TCC emancipações municipais, aumento nos gastos publicos ou uma melhor divisão de renda agnaldo...

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UNIVERSIDADE ANTONIO CARLOS FUNDAÇÃO ANTONIO CARLOS - AIMORÉS - MINAS GERAIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO Aguinaldo Serrano de Freitas EMANCIPAÇÕES: AUMENTO NOS GASTOS PUBLICOS OU UMA MELHOR DIVISÃO DE RENDA? UM ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE O DISTRITO DE ROSEIRAL DE MUTUM - MG.

Transcript of TCC emancipações municipais, aumento nos gastos publicos ou uma melhor divisão de renda agnaldo...

UNIVERSIDADE ANTONIO CARLOS

FUNDAÇÃO ANTONIO CARLOS - AIMORÉS - MINAS GERAIS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

Aguinaldo Serrano de Freitas

EMANCIPAÇÕES: AUMENTO NOS GASTOS PUBLICOS OU UMAMELHOR DIVISÃO DE RENDA?

UM ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE O DISTRITO DEROSEIRAL DE MUTUM - MG.

MUTUM, MINAS GERAIS – BRASIL

2013

Aguinaldo Serrano de Freitas

EMANCIPAÇÕES: AUMENTO NOS GASTOS PUBLICOS OU UMAMELHOR DIVISÃO DE RENDA?

UM ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE O DISTRITO DEROSEIRAL DE MUTUM - MG.

Trabalho de Conclusão de Curso,apresentado ao curso de graduação emDireito da Universidade Antonio Carlos deAimorés, Minas Gerais – Brasil, para aobtenção do titulo de bacharel em Direito.

Orientado e Tutor: Prof. Alexandre Jacob

AIMORÉS – MG

2013

Dedicado à:

À minha Esposa Juliana, Minha Mãe Idézia, meus filhos;Agda, Gustavo e Clara e meus irmãos, Alzinéa e Alzimar,por todos os momentos em que me foram alicerces para orecomeço de uma nova vida. Especialmente ao meu pai JoãoSalazar (in memorian) que nos deixou no meio do curso, masme incentivava como ninguém.

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Universidade Antonio Carlos de Aimorés, por merecepcionar com tanto esmero, e aos operadores do Prouni,pela oportunidade especial e impar de me graduar em tãorenomeada instituição e pela iniciativa pioneira de trazerà Aimorés um curso de tal envergadura para esta cidade.

À minha turma de direito, que me fizeram perceber que nãoestava sozinho em momentos de dificuldades extremas.

Ao amigo Fabiano que me foi leal e dedicou parte do seutempo à mim, em longas horas de estudos e contribuiçãopessoal.

Ao coordenador do curso de Direito, André Vidal, que mefez entender fatos que eu nunca havia estudando à fundo nomeio jurídico e social.

Aos demais professores, Marcela, Saint Clair, Fabiano,Maria da Glória, Alexandre

Jacob,-------,---------,--------,-------- que em dias deluta marcaram as nossas vidas.

À minha irmã Alzinéa Serrano de Freitas, que me procuravano transporte até a faculdade todo dia, pedia o motoristapra me esperar e insistiu pra que eu continuar.

Minha mãe, que não dormia enquanto eu não chegasse emcasa, preocupada e atenta.

Minha esposa Juliana Rodrigues Leite de Freitas, quecuidou dos meus 3 filhos e me incentivou a continuar,ficando sem dormir na espera da volta todos os dias.

À Alexandre Jacob--- que foi imprescindível na realizaçãodeste trabalho.

Ao Wagner Serrano (In memorian), Amigo de idas e vindas,que estava sempre comigo na estrada rumo a faculdade.

Ao Dorieldo Luiz dos Prazeres, por ter me mantidoatualizado com informações relevantes.

ABSTRACT

This work aims to collaborate with discussions with the scopeof Brazilian municipal emancipation , taking as a case study theRoseiral District , located in the municipality of Mutum inMinas Gerais , which has not passed by referendum in 1993 ,where the fury of negative politics reigned . The main study ofthis becomes deeper to know the laws and its grounds, relatingto emancipation in Brazil, as would be the local development ,studying other districts already emancipated and deeplyconcentrated on discussing improvements in the laws . The mainobjective is to study law in the Constitution and compare the

districts that were to become the face of the districtmunicipalities studied , such as laws and income are shown inthese societies and it. For that we built a practical andtheoretical framework based on three main cores : ( i )historical evolution , the first and second wavesmunicipalists ; ( II ) The second wave of emancipation ; ( III )receipt of legal norms of public law , facts , beforeemancipation had far reaching effects , using three mainvariables : (a ) the study of violence in the two situations( before and after ) , observing the graph and appearance : theorganization and supervening public safety , (b ) on the rightscontained in the programmatic cornerstones of the Constitutionof the Republic of 1988 and ( c ) the action of public power inthe execution of legal and social functions . In theconstruction of the results , both methods were in the samedirection , showing a positive development in the areas ofmunicipal law , state and federal , as its implementation andawareness of responsibilities , which were criminal, civil orenvironmental , with emphasis on the latter who underwentradical changes regarding preservation. Besides legislation ,the focus was also given to basic rights such as , health ,education and employment . It was noted the improvement in percapita income and determination of new residents in the districtemancipated while emptying was studied , and publishes legalinsecurity , compared with the Municipality of Taparuba - MG ,and Brejetuba - ES (both emancipated in 1995 ) , emancipationmeant positive outcomes for emancipated neighboringmunicipalities , in relation to the researched .

A vida só é valiosa para aqueles que buscam valores, osquais o homem não encontra sem lutas.

João Serrano de Freitas (Pai– in memorian) +05-07-2011.

RESUMOEste trabalho visa colaborar com discussões ao âmbito

de emancipações de municípios no Brasil. Emprega comoestudo de caso o distrito de Roseiral, em Mutum - MinasGerais. Este distrito foi objeto de plebiscito em 1993, emtorno de sua emancipação. No entanto, a oposição dapolítica então vigente influenciou o resultado negativo,que obrigou a localidade a permanecer até os dias atuaiscomo distrito. O estudo deste trabalho é investigar leis eseus fundamentos, aplicáveis à emancipação no Brasil, eimpactos no desenvolvimento local decorrentes daemancipação. O método de desenvolvimento emprega acomparação de dados de Roseiral com os de outros locaisantes distritos e emancipados na época em que ocorreu oplebiscito, 1993. No âmbito jurídico o trabalho foca aanálise da Carta Magna e suas disposições sobreemancipação, leis ordinárias e complementares envolvidasno processo. No que tange aos impactos decorrentes daemancipação faz-se uso de dados e informações publicadaspelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE. O desenvolvimento do trabalho é dividido em trêspartes, conforme descritas a seguir: (I) a evoluçãohistórica e a primeira onda de emancipaçõesmunicipalistas; (II) A segunda onda emancipacionista;(III) A recepção de normas legais do direito público, efatos que, antes da emancipação não surtiam efeitosabrangentes, analisados sob 3 perspectivas:, (a) Oestudo da violência nas duas situações (antes e depois daemancipação), tendo em vista a organização da segurança

publica sobrevinda; (b) O direito basilar contidoconstante da Constituição da Republica de 1988 e (c) aação do poder publico na execução de funções legais esociais decorrentes das normas programáticasconstitucionais. Na construção dos resultados, constatou-se ter havido desenvolvimento nos locais antes distritos edepois emancipados. Isso se deveu em grande parte àorganização do aparato administrativo municipalcapacitando-o a aplicar as leis locais, estaduais efederais, e à conscientização das responsabilidades entreos cidadãos, sendo elas penais, civis ou ambientais, comdestaque para esta última que passou a requerer recursosadministrativos, humanos e financeiros para suafiscalização efetiva. Além da concretude da legislaçãotocante aos direitos basilares como; saúde, educação eemprego, notou-se a melhoria da renda per capta e a fixaçãode mais habitantes nos locais emancipados. Enquanto, poroutro lado, no distrito estudado, acentuou-se oesvaziamento populacional, insegurança publica Ao secompará-lo com os Municípios de Taparuba - MG e Brejetuba-ES (ambos emancipados em 1995), nota-se que a emancipaçãosurtiu resultados positivos para esses municípios vizinhosemancipados, fazendo com que eles superassem em muito odistrito de Roseiral, que permaneceu nessa mesma condição.

