UNIDADE I – INTRODUÇÃO À LÓGICA II

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1 UNIDADE I – INTRODUÇÃO À LÓGICA II 1.1 Lógica e argumentação Podemos dizer que a unidade básica da lógica é o argumento, pois nele se encadeiam, de um modo que pretendemos correcto, uma série de razões que nos levam a uma conclusão. A lógica ensina-nos a pesar, a consciencializar as exigências que presidem a um pensamento válido. Para tal, ensina-nos a analisar o encadeamento de provas, procurando verificar até que ponto elas se justificam. O argumento Na vida quotidiana, um argumento é frequentemente sinónimo de discussão e esta de litígio. Daí por vezes associarmos argumento a zanga. Contudo, no plano filosófico, o argumento perspectiva-se num domínio de estrita racionalidade, procurando-se encadear razões de um modo lógico, sustentando que é absurdo seguir caminhos diferentes. Portanto, um argumento destina-se a resolver dissidências e não provocá- las. Assim, designamos por argumento ao conjunto de razões que apresentamos de modo a tornar óbvia uma conclusão. O nosso interesse é mostrar aos nossos interlocutores que temos “razões” para aderir a esta ou àquela posição que defendemos. O que diferencia um argumento de uma descrição é o facto de nos apresentar razões (indicadores lógicos do argumento) a favorecerem ou desfavorecerem uma dada conclusão. Por exemplo: as publicidades.

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UNIDADE I – INTRODUÇÃO À LÓGICA II

1.1 Lógica e argumentação

Podemos dizer que a unidade básica da lógica é o argumento,

pois nele se encadeiam, de um modo que pretendemos correcto,

uma série de razões que nos levam a uma conclusão. A lógica

ensina-nos a pesar, a consciencializar as exigências que

presidem a um pensamento válido. Para tal, ensina-nos a

analisar o encadeamento de provas, procurando verificar até

que ponto elas se justificam.

O argumento

Na vida quotidiana, um argumento é frequentemente sinónimo de

discussão e esta de litígio. Daí por vezes associarmos

argumento a zanga. Contudo, no plano filosófico, o argumento

perspectiva-se num domínio de estrita racionalidade,

procurando-se encadear razões de um modo lógico, sustentando

que é absurdo seguir caminhos diferentes. Portanto, um

argumento destina-se a resolver dissidências e não provocá-

las.

Assim, designamos por argumento ao conjunto de razões que

apresentamos de modo a tornar óbvia uma conclusão. O nosso

interesse é mostrar aos nossos interlocutores que temos

“razões” para aderir a esta ou àquela posição que defendemos.

O que diferencia um argumento de uma descrição é o facto de

nos apresentar razões (indicadores lógicos do argumento) a

favorecerem ou desfavorecerem uma dada conclusão. Por exemplo:

as publicidades.

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Por isso, a linguagem não serve apenas para comunicar. Ela

permite: influenciar as outras pessoas e determinar as suas

convicções e os seus actos; exprimir e “impor” valores

julgados preferíveis e aprovar ou desaprovar atitudes, de

acordo com critérios assentes na força dos argumentos que

legitimam tais aprovações ou desaprovações.

Com base na lógica, não só distinguimos os argumentos válidos

dos inválidos, também compreendemos por que razões os mesmos

são correctos ou incorrectos.

Normalmente, num argumento envolvem-se os interlocutores (o

orador e o auditório) e as razões (provas prós ou contras).

Em lógica, um argumento é válido quando a conclusão do mesmo

decorre das razões que o sustentaram e é inválido quando não

decorre dessas razões.

Argumentar e argumentação

Argumentar é fornecer razões que sejam a favor ou contra uma

determinada tese. A argumentação constitui um acto, por um

lado, de pensamentos e de discurso, o que implica a produção

de proposições, ou seja, enunciados, teses e opiniões que

requerem justificações e provas demonstrativas. Ela ocorre num

acto de comunicação entre interlocutores com uso de princípios

lógicos. Desta forma, a argumentação difere da demonstração

que apenas produz argumentos válidos.

A finalidade da argumentação

Toda a argumentação tem uma das duas finalidades: persuadir

(que com argumentos preferenciais e de ordem emocional procura

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convencer o auditório) ou refutar (negar uma determinada

proposição).

Com a capacidade de dialogar, a competência argumentativa

remete para uma atitude de abertura em relação aos outros;

mostrar-se disponível falar ou influenciar/ouvir e ser

influenciado, o que implica que os interlocutores se

apresentam de igual para igual, no que diz respeito ao direito

de cada um aderir ou de resistir os argumentos do outro.

Podemos concluir que argumentar (e contra-argumentar ou

refutar) implica e exige: tolerância; generosidade

intelectual; respeito pelo outro e pela sua opinião e o

reconhecimento do nosso direito e do outro.

1.2 Noção do juízo e proposição

Enquanto o conceito é a primeira operação da mente, o juízo é

uma espécie da segunda operação da mente, que consiste no

estabelecimento duma relação entre dois ou mais conceitos.

Portanto, o juízo é o acto mental pelo qual a inteligência

afirma ou nega uma coisa da outra. Um juízo é verdadeiro

quando se adequa com a realidade e falso quando não se adequa.

Por exemplo: O Mário é professor. Esta afirmação será

verdadeira quando, de facto, o Mário for professor, pelo

contrário será falsa.

Um ponto importante é de que só os enunciados que exprimem

verdades e falsidades devem ser considerados juízos, pois são

eles que expressam uma relação de concordância ou discordância

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entre dois conceitos ou termos (sujeito e predicado). Assim,

termos soltos não constituem juízos: Lurdes Mutola.

A proposição é a expressão verbal do juízo. No entanto, nem

todas as proposições Gramaticais são loiças. Por exemplo: o

jantar está pronto? (proposição interrogativa); faz o que

deve! (proposição imperativa); meu Deus! (interjeições).

Estrutura do juízo

Todo o juízo é constituído por três elementos fundamentais:

Sujeito (S) – aquilo acerca da qual se afirma ou se nega

algo. A coisa de que ou de quem se fala.

Predicado (P) – é a qualidade ou característica que se

afirma ou se nega pertencer ao sujeito.

Copula – é o elemento de ligação entre o sujeito e o

predicado, representado pelo verbo "ser".

Exemplo: Alguns alunos são inteligentes. Sujeito – alunos;

predicado – inteligentes; cópula – são.

Aos três elementos fundamentais do juízo se acrescenta um

necessariamente: o quantificador que indica se o predicado é

atribuído a todos os elementos da extensão do sujeito ou a uma

parte deles, ou se não é atribuído a qualquer deles.

Juízo categórico

Juízo categórico é todo aquele que afirma ou nega, sem

reservas a relação entre sujeito e predicado. Eles são

introduzidos pelos quantificadores todo ou todos, nenhum e alguns.

Trata-se da forma padrão do juízo que possui quatro elementos:

quantificador, sujeito, cópula e predicado.

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Todo Homem e

mortal

Quantificador

Sujeito Copula Predicado

1.3 Classificação dos juízos

1. Quanto à quantidade:

Universais

O predicado se aplica a todaextensão do sujeito

Ex: Nenhum Homem éCão

Particulares

O predicado se aplica apenas auma parte da extensão dosujeito

Ex: Alguns homenssão inteligentes

Singulares

O predicado se refere a únicoindividuo

Ex: A Clarinda éaluna

2. Quanto à qualidade:

Afirmativos

O predicado é afirmado emrelação ao sujeito

Ex: A Suzana é umarapariga obediente

Negativos

Quando a cópula indica que opredicado não é aplicável aosujeito

Ex: O Ruben não éum bom estudante

3. Quanto à inclusão ou não inclusão do predicado no sujeito:

Analíticos

Quando o predicado estácompreendido no sujeito

Ex: O quadrado temquatro lados iguais

Sintéticos

Quando o predicado não estácontido na noção do sujeito

Ex: Os Macuas sãopacíficos

4. Quanto à dependência ou não da experiencia:

A prior A sua veracidade pode ser Ex: O quadrado tem

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conhecida independentemente daexperiência

quatro lados iguais

Aposterior

A sua veracidade só pode serconhecida através daexperiência

Ex: Os chineses sãobaixinhos

5. Quanto à relação ou condição:

Categóricos

Há afirmação ou negação semreservas

Ex: O Homem é mortal

Hipotéticos

Há afirmação e negaçãocondicionais

Ex: Se fores, tambémvou

Disjuntivos

A afirmação dum predicadoexclui outros

Ex: Nita estuda ou joga

6. Quanto à modalidade:

Assertórios

Enunciam uma verdade defacto, embora nãonecessária logicamente

Ex: A Lurdes Mutola éuma atleta exemplar

Problemáticos

Enunciam uma possibilidade Ex: Os macuas sãoprovavelmenteapreciadores de carne

Apodícticos

São necessariamenteverdadeiros

Ex: O triângulo temtrês lados.

7. Quanto à matéria:

Necessários O predicado convém enão pode não convir aosujeito

Ex: O círculo éredondo

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Contingentes O predicado convém defacto ao sujeito maspoderia não convir

Ex: O Márioreprovou no exame

Impossíveis ouabsurdos

O predicado não podeconvir ao sujeito

Ex: O quadrado éredondo

Os tipos de proposições categóricas

Na combinação entre a qualidade e quantidade, surgem quatro

juízos categóricos: A, E, I, O. Estes são resultado do AFIRMO

(A e I) e NEGO (E e O), sendo:

Tipo Qualidade Quantidad

e

Exemplo

A Afirmativo Universal Todo S é PTodo macua é honesto

E Negativo Universal Nenhum S é PNenhum macua é honesto

I Afirmativo Particula

r

Algum S é PAlgum macua é honesto

O Negativo Particula

r

Algum S não é PAlgum macua não é honesto

1.4 Raciocínio e argumento

O raciocínio é uma operação mental a partir da qual passamos

de juízos conhecidos para um ou mais juízos novos até então

desconhecidos e que são o seu fim lógico. Enquanto operação

mental, o raciocínio é composto por juízos e argumento.

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O argumento é a expressão oral ou mental do raciocínio

composto por proposições. Ele é o resultado da relação entre

as diversas proposições que constituem um raciocínio.

1.4.1 Inferência

A inferência é o processo mental (raciocínio) a partir do

qual, partindo de uma ou mais proposições, se passa para

outra, ou outras, cuja conclusão lógica ou verdade resulta da

verdade das premissas. A inferência parte de um ou mais juízos

(premissas), para chegar chegar a um outro, a conclusão.

Por exemplo:

Todos os filósofos são sábios (premissa 1)

Alguns moçambicanos são filósofos (premissa 2)

Alguns moçambicanos são sábios (conclusão)

Tipos de inferências

1.4.1.1 Inferência imediata

São aquelas que se obtêm directamente sem qualquer novo termo

intermediário. A proposição dada e a inferida contêm os mesmos

termos. Ou seja, é quando duma só proposição se conclui outra.

Estas se obtêm pelos processos de oposição e conversão das

proposições.

Exemplo: Todos os filósofos são respeitosos

Logo, alguns respeitosos são filósofos.

Oposição das proposições nas inferências imediatas

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A oposição ocorre quando duas proposições têm o mesmo sujeito

e o mesmo predicado mas diferem quer na quantidade quer na

qualidade.

Tipos de oposições de proposições e suas leis

a) Proposições contrárias

Duas proposições universais que diferem pela qualidade chamam-

se contrárias – AE. Designam-se contrárias, quando duas

proposições não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, mas

podem ser ambas falsas, quando são da expressão de um juízo

assertório, isto quando o seu predicado é acidental.

Exemplo: (AE). Todo Homem é animal racional (A) e Nenhum Homem

é animal racional (E).

b) Proposições subcontrárias

Duas proposições particulares que diferem pela qualidade são

subcontrárias – IO. São subcontrárias quando duas proposições

podem ser ambas verdadeiras, quando são da expressão de um

juízo assertório, mas não falsas ao mesmo tempo. Isto é, se

uma é falsa, a outra pode ser verdadeira ou falsa, isto é,

duvidosa.

