supremo tribunal federal revista trimestral

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL REVISTA TRIMESTRAL DE JURISPRUDENCIA Volume 125* (Páginas 1 a 410) Julho de 1988

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

REVISTA

TRIMESTRAL

DE

JURISPRUDENCIA

Volume 125* (Páginas 1 a 410) Julho de 1988

1

340.6 Brasil. Supremo Tribunal Federal.13823 Revista Trimestral de Jurisprudência. Brasília,

S.T.F., 1957.

410 p.

1. Jurisprudência — Perlodico. 2. Direito — Juris-prudência. I. Titulo.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Ministro Luiz RAFAEL MAYER (15-12-78), PresidenteMinistro José NERI DA SILVEIRA (1-9-81), Vice-PresidenteMinistro DJACI Alves FALCÃO (22-2-67)Ministro José Carlos MOREIRA ALVES (20-6-75)Ministro OSCAR Dias CORRÊA (26-4-82)Ministro ALDIR Guimarães PASSARINHO (2-9-82)Ministro José FRANCISCO REZEK (24-3-83)Ministro SYDNEY SANCHES (31-8-84)Ministro Luiz OCTAVIO Pires e Albuquerque GALLOTTI (20-11-84)Ministro CARLOS Alberto MADEIRA (19-9-85)Ministro CELIO de Oliveira BORJA (17-4-86)

COMISSÃO DE REGIMENTO

Ministro DJACI FALCÃOMinistro CARLOS MADEIRAMinistro CELIO BORJAMinistro OCTAVIO GALLOTTI — Suplente

COMISSÃO DE JURISPRUDÊNCIA

Ministro MOREIRA ALVESMinistro NERI DA SILVEIRAMinistro SYDNEY SANCHES

COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃO

Ministro NERI DA SILVEIRAMinistro FRANCISCO REZEKMinistro OCTAVIO GALLOTTI

COMISSÃO DE COORDENAÇÃO

Ministro OSCAR CORRÊAMinistro ALDIR PASSARINHOMinistro FRANCISCO REZEK

PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

Doutor José Paulo SEPÜLVEDA PERTENCE

COMPOSIÇÃO DAS TURMAS

Primeira Turma

Ministro José Carlos MOREIRA ALVES, PresidenteMinistro José NERI DA SILVEIRAMinistro OSCAR Dias CORFtEAMinistro SYDNEY SANCHESMinistro Luiz OCTAVIO Pires e Albuquerque GALLOTTI

Segunda Turma

Ministro DJACI Alves FALCÃO, PresidenteMinistro ALDIR Guimarães PASSARINHOMinistro José FRANCISCO REZEKMinistro CARLOS Alberto MADEIRAMinistro CELIO de Oliveira BORJA

CONSELHO NACIONAL DA MAGISTRATURA

Ministro Luiz RAFAEL MAYER, PresidenteMinistro José NERI DA SILVEIRA, Vice-PresidenteMinistro ALDIR Guimarães PASSARINHOMinistro José FRANCISCO REZEKMinistro SYDNEY SANCHESMinistro Luiz OCTAVIO Pires e Albuquerque GALLOTTIMinistro CARLOS Alberto MADEIRA

REVISTATRIMESTRAL

DEJURISPRUDÊNCIA

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

PEDIDO DE AVOCAÇÃO N? 12 — MA(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Requerente: Procurador-Geral da República — Requerido: Juiz de Direi-

to dos Feitos da Fazenda Pública de São Luis — Interessados: Estado doMaranhão e Prefeitura Municipal de São Luis; B. R. Pinheiro e outros.

Avocação de causa. Deferimento pelo STF, diante do perigo degrave lesão às finanças públicas, em face de decisão de Juiz de pri-meiro grau, que, em processo de desapropriação indireta, fixou prazode 30 dias para o depósito prévio de vultosa indenização, sob pena debloqueio de valores.

Suspensão dos efeitos de tal decisão para que o STF resolva essaquestão incidente (artigos 119, E o, da CF, 252 e 258 do RISTF).

ACORDA°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoSecreta, na conformidade da ata doJulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unaninhnidade de votos, emdeferir o pedido de avocação, nostermos seguintes:

E do teor seguinte o pedido deAvocação formulado às fls. 2/8:

«O Procurador-Geral da Repúbli-ca, no uso das atribuições que lheconferem a Constituição Federal(art. 119, I, c) e o Regimento Inter-no desta Alta Corte (art. 252),vem, em atendimento à solicitaçãocontida em expediente que lhe en-

dereçaram o Estado do Maranhãoe o Município de São Luis (doc. n?1), requerer a evocação dos autosda ação de desapropriação indiretan? 9.386/85, em curso perante oMM. Juiz de Direito dos Feitos daFazenda Pública, na capital mara-nhense, pelos fatos e fundamentosde direito que em seguida passa aexpor.

2. Narram os interessados, nasrazões anexas, que em 1985 foi pro-posta contra eles, por B. R. Pinhei-ro e outros, ação de desapropria-ção indireta, tendo os autores re-querido, com base em laudo produ-zido em ação cautelar, a efetiva-ção do depósito prévio de que tratao art. 33 do Dec.-Lei n? 3.365/91.

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Indeferido o pedido, houveagravo de instrumento, a que oTribunal de Justiça do Estado deuprovimento, por acórdão que tran-sitou livremente em julgado.

Com tal provimento, julgou-se procedente o pedido de depósitoprévio reclamado pelos autores,tendo em seguida o Julgador singu-lar assinalado o prazo de trintadias a fim de que os réus providen-ciassem o aludido depósito, na vul-tosa cifra de CZ$ 10.000.000,00 (dezmilhões de cruzados).

Para tanto determinou fos-sem eles regularmente intimados,sob a advertência ainda de que onão cumprimento do mandado ju-dicial, no prazo estipulado, impor-taria «no bloqueio dos valores re-queridos».

Leiam-se os termos da deci-são impugnada, cujo inteiro teor edata da respectiva intimação estãoatestados por certidões, trazidasaos autos para atender à exigênciaprevista na primeira parte do art.253 do Regimento:

«Dando cumprimento ao que de-terminou o Acórdão n? 7.979/85,do Egrégio Tribunal de Justiça— Agravo de Instrumento n?604/85 — apenso e Despacho àsfls. 231, destes autos, do Exmo.Sr. Des. Presidente daquele Tri-bunal; Resolvo reabrir o prazo de30 (trinta) dias concedidos nodespacho de fl. 195, ao Municípiode São Luís e Estado do Mara-nhão, para providenciarem o«depósito prévio», conforme alideterminado, devendo para issoserem intimados por seus repre-sentantes legais, com a advertên-cia de que o não atendimento im-portará na determinação do blo-queio de valores requeridos à fo-lha 208» (doc. 2).7. Contra esse despacho foi ma-

nifestado novo agravo (doc. 3) e,simultaneamente, ajuizada ação desegurança, com pedido de liminar,

tendente a conferir efeito suspensi-vo ao recurso (doc. 4).

Nesse entretempo, endere-çou-se ao Procurador-Geral da Re-pública expediente em que eramencarecidas providências no senti-do da avocação da causa, ao fun-damento de que, na iminência deserem obrigados ao depósito ques-tionado, não havia ao dispor do Es-tado e do Município outra medidajudicial capaz de afastar a ameaçade grave lesão aos respectivos erá-rios.

Distribuído o expediente, noâmbito administrativo, ponderou oparecerista ser prematuro o pedi-do, pois pendente de julgamento li-minar em mandado de segurançaonde se pretendia conferir efeitosuspensivo ao agravo interpostocontra a decisão impugnada (doc.5).

Argumentava-se ali que, de-ferida a cautelar, não teria lugar aavocação reclamada, pois o Regi-mento não a admite contra decisãotransitada em julgado ou de quecaiba recurso com efeito suspensi-vo.

Remetido telex ao Tribunalde Justiça do Maranhão, solicitan-do informar os termos da decisãoproferida sobre a liminar no man-dado de segurança (doc. 6), res-pondeu o R. Desembargador Juve-nil Ewerton haver indeferido a me-dida, por não ocorrentes os respec-tivos pressupostos (doc. 7).

Por conseguinte, será pro-cessado, sem efeito suspensivo, oagravo de instrumento interpostopelo Estado e o Município contra adecisão monocrática que lhes orde-nou o depósito da elevada cifra dedez milhões de cruzados.

Em face do inesperado des-fecho dado à liminar, em cujo fa-vor milita farta jurisprudência in-clusive desta Excelsa Corte, ani-mou-se o Procurador-Geral a soli-citar a avocatória, pois, satisfeito o

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requisito do par. único do art. 252do Regimento, da decisão MODO-crática que ordenou o depósito daquantia aludida, decorre, para oscofres públicos estaduais e munici-pais, imediato perigo de grave le-são.

Não há negar, primeiramen-te, o vulto da cifra em questão, as-sim como a iminência da lesão àsfinanças públicas, quando, como sesabe, Estados e Municípios de por-te pequeno, como Maranhão e SãoLuís, sobrevivem praticamente àcusta do Poder Central, com seusacanhados orçamentos comprome-tidos, em grande parte, com a fo-lha de pagamento do pessoal e, norestante, com obras sociais inadiá-veis, para atendimento em espe-cial às populações carentes de ser-viços básicos e essenciais.

Não se compreende, portan-to, que todos esses compromissossejam postergados, pelo desvio da-quela vultosa soma para pagamen-to de um único credor, cujo créditonão foi sequer regularmente apu-rado, segundo afirma o Il. Presi-dente da Corte de Justiça local:

«O processo de desapropriaçãoindireta n? 4.386/85 encontra-seem andamento, não estando con-cluído com sua sentença final,sujeita ao duplo grau de jurisdi-ção» (doc. 8).

E verdade que, como rela-tam os interessados, transitou li-vremente em julgado a decisãoque ordenou ser devido o depósitoprévio na ação de desapropriaçãoindireta.

Embora discutível o acertodesse decisório, a ser obrigatória aefetivação do depósito, como a or-denou a Corte local, por decisão ir-recorrida, haver-se-ia, ainda as-sim, de catar obediência à regrado art. 117 e seus parágrafos daCarta, que manda nesses casos se-ja expedido o competente precató-rio, com rigorosa observância, pa-

ra seu pagamento, da ordem deprecedência.

Ademais, não tem cabida opropalado bloqueio de renda públi-ca com que a autoridade judicialameaça o Estado e o Município,porque se trata de atitude frontal-mente contrária ao art. 117, § 2?,da Carta, uma vez que o seqüestrode renda ai previsto somente temlugar na hipótese de o credor serpreterido no seu direito de prece-dência, por ordem direta do Presi-dente do Tribunal estadual, depoisde ouvido o Chefe do MinistérioPúblico.

Esta, de resto, a lição sem-pre prestante de Pontes de Mi-randa, quando escreve que «só opresidente que proferiu a decisãoexeqüenda é constitucionalmenteautorizado a expedir ordens de pa-gamento, dentro das forças do de-pósito, e responsável pela execu-ção dessa parte, importantíssima.do art. 117 e do § 2?» (Comen-tários..., RT, 2! Ed., tomo III, pág.647).

E, em escólio ao aludido §2?, acrescenta o Mestre:

«O 2? previu a preterição daprecedência, autorizando ó presi-dente que proferiu a sentençaexeqüenda a medida inédita nodireito constitucional: o seqüestroda quantia no cofre dos depósitospúblicos» (ob. e pág. cit.).

Disso se conclui estar o Il.Magistrado singular a brandir,contra pessoas jurídicas de direitopúblico, providência situada alémdo seu âmbito de competência,porquanto o seqüestro de renda pú-blica, como se viu, constitui medi-da da alçada privativa do Presi-dente da Corte de Justiça estadual,depois de ouvido o Chefe do Par-quet loca].

22. Nessas condições, está pordemais justificado o cabimento daavocação, senão para julgamento

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integral do litigio, pelo menos paraque a Alta Corte restrita ao inci-dente relativo ao malsinado depósi-to, suspenda os efeitos da decisãomonocrática que o ordenou.

23. Pede-se, por último, ao em.Relator a quem couber por distri-buição o feito, que, no uso da atri-buição que lhe confere o art. 254,III, do Regimento, determine aimediata suspensão dos efeitos dadecisão impugnada, até delibera-ção final do Plenário, prosseguin-do-se, nos demais termos da evo-catória, como mandam os artigos255 e seguintes.

Brasília, 3 de setembro de 1986— José Paulo Sepúlveda Pertence,Procurador-Geral da República»(fls. 2/8).

A petição inicial veio acompa-nhada do requerimento formulado àProcuradoria-Geral da República pe-lo Estado do Maranhão e peloMunicípio de São Luis (fls. 9/15), decertidão de inteiro teor da decisãoproferida pelo MM. Juízo de Direitodos Feitos da Fazenda Pública da-quela Capital (fls. 16/17), de cópiado Agravo de Instrumento contraaquela interposto e também do Man-dado de Segurança que igualmente aimpugnou (fls. 18/32).

As fls. 33/37 está o parecer prévioda Procuradoria da República, comas diligências, que se lhe seguiram afls. 38/40, tudo referido ás fls. 4/5,itens 9, 10 e 11.

O Relator sorteado, às fls.42/43, proferiu o seguinte despacho:

«Com base no inciso III do art.254 do RISTF, determino a imedia-ta suspensão dos efeitos da decisãocertificada às fls. 16/17, até delibe-ração final do Plenário.

O MM. Juiz deverá intimar osprocuradores das partes para quese manifestem nos autos principais(aqueles em que interposto o agra-vo de instrumento — fl. 16), noprazo comum de dez dias (art.255).

Com a manifestação das partes,ou sem ela, subirão os autos princi-pais ao Supremo Tribunal Federal,onde serão apensados aos do pedi-do de evocação (parágrafo únicodo art. 255).

Expeça-se «telex».»(Fls. 42/43).A fl. 51 certificou a Secretaria

do STF.:«Certifico e dou fé que, nesta da-

ta, foram encaminhados a estaCorte os autos da Ação de Desa-propriação Indireta n? 4.386/85, doAgravo de Instrumento n? 604 eRecurso Extraordinário n? 273 naApelação Cível n? 2.512 c/ Impug-nação ao valor da causa, solicita-dos através do Of. n? 631/1 de15-9-86. Certifico ainda que, emcumprimento ao determinado pelor. despacho de fls. 42/43, os procu-radores das partes se manifesta-ram, nos termos do art. 255 do Re-gimento Interno, às fls. 299/312,313/325 e 326 dos autos da Ação deDesapropriação Indireta. Seção deProcessos Diversos, em 14 de outu-bro de 1985. Eu..., Chefe da Seção,lavrei a presente» (fl. 51).

Em seguida o Relator desteacórdão despachou:

«Face ao que consta de fls.246/263 dos autos do 1? apenso, vis-ta, ad cautelam, à PGR. Int.» (Fl.51).6. Assim se manifestou o ilustre

Procurador da República Dr. WalterJosé de Medeiros, em parecer apro-vado pelo eminente Procurador-Geral Dr. José Paulo SepúlvedaPertence, às fls. 53/55:

«Segundo a inicial da avocatórla,teriam os réus sido intimados, pordespacho do Il. magistrado de pri-meiro grau, a efetuar o depósito davultosa cifra de dez milhões decruzados (CZ$ 10.000.000,00), ad-vertidos de que, descumprida a or-dem no prazo estipulado, tal im-portaria «no bloqueio dos valoresrequeridos» (item 05).

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Contra esse douto despachotora manifestado agravo de instru-mento e, simultaneamente, ajuiza-da ação de segurança, com pedidode liminar, tendente a conferirefeito suspensivo ao recurso (item07).

Veio posteriormente a infor-mação de que o em. Desembarga-dor a quem fora distribuído o wrlthouvera indeferido a liminar, pornão ocorrentes os respectivos pres-supostos (item 11).

Por conseguinte, seria pro-cessado — prossegue a inicial —sem efeito suspensivo, o agravo deinstrumento interposto pelo Estadocontra a decisão que lhe ordenou,sob pena de bloqueio, o depósitodaquela elevada importância (item12).

Feito o pedido de avocação, oem. Relator, com respaldo no art.254, III, do Regimento, ordenou li-minarmente «a imediata suspen-são dos efeitos da decisão certifica-da às fls. 16/17» — aquela que or-denou o depósito acrescentandoque, após a manifestação das par-tes, deveriam subir «os autos prin-cipais do Supremo Tribunal, ondeseriam apensados aos do pedido deavocação» (fl. 42).

Fica certo, por esse rápidoescorço, que ainda pende de julga-mento, perante o eg. Tribunal aquo, o agravo de instrumento inter-posto contra a decisão monocráticacujos efeitos foram suspensos porordem do em. Relator.

E claro que o eventual provi-mento do agravo em comento teriao efeito de tornar prejudicada aavocatórla, cujo único objetivo ésustar a ordem de depósito e oeventual seqüestro que seu des-cumprimento implicaria.

8. Nessas condições, parece re-comendável que, ad cautelam, seoficie à eg. Corte de Justiça do Ma-ranhão no sentido de que esclareça

o desfecho dado ao agravo ou, seainda não se ultimou o julgamento,seja o Supremo Tribunal informa-do na oportunidade em que talocorrer.

Teve o em. Relator, por outrolado, como relevante o douto des-pacho pelo qual o MM. Juiz singu-lar determinou fosse o agravo pro-cessado com efeito suspensivo (fl.263 — 1? ap•).

Suspensa a execução da de-cisão agravada, tal suspensão seestenderia até o pronunciamentodefinitivo da turma julgadora, àluz do que estabelece o art. 558 doCPC.

Faz-se mister, ainda aqui,esclarecer se teria havido o julga-mento do agravo, porquanto, se taltiver ocorrido, restaria prejudica-do o despacho suspensivo.

A partir dal, colocar-se-ia aseguinte alternativa: provido oagravo, não mais subsistiria o ob-jeto da avocátória; improvido, res-taria então saber-se a avocatóriaseria via apta para conceder o queo acórdão, no agravo, teria dene-gado.

13. Para tanto, propõe o Minis-tério Público seja oficiado ao eg.Tribunal de Justiça do Maranhãopara que esclareça o estado dacausa, quer quanto à segurança,quer quanto ao agravo manifesta-dos pelo Estado, em petições cujascópias se acham acostadas às fls.18 e 21 destes autos» (fls. 53/55).7. Juntas aos autos, a requeri-

mento de Benedito Reis Pinheiro eoutros, as «xerocópias» de fls. 58/76,foram requisitadas informações à E.Presidência do Tribunal de Justiçado Estado do Maranhão, requeridaspelo Ministério Público Federal (fls.53/55 e 77, item 1), as quais vieramàs fls. 84/85, verbis:

«O Mandado de Segurança inter-posto pelo Estado do Maranhão,contra o Dr. Juiz de Direito da 5!

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Vara Cível da Comarca de SãoLuis foi julgado em Sessão das Câ-maras Cíveis Reunidas, realizadaa 21 do mês de novembro próximopassado sendo proferida a seguintedecisão: «Acolhendo preliminar deintempestividade, não conheceramdo Mandado de Segurança à unani-midade de votos e de acordo com oparecer da Procuradoria-Geral daJustiça».

O Agravo de Instrumento inter-posto pelo Estado do Maranhão,contra B. R. Pinheiro e outros, foijulgado em conexão com o inter-posto pelo Município de São Luis,contra B. R. Pinheiro e outros, emSessão realizada pela Segunda Câ-mara Cível e teve a seguinte deci-são: «Por unanimidade de votos ede acordo com o parecer daProcuradoria-Geral da Justiça, ne-garam provimento aos agravos deinstrumento interpostos pelo Mu-nicípio de São Luís e Estado doMaranhão, a fim de se manteremos despachos agravados» (fls. 84/85).

8. A Procuradoria-Geral da Repú-blica, representada pelo mesmo Pro-curador, com aprovação do eminen-te Titular, assim se manifestou àsfls. 87/89:

«A avocatória teve origem no fa-to de que, por despacho do Il. ma-gistrado de primeiro grau, foramos réus (Estado do Maranhão eMunicípio de São Luís) intimados,na ação de desapropriação indire-ta, a efetuar o depósito prévio davultosa cifra de dez milhões decruzados, advertidos de que, des-cumprida a ordem judicial no pra-zo estipulado, tal importaria nobloqueio do valor mencionado.

2. Contra esse douto despachofoi manifestado agravo de instru-mento e, simultaneamente, ajuiza-da ação de segurança, com pedidode liminar, tendente a conferirefeito suspensivo ao recurso.

O em. Desembargador, aquem fora distribuído o writ, inde-feriu a liminar, tendo a Procura-doria-Geral proposto se oficiasseao eg. Tribunal de Justiça do Ma-ranhão (fls. 53/55), cujo em. Presi-dente afinal informou que aquelaeg. Corte não conhecera, por in-tempestiva, da segurança e, de ou-tra parte, denegara provimento aoagravo de instrumento (fls. 84/5).

Com esse resultado, restaagora íntegro o despacho que origi-nalmente ordenou o depósito dosdez milhões de cruzados, sob penade seqüestro das rendas públicas.

Ora, como sobejamente evi-denciado na inicial, dessa inusita-da ordem judicial decorre imediatoperigo de grave lesão às finançaspúblicas, configurado aí o pressu-posto autorizativo da avocação for-mulada (RI, art. 252), circunscritaembora ao incidente do combatidodepósito e ao eventual seqüestroque sua não efetivação acarreta-ria.

Nessas condições, com re-missão aos termos da inicial, reite-ra a Procuradoria-Geral o pedidode que, no julgamento da avocató-ria, seja cassada a decisão do MM.Juiz de Direito dos Feitos da Fa-zenda Pública de São Luis, confir-mada em grau de agravo pelo Tri-bunal de Justiça do Maranhão, emordem a que o valor da condena-ção, a ser apurado em execução desentença, obedeça, para posteriorpagamento, à sistemática do art.117 e seus parágrafos da Constitui-ção Federal, dispensados os réus,portanto, de qualquer depósito pré-vio, cabível apenas nas ações desa-propriatórias propriamente ditas.

7. Com efeito, foi esta a tese fir-mada pelo Supremo Tribunal nojulgamento do RE 74.262-RS, ondeo saudoso Min. Bilac Pinto, apre-ciando apelo do desapropriado, te-ve oportunidade de sustentar:

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«Finalmente, dele também nãoconheço na parte em que o recor-rente pleiteia o depósito préviodo valor da indenização.

Nas desapropriações indiretasnão incide a regra do 2? do art.33, combinado com o art. 15 e seu§ 1?, ambos da Lei de Desapro-priações. Não ocorreu, na espé-cie, imissão provisória determi-nada pelo Juízo. A ocupação daárea expropriada foi feita inde-pendentemente de autorizaçãoJudicial, caracterizando-se, dessemodo, a desapropriação indireta.E nestas não se pode cuidar dedepósito prévio» (RTJ 68/150).

Nestes termos,Pede deferimento» (fls. 87/89).B. R. Pinheiro e outros trouxe-

ram as «xerocópias» de fls. 93/115.E o Ministério Público Fede-

ral aduziu às fls. 117/121:«Insistem os interessados, nova-

mente, com evidente atropelo docurso normal do processo, na exis-tência de coisa Julgada, a impediro deferimento da evocatória (fl.92).

Cumpre, de uma vez por to-das, esclarecer a questão, paraque não se confunda o Julgador,com grave risco de inexata aplica-ção da lei.

Há coisa Julgada, sim, relati-vamente à decisão que entendeudevido o depósito prévio na açãodesapropriatória indireta.

Disse-o, lisamente e sem sub-terfúgios, o em. Procurador-Geral,na peça inaugural da evocatória:

«16. E verdade que, como re-latam os interessados, transitoulivremente em Julgado a decisãoque ordenou ser devido o depósi-to prévio na ação de desapropria-ção indireta» (item 16).

Mas não é disso que aqui secuida, senão de, reconhecida aobrigatoriedade da efetivação do

depósito prévio, como a ordenou aCorte estadual, por decisão irre-corrida, exigir-se, ainda assim, ocumprimento da regra do art. 117 eseus parágrafos na Carta Federal.

O pedido de evocação se in-surgiu, fundamentalmente, contrao despacho do MM. Juiz da execu-ção, reproduzido por certidão à fl.16 e no item 06 da inicial (fl. 3), Pe-lo qual S. Exa. ordenou a efetiva-ção imediata do depósito prévio,para o que ordenou fossem intima-dos os representantes das pessoasjurídicas de direito público envolvi-das, sob pena — advertia o d. Ma-gistrado — «de que o não atendi-mento importará na determinaçãodo bloqueio dos valores requeri-dos» (fl. 16).

Diante da inusitada ordemJudicial aí contida, outro caminhonão restou aos interessados senãotentar de todas as formas preser-var o Erário da sangria que repre-sentaria o pagamento, de uma sófeita e a um só credor, da vultosacifra então descrita na inicial (dezmilhões de cruzados), a que se so-mariam os invevitáveis consectá-rios legais (Juros, honorários, cus-tas, correção etc).

Ora, em relação ao doutodespacho atacado, não havia falarem coisa Julgada, mesmo porquecontra ele interposto agravo de ins-trumento a que, de inicio mediantea proposltura simultânea da açãode segurança, se pretendia confe-rir efeito suspensivo.

Não foi por outra razão que,no exame preliminar do assuntopela Procuradoria-Geral, ficara as-sinalado que, acaso deferida a cau-telar, não teria lugar a evocaçãoreclamada, pois o Regimento não aadmite contra decisão transitadaem julgado ou de que caiba recur-so com efeito suspensivo.

11. Aconteceu, porém, ter sidoindeferida a liminar requerida, ra-zão pela qual veio a ser processado

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sem efeito suspensivo o agravo in-terposto pelos interessados contraa decisão singular que lhes orde-nou o malsinado depósito.

Por conseguinte, não háfalar-se em coisa julgada, como,equivocadamente, d. v., vêm sus-tentando os desapropriados.

Segue dai, portanto, que ne-nhuma similaridade têm com a es-pécie os acórdãos proferidos pelaAlta Corte nos Pedidos de Avoca-ção n?s 10.0 e 11.8, ambos de SãoPaulo e relatados, respectivamen-te, pelos em. Ministros Oscar ar-réa (fl. 113) e Octávio Gallotti (fl.114).

Nos dois precedentes, cuida-va-se também, é verdade, de avo-cação de processos em que re-querido e deferido o seqüestro derendas do Estado, mas — esta é adiferença que os distancia do casoem apreço — por decisões transita-das livremente em julgado.

Na Avocatória n? 10.0, assimse expressou o em. Relator em re-lação à inocorrência dos pressu-postos do pedido:

«11. A ocorrência de decisões— dentre as que se pleiteia se-jam avocadas — transitas emjulgado, o que inviabiliza o cursodo pedido» (fl. 114).

No mesmo sentido pronun-ciou-se em relator da Avocatórian? 11.8:

«Verifica-se, em primeiro lu-gar, a ocorrência de decisõestransitadas em julgado, entreaquelas que são objeto da avoca-ção requerida» (fl. 115).

Assim, assinalada a diferen-ça básica entre os acórdãos cola-cionados e o caso em julgamento,não se entrevê como possam serinvocados para padrão da alegadadivergência, certo como aquelamínima circunstancia facti deveimplicar substancial diversidadena aplicação do direito.

18. Dai haver requerido o em.Procurador-Geral que, inobstantemantido o depósito prévio por deci-são irreconida, viessem a ser obe-decidas, para sua efetivação, asnormas do art. 117 e seus parágra-fos da Carta em vigor, uma vezque a ordem de seqüestro, com que

MM. Juiz acenou aos órgãos pú-blicos, somente tem lugar na hipó-tese de o credor ser preterido noseu direito de precedência, por or-dem direta do Presidente do Tribu-nal de Justiça do Estado, depois deouvido o respectivo Chefe do Minis-tério Público.

19. Como deixou claro a inicialagora se reafirma, o cabimento

da avocação se justifica, não parajulgamento integral do litígio, maspara que, restrita ao incidente re-lativo ao malsinado depósito, ve-nha a Alta Corte a cassar a deci-são monocrática que o ordenou,confirmando-se, assim, a cautelardeferida pelo eminente Relator (fl.42/3).

20. Nessas condições, estandoos autos devidamente instruidos,impõe-se o prosseguimento daação, para julgamento do pedidoem sua primeira fase (RI, art. 256,§ 2?), em ordem a que, deferida aavocação, encaminhe-se o julga-mento para a segunda fase, quan-do se espera seja cassada, no pon-to aludido, a douta decisão mono-crática (RI, art. 258)» (fls. 117/121).

11. Não se discute o acerto ou de-sacerto da r. decisão do E. Tribunalde Justiça do Maranhão, que, dandoprovimento a um agravo de instru-mento, determinou aos réus de açãoindenizatória, por desapropriação in-direta, ou seja, ao Estado doMaranhão e ao Município de SãoLuis, a realização de depósito pré-vio («sic») da quantia de Cr$2.272.779.836,04 (dois bilhões, duzen-tos e setenta e dois milhões, setecen-tos e setenta e nove mil, oitocentos e

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trinta e seis cruzeiros), apurada emmedida cautelar de produção anteci-pada de prova pericial, homologadapor sentença e acórdão (fls. 246 e338/352 do 2? apenso e fls. 116/122 do4? apenso). Quantia corrigível mone-tariamente a partir da data do laudo(9-2-84). Hoje um total aproximadode dez milhões de cruzados, segundose informa á fl. 3, item 4, e fl. 13,item 9).

É que tais decisões passaram emjulgado (fl. 139 v? do 4? apenso e fls.361/369 do 2? apenso) e, obviamente,não se desconstituem mediante pedi-do de avocação (parágrafo único doart. 252 do RISTF).

Trata-se aqui, na verdade, deobstar, ou não, os efeitos de decisãode primeiro grau que, objetivandodar cumprimento ao acórdão queapenas determinara o depósito «pré-vio» de tal quantia, fixou, para isso,motu proprio, o prazo de 30 dias esob pena de bloqueio de valores (fl.16).

Provavelmente por não se tratarde execução de sentença condenató-ria ao pagamento de uma indeniza-ção definitivamente fixada, não seobservou o disposto no art. 117 e seusparágrafos da Constituição Federal.

O pedido de avocação foiapresentado a 4-9-1986 (fl. 2), quandotal decisão ainda não se prechdra,impugnada, que fora, ademais, poragravo de instrumento e mandadode segurança.

Antes do julgamento deste agravoe desse mandado de segurança, jáhavia o Relator do presente pedido,determinado a suspensão dos efeitosde tal decisão de primeiro grau (fls.42/v?), de sorte que o desfecho poste-rior e até ineficaz de tais processos(fls. 84/85, 93/94,108/111), não preju-dica o pedido de avocação.

14. O bloqueio de bens, cominadoapenas na decisão de primeiro grau,que determinou o depósito de quan-tia tão alta e ainda ilíquida (por cau-

sa da correção monetária não calcu-lada), segundo entende o Plenário,acarreta perigo imediato de gravelesão às finanças públicas do Estadodo Maranhão e do Município de SãoLuís, Inclusive certa desordem paracumprimento de precatórios já expe-didos noutros processos, já que, nocaso dos autos, nenhum se expediupara os fins do artigo 117 e seus ffda CF, configurando tal bloqueio, aum primeiro exame, um seqüestropor antecipação e determinado exofficio.

15. Por tudo isso e pelo mais queficou dito nas várias manifestaçõesdo Ministério Público Federal (fls.2/8, 33/37, 53/55, 87/89 e 117/121),acordam os Ministros do STF em de-ferir o pedido de avocação para que,oportunamente, com observância doart. 258 do RI, possa a Corte apre-ciar apenas tal questão incidente,nos termos da parte final do art. 252,requisitando-se os autos do mandadode segurança e do agravo de instru-mento, que sobre esta versaram, aoE. Tribunal de Justiça do Maranhão.

Brasília, 12 de agosto de 1987 —Rafael Mayer, Presidente — MeeiFalcão, Moreira Alves, Néri da Sil-veira, Oscar Corrêa, Aldir Passari-nho, Sydney Sanches, Octavio Gano-ti, Carlos Madeira, adio Borla.

EXTRATO DA ATA

PA 12 — MA — Rel.: Min. SydneySanches. Reqte.: Procurador-Geralda República. Rqdo.: Juiz de Direitodos Feitos da Fazenda Pública deSão Luís. Interessados: Estado doMaranhão (Adv.: Nemias Nunes deCarvalho); Prefeitura Municipal deSão Luís (Adv.: Pedro Leonel Pintode Carvalho) e B. R. Pinheiro e ou-tros.

Decisão: O Tribunal deliberou de-ferir o pedido de avocação nos ter-mos do voto do Relator.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão os

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Senhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho,Sydney Sanches, Octavio Gallotti,Carlos Madeira e Célio Borja. Au-sente, justificadamente, o Sr. Minis-

tro Francisco Rezek. Procurador-Geral da República, o Dr. José Pau-lo Sepúlveda Pertence.

Brasília, 12 de agosto de 1987 —Dr. Alberto Veronese Aguiar, Secre-tário.

RECLAMAÇÃO INI? 231 — MA(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Octavio Gallotti.Reclamante: Pedro Leonel Pinto de Carvalho — Reclamado: Relator da

AR n? 165 do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão.

Ação rescisória baseada no art. 485, V, do Código de Processo Ci-vil, por violação dos mesmos dispositivos de lei, apreciados pelo Su-premo Tribunal, ao Julgar recurso extraordinário.

Representação procedente para avocar o conhecimento do feito, aesta Corte, nos termos do art. 161 do Regimento Interno.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, jul-gar procedente a Reclamação nostermos do voto do Ministro Relator.

Brasília, 17 de março de 1988 —Rafael Mayer, Presidente. OctavioGallotti, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Octavio Gallotti:Cuida-se de reclamação oposta aodespacho de Desembargador Rela-tor, do Tribunal de Justiça do Mara-nhão, que determinou a citação doréu, ora Reclamante, em ação resci-sória que ora se alega ser da compe-tência originária do Supremo Tribu-nal Federal.

A demanda de que se originou arescisória foi exposta, como segue,pelo acórdão da Primeira Turma

desta Corte, que não conheceu doRecurso Extraordinário n? 109.233:

«O Sr. Ministro Octavio Gallotti:Trata-se de ação proposta pelo oraRecorrido, contra o banco Recor-rente, visando à indenização do da-no causado pela indevida restitui-ção de cheque, com a nota «semfundos», a despeito de haver provi-são suficiente deste.

O Acórdão recorrido reformou,em grau de embargos infringentes,o que fora proferido na apelação ejulgou assim procedente o pedido,restabelecendo a sentença de pri-meira instância, exceto no tocanteà modalidade da liquidação que ojuiz mandara fazer por arbitra-mento, diversamente do Tribunalque determinou fosse ela processa-da por artigos. Eis a ementa queresume os fundamentos do julgadodas Colendas Câmaras Cíveis Reu-nidas do Tribunal de Justiça do Es-tado do Maranhão:

«Embargos Infringentes — De-claração de voto vencido — De-volução integral da matéria —

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Ação declaratórla de existênciade relação jurídica do direito àpersonalidade e ordinária de re-paração de danos. Responsabili-dade do dano moral — Inadmissi-bilidade de discussão de culpaconcorrente em virtude de resjudicata.

A tendência da jurisprudênciaNacional e da opinião doutrináriadominante é de admitir-se a re-paração do dano moral por culpade pessoa de direito privado, re-conhecida por decisão judicialpassada em julgado.

Embargos Infringentes provi-dos para restabelecimento dasentença de primeiro grau, ape-nas modificada no seu estilo deliquidação» (fl. 306).Recorre, extraordinariamente, o

Banco Bandeirantes S.A., com ba-se nas letras a e d do permissivoConstitucional.

Alega negativa de vigência doart. 159 do Código Civil e do art.333 do Código de Processo Civil,por falta de prova, a cargo do au-tor, da existência do dano. E, ain-da, dos artigos 471 e 530, in tine,também da lei adjetiva, porque oacórdão teria decidido matéria járesolvida, unanimemente, no julga-mento da apelação.

Suscita o dissídio jurisprudencialcom arestos do Supremo Tribunal(RE 75.814, RTJ 65/583) e dos Tri-bunais de Justiça de São Paulo edo Rio Grande do Sul.

O Recurso foi indeferido peloilustre Presidente da Corte, de ori-gem, mas subiu, para melhor exa-me, em virtude de despacho exara-do nos autos do Agravo de Instru-mento n? 108.944, em apenso.

E o relatório.»

Voto«O Sr. Ministro Octavio Gallotti

(Relator): Ao contrário do que sus-tenta o Recorrente, o acórdão re-

corrido não reapreciou matéria jádecidida unanimemente em apela-ção tampouco ultrapassou o objetoda divergência ali travada (artigos471 e 530 do Cód. Proc. Civil).

O voto vencido concluía pelo res-tabelecimento da sentença e estajulgara a ação procedente, tal co-mo deliberam as Câmaras Reuni-das, com a diferença de um por-menor que não se mostra relevante(a forma de liquidação), pois oprocedimento eleito pelo acórdão(artigos) propicia exame maisaprofundado da extensão do pre-juízo, com ônus probatório inciden-te sobre o Autor.

Também a circunstância de ha-verem sido rejeitados, sem discre-pância, os embargos declaratóriosopostos ao acórdão da apelação,não cerceia o âmbito dos embargosinfringentes que atacam a diver-gência prevalecente sobre a maté-ria de fundo, ao passo que a unani-midade se fez apenas em torno denão haver contradição, obscurida-de ou omissão a sanar.

No tocante ao art. 333 do Códigode Processo Civil e ao art. 159 doCódigo Civil, o recurso não encon-tra, igualmente, cabimento.

A presente ação de indenizaçãohavia sido precedida de outra, de-claratória, onde ficara definida,com trânsito em julgado, a culpado Banco pela restituição do che-que ante a suposta insuficiência defundo de que estava, na verdade,provida a conta do Recorrido.

O dano foi considerado existente,com base na prova tendo-se emvista, entre outros fatores, a publi-cidade dada ao fato. A falta de re-percussão patrimonial do prejuízonão tem sido reputada, pelo Supre-mo Tribunal, como obstáculo aoressarcimento.

Apreciando questão análoga, re-ferente a dano decorrente da publi-cação de apontamento, para pro-

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testo cambial, de nota promissóriajá paga, decidiu esta Turma, emacórdão no Recurso Extraordiná-rio n? 105.157:

«Dano, puramente moral, inde-nizável.

Direito de opção, pelo lesado,entre a ação contra o Estado e aação direta, proposta ao servidor(Constituição, art. 167).

Precedentes do Supremo Tribu-nal.

Recurso Extraordinário de quenão se conhece» (RTJ 115/1.383).Louvei-me, naquela assentada,

no registro do ilustre Desembarga-dor Renato de Lemos Maneschy,segundo o qual no «nosso direitonão padece mais dúvida a separa-bilidade do dano moral puro» (inDireito das Obrigações, ed. LiberJuris, Rio, 1984, pág. 220) e trilheio precedente desta Turma, da la-vra do eminente Ministro OscarCorrêa de que o parecer da doutaProcuradoria-Geral da Repúblicatranscrevera o seguinte trecho:

«12. Não se trata de pecuniadoloris, ou prectium doloris, quese não pode avaliar e pagar; massatisfação de ordem moral, quenão ressarce prejuízos e danos eabalos e tribulações irressar-cíveis, mas representa a consa-gração e o reconhecimento, pe-lo direito, do valor e importânciadesse bem, que é a consideraçãomoral, que se deve proteger tan-to quanto, se não mais do que osbens materiais e interesses que alei protege.

A esses elementos de ordemmoral e social — porque suporteda própria estrutura social —não deve estar alheio o Juízo,ponderando-os serena e convicta-mente e valorizando-os modera-damente com o prudente arbítriodo bom varão» (RTJ 108/294).No conceito sempre claro de Ro-

berto de Ruggiero, para ser o dano

indenizável «basta a perturbaçãofeita pelo ato ilícito nas relaçõespsíquicas, na tranqüilidade, nossentimentos, nos afetos de umapessoa, para produzir uma dimi-nuição no gozo do respectivo direi-to» (Instituições de Direito Civil,tradução da 6? edição italiana, comnotas do Dr. Ary dos Santos, ed.Saraiva, S. Paulo, 1937).

Não se pode ter, portanto, oacórdão recorrido, como infringen-te dos textos legais apontados.

Não se caracteriza, outrossim, aalegada divergência jurispruden-cial.

No acórdão prolatado no Recur-so Extraordinário n? 75.814 (RTJ65/583), proclamou-se a ausênciade fato culposo, imputável ao ge-rente do Banco, enquanto, na espé-cie presente, a culpa foi reconheci-da, em ação declaratória prece-dente, por decisão transitada emjulgado.

È patente, por outro lado, a dife-rença entre a situação ora cogita-da e aquelas versadas nos paradig-mas oriundos dos Tribunais esta-duais, quer os relativos à contro-vérsia sobre o direito substantivo(dano moral indenizável), quer ospertinentes aos temas processuaissuscitados (ónus da prova e abramgência dos embargos infringentes).

Não conheço do Recurso Ex-traordinário.» (RTJ 119/434-436)A ação rescisória, para cujo pro-

cesso e julgamento aqui se discute acompetência, visa a desconstituir adecisão da justiça local que ficouprevalecente, pelo insucesso do re-curso extraordinário acima aborda-do. O próprio autor assim lhe resu-me os fundamentos, na petição ini-cial, por cópia às fls. 18/38:

«Em resumo, pretende o Autor arescisão do Acórdão 7801/85, dasCâmaras Cíveis Reunidas dessaEgrégia Corte, por violação a lite-ral disposição de lei (art. 485, V doCPC), porque

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deu pela procedência daação de Indenização, com fulcrono art. 159 do Código Civil, semque presente estivesse um dos re-quisitos essenciais à aplicação dopreceito: a ocorrência do dano;

julgando procedente a ação,sem que tenha havido prova dodano, integrante do fato constitu-tivo do direito do então autor,violou também o aresto rescin-dendo o disposto no art. 333, I, doCódigo de Processo Civil, que de-termina ao autor provar o fatoconstitutivo de seu direito;

seja quando estabelece ha-ver necessária simetria entre osdois pedidos constantes da Inicialseja ao dispor que a liquidação,se dará por artigos, o aresto res-cindendo, consubstanciador dejulgamento dos embargos infrin-gentes, comete afronta ao dispos-to no art. 530, lin fine do Códigode Processo Civil, ao extrapolaro âmbito da divergência; e

ao tomar as decisões referi-das na letra c, o aresto rescin-dendo violou, por igual, o art. 471do Código de Processo Civil, eisque reapreciou e redecidiu ques-tões já decididas definitivamentenos autos, sobre as quais se for-mara a preclusão» (fls. 37/8)

Por despacho de fl. 42, determineia suspensão do curso da ação e soli-citei informações, que vieram ás fls.49/51, aduzindo, no essencial:

«No caso em espécie, não temaplicação a Súmula 299, pois a afir-mação de que não houve violação álei nem dissídio jurisprudencialcom a jurisprudência desse Excel-so pretório, não importa em con-trovérsia para fixar a competênciadessa Egrégia Corte de Justiça.

que o v. acórdão ora em dis-cussão não chegou a apreciar omérito da controvérsia, examinan-do apenas os pressupostos de ad-missibllidade do apelo extremo,

manifestando-se pelo seu não co-nhecimento.

Assim sendo a competência parao julgamento da Ação Rescisório, édesta Corte de Justiça, como bemassim o decidiu o eminente Desem-bargador Relator, na forma deter-minada pelo artigo 101, § 3?, letra eda Lei Orgânica da MagistraturaNacional (Lei Complementar n? 35de 1411-79) » (fls. 50/1).Completo o Relatório com a trans-

crição do parecer do ilustre Sub-procurador-Geral da República Wal-ter José de Medeiros:

«Diz o reclamante, na inicial, ha-ver proposto, perante a Justiça es-tadual do Maranhão, ação ordiná-ria contra o Banco BandeirantesS.A., afinal julgada procedente, emgrau de embargos infringentes,com a declaração da existência dodireito do autor á personalidade ea condenação do réu a reparar odano moral a que dera causa.

Interposto recurso extraordiná-rio, dele não conheceu a eg. Pri-meira Turma, em acórdão de quefoi relator o em. Ministro OctavioGallotti, embora — sustenta o re-clamante — se haja «enfrentado amatéria de mérito nele subjacen-te», com exame «em profundidadedo tema de direito federal entãoversado: dano, puramente moral,indenizável» (fl. 3).

Desse modo — prossegue a Ini-cial — comprometida a Alta Cortecom a solução dada á controvérsia,no sentido do cabimento de indeni-zação do dano moral puro, seriasua a competência para processare julgar ação rescisório do acórdãorespectivo.

Ocorre que, inobstante esse qua-dro, tramita, perante o eg. Tribu-nal de Justiça do Maranhão, ação,ajuizada pelo Banco Bandeirantes,para desconstituir o julgado de queinterposto o RE 109.233, tendo, oem. relator, perante aquela eg.

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Corte, ordenado a citação do réu,com que se presume aceita suacompetência para o processo e jul-gamento da rescisória.

Daí o ajuizamento da reclama-ção, fundada no art. 156 do RISTFe com citação de farto rol de pre-cedentes, em que se pede, além daliminar, seja preservada a compe-tência da Alta Corte para julga-mento da aludida rescisória, emtramitação perante o eg. Tribunalmaranhense (fl. 2/7).

O em. relator, com apoio no art.158 do Regimento, ordenou a sus-pensão do curso do processo, solici-tando as informações de praxe (fl.42), oportunamente prestadas peloem. Presidente do Tribunal recla-mado (fl. 49).

Com vista dos autos (fl. 66), oparecer do Ministério Público Fe-deral é pela improcedência do pe-dido.

A rescisória intentada pelo Ban-co Bandeirantes S.A., perante aJustiça do Maranhão, contra o orareclamante, tem por fundamento aalegação de que a decisão rescin-denda teria violado literal disposi-ção de lei (CPC, art. 485, V).

Assevera o autor na inicial que,inobstante se haja condenado o réupor ocorrência do dano moral, comarrimo no art. 159 do Código Civil,a verdade é que o acórdão em des-constituição, a pretexto de aplicá-lo, terminou por violar o referidodispositivo legal.

E que — argumenta-se — teriasido imprescindível a prova de que

Banco causara lesão ao direitodo réu, o que, entretanto, não res-tou cumpridamente demonstrado.

Assim, o réu limitara suas pro-vas «ao depoimento do gerente doautor e à juntada de quatro docu-mentos», os três primeiros «dequase nenhuma importância para

desate da lide» e o último «rela-cionado com entendimentos manti-

dos, antes da demanda, entre o pa-trono do réu e representantes doautor, com vistas a uma solução detransação para a pendência» (fl.

Em seguida, passa o autor a sus-tentar que, ao contrário do réu,comprovou, à saciedade, a inexis-tência de dano moral a ele infligi-do.

E que, exercendo o réu, à época,cargo de confiança do governadordo Estado, comissionado a nivel desecretário, «uma nódoa à sua repu-tação significaria abalo suficientea perda do cargo». Ocorre — pros-segue a inicial — que o réu «ja-mais deixou o cargo, inobstante oevento atribuído ao autor ter-se da-do no primeiro ano da gestão dogovernador João Castelo, que o no-meara para a elevada função» (fl.

Outra prova de inocorrência dodano moral à reputação do réu foia sua manutenção no cargo «du-rante o Governo Ivar Saldanha...»(id.).

Houve mais, porém: fundado em1980 o Instituto dos Advogados doMaranhão, entre cujos fundadoresfigurou o nome do réu, veio este aser guindado à posição de Vice-Presidente da novel entidade (id).

Se agravada a honra do réu —prossegue a inicial da rescisória —não teria ocorrido sua eleição paraa preeminente função de Conse-lheiro Federal da Ordem dos Advo-gados do Brasil», como represen-tante da seccional maranhense,múnus aquele que por presunçãojuras et de jure é privativo de «ad-vogados com notável saber jurídi-co e reputação ilibada» (fl. 23).

Passa o autor da rescisória, emseguida, a sustentar que não basta-va a existência de culpa sua peladevolução do cheque. Para que seconfigurasse a responsabilidade ci-vil do estabelecimento bancário,

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seria necessário a prova do pre-juízo moral, não se configurando alesão «pela simples veiculação danoticia da devolução do cheque»(fl. 24).

Nesse ponto, assevera-se que ofato foi mantido em perfeito sigilobancário, até que veio a público,por conta exclusiva do réu, queajuizou ação declaratória contra oBanco, não podendo ser atribuída aeste último qualquer parcela deculpa, se a publicidade dos atos ju-diciais decorreu ex vi legls (CPC,art. 155).

Como se nota desse rápido resu-mo do pedido rescisório, postula-senova apreciação dos fatos, paraque dela resulte a correta aplica-ção do direito, com a desconstitul-ção do julgado rescindendo, porofensa á literal disposição do art.159 do Código Civil.

Ora, o Supremo Tribunal Fede-ral, no julgamento do RE 109.233,de que foi relator o eminente Mi-nistro Octavio Gallotti, não desceuem qualquer momento ao examedas provas, mesmo porque essa ta-refa refoge á sua competência noâmbito stricti juris do recurso ex-traordinário (Súmula 279).

Asseverou, naquela oportunida-de, o insigne Ministro-Relator, emseu voto condutor:

«O dano foi considerado exis-tente com base na prova, tendo-se em vista, entre outros fatores,a publicidade dada ao fato. A fal-ta de repercussão patrimonial doprejuízo não tem sido reputa-da, pelo Supremo Tribunal, co--mo obstáculo ao ressarcimento»(RTJ 119/ 435).Por conseguinte, teve-se como

fato certo, apurado pela instânciaordinária, a existência do dano, cu-ja aferição fora feita com base nasprovas, entre as quais se deu rele-vo à «publicidade dada ao fato».

Quanto a essa última questão,sustenta, agora, o autor, na resci-

sória, que a publicidade empresta-da ao evento correu à conta do réuque, açodadamente, intentara açãodeclaratória, com o que se sujeitouà publicidade dos atos judiciais,em detrimento do sigilo bancárioentão mantido com estrito rigor.

Não poderia, por certo, a Excel-sa Corte ser erigida em instânciaoriginária de julgamento do pedidorescisório, se não examinara, nojudicium rescindens, as questõesagora postas para solução nojudicium rescisorium.

Na verdade, o em. Ministro-Relator, depois de proclamar terficado provado o dano na instânciaa quo, apenas acrescentou haversufragado, em outro precedente, atese de indenizabilidade «do danodecorrente da publicidade de apon-tamento para protesto cambial»(RE 105.157, RTJ 115/1383).

Afirmou S. Exa. que, no citadoprecedente, se louvara no escóliodo ilustre Desembargador RenatoManeschy e em outro julgado daAlta Corte, de que foi relator o em.Ministro Oscar Corrêa.

Por último colacionou S. Exa. omagistério de Rugglero para abo-nar a tese então sustentada, con-cluindo por não conhecer do apeloextremo, quer por não ter «o acór-dão recorrido como infringente dostextos legais apontados», quer pornão ver caracterizada «a alegadadivergência jurisprudencial» (RTJ119/ 436).

Por conseguinte, o Supremo Tri-bunal teve por correta a tese deser indenizável o dano moral, semcontudo descer ao exame do méri-to da causa, para saber se se confi-guravam os fatos embasadores dodano apontado.

Como, para aplicação do direito,terá a instância rescisória de levarem conta os fatos agora narradospelo autor, não será, a nosso ver,competente o Supremo Tribunal

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para, originariamente, julgar acausa, porquanto, se a ele faleciacompetência para o reexame dasprovas em sede extraordinária,persiste, no judicium rescisorium,o mesmo óbice quanto à revisãodas provas que se quer aqui e ago-ra reagitar.

A mingua dos pressupostos auto-rizativos da reclamação, o pareceré pela sua improcedência.» (fls.68/73.E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Octavio Gallotti(Relator): Assinalo, de início, que osdispositivos cuja alegação de literalviolação é fundamento da ação resci-sória são, exatamente, os mesmoscuja negativa de vigência servira debase à interposição do recurso ex-traordinário (art. 159 do Código Civile artigos 333, I, 530 e 471 do Códigode Processo Civil).

Considero, por outro lado, que asquestões federais, correspondentes aesses quatro dispositivos, foramapreciadas pela Turma julgadora,do Supremo Tribunal, justificando acompetência originária deste, para oprocesso e julgamento da rescisória,nos termos da Súmula ri? 249, corre-tamente invocada pelo Reclamante:

«249. E competente o SupremoTribunal para a ação rescisória,quando, embora não tendo conheci-do do recurso extraordinário, ouhavendo negado provimento aoagravo, tiver apreciado a questãocontrovertida».No tocante ao art. 159 do Código

Civil houve, como é natural, umaadequação da perspectiva do autorda Rescisória que, no recurso ex-traordinário, sustentava, a Inviabili-dade, em tese, da indenização do da-no moral, além da falta de compro-vação efetiva desse dano, ao passoque, já agora, se restringe à última

dessas teses, considerando, em su-ma, que não se evidencia prejuízo àreputação e ao conceito da vitima.

Não é possível, todavia, obscure-cer que a controvérsia, relativa àaplicação do dispositivo em causa,foi apreciada pelo Supremo Tribu-nal.

A posição assumida pela Procura-doria-Geral da República em seudouto parecer, no sentido de que osfatos em cujo exame não ingressouesta Corte — e não o direito a elesaplicável — seriam o objeto da resci-sória, resulta data venia de uma su-perestimação do âmbito dessa ação,no tocante à aptidão desse meio pro-cessual para chegar-se à revisão daprova.

E que, no caso, a rescisória vemarrimada exclusivamente no incisoV do art. 485 do Código de ProcessoCivil (violação literal de disposiçãode lei), não se cogitando de falsida-de, documento novo ou outra hipóte-se capaz de ensejar a renovação dainstância probatória. Veja-se o ma-gistério do eminente Ministro Alfre-do Buzaid, Relator da AR n? 885:

«... o de que se cuida na açãorescisória é de violação do lus inthesi e não de violação do luslitigatoris. Por isso a orientação dajurisprudência desta Corte assen-tou que o reexame da prova, docontrato ou do acórdão não consti-tui fundamento de ação rescisó-ria (Cf. Ac. Supremo TribunalFederal, Ação Rescisória n? 885,3-12-1980, Relator Ministro Thomp-son Flores, em RTJ 99/534; AçãoRescisória n? 1.059, 19-8-1981, Rela-tor Ministro Thompson Flores, emRTJ 99/534; Ação Rescisória n?1.059, 19-8-1981, Relator MinistroRafael Mayer, em RTJ 101/492)»(RTJ 110.474).

«No mesmo sentido é a lição doeminente Ministro Thompson Flores,como Relator da AR 885:

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«No mais, o que visa a autora éver reapreciada a prova examina-da nas instâncias locais e inviávelno excepcional.

Mas tal pretensão refoge aocampo da rescisória, a qual, comosempre se tem decidido, não visareparar injustiças, mas ilegalida-des. Fica, in casu, restrita às ques-tões previstas em lel, e tendo tran-sitado em julgado o acórdão na vi-gência do CPC de 1939, por ele seregia (artigo 798 e seus incisos).

E versando sobre a prova acen-tua:

Art. 798. I — II — quando o seu principal

fundamento for prova declaradafalsa em juizo criminal, ou defalsidade inequivocadamenteapurada na própria ação rescisó-ria.»Não é, porém, da falsidade da

prova que se cogita, mas de suarevisão, a toda evidência aqui !nal-cançávelin (RTJ 99/537-8)Assim, no máximo, a revaloriza-

ção da prova e o reenquadramentojurídico dos fatos poder-se-ão conterno alcance da rescisória e não a am-pla renovação da discussão dessamatéria, onde parece residir espaçonão coincidente, apontado no pare-cer, entre o juizo de conhecimentodo recurso extraordinário, exercidopelo Supremo Tribunal e o juízo res-cisório, a ser ainda exercitado.

Torna-se, ainda, imperioso lem-brar que, além do citado art. 159 doCódigo Civil, até aqui ventilado, con-correm, o recurso extraordinário e arescisória, na alegação de afronta atrês dispositivos do Código de Pro-cesso Civil: os artigos 333, I, 471 e530.

Ora, se, no tocante ao primeiro(art. 333, I, do CPC), como sucediacom o art. 159 do Código Civil, aquestão estava, de certo modo, asso-ciada à prova produzida, é, forçoso

convir em que, a respeito das outrasduas normas processuais invocadas,tanto na ação rescisória como no re-curso extraordinário que a sucedeu,o tema era exclusivamente de direi-to e foi apreciado pela Turma desteTribunal, como se verifica da se-guinte passagem do acórdão proferi-do no RE 109.233:

«Ao contrário do que sustenta oRecorrente, o acórdão recorridonão reapreciou matéria já decididaunanimemente em apelação, tam-pouco ultrapassou o objeto da di-vergência ali travada (artigos 471e 530 do Cód. Proc. Civil).

O voto vencido concluía pelo res-tabelecimento da sentença e estajulgara a ação procedente, tal co- -mo deliberaram as câmaras reuni-das, com a diferença de um por-menor que não se mostra relevante(a forma da liquidação), pois oprocedimento eleito pelo acórdão(artigos) propicia o exame maisaprofundado da extensão do pre-juízo, com Ônus probatório inciden-te sobre o Autor.

Também a circunstância de ha-verem sido rejeitados, sem discre-pância, os embargos declaratórios,opostos ao acórdão da apelação,não cerceia o âmbito dos embargosinfringentes que atacam a diver-gência prevalecente sobre a maté-ria de fundo, ao passo que a unani-midade se fez apenas em torno denão haver contradição, obscurida-de ou omissão a sanar» (fl. 435 eRTJ 119/434-5).

Ora, bastaria a superposição dessaquestão, puramente jurídica, suces-sivamente posta no extraordinário ereiterada na rescisória, para acarre-tar a extensão de competência doSupremo Tribunal, em relação aoexame dos demais aspectos que, iso-ladamente, permaneceriam relega-dos á esfera da Justiça estadual.Afirmou o eminente Ministro Morei-ra Alves, ao dotar desta ementa o

18 R.T.J. — 125

acórdão proferido na AR 1.006, deque foi Relator:

«Sendo o STF competente parajulgar um dos aspectos da rescisó-ria, sua competência se prorrogaàqueles que por ele não foram exa-minados anteriormente» (RTJ86/67).

Reportou-se, S. Exa., naquelaoportunidade, ao ensinamentp deCastro Nunes, veiculado por Cor-deiro de Mello (O Processo no Su-premo Tribunal Federal, 1, pág. 926,Rio de Janeiro, 1964) e também re-produzido na impecável inicial dapresente Reclamação. Vale recorda-lo:

«Para o Ministro Castro Nunes,conforme voto proferido no julga-mento da Ação Rescisória n? 128,em 12 de abril de 1946, «A compe-tência do Supremo Tribunal Fede-ral para conhecer da rescisóriasubseqüente ao recurso extraordi-nário, se estende mesmo aos as-pectos que não tenham sido focali-zados ou ás questões não propostasna interposição e julgamento desserecurso». E acrescentou que «se oSupremo Tribunal é competentepara conhecer de uma parte ou deum dos fundamentos da demanda,o é para os demais aspectos, peloprincípio em virtude do qual a ju-risdição especial atrai as deman-das conexas, que, em linha deprincípio, pertenceriam á jurisdi-ção comum, mas que convergempara o juízo especial. A jurisdiçãocomum, chamada local na partilhaconstitucional das competências,não se prorroga para alcançar ascausas da jurisdição especial. Éesta que se distende para abrangeras da jurisdição comum. Ora, o Su-premo Tribunal é por definiçãouma jurisdição sul generis, jurisdi-ção constitucional. Se já se pronun-ciou sobre um dos aspectos, um sóque seja, renovado na ação resci-

sória, é a sua e não a dos tribunaisde apelação, a jurisdição que seprorroga para a demanda por in-teiro» (DJ, de 9-3-48, pág. 513)»(RTJ 86/73).

Sendo, portanto, da competênciado Supremo Tribunal, o processo ejulgamento originário para os quaisconsiderou-se competente o Tribunalestadual, ao determinar a citação doReú, configuram-se o cabimento e aprocedência da Reclamação, com afinalidade de preservar a competên-cia desta Corte.

Julgo-a, então procedente, nos ter-mos do art. 161, I, do Regimento In-terno, para avocar o conhecimentoda Ação Rescisória n? 165/87, afora-da perante o Colendo Tribunal deJustiça do Maranhão.

EXTRATO DA ATA

Rel. 231 — MA — Rel.: Min. Octa-vio Gallotti. Recte.: Pedro LeonelPinto de Carvalho (Adv.: CíceroFrandisco de Oliveira). Recdo.: Re-lator da AR n? 165 do Tribunal deJustiça do Estado do Maranhão.

Decisão: Julgou-se procedente aReclamação nos termos do voto doMinistro Relator, unanimemente.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Francisco Rezek,Sydney Sanches, Octavio Gallotti,Carlos Madeira e Célio Borja. Au-sente, justificadamente, o SenhorMinistro Aldir Passarinho. Procura-dor-Geral da República, o Dr. JoséPaulo Sepúlveda Pertence.

Brasília, 17 de março de 1988 —Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

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INQUÉRITO N? 260 — PE(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Ale Passarinho.Indiciado: Sérgio Moreira Phllomeno Gomes.

Competência:Ex-Deputado Federal: crime que lhe é atribuído.Se o acusado não era deputado federal quando da prática dos atos

ilícitos que lhe são atribuídos, e agora já não mais ocupa tal cargo, acompetência não é do Supremo Tribunal Federal mas sim da JustiçaFederal, já que a acusação é de crime contra o património da União.Remessa dos autos à Seção Judiciária Federal de Pernambuco.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, por suaSessão Plenária, na conformidade daata do julgamento e das notas taqui-gráficas, por unanimidade de votos,julgar incompetente o Supremo Tri-bunal Federal, e determinar a re-messa dos autos ao Juízo Federal doEstado de Pernambuco, nos termosdo voto do Ministro Relator.

Brasília, 12 de agosto de 1987 —Rafael Mayer, Presidente — AldirPassarinho, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): Foi aberto inquérito poli-cial, por requisição do Ministério Pú-blico Federal, para apuração daocorrência de delito, que teria sidopraticado, em tese, pelos dirigentesda empresa Vale do São FranciscoRefrigerantes e Sucos NaturaisLtda., em detrimento patrimonial daUnião Federal, vindo a ser apuradoser o sócio proprietário o DeputadoSérgio Moreira Phllomeno Gomes oresponsável pela movimentação fi-nanceira da empresa.

O relatório da autoridade policialprocessante dá conta de que o aludi-do deputado fora indiciado como in-

curso nas penas do art. 19 da Lei n94.729/65.

O inquérito fora distribuldo aoJuizo da Seção Judiciária de Per-nambuco. Entretanto, atendendo apromoção do Ministério Público Fe-deral, o MM. Juiz Federal declinoude sua competência para esta Corte,por ser o indiciado deputado federal(art. 119, I, a, da Constituição Fede-ral).

Subindo os autos, foi ouvida a dou-ta Procuradoria-Geral da Repúblicaque, após referir-se a ser atribuído áfirma Vale do São Francisco Refri-gerantes da prática de irregularida-des na escrituração contábil, com ofito de sonegar Imposto de Renda, e aprática de subfaturamento em fun-ção do mesmo objetivo, requereu oapensamento no processo, dos autosdo Inquérito Policial ri? 250, e con-cernentemente a artifícios que te-riam sido usados pela mesma em-presa para ludibriar o pagamento doIPI, no mesmo período.

O Ministro Octávio Gallotti, em fa-ce da diligência requerida, mandouextrair cópia do inquérito que lhe fo-ra distribuído, vindo ela a ser apen-sada aos presentes autos.

Novamente ouvida, voltou a ma-nifestar-se a ilustrada Procurado-ria Geral da República, nestes ter-mos:

20

R.T.J. — 125

«Tendo V. Exa. deferido a dili-gência que solicitáramos no pare-cer de fls. 278/279, fato superve-niente existe que nos conduz àconstatação de não mais persistira competência originária da Supre-ma Corte para exame do eventoaqui cogitado.

Com efeito, ele se põe, por formacontinuada, no período de marçode 1979 a dezembro de 1980 ( vide:fl. 278).

E sabido que Sérgio Philome-no exerceu um único mandato dedeputado federal, no período1983/1986, não tendo logrado a ree-leição buscada para o tempo pre-sente.

Quando atos considerados Menossão praticados por parlamentar, ain-da que perca ele tal cargo, a compe-tência continua a ser do SupremoTribunal Federal. No caso, porém,quando dos fatos, não era o indiciadodeputado federal e já agora deixoude ocupar tal cargo.

Assim sendo — e tal como entendea douta Procuradoria-Geral da Re-pública — a competência não é destaCorte, mas sim da Justiça Federal.

Pelo exposto, meu voto é não co-nhecendo do inquérito e determinan-do a remessa dos autos, para os finsde direito, à Seção Judicial de Per-nambuco.

É o meu voto.

Assim, porque o fato consumadoestá fora do período em que deti-nha condição ensejadora da prer-rogativa de função, e dela nãomais usufruindo, cessa a compe-tência originária da Suprema Cor-te para exame do evento, pelo queopinamos no sentido do retorno dosautos ao MM. Juizo Federal da 5,Vara, em Pernambuco (folha 273),que de novo detém a competênciajurisdicional» (Fls. 292/293).

o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): Segundo esclarece aProcuradoria-Geral, da República,quando da prática dos atos atri-buídos à responsabilidade de SérgioMoreira Phllomeno Gomes, não eraeste ainda deputado federal, e, de-pois de exercer seu mandato, agorajá não mais é parlamentar.

EXTRATO DA ATA

Inq 260 — PE — Rel.: Min.: AldirPassarinho. Indiciado: Sérgio Morei-ra Phllomeno Gomes.

Decisão: Julgou-se incompetente oSupremo Tribunal Federal, e deter-minou-se a remessa dos autos aoJuízo Federal do Estado de Pernam-buco, nos termos do voto do MinistroRelator. Decisão unânime.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho,Sydney Sanches, Octavio Gallotti,Carlos Madeira e eólio Boda. Au-sente, justificadamente, o Sr. Minis-tro Francisco Rezek. Procurador-Geral da República, o Dr. José Pau-lo Sepúlveda Pertence.

Brasília, 12 de agosto de 1987 —Dr. Alberto Veronese Aguiar, Secre-tário.

R.T.J. - 125 21

INQUÉRITO N? 305 — RJ(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Oscar Corrêa.Indiciados: Rex Nazaré Alves (Presidente da Comissão Nacional de

Energia Nuclear) e outro.

Conta secreta da CNEN (DELTA III). Irregularidades que teriamocorrido e que configurariam prática delituosa (art. 319, ou 315, doCódigo Penal).

Inocorrência, ausente, demais disso, o dolo essencial. Arquiva-mento deferido, se o requer o Ministério Público, «dominus Mis».Conta DELTA IV: Prosseguimento, nos termos da lei.

ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emdeferir o pedido de arquivamento doInquérito, nos termos do voto do Mi-nistro Relator, remetendo-se cópiada peça indicada ao Departamentode Polícia Federal.

Brasília, 9 de março de 1988 —Rafael Mayer, Presidente — OscarCorrêa, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Oscar Conta: 1.Valho-me do minunçioso relatórioque procede o parecer da Procura-doria-Geral da República, elaboradopelo ilustre Procurador Eugênio Jo-sé Guilherme de Aragão, aprovadopelo eminente Procurador-Geral Jo-sé Paulo Sepúlveda Pertence, para oresumo da hipótese:

«A pedido do Ministério Públicofoi instaurado, no âmbito da Supe-rintendência Regional da PoliciaFederal no Rio de Janeiro, inquéri-to Policial com o fito de apurarnoticia veiculada pela imprensa es-crita (fls. 8,9, 11 e 12), de que a Co-missão Nacional de Energia Nu-clear (CNEN) mantinha, em agên-

da do Banco do Brasil, «conta se-creta», isto é, conta corrente de ti-tularidade oculta sob o nomeDELTA III, através da qual, ain-da nos termos do noticiário, erammovimentados e aplicados, emmercado aberto, recursos públicosdestinados ao «programa nuclearparalelo».

A conta corrente em questão, se-gundo matéria Jornalística da «Fo-lha de S. Paulo» que velo a lumeem 25 de dezembro de 1986 (fls. 8 e9), não estaria lançada no rol dosnúmeros oficiais das contas daCNEN» (sk), tendo sido aberta em1981, na agência Botafogo do Ban-co do Brasil (Rio de Janeiro) e ca-dastrada com endereço e númerode telefone particulares do CoronelCarlos Lemos de Campos, «Coorde-nador Técnico da Area Administra-tiva» da Comissão Nacional deEnergia Nuclear; responderiampela conta o referido «CoordenadorTécnico» e o Presidente da Comis-são, Rex Nazaré Alves.

Em outro noticiário, desta feitaem 8 de fevereiro de 1987, a «Folhade S. Paulo» divulgou a existên-cia de outra «conta secreta», como nome DELTA IV, em agência doBanco do Brasil, em São Paulo(SP). Foram apontados pelo jor-nal como responsáveis pela sua mo-vimentação o «Contra-AlmiranteOthon Luiz Pinheiro da Silva, 47, e

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o Capitão de Fragata Marcos Al-berto Barbosa Honaiser» (fl. 29).

Em 9 de fevereiro de 1987, a «Fo-lha de S. Paulo» esclareceu, mais,que a conta corrente DELTAIV estaria sob a administra-ção do Ministério da Marinha,destinando-se, «entre outras coi-sas» ao pagamento de «salárioscomplementares» de «funcionáriosdo Instituto de Pesquisas Energéti-cas e Nucleares (IPEN)», afir-mou, ainda, que «esses funcioná-rios recebem determinado salárioatravés da CNEN, no bairro de Bo-tafogo (zona sul do Rio), dentro do«plano de classificação de cargos»;e que «o pagamento feito pelaCNEN é oficial, em contracheque,enquanto o salário complementar épago por fora, sem recibo, atravésde um Órgão da administração daMarinha em São Paulo» (fl. 30).

No curso do inquérito policial, aautoridade orocessante ouviu a jor-nalista da «Folha de S. Paulo»,Tânia Maria Oliveira Malheiros,responsável pelo noticiário daquelejornal, a qual confirmou as infor-mações trazidas em suas matérias,negando-se, todavia, a oferecer afonte, amparada na garantia desigilo prevista na Lei de Imprensa(art. 7?, da Lei n? 5.250, de 9 de fe-vereiro de 1967).A fl. 33 foi acostado expedienteconfidencial do Chefe do Gabineteda Secretaria-Geral do Conselho deSegurança Nacional, com esclare-cimentos a respeito da conta cor-rente DELTA III nos seguintes ter-mos:

«a) a conta DELTA III emquestão não pertence à ComissãoNacional de Energia Nuclear —CNEN e sim a esta Secretaria-Geral e é de responsabilidade doSr. Ministro de Estado Secretá-rio-Geral do Conselho de Segu-rança Nacional.

O Dr. Rex Nazaré Alves e o Sr.Carlos Lemos de Campos são as

pessoas autorizadas a movimen-tá-la sob a supervisão da SG/SN;

a conta DELTA III não é se-creta. Esta conta está protegida,como qualquer outra, pelo sigilobancário (art. 38 da Lei n? 4.585,de 31 de dezembro de 1964).

A adoção do nome em questãofoi uma medida de cautela paracontrole interno e para preservaro indispensável sigilo à execuçãode atividades do mais alto inte-resse nacional a que se destinamos recursos nela depositados.

a aplicação dos recursos daconta DELTA III no mercadoaberto, em aplicações de curtoprazo, sem sua imobilização, te-ve por objetivo manter o valorreal dos referidos recursos. Osrendimentos das aplicações re-verteram integralmente àquelaconta, não havendo qualquer pre-juízo para o Tesouro Nacional ouapropriação indevida de dinheiropúblico por parte dos movimen-tadores da mesma, sujeitos per-manentemente ao controle inter-no quanto a toda e qualquer mo-vimentação daqueles recursos;

d) o emprego dos recursos daconta em questão é controladopor esta Secretaria-Geral, per-manecendo a respectiva docu-mentação à disposição dos Ór-gãos de Controle Externo».Face aos esclarecimentos supra,

vieram os autos do inquérito a estaProcuradoria-Geral da República,coerente com o entendimento ex-presso pela autoridade policial (fl.35), de que com o envolvimento doMinistro de Estado Chefe do Gabi-nete Militar, que acumula as fun-ções de Secretário-Geral do Conse-lho de Segurança Nacional, fixar-se-ia o foro por prerrogativa defunção, determinando competênciado Excelso Pretório (art. 119, I, a,da Constituição Federal). O Minis-tério Público Federal, por sua vez,

R.T.J. — 125 23

concordou com o entendimento daautoridade policial, pelo que reque-reu o prosseguimento do inquéritojunto a essa Corte.

Distribuídos os autos a V. Exa.,foram ouvidos os indiciados RexNazaré Alves, Carlos Lemos Cam-pos e Rubens Bayma Denys (fls.103/104, 113/114 e 128/129), que,de modo geral, confirmaram sera destinação dos recursos deposi-tados na conta DELTA III o pro-trama nuclear «paralelo», de natu-reza sigilosa; reconheceram, tam-bém, a aplicação de recursos pú-blicos no mercado aberto, rever-tendo o lucro á mesma conta cor-rente DELTA III; informaram,enfim, que, de fato, eram responsá-veis pela movimentação dos recur-sos, os dois primeiros indiciados,Rex Nazaré Alves e Carlos Lentosde Campos, sob a «supervisão» daSecretária-Geral do Conselho deSegurança Nacional, cujo Núcleode Controle Interno era mantido apar de todas as operações.

A pedido do Ministério PúblicoFederal foi ouvido, ainda, o eg.Tribunal de Contas da União, sobrea regularidade da movimentaçãoda conta bancária DELTA III;aquela Corte assim se manifestou(fls. 116/117):

parte dos recursos orça-mentários da Unidade Conselhode Segurança Nacional é destina-da a despesas de natureza sigilo-sa, relativas ao Programa Au-tônomo de Tecnologia Nuclear-PATN, classificadas como secre-tas;

ante a natureza sigilosa doreferido Programa, a movimen-tação desses recursos era feitaatravés da Conta n? 13.394-9, de-nominada DELTA III, aberta naagência do B.B.S/A, em Botafo-go/RJ;

c) a referida conta foi movi-mentada pelos Srs. Rex Naza-

ré Alves e Carlos Lemos deCampos, respectivamente, Presi-dente e Coordenador Técnico Ad-ministrativo da Comissão Nacio-nal de Energia Nuclear —CNEN;

em 141-87, por determi-nação do Exmo. Sr. MinistroSecretário-Geral do Conselho deSegurança Nacional, foi o saldoda conta DELTA III/Rio transfe-rido para a agência Centro, doBanco do Brasil/Brasília, Contan? 402.441-9, também, denomina-da DELTA III;

posteriormente, em 14-4-87,mediante autorização do Exmo.Sr. Ministro da Fazenda e doPresidente do Banco do Brasil,por solicitação do Conselho deSegurança Nacional, foi abertana agência Central do Banco doBrasil em Brasília uma conta ti-po «D», prevista na IN/STN n?5/87, que acolheu a totalidade dosaldo então existente na contaDELTA III;

f) do exame a que se procedeuna Conta DELTA III, verificou-seque foram efetivadas aplicaçõesno mercado financeiro, conformeabaixo:

Ano 8181880/es Readimertes1965 Cz$ 2.351.734,00 478.024,531966 Cz$ 27.437.000,00 7.299.974,16total Cz$ 29.788.734,00 7.777.998,79

foi verificado que as aplica-ções e respectivos resgates, acres-cidos dos rendimentos, estão cor-respondidos, a débito e a crédito,nos extratos da referida contaDELTA III;

a totalidade dos rendimentos,no valor de Cz$ 7.777.998,79, por de-terminação do Exmo. Sr. MinistroSecretário-Geral do Conselho deSegurança Nacional, foi recolhidaao Tesouro Nacional em 12-8-87.

De outra parte, impende aduzirque o Tribunal, na mesma Sessão,

24 R.T.J. — 125

resolveu dar baixa na responsabili-dade dos gestores e arquivamentodas contas do exercício de 1986 doConselho de Segurança Nacional,sem prejuízo das recomendaçõesalvitradas no Relatório e Voto doExmo. Sr. Ministro Alberto Hof-fmann.2. Concluiu o parecer, quanto a

esta parte, pelo arquivamento, pro-nunciando-se, entretanto, pela inves-tigação de outra matéria, a refe-rente à conta DELTA IV, tambémincluída no procedimento (fls. 137/140).

E o Relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Oscar Corrêa (Re-lator): 1. Diz o parecer, na aprecia-ção da hipótese, conta DELTA III(fls. 137/139):

«Pelo que se depreende do rela-tório da autoridade policial, fls.36/37, era escopo do procedimento«apurar possível crime de prevari-cação previsto no artigo 319 do Có-digo Penal e outros possíveis deli-tos por parte dos responsáveis pelamovimentação do dinheiro públi-co».

A prática imputada aos indicia-dos, entretanto, exclui, por si, a ti-picidade concernente ao crime deprevaricação (art. 319 do CPB), eisque, em momento nenhum, restouprovado que Rex Nazaré Alves;Carlos Lemos de Campos ou Ru-bens Bayma Denys tenham dei-xado de praticar ato de oficio ou otenham praticado contra disposi-ção expressa de lei, com o fim desatisfazer interesse ou sentimentopessoal.

Sem dúvida, a aplicação de re-cursos públicos em mercado aber-to é defesa por lei (Decreto-Lei n?1.290, de 3 de dezembro de 1973),quando não autorizada pelo Conse-lho Monetário Nacional; não basta,contudo, para configuração do ilici-

to de prevaricação, a prática deato contra disposição expressa delei, pois se exige, ademais, comoelemento sujetivo, a finalidade dasatisfação do interesse ou do senti-mento pessoal. Assim, já ensinavao antigo J. de Magalhães Drum-mond, verbis:

«A condicional «contradisposi-ção expressa de lei» refere-se àmaneira de se praticar o ato,que, só assim, será criminoso,uma vez inspirado em interessepróprio ou em sentimento pes-soal» (In «Comentários», vol. IX,1944, pág. 302, grifamos).Evidenciam os autos a prática

do ato ilegal, todavia, sem oanlrnus praevaricandi; pelo contrá-rio, a intenção fartamente demons-trada era manter o valor aquisitivodos recursos públicos destinadosao programa nuclear, ainda que,por provável desconhecimento dalei, tivessem os indiciados feito usode expediente irregular para essefim, ou, no mínimo, tivessem omi-tido o procedimento prévio obriga-tório de ouvir o Conselho Monetá-rio Nacional, como exige a Lei(art. 4?, alínea c, do Decreto-Lei n?1.290, de 1973).

Provou-se, também, que os in-diciados não se apropriaram dosrecursos aplicados no mercadoaberto:reverteram-no, com o lu-cro, á conta corrente destinada aoprograma nuclear. Não há falar,assim em peculato (art. 312, doCPB).

Restaria, portanto, apreciar,apenas, a aplicabilidade do tipoprevisto no art. 315, do CPB, des-critivo do «emprego irregular deverbas ou rendas públicas». Trata-se, porém, de crime doloso:

«O tipo subjetivo é o dolo gené-rico: vontade conscientemente di-rigida à prática da ação» (HelenoCláudio Fragoso, a respeito do ti-po do art. 315, do CPB, in «Li-ções», 3! ed., pág. 412).

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25

Ora, no caso em tela, prova nãohá sobre o suposto dolo dos indicia-dos, sendo muito mais provávelque agiram por desconhecimentosobre o devido procedimento admi-nistrativo, eis que, tão logo adver-tidos pelo controle externo,trataram de sanear as irregula-ridades, havendo, por isso, o eg.Tribunal de Contas da União, re-solvido «dar baixa na bili-dade dos gestores» (il. 11

Sendo atípica, do ponto de vistapenal, a irregular gestão da contaDELTA III, nos moldes relatados,só podem, os presentes autos, sedestinar ao arquivamento.»

Não há o que acrescentar a es-se pronunciamento, titular o Ministé-rio Público Federal da iniciativa, eausente a tipicidade do delito de pre-varicação, quadro no qual poderiaconter-se a imputação.

Na verdade, o que se vê é a confu-são de dois conceitos diversos, pro-vocada pela inflação corrosiva dovalor da moeda nacional: o adminis-trador, estranhamente, para fugir àdeliquescência monetária, que ar-ruina assustadoramente o poder decompra de que dispõe, vê-se na con-tigência de ter de desviar os fundosdisponíveis para aplicações a curtoprazo, enquanto não efetua os dis-pêndios autorizados, para impedirque a subida vertiginosa dos preçosimpossibilite as aquisições progra-madas.

O que a lei recusa, como aplicaçãoindevida, ilícita, passa a constituir-se em medida de salvaguarda do in-teresse geral, em estranho parado-xo, que a inflação desenfreada aco-lhe.

Assim, não tipificada a preva-ricação do art. 319, ausente o doloespecifico essencial; nem o peculatodo art. 312; ou, o emprego irregularde verbas ou rendas públicas do art.315 ausente o dolo como demonstra-do até mesmo com a decisão invoca-da do Tribunal de Contas da União,

que atesta a inexistência de irregula-ridades. Esse entendimento levou oMinistério Público Federal a reque-rer o arquivamento do inquérito, oque, segundo a orientação da Corte,é de acolher-se, se lhe cabe a prerro-gativa de senhor da ação penal.

Quanto à conta DELTA IV, dizo parecer (fl. 139):

«A movimentação da contaDELTA IV, noticiada através dodocumento de fl. 30, entretanto,merece investigação própria emais acurada, eis que matéria jor-nalística afirmou que os recursosdepositados nessa outra «conta se-creta» se prestam ao pagamentode «salários complementares» aservidores da Comissão Nacionalde Energia Nuclear, dando mar-gem a se suspeitar da existênciade uma contabilidade paralela pa-ra o custeio de pessoal, encober-tando enriquecimento ilícito. Urge,pois, apurar a procedência danotícia, que, se espelhar a verdadedos fatos, consubstanciará práticadescrita nos tipos dos artigos 312ou 315 Código Penal, conforme ocaso. Por outro lado, em não sendoprocedente a matéria, exporá suaautora às penas da Lei de Impren-sa.

O eventual ilícito relativo á contaDELTA IV, pelo que se noticia,não diz respeito à Secretaria-Geraldo Conselho de Segurança Nacional,mas, a órgãos da «administraçãoda marinha» e à Comissão Nacio-nal de Energia Nuclear. Ademais,trata-se de fato que não se incluinos objetivos apuratórios do pre-sente inquérito, à vista da requisi-ção de fls. 6/7. Por isso mesmo,em se arquivando os autos desteprocedimento policial, como serequer, encerra-se a jurisdição doSupremo Tribunal Federal.»

Acolhendo, em ambas as ques-tões, o parecer da Procuradoria-Geral da República, defiro o pedidode arquivamento quanto aos indicia-

26

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dos no inquérito da conta DELTAIII; e determino quanto à contaDELTA IV se proceda, como pedidopelo Ministério Público Federal,remetendo-se cópia das peças indica-das ao Departamento de Polícia Fe-deral, do Ministério da Justiça, paraos procedimentos legais.

E o Voto.

EXTRATO DA ATA

Inq 305 — RJ — Rel.: Min OscarCorrêa. Indiciados: Rex Nazaré Al-ves (Presidente da Comissão Nacio-nal de Energia Nuclear) e outro.

Decisão: Deferiu-se o pedido de ar-quivamento nos termos do voto do

Ministro Relator, remetendo-se có-pia da peça indicada ao Departa-mento de Policia Federal. Decisãounânime.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho, Fran-cisco Rezek, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti, Carlos Madeira e CélioBorja. Procurador-Geral da Repúbli-ca, o Dr. José Paulo Sepúlveda Per-tence.

Brasília, 9 de março de 1988 — Dr.Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

EXTRADIÇÃO N? 447 — REPÚBLICA ITALIANA(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Célio Borja.Requerente: Governo da República Italiana. Extraditanda: Viviana de

Santis.

Atendidos os pressupostos da lei brasileira para a concessão dopedido, defere-se a extradição.

ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade, de votos, em de-ferir o pedido de extradição.

Brasília, 8 de abril de 1987 —Rafael Mayer, Presidente — CélioBorja, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Célio Borja: OExm? Sr. Ministro da Justiça, por

aviso de 2 de setembro de 1986 (fl.2), encaminou a esta Corte, os docu-mentos justificativos do pedido de

extradição de Viviana de Santis, for-mulado pelo Governo da Itália, atra-vés de nota verbal n? 455, comuni-cando, ainda, S. Excelência, haverdeterminado ao Departamento dePolícia Federal, fosse a indiciada co-locada à disposição do Supremo Tri-bunal Federal.

Acompanha o mencionado avisoministerial ofício do chefe, substitu-to, do Departamento de AssuntosConsulares do Ministério das Rela-ções Exteriores (fl. 3) ao qual estãoacostados os seguintes documentos,em cópias do original, traduzidas pa-ra o vernáculo:

«Relatório do Juiz Instrutor do Tri-bunal Civil e Penal de Florença, so-bre os fatos que fundamentam o pe-dido;

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Ordem de Captura n? 3.083/85 RGPM. 237/85 ROC, emitida pela Procu-radoria da República de Florença,em 24 de junho de 1985, pelos crimesde guarda, importação e tráfico deentorpecentes;

Dados pessoais da extraditanda;Ata da Legião de Carabineiros de

Florença, referindo-se à não-locali-zação de Stefano Poli e Viviana deSantis;

Ata do interrogatório de AgostinhoMacera, realizado em 13 de junho de1985, pelo Procurador Substituto deFlorença;

Ata do interrogatório de AgostinhoMacera, realizado em 23 de junho de1985 pelo Procurador Substituto deFlorença;

Ata do interrogatório de MassimoVenturi, realizado em 13 de junho de1985 pelo Procurador Substituto deFlorença;

Cópia de duas folhas de uma ca-derneta de telefones;

Ata do interrogatório de MassimoVenturi, realizado em 1? de julho de1985, pelo Procurador Substituto deFlorença;

Ata do interrogatório de AdrianoCalduzzi, realizado em 22 de junhode 1985, pelo Procurador Substitutode Florença;

Cópia da Carteira de Indentidadede Viviana de Santis;

Artigos de lei referentes à prescri-ção dos crimes e artigos de lei apli-cáveis aos crimes;

Artigos de leis brasileiras.»Em 12 de setembro do mesmo ano

de 1986, o Exm? Senhor Ministro daJustiça encaminhou a esta Corte, có-pia da nota verbal a que aludira noaviso pré-referido. Determinei o in-terrogatório da acusada, fl. 123, quefoi ouvida pelo MM. Juiz da 4? VaraFederal, do Rio de Janeiro, Dr.Ariosto de Resende Rocha.

As razões de defesa encontram-seàs fls. 139/142. Nega a extraditandaa acusação de tráfico e venda de co-caina que resultou dos depoimentoscolhidos pela Procuradoria da Repú-blica Italiana, em Florença, atri-buindo-a ao despeito de seu hospe-deiro, naquela cidade, que viu recu-sados, por ela, Viviana de Santis,seus avanços amorosos.

Como preliminares, indica ofensaao art. 153, § 12, da Constituição Fe-deral — não-comunicação imediatada prisão efetuada, ao Juiz compe-tente — excesso de prazo, pois forampresos a 24 de maio de 1986 e somen-te formalizada a 2 de setembro a co--munkação do pedido de extradição,cuja nota verbal é datada de 15 deagosto, no protocolo do Ministériodas Relações Exteriores.

nobre patrono da extraditandamenciona defeitos formais do pro-cesso, tais como remissão equivoca-da de folhas dos autos, que nem im-põem diligências, nem impedem odeslinde do mérito do pedido.

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Célio Borja (Rela-tor): Impõe-se o exame do pedido àluz do disposto no Título IX (Da Ex-tradição) da Lei dos Estrangeiros(Leis n?s 6.815, de 19 de agosto de1980, e 6.964, de 9-12-81).

Estado italiano promete recipro-cidade e estrita observância do art.91 da precitada lei brasileira (fl.128).

Não são brasileiros, nem a indicia-da neste processo, nem seu compa-nheiro.

Os fatos de que são acusados, sãocrimes no Brasil (arts. 12, caput e 111?, I, g 2?, I, 14, tráfico e associaçãopara a prática de crimes descritosna mesma Lei n? 6.368, de 21-10-76).

Ration! loci, é competente o Esta-do italiano para processar e julgar a

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extraditanda, pois os crimes de que éacusada teriam sido praticados emFlorença, Itália

As penas aplicáveis são superioresa um ano (3 a 15 anos, de reclusão,art. 12, 3 a 10 anos de reclusão, art.14 da Lei n? 6.368/76, e 4 a 15 anos dereclusão, segundo o art. 71 da lei ita-liana (fl. 110), com a agravante de1/3 à metade, em caso de associa-ção: conforme art. 74, 2, 4 quanto aoconcurso formal e crime continuado,art. 81, transcrito à fl. 111).

Não consta dos autos noticia deprocesso criminal, movido no Brasilcontra a extraditanda. Conhecidasas penas a que estão sujeitos no Es-tado requerente e no Brasil, não háque cogitar de prescrição, nem deextinção da punibilidade. Observoque os fatos criminosos narrados nosdepoimentos e no mandado judicial,teriam ocorrido entre fins de 1984 eprimeiros meses de 1985 (v. fl. 24, úl-timo parágrafo).

De outra parte, é regular o juizoperante o qual responderão na Itália,a extraditanda e demais acusados. Omandado de prisão tem selo de au-tenticidade e emana de autoridadejudiciária aparentemente competen-te.

Note-se que, qualificada como ci-dadã argentina, no aviso ministerialque inaugura o processo a ela relati-vo, a extraditanda Viviana de Santis,

é dada como cidadã italiana, emboranascida em Buenos Aires. De qual-quer sorte, não há pedido concorren-te do Estado argentino, e o crime foicometido em território do requerenteonde Viviana tem, também, do-micílio (arts. 78 e 79, Lei dos Estran-geiros).

Satisfeitos, assim, os requisitos dalei brasileira para sua concessão, de-firo o pedido de extradição de Vivia-na de Santis.

É o meu voto.

EXTRATO DA ATA

Extr 447 — República Italiana —Rel.: Min. Célio Borja. Reqte.: Go-verno da República Italiana. Extr-da.: Viviana de Santis (Adv. JoséEduardo Alckmin).

Decisão: Deferiu-se o pedido de ex-tradição, unanimemente.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Dl aci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho, Fran-cisco Rezek, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti, Carlos Madeira e CélioBorja. Procurador-Geral da Repúbli-ca, o Dr. José Paulo Sepúlveda Per-tence.

Brasília, 8 de abril de 1987 — Dr.Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

AÇÃO RESCISORIA N? 961 — DF(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.Autor: Moinho Paulista Ltda. — Réus: Superintendência Nacional do

Abastecimento — SUNAB — S.A. Moinho Santista, Moinhos Germani S.A. eoutros — Indústrias Reunidas F. Matarazzo, Richard Saig Ind. Com . S.A. eoutros — Moinho Agua Branca S.A. e outro.

