TERRA SIGILLATA DA NECRÓPOLE ROMANA DO LARGO DAS FREIRAS, CHAVES

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GRUPO CULTURAL AQVAE FLAVIAE MONTALEGRE, OUTUBRO DE 2008 GRUPO CULTURAL AQVAE FLAVIAE ISSN 0871 - 4061 Revista aqvae flaviae Revista aqvae flaviae N.º41 DEZEMBRO 2009 N.º41 DEZEMBRO 2009 CONGRESSO TRANSFRONTEIRIÇO DE ARQUEOLOGIA

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GRUPO CULTURAL AQVAE FLAVIAE

MONTALEGRE, OUTUBRO DE 2008

GRUPO CULTURAL

AQVAE FLAVIAE

ISSN 0871 - 4061

Revista aqvae flaviae

Revista

aqvae flaviae

N.º41 DEZEMBRO 2009

N.º4

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009

CONGRESSO TRANSFRONTEIRIÇO

DE ARQUEOLOGIA

Publicação com o apoio de:

Capa:

Castro de San Cibran de Lás - Ourense

n.º1 - esgotada n.º2 - esgotada n.º3 - esgotada n.º4 - 3€ n.º5 - esgotada n.º6 - 3€ n.º7 - 6€

n.º8 - esgotada n.º9 - 8€ n.º10 - 6€ n.º11 - 6€ n.º12 - 6€ n.º13 - esgotada n.º14 - esgotada

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iSSN: 0871-4061

GruPO CuLturaL aQvae FLaviae

REVISTA AQVAE FLAVIAE

ReV. aQVae FLaVIae CHaVes n.º41 P.1-512 deZ. /2009

Grupo Cultural Aqvae Flaviae

Publicação SemestralPropriedade do grupo Cultural aqvae Flaviae

Sede e Redacçãosede do grupo Cultural aqvae Flaviae, Rua direita, 41 - 5400-220 Chaves

DirectorJúlio Montalvão Machado

Comissão Redactorialalípio Martins afonso, Firmino aires,

Isabel Viçoso, Júlio Montalvão Machado

Concepção Gráfica e Execução

nicola Papa sociedade de artes gráficas, Lda.

ISSN - 0871 - 4061

Depósito Legal - xxx

Tiragem

1100 exemplares

Preço15€

Os trabalhos enviados pelos colaboradores serão submetidos à apreciação da

Comissão redactorial que deliberará sobre a oportunidade e interesse da sua

publicação.

Os originais devem ser dactilografados em a4, a dois espaços.

a colaboração assinada é da exclusiva responsabilidade dos seus autores, não

refletindo necessariamente as opiniões da revista ou do G.C.a.F.

Índice

11 Práticas Funerárias da Idade do Bronze de Trás-os-Montes e da Galiza oriental

25 A recuperación dun contexto para un “tesouro” prehistórico: un proxecto de investigación e valorización patrimonial para O Monte Urdiñeira (Riós- A Gudiña, Ourense)

45 No limiar das ‘artes’? - questões em torno da permeabilidade de fronteiras temporais e espaciais da arte rupestre de Trás-os-Montes Ocidental

93 Dos enterramientos de la Edad del Bronce de la provincia de Ourense

107 Estudio de la cerámica del yacimiento de fosas de Fraga do Zorro

123 Repensando el passado: Cambio social e iconografía guerrera en la edad del hierro del noroeste de la Península Ibérica

153 Cultura de frontera. O distrito de Vila Real e a zona meridional da província de Ourense na Idade do Ferro

161 Entre Lusos, Bibalos e Tamagani: a Arqueoloxía transfronteiriza de X. Taboada Chivite

183 Geo-historiografia do programa de investigação arqueológica de Santos Júnior – o Castro de Carvalhelhos

195 La Ocupación del Espacio Común y Privado en la Citania de San Cibran de Lás

209 O Crastoeiro e a ocupação da vertente Oeste do Monte da Senhora da Graça, Mondim de Basto (Norte de Portugal)

219 Generalidades e particularidades da ourivesaria castreja transmontana:Os torques flavienses

237 Patrones de situación de los asentamientos tipo castro en la Comarca de As Frieiras (Orense)

253 Trísceles, Tetrásceles e motivos afins em elementos arquitectónicos castrejos

269 Características castrejas dos povoados do concelho de Vila Pouca de Aguiar

285 Minería romana en la cuenca meridional de los ríos Sil y Miño

303 A mineração romana no conjunto mineiro Chaves/Boticas/Montalegre

311 A exploração mineira nas Olgas (Redondelo, Chaves)

319 A la vera del Larouco: reflejos de la huella Galaico-Romana

333 El poblamiento Romano en la Galicia Oriental: Patrones y diferencias del sur lucense y el norte ourensano. La tierra de Lemos como paradigma

353 Tempos de ocupação castreja e romana em torno da ponte da Misarela e do rio Rabagão

375 A Necrópole Romana do Largo das Freiras em Chaves

385 Terra sigillata da necrópole romana do Largo das Freiras, Chaves

417 Resultados das escavações arqueológicas de 2007 e 2008 realizadas no complexo mineiro Romao de Tresminas e Jales

433 Sobre los orígenes y evolucion de las primeras iglesias rurales en la alta edad media: el caso de Terra de Celanova (Ourenese)

449 Fortificaciones de frontera y paisajes fortificados: Verín, Monterrei y Chaves

467 La Basílica de la Ascensión y Os Fornos (Allariz, Ourense)

479 El Monasterio de San Pedro de Rocas (Esgos, Ourense). La problemática de la datacion e interpretación de un edificio excavado en roca

489 Las distintas transformaciones espaciales y funcionales del Pazo Prioral de la Colegiata de Santa María de Xunqueira de Ambía (Xunqueira de Ambía, Ourense)

