua veracidade pode ser Ex: O quadrado tem
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conhecida independentemente daexperiência
quatro lados iguais
Aposterior
A sua veracidade só pode serconhecida através daexperiência
Ex: Os chineses sãobaixinhos
5. Quanto à relação ou condição:
Categóricos
Há afirmação ou negação semreservas
Ex: O Homem é mortal
Hipotéticos
Há afirmação e negaçãocondicionais
Ex: Se fores, tambémvou
Disjuntivos
A afirmação dum predicadoexclui outros
Ex: Nita estuda ou joga
6. Quanto à modalidade:
Assertórios
Enunciam uma verdade defacto, embora nãonecessária logicamente
Ex: A Lurdes Mutola éuma atleta exemplar
Problemáticos
Enunciam uma possibilidade Ex: Os macuas sãoprovavelmenteapreciadores de carne
Apodícticos
São necessariamenteverdadeiros
Ex: O triângulo temtrês lados.
7. Quanto à matéria:
Necessários O predicado convém enão pode não convir aosujeito
Ex: O círculo éredondo
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Contingentes O predicado convém defacto ao sujeito maspoderia não convir
Ex: O Márioreprovou no exame
Impossíveis ouabsurdos
O predicado não podeconvir ao sujeito
Ex: O quadrado éredondo
Os tipos de proposições categóricas
Na combinação entre a qualidade e quantidade, surgem quatro
juízos categóricos: A, E, I, O. Estes são resultado do AFIRMO
(A e I) e NEGO (E e O), sendo:
Tipo Qualidade Quantidad
e
Exemplo
A Afirmativo Universal Todo S é PTodo macua é honesto
E Negativo Universal Nenhum S é PNenhum macua é honesto
I Afirmativo Particula
r
Algum S é PAlgum macua é honesto
O Negativo Particula
r
Algum S não é PAlgum macua não é honesto
1.4 Raciocínio e argumento
O raciocínio é uma operação mental a partir da qual passamos
de juízos conhecidos para um ou mais juízos novos até então
desconhecidos e que são o seu fim lógico. Enquanto operação
mental, o raciocínio é composto por juízos e argumento.
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O argumento é a expressão oral ou mental do raciocínio
composto por proposições. Ele é o resultado da relação entre
as diversas proposições que constituem um raciocínio.
1.4.1 Inferência
A inferência é o processo mental (raciocínio) a partir do
qual, partindo de uma ou mais proposições, se passa para
outra, ou outras, cuja conclusão lógica ou verdade resulta da
verdade das premissas. A inferência parte de um ou mais juízos
(premissas), para chegar chegar a um outro, a conclusão.
Por exemplo:
Todos os filósofos são sábios (premissa 1)
Alguns moçambicanos são filósofos (premissa 2)
Alguns moçambicanos são sábios (conclusão)
Tipos de inferências
1.4.1.1 Inferência imediata
São aquelas que se obtêm directamente sem qualquer novo termo
intermediário. A proposição dada e a inferida contêm os mesmos
termos. Ou seja, é quando duma só proposição se conclui outra.
Estas se obtêm pelos processos de oposição e conversão das
proposições.
Exemplo: Todos os filósofos são respeitosos
Logo, alguns respeitosos são filósofos.
Oposição das proposições nas inferências imediatas
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A oposição ocorre quando duas proposições têm o mesmo sujeito
e o mesmo predicado mas diferem quer na quantidade quer na
qualidade.
Tipos de oposições de proposições e suas leis
a) Proposições contrárias
Duas proposições universais que diferem pela qualidade chamam-
se contrárias – AE. Designam-se contrárias, quando duas
proposições não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, mas
podem ser ambas falsas, quando são da expressão de um juízo
assertório, isto quando o seu predicado é acidental.
Exemplo: (AE). Todo Homem é animal racional (A) e Nenhum Homem
é animal racional (E).
b) Proposições subcontrárias
Duas proposições particulares que diferem pela qualidade são
subcontrárias – IO. São subcontrárias quando duas proposições
podem ser ambas verdadeiras, quando são da expressão de um
juízo assertório, mas não falsas ao mesmo tempo. Isto é, se
uma é falsa, a outra pode ser verdadeira ou falsa, isto é,
duvidosa.
Por exemplo: (IO) – Alguns homens são animais racionais
(I) e alguns homens não são animais racionais (O).
c) Proposições subalternas
Duas proposições que diferem pela quantidade chamam-se
subalternas. Segundo a lei das proposições, dizem que são
subalternas quando a verdade da proposição universal implica a
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da proposição particular subordinada, a falsidade universal
não acarreta da particular, a verdade da particular não
determina a da universal, a falsidade da particular exige a
falsidade da universal.
Exemplo: AI – Todo Homem é animal racional (A) e alguns homens
são animais racionais (I). EO – Nenhum Homem é animal racional
(E) e alguns homens não são animais racionais (O).
d) Proposições contraditórias
As duas proposições diferem ao mesmo tempo pela qualidade e
quantidade que se chama contraditórias.
Segundo a lei das proposições, designa-se contraditória quando
duas proposições não podem ser verdadeiras nem falsas ao mesmo
tempo. Se uma é verdadeira, a outra é falsa e vice-versa.
Exemplo: AO – Todo Homem é animal racional (A) e alguns homens
não são animais racionais (O). EI – Nenhum Homem é animal
racional (E) e alguns homens são animais racionais (I).
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Quadro lógico da oposição das proposições
Conversão das proposiçõBes nas inferências imediatas
A inferência pode também ser feita por transposição de termo:
trocando o sujeito pelo predicado e o predicado pelo sujeito.
Para tal é preciso observar as seguintes regras: os termos
permutados não podem ter maior extensão na conclusão do que
tinham na proposição conversa, mas podem ser de extensão
menor.
Tipos de conversão
a) Conversão simples, como nas proposições do tipo E
(universais negativas) e as do tipo I (particulares
afirmativas); as primeiras são universais e as segundas
são particulares, por isso, só neste caso se pode fazer a
conversão simples. Exemplo:
Nenhum metal é gásNenhum gás é metal
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Nesta proposição, conserva-se a mesma qualidade e quantidade.
Convertem-se também simplesmente, as proposições chamadas
recíprocas, ou equivalentes do tipo A; por exemplo:
O triângulo é um polígono de três lados
O polígono de três lados é um triângulo
b) Conversão por limitação, nas proposições do tipo A, o
sujeito é universal e o predicado particular, por isso,
ao converter a proposição, teremos que manter, na
conversa, a mesma extensão do predicado, de modo que
passe de universal à particular (I).
Exemplo:
Todos os homens são seres vivos
Alguns seres vivos são homens
c) Conversão por negação, nas proposições do tipo O, o
sujeito é particular e o predicado universal para
respeitar a validade da conversão, que não podemos
converter simplesmente porque o sujeito fica com maior
extensão, por isso, recorre a um artifício que consiste
em transformar a proposição a converter numa proposição
particular afirmativo (I) equivalente, o que consegue
transferir a negação cópula para o predicado.
Exemplo: Alguns homens não são pais
Alguns homens são não pais
Alguns não pais são homens
d) Conversão por contraposição – pouco usada e violenta,
obtém-se juntando uma negação ao sujeito e outra ao
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predicado e invertendo, em seguida, a ordem dos termos.
Pode aplicar-se às proposições de tipo A e O.
Exemplo: Todo o homem é mamífero
Todo o não homem é não mamífero
Todo o não mamífero é não homem
1.4.1.2 Inferência mediata (raciocínio)
Trata-se de uma inferência mediata quando se conclui uma
proposição de várias proposições. Estas constituem o processo
do raciocínio. Já aparece pelo menos um termo novo que serve
de mediador entre os restantes termos. Exige mais do que dois
termos (normalmente três, servindo um termo médio) e mais do
que uma proposição.
Exemplo: Todo o Homem é mamífero
Ora, O António é homem
Logo, o António é mamífero
Tipos de raciocínio
Tradicionalmente, as inferências mediatas ou raciocínios
dividem-se em três grupos: raciocínios dedutivos, indutivos e
raciocínios por analogia.
a) Raciocínio dedutivo – é aquele que de uma ou mais
premissas tira uma conclusão e que parte do mais geral ao
particular. Vai da causa ao efeito, da lei ao facto
concreto.
Exemplo: Todos os moçambicanos são pacíficos
Muapitão é moçambicano
Muapitão é pacífico
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b) Raciocínio indutivo – é todo aquele que vai do particular
ao geral, do efeito a causa, do facto à lei.
Exemplo: Jorge, Ana é inteligente; Maria é inteligente;
Fany é inteligente
Ora, Jorge, Ana, Maria, Fany são moçambicanos
Logo, Todos moçambicanos são inteligentes
c) Raciocínio analógico – é todo aquele que infere de uma
verdade particular para outra verdade também particular
por semelhança. Portanto, a analogia é um tipo de
raciocínio muito vulgar em senso comum também no âmbito
científico, especialmente no campo da biologia.
Por exemplo: em presença de dois doentes com o mesmo tipo
de sintoma, o médico conclui tratar-se da mesma doença,
assim, está a fazer o uso do raciocínio por analogia.
1.5 O silogismo
1.5.1 Noção do Silogismo
O silogismo é um raciocínio formado por três proposições em
que das duas primeiras, chamadas premissas, originam uma
terceira, chamada conclusão lógica. Exemplo:
Todo o homem é mortalO João é homem O João é mortal
1.5.2 Estrutura e matéria do Silogismo
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Todo silogismo regular é formado por três proposições, sendo
as duas proposições, as premissas: premissa maior (a primeira)
e a premissa menor (a segunda) e, a última, a conclusão e por
três termos comparados, dois a dois: termo maior (P), termo
médio (M) e termo menor (S).
As proposições e termos constituem a matéria do silogismo; os
termos são matéria remota e as proposições são a matéria
próxima. A ordenação dos termos e das proposições, de acordo
com as oito (8) regras do silogismo (que trataremos
posteriormente) constituem a forma ou estrutura do silogismo.
Por exemplo:
Todo o homem é mortal (M e P) – premissa maiorO João é homem (S e M) – premissa menorO João é mortal (S e P) – conclusão
Partindo deste exemplo, explicamos detalhadamente os termos e
as proposições:
Os termos:
Esses são os três termos do silogismo (P, M, S). Em cada
premissa teremos relações dos dois (P e S) com um terceiro (M)
– M é P, S é M) ou P não é M, S é P.
Detalhadamente teremos:
Termo maior (P) ou (T) é aquele que tem maior extensão. É
sempre o predicado da conclusão. Do exemplo dado é:
mortal.
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Termo menor (S) ou (t) é aquele que tem menor extensão e
ocupa sempre o lugar de sujeito na conclusão. Do exemplo
dado é: João
Termo médio (M) é aquele cuja extensão é intermediária
entre o maior e o menor e permite a relação destes, por
isso, repete-se nas premissas. Nunca entra na conclusão.
Do exemplo dado é: homem.