Ação rescisória. Fixação de quotas de trigo dos moinhos. SUNAB.Revisão com base no Decreto-Lei n? 210, de 27-24967, art. 15, • 1?, ena Portaria n? 137, de 7-3-1967, art. 24, letra c. Prova física para aferi-

R.T.J. - 125 29

dto da capacidade real de moagem. Desde 29-4-1967, deveriam osmoinhos estar com suas instalações preparadas para a prova de veri-ficação dessa capacidade. Amato que conheceu dos recursos extraor-dinários da SUNAB e moinhos litisconsortes, cassando acórdão con-cessivo de mandado de segurança ao autor. Ação rescisória baseadano art. 485, incisos V e IX, do Código de Processo Civil. Sua improce-dência. O acórdão rescindendo, longe de desrespeitar o sistema legalregente da matéria, dirimiu a controvérsia, em consonância com a Ju-risprudência do Supremo Tribunal Federal, ã época. já assentada eainda hoje vigor~. Precedentes do STF. Diante da norma do art.485, V, do CPC., não logra, outrossim, qUalquer procedência a alega-ção constante da ação rescisória, segundo a qual, ao ser proferida adecisão resclndenda, no STF, havia multo tempo se restabelecera aquota de moagem do autor, anterior ft vistoria da SUNAB, por forçados julgados favoráveis das instâncias ordinárias. Verificando-se a re-forma do acórdão do TFR e cassada a segurança, restabeleceu-se aeficácia do ato administrativo da SUNAB, relativo A primeira visto-ria, realizada em setembro de 1967, que, á sua vez, favorecia aos Moi-nhos litisconsortes passivos. Também não prospera a demanda rasei-séria, com base no art. 485, XI, do CPC, porque não demonstrou o au-tor a existência de erro de fato, resultante de atos ou de documentosda causa. Os fatos, como alegados na inicial, foram, precisamente, oobjeto da controvérsia e do pronunciamento judicial ora rescindendo.Não cabe reapreclar essa matéria de fato, na ação reschiória. Açãorescisória improcedente.

ACORDA°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, á unanimidade, julgar Improce-dente a ação rescisória, nos termosdo voto do Ministro Relator.

Brasília, 6 de fevereiro de 1985 —Cordeiro Guerra, Presidente — Nérida Silveira, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Moinho Paulista Limita-da, com sede em Santos, SP, aforouação rescisória do acórdão do STF,no Recurso Extraordinário n? 71.469,que cassou segurança concedida,em ambos os graus, contra ato daSUNAB, consubstanciado na Porta-ria n? 1.471, de 20 de dezembro de1967, publicada no Diário Oficial, de15 de Janeiro de 1968, que lhe redu-

zira a capacidade moageira, de1.059.000kg/24 h. para 630.573 Kg/24h,invocando a disciplina do Decreto-Lei n? 210, de 27-12-1967.

A ação rescisória está fundamen-tada no art. 485, incisos V e IX, doCódigo de Processo Civil.

2. Depois de referir, na inicial,que o Governo federal, pelo Decreto-

n? 210, de 27 de fevereiro de 1967,«determinou se procedesse, em todosos moinhos de trigo existentes noPais, a vistorias no sentido de apurar,em confronto com os registros ante-riores, existentes no seu Departa-mento de Trigo, se os mesmos per-maneciam inalteráveis ou se haviamsofrido qualquer modificação» eapós referir a disciplina estabelecidapela SUNAB, na execução das provi-dências ordenadas no diploma legalreferido, afirma que houve violaçãolegal, no que concerne ti vistoria pro-cedida no estabelecimento do autor.Assim, justifica sua assertiva e fun-damenta a ação rescisória o deman-dante (fls. 4/8):

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«O Autor tem o seu Moinho insta-lado na cidade de Santos e sua ca-pacidade de moagem — a adminis-tração atual substituíra a inglesa,da qual adquirira o mesmo — era,há muitos anos, segundo registronão contestado pela Ré, no Depar-tamento Nacional de Trigo, de1.041,6 toneladas de trigo moídasem 24 horas, com todas as suas se-ções funcionando, simultaneamen-te, e à plena carga.

Vale aqui uma observação im-portante: apesar desse registro, oMoinho da Autora, como todos osoutros que possuem grande maqui-naria, não mantinha todas as suasseções funcionando normalmentepor isso que o trigo fornecido pelaRé — que disso tem a incumbêncialegal do governo — por motivomesmo da política moageira adota-da, não é suficiente para ocupar otrabalho de todas as seções Issomesmo é do pleno conhecimento daSUNAB. Daí a sábia recomenda-ção do Decreto-Lei n? 210, e daPortaria regulamentadora, no sen-tido de que os Moinhos fossemnotificados previamente da ocasiãoem que seria feita a vistoria arealizar-se a partir de sessentadias após o advento da portaria pu-blicada em 17 de março de 1967 atéo fim do mesmo ano. Compreende-se a medida cautelar: os diplomasreferidos não mandaram que asvistorias fossem feitas, apenas, pa-ra apurarem a quantidade do trigocapaz de ser moído pelos Moinhosvistoriados; exigiu, também, queessa capacidade fosse apuradacom as mesmas maquinarias dasseções constantes dos anterioresregistros dos Moinhos, funcionandosimultaneamente e à plena carga.

Operação complexa essa, exigia,naturalmente, prazo razoável, pa-ra que os Moinhos que, em virtudedas razões atrás apontadas, nãoestavam funcionando à plena car-ga com todas as suas seções, aspusessem em ordem para recebe-

rem a Comissão encarregada davistoria.

Ora, essa comunicação medioude 24 horas, entre o aviso telefôni-co e a presença, em 13 de setem-bro de 1967, da Comissão à sede doMoinho da Autora, quando lhe foi,pela sua Diretoria, pedido prazo —ainda dentro, entretanto, do ano de1967 — para que pusesse, em con-dições de funcionamento, a seçãoB, de sua maquinaria, sofrendo, naocasião, o que ocorre em todos oscomplexos industriais do mundo,reparos e revisões de rotina.

O pedido da direção da Autora àComissão para que marcasse outradata, estava dentro do ano de 1967— que era tudo que exigia o diplo-ma legal para que a vistoria seefetuasse. E como esta lhe fossenegada, sob protesto da Autora to-mado por termo, procedeu-se à vis-toria, com afronta clara e insofis-mável ao dispositivo da lei que sóadmitia a vistoria com todas asinstalações do Moinho — as mes-mas existentes anteriormente econstantes do seu Registro — emfuncionamento simultâneo e à ple-na carga (doc. anexo à fl. n? 2).

Claro que a vistoria assim feita,sem que todas as seções estives-sem em funcionamento, haveria deapresentar uma capacidade muitomenor de moagem do que as cons-tantes do seu registro anterior.

Não se rendendo à violência, oautor reequipou a seção que seachava em reparos e, Já no mês deoutubro seguinte, pedia à Comissãoque realizasse, ás suas expensas,se fosse o caso, nova vistoria noseu moinho, agora em condições defuncionar como um todo e à plenacarga.

Foi só então, porque a Ré a tantose não rendeu, que o autor se vol-tou para a Justiça, pedindo a inde-clinável prestação Judiciária, atra-vés de mandado de segurança re-querido à Justiça Federal de

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Brasília, onde tem sua sede a Ré(doc. n? 3). Insistindo no seu pro-pósito de não realizar a vistoria de-terminada pelo Tribunal de Recur-sos, foi até, esdruxulamente, bateràs portas deste Tribunal Excelsosendo por ele também contida, sen-do de notar a audácia com que, emofício, se dirigiu ao Presidente da-quele Tribunal recusando-se acumprir a ordem recebida (docs.n?s 4, 5 e 6).

Os motivos porque a Ré tanto lu-tava para não realizar as vistoriaseram obvios: primeiro, poder, co-mo o fez, e acabou sendo o único eequivocado motivo da decisão quefoi contrária à Autora, nesse Tri-bunal, ou fosse de que a vistoria te-ria sido realizada quando Já ultra-passado o ano de 1967 e, mais alar-mante para ela, a certeza, como severificou, de que a nova vistoria,feita com observância dos manda-mentos do decreto-lei e portariapertinentes, quer dizer, com todasas suas seções funcionando à plenacarga, acusaria o mesmo e exatoregistro que o Moinho da Autorapossuía, anteriormente, no Depar-tamento do Trigo.

Já afirmamos que de modo al-gum o ano de 1967 constituía umafatalidade para a realização dasvistorias e Já provamos que a vis-toria da autora só não se realizouno ano de 1967 porque a Ré nãoquis, de vez que Já em outubro, àssuas expensas, e tendo protestadocontra o atentado de que fora viti-ma em setembro (doc. anexo) elapedira nova vistoria com todas assuas seções então funcionando àplena carga, o que não se dera,apesar de seu protesto , na vistoriarealizada em setembro.

Vamos, agora, demonstrar que aPortaria da própria Ré, de n?137/67 no seu art. 4?, Já citado nes-ta petição, admitia vistorias reali-zadas no ano seguinte, desde quehouvesse recurso das vistorias.

Ora, não só a autora manifestou orecurso administrativo adequado,como o pedido da prestação Judi-ciária se enquadra, à toda luz, napossibilidade e Justificativa de quea vistoria com observância de to-das as formalidades legais se reali-zasse fora dos limites de 1967, so-bretudo levando-se em conta, comoemerge dos autos, as dificuldades

manobras da Ré para que a vis-toria não se realizasse.

E importante — e para tanto pe-dimos a atenção do eminente Rela-tor — assinalar que a Justiça Fe-deral, acolhendo o pedido da Auto-ra, não fez senão isto: determinara realização da nova vistoria comtodas as seções do complexo indus-trial funcionando simultaneamente

à plena carga, tal como exigidopelos diplomas legais citados. Masisso pela própria SUNAB e sem in-terferência alguma da Justiça(sentença do Juiz Federal e acór-dão do Tribunal Federal de Recur-sos).

O Fait AcomplitQuando o recurso extraordinário

foi submetido e Julgado pelo Tribu-nal Excelso, essa nova vistoria,que apurara a verdade incontesteda capacidade moageira do Moi-nho da Ré, Já vigia há quatro anos,recebendo a Autora, regularmente,a cota do seu registro no Departa-mento de Trigo pela mesma visto-ria (a sentença sem a data de16-IX-68).

Havia assim o que no direitofrancês se chamou o fait acompiit

o nosso Tribunal Egrégio, emmais de um passo, desde os dra-máticos tempos do bombardeio daBahia com a sucessão tumultuadados governadores de então, con-vencionou de considerar o fato con-sumado, insuscetível de modifica-ção.

Porém, avançando no tempo, es-sa tese tem sido iterativamente es-posada pelo Supremo no caso de

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estudantes que ingressando irre-gularmente no ciclo acadêmico— média inferior á exigida — porjá se encontrarem em etapa avan-çada do curso acadêmico, tiveramas seguranças — que haviam sidodenegadas pelo Tribunal de Recur-sos — reformadas para que fossemmantidas à consideração de que sejá iam longe no curso, os postulan-tes deveriam ter tido capacidadeinicial.

Nesses casos (docs. 2 e 8) o acór-dão do Tribunal de Recursos foi re-formado para ser concedido, oumelhor, mantido o do juízo singu-lar.

Pois bem. Aqui, quando o que seapurou foi, apenas, a verdade, àconsideração de equívocos, pois aPortaria n? 137/67 da Ré não foiconsiderada, se reformou uma de-cisão unânime de toda uma JustiçaFederal, quatro anos após a deci-são, para fazer validar uma visto-ria notoriamente praticada semobservância das formalidades le-gais à incorreta e equivocada ale-gação de datas.

Os equívocos da decisão são detal ordem que o acórdão afirmavaser o caso da Autora igual ao doMoinho da Bahia, quando aquelemoinho pleiteava a segunda visto-ria que a Ré protelara com sucessoenquanto a Autora já tinha realiza-do, pela própria SUNAB, a segun-da vistoria que apurara a sua exa-ta capacidade de moagem!!!

Bem sabe a autora que, por trásda Ré, estavam os grandes moi-nhos paulistas, ávidos de aboca-nhar, com o insucesso da seguran-ça, tal como se deu, a diferençadecorrente da vistoria ilegal e abu-siva, no seu registro.

Mas confia sempre em que aJustiça, reexaminando o assuntocom o rigor e a serenidade que lhepermite a rescisória, acabara porsanar uma das maiores injustiças

que já se perpetraram no Judiciá-rio.»3. O acórdão rescindendo, que co-

nheceu dos recursos da SUNAB eUnião Federal, provendo-os, exibeesta ementa (fl. 42):

«Moinho de trigo. Prova físicapara aferição de sua capacidadereal de moagem. Art. 15 § 1? doDecreto-Lei n? 210, de 1967. Porta-ria 137, de 1967, art. 24 c. Desde29-9-1967, deveria o recorrido estarcom suas instalações em condiçõesde se submeterem àquela prova.Recursos extraordinários conheci-dos e providos, para cassar a segu-rança.»A SUNAB, ré na demanda rescisó-

ria, contestou, às fls. 83/99.Alegou, preliminarmente, haver

decaído o autor do direito a pedir arescisão do julgado. No mérito, recu-sa violação legal pelo acórdão, aovalidar a vistoria no moinho do au-tor, «sem que suas instalações per-mitidas estivessem integralmentefuncionando.» Depois de registrar aimprecisão da inicial, quanto ao tex-to de lei ou de portaria vulnerado,alude à Súmula 343, segundo a qual«não cabe ação rescisória por ofensaa literal dispositivo de lei, quando adecisão rescindenda se tiver baseadoem texto legal de interpretação con-trovertida pelos tribunais.» Aduzque, a respeito do Decreto-Lei n?210/1967 e Portaria n? 137/1967, daSUNAB, lavrou controvérsia nosJuízos e Tribunais, inclusive no STF,como decorre do próprio feito de queproveio a decisão rescindenda. Ano-ta que, no Supremo Tribunal Fede-ral, prevaleceu o entendimento sus-tentado, pela ora ré, e consubstan-ciado no acórdão rescindendo. De-pois de discorrer sobre o sentido dasnormas legais e regulamentaresacerca da matéria (fls. 87/90), afir-mou a ré (fls. 90/92):

«O caso da autora não fugiu à re-gra, o que aliás fica a autora dis-pensada de referir, eis que a pró-

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pria autora já se encarregou defazê-lo, na inicial, apontando queefetivamente, recebia uma cota detrigo importado por uma capacida-de de moagem registrada em fun-ção de determinadas máquinas,que, entretanto, não operavam, es-tavam desativadas, e pois sem ne-cessidade de receber tais cotasadicionais.

Esse pois o espirito principal doDecreto-Lei n? 210/67 e de sua re-gulamentação.

Os textos legais que teriam sidoviolados pela decisão rescindendaseriam aqueles referidos na página2 da inicial e 3 dos autos, a saber,primeiro:

Com todas as seções dos Moi-nhos funcionando simultanea-mente, com os respectivos equi-pamentos completos e instala-dos.»Ora, a omissão da indicação da

origem desse dispositivo legal ésintomática. Pretende a autora,furtando-se a indicá-lo corretamen-te, que se pense tratar-se de normaque obrigaria a que toda a capaci-dade técnica do moinho registrada«inclusive aquela capacidade fan-tasma» estivesse operando.

Trata-se, em verdade, de normado Regulamento da Prova Fisica,editado pela Portaria 137, de 7 demarço de 1967, e está no capitulo V— Da prova física de moagem —constituindo-se o item 2 da letra b— Instalações.

O que previu o Regulamento foique todas as seções deveriam ope-rar, durante a prova, simultanea-mente, para que com esse funcio-namento simultâneo e ajustado, sepudesse aferir realmente a capaci-dade efetiva e real de moagem dasmáquinas instaladas.

Por interesse próprio omitiu aautora o número 4 da letra c do ci-tado artigo 24 da Portaria 137/67 —Normas de Procedimento —, ondese previu no Relulamento que:

«A prova física terá inicio nomomento em que o representantedo moinho julgá-lo ajustado e teráa duração de três horas de fun-cionamento, ininterrupto, para osmoinhos automáticos, com trans-porte pneumático ou mecânico, ede quatro horas para os moinhosnão automáticos, também seminterrupção.»Verifica-se pois que a prova, a

vistoria, só foi iniciada quando opróprio representante da autoraautorizou, declarando estar o moi-nho ajustado e dela resultou, comonão poderia deixar de ser — já quea autora deslavadamente confessaque tinha capacidade ociosa atémesmo perante a justiça — a redu-ção de sua capacidade de moagemregistrada, o que foi feito pela Su-plicante, aliás, em expressa con-cordância com a determinação le-gal, artigo 24, letra e, número 2, daPortaria n? 137/67, a saber:

«O moinho que não alcançar onível de produção descrito no pa-rágrafo anterior terá a capacida-de de moagem reduzida para oequivalente ao produto da multi-plicação da quantidade médiaem uma hora por 24.»

Quanto á alegada violação ao art.4?, da Portaria n? 1.471, sustentou aré, após mencionar o objetivo danorma, não se aplicar à situação daautora (fls. 93/94).

Relativamente ao invocado ampa-ro da ação no inciso IX, do art. 485,do CPC, assevera a ré que a autora«não revela qual o fato tido comoinexistente pelo acórdão, que existiae qual o fato existente que o acórdãoconsiderou inexistente», sinalandoque «a teoria do Mit acompllt lança-da na inicial nada tem a ver com ocaso.» Entende, ademais, que o 2?do art. 485, do CPC, exclui a hipóteseem apreço da aplicação do inciso IX,desse artigo, «eis que, sobre todos osfatos e circunstâncias do caso, jáhouve a controvérsia e o pronuncia-

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mento judicial transitado em julga-do» (fl. 97), citando, nesse sentido, alição de Pontes de Miranda à respei-to do inciso IX, do art. 498, do diplo-ma processual civil (fls. 97/98). Pe-de, assim, a improcedência da ação.

Publicado edital de citação depossíveis interessados (fls. 119/121),S.A. Moinho Santista Indústrias Ge-rais, Moinho Fanucchi — Cia. Brasi-leira de Moagem, Moinhos GermaniS.A., Moinhos Rio Grandenses, e ou-tros (fl. 125) contestaram a ação(fls. 125/136). Depois de aludir aoprocessamento da vistoria pelaSUNAB, em termos que reeditam adefesa da autarquia, acompanham-na, outrossim, sustentando a preli-minar de decadência, cuja argumen-tação no ponto, resumem, à fl. 131:«23. Cassada, pois, a segurança em29-11-72 e ajuizada a rescisória em5-12-74, em prazo superior aos doisanos que tinha para tanto, a preclu-são fulminou o direito postulado e oda própria ação intentada com vis-tas a obtê-lo.» A seguir, demonstramseu interesse e legitimidade, para in-tegrar a lide rescisória (fls. 131/133).No mérito, alegam que «a inicial éum verdadeiro bis In Idem, uma vezque procura, apenas, revolver maté-ria idêntica à que foi discutida e quese encontra, por isso mesmo, ultra-passada pela decisão (...).» Recu-sam qualquer procedência a ambosos fundamentos da súplica inicial(fls. 133/135).

Pediram admissão como assisten-tes Indústrias Reunidas F. Mataraz-zo — IRFM e outros Moinhos (fls.157/162). Consideram que a inicial éinepta, requerendo liminar indeferi-mento, e, no mérito, sustentam suainteira improcedência. TambémMoinho Agua Branca S.A. e MoinhoLapa S.A. requereram sua admissãocomo assistentes, subscrevendo ascontestações já oferecidas (fl. 102).

Houve impugnação do valor dacausa, julgada improcedente, inter-pondo S.A. Moinho Santista e outros

agravo regimental, não conhecido,por intempestivo. E o acórdão, de fl.32, dos autos apensos, datado de4-4-1979. A seguir, os impugnantesinterpuseram embargos de declara-ção, de que, então, já fui relator, a7-10-1981, sendo rejeitados.Republicou-se o aresto respectivo a12-11-1981 (fl. 41, dos autos apensos).

As partes não requereram pro-dução de novas provas ( fls. 1 , 191,193 e 196). Saneado o feito (fl. 197),vieram razões finais de IndústriasReunidas Francisco Matarazzo e ou-tros, às fls. 199/201: da SUNAB, àsfls. 203/205; de S.A. Moinho Santista— Indústrias Gerais e outros, às fls.207/214, reafirmando os termos dascontestações, inclusive, quanto àspreliminares O Autor deixou deapresentar razões finais, como secertificou, à fl. 215.

Também, em face do parecer daProcuradoria-Geral da República, àsfls. 216/217, com vista o autor, paradizer sobre a preliminar de decadên-cia, não se manifestou (fl. 220).

No parecer, de fls. 222/224, aProcuradoria-Geral da Repúblicaopinou no sentido de acolher-se apreliminar de decadência, com jul-gamento do mérito (CPC, art. 269,IV), se não entender o Tribunal dedecidir pelo indeferimento puro esimples da inicial, eis que não com-provado, desde logo, o trânsito emjulgado do aresto.

9. Com a petição, de fl. 226, o au-tor trouxe certidão expedida pela Se-cretaria do STF, declarando-se, nodocumento, ter sido o acórdão publi-cado no ai de 21-12-1972, com oposi-ção de embargos de declaração, jul-gados a 15-3-1973, publicado o arestorespectivo a 13-4-1973, «tendo transi-tado em julgado» (fl. 227). Esclare-ço que a inicial se protocolou a5-12-1974.

2 o relatório, de que a Secretariafará distribuição de cópia aos Senho-res Ministros (RI, art. 87, II).

R.T.J. — 125 35

VOTO tes, para a indicação de novas pro-vas, seguindo-se as alegações finais.

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Rejeito a preliminar dedecadência. Consoante restou escla-recido, no relatório, o acórdão res-cindendo, publicado no DJ de21-12-1972, veio a ser embargado dedeclaração, publicando-se, no órgãooficial, o aresto referente ao julga-mento dos embargos, a 13-4-1973,transitando em julgado (fl. 227). Ainicial da presente demanda proto-colou-se, na Secretaria, a 5-12-1974(fl. 2), antes, pois, de decorrido obiênio, efetuando-se, na mesma da-ta, o depósito previsto no art. 488, II,do CPC (fls. '79/80).

Cumpridos, assim, pelo autor osencargos que lhe incumbiam ao de-sencadeamento da ação rescisória,não se lhe poderá imputar demoraposterior na tramitação do feito, naSecretaria desta Corte.

Também não acolho a argüição deinépcia da inicial. Os fatos estão des-critos na peça vestibular e indicadosos fundamentos jurídicos da súplica.Eventuais imprecisões do autor nãocriaram à SUNAB e litisconsortespassivos qualquer dificuldade à defe-sa de seus direitos, conforme resultadas contestações e razões finais, su-mariadas, no Relatório ora lido.

Quanto à prescrição, alegada pelaSUNAB, da tribuna, recuso-a porigual. O feito, é certo, foi aforado em5-12-1974. O Moinho Santista S/A eoutros impugnaram o valor em de-zembro de 1975, do que resultou,após o regular processamento desseincidente, ter sido julgado em marçode 1979. Da decisão, houve interposi-ção de agravo regimental, cujo acór-dão se publicou em maio de 1979.Desse aresto no agravo regimental,os litisconsortes interpuseram em-bargos de declaração. Neste ponto.os autos me foram redistribuídos.

Posteriormente, o feito, como refe-ri no relatório, teve a sua regulartramitação, abrindo-se vista às par-

Desse modo, não há demora impu-tável ao autor, de molde a se daracolhida à alegação feita da tribunapela SUNAB.

No mérito, todavia, a demandarescisória não pode prosperar, ba-seada como está no art. 485, incisosV e IX, do CPC.

Com efeito, o acórdão rescindendonão violou literal disposição de lei. Ojulgado, que se impugna, guarda es-ta ementa (fl. 42):

«Moinho de trigo. Prova físicapara aferição de sua capacidadereal de moagem. Art. 15, § 1?, doDecreto-Lei n? 210, de 1967. Porta-ria n? 137, de 1967, art. 24, c. Desde29-4-1967, deveria o recorrido estarcom suas instalações em condiçõesde se submeterem àquela prova.Recursos extraordinários conheci-dos e providos, para cassar a segu-rança.»Seguiu o acórdão rescindendo

orientação já adotada pelo Plenário,dentre outros, no RE 74.165, em queinteressado o Moinho da Bahia,reafirmando-se, em face do art. 15, §1?, do Decreto-Lei n? 210/67, que,desde 29-4-1967, ou seja, após sessen-ta dias da publicação desse diploma,«pelo menos, deveria a recorrida es-tar com suas instalações em condi-ções de se submeter à prova» (sic),a qual se realizou somente a13-9-967 (fl. 58). Acompanhando osaudoso Ministro Luiz Gallotti, Rela-tor, o Ministro Rodrigues Alciuninanotou, na conformidade do entendi-mento da Corte, já manifestado emprecedentes então referidos no votocondutor do aresto, in verbis (fls.61/62):

«Vê-se que o Moinho impetrantese apega a um fundamento tiradoda Portaria 137, sobre a realizaçãoda prova física nas suas instala-ções, que deveriam estar com seuequipamento completo e funcionan-do à plena carga, deduzindo daí —isolado esse texto da Portaria -

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que, se na realização da prova nãoatendeu ela aos requisitos, deveriaser renovada, ou só realizada nomomento em que o Moinho pudes-se apresentar-se naquelas condi-ções. Mas, para isso, seria precisoafastar, praticamente, aquele textoda Portaria que marca, primeiro,o prazo para que se dê inicio à pro-dução das provas físicas (esse é oprazo que os moinhos devem usarpara estarem aptos à prova); e,em segundo lugar, esquece-se deque esse prazo, estabelecido para arealização dessas provas, é conce-dido à SUNAB, para que ela de-sempenhe essa atividade.

Anotei que eram 452 os moinhosque deveriam ter sido submetidosà referida prova física. Ora, se arealização das mesmas só se pu-desse dar no momento em que ca-da moinho entendesse estar habili-tado a funcionar com todo o seuequipamento, esse prazo concedidoà SUNAB seria prazo concedidoaos próprios moinhos.

Parece-me, assim, que a visto-ria, a prova física realizada dentrodo prazo que a lei fixa para aSUNAB, foi legítima e se o Moinhonão tinha, naquele momento, capa-cidade para funcionar com todo oseu equipamento, não estava aSUNAB obrigada a dar-lhe outraoportunidade, para que o Moinho aconvocasse, em outra ocasião e re-petisse a prova.»Verifica-se, dessa maneira, que o

autor, na presente ação rescisória,busca sustentar, ainda uma vez, que,dos dispositivos legal e regulamen-tar aludidos, resultava dever a visto-ria da SUNAB realizar-se, «com to-das as Seções do Moinho funcionan-do simultaneamente, com os respec-tivos equipamentos completos e ins-talados.» Ora, não é cabível, na açãorescisória, com base no art. 485, V,do CPC, pretender-se mero reexameda exegese atribuída às normas emfoco pelo julgado rescindendo. Na es-pécie, ademais, a interpretação se-

guida pelo aresto impugnado paci-ficou-se na Corte, em inúmeras do-cisões versando idêntica matéria.Refiro, nessa linha, à última deci-são tomada pela Primeira Turma,no RE 97.152, relator o ilustre Minis-tro Rafael Mayer, publicada no DJde 24-6-1983, em que interessado Moi-nho Pacífico S/A. Sobre esse últimocaso, na condição de relator da Ape-lação Cível n? 45.367-SP, no colendoTribunal Federal de Recursos, tiveensejo de, assim, ementar o acór-dão:

«SUNAB. Fixação de quotas detrigo dos Moinhos. Política inter-vencionista do Estado no que con-cerne ao trigo. Revisão com baseno Decreto-Lei n? 210, de 27-2-1967,e a disciplina constante da Porta-ria n? 137, de 7-3-1967. Decisão doSupremo Tribunal Federal, no Re-curso Extraordinário n? 70.800, a30-9-1971. Sua extensão. Decreto-Lel n? 210/1967, que estabeleceunormas para o abastecimento detrigo, sua industrialização ecomercialização. Atribuições con-feridas à SUNAB. Revisão ge-ral do parque moageiro do País.Aferição da capacidade real demoagem de todos os moinhos, me-diante prova física, na conformida-de da disciplina estabelecida pelaSUNAB. Decreto-Lei n? 210/1967,da SUNAB. Sua legitimidade. O fa-to de existir situação anterior aoDecreto-Lei n? 210/1967, já registra-da e homologada pela SUNAB,quanto à capacidade de moagemdos moinhos, não impedia, emprincípio, disciplina diversa, sujei-tando as unidades moageiras a sis-tema novo de revisão e controle desua capacidade real de operação,como afirmou o STF, no RE n?70.800, desde que adotada discipli-na uniforme e processada a revi-são segundo critérios gerais, aindaque dai pudesse advir diminuiçãoda quota de participação no rateio,dentro de cada zona, das quantida-des de trigo destinadas ao consu-

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mo. Quando no art. 15, 2?, doDecreto-Lei n? 210/67, há alusão àunidade moageira, a referência éao moinho e não a cada uma desuas secções. A determinação defuncionamento simultâneo das di-versas secções do moinho, ao ense-jo da aferição de sua capacidadereal de moagem, não constitui ile-galidade da Portaria n? 137, daSUNAB, art. 24, alínea b), n? 2).As normas dos arts. 18 e 19, doDecreto-Lei n? 210/67, não repre-sentam óbice à referida exigência,já considerada válida nos RecursosExtraordinários n?s 70.800, 71.424,74.165 e 71.469. Se, quando da provafísica a que submetido o moinho,não possuía ele condições técnicase aparelhamentos suficientes parafuncionarem todas as suas secçõesde moagem, simultaneamente, aculpa não pode ser imputada àSUNAB, sendo certo que cada moi-nho devia preparar-se para a afe-rição oficial de sua capacidadereal, no prazo previsto no Decreto-Lei n? 210/1967, não excedente a31-12-1967. Da mesma maneira, ne-nhuma responsabilidade pode serimputada à SUNAB, ao praticar osatos de revisão da capacidade realdo moinho, se este consumia, àépoca da prova, energia elétricamuito aquém do que seria misterpara funcionarem todas as sec-ções, simultaneamente, resultandodisso não possuir o estabelecimen-to moageiro condições de acionartodas as secções, ao mesmo tempo.Não há, assim, ai, ver nulidade ouInexistência da vistoria da SUMAS,que aplicou a disciplina geral paratodos os moinhos. Constituía, ou-trossim, exclusivo encargo do moi-nho preparar-se para a prova, se-gundo a Portaria n? 137/1967. Nãoincumbia à SUNAB providenciar,junto à concessionária de energiaelétrica, para que se fizessem asadaptações necessárias na rede enas instalações elétricas dos moi-nhos, a fim de estes se encontra-rem em condições técnicas indis-

pensáveis à realização da provafísica. Não é possível, assim, em-prestar validade à vistoria feita,muito tempo após, fora do prazoprevisto em lel, em circunstânciasdiscutíveis, para substituir a provafísica oficial da SUNAB, realizadasegundo os critérios gerais cons-tantes da Portaria n? 137/1967. OSTF, nos Recursos Extraordinários74.165 e 71.469, não admitiu, inclu-sive, vistoria ad perpetuam reimemoriam processada em 1968,para prevalecer sobre a prova físi-ca prevista no art. 15 do Decreto-Lei n? 210/1967. Provimento à ape-lação da SUNAB e recursos demoinhos litisconsortes, para refor-mar a sentença e julgar a ação im-procedente. Reconvenção tambémImprocedente.»

Vê-se, dessa maneira, que a deci-são rescindenda, — longe de desres-peitar o sistema legal que se estabe-leceu, na espécie, — dirimiu a con-trovérsia, em consonância com a ju-risprudência então já assentada eainda hoje vigorante na Corte.

Não logra, de outra parte, melhorprocedência, à vista do art. 485, V,do CPC, a alegação da vestibular,segundo a qual, quando o recurso ex-traordinário foi submetido ao STF, ejulgado em 1977, havia quatro anos,a nova vistoria favorável ao autor,fora realizada em virtude da senten-ça concessiva do mandado de segu-rança, depois cassada pelo acórdãoora rescindendo. Pretende o autorque, — restabelecida a quota de tri-go anterior pelas decisões das ins-tâncias ordinárias, no mandado desegurança, — quando se julgou o re-curso extraordinário da SUNAB, de-pois de quatro anos, nesta Corte, ha-via um fato consumado e não maisera de alterar-se essa situação peloacórdão rescindendo. O argumento,que não invoca, em seu prol, disposi-tivo legal, à evidência, não possuiqualquer fomento juris. Pendente adecisão, no mandado de segurança,

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de recurso extraordinário, para sub-sistir e continuar eficaz, cumprianão viesse a ser cassada, com o co-nhecimento e provimento do apeloextremo. Verificando-se a reformado julgado das instâncias ordináriase cassada a segurança, restabeleceu-se o ato administrativo da SUNAB,com a eficácia da primeira vistoria,realizada em setembro de 1967, que

sua vez, favorecia aos Moinhos li-tisconsortes passivos.

Por último, não merece, de igualmodo, acolhida o fundamento da de-manda, com base no art. 485, XI, doCPC. Não demonstrou o autor a exis-tência de erro de fato, resultante deatos ou de documentos da causa. Osfatos, alegados na inicial, foram ob-jeto da controvérsia e do pronuncia-mento judicial constantes do acórdãorescindendo. Exsurge, em realidade,da inicial, pretender o autor reapre-ciação dessa mesma matéria, empres-tando-se-lhe consideração jurídicadiversa, o que se faz inviável nojuizo rescisório.

Do exposto, julgo improcedente aação, condenando o autor nas custas

em honorários de advogado, quearbitro em cinco salários mínimos,tendo em conta a complexidade dacausa e o trabalho profissional de-senvolvido pelos diversos procurado-res dos réus e, perdendo, ainda, oautor, o valor do depósito, na formado art. 488, II, do CPC.

VOTO

O Sr. Ministro Oscar Corrêa: (Re-visor): 1. O Relatório e o voto doeminente Relator dão conta exata dahipótese, largamente debatida naCorte e na qual, em votos anteriores,declarei minha inconformidade coma diretriz adotada, à qual me rendiem dever de obediência, ainda quenão convencido.

2. Quanto ao exame da espécie,desde logo, afasto a preliminar dedecadência em face da certidão jun-

ta pelo autor, á fl. 227, que lhe com-prova a improcedência.

Funda-se a ação rescisória,textualmente, no «que lhe permitemos n?s V e IX do Código Nacional doProcesso e quejandos diplomas pro-cessuais aplicáveis ao caso» (fl. 2).

Teriam sido violados, ao que se de-preende da petição, o Decreto-Lei n?210/67 e a Portaria n? 137/67, não ex-plicitando os artigos e ter-se-ia equi-vocado a decisão.

Ainda que nos pareça que aSUNAB, na execução dos referidosdiplomas, atuou com estranha desen-voltura — o que tivemos oportunida-de de, longamente, expor no julga-mento do RE 95.573, — não há negarque, no caso inviável a rescisória,que não atende aos pressupostos exi-gidos.

Na verdade, não indica a autoraem que teria consistido a violação li-teral de disposições — que não enu-mera — e, menos ainda, o que teriaimportado, na decisão rescindenda,em erro de fato, matéria sequer, ex-plicitamente, referida.

Nem tal se pode considerar a ale-gação de «fait acomplit» (sic) invo-cando situações díspares e inasseme-lháveis.

5. Ausentes os pressupostos daação rescisória, julgo-a improceden-te, condenada a Autora nas custas,honorários de advogado — que fixoem 5 (cinco) salários mínimos, eperda do depósito em favor da Ré.

o Voto.

VOTO

Sr. Ministro Aldir Passarinho:Sr. Presidente, para afastar a resci-sória, bastaria que se visse que elaincide na impossibilidade que resultado enunciado na Súmula n? 343. Amatéria é realmente controvertidanos tribunais, inclusive nesta Corte.Tenho em mãos dois acórdãos, umdos quais relatado pelo Ministro Mo-

R.T.J. - 125 39

mira Alves, onde esse aspecto básicofoi discutido.

Quanto aos demais argumentos,adianto que participei do julgamentodos embargos na apelação civel aque o eminente Relator se referiu, eque foram julgados no Plenário doEg. Tribunal Federal de Recursos, emeu ponto de vista, ali manifestado,foi exatamente no sentido do voto deS. Exa., quando votou na Turma,também quando igualmente integra-va ele aquela Corte, e agora reitera-do.

Acompanho, assim, os votos doseminentes Ministros Relator e Revi-sor.

EXTRATO DA ATA

AR 961 — DF — Rel.: Ministro Né-ri da Silveira. Revisor: Mln. OscarCorrêa. Autor: Moinho PaulistaLtda. (Advs.: José Joaquim MoreiraRabello e José Paulino Franco deCarvalho). Réus: Superintendên-cia Nacional do Abastecimento —SUNAB (Adv.: Mauro Barcellos Fi-lho), S/A Moinho Santista, Moinhos

Germani S/A e outros (Advs.: ClóvisRenato Tamer e Hélio Ramos Viei-ra), Indústrias Reunidas F. Mata-razzo, Richard Saig Indústria e Co-mércio S/A e outros (Advs.: CarlosR. Pema e outros) e Moinho AguaBranca S/A e outro (Advs.: Eduber-to Kakimoto e outros).

Decisão: Julgou-se improcedente,nos termos do voto do Relator, una-nimemente. Impedido o Ministro Mo-reira Alves. Falaram pelo Autor Dr.José Paulino Franco de Carvalho,pela SUNAB o Dr. Silvio Capanemade Souza, e, pelos demais Réus o Dr.Carlos Robichez Penna.

Presidência do Senhor MinistroCordeiro Guerra. Presentes, à Ses-são os Senhores Ministros Djaci Fal-cão, Moreira Alves, Décio Miranda,Rafael Mayer, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho, Fran-cisco Rezek, Sydney Sanches, e Oc-tavio Gallotti. Procurador-Geral daRepública o Prof. Inocêncio MártiresCoelho.

Brasília, 6 de fevereiro de 1985 —Dr. Alberto Veronese Aguiar, Secre-tário.

REPRESENTAÇÃO N? 1.243 — (MEDIDA CAUTELAR) — PE(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.Representante: Procurador-Geral da República — Representados: Go-

vernador e Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco.

Representação. Medida liminar. Argüição de inconstitucionalida-de de dispositivos da Lei Pernambucana n° 9.485, de 8-8-1984, que dis-põe sobre o uso de agrottalcos e de outros pesticidas no Estado. Ale-gações semelhantes dos promoventes da Representação desenvolVe-ram-se nas exposições, que serviram de base às Representações n?s1.150 e 1.153, do Estado do Rio Grande do Sul, sobre matéria seme-lhante, já em fase de julgamento pelo Plenário, não havendo sido plei-teada medida cautelar. Tratamento desigual, entre os Estados da Fe-deração, que não se justifica. Prejuízo irreparável, na espécie, nãoconfigurado. Não se caracterizam pressupostos à concessão da medi-da liminar. Indeferimento do pedido.

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R.T.J. — 125

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, indeferir o pedido de liminar,vencidos o Ministro Cordeiro Guer-ra, in Muro, e o Ministro MoreiraAlves, em parte.

Brasília, 13 de março de 1985 —Moreira Alves, Presidente. Néri daSilveira, Relator.

(MEDIDA LIMINAR)

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): O Dr. Procurador-Geralda República argüiu, perante o Su-premo Tribunal Federal, a inconsti-tucionalidade dos arts. 1?, §§ 1?, 2?

5?, 6? e 7?; 2?, 3?, 4?; 7?, 9?; §§1?,5? e 6?; 10, 13 e 15, da Lei n?

9.465, de 8-6-1984, do Estado de Per-nambuco, atendendo à promoção daAssociação Nacional de DefensivosAgrícolas — ANDEF, com sede emSão Paulo, e do Sindicato da Indús-tria e Comércio de DefensivosAgrícolas do Estado de São Paulo.Alega que há «a possibilidade deocorrência de vícios de inconstitucio-nalidade por falta de competência daAssembléia Legislativa do Estado,com ofensa ao art. 8?, XVII, letras a,c, d, I, 1 e r, inciso XIV, combinadocom art. 43, incisos IV e XV, letra a,«e ainda, por violação aos direitos egarantias individuais protegidos peloart. 153, § 3?, no que tange ao direitoadquirido e ao ato jurídico perfeito,pelo § 23, que assegura o livreexercício de qualquer atividade lici-ta e, por fim, pelos §§ 24 e 25, quantoao constrangimento à revelação desegredo industrial, todos preceitosinscritos na Constituição Federal».

Na inicial, à fl. 3, observa a D.Procuradoria-Geral da República,verbis:

«4. Cumpre registrar que se en-contram em fase de julgamento,por esse Pretório Excelso, as Rp1.153-4/RS e RP. 1.150-0/RS, emque se argüiu, respectivamente, ainconstitucionalldade da Lei n?7.747, de 22-12-82 que dispõe sobre ocontrole de agrotóxicos e outrosbiocidas no território estadual, doDec. n? 30.787, de 22-7-82, que dis-põe sobre o uso de defensivosclorados e do Dec. n? 30.811, de23-8-82, que dispõe sobre o comér-cio de defensivos agrícolas, todosdo Estado do Rio Grande do Sul».Na longa exposição feita pelas en-

tidades acima mencionadas, às fls.4/26, sustentando a inconstitucionali-dade da lei pernambucana, com ex-pressa referência as disposições le-gislativas gaúchas sobre a mesmamatéria, o objeto das Representa-ções n?s 1.150 e 1.153, para justificaro pedido de liminar, alegam (fl. 25):

«4.1. Quanto aos efeitos que jáse fazem sentir com o advento dalei, cuja inconstitucionalidade estásendo suscitada, têm sido os maisnefastos para o comércio e a indús-tria do Pais, no setor dos defensi-vos agrícolas. Imensos estoques deorganoclorados importados ou não-,que já haviam sido liberados pelasautoridades federais competentes,em condições de atenderem à de-manda, não podem ser vendidos nomercado daquele Estado-membro.As perdas são e continuarão a serenormes para os empresários emesmo para os assalariados, inclu-sive pela ameaça de desemprego.Mas o risco maior corre por contada safra agrícola do grande Es-tado-membro, cujo plantio, se nãoprotegido por defensivos agrícolas,estará sujeito à sanha das ervasdaninhas e pragas (gafanhotos, la-gartas, fungos, etc.), que em poucotempo a tudo destroem.

4.2. A própria União Federalacabará respondendo por grandeparte dos prejuízos, com as perdasdas lavrouras garantidas com re-

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cursos do PROAGRO, ao ter deefetuar o pagamento dos respecti-vos seguros».E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Já nas exposições, queserviram de base às Representaçõesn?s 1.150-0 e 1.153/RS, às fls. 10 e 17,respectivamente, idênticas alega-ções se desenvolveram. Nas duas re-feridas Representações, o ilustre Dr.Procurador-Geral da República nãorequereu a medida cautelar, emborasolicitada pelas entidades, em suaspromoções, junto ao Chefe do Minis-tério Público Federal, conforme sevê dos autos, que ora a mim se en-contram conclusos, em virtude depedido de vista, formulado na sessãoplenária de 6 do mês em curso. Tam-bém nas representações em apelo, ominucioso parecer do Dr. Procu-rador-Geral da República é no senti-do da improcedência da representa-ção.

Compreendo que a medida caute-lar não é de deferir-se. Desde logo,tenho em conta que não se caracteri-za, na espécie, nenhum prejuízo irre-parável aos requerentes — ANDEFe Sindicato da Indústria e Comérciode Defensivos Agrícolas do Estadode São Paulo. Se vier a julgar-seprocedente a representação, even-tuais prejuízos poderão ser alegados,na via própria, contra o Estado. En-tre os promoventes da representa-ção, não se encontram Sindicatos,nem entidades de agricultores, even-tualmente, interessados em utilizaros produtos em foco, em sua lavou-ra. Nem as autoridades estaduais es-tão, á evidência, presentes, a defen-der os interesses públicos, pelo nãouso dos produtos em apreço.

Nada justifica, de outra parte, tra-tamento desigual entre os Estadosda Federação, que editaram legisla-

ções semelhantes. Se no Estado doRio Grande do Sul não se determi-nou a suspensão dos efeitos de lei si-milar, também impugnada, pelamesma Associação Nacional de De-fensivos Agrícolas, nada autorizaprocedimento diferente, em se cui-dando do Estado de Pernambuco.

Releva, ainda, conotar que o julga-mento das Representações n? 1.150 e1.153 vem demonstrando a complexi-dade da matéria, sendo de orienta-ções distintas os votos que se colhe-ram, em Plenário, não restando,dessa maneira, mesmo quanto aomérito, desde logo, manifesta a inva-lidade das disposições estaduais emexame.

Não vejo, portanto, presentes pres-supostos a fundamentarem decisãocautelar, por sua natureza, sempreexcepcional, — suspendendo a vigên-cia da lei estadual impugnada.

Nem a ordem pública, nem a eco-nomia pública, nem a segurança pú-blica, nem a saúde pública estão aexigir, de imediato, por risco de imi-nente e irreparável prejuízo, se sus-penda, liminarmente, a eficácia dalel local. São esses sempre pressu-postos a considerar na relevância dopedido de liminar, ao lado de outros,como a irreparabilidade do dano. Aocontrário, invocam-se, largamente,nas Representações n?s 1.150 e 1.153,os interesses superiores da saúde pú-blica, entre os fundamentos maioresda edição das normas estaduais ata-cadas. Se esse argumento constitui omérito e não há de merecer, aqui,neste exame de pedido de cautelar,juizo definitivo, vale, todavia, ao me-nos, para demonstrar que a saúdepública não está sob risco iminente,o que é, também, significativo, noâmbito da medida liminar.

Do exposto, indefiro a medida li-minar, sem, á evidência, com isso,adiantar qualquer posição, em tornodo mérito da representação.

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R.T.J. — 125

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Rezek:Sr. Presidente, quarta-feira passadarelatei pedido de medida cautelarem representação, e este Plenáriohonrou-me ao abonar o entendimentode que a liminar era de ser indeferi-da, ainda que por um único motivo.Lembrei à Corte que os prazos nor-mais de nosso Regimento, em maté-ria de representação por inconstitu-cionalidade, não são longos: trintadias tem a autoridade responsávelpela edição da lei para informar — emuitas vezes se desincumbe desseencargo em menor tempo —, quinzedias tem o Ministério Público para oparecer de mérito. São quarenta ecinco dias, que se estenderiam,eventualmente, um pouco mais. Na-quele caso, posto que vários meseseram decorridos desde a edição dalei, não se justificava que o SupremoTribunal Federal atropelasse seusprazos normais a fim de dar satisfa-ção à parte privada, que tanto tempotomou para meditar a respeito daperspectiva de provocar, ou não, oChefe do Ministério Público.

Agora, no caso da lei paulista, deque é relator o Ministro CordeiroGuerra, sua edição se deu no dia 5de janeiro de 84 — ou seja, há 19 me-ses —, e não vejo em quê o prejuízodos possíveis interessados iria au-mentar, tão gravemente, com a ob-servância dos prazos normais no Su-premo Tribunal Federal. Se essefundamento não me fosse bastante,evocaria aqueles que, com tanto bri-lho, desenvolveu agora o eminenteMinistro Néri da Silveira; lembrandoainda um fator extrajuridico, masda maior importância: não são osagricultores que protestam. Nestecaso, uma das coisas que mais im-pressionam é ver que nenhum cultordo campo, nenhuma pessoa ou em-presa dedicada às atividades agrá-rias entrou em cena para o protestocontra a referida legislação, em Es-tado algum. A agricultura nacional,

da faixa mais abastada à mais hu-milde, não disse uma sílaba contratal legislação. Governos estaduaisnão se manifestaram; o PROAGROtampouco; sindicatos obreiros — jáque se fala em perigo de desempre-go — não disseram palavra. Só osprodutores de agrotóxicos carregamessa bandeira. Este é o fator evoca-do pelo Ministro Néri da Silveira, eque merece absoluto endosso. Osfundamentos do pedido de liminarsão inautenticamente deduzidos, porquem não está autorizado a falar emnome daquelas entidades — algumasde direito público — cujo interessese pretende, alegadamente, prote-ger.

Por último, a pendência de duasrepresentações semelhantes nestePlenário, que já deram origem a umamplo debate, seria um motivo amais a recomendar o indeferimentoda quebra de vigência que ora sepostula.

Meu voto acompanha os MinistrosNéri da Silveira e Octavio Gallotti,com a devida vênia do PresidenteGuerra.

VOTOO Sr. Ministro Aldir Passarinho:

Sr. Presidente, acompanho os votosdos eminentes Ministros Relatores,que se manifestaram contra a con-cessão da medida liminar.

Fui Relator do primeiro caso, o doRio Grande do Sul. Nenhuma provame veio, sobre ter sido imposta mul-ta às empresas. Admitindo, entre-tanto, que assim venha ocorrendo, éde ver que se declararmos inconsti-tucional as leis em discussão, asmultas deixarão de subsistir; se asdeclararmos constitucionais as mul-tas tinham razão de ser.

Também nego a liminar.

VOTO

O Sr. Ministro Oscar Corrêa: Se-nhor Presidente, data venta do emi-

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nente Ministro Cordeiro Guerra,além dos argumentos que foram ex-pendidos, eu me abalançaria a indi-car mais um: esta recusa talvez for-ce a União a se entender com os vá-rios Estados e propiciar ao Brasil alegislação de que precisamos. A ver-dade é que a Legislação Federal — etive o ensejo de examiná-la, como V.Exa. — é ampla, abrange todas asáreas, mas não atende ás peculiari-dades locais, precisamente porquenão teve, ainda, a oportunidade deestabelecer o entendimento que aprópria formulação da tese exige.Então, é preciso que a União, tendorecusada a liminar e conhecendo osprejuízos que podem decorrer disso— e, ai, estaria com o eminente Mi-nistro Cordeiro Guerra —, prejuízospara a própria produção industrial etodas as áreas econômicas — secompenetre de que o Brasil, emboradeva ter, por imposição constitucio-nal, uma legislação única, a respei-to, admita que essa legislação deixe,como V. Exa. frisou e eu repeti, osvazios e os brancos para que a legis-lação estadual possa se exercer, le-gitimamente. O que não é possível éque os Estados exorbitem da suaárea de competência, legislando so-bre matéria que nela se inclui, e aUnião invada a competência que de-ve ser, natural e legalmente, deixa-da aos Estados, pela própria normaconstitucional, que registra a obriga-toriedade de legislação supletiva dosEstados. Por quê? Porque, na diver-sidade nacional, é preciso que cadaEstado da Federação tenha oportuni-dade de legislar, em certas áreas,sobre certas matérias, dentro de cer-tos limites, de acordo com essas pe-culiaridades regionais.

Por isso, Senhor Presidente, atémesmo para que a União se sensibi-lize para a necessidade de legislaçãoque atenda, na verdade, à realidadenacional e á gravidade do problema— que examinei detidamente, noscasos do Rio Grande do Sul, e deium voto, tanto quanto possível, ana-

lisando apenas os dados objetivos econstitucionais — data venta, recusoas cautelares propostas.

E o voto.

VOTO

O Sr. Ministro Décio Miranda: Sr.Presidente, não há dúvida de que es-tamos diante de situação desafiado-ra de providências legislativas.

Se os Estados, conscientes de quehá necessidade de uma legislaçãocontroladora do uso de defensivosagrícolas, e levando em conta, deum lado, a necessidade do fomentoda produção e, de outro, os requisi-tos de resguardo da saúde pública ede incolumidade das águas, do ar eda vegetação, antecipam providên-cias desafiadoras das iniciativas daUnião, tais medidas, pelo menos in-terinamente, devem ser resguarda-das, ou pelo menos não molestadas,para que afinal a União assuma aposição que lhe deve tocar, no senti-do de estabelecer uniformidade aotratamento nacional do problema.

Enquanto a União não toma essainiciativa, parece-me legítimo que osEstados o façam, na defesa do inte-resse local. E uma legislação interi-na, digna, ao menos, de resguardoprovisório.

Nego a liminar.

VOTO

O Sr. Ministro Moreira Alves (Pre-sidente): Tendo em vista que, deacordo com o entendimento domi-nante, não há responsabilidade civildo Estado por dano resultante de leique venha a ser declarada inconsti-tucional, e que, no caso, se a lei emcausa vier a ser tida como inconsti-tucional, haverá prejuízos irrepará-veis em decorrência da proibição davenda de produtos no território doEstado-membro, produtos esses cuja

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comercialização não é vedada pelalegislação federal prefiro ficar nu-ma posição intermediária, razão porque concedo a liminar quanto ao dis-positivo que proíbe a venda de certosdefensivos, no território estadual.

Nesses termos, e com a devida vê-nia dos que pensam em contrário,concedo, em parte, a liminar reque-rida.

EXPLICAÇÃO

O Sr. Ministro Cordeiro Guerra:Sr. Presidente, gostaria de acrescen-tar uns argumentos ao meu voto. Afundamentação apresentada é, ameu ver, relevante, e os votos de V.Exa., dos eminentes Ministros OscarConta, Aldir Passarinho e este, par-cialmente revelaram que essa leimerece exame bem meticuloso.

Não há dúvida de que, a pretextode defender a saúde pública, estãointerferindo na produção e no comér-cio de mercadorias entre várias uni-dades federadas — e há inúmerospreceitos na lei paulista — até mes-mo no comércio internacional — exi-gindo pressupostos que a lei federalnão exige.

Ora, se nós criamos obstáculos àprodução e à circulação de defensi-vos agrícolas, ou de elementos de de-fesa fitossanitária, como dizia sabia-mente o decreto getuliano de 1934,vamos ter, primeiro, deficiências desafras agrícolas por falta de defensi-vos, vamos ter uma paralisação deindústrias em vários estados, nota-damente no Estado de São Paulo,agravando o desemprego. Quer dizer— e isto ficou bem demonstrado novoto que V. Exa. deu em Plenário —não nos faltam leis; faltam adminis-tradores, fiscalizadores, educação,divulgação. Porque assim como sefosse uma explosão atômica, de re-pente, em vários pontos do territórionacional, surge o clamor de que épreciso proteger a saúde, a vida hu-mana; amanhã, por esse critério,

suspende-se o tráfico de automóveis,caminhões, ônibus, veículos automo-tores, porque é uma das maiorescausas do obituário atual. Quer di-zer, de repente nós proibimos, umEstado resolve proibir, para prote-ção da Segurança pública, o tráficode veículos, porque são prerigosos.

Já se imaginou fazer a indústriafarmacêutica sem certos venenosque existiam nas velhas farmácias?Temos uma porção de remédios que,mal aplicados, podem causar a mor-te.

De modo que aquilo que, a meuver, devia ser resolvido pela educa-ção, propaganda, aplicação racionaldos defensivos agrícolas e com a fis-calização daqueles que já foram con-denados na Europa, ou na América,é questão de administração e não delei. E não pode a União Federal sobpena de ensejar à Confederação dei-xar de proteger a sua competêncialegislativa. Esses fatos são muito re-levantes.

O objetivo político dessas campa-nhas é diminuir as safras e comba-ter o imperialismo colonizador. Eevidente que se trata de um movi-mento internacional.

Quando eu tinha a honra de exer-cer a Presidência do Supremo Tribu-nal, fui esmagado por uma coleçãode telegramas das mais variadas or-ganizações que se diziam de «agrô-nomos». Supostos agrónomos, estouconvencido. Se tivéssemos tantosagrônomos, não tínhamos esses pro-blemas que eles mesmos denunciam,que é a má aplicação dos defensivosagrícolas, por ignorância, desprepa-ro e incompetência.

De modo que esse sistema de pres-sionar os tribunais por intermédio desindicatos, de telegramas, artigos dejornal é coisa de merecer a respulsa

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do Poder Judiciário. Hoje em dia,quando se fala em pressões sobre oTribunal, vêm elas dos meios de co-municação, dos grupos de pressãoorganizados, dos lobbies, e raramen-te vêm do governo.

Por isso é que defiro a liminar, pa-ra permitir um isento julgamentoem que, amadurecendo o pensamen-to desta Corte, possamos preservaras nossas colheitas e assegurar aaplicação da lei federal. Porque nãoé possivel que cada Estado resolvatornar-se o critico da legislação fede-ral. A legislação federal que, aliás,surgiu da inspiração do PresidenteGetúlio Vargas é de tal modo eficien-te — basta lê-la com os atos sucessi-vos do Ministro Cirne Lima, tambémdo Rio Grande do Sul, que bastariaaplicá-la para que se preservasse asaúde pública.

Ao examinar essa legislação, queprevê até o acordo, o contrato, osconvênios com os Estados para fis-calização das leis, chegamos ai con-clusão de que as leis estaduais nãoestão querendo, nesses movimentostodos, melhorar a fiscalização; estãoquerendo superar a União Federal.

Por esses motivos, que acho damais alta releviincia, concedo a limi-nar.

VOTO

O Sr. Ministro Djacl Falcão: Sr.Presidente, em principio, sempre fuifavorável ás medidas cautelares,ainda quando o nosso Regimento nãoas previa, exatamente para resguar-dar, d vista de relevantes fundamen-tos, direitos suscetíveis de grave da-no e de difícil reparação. Hoje, asmedidas cautelares estão previstasem nosso Regimento e assentamexatamente naqueles pressupostosque constituíram, sem dúvida, uma

construção da Corte, indo buscar ins-piração na Lei do Mandado de Segu-rança,

Votando quanto à liminar que sepede neste processo, todavia, não di-viso os pressupostos previstos paraessa medida de caráter excepcionale que, nas hipóteses em exame, en-volvem a suspensão de toda uma lei.

Assim sendo, com a vénia do emi-nente Ministro Cordeiro Guerra, Re-lato: do primeiro pedido, acompanhoOs eminentes Ministres Néri da Sil-veira e Octavio Gallotti e demaisque os seguiram, apenas acrescen-tando que se impõe, sem dúvida, se-ja acelerado o julgamento de todosesses feitos, na medida do possivel.

Indefiro o pedido liminar.

EXTRATO DA ATA

Rp 1.243 — PE — Rel.: MinistroNéri da Silveira. Repte.: Procurador-Geral da República. Repdos.: Gover-nador e Assembléia Legislativa doEstado de Pernambuco.

Decisão: Indeferiu-se o pedido deliminar, vencidos o Ministro Cordei-ro Guerra, in totum, e o MinistroMoreira Alves, em parte,

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alvela. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Piaci Falcão,Cordeiro Guerra, Décio Miranda,Rafael Mayer, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho, Fran-cisco Rezek, Sydney Sanches e Octa-vio Gallotti. Procurador-Geral daRepública, o Prof. Inocêncio Márti-res Coelho.

Brasília, 13 de março de 1985. Dr.Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

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REPRESENTAÇÃO N? 1.423 — PI(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.Representante: Procurador-Geral da República — Representados: Go-

vernador e Assembléia Legislativa do Estado do Piauí.

Representação de inconstitucionalidade do art. 4?, da Lei n?4.075/86, do Estado do Piauí, que dispõe: «Art. 4? — Ao Presidente doTribunal compete nomear, demitir, exonerar, admitir, dispensar,transferir e aposentar os funcionários e serventuários do Poder Judi-ciário, inclusive preenchimento de funções gratificadas e concessãode licença e férias».

Competência do Tribunal de Justiça para prover os cargos dosserviços auxiliares (art. 115, II, da Constituição da República). Afron-ta ao art. 81, inc. VIII, c/c o art. 13, inc. V, da Lei Magna. Ressalvaquanto a competência do Tribunal de Justiça, nos termos do art. 115,incs. II e V do citado diploma.

Procedência da representação.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, à unanimidade de votos ena conformidade da ata do julga-mento e das notas taquigráficas,julgar-se procedente a representaçãoe declarar inconstitucional o art. 4?da Lei n? 4.075, de 17-12-86, do Esta-do do Piauí.

Brasília, 17 de março de 1988 —Rafael Mayer, Presidente — DjaciFalcão, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Djaci Falcão: AProcuradoria-Geral da República,atendendo a solicitação do SenhorGovernador do Estado do Piauí, sub-mete à consideração do SupremoTribunal Federal argüição de incons-titucionalidade do art. 4? da Lei n?4.075, de 17-12-1986.

Indeferido o pedido de cautelar,em virtude da ausência do pressu-posto do periculum In mora (fls. 17 a22), foram prestadas informaçõespelo Chefe do Poder Executivo e pe-

lo Deputado Presidente da Assem-bléia Legislativa do Estado (fls. 29 a31 e 33 a 34).

Por fim, manifestou-se o Exmo.Sr. Dr. Procurador-Geral da Repú-blica, nos seguintes termos:

«Os presentes autos versam so-bre representação por inconstitu-cionalidade do art. 4? da Lei n?4.075, do Estado do Piauí, que dis-põe:

«Art. 4? Ao Presidente do Tri-bunal compete nomear, demitir,exonerar, admitir, dispensar,transferir e aposentar os funcio-nários e serventuários do PoderJudiciário, inclusive preenchi-mento de funções gratificadas econcessão de licença e férias.»2. O dispositivo impugnado trazbaila tema já decidido várias ve-

zes por essa Corte, qual seja, a au-tonomia dos Tribunais, prevista noartigo 115 da Constituição FederalEm síntese, cuida-se de determi-nar o alcance da competência decerto Tribunal, ao 'organizar osseus serviços auxiliares, provendo-lhes os cargos, na forma da lei'.

R.T.J. — 125 47

O Supremo Tribunal Federal,reiteradamente, tem entendido queo poder conferido às Cortes deveser interpretado restritivamente,de sorte a afastar a tese de que ne-le se incluem também os demaiscargos do Judiciário. A aludidaorientação jurisprudencial se fun-damenta no fato de que se está empresença de uma exceção previstano sistema constitucional ao prin-cípio da nomeação pelo chefe doExecutivo.

Nesse sentido, podem ser ci-tadas a Rep. 880, relator o Em. Mi-nistro Luis Gallotti, RTJ 65.606, e,mais recentemente, a Rep. 996,RTJ 94/66, relator o Em. MinistroDjaci Falcão, de cujo voto trans-crevem-se os seguintes trechos:

«Compete, privativamente, aochefe do Poder Executivo (Gover-nador, no caso dos Estados), o pro-vimento dos cargos públicos (art.81, Inc. VIII), ressalvadas as exce-ções indicadas na própria Consti-tuição Federal, em que não seacham incluídos os membros doPoder Judiciário.

É de convir, ao lado disso, que aremoção e a permuta tanto quantoa nomeação, situam-se no âmbitodo ato jurídico-administrativo deprovimento. A nomeação constituiprovimento inicial de cargo públi-co, a promoção é o provimento me-diante acesso para classe ou grausuperior, e a permuta é a transfe-rência ou remoção feita a pedido eque está subordinada aos interes-ses da administração. Portanto,trata-se de provimento sob formaoriginária, ou derivada como ocor-re na espécie, constitui ato da com-petência do Poder Executivo.»

5. Assentadas as bases de seuraciocínio, conclui o Em. Relator:

«E conferido aos Tribunais opoder de auto-organização quan-to aos seus serviços auxiliares eo provimento dos respectivoscargos, mediante lei e na formadesta.

Por se tratar de exceção acompetência confiada ao chefedo Poder Executivo (art. 81,VIII, da Constituição Federal), aregra deve ser interpretada demodo estrito, compreendendo,em conseqüência, os cargos dasSecretarias dos Tribunais.

Esta Corte, interpretando opreceito constitucional, tem en-tendido que 'serviços auxiliares'não vão além dos serviços de Se-cretaria. Na referida locução nãose compreendem os cargos deserventuários, por não integra-rem os serviços auxiliares dosTribunais. Há de se considerarque se têm em vista os serviçosauxiliares dos Tribunais e não osserviços auxiliares da Justiça.

Assim sendo, restringe-se acompetência dos Tribunais aoprovimento dos cargos das suasSecretarias.»

Vê-se, pois que o dispositivoimpugnado, que amplia a compe-tência traçada pela Constituição daRepública aos Tribunais, estáorientado em sentido oposto ao dajurisprudência do Supremo Tribu-nal Federal.

Assim, o parecer é pela pro-cedência da representação.»Extraiam-se cópias deste relató-

rio, para os Senhores Ministros (art.172 do Regimento Interno).

Brasília, 8 de março de 1988 —Djaci Falcão, Relator.

VOTO

O Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela-tor): Dispõe o art. 4? da Lei n? 4.075,do Estado do Piauí:

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«Art. 4? Ao Presidente do Tri-bunal compete nomear, demi-tir, exonerar, admitir, dispensar,transferir e aposentar os funcioná-rios e serventuários do Poder Judi-ciário, inclusive preenchimento defunções gratificadas e concessãode licença e férias.»Como se vê, atribui ao Presidente

do Tribunal competência para no-mear, demitir, exonerar, admitir,dispensar, transferir e aposentar osfuncionários e serventuários do Po-der Judiciário, bem assim parapreencher funções gratificadas econceder licença e férias.

Segundo dispõe a Constituição Fe-deral:

«Art. 115. Compete aos Tribu-nais:

II — elaborar seus regimentosinternos e organizar os serviçosauxiliares, provendo-lhes os cargosna forma da lei.»

É conferido aos Tribunais o po-der de auto-organização quanto aosseus serviços auxiliares e o provi-mento dos respectivos cargos, me-diante lei e na forma desta.

Por se tratar de exceção a com-petência confiada ao chefe do Po-der Executivo (art. 81, VIII, daConstituição Federal), a regra de-ve ser interpretada de modo estri-to, compreendendo, em conseqüên-cia, os cargos das Secretarias dosTribunais.

Esta Corte, interpretando o pre-ceito constitucional, tem entendidoque «serviços auxiliares» não vãoalém dos serviços de Secretaria.Na referida locução não se com-preendem os cargos de serventuá-rios, por não integrarem os servi-ços auxiliares dos Tribunais. Ha dese considerar que se têm em vistaos serviços auxiliares dos Tribu-nais e não os serviços auxiliares daJustiça.

Assim sendo, restringe-se a com-petência dos Tribunais ao provi-

mento dos cargos das suas Secre-tarias. Nesse sentido a decisão pro-ferida na Representação n? 880 doP11, relatada pelo eminente e sau-doso Ministro Luiz Gallotti (In RTJ65/606 a 624).» (RTJ 94/72)

Assim votei como relator da Re-presentação 996-MA, acompanhadopelo Plenário da Corte.

A vasta competência conferida aoPresidente do Tribunal pela regramalsinada, que vai do provimento decargos, sob forma originária, ou de-rivada, além dos serviços auxiliaresdo Tribunal de Justiça, estendendo-se aos serviços auxiliares da Justiça(compreendendo serventuários emgeral), desloca para o Poder Judi-ciário atribuição privativa do Chefedo Poder Executivo estadual. Dai re-sulta a vulneração do art. 81, inc.VIII, c/c o art. 13, inc. V, da Consti-tuição.

2 oportuno ressaltar que subsiste,sem dúvida, a competência do Tribu-nal para «organizar seus serviçosauxiliares, provendo-lhes os cargos,na forma da lei» bem assim paraconceder licença e férias aos serven-tuários que lhe são imediatamentesubordinados (art. 115, incs. II e Vda Constituição Federal).

Diante do exposto, acolho a repre-sentação e declaro inconstitucional oart. 4? da Lei n? 4.075, de 17-12-86, doEstado do Piauí.

EXTRATO DA ATA

Rp 1.423 — PI — Rel.: Min. DjaciFalcão. Rpte.: Procurador-Geral daRepública. Rpdos.: Governador e As-sembléia Legislativa do Estado doPiauí.

Decisão: Julgou-se procedente aRepresentação e declarou-se a in-constitucionalidade do art. 4? da Lein? 4.075, de 17-12-86 do Estado doPiauí. Decisão unânime. Votou oPresidente. Ausente, ocasionalmen-te, o Sr. Min. Moreira Alves.

R.T.J. — 125

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Francisco Rezek,Sydney Sanches, Octavio Gallotti,Carlos Madeira e Célio Borja. Au-

sente, justificadamente, o SenhorMinistro Aldir Passarinho. Procura-dor-Geral da República, o Dr. JoséPaulo Sepúlveda Pertence.

Brasília, 17 de março de 1988 —Dr. Alberto Veronese Aguiar, Secre-tário.

REPRESENTAÇÃO N? 1.437 — AL(Questão de Ordem)

(Tribunal Pleno)Relator: O Sr. Ministro Sydney SanchesRepresentante: Procurador-Geral da República — Representada: As-

sembléia Legislativa do Estado de Alagoas.Argüição de inconstituciorúdidade parcial do Decreto Legislativo

n? 243, de 18-12-1988, da Assembléia Legislativa do Estado de Alagoas:a) da expressão «a qualquer titulo», no art. 1.?;IA das expressões «entre outros títulos» e «do que foi atribuído

sob o mesmo titulo aos Deputados Federais», no art. 2?;c) de todo o art. M.Alegação de afronta aos artigos 13, III, 33, d, 48, parágrafo único,

200 e 214 Constituição Federal.Requerimento de medida cautelar de suspensão da eficácia de

tais expressões nos dispositivos focalizados.Dúvidas do Relator sobre a extensão da representação, face aos

termos do oficio que a provocou e que nela foi adotado como funda-mentação.

Dúvidas também sobre o montante (global) da remuneração per-cebida pelos Deputados Estaduais, como resultante do Decreto Legis-

lativo impugnado e da parcela que estaria sendo entequestionada, dificultada, assim, a aferição de pffl

constitucionalmibilidade de graves

riscos de danos para o etário alagoano, de difícil reparação, e impos-sibilitada, em conseqüência, a verificação de um dos pressupostos pa-ra o deferimento da medida cautelar perlculum Ia mora.

Questão de ordem suscitada pelo ReMtor, no sentido de se colhe-rem, primeiramente, as informaço)es da Assembléia Legislativa, parasó depois se apreciar o requerimento da cautelar.

Acolhimento pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal.Interpretação do artigo 170, parágrafo 1?, do Regimento Interno.

ACÓRDÃO premo Tribunal Federal, em sessãoplenária, na conformidade da ata do

Vistos, relatados e discutidos estes julgamento e das notas taquigráfi-

autos, acordam os Ministros do Su- cas, por unanimidade de votos, em

50 R.T.J. — 125

acolher a questão de ordem apresen-tada pelo Ministro Relator, no senti-do da solicitação prévia de informa-ções, tendo em conta os termos emque está formulada a Representa-ção, para posterior julgamento damedida cautelar.

Brasília, 25 de junho de 1987 —Néri da Silveira, Presidente. SydneySanches, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Sydney Sanches: 1.O Exmo. Sr. Procurador-Geral daRepública, Dr. José Paulo SepúlvedaPertence, ofereceu representação aoSupremo Tribunal Federal, argüin-do a inconstitucionalidade parcialdo Decreto Legislativo n? 243, de18-12-1986, da Assembléia Legislativado Estado de Alagoas, verbis:

«a) no art. 1?, a expressão «aqualquer titulo»;

no art. 2?, as expressões«entre outros títulos» e «do que foratribuído sob o mesmo titulo aosDeputados Federais»;

todo o art. 3? » (fl. 2).Aduziu o representante estar

atendendo à provocação do Sr.Governador do Estado de Alagoas,«em cuja petição fundamentadamen-te se argúi a incompatibilidade dasdisposições questionadas com os ar-tigos 13, III, 33, d, 48, parágrafo úni-co, 200 e 214 da Constituição Fede-ral».

Subscreveu, na oportunidade, «osmotivos arrolados pelo suscitante, nosentido da suspensão liminar da efi-cácia dos preceitos impugnados».

E concluiu:«Desse modo, requer-se que, de-

cidido o pedido liminar e colhidasas informações cabíveis, lhe vol-tem os autos com vista, para opi-nar sobre o mérito das argüições»(0. 2).

A representação veio instruídacom cópia do ofício dirigido pelo Ex-

mo. Sr. Governador do Estado deAlagoas ao Exmo. Sr. Procurador-Geral da República, do texto doDecreto Legislativo n? 243, de18-12-1986, da Assembléia LegislativaEstadual e de recortes de jornais deMaceió (fls. 3/16).

4. E o seguinte o teor do ofício doExmo. Sr. Governador do Estado:

«Exmo. Sr. Dr. Procurador-Geral da República.

O Governador do Estado deAlagoas, Fernando Affonso Collorde Mello, vem argüir perante V.Exa., para ao final submetê-la aoEgrégio Supremo Tribunal Fede-ral, Representação por inconsti-tucionalidade, com pedido de me-dida cautelar, de partes dos ar-tigos 1? e 2? e do artigo 3? do De-creto Legislativo ri? 243, de 18 dedezembro de 1986, da AssembléiaLegislativa deste Estado, funda-mentado no artigo 119, I, 1, daConstituição Federal e na formadisciplinada no Titulo VI do Regi-mento Interno do Supremo Tribu-nal Federal.

AntecedentesA imprensa local divulgou

com destaque os novos valores daremuneração dos ilustres Deputa-dos Estaduais de Alagoas, causan-do profunda indignação popular.

Tais valores revelam umadesproporção escandalosa com asremunerações percebidas pelosservidores públicos estaduais, in-clusive as mais elevadas. Corres-pondem a mais de cinco vezes oque percebem atualmente os Se-cretários de Estado.

3. Constituem, outrossim, umaagressão à reconhecida situação dedificuldade financeira por que pas-sa o Estado, com sua receita infe-rior à despesa com o pessoal, agra-vada pela seca que flagela nossosertão. Não contribuem, igualmen-te, à necessária política de morali-dade e austeridade administrativas

R.T.J. — 125 51

implantadas pelo Governo local,desde sua posse, para sanear a ad-ministração e as finanças públicas.

Sua Excelência, o Sr. Presi-dente da Assembléia LegislativaEstadual, tem afirmado publica-mente que não fixou aponte_ suaos novos valores dos subsídiós, vi-gentes a partir do aumento verifi-cado nos subsídios dos SenhoresDeputados Federais, mas em obe-diência à tabela elaborada pelaUnião Parlamentar Interestadual(UPI), que não possui competêncialegislativa.

Diante da reação da opinião pú-blica, os Senhores Deputados Esta-duais tiveram procedimentos va-riados: alguns rejeitaram a majo-ração, por considerá-la indevida eoutros «congelaram» os novos va-lores até dezembro do correnteano. Fica dessa forma patenteadaa incerteza quanto á moralidade eà legalidade dos subsídios majora-dos.

Decreto Legislativo n? 243Cumprindo preceito da Cons-

tituição local, semelhante ao artigo33 da Constituição Estadual, a As-sembléia Legislativa Estadual, aocabo da anterior Legislatura, edi-tou o Decreto Legislativo n? 243, de18 de dezembro de 1986, cujos arti-gos 1?, 2? e 3?, estabelecem:

«Art. 1? Os Deputados à As-sembléia Legislativa do Estadode Alagoas perceberão na legis-latura que se inicia em 1? de fe-vereiro de 1987, a titulo de remu-neração e na forma do estabele-cido nas Constituições Federal eEstadual, 2/3 (dois terços) doque for pago a qualquer títuloaos Deputados Federais.

Art. 2? Da remuneração aque se refere o artigo anteriorconstará, entre outros títulos, osubsídio dividido em duas partes,uma fixa referente a 1/3 (um ter-ço ), e uma variável referente a

2/3 (dois terços) do que for atri-buído sob o mesmo título aos De-putados Federais.

Art. 3? A remuneração de quetrata o art. 1? corresponderásempre a 2/3 (dois terços) do quefor atribuído aos Deputados Fe-derais por atos específicos daMesa Diretora da Câmara dosDeputados, cujos valores ali esta-belecidos serão revistos, quandoda alteração das tarifas, em cu-ias bases foram fixadas» (sie).

Dispositivos inconstitucionais6. O argüente entende violado-

ras dos parâmetros constitucionaisas seguintes partes dos dispositivosacima transcritos:

no artigo 1?, as expressões«a qualquer titulo»;

no artigo 2?, as expressões«entre outros títulos» e «do quefor atribuído sob o mesmo tituloaos Deputados Federais»;

c) o artigo 3?.7. Estariam violados os artigos

13, III, 33, d. 98, parágrafo único,200 e 214 da Constituição Federal.

Art. 13, III da Constituição FederalEsta norma impõe aos

Estados-membros o respeito aoprincípio da observância do pro-cesso legislativo.

A parte final do artigo 2? e oartigo 3? do Decreto Legislativo n?243 estabelecem a equiparação au-tomática aos subsídios dos Deputa-dos Federais, suprimindo o proces-so legislativo subseqüente dos rea-justes e do aumento de despesa pú-blica. Não é o ato da Mesa da Câ-mara Federal que autoriza despe-sa pública de Estado-membro.Art. 33 da Constituição Federal

10. Trata dos subsídios dos De-putados e Senadores.

Define a composição dos subsí-dios (parte fixa e parte variável).A parte variável corresponde ao

52 R.T.J. — 125

comparecimento efetivo do par-lamentar ás sessões. A ajuda decusto não integra o subsidio.

11. O artigo 1? do Decreto Le-gislativo n? 243 refere-se «a qual-quer titulo» pressupondo a inclu-são, na base de cálculo, de outroselementos além dos previstos nacomposição do subsidio. Do mesmodefeito sofrem as expressões «en-tre outros títulos» do artigo 2?.

artigo 4? do Decreto Legislati-vo n? 243 disciplina, destacadamen-te, o quantum da ajuda de custo.Art. 61, d, da Constituição Federal

12. Veda a realização, por qual-quer dos poderes, de despesas queexcedam os créditos orçamentá-rios ou adicionais.

A equiparação automáticado subsídio, através de percentual,possibilitará a realização de despe-sa excedente dos créditos orça-mentários. Por esta razão é que aCâmara Federal por ato normati-vo específico, aprova os eventuaisreajustes, tendo em vista a dispo-nibilidade orçamentária própria.

Os dispositivos inconstitucio-nais do Decreto Legislativo n? 243violam esse princípio básico.Art. 98, Parágrafo único, da Cons-tituição Federal

15. Estabelece o princípio davedação da equiparação e da vin-culação.

princípio diz respeito à equipa-ração ou vinculação de rendimen-tos, no serviço público, de modopermanente, geral e abstrato, co-mo reiteradamente tem se mani-festado o Supremo Tribunal Fede-ral.

principio geral, pouco impor-tando sua localização expressa naConstituição, não se limitando aoconceito restrito de «funcionáriopúblico».

«Se a lei vinculou ou equiparoupara o efeito de remuneração é nu-

la», disse Pontes de Miranda(Comentários à Constituição de1967, RT, 1973, pág. 483) que sem-pre exprobou a prática das vincu-lações e equiparações.

A regra que existia no art.13, VI, da Constituição Federal, an-tes da Emenda Constitucional n?21/81 («Proibição de pagar, a qual-quer titulo, a Deputados Estaduaismais de dois terços dos subsídios eda ajuda de custo atribuídos aosDeputados Federais») estabeleciacritério limitativo, nunca de vincu-lação ou equiparação permanen-tes. Evidentemente, em respeito àsdisponibilidades financeiras de ca-da Estado-membro.

A EC 21/81, ao suprimir a refe-rência, que servia de pretexto atransformar o limite proibido empermissivo referencial, confirmouo principio federativo e o do regu-lar processo legislativo, para impo-sição de gastos que tais.

O Decreto Legislativo n? 243persiste na equiparação que oConstituinte federal nunca permi-tiu.

Inobserva a regra elementar quea receita pública e os créditos or-çamentários são finitos.Art. 200, da Constituição Federal

Incorpora os princípios daConstituição Federal ao direitoconstitucional legislado dos Esta-dos.

Como ficou demonstrado, o De-creto Legislativo n? 243 é flagran-temente desrespeitador dos pariá-metros constitucionais federais.Art. 214, da Constituição Federal

A Emenda Constitucional n?21/81, ao suprimir a regra geralanteriormente contida na redaçãodo artigo 13, VI, da ConstituiçãoFederal acrescentou ao textoconstitucional o artigo 214, perma-necendo o principio limitativo paraaquela legislatura (correspondenteá data da Emenda).

R.T.J. - 125

53

E, pois, disposição transitória,cuja eficácia se exauriu. Não podeservir de referência (mesmo sen-do, como foi, limitação máxima enão vinculação automática).Conclusão

Como visto, o Decreto Legis-lativo n? 243 apenas pode ser apro-veitado para a fixação do subsidio,com o valor de 2/3 (dois terços) dosubsidio do Deputado Federal, vi-gorante à data do início da atuallegislatura (1? de fevereiro), vezque não o indicou em moeda cor-rente.

Por ser inconstitucional a equi-paração ou vinculação em caráterpermanente, geral e abstrato, seureajustamento posterior só poderáser efetivado através de ato nor-mativo regular do próprio PoderLegislativo local, desde que não al-tere a natureza da fixação estabe-tecida na legislatura anterior.

E inconcebível que os mesmoselementos formadores da parte va-riável dos Deputados Federais sir-vam como parâmetro para os De-putados estaduais, vez que são di-ferenciadas as causas. O Deputadofederal reside fora de seu Estado,acarretando-lhes despesas adicio-nais, inclusive de meios de sobrevi-vência, enquanto no exercício domandato.Requerimento

Espera e requer o argüenteseja recebida por V. Exa. e enca-minhada esta representação ao Co-lendo Supremo Tribunal Federal.

22. Requer, ainda, se clipe V.Exa, requerer medida Cautela'', naforma do artigo 170, tj 1?, doRISTE, para suspender a eficáciadas normas referidas, até decisãofinal da Corte Suprema, tendo emvista os vultosos dispêndios decor-rentes que passaram a onerar oerário estadual, o que por certorestaurará o respeito popular me-recido pelo Poder Legislativo Esta-dual.

Maceió, 22 de junho de 1987 —Fernando Alfonso Coltor de Mello,Governador» (fls. 3/9).5. Eis o texto integral do Decreto

Legislativo n? 243, de 18-12-1986,constante de fls. 10:

Decreto Legislativo n? 243 de 18de dezembro de 1986

Dispõe sobre a fixação da re-muneração dos deputados á As-sembléia Legislativa Estadualpara a Legislatura que se iniciaem 19 de fevereiro de 1987.O Presidente da Assembléia Ia-

'ablativa faz saber que o PoderLegislativo decreta e promulga oseguinte Decreto Legislativo:

Art. 1? Os Deputados à Assem-bléia Legislativa do Estado de Ala-goas perceberão na legislatura quese inicia em 1? de fevereiro de1987, a titulo de remuneração e naforma do estabelecido nas Consti-tuições Federal e Estadual, 2/3(dois terços) do que for pago aqualquer titulo aos Deputados Fe-derais.

Art. 2? Da remuneração a quese refere o artigo anterior consta-rá, entre outros títulos, o subsidiodividido em duas partes, uma fixareferente a 1/3 (hum terço), e umavariável referente a 2/3 (dois ter-ços) do que for atribuído sob omesmo titulo aos Deputados Fede-rais.

Art. 3? A remuneração de quetrata o art. 1? correspondera a 2/3(dois terços) do que for atribuídoaos Deputados Federais por atosespecíficos da Mesa Diretora daCâmara dos Deputados, cujos valo-res ali estabelecidos serão revis-tos, quando da alteração das tare-fas em cuias bases foram fixadas.

Art. 4? Os Deputados Estaduaisreceberão uma Ajuda de Custoanual, no valor correspondente aum subsídio mensal, pago em duasparcelas iguais, uma no inicio e ou-

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tra no encerramento de cada ses-são legislativa.

Parágrafo 1? — Será pago idên-tica Ajuda de Custo por sessão le-gislativa extraordinária convocadana forma prevista na ConstituiçãoEstadual.

Parágrafo 2? — O pagamento dasegunda metade da Ajuda de Custosomente será efetuado se o Depu-tado houver comparecido a pelomenos 2/3 (dois terços) da sessãolegislativa ordinária ou da sessãolegislativa extraordinária.

Art. 5°— As despesas decorren-tes da execução deste Decreto Le-gislativo correrão à conta das do-tações orçamentárias especificasdo orçamento de 1987 e das subse-qüentes correspondentes à legisla-tura que se iniciará a 1? de feverei-ro de 1987.

Art. 6? Este decreto entrará emvigor na data de sua publicação.

Sala de Sessões da AssembléiaLegislativa Estadual, em Maceió,18 de dezembro de 1986» (fl. 10).6. Nos termos do § 1? do artigo

170 do Regimento Interno do Supre-mo Tribunal Federal, trago os autosao Eg. Plenário para exame do re-querimento de medida cautelar, massuscito a seguinte Questão de Or-dem.

QUESTÃO DE ORDEM

O Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator): 1. Encaminhei aos Ex-mos. Srs. Ministros cópias da repre-sentação, do oficio do Exmo. Sr. Go-vernador e do texto do Decreto Le-gislativo parcialmente impugnado.

Por eles e pela transcrição, quefiz, se verifica o seguinte: dentre osdispositivos da Constituição Federal,que a representação considera viola-dos, figura o artigo 48, parágrafoúnico.

Trata-se de erro datilográfico,pois, na substância, se constata que

a alusão é ao artigo 98, parágrafoúnico, que trata de vinculação de re-muneração.

Sucede que a impugnação só ata-ca, no artigo 1?, a expressão «a qual-quer título» e, no artigo 2?, as ex-pressões «entre outros títulos» e «doque for atribuído sob o mesmo títuloaos Deputados Federais».

Quanto ao artigo 3?, é impugnadopor inteiro.

Observo, porém, que, mesmoretiradas dos artigos 1? e 2? as ex-pressões impugnadas, ainda subsisti-ria a vinculação — a 2/3 do que forpago aos Deputados Federais, quenão é atacada.

Sendo assim, e também porqueo oficio do Exmo. Sr. Governador doEstado não esclarece o montante(global) da remuneração percebidapelos Exmos. Srs. Deputados da As-sembléia Legislativa de Alagoas, co-mo resultante do Decreto Legislativon? 243, menos ainda a parcela queestaria sendo constitucionalmentequestionada, fica extremamente di-fícil para o Relator aferir se há, ounão, no caso, graves riscos para oerário alagoano, de difícil reparação(RTJ 101/928, 102/480, 102/488, RT566/255), enfim se se caracteriza, ounão, na espécie, o periculum inmora, um dos requisitos para deferi-mento da medida cautelar.

Do exposto, concluo não terainda condições para deferir ou inde-ferir a medida que se requereu.

Por outro lado, o § 1? do artigo170 do Regimento Interno do Supre-mo Tribunal Federal é bem claro nosentido de que «se houver pedido demedida cautelar, o relator submetê-la-á ao Plenário e somente após adecisão solicitará as informações».

6. Diante da dificuldade que sur-ge no caso, à falta de melhores es-clarecimentos da representação eprincipalmente do próprio ofício doExmo. Sr. Governador, indago doEg. Plenário: pode o Relator, em tal

R.T.J. - 125 55

situação, determinar a expedição deoficio à Assembléia Legislativa doEstado, solicitando as informaçõesde que trata o caput do artigo 170e reservando-se para, depois de suaapresentação, só então apreciar opedido de medida cautelar?

Penso que sim e voto nesse senti-do, pois do contrário não me sentiriaseguro para deferir ou indeferir aprovidência requerida.

7. Submeto, pois, essa questão deordem ao Eg. Plenário, antecipandomeu voto no sentido de se requisita-rem as informações da AssembléiaLegislativa do Estado de Alagoas,para só depois apreciar o requeri-mento de medida cautelar.

VOTO SOBRE QUESTÃO DE ORDEM

Sr. Ministro Célio Boda: Sr.Presidente, entendo que numa inter-pretação extremamente restrita dadisposição regimental, S. Exa., o Re-lator, deveria trazer ao Plenário adificuldade que o assalta. E o Plená-rio pode determinar que primeiro seprestem as informações para que de-pois S. Exa. se pronuncie a respeitodo pedido de cautelar.

Assim, respondo afirmativamenteà questão de ordem.

VOTO SOBRE QUESTÃO DE ORDEM

Sr. Ministro Aldir Passarinho:Sr. Presidente, o Juiz deve encon-trar-se suficientemente esclareci-do dos fatos da causa para profe-rir sua decisão. No caso, o nobre Mi-nistro Relator declara que não pos-sui, ainda, elementos suficientes quelhe permitam conceder ou negar amedida cautelar. Assim, deve aguar-dar novos elementos, que virão comas informações, para deliberar sobrea cautelar.

A norma regimental não deve serentendida como compreendendo rigi-dez tal que implique em não poder ojulgador obter maiores esclareci-mentos.

Assim, acompanho o Sr. MinistroRelator.

o meu voto sobre a questão deordem.

VOTO SOBRE QUESTÃO DE ORDEM

Sr. Ministro Oscar Corrêa: Se-nhor Presidente, se o eminente Rela-tor não se considera suficientementeesclarecido, que dizer do Plenárioque não dispõe de todos os elementosde que S. Exa. está munido, nos au-tos.

Estou de acordo com o eminenteRelator.

VOTO SOBRE QUESTÃO DE ORDEM

Sr. Ministro Djaci Falcão: Sr.Presidente, diante da exposição donobre Relator que aponta dificulda-des para emitir um juizo mais tran-qüilo em torno dessa medida de ca-ráter excepcional, também acompa-nho S. Exa.

EXTRATO DA ATA

Rp 1.437 — (Questão de Ordem) —Rel.: Min. Sydney Sanches. Repte.:Procurador-Geral da República.Repda.: Assembléia Legislativa doEStado de Magoas.

Decisão: O Tribunal, por unanimi-dade de votos, acolheu questão deordem apresentada pelo MinistroRelator, no sentido da solicitaçãoprévia de informações, tendo emconta os termos em que está formu-lada a Representação, para poste-rior julgamento da medida cautelar.Votou o Presidente. Ausente, ocasio-nalmente, o Sr. Min. Moreira Alves.

Presidência do Senhor MinistroNéri da Silveira. Presentes á Sessãoos Senhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Oscar Corrêa, Aldir

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Passarinho, Francisco Rezek, Syd-ney Sanches, Octavio Gallotti, Car-los Madeira e Célio Borja. Ausen-te, justificadamente, o Sr. MinistroRafael Mayer, Presidente. Procura-

dor-Geral da República, o Dr. JoséPaulo Sepúlveda Pertence.

Brasília 25 de junho de 1987 — Dr.Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

REPRESENTAÇÃO N? 1.442 (Medida Cautelar) — CE(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Representante: Procurador-Geral da República. Representados: Gover-

nador e Assembléia Legislativa do Estado do Ceará.

Medida cautelar em representação de inconstitucionalidade delei.

Para a sua concessão não é bastante a evidência do fumus boldima sendo indispensável a demonstração do periculum In mora.

Simples temor de sanções administrativas advindas da aplicaçãoda lei inquinada de inconstitucional não configura aquele requisito.

Medida cautelar indeferida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emindeferir o pedido de liminar.

Brasília, 13 de agosto de 1987 —Néri da Silveira, Presidente —Carlos Madeira, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Carlos Madeira: OExmo. Dr. Procurador-Geral da Re-pública, na presente Representação,traz a exame e julgamento da Cortea argüição de inconstitucionalidadede dispositivos da Lei n? 11.076, de31-7-85, alterada, em parte, pela Leln? 11.105, de 22-10-85, bem como doDecreto n? 18.190, de 13-10-86, que aregulamentou, todos do Estado doCeará, versando a fiscalização do co-mércio e controle do uso de agrotóxi-cos e biocidas no Estado, submeten-do á consideração também o pedidode medida cautelar.

