Necrópole do Colégio de Santo Antão-o-Novo: Síntese preliminar dos resultados arqueológicos e...

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70 1. INTRODUÇÃO O s trabalhos arqueológicos realizados na Rua do Instituto Bacteriológico inse- rem-se no âmbito das medidas de minimiza- ção do Plano de Perdas e Fugas da EPAL, que consistiram, numa primeira fase, no acom- panhamento arqueológico, durante o qual se identificaram contextos funerários preser- vados na área de afectação da obra, tendo-se preconizado, para uma segunda etapa, a sua escavação integral. A área intervencionada correspondeu a cerca de 51,50 m², dividida em quatro sectores dife- renciados, designados como valas 16.1, 16.2, 16.3A e 16.3B. Cada um destes foi seccionado por razões de ordem prática, visto ser impos- sível, por motivos de mobilidade pública e de acesso à Casa Mortuária do Hospital de São José, ter o espaço total a funcionar em simultâneo. Identificaram-se 138 enterramentos, na sua quase totalidade pertencentes ao sexo mascu- lino, no entanto, não correspondem a esque- letos completos, reportando-se, muitas vezes, simplesmente à parte distal dos membros inferiores ou ao crânio e vértebras cervicais. O elevado grau de destruição da necrópole resultou maioritariamente da abertura de outras valas para a instalação de infra-estru- turas recentes. Os resultados da pesquisa bibliográfica, cor- roborados pelos dados da escavação, indicam que a zona intervencionada se reporta à necrópole do Colégio de Santo Antão-o-Novo. Necrópole do Colégio de Santo Antão-o-Novo: Síntese preliminar dos resultados arqueológicos e antropológicos IOLA FILIPE ÁLVARO FIGUEIREDO

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1. INTRODUÇÃO

Os trabalhos arqueológicos realizados na Rua do Instituto Bacteriológico inse-

rem-se no âmbito das medidas de minimiza-ção do Plano de Perdas e Fugas da EPAL, que consistiram, numa primeira fase, no acom-panhamento arqueológico, durante o qual se identificaram contextos funerários preser-vados na área de afectação da obra, tendo-se preconizado, para uma segunda etapa, a sua escavação integral.

A área intervencionada correspondeu a cerca de 51,50 m², dividida em quatro sectores dife-renciados, designados como valas 16.1, 16.2, 16.3A e 16.3B. Cada um destes foi seccionado por razões de ordem prática, visto ser impos-sível, por motivos de mobilidade pública e

de acesso à Casa Mortuária do Hospital de São José, ter o espaço total a funcionar em simultâneo.

Identificaram-se 138 enterramentos, na sua quase totalidade pertencentes ao sexo mascu-lino, no entanto, não correspondem a esque-letos completos, reportando-se, muitas vezes, simplesmente à parte distal dos membros inferiores ou ao crânio e vértebras cervicais. O elevado grau de destruição da necrópole resultou maioritariamente da abertura de outras valas para a instalação de infra-estru-turas recentes.Os resultados da pesquisa bibliográfica, cor-roborados pelos dados da escavação, indicam que a zona intervencionada se reporta à necrópole do Colégio de Santo Antão-o-Novo.

Necrópole do Colégio de Santo Antão-o-Novo: Síntese preliminar dos resultados arqueológicos e antropológicosIOLA FILIPE

ÁLVARO FIGUEIREDO

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Intervenções } Necrópole do Colégio de Santo Antão-o-Novo

2. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

O enquadramento histórico da zona da necrópole identificada na Rua do Insti-

tuto Bacteriológico relaciona-se com a exis-tência na área do Colégio de Santo Antão-o-Novo, pertencente à Companhia de Jesus. O local onde se registaram os contextos fune-rários corresponderia à parte não construída do colégio, facto compatível com a existência da necrópole. De facto, até meados do século XVIII, não se verificou qualquer construção nesta área.A presença dos Jesuítas em Portugal data de 1540, por intermédio de D. João III, tendo-se estabelecido no edifício que fora convento dos Cónegos regulares da Ordem de Santo Antão Abade (na zona da Mouraria), em 5 de Janeiro de 1542. O mesmo monarca doou esse edifício a dois dos fundadores da Com-panhia em Portugal, padres Manuel Simão Rodrigues e S. Francisco Xavier, e mais 5 companheiros.

No referido edifício foi instalado um colégio para alunos externos, inaugurado em 18 de Outubro de 1553, aberto a todas as classes sociais. Em pouco tempo, houve um signifi- cativo aumento da população escolar, surgin-do a necessidade de instalações mais amplas, questão que viria a ser solucionada com a construção do Colégio de Santo Antão-o-Novo. Inicialmente, estava prevista a sua locali-zação no monte de S. Roque, contudo, acaba-ria por ser edificado na Cerca dos Lázaros.

O cardeal D. Henrique apoiou a construção do colégio, tendo realizado a primeira planta do mesmo, com sete pátios interiores. A gran-diosidade do edifício e os custos implícitos na sua construção levaram a que, após a morte do cardeal, a planta fosse refeita pelo padre Silvestre Jorge, de forma a que a obra não fos-se tão dispendiosa.

A enorme despesa, num período em que gras- savam as guerras em África, levou a que o Senado da Câmara de Lisboa pedisse a D. Sebastião que desistisse da empreitada e uti-lizasse o dinheiro no resgate dos prisioneiros da referida guerra. No entanto, o rei respon-deu negativamente a esta solicitação, porque “[...] bem sabiam todos quanto os religiosos da companhia do collegio de Santo Antam tinham sempre servido aos moradores de Lisboa com seos ministerios, e quanto lhe tinham acodido em situ-ações de peste [...]” (s.n., 1850, p. 403).

Em 1578, D. Sebastião deu ordem à Câmara de Lisboa para a concessão de um terreno no campo de Sant’Ana destinado à cerca dos reverendos, já que o espaço de cultivo e cria-ção de animais era um dos imperativos em casas religiosas.

Para além da relutância do Senado da Câma-ra de Lisboa, a construção do Colégio de Santo Antão-o-Novo deparou-se ainda com a oposição do capelão das freiras do Convento de Santana, que sustentava a revolta da gente dos currais, que, desta forma, via ser-lhes re-tiradas as suas terras. De facto, “[...] foi tal a contradiçam dos visinhos do curral que assistia com grande fervor o Padre confesor das religiosas de Sancta Anna que como tivesse por certo que ficando visinho ao convento das freyras o colle-gio da companhia se havia de seguir a ruina do Mosteyro [...] (s.n., 1850: 401). Vieira da Silva refere que, no Campo de Sant’Ana, “[...] desde tempo muito remoto se concentrava o gado para abastecimento da cidade e onde estavam também currais ou matadouros [...] (SILVA, 1987: 75).

A construção do colégio iniciou-se em 1579, mas sem grande solenidade, como conse-quência das manifestações de desagrado por parte dos habitantes da zona. A mudança de Santo Antão-o-Velho para Santo Antão-o-

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Novo realizou-se a 8 de Novembro de 1593, mas as obras ainda continuaram nos princí-pios do século XVII, sem nunca terem sido concluídas, por falta de recursos.