Em suma, no silogismo cada um dos termos aparece duas vezes: o
médio repete-se nas premissas (homem); o maior e o menor que
também se chamam extremos repetem-se nas premissas e na
conclusão. A repetição é indispensável para que seja possível
a comparação dos termos; sem isso nenhuma conclusão seria
possível.
As proposições:
Premissa maior – é a proposição que contêm o termo maior ou o
predicado da conclusão. E o termo médio; em geral, é a
primeira. Do exemplo dado é: Todo o homem é mortal.
Premissa menor – é a proposição que contém o termo menor ou
sujeito da conclusão e o termo médio; em geral é a segunda. Do
exemplo dado é: o João é homem.
Conclusão – é a proposição que contém o termo maior e menor; o
sujeito da conclusão é o termo menor e o seu predicado é o
termo maior. O termo médio não entra na conclusão mas repete-
se nas premissas. Do exemplo dado é: o João é mortal.
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Estrutura do silogismo TRÊS TERMOS
Dois extremos Interméd
io
Menor Maior Médio
TRÊS
PROPOSIÇÕES
Duas
Premissa
s
Maior * *
Menor * *
Conclusão * *
1.5.3 Princípios do silogismo
A dedução funda-se no princípio de identidade que se enuncia
da seguinte maneira, assim, existem dois princípios
fundamentais do silogismo:
Princípio de compreensão
Duas coisas ou ideias iguais a uma terceira são iguais
entre si.
Exemplo 1: A=B; B=C; logo, A=C.
Duas coisas ou ideias em que uma é idêntica e a outra não
é idêntica a uma terceira, não são idênticas entre si.
Exemplo: A=B; B≠C; logo, A≠C.
Princípio de extensão
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Tudo o que se afirma ou se nega universalmente do sujeito
é afirmado ou negado das suas partes.
Exemplo: se afirmamos que “todos moçambicanos são humildes”;
quer dizer, os de Nampula, Zambézia, Sofala, etc., e cada um
dos moçambicanos é humilde.
1.5.4 Regras do silogismo
Todo o silogismo que pretende ser válido, para além de
princípios, tem de se conformar a oito (8) regras
particulares: quatro (4) relativas aos termos e quatro
relativas às proposições ou premissas:
a) Regras dos termos
1ª. Os termos são três: médio, maior e menor. Viola-se esta regra quando
se usa um termo equívoco (com mais de um significado).
Exemplo:
Há animais que têm quatro patas.
Ora, as mesas têm quatro patas.
Logo, as mesas são animais.
2ª. Nenhum termo deve ter maior extensão na conclusão que nas premissas.
Exemplo:
Os africanos são homens
Ora, os russos não são africanos
Logo, os russos não são homens
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3ª. O termo médio deve ser tomado, pelo menos, uma vez, universalmente. De
contrário seria tomado em duas extensões diferentes. Portanto,
com dois significados diferentes.
Exemplo:
Os homens não são todos altos
Os gigantes são homens
Os gigantes não são todos homens.
4ª. O termo médio nunca pode entrar na conclusão.
Por exemplo:
Maria é curiosa
Maria é bela
Maria é uma bela curiosa
b) Regras das proposições
5ª. De duas premissas afirmativas, não se pode tirar uma conclusão negativa.
Por exemplo:
Tudo o que respira vive.
Ora, eu respiro.
Logo, eu não vivo
6ª. De duas premissas negativas nada se pode concluir.
Por exemplo:
O António não é o filho de Nilza
O Pedro não é filho da Nilza.
……………………….(?)
Que parentesco existe entre António e Pedro? A pergunta não
tem sentido.
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7ª. De duas premissas particulares nada se pode concluir. Porque o termo
médio não será tomado nenhuma vez universalmente.
Exemplo:
Há homens que são virtuosos
Há homens que são pecadores
Logo, os pecadores são virtuosos
8ª. A conclusão segue sempre a parte mais fraca. Ao aplicar esta regra
temos que ter em conta que a particular é a mais fraca que a
universal, a negativa mais fraca que afirmativa.
Exemplo:
A virtude é digna de louvor
Alguns homens têm virtude
Alguns homens são dignos de louvor
1.5.5 Figuras e modos do silogismo
1.5.5.1 Figuras do silogismo
As figuras do silogismo são determinadas pelo papel que o
termo médio (M) desempenha nas duas premissas; pode tomar
conforme a colocação (ou posição), o lugar de sujeito ou
predicado.
São quatro, as figuras possíveis:
1ª. O termo médio é sujeito da premissa maior e predicado da premissa menor
(Sub – Prae).
Por exemplo:
Todo o mamífero é vertebrado (M é P)
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O cão é mamífero (S é M)
O cão é vertebrado (S é P)
2ª. O termo médio é predicado das duas premissas (Prae - Prae).
Por exemplo:
Toda a mãe é mulher (P é M)
Joana é mulher (S é M)
Joana é mãe (S é P)
3ª. O termo médio é sujeito nas duas premissas (Sub - Sub).
Por exemplo:
Os morcegos são mamíferos (M é P)
Os morcegos são voadores (M é S)
Alguns voadores são morcegos (S é P)
4ª. O termo médio é predicado na maior e sujeito na menor premissas (Prae –
Sub).
Por exemplo:
Os africanos são homens (P é M)
Os homens são racionais (M é S)
Alguns racionais são africanos (S é P).
1.5.5.2 Modos do silogismo
Entendemos por modo do silogismo as variantes estruturais que
apresenta dentro de cada figura, devido à quantidade e qualidade
das respectivas proposições.
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Estudamos que combinando a quantidade com a qualidade obtemos
quatro tipos de proposições: A, E, I, O.
Combinando estas letras em grupos possíveis de três
proposições, obteríamos 64 combinações para cada figura. E,
englobando os 64 modos possíveis nas quatro figuras obteríamos
256 possíveis combinações. É evidente que a quase totalidade
destes modos possíveis são ilegítimos por violarem as regras
do silogismo já referidas.
Assim, os modos legítimos são apenas 19, distribuídos pelas
quatro formas.
Para a 1ª figura – BARBARA (AAA), CELARENT (EAE), DARRII (AII),
FERIO (EIO) – quatro (4) modos.
Para a 2ª figura – CESARE (EAE), CAMESTRES (AEE), FESTINO (EIO),
BAROCO (AOO) – quatro (4) modos.
Para a 3ª figura – DARAPTI (AAI), DISAMIS (IAI), DATISI (AII),
FELAPTON (EAO), BOCARDO (OAO), FERISON (EIO) –
seis (6) modos.
Para a 4ª figura – BRAMANTIP (AAI), CAMENES (AEE), DIMARIS (IAI),
FESAPO (EAO), FRESISON (EIO) – cinco (5) modos.
Em suma, existem 19 modos de silogismos válidos, distribuídos
nas quatro figuras, que resultam de várias combinações
possíveis dos quatro tipos de proposições (AEIO), sem
infringir qualquer regra do silogismo.
1.5.6 Classificação dos silogismos
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Existem dois principais tipos de silogismo: categóricos e
hipotéticos. Os silogismo categóricos dividem-se em regulares
e irregulares e, até agora vimos apenas os silogismos
categóricos regulares cuja estrutura apresenta três termos e
três proposições.
Silogismos irregulares
Sendo que, normalmente, não seguimos as formas mais perfeitas
de raciocínio, aparecem os silogismos irregulares como
resultado da omissão ou ampliação dos elementos que constituem um
silogismo regular. Os principais tipos de silogismos
irregulares são: entimema, epiquerema, polissilogismo e sorites.
Entimema (ou silogismo incompleto) – é um silogismo
simplificado pela omissão duma das premissas, que se
subentende facilmente.
Exemplo:
Os homens são mortais
Logo, Pedro é mortal
Epiquerema – é um silogismo em que as premissas exibem uma
justificação.
Exemplo:
A ciência é útil, porque ensina ao homem a verdade
A lógica é uma ciência, porque é um conjunto de verdades
Logo, a lógica é útil.
Polissilogismo – é um encadeamento de silogismos em que a
conclusão do primeiro é a premissa maior do segundo; a
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conclusão deste é a premissa maior do terceiro; e, assim,
sucessivamente.
Exemplo:
Todo mamífero é vertebrado
Todo o carnívoro é mamífero
Logo, Todo o carnívoro é vertebrado
Todo o felino é carnívoro
Logo, Todo o felino é vertebrado.
Sorites – é o argumento em que quatro (4) ou mais proposições
estão de tal modo enlaçados que o predicado duma é sujeito da
seguinte e, na conclusão, aparecem ligados o sujeito da
primeira e o predicado da última.
Exemplo:
A alma humana é imaterial
O imaterial é simples
O simples é indecomponível
O indecomponível é incorruptível
O incorruptível é imortal
Logo, A alma humana é imortal
Silogismos hipotéticos
Nos silogismos hipotéticos não se afirma nem nega nada
rotundamente como acontece nos silogismos categóricos; mas
afirma-se ou nega-se sob uma condição ou estabelecendo uma
alternativa. Por isso, a premissa maior de um silogismo
hipotético é constituída por duas ou mais proposições simples
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cujas ligações são feitas por conectores como: “se…então; …e…; …
ou…”.
Os silogismos hipotéticos podem ser: condicionais,
disjuntivos, conjuntivo e dilema.
Silogismo hipotético condicional – atende às relações de
consequência entre proposições. Estabelece uma relação entre o
antecedente e o consequente (condição e condicionado).
Exemplo:
Se aquecermos um corpo metálico ele dilata-se
Este corpo metálico não se dilatou
Logo, não foi aquecido.
No silogismo hipotético condicional encontramos duas figuras:
1ª figura: ponendo – ponens (tradução literal: “ao colocar…
coloca-se”). O antecedente coloca-se na premissa menor, o que
leva a que a conclusão afirma consequente.
Exemplo:
Se um animal bebe leite em pequeno é mamífero (premissa maior)
O cão bebe o leite em pequeno (premissa menor)
Logo, o cão é mamífero (conclusão)
2ª figura: tollendo – tollens (à letra: ao excluir…exclui).
Nesta figura, a premissa maior continua a ser uma proposição
hipotética, a menor nega a consequente e a conclusão nega o
antecedente.
Exemplo:
Se um animal bebe leite em pequeno é mamífero (premissa maior)
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O peixe não é mamífero
Logo, o peixe não bebe o leite em pequeno.
Regras do silogismo hipotético condicional
1ª regra – num silogismo hipotético condicional, a negação ou
afirmação da consequente torna necessário a negação ou
afirmação do antecedente. Assim, afirmar ou negar a condição é
afirmar ou negar o condicionado.
2ª regra –negar a consequente significa negar a condição.
Silogismo hipotético disjuntivo – aquele que estabelece uma
alternativa entre dois termos ou mais atributos, mas de tal
modo que afirmando um deles, os restantes serão negados em
bloco e negando um ou vários, o outro será afirmado.