Palavras chave: emancipações municipais, Roseiral de Mutum–MG, desenvolvimento socioeconômico e legislação, índicecriminais e civis, distritos,e índice de desenvolvimentode Minas Gerais, emancipações no Brasil, Roseiral, Mutum,Minas Gerais, região da Zona da Mata, população,plebiscito.

Keywords: emancipations municipal rose garden Mutum-MG,socioeconomic development and law, civil and criminalindex, districts, and development index of Minas Gerais,in Brazil emancipation, Roseiral, Mutum, Minas Gerais, theZona da Mata, population , referendum.

INTRODUÇÃO

Este trabalho foca discussões acerca das emancipaçõesmunicipais brasileiras. Como ponto de partida, analisou-seo processo a partir da década de 1930.

Este movimento intensificou-se a partir dos anos 1950adentrando a década de 1950. Sofreu restrições no períododo governo militar, entre 1970 e toda a década de 1980.Terminado o regime militar e com a Constituição de 1988, asemancipações se intensificaram novamente, conforme dadosusados neste trabalho.

Com intuito de fortalecer a democracia no Brasil, opoder constitucional originário elevou os municípios àcategoria de entes federativos. Nessa condição, passaram adesempenhar papel cada vez mais relevante na administraçãopública brasileira. Assim, as comunas, de forma similar aosEstados receberam extenso e detalhado tratamentoconstitucional, com competências administrativas,legislativas, exercidas em caráter privativo ou exclusivo,sendo que as mais relevantes à prestação de serviçossociais podem ser exercidas em colaboração com a União,Estados e outros Municípios.

Primando pela autonomia, a Constituição de 1988atribuiu aos municípios competências tributárias próprias eparticipações no produto da arrecadação de impostos daUnião e dos Estados em que se situam. Em contrapartida, foiampliada a esfera de obrigações dos municípios na prestaçãode serviços públicos essenciais. Daí surgem as dificuldadesde ordem territorial e de alocação dos recursos diversos,sendo que muitas delas motivaram emancipações.

Focando-se o caso de Roseiral como estudo, esseDistrito que perdeu a chance de se emancipar, quando noplebiscito ocorrido em 23 de março de 1992 a votaçãopredominante foi para sua manutenção como distrito. Naquele

ano haveria eleições, e ao atender interesses de caciquespolíticos locais, o povo abriu mão da emancipação agindoingenuamente em favor de interesses retrógrados eegoísticos da política antiga conservadora na épocavigente.

De acordo com PRAZERES (2005) esta decisão com efeitossociais negativos pode ser explicada pelos resquícios da"política dos coronéis" influente ainda em várias partes dointerior mineiro. Embora opere com menos força, no caso emtela, agiu com vigor bastante para frustrar a construção deuma comunidade mais desenvolvida e acolhedora às futurasgerações locais, o que se deduz pela comparação com asituação dos municípios antes distritos na mesma época ehoje emancipados.

O movimento emancipacionista foi idealizado mas nãoteve o êxito pretendido. Isso resultou na decepção daquelesque nutriam ideais progressistas, certos de que Roseiralpoderia experimentar novas fases de crescimento edesenvolvimento.

Diante deste cenário, Taparuba – MG, que obteveemancipação, já completa duas décadas nessa condição,período razoável para mensurar-se a variável proposta, suasinfluências e reflexos. Com esse intuito o trabalho procuraresponder ao seguinte problema: EMANCIPAÇÕES: AUMENTO NOSGASTOS PUBLICOS OU UMA MELHOR DIVISÃO DE RENDA?

Pretende-se também abordar como a população local avalia odesenvolvimento socioeconômico de Taparuba e Brejetuba(emancipados) e Roseiral (ainda distrito).

ROSEIRAL – MG BREJETUBA - ES

1-Foto Google 2003, www.google earth.com 2- http://br.bing.com/images/search?q=brejetuba+es&qpvt=brejetuba+es&FORM=IGRE

Para responder a questão de pesquisa, analisar-se-á aevolução do Índice de Desenvolvimento Humano - IDH, rendaper capita e população nos municípios emancipadosescolhidos comparando-se seus dados com os de Roseiral.Trabalha-se com a premissa de que a emancipação surtiuefeitos desenvolvimentistas nos dois municípios Taparuba eBrejetuba, enquanto Roseiral, por continuar na condição dedistrito, permaneceu estagnado. Certamente, a emancipaçãopor si só não explica o desenvolvimento, mas é consideradaa variável de maior peso e importância no que ocorreudurante esse tempo.

O IDH, a renda per capita e os dados da populaçãoservem como parâmetro devido à amplitude de fatores queintegram essas variáveis, os quais refletem efeitos dainovação legislativa e socioeconômica ocorrida noterritório em análise. O período entre 1991 e 2010 é ointervalo adotado para observação da evolução dos índices.Todos são foram levantados a cada vez que se realizam oscensos demográficos periodicamente feitos sobresponsabilidade do Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística - IBGE.

Dentre os critérios adotados na escolha dos municípiosde Taparuba e Brejetuba destaca-se a proximidade geográficae maior semelhança da economia e condições geográficas. Odistrito de Roseiral divisa com Brejetuba/ES e apresentanotáveis semelhanças climáticas com Tabaruba, sem falar da

proximidade entre eles, apesar de não tanta quanto comBrejetuba. Analisar e evidenciar como poderia ter sidoRoseiral hoje considerando-se que emancipado, poderia terusufruído dos mesmos avanços experimentados pelosMunicípios analisados.

Em 2002, foi lançado o livro “Cidades Imaginárias” deJosé Eli da Veiga, segundo o qual, o Brasil é menos urbanodo que se calcula. A obra enfoca a necessidade de um planoestratégico de desenvolvimento desse “Brasil rural” hojeerroneamente computado como “urbano”. A expressão “cidadesimaginárias” conota um grupo grande de municípiosconsiderados no papel como “cidades”, porém, na prática,consistem de regiões rurais carentes de políticas públicasde desenvolvimento. As emancipações devem ser inseridasnesse contexto das políticas públicas de promoção dodesenvolvimento das localidades.

Isso se defende porque em nossos dias a mídia demassas tem divulgado vários casos de populações locaispleiteando emancipações, tanto de municípios quanto deestados (caso do Pará recentemente submetido a plebiscito).Portanto, em linhas gerais, este trabalho toma por objetivogeral avaliar se a emancipação foi percebida pela populaçãolocal de Taparuba – MG e de Brejetuba - ES, como benéficaou não. E ao compará-los com o Distrito de Roseiral,identificar notáveis diferenças, refletidas nos indicadoresde IDH, População e Renda calculados para a primeira esegunda décadas pós-emancipação.

Para se atingir o objetivo geral definiu-se comoobjetivos específicos:

(I) Contextualizar Roseiral no período em queocorrera a emancipação dos dois Municípiosanalisados. Ver se a Lei orgânica dosMunicípios exerceu influência ou não nomelhoramento dos municípios. Aferir se houveevolução positiva dos indicadores de renda,

população e IDH dos municípios e de renda epopulação de Roseiral (O IBGE não mede o IDHpor distritos);

(II) Analisar a percepção da população em tornodo atraso do Distrito hoje vivenciado e sepoderia ter sido minorado com a emancipação.

No decorrer do trabalho, se analisará ecomparará critérios emancipacionistas previstos na lei e naconstituição de 1988, vigentes até a emenda constitucionalnº15 de 1996, bem como na proposta de emenda constitucionalnº13 de 2003.