O colégio estava aberto a todos os jovens de Lisboa, não sendo efectuada qualquer distin-ção social, factor que originou dificuldades económicas na sua manutenção. Tendo em conta a precária situação financeira, o rei determinou que o tributo sobre as especiarias fosse aplicado à obra pia do colégio, além dos rendimentos de várias quintas que o susten-tavam (Xabregas, Caniços, Vale do Rosal, Constância) (LOPES, s.d., 20).

Em Outubro de 1599, eram 59 os habi-tantes do colégio, sendo 20 sacerdotes, 4 estudantes e os restantes irmãos. Funciona-vam nove classes: seis de gramática, duas de humanidades, uma de retórica, uma de matemática e astronomia e um curso de teo-logia especulativa. Segundo S. J. Francisco Rodrigues, durante todo o século XVII, foi o único centro aproveitável de estudos mate- máticos astronómicos (RODRI-GUES, 1931, 859). Para além das acti- v idades académicas , são ainda conhecidas as representações teatrais iniciadas em Santo Antão-o-Velho, ficando particularmente céle- bre a peça Santo Antão Abade.

A igreja do colégio foi fundada em 1613 pela Condessa de Linhares, D. Filipa de Sá, seguindo a planta de um discípulo de Filipe Terzi, tendo sido inaugurada a 31 de Julho de 1653. O terramoto de 1755 teve grande impac-to sobre a igreja, que não conheceu obras de restauro durante o século XVIII. Do templo subsistem, actualmente, estátuas e a ampla sacristia, na capela do Hospital de São José (LOPES, s.d., 24). O edifício do colégio foi igualmente afectado pelo terramoto, contudo, ao contrário do que aconteceu com a igreja, foi reedificado (ARAÚJO, 1992, 22).

A 3 de Setembro de 1759, os Jesuítas foram expulsos de Portugal e dos territórios ultrama-rinos, pelo Marquês de Pombal, como resul- tado de uma série de acções iniciadas em 1754, ano em que dois padres da Companhia de Jesus foram exilados do Brasil, por suspeita de estarem contra a Companhia de Grão-Pará do Maranhão. Em 1757, pelo Decreto de 10 de Junho, são expulsos todos os Jesuítas do ser- tão do Amazonas. Em 19 de Setembro do mesmo ano, são expulsos da corte os confes-sores jesuítas e presos na prisão política da Junqueira. Em 10 de Fevereiro de 1758, é elaborada uma Carta Instrutiva para apresen-tar a Bento XIV, com uma lista de acusações contra os Jesuítas, em resultado da qual o papa nomeou o cardeal Saldanha com amplos pode-res para investigar todas as casas jesuítas.

O colégio encerrou em 1759, tendo sido reaber-to em 1770 como Hospital Real de São José, que substituiu o Hospital Real de Todos os San- tos, destruído pelo terramoto (LOPES, s.d., 23).

3. TRABALHOS REALIZADOS

A escavação arqueológica realizada na Rua do Instituto Bacteriológico permitiu

a identificação de 138 enterramentos da Ne-crópole do Colégio de Santo Antão-o-Novo. O facto de a área de intervenção correspon-der à vala para colocação dos novos tubos da EPAL, com cerca de 40 cm de diâmetro, condicionou, muitas vezes, a percepção do espaço, já perturbado pela construção de outras infra-estruturas (electricidade) ou raí-zes de árvores. As próprias características geológicas dos sedimentos escavados, na sua maioria de matriz arenosa, impediram a definição da estrutura funerária associada a cada enterramento, o que apenas foi possível nos sedimentos argilosos.

Figura 1

Localização da área intervencionada na Planta de Filipe Folque

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Figura 2

Área de escavação (plano final de escavação).

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A definição de um faseamento para a necró-pole baseou-se quase exclusivamente na interpretação da estratigrafia, na medida em que a componente artefactual recolhida em associação com os enterramento era escassa e pouco representativa. A presença de sepultu-ra (vala escavada no substrato geológico) foi, igualmente, utilizada como critério diferen-ciatório, contudo, importa sublinhar o seu carácter subjectivo, já que a ausência pode resultar não de uma intencionalidade, mas antes de factores naturais ou pós-deposicio-nais.

Com os dados disponíveis, não é possível determinar intervalos de tempo para as dife-rentes inumações e, em determinados casos, é mesmo inviável estabelecer uma sequência cronológica. Algumas realidades, enterramen-tos e sepulturas, podem corresponder a um mesmo momento ou, pelo contrário, serem me- diadas por um largo espaço de tempo. A ob-servação da estratigrafia nem sempre é escla-recedora, visto não existirem relações físicas directas entre as diferentes realidades.

3.1. Vala 16.1A área da vala 16.1, cerca de 15,96 m², repre-senta a maior superfície intervencionada, assim como a mais complexa.

3.1.1. Fase 1A Fase 1 corresponde ao momento em que as inumações foram efectuadas em sepulturas, estruturas negativas escavadas no substrato geológico, não existindo qualquer indício de que terão sido utilizados caixões. O facto de se encontrarem na mesma fase não implica a sua contemporaneidade.

Sepultura Enterramentos Observações

Nº Nº UE Nº Nº UE

14 211 64 120Sobreposição de enterramentos

102 208

8 149 65 122Sobreposição de enterramentos

69 129

7 148 59 114 Enterramentos lado a lado, não existindo correspondência de espaço funerário60 115

9 150 78 145 Enterramento individual

15 212 90 185 Sobreposição de enterramentos, sendo o enterramento 98 o mais antigo98 204

12 198 83 162 Enterramento individual

17 218 84 163 Enterramentos lado a lado, não existindo correspondência de espaço funerário89 184

18 219 97 200 Não foi levantado

19 222 99 205Elevado grau de perturbação, devido a uma inumação posterior

100 206

101 207

13 203 94 192 Não foi levantado

Tabela 1

Relação dos enterramentos da Fase 1 da Vala 16.1.

Figura 3

Enterramento 59 (mãos cruzadas sobre o tórax)

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Verificaram-se três situações distintas: sepul-turas individuais, sepulturas em que dois enterramentos foram efectuados lado a lado e sepulturas com sobreposição de inumações.

Nesta fase, importa mencionar a presença do enterramento 98 (Fig. 4), já que é o único indivíduo do sexo feminino identificado até ao momento, neste espaço funerário, e apre-senta uma datação radiocarbono 380 ± 40 BP calibrada a 2 sigmas, obtendo-se um interva-lo temporal entre 1442-1634. O facto de ser uma mulher, no espaço funerário associado a um colégio masculino, e de as datas aferi-das serem anteriores à construção da igreja colocam alguns problemas de interpretação, para os quais apenas é possível apresentar hipóteses. Este enterramento pode pertencer à necrópole do Convento de Santana, locali-zado nas proximidades do Colégio de Santo-Antão-o-Novo e de fundação anterior.

3.1.2. Fase 2Os enterramentos considerados nesta fase localizam-se, na sua maioria, sobre áreas de sepulturas, mas não foram inumados no seu interior. Existe uma coincidência do espaço, mas não é possível determinar se este acto foi intencional ou se resultou de um aproveita-mento do espaço disponível.

No espaço correspondente à sepultura 15 (Fase 1), registaram-se 4 esqueletos, um dos quais, enterramento 82, assentava directa-mente no substrato geológico. O enterramen-to 76 terá sido inumado directamente sobre o enterramento 80, cuja deposição destruiu parcialmente o enterramento 88. O facto de a sobreposição ser directa aponta para um cur-to espaço de tempo entre as inumações, razão que justifica que sejam considerados na mes-ma fase, contudo, não é possível determinar esse intervalo temporal.

