TESE Braz José do Nascimento Júnior.pdf - RI UFPE
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
BRAZ JOSÉ DO NASCIMENTO JÚNIOR
AVALIAÇÃO DO EFEITO DO MONOTERPENO BORNEOL SOB MUCOSITE
ORAL INDUZIDA POR 5-FLUOROURACIL E DESENVOLVIMENTO DE FORMA
FARMACÊUTICA PARA USO ODONTOLÓGICO
RECIFE
2017
BRAZ JOSÉ DO NASCIMENTO JÚNIOR
AVALIAÇÃO DO EFEITO DO MONOTERPENO BORNEOL SOB MUCOSITE
ORAL INDUZIDA POR 5-FLUOROURACIL E DESENVOLVIMENTO DE FORMA
FARMACÊUTICA PARA USO ODONTOLÓGICO
Orientadora: Prof.ª Dra. Elba Lúcia Cavalcanti de Amorim
Co-Orientadora: Prof.ª Dra. Talita Mota Gonçalves (UNIVASF)
RECIFE
2017
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para a obtenção do Título de Doutor em Ciências Farmacêuticas.
BRAZ JOSÉ DO NASCIMENTO JÚNIOR
AVALIAÇÃO DO EFEITO DO MONOTERPENO BORNEOL SOB MUCOSITE ORAL INDUZIDA POR 5-FLUOROURACIL E DESENVOLVIMENTO DE FORMA
FARMACÊUTICA PARA USO ODONTOLÓGICO
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Ciências Farmacêuticas.
Aprovada em: 06/04/2017.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Elba Lúcia Cavalcanti de Amorim (Presidente)
Universidade Federal de Pernambuco
____________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Teresinha Gonçalves da Silva (Examinadora Interna)
Universidade Federal de Pernambuco
____________________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Alberto Lira Soares (Examinador Interno)
Universidade Federal de Pernambuco
____________________________________________________________ Prof. Dr. José Thadeu Pinheiro (Examinador Externo)
Universidade Federal de Pernambuco
____________________________________________________________ Prof. Dr. Tadeu José da Silva Peixoto Sobrinho (Examinador Externo)
Centro Universitário do Vale do Ipojuca
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
REITOR
Prof. Anísio Brasileiro de Freitas Dourado
VICE- REITORA
Profa. Florisbela de Arruda Camara e Siqueira Campos
PRÓ-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Prof. Ernani Rodrigues de Carvalho Neto
DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Prof. Nicodemos Teles de Pontes Filho
VICE-DIRETORA DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Profa. Vânia Pinheiro Ramos
COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS
FARMACÊUTICAS
Prof. Almir Gonçalves Wanderley
VICE-COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS
FARMACÊUTICAS
Prof. Rafael Matos Ximenes
R E C I F E
2017
A memória de minha avó materna, Luiza Onélia de
Almeida, falecida em 2014 aos 89 anos, um exemplo de
vida. Foi ela que me ensinou muitas lições, além das
primeiras letras e dos primeiros números. Mulher de fé em
Deus, “frasista nata”, dedicada à família, esforçada,
honesta, simples, ensinou-me o respeito ao próximo e à
natureza. Não estudou muito, no entanto, era muito sábia,
soube superar todas as adversidades de seu tempo,
inclusive continuar cuidando dos seus filhos quando meu
avô a deixou para viver com outra mulher. Entre os seus
admiradores, sou um dos mais ardorosos. Escrevo essas
palavras com lágrimas nos olhos. Dedico também à
memória do meu irmão Carlos Esdras Almeida do
Nascimento, falecido em 1993, aos 20 anos de idade num
acidente de carro que ceifou sua vida. Nessa fase
estávamos vivendo uma amizade verdadeira de irmãos, a
união fraternal era quase uma regra. As brigas
corriqueiras e frequentes aos irmãos já estavam ficando
ausentes há mais de cinco anos... Minhas boas
lembranças... Sei que a vida é passageira e o que fica é a
boa recordação...
AGRADECIMENTOS
Ao Deus da minha salvação, pelo dom da vida e pela fortaleza nos momentos de
angústias;
A minha família pela compreensão das minhas ausências durante esse período, pelo
amor, carinho e apoio em meus projetos de vida. Principalmente, a minha esposa
Karla Adriana, aos meus filhos Nínive Victória, Rafael Pedro e Igor Samuel, aos
meus pais Capitão Braz e dona Conceição, ao meu irmão Welvson Dennis e minha
Tia Jandaracy, os meus amados.
A Professora Elba Lúcia Cavalcanti de Amorim por ter me aceitado como orientando
e por todos seus ensinamentos científicos e de vida.
A FACEPE pela Bolsa de Doutorado que viabilizou os gastos com a minha
formação.
A UNIVASF pela liberação do afastamento para o doutoramento, pelas instalações e
o fornecimento dos animais para o experimento.
Aos alunos de graduação Cínthia Reyjane, Lucas Brito, Luana Matos, Walquíria
Nunes e Daniela Gonçalves pela ajuda nos experimentos com os animais.
A FARMACE, na pessoa do Dr. Emanuel Jair Gonçalves Souza Carvalho pelo
auxilio na produção dos géis e Dr. Sílvio Alan Gonçalves Bonfim Reis pela ajuda nos
testes de estabilidade dos produtos.
Ao Prof. Luciano Ribeiro (UNIVASF) pela ajuda nos testes estatísticos.
Ao Prof. Almir Gonçalves Wanderley pela boa coordenação da PPGCF.
Aos professores da pós-graduação em Ciências Farmacêuticas que contribuíram na
minha formação e com os quais cursei as disciplinas.
Aos técnicos da Secretaria da PPGCF, Nerilin Trajano, Jane Barbosa, Rilvan
Guedes e Jenifer Oliveira (LAPRONAT), mas também, as estagiárias Júlia Hellen e
Bárbara de Paula pela paciência quando me ajudaram no que era necessário.
Aos professores da Banca pelas boas sugestões que contribuirão para o
melhoramento desse documento, bem como, para meu crescimento como
pesquisador.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram, porque não fazemos nada
sozinhos.... O meu muito obrigado...
“Porque dele, por ele, e para ele, são todas as
coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém”.
(Romanos 11: 36)
RESUMO
A mucosite oral é a mais comum e angustiante patologia que se desenvolve como efeito adverso agudo da quimioterapia e radioterapia da cabeça e pescoço e está entre as principais causas de interrupções ou diminuições de dose na terapia do câncer, com isso, expondo o paciente a progressão da doença. O objetivo dessa pesquisa foi investigar a ação do borneol em mucosites orais induzidas por 5-Fluorouracil (5- FU) em modelo experimental de Ratos Wistar e preparar géis bucais a base desse monoterpeno. Os géis foram preparados com base Aristoflex®, incorporando-se o borneol nas concentrações de 1,2% e 2,4% (m/m). Os produtos foram submetidos a testes de estabilidade preliminar por centrifugação, ciclos de congelamento-descongelamento por 12 dias e análise dos parâmetros organolépticos e físico-químicos. No estudo experimental foram utilizados 48 ratos Wistar machos (Rattus norvegicus). A indução de mucosite oral foi realizada através da administração de 30 mg/Kg de 5-Fluorouracil por via intraperitoneal, nos dias 0, 2 e 4. No segundo dia, as mucosas jugais direitas dos animais foram injuriadas quimicamente com ácido acético a 50%, embebido em papel de filtro por 60 segundos. Os animais foram numerados de 1 a 48 e distribuídos aleatoriamente em quatro subgrupos de 12 animais (Grupo I = Borneol 0%; Grupo II = Borneol 1,2%; Grupo III = Borneol 2,4% e Grupo IV = Controle). Seis animais de cada grupo foram submetidos à eutanásia nos dias 7 e 14 após as injurias. As mucosas jugais direitas foram removidas e fixadas em formaldeído a 10% tamponado, processadas com cortes transversais de 5 µm, coradas em HE e Tricrômico de Masson. As lâminas obtidas foram analisadas em microscópio óptico munido de câmera digital. Nas avaliações semiquantitativa e qualitativa foram utilizados escores de cicatrização que variaram de 0 a 3 e tabela guia. A avaliação quantitativa foi conduzida com o auxílio do software ImageJ®. A análise estatística dos dados foi realizada por ANOVA Two-Way, seguida de pós-teste de Tukey em todas as comparações, exceto na avaliação dos escores de cicatrização, na qual foi usado o teste de Mann Whitney. Considerou-se o nível de significância p<0,05 em todas as análises. Os resultados de estabilidade dos géis comprovaram que os produtos apresentaram mínima variação na estrutura, sendo considerados estáveis. Além do mais, os produtos mostraram adesividade nas mucosas dos animais e com características tixotrópicas, o que facilitou a permanência do gel por mais tempo nos locais das lesões, com isso, otimizando os efeitos locais do borneol. Ambos os géis contendo Borneol (1,2% e 2,4% m/m) foram eficazes nos parâmetros avaliados: escores de cicatrização, percentual de perda de peso, quantidade de células inflamatórias, número de vasos sanguíneos e percentual de colágeno neoformado. A constatação da ação anti-inflamatória e cicatrizante do borneol em mucosites orais em ratos é um forte indicativo desta atividade para extratos vegetais que sejam ricos nesta molécula.
Palavras-chave: Quimioterapia. Ulceração. Mucosite oral.
ABSTRACT
Oral mucositis is the most common and distressing pathology that develops as an acute adverse effect of chemotherapy and radiation therapy of the head and neck and is among the main causes of interruptions or dose reductions in cancer therapy, thereby exposing the patient to progression of the disease. The objective of this research was to investigate the action of borneol in oral mucosites induced by 5-Fluorouracil (5-FU) in an experimental model of Wistar rats and to prepare buccal gels based on this monoterpene. The gels were prepared with Aristoflex® base, incorporating the borneol at concentrations of 1.2% and 2.4% (m / m). The products were subjected to preliminary stability tests by centrifugation, freeze-thaw cycles for 12 days and analysis of organoleptic and physicochemical parameters. In the experimental study 48 male Wistar rats (Rattus norvegicus) were used. Induction of oral mucositis was performed by administering 30 mg / kg of 5-Fluorouracil intraperitoneally on days 0, 2 and 4. On the second day, the right oral mucosa of the animals were chemically injured with 50% acetic acid, Soaked in filter paper for 60 seconds. The animals were numbered from 1 to 48 and randomly assigned to four subgroups of 12 animals (Group I = Borneol 0%, Group II = Borneol 1.2%, Group III = Borneol 2.4% and Group IV = Control). Six animals from each group were submitted to euthanasia on days 7 and 14 after insults. The right jugal mucosa were removed and fixed in 10% buffered formaldehyde, processed with 5 μm transverse sections, stained in HE and Masson's Trichrome. The slides obtained were analyzed under an optical microscope equipped with a digital camera. In the semiquantitative and qualitative evaluations, healing scores ranging from 0 to 3 and guide table were used. The quantitative evaluation was conducted using ImageJ® software. Statistical analysis of the data was performed by Two-Way ANOVA, followed by Tukey's post-test in all comparisons, except for the evaluation of the healing scores, in which the Mann Whitney test was used. The significance level was set at p <0.05 for all analyzes. The stability results of the gels showed that the products showed minimal variation in the structure and were considered stable. Moreover, the products showed adhesiveness in the mucous membranes of the animals and with thixotropic characteristics, which facilitated longer gel stay at the lesion sites, thereby optimizing the local effects of borneol. Both gels containing Borneol (1.2% and 2.4% m / m) were effective in the evaluated parameters: healing scores, percentage of weight loss, number of inflammatory cells, number of blood vessels and percentage of neoformed collagen. The finding of the anti-inflammatory and healing action of borneol in oral mucosites in rats is a strong indicator of this activity for plant extracts that are rich in this molecule. Keywords: Chemotherapy. Ulceration, Oral mucositis.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Tipos de crescimento celular alterados.......................................................28
Figura 2. Os mecanismos de geração dos oncogenes..............................................30
Figura 3. Passo a passo do processo de carcinogênese...........................................31
Figura 4. As cinco fases de desenvolvimento da mucosite oral.................................39
Figura 5. Os métodos de estabelecimento de modelos pré-clínicos de mucosite e
tratamentos testados..................................................................................................45
Figura 6. Estrutura do borneol e Isoborneol...............................................................48
Figura 7. Isômeros D e L do Borneol..........................................................................48
Figura 8: Aspecto inicial dos géis antes da centrifugação.........................................52
Figura 9: pHmetro de bancada digital usado nas medições de pH dos géis.............52
Figura 10. Viscosímetro rotativo micro processado (Quimis, modelo Q-860M21).....53
Figura 11: Centrífuga Centribio®, modelo 80-2B utilizada nos testes de
estabilidade................................................................................................................54
Figura 12. Sala de Experimentação do Laboratório de Prática Cirúrgica da UNIVASF
– Campus Petrolina – Centro.....................................................................................55
Figura 13. Balança de precisão (Mettler-Toledo SB8000).........................................56
Figura 14. Analisador automatizado (pocH-100iV DIFF) para determinação de
parâmetros hematológicos nos animais como contagem de Hemácias, Leucócitos e
Plaquetas, além da concentração de hemoglobina...................................................57
Figura 15. Procedimento de injuria química da mucosa jugal na intenção de indução
da mucosite oral.........................................................................................................58
Figura 16: Tratamentos conforme os grupos. Aplicações diárias dos géis com hastes
flexíveis.......................................................................................................................59
Figura 17. Processamento do material biológico. Os espécimes em solução de
formaldeído a 10% tamponado, em seguida desidratação, diafanização, microtômia,
coloração e montagem das lâminas...........................................................................60
Figura 18. Ilustração da tela de leitura do software utilizado para mensuração dos
vasos sanguíneos e das células inflamatórias...........................................................63
Figura 19. Utilização do Software ImageJ® para o cálculo do percentual de
colágeno.....................................................................................................................64
Figura 20. Representação da coloração observada na tela para determinação do
percentual de colágeno neoformado..........................................................................65
Figura 21: Resultados da viscosidade média do gel Borneol 2,4%, antes e após os
testes de congelamento e descongelamento.............................................................68
Figura 22. Aspectos macroscópicos dos géis antes e após testes de Estabilidade..68
Figura 23. Escores de cicatrização da mucosite oral de acordo com os grupos e o
dia de experimentação...............................................................................................69
Figura 24. Aspectos microscópicos dos grupos com sete dias de experimentação..70
Figura 25. Aspectos microscópicos dos grupos com 14 dias de experimentação.....71
Figura 26. Aspectos microscópicos do colágeno neoformado dos grupos com sete
dias.............................................................................................................................72
Figura 27: Aspectos microscópicos do colágeno neoformado dos grupos com
quatorze dias..............................................................................................................73
Figura 28. Contagem do número de vasos de acordo com os grupos e os dias de
experimentação..........................................................................................................74
Figura 29. Contagem do número de células inflamatórias de acordo com os grupos e
os dias de experimentação.........................................................................................75
Figura 30. Percentual de Colágeno de acordo com os grupos com sete e 14 dias...76
Figura 31: Percentagem de perda de massa de acordo com o grupo e dia de
experimentação..........................................................................................................77
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Representação esquemática do experimento...........................................56
Quadro 2. Guia para análise microscópica qualitativa das Lâminas..........................61
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Métodos para estabelecimento de modelos animais de mucosite oral......44
Tabela 2. Demonstração dos quatro grupos e tratamento medicamentoso de cada
um deles.....................................................................................................................55
Tabela 3. Resultados da avaliação da estabilidade preliminar dos géis de Borneol,
antes e após o teste de congelamento e descongelamento......................................67
Tabela 4: Determinação de parâmetros hematológicos nos animais como contagem
de Hemácias, Leucócitos e Plaquetas, além do hematócrito.....................................78
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
5-FU - 5-Fluorouracil
ACS - American Cancer Society
AMCSC / SIOO - Diretrizes do Grupo da Associação Multinacional de Cuidados de
suporte em Câncer / Sociedade Internacional de Oncologia Oral
ASCO - American Society of Clinical Oncology
CIV - Cosmetic Ingredient Review
CPC - Chinese Pharmacopoeia Commision
CTCEA - Escala de Critérios de Terminologia Comuns para Eventos Adversos
DTMP - Desoxitimidina Monofosfato
ESMO - Grupo de Trabalho em Mucosite Oral
FCE - Fator de Crescimento Epidermal
FCQ - Fator de Crescimento de Queratinócitos
FDA - Food and Drug Administration
FDUMP - Monofosfato de Fluorodesoxiuridina
IARC - Agência Internacional de Investigação da Organização Mundial da Saúde
sobre o Câncer
INCA – Instituto Nacional do câncer
iNOS – Óxido Nítrico Sintetase
MN - Mononucleares
MO - Mucosite oral
NCI - National Cancer Institute
NF-kB - Fator de Transcrição Nuclear Kappa B
OMS - Organização Mundial de Saúde
PMN - Polimorfonucleares
PPRC - Pharmacopeia of the People’s Republic of China
RGB Stack - RGB é a sigla do sistema de cores aditivas formado pelas iniciais das
cores em inglês Red, Green e Blue no programa ImageJ®
SAS/MS – Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde
SNC - Serviço Nacional de Câncer
SUS – Sistema Único de saúde
UICC – União Internacional Contra o Câncer
VEGF - Fator de Crescimento do Endotélio Vascular
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 18
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 22
2.1 HISTÓRICO DO CÂNCER NO MUNDO E NO BRASIL ...................................... 22
2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CÂNCER ............................................................ 27
2.3 TRATAMENTO ATUAL DO CÂNCER ................................................................. 31
2.4 EFEITOS COLATERAIS DO TRATAMENTO DO CÂNCER ............................... 36
2.4.1 Mucosite Oral .................................................................................................. 36
2.5 TRATAMENTO DA MUCOSITE ORAL ............................................................... 38
2.6 MODELOS ANIMAIS DE MUCOSITE ORAL ...................................................... 44
2.7 O BORNEOL ....................................................................................................... 47
3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 50
3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 50
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 50
4 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 51
4.1 PREPARAÇÃO DOS GÉIS BASE ARISTOFLEX® ............................................. 51
4.2 CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DAS FORMULAÇÕES .............................. 51
4.2.1 Análise macroscópica da formulação .......................................................... 51
4.2.2 Determinação do pH....................................................................................... 52
4.2.3 Condutividade ................................................................................................ 52
4.2.4 Viscosidade .................................................................................................... 53
4.2.5 Avaliação preliminar da estabilidade............................................................ 53
4.2.5.1 Resistência à centrifugação .......................................................................... 53
4.2.5.2 Ciclo Gelo-Degelo ......................................................................................... 54
4.3 A EXPERIMENTAÇÃO........................................................................................ 54
4.3.1 Os animais e o manejo ................................................................................... 54
4.3.2 Formação de grupos experimentais ............................................................. 55
4.3.3 Pesagem dos ratos......................................................................................... 56
4.3.4 Análise Hematológica .................................................................................... 57
4.3.5 Indução da mucosite oral nos animais......................................................... 57
4.3.6 Tratamentos dos grupos ............................................................................... 58
4.3.7 Procedimento de retirada das mucosas jugais direitas dos animais. ....... 59
4.3.8 Processamento do material Biológico ......................................................... 60
4.3.9 Avaliação Histológica Qualitativa e Semiquantitativa................................. 60
4.3.10 Avaliação Histológica Quantitativa ............................................................. 62
4.3.10.1 Número de células inflamatórias e a quantidade de vasos sanguíneos nas regiões ulceradas ...................................................................................................... 62
4.3.10.2 Percentual de colágeno neoformado nas regiões ulceradas ....................... 64
4.3.11 Análise Estatística ........................................................................................ 65
4.3.12 Atendimento aos Critérios Éticos da Pesquisa ......................................... 65
5 RESULTADOS ....................................................................................................... 67
5.1 PREPARAÇÃO E AVALIAÇÃO DAS FORMULAÇÕES ...................................... 67
5.2 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DOS GÉIS DE BORNEOL SOBRE A MUCOSITE ORAL ........................................................................................................................ 69
5.3 AVALIAÇÕES ESTATÍSTICAS QUANTITATIVAS .............................................. 72
6 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 79
6.1 AVALIAÇÃO DAS FORMULAÇÕES CONTENDO BORNEOL. .......................... 79
6.2 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DOS ANIMAIS ................................................. 81
6.3 A EXPERIMENTAÇÃO, A ANÁLISE HISTOLÓGICA E A ANÁLISE ESTATÍSTICA. .......................................................................................................... 82
7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 86
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 87
ANEXO A - CARTA DE APROVAÇÃO DO PROJETO NO COMITÊ DE ÉTICA DA UNIVASF ................................................................................................................. 102
ANEXO B - CARTA DE ACEITE. ............................................................................ 103
ANEXO C - ARTIGO ACEITO PELO BRAZILIAN JOURNAL OF PHARMACEUTICAL SCIENCES (QUALIS B2 – FARMÁCIA). ................................................................. 104
18
1 INTRODUÇÃO
Pretendeu-se com essa tese, estudar a ação do monoterpeno borneol em
mucosites quimioinduzidas experimentalmente por 5-Fluorouracil (5-FU) em Rattus
norvegicus. Estudos anteriores realizados em modelos experimentais mostram que o
borneol possui ação antinociceptiva e anti-inflamatória. Apesar dessa substância ser
pesquisada na área médica e em variados modelos animais, não há relatos de
estudos para o tratamento da mucosite oral quimioinduzida. Logo, existe uma lacuna
na qual uma pergunta precisou ser respondida: será que o borneol poderia controlar
o processo inflamatório em mucosites quimioinduzidas por 5-Fluorouracil (5-FU) em
Rattus norvegicus?
O tratamento do câncer tem sido cada vez mais intervencionista com a
utilização de doses de quimioterápicos, isolados ou combinados, cada vez maiores.
Tal fato encontra justificativa na tentativa de vencer a resistência primária das
neoplasias a ação das drogas e a busca de uma maior eficiência nas terapêuticas de
tratamento e de primeira linha. Porém, o efeito colateral dessa prática se constitui,
na maioria das vezes, no principal obstáculo a continuidade do protocolo utilizado
(SOUZA et al., 2000).
Também, o cirurgião-dentista deve estar presente na equipe multidisciplinar, e
ter conhecimento amplo sobre todas as manifestações que a terapia de radiação
causa no organismo, realizando tratamento odontológico previamente e
posteriormente a radioterapia, otimizando o tratamento antineoplásico, garantindo
assim melhor qualidade de vida ao paciente diante das adversidades que o
tratamento do câncer pode causa na cavidade oral (SERA et al., 2013).