A Representação foi provocada pe-la Associação Nacional de Defensi-vos Agrícolas e do Sindicato da In-dústria e Comércio de DefensivosAgrícolas, ambos do Estado de SãoPaulo, ressaltando a possibilidade daocorrência de inconstitucionalidadeem virtude de incompetência do Le-gislativo Estadual, com ofensa aoart. 89, XVII, letras a, b, c, d, 1, n e're seu parágrafo único, da Constitui-ção Federal, bem como violação adireito adquirido e a ato jurídico per-feito e contrariedade a direitos ins-critos nos §f 23 e 24 do art. 153 daCarta.

Sobre a medida cautelar pretendi-da, assim sustentaram as autorida-des argüentes:

«Os argüentes têm recebido daadministração estadual forte pres-são para cumprirem as exigênciasa que se referem os dispositivos le-gais em comento, cuja inconstitu-cionalidade acaba de ser demons-trada.

A situação é indiscutivelmentegrave, pois há ameaças de apreen-são e destruição de mercadorias,interdições de estabelecimentos in-

R.T.J. - 125

57

dustriais e comerciais e de aplica-ções de pesadas multas e de puni-ções outras às empresas associa-das aos argüentes, com gravíssi-mos prejuízos de toda ordem, deimpossível reparação.

No julgamento das primeiras re-presentações contra leis semelhan-tes de outros Estados, quandopacífica ainda não era no seio daColenda Suprema Corte a Inconsti-tucionalidade argüida, duas cor-rentes se formaram a propósito daconcessão ou não de medida caute-lar para evitar aqueles atos de ar-bitrariedade e de violência (em fa-ce da Constituição) por parte dasautoridades estaduais ao direitodos argüentes. A que não concediaa liminar venceu por pequena dife-rença de votos.

Hoje, porém, a situação mudou,porque hoje há a certeza quanto áinconstitucionalidade argüida, tan-tos já são os precedentes verifica-dos na Colenda Suprema Corte. Ediante dessa certeza o cabimentoda liminar para evitar a prática deatos ilegais e inconstitucionais éuma verdade insofismável.

Tanto é assim que, num dos últi-mos julgamentos do Egrégio Su-premo Tribunal Federal em maté-ria idêntica, pertinentemente á Re-presentação n? 1.348-1-SP, contra aLei n? 5.032, de 15 de abril de 1986,do Estado de São Paulo, aquela al-ta Corte de Justiça houve por bemem conceder a medida cautelar desuspensão imediata da lei, porqueverdadeiramente presentes, lá co-mo aqui, os requisitos do fumus bo-ni Juris e o periculum in mora» (fl.29).2 o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): Não há dúvida que a pre-sente argüição de inconstitucionali-dade guarda semelhança com outras

já apreciadas por este E. Plenário,com decisões favoráveis ás preten-sões dos argüentes. Tal circunstân-cia porém não autoriza, por si só, aconcessão da medida liminar. Paratanto, há necessidade de demons-trar, além do fumos boni juris, opericulum In mora.

Alegam os argüentes que há amea-ças de apreensão e destruição demercadorias, além de outras san-ções, por parte das autoridades esta-duais. Essas ameaças parece quenão se concretizaram, apesar da leicujos dispositivos são impugnados,haver sido sancionada em outubrode 1985 e o seu regulamento ser deoutubro de 1986. Há, evidentemente,apenas temor, sem base em fatos de-correntes da ação administrativa es-tadual.

Esta Corte tem indeferido medidacautelar nas representações de in-constitucionalidade de leis estaduaisque disciplinam a indústria e comér-cio de agrotóxicos e biocidas, comose vê das Rp's 1.246-PR, Relator Mi-nistro Rafael Mayer (RTJ 119/72),1.247-MS, Relator Ministro FranciscoRezek (RTJ 118/35), 1.248-SC, Rela-tor Ministro Djaci Falcão (RTJ113/1.006) e 1.277-ES, Relator Minis-tro Francisco Rezek (RTJ 116/42).

Num caso, porém, foi concedida amedida liminar: na Rp 1.348-SP, Re-lator Ministro Célio Borj a, julgadaem 10-9-86. Tratava-se de argüiçãode inconstitucionalidade de dispositi-vos contidos na Lei paulista n?5.032/86, idênticos aos que já haviamsido declarados inconstitucionais naLei também paulista n? 4.002/84.

Nesta Representação, não estãoreunidos os pressupostos da medidacautelar, uma vez que não se confi-gura a necessidade de proteção dedireito suscetível de grave dano ouincerta reparação.

Indefiro o pedido da medida caute-lar.

É o meu voto.

58

R.T.J. — 125

EXTRATO DA ATARp 1.442 — CE (medida cautelar)

— Rel.: Min. Carlos Madeira. Repte.:Procurador-Geral da República.Repdos.: Governador e AssembléiaLegislativa do Estado do Ceará.

Decisão: Indeferiu-se o pedido deliminar, unanimemente. Votou o Mi-nistro Presidente.

Presidência do Senhor MinistroNéri da Silveira. Presentes á Sessão

os Senhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Oscar Corrêa, AldirPassarinho, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti, Carlos Madeira e CélioBorja. Ausente, justificadamente, osSrs. Ministros Rafael Mayer, Presi-dente e Francisco Rezek. Procura-dor-Geral da República, o Dr. JoséPaulo Sepúlveda Pertence.

Brasília 13 de agosto de 1987 —Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

REPRESENTAÇÃO N? 1.453 — RJ(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Representante: Procurador-Geral da República — Representados: Go-

vernador e Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.Representação de inconstitucionalidade. Lei n? 1.115, de 16-1-1987,

do Estado do Rio de Janeiro, que regula a escolha dos reitores, vice-reitores, diretores e vice-diretores da UERJ assim como as relaçõesentre o corpo discente e a instituição de ensino superior, em particu-lar a representação dos estudantes nos colegiados universitários.

Alegação de ofensa ao art. 8?, XVII, q, da CF que atribui ã Uniãocompetência para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacio-nal, e de seu parágrafo único, que subordina ao respeito da lei federala legislação estadual supletiva.

Invocação de precedente do STF, relativo a lei anterior do mesmoEstado, declarada inconstitucional.

Pedido de medida cautelar de suspensão da eficácia da lei impug-nada, até que se julgue a final a representação.

Plausibilidade desta (fumas boni turfa) e riscos da demora no Jul-gamento (perimiam In mora).

Medida cautelar deferida.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emdeferir o pedido de liminar, nos ter-mos do voto do Ministro Relator.

Brasília, 19 de agosto de 1987 —Rafael Mayer, Presidente — SydneySanches, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Sydney Sanches: 1.O Exmo. Sr. Procurador-Geral daRepública, Dr. José Paulo SepúlvedaPertence, com base no art. 119, I,«1», da Constituição Federal, oferecerepresentação por inconstitucionali-dade da Lei n? 1.115, de 16-1-1987, doEstado do Rio de Janeiro, por razõesassim expostas as fls 2/3:

R.T.J. - 125 se

IV

2. A presente iniciativa atendeà promoção do Professor HaroldoLisboa da Cunha, Ex-Reitor daUniversidade do Estado do Rio deJaneiro, e outros sete membros doConselho Universitário da institui-ção.

II

3. Aduz o suscitante que, ao im-por o critério da lista tríplice e aoregular a escolha dos reitores evice-reitores de Universidade, bemcomo dos diretores e vice-diretoresde estabelecimentos isolados de en-sino e de unidades universitárias,teriam os artigos 1? ao 10, da Lein? 1.115/87 ofendido o artigo 8?,XVII, q, da Constituição Federal,que confere à União competênciapara legislar sobre «diretrizes ebases da educação nacional» e aoparágrafo único do mesmo art. 8?,que subordina ao respeito da lei fe-deral a legislação estadual supleti-va.

III

Aponta o suscitante, ainda,como inconstitucionais os artigos11 e 16, do aludido diploma legal,que dispõe sobre as relações entreo corpo discente e a instituição deensino superior, em particular, so-bre a representação dos estudantesnos coleglados universitários.

A Portaria n? 1.104/79 do Mi-nistério da Educação e Cultura,editada por força da Lei n?6.681/79, estabeleceu, em seu arti-go 5? 2?, que os representantesestudantis integrarão os colegladosacadêmicos na proporção de umquinto do total dos membros, aopasso que o artigo 11 da lei esta-dual garante a referida representa-ção, mas na razão de, pelo menos,um quinto.

Caracterizada esta, portanto,a plausibilidade das alegadas vio-lações à Constituição da Repúbli-ca.

Quanto à primeira delas —arts. 1? a 10 da Lei est. 1.115/87 —,vale acrescentar que disposiçõessimilares da Lei n? 672/83, do mes-mo Estado, foram declaradas in-constitucionais pelo Supremo Tri-bunal (Rep. 1.170, 15-12-83, rel. em.Ministro Djaci Falcão, RTJ 111/94— cópia anexa).

Somada à relevância da ma-téria, para a normalidade da admi-nistração daquela importante insti-tuição universitária ao que se sa-be, às vésperas de instauração doprocedimento de escolha do seu no-vo Reitor —, o precedente leva orepresentante a subscrever o pedi-do de suspensão liminar das nor-mas questionadas.

Pede, assim, o representanteque, apreciado o pedido de suspen-são parcial deduzido e, solicitadasas informações cabíveis, lhe sejadada vista dos autos, para pronun-ciamento sobre o mérito das argüi-ções» (fls. 2/3).

A representação veio instruídacom a petição dirigida ao Exmo. Sr.Procurador-Geral da República peloex-Reitor, Professor Haroldo Lisboada Cunha, por Diretores e Professo-res da Universidade Estadual do Riode Janeiro (fls. 4/15), pelo texto dalei estadual impugnada (Lei n? 1.115,de 16-1-1987 (fl. 16), da Portaria doMEC n? 1.104, de 31-10-1979 (fl. 19),da Resolução n? 509-8-3 da UERJ,que aprovou o Estatuto de Represen-tação Estudantil (fls. 20/26), e de«xerocópia» de acórdão do STF, naRp n? 1.170-RJ-RTJ-111/94 (fls.27/ 42).

Havendo requerimento de me-dida cautelar de suspensão de execu-ção dos dispositivos legais impugna-dos, trago os autos ao E. Plenário

60 R.T.J. — 125

para sua apreçiacão, nos termos doart. 170, § 1?, do RI.

E o relatório.VOTO

O Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator): 1. E o seguinte o teor dapetição dirigida pelo ex-Reitor, Dire-tores e Professores da UniversidadeEstadual do Rio de Janeiro ao Ex-mo. Sr. Procurador-Geral da Repú-blica, e em cujos fundamentos S.Exa. apoiou sua representação:

«Os abaixo assinados, membrosdo Colendo Conselho Universitárioda Universidade do Estado do Riode Janeiro, vêm, com fundamentoe para os fins previstos no art. 119,item I, letra 1, da Constituiçãoda República, submeter à elevadaconsideração de Vossa Excelênciaa presente.

Argüição de inconstitucionali-dade da Lei n? 1.115, de 16 de ja-neiro de 1987, do Estado do Rio deJaneiro (doc. n? 1), pelos motivosque a seguir expõem.

1. A Lei ri? 1.115, de 16-1-87(RJ), trata do regime jurídico daescolha do Reitor e do Vice-Reitorda Universidade do Estado do Riode Janeiro (UERJ), e dá outrasprovidências, a saber:

a) Determina, em seu art. 1?,que o Reitor e o Vice-Reitor daUERJ serão nomeados pelo Gover-nador do Estado, dentre professo-res indicados em lista tríplice, re-sultante de eleição direta e disci-plina, nas disposições subseqüentes(arts. 2? a 8?), o correspondente di-reito de sufrágio de professores,alunos e servidores não-docentes,bem como o sistema e o processoeleitoral relativamente a essa elei-ção.

Prescreve (arts. 9? e 10) que«os Diretores e Vice-Diretores deUnidades Universitárias, assim co-mo os Diretores de Centros Seto-riais, serão eleitos em pleito di-reto, observando-se os mesmos cri-térios estabelecidos em seus arts.2? a 7?, para as eleições de Reitore Vice-Reitor.

Dispõe (art. 11) sobre a re-presentação do corpo discente emtodos os órgãos colegiados da Uni-versidade, na proporção correspon-dente a pelo menos 1/5 (um quin-to) do total de membros do colégio.

Institui (art. 13) representa-ção dos servidores não-docentes, depelo menos um membro, nos ór-gãos colegiados da Universidade, àexceção do Conselho Superior deEnsino e Pesquisa.

Impõe, finalmente, à Univer-sidade (art. 15), adaptar seu Esta-tuto às normas supra-indicadas, noprazo de 60 dias, a contar da datade sua publicação (20-1-87).

II

A Constituição da Repúbli-ca, ao definir, por enumeração dasrespectivas matérias, a competên-cia legislativa da União, atribui aesta legislar sobre diretrizes e ba-ses da educação nacional (art. 8?,XVII, alínea q, parte inicial), per-mitindo todavia aos Estados — co-mo natural decurso de sua autono-mia constitucional (art. 13), e emrazão de caber-lhes por isso a or-ganização dos seus próprios siste-mas de ensino (art. 177) — Le-gislar supletivamente sobre a mes-ma matéria, respeitada a lei fede-ral (art. 8?, parágrafo único).

Como se sabe, legislar suple-tivamente significa, conforme o ca-so, suprir a falta de lei federal, ou,existente esta, complementá-la,sempre é claro, no âmbito territo-rial do próprio Estado. De qual-quer modo, à legislação supletiva

R.T.J. - 125

61

correspondente sempre uma fun-ção meramente subsidiária, e porisso, uma posição subordinada ousecundária, vale dizer, uma forçajurídica reduzida em face da leifederal. Esta, a lei federal, semprese sobrepõe àquela, é lex superior.em confronto com ela, e assim, noexplicito dizer da Constituição, de-ve ser por ela respeitada (art. 8?,parágrafo único).

Segue-se, pois, que a lei fede-ral corta, exclui ou invalida a leiou preceito de lei estadual (supleti-va) que a desrespeite, isto é, quecom ela conflite, seja porque in-compatível, seja porque simples-mente desconforme.

Sucede porém, que desrespei-tar a lei federal implica, na hipó-tese, manifestamente, desrespeitartambém a regra maior de que lheadvém a supremacia, o art. 8?. Pa-rágrafo único, da Constituição daRepública; de modo que a invalida-de da norma supletiva ou discre-pante, por isso que tem sua fonteimediata na própria Constituição,não pode deixar de revestir o cará-ter dessa forma potenciada da In-validade que é a inconstituciona-lidade.

Essa, entre muitas outras, a au-torizadissima lido de Pontes deMiranda:

«Onde a legislação estadual oumunicipal ofende as diretrizes ebases da educação nacional, con-forme foram concebidas pelo le-gislador federal, está, se ante-rior, ab-rogada ou derrogada; seposterior, eivada de inconstitu-cionalidade» (Comentários á Cons-tituição de 1987, com a Emen-da n? 1, 2? ed., S. Paulo, RT,1970, vol. II, pág. 162).

III

6. Ora, a matéria de que cogitaa lei estadual (supletiva) aqui im-pugnada (essa matéria, como se

viu (II? 1), compreende notadamen-te o sistema e o processo de es-colha dos Órgãos dirigentes daUniversidade e a representação docorpo discente nos órgãos colegia-dos académicos) já está, em seuspontos fundamentais, regulada nalegislação federal de diretrizes ebases da educação nacional, comose dirá a seguir.

No que respeita à nomeaçãodo Reitor e do Vice-Reitor, a nor-ma federal de diretrizes e bases —no caso, o art. 16 da Lei n? 5.540,de 28 de novembro de 1968, na re-dação dada pela Lei n? 6.420, de 3de junho de 1977 — estabelece, emcaráter inderrogável (e assim o es-tabelece, que para o legislador es-tadual, quer para a própria au-tonomia universitária), que emuniversidade oficial (como é aUERJ), os nomeados deverão serescolhidos em listas preparadaspor um Colégio Eleitoral especialconstituído da reunião do ConselhoUniversitário e dos órgãos colegia-dos máximos de ensino e pesquisae de administração, ou equivalen-te» (grifamos).

A lei estadual impugnada,porém, em ostensiva contradiçãocom esse preceito imperativo, de-termina, ao contrário (arts. 1? e2?), que o Reitor e o Vice-Reitorda UEFtJ serão nomeados pelo Go-vernador do Estado, dentre profes-sores indicados em lista trípli-ce, resultante de eleição direta, emque são eleitores todos os professo-res integrantes da carreira de ma-gistério, os alunos regularmentematriculados e os servidores ~-docentes.

9. Parece por este só confron-to, definitivamente demonstradoque tais disposições da contestadaLei estadual supletiva são absolu-tamente incompativeis com a Leide Diretrizes e Bases, desrespet-tando-a, pois, e por via de conse-qüência, transgredindo também,

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abertamente, o parágrafo único doart. 8? da Constituição da Repúbli-ca.

IV

Quanto á designação de di-retores e vice-diretores de unida-des universitárias — matéria que,como é claro, exclusivamente res-peita á organização interna e aofuncionamento das universidadeslimita-se a lei federal de diretrizese bases, na citada disposição, apermitir se faça sua escolha «con-forme estabelecido pelo respectivosistema de ensino».

Todavia, a faculdade que alei assim institui não significa, evi-dentemente, como poderia sugeriruma interpretação mais propensaao literalismo, que se tenha preten-dido atribuir aos Estados a possibi-lidade de dispor livremente, me-diante legislação supletiva, sobrecritérios e procedimentos de esco-lha de diretores e vice-diretores deunidades universitárias de esta-belecimentos oficiais pertencentesaos respectivos sistemas de ensino.

Bem outro, sem dúvida, é osentido dessa norma que, declinan-do da possibilidade de ditar elamesma uma disciplina exaustivapara a matéria, e dilatando assima margem de livre escolha dos di-rigentes, na ordem interna da Uni-versidade, o que quer, em verdade,é nada mais que inclinar-se ante oprincipio maior da autonomia uni-versitária.

Com efeito, a determinaçãode tais critérios e procedimentos,como foi dito, interessa fundamen-talmente á administração, vale di-zer, à organização interna e aofuncionamento das universidades.Ora, de um lado a autonomia ad-ministrativa constitui uma dasmanifestações primordiais de auto-nomia (Lei n? 5.540/68, art. 3?),que assegura à Universidade, co-

mo se sabe, vital independênciaem relação ao Estado e aos cons-trangimentos políticos; de outro, aprópria Lel de Diretrizes e Bases,em respeito a esse mesmo prin-cipio — agora considerado em seuaspecto essencial de autonomia nor-mativa — determina que «a or-ganização e o funcionamento dasuniversidades serão disciplinadosem estatutos e em regimentos dasunidades que as constituem, osquais serão submetidos à aprova-ção do Conselho de Educação com-petente» (Lei n? 5.540/68, art. 5?)(grifamos).

Aliás, atendendo a tais pre-ceitos da Lei de Diretrizes e Bases,a UERJ fez incluir em seu atualEstatuto (assim como Já o fizerano anterior), aprovado pelo Con-selho Universitário, pelo ConselhoEstádual de Educação e, finalmen-te, pelo Governo do Estado, me-diante o Decreto n? 6.465, de29-12-82, o preceito do 1? do art. 24,segundo o qual «o Diretor e o Vice-Diretor (das unidades universitá-rias) serão nomeados pelo Reitordentre professores lotados em de-partamentos pertencentes á unida-de universitária, indicados, em lis-tas tríplices, pelo respectivo cole-gado» (grifamos).

A lei estadual impugnada,em aberta contradição com essaregra — que, de resto, reproduz,no plano estatutário, e portanto naordem interna da Universidade, oprincipio geral do art. 16 da Lei n?5.540/68 — e violando desse modo,frontalmente, o principio funda-mental da autonomia universitária(arts. 3? e 5? da Lei de Diretrizes eBases), determina (art. 9?) que osdiretores e vice-diretores de Unida-des Universitárias assim como osdiretores de Centros Setoriais daUERJ, serão eleitos em pleito di-reto, observando-se os mesmos cri-térios estabelecidos para a elei-ção do Reitor e do Vice-Reitor, nosarts. 2? a 7? da indigitada Lei n?

R.T.J. - 125

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1.115/87 (RJ), e antes Já impugna-dos (n?s 8 e 9, acima).

V

No que toca a representaçãoestudantil, a Lei de Diretrizes eBases (art. 38 da Lei n? 5.540/68),depois de estabelecer o principiogeral da representação do corpodiscente, com direito a voz e voto,nos órgãos colegiados das universi-dades e dos estabelecimentos isola-dos de ensino superior, limitara aparticipação dos representantes es-tudantis (I 3?), a no máximo umquinto do total dos membros doscoleglados e comissões. Todavia, acitada disposição veio a ser ex-pressamente revogada pela Lei n?6.680, de 16 de agosto de 1979. Esta,reconfirmando de início o principioda representação do corpo discentedos estabelecimentos de ensino su-perior nos órgãos colegiados aca-dêmicos, com direito a voz e voto(art. 1?), atribui competência aoMinistério da Educação para regu-lamentar as atividades da repre-sentação estudantil (art. 6?).

Essa regulamentação foi bai-xada mediante a Portaria Minis-terial n? 1.104, de 31 de outubrode 1979 (doc. n? 2), em que, tendosido inicialmente previsto que osestatutos e regimentos das institui-ções de ensino superior disciplina-rão a organização e funcionamentodos órgãos de representação estu-dantil, restabeleceu-se a regra Jáconsagrada na lei anterior, segun-do a qual a representação estudan-til integrará os colegiados acadê-micos na proporção de até umquinto do total dos seus membros.

18. Devolvida assim a matériaà autonomia normativa das univer-sidades, a UERJ disciplinou-a emum «Estatuto da RepresentaçãoEstudantil», aprovado pela Resolu-ção n? 509, de 23 de maio de 1983,do seu Conselho Universitário (doc.n? 3). Reportando-se logo em seu

art. 1?, à legislação federal orainvocada, acolheu esse Estatuto to-da a disciplina estabelecida, comfundamento na legislação fede-ral de diretrizes e bases (Lei n?6.680/79) pela Portaria Ministerialn? 1.104/79, e incorporou-a, por es-sa forma, ao ordenamento univer-sitário.

Parece pois inquestionávelque, intentando dispor sobre a re-presentação estudantil na UERJ,para inclusive estabelecer contra-riamente á Portaria Ministerial n?1.104/79 e á norma estatutária daprópria Universidade — que essarepresentação será, não de até 1/5,mas de «pelo menos 1/5 (um quin-to) do total de membros» dos ór-gãos colegiados acadêmicos, a LeiEstadual n? 1.115 desrespeita (art.11), duplicadamente, a legislaçãofederal de diretrizes e bases: pri-meiro, enquanto contradiz especi-ficamente norma que regulamen-

-ta a Lei n? 6.680/79; e segundo, en--quanto ao mesmo passo aberta-mente atenta contra a autonomianormativa e administrativa da Uni-versidade (Lei n? 5.540/68, arts. 3?e 5?).

VI

Mas a Lei estadual n?1.115/87 desrespeita, ainda umavez, a lel federal, ao estabelecer(art. 13), que os servidores não-docentes terão representação, comdireito a voz e voto, de pelo menosum membro, em cada órgão cole-giado da Universidade, excetuadoo Conselho Superior de Ensino ePesquisa.

21. E também neste lance odesrespeito é dobrado: primeiro,porque extrapassando os limitesinerentes à sua natureza de normasupletiva (Constituição, art. 8?, pa-rágrafo único), institui urna hipóte-se de representação funcional (ados servidores não-docentes) que aLei de Diretrizes e Bases absoluta-

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mente desconhece; e segundo, por-que atropelando mais uma vez oEstatuto da Universidade, paraimiscuir-se em matéria só per-tinente à organização e funciona-mento desta, obstina-se a normaestadual questionada em ofender-lhe a autonomia.

Mas, nisso tudo, sem dúvidao mais grave é que a Lei n? 1.115,de 16 de janeiro de 1987, do Estadodo Rio de Janeiro, ora impugnada,é, em substância, simples e desres-peitosa reprodução, cópia sem dis-farce, da Lei n? 672, de 8 de setem-bro de 1983, do mesmo Estado doRio de Janeiro, já totalmente ful-minada, por inconstitucional, emmemorável julgamento da Repre-sentação n? 1.170, em 15 de dezem-bro de 1983, pelo egrégio SupremoTribunal Federal (RTJ, 111/94).

Reza a ementa desse notá-vel acórdão, de que foi Relator oeminente Ministro Djaci Falcão:

«A competência para legislarsobre diretrizes e bases de edu-cação nacional não é privativada União, porquanto comporta acompetência supletiva do estado-membro, subordinando-se esta àcláusula «respeitada a lei fede-ral». A lei estadual não pode dis-crepar da lei federal que unifor-miza o sistema nacional.

Se a lei federal dispõe que adeterminados órgãos coleciona-dos cabe a elaborar as listas dereitor e vice-reitor, o Estado —entidade mantenedora da Univer-sidade — não se pode contrapor aesse critério limitativo. Por outrolado, a escolha de diretores evice-diretores de unidades uni-versitárias, e mais dos diretorese vice-diretores de centros seto-riais, mediante eleição direta,também foge da Lei de Dire-trizes e Bases, que preserve oprintIplo da autonoinia universi-tária, no seu art. 5?.

Inconstitucionalidade da Lei n?672, de 1983, do Estado do Rio deJaneiro» (RTJ, 111/94).24. A singela exposição dos fa-

tos basta assim para evidenciarque o procedimento consubstancia-do na aprovação da Lei n? 1.115, de16 de janeiro de 1987, do Estado doRio de Janeiro, representa intole-rável atitude de desapreço e verda-deiro desrespeito à decisão da nos-sa mais alta Corte Judiciária.

VIIIA vista das precedentes conside-

rações, e esperando ter cabalmen-te demonstrado a inconstitucionali-dade total da Lei n? 1.115, de 16 dejaneiro de 1987, do Estado do Riode Janeiro, vêm o Arguente respei-tosamente requerer que Vossa Ex-celência se digne a receber a pre-sente Argüição de Inconstituclo-nalidade, para, nos termos do art.119, item I, alínea 1, da Constitui-ção da República, assim como dasdisposições regimentais pertinen-tes, submeter ao Egrégio SupremoTribunal Federal, mediante Repre-sentação, o exame da Lei estadualem questão, para que seja declara-da a sua inconstitucionalidade, pe-dindo, outrossim, a indispensávelmedida cautelar, para que sejasuspensa a sua execução.

Termos em que,p. deferimento.Rio de Janeiro, 22 de abril de

1987 — Prof. Haroldo Lisboa daCunha, Ex-Reitor.

Prof. Ney Cristino de Castro Me-lo.

Diretor da Diretoria de Adminis-tração Escolar.

Prof. Lauryston Gomes PereiraGuerra.

Diretor da Faculdade de Ciên-cias Econômicas.

Prof. Paulo Emmanuel da HoraMatta.

R.T.J. - 125

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Instituto de Educação Fisica eDesportos.

Prof. Antonio Fernando Rodri-gues

Diretor do Instituto de Química.Profa. Cylene Castell6es Callart.Coordenadora Adjunta do Mes-

trado de Educação.Prof. João Gustavo Lacerda Fur-

tado.Diretor do Instituto de Ciências

Humanas.Prof. Helio Saul Ramos Barreto.Faculdade de Educação» (fls.

4/15).2. A representação preenche o re-

quisito do fumus boni furta (plausibi-lidade Jurídica), sobretudo diante doprecedente desta Corte na Represen-tação n? 1.170-RJ, julgada proceden-te, ha totum, por maioria de votos,sendo Relator o eminente MinistroDjaci Falcão (RTJ-111/94) (Cópia afls. 27/ 42).

E também o do periculum in mo-ra, pois a demora no julgamento fi-nal poderá ensejar a realização deeleições segundo o modelo fixado nalei estadual impugnada, com o riscode ineficácia e dos naturais desdo-bramentos que isso provocaria, em

detrimento da normalidade no fun-cionamento da Universidade.

3. Defiro, pois, a medida cautelarde suspensão da eficácia da Lei Es-tadual (n? 1.115, de 16-1-87, do Esta-do do Rio de Janeiro) composta de16 artigos, todos eles acoimados kieinconstitucionais.

meu voto.EXTRATO DA ATA

Rp 1.453 — RJ — Rel.: Min. Syd-iney Sanches. Repte.: Procurador-Ge-ral da República. Repdos.: Governa-dor e Assembléia Legislativa do Es-tado do Rio de Janeiro.

Decisão: Deferiu-se o pedido de li-minar nos termos do voto do Minis-tro Relator, unanimemente. Votou oPresidente.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho. Fran-cisco Rezek, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti, Carlos Madeira e CélioBorja. Procurador-Geral da Repúbli-ca, o Dr. José Paulo Sepúlveda Per-tence.

Brasília, 19 de agosto de 1987 —Dr. Alberto Veronese Aguiar, Secre-tário.

REPRESENTAÇÃO NI! 1.478 (MEDIDA CAUTELAR ) — MG(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Representante: Procurador-Geral da República — Representados: Go-

vernador e Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais.

Representação por inconstitucionalidade de lei. Medida cautelar.Fundando-se a argüição no twnus bani lurla da aplicação de idênticoentendimento jurisprudencial à hipótese de vinculação dos vencimen-tos aos policiais a um padrão não estadual, qual seja, o dos vencimen-tos das Forças Armadas, e havendo periculum In mora, consubstan-ciado no dano ao erário estadual em virtude da aplicação do dispositi-vo impugnado, concede-se a medida cautelar, para suspender a eficá-cia do artigo ar da Lei adi 9.285, de 18 de setembro de 1908, do Estadode Minas Gerais.

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ACORDA°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emconceder a medida cautelar parasuspender a eficácia do art. 8? daLei n? 9.265, de 18 de setembro de1986, do Estado de Minas Gerais.

Brasília, 21 de outubro de 1987 —Rafael Mayer, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATORIO

Sr. Ministro Carlos Madeira:Submete o Exmo. Procurador-Geralda República a este Colendo Tribu-nal a argüição de inconstitucionali-dade do artigo 8? da Lei n? 9.265, de18-9-86, do Estado de Minas Gerais,atento à promoção do Exmo. SenhorGovernador Estadual.

dispositivo legal impugnado temo seguinte teor:

«Art. 8? — A remuneração dopessoal da Polícia Militar, a partirde 1? de janeiro de 1987, não pode-rá ser inferior à que, por disposi-ção legal, for atribuída ao pessoaldas Forças Armadas em igualdadede posto ou graduação, observadoo disposto no artigo 24 do Decreto-Lei n? 667, de 2 de julho de 1969.

Parágrafo único — Para cumpri-mento do disposto neste artigo, osvalores dos soldos serão revistos,mediante ato do Poder Executivo,nas datas em que for alterada a re-muneração do pessoal das ForçasArmadas».Tal dispositivo — diz o ilustre ar-

güente, fere o art. 98, parágrafo úni-co, da Constituição Federal parte fi-nal, segundo a qual:

«... é vedada vinculação ou equi-paração de qualquer natureza parao efeito de remuneração do pessoaldo serviço público».

E prossegue:«E fundamento do sistema fe-

derativo que cabe aos Estados-membros se organizarem, respei-tadas as normas gerais estabeleci-das na Carta Magna, competindo-lhes, ainda, exercer todos os pode-res não conferidos por ela á Uniãoou aos Municípios.

Assim, aos Estados cabe fixar,mediante o processo legislativoadequado, a remuneração de seusfuncionários. Essa fixação não po-derá ser delegada à lei federal. Anorma impugnada representariaafinal um cheque em branco, poiso Estado se obrigaria a fazer suatoda e qualquer lei federal futura arespeito de vencimentos de funcio-nários públicos que exercem miste-res aos quais se atribua ou se pos-sa vir a atribuir um padrão fede-ral.

Há, ainda, que ser consideradoque os Estados estão obrigados anão ultrapassar, com a verba pes-soal, cinqüenta por cento de suareceita corrente. Ora, as despesassem o controle do Estado poderiamsacrificar esse salutar principio»(fl. 6).

ilustre representante, conside-rando «os reflexos danosos que aaplicação do dispositivo inquinadopoderia causar aos cofres públicos»,pede a concessão da medida caute-lar, consistente na suspensão da efi-cácia da norma impugnada, até queesta Corte se pronuncie sobre a in-constitucionalidade argüida.

o relatório.

VOTOSr. Ministro Carlos Madeira

(Relator): Cita o Governador do Es-tado de Minas Gerais, na sua argüi-ção, trecho do voto do eminente Mi-nistro Rafael Mayer, na Representa-ção n? 1.027, realçando:

«... que o parágrafo único desteartigo (98), que estabelece a proi-

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67

bição de vinculação e de equipara-ção de qualquer natureza, paraefeito de remuneração do pessoaldo serviço público, embora na suaorigem ou na sua colocação tópica,tenha a ver com aquelas equipara-ções entre funcionários, na verda-de, ao referir-se, também, à vincu-lação de qualquer natureza — e avinculação é uma relação de de-pendência com um segundo termo— entendo seja compreensivo deque vincular vencimentos dos Es-tados a fatores diversos, como sãoas fixações de salários mínimos noplano federal, importa em umavinculação proibida, porque se re-tira aquela independência ou aque-le casuísmo reclamado pela Consti-tuição, na fixação de vencimen-tos. Na verdade, aqui se aplicariaaquele axioma de hermenêuticaque diz que, onde está proibido omenos, está proibido o mais, vincu-lar vencimentos a padrões estra-nhos ao quadro funcional».Funda-se a argüição, portanto, no

fumus bonl !uris da aplicação deidêntico entendimento jurispruden-ciai à hipótese da vinculação dosvencimentos dos policiais militares aum padrão não estadual, qual seja, odos vencimentos do pessoal das For-ças Armadas.

E como há o periculum in mora,consubstanciado no dano ao erárioestadual, com aplicação do dispositi-vo impugnado, cabe a medida caute-

lar, visando a garantir a eficácia dadecisão ulterior porventura acolhe-dora da representação.

Concedo, assim, a medida cautelarrequerida, para suspender a eficáciado art. 8? da Lei n? 9.265, de 18 de se-tembro de 1986, do Estado de MinasGerais.

E o meu voto.EXTRATO DA ATA

Rp 1.476 — MG — (Medida Caute-lar) — Rel.: Min. Carlos Madeira.Rpte.: Procurador-Geral da Repúbli-ca. Repdos.: Governador e Assem-bléia Legislativa do Estado de MinasGerais.

Decisão: Concedeu-se a medidacautelar para suspender a eficáciado art. 8? da Lei n? 9.265, de 18 de se-tembro de 1986, do Estado de MinasGerais. Decisão unânime. Votou oPresidente.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Conta, Aldir Passarinho, Fran-cisco Rezek, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti, Carlos Madeira e CélioBorja. Procurador-Geral da Repúbli-ca, o Dr. José Paulo Sepúlveda Per-tence.

Brasília, 21 de outubro de 1987 —Dr. Alberto Veronese Aguiar, Secre-tário.

REPRESENTAÇÃO N? 1.478 — RO(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Octavio Gallottl.Representante: Procurador-Geral da República — Representada: As-

sembléia Legislativa do Estado de Rondônia.

A competência conferida, ao Chefe do Poder Executivo, pelo art.57, V, da Constituição Federal, refere-se aos servidores em geral, tan-to sob regime estatutário como sob o da CLT, não sendo, ademais, aestabilidade, matéria própria de Constituição estadual. Precedente doSupremo Tribunal: Rp 1107, RTJ 115/18.

Representação procedente para declarar a inconstitucionalidadeda Emenda n? 7, de 13-8-87, Constituição do Estado de Rondônia.

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ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, jul-gar procedente a Representação edeclarar a inconstitucionalidade daEmenda n? 7/87, á Constituição doEstado de Rondônia.

Brasília, 10 de março de 1988 —Rafael Mayer, Presidente — OctavioGallotti, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Octavio Gallotti: Aquestão posta na presente Represen-tação está bem resumida no parecerdo eminente Professor José Paulo Se-púlveda Pertence, Procurador-Geralda República, que adoto como Rela-tório:

«Atendendo solicitação do Procu-rador-Geral do Estado, argüiu-se ainconstitucionalidade da Emendan? 07/87 à Constituição do Estadode Rondônia, do seguinte teor:

«Art. 242. Aos servidores dosPoderes Executivo, Legislativo eJudiciário, bem como dos Mu-nicípios, admitidos até 31 de de-zembro de 1986, fica asseguradaa estabilidade no cargo ou fun-ção.

§ 1? Os servidores públicosregidos pela Consolidação dasLeis do Trabalho que contaremcom mais de 24 meses de serviçosó poderão ser demitidos por jus-ta causa ¡apurada em processoadministrativo, assegurada a am-pla defesa».2. Argumenta a autoridade sus-

citante que a iniciativa exclusivado Governo do Estado sobre a ma-téria teria sido usurpada pela As-sembléia Legislativa, onde se de-flagrou o processo legislativo.

A sua vez, o Poder Legislati-vo estadual, em suas informações,entende que «não há (...) a alegadainvasão de competência do Exmo.Sr. Governador do Estado, poisse trata de matéria eminentemen-te constitucional, e elaborada peloPoder Constituinte Estadual, o úni-co com poder de alterar a Consti-tuição do Estado» (fl. 35).

Parece-nos, ao contrário, quea emenda constitucional questiona-da, dispondo sobre estabilidade deservidores públicos, versou sobrematéria explicitamente reservadapela Constituição à lei ordinária,de iniciativa exclusiva do PoderExecutivo (art. 57, V).

Ora, em caso similar, o SupremoTribunal declarou a invalidade deemenda constitucional estadual —Rp. 1.107, Rel. em. Ministro Morei-ra Alves, RTJ 115/18:

«Representação de inconstitu-cionalidade.

Cerceia a iniciativa exclusiva,do Chefe do Poder Executivo Es-tadual, de apresentar projeto delei ordinária emenda constitucio-nal, ainda que proposta por ele,que discipline qualquer das ma-térias a que aludem os incisos doartigo 57 (aplicável aos Estadospor força do artigo 13, III) daConstituição Federal. Esse po-der é indisponível, porquanto lheé outorgado em razão da conve-niência da Administração Públi-ca».

Os fundamentos da decisãoencontram-se assim explicitadosno voto condutor:

«Ora, em se tratando das hipó-teses previstas no artigo 57 (apli-cável aos Estados por força dodisposto no inciso III do artigo13) da Constituição Federal — eas presentes estão previstas nosincisos II e V do primeiro dessesdispositivos —, não podem elasser disciplinadas por texto consti-tucional estadual reservados que

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estão à competência de lei ordi-nária, de iniciativa exclusiva doGovernador. Admitir-se que emen-da constitucional, ainda que pro-posta pelo Chefe do Poder Execu-tivo, regule tais matérias impli-caria cerceamento a posterioriniciativa deste ou dos Governa-dores que o sucedessem, os quaisem virtude da existência do textohierarquicamente superior, nãopoderia exercitar, livremente,seu poder de iniciativa de lel or-dinária para alterar essa discipli-na em face da conveniência atualda Administração Pública, que é,aliás, a razão de ser da outorga,ao Governador, desse poder».

Com mais razão, a inconsti-tucionalidade há de ser declaradana espécie, na qual a emenda cons-titucional adveio de iniciativa par-lamentar.

O parecer, assim, é no senti-do de julgar-se procedente a repre-sentação (fls. 44/6)Distribuam-se cópias do presente

relatório aos Excelentíssimos Senho-res Ministros, em conformidade como disposto no art. 172 do RegimentoInterno do Supremo Tribunal Fede-ral.

VOTO

O Sr. Ministro Octavio Gallotti(Relator): Dispõe o art. 57 da Consti-tuição Federal, no inciso que interes-sa à solução da espécie dos autos:

«Art. 57. E da competência ex-clusiva do Presidente da Repúblicaa iniciativa de leis que:

V — disponham sobre servido-res públicos da União, seu regimejurídico, provimento de cargos pú-blicos, estabilidade e aposentado-ria de funcionários civis, reforma etransferência de militares para ainatividade; ou»Essa norma é de aplicação exten-

siva aos Estados, de acordo com o

art. 13, III e V da mesma Carta Fe-deral e, na ampla expressão utiliza-da («servidores públicos»), abrangetanto os funcionários sob regime es-tatutário, como os empregados regi-dos pela Consolidação das Leis doTrabalho, a respeito dos quais — es-ses últimos — dispõe o § 2? do art.242 da Constituição do Estado deRondónia, com a redação dada pelaEmenda n? 7-87, ora impugnada.

Quanto à palavra «funcionários ci-vis». que se prestaria a exegesemais restrita, refere-se apenas àlegislação sobre a aposentadoria ecom o fim de contrapor este institutoà reforma e à transferência para areserva peculiares aos militares.

Com respeito à estabilidade — ma-téria que é a da presente representa-ção — o mandamento abrange todosos servidores públicos, sob vinculode qualquer natureza e não é temade disposição constitucional esta-dual, como evidenciado no douto vo-to proferido pelo eminente MinistroMoreira Alves, oportunamente cita-do pelo nobre Procurador-Geral daRepública (Rp. 1.107, RTJ 115/18).

Pretende, a Assembléia Legislati-va, em suas Informações, que os dis-positivos atacados apenas se destina-riam a assegurar a eficácia, no pla-no estadual, da garantia estabeleci-da no art. 100 da Constituição Fede-ral.

Não lhe assiste, todavia, razão, tan-to porque a regra estadual não obe-dece ao prazo de dois anos da fede-ral (a Emenda n? 7 é de 13-8-87 e as-segura a estabilidade dos funcio-nários admitidos até 31-12-86), comoporque não se atém aos nomeadospor concurso.

Acolhendo o parecer, julgo Pro-cedente a Representação, para de-clarar a inconstituclomlWade daEmenda n? 7, de 13 de julho de 1987,da Constituição do Estado de Rondô-nia.

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EXTRATO DA ATA

Rp 1.478 — RO — Rel.: Min. Octa-vio Gallotti. Rpte.: Procurador-Geralda República. Rpda.: Assembléia Le-gislativa do Estado de Rondônia.

Decisão: Julgou-se procedente aRepresentação e declarou-se a in-constitucionalidade da Emenda n?07/87 à Constituição do Estado deRondônia. Decisão unânime. Votou oPresidente.

Presidência do Senhor Ministro Ra-fael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho, Fran-cisco Rezek, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti, Carlos Madeira e Célio.Boda. Procurador-Geral da Repúbli-ca, o Dr. José Paulo Sepúlveda Per-tence.

Brasília, 10 de março de 1988 —Dr. Alberto Veronese Aguiar, Secre-tario.

SENTENÇA ESTRANGEIRA N? 3.846 — JAPÃO

Relator: O Sr. Ministro Rafael Mayer, Presidente.Requerentes: Yoshiji Wada e Nozomi Ishizuka Morimoto, em solteira,

Nozoml Ishizuka (Advs.: Shinji Ima! e outros); Requeridos: Os mesmos.

Sentença estrangeira de divórcio. Sistema jurídico Japonês.Divórcio consensual de súditos Japoneses, residentes no Brasil, re-

gistrado em consulado Japonês aqui sediado.Incompetência de autoridade estrangeira para a prática, no Bra-

sil, de qualquer ato de índole jurisdicional.Homologação indeferida

Yoshiji Wada e Nozomi IshizukaMorimoto, ambos japoneses, ele ad-vogado e ela comerciante, residentese domiciliados, respectivamente, emPorto Alegre e em São Paulo, reque-rem a homologação do divórcio con-sensual de seu casal, registrado em29 de outubro de 1976, perante oCônsul- Geral do Japão em PortoAlegre-RS, pondo fim ao casamentoque contraíram, no Japão, tudo deconformidade com a legislação dessepais.

Os requerentes juntaram certidãodo referido registro, transcrito noRegistro Civil do Japão, em Tóquio,autenticada pelo representante con-sular do Brasil em Tóquio (fl. 12),bem assim a respectiva tradução fei-ta por tradutor oficial em São Paulo(fls. 13/15).

Dispensada qualquer citação, oDr. Procurador-Geral da República,

oferece o parecer de fls. 20/22, queassim conclui:

«2 pacífico, dada a nacionalida-de de ambos, que os cônjuges, em-bora domiciliados no Brasil, po-dem optar por divorciarem-se, se-gundo a lei e perante a autoridadejaponesa competente.

Invocou-se, não obstante, no pa-recer referido, a decisão do Presi-dente Xavier de Albuquerque naSE 2.838, na qual, com base em ca-so anterior (SE 2.016, Relator osaudoso Ministro Luiz Gallotti), senegara homologação a sentença dedivórcio de tribunal confessionalisraelita, sediado no Brasil.

Os precedentes, data venta, nãosão pertinentes ao caso. Neles, abase do indeferimento situou-se emcuidar-se de ato de autoridade reli-giosa, praticado em território bra-sileiro, «onde as relações de

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família não se submetem a outrajurisdição que não a dos tribunaiscivis, instituídos por lei».

Aqui, o divórcio se formalizouperante oficial civil, o cônsul, que,embora sediado no Brasil, é autori-dade japonesa, competente para oato, em virtude das leis do Japão edo seu acreditamento junto ao Go-verno do Brasil.

Desse modo, se não se discute ahomologabllidade, no Brasil, do di-vórcio de japoneses formalizadosegundo a lei da nacionalidade doscônjuges, não parece lícito distin-guir, no caso concreto, se o ato sepraticou perante o registro civil,no Japão, ou perante o cônsul que,segundo o mesmo direito e as con-venções internacionais, pode reali-zar atos notoriais, no estrangeiro,onde se ache credenciado.

Embora realizado em territóriobrasileiro, o ato, na segundo hipó-tese, se reputará praticado sob ajurisdição japonesa: é o bastante.

O parecer, desse modo, é por quese defira a homologação.»Depois de lavrado o parecer supra

do ilustre Dr. Procurador-Geral daRepública, o Tribunal, apreciandohipótese absolutamente idêntica, SE3.363, originária da China, adotouorientação oposta à defendida peloMinistério Público. E o fez por nãoreconhecer a competência de consu-lado estrangeiro, — chinês ou, no ca-so, japonês —, para o registro ou arealização do divórcio consensualadministrativo de seus súditos, quan-do domiciliados no Brasil.

Como relator da SE n? 3.363-1, tiveoportunidade de afirmar:

«Ora, a norma de direito Interna-cional privado, que nos rege facul-ta o casamento diplomático ou con-sular, quando ambos os nubentessão nacionais do mesmo Pais daautoridade, mas não admite que seestenda a providência lio divórcioconsular, nem mesmo assim cons-

tando de algum tratado, como emraros precedentes entre Estadosestrangeiros.

Ora, se não há nenhuma ressal-va, o caso recai na jurisdição terri-torial, pois ambos os cônjuges sãodomiciliados no Brasil, e quer a se-paração judicial, quer o divórcio,ainda que em substância possamseguir a lei nacional dos cônjuges,são atos de processo que somentese submetem à autoridade judiciá-ria brasileira, como expressão dasoberania.»Afirmei ainda:

«De acordo com o ordenamentojurídico brasileiro, o divórcio con-sensual, no Brasil, quase como umregistro, é acolhido pela autorida-de judiciária como jurisdição ad-ministrativa. Mas não deixa de serato de jurisdição. A jurisdição bra-sileira é a contenciosa e a adminis-trativa, segundo as suas leis. Logo,o divórcio representa um ato deprocesso. O fundamento da minhaposição é de que um ato de proces-so, como é o divórcio entre cônju-ges, não pode ser praticado por ne-nhuma autoridade estrangeira noterritório nacional. A questão é dajurisdição brasileira, que só podese excluir quando a própria lei bra-sileira a exclui, como é no caso doscasamentos consulares, não sendoprevista em nossa lei de Introdu-ção ao Código Civil o divórcio con-sular.»A circunstância de os divórcios nos

dois países citados serem atos tipica-mente administrativos — sem inter-venção de autoridades judiciárias —não é suficiente para admitir-se acompetência das autoridades consu-lares estrangeiras para a sua reali-zação, no Brasil.

Se a jurisprudência do Tribunalevoluiu para a homologação dessesatos administrativos é porque osconsidera «sentenças em sentido ma-terial» com força constitutiva sen-tenciai e possuírem, como afirmou o

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Ministro Xavier de Albuquerque, naSE 2.636 (RTJ 97/1002) «eficáciaequivalente à das sentenças de índo-le jurisdicional». Com esta concei-tuação, não podem ser proferidas noBrasil, por autoridades estrangeiras.Ao contrário, hão de se subordinar à

ordem processual brasileira que háde prevalecer como a lex for!.

Pelo exposto, indefiro a homologa-ção de que cuidam estes autos.

Brasília, 7 de abril de 1988 — Mi-nistro Rafael Mayer, Presidente.

SENTENÇA ESTRANGEIRA N? 3.869 — JAPÃO

Relator: O Sr. Ministro Rafael Mayer, Presidente.Requerentes: Akio Sakamoto e Eiko Sakamoto, em solteira, Eiko Naka-

mura (Advs.: Katsumi Sanda e outros); Requeridos: Os mesmos.

Divórcios consensuais perante autoridades administrativas japo-nesas.

Presença de cônjuge brasileiro bínubo. O segundo divórcio entreos mesmos cônjuges não elide a aplicação do art. 38 da Lei n?6.515/77, que, entretanto, não incide sobre o cônjuge estrangeiro.

Homologação irrestrita do primeiro divórcio, e com restrições ahomologação do segundo, quanto ao cônjuge brasileiro.

Akio Sakamoto e Eiko Sakamoto,ele músico e brasileiro, ela do lar ede naturalidade japonesa, residentese domiciliados, respectivamente, emTóquio, no Japão, e em São Paulo,no Brasil, requereram a homologa-ção de dois decretos de divórcios,por mútuo consentimento formula-dos perante autoridades administra-tivas japonesas que os aprovaram eaverbaram conforme a legislação lo-cal.

O primeiro deles, levado a efeitoem 22 de abril de 1966, perante oPrefeito de Hamamatsu, naquelepais, desfez o matrimônio que con-traíram em 1? de outubro de 1964, noBrasil e registrado nas províncias deHokkaido e de Yamaguchi. O segun-do divórcio, formalizado perante oChefe do Distrito de Itabashi, Tó-quio, em 6 de fevereiro de 1976, pôsfim ao novo casamento que haviamcontraído, numa nova tentativa devida em comum, em 10 de janeiro de1967, perante o Chefe do Distrito deShinjuku, Tóquio.

Os requerentes juntaram certidõesdas sentenças a serem homologadas,autenticadas pelo Chnsulado Geralem Tóquio (fls. 14 e 19), bem como atradução delas por tradutor jura-mentado em São Paulo (fls. 11 a 13 e16 a 18).

Dispensada qualquer citação, ma-nifestou-se a digna Procuradoria-Ge-ral da República:

«Akio Sakamoto, brasileiro, do-miciliado no Japão e Eiko Sakamo-to, japonesa, domiciliada no Bra-sil, formulam pedido ao SupremoTribunal Federal de homologaçãodos dois decretos de divórcio pormútuo consentimento, expedidospor autoridades japonesas.

Os interessados se casaram, noBrasil, em 1? de outubro de 1964,tendo transferido seu domicílio pa-ra o Japão, onde procederam àsanotações de tal ato em seus res-pectivos registros civis.

O casal se divorciou, na data de22 de abril de 1966.

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Os peticionários tomaram a secasar em 10 de janeiro de 1967.

Ainda no exterior, em 6 de feve-reiro de 1976, os cônjuges se divor-ciaram de modo definitivo.

caso tratado nos presentes au-tos além de conter peculiaridadesno que diz respeito aos fatos, comojá se viu, traz à luz questões tão in-teressantes quanto complexas, nadeterminação do direito aplicável.

Aparentemente, a questão dashomologações dos dois divórciosrealizados no Japão estaria resol-vida com a simples aplicação aocaso da legislação brasileira, quepermite a concessão de UM só di-vórcio. Desse modo, restaria aoSupremo Tribunal Federal admitira eficácia do primeiro divórcio.

Na espécie, nem se poderia argu-mentar ter o segundo casamentorevivido o vinculo conjugal primiti-vo, de sorte a possibilitar que seconsiderasse existente apenas o úl-timo dos divórcios, pois o artigo 33da Lei n? 6.515/77 é taxativo ao dis-por que os cônjuges divorciados sópoderão restabelecer a união con-jugal mediante novo casamento.

Em síntese, os presentes autosencerram um conflito entre orde-namentos juridicos, na determina-ção de regras sobre o estatuto pes-soal.

Professor Haroldo Valladão(Direito Internacional Privado,Ed. Freitas Bastos, 3? Ed. 1983,pág. 38) expõe serem dois os siste-mas básicos que buscam resolveros conflitos entre leis concernentesa direitos de família. De um lado,encontra-se o sistema elaboradoPor Story, cuja preferência recaisobre um método ~Rico, estabe-lecendo vários elementos de cone-xão, para reger as relações jurídi-cas de familia, enquanto que, como mesmo intuito, existem juristas adefender a adoção de critério úni-co. Assim, Savigni, adotou o

princípio do domicílio, ao passoque Manchil advoga a tese da na-cionalidade.

A Lei de Introdução ao CódigoCivil, adotando a teoria de Savigni,dispõe em seu artigo 7?, caput:

«Art. 7? — A lei do pais emque for domiciliaria a pessoa de-termina as regras sobre o come-ço e o fim da personalidade, o no-me, a capacidade e os direitos defamilia.»Assim, ao menos em tese, não se

pode descartar a aplicação da leiestrangeira. Pelo contrário, tendo

casal fixado seu domicilio, poraproximadamente uma década, noJapão, e, sendo este — o domicilio— o elemento de conexão do Direi-to Internacional Privado brasilei-ro, na determinação dos direitos defamília, segue-se a conclusão,abstraindo-se, por agora, o proble-ma da ordem pública, de que a leijaponesa deve incidir na hipótese.

A solução apresentada, pode-seopor a objeção de que tendo o ca-sal, primeiramente residido noBrasil, seria de se aplicar a legis-lação deste país.

Tal ponto de vista merece doisreparos. Em primeiro lugar, com amudança do domicilio dos cônjuges

de se ver que o sistema de nor-mas que passou a reger a relaçãoé o japonês, e não mais o brasileirocuja aplicação tinha lugar enquan-to os sujeitos envolvidos aqui eramdomiciliados. Compreende-se, des-se modo, a aplicação da lei pátria,no que tange, por exemplo, aos re-quisitos e formalidades do casa-mento, pois ambos os cônjuges re-sidiam no Brasil, não sendo, entre-tanto, de aplicar o direito citadoaos dois divórcios, pois são atosjuridicos celebrados posteriormen-te à mudança de domicilio para oJapão.

De outra parte, ainda que aceitaa tese aventada, chegar-se-ia á

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conclusão idêntica àquela expostano parágrafo 12, senão vejamos.

A questão com a qual ora se de-para é a disparidade com que asleis pessoais dos cônjuges, afetas àmesma relação jurídica, tratam otema do divórcio.

A propósito, Haroldo Valladãoesclarece:

«O problema surgira e se agra-vara com o estabelecimento dumprincípio único, verdadeiro dog-ma, de expansão e valor univer-sais, nacionalidade ou domicilio,para revolver todos os conflitosde leis, em particular acerca dasrelações familiares, que são, nor-malmente, recíprocas, Indivisí-veis mas se constituem atra-vés de mais de uma pessoa, e,assim, com a possibilidade daexistência entre seus membrosde diferentes nacionalidades oudomicílios, e pois com a eclosãode novos conflitos, agora das res-pectivas leis pessoais, nacionaisou domiciliares.» (Obra citada,pág. 42).O mesmo jurista oferece respos-

ta ao problema ora ventilado, nosseguintes termos:

«A unidade da família pediaum elemento de conexão acimados elementos de conexão pecu-liares de seus membros.

A solução estaria (...) na buscade um elemento de conexão sub-sidiário, complementar, neutro,comum, que conceituamos comoa lei própria da familia, que se-ria para uma familia plurinacio-nal, a lei do domicilio conjugal,para uma família plurldomici-liar, a lei da residência comum,e, afinal, em casos esporádicos, alei da nacionalidade, do do-micílio, da residência do interes-sado, que coincidisse com a lexfori, ou seja do nacional, do do-miciliado, do residente do mesmoEstado do foro.» (Obra citada,pág. 43).

A utilização da lei subsidiária co-mum — o domicílio conjugal (quese confunde in casu, com a resi-dência) — não é nova, pois já foiaventada, no Supremo TribunalFederal, pelo Ministro Ataulfo dePaiva, na Apelação Cível n? 6.692,julgada em 1937, sendo, então, anacionalidade o elemento de cone-xão positivo. Aquela época, con-cluiu o Ministro pela aplicação dalei brasileira como resultado deprocesso lógico-jurídica, e não me-ra escolha a priori de determinadoordenamento jurídico.

Transcreve-se o seguinte trechodo citado voto:

«Considerando que o artigo 8?da Introdução do Código Civilnão resolve os conflitos no casode terem os cônjuges diversa na-cionalidade, recorreu o juiz aospreceitos da doutrina, entenden-do não haver motivo para se darpreferência à lei do marido, le-vando a lógica jurídica a aplicarsubsidiariamente a lei do do-micilio conjugal, que na espécieé brasileira. Aqui a sentença ar-gumenta e com vantagem tendea apoiar-se na analogia jurídicaautorizada pelo art. 7? da Intro-dução do Código Civil e pelo art.113 n? 37 da Constituição da Re-pública. Ainda, a meu ver, comdiscernimento argumenta a sen-tença apelada quando afirma quenão há conflito entre a lei rume-na e a brasileira senão quantodissolução do vínculo produzidopelo divórcio. E não sendo o des-quite senão o divórcio sem a dis-solução do vinculo, produzindo osdemais efeitos, nenhum motivoapreciável existe para se negarao cônjuge romeno o direito dese desquitar no Brasil, pois que,sejam quais forem os efeitos des-se desquite na România, ondenão deverão ser outros que nãoos admitidos pela lei brasileira,nada priva a aplicação desta noterritório em que é obrigatória.»

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(Jurisprudência do Supremo Tri-bunal Federal Matéria Cível,Vol. XXXIV, Imprensa Nacional,1943).Posteriormente, na Sentença Es-

trangeira n? 1.260, o Ministro LuisGallotti afirmou o entendimentoseguinte:

«Divórcio entre estrangeirosdomiciliados no Brasil, que ape-nas constituíram advogados emseu pais. Aplicação da lei do do-micilio, em face do preceito hojevigente no Brasil (art. 7? da novaLei de Introdução). Atender, nocaso, à lei nacional dos cônjugesseria obedecer ao direito antigorevogado que adotara o princípioda lei nacional, com ofensa ao di-reito vigente, que consagra oprincípio domiciliar. A questãonão é apenas de competência,mas também do fundo. O que sehomologa é o divórcio legalmentedecretado em pais estrangeiro,de acordo com a lei pessoal doscônjuges. Ora, o estatuto pessoalde cônjuges estrangeiros domici-liados no Brasil é, pelo vigenteprincipio domiciliar, a lei brasi-leira, que não admite o divórcio.Logo, não se trata de divórcio le-galmente decretado.»Se a doutrina mais prestigiada e

a jurisprudência aconselham apesquisa e utilização do elementode conexão subsidiário — residên-cia comum, quando há conflito en-tre as leis pessoais dos cônjuges,por serem eles domiciliados empaíses diversos, e, conseqüente-mente, apenas um deles residir noEstado cujo ordenamento jurídicodeve incidir, com mais razão talsolução é válida, em se tratando deum casal que teve quase a totalida-de de sua vida comum transcorri-da no exterior, ali se processandoambos os divórcios.

Conclui-se, pois, pela possibilida-de da homologação dos dois decre-tos de divórcio, face ao simplesemprego do princípio do domicilio

ou da lei subsidiária comum, comoexposto acima.

Entretanto, caso se entenda que,em razão da ordem pública, não sepode imprimir eficácia, no Brasil,a dois decretos de divórcio, apesarde a lei brasileira remeter à lei dodomicilio (a japonesa) a soluçãodo caso, opina-se pelo reconheci-mento de efeitos parciais do pedi-do, aplicando-se-lhe as limitaçõesbrasileiras ao divórcio.

Vez que um divórcio é juridica-mente possível no Brasil, não restaqualquer dificuldade à homologa-ção da primeira dissolução dovinculo conjugal, operada no exte-rior.

Já no que concerne ao segundodecreto de divórcio, pode-se usar aantiga jurisprudência do SupremoTribunal Federal, ao tempo emque o Direito brasileiro não con-templava o instituto do divórcio,para possibilitar o seu reconheci-mento, vedado, entretanto, novocasamento aos cônjuges, no Brasil.

Em face do exposto, o parecer éno sentido que sejam homologadosos dois decretos de divórcio semrestrições, ou, caso se entenda as-sim estar-se agindo em contrário àordem pública, seja homologado oprimeiro dos divórcios de forma ir-restrita, e o segundo com os efeitosde desquite, isto é, impedindo con-volem os requerentes novas núp-cias no Brasil.»A circunstância peculiar destes au-

tos de haver o requerente de nacio-nalidade brasileira. Akio Sakamoto,se divorciado pela segunda vez damesma esposa, não elide a incidên-cia do disposto no art. 38, da Lei n?6.515/77, porque, como bem acentuao Dr. Procurador-Geral da Repúbli-ca, o segundo casamento não resta-belece os vínculos do casamento an-terior, dissolvidos pelo 1? divórcio, ateor do disposto no art. 33 da mesmaLei n? 6.515/77.

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Por sua vez a norma inserta no ci-tado art. 38, da Lei n? 6.515/77, esta-belecendo que o pedido de divórciosó pode ser formulado uma vez, con-tendo um principio de ordem públi-ca, deve prevalecer quando confli-tante com preceito da ordem jurídi-ca do domicílio do casal, afastandomesmo a jurisprudência da Corte, deaplicação do jus sai nas ações rela-tivas aos direitos de familia e ao es-tado das pessoas. Foi o que se verifi-cou no precedente constituído peladecisão proferida na Sentença Es-trangeira n? 3.638, da República Fe-deral da Alemanha, in RTJ 117 ••*,agosto de 1986, pág. 508.

Nestas condições somente o pri-meiro divórcio é susceptível de homo-logação irrestrita para ambos os ex-cônjuges, embora realizado peranteautoridade administrativa japonesa,conforme o sistema jurídico local eaceito, reiteradamente, pela juris-prudência desta Corte.

Quanto ao segundo divórcio, é deser acolhida a última opção ofereci-

da no parecer do Dr. Procurador-Geral, no sentido de ser homologadoapenas com efeitos de desquite, nãoporém, com a extensão ali sugeridade atingir a restrição a ambos oscônjuges. A restrição do art. 38 daLei n? 6.515/77, não pode atingir re-querente Eiko Sakamoto, que sendode nacionalidade japonesa, faz jus áhomologação também irrestrita doseu segundo divórcio.

Por todo o exposto e tendo em vis-ta o precedente citado (SE 3.638),homologo o divórcio de 22 de abril de1966, registrado perante o Prefeitode Hamamatsu, sem restrições, paratodos os efeitos legais, e o de 6 de fe-vereiro de 1976, anotado no Distritode Itakashi, como divórcio absoluto,em relação à alienígena Eiko Saka-moto e apenas como separação judi-cial, em relação ao requerente brasi-leiro Akio Sakamoto que não poderácontrair novas núpcias no Brasil.

Brasília, 12 de abril de 1988 — Mi-nistro Rafael Mayer, Presidente.

SENTENÇA ESTRANGEIRA N? 3.889 — REPUBLICA FRANCESA

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Requerente: SCAC — Transporte Internacional Sudoeste, anteriormente

denominada Lacoste S/A — Requerida: Sociedade SCAC. Bras.Sentença estrangeira Preterida a formalidade essencial da cita-

ção por via de Carta Rogatória, nula é a sentença proferida em Tribu-nal de outro país. A substituição da rogatória pela citação por via pos-tal, é incompatível com a soberania nacional. Precedentes da Corte.

Homologação de sentença estrangeira indeferida.ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Sessãoplenária, na conformidade da ata doJulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emindeferir-se o pedido de homologaçãode sentença estrangeira.

Brasília, 16 de dezembro de 1987 —Néri da Silveira, Presidente —Carlos Madeira, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Carlos Madeira:

SCAC — Transporte InternacionalSudoeste, Sociedade Anônima, sedia-da no Boulevard Alfred-Daney, n?370, em Bordeaux, França, requer ahomologação da sentença proferidapelo Tribunal do Comércio de Bor-deaux em 16 de março de 1979, naqual ficou reconhecida a responsabi-lidade da empresa brasileira Socie-dade SCAC Bras., sediada na capital

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do Estado de São Paulo, à rua Henri-que Monteiro 234, 1? andar, conjuntos11/12, pelo não cumprimento de con-trato de transporte de carne de Mon-tevidéu para Argel.

Movida ação contra a requerente,pela empresa contratante do trans-porte, foi a empresa brasileira orarequerida denunciada a lide, sendoesta, juntamente com o Senhor AlainSaint Prix condenada a ressarcir eindenizar a requerente das condena-ções contra ela proferidas.

Apesar de citados, os denunciadosnão apresentaram recurso da sen-tença prolatada com base na provados autos.

A requerente, porém, apelou paraa Corte de Apelação de Bordeaux,obtendo redução do valor da conde-nação e quitando a divida resultanteda decisão judicial.

A sentença submetida à homologa-ção, portanto, condenou a requerentea indenizar a contratante do trans-porte e conheceu-lhe o direito de serressarcido pela ora requerida porquanto foi condenada.

Acentua a requerente que a cita-ção das partes foi feita de conformi-dade com o art. 685 do Novo Códigode Processo Civil Francês, tendo si-do legalmente verificada a revelia.

Pede, afinal, uma vez homologadaa sentença, seja expedida carta desentença para a execução da empre-sa SCAC Bras. Transportes, Indús-tria e Comércio Ltda.

Inicial devidamente instruída comoriginais e traduções das peças judi-ciais francesas.

Citada por carta de ordem, no seudomicilio em São Paulo, a requeridacontestou o pedido de homologação,tecendo considerações preliminaressobre as causas do descumprimento

do contrato de transporte e argúi ailegitimidade da requerente, pedindoa denunciação da lide ao SenhorAlair Saint Prix.

No mérito, alega que não foi cita-da, mas simplesmente intimada, porvia postal, em 21 de dezembro de1983, da sentença do Tribunal do Co-mércio de Bordeaux, prolatada em16 de dezembro de 1977. «Confunde-se ai, provavelmente por equívoco»— diz a requerida — citação inicialao processo e intimação para inter-posição do recurso. Não houve cita-ção inicial da Requerida ao proces-so; e tampouco pode o ato do Oficialde Justiça de Bordeaux ser conside-rado uma intimação, porque foi en-viado e processado de França pelavia postal, sem o reconhecimentodas autoridades judiciárias brasilei-ras». (fl. 152)

A irregularidade da intimação vio-la às disposições constantes dos arts.119, § 3?, d, da Constituição Federal,art. 12, § 2? e 17 da Lei de Introduçãoao Código Civil, 211 do Código deProcesso Civil e 225 do RegimentoInterno do Supremo Tribunal Fede-ral.

Desse modo, não tendo transitadoem julgado a decisão, a certidão ex-pedida pelo Escrivão da Corte deApelação de Bordeaux não pode sa-tisfazer as exigências do inciso IIIdo artigo 217 do RISTF.

Replicou a requerente, repelindoas considerações da requerida noque concerne à ilegitimidade adcausam, à denunciação da lide aoSenhor Alain Saint Prix e sustentan-do a regularidade processual dosatos de citação inicial e de intimaçãoda sentença.

A Procuradoria-Geral da Repúbli-ca opina pelo indeferimento da ho-mologação.

E o relatório.

78

R.T.J. — 125

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): Diz o ilustre Subprocu-rador-Geral da República MauroLeite Soares em seu parecer, apro-vado pelo eminente Procurador-Geral:

«Dos argumentos aduzidos socor-re a requerente os atinentes à irre-gularidade da citação para o feitoque resultou a peça homologanda,visto que, sediada em território na-cional, a citação deveria ser pro-cessada via carta rogatória.

Vê-se à fl. 39, que a citação foidiretamente encaminhada à reque-rida, via postal, sem ter o regulartrânsito exigido pela ordem jurídi-ca local. Tal procedimento, ou deoutro qualquer ainda menos orto-doxo, teria sido penitenciado e su-perado se houvesse a requeridaacudido ao chamamento judicialpara contestar. Longe, porém, defazê-lo a requerida ignorou seme-lhante citação.

Com efeito, só a indiferença auma citação consubstanciada notrânsito regular de carta rogatóriapode ocasionar a legitima decreta-ção de revelia de uma pessoajurídica sediada no Brasil, e obri-gada, por contrato, a aceitar a ju-risdição estrangeira.» (Fls. 170/171)Já na sentença do Tribunal de

Grande Instância de Bordeaux, estáassinalado que a requerida foi citadade conformidade com os arts. 684,685 e 686 do Novo Código de ProcessoCivil.

Lê-se no Nouveau Code de Procé-dure Civile:

«Art. 683. Les notificationsl'étranger sont faites par voie designification.

Art. 684. La signification d'unacte destiné à une persone domici-liée à l'étranger est faite au par-quet.

Le parquet auquel la significa-tion doit être faite este, selon lecas celui de la juridiction devantlaquelle la demande est portée, ce-lui de la juridiction qui a statué oucelui du domicile du requérant. S'iln'existe pas de parquet prés la ju-ridiction, la signification est falteau parquet du tribunal de grandeinstance dans le ressort duquel cet-te juridiction a son siège.

Art. 685. L'huissier de justiceremet deux copies de l'acte au pro-cureur qui vise l'original.

Le procureur fait parvenir lescopies de l'acte au ministre de lajustice aux fins de transmission,sous réserve des cas ou la trans-mission peut être faite de parquetà parquet.

Il y joint une ordonnance du jugeprescrivant la transmission del'acte lorsque l'intervention du ju-ge est exigée par le pays destina-taire.

Art. 686. L'huissier de justicedoit, le jour même de la significa-tion faite au parquet ou, au plustard, le premier jour ouvrable, ex-pédier au destinataire, par lettrerecommandée, une copie certifiéeconforme de l'acte signifié.»

Consta da certidão da sentençaque os réus — a requerida e o Se-nhor Alain Saint Prix —, foram con-siderados revéis. Mas não há qual-quer notícia de que a citação inicialtenha sido rogada à justiça brasilei-ra. E a intimação da sentença foifeita por via postal, pelo Oficial deJustiça, com aplicação do art. 686 doNouveau Code de Procédure Civile.

Cabe dizer que, o fato do art. 222do Código de Processo Civil admitira citação por via postal, não signifi-ca derrogação do disposto nos arts.210, 211 do mesmo diploma. Trata-sede procedimento restrito à jurisdiçãobrasileira, inaplicável no plano decooperação internacional.

R.T.J. — 125

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A Carta Rogatória está reguladanos arts. 225 e 229 do Regimento In-terno do Supremo Tribunal Federal.

A falta de rogatória, para a cita-ção da requerida e do outro réu,substituída pela prática do ato pro-cessual por via postal, no Brasil, é,como disse o Ministro RodriguesAlckmin, incompatível com a sobe-rania brasileira. (SE 2.114).

Nula a citação, nula é a sentençaproferida no processo.

Esta é a jurisprudência da Corte,como se vê das SE's 2.730 (RTJ98/44), 3.495 (RTJ 115/1.089), 3.534(RTJ 117/57), 3.587 (RTJ 117/996).

Por tais razões, indefiro a homolo-gação.

É o meu voto.

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Rezek: Otalentoso patrono da empresa reque-rente da homologação pondera que alei brasileira de processo permite acitação postal quando o citando sejavotado ao comércio. Estima, que, portal motivo — e como tais são as cir-cunstâncias do caso concreto —, es-sa forma de proceder seria válida. Aluz desse raciocínio, e como nossa le-gislação de processo admite a cita-ção edital, e a citação pessoal pelomeirinho, o foro estrangeiro teriaagido de modo igualmente válido seenviasse ao território nacional seuoficial de justiça para aqui procederà citação, ou se fixasse à sua própriaporta o edital citatório. Na realida-de, a jurisprudência desta Casa nãoadmite a citação de pessoa encontrá-vel no território nacional, senão pelavia regular da carta rogatória, emcondições de segurança para o fororogante, em condições de segurançapara a parte proponente da ação.Está claro que se o citado, ainda quepelo correio ou por forma heterodo-xa, acode ao foro estrangeiro paraparticipar de processo, tudo isso re-sulta sanado. De outro modo, não.

De outro modo, só a carta rogatórianos remete a uma segunda fase dodebate. Cumprida a carta rogatória,e não podendo, portanto, o citado ig-norar a realidade da citação, cogita-mos então de saber se ele, domicilia-do que é no Brasil, estava obrigado aacudir ao foro estrangeiro — o quepoderia resultar, por exemplo, deum contrato.

No caso vertente, não vem á mesaessa segunda indagação, visto que aprimeira quedou respondida no sen-tido de que não houve citação regu-lar da empresa sediada em territóriobrasileiro.

Com o eminente relator, indefiro opedido.

EXTRATO DA ATA

SE 3.889 — República Francesa —Rel. Min. Carlos Madeira. Regia.:SCAC — Transporte InternacionalSudoeste, anteriormente denominadaLacoste S/A (Advs.: Carlos EduardoCaputo Bastos e outros). Reqdo.: So-ciedade SCAC Bras. (Advs.: AntonioCarlos Gonçalves, José Martins Pi-nheiro Neto e outros).

Decisão: Indeferiu-se o pedido dehomologação de sentença estrangei-ra, unanimemente. Ausente, ocasio-nalmente, o Sr. Min. Rafael Mayer,Presidente. Presidiu ao julgamento oSr. Min. Néri da Silveira. Falou peloRegia. o Dr. Carlos Eduardo CaputoBastos.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes á Sessão osSenhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho, Fran-cisco Rezek, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti, Carlos Madeira e CélioBorja. Procurador-Geral da Repúbli-ca, o Dr. José Paulo Sepúlveda Per-tence.

Brasília, 16 de dezembro de 1987 —Dr. Alberto Veronese Aguiar, Secre-tário.

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SENTENÇA ESTRANGEIRA N? 3.989 — (AgRg)— REPÚBLICA PORTUGUESA

(Tribunal Pleno)(SE na RTJ 123/893)

Relator: O Sr. Ministro Rafael Mayer.Agravante: Fundação Elisio Ferreira Afonso.

Sentença Estrangeira. Imóvel situado no Brasil. Inexeqüibilidade.Não é homologável sentença estrangeira que decide sobre situa-

ção Jurídica de imóveis no Brasil, em contrariedade ao disposto noart. 89, I, do CPC, bem assim aos arts. 1.676 e 1.677 do CC.

Agravo Regimental improvido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dejulgamentos e notas taquigráficas, àunanimidade, em negar provimentoao agravo regimental.

Brasília, 17 de março de 1988 —Rafael Mayer, Presidente e Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Rafael Mayer: De-neguei homologação à sentença es-trangeira nos termos do despachoseguinte:

«A Fundação Elisio FerreiraAfonso, entidade beneficente, desolidariedade social e de utilidadepública, sediada em Avelai, Conse-lho e Comarca de Sátão, Portugal,adquiriu, por doação testamentáriade seu instituidor Elisio FerreiraAfonso, a propriedade de inúmerosimóveis sediados no Rio de Janei-ro, gravados, entretanto, com acláusula da inalienabilidade.

Sob a alegação de que ditos imó-veis se apresentam em precáriascondições de conservação, e que osrendimentos decorrentes de sua lo-cação não atingem os objetivos vi-sados no momento de sua doação,que eram os de acrescer a rendada Fundação, requereu esta, ao

Juiz de Direito da Comarca de Sa-ião, em 24 de maio de 1985, a anu-lação da referida cláusula de ina-lienabilidade dos referidos imó-veis.

Por sentença de 1? de abril de1986, o referido Juiz julgou a açãoprocedente e declarou:

«nula e de nenhum efeito a cláu-sula testamentária de inalienabi-lidade dos bens deixados à A.Fundação Elisio Ferreira Afonsoe constante do testamento de seuinstituidor».Esta é a sentença para a qual a

Fundação Elisio Ferreira Afonso,solicita homologação para ser exe-cutada no Brasil.

«A requerente juntou certidão,em vernáculo da sentença homolo-ganda, autenticada pelo Cônsul Ge-ral do Brasil em Lisboa (fl. 16).

Ouvido, o Dr. Procurador-Geralda República, no seu parecer defls. 184/185, com fundamento noart. L676 do Código Civil, opinoupelo indeferimento do pedido.

A decisão homologanda da justi-ça portuguesa foi proferida numaAção Declarativa Ordinária, relati-va à situação jurídica de imóveissituados no Brasil. A simples enun-ciação do objeto da ação já é sufi-ciente para caracterizar a compe-tência exclusiva — e, portanto, ab-

R.T.J. - 125

81

soluta, da justiça brasileira, comodecorre do disposto no art. 89, I, doCódigo de Processo Civil.

Em face do disposto nesse dis-positivo do CPC, que fixa a compe-tência internacional da justiça bra-sileira para as ações sobre imóveissediados no Brasil, indefiro o pedi-do de homologação da sentença emcausa, com fundamento no art. 217,I, do Regimento Interno, por in-competência da justiça portugue-sa.» (Fl. 187)Inconformada, a Requerente inter-

põe agravo regimental, arrimando-se em citações doutrinárias e juris-prudenciais, sob a argumentaçãofundamental de que «o objeto daação, validamente julgada em Por-tugal, não é um imóvel», pois o bempretendido não foi um prédio situadono Brasil mas a anulação de umaclausula «limitativa de poder» quenão tem sequer o caráter de ônusreal, segundo a lição de OrozimboNonato...», como se vê na petição defls. 190/198 (Lê ...).

Mantido o despacho vem o agravoa julgamento do Egrégio Plenário.

o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Rafael Mayer (Re-lator): A Fundação Elisio FerreiraAfonso recebeu legado de váriosimóveis, em parte situados em Por-tugal, em maior parte no Brasil, dei-xados em testamento público, emPortugal, por Elisio Ferreira Afonso,

rtpouguês, solteiro, sem descenden-tes, domiciliado no Brasil.

Procedeu-se, no Rio de Janeiro, aoinventário e partilha e cumpriu-se otestamento, sendo adjudicados á le-gatária vinte e seis imóveis ali situa-dos, com a cláusula de inalienabili-dade e impenhorabilidade.

Perante o Juiz de Direito da Co-marca de Saião, em Portugal, a re-ferida Fundação, ai instituída e se-

diodo, propôs «ação declarativa comprocesso ordinário contra incertos aserem representados pelo MinistérioPúblico», constando, no essencial, afundamentação seguinte:

«Como se vê do art. 15 dos seusEstatutos, o patrimônio da A. éconstituído, entre outros, por: a)todos os bens da herança do insti-tuldor, seja qual for a sua nature-za, situados no Rio de Janeiro(Brasil), cidade de Lisboa e conse-lho do Sátão. Ora,

Todos os imóveis, sitos na cidadedo Rio de Janeiro, são de constru-ção muitíssimo antiga e encon-tram-se multo deteriorados, o queobriga a que as despesas da suaconservação e manutenção sejammulto onerosas com a conseqüentequebra do seu real rendimento.

«Por isso,Para urna correta e adequada

gestão torna-se imperioso, a curtoprazo, a sua transmissão onerou ecorrespondente, e imediata aplica-ção do capital percebido em inves-timentos que possam garantir umamaior produtividade. Simplesmen-te,

As autoridades brasileiras são deparecer que não é possível qual-quer transmissão de imóveis oitosno Brasil, porquanto tais bens fo-ram legados á A., por testamentodo seu instituidor, e «com a cláusu-la de não poderem ser vendidos oupenhorados, pois o seu rendimentodestina-se a assegurar os fins daFundação» — confr. Testamentoque ora se junta e se dá como inte-gralmente reproduzido (doc. n? 2).

O Ministério da Tutela do EstadoPortuguês, Ministério dos AssuntosSociais, já se pronunciou pela «ine-ficácia da cláusula de inallenabill-dade do patrimônio» da A. (cfr.doc. n? 3). Mas,

Como decisão administrativa queé, de Direito Público, não é tal des-

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pacho passível de ser reconhecidocomo válido pelas autoridades bra-sileiras, por não cair no âmbito deDireito Internacional Privado.

Por isso, a presente ação, por is-so a sua tempestividade: a A. temextrema e imperiosa necessidade,para prosseguir os seus fins ftm-dacionais, de alienar os seus Imó-veis, sitos no Brasil, altamente de-teriorados e em constante quebrade rendimento. E que,

O de cujus deixou os bens à A.,com a cláusula citada, a fim deque o seu rendimento assegurasseos objetivos fundacionais. Mas,

Como, na presente conjuntura,os imóveis se deterioram a ritmoacelerado, e o rendimento tende,cada vez mais, a diminuir de for-ma drástica, a impossibilidade devenda daqueles bens (e conseqüen-te impossibilidade de melhor apli-cação de capital) prejudicará, oumesmo impedirá, os fins que a A.visa e prossegue.

«Encontra-se, assim, a A. numasituação em que o mecanismo pos-to de pé pelo de cujus, seu institui-dor, para assegurar os fins e obje-tivos duma Fundação se volta con-tra a finalidade visada e que justi-ficou a sua criação. Aliás,

Não existe nenhum interesse sé-rio e legítimo na existência e eficá-cia da cláusula testamentária refe-renciada. E que,

A intenção do testador foi,expressamente, a de impedir aalienação dos prédios porque ne-cessários, pelo seu rendimento, àprossecução dos fins fundacionais.Ora,

A manter-se a eficácia e efeitosda cláusula de inalienabilidade, es-sa manutenção como que trai a in-tenção com que foi «inscrita» notestamento, porque impossibilita-dora de prosseguir os fins que opróprio testador visava.

Manifesto, pois, é que a declara-ção de ineficiência da cláusula deinalienabilidade do patrimônio daA. é uma exigência que decorre doespírito com que esta foi consti-tuída e, bem assim, dos fins funda-cionais prosseguidos» (fls. 10 a12).Consta da sentença homologanda

que «foram citados regularmente oM.P. pessoalmente e os RR dado se-rem incertos, por éditos» (fl. 13v.) eainda que «atendendo à inexistênciade contestação, tem-se por confessa-dos e portanto assentes os factos ar-ticulados pela A. — arts. 480 e 484, n?1, do CPC» (fl. 13v).

A sentença acolheu o pedido paradeclarar nula e de nenhum efeito acláusula de inalienabilidade e impe-nhorabilidade, que se deve ter pornão escrita nos termos do art. 2.230do Código Civil (condições im-possíveis, contrárias à lei ou à or-dem pública ou ofensivas dos bonscostumes) e 2.245 (encargos im-possíveis, contrários á lei ou à or-dem pública ou ofensivos aos bonscostumes).

O parecer da Procuradoria-Geralda República chama a atenção paraa norma do art. 1.676, do Código Ci-vil, de ordem pública, fulminandocom a pena de nulidade os atos judi-ciais de qualquer espécie que invis-tam contra a proibição taxativa deser invalidada ou dispensada a cláu-sula de inalienabilidade temporária,ou vitalícia, imposta aos bens pelostestadores ou doadores. Tal normase completa com a que se lhe segue,a do art. 1.677, que obriga à conver-são em outros bens pela sub-rogação, na eventualidade da aliena-ção dos bens clausulados.

A conclusão da sentença portugue-sa está em flagrante contraposiçãocom a norma interna, que é de or-dem pública e reveste caráter resci-sório do que se decidiu no inventárioem que culminou o juizo sucessórioprocedido no Brasil, o que já de si

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denuncia a inexeqüibilidade do jul-gado estrangeiro.

Mas não é só. Trata-se de bensimóveis, e quanto a eles é inegável aregência da lex rei sitae, o que éprincípio consagrado no direito inter-nacional privado e explicitado noart. 8? da LICC: para qualificar osbens e regular as relações a elesconcernentes, aplicar-se-á a lei dopais em que estiverem situados. Co-mo diz Carvalho Santos: «E a lex reisitae que determina quais os bensque estão no comércio e podem seradquiridos e quais as restrições quese podem fazer, no interesse geral,ao exercício do direito de proprieda-de. Por isso mesmo, deve se aplicaraos imóveis situados no Brasil, asdisposições do Código Civil relativasaos direitos e obrigações resultantesdo direito de vizinhança, os ônusimpostos às propriedades vizinhas,também conhecidas pela denomina-ção de servidões legais, as leis refe-rentes às causas de desapropriaçãopor utilidade ou necessidade pública,etc., porque, embora indiretamente,tais leis visam a defesa do interessecoletivo...» (Civ. Bras. Int. 1/147).

Conseguintemente, são de aplicaraos imóveis sitos no Brasil, clausula-dos com inalienabilidade e impenho-rabllidade, condição resguardadapor norma cogente.

De outro modo é inegável que o ob-jeto da sentença é o de alterar a si-tuação jurídica dos imóveis sitos noBrasil, liberando o seu título de aqui-sição das restrições quanto à aliena-bllidade.

Em tais condições, não se pode ne-gar a subsunção da espécie dentreas ações relativas e imóveis situadosno Brasil, contempladas no art. 89, I,do CPC, como pertinentes à compe-tência da autoridade judiciária bra-sileira, com exclusão de qualqueroutra, o que retira, de modo absolu-to, competência ao juiz estrangeiro,e subtrai requisito essencial para ahomologabilidade da sentença por

ele expedida, nos exatos termos doart. 217, I, do RI, quanto ao art. 15,a, da LICC.

O dispositivo do CPC, acima refe-rido, réplica do art. 12, 1?, da LICChá de ser entendido de modo amplo ecompreensivo, não se restringindo àconsideração das ações tipicamentereais, como bem demonstrado peloilustre processualista Arruda Alvim(«Competência Internacional», inRP — 7-8-32), mas às que sejam aeles concernentes ou pertinentes, co-mo é a que se propôs em Portugal,tendo como objeto os referidos imó-veis. Como enfada com proprieda-de, Hélio Tornaghi, «não seriapossível a um Estado admitir a com-petência de outro para decidir ques-tões relativas a imóveis sem abrirmão da própria soberania». (Comen-tários ao CPC, 1/308).

Pelo exposto, nego provimento aoagravo.

EXTRATO DA ATA

SE 3.989 (AgRg) — República Por-tuguesa — Rel.: Min. Rafael Mayer.Agte.: Fundação Elisio FerreiraAfonso (Advs.: Claudio Lacombe eoutro).

Decisão: Negou-se provimento aoagravo regimental, unanimemente.Ausente, ocasionalmente, o Sr. Mi-nistro Moreira Alves.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Francisco Rezek,Sydney Sanches, Octavio Gallotti,Carlos Madeira e Célio Borja. Au-sente, justificadamente, o SenhorMinistro Aldir Passarinho. Procura-dor-Geral da República, o Dr. JoséPaulo Sepúlveda Pertence.

Brasília, 17 de março de 1983 —Dr. Alberto Veronese Aguiar, Secre-tário.

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CONFLITO DE JURISDIÇÃO N? 6.658 — SP(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.Suscitante: Tribunal Federal de Recursos — Suscitado: Tribunal de Jus-

tiça do Estado de São Paulo — Interessado: Laércio Sanches Rossi.

Conflito de Jurisdição.Crime de falsificação de documento relativo à Taxa Rodoviária

Unica: competência da Justiça federal (CF, art. 125,IV).Precedentes do STF.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por decisão unânime, conhecerdo conflito e julgar competente oTribunal suscitante.

Brasília, 16 de dezembro de 1987— Néri da Silveira, Presidente —Francisco Rezek, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Francisco Rezek: Oparecer do Ministério Público Fede-ral, da lavra do Dr. Aristides Jun-queira Alvarenga, assim resume eopina sobre a controvérsia:

«1. O advogado Hélio Bialski im-petrou habeas corpus ao egrégio-Tribunal de Justiça do Estado deSão Paulo em favor de LaércioSanches Rossi, apontando comoautoridade coatora o MM. Juiz deDireito da 30? Vara Criminal dacapital paulista, perante o qual opaciente foi denunciado pela práti-ca dos crimes de falsificação depapéis públicos (art. 293, I e V, doCódigo Penal) e de petrechos defalsificação (art. 294 do mesmo).

Revogação da prisão preven-tiva é o escopo único da impetra-ção (fls. 2/11).

A Colenda Terceira CâmaraCriminal do Tribunal destinatário

do pedido, depois de converter ojulgamento em diligência, «a fimde serem requisitados os autos ori-ginais do processo» (fl. 136) e apósserem estes apensados (fl. 138),decidiu, unanimemente, «não co-nhecer da impetração, determinan-do remessa dos autos, desta e doprocesso-crime anexado, ao egré-gio Tribunal Federal de Recursospor cuidarem de falsificação, entreoutros, de papéis de emissão legaldestinados à arrecadação de ren-das públicas de interesse da União(Taxa Rodoviária Única)» (fl.140).

O Tribunal Federal de Recur-sos, por sua 2? Turma, não conhe-ceu igualmente do pedido, em deci-são unânime, assim ementada:

«Crime de falsificação de guiapara recolhimento da Taxa Rodo-viária Unica Conflito negativode conllietência entre o Tribunalde Justiça de São Paulo e o Tri-bunal Federal de Recursos(Constituição Federal, artigo 119,inciso I, letra e).

Wrlt que não se conhece peladeclaração de incompetência doTFR.

Remessa dos autos à SupremaCorte para dirimir a controvér-sia» (fl. 165).

Subiram os autos, assim, aocolendo Supremo Tribunal Fede-ral, que pediu a manifestação des-ta Procuradoria-Geral (fl. 168).

R.T.J. - 125

os

De inicio, o presente conflitoafigura-se suscetível de conheci-mento, pois, travado entre diferen-tes tribunais, encontra abrigo noart. 119, I, e, da Constituição Fede-ral.

Nessa trilha, o writ impetra-do diz respeito a processo-crimeinstaurado em virtude da práticade falsificação de papéis públicos e

— maposse de petrechos de falsificação

is especificamente, forja deguias de recolhimento da TRU —Taxa Rodoviária Unica, além deoutros ardis que possibilitariamdar ares de legalidade a carrosroubados, possibilitando, assim,seu comércio.

Patente é o interesse daUnião, no caso, a determinar acompetência da Justiça Federalpara o processo e julgamento docrime, porque a TRU — enquantoexistiu, já que substituída peloIPVA, na forma da Emenda n?27/65 — era tributo de alçadafederal, de conformidade com oDecreto-Lei n? 999/69, que a insti-tuiu.

Este fato torna inarredavel o in-teresse da União, haja vista ser dasua órbita a taxa em questão. Valeressaltar que o interesse não estáapenas no âmbito patrimonial,mas também no fato de a TRU di-zer respeito, invariavelmente, auma autarquia federal, o DNER.

Vem reiterar esta convicção,aliás, o trecho do v. voto do emi-nente Ministro relator José Cândi-do, quando, embora suscite o con-flito em respeito ao entendimentodo TFR, opina, ha verbis:

'A minha posição em favor daJustiça Federal está amparadano próprio texto da lei que crioua Taxa Rodoviária Única, e dis-põe sobre arrecadação.