Os enterramentos 95 e 77 ocupavam um espa-ço contíguo, não sendo possível determinar se a inumação do último implicou a destrui-ção parcial do primeiro. Os dados disponí-veis não permitem definir o espaço funerário associado a estes enterramentos, o que se jus- tifica pelo limites da área de escavação. A inumação do enterramento 77 implicou a des-truição de três enterramentos preexistentes (99, 100 e 101 – Fase 1).

Nesta fase consideraram-se ainda os enter-ramentos 79, inumado directamente sobre o substrato geológico, e 93, para o qual se pres-supõe a existência de uma estrutura funerá-ria, cuja definição foi inviabilizada, devido às condicionantes da área de escavação.

3.1.3. Fase 3A distinção de uma fase, intermédia entre os enterramentos localizados sob a UE 13 e aqueles que se situavam sobre o espaço das sepulturas justifica-se pelo facto de existirem enterramentos anteriores e posteriores, em fases definidas. A interpretação é muito con-dicionada pelas próprias limitações do tra- balho de campo, optando-se por enumerar os enterramentos, já que, na maioria dos casos, não estabelecem relações físicas direc-tas entre si.

Figura 3

Enterramento 59 (mãos cruzadas sobre o tórax)

Figura 4

Sepultura 15, Enterramento 98.

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Consideraram-se 9 esqueletos, alguns dos quais parcialmente destruídos por estruturas negativas, como é o caso do enterramento 75, ou por outras inumações1.

Alguns esqueletos interpretados como per-tencendo a esta fase poderiam ter uma estru-tura funerária associada, factor que não foi possível aferir devido aos limites da área intervencionada. Neste caso, encontram-se os enterramentos 15, 87, 66 e 70, sendo que, des-tes três últimos, apenas se conservou a parte distal dos membros inferiores.

3.1.4. Fase 4A Fase 4 caracteriza-se por enterramentos sem qualquer estrutura funerária (positiva ou negativa) associada, o que não implica necessariamente que nunca tenham exis-tido. O que se verifica é uma sequência de inumações no mesmo plano altimétrico, sob o depósito da UE 13, sem que, na maior parte dos casos, seja possível determinar se são ou não contemporâneas. A presença de raízes e de inumações sucessivas condiciona a interpretação deste espaço e desta fase. Na maioria dos casos, não se registou uma rela-ção física entre os enterramentos e, quando se verificou, tornava-se difícil perceber a sua sequência. Tendo em conta que este ponto se resume a uma simples enumeração dos esqueletos registados, optou-se por referir apenas as situações de sobreposição ou des-truição, remetendo-se os restantes para a Tabela 6.

As condicionantes expostas implicaram que, em determinados casos, não fosse exequível diferenciar os depósitos que cobriam daquele

em que assentavam determinados esqueletos, como é o caso dos enterramentos 75, 88, 22, 30, 31 e dos conjuntos de ossos designados com as unidades estratigráficas 75 e 88. Nestes dois casos, os ossos não se encontravam em conexão anatómica, no entanto, uma análise realizada durante o processo de escavação permitiu determinar tratarem-se de dois indivíduos recém-nascidos, razão pela qual se diferenciaram com número de unidade estratigráfica.

A maioria dos enterramentos considerados nesta fase não se encontrava completa, o que se justifica por perturbações recentes, em alguns casos indeterminadas (enterramentos 26, 28, 27, 35, 18, 24, 50, 46, 48, 42, 40, 41 e 9), ou por inumações posteriores2. O enter-ramento 11 (Fig. 5) representa o único indi-víduo inumado com a orientação NE-SW, contudo, preservou-se apenas a parte dis-tal dos membros inferiores. Em dois casos, observou-se a sobreposição directa dos esque-letos, sem que os dados recolhidos permitam uma interpretação sustentada da ocupação do espaço3.

3.2. Vala 16.2 Na Vala 16.2 registou-se a menor densidade de enterramentos, encontrando-se melhor preservados que nas restantes áreas. No entanto, o limite este foi igualmente pertur-bado pela abertura da vala para colocação de cabos eléctricos.

3.2.1. Fase 1A Fase 1 refere-se ao momento mais antigo identificado nesta vala, reportando-se a duas sepulturas, escavadas no substrato geológico, e a três enterramentos. 3.2.2. Fase 2Os enterramentos considerados nesta fase não são necessariamente contemporâneos, justificando-se o seu agrupamento em vir-tude da análise estratigráfica, na medida em que todos eles são cobertos pelo mesmo sedimento.

Figura 6

Vista geral das sepulturas 2, 3, 4 e 5.

1 A inumação do enterramento 71 implicou a destruição dos enterramentos 72 e 73; o enterramento 16 destruiu parcialmente o enterramento 19.

2 A inumação do enterramento 42 implicou a destruição parcial do enterramento 47, na zona do crânio. Esta inumação implicou ainda a destruição da parte inferior do enterramento 45.

3 O enterramento 35 encontrava-se parcialmente sobre os enterramentos 24 e 18. O enterramento 36, do qual apenas subsistiu a parte distal do membro inferior direito, cobria parcialmente o enterramento 38.

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Figura 5

Enterramento 11.

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3.2.3. Fase 3A Fase 3 corresponde a um momento em que não se identificou qualquer estrutura funerá-ria, tendo-se diferenciado este momento pelas relações estratigráficas que estabelecem com esqueletos ou depósitos, tanto da fase anterior como posterior, justificando, desta forma, a sua individualização (enterramentos 3, 4, 5, 6, 10, 25, 21, 33, 34 e 32).

A ocupação do espaço caracteriza-se pela dis- persão dos enterramentos, registando-se apenas duas situações em que existe sobreposição4.

3.3. Vala 16.3AOs contextos arqueológicos registados na vala 16.3A foram cortados por infra-estruturas re-centes (nomeadamente, as valas da electrici- dade, os lancis e o algeroz), factor que dificul-ta a percepção da ocupação do espaço. O fa- seamento é ainda condicionado pelo facto de apenas duas sepulturas estabelecerem uma relação física directa.

3.3.1. Fase 1Nesta fase, considerou-se apenas a sepultura 27 e respectivo enterramento (113), o que se justifica pela impossibilidade de relacionar esta estrutura com as demais intervenciona-das nesta vala. Relativamente à sequência tem- poral, a interpretação dos dados sugere que a sepultura 20 (Fase 2) seria mais recente por se encontrar mais completa, pressupondo-se que a sua construção implicou a destruição parcial da sepultura 27, dado que apenas pode ser comprovado estratigraficamente relativa-mente à sepultura 16 (Fase 2), verifican- do-se, neste caso, uma relação física directa.

3.3.2. Fase 2As sepulturas consideradas nesta fase, 10, 16, 20 e 21, apresentam em comum o facto de cortarem o substrato geológico.