Existem três formas de tratamento das neoplasias malignas: cirurgia,
radioterapia e quimioterapia. Nos dois últimos casos, o tratamento é inespecífico e
não difere o tipo celular alterado, ou seja, a inibição de crescimento celular também
se dá nas células normais de crescimento rápido, como na mucosa oral e medula
óssea (VOLPATO et al., 2007).
As complicações devido ao tratamento antineoplásico estão associadas a
fatores como: número de frações do quimioterápico, dose total da radioterapia,
intervalo entre as sessões, tempo total de tratamento e também a fatores
relacionados aos pacientes como idade, fumo, índice de higiene oral e álcool
(BUENO et al., 2012). As manifestações clínicas mais comumente associadas à
19
terapia de radiação na cavidade oral são: mucosite, osteorradionecrose, xerostomia,
cárie de radiação, trismo, infecções oportunistas, disfagia entre outras (SIMÕES et
al., 2011).
O 5-fluorouracil é um quimioterápico antimetabólito análogo ao folato, purinas
e pirimidina, usado comumente no tratamento de tumores malignos do trato
gastrintestinal, sendo uma das principais drogas que causam mucosite. Essa droga
que inibe a síntese do DNA tende a produzir mucosite. O aparecimento da mucosite
se justifica pelo fato da terapia do câncer afetar células do epitélio basal oral, que
são comumente sensíveis a drogas citotóxicas, usadas na quimioterapia, e à
radiação ionizante, utilizada na radioterapia de cabeça e pescoço. Como
consequência, observa-se a presença de mucosite oral em 36% a 100% dos
pacientes (SANTOS, 2011).
Dentre as principais alterações bucais, a mucosite oral é mais frequente e o
maior fator limitante de dose para radioterapia e quimioterapia, podendo levar à
interrupção do tratamento levando, ao comprometimento do tratamento e da taxa de
sobrevida. Ainda importante salientar que os portadores de mucosites oral referem
dor intensa, dificuldade para se alimentar e realizar higiene oral. Caracteriza-se
clinicamente por lesões eritematosas e ulcerativas que acometem o vermelhão dos
lábios e a mucosa oral (SMITH et al., 2007).
Essa alteração foi descrita inicialmente por Sonis et al., (2004a) como um
processo biológico complexo subdividido em cinco fases, apesar de descritas
linearmente, acontecem de forma bastante rápida e simultaneamente: iniciação,
super-regulação e geração de mensageiros, sinalização e amplificação, ulceração e
inflamação e fase de cura.
Segundo Sonis et al., (2004b), a frequência com que os pacientes submetidos
à quimioterapia apresentam problemas bucais é afetada por diversas variáveis.
Estas podem ser divididas em variáveis relacionadas com o paciente e aquelas
relacionadas com a terapia. Os fatores relacionados com o paciente incluem idade,
diagnóstico e o estado de sua boca antes e durante a terapia. As variáveis
relacionadas com a terapia incluem o tipo de droga, a dose e a frequência do
tratamento, além do uso de terapia concomitante.
O Borneol (C10H18O) é um álcool bicíclico, monoterpenoide, um material de
valor médico, especiaria aromática, material químico, também tem sido usado em
alimentos e medicina popular na China e na Índia. Muitos estudos mostram que o
20
borneol possui ação analgésica, anti-inflamatória, antioxidante, antibacteriana e
cicatrizante (LIU et al., 2009; BARRETO, 2013; MIRANZADEH et al., 2015). Em
remédios populares, o borneol é utilizado para vários fins, tais como dor de
garganta, feridas, queimaduras e infecções da pele. Além disso, diversas
publicações têm mostrado que o borneol aumenta a penetração de drogas através
da pele e da córnea (CUI et al., 2011; QI et al., 2013) e acelera a abertura da
barreira hemato-encefálica, aumentando a distribuição de drogas no tecido cerebral
(YU et al., 2013).
A síntese do monoterpeno borneol é iniciada pela formação do cátion geranila
que sofre isomerização, ciclizações que termina com a perda de um próton ou a
acréscimo de um nucleófilo (DEGENHARDT et al., 2009). O borneol é formado
partindo do intermediário difosfato de bornila. Nesta síntese, a enzima terpeno
sintase catalisa a formação do difosfato de bornila partindo do cátion de bornila. A
molécula é então hidrolisada ou oxidada, formando o borneol (CROTEAU; KARP,
1979).
As prescrições do borneol puro na medicina tradicional recomendam seu uso
por via oral, pois o mesmo é absorvido pela mucosa da membrana gastrointestinal e
entra no sistema circulatório para ser distribuído para órgãos e tecidos. Essa forma
de administração/veiculação apresenta biodisponibilidade inferior, pois é distribuída
lentamente e passa por fases de degradação. Este Monoterpeno é mais eficaz por
via intravenosa, mas existem algumas limitações como maior risco de toxicidade,
administração inadequada e preço mais elevado. Em contraste, a administração
intranasal do borneol (é absorvido e atinge a corrente sanguínea) evita a
degradação do fármaco no trato gastrointestinal, degradação ácida ou enzimática,
resultante do metabolismo de primeira passagem hepática, resulta em rápida
absorção e início de ação e uma maior biodisponibilidade (COSTANTINO et al.,
2007; PILLION et al., 2010). Outra forma de administração eficaz é a utilização de
géis de uso tópico para a mucosa e a pele, impedindo a degradação do fármaco no
sistema gastrointestinal e no fígado, que resultam em rápida absorção e início de
ação com uma maior biodisponibilidade (ZHAO et al., 2012; ALMEIDA et al., 2013;
TANIDEH et al., 2014; DANTAS, 2015).
Apesar do Borneol ter sido citado como eficaz em feridas na boca (LIU et al.,
2009; KONG et al., 2014), modelos pré-clínicos que comprovem a sua ação em
mucosite oral são inexistentes. Para tentar preencher essa lacuna essa pesquisa foi
21
desenvolvida, para contribuir no conhecimento dessa patologia que possui
tratamentos ainda tão variados e com resultados terapêuticos pouco satisfatórios e,
às vezes, apenas sintomáticos.
22
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Histórico do Câncer no mundo e no Brasil A origem da palavra câncer é creditada ao médico grego Hipócrates (460-377
aC), que é considerado o "pai da medicina". Hipócrates usou os termos “carcinos e
carcinoma” para descrever tumores não ulcerosos e formação de úlcera. Em grego,
esta palavra se refere a um caranguejo, pois a maioria dos tumores possui projeções
em forma de dedos que lembra a forma desse animal. O médico romano, Celsus
(28-50 aC), mais tarde, traduziu o termo grego câncer, para a palavra latina
caranguejo. Galeno (130-200 dC), outro médico grego, usou a palavra oncos (grego
para inchaço) para descrever tumores. Embora a analogia caranguejo de Hipócrates
e Celsus ainda seja utilizada para descrever os tumores malignos, o termo de
Galeno é agora utilizado como parte do nome para especialistas em câncer –
oncologistas (ACS, 2014).
A partir do século XV, alguns cientistas desenvolveram uma maior
compreensão do corpo humano. Com isso, Galileu e Newton começaram a usar o
método científico, que mais tarde foi empregado para estudar a doença. As
necropsias feitas por Willian Harvey (1628) conduziram a uma compreensão da
circulação do sangue através do coração e do corpo que tinha sido até então um
mistério. Em 1761, Giovanni Morgagni de Pádua foi o primeiro a fazer algo que se
tornou rotina hoje. Ele fez dissecções em cadáveres para relacionar a doença do
paciente com achados patológicos após a morte. Isto fundamentou a oncologia
científica, o estudo do câncer. O famoso cirurgião escocês John Hunter (1728-1793)
sugeriu que alguns tipos de câncer podiam ser curados por cirurgia e descreveu
como o cirurgião pode decidir quais tipos de cânceres deve operar. Se o tumor não
invadia os tecidos próximos e era "móvel", dizia ele, "não há impropriedade em
removê-lo." Um século mais tarde com o desenvolvimento de anestesia permitiu o
florescimento das cirurgias clássicas do câncer, tais como a mastectomia radical.
(ACS, 2014).
Em 1838, o patologista alemão Johannes Muller fundamentou a teoria
“Blastema” que demonstrou que o câncer é composto de células e não de linfa como
se pensava anteriormente, mas se acreditava que as células cancerosas não vinham
a partir de células normais. Muller propôs que as células cancerígenas eram
desenvolvidas a partir de elementos de brotamento (blastema) que entravam nos
tecidos normais. Seu aluno, Rudolph Virchow (1821-1902), o famoso patologista
23
alemão, determinou que todas as células, incluindo as células cancerígenas, são
derivadas de outras células. Na teoria da irritação crônica de Virchow, a irritação
crônica causa câncer, mas ele acreditava de forma incorreta que o câncer "se
espalhava como um líquido." Na década de 1860, o cirurgião alemão, Karl Thiersch,
mostrou que o câncer gerava metástases através da disseminação de células
malignas e não através de algum líquido não identificado. Na teoria do trauma, esse
agente externo foi considerado por alguns como causa do câncer, apesar dos
avanços na compreensão, a partir de finais dos anos 1800 até a década de 1920.
Esta crença foi mantida apesar da falha na produção de câncer em animais
experimentais (ACS, 2014).
O século XIX viu o nascimento da oncologia científica com o uso do
microscópio moderno no estudo dos tecidos acometidos. Rudolf Virchow foi o
fundador da patologia celular, pois contribuiu com a base científica para o estudo
patológico moderno do câncer. Morgagni correlacionou o curso clínico da doença,
com suas observações das necropsias, de modo semelhante, Virchow correlacionou
à patologia microscópica da doença. Este método não só permitiu um melhor
entendimento dos danos causados pelo câncer, mas também, auxiliou o
desenvolvimento da cirurgia do câncer. Os tecidos do corpo removidos pelo cirurgião
poderiam ser agora examinados e um diagnóstico preciso poderia ser feito. O
patologista também poderia dizer ao cirurgião se a operação tinha removido
completamente o câncer (ACS, 2014; HAJDU, 2011).
Em 1911, Peyton Rous, no Instituto Rockefeller, em Nova York, descreveu um
tipo de câncer (Sarcoma) em frangos causados por aquilo que mais tarde se tornou
conhecido como o vírus do sarcoma de Rous. Ele foi contemplado com o Prêmio
Nobel em 1968. Hoje em dia, vários vírus estão agora ligados ao câncer nos seres
humanos, por exemplo: os vírus da hepatite B ou C podem levar ao câncer de
fígado, o vírus Epstein-Barr tem sido associado a linfomas não-Hodgkin e cânceres
da nasofaringe. O HIV está associado ao sarcoma de Kaposi e linfoma não-Hodgkin,
os vírus papilomas humanos (HPVs) têm sido associados a muitos tipos de tumores,
especialmente em colo do útero, vulva, vagina, ânus, pênis e alguns tipos de câncer
de cabeça e pescoço, principalmente da língua e amígdalas (DEVITA;
ROSENBERG, 2012; ACS, 2014).
Em 1915, Katsusaburo Yamagiwa e Koichi Ichikawa da Universidade de
Tóquio, induziram câncer em animais de laboratório, pela primeira vez por aplicação
24
de alcatrão de carvão na pele de coelho. Mais de 150 anos se passaram desde que
o médico John Hill de Londres, reconheceu o tabaco como uma substância
cancerígena (uma substância que podia causar câncer em seres humanos). Hoje se
sabe que muitas substâncias específicas podem causam cânceres: como alcatrões
de carvão e seus derivados (como o benzeno), alguns hidrocarbonetos, anilina (uma
substância usada para fazer corantes), amianto, e muitos outros. A radiação
ionizante a partir de uma variedade de fontes, incluindo o sol, é também conhecida
como causadora de câncer (ACS, 2014).
Em 2014, a Agência Internacional de Investigação da Organização Mundial da
Saúde sobre o Câncer (IARC) identificou mais de 100 agentes cancerígenos
biológicos, químicos, físicos e muitos destes já são conhecidos há muito tempo.
Hoje, a pesquisa na área da oncologia está buscando descobrir novas substâncias
cancerígenas, explicando como elas podem causar câncer e fornecendo
informações sobre as formas de prevenir a doença (ASCO, 2014; ACS, 2014).
No Brasil, nas duas primeiras décadas do século passado, enquanto as
endemias ocupavam a atenção das políticas de saúde, o câncer começava a
despontar nos países desenvolvidos entre as doenças de maior taxa de mortalidade.
Os números ascendentes na Europa e nos Estados Unidos determinariam, em 1920,
no governo Epitácio Pessoa, a inclusão de propostas para uma política anticâncer
na legislação sanitária brasileira. Na prática, o Decreto nº 14.354 em 1920, proposto
por Carlos Chagas, incluía uma rubrica específica para o câncer nos impressos de
óbito distribuídos em inspetorias, delegacias de saúde e farmácias, assim como a
notificação compulsória, no intuito da produção de medidas sanitárias eficientes
(BRASIL, 2006).
Os dados referentes à população do então Distrito Federal subsidiariam o
primeiro plano anticâncer brasileiro, apresentado pelo obstetra Fernando Magalhães
no Primeiro Congresso Nacional dos Práticos, em setembro de 1922, no contexto
das comemorações pelo Centenário da Independência. Bastante abrangente, o
projeto se voltava para os diversos aspectos da prevenção e tratamento da doença
que começavam a ser prática na Europa e, sob o título de “A luta contra o Câncer”
previa a criação de Institutos do Câncer, de caráter estatal, em vários pontos do
país, voltados para a pesquisa científica sobre a doença; a criação de hospitais
públicos exclusivos para cancerosos; a notificação compulsória dos casos de câncer
e a utilização dos princípios de profilaxia geral em todos os locais em que surgissem
25
casos da doença. O projeto incluía também visita de enfermeiras da saúde pública
aos cancerosos para orientá-los no seu tratamento e nas medidas de precaução de
seus familiares; o aperfeiçoamento do ensino do câncer nas faculdades médicas; a
divulgação de noções básicas da doença para a população. Ainda eram organizadas
reuniões médicas regulares em vários estados do Brasil, sob o patrocínio do
governo, para informação das estatísticas e conhecimento das observações e os
conceitos clínicos sobre a doença (TEIXEIRA; FONSECA, 2007).
A década de 30 foi marcada pela construção de um Hospital para tratamento
e estudo do câncer. Em 1937, Getúlio Vargas assina o decreto-lei nº 378 criando o
Centro de Cancerologia, no Serviço de Assistência Hospitalar do Distrito Federal, no
Rio de Janeiro, embrião do Instituto Nacional de Câncer, que seria inaugurado no
ano seguinte pelo próprio Getúlio Vargas e o médico Mario Kroeff, já no período do
Estado Novo. Apesar do avanço, o tratamento do câncer no Brasil só começou a
prosperar com o projeto anticâncer que ganhou caráter nacional em 23 de setembro
de 1941, com a criação do Serviço Nacional de Câncer (SNC), destinado a
organizar, orientar e controlar a campanha de câncer em todo o país, como previa o
Decreto-Lei nº 3.643 em 1941 (BARRETO, 2005).
Com a nova definição de saúde (1943), como o completo bem estar físico,
social e mental, deixando de consistir apenas em ausência de doença, conforme
proposta da então recém-fundada Organização Mundial de Saúde (OMS), com
participação do Brasil, o SNC passaria a usar essa informação como estratégia da
prevenção, para obtenção do diagnóstico precoce da doença. Essa mudança na
forma de definição da saúde permitiu que as políticas de câncer, ganhassem
visibilidade entre a população, e em consequência, entre os legisladores, o que
garantiria o suporte orçamentário adequado para a expansão da campanha
anticâncer no Brasil e a conclusão do hospital-instituto central (INCA), sede do SNC,
no Rio de Janeiro, inaugurado em agosto de 1957 por Juscelino Kubitschek e Ugo
Pinheiro Guimarães (BARRETO, 2005)
O progresso das iniciativas do SNC e, por tabela, do INCA levaria, a partir de
1965, ao planejamento de reuniões anuais de representantes das organizações
vinculadas à campanha anticâncer visando uma política unificada, com bases
sólidas em todo o país, o que culminaria na institucionalização, pelo Decreto nº
61.968, de dezembro de 1967, da Campanha Nacional de Combate ao Câncer. A
interrupção autoritária das políticas anticâncer, que havia colhido consenso entre o
26
público e o privado, fortalecendo o privado em detrimento do público, resultaria, em
1970, na decadência do INCA e na extinção do SNC, transformado pelo Decreto nº
66.623 em Divisão Nacional de Câncer, de caráter técnico-normativo, administrada
de Brasília e vinculada à Secretaria de Assistência Médica (BARRETO, 2005).
A Constituição Federal de 1988 mudaria significativamente a estrutura
sanitária brasileira, destacando-se a caracterização dos serviços e das ações de
saúde como de relevância pública e seu referencial político básico. Esta diretriz seria
regulamentada pela Lei Orgânica da Saúde (nº 8.080), em 1990. Em relação ao
câncer, no conjunto das demandas do SUS, coube papel diferenciado ao INCA,
entendido como agente diretivo na política nacional no controle de câncer no Brasil.
Nesse percurso, o INCA fortaleceu sua presença e seu papel no processo de
consolidação de serviços públicos de saúde de qualidade a toda população
brasileira (TEIXEIRA; FONSECA, 2007).
Paralelamente ao crescimento do poder político do Ministério da Saúde na
implementação das prioridades políticas definidas para o setor da saúde, o INCA foi
também fortalecendo seu papel no interior do Ministério da Saúde (MS),
consolidando-se como referência na definição de políticas de controle do câncer no
país. Essa orientação se amparava no fato de que, apesar dos avanços na área de
assistência ao câncer, as ações de diagnóstico, tratamento e prevenção não
estavam alterando o perfil da mortalidade da doença no País, que continuava a
atingir níveis altíssimos. Em vários estados, o câncer constituía a segunda causa de
morte, superada apenas pelas doenças cardiovasculares (TEIXEIRA; FONSECA,
2007).
Os decretos presidenciais de 1991, 1998 e 2000 reforçariam o papel do INCA
como órgão responsável por assistir o Ministro da Saúde na formulação da Política
Nacional e como agente condutor das ações do Ministério na prestação de serviços
oncológicos, no âmbito do Sistema Único de Saúde. A criação do SUS trouxe,
portanto, desafios para as instituições vinculadas à saúde pública brasileira, quando
precisaram buscar mecanismos que assegurassem a implementação de serviços
públicos de qualidade, nas esferas federal, estaduais e municipais (TEIXEIRA;
FONSECA, 2007).
O INCA foi reconhecido em 2002 como instituição de referência mundial no
controle do câncer. Na publicação Programas nacionais de controle do câncer –
políticas e diretrizes gerenciais, lançada durante o 18º Congresso Internacional de
27
Câncer da UICC – “Union Internationale Contre le Cancer”, realizado em Oslo, a
OMS considerou o Programa de Controle de Câncer do Brasil um dos cinco
melhores das Américas” (BRASIL, 2002).
O câncer é um dos principais problemas que o sistema de saúde brasileiro
enfrenta atualmente, dada a sua distribuição epidemiológica, social e econômica.
Ressalta-se que pelo menos um terço dos casos novos de câncer que ocorre
anualmente no mundo poderia ser prevenido. A prevenção e o controle da doença
são, por esse motivo, prioridades na Agenda da Saúde do Ministério da Saúde (MS).
Nesse contexto, um dos compromissos do Instituto Nacional de Câncer (INCA) com
a saúde da população brasileira é participar ativamente das políticas do Sistema
Único de Saúde (SUS) e colaborar na constituição da rede de cuidados integrais à
saúde. As abordagens orientadas para enfrentamento desse problema de saúde
são, necessariamente, múltiplas, incluindo: ações de educação para saúde em todos
os níveis da sociedade; prevenção orientada para indivíduos e grupos; geração de
opinião pública; apoio e estímulo à formulação de legislação específica para o
enfrentamento de fatores de risco relacionados à doença; e fortalecimento de ações
em escolas e ambientes de trabalho (BRASIL, 2011; BRASIL, 2014).
2.2 Considerações sobre o câncer
O câncer é responsável por mais de 12% de todas as causas de óbito no
mundo, ou seja, mais de 7 milhões de pessoas morrem anualmente da doença.
Como o aumento da expectativa de vida no planeta tem melhorado gradativamente,
a incidência de câncer em 2002 foi de 11 milhões de casos novos, alcançará mais
de 15 milhões em 2020 (UICC, 2005; BRASIL, 2006).
No ano de 2014, a prevalência de câncer no Brasil foi de aproximadamente
576 mil casos novos, incluindo os casos de pele não melanoma, reforçando a
magnitude do problema do câncer no país. O câncer de pele do tipo não melanoma
(182 mil casos novos) será o mais incidente na população brasileira, seguido pelos
tumores de próstata (69 mil), mama feminina (57 mil), cólon e reto (33 mil), pulmão
(27 mil), estômago (20 mil) e colo do útero (15 mil) (BRASIL, 2014).
O câncer não é uma doença nova. Atualmente, câncer é o nome geral dado
ao grupo de mais de 100 doenças, que têm em comum o crescimento desordenado
de células (Figura 1), que tendem a invadir tecidos e órgãos vizinhos (BRASIL,
2012a).
28
Figura 1. Tipos de crescimentos celulares alterados.
Fonte INCA (2012). ABC do câncer: abordagens básicas para o controle do câncer, p. 18. O câncer faz parte de um grupo de doenças que envolve divisão celular
descontrolada, imortalidade replicativa e resistência à morte celular. As células
cancerosas crescem de forma anormal, formando uma massa tumoral, exceto para
cânceres hematológicos, onde as células cancerosas crescem e se espalham ao
longo dos sistemas sanguíneos e linfáticos e a medula óssea (NCI, 2006).
As neoplasias são originadas principalmente por dano ou mutação de proto-
oncogenes que codificam as proteínas envolvidas na indução da proliferação e
diferenciação celular e os genes supressores de tumores que codificam as proteínas
que produzem sinais inibitórios do crescimento celular e / ou estimulam a apoptose.
São necessárias alterações em ambos os genes para o desenvolvimento do tumor e
são favorecidas por mutações em genes de susceptibilidade tumoral, que codificam
uma família de proteínas implicadas no controle do dano ao DNA. As mutações que
iniciam um tumor são clonalmente selecionadas para favorecerem a divisão celular
aberrante e descontrolada, a ausência de inibição do crescimento celular excessivo,
a deficiência do sistema imunológico, o bloqueio da morte celular, a transmissão e o
acúmulo de erros dos materiais genéticos (POLLOCK; MELTZER, 2002; HANAHAN;
WEINBERG, 2011).