O Decreto-Lei n? 999, de 21 deoutubro de 1969, instituiu a Taxa

Rodoviária Unica, devida pelosproprietários de veículos automo-tores registrados e licenciadosem todo território nacional (art.1?). Uniformizando esse proces-so de arrecadação, determinouque os valores recolhidos tos-sem creditados intetalmente noBanco do Brasil S/A, à conta eordem do Departamento Nacio-nal de Estradas de Rodagem(art. 8?, parágrafo único).

Evidente trata-se de um servi-ço ou interesse de uma entidadeautárquica (DNER), por isso quefixada a competência do Juiz Fe-deral para processo e julgamentodos feitos, onde, de qualquer for-ma se procura burlar a lei fede-ral, que dispôs sobre a Taxa Ro-doviária Calca (art. 125, inc. IV,da Constituição Federal).

Observe-se, ainda mais, que le-gislação posterior, Decreto-Lei n?2.068/83, ao dispor sobre a maté-ria, determinou que «compete àsinstâncias próprias do Ministé-rio da Fazenda, a apreciação dos•processos administrativos de de-terminação, exigência e restitui-ção da Taxa Rodoviária Unica eseus assessórios».

Veja-se que novos serviços ouinteresse federal está em jogo,agora sob proteção do Ministérioda Fazenda.

Não há, portanto, qualquer ra-zão quejustifique a presença daJustiça Comum Estadual na apre-ciação de feitos que envolvemserviços, bens ou interesse daUnião e suas autarquias' (fls.159/160).10. Ademais, recentemente, es-

se colendo Supremo Tribunal Fede-ral, ao julgar o Conflito de Jurisdi-ção 6.540, também relativo à falsi-ficação de comprovante de paga-mento de Taxa Rodoviária Unica,

86 R.T.J. — 125

decidiu, unanimemente, pela com-petência da justiça federal (julga-mento em 12-11-87).

11. A vista, portanto, do ine-quívoco Interesse da União, e, comfundamento no art. 125, IV, daConstituição Federal, o parecer épelo conhecimento do conflito, e,sendo a Justiça Federal competen-te para o julgamento dos crimesem questão, seja o tribunal susci-tante declarado competente para aapreciação do habeas corpus (fls.170-173).

o relatorio.

VOTO

Sr. Ministro Francisco Rezek(Relator): Discute-se, na especie, acompetência para julgar habeas cor-pus visando à revogação da custó-dia preventiva de paciente em cujopoder se apreenderam «centenas depapéis e impressos tais como espe-lhos de carteira nacional de habilita-ção, certidões negativas de multa,recibos de venda de veículos, espe-lhos de certificado de registros, pla-cas de veículos, jogos de bilhetes deseguro e de registros e, especialmen-te, jogos de Taxa Rodoviária Única,papéis estes destinados à arrecada-ção de rendas públicas, bem comotrês máquinas de escrever, o que le-va à ilação de que se destinariam àfalsificação de Taxa Rodoviária Uni-ca, com intuito de fraudar a arreca-dação de taxas devidas aos órgãospúblicos» (fl. 12).

Supremo Tribunal já teve opor-tunidade de estatuir algumas vezessobre o tema.

No RHC 60.488, relator o MinistroOscar Corrêa, deu-se pela competên-cia da Justiça estadual — ao argu-mento de que o resultado «foi a lesãoaos particularaes que não tiveremregularizada sua situação fiscal e fo-ram considerados devedores remis-sos do fisco.» No RECr. 94.738, rela-

tor o Ministro Néri da Silveira, deu-se pela competência da Justiça Fe-deral, o mesmo ocorrendo em deci-são recente do Plenário, no CJ 6.540.Deste foi o relator o Ministro SydneySanches; e, por unanimidade, es-tatuiu-se que sendo a União tam:bém sujeito passivo do delito — jáque, não sendo recolhida a Taxa Ro-doviária Unica na época oportuna,resulta-lhe direto prejuízo — a com-petência para julgar o feito é da Jus-tiça federal, nos termos do art. 125,IV da Constituição.

Na trilha desta última orientação,adotando as razões do Ministério

Público Federal, conheço do conflito,dou pela competência do Tribunal

suscitante.

EXTRATO DA ATA

CJ 6.658-SP — Rel.: Min. Francis-co Rezek. Suste.: Tribunal Federalde Recursos. Susdo.: Tribunal deJustiça do Estado de São Paulo.Interessado: Laércio Sanches Rossi(Advs.: Helio Bialski e outro).

Decisão: Conheceu-se do conflito ejulgou-se competente o Tribunal sus-citante, unanimemente. Ausente, oca-sionalmente, o Sr. Min. Rafael Ma-yer. Presidiu ao julgamento o Sr.Min. Néri da Silveira.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho, Fran-cisco Rezek, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti, Carlos Madeira e CélioBorja. Procurador-Geral da Repúbli-ca, o Dr. José Paulo Sepúlveda Per-tence.

Brasília, 16 de dezembro de 1987 —Dr. Alberto Veronese Aguiar, Secre-tário

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CONFLITO DE JURISDIÇÃO N? 6.678 — RJ(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.Suscitante: Tribunal Federal de Recursos — Suscitado: Tribunal Regio-

nal do Trabalho da 1? Região — Interessados: Sindicato dos Empregados emEstabelecimentos Bancários de Campos e outros e Caixa Econômica Fede-ral.

Competência. Dissídio coletivo de trabalho. Caixa Econômica Fe-deral.

E de se ter como competente o C. Tribunal Federal de Recursospara processar e julgar dissídio coletivo de trabalho em que seja par-te a Caixa Econômica Federal. Não se compreenderia que, sendo aCaixa Econômica Federal uma empresa pública e, por isso, os litígiosindividuais de trabalho em que ela tosse parte ficassem afetos àcompetência da Justica Federal ante o disposto no art. 110 da CartaMagna, e os dissldios coletivos, de multo maior importância e signifi-cação fossem julgados na Justiça do Trabalho. E nem se justificariaque a Justiça do Trabalho decidisse dissidios coletivos e a Justiça Fe-deral viesse a processar e julgar ações de cumprimento que decorre-rem desses próprios dissidios.

O g 2? do art. 170 da Lei Maior diz respeito a normas de direitomaterial e não a regras de competência, pois estas teriam mesmo deadequar-se ao disposto no art. 110 da Constituição Federal.

De observar que quando da promulgação da EC n? 1/69, não pre-via a legislação a possibilidade de empregados de empresas públicassindicalizarem-se, o que só veio a ocorrer — e apenas em relação aosempregados da Caixa Econômica Federal — com o advento da Lei n?7.449, de 20-12-85, razão pela qual, certamente, o texto constitucionalnão previa a competência para o julgamento de dissidios coletivos deservidores de empresas públicas federais.

ACORDA°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlena, na conformidade da ata deJulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade, conhecer doconflito e, por maioria, Julgar com-petente o Tribunal suscitante.

Brasília, 11 de novembro de 1987 —Néri da Silveira, Presidente — AldirPassarinho, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): A douta Procuradoria-

Geral da República, no seu parecer,expôs assim a controvérsia:

«Os Sindicatos dos Empregadosem Estabelecimentos Bancários deCampos e outros propuseram, pe-rante o Tribunal do Trabalho daRegião, com sede no Rio de Janei-ro, dissídio coletivo contra a CaixaEconômica Federal, esclarecendo.de inicio, que a Lei n? 7.449, de20-12-85, alterou o parágrafo únicodo art. 566 da CLT, para permitir asindicalização dos empregados daaludida empresa pública federal,com o que estavam os sindicatoslegitimados ativamente para a pro-positura do dissídio agora instaura-do.

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A eg. Corte trabalhista entendeufalecer-lhe competência para pro-cessar e julgar a lide, ao argumen-to, em síntese, de que o art. 110 daCarta ainda em vigor «veda de mo-do categórico ao Judiciário Traba-lhista a apreciação de litígios decor-rentes das relações de trabalho dosservidores com a União, inclusiveas autarquias e as empresas públi-cas federais, qualquer que seja oseu regime jurídico» (fl. 167).

Remetidos os autos ao TribunalFederal de Recursos, declinou eletambém de sua competência, porentender que esta lhe foi conferidatão-só para decidir os dissidios in-dividuais; não para estabelecernormas e condições de trabalho,atribuição conferida privativamen-te à Justiça do Trabalho (CF, art.142).» (fls. 218/219).Conclui a Procuradoria-Geral da

República no sentido de que deva oConflito ser conhecido, fixando-se acompetência para dirimi-lo no Eg.Tribunal Federal de Recursos.

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passsarinho(Relator): O parecer da douta Pro-curadoria-Geral da República, nasua parte conclusiva (parecer doDr. Walter José de Medeiros, com o«aprovo do Dr. José Paulo Sepúlve-da Pertence), é do seguinte teor:

«Requerida a instauração de dis-sídio coletivo contra a Caixa Eco-tica Federal coloca-se, no casoa relevante questão de saber aquem compete processá-lo e julgá-lo, à luz da atual sistemática cons-titucional.

No art. 142 da Carta estabeleceu-se regra genérica pela qual se con-feriu à Justiça do Trabalho compe-tência para «conciliar e julgar osdissidios individuais e coletivos en-tre empregados e empregadores»,tendo o § 1?, por sua vez, disposto

que cabe à lei especificar «as hi-póteses em que as decisões, nosdissídios coletivos, poderão estabe-lecer normas e condições de traba-lho».

A regra genérica de competênciaseguiram-se exceções. A primeira,contida no § 2?, diz que «os litígiosrelativos a acidentes do trabalhosão da competência da Justiça or-dinária dos Estados, do Distrito Fe-deral e dos Municípios». A segun-da, contida no capítulo relativo aoPoder Executivo, expressa que ascausas da União, suas autarquias eempresas públicas, contra os res-pectivos servidores, decorrentesdas relações de trabalho, serão jul-gadas pelos juizes federais, com re-curso para o Tribunal Federal deRecursos (art. 110).

Esse último dispositivo constitu-cional alude a «litígios», tout court,«decorrentes das relações de tra-balho dos servidores com a União»,sem especificação da natureza de-les: se individuais ou coletivos.

E possível, dessa norma maior,extrair-se a interpretação que lheconferiu o eg. Tribunal suscitante,no sentido de que ela compreendetão-só os dissidios individuais de-correntes das relações de trabalho,com exclusão dos coletivos.

Mas estes, por sua vez, quandosubmetidos à Justiça do Trabalho,se cingem às relações jurídicas en-tre empregados e empregadoresgenericamente, tal como deflui doart. 142 da Constituição.

Assim se, de um lado, a Justiçaobreira declara não lhe caber deci-dir dissídio coletivo fora do âmbitoda norma constitucional expressa-mente referida e se, de outro lado,o Tribunal Federal de Recursossustenta deter competência parajulgar apenas os litígios indivi-duais da União, suas autarquias eempresas públicas, com os respec-tivos servidores, o impasse condu-

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ziria à impossibilidade de determi-nar-se o órgão jurisdicional compe-tente para encaminhar a soluçãoda controvérsia.

A dificuldade apontada, contudo,não deve levar o intérprete a dei-xar sem solução a tormentosaquestão, pois — é regra de direi-to positivo — não pode o Juizeximir-se de decidir a causa porlacuna ou obscuridade da lei (CPC,art. 126).

Esse mesmo dispositivo proces-sual, na parte final, preceitua que,não havendo norma legal expressa,deve o Julgador recorrer analo-gia, aos costumes e aos princípiosgerais de direito.

Na espécie, não existe normaconstitucional explicita asseguran-do competência a órgão jurisdicio-nal definido para processar e jul-gar dissídio coletivo instauradocontra empresa pública federal.

Impõe-se, assim, o recurso aosmétodos indicados pela própria leiadjetiva civil.

Assim, ainda que para indeferiro pedido por falta de uma das con-dições da ação, parece-nos compe-tente o eg. Tribunal Federal de Re-cursos (suscitante).

Com efeito, aos Juízes Federaiscabe processar e julgar as causasem que a União, entidade autárqui-ca ou empresa pública federal fo-rem interessadas, nas 'condiçõesenunciadas pelo artigo 125, I, daConstituição Federal.

Coerentemente, o art. 110 damesma Carta confere às mencio-nadas pessoas jurídicas o foro pri-vativo da União nas causas decor-rentes das relações de trabalhocom seus servidores, com recurso,se couber, para o Tribunal Federalde Recursos.

A este último cabe, por sua vez,julgar, em grau de recurso, as de-mais causas decididas pelos JuizesFederais (CF, art. 122, LII).

Houve assim nítida preocupaçãodo constituinte em reservar à Jus-tiça Federal, em seus dois graus, acompetência para julgamento deações envolventes de interesses daUnião, suas autarquias e empresaspúblicas.

Não seria compatível com o sis-tema constitucional interpretar-seliteralmente a norma do artigo 142,caput, da Carta, se o seu art. 110não excluiu expressamente a com-petência do foro federal para jul-gamento de dissídio coletivo acasoinstaurado contra qualquer das en-tidades ali enumeradas.

Dai a necessidade de compati-bilizar-se a interpretação dos doistextos que, em verdade, não se ex-cluem mutuamente, mas, antes,reclamam exegese que os tornecongruentes.

Nessa linha, parece-nos inafastá-vel a competência do Tribunal Fe-dera! de Recursos para o processoe julgamento do dissídio coletivoinstaurado contra a Caixa Econô-mica Federal, por isso que, comtal solução, preserva-se a compe-tência do foro privativo que a Car-ta Politica reservou à União, suasautarquias e empresas públicassem prejuízo do poder normativoreservado á Justiça do Trabalhonos demais casos (CF, art. 142).

Vale dizer, no ponto, recordar,em prol da solução propaga, a difi-culdade a que levaria o reconheci-mento da competência da Justiçaobreira para julgamento do caso,dificuldade enfatizada pelo em.Juiz Heráclito Pena Júnior, cujovoto se tornou vencedor no eg. Tri-bunal do Trabalho da 10! Região, apropósito do mesmo assunto, tam-bém versado no CJ 6677-5, de querelator o em. Ministro Moreira Al-ves:

«Tese contrária importaria noreconhecimento da possibilidadeabsurda de a Justiça do Trabalhoadotar sentenças normativas Pá-

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ra que outra Justiça, futuramen-te, as executasse, pois que, Incasu, a competência das ações decumprimento que eventualmentedecorressem dessas sentençascompetiriam à Justiça Federal,como é inconteste» (fl. 135 do CJ6675).

Amauri Mascaro Nascimento,em artigo de doutrina, tambémsustenta que, à falta de ressalva,no art. 110 da Constituição, a com-petência da Justiça Federal «com-preende todos os litígios decorren-tes das relações de trabalho, Indi-viduais ou coletivos», lembrando,em seguida, que a inexistência deprecedentes «não significa que le-galmente não possa haver dissídiocoletivo perante a Justiça Federal»(Rev. de Dir. do Trab. 20-21, pág.146).

Referindo-se à lacuna da LeiMaior, diz o renomado autor que,mesmo assim, ao confiar ela á Jus-tiça Federal competência para de-cidir os litígios trabalhistas «semexclusões», implicitamente, «in-cluiu os dissidios coletivos e o po-der normativo inerente à sua solu-ção» (ob. e pág. cit.).

Por derradeiro, importa lembrarprecedente em que a Alta Corte sedefrontou com dificuldade análoga,quando, à míngua de expressa pre-visão no texto constitucional, tevede construir a interpretação emtorno dos artigos 125, IV e 153, § 1?da Constituição, para deles extraira conclusão da subsistência do Tri-bunal do Júri Federal.

Foi por ocasião do j ulgamento doHC 63.662-4, relator o em. MinistroOscar Corrêa, que, depois de assi-nalar a necessidade de compatibili-zar aqueles dois mandamentos pa-ra não parecerem «contraditórios,atinômicos ou incongruentes», re-sumiu as razões de decidir na se-guinte ementa com que encimado ov. acórdão:

«Tribunal do Júri Federal. De-creto-Lei n? 253/67. Artigos 125,IV, e 153, § 18, da ConstituiçãoFederal. O Júri Federal atendeprecisamente à conciliação dosdois textos constitucionais: o jul-gamento dos crimes dolosos con-tra a vida pelo Tribunal do Júri(artigo 153, § 18 da CF) e a com-petência da Justiça Federal paraprocessar e julgar os crimes pra-ticados em detrimento de bens,serviços e interesses da União oude suas entidades autárquicas ouempresas públicas... (art. 125,IV, da CF)» (DJ de 15-8-86, pág.13927).Na mesma assentada de julga-

mento, o em. Ministro Octavio Gal-lotti enfatizou, com razão, que «ojúri federal é o ponto exato de con-ciliação entre o interesse da União,tutelado pelo art. 125, IV, da Consti-tuição, e a garantia da instituiçãodo júri para o julgamento dos cri-mes dolosos contra a vida, inscritano art. 153, § 18, também da Cons-tituição».

De sua vez, o em. Ministro Ra-fael Mayer afirmou não alimentarqualquer dúvida «sobre a legitimi-dade do Tribunal do Júri sob a pre-sidência e o comando da JustiçaFederal», porquanto não se com-preenderia que o Juiz de Direitopresidisse o julgamento de réu acu-sado de crime afeto à competênciada Justiça Federal.

Na hipótese, nada justificariatambém viesse o dissídio coletivo aser julgado pela Justiça do Traba-lho, se, como se viu, às empresaspúblicas federais quis o constituin-te reservar o foro privativo daUnião, que seria também o compe-tente para processar e julgar even-tuais ações de cumprimento.

Pelas razões expostas, opina oMinistério Público Federal pelo co-nhecimento do conflito, declaradocompetente o eg. Tribunal Federalde Recursos (suscitante).» (fls.219/224).

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A meu ver, as razões postas no pa-recer acima reproduzido merecem,integralmente, ser acolhidas.

A Constituição não estabelece demaneira expressa se à Justiça Fede-ral ou à Justiça do Trabalho cabe oprocessamento e julgamento dosdissídios coletivos, sendo ele travadoentre algumas daquelas entidadesreferidas no seu art. 110 e seus em-pregados.

O motivo da falta de previsãoconstitucional parece dever-se à ine-xistência de qualquer dispositivo le-gal que possibilitasse o dissídio cole-tivo de empregados da União, autar-quia e empresas públicas, impossibi-lidade essa decorrente da proibiçãode sindicalizarem-se os empregadosde tais entidades, conforme o dispos-to no art. 566 da CLT.

A respeito, observa Russomano:«Os motivos que levam alguns

Estados a proibir a sindicalizaçãodos funcionários públicos não sãode ordem jurídica e, sim, de ordempolítica, a fim de que, dessa ma-neira, na medida do possível, osórgãos estatais se imunizem contraos conflitos de &atalho. Nesse se-tor, em que se encontram interes-ses contraditórios e motivos quenem sempre são revelados, a ciên-cia do Direito não pode seguiradiante.

A Constituição Federal consa-grou, em princípio, a livre associa-ção sindical (art. 166), mas a regrado art. 566, caput, continua sendoválida, porque a Constituição auto-limita sua aplicabilidade á regula-mentação da lei•ordinária.»

Assim, proibida que era a sindica-lização dos empregados da União ede suas entidades paraestatais —que, no caso, há de compreender-secomo abrangendo as autarquias eempresas públicas — não cuidou aConstituição de 1967 de prover a Jus-tiça competente para resolver osdissídios coletivos de trabalho, pois

sua iniciativa compete ás associa-ções sindicais, segundo resulta dodisposto no art. 857, seu parágrafoúnico, da CLT.

Entretanto, com a Lei n? 7.449, de20-12-85, que alterou o parágrafo úni-co do aludido art. 857 da CLT, permi-tindo a sindicalização dos emprega-dos da Caixa Econômica Federale a possibilidade, pelo menos em.princípio, de o sindicato que abrangea categoria profissional respectivapromover o dissídio coletivo, há que,na verdade, suprir-se a omissão paradefinir-se o órgão jurisdicional com-petente para decidir sobre dissídiocoletivo em que figurem como inte-ressadas algumas das aludidas enti-dades referidas no art. 110 da CF.

A meu ver, dúvidas não devemsubsistir no sentido de que a compe-tência se há de fixar no Tribunal Fe-deral de Recursos.

Que o dissídio em causa deve ficarafeto á Justiça Federal a fundamen-tação do parecer mostra-se inques-tionável.

Perderia mesmo sentido a normado art. 110 da CF, além de contradi-tória, se se entendesse que os dis-sídios individuais dos empregadosdas empresas públicas, (como os dosempregados da União e de suas au-tarquias) fossem processados e jul-gados na Justiça Federal e os dis-sídios coletivos, que poderiam abran-ger não apenas empregados de de-terminadas profissões, mas até to-dos os empregados da Caixa Econô-mica Federal, fossem processados ejulgados perante a Justiça do Traba-lho. Afastar-se-ia da Justiça do Tra-balho a competência maior — a dojulgamento dos dissídios individuais— e se lhe conferiria a maior — ados dissídios coletivos, o que não te-ria lógica e disvirtuaria, por certo, aprópria finalidade de norma consti-tucional.

Além do mais, soa intransponível oargumento invocado no voto do JuizHeráclito Pena Júnior, do Tribunal

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Regional do Trabalho, referido no pa-recer da douta Procuradoria-Geralda República, quanto a revelar-seabsurda a possibilidade de a Justiçado Trabalho adotar sentenças nor-mativas para que outra Justiça futu-ramente as executasse.

E sendo a Justiça Federal a com-petente, o processamento e Julga-mento do dissídio — inclusive paradizer se ele é cabível ou não — cabeao C. Tribunal Federal de Recursos,suscitante, que abriga as atribuiçõesdos Tribunais Regionais do Trabalhoe do Tribunal Superior do Trabalho,no que diz com as questões traba-lhistas que envolvam os empregadosda União, autarquias federais e em-presas públicas, também federais.E, deste modo, se os dissidios coleti-vos regionais, ou de amplitude nacio-nal, para os empregados em geral,são processados e julgados, respecti-vamente, nos Tribunais Regionais eno Tribunal Superior do Trabalho,como resulta dos arts. 856 e 869 daCLT, por uma questão de correspon-dência e paralelismo, os dissidios co-letivos que se refiram aos emprega-dos da empresa pública Caixa Eco-nômica Federal devem ficar afetosao Tribunal Federal de Recursos, oque resulta inquestionável a meuver, do prórpio sentido do art. 110 daLei Maior.

Enfim, a natureza jurídica da pes-soa interessada é que define o órgãojurisdicional competente. Prevalecea competência rationae personae, nadefinição da Justiça Federal ou daJustiça do Trabalho para a dirimi-ção dos conflitos individuais ou cole-tivos oriundos das relações de em-prego.

Cabe observar, por último, quenão altera a questão o disposto no2? do art. 170 da Carta Magna, aodispor que na exploração, pelo Esta-do, da atividade econômica, as em-presas públicas e as sociedades deeconomia mista reger-se-ão pelasnormas aplicáveis ás empresas pri-

vadas, inclusive quanto ao direito dotrabalho, e das obrigações, porquan-to há de se compreender que taisnormas hão de ser entendidas comosendo as de direito material, e nãoas de direito formal, pois estas últi-mas teriam mesmo que adequar-seás condições decorrentes da Justiçacompetente, como resulta do próprioart. 110 da Constituição Federal.

Pelo exposto, conheço do conflito edou pela competência do C. TribunalFederal de Recursos.

o meu voto.

VOTO

Sr. Ministro Célio Borla: Sr.Presidente, data venta, do eminenteRelator, conheço do conflito e julgocompetente o Tribunal suscitado.

VOTO

Sr. Ministro Carlos Madeira: Se-nhor Presidente, acompanho o votodo Ministro Moreira Alves e do Mi-nistro Aldir Passarinho, com a vêniadevida ao Ministro Célio Borj a, por-que sempre entendi que a competên-cia da Justiça Federal é em razãodas pessoas. Se a pessoa é empresapública a competência é da JustiçaFederal, mesmo para os casos dedissídio coletivo.

EXTRATO DA ATA

CJ 6.678 — RJ — Rel.: Min. AldirPassarinho. Suste.: Tribunal Federalde Recursos. Susdo.: Tribunal Regio-nal do Trabalho da P Região. Inte-ressados: Sindicato dos Empregadosem Estabelecimentos Bancários deCampos e outros (Advs.: José Geral-do Ribeiro Bellino e outro). CaixaEconômica Federal — CEF (Advs.:Marcelo Vasconcelos Roale Antunese outros).

Decisão . Pediu vista o Ministro Os-car Corrêa, depois dos votos dos Mi-nistros Relator, Moreira Alves, Car-

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los Madeira, Octavio Gallotti, Syd-ney Sanches e Francisco Rezek, queconheciam do conflito e julgavamcompetente o Tribunal suscitante,e do voto do Ministro Célio Borja,que conhecia do conflito e julgavacompetente o Tribunal suscitado.

Presidência do Senhor MinistroNéri da Silveira. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Oscar Corrêa, AldirPassarinho, Francisco Rezek, Syd-ney Sanches, Octavio Gallotti, Car-los Madeira e Célio Borj a. Ausen-te, justificadamente, o Senhor Minis-tro Rafael Mayer, Presidente —Procurador-Geral da República, oDr. José Paulo Sepúlveda Pertence.

Brasília, 1? de outubro de 1987 —Dr. Alberto Veronese Aguiar, Secre

-tário.

VOTO

O Sr. Ministro Octavio Gallotti: Sr.Presidente, entendo também que osdissidios coletivos são litígios decor-rentes de relações de trabalho, e,sendo parte neles uma empresa pú-blica federal, penso, que, de acordocom o art. 110 da Constituição, acompetência é da Justiça Federalem sentido estrito, e não da Justi-ça do Trabalho. Sendo a causa dacompetência da Justiça Federal, deacordo com a estrutura desta, pensoque a solução é dar pela competên-cia originária do Egrégio TribunalFederal de Recursos, em conformi-dade com os votos dos eminentes Mi-nistros Moreira Alves, Aldir Passa-rinho e Carlos Madeira.

Por isso, Sr. Presidente, sem em-bargo do brilho da argumentação doeminente Ministro Célio Borla, peçovênia, para acompanhar os doutosvotos a que me referi.

VOTO (VISTA)

O Sr. Ministro Oscar Corrêa: 1. Aquestão foi proficientemente debati-da nos argumentos expendidos pelas

duas correntes que se firmaram nes-te Plenário:

I — a do eminente Ministro Cé-lio Borja, concluindo pela compe-tência da Justiça Trabalhista, nocaso relatado por S. Exa., o Tribu-nal Regional do Trabalho da 11!Região;

II — e a dos eminentes Minis-tros Moreira Alves e Aldir Passari-nho, sustentando a competência daJustiça Federal, pelo Tribunal Fe-deral de Recursos.

Nada tenho que acrescentaraos argumentos em que se apoiaramos defensores de ambas as posições,de tal forma poderosos que me leva-ram ao pedido de vista.

Após o exame a que procedi,inclino-me pela orientação que deci-diu pela competência do TribunalFederal de Recursos.

A Constituição de 1967, no art. 119,I, excepcionava, na competência dosjuizes federais de primeira instân-cia, as causas sujeitas à JustiçaEleitoral, à Militar e à do Trabalho.

O art. 110 da Emenda Constitucio-nal n? 1/69 é que, expressamente, de-feriu aos juizes federais e ao Tribu-nal Federal de Recursos o julgamen-to dos litígios decorrentes das rela-ções de trabalho dos servidores coma União, inclusive autarquias e em-presas públicas federais, qualquerque seja o seu regime jurídico.

O legislador constitucional (poucoimporta quem tenha sido) revelou aexplícita preocupação, portanto, deretirar a competência desses litígiosda justiça trabalhista própria adecidi-los, estabelecendo exceção eexceção ampla, genérica — para to-dos os litígios e qualquer que seja oregime jurídico das empresas públi-cas federais.

Assim, o mesmo art. 170, quesubmete as empresas de atividadeeconômica desenvolvida pelo Estadoas normas aplicáveis as empresasprivadas, inclusive quanto ao direito

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do trabalho e ao das obrigações, de-ve ser entendido no sentido da apli-cação das normas referidas, masnão quanto aos órgãos prestadoresda jurisdição, devendo admitir-seque, relativamente a esses, vigore aregra geral do art. 110.

Não tenho, porém, Senhor Presi-dente, porque insistir nos argumen-tos já proficientemente expendidos.Embora reconheça o peso dos que le-varam o eminente Ministro CélioBorja a concluir pela competênciada Justiça do Trabalho e não obstan-te as dificuldades que aponta na so-lução diversa, devo salientar que éela ditada, segundo creio, pela opçãodo texto constitucional como, aliás,salientado nos votos dos eminentesMinistros Moreira Alves e Aldir Pas-sarinho e dos que os acompanharam.Concluo pela competência do Tribu-nal suscitante, o Tribunal Federal deRecursos.

E o voto.EXTRATO DA ATA

CJ 6.678-3 — RJ — Rel.: Min.: Al-dir Passarinho. Suste.: Tribunal Fe-

deral de Recursos. Susdo.: TribunalRegional do Trabalho da 1? Região.Interessados: Sindicato dos Empre-gados em Estabelecimentos Bancá-rios de Campos e outros (Advs.: JoséGeraldo Ribeiro Bellino e outros),Caixa Econômica Federal — CEF(Advs.: Marcelo Vasconcelos RoaleAntunes e outros).

Decisão: Conheceu-se do conflito,unanimemente, e por maioria, venci-do o Ministro Célio Borja, julgou-secompetente o Tribunal suscitante.

Presidência do Senhor MinistroNéri da Silveira. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Oscar Corrêa. AldirPassarinho, Francisco Rezek, Syd-ney Sanches, Octavio Gallotti, Car-los Madeira e Célio Borja. Ausen-te, justificadamente, o Sr. MinistroRafael Mayer, Presidente. Procura-dor-Geral da República, substituto, oDr. Aristides Junqueira Alvarenga.

Brasília, 11 de dezembro de 1987 —Dr. Alberto Veronese Aguiar, Secre-tário.

CONFLITO DE JURISDIÇÃO N? 6.702 — GO(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.Suscitante: Tribunal Regional do Trabalho da 10? Região — Suscitado:

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás — Interessado: I — Superintendên-cia da Organização de Saúde do Estado de Goiás — OSEGO — 2 — CarlotaRodrigues de Souza.

Conflito de Jurisdição. E competente o Tribunal de Justiça do Es-tado para julgar apelação interposta por entidade pública contra deci-são de Juiz de Direito, mesmo envolvendo pleito trabalhista, em vir-tude da subordinação jurisdicional.

Competência do Tribunal de Justiça do Estado.

ACÓRDÃO premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, à unanimidade de votos e

Vistos, relatados e discutidos estes na conformidade da ata do julga-

autos, acordam os Ministros do Su- mento e das notas taquigráficas, co-

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nhecer do conflito e julgar compe-tente o Tribunal de Justiça do Esta-do de Goiás.

Brasília, 2 de março de 1983 —Rafael Mayer, Presidente — DjaciFalcão, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Djaci Falcão: Ofe-reço como relatório o parecer daProcuradoria-Geral da República,que assim esclarece a matéria:

«Carlota Rodrigues de Souza pro-pôs, perante o MM. Juiz de Direitodos Feitos da Fazenda Pública deGoiânia, ação de segurança contraa Portaria n? 3.811/87, do Superin-tendente da Organização de Saúdedo Estado de Goiás, que a transfe-riu do Centro de Saúde de Dueré,onde trabalhava há mais de dezanos, para o Centro de Saúde deGurupi, distante 55 km e servidapor um único ônibus, o que lheacarretaria despesas com passa-gem, refeição e pernoite, insusten-táveis para o salário então percebi-do, inferior ao mínimo legal (fl. 2).

Pediu, afinal, a suspensão limi-nar do ato impugnado, bem assima cassação dos seus efeitos pelasentença definida, para que se res-tabelecessem os direitos por eleviolados (fl. 9).

Processada a segurança com aconcessão da liminar (fl. 43), .foi ademanda julgada procedente, naforma requerida (fl. 62).

Manifestada a apelação, em quese suscitou em preliminar a incom-petência absoluta do foro (fl. 69),foi a argüição acolhida pelo Tribu-nal de Justiça de Goiás, que orde-nou a remessa dos autos ao forotrabalhista (fl. 90).

O Tribunal do Trabalho da 10!Região, por sua vez, na linha desustentação do voto proferido peloem. Juiz Herádito Pena Júnior,entendeu falecer-lhe competênciapara julgar recurso interposto con-

tra sentença de Juiz de Direitoàquela Corte não subordinado, sus-citando, em seguida, conflito pe-rante a Alta Corte (fl. 116).

Com vista dos autos (fl. 127), oparecer do Ministério Público Fe-deral é pelo conhecimento do con-flito, declarado competente o eg.Tribunal de Justiça do Estado deGoiás (suscitado).

Bem ou mal — não importa — aimpetrante, submetida ao regimetrabalhista, valeu-se do mandadode segurança para atacar portariada autoridade administrativa, pelaqual fora ela abruptamente trans-ferida de uma cidade para outra,com todos os inconvenientes des-critos na peça inaugural.

Se é pertinente ou não a medidaprocessual eleita, em vista das ale-gações feitas pelo empregador emsua resposta, pertinentemente àexistência de cláusula contratualpermissiva da movimentação havi-da, ocorrente «conveniência ou im-periosa necessidade de serviço»,esta é questão a ser dirimida peloJuiz a quem competirá conhecer ejulgar a segurança ajuizada contrao ato da autoridade administrati-va.

Na espécie, trata-se de autorida-de local, pelo que a competênciaoriginária para tanto seria do Juizde Direito, com recurso para o Tri-bunal a que este estiver subordina-do.

Electa uma via, non datur re-gressas ad alteram, professa a co-nhecida parêmia latina.

Assim, se já não seria licito àimpetrante recuar do procedimen-to eleito, competente para proces-sar e julgar a segurança será, porcerto, Juiz de Direito, em primeirograu, a que sujeitos os atos da au-toridade impetrada, e, em segundainstância, a Corte de Justiça Esta-dual para a qual caiba recursocontra a sentença por ele proferi-da.

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Nesse sentido, adernais, a juris-prudência deste Alto Tribunal, deque é expressão recente o CJ6.579-5, relator o em. Sr. MinistroOctavio Gallotti, que, na própriaementa, arrola dois precedentes nomesmo sentido:

«Julgamento de mandado desegurança contra ato de Secretá-rio de Estado, mesmo envolven-do pleito trabalhista é da compe-tência da Justiça Estadual e nãodo Tribunal Regional do Traba-lho. Precedentes do Supremo Tri-bunal» (RE 103.082 e CJ 6.591)(DJ de 13-6-86, pág. 10449).Pelo conhecimento do conflito,

declarado competente o eg. Tribu-nal de Justiça suscitado.

Brasília, DF, 25 de fevereiro de1988 — Walter José de Medeiros,Subprocurador-Geral da Repúbli-ca.

Aprovo: José Paulo SepúlvedaPertence, Procurador-Geral da Re-pública». (fls. 129 a 131).

VOTO

O Sr. Ministro Di sei Falcão (Rela-tor): A impetrante do mandado desegurança a que se refere os autos,servidora sob o regime trabalhista,ataca portaria de autoridade admi-nistrativa estadual (Superintendên-cia da Organização de Saúde do Es-tado de Goiás), pela qual foi transfe-rida de uma cidade para outra. Naespécie, a fixação da competênciadecorre da hierarquia jurisdicional.Assim, o recurso interposto da deci-são do Juiz Estadual deve ser apre-ciado pelo órgão jurisdicional aoqual se encontra subordinado, ou se-ja, o Tribunal de Justiça. É oportunofrisar que, no caso, não se cuida dahipótese prevista no § 2?, segundaparte, do art. 141, da Constituição daRepública, isto é, comarca em queao Juiz de Direito é atribuída jurisdi-ção trabalhista, por inexistência deJunta de Conciliação e Julgamento.

Nesta diretriz tem se pautado aCorte, conforme demonstra o . pare-cer. Aliás, em caso idêntico — Con-flito de Jurisdição n? 6.614-GO, rela-tado pelo eminente Ministro AldirPassarinho, declarou-se a competên-cia do egrégio Tribunal de Justiça deGoiás. O acórdão traz a seguinteementa:

«Competência. Mandado de segu-rança. Discussão sobre naturezada relação de trabalho. Sentençaproferida por Juiz de Direito deEstado. Competência recursal.Tendo sido julgado por Juiz de Di-reito de Estado mandado de segu-rança impetrado por servidora deórgão público, que se diz vinculadoao regime trabalhista, cabe ao Tri-bunal de Justiça do Estado julgara apelação interposta pelo ente pú-blico, pois é o órgão jurisdicionalao qual tal ente se encontra vincu-lado. Não pode o Tribunal Regionaldo Trabalho julgar recurso de sen-tença de Juiz de Direito, salvo seeste tiver funcionado na estrita hi-pótese do art. 678, letra c, n? 2, daCLT, o que encontra respaldo doart. 141, § 2?, segunda parte, daConstituição Federal, decidindo co-mo for de direito.» (RTJ 121/465).Ante o exposto, conheço do conflito

e declaro a competência do egrégioTribunal de Justiça.

EXTRATO DA ATA

CJ 6.702 — GO — Rel.: Min. DjaciFalcão. Suscte.: Tribunal Regionaldo Trabalho da 10? Região. Suscdo.:Tribunal de Justiça do Estado deGoiás. Interessadas: Superintendên-cia da Organização de Saúde do Es-tado de Goiás — OSEGO (Adv?: Ma-ria Lúcia C. Ribeiro) — Carlota Ro-drigues de Souza (Adv.: Ary Demos-thenes de Almeida).

Decisão: Conheceu-se do conflito ejulgou-se competente o Tribunal deJustiça do Estado de Goiás, unani-memente.

R.T.J. - 125 97

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Dl aci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho, Fran-cisco Rezelc, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti, Carlos Madeira e Célio

Borla. Procurador-Geral da Repúbli-ca, o Dr. José Paulo Sepúlveda Per-tence.

Brasília, 2 de março de 1988 — Dr.Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

MANDADO DE SEGURANÇA N? 20.488 — DF(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.Impetrantes: Edison Rodrigues-Chaves e outros — Litisconsortes ativos:

Fernando Didimo Pereira Barbosa Vieira e Sonilton Fernandes Campos —Autoridade Coatora: Mesa do Senado Federal.

Mandado de Segurança. Atos da Mesa do Senado Federal. Con-curso público. Empregos de Assessor Parlamentar. Classificação por«área de atividade», na conformidade do Edital de Concurso. Inviabi-lidade de classificação geral, mesmo em relação às cinqüenta vagascriadas após o concurso. Candidatos da «área doze», classificados emlugares, além do número de vagas existentes para a referida área.Impossibilidade de seu provimento em vagas de outra «área de ativi-dade». Resultados incomunicáveis. Inexistência de direito ao preten-dido provimento. Preenchimento de empregos de Técnico de Legisla-ção e Orçamento, por Assessores Técnicos, até então, demissIvels adnutum. Não possuindo os impetrantes, classificados no concurso pú-blico para provimento de empregos de Assessor Parlamentar, «áreadoze», qualquer titulo de direito á investidura nos aludidos eempmpregosde Técnico de Legislação e Orçamento, não estão, em ia,legitimados a impugnar os respectivos atos de provimento, oriundosda Mesa do Senado Federal, por meio de mandado de segurança. Seentendem ilegais esses atos ou lesivos ao patrimônio da União, outrasserão as vias a se adotarem, para impugna-1os. Nesta parte, o man-dado de segurança não é de conhecer-se. Conhecimento, apenas, par-cial do mandado de segurança, e seu indeferimento, nessa parte.

ACORDA0

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade, conhecer emparte, e indeferir o mandado de se-gurança.

Brasília, 9 de maio de 1985 —Moreira Alves, Presidente. Néri daSilveira, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Edison Rodrigues-Chaves,Fernando Braga Batinga de Mendon-ça, Nelson Rodrigues Mendes e The-reza Carmelita Souto Nóbrega, resi-dentes e domiciliados nesta Capital,aprovados no concurso público deprovas e títulos, para Assessor Par-lamentar do Senado Federal, impe-iraram o presente mandado de segu-rança, com pedido de medida limi-

98 R.T.J. — 125

nar, contra atos da Mesa do SenadoFederal, em que foram admitidos,sob o regime da Consolidação dasLeis do Trabalho, candidatos apro-vados no mencionado concurso, semque fosse observada, segundo os im-petrantes, a classificação geral obti-da pelos que lograram êxito no com-petitório, do que resultou a demissãode candidatos com notas inferioresàs obtidas pelos impetrantes, nocômputo geral. Manifestam os impe-trantes o entendimento de que aclassificação, por área de atividade,somente se destinava às 25 vagasinicialmente existentes, passando,assim, a prevalecer uma classifica-ção geral em relação às vagas, emnúmero de 50, criadas após a reali-zação do concurso.

Nessa linha, sustentam os impe-trantes, às fls. 7/9, verbis:

«A inscrição dos candidatos aoemprego de Assessor Parlamentardo Senado Federal, pelo Edital di-vulgado na ocasião, foi feita poráreas de preferência, não de es-pecialização. Tanto assim que, en-tre as exigências feitas aos pos-tulantes, estava a de ser diplo-mado, em nivel superior, há maisde cinco (5) anos, em qualquerramo do conhecimento humano.Nenhuma vinculação foi pedidaentre a especialização do candida-to e sua área de preferência. UmBacharel em Hotelaria, de nívelsuperior, formado há mais de cin-co anos, poderia perfeitamenteinscrever-se na área de Saúde, oude Relações Internacionais. UmBacharel em Artes Gráficas, nasmesmas condições, poderia optarpela inscrição na Area Tributária.Houve o caso, por exemplo, doMM. Juiz Federal da Vara, emBrasília, Dr. Dario AbranchesViotti, que se inscreveu para aArea de Discurso Parlamentar. Efoi brilhantemente aprovado.

A área de preferência, no entan-to, cumpre destacar, valia apenas

para a seleção dos candidatos.Tanto assim que as vagas criadase ampliadas pelos Atos números18, de 1983, e 3, de 1985, não estabe-lecem diferenças de áreas entre osdiversos Assessores Parlamenta-res. O emprego é uno, AS-3, comvencimentos correspondentes aDAS-3, o mesmo estabelecido ante-riormente para um Assessor Técni-co, demissivel ad nutum.

Quando da seleção dos candi-datos a Assessor Parlamentar, foiestabelecido que as 25 (vinte e cin-co) vagas inicialmente previstasseriam preenchidas pela ordem declassificação dos aprovados em ca-da área. Terminada a fase de habi-litação e de nomeação dos aprova-dos em cada área, todos os demaisremanescentes deveriam ter sidoagrupados, ordenados, de acordocom a sua classificação global, jáque não existe a figura do AssessorParlamentar de Área 1, de Área 2,de Área 3, «ad Infinitum».

No entanto, depois de realizado oconcurso, depois de esgotada a fa-se de seleção, ao aumentarem asvagas anteriormente previstas, de25 (vinte e cinco), para um total de75 (setenta e cinco), os nobresmembros da Mesa do Senado o fi-zeram aleatoriamente.

Chegou-se, assim, ao absurdo, daconvocação de candidatos aprova-dos, com média final 60,4 (sessentainteiros e quatro décimos), em de-trimento dos Imptes., que obtive-ram médias bastante superiores aessa.

Dos 3.200 candidatos a Asses-sores, inicialmente inscritos, ape-nas 131 (cento e trinta e um) fo-ram aprovados, o que bem de-monstra o rigor das provas a queforam submetidos. Concurso deprovas e de títulos.

O Ato n? 4, de 1985, da ComissãoDiretora do Senado Federal, quehomologa o resultado final do Con-curso em tela, está publicado às

R.T.J. - 125 99

páginas 9 usque 14, do Boletim doPessoal do Senado Federal emanexo (Doc. 4). A convocação doscandidatos — em um total de 75(setenta e cinco) —, aleatoriamen-te, sem a obediência à ordem declassificação geral (somente os 25primeiros classificados nas áreasde sua preferência durante o pro-cesso seletivo teriam direito às va-gas inicialmente previstas), foi fei-ta de forma ambigua — talvez fur-to de um pouco de pudor, que ain-da deve restar à atual Mesa do Se-nado Federal — mediante avisopublicado à página 23 do referidoBoletim do Pessoal (Doc. 4), «afim de tratarem de assuntos deseus interesses» (sic).

Estranhando o fato, a falta decritério na convocação de 50 (cin-qüenta) candidatos além dos ini-cialmente previstos, representan-tes dos 56 (cinqüenta e seis) prete-ridos indevidamente mantiveramcontatos exaustivos com os nobresmembros da Mesa do Senado Fe-deral. As alegações para a nãocontratação dos preteridos, concur-sados e aprovados, após um ano deexaustivos exames eram as maispífias e variavam desde a referên-cia a supostos «interesses adminis-trativos do Senado», até inexistên-cia de espaço físico para a instala-ção dos concursados».Alegam, dessa maneira, os reque-

rentes possuir direito liquido e certoà nomeação para o emprego de As-sessor Parlamentar do Senado Fede-ral, respeitada a classificação glo-bal, independentemente de áreas,nas 50 (cinqüenta) vagas subseqüen-tes, criadas além das inicialmenteprevistas no Edital do Concurso.

Na inicial, atacam os impetrantes,também, o ato da Mesa do SenadoFederal de efetivação de AssessoresTécnicos, até então, demissiveis adnutum, em 98 empregos de Técnicode Legislação e Orçamento, «funçãoque poderia ser exercida, embora

com um outro nome, pelos concursa-dos, entre os quais se incluem os im-petrantes», entendendo que, em vir-tude desse ato, se retira aos concur-sados «a possibilidade, a esperançade uma contratação imediata, a des-peito das sobejas razões de que sãotitulares, à luz do Direito e da Justi-ça».

Pedem, por fim, a concessão demedida liminar para que a Mesa doSenado Federal (fl. 13):

Suste a posse, contratação,investidura ou que outro nome te-nha — entre os muitos designativosdo mesmo ato táctico —, em Em-pregos de Técnicos de Legislação eOrçamento, dos Assessores Técni-cos, até então demissiveis adnutum;

Suste a posse, contrafação,investidura ou que outro nometenha — entre os muitos designati-vos do mesmo ato tático —, emEmpregos de Assessores Parla-mentares, todos os habilitados,além das 25 (vinte e cinco) vagasinicialmente previstas, que tenhamobtido, na classificação global (nãopor áreas, que eram válidas ape-nas no processo de seleção), notasinferiores ás dos Imptes.;

c) Emposse, contrate, Invista(ou qualquer outro nome que tenhao mesmo ato fáctico) imediata-mente, em Empregos de Assesso-res Parlamentares, AS-3, os Imp-tes., cuias notas os enquadram, naclassificação global, nas 50 (cin-qüenta) vagas adicionalmente Jácriadas.»No que concerne à pleiteada medi-

da liminar, assim despachei, à fl. 75:«Vistos. 1. Requisitem-se infor-

mações à Mesa do Senado Federal.2. Os impetrantes estão classifi-

cados, na área 12, do concurso pú-blico para Assessor Parlamentardo Senado Federal, respectivamen-te, em 389, 46?, 50? e 65? lugares(fl. 26 e v.), não evidenciando

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qualquer titulo de direito à investi-dura em empregos de Técnico deLegislação e Orçamento, da Secre-taria da aludida Casa Legislativa.

Indefiro, assim, desde logo, aliminar, no que respeita a atos deprovimento de empregos de Técni-co de Legislação e Orçamento, in-suscetíveis de exame no âmbito dopresente mandado de segurança,considerados os termos da impe-tração.

No que concerne ao pedido deliminar, para sustar a contrataçãoe posse de candidatos classificadosno concurso público de AssessorParlamentar, de referência às va-gas excedentes às primeiras vintee cinco, que os impetrantes afir-mam deverem ser providas, deacordo com a classificação global,por notas obtidas pelos competido-res, independente de «áreas de ati-vidades», assim como previstas noAto n? 2, de 1985, da Presidência doSenado Federal, e no Ato n? 4, de1985, da Comissão Diretora do Se-nado Federal, onde se homologou oresultado final do concurso públicoem apreço, com classificação se-gundo «12 áreas», — reservo-medecidir, logo prestadas as informa-ções, sendo certo que, em qualquerhipótese, é de denegar-se, desde lo-go, o pedido de liminar, para aimediata investidura dos requeren-tes nos empregos em alusão, pen-dente como fica a matéria da deci-são final do mandado de seguran-ça. Este, ademais, não se tornaineficaz, sem a outorga incontinen-te da cautelar solicitada, se por-ventura houver de conceder-se.

5. Oficie-se e publique-se».Admitiram-se, como litisconsortes

ativos, Fernando Dídimo PereiraBarbosa Vieira e Sonilton FernandesCampos (fls. 80 e 84).

Requisitadas informações, veioaos autos o Ofício n? 19, de 22-2-1985,do Exmo. Senhor Presidente do Se-nado Federal (fl. 89), acompanhado

da exposição de fls. 90/94, firmadapelo Senhor Consultor-Geral do Sena-do Federal.

Anota-se, inicialmente, que o en-quadramento, como Técnicos em Le-gislação e Orçamento, do Quadro dePessoal CLT, dos Assessores Técni-cos, pelo Ato n? 06/1985, da ComissãoDiretora, encontra amparo no art.30, da Constituição Federal, asseve-rando-se no item 4 (fls. 91/92):

Os servidores assim enqua-drados, regidos pela Consolidaçãodas Leis do Trabalho, na forma doartigo 541 do Regulamento Admi-nistrativo, não foram efetivados.Ocupam empregos de Técnicos emLegislação e Orçamento e, em con-seqüência, não atingem, por qual-quer forma os direitos dos impe-trantes, que prestaram concursopara Assessor Parlamentar, domesmo Quadro de Pessoal CLT.Todas as vagas de Assessor Parla-mentar, nas diversas áreas, foramprovidas, exclusivamente, peloscandidatos aprovados no concurso,obedecida, rigorosamente, na for-ma do Edital, a classificação poráreas de especialização Dessa for-ma a contratação para qualqueroutro emprego que não o de Asses-sor Parlamentar, não diz respeitoaos impetrantes, não lhes atingequalquer direito, multo menos li-quido e certo, e não é atacávelpor mandado de segurança».

No que concerne aos concursadose sua nomeação, explica-se (fls.91/93):

Quanto ao critério de classi-ficação, por áreas de especializa-ção, no concurso para AssessorParlamentar, decorre ele de dispo-sição expressa do próprio Edital(Doc. n? 1), convenientementeomitido pelos autores da açãomandamental. De fato, estabeleceo Edital do concurso, em seu item.

R.T.J. — 125

101

4. Critérios de julgamento4.1. A classificação dos candi-

datos habilitados será feita, paracada área de atividade, do se-guinte modo:

4.1.1. Os pontos obtidos emcada prova e os valores atri-buídos aos titulos serão multipli-cados pelos respectivos pesos».O mesmo Edital, em seu item 1.

f, estabelece que«A contratado dos candidatos,

dentro do coe vagas, obedecerá, rigorosa-

mente, à ordem final de classifi-cação em cada área de ativida-de».

Processaram-se, na verdade,doze concursos, e não um só. Issoporque a primeira etapa do proces-so seletivo constou de provas elimi-natórias, especificas de cada área,conforme se vê dos itens 3.2., 3.5 e3.6 do Edital. Os programas de ca-da área foram também diferencia-dos, segundo o Edital, em seu item5.2, páginas 6 a 10.

O detalhamento dos progra-mas de cada área constou do «Ma-nual de Programas de Instruções»(Doe. n? 2). Neste documento fo-ram estabelecidas também as nor-mas de valorado dos «Tati100»(item V, 1, b, c e d). Aos cursos rela-cionados com a área de atividadeatribuíram-se 4, 10 e 15 pontos (b,c e d), e 2, 5 e 5 pontos, respectiva-mente, se não relacionados, isto é,metade, e um terço.

8. Diante dessas disposições doEdital, evidencia-se a fragilidadeda tese dos impetrantes, de que aclassificação deve ser geral e nãopor área de atividades. Efetiva-mente, todos os impetrantes se ins-creveram, concorreram e foramaprovados na «Area 12 — DiscursoParlamentar». Nenhum deles sesubmeteu às provas especificas decada uma das outras áreas, pri-meira etapa, eliminatória, do pro-

cesso seletivo (item 3.2 do Edital).Como aproveitar os impetrantesem vagas de outras áreas às quaisnão concorreram, para as quaisnão prestaram as provas elimina-tórias?

O Ato ri? 24, de 1983, da Co-missão Diretora, criou 25 empre-gos de Assessor Parlamentar, noQuadro de Pessoal CLT, a seremdistribuídos por áreas de especiali-zação, conforme as necessidadesda Casa, e providos por concursopúblico.

O Ato n? 113, de 1983, doPresidente, acolhendo exposição demotivos da Assessoria, fixou o nú-mero de vagas para cada área, es-tabelecendo o programa básico decada uma (Doe. n? 3), conformeconstou do Edital.

11. Posteriormente, através doAto n? 3, de 1985, a Comissão Dire-tora elevou esses empregos para75, e a Presidência, pelo Ato n? 2,de 1985, (Boletim de Pessoal Ti?405, págs. 20/21, anexo à inicial),estabeleceu a distribuição dessasvagas, por áreas de atividade, semredução dos quantitativos inicial-mente previstos, como segue:

Mas 1 111111V V VI VII UI InAto113/05 2 3 2 1 1 1 5 2 2 2 1 4 25Ato et 7 10 2 1 2 3 I 4 3 4 4 29 75

No total foram triplicadasas vagas, sendo que os empregosda «Area 12 — Discurso Parlamen-tar», foram aumentados em pro-porção maior, ou seja de 4 para 29vagas.

Para provimento desses em-pregos foram convocados os candi-datos aprovados no processo seleti-vo, observada rigorosamente aclassificação dentro da respectivaárea de atividade. As vagas desti-nadas à «Área 12 — Discurso Par-lamentar», foram elevadas cercade 7 vezes. Os impetrantes não fo-ram convocados, porque estão

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classificados em 38?, 46?, 50?, 65? e37? lugares, respectivamente, e,apesar da ampliação do Quadro,não foram aproveitados.

14. Alegam os impetrantes queforam convocados candidatos commédia final inferior à deles, em de-trimento de seus direitos. Os resul-tados finais do processo seletivo fo-ram homologados pelo Ato n? 4, de1985, da Comissão Diretora, confor-me publicação de fls. 9 a 14 do Bo-letim de Pessoal n? 405, que ins-truiu a petição inicial do Mandadode Segurança. Verifica-se, por essedocumento, que os candidatos refe-ridos, com nota final inferior àssuas, estão classificados em outrasáreas de atividade, e com eles nãoconcorreram os impetrantes. Acontratação se fez com estrita ob-servância do item 1. f do Edital, is-to é, «dentro do correspondente nú-mero de vagas, obedecida rigoro-samente a ordem final de classi-ficação em cada área de ativi-dade».Manifestou-se a Procuradoria-Ge-

ral da República, no parecer de fls.140/144, da lavra do Subprocurador-Geral da República, Dr. Mauro LeiteSoares com aprovação do ilustreProcurador-Geral da República, Dr.Sepúlveda Pertence, no sentido doindeferimento do mandado de segu-rança, anotando-se, às fls. 143/144,verbis:

«3. Parece-nos por demais sin-gela a situação versada nos autos.Realmente, embora realizado umconcurso para Assessor Parlamen-tar, genericamente, esse concursofoi subdividido em doze áreas dife-rentes e distintas entre si, quantoàs matérias, aos temas, conformese constata pela leitura das divi-sões das áreas, tis. 134/7 e, de ma-neira mais ampla, demonstrado épelos seus programas específicos,fls. 103/126, que não possuem te-mas idênticos ou semelhantes en-tre si. Portanto, se não houve

igualdade de condições entre osconcursados quanto aos programasespecíficos, igualdade de condiçõesentre eles, não poderá haver quan-to à classificação, a qual, logica-mente, não poderá ser a geral,mas, sim, a específica para cadaárea a que se submeteu o candida-to, conforme, aliás, constava doedital e é óbvio. O critério da Mesado Senado para aumento do núme-ro de vagas, de 25 para 75, é ques-tão interna corporis, da conveniên-cia e necessidade dos serviços da-quela Casa Legislativa».

o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Atacam os impetrantes elitisconsortes ativos duas séries deatos administrativos da Mesa do Se-nado Federal.

Relativamente à investidura deAssessores Técnicos em empregosde Técnico de Legislação e Orça-mento, do Quadro de Pessoal CLT,do Senado Federal, no despacho defl. 75, ao indeferir a medida liminar,neste ponto, já anotei que os impe-trantes, classificados na área 12, doconcurso público para Assessor Par-lamentar do Senado Federal, empre-go diverso, não evidenciaram pos-suir título de direito à investiduranos aludidos lugares de Técnico deLegislação e Orçamento. A impugna-ção, que, dessa maneira, formulam,contra o ato da Mesa do Senado Fe-deral, não pode, assim, ser objeto domandado de segurança, eis que, nãoestando intitulados a esses empre-gos, não há direito próprio, certo eliquido, a proteger, na via eleita.Falta-lhes, no particular, legítimo in-teresse para atacar as investidurasem referência. Se as compreendemilegais ou lesivas ao patrimônio daUnião, outras serão as vias a se ado-tarem, com vistas à desconstituicãodesses atos. Inadequado o mandadode segurança, como procedimento

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destinado a substituir a ação popular(Súmula 101) ou servir de mero su-cedâneo à ação declaratória. Comoensina Hely Lopes Meirelles, o obje-to do mandado de segurança «serásempre a correção de ato ou omissãode autoridade, desde que ilegal eofensivo de direito individual, liquidoe certo do impetrante» (in Mandadode Segurança e Ação Popular, 9? ed.,pág. 14). Cuidando-se de empregosdiferentes, no Quadro de Pessoal —CLT, do Senado Federal, nem cabeafirmar para legitimá-los a impetra-ção, que disso resultariam dificulda-des à investidura como AssessorParlamentar.

Nessa parte, portanto, o mandadode segurança não é de conhecer-se.

Relativamente ao provimento dosempregos de Assessor Parlamentar,objeto do concurso público, em que,também, os impetrantes lograramaprovação, o pedido merece conheci-mento, porque, no particular, ale-gam possuir direito liquido e certo àinvestidura em um dos cinqüentaempregos de Assessor Parlamentar,acrescidos, após o concurso, aos vin-te e cinco já existentes. Sustentamconfigurada lesão a direito próprio,em virtude do fato de não se conside-rar a classificação geral dos candi-datos, pela soma de pontos obtidosno concurso, independentemente das«áreas de atividade», que afirmamsomente serem suscetíveis de distin-ção, com vistas às primeiras vinte ecinco vagas.

A súplica não merece, todavia, seratendida, porque improcedente afundamentação do mandado de segu-rança.

Com efeito, o Edital do Concurso,de explícito, estabeleceu que a con-tratação dos candidatos, dentro docorrespondente número de vagas,obedecerá rigorosamente à ordem fi-nal de classificação em cada área deatividade (Item 1, letra f, fl. 95v.).Segundo o referido documento, «Ocandidato só poderá inscrever-se em

uma área de atividade, dentro dasrelacionadas no item 5» (fl. 95v.).Distribuídas, de um a doze, as áreasde atividade, o Edital previu, paracada uma, programa distinto, suma-riamente descrito (fls. 98 a 99v.),sendo a «área doze», reservada ao«Discurso Parlamentar», observan-do-se, ainda, no item 5.2, acerca dosProgramas, verbis: «As áreas de ati-vidade são de natureza multidiscipli-nar ou interdisciplinar, direcionadas

formação acadêmica e experiên-cia profissional polivalentes, poden-do abranger uma ou mais especiali-dades e conhecimentos afins ou cor-relatos». Os Programas analíticosdas diferentes áreas discriminaram-se como se vêem, às fls. 103/126.

E certo que as vinte e cinco vagas,existentes à data da abertura do con-curso, foram distribuídas pelas «á-reas de atividade», oferecidas aoscandidatos. Majorado o número dosempregos de Assessor Parlamentarpara 75, por Ato da Mesa do SenadoFederal, sem redução dos quantitati-vos inicialmente previstos para cadaárea, distribuiram-se as novas va-gas, pelas doze áreas de atividade,consoante o Ato n? 02/85, sendo que omaior número (25) coube, precisa-mente, para a área doze, acrescidade quatro para vinte e nove Assesso-res Parlamentares.

Sucede, porém, que os impetranteslitisconsortes ativos se classifica-

ram na área doze, nos lugares 38?,46?, 50?, 65?, 42? e 37'?, respectiva-mente, não logrando, assim, resulta-do final a lhes assegurar, desde logo,a investidura, segundo a rigorosa or-dem de classificação na correspon-dente «área de atividade».

Incomunicáveis os resultados al-cançados pelos candidatos de umaárea de atividade, relativamente aqualquer outra área, dentre as pre-vistas no Edital de Concurso, força éconcluir que nenhum direito pos-suem os impetrantes e litisconsortes,posicionados na «área doze», a aias-

104

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tar concorrentes de outras áreas deatividade, que se submeteram a pro-vas, de conteúdos diferentes, não ca-bendo, dessarte, o pretendido con-fronto de médias e pontos alcança-dos, entre competidores de áreas di-versas.

Do exposto, conhecendo, tão-só,parcialmente, do mandado de segu-rança, nessa parte, indefiro-o.

EXTRATO DA ATA

MS 20.488 — DF — Rel.: MinistroNéri da Silveira. Imptes.: Edison Ro-drigues-Chaves e outros (Advs.: Edi-son Rodrigues-Chaves e outro). Litis-consortes Ativos: Fernando DicilmoPereira Barbosa Vieira e SoniltonFernandes Campos (Advs.: Edison

Rodrigues-Chaves e Eduardo LuizRodrigues-Chaves). Autoridade coa-tora: Mesa do Senado Federal.

Decisão: Conheceu-se em parte, eindeferiu-se a segurança. Decisãounânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Djaci Falcão,Decio Miranda, Rafael Mayer, Nérida Silveira, Oscar Corrêa, Aldir Pas-sarinho, Francisco Rezek, SydneySanches e Octavio Gallotti. Ausente,justificadamente, o Senhor MinistroCordeiro Guerra. Procurador-Geralda República, Dr. José Paulo Sepúl-veda Pertence.

Brasília, 9 de maio de 1985 — Dr.Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

MANDADO DE SEGURANÇA N? 20.674 — DF(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Octavio Gallotti.Impetrantes: Miguel Fontes Procopiak e outra — Autoridade Coatora:

Presidente da República.Reforma agrária. Imóvel classificado como latifúndio, por explo-

ração. Cobertura florestal. Atividade produtiva contestada nas infor-mações.

Matéria de fato complexa e controvertida.Inidoneidade do mandado de segurança, na espécie, para afastar

a desapropriação.Precedentes do Supremo Tribunal.Pedido indeferido.

ACORDA° RELATÓRIOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, inde-ferir a segurança, cassar a liminarconcedida, e ressalvar ao Impetran-te as vias ordinárias.

Brasília, 3 de março de 1988 —Néri da Silveira, Presidente — Octa-vio Gallotti, Relator.

O Sr. Ministro Octavio Gallotti:Trata-se de mandado de segurançaassestado contra ato presidencial(Decreto n? 93.561, de 11-11-86), quedeclarou de interesse social e autori-zou a desapropriação de área de449,80 hectares, sustentando os im-petrantes-proprietário e arrendatá-ria dessas terras — o caráter pro-dutivo das mesmas, por serem desti-nadas a exploração florestal, semcaracterizar latifúndio, como decor-

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re do parágrafo único, letra a do art.4! da Lei n! 4.504/64.

Concedida a liminar (fl. 195), vie-ram as informações de fls. 209/23,acompanhadas dos documentos defls. 224/52, prestadas pelo Sr. Minis-tro da Reforma e do Desenvolvimen-to Agrário e capeadas por Mensa-gem do Exmo. Sr. Presidente da Re-pública.

A fl. 206, indeferi a admissão, co-mo litisconsorte passivo, do InstitutoNacional de Colonização e ReformaAgrária-INCRA, em despacho confir-mado, pelo Tribunal Pleno, ao apre-ciar o Agravo Regimental da Autar-quia (acórdão de fls. 262/9).

Completo o Relatório com a repro-dução do parecer do ilustre Procura-dor da República Gilmar FerreiraMendes, onde se contém os pontosfundamentais da controvérsia.

«Trata-se de mandado de segu-rança impetrado contra ato do Ex-mo. Sr. Presidente da República,que declarou de interesse social,para fins de reforma agrária, imó-vel rural situado no município deMonte Castelo, Estado de SantaCatarina.

2. Os fundamentos da impetra-ção podem ser assim resumidos:

a empresa tem por objetivossociais as atividades de exploraçãoflorestal, serraria, laminação decompensado, beneficiamento de ma-deira, comercialização de produ-tos florestais, estando constituída eimplantada na região há mais de30 (trinta) anos:

o proprietário do imóvel alie-nou à Empresa Irmãos Procopiak& Cia. «todas as árvores Induziria-Usáveis» existentes sobre a partede 328 ha da cobertura florestal na-tiva, tendo, para isso, obtido auto-rização do IBDF;

c) a autorização para explora-ção abrange cerca de 280 ha, umavez que parte do imóvel é conside-

rada reservada e cerca de 54 hec-tares, composta por mata nativa,não é passível de desmaie, nos ter-mos do art. 19, do Código Flores-tal, com a redação da Lel n?7.511/86.

d) nos termos do art. 4?, pará-grafo único, a, do Estatuto da Ter-ra, «não se considera latifúndioimóvel rural, qualquer que seja asua dimensão, cuias característi-cas recomendem, sob o ponto devista técnico e econômico, a explo-ração florestal, racionalmente rea-lizada, mediante planejamento ade-quado».

3. O pedido de medida liminarfoi deferido (fl. 195).

Solicitadas as informações, pres-tou-as a autoridade coatora, sus-tentando, em síntese, que:

o mandado de segurançaconstitui via inidônea para deslin-dar matéria complexa relativa áclassificação de imóvel, conformeentendimento consolidado do Su-premo Tribunal Federal;

o art. 4?, parágrafo único,alínea a, do Estatuto, exige que aexploração seja racionalmente rea-lizada, mediante planejamento ade-quado;

os proprietários sonegaramao Supremo Tribunal Federal a in-formação de que o laudo resultanteda «Vistoria-prévia», do IBDF, nãoassegura o deferimento do projeto,configurando apenas um requisitodentre as vinte exigências contidasno art. 29 da Portaria Normativan? 195/IBDF/DR, de 9-6-83;

o imóvel sempre esteve clas-sificado no INCRA como «latifún-dio por exploração».

Somente a caracterização doimóvel como «empresa rural»constitui óbice à efetivação da de-sapropriação para reforma agrária(Decreto-Lei n? 554/69, art. 2?).

E, nos termos do art. 4?, incisoVI, da Lei n? 4.504/64 «empresa ris-

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ral é o empreendimento de pessoafísica ou jurídica, pública ou priva-da, que explore economicamente eracionalmente imóvel rural dentrode condição de rendimento econô-mico da região em que se situe eque explore área mínima agricul-tável do imóvel segundo padrões fi-xados, pública e previamente peloPoder Executivo». O Decreto regu-lamentar n? 84.685, de 1980, no seuart. 22, inciso III, define como

«empresa rural, o empreendi-mento de pessoa física ou jurídi-ca, pública ou privada, que ex-plore econômica e racionalmenteimóvel rural, dentro das condi-ções de cumprimento da funçãosocial da terra e atendidos simul-taneamente os requisitos seguin-tes:

tenha grau de utilizaçãoigual ou superior a 80% (oitentapor cento), calculado na formada alínea a do artigo 8?;

tenha grau de eficiência naexploração, calculando na formado artigo 10, igual ou superior a100% (cem por cento);

c) cumpra integralmente a le-gislação que rege as relações detrabalho e os contratos de usotemporário da terra».Portanto, para a caracterização

de imóvel como «empresa rural»,nos termos da legislação agrária,faz-se mister o preenchimento derequisitos especiais, não se afigu-rando suficiente a eventual de-monstração das razoáveis condi-ções financeiras do «projeto» (Cfr.MS 20.584).

Ademais, há de se reconhecerque a controvérsia sobre a classifi-cação de imóvel como «empresarural» envolve ampla investigação,insuscetível de ser levada a efeitona via angusta de mandado de se-gurança (Celso Agrícola Barbi, DoMandado de Segurança, 1980, págs.77/85; Castro Nunes, Do Mandado

de Segurança, 1954, págs. 93/94;Milton Flaks, Mandado de Se-gurança; 1980, págs. 122/124; He-ly Lopes Meirelles, Mandado deSegurança e Ação Popular, 1982,págs. 11/12; Celso Bastos, Do Man-dado de Segurança, 1978, págs.11/12). Não é por outra razão que aExcelsa Corte, em interativos jul-gados, tem afirmado o não-cabi-mento do writ em casos semelhan-tes.

Assim, no MS n? 20.356, Rel. Min.Soares Mufioz, ficou assente a ori-entação indicada, in verbis:

«Desapropriação por Interessesocial. Ato do Presidente da Re-pública. Imóvel que, ao tempo seachava classificado como «lati-fúndio por exploração», corrigidaque havia sido a anterior classifi-cação de «empresa rural».

Inexistência de direito liquido ecerto. Mandado de segurança in-deferido, ressalvada à impetran-te o uso das vias ordinárias» (DJ26-11-82).Da mesma forma, afirmou-se no

MS n? 20.302, Rel.: Min. Djaci Fal-cão, in verbis:

«Mandado de Segurança contraato do Sr. Presidente da Repúbli-ca que declarou de interesse so-cial, para fins de desapropriação,o imóvel rural «engenho Mussu-repe»; Alegação de ilegalidadenão comprovada, à vista de que oimóvel, ao tempo do ato impug-nado, se achava classificado nacategoria de Latifúndio por Ex-ploração e não de empresa rural.

Inexistência de direito líquidoe certo». (RTJ 104/100).Também no MS n? 20.430, Rel.:

Min. Oscar Corrêa, reafirmou-seo entendimento já consagrado, inverbis:

«Mandado de segurança contraato de declaração de interessesocial, para fins de desapropria-ção de imóvel. Alegações não

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comprovadas. Não estava o imó-vel, ao tempo do ato impugnado,classificado como empresa rural,mas como latifúndio por explora-ção. Inexistência de direito líqui-do e certo». (DJ 1-6-84).Em julgamento recente, teve a

Excelsa Corte o ensejo de reiterara orientação já consagrada, comose depreende do voto do eminenteMinistro Rafael Mayer, in verbis:

«A igual dos precedentes, aempresa ora impetrante está ca-dastrada no INCRA como latifún-dio por exploração, o que não lheconfere imunidade contra a desa-propriação por interesse socialpara fins de reforma agrária,privilégio somente cabível aoimóvel que preenche os requisi-tos legais para ser consideradoempresa rural.

Demonstrar, fora do registrocadastral, essa condição empre-sarial, segundo os requisitos dalei, supõe uma dilação probatóriaque não encontra oportunidadena via do mandado de segurança.

O direito liquido e certo ampa-rável pelo mandado de seguran-ça supõe demonstração em provapré-constituída, sem margem àcontrovérsia e à incerteza, pres-suposto que aqui não se configu-ra». (MS ri? 20.562, DJ 30-5-86).Esse entendimento foi reafirma-

do nos MS n?s 20.580 e 20.585, comose pode constatar na súmula dosjulgados, in verbis:

MS n? 20.580, Rei. Min. OctavioGallotti

«Mandado de Segurança impe-trado contra ato do Presidenteda República e do Ministro daReforma e do DesenvolvimentoAgrário, que definiu como áreaprioritária e declarou de interes-se social, para fins de desapro-priação, o imóvel rural denomi-nado «São Sebastião», no Estadode Goiás.

Ares classificada como «lati-fúndio por exploração», ao que seopõem alegações a demandardilação probatória, incompatívelcom o rito sumário do mandadode segurança.

Ordem indeferida, com ressal-va do uso da via ordinária». (DJ29-8-8S)

MS n? 20.585, Rel.: Min. CarlosMadeira «Desapropriação por in-teresse social, para fim de refor-ma agrária. Terras inexploradas.Imissão do INCRA na posse doimóvel, com assentamento defamílias que desenvolvem ativi-dades agrícolas.

Não malfere o parágrafo 2t doartigo 161 da Constituição, a de-sapropriação de terras visandoao aumento de sua produtividadee a sua partilha mais consentâ-nea com a função social da pro-priedade. Imitida na posse a au-tarquia desapropriante, já não háoportunidade para o mandado desegurança. Writ indeferido». (DJ26-9-86)E, também no MS n? 20.584, da

relatoria do insigne Ministro Ra-fael Mayer, ficou assente essa po-sição, como se pode ler na seguintepassagem de seu ilustrado voto, Inverbis:

«Na verdade, a Impetrantenão está classificada, no INCRA,como empresa rural, como se vêdo próprio certificado de cadas-tro por ela anexado à inicial(Doc. n? 15). Ai a remissão clas-sificatória (art. 22, inciso II-B)confere-lhe a categoria de lati-fúndio, como «imóvel rural quenão excedendo o limite referidono inciso anterior e tendo dimen-são igual ou superior a um módu-lo fiscal, seja mantido inexplora-do em relação às possibilidadesfísicas, econômicas e sociais domeio, com fins especulativos, ouseja, deficiente ou inadequada-mente explorado, de modo a

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vedar-lhe a inclusão no conceitode «empresa rural».

A esse ato administrativo, queé o cadastramento, e que goza dapresunção de legitimidade, a Im-petrante quer contrapor, median-te um incabível contraditório deprovas no âmbito do mandado desegurança, a) o laudo de vistoriarealizado, no imóvel, por dois en-genheiros do INCRA, (Doc. n?09), que, embora considerandouma das áreas em que divide oimóvel (Anexo I) como improdu-tiva, considera o imóvel vistasglobalmente as Áreas I e II, co-mo produtivo; b) certidão em pa-pel com timbre do INCRA, porassinatura que se atribui a Técni-co do Cadastro Rural, no sentidode que «a referida fazenda, con-forme vistoria e laudo em poderdo Órgão, preenche os requisitoslegais para classificação comoempresa rural (Doc. 16).

Incomportável a controvérsiaprobatória neste quadro proces-sual, vale todavia acentuar a in-consistência desses dados, quan-to ao primeiro porque, mesmosendo o imóvel produtivo não sig-nifica que seja empresa rural,cuja conceituação supõe a satis-fação de padrões com indicado-res complexos, que não somentea produtividade; e quanto ao se-gundo, além de inconclusivo, tema sua autenticidade negada pelaautoridade, o que lhe tira todo opeso, neste âmbito processual»(TU 5-9-86).

9. O mesmo entendimento vemde ser reiterado nos MS n? 20.600(Rel.: Min. Aldir Passarinho, DJ20-5-87), MS n? 20.650 (Rel.: Min.Sydney Saches, DJ 7-8-87), MS n?20.618 (Rel.: Min. Octavio Gallotti,117 7-8-87); MS n? 20.626 (Rel.: Min.Aldir Passarinho, 11.1 22-5-87); e MSn? 20.583 (Rel.: Min. Sydney San-ches, DJ 34-87).

No caso dos autos, não pare-ce subsistir dúvida de que o imó-vel sempre esteve classificado noINCRA como «latifúndio por explo-ração» (fls. 224/225). E a vistoriarealizada no imóvel comprovouque, embora tivesse sido efetuadaa extração de madeira em 328 hec-tares, a área não estava sendo uti-lizada para qualquer finalidade (fl.243).

Não parece haver dúvida,também, de que a simples existên-cia de cobertura que possa ser ade-quadamente explorada não retirado imóvel a condição de latifúndio,aplicando-se a disposição estatutá-ria (art. 4?, parágrafo único, a)tão-somente a imóvel no qual serealize exploração florestal plane-jada. Nem teria sentido excluir daclassificação como latifúndio oimóvel que embora dotado de con-dições para exploração florestal,fosse mantido inexplorado (Lei n?4.504/64, art. 4?, V, b).

Por outro lado, cumpre no-tar que o art. 19, da Lei n? 4.771/65,com a redação da Lei n? 7.511/86,contém norma que disciplina a ex-ploração florestal, não contemplan-do restrição a qualquer providên-cia expropriatória.

Não há negar que o CódigoFlorestal estabelece, no seu art. 8?,que «na distribuição de lotes desti-nados à agricultura, em plano decolonização e de reforma agrária,não devem ser incluídas as áreasflorestais de preservação perma-nente de que trata esta lei, nem asflorestas necessárias ao abasteci-mento local ou nacional de madei-ras e outros produtos florestais».

Como se sabe, o Código Flo-restai Brasileiro contempla duasespécies de florestas de preserva-ção permanente.

As florestas referidas noart. 2? da Lei n? 4.771/65 são consi-deradas de preservação permanen-te ex vi legis. São as formações

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com funções naturais de proteção,situadas ao longo dos rios, lagoas,reservatórios e nascentes, nas en-costas, bordas e topos dos morros,montanhas, taboleiros e chapadas.

16. Com relação a estas flores-tas, não resta ao Poder Público ou-tra alternativa senão diligenciar asua conservação, uma vez que adeclaração como de preservaçãopermanente dimana da própria leifederal. São formações que têmuma finalidade protetora genéricae natural, como se depreende dafeliz lição de Osny Duarte Pereira,in verbis:

«As primeiras, visíveis por simesmas, pela sua localizaçãonas nascentes, nas margens doscursos d'água, nas encostas demontanhas ao longo de estradas,junto a povoados e cidades, inde-pendem de ato do poder público,para serem respeitadas e menti-das. Sua conservação não é ape-nas por interesse público, maspor interesse direto e imediato dopróprio dono. Assim como nin-guém escava o terreno dos ali-cerces de sua casa, porque pode-rá comprometer a segurança damesma, do mesmo modo nin-guém arranca as árvores dasnascentes, das margens dos rios,nas encostas das montanhas, aolongo das estradas, porque pode-rá vir a ficar sem água, sujeito ainundações, sem vias de comuni-cação, pelas barreiras e a outrosmales conhecidamente resultan-tes de tal insensatez.

As árvores nesses lugares es-tão para as respectivas terras,como o vestuário está para o cor-po humano. Proibindo a devasta-ção, o Estado nada faz do que au-xiliar o próprio particular a bemadministrar os seus bens indivi-duais, abrindo-lhe os olhos contraos danos que poderia inadverti-damente cometer contra si mes-mo». (Direito Florestal Bratd-'chio, 1950, págs. 211/212).

As florestas de preservaçãopermanente disciplinadas no art.3? do Código Florestal são consti-tuídas com finalidades protetorasespecíficas, carecendo, por isso, deatos de natureza administrativa,que explicitem as áreas abrangi-das e os objetivos visados. E não épor outra razão que, segundo o ma-gistério de Paulo Affonso LemeMachado, «o Poder Público não po-de constitui-las a não ser com a fi-nalidade de atenuar a erosão dasterras, formar faixas de proteçãoao longo das rodovias e ferrovias,auxiliar na defesa do território na-cional, proteger sítios de excepcio-nal beleza ou de valor científico ouhistórico, asilar exemplares dafauna ou flora ameaçados de extin-Mo, manter o ambiente necessárioà vida das populações silvicolas,assegurar condições de bem-estarpúblico ou nas áreas metropolita-nas definidas em lei» (Direito Am-biental Brasileiro, 1982, pág. 233;Cfr. também Osny Duarte Pereira,Direito Florestal Brasileiro, 1960,pág. 211).

As florestas de preservação,permanente com finalidade de pro-teção especifica (Lei n? 4.771/65,art. 3?) podem ser suprimidas, to-tal ou parcialmente, desde que ne-cessárias á execução de obras, pla-nos, atividades ou projetos de utili-dade pública ou interesse social(art. 3?, 1?).

Diversamente, as formações depreservação permanente, com fi-nalidade protetora de caráter ge-nérico, somente poderão ser su-primidas ou alteradas, parcial outotalmente, por força de lei (Cfr.Paulo Alfonso Leme Machado, ob.cit., pág. 234).

Vê-se, pois, que a disposição con-tida na primeira parte do art. 8? daLei n? 4.771/65, há de ser interpre-tada em consonância com o estabe-lecido nos artigos 2? e 3? do aludidodiploma.

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E a interpretação conjunta dosreferidos preceitos está a indicarque o art. 8?, do Código Florestal,não isenta as formações de preser-vação permanente da desapropria-ção para fins de reforma agrária.Ao revés, o aludido preceito parecevedar tão-somente a descaracte-rização dessas formações em vir-tude da distribuição de lotes desti-nados à agricultura, em planos decolonização e de reforma agrária.Se assim não fosse, ter-se-ia de ad-mitir a não-incidência da desapro-priação para fins de reforma agrá-ria apenas sobre a porção de solocoberta por formações considera-das de preservação permanente. Oabsurdo da conclusão está a de-monstrar o absurdo da premissa.

No caso em apreço, o relató-rio da vistoria realizada pelo órgãofundiário informa que:

«Houve extração de madeiraem 328,0 hectares, outorgado peloIBDF, conforme plano de explo-ração aprovado em 16-12-81. Ulti-ma prorrogação foi até 14-6-84. Amadeira foi totalmente explora-da. Consta uma ao IBDF daAgrícola Procopiak Ltda., daqual o proprietário do imóvel ésócio para a implantação de re-florestamento com Piaus Elliot-ti» (fl. 241).E, adiante, acrescenta-se, no re-

latório da vistoria, que:«o imóvel foi devidamente utili-

zado através de plano de explora-ção florestal aprovado peloIBDF, estando hoje desprovidode atividades. Consta junto aoIBDF uma Carta-Consulta n?5.544/85 para reflorestamento,encaminhada pela Agrícola Pro-copiak Ltda., da qual o proprietá-rio é o diretor» (fl. 243).

Como se vê, inexiste qual-quer atividade econômica no imó-vel. E a «vistoria-prévia» realizadapelo IBDF parece demonstrar,apenas, o intento dos proprietários

em dar início a projeto de reflores-tamento. Não se é de aplicar, pois,o disposto no art. 4?, parágrafo úni-co, alínea a, do Estatuto da Terra.

22. Nessas condições, opina-sepelo indeferimento da segurança,com a ressalva das vias ordiná-rias» (fls. 271/280).E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Octavio Gallotti(Relator): A época da edição do De-creto impugnado (11 de novembro de1986), achava-se o imóvel de proprie-dade do primeiro impetrante classi-ficado como «latifúndio por explora-ção», como demonstram os docu-mentos cadastrais da Gleba junto aoINCRA, relativos aos exercícios de1985 e 1986, trazidos às fls. 241/4,com as informações da autoridadecoatora.

De outra parte, o laudo da visto-ria, igualmente acostado aos autos, écategórico ao atestar a ausência, nolocal, de atividades produtivas, re-gistrando apenas a extração de ma-deira ali empreendida até junho de1984 e já encerrada ao tempo da ela-boração do documento. Esse dado épraticamente confirmado pelo teordas razões apresentadas pela segun-da impetrante, à Comissão de Refor-ma Agrária do Estado de Santa Ca-tarina (fl. 186).

Posta a questão nesses termos,não difere o seu tratamento daquelejá consagrado pela jurisprudência doSupremo Tribunal, arrolada no pare-cer do Ministério Público Federal,no sentido de não revelar-se idônea avia do mandado de segurança, paraa aferição da ilegalidade do ato ex-propriatório.

Alegam, os impetrantes, que oimóvel seria insuscetível de desapro-priação, por destinar-se à explora-ção florestal, segundo o art. 4?, V, b,da Lei n? 4.304/64 (Estatuto da Ter-ra), existindo, com esse objetivo, um

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projeto de exploração da coberturaflorestal, em trâmite no IBDF, com«vistoria prévia» já realizada.

Esse argumento vem contrariado,com firmeza, pelas informações doMinistério da Reforma e do Desen-volvimento Agrário, onde se esclare-ce:

«que o laudo n? 23/0019/86, resul-tante da «vistoria-prévia», não im-plica no deferimento do projeto,pois significa apenas uma, dasvinte exigências enumeradas noart. 29 da Portaria Normativa n?195/IBDF/DR, de 9-6-83, que deve-rão ser cumpridas para que o Pro-jeto seja simplesmente protocola-do». ( fl. 210).Em seu ponto fundamental, ajusta-

se, o presente caso, à hipótese apre-ciada quando do julgamento do Man-dado de Segurança n'? 20.663, relata-do pelo eminente Ministro MuiFalcão. Eis a ementa respectiva:

«Mandado de Segurança contraato do Sr. Presidente da Repúblicaque declarou de interesse social,para fins de desapropriação, oimóvel rural «Fazenda Estrela».

Alegação da existência de cober-tura florestal e de módulo ruralque afastam a legitimidade da de-sapropriação por interesse social(art. 19 do Código Florestal, art.4?, parágrafo único, letra a, do Es-tatuto da Terra). Registro Cadas-tral. Matéria de fato complexa econtrovertida insuscetível de solu-ção na via do mandado de seguran-ça. Denegação do writ, cassada amedida liminar, mas ressalvada avia ordinária, em resguardo depossível direito dos impetrantes»(RTJ 121-505).Do douto voto do eminente Rela-

tor, destaco essa passagem:«Há, sem dúvida, matéria de fa-

to complexa e controvertida, nãosó quanto a classificação do imóvelcomo latifúndio por exploração, se-gundo a documentação trazida pe-

las informações, mas também noque toca a alegada exploração flo-restal planejada, como se vê dasinformações e foi realçado no pare-cer da douta Procuradoria-Geralda República, afirmando a inexis-tência e exploração florestal (fls.100 e 219, in fine e 220).

Como é de saber correntio o di-reito assenta numa situação de fa-to. Quando não há uma prévia de-terminação e certeza do fato nãose pode declarar e reconhecer o di-reito correspondente, particular-mente no âmbito do writ que nãose presta ao confronto e apuraçãoda prova em torno de fato duvidosoe controverso. Aí o conflito existen-te somente poderá ser solvido pe-los meios ordinários» (pág. 516).

Pelas mesmas diretrizes, norteou-se o Tribunal, ao indeferir, em ses-são de 24-6-87, o Mandado de Segu-rança n? 20.658, Relator o eminenteMinistro Néri da Silveira.

Ante o exposto, indefiro a seguran-ça e casso a liminar ressalvando,aos impetrantes, a utilização dasvias ordinárias.

EXTRATO DA ATA

MS 20.674 — DF — Rel.: Min. Oc-tavio Gallotti. Imptes.: Miguel Fon-tes Procopiak e outra (Adv?: Marial-va Portes). Autoridade Coatora: Pre-sidente da República.

Decisão: Indeferiu-se a segurança,cassou-se a liminar concedida, eressalvou-se ao Impetrante as viasordinárias. Decisão unânime. Ausen-te, ocasionalmente, o Sr. MinistroRafael Mayer. Presidiu ao julgamen-to o Sr. Min. Néri da Silveira.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho, Fran-

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cisco Rezek, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti e Célio Borja. Ausente,justificadamente, o Sr. Ministro Car-los Madeira. Procurador-Geral da

República, substituto, o Dr. AristidesJunqueira Alvarenga.

Brasília, 3 de março de 1988 —Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

MANDADO DE SEGURANÇA N? 20.776 — (Aftrtg) — GO(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Djaci FalcãoAgravante: Afonso Vilela Bonlllo. Agravado: Tribunal de Justiça do Es-

tado de Goiás.

Mandado de segurança contra ato oriundo de Tribunal de Justiça.Petição que não se reveste de clareza. Incompetência do SupremoTribunal Federal (art. 119, inc. I, letra /, da Lei Magna).

Agravo regimental Improvido.

ACÓRDÃO

Vistos relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal em SessãoPlenária, à unanimidade de votos ena conformidade da ata do julga-mento e das notas taquigráficas, emnegar provimento ao agravo regi-mental.

Brasília, 3 de março de 1988 —Rafael Mayer, Presidente — DjaciFalcão, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Djaci Falcão: Nomandado de segurança impetradopor Afonso Vilela Bonlllo contra atodo egrégio Tribunal de Justiça deGoiás, proferi, na qualidade de rela-tor, o seguinte despacho:

«Trata-se de mandado de segu-rança contra decisão do Tribunalde Justiça. Manifesta é a incompe-tência do STF (art. 119, I, letra 1,da Lei Magna). Nesse sentido é aSúmula 330.

Com base no 0 1? do art. 21 doRegimento Interno, nego segui-mento ao pedido.

Publique-se» (fl. 11v.).

Em tempo hábil, foi interpostoagravo regimental, em que o reque-rente expõe e pede:

«O v. despacho proferido por V.Exa., negando seguimento ao pedi-do, se refere á incompetência doSTF de julgar Mandado de Segu-rança contra decisão de Tribunalde Justiça, com base no art. 119, I,letra i da Constituição Federal.Ora, data venta, não se trata demodificar uma decisão do Tribunalde Justiça de Goiás.

O ora Agravante interpôsMandado de Segurança com basena Súmula 267 do STF, com a pro-posta de dar efeito suspensivo àArgüição de Relevância n? 7.224que tramita nessa Excelsa Corte, afim de que não seja executado pro-visoriamente o acórdão proferidopelo Exmo. Desembargador doTribunal de Justiça do Estado deGoiás.

Por esses fundamentos, econcluindo, espera o ora Agravan-te que, não incidindo na espéciequalquer impedimento à admissibi-lidade do seu Mandado de Seguran-ça, e à luz da matéria aqui enfoca-da, seja reconsiderado o r. despa-cho agravado, por tratar-se de ma-

R.T.J. - 125 113

teria de relevante interesse social,homenagem que estará prestandoao Direito e à Justiça!» (fl. 14)

VOTO

O Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela-tor): Segundo a inicial a impetraçãotem por fim «dar efeito suspensivona argüição de relevância e agravode instrumento, interpostos contradecisão que negou seguimento aoRecurso Extraordinário, origináriodo Egrégio Tribunal de Justiça deGoiânia».

Depois de afirmar que o recursonão tem efeito suspensivo e a execu-ção provisória do acórdão constituiameaça de dano de difícil e incertareparação, pleitear a suspensão limi-nar, diz textualmente:

«c) Que, se notifique a autorida-de tida como coatora, requisitandoao Tribunal de origem as informa-ções necessárias, entregando a có-pia da inicial e documentos que aacompanha e querendo, apresentaras razões que achar necessárias».

«f) Requer, afinal, seja dadoprovimento ao presente writ com ofim de conceder a segurança defi-nitivamente, dando efeito suspensi-vo ao recurso questionado, por serde direito e justiça» (fl. 5).A petição, que se reveste de clare-

za, ataca, em última análise, os des-pachos que determinaram o proces-samento de argüição de relevância eo agravo de instrumento, sem lhesatribuir efeito suspensivo.

Ora, é competente o Supremo Tri-bunal Federal para processar e jul-gar originariamente — «os manda-dos de segurança contra atos do Pre-sidente da República, das Mesas daCâmara e do Senado Federal, do Su-premo Tribunal Federal, do Conse-lho Nacional da Magistratura, doTribunal de Contas da União, ou deseus presidentes, e do Procurador-Geral da República, bem como osimpetrados pela União contra atos

de governos estaduais» (art. 119, I,letra i, da Constituição).