A compreensão do espaço funerário corres-pondente à sepultura 21 é dificultado, na medida em que entre os limites norte e sul existe uma diferença de cerca de 20 cm, não sendo perceptível se existiu uma intenção deliberada na construção da sepultura, ou se correspondeu a uma necessidade relacionada com a topografia do terreno. A questão colo-ca-se pela necessidade de determinar se os

4 O enterramento 14 foi inumado sobre o enterramento 12, e o enterramento 33 sobre o enterramento 34. Os dados disponíveis não permitem determinar o intervalo temporal, e, como não existiu nenhum processo de destruição optou-se por considerar que pertenciam à mesma fase.

Sepultura Enterramento Observações

N.º N.º UE N.º N.º UE

5 108 51 98 Enterramento individual

1 95 43 89 Perturbados por uma inumação posterior (ent.25 – Fase 2)44 90

Tabela 2

Relação dos enterramentos da Fase 1 da Vala 16.2.

Sepultura Enterramento Observações

N.º N.º UE N.º N.º UE

2 105 29 56 A sua abertura implicou a destruição da sep. 5 (Fase 1)

3 106 52 99 Enterramento Individual

6 127 67 125 Enterramento Individual

4 107 _ _ A ausência de enterramento pode justificar-se destruição provocada pela abertura de vala de infraestruturas

Tabela 3

Relação dos enterramentos da Fase 2 da Vala 16.2.

Figura 7

Sepultura 2, enterramento 105.

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enterramentos 107 e 108 (Fase 3) foram ou não intencionalmente enterrados nesta estru-tura funerária. Na área desta sepultura, mas

com uma orientação distinta, identificou-se ainda o enterramento 114 (visíveis apenas a tíbia e fíbula direitas).

3.3.3. Fase 3O intervalo de tempo entre as fases 2 e 3 não é determi-nável a partir dos dados dis-poníveis, contudo, optou-se por separar as inumações que, de forma inequívoca, se encontram associadas a uma estrutura funerária (Fase 2) e os esqueletos que se locali-zam na zona de sepulturas, mas que levantam dúvidas, no que respeita à intenciona-lidade do enterramento nes- se espaço.

O enterramento 96 foi inu-mado na área da sepultura 16, no entanto, a sua dispo-sição não é coincidente com a dos enterramentos da Fase 2. Nesta área, registou-se ainda o enterramento 92.Relativamente aos enter-ramentos 107 e 108, uma das questões que se coloca prende-se com o facto de o limite sul da sepultura 21 apenas se começar a de-finir a partir do momento em que se identifica o en-terramento 109, todavia, o limite norte era já percep-tível anteriormente. Ambos os enterramentos se loca-lizavam sensivelmente à

Sepultura Enterramento Observações

N.º N.º EU N.º N.º UE

10 174 81 160 O crânio do esqueleto da UE 160 estava localizado ao nível das tíbias do esqueleto UE da 169 e, tendo em conta que este último enterramento foi apenas parcialmente removido, não é possível reconstituir a sequência cronológica das inumações. 85 169

16 214 106 224 Sobreposição de duas inumações separadas por um depósito. A opção de se considerarem na mesma fase justifica-se pelo facto de ocuparem a mesma estrutura funerária, o que pode indicar um intervalo de tempo curto entre os dois enterramentos. A inumação mais antiga, esqueleto da UE 224, foi coberta pelos depósitos das UE 216 e 213, tendo sido depositado sobre este último o esqueleto da UE 209.

103 209

20 232 104 210 Os esqueletos das UE 210 e 221 foram inumados lado a lado, mas com um ligeiro desvio na orientação, podendo apenas resultar da gestão do espaço disponível. Esta sepultura não foi integralmente definida, por se encontrar parcialmente sob o algeroz, ficando por esclarecer a sua relação com a sepultura 27 (Fase 1)

105 221

21 258 109 253 Enterramento individual?

Tabela 4

Relação dos enterramentos da Fase 2 da Vala 16.3A.

Figura 8

Enterramentos 104 e 105

80

mesma cota, estando o enterramento 107 a Este do 108, o que implica que excederia o espaço delimitado pela sepultura 21, o que não é visíve, porque foi cortado pela vala da electricidade.

3.4. Vala 16.3BA estratigrafia registada apresenta inúmeras perturbações recentes, com maior incidência a Este dos lancis. À semelhança do que foi referido para as restantes valas, o faseamento

proposto apresenta algumas condicionantes, justificadas não só pelas referidas alterações, como pela impossibilidade de, na maioria dos casos, estabelecer relações físicas directas entre as diferentes realidades.

3.4.1. Fase 1A criação de uma fase distinta para a sepul-tura 25 justifica-se pelo facto de ter sido par-cialmente destruída pela sepultura 26 (Fase 2). Este faseamento resulta de uma hipótese

Figura 9

Enterramento 106.

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interpretativa, baseada nos dados observá-veis. Contudo, tendo em conta a ambiguidade desses dados, não se pode perspectivar esta interpretação como algo fechado, mas, antes, susceptível de ser alterada.

3.4.2. Fase 2A área a que se reportam os contextos arque-ológicos considerados nesta fase apresenta um elevado grau de destruição e, em determi-nados casos, não é possível determinar quais as causas. Se algumas situações se referem a acções recentes, sendo disso exemplo a vala da electricidade, algumas realidades foram alteradas enquanto o espaço era utilizado como necrópole e, nestas situações, o proces-so de destruição nem sempre é claro.

Nesta fase, coexistem enterramentos com e sem estruturas funerárias associadas, o que se explica pelas relações estratigráficas regis-tadas. Relativamente às inumações efectua-das sem um espaço definido, registaram-se os enterramentos 120, 122 e 131, cobertos pelo mesmo depósito (sobre o qual se iden-tificou outro nível de enterramentos – Fase 3) e assentes no substrato geológico, que não estabelecem qualquer relação física directa entre si.

3.4.3. Fase 3A Fase 3 respeita essencialmente à metade sudoeste da vala, onde se registaram inuma-ções efectuadas directamente sobre o substra-to geológico e cobertas pelo mesmo depósito. Os enterramentos 116, 124, 121, 130, 118, 119, 129, 115 e 117 correspondem a estas carac-terísticas. Relativamente aos enterramentos 126, 125 e 128, não é viável determinar toda a sequência estratigráfica, uma vez que não foram levantados.

Não foi possível, com os dados disponíveis, determinar a relação entre os enterramentos 124, 121 e 130, podendo apenas aferir-se, pela

sobreposição dos desenhos, que o enterra-mento 130 terá sido o último a ser inumado. A mesma situação volta a colocar-se relati-vamente aos enterramentos 119 e 129, sendo que, neste caso, tendo em conta o elevado grau de destruição, assim como a inexistên-cia de uma relação física directa, não se apre-senta qualquer hipótese interpretativa.

Sepultura Enterramento Observações

N.º UE N.º EU

26 300 136 292 Enterramento Individual

24 297 134 288 O braço esquerdo do esqueleto da UE 293 encontrava-se sobre o braço direito do esqueleto da UE 288. A Sul do primeiro foi inumado o esqueleto da UE 290, sem qualquer relação física directa com nenhum dos outros enterramentos, sendo todos cobertos pelo depósito da UE 287.As inumações são contemporâneas ou com um curto intervalo de tempo entre elas.

135 290

137 293

22 291 133 286 Enterramento individual? A sepultura encontra-se muito destruída pela abertura de duas valas de infra-estruturas recentes

23 296 _ _ Encontrava-se muito destruída, registou-se no seu interior apenas um crânio

Tabela 5

Relação dos enterramentos da Fase 2 da Vala 16.3B.