Por exemplo: (IO) – Alguns homens são animais racionais

(I) e alguns homens não são animais racionais (O).

c) Proposições subalternas

Duas proposições que diferem pela quantidade chamam-se

subalternas. Segundo a lei das proposições, dizem que são

subalternas quando a verdade da proposição universal implica a

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da proposição particular subordinada, a falsidade universal

não acarreta da particular, a verdade da particular não

determina a da universal, a falsidade da particular exige a

falsidade da universal.

Exemplo: AI – Todo Homem é animal racional (A) e alguns homens

são animais racionais (I). EO – Nenhum Homem é animal racional

(E) e alguns homens não são animais racionais (O).

d) Proposições contraditórias

As duas proposições diferem ao mesmo tempo pela qualidade e

quantidade que se chama contraditórias.

Segundo a lei das proposições, designa-se contraditória quando

duas proposições não podem ser verdadeiras nem falsas ao mesmo

tempo. Se uma é verdadeira, a outra é falsa e vice-versa.

Exemplo: AO – Todo Homem é animal racional (A) e alguns homens

não são animais racionais (O). EI – Nenhum Homem é animal

racional (E) e alguns homens são animais racionais (I).

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Quadro lógico da oposição das proposições

Conversão das proposiçõBes nas inferências imediatas

A inferência pode também ser feita por transposição de termo:

trocando o sujeito pelo predicado e o predicado pelo sujeito.

Para tal é preciso observar as seguintes regras: os termos

permutados não podem ter maior extensão na conclusão do que

tinham na proposição conversa, mas podem ser de extensão

menor.

Tipos de conversão

a) Conversão simples, como nas proposições do tipo E

(universais negativas) e as do tipo I (particulares

afirmativas); as primeiras são universais e as segundas

são particulares, por isso, só neste caso se pode fazer a

conversão simples. Exemplo:

Nenhum metal é gásNenhum gás é metal

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Nesta proposição, conserva-se a mesma qualidade e quantidade.

Convertem-se também simplesmente, as proposições chamadas

recíprocas, ou equivalentes do tipo A; por exemplo:

O triângulo é um polígono de três lados

O polígono de três lados é um triângulo

b) Conversão por limitação, nas proposições do tipo A, o

sujeito é universal e o predicado particular, por isso,

ao converter a proposição, teremos que manter, na

conversa, a mesma extensão do predicado, de modo que

passe de universal à particular (I).

Exemplo:

Todos os homens são seres vivos

Alguns seres vivos são homens

c) Conversão por negação, nas proposições do tipo O, o

sujeito é particular e o predicado universal para

respeitar a validade da conversão, que não podemos

converter simplesmente porque o sujeito fica com maior

extensão, por isso, recorre a um artifício que consiste

em transformar a proposição a converter numa proposição

particular afirmativo (I) equivalente, o que consegue

transferir a negação cópula para o predicado.

Exemplo: Alguns homens não são pais

Alguns homens são não pais

Alguns não pais são homens

d) Conversão por contraposição – pouco usada e violenta,

obtém-se juntando uma negação ao sujeito e outra ao

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predicado e invertendo, em seguida, a ordem dos termos.

Pode aplicar-se às proposições de tipo A e O.

Exemplo: Todo o homem é mamífero

Todo o não homem é não mamífero

Todo o não mamífero é não homem

1.4.1.2 Inferência mediata (raciocínio)

Trata-se de uma inferência mediata quando se conclui uma

proposição de várias proposições. Estas constituem o processo

do raciocínio. Já aparece pelo menos um termo novo que serve

de mediador entre os restantes termos. Exige mais do que dois

termos (normalmente três, servindo um termo médio) e mais do

que uma proposição.

Exemplo: Todo o Homem é mamífero

Ora, O António é homem

Logo, o António é mamífero

Tipos de raciocínio

Tradicionalmente, as inferências mediatas ou raciocínios

dividem-se em três grupos: raciocínios dedutivos, indutivos e

raciocínios por analogia.

a) Raciocínio dedutivo – é aquele que de uma ou mais

premissas tira uma conclusão e que parte do mais geral ao

particular. Vai da causa ao efeito, da lei ao facto

concreto.

Exemplo: Todos os moçambicanos são pacíficos

Muapitão é moçambicano

Muapitão é pacífico

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b) Raciocínio indutivo – é todo aquele que vai do particular

ao geral, do efeito a causa, do facto à lei.

Exemplo: Jorge, Ana é inteligente; Maria é inteligente;

Fany é inteligente

Ora, Jorge, Ana, Maria, Fany são moçambicanos

Logo, Todos moçambicanos são inteligentes

c) Raciocínio analógico – é todo aquele que infere de uma

verdade particular para outra verdade também particular

por semelhança. Portanto, a analogia é um tipo de

raciocínio muito vulgar em senso comum também no âmbito

científico, especialmente no campo da biologia.

Por exemplo: em presença de dois doentes com o mesmo tipo

de sintoma, o médico conclui tratar-se da mesma doença,

assim, está a fazer o uso do raciocínio por analogia.

1.5 O silogismo

1.5.1 Noção do Silogismo

O silogismo é um raciocínio formado por três proposições em

que das duas primeiras, chamadas premissas, originam uma

terceira, chamada conclusão lógica. Exemplo:

Todo o homem é mortalO João é homem O João é mortal

1.5.2 Estrutura e matéria do Silogismo

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Todo silogismo regular é formado por três proposições, sendo

as duas proposições, as premissas: premissa maior (a primeira)

e a premissa menor (a segunda) e, a última, a conclusão e por

três termos comparados, dois a dois: termo maior (P), termo

médio (M) e termo menor (S).

As proposições e termos constituem a matéria do silogismo; os

termos são matéria remota e as proposições são a matéria

próxima. A ordenação dos termos e das proposições, de acordo

com as oito (8) regras do silogismo (que trataremos

posteriormente) constituem a forma ou estrutura do silogismo.

Por exemplo:

Todo o homem é mortal (M e P) – premissa maiorO João é homem (S e M) – premissa menorO João é mortal (S e P) – conclusão

Partindo deste exemplo, explicamos detalhadamente os termos e

as proposições:

Os termos:

Esses são os três termos do silogismo (P, M, S). Em cada

premissa teremos relações dos dois (P e S) com um terceiro (M)

– M é P, S é M) ou P não é M, S é P.

Detalhadamente teremos:

Termo maior (P) ou (T) é aquele que tem maior extensão. É

sempre o predicado da conclusão. Do exemplo dado é:

mortal.

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Termo menor (S) ou (t) é aquele que tem menor extensão e

ocupa sempre o lugar de sujeito na conclusão. Do exemplo

dado é: João

Termo médio (M) é aquele cuja extensão é intermediária

entre o maior e o menor e permite a relação destes, por

isso, repete-se nas premissas. Nunca entra na conclusão.

Do exemplo dado é: homem.

Em suma, no silogismo cada um dos termos aparece duas vezes: o

médio repete-se nas premissas (homem); o maior e o menor que

também se chamam extremos repetem-se nas premissas e na

conclusão. A repetição é indispensável para que seja possível

a comparação dos termos; sem isso nenhuma conclusão seria

possível.

As proposições:

Premissa maior – é a proposição que contêm o termo maior ou o

predicado da conclusão. E o termo médio; em geral, é a

primeira. Do exemplo dado é: Todo o homem é mortal.

Premissa menor – é a proposição que contém o termo menor ou

sujeito da conclusão e o termo médio; em geral é a segunda. Do

exemplo dado é: o João é homem.

Conclusão – é a proposição que contém o termo maior e menor; o

sujeito da conclusão é o termo menor e o seu predicado é o

termo maior. O termo médio não entra na conclusão mas repete-

se nas premissas. Do exemplo dado é: o João é mortal.

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Estrutura do silogismo TRÊS TERMOS

Dois extremos Interméd

io

Menor Maior Médio

TRÊS

PROPOSIÇÕES

Duas

Premissa

s

Maior * *

Menor * *

Conclusão * *

1.5.3 Princípios do silogismo

A dedução funda-se no princípio de identidade que se enuncia

da seguinte maneira, assim, existem dois princípios

fundamentais do silogismo:

Princípio de compreensão

Duas coisas ou ideias iguais a uma terceira são iguais

entre si.

Exemplo 1: A=B; B=C; logo, A=C.

Duas coisas ou ideias em que uma é idêntica e a outra não

é idêntica a uma terceira, não são idênticas entre si.

Exemplo: A=B; B≠C; logo, A≠C.

Princípio de extensão

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Tudo o que se afirma ou se nega universalmente do sujeito

é afirmado ou negado das suas partes.

Exemplo: se afirmamos que “todos moçambicanos são humildes”;

quer dizer, os de Nampula, Zambézia, Sofala, etc., e cada um

dos moçambicanos é humilde.

1.5.4 Regras do silogismo

Todo o silogismo que pretende ser válido, para além de

princípios, tem de se conformar a oito (8) regras

particulares: quatro (4) relativas aos termos e quatro

relativas às proposições ou premissas:

a) Regras dos termos

1ª. Os termos são três: médio, maior e menor. Viola-se esta regra quando

se usa um termo equívoco (com mais de um significado).

Exemplo:

Há animais que têm quatro patas.

Ora, as mesas têm quatro patas.

Logo, as mesas são animais.

2ª. Nenhum termo deve ter maior extensão na conclusão que nas premissas.

Exemplo:

Os africanos são homens

Ora, os russos não são africanos

Logo, os russos não são homens

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3ª. O termo médio deve ser tomado, pelo menos, uma vez, universalmente. De

contrário seria tomado em duas extensões diferentes. Portanto,

com dois significados diferentes.

Exemplo:

Os homens não são todos altos

Os gigantes são homens

Os gigantes não são todos homens.

4ª. O termo médio nunca pode entrar na conclusão.

Por exemplo:

Maria é curiosa

Maria é bela

Maria é uma bela curiosa

b) Regras das proposições

5ª. De duas premissas afirmativas, não se pode tirar uma conclusão negativa.

Por exemplo:

Tudo o que respira vive.

Ora, eu respiro.

Logo, eu não vivo

6ª. De duas premissas negativas nada se pode concluir.

Por exemplo:

O António não é o filho de Nilza

O Pedro não é filho da Nilza.

……………………….(?)

Que parentesco existe entre António e Pedro? A pergunta não

tem sentido.

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7ª. De duas premissas particulares nada se pode concluir. Porque o termo

médio não será tomado nenhuma vez universalmente.

Exemplo:

Há homens que são virtuosos

Há homens que são pecadores

Logo, os pecadores são virtuosos

8ª. A conclusão segue sempre a parte mais fraca. Ao aplicar esta regra

temos que ter em conta que a particular é a mais fraca que a

universal, a negativa mais fraca que afirmativa.

Exemplo:

A virtude é digna de louvor

Alguns homens têm virtude

Alguns homens são dignos de louvor

1.5.5 Figuras e modos do silogismo

1.5.5.1 Figuras do silogismo

As figuras do silogismo são determinadas pelo papel que o

termo médio (M) desempenha nas duas premissas; pode tomar

conforme a colocação (ou posição), o lugar de sujeito ou

predicado.

São quatro, as figuras possíveis:

1ª. O termo médio é sujeito da premissa maior e predicado da premissa menor

(Sub – Prae).

Por exemplo:

Todo o mamífero é vertebrado (M é P)

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O cão é mamífero (S é M)

O cão é vertebrado (S é P)

2ª. O termo médio é predicado das duas premissas (Prae - Prae).

Por exemplo:

Toda a mãe é mulher (P é M)

Joana é mulher (S é M)

Joana é mãe (S é P)

3ª. O termo médio é sujeito nas duas premissas (Sub - Sub).