Em células normais, o código de proto-oncogenes para as proteínas envia um
sinal para o núcleo para estimular a divisão celular. Estas proteínas de sinalização
agem em uma série de passos chamados sinal ou via de cascata de transdução. Um
sinal se liga a um receptor tirosina-quinase no exterior da célula. Isso ativa a
proteína de membrana (através da adição de grupos fosfato), que por sua vez
ativam proteínas, tais como as cinases, no citoplasma. Várias outras proteínas
podem estar envolvidas na cascata, em última análise, na ativação de um ou mais
29
fatores de transcrição. Os fatores de transcrição ativados entram no núcleo, onde
eles estimulam a expressão dos genes que estão sob o controle do referido fator.
Este é um exemplo da via RAS, o que resulta na divisão celular. Essa cascata inclui
um receptor de membrana para a molécula sinal, proteínas intermediárias que
transportam o sinal através do citoplasma e fatores de transcrição no núcleo que
ativam os genes para a divisão celular. Em cada passo da via, um fator ou proteína
ativa o seguinte; no entanto, alguns fatores podem ativar mais do que uma proteína
na célula (SLINGERLAND; PAGANO, 2000; SA; STACEY, 2004).
A proteína inibidora da Ciclina p27, por exemplo, desempenha um papel
fundamental na regulação da proliferação celular em resposta ao crescimento
extracelular. A RAS tem a capacidade de suprimir níveis p27, durante cada uma das
fases do ciclo celular. Por conseguinte, os níveis de p27 devem permanecer baixos
para permitir a progressão do ciclo celular. O papel vital da p27 no controle do ciclo
celular é suportado pelo fato que a alta expressão da p27 desempenha um papel
importante na formação do tumor (SLINGERLAND; PAGANO, 2000; SA; STACEY,
2004)
Os oncogenes são versões alteradas dos proto-oncogenes que codificam
para estas moléculas sinalizadoras (Figura 2). Os oncogenes ativam continuamente
a cascata de sinalização, resultando num aumento da produção de fatores que
estimulam o crescimento. Por exemplo, o MYC é um proto-oncogene que codifica
um fator de transcrição. A mutação em MYC converte-o em um oncogene
relacionado com setenta por cento dos cânceres. O RAS é outro oncogene que
normalmente funciona como um interruptor "on-off" na cascata de sinais. As
mutações no RAS fazem com que a via de sinalização permaneça em "on", levando
ao descontrole do crescimento celular (PYLAYEVA-GUPTA et al., 2011).
30
Figura 2. Os mecanismos de geração dos oncogenes.
Fonte. Biology 1151. Principles of Biological Science (2012) Os principais tipos de câncer incluem: carcinomas (que se caracterizam por
começarem na pele ou nos tecidos que revestem ou cobrem órgãos internos, como
os subtipos de carcinomas, incluindo adenocarcinoma, carcinoma de células basais,
carcinoma de células escamosas e carcinoma de células transicionais), Sarcomas
(cânceres que começam no osso, cartilagem, gordura, músculo, vasos sanguíneos,
ou outros tecidos conjuntivos ou de suporte), Leucemia (que começa nos tecidos
que formam o sangue, tal como a medula óssea, fazendo com que um grande
número de células anormais, entrem na corrente sanguínea), Linfoma e Mieloma
(que se caracterizam por começarem nas células do sistema imunológico) e
Cânceres do sistema nervoso central (que se caracterizam por começarem nos
tecidos do cérebro e medula espinal) (BALDUCCI, 2003; SIFER-RIERE et al., 2010).
O processo de carcinogênese é altamente complexo, envolve múltiplas
etapas e inúmeros xenobióticos, assim como outros fatores ambientais, podem
interferir positiva ou negativamente (antimutagênese) em cada um dos passos que
levam ao desenvolvimento final da neoplasia. Além disso, os diferentes fatores
ambientais podem interagir, aumentando ou diminuindo o efeito de cada um deles
quando considerado isoladamente. À luz do conhecimento atual, o desenvolvimento
do câncer pode ser visto, esquematicamente, como um processo sequencial com
três etapas (Figura 3), que são iniciação, promoção e progressão do tumor
(GOMES-CARNEIRO et al., 1997).
31
Figura 3: Passo a passo do processo de carcinogênese.
Fonte: INCA (2012). ABC do câncer: abordagens básicas para o controle do câncer, p. 22.
A iniciação é a primeira etapa do processo cancerígeno, na qual, células
normais de um determinado órgão ou tecido são convertidas em células com
potencial para se tornarem tumor (células iniciadas). É uma fase rápida e irreversível
pela ação de agentes cancerígenos que provocam alterações permanentes nos
genes, porém não é possível detectar o tumor clinicamente. A promoção envolve a
expansão clonal das células “iniciadas” e exige a proliferação celular. É
caracterizada por ser uma etapa longa e reversível, não genotóxica, que não
envolve modificações diretas no DNA e que resulta da exposição a doses repetidas
do agente cancerígeno, em intervalos curtos. O estágio final do processo de
carcinogênese, a progressão, envolve a conversão de lesões pré-neoplásicas
benignas em câncer neoplásico. É uma etapa irreversível, na qual as células tornam-
se “imortalizadas”, perdendo, inclusive, a capacidade de reparar qualquer tipo de
dano (KLAUNING; KAMENDULIS, 2008).
2.3 Tratamento atual do câncer
Existem três formas principais de tratamento do câncer: cirurgia, radioterapia
e quimioterapia. Elas são quase sempre usadas em conjunto no tratamento das
neoplasias malignas, variando apenas quanto à importância de cada uma e a ordem
de sua indicação. Atualmente, poucas são as neoplasias malignas tratadas com
apenas uma modalidade terapêutica. Daí, a importância de uma assistência
completa pela integração de serviços oncológicos (de cirurgia, radioterapia e
quimioterapia), entre si e com serviços gerais, em infraestrutura hospitalar, cuja
regulamentação para credenciamento e habilitação foi atualizada pelas portarias
SAS/MS 741/2005, na 361/2007 (complementada pela Portaria SAS 146/2008) e na
32
102/2012 e suas subsequentes. As portarias SAS/MS 741/2005 e 102/2012 foram
revogadas pela SAS/MS 140/2014, que atualizou os critérios, parâmetros e
estabelecimentos habilitados em oncologia e os serviços isolados de radioterapia
autorizados para o atendimento no SUS (BRASIL, 2015).
Desde as primeiras drogas aprovadas pela FDA para o tratamento de câncer
hematológico e tumores sólidos nos anos quarenta e cinquenta (drogas antifolato,
metotrexato, etc.), as drogas de quimioterapia evoluíram para tratamentos cada vez
mais eficazes. Apesar de avanços importantes no tratamento do câncer, tais como
quimioterapias combinatórias e adjuvantes ou da aprovação de importantes
medicamentos anticancerígenos tais como cisplatina e paclitaxel; a destruição
indiscriminada de células e os efeitos tóxicos dos agentes quimioterapêuticos foram
por muitos anos, a única abordagem possível para o tratamento da doença
metastática (BOULIKAS et al., 2007; GOODMAN; WALSH, 2001). O mecanismo
inespecífico dessas drogas mudou com a descoberta das redes de sinalização
celular envolvidas no controle na proliferação e na diferenciação celular. O que
permitiu a concepção de drogas que afetam especificamente essas redes, e abriu a
porta para o uso das terapias-alvo, no final de 1990 (CHABNER; ROBERT JR,
2005).
No tratamento do câncer, a toxicidade do tratamento sistêmico com drogas
quimioterápicas e as complicações graves da terapia com radiação são os dois
fatores mais críticos e limitantes associados com a segurança do paciente. A
cirurgia e a radioterapia são os mais eficazes e valiosos tratamentos para cânceres
localizados e não metastáticos, mas são ineficientes nas metástases. O uso de
antineoplásicos (quimioterapia, hormonal e terapias biológicas) é a escolha atual
para o tratamento de cânceres metastáticos, uma vez que eles são capazes de
atingir todos os órgãos do corpo através da corrente sanguínea. Os fármacos
quimioterápicos se baseiam em compostos tóxicos que inibem a proliferação rápida
das células cancerosas, mas, infelizmente, eles também inibem o crescimento rápido
necessário para a manutenção de folículos pilosos, medula óssea e células do
aparelho gastrointestinal, levando a efeitos secundários indesejáveis observados no
tratamento de câncer. (CHABNER; ROBERT JR, 2005)
A origem da quimioterapia antineoplásica remonta a tempos antigos, ou seja,
às civilizações egípcia e grega a utilização de drogas como quimioterápicos. Tais
drogas eram utilizadas na forma de sais metálicos, como arsênico, cobre e chumbo.
33
Entretanto, os primeiros registros oficiais de tratamento efetivo de tumores através
da utilização de ferramentas farmacológicas deram-se somente no final do século
XIX, com duas importantes descobertas, a primeira chamada solução de Fowler,
desenvolvida por Lissauer em 1865, a partir do arseniato de potássio e a segunda a
toxina de Coley, uma combinação de diferentes produtos bacterianos, em 1890
(BONASSA, 2000).
Sem dúvida, a quantidade de novos agentes quimioterápicos tem aumentado
muito nas três últimas décadas, principalmente no que se refere aos regimes
terapêuticos e diversificação de associações. Isso tem colaborado de forma gradual
no aumento da sobrevida e qualidade de vida dos pacientes dos inúmeros tipos de
câncer. Infelizmente, apesar dos avanços farmacológicos, alguns tratamentos
possuem efeitos colaterais graves como neutropenia, infecções, mucosite oral e
intestinal, náuseas, vômitos, diarreia, alopecia, neuropatias periféricas, pneumonites
intestinais, cardiomiopatias, mielossupressão, cistite hemorrágica, tornando-se
inviáveis ou limitados (RIBEIRO et al., 2008).
Até os anos 80 poucas descobertas geraram impactos no manuseio dos
efeitos adversos desses medicamentos, porque na maioria dos casos não se sabia a
patogênese dessas reações. Porém, nos anos 90, uma descoberta revolucionou o
tratamento com o lançamento no mercado de um antiemético inibidor do receptor 5-
HT3 da serotonina, que é o mais importante mediador envolvido na gênese das
náuseas e vômitos associados à quimioterapia. Logo depois com a melhoria do
suporte hemoterápico e a disponibilidade de fatores de crescimento de granulócitos
e de eritropoietina recombinante também tornaram a imunossupressão muito mais
gerenciável (RAO; FASO, 2012).
Os fármacos utilizados na quimioterapia do câncer segundo Rang e Dale
(2012) são divididos nas seguintes categorias gerais: 1) Agentes citotóxicos
(agentes alquilantes, antimetabólicos, antibióticos citotóxicos e os derivados
vegetais); 2) Hormônios (glicocorticoides, estrogênios e androgênios); 3) Agentes
diversos que não se enquadram nas categorias anteriores (os mais recentes que
atingem alvos tumorais específicos).
Os agentes alquilantes (ciclofosfamida, clorambucila, tiotepa, melfalana,
bussulfano) contêm grupos químicos capazes de formar ligações covalentes com
substâncias neutrofílicas particulares na célula. Formam íon carbônio com seis
34
elétrons na órbita externa, sendo bastante reativos na doação de elétrons. São
bifuncionais, possuindo dois grupos alquilantes (RANG; DALE, 2012).
Os Antimetabólitos (metotrexato, 5-fluorouracil, 6- mercaptopurina, tioguanina,
ARA-C, hidroxiuréia, hexametilmelamina) são os antagonistas do folato, purina e
pirimidina. Os folatos são essenciais para a produção de nucleotídeos de purina e
interferem na síntese do timidilato, que, por sua vez, são indispensáveis para a
síntese de DNA e a divisão celular. O folato é captado pelas células e atua como
coenzima após serem reduzidos a Tetrahidrofolato (FH4). Esse FH4 atua transferindo
unidades de carbono, processo essencial na metilação da uracila, na formação de
DNA e purinas (RANG; DALE, 2012).
O 5-Fluorouracil é um análogo da uracila e interfere na síntese de
desoxitimidina monofosfato (DTMP). Forma um falso nucleotídeo o monofosfato de
Fluorodesoxiuridina (FDUMP) que não pode ser convertido a DTMP pela timidilato-
sintetase. Como resultado, tem-se a inibição da síntese de DNA, mas não interfere
no RNA ou nas proteínas (RANG; DALE, 2012).
O 5-fluorouracil (5-FU) é a droga anticâncer mais frequentemente prescrita
para o tratamento clínico de diversos tipos de câncer, incluindo câncer colorretal
(KEEFE et al., 2007; GRAHAM; CASSIDY, 2012). Esse medicamento pode levar a
mucosite oral e intestinal, atrofia das vilosidades da cripta e necrose como resultado
de danos no tecido da mucosa, devido às células inflamatórias, infiltração, liberação
de citocina pró-inflamatória e edema (SOARES et al., 2013). Observa-se também um
rápido aumento da apoptose de células epiteliais e de captura de células em divisão
nas criptas intestinais, podendo levar a um colapso da barreira epitelial intestinal e
luminal com contínua translocação bacteriana (WU et al., 2011).
O 5-FU induz mucosite oral e intestinal clinicamente relevante porque pode
perturbar a absorção, provocando má absorção de nutrientes, e com isso, gerar
condições desfavoráveis de saúde que podem levar ao fracasso da terapia, quando
associada com diarreia e vômitos (LONGLEY, 2003).
Alguns antibióticos antitumorais (bleomicina, doxorrubicina, daunorrubicina,
epirrubicina, mitomicina, dactinomicina) produzem seus efeitos principalmente
através de ação direta sobre o DNA. Eles ligam-se ao DNA e inibem tanto a síntese
do DNA quanto a do RNA. A bleomicina provoca fragmentação das cadeias de DNA.
A Dactinomicina se intercala no DNA, interferindo na RNA-polimerase e inibindo a
35
transcrição e a mitomicina é ativada produzindo metabólito alquilante (RANG; DALE,
2012).
Os Alcaloides da vinca (vincristina, vimblastina, vindesina) atuam na tubulina
e inibem sua polimerização em microtúbulos, impedindo a formação do fuso mitótico
nas células em divisão, com consequente interrupção da metáfase. Seus efeitos se
tornam evidentes durante a mitose, mas também inibem a fagocitose e a quimiotaxia
dos leucócitos, bem com transporte axonal. Podem causar atividade
mielossupressora discreta, parestesias, fraqueza muscular e leucopenia. (RANG;
DALE, 2012)
A cisplatina (derivado da platina) é um complexo de coordenação planar
hidrossolúvel, que contém um átomo central de platina circundado por dois átomos
de cloro e dois grupos de amônia. Tem ação análoga aos agentes alquilantes. A
cisplatina é administrada em dose única, sendo extremamente nefrotóxica e provoca
náuseas, vômitos intensos e perda da audição na faixa de alta frequência, porém
apresenta baixa mielotoxicidade. Muito usada no tratamento de tumores sólidos nas
gônadas (ovários e testículos). A Carboplatina possui a mesma ação da cisplatina,
porém com menor efeito colateral (RANG; DALE, 2012).
Os Taxanos (paclitaxel, taxotere) atuam sobre os microtúbulos, estabilizando-
os no estado polimerizado. Eles agem na mesma etapa, mitose, mas a ação não é
semelhante. Os alcalóides impedem a polimerização e os taxanos, a
despolimerização da e -tubulina. São usados no câncer de mama e de ovário e
possuem efeitos adversos graves como supressão da medula óssea e
neurotoxicidade cumulativa. Pode causar edema de membros inferiores e
hipersensibilidade, sendo necessário pré-tratamento com corticosteroides e anti-
histamínicos (RANG; DALE, 2012).
Os agentes antagonistas hormonais são eficazes em vários tumores sensíveis
a hormônios. Os Antiestrógenos (Tamoxifeno, etc.) são eficazes em cânceres de
mama hormônio-dependente e prevenção desses. Possuem ação cardioprotetora
também, pois protege as lipoproteínas de baixa densidade contra a lesão oxidativa.
Os Antiandrógenos (Flutamida e Ciproterona) são usados contra tumores de
próstata. Os inibidores da síntese de hormônios adrenais (Formestano) atuam na
enzima aromatase que metaboliza os andrógenos em estrógenos (RANG; DALE,
2012).
36
2.4 Efeitos colaterais do tratamento do câncer Erickson et al., (2013) realizaram uma revisão de literatura sobre os sintomas
apresentados por pacientes submetidos ao tratamento do câncer. Foram
identificados 51 estudos que forneceram evidências sobre problemas alimentares
como mucosite oral e intestinal, náuseas, problemas de fadiga, insônia, neuropatia
periférica e dor.
A importância de tratar adequadamente os sintomas relacionados com o
câncer está ganhando mais atenção, mas, no geral, muitos sintomas permanecem
subdiagnosticados e subtratados. Fadiga, insônia, neuropatia, dor e mucosite oral
estão entre os problemas mais comuns experimentados por pacientes acometidos
por neoplasias malignas (PACHMAN et al., 2012).
2.4.1 Mucosite Oral Uma variedade de escalas de avaliação existe para a medição da mucosite
oral. Duas das escalas mais comumente utilizadas são a da OMS e do Instituto
Nacional do Câncer (INC), escala de Critérios de Terminologia Comuns para
Eventos Adversos (CTCEA). A Escala OMS para mucosite oral: Grau 0 = Sem
mucosite oral; Grau 1 = eritema e sensibilidade dolorosa; Grau 2 = úlceras, capaz de
comer sólidos; Grau 3 = úlceras, requer dieta líquida (devido à mucosite) e Grau 4 =
úlceras, impossível a ingestão de alimentos (devido à mucosite). Na escala de
critérios de terminologias comuns para eventos adversos (CTCEA) - Versão 4.0:
Grau 1 = sintomas leves ou assintomáticos, intervenção não indicada; Grau 2 = dor
moderada, não interfere na ingestão por via oral, dieta modificada é indicada; Grau 3
= dor severa, interfere na ingestão oral; Grau 4 = consequências com risco de vida;
indicação de intervenção urgente e Grau 5 = Morte (PETERSON et al., 2011).
A boca é um local frequente de complicações decorrentes da quimioterapia ou
da radioterapia, sendo comum o aparecimento de mucosite, xerostomia,
osteorradionecrose e infecções locais. Do ponto de vista da limitação de dose, das
quebras de tratamento, qualidade de vida e os resultados econômicos de saúde, a
mucosite é a toxicidade oral aguda mais significativa. A xerostomia, um efeito
colateral crônico de radiação que envolve o tecido da glândula salivar, resulta em
alterações do paladar, da resiliência do tecido e um risco aumentado de cárie e
doença periodontal. Embora a incidência de osteorradionecrose tenha diminuindo, a
cronicidade e sintomas desta condição óssea purulenta são especialmente difíceis
para os pacientes. Infecções orais locais resultantes da proliferação de organismos
37
oportunistas ou a ativação de vírus latentes são tão comuns e justificam uma
abordagem profilática em muitos casos (SONIS; FEY, 2002; SCULLY; SONIS,
2006).
Os sinais e sintomas mais precoces da mucosite oral incluem eritema e
edema, sensação de queimação e aumento da sensibilidade a alimentos quentes e
condimentados. As áreas eritematosas podem desenvolver placas brancas elevadas
descamativas que, posteriormente, transformam-se em úlceras dolorosas. Tais
úlceras tendem a promover infecções secundárias, além de impossibilitar a nutrição
e a ingestão de fluidos, o que resulta em má nutrição e desidratação e,
consequentemente, interfere na regeneração da mucosa. A mucosa não
queratinizada do palato mole, das bochechas e dos lábios, a superfície ventral da
língua e o assoalho oral são mais vulneráveis à estomatotoxicidade direta, enquanto
a gengiva, o dorso da língua e o palato duro são mais raramente afetados,
provavelmente em virtude de sua menor renovação celular. Habitualmente, as
lesões bucais desaparecem sem deixar cicatrizes, exceto quando a mucosite é
complicada por infecção grave ou xerostomia (SANTOS; MAGALHÃES, 2006;
ARAÚJO et al., 2015).
Mucosite oral (MO) é o termo clínico usado para descrever as alterações
provocadas pela quimioterapia e radioterapia antineoplásicas sobre a mucosa oral.
Esta síndrome, dependendo da gravidade, caracteriza-se por eritema e ulceração,
podendo resultar em dor e disfagia, comprometendo a nutrição e a higiene oral.
(SONIS et al., 2004a)
A mucosite oral é um lado doloroso e muitas vezes debilitante da
quimioterapia e pode afetar substancialmente a ingestão nutricional, as funções
diárias e a qualidade de vida. Aproximadamente 20% a 40% dos doentes que
recebem agentes citotóxicos para tratamento de neoplasias, desenvolvem
complicações bucais. Estas complicações orais podem resultar no aumento de
infecções, atrasos ou interrupções no tratamento e reduções da dose que podem
interferir na remissão da doença e na sobrevivência. Os custos do tratamento
aumentam em proporção a gravidade da mucosite oral (SONIS, 2004b; SONIS,
2011; HORII et al., 2014).
Em todos os locais de tumor, a quimioterapia com 5-Fluorouracil (5-FU),
Capecitabina ou Tegafur conduz a uma taxa alta (20-50%) de mucosite do trato
digestivo. A quimioterapia com metotrexato e outros antimetabólitos conduzem a
38
uma taxa de 20-60% da mucosite do trato alimentar de acordo com a dose da droga
por ciclo (PETERSON et al., 2011).
2.5 Tratamento da mucosite oral As intervenções clínicas para mucosite oral são divididas em duas
abordagens: a prevenção ou o tratamento da mucosite oral, estabelecidas de acordo
com as diretrizes do Grupo da Associação Multinacional de Cuidados de suporte em
Câncer / Sociedade Internacional de Oncologia Oral (AMCSC / SIOO), várias
recomendações são fornecidas para o tratamento da mucosite relacionadas com a
quimioterapia. Muitos destes tratamentos são intervenções para o controle da dor
associada, mas existem poucas intervenções para promover diretamente a cura da
mucosite oral (NICOLATOU-GALITIS et al., 2013; MCGUIRE et al., 2013).
Cerca de 5 a 15% dos pacientes podem ser acometidos por mucosite mais
grave (graus 3 e 4). Destes, 35% sofrerão um atraso nos ciclos subsequentes de
quimioterapia, 60% irão requerer redução nas doses aplicadas e 30%, a
descontinuação do regime de tratamento. Em geral, 60% apresentam febre e
requerem hospitalização. A mucosite oral grave também pode exigir interrupção
parcial ou completa de tratamento antineoplásico, como radioterapia, antes do
regime planejado ser completado, aumentando o risco de proliferação das células
tumorais e dificultando o controle do câncer (RIBEIRO et al., 2008; SCHIRMER et
al., 2012).