499 Silhas do antigo concelho de Ermelo: um projecto de estudo e valorização do património de Mondim de Basto

teRRA sigiLLAtA dA necRóPoLe RoMAnA doLARgo dAs FReiRAs, chAvesTeRRA SigiLLATA FROM The ROMAn CeMeTeRY OF The “FReiRASSQuARe”, ChAveS

Resumo: A terra sigillata, objecto desta publicação, integra a totalidade dos fragmentosde terra sigillata da escavação arqueológica realizada em 2000 pela Câmara municipal de Cha-ves no Largo General Silveira, vulgarmente conhecido como Largo das Freiras, do centro his-tórico da Cidade de Chaves, sob a direcção do Dr. Sérgio Carneiro. A maioria dos fragmentosanalisados provem de unidades estratigráficas preservadas, o que nos permite contextualizarcronologicamente os vestígios exumados. Neste estudo é feita a análise pormenorizada de 778fragmentos de terra sigillata, a identificação da forma e a descrição exaustiva de cada peça, oque permite indicar as cronologias e a proveniência das importações.

Palavras-chave: Terra Sigillata; Formas; Cronologia; Aquae Flaviae.

Abstract : The object of this publication is the terra sigillata assemblage from the archeolog-ical excavations carried through in 2000 by city council of Chaves at the General Silveira square,commonly known as “Largo das Freiras”, under the supervision of Sérgio Carneiro. Most of the frag-ments under study come from archaeological features found in situ. This study analyses the 778 frag-ments in detail, identifying the form and thoroughly describing each one, allowing the chronologicalcontextualization of the features excavated and shedding light on the imports of Aquae Flaviae.

Keywords: Terra Sigillata; Forms; Chronology; Aquae Flaviae

1. Metodologia1.1. Proveniência e composição da amostraNo presente trabalho foram inseridos a totalidade dos fragmentos prove-

nientes da intervenção arqueológica realizada em 2000 no Largo General Sil-veirai do centro histórico de Chaves.

A necessidade do estudo destes materiais deve-se ao facto deste tipo dematerial permitir em comparação com outros uma datação pormenorizada das

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Rui Lopes

CâMArA MUnICIPAl de CHAveS, [email protected]

unidades estratigráficas. Por outro lado há uma preocupação em dar continua-ção ao estudo anterior sobre as sigillatas, também de intervenções arqueológi-cas do centro histórico (CARNEIRO e LOPES, 2005). Estes tipos de estudospermitem comparar a percentagem dos vários fabricos, pois estes dados sãoimportantes sobretudo quando comparados com outras localidades.

Esta amostra é composta por 778 fragmentos de sigillata, dos quais 753são de fabrico hispânico e 25 de fabrico sudgálico. Todos os fragmentos estãoreferenciados pelo nº de peça, pelo acrónimo dado à intervenção arqueológicae pela unidade estratigráfica.

1.2. critérios de quantificação Existem diversos métodos de quantificação de sigillatas, uns dão mais

importância à classificação tipológica como é o caso de S. Cucufate, onde foiinserido no estudo apenas as peças que permitiram a identificação da forma(ALARCÃO; ÉTIENNE; MAYET, 1990), no caso de Represas foram conta-bilizados os fragmentos que permitiram uma atribuição de forma, mas tambémos fragmentos de bordo e pança indeterminados (LOPES, 1994). Neste trabalhotal como no anterior (CARNEIRO e LOPES, 2005) inserimos todos os frag-mentos de sigillata provenientes das escavações, mesmo aqueles mais dimi-nutos. Todos estes fragmentos provêm de contextos estratigráficos preservados.

1.3. A ficha Para facilitar o acesso à informação do inventário cerâmico e o manuseamento

da mesma elaborou-se uma ficha para cada peça. Esta funcionou como uma espéciede “bilhete de identidade” da peça, que permitiu a criação de uma base de dados,a qual contêm os elementos fundamentais para a caracterização de uma peça.

A ficha é composta por vários campos ordenados de acordo com o graude importância dos elementos de caracterização. No primeiro campo teve-seem conta a identificação da peça, o sítio e o local de armazenamento, de acordocom o registo do inventário geral do Gabinete de Arqueologia de Chaves. Osegundo campo destina-se à descrição da peça, onde consta o fabrico, a possí-vel cronologia, o nº de fragmentos, a descrição da pasta e verniz, a classificaçãotipológica, os elementos decorativos/grafitos, a oficina e por fim a descriçãomorfológica da peça.

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Através destas fichas foi possível criar uma base de dados que possibilitouum estudo mais aprofundado sobre o espólio e a estratigrafia do local inter-vencionado e por fim a elaboração do catálogo deste trabalho.

1.4. A descrição da sigillata (pastas e vernizes) Para a descrição da terra sigillata elaborou-se um grupo de pastas e vernizes

de acordo com os vários tipos de fabricoii. Na identificação dos diferentes fabricosde sigillata observamos a pasta e o verniz à luz solar, recorrendo sempre a umalupa e à tabela de cores Munselliii, para a pasta privilegiamos a compacticidade,o grau de dureza, a porosidade, a textura e a cor, para o verniz tivemos em contaa cor, o brilho, a espessura, o grau de aderência e por fim a conservaçãoiv.