Por exemplo:

Os morcegos são mamíferos (M é P)

Os morcegos são voadores (M é S)

Alguns voadores são morcegos (S é P)

4ª. O termo médio é predicado na maior e sujeito na menor premissas (Prae –

Sub).

Por exemplo:

Os africanos são homens (P é M)

Os homens são racionais (M é S)

Alguns racionais são africanos (S é P).

1.5.5.2 Modos do silogismo

Entendemos por modo do silogismo as variantes estruturais que

apresenta dentro de cada figura, devido à quantidade e qualidade

das respectivas proposições.

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Estudamos que combinando a quantidade com a qualidade obtemos

quatro tipos de proposições: A, E, I, O.

Combinando estas letras em grupos possíveis de três

proposições, obteríamos 64 combinações para cada figura. E,

englobando os 64 modos possíveis nas quatro figuras obteríamos

256 possíveis combinações. É evidente que a quase totalidade

destes modos possíveis são ilegítimos por violarem as regras

do silogismo já referidas.

Assim, os modos legítimos são apenas 19, distribuídos pelas

quatro formas.

Para a 1ª figura – BARBARA (AAA), CELARENT (EAE), DARRII (AII),

FERIO (EIO) – quatro (4) modos.

Para a 2ª figura – CESARE (EAE), CAMESTRES (AEE), FESTINO (EIO),

BAROCO (AOO) – quatro (4) modos.

Para a 3ª figura – DARAPTI (AAI), DISAMIS (IAI), DATISI (AII),

FELAPTON (EAO), BOCARDO (OAO), FERISON (EIO) –

seis (6) modos.

Para a 4ª figura – BRAMANTIP (AAI), CAMENES (AEE), DIMARIS (IAI),

FESAPO (EAO), FRESISON (EIO) – cinco (5) modos.

Em suma, existem 19 modos de silogismos válidos, distribuídos

nas quatro figuras, que resultam de várias combinações

possíveis dos quatro tipos de proposições (AEIO), sem

infringir qualquer regra do silogismo.

1.5.6 Classificação dos silogismos

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Existem dois principais tipos de silogismo: categóricos e

hipotéticos. Os silogismo categóricos dividem-se em regulares

e irregulares e, até agora vimos apenas os silogismos

categóricos regulares cuja estrutura apresenta três termos e

três proposições.

Silogismos irregulares

Sendo que, normalmente, não seguimos as formas mais perfeitas

de raciocínio, aparecem os silogismos irregulares como

resultado da omissão ou ampliação dos elementos que constituem um

silogismo regular. Os principais tipos de silogismos

irregulares são: entimema, epiquerema, polissilogismo e sorites.

Entimema (ou silogismo incompleto) – é um silogismo

simplificado pela omissão duma das premissas, que se

subentende facilmente.

Exemplo:

Os homens são mortais

Logo, Pedro é mortal

Epiquerema – é um silogismo em que as premissas exibem uma

justificação.

Exemplo:

A ciência é útil, porque ensina ao homem a verdade

A lógica é uma ciência, porque é um conjunto de verdades

Logo, a lógica é útil.

Polissilogismo – é um encadeamento de silogismos em que a

conclusão do primeiro é a premissa maior do segundo; a

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conclusão deste é a premissa maior do terceiro; e, assim,

sucessivamente.

Exemplo:

Todo mamífero é vertebrado

Todo o carnívoro é mamífero

Logo, Todo o carnívoro é vertebrado

Todo o felino é carnívoro

Logo, Todo o felino é vertebrado.

Sorites – é o argumento em que quatro (4) ou mais proposições

estão de tal modo enlaçados que o predicado duma é sujeito da

seguinte e, na conclusão, aparecem ligados o sujeito da

primeira e o predicado da última.

Exemplo:

A alma humana é imaterial

O imaterial é simples

O simples é indecomponível

O indecomponível é incorruptível

O incorruptível é imortal

Logo, A alma humana é imortal

Silogismos hipotéticos

Nos silogismos hipotéticos não se afirma nem nega nada

rotundamente como acontece nos silogismos categóricos; mas

afirma-se ou nega-se sob uma condição ou estabelecendo uma

alternativa. Por isso, a premissa maior de um silogismo

hipotético é constituída por duas ou mais proposições simples

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cujas ligações são feitas por conectores como: “se…então; …e…; …

ou…”.

Os silogismos hipotéticos podem ser: condicionais,

disjuntivos, conjuntivo e dilema.

Silogismo hipotético condicional – atende às relações de

consequência entre proposições. Estabelece uma relação entre o

antecedente e o consequente (condição e condicionado).

Exemplo:

Se aquecermos um corpo metálico ele dilata-se

Este corpo metálico não se dilatou

Logo, não foi aquecido.

No silogismo hipotético condicional encontramos duas figuras:

1ª figura: ponendo – ponens (tradução literal: “ao colocar…

coloca-se”). O antecedente coloca-se na premissa menor, o que

leva a que a conclusão afirma consequente.

Exemplo:

Se um animal bebe leite em pequeno é mamífero (premissa maior)

O cão bebe o leite em pequeno (premissa menor)

Logo, o cão é mamífero (conclusão)

2ª figura: tollendo – tollens (à letra: ao excluir…exclui).

Nesta figura, a premissa maior continua a ser uma proposição

hipotética, a menor nega a consequente e a conclusão nega o

antecedente.

Exemplo:

Se um animal bebe leite em pequeno é mamífero (premissa maior)

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O peixe não é mamífero

Logo, o peixe não bebe o leite em pequeno.

Regras do silogismo hipotético condicional

1ª regra – num silogismo hipotético condicional, a negação ou

afirmação da consequente torna necessário a negação ou

afirmação do antecedente. Assim, afirmar ou negar a condição é

afirmar ou negar o condicionado.

2ª regra –negar a consequente significa negar a condição.

Silogismo hipotético disjuntivo – aquele que estabelece uma

alternativa entre dois termos ou mais atributos, mas de tal

modo que afirmando um deles, os restantes serão negados em

bloco e negando um ou vários, o outro será afirmado.

Exemplo:

Ou João é do Sporting ou do Benfica

Ora, João é do Sporting

João não é do Benfica

Este tipo do silogismo tem duas formas ou modos válidos:

Modus ponendo – tollens (ao afirmar, nega). Nesta figura, a

premissa maior anuncia uma disjunção exclusiva. Veja o exemplo

anterior.

Modus tollendo – ponens (negando, afirma).

Exemplo:

27

Ou Helena é nervosa ou é paciente

Ora, Helena não é nervosa

Logo, Helena é paciente.

Silogismo hipotético conjuntivo

Neste tipo de silogismo, a premissa maior não admite que dois

termos opostos prediquem simultaneamente um mesmo sujeito.

Exemplo 1:

Vaquina não pode ser, simultaneamente, professor moçambicano e

americano.

Como Vaquina é professor moçambicano, logo, ele não é

professor americano.

Exemplo 2:

Muapitão não pode ser preguiçoso e dedicado ao mesmo tempo.

Muapitão não é preguiçoso

Logo, ele é dedicado.

Modus ponendo – tollens (afirmando, nega). Nesta figura, a

premissa maior anuncia uma disjunção exclusiva. Veja o exemplo

anterior. Veja o exemplo 1.

Modus tollendo – ponens (negando, afirma). Veja o exemplo 2.

Dilema

É um argumento formado por uma proposição disjuntiva e duas

condicionais que levam, seja qual for a condição admitida

conduz à mesma conclusão. É famosa faca de dois cumes (entre a

28

espada e a parede). Qualquer seja a opção escolhida, a

consequência é sempre a mesma.

Exemplo:

Ou sabes que sabes, ou sabes que não sabes

Se sabes que sabes, sabes alguma coisa

Se sabes que não sabes também sabes alguma coisa

Logo, em qualquer dos casos, sabes.

Regras do dilema

1ª Regra – a disjunção deve ser completa para que o adversário

não tenha outra saída.

2ª Regra – a refutação de cada uma das hipóteses deve ser

feita validamente para que o opositor não possa negar as

consequências.

3ª Regra – a conclusão deve ser a única que pode ser deduzida,

caso contrário, o dilema pode ser contestado.

1.6 Falácias e paradoxos

1.6.1 Falácias

Falácia é todo raciocínio que tem, embora aparências de

verdadeiro, é um raciocínio incorrecto. E, como o erro pode

ser involuntário (pois o homem está sujeito a enganar-se) ou

voluntário (quando há intenção de enganar alguém), as falácias

podem-se dividir em: paralogismos e sofismas.

Paralogismo – quando o homem se engana involuntariamente.

Sofismas – quando há intenção de enganar alguém, isto é,

enganar duma forma voluntária.

29

Assim, em qualquer falácia ocorrem dois elementos essenciais:

uma verdade aparente e um erro oculto.

Importa-nos destacar as diferentes espécies dos sofismas que

constituem erros voluntários.

Num raciocínio incorrecto, o erro tanto pode originar-se nas

palavras empregadas como na conexão das ideias. Assim temos:

a) Sofismas verbais (ou gramaticais)

b) Sofismas lógicos (ou das ideias).

a) Os sofismas verbais mais ocorrentes, cujo erro se

encontra na linguagem empregada são:

Ambiguidade ou equívoco que é o uso indevido do mesmo

termo com diferentes significações.

Exemplo:

Só o homem é que pensa

Ora, nenhuma mulher é homem

Logo, nenhuma mulher pensa.

Metáfora – resulta da confusão originada pelo emprego de

um termo em sentido figurado.

As águias romanas conquistaram um grande império

Ora, as águias são aves

Logo, as aves conquistaram um grande império.

Anfibologia – deriva da ambiguidade sintáctica de uma

parte de um argumento. Ocorre sempre que procuramos

sustentar uma conclusão recorrendo a uma interpretação

errada de uma proposição gramaticalmente ambígua.

30

Todos os homens amam uma mulher

Pertuliano ama Abiba

Logo, todos os homens amam Abiba

Confusão entre o sentido colectivo (indiviso) e o sentido

individual (diviso), empregando o mesmo termo com

idêntico valor.

Os portugueses descobriram muitas terras

Camões e Vieira são portugueses

Logo, Camões e Vieira descobriram muitas terras.

b) Sofismas lógicos – são referentes à conexão das ideias e

são os seguintes.

Sofisma da falsa analogia – resulta do facto de

atendermos apenas às semelhanças aparentes entre dois

objectos chegando a conclusões precipitadas e, realmente,

falsas.

A terra é um planeta

A terra é habitada

Logo, os planetas são habitados

Ignorância de causa – consiste em considerar verdadeira

causa uma circunstância ocasional e de mera coincidência.

Joana partiu um espelho; e, pouco depois, sofreu um pequeno

acidente. Joana concluiu que o acidente foi provocado pelo

espelho partido, pois, vidros partidos são prenúncio de

desgraça.

31

Enumeração imperfeita – quando se chega a conclusões

repentinas e precipitadas, generalizando aquilo que só

pode atribuir-se a algumas partes.

Hoje é dia 13 e fui chamado

A chamada correu-me mal

O número 13 é aziago

Petição de princípio – é o sofisma que apresenta uma

conclusão baseada em premissas que já pressupõem essa

mesma conclusão.

A alma humana é imortal

Pedro tem alma

A alma de Pedro é imortal

Tautologia – quando se apresenta a mesma ideia apenas por

palavras diferentes (explicação aparente), sem esclarecer

nada.

O homem é racional porque é dotado de razão.

Círculo Vicioso ou dialelo – que consiste em provar uma

coisa por outra (a primeira pela segunda e esta pela

primeira), sem demonstrar nenhuma delas.

Provar a questão A por B e B por A.

P. – Que é uma ideia clara?

R. – É aquela que não é obscura.

P. – E que é uma ideia obscura?

R. – É aquela que não é clara.

32

Ignorância da questão – consiste num afastamento do

assunto da discussão, apresentando argumentos que levam a

uma conclusão que, aparentemente, parece consequência

lógica da questão.