Exemplo:
Ou João é do Sporting ou do Benfica
Ora, João é do Sporting
João não é do Benfica
Este tipo do silogismo tem duas formas ou modos válidos:
Modus ponendo – tollens (ao afirmar, nega). Nesta figura, a
premissa maior anuncia uma disjunção exclusiva. Veja o exemplo
anterior.
Modus tollendo – ponens (negando, afirma).
Exemplo:
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Ou Helena é nervosa ou é paciente
Ora, Helena não é nervosa
Logo, Helena é paciente.
Silogismo hipotético conjuntivo
Neste tipo de silogismo, a premissa maior não admite que dois
termos opostos prediquem simultaneamente um mesmo sujeito.
Exemplo 1:
Vaquina não pode ser, simultaneamente, professor moçambicano e
americano.
Como Vaquina é professor moçambicano, logo, ele não é
professor americano.
Exemplo 2:
Muapitão não pode ser preguiçoso e dedicado ao mesmo tempo.
Muapitão não é preguiçoso
Logo, ele é dedicado.
Modus ponendo – tollens (afirmando, nega). Nesta figura, a
premissa maior anuncia uma disjunção exclusiva. Veja o exemplo
anterior. Veja o exemplo 1.
Modus tollendo – ponens (negando, afirma). Veja o exemplo 2.
Dilema
É um argumento formado por uma proposição disjuntiva e duas
condicionais que levam, seja qual for a condição admitida
conduz à mesma conclusão. É famosa faca de dois cumes (entre a
28
espada e a parede). Qualquer seja a opção escolhida, a
consequência é sempre a mesma.
Exemplo:
Ou sabes que sabes, ou sabes que não sabes
Se sabes que sabes, sabes alguma coisa
Se sabes que não sabes também sabes alguma coisa
Logo, em qualquer dos casos, sabes.
Regras do dilema
1ª Regra – a disjunção deve ser completa para que o adversário
não tenha outra saída.
2ª Regra – a refutação de cada uma das hipóteses deve ser
feita validamente para que o opositor não possa negar as
consequências.
3ª Regra – a conclusão deve ser a única que pode ser deduzida,
caso contrário, o dilema pode ser contestado.
1.6 Falácias e paradoxos
1.6.1 Falácias
Falácia é todo raciocínio que tem, embora aparências de
verdadeiro, é um raciocínio incorrecto. E, como o erro pode
ser involuntário (pois o homem está sujeito a enganar-se) ou
voluntário (quando há intenção de enganar alguém), as falácias
podem-se dividir em: paralogismos e sofismas.
Paralogismo – quando o homem se engana involuntariamente.
Sofismas – quando há intenção de enganar alguém, isto é,
enganar duma forma voluntária.
29
Assim, em qualquer falácia ocorrem dois elementos essenciais:
uma verdade aparente e um erro oculto.
Importa-nos destacar as diferentes espécies dos sofismas que
constituem erros voluntários.
Num raciocínio incorrecto, o erro tanto pode originar-se nas
palavras empregadas como na conexão das ideias. Assim temos:
a) Sofismas verbais (ou gramaticais)
b) Sofismas lógicos (ou das ideias).
a) Os sofismas verbais mais ocorrentes, cujo erro se
encontra na linguagem empregada são:
Ambiguidade ou equívoco que é o uso indevido do mesmo
termo com diferentes significações.
Exemplo:
Só o homem é que pensa
Ora, nenhuma mulher é homem
Logo, nenhuma mulher pensa.
Metáfora – resulta da confusão originada pelo emprego de
um termo em sentido figurado.
As águias romanas conquistaram um grande império
Ora, as águias são aves
Logo, as aves conquistaram um grande império.
Anfibologia – deriva da ambiguidade sintáctica de uma
parte de um argumento. Ocorre sempre que procuramos
sustentar uma conclusão recorrendo a uma interpretação
errada de uma proposição gramaticalmente ambígua.
30
Todos os homens amam uma mulher
Pertuliano ama Abiba
Logo, todos os homens amam Abiba
Confusão entre o sentido colectivo (indiviso) e o sentido
individual (diviso), empregando o mesmo termo com
idêntico valor.
Os portugueses descobriram muitas terras
Camões e Vieira são portugueses
Logo, Camões e Vieira descobriram muitas terras.
b) Sofismas lógicos – são referentes à conexão das ideias e
são os seguintes.
Sofisma da falsa analogia – resulta do facto de
atendermos apenas às semelhanças aparentes entre dois
objectos chegando a conclusões precipitadas e, realmente,
falsas.
A terra é um planeta
A terra é habitada
Logo, os planetas são habitados
Ignorância de causa – consiste em considerar verdadeira
causa uma circunstância ocasional e de mera coincidência.
Joana partiu um espelho; e, pouco depois, sofreu um pequeno
acidente. Joana concluiu que o acidente foi provocado pelo
espelho partido, pois, vidros partidos são prenúncio de
desgraça.
31
Enumeração imperfeita – quando se chega a conclusões
repentinas e precipitadas, generalizando aquilo que só
pode atribuir-se a algumas partes.
Hoje é dia 13 e fui chamado
A chamada correu-me mal
O número 13 é aziago
Petição de princípio – é o sofisma que apresenta uma
conclusão baseada em premissas que já pressupõem essa
mesma conclusão.
A alma humana é imortal
Pedro tem alma
A alma de Pedro é imortal
Tautologia – quando se apresenta a mesma ideia apenas por
palavras diferentes (explicação aparente), sem esclarecer
nada.
O homem é racional porque é dotado de razão.
Círculo Vicioso ou dialelo – que consiste em provar uma
coisa por outra (a primeira pela segunda e esta pela
primeira), sem demonstrar nenhuma delas.
Provar a questão A por B e B por A.
P. – Que é uma ideia clara?
R. – É aquela que não é obscura.
P. – E que é uma ideia obscura?
R. – É aquela que não é clara.
32
Ignorância da questão – consiste num afastamento do
assunto da discussão, apresentando argumentos que levam a
uma conclusão que, aparentemente, parece consequência
lógica da questão.
Raimundo comete um crime. Posta a questão em tribunal, os
advogados (de acusação e de defesa) intentam provar: um, a
culpa; o outro, a inocência do Raimundo. Entretanto, o juiz
considera as provas insuficientes mas inclina-se pela
culpabilidade do réu. Neste momento e com a rara habilidade
toma a palavra o defensor e, desviando o assunto, sugere que o réu
seja declarado inocente e absolvido, quer apelando para erros
judiciais anteriores, quer lembrando o comportamento exemplar
do seu constituinte como chefe de família, a estima que todos
lhe dedicam, etc., e consegue que o Raimundo seja declarado
inocente.
O argumento sofístico poderia redigir-se do modo seguinte:
Não pode ser criminoso que tem um passado limpo e é estimado
por todos
Raimundo tem um passado limpo e é estimado por todos
Logo, Raimundo não é criminoso (= é inocente).
Remédio dos sofismas
O problema reveste dois aspectos:
a) Evitar o seu emprego – para os evitar exige-se uma grande
bagagem de cultura que nos permita ver os erros e remediá-
los de acordo com as regras do pensamento correcto.
33
b) Refutá-los – exige-se, além da cultura, uma perspicácia sagaz
e astuta que nos permita analisar criteriosamente a
linguagem, a matéria e a forma dos sofismas, de modo a
descobrir e a atacar os erros que encerram.
1.7 Lógica proposicional
Este tipo de lógica, diferentemente da Aristotélica ou
clássica que é totalmente formal e demonstrativa
(silogística), é, além de ser formal, sistematicamente
simbólica. Trata-se duma lógica moderna e de inferência
proposicional que recorre a uma linguagem simbólica para
traduzir as proposições e as suas relações.
A lógica proposicional é aplicada tendo em conta aos seguintes
aspectos:
As variáveis – as letras do alfabeto que representam
qualquer enunciado, por isso, são designadas por letras
enunciativas: p, q, r, s, t p’, q’, r’, s’, etc.
As conectivas ou proposições lógicas – são o número de
cinco: ~, Ʌ, V, → e ↔.
Os parênteses (curvos ou rectos) e as chavetas – os
parênteses e as chavetas funcionam como sinais de
pontuação nas proposições complexas, tal como a vírgula e
os pontos: {, [, (), }, ].
34
Os valores lógicos das proposições – tratam-se do
verdadeiro e do falso na qualificação das proposições e
são abreviados pelas letras V – verdadeiro (1) e F –
falso (O).
1.7.1 Proposições simples e proposições complexas
As proposições são frases do tipo declarativo às quais se
associam os valores lógicos (verdadeiro ou falso). As
proposições podem ser de dois tipos: simples ou atómicos;
complexas ou moleculares.
Simples ou atómicas – quando se trata de proposições que não
se podem decompor noutras proposições e, por isso, o seu valor
lógico mede-se unicamente do confronto com os factos de que
anuncia com a realidade. Exemplo: Os moçambicanos são
africanos.
Complexas ou moleculares – são proposições decomponíveis
noutras proposições consideradas mais simples.
Exemplo: Lurdes Mutola foi campeã olímpica dos 800m ou cantora
e dançarina.
Decompondo, fica:
Lurdes Mutola foi campeã olímpica dos 800m
Lurdes Mutola foi cantora
Lurdes Mutola foi dançarina
1.7.2 Conectivas lógicas ou operadores lógicos
As conectivas lógicas ou operadores são as operações
elementares do cálculo proposicional. Tais conectivas são o
número de cinco e designam-se do seguinte modo:
35
Operação lógica Expressão verbal Símbolo
Negação Não ~
Conjunção E Ʌ
Disjunção Ou V
Condicional (ou
implicação)
Se…então… →
Bicondicional (ou
equivalência)
Se e só se ↔
1.7.3 As tabelas de verdade
Representam as tabelas de verdade, as combinações de todos os
valores possíveis das proposições conectadas. Admitindo-se
dois valores de verdade: verdadeiro e falso, são possíveis
quatro casos.
Tomemos como ponto de partida o seguinte exemplo: “Vaquina estuda e
Muapitão joga futebol.”
Casos
possív
eis
Proposições
simples
Proposição composta
Vaquina estuda Muapitão joga
futebol
Vaquina estuda e
Muapitão joga
futebol.
1º
Caso
Verdadeira Verdadeira Verdadeira
2º
Caso
Verdadeira Falsa Falsa
36
3º
Caso
Falsa Verdadeira Falsa
4º
Caso
Falsa Falsa Falsa
Os quatro casos são logicamente
possíveis
Valores de verdade
para cada caso
possível
1.7.4 As operações lógicas sobre as proposições
Negação (~) é um operador lógico que, ao ligar-se a uma única
proposição, a torna falsa se é verdadeira e verdadeira se é
falsa. A negação de uma proposição P, representa-se por: ~P. A
proposição ~P só é verdadeira se a proposição P for falsa.