A mucosite induzida por quimioterapia e/ou radioterapia é resultado de uma
sequência de eventos biológicos interligados que podem ser divididos em cinco
fases: iniciação, resposta primária ao dano, amplificação do sinal, ulceração e,
finalmente, cicatrização. A Figura 4 resume os mecanismos e mediadores envolvidos
na patogênese da mucosite oral. A manifestação de todos os estágios não ocorre
obrigatoriamente em todos os casos. Portanto, em uma mucosite branda com
poucos danos à mucosa, a rápida recuperação e proliferação epitelial evita a
ocorrência da fase ulcerativa, que é a mais sintomática (RIBEIRO et al., 2008).
39
Figura 4. As cinco fases de desenvolvimento da mucosite oral.
Fonte. Sonis (2004a).
Na fase I, denominada de Iniciação da lesão do tecido, na qual radiação e / ou
quimioterapia induzem dano celular resultando na morte das células epiteliais
basais. Acredita-se que a geração de espécies de oxigênio reativo (radicais livres)
por radiação ou quimioterapia exerce uma função na iniciação da lesão da mucosa.
Estas pequenas moléculas altamente reativas são subprodutos do metabolismo do
oxigênio e podem causar dano celular significativo. Na fase II, denominada de super-
regulação da inflamação, através da geração de sinais de mensagens, além de
causar a morte celular direta, radicais livres ativam os segundos mensageiros que
transmitem sinais a partir de receptores na superfície celular para o interior. Isto leva
a regulação positiva de citocinas pró-inflamatórias, lesão de tecido e a morte celular.
Na fase III, denominada de sinalização e amplificação, ocorre a regulação de
citocinas pró-inflamatórias, tais como o Fator de necrose tumoral alfa (TNF-α),
produzida principalmente por macrófagos, que causam lesões nas células da
mucosa e também ativa as vias moleculares que amplificam a lesão. Na fase IV,
denominada de ulceração e inflamação, forma-se um infiltrado inflamatório
significativo associado às ulcerações das mucosas, com base nos subprodutos
metabólicos da colonização da microflora oral. Produção de citocinas pró-
inflamatórias é também mais regulada devido a esta infecção secundária. Na fase V,
denominada de cura, ocorre proliferação epitelial, bem como diferenciações
celulares e de tecidos, restaurando a integridade do epitélio (SONIS, 2000; LALLA et
al., 2008).
40
O grau, o local da boca e a extensão da mucosite oral vão depender de
fatores como idade (os idosos são mais acometidos), sexo (prevalente nas
mulheres), doenças sistêmicas associadas (Diabetes melito aumenta a ocorrência) e
cor da pele (mais comum em cútis branca), assim como fatores específicos (por
exemplo, tipos epiteliais, ambiente microbiana local e função). Os efeitos da idade e
do sexo no desenvolvimento da mucosite oral não são claros (LALLA et al., 2008).
Apesar de não haver provas suficientes que cuidados dentários profissionais
possam reduzir a gravidade da mucosite oral, é prudente entender que pacientes
que estão se submetendo ao tratamento do câncer, tornem-se significativamente
imunossuprimidos. Por isso, potenciais traumatismos podem conduzir a lesões da
mucosa e como base do tratamento, a remoção do áspero, irregular ou superfícies
quebradas de dentes e de próteses devem ser realizadas (MCGUIRE et al., 2013).
Não foi comprovado que bochechos isolados com solução fisiológica ou
bicarbonato de sódio podem ser eficazes na prevenção da mucosite oral. Apesar
disso, esses tratamentos são amplamente utilizados em ambientes clínicos e os
autores reconhecem que essas soluções podem ser inofensivas e úteis para a
manutenção da higiene oral e o conforto do paciente. No entanto, o bicarbonato de
sódio pode não ser tão útil em crianças, pelo paladar desagradável. Nesse caso,
uma solução salina normal, anestésicos tópicos e carinho dos pais seriam mais
apropriados (MADAN et al., 2008; BHATT et al., 2010; MCGUIRE et al., 2013).
A clorexidina não é indicada para tratamento da mucosite. No entanto, é
importante notar que, apesar desse medicamento não ser indicado para a prevenção
de mucosite, pode haver, outras indicações, tais como o tratamento da gengivite,
controle de placa, etc. (ANTUNES et al., 2010). Outros agentes tópicos como o
Gelclair®, Caphasol® e Biotene®, têm indicação limitada com evidências
conflitantes. No entanto, esses agentes parecem exercer um perfil de segurança e
eficiência, podendo ser benéficos para alguns pacientes (PETERSON et al., 2011).
A Crioterapia oral é a aplicação de cubos de gelo ou água gelada na boca
para evitar a mucosite oral induzida por quimioterapia. Orienta-se que os pacientes
chupem pedaços de gelo antes, durante e após as infusões de drogas mucotóxicas.
Entende-se que o gelo pode induzir a contração dos vasos sanguíneos das
membranas da cavidade oral, portanto diminuindo a exposição da mucosa oral aos
agentes citotóxicos. Esse procedimento simples e fácil é um método que previne
mucosite oral para a terapia com base em 5-FU, e parece ter implicações para
41
outros regimes de quimioterapia, bem como, metotrexato e melfalano. De acordo
com um relatório da Diretrizes do Grupo de Trabalho em Mucosite Oral (ESMO), a
crioterapia oral por 30 minutos é recomendada para prevenção da MO em pacientes
que receberam quimioterapia com 5- FU ou edatrexato. A crioterapia oral, devido à
sua facilidade de aplicação, tolerabilidade e ausência de efeitos colaterais, torna-se
um recurso importante para a redução da incidência e da gravidade da mucosite oral
(HARRIS et al., 2008; HEYDARI et al., 2012; KANUGA, 2013).
O uso de amifostina, glutamina, fator estimulante de colônias granulócitos,
mel, laser, pastilhas ou pasta de polimixina / tobramicina / anfotericina e sucralfato
podem ser benéficos na prevenção da mucosite em pacientes com câncer que estão
recebendo tratamento. Existe evidência clínica de que o sucralfato reduz a gravidade
da mucosite (KANUGA, 2013).
As soluções de Mugard®, Caphosol® e Episil® são preconizadas para o
tratamento da mucosite oral por alguns autores, como no caso de Tiberg e Linden
(2014). Porém outros autores afirmam que o uso de tais soluções não traz nenhum
benefício efetivo na melhoria da mucosite, disfagia e dor quando comparados ao
tratamento padrão preconizado por eles (PETTIT et al., 2014).
A Terapia a laser de hélio-neon que usa laser de baixa intensidade é indicada
como um pré-tratamento para reduzir a gravidade da mucosite em pacientes
submetidos à quimioterapia. O laser age estimulando a atividade celular, conduzindo
à liberação de fatores de crescimento por macrófagos, proliferação de
queratinócitos, aumento da população de granulócitos e de mastócitos e
angiogênese. Esses efeitos podem levar a uma aceleração no processo de
cicatrização de feridas devido, em parte, à redução na duração da inflamação
aguda, resultando numa reparação mais rápida. Seus efeitos são a prevenção e o
tratamento da mucosite de várias origens, sendo capaz de reduzir a gravidade e a
duração da mucosite oral, além de promover redução da dor e melhora na ingestão
de líquidos e sólidos. No entanto, uma vez que este tipo de tratamento requer
equipamento caro e operadores especializados, a sua utilização é restrita a um
número limitado de pacientes (KELNER; CASTRO, 2007; MIGLIORATI et al., 2013;
CAMPOS et al., 2014).
A palifermina, Fator de Crescimento de Queratinócitos (FCQ), parece
estimular células epiteliais à proliferação e diferenciação na boca e trato
gastrointestinal. O FCQ endógeno é produzido pelas células endoteliais do tecido
42
submucoso e funciona como um fator trófico para manutenção da integridade da
camada epitelial por estimular o reparo de feridas durante a cicatrização. O FCQ
estimula as células basais a proliferarem e os queratinócitos a se diferenciarem e a
migrarem, favorecendo a cicatrização. No entanto, o benefício fornecido pela
utilização profilática deste fármaco necessita de uma verificação, uma vez que
atualmente os dados da literatura não são suficientes para utilização em larga
escala. Outras razões que limitam a aplicabilidade da palifermina para prevenção da
mucosite oral é o seu custo elevado e os riscos de efeitos colaterais (RIBEIRO et al.,
2008; CAMPOS et al., 2014; LI; TROVATO, 2012; PATEL et al., 2014).
A benzidamina é uma solução oral de enxague com propriedades analgésica,
anestésica, anti-inflamatória, e antimicrobiana. A capacidade da benzidamina como
um agente de prevenção da mucosite oral rádio e quimioinduzidas tem sido
estudada em alguns estudos duplo-cego e randomizados realizados nas últimas
décadas. Nesses estudos, a benzidamina melhorou a taxa de úlcera e reduziu a
incidência de ulceração e eritema (KAZEMIAN et al., 2009; RODRÍGUEZ-
CABALLERO et al., 2012).
O alívio sintomático dos pacientes com mucosite leve a moderada pode ser
conseguido por cloridrato de benzidamina. Quando é mais grave, um enxaguatório
oral de lidocaína 2% é de grande valor e bochechos de aspirina-mucaína antes das
refeições podem ajudar a combater disfagia. A prostaglandina também demonstrou
aliviar o quadro (SHAW et al., 2000).
A pentoxifilina é um derivado sintético da dimetilxantina, que é quimicamente
semelhante à teofilina e a cafeína, mas em contraste com estas drogas, a
pentoxifilina tem efeitos hematológicos que são úteis no tratamento sintomático de
complicações de doenças vasculares periféricas. A pentoxifilina é um medicamento
que age de diferentes maneiras: Ela relaxa as paredes dos vasos sanguíneos
tornando mais fácil a passagem de sangue; aumenta a quantidade de sangue que
atinge os tecidos; paralisa a agregação de plaquetas, uma vez que aumenta a
formação de prostaciclina e reduz a viscosidade do sangue. Porém os resultados de
ensaios clínicos randomizados são controversos para prevenir mucosite oral
induzida por quimioterapia e não mostram nenhum benefício para o paciente
(RODRÍGUEZ-CABALLERO et al., 2012; LIMA et al., 2015).
Estudos recentes verificaram que a glutamina tem um efeito importante em
pacientes tratados de câncer, já que a demanda metabólica desse aminoácido,
43
excede a capacidade de síntese orgânica. A glutamina tem funções bem definidas
nos processos biológicos humanos. A glutamina, um precursor de glutationa,
desempenha um papel central na regulação do potencial redox intracelular e
investigações clínicas indicam que a glutamina inibe os outros mediadores nas
lesões na mucosa, reduzindo a produção de citocinas pró-inflamatórias e citocinas
relacionadas a apoptose. O uso da glutamina previne os efeitos deletérios das
terapias anticâncer, sobre a mucosa oral evitando-se assim, a estomatite, mucosite
ou colo-enterite. A glutamina oral foi testada e se mostrou eficiente para tratar a
mucosite em radioterapia, como também em pacientes de quimioterapia ou em
terapias concomitantes (NOE, 2009; RODRÍGUEZ-CABALLERO et al., 2012).
Alguns fitoterápicos têm sido utilizados no tratamento, como é o caso do gel
de Aloe vera L. Alguns pacientes frequentemente usam gel tópico de Aloe vera L.
para prevenir dermatite de contato por radiação e para o controle da esofagite (YAGI
et al., 2003). Embora o mecanismo de ação não esteja bem estabelecido, existe a
hipótese de que o gel iniba a cicloxigenase por ter propriedades anti-inflamatórias.
Em um estudo duplo-cego randomizado (SU et al., 2004) realizado para determinar
se Aloe vera L. pode reduzir a incidência, gravidade e duração da mucosite induzida
por radiação em pacientes com câncer de cabeça e pescoço na Universidade de
Stanford, não foi encontrado resultado estatisticamente significante quanto à adição
de Aloe vera L. ao padrão de cuidado oral no tratamento da mucosite induzida por
radiação, ou seja, Aloe vera L. não reduziu a perda de peso nos pacientes, não
diminuiu o uso de medicamentos para a dor e a probabilidade de interrupções de
tratamento ou episódios de desidratação.
Os colutórios do óleo essencial de Leptospermum scoparium e o de Kunzea
ericoides, possuem efeitos satisfatórios na cicatrização de mucosites orais
(MADDOCKS-JENNINGS et al., 2009; RODRÍGUEZ-CABALLERO et al., 2012). Os
óleos essenciais extraídos de plantas são um tratamento alternativo para a mucosite
oral, como Pistacia atlântica L. que acelerou a cicatrização de lesões de mucosite
oral em hamsters (TANIDEH et al., 2016). O extrato hidroalcoólico de Carum carvi L.
foi testado em mucosite oral em hamsters e apresentou resultados satisfatórios na
aceleração da cicatrização (MARDANI et al., 2016).
Enfim, algumas destas intervenções, têm-se obtido algum sucesso e estes
incluem excelente higiene oral, crioterapia oral utilizando gelo, a exposição ao laser
de baixa potência e administração sistêmica de fator de crescimento de
44
queratinócitos. Cada uma destas abordagens tem suas limitações e enquanto não
se descobre nada mais eficiente, os cuidados de suporte para mucosite ainda são
majoritariamente paliativos (SONIS, 2009; RABER-DURLACHER, 2010).
2.6 Modelos animais de mucosite oral Os animais utilizados em estudos pré-clínicos de mucosite incluem ratos,
hamsters, camundongos e coelhos (Figura 5). A mucosite é gerada por radiação ou
drogas quimioterápicas, que replicam o tratamento do câncer em pacientes (Tabela
1). Ao longo dos anos, o modelo de radiação tem sido refinado. Além disso, o
modelo de radiação evoluiu para incluir a quimioterapia, a qual simula tratamento
com drogas para pacientes com câncer (ALVAREZ et al., 2003).
Tabela 1. Métodos para estabelecimento de modelos animais de mucosite oral.
Tipo de Modelo de
Mucosite Oral
Espécie
Usada
Mecanismo Técnica descrita por
Radiação Hamster sírio
dourado
Camundongo
Radiação na bolsa da
bochecha em dose única ou
fracionada
Radiação da língua em dose
única ou fracionada
Hwang et al., 2005
Dorr et al., 1990
Quimioterapia Hamster sírio
dourado
Camundongo
Rato
Coelho
Injeção de 5-FU e lesão da
mucosa oral
Injeção de 5-FU
Injeção de 5-FU e lesão da
mucosa oral
Injeção de sulfato de
cisplatina e lesão da mucosa
com ácido acético
Sonis et al., 1990
Farrell et al., 1998
Vilela-Goulart et al., 2008
Fujisawa et al., 2003
Quimioradiação Hamster sírio
dourado
Camundongo
Radiação com injeção de 5-
FU ou cisplatina
Radiação com injeção de 5-
FU e/ou cisplatina
Alvarez et al., 2003
Dorr et al., 2005
Quimioradiação e
xenoenxerto de câncer
Camundongo Inoculação com câncer e
quimioradiação.
Brake et al., 2008
Sialoadenectomia Coelho Sialoadenectomia e lesão da
mucosa com ácido acético
Fujisawa et al., 2003
Fonte. Viet et al. (2014). Review of Preclinical Studies on Treatment of Mucositis and Associated.
Os ratos também têm sido amplamente utilizados em estudos que investigam
patobiologia da mucosite e tratamento. Além disso, há estudos que foram projetados
para determinar os métodos não invasivos para a detecção de mucosites. Um dos
modelos mais amplament
quimioterapia é o que emprega a utilização de ratas fêmea
Este modelo mostrou o desenvolvimento de mucosite oral de forma semelhante ao
que ocorre em seres humanos. Este modelo tem
ratas portadoras de tumores podem ser estudadas, bem como as lesões da mucosa
oral. Vários agentes quimioterápicos
modelo incluindo irinotecano, metotrexato e 5
Figura 5. Os métodos de estabelecimento de modelos prétratamentos testados.
Fonte. Viet et al. (2014). Review of Preclinical Studies on
No estudo de Vilela
ratos Wistar foram realizadas através da administração do quimioterápico 5
Fluorouracil (dose de 20 mg/Kg), via injeção intraperitoneal, nos dias 0, 2 e 4 de
experimento. No segundo dia, as mucosas jugais direitas dos ani
injuriadas quimicamente com 10 µl de ácido acético a 50%, embebido em papel de
filtro de 9 mm2 por 60 segundos, sob anestesia geral, via intraperitoneal. Os animais
Os ratos também têm sido amplamente utilizados em estudos que investigam
patobiologia da mucosite e tratamento. Além disso, há estudos que foram projetados
para determinar os métodos não invasivos para a detecção de mucosites. Um dos
modelos mais amplamente utilizados para investigar mucosite induzida por
quimioterapia é o que emprega a utilização de ratas fêmea da espécie
strou o desenvolvimento de mucosite oral de forma semelhante ao
que ocorre em seres humanos. Este modelo tem a vantagem adicional de que as
ratas portadoras de tumores podem ser estudadas, bem como as lesões da mucosa
oral. Vários agentes quimioterápicos citotóxicos têm sido investigados com este
modelo incluindo irinotecano, metotrexato e 5-FU (LOGAN et al., 200
Figura 5. Os métodos de estabelecimento de modelos pré-clínicos de mucosite e
Review of Preclinical Studies on Treatment of Mucositis and Associated.
No estudo de Vilela-Goulart et al., (2008), as induções de mucosite
ratos Wistar foram realizadas através da administração do quimioterápico 5
Fluorouracil (dose de 20 mg/Kg), via injeção intraperitoneal, nos dias 0, 2 e 4 de
No segundo dia, as mucosas jugais direitas dos ani
injuriadas quimicamente com 10 µl de ácido acético a 50%, embebido em papel de
por 60 segundos, sob anestesia geral, via intraperitoneal. Os animais
45
Os ratos também têm sido amplamente utilizados em estudos que investigam
patobiologia da mucosite e tratamento. Além disso, há estudos que foram projetados
para determinar os métodos não invasivos para a detecção de mucosites. Um dos
e utilizados para investigar mucosite induzida por
da espécie Dark agouti.
strou o desenvolvimento de mucosite oral de forma semelhante ao
a vantagem adicional de que as
ratas portadoras de tumores podem ser estudadas, bem como as lesões da mucosa
têm sido investigados com este
et al., 2007).
clínicos de mucosite e
Treatment of Mucositis and Associated.
, as induções de mucosite oral nos
ratos Wistar foram realizadas através da administração do quimioterápico 5-
Fluorouracil (dose de 20 mg/Kg), via injeção intraperitoneal, nos dias 0, 2 e 4 de
No segundo dia, as mucosas jugais direitas dos animais foram
injuriadas quimicamente com 10 µl de ácido acético a 50%, embebido em papel de
por 60 segundos, sob anestesia geral, via intraperitoneal. Os animais
46
foram tratados e submetidos à eutanásia nos dias sete e 14 após a injúria com ácido
acético.
O Hamster Sírio Dourado foi o primeiro animal modelo a ser investigado para
indução de mucosite utilizando o 5-fluorouracil. Avaliações clínicas e histológicas
indicam que as mudanças que ocorrem nas mucosas são semelhantes à de seres
humanos com mucosite. Em adição, as induções por mielossupressão também são
experimentadas por esses animais. Estudos com esse modelo ou com variações
desse têm sido usados para se investigar vários aspectos da mucosite como
patobiologia e tratamento, bem como mucotoxicidade e citotoxicidade de
medicações. A seleção desses animais se deu pelo grande volume de mucosa jugal
e a capacidade desses para tolerar dosagens produtoras de mucosite de 5-FU sem
mortalidade significativa (SONIS et al., 1990; LOGAN et al., 2007).
O Camundongo representa outra espécie utilizada como modelo para
investigar os aspectos da mucosite oral. Mais uma vez a diversidade de estudos é
ampla e abrange investigação para o tratamento de mucosite e patobiologia.
Modelos murinos foram usados para testar as estratégias de tratamento
relacionadas com a toxicidade associada a drogas específicas. A administração de
doxorrubicina tem sido descrita para causar apoptose no epitélio intestinal em ratos,
resultando em toxicidade gastrintestinal. Morelli et al., (1996) investigou o efeito de
aplicações tópicas e sistêmicas de um anticorpo monoclonal anti-doxorrubicina para
o tratamento e prevenção de mucosite oral. Eles observaram sinais reduzidos de
toxicidade gastrointestinal em camundongos após a administração oral do anticorpo
anti-doxorrubicina. Na mucosa oral dos camundongos, a apoptose epitelial foi
eliminada pela aplicação tópica do anticorpo anti-doxorrubicina. As primeiras
investigações usando modelos murinos de quimioterapia para induzir lesão de
mucosite, onde o fator de crescimento de queratinócitos foi administrado antes da
quimioterapia, utilizando 5-FU ou metotrexato, demonstrou que a sobrevivência foi
melhorada, bem como parâmetros histológicos no intestino delgado, tais como o
aumento da altura das vilosidades e aprofundamento das criptas (LOGAN et al.,
2007).
Os coelhos são menos usados como modelo de mucosite oral, por possuírem
um porte bem maior que os três anteriores. O fator de crescimento epidermal (FCE)
foi usado num modelo de mucosite oral em coelhos, induzida por sialoadenectomia e
lesão da mucosa com ácido acético. Neste estudo, os autores injetaram FCE
47
sistemicamente após o desenvolvimento das lesões de mucosite. Eles mostraram
que FCE sistêmico acelera a cura da mucosa. No entanto, a aplicação tópica FCE
não foi significativamente para acelerar a cicatrização das feridas (FUJISAWA et al.,
2003; VIET et al., 2014).
No futuro, muitas moléculas novas podem chegar, tendo como alvos
mediadores pró-inflamatórios de sinalização e fases de amplificação, como citocinas
e fator de transcrição da mucosite oral. Vários modelos animais estarão disponíveis
para o teste com drogas para tratamento da mucosite oral. A indução da doença no
animal não é tão fácil por causa da toxicidade associada com quimioterapia e
radiação. Muitas vezes tem sido observado que o animal pode sofrer morbidade
e/ou mortalidade após a administração de agentes quimioterápicos e radiação
(PATEL et al., 2014).