Figura 10

Enterramentos 136, 138 e 139.

82

Verificou-se, ainda, o caso do enterramento 139, cuja inumação implicou a destruição da parte superior do enterramento 138 e pro-vavelmente a remoção do crânio do enterra-mento 136 (Fase 2).

4. COMPONENTE ARTEFACTUAL

A análise preliminar dos materiais recolhi dos na escavação arqueológica da necró-

pole da Rua do Instituto Bacteriológico per-mite verificar a escassez de espólio associado aos enterramentos. A maioria da componente artefactual é proveniente de depósitos cuja formação ocorreu num período em que o espaço já não era utilizado com este fim, inviabilizando que sejam utilizados como elementos datantes da mesma.

4.1. MoedasRecolheram-se três moedas em toda a área de escavação, duas relacionadas com enter-ramentos, ainda que não em contacto físico directo, e outra num depósito, sendo a sua cronologia anterior à construção do colégio, factor que condiciona a sua utilização como elemento datante.

As duas moedas relacionadas com os enter-ramentos são ceitis, com um período de cunhagem entre os reinados de D. Afonso V e D. Sebastião (1438-1578). Não é possível determinar em que reinado foram cunhadas, uma vez que a observação das faces é condi-cionada pelo seu mau estado de conservação. Relativamente à moeda registada na UE 13, trata-se de um real de cobre do reinado de D. João III (1521-1557) (VAZ, 1969).

4.2. AlfinetesRecolheram-se 6 alfinetes, que não se encon-travam directamente associados a nenhum enterramento, mas apenas dois se encontram inteiros. A sua presença poderá indiciar que os corpos eram inumados envoltos num sudá-rio. No entanto, a fraca expressividade deste artefacto condiciona a fundamentação da hipótese avançada. Em termos morfológicos, pode apenas dizer-se que se tratam de alfine-tes de cabeça redonda, comuns em contextos semelhantes.

4.3. Outros objectosForam ainda recolhidos um anel de cobre, em associação com o enterramento 77 (Fase 2), e 11 contas de cor verde (Fig. 11), regis-tadas em associação com o enterramento 97

(sepultura 18 – Fase 1), sendo interpretadas como fazendo parte de um rosário. No entan-to, a associação efectuada com esta inumação não pode ser comprovada, na medida em que se localizavam junto ao membro inferior esquerdo, não se encontrando in situ.

5. ANÁLISE ANTROPOLÓGICA

A intervenção arqueológica na Rua do Ins- tituto Bacteriológico revelou um eleva-

do número de enterramentos humanos, em contexto primário, e um elevado número de restos humanos encontrados em contexto secundário, isto é, resultando do distúrbio antigo de algumas das sepulturas no mesmo cemitério, quando da abertura de valas para novos enterramentos.

5.1. Ritual de enterramentoAs sepulturas, quando identificadas, consis-tem em fossas escavadas no solo, maiorita-riamente com enterramentos individuais, em contexto primário, em que os restos humanos se encontraram reduzidos apenas aos ele-mentos do esqueleto. Na maioria dos casos, o corpo foi colocado na sepultura, orientado com a cabeça para Oeste, ou nessa direcção aproximada, isto é, com uma ligeira inclina-ção para Sudoeste ou Noroeste5.

A inexistência de elementos componentes de caixão (pregos, restos de madeira ou tecido), e o facto de muitos indivíduos se encontra-rem com os membros inferiores sobrepostos parece indicar que o defunto terá sido envolto num sudário. No entanto, em todos os enter-ramentos, o corpo encontrava-se colocado sobre as costas, com os membros inferiores estendidos, às vezes, com um dos pés sobre-posto ao outro, ou seja, com o pé direito sobre o esquerdo ou vice-versa. Esta posição dos membros inferiores, em que um pé se sobre-põe a outro, parece resultar da prática de

Figura 11

Contas de rosário associadas ao enterramento 97.

83

Intervenções } Necrópole do Colégio de Santo Antão-o-Novo

se envolver o corpo num sudário, ocorrendo essa sobreposição no momento da colocação do defunto na sepultura. Ao contrário dos membros inferiores, é mais variada a posição em que se encontravam os braços, estando estes estendidos ao longo do corpo, com a superfície palmar das mãos orientada para cima, para baixo ou para o corpo: em semi-flexão, de forma a que as mãos pousem sobre a zona púbica; flectidos, cruzando-se sobre o abdómen ou sobre o tórax; ou ainda com um dos braços flectido sobre si mesmo, com a mão colocada sobre o ombro.

Quando os braços se cruzam sobre o tórax ou sobre o abdómen, tanto o direito se sobrepõe ao esquerdo, como o esquerdo ao direito, não existindo uma regra rígida em relação ao seu posicionamento; parece que o objectivo principal tenha sido o de cruzar os braços sobre o tronco, sendo pouco importante se estes o cruzam mais acima, na zona do tórax, ou mais abaixo, sobre o abdómen. Quando se encontram estendidos ao longo do corpo, pro-vavelmente, a posição das mãos não é propo-sitada, mas resulta dos movimentos ocorridos durante o transporte e/ou descida do corpo para a sepultura. Neste sentido, é provável ainda que factores tafonómicos, relacionados com o processo da decomposição do corpo, tenham também tido a sua influência.

5.2. Diagnose sexual e etáriaA análise dos restos humanos encontrados durante o decorrer dos trabalhos permitiu verificar que um número mínimo de 163 indivíduos havia sido sepultado na área do cemitério intervencionada. Este foi o resulta-do da descoberta de 134 enterramentos ainda encontrados in situ, em contexto primário, ao qual se adicionaram os restos desarticulados de outros 29 indivíduos encontrados em con-texto secundário.

Apenas 67 indivíduos adultos possuíam os elementos do esqueleto necessários para permitir uma determinação do sexo com alguma segurança, através da observação de caracteres sexualmente dimórficos no os coxae (Brooks & Suchey, 1990; Buikstra & Ubelaker, 1994: 18; Krogman & Iscan, 1986: 212) e no crânio (ibid.). Os dados recolhidos revelaram que a esmagadora maioria desses indivíduos (66) pertencia ao sexo masculino. Apenas um indivíduo – representado pelo

enterramento 98 – apresentava, no os coxae e esqueleto craniano, uma morfologia caracte-rística do sexo feminino.

A idade biológica à morte, de cada indiví-duo, foi determinada através da observação de alterações relacionadas com a idade, na morfologia da sínfise púbica, na superfície auricular do os coxae, no grau de fusão das suturas do ectocranium e na ossificação da epífise esternal da clavícula (ibid.). O nível de desgaste dentário (Buikstra & Uberlaker, 1994; Hillson, 1996; Smith, 1984) foi também considerado como um método adicional de diagnóstico e, para os indivíduos imaturos, o desenvolvimento da dentição (Hillson, 1996) e do esqueleto (Buikstra & Ubelaker, 1994; Krogman & Iscan, 1986; Scheuer & Black, 2000). Este estudo verificou que, dos 134 enterramentos individualizados, 102 desses indivíduos são adultos e 32 indivíduos ima-turos. Entre os últimos, verificou-se que um total de 12 indivíduos têm idades compre-endidas entre os 7 e os 13 anos de idade, no momento da sua morte. Os restos humanos de um infante, com 0-6 meses de idade, foram descobertos sobre o ombro direito de um enterramento adulto (enterramento 119).