Por sua vez, dispõe o RegimentoInterno desta Corte:

«Art. 200. Conceder-se-á man-dado de segurança para protegerdireito liquido e certo não ampara-do por habeas corpus, quando a au-toridade responsável pela ilegali-dade ou abuso de poder estiver soba jurisdição do Tribunal.

Parágrafo único. O direito depedir segurança extingue-se apóscento e vinte dias da ciência, pelointeressado, do ato impugnado».Parece-me evidente a incompetên-

cia da Corte.Observo ainda que o impetrante

alega neste agravo, após invocar aSúmula 267 que pretende dar efeitosuspensivo à Argüição de Relevâncian? 7.224.

Dá-se que a mencionada Súmuladiz o seguinte:

«Não cabe mandado de seguran-ça contra ato judicial passível derecurso ou correição».E mais, segundo a informação de

fl. 17 a Argüição de Relevância n?7.224-6, foi rejeitada na sessão doConselho de 24-2-138.

Finalmente, o agravo regimentalnão tem condições de propiciar o ob-jetivo visado pelo agravante.

Nego-lhe provimento.

EXTRATO DA ATA

MS 20.776 (AgRg) — GO — Rel.:Min. Djaci Falcão. Agte.: Afonso Vi-lela Bonillo (Advs.: Adilson Ramos eCláudia Lourenço Midosi May). Ag-do.: Tribunal de Justiça do Estadode Goiás.

Decisão: Negou-se provimento aoagravo regimental, unanimemente.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-

114 R.T.J. — 125

car Corrêa, Aldir Passarinho, Fran-cisco Rezek, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti e Célio Boda. Ausente,justificadamente, o Sr. Ministro Car-los Madeira. Procurador-Geral da

República, substituto, o Dr. AristidesJunqueira Alvarenga.

Brasília, 3 de março de 1988 — Dr.Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

HABEAS CORPUS N? 62.616 — PI(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.Paciente: José Marques Sobrinho, vulgo «Zé do Seu Nilo» — Impetrante:

Manoel Lopes Veloso — Coator: Tribunal de Justiça do Estado do Piauí.

Habeas Corpus. Desaforamento. Código de Processo Penal, art.424. Pedido formulado pelo Ministério Público, ouvindo-se o Juiz, quese manifestou desfavoravelmente, e o Procurador-Geral do Estado,que opinou pelo desaforamento. Não cabe, em habeas corpus, discutiros fatos, sopesados pela Corte indigitada coatora, bem assim as ra-zões de conveniência, que lhe inspiraram a conclusão no sentido dodesaforamento, diante da dúvida sobre a imparcialidade do Júri. Ha-beas Corpus indeferido.

ACORDA°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade, indeferir o pedi-do de habeas corpus.

Brasília, 12 de março de 1985 —Rafael Mayer, Presidente. Néri daSilveira, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): O advogado Manoel LopesVeloso impetra habeas corpus, emfavor de José Marques Sobrinho,vulgo «Zé do Seu Nilo», processadopor infração ao art. 121 do CódigoPenal, sustentando a nulidade doprocesso de Desaforamento n? 137-PI, por cerceamento de defesa, eisque nem o acusado nem o MM. Juizde Direito da comarca de São Joãodo Piaui-Pi — foram ouvidos acercado pedido de desaforamento, violan-do-se, assim, os arts. 424 do Código

de Processo Penal, e 153, ff 15 e 16,da Constituição Federal (fls. 2/5).

Deferiu-se o desaforamento, da co--marca acima citada para a comarcade Oeiras, e o aresto que o concedeuestá assim ementado (fl. 10):

«Desaforamento. Homicídio degrande repercussão no meio social— Possibilidade concreta de par-cialidade dos possíveis juízes de fa-to. Concessão do desaforamento,calcada na prova dos autos. Desig-nação de outra comarca para o jul-gamento. Decisão unânime e acor-de com o parecer do Ministério Pú-blico».

O acórdão respectivo possui esteteor (fl. 1W:

«O Ministério Público e seu as-sistente, no processo-crime de ho-micídio, ocorrido na Comarca deSão João do Piauí, em que são acu-sados José Marques Sobrinho eJoão Maurício Rodrigues, e, vítimaValdemar Coelho Nunes, receiososda parcialidade dos futuros Juízesde fato, pelas circunstâncias do de-

R.T.J. - 125 115

Mo, pelas provas já colhidas, pelosdepoimentos das testemunhas pe-dem desaforamento do julgamento,com fulcro no artigo 424 do Códigode Processo Penal.

Ouvido, o MM. Dr. Juiz de Direi-to da Comarca de São João doPiauí, este opinou pelo não desafo-ramento, por considerar normal areação da sociedade local, em rela-ção ao crime.

A Douta Procuradoria-Geral daJustiça manifestou-se pelo deferi-mento do pedido, face às provasconstantes dos autos.

Já decidiram vários tribunais doPais que, «sendo o desaforamentouma maneira de subtrair o réu deseus juízes naturais, há de estribarem fatos concretos, dos quais sepossa deduzir essa parcialidade»,em casos iguais ao presente.

A declaração das testemunhasde que noventa por cento da socie-dade local se mostram favoráveisaos réus demonstra a possibilidadedesta parcialidade.

Não há como fugir á realidadefática.

O desaforamento é medida ex-cepcional, entretanto é de ser defe-rido se a dúvida sobre a parciali-dade dos possíveis juizes de fatoemerge da própria prova colhidano processo.

Assim sendo, as colendas Câma-ras Reunidas, do egrégio Tribunalde Justiça, do Estado do Piauí, àunanimidade de votos, acolhem opedido e, por maioria, vencidos osExmos. Srs. Drs. Des. Aluísio Soa-res Ribeiro e Paulo de Tarso Melloe Freitas, indicaram a comarca deOeiras, para o julgamento».

Solicitadas informações, prestou-as o ilustre Presidente do Tribunal

de Justiça do Estado do Piauí, Indi-cado coator, com o oficio de fls.30/31, nestes termos:

«Em processo-crime instauradona Comarca de São João do Piauí,em que são acusados José Mar-ques Sobrinho e João Mauricio Ro-drigues, sendo vítima ValdemarCoelho Nunes, o representante doMinistério Público e seu assistente,receiosos da parcialidade dos futu-ros juízes de fato e em face dascircunstâncias em que se deu o cri-me, pediram o desaforamento dojulgamento, com fulcro no art. 424do Código de Processo Penal.

Manifestou-se o Dr. Juiz de Di-reito da comarca pelo não desafo-ramento, por considerar normal areação da sociedade local em rela-ção ao crime.

O processo tomou o n? 137 e foidistribuído ao Exmo. Sr. Des. Rai-mundo Barbosa de Carvalho Bap-tista.

Ouvida, opinou a douta Procura-doria-Geral de Justiça pelo deferi-mento do pedido.

As egrégias Câmaras Reunidas,à unanimidade, acolheram o pedi-do de desaforamento, e, por maio-ria, vencidos os Exmos. Srs. Des.Aluísio Soares Ribeiro e Paulo deTarso Mello e Freitas, designarama Comarca de Oeiras para o julga-mento.

Basearam-se os julgadores emque a declaração das testemunhas,de que noventa por cento da socie-dade local se mostra favorável aosréus, demonstra a possibilidade daalegada parcialidade».

Opinou a Procuradoria-Geral daRepública, às fls. 34/35, no sentidodo indeferimento do pedido.

E o relatório.

116

R.T.J. — 125

VOTO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Ataca-se o desaforamentode processo, em conformidade com oart. 424 do CPP:

«Art. 424. Se o interesse da or-dem pública o reclamar, ou houverdúvida sobre a imparcialidade doJúri ou sobre a segurança pessoaldo réu, o Tribunal de Apelação, arequerimento de qualquer das par-tes ou mediante representação dojuiz e ouvido sempre o procurador-geral, poderá desaforar o julga-mento para comarca ou termo pró-ximo, onde não subsistam aquelesmotivos, após informação do juiz,se a medida não tiver sido solicita-da, de ofício, por ele próprio».

Cuidando-se de pedido formuladopela acusação, bem de ver é que semanifestou desfavorável ao desafo-ramento o Juiz de Direito da Comar-ca de São João do Piauí, lugar docrime (fl. 30), o mesmo não suceden-do, todavia, com o Chefe daProcuradoria-Geral do Estado, quese pronunciou pelo deferimento damedida (fl. 30). Houve, todavia, au-diência a ambos. Anotou, a seu tur-no, a Procuradoria-Geral da Repú-blica, às fls. 34/35, verbis:

«4. O desaforamento fundou-se,segundo as informações de fls.30/31, na declaração das testemu-nhas, de que noventa por cento dasociedade local se mostra favorá-vel aos réus, demonstrando a exis-tência, no caso, de dúvida sobre aimparcialidade do Júri (art. 424 doCódigo de Processo Penal).

5. A apreciação de tais motivos,a nosso ver, deve ser deixada aoprudente exame da instância aquem compete apreciar o pedidode desaforamento.

No caso, não há censura quese lhe possa fazer, diante dos moti-vos apresentados no pedido (fls.12/17) e dos elementos em que sefundou a decisão (fls. 10/11).

De outra parte, o art. 424, jáevidenciado, não alude á necessi-dade de ser ouvido o réu, sobre opedido de desaforamento.

8. Assim, não há como se consi-derar ilegal o desaforamento de-terminado pelo egrégio Tribunal».

Com efeito, não é possível deixarde reconhecer que o dispositivo legal(CPP, art. 424) em foco se cumpriu.Não cabe, em habeas corpos, discu-tir os fatos que foram sopesados pelaCorte indigitada como coatora, bemassim as razões de conveniência quelhe inspiraram a conclusão no senti-do do desaforamento.

Do exposto, denego o habeas cor-pus.

EXTRATO DA ATA

HC 62.616 — PI — Rel.: MinistroNéri da Silveira. Pacte.: José Mar-ques Sobrinho, vulgo «Zé do Seu Ni-lo». Impte.: Manoel Lopes Veloso.Coator: Tribunal de Justiça do Esta-do do Piauí.

Decisão: Indeferiu-se o pedido dehabeas corpus. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Néri da Silveira,Sydney Sanches e Octavio Gallotti.Ausente, justificadamente, o Sr. Mi-nistro Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral da República, Dr. Franciscode Assis Toledo.

Brasília, 12 de março de 1985 —Antônio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

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RECURSO DE RABEAS CORPUS N? 62.816 — SP(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.Recorrente: José Guilherme Zavattaro — Recorrido: Tribunal de Alçada

Criminal do Estado de São Paulo.

*tabus Carpias. Direito de apelar em liberdade. Código de Pro-cesso Penal, art. 594. Primariedade e bons antecedentes. Nilo possuin-do o paciente bons antecedentes, não tem direito a apelar em liberda-de. Réu condenado a vinte e um anos e quatro meses de reclusão, co-mo incurso no art. 158, # 1?, do Código Penal, por quatro vezes. Provade extenso rol de procedimentos criminais contra o paciente. Qual-quer haja sido o resultado desses processos, certo é que não se pode,em realidade, considerar o réu portador de bons antecedentes. Pedidode extensão ao paciente do beneficio concedido a outro co-réu. Situa-ções diferentes. Súplica insuscetível de deferimento. Recurso despro-vido.

ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade, negar provi-mento ao recurso de habeas corpus.

Brasilia, 3 de maio de 1985 —Rafael Mayer, Presidente. Néri daSilveira, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Trata-se de recurso ordi-nário interposto pelo paciente, JoséGuilherme Zavattaro, preso e reco-lhido ao Pavilhão 2 da Casa de De-tenção de São Paulo, contra o acór-dão do colendo Tribunal de AlçadaCriminal do Estado de São Paulo,denegatório de pedido de habeascorpus, proveniente de sua SétimaCâmara, com este teor (fls. 68/72):

RO Advogado Carlos AlbertoMaldonado Martines impetrou opresente pedido de habeas corpusem favor de José Guilherme Za-vattaro, condenado como incursonas sanções do art. 158, 4 1? do Có-digo Penal, por quatro vezes, a 21

anos e 4 meses de reclusão e multade Cr$ 8.000 pelo d. Juizo da 13?Vara Criminal da Capital, buscan-do o reconhecimento do direito derecorrer em liberdade, negado noJuízo da condenação.

Para tanto alega, em substância,que a fixação da pena no mínimolegal constitui reconhecimentoimplícito de bons antecedentes,sendo que o direito ao beneficioprevisto no art. 594 do Código deProcesso Penal deve ser sempreanalisado na própria sentença con-denatória, não valendo como recu-sa a mera determinação de expedi-ção de mandado de prisão.

O paciente respondeu ao proces-so em liberdade e a condenaçãonão é ainda definitiva, podendo sermodificada, de modo que sua pri-são poderia ser injusta e irrepará-vels os prejuízos.

A impetração veio instruída comdocumentos (fls. 11/22) e. solicita-das as Informações, prestou-as a d.autoridade impetrada (fl. 26), nosentido de que a r. decisão a quo,ao determinar a expedição demandado de prisão negou ao pa-ciente o direito de recorrer solto,negativa esta expressamente rati-

118 R.T.J. — 125

ficada posteriormente em razão daausência de bons antecedentes.

Com as informações os documen-tos de fls. 28/58.

A d. Procuradoria-Geral da Jus-tiça é pela denegação da ordem.

E o relatório.Denega-se a ordem.No processo 115/75, em curso pe-

la 13? Vara Criminal da Capital,saiu José Guilherme Zavattaro,ora paciente, condenado a pena de21 anos e 4 meses de reclusão emulta de Cr$ 8.000, por infração aoart. 158, § 1?, do Código Penal, porquatro vezes, tendo sido expedidomandado de prisão.

Pretendendo interpor recurso emliberdade, peticionou a concessãodo benefício do art. 594 do Códigode Processo Penal, que lhe foi ne-gado por não possuir bons antece-dentes.

Por esta via insiste em tal pre-tensão.

Sem razão, porém.Não há dúvida alguma de que a

recusa ao direito de interpor apela-ção em liberdade, implícita na sen-tença que determinou a expediçãode mandado de prisão e expressaposteriormente quando o d. Magis-trado entendeu inocorrente o requi-sito dos bons antecedentes, foi mui-to bem decretada.

Compulsando-se os autos, cons-tata-se que o paciente Já esteve en-volvido em caso de receptação do-losa, (fl. 50), foi condenado porprática de lesões corporais dolosas(fl. 55), respondeu a processo porprática de furto qualificado, (fl.56) e outro por receptação dolosa(fl. 57), além de outro feito, de n9494/73, (fl. 58).

E certo que logroudesembaraçar-se de quase todoseles, saindo condenado apenas emum Mas ainda que de todas as im-

putações se tivesse livrado, persis-tiria o conceito de não possuir bonsantecedentes.

No Colendo Supremo TribunalFederal prepondera o entendimen-to de que: — «Ainda que verdadei-ra seja a alegação da absolviçãoem três outros processos anterio-res, tal fato, por si só, não afasta aafirmada ausência de bons antece-dentes, visto que estes não se con-fundem com a primariedade, con-forme se tem decidido. E o be-nefício de apelar solto exige, ex vido art. 594 do Código de ProcessoPenal, «primariedade» mais «bonsantecedentes» (JTACrSP, 73/438).

E, no especial caso dos autos,nem a primariedade se acha com-provada, uma vez que, do docu-mento de fl. 55, não constam dadoscapazes de conduzir ao reconheci-mento da chamada «prescrição dareincidência», contemplada no pa-rágrafo único do art. 46 do CódigoPenal.

Assim, além de não possuir bonsantecedentes, o paciente não pro-vou, extreme de dúvidas, o requisi-to da primariedade».

No recurso (fls. 74/79), insiste apaciente na alegação do direito deapelar em liberdade, por possuir osrequisitos exigidos pelo art. 594, doCPP, em razão da fixação da penano mínimo legal, fato que torna osbons antecedentes e a primariedadeimplícitos, datando, além disso, acondenação por lesão corporal culpo-sa (fl. 55), de 17-9-1970, do que resul-ta enquadrar-se na chamada «pres-crição da reincidência», prevista noparágrafo único, do art. 46, do Códi-go Penal.

Manifestou-se a Procuradoria-Ge-ral da República no sentido do des-provimento do recurso (fls. 90/92).

E o relatório.

R.T.J. - 125 119

VOTO

O Sr. Ministro Nérl da Silveira(Relator): Contra-arrazoando o ape-lo do paciente, o Dr. Procurador daJustiça, em São Paulo, obervou, à fl.83:

«6. Conforme afirmamos ante-riormente (fls. 61/63), não há qual-quer dúvida de que o recorrentetem maus antecedentes, sendo talfato reconhecido implicitamente nasentença, já que nesta o Magistra-do determinou a expedição demandado de prisão (fls. 34/43).

7. Não bastasse isso, pleiteado obeneficio junto ao Juizo de 1 1! ins-tância, o recorrente teve indeferido

pedido sob o argumento de nãopossuir bons antecedentes (fls. 47v./ 48).

8. Sendo a existência de bonsantecedentes um dos requisitos pa-ra o deferimento do beneficio doartigo 594 do Código de ProcessoPenal, este não poderia ser-lheconcedido».Também a Procuradoria-Geral da

República, em parecer do Dr. CarlosEduardo Vasconcelos, aprovado peloilustre Subprocurador-Geral da Re-pública, Professor Francisco de As-sis Toledo, ao opinar pelo desprovi-mento do apelo, anotou ( fl. 91),verbis:

«3. Com as informações defls. 27/28 veio aos autos farta docu-mentação atestando os maus ante-cedentes do requerente (fls. 49/59)que já respondeu por vários cri-mes.

4. Por isso entendemos corretoacórdão recorrido, que, invocan-

do precedentes da Suprema Corte,entendeu inocorrente o requisito debons antecedentes sem o qual nãopode recorrer em liberdade.

5. A matéria, para a hipótesevertente, é pacifica nesse Pretório,

dispensa maiores indagações.Apega-se o recorrente a um deta-

lhe formal: se a pena aplicada fi-cou no mínimo, haveria implícitoreconhecimento de bons anteceden-tes, embora fatos e documentos re-velem o contrário. Mas o art. 594,como detalhe formal, requer queos bons antecedntes sejam reco-nhecidos na sentença. A nosso ver,o paciente não os possui e a senten-ça, ao não afirmar os maus antece-dentes expressamente, não os hou-ve por bons implicitamente, hajavista a determinação da prisão,até agora não efetuada».Na sentença, retratando a conduta

do paciente, assentou o magistradode primeiro grau (fls. 35/36):

«Contra Jorge Zavattaro, JoséGuilherme Zavattaro, Wilson Kai-rallah e Walter Lópes de Oliveirapesa a acusação de haverem-seajustado para o fim de constrangeros turtadores e receptadores, me-diante graves ameaças de prisão,espancamento e de morte, visan-do obterem indevida vantagemeconômica representada pelo apos-sarnento das coisas furtadas. Cons-ta, também, da denúncia que Jor-ge, José, Wilson e Walter intitula-vam-se investigadores em suasações contra Antonio Carlos, Fran-cisco, Lourival e o menor JoséCarlos».Noutro passo, sinalou a sentença

(fl. 39):«Aliás, a extorsão praticada por

José Guilherme Zavattaro, JorgeZavattaro, Walter Lopes de Olivei-ra e Wilson Kairallah está cristall-namente demonstrada no depoi-mento de Francisco (fl. 153).

Esclareceu ele que os quatro co-réus o ameaçaram de levá-lo parao Horto Florestal onde o agredi-riam se não lhes entregasse asjóias roubadas.

Também a testemunha AntonioCarlos Correia (fl. 276) confirmoua presença de José Guilherme Za-vattaro «como policial», bem como

120 R.T.J. — 125

Maria Aparecida Conrado (fl. 285)confirmou a «prisão» de Franciscoem um sitio onde estavam Jorge eLourival.

Sem dúvida alguma restou pro-vado que José Guilherme Zavatta-ro, Jorge Zavattaro, Walter Lopesde Oliveira e Wilson Kairallah pra-ticaram a extorsão contra quatropessoas.

Apresentando-se como policiais,detiveram pessoas e as ameaça-ram de agressão, visando obtervantagem econômica com aapreensão das jóias».As fls. 51/55, está, de outra parte,

extenso rol de procedimentos crimi-nais contra o paciente. Qualquer ha-ja sido o resultado dos processos,certo é que não se pode, em realida-de, considerar o paciente portadorde bons antecedentes. É de notarque foi condenado a vinte e um anose quatro meses de reclusão, como in-curso no art. 158, § 1?, quatro vezes,em concurso material, ut art. 51,caput, do Código Penal. Já se deci-diu que, não se confundindo prima-riedade e bons antecedentes, «nãotem bons antecedentes quem, váriasvezes esteve envolvido em ocorrên-cias, inquéritos e processos crimi-nais, sob a suspeita ou a acusação deprática de diferentes crimes» (RTJ83/31).

Do exposto, nego provimento aorecurso.

Nem cabe a pretensão de estender-se ao paciente o beneficio pretendi-do, porque o colendo Tribunal de Al-çada Criminal a quo concedeu or-dem de habeas corpus, em favor deJorge Zavattaro. Com efeito, de refe-rência a este, o acórdão proclamou,a 25-10-84, que era primário e «nãoapresenta maus antecedentes confor-me reconhecido nas informaçõesprestadas pela d. Autoridade impe-trada» (fl. 130). Nas informaçõesdeste feito, observou o Dr. Juiz,quanto ao recorrente (fls. 26/27):

«II — Aos 27 de setembro p.p., opaciente por intermédio de seu ad-

vogado requereu a concessão dobeneficio de que trata o art. 594 doCódigo de Processo Penal. Tal pe-dido mereceu parecer desfavoráveldo Ministério Público e indeferi-mento por parte deste Juizo, queanotou que o paciente, data venia,dos termos da inicial, não possuibons antecedentes, sendo que, in-clusive, já sofreu condenação porcrime doloso».O acórdão, ora recorrido, diferen-

temente do aresto invocado, assen-tou, quanto ao paciente (fls. 70/71):

«Não há dúvida alguma de que arecusa ao direito de interpor apela-ção em liberdade, implícita na sen-tença que determinou a expediçãode mandado de prisão e expressaposteriormente quando o d. Magis-trado entendeu inocorrente o requi-sito dos bons antecedentes, foi mui-to bem decretada.

Compulsando-se os autos, consta-ta-se que o paciente já esteve en-volvido em caso de receptação do-losa (fl. 50), foi condenado por prá-tica de lesões corporais dolosas (fl.55), respondeu a processo por prá-tica de furto qualificado (fl. 56) eoutro por receptação dolosa (fl.57), além de outro feito, de n?494/73 (fl. 58).

E certo que logrou desembara-çar-se de quase todos eles saindocondenado apenas em um. Masainda que de todas as imputaçõesse tivesse livrado, persistiria oconceito de não possuir bons ante-cedentes.

No Colendo Supremo TribunalFederal prepondera o entendimen-to de que: — «Ainda que verdadei-ra seja a alegação da absolviçãoem três outros processos anterio-res, tal fato, por si só, não afasta aafirmada ausência de bons antece-dentes, visto que estes não se con-fundem com a primariedade, con-forme se tem decidido. E o be-neficio de apelar solto exige, ex vido art. 594 do Código de Processo

R.T.J. — 125

121

Penal, «prhnarledade» mais «bonsantecedentes» (JTACrSP, 73/438).

E, no especial caso dos autos,nem a primarledade se acha com-provada, uma vez que, do docu-mento de fl. 55, não constam dadoscapazes de conduzir ao reconheci-mento da chamada «prescrição dareincidência», contemplada no pa-rágrafo único do art. 46 do CódigoPenal.

Assim, além de não possuir bonsantecedentes, o paciente não pro-vou, extreme de dúvidas, o requisi-to da primariedade».Assim sendo, não é de aplicar-se,

desde logo, a extensão pretendida,que só veio a ser postulada, com apetição, de fls. 100/101, a 22-4-1985,que mandei Juntar, com os documen-tos, de fls. 102/132. E de observar,ainda, que o acórdão, ora trazido porcópia, é de 25-10-1984 (fl. 132), ante-rior, portanto, ao aresto recorrido.que é de 22-11-1984 (fl. 72). e da mes-ma colenda Sétima Câmara do Tri-bunal de Alçada Criminal de São

Paulo. A esse fato, outrossim, se-quer, faz referência o mesmo advo-gado impetrante, ao recorrer, ordi-nariamente, da decisão indeferitóriado writ.

EXTRATO DA ATARHC 62.816 — SP — Rel.: Ministro

Néri da Silveira. Recte.: José Gui-lherme Zavattaro (Mv.: Carlos Al-berto Maldonato Martins). Recdo.:Tribunal de Alçada Criminal do Es-tado de São Paulo.

Decisão: Negou-se provimento aorecurso de habeas corpus. Unanime.Falou, pelo Recte.: Dr. José Paulinode Carvalho.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes á Sessão osSenhores Ministros Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Sydney Sanches e Oc-tavio Gallotti. Subprocurador-Geralda República, Dr. Francisco de As-sis Toledo.

Brasília, 3 de maio de 1985 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO DE RABECAS CORPUS 62.839 — SP(Primeira Tina)

Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.Recorrente: Joventino José da Silva — Recorrido: Tribunal de Justiça do

Estado de São Paulo

Habeas Carpia uei Procuraçã em se Identificouo inquérito policial, onde apurados

xa-crime. oos fatos. A timidez

queremissão ao in-

quérito policial equivale ã «menção ao fato criminoso» de que trata oart. 44, do Código de Processo Penal. Recurso desprovido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata deJulgamento e das notas taquigrá-ficas, á unanimidade, negar provi-mento ao recurso de babem comua.

Brasília, 9 de abril de 1985 —Rafael Mayer. Presidente — Néri daSilveira, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Néri da Silveira

(Relator): Em favor de JoventinoJosé da Silva, preso no 47? DistritoPolklal-SP, condenado a 3 anos dereclusão, por Infração ao art. 213.do Código Penal, impetrou-se babas~tu. Indeferido pela colenda Sex-ta Câmara Criminal, do Tribunal deJustiça do Estado de São Paulo. emacórdão com o seguinte teor (tis.36/37):

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«Alegando a nulidade do Proces-so 510/82, referente a uma queixa-crime instaurada contra o pacien-te, pela prática do delito de estu-pro qualificado, Joventino José daSilva impetra, por intermédio dedois advogados, a presente ordemde habeas corpus, objetivando aanulação do referido processo, por-que «a queixa foi ofertada por par-te ilegítima, porquanto o instru-mento do mandato (Doc. n? 3) nãofaz, ainda que resumidamente, amenção ao fato delituoso, consoan-te determina o art. 44, do Códigode Processo Penal».

O pedido veio com cópias dos au-tos principais, bem como as infor-mações prestadas pelo MM. Juizda Segunda Vara Criminal da Ca-pital, indicado como autoridadecoatora.

O parecer da douta Procurado-ria-Geral da Justiça manifestou-sepela denegação da ordem.

Este é, sem síntese, o relatório.Insurge-se o paciente contra os

termos da procuração de fl. 13 que,segundo seu entendimento, porquenão faz «ainda que resumidamen-te, a menção ao fato delituoso, con-soante determina o art. 44 do Códi-go de Processo Penal», acarreta anulidade do processo.

Não tem razão. Assim é que, nãoé necessário que a procuração pa-ra oferecer queixa-crime contenhamenção circunstanciada do fatocriminoso. 2 suficiente a indicaçãodo artigo do Código Penal, isto por-que não há confundir tal procura-ção com o pedido inicial da queixa.

No julgamento do Recurso deHabeas Corpus n? 32.164 (8 de ja-neiro de 1952), o saudoso NélsonHungria fez sentir que não é neces-sária a menção circunstanciada dofato criminoso, na procuração;basta que indique esta no nomenjuris. E, recentemente, a Colenda

Corte foi mais adiante e decidiuque: «A simples remissão ao inqué-rito policial equivale a 'menção dofato criminoso' de que trata o art.44 do Código de Processo Penal»(R.T., vol. 558/420, citado no pare-cer do douto Procurador).

Pelo exposto, denega-se a pre-sente ordem de habeas corpus.No recurso de fls. 41/45, iniste o

paciente no argumento da ilegitimi-dade ad processum do procurador daquerelante, por não preencher a pro-curação de fl. 13 os requisitos do art.44, do Código de Processo Penal, queexige a inserção, na procuração, doartigo da lei ou o nomen juris. Assim— aduz o recorrente — o defeito daoutorga torna ilegítimo o represen-tante da queixosa, devendo o proces-so ser anulado nos termos do art.564, inciso II, do Código já referido.

A Procuradoria-Geral da Repúbli-ca opina no sentido do desprovimen-to do recurso (fls. 55/56).

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Contra o paciente, promo-veu Márcia Perez Gomez queixa-crime,dando-o como incurso no art.213, combinado com o art. 223 (caput— estupro com lesões graves, bemassim nos arts. 129, § 1?, II, e 130, to-dos do Código Penal. Aditou-o o MP.A sentença condenou o paciente porinfração ao art. 213, do CP, absol-vendo-o dos crimes previstos nosarts. 130, caput, e 129, § 1?, III, doCódigo Penal, nos termos do art. 386,III e VI, do CPP.

Na procuração, de fl. 13, José Go-mes Mendez, espanhol, marceneiro,pai da vítima Márcia Perez Gomez,constituiu seu procurador o Dr. Jo-siel Ferreira de Araújo, «principal-mente para promover a competentequeixa-crime contra Joventino Joséda Silva, perante o Juízo da 2? VaraCriminal de São Paulo (proc. 516/82

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e 512/82) e também requerer autori-zação Judicial para promover o abor-to, nos termos da legislação vigen-te». Firmou o documento, por igual,Márcia Perez Gomez (fl. 13). Ao opi-nar, contrariamente à concessão daordem, anotou o Dr. Procurador daJustiça do Estado de São Paulo (fls.29/30:

«Nela figurou expressamente aidentificação do competente inqué-rito policial, por seu prefixo de al-garismos. Neste caso, a procura-ção acha-se em ordem, no que, atitulo de síntese, me reporto a umluminoso verbete jurisprudencialeditado pelo colendo Supremo Tri-bunal Federal:

«A simples remissão ao inqué-rito policial equivale à «mençãodo fato criminoso» de que trata oart. 44 do CPP» (RT 558/420) ».

Acolhendo os fundamentos desseparecer, adotados no pronunciamen-to da Procuradoria-Geral da Repú-blica, bem assim os do acórdão,

transcrito no relatório, nego provi-mento ao recurso. Nenhuma dúvidapode resultar dos termos da procura-ção de fl. 13, quanto ao fato crimino-so, referindo-se o documento aosprocessos onde se apuravam os ilíci-tos imputados ao ora recorrente.

EXTRATO DA ATA

RHC 62.839 — SP — Rel.: MinistroNéri da Silveira. Recte.: JoventinoJosé da Silva (Adv.: Eduardo T.Okazaki). Recdo.: Tribunal de Justi-ça do Estado de São Paulo.

Decisão: Negou-se provimento aorecurso. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Sydney Sanches e Oc-távio Gallotti. Subprocurador-Geralda República, Dr. Francisco de As-sis Toledo.

Brasília, 09 de março de 1985 —Antônio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 62.933 — DF(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Néri da SilveiraRecorrente: Jayme de Almeida Ramalho — Recorrido: Tribunal Federal

de Recursos

Habeas Corpus. Prisão administrativa. Não é inconstitucional oDecreto-Lei n? 3.415/1941. Constituição, art. 153, A 17. Recursodesprovido.

ACÓRDÃO RELATORIO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata deJulgamento e das notas taquigráf I-cas, à unanimidade, negar provi-mento ao recurso de habeas corpus.

Brasília, 30 de abril de 1985 —Rafael Mayer, Presidente — Néri daSilveira, Relator.

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Perante o colendo Tribu-nal Federal de Recursos, o advogadoCássio Feliz impetrou, em favor deJayme de Almeida Ramalho, habeascorpus preventivo, sustentando a in-constitucionalidade do decreto deprisão administrativa do paciente,expedido pelo Senhor Ministro daFazenda, bem assim cerceamento dedefesa (fl. 2/9).

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No julgamento do writ, decidiu oTFR, em Sessão Plenária, por unani-midade, conhecer do pedido e, pormaioria de votos, indeferi-lo, emacórdão que expõe esta ementa:

«Constitucional — Administrati-vo — Processual Penal — Prisãoadministrativa de depositário in-fiel.

Inteligência, com reservas, dosarts. 1? do Decreto-Lei n? 3.415/41,319 do CPP e 214 da Lei n? 1.711/52,segundo o disposto no art. 153, § 17,da Constituição.

A inexistência de prisão civil pordívida é norma constitucional queapresenta, contudo, exceções, umadas quais para permitir a prisãoadministrativa daqueles que, sendoou não servidores públicos, prati-carem alcances ou desvios de benspertencentes á Administração, deque tiverem a guarda e a respon-sabilidade em razão do cargo ou doencargo que lhes for atribuído.

A medida administrativa, seme-lhante àquelas previstas nos arts.1.287 do CC e 284 do C. Com ., tempor finalidade compelir o depositá-rio faltoso a devolver o bem públi-co que estava sob sua guarda.

O parágrafo 17 do art. 153 daConstituição não estabeleceu, nes-se sentido, qualquer restrição àprisão que não for emanada de or-dem judicial, pois o apodo «civil»,que não existia na Constituição de1.946 (art. 141, § 32) e foi inserido apartir da Constituição de 1967 (art.150, § 17) há de ser entendido, sim-plesmente, como o oposto de prisãodecretada em processo criminal.

Habeas Corpus indeferido.»Irresignado, recorre, ordinaria-

mente, com apoio no art,. 119, itemII, alínea c da Constituição Federalo paciente, argüindo, em síntese, nãoter sido intimado seu defensor, parasustentação oral, junto ao Tribunal aquo, da pauta de julgamento, o queconfiguraria, a seu ver, cerceamento

de defesa; ser desnecessária a ma-nutenção da prisão administrativa,ao argumento de que os bens desvia-dos já foram apreendidos, encon-trando-se em poder da Receita Fe-deral; seja julgado inconstitucionalo Decreto-Lei n? 3.415, de 1941 combase no qual afirma ter sido decreta-da sua prisão administrativa, em faceda vedação constante do art. 153, § 17,da Lei Maior (fls. 145/152).

No parecer da fls. 166/169, da la-vra do Professor Francisco de AssisToledo, ilustre Subprocurador-Geralda República, opinou a Procurado-ria-Geral da República pelo impro-vimento do recurso.

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Examinando a espécie, oProfessor Francisco de Assis Toledoassim se pronunciou (fls. 168/169):

«3. Somos pelo improvimento.O julgamento do habeas corpus in-depende de publicação de pauta(Súmula 431), devendo ocorrer naprimeira sessão, tão logo sejapossível (art. 664 do CPP).

Incumbe, pois, ao advogado, quepretenda fazer sustentação oral,acompanhar a tramitação do pedi-do e comparecer à sessão de julga-mento, independentemente de inti-mação. No caso dos autos, houvepedido do impetrante para que fos-se intimado da data do julgamento.Tal pedido, porém, foi indeferido,com apoio no art. 179 do Regimen-to Interno do Tribunal, segundo seinfere do despacho de fl. 91, reco-mendando o Relator à Secretariado Gabinete que se limitasse a «a-visar» ao advogado da realizaçãodo julgamento naquele mesmo dia

Sem razão, pois, o primeiro fun-damento.

4. O § 2? do art. 650 do CPP ex-clui o habeas corpus para exame

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de mérito da prisão administrati-va, salvo se acompanhado de pro-va de quitação ou de depósito doalcance, ou se a prisão exceder oprazo legal.

No caso, não se verifica nemuma, nem outra hipótese. A por-taria ministerial que decretou aprisão atribui ao funcionário-pa-ciente a responsabilidade, com oauxílio de outros, pelo desvio demercadorias no montante de Cri105.0,39.184,00 (fl. 17). O termo derecebimento de fl. 153 é de data an-terior á da portaria, pelo que seconclui ter havido a recuperaçãode parte da mercadoria desviadanão de toda, obviamente.

Assim cai também o segundofundamento.

5. Por fim. a alegada inconsti-tucionalidade do Dec.-Lel 3.415/41está sobejamente refutada nas in-formações da autoridade e no acór-dão, com apoio doutrinário e na ju-risprudência (RTJ 59/727).

Nem há que se cogitar de exten-são da ordem anteriormente conce-dida aos demais implicados, cujasituação não é idêntica a do pa-ciente como se demonstrou.»Quanto à alegada inconstitucionali-

dade do Decreto-Lei n? 3.415/1941, ti-ve ensejo de recusá-la, votando, nes-ta Corte, como convocado, no julga-meto do RECr. n? 67.668-DF, a11.3.1970 (RTJ 59/732 e 733), de cujovoto destaco estes passos:

RO Decreto-Lei n° 3.415, de 10-7-41, provê sobre prisão administra-tiva, cujos hipóteses define em seuart. 1?. De prisão administrativa,expressamente, cuidam, também,o art. 319, do C. Pr. Pen. e o Esta-tuto dos Funcionários Públicos Ci-vis da União (L. 1.711, de 1952). emseu art. 214 e parágrafos.

Sustentam os recorridos ser elamera espécie de prisão civil, e as-sim admissivel, apenas nos ter-mos do art. 150, g 17, da Constitui-

ção de 1967, nos casos de depositá-rio infiel e do responsável pelo ina-dimplemento de obrigação alimen-tar.

Na hipótese dos autos, tratar-se-la de prisão civil por divida, o quea faria inconstitucional.»

Nem prosperaria a argüição deinconstitucionalidade em foco, sevisualizada a matéria, á luz do art.153, ft 17, da Emenda Constitucio-nal n? 1, ou do art. 150, g 17, daConstituição de 1967, porque as hi-póteses de prisão administrativadefinidas no art. 1?, do Decreto-Lein? 3.415/41, e no item I, do art. 319,do C. Pr. Pen., não constituem, emsi, casos de prisão civil por divida.Da só leitura dos dispositivos legisem foco isso se depreende. Ade-mais, anota Pontes de Miranda, apropósito do g 17, do artigo 150, daCarta de 1967, verbis:

«O que a Constituição proíbe é apena de prisão por não-pagamentode dividas, de multas ou de custas,e não a prisão como meio para im-pedir que o qu tem a posse ime-diata de algum

e bem se furte à en-

trega dele», sinalando, em outroPasso:

«Não ofende a Constituição de1967, art. 150, g 17, a regra jurídicasobre prisão civil por se recusar odepositário, extrajudicial ou judi-cial, a devolver o que recebeu, ouaquilo que lhe foi, por sucessão, àssuas mãos; como também não a in-fringe a regra jurídica, que a crieou mantenha, para aqueles casosem que o possuidor ou tenedor decoisa alheia responde como o depo-sitário.

Na técnica legislativa, respondecomo depositário que recusa entre-ga de bem alheio.» (in Comentá-rios à Constituição de 1967, tomo V,Pág. 252).

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No que concerne á alegação deque os bens já estão recolhidos pelaReceita Federal, em realidade, co-mo bem anotou o MPF, à fl. 160, «Orecorrente não comprovou o fato,contentando-se em juntar cópias dotermo de fls. 153/155, arrolando osbens que foram apreendidos em po-der dos réus, o que não significa queforam arrecadados todos os bens re-tirados do depósito público.»

Na hipótese dos autos, como rela-tor, acentuou o ilustre Ministro Car-los Thibau, no TFR, á fl. 103/106,verbis:

00 paciente, como Chefe do De-pósito de Mercadorias apreendidasda Receita Federal era um verda-deiro depositário desses bens, queestavam sob sua guarda e respon-sabilidade.

E não se alegue que a ressalvapermissiva da prisão civil para odepositário infiel, a que alude ex-pressamente o § 17 do art. 153 daConstituição, refira-se, unicamen-te, à hipótese de inadimplementode contrato de depósito, previstonos artigos 1.265 e 1.287 do CódigoCivil, cuja ação própria encontra-se nos artigos 901 a 906, do CPC(Veja-se, também o artigo 284 doCódigo Comercial).

A ressalva constitucional não sedestina a excepcionar somente aprisão judicial de depositários con-tratuais infiéis.

Pontes de Miranda, ao examinaro parágrafo 17 do art. 150 da Cons-tituição de 1967, idêntico ao dispo-sitivo da Carta hoje em vigor, sina-la que:

«Não ofende a Constituição de1967, art. 150, § 17, a regra jurídi-ca sobre prisão civil por se recu-sar o depositário, extrajudicialou judicial, a devolver o que re-cebeu, ou aquilo que lhe foi, porsucessão, às suas mãos; comotambém não infringe a regrajurídica, que crie ou mantenha,

para aqueles casos em que o pos-suidor ou tenedor de coisa alheiaresponde como depositário. Natécnica legislativa, responde co-mo depositário quem recusa en-trega de bem alheio.» (in Comen-tários à Constituição de 1967, To-mo V, pág. 252).No caso da prisão administrati-

va, deve ser posto em confrontocom o dispositivo constitucional oartigo 1? do Decreto-Lei n? 3.415/41,que assim estabelece:

«Art. 1? Aos Ministros de Es-tado, ao Diretor-Geral da Fazen-da Nacional e, nos Estaods, aosChefes das repartições federaisque mandam prender adminis-trativamente todo e qualquer res-ponsável pelos valores, dinheiroe materiais sob a guarda da Fa-zenda Nacional ou a esta perten-centes, nos casos de alcance, re-missão ou omissão em fazer asentradas ou entregas nos devidosprazos e nos casos de desvios demateriais também compete de-cretar a prisão administrativados que, por qualquer modo, seapropriarem do que pertença ouesteja sob a guarda da FazendaNacional e a de quem, sendo ounão sendo funcionário público,haja contribuído, material ou in-telectualmente, para a execuçãoou ocultação desses crimes» (gri-fo nosso).

Ora, segundo a definição deJosé Naufel

«Depositário é a pessoa que re-cebe um objeto móvel alheio,obrigando-se a guardá-lo e zelarpela sua conservação e a restituí-lo no prazo, ou oportunamente;ou ainda, quando reclamada porvia amigável ou judicial.» (in No-vo Dicionário Jurídico Brasileiro,2? volume, página 196 — EditoraKonfino).Tal conceito, extraído da lei ci-

vil, é válido, a meu ver, não so-mente para os contratos de depósi-

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to, como também para os encargosconferidos a seus funcionários eprepostos pela Administração Pú-blica, pois os institutos do CódigoCivil são freqüentemente aprovei-tados no Direito Administrativo, àfalta de uma codificação ou siste-matização adequada.

Por isso é que entendo que a ex-ceção, feita no parágrafo 17 do art.153 da Constituição, à prisão do de-positário infiel, há de ser interpre-tada de modo a não abranger so-mente as hipóteses previstas noart. 1.287 do Código Civil ou no art.284 do Código Comercial, mas to-das as demais hipóteses, previstasem lei, inclusive a de custódia de-cretada em casos de alcances oudesvios praticados em detrimentoda Administração. A medida tempor finalidade compelir o depositá-rio faltoso a devolver o bem públi-co que estava sob sua guarda.

O parágrafo 17 do art. 153 daConstituição não estabeleceu, nes-se sentido, qualquer restrição àprisão que não for emanada de or-dem judicial, data venta, do Sr.Ministro Carlos Velloso, pois o apo-do «civil», que não existia na Cons-tituição de 1946 (art. 141, 32) e foiinserido a partir da Constituição de1987 (art. 150, I 17) há de ser en-tendido, simplesmente, como opos-to de prisão penal, vale dizer, de

prisão decretada em processo cri-minal.

O que a Constituição quis signifi-car foi que, além dos casos de pri-são criminal, só se admitirá a pri-são não criminal do depositário in-fiel e do responsavel pela obriga-ção alimentar.

E isso não é o mesmo que se di-zer que, em todos os casos, só seadmitirá a prisão judicial.»Do exposto, nego provimento ao

recurso.

EXTRATO DA ATA

RHC 62.933 — DF — Rel.: MinistroNéri da Silveira. Recte.: Jayme deAlmeida Ramalho (Advs.: Cássio Fé-lix). Recdo.: Tribunal Federal deRecursos.

Decisão: Negou-se provimento aorecurso de habeas corpus. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Sydney Sanches e Oc-.tavio Gallotti. Subprocurador-Geralda República, Dr. Francisco de As-sis Toledo.

Brasília, 30 de abril de 1985.Antônio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

HABEAS CORPUS N? 63.013 — DF(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.Pacientes: João da Mata Araújo e outro — Impetrantes: José Lineu de

Freitas e outro — Coator: Tribunal de Justiça do Distrito Federal.Habeas Corpus. Alegação de demora na publicação do acórdão, o

que impediria interpor o paciente recurso ordinário. Sua improcedên-cia, estando o apelo em tramitação. Decretada pela autoridade judi-cial a prisão preventiva dos pacientes, não mais cabe, a esta altura, apretendida discussão sobre custódia na fase policial do procedimentocriminal. A determinação de baixa dos autos á Delegacia de Polícia,após o decreto de prisão preventiva, não constitui, em si, constrangi-mento ilegal, máxime quando, posteriormente, os pacientes vieram aser denunciados. Despacho de prisão preventiva que não se pode tercomo desmotivado. Habeas corpus Indeferido.

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ACORDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade, conhecer origi-nariamente do pedido e indeferir nostermos do voto do Ministro Relator.

Brasília, 18 de junho de 1985 —Rafael Mayer, Presidente — Néri daSilveira, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Em favor de João da Ma-ta Araújo e Pedro Inácio Sobrinho,denunciados como incursos no art.157, § 2?, itens I e II, do Código Pe-nal, os advogados José Lineu deFreitas e Apoecides Rocha impetra-ram ordem de habeas corpus, sus-tentando, como constrangimento ile-gal, o fato de o colendo Tribunal deJustiça do Distrito Federal não terpublicado o acórdão referente ahabeas corpus julgado a 19-3-1985, oque lhes ensejaria a interposição derecurso ordinário (fls. 2/7).

Aduzem, ainda, os impetrantes, àfl. 4, que, no habeas corpus julgadono Tribunal a quo, aqui indicado co-mo autoridade coatora, foram argüi-das as nulidades seguintes: ilegalida-de na prisão dos réus, tendo em vis-ta que se concretizou sem mandadode autoridade competente, bem co-mo inocorrência de flagrante delito;baixa do inquérito à Delegacia, comdecreto de prisão preventiva e paracomplementação de diligência, semaudiência do Ministério Público; de-Milícia feita em desacordo com oart. 46, do CPP, e decreto de prisãopreventiva expedido por autoridadeincompetente e com deficiente fun-damentação.

Solicitadas informações, prestou-as o ilustre Presidente do Tribunal

de Justiça aludido, pelo ofício de fls.37/38, nestes termos:

«Em atenção ao Oficio n? 262/P,datado de 6-5-85, tenho a honra detransmitir a Vossa Excelência, como presente, as informações solicita-das para instrução e julgamento doHabeas Corpus n? 63.013-8/DF, emque são pacientes João da MataAraújo e Pedro Inácio Sobrinho eimpetrante José Lineu de Freitas.

Os pacientes foram denunciadosem 12-2-85, como incursos nas pe-nas do art. 157, § 2?, I e II, do Códi-go Penal Brasileiro, sendo a de-ramela recebida pelo MM. Juiz namesma data (Cópia 01).

Em 1-2-65, por solicitação do Dr.Delegado da Delegacia de Roubos

Furtos de Veículos, o MM. Juizdecreta prisão preventiva dos indi-ciados determinando que se expeça

respectivo mandado de prisão(Cópia 02).

Em 13-2-85 os pacientes impe-tram Ordem de Habeas Corpus afim de cessar o constrangimentoilegal, bem como para responder oprocesso em liberdade (Cópia 03).

Neste Tribunal os autos foramdistribuídos à Turma Criminal,tendo como Relator o Des. LúcioArantes, que preferiu, em 14-2-85,despacho indeferindo a liminar plei-teada e determinando que se solici-tassem informações à autoridadecoatora. Esta as prestou ratifican-do os termos da decisão que decre-tou a prisão preventiva (Cópia 04).

Em 22-3-1985 os autos foram ajulgamento quando por unanimida-de foi negada a Ordem de HabeasCorpus. Desta decisão, mesmo sema publicação no Diário da Justi-ça, os pacientes interpuseram, em8-4-85, Recurso Ordinário para essa

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Excelsa Corte, ainda em fase deprocessamento. O processo dehabeas corpus foi remetido à Sub-procuradoria em 6-5-85 para ciên-cia do v. acórdão, que será publi-cado assim que devolvido.

Senhor Ministro, são estas as in-formações que me cabia prestar.

Sirvo-me na oportunidade parahipotecar a Vossa Excelência pro-testos de alta estima e Matinadaconsideração».

Opinou a douta Procuradoria-Geral da República, no parecer defls. 64/66, pelo indeferimento do pe-dido.

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Conheço, assim, do pedi-do, originariamente.

A súplica não pode, entretanto, serdeferida. Nesse sentido, foi a deci-são da Corte indigitada coatora, ha-vendo, no acórdão, que já se envioucom as informações, sido recusadasas alegações da inicial. Eis a ementarespectiva (fl. 54): silabem Corpus.Prisão Preventiva. Legalidade. O de-creto de prisão preventiva, expedidopor autoridade competente, lavradoformal e substancialmente de acordocom a lei, é inquestionável e não setrata de constrangimento ilegal. Di-ligências policiais. As diligências re-queridas pela policia e deferidas pe-lo MM. Juiz são consideradas le-gais».

voto do relator, ilustre Desem-bargador Lúcio Batista Mantos, in-defere o writ, com esta fundamenta-ção (folha 61):

«Os termos da prisão preventivaestão à fl. 25.

Assim, se houve ilegalidade naprisão dos pacientes realizada emPadre Bernardo-GO por falta demandado, foi ela legalizada com odecreto de prisão preventiva, quenão foi expedido por autoridade in-competente como quer a defesa,porque o crime foi cometidb na ju-risdição da autoridade tida comocoatora.

Também não há Ilegalidade narealização de diligencias requeri-das pela policia e deferidas peloMM. Juiz.

A alegada falta de fundamenta-ção da sentença não se justificaconforme se viu de sua leitura.

Também não vejo como remeteros autos ao Ministério Público parasupostas investigações.

Enfim, não vejo como atender àpretensão dos impetrantes no sen-tido de se revogar o decreto de pri-são preventiva que cuidou de asse-gurar a aplicação da lei penal».Decretada pela autoridade judicial

a prisão preventiva dos pacientes,não mais cabe, a esta altura, a pre-tendida discussão sobre prisão na fa-se policial. Também a baixa dos au-tos à Delegacia de Policia, após acustódia preventiva, para sua com-plementação, não constitui, em si,motivo de constrangimento ilegal,máxime, quando, posteriormente, ospacientes vieram a ser denunciados.Quanto aos defeitos da peça acusató-ria, não veio o texto da denúncia aosautos, o que impede se examinemseus aspectos formais. Referente-mente à competência do Juiz prola-tor do despacho de prisão preventi-va, bem anotou a Procuradoria-Geral da República, á fl. 65: «No queconcerne à competência para a de-cretação da prisão preventiva, re-sulta-se esclarecido, do exame dosautos, que a autoridade havida comocoatora assim procedeu porque,além do fato criminoso ter ocorridona Circunscrição Judiciária de So-bradinho, Distrito Federal, a sua

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consumação ali também se efetivou,conforme apurado no inquérito, oque foi plenamente confirmado, comriqueza de detalhes, pelos denuncia-dos, na oportunidade em que interro-gados em Juizo».

Por último, o decreto de custódiapreventiva tem este teor, à fl. 40:

«Vieram-me ter às mãos os au-tos do presente inquérito policialque versa sobre roubo qualificadocuja autoria sem dúvida já foi apu-rada.

Representa o ilustre Presidentedo Inquérito, com fulcro nos arts.311 e 313 do CPP da necessidade dadecretação de suas preventivas,eis que não têm residência no Dis-trito Federal e são diversos osidênticos delitos cometidos pelotrio abaixo qualificado.

O primeiro, João da Mata Araú-jo, brasileiro, casado, natural deCaxias do Maranhão; o segundoPedro Inácio Sobrinho, brasileiro,desquitado, natural de Boqueirãodos Cochos, na Paraíba, e por últi-mo José Oswaldo de tal, sem quali-ficação ainda, todos desemprega-dos.

Compulsando o presente inquéri-to, vê-se que houve o reconheci-mento pela vítima, no que tange aspessoas do primeiro e segundo, eisque o terceiro até então não foicapturado.

Vê-se que o modus operandi dotrio é por demais cruel e até entãopara mim desconhecido, eis quesubmete uma forte dose de barbi-túrico aos seus indefesos motoris-tas, deixando-os dormindo, enquan-to que saem, tranqüilamente, le-vando os carros roubados, em di-versos e locais os mais diversos.

O veículo de propriedade da víti-ma Sebastião Duarte, encontra-se,presentemente, na cidade de Cam-pina Grande, na Paraíba, confor-me se apurou no desenrolar das in-vestigações.

Isto posto, com fulcro no art. 305do CPP e ainda, a farta e robustaprova até então carreada para obojo do inquérito sou compelido adecretar a prisão preventiva dosdois primeiros, determinando quese expeçam os competentes Man-dados de Prisão.

Com relação ao terceiro indicia-do, deixou de lhe aplicar tal medi-da, tendo em vista, exclusivamen-te, falta de elementos que possamvir a individualizá-lo.

Quanto ao pedido fine, autorizo,igualmente, que sejam os indicia-dos conduzidos para outras locali-dades do País, para que possam in-dicar a exata e precisa localizaçãodo veículo de propriedade da víti-ma, ficando a responsabilidade decustódia e integridade física, dosindiciados, sob o próprio Delegadoque representa».No caso, portanto, a falta de resi-

dência dos pacientes no distrito daculpa, a par da gravidade dos moti-vos que os teriam levado à práticado crime, estiveram na consideraçãodo magistrado. Nas informações, nohabeas corpus, antes referido, o Dr.Juiz de Direito anota (fls. 57/58): «Aprisão preventiva de ambos se deucom fulcro no art. 311 do CPP, porsolicitação da autoridade policial,conforme se vê à fl. 30 dos autos. To-dos já foram devidamente interroga-dos e as Defesas Prévias já foramjuntadas aos autos, aguardando ape-nas a serventia a vinda de um mem-bro do Ministério Público para que,imediatamente, seja designada au-diência de instrução. Respondendomais objetivamente ao pedido, res-salte-se que o bando após imobili-zar a vitima, ministrava-lhe barbitú-ricos, em alta dosagem (Diazepan),ingerida com cachaça, com intuitode que dormisse o tempo suficientepara que pudessem se deslocar da-qui para aquele Estado do Nordesteda Federação. Foram recuperados,até então, cinco veículos dos dezoito

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que consta nos presentes autos,esclarecendo-se que tal recuperaçãose deu graças à indicação dos pró-prios pacientes que foram levadosaté a cidade de Campina Grande,dentre outras. Dei-me por competen-te para apreciar o presente feito, vezque além do fato ter ocorrido na Cir-cunscrição Judiciária de Sobradinho,a sua consumação aqui também seefetivou, conforme se apurou no bojodo Inquérito, plenamente confirma-do, com riqueza de detalhes já pelosentão denunciados, quando de seusinterrogatórios em Juízo, visto que aimobilização final definitiva da víti-ma Sebastião Duarte, motorista dotáxi placa TX 0712-DF, VolkswagemVoyage, c& branca, ano 1982, se deuna altura da Embrapa, empresa lo-calizada na BR-020, dentro aindadesta Jurisdição. Apenas a título deesclarecimento, informo ainda a Vos-sa Excelência que os decretos pre-ventivos foram estribados nos arts.311 e 313 do CPP, adotando-se o quedetermina o art. 315 do mesmo diplo-ma legal».

Embora, dessa sorte, sob o aspec-to formal, o despacho não se tenhaexplicitado, de maneira escorreita,exato está no contexto da decisãocuidar-se de conveniência da instru-ção criminal e para garantia da apli-cação da lei criminal. Disse-o, nessesentido, com procedência, em seuvoto, o Desembargador !rajá Pimen-tel, à fl. 61:

«Senhor Presidente, ficaria mui-to feliz se, realmente, pudesse medeparar com um decreto de prisãopreventiva do MM. Juiz de Sobra-dinho, lavrado formal e substan-cialmente de acordo com a lei.

Entretanto, S. Exa., fugindo á in-dagação precisa dos requisitos in-sertos no art. 312 do Código de Pro-cesso Penal, que justificariam acustódia cautelar, terminou pordiscorrer amplamente como os fa-tos se deram e, nessa sua disserta-ção, enveredou por caminhos não

tradicionais, revelando os funda-mentos que, afinal, justificariamaquele decreto de prisão preventi-va.

De tudo que li no memorial ofe-recido pelo digno Impetrante e noselementos de prova que acompa-nham a impetração, concluí queesse decreto de prisão preventivase impunha para garantia da or-dem pública, por conveniência dainstrução criminal e até mesmopara assegurar a aplicação da leipenal. A alegação de que o magis-trado de Sobradinho seria incom-petente para a lavratura daqueledecreto, carece no mínimo de pro-va do local exato onde a infraçãose deu e, naturalmente, que, na se-de de habeas corpos, a prova detal circunstância é impossível deser ministrada. Além disso, não foioferecida. No curso da instruçãocriminal, a demonstração poderáser feita e, eventualmente, argüidaa incompetência daquele Juízo.

Houve ainda urna alegação sobrea qual se emprestou grande ênfaseacerca do fato de os pacientes te-rem sido presos antes da lavraturado decreto de prisão preventiva. Ailação, entretanto, é tirada de umasimples referência consignada na-quele decreto e, a meu ver, resul-tante muito mais do modo comohabitualmente se expressa aquelaautoridade judicante do que pro-priamente emergente dos fatos dacausa. Sem dúvida, para que seapure um caso como o vertente, apolicia no mínimo terá que trazeros autores do delito à Delegaciapara realizar diligências como, porexemplo, o reconhecimento dos in-diciados pelas vitimas. O fato, en-tretanto, de se trazer tais pessoasao recinto da Delegacia policialnão importa em dizer que esses in-divíduos estejam presos. A prisãoé ato de encarceramento, de segre-gação, de sujeição do indivíduo alimites restritos para sua liberdadede ação.

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Assim, entendo que, na verdade,quando decretada aquela prisãopreventiva, estariam os pacientesnas dependências policiais, masnão tive como concluir que eles jáestivessem presos

Por último, a alegação que ouvifoi de que, decretada a prisão pre-ventiva, os autos do inquérito re-tornaram á Policia. Fato absoluta-mente de conformidade com a lei eque não merece nenhuma censura.

Por tais condições, denego a or-dem de habeas corpus.»Releva conotar, na espécie, que se

trata de pacientes denunciados comoincursos no art. 157, § 2?, I e II, doCP, sendo que um dos co-réus aindanão foi capturado, o que bem apontaa conveniência de manter-se a custó-dia decretada.

Do exposto, indefiro o habeascorpus.

EXTRATO DA ATA

HC 63.013 — DF — Rel.: MinistroNéri da Silveira. Pactes.: João daMata Araújo e outro. Imptes.: JoséLineu de Freitas e outro. Coator:Tribunal de Justiça do Distrito Fede-ral.

Decisão: Conheceram originaria-mente do pedido, mas o indeferiramnos termos do voto do Ministro Rela-tor. Unânime. Falou pelos Pactes.:Dr. José Lineu de Freitas.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Sydney Sanches e Oc-távio Gallotti. Subprocurador-Geralda República, Dr. Francisco de As-sis Toledo.

Brasília, 18 de junho de 1985.António Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 63.314 — MG(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.Recorrente: Hipólito Jordão. Recorrido: Tribunal de Alçada do Estado

de Minas Gerais.

Habeas Corpus. Nulidade do processo. Citação-edital. Réu comendereço certo, que estava viajando, à data da diligência do oficial dejustiça, para citá-lo. Não repetição das diligências, embora suficienteo prazo, até a realização da audiência. Não certificou o meirinho, ou-trossim, estivesse o réu em lugar Incerto e não sabido ou tentasse aocultação para não ser citado. Citação-edital nula. Recurso provido,concedendo-se o habeas corpus e anulando-se a sentença e o processo,a partir da citação-edital inclusive, para que, regularmente, seja cita-do o réu, prosseguindo-se no feito.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata deJulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade, dar provimentoao recurso de habeas corpus nos ter-mos do voto do Ministro Relator.

Brasília, 13 de setembro de 1985 —Rafael Mayer, Presidente — Néri daSilveira, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Em favor de Hipólito Jor-dão, condenado á pena de 02 anos dedetenção, por incurso no art. 121, §

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3?, do Código Penal, o advogadoNelson Xisto Damasceno impetrouordem de habeas corpus, perante ocolando Tribunal de Alçada do Esta-do de Minas Gerais, sustentando anulidade do processo, a partir da ci-tação por edital (fls. 2/7).

No julgamento do wrlt, decidiu oTribunal a quo por unanimidade, de-negar a ordem, estando no voto doilustre Relator sumariada a espécie,nestes termos (fls. 91/92):

«Em longa petição, a que acos-tou, praticamente, todas as peçasdo processo, até agora, o advogadoDr. Nelson Xisto Damasceno impe-tra ordem de babaria corrais em fa-vor do paciente Hipólito Jordão,processado na comarca de SantosDumont, incurso nas sanções doart. 121, 39, do CP.

Alega nulidade do processo, a cu-ja extinção pretende chegar, ba-seado em que estaria eivado dovicio insanável, qual o da citaçãoinicial, malferindo o principio cons-titucional da ampla defesa.

Da leitura de todos elementosdos autos, notadamente, e comacurado exame, dos elementos per-tinentes ao fim colimado, chega-sea conclusão contrária à postulação.

A citação do paciente foi feitapor edital; o processo correu à re-velia, após várias tentativas paralocalizar o acusado, ora paciente,expedindo-se, inclusive, duas pre-catórias, devidamente cumpridas,assim que certificado, esgotados osmeios previstos em lei e de atinén-cia ao caso, que ele não fora en-contrado. Afinal, a atenção e des-velo legais pela defesa da liberda-de, tem seus limites traçados, forados quais não podendo a Justiçaquedar-se ao capricho, desobediên-cia, descaso e calculada rebeldiados que delinqúem ou a desrespei-tam.

Além do mais, a matéria, comojá frisada em outra oportunidade,demanda discussão de prova, o que

defeso é em habeas corpus inde-pendentemente disto ausente, co-mo se expôs, a nulidade previstano art. 648, VI, do CPP. A hipóteseé das que desafiam discussão emrecurso ordinário e próprio.

Denego a ordem impetrada».Irresignado, interpôs o paciente

recurso ordinário (fls. 94/97), onderetoma os argumentos constantes daimpetração vestibular.

Opinou a douta Procuradoria-Geral da República, no parecer defls. 108/110, da lavra do ilustre Pro-fessor Francisco de Assis Toledo,ilustre Subprocurador-Geral da Re-pública, pelo improvimento do recur-so.

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Em virtude de acidentede trânsito, de que resultaram viti-mas, velo o paciente, motorista pro-fissional (fl. 10), a ser processado,na comarca de Santos Dumont, MG(fl. 10). Na Portaria, do Delegado dePolicia, ao instaurar-se o procedi-mento criminal, registrou-se o ende-reço do recorrente — rua Guaxupé,101, Belo Horizonte (fl. 10). O indi-ciado foi qualificado, por precatória,em Belo Horizonte, a 5-7-1983 (fl. 84).Designada data para o interrogató-rio (fl. 63 e v.), expediu-se carta pre-catória intimatória à comarca deBelo Horizonte. O oficial de Justiçacertificou que, no endereço, deixoude intimar o réu, «uma vez que omesmo se encontra viajando confor-me informações de sua filha», Note-se que a audiência fora designadapara 3-10-1983, às 13,00 horas, sendoa certidão de 30-9-1983 (fl. 68 v.). De-signada nova data para o interroga-tório (28-3-1984, às 13,00 horas), nodespacho, de 22-2-1984, o Dr. Juiz de-terminou a citação por edital e, ain-

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da, a remessa, ao endereço do acu-sado, em Belo Horizonte, de umacarta simples (sic), dando-lhe ciên-cia do interrogatório (fl. 69). Houvecitação-edital e, não comparecendo oréu, determinou o Dr. Juiz, ao desig-nar nova data para o Interrogatório(26-6-1984), se expedisse carta preca-tória à comarca de Belo Horizonte,«onde tem endereço certo» (sic) (fl71). Remetida a carta precatória,em abril de 1984, a 28-5-1984, certifi-cou o Oficial de Justiça (fl. 75) que,no endereço indicado, deixara de in-timar o réu, «pois o mesmo se en-contra viajando para o interior doEstado do Pará (o acusado é moto-rista profissional de caminhão), con-forme informações de sua filha».Sem nova diligência, a 18-6-1984,devolveu-se a carta precatória (fl. 75v.). A seguir, designou-se nova data(8-11-1984), para o interrogatório doacusado, «que será citado por edital»(sie), conforme o despacho de fl. 76.

Não comparecendo o paciente, nadata referida, designou-se defensordativo, prosseguindo o feito, revel opaciente, até final sentença, que foicondenatória (fls 80/81 v.).

Nenhuma dúvida se pós, quanto aoendereço certo do paciente. Nele foiprocurado e não resultou negativa ainformação, relativamente á resi-dência do acusado. Se, em ambas asvezes, o Oficial de Justiça esteve emuma só oportunidade no endereço deréu, tenho como certo que não podia,desde logo, ser citado por edital, pa-ra o interrogatório, sem se esgota-rem providências para a citação pes-soal do acusado. Trata-se de moto-rista profissional, cujo trabalho con-siste em viajar com caminhão trans-portador. No segundo mandado, oOficial de Justiça dispunha de prazosuficiente para tentar, em outrasoportunidades, a citação do réu, oque não fez (fl. 75 v.). Note-se que acertidão é de 28-5-1984. O interroga-tório estava designado para 26-6-1984. Os autos da carta precatória

somente se devolveram a 10-7-1984.Vê-se que a conclusão ao MM. Juizse deu a 18-6-1984, o que bem signifi-ca ter existido prazo suficiente paranovas diligências do Oficial de Justi-ça (fl. 78 v.).

Examinando, detidamente, os au-tos, convenci-me da procedência doparecer do Dr. Procurador da Justi-ça do Estado de Minas Gerais, quan-do opinou pelo provimento do recur-so, às fls. 99/101, In verbis:

«1. Note-se que o Recorrentetem endereço certo e conhecido, oque vale dizer, cabia ao oficial in-cumbido da diligência esforçar-se,sem eiva de menoscabo ou desídia,no sentido de bem cumpri-la, o quenão fizera, pois sequer retornaraao endereço indicado, limitando-sea certificar, negligentemente, que«o mesmo se encontrava viajando»(fl. 68 v.). Se assim é, descabia oedital. A Justiça não pode ser ne-gligente, sob pena de tornar-se in-justa.

Ainda que coubesse a via edi-talicia, esta só poderia ser utiliza-da se o oficial estivesse certificadoexpressamente que o Recorrentese achava em lugar incerto e nãosabido, por constituir condição sinequa non à sua utilização. Como sesabe, define requisito básico aoedital encontrar-se o citando (ouintimando) em lugar ignorado. Ooficial da diligência não se anima-ra a certificá-lo, porque sabia queo Recorrente tinha endereço certoe conhecido e que apenas estavaviajando. E se apenas viajava,mas continuava a residir no ende-reço indicado, não se poderia utili-zar, por óbvias razões, o edital.Faltavam seus pressupostos.

Se assim é, o ato editaliciomostra-se induvidosamente eivadode nulidades, senão vejamos:

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A uma, sequer houve, a permitiredital, certidão do oficial de queRecorrente estava em lugar in-

certo e não sabido, para efeito deter-se exaurida a totalidade dasmedidas conduzentes à efetivaçãodo ato a seu cargo;

A duas, o edital só poderia serexpedido após ter sido lavrada acompetente certidão, isto é, a deestar o Recorrente em lugar nãosabido e incerto;

A três, não constam dos autos oselementos essenciais à configura-ção da revelia e hábeis à indispen-sável justificação do uso do edital;

A quatro, conseqüentemente, o r.despacho determinativo do edital(fl. 69), com base na suposta reve-lia, fora exarado em descompassocom a Lel Adjetiva Penal, porinobservância dos imprescindíveisrequisitos.

A utilização do edital, parater eficácia, deve ser antecedidade ampla procura da pessoa acusa-da, no endereço indicado nos res-pectivos autos. Não efetivada am-plamente, essa procura, evidencia-do fica o cerceamento de defesa, aapontar a anulação do processo, acontar do edital.

Houve, pois, salvo mais apro-fundada análise, prejuízo à defesa,

que sugere e conduz ao reconhe-cimento da nulidade invocada».

Não se configura, na espécie, a hi-pótese de ocultação do réu para nãoser citado. O Oficial de Justiça nãocertificou tal, nem é cabível concluirdessa maneira, a partir das transcri-tas certidões. Não se aplicam ao ca-so, assim, os artigos 355, 2?, e 362,ambos do Código de Processo Penal.Nem era de considerar o disposto

no art. 361, do CPP, pois o acusado ti-nha endereço certo. Cumpria ao Ofi-

cial de Justiça, na expressão deEspínola Filho, procurá-lo, «continua-da, insistentemente, mandando-lherecados; de qualquer sorte, é indis-pensável informe, na certidão, sobreas diligências feitas para encontrá-lo, a fim de concluir o Juiz sobre arealidade de sua ocultação». (In Có-digo de Processo Penal BrasileiroAnotado, vol. 3, pág. 567).

Compreendo, assim, que a citação-edital do paciente foi nula, do que re-sulta a nulidade do processo, diantedo manifesto prejuízo à sua defesa,que, praticamente, não ocorreu.

Do exposto, dou provimento ao re-curso, para conceder o habeas cor-pus e anular a sentença e o processo,em que condenado o paciente, desdea citação-edital, inclusive, para que,regularmente, seja citado, prosse-guindo-se, no feito, até final decisão.

EXTRATO DA ATA

RHC 63.314 — MG — Rel.: MinistroNéri da Silveira. Recta: HipólitoJordão (Adv.: Nelson Xisto Damas-ceno). Recdo.: Tribunal de Alçadado Estado de Minas Gerais.

Decisão: Deu-se provimento ao re-curso de habeas corpus, nos termosdo voto do Ministro Relator. Unâni-me.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Sydney Sanches e Oc-távio Gallottl. Subprocurador-Geralda República, Dr. José Arnaldo Gon-çalves de Oliveira.

Brasília, 13 de setembro de 1965 —António Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

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RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 63.376 — RJ(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.Recorrente: Fernando de Jesus Teixeira, vulgo «Botão» — Recorrido:

Tribunal de Alçada Criminal do Estado do Rio de JaneiroHabeas Cmpus. Cerceamento de defesa. Falta de intimação do

advogado do réu, para oferecer alegações finais. Constituição, art.153, 15. Recurso provido, para anular, parcialmente, o processo,reabrindo-se o prazo do art. 500, do CPP, para a defesa, com a regu-lar intimação do patrono do acusado.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade, dar provimentoao recurso de habeas corpus, nostermos do voto do Ministro Relator.

Brasília, 4 de outubro de 1985 —Rafael Mayer, Presidente — Néri daSilveira, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): O advogado Antonio Jorgede Souza impetrou habeas corpus,perante o eg. Tribunal de AlçadaCriminal do Estado do Rio de Janei-ro, em favor de Fernando de JesusTeixeira, Vulgo «Bocão», ora presono DESIPE, condenado a cinco anose quatro meses de reclusão e multade Cri 8.000,00, por infração ao art.157, § 2?, I e II, do Código Penal (fl.14), alegando a nulidade do processode que resultou a condenação do pa-ciente no Juizo de Direito da VaraCriminal da comarca de Teresópolis-RJ, a partir das alegações finais, in-clusive, por falta de intimação doadvogado constituído nos autos parao oferecimento daquelas alegações,ou, por falta de intimação do defen-sor, quanto aos termos da sentença(n. 2).

Decidindo a súplica, a eg. 4? Câ-mara, do mencionado Tribunal, defe-riu o pedido, em acórdão assimementado (fl. 27):

«Habeas corpus — Falta de inti-mação da sentença ao Advogado —Ordem concedida para reaberturado prazo recursal».Inconformado, recorre ordinaria-

mente o paciente (fls. 31/32), insis-tindo, apenas, no primeiro funda-mento da inicial (falta de intimaçãodo advogado para oferecer alegaçõesfinais), por entender que a decisãorecorrida conflita com a jurispru-dência desta Corte e com o princípioemanado do artigo 153, § 15, da Cons-tituição Federal, devendo ser anula-do o processo e reaberto o prazo doart. 500, do CPP, ao advogado doréu.

A Procuradoria-Geral da Repúbli-ca opina no sentido do provimento dorecurso (fls. 40/41).

2 o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Néri da Silveira

(Relator): Está no parecer daProcuradoria-Geral da República, àsfls. 40/41, verbis:

«O v. acórdão impugnadolimitou-se a conceder a ordem im-petrada tão-só para reabrir ao Re-corrente o prazo recursal, eis que oJuízo coator informara não ter sidoo Patrono do Recorrente intimadoda sentença.

Razão assiste ao Recorrente.Senão, vejamos:Não resta dúvida, ante o Magis-

tério dessa Egrégia Corte, (RHC60.526, RTJ 106/132; FW 58.755, RTJ

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100/552; RHC 60.653, RTJ 106/148;HC 61.402, RTJ 109/114) que a defe-sa do Recorrente resultou cercea-da. O defensor constituído deve serintimado para ciência do prazo deoferecimento das alegações finais.A ausência de tal ato configura nu-lidade diante do preceito constitu-cional da garantia de ampla defe-sa, com os recursos a ela ineren-tes.

Por outro lado, não procede a ar-gumentação de que a intimação dopatrono do Recorrente teria sidofeita por carta, conforme noticiouo MM. Juiz informante, uma vezque a lel processual penal não con-templa essa forma de intimação,ao contrário da civil e trabalhista».No parecer refere-se a orienta-

ção da Corte acerca da matéria. NoRHC 62.173-2/RJ, esta Turma, a11-12-1984, relator o ilustre MinistroOctavio Gailotti, decidiu, em arestoassim ementado: «Alegações finais.A abertura do prazo para a suaapresentação (Código de ProcessoPenal, art. 500) depende de intima-ção do defensor do réu, sob pena denulidade, ante a compreensão dada,pela jurisprudência deste Tribunal,ao princípio de ampla defesa, asse-

gurado no art. 153, § 15, da Constitui-ção Federal (RHC 60.526, RTJ106/132; HC n? 58.755, RTJ 100/552;RHC 60.653, RTJ 106/148; HC 61.402,RTJ 109/114)».

Do exposto, dou provimento ao re-curso, para que o processo seja anu-lado, a partir das alegações finais in-clusive, devendo intimar-se, regular-mente, o defensor do réu.

EXTRATO DA ATARHC 63.376 — RJ — Rel. Ministro

Néri da Silveira. Recte.: Fernandode Jesus Teixeira, vulgo «Bocão»(Adv.: Antonio Jorge de Souza) Rec-do.: Tribunal de Alçada Criminal doEstado do Rio de Janeiro.

Decisão: Deu-se provimento ao re-curso de habeas corpus, nos termosdo voto do Ministro Relator. Unâni-me.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Sydney Sanches e Oc-tavio Gallotti. Subprocurador-Geralda República, Dr. Francisco de As-sis Toledo.

Brasília, 4 de outubro de 1985 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO DE HiU3EAS CORPUS N? 64.172 (EDc1) — SE(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Embargantes: Gentil Barbosa de Jesus e outros — Embargado: Tribunal

de Justiça do Estado de Sergipe.Crime contra a economia popular (art. 2?, VI, da Lei n? 1.521/51).Embargos declaratórios apresentados pela quarta vez, com cará-

ter infringente e manifesto propósito protelatórie. Rejeição. Providen-cias determinadas no acórdão, assim como advertência a Advogadodos embargantes.

Firmou-se no STF, em plenário, a partir do julgamento ;inânimedo RHC n? 64.182-2-RS, a 1?-7-1966, o entendimento no sentido de que odesrespeito ao congelamento de preços, determinado pelo art. 36 doDec.-Lei nt 2.283, de 27-2-1965, e equiparado a tabelamento. para todosos efeitos (inclusive penais), pelo Parágrafo 2? do art. 35 do Dec.-Lela? 2.284, de 104-1966, pode configurar, em tese, o delito previsto noart. 2?, VI, da Lel n? 1.521/51.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas por unanimidade de votos, emrejeitar os embargos de declaração,nos termos do voto do Ministro Re-lator.

Brasília, 4 de agosto de 1987 —Oscar Corrêa, Presidente — SydneySanches, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Sydney Sanches: 1.Julgando o RHC n? 64.172-5-SE, estaTurma, a 16-9-1986, lhe negou provi-mento, ficando o acórdão assim emen-tado:

Crime contra a economia popu-lar.

Artigo 2?, VI, da Lei n? 1.521/51.Prisão em flagrante de Supervisore de Gerente de estabelecimentospertencentes a uma empresa ex-ploradora de Hiper-Mercado. Ex-tensão do inquérito policial à con-duta dos sócios-administradores daempresa, a requerimento do Minis-tério Público, acolhido pelo Juiz,por suspeitas de co-autoria. Ha-beas corpus impetrado para tran-camento do inquérito. Denegaçãopelo acórdão recorrido. Recurso deHabeas corpus improvido. Aplica-ção da Súmula 568. Tardia alega-ção de atipicidade penal da condu-ta dos pacientes, ademais inde-monstrada para efeito de conces-são de ordem de oficio.

Se há suspeita de co-autoria decrime, a apuração desse fato, eminquérito policial, não configuraconstrangimento ilegal» (fl. 98).

2. Os recorrentes opuseram osprimeiros embargos declaratórios

(fls. 100/101), que foram rejeitadosàs fls. 103/108, com o julgado assimse resumindo à fl. 108:

«Embargos declaratórios. Inexis-tência de obscuridade, dúvida, con-tradição ou omissão, no acórdãoembargado, que devam ser sana-das mediante embargos de decla-ração. Caráter infringente da im-pugnação. Rejeição» (fl. 108).

Novos embargos declaratórios(os segundos) foram apresentadospelos recorrentes (fls. 110/111) e re-jeitados às fls. 121/138, verbis:

«Embargos declaratórios. Inexis-tência de omissão, dúvida, obscuri-dade ou contradição no acórdãoembargado. Descabida pretensãode reforma deste. Rejeição, recu-sada, ainda, a concessão de habeascorpus de oficio» (11. 138).

Outros embargos de declara-ção (os terceiros) deduziram os re-correntes (fls. 140/142), que os viramrepelidos às fls. 169/179.

Eis o resumo desse julgado a fl.179:

«Crime contra a economia popu-lar. Venda de mercadorias por pre-ço superior ao de tabela (art. 2?,inciso VI, da Lei n? 1.521 de 26-12-1951 ). Congelamento de preços de-terminado pelo art. 36 do Decreto-Lei n? 2.283, de 27-2-1986, e equipa-rado a tabelamento, para todos osefeitos ( inclusive penais), pelo pa-rágrafo 2? do art. 35 do Decreto-Lein? 2.284, de 10-3-1986, que entrouem vigor a 11-3-1986, data da infra-ção.

Embargos de declaração (tercei-ros) rejeitados, dado o caráter in-fringente que ostentam.

Exame, todavia, da alegação deatipicidade penal, para efeito deeventual concessão de habeas

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corpus de oficio (art. 193, II, doRISTF).

Ordem não concedida.

Rejeição dos embargos, conside-rados, ademais, protelatórios, comdeterminação de expedição de ofi-cio de comunicação do resultado àsinstâncias de origem, para se evi-tarem novas protelações» (fl 179).

As fls. 166 e 168, em data de 16-2-1987, foram feitas ao Presidente doTribunal de Justiça de Sergipe e aoJuiz da Vara Criminal de Aracaju-SE as comunicações determinadasnesse último acórdão, que rejeitou osterceiros embargos declaratórios.

As fls. 181/185 os recorrentesapresentaram novamente embargosde declaração (os quartos), alegandoo seguinte:

«1. A despeito de haver postula-do sobre a atipicidade penal deconduta, em face de Recurso deHabeas corpus, já tramitando nes-ta Augusta Corte, sem êxito, parareconhecer do Recurso de Oficio(Art. 193, inciso II do RISTF)parece-me que, motiva recurso e,ipso facto o Plenário deve tomarconhecimento porquanto a decisãopresente enseja conflito com a de-cisão da Segunda Turma, em RHÇ64.802-9-PR, na voz do eminente Mi-nistro Carlos Madeira;

O voto do eminente Ministro Car-los Madeira, assim expõe:

«Este Tribunal, em decisão ple-nária, já se pronunciou sobre a ati-picidade penal de conduta do co-merciante que desrespeita o conge-lamento de preços. E que o conge-lamento é medida de pura conten-ção, cuja desobediência importaem sanções administrativas. Só ainfringência ao tabelamento confi-gura o tipo do inciso VI do artigo

241 da Lei n! 1.521/51, que especifi-ca os crimes contra a economia po-pular» e transcreve, ipisis litteris,o trecho — e adiante diz —

«Ora ao serem congelados ospreços, os órgãos competentes ape-nas visaram a sofreá-los, a conte,-los, sem ter real controle sobre oque realmente se praticava nomercado. O congelamento foi umamedida preliminar para ensejar otabelamento.

Sem tabelamento não podia seaperfeiçoar o tipo penal da trans-gressão da tabela de preços. Mes-mo que o § 35 do art. 35 doDecreto-Lei n? 2.284, de 10-3-86, te-nha equiparado ao tabelamento ofi-cial de preços, faltava a medidaem que se podia identificar o ex-cesso transgressor do comercian-te. Só esta torna obrigatória a con-duta de quem vende ou oferece aopúblico gêneros ou mercadorias.

E em referência a ela que a lei éou não violada, e surge o agente docrime contra a economia popularpor vender ou oferecer mercadoriaPor preço desmarginado» e concluipela atipicidade penal de conduta,dando pelo provimento ao recurso,em todos os seus termos.

3. Evidente, permissa venta, osubscrevente da presente não pos-tula de má-fé, obviando protela-ções, mas, tão-somente para, aten-do ao contido no artigo 2? do Códi-go Penal e arte. 153, § 2? e 16, daConstituição Federal, conceder, deofício, o writ.

3.1. Por força de argumentaçãoainda que, existindo tabela, com-provando que o preço de vinagre,equivalente ao vinagre canário, évendido mais caro, não se podedizer houve violação a Lei 1.521/51,inciso VI, e no dizer do Aresto, pu-blicado no dia de hoje, a atipicida-de penal aflora inconteste, DJ 13-3-1987, pág. 3 1.

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RHC 64.802-9-PR.Re.: Min. Carlos Madeira.Rectes.: Antonio Luiz Roxo de

Oliveira e outros (Adv.: Raul So-lheld). Recdo.: Tribunal de Alçadado Estado do Paraná.

Decisão: Provido o recurso paraconceder a ordem. Unânime. 2?Turma, 17-2-87.

Ementa: Crime contra a econo-mia popular. Não constitui crimecontra a economia popular a deso-bediência ao congelamento geraldos preços, determinado pelo De-creto-Lei n? 2.283, de 1986. Sem otabelamento dos preços não se con-figura a transgressão penal, pre-vista no art. 2?, VI, da Lei n? 1.521,de 1951.

O simples congelamento resultaem sanções administrativas, masnão o tipo previsto na lei, cuja me-dida é a tabela dos preços.

Recurso de habeas corpus provi-do para conceder a ordem».

3.2. Com efeito, «havendo maté-ria em que divirjam as Turmas en-tre si ou alguma delas em relaçãoao Plenário» (Art. 22, § único, letraa do RISTF) Vossa Excelência, nasua alta sabedoria, poderá levar amatéria ao conhecimento do Plená-rio, máxime, em se tratando deRecurso de Habeas Corpus, inexis-tente, no Regimento «Embargos deDivergência» em matéria crimi-nal, aplicável, data venta, (enten-dimento do subscrevente) analogi-camente.

Ante o exposto, o Embargantepede e requer a V. Exa. se dignede, em recebendo o presente, antea manifesta divergência de Arestossubmeter o feito ao Plenário, e jul-gando os embargos, conheça deoficio o Recurso, concedendo owrit, e trancando o séquito crimi-nal, por absoluta, manifesta atipi-cidade criminal (Art. 193, inc. II doRISTF)». (fls. 181/185).

Os quartos embargos declara-tórios vieram instruidos com cópiado v. acórdão proferido pela E. 2?Turma, no RHC n? 64.802-9-PR, e dooficio expedido por seu ilustre Presi-dente, comunicando a concessão daordem naquele caso (fi 186).

A fl. 192/v?, como Relator, pro-feri o seguinte despacho:

«Requisitem-se informações aoMM. Juiz da 2? Vara Criminal deAracaju sobre a abertura, ou não,de inquérito policial contra os re-correntes, bem como sobre even-tual andamento, devendo S. Exa.se dirigir, se necessário, à Autori-dade Policial.

Oficie-se e expeça-se «telex».Encareça-se urgência na resposta.

Intime-se.Brasília, 17-3-87».

Expedidos, em cumprimentoao despacho transcrito no item ante-rior, o «telex» e o oficio de fls.194/196, o Advogado dos embargan-tes, peticionou à fl. 198, requerendoprazo para apresentação de memo-rial e ampliação dos embargos.

Na petição despachei:«J. Aguarde-se cumprimento de

despacho, com a resposta de ofícioe «telex» ao MM. Juiz da 2? VaraCriminal de Aracaju».

A fl. 202 foi expedido «telex»ao MM. Juiz, que, a 5 de maio de1987, enviou a este Relator o seguin-te ofício:

«Senhor Relator,Em atendimento ao ofício n?

134/R, datado de 20-3-87 e telex de19-3-87 e 30-4-87, informo que nesta2? Vara Criminal, consta inquéritopolicial contra Manoel FranciscoMacedo Gois, que conclusos enca-minhamos ao órgão público paraoferecimento de denúncia.

A Promotoria de Justiça reque-reu, na época, o fichamento dos se-nhores Gentil Barbosa de Jesus,

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141

Manoel Barbosa de Jesus, GeraldoMagela Barbosa Prata, Pedro Al-cântara Prata Barbosa e CarlosAlberto Vasconcelos. Do pedido, foidevolvido o inquérito à DelegaciaPara atendimento da cota do Mi-nistério Público. Posteriormente, aProcuradora dos mesmos, ingres-sou com um pedido de Habeascorpos, no Tribunal de Justiça des-te Estado, o qual rol atendido pelaEgrégia Câmara Criminal, limi-narmente, estando os autos emcartório, aguardando a decisão deHabeas Corpue impetrado em graude recurso ordinário perante esseEgrégio Supremo Tribunal Fede-ral.

Na oportunidade renovo ao ilus-tre Relator, protestos de elevadaestima e consideração.

Cordialmente,Dr. Rinaldo Costa e Silva — Juiz

de Direito da 2! Vara Criminal»(fl. 204).11. Proferi, então, à fl. 206, o des-

pacho do teor seguinte:«Face ao que consta de fl. 204,

encaminhem-se cópias autentica-das do acórdão de fls. 169/179, aoMM. Juiz de Direito da 2! VaraCriminal de Aracaju, Ser gipe e aoDr. Delegado de Policia Federalnaquela Capital (fl. 73), comuni-cando-lhes que, com a denegaçãodo Habeas Corpus, em grau deRHC (n! 64.172-5-SE) pelo SupremoTribunal Federal, ficou liberada aabertura de Inquérito policial paraapuração de responsabilidade cri-minal dos sócios administradoresda empresa G. Barbosa e Cia.Ltda., como requerido pelo Minis-tério Público (fl, 34) e deferido pe-lo MM. Juiz (fl. 33).

No prazo de 15 dias, o MM. Juize o Dr. Delegado deverão enviarinformações a este Relator sobreas providências tomadas, após orecebimento dos ofícios desta Cor-te, determinados neste despacho»(fl. 206).

A fl. 213 está um «telex», quese protocolou nesta Corte a 29-8-87,sem identificação do expedidor, e àfl, 215 oficio do Delegado de PoliciaFederal de Aracaju, Sergipe, Bel.Miguel Angelo Penteei, datado de 22-6-1987 com a seguinte comunicação:

«Em resposta ao Oficio n! 328/87— DG, informamos a V. Exa.. queo Processo Sumário n! 16/86-SR/DPF/SE, teve andamento e fo-ram qualificados, pregressados eidentificados criminalmente os se-nhores Noel Barbosa de Jesus, (34»atido Magda Barbosa Prata, Pe-dro Alcantara Prata Barbosa eCarlos Alberto Vasconcelos.

Outrossim, informamos que o se-nhor Gentil Barbosa de Jesus nãofoi identificado face seu grave es-tado de saúde. com diversas pontesde serena realizada há pouco tem-po. conforme laudo médico.

Após a realização da perícia namercadoria apreendida, serão osautos remetidos ao MM. Juiz da 2!Vara Criminal de Aracaju/SE.

R~tosamente, Bel. Miguel An-gelo ~icei, Delegado de PoliciaFederal» (fl. 215).

Recebendo os autos a 29-8-1987. não os pude apresentar a julga-mento até 2 de julho de 1967, quandose iniciou o recesso do Tribunal.

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Sydney &Inches(Relator): 1. Pelo texto das ementasdos acórdãos proferidos por estaTurma no RHC n? 64.172-5-SE e nostrés embargos declaratórios, que selhe seguiram, se verifica que não só

trancamento do inquérito foi defi-nitivamente negado, com o Improvi-mento do recurso, mas também Jáse repeliu a alegação de atalcidadepenal, para o efeito do concessão daordem de babem corpta de ofício,destinado ao mesmo trancamento.

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2. Insistem, porém, os embargan-tes nessa alegação (fls. 184/185) epedem confronto com v. acórdãoproferido pela E. 2? Turma, no RHCn? 64.802-9-PR, e reproduzido a fls.187/191, do teor seguinte:

Recurso de Habeas Corpus n?64.802-9-PR.

Relator: O Senhor Ministro Car-los Madeira.

Recorrentes: Antonio Luiz de Oli-veira e outros. Recorrido: Tribunalde Alçada do Estado do Paraná

RelatórioO Senhor Ministro Carlos Ma-

deira: O Grupo de Câmaras Crimi-nais do Tribunal de Alçada do Es-tado do Paraná denegou, por una-nimidade, habeas corpus requeridopelo Gerente e dirigentes de estabe-lecimento varejista, visando a tran-car inquérito policial instauradopara apuração de crime contra aeconomia popular. Por maioria, oremédio foi denegado, com relaçãoà pretensão de não serem os indi-ciados identificados criminalmen-te.

Dessa decisão recorrem os pa-cientes, insistindo na incompetên-cia do Ministério Público para pro-mover a ação penal, uma vez quea legislação atribui à Superinten-dência Nacional de Abastecimento(SUNAR), a fiscalização do cum-primento das normas de congela-mento de preços e a prática da ve-rificação da sonegação de produ-tos. Além disso, não teria se verifi-cado violação ao congelamento depreços.