Estima-se que haja atualmente em torno de 800 pedidosde emancipação em todo país. Isso reflete a alta demanda decriação de novos Municípios e na mesma linha a necessidadede regulamentação do tema via Lei Complementar Federal eLeis Ordinárias Estaduais, na forma constitucionalmenteprevista. O processo emancipatório foi estancado e assimpermanece em nossos dias devido ao crescimento acentuado erepentino que se experimentou na década de 1990, dedesmembramentos de municípios. Só para se ter ideia emnúmeros, nos últimos 20 anos, em Minas Gerais, o índice deemancipação foi considerável; dos 853 municípios atuais ,130 se emanciparam só no período de 1990 a 2001. Osimpactos sobre o fundo de participação dos Municipio (FPM)criados pela CF/88, tem sido apontados como uma daspossíveis causas desse estancamento, visto que servia antesde estímulo às emancipações.(http://epge.fgv.br/files/2180.pdf).

Espera-se que os resultados a serem obtidos medianteeste trabalho venham como contribuição à solução dasdemandas relativas a novas emancipações. Esta é uma dasmotivações do trabalho.

O trabalho está dividido em 5 capítulos. O capitulo 1,aborda os referenciais históricos de leis, e normas

relativas às emancipações municipais, com destaque para osdois movimentos emancipacionistas ocorridos a partir doséculo XX. No capitulo 2, se aborda o desenvolvimentosocioeconômico, ênfase especial é dada aos indicadores:IDH, população e renda per capita. O capitulo 3 apresentaráos métodos de pesquisa adotados no trabalho. No capitulo 4apresentam-se os resultados obtidos e, por fim, no capitulo5 as considerações finais do trabalho além de novidadesjurídicas e expectativas futuras em torno da normacomplementar, suas modificações, aprovações e o vetoconforme ocorrido em dia 14 de novembro de 2013.

1- A HISTÓRIA DAS EMANCIPAÇÕES NO BRASIL DESDE O IMPÉRIO.

Por volta da década de 1920 do século XX, asprovíncias reclamavam por maior autonomia político-administrativa, e com o advento do federalismo e aConstituição de 1891, tais reivindicações ganharam força.

Esta reivindicação passou a ser entendida comopertinente, visto que o governo central mesmo dotado derecursos, não atingia com a mesma eficácia todas as camadassociais só com a estrutura administrativa e legislativa daUnião. É o que afirma Campello de Souza (2006, p.11):“tanto no império como na republica velha, o Estado tinhadificuldades em formar seu poder infraestrutural, valedizer em penetrar a sociedade ou em coordená-la, sem aexistência de outros grupos de poder.”

Assim tiveram início o desenho da solução para aproblemática de ampliação do poder e penetração nasdiversas camadas sociais por parte do governo. E para tantopassou-se a negociar com as regiões, como medida inicialfoi viabilizada a criação de poderes locais com vínculosfederados ao poder central e, com vistas a evitar qualquermodalidade de atrito, o governo central aceitou fazerconcessões a integrantes dos poderes locais. O formato da

estrutura de poder dos municípios tem a partir daí seuembrião.

O Estado engajou-se na busca de expandir suapredominância. Para ser efetivo, ele dependiaprimeiro da regulamentação de recursos e serviços,depois do uso de símbolos que dessem sentido àsrelações sociais. Contudo, as novas legislações, emvez de lhe assegurarem um controle mais seguro doterritório, incentivaram o crescimento do poder de umpequeno numero de senhores de terra, de podereslocais quase sempre ostis à centralização do podersocial pelo Estado. As elites centralizadoras tomaramconsciência de que seus mandatos dependiam daestabilidade social, e portanto dos “corretores”(brokers) locais e regionais que tinham direto acessoà maioria da população e podiam mobilizar o povo parapropósitos específicos.(CAMPELLO DE SOUZA, 2006,p.12).

Fato relevante naquela época, foram as pujançaseconômicas regionais. Estas começaram a sobressair comMinas Gerais e São Paulo, que puseram em vigor a políticacafé com leite, impondo a força das elites burguesas dessesEstados aos demais e em certo ponto até sobre a União. Naépoca, o Poder Central exercia sua política à sombra dosinteresses paulistas e mineiros.

O coronelismo se fortaleceu na política do “café comleite”, pois o poder local permanecia centralizado nas"mãos dos coronéis", nas áreas de sua influência. Asrelações com o Poder Central eram intermediadas peloscoronéis, donos do poder local.

A reciprocidade era a base dessa relação. Os coronéis,principalmente por suas transações mercantis e disputas depoder local com outros de mesmo porte, exigiam favores parafacilitar seus negócios ou impor seu status. Emcontrapartida, comprometiam-se em prover quase, senão todosos votos necessários à corrente política, desde o

governador, congresso e, por fim, ao próprio Presidente daRepública.

No período do Estado Novo (1937 - 1945) vigeu forteconcentração e restrições ao Poder Local, tolhendo-se assimo "excesso de federalismo":

“É neste período que se constitui o “paradigmaVargas” definido por políticas de reforço do Estado erestrições ao excesso de federalismo então vigente”.A tendência centralizadora culminou, como é conhecidocom o estabelecimento de um regime fortementeautoritário, o Estado Novo, de 1937 a 1945. (CAMPELLODE SOUZA, 2006, P.8)

Neste ambiente de mudanças foi outorgada aconstituição de 1937, que ganhou fama por modificarradicalmente a de 1934, mais popular e social.

Durante a era Vargas, segundo Abrúcio (1998, p. 44),houve o que foi chamado de abolição total do federalismopelo Estado novo. Fato que não impediu as movimentaçõespolíticas regionais, mesmo com a exclusão das instituiçõespartidárias. A centralização governamental voltou intensa eforte em todos os aspectos, não obstante também aosmunicípios.

“Nessa concepção, o município – matriz básicada sociedade política está orgânica e simbioticamenteentrelaçado com o poder central. Sem mediações – deinstancias territoriais, ou político partidárias, quedistorçam esta identidade de fins a articulação entreos dois níveis, esta assegurada pela centralização,que aproxima e reúne os dois pólos.” Bauer (2009, p.24 apud Melo 1993).

Com o término do Estado Novo, a Constituição Federalde 1946, restabelece a base jurídica do federalismo. Amedida surte efeitos no âmbito das emancipações municipais,visto que se redefiniu a participação dos poderes regionaise locais, dos partidos políticos e do próprio eleitorado.Tomio (2002) refere-se à Constituição de 1946, como a que

mais se aproximou da Constituição de 1988, tanto em relaçãoaos princípios democráticos quanto aos direitos individuaise coletivos, guardadas as devidas proporções.

O ambiente institucional, inaugurado pelareconstitucionalização de 1946, incentivou mudançasinstitucionais no processo de emancipação municipal.Durante a Constituinte Estadual, os deputadosiniciaram um franco debate para estipular osrequisitos mínimos necessários para as emancipaçõesmunicipais. (TOMIO, 2005, P. 133)

Foram criados os partidos políticos;’

A segunda fase tem inicio formal com a constituiçãode 1946, que restabeleceu a dimensão político-institucional do federalismo. Desde então coexistirácom um Estado fortemente fortalecido nos anosanteriores. Além disso, também de importânciafundamental, nesse momento ocorreu a criação departidos políticos nacionais e a ampliação eleitoralque se tornou extensa pela primeira vez na historiado país. Esses dois fatos redefiniram as relaçõesentre poderes regionais e poder central na área dedecisórias e impuseram formatos específicos àestrutura de participação e representação política.(CAMPELLO DE SOUZA, 2006, P. 8).

1.1- PRIMEIRA ONDA EMANCIPACIONISTA (1946 A 1987)

Só para ilustrar, a fase a partir da Constituição de1946, é na qual se insere a primeira onda emancipacionista.Abaixo, na tabela 1 consta a evolução quantitativa deemancipações municipais entre 1950 a 1980.

TABELA 1 – OS MUNICIPIOS E A EVOLUÇÃO DAS EMANCIPAÇÕESNO BRASIL ENTRE 1950/1980

ANO PAÍS VARIAÇÃO ANUALVARIAÇÃO ACUMULADA

1950 1989

1960 2766 46,4346,43

1970 3952 42,83109,38

1980 3974 0,55110,38

Fonte Tomio (2002, p. 63)

Foram pouco mais de duas décadas entre a CF de 1946 ea posterior promulgada de 1967. Neste período,considerando-se também os pleitos ocorridos entre 1967 e1970, observa-se a partir da tabela 1 um crescimento de 109porcento no total de emancipações municipais ocorridas nopaís, culminando a denominada primeira ondaemancipacionista. Pode-se ainda inferir da tabela 1, opequeno impacto trazido pela Constituição de 1967 no que serefere ao aumento das emancipações municipais. Registrou-secrescimento de só 0,55% entre as décadas de 1970 e 1980.