Dentro de cada fabrico houve a necessidade de criar vários grupos de pas-tas e vernizes, sempre recorrendo ao código de cores do Munsell. Para a terrasigillata sudgálica criámos três grupos de pastas e quatro de vernizes:

Pasta (s1): é dura, fina e compacta um pouco esponjosa de fractura con-coidal com pequenos e finos elementos não plásticos de calcite, com vaçouloscirculares, de cor castanho/vermelho queimado (10R/5/6);

Pasta (s2): é medianamente dura, compacta, esponjosa, de fractura polidacom frequentes elementos não plásticos visíveis a olho nu, mas sempre em pe-quenas dimensões. A sua cor é muito mais clara que a anterior, próximo dovermelho claro (10R/6/8);

Pasta (s3): é dura, fina, com pequenos elementos não plásticos, com rarosvaçoulos, algo esponjosa, de fractura recta de cor vermelho alaranjado (2.5YR5-4/8);

Verniz (s1): é fino, brilhante e espesso, resistente, de boa qualidade, decor vermelho coral (10R/4/8);

Verniz (s2): é pouco brilhante por vezes mesmo baço, algo estaladiço, deespessura média, com fraca aderência, encontra-se normalmente já em fase dedecomposição, de cor vermelho acastanhado (10R/5/8);

Verniz (s3): é de bom fabrico, pouco brilhante não tão resistente como overniz (s1), de espessura média e a sua cor é vermelho e varia entre (2.5YR/4/4)e (2.5YR/4/6);

Verniz (s4): é de fraco fabrico, baço, de espessura média e encontra-semuito mal conservado de cor vermelho alaranjado (2.5YR 5-4/8).

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Para a terra sigillata hispânica criámos nove tipos de pastas e sete tiposde vernizes:

Pasta (h1): é fina, dura, de fractura recta com alguns vaçoulos circulares,com pequenos elementos não plásticos bem distribuídos, a cor é vermelho claro(2.5YR/6/4)

Pasta (h2): é fina, muito dura, de fractura irregular com pequenos e finoselementos não plásticos de calcite e feldspato, com poucos vaçoulos, a corvaria entre rosada (2.5YR/4/6) e bege rosado (5Y/6/3);

Pasta (h3): é dura, por vezes medianamente dura, fina, homogénea, umpouco esponjosa de compactez média de fractura algo rectilínea, com elemen-tos não plásticos moderadamente bem distribuídos com a abundância de pe-quenas partículas de feldspato e calcite com poucos e pequenos vaçouloscirculares, de cor vermelho pálido (2.5YR/6/6);

Pasta (h4): é medianamente dura, de grão médio, de fractura um poucoirregular e grosseira com elementos não plásticos em quantidade média à basede feldspato, calcite de pequenas e médias dimensões por vezes tem pequenaspartículas de quartzo, com vaçoulos de forma alongada, de cor vermelho ala-ranjado claro (2.5YR/5/6);

Pasta (h5): é esponjosa, medianamente dura por vezes branda de médiaqualidade, fractura irregular de médio grão, com elementos não plásticosabundantes de feldspato, calcite e mica, sendo estes de média dimensão, comfrequentes vaçoulos alongados, a cor é vermelho alaranjado forte(2.5YR/6/8);

Pasta (h6): tem a cor semelhante à anterior apenas é mais alaranjada emais clara, (2.5YR/5/6) e (2.5YR/6/8), é dura, fina, esponjosa com pequenoselementos não plásticos de calcite de fractura regular;

Pasta (h7): é compacta com muitos elementos não plásticos de pequenae média dimensão, compostos por calcite, micas e quartzo, a nível de dureza apasta é branda, por vezes pode ser um pouco mais consistente e porosa, de corvermelha rosada alaranjada (2.5YR 5-4/8):

Pasta (h8): é compacta com vaçoulos de reduzida dimensão de formaalongada, muito depurada com raros elementos não plásticos ( sendo os pre-sentes na maioria de calcite), de fractura ondulada e porosa de cor castanho ti-jolo (10R 5/6). Por vezes a cor pode variar com salmão (h8b);

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Pasta (h9): de cor castanha queimada alterada por contacto pelo lume, defractura recta, dura de boa qualidade;

Verniz (h1): é espesso, fino, liso, homogéneo de excelente qualidade, comboa aderência, moderadamente brilhante e por norma encontra-se bem conser-vado, de cor vermelho claro com pequenas tendências para o laranja(2.5YR/6/6);

Verniz (h2): é moderadamente brilhante, semelhante a alguns vernizes daterra sigillata sudgálica, liso de média espessura, de boa qualidade e aderênciade cor vermelho fosco (10R/4/8);

Verniz (h3): é pouquíssimo brilhante, bem conservado de espessuramédia, com boa aderência, de cor vermelho alaranjado (2.5YR/4/8). Por vezeseste torna-se mais homogéneo e brilhante (h3b);

Verniz (h4): é moderadamente brilhante, homogéneo de fina espessura,com média aderência, cor castanho avermelhado (10R/4/6). Por vezes o vernizpode ser opaco (h4b);

Verniz (h5): é de média qualidade pouco brilhante ou mesmo opaco, pornorma o verniz encontra-se mal conservado, de cor vermelhoalaranjado(2.5YR/5/6);

Verniz (h6): é bastante alaranjado (2.5YR/5/8), de média espessura comum moderado brilho, e encontra-se bem conservado;

Verniz (h7): é vermelho escuro, algo estaladiço e encontra-se alterado porcontacto com o lume (10R/5/8);

2. caracterização das sigillatas sudgálicas

A sigillata sudgálica surgiu devido à fraca produtividade das oficinas itálicassendo esta virada sobretudo para o interior. Terá surgido no último quartel do séculoI nas oficinas de Bran, Narbonne, Montans e La graufensenque (QUARESMA,2002: 12), inicialmente para abastecimento local e militar. Segundo Polak foi nesteperíodo inicial que muitos artífices das oficinas itálicas migraram para o sul daGália, onde reproduziram as formas já conhecidas (POLAK, 2000: 33). A difusãodestes produtos na península Ibérica só aconteceu entre 20 e 40 d.C..

Os principais centros oleiros desta zona são La graufesenque e Montans,estes chegaram a todos os pontos do império romano, desde a Germânia até à His-pânia (BELTRÁN LLORIS, 1990: 89). Todos os fragmentos de fabrico sudgálico

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aqui identificados são do centro produtor La graufesenque, este localizava-se naregião Narbonense, na margem do rio Tarn, e está em plena actividade até ao rei-nado de Trajano, tendo o seu apogeu a nível de exportações entre 60 a 80 d.C..