A Procuradoria-Geral da Repú-blica opinou pelo improvimento dorecurso.

E o relatório.Voto

O Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): A acusação que pesasobre os pacientes é de venda demercadorias a preço mais elevado,

depois da edição do Decreto-Lei n?2.283, de 27-2-86, que congelou ospreços de mercadorias, no nível vi-gente a 27 de fevereiro de 1986.

Vislumbra a Procuradoria-Geralda República, nessa desobediênciaao congelamento de preços, a prá-tica do crime descrito no art. 2?,inciso VI da Lei n? 1.521/51, combi-nado com as disposições dos De-cretos-Leis n?s 2.283 e 2.284, de1986.

Este Tribunal, em decisão plená-ria, já se pronunciou sobre a atipi-cidade penal da conduta do comer-ciante que desrespeita o congela-mento dos preços. t que o congela-mento é medida de pura conten-ção, cuja desobediência importaem sanções administrativas. Só ainfringência ao Tabelamento confi-gura o tipo do inciso VI do art. 2?da Lei n? 1.521/51, que especificaos crimes contra a economia popu-lar. Reza o dispositivo que é crimecontra a economia popular:

— transgredir tabelas ofi-ciais de gêneros e mercadorias,ou de serviços essenciais, bemcomo expor à venda ou oferecerao público ou vender tais gêne-ros, mercadorias ou serviços, porpreço superior ao tabelado, as-sim como não manter afixadas,em lugar visível e de fácil leituraas tabelas de preços aprovadaspelos órgãos competentes».Ora, ao serem congelados os pre-

ços, os órgãos competentes apenasvisaram a sofreá-los, a contê-los,sem ter real controle sobre o querealmente se praticava no merca-do. O congelamento foi uma medi-da preliminar, para ensejar o tabe-lamento.

Sem o tabelamento, porém, nãopodia se aperfeiçoar o tipo penalda transgressão da tabela de pre-ços. Mesmo que o 2? do art. 35 doDecreto-Lei n? 2.284, de 10-3-86, te-nha equiparado o congelamento aotabelamento oficial de preços, fal-

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tava a medida em que se podiaidentificar o excesso transgressordo comerciante, que era a própriatabela. Só esta torna obrigatória aconduta de quem vende ou ofereceao público gêneros ou mercado-rias. E em referência a ela que alei é ou não violada, e surge oagente do crime contra a economiapopular, por vender ou oferecermercadoria por preço desmargina-do.

O congelamento de preços, porser genérico, sem medida, mais seassemelhando a uma determinaçãode parada no processo inflacioná-rio, pode resultar em infração ad-ministrativa, como já foi dito, masnão em crime contra a economiapopular. E a elas, correspondemsanções administrativas, de natu-reza repressiva, suspensiva, pecu-niária ou até privativa de direitos,mas não a pena, na sua acepçãotécnica de justa retribuição, em fa-ce da conduta contrária aos inte-resses sociais.

Não há, portanto, como acolher-se a tese do acórdão recorrido,pois na verdade não se configuroucrime algum na conduta dos pa-cientes.

Dou assim, provimento ao recur-so, para conceder a ordem pleitea-da, em todos os seus termos.

E o meu voto.RHC 64 802-9-PRRel.: Ministro Carlos Madeira.

flectes.: Antonio Luiz Roxo de Oli-veira e outros (Adv.: Raul So-lheld). Recdo.: Tribunal de AlçadaCriminal do Estado do Paraná.

Decisão: Provido o recurso paraconceder a ordem. Unânime. 2?Turma, 17-2-87.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes á Sessãoos Senhores Ministros Aldir Passa-rinho, Francisco Rezek, CarlosMadeira e Cell° Borj a.

Subprocurador-Geral da Repúbli-ca, Dr. Mauro Leite Soares.

Hélio Francisco Marques — Se-cretário.

Ementa: Crime contra a econo-mia popular. Não constitui crimecontra a economia popular a deso-bediência ao congelamento geraldos preços, determinado peloDecreto-Lei n? 2.283, de 1986. Semo tabelamento dos preços, não seconfigura a transgressão penal,prevista no art. 2?, VI, da Lei n?1.521, de 1951. O simples congela-mento resulta em sanções adminis-trativas, mas não o tipo previstona lei, cuja medida é a tabela dospreços.

Recurso de habeas corpus provi-do para conceder a ordem.

AcórdãoVistos, relatados e discutidos es-

tes autos, acordam os Ministros daSegunda Turma do Supremo Tribu-nal Federal, na conformidade daata do julgamento e das notas ta-quigráficas, por unanimidade devotos, em dar provimento ao re-curso, para conceder a ordem.

Brasília, 17 de fevereiro de 1987— Djaci Falcão, Presidente —Carlos Madeira, Relator» (fls.187/191).

O propósito dos embargantes é,portanto, a desconstituição dos acór-dãos proferidos por esta Turma (noRHC e nos três embargos declarató-rios) e não obter qualquer aclara-mento. E isso não é admissivel.

Também não tem sentido a remes-sa dos autos ao E. Plenário, pois es-te já firmou sua jurisprudência nomesmo sentido dos arestos que nes-tes autos se proferiram.

Com efeito, no RHC 64.182-2-RS, a 1? de julho de 1986, o E. Plená-rio do STF, seguindo, unanimemen-te, o voto do Ministro Néri daSilveira, assim decidiu:

Ementa: Habeas corpus. Açãopenal. Pedido de trancamento, por

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falta de justa causa e por atipici-dade da conduta. Crime contra aeconomia popular. Transgressãode tabelas oficiais de gêneros emercadorias. Lel n? 1.521/1951, art.2?, VI. Paciente denunciado, porhaver remarcado e vendido merca-doria, com desrespeito ao congela-mento de preços determinados pe-los Decretos-Leis n? 2.2&3 e 2.284,ambos de 1986. O § 2? do art. 35, doDecreto-Lei n? 2.284/1986 equiparoupara todos os efeitos, o congela-mento dos preços, aos níveis de 27de fevereiro de 1986, a tabelamentooficial de preços. Em face da natu-reza do congelamento de preços,sua equiparação a tabelamento ofi-cial de preços podia se operar pelavia adotada. Constituição, art. 55,II. Precedente do STF, no RE67.688-DF, em que não se teve porinconstitucional a norma do art. 2?,do Decreto-Lei n? 326/1967. Não secuida, no caso, de aplicação analó-gica da norma do art. 2?, VI, daLei n? 1.521/1951, em que fundadaa denúncia. Não é, de outra parte,de considerar; pela válida equipa-ração normativa entre «congela-mento de preços» e «tabelamentooficial de preços», que a infraçãoao «congelamento de preços» possater reflexo, apenas, no âmbito ad-ministrativo com a imposição desanções pecuniárias. No âmbito dobabeas corpus, não há, assim, jul-gar, desde logo, com falta de justacausa, a ação penal instauradacontra o paciente. Súplica indeferi-da. Recurso desprovido». (RHC64.182-2-RS, Rel. Min. Néri daSilveira, j. em 1?-7-1986 — DJ de27-2-87 — pág. 2953).

Sendo assim, também os pre-sentes embargos declaratórios de-vem ser rejeitados.

Aliás, diga-se de passagem, oinquérito, que os embargantes pre-tendiam trancar, já foi, na verdade,instaurado, tendo sido «qualificados,pregressados e identificados crimi-nalmente os senhores Noel Barbosa

de Jesus, Geraldo MaJella BarbosaPrata, Pedro Alcântara Prata Bar-bosa e Carlos Alberto Vasconcelos».como informou o Dr. Delegado dePolícia Federal à fl. 215.

Esclareceu, também, essa autori-dade, que apenas o impetrante-recorrente e ora embargante GentilBarbosa de Jesus «não foi identifica-do, face seu grave estado de saúde,com diversas pontes de safena reali-zadas há pouco tempo, conforme lau-do médico» (fl. 215).

Sendo assim, é de ficar bemclaro, a esta altura, para que nãopairem mais dúvidas e não se ten-tem outras protelações, que o em-bargante Gentil Barbosa de Jesustambém deve ser indiciado, assimque tiver condições de saúde para asprovidências policiais, tudo em cum-primento à ordem do MM. Juiz da 2?Vara Criminal' de Sergipe, a requeri-mento do Ministério Público local eque fica expressamente confirmadapor esta Turma para todos os efeitosde direito. Para tais fins, novas 0-municações devem ser feitas ao Ma-gistrado, ao Dr. Promotor de Justiçae ao Dr. Delegado de Policia com có-pia deste acórdão.

Deixo consignado que novosembargos declaratórios opostos pe-los recorrentes-embargantes, porseu atual Advogado ou por qualqueroutro, serão considerados por estaTurma como abuso no exercício daadvocacia e desrespeito à Corte,com solicitação de providências àOrdem dos Advogados do Brasil.

EXTRATO DA ATA

RHC 64.172 (EDc1) — SE — Rel.:Ministro Sydney Sanches. Embtes.:Gentil Barbosa de Jesus e outros(Advs.: Maria Laete Fraga, IsraelMendonça Souza e Waldemar Kas-sab). Embdo.: Tribunal de Justiçado Estado de Sergipe.

Decisão: Rejeitaram os embargosde declaração nos termos do voto doMinistro Relator. Unânime.

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Presidência do Senhor MinistroOscar Corrêa, na ausência justifica-da do Ministro Moreira Alves (Presi-dente). Presentes à Sessão os Senho-res Ministros Sydney Sanches e Oc-tavio Galkati. Ausente, justificada-mente, o Senhor Ministro Néri da

Silveira. Subprocurador-Geral daRepública, Dr. Aristides JunqueiraAlvarenga.

Brasília, 4 de agosto de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO DE HABEAS CORPUS Ne 64.439 — PR(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.Recorrentes: Osvino Heusner e outra — Recorrido: Tribunal de Alçada

do Estado do Paraná.

Habeas Corpus. Denúncia. Justa causa.É preciso que a narrativa expressa na denúncia que pretenda

apoiar-se, com exclusividade, em inquérito policial, ai encontre lastroem elementos que façam verossímil a acusação. Não pode ela repou-sar sobre exercido meramente especulativo.

Recurso de habeas corpus provido.ACORDAO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por decisão unanime, dar pro-vimento ao Recurso de Habeas Cor-pus, nos termos do voto do MinistroRelator.

Brasília, 10 de outubro de 1986 —Djaci Falcão, Presidente. FranciscoRezek, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Francisco Reza:Os pacientes foram denunciados porfurto (art. 155-4 4?-IV do Código Pe-nal), e o pedido de babem corpos,ajuizado ante o Tribunal de Justiçado Paraná, alegou falta de justa cau-sa para o processo-crime, visto quedo inquérito policial nada resultarade incriminador que justificasse adenúncia contra o casal Heusner.Em caráter subsidiário, disse o im-

petrante que a peça acusatória ébenta, porque «não especifica emqual das circunstâncias previstas noinciso IV do 4? do art. 155 do esta-tuto repressivo os pacientes esta-riam incursos».

A ordem foi denegada, sobrevindorecurso ordinário que teve parecerdesfavorável do Subprocurador-Ge-ral da República Valim Teixeira:

«A denúncia, ao contrário do quese alega, satisfaz, perfeitamente osrequisitos da lei penal adjetiva (fl.8). Ademais, se fosse portadora dequalquer vício, tal omissão poderiaser suprida a todo tempo, antes dasentença final. No caso dos autos,sequer se colheu a prova acustórla.Quanto à afirmada falta de justacausa, trata-se de questão que sópoderá ser dirimida no curso dainstrução criminal que, como já di-to, mal se iniciou. Não será anteci-padamente que os acusados pode-rão conseguir a pretendida absolvi-ção.

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Somos, pelo exposto, pelo não pro-vimento do presente recurso» (fls.221/222).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Reza(Relator): Está em discussão, nestesautos, não o poder de convencimentodos tópicos coligidos no inquérito po-licial, mas, antes, a existência, nessecontexto, de algum elemento quejustifique a denúncia contra os pa-cientes.

Consta do processo o inteiro teordo inquérito que serviu de base à de-núncia. Ali se vê que houve um furtode material agrícola em certa coope-rativa. Quando dos fatos, o casal de-nunciado estava de passagem pelacidade, conduzindo um caminhão,que transportava um trator paracerta fazenda, em Mato Grosso doSul. Duas pessoas, na noite do furto,viram um veículo com as carac-terísticas daquele caminhão nas pro-ximidades da cooperativa. Isso é tu-do. Não obstante, e embora o delega-do de polícia tenha sugerido o arqui-vamento do inquérito pela inexistên-cia de bons indícios contra quemquer que fosse, entendeu o promotorde justiça de denunciar os pacientes,porque forasteiros e vistos na áreado delito. Isso me traz à lembrançaa velha e provinciana presunção con-tra os ciganos, sempre que ocorressefurto em cidade do interior onde esti-vessem acampados. Providencialpresunção, que dispensava a políciade investigar, os promotores de pon-derar, os juízes de raciocinar.

A denúncia, neste caso não se am-para em fatos que a autorizem. Epreciso que a narrativa expressa nu-ma denúncia que pretenda apoiar-se,com exclusividade, em inquérito po-licial, ai encontre lastro em elemen-tos que façam verossímil a acusa-ção. Ela não pode repousar sobreexercícios meramente especulativos,

inspirados por suspeitas que não os-tentam sequer o status de indício.Não é possível permitir que o cida-dão venha a padecer de todos osônus, dissabores e preocupações queinevitavelmente o processo penalacarreta, se não há um motivo bas-tante para isso.

A tal propósito, Frederico Mar-ques, depois de dizer inviável a ins-tância se faltam elementos que ins-truam a denúncia para fundamentara °pinto defleti do órgão de acusa-ção, leciona que «a persecutio cri-minis sempre afeta o status digni-tatis do acusado e se transforma emcoação ilegal, se inepta a acusação.A falta de justa causa para a coaçãoprocessual, que se traduz na proposi-tura da ação penal, é motivo, até,para a impetração de ordem dehabeas corpus...» (Elementos de Di-reito Processual Penal; Rio. Foren-se, 1965, vol. II, pág. 163).

Semelhante idéia encontra resso-nância nesta Corte. No RHC 56.120(RTJ 94/101), deixou expresso o Mi-nistro relator, Cunha Peixoto, que «éinepta a denúncia (...) fundada emmeras conjecturas, dissociadas daprova indiciaria até então apura-da...»

Da mesma forma, no RE 88.118-DJ1-12-78, ensinou o Ministro Leitão deAbreu que «a denúncia deve repor-tar-se a um fato delituoso, corrobo-rado quantum uns por elementosprobatórios idóneos. Não pode a de-núncia amparar-se em suposições,visto não existir vestígio que ligue opaciente aos fatos denunciados. Oato acusatório deve basear-se pelomenos em indícios, no que concerneà autoria».

Assim, provejo o recurso paratrancar a ação penal por falta dejusta causa, nada impedindo que aapuração de novos fatos venha a en-sejar a propositura de denúncia con-sistente.

R.T.J. - 125 147

EXTRATO DA ATA

RHC 64.439 — PR — Rel.: MinistroFrancisco Rezek. Rectes.: OsvinoHeusner e outra. (Adv.: Cícero Joãode Oliveira). Recdo.: Tribunal de Al-çada do Estado do Paraná.

Decisão: Provido o recurso nos ter-mos do voto do Relator. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Borja. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 10 de outubro de 1986 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 64.717 — MG(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Recorrente: José Eustáquio de Castro — Recorrido: Tribunal de Justiça

do Estado de Minas Gerais.

«Habeas Corpusu — Prisão preventiva — Alegação de excesso deprazo no encerramento da instrução criminai.

Alegação repelida, com base em precedente da Corte, no RHC n?64.724 (interposto por co-réus), quando, pelas circunstâncias do pro-cesso, se considerou justificável o atraso.

Situação, ademais, lá superada, com o posterior encerramento dainstrução.

ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emnegar provimento ao recurso.

Brasília, 17 de março de 1987 —Néri da Silveira, Presidente —Sydney Sanches, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Sydney Sanches: 1.A ilustre Procuradora da RepúblicaDra. Laurita Hilário Vaz, em pare-cer aprovado pelo eminente Sub-procurador-Geral Dr. Francisco deAssis Toledo, assim relatou a hipóte-se, e, em seguida, opinou nestes au-tos de habeas comas:

Ementa: 1. Recurso de habeascorpus. Alegação de excesso deprazo que se acha superada.

2. Parecer pelo improvimentodo recurso.

O advogado Obregon Gonçal-ves ajuizou pedido de habeascorpus, em favor do paciente JoséEustáquio de Castro, processadopor infração ao art. 121, 3) 2?, inci-sos III, IV e V, art. 157, 2?, inci-sos I e II e art. 288 parágrafo úni-co, c/c os artigos 29 e 69, todos doCódigo Penal, objetivando a con-cessão da ordem liberatória, sob oargumento de excesso de prazo nainstrução criminal.

Denegada a ordem no cole-giado estadual, faz-se o costumeirorecurso, insistindo na alegação deexcesso de prazo.

3. Não merece prosperar.

148 R.T.J. — 125

As informações colhidas, ematendimento à solicitação da Pro-curadoria-Geral da República, es-clarecem que a prova da acusaçãojá está encerrada, hipótese emque, apaga-se o eventual e anteriorexcesso de prazo, considerando-seencerrada a instrução criminal, se-gundo jurisprudência dessa Supre-ma Corte, (RHC n? 61.055-MG, Re-lator eminente Ministro MoreiraAlves, in DJ de 16-9-83, pág. 14008).

Demais disso, o ultrapasse doprazo do art. 401 do Código de Pro-cesso Penal, se deu em razão deter sido suscitado um conflito decompetência, não constituindo cons-trangimento ilegal, como já deci-diu esse Excelso Pretório, verbis:

«Ementa: Prisão. Excesso deprazo. (CPP, art. 401).

A demora justificada por moti-vo relevante não se computa noprazo do art. 401, do CPP» (RHCn? 52.217-GB. Rel. Min. AliomarBaleeiro, DJ de 28-6-74, pág.4.567).

«Ementa: Processo crime. De-mora da instrução. Justificação.

II — Se houve demora no pro-cessamento da instrução, mas es-tá justificada, a coação deixa deser abusiva ou ilegal.

III — Recurso não provido.»(RHC 52.450-BA, Rel. Min.Thompson Flores. Dj de 27-9-74,pág. 7013)».

Depois, se na data das infor-mações — 30 de dezembro de 1986— o processo já caminhava para afase do artigo 406 do Código deProcesso Penal, é de presumir-seque a fase de pronúncia já estejaultrapassada, com a situação dopaciente definida na própria sen-tença.

Pelas razões expostas, suge-rimos o improvimento do recurso».(fls. 61/63).

2. As fls. 65/68, o ilustre Presi-dente do E g. Tribunal a quo enviouinformações complementares, pres-tadas pelo MM. Juiz verbis:

«Datas das prisões: O pacienteJosé Eustáquio de Castro teve suaprisão preventiva decretada em 15-5-86 e foi. em razão disso (fl. 989).preso em Belo Horizonte, quando seapresentou espontaneamente emJuízo, em 6-6-86, estando recolhidoao Departamento de Ordem Políti-ca e Social. Teve sua prisão pre-ventiva revogada no dia 27-6-86(fls. 1.011, 1.012), sendo, então, pos-to em liberdade. Revigorado diasapós em 10-7-86, o decreto de suaprisão preventiva, conforme novomandato de prisão constante dosautos, foi novamente lá recolhidono dia 11-7-86, onde se encontra (fl.737 e v.).

Todos os atos judiciais pertinen-tes foram praticados pelo ilustradoJuiz Sumarlante do II Tribunal doJúri de Belo Horizonte.

Motivo das prisões: O pacientefoi preso em razão de ter sido de-cretada sua prisão preventiva peloMM. Juiz Sumariante do II Tribu-nal do Júri de Belo Horizonte.

Natureza do Crime: O pacienteestá incurso nas sanções dos arti-gos 121, 2?, n?s III (mediante asfi-xia), IV (recurso que dificultou outornou impossível a defesa do ofen-dido) e V; 157, § 2?, I e II; 288, §único, c/c os arts. 29 e 69, todos doCódigo Penal, tendo como vítimasHumberto Antônio Fagundes e ou-tras (segue cópia da denúncia paramelhor ilustração dos fatos).

Situação do Processo: Os autosestavam tramitando normalmenteem Belo Horizonte, perante o MM.Juiz Sumariante do II Tribunal doJúri, tendo lá sido praticados osatos já referidos, Inclusive recebi-mento da denúncia e marcação dedata para que os acusados fosseminterrogados.

R.T.J. 125

149

No dia 6-8-86 (fl. 1.090) o MM.Juiz Samariante remeteu os autose os instrumentos dos ilícitos pe-nais praticados para esta Comarcade Itabirito, ao fundamento de queesta seria a Comarca competentepara julga-los. Recebidos aqui, nodia 7-8-86, este Juízo, após manifes-tação do Ministério Público, susci-tou, no dia 11-8-86, Conflito de Ju-risdição perante esse Excelso Tri-bunal de Justiça, tendo a ColendaII Câmara Criminal conhecido doConflito, firmando a competênciadeste Juízo quanto o trâmite daação penal, conforme decisão dodia 11-9-86.

Retornaram, então, os autos aesta Comarca no dia 15-9-86.

O digno representante do Minis-tério Público teve vista dos mes-mos no dia 16-9-85 e os devolveu nodia 23-9-86.

Este Juízo, no dia 25-9-86, desig-nou as datas de 13, 14 e 15-10-86 pa-ra os interrogatórios de todos osacusados, sendo que o do pacienteJosé Eustáqulo de Castro foi mar-cado para o dia 15-10-86, às 9.00 ho-ras (segue cópia do respectivo des-pacho judicial a fim de que melhorse esclareça o assunto). Cerca de36 horas foram gastas em tais in-terrogatórios. As providências or-denadas no mencionado despachoforam tomadas, todas elas, no dia26-9-86.

Inquirição de Testemunhas deDefesa: Foram arroladas 58 (cin-qüenta e oito) testemunhas de de-fesa das quais 25 (vinte e cinco)seriam ouvidas nesta Comarca, apedido da defesa, já que residemfora, em audiência realizada nodia 9-12-86 e que compareceriamao ato independentemente de inti-mação, tendo comparecido e sidoouvidas dezessete (17) delas. Asdemais, inclusive as de José Eus-táqulo de Castro, foram indicadaspara serem ouvidas na Comarcade Belo Horizonte, Nova Lima, Pe-

dro Leopoldo, Itabira e Rio de Ja-neiro, tendo sido expedidas as Car-tas Precatórias neste sentido, to-das elas já com prazo vencido paradevolução (trinta dias), tendo amaioria delas já retornado, ex-cetuando-se a Carta Precatóriaexpedida para a Comarca de NovaLima a fim de que lá fossem ouvi-das as testemunhas do acusadoCarlos Murilo Ziviane. Acrescenta-mos ainda que foi também expedi-da Carta Precatória para a Comar-ca do Rio de Janeiro a fim de quelá fossem ouvidas as testemunhasdo acusado Paulo Roberto Faildede Souza, conforme aditamento àdenúncia apresentada pelo ilustreRepresentante do Ministério Públi-co e recebido por este Juizo, cujoexpediente já nos foi devolvido,após marchas e contramarchas.Saliente-se que o Ministério Públi-co arrolou doze (12) testemunhas,nestas incluindo-se vitimas e infor-mantes, totalizando-se, portanto. 70(setenta) testemunhas. Em sete(7) de janeiro de 1987, o MM. Juizde Direito de Plantão, o da Comar-ca de Ouro Preto, determinou ocumprimento do disposto no art.406 do Código de Processo Penal,tendo, após as intimacties devidas,o Digno Representante do Ministé-rio Público oferecido suas alega-ções no dia 12 de janeiro de 1987, oque também foi feito em sucessi-vas datas posteriores pelos DoutosAdvogados de defesa dos acusados,tendo deixado de fazê-lo o DoutoDefensor do paciente José Eustá-quio de Castro, pelo menos por en-quanto. Registre-se que neste ínte-rim, durante o período de férias fo-renses, mais precisamente no dia16 de janeiro de 1987, os acusadosJosé Eustãquio de Castro (ora pa-ciente) e outros acusados: Lucasde Santana, Tiago de Santana, Ri-cardo Luiz Leopoldino e WagnerCome Pourchet, ingressaram commedida de Exceção de Incompe-tência do Juizo, tendo o MM. Juizsupra deferido a suspensão do feito

150 R.T.J. — 125

até que se decidisse a mencionadaexceção. Em 30 de janeiro de 1987,após o seu trâmite normal, julgou-a improcedente, tendo sido as par-tes devidamente intimadas. Emrazão disso no dia 13 de fevereirode 1987 proferi despacho determi-nando nova intimação também aoDouto Defensor do paciente, paraefeitos do art. 406 do CPP, muitoembora não houvesse necessidadede fazê-lo, não tendo ainda retorna-do o respectivo «AR», o que certa-mente, está prestes a ocorrer, cujorespectivo recibo postal foi juntadoaos autos no dia 16 de fevereiro de1987. Decorrido o prazo legal,cumprir-se-á o disposto nos artigos407 e seguintes do Código de Pro-cesso Penal». (fls. 66/68).

O prazo do art. 401 do CPP éaplicável aos casos comuns e, não,aos que se apresentam excepcio-nalmente trabalhosos pela multi-plicidade dos atos da instrução.

Possibilidade, ademais, de reite-ração do pedido, caso ocorra novoe injustificável retardamento.

Precedentes.Recurso de habeas corpus impro-

vido.2. E de se observar que, a esta

altura, segundo informes mais re-centes (19-2-87), o processo já se en-contra em fase de alegações das par-tes (artigo 406 do CPP), mais preci-samente do próprio Defensor do pa-ciente.

E o relatório. Está, por conseguinte, supera-do, a esta altura, o alegado excessode prazo na instrução, como demons-

VOTO trou o parecer do Ministério PúblicoFederal.

Isto posto, nego provimento aorecurso.

EXTRATO DA ATA

RHC 64.717 — MG — Rel.: MinistroSydney Sanches. Recte.: José Eustá-quio de Castro (Adv.: Obregon Gon-çalves). Recdo.: Tribunal de Justiçado Estado de Minas Gerais.

O Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator): 1. No julgamento, peloEg. Plenário desta Corte, do RHC n?64.724-1-MG, impetrado em favor deTiago Santana e Wagner CosmePurchet, co-réus no processo a queresponde o ora paciente e com amesma situação processual, assimse ementou o acórdão que lhe negouprovimento:

Habeas Corpus. Alegação de ex-cesso de prazo na instrução crimi-nal. Processo complexo, com difi-culdade inicial na fixação de com-petência e envolvimento de váriosréus por crimes de sequestro, ho-micídio qualificado, destruição eocultação de cadáver, roubo quali-ficado e quadrilha ou bando, prati-cados em comarcas distintas, to-dos não radicados no distrito daculpa, requisitados ou convocadospor precatória. Demora, no caso,justificada, pois a brevidade pos-sível e exigível foi observada.

Decisão: Por unanimidade a Tur-ma negou provimento ao recurso.

Presidência do Senhor MinistroNéri da Silveira na ausência justifi-cada do Ministro Moreira Alves(Presidente). Presentes à Sessão osSenhores Ministros Oscar Corrêa,Sydney Sanches e Octavio Gallotti.Subprocurador-Geral da República,Dr. Aristides Junqueira.

Brasília, 17 de março de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

R.T.J. - 125 151

HABEAS CORPUS N? 64.771 — PI(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Paciente: Luiz Guido de Carvalho — Impetrante: Flávio Teixeira de

Abreu — Coator: Tribunal de Justiça do Estado do Piauí.

Habeas Corpos. Transitada em Julgado a sentença condenatória eestando o paciente cumprindo a pena que lhe foi aplicada, só por viarevisional poderão ser examinadas as provas dos autos para atender/1 pretensão liberatória.

Habeas Corpus denegado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado Julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, emindeferir o pedido.

Brasília, 28 de abril de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Madeira: As-sim resume a súplica o parecer dadouta Procuradoria-Geral da Repú-blica, fls. 62/63:

«Em alentadas razões, o Prof.Flávio Teixeira de Abreu impetrahabeas corpus originário em favorde Luiz Guldo de Carvalho, reque-rendo a anulação da sentença con-denatória (fls. 25/28), transitadaem julgado depois de mantida noacórdão de fls. 34/36, do Tribunalde Justiça do Estado do Piauí, queteve a seguinte ementa:

«Delito de lesões corporais se-guidas de morte. Impossibilidadeda reformatio in pejus, a teor doartigo 617 do Código de ProcessoPenal. Descaracterização da le-gítima defesa e do estrito cum-primento do dever legal.

Não pode invocar a legitimadefesa quem toma a iniciativa daagressão, bem assim aquele que,acompanhado de comparsas, le-siona uma vitima desarmada.

Por outro lado, não há falar-seem estrito cumprimento de deverlegal, quando o agente não de-sempenha missão policial.

Recurso improvido à unanimi-dade.» (fl. 34).

Em síntese os fundamentos invo-cados são motivação insuficienteda sentença, ocorrência de legiti-ma defesa e/ou estrito cumprimen-to do dever legal e violação ao dis-posto no art. 59, III do Código Pe

-nal.»

O Exmo. Desembargador Paulo deTarso Mello e Freitas, nas informa-ções que prestou, acentua à fl. 55:

«Sem entrar na análise dos fatosdescritos no acórdão, a fim deaquilatar se a decisão afrontou ounão á prova do processo, vê-se, delogo, que houve flagrante equivocodo Impetrante, quer na maneiracomo apresenta seus argumentos,como principalmente, quando soli-citou a concessão do writ em favorde Luiz Guido de Carvalho, para ofim de ser decretada a nulidade dedecisão condenatória, haja vista,não ser o HC meio hábil para des-constituir sentença com trânsito

152 R.T.J. — 125

em julgado. Com efeito, o paciente,por seu ilustrado advogado ficoudesatento no art. 621 do CPP.»

A Procuradoria-Geral da Repúbli-ca opinou pela denegação da ordem.

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): Lê-se no parecer daProcuradoria-Geral da República,fls. 63/64:

«Se se adentrar no mérito, con-vém ressaltar que o próprio impe-trante admite que a condenaçãolastrou-se numa das versões encon-tradiças nos autos da ação penal,se é que ela contém várias. A afir-mação das testemunhas ocularesde que o paciente não foi o autordos disparos — aliás confessadospor ele até em juízo — não afastasua condição de autor, eis quecomprovadamente praticou outrosatos, contemporâneos em unidadede desígnios, conducentes ao resul-tado. A suposta quebra da unidadeda ação penal pública incondicio-nada não lhe confere direitos. Asentença, a propósito, determinouvista dos autos ao Ministério Públi-co, em relação aos outros autores(fl. 28).

A ocorrência ou não de legitimadefesa e estrito cumprimento dodever legal foi adequadamenteexaminada na sentença e no acór-dão, e não será o habeas corpusque irá infirmar a repulsa a estasexcludentes.

Finalmente, não é verdade que odecreto condenatório omitiu-seacerca do regime inicial do cum-primento da pena, tanto que, aofixá-la, impôs «que deverá ser

cumprida em uma das Penitenciá-rias do Estado» (fl. 28). Entenden-do essa douta Turma que o juiz de-veria estender-se mais sobre o re-gime inicial, cabe a concessão daordem tão-somente para que o juizassim proceda, sem implicar, apriori, no reconhecimento do regi-me aberto apenas com base noquantum da reprimenda.»

Tendo o acórdão transitado em jul-gado, só caberia o exame das ques-tões suscitadas pelo impetrante, porvia da revisão criminal.

No tocante à forma progressiva documprimento da pena, cabe, já ago-ra, ao Juiz das Execuções decidir so-bre a progressão do paciente nos re-gimes cabíveis (Lei n? 7.210/84, art.66, inciso III, alínea b).

Indefiro a ordem.

E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

IW 64.771 — PI — Rel.: MinistroCarlos Madeira. Pacte.: Luiz Guidode Carvalho. Impete.: Flávio Teixei-ra de Abreu. Coator: Tribunal deJustiça do Estado do Piauí.

Decisão: Indeferido o pedido áunanimidade de votos.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Borja. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 28 de abril de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

R.T.J. — 125

153

RECURSO DE HABEAS CORPUS Ni' 64.819 — RJ(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.Recorrente: Vercloly Paulo Gonçalves — Recorrido: Tribunal de Alçada

Criminal do Estado do Rio de Janeiro.

Habeas Corpus. Relocidanda. InexIsténela.Recurso de habena corpus provido para subtrair da pena aplicada

ao paciente o acréscimo relativo à reincidência, que não existiu.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado Julgamento e das notas taquigrá-ficas, por decisão unânime, dar pro-vimento ao Recurso de Habeas Cor-pus, nos termos do voto do MinistroRelator.

Brasília, 11 de setembro de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — Fran-cisco Reze. Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Francisco Reze:

Habeas Corpus Impetrado ante o Tri-bunal de Alçada Criminal do Rio deJaneiro insurgia-se contra o procedi-mento que culminou na condenaçãodo paciente por estelionato. Afirmouo impetrante que não se respeitou ocontraditório e que se aplicou indevi-damente a agravante da reincidên-cia especifica. As informações pres-tadas pelo Juizo singular davam con-ta de que o réu não havia sofridocondenação antes de praticado o fa-to. O acórdão da origem recusou va-lia a qualquer dos argumentos dainicial. O recurso ordinário retomaapenas a tese da exasperaeorewma da pena. O Ministério PúblicoFederal, na voz da ProcuradoraLaurita Hilário Vez, opina pelo des-provimento do recurso, porque anãohá nos autos prova isenta de dúvidacomprovando a primarledade»101).

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Reze(Relator): A passagem da sentençacondenatória referente à aplicaçãoda pena é a seguinte:

«O Acusado é reincidente es-pecífico (R. 26); seguindo as regrasdos arta. 42 e 43, 47, I e 44, I, fixo apena em 2 anos e meio de reclusão,que aumento de quanto atenda àagravação pela consideração dapersonalidade do réu, para situá-laem definitivo em 2 anos e oito me-ses, mais a pena pecuniária. comoa seguir; acrescento a medida desegurança, considerando o art. 78,IV c.c. art. 93 I todos do C. Penal.

Isto posto, pela prática do crimeprevisto no Art. 171 do C. Penal.pela reincidência específica e tudoquanto foi examinado, condenoVercioli Paulo Gonçalves à penade reclusão de 2 (dois) anos e 8 (oi-to) meses de reclusão e multa deCr; 10,00 (dez cruzeiros), às custase taxas. Aplico-lhe, mais a medidade segurança de internação, por 2(dois) anos, em estabelecimentodesignado pelo Juiz da execução,entre os referidos no item III, 1 1?do art. 88 do C. Penal» (fls. 3/4).

As informações prestadas na ori-gem noticiam que o documentoapontado pelo Juiz sentenciante paradistinguir amare não cogita-va de condenação anterior aos fatos

154 R.T.J. — 125

que ensejaram a ação penal. O reco-nhecimento da reincidência pressu-põe sua prova líquida nos autos. Ca-be à acusação, em conformidadecom os princípios reitores do nossoprocesso penal, demonstrar a resci-diva. Tanto não se conseguiu no pro-cesso, certo que as característicasdo instituto em tela não se acham es-tempadas no documento mencionadopelo juiz singular.

A forma como está vertida a sen-tença, na sua parte dispositiva, dei-xa claro que dois fatores influíramna fixação da pena acima do pata-mar mínimo: a reincidência e a per-sonalidade do réu. Aquela elevou omínimo cominado ao delito de umpara dois anos e seis meses de reclu-são, e o último fator somou três me-ses à reprimenda. Certo que a rein-cidência não existiu na espécie, pro-vejo o recurso para subtrair da penaaplicada os dezoito meses correspon-dentes á cogitada agravante, bemcomo torno insubsistente a medida

de segurança. Fica, desse modo res-trita a um ano e três meses a penade reclusão.

E meu voto.EXTRATO DA ATA

RIIC 64.819 — RJ — Rel.: MinistroFrancisco Rezek. Recte.: VerciolyPaulo Gonçalves (Adv.: Antonio Jor-ge de Souza). Recdo.: Tribunal deAlçada Criminal do Estado do Rio deJaneiro.

Decisão: Provido o recurso nos ter-mos do voto do Relator. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Francisco Rezek,Carlos Madeira e Célio Borja. Au-sente, justificadamente o Sr. Minis-tro Aldir Passarinho, Subprocura-dor-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 11 de setembro de 1987— Hélio Francisco Marques, Secre-tário.

HABEAS CORPUS N? 64.911 — PE(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Pacientes: Joaquim Feitosa de Oliveira Filho e outro — Impetrantes:

Aluisio de Freitas Almeida e outro — Coator: Tribunal de Justiça do Estadode Pernambuco.

Habeas Corpus. Delito praticado por policial militar em função ci-vil. Não é o fato de ser policial militar que caracteriza o serviço porele prestado no âmbito civil, mas a previsão em lei, que lhe assegurecompetência para agir em face de conflitos entre civis. A manutençãoda ordem pública, de que trata a lei, não inclui o mero conflito isoladoentre particulares, em lugar de lazer, de modo a convocar a ação po-licial militar.

Habeas Corpus indeferido, cassada a liminar concedida.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-

ficas, por unanimidade de votos, emindeferir o pedido, cassando-se a li-minar concedida.

Brasília, 21 de abril de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

R.T.J. — 125 155

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Madeira:Leio as informações prestadas peloJuiz de Direito da 1? Vara Criminalde Recife, no Conflito de Jurisdiçãosuscitado perante o E. Tribunal deJustiça do Estado de Pernambuco:

«Os suscitantes, soldados da Po-licia Militar do Estado, servemno Batalhão do Corpo de Bombei-ros, integrando o Grupamento deBusca e Salvamento, Subseção deBusca e Salvamento Aquático. Seconstituem, assim, nos conheci-dos «Salva-Vidas» que operam naspraias de Pina, Boa Viagem, Pie-dade. Dia 23-1-84, eles se encontra-vam de serviço, no posto 4, dapraia de Boa Viagem, envergandoo uniforme típico dos «Salva-Vi-das», ou seja, calção preto e cami-seta vermelho Ao surgir alterca-ção, entre um vendedor de bebi-das, e um consumidor, com dispu-ta unicamente verbal, os denuncia-dos, abandonando o posto de servi-ço — Salvamento Aquático — ondeestavam destacados, se dirigirampara a calçada da Avenida, se en-volveram na querela, se posiciona-ram ao lado do vendedor que, se-gundo se diz, cobrava preço extor-sivo ao consumidor e, praticandoviolências, contra o mesmo, pro-duziram-lhes lesões graves, comfratura e afundamento de malarcomo resultado dos murros desfe-ridos pelos acusados, suscitantes,contra o ofendido. Como o servi-ço dos acusados «Salva-Vidas» seprendesse ao salvamento de ba-nhistas, como problemas de afoga-mento, e o incidente não decorreude um tal fato pois não há de cogi-tar de Afogamento no asfalto, emum copo de bebida, o Represen-tante do Ministério Público, vis-lumbrando na hipótese, um crimecomum, de lesões corporais, come-tido por alguém que, apesar de po-licial militar, não o praticara noexercício de função militar ou mes-

mo de serviço civil para o qual seencontrava destacado...» Ora, éevidente, que na espécie, os réusnão exerciam função de naturezamilitar. Trata-se de crime de mili-tar e não crime militar.» (fls.(16/17)

A Seção Criminal do Tribunal deJustiça julgou procedente o conflitoe reconheceu a competência do Juizde Direito.

Impetra-se habeas corpus em fa-vor dos pacientes, — Joaquim Feito-sa de Oliveira Filho e Nélson Ferrei-ra de Sousa, sob a alegação de serilegal a decisão adotada no conflito,resultando na sua submissão a juizoincompetente.

A medida liminar foi concedidapara sobrestar o processo a que res-pondem os pacientes no Juizo de Di-reito, até o definitivo julgamento dowrit.

Ministrou informações o ilustreDesembargador Presidente do Tri-bunal de Justiça, anexando váriaspeças do processo.

A Dra. Laurita Hilário Vaz, ofi-ciando pela Procuradoria-Geral daRepública, em parecer aprovado pe-lo ilustre Subprocurador-Geral Mau-ro Leite Soares, opina pelo indeferi-mento da ordem.

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): Considerou a Seção Cri-minal do E. Tribunal de Justiça dePernambuco que a conduta crimino-sa dos pacientes não se ajusta aqualquer das hipóteses definidas noartigo 9?, inciso I, do Código PenalMilitar, porque, conquanto policiaismilitares, não se encontravam os pa-cientes no exercício de função poli-

156 R.T.J. — 125

ciai ou militar, mas sim em funçãocivil de salva-vidas, cujo posto deobservação abandonaram para seenvolverem na disputa entre particu-lares, na calçada da avenida beira-mar.

A impetração se funda em que«não tem relevância a natureza es-pecial do serviço que cumpriam osPacientes, — salva-vidas —, quandopraticaram o delito, porque ela nãoafasta a condição que desfrutam, depoliciais militares, responsáveis pelamanutenção da ordem.»

Compete ás Policias Militares, se-gundo dispõe o Decreto-Lei n? 667, de2-7-69, com a redação do Decreto-Lein? 1.072, de 30-12-69,

«... executar com exclusividade,ressalvadas as missões peculiaresdas Forças Armadas, o policia-mento ostensivo, fardado, planeja-do pelas autoridades policiais com-petentes, a fim de assegurar ocumprimento da lei, a manutençãoda ordem pública e o exercício dospoderes constituídos.»Entre as funções de policiamento,

podem ser incluídas as dos Corposde Bombeiros. Mas o serviço desalva-vidas é exclusivamente civil,não previsto na competência dasPolicias Militares.

Desse modo, não colhe a alegaçãode que o serviço de salva-vidas nãodesnatura a condição do policial mi-litar, responsável pela manutençãoda ordem. Não é o fato de ser poli-cial militar que caracteriza o serviçopor ele prestado, no âmbito civil,mas a previsão em let, que lhe asse-gure a competência para agir em fa-ce de conflito entre civis. A manu-tenção da ordem pública, de que tra-ta a lei, não inclui o mero conflitoentre particulares, em lugar de la-zer, de modo a convocar a ação dopolicial militar.

Ainda que se inclua o serviço desalva-vidas entre os de policiamentocivil, cabe lembrar acórdão desta E.

Turma, Relator o Ministro MoreiraAlves, no RECr n? 95.030, em hipóte-se assemelhada ao presente:

«Habeas Corpus. Competência.Sendo o delito de abuso de auto-

ridade crime comum por estar pre-visto apenas, em lei penal comum(Lei n? 4.898/65), a competênciapara o processo e julgamento doacusado de sua prática, ainda queseja militar no exercício de policia-mento civil, é a Justiça Comum es-tadual, pois não ocorre um dospressupostos — o de se tratar decrime militar definido em lei — aque alude o art. 144, 1? letra d daConstituição Federal, na redaçãodada pela Emenda Constitucionaln? 7/77.» (DJ 4-12-81).No caso em exame, agiram os pa-

cientes com abuso de sua condiçãode policiais militares, para pratica-rem, em função puramente civil, de-lito não previsto no Código Penal Mi-litar.

Indefiro a ordem, cassando a limi-nar concedida.

E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

HC 64.911 — PE — Rel.: MinistroCarlos Madeira. Pactes.: JoaquimFeitosa de Oliveira Filho e outro.Imptes.: Aluisio de Freitas Almeidae outro. Coator: Tribunal de Justiçado Estado de Pernambuco.

Decisão: Indeferido o pedido, cas-sando-se a liminar concedida. Unâni-me.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Borla. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 21 de abril de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

R.T.J. - 125 157

RECURSO DE HABEAS CORPUS 64.939 — MG(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Recorrente Perez Pereira Rocha ou Peres Pereira Rocha — Recorrido:

Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais.Babem Corpos. Garantia constitucional da ampla defesa. Nula é

a sentença se o Juiz não ensejou a prova da defesa, assinando prazoexíguo para que fosse, produzida. Evidenciado o constrangimento ile-gal, cabe o writ, ainda que pendente apelação da sentença condenató-ria.

Recurso provido.ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, emdar provimento ao recurso de ha-beas corpus nos termos do voto doRelator.

Brasília, 8 de maio de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATORIOSr. Ministro Carlos Madeira: A

Câmara Especial do Tribunal deJustiça do Estado de Minas Geraisnão conheceu da petição de habeascorpus em favor de Perez PereiraRocha, preso preventivamente e jul-gado na Comarca de Congonhas, portráfico de entorpecente, antes mes-mo de serem inquiridas suas teste-munhas em Belo Horizonte.

Recorre o paciente, insistindo emque houve cerceamento de sua defe-sa.

A Procuradoria-Geral da Repúbli-ca opinou pelo provimento do recur-so, salientando o Subprocurador-Geral da República Tile o acórdãorecorrido efetivamente examinou omérito do pedido.

o relatório.VOTO

Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): Não obstante ter o recor-

rente indicado testemunhas resi-dentes em Belo Horizonte, o Juiz deDireito, ao sanear o processo, em29-11-86, designou a audiência de Jul-gamento para o dia 9 de dezembro emandou expedir precatória para in-quirição das testemunhas do recor-rente na capital do Estado. A preca-tória foi expedida e posta no Correioa 1? de dezembro.

A audiência foi realizada na datadesignada, embora não tenha sidocumprida a precatória no Juizo de-precado. E que o Juiz, no despachode 29 de novembro de 1986, assim de-terminou:

«Expedida a precatória, faça-sea intimação aos defensores de suaexpedição e os cientifique de que amesma deverá ser cumprida e de-volvida a este juizo até a data daaudiência já designada, sob penade prosseguir-se o processo emseus atos subseqüentes » (fl. 29)Ora, ante a expedição da precató-

ria — a 1? de dezembro — e a au-diência — a 9 de dezembro —, me-deiaram apenas quatro dias úteis, ouseja, de terça a sexta-feira da pri-meira semana do mês, uma vez queo dia 6 foi sábado, 7 domingo e dia 8,segunda-feira, foi feriado.

Não podia o Juiz ignorar tais cir-cunstâncias e tornar impossível aprova da defesa.

Houve, assim, cerceamento da de-tesa.

158 R.T.J. - 125

Embora o recorrente tenha apela-do da sentença prolatada a 15 de ja-neiro do corrente ano é admissível ohabeas corpos, se a matéria, aindaque idêntica, evidencia constrangi-mento ilegal. Assim decidiu a E. Se-gunda Turma, no RHC 61.536, Rela-tor o eminente Ministro Rafael Ma-yer:

«Habeas corpus. Apelação pen-dente. Cabimento do writ. Não sehá de remeter ao juízo de apela-ção, ainda que idêntica, a matériado habeas corpus evidenciadora doilegal constrangimento. Recurso dehabeas corpus provido.» (RTJ109/144)No mesmo sentido é o acórdão no

RHC 61.506, Relator o Ministro Os-car Corrêa:

«Recurso de Habeas Corpus. Pe-dido não conhecido pelo Tribunalde Justiça a quo, em vista de pen-dente recurso de apelação.

Por si só, não o impede a pen-dência da apelação, se presente oconstrangimento ilegal e o exameda matéria se comporta no âmbitodo writ. Recurso de Habeas Corpusprovido.» (RTJ 108/590).No caso presente, o habeas corpus

foi impetrado a 30 de dezembro, an-tes, pois, da prolação da sentença.

Sendo o cerceamento da defesamatéria peculiar ao habeas corpus,dou provimento ao recurso, paraconceder a ordem, ante a evidentenulidade do julgamento singular, afim de que, em liberdade o recorren-te, sejam ouvidas regularmente assuas testemunhas e prolatada novasentença, em homenagem à garantiaconstitucional da ampla defesa.

E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RHC 64.939 — MG — Rel.: MinistroCarlos Madeira. Recte.: Perez Perei-ra Rocha ou Peres Pereira Rocha(Adv.: Pedro Vila Real). Recdo.:Tribunal de Justiça do Estado de Mi-nas Gerais.

Decisão: Provido o recurso paraconceder a ordem, nos termos do vo-to do Relator. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjacl Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Carlos Madeira e Célio Boda.Ausente, justificadamente o Sr. Mi-nistro Francisco Rezek. Subpro-curador-Geral da República, o Dr.Mauro Leite Soares.

Brasília, 8 de maio de 1987 — HélioFancisco Marques, Secretário.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 64.950 — RS(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.Recorrentes: César Vilarino Rosa e outro — Recorrido: Tribunal de Al-

çada do Estado do Rio Grande do Sul.Contravenção. Locação.Despesas tidas como não cobráveis do Inquilino. Seguro-Incêndio

contravenção inexistente.Tendo sido expressamente previsto no contrato de locação que o

prêmio do seguro contra fogo seria suportado pelo inquilino e tendo-secomo possível que assim sela ajustado pois a lei sobre tal encargo éomissa, e em face do que resulta aos arts. 18, V, In fine, 30 e 52, daLei n? 6.649/79, não se configura contravenção se tal Ônus é cobradodo locatário.

Tudo parece resultar de desavenças entre locador e locatário, eque este injustamente procura transferir para sede penal.

R.T.J. - 125 159

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, por sua Se-gunda Turma, na conformidade daata do julgamento e das notas taqui-gráficas, por unanimidade de votos,prover o recurso nos termos do votodo Ministro Relator.

Brasília, 27 de novembro de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — AldirPassarinho, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): O Dr. Cari Neri Borgesrecorre para esta Corte em favordos pacientes César Vilarino Rosa eSaly Gonçalves Antunes, mostrando-se inconformados com o v. acórdãodo C. Tribunal de Alçada do Estadodo Rio Grande do Sul. No apeloalega a inexistência de fato capaz detipificar contravenção penal, e finali-za pleiteando o trancamento da açãopenal instaurada.

A espécie foi exposta no acórdãodo Tribunal a quo nestes termos:

«O Bel. Cari Neri Borges impe-tra a presente ordem de habeascorpus em favor de César VilarinoRosa e Saly Gonçalves Antunes,para o fim de trancamento da açãopenal que ambos responderam nag! Vara Criminal de Porto Alegre,como incursos nas sanções do art.45, I, da Lei do Inquilinato, eis que,como sócios e diretores da Imobi-liária Milcor Ltda., cobraram oumandaram prepostos cobrarem daSra. Idianez Irene Sailoni de Oli-veira, locatária do apartamento n?702, do prédio n? 680, da Rua De-métrio Ribeiro, nesta cidade, im-portâncias correspondentes ao pa-gamento do prêmio de seguro obri-gatório do imóvel objeto da loca-ção, o que fizeram para obtençãode lucro próprio e sabedores de

que esse encargo não se encontrano rol de despesas ordinárias decondomínio a que se refere o § 1?,do art. 19, da Lei n? 6.649/79. Exi-giram da locatária, para forneci-mento de quitação, a importânciatotal de Cr$ 43.865,00, à época,quantia esta referente a um encar-go não permitido em lei.

Entende o impetrante que a rela-ção constante do art. 19, Inc. V, §1?, da Lei do Inquilinato, não éexaustiva e, portanto, inexisteproibição na lei específica de re-passe da taxa de seguro contra fo-go aos locatários, ficando, assim,sujeito ao que for estipulado norespectivo contrato e, no caso pre-sente, a avença determina ser deresponsabilidade da locatária o pa-gamento do prêmio de seguros.

Além disso, o art. 13, da Lei n?4.591/64 (Lei de Condomínios e In-corporações), manda computar opagamento de seguro dos imóveisnas despesas ordinárias de condo-minio, enquanto que o art. 1.208, doCódigo Civil prevê a responsabili-dade do inquilino pelo incêndio doprédio se não provar caso fortuitoou força maior.

Finaliza a impetração requeren-do a concessão de liminar parasustar a realização dos atos pro-cessuais que já estavam marcadose após os trâmites legais seja con-cedida a presente ordem.

A inicial veio instruída com osdocumentos de fls. 6/12.

Pelo despacho de fl. 15 foi indefe-rida a liminar, determinando-se re-quisição de informações.

Pelo oficio de fl. 18 foi informa-do que a denúncia foi recebidaem 9-10-86, os réus interrogados emareada a audiência para o dia23-3-87.

160 R.T.J. — 125

Acompanhando as informações,veio a cópia da denúncia e dos ter-mos de interrogatório.

O parecer da Procuradoria deJustiça é pela não concessão da or-dem. (fls. 29/30).

O C. Tribunal denegou a ordem pe-las razões seguintes:

«Não assiste razão ao impetran-te. A relação constante do art. 19, §1?, da Lei n? 6.649, de 16-5-79, é ta-xativa, notando-se que o legisladorteve o cuidado de especificar devi-damente o que se entende por des-pesas ordinárias de condomínio,não sendo, como pretende o impe-trante, relação meramente enun-ciativa. Se fosse intenção do legis-lador incluir nas despesas ordiná-rias de condomínio o pagamento doprêmio de seguro, o teria feito co-mo o fez com tantas outras despe-sas de obrigação do locatário.Aliás, diante das discussões havi-das nas legislações anteriores, foiprevidente o legislador na lei atualdo inquilinato, pois terminou comas dúvidas a respeito do que sãodespesas ordinárias de con-domínio. O fato de constar do con-trato locatício a obrigação da loca-tária pagar o prêmio de seguro éirrelevante, pois o art. 46, da men-cionada lei, dispõe que «são nulasde pleno direito as cláusulas docontrato de locação que visem eli-dir objetivos da presente lei».

Os pacientes, pois, teriam perpe-trado, em tese o delito contraven-cional previsto na vigente Lei doInquilinato e, por esta razão, nãoestão a sofrer qualquer constrangi-mento ilegal». (fl. 31)

Subindo os autos a esta Corte, veloa manifestar-se a douta Procura-doria-Geral da República pelo im-provimento do recurso.

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): O parecer da doutaProcuradoria-Geral de Justiça doEstado do Rio Grande do Sul é peloprovimento do recurso, por entenderque a enumeração de que trata oart. 19, inc. V, § 1? da Lei do Inquili-nato, não é taxativa, e a respeito in-voca Rogério Lauria Tucci e AlvaroVillaça Azevedo, in Tratado de Loca-ção Predial Urbana, reproduzindo osseguintes tópicos, correspondentesás Notas 476 e 210:

«Enumeração, aliás, não taxati-va; lembrando-se, e. g., a despesareferente ao pagamento do prémiodo seguro contra incêndio ou sinis-tro outro, prevista como ordináriano art. 13 da Lei n? 4.591, de 16 dedezembro de 1964» (Nota 476).

E:

«Dai, não se Incluir, obviamente,entre as obrigações do locador, arelativa ao pagamento de sua cota-parte no valor do prêmio do seguroobrigatório da edificação ou con-junto de edificações em con-domínio; devendo ser carregada aoinquilino a respectiva despesa»(ob. cit., pág. 210).

Observa, por último, o parecer queo art. 13 da Lel n? 4.591/64 expressa-mente define o seguro contra incên-dio como despesa ordinária, isto é,indispensável á administração docondomínio, e, em conseqüência, atri-buível ao locatário.

De outra parte, é pelo improvi-mento do recurso, o parecer da ilus-trada Procuradoria-Geral da Repú-blica (parecer do Dr. João AntonioDesidério de Oliveira, com o aprovodo nobre Subprocurador-Geral daRepública, Dr. Aristides JunqueiraAlvarenga), por lhe parecer que asdespesas atribuíveis aos locatários

R.T.J. - 125

161

são apenas aquelas previstas no art.19, V, e seu parágrafo primeiro daLei n? 6.649/79 (Lei do Inquilinato).

Não tem razão, a meu ver, o v.acórdão impugnado.

Diz expressamente o art. 13 da Lein? 4.591/64 que o prêmio seguro daedificação se inclui entre as despe-sas ordinárias do condomínio. E cer-to que a Lei n? 6.649/79, atribui ao lo-catário, pelo seu art. 19, inc. V, aobrigação de pagar as despesas ordi-nárias de condomínio e o I 1? domesmo artigo discrimina aquelasque devem ser consideradas comodespesas ordinárias de condomínio,entre elas não se incluindo prêmio deseguro, nem mesmo o relativo ao se-guro obrigatório.

Entretanto, não me parece que sepossa considerar como caracteri-zando-se contravenção ter havido ainclusão, nos recibos de aluguel, dovalor correspondente ao prêmio doseguro. Tal ônus se encontra expres-samente previsto ao art. 6? do con-trato de locação, encontrando-se,deste modo, pactuado entre as par-tes e sem surpresa para o inquilinoque assinou o contrato. E surpreen-dente, assim, que se procure proces-sar os locadores, mais aumentando asurpresa quando se vê que os valo-res são pouco significativos, em ter-mos econômicos.

Silva Pacheco, em seu Tratado dasAções de Despejo tem que o prémiode seguro se Inclui entre as despesasde condomínios suscetíveis de seremcobradas do inquilino, podendo, as-sim, ser isso ajustado contratual-mente entre locador e locatário, emface do que resulta dos arte. 18, V, Infine, 30 e 52, I da Lei n? 6.649/79,(pág. 165/166).

E diz o acatado autor, distinguindoos encargos legais dos convencio-nais:

250. Encargos legais e encargosconvencionados. A lei, principal-mente, nos arts. 18 e 19 impõem osencargos que, regularmente, ca-bem a cada um dos sujeitos da re-lação de locação. São os encargoslegais.

Entretanto, não proíbe nem vedaa livre convenção, uma vez que seassenta sobre o principio da liber-dade contratual, com as ressalvasexpressas, que não podem ser eli-didas (art. 46).

Admite, expressamente, a plenaliberdade de contratar o aluguel(art. 15), a correção monetária domesmo, desde que não ultrapasse olimite estabelecido (ff 1? e 2? doart. 15), o reajustamento do alu-guel (arte. 48 e 49), a cobrança dejuros e correção monetária no casode mora (art. 30), a cobrança demulta ou penalidade (art. 36), a in-versão do dever de pagamento dosimpostos e taxas ({ 2? do art. 18).»Mais adiante, tratando dos encar-

gos convencionados e com mençãoao caso do seguro, declara Silva Pa-checo:

«Para que sejam convencionadosé preciso que sejam permitidos, is-to é, que não sejam proibidos. Res-ta perguntar se, apesar de impos-tos por lei, podem ser contratadosde modo diverso, ou melhor, se po-de ser convencionado a respeito deencargo legal? Quanto aos impos-tos e taxas, a própria lei o permiteno 2? do art. 18; em relação àsdespesas extraordinárias, trata-asde modo próprio (art. 19, VI e I 1?)e nada diz sobre a inversão; sobreo seguro, nada regula. Pode-se, emsuma dizer que:

quando a lei é omissa, nadaimpede que as partes convencio-nem livremente, como ocorre, porexemplo, com o seguro;

quando a lei atribui certoônus a uma das partes (encargo le-gal), mas permite a inversão, co-

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mo o faz com referência a impostoe taxa, nada há que impeça a con-venção (encargo convencionado);».Ora, no caso dos autos, o ajuste

para pagamento pelo locatário, doprêmio do seguro se encontra ex-presso na cláusula 6? do contrato delocação.

Ademais, justifica-se plenamentepara o locatário pagar o prêmio doseguro, para também assegurar-sedos riscos de prejuízos de incêndio aque possa dar causa, pois dispõe oart. 1.208, do Código Civil:

«Responderá o locatário pelo in-cêndio do prédio, se não provar ca-so fortuito ou força maior, vício deconstrução ou propagação de fogoorginado em outro prédio».O que parece resultar dos autos é

que se serviu injustamente, o locatá-rio, da ação penal para resolver pro-blema que certamente existe entreele e seu locador.

Pelo exposto, conheço do recurso elhe dou provimento, para conceder a

ordem e, em conseqüência, trancara ação penal, por falta de justa cau-sa para possibilitá-la.

E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RHC 64.950 — RS — Rel.: MinistroAldir Passarinho. Recte.: Cesar Vila-rino Rosa e outro (Adv.: Cari NeriBorges). Recdo.: Tribunal de Alçadado Estado do Rio Grande do Sul.

Decisão: Provido o recurso nos ter-mos do voto do Relator. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes á Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek e Célio Borja.Ausente, justificadamente o Sr. Mi-nistro Carlos Madeira. Subprocu-rador-Geral da República, o Dr.Mauro Leite Soares.

Brasília, 27 de novembro de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 65.061 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Recorrente: Francisco de Almeida — Recorrido: Tribunal de Alçada Cri-

minal do Estado de São Paulo.

Habeas Corpus. Traticamento de ação por falta de justa causa.Havendo o fumas bonl Judo para a ação penal, não cabe o seu tranca-mento por via do remédio constitucional. A sentença a ser proferidana ação cuja instrução já está concluída dirá, em face das provas, daexistência ou não da co-autoria na prática do crime de abuso de auto-ridade.

Recurso a que se nega provimento.ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, emnegar provimento ao recurso.

Brasília, 28 de abril de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Madeira:Por delito de abuso de autoridade,foi oferecida denúncia contra o Es-

R.T.J. - 125 163

crivão, e o Delegado de plantão, naDelegacia de Policia de Guarulhos,em virtude de sindicância ali reali-zada.

Em favor do Delegado, impetrou-se habeas corpus, alegando constran-gimento ilegal, por isso que o abusode autoridade, se ocorreu, foi come-tido, apenas pelo Escrivão.

A Décima Primeira Câmara doTribunal de Alçada Criminal do Es-tado de São Paulo denegou a ordem,ao duplo fundamento de haver ofumus boni juris para a ação, e seencontrar o processo já em fase desentença, tudo aconselhando o natu-ral desate da ação.

Recorreu ordinariamente o pacien-te, reiterando as razões da súplica, ea Procuradoria-Geral da Repúblicaopinou pelo improvimento.

E o relatório.VOTO

O Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): No parecer do Procu-rador-Geral da República Dr. CarlosEduardo Vasconcelos, aprovado peloSubprocurador-Geral Dr. Mauro Lei-te Soares, a espécie está assim lapi-darmente resumida:

«Em síntese, alega-se que o sim-ples fato de ser delegado plantonis-ta na dependência policial onde oescrivão de policia, autor imediato,cometeu o abuso de autoridade,não pode incriminar o primeiro.Não é apenas isto que consta da.denúncia de fls. 8/11. Se não bas-tasse a desenvoltura com que o

escrivão agira, conseguindo o com-parecimento da vitima à delegaciaem hora avançada da noite, duran-te o plantão do recorrente, narraainda a peça inaugural que o re-corrente sabia do fato e que autori-zou o escrivão a praticá-lo. Versãocontrária, se existir nos autos daação penal, depende de cotejo pro-batório cuja sede apropriada é nojuizo contraditório » ( fl. 83)Razão tem pois o acórdão recorri-

do em preferir que se aguarde a sen-tença, na qual, em face do examedas provas se decidirá se houve ounão participação do recorrente naprática do abuso.

Nego provimento ao recurso.E o meu voto.

EXTRATO DA ATARHC 65.061 — SP — Rel.: Ministro

Carlos Madeira. Recte.: Franciscode Almeida (Adv.: Jorge SebastiãoGomes de Lima). Recdo.: Tribunalde Alçada Criminal do Estado deSão Paulo.

Decisão: Negado provimento. Unâ-nime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes ã Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Razek, Carlos Madei-ra e Célio Boda. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 24 de abril de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO DE HABEAS CORPUS Nt 65.071 — RJ(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Recorrentes: José Antonio de Campos Marques e outros — Recorrido:

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.Inquérito Policial requisitado por Juiz de Direito, a requerimento

do Ministério Público, para apuração de fatos que, em tese, poderiamcaracterizar crime de denunciação caluniosa. Habena corpus visandotrancamento da investigação. Denegação do writ pelo Tribunal a quo.Recurso ordinário constitucional improvido pelo STF.

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R.T.J. — 125

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emnegar provimento ao recurso de ha-beas corpus.

Brasília, 22 de maio de 1987 —Moreira Alves, Presidente — SydneySanches, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Sydney Sanches:1. Os advogados Edison Ferreira deLima, José Ribamar Pereira dosSantos e Edson Gonçalves PereiraReis impetraram ordem de habeascorpus, em favor do comercianteJosé Antonio de Campos Marques edos Advogados Silvio Soares daFonseca e Isis Antunes da Silva, vi-sando o trancamento de inquérito po-licial, que o MM. Juiz de Direito da1! Vara Criminal de Nova Iguaçu,mandou instaurar, a requerimentodo Ministério Público Estadual, paraapuração de fatos que caracteriza-riam denunciação caluniosa, confor-me representação oferecida pelosAdvogados Mario Ani Cury eCeltiofabiano Ferreira Dias.

2. O E. Tribunal de Justiça dene-gou o wrlt, ficando o v. acórdão as-sim ementado:

Habeas corpus. Inquérito poli-cial.

A simples apuração de notitiacriminis não constitui constrangi-mento ilegal a ser corrigido pelavia do habeas corpus (fl. 132).

3. Os impetrantes interpuseram re-curso ordinário constitucional, insis-tindo no deferimento da ordem (fls.134/137).

4. Pelo improvimento opinou oilustre Procurador da República Dr.Carlos Eduardo Vasconcelos, em pa-

recer aprovado pelo eminenteSubprocurador-Geral Dr. Mauro Lei-te Soares (fls. 143/145).

E o relatório.VOTO

O Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator). 1. Eis o teor do v. acórdãorecorrido à fl. 132:

Acordam os Desembargadoresda Segunda Câmara Criminal doTribunal de Justiça do Estado doRio de Janeiro, por unanimidadede votos, em denegar a ordem.

Cuida-se de Habeas Corpus im-perado em prol dos pacientes, quese

t encontram soltos, alegando jus-

ta causa e pretendendo o tranca-mento do inquérito policial, ondese apura crime de ação pública.

Ainda não há ação penal e sóapós a conclusão das provas e dili-gências é que o Ministério Público— que é o titular da ação penal —apresentará denúncia ou pedirá oarquivamento (CPP, arts. 28 e 43).

Segundo o remansosa jurispru-dência dos Tribunais, o inquéritopolicial é mera investigação, nãoconstituindo constrangimento ile-gal e não se justificando a conces-são do writ para pôr fim ao inqué-rito.

Nesse sentido, os HC n?s 54.437 e57.004, do STF, em que foram rela-tores os Ministros Cordeiro Guerrae Dl aci Falcão, respectivamente(RTJ, vols. 78/138 e 92/1107)» (fl.132).2. Ao emitir parecer pelo impro-

vimento do recurso ordinário consti-tucional assim se manifestou o Mi-nistério Público Federal às fls.143/145:

«O objeto do presente recursoguarda simetria com a controvér-sia agitada no A.I. 116.047-1/RJ,cuja negação de seguimento, profe-rida por V. Exa., culminou pormanter acórdão do Tribunal Fede-ral de Recursos, concessivo de

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habeas corpus para trancamentodo inquérito policial instaurado pa-ra apurar infrações aos artigos 158e 307 do Código Penal, atribuídasaos advogados Celtiofabiano Fer-reira Dias e Mário Md Cury, entãopacientes e agravados.

Estes mesmos causidicos, emseguida, Ingressaram com repre-sentação à autoridade judiciáriaestadual (fls. 18/25), noticiando aprática de crimes de denunciaçãocaluniosa, atribuídos a José Anto-nio de Campos Marques e aos ad-vogados Isis Antunes da Silva eSilvio Soares da Fonseca, ora re-correntes, supostos causadores doflagrante e inquérito policial tran-cado pelo acórdão do TFR.

Diante das judiciosas ponde-rações do Promotor, no parecer defl. 67-v., de que se contava, na re-presentação, com a palavra dasvitimas, a autoridade coatora man-dou instaurar inquérito policial (fl.69), que vem a ser a ilegalidadeapontada pelos ora recorrentes,sob fundamento da falta de justacausa.

O Tribunal de Justiça do Es-tado de Rio de Janeiro, pelo acór-dão de fl. 132, denegou a ordemque ora se reitera, salientando naementa que «a simples apuraçãoda noticia criminis não constituiconstrangimento ilegal a ser corri-gido pela via do Habena Corpus.

Evidentemente, a orientaçãoadotada, se aplicada indiscrimina-damente. poderia tornar inócuo odisposto no art. 648, I do CPP, masnão é este o caso. Os fatos narra-dos na representação, foram repu-tados criminosos, em tese, pelopromotor e o juiz que a aprecia-ram. O inquérito policial foi requi-sitado, como se infere da cota mi-nisterial (fl. 67), para eficaz tutelada presunção de inocência dos re-presentados, contra quem só exis-tiam provas unilaterais, oferecidaspelos representantes.

O acórdão do TFR admitiraque o auto de prisão em flagrantepoderia ter sido elaborado «com oobjetivo de satisfazer interesses departiculares e não indicando exis-tência da prática de crime» (fl.105). Se assim pode ter sido, nãoapenas a denunciação caluniosa,mas até possível abuso de autori-dade reclamam apuração. Os ad-vogados que responderam ao in-quérito policial depois trancado fo-ram presos sob a capa de um fla-grante. E razoável que, convenci-dos da ma-fé e dolo dos recorren-tes, em face de circunstâncias queem principio autorizam tais infe-rências, os advogados requeiram ainstauração de ação penal.

E certo que o trancamento doinquérito policial procedido peloTFR, a despeito dos fundamentosali acolhidos, não comprometenem prejulga eventual prática dedenunciação caluniosa. Do contrá-rio, aquele colegiado estaria comoQue impondo pena antecipada aquem não era sujeito na relaçãoprocessual. Mas a apuração que seestá efetuando, para munir o Mi-nistério Público de elementos váli-dos para oferecer denúncia ou pe-dido de arquivamento, não consti-tui Ilegalidade visível em habenacomua, pelo que se sugere o impro-vimento (fls. 143/145).

Destinando-se, como se vê, oinquérito policial a simples apuraçãode fatos que, em tese. poderiam ca-racterizar denunciação caluniosa,não se justifica seu trancamento,mediante deferimento de habeascorpus conforme a jurisprudênciadesta Corte.

Isto posto, nego provimento aorecurso:

E meu voto.

EXTRATO DA ATA

RHC 65.071 — RJ — Rel.: MinistroSydney Sanches. Rectas.: José Anta-

166 R.T.J. — 125

nio de Campos Marques e outros(Advs.: Edison Ferreira de Lima eoutro). Recdo.: Tribunal de Justiçado Estado do Rio de Janeiro.

Decisão: Negou-se provimento aorecurso de habeas corpus. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessão

os Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Oscar Corrêa, Sydney Sanches eOctavio Gallotti. Subprocurador-Geral da República, Dr. AristidesJunqueira Alvarenga..

Brasília, 22 de maio de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretario.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 65.080 — SP(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Recorrente: João Martins Garcia — Recorrido: Tribunal de Alçada Cri-

minal do Estado de São Paulo.

CompetênciaHabeas corpos impetrado contra ato de Juiz de Direito que, aco-

lhendo requerimento do Ministério Público, requisitou instauração deinquérito policial contra o paciente.

Não conhecimento do writ pelo Tribunal de Alçada Criminal deSão Paulo, sob o fundamento de que deve ser apreciado pelo próprioJuiz.

Recurso de habeas corpus interposto contra o não conhecimento.Provimento do recurso para que o Tribunal a quo Julgue o pedido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emdar provimento ao recurso de ha-beas corpus, nos termos do voto doMinistro-Relator.

Brasília, 16 de Junho de 1987 —Moreira Alves, Presidente — SydneySanches, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Sydney Sanches:1. Trata-se de habeas corpus impe-trado pela Ordem dos Advogados doBrasil — Seção de São Paulo, repre-sentada pelo Advogado Alberto Za-charias Toron, em favor do Advoga-

do João Martins Garcia, contra atodo MM. Juiz de Direito da comarcade Mauá, que determinou a instaura-ção de inquérito policial, para apura-ção de crime de apropriação indébi-ta (fls. 2/13).

A E. 8! Câmara do Tribunal deAlçada Criminal de São Paulo nãotomou conhecimento da impetração,por entender que autoridade coatoraseria o Delegado de Polícia, que ins-taurou o inquérito e não o MM. Juiz.Este, portanto, seria o competentepara conhecer do pedido (fls. 55/59).

Inconformada, interpôs a im-petrante recurso ordinário constitu-cional, insistindo na competência daE. Câmara do Tribunal a quo (fls.62/67).

4. O ilustre Subprocurador-Geralda República opinou às fls. 80/81 pe-lo provimento do recurso, verbis:

R.T.J. - 125

167

«Parece-nos, data venta, que orecorrente tem razão, eis que a au-toridade coatora é o Dr. Juiz de Di-reito que determinou a instauraçãodo inquérito, conforme bem se acen-tua às fls. 65/67» (fl. 81).É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator): 1. Eis o teor do requeri-mento do Ministério Público dirigidoao MM. Juiz de Direito da Comarcade Mauá:

«Responde por apropriação indé-bita o advogado que, tendo obtidoganho de causa em favor de seucliente, deixa de entregar a este aparte liquida a que tenha direito o pa-trocinado» (TACRIM-SP-Ap. Crim.Relator Juiz Silvio Lemnl-RT-31/317).

«Responde por apropriação indé-bita o advogado que, tendo levan-tado importe decorrente de açãoindenizatória em favor de cliente,deixa de entregar-lhe o numerário,por entender-se credor de parte daquantia levantada, a titulo de cus-tas, despesas e honorários advo-caticlos ao invés de propor a ca-bível ação para cobrança de verbada qual se julga com direito» (RT35/318).

Seria conveniente que o dedicadoDelegado de Policia apurasse o de-lito com a profundidade que o casomerece.

O delito praticado pelo advogadoestá na mesma esfera de gradua-ção do que qualquer outro (furto,estelionato, etc.). Com a agravanteque o advogado usou de um proce-dimento soez e desleal, conspur-cando o nobre mister de defender ohumilde na assistência judiciária.

Consta dos autos que o escrivãoFarias colheu o depoimento da viti-ma, sem estar presente o Delegadode Polícia, cujo teor não corres-

ponde com a verdade. Estranha-mente foi permitido ao indiciadopermanecer o tempo todo ao ladoda vitima.

Faz-se mister salientar que o in-quérito policial foi instaurado paraapurar o delito de apropriação in-débita, e sequer uma pergunta foifeita neste sentido à vitima. A bemda verdade, nem ao indiciado foiperguntado a respeito da apropria-ção do dinheiro.

Havendo indícios de delito,como por exemplo, prevaricação,requeiro a extração de cópias dosautos, remetendo-as ao digníssimoDelegado de Policia Seccional.

Juntada aos autos dos depoi-mentos de Maria Aparecida e Ma-ria Ignez.

Requeiro à autoridade policial:Incllciamento formal do indi-

ciado.Interrogatório do indiciado,

que deverá esclarecer, detalhada-mente, a respeito do dinheiro reti-do indevidamente.

Perícia no recibo de fl. 4,colhendo-se material gráfico do in-diciado.

Depoimento de Benicio Desi-dério, cujo endereço consta à fl. 5.

Cópia do extrato bancário doindiciado, assinalando a compensa-ção do cheque recebido pelo indi-ciado de Benicio para pagar a pen-são alimentícia de seu filho, cujaquantia deveria ter sido entregue,integralmente, a Maria.

Busca e apreensão do docu-mento assinado em branco pela vi-tima para o indiciado, provavel-mente um recibo.

Mauá, 16 de abril de 1986 —Carlos Henrique Mund, Promotorde Justiça» (fls. 29/30).

2. O ilustre Juiz de Direito daComarca, Dr. Francisco EduardoLoureiro, assim apreciou o reque-rimento do Ministério Público:

168 R.T.J. — 125

«Defiro integralmente os pedidosformulados pelo Dr. Promotor.

Extraiam-se cópias para oDel. Seccional, para apuração deeventual crime de prevaricação.

Cumpra a autoridade policialas providências postuladas peloDr. Promotor, no prazo de 30 dias»(fl. 31).3. Vê-se, pois, que a instauração

do inquérito policial contra o pacien-te foi determinada pelo MM. Juiz,ao deferir integralmente os requeri-mentos do Ministério Público. E tam-bém ao fixar para a autoridade poli-cial o prazo de 30 dias para as provi-dências ordenadas.

4. Ora, se a requisição de inquéri-to partiu do MM. Juiz, este deve serconsiderado, para os fins da presen-te impetração, a autoridade coatora.E não o Delegado de Policia, que selimitou a atender a requisição.

Competente, por conseguinte, paraconhecer do pedido é a E. Câmarado Tribunal a quo, como tem decidi-do o STF, verbt gratta.

Se o Juiz de 1? instância, emboraatendendo a requerimento do MP,determinou a remessa de peças desindicância à autoridade policialpara que esta instaurasse o proce-dimento contravencional, é ele deser considerado como autoridadecoatora em relação à instauraçãodo procedimento sumário promovi-

da por esta última autoridade. Emconseqüência, a competência parajulgar o habeas corpus que objeti-va o trancamento do inquérito poli-cial é do C. Tribunal de AlçadaCriminal do Estado de São Paulo,ao qual será remetido o writ. (inRTJ 118/99).5. Diante do exposto, dou provi-

mento ao recurso para que a E. 8?Câmara do Tribunal de Alçada Cri-minal de São Paulo conheça do pedi-do, apreciando-o como de direito.

EXTRATO DA ATA

RHC 65.080 — SP — Rel.: MinistroSydney Sanches. Recte.: João Mar-tins Garcia (Adv.: Alberto ZachariasToron). Recdo.: Tribunal de AlçadaCriminal do Estado de São Paulo.

Decisão: Deu-se provimento ao re-curso de habeas corpus, nos termosdo voto do Ministro Relator. Unâni-me.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Sydney Sanches e Octavio Gallot-ti. Ausente, justificadamente, o Se-nhor Ministro Oscar Corrêa. Sub-procurador-Geral da República, Dr.Aristides Junqueira Alvarenga.

Brasília, 16 de junho de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 65.082 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Célio Boda.Recorrente: João Ricardo Monteiro — Recorrido: Tribunal de Alçada

Criminal do Estado de São Paulo.

Processual Penal. Flagrante delito. Hipóteses previstas nos inci-sos III e IV do art. 302 do CPP (ocorrência).

RHC improvido.

R.T.J. — 125 169

ACORDA°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade de votos, em ne-gar provimento ao recurso de ha-beas corpus.

Brasília, 8 de maio de 1987 —Moei Falcão, Presidente — CélioBorja, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Célio Borja: Impe-irou o recorrente ordem de habeascorpus contra o despacho de fl. 36que lhe indeferiu o pedido de liberda-de provisória, que lhe foi negada pe-la 41: Câmara do Tribunal de AlçadaCriminal do Estado de São Paulo. Ov. aresto recorrido repeliu o argu-mento relativo à inexistência de fla-grante, dado o lapso transcorridodesde a consumação do crime e acaptura do acusado (fls. 141/142).

Recorre ele para esta SupremaCorte repisando a tese da nulidadedo flagrante porque «o delito ocorreuem Itupeva» ... «por volta das 11:00horas no dia 30 de dezembro de 1986,enquanto o paciente foi detido emsua residência, multas horas após osfatos, quando, então, recambiado nomunicípio de São Paulo, para o Mu-nicipio de Indalatuba, em 31 de de-zembro de 1986, lavrou-se o ato deprisão» (fl. 147).

A douta Procuradoria-Geral da Re-pública, assim opina (fls. 187/168):

«Extrai-se da leitura das peças dosautos que, tão logo a polícia tomouConhecimento do assalto desenvolveuperseguição ininterrupta aos delin-qüentes até prender também o re-corrente que foi encontrado com asarmas utilizadas na prática do cri-me, o dinheiro subtraído no assalto eo carro que serviu para a fuga do

paciente e alguns co-réus e para orecolhimento das armas e do malotede dinheiro, jogado no acostamentoda estrada pelos comparsas do re-corrente.

A hipótese, data venta é de fla-grante presumido, na forma do arti-go 302, IV, do Código de ProcessoPenal, face à proximidade entre aação violadora da lei penal e o en-contro do recorrente com objetos ca-pazes de fazer presumir ser ele au-tor da infração, como já foi eviden-ciado.

Ante ao exposto, o parecer sugereo improvimento do recurso.»

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Célio Borja (Rela-tor): E expressa a lei processual pe-nal:

*Art. 302. Considera-se em fla-grante delito quem:

IV — é encontrado, logo depois,com instrumentos, armas, objetos oupapéis que façam presumir ser ele oautor da infração.»

Também o inciso III, do mesmoartigo 302, do CPP, teria pertinência,à vista da perseguição policial deque dão noticia as peças acostadasàs informações do MM. Juiz.

Nego provimento ao recurso.

EXTRATO DA ATA

BBC 65.082 — SP — Rel. MinistroCélio Borja. Rede.: João RicardoMonteiro (Adv.: Francisco PintoDuarte Neto). Recdo.: Tribunal deAlçada Criminal do Estado de SãoPaulo.

Decisão: Negado provimento. Unã-nime.

170 R.T.J. — 125

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Carlos Madeira e Célio Borja.Ausentes, justificadamente, o Sr. Mi-

nistro Francisco Rezek. Subpro-curador-Geral da República, o Dr.Mauro Leite Soares.

Brasília, 8 de maio de 1987 — HélioFrancisco Marques, Secretário.

HABEAS CORPUS N? 65.087 — MT(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Paciente: Expedito Nédio da Silva — Impetrantes: Francisco Angelo

Carbone Sobrinho e outra — Coator: Tribunal de Justiça do Estado de MatoGrosso.

Habeas Coipus. Excesso de prazo. Tráfico de entorpecentes.Tratando-se do delito previsto no 2?, inciso II, do artigo 12 da Lei deTóxicos, justificado é o excesso do prazo global para a conclusão doprocesso, inclusive porque houve substituição de testemunhas em prolda defesa. Proferida sentença condenatória, insubsistente se torna aalegação de constrangimento ilegal.

Pedido indeferido.

ACORDA.°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, emindeferir o pedido.

Brasília, 29 de maio de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Carlos Madeira:Acusado da prática dos delitos deque tratam os artigos 12, § 2?, II, 18,III, da Lei n? 6.368/76, e ainda o art.132 do Código Penal, Expedito Nédioda Silva, foi preso juntamente comtrês co-autores, em 19 de fevereirodo corrente ano, sendo interrogadono dia seguinte. Transcorridos maisde 38 dias de instrução criminal,sem que fosse proferida sentença,seus advogados impetraram habeascorpus ao E. Tribunal de Justiça do

Estado do Mato Grosso, em 27 demarço e a 9 de abril impetraram opresente remédio, alegando coaçãoilegal, por já haver expirado há mui-to os prazos fixados na Lei n?6.368/76, para a conclusão do proces-so.

Solicitadas informações, prestou-as o ilustre Desembargador Presi-dente do Tribunal de Justiça do Es-tado de Mato Grosso, encaminhandocópia da sentença prolatada pelaJuíza de Direito da 1! Vara Criminalde Várzea Grande, em 24 de abril de1987.

A Procuradoria-Geral da Repúbli-ca opinou por que seja julgado preju-dicado o pedido.

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): Ao Tribunal de Justiça doEstado, a Juíza informou que a sen-tença foi proferida após o prazo dalei, tendo em vista a complexidadeda causa.

R.T.J. - 125

171

Efetivamente, quatro eram os acu-sados na denúncia, em associação,visando à comercialização e trans-porte, em aviões próprios, para aBolívia, de material destinado a refi-nação de cocaína, a partir de umafazenda de propriedade do ora pa-ciente e outro acusado. A complexi-dade dos fatos levou a Juiza a reali-zar a audiência de instrução e julga-mento em cinco oportunidades dis-tintas, admitindo a substituição detestemunhas não encontradas, emprol da defesa.

Proferida a sentença, e condenadoo paciente, prejudicado fica o pedi-do, por não mais subsistir o cons-trangimento alegado.

Indefiro a ordem.E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

HC 65.087 — MT — Rel.: MinistroCarlos Madeira. Pacte.: ExpeditoNédio da Silva. Imptes.: FranciscoAngelo Carbone Sobrinho e outra.Coator: Tribunal de Justiça do Esta-do de Mato Grosso.

Decisão: Indeferido o pedido àunanimidade de votos.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros, Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Borja. Subprocurador-Ge-ral da República, o Dr. Mauro LeiteSoares.

Brasília, 29 de maio de 1987. HélioFrancisco Marques, Secretário.

HABEAS CORPUS N? 65.184 —(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Paciente: José Carlos da Silva — Impetrante: O mesmo — Coator: Tri-

bunal de Alçada Criminal do Estado do Rio de Janeiro.

Habeas empas com alegação de excesso de prazo no encerramen-to da instrução. Impetração perante o Tribunal de Alçada Criminal,que, posteriormente a ela, já havia confirmado a sentença condenató-ria proferida contra o paciente. Incompetência daquela Corte paraexaminar o pedido. Remessa dos autos ao STF, que conheceu do pedi-do, julgando-o, porém, prejudicado, ante o fato superveniente (conde-nação), que tornou superado o excesso de prazo.

ACOFIDA0

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emjulgar prejudicado o pedido de ha-beas corpus.

Brasília, 23 de junho de 1987 —Moreira Alves, Presidente — SydneySanches, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Sydney Sanches:1. Perante o E. Tribunal de AlçadaCriminal do Estado do Rio de Janei-ro, José Carlos da Silva impetrou,em seu favor, ordem de habeascorpus contra o MM. Juizo da 32!Vara Criminal da comarca da capi-tal (v. fls. 2/15), alegando encon-trar-se preso em flagrante desde22-11-1985, haver comparecido, pelaúltima vez, a 5-2-1986, perante o Ma-gistrado, permanecendo até 15-8-1986

172 R.T.J. - 125

(data da impetração) no aguardo desentença, estando, pois, excedido oprazo legal para o encerramento doprocesso (fls. 2/3).

O MM. Juiz informou haver si-do o réu, a 15-8-1986, condenado, emtal processo, à pena de seis anos,dois meses e vinte dias de reclusão,sob regime fechado, e multa de Cr$311,10, como incurso nas sanções doart. 157, ff 1? e 2?, c/c incisos I e IIdo art. 71, todos do C.P., tendo sidoos autos remetidos à segunda instân-cia, para exame de recurso da defe-sa (fl. 15).

A Secretaria do E. Tribunalde Alçada Criminal informou que a11-3-1987 foi improvido tal recurso(fl. 18).

Diante disso, o E. Tribunal deAlçada Criminal, por haver confir-mado a sentença condenatória,considerou-se autoridade coatora e,então, não conheceu do pedido, de-terminando a remessa dos autos aesta Suprema Corte (fls. 20/21).

As fls. 30/31 foram prestadasinformações complementares pelaE. Presidência do Tribunal a quo.

6. O Ministério Público Federal,em parecer do ilustre Procurador daRepública Dr. Carlos EduardoVasconcelos, aprovado pelo eminen-te Subprocurador-Geral Dr.Aristides Junqueira Alvarenga, opi-nou pela denegação do writ, sugerin-do oficio às autoridades competentespara que o paciente seja cientificadoda condenação (fls. 33/34).

E o Relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator): 1. A impetração atacouapenas o excesso de prazo no encer-ramento da instrução (fls. 2/3).

Sobreveio, porém, sentença conde-natória, já confirmada, a esta altu-

ra, pelo E. Tribunal de Alçada Cri-minal que, por isso, considerando-seautoridade coatora, não conheceu dopedido e ordenou a remessa dos au-tos a esta Corte.

Mas o pedido, como se formu-lou, está prejudicado, pois o alegadoexcesso de prazo restou superado pe-la superveniente condenação, quenão está sendo objeto de ataque e cu-jo inteiro teor é até desconhecido.

Quanto à sugestão de ofício àsautoridades competentes para quecientifiquem o réu da condenação(fls. 33/34), penso que não precisaser acolhida.

Na verdade, a impetração está da-tada de 15-8-1986 (fl. 3). Como a sen-tença condenatória foi proferida nes-se mesmo dia, é possível que o réusó posteriormente tenha dela tomadoconhecimento, tanto que o recursoao depois interposto pela defesa, jáfoi improvido.

4. Limito-me, pois, a julgar pre-judicado o pedido.

EXTRATO DA ATA

HC 65.184 — RJ — Rel.: MinistroSydney Sanches. Pte.: José Carlosda Silva. Impte.: O mesmo. Coator.:Tribunal de Alçada Criminal do Es-tado do Rio de Janeiro.

Decisão: Julgou-se prejudicado opedido de habeas corpus. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Oscar Corrêa, Sydney Sanches eOctavio Gallotti. Subprocurador-Geral da República, Dr. AristidesJunqueira Alvarenga.

Brasília, 23 de junho de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

R.T.J. — 125 173

RECURSO DE RAMAS CORPUS N? 65.222 — PR(Segunda Turma)

Relator: O Sr, Ministro Carlos Madeira.Recorrente: Elias Camargo de Souza — Recorrido: Tribunal de Justiça

do Estado do Paraná.

Recurso de Reboas Corpus, Prisão decretada em ação de depósi-to. Se o réu foi intimado da decisão que cominou a prisão nos termosdo artigo 904 do Cod. de Proc. Penal, não há nulidade na execução damedida.

Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas ta quiiirfi

-ficas, por unanimidade de votos, emnegar provimento ao recurso de ha-beas corpus.

Brasília, 17 de dezembro de 1987 —Djaci Falc

Rão, Presidente — Carlos

Madeira, elator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Madeira:Leio o acórdão lavrado pela E. Ter-ceira Câmara Civel do Tribunal deJustiça do Estado do Paraná:

«1.0. Opõe o Bel. Fernando An-tonio Prazeres o presente pedidode habeas corpus, em favor deElias Camargo de Souza, em faceda decisão judicial que decretara asua prisão civil, nos autos da açãode busca e apreensão sob n? 796/84,convertida em ação de depósito,Julgada procedente, aduzindo:

ser ilegal a medida, por-quanto em todo o curso do pro-cesso fora citado e intimado poredital, ficando, portanto, cercea-do em sua defesa;

nulidade do processo, vez quenão fora intimado da decisão que

decretara a sua prisão ou mesmoo Dr. Curador Especial.1.1. A ordem fora concedida li-

minarmente (0. 106v.) e solicita-das foram as informações à autori-dade dita coatora, que as prestarapor oficio de fls. 117/9, sustentandoa legalidade do decreto de prisão,por ter este obedecido todos os re-quisitos exigidos pelas normas le-gais.

2.0. Com vista dos autos, a dou-ta Procuradoria-Geral da Justiçaemitiu parecer, opinando pela de-negação da ordem.

3.0. Propusera a Cia. Rata de In-vestimenta, Crédito e Financia-mento — Grupo Baú, no Juizo na7? Vara Civel, desta Capital, açãode busca e apreensão (fls. 8/10),em razão de o réu (paciente) EliasCamargo de Souza, não ter cum-prido com suas obrigações emana-das do contrato de financiamentopara aquisição de uma motocicletaHonda — Modelo Turuna, ano de1980, placa AK-124, no valor de Cr;971.447,40.

Expedido mandado e não locali-zado o temem o bem alienado fi-duclarlarnente (fl. 22) e esgotadasas tentativas no sentido de obter oseu endereço, requerera a autora aconversão do pedido de busca eapreensão em ação de depósito (fl.62) e, com base na certidão do Ofi-cial de Justiça de que não localiza-ra o devedor (0. 66). pedira a cita-

174 R.T.J. — 125

ção deste por edital (fl. 70), que fo-ra publicado regularmente (fl. 748?).