“Os municípios até 1964 apresentavamexpressiva área territorial, possuindo muitosdistritos. A partir desta data desencadeou-se de modoefetivo o processo de municipalização, com a criaçãode inúmeros municípios, culminando com o violentodesmembramento nos anos de 1964 e 1965” (MESQUITA,1984, p.172 apud LA SALVIA, MARODIN 1976).

Na década de 1990, constatou-se em Minas Gerais ímpetode emancipações similar ao ocorrido em nível nacionalquando da primeira onda de emancipações. Foram 147emancipações no total (TOMIO, 2002).

O quadro do período militar é explicado pela fortecentralização de poder imposta pelo regime então vigente,em detrimento dos municípios. Isso dificultou a realizaçãode novas emancipações. Foram fixados critérios paraemancipação naquela época, tais como: (I) populaçãoestimada superior a dez mil habitantes ou não inferior a

cinco milésimos da população do Estado; (II) eleitorado nãoinferior a dez por cento da população; (III) centro urbanojá constituído com no mínimo duzentas casas e arrecadaçãomínima de cinco milésimos de receita estadual de impostos;(IV) computada ao exercício anterior ao processo deemancipação (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICIPIOS, 2008).

1.1.1 ÍNDICE DO DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH)

Terminada a Segunda Guerra Mundial, a ONU passou adesenvolver indicadores de analise do desempenho dos paísesem seu desenvolvimento socioeconômico. Indicadores estes,aplicados a contextos populacionais, ambientais, de renda,saúde dentre outros. Daí nasceu o Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento (PNUD), o qual atua no Brasilhá 40 anos e que desenvolveu o IDH. Este programa atua em166 países, dissemina o conceito de desenvolvimentosustentável, que enfatiza a adoção de políticas publicasvoltadas à esfera social. É o caso de priorizar políticaspúblicas de melhorias de renda, saúde, educação, atributosque integram o cálculo do IDH.

Essa uma ferramenta avaliativo-analítica tornapossível mensurar periodicamente o desenvolvimento de dadolocal. Dessa forma, o IDH - Indice de DesenvolvimentoHumano, idealizado por Mahbub Ul Haq e Amartya Sen, em1991, é hoje aplicado a Municipalidades. Mede-se com ela osavanços nos setores de educação, saúde e renda per capita.

O IDH visa a suprir deficiências do uso do ProdutoInterno Bruto - PIB como medida de desenvolvimento, poiseste evidencia só a evolução crescente ou decrescente daeconomia, num dado momento. Não considera melhorasdistributivas da renda e seus impactos na saúde e educação.O IDH engloba números do PIB em seu cálculo, o que o tornaum indicador mais abrangente.

1.1.2 EMANCIPAÇÕES DURANTE O REGIME MILITAR

No período ditatorial, apesar da forte centralizaçãofiscal, política e de políticas sociais ,o movimento deredemocratização veio a restabelecer o novo papel atribuídoaos municípios. A descentralização de recursos é hoje, osegundo passo para solidificar o papel das prefeituras napromoção do bem-estar dos cidadãos.

A ditadura havia se fragilizado, em virtude de todo ocontexto que se formou aos arredores da centralizaçãoimposta pelo governo central. Elevou-se a oposição aoregime, que se tornou inepto para atender a contentoreivindicações sociais em âmbito local, visto a suacentralidade. Esta, incompatível com a autonomia defendidanas emancipações. Como uma das ultimas, senão a derradeiraação à manutenção do governo, buscou-se apoio nos Estados.Àquela altura, o foco estava voltado à redemocratizaçãoEstadualista em detrimento da União, sendo que osgovernadores viam-se em sua maioria, postulantes fortes aogoverno nacional. Neste contexto, os governadores à época,foram denominados por Abrúcio (1998) "barões da federação".

Todas as tentativas de reversão desse quadro, quetiveram relação mais estreita com os municípios deram naseleições indiretas para governador. Houve também o aumentodas representações municipais em colégios eleitorais emaior repartição de receitas. Neste contexto Passos Portodeu importante passo apresentando a Lei que instituiu maiorparticipação nos fundos de participação (pode-se dizer aprecursora do atual FPM). A citada lei levou o nome de seuautor, senador do Rio Grande do Sul, Estado de forteoposição na época e que, logo após 1998, vem a ser destaquequanto aos movimentos emancipacionistas (ABRÚCIO, 1998).

Mesmo com tantas tentativas, o regime veio a sucumbirà reclamação popular e a redemocratização através de seuinstrumento legal, a CF de 1988. Esta Carta Constitucional

instalou no país uma democracia mais ampla em termos degarantias individuais e direitos fundamentais.

Foi uma significativa mudança, tanto no aparatonormativo legal aplicável aos municípios quanto, emespecifico, aos critérios e processos emancipatórios, todossujeitos ao novo regramento.

2.1 A SEGUNDA ONDA EMANCIPACIONISTA (1988 A 1997)

Revitalizada a democracia, os municípios brasileirosconsolidaram-se como esfera de governo autônomo no vérticeadministrativo, político e financeiro. Tornaram-seagentes-chave no desenvolvimento e implementação daspolíticas públicas nacionais e estaduais. Esses novosdesafios resultaram pleitos emancipatórios.

A investigação do processo emancipacionista indicaque a intensa divisão municipal brasileira só foipossível devido ao novo arranjo institucionalresultante da constituição de 1988. Em conjunto,vários mecanismos promoveram as bases favoráveis àmultiplicação de municípios; a consolidação dadescentralização fiscal estimulou as demandas locaispela emancipação de pequenas localidades do interior;a transferência da regulamentação das exigênciasmínimas de emancipações municipais para nívelestadual, num momento em que os recursos do FPM eramdivididos nacionalmente e que democratização enacionalização eram tratados ideologicamente comosinônimos, favoreceu, na relação entre os atorespolíticos estaduais (executivo e legislativo), aposição que desejava produzir leis mais permissivas àcriação de municípios ampliando a disponibilidade delocalidades emancipáveis; os procedimentosnecessários à promulgação das leis de criação demunicípios atribuíram um papel central aoslegisladores estaduais que, em virtude de suasexpectativas eleitorais, aprovaram a maior parte dasdemandas locais emancipacionistas TOMIO, 2002,p.69).

Com relação à CF de 1988, Corralo (2006, p.199) expõe:

Neste sentido, pode-se afirmar que a constituiçãobrasileira apresenta uma clara e exaustiva delineaçãoda autonomia municipal auto organizatória, política,administrativa e financeira, até mesmo em vista dostatus constitucional do Município brasileiro,alcançado à condição de ente federado, logo, comcompetências definidas exclusivamente no textoconstitucional.

Em 1988, o Brasil tinha 4.121 municípios; em 2000,esse número se eleva a 5.560. Num intervalo de 12 anos,surgem 1439 novas municipalidades, um aumento de 35%, o quecaracteriza a segunda onda emancipacionista. De acordo comTOMIO (2002, p.126) o numero expressivo de emancipações eas características dos locais emancipados distinguem oBrasil dos demais países:

Contrastando com a experiência brasileira, todosesses casos relacionam a criação de governos locaiscom processo de urbanização. Ou, maisespecificamente, com a expansão populacional degrandes núcleos urbanos ou metrópoles. Nesse sentido,quando comparadas à ocorrência de processos similaresem outros países, as emancipações municipais noBrasil distinguem-se porque são muito mais numerosas,concentram-se em áreas pouco urbanizadas e não sãoordenadamente planejadas pelos níveis de governo maisabrangentes. (TOMIO, 2005, p.126).