2.1. A sigillata sudgálica do Largo das FreirasOs fragmentos identificados no Largo das Freiras são todos provenientes do

centro produtor de La graufesenque. No total recolheram-se 25 fragmentos, dosquais se identificaram três formas lisas, o prato Drag. 15/17 o mais vezes identi-ficado, e as tigelas Drag. 24/25 e Drag. 27, cronologicamente estas formas foramfabricadas entre o início e o final do séc. I d.C. Identificou-se ainda 3 fragmentosdecorados, e 16 pequenos fragmentos indefiníveis para além do tipo de fabrico.

distribuição cronológica das formas identificadas de terra sigillata sudgálica

2.1.1. As formas lisas2.1.1.1. drag. 15/17

A forma Drag. 15/17 é uma das formas mais vulgares, está aqui represen-tada por quatro fragmentos. Este prato apresenta o bordo e as paredes verticaiscom uma intensa e repetida molduração exterior, no interior possui uma molduraem quarto de círculo (meia cana) na ligação entre a parede e o fundo, deriva daforma Consp. 21 itálica (VIEGAS, 2003: 110), situa-se cronologicamente entrea década de 30 d.C. e o final do séc. I juntamente com a tigela Drag. 24/25 foi oprato mais importante da primeira metade do séc. I, mas a partir da década de 60foi diminuindo a sua produção (POLAK, 2000. 86).

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Os quatro fragmentos aqui encontrados são muito diminutos no entanto évisível em todos eles a molduração externa, cronologicamente estes fragmentossituam-se em meados do séc. I, mas poderão ser ligeiramente anteriores.

A forma Drag. 15/17 é a mais representada das produções do sul da Gália,tal como acontece em Conímbriga (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975:92) e Represas (LOPES, 1994: 37), no entanto, em Santarémv e Mirobrigavi perdeposição para o prato Drag. 18/31 e o Drag. 18. De salientar ainda que nas son-dagens realizadas no balneário termal de Chaves foi identificado um bordo destaforma datado do período Nero-Vespasiano (CARNEIRO e LOPES, 2005: 102).

2.1.1.1.2. drag. 24/25Esta tigela hemisférica é uma das mais frequentes, apresentando grande

variedade de perfis e diâmetros, tem a sua origem também nos modelos itálicos,deriva da forma Loeschcke 12 (QUARESMA, 2002: 127), caracteriza-se porter o bordo vertical e uma moldura externa bem marcada na parede. A produçãodesta forma situa-se entre Tibério/Cláudio a 60 d.C. (VIEGAS, 2003: 106).

O único fragmento desta forma é um bordo vertical com guilhoché, delábio fracturado. De salientar o facto do verniz ser pouco brilhante, quase baço,algo estaladiço de espessura média, com fraca aderência, que segundo algunsautores corresponde às peças mais tardias (BOURGEOIS e MAYET, 1991: 87).

De maneira geral esta forma costuma surgir em muitas quantidades, so-bretudo associado ao prato Drag. 15/17. Em Conímbriga esta tigela está pre-sente em muitos fragmentos, dos quais alguns contêm marca de oleiro, quepermite situar estas peças num momento cronológico mais precisovii (DEL-GADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 92). Em Santarém e Mirobriga são a se-gunda forma mais vezes identificada no grupo das tigelas.

2.1.1.1.3. drag. 27Esta tigela de lábio e bordo semicircular de parede biconvexa, deriva da

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forma itálica Loeschcke 11 (QUARESMA, 2002: 131), e foi produzida desdeTibério até aos finais do séc. I.

Esta forma existe em grandes quantidades em locais com ocupação altoimperial, no entanto aqui apenas foi identificado um fragmento.

2.1.2 As formas decoradas2.1.2.1. Fragmentos decorados indeterminadosNas produções do sul da Gália não se consegue identificar nenhuma forma

decorada, no entanto existem três fragmentos decorados.Destes, destaca-se a peça nº 390 que contem a cruz de Santo André que

pode pertencer à forma Drag. 30, os restantes apenas contêm pequenos ele-mentos decorativos, como se pode constatar no quadro.

3. caracterização das sigillatas de Tritium Magallum

A partir de certa altura iniciou-se em vários locais da Hispânia o fabrico de terrasigillata, imitando inicialmente as formas sudgálicas e itálicas, a principal questãosobre estes novos centros produtores está relacionada com o início e o fim da produ-ção, uma vez que os dados estratigráficos são algo duvidosos e pouco seguros.

Segundo Mayet o início da difusão em grande escala destes produtos dá-se na época de Cláudio (41-54 d.C.), (MAYET, 1984: 93), baseando-se na ca-mada VII de Pamplona que é considerada a mais antiga, datada entre Cláudioe os Fláviosviii. No entanto Mayet não descarta a hipótese destas oficinas teremcomeçado a produção no tempo de Tibério (14-37d.C.), ainda que com muitasinfluências itálicas e gálicas em pequena escala (MAYET, 1984: 94), funcio-nando numa fase experimental como um pequeno mercado virado, sobretudopara o norte interior peninsular, (BELTRÁN LLORIS, 1990: 111).

O apogeu das exportações é atingido nos finais do séc. I, início do II, masas dúvidas persistem quanto ao encerramento destes centros produtores, so-bretudo quanto à sua continuidade ao longo do séc. III, devido mais uma vez

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à falta de contextos arqueológicos seguros, infelizmente continua a ser a es-tratigrafia de Pamplonaix que serve de referência para a evolução cronológicadestas produções hispânicas (VIEGAS, 2003: 139).

As oficinas de Tritium Magallum foram as que tiveram uma maior importânciae influência em toda a Hispânia, localizavam-se no norte de Espanha no vale do Ebrox,onde haviam vários centros produtores como o de La Rioja, Tricio, Nájera, Bezares,Sótes, e Arenzana de Arriba e de Abajo (MEZQUÌRIZ, 1985: 114), que exportarampara toda a Península Ibérica com maior incidência na área ocidental, e norte.