O nível de desgaste do esmalte dentário da maioria dos indivíduos é pouco acentuado – excepto no caso de um indivíduo com mais de 60 anos de idade –, podendo indicar um tipo de alimentação à base de alimentos bem processados (farinhas bem moídas; alimentos bem cozinhados), pouco abrasivos, que ofere-cem pouca resistência durante o processo de mastigação.

5.3. PaleopatologiaApenas um caso de patologia degenerativa articular (osteoartrite) foi observado num indivíduo adulto do sexo masculino (enter-ramento 77), na superfície patelo-femoral da perna esquerda. A presença de foramina e de eburnação na superfície articular é patogno-mónica de osteoartrite (Rogers & Waldron, 1995: 32-45), podendo concluir-se com segu-rança que este indivíduo sofria desta doença articular. Um estudo detalhado dos materiais, a realizar no futuro, poderá revelar outros casos, presentes entre a população exumada na Rua do Instituto Bacteriológico.

Um indivíduo adulto do sexo masculino (enterramento 86) apresenta ainda lesões patológicas na área torácica da coluna verte-bral, características de DISH (Ortner, 2003:

5 Excepto no caso de dois indivíduos, um adulto (ent. 32) e um juvenil (ent. 55), em que o corpo se encontrava com a cabeça para Norte e os pés para Sul.

84

558-560), afectando as vértebras torácicas T7 e T8. O acetabulum e a articulação do joelho, na perna direita, apresentam também tecido ósseo hipertrófico, provavelmente associado a esta patologia.

Foi também observada a presença de uma fractura na parte distal da diáfise do rádio esquerdo, num indivíduo adulto do sexo masculino (enterramento 50). A lesão apre-senta-se, no entanto, completamente cicatri-zada, demonstrando que o insulto ocorrera algum tempo antes da altura da morte do indivíduo.

Periostite foi observada na fíbula direita e esquerda de um indivíduo adulto de sexo indeterminado (enterramento 59), devido à falta de elementos do esqueleto diagnosticá-veis, na forma de lesões ósseas caracterizadas por estrias de osso, ao longo da superfície de ambos os ossos. Esta alteração patológica do tecido ósseo, causada por bactérias, represen-ta uma infecção não específica, isto é, que não pode ser atribuída a uma bactéria especí-fica. Porém, casos clínicos modernos revelam que staphylococci, streptococci, pneumococci e o bacílio da febre tifóide (menos comum) são as bactérias mais vulgarmente relacionadas com este tipo de patologia (Roberts & Manchester, 1995: 126-130). No caso do nosso indivíduo, somente a superfície exterior do osso fora afectada, indicando que apenas o periosteum (a membrana que envolve o osso) foi atingido, a infecção não se estendendo até à medula óssea.

5.4. Modificação cultural da dentição Um indivíduo adulto, de sexo masculino (enterramento 28), apresenta modificação artificial da dentição anterior. Este tipo de comportamento cultural, que resulta na alte-ração artificial de elementos da dentição (Buikstra & Ubelaker, 1994: 58-60), existe em algumas culturas da África Equatorial e Oceânia, nunca tendo sido antes registada em Portugal.

No caso do nosso indivíduo, os dentes incisi-vos, superiores e inferiores, foram mutilados (com uma lâmina) nas suas extremidades interproximal mesial e interproximal distal, de forma a criar uma ponta aguçada, trans-formando-os, assim, em caninos artificiais. O tipo de transformação aqui observada assemelha-se ao tipo III7 de Buikstra & Ube-laker (1994: 59). Infelizmente, o crânio do indivíduo desintegrou-se durante o processo

de escavação, e grande parte do esqueleto não foi escavado, devido à sua destruição e perda anterior, durante obras da EDP (realizadas anteriormente). É portanto, neste momento, impossível de determinar a afinidade bio-lógica do indivíduo, através de uma análise visual do esqueleto. Porém, existe a possi-bilidade de que se tratava de um indivíduo com origem no Continente Africano ou no Sudeste Asiático, e que terá sido trazido para Portugal numa missão religiosa, ou como produto do tráfico de escravos da África Equatorial. Podemos, apenas, adiantar de que não se tratava de uma prática cultural corrente em Portugal ou na Europa.

Figura 12

Enterramento 86: pormenor da perna direita.

Figura 13

Patologia do enterramento 50.

85

Intervenções } Necrópole do Colégio de Santo Antão-o-Novo

Figura 14

Enterramento 28: pormenor da alteração artificial da dentição.

86

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS DE INVESTIGAÇÃO

A necrópole identificada na Rua do Insti tuto Bacteriológico é associada ao Colégio

de Santo Antão-o-Novo, inserindo-se no perí-odo Moderno (séculos XVII-XVIII). Os dados recolhidos na presente escavação permitem confirmar esta interpretação, sustentada em dados históricos, uma vez que a população aqui inumada é, na sua quase totalidade, per-tencente ao sexo masculino, elemento que se coaduna com as características deste colégio.A cronologia avançada resulta da análise das fontes históricas, que apontam o Colégio de Santo Antão-o-Novo como única construção neste local, já que, anteriormente, funcionava como descampado, utilizado em actividades agrícolas. Em 1759, os jesuítas foram expulsos de Portugal pelo Marquês de Pombal e, neces-sariamente, o colégio deixou de desempenhar as funções para as quais tinha sido criado. Posteriormente, na sequência do terramoto de 1755, que destruiu o Hospital Real de Todos os Santos, passou a funcionar como Hospital, designado Hospital Real de S. José, em home-nagem ao monarca reinante.

A bibliografia consultada não indica a localiza-ção do cemitério e, ainda que se tenha identifi-cado o espaço funerário e a população aí inu-mada, ficaram por esclarecer algumas questões, nomeadamente, a sua dimensão e a relação com a igreja do colégio. Até meados do século XIX, o espaço que actualmente corresponde à zona da Casa Mortuária do Hospital de S. José e à Rua do Instituto Bacteriológico não tinha qualquer construção, sendo representada na planta de Filipe Folque, datada de 1855-1856, como um espaço verde (Fig. 1).

A necrópole estende-se para Oeste, perceptível pela presença de esqueletos que excedem os limites da área de escavação e continuaria, igualmente, para Este. Contudo, a vala dos cabos de electricidade destruiu alguns desses contextos, não sendo possível, com os dados disponíveis, determinar a continuação da necrópole na área já pertencente ao Hospital de São José, sendo, todavia, pertinente colocar essa hipótese.

A maioria dos enterramentos registados não tinha qualquer estrutura funerária associa-da, o que não implica, necessariamente, a sua inexistência, podendo, antes, resultar das características físicas do terreno, já que se

trata de um solo maioritariamente arenoso, e das perturbações recentes a que a necrópole foi sujeita. As estruturas funerárias registadas foram identificadas em solos predominante-mente argilosos, onde se distinguiu o enchi-mento da sepultura do sedimento que foi cor-tado para a sua abertura. No entanto, mesmo que se pressuponha a existência de sepulturas escavadas no substrato geológico para todos os enterramentos, a aparente ausência de caixões poderá ser representativa da classe social, quer relativamente aos estudantes, como aos pró-prios religiosos.Registaram-se, apenas, vinte e sete sepulturas, estruturas negativas escavadas no substrato geo-lógico, nas quais foram inumados trinta e sete enterramentos. Importa referir que, em duas estruturas funerárias, não se registou qualquer esqueleto, o que poderá ser explicado por per-turbações recentes, nomeadamente, a vala aberta para a instalação da caixa da EDP.