Raimundo comete um crime. Posta a questão em tribunal, os

advogados (de acusação e de defesa) intentam provar: um, a

culpa; o outro, a inocência do Raimundo. Entretanto, o juiz

considera as provas insuficientes mas inclina-se pela

culpabilidade do réu. Neste momento e com a rara habilidade

toma a palavra o defensor e, desviando o assunto, sugere que o réu

seja declarado inocente e absolvido, quer apelando para erros

judiciais anteriores, quer lembrando o comportamento exemplar

do seu constituinte como chefe de família, a estima que todos

lhe dedicam, etc., e consegue que o Raimundo seja declarado

inocente.

O argumento sofístico poderia redigir-se do modo seguinte:

Não pode ser criminoso que tem um passado limpo e é estimado

por todos

Raimundo tem um passado limpo e é estimado por todos

Logo, Raimundo não é criminoso (= é inocente).

Remédio dos sofismas

O problema reveste dois aspectos:

a) Evitar o seu emprego – para os evitar exige-se uma grande

bagagem de cultura que nos permita ver os erros e remediá-

los de acordo com as regras do pensamento correcto.

33

b) Refutá-los – exige-se, além da cultura, uma perspicácia sagaz

e astuta que nos permita analisar criteriosamente a

linguagem, a matéria e a forma dos sofismas, de modo a

descobrir e a atacar os erros que encerram.

1.7 Lógica proposicional

Este tipo de lógica, diferentemente da Aristotélica ou

clássica que é totalmente formal e demonstrativa

(silogística), é, além de ser formal, sistematicamente

simbólica. Trata-se duma lógica moderna e de inferência

proposicional que recorre a uma linguagem simbólica para

traduzir as proposições e as suas relações.

A lógica proposicional é aplicada tendo em conta aos seguintes

aspectos:

As variáveis – as letras do alfabeto que representam

qualquer enunciado, por isso, são designadas por letras

enunciativas: p, q, r, s, t p’, q’, r’, s’, etc.

As conectivas ou proposições lógicas – são o número de

cinco: ~, Ʌ, V, → e ↔.

Os parênteses (curvos ou rectos) e as chavetas – os

parênteses e as chavetas funcionam como sinais de

pontuação nas proposições complexas, tal como a vírgula e

os pontos: {, [, (), }, ].

34

Os valores lógicos das proposições – tratam-se do

verdadeiro e do falso na qualificação das proposições e

são abreviados pelas letras V – verdadeiro (1) e F –

falso (O).

1.7.1 Proposições simples e proposições complexas

As proposições são frases do tipo declarativo às quais se

associam os valores lógicos (verdadeiro ou falso). As

proposições podem ser de dois tipos: simples ou atómicos;

complexas ou moleculares.

Simples ou atómicas – quando se trata de proposições que não

se podem decompor noutras proposições e, por isso, o seu valor

lógico mede-se unicamente do confronto com os factos de que

anuncia com a realidade. Exemplo: Os moçambicanos são

africanos.

Complexas ou moleculares – são proposições decomponíveis

noutras proposições consideradas mais simples.

Exemplo: Lurdes Mutola foi campeã olímpica dos 800m ou cantora

e dançarina.

Decompondo, fica:

Lurdes Mutola foi campeã olímpica dos 800m

Lurdes Mutola foi cantora

Lurdes Mutola foi dançarina

1.7.2 Conectivas lógicas ou operadores lógicos

As conectivas lógicas ou operadores são as operações

elementares do cálculo proposicional. Tais conectivas são o

número de cinco e designam-se do seguinte modo:

35

Operação lógica Expressão verbal Símbolo

Negação Não ~

Conjunção E Ʌ

Disjunção Ou V

Condicional (ou

implicação)

Se…então… →

Bicondicional (ou

equivalência)

Se e só se ↔

1.7.3 As tabelas de verdade

Representam as tabelas de verdade, as combinações de todos os

valores possíveis das proposições conectadas. Admitindo-se

dois valores de verdade: verdadeiro e falso, são possíveis

quatro casos.

Tomemos como ponto de partida o seguinte exemplo: “Vaquina estuda e

Muapitão joga futebol.”

Casos

possív

eis

Proposições

simples

Proposição composta

Vaquina estuda Muapitão joga

futebol

Vaquina estuda e

Muapitão joga

futebol.

Caso

Verdadeira Verdadeira Verdadeira

Caso

Verdadeira Falsa Falsa

36

Caso

Falsa Verdadeira Falsa

Caso

Falsa Falsa Falsa

Os quatro casos são logicamente

possíveis

Valores de verdade

para cada caso

possível

1.7.4 As operações lógicas sobre as proposições

Negação (~) é um operador lógico que, ao ligar-se a uma única

proposição, a torna falsa se é verdadeira e verdadeira se é

falsa. A negação de uma proposição P, representa-se por: ~P. A

proposição ~P só é verdadeira se a proposição P for falsa.

P ~P

V F

F V

Conjunção (Ʌ) traduz a partícula “e” da linguagem natural e

desempenha do mesmo modo a sua função corrente: ligar

copulativamente duas expressões. Simbolicamente, representa-se

da seguinte forma: P e Q será P Ʌ Q. A proposição composta

copulativamente será verdadeira se as duas proposições simples

envolvidas forem verdadeiras.

37

P Q P Ʌ

Q

V V V

V F F

F V F

F F F

Disjunção (V), corresponde à partícula “ou” da linguagem

corrente e compete-lhe, por isso, associar duas expressões

(denominadas disjuntos) através da relação “ou…ou…”. Se for P

e Q, duas proposições, a sua disjunção será representada por P

V Q.

Essa expressão pode ser verdadeira ainda que uma das

proposições seja falsa. Mas pode sê-lo também se ambas forem

verdadeiras, porque a condição da verdade da disjunção é que n

uma ou outra das proposições seja verdadeira.

P Q P V

Q

V V V

V F V

F V V

F F F

38

Condicional ou Implicação (→), converte-se em linguagem

natural na relação “se…então”. A proposição encetada por “se”

chama-se antecedente e a proposição encetada por “então”

chama-se consequente. Para a proposição P e Q, a fórmula será:

P→Q.

Exemplo:

P = Sócrates é homem

Q = Sócrates é animal.

A relação de implicação P→Q será:

Se Sócrates é homem, então é animal.

Nesse caso, a implicação é verdadeira quando ambas as

proposições forem verdadeiras e também se ambas as proposições

forem falsas. A implicação só é falsa caso o antecedente seja

verdadeiro.

P Q P →

Q

V V V

V F F

F V V

F F V

39

Equivalência (↔), é conectiva bicondicional do cálculo

proposicional. Corresponde com a conjunção de duas implicações

e com o antecedente e consequente permutados, isto é, P↔Q e

Q↔P. Nesta medida pode dizer-se que duas proposições se

equivalem quando se implicam uma a outra.

Em linguagem natural, expressa-se a equivalência através da

expressão: “se e só se”. Assim, se forem dadas as proposições

fica:

P = Sócrates é homem.

e

Q = Sócrates é racional.

A equivalência

P↔Q

Assim, ler-se-á: Sócrates é homem se e só se Sócrates é

racional.

Para que a equivalência seja verdadeira é, evidentemente necessário

que as proposições sejam ambas verdadeiras ou ambas falsas.

P Q P ↔

Q

V V V

V F F

F V F

F F V

40

UNIDADE II – FILOSOFIA POLÍTICA

2.1 Noções básicas

A palavra politica é de origem grega: polis, que quer dizer cidade. E,

politica significa, etimologicamente: arte de administrar

(governar) a cidade. Usou a palavra política para designar ao

estudo das coisas que se referem ao Estado (república).

Para Aristóteles, a política é a ciência do governo (a arte de

governar), ou seja, o tratado sobre a natureza, funções e

divisão do Estado e sobre as várias formas de governo.

A política é uma actividade imprescindível na vida humana e

está ligada ao poder sobre os outros homens. Para Hobbes, o

poder são os meios adequados à obtenção de qualquer vantagem e

para Russell, o poder é conjunto de meios que permitem

alcançar os efeitos desejados.

Norberto Bobbio distingue três formas de poder:

41

Poder económico – assenta na posse de bens. Poder ideológico –

baseia-se na influência que os detentores do poder exercem

sobre os demais, determinando-lhes o comportamento

(sacerdotes, pastores, líderes, etc.). Poder político –

assenta na coerção e na força. É a faculdade que um povo

possui de, por autoridade própria, instituir órgãos que

exerçam a governação de um território.

Ciência política

A ciência política consiste nos estudos que se realizam sobre

a análise política. Assim, a ciência política é o estudo

sistemático do facto político relacionado com o acesso, a

titularidade, o exercício e o controlo do poder político.

2.1.1 Política e Filosofia política

A Filosofia política ocupa-se dos problemas relacionados com a

origem do Estado, a sua organização, a sua forma ideal, a sua

função e o seu fim específico, a natureza da acção política e

as suas relações com a moral, a relação entre o Estado e o

indivíduo, entre o Estado e a Igreja e entre o Estado e os

partidos políticos.

A Filosofia política se alimenta das práticas políticas, ou

seja, dos acontecimentos políticos levados a cabo por

políticos e por aqueles que pensam o facto político, daí a

necessidade de haver filósofos políticos em todas as fases do

desenvolvimento da sociedade.

A Filosofia procurar compreender e esclarecer os conceitos de

justiça, bem comum de Estado, tolerância, sociedade e até o

42

próprio conceito de política. E, o filósofo político é aquele

que analisa criticamente a sociedade (identifica os aspectos

positivos e negativos). É por isso que, as decisões políticas

deveriam ser sempre objecto de apreciação filosófica antes de

serem implementadas.

Mas, um dado a considerar é de que, em algumas sociedades, o

filósofo não é bem-vindo pelos governantes, pois é considerado

como um perturbador da sociedade.

2.1.2 Ética política

A acção política deve basear-se em princípios morais, ou

melhor na ética. Pois, é praticamente impossível separar o

problema da constituição da comunidade política da

determinação de certos fins éticos, que se caracteriza pela

busca dos ideiais de justiça, de felicidade, etc., sempre

considerados como um bem ao qual todos aspiram. Portanto, é em

função de um determinado bem que os homens se decidem a

constituir uma comunidade política.

2.1.3 Estado/Nação

Considera-se sociedade ao estado dos homens ou dos animais que

vivem sob a acção de leis comuns; reunião de pessoas unidas

pela mesma origem e pelas mesmas leis.

O Estado é um organismo político-administrativo que ocupa um

território determinado; é dirigido por um governo próprio e

constitui-se como pessoa jurídica de direito público,

internacionalmente reconhecida. Compreende: população,

território, poder soberano e reconhecimento internacional.

43

Governo é o conjunto de pessoas que detêm cargos oficiais e

exercem autoridade em nome do Estado e que lhe foi conferida

pelo povo, no caso comum da democracia; é a acção dirigida ao

Estado. E o governante é qualquer funcionário público que

assume cargos na direcção, que dirige uma instituição pública.

Nação é a comunidade natural de homens que, reunidos num mesmo

território, possuem em comum a origem, os costumes e a língua

e estão conscientes desses factos. Os elementos essenciais

para a constituição da nacionalidade são: tradição e cultura

comuns, origem e raça (factores objectivos) e a consciência do

grupo humano de que estes elementos comunitários estão

presentes (factor subjectivo).

Constituição é o conjunto de leis básicas que regulam o

relacionamento de todos os elementos pertencentes a um mesmo

Estado (indivíduos, instituições, relações de poder, etc.). A

constituição tem a função de traçar os princípios ideológicos

da organização interna. A mudança da constituição implica a

mudança do tipo de Estado.

2.1.4 Participação política dos cidadãos

A questão política não é opcional, mas uma necessidade que se

impõe ao Homem, enquanto membro de uma comunidade organizada

que se rege por leis comuns e assenta em princípios éticos

valorizados pelos seus membros.