3.1. A sigillata hispânica do Largo das Freiras No Largo das Freiras, existem 753 fragmentos de sigillata hispânica, dos

quais 82% são formas lisas, sendo os restantes decorados. Foram identificadas9 formas lisas e 4 decoradas. O prato Drag. 15/17, a tigela Drag. 27 e a taçaDrag. 29 foram as formas mais vezes identificadas. Das formas típicas das pro-duções hispânicas existem 3 fragmentos do prato da forma Hisp. 5, todos comguilhoché no bordo. Com base em alguns estudos (MAYET, 1984), (MEZQUÌ-RIZ, 1985) sobre a cronologia de algumas formas, estes materiais situam-secronologicamente em duas fases distintas, a mais antiga com início na décadade 40/50 do séc. I d.C, a segunda entre os meados e o fim do séc. II, podendochegar ainda ao séc. III.

Deste conjunto temos seis marcas de oleiro das quais três permitem umaleitura correcta da oficina, com igual número temos os grafitos.

distribuição cronológica das formas identificadas de terra sigillata

hispânica

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3.1.1. Formas lisas3.1.1.1. Ritt 8Esta forma caracteriza-se por ser uma taça hemisférica, cujo bordo pode

apresentar-se de uma forma recta ou introvertida (QUARESMA, 2002: 126).É uma forma que segue os protótipos sudgálicos, que os centros produtoreshispânicos produziram e exportaram para toda a península Ibérica. Com basena estratigrafia de Pamplona, Mezquíriz situa esta forma entre o início do séc.I e o séc. IV (MEZQUÍRIZ, 1985: 146).

A taça Ritt.8 foi identificada por 11 fragmentos, que comparado com o es-tudo anterior (CARNEIRO e LOPES, 2005: 108-109), onde existia apenas um, éalgo significativo. Os fragmentos identificados têm diâmetros que variam entre99mm e 210mm, e foram produzidos entre o final do séc. I e os meados do II.

É uma forma rara em muitos locais romanizados, como Conímbriga(DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 183), Santarém (VIEGAS, 2003:114) e Belo (BOURGEOIS e MAYET, 1991: 198).

3.1.1.2. drag. 15/17Este prato é a forma mais abundante e surge com duas variantes nas pro-

duções hispânicas. A mais antiga segue o protótipo sudgálico e itálico, apre-sentando as paredes com moldurações externas. A outra variante é a maiscomum das produções hispânicas, caracterizando-se pelas paredes lisas e aber-tas, com meia cana no interior da peça que liga o fundo às paredes.

Foram identificados em 51 fragmentos, dos quais 9 pertencem à variantemais antiga, que na maioria tem duas molduras externas. Esta versão mais an-tiga situa-se entre o final do 2º quartel e o 3º quartel do séc. I.

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A outra versão é sem dúvida a predominante, onde abundam os frag-mentos de bordo e de carena com uma meia cana na parte interna, que sesitua entre o final do 3º quartel do séc. I e o final do séc. II /início do séc. III.

As dimensões do prato Drag. 15/17 são bastante variáveis, sobretudose tivermos em conta as duas variantes, onde o diâmetro do bordo da formamais antiga é mais estandardizado, com valores entre os 140mm e 165mm,enquanto na versão mais recente o bordo é mais variável entre 125mm e250mm. De referir ainda o facto de ser a forma com mais marcas de oleiroidentificadas, como se pode constatar mais à frente.

Segundo Mayet o prato Drag. 15/17 começou a ser produzido em mea-dos do séc. I, não possuindo grandes certezas quanto ao seu final (MAYET,1984: 71).

Relativamente aos fragmentos em estudo destaca-se a peça 538 que seencontra queimada, facto que pode estar relacionado ou com a sua cozeduraou com qualquer fenómeno pós-deposicional.

Tal como no balneário das termas de Chavesxi (CARNEIRO e LOPES,2005: 104-105) no Largo das Freiras a forma Drag. 15/17 é a mais vezes iden-tificada, o mesmo não acontece em Conímbriga (DELGADO; MAYET;ALARCÃO, 1975: 184), Santarém (VIEGAS, 2003: 145-146) e Represas(LOPES, 1994: 55), onde a mais vezes identificada é a Drag. 27.

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3.1.1.3. drag. 18A forma Drag. 18 é um prato com uma parede levemente curvada, de

maior ou menor inclinação, tem por norma um lábio de secção em meio circuloe uma moldura de união na parte interna entre o fundo e a parede, no entantoé uma forma rara nas produções hispânicas. Foi produzida entre a época fláviae os inícios do séc. II (MAYET, 1984: 71).

Foram identificados 10 fragmentos, dos quais sete são bordos, com diâ-metros que variam entre 140mm e 221mm. O único fundo identificado tem96mm de diâmetro.

A pouca produção desta forma é visível também em Mirobriga (QUA-RESMA, 2002: 183), Conímbriga (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975:184) e Represas (LOPES, 1994: 55).

3.1.1.4 drag. 24/25Esta tigela segue o perfil das produções do sul da Gália e aparece em

Aqvae Flaviae na versão mais comum com guilhoché no bordo.A produção desta forma é datada mais uma vez pela estratigrafia de Pamplona,

onde surge nos níveis mais antigos, ou seja, na primeira metade do séc. I, mas surgemalgumas dúvidas quanto ao fim da sua produção. Mezquíriz, propõe para os meadosdo séc. II (MEZQUÍRIZ, 1985: 149), no entanto outros historiadores (ROCA e FER-NÁNDEZ, (1999) situam cronologicamente o fim desta forma no séc. III.

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Esta forma evolui nas produções hispânicas uma vez que nos exemplaresmais tardios o seu perfil altera-se, tal como o guilhoché que tende a desaparecer.