Os critérios emancipatórios ficam mais brandos secomparados com os da Constituição 1967, na medida em que aCarta Magna de 1988 cede aos Estados competência paraeditar leis próprias sobre o tema. Este segundo surto deemancipações se explica pela formação de cenário favorávelaos pleitos emancipacionistas no país. A maior autonomiapolítica, administrativa e financeira dada aos Municípios,pela nova Constituição, faz com que populações vejamoportunidades de melhorar o local em que moram ao conferi-lo autonomia para a solução de seus problemas próprios.

Se tomar Minas Gerais para análise de leisemancipacionistas estaduais nessa época, observa-se oassunto era regido pela Complementar 0xxxxxxxxxx, quefixava os requisitos para se emancipar novos municípiosnaquele Estado.

Observando-se o Estado de Minas Gerais, notou-se umagrande fragmentação de seu território. Quase 10porcento dos novos municípios brasileiros geradosapós 1988 encontram-se nesta unidade da federação.Isto é, para cada 2,5 emancipações, uma ocorreu emterras mineiras. Em termos absolutos há ocorrênciasemelhante entre Minas e Tocantins, excluindo o RioGrande do Sul que foi o maior número de emancipaçõesdo país, lá criou-se 253 novos municípios entre 1998e 2000, todos emancipados antes de 1996. Tocantinsaparece logo após Minas em números gerais, mas pelopequeno território que tem, fica além nos números deunidades emancipadas. Este grande número em tão poucotempo, se deve as transformações institucionaisdecorrentes da redemocratização brasileira (TOMIO,2005, p.124)

O primeiro período é favorece movimentosemancipatórios, pois o Brasil parte de 22 emancipações em1980, para 517 em 1990, chega a 1016 em 1997 (TOMIO, 2002;BREMAEKER, 2001).

Este período favorável à segunda onda de emancipaçõesé justificado por dois itens essenciais: I) o financeiro;principalmente pela maior participação dos municípios narepartição das receitas, 90% do Fundo de Participação dosMunicípios (FPM) é repassado a municípios não capitais,proporcional à população e área do local. (II) o interesseeleitoral voltado a estes novos postulantes a municípiospor agentes políticos estaduais e locais.

A maioria dos municípios criados nas ultimas décadasdepende diretamente das transferências federais parao seu funcionamento. A receita tributaria própria éincapaz de sustentar sequer os cargos políticos

gerados pela emancipação (prefeitos, vereadores,secretários municipais). Além disso, em geral, aatividade econômica nesses municípios é incipiente esem fontes geradoras de impostos, tornandoinexpressiva a participação direta nos tributosestaduais e federais. Portanto, é o FPM que garante asobrevivência da maior parte das unidadesemancipadas. Em virtude disso, somente o terceirotipo de receita é considerado aqui, um mecanismoinstitucional que estimula as emancipaçõesmunicipais. Entre os atores da localidade (liderançae eleitorado), a garantia dos recursos provenientesdo FPM é, provavelmente, uma das principaismotivações às emancipações. (TOMIO, 2002, p.12).

A partir das relações firmadas entre os postulantes aemancipação, deputados estaduais e lideranças locais, odossiê emancipatório chegava ao Executivo pronto paraaprovação. Esta forte relação entre as diversas fontes dePoder em Minas Gerais deu causa ao expressivo número deemancipações feitas até 1996. O interesse eleitoral éexemplificado na relação executivo-legislativo mineiro, emque o legislativo detinha o poder de fato para obter doExecutivo aprovação de petições emancipacionistas. (TOMIO,2005)

O uso político do território em processo deemancipação também está referido por Mesquita (1984, p.176).

Nos movimentos emancipatorios, a situação édiferente. Quando na consciência territorial doshabitantes predomina um ou mais dos critérios deposse, poder e autonomia meramente administrativa,criam-se condições propicias a um uso político doterritório. Dadas as variadas nuanças de consciênciaterritorial nos habitantes e a mescla obscura dessestrês critérios de uso político do território, nemtodos os motivos e interesses aparecem sempreclaramente definidos, ou, algumas vezes, elasaparecem amalgamados.

Tudo isso sobre interesses eleitorais nos territóriosemancipáveis ou recém emancipados à época foicaracterística comum a todos os Estados. A diferença nota-se no índice de ocorrência desses movimentos em cada um dosentes federados.

Este segundo período (1997-2000) marca o início dascontenções da criação de novos municípios. Em 1997 o Brasilcontava com 5.507 municípios, passando para 5.561 em 2000,ou seja, só 54 municípios a mais. Se comparado com osperíodos de 1991 a 1993 e de 1993 a 1997, percebe-se queneles ocorreram 483 e 533 emancipações, respectivamente.Isso mostra que no segundo período, ficou muito maisdifícil emancipar. Minas Gerais, nessa época, teve a adiçãode apenas 97 novos municípios, crescendo de 753 para 856prefeituras (BREMAEKER. 2001).

Uma das mudanças que resultou nesse cenário foi afixação de período para apresentar dossiês emancipatórios.Outra, foi a exigência de estudo de viabilidade municipaldo local a ser emancipado. Essas mudanças advieram da Leicomplementar federal nº15, de 1996, que introduziu as duasexigências nas leis estaduais.

Em 1996, no que parece ter sido uma reação ao ritmoemancipacionalista, o congresso Nacional (poriniciativa do executivo federal) promulgou uma emendaà constituição (nº15) que deu um novo carátercentralizador à matéria, limitando drasticamente aautonomia estadual recém conquistada. A esferafederal retornou a prerrogativa de regulamentar operíodo hábil para a realização das emancipações.Além disso, a norma constitucional passou a exigir um“Estudo de Viabilidade” do novo município, o pontomais restritivo, a estender a consulta (plebiscito)ao eleitorado de todos os municípios envolvidos(TOMIO apud NORONHA, 1996, p.111-112).

A lei retro citada trouxe as mudanças causa doestancamento da formação de novos municípios. Desde então,tem-se travado amplas discussões parlamentares em torno de

novos critérios e condicionantes para se regular a criaçãode novos municípios. A lentidão em torno da definição daregra resultou ampliação do número de processos deemancipação, que aguardam definição dos rumos.

3.1. HISTÓRIA DO DISTRITO DE ROSEIRAL DE MUTUM.

3.1.1 O CONTESTADO

O surgimento do Distrito de Roseiral, remonta ao

último quartel do século XIX, conforme apresentado a

seguir, num trecho do Oficio do engenheiro da Comissão de

Terras Manhuaçu e Caratinga, de 4 de julho de 1892, ao

governador de Minas Gerais, narrando as violências das

autoridades “espírito santenses” (Capixabas), em território

mineiro, Pimentel (1914, pp. 47 – 48).

“Desde que iniciei em I886 esta Commissão, por

ordem do então ministro d`Agricultura Conselheiro

Antonio Prado, verifiquei que, nas descriminações

dos terrenos do Estado dos de particulares, pelas

nascentes do José Pedro a Oeste da Serra do Caparaó

e a direita do mesmo Rio, já os povos pretendiam

pertencer ao Rio Pardo do Espírito Santo, cuja sede

ficava alem da serra, e nessas condições encontrei-

os, na distancia de I0 a I2 leguas á jusante, até a

residencia de João Francisco Cardoso de Castro; mas

d`ahi em diante do mesmo lado, já os povos pertenciam à freguezia

do José Pedro deste municipio, comprehendendo os ribeirões da

Conceição, S. Maria, Praia Branca, Piabanha, Cobrador, Bom Jardim

e Cachoeirinha, dos quaes alguns já se acham com título de

legitimação pelo Governo mineiro e outros, já medidos para o

mesmo fim, porém com os autos em cartorio em via de traslados.”

Nesta citação acima observa-se que Roseiral já era um

vilarejo em 1886. Nessa época, era conhecido por Bom

Jardim. Sobre sua relevância afima Botelho (1992, p. 65)

que em novembro de 1899, Roseiral recebeu a visita do Bispo

de Vitória/ES, D. João Batista Correa Nery. Para tanto,

Roseiral já deveria conter população e movimento comercial

e religioso perceptível. O mesmo autor registra que em

28/08/1892, surgia ali o primeiro cartório (op. cit. p.

71). Isso evidencia de que o Distrito de Roseiral já chega

aos seus 130 anos de existência, embora poucas tenha sido

as mudanças experimentadas.