Neste sentido, para Pasquino, “a participação política é o

conjunto de actos e de atitudes que aspiram a influenciar de

forma mais ou menos directa e mais ou menos legal as decisões

44

dos detentores do poder no sistema político com o propósito de

manter ou modificar a estrutura do sistema de interesses

dominante.”

Sendo que o problema político diz respeito a toda a sociedade,

o cidadão que compõe a sociedade tende participar nela como

algo que lhe diz respeito; contribuir em ideias nas decisões,

participar em eventos de interesse do Estado. Exemplo:

exercendo o direito de voto, participar nos debates públicos,

etc.

Uma outra possível forma de participação política é a formação

e participação cívica através de partidos políticos. O partido

político é um grupo de indivíduos unidos por ideiais e

actividades comuns, com vista a consecução de certos fins

políticos ou à eleição dos funcionários para o Estado, quer se

trate de órgãos do governo central ou para autarquias locais.

Em Moçambique, a participação dos cidadãos na governação local

é regulada pela lei n°8/2003 de 19 de Maio, chama da lei dos

órgãos locais do Estado (LOLE).

Em suma, a política é um instrumento de solução dos problemas

humanos quer sejam políticos, sociais, educacionais, laborais,

económicos, etc.

Em regimes democráticos, os partidos políticos sobem ao poder

através de eleições; assim, a eleição é a escolha por meio de

sufrágio de pessoas para ocupar um cargo ou desempenhar certas

funções.

45

2.1.5 Direitos humanos e justiça social

Os direitos humanos são o conjunto de princípios essenciais à

existência humana condigna que apelam a um reconhecimento

mútuo entre homens enquanto seres de direito. Eles são

inalienáveis, como o direito à vida, saúde, inviolabilidade

física e psicológica, etc.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada pela

ONU a 10 de Dezembro d 1948.

Os Direitos humanos, segundo a doutrina do Direito natural,

inatos; eles não são uma dádiva de qualquer organização ou

instituição, pois existem muito antes do Homem estar ligado

aos conceitos: sociedade, economia, Estado e religião.

Características dos direitos humanos

1) São universais: não dizem respeito a este ou aquele

homem, mas sim a todos os homens.

2) São individuais: o indivíduo, o homem livre é o seu

portador e não o grupo, associações ou cooperações de

sociedade estratificada.

3) São anteriores ao Estado: resultam da natureza humana, o

Estado só os pode reconhecer e não outorgá-los. A

constituição declara-os apenas mas não os cria.

4) Quanto à origem e carácter individuais, são um direito de

reivindicação durante o Estado, pois exige do Estado o

respeito de uma esfera de liberdade pessoal por ele

reconhecida e declarada.

46

Justiça social

A justiça social é vinculada ao conceito do bem comum pois a

sua definição depende da concepção político-económica de cada

autor. Assim, a justiça social está ligada aos direitos

humanos e diz respeito à igualdade entre todos os cidadãos e

ao direito de cada um ser respeitado nos seus direitos.

Segundo John Rawls, a justiça é a primeira virtude das

instituições sociais, por mais eficazes e bem organizadas que

sejam, as instituições e as leis devem ser reformadas e

abolidas se forem injustas. Por isso, o objecto da justiça

social é entendida como equidade, que diz respeito à estrutura

de base como a constituição, as principais estruturas

económicas e a maneira como essas representam os direitos, os

deveres fundamentais e como determinam a repartição dos

benefícios extraídos da cooperação social.

2.1.6 Estado de Direito e suas funções

O Estado de Direito diz respeito àquele onde os membros dessa

sociedade estão todos submetidos à mesma lei, isto é, onde a

lei prevalece sobre todos os indivíduos. Num Estado de Direito

há respeito sobre a hierarquia das normas, separação de

poderes e pelos direitos fundamentais. Ele é garantido pela

divisão de poderes. No Estado de Direito ninguém está acima da

lei; a lei reina sobre todos os indivíduos.

Funções do Estado

As funções do Estado são analisadas a partir de duas

perspectivas fundamentais: funções jurídicas e funções não

47

jurídicas. Geralmente, são consideradas três funções do

Estado: segurança, justiça e o bem-estar.

2.2. A Filosofia política na história

Os debates filosóficos sobre a política não são recentes, eles

acompanharam o desenvolvimento da sociedade e das suas

preocupações fundamentais. Os filósofos preocuparam-se, em seu

contexto, em reflectir sobre os assuntos políticos e sobre a

melhor forma de organização social.

2.2.1 A Filosofia política na antiguidade

A Filosofia antiga, principalmente na vertente antropológica,

é marcada por debates relacionados ao homem e a sociedade. E,

foram os sofistas que inauguraram assuntos relacionados ao

homem.

Os sofistas

Os sofistas foram os primeiros a roda tradicional de

pensamento dos pré-socráticos (a procura do arché na natureza)

e concentraram-se no Homem e nas questões da moral e da

política. Destacam-se como famosos sofistas: Protágoras,

Górgias, Trasímaco, Pródico e Hipódamo.

Na política elaboraram e legitimaram o ideal democrático e

interessaram-se pela virtude do cidadão fundamentada na

justiça. Para isso, era necessária a educação dos cidadãos da

polis superando os privilégios da antiga educação elitista.

Outro grande contributo dos sofistas foi a sistematização do

ensino: gramática, retórica e dialéctica vinculando os jovens

para a participação no debate público.

48

Platão (428 – 347 a.C.)

O seu pensamento político pode ser encontrado, fundamental,

nas suas obras: A República e O Político e as Leis.

Platão preocupou-se em imaginar uma cidade ideal na qual

reinaria um bom governo e um regime justo. Pois, o bom

governo, segundo Platão, depende da virtude dos bons

governantes.

Para Platão, a Filosofia Política não aceita pacificamente o

Estado ou a Política como dados absolutos e inquestionáveis:

critica, interpreta, pensa e compreende essas realidades. A

Filosofia Política é um exercício da liberdade.

Por isso, a política, deve ter a Filosofia como seu

instrumento e fonte de inspiração, pois a Filosofia é a via

segura de acesso aos valores de justiça e de bem.

Origem do Estado

Platão advoga que a origem do Estado é convencional, ou seja,

está no facto de os homens não se bastarem a si mesmos.

Ninguém pode ocupar ao mesmo tempo diversas profissões. Daí a

necessidade de cada um associar-se aos outros, cada um com

tarefas sociais específicas (especialização). E, de facto,

ninguém pode ser, ao mesmo tempo, professor, médico, mecânico,

técnico, etc.

Comunismo/idealismo

O ideal de Platão era de ver as crianças educadas pelo Estado

e orientadas segundo as suas aptidões. Assim, deviam receber a

49

mesma educação do Estado até aos vinte anos. E, de acordo com

a orientação das suas almas: os de bronze deviam dedicar-se à

agricultura, ao artesanato e ao comércio, por terem

sensibilidade grosseira. Os outros estudariam mais dez anos

para o segundo corte familiar. Os que tivessem a alma de prata

se dedicariam à defesa da cidade. E, os da alma de ouro,

instruídos na arte de pensar e dialogar governariam por

conhecerem o saber mais alto que é a Filosofia (aos 50 anos)

com a principal virtude que é a justiça.

Classes sociais

Para Platão, a sociedade organiza-se em três classes:

trabalhadores (camponeses, artesãos e commerciantes) –

garantem a subsistência da cidade; soldados (guardas) – a

defesa da cidade; e, magistrados (governantes) – dirigir a

cidade, mantendo-a coesa.

Formas do governo

A melhor forma de governo, para Platão, é a monarquia, sob o

comando de um filósofo – rei que governa com plena justiça e

preserva a unidade. A segunda opção é a aristocracia composta

por filósofos e guerreiros; mas este tipo de governo,

facilmente de degenera transformando em timocracia, governo de

ambiciosos de poder e de honra.

A oligarquia é a fase mais corrompida da aristocracia, na qual

reina a avidez de riqueza. Aos olhos de Platão, a democracia é

a pior forma de governo, pois, estando o poder nas mãos do

50

povo, e sendo este incapaz de conhecer a ciência política,

facilita, através da demagogia, o aparecimento da tirania – o

governo exercido por um só homem, através da força.

Aristóteles (384 – 322 a. C.)

Discípulo de Platão e crítico de seu mestre sobre o idealismo

político. Ele defende que a cidade é constituída por

indivíduos naturalmente diferentes, sendo impossível uma

unidade absoluta e, o poder não deve ser limitado apenas aos

filósofos.

Origem do Estado

Para Aristóteles, a origem do Estado é natural e não

convencional. Pois, o homem é, por natureza, um animal

político. O homem se distingue dos outros animais pelo facto

de estar integrado numa polis que resulta duma civilização da

espécie humana (família, tribo, clã, aldeia e cidade).

Neste sentido, o objectivo do Estado é de proporcionar

felicidade aos cidadãos, pois, o escopo da vida humana é a

felicidade e, por isso, o escopo do Estado deve ser a

consecução do bem comum.

51

Formas de governo

Aristóteles concebeu três formas de organização política

(constituições) do Estado que se apresentam duas faces: bons e

corruptos.

Governos rectos (interesses

comuns)

Governos corruptos (interesses

particulares)

Monarquia – governo de um só

homem (melhor forma do

governo: preserva a unidade

do governo)

Tirania (governo de um só homem

que se move com interesse

próprio)

Aristocracia – governo de

poucos homens (um grupo de

cidadãos virtuosos, os

melhores que cuidam do bem

de todos)

Oligarquia – o governo dos ricos

(preocupam-se pelo bem económico

próprio)

República (politia) – governo

de muitos homens

(constituído pelo povo, que

cuida do bem de toda a

pólis)

Democracia – a forma corrupta da

república (quando o povo toma o

poder e suprima todas as

diferenças sociais em nome da

igualdade)

52

2.2.2 A Filosofia política na idade média

Santo Agostinho (354 – 430 d.C.)

O pensamento político de Santo Agostinho encontra-se na sua

obra: a Cidade de Deus. Na qual teoriza que o mundo divide-se em

duas cidades: a Cidade de Deus e a Cidade terrena. Enquanto a

igreja é a encarnação da cidade de Deus, o Estado é a

encarnação da Cidade terrena, manchada pelo pecado original. O

Homem precisa do Estado para obrigar os membros da comunidade

ao cumprimento da lei.

Santo Agostinho defende a existência da autoridade política

para que se mantenha a paz, a justiça, a ordem e a segurança.

A autoridade política é uma dádiva divina aos seres humanos,

daí que os governantes devem ser respeitados e distinguidos

entre os justos e injustos.

São Tomás de Aquino

O pensamento político de São Tomás de Aquino está espelhado na

sua obra: De Regimine Principum (Do Governo dos Príncipes). Nesta obra

reflecte sobre a origem e natureza do Estado, as várias formas

de governo e as relações entre o Estado e a Igreja.

Para Aquino, o Estado nasce da natureza social do Homem e não

das limitações do indivíduo. O Estado é uma sociedade porque

consiste na reunião de muitos indivíduos que pretendem fazer

alguma coisa em comum e, é uma sociedade perfeita porque tem

um fim próprio: o bem comum e os meios suficientes para o

realizar.

53

O Estado tem os meios suficientes para proporcionar um modo de

vida que permita a todos os cidadãos ter aquilo que necessitam

para viver como homens.

A melhor forma de governo para Aquino é a monarquia

constitucional. E, a Igreja é uma sociedade mais perfeita,

devendo, por isso, o Estado subordinar-se a ela, em tudo o que

concerne ao fim sobrenatural do homem.

2.2.3 A Filosofia política na idade moderna

A Idade Moderna é colocada no início do século XVI aos fins do

século XVII e teve três características fundamentais: a

libertação do Homem em relação às explicações teológicas da

realidade, através da razão; a libertação do Homem dos regimes

ditatoriais, através da democracia e a libertação do Homem da

dependência da Natureza, através da técnica. Portanto, os

modelos do pensamento moderno são a razão, a técnica e a

democracia. Este ideal de pensamento justifica a riqueza de

acontecimentos políticos em vários países do mundo.