Foram identificados 6 fragmentos dos quais quatro são bordos, todos comguilhochéxii, com diâmetros entre 126mm e 139mm. Os fragmentos identifi-cados situam-se entre o 3º quartel do séc. I e o início do séc. II.

Em Santarém (VIEGAS, 2003: 147), em Conímbriga (DELGADO;MAYET; ALARCÃO, 1975: 184), Belo (BOURGEOIS e MAYET, 1991:198-199) e Represas (LOPES, 1994: 55) esta forma surge também em pequenasquantidades.

3.1.1.5. drag. 27A forma Drag. 27 é a mais comum das formas produzidas nas oficinas

hispânicas, fabricada inicialmente segundo o modelo sudgálico, mas à medidaque o tempo avança evolui, nas peças mais tardias os dois quartos de círculotendem a apresentar dimensões idênticas, com um diâmetro bastante largo, massem lábio (MAYET, 1984: 85).

Cronologicamente é uma forma que perdurou num longo período (meadosdo séc. I a IV), como se constata na estratigrafia de Pamplona (MESQUÍRIZ,1985: 152). Mayet por falta de contextos estratigráficos fiáveis recua o finalda produção para os inícios do séc. III (MAYET, 1984: 72-73).

No Largo das Freiras em Chaves existem 33 fragmentosxiii, nestes são pre-dominantes os bordos e os fragmentos do final do séc. I, no entanto situam-seno geral, entre o 3º quartel e o final do séc. II. Os diâmetros são variáveis,desde peças com diâmetros diminutos de 81mm até 170mm, mas na maioriados casos situam-se entre 100mm e 146mm. De salientar ainda que num fundose identificou um caixilho de marca de oleiro de leitura indefinível.

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Em comparação com outros sítios de referênciaxiv constata-se que a formaDrag. 27 de maneira geral existe em grande quantidade, tal como aconteceuno estudo anterior (CARNEIRO e LOPES, 2005: 106-107).

3.1.1.6. drag. 35A taça Drag. 35 segue as linhas das peças produzidas nas oficinas do sul da

Gália. Muitas vezes é confundida com o prato Drag. 36, sobretudo quando são frag-mentos muito diminutos, o que as distingue é o diâmetro e a altura das paredes.

Foi produzida nas oficinas hispânicas desde a segunda metade do séc. Iaté meados/final do séc. II (MESQUÍRIZ, 1985: 154).

A taça Drag. 35 caracteriza-se pelo bordo extrovertido e pelas paredes arre-dondadas, tendo na maioria dos casos decoração sob o bordo em forma de folhade água em barbotina, como é o caso de três fragmentos dos quatro identificadosno Largo das Freiras. Destes apenas dois possibilitaram calcular o diâmetro(126mm e 155mm).

Em Conímbriga esta forma existe em bastante quantidade (DELGADO;MAYET; ALARCÃO, 1975: 196-198), já em Belo e Santarém são poucos osexemplares.

3.1.1.7. drag. 36Este prato caracteriza-se por ter um grande diâmetro com o bordo extro-

vertido em aba levemente descaído e as paredes abertas e oblíquas, na maioriadas vezes tem decoração em folha de água em barbotina sob o bordo.

Mezquíriz propõe para esta forma uma produção de longa duração, desdea segunda metade do séc. I até ao séc. IV (MEZQUÍRIZ, 1985: 155), no entantoalguns autores recuam o fim da produção para meados do séc. II.

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Dos 3 fragmentos identificados apenas 2 possibilitaram calcular o diâmetro(178mm; 188mm). Em Conímbriga esta forma é pouco abundante (DELGADO;MAYET; ALARCÃO, 1975: 185) tal como em outros centros de consumo.

3.1.1.8. drag. 46A taça Drag. 46 é uma peça pouco homogénea quanto às suas dimensões

e caracteriza-se pelo bordo em aba inclinado com a parede oblíqua, ligeira-mente rectilínea.

Sobre esta forma recaem muitas dúvidas quanto ao início da sua produ-ção, no entanto alguns historiadores defendem que deve ter sido produzidapelos oleiros hispânicos a partir do final do séc. I (LOPES, 1994:56).

Em Conímbriga esta forma é pouco representativa na amostra (DEL-GADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 185). Nas termas de Chaves foi identifi-cado um fragmento (CARNEIRO e LOPES, 2005: 108).

3.1.1.9. hisp.5A forma Hispânica 5 é uma taça com o bordo em aba horizontal ligeiramente

descaído, com ou sem decoração em guilhoché e com as paredes curvilíneas. Estatem como característica principal diâmetros mais pequenos que a forma Hispânica 4.

A cronologia apontada para a sua produção é de meados do séc. I a mea-dos do séc. II (ROCA e FERNANDES, 1999). É também uma forma poucoabundante nos vários locais de referência já mencionados.

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3.1.2. As formas decoradas3.1.2.1 drag. 29A forma Drag. 29 é uma das taças mais comuns das produções hispânicas

decoradas, e segue os modelos do sul da Gália. Esta apresenta por norma umacerta monotonia de perfis, caracteriza-se por ter o bordo aberto e moldurado,com a pança decorada com uma carena.

A decoração é variada e nalguns, raros, existe guilhochéxv no bordo.Estão presentes vários estilos decorativos nos fragmentos identificados,nos mais antigosxvi predominam as grinaldas, os festões, as volutas, e mo-tivos florais/vegetais. Em alguns fragmentos começa a haver uma pre-sença de círculos combinados com métopas e linhas onduladas verticais.Os valores dos diâmetros dos bordos calculados variam de 122mm a200mm.

De acordo com Mayet, esta forma foi produzida num período relativa-mente curto, desde os meados do séc. I até à década de setenta/oitenta(MAYET, 1984: 94).