Decorrido o prazo para contesta-ção e caracterizada a revelia doréu (fl. 79), manifestara-se o Dr.Curador Especial, após o que pro-ferira o Dr. Juiz a quo a respectivasentença, julgando procedente aação de depósito, determinando aentrega do bem, em vinte e quatro(24) horas, ou do equivalente emdinheiro, sob pena de prisão (fls.83/4).

O réu, para esse fim, fora nova-mente intimado por edital (fls.85/92), tendo decorrido o prazo le-gal, sem que fosse atendida a de-terminação (fl. 93).

Esgotados os meios legais para arestituição ordenada, a autora, fi-nalmente, requerera a prisão doréu e, após ouvido o Dr. CuradorEspecial (fl. 98), decretara a medi-da extrema, cominando a pena dedois (02) meses de prisão (fl. 99), oque encontra supedâneo nas dispo-sições do art. 904, único do CPC.

Inobstante, o impetrante aduzser ilegal a prisão decretada, por-quanto o réu (paciente) fora citadoe intimado por edital durante todoo processo e assim não houve opor-tinuidade para que o mesmo ofe-recesse elementos para discussãoda matéria em litígio, sobretudo,considerando-se que os autos noti-ciam uma possível transação en-volvendo o objeto da ação.

Ora, para a validade do processoé indispensável a citação inicial doréu (art. 214 do CPC) e entre osmeios legais de procedê-la, inclui-se o da citação por edital (art. 221III), na impossibilidade de se efe-tuar a citação direta pelos motivosalinhados no art. 231.

Assim, certificado pelo meirinhoque o réu (paciente) se encontravaem lugar incerto, ignorado ou des-conhecido (fl. 66), fato, aliás, con-

firmado pela informação prestadapela sua própria mãe (fl. 49), fa-cultada ficara a sua citação poredital, que, induvidosamente, forafeita de modo regular e com a ob-servância das formalidades legais,devendo, portanto, ser tida comoválida constituindo-se em forma dechamamento do interessado ao pro-cesso, produzindo todos os seusefeitos de lei.

Logo, não se pode dizer — de sãconsciência que ao réu (paciente)não se dera oportunidade para adiscussão da matéria em debate,porquanto a ele fora dado conheci-mento da propositura da ação, asse-gurando-se-lhe, destarte, o exercí-cio do sagrado direito de defesa.

A alegação de uma possível tran-sação em torno do objeto da ação,certificada à fl. 49, em nada lhe fa-vorece, pois que dela depreende-seque o réu teria vendido a terceiroso bem que lhe fora alienado fidu-ciariamente e do qual se tornarafiel depositário, dois meses após aaquisição, sem que tivesse liquida-do a dívida ou tivesse dado conhe-cimento á autora (financiadora), oque o tornara passível de ser en-quadrado na sanção prevista pe-lo art. 66, 8? (com a redação da-da pelo art. 1? do De...reto-Lei n?911/69), da Lei n? 4.728, de14-7-1965.

Por fim, a argüição de nulidadedo processo, à falta de intimaçãodo réu ou do Dr. Curador Especialda decisão que decretara a prisãocivil, não é de ser acolhida, pois,na verdade, o ato intimatório secumprira via da publicação da mes-ma decisão do Diário da Justi-ça de 7-8-86, consoante emerge decertidão de fl. 99.

Diante desses fundamentos, re-sultando inconfiguradas a ilegali-dade da medida e a nulidade doprocesso, não há como conceder-seo wrlt impetrado.

R.T.J. - 125

175

Do exposto:Acordam, os Desembargadores

integrantes da Terceira CâmaraCivel do Tribunal de Justiça do Es-tado do Paraná, por unanimidadede votos, denegar a ordem impe-trada, cassando-se, de conseqüên-cia, a liminar concedida inicial-mente.» (Fis. 129/131)

Recorre o paciente, reeditando asrazões de impetração.

A Procuradoria-Geral da Repúbli-ca opina pelo improvimento do re-curso.

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): Esclareço de logo que aprisão do paciente foi pedida pelaautora quando requereu a conversãoda busca e apreensão em ação de de-pósito.

A ação foi julgada procedente, inti-mado o recorrente por edital.

A seguir, o Juiz decretou a prisãodo recorrente por dois meses.

Alega o recorrente que não foi inti-mado da decisão que decretou suaprisão, ou mesmo o seu Curador,configurando-se, aí, o cerceamentode defesa.

pedido de habeas corpusfundamenta-se, essencialmente, nes-se detalhe.

Lê-se dos autos que a decisão quedecretou a prisão do recorrente foipublicada como despacho, no órgãooficial. Não se fez a intimação poredital.

Transitada em julgado a decisão,a partir da publicação no órgão ofi-cial, o Juiz mandou expedir manda-do de prisão, na forma da lei.

mandado foi expedido, pelo es-crivão do Juizo e cumprido pela au-toridade policial.

Com razão, observa o parecer daProcuradoria-Geral da República:

«5. A sentença de depósito, re-produzida às fls. 83/84, cominou aopaciente a prisão preventiva noart. 904, parágrafo único do CPC,caso não restituísse a coisa emlitígio. Houve edital intimatóriocontendo a ameaça de prisão ( fls.86/91), seguido de requerimento deprisão e abertura de vista ao cura-dor especial, que conseguiu adiarainda um pouco mais a constrição,Já que nada mais podia aduzir emfavor de seu curatelado (art. 3?, •2? do Decreto-Lei n? 911/69, veja-se fls. 79, 95 e 98).

Ora, normalmente uma or-dem de captura não é precedida daintimação pessoal do procurado,ainda mais se traduz mero efeitode um procedimento contraditóriocom várias oportunidades de parti-cipação e sentença devidamentecomunicada.

Por outro lado, a não intima-ção pessoal do agente do Ministé-rio Público poderia, quando muito,invalidadr o trânsito em julgado dadecisão que decretou a prisão, masnem isto. O réu teve ciência porpublicação, tanto da decretação daprisão quanto da sentença que lhedera causa, esta também comuni-cada pessoalmente ao curador. Es-te, por sua vez, materialmente im-possibilitado de apresentar qual-quer explicação favorável ao pa-ciente, só poderia recorrer, com aescassa possibilidade adiar umpouco a execução da medida.

8. Não é da índole do MinistérioPúblico, nas mais variadas funçõesque exerce, agir além do circulorestrito da legalidade. Sua posiçãonesse processo não equivale à deum defensor, que tem o dever daparcialidade e transita no campomais vasto da licitude, mas à deum defensor garante, voltado à tu-tela dos interesses processuais do

176 R.T.J. - 125

curatelado ou incapaz, do fair trialem relação a ele» (fls. 151/152).Acolhendo tais razões, tenho que

não ocorreu o cerceamento de defesaalegado.

Nego provimento ao recurso.E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RHC 65.222 — PR — Rel.: MinistroCarlos Madeira. Recte.: Elias Ca-margo de Souza (Advs.: FernandoAntonio Prazeres e outro). Recdo.:

Tribunal de Justiça do Estado do Pa-raná.

Decisão: Negado provimento. Unâ-nime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Reza, Carlos Madei-ra e Célio Borja. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 17 de dezembro de 1987.Hélio Francisco Marques, Secreta-rio.

HABEAS CORPUS N? 65.287 — SC(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Paciente: Golberi Mauro da Luz — Impetrante: O mesmo — Coator: Tri-

bunal de Justiça do Estado de Santa Catarina.

Habeas corpus.Indulto. Se os efeitos deste são recusados ao paciente pelo Juiz

das Execuções Criminais, este é a autoridade coatora contra quem sedeve dirigir a impetração perante o Tribunal competente.

Se, com o pedido de habeas corpus, se pretende mudança no regi-me de prisão, a matéria também deve ser submetida antes ao juizocompetente das Execuções.

Habeas corpos não conhecido, sem concessão da ordem, de oficio,à falta de melhores elementos informativos.

ACORDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emnão conhecer do pedido de habeascorpus.

Brasília, 28 de agosto de 1987 —Moreira Alves, Presidente — SydneySanches, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Sydney Sanches: Oilustre Procurador da República Dr.

Carlos Eduardo Vasconcelos, em pa-recer aprovado pelo eminente Sub-procurador-Geral Dr. Aristides Jun-queira Alvarenga, assim resumiu ahipótese e, em seguida, opinou nes-tes autos de «habeas corpus», verbis:

«1. Da confusa inicial remetidapor Golberi Mauro da Luz, infere-se que pleiteia os efeitos do indultonatalino de 1986 ou o regime abertode cumprimento da pena impostapela prática de furto simples.

2. Trata-se, no primeiro caso,de matéria que refoge à competên-cia conetiva do Supremo Tribunal,pois o constrangimento emana dojuízo da execução. Quanto ao regi-

R.T.J. - 125 177

me aberto, a apelação do paciente,reproduzida á fls. 32, discutiu am-plamente todos os ângulos da con-trovérsia e dos antecedentes doacusado, não merecendo reparos,até porque foi considerado semi-imputável.

3. Isto posto, sugere-se o nãoconhecimento do pleito de indulto ea denegação quanto ao mais» (fls.40/41).

o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator): 1. Quanto aos efeitos doindulto, se lhe foram recusados peloMM. Juiz das Execuções Criminais,este é a autoridade apontável comocoatora e não o Tribunal de 2? grau.

Não compete, pois, a esta Corte, oexame do pedido, nesse ponto (art.118, I, h, da CF).

2. Quanto à pretendida mudançano regime de prisão, a matéria tam-bém compete ao Juizo das Execu-ções Criminais, como salientado nov. acórdão do E. Tribunal de Santa

Catarina no HC 8.171 (fls. 29), semque tenha havido recurso ordinário.

3. Isto posto, não conheço do pe-dido aduzindo apenas que não há nosautos elementos informativos sufi-cientes para eventual concessão daordem, de oficio.

EXTRATO DA ATA

HC 65.287 — SC — Rel.: MinistroSydney Sanches. Pte.: Golberi Mau-ro da Luz. 'rapte.: O mesmo. Coator:Tribunal de Justiça do Estado deSanta Catarina.

Decisão: Não se conheceu do pedi-do de habeas-corpus. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes á sessão osSenhores Ministros Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Sydney Sanches e Oc-tavio Gallotti.

Subprocurador-Geral da Repúbli-ca, Dr. Aristides Junqueira Alvaren-ga.

Brasília, 28 de agosto de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO DE HABEAS CORPUS 65.289 — ES(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Recorrente: Maurilio de Magalhães — Recorrido: Tribunal de Justiça do

Estado do Espirito Santo.

Habeas corpus: Vícios de inquérito policial.Sendo o inquérito policial mero procedimento informativo, os

vidos nele acaso existentes não afetam a ação penal.Auto de flagrante lavrado com infringancla do artigo 290 do Códi-

go de Processo Penal. Sua nulidade gera apenas a Ineficácia da ri-Mo. não influindo na acto, já iniciada, com denúncia recebida. P

Recurso improvido.

ACORDA0 premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-

Vistos, relatados e discutidos estes ficas, por unanimidade de votos, emautos, acordam os Ministros do Su- negar provimento ao recurso.

178 R.T.J. — 125

Brasília, 14 de agosto de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATÓRIOSr. Ministro Carlos Madeira:

Em favor de Maurilio de Magalhães,processado no Juizo da 2? Vara Cri-minal da Comarca de Vitória,Espírito Santo, como incurso nas pe-nas do art. 121, § 2?, I, II e IV do Có-digo Penal, impetrou-se habeascornas. obietivando a decretação danulidade ab initio do processo à par-tir do auto de prisão em flagrante,por incompetência do Juízo, semprejuízo do processo no foro compe-tente.

Posteriormente, o paciente reque-reu lhe fosse concedida, por exten-são, a ordem de habeas corpus con-cedida aos co-réus, o que foi deferidopelo Juiz processante. Em face des-sa providência, a Segunda CâmaraCriminal do Tribunal de Justiça doEspírito Santo julgou prejudicada aimpetração, por falta de objeto.

Recorre ordinariamente o pacien-te, pleiteando sejam apreciados osfundamentos do pedido inicial, quaissejam, anulação ab initio do proces-so, excesso de prazo na conclusão doinquérito, assim como no ofereci-mento da denúncia, ausência de in-comunicabilidade entre as testemu-nhas que prestaram depoimento noinquérito, incompetência da autori-dade que lavrou o auto de prisão emflagrante.

A Procuradoria-Geral da Repúbli-ca opina pelo improvimento do re-curso.

o relatório.

VOTOSr. Ministro Carlos Madeira

(Relatar): Como realça o parecer daProcuradoria-Gerai da República, ooferecimento da denúncia supera asobjeções do impetrante relativamen-te às irregularidades do inquérito po-licial. Eventuais vícios de que se res-

sinta esse procedimento não se pro-jetam na ação penal.

O recorrente exercia as funções deagente policial em Colatina e condu-ziu, até Vitória, num automóvelVolkswagem os executores do ho-micídio, contratados por um tercei-ro, levando um deles de volta àquelacidade. Anteriormente trouxera a Vi-tória os executores do crime, paraidentificar a vitima.

A participação do recorrente nocrime de homicídio está assim desta-cada na denúncia:

«No dia 30 de janeiro de 1987,Djalma Lopes de Oliveira, EdmarLima de Azevedo e Maurilio deMagalhães (este, policial civil), pe-la madrugada deixaram Colatina-ES., com destinação a esta Capi-tal, tendo acesso aqui às 06.10 ho-ras, aproximadamente. Os três se-guiram para a rua Maria Lisboa,esquina com a rodovia Serafim De-renze, Bairro Santo Antonio, mas,antes, deixaram o Volks (no qualviajaram) branco, placa GA-2142-Colatina-ES, estacionado no inicioda ladeira da rua Jaci Gomes,bairro mencionado, sobre um mon-te de «britas». Maurilio de Maga-lhães não se deixou ver, pois jáconhecia a vítima, mas, permane-cendo ao volante do veículo; após,salta do carro, abre o «capô», co--mo se estivesse observando algu-ma coisa (no dito veículo). Edmarsalta, também, mas para levarDjalma a caminho da residênciada vítima Diomilton.

Djalma prossegue sua caminha-da, ao encontrar-se com a vítimadispara duas vezes seu revólvercalibre 38, marca «Taurus» (fl.53), produzindo-lhe as lesões corpo-rais descritas no laudo de fls. queinstrui a presente, lesões corporaisessas que, por sua natureza e sede,foram a causa eficiente da mortede Diomilton; — arma esta, em-prestada pelo dentista prático Gali-leu Júlio Braga (indiciado n? 4).

R.T.J. - 125

179

Ao cair a vitima, Djalma Lopesde Azevedo regressou depressa emdireitura ao «ponto» onde se acha-va o Volks placa GA-2142, e pedeao Maurílio para levá-lo dali.

Djalma e Maurílio afastaram-sedo local do crime, no próprioVolks; o primeiro indiciado foradeixado, em seguida, nas cerca-nias da Rodoviária de Vitória, Ilhado Príncipe, após, embarcara numdos ônibus com destino a Colatina-ES» (fls. 37/38).

No que concerne á alegação de nu-lidade do auto de prisão em flagran-te, por contrariedade ao art. 290 doCód. Proc. Penal, cabe dizer que detal vicio resultaria apenas a insub-sistência da prisão. Como adverteFlávio Meireles Medeiros, «a nulida-de do auto em processo que se iniciamediante denúncia gera a sua inefi-cácia para manter o réu preso; o quenão se pode falar é que esta nulidadeé capaz de incidir sobre o processo».(Nulidade do Processo Penal, pág.83).

Ante tais razões, nego provimentoao recurso.

E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RHC 65.289 — ES — Rel.: MinistroCarlos Madeira. Recte.: Maurílio deMagalhães (Adv.: Leônidas Jareski).Recdo.: Tribunal de Justiça do Esta-do do Espirito Santo.

Decisão: Negado provimento. Unâ-nime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Carlos Madeira e Célio Boda.Ausente, justificadamente, o Sr. Mi-nistro Francisco Rezek. Subpro-curador-Geral da República, o Dr.Mauro Leite Soares.

Brasília, 14 de agosto de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

HABEAS CORPUS N? 65.340 — RO(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Moreira Alves.Paciente: Vitório Alexandre Abrão — Coator: Tribunal de Justiça do Es-

tado de Rondônia

Habeas corpus. Nulidades processuais. Alegação de inépcia da de-núncia.

Ainda quando se considere que, nos prazos estabelecidos em ho-ras, se aplica o principio do ji 1? do artigo 798 do CPP. (*Não se com-putará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimen-to), a não observância dele, com a redução, conseqüente, do prazo, énulidade relativa, como se vê da conjugação da alínea «e», In fine, doinciso III do artigo 564, bem como do inciso IV deste, combinados como artigo 572, todos do Código acima referido.

Ora, em se tratando de nulidade relativa, tem-se por sanada senão for argüida, em tempo oportuno, que é, em casos como o presen-te, o previsto no inciso VIII do artigo 571 do CPP.: «as do julgamentoem plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois deocorrerem».

180 R.T.J. - 125

Falta de interesse do exame da ocorrência, ou não, da incompe-tência ratione loa uma vez que se trata, ainda quando °Corrente, denulidade relativa que, no caso, estaria sanada, por não ter sido alega-da opportuno tempore.

Depois do trânsito em julgado da sentença condenatórla, não háque falar em inépcia da denúncia.

Improcedência da alegação de nulidade, no caso, por falta de rea-lização de exame pericial.

Habeas corpus indeferido.

ACORDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata doJulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, inde-ferir o pedido de habeas corpus.

Brasília, 20 de outubro de 1987 —Moreira Alves, Presidente e Relator

RELATORIO

O Sr. Ministro Moreira Alves: As-sim expõe e aprecia o presentehabeas corpus o parecer daProcuradoria-Geral da República, deautoria do Dr. Edson Oliveira de Al-meida:

Trata-se de habeas corpus impe-trado em favor de VIU:Tio Alexan-dre Abrão, condenado pelo MM.Juiz de Direito da Comarca deVilhena-RO a dois (2) anos de re-clusão e multa de Cri 60.000,00 co-mo incurso no artigo 171 do CódigoPenal.

A decisão de primeiro grau foiconfirmada pelo E. Tribunal deJustiça.

O impetrante alega:nulidade do julgamento por

não ter sido publicada a pauta com24 horas de antecedência;

Incompetência do juiz de pri-meiro grau;

inépcia da denúncia;falta de materialidade.

Foi concedida a liminar pelo r.despacho de fls. 183/ 4 «para deter-minar a suspensão dos efeitos dadecisão condenatória do pacienteaté o Julgamento do presenteBabem; Corpus». Foram requisita-dos os autos da ação penal.

2. Segundo as informações defls. 193/ 4 o recurso do paciente foiincluído na pauta de Julgamento dodia 12 de setembro de 1985, sendo oJulgamento adiado.

Em 25 de setembro foi publicadaa reinclusão em pauta, para Julga-mento em 26 de setembro de 1985.

Segundo o artigo 134 do Regi-mento Interno do Tribunal a quo(transcrito pelo impetrante) a pau-ta dos processos criminais deveser publicada com 24 horas de an-tecedência.

O Supremo Tribunal Federalvem entendendo que a regra deque os prazos somente começam acorrer a partir do primeiro dia útilapós a intimação também se apli-ca aos prazos fixados por horas.

Decidiu a E. Primeira Turma noRecurso Extraordinário n? 94.991-(AgRg-EDc1) — RJ, relatado peloeminente Ministro Soares Muãoz:

«Prazo. Pauta de Julgamento.Na contagem do prazo previsto

no artigo 552, § 1?, do Código deProcesso Civil, incide a regra ge-ral estabelecida no § 2? do art.184 do mesmo Código, de sorteque, publicado o anúncio do Jul-gamento de recurso extraordiná-rio no Diário da Justiça de sexta-

R.T.J. 125

181

feira, o julgamento não poderealizar-se na terça-feira subse-qüente. Embargos declaratóriosrecebidos para anular-se o acór-dão.» (RTJ 109(1):222, jul. 84).Do mesmo modo decidiu a E. Se-

gunda Turma no Recurso Extraor-dinário n? 100.692 — SP, sendorelator o eminente Ministro RafaelMayer:

«Prazo. Intimação na sexta-feira. Termo laical. Prazo horaa hora. CPC, art. 184, ff 2? (apli-cação).

Quando a intimação tiver lugarna sexta-feira o prazo judicial terá inicio na segunda-feira ime-diata, ou primeiro dia útil subse-qüente, como diz a Súmula 310.

A regra não sofre exceção,mesmo que se trate de prazo con-tado por hora, dado que a normalegal em causa não contémqualquer restrição. Publicada apauta de julgamento na sexta-feira o prazo de quarenta e oitohoras somente se pode contar apartir do inicio do dia da se-gunda-feira, Mo sendo cabívelrealizar a sessão na terça-feira,com o prazo ainda em curso. Re-curso extraordinário conhecido eprovido.» (RTJ 108(1): 433, abr.84).Seguiu-se o RE 104.070 — DF,

julgado pela Segunda Turma em31-5-85 e relatado pelo emérito Mi-nistro Francisco Rezek (RTJ115(2):894, fev. 86).

Veja-se também o voto do emi-nente Ministro Cordeiro Guerra noHC 62.990-3 — SP:

«na contagem dos prazos, mes-mo quando fixados em horas, háque se excluir o dia do começo.»(2? Turma, 25-6-85).Portanto, a vista desses prece-

dentes, aplica-se ao prazo fixadoem horas o artigo 798, f 1?, do Có-digo de Processo Penal: «Não se

computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do venci-mento».

Se a pauta foi publicada em 25de setembro o julgamento, paraobservar o prazo regimental de 24horas, somente poderia ter sidoproferido em 27 de setembro e nãoem 26 como ocorreu.

Assim, é nulo o julgamento desegundo grau, devendo ser renova-do com a regular intimação da de-fesa.

Anulado o acórdão fica prejudi-cado o exame das demais alega-ções da impetração.

Isso posto, somos pela concessãoparcial da ordem para anular ojulgamento proferido pelo Tribunalde Justiça.» (Fls. 198/199).Dada a natureza das demais ques-

tões objeto do habeas corpus — in-competência do juiz de primeirograu, inépcia da denúncia e falta dematerialidade —, determinei o retor-no dos autos à Procuradoria-Geralda República, para que ela se mani-festasse, também, a esse respeito.

As fls. 202/205, assim opinou omesmo Dr. Edson Oliveira de Almei-da:

«Em atenção ao r. despacho defl. 200 cabe prosseguir no examedas «demais alegações contidas nainicial».

2. Quatro são as alegações daimpetração:

nulidade do julgamento pornão ter sido publicada a pauta com24 horas de antecedência;

incompetência do juiz de pri-meiro grau;

inépcia da denúncia;falta de exame pericial.

3. O fundamento da irregulari-dade na publicação da pauta dejulgamento já mereceu opinião fa-vorável desta Procuradoria (fls.196/9).

182 R.T.J. — 125

4. Segundo o impetrante o forocompetente para o processo e jul-gamento do estelionato seria a Co-marca de Porto Velho, uma vezque o delito teria se consumado«no momento do recebimento doempréstimo bancário.»

Ora, consoante a jurisprudênciaatual do Supremo Tribunal Federala competência ratione loci é relati-va, prorrogando-se o foro na faltade tempestiva impugnação. E, nocaso, a incompetência só foi venti-lada nas alegações finais.

Portanto, desnecessário exami-nar qual o foro competente, comoquer o impetrante, uma vez queeventual nulidade ficou afastadapela preclusão:

«Competência. Nulidade. In-competência ratione dei é nuli-dade relativa, segundo a doutrinae a jurisprudência. Não tendo si-do argüida opportuno temporeopera-se a preclusão, pelo quenão há mais que cogitar-se de nu-lidade.» (STF. 2! T. HC 63.110-RJ. Rel.: Md. Djaci Falcão. RTJ116(1 ):105, abr. 85).

«Processual Penal. Competên-cia em razão do lugar... Nulidaderelativa. Competência justificadapela consideração de que não éabsoluta a regra ratione loci.»(STF 2! T. HC 60.397 — SP. Rel.:Min. Dedo Miranda. RTJ104(2):643, maio 83).

«Competência ratione loci nãoé absoluta no processo penal bra-sileiro. Efeitos. Motivação.»(STF. Tribunal Pleno. HC 48.720.Rel.: Min. Thompson Flores. RTJ60( 1 ):54, abr. 72).Cabe ainda citar o voto vencido

do emérito Ministro Eloy da Rochano HC 53.595 — SP (1, Turma,RTJ, 78/3):682, dez. 76), o vototambém discordante do saudosoMinistro Adauto Cardoso no RHC44.229 — MG (TP. RTJ 52(1): 256,abr. 70) e o RE 106.641-5-PR, rela-

tado pelo eminente MinistroSydney Sanches (DJ 22-5-87).

Quanto à doutrina é suficientetranscrever o seguinte trecho deobra do Professor José FredericoMarques:

«A competência no processopenal, é de regra absoluta. Ape-nas em se tratando de competên-cia de foro é que se tem admitidoa prorrogatio fori, em virtude danão-argüição da declinatória doforo» (Da competência em maté-ria penal. São Paulo, Saraiva,1953, págs. 176-7).

Também não procede o argu-mento de inépcia da denúncia que,embora sucinta, narrou os fatos deforma que não impossibilitou oucerceou a defesa, conforme bemdestacou o v. acórdão impugnado.

A omissão da inicial quanto á da-ta e local do crime não é causa deinvalidade, conforme lecionaDamásio E. de Jesus ao comentaro artigo 41 do Código de ProcessoPenal:

«Decidiu-se também que aomissão quanto á data do crime,por si só, não invalida a denún-cia, uma vez que a eventual nuli-dade depende de prova de cer-ceamento ou embaraço da defe-sa. Omissão da denúncia quantoao local do crime. Por si só não ainvalida, uma vez que a eventualnulidade deve ser consideradaem face do embaraço ou cercea-mento de defesa.» (Código deProcesso Penal Anotado. 5! ed.São Paulo, Saraiva, 1986, pág.37).

Por último, desprocede a pre-tendida nulidade por falta de reali-zação do exame pericial.

A decisão recorrida, em contra-riedade á jurisprudência pacificado Supremo Tribunal Federal, en-tendeu absorvida a falsidade (cri-me-meio) pelo estelionato (crime-fim).

R.T.J. — 125

183

Ainda assim sustenta o impe-trante que deveria ser realizada aperícia para comprovação da ma-terialidade do crime-meio.

Entretanto, na hipótese dos au-tos, conforme a prova dos autos, oque ocorreu foi o falso ideológicoque, pela própria natureza das coi-sas, dispensa a prova pericial.

Veja-se o seguinte trecho da sen-tença que bem esclarece a situa-ção:

«As vítimas Júlio e Joel outor-garam o documento referido jun-tamente com a testemunha dadefesa Cláudio José Denti ( fl.34), sendo que as duas primeirasao assinarem folhas em brancono Cartório citado, acreditavamque estavam dando poderes aoacusado para que este regulari-zasse a documentação das possesjunto ao órgão competente, ou se-ja, o Instituto Nacional de Coloni-zação e Reforma Agrária.» (Fls.201/2).

Portanto, ideologicamente falsasas procurações de fls. 34, 35 e 36.

Quanto ao documento de fl. 8, oúnico de que se poderia falar emnecessidade de perícia, cabe obser-var que nunca foi apresentado nooriginal. A execução promovidapelo Banco do Brasil foi instruídaapenas com a fotocópia.

A pretendida perícia, obviamen-te, deveria ser realizada no origi-nal do documento, visto não serpossível realizá-la tomando por ba-se cópia xerox.

Cabia, assim, à defesa o Ônus daapresentação do documento origi-nal, propiciando a prova pericial.Isso não foi feito. Não pode, pois, adefesa, agora, alegar nulidade aque deu causa.

Na falta do documento original,válida foi a afirmação da falsidadeatravés dos outros elementos deprova.

7. Isso posto, somos pela con-cessão parcial da ordem, nos ter-mos do parecer de fls. 196/9.»E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Moreira Alves (Re-lator): 1. Ainda quando se considereque, nos prazos estabelecidos em ho-ras, se aplica o princípio do § 1? doartigo 798 do CPP. («Não se compu-tará no prazo o dia do começo,incluindo-se, porém, o do vencimen-to), a não observância dele, com aredução, conseqüente, do prazo, énulidade relativa, como se vê daconjugação da alínea «e», in tine, doinciso III do artigo 564, bem como doinciso IV deste, combinados com oartigo 572, todos do Código acima re-ferido.

Ora, em se tratando de nulidaderelativa, tem-se por sanada se nãofor argüida, em tempo oportuno, queé, em casos como o presente, o pre-visto no inciso VIII do artigo 571 doCPP.: «as do julgamento em plená-rio, em audiência ou em sessão dotribunal, logo depois de ocorrerem».

Na hipótese presente, como se vêdos autos da ação penal, que se en-contram apensados, o julgamento daapelação ocorreu em 26-9-85; o acór-dão foi publicado em 13-12-85, nãotendo sido interpostos contra ele em-bargos de declaração nem recursoextraordinário, razão por que transi-tou em julgado em 6-2-86. Posterior-mente, baixados os autos à primeirainstância, o advogado que defendeuo ora paciente na ação penal — eque não é o impetrante — peticionouneles (fl. 309), sem fazer qualqueralegação a propósito, e, em 10-11-86,requereu para o ora paciente fossecumprida sua pena na Casa do Al-bergado em Campo Grande (MS).

Somente em julho do corrente anoquase dois anos após o julgamentoé que outro advogado impetra o

presente habeas corpus para que se

184 R.T.J. — 125

reconheça a nulidade dele. Ela, po-rém, já, de há muito, está sanada.

No tocante ã alegada incompe-tência, por se tratar de incompetên-cia ratione loci, que, ainda quandoocorrente estaria sanada por acarre-tar nulidade relativa e não ter sidoalegada opportuno tempore, o examede sua ocorrência, no caso, perde,por isso — como bem acentuou o pa-recer da Procuradoria-Geral da Re-pública —, qualquer interesse para opaciente.

De inépcia da denúncia não sehá que falar quando é certo que asentença condenatória foi confirma-da em apelação, já tendo o acórdãodesta transitado em julgado.

4. Por fim, improcede a alegaçãode nulidade por falta de realizaçãode exame pericial. A propósito,acentuou corretamente o parecer daProcuradoria-Geral da República:

*A decisão recorrida, em contra-riedade à jurisprudência pacificado Supremo Tribunal Federal, en-tendeu absorvida a falsidade (cri-me-meio) pelo estelionato (crime-fim).

Ainda assim sustenta o impe-trante que deveria ser realizada apericia para comprovação da ma-terialidade do crime-meio.

Entretanto, na hipótese dos au-tos, conforme a prova dos autos, oque ocorreu foi o falso ideológicoque, pela própria natureza das coi-sas, dispensa a prova pericial.

Veja-se o seguinte trecho dasentença que bem esclarece a si-tuação:

«As vitimas Júlio e Joel outor-garam o documento referido jun-tamente com a testemunha dadefesa Cláudio José Denti34), sendo que as duas primeirasao assinarem folhas em brancono Cartório citado, acreditavamque estavam dando poderes aoacusado para que este regulari-zasse a documentação das posses

junto ao órgão competente, ou se-ja, o Instituto Nacional de Coloni-zação e Reforma Agrária.» (Fls.201/2).

Portanto, ideologicamente fal-sas as procurações de fls. 34, 35 e36.

Quanto ao documento de fl. 8, oúnico de que se poderia falar emnecessidade de perícia, cabe ob-servar que nunca foi apresentadono original. A execução promovi-da pelo Banco do Brasil foi ins-truída apenas com a fotocópia.

A pretendida perícia, obvia-mente, deveria ser realizada nooriginal do documento, visto nãoser possivel realizá-la tomandopor base cópia xerox.

Cabia, assim, à defesa o ônusda apresentação do documentooriginal, propiciando a prova pe-ricial. Isso não foi feito. Não po-de, pois, a defesa, agora, alegarnulidade a que deu causa.

Na falta do documento origi-nal, válida foi a afirmação dafalsidade através dos outros ele-mentos de prova». (Fls. 204/205).

5. Em face do exposto, indefiro opresente habeas corpos.

EXTRATO DA ATA

HC 65.340 — RO — Rel.: MinistroMoreira Alves. Pacte.: Vitório Ale-xandre Abrão (Impte.: Carlos Gil-berto Gonzalez). Coator.: Tribunalde Justiça do Estado de Rondônia.

Decisão: Indeferiu-se o habeascorpus. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Oscar Corrêa, Sydney Sanches eOctávio Gallotti. Subprocurador-Geral da República, Dr. José Arnal-do Gonçalves de Oliveira.

Brasília, 20 de outubro de 1987 —Antônio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

R.T.J. - 125 185

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 65.412 — SP(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Recorrente: Cláudio foro — Recorrido: Tribunal de Alçada Criminal do

Estado de São Paulo.

«Habeas Corpus» visando beneficio de prisão albergue ou de regi-me aberto no cumprimento de pena.

Acórdão recorrido que não conheceu da impetração, por conside-rar impróprio o melo escolhido.

Recurso ordinário constitucional provido apenas para que o Juizde 1? grau cumpra o disposto nos arts. 33, p. 3?, 59, III, da Lei n?7.209/84 e 110 da Lei n? 7.210/84, fixando o regime inicial de cumpri-mento da pena privativa de liberdade.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emdar provimento em parte ao recurso,nos termos do voto do Ministro Rela-tor.

Brasília, 28 de agosto de 1957 —Moreira Alves, Presidente — SydneySanches, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Sydney Sanches: Oilustre Procurador da República Dr.Edson Oliveira de Almeida, em pa-recer aprovado pelo eminenteSubprocurador-Geral Dr. AristidesJunqueira Alvarenga, assim resumiua hipótese e, em seguida, opinou nes-tes autos de habeas corpus, verbis:

«Ementa: Habeas Corpus. Pri-são albergue. O habeas corpus émeio impróprio para exame dosrequisitos subjetivos do regimede prisão.

Parecer pelo improvimento dorecurso.

Sentença. Omissão da senten-ça, quanto ao regime inicial decumprimento da pena. Artigo 110

da Lei de Execução Penal. Coa-ção ilegal.Cláudio Dom foi condenado, em

9-4-85, a dois anos de reclusão emulta de Cri 4.000,00, como incur-so no art. 155, 4?, incisos 1 e IV,do Código Penal (sentença fls.21/5), negado o sursis.

A condenação foi confirmada pe-lo Eg. Tribunal de Justiça do Esta-do de São Paulo (acórdão de fls.26/7).

Expedido mandado de prisão adefesa requereu a concessão daprisão albergue, o que foi indeferi-do (0. 48).

Essa decisão foi mantida pelaDécima Primeira Cãmara Crimi-nal do Tribunal de Justiça, que nãoconheceu de habeas corpus queveiculava pedido alternativo deprisão albergue domiciliar ou cum-primento da pena em regime aber-to.

Foi então interposto o recurso or-dinário constitucional de fls. 59/62.

Diz a r. decisão recorrida (fls.56/7):

«Como muito bem observou ad. Procuradoria o Habeas corpusnão é via convinhável para a con-cessão do regime prisional, faceseus acanhados limites.

186 R.T.J. — 125

Além do mais, compete aoMM. Juízo das Execuções Crimi-nais a apreciação do pedido, sobpena de supressão de um grau dejurisdição».Impugnando o recurso, proferiu

parecer o Procurador de JustiçaDr. Sérgio Guastini:

«Na espécie, o paciente se en-contra foragido, não é maior desetenta anos, não está acometidode doença grave, não é deficientefísico nem mental, para fazer jusa prisão residencial particular noregime aberto.

Conforme entendimento juris-prudencial o habeas corpus não émelo adequado à concessão dobeneficio da prisão albergue,quando se pretende o reconheci-mento da existência dos pressu-postos indispensáveis ao seu de-ferimento.

Finalmente, para o mereci-mento desde logo, do regimeaberto não bastam a primarieda-de do condenado e o fato de a pe-na imposta ter sido inferior aquatro anos de reclusão. E mis-ter que se revele aptidão psicoló-gica, adequação temperamentale senso de responsabilidade paratanto — circunstâncias que, evi-dentemente não podem ser apre-ciadas no sumário processo dehabeas corpus. HC 152.048.9-Campinas — 8? C — Rel.: JuizCanguçu de Almeida — v.u.» (fls.65/6).2. Improcede a irresignação,

pois como já salientado nas trans-crições acima, é reiterado o enten-dimento jurisprudencial de que ohabeas corpus não é meio própriopara exame dos requisitos subjeti-vos dos benefícios prisionais, po-dendo nesta via ser discutida ape-nas a legalidade do ato.

Veja-se o voto do eminente Mi-nistro no Habeas Corpus n? 62.916-4— SP: Rafael Mayer.

«Habeas corpus. Aplicação doregime aberto. Descabe apreciarno habeas corpus a satisfaçãodos requisitos, dependentes deobservação psicológica, para aaplicação de regime aberto aocondenado.

Recurso de habeas comias im-provido». (Ementário n? 1375(2)-356).

Entretanto, a sentença e oacórdão que a confirmou foramproferidos já na vigência das Leisn?s 7.209/84 e 7.210/84, sem que fos-se obedecido o disposto no art. 110da Lei de Execução Penal:

«Art. 110. O juiz, na sentença,estabelecerá o cumprimento dapena privativa de liberdade, ob-servado o disposto no art. 33 eseus parágrafos do Código Pe-nal».A omissão da sentença quanto ao

regime inicial de cumprimento dapena importa em coação ilegal, re-mediável de ofício, mediante con-cessão de habeas corpos nos ter-mos do art. 193, II, do RegimentoInterno do Supremo Tribunal Fede-ral.

Isso posto, somos pelo impro-vimento do recurso e concessão, deoficio, de habeas corpus para cum-primento da determinação do art.110 da Lei n? 7.210/84» (fls. 73/75).

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator): Nos termos do parecerdou provimento, em parte, ao recur-so para que o MM. Juiz de primeirograu cumpra o disposto nos arts. 33,

3?, 59, III, da Lei n? 7.209/84 e 110da Lei n? 7.210/84, fixando o regimeinicial de cumprimento da pena pri-vativa de liberdade.

o meu voto.

R.T.J. - 125 187

EXTRATO DA ATA

RHC 65.412 — SP — Rel.: MinistroSydney Sanches. Recte.: Cláudio Do-ro (Adv.: Vilson Merigo). Recdo.:Tribunal de Alçada Criminal do Es-tado de São Paulo.

Decisão: Deu-se provimento emparte ao recurso, nos termos do votodo Ministro Relator. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Oscar Corrêa, Sydney Sanches eOctavio Gallotti. Subprocurador-Geral da República, Dr. AristidesJunqueira Alvarenga.

Brasília, 28 de agosto de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO DE HABEAS CORPUS TC 65.414 — SP(Segunda Turma)

Relator: o Sr. Ministro Carlos Madeira.Recorrente: Antenor Gomes Carrilho — Recorrido: Tribunal de Justiça do

Estado de São Paulo.

Mimas Corpos. Aplicação da pena. Motivação. Na dosimetria dapena, pode o Juiz fixa-Ia dentro dos limites previstos na lei, com a sóconsideração das circunstancias judiciais (art. 59 do C. Penal). Nãohá confundir pena base com limite mínimo da pena.

Recurso improvido.ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, emnegar provimento ao recurso.

Brasília, 28 de agosto de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Madeira:Condenado a 9 anos de reclusão e 200dias multa, como incurso nos artigos12 e 14 da Lei n? 6.368/76, AntenorGomes Carrilho impetrou habeascorpus em seu favor, alegando nuli-dade da sentença que lhe aplicou pe-nas acima do mínimo legal sem quefosse motivada a exasperação. Em-bora tenha apelado da sentença, na-

da ,impede seja a nulidade argüidapor via do habeas corpus.

A primeira Câmara Criminal doTribunal de Justiça do Estado deSão Paulo admitiu a impetração,mas denegou o remédio, à considera-ção de que a nulidade invocada nãoexiste, porque justificada foi a exa-cerbação e fixação das penas. Entre-tanto, se correta ou não a dosimetriadas penas aplicadas, é matéria quesó poderá ser apreciada por oca-sião do julgamento da apelação-inter-posta.

Recorre o paciente, ressaltandoque, na sentença, o Juiz não fixou apena base, deixando de aplicar o cri-tério trifásico, obrigatório, após a vi-gência da Nova Parte Geral do Códi-go Penal. Daí a nulidade da conde-nação.

A Procuradoria-Geral da Repúbli-ca opina pelo improvimento do re-curso.

É o relatório.

188 R.T.J. — 125

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): O recorrente faz parte daquadrilha de traficantes de tóxicoslideradas por Luiz Newton OliveiraGaleano e Roni Kalderon, curas ati-vidades foram noticiadas no Julga-mento dos RHC 64.392 e 64.393, pormim relatados no dia 21 deste mês.

Na sentença que julgou esses trafi-cantes, lê-se que:

«Antenor Gomes Carrilho, espé-cie de vice-líder do grupo, com res-ponsabilidade de refinador da pas-ta entre os da sua grei, apresenta-se como primário e o contrário nãose demonstrou. Mas por suas fun-ções e ligações, desmerece a penamínima, fixando-se as sanções ema) cinco anos e cem-dias multa pe-lo art. 19; e b) quatro anos de re-clusão e cem-dias multa pelo arti-go 12 caput, considerada a quanti-dade de cocaína apreendida.»As penas previstas para o delito do

art. 14 da Lei n? 6.368/76, (associa-ção), são de 3 a 10 anos de reclusãoe de 50 a 360 dias multa. As comina-das ao delito do art. 12 (tráfico de tó-xicos), são de 3 a 15 anos de reclusãoe de 50 a 360 dias-multa.

O art. 59 do Código Penal estabele-ce que, atendendo à culpabilidade,aos antecedentes, à conduta social, ápersonalidade do agente, aos moti-vos, às circunstâncias e conseqüên-cias do crime, o Juiz, por primeiro,tem de optar pela pena aplicável;em seguida, deve fixar a quantidadeda pena aplicável, dentro dos limitesprevistos. A terceira operação deveter em conta as circunstâncias agra-vantes ou atenuantes, que influem nocálculo da pena. Se inexistem taiscircunstâncias, a pena aplicada den-tro dos limites previstos para o deli-to, constitui a pena base.

Esta Turma, no julgamento do HCn? 63.327-RJ, Relator o Ministro Dja-ci Falcão, já decidiu que, na aplica-ção da pena dentro dos limites pre-

vistos, não está o Juiz obrigado a fi-xar o mínimo fixado na lei: pode ele,tendo em conta as circunstâncias ju-diciais, tais como a personalidade doagente, motivos determinantes do fa-to e suas conseqüências, fixar, den-tro dos limites previstos, a pena ba-se acima do mínimo (RTJ 117/75).

O Juiz, no caso presente, fixou emcinco anos a pena aplicada pela as-sociação, (art. 14), que é a metadedo máximo previsto no dispositivo; epara o delito de tráfico, (art. 12)aplicou a pena de quatro anos de re-clusão, que é menos de um terço domáximo previsto no dispositivo. Aspenas de multa, por ambos os deli-tos, são inferiores a um terço do má-ximo previsto nos dispositivos perti-nentes.

Teve S. Exa. em conta as funçõese ligações do recorrente, na quadri-lha. Lê-se na sentença que o recor-rente revelou suas ligações não sócom Luiz Newton Galeano, mas comRoni Kalderon, e grande conheci-mento sobre o processamento da co- -caína.

Havia, assim, circunstâncias judi-ciais que aconselhavam ao Juiz aaplicação das penas acima do limitemínimo previsto.

Não vislumbro, pois, nulidade naaplicação da pena, até porque nãohá confundir pena base com limitemínimo da pena prevista.

Nego provimento ao recurso.

E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RHC 65.414 — SP — Rel.: MinistroCarlos Madeira. Recte.: Antenor Go-mes Carrilho (Adv.: José Carlos daS. Prada). Recdo.: Tribunal de Justi-ça do Estado de São Paulo.

Decisão: Negado provimento. Unâ-nime.

R.T.J. - 125

189

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Borla. Subprocurador-

Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 28 de agosto de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

HABEAS CORPUS 65.496 — MT(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Moreira Alves.Paciente: Etelvino Tavares Rodrigues — Coator: Tribunal de Justiça do

Estado de Mato Grosso.

Habeas corpus. Alegação de nulidades. Fiança.Alegações de coação que emanam de Juiz de Primeiro grau de

jurisdição. Incompetência desta Corte (artigo 119, II, «c», da Consti-tuição).

Direito a fiança. Questão já examinada em habeas corpus de-negado por Tribunal de Justiça, cujo acórdão ainda não foi publicado.Aplicação da parte final da letra e do inciso II do artigo 119 da CartaMagna.

Habeas corpus não conhecido.ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, nãoconhecer do presente habeas corpus.

Brasília, 13 de outubro de 1987 —Moreira Alves, Presidente e Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Moreira Alves: As-

sim expõe e aprecia o presentehabeas corpus o parecer da Pro-curadoria-GeraldaRepública, de auto-riadoDr. EdsonOliveiradeAlmeida:

«Trata-se de babem corpus vei-culando diversas nulidades noprocesso-crime a que respondemos pacientes.

Conforme as informações de fl.45 o E. Tribunal de Justiça do Es-tado do Mato Grosso já denegououtro habeas corpus impetrado emfavor dos pacientes, cujo acórdãoaguarda publicação.

Preliminarmente, cabe salientarque o habeas corpus impetrado pe-rante o Tribunal de Justiça versouapenas sobre o direito á fiança.

Assim, quanto às outras alega-ções, só agora ventiladas, é mani-festo o incabimento da ordem, porser caso de coação emanada de atode Juiz de Direito.

E, referentemente à fiança, tam-bém não merece conhecimento aordem, visto ser caso de recursoordinário constitucional (Constitui-ção Federal, artigo 119, II, c), deque poderá socorrer-se o pacientequando da intimação do acórdão.

Aliás, neste writ, o impetrantenem mesmo reitera o pedido deconcessão de fiança, limitando-se ahistoriar a denegação pelo colegia-do a quo.

Entretanto, mesmo que esse E.Supremo Tribunal Federal conheçaparcialmente da ordem como re-curso ordinário referentemente àfiança, improcede a postulação.

Os pacientes foram denunciadospor estelionato praticado em con-

190 R.T.J. — 125

curso material, o que afasta o pre-tendido benefício, conforme juris-prudência do Supremo TribunalFederal colacionada por DamásioE. de Jesus, em anotação ao artigo323, I, do Código de Processo Pe-nal:

«Leva-se em conta, para a não-Concessão da fiança, a soma daspenas, não podendo ser conside-radas isoladamente. Nesse senti-do: STF, RTJ 102/624; RHC62.941, DJU 27-9-85, pág. 16.609.»(Código de Processo Penal Ano-tado. 551 ed. Saraiva, São Paulo,1986, pág. 323).Isso posto, somos pelo não conhe-

cimento do wrft.» (Fls. 52/53).É o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Moreira Alves (Re-

lator): 1. Quanto ás alegações, quenão a relativa á fiança, dizem elasrespeito a coações que emanariamde Juiz de primeiro grau de jurisdi-ção, sendo, pois, esta Corte incompe-tente para apreciá-las (artigo 119, II,c, initio, da Constituição Federal).

2. No concernente à fiança, foi es-sa questão apreciada pelo Tribunalde Justiça do Estado de Mato Gros-so, ao denegar habeas corpos a ela

relativo, não tendo ainda sido publi-cado esse acórdão. Assim sendo,configura-se hipótese de recurso or-dinário que poderá ser interposto pe-los ora pacientes quando intimadosdo aresto. Por força do disposto noartigo 119, II, c, in fine, não pode talrecurso ser substituído por pedidooriginário.

3. Em face do exposto, não co--nheço do presente habeas corpus.

EXTRATO DA ATAHC 65.496 — MT — Rel.: Ministro

Moreira Alves. Pacte.: Manoel Leo-nel Pinheiro e outra (Impte.: Etelvi-no Tavares Rodrigues). Coator.: Tri-bunal de Justiça do Estado de MatoGrosso).

Decisão: Não se conheceu do ha-beas corpus. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Sydney Sanches e Octávio Gallot-ti. Ausente, justificadamente, o Se-nhor Ministro Oscar Cor pêa. Sub-procurador-Geral da República, Dr.José Arnaldo Gonçalves de Oliveira.

Brasília, 13 de outubro de 1987 —António Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 65.512 — RJ(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro eólio Borja.Recorrente: Paulo Cesar Vieira dos Santos — Recorrido: Tribunal de Al-

çada Criminal do Estado do Rio de Janeiro.

Habeas Corpus. Processual Penal.. Réu preso. Advogado que,constituído pelo acusado, deixa de manifestar-se na fase do art. 499 doCPP e, embora procurado para receber a intimação determinada pelomagistrado, não é encontrado. Nomeação de Defensor Público parapatrocinar a defesa do réu. Indemonstração de prejuízo e de contra-riedade ao principio constitucional da ampla defesa, que, aliás, a nin-guém confere o direito de embaraçar o curso da justiça criminal. Hi-pótese abrangida pelo art. 265 do CPP.

RHC improvido.

R.T.J. — 125 191

ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, á unanimidade de votos, em co-nhecer do recurso de habeas corpus,mas negar-lhe provimento.

Brasília, 15 de setembro de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CélloBorla, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Célio Borla: Alega orecorrente nulidade de despacho quelhe nomeou defensor dativo e da sen-tença condenatória contra ele profe-rida, porque tendo advogado consti-tuído nos autos não foi esse intimadopara requerer diligência (art. 499,CPP), nem para a apresentação dasrazões finais do artigo 500, CPP.

Nesta instância, assim opina o Mi-nistério Público Federal (fls. 57/59):

«Nossa manifestação é pelo provi-mento do recurso.

O MM. Juiz da Comarca, instado aprestar informações sobre os funda-mentos, por ocasião do HC, à fl. 34,disse que tais faltas se deveram facenão haver sido encontrado o Advoga-do constituído e em virtude de, emse tratando de réu preso, tentativasnesse sentido poderiam ensejar de-mora na conclusão da instauração.

Data venta, as omissões atentamcontra o sagrado direito de ampladefesa.

O temor pela demora na instruçãodo processo, em virtude das diligên-cias para intimar o Advogado consti-tuído ou para proporcionar ao acusa-do a faculdade de indicar novo de-fensor, estaria plenamente justifica-do, de sorte a não servir de argu-

mento a um eventual pedido de li-berdade por excesso de prazo para aconclusão da instrução.

Em que pese haver o MM. Juiz di-ligenciado para que um defensor ofi-cial atendesse aquelas duas formali-dades, porém, parece-nos que o fezsem antes auscultar o acusado, oqual tocava-lhe o direito de procurarnovo defensor ou, não o fazendo, aisim, deixando o juizo da causa ple-namente autorizado a socorrer a ou-tra espécie de defesa.

O exercício da ampla defesa, comoprescrito na nossa Carta Política.também está na escolha, pelo acusa-do, daquele que quer ter como defen-sor.

Ante o exposto, a manifestação épelo provimento do recurso.»

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Célio Borla (Rela-tor): Recolho, no aresto recorrido, ostratos decisivos (fls. 39/40):

«Com efeito, conforme consta dasinformações de fl. 34 do MM. Dr.Juiz da 2? Vara Criminal de SantaCruz após acompanhar todo o sumá-rio de culpa e, inclusive, repergun-tando as testemunhas (fls. 13/15 dopresente writ), o ora impetrante, ad-vogado constituído nos autos, deixoude se pronunciar no prazo do artigo499, e ad cautelam, o MM. Dr. Juiz aquo determinou sua intimação, masnas 2 (duas) vezes que foi procuradonão foi encontrado como certificadoà fl. 16v. Por ser processo de réupreso o MM. Juiz determinou que seabrisse vista à Defensoria Públicaem diligência e se prosseguisse nofeito sem maiores delongas. Já ago-ra na fase de alegações finais, o ilus-

192 R.T.J. — 125

trado patrono do paciente impetra apresente Ordem para que se anule ofeito e verificado o excesso de prazoque se expeça Alvará em favor dopaciente (sic).

Ora, de todo improcedente o fun-damento da presente Ordem vistocomo o simples fato de não ter sidointimado o impetrante para falar emdiligências não caracteriza a nulida-de pretendida a teor do que dispõe oartigo 499 do CPP. Pricipalmentequando se nos afigura que o ilustreImpetrante não queria mesmo é serencontrado. Assim, por primeiro,nos termos do artigo 565 do CPP nãose poderia prover o presente HabeasCorpus. Por outro lado, como se sa-be os prazos do processo penal cor-rem em Cartório (artigo 798 doCPP) e, por último, não se declararáqualquer nulidade sem que se com-prove o prejuízo da parte (artigo 566do CPP), o que igualmente inocorrenestes autos onde o acusado exerceulivremente sua ampla defesa.Destaque-se finalmente que o prazopara falar e diligências é facultativopara as partes, segundo o dispostono artigo 499, in medio, do Código deProcesso Penal, não advindo daíqualquer efetivo prejuízo para o pa-ciente.»

A fl. 34, o MM. Juiz da 2? VaraCriminal de Santa Cruz, RJ, infor-mou, no presente processo de habeascorpus:

«Esclareço a V. Exa. que, por cer-tidão do Sr. Escrivão (fl. 32) desteJuízo, o processo n? 1.1e2/87 a que serefere o presente writ se encontraem poder do Ilustre Impetrante des-de o dia 28-5-87 às 17:17h, conformeregistro em livro de carga de Advo-gado à fl. 51 (xerox anexo), impossi-bilitando, assim, maiores esclareci-mentos sobre os fatos articulados naInicial.

Por outro lado, entretanto, verifi-cando as peças anexadas com o pre-

sente HC, pode-se observar à fl. 16 v,que, por duas vezes, o Sr. Oficial deJustiça procurou intimar o IlustrePatrono do Paciente, sem lograr êxi-to, motivando, desta forma, a certi-dão de fl. 17.

Forçoso é notar que se trata deprocesso de réu preso e imperiosa ésua ultimação, evitando-se umpossível excesso de prazo, motivopelo qual designou o Juizo o Dr. De-fensor Público da Vara para patroci-nar a defesa do réu-Paciente.

Observe-se que o Ilustre Impetran-te acompanhou parte da InstruçãoCriminal, com a oitiva das testemu-nhas da denúncia e não mais compa-receu a cartório para acompanhar ofeito, como de sua obrigação profis-sional, malgrado se tratar de Pro-cesso de réu Preso...

Designou o Juízo, consoante docu-mento acostado à fl. 12 do writ, Pro-va de defesa, no entanto, entre tan-tas peças anexadas à Inicial nãoconsta tal Assentada...

Estas são as informações que, pormomento, posso prestar a V. Exa.,acreditando que, pelo seu conteúdo,maculam a pretensão vestibular, aponto de prejudicá-la.»

Ao que os autos noticiam quantoaos fatos, acrescente-se que o artigo501, do CPP, é expresso quanto acorrerem em cartório referidos pra-zos.

Tenho, ainda, como não demons-trado pelo recorrente — posto quenão é evidente — o prejuízo que lheadveio da não intimação do advoga-do constituído, seja para requerer di-ligências (art. 499, CPP), seja paraapresentar razões (art. 566, CPP).

A ampla defesa assegurada peloenunciado constitucional de garan-tias, a ninguém confere o direito de

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embaraçar o curso da justiça crimi-nal e é, entre outras razões, paraque tal não ocorra, que o Estadomantém defensoria pública e ao Juizse determina dar defensor ao réuque não o tem, ou que não compare-ce aos atos a que deveria assistir.Veja o parágrafo único do artigo 265do CPP:

«Art. 265.

Parágrafo Único. A falta de com-parecimento do defensor, ainda quemotivada, não determinará o adia-mento de ato algum do processo, de-vendo o juiz nomear substituto, ain-da que provisoriamente ou para o sóefeito do ato.» (grifei).

Pelo exposto, conheço, mas impro-vejo o recurso.

EXTRATO DA ATA

RHC 65.512 — RJ — Rel.: MinistroCélio Borja. Recte.: Paulo CesarVieira dos Santos (Adv.: Mauri daConceição). Recdo.: Tribunal de Al-çada Criminal do Estado do Rio deJaneiro.

Decisão: Negado provimento. Unâ-nime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes. à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Borja. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 15 de setembro de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO DE RAMAS CORPUS N? 65.579 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.Recorrente: Alcides Sérgio Dellasari — Recorrido: Tribunal de Justiça

do Estado de São Paulo.

Latrocínio praticado em co-autoria. Réu menor internado em uni-dade da FEREM. O fato de ser atingido a maioridade civil não trazcomo conseqüência o seu deslnternamento. Se perdura o estado de pe-riculasitlade ünDõe-se o seu internamento em estabelecimento ade-quado, em resguardo da segurança social (arts. 97 do Código Penal e171 a 175 da LEP). Legítima a determinação do exame de cessaçãoda PericulOsidade. Inteligência dos j1 3? e 4? do art. 41 do Código deMenores.

Habeas corpus denegado.

ACÓRDÃO RELATORIO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros compo-nentes da Segunda Turma do Supre-mo Tribunal Federal, à unanimidadede votos e na confOrmidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, negar provimento ao recurso.

Brasília, 15 de março de 1968 —Djaci Falcão, Presidente e Relator.

O Sr. Ministro Djaci Falcão: Re-corre o paciente contra a seguintedecisão:

«Vistos, relatados e discutidosestes autos de Habeas Corpus n?55.161-3, da Comarca de Garça, emque é impetrante Ricardo PradoPires de Campos (Promotor deJustiça), sendo paciente AlcidesSérgio Dellasari:

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Acordam, em Câmara de Fériasdo Tribunal de Justiça de São Pau-lo, por votação unânime, denegar aordem.

Custas como de direito.1. Ricardo Prado Pires de Cam-

pos, Primeiro Promotor de Justiçade Garça, impetrou a presente or-dem de «habeas corpus» em favorde Alcides Sérgio Dellasari, de 21anos de idade, internado em unida-de da FEBEM do Tatuapé. Escla-rece a impetração que o paciente emais três indivíduos, em 26 de ou-tubro de 1983, praticaram um deli-to de latrocínio, em Garça. Consta-tado que o paciente era menor foiinstaurada sindicância, que se ulti-mou com a ordem de internamen-to, até a cessação de periculosida-de. Teve o paciente negado pedidode liberdade assistida, quando con-tava 19 anos de idade. E atualmen-te, já tendo completado 21 anos deidade, o MM. Juiz de Menores, aoinvés de determinar o seu desinter-namento, mandou encaminhar car-ta de guia para o Juizo das Execu-ções Penais. Este, aceitando acompetência, solicitou vaga pararemoção do paciente para estabe-lecimento penal adequado, até quecesse a sua periculosidade. Enten-de o impetrante que se configu-rou, assim, o constrangimento ile-gal, pelo que pede a concessão daordem para a desinternação do pa-ciente e trancamento do processode execução referido. Aduz o impe-trante que a medida imposta aopaciente tem por fundamento a pe-riculosidade, constituindo medidade segurança, reservada a porta-dores de doença mental e desenvol-vimento incompleto ou retardado,pela nova legislação penal. Nãoexiste, na sistemática vigente, me-dida aplicável ao paciente, tor-nando-se de execução impossí-vel a determinação constante do4? do art. 41 do Código de Menores.

O MM. Juiz impetrado (da Pri-meira Vara de Garça), prestou in-

formações, sustentando a legitimi-dade da internação, com citaçãode precedentes.

A Procuradoria de Justiça mani-festou-se pela denegação da or-dem.

Esta Câmara, por acórdão juntoaos autos, à fl. 90, não conheceuda impetração, determinando asua redistribuição a uma das Câ-maras da Seção Criminal. O novoRelator sorteado solicitou informa-ções à FEBEM. E a Procuradoriade Justiça, oficiando novamente,reiterou o seu parecer anterior.

2. Negam a ordem.A circunstância de ter o menor

(cuja periculodidade determinou oseu internamento na FEBEM),completado a maioridade civil, nãoconduz, necessariamente, ao seudesinternamento. A regra aplicá-vel é a dos ff 3? e 4? do art. 41 doCódigo de Menores:

'¢ 3? Se o menor completarvinte e um anos sem que tenhasido declarada a cessação da me-dida, passará a jurisdição doJuízo incumbido das ExecuçõesPenais.

(j 4? Na hipótese do parágrafoanterior, o menor será removidopara estabelecimento adequado,até que o Juiz incumbido dasExecuções Penais julgue extintoo motivo em que se fundamentoua medida, na forma estabelecidana legislação penal.'Assim, irrelevante para o desin-

ternamento, pelo Juiz de Menores,o fato de atingir o menor a idadede 21 anos, há de este aguardar,para a sua liberação, a declaraçãode cessação da periculosidade, aser feita pelo Juízo das ExecuçõesPenais.

A diversa conclusão não leva aautal legislação penal, ao extinguira aplicação de medida de seguran-ça para os imputáveis.

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No caso presente, não se cuidade aplicação da medida. Mas de in-dagação atinente à forma pelaqual o paciente, a quem foi legal-mente imposta, pelo reconheci-mento de sua periculosidade, se-gundo a legislação pertinente, deladeve sair. Ao lado da norma inseri-da no Código de Menores, no art.41, há de se ter presente a observa-ção lançada no ven. acórdão de fls.91, relatado pelo DesembargadorEvaristo dos Santos: «O antigoDecreto-Lei n? 3.914, de 9 de de-zembro de 1941 (Lei de Introduçãoao Código Penal), ainda em vigor,como demonstra Antônio Luiz Ri-beiro Machado ('Código de Meno-res Comentado', págs. 3 e 61, ed.Saraiva, 1986), no art. 7?, 2?, dis-põe: 'Se o menor completar vinte eum (21) anos, sem que tenha sidorevogada a medida de internação,será transferido para colôniaagrícola ou para instituto de traba-lho, de reeducação ou de ensinoprofissional, ou seção especial deoutro estabelecimento, à disposi-ção do juiz criminal».

Não há, pois, ilegalidade na deci-são do MM. Juiz impetrado ) ao de-terminar a realização de exame decessação da periculosidade.

3. Pelo exposto, e acolhendo oParecer da Procuradoria da Justi-ça, nas manifestações de fls. 84 a151, denegam a ordem.

O julgamento teve a participaçãodos Desembargadores Evaristo dosSantos (Presidente, sem voto),Dinio Gaita e Onei Rapbael, comvotos vencedores.

São Paulo, 23 de Julho de 1987 —Aniceto allende, Relator» (fls. 158a 160v).Em tempo oportuno foi interposto

recurso ordinário, deduzido na peti-ção de fls. 162 a 169, em que se lê:

«1.1. O recorrente, quando me-nor de 18 anos, viu-se envolvido emfatos que culminaram com sua in-

tentação, á disposição do doutoJuízo de Menores da Comarca deGarça, neste Estado.

1.2. Tal internação se deve aofato de se tratar de menor inimpu-tável, não tendo o interessado, emmomento algum, sido submetido aexame específico relativo a suasaúde mental, com vistas a even-tual detecção de periculosidadereal.

1.3. Pode-se, pois, dizer que suainternação decorre de periculosi-dade presumida, inferida da gravi-dade dos fatos em que se viu en-volvido.

1.4. Atingindo os 21 anos, comoestá documentado nos autos, espe-rava o recorrente ser posto em li-berdade, mesmo porque o períododentro do qual deveria ter sidoafirmada sua periculosidade realse vencera sem que o douto Juízo,nem o Ministério Público, tivessemprovidenciado qualquer exame es-pecífico do recorrente.

1.5. Tal esperança foi frustrada,não por oposição do custos legis,mas por uma interpretação sulgeneris e inteiramente inaceitávelpor parte daquele douto Juízo dalegislação incidente.

1.6. Tão absurda foi tal inter-pretação que o Ministério Públicoda comarca, no uso de seu deverlegal, impetrou pedido de habeascorpus, em benefício do ora recor-rente.

1.7. Tal pedido vem de ser inde-ferido pelo D. Tribunal de Justiçade São Paulo, que, data venta, rati-ficou os equívocos do douto Juízoinferior, como se verá em seguida.

1.8. Presentes, pois, os requisi-tos legais, tempestivamente se re-corre ao C. Supremo Tribunal Fe-deral, onde, certamente, se dará àlei o seu real alcance, entendendo-se, como se espera, que o ora re-corrente está sob constrangimentoilegal, como realmente está, Já que

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a determinação de ser ele submeti-do a exame de cessação de pericu-losidade afronta o texto legal, co-mo se demonstrará em seguida.

2. O Direito

2.1. Como é sobejamente sabi-do, a nova parte geral do CódigoPenal, introduzida pela lei 7.209/84,alterou substancialmente o trata-mento da medida de segurança,reservando-a, exclusivamente, aosinimputáveis e aos semi-impu-táveis, observado, em relação aesse segundo grupo, não mais oprincipio do duplo binário, mas oprincipio vicariante, tal como pre-visto nos artigos 97 e 98 do Código.

2.2. Isso significa que, a partirda vigência daquela lei, não maisserá possível a imposição de medi-da de segurança a réu imputável.Também como consequência, asmedidas já impostas tiveram deser canceladas, dado o princípioconstitucional da retroatividade dalel mais benigna, como se pode ve-rificar de nossos repositórios de ju-risprudência.

2.3. Trata-se de providência quenão reclama qualquer iniciativa docondenado, cabendo ao Juiz dasExecuções, ex-officio, providenciara soltura, tal como está no artigo2?, lf, do Código Penal e no artigo195 da Lei de Execução Penal.

2.4. Quanto ao menor de 18anos, duas podem ser as situações:a) ou ele tem plena capacidade deentender o caráter infracional dofato cometido e plena capacidadede determinar-se de acordo comtal entendimento; b) ou ele possuideficiência mental, de modo quenão tem capacidade para entenderou não tem capacidade para de-terminar-se.2.5. Segundo o artigo 27 do Códi-

go Penal, em ambos os casos seráconsiderado inimputável.

2.6. «A consideração da menori-dade como causa de inimputabili-dade reside precisamente no fatode que não tem necessariamentede coincidir sua racionalidade comaquela hegemônica, devida a vi-vências culturais outras, diversasdo mundo em que vivenda o me-nor. Cada agente responsável de-ve ser por isso, considerado confor-me as instituições e as regras quese ajustam à sua racionalidade»(Juan Bustos Ramirez, Manual deDerecho Penal Espaltol, P. 395).

Confundir o psiquismo do menorcom o psiquismo do maior e, pois,identificar o modo de ver o mundocomo o faz o maior com aquele co- -mo o faz o menor será, certamente,uma temeridade, de nefastas con-seqüências.

2.7. Repisemos, com o risco desermos acacianos: a presunção deinimputabilidade do menor (que éabsoluta, ex vi leal cessa com oatingimento dos 18 anos.

A menos que não se trate de pre-sunção, mas de inimputabilidadereal, afirmada em laudo funda-mentado relativo á capacidademental do menor e referente a exa-me especifico feito antes (note-se:antes) de ele atingir os 18 anos.

2.8. Se o menor, com idade infe-rior a 18 anos, for autor de infra-ção penal, não ficará ele, por sermenor, isento de medidas estataisadequadas, que poderão ser impos-tas por seu juiz natural, ou seja, oJuiz de Menores (cf. Código de Me-nores, art. 2?, VI, e art. 6?).

Entre as medidas aplicáveis, amais grave de todas é, sem dúvi-da, a de internação em estabeleci-mento hospitalar, psiquiátrico oupsicopedagógico (cf. Código de Me-nores, art. 14, VI). Tais medidassomente serão determinadas «sefor invitivel ou malograr a aplica-ção das demais medidas» (art. 40).

2.9. E curial que a medida deinternação, quando se manifestar a

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197

Inviabilidade de outras, faz pressu-por a apuração de prática de infra-ção penal grave (art. 100, V, do Có-digo de Menores), Garantido oprincipio do contraditório (art. 86do mesmo Código). Fundamental,como se vê da lei, é que o menorapresente um nivel acentuado depericulosidade.

2.10. A chamada «medida de in-ternação», na verdade, não passade modalidade de Medida deSegurança, distinguindo-se uma daoutra tão-somente em razão daidade do internado. Tanto uma co-mo outra enquadram-se no mesmoprincípio, que está previsto no art.13 do Código de Menores: «todamedida aplicável ao menor visará,fundamentalmente, á sua integra-ção sócio-familiar».

2.11. Como aquela internaçãodeverá ser acompanhada de exa-mes periódicos (Código de Meno-res, art. 41, § 1?), duas situaçõespoderão ocorrer: a) tais examesacabam por concluir que o menor,antes dos 18 anos, teve cessada suapericulosidade, caso em que cessaa aplicação daquela medida; b) apericulosidade permanece, casoem que a competência do Juízo deMenores se tem por prorrogada(art. 41, § 3?), até que o internadoatinja 21 anos.

2.12. A lel é bastante clara: ten-do o internado atingido 21 anos,cessa a competência do Juízo deMenores. O juiz natural passa aser, agora, o Juízo das Execuções(cf. Código de Menores, art. 41, §4?).

Que significado prático terá is-so?

A eufemicamente chamada «me-dida de internação» passa agora,sem rebuços, a chamar-se «medidade segurança», devendo esta, se-gundo disposição clara e especificada Lei (cf. Código de Menores, art.41, ij 4?), ser apreciada por talJuízo, ao qual caberá, se for o ca-so,

«julgar extinto o motivo em quese fundamentara a medida, na for-ma estabelecida na legislação pe-nal» (textual).

2.13. Que diz essa LegislaçãoPenal?

Diz (Código Penal, art. 26) quesó a inimputabilidade permite amantença de medida de segurançainternativa, cuja disciplina vemnos arts. 96/99 do mesmo Código »(fls. 163 a 166).Manifestou-se a Procuradoria de

Justiça pela confirmação do aresta,permanecendo o internamento do re-corrente até que se proclame a ex-tinção da periculosidade (fls. 172 a175).

A Procuradoria da República emi-tiu o seguinte parecer:

No presente writ se discute a le-galidade do prosseguimento de me-dida de segurança aplicada ao Re-corrente desde a menoridade.

Como a segregação data de 26 deoutubro de 1983 — com mais dequatro anos, portanto — e o Recor-rente não é liberado á mingua daexistência de sentença declaratóriade cessação da medida, opinamospelo provimento do presente recur-so para que o Juiz das ExecuçõesPenais responsável por sua custó-dia, a teor do art. 176 da LEP.,promova a necessária e urgenteperícia médica a fim de que sejadefinida a situação do internado.

No particular, nota Delmanto, Có-digo Penal Comentado, FreitasBastos, 1986, pág. 46, que existeprazo mínimo para a realização deperícia médica, equivalendo dizerque a procrastinação da providên-cia importa em constrangimentoilegal.

Litteris:`Prazo mínimo: Embora as me-

didas tenham tempo Indetermina-do para cessar, deve o juiz dasentença que as aplica marcarseu prazo mínimo, de um a três

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anos. A partir da Lei n? 7.209/84,tal prazo não mais é correspon-dente à quantidade da pena pre-vista para o fato.

Quando se realiza: A períciamédica será efetivada ao térmi-no do prazo mínimo fixado e re-petida, de ano em ano, até a ces-sação da periculosidade. A qual-quer tempo, porém, poderá oJuiz da execução determinar oexame, mesmo antes do prazomínimo marcado na sentença(LEP, art. 176).

Condicional: Resultado da pe-rícia médica, a cessação da pe-riculosidade, o juiz da execuçãodeterminará a revogação damedida de segurança, com a de-sinternação (do internado) ou aliberação (do tratado ambulato-rialmente), em caráter condicio-nal, aplicando-lhe as condiçõespróprias do livramento condicio-nal (LEP, art. 178).

Extinção: Se o desinternado ouliberal» não pratica, durante umano, fato indicativo de persistên-cia da sua periculosidade, ficarádefinitivamente extinta a medidade segurança. Note-se que a leifala em fato (e não apenas emcrime) indicador de periculosida-de.Ante o exposto, reiteramos o pe-

dido de provimento do recurso pa-ra que seja efetivada — a juízo deVossa Excelência — a providênciasugerida.

Brasília, 8 de março de 1988 —Maria Eliane Menezes de Farias,Procuradora da República.

Aprovo: José Arnaldo Gonçalvesde Oliveira, Subprocurador-Geralda República» (fls. 181 a 182).

VOTO

O Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela-tor): Por se tratar de réu menor aotempo do crime de latrocínio, prati-cado em co-autoria, foi internado em

unidade da FEBEM até a cessaçãoda periculosidade. Ao completar 19anos de idade teve indeferido pedidode liberdade assistida. Por último,completando 21 anos foi encaminha-do ao Juízo das Execuções Penais,«que solicitou vaga para remoção dopaciente para estabelecimento penaladequado, até que cesse a sua peri-culosidade».

Alegando coação ilegal, à vista deque não foi reconhecida pericialmen-te a sua periculosidade real, pede oimpetrante a cóncessão da ordem dehabeas corpus para a desintemaçãodo paciente, pois não incide na espé-cie o disposto no art. 41, § 4?, do Có-digo de Menores.

O simples fato temporal — ter omenor completado a maioridade ci-vil não traz como consequência ne-cessária o seu desinternamento.Com efeito dispõe o Código de Meno-res nos §§ 3? e 4? do seu art. 41:

«§ 3? Se o menor completar vin-te e um anos sem que tenha sidodeclarada a ce««ação da medida,passará a jurisdição do Juízo in-cumbido das Execuções Penais.

§ 4? Na hipótese do parágrafoanterior, o menor será removidopara estabelecimento adequado,até que o Juiz incumbido das Exe-cuções Penais julgue extinto o mo-tivo em que se fundamentou a me-dida, na forma estabelecida na le-gislação penal.»Legitima é, pois a internação, até

a realização de exame que demons-tre a cessação de periculosidade. Adevolução do infrator de lei penal aoselo da sociedade, não deve ser efe-tuada sem as cautelas de avaliaçãoatinentes a permanência da periculo-sidade. Se perdura o estado de peri-culosidade impõe-se o seu interna-mento em estabelecimento adequa-do, em resguardo da segurança so-cial (ver arts. 97 e parágrafos do Có-digo Penal e 171 a 175 da LEP).

Verifico que o parecer da doutaProcuradoria da República opina

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«pelo provimento do presente recur-so para que o Juiz das ExecuçõesPenais responsável por sua custódia,a teor do art. 176 da LEP, promovaa necessária e urgente perícia médi-ca a fim de que seja definida a situa-ção do internado» (fls. 181). Aconte-ce que registra o acórdão:

«Não há, pois, ilegalidade da de-cisão do MM. Juiz impetrado, aodeterminar a realização de examede cessação da pericuiosidade »(fls. 160).Além disso, o referido exame «já

foi requisitado para o recorrente»,segundo a Procuradoria-Geral daJustiça (fls. 174).

Resta, assim, que seja, concretiza-da a providência, sem maior demo-ra.

Assim sendo, não vejo como pro-ver o recurso.

É o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RHC 65.579 — SP — Rel.: MinistroDjaci Falcão. Recte.: Alcides SérgioDelassari (Adv.: Adauto Alonso S.Suannes). Recdo.: Tribunal de Justi-ça do Estado de São Paulo.

Decisão: Negado provimento. Unâ-nime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Francisco Reza,Carlos Madeira e Célio Borja. Au-sente, justificadamente o Sr. Minis-tro, Aldir Passarinho. Subprocu-rador-Geral da República, o Dr.Mauro Leite Soares.

Brasília, 15 de março de 1988 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 86.385 — RS(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.Recorrente: Paulo Pacheco Prates — Recorrida: LANSUL — Lanifício

Sulriograndense S/A.

Matéria trabalhista. Opção pelo FGTS. Servidor estável. Transa-ção do tempo de serviço anterior ft opção pelo FGTS. Dispensa poste-rior. Alegação de nulidade da transação. Lel n? 5.107/1986; CLT, arte.9? e 832. O acórdão afastou a alegação de nulidade da transação havi-da entre as partes, no que concerne ao tempo de serviço anterior àopção pelo FGTS, com base em legislação ordinária. Não se ventila-ram disposições constitucionais, no acórdão ou em embargos de de-claração, não interpostos. Aplicação das Súmulas 282 e 356. Diante danorma do art. 143, da Constituição, não cabe recurso extraordinário,em matéria trabalhista, por alegação de ofensa a lei ordinária. Re-curso extraordinário não conhecido.

ACORDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata de

julgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade, não conhecer dorecurso extraordinário.

Brasília, 5 de março de 1985 —Rafael Mayer, Presidente — Néri daSilveira, Relator.

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RELATORIO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): No julgamento do recursoordinário, o colendo TRT — 4, Re-gião, á fl. 203, assim sumariou e de-cidiu a especie:

«Paulo Pacheco Prates reclamacontra Lanifício SulriograndenseSA.,, dizendo que foi admitido namesma como consultor jurídico em1?-1-49, percebendo, ultimamente,Cri 6.250,00 de salário fixo, gratifi-cação natalina de Cri 6.250,00, gra-tificação especial de 4.900,00, per-fazendo uma remuneração mensalreal de 7.179,16; que optou pelo re-gime do FGTS em 14-1-70 e que,em 18-2-70, transacionou o tempode serviço anterior à opção com acondição expressa de continuarprestando os mesmos serviços, sal-vo ocorrência de falta grave, eque, apesar do termo da transa-ção, em 30-11-71, recebeu avisoprévio e decorridos já mais de 30dias do pré-aviso ainda não rece-beu o pagamento do salário de12/71, a segunda metade de gratifi-cação natalina, gratificação espe-cial, férias de 1970, em dobro, fé-rias de 1971, num total de Cri28.633,60. Diz mais que sofreu des-contos excessivos a título de im-posto de renda na fonte, no mon-tante de Cri 1.851,78. Postula, ain-da, a decretação da nulidade datransação por esta ter visado im-pedir o reclamante de receber seusdireitos, correspondentes á com-plementação da indenização no va-lor de Cri 183.225,59, sendo-lhe de-vida ainda a liberação do FGTScom o depósito de 10% e a devolu-ção atualizada da CTPS, postulan-do juros, correção monetária, pa-gamento em dobro dos salários in-controversos, aplicação de multasprevistas na legislação do impostode renda.

A reclamada, em defesa prévia,contesta em longas razões a iniciale, em especial, a injustiça da de-

missão, a nulidade da transação eas anotações tardias na CTPS epõe à disposição do reclamante osvalores pedidos no item 6 e asguias AM.

As partes conciliam o litígio par-cialmente.

São juntados documentos e ouvi-dos o reclamante e o preposto dareclamada.

Encerrada a instrução, são adu-zidas razões finais, não tendo pros-perado as propostas conciliatórias.

A MM. Junta a quo julga proce-dente a reclamatória, anulando atransação do tempo de serviço an-terior à opção e condenando a re-clamada ao pagamento da indeni-zação — complementação, maiscustas.

Hábil e tempestivamente recorrea reclamada, apresentando o re-clamante contra-razões.

Sobem os autos. Oficiando, a dou-ta Procuradoria do Trabalho opina,preliminarmente, pelo conheci-mento do recurso e, no mérito, pre-coniza seu desprovimento.

Em face da inconstitucionalidadeargüida é remetido o presente pro-cesso ao julgamento pelo EgrégioTribunal Pleno, que rejeita a in-constitucionalidade argüida, con-forme acórdão de fls. 135/7.

O recorrido interpõe recurso derevista, juntando documentos, cujorecebimento e pressupostos é adia-do para após o julgamento do mé-rito, conforme fls. 186/7.

Retornam, assim, os autos parao julgamento do mérito.

o relatório.Isto posto:Discute-se, neste processo, sobre

nulidade de transação de tempo deserviço anterior à opção de empre-gado estável, efetuada posterior-mente à opção.

R.T.J. — 125

201

Esta Turma, entendendo haverargüição de inconstitucionalidade,remeteu a matéria ao Pleno, querejeitou a argüição, vencidos osExmos. Juízes Ivéscio Pacheco,Douglas Português, BoaventuraMonson e Ehlers de Moura.

A inconstitucionalidade fora ar-güida em contra-razões do recorri-do, conforme se vê á fl. 92, item1.27, não formalmente.

Inconformado com a decisão doPleno, o recorrido ingressa com re-curso de revista (fl. 142). Sua Exa.o Senhor Presidente do Tribunal(fls. 186/187) determina a baixados autos à Turma, para julgamen-to do mérito do recurso ordinárioe, após o trânsito em julgado dadecisão, a volta dos autos para exa-me dos pressupostos de cabimen-to do recurso de revista (29-11-72).O recorrido era empregado es-tável e optou pelo regime da lei doFGTS em 14-1-70, quando transa-cionou com a empresa o tempo an-terior, o que ocorreu em 18 de fe-vereiro do mesmo ano, perante es-ta Justiça que homologou a transa-ção (fls. 52, 53 e 54). Na oportuni-dade recebeu 60% do respectivovalor, conforme transacionara coma empregadora.

Em 30 de novembro de 1971 —quase dois anos após — seu contra-to de trabalho foi rescindido semJusta causa.

A MM. Junta entendeu nula atransação por considerar que a dis-posição do Regulamento da Lei doFGTS, autorizando transação dotempo de serviço anterior à opção,quando continuam as relações con-tratuais, seria nula porque a Lei doFGTS não a permite e que a Lei serestringe a autorizar transação,ocorrendo a rescisão do contrato.

Trata-se, como se vê, de matériade direito.

A respeitável sentença de fls.60/61 fundamentou sua decisão em

que: «o negócio jurídico realizou-senos termos do § 4? do art. 35 do Re-gulamento do FGTS e que este foicontra a Lei por ter criado uma hi-pótese nova que confina com asdisposições dos arts. 16, § 2?, e 17 e§§ da Lei 5.107 que disciplina a res-cisão de contrato de trabalho deempregado optante com mais de 10anos de serviço.»

O recorrido recebeu, na oportuni-dade, Cr$ 118.299,13 (18-2-70) e ale-ga ter sido iludido em sua boa-fé eque a transação foi ultimada «soba expressa condição de continuarele prestando serviços á mesmaempregadora.» A cláusula 6! dodocumento em que se contém arescisão diz: «Tem o empregado eexpressamente consigna, conheci-mento de que a concretização datransação acertada, pagando-lhe aempregadora a indenização ajusta-da, fica aquela eximida de qual-quer responsabilidade em razão deseu tempo de serviço anterior à op-ção, inclusive no que diz respeito atoda e qualquer indenização, semprejuízo porém, de continuar ele,empregado, prestando serviços àmesma empregadora, com as atri-buições e os encargos até aqui vi-gentes, situação também facultadalegalmente.»

Ora, na hipótese dos autos, atransação não se efetivou com umempregado estável comum; justiçaseja feita, trata-se de conhecido ecompetente advogado que, data ve-nia, não pode alegar ter sido ilu-dido ou coagido; muito menos po-derá alegar desconhecimento doconteúdo do documento, especial-mente o contido nas cláusulas 6? e7?. Além do mais, não se pode en-tender, pela leitura desse docu-mento, que a empresa tivesse as-sumido a obrigação de adquirir seutempo de serviço anterior à opção,adquirindo sua estabilidade, com ocompromisso de mantê-lo, aindaassim, estável, conforme quer en-tender o recorrido, quando diz na

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inicial que a transação ficou condi-cionada á «expressa condição decontinuar ele prestando serviços ámesma empregadora, salvo ocor-rência de falta grave.»

Dá-se provimento ao recurso.Entende-se que o Regulamento nãoampliou disposição da Lei doFGTS, que autorizou a transaçãodo tempo anterior á opção de em-pregado estável na base mínimade 60%, continuando o empregadoa prestação de serviço (art. 35, §4?, do Regulamento). A Lei doFGTS permite essa transação, co-mo se verifica do § 5? do art. 1?,quando diz: «Não poderá retratar-se da opção exercida o empregadoque transacionar com o emprega-dor o direito à indenização corres-pondente ao tempo de serviço ante-rior à opção.» O Regulamento ape-nas explicitou esta autorizaçãoque a lei continha, colocando a dis-posição onde deveria estar. No mo-mento em que há opção, o empre-gado aceita o risco de ser despedi-do sem justa causa a qualquertempo, pois a opção gera a perdada estabilidade.

Aliás, não seria cabível que aempresa, adquirindo o tempo deserviço anterior á opção, ou seja, odireito do empregado à estabilida-de, continuasse, jungida à mesmaobrigação de mantê-lo no emprego,comprometendo-se a jamais res-cindir o contrato. Se assim se pu-desse entender, por que razão ad-quirir, comprar a estabilidade deum empregado que continuaria es-tável, de vez que, mesmo optandopelo regime do FGTS, estaria comseu emprego assegurado? Direito ébom-senso e este está a indicar queo melhor entendimento, o mais ló-gico e consentâneo, na hipótese dosautos, é o de que a empresa nãoiria adquirir o tempo de serviço deempregado estável, despendendoelevada soma, ao abrigo do per-missivo legal, sem a corresponden-

te compensação deferida pelas dis-posições consolidadas.»

Anteriormente, o Plenário recusa-ra a argüida inconstitucionalidadedo § 4?, do art. 35, do Regulamentodo FGTS, estando o aresto assimementado (fl. 135): «Constitucionali-dade do parágrafo 4? do art. 35, doRegulamento do Fundo de Garantiado Tempo de Serviço. A Lei n? 5.107permite a transação de serviço an-terior à opção, continuando as rela-ções contratuais.»

No recurso de revista, alega o re-corrente que, em dando pela consti-tucionalidade da norma regulamen-tar, o julgado do TRT ofendeu o art.8?, combinado com os arts. 43, 46, I,47, 81 e 165, XIII, e 153, § 3?, da Cons-tituição Federal No referido apeloao TST, invocou, ainda, o recorrentea Súmula n? 20, do TST, sustentandoque as decisões regionais vulnera-ram, também, o art. 17, da Lei n?5.107/1966, e os arts. 492 e 454, daCLT. Dando validade à «transação»,aduz o recorrente, o acórdão do TRTviolou os arts. 9? e 468, da CLT, bemassim a Lei n? 4.215/1963, arts. 71 e87, XIV, letra b, ao permitir que ad-vogado seja destituído, sem justacausa» (sic), divergindo de julgadosque cita, na longa petição de fls.212/290.

Admitida a revista (fls. 293/294), a1? Turma do TST, dela conheceu,negando-lhe, porém, provimento, pos-suindo o voto condutor do acórdãoo seguinte enunciado (fls. 338/340):

«1. Pela nulidade do v. acórdãorevisando a revista não merece co-nhecida.

O procedimento na questão rela-tiva à inconstitucionalidade foi cor-reto conforme acentuou o r. despa-cho de fls. 186/187.

Não se demonstrou, pois, viola-ção literal das disposições legaisinvocadas.

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A Súmula n? 20 apontada nenhu-ma relação tem com a hipótese dosautos.

Todavia, está citada divergênciade julgados que, em tese, permiteo conhecimento da revista na ques-tão relativa à interpretação da Lein? 5.107/68. Conheço.

E acolho na íntegra o parecer dadouta Procuradoria-Geral quetranscrevo como forma de decidir:

«Quanto ao mérito, a lei men-cionada visa, como condição im-perativa, a amparar e protegeros empregados, assegurando no-vas vantagens pecuniárias paragarantir o exercício e segurançano emprego. Firmou-se essa ini-ciativa legal para preservar a si-tuação daqueles que possam ad-quirir o direito à estabilidade. Eque nosso direito positivo traba-lhista não admite restrições aosdireitos adquiridos, principal-mente em se tratanto de preser-var o instituto da estabilidade.

Esse entendimento parece terorientado a empresa recorridapara atendimento do empregado-recorrente, que transacionou oseu tempo de serviço anterior,conforme os termos do acordo defls. 54/55.

Contudo, não fugimos de reco-nhecer os requisitos exigidos nasleis, aplicando-se a casos es-pecíficos para que se proceda aopção, tendo em vista as condi-ções propostas na transação,criando uma situação especialque se projeta através das diver-sas classes de empregados no go-zo da estabilidade.

Todavia, há uma série de situa-ções criadas pela administraçãoinerentes ao poder diretivo, quenão pode modificar condições es-tabelecidas no contrato de traba-lho.

Ao lado dessas situações, hánecessidade de o julgador com-preender e aplicar os dispositivoslegais, tendo em vista os intuitose objetivos sociais, bem como odever de harmonizar os interes-ses das partes por força dosprincípios de amparo e proteçãoque nossa legislação social dis-pensa aos empregados, nos casosdessa natureza.

Estando a hipótese dos autosentre aquelas incluídas na lei su-pracitada, a menos que haja ou-tro motivo ponderável de rele-vância para o reexame da maté-ria, a transação homologada é le-gal.

Não só do ponto de vista morala pretensão do recorrente já serepele a si mesma, do ponto devista jurídico também se tornainaceitável, porque, nos expres-sos termos da Lei n? 5.107 existeo impedimento de se inquinar denulo o acordo de transação dotempo de serviço anterior à op-ção, através do qual o recorrenterecebeu 60% das indenizações de-vidas, estando o ato revestidodas formalidades legais permis-sivas para ser considerado irre-vogável, irretratável.

Prejudicado de tal sorte o di-reito do empregado recorrente,de pleitear benefícios do diplomaconsolidado, concedidos aos em-pregados estabilizados, visto quelhe falta a condição fundamentalinvocada e mesmo que a tivessenão se nos afiguram atendidos,isso em presença da mencionadatransação homologada, a respei-to da qual o Tribunal Regionalfez oportuna e adequada aprecia-ção.

Endossando essas considera-ções, é ocioso determo-nos emnovos comentários, porque se-riam inúteis, especialmente noterreno doutrinário, onde pontifi-cam com indiscutível e inegável

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autoridade os eminentes Minis-tros, da Egrégia Turma Julgado-ra do presente feito.

Pelo exposto, opinamos peloconhecimento do recurso, tendoem vista a divergência apontadae pelo seu não provimento,cumprindo-se o venerando acór-dão recorrido pelos seus Jurídicosfundamentos.»

Nego, pois, provimento ao re-curso.»

Dessa maneira, o apelo foi conhe-cido pela divergência jurispruden-cial, mas desprovido. Não houve em-bargos de declaração.

Interpôs, a seguir, o recorrente,embargos ao Plenário (fls. 344/345).

Nos embargos, sustentaram-secontrariedade à Súmula 20, do TST,ofensa ao art. 9? da CLT, «porquantoo ato da empresa imbuído de inegá-veis intuitos de desvirtuar a finalida-de do acordo, com o propósito deafastar a condição de estável, para,em seguida, despedir o embargantesem Justa causa, feriu os princípioscontidos na consolidação, de modo amerecer se decrete a nulidade do atopraticado» (fl. 344). E prossegue (fl.344): «Se assim não for, a Justiça doTrabalho estará propiciando que asempresas se descartem de seus em-pregados estáveis, mediante o paga-mento de apenas 60% da indenizaçãodevida, com subseqüente dispensasem Justa causa.» E conclui (fl. 345):«11. Limitando-se a dizer que «nãose demonstrou, pois, violação literaldas disposições legais invocadas», ov. acórdão embargado deixou de fun-damentar o decisório, incorrendoem nulidade, frente ao que impõe oart. 832 da CLT, uma vez que as inú-meras ofensas a dispositivos legais,inclusive de nossa Lei Básica, nãoestão enfrentadas no Parecer dadouta Procuradoria, do qual se valeuo eminente Ministro Relator, parafundamentar o seu r. voto. Em as-sim sendo, o embargante pede vêniapara que se incorporem a este apelo

as alegações expendidas na revista,e que deverão ser apreciadas na dis-cussão destes embargos, os quais,conhecidos que devem ser, por certomerecerão acolhida, a fim de que sedê pela procedência total do pedidovestibular, aplicando-se a lei no seuverdadeiro sentido social, único meiode se fazer, embora tardiamente, anecessária Justiça.»