Acredita-se que Roseiral a partir de 1.808 já era

conhecido de autoridades e potenciais interessados em ali

viver. Com a chegada da Corte Real Portuguesa ao Brasil,

ocorreu a revogação do Decreto-lei de 1.709 que incluía a

localidade nas "Áreas Proibidas". Com isso, concessões de

sesmarias de terras no curso do século XVIII por parte do

governo mineiro eram comuns na região. A mineração chegava

ao seu declínio e nesse momento iniciava-se a dissipação de

moradores das Minas, que seguiam em direção às terras,

agora não mais eram proibidas, a região de Roseiral

constava entre elas (Prazeres, 2005).

A expansão cafeeira contribuiu para fixar moradores na

região a partir da virada do século. Nesta época, Roseiral

destacava-se com um dos mais promissores povoados de

Marechal Hermes, nome do município de Mutum, quando fazia

parte do estado do Espírito Santo.

Tabela 2 - População de Roseiral em gênero e números –

Censo de 1900/ 1920

Localidade Homens Mulheres Total

*Roseiral

1920

2.219 1.935 4.154

*Roseiral

1900

818 792 1.610

*Fonte: Recenseamento 1990/1920 – Estado de Minas Gerais.

Bibl. IBGE/RJ.

*Fonte: Recenseamento 1900 - Estado de Minas Gerais, p. 47

Os números da população, subiram de 1.610 habitantes

em 1900, para 4.154 em 1920, devido à vinda de mais

moradores para o local. O cultivo do café teve sua

contribuição para fixar e manter pessoas no local nessa

época.

O crescimento da população chegou a seu ápice em 1970.

A partir de então iniciou-se o êxodo rural em Minas e em

todo o Brasil, em Roserial seguiu-se a mesma tendência. No

gráfico abaixo, os dados indicam a queda que a população de

Roseiral enfrentou, este êxodo coincide com o fim da

primeira onda emancipacionista do Brasil.

Tabela 3 – População residente em Roseiral em números –

1970

Localização Total Zona Urbana Zona Rural

Roseiral 5.008 716 4.292

Fonte: CENSO DEMOGRÁFICO: Minas Gerais. Rio de Janeiro.:

IBGE (VIII Resenceamento Geral – 1970). Série Regional, V.

I, Tomo XIV, 3ª parte. p. 425.

Ressalta-se que cerca de 15% da população, ou 716pessoas, residiam na área urbana do distrito em 1970,contra 235 de 1920. Hoje, a situação se modificou, o núcleourbano comporta cerca de 1200 habitantes (IBGE, 2010).

No fim do século XX, Roseiral, já se encontrava

defasado e sem emprego para suas populações, sendo deixado

para trás por muitos dos seus filhos, que em busca de novas

oportunidades procuraram novas terras ao Norte do País.

Nessa parte do Brasil, a maioria das emancipações ocorreram

na primeira onda emancipacionista. A migração para a região

amazônica, tomou contornos extremos, à ponto de durante uma

semana apenas, até 3 famílias deixarem a região de Roseiral

em busca dessa nova terra, levando os números habitacionais

despencarem.

A redução foi visível, caindo para em torno de 1/3 da

população de 1970, conforme a tabela 6 a seguir:

Tabela 6 – População de Roseiral em número e gênero – 1991

Localização Total Homens Mulheres

Roseiral 1991 3.055 1.630 1.425

Roseiral 2001 2,819

Roseiral 2010 2.213

Fonte: CENSO DEMOGRÁFICO 1991: Resultados do Universo Relativo às

Características da População e dos Domicílios. Minas Gerais. Rio de

Janeiro: IBGE, no. 18, 1991. p. 89. E dados do IBGE 2010, webpage)

Com a redução da população reduziu-se também a força de

trabalho, a arrecadação municipal, o fluxo do comércio e o

valor dos imóveis, assim gerando um círculo vicioso até

hoje não revertido.

3.1.2 Comparativos na Habitação

A seguir apresenta-se o em números e gênero a

população de Roseiral equiparada á dos demais distritos

mutuenses, de acordo com o recenseamento geral do IBGE

apresentado em 2000.

O Recenseamento Geral realizado em 2.000 pelo IBGE

apontou um decréscimo na população de Roseiral em relação

ao último censo de 1991. A população contada no censo

anterior foi de 3.055 habitantes, declinando para 2.819

habitantes quando do recenseamento de 2.000.

Tabela 7 – População do Município de Mutum por Distritos –Censo 2000

LocalizaçãoHomens Mulheres Total

Mutum(sede) 7.153 7.290 14.423

Ocidente 1.633 1.497 3.130

Imbiruçu 1.542 1.424 2.966

Roseiral 1.470 1.349 2.819

Centenário 919 851 1.770

Humaitá 833 752 1.585

Fonte: www.ibge.gov.br Biblioteca do IBGE.

Observe na tabela 8, a seguir, que a

população de Roseiral se elevou até 1970 e a partir daí

declinou-se. Entretanto, comparada com a população do

Município de Mutum, observa-se que a população de Roseiral

decresceu a uma taxa muito maior que a do município.

Enquanto, a partir de 1970 até o ano 2000 a população

municipal decresceu 18,89%, a população do Distrito de

Roseiral decresceu em 43,71% no mesmo período. Isso sugere

que as condições de vida obtiveram melhoras na capital

municipal e os distritos ficam relegados ao abandono

administrativo, acentuado no caso de Roseiral.

Tabela 8 – População de Roseiral comparada à do Municípiode Mutum no período de 1900-2000

Ano População de Roseiral População de Mutum

1900 .. 8.778

1913 .. 20.000

1920 4.154 25.320

1940 4.245 32.379

1970 5.008 32.910

1980 3.590 26.036

1991 3.055 27.039

2000 2.819 26.693

Fonte: IBGE. e Botelho (1992, p. 44)

Enquanto o crescimento da população do município de

Mutum se mostrou mais acentuado, de 1900 a 1940, A queda no

número de habitantes de Roseiral foi mais abrupta na

população municipal a partir da década de 1970.

Além do êxodo rural rumo à região Norte Brasileira,

famílias de Roserial também procuravam condições de vida e

trabalho em centros urbanos ou novos municípios, caso de

Brejetuba – ES e outros municípios cercanos. Acredita-se

que se o Distrito tivesse sido emancipado, com as melhoras

advindas de novos investimentos nele feitos, provavelmente

a queda populacional teria sido menor. Estes migrantes que

hoje habitam o Municipio de Brejetuba, ao sul de Roseiral,

relatam o atraso do Distrito como motivador de sua mudança,

e alimentam junto à população local expectativas de

emancipação como ocorrera em Brejetuba. Isso faz com que a

emancipação venha cada vez mais sendo vista como demanda

política do distrito, a despeito da falta de regulamentação

do assunto, desde 2003.

Essa falta de regulamentação reflete a falta de

consenso político sobre o assunto atualmente. Antes,

aparenta que o consenso era maior. Com o advento da

Constituição de 1988, o Estado já não seria mais o único a

coordenar emancipações, a federalização dos municípios,

elevando estes à condição de ente federativo, abriu nova

onda emancipacionista.

Quando das eleições de 1992, a primeira leva de

distritos candidatos à emancipação, grupo no qual Roseiral

esteve - pois teve seu plebiscito marcado para 23 de Março

de 1992 – havia expectativa de que ao ser emancipado se

recuperaria fase de crescimento como antes da década de

1970. A vitória do “não” no plebiscito foi grande

desmotivador para o povo e resultou forte descrença de

qualquer melhora advinda da parte do poder central do

Município.

3.2 A TENTATIVA FRUSTRADA DE EMANCIPAR O DISTRITO DEROSEIRAL

Os preparativos para o plebiscito tiveram início aindaem 1991. Começou pela busca por assinaturas e apoiopolítico e a confecção de adesivos "SIM" à emancipação. Opasso seguinte foi persuadir os distritos de Humaitá eImbiruçu a votarem a favor e constituir o novo município.Soma-se a isso o levantamento de eleitores, prover seutransporte, enfim os gastos normais inerentes a todaeleição.