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No estudo anterior (CARNEIRO e LOPES, 2005: 112) foram identificados3 fragmentos desta forma, todos de locais distintos, já em Conímbriga foi a se-gunda forma decorada mais vezes identificada, tendo estas nas partes decoradasos estilos mais antigos (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 157-158).

3.1.2.2. drag. 30O vaso Drag. 30 surge como a segunda forma decorada mais vezes iden-

tificada. Este vaso de bordo oblíquo de paredes quase verticais aparece repre-sentado pelos estilos decorativos de imitação: linhas de óvulos duplas, arcos,linguetas, festões, pontas de setas, rosetas com figuras humanas, vegetais, flo-rais e animais isolados ou com cenas.

É uma forma que seguiu ligeiramente o modelo sudgálico, no entanto ad-quiriu uma forma mais cilíndrica que a anterior, perdendo também o bordovertical para um oblíquo.

Esta forma terá sido fabricada nas oficinas hispânicas desde a segundametade do séc. I podendo ter chegado ao início do séc. IIxvii (DELGADO;MAYET; ALARCÃO, 1975: 158). Os materiais aqui apresentados não che-gam a ultrapassar o final do séc. I, um indicador disso é a ausência de mo-tivos circulares típicos das peças do primeiro quartel do séc. II (MAYET,1984: 83).

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Em Conímbriga este vaso aparece em baixas quantidades, o mesmo acon-tece em Santarémxviii e em outros locais de Aquae Flaviae (CARNEIRO eLOPES, 2005: 113-114).

3.1.2.3. drag. 37A forma Drag. 37 é uma taça hemisférica de bordo espessado vertical ou

encurvado com decoração na pança, que neste grupo das decoradas perde po-sição em relação ao último estudo de sigillata de Aquae Flaviaexix (CARNEIROe LOPES, 2005:114).

Esta forma tem duas/três variantes, a Drag. 37A, de bordo espessado verticalou encurvado, com diâmetro de abertura menor, entre 110mm a 200mm, com umacronologia situada entre o final do séc. I e o séc. II (MEZQUÍRIZ, 1985: 169-170),nesta variante podemos englobar a Drag. 37 de bordo simples, que é mais rara evistosaxx. A outra variante é a Drag. 37B, com diâmetros de maior abertura entre250mm e 300mm, com o bordo de perfil amendoado, o período de produção destaforma foi relativamente curto, situando-se no último quartel do séc. Ixxi.

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A mais abundante é a taça Drag. 37A, com 10 fragmentosxxii, esta temdiâmetros entre os 142mm e 184mm. Da outra variante apenas temos um frag-mento de bordo.

Há uma clara e predominante presença da decoração de círculos, sendoestes muitas vezes concêntricos, segmentados ou ondulados, Mayet situa cro-nologicamente este tipo de decoração entre o final do séc. I, início do II(MAYET, 1984: 83).

Ao contrário do que acontece aqui, em Conímbriga esta forma está notopo das formas decoradas identificadas DELGADO; MAYET; ALARCÃO,1975: 159), o mesmo sucede em Santarém (VIEGAS, 2003: 154) e Represas(LOPES, 1994: 57).

3.1.2.4. drag. 29/37Esta forma é uma espécie de conjugação da forma Drag. 29 com a Drag.

37, é uma taça carenada, com o bordo espessado ligeiramente aberto. Do pontode vista cronológico situa-se entre a segunda metade do séc. I e o séc. II (MEZ-QUÍRIZ, 1985: 168).

Os dois fragmentos identificados fazem parte do bordo, no entanto nãose conservou a decoração, os seus diâmetros são 138mm e 157mm.

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3.1.2.5. Fragmentos decorados indeterminadosAs formas decoradas das oficinas hispânicas identificadas poderiam ser

muito mais se fosse possível identificar o extenso conjunto de fragmentos de-corados. Os estilos decorativos destes fragmentos são dominados pelos círcu-losxxiii juntamente com as métopas alternadas com linhas verticais onduladas,no entanto existem outros estilos como figuras antropomórficas, vegetais, flo-rais, volutas e arcadasxxiv.

Neste grupo existem 3 fragmentos que podem pertencer à forma Mesq.20A decoração desta é composta por métopas combinadas com linhas verticaisonduladas e com mais alguns elementos de difícil interpretação, no entanto de-cidiu-se não qualificá-la como tal.

Como se pode observar existe uma predominância de círculos na decora-ção dos fragmentos, típicos do final do séc. I, início do II, existe ainda a pre-sença dos estilos da segunda metade do séc. I.

3.1.3. As marcas e grafitos3.1.3.1. As marcasDo total da amostra foram identificadas seis peças com marca de oleiro, mas

destas, três foram consideradas ilegíveis por não possibilitarem uma leitura cor-recta, uma por apenas ter o caixilho e as outras duas por se encontrarem fracturadas.

Neste pequeno conjunto o oleiro LAPiLLivs está presente em doisexemplares da forma Drag. 15/17, este produziu em Tricio na segunda metadedo séc. I (VIEGAS, 2003:159). A presença deste oleiro é muito frequente emEspanha, como por exemplo em Astorga, Tricio, Iruña, Cabriana, Ibiza, Cór-dova, Valência, hontalba (Toledo), navatajera (Léon), S. Juan de Tabagón (ElRosa, Pontevedra), Merida, Villaverde (Madrid), Tarragona, Villa-franca delos Barros, Herrera de Pisuerga (BELTRÁN, 1990:114). Esta oficina teve tam-bém uma difusão considerável no actual território português, como é o caso

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de Conímbriga (DELGADO, MAYET, ALARCÃO, 1975: 206, nº 383-386,est. LIX), Santarém (VIEGAS, 2003: 159), Aramenha, Torre de Palma(MAYET, 1973: 26-34) Monte Mozinho (CARVALHO, 1993: 94), Belo (BEL-TRÁN, 1990:114) e Bracara Augusta (DELGADO; SANTOS, 1984, 63,nº24)xxv. Foi uma das oficinas com maior sucesso e maior área de influênciados seus produtos na Hispânia.