2.7 O Borneol Com base na sua estrutura e na origem biossintética, os produtos vegetais
podem ser classificados em diferentes grupos, tais como os terpenos, alcaloides e
compostos fenólicos (CROTEAU et al., 2000). Os Monoterpenos, pertencentes a um
grupo grande e diverso de compostos químicos chamados "terpenos," representam
um grupo de compostos orgânicos de ocorrência natural cuja estrutura básica
consiste em duas unidades de isopreno, que são formados por uma base de cinco
carbonos (C5) cada. Elas são as mais representativas moléculas que constituem
90% dos óleos essenciais e têm uma grande variedade de estruturas, com várias
propriedades farmacológicas, incluindo cardiovascular, antioxidante, anti-inflamatória
e analgésica (GUIMARÃES, 2013; ALMEIDA et al, 2013)
O Borneol (C10H18O) é um álcool monoterpenóide bicíclico (Figura 6), um dos
materiais médicos valiosos, especiaria aromática e material químico superior, tem
sido usado em alimentos e também na medicina popular da China e Índia. Este
composto é geralmente considerado como seguro, aprovado pela FDA como
tempero. Além disso, o borneol é utilizado como fragrância em cosméticos
decorativos, perfumes finos, xampus, sabonetes e outros produtos de higiene
pessoal, bem como em produtos não cosméticos tais como, produtos de limpeza e
detergentes. Seu uso em todo o mundo está em torno de 10-100 toneladas por ano
(CHEN, 2011; ALMEIDA et al., 2013).
Figura 6. Estruturas do Borneol e Isoborneol.
Existem dois tipos diferentes de borneol, o borneol sintético que é uma
mistura de DL-borneol e isoborneol, em que o teor de
55 %, e o borneol natural, cujo principal componente é
de 95 % de borneol natural (Figura 7). Estudos anteriores mostraram que borneol
sintético é degradado lentamente durante o armazenamento, formando cânfora e
diminuindo o teor inicial de borneol sintético (SILVA
Figura 7. Isômeros D e L do borneol.
De acordo com a Farmacopeia da República Popular da China, o borneol, é
um ingrediente importante em cerca de 63 produtos de ervas (PPRC, 2005). É
encontrado em algumas plantas como
Rosmarinus officinalis
pectinatus Fisch (Tomilho),
(HORVÁTHOVÁ et al., 2009).
Figura 6. Estruturas do Borneol e Isoborneol.
Existem dois tipos diferentes de borneol, o borneol sintético que é uma
borneol e isoborneol, em que o teor de DL-borneol deve ser inferior a
55 %, e o borneol natural, cujo principal componente é D-borneol, o qual possui mais
de 95 % de borneol natural (Figura 7). Estudos anteriores mostraram que borneol
o lentamente durante o armazenamento, formando cânfora e
diminuindo o teor inicial de borneol sintético (SILVA-FILHO et. al., 2012
Isômeros D e L do borneol.
De acordo com a Farmacopeia da República Popular da China, o borneol, é
um ingrediente importante em cerca de 63 produtos de ervas (PPRC, 2005). É
encontrado em algumas plantas como Eucalyptus globulus
Linn (Alecrim), Salvia officinalis Linn
(Tomilho), Dryobalanops aromatica Gaertn. F. (Cânfora
2009).
48
Existem dois tipos diferentes de borneol, o borneol sintético que é uma
borneol deve ser inferior a
borneol, o qual possui mais
de 95 % de borneol natural (Figura 7). Estudos anteriores mostraram que borneol
o lentamente durante o armazenamento, formando cânfora e
et. al., 2012).
De acordo com a Farmacopeia da República Popular da China, o borneol, é
um ingrediente importante em cerca de 63 produtos de ervas (PPRC, 2005). É
Labhll (Eucalipto),
Linn (Sálvia), Thymus
. (Cânfora-de-bornéu)
49
Outra evidência mostrou que Borneol tem a capacidade de soltar as junções
apertadas intercelulares na barreira hematoencefálica, acelerar o transporte de
substâncias através da passagem intercelular, aumentar o número e o volume de
vesículas de pinocitose das células da barreira hematoencefálica, e assim, acelerar
o transporte de substâncias por meio da pinocitose nas células do cérebro (YANG et
al., 2009). Por estas razões, o borneol se tornou um ingrediente importante em
muitas receitas da medicina tradicional chinesa e em fórmulas de incenso japonês
com elevados efeitos sobre o cérebro (KOMIYA et al., 2006).
Mostrou-se como anti-inflamatório, antioxidante e com efeitos de proteção
das células, diminuindo a expressão da iNOS e na liberação de fatores inflamatório,
bem como, a translocação de NF-kB e caspase relacionada a apoptose em modelo
neuronal de isquemia / reperfusão. Promove cicatrização de feridas e é usado para
úlceras e edema (CPC, 2010; MEYER-HAMME et al., 2013). Além disso, diversas
publicações têm mostrado que o borneol aumenta a penetração de drogas através
da pele e da córnea (CUI et al., 2011; QI et al., 2013).
É usado externamente em feridas na pele, ulcerações e queimaduras, de
ação sedativa, anti-inflamatória, analgésica, anti-nociceptiva e vasorrelaxante
(SILVA-FILHO et. al., 2011; ALMEIDA et. al., 2013; EHRNHOFER-RESSLER et. al.,
2013), porém pouco se sabe sobre o mecanismo de ação desse monoterpeno que
determina muitos desses efeitos. É também eficaz na analgesia, insônia, no
tratamento de doenças gastrointestinais, como cicatrizante, em dores reumáticas,
hemorroidas, doenças de pele e úlceras (ZHENG et. al., 2008).
Alguns estudos farmacológicos comprovaram a sua ação inibitória em Gram-
positivos e Gram-negativos, atividade antifúngica, ação antioxidante,
imunomodulador, antitrombótico e antiplaquetário (KORDALI, 2005; JUHA, 2008; LI
et. al., 2012). Tem também ação como inibidor eficaz de reabsorção óssea in vivo e
in vitro, provavelmente através de um efeito direto sobre a formação de osteoclastos,
principalmente em células hematopoiéticas (HORVTHOV, 2009).
50
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral Investigar a ação do borneol em mucosites orais induzidas por 5-Fluorouracil
(5- FU) em modelo experimental de Ratos Wistar e preparar géis bucais a
base desse monoterpeno.
3.2 Objetivos Específicos
Preparar géis bucais estáveis contendo borneol nas concentrações de 1,2% e
2,4% a base de Aristoflex®;
Avaliar a estabilidade do gel obtido;
Avaliar a ação anti-inflamatória do borneol através de parâmetros
quantitativos, como número de vasos sanguíneos e quantidade de células
inflamatórias em mucosa jugal de ratos;
Avaliar a ação cicatrizante dos géis através de parâmetros qualitativos, como
reepitelização e aspectos normais dos tecidos conjuntivos.
51
4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 Preparação dos géis base Aristoflex®
Os géis foram preparados com a utilização do polímero hidrofílico
(Aristoflex®) e Metilparabeno (p-hidroxibenzoato de metila) em água, agitando-se, a
seguir, com auxilio de um mixer (agitador Heidolph RZR), por 30 minutos até
gelificação completa e finalmente, incorporando-se o borneol a 97% em pó (Sigma-
Aldrich) (OLIVEIRA, 2009). Os géis obtidos foram acondicionados, rotulados e
analisados quanto ao aspecto, características sensoriais, parâmetros físico-químicos
e de estabilidade. Os géis apresentaram as seguintes formulações:
Para formulação a 1,2% de Borneol:
Aristoflex® (m/m)..........................................................................................0,3g
Metilparabeno (p-hidroxibenzoato de Metila).............................................0,03g
Borneol........................................................................................................0,36g
Água destilada....................................................................................q.s. 29,3 g
Para formulação a 2,4% de Borneol:
Aristoflex® (m/m)..........................................................................................0,3g
Metilparabeno (p-hidroxibenzoato de Metila).............................................0,03g
Borneol........................................................................................................0,72g
Água destilada..................................................................................q.s. 28,95 g
4.2 Caracterização e avaliação das formulações
4.2.1 Análise macroscópica da formulação
Após a manipulação dos géis, as amostras foram analisadas quanto às
características organolépticas, a fim de identificar qualquer instabilidade, alteração
da cor ou separação de fases. A comparação visual da amostra com o gel base
permite a análise da cor, aspecto e odor, e foi realizada em cerca de 10 g da
amostra acondicionados em frascos iguais. A fonte de luz empregada foi a luz
branca, natural, de modo que a amostra pudesse ser avaliada criteriosamente com
iluminação adequada comparada antes e após a centrifugação (Figura 8).
52
Figura 8: Aspecto inicial dos géis antes da centrifugação.
Fonte do próprio autor.
4.2.2 Determinação do pH A análise de pH do gel foi realizada em pHmetro de bancada digital
(MSTecnopon equip. Especiais LTDA) (Figura 9) calibrado previamente com as
soluções determinadas pelo próprio equipamento (tampão de pH 7 e 4). A
verificação do pH foi realizada em triplicata.
Figura 9: pHmetro de bancada digital usado nas medições de pH dos géis.
Fonte do próprio autor.
4.2.3 Condutividade Para avaliação da condutividade do gel, o mesmo equipamento que verificou
o pH foi utilizado (MSTecnopon equip. Especiais LTDA), as medidas de
condutividade foram dadas em milivolt (mV), e a mensuração da condutividade foi
realizada em triplicata.
53
4.2.4 Viscosidade Para avaliação da viscosidade foi empregado o viscosímetro rotativo micro
processado (Quimis, modelo Q-860M21) (Figura 10). Aproximadamente 30g de gel
foram utilizados de forma suficiente para manter a haste do sistema imersa na
amostra e foi padronizado o “spindle 2”, em seis velocidades (10, 20, 30, 40, 50 e 60
rpm) o que permite medir eletronicamente a força de torção já convertida em
viscosidade. Todas as análises foram realizadas em triplicata.
Figura 10. Viscosímetro rotativo micro processado (Quimis, modelo Q-860M21).
Fonte do próprio autor.
4.2.5 Avaliação preliminar da estabilidade
4.2.5.1 Resistência à centrifugação Antes de iniciar o estudo de estabilidade e ao final dele, os géis foram
submetidos à centrifugação (centrífuga Centribio®, Modelo 80-2B). A centrifugação
(Figura 11) foi realizada utilizando-se 10 g das amostras, que foram centrifugadas a
3.000 rpm durante 30 minutos, a fim de detectar qualquer sinal de instabilidade,
como separação espontânea em duas fases (gel e líquido). O valor da Força
Gravitacional (Força G) ou Força Centrífuga Relativa (RCF) foi obtido através da
fórmula: RCF ou Força G = 1,12 x R x (RPM/1000)², na qual, o raio é dado em
milímetros e que no equipamento mede 135 mm, a Força G foi 1.360,8. Em seguida,
foi realizado o teste de estabilidade preliminar analisando parâmetros organolépticos
(aspecto, cor e odor) e físico-químicos (pH, condutividade e viscosidade).
54
Figura 11: Centrífuga Centribio®, modelo 80-2B utilizada nos testes de estabilidade.
Fonte do próprio autor.
4.2.5.2 Ciclo Gelo-Degelo A amostra do gel foi submetida ao teste do ciclo gelo-degelo, mediante
variações extremas de temperatura, o teste foi realizado no período de 12 dias com
6 ciclos alternados de 24 h a 40 ± 2 ºC e 24 h a 5 ± 2 ºC, em estufa e refrigerador
respectivamente (BRASIL, 2008). As análises dos parâmetros organolépticos
(aspecto, cor e odor), valor de pH, condutividade e viscosidade foram realizadas
antes e após os ciclos. Depois deste período, as amostras foram submetidas
também ao teste de centrifugação Centrífuga Centribio® (Modelo 80-2B) com 3.000
rpm durante 30 minutos, a fim de identificar sinal de instabilidade.
4.3 A Experimentação
4.3.1 Os animais e o manejo O experimento foi realizado no Laboratório de Prática Cirúrgica da UNIVASF
– Campus Petrolina – Centro (Figura 12). Foram utilizados 48 ratos albinos machos
(Rattus norvegicus) da linhagem Wistar provenientes da colônia de criação da
Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), com idade de 12 a 16
semanas e peso médio entre 300-350g. Os ratos foram aclimatados por seis dias
antes do início dos experimentos e mantidos durante todo o período em temperatura
de 22±2°C, ciclo de claro-escuro de 12/12h e com livre acesso à ração e à água.
55
Figura 12. Sala de Experimentação do Laboratório de Prática Cirúrgica da UNIVASF – Campus Petrolina – Centro.
Fonte do próprio autor.
4.3.2 Formação de grupos experimentais Os animais foram marcados com números de 1 a 48 e distribuídos
aleatoriamente em quatro subgrupos de 12 animais (Tabela 2).
Tabela 2: Grupos formados para o estudo e tratamento medicamentoso de cada um
deles.
Grupos Tratamentos
I Borneol 0% Animais com mucosite quimioinduzida tratados com a
base Aristoflex (n=12)
II Borneol a 1,2% Animais com mucosite quimioinduzida tratados com gel
Aristoflex com Borneol a 1,2% (n=12)
III Borneol a 2,4% Animais com mucosite quimioinduzida tratados com gel
Aristoflex com Borneol a 2,4% (n=12)
IV Controle Negativo Animais com mucosite quimioinduzida e sem tratamento,
sendo o controle negativo (n=12)
Fonte do próprio autor.
Seis animais de cada subgrupo foram submetidos à eutanásia, por
aprofundamento anestésico nos dias 7 e 14 do experimento (Quadro 1).
56
Quadro 1: Representação esquemática do experimento
X* novo marco para a eutanásia, no sétimo e décimo quarto dias após as injúrias com ácido acético.
Fonte do próprio autor.
4.3.3 Pesagem dos ratos Todos os animais foram pesados com balança de precisão (Mettler-Toledo
SB8000) (Figura 13) ao início e ao final dos experimentos para a avaliação do
estado geral do animal.
Figura 13. Balança de precisão (Mettler-Toledo SB8000)
Fonte do próprio autor.
Dias
0 1 2 3
1º
4
2º
5
3º
6
4º
7
5º
8
6º
9
7º
10
8º
11
9º
12
10º
13
11º
14
12º
15
13º
16
14º
Injeção de 5-FU X X X
Queimadura da
mucosa com
ácido acético a
50%.
X*
Tratamentos
nos grupos de 7
dias
X X X X X X
Tratamentos
nos grupos de
14 dias
X X X X X X X X X X X X X
Eutanásia X X
4.3.4. Análise HematológicaTodos os animais foram submetidos à punção intracardíaca, com anestesia
prévia, para estudo do hemograma, antes da eutanásia.
como auxiliar no rastreio, diagnóstico e monitorização de diferentes patologias,
fornecendo informações qu
um individuo. O hemograma inclui a quantificação e a avaliação morfológica das
células sanguíneas (eritrócitos, leucócitos e plaquetas). 2 ml de sangue foram
retirados de cada animal e processado em
DIFF) (Figura 14) para determinação de parâmetros hematológicos nos animais
como contagem de hemácias, leucócitos e p
hemoglobina (DEPREZ
Figura 14. Analisador parâmetros hematológicos nos animais como contagem de hemácias, leucócitos e plaquetas, além da concentração de hemoglobina.
Fonte do próprio autor.
4.3.5 Indução da mucosite A indução de mucosite
quimioterápico 5-Fluorouracil (5
intraperitoneal, nos dias 0, 2 e 4 (dose de 30 mg/Kg) de experimento (
al., 2003; VILELA-GOULART
zero, o marco inicial do
medicamento indutor da doença.
No segundo dia, as mucosas jugais direitas dos 48 animais foram injuriadas
quimicamente com 10 µl de ácido acético a 50%, embebido em papel de filtro de 9
4.3.4. Análise Hematológica Todos os animais foram submetidos à punção intracardíaca, com anestesia
prévia, para estudo do hemograma, antes da eutanásia. O hemograma é utilizado
como auxiliar no rastreio, diagnóstico e monitorização de diferentes patologias,
fornecendo informações qualitativas e quantitativas sobre o estado hematológico de
um individuo. O hemograma inclui a quantificação e a avaliação morfológica das
células sanguíneas (eritrócitos, leucócitos e plaquetas). 2 ml de sangue foram
retirados de cada animal e processado em analisador automatizado (pocH
DIFF) (Figura 14) para determinação de parâmetros hematológicos nos animais
omo contagem de hemácias, leucócitos e plaquetas, além da concentração de
et al, 2009).
Figura 14. Analisador automatizado (pocH-100iV DIFF) para determinação de parâmetros hematológicos nos animais como contagem de hemácias, leucócitos e plaquetas, além da concentração de hemoglobina.
Indução da mucosite oral nos animais A indução de mucosite oral foi realizada através da administração do
Fluorouracil (5-FU – Eurofarma, São Paulo, Brasil) via injeção
intraperitoneal, nos dias 0, 2 e 4 (dose de 30 mg/Kg) de experimento (
GOULART et al., 2008; LIMA et al., 2015). Entende
zero, o marco inicial do experimento quando foi administrada
medicamento indutor da doença.
No segundo dia, as mucosas jugais direitas dos 48 animais foram injuriadas
quimicamente com 10 µl de ácido acético a 50%, embebido em papel de filtro de 9
57
Todos os animais foram submetidos à punção intracardíaca, com anestesia
O hemograma é utilizado
como auxiliar no rastreio, diagnóstico e monitorização de diferentes patologias,
alitativas e quantitativas sobre o estado hematológico de
um individuo. O hemograma inclui a quantificação e a avaliação morfológica das
células sanguíneas (eritrócitos, leucócitos e plaquetas). 2 ml de sangue foram
analisador automatizado (pocH-100iV
DIFF) (Figura 14) para determinação de parâmetros hematológicos nos animais
laquetas, além da concentração de
100iV DIFF) para determinação de parâmetros hematológicos nos animais como contagem de hemácias, leucócitos e
foi realizada através da administração do
Eurofarma, São Paulo, Brasil) via injeção
intraperitoneal, nos dias 0, 2 e 4 (dose de 30 mg/Kg) de experimento (FUJISAWA et
). Entende-se como dia
a primeira dose do
medicamento indutor da doença.
No segundo dia, as mucosas jugais direitas dos 48 animais foram injuriadas
quimicamente com 10 µl de ácido acético a 50%, embebido em papel de filtro de 9
58
mm2 por 60 segundos, sob anestesia via intraperitoneal (0,4 mL por animal) com
solução de Cloridrato de cetamina a 10% (50 mg/Kg) (Cetamin, Rhobifarma, São
Paulo, Brasil) e Cloridrato de xilasina a 2% (5 mg/Kg) (Xilazin, Rhobifarma, São
Paulo, Brasil) (Figura 15) (VILELA-GOULART et al., 2008; FUJISAWA et al., 2003;
DAMY et al., 2010).
Após as injúrias das mucosas, os animais receberam analgesia com
Butorfanol® (2mg/kg), administrado via subcutânea e passaram por repouso pós-
operatório de 2h, ou seja, eles ficaram em gaiolas individuais e não foram
submetidos a nenhuma intervenção neste período. O Butorfanol é um analgésico
opióide que complementa a anestesia, trazendo alívio pós-operatório para dores
moderadas e severas.
Figura 15. Procedimento de injuria química da mucosa jugal na intenção de indução da mucosite oral.
Fonte do próprio autor.
4.3.6 Tratamentos dos grupos Os tratamentos ocorreram da seguinte forma: O grupo Borneol 0% recebeu
uma aplicação diária da base Aristoflex® com haste flexível descartável, assim
como, os grupos Borneol 1,2% e Borneol 2,4%, que receberam os géis contendo
borneol aplicados topicamente uma vez ao dia (Figura 16). O grupo Controle
negativo recebeu aplicação local com água destilada. Após as aplicações todos os
animais ficaram 30 minutos sem beber água ou comer, para que o produto tivesse
59
mais tempo para agir. Com os grupos de sete dias, os tratamentos ocorreram do 1º
ao 6º dia após as lesões. Nos grupos de 14 dias, os tratamentos ocorreram do 1º ao
13º dia após as lesões (Quadro 1).
Figura 16. Tratamentos conforme os grupos. Aplicações diárias dos géis com hastes flexíveis.
Fonte do próprio autor.
4.3.7 Procedimento de retirada das mucosas jugais direitas dos animais. Nos dias sete e 14, os animais foram anestesiados, via intraperitoneal com
solução de Cloridrato de Cetamina a 10% (100 mg/Kg) (Cetamin, Rhobifarma, São
Paulo, Brasil) e Cloridrato de Xilasina a 2% (10 mg/Kg) (Xilazin, Rhobifarma, São
Paulo, Brasil). Foi injetado em cada animal um volume de 0,5 mL. Após o
aprofundamento anestésico e a eutanásia, que não pode ser por deslocamento
cervical, por exsanguinação ou por decapitação (métodos físicos), pois os ratos
possuem uma musculatura cervical muito robusta e, por isso, poderiam sentir dor
e/ou sofrer. A literatura recomenda uma overdose anestésica (método químico) que
leva a uma parada cardiorrespiratória (AKGULLU et al., 2015). Após a eutanásia, os
ratos tiveram as suas mucosas jugais direitas removidas com auxilio de tesoura íris e
bisturi com lâmina número 15. Em seguida, colocadas em solução de formaldeído a
10% tamponado.
60
4.3.8 Processamento do material Biológico As mucosas jugais direitas foram seccionadas e mantidas em solução de
formaldeído a 10% tamponado por aproximadamente 48 h. Em seguida, foram
desidratadas, diafanizadas e parafinadas.
Para execução do estudo histopatológico, as secções das mucosas jugais dos
animais foram obtidas com cortes transversais de 5 µm de espessura através do
micrótomo (Laica). De cada mucosa foram feitas preparações histológicas coradas
em Hematoxilina-Eosina (HE) e Tricrômico de Masson. Todos os cortes foram
montados em lâminas e lamínulas de vidro, utilizando-se o Entellan (Merck) (Figura
17).
Figura 17. Processamento do material biológico. Os espécimes em solução de formaldeído a 10% tamponado, em seguida desidratação, diafanização, microtômia, coloração e montagem das lâminas.
Fonte do próprio autor.
4.3.9 Avaliação Histológica Qualitativa e Semiquantitativa As análises microscópicas das mucosas jugais foram realizadas em
microscópio óptico com magnitude de 4x e 10x. Na análise qualitativa foram
avaliados os parâmetros inflamatórios como presença de infiltrado celular, necrose,
úlceras e reepitelização classificados de acordo com Tabela de Lara et al. (2007)
61
(Quadro 2). Para a obtenção das imagens, a identificação das lâminas foi bloqueada
com papel pardo e numerada de 1 a 48. As avaliações foram realizadas por
profissional em cego para evitar viés no processo de avaliação.