3.2.1 O DIA DO PLEBISCITO

No dia do plebiscito havia ânimo entre os distritais,esperava-se que o dia fosse de virada na história local.Contudo, as forças coronelísticas da política ruralinvestiu forte no eleitorado de baixa renda e poucaescolaridade em termos de abordagem. De última hora, oprefeito da época orientara aos cidadãos a votar contra àemancipação.

O povo humilde e dependente dos favores dos diversoscaciques políticas abriram mão da liberdade (emancipação)visto que não dispunham de informações qualificadas paradistinguir os benefícios advindos da emancipação. Oresultado foi lamentável, logo em seguida com o"estancamento" das emancipações, viu Roseiral aoportunidade vir e passar.

O resultado final foi desfavorável em vista do quepoderia ter sido uma grande oportunidade de crescimento.Ao término da apuração o povo surpreendeu-se com osnúmeros: por apenas 38 votos a mais, bastaria para que odestino do local viesse a ser outro. A comunidade queconheceu apenas o atraso após a década de 1970, desde entãodécadas de pouco ou nenhum investimento publico ou privadoe empregos.

3.3. COMPARAÇÕES ENTRE O DISTRITO NÃO EMANCIPADO E OEMANCIPADO

Esta parte do trabalho é dividida em dois tópicos

principais;

I) A análise do subdesenvolvimento de Roseiral deMutum comparando dados de renda, populaçãoprincipalmente aos dos municípios emancipados:Brejetuba e Taparuba.

II) Avaliar a evolução socioeconômico do distrito pormeio de questionários aplicados à populaçãolocal; entrevistas para aferir sua opinião, eassim responder ao objetivo específico dotrabalho.

Contudo, antes da apresentação e análise dosindicadores sobre o crescimento do local, apresenta-sebreve histórico dos municípios emancipados, com ênfase nasmelhorias experimentadas por sua população.

Conhecer o histórico de Roseiral ajuda acompreender seu cotidiano, os efeitos de sua nãoemancipação. Traz informações sobre suas características elimitações em diversos aspectos desde que surgiu comodistrito até os dias atuais. Servirá de alicerce paramelhor entender os fatos e análises a seguir sobre odesenvolvimento socioeconômico, mediante os indicadoresadotados.

4.2.1 EDUCAÇÃO

O IDH é composto de indicadores que consideram a

escolaridade. Na taxa de frequência à escola, Minas Gerais

teve variação positiva do município de Mutum/MG, dentre os

distritos avaliados só Roseiral apresentou variação

negativa (- 3%). Isso conforme período de 1991 a 2010 (IBGE

.......).

Enquanto isso, o município de Taparuba - MG criou

escolas de curso médio (secundário) e constrói nova escola

atualmente. Nele, houve significativo aumento do número de

alunos. Não foi diferente com o Município de Brejetuba -

ES, que quase dobrou o numero de alunos matriculados. Sua

população municipal também crescera significativamente.

(IBGE, 2012)

4.3.1 HABITAÇÃO

A maior parte dos municípios emancipados após1990 tem menos de 20.000 habitantes. Municípios com até 20mil habitantes, no ano 2000, continha 19,6 % da populaçãobrasileira. Desse total, 7,5% vivia em municípios com até10 mil habitantes; e 2,2%, em municípios com até 5 milhabitantes. Em torno de 10% da população vive em municípiosde até 10.000 habitantes. (www.ibge.gov.br/estatisticas/).

Na área dos distritos de Roseiral, Imbiruçu, e Humaitá(que se queria emancipar em 1992), vivam 8.809 habitantesem 1991. Hoje, o IBGE aponta ter só 7.597 habitantes namesma área.

Taparuba/MG hoje tem população de 3200 habitantes.Brejetuba/ES chegou a 11.921, acima dos 7.356 habitantesque lá viviam em 1991. (dados web *5)

O Distrito de Roseiral passou por esvaziamentopopulacional, em torno de 2,2% ao ano. Taparuba - MG eBrejetuba -ES, ambos em 1995 (quando foram emancipados)tinham população menor que a desse Distrito. Sua populaçãohoje é maior em 7,5% e 19,6, respectivamente. A densidadedemográfica é 34,8 hab/km², (Brejetuba) e 21,31 hab/km²,

de Taparuba. (http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=314400)

Dados da Secretaria Municipal de Saude de Mutumindicam que o número de moradias passou de 261 para 432 noDistrito de Roseiral nos últimos anos. A média do número demoradias em distritos do município de Taparuba foi de 643,e em Brejetuba, esta média sobe para 800 (IBGE 2013).

4.4. RENDA

Para avaliar o perfil da renda per capita dos residentesnos municípios com até 20 mil pessoas, Gomes e MacDowell(2000) separa os municípios brasileiros em decis de rendaper capita, com base em dados de 1991. A renda per capita emRoseiral (MG), situa-se em torno de R$ 8.796,00 (oito mil,setecentos e noventa e seis reais). Já Taparuba está nacasa dos R$ 10.300,00 (dez mil e trezentos reais), eBrejetuba - ES ostenta renda per capta de R$ 20.231,00(vinte mil, duzentos e trinta e um reais). Só para constar,em 1995 (ano da emancipação) a renda per capita dessemunicípio era de R$ 12.000,00 (doze mil reais).(http://pt.wikipedia.org/wiki/Esp%C3%ADrito_Santo_(estado),http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=mg

3.4. BENEFÍCIOS INDIRETOS DO DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIOS

Os argumentos de Gomes e MacDowell (2000) não levam emconta os benefícios indiretos da aplicação de recursos aregiões pouco habitadas e menos desenvolvidas do Brasil. Aalocação de recursos públicos a tais regiões faz surgirpotencialidades locais e retrair o esvaziamentopopulacional. Logo, vindo a crescer, municípios estimulamos moradores a permanecerem com suas famílias, e evita,assim, êxodo para grandes centros.

Para Citadini (1998), em geral não se deve sercontrário, em tese, à criação de novos municípios. Aoemancipar-se, a população do local tem oportunidade deaumentar recursos à sua comunidade. E isso impacta de formapositiva áreas da saúde, educação, segurança e serviçospúblicos afins. A aproximação dos moradores de seusrepresentantes políticos é importante, pois, facilitamediações. Essas são mais difíceis para os distritos, poisdependem de estruturas políticas de acordo com aconveniência do município-sede, e dificulta a representaçãoda população local.

Por meio da Análise de Envoltória de Dados (DEA),Gasparini e Miranda (2006) mostra que há um pico decarência de serviços públicos nos municípios entre 5 mil e10 mil habitantes. Essa carência tende a cair ao passardesse ponto. Esse déficit de serviços ocorre de forma maisintensa em municípios com até 20 mil habitantes. E, e emgrau bem menor, naqueles entre 20 mil e 50 mil. Além disso,nos municípios de até 20 mil habitantes também se encontramaior ineficiência de gastos públicos. Nesse trabalhoidentificou-se que, via de regra, municípios com até 50 milhabitantes dispõem de recursos suficientes para estender áspopulações de sua área de influência melhor cobertura deserviços públicos. São centros irradiantes.

Municípios que ofertam mais serviços e de forma maiseficiente, em geral, têm mais de 100 mil habitantes.Municípios entre 50 mil e 100 mil habitantes mostram bonsíndice de eficiência, sendo a única parcela que carece decomplementação de recursos para equiparar aos de melhordisponibilidade de serviços. Esses municípios, deveriam serprioritários a receber mais recursos públicos.

Mediante dados do Atlas de Desenvolvimento Humano -desenvolvidos pela Fundação João Pinheiro e pelo IPEA -buscou-se estimar esses efeitos para os municípiosemancipados: Brejetuba e Taparuba.

4. A EMENDA 15 (EMENDA SERRA) DE 12 DE DEZEMBRO DE 1996

A Constituição da República, de 1988, promoveu adescentralização política e administrativa no país. Alémdisso, deu aos Municípios status de entes federativos (fatoeste só existente no Brasil); e delegou aos Estados afixação de critérios a se aplicar em casos de Distritos sobemancipação. (TOMIO, 2002).