A forma das sepulturas reporta-se ao limite do esqueleto, todavia, não assume a forma antropo-mórfica tradicional, isto é, a zona da cabeça não se encontra individualizada, nem se verifica um estreitamento definido na zona dos pés. Em determinados casos, não é possível uma carac-terização completa das estruturas funerárias, uma vez que foram parcialmente destruídas por perturbações recentes, ou, em alguns casos, por outras sepulturas.

A organização do espaço funerário é difícil de estabelecer, na medida em que a área de escavação é limitada, todavia, parece existir uma coerência na orientação de sepulturas e enterramentos, verificando-se uma maior fre-quência de SW-NE. A única variação expressi-va é W-E, sendo as restantes residuais. Tendo presente que a orientação preferencial definida pelo cânone católico é Oeste-Este, é possível interpretar a maior expressividade da variante SW-NE como estando relacionada com a loca-lização da igreja.

A caracterização económico-social da popula-ção inumada nesta necrópole é condicionada pelo contexto a que se reporta, um colégio jesuíta, onde também se inseria uma popula-ção não clerical, os estudantes, que, de acordo com a informação histórica disponível, não se restringia apenas a uma classe social mais abastada. De facto, o crescimento populacional que se verificou no Colégio de Santo Antão-o-Velho resulta, precisamente, da abertura social que caracterizava o ensino ministrado pelos

87

Intervenções } Necrópole do Colégio de Santo Antão-o-Novo

jesuítas, resultando a construção do Colégio de Santo Antão-o-Novo da necessidade de um espaço maior, capaz de abarcar toda a popula-ção estudantil que recorria ao ensino gratuito.

Os dados disponíveis não permitem, a partir das estruturas funerárias e mesmo do espólio associado aos enterramentos, estabelecer se todos os indivíduos pertenciam à mesma clas-se social ou se este factor não tinha qualquer relevância no tratamento funerário. Recolhe-ram-se 3 moedas, 6 alfinetes, 1 anel e 11 contas de rosário, todavia, a sua representatividade no contexto geral é escassa, não sendo viável, na maioria dos casos, estabelecer uma relação directa com os enterramentos.

Em termos socioculturais, importa salientar o enterramento 28, onde se registou modificação artificial da dentição anterior, comportamento cultural que não era corrente em Portugal, nem na Europa. Coloca-se a possibilidade da sua proveniência geográfica se situar no Conti-nente Africano ou no Sudeste Asiático, poden-do relacionar-se com missões religiosas ou com o tráfico de escravos. Tendo presente a vocação missionária dos Jesuítas, a primeira hipóte-se apresenta-se mais sustentável. No actual estado da investigação, não é ainda exequível determinar se se tratava de um caso isolado ou se a presença de indivíduos não europeus seria frequente.

A população inumada na necrópole é, na sua maio-ria (59%), pertencente ao sexo masculino, tendo-se identificado apenas um indivíduo pertencente ao sexo feminino, sendo que, em 40% dos casos, não foi possível efectuar a diagnose sexual.

A presença de um indivíduo do sexo feminino coloca duas questões: a primeira consiste em determinar o porquê da sua presença numa necrópole associada a um colégio masculino; e a segunda prende-se com a datação obtida por radiocarbono, que indica um intervalo tempo-ral entre 1441-1634, a 2 sigmas. Tendo presente que os enterramentos cristãos são realizados em solo sagrado, estatuto esse habitualmente conferido pela presença de um templo, e que a igreja do colégio foi fundada em 1613 e inau-gurada em 1653, deve colocar-se a questão do porquê da possibilidade de um enterramento num espaço que ainda não seria sagrado, isto considerando as datas anteriores a 1613. Pode colocar-se a hipótese deste enterramento estar associado à Igreja do Convento de Santana, no entanto, importa salientar que a área de necró-

pole deste convento se situa a Sul do último enterramento registado na presente escavação.No geral, e ainda que seja necessário um estudo de laboratório do espólio osteológico recolhido (que se encontra, neste momento, a ser parcial-mente estudado, no âmbito de uma tese de mes-trado6), a população inumada na necrópole é relativamente jovem (76% de indivíduos adultos e 24% de imaturos), mesmo no que se refere aos indivíduos adultos. Há a salientar a presença de dois indivíduos numa faixa etária superior, um com mais de 40 anos e outro com mais de 60, que podemos relacionar com os mestres ou com os clérigos.

Tendo presente que se trata de um colégio, uma maior percentagem de indivíduos jovens, em alguns casos pré-adolescentes e adolescentes, é perfeitamente consentânea com a realidade. Existe apenas um caso, de um recém-nascido, com idade estimada entre os 0 e os 6 meses pós-natal, cuja ausência de dados inviabiliza que se estabeleça uma hipótese interpretativa para a sua presença neste contexto.

As patologias identificadas remetem para situ-ações individuais, não sendo características comuns a toda a população. Não foi possível identificar epidemias, marcas resultantes de actividades físicas sistemáticas que poderiam indicar profissões mais específicas, ou mesmo marcas traumáticas das quais tenha resultado a morte do indivíduo.

Pela boa conservação da dentição, é ainda pos-sível uma abordagem ao tipo de dieta alimentar, com base no desgaste dentário, que aponta para o consumo à base de produtos bem processados, (farinhas bem moídas; alimentos bem cozinha-dos), que oferecem pouca resistência (e são pouco abrasivos), durante o processo de mastigação.

A escavação realizada na Rua do Instituto Bac-teriológico forneceu dados importantes para a caracterização de uma parcela específica da população de Lisboa nos séculos XVII-XVIII. No âmbito da interpretação histórico-arqueoló-gica, a presença de uma mulher, de um recém-nascido (não se encontram associados) e de um indivíduo não europeu levantam questões para as quais apenas podem ser colocadas hipóteses. Ainda assim, estes elementos funcionam como indicadores de uma complexidade social mais abrangente, que excede o âmbito da estrutu-ra eclesiástica/ colegial que funcionou neste espaço.

6 A Tese em questão está a ser realizada pelo Dr. Ricardo Godinho.

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Intervenções } Necrópole do Colégio de Santo Antão-o-Novo

UE N.º Sondagem Sexo Idade Posição das mãos Orientação da cabeça

15 3 16.2 Masculino Adulto Indeterminada SW

16 4 16.2 Masculino Adulto Zona Pélvica W

17 5 16.2 Masculino Adulto Zona pélvica SW

18 10 16.2 Masculino Adulto Zona pélvica W

19 11 16.1 Indeterminado Adulto indeterminada NE

20 6 16.2 Masculino Adulto Zona pélvica SW

21 9 16.1 Masculino Adulto Zona pélvica W

23 12 16.2 Indeterminado Subadulto Zona pélvica SW

25 13 16.2 Masculino Adulto Indeterminada W

27 14 16.2 Masculino Adulto Ao lado do corpo W

28 15 16.1 Masculino Adulto Tórax W

29 16 16.1 Masculino Adulto Abdómen SW

32 17 16.1 Masculino Adulto Indeterminada SW

33 18 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

34 19 16.1 Indeterminado Juvenil indeterminada SW

45 20 16.1 _ _ _ SW

46 21 16.2 Masculino Adulto Zona pélvica SW

48 22 16.1 Masculino Adulto Zona pélvica ?

