Três perguntas sobre a direita brasileira

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pdfcrowd.com open in browser PRO version Are you a developer? Try out the HTML to PDF API A Pública entrevistou o cientista político Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná, para saber sua visão sobre a nova direita brasileira Três perguntas sobre a direita brasileira por Marina Amaral | 1 de julho de 2015 home/ Da Redação Reportagem Pública f g

Transcript of Três perguntas sobre a direita brasileira

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A Pública entrevistou o cientista político AdrianoCodato, da Universidade Federal do Paraná, para

saber sua visão sobre a nova direita brasileira

Três perguntas sobre adireita brasileira

por Marina Amaral | 1 de julho de 2015

home/ Da Redação

Reportagem Pública

f g

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A direita jovem que emergiu no Brasil principalmente no período eleitoral do ano passado é

um fenômeno social que ainda não foi suficientemente estudado pela academia, explica o

professor Adriano Codato, da pós-graduação da UFPR. “Estas são impressões iniciais sobre

um fenômeno aparentemente novo. Minhas respostas devem ser tomadas, portanto, como

sugestões para que reportagens jornalísticas e pesquisas acadêmicas possam ilustrar e

comprovar ou não o acerto delas”. Veja aqui suas respostas.

Vemos cada vez mais sites de direita e demonstrações nas ruas que exibem

faixas contra Bolsa-Família, Cotas Raciais, e até uma curiosa palavra de

ordem, defendida pelo jovem líder do MBL, Kim Kataguiri, pedindo “Mais

Mises, menos Marx”. A direita cresceu entre a juventude ou saiu do armário? O

senhor diria que ela foi mobilizada principalmente contra os programas

sociais dos governos do PT?

Há as duas coisas. A direita, como corrente parlamentar, voltou a crescer, revertendo o

movimento de queda constante do número de representantes na Câmara dos Deputados que

se observava desde 1994. A extrema-direita, como corrente de opinião, começou a aparecer

com uma estridência até então inédita (ou ao menos sem precedentes desde o fim do

comunismo). Ocorre que se essa extrema-direita é, em termos ideológicos, idêntica àquela do

período da Guerra Fria, hoje tem, graças ao estrondo proporcionado pelas novas mídias e à

bajulação da velha mídia, um alcance muito maior do que jamais teve. Por sua vez, se a direita

parlamentar conta ainda com o concurso das suas figuras políticas tradicionais (o grande

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Talvez Geraldo

Alckimin, da Opus

proprietário, o médio empresário, o cacique partidário, etc.), hoje se vê revigorada por uma

nova legião de políticos dos partidos fisiológicos e pela figura emblemática do pastor-

deputado. Temos assim um cenário em que uma extrema-direita pretensamente moderna

(“menos estado, mais mercado”) precisa se contentar em se ver representada politicamente

pelo baixo clero e por tudo o que há de mais atrasado, reacionário e obscurantista em termos

civilizacionais que a cena política do Brasil pode produzir. A fotografia em que os líderes dos

Revoltados on line e do Movimento Brasil Livre posam alegremente com os deputados Jair

Bolsonaro e Eduardo Cunha é, me parece, a síntese disso. Essa é, por enquanto, a vanguarda

da oposição, visto que o PSDB, ou melhor dizendo, alguns dos seus líderes, não parece muito à

vontade para assumir, ainda, uma agenda abertamente de direita.

Os que se dizem “liberais” no país vão desde empresários que participaram de

conselhos de administração de estatais e câmaras do setor empresarial, como

Gerdau, até outros que se dizem libertarians como Salim Mattar, da Localiza.

Pode se falar em tendências de direita no Brasil como os Libertarians, os Tea

Partiers ou os Evangélicos americanos? Há uma aliança programática entre as

diversas tendências da direita para derrubar o estado de bem-estar social que

identificam com o PT?

Não há essa aliança, nem em termos

programáticos, nem em termos político-

eleitorais. Ou no Brasil não há ainda uma

aliança entre antiestatistas (nosso

Sobre Isso, LeiaTambém

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Dei, possa fazer

essa síntese

ultraconservadora

em 2018.

equivalente dos

Libertarians), antipetistas (nossos Tea

Partiers, só que menos ideológicos)

e antiminorias (a santa cruzada dos nossos

Evangélicos) porque, penso eu, as agendas

dos três grupos ainda não se aproximou

suficientemente uma da outra. E porque,

principalmente, não há um líder ou um partido que possa encarnar num

mesmo movimento as três bandeiras. Celebridades de internet e

polígrafos das várias mídias não contam a não ser como agitadores e

propagandistas das três figuras da direita nacional. Talvez Geraldo

Alckimin, da Opus Dei, dizem os entendidos em sua biografia, possa fazer

essa síntese ultraconservadora em 2018. Eduardo Cunha pode ser

entendido então como um experimento para ver se a coisa

engrena. Nesse contexto, a ojeriza ao Bolsa Família (seu

“assistencialismo”), o ódio às Cotas Raciais (a sabotagem da

“meritocracia”), o espanto diante da abertura dos bens de consumo

privativos das classes médias aos remediados (o “capitalismo”, enfim…)

A direita abraça arede

A nova roupa dadireita

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Sugiro, provisoriamente,

uma divisão dessa

direita

em três grandes

alas: a político-

institucional, a

moral-

privativos das classes médias aos remediados (o “capitalismo”, enfim…)

são mais a desculpa para se opor ao PT e ao seu governo do que a razão

real que os anima. Quem de fato se aflige com tudo isso são as altas

camadas médias, que aliás estão onde sempre estiveram, nem mais à

direita nem mais à esquerda, e que pensam como sempre pensaram:

que a política é um privilégio dos letrados, que os cursos superiores são o

destino dos bem-nascidos, que a corrupção é o único mal nacional e que

pobre deveria é andar de ônibus.