P ~P
V F
F V
Conjunção (Ʌ) traduz a partícula “e” da linguagem natural e
desempenha do mesmo modo a sua função corrente: ligar
copulativamente duas expressões. Simbolicamente, representa-se
da seguinte forma: P e Q será P Ʌ Q. A proposição composta
copulativamente será verdadeira se as duas proposições simples
envolvidas forem verdadeiras.
37
P Q P Ʌ
Q
V V V
V F F
F V F
F F F
Disjunção (V), corresponde à partícula “ou” da linguagem
corrente e compete-lhe, por isso, associar duas expressões
(denominadas disjuntos) através da relação “ou…ou…”. Se for P
e Q, duas proposições, a sua disjunção será representada por P
V Q.
Essa expressão pode ser verdadeira ainda que uma das
proposições seja falsa. Mas pode sê-lo também se ambas forem
verdadeiras, porque a condição da verdade da disjunção é que n
uma ou outra das proposições seja verdadeira.
P Q P V
Q
V V V
V F V
F V V
F F F
38
Condicional ou Implicação (→), converte-se em linguagem
natural na relação “se…então”. A proposição encetada por “se”
chama-se antecedente e a proposição encetada por “então”
chama-se consequente. Para a proposição P e Q, a fórmula será:
P→Q.
Exemplo:
P = Sócrates é homem
Q = Sócrates é animal.
A relação de implicação P→Q será:
Se Sócrates é homem, então é animal.
Nesse caso, a implicação é verdadeira quando ambas as
proposições forem verdadeiras e também se ambas as proposições
forem falsas. A implicação só é falsa caso o antecedente seja
verdadeiro.
P Q P →
Q
V V V
V F F
F V V
F F V
39
Equivalência (↔), é conectiva bicondicional do cálculo
proposicional. Corresponde com a conjunção de duas implicações
e com o antecedente e consequente permutados, isto é, P↔Q e
Q↔P. Nesta medida pode dizer-se que duas proposições se
equivalem quando se implicam uma a outra.
Em linguagem natural, expressa-se a equivalência através da
expressão: “se e só se”. Assim, se forem dadas as proposições
fica:
P = Sócrates é homem.
e
Q = Sócrates é racional.
A equivalência
P↔Q
Assim, ler-se-á: Sócrates é homem se e só se Sócrates é
racional.
Para que a equivalência seja verdadeira é, evidentemente necessário
que as proposições sejam ambas verdadeiras ou ambas falsas.
P Q P ↔
Q
V V V
V F F
F V F
F F V
40
UNIDADE II – FILOSOFIA POLÍTICA
2.1 Noções básicas
A palavra politica é de origem grega: polis, que quer dizer cidade. E,
politica significa, etimologicamente: arte de administrar
(governar) a cidade. Usou a palavra política para designar ao
estudo das coisas que se referem ao Estado (república).
Para Aristóteles, a política é a ciência do governo (a arte de
governar), ou seja, o tratado sobre a natureza, funções e
divisão do Estado e sobre as várias formas de governo.
A política é uma actividade imprescindível na vida humana e
está ligada ao poder sobre os outros homens. Para Hobbes, o
poder são os meios adequados à obtenção de qualquer vantagem e
para Russell, o poder é conjunto de meios que permitem
alcançar os efeitos desejados.
Norberto Bobbio distingue três formas de poder:
41
Poder económico – assenta na posse de bens. Poder ideológico –
baseia-se na influência que os detentores do poder exercem
sobre os demais, determinando-lhes o comportamento
(sacerdotes, pastores, líderes, etc.). Poder político –
assenta na coerção e na força. É a faculdade que um povo
possui de, por autoridade própria, instituir órgãos que
exerçam a governação de um território.
Ciência política
A ciência política consiste nos estudos que se realizam sobre
a análise política. Assim, a ciência política é o estudo
sistemático do facto político relacionado com o acesso, a
titularidade, o exercício e o controlo do poder político.
2.1.1 Política e Filosofia política
A Filosofia política ocupa-se dos problemas relacionados com a
origem do Estado, a sua organização, a sua forma ideal, a sua
função e o seu fim específico, a natureza da acção política e
as suas relações com a moral, a relação entre o Estado e o
indivíduo, entre o Estado e a Igreja e entre o Estado e os
partidos políticos.
A Filosofia política se alimenta das práticas políticas, ou
seja, dos acontecimentos políticos levados a cabo por
políticos e por aqueles que pensam o facto político, daí a
necessidade de haver filósofos políticos em todas as fases do
desenvolvimento da sociedade.
A Filosofia procurar compreender e esclarecer os conceitos de
justiça, bem comum de Estado, tolerância, sociedade e até o
42
próprio conceito de política. E, o filósofo político é aquele
que analisa criticamente a sociedade (identifica os aspectos
positivos e negativos). É por isso que, as decisões políticas
deveriam ser sempre objecto de apreciação filosófica antes de
serem implementadas.
Mas, um dado a considerar é de que, em algumas sociedades, o
filósofo não é bem-vindo pelos governantes, pois é considerado
como um perturbador da sociedade.
2.1.2 Ética política
A acção política deve basear-se em princípios morais, ou
melhor na ética. Pois, é praticamente impossível separar o
problema da constituição da comunidade política da
determinação de certos fins éticos, que se caracteriza pela
busca dos ideiais de justiça, de felicidade, etc., sempre
considerados como um bem ao qual todos aspiram. Portanto, é em
função de um determinado bem que os homens se decidem a
constituir uma comunidade política.
2.1.3 Estado/Nação
Considera-se sociedade ao estado dos homens ou dos animais que
vivem sob a acção de leis comuns; reunião de pessoas unidas
pela mesma origem e pelas mesmas leis.
O Estado é um organismo político-administrativo que ocupa um
território determinado; é dirigido por um governo próprio e
constitui-se como pessoa jurídica de direito público,
internacionalmente reconhecida. Compreende: população,
território, poder soberano e reconhecimento internacional.
43
Governo é o conjunto de pessoas que detêm cargos oficiais e
exercem autoridade em nome do Estado e que lhe foi conferida
pelo povo, no caso comum da democracia; é a acção dirigida ao
Estado. E o governante é qualquer funcionário público que
assume cargos na direcção, que dirige uma instituição pública.
Nação é a comunidade natural de homens que, reunidos num mesmo
território, possuem em comum a origem, os costumes e a língua
e estão conscientes desses factos. Os elementos essenciais
para a constituição da nacionalidade são: tradição e cultura
comuns, origem e raça (factores objectivos) e a consciência do
grupo humano de que estes elementos comunitários estão
presentes (factor subjectivo).
Constituição é o conjunto de leis básicas que regulam o
relacionamento de todos os elementos pertencentes a um mesmo
Estado (indivíduos, instituições, relações de poder, etc.). A
constituição tem a função de traçar os princípios ideológicos
da organização interna. A mudança da constituição implica a
mudança do tipo de Estado.
2.1.4 Participação política dos cidadãos
A questão política não é opcional, mas uma necessidade que se
impõe ao Homem, enquanto membro de uma comunidade organizada
que se rege por leis comuns e assenta em princípios éticos
valorizados pelos seus membros.
Neste sentido, para Pasquino, “a participação política é o
conjunto de actos e de atitudes que aspiram a influenciar de
forma mais ou menos directa e mais ou menos legal as decisões
44
dos detentores do poder no sistema político com o propósito de
manter ou modificar a estrutura do sistema de interesses
dominante.”
Sendo que o problema político diz respeito a toda a sociedade,
o cidadão que compõe a sociedade tende participar nela como
algo que lhe diz respeito; contribuir em ideias nas decisões,
participar em eventos de interesse do Estado. Exemplo:
exercendo o direito de voto, participar nos debates públicos,
etc.
Uma outra possível forma de participação política é a formação
e participação cívica através de partidos políticos. O partido
político é um grupo de indivíduos unidos por ideiais e
actividades comuns, com vista a consecução de certos fins
políticos ou à eleição dos funcionários para o Estado, quer se
trate de órgãos do governo central ou para autarquias locais.
Em Moçambique, a participação dos cidadãos na governação local
é regulada pela lei n°8/2003 de 19 de Maio, chama da lei dos
órgãos locais do Estado (LOLE).
Em suma, a política é um instrumento de solução dos problemas
humanos quer sejam políticos, sociais, educacionais, laborais,
económicos, etc.
Em regimes democráticos, os partidos políticos sobem ao poder
através de eleições; assim, a eleição é a escolha por meio de
sufrágio de pessoas para ocupar um cargo ou desempenhar certas
funções.
45
2.1.5 Direitos humanos e justiça social
Os direitos humanos são o conjunto de princípios essenciais à
existência humana condigna que apelam a um reconhecimento
mútuo entre homens enquanto seres de direito. Eles são
inalienáveis, como o direito à vida, saúde, inviolabilidade
física e psicológica, etc.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada pela
ONU a 10 de Dezembro d 1948.
Os Direitos humanos, segundo a doutrina do Direito natural,
inatos; eles não são uma dádiva de qualquer organização ou
instituição, pois existem muito antes do Homem estar ligado
aos conceitos: sociedade, economia, Estado e religião.
Características dos direitos humanos
1) São universais: não dizem respeito a este ou aquele
homem, mas sim a todos os homens.
2) São individuais: o indivíduo, o homem livre é o seu
portador e não o grupo, associações ou cooperações de
sociedade estratificada.
3) São anteriores ao Estado: resultam da natureza humana, o
Estado só os pode reconhecer e não outorgá-los. A
constituição declara-os apenas mas não os cria.
4) Quanto à origem e carácter individuais, são um direito de
reivindicação durante o Estado, pois exige do Estado o
respeito de uma esfera de liberdade pessoal por ele
reconhecida e declarada.
46
Justiça social
A justiça social é vinculada ao conceito do bem comum pois a
sua definição depende da concepção político-económica de cada
autor. Assim, a justiça social está ligada aos direitos
humanos e diz respeito à igualdade entre todos os cidadãos e
ao direito de cada um ser respeitado nos seus direitos.
Segundo John Rawls, a justiça é a primeira virtude das
instituições sociais, por mais eficazes e bem organizadas que
sejam, as instituições e as leis devem ser reformadas e
abolidas se forem injustas. Por isso, o objecto da justiça
social é entendida como equidade, que diz respeito à estrutura
de base como a constituição, as principais estruturas
económicas e a maneira como essas representam os direitos, os
deveres fundamentais e como determinam a repartição dos
benefícios extraídos da cooperação social.
2.1.6 Estado de Direito e suas funções
O Estado de Direito diz respeito àquele onde os membros dessa
sociedade estão todos submetidos à mesma lei, isto é, onde a
lei prevalece sobre todos os indivíduos. Num Estado de Direito
há respeito sobre a hierarquia das normas, separação de
poderes e pelos direitos fundamentais. Ele é garantido pela
divisão de poderes. No Estado de Direito ninguém está acima da
lei; a lei reina sobre todos os indivíduos.
Funções do Estado
As funções do Estado são analisadas a partir de duas
perspectivas fundamentais: funções jurídicas e funções não
47
jurídicas. Geralmente, são consideradas três funções do
Estado: segurança, justiça e o bem-estar.