Nicolau Maquiavel

Com o fim do império cristão e com o enfraquecimento do poder

politico do papado, surgem, fora da Itália, as repúblicas e as

senhorias. Eram regimes onde se respirava o ar de liberdade e

onde se procurava, acima de tudo, o bem-estar material dos

cidadãos, em detrimento do bem-estar espiritual.

Em o Príncipe, Maquiavel (1469 – 1527) – filósofo florentino

(Itália), não se propondo em descrever um estado ideal nem

apresentar o governante como um pio administrador da

54

República; descreve o resultado da experiência das coisas

modernas e da contínua lição nas coisas antigas, abrindo uma

política mais activa e circunstancial: governar é uma arte.

Maquiavel parte do pressuposto de que os homens, em geral,

seguem cegamente as suas paixões, esquecendo-se mais depressa

da morte do pai do que da perda do matrimónio. As paixões que

se colocam em primeiro lugar são, além da cobiça e do desejo

de prazeres, a preguiça, a vileza, a duplicidade e a

insolência. Por isso, torna-se imperioso que o governante da

república prepare as leis segundo o pressuposto de que todos

os homens são réus e que procedem com malícia em todas as

oportunidades que tiverem.

O príncipe deve impor-se mais pelo temor do que pelo amor,

para alcançar os seus objectivos: preservar a sua vida e a do

Estado. Porém, Maquiavel adverte que o príncipe não deve

esquecer a sua reputação. O político não deve confiar no

aspecto positivo do homem mas sim o seu aspecto negativo e

agir em consequência disso. Nisto, não terá receio em ser

temido e a tomar as medidas necessárias para tornar-se

temível. Mas o ideal para um príncipe seria o de ser ao mesmo

tempo amado e temido, coisas muito difíceis de conciliar, no

entanto, o príncipe deve fazer a escolha mais funcional para o

governo eficaz do estado.

Os filósofos ingleses

No século XVII, registavam-se, em Inglaterra, lutas acesas

entre o rei e o parlamento, com o predomínio ora de um, ora de

55

outro, acabando por se impor definitivamente o parlamento, no

fim do século. Por isso, Hobbes, Locke, Berkeley e,

posteriormente Hume, procuraram dar o seu contributo para a

política do seu país.

Assim, com tendência muito em voca da secularização do

pensamento político, os filósofos do século XVII estavam

preocupados em justificar racionalmente e legitimar o poder do

Estado sem recorrer à intervenção divina ou a qualquer

explicação religiosa. Daí que começaram por se preocupar pela

origem do Estado.

O Pensamento Político de Thomas Hobbes

Thomas Hobbes, filósofo inglês nascido em 5 de Abril de 1588,

morto em 4 de Dezembro de 1679 que nas suas obras políticas De

Cive e Leviatã (ou a matéria, a forma e o poder de um estado

eclesiástico e civil publicada em 1651) desenvolve uma teoria

contratualista sobre a Teoria do Estado de natureza e Pacto

social. Para ele, o Homem conheceu dois estados: o primeiro é

natural e o segundo contratual.

O Estado de natureza é caracterizado pela expressão sem regras

da natureza humana cujas paixões fundamentais são o apetite de

domínio sobre o seu semelhante e o medo correlativo da morte

violenta infligida por outrem. Todos estão em competição,

cheios de desconfiança e medo porque o direito de natureza,

anterior das leis, é a liberdade que cada um tem de usar a sua

força para se conservar a sí mesmo, direito ilimitado que se

estende a todas as coisas, até ao corpo do outro, à sua

56

integridade e à sua vida, daí a: guerra de todos contra todos (bellum

omnium contra omnes – homo homini lupus).

O medo e o desejo de paz levaram o homem a fundar um estado

social e a autoridade política, abdicando dos seus direitos em

favor do soberano, que, por sua vez, terá um poder absoluto.

No contrato social, os Homens renunciam alguns dos seus

direitos, colocando-os nas mão de um só homem (Soberano). Esse

contrato, uma vez estabelecido, não poderá ser modificado nem

desfeito porque seria preciso o consentimento de todos e isso

é irrealizável. Cabe ao soberano julgar sobre o bem e o mal,

sobre o justo e o injusto; ninguém pode discordar, pois tudo o

que o soberano faz é resultado do investimento da autoridade

consentida pelo súbtido.

John Locke

As contribuições políticas de John Locke encontram-se na obra:

Dois Tratados sobre o Governo, onde postula a sua política e como

Hobbes distingue dois estados em que o Homem terá estado: o

estado de natureza e o estado contratual.

Para Locke, no estado de natureza os homens são livres, iguais

e independentes e não um estado de guerra de todos contra

todos. No estado natural cada um é juíz em causa própria. Pela

liberdade natural do Homem, ele não pode ser expulso da sua

propriedade e ser submetido ao poder político de outrem sem

dar o seu consentimento.

A renúncia à liberdade natural da pessoa acontece quando as

pessoas concordam em juntar-se e unir-se em comunidade para

57

viver com segurança, conforto e paz umas com as outras.

Portanto, quem abandona o estado de natureza e entra na

comunidade abandona todo o poder necessário aos fins que

ditaram a reunião em sociedade, à maioria da comunidade. O

Estado não deve interdir mas sim garantir e tutelar o livre

exercício da propriedade, da palavra e da iniciativa

económica.

Charles de Montesquieu (1689 – 1755)

Filósofo enciclopédico e pai do constitucionalismo liberal

moderno, é autor da obra: L’Esprit de Lois (Espírito das Leis) de

1748. Nesta obra pretende descobrir as leis naturais da vida

social. Para ele, as leis são relações indispensáveis emanadas

da natureza das coisas. Distingue entre leis de natureza

(igualdade de todos os seres inferiores, procura de

alimentação, encanto entre seres de sexos diferentes e desejo

de viver em sociedade) das leis positivas que surgem da

organização e convenção humanas, elaboradas pelo homem.

Montesquieu definiu como tipos sociológicos fundamentais do

Estado: a democracia, a monarquia e o despotismo. Mas o grande

mérito foi de ter desenvolvido a teoria de separação de

poderes em que advoga a separação dos poderes legislativo,

executivo e judicial, com o fim de estabelecer condições

institucionais de liberdade política através de uma

equilibrada divisão de funções entre os órgãos do Estado

(parlamento, governo e tribunais).

58

O poder legislativo tem a função de criar as leis

(Parlamento); o poder executivo tem a função de implementar as

leis e de as fazer cumprir (Governo) e o poder judicial serve

para julgar aqueles que violam a lei (Tribunais). Cada tipo de

poder deve actuar plenamente.

Jean Jacques Rousseau

Jean-Jacques Rousseau foi escritor e filósofo genebrence

(Suíça) de língua francesa (1712-1778). Em 1741 instala-se em

Paris e aí conhece Diderot. Em 1750, o seu discurso sobre as

ciências e as artes tras-lhe uma notoriedade de escândalos e

os seus escritores ulteriores, onde continua a atacar a

sociedade do seu tempo.

Rousseau começa a sua reflexão política partindo da hipótese

de o Homem se ter encontrado num estado de natureza e num

outro estado contratual, na sua obra política: o Contrato

Social.

No contrato social, Rousseau desenvolve a sua teoria sobre a

origem e a constituição do estado. Ele imagina um primeiro

estado da humanidade que se poderia chamar estado de

Inocêncio, no qual não haveria nenhum dos abusos que se pode

observar em nossa sociedade. Os homens foram induzidos a sair

desta condição feliz pelo desejo, pela necessidade e pelo

temor. Por isso é necessário um contrato verdadeiro, legítimo,

em que o povo está reunido sob uma só vontade.

O contrato social, produz os seguintes efeitos: o indivíduo já

não é simples homem, mas cidadão; ele renuncia os direitos

59

pessoais em favor da comunidade e já não assume como norma o

instinto, mas a lei.

Com a entrada em vigor do contrato social, as acções adquirem

uma moralidade que não tinha antes: “somente então a voz do

dever sucede ao impulso físico, o direito sucede ao apetite, e

o homem que até agora tomava em consideração somente a si

mesmo, se vê forçado a agir em conformidade com outros

princípios e a consultar a razão antes de ouvir as próprias

tendências.

A obediência à lei não é obediência a uma vontade estranha,

mas a uma vontade que o próprio indivíduo constitui: o cidadão

é legislador e súbtido ao mesmo tempo. Sendo o povo a única

fonte do direito (no contrato social faz-se a renúncia ao uso

de alguns direitos mas não aos direitos como tais).

Os governantes não gozam de alguma autoridade definitiva sobre

ele: ele permanece o único verdadeiro soberano. Eles não são

donos do povo, mas seus funcionários, e o povo pode nomeá-los

e destituí-los.

2.2.4 Filosofia política na época contemporânea

Hegel

A Filosofia do Estado de Hegel resume-se à subordinação do

indivíduo ao Estado, no qual este se dissolve em nome de uma

ordem suprema. Assim, o indivíduo, no estado, é um simples

objecto e não o sujeito do seu destino. A sua vontade é

60

sufocada pela vontade do Estado e o indivíduo perde a sua

liberdade.

John Rawls: a Justiça distributiva e o liberalismo político

Filósofo norte-americano, o seu pensamento político encontra-

se nas obras: Uma Teoria de Justiça, de 1971, e O Liberalismo Político.

Para Rawls, a justiça é a estrutura de base da sociedade e a

primeira virtude das instituições sociais. Esta concretiza-se

na efectivação das liberdades individuais e na sua não

restrição para o benefício do outrem. Uma sociedade justa,

defende Rawls, deve fundar-se na igualdade de direitos.

A justiça deve ser encarada como a capacidade concedida à

pessoa para escolher os seus próprios fins. A justiça diz

respeito a uma estrutura de base que congrega as instituições

sociais mais importantes, a constituição, as principais

estruturas económicas, bem como a maneira através da qual

estas representam os direitos e os deveres fundamentais e

determinam a repartição dos benefícios extraídos da cooperação

social.

Devidas as desigualdades na posição social, a justiça deve

corrigir essas desigualdades. Assim, ninguém efectue escolhas

em função da sua desigualdade; a justiça é equidade. A

diferença não pode prejudicar os desfavorecidos. Por isso o

Estado deve dividir-se em quatro departamentos: departamento

das atribuições com a função de velar pela manutenção de um

sistema de preços e impedir a formação de posições dominantes

excessivas no mercado; departamento da estabilização, com

61

objectivo de proporcionar pleno emprego; departamento das

transferências sociais, com a função de velar pelas

necessidades sociais e intervir para assegurar o mínimo social

e o departamento para a repartição, com o papel de preservar

uma certa justiça graças à fiscalização e aos ajustamentos

necessários do direito de propriedade.

Na sua obra o Liberalismo Político, reconhece que a justiça como

equidade é um projecto irrealista e defende que devem-se

erguer instituições políticas liberais a partir do substrato

comum das ideias aceitáveis e aceites pela comunidade pública.

Karl Popper (1902 – 1994)

Filósofo Australiano, defende uma sociedade aberta que se

baseia no exercício crítico da razão humana, como sociedade

que não apenas tolera como também estimula no seu interior e

por meio de instituições democráticas a liberdade dos

indivíduos e dos grupos, tendo em vista a solução dos

problemas sociais, ou seja, as reformas contínuas.

Nesta sociedade aberta, os governados têm a possibilidade

efectiva de criticar os seus governantes e de os substituir

sem derramamento de sangue e sem que isso signifique que o

democrata deva aceitar a ascensão do totalitário ao poder.

Popper admite a possibilidade da revolução violenta, a qual só

é justificada se for derrubar um tirano.

2.3 Formas de sistemas políticos

62

Sistema político é a maneira como uma comunidade política se

estrutura e exerce o poder político. A estrutura do poder da

comunidade política é feita de duas formas: como regime

político e como sistema de governo.