Em 1993, o conselho revisor da Constituição, surpresoscom a grande demand por emancipações, tomaram posiçãodefensiva para obstar novos processos. Como medida, em 12de dezembro de 1996, interromperam novas emancipações.Assim, punha termo a maior onda emancipacionista dahistória brasileira. Foram criados 131 municípios em MinasGerais, de 1991 a 2000, e apenas 06 (seis) perderam aoportunidade, segundo o Estado de Minas Gerais, Ed.14 denovembro de 1996, pag 8 (transfere para as referências –final do trabalho). O conselho revisor alterou o artigo 18,da constituição, por meio da Emenda nº15 que inseriu oparágrafo 4ª, o qual retira dos Estados a autonomia paracriar novos municípios. A mudança deu ao artigo 18 feiçõesde norma constitucional de eficácia limitada, a que dependede lei complementar para sua plena eficácia.

Aprovada a EC nº 15, de 1996, estancou-se o processode descentralização política e administrativa nos moldes deantes. As centenas de emancipações impactaram o custeio porparte da União desses novos municípios. Assim, a Emenda àConstituição objetivou em parte conter a elevação dosdispêndios do Governo Federal, por ser a maioria dosemancipados micro municípios, muito dependentes dosrepasses para sua sobrevivência.

Por este novo ângulo, surgem autores como Bouchardet(2006) e instituições como o Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (IPEA) que defendem maior rigor no quese refere às emancipações municipais.

Ao desenvolver seu estudo com base nesta observação e,ao relatar o cenário mineiro de emancipação de distritos.Bouchardet (2006) demonstrou que a maioria desses nãopossuía características e condições à autossustentação.

Por sua vez, Klering (2002) é favorável àsemancipações. O autor as vê como prospectoras de novoscenários positivos ao desenvolvimento, em especial, peloalcance de autonomia. O sucesso das administrações locaispassa a depender da capacidade e postura dos gestorespúblicos e autoridades eleitos pelo povo diretamenteenvolvido.

O IBAM (Instituto Brasileiro de administraçãoMunicipal ) assume posição oposta a do IPEA. Enquanto oprimeiro partilha da opinião de Klering (2002), de que épossível ter crescimento mais consistente com aemancipação; o segundo, aponta a oneração dos cofrespúblicos, caso do FPM (BAUER, 2009).

Esse debate polarizado entre favoráveis e contráriosàs emancipações é bem intenso no Congresso Nacional. Hámais de uma década, após a EC nº15, não se chegou aconsenso quanto aos critérios norteadores dos estudos deviabilidade previstos na Constituição.

Esse cenário resultou na apresentação de Propostas deLeis Complementares (PLC) desde 1996 para cá. Um exemplo éa PLC nº 13, de 2003, na qual se propõe delegar aos Estadosa função de fixar critérios emancipatórios, inclusive sobreo estudo de viabilidade municipal.

A complexa discussão fez parar o movimentoemancipacionista. De 2001 a 2007 foram acrescidos só 3(três) novos municípios ao país, o número total passou de5561 para 5564 (BREMAEKER, 2001;IBGE, 2007).

Cita-se ainda, o caso de Pinto Bandeira na serragaúcha, emancipado em 2010. Temos também o caso de LuizEduardo Magalhães, na Bahia, que emancipou-se em 2009,após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre açãode inconstitucionalidade, rejeitada por ser objeto desegurança jurídica. Com a adição deste ultimo, o Brasilpassou a ter 5.565 municípios.

Desse total de municípios, 73 porcento têm até 20.000habitantes, e reúnem 19% da população total do Brasil. Jáos municípios com mais de 500.000 mil habitantes respondempor 0,6 porcento do total, enquanto sua população chega a27,8 porcento do todo. Destaca-se que a maior demanda deemancipações hoje ocorre para municípios de até 5 milhabitantes, com baixa capacidade de gerar receitatributária própria. Isso demonstra que apesar da sucessivacriação de novos municípios, a população continuacentralizada nos maiores, (SIMÕES, 2004). Resposta possívela isso é a precária estrutura para atender necessidadesbásicas e suporte às demais perspectiva humanas comocrescimento profissional, status, estima dentre outros.

Fato concreto frente a toda essa indefinição é aexistência de 806 processos emancipacionistas parados. Éuma quantia elevada e requer prioridade às discussões. Ofoco das não definições recai sobre o estudo deviabilidade, pois enseja-se que os emancipados tenhamcondições, dadas as suas peculiaridades, de desenvolverem-se de forma sustentável econômica e socialmente. Por isso,no tópico seguinte trata-se do desenvolvimentosocioeconômico.

4.1- AS EMANCIPAÇÕES SEM A APROVAÇÃO DA LEI COMPLEMENTAR

Vários estudos foram feitos na década de 1990 para seentender os principais motivos das emancipações municipaisno Brasil.

Bremaeker (1993) realizou sua pesquisa mediante oenvio de questionários abertos a prefeitos de novosmunicípios em 1992. Obteve 72 respostas, uma amostra de12,4% do total. Listam-se a seguir as principaisexplicações dos prefeitos, expressas em percentuais:

54,2%: descaso por parte da administração do município deorigem;

23,6%: existência de forte atividade econômica local;20,8%: grande extensão territorial do município deorigem; e1,4%: aumento da população local.

Para Bremaeker (1993), essas justificativas têm íntimarelação entre si, por exemplo, o descaso por parte daadministração do município de origem e sua grande áreaterritorial. Quanto mais distante estiver a população dasede do município, mais difícil atender aos anseios dela.

Já, Cigolini (1999) fez pesquisa com 22 municípios noParaná, emancipados na década de 1990. Segundo seusresultados as condições econômicas favoráveis foram oprincipal motivo para a criação de 60% dos novosmunicípios. 22% foi devido a anseios da comunidade local, e18% pelo simples resultado de plebiscito.

Noronha (1996) entrevistou a população local de 17municípios emancipados entre os anos de 1985 e 1993 noestado do Rio de Janeiro. Ele concluiu que sete dessesmunicípios emanciparam-se para evitar a estagnaçãoeconômica. Seis, por terem condições econômicas favoráveis,e quatro, por razões políticas, ou seja, ação de gruposlocais para formar núcleos de poder. Para este autor, amaioria da população local dos locais estudados crê que aemancipação é condição bastante para promover odesenvolvimento local.

Segundo o Instituto Brasileiro de AdministraçãoMunicipal (Ibam) conforme publicado na Revista de AdministraçãoMunicipal, os resultados de uma pesquisa, identificou-senovos motivos para a criação de municípios. Entrevistados,62% os novos prefeitos alegaram ser “descaso por parte daadministração do município de origem”, a principal causa deemancipações (BREMAEKER, 1993).

5. as MUITAS TENTATIVAS DE APROVAÇÃO DA PEC 13 E LC 416

Em 2003,

5.1- SITUAÇÃO ATUAL

A LC 416 de 2008, que não havia sido aprovada atéjunho de 2013, seguia protelada no congresso. Algumastentativas foram feitas, como o PLC 423, que foiintegralmente vetada pelo presidente Luiz Inácio Lula daSilva, em 2009. Algumas propostas na pauta do congressovieram a fracassar. Somente no dia 4 de junho de 2013, como voto de 319 votos a favor, 32 contra e 2 abstenções, acâmara de deputados aprovou em primeiro turno a LC, maistarde em outubro de 2013, o Senado também aprovou, mas nodia 14 de novembro a Presidente Dilma Roussef vetou oprojeto.

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http://epge.fgv.br/files/2180.pdf).

*Fonte: Recenseamento 1990/1920 – Estado de Minas Gerais.

Bibl. IBGE/RJ.

*Fonte: Recenseamento 1900 - Estado de Minas Gerais, p. 47

*8 Fonte: CENSO DEMOGRÁFICO 1991: Resultados do Universo Relativo às Características da

População e dos Domicílios. Minas Gerais. Rio de Janeiro: IBGE, no. 18, 1991. p. 89.

*8 http://francieleschmitt.blogspot.com.br/2011/05/emancipacoes-em-minas-gerais-populacao.html

*8 http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/11/saiba-populacao-de-cada-cidade-segundo-o-censo-2010-do-ibge.html