Quadro 2: Guia para Análise Microscópica Qualitativa das lâminas, Lara et al. (2007). Guia de Análise Microscópica Qualitativa
Ep
itélio
Tamanho
Ulceração
Exocitose
Biofilme
Hiperqueratose
Mitose
□Normal □ Atrófico □ Hiperplásico
□ Ausente □ Presente
□ Ausente □ Presente
□ Ausente □ Presente
□ Ausente □ Presente
□ Ausente □ Presente
Co
njun
tivo
– A
ltera
çõe
s in
flam
ató
rias
Intensidade
Composição
Distribuição
Necrose
Vasos Sanguíneos
Tecido de Granulação
□ Discreta □ Moderada □ Intensa
□PMN □Neutrófilos
□Eosinófilos
□MN □Linfócitos
□Plasmócitos
□Células Gigantes
□ Focal □Difusa
□ Ausente □ Presente
□ Presente (+) □ Presente (++)
□ Congestionados □ Não congestionados
□ Ausente □ Presente
Fonte Lara et al. (2007).
A análise semiquantitativa foi realizada por avaliador em cego que observou
parâmetros inflamatórios incluindo presença de infiltrado inflamatório celular,
vasodilatação, necrose, ulceração, abscesso, hemorragia e edema. Estes
parâmetros foram atribuídos pontuações (escores) de 0-3, como descrito por Lima et
al., (2005): Escore 0 - Epitélio normal e tecido conjuntivo sem vasodilatação;
ausência ou leve infiltração celular; ausência de áreas hemorrágicas, ulcerações ou
abscessos; Escore 1 - Ingurgitação vascular leve, áreas de reepitelização; Infiltrado
inflamatório leve com prevalência mononuclear; ausência de áreas hemorrágicas,
edema, ulcerações ou abscessos; Escore 2 - Ingurgitação vascular moderada,
62
áreas de degeneração epitelial hidrópica, Infiltrado inflamatório com prevalência de
neutrófilos, presença de áreas hemorrágicas, edema e algumas ulcerações,
ausência de abscessos; Escore 3 - Ingurgitação e dilatação vasculares graves,
infiltração inflamatória com prevalência de neutrófilos, presença de áreas
hemorrágicas, edema, ulcerações extensas e abscessos.
4.3.10 Avaliação Histológica Quantitativa O número de células inflamatórias, o percentual de colágeno e a quantidade
de vasos sanguíneos nas regiões ulceradas foram quantificados. Os campos
histológicos foram digitalizados utilizando-se microscópio LEICA® DM2500 (Leica
Biosystems, Wetzlar, Alemanha) com câmera acoplada CELESTRON® Digital
Microscope Imager modelo 44421 (Torrance, Califórnia, Estados Unidos), usando
programa fornecido pela própria câmera digital.
4.3.10.1 Número de células inflamatórias e a quantidade de vasos sanguíneos nas regiões ulceradas
A mesma intensidade de luz foi utilizada em todas as digitalizações. As
imagens digitalizadas foram mantidas com formato RGB, resolução 2048 X 1536
pixels e extensão jpg. Para a avaliação de celularidade, as imagens digitalizadas
obtidas dos campos foram trabalhadas utilizando programa ImageJ, desenvolvido e
disponibilizado por Landini e Perryer (2009). As imagens foram submetidas ao
processo de deconvolução da cor utilizando plugin (“Colour deconvolution”). Usando
esse recurso as cores do corante (Hematoxilina e Eosina) podem ser separadas em
duas imagens destacando quantidade e os padrões do recurso de interesse. Este
método consiste na separação matemática de cores do espectro RGB (“red, green,
blue”) em imagens com combinações de até 3 cores diferentes, como acontece na
coloração HE.
Para a quantificação dos núcleos celulares (celularidade) das lâminas coradas
em HE, seguiu-se o método de deconvolução de cor descrito anteriormente. As
imagens obtidas a partir da coloração HE utilizadas para quantificação de
celularidade também foram submetidas a contagem de vasos sanguíneos para
avaliar angiogênese. Na avaliação quantitativa foi usado o software ImageJ®, versão
1,49t, utilizando o Plugin “Cell Counter”, no qual, o número de células inflamatórias e
de vasos sanguíneos foram mensurados.
63
A contagem de células de um tecido ou de qualquer estrutura é muito utilizada
nas verificações de estudos experimentais. A quantificação de análises
morfométricas podem ser realizadas através da contagem do número de neovasos,
fibroblastos, fibras colágenas, leucócitos, monócitos e células de embriões
(MENDES-JUNIOR; VITERBO, 2007; COSTA et al., 2010).
Para a contagem realizada através do software foram seguidos os passos
iniciais da contagem automática, até a função Color Balance. A partir daí, seguiu-se
os comandos:
Plugins → Particle Analysis → Cell Counter →File→ Open→Escolha da imagem→
abrir→ Initialize→escolha do Type → Efetuar a contagem (Figura 18).
Figura 18. Ilustração da tela de leitura do software utilizado para mensuração dos vasos sanguíneos e das células inflamatórias.
Fonte do próprio autor.
4.3.10.2 Percentual de colágeno neoformado nas regiões ulceradas Também foi utilizad
automaticamente usado o programa de acordo com os grupos e nos dias 7 e 14,
seguindo o esquema abaixo.
File → Open → Procurar imagem → Image → Type → RGB Stack →
Image → Type → 32 Bits → Image → Adjust → Threshold → Ajuste baixo 255 e
ajuste alto 134 → Ok → Yes → Analyze → Measure (Figuras 19 e 20).
Figura 19: Utilização do Software ImageJ
Fonte do próprio autor.
Percentual de colágeno neoformado nas regiões ulceradas Também foi utilizado o software ImageJ®, todas as lâminas foram me
automaticamente usado o programa de acordo com os grupos e nos dias 7 e 14,
seguindo o esquema abaixo.
→ Open → Procurar imagem → Image → Type → RGB Stack →
→ Type → 32 Bits → Image → Adjust → Threshold → Ajuste baixo 255 e
→ Ok → Yes → Analyze → Measure (Figuras 19 e 20).
Figura 19: Utilização do Software ImageJ® para o cálculo do percentual de colágeno.
64
Percentual de colágeno neoformado nas regiões ulceradas , todas as lâminas foram mensuradas
automaticamente usado o programa de acordo com os grupos e nos dias 7 e 14,
→ Open → Procurar imagem → Image → Type → RGB Stack →
→ Type → 32 Bits → Image → Adjust → Threshold → Ajuste baixo 255 e
→ Ok → Yes → Analyze → Measure (Figuras 19 e 20).
para o cálculo do percentual de colágeno.
65
Figura 20. Representação da coloração observada na tela para determinação do percentual de colágeno neoformado.
Legenda: A: Lâmina corada por Tricrômico de Masson. B: Imagem após seleção RGB Stack com 32 Bits. C: Imagem após seleção do Plugin Threshold (255x134). D. Área em azul correspondente ao colágeno Neoformado. Magnitude de X10. Fonte do próprio autor.
4.3.11 Análise Estatística Foram usadas todas as variáveis e comparações entre os grupos,
independentemente do dia; entre os dias, independentemente do grupo; e entre os
grupos, em cada dia. A análise estatística dos dados foi realizada por ANOVA Two-
Way, seguida de pós-teste de Tukey em todas as comparações, exceto na avaliação
dos escores de cicatrização, na qual foi usado o teste de Mann Whitney. Em todas
as avaliações se fixou em 0,05 ou 5% (p ≤ 0,05) o nível de rejeição da hipótese de
nulidade, para os valores significantes.
4.3.12 Atendimento aos Critérios Éticos da Pesquisa O projeto foi submetido à Comissão de Ética no uso de animais (CEUA –
UNIVASF), vindo a ser aprovado com Protocolo nº 0001/140814, em 02 de junho de
66
2015. Durante o experimento procurou-se seguir a regra dos 3 R's da
experimentação animal, que segundo Russell e Burch (1959), é representada por:
a)"Replace", que consiste em substituir os animais capazes de experimentar dor,
prazer, felicidade, medo, frustração e ansiedade; b)"Reduction", que significa reduzir
o número de animais utilizados, sem prejudicar a qualidade dos resultados e
c)"Refinement" significa refinamento, ou seja, a diminuição da incidência ou
severidade de procedimentos aplicados (GRIFFIN et al., 2014). Durante o
experimento e no momento da eutanásia, adotou-se uma conduta de respeito, de
conhecimento e de responsabilidade no manejo, levando-se em conta que o animal
sente dor e sofre.
67
5 RESULTADOS
5.1 Preparação e avaliação das formulações De acordo com os resultados de estabilidade física da formulação submetida
ao teste de centrifugação e congelamento/descongelamento, é possível afirmar que
em todos os testes não interferiram na estrutura das fibras que formam o gel, uma
vez que tanto as amostras submetidas à centrifugação quanto ao
congelamento/descongelamento apresentaram mínima variação dos parâmetros
avaliados. Os géis se mostraram homogêneos, translúcidos e incolores; com pH
entre 4,3 a 4,7, condutividade média inicial e final e sem separação de fases
conforme tabela abaixo (Tabela 3).
Tabela 3: Resultados da avaliação da estabilidade preliminar dos géis de Borneol, antes e após o teste de congelamento e descongelamento.
Amostra Aspecto pH Condutividade Centrifugação a 3000
RPM
Gel (borneol 0%) Homogêneo;
Translúcido e
Incolor.
5,0
100,0 mV
Sem separação de
Fases
Gel – Pré
(Borneol 1,2%)
Homogêneo;
Translúcido e
Incolor.
4,5±0,02
139,0±1,5 mV
Sem separação de
Fases
Gel – Pós
(Borneol 1,2%)
Homogêneo;
Translúcido e
Incolor.
4,7±0,03
120,2±0,5 mV
Sem separação de
Fases
Gel – Pré
(Borneol 2,4%)
Homogêneo;
Translúcido e
Incolor.
4,3±0,02
152,0±1,6 mV
Sem separação de
Fases
Gel – Pós
(Borneol 2,4%)
Homogêneo;
Translúcido e
Incolor.
4,4±0,04
147,2±1,5 mV
Sem separação de
Fases
Fonte do próprio autor.
Com relação à análise reológica das preparações semissólidas, verificou-se o
comportamento característico de sistemas não newtonianos do tipo plástico ou
pseudoplástico, nos quais a viscosidade diminui com o aumento da tensão de
cisalhamento aplicada. Não houve diferença estatística entre os valores de
viscosidade dos géis de borneol após os testes de congelamento e
68
descongelamento (Figura 21). A Figura 21 representa o reograma do Gel de Borneol
a 2,4%, com as curvas descendente e ascendente, obtidos antes e após o estudo de
estabilidade preliminar e acelerada (12 dias), respectivamente. A formulação
analisada apresentou um comportamento pseudoplástico, comum para este tipo de
forma farmacêutica e tixotropia.
Figura 21: Resultados da viscosidade média do gel Borneol 2,4%, antes e após os testes de congelamento e descongelamento.
Legenda: Esquerda Viscosidede preliminar (T0). Direita Viscosidade final (T12). Fonte do próprio autor.
As formulações desenvolvidas apresentaram texturas lisas, transparentes,
aspecto homogêneo e aroma característico do borneol. As características
macroscópicas se mantiveram semelhantes no aspecto antes e após os testes de
estabilidade (Figura 22).
Figura 22. Aspectos macroscópicos do gel Borneol 2,4% antes e após os testes de
Estabilidade.
Fonte do próprio autor.
O Borneol por sua ação anti-inflamatória, antioxidante e antimicrobiana,
utilizado na medicina chinesa no tratamento de queimaduras na pele e aftas, pode
também apresentar ação sob mucosites orais. Por isso, foram testados géis orais
095001900028500380004750057000
05000
100001500020000250003000035000400004500050000
0 20 40 60 80Taxa
de
defo
rmaç
ão
(mPa
s)
Tensão de Cislhamento (rpm)
095001900028500380004750057000
05000
100001500020000250003000035000400004500050000
0 20 40 60 80Taxa
de
defo
rmaç
ão
(mPa
s)
Tensão de Cislhamento (rpm)
Antes Após
69
com base Aristoflex® contendo esse monoterpeno em sua composição, nas
concentrações de 1,2% e 2,4%. Essa base é utilizada em formulações bucais por
seu pH de 4 a 6, próximo a concentração hidrogeniônica da cavidade oral, por sua
boa viscosidade e aderência a mucosa oral.
5.2 Avaliação da atividade dos géis de borneol sobre a mucosite oral No dia sete, foi encontrada uma diferença estatisticamente significativa (p
<0,05) nos escores para o grupo G3 (Borneol 2,4%) em comparação aos grupos G1
(Borneol 0%) e G4 (Controle). Este resultado indicou melhor cicatrização para
Borneol 2,4% (Figura 23).
FIGURA 23. Escores de cicatrização da mucosite oral de acordo com os grupos e o
dia de experimentação.
. Legenda: p <0,05: Controle vs Borneol 2,4% (7 dias); p<0,05: Borneol 0% vs. Borneol 2,4% (7 dias); p<0,05: Controle vs Borneol 2,4% (14 dias); p<0,05: Borneol 0% vs. Borneol 2,4% (14 dias). As diferenças entre os escores foram checadas através do teste de Mann-Whitney. Fonte do próprio autor.
O grupo G1 (Borneol 0%) se apresentou com úlcera extensa, além de
degeneração hidrópica, espongiose e exocitose. No tecido conjuntivo (TC) se
observou a presença moderada e difusa de Polimorfonucleares (PMN) com áreas de
necrose e hemorrágicas. O grupo G2 (Borneol 1,2%) se apresentou com região
ulcerada, presença de degeneração hidrópica, espongiose e exocitose. O TC
apresentou áreas de necrose, presença de alguns vasos sanguíneos
congestionados, além de presença moderada e difusa de PMN. O Grupo G3
70
(Borneol 2,4%) se apresentou com discreta degeneração hidrópica, espongiose e
reepitelizado parcialmente em cinco animais. O TC se apresentou com PMN e
presença de poucos vasos sanguíneos congestionados. O grupo G4 (Controle
Negativo) se apresentou com área ulcerada, além de degeneração hidrópica,
espongiose e intensa exocitose. O TC se apresentou com edema e necrose,
moderados vasos sanguíneos congestionados, além de presença moderada e difusa
de PMN (Figura 24).
Figura 24. Aspectos microscópicos dos grupos com sete dias de experimentação.
Legenda: A: Grupo tratado com base (Borneol 0%); B: Grupo tratado com gel contendo Borneol na concentração de 1,2%; C: Grupo tratado com gel contendo Borneol na concentração de 2,4%; D: Grupo controle negativo. PMN=Polimorfonucleares; VS=Vaso Sanguíneo; U=Ulceração; E=Exocitose; ED=edema; RE=Reepitelização parcial. Aumento de 10X. A barra de Neubauer representa 200 µm. Fonte do próprio autor.
No dia 14, foi encontrada diferença estatisticamente significativa (p <0,05) nos
escores de pontuação para o grupo G3 (Borneol 2,4%) em comparação com os
grupos G1 (Borneol 0%) e G4 (Controle). Este resultado indicou melhor cicatrização
para Borneol 2,4% (Figura 23).
71
O grupo G1 (Borneol 0%), apresentou-se com hiperqueratose e totalmente
reepitelizado. O TC se apresentou com vasos sanguíneos congestionados, além de
presença moderada e difusa de Mononucleares (MN). O grupo G2 (Borneol 1,2%) se
apresentou reepitelizado, porém com maior número de vasos sanguíneos que no
grupo G3. O TC apresentou numerosos vasos sanguíneos congestionados, com
difuso e discreto processo inflamatório crônico. O Grupo G3 (Borneol 2,4%) se
apresentou com aspecto normal e totalmente reepitelizado. O TC apresentou
aspectos normais, além de tecido de granulação com fibroblastos, vasos sanguíneos
congestionados e presença discreta e difusa de MN. O grupo G4 (Controle Negativo)
se apresentou com acantose (aumento de espessura da camada espinhosa) com
perda da integridade da membrana basal e exocitose. Houve reepitelização, porém
com aspecto morfológico divergente do normal em quatro animais. O TC se
apresentou com grande quantidade de tecido de granulação com fibroblastos, vasos
sanguíneos congestionados e infiltrado inflamatório crônico (Figura 25).
Figura 25. Aspectos microscópicos dos grupos com 14 dias de experimentação.
Legenda: A: Grupo tratado com base do gel (Borneol 0%); B: Grupo tratado com gel contendo
Borneol na concentração de 1,2%; C: Grupo tratado com gel contendo Borneol na concentração de 2,4%; D: Grupo Controle Negativo. RE=Reepitelização; HQ=Hiperqueratinização; MN=Mononucleares; VS=Vaso Sanguíneo; AC=Acantose. Aumento de 10X. Coloração H.E. A barra
de Neubauer representa 200 µm. Fonte do próprio autor.
72
5.3 Avaliações estatísticas quantitativas Em relação ao percentual de colágeno, com sete dias houve significância
estatística quando se comparou o grupo G1 (Borneol 0%) com o grupo G3 (Borneol
2,4%), como também, as comparações dos grupos G4 (Controle) com os grupos G2
(Borneol 1,2%) e G3 (Borneol 2,4%) foram significantes (Figura 30). Na Figura 26c
pode-se observar a melhor formação de epitélio no grupo G3.
Figura 26. Aspectos microscópicos do colágeno neoformado dos grupos com sete dias.
Legenda: A: Grupo borneol 0%; B: Grupo borneol 1,2%; C: Grupo borneol 2,4%; D: Grupo controle.
Aumento de 10X. Coloração Tricrômico de Masson. Fonte do próprio autor. A barra de Neubauer
representa 200 µm.
Com 14 dias houve significância nos grupos G2 e G3 quando comparados ao
grupo G4, como também, o grupo G1 (Borneol 0%) comparado ao grupo G3
(Borneol 2,4%) (Figura 30). Observar que houve visivelmente uma maior formação
de colágeno no grupo G3, evidenciado por grande quantidade de fibras coradas em
azul (as fibras colágenas tem grande afinidade pelo corante azul do Tricrômico de
73
Masson, os núcleos se coram de preto, o músculo, o citoplasma e a queratina,
coram-se de vermelho) (Figura 27c).
Figura 27: Aspectos microscópicos do colágeno neoformado dos grupos com quatorze dias.
Legenda: A: Grupo Borneol 0%; B: Grupo Borneol 1,2%; C: Grupo Borneol 2,4%; D: Grupo controle. Aumento de 10X. Coloração Tricrômico de Masson. A barra de Neubauer representa 200 µm. Fonte do próprio autor.
Com sete dias, o Borneol 2,4% apresentou um menor número de vasos que
os outros grupos. Apresentou significância estatística (p<0,05) quando comparado
aos três outros grupos. O Borneol 1,2% apresentou diferenças estatísticas
significantes, quando comparado aos grupos Gel base e Controle. Não houve
diferenças entre o grupo Borneol 0% e o grupo Controle. Com 14 dias, houve
significância estatística entre todos os cruzamentos, exceto entre o grupo Borneol
0% e grupo Controle e entre os grupos Borneol 1,2% e Borneol 2,4%. Nesse caso,
ambos os géis apresentaram resultados parecidos (Figura 28).
74
Figura 28. Contagem do número de vasos de acordo com os grupos e os dias de experimentação.
Legenda: p<0,05: Borneol 0% vs. Borneol 2,4% (7 dias); p<0,05: Controle vs. Borneol 1,2% e Borneol 2,4% (7 dias); p<0,05: Borneol 0% vs. Borneol 1,2% e Borneol 2,4% (14 dias); p<0,05: Controle vs. Borneol 1,2% e Borneol 2,4% (14 dias). (ANOVA Two-Way seguida de pós-teste de Tukey). Fonte do próprio autor.
Em relação ao número de células inflamatórias, os géis contendo borneol nas
concentrações de 1,2% e 2,4% apresentaram ação anti-inflamatória com sete e 14
dias, pois diminuíram o número dessas células no local da lesão. Com sete dias, os
grupos controle e base do gel apresentaram processo inflamatório bem mais intenso
que os grupos tratados (Gel 1,2% e Gel 2,4%), entretanto não se observaram
diferenças entre as duas concentrações de gel. Com 14 dias, os infiltrados celulares
foram bem menos intensos em todos os grupos. Houve diferenças entre o Gel base
em comparação ao Gel 2,4%, como também, de ambos os géis (Gel 1,2% e Gel
2,4%) quando comparados ao controle, contudo não houve diferenças dos dois géis
entre si (Figura 29).
75
Figura 29: Contagem do número de células inflamatórias de acordo com os grupos e os dias de experimentação.
Legenda: p<0,05: Borneol 0% vs. Borneol 1,2% e Borneol 2,4% (7 dias); p<0,05: Controle vs. Borneol 1,2% e Borneol 2,4% (7 dias); p<0,05: Controle vs. Borneol 1.2% e Borneol 2,4% (14 dias). (ANOVA Two-Way seguida de pós-teste de Tukey). Fonte do próprio autor.
Nas lâminas coradas com tricrômico de Masson, os percentuais de colágeno
nos grupos G2 (Borneol 1,2%) e G3 (Borneol 2,4%) foram maiores que nos grupos
G1 (Borneol 0%) e G4 (Controle negativo) no tempo de 14 dias. Isso se deve ao
efeito cicatrizante do borneol que favoreceu a maior formação de fibroblastos com
melhores produções de colágeno e fibronectina nos locais de lesões (Figura 30).
76
Figura 30. Percentual de Colágeno de acordo com os grupos com sete e 14 dias.
Controle
Borneo
l 0%
Borneo
l 1,2
%
Borneo
l 2,4
%0
10
20
30
40
Per
cen
tual
de
Co
lág
eno 7 dias
14 dias
aA
A,BB,D
b,d C c,d
a
Legenda: p<0,05: Borneol 0% vs. Borneol 2,4% (7 dias); p<0,05: Controle vs. Borneol 1,2% e Borneol 2,4% (7 dias). p<0,05: Borneol 0% vs. Borneol 2,4% e Borneol 1,2% (14 dias) p<0,05: Controle vs. Borneol 1,2% e Borneol 2,4% (14 dias). (ANOVA Two-Way seguida de pós-teste de Tukey). Fonte do próprio autor.