Estas duas marcas têm ambas letras arredondadas, mas estão inseridas em cai-xilhos distintos, sendo um de linhas rectangulares e outro de linhas arredondadas.

A outra marca identificada é da oficina de cAntABRi ou Cantaber, tam-bém muito difundida por toda a Hispânia, podendo-se encontrar em sítioscomo, Barcelona, Tarragona, Vareia, Sagunto, Alicante, Itálica, Merida, Villade la Concosa, Sevilha, Arenzana de Abajo, Celsa e Valência (BELTRÁN,1990:114). No actual território português está presente em Alcácer do Sal(DIAS, 1978), Represas (Beja) (LOPES, 1994, nº480 e nº5728), Torre dePalma e Conímbriga (DELGADO, MAYET, ALARCÃO, 1975: 205, nº378-380, est. LIX). Este oleiro tinha a sua oficina estabelecida em Arenzana deAbajo, situada a 1,5km de Tricio junto a uma linha de água. Solevera datoucronologicamente o seu início no primeiro quartel do séc. I e manteve-se se-gundo ele em actividade até ao final do séc. III/ início do IVxxvi.

Como marcas ilegíveis temos um ex[…], também de um prato Drag. 15/17, noentanto é insuficiente para atribuir uma oficina, uma vez que existem várias com estasduas letras, o mesmo acontece à outra marca que possui apenas um carácter muito des-gastado ([..]A[…]). Por fim temos uma marca da qual resta apenas o caixilho..

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3.1.3.2. os grafitos Os grafitos existentes nesta colecção são de sigillata hispânica do centro

de produção de Tritium Magallum. O facto destes grafitos aparecerem apenasna sigillata de Tricio, mostra bem a sigillata predominante em Aqvae Flaviae,

período que coincide com a quebra das produções gaulesas e com o início dasimportações do vale do Ebro.

O significado dos grafitos nem sempre é compreensível, no entanto umgrafito é sempre uma marca de propriedade plena, conferida pelo uso fre-quente das peçasxxvii. O grafito é uma marca pessoal que é identificada e re-conhecida pela comunidade onde circula, facto pelo qual por vezes surgemletras ou símbolos soltosxxviii, trata-se de uma linguagem codificada. Estasmarcas pessoais podem indicar o nome do proprietário, como é o caso doPA[…] do prato Drag. 15/17.

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i Conhecido localmente por Largo das Freiras.ii Tal como aconteceu no último estudo das sigillatas, (CARNEIRO; LOPES, 2005).iii MUNSELL, Soil Color, (1975), Evanston, Soiltest.iv Este critério tem pouca importância na análise geral da peça, uma vez que este pode variar de acordo comtipo de solo em que estão inseridas.v (VIEGAS, 2003: 104).vi (QUARESMA, 2002: fig.5).vii Como é o caso de algumas marcas de oficinas que se mantiveram em produção até ao ano 70 d.C., quepõem em causa a cronologia proposta para o fim desta forma.viii O mesmo acontece em Conímbriga (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 337).ix Camada IV que é composta por níveis de destruição.x Factor fundamental a ter em conta, pois o Vale do Ebro é ponto estratégico, quer a nível geográfico, quera nível de matérias-primas (argilas-calcárias e linhas de água), no entanto não se pode esquecer a rede viáriaterrestre e fluvial que facilitou a circulação dos seus produtos.xi Onde o prato Drag. 15/17 é a forma lisa mais vezes identificada.xii O facto de possuírem no bordo guilhoché poderá estar relacionado com o início da produção, como sugere

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Catarina Viegas para os fragmentos de Santarém também com guilhoché (VIEGAS, 2003: 147).xiii Sem contar alguns duvidosos que decidimos excluirxiv Como em Conímbriga (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 185), Belo (BOURGEOIS; MAYET,1991:199-200), Represas (LOPES, 1994: 55), Santarém (VIEGAS, 2003: 147-148) e Mirobriga (QUA-RESMA, 2002: 182-183) onde é a forma lisa mais vezes identificada.xv Como é o caso da peça 380, que tem no bordo guilhocléxvi Estes estilos estão presentes em algumas peças a partir da u.e. [54].xvii Isto acontece em Conímbriga onde os materiais são datados entre a segunda metade do século I e o iníciodo II.xviii (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 158); (VIEGAS, 2003:153).xix Onde a taça Drag. 37 era a forma mais vezes identificada.xx Da qual contamos um fragmento desta variante da Drag. 37.xxi Datado pela estratigrafia de Pamplona segundo Mayet (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 159).xxii Apesar destes serem fragmentos de pequena dimensão.xxiii Estes aparecem de variadas maneiras, ondulados, segmentados, lisos, concêntricos, etc.xxiv Sendo estes últimos estilos predominantes nas peças mais antigas.xxv Esta marca está presente nas duas capitais de conventus (Bracara Augusta e Astorga) mais próximas, li-gadas pela via XVII do Itinerário Antonino que passava por Aqvae Flaviae.xxvi Citou Maria Fernández (FERNANDEZ, 1998: 148).xxvii A marcação de uma peça através de um grafito mostra um cuidado em salvaguardar um objecto pessoal,ainda que este altere o aspecto inicial da peça, apesar de haver uma preocupação em disfarçar o grafito co-locando-o muitas vezes em zonas menos visíveis, como por exemplo na parte externa do fundo.xxviii Como é o caso da maioria dos grafitos aqui apresentados

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Prancha i – Terra Sigillata Hispânica lisa

Prancha ii – Terra Sigillata Hispânica lisa

Prancha iii – Terra Sigillata Hispânica lisa

Prancha iv – Terra Sigillata Hispânica lisa e decorada

Prancha v – Terra Sigillata Hispânica decorada

Prancha vi – Terra Sigillata Hispânica decorada, marcas e grafitos

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