Como o senhor dividiria a direita brasileira? Em que facções?

Elas se distribuem em diferentes partidos ou podemos

considerar algum deles como sede da direita ideológica?

Será necessário nos próximos anos um

baita esforço por parte da academia para

compreender essa nova/velha direita

brasileira. Nesse sentido, a topografia

desse grande campo

reacionário ainda está por ser feita.

Sugiro, provisoriamente, uma divisão

dessa direita, que ainda teima em não

dizer seu nome, em três grandes alas:

a político-institucional, a moral-

comportamental e a econômico-liberal. As

“O discurso doódio estavapresente desde2010, se viu naseleiçõesmunicipais evoltou com forçaem 2014”

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moral-

comportamental e a

econômico-liberal.

duas primeiras se encontram e se

resumem na figura do pastor-deputado,

mas, para usar a linguagem dos

Evangelhos, não há só uma forma de

manifestação desse fenômeno. Seu “nome

é Legião, porque são muitos”. A direita institucional tem progressivamente deixado de

concorrer às eleições proporcionais pelos grandes partidos (DEM, PP, PTB) e se alojado nas

micro-legendas que costumamos chamar de partidos fisiológicos (por oposição aos

ideológicos). Vamos ver aonde isso vai. A direita “comportamental” tem uma agenda

conservadora bem definida contra todos os direitos do século XX: os direitos das minorias de

gênero, os direitos humanos, os direitos trabalhistas, o direito penal, etc. Essa variante da

direita brasileira se acha em quase todos os partidos do Congresso e seus apóstolos não são

sempre e necessariamente o pastor-deputado. Até porque é preciso lutar em várias frentes.

A direita “liberal” (em termos econômicos) é, me parece, a que está aí há mais tempo: escreve

nos jornais, recita no rádio, declama na TV, posta na internet o receituário de sempre em

defesa do capital rentista (“apertar o cinto e gastar com juros”). Enfim: que uns tenham PhD

por Chicago e outros sejam pregadores na Baixada Fluminense, que uns se metam em

parecer Carlos Lacerda na tribuna e outros ressuscitem o militar autoritário são instantâneos

de uma corrente política que parece estar se firmando entre o eleitorado das grandes cidades.

A ver.

Saiba mais: A nova roupa da direita

Saiba Mais: A direita abraça a rede

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Ricardo Figueiredo de Castro · Professor at Federal University of Rio de JaneiroExcelente entrevista com o Prof. Dr. Adriano Codato. A propósito da produçãobrasileira sobre o tema, sugiro a visita ao dossiê do blog Marxismo21 sobre adireita contemporânea, com especial destaque para a brasileira.http://marxismo21.org/direitas-politica-ideologia/

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Reply · Like · · 16 hours ago1

André CepêdaEssa é uma entrevista de opinião, de viés totalmente ideológico e semfundamento algum. O cidadão Adriano Codato tem o direito de acreditar e publicaro que quiser, mas ao autorar qualquer construção teórica como "cientista" político,deve observar o método científico e examinar atentamente as premissas de cadaproposição feita. Me preocupa que a opinião pessoal e a ciência se confundamnas salas de aula da UFPR assim como nesta entrevista. Neste caso, o servidorpúblico e Dr. Codato estaria não apenas atentando contra a reconhecidaqualidade de ensino desta prestigiosa universidade, como tambémdesinformando e influenciando seus alunos com convicções que deveriammanter-se restritas à esfera privada.Reply · Like · 12 hours ago

Victor Augusto Tramujas · Works at Student“Estas são impressões iniciais sobre um fenômeno aparentementenovo. ***Minhas respostas devem ser tomadas, portanto, comosugestões para que reportagens jornalísticas e pesquisasacadêmicas possam ilustrar e comprovar ou não o acerto delas***”

De nada.Reply · Like · · 7 hours ago1

André CepêdaEu li a entrevista, Victor.

Caracterizar as proposições como "impressões iniciais" não autoriza oautor, como cientista político, a emitir sua ideologia pessoal travestidade reflexão científica. Não são necessárias pesquisas futuras oureportagens jornalísticas para identificar que as "impressões iniciais"do Dr. Codato não encontram correspondência alguma na realidadesensível; basta o exercício da lógica elementar e o simples exame daspremissas.

Exemplo:

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"Quem de fato se aflige com tudo isso são as altas camadas médias... que pensam como sempre pensaram: ... que pobre deveria é andarde ônibus".

Trata-se evidentemente de uma opinião, admitida talvez numa mesade bar; mas nunca para fundamentar a construção teórica nemmesmo de uma "impressão inicial" cientificamente séria quedemande trabalhos acadêmicos futuros para ... See MoreReply · Like · 3 hours ago

Joao Cesar Fonseca · Belo Horizonte, BrazilGostei da entrevista, parabéns! Apenas tomo a liberdade de ponderar: será queEduardo Cunha já não se tornou algo mais do que um "experimento"...?Reply · Like · 14 hours ago

Robinson Ricci · Works at Escola De Dança Fabiane OrtegaAtrevo-me num pequeno reparo: esse eleitorado à direita forma-se não apenasnos grandes centros, mas especialmente no interior do país, já tradicionalmenteconservador e limitado a, digamos, uma monocultura de informação.Reply · Like · 10 hours ago

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