Em relação à massa inicial e final dos animais, todos perderam peso ao longo
do experimento devido os efeitos secundários do 5-Fluorouracil, da mucosite oral e
da redução da ingestão de água e ração. Com 7 dias todos animais tiveram redução
percentual de massa semelhante. Com 14 dias de experimentação, os grupos
Borneol 1,2% e Borneol 2,4% apresentaram menores percentuais de perda de peso
em relação aos outros dois grupos (Borneol 0% e Controle), provavelmente devido à
maior ação do Borneol na redução da inflamação e promovendo a cicatrização das
lesões (Figura 31).
77
Figura 31: Percentagem de perda de massa em gramas de acordo com o grupo e dia de experimentação.
Legenda: p <0,05: Controle vs. Borneol 1,2% e Borneol 2,4% (14 dias). p <0,05: Borneol 0% vs
Borneol 1,2% e Borneol 2,4% (14 dias). Fonte do próprio autor.
Como também, as alterações hematológicas foram observadas nos
hemogramas de todos os grupos indistintamente, como decorrência da utilização do
antimetabólito 5-fluorouracil, que causa depressão da medula óssea em diferentes
graus, por isso, os animais apresentaram alterações nas hemácias, nos leucócitos e
nas plaquetas. Observou-se policitemia, leucopenia, leucocitose, plaquetose,
plaquetopenia, anisopecilocitose, macrocitose, microcitose, linfocitose, policromasia,
desvio a esquerda, variando em estágios de discreta, moderada e acentuada
alteração em todos os grupos nos dois dias de avaliação (Tabela 4).
78
Tabela 4. Determinação de parâmetros hematológicos nos animais como contagem de Hemácias, Leucócitos e Plaquetas, além do hematócrito.
Nº Total de
Animais
Total por
grupos
Tratamentos
Dias /
Eutan.
Cont.
Cel.
Bran.
Cont.
Cel.
Verm.
Hematoc. Plaq.
48
6 G1 (Borneol
0%)
Dia 7
1.350 6.345.000 35,25 25.500
6 G2 (Borneol
1,2%)
1.850 5.875.000 33,5 23.500
6 G3 (Borneol
2,4%)
2.250 6.130.000 36,15 216.000
6 G4
(Controle)
1.850 6.881.667 40,85 98.000
6 G1 (Borneol
0%)
Dia 14
5.500 6.726.667 42,45 709.000
6 G2 (Borneol
1,2%)
2.450 5.431.667 31,8 461.500
6 G3 (Borneol
2,4%)
5.150 6.493.333 36,7 478.500
6 G4
(Controle)
4.200 4.605.000 25,25 295.500
Fonte do próprio autor.
79
6 DISCUSSÃO
6.1 Avaliação das formulações contendo borneol. A estabilidade de produtos farmacêuticos pode ser definida como sendo a
capacidade de dada formulação, acondicionada numa determinada embalagem
(primária e secundária), manter intactas as suas propriedades físicas, químicas,
microbiológicas, terapêuticas, toxicológicas, etc. A finalidade dos testes de
estabilidade é garantir que a qualidade de um produto farmacêutico ou substância
ativa não varia com o tempo sob a influência de vários fatores ambientais, tais como
temperatura, umidade e luz. Quando aplicados a novas entidades farmacêuticas,
estes testes permitem estabelecer um prazo de validade para o produto
farmacêutico e as respectivas condições de armazenagem recomendadas. Os
estudos de estabilidade permitem também determinar uma frequência de testes a
serem realizados ao longo de todo o ciclo do medicamento (GUIDELINE, 2003;
SANTOS, 2015).
A viscosidade do produto pode influenciar na sua aplicação e uso. A
viscosidade é a resistência que o produto oferece à deformação ou ao fluxo, e
depende das características físico-químicas e das condições de temperatura do
material (CHORILLI et al., 2007).
A reologia é definida como a ciência que estuda o fluxo e a maneira como os
materiais respondem à aplicação de uma força ou tensão. Do ponto de vista
farmacotécnico, torna-se de fundamental importância o conhecimento do
comportamento e dos parâmetros reológicos, visto que um adequado fluxo dos
sistemas é exigido para que a atividade terapêutica, ou as funções cosméticas do
produto, sejam asseguradas (TONZAR, 2006).
Os fluidos não newtonianos plásticos e pseudoplásticos apresentam como
característica reológica principal, a diminuição da viscosidade após aplicação de
uma tensão de corte, ou seja, este comportamento possibilita a aplicação de uma
preparação semissólida sobre uma superfície, facilitando assim o uso e
espalhabilidade de um gel farmacêutico por diminuição da viscosidade após
aplicação de uma força, fatores estes que contribuem para aceitação e adesão à
terapêutica medicamentosa pelo paciente (SANTOS, 2015).
As formulações dos géis Aristoflex® contendo Borneol apresentaram
comportamento tixotrópico que contribuiu na estabilidade. O produto tixotrópico
tende a ter maior prazo de validade, pois durante o armazenamento (período no qual
80
o produto permanece em repouso), este apresenta viscosidade constante, o que
dificulta a separação dos constituintes da formulação (CORRÊA et al., 2005).
O Aristoflex® é um co-polímero neutralizado de acriloildimetiltaurato do ácido
sulfônico e vinilpirrolidona, sendo assim, um polímero sintético formador de géis em
sistemas aquosos e utilizado em função da sua capacidade de formação de géis
cristalinos e incolores, com característica de excelente consistência, além de
proporcionar boas propriedades sensoriais, conferindo uma agradável sensação
quando aplicado sobre a pele (OLIVEIRA, 2009).
O gel de Aristoflex é uma base que se presta bem para se incorporar
substâncias ácidas, se mantendo incolor, uniforme e de excelente aplicabilidade
tópica (KÜLKAMP-GUERREIRO et al., 2012). Quanto aos seus dados físico-
químicos, é um pó branco com teor de sólidos de 92%, teor de água de 7%
(máximo), pH 4 a 6 (solução 1% em água) e viscosidade (10 rpm) de 48.000 a
80.000 mPas (solução 1% em água). Ele forma uma rede quimicamente estável de
maior viscosidade e valor de cisalhamento do que os outros géis. Entende-se como
valor de cisalhamento a quantidade de força necessária para romper um produto
baseado nele (ZANINI, 2007).
Nas análises físico-químicas, nenhum dos parâmetros avaliados dos géis se
apresentou estatisticamente diferente após o teste de estabilidade acelerada, com o
ciclo de 12 dias de congelamento e descongelamento das fórmulas, onde as
mesmas foram expostas a temperaturas extremas alternando entre estufa e
refrigerador por 12 dias, permanecendo em cada ambiente por 24 horas. Os valores
de pH dos géis variaram entre 4,3 ± 0,02 e 4,7 ± 0,03. Tais valores com pH ácido já
eram esperados, já que o gel base de Aristoflex® foi formulado com um pH de 5,0.
Em outro estudo com o mesmo Gel base, apresentou um pH de 5 e não ocorreu
mudança de fase demonstrando boa viscosidade (RUSSO et al., 2008). Além disso,
o borneol também é considerado uma substância de pH ácido (XIAO-FEI et al.,
2008).
Foram produzidos dois géis Aristoflex® contendo borneol nas concentrações
de 1,2% e 2,4%. Não existe na literatura um gel para uso oral que contenha borneol.
Essas concentrações foram escolhidas baseadas em publicações anteriores como
de uma pomada de vaselina que foi usada na pele humana para tratamento de
úlceras, que contém 0,7% de Borneol (MAI et al., 2003). Na literatura, os géis orais
que contêm extratos vegetais (presença de fitocomplexos) possuem concentrações
81
bem mais elevadas, em torno de 10% (TANIDEH et al., 2014). Dantas (2016) utilizou
uma formulação de gel para uso tópico com 5% de borneol, que foi incorporado a
uma base carbopol® com pH de 3,9.
6.2 Características Clínicas dos animais Em relação aos achados clínicos gerais, todos os animais desenvolveram
alguns efeitos secundários decorrentes da quimioterapia como diarreia, hipertermia,
alopecia, anorexia e perda de reflexo. Estes animais foram imunossuprimidos e
ficaram susceptíveis para desenvolver mucosite oral. Os mesmos efeitos colaterais
pelo uso do 5- Fluorouracil foram relatados por Vilela-Goulart et al. (2008).
Observou-se uma nítida alteração nos hemogramas dos animais em
decorrência ao uso de antineoplásico (Tabela 6). Um estudo realizado por Castello
Branco et al., (2011) revelou parâmetros hematológicos de normalidade em Ratos
Wistar em seis biotérios. Os valores encontrados pelos autores foram: Hematócrito
de 34% a 46%; Contagem de células vermelhas de 6.200.000 a 8.400.00; Contagem
de células brancas de 5.000 a 14.000; Número de plaquetas de 150.000 a 796.000.
Na pesquisa atual encontrou-se: Hematócrito de 25,25% a 42,45%; Contagem de
células vermelhas de 4.605.000 a 6.881.667; Contagem de células brancas de 1.350
a 5.500; Número de plaquetas de 25.500 a 709.000 (Tabela 6). Os autores Tanideh
et al., (2014), também encontraram todas essas alterações nos hemogramas
realizados em seus animais de experimentação.
Os animais do estudo desenvolveram mucosite oral induzida em decorrência
da administração do 5-Fluorouracil em associação com a injuria na mucosa com
ácido acético a 50%. Os modelos pré-clínicos são necessários para compreensão da
patogênese da doença, porém os modelos atuais têm limitações inerentes. Por
exemplo, alguns modelos animais exigem lesão mecânica para indução da
ulceração. Nos pacientes humanos, a mucosa não precisa ser ferida
superficialmente para a mucosite se desenvolver. As doses e agendamento da
quimioterapia ou radioterapia, também não são necessariamente traduzíveis entre
animais e seres humanos. Apesar das limitações dos modelos animais, os estudos
pré-clínicos sobre o tratamento da mucosite oral e da dor associada são necessários
para que se conheça melhor a doença (VIET et al., 2014).
A massa inicial e final dos animais variou ao longo do experimento devido aos
efeitos secundários do 5-Fluorouracil, da mucosite oral e da redução da ingestão de
82
água e ração. Com 7 dias todos animais tiveram redução percentual de massa
semelhante. Com 14 dias de experimentação, os grupos Borneol 1,2% e Borneol
2,4% apresentaram menores percentuais de perda de peso em relação aos outros
dois grupos (Borneol 0% e Controle), provavelmente devido à maior ação do Borneol
na redução da inflamação e promovendo a cicatrização das lesões. Observou-se
uma perda aproximada de 12% da massa inicial em todos os grupos com 7 dias.
Com 14 dias, os grupos Borneol 1,2% e Borneol 2,4% tiveram maiores recuperações
de massa em comparação aos dois outros grupos (Borneol 0% e Controle). Aras et
al., (2013) observaram uma perda bem mais acentuada (17%) na massa inicial em
seus animais, que pode ser justificada pela maior dosagem de 5-Flourouracil
utilizada em seus experimento (165 mg/kg) que a nossa (90 mg/kg).
Com isso, após os testes clínicos, o dentista poderá desempenhar com mais
segurança, o importante papel na abordagem multidisciplinar em pacientes com
câncer e mucosite oral, proporcionando um tratamento detalhado, adequando a
cavidade oral do paciente pela eliminação de doenças e gerando menos sequelas
da quimioterapia e da radioterapia (MENEZES et al., 2014).
6.3 A experimentação, a análise histológica e a análise estatística. O fato dos ratos terem uma cavidade oral maior que a dos camundongos foi
determinante em nossa escolha, apoiada em estudos anteriores que recomendam o
uso desses animais em simulações de tratamentos de mucosite oral (LARA et al.,
2007; VILELA GOULART et al., 2008; ARAS et al., 2013; CAMPOS et al., 2015;
LIMA et al., 2015).
O 5-Fluorouracil (5-FU) foi inicialmente utilizado em duas dosagens de 100
mg/Kg (dia 0) e 60 mg/Kg (dia 2) (ARAS et al., 2013; CAMPOS et al., 2015), porém
causou efeito colateral severo nos ratos como alopécia severa, leucopenia
acentuada, diarreia, perda de peso e morte de 30 animais. Por esse fato, o estudo
teve que ser refeito com a utilização de uma dosagem menor de 5-FU, com três
injeções intraperitoneais de 30 mg/Kg nos dias 0, 2 e 4 (LARA et al., 2007; VILELA
GOULART et al., 2008; LIMA et al., 2015). Com isso, não houve perda de animais e
os mesmos apresentaram sinais e sintomas característicos da quimioterapia, porém
bem menores que no experimento anterior.
A indução da mucosite oral nos ratos foi realizada com sucesso,
estabelecendo-se a sequência cronológica do processo inflamatório. A resolução da
83
inflamação ocorreu a partir do momento em que os granulócitos foram eliminados e
a população de células mononucleares teciduais (macrófagos e linfócitos) retornou
ao número e fenótipo normais (SERHAN et al., 2007). Nesse estudo, encontrou-se
que em todos os grupos, no período inicial, ocorreu a presença de significativo
número de neutrófilos polimorfonucleares que diminuiu ao longo dos dias do
experimento.
Entre as complicações localizadas de maior interesse para os cirurgiões
dentistas são a mucosite oral, infecções bucais oportunistas (estomatites), função
glandular alterada, síndrome de ardência oral, xerostomia, dificuldade mastigatória,
cáries de radiação, hiperestesia dental, osteorradionecrose, doença periodontal,
trismo, hemorragia, disgeusia, dermatite crônica e fibrose tecidual (NEVILLE et al.,
2009).
Segundo Robbins e Cotran (2010), inflamação aguda é uma rápida resposta
do hospedeiro que serve para levar leucócitos e proteínas do plasma, tais como
anticorpos, para os locais de infecção ou tecido injuriado. Apresenta como
componentes a alteração do calibre vascular que leva a um aumento no fluxo
sanguíneo; mudanças estruturais nos vasos sanguíneos permitindo a passagem de
leucócitos e seu acúmulo no foco da injúria e sua ativação para eliminar o agressor.
De forma que os resultados de uma inflamação aguda são a resolução completa,
cura por substituição do tecido conjuntivo (fibrose) e a progressão para uma
inflamação crônica. As principais células migratórias encontradas no início dos
processos inflamatórios agudos são os Polimorfonucleares (neutrófilos, eosinófilos e
basófilos), enquanto os Mononucleares (linfócitos e plasmócitos) são mais
frequentemente encontrados nas fases mais tardias das reações inflamatórias. Ao
longo do tempo, se não houver complicações, o número de células inflamatórias vai
gradativamente diminuindo.
Os géis apresentaram ação anti-inflamatória, pois diminuíram a quantidade de
células inflamatórias no local da lesão nos primeiros sete dias de experimento, ou
seja, um menor infiltrado inflamatório em comparação ao Borneol 0% e ao controle.
Com 14 dias, a redução dessas células no local da lesão se deu de maneira
significante nos grupos tratados (Borneol 1,2% e Borneol 2,4%). Esses achados
estão de acordo com estudo de Almeida et al., (2013), no qual os autores ratificaram
a ação do monoterpeno e apoiaram a tese de que essa substância possui potencial
terapêutico em doenças dolorosas e inflamatórias. Vilela-Goulart et al., (2008)
84
estudaram a mucosite oral induzida em ratos e observaram uma redução no número
de células inflamatórias no local da lesão em decorrência de ação anti-inflamatória
do tratamento. Tanideh et al., (2014) testaram a ação do extrato de Hypericum
perforatum L. para tratar mucosite oral induzida em seus animais. O extrato dessa
planta contém borneol (CIV, 2012) e foi administrado por gavagem e por via tópica,
com a utilização de um gel oral. O extrato apresentou ação anti-inflamatória e
cicatrizante, principalmente por via sistêmica.
Segundo Robbins e Cotran (2010), a cura de feridas muco-cutâneas é
dividida em três fases que são inflamação, proliferação e maturação. A lesão inicial
leva a formação do coágulo que conduz a inflamação. Na fase proliferativa há a
formação de tecido de granulação, proliferação e migração de células do tecido
conjuntivo (fibroblastos e células do endotélio vascular que formam pequenos vasos
sanguíneos) e reepitelização na superfície da ferida. Com sete dias, o tecido de
granulação preenche toda e ferida e a neovascularização atinge o seu ponto
máximo. Por fim, a maturação envolve a deposição de matriz extracelular rica em
colágeno, o remodelamento do tecido e a contração da ferida. Nesse momento, a
quantidade de neutrófilos diminui e aumenta os macrófagos que fagocitam os restos
de tecido e outros materiais estranhos, dando condições para os fibroblastos
produzirem colágeno e fibronectina.
Os grupos tratados (Borneol 1,2% e Borneol 2,4%) apresentaram uma menor
quantidade de vasos sanguíneos que os grupos Gel base e Controle. Se por um
lado a cicatrização depende da neoformação de vasos sanguíneos, por outro lado, o
excesso no surgimento e a permanência por mais tempo desses vasos, pode
denotar a existência de inflamação crônica ou uma lesão tecidual persistente
(Fibrose). Fibrose é definida como deposição excessiva de colágeno e outros
componentes da matriz extracelular em um tecido submetido à inflamação crônica
(ROBBINS; COTRAN, 2010). Na análise histológica dos vasos sanguíneos, o grupo
controle apresentou um grande número de vasos sanguíneos no processo final da
cicatrização em comparação com os animais dos outros grupos (G2 e G3). Este fato
nos mostra que no grupo controle, o processo de cicatrização necessitou de uma
demanda maior de angiogênese para a formação do tecido de granulação
(ABRUCEZE, 2013).
Em estudo realizado por Lemos (2008), a angiogênese se mostrou como um
importante fator no desenvolvimento do processo fibroso, uma vez que precedeu o
85
depósito do colágeno, em todos os modelos estudados, independente do agente
etiológico. Até pouco tempo a angiogênese era vista apenas no contexto do
processo de reparo, onde naturalmente, após processo inflamatório crônico, o tecido
lesado iniciaria um depósito de material conjuntivo na tentativa de reparar os danos
causados ao tecido. Hoje, sabe-se que a angiogênese excessiva pode levar a
fibrose e a persistência da inflamação crônica.
O estímulo à proliferação de vasos sanguíneos é dado pelo Fator de
Crescimento do Endotélio Vascular (VEGF). Alguns fatores estimulam a expressão
da VEGF na angiogênese, a isquemia, assim como o aumento de certos fatores de
crescimento são os responsáveis pelo aumento da expressão do VEGF na
inflamação crônica e na cicatrização (NAGY et al., 2007). Como tecido inflamado
geralmente está em hipoxia, a inflamação pode promover a angiogênese induzindo a
liberação de fatores angiogênicos, levando a fibrose. O borneol apresentou ação
anti-fibrótica comprovada em estudo de Dai et al., (2009), no qual o monoterpeno
controlou a proliferação de fibroblastos. Eles mostraram que o borneol é benéfico
para a cicatrização da mucosa e pode ser usado com segurança como um
potenciador de penetração para outras substâncias.
Tanideh et al., (2014) também observaram aumento da estimulação da
produção de colágeno pela aplicação tópica de gel de Hypericum perforatum L., o
que ajudou na reparação das feridas, fechando a área danificada da mucosa oral
dos seus animais. Esse fato pode estar associado à ação bactericida do borneol, o
que impede a infecção secundária por fungos e bactérias, favorecendo a
reepitelização e a normalização do conteúdo de fibras colágenas (Tabanca et al.,
2001; Wenqiang et al., 2006).
86
7 CONCLUSÃO Os géis contendo borneol (1,2% e 2,4%) se mantiveram estáveis aos testes
de estabilidade e se mostraram eficazes no tratamento da mucosite oral induzida em
ratos quando comparados aos outros grupos (Borneol 0% e Controle). Além do
mais, os produtos mostraram adesividade nas mucosas dos animais e com
características tixotrópicas, o que facilitou a permanência do gel por mais tempo nos
locais das lesões, com isso, otimizando os efeitos locais do borneol.
O grupo G3 (Borneol 2,4%) foi estatisticamente superior aos outros três
grupos na avaliação semiquantitativa (escores de cicatrização), promovendo
aumento na reepitelização e cicatrização da mucosite oral quimicamente induzida.
Ambos os géis (Borneol 1,2% e Borneol 2,4%) foram eficazes nos parâmetros
avaliados: percentual de perda de peso, quantidade de células inflamatórias, número
de vasos sanguíneos e percentual de colágeno neoformado. Não houve diferenças
significantes (p< 0,05) entre os dois géis. Nesse caso, é preferível utilizar dose
menor por risco de ingestão, e com isso, a possibilidade de apresentar efeitos
tóxicos.
A constatação da ação anti-inflamatória e cicatrizante do borneol em
mucosites orais em ratos é um forte indicativo desta atividade para extratos vegetais
que sejam ricos nesta molécula. Diante desses resultados é possível afirmar que o
borneol apresentou ação anti-inflamatória e cicatrizante em mucosites orais
induzidas na mucosa jugal de ratos Wistar.
87
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ANEXO C - ARTIGO ACEITO PELO BRAZILIAN JOURNAL OF PHARMACEUTICAL SCIENCES (QUALIS B2 – FARMÁCIA).
Anti-inflammatory and healing action of oral gel containing borneol
monoterpene in chemotherapy-induced mucositis in rats (Rattus norvegicus).
Braz José do Nascimento-Júnior1,3*, Lucas de Souza Brito2, Walquíria Nunes Barros3, Daniela
Marques Gonçalves3; Luana de Souza Matos3, Cínthia Reyjane Borges Nascimento3, Luciano
Augusto de Araújo Ribeiro3, Ricardo Santana de Lima2 , René Geraldo Cordeiro Silva-Júnior4,
Sílvio Alan Gonçalves Bomfim Reis5, Talita Mota Gonçalves2, Elba Lúcia Cavalcanti de
Amorim1
1Department of Pharmacy, Faculty of Pharmacy, Post Graduation Program in
Pharmaceutical Sciences, Federal University of Pernambuco, Recife, PE, Brazil, 2Department of Pathology, Faculty of Medicine, Federal University of São Francisco
Valley, Petrolina, PE, Brazil, 3Department of Pharmacy, Faculty of Pharmacy,
Federal University of São Francisco Valley, Petrolina, PE, Brazil, 4Department of
Experimental Practice, Faculty of Veterinary Medicine, Federal University of São
Francisco Valley, Petrolina, PE, Brazil, 5Laboratory of Pharmacotechniques in
Medicinal Plants, Department of Pharmacy, Faculty of Pharmacy, Federal University
of São Francisco Valley, Petrolina, PE, Brazil,
*Correspondence
B. J. Nascimento-Júnior
Departamento de Farmácia
Faculdade de Farmácia
Universidade Federal de Pernambuco
CEP: 56304-917 - Av. José de Sá Maniçoba, S/N – Centro - Petrolina/PE, Brazil.