2.2. A Filosofia política na história
Os debates filosóficos sobre a política não são recentes, eles
acompanharam o desenvolvimento da sociedade e das suas
preocupações fundamentais. Os filósofos preocuparam-se, em seu
contexto, em reflectir sobre os assuntos políticos e sobre a
melhor forma de organização social.
2.2.1 A Filosofia política na antiguidade
A Filosofia antiga, principalmente na vertente antropológica,
é marcada por debates relacionados ao homem e a sociedade. E,
foram os sofistas que inauguraram assuntos relacionados ao
homem.
Os sofistas
Os sofistas foram os primeiros a roda tradicional de
pensamento dos pré-socráticos (a procura do arché na natureza)
e concentraram-se no Homem e nas questões da moral e da
política. Destacam-se como famosos sofistas: Protágoras,
Górgias, Trasímaco, Pródico e Hipódamo.
Na política elaboraram e legitimaram o ideal democrático e
interessaram-se pela virtude do cidadão fundamentada na
justiça. Para isso, era necessária a educação dos cidadãos da
polis superando os privilégios da antiga educação elitista.
Outro grande contributo dos sofistas foi a sistematização do
ensino: gramática, retórica e dialéctica vinculando os jovens
para a participação no debate público.
48
Platão (428 – 347 a.C.)
O seu pensamento político pode ser encontrado, fundamental,
nas suas obras: A República e O Político e as Leis.
Platão preocupou-se em imaginar uma cidade ideal na qual
reinaria um bom governo e um regime justo. Pois, o bom
governo, segundo Platão, depende da virtude dos bons
governantes.
Para Platão, a Filosofia Política não aceita pacificamente o
Estado ou a Política como dados absolutos e inquestionáveis:
critica, interpreta, pensa e compreende essas realidades. A
Filosofia Política é um exercício da liberdade.
Por isso, a política, deve ter a Filosofia como seu
instrumento e fonte de inspiração, pois a Filosofia é a via
segura de acesso aos valores de justiça e de bem.
Origem do Estado
Platão advoga que a origem do Estado é convencional, ou seja,
está no facto de os homens não se bastarem a si mesmos.
Ninguém pode ocupar ao mesmo tempo diversas profissões. Daí a
necessidade de cada um associar-se aos outros, cada um com
tarefas sociais específicas (especialização). E, de facto,
ninguém pode ser, ao mesmo tempo, professor, médico, mecânico,
técnico, etc.
Comunismo/idealismo
O ideal de Platão era de ver as crianças educadas pelo Estado
e orientadas segundo as suas aptidões. Assim, deviam receber a
49
mesma educação do Estado até aos vinte anos. E, de acordo com
a orientação das suas almas: os de bronze deviam dedicar-se à
agricultura, ao artesanato e ao comércio, por terem
sensibilidade grosseira. Os outros estudariam mais dez anos
para o segundo corte familiar. Os que tivessem a alma de prata
se dedicariam à defesa da cidade. E, os da alma de ouro,
instruídos na arte de pensar e dialogar governariam por
conhecerem o saber mais alto que é a Filosofia (aos 50 anos)
com a principal virtude que é a justiça.
Classes sociais
Para Platão, a sociedade organiza-se em três classes:
trabalhadores (camponeses, artesãos e commerciantes) –
garantem a subsistência da cidade; soldados (guardas) – a
defesa da cidade; e, magistrados (governantes) – dirigir a
cidade, mantendo-a coesa.
Formas do governo
A melhor forma de governo, para Platão, é a monarquia, sob o
comando de um filósofo – rei que governa com plena justiça e
preserva a unidade. A segunda opção é a aristocracia composta
por filósofos e guerreiros; mas este tipo de governo,
facilmente de degenera transformando em timocracia, governo de
ambiciosos de poder e de honra.
A oligarquia é a fase mais corrompida da aristocracia, na qual
reina a avidez de riqueza. Aos olhos de Platão, a democracia é
a pior forma de governo, pois, estando o poder nas mãos do
50
povo, e sendo este incapaz de conhecer a ciência política,
facilita, através da demagogia, o aparecimento da tirania – o
governo exercido por um só homem, através da força.
Aristóteles (384 – 322 a. C.)
Discípulo de Platão e crítico de seu mestre sobre o idealismo
político. Ele defende que a cidade é constituída por
indivíduos naturalmente diferentes, sendo impossível uma
unidade absoluta e, o poder não deve ser limitado apenas aos
filósofos.
Origem do Estado
Para Aristóteles, a origem do Estado é natural e não
convencional. Pois, o homem é, por natureza, um animal
político. O homem se distingue dos outros animais pelo facto
de estar integrado numa polis que resulta duma civilização da
espécie humana (família, tribo, clã, aldeia e cidade).
Neste sentido, o objectivo do Estado é de proporcionar
felicidade aos cidadãos, pois, o escopo da vida humana é a
felicidade e, por isso, o escopo do Estado deve ser a
consecução do bem comum.
51
Formas de governo
Aristóteles concebeu três formas de organização política
(constituições) do Estado que se apresentam duas faces: bons e
corruptos.
Governos rectos (interesses
comuns)
Governos corruptos (interesses
particulares)
Monarquia – governo de um só
homem (melhor forma do
governo: preserva a unidade
do governo)
Tirania (governo de um só homem
que se move com interesse
próprio)
Aristocracia – governo de
poucos homens (um grupo de
cidadãos virtuosos, os
melhores que cuidam do bem
de todos)
Oligarquia – o governo dos ricos
(preocupam-se pelo bem económico
próprio)
República (politia) – governo
de muitos homens
(constituído pelo povo, que
cuida do bem de toda a
pólis)
Democracia – a forma corrupta da
república (quando o povo toma o
poder e suprima todas as
diferenças sociais em nome da
igualdade)
52
2.2.2 A Filosofia política na idade média
Santo Agostinho (354 – 430 d.C.)
O pensamento político de Santo Agostinho encontra-se na sua
obra: a Cidade de Deus. Na qual teoriza que o mundo divide-se em
duas cidades: a Cidade de Deus e a Cidade terrena. Enquanto a
igreja é a encarnação da cidade de Deus, o Estado é a
encarnação da Cidade terrena, manchada pelo pecado original. O
Homem precisa do Estado para obrigar os membros da comunidade
ao cumprimento da lei.
Santo Agostinho defende a existência da autoridade política
para que se mantenha a paz, a justiça, a ordem e a segurança.
A autoridade política é uma dádiva divina aos seres humanos,
daí que os governantes devem ser respeitados e distinguidos
entre os justos e injustos.
São Tomás de Aquino
O pensamento político de São Tomás de Aquino está espelhado na
sua obra: De Regimine Principum (Do Governo dos Príncipes). Nesta obra
reflecte sobre a origem e natureza do Estado, as várias formas
de governo e as relações entre o Estado e a Igreja.
Para Aquino, o Estado nasce da natureza social do Homem e não
das limitações do indivíduo. O Estado é uma sociedade porque
consiste na reunião de muitos indivíduos que pretendem fazer
alguma coisa em comum e, é uma sociedade perfeita porque tem
um fim próprio: o bem comum e os meios suficientes para o
realizar.
53
O Estado tem os meios suficientes para proporcionar um modo de
vida que permita a todos os cidadãos ter aquilo que necessitam
para viver como homens.
A melhor forma de governo para Aquino é a monarquia
constitucional. E, a Igreja é uma sociedade mais perfeita,
devendo, por isso, o Estado subordinar-se a ela, em tudo o que
concerne ao fim sobrenatural do homem.
2.2.3 A Filosofia política na idade moderna
A Idade Moderna é colocada no início do século XVI aos fins do
século XVII e teve três características fundamentais: a
libertação do Homem em relação às explicações teológicas da
realidade, através da razão; a libertação do Homem dos regimes
ditatoriais, através da democracia e a libertação do Homem da
dependência da Natureza, através da técnica. Portanto, os
modelos do pensamento moderno são a razão, a técnica e a
democracia. Este ideal de pensamento justifica a riqueza de
acontecimentos políticos em vários países do mundo.
Nicolau Maquiavel
Com o fim do império cristão e com o enfraquecimento do poder
politico do papado, surgem, fora da Itália, as repúblicas e as
senhorias. Eram regimes onde se respirava o ar de liberdade e
onde se procurava, acima de tudo, o bem-estar material dos
cidadãos, em detrimento do bem-estar espiritual.
Em o Príncipe, Maquiavel (1469 – 1527) – filósofo florentino
(Itália), não se propondo em descrever um estado ideal nem
apresentar o governante como um pio administrador da
54
República; descreve o resultado da experiência das coisas
modernas e da contínua lição nas coisas antigas, abrindo uma
política mais activa e circunstancial: governar é uma arte.
Maquiavel parte do pressuposto de que os homens, em geral,
seguem cegamente as suas paixões, esquecendo-se mais depressa
da morte do pai do que da perda do matrimónio. As paixões que
se colocam em primeiro lugar são, além da cobiça e do desejo
de prazeres, a preguiça, a vileza, a duplicidade e a
insolência. Por isso, torna-se imperioso que o governante da
república prepare as leis segundo o pressuposto de que todos
os homens são réus e que procedem com malícia em todas as
oportunidades que tiverem.
O príncipe deve impor-se mais pelo temor do que pelo amor,
para alcançar os seus objectivos: preservar a sua vida e a do
Estado. Porém, Maquiavel adverte que o príncipe não deve
esquecer a sua reputação. O político não deve confiar no
aspecto positivo do homem mas sim o seu aspecto negativo e
agir em consequência disso. Nisto, não terá receio em ser
temido e a tomar as medidas necessárias para tornar-se
temível. Mas o ideal para um príncipe seria o de ser ao mesmo
tempo amado e temido, coisas muito difíceis de conciliar, no
entanto, o príncipe deve fazer a escolha mais funcional para o
governo eficaz do estado.
Os filósofos ingleses
No século XVII, registavam-se, em Inglaterra, lutas acesas
entre o rei e o parlamento, com o predomínio ora de um, ora de
55
outro, acabando por se impor definitivamente o parlamento, no
fim do século. Por isso, Hobbes, Locke, Berkeley e,
posteriormente Hume, procuraram dar o seu contributo para a
política do seu país.
Assim, com tendência muito em voca da secularização do
pensamento político, os filósofos do século XVII estavam
preocupados em justificar racionalmente e legitimar o poder do
Estado sem recorrer à intervenção divina ou a qualquer
explicação religiosa. Daí que começaram por se preocupar pela
origem do Estado.
O Pensamento Político de Thomas Hobbes
Thomas Hobbes, filósofo inglês nascido em 5 de Abril de 1588,
morto em 4 de Dezembro de 1679 que nas suas obras políticas De
Cive e Leviatã (ou a matéria, a forma e o poder de um estado
eclesiástico e civil publicada em 1651) desenvolve uma teoria
contratualista sobre a Teoria do Estado de natureza e Pacto
social. Para ele, o Homem conheceu dois estados: o primeiro é
natural e o segundo contratual.