49 23 16.1 Masculino Adulto Zona pélvica SW

50 24 16.1 Masculino Subadulto Indeterminada SW

52 25 16.2 Masculino Juvenil Zona pélvica SW

53 26 16.1 Masculino Adulto Zona pélvica SW

54 27 16.1 Masculino Adulto Ombros SW

55 28 16.1 Masculino Adulto Indeterminada SW

56 29 16.2 Masculino Adulto Zona pélvica SW

68 30 16.1 Masculino Subadulto Zona pélvica SW

69 31 16.1 Masculino Adulto Zona pélvica SW

73 32 16.2 Masculino Adulto Ombro N

76 33 16.2 Indeterminado Subadulto Indeterminada SW

77 34 16.2 Indeterminado Juvenil (7-8 anos) Zona pélvica SW

78 35 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

79 36 16.1 Indeterminado Subadulto Indeterminada Oeste?

83 38 16.1 Masculino Subadulto Zona pélvica SW

84 39 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

85 40 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada Oeste?

86 41 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

87 42 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada Oeste?

89 43 16.2 Masculino Adulto Indeterminada SW

90 44 16.2 Masculino Adulto Indeterminada SW

91 45 16.1 Masculino Adulto Zona pélvica SW

92 46 16.1 Indeterminado Adulto Tórax NW

93 47 16.1 Masculino Adulto Zona pélvica W

94 48 16.1 Indeterminado Adulto Tórax W

96 49 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

97 50 16.1 Masculino Adulto Tórax SW

98 51 16.2 Masculino Adulto Tórax SW

99 52 16.2 Masculino Adulto Abdómen SW

104 55 16.1 Indeterminado Juvenil Indeterminada ?

109 54 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

110 55 16.1 Indeterminado Adulto Zona pélvica W

111 56 16.1 Indeterminado Juvenil Zona pélvica W

112 57 16.1 Indeterminado Juvenil Ao lado do corpo SW

113 58 16.1 Masculino Adulto Zona pélvica W

114 59 16.1 Indeterminado Adulto Tórax SW

115 60 16.1 Masculino Adulto Indeterminada SW

Tabela 6 – Relação dos enterramentos

90

UE N.º Sondagem Sexo Idade Posição das mãos Orientação da cabeça

116 61 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada W

117 62 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada W

118 63 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

120 64 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

122 65 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada W

123 66 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

125 67 16.2 Masculino Adulto Indeterminada SW

126 68 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

129 69 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada W

130 70 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

131 71 16.1 Indeterminado Juvenil Indeterminada W

132 72 16.1 Masculino Adulto Indeterminada W

135 73 16.1 Masculino Adulto Indeterminada SW?

139 74 16.1 Indeterminado Juvenil Indeterminada SW

142 75 16.1 Masculino Adulto Indeterminada SW

143 76 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

144 77 16.1 Masculino Adulto Abdómen SW

145 78 16.1 Masculino Adulto Ombros SW

146 79 16.1 Indeterminado Juvenil (11-12 anos)

Abdómen SW

147 80 16.1 Masculino Adulto Zona pélvica SW

160 81 16.3A Masculino Subadulto Tórax SW

161 82 16.1 Indeterminado Juvenil Indeterminada W

162 83 16.1 Masculino Adulto Indeterminada SW

163 84 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

169 85 16.3A Indeterminado Adulto Indeterminada SW

171 86 16.1 Masculino Adulto Abdómen SW

172 87 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada W

182 88 16.1 Masculino Adulto Indeterminada W

184 89 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

185 90 16.1 Masculino Adulto Zona pélvica SW

186 91 16.1 Masculino Adulto Abdómen SW

187 92 16.3A Indeterminado Adulto Indeterminada SW

190 93 16.1 Masculino Adulto Abdómen SW

192 94 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

197 95 16.1 Indeterminado Subadulto Tórax W

199 96 16.3A Indeterminado Subadulto Tórax SW

200 97 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

204 98 16.1 Feminino Adulto Abdómen SW

205 99 16.1 Indeterminado Juvenil Indeterminada SW

206 100 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

207 101 16.1 Indeterminado Subadulto Indeterminada SW

208 102 16.1 Indeterminado Adulto Indeterminada SW

209 103 16.3A Masculino Adulto Indeterminada ?

210 104 16.3A Masculino Subadulto Abdómen SW

221 105 16.3A Masculino Adulto Tórax SW

224 106 16.3A Masculino Subadulto Zona pélvica W

225 107 16.3A Masculino Adulto Zona pélvica SW

231 108 16.3A Indeterminado Subadulto Tórax SW

236 113 16.3A Indeterminado Juvenil (9 anos) Zona pélvica Oeste?

253 109 16.3A Masculino Adulto Tórax SW

254 110 16.3B Indeterminado Adulto Indeterminada SW

255 111 16.3B Indeterminado Adulto Indeterminada Oeste?

256 112 16.3B Masculino Subadulto Zona pélvica SW

259 114 16.3A Masculino Adulto Indeterminada SW

91

Intervenções } Necrópole do Colégio de Santo Antão-o-Novo

UE N.º Sondagem Sexo Idade Posição das mãos Orientação da cabeça

264 115 16.3B Indeterminado Adulto Indeterminada SW

265 116 16.3B Masculino Adulto Indeterminada W

268 117 16.3B Indeterminado Adulto Indeterminada SW

269 118 16.3B Indeterminado Infante Zona pélvica SW

270 119 16.3B Indeterminado Adulto Zona pélvica SW

271 120 16.3B Indeterminado Subadulto Zona pélvica SW

274 121 16.3B Masculino Adulto Zona pélvica SW

275 122 16.3B Masculino Adulto Zona pélvica SW

276 123 16.3B Masculino Adulto Indeterminada SW

277 124 16.3B Masculino Adulto Zona pélvica SW

278 125 16.3B Indeterminado Adulto Indeterminada Oeste?

279 126 16.3B Indeterminado Subadulto Zona pélvica SW

280 127 16.3B Indeterminado Adulto Zona pélvica SW

281 128 16.3B Indeterminado Adulto Indeterminada SW

282 129 16.3B Masculino Adulto Zona pélvica W

283 130 16.3B Masculino Adulto Zona pélvica W

284 131 16.3B Indeterminado Adulto Indeterminada Oeste?

285 132 16.3B Masculino Subadulto Tórax SW

286 133 16.3B Masculino Adulto (+ 60 anos) Tórax SW

288 134 16.3B Indeterminado Subadulto Ombros SW

290 135 16.3B Masculino Adulto (+ 40 anos) Zona pélvica SW

292 136 16.3B Indeterminado Adulto Tórax SW

293 137 16.3B Indeterminado Subadulto Zona pélvica SW

294 138 16.3B Indeterminado Adulto Indeterminada SW

295 139 16.3B Indeterminado Adulto Indeterminada SW