Phone: +55 87 98807-5035; +55 87 2101-6862
E-mail: [email protected]
The aim of this study was to investigate the effect of gels containing the monoterpene
borneol in induced oral mucositis using an animal model. Gels were prepared with
borneol at 1.2% and 2.4% (w/w). Oral mucositis was induced by administration of
three doses of 5-fluorouracil (30 mg/kg, i.p.) and injury with acetic acid (50%, v/v)
soaked in filter paper applied to right cheek mucosa for 60s. Four subgroups
comprising 12 animals each were formed. Six animals from each group were
105
sacrificed at days seven and fourteen after oral mucositis induction. Mucous samples
were processed and stained with hematoxylin-eosin and Masson’s Trichrome. The
semiquantitative evaluation involved observation of inflammatory parameters.
ImageJ® software was used in the quantitative evaluation. For statistical analyses,
Two-way ANOVA, followed by Tukey's post-test (p <0.05), were employed.Borneol
2.4% gel proved effective in the treatment of oral mucositis with statistically
significant differences between groups for angiogenesis control, inflammatory cell
count reduction and percentage neoformed collagen increase. The confirmation of
anti-inflammatory and healing action of borneol in oral mucositis in rats renders it a
good marker for predicting this activity for plant extracts rich in this substance.
Uniterms: bornyl alcohol, Chemotherapy, Palliative care.
INTRODUCTION
The clinical manifestations most commonly associated with treatment of
cancer of the oral cavity are oral mucositis (OM), osteoradionecrosis, dry mouth,
radiation caries, trismus, opportunistic infections and dysphagia, among others. OM
is an important complication of oncological treatments such as head and neck
radiotherapy, chemotherapy and Hematopoietic Stem Cell Transplantation (HSCT),
autologous or allogeneic, having a prevalence of 75%–99%. (Simões et al., 2011;
Patussi et al., 2014). Therefore, the healthcare team should have a broad knowledge
of all oral complications of anticancer therapy in order to improve patients´ quality of
life (Sera et al., 2013).
Among the different oral manifestations, mucositis is the most common and
distressing condition that develops as an acute adverse effect of chemotherapy and
radiotherapy of the head and neck and is one of the leading causes of disability that
limits cancer therapy dose. This complication leads to therapy alteration, dose
reduction, delay, interruption or termination and can negatively affect the healing
process. It is clinically characterized by erythematous and ulcerative lesions that
affect the vermilion of the lips and oral mucosa (Smith et al., 2007).
The use of medicinal plants and herbal medicines represents a good
alternative treatment approach for this patient group. Products containing Aloe vera
L., Leptospermum scoparium J.R. e G. Forst and Kunzea ericoides A. Rich have
been used to treat oral mucositis with satisfactory results (Rodriguez-Caballero et al.,
106
2012; Freitas et al., 2014.). Chamomile has been used in the treatment of OM with
promising results (Dos Reis et al., 2016; Braga et al., 2015; Curra et al.,2013; Pavesi
et al., 2011)
Also, Hypericum perforatum L. extract, whose phytocomplex contains borneol,
has shown anti-inflammatory and healing action in oral mucositis animal models both
systemically and locally through oral gel (Tanideh et al., 2014). Borneol (Figure 1) is
a monoterpene, bicyclic aromatic alcohol, present in many essential oils of medicinal
plants of the Dipterocarpaceae, Lamiaceae (Rosmarinus officinalis L., Thymus
vulgaris L. and Salvia officinalis L.) (Dipterocarpus turbinatus Gaertn.) Valerianaceae
(Valeriana officinalis L.) and Asteraceae (Matricaria chamomilla L.) families
(Horváthová et al., 2009; Borges et al., 2012). In Chinese and Indian folk medicine,
borneol is used in the treatment of sore throats, mouth sores, wounds, burns and
skin infections (Liu et al., 2009; Kong et al., 2014). Some studies indicate that
borneol has analgesic, anti-inflammatory, antioxidant, antibacterial and healing
actions (Horváthová et al., 2009; Liu et al., 2009; Barreto, 2013).
FIGURE 1 - Chemical structure of borneol (monoterpene, bicyclic aromatic alcohol).
Although borneol has been shown to be effective in lesions of the oral cavity,
the literature reports no pre-clinical models demonstrating its action in oral mucositis.
In order to fill this gap, the present study was conducted investigating the action of
gels containing borneol in 5-Fluorouracil-induced oral mucositis using an animal
model with Wistar rats.
107
MATERIALS AND METHODS
Plant Material
(+)-Borneol 97% was obtained in isolated and powder form (420247 - Sigma Aldrich,
USA), Synonym: endo-(1R)-1,7,7-Trimethylbicyclo[2.2.1] heptan-2-ol; CAS
Number: 464-43-7; Empirical Formula: C10H18O; Molecular Weight 154.25; Lot #
BGBB9812V. Preparation of aristoflex® gels containing borneol and stability tests.
Aristoflex polymer was mixed with methylparaben in water at ambient
temperature under stirring at 400 rpm (Heidolph RZR stirrer, Germany) for 30
minutes to complete gelation. The mixture was then incorporated into (+)-borneol
powder (Sigma-Aldrich, USA) at concentrations of 1.2% and 2.4%. The gels thus
obtained (30 g each, containing borneol at concentrations of 0%, 1.2% and 2.4%)
were packaged, labeled and analyzed for organoleptic (appearance, color and odor)
and physico-chemical (pH, conductivity and viscosity) parameters and also for both
primary and accelerated stability (Oliveira, 2009).
Animals
Male Wistar rats (300-350 g, 12-16 weeks, n = 48) were acclimatized for six
days prior to experiments and housed during the experimental period at 22 ± 2 ° C
under a 12/12h light-dark cycle with access to feed and water ad libitum. After the
onset of oral mucositis, the animals were tagged and randomly distributed into four
subgroups of 12 animals each: G1 Group (Borneol 0%); G2 Group (Borneol 1.2%);
G3 Group (Borneol 2.4%); and G4 group (Control). All animals were weighed at the
beginning and end of the experiment for clinical evaluation. Another 24 animals were
used in pilot tests for dose and technique adjustments, but not included in the results
of the study. The project was submitted to the Research Ethics Committee on the
use of animals (CEUA - UNIVASF) and was approved under permit 0001/140814 on
June 2nd, 2015.
Chemotherapy-induced oral mucositis
Oral mucositis was induced by administration of the 5-fluorouracil
chemotherapy drug (Eurofarma, São Paulo, Brazil) on days 0, 2 and 4 (30 mg/kg,
i.p.) according to Lima et al. (2015). On day two, the animals were anesthetized
[ketamine hydrochloride 10% (50 mg/kg) and xylazine hydrochloride 2% (5 mg/kg
i.p.), 0.4 ml per animal] and right cheek mucous chemically injured by applying 9 mm2
filter paper soaked in 10 µl of solution [glacial acetic acid 96% (50%, v/v) in distilled
water] for 60 seconds (Figures 2A, 2B and 2C).
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FIGURE 2 - Experimental procedure for testing. A. Placement of filter paper soaked in 50% acetic
acid; B. Contact time with cheek mucosa of 60 s; C. Aspect of standardized lesion (9 mm2) after filter
paper removal; D. Appearance of gels used in treatments.
Treatment subgroups
The G1, G2 and G3 Groups received a daily application of gels at
concentrations of 0%, 1.2% and 2.4%, respectively, using disposable flexible swabs
(Figure 2D). The G4 Group (Control) received topical application with distilled water.
After the application, all animals were prevented from drinking water or eating for 30
minutes to allow time for the gels to act (Tanideh et al., 2014). The treatments were
administered from the third to 13th day after injury with acetic acid.
Mucous removal and histology procedure
Six animals from each group were sacrificed by deep anesthesia [ketamine
hydrochloride 10% (100 mg/kg) and xylazine hydrochloride 2% (10 mg/kg) i.p., 0.5 ml
per animal] on days seven and fourteen after injury. Subsequently, right cheek
mucous was removed from each animal with surgical scissors and scalpel blade
number 15 and placed in 10% neutral buffered formalin solution for 48h (Akgullu et
al., 2015).
Specimens were dehydrated, diaphonized, embedded in paraffin and cut
transversely into 5 µm-thick slices on a microtome (Leica Biosystems, Wetzlar,
Germany). Mucous samples were stained with hematoxylin-eosin (HE) and Masson’s
109
trichrome. All sections were mounted on glass slides with cover slips using Entellan
(Merck, Darms tadt, Germany) for microscopy.
Histological evaluation
Fields were scanned using a Leica® DM2500 microscope (Leica Biosystems,
Wetzlar, Germany) under x4 and x10 objective lenses, coupled to a CELESTRON®
Digital Microscope Imager Model 44421 camera (Torrance, California, United States)
using the software supplied with the digital camera. The same light intensity was
used in all digitalization; images were acquired in RGB format at a resolution of 2048
X 1536 pixels with JPEG extension. For quantitative analysis, the ImageJ® program
was employed using the plugin "Cell Counter" and the number of inflammatory cells
and amount of blood vessels stained with HE on the slides were measured. To
evaluate percentage collagen, the slides stained with Masson's trichrome were
photographed and then processed using ImageJ® and the Threshold plugin to
measure percentage collagen at the injury site (Vilela-Goulart et al., 2008).
The semiquantitative analysis was performed by a blinded evaluator who observed
inflammatory parameters including presence of cellular inflammatory infiltrate,
vasodilatation, necrosis, ulceration, abscess, hemorrhage and edema. These
parameters were attributed scores of 0-3, as described by Lima et al. (2005): Score 0
- normal epithelium and connective tissue without vasodilatation; absence of, or mild,
cellular infiltration; absence of hemorrhagic areas, ulcerations or abscesses; Score 1
- mild vascular ingurgitation, re-epithelization areas; mild inflammatory infiltration with
mononuclear prevalence; absence of hemorrhagic areas, edema, ulcerations or
abscesses; Score 2 - moderate vascular ingurgitation, areas of hydropic epithelial
degeneration, inflammatory infiltration with neutrophil prevalence, presence of
hemorrhagic areas, edema and some ulcerations, absence of abscesses; Score 3 -
severe vascular ingurgitation and dilatation, inflammatory infiltration with neutrophil
prevalence, presence of hemorrhagic areas, edema and extensive ulceration and
abscesses.
Statistical analysis
Comparisons for all variables were performed independent of day, between
days, independent of group and between groups. Quantitative and semiquantitative
variables were expressed as means. For comparisons, the two-way ANOVA test,
followed by Tukey's post-test, was used for comparisons. In all tests, p ≤ 0.05 was
adopted for the level of rejection of the null hypothesis for significant values.
110
RESULTS AND DISCUSSION
The formulation developed was stable and transparent with a smooth texture,
homogeneous appearance and characteristic aroma. Borneol 0% had pH = 5.0;
Conductivity = 100.0 mV; Viscosity = 58,500 mPa.s; and centrifugation without phase
separation. Borneol 1.2% had a pH = 4.7 ± 0.1; Conductivity = 120.2 ± 0.5 mV;
Viscosity = 45,360 mPa.s; and centrifugation without phase separation. Borneol 2.4%
had a pH = 4.5 ± 0.2; Conductivity = 139.0 ± 1.5 mV; Viscosity = 55,560 mPa.s; and
centrifugation without phase separation. Acid pH values were expected because the
Aristoflex® gel base was formulated with a pH of 5.0. In a previous study, the same
gel base had a pH of around 5.0, no phase change and good viscosity (Russo et al.,
2008). Furthermore, borneol is also considered an acid pH substance (Xiao-Fei et al.,
2008). Dantas et al. (2016) used a topical gel formulation with 5% borneol which had
a pH of 3.95.
FIGURE 3 – Wound healing score according to group and day of experimentation. ap<0.05: Control
vs. Borneol 2.4% (7 days) ; bp<0.05: Borneol 0% vs. Borneol 2.4% (7 days). cp<0.05: Control vs.
Borneol 2.4% (14 days). dp<0.05: Borneol 0% vs. Borneol 2.4% (14 days). (Two-Way Analysis of
Variance ANOVA, followed by Tukey's post-test).
At day seven, a statistically significant difference (p <0.05) in scores was found
for the G3 group (Borneol 2.4%) compared with both the G1 (Borneol 0%) and G4
(Control) groups. This result indicated better healing for Borneol 2.4% (Figure 3). G1
111
Group (Borneol 0%) exhibited extensive ulcers and hydropic degeneration,
spongiosis and exocytosis. Connective tissue (CT) showed moderate and diffuse
presence of polymorphonuclear cells (PMNs) with areas of necrosis and bleeding.
The G2 Group (Borneol 1.2%) showed ulcerated areas, hydropic degeneration,
spongiosis and exocytosis. CT showed areas of necrosis, presence of some
congested blood vessels, as well as moderate and diffuse presence of PMNs. The
G3 Group (Borneol 2.4%) had discrete hydropic degeneration, spongiosis, and partial
reepithelialization in five animals. CT showed PMNs and the presence of few
congested blood vessels. The G4 Group (Negative control) exhibited ulcerated
areas, hydropic degeneration, spongiosis and intense exocytosis. CT had edema and
necrosis, moderate congested blood vessels, as well as moderate and diffuse
presence of PMNs (Figure 4).
FIGURE 4 - Microscopic aspects of groups at seven days of experimentation. A Group treated with
gel base (Borneol 0%); B Group treated with gel (Borneol 1.2%); C Group treated with gel (Borneol
2.4%); and D Group (Negative control). PMN = Polymorphonuclear cells; BV = Blood vessel; U =
Ulcerated area; E = Exocytosis; ED = edema. Magnification x10. HE staining.
At day 14, a statistically significant difference (p <0.05) in scores was found for
the G3 group (Borneol 2.4%) compared with both the G1 (Borneol 0%) and G4
(Control) groups. This result indicated better healing for Borneol 2.4% (Figure 3). G1
Group (Borneol 0%) showed hyperkeratosis and full reepithelialization. CT had
112
congested blood vessels, as well as moderate and diffuse presence of Mononuclear
(MN) cells. The G2 Group (Borneol 1.2%) showed reepithelialization but with more
blood vessels in G3. CT showed numerous clogged blood vessels and a diffuse mild
chronic inflammatory process. The G3 Group (Borneol 2.4%) had a normal aspect
and full reepithelialization. CT showed normal features, in addition to granulation
tissue with fibroblasts, congested blood vessels and discrete, diffuse presence of
MN. The G4 Group (Negative Control) had acanthosis (thickened spinous layer) with
loss of integrity of basal membrane and exocytosis. Epithelialization occurred with
different morphology in four animals. The CT was found to contain a large amount of
granulation tissue with fibroblasts, congested blood vessels and chronic inflammatory
infiltrate (Figure 5).
FIGURE 5 - Microscopic aspects of groups at fourteen days of experimentation. A Group treated
with gel base (Borneol 0%); B Group treated with gel (Borneol 1.2%); C Group treated with gel
(Borneol 2.4%); and D Group (Control). RE = reepithelialization; HK= Hyperkeratinization; BV = Blood
Vessel; MN = Mononuclear; AC = acanthosis. Magnification x10. HE staining.
At seven days, the group treated with Borneol 2.4% showed a lower number of
vessels than the other groups (G1, G2 and G4). The G3 Group showed statistical
significance (p <0.05) when compared to the three other groups. The G2 Group
(Borneol 1.2%) showed statistically significant differences when compared to both
113
the G1 Group (Borneol 0%) and Control Groups. There were no differences between
the G1 and Control Groups. At 14 days, there was statistical significance between all
cross comparisons except the G1 Group and Control Group (Figure 6).
Control
Borneo
l 0%
Borneo
l 1.2
%
Borneo
l 2.4
%
0
5
10
15
207 days14 days
a
aa,b
b
c d
c,d
c,d
FIGURE 6 - Vessel count according to group and day of experimentation on anti-inflammatory
activity test of oral gel containing different concentrations of borneol. ap<0.05: Control vs. Borneol
1.2% and Borneol 2.4% (7 days) ; bp<0.05: Borneol 0% vs. Borneol 1.2% and Borneol 2.4% (7 days). cp<0.05: Control vs. Borneol 1.2% and Borneol 2.4% (14 days). dp<0.05: Borneol 0% vs. Borneol 1.2%
and Borneol 2.4% (14 days) (Two-Way Analysis of Variance ANOVA, followed by Tukey's post-test).
While healing depends on the neoformation of blood vessels, persistent or
excessive vessels may denote the existence of chronic inflammation or fibrosis
(Abbas et al., 2010). On histological analysis of the blood vessels, the Control Group
showed a greater number of blood vessels in the final process of wound healing
compared to the other groups (G2 and G3). This indicates that the healing process in
the Control Group required a greater angiogenesis for the formation of granulation
tissue (Abruceze, 2013).
The proliferation of blood vessels is stimulated by vascular endothelial growth
factor (VEGF). Some factors stimulate the expression of VEGF in angiogenesis and
ischemia, while increases in certain growth factors are responsible for the elevated
VEGF expression in chronic inflammation and wound healing. The inflamed tissue is
generally in hypoxia, where inflammation may promote angiogenesis by inducing the
release of angiogenic factors leading to fibrosis (Nagy et al., 2007). According to a
study by Dai et al. (2009), borneol showed anti-fibrotic action.
114
Regarding inflammatory cell count, the gels containing borneol at
concentrations of 1.2% and 2.4% exhibited anti-inflammatory action at seven and 14
days, reducing the number of these cells at the injury site. The Control Group and
Borneol 0% groups, at seven days, showed a much more intense inflammatory
process than the treated groups (Borneol 1.2% and Borneol 2.4%), but no
differences were observed between the two borneol concentrations. Cell infiltrates
were less intense in all groups at 14 days. Differences were observed between the
G1 Group and G3 Group and also between the two gels (Borneol 1.2% and Borneol
2.4%) compared to the Control Group, but no differences between the two
concentrations were evident (Figure 7).
FIGURE 7 - Inflammatory cell count according to group and day of experimentation. ap<0.05:
Control vs. Borneol 0%, Borneol 1.2% and Borneol 2.4% (7 days) ; bp<0.05: Borneol 0% vs. Borneol
1.2% and Borneol 2.4% (7 days). cp<0.05: Control vs. Borneol 1.2% and Borneol 2.4% (14 days)
(Two-Way Analysis of Variance ANOVA, followed by Tukey's post-test).
The findings for number of inflammatory cells corroborate the results of the
study by Almeida et al. (2013), in which the authors confirmed the action of
monoterpene and suggested that the substance has therapeutic potential in painful
and inflammatory diseases. Tanideh et al. (2014) tested the action of Hypericum
perforatum L. extract for treating induced oral mucositis in animals. The extract of this
plant contains Borneol (CIV, 2012) and was administered by gavage (systemically)
115
and locally via an oral gel. The extract showed anti-inflammatory and healing action,
especially systemically.
In the present study, percentage collagen at seven days showed statistical
significance on comparison of the G1 Group (Borneol 0%) with the G3 Group
(Borneol 2.4%) and also on comparisons of the G2 Group and G3 Group with the G4
Group (Control). Comparison of the G2 and G3 Groups with the G4 Group also
proved significant at 14 days (Figure 8).
FIGURE 8 - Percentage collagen according to group. ap<0.05: Control vs. Borneol 1.2% and
Borneol 2.4% (7 days) ; bp<0.05: Borneol 0% vs. Borneol 2.4% (7 days). cp<0.05: Control vs. Borneol
1.2% and Borneol 2.4% (14 days). dp<0.05: Borneol 0% vs. Borneol 2.4% (14 days) (Two-Way
Analysis of Variance ANOVA, followed by Tukey's post-test).
Percentage collagen in the G2 and G3 Groups on slides stained with Masson's
trichrome was higher than in both G1 and G4 Groups at 14 days. This was due to the
healing effect of borneol which promoted greater formation of fibroblasts with better
collagen and fibronectin production in local lesions (Figure 9). Tanideh et al. (2014)
also observed increased stimulation of collagen production by topical gel Hypericum
perforatum L., which helped repair the wounds, closing areas of damaged oral
mucosa in the animals. This effect may be associated with the bactericidal action of
borneol, which prevents secondary infection by fungi and bacteria, promoting
116
reepithelialization and standardization of collagen fiber content (Tabanca et al., 2001;
Wenqiang et al., 2006).
FIGURE 9 - Microscopic aspects of groups at fourteen days of experimentation. G1 Group treated
with gel base (Borneol 0%); G2 Group treated with gel (Borneol 1.2%); G3 Group treated with gel
(Borneol 2.4%); and G4 Group (Control). Note the greater quantity of newly formed collagen in treated
groups (G2 and G3). Magnification x10. Masson’s trichrome.
All animals lost weight throughout the experiment due to the side effects of 5-
Fluorouracil, oral mucositis and reduction in water and feed intake. At 14 days of
experimentation, the Borneol 2.4% Group had a lower percentage of weight loss
relative to the other three groups (Borneol 0%, Borneol 1.2% and Control), probably
due to the greater action of Borneol 2.4% in reducing inflammation and promoting
wound healing (Figure 10).
117
FIGURE 10 - Percentage weight loss according to group and day of experimentation. ap<0.05:
Control vs. Borneol 1.2% and Borneol 2.4% (14 days). bp<0.05: Borneol 0% vs. Borneol 1.2% and
Borneol 2.4% (14 days) (Two-Way Analysis of Variance ANOVA, followed by Tukey's post-test).
CONCLUSIONS
The Borneol 2.4% Group was superior to the Borneol 1.2%, Borneol 0% and
Control Groups in the treatment of induced oral mucositis in rats, promoting
angiogenesis control, inflammatory cell count reduction at the injury site and
percentage neoformed collagen increase in reepithelialization. The G3 group
(Borneol 2.4%) was statistically superior to the other three groups on the
semiquantitative evaluation, promoting improvement in reepithelialization and healing
of chemotherapy-induced oral mucositis.
The confirmation of anti-inflammatory and healing action of borneol in oral
mucositis in rats renders it a good marker for predicting this activity for plant extracts
rich in this substance. The study results showed that borneol has anti-inflammatory
and healing action in induced oral mucositis in cheek mucosa of Wistar rats.
ACKNOWLEDGMENTS
The authors extend their thanks to the Pharmacist Dr. Emanuel Jair
Gonçalves Souza Carvalho (FARMACE) for help in the production of gels and to the
FACEPE for financing the study and awarding doctoral fellowships.
118
REFERENCES
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