O Estado de natureza é caracterizado pela expressão sem regras
da natureza humana cujas paixões fundamentais são o apetite de
domínio sobre o seu semelhante e o medo correlativo da morte
violenta infligida por outrem. Todos estão em competição,
cheios de desconfiança e medo porque o direito de natureza,
anterior das leis, é a liberdade que cada um tem de usar a sua
força para se conservar a sí mesmo, direito ilimitado que se
estende a todas as coisas, até ao corpo do outro, à sua
56
integridade e à sua vida, daí a: guerra de todos contra todos (bellum
omnium contra omnes – homo homini lupus).
O medo e o desejo de paz levaram o homem a fundar um estado
social e a autoridade política, abdicando dos seus direitos em
favor do soberano, que, por sua vez, terá um poder absoluto.
No contrato social, os Homens renunciam alguns dos seus
direitos, colocando-os nas mão de um só homem (Soberano). Esse
contrato, uma vez estabelecido, não poderá ser modificado nem
desfeito porque seria preciso o consentimento de todos e isso
é irrealizável. Cabe ao soberano julgar sobre o bem e o mal,
sobre o justo e o injusto; ninguém pode discordar, pois tudo o
que o soberano faz é resultado do investimento da autoridade
consentida pelo súbtido.
John Locke
As contribuições políticas de John Locke encontram-se na obra:
Dois Tratados sobre o Governo, onde postula a sua política e como
Hobbes distingue dois estados em que o Homem terá estado: o
estado de natureza e o estado contratual.
Para Locke, no estado de natureza os homens são livres, iguais
e independentes e não um estado de guerra de todos contra
todos. No estado natural cada um é juíz em causa própria. Pela
liberdade natural do Homem, ele não pode ser expulso da sua
propriedade e ser submetido ao poder político de outrem sem
dar o seu consentimento.
A renúncia à liberdade natural da pessoa acontece quando as
pessoas concordam em juntar-se e unir-se em comunidade para
57
viver com segurança, conforto e paz umas com as outras.
Portanto, quem abandona o estado de natureza e entra na
comunidade abandona todo o poder necessário aos fins que
ditaram a reunião em sociedade, à maioria da comunidade. O
Estado não deve interdir mas sim garantir e tutelar o livre
exercício da propriedade, da palavra e da iniciativa
económica.
Charles de Montesquieu (1689 – 1755)
Filósofo enciclopédico e pai do constitucionalismo liberal
moderno, é autor da obra: L’Esprit de Lois (Espírito das Leis) de
1748. Nesta obra pretende descobrir as leis naturais da vida
social. Para ele, as leis são relações indispensáveis emanadas
da natureza das coisas. Distingue entre leis de natureza
(igualdade de todos os seres inferiores, procura de
alimentação, encanto entre seres de sexos diferentes e desejo
de viver em sociedade) das leis positivas que surgem da
organização e convenção humanas, elaboradas pelo homem.
Montesquieu definiu como tipos sociológicos fundamentais do
Estado: a democracia, a monarquia e o despotismo. Mas o grande
mérito foi de ter desenvolvido a teoria de separação de
poderes em que advoga a separação dos poderes legislativo,
executivo e judicial, com o fim de estabelecer condições
institucionais de liberdade política através de uma
equilibrada divisão de funções entre os órgãos do Estado
(parlamento, governo e tribunais).
58
O poder legislativo tem a função de criar as leis
(Parlamento); o poder executivo tem a função de implementar as
leis e de as fazer cumprir (Governo) e o poder judicial serve
para julgar aqueles que violam a lei (Tribunais). Cada tipo de
poder deve actuar plenamente.
Jean Jacques Rousseau
Jean-Jacques Rousseau foi escritor e filósofo genebrence
(Suíça) de língua francesa (1712-1778). Em 1741 instala-se em
Paris e aí conhece Diderot. Em 1750, o seu discurso sobre as
ciências e as artes tras-lhe uma notoriedade de escândalos e
os seus escritores ulteriores, onde continua a atacar a
sociedade do seu tempo.
Rousseau começa a sua reflexão política partindo da hipótese
de o Homem se ter encontrado num estado de natureza e num
outro estado contratual, na sua obra política: o Contrato
Social.
No contrato social, Rousseau desenvolve a sua teoria sobre a
origem e a constituição do estado. Ele imagina um primeiro
estado da humanidade que se poderia chamar estado de
Inocêncio, no qual não haveria nenhum dos abusos que se pode
observar em nossa sociedade. Os homens foram induzidos a sair
desta condição feliz pelo desejo, pela necessidade e pelo
temor. Por isso é necessário um contrato verdadeiro, legítimo,
em que o povo está reunido sob uma só vontade.
O contrato social, produz os seguintes efeitos: o indivíduo já
não é simples homem, mas cidadão; ele renuncia os direitos
59
pessoais em favor da comunidade e já não assume como norma o
instinto, mas a lei.
Com a entrada em vigor do contrato social, as acções adquirem
uma moralidade que não tinha antes: “somente então a voz do
dever sucede ao impulso físico, o direito sucede ao apetite, e
o homem que até agora tomava em consideração somente a si
mesmo, se vê forçado a agir em conformidade com outros
princípios e a consultar a razão antes de ouvir as próprias
tendências.
A obediência à lei não é obediência a uma vontade estranha,
mas a uma vontade que o próprio indivíduo constitui: o cidadão
é legislador e súbtido ao mesmo tempo. Sendo o povo a única
fonte do direito (no contrato social faz-se a renúncia ao uso
de alguns direitos mas não aos direitos como tais).
Os governantes não gozam de alguma autoridade definitiva sobre
ele: ele permanece o único verdadeiro soberano. Eles não são
donos do povo, mas seus funcionários, e o povo pode nomeá-los
e destituí-los.
2.2.4 Filosofia política na época contemporânea
Hegel
A Filosofia do Estado de Hegel resume-se à subordinação do
indivíduo ao Estado, no qual este se dissolve em nome de uma
ordem suprema. Assim, o indivíduo, no estado, é um simples
objecto e não o sujeito do seu destino. A sua vontade é
60
sufocada pela vontade do Estado e o indivíduo perde a sua
liberdade.
John Rawls: a Justiça distributiva e o liberalismo político
Filósofo norte-americano, o seu pensamento político encontra-
se nas obras: Uma Teoria de Justiça, de 1971, e O Liberalismo Político.
Para Rawls, a justiça é a estrutura de base da sociedade e a
primeira virtude das instituições sociais. Esta concretiza-se
na efectivação das liberdades individuais e na sua não
restrição para o benefício do outrem. Uma sociedade justa,
defende Rawls, deve fundar-se na igualdade de direitos.
A justiça deve ser encarada como a capacidade concedida à
pessoa para escolher os seus próprios fins. A justiça diz
respeito a uma estrutura de base que congrega as instituições
sociais mais importantes, a constituição, as principais
estruturas económicas, bem como a maneira através da qual
estas representam os direitos e os deveres fundamentais e
determinam a repartição dos benefícios extraídos da cooperação
social.
Devidas as desigualdades na posição social, a justiça deve
corrigir essas desigualdades. Assim, ninguém efectue escolhas
em função da sua desigualdade; a justiça é equidade. A
diferença não pode prejudicar os desfavorecidos. Por isso o
Estado deve dividir-se em quatro departamentos: departamento
das atribuições com a função de velar pela manutenção de um
sistema de preços e impedir a formação de posições dominantes
excessivas no mercado; departamento da estabilização, com
61
objectivo de proporcionar pleno emprego; departamento das
transferências sociais, com a função de velar pelas
necessidades sociais e intervir para assegurar o mínimo social
e o departamento para a repartição, com o papel de preservar
uma certa justiça graças à fiscalização e aos ajustamentos
necessários do direito de propriedade.
Na sua obra o Liberalismo Político, reconhece que a justiça como
equidade é um projecto irrealista e defende que devem-se
erguer instituições políticas liberais a partir do substrato
comum das ideias aceitáveis e aceites pela comunidade pública.
Karl Popper (1902 – 1994)
Filósofo Australiano, defende uma sociedade aberta que se
baseia no exercício crítico da razão humana, como sociedade
que não apenas tolera como também estimula no seu interior e
por meio de instituições democráticas a liberdade dos
indivíduos e dos grupos, tendo em vista a solução dos
problemas sociais, ou seja, as reformas contínuas.
Nesta sociedade aberta, os governados têm a possibilidade
efectiva de criticar os seus governantes e de os substituir
sem derramamento de sangue e sem que isso signifique que o
democrata deva aceitar a ascensão do totalitário ao poder.
Popper admite a possibilidade da revolução violenta, a qual só
é justificada se for derrubar um tirano.
2.3 Formas de sistemas políticos
62
Sistema político é a maneira como uma comunidade política se
estrutura e exerce o poder político. A estrutura do poder da
comunidade política é feita de duas formas: como regime
político e como sistema de governo.
2.3.1 Regime político
São as relações que se estabelecem entre o indivíduo e a
sociedade política, cuja ideologia o poder político tem a
missão de implementar no âmbito jurídico.
O pensamento político antigo oponha a monarquia (governo de um
só homem) à república (governo de um colégio ou assembleia).
Mas, actualmente a distinção entre estes governos baseia-se no
modo como é designado o chefe do Estado: enquanto a monarquia
é um regime político em que a designação do chefe de Estado se
faz por herança; a república é o regime político em que a
designação do chefe do Estado se faz por formas diversas, por
eleição directa dos cidadãos ou pelos seus representantes, por
golpe de Estado, por legislação, etc, mas não por herança.
Classificação dos regimes políticos
Os regimes políticos classificam-se em ditatoriais e democráticos:
a) Um regime político é ditatorial quando há uma ideologia
exclusiva ou liderança, há um aparelho para impor a
ideologia, não há efectiva garantia dos direitos pessoais
dos cidadãos, não existe livre participação na designação
dos governantes e não existe um controlo do exercício dos
governantes.
63
O regime ditatorial pode ser autoritário quando o poder político
exerce um certo controlo sobre a sociedade civil. E, pode ser
totalitário quando o controlo do poder político subjuga a
sociedade.
b) O regime é democrático quando não existe uma ideologia
dominante ou liderança, não existe um aparelho para impor
a regra, há efectiva garantia dos direitos individuais
dos cidadãos, existe livre participação na designação dos
governantes e existe um controlo do exercício dos
governantes.
2.3.2 Os sistemas de governo
É a titularidade e a estruturação do poder político, com a
finalidade de determinar os seus titulares e os órgãos
estabelecidos para o seu exercício.
Para a análise de um sistema de governo, deve-se ter em conta
a separação dos poderes, a dependência, a independência ou a
interdependência dos órgãos e a responsabilidade política de
um órgão perante o outro.