2.3.1 Regime político

São as relações que se estabelecem entre o indivíduo e a

sociedade política, cuja ideologia o poder político tem a

missão de implementar no âmbito jurídico.

O pensamento político antigo oponha a monarquia (governo de um

só homem) à república (governo de um colégio ou assembleia).

Mas, actualmente a distinção entre estes governos baseia-se no

modo como é designado o chefe do Estado: enquanto a monarquia

é um regime político em que a designação do chefe de Estado se

faz por herança; a república é o regime político em que a

designação do chefe do Estado se faz por formas diversas, por

eleição directa dos cidadãos ou pelos seus representantes, por

golpe de Estado, por legislação, etc, mas não por herança.

Classificação dos regimes políticos

Os regimes políticos classificam-se em ditatoriais e democráticos:

a) Um regime político é ditatorial quando há uma ideologia

exclusiva ou liderança, há um aparelho para impor a

ideologia, não há efectiva garantia dos direitos pessoais

dos cidadãos, não existe livre participação na designação

dos governantes e não existe um controlo do exercício dos

governantes.

63

O regime ditatorial pode ser autoritário quando o poder político

exerce um certo controlo sobre a sociedade civil. E, pode ser

totalitário quando o controlo do poder político subjuga a

sociedade.

b) O regime é democrático quando não existe uma ideologia

dominante ou liderança, não existe um aparelho para impor

a regra, há efectiva garantia dos direitos individuais

dos cidadãos, existe livre participação na designação dos

governantes e existe um controlo do exercício dos

governantes.

2.3.2 Os sistemas de governo

É a titularidade e a estruturação do poder político, com a

finalidade de determinar os seus titulares e os órgãos

estabelecidos para o seu exercício.

Para a análise de um sistema de governo, deve-se ter em conta

a separação dos poderes, a dependência, a independência ou a

interdependência dos órgãos e a responsabilidade política de

um órgão perante o outro.

Classificação dos sistemas de governo

1. Sistema de governo ditatorial – o poder político é detido

por uma pessoa ou um conjunto de pessoas com direito

próprio e sem participação dos governados. Este, é

monocrático quando é exercido por um órgão singular e

64

autocrático, quando o poder é exercido por um grupo ou

partido político (órgão colegial).

2. Sistema de governo democrático – o exercício do poder

político advém da participação dos governados. Pode ser

directo, quando a assembleia-geral dos cidadãos exerce

integralmente as suas funções; democrático semi-directo, em que

a constituição prevê a existência de órgãos

representativos de soberania popular através de um

referendo e democrático representativo, quando o poder político

pertence à colectividade mas regido por um órgão que

actua em nome dele.

2.4 Filosofia política em África

2.4.1 Génese dos nacionalismos

Há uma ligação directa da filosofia política africana com o

pan-aficanismo que, para além de lutar pelo reconhecimento dos

negros no mundo, com Du Bois, traçou linhas para uma Filosofia

política africana. A Filosofia política africana tem como

objectivo a libertação física e psíquica do jugo colonial do

continente africano.

Desde o 5º Congresso Pan-Africano, as principais figuras

africanas que se esforçaram por lançar as bases da política

dos Estados africanos são: Du Bois e Nkrumah. Enquanto Kwame

Nkrumah defendia a independência imediata dos Estados

africanos; Léopold Sedar Senghor acreditava que uma

independência gradual dos Estados seria ideal. Mas a ideologia

adoptada pelos Estados africanos foi o socialismo, que como

65

defendia Nkrumah, era conforme às tradições socioculturais

africanas e o consciencismo que pretendia assegurar o

desenvolvimento de cada individuo.

Aliaram-se ao socialismo de Nkrumah outros políticos como

Senghor, Luís Cabral, Júlio Nyerere e Agostinho Neto; estes

deram origem ao socialismo africano. Para Senghor, defendendo

o socialismo africano, defende que a alma negra é

essencialmente colectiva e solidária, por isso, a África, é

por natureza do seu povo, socialista.

Mas o grande mérito de Nkrumah foi de conceber a unidade

africana que transformaria o continente africano num só Estado

banindo as fronteiras traçadas arbitrariamente em Berlim, pois

os Estados africanos considerados individualmente não eram

suficientemente fortes para competirem com as grandes

potências do ocidente.

Ena década de 1960 nasceram dois grupos: o de Monróvia

(Califórnia, EUA) que defendia a criação dos Estados Unidos da

África e o de Casablanca (Marrocos) que defendia a criação da

nações e fundou a OUA (Organização da Unidade Africana) a 25

de Maio de 1963 em Addis Abeba (Etiópia), com os seguintes

objectivos: promover a unidade e a solidariedade entre os

Estados Africanos; coordenar e intensificar a cooperação entre

os Estados africanos; defender a soberania, integridade

territorial e independência dos Estados; coordenar e

harmonizar as políticas dos países-membros, etc.

2.4.2 Pan-africanismo versus negritude

66

Estes dois movimentos desenvolvidos por estudantes e

académicos africanos residentes em Inglaterra e em França

permitiram a difusão as mensagens de libertação dos africanos.

O objectivo era comum: lutar pela liberdade.

Enquanto o Pan-africanismo lutava pela emancipação política de

todos os africanos; a negritude lutava pela unidade dos negros

sob o ponto de vista cultural.

2.4.3 Renascimento africano

Mesmo depois da libertação dos africanos da escravatura, ainda

há, em alguns africanos complexos de inferioridades a outros

povos. A grande dificuldade que se manteve era: como dizer ao

africano, que nunca tinha sido valorizado, que tinha

efectivamente valor, que ele era igual ao seu colonizador, que

tinha dignidade, que ser africano não era uma maldição, ect.

Daí a necessidade de desenvolver uma ideologia do renascimento

africano para o africano sentir-se um homem igual aos outros.

Um tornar-se a nascer psicologicamente para recuperar a auto-

estima extirpada pelos colonizadores.

A integração político-regional na União África

A União Africana pretendia dar continuação aos objectivos da

OUA. Um dos objectivos era a NEPAD (Nova Parceria para o

Desenvolvimento da África), pôr em prática a visão Pan-

africana dos líderes africanos para promover o desenvolvimento

sustentável da África.

67

Assim, a integração regional da África só seria possível se

houvesse estabilidade política, permitindo a criação de

instituições democráticas e a promoção do desenvolvimento.

Para a NEPD, as condições necessárias para o desenvolvimento

de África seria: a paz, a segurança, a democracia e a boa

governação política; a boa governação económica e corporativa.

68

UNIDADE III: A FILOSOFIA AFRICANA

3.1 Contextualização do debate sobre a Filosofia africana

3.1.1 Questões históricas

O povo africano foi vítima do colonialismo. Os ocidentais

conceberam uma filosofia de dominação que gerou um profundo

complexo de inferioridade nos africanos em diferentes campos

de saber: desde a teologia, a filosofia e o direito.

Só mais tarde, as ciências sociais e humanas realizaram novas

abordagens e adoptaram uma visão que reconhecesse que toda a

cultura representa uma determinada civilização,

independentemente da sua situação geográfica, histórica,

social e económica.

Um longo período de colonização influenciou a mentalidade

europeia, como também deixou marcas na mentalidade do próprio

povo negro, pois a sua auto-estima ficou afectada.

Por isso, é importante a intervenção do filósofo africano,

para projectar o futuro do homem africano, partindo da sua

própria história. A Filosofia africana vem recuperar a auto-

estima que o homem negro tinha perdido com o tratamento

esclavagista.

69

3.1.2 A existência ou não da filosofia africana

A discussão sobre a existência ou não da filosofia africana

emergiu quando muitos estudiosos, africanos e não africanos,

apresentaram ao mundo estudos sobre etnias africanas,

denominando-os “Filosofia Africana”, como Anyanw, Placide

Tempels, Alexis Kagame, Mbit, entre outros.

Os críticos como Hountondji, Franz Chahay, E. Boulaga, M.

Towa, Werudu, entre outros, colocam a seguinte questão: pode-

se falar de Física ou Química africanas da mesma forma que se

fala da Filosofia africana? A discussão fundamental é do

objecto de estudo da filosofia africana.

3.2 Principais correntes da Filosofia africana

3.2.1 Etnofilosofia

É uma corrente de pensamento que defende que as tradições

africanas espelham a racionalidade do africano, podendo estas

serem consideradas Filosofia africana (mitos, provérbios,

etc.)

Para os etnofilósofos, toda a filosofia é uma filosofia

cultural, ou seja, ninguém faz a filosofia sem se basear em

alguma cultura. Para Anyanw, a missão do filósofo africano é

70

compreender e explicar os princípios sobre os quais se baseia

cada uma das culturas africanas.

As críticas da etnofilosofia são várias, mas dentre elas

podemos destacar as seguintes: os filósofos da etnofilosofia

descreviam práticas habituais de alguns povos africanos e

chamavam-os de Filosofia africana; tais estudos, enquanto

feitos por intelectuais não africanos, denegriam o africano

(por exemplo, o sacerdote belga Placide Temples que falava

duma lógica menor do africano).

3.2.2 Filosofia profissional e crítica à Etnofilosofia

Para os críticos da etnofilosofia, não podemos confundir o

emprego do termo filosofia, usando-o no sentido ideológico.

Filosofia é uma palavra que se utiliza para designar uma

ciência rigorosamente científica. Reivindicar que os africanos

têm a sua própria filosofia seria cair nas mãos dos

colonizadores, que querem dar ou manter a ilusão de que os

africanos têm uma filosofia, porque o que nós temos realmente

são mitos, crenças e provérbios.

Um dos grandes críticos é Paulin Hountondji, na sua obra:

African Philosophy, Mythe and Reality, de 1971: reivindicar a filosofia

africana é cair na ratoeira colonialista, pois a filosofia

africana obriga-nos a definir África em relação à Europa; a

filosofia é uma disciplina científia, teorética e individual;

todo o projecto de edificar uma filosofia africana é um

projecto europeu de demarcar a todo o custo a civilização

africana da do ocidente e, o papel criador da Filosofia

71

africana não pode nascer do nada, mas que necessariamente

parte da herança cultural.

Acima de tudo, a ideia da filosofia africana deve ser aliada a

um projecto de crítica e reflexão de africanos sobre os

problemas de África.

3.2.3 A Filosofia Política

A colonização dos africanos e a sua consequente escravização

fez com que o povo negro fosse visto como um povo inferior.

Esta situação levou o homem negro a definir-se, desde cedo,

como um guerreiro pela liberdade. Vários intelectuais

empenharam-se em investigar o passado africano com o intuito

de encontrar bases para fundamentar o seu valor. Criaram-se

movimentos, como o pan-africanismo e a negritude, que serviam

como meio de união dos africanos no que se refere aos domínios

políticos e cultural, respectivamente.

Assim, a filosofia social e política africana, no ^âmbito das

mudanças sociais, enterrou as bases defendidas inicialmente

por muito filósofos célebres, como Platào, que advogava as

virtudes como fundamentos para o bom governo, exigindo a

justiça, a sabedoria, a coragem e a temperança.

Pan-africanismo

Surge como manifestação da solidariedade entre os africanos e

os povos de descendência africana. O seu objectivo principal

era a unidade política dos Estados africanos. Este movimento

72

lançou as bases da filosofia política africana. A primeira

conferência pan-africana foi realizada em Londres, em 1900 com

o objectivo de procurar uma forma de protecção contra os

agressores imperialistas brancos e contra a política colonial

que até então submetia os negros.

3.2.4 A filosofia cultural (Negritude)

A negritude insere-se no espírito pan-africanista da união e

solidariedade entre os africanos, com a simples diferença de

se revestir de um carácter cultural e literário. Trata-se de

um movimento de união dos africanos do ponto de vista

cultural.