Classificação dos sistemas de governo
1. Sistema de governo ditatorial – o poder político é detido
por uma pessoa ou um conjunto de pessoas com direito
próprio e sem participação dos governados. Este, é
monocrático quando é exercido por um órgão singular e
64
autocrático, quando o poder é exercido por um grupo ou
partido político (órgão colegial).
2. Sistema de governo democrático – o exercício do poder
político advém da participação dos governados. Pode ser
directo, quando a assembleia-geral dos cidadãos exerce
integralmente as suas funções; democrático semi-directo, em que
a constituição prevê a existência de órgãos
representativos de soberania popular através de um
referendo e democrático representativo, quando o poder político
pertence à colectividade mas regido por um órgão que
actua em nome dele.
2.4 Filosofia política em África
2.4.1 Génese dos nacionalismos
Há uma ligação directa da filosofia política africana com o
pan-aficanismo que, para além de lutar pelo reconhecimento dos
negros no mundo, com Du Bois, traçou linhas para uma Filosofia
política africana. A Filosofia política africana tem como
objectivo a libertação física e psíquica do jugo colonial do
continente africano.
Desde o 5º Congresso Pan-Africano, as principais figuras
africanas que se esforçaram por lançar as bases da política
dos Estados africanos são: Du Bois e Nkrumah. Enquanto Kwame
Nkrumah defendia a independência imediata dos Estados
africanos; Léopold Sedar Senghor acreditava que uma
independência gradual dos Estados seria ideal. Mas a ideologia
adoptada pelos Estados africanos foi o socialismo, que como
65
defendia Nkrumah, era conforme às tradições socioculturais
africanas e o consciencismo que pretendia assegurar o
desenvolvimento de cada individuo.
Aliaram-se ao socialismo de Nkrumah outros políticos como
Senghor, Luís Cabral, Júlio Nyerere e Agostinho Neto; estes
deram origem ao socialismo africano. Para Senghor, defendendo
o socialismo africano, defende que a alma negra é
essencialmente colectiva e solidária, por isso, a África, é
por natureza do seu povo, socialista.
Mas o grande mérito de Nkrumah foi de conceber a unidade
africana que transformaria o continente africano num só Estado
banindo as fronteiras traçadas arbitrariamente em Berlim, pois
os Estados africanos considerados individualmente não eram
suficientemente fortes para competirem com as grandes
potências do ocidente.
Ena década de 1960 nasceram dois grupos: o de Monróvia
(Califórnia, EUA) que defendia a criação dos Estados Unidos da
África e o de Casablanca (Marrocos) que defendia a criação da
nações e fundou a OUA (Organização da Unidade Africana) a 25
de Maio de 1963 em Addis Abeba (Etiópia), com os seguintes
objectivos: promover a unidade e a solidariedade entre os
Estados Africanos; coordenar e intensificar a cooperação entre
os Estados africanos; defender a soberania, integridade
territorial e independência dos Estados; coordenar e
harmonizar as políticas dos países-membros, etc.
2.4.2 Pan-africanismo versus negritude
66
Estes dois movimentos desenvolvidos por estudantes e
académicos africanos residentes em Inglaterra e em França
permitiram a difusão as mensagens de libertação dos africanos.
O objectivo era comum: lutar pela liberdade.
Enquanto o Pan-africanismo lutava pela emancipação política de
todos os africanos; a negritude lutava pela unidade dos negros
sob o ponto de vista cultural.
2.4.3 Renascimento africano
Mesmo depois da libertação dos africanos da escravatura, ainda
há, em alguns africanos complexos de inferioridades a outros
povos. A grande dificuldade que se manteve era: como dizer ao
africano, que nunca tinha sido valorizado, que tinha
efectivamente valor, que ele era igual ao seu colonizador, que
tinha dignidade, que ser africano não era uma maldição, ect.
Daí a necessidade de desenvolver uma ideologia do renascimento
africano para o africano sentir-se um homem igual aos outros.
Um tornar-se a nascer psicologicamente para recuperar a auto-
estima extirpada pelos colonizadores.
A integração político-regional na União África
A União Africana pretendia dar continuação aos objectivos da
OUA. Um dos objectivos era a NEPAD (Nova Parceria para o
Desenvolvimento da África), pôr em prática a visão Pan-
africana dos líderes africanos para promover o desenvolvimento
sustentável da África.
67
Assim, a integração regional da África só seria possível se
houvesse estabilidade política, permitindo a criação de
instituições democráticas e a promoção do desenvolvimento.
Para a NEPD, as condições necessárias para o desenvolvimento
de África seria: a paz, a segurança, a democracia e a boa
governação política; a boa governação económica e corporativa.
68
UNIDADE III: A FILOSOFIA AFRICANA
3.1 Contextualização do debate sobre a Filosofia africana
3.1.1 Questões históricas
O povo africano foi vítima do colonialismo. Os ocidentais
conceberam uma filosofia de dominação que gerou um profundo
complexo de inferioridade nos africanos em diferentes campos
de saber: desde a teologia, a filosofia e o direito.
Só mais tarde, as ciências sociais e humanas realizaram novas
abordagens e adoptaram uma visão que reconhecesse que toda a
cultura representa uma determinada civilização,
independentemente da sua situação geográfica, histórica,
social e económica.
Um longo período de colonização influenciou a mentalidade
europeia, como também deixou marcas na mentalidade do próprio
povo negro, pois a sua auto-estima ficou afectada.
Por isso, é importante a intervenção do filósofo africano,
para projectar o futuro do homem africano, partindo da sua
própria história. A Filosofia africana vem recuperar a auto-
estima que o homem negro tinha perdido com o tratamento
esclavagista.
69
3.1.2 A existência ou não da filosofia africana
A discussão sobre a existência ou não da filosofia africana
emergiu quando muitos estudiosos, africanos e não africanos,
apresentaram ao mundo estudos sobre etnias africanas,
denominando-os “Filosofia Africana”, como Anyanw, Placide
Tempels, Alexis Kagame, Mbit, entre outros.
Os críticos como Hountondji, Franz Chahay, E. Boulaga, M.
Towa, Werudu, entre outros, colocam a seguinte questão: pode-
se falar de Física ou Química africanas da mesma forma que se
fala da Filosofia africana? A discussão fundamental é do
objecto de estudo da filosofia africana.
3.2 Principais correntes da Filosofia africana
3.2.1 Etnofilosofia
É uma corrente de pensamento que defende que as tradições
africanas espelham a racionalidade do africano, podendo estas
serem consideradas Filosofia africana (mitos, provérbios,
etc.)
Para os etnofilósofos, toda a filosofia é uma filosofia
cultural, ou seja, ninguém faz a filosofia sem se basear em
alguma cultura. Para Anyanw, a missão do filósofo africano é
70
compreender e explicar os princípios sobre os quais se baseia
cada uma das culturas africanas.
As críticas da etnofilosofia são várias, mas dentre elas
podemos destacar as seguintes: os filósofos da etnofilosofia
descreviam práticas habituais de alguns povos africanos e
chamavam-os de Filosofia africana; tais estudos, enquanto
feitos por intelectuais não africanos, denegriam o africano
(por exemplo, o sacerdote belga Placide Temples que falava
duma lógica menor do africano).
3.2.2 Filosofia profissional e crítica à Etnofilosofia
Para os críticos da etnofilosofia, não podemos confundir o
emprego do termo filosofia, usando-o no sentido ideológico.
Filosofia é uma palavra que se utiliza para designar uma
ciência rigorosamente científica. Reivindicar que os africanos
têm a sua própria filosofia seria cair nas mãos dos
colonizadores, que querem dar ou manter a ilusão de que os
africanos têm uma filosofia, porque o que nós temos realmente
são mitos, crenças e provérbios.
Um dos grandes críticos é Paulin Hountondji, na sua obra:
African Philosophy, Mythe and Reality, de 1971: reivindicar a filosofia
africana é cair na ratoeira colonialista, pois a filosofia
africana obriga-nos a definir África em relação à Europa; a
filosofia é uma disciplina científia, teorética e individual;
todo o projecto de edificar uma filosofia africana é um
projecto europeu de demarcar a todo o custo a civilização
africana da do ocidente e, o papel criador da Filosofia
71
africana não pode nascer do nada, mas que necessariamente
parte da herança cultural.
Acima de tudo, a ideia da filosofia africana deve ser aliada a
um projecto de crítica e reflexão de africanos sobre os
problemas de África.
3.2.3 A Filosofia Política
A colonização dos africanos e a sua consequente escravização
fez com que o povo negro fosse visto como um povo inferior.
Esta situação levou o homem negro a definir-se, desde cedo,
como um guerreiro pela liberdade. Vários intelectuais
empenharam-se em investigar o passado africano com o intuito
de encontrar bases para fundamentar o seu valor. Criaram-se
movimentos, como o pan-africanismo e a negritude, que serviam
como meio de união dos africanos no que se refere aos domínios
políticos e cultural, respectivamente.
Assim, a filosofia social e política africana, no ^âmbito das
mudanças sociais, enterrou as bases defendidas inicialmente
por muito filósofos célebres, como Platào, que advogava as
virtudes como fundamentos para o bom governo, exigindo a
justiça, a sabedoria, a coragem e a temperança.
Pan-africanismo
Surge como manifestação da solidariedade entre os africanos e
os povos de descendência africana. O seu objectivo principal
era a unidade política dos Estados africanos. Este movimento
72
lançou as bases da filosofia política africana. A primeira
conferência pan-africana foi realizada em Londres, em 1900 com
o objectivo de procurar uma forma de protecção contra os
agressores imperialistas brancos e contra a política colonial
que até então submetia os negros.
3.2.4 A filosofia cultural (Negritude)
A negritude insere-se no espírito pan-africanista da união e
solidariedade entre os africanos, com a simples diferença de
se revestir de um carácter cultural e literário. Trata-se de
um movimento de união dos africanos do ponto de vista
cultural.
Coube a Aimé Césaire o mérito de ser considerado o grande
impulsionador deste termo. A ele cabe a paternidade do termo
negritude. Os maiores impulsionadores são: Césaire
(antilhano), Senghor (senegalês) e Damas (guianês) – resumiram
o projecto em três conceitos;
Identidade – consiste em o negro assumir plenamente a sua
condição; Fidelidade – atitude que traduz a ligação do homem negro
à terra mãe; Solidariedade – sentimento que liga secretamente todos
os irmãos negros.
Na lusofinia, a negritude lutou pela revogação de todas as
leis e regulamentos de excepção contra os africanos.
UNIDADE IV: METAFÍSICA E ARTE
4.1 Noção e objecto da ontologia (ou metafísica geral)
Etimologicamente, a palavra “ontologia” deriva de dois termos
gregos: onto, que significa ser, ente, indivíduo, e lógia, que quer dizer
73
tratado, saber, estudo, doutrina, investigação. Portanto, a ontologia é uma
parte da Filosofia que se ocupa dos problemas relativos ao ser
enquanto ser; ou seja, do ser na sua generalidade e das
propriedades ou qualidades que pertencem ao ser enquanto tal.
Este termo “ontologia” foi introduzido por Aristóteles na sua
obra Metafísica IV,1.
As perguntas principais de que se ocupa a ontologia são: o que
é o ser? Que qualidades podemos encontrar no ser? Por que
princípios se rege o ser?
O objecto de estudo da ontologia é o ser enquanto é. Não um
ser determinado, mas de forma abstracta, de máxima extensão
porque abrange tudo quando é e de mínima compreensão porque
abstrai de qualquer propriedade particularizante. Logo, o
objecto de estudo da ontologia é a totalidade ôntica.
4.1.1 O ser, o que é?
Ser é tudo que existe, independentemente do modo como é. É um
conceito quantitativamente genérico e complexo porque é género
supremo e, qualitativamente menos compreensivo porque escapa a
uma definição rigorosa, pois não possui uma característica
peculiar (diferença específica).
4.1.2 As categorias do ser: substância e acidente
As categorias do ser são as grandes divisões que o mesmo
comporta e, segundo Aristóteles, existem dez (10) categorias,
sendo a primeira a substâncias e as restantes nove (9) são
acidentes.
74
Substância é aquilo que é em si e por si, e não em outra
coisa. Aquilo que permanece como algo subsistente. São todas
as coisas concretas e individuais: o homem, a caneta, o peixe,
etc.
Aristóteles distinguiu a substância primeira da segunda. A
primeira se refere a indivíduos singulares e concretos, como
por exemplo: este caderno, o Tito, esta Angelina, etc. e, a
segunda diz respeito às espécies e géneros singulares e
abstractos (tudo que se existe como pensamento); se atribuem
às substancias primeiras, por exemplo: a Clarinda é uma
mulher.
O acidente é tudo aquilo que ocorre ou acontece; aquilo que
para ser necessita de se apoiar numa substância. O acidente só
existe na substância, não existe em si e por si; é predicado
da substância. Enquanto a substância permanece no indivíduo
mesmo com as modificações, o acidente é que está sujeito a
mudanças no indivíduo. Exemplo: a minha escola é linda;
Egnésio é inteligente, etc.
A classe dos acidentes:
Qualidade – é a forma da substância (ex: professor, inteligente,
bonito, etc).
Quantidade – atribuição de partes distintas a outras (exemplo:
pequeno, grande, 12gr; 20kg).
Relação – ligação que se estabelece entre a substância e os
acidentes (exemplo: pai, filho, primo, presidente, chefe).
75
Tempo – momento ou ocasião disponível para que uma coisa se
realize (de manhã, meio-dia, a tarde, 1975, etc.).
Lugar – espaço que um corpo substanciado ocupa em relação a
outros corpos (exemplo: em casa, na sala, em Nacala-Porto, no
cinema, etc.).
Acção – o que a substâncias faz usando as suas faculdades ou
poderes (por exemplo: dialogar, conduzir uma motorizada,
etc.).
Estado – conjunto de bens ou instrumentos que, por sua
habilidade, complementam a natureza da substância (por
exemplo: luxo, fausto, etc.).
Posição – lugar ou postura relativa ocupada pela substância (de
pé, sentado, deitado, etc.).
Paixão – sentimento ou emoção que provoca sentimento numa
determinada substância (a perda de um ente querido, o
ferimento, a doença, a condenação de Sócrates, etc.).
4.1.3 Potência e acto
Para explicar o dinamismo do ser, Aristóteles recorreu a duas
noções fundamentais: potência e acto.
Potência é a possibilidade que uma matéria tem de vir a ser
algo em acto; ou seja, é o carácter dinâmico da matéria que
lhe permite possuir um determinado modo de ser e que lhe
confere a capacidade de devir. Por exemplo: se sou aprendiz de
filósofo, posso ou não vir a ser filósofo; mas já que tenho a
possibilidade, posso afirmar que sou filósofo em potência.
76
O acto é o que faz ser aquilo que é, é o ser real, é o que o
determina. Dizer que uma coisa está em acto é o mesmo que
dizer que a mesma coisa tem actualidade, ou seja, passou da
potência de ser algo ao acto de ser. Por exemplo: a camisa do
uniforme está em acto, existe actualmente, não é aquele
simples tecido.
Estes dois conceitos são correlativos: o acto explica a
unidade do ser enquanto é e a potência explica o que a matéria
pode vir a ser.
4.1.4 Essência e existência
Também são dois conceitos correlativos. Para Aristóteles: a
essência é o quê de uma coisa, isto é, não o que seja, mas
aquilo que uma coisa é. Trata-se da qualidade ou determinação
sem a qual uma coisa não seria o que factualmente é. A
existência é a actualização da essência; é a realidade, a
substância em acto.
Portanto, a essência e a existência são princípios necessários
da afirmação e constituição do ser; pois é inconcebível um ser
sem essência ou um ser sem existência. Por isso, a essência
nada é sem a existência e a existência não é sem a essência.
Para o essencialismo, a essência é a primeira que a
existência: o ser define-se primeiramente e só depois se torna
isto ou aquilo. Enquanto o existencialismo defende a primazia
da existência sobre a essência: uma pessoa não tem qualquer
natureza ou conjunto de escolhas predeterminadas, pois é
77
sempre livre para fazer novas escolhas e constituir-se como
uma pessoa diferente.
4.1.5 A cadeia aristotélica de causas: Tomás de Aquino e as
cinco vias
A causa refere-se à força transformadora das coisas (da
potência ao acto) que confere um determinado modo de ser.
Para Aristóteles, os seres criados não têm a razão de ser em
si mesmos e distingue quatro causas que concorrem para a
produção de qualquer coisa:
Causa eficiente – aquilo que produz uma coisa. É o
artífice que confere o ser que antes uma coisa não
possuía.
Causa material – condição ou aquilo de que uma coisa é
feita.
Causa formal – a forma ou o aspecto que um determinado
ser toma ou que é plasmado pelo seu criador.
Causa final – o propósito ou o objectivo com que uma
coisa é feita.
Tomás de Aquino, na idade média, fala de cinco vias que também
são conhecidas como as provas da existência de Deus.
1. O movimento do mundo só é explicável se existir um primeiro
motor imóvel.
2. A série de causas eficientes no mundo devem conduzir a uma
causa sem causa.
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3. Os seres contingentes e corruptíveis devem depender de um
ser necessário independente e incorruptível.
4. Os diversos graus da realidade e bondade do mundo devem ser
aproximações a um máximo de realidade e bondade subsistente.
5. A teologia normal de agentes não conscientes no universo
implica a existência de um orientador universal inteligente.
4.1.6 A metafísica e o fim último do Homem
Não há unanimidade sobre os fins para os quais o Homem foi
criado. Mas prevalece uma visão teleológica para a existência
humana.
Para Aristóteles, toda a acção humana é feita em função de um
fim que é o bem soberano, isto é, a felicidade. Para ele, ser
feliz é o fim último da existência humana. A chave da
felicidade compreende o prazer, ser cidadão livre e viver
segundo a razão.
Também, na idade média, Santo Agostinho afirma que o Homem é
chamado a ser feliz. Para ele, a felicidade consiste na busca
de um bem permanente que é Deus. São Tomás acredita que o
homem foi criado em função de um fim: o fim sobrenatural que é
a salvação das almas individuais e o fim natural que é a
felicidade terrena.
Para Brazão Mazula, pensador moçambicano, o Homem tem de agir
de acordo com a ética da felicidade que se baseia num trabalho
duro, na criatividade e na honestidade e não na acumulação
ilícita de bens.
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4.2 Estética
4.2.1 Conceito de estética
A estética é a ciência do belo. Uma disciplina filosófica que
se ocupa no estudo do belo. Para Kant, a estética é a ciência
que trata das condições de percepção pelos sentidos.
O objecto de estudo da estética, enquanto ciência e teoria do
belo, é o tipo de conhecimento adquirido pelos sentidos como
bela arte. Os problemas fundamentais da estética são: a
natureza da arte, o seu fim e a sua relação com as outras
esferas da vida humana.
4.2.2 A essência do belo
Para Platão, a arte é uma imitação da natureza que é cópia das
ideias do mundo das ideias; o alvo da imitação é o belo. Para
Aristóteles, a arte não é apenas a imitação da natureza,
trata-se de uma reprodução da natureza com a intenção de a
superar. Para Vico, a arte é um modo fundamental e original de
homem se expressar numa determinada fase do seu
desenvolvimento: a dos sentidos, a da fantasia e a da razão.
A arte como a mais sublime expressão humana da natureza e do
universo opõe-se a própria Natureza que o homem pretende
exprimir e interpretar. Quando é simples manifestação do belo,
denomina-se belas-artes e, quando a arte visa fins lucrativos,
denomina-se artes úteis.
4.2.3 O belo como fundamento da arte
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Não há consenso sobre o que é belo ou sobre o que não o é,
porque, o que é belo é subjectivo. A obra da arte é a
representação subjectiva da realidade. Não existem valores
comungados por todos os povos e em todos os tempos. O belo é o
que nos reúne mais facilmente e mais misteriosamente. Daí que,
a obra de arte deve ser uma representação bela do mundo do
artista.
4.2.4 As belas artes
Existem as artes mecânicas (metalurgia e têxteis) em que o
artista está preocupado com a utilidade da sua obra (o lucro).
Existem as belas artes em que a preocupação fundamental do
artista é a expressão do gosto pelo belo.
As belas-artes classificam-se em artes plásticas e artes
rítmicas.
As artes plásticas são aquelas que exprimem a beleza sensível
através do uso das formas e das cores, que são: a escultura, a
pintura e a arquitectura.
As artes rítmicas ou artes de movimento são artes que, na sua
essência, produzem obras que exprimem a beleza mediante várias
formas: sons, ritmos e movimentos. São elas: a poesia, a
música e a coreografia.
4.2.5 Significado e valor social das produções artísticas
As obras da arte tratam a vida quotidiana de uma sociedade.
Sendo a representação da percepção do artista, torna-se a
janela através da qual a sociedade nela se revê. Ou seja, a
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sociedade espelha-se nas obras de arte, porque estas são a sua
representação. A arte pode intuir o que poderá ser uma
sociedade futura.
4.2.6 A arte e a moral: relação mútua?
Para Platão, a arte é fruto do amor que impele a alma para a
imortalidade. Para atingi-la, a alma gera e procria o belo
antecipando a vida feliz. Assim, a arte deve subordinar-se à
moral. Deve ser favorecida só a arte que é útil `a educação e
condenada e excluída a arte que favorece a corrupção. Para
Platão, a única arte digna de ser cultivada é a música porque
educa para o belo e forma a alma para a harmonia interior.
Para Kant, a estética e a ética estão separadas pelo interesse
presente na ética (a moral – virtudes), mas o belo e o bom
estão próximos porque agradam imediatamente, são
universalmente partilháveis, são inspirados por uma forma e
são livres.
Em suma, o artista, enquanto homem, está sujeito à moral.