Coube a Aimé Césaire o mérito de ser considerado o grande

impulsionador deste termo. A ele cabe a paternidade do termo

negritude. Os maiores impulsionadores são: Césaire

(antilhano), Senghor (senegalês) e Damas (guianês) – resumiram

o projecto em três conceitos;

Identidade – consiste em o negro assumir plenamente a sua

condição; Fidelidade – atitude que traduz a ligação do homem negro

à terra mãe; Solidariedade – sentimento que liga secretamente todos

os irmãos negros.

Na lusofinia, a negritude lutou pela revogação de todas as

leis e regulamentos de excepção contra os africanos.

UNIDADE IV: METAFÍSICA E ARTE

4.1 Noção e objecto da ontologia (ou metafísica geral)

Etimologicamente, a palavra “ontologia” deriva de dois termos

gregos: onto, que significa ser, ente, indivíduo, e lógia, que quer dizer

73

tratado, saber, estudo, doutrina, investigação. Portanto, a ontologia é uma

parte da Filosofia que se ocupa dos problemas relativos ao ser

enquanto ser; ou seja, do ser na sua generalidade e das

propriedades ou qualidades que pertencem ao ser enquanto tal.

Este termo “ontologia” foi introduzido por Aristóteles na sua

obra Metafísica IV,1.

As perguntas principais de que se ocupa a ontologia são: o que

é o ser? Que qualidades podemos encontrar no ser? Por que

princípios se rege o ser?

O objecto de estudo da ontologia é o ser enquanto é. Não um

ser determinado, mas de forma abstracta, de máxima extensão

porque abrange tudo quando é e de mínima compreensão porque

abstrai de qualquer propriedade particularizante. Logo, o

objecto de estudo da ontologia é a totalidade ôntica.

4.1.1 O ser, o que é?

Ser é tudo que existe, independentemente do modo como é. É um

conceito quantitativamente genérico e complexo porque é género

supremo e, qualitativamente menos compreensivo porque escapa a

uma definição rigorosa, pois não possui uma característica

peculiar (diferença específica).

4.1.2 As categorias do ser: substância e acidente

As categorias do ser são as grandes divisões que o mesmo

comporta e, segundo Aristóteles, existem dez (10) categorias,

sendo a primeira a substâncias e as restantes nove (9) são

acidentes.

74

Substância é aquilo que é em si e por si, e não em outra

coisa. Aquilo que permanece como algo subsistente. São todas

as coisas concretas e individuais: o homem, a caneta, o peixe,

etc.

Aristóteles distinguiu a substância primeira da segunda. A

primeira se refere a indivíduos singulares e concretos, como

por exemplo: este caderno, o Tito, esta Angelina, etc. e, a

segunda diz respeito às espécies e géneros singulares e

abstractos (tudo que se existe como pensamento); se atribuem

às substancias primeiras, por exemplo: a Clarinda é uma

mulher.

O acidente é tudo aquilo que ocorre ou acontece; aquilo que

para ser necessita de se apoiar numa substância. O acidente só

existe na substância, não existe em si e por si; é predicado

da substância. Enquanto a substância permanece no indivíduo

mesmo com as modificações, o acidente é que está sujeito a

mudanças no indivíduo. Exemplo: a minha escola é linda;

Egnésio é inteligente, etc.

A classe dos acidentes:

Qualidade – é a forma da substância (ex: professor, inteligente,

bonito, etc).

Quantidade – atribuição de partes distintas a outras (exemplo:

pequeno, grande, 12gr; 20kg).

Relação – ligação que se estabelece entre a substância e os

acidentes (exemplo: pai, filho, primo, presidente, chefe).

75

Tempo – momento ou ocasião disponível para que uma coisa se

realize (de manhã, meio-dia, a tarde, 1975, etc.).

Lugar – espaço que um corpo substanciado ocupa em relação a

outros corpos (exemplo: em casa, na sala, em Nacala-Porto, no

cinema, etc.).

Acção – o que a substâncias faz usando as suas faculdades ou

poderes (por exemplo: dialogar, conduzir uma motorizada,

etc.).

Estado – conjunto de bens ou instrumentos que, por sua

habilidade, complementam a natureza da substância (por

exemplo: luxo, fausto, etc.).

Posição – lugar ou postura relativa ocupada pela substância (de

pé, sentado, deitado, etc.).

Paixão – sentimento ou emoção que provoca sentimento numa

determinada substância (a perda de um ente querido, o

ferimento, a doença, a condenação de Sócrates, etc.).

4.1.3 Potência e acto

Para explicar o dinamismo do ser, Aristóteles recorreu a duas

noções fundamentais: potência e acto.

Potência é a possibilidade que uma matéria tem de vir a ser

algo em acto; ou seja, é o carácter dinâmico da matéria que

lhe permite possuir um determinado modo de ser e que lhe

confere a capacidade de devir. Por exemplo: se sou aprendiz de

filósofo, posso ou não vir a ser filósofo; mas já que tenho a

possibilidade, posso afirmar que sou filósofo em potência.

76

O acto é o que faz ser aquilo que é, é o ser real, é o que o

determina. Dizer que uma coisa está em acto é o mesmo que

dizer que a mesma coisa tem actualidade, ou seja, passou da

potência de ser algo ao acto de ser. Por exemplo: a camisa do

uniforme está em acto, existe actualmente, não é aquele

simples tecido.

Estes dois conceitos são correlativos: o acto explica a

unidade do ser enquanto é e a potência explica o que a matéria

pode vir a ser.

4.1.4 Essência e existência

Também são dois conceitos correlativos. Para Aristóteles: a

essência é o quê de uma coisa, isto é, não o que seja, mas

aquilo que uma coisa é. Trata-se da qualidade ou determinação

sem a qual uma coisa não seria o que factualmente é. A

existência é a actualização da essência; é a realidade, a

substância em acto.

Portanto, a essência e a existência são princípios necessários

da afirmação e constituição do ser; pois é inconcebível um ser

sem essência ou um ser sem existência. Por isso, a essência

nada é sem a existência e a existência não é sem a essência.

Para o essencialismo, a essência é a primeira que a

existência: o ser define-se primeiramente e só depois se torna

isto ou aquilo. Enquanto o existencialismo defende a primazia

da existência sobre a essência: uma pessoa não tem qualquer

natureza ou conjunto de escolhas predeterminadas, pois é

77

sempre livre para fazer novas escolhas e constituir-se como

uma pessoa diferente.

4.1.5 A cadeia aristotélica de causas: Tomás de Aquino e as

cinco vias

A causa refere-se à força transformadora das coisas (da

potência ao acto) que confere um determinado modo de ser.

Para Aristóteles, os seres criados não têm a razão de ser em

si mesmos e distingue quatro causas que concorrem para a

produção de qualquer coisa:

Causa eficiente – aquilo que produz uma coisa. É o

artífice que confere o ser que antes uma coisa não

possuía.

Causa material – condição ou aquilo de que uma coisa é

feita.

Causa formal – a forma ou o aspecto que um determinado

ser toma ou que é plasmado pelo seu criador.

Causa final – o propósito ou o objectivo com que uma

coisa é feita.

Tomás de Aquino, na idade média, fala de cinco vias que também

são conhecidas como as provas da existência de Deus.

1. O movimento do mundo só é explicável se existir um primeiro

motor imóvel.

2. A série de causas eficientes no mundo devem conduzir a uma

causa sem causa.

78

3. Os seres contingentes e corruptíveis devem depender de um

ser necessário independente e incorruptível.

4. Os diversos graus da realidade e bondade do mundo devem ser

aproximações a um máximo de realidade e bondade subsistente.

5. A teologia normal de agentes não conscientes no universo

implica a existência de um orientador universal inteligente.

4.1.6 A metafísica e o fim último do Homem

Não há unanimidade sobre os fins para os quais o Homem foi

criado. Mas prevalece uma visão teleológica para a existência

humana.

Para Aristóteles, toda a acção humana é feita em função de um

fim que é o bem soberano, isto é, a felicidade. Para ele, ser

feliz é o fim último da existência humana. A chave da

felicidade compreende o prazer, ser cidadão livre e viver

segundo a razão.

Também, na idade média, Santo Agostinho afirma que o Homem é

chamado a ser feliz. Para ele, a felicidade consiste na busca

de um bem permanente que é Deus. São Tomás acredita que o

homem foi criado em função de um fim: o fim sobrenatural que é

a salvação das almas individuais e o fim natural que é a

felicidade terrena.

Para Brazão Mazula, pensador moçambicano, o Homem tem de agir

de acordo com a ética da felicidade que se baseia num trabalho

duro, na criatividade e na honestidade e não na acumulação

ilícita de bens.

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4.2 Estética

4.2.1 Conceito de estética

A estética é a ciência do belo. Uma disciplina filosófica que

se ocupa no estudo do belo. Para Kant, a estética é a ciência

que trata das condições de percepção pelos sentidos.

O objecto de estudo da estética, enquanto ciência e teoria do

belo, é o tipo de conhecimento adquirido pelos sentidos como

bela arte. Os problemas fundamentais da estética são: a

natureza da arte, o seu fim e a sua relação com as outras

esferas da vida humana.

4.2.2 A essência do belo

Para Platão, a arte é uma imitação da natureza que é cópia das

ideias do mundo das ideias; o alvo da imitação é o belo. Para

Aristóteles, a arte não é apenas a imitação da natureza,

trata-se de uma reprodução da natureza com a intenção de a

superar. Para Vico, a arte é um modo fundamental e original de

homem se expressar numa determinada fase do seu

desenvolvimento: a dos sentidos, a da fantasia e a da razão.

A arte como a mais sublime expressão humana da natureza e do

universo opõe-se a própria Natureza que o homem pretende

exprimir e interpretar. Quando é simples manifestação do belo,

denomina-se belas-artes e, quando a arte visa fins lucrativos,

denomina-se artes úteis.

4.2.3 O belo como fundamento da arte

80

Não há consenso sobre o que é belo ou sobre o que não o é,

porque, o que é belo é subjectivo. A obra da arte é a

representação subjectiva da realidade. Não existem valores

comungados por todos os povos e em todos os tempos. O belo é o

que nos reúne mais facilmente e mais misteriosamente. Daí que,

a obra de arte deve ser uma representação bela do mundo do

artista.

4.2.4 As belas artes

Existem as artes mecânicas (metalurgia e têxteis) em que o

artista está preocupado com a utilidade da sua obra (o lucro).

Existem as belas artes em que a preocupação fundamental do

artista é a expressão do gosto pelo belo.

As belas-artes classificam-se em artes plásticas e artes

rítmicas.

As artes plásticas são aquelas que exprimem a beleza sensível

através do uso das formas e das cores, que são: a escultura, a

pintura e a arquitectura.

As artes rítmicas ou artes de movimento são artes que, na sua

essência, produzem obras que exprimem a beleza mediante várias

formas: sons, ritmos e movimentos. São elas: a poesia, a

música e a coreografia.

4.2.5 Significado e valor social das produções artísticas

As obras da arte tratam a vida quotidiana de uma sociedade.

Sendo a representação da percepção do artista, torna-se a

janela através da qual a sociedade nela se revê. Ou seja, a

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sociedade espelha-se nas obras de arte, porque estas são a sua

representação. A arte pode intuir o que poderá ser uma

sociedade futura.

4.2.6 A arte e a moral: relação mútua?

Para Platão, a arte é fruto do amor que impele a alma para a

imortalidade. Para atingi-la, a alma gera e procria o belo

antecipando a vida feliz. Assim, a arte deve subordinar-se à

moral. Deve ser favorecida só a arte que é útil `a educação e

condenada e excluída a arte que favorece a corrupção. Para

Platão, a única arte digna de ser cultivada é a música porque

educa para o belo e forma a alma para a harmonia interior.

Para Kant, a estética e a ética estão separadas pelo interesse

presente na ética (a moral – virtudes), mas o belo e o bom

estão próximos porque agradam imediatamente, são

universalmente partilháveis, são inspirados por uma forma e

são livres.

Em suma, o artista, enquanto homem, está sujeito à moral.