O Plenário do TST não conheceudos embargos, considerando, outros-sim, dispensável a apreciação da in-constitucionalidade do dispositivo re-gulamentar, estando a fundamenta-ção do decisório, nestes termos (fls.357/358):

«Pela violação de lei é inad-missível o recurso, porquanto a hi-pótese de transgressão aos arts. 9?e 832, consolidados, é inviável.

O recorrente transacionou com arecorrida o seu tempo de serviçoanterior à opção pelo FGTS, rece-bendo os 60% previstos no § 3?, doart. 17, da Lei n? 5.107/66, conti-nuando a prestar serviços á mes-ma (fl. 136). Depois de algum tem-po, foi dispensado. Inconformado,por ter a empresa rompido com apromessa de mantê-lo trabalhando— segundo alega — quer obter, en-tre outras verbas, a complementa-ção da indenização.

Ora, já foi suficientemente escla-recido ao recorrente que a transa-ção prevista na Lei do FGTS foicorretamente realizada, não exis-tindo qualquer mácula a dispositi-vo de lei. O ato foi realizadosecundum legem e não contralegam, como vem alegando. Obe-decidos, como decidiu a eg. Tur-ma, todos os requisitos de lei, nãohá falar em desvirtuamento dospreceitos da CLT.

Quanto á ausência de fundamen-tação do v. acórdão de fls. 337/340,a alegação é, do mesmo modo, in-fundada. Adotando o inteiro teor doparecer da ilustrada PG-JT, comorazão de decidir, descabe falar em

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ausência de fundamentação, salvose o parecer estivesse sem motiva-ção. E não está; não é difícil verifi-car. Afasta-se, por conseguinte, apossibilidade de infringência doart. 832, consolidado.

A divergência pretoriana, dataventa, não existe. A Súmula n? 20,deste TST, cuida da hipótese diver-sa daquela discutida nestes autos,aliás a eg. Turma esclareceu à fl.338 e o embargante não trouxeacórdão a confronto.

Não conheço.Isto posto:Acordam os Ministros do Tribu-

nal Superior do Trabalho não co-nhecer dos embargos, unanime-mente. O Tribunal resolveu mais,considerar dispensável a aprecia-ção da inconstitucionalidade, sendoque o Exmo. Sr. Ministro Thelio daCosta Monteiro rejeitava a mes-ma.»Desse aresto, não houve, também,

embargos de declaração.Do acórdão da Turma, no julga-

mento da revista, interpôs o recor-rente recurso extraordinário (fls.360/364), dele desistindo á fl. 394.

Do julgado plenário, nos embar-gos, recorreu, extraordinariamente,o reclamante, às fls. 366/368, desen-volvendo os seguintes fundamentos:

«2. Sob a argüição de inconsti-tucionalidade do 4? do art. 35, doDecreto n? 59.820, de 20-12-66, que,ao regular o Fundo de Garantia doTempo de Serviço, criou a possibi-lidade de transação com a conti-nuidade da prestação de serviçossob o regime do FGTS, hipótesenão prevista no art. 17 da Lei n?5.107, de 13 de setembro de 1966, orecorrente vem alegando a nulida-de de transação efetuada nessesmoldes e, conseqüentemente, a suareposição ao status quo, sendo-lhereconhecida, em corolário, a situa-ção de estável, com o resultado delhe ser paga indenização em dobro,

face à rescisão sem justa causa deseu contrato de trabalho, deduzidada parcela indenizatória a impor-tância já recebida por ocasião danula transação.

Com efeito, no art. 17 da Lein? 5.107/66, só se previu a transa-ção, com recebimento de quantiacorrespondente a 60% da indeniza-ção devida a empregado estável,para a hipótese de rescisão do con-trato de trabalho.

Entretanto, o Decreto n?59.820, ao regulamentar aquelalel, criou uma nova forma de ajus-te nela não prevista, possibilitandoa transação sem a necessária ex-tinção do contrato.

Face ao princípio de que so-mente à União é permitido legislarsobre Direito do Trabalho, regraque já se continha no art. 5?, itemXV, alínea a, da Carta Magna de1946, e vem sendo repetida nos tex-tos constitucionais que se lhe se-guiram, argüiu-se a inconstitucio-nalidade do 4? do art. 35, do De-creto n? 59.820/66, em embargosque não foram conhecidos pelo v.acórdão recorrido.

A tese do recorrente encontraamparo nas opiniões dos mais dou-tos juslaboralistas, entre os quaisestá o eminente Doutor Luiz Ro-berto de Rezende Puech, cujo pro-nunciamento a respeito do assunto,no 1? Seminário Sobre AspectosJurídicos do FGTS, realizado emBrasília de 11 a 14 de março de1968, mereceu a aprovação dos ju-ristas ali reunidos e se sintetizouno seguinte enunciado:

«2 descabida a transação dotempo de serviço anterior à op-ção sem rescisão do contrato detrabalho.»7. O v. acórdão recorrido, em-

bora tenha resolvido «considerardispensável a apreciação da in-constitucionalidade» (fl. 358), apli-cou a regra apontada como incons-

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titucional, dando pela validade datransação. Conseqüentemente, acei-tou-a como constitucional, dandoensejo ao presente apelo extremo.

Não obstante, conforme notastaquigráficas que se juntam à pre-sente, verifica-se que na longa dis-cussão havida em Plenário, o pro-blema foi amplamente debatidosendo de notar-se que o Exmo. Sr.Ministro Coqueijo Costa, emborareconhecendo que «os regulamen-tos extravasam e inovam como nocaso, evidentíssimo, não só desseartigo mas de inúmeros outros doregulamento da Lei do Fundo deGarantia», ponderou que «se fôsse-mos decretar a inconstitucionalida-de desse dispositivo do regulamen-to do Fundo de Garantia por extra-polar a lei que ele regulamenta,teríamos de dar pela inconstitucio-nalidade de todos os regulamentosque conheço no Brasil, onde, real-mente, a teoria do poder regula-mentar não é respeitada.»

Data Máxima venta, o recor-rente não pode conformar-se comtal pronunciamento, de vez que ainconstitucionalidade só pode serdeclarada em processo regular(em ação direta ou em argüição in-cidental, como no caso presente),sendo inaceitável a recusa de suadeclaração, com base no argumen-to de que haveriam outras normas,também inconstitucionais, que es-tariam sendo impostas sem a im-pugnação de partes prejudicadas,ou recusa do Judiciário em aplicá-las.

10. Por outro lado, ainda que senão declarasse a argüida inconsti-tucionalidade, deveria ter sido re-conhecido que, com a aplicação danorma apontada como inconstitu-cional (§ 4? do art. 35, do Decreto n?59.820/66), negou-se efeito à estabi-lidade alcançada pelo recorrente,contrariando-se a norma do art.158, inciso XIII, da Lei Maior de

1967, mantida pela Emenda Consti-tucional n? 1, de 1969.

11. Assim, o presente recursoextraordinário se fundamenta nainconstitucionalidade do § 4? doart. 35, do Decreto n? 59.820. de20-12-66, bem como na ofensa ao di-reito de estabilidade, garantido pe-la referida norma constitucional,com indenização ao trabalhador des-pedido.»Admitido o recurso (fls. 395/398),

vieram razões do recorrente, às fls.401/408, estando as contra-razões, defls. 411/416.

A ilustrada Procuradoria-Geral daRepública opinou às fls. 421/423, nosentido do não conhecimento do ape-lo.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): O fundamento do acórdão,nos embargos, sintetizou-se na emen-ta, à fl. 357, verbis:

«Não há falar em desvirtuamen-to dos dispositivos legais, se o em-pregador dispensa o empregadoque transacionara com esta o seutempo de serviço anterior à opçãopelo FGTS. Obedecidos os pre-ceitos do art. 17 e §§, da Lei n?5.107/66, fica restabelecido às par-tes o direito postestativo de resci-são em sua plenitude. Embargosnão conhecidos.»Decidiu-se, dessarte, a controvér-

sia, no julgamento ora recorrido,pelo Plenário, em face da Lei n?5.107/1966. No voto, outrossim, expli-citamente, a violação de lei é recu-sada, não se tendo por vulnerados osarts. 9? e 832, da CLT, afastando-sea nulidade da transação havida en-tre as partes, no que concerne aotempo de serviço anterior à opçãopelo FGTS. Proclamou, então, oaresto recorrido (fl. 358): «O ato foirealizado secundum legem e não

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contra legem, como vem alegando.Obedecidos, como decidiu a Eg. Tur-ma, todos os requisitos de lei, não háfalar em desvirtuamento dos precei-tos da CLT.» De outra parte, o acór-dão recorrido afastou a alegação dorecorrente, nos embargos, de nulida-de da decisão, por falta de funda-mentação, anotando, expressamente,que não houve vulneração do art.832, da CLT, porque o aresto acolheuos fundamentos parecer da Procura-doria-Geral (fls. 338/340), como ra-zões de decidir. Enfrentando o funda-mento dos embargos, quanto á diver-gência pretoriana, o acórdão recu-sou dissídio do julgado com a Súmu-la 20 do TST, por cuidar de hipótesediversa.

Vê-se, dessa maneira, que o acór-dão ora recorrido, extraordinaria-mente, não debateu qualquer temaconstitucional, em seu texto, limi-tando-se a dirimir a controvérsia,no âmbito exclusivo da legislaçãoordinária.

Tanto é assim que, na parte final,explicitou não conhecer dos embar-gos, afirmando: u() Tribunal resol-veu mais, considerar dispensável aapreciação da inconstitucionalidade,sendo que o Exmo. Sr. Ministro The-lio da Costa Monteiro rejeitava amesma» (fl. 358).

Dessa sorte, não se prequestionouno acórdão tema constitucional, fun-damentando-se o decisório do Plená-rio do TST, no plano de aprecia-ção das leis ordinárias aplicáveis àespécie, em face das quais teve co-mo válida a transação e não acolheua nulidade do acórdão da Turma,por falta de fundamentação. Tam-bém, não interpôs o recorrente em-bargos de declaração, sequer, paratentar exame da pretensão, à luz depreceitos constitucionais.

No que cbnceme às questões cons-titucionais, é bem de ver que, noacórdão que julgou a revista, o apelofoi conhecido, tão-só, em face dodissídio pretoriano, deslindando-se o

mérito, apenas, no plano da Lei n!5.107/1966, cujos dispositivos de re-gência da quaestio juris se invoca-ram. Não houve discussão de assun-to constitucional, diante dos disposi-tivos apontados na revista, como fe-ridos pelo julgado regional. Não in-terpôs, como se faria, então, mister,o recorrente embargos de declara-ção, para evitar ocorresse reclusão,nesse ponto.

Posta, dessa sorte, a demanda, nosarestos trabalhistas, em face da Leiri? 5.107, de 1966, teve o acórdão, nosembargos, como válida a transação,proclamando, inclusive, às fls.357/358, verbis: «O recorrente tran-sacionou com a recorrida o seu tem-po de serviço anterior à opção peloFGTS, recebendo os 60% previstosno 3?, do art. 17, da Lel n? 5.107/66,continuando a prestar serviços àmesma (fl. 136). Depois de algumtempo, foi dispensado. Inconformadopor ter a empresa rompido com apromessa de mantê-lo trabalhando— segundo alega — quer obter, entreoutras verbas, a complementação daindenização. Ora, já foi suficiente-mente esclarecido ao recorrente, quea transação prevista na Lei do FGTSfoi corretamente realizada, não exis-tindo qualquer mácula a dispositivosde lei.»

Falta, dessarte, prequestionamen-to dos dispositivos constitucionaisalinhados, no recurso extraordinário,como ofendidos, o que conduz à inci-dência, no particular, das Súmulas282 e 356, e obsta se possa conhecerdo recurso extraordinário trabalhis-ta, diante do art. 143, da Constitui-ção. Por ofensa a dispositivos de leiordinária, não cabe instaurar-se ainstância rara, no âmbito do petitó-rio trabalhista.

Mesmo se assim não fosse, dequalquer sorte, não se caracteriza-ria, — em face dos termos em quededuzida a controvérsia, — tecnica-mente, ofensa, direta e imediata, aosdispositivos maiores referidos na ir-

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resignação extrema. Somente se po-deria chegar ao plano constitucional,se fosse possível, por primeiro, nodebate travado no domínio da legis-lação ordinária, concluir, de manei-ra diversa daquela que compôs aparte dispositiva do aresto recorrido.Saber se o § 4?, do art. 35, do Regu-lamento do FGTS, editou-se emdesconformidade com a Lei n?5.107/1966, então regulamentada, e,em particular. com seus arts. 16, §2?, e 17, §§ 2? e 3? — o que foi re-cusado pelo acórdão, — não se defi-ne como tema a ensejar, desde logo,recurso extraordinário trabalhista.

Dessa maneira, na espécie, pornão ventilada no acórdão questãoconstitucional, nem dele se interpon-do embargos de declaração, prelimi-narmente, segundo a orientação as-sente na Corte, não há como conhe-cer do recurso extraordinário.

Com essas considerações não co-nheço do recurso extraordinário.

EXTRATO DA ATA

RE 86.385 — RS — Rel.: MinistroNéri da Silveira. Recte.: Paulo Pa-checo Prates (Adv.: José Maria deSouza Andrade). Recdo.: Lansul La-nifício Sulriograndense S/A (Adv.:Joseval Sirqueira).

Decisão: Após o voto do MinistroRelator que não conhecia do recurso,o julgamento foi adiado pelo pedidode vista do Ministro Octavio Gallotti.Falaram pelo Recte.: Dr. José Mariade Souza Andrade e pelo Recdo.: Dr.Pedro Gordilho.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes, à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Oscar Corrêa, Sydney Sanches eOctavio Gallotti. Subprocurador-Geral da República, Dr. Franciscode Assis Toledo.

Brasília, 7 de dezembro de 1984 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

VOTO (VISTA)

O Sr. Ministro Octavio Gallotti: Sr.Presidente, recordo que o Recorren-te, até então empregado estável, op-tou pelo regime do Fundo de Garan-tia do Tempo de Serviço e celebrou,com a empresa, transação relativaao tempo anterior, em virtude daqual recebeu o valor de 60% da mul-tiplicação do dobro dos anos de ser-viço pelo maior salário percebido.

O Recurso Extraordinário vemfundado no art. 143 da Lei Funda-mental, por inconstitucionalidade doart. 35, § 4? do Decreto n? 59.820-66que, ao dispor sobre a referida tran-sação, teria invadido a competêncialegislativa da União (artigos 5?, XV,a e 65, IX da Carta de 1946), bem co- -mo ofendido a garantia da estabili-dade (art. 157, XII).

Havendo pedido vista dos autos, te-nho o ensejo de, mais uma vez, re-verenciar a profundidade e agudezacom que dirimida a controvérsia pe-lo eminente Relator, Ministro Nérida Silveira, com cujo douto voto meponho de pleno acordo.

A alegação de nulidade foi efetiva-mente afastada, no plano da lei ordi-nária, tanto pela Turma como peloPleno do Egrégio Tribunal Superiordo Trabalho, havendo este último atémesmo dispensado, formalmente, aapreciação da inconstitucionalidade.

Embargos declaratórios não foramopostos, consumando-se, assim, a fal-ta de prequestionamento, que obs-ta o conhecimento do Recurso, a teordos enunciados das Súmulas 282 e356.

Nem se configurou, aliás, ofensa di-reta à Constituição (pressuposto tam-bém indispensável ao cabimento doextraordinário em tema trabalhis-ta), porquanto, como evidenciado peloeminente Relator, só uma diversainterpretação da legislação ordiná-ria (em particular a Lei n? 5.107/66),

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adotada na instância de origem, po-deria ter repercussão de ordem cons-titucional.

Pelo exposto, não conheço do Re-curso.

EXTRATO DA ATARE 86.385 — RS — Rel.: Ministro

Néri da Silveira. Recte.: Paulo Pa-checo Prates (Adv.: José Maria deSouza Andrade) . Recdo.: Lansul — La-nifício Sulriograndense S/A (Advs.:Joseval Sirqueira e Paulo do Couto eSilva).

Decisão: Após o voto do MinistroRelator que não conhecia do recurso,

o julgamento foi adiado pelo pedidode vista do Ministro Octavio Gallotti.Falaram pelo Recte.: Dr. José Mariade Souza Andrade e pelo Recdo.: Dr.Pedro Gordllho. Decisão: Não se co--nheceu do recurso. Unânime.

Presidência do Senhor Ministro Ra-fael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Sydney Sanches e Oc-tavio Gallotti. Subprocurador-Geralda República, Dr. Francisco de As-sis Toledo.

Brasília, 5 de março de 1985 — An-tonio Carlos de Azevedo Braga, Se-cretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO DE 100.242 — MS(Primeira Turma)

Relator para o Acórdão: O Sr. Ministro Octavio Gallotti.Recorrentes: Sergio Pinho Mellão e sua mulher. Recorridos: Turma Sim-

ples do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul e Hiroshi Taka-hashi.

Recurso extraordinário de que não se conhece por perseguir obje-to juridicamente impossível, qual seja a concessão de mandado de se-gurança contra decisão transitada em julgado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Primei-ra Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por maioria de votos, não co-nhecer do recurso.

Brasília, 6 de novembro de 1987 —Moreira Alves, Presidente —Octavio Gallotti, Relator para oacórdão.

RELATORIO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Cuida-se de recurso ex-traordinário interposto de acórdão,que indeferiu mandado de segurança

impetrado contra aresto de Turmada Corte a quo, ao não conhecer deagravo de instrumento tirado de des-pacho em ação de demarcação.

O mandado de segurança foi assimrelatado no acórdão recorrido, doTribunal de Justiça do Estado deMato Grosso do Sul, às fls. 446/458,verbis:

«Sérgio Pinho Mellão e sua mu-lher, Da. Renata da Cunha BuenoMellão, brasileiros, proprietários,residentes e domiciliados na RuaVenezuela, n? 682, em São Paulo —Capital, impetraram, com funda-mento no artigo 153, fi 21, da Cons-tituição Federal, combinado comdisposições da Lei n? 1.533, de 31de dezembro de 1951, Mandado deSegurança contra decisão da egré-

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gia Turma Simples deste colendoTribunal, proferida no Agravo deInstrumento n? 103/79, de Doura-dos, neste Estado, do qual foi Rela-tor o ilustre Desembargador AssisPereira da Rosa, Agravo esse in-terposto pelos ora impetrantescontra despacho proferido pelo MM.Juiz de Direito da 1? Vara da co-marca de Dourados, nos autos daAção Demarcatória que HiroshiTakahashi move contra os impe-trantes e outros, correndo peloCartório do 2? Oficio daquela co-marca, alegando em síntese o se-guinte:

que os impetrantes figuram co--mo promovidos na Ação Demarca-tória proposta por Hiroshi Taka-hashi e sua mulher no juízo e co--marca de Dourados, neste Estado,cuja ação foi julgada procedenteem parte, com sentença transitadaem julgado;

que contra a decisão de primeirainstancia recorreram os promoven-tes, cujo recurso de apelação foiimprovido. Melhor destino não ti-veram os Embargos Infringentes,também opostos pelos mesmospromoventes, que não foram co--nhecidos. Inconformados, interpu-seram Recurso Extraordinário, cu-jo seguimento foi negado. Agra-vando de instrumento, não tiverammelhor sorte, em face da denega-ção pelo Exmo. Sr. Ministro Rela-tor. Posteriormente, a referidasentença foi objeto de duas açõesrescisórias, ambas julgadas impro-cedentes pelo egrégio Tribunal deJustiça do Estado de Mato Grosso;

que se trata, assim, no entenderdos impetrantes, de decisão imutá-vel, por força da preclusãomáxima da res judicata. E mais;editada ao tempo do anterior Códi-go de Processo Civil, todas as suaspremissas também passaram aconstituir coisa julgada em razãodo disposto no art. 287, parágrafoúnico, daquele diploma legal;

que, diante disso, a fase conten-ciosa da demarcatória ficou defini-tivamente encerrada, eis que, coma fixação do ponto inicial, pela sen-tença, a linha demarcada igual-mente foi fixada por antecipação.Por isso, ao iniciar á fase executó-ria, já sob o império do novo Códi-go de Processo Civil, o MM. Juizde 1? grau nomeou agrimensor earbitradores (fl. 48/TJ), ordenan-do o inicio dos trabalhos de campo;

que, feito o levantamento dosimóveis sujeitos á demarcação, oagrimensor nomeado, Dr. PauloAlberto Thiry, seguindo o determi-nado na sentença, pretendeu colo-car os marcos nas divisas dos imó-veis, de acordo com os títulos, par-tindo do «Córrego Canadá», no quefoi obstado por sucessores de Hi-roshi Takahashi. Diante disso, re-quereu o referido agrimensor, aoMM. Juiz, expedição de mandadoautorizando-lhe a colocação dos ci-tados marcos;

que, todavia, subvertendo a or-dem processual e ignorando a sen-tença, o MM. Juiz a quo, houve porbem indeferir, no processo demar-catório, o requerimento do agri-mensor (fls. 49-50-TJ), ordenandoque este juntasse aos autos o deter-minado pelo artigo 957, no seu pa-rágrafo único, do atual Código deProcesso Civil. Em atendimento aessa ordem, o referido agrimensorjuntou no processo os documentosde fls. 51 a 66-TJ, chamados de tra-balhos preliminares, os quais se di-vorciaram totalmente da sentença,de tal modo que outro ponto departida foi sugerido;

que ocorre que o dispositivo invo-cado, ou seja, o parágrafo único doartigo 957 do Código de ProcessoCivil, refere-se a providências ine-rentes à primeira fase do processodemarcatório, ou seja, a contencio-sa, já ultrapassada desde há muitono presente feito. Isto porque, se asprovidências referidas no parágra-

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fo único do art. 957 do Código de Pro-cesso Civil são informações de fatoou subsídios relevantes para o ma-gistrado baixar a sentença do arti-go 958 do mesmo Código, pareceevidente que no caso sub jtadicenão há mais lugar para elas, eisque a decisão referida no art. 958do CPC já foi proferida e está tran-sitada em Julgado. Tal decisão é ar. sentença proferida na ação de-marcatória (fls. 11 a 19-TJ), naqual ficou assentado, inarredavel-mente, não só o ponto de partidada demarcatória, como também otraçado das linhas que demarcarãoos imóveis que são lindeiros entresi. Razão por que, através do itemV do despacho que determinou aoagrimensor que iniciasse os traba-lhos de campo, estava, em verda-de, dando cumprimento ao dispostono artigo 959, e não ao 957, pará-grafo único. Isto porque o MM.Juiz já se havia certificado dotrânsito em Julgado da sentença,no que respeita à fase contenciosae à fixação do ponto de partida,pois foi em razão disso que orde-nou a implantação dos trabalhosdemarcatórios, dando início, as-sim, à segunda fase do processo;

que acontece que na espécie oagrimensor Paulo Alberto Thiry,extravasando o munus que assu-miu, sob compromisso erigiu-seem Julgador do feito, recusando-sea obedecer á sentença, uma vezque encontrou novo ponto de parti-da da demarcatória: a confluênciado «Córrego Touro» com o «RioCurupay», circunstância essa intei-ramente estranha á decisão quedeveria cumprir como auxiliar dojuizo. E que, segundo a lei, quemfixa o ponto de partida em demar-catória é o magistrado, Por isso, oagrimensor nomeado deveria tra-çar as linhas demarcadas de acor-do com a sentença, e não segundoo seu cirtério pessoal. Deveria con-siderar o «Córrego Canadá» comoprimeiro afluente à margem direi-

ta do «Rio Curupay», e, a partirdeste ponto primordial, fazer o tra-çado da demarcação;

que, em face da situação criada(pelo despacho do MM. Juiz a quo,que ordenou que o agrimensor jun-tasse aos autos o determinado peloartigo 957, parágrafo único, doCPC, sendo que o agrimensor, ematendimento a essa ordem, Juntouao processo os documentos de fls.09 e 66-TJ, chamados de trabalhospreliminares, os quais se divorcia-ram totalmente da sentença, de talmodo que outro ponto de partidafoi sugerido), os impetrantes, in-conformados, pediram reconside-ração, ao mesmo tempo que agra-varam de instrumento, tendo oMM. juiz a quo na sustentação, dodespacho agravado, afirmado quedeterminara a juntada da plantada região e do memorial das ope-rações de campo, previstos no pa-rágrafo único do art. 957, por meroimpulso processual elucidador.Processado o agravo, dele não to-mou conhecimento a egrégia Tur-ma Simples deste Colendo Tribu-nal, entendendo que o despachoagravado era de mero expediente,portanto inatacável;

que contra esta Última decisão éque impetraram o presente Man-dado de Segurança, afirmando osimpetrantes, com alicerce em pa-recer do Professor José FredericoMarques, a ilegalidade do v. acór-dão proferido no agravo de instru-mento por eles interposto, eis quea egrégia Turma Simples que Jul-gou dito recurso, não o tendo co--nhecido, negou vigência aos arti-gos 522, caput e 504 do Código deProcesso Civil, uma vez que a de-cisão da primeira instância temcaráter nitidamente interlocutório,não se tratando, assim, de despa-cho de mero expediente ou de me-ro impulso processual. Por isso, ov. acórdão, ao não conhecer doagravo de instrumento, causou le-

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são a direito subjetivo liqüido ecerto dos impetrantes, «qual seja odireito processual de interpor e verjulgado, pelo mérito, o mencionadoagravo». Ressalte-se desde logoque a Ilegalidade do v. acórdão nãoreside na parte em que consideroude mero expediente a negativa doMM. Juiz de primeira instância emconceder mandado para o agri-mensor colocar os marcos, comotambém não reside na parte emque considerou de mero expedienteo deferimento do MM. Juiz quantoà juntada dos trabalhos do agri-mensor. A ilegalidade reside naparte em que considerou de meroexpediente o despacho do MM. Juizordenando ao agrimensor que ane-xasse aos autos as providênciasprescritas no art. 957, parágrafoúnico, do Código de Processo Civil.

Sacramentando essa decisão —que é contra legem, pois àquela al-tura não havia como se aplicar,em razão da fase executória da de-marcatória, um preceito aplicáveltão-somente à fase contenciosa dofeito (qual seja, o indigitado art.957, parágrafo único) —, o v. acór-dão feriu coisa julgada e causoudano irreparável aos impetrantes,que têm o direito de demarcar osimóveis (o seu e o dos confinantes)de acordo com a sentença, median-te a aplicação dos artigos 959 e se-guintes da lei adjetiva. O «CórregoCanadá» é ponto comum de amar-ração dos imóveis dos impetrantese de Hiroshi Takahashi. A sua con-fluência com o »Rio Curupay», sen-do o «Canadá» o primeiro afluentedaquele, do lado direito, é o pontode partida para a demarcatória.mais do que evidente, e, assim, ób-vio, que a decisão de primeira ins-tância, coonestada pela de segun-da, cosntitui um retrocesso proces-sual que causa dano irreparávelaos Impetrantes. Estes têm o direi-to liquido e certo de ver a demar-catória prosseguir nos termos doart. 959, e seguintes, do Código de

Processo Civil, isto é, ver os mar-cos colocados, adotando-se comoponto de partida aquele fixado pelasentença, ver tais operações con-signadas em planta e memorial des-critivo etc Nunca toleraram umprocedimento totalmente espúrio,qual seja, aquele ordenado peloMM. Juiz do doc. 8, item II, que fe-re direito liqüido e certo dosImpetrantes, e lamentavelmentemantido pelo v. acórdão — pelonão-conhecimento do recurso.

Pelo exposto, a subsistência dodespacho coator (doc. 8, item II),que iniludivelmente constitui errorin judicando, indica que o MM.Jitiz da causa pretende, nesta altu-ra, orientar o processo para umafutura fixação da linha demarcan-do, circunstância essa já ocorridae transitada em julgado. O v. acór-dão impetrado, ao dizer que essedespacho do juiz é de mero expe-diente, não atinou para sua ilegali-dade. Sancionando-o, pelo não-conhecimento do agravo de instru-mento, a decisão de segunda ins-tância fez coro a essa ilegalidade,sendo, assim, igualmente ilegal.

Quanto à impetração do manda-do de segurança contra decisão ju-dicial de qualquer instância, afir-mam os impetrantes ser pacifico oentendimento, na doutrina e na ju-risprudência, da possibilidade deseu cabimento, mormente quandoa iniciativa não tem efeito suspen-sivo e se apresenta evidente o danoirreparável.

De outra parte, entendem desca-ber, na hipótese, ação rescisória,porquanto o acórdão apontado co- -mo coator não conheceu do recur-so. Ora, se não conheceu agravointerposto, é evidente que nãoapreciou o mérito. E, não apre-ciando o mérito, não poderia seratacado pela rescisória, nos ter-mos do artigo 485 do Código deProcesso Civil. Da mesma formanão se valeram os impetrantes do

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Recurso Extraordinário porque,além de o mesmo não ter efeitosuspensivo, sua interposição im-portaria em renúncia ao presentemandado de segurança.

Finalmente, entendem os impe-trantes que o presente mandado desegurança tem apoio, também, empreceito constitucional (art. 153,3!, da Constituição Federal), umavez que o agravo de que não se co-nheceu foi interposto contra deci-são (doc. 8) que põe em risco a coi-sa julgada (doc . 1), uma vez quedeterminou retrocesso no procedi-mento, como se não tivesse sidoproferida decisão imutável e indis-cutível sobre o ponto de partida dalinha demarcanda.

A mim distribuído o presentewrit, proferi o despacho de fl. 133-TJ, deferindo a liminar requerida,pelos fundamentos ali expostos.

Solicitadas as informações de es-tilo, prestou-as no prazo o Exce-lentíssimo Senhor DesembargadorJesus de Oliveira Sobrinho, entãoPresidente da Turma Cível destecolendo Tribunal, nestes termos:

«Senhor Relator,Respondendo ao oficio n?

002/80, de 25 do corrente mês eano, temos a informar a V. Exa.o seguinte:

PreliminarmenteA decisão que se busca des-

constituir através da presente se-gurança foi proferida nos autosdo agravo de instrumento em quefiguram como agravante o Sr.Sérgio Pinho Mellão e sua mu-lher e como agravados HiroshiTakahashi e sua mulher, YukiTakahashi e José Floriano deFreitas e outros. Logo, não pode-rá haver julgamento válido, semque sejam intimados para inte-grar o processo aqueles a quem adecisão afetará mais diretamen-te.

A hipótese configura o litiscon-sórcio necessário unitário poisque a decisão a ser proferida nomandado de segurança alcança-rá, igualmente, a todos os que fo-ram partes no agravo de instru-mento.

Assim, inicialmente, requere-mos a V. Exa. que tome as provi-dências do art. 47, parágrafo únicodo Código de Processo Civil, jáque, nos termos do art. 19 da Lein? 1.533/51, aplicam-se ao man-dado de segurança as normasque regulam o litisconsórcio.

Aliás, a jurisprudência do Su-premo Tribunal Federal, em ma-téria de mandado de segurança,é pacifica no sentido de reconhe-cer a necessidade da intimaçãoda parte a quem o ato atacadobeneficia, como litisconsorte ne-cessário.

Ainda, como assunto prefaciai,não podemos concordar com aconcessão da liminar.

Não podemos porque, sobre seruma temeridade a presente segu-rança, o ato por ela atacado éuma decisão simplesmente decla-ratória negativa.

O v. acórdão objurgado limi-tou-se a não conhecer do agravode instrumento, entendendo queo despacho recorrido era simples-mente ordinatório.

Sendo uma decisão, repito, me-ramente declaratória negativa,ela esgota-se em si mesma, semproduzir qualquer outro efeito.Somente, seria de cogitar-se dasuspensão do ato atacado se eleenvolvesse um comando conde-natório ou mandamental. Enfim,parece-nos empresa difícil sus-pender a declaração contida noacórdão de que o agravo de ins-trumento era incabível. Tantoque, a presente segurança visaanular o acórdão invectivado, afim de que a egrégia Turma

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Civel conheça do agravo e o deci-da pelo mérito.

Por outro prisma, o impetranteconseguiu por uma via excepcio-nal o que não lhe facultava a viacomum, sempre mais ampla.Observe-se que o despacho origi-nário foi proferido, em 13 de ju-lho de 1978. Praticamente, doisanos depois, é que o impetrantealega, sem demonstrar, que taldespacho pode lhe causar pre-juízos e obtém, por via indireta,a sua suspensão.

A revogação da liminar é umimperativo necessário para quenão se desborde da pretensão doimpetrante, que é de anular umadecisão declaratória negativa.

A questão da inadmissibilidadedo mandado de segurança prefe-rimos tratá-la juntamente com omérito.

A segurança é totalmente in-cabível. A Súmula n? 268, Supre-mo Tribunal Federal, em plenovigor, reza que:

«Não cabe mandado de segu-rança contra decisão judicialcom trânsito em julgado».

O impetrante, se era capaz dedemonstrar qualquer ilegalidadedo v. acórdão guerreado, deveriater interposto recurso extraordi-nário para a Corte Maior.

Não o fez, porque o r. julgado,em nenhum passo, ofendeu a le-tra da lei federal.

Assim, a primeira condição pa-ra admitir-se o mandado de segu-rança é a de que o ato seja ilegalou praticado com abuso de po-der.

Ora, a decisão foi proferidanum procedimento regular, emque se obedeceram todos os trâ-mites legais, e com a qual con-cordaram as partes.

Não houve ilegalidade e nemabuso do poder.

Por outro lado ao reconhecercomo de mero expediente o des-pacho, também na parte em quedeterminou ao agrimensor asprovidências do art. 957, pará-grafo único, do Código de Proces-so Civil, o v. acórdão não feriuqualquer direito liquido e certodo impetrante, muito menos, de-rivado da coisa julgada.

A sentença proferida na açãodemarcatória e que estaria sendoviolada pelo despacho do juiz doprocesso, na verdade não dispen-sou a providência contra a qualreclama o impetrante.

Diz a r. sentença textualmente:«Transitada esta em julgado

volvam os autos conclusos paranomeação do agrimensor, peri-tos e respectivos suplentes,concedidos desde já o prazo decinco dias, a contar da nomea-ção e compromisso, às partes,para exibição de títulos, ofere-cimento de testemunhas e pro-dução de documentos que pos-sam esclarecer a exata confir-mação do imóvel e constituiçãode cada gleba, nos exatos ter-mos do art. 426 do CPC.»Desta forma, quando o MM.

Juiz diretor do Processo, comvistas ao novo Código de Proces-so Civil, determinou que o agri-mensor cumprisse o disposto noart. 957, parágrafo único do Códi-go de Processo Civil, nada maisfez do que impulsionar o proces-so.

O impetrante deseja que se co-loquem os marcos antes de se co-nhecer a linha demarcanda, con-trariando o que determinou aprópria sentença que julgou a de-marcatória?

É evidente que existe uma sen-tença e que ela deve ser respeita-da. Dizer, no entanto, que o des-pacho que determinou, de acordocom o art. 957, parágrafo único

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do Código de Processo Civilatual, as providências que eramrecomendadas nos artigos 426 eseguintes da Lei Processual revo-gada, e que já estavam ordena-das na sentença que julgou a de-marcatória, ofendeu a coisa jul-gada, é, certamente, não ter lidonem um nem o outro dos referi-dos provimentos.

Se no desdobramento do pro-cesso demarcatório, decisão judi-cial superveniente, contrariar asentença trãnsita em julgado, se-rá o caso de cogitar-se da hipóte-se tratada por antecipação nestemandado de segurança.

Ilustre Relator. A presente se-gurança não merece ser conheci-da, por estar totalmente divor-ciada da realidade. E o que espe-ramos como um imperativo dalei» (fls. 140 a 143-TJ).A inicial veio instruída com os

documentos de fls. 11 a 127-TJ,ressaltando-se, dentre eles, o pare-cer de fls. 100 a 125-TJ, da lavra doProfessor José Frederico Marques.

Pelo despacho de fls. 145-TJ, de-terminei a citação dos litisconsor-tes, expedindo-se para esse fim,carta precatória citatória.

Citados, manifestaram-se oslitisconsortes-impetrados HiroshiTakahashi e sua mulher, já qualifi-cados nos autos, alegando, em pre-liminar, descabimento do manda-mus, por implicar, segundo enten-dimento de Frederico Marques, emquebra do contraditório e dosprincípios mais elementares de de-fesa Assim sendo, nenhum direitoao remédio heróico têm os impe-trantes, eis que, enleados numa re-lação jurídica processual continua-tiva, legitimamente constituídanum processo ainda em curso,obrigados estão os impetrantes aaguardar que sobre ele, em cará-ter final e definitivo, se pronuncieo judiciário.

Ainda em preliminar, argúem aimpropriedade do presente man-dado de segurança, eis que os impe-trantes se insurgem contra acór-dão transitado em julgado, portan-to contra coisa julgada, coberta pe-la preclusão máxima, pois que, es-colhida a via excepcional, postou-se irrecorrido o venerando acórdãoda egrégia Câmara Cível, prolata-do no Agravo de Instrumento n?103/80. Ora, como o agravo de ins-trumento transferiu ao juizo adquem o exame da matéria cogita-da no r. despacho impugnado, dojuizo a que, aquele ato se tornou,também, inatacável, e a concessãoda segurança esbarraria com oenunciado da Súmula n? 268 doegrégio Supremo Tribunal Federal.

No mérito, afirmam os litiscon-sortes-impetrados que a sentençaproferida na primeira fase da de-marcatória extrapolou dos seus li-mites, eis que deixou de guardarforma, desconheceu prescrições le-gais expressas no anterior e noatual Código de Processo Civil ( ar-tigos 423 e 956), arrostou princí-pios, adiantou-se no tempo com omagistrado fazendo uso de faculda-des que só lhe seriam atribuídasem lei posterior (artigos 440 e 958do atual Código de Processo Civil),e até usurpou atribuições especiali-zadas em leis cometidas a outros,em especial ao agrimensor (art.423 do CPC revogado e do 956 doCPC vigente).

Contudo os impetrantes, ampara-dos na respeitável opinião do Pro-fessor José Frederico Marques, ex-ternada em minucioso pareceratravés do qual, usando e abusan-do de sua indiscutível condição dejurista insigne e sem exibir ne-nhum título no campo da engenha-ria ou da agrimensura, deslocoupara o terreno jurídico questõeseminentemente técnicas, afetas aoutras especialidades.

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Todavia os litisconsortes-impe-trados, recorrendo à palavra aba-lizada de um técnico no campodas ciências exatas, o ProfessorSérgio da Costa Sampaio, podemafirmar alto e em bom som que la-borou em erro o insigne juristaprofessor José Frederico Marquesao afirmar encontrar-se implicita-mente traçada, na r. sentença de1? grau, a linha divisória entre aspropriedades de Hiroshi Takahas-hi e sua mulher e Sérgio PinhoMellão e sua mulher. Isto porque éa linha divisória entre as duas pro-priedades o último apanhado nocômputo de um levantamento, de-pendendo de mais cinco tomadasanteriores. Demais, o que ocorreuem relação à sentença de primeirograu foi apenas preclusão formal enão substancial, tendo em vista anatureza da decisão proferida.

Quanto ao agravo de instrumentointerposto pelos impetrantes e nãoconhecido pela egrégia TurmaCível deste Tribunal, entendem oslitisconsortes-impetrados que emverdade falta àquela iniciativaapoio táctico e jurídico, posto queinterposto contra despacho de me-ro expediente.

Ressalte-se, outrossim, que naação demarcatória o fenômeno dacoisa julgada se verifica após pro-latada a sentença final definitiva,isto é, da sentença homologatória.Antes dela, as partes permanecemvinculadas por relações jurídicascontinuativas. Em conseqüência,em se tratando de sentença que de-cide conflitos de interesses envol-vendo relações jurídicas continua-tivas, lícito é ao magistrado, porprovocação de qualquer das par-tes, ou mesmo por ambas (art. 471,I, do CPC), ou por iniciativa pró-pria, promover reajustes na reso-lução introdutória, frente a moti-vos de fato ou de direito que a tor-naram, subseqüentemente, desa-justada da realidade.

A contestação veio instruída dosdocumentos de fls. 338 a 417-TJ,ressaltando-se dentre eles parece-res dos Professores Ronaldo CunhaCampos (fls. 369 a 396) e Sérgio daCosta Sampaio (fls. 399 a 406-TJ).

A douta Procuradoria-Geral daJustiça, em parecer da lavra doDr. David Rosa Barbosa, argüiu,em preliminar, o descabimento doremédio heróico, por dois funda-mentos: primeiro, porque a inicia-tiva se propõe a atacar decisão ju-dicial contra a qual está previstaoutra modalidade, segundo pres-creve o art. 5? da Lei n? 1.533/51;segundo, porque não se vislumbra,na hipótese dos autos, a existênciade direito líqüido e certo, sendoque o mandado de segurança nãose destina a ensejar melhor inter-pretação da lei.

No mérito, pugna pela improce-dência do writ, por entender que oacórdão atacado tem amparo nalei e na jurisprudência dos nossostribunais, não se vislumbrando, nahipótese, prejuízo irreparável ajustificar o cabimento do manda-mus.»O mandado de segurança foi inde-

ferido pelo Plenário do Tribunal aquo, por maioria de votos, estando oacórdão assim ementado (fls.491/492):

«Mandado de segurança. Açãodemarcatória. Agravo de instru-mento. Decisão de Turma Simplesnão conhecendo do agravo por en-tender ter sido o mesmo interpostocontra despacho de mero impulsoprocessual. Pretendida vulneraçãoao princípio da imutabilidade dacoisa julgada. Inocorrência. Writdenegado. 1. Sob a égide do Códigode Processo Civil de 1939, a senten-ça proferida na 1? fase da ação de-marcatória apenas julgava a pro-cedência ou não da ação, ficandopara a 2! fase, no caso de proce-dência e após a realização dos tra-balhos técnicos necessários, a fixa-

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ção do ponto de partida e a deter-minação do traçado da linha de-marcanda. 2. Na sistemática doatual Código de Processo Civil, asentença proferida na 1? fase damesma ação, além de decidir so-bre o seu cabimento ou não, deve-rá ainda, no caso de procedência,fixar o ponto de partida da demar-cação e determinar o traçado da li-nha demarcanda (artigos 957 e 958do CPC). 3. No caso sub judice, asentença da primeira fase, proferi-da sob a égide do Código de Pro-cesso Civil de 1939, embora se te-nha referido à fixação do ponto departida e à determinação da linhademarcanda, em verdade nem fi-xou aquele nem determinou esta,porque ainda não dispunha o Juiz,naquela altura, dos dados técnicosindispensáveis a esta iniciativa.Por isso, o despacho que determi-nou a execução das providênciascontidas no artigo 957 do atual Có-digo de Processo Civil, embora in-dispensável ao prosseguimento dofeito, não passa, contudo, de despa-cho de mero impulso processual,sem qualquer conteúdo decisório,contra o qual não cabe nenhum re-curso. 4. Nestas condições, se nasentença da 1! fase o Juiz não po-dia fixar o ponto de partida nemdeterminar o traçado da linha de-marcanda, porque ainda não dispu-nha na oportunidade dos dados téc-nicos indispensáveis, inocorreu en-tão, em relação a essas partes dasentença, o fenômeno da coisa Jul-gada.»Os impetrantes interpuseram re-

curso extraordinário, com apoio noart. 119, HL letra a, da Constituição,alegando que o acórdão ofendeu oart. 153, {} 3?, da Lei Maior, e negouvigência ao art. 504, do CPC (fls.494). Sustenta-se que, na vigência doCódigo de Processo Civil de 1939, oDr. Juiz de Direito da comarca deDourados, julgando procedente aação demarcatória aforada por Hi-roshi Takahashi, ora recorrido, con-

tra os ora recorrentes, «determinouque se procedesse à demarcação tetal dos imóveis, estabelecendo qual oponto de partida da linha demarcan-da.» Afirma-se que a sentença tran-sitou em Julgado, após confirmadaem grau de apelação, sendo, posteriormente, julgadas improcedentesduas ações rescisórias. Aduz-se, norecurso extraordinário (fls. 501/502):

«Conclui-se, portanto, que a sen-tença apelada, e que passou emJulgado, está válida e totalmenteeficaz, e tem conteúdo análogo aoprevisto no art. 958, do vigente Có-digo de Processo Civil, uma vezque nela se declarou procedente aactio finium regundorum, comotambém se determinou o ponto departida da linha demarcanda.

Não importa que o MM. Juiz te-nha fixado o ponto de partida dademarcação, sem atender a forma-lidades exigidas pelo anterior Códi-go de Processo Civil, ou antecipan-do-se quanto ao momento procedi-mental para assim decidir. De talmodo ficou intangível essa anteci-pação, que o próprio Juízo adquem a entendeu imutável, ao jul-gar a apelação que os Autores in-terpuseram. A fortiori essa imuta-bilidade se tornou ainda mais ro-busta, estando assim de todo con-solidada, com a superveniência dacoisa Julgada. Por esse motivo,inadmissível será qualquer recuono procedimento, para a prática deatos que possam afetar aquilo queficou irrevogavelmente determina-do na sentença agora escudada,quanto a seus efeitos imutáveis, nares ludicata».

Noutro passo, acrescentam os re-correntes (fls. 504/506):

«Se havia decisão passada emjulgado, determinando qual o pontode partida da demarcatória, — ir-relevante é que tal decisão trou-xesse, em seu conteúdo, pronuncia-mento de ordem técnica indevida-mente antecipado.

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Por isso mesmo, o Dr. Juiz deDireito de Dourados, a nenhumpretexto, poderia fazer retrocedero procedimento para elucidaçõesde ordem técnica que antes não te-riam sido colhidas.

De outra parte, o despacho comque o MM. Juiz determinou esseretrocesso quando ordenou ao agri-mensor que atendesse ao determi-nado no art. 957, do Código de Pro-cesso Civil, ainda que destinado aimpulsionar o processo, importavaem desconhecer o que ficara sobe-ranamente decidido, com o quecausou gravame ao recorrente.Sendo assim, a qualificação que selhe deu, de mero despacho de ex-pediente insuscetível de ser objetode recurso, é absolutamente errô-nea e fruto de inadmissível enten-dimento ou interpretação do art.504, do Código de Processo Civil.

Despacho suscetível de causarprejuízo ou gravame a uma daspartes pode sempre ser objeto derecurso, pois não deve ser caracte-rizado como simples despacho deexpediente (cf. José Alberto dosReis, Comentários ao Código deProcesso Civil, 1945, vol. 2?, págs.186 e 187; E Moniz Aragão, Co-mentários ao Código de ProcessoCivil, 1979, vol. II, n? 38, pág. 57;José Carlos Barbosa Moreira, Co-mentários ao Código de ProcessoCivil, 1978, vol. V, pág. 400).

A decisão do colendo Tribunal aquo, ao aplicar, ao caso, o art. 504,do Código de Processo Civil, foicom a devida vênia, muito forçadae desacertada, porquanto em ha-vendo perigo de gravame a direitosubjetivo das partes, a recorribili-dade é sempre a regra. Será sem-pre preferível forçar a recorribili-dade, do que a irrecorribilidade,como ocorreu no presente caso.

Na verdade, tal decisão ao apli-car tão erroneamente o art. 504, doCódigo de Processo Civil, acaboupor lhe negar vigência, pois esse

texto legal, a contrário senso, esta-tui que cabe recurso quando, comoIn casu, o despacho não é de meroexpediente.

Não conhecendo do agravo inter-posto, o colendo Tribunal a quo,deu ensejo a que se atentasse con-tra a coisa julgada, razão pelaqual os recorrentes tiveram de lan-çar mão do mandado de seguran-ça, a fim de conseguir a defesa deseus direitos, escudados na tutela amandamento constitucional que fo-ra vulnerado.

5. Se ao entender inadmissível oagravo de instrumento, o colendoTribunal a quo sacramentou a vio-lação constitucional cometida emprimeira instância, — ao julgar opresente mandado de segurançadeixou patente e manifesta essaviolação.

Basta dizer que no acórdão sejustifica o despacho do Juiz de Pri-meira Instância, mediante a apli-cação imediata de normas do vi-gente Código de Processo Civil,com desrespeito à res iudicata.»Por último, sustentam os recorren-

tes, na fundamentação do apelo ex-tremo (fls. 512/513):

«8. Como o acordão recorridonegou a existência da coisa julga-da, o presente recurso extraordiná-rio tem por objeto o reexame e re-forma do mencionado acórdão, pri-macialmente, para que se declareexistente a res ludicata e para quese revogue o despacho do Dr. Juizde Direito de Dourados, contra oqual se interpôs agravo de instru-mento, de que não se conheceu noegrégio Tribunal de Justiça de Ma-to Grosso do Sul.

A rigor, o recurso deveria terpor objeto o não conhecimento doagravo, — decisão essa que, alémde contrariar regras da legislaçãofederal ordinária, pôs em perigo aimutabilidade de sentença passadaem julgado, com aplicação retroa-

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tiva de normas da lei processual,tudo ao arrepio do art. 153, § 3?, daConstituição Federal.

Todavia, quer parecer-nos que,diante do teor e conteúdo do acór-dão recorrido, conhecido que seja orecurso extraordinário, caberá,com a devida vênia, ser reformadopor inteiro o citado acórdão,declarando-se que a sentença quejulgou procedente a demarcatória,fez coisa julgada, no tocante á fi-xação do ponto de partida da de-marcação.

Se assim não entender o ExcelsoPretório, pede-se que se dê provi-mento ao recurso, a fim de deter-minar que o colendo Juizo a quo,conheça do agravo de instrumentoe o decida.»

O recurso não foi impugnado (fl.516), manifestando-se a Procurado-ria-Geral da Justiça do Estado de Ma-to Grosso do Sul pelo não cabimento dairresignação extrema (fls. 520/522).

O despacho presidencial, de fls.526/527, indeferiu o recurso extraor-dinário, afirmando (fl. 527):

«Por conseguinte, penso que a in-terpretação dada ao art. 504 doCPC não extrapolou os limites danormalidade, não se podendo falarem negativa de vigência ao dispo-sitivo processual em tela. O apeloextremo por este fundamento esta-ria vedado pelo enunciado da Sú-mula n? 400 do egrégio STF.

Por outro lado, parece-me queoutro óbice insuperável existe notocante à admissibilidade do recur-so extraordinário manifestado,porquanto oriundo é de mandadode segurança que versa sobre pro-cesso demarcatório (art. 325, III,c, do RI do egrégio STF), e em ca-sos que tais impõe-se a argüiçãoprévia de relevância de questão fe-deral, o que não aconteceu in caso.E no que tange à alegada ofensaao texto do art. 153, § 3?, da CF, Is-

so não foi demonstrado e a matérianão foi prequestionada no acórdãorecorrido, incidindo ai o veto daSúmula 282.»Subiu, entretanto, o apelo derra-

deiro, em face do provimento quedei ao agravo de instrumento, paramelhor exame (fls. 270, dos autosapensos).

Razões dos recorrentes, às fls.535/543, e dos litisconsortes recorri-dos, às fls. 545/554, pronunciando-sea Procuradoria-Geral da Justiça doEstado pelo não conhecimento do re-curso, ou, se conhecido, por seu des-provimento (fls. 562/563).

A Procuradoria-Geral da Repúbli-ca, em seu parecer, de fls. 570/577,opinou no sentido do não conheci-mento do recurso extraordinário.

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Em ação demarcatória, adecisão originária de primeiro grau,trazida a esta Corte, indeferiu pre-tensão dos ora recorrentes de im-plantação dos marcos, ut art. 959, doCPC, sustentando que a linha demar-cando já fora definida judicialmente,em sentença trânsito em julgado. Asúplica de expedição de mandado,determinando a implantação dosmarcos, foi, assim, indeferida. ACorte a quo à sua vez, não conheceudo agravo de instrumento interpostodesse despacho. A seguir, já transi-tada em julgado o acórdão relativoao agravo, os recorrentes impetra-ram mandado de segurança, para oPlenário do mesmo Tribunal, contraa referida decisão de sua TurmaCível. Deixaram, pois, os recorren-tes, de interpor recurso extraordiná-rio, vindo atacar, meses passados, adecisão, por via de mandado de se-gurança, perante a mesma Corte.Com efeito, publicado o acórdão daTurma, não conhecendo do agravo

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de instrumento, a 21-12-1979, somenteem 16-4-1980, aforou-se o presentemandado de segurança, quando, des-sa maneira, já transitara em julgadoa decisão da Turma (fl. 571).

Essa quaestio juris preliminar, re-levante, quanto ao cabimento domandado de segurança, na espécie,posta nas informações e na contesta-ção dos litisconsortes ora recorridos,embora o verbete 268 da Súmula,não mereceu exame especial da Cor-te a quo, nem embargos de declara-ção dos litisconsortes, que, dessemodo, se conformaram com o ares-to. Não conheceu do mandado de se-gurança, apenas, o ilustre Desem-bargador Pereira Rosa, às fls.487/488, acolhendo dita prelimlinar.

Assim sendo, esse ponto não cabe,aqui, ser apreciado, de vez que, nãodiscutido no acórdão, dele não houverecurso.

2. De outra parte, o tema que, naação de demarcação, ensejou, emambos os graus, a decisão impugna-da pelos recorrentes, não envolvediscussão de domínio. Pretendeu-se,sem sucesso, a expedição de manda-do, determinando a implantação demarcos, ut art. 959, do CPC em vi-gor, porque a linha demarcanda jáestaria definida na sentença, quedeu pela procedência da ação, aindana vigência do Código de ProcessoCivil de 1939, de acordo com seu art.426.

Sendo o acórdão recorrido anteriorà Emenda Regimental n? 2/1985,propõe-se, desde logo, assim, discus-são em torno da admissibilidade dorecurso extraordinário, em face dosóbices dos incisos V, letra c, e III,do art. 325, do RISTF, na redaçãoprecedente à Emenda Regimental n?2/1985. Invocam os recorrentes, en-tretanto, ofensa pelo acórdão ao art.153, § 3?, da Constituição, sustentan-do haver a decisão vulnerado a coisajulgada, decorrente da sentença quedeu pela procedência da ação de de-

marcação e, desde logo, fixou o pon-to de partida da linha demarcanda.Diante da coisa julgada, acrescentao recurso, não seria possível a nega-tiva constante do despacho judicialde primeiro grau, que desse modo,lhes causou dano reparável por agra-vo de instrumento; ao invocar o art.504, do CPC, para não conhecer doagravo, a Corte a quo, em o aplican-do indevidamente, alegam, negou-lhe vigência.

Quanto ao art. 153, § 3?, da LeiMaior, afirmou o despacho presiden-cial, que não admitiu o recurso, nãoestar regularmente prequestionado,invocando, em conseqüência, a Sú-mula 282.

Na inicial do mandado de seguran-ça (fl. 9), os impetrantes alegaram,de explícito, como apoio do pedido,também, ofensa ao art. 153, § 3?, daConstituição, «uma vez que o agra-vo, de que não se conheceu, foi inter-posto contra decisão que põe em ris-co a coisa julgada, uma vez que de-terminou retrocesso no procedimen-to, como se não tivesse sido proferi-da decisão imutável e indiscutível,sobre o ponto de partida da linha de-marcanda». O acórdão, à sua vez, norelatório, referindo-se aos fundamen-tos da impetração, de expresso, alu-de ao art. 153, § 3?, da Constituição(fl. 451). Embora, em realidade, naparte dispositiva do aresto recorridonão se faça alusão explícita ao dispo-sitivo maior em apreço, não menosexato é que toda a fundamentaçãodo julgado recorrido se desenrolouno sentido de demonstrar que o des-pacho impugnado não atentou contrao que ficara, efetivamente, decididona sentença, ao dar pela procedênciada ação demarcatória. Saber se ha-via coisa julgada, quanto à definiçãoda linha demarcanda, sendo in-cabível a aplicação do art. 957, do vi-gente Código de Processo Civil, cum-prindo, em conseqüência, proceder,de imediato, na forma do art. 959, domesmo diploma, como pretendem os

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impetrantes, constituiu o itinerárioseguido na parte dispositiva do acór-dão.

Tenho, destarte, como presques-tionado o tema da coisa julgada, emface do art. 153, 3?, da Constitui-ção.

Passo, assim, a examinar o méritodo recurso.

3. Acerca da significação do pon-to de partida ou reconhecimento domarco primordial, no processo de-rnarcatório, anotou Afonso Fragã:

«A determinação do ponto departida da medição é um dos atosmais importantes do processo divi-sório ou da demarcação, pois sen-do irregularmente determinado ouestabelecido em posição topográfi-ca diversa da assinalada nos títu-los e da reconhecida e testemu-nhada pela fama constante da vi-zinhança, a medição servirá deveículo para se perpetrar atenta-dos contra a propriedade alheia etanto mais graves quanto o marcoprimordial se afastar do verdadei-ro ponto em que deve ser fixado. Epor essa razão que a lei sempreprevidente, em vez de atribuir essadeterminação ao agrimensor a co-mete exclusivamente ao Juiz. Es-te, no caso de dúvida em relaçãoao ponto topográfico do marco pri-mordial, poderá na mesma audiên-cia ouvir testemunhas oferecidaspelas partes, examinar com o ne-cessário cuidado os documentos,que elas ofereceram com alega-ções verbais ou escritas, mandardar vista dos autos aos peritos pa-ra se pronunciarem em relação aoincidente e, assim, devidamenteesclarecido, decidirá com conheci-mento perfeito da questão.» (In Di-visão e Demarcação das TerrasParticulares, pág. 222).

certo que, no regime do Códigorevogado, essa definição haveria defazer-se na fase de execução do pro-cesso demarcatório, de acordo com

seus arts. 427, 428 e parágrafo único,e não no processo de conhecimento,como previsto no Código em vigor,art. 958, que preceitua:

«Art. 958. A sentença, que jul-gar procedente a ação, determina-rá o traçado da linha demarcan-da.»No regime do CPC de 1939 — art.

428 e parágrafo único — nesta opor-tunidade, o juiz, tendo em vista o re-latório e o parecer do agrimensor eapós exame e conferência dos títu-los, determinava o ponto de partida,fundamentando a decisão.

Com efeito, dispunham o art. 428 eparágrafo único, do CPC de 1939:

«Art. 428. A vista das informa-ções das testemunhas e dos títulos,o agrimensor procederá às diligên-cias necessárias à verificação doponto de partida para a mediçãodo perímetro dividendo ou demar-cando, ou ao reconhecimento domarco primordial, rumos e vestí-gios que sirvam para fixar a basedas operações de demarcação,do que tudo apresentará ao juiz,relatório e parecer fundamentado.

Parágrafo único. Entregues pe-lo agrimensor o relatório e o pare-cer, e intimadas as partes, o juizprocederá, em audiência especial,na sede do juízo:

ao exame e conferência dostítulos;

à determinação do ponto departida, fundamentando a sua de-cisão.»Dessa maneira, tanto no sistema

do CPC de 1939 (art. 428, parágrafoúnico, letra b), quanto ao regime doCódigo atual (art. 958), a determina-ção do ponto de partida ou o traçadoda linha demarcanda é da competên-cia do Juiz, que, à evidência, seorientará pelos trabalhos do agri-mensor e demais elementos de pro-va, mas, diante do livre convenci-mento que a lei lhe assegura, não es-

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tá obrigado a aceitar as conclusões aque chegar esse profissional. Nessesentido, anota Carvalho Santos, inCódigo de Processo Civil interpre-tado, 5? ed., 1958, vol. V, págs. 325/326:

«No sistema tradicional de nossoDireito, o trabalho técnico para afixação do ponto de partida, assimcomo da medição e delimitação doimóvel dividendo ou demarcando,é da exclusiva responsabilidade doagrimensor. Mas, apesar de tudoisso, não é ele o juiz da causa, por-que, em verdade, não apura o di-reito das partes.»E, noutro passo, acrescenta:

«Ao juiz, entretanto, cabe profe-rir a decisão final sobre a localiza-ção do ponto de partida, devendo,por exigência da lei, fundamentara sua decisão, resolvendo sobre alegalidade dos títulos e qual devaprevalecer, em caso de divergên-cia.

Para melhor esclarecimento seu,poderá o juiz ouvir as partes, nocurso da audiência, e também oagrimensor, decidindo afinal, de-pois de bem esclarecido, de acordocom o seu prudente arbítrio, que sedê principio à divisão ou demarca-ção, a partir do ponto indicado peloagrimensor, ou de outro qualquer,que lhe pareça mais certo.»De qualquer sorte, estabelecido,

na sentença a que se refere o art 958,do CPC atual, ou no instante do art.428, parágrafo único, do CPC revoga-do, o traçado da linha demarcanda,ou o ponto de partida, certo está quenão caberá, de novo, discutir esseaspecto da controvérsia, enquantosubsistente a decisão transita emjulgado.

4. Pois bem, no caso concreto, a29-3-1972, proferiu-se a sentença, deque decorreria coisa julgada, em fa-vor dos impetrantes, dando pela pro-cedência em parte da ação demarca-tória (fl. 19). Vigorava, então, o Có-digo de Processo Civil de 1939.

Da sentença em referência, desta-co, às fls. 12/13:

«Verifica-se pelos autos que osAA. pedem pelas vias ordinárias ademarcação de suas divisas comos RR., e conseqüentemente inde-nização e reintegração de posse naárea invadida.

Alegam terem comprado 6.450hectares de terras de Ginez PauloCorrêa e sua mulher, que por suavez adquiriram do Estado de MatoGrosso, através de uma cessão dedireitos lavrada no Cartório do 1?Oficio de Campo Grande de Arlin-do Leite de Figueiredo, que haviarequerido dita gleba, e que no ter-reno inexiste essa totalidade dehectares por terem suas terras si-do invadidas pelos RR.

Estimam essa invasão em 3.000hectares.

A confrontação indicada pelosAA., relativa à sua gleba, assimpode ser expressada:

«O MP1 comum com terras dolote Canadá, do Sr. José AlbertoBaroni, fincado a 15 metros domeio do leito do Rio Curupay,margem direita e a 625 metrosacima da confluência do CórregoCanadá, no Rio Curupay; o MP2ou estação 3, comum com terrasdevolutas, cravadas a 15 metros domelo do leito do Rio Curupay,margem direita, em diversos ru-mos e direções entre o MP I e oMP II, um trecho do Rio Curu-pay desde terras do lote Canadá,de José Alberto Baroni até umponto pouco abaixo de sua cabe-ceira. O MP III ou estação 4, co-mum com terras devolutas, a6.820m do MP III ao rumo S 5?40'E.; o MP IV ou estação 6, co-mum com terras devolutas e ter-ras do Lote Rodeio de FelicianoVieira Benedetti, a 4.000m. doMP IV, ao rumo S 8°4'E; o MPVI ou estação 7, com terras doLote Rodeio do Sr. FelicianoVieira Benedetti e terras do lote

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Canada de José Alberto Baroni, a1.520m do MP V, ao rumo560°10'E e a 14.200m. do MP I, aorumo de N26P50'E.»Os RR., por sua vez, em contes-

tação e afinal, alegam que nada in-vadiram, e que os AA. são caren-tes de ação demarcatória porqueexistem divisas materializadas erespeitadas há muito e assim in-cabível a finium regundorum.

Alegam mais que cabível seria arelvindicatória, no caso de real in-vasão, vez que não há confusão delimites, nem necessidade de avi-ventação, ou renovação de marcos.

Trata-se no presente processo,nesta fase, tão-somente, de se con-vir da procedência ou não da ação;quais sejam, os requisitos necessá-rios à sua propositura, analisadossob o prisma de seus elementosextrínsecos, consoante o determi-nado pelo art. 426 do CPC.

Tendo a ação demarcatória duasfases processuais distintas, na pri-meira das quais só se cogita de sa-ber se o caso comporta ou não apretendida demarcação, pode o jul-gador nesta fase recorrer, a todosos meis idôneos de prova para fir-mar sua convicção». (Ac. ungi/limeda 2! Cãmara do TJ do Rio de Ja-neiro, relator Des. Lopes Martins,In Alexandre de Paula, vol. 31,pág. 1531).

Em função desse entendimento,que exterioriza o principio do livreconvencimento indicante, e face àcomplexidade da matéria, que en-volve grandes interesses esse Juizfoi pessoalmente verificar no terre-no as alegações dos autores eréus.»Noutro passo, registra-se (fl. 19):

«Entendem os RR., em suas con-testações e falas, que, se entre aspropriedades confinantes, existemdivisas, marcos ou cercas cons-truídas, desnecessária é toda equalquer operação tendente a avi-

ventar ou restaurar as linhas divi-sórias. Não seria caso de demarca-ção, e sim reivindicação.

Data vênia, parece-me que esseprincipio não pode ser entendido, eaplicado literalmente. E certo que,no caso sub judice, há uma cercaentre os prédios confinantes. Mas oque se alega, é que a cerca nãocoincide com a linha, de onde aconfusão que se pretende dissipar.Os AA. não reclamam esta ouaquela porção de terras, porventu-ra ocupada pelos RR. O que plei-teiam é a exata definição da linhadivisória, para fazer cessar a in-certeza e prevenir futuras e even-tuais invasões de sua propriedade,o que evidentemente somente sepode conseguir por via de demar-cação.»As fls. 16/17, aduz o magistrado,

em sua decisão:«O documento constituinte do jus

in re dos AA., (fls. 14/15), nos falada venda da gleba feita por GinezPaulo Corrêa a Hiroshi Takahashi,e diz taxativamente ter sido feita«com os respectivos marcoscolocados».

Assim podemos dizer que há con-fusão de limites e existe, documen-talmente, necessidade de aviventa-ção de marcos, porque, ao menoslegalmente, existe declaração desua existência.

Os testemunhos de fls. e fls. nosdizem, de modo categórico e con-vincente, o que também é afirma-do pelos srs. peritos, da existênciade marcos de divisa no confrontoda gleba dos AA. com a do grupoBenedetti.

A planta elaborada pelo peritodesempatador mostra mesmo 3marcos antigos por ele encontra-dos na divisa com o grupo Bene-detti e no ponto de confluência des-ta com a do grupo Melão.

A carta de fl. 23, escrita porquem já não era dono, e 4 anos

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após a alienação da gleba, emborademonstrando retidão de caráterde Jeremias Lunardelli, como quero advogado signatário da constes-tacão de fls, ao propor acordo emedição das glebas, demonstra aexistência, por fas ou nefas, de dú-vidas quanto á fixação dos limtes.

As alegações do grupo Melão eBenedetti de que a divisa está ma-terializada no solo através de, noprimeiro caso, por cerca e estradade acesso à Fazenda Ajuricaba, eno segundo por cerca de divisacom marcos antigos, e que tais di-visas estão respeitadas como taishá muito, apenas vem reforçar oentendimento da necessidade dademarcatória porque afirma aexistência de marcos, passíveis derestauração e aviventação. A es-trada e cerca, no caso Melão, res-peitada como divisa, não obsta afátua' regundorum porque esseprocessado já conta com mais de10 anos de existência, em flagrantelibelo contra a Justiça de nossaterra. E, ao tempo da interposiçãodo presente processo — 1.962 — re-cente era a abertura e destoca-mento da estrada, com construçãotambém recente da referida cerca.

Assim é que entendo ser necessá-ria a demarcatória.

Aliás, necessário mesmo, a meuver, para solucionar em definitivoa pendência é a demarcação totalda gleba originária, que deu as 3filiações principais, relativa aosgrupos A.A. Melão e Benedetti, composterior divisão proporcional daterra realmente existente, tendoem vista as áreas constantes dostítulos expedidos pelo Estado, e is-to porque da peritagem se concluique os trabalhos de campo quandoda realização das plantas iniciaisnão foram feitos, e tão-somenteelaboradas plantas em prancheta,todas pelo mesmo profissional. Oconjunto das 3 glebas se limita emacidentes geográficos fixos, com-

preendendo a região entre os RiosGurupay e Laranj ai, e para con-seguir-se as medidas constantesdos títulos ter-se-ia de afastar o rioLaranjal por cerca de 5 a 6 kilôme-tros.»A questão, que vem ensejando o

debate, ora em exame, teve a se-guinte apreciação na sentença (fls.17/19):

«3. O ponto cruciante da de-manda, a meu ver, é a localizaçãodo Córrego Canadá que afirmamos AA. terem os RR. o trocado peloAjala-Cuê. Fixado este, o Canadá,tudo o mais se resolve facilmente,porque todas as linhas de todas asescrituras se amarram na inter-secção deste com o Curupay, sendocomum a divisa dos lotes do grupoAA. e Melão.

A meu ver, e assim o decido, oCanadá é o primeiro afluente dorio Curupay, da margem direita, ecomo tal deve ser considerado pa-ra ponto inicial da demarcatória.

E, a esta conclusão cheguei, por-que:

Todos os documentos apre-sentados mostram um únicoafluente do Curupay, do lado direi-to, desde a sua nascente até oinício das propriedades em litígio;

A planta do Dpto. de Terrasque acompanha o jus in re dos AA.somente fala num Córrego, à direi-ta, subindo o Curupay até a suanascente: O Canadá;

A planta apresentada pelosAA. às fls. 38 também fala no Ca-nadá como único á margem direi-ta;

A planta do grupo Melão,também fornecida pelo Dpto. deTerras, também feita pelo mesmoagrimensor que elaborou a dos AA.e grupo Benedetti, Sr. use AraújoSouza, de fls. 133, fala também noCanadá como único afluente àmargem direita. Inexiste outroafluente que possa ser o Ai ala-Cuê,

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como querem os AA. O seguinte,na margem direita, é o Tapui.

Pelos depoimentos de fls. efls., e também pelo mapa do Gal.Rondon vê-se que é o Canadá o pri-meiro da direita.

Os depoimentos também nos di-zem que o nome Mala-Cuê é o ori-ginário do Guarani e significa Mo-radia do Mala, tido este como fun-cionário da Mata Laranjeira, e quemorava à margem esquerda doCurupay, onde hoje é a FazendaAjuricaba, à margem de uma nas-cente.

E, tirando toda e qualquer dú-vida, fui pessoalmente ao local, ve-rificando in loco, o estado da de-manda, como já dito anteriormen-te, e constatei que o Córrego Cana-dá, tido como primeiro afluente dadireita é suficientemente caudalosopara não ser confundido como sim-ples nascente, e ocorre a existên-cia da Arrieira (estrada carreteirada Mata Laranjeira) e da ponte re-ferida pelas testemunhas de fls. efls. A canhada, tida esta como pas-to natural existente ás margens doCórrego, em forma de braço, oacompanhando, existe, bem pro-nunciada. Acompanhando o Tapui,que é o segundo Córrego da mar-gem direita, também ela existe,mas é uma Canhada acanhada.

Vi ai configurado e conferido odepoimento do ex-Governador daProvíncia de Amabai, que se coa-duna, à perfeição, com o levanta-mento aerofotogramétrico de fls. efls..

11) verbis«... que o arroio Canadáfoi denominado Canhadas pelo de-poente, palavra que vem de Canho,cano; que se entende por Canhadatoda abertura no mato em forma detubo ou pequeno braço de campoacompanhando arroio, formado depasto nativo... que pode dizer que oCanadá é o primeiro afluente damargem direita do arroio Curu-

pay;... que no local perto do Córre-go Canhada ainda existe a Arrieiraou seja a estrada de burros por on-de passava a erva; que não sabe alocalização do Córrego Tapui eMonteiro, sabendo entretanto que oVitória fica do lado esquerdo, e oMala-Cuê deve se localizar de on-de ficava a casa do capataz de no-me Mala, do lado esquerdo do Cu-rupay, perto de sua nascente».

Existem também a cerca e a es-trada de acesso à Fazenda Ajuri-caba, tida como divisa, segundo in-formações há 10 anos entre AA. eRR. Melão.

g) Também o confronto do le-vantamento aerofotogramétrico defls. com o mesmo do Gal. Rondon eos demais elementos acima descri-tos nos leva àquela conclusão, con-siderado Rondon bem perto da per-feição, porque se vê, perfeitamen-te, a ocorrência da Ganhada. Vê-seainda ser a ocorrente no primeiroafluente (Canadá) bem maior epronunciada que nos demais.»Em sua parte conclusiva, a senten-

ça estabeleceu, nestes termos (fls.19):

«Assim é que considerando tudoque dos autos consta, e deixandopara análise posterior os pedidosconsubstanciados na inicial, Infine, relativos à reintegração, inde-nização e nulidade de transcrição,julgo procedente em parte o pedidopara determinar se proceda à de-marcação total dos imóveis, consi-derando, outrossim, o Córrego Ca-nadá como sendo o primeiroafluente do rio Curupay, pela mar-gem direita.

Transitada esta em julgado vol-vam os autos conclusos para no-meação de agrimensor, peritos erespectivos suplentes, concedidodesde já o prazo de cinco dias, acontar da nomeação e compromis-so, às partes, para exibição de títu-los, oferecimento de testemunhas eprodução de documentos que pos-

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sam esclarecer a exata confirma-ção do imóvel e constituição de ca-da gleba, nos exatos termos do art.426 do CPC.»

Dessa sorte, restou, efetivamente,afirmado, na sentença, ser o CórregoCanadá o primeiro afluente do RioCurupay, pela margem direita (fls.19), havendo sido proclamado, ain-da, ás fls. 18: «A meu ver, e assim odecido, o Canadá é o primeiroafluente do rio Curupay, da margemdireita, e como tal deve ser conside-rado para ponto inicial da demarca-tória.»

5. O acórdão recorrido não aco-lheu, todavia, a alegação dos impe-trantes, ora recorrentes, quanto ahaver sido determinado, na senten-ça, o ponto inicial da demarcatória,em face dos termos acima referidos.

Está no aresto impugnado, às fls.478/480, verbis:

«De indagar, então, se seriapossível ao agrimensor e aos arbi-tradores desincumbirem-se dassuas respectivas tarefas, nesta se-gunda fase, sem os trabalhos técni-cos de que fala o artigo 957 doatual Código de Processo Civil.

A resposta é óbvia, posto que seafigura evidente não ser viável aoAgrimensor determinar o ponto departida, através do marco primor-dial, bem assim fixar os marcoscondutores ou intermediários colo-cados ao longo da linha demarcan-da, e ainda o marco terminal ondefinda esta linha, sem os dados téc-nicos necessários.

Resta indagar, por isso, se no ca-so dos autos, a sentença de primei-ro grau, proferida na primeira faseda ação demarcatória, realmentefixou o ponto de partida da 4 demar-cação e, implicitamente, a linhademarcanda, segundo o sentidoque é atribuído a esta segunda ex-pressão pelo artigo 957.

No meu modo de ver, ao contrá-rio do que afirmam os impetran-tes-promovidos, o MM. Dr. Juiz de1? grau não fixou marco inicial, omarco de partida da demarcatória,nem indicou o rumo ou o traçadoda linha demarcanda, mas apenasestabeleceu, no seu entender, oponto inicial dos trabalhos da de-marcatória, que seria a localizaçãodo «Córrego Canadá». Localizadoeste, a partir dele seriam iniciadosos trabalhos técnicos objetivandoestabelecer o ponto de partida dademarcação com que proporciona-ria os dados técnicos indispensá-veis aos trabalhos da segunda fase.

Com efeito, eis como a respeitose expressa o MM. Juiz na senten-ça prolatada:

«O ponto cruciante da deman-da, a meu ver, é a localização doCórrego Canadá que afirmam osAA. terem os RR. o trocado peloAjala-Cuê. Fixado este, o Cana-dá, tudo o mais se resolve facil-mente, porque todas as linhas detodas as escrituras se amarramna intersecção deste com o Curu-pay, sendo comum a divisa doslotes do grupo AA. e Melão.

A meu ver, e assim o decido, oCanadá é o primeiro afluente dorio Curupay, da margem direita,e como tal deve ser consideradopara ponto inicial da demarcató-ria» (fl. 17-TJ), (sic).Ora, o que se dessume dessa de-

cisão é que o MM. Juiz, ainda naprimeira fase do processo, enten-deu que a descoberta, a localizaçãodo «Córrego Canadá» seria o pontocruciante da demanda, o ponto ini-cial da demarcatória, porquantoele («Córrego Canadá») aparecenos autos com o nome trocado. Porisso, localizado o «Córrego Cana-dá», «tudo o mais seria resolvidofacilmente, porque todas as linhasde todas as escrituras se amarramna intersecção deste («Córrego Ca-nadá») com o Curupay, sendo co-

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mum a divisa dos lotes do grupoAA. e Melão.»

Importante frisar mais uma vezque, em que pese a antecipação dasentença de 1? grau, ainda não foi,por falta de elementos técnicos, es-tabelecido o traçado, o rumo da li-nha demarcanda, nem seria pos-sível, pelos mesmos motivos, fi-xar o marco inicial do ponto departida. E sabido que tanto o mar-co inicial, como o traçado da linhademarcanda, deve ser claro e pre-ciso, e não implicitamente, comopretendem os impetrantes.»E, noutro passo, anota o voto con-

dutor do acórdão, da lavra do ilustreDesembargador Athayde Nery deFreitas (fls. 481/485):

«Por isso, tenho para mim que ojuiz do feito em verdade não ante-cipou qualquer julgamento, não fi-xou qualquer marco de partida etampouco determinou o traçado dalinha demarcanda na 1! fase (oque somente seria possível atravésda conclusão dos trabalhos técni-cos dos Srs. peritos na 2! fase, ten-do em vista o Código de 1939). Es-tabeleceu, isto sim, o ponto inicialdos trabalhos da demarcatória, ouseja, a localização do «Córrego Ca-nadá», para que, na segunda fase,nos termos da lei anterior, os Srs.peritos descobrissem o marco ini-cial, bem como o traçado da linhademarcanda.

Comungando deste entendimen-to, escreve o eminente professor,engenheiro Sérgio da Costa Sam-paio, no seu parecer na fl. 400-TJ:

«É de observar mais que, nãoobstante tivesse ficado decididoque o Córrego Canadá , na suaconfluência com o Rio Curupay,deveria ser tido como o ponto ini-cial da demarcação, no local nãofoi implantado nenhum marco deconcreto e nem determinadassuas coordenadas geográficas pa-ra materialização desse pontoinicial da demarcatória.

Assim, foi o ponto da demarca-tória simplesmente indicado,estabelecendo-se o ponto «O» naconfluência do Córrego Canadácomo Rio Curupay, indicando asentença ser aquele o primeiroafluente mais caudaloso. Do exa-me cuidadoso da questão, nocampo técnico, verifica-se que oMM. Juiz pura e simplesmentedefiniu o marco inicial, não omaterializou e nem verificou seera o marco certo, pois essa fun-ção incumbe a um técnico, enge-nheiro ou agrimensor, enfim,pessoa qualificada para tanto.»Nestas condições, partindo da

premissa falsa de que a sentençade 1? grau fixou por antecipação oponto inicial e o traçado da linhademarcanda na 1! fase é que osimpetrantes-promovidos requere-ram a reconsideração do despachoagravado, interpondo posterior-mente agravo de instrumento paraeste egrégio Tribunal, por entende-rem que o item II do referido des-pacho importaria em um retroces-so no procedimento, por agrediruma sentença com trânsito em Jul-gado.

A egrégia Turma simples desteTribunal não conheceu do agravo,por entender que fora interpostocontra despacho de mero expedien-te. E realmente se trata de despa-cho de mero expediente, apenasimpulsionador do processo.

Com efeito, do despacho agrava-do não adveio nenhum prejuízo àspartes, nenhum dano irreparável,nenhum direito líquido e certo paraquem quer que seja, eis que, comojá ficou evidenciado, a providênciadeterminada no aludido despachonão foi dispensada pela sentençade 1? grau, com a qual os impe-trantes concordaram e que diz:

«Transitada esta em julgado,volvam os autos conclusos paranomeação de agrimensor, peritose respectivos suplentes, concedi-

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do desde já o prazo de cinco dias,a contar da nomeação e compro-misso, às partes, para exibiçãode títulos, oferecimento de teste-munhas e produção de documen-tos que possam esclarecer a exa-ta configuração do imóvel e cons-tituição de cada gleba, nos exa-tos termos do art. 426 do CPC»(fl. 19-TJ).Ora, por que motivo o juiz, que

julgou procedente a ação demarca-tória, iria nomear agrimensor eperitos, nos termos do artigo 426(do CPC anterior), se já tivesse fi-xado o ponto de partida e o traçadoda linha demarcanda? Exatamenteporque tais providências ainda nãotinham sido materializadas nos au-tos e no imóvel, é que a iniciativatinha por objetivo o disposto nosartigos 428, 430 e 431 do mesmo Có-digo, que dizem:

«Art. 428. A vista das informa-ções das testemunhas e dos títu-los, o agrimensor procederá àsdiligências necessárias à verifi-cação do ponto de partida para amedição do perímetro dividendoou demarcando, ou ao reconheci-mento do marco primordial, ru-mos e vestígios que sirvam parafixar a base das operações de de-marcação, do que tudo apresen-tará ao juiz relatório e parecerfundamentado.

Parágrafo único. Entregues pe-lo agrimensor o relatório e o pa-recer, e intimadas as partes, ojuiz procederá, em audiência es-pecial, na sede do juízo:

ao exame e conferência dostítulos;

à determinação do ponto departida, fundamentando a suadecisão.

Art. 430. Em seguida, o agri-mensor fará o memorial descriti-vo, o levantamento da planta doimóvel dividendo e a delimita-ção, total ou parcial, do demar-

cando, devendo atender á forçados títulos ou à sentença, e obteresclarecimentos por informaçãodas testemunhas e fama da vizi-nhança.

Parágrafo único. Para conclu-são do trabalho será marcadoprazo razoável, que se prorroga-rá por motivo justo, podendoqualquer interessado promover asubstituição do agrimensor, se,findo o prazo, o serviço não esti-ver concluído.

Art. 431. Se, durante os traba-lhos da medição e demarcação,surgirem dúvidas que reclamemo parecer dos peritos e a delibe-ração do juiz, a este o agrimen-sor as comunicará por escritoafim de que se resolva depois deouvidos os peritos.

Parágrafo único. O juiz ouvi-rá o agrimensor ou os peritos,quando qualquer interessado ale-gar falta que deva ser corrigi-da.»Ora, é bem de ver que os artigos

acima citados, todos do anteriorCódigo de Processo Civil, corres-pondem ao disposto no artigo 957, eseu parágrafo único, do atual Códi-go de Processo Civil, que diz:

«Concluídos os estudos, apre-sentarão os arbitradores minu-cioso laudo sobre o traçado da li-nha demarcanda, tendo em contaos títulos, marcos, rumos, a fa-ma da vizinhança, as informa-ções de antigos moradores do lu-gar e outros elementos que coli-girem.

Parágrafo único. Ao laudoanexará o agrimensor a plantada região e o memorial das ope-rações de campo, os quais serãojuntos aos autos, podendo as par-tes, no prazo comum de dez (10)dias, alegar o que julgarem con-veniente.»E é sabido que, em princípio

(art. 1.211 do CPC), as disposições

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do novo Código de Processo Civilaplicam-se aos processos em cur-so.

Mas essa incidência dos prin-cípios novos nos processos em cur-so, ensina acórdão unânime da2! Câmara Civil do Tribunal deJustiça do Rio Grande do Sul, em8-6-1977, na Apelação n? 27.789., (in«Revista de Jurisprudência», vol.66, pág. 316, já citada), está rela-cionada com os acréscimos de atosde natureza processual.Sempre que houver acréscimo deatos de natureza processual, de-vem ser observados os novosprincípios.

Ora, é inegável que as providên-cias estabelecidas pelo artigo 957do atual CPC constituem atos denatureza processual, atos essesque no anterior Código de ProcessoCivil seriam praticados na segundafase da ação demarcatória, e queno atual são praticados na primei-ra fase, porque ainda nesta fase asentença que julgar procedentte aação demarcatória determinará otraçado da linha demarcanda (art.958).

Tratando-se, como de fato se tra-ta, de acréscimos de ato de nature-za processual, afigura-se inafastá-vel a observância, no caso dos au-tos, dos novos princípios encampa-dos pelo novo Código de ProcessoCivil. Impõe-se, assim, a aplicaçãodo texto do artigo 957, e não do ar-tigo 959, como pretendem os impe-trantes.

Portanto o despacho agravado,que tanto problema trouxe para aação demarcatória, ensejando pe-dido de reconsideração, agravo e apresente impetração, em verdadenão fere a sentença de 1? grau, e,por isso, é ele inagravável, irra-corrivel. Isto porque a sentença de1? grau realmente decidiu apenasquanto á procedência ou improce-dência da ação demarcatória pro-

posta, como bem demonstra estapassagem:

«Trata-se no presente processonesta fase, tão-somente de seconvir da procedência ou não daação; quais sejam, os requisitosnecessários á sua propositura,analisados sob o prisma de seuselementos extrínsecos, consoanteo determinado pelo art. 426 doCPC» (fl. 13-TJ).Em conseqüência, há que se con-

vir que, tendo sido a ação demar-catória proposta na vigência do an-terior Código de Processo Civil,impõe-se adaptar, ao Código vigen-te, os atos que seriam praticadosna segunda fase daquele Código,para perfeita elucidação da verda-de e, assim, dar a cada um o que éSeu.»

Nessa mesma linha, o parecer doDr. João Paulo Alexandre de Barros,aprovado pelo ilustre Subprocura-dor-Geral da República, Dr. MauroLeite Soares, observa, referindo-seà sentença em análise (fl. 572):

«Não fizera, referido decisum, adivisão ou demarcação que erarealizada na segunda fase da ação.Ficou bem definido o prazo de cin-co dias, então estabelecido, paraexibição de títulos, oferecimentode testemunhas e produção de do-cumentos que esclarecer aexata confina o do imóvel e cons-tituição de cada gleba, nos exatostermos do artigo 426 do CPC» cadu-co (pág. 19, volume I)».E aduz, às fls. 575/576:

«Se a lei incumbia aos peritosesclarecerem-se e esclarecerem aojuízo a respeito da confinação doimóvel, somente depois do cum-primento dessa prova pericial es-taria apto o Juízo a homologarou não a divisão ou a demarcação(artigo 439); antes, porém, caberiaao agrimensor, ouvidos os peritos,assinalar o ponto de partida para a

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medição do perímetro dividendo oudemarcando (artigo 429).

No rito atual é que o traçado dalinha demarcanda é levantado pe-los arbitradores e pelo agrimensorantes da sentença do processo deconhecimento e, louvada neles, asentença, que Julgar procedente aação, determinará o traçado da li-nha demarcanda (artigos 956 e 957do CPC atual).»6. Em que pesem os fundamentos

do acórdão e do parecer antes refe-ridos, não entendo possível deixar dereconhecer que o Juiz, em realidade,na sentença de 1972, confirmada emsegundo grau, fixou, desde logo, oponto de partida da demarcação, ha-vendo a decisão transitado em Julga-do.

Com efeito, da decisão de primeirograu recorreram as partes. Os auto-res, Hiroshi Takahashi e sua mulher,ora recorridos, tiveram sua apelaçãoassim sintetizada no relatório daApelação Cível n? 7.459 — da comar-ca de Dourados, verbis:

«Inconformados com a decisãode primeira instância, apelaramIllroshi Takahashi e sua mulher(fl. 318), alegando nas suas razões(fls. 319/339), preliminarmente, anulidade absoluta, pleno Jure dasentença prolatada pelo Dr. Juizde Direito da Primeira Vara daComarca de Dourados, por contra-riar as disposições do art. 448, pa-rágrafos 1? e 2? do Código de Pro-cesso Civil.

Relativamente ao mérito, in-surgem-se os apelantes contra adecisão de primeira instância,quando estabeleceu que o CórregoCanadá é o primeiro afluente doRio Curupay, da margem direita ecomo tal deve ser considerado pa-ra ponto inicial da demarcatória.

Entre os documentos que ins-truíram a apelação, consta um pa-recer do processualista Moacyr Lo-bo da Costa (fls. 340/351), susten-

tanto, a preliminar de nulidade dasentença.

As razões dos apelados são nosentido da confirmação da senten-ça de primeira instância, conformeconsta de fls. 364 a 373 e 399 e 400dos presentes autos, vindo ins-truída com parecer do processua-lista José Frederico Marques (fls.375/391), pela confirmação da sen-tença, quanto à preliminar, as ra-zões dos apelados João Cruz Melãoe outros.»A alegação de nulidade da senten-

ça, em face do art. 448 e parágrafos,do CPC de 1939, porque o Juiz com-pareceu ao local, «ponto crucianteda questão» (sic), sem atender àsformalidades legais, não obstanteacolhida pelo relatório não prospe-rou, em face dos votos dos dois revi-sores. Somente o 2° revisor regis-trou, em seu voto (fl. 30), a inviabili-dade de «o ponto inicial da demarca-tória» ser assentado na sentença re-lativa à primeira fase do processo,destacando os arts. 427 e 428 e seuparágrafo, do CPC de 1939. A seguir,porém, anota (fl. 30): «Mas os au-tores-apelantes se conformaraminteiramente aceitando como boa to-da a chusma de irregularidades, fin-cando seu recurso em detalhe irrele-vante. Com efeito, a apelação só pre-tende a fixação do ponto de partidaem outro local; não investe contra adisposição do Juiz de determinar omarco prematuramente, e sem ob-servância das solenidades pertinen-tes. Interessam-se os recorrentes pordiscussão acadêmica sobre a inspe-ção Judicial, que não teria obedecidoàs disposições do art. 448, e apará-grafos do Código de Processo Civil.Ora, com toda a vênia, tais prescri-ções se me afiguram inteiramenteinaplicáveis ao estado da demanda.O processo ainda não chegou lá. Efuturidade.» Dessa sorte, o exame doacórdão, de fls. 20/32, conduz á con-clusão de, efetivamente, se ter con-firmado a sentença, com o entendi-mento de que, nela, se estabeleceu

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que o «Córrego Canadá» deveria serconsiderado «como ponto inicial dademarcatória». Não atacaram os orarecorridos, qual se explicita no votodo Des. Milton Armando Pompeu deBarros (2? Revisor), a questão ju-rídica referente a poder, o magis-trado de primeiro grau, na sentençaem referência, fixar, desde logo, «oponto inicial da demarcatória», oque deveria realizar-se, na fase se-guinte, de acordo com os arts. 427 a429, do CPC de 1939.

Resumiu-se o acórdão, na ementaà fl. 33, nestes termos:

«A chamada inspeção judicial,praticada isoladamente pelo Juiz,não invalida sua sentença desdeque calcada em diversas provasexistentes nos autos. A inspeçãoserviu, apenas para consolidar oentendimento do julgador.»A seguir, pretenderam os ora re-

corridos, em embargos infringen-tes discutir «irregularidades proces-suais», o que não se decidira na ape-lação. Como está no voto do Relatordos embargos, este ponto não com-pôs o voto do Relator da apelação,nem constituía fundamento do votovencido, — «conseqüência de elas(irregularidades) não terem sido per-cutidas pelas partes nem apreciadaspela sentença» (sic) (fl. 38). Os em-bargos infringentes não foram, as-sim, conhecidos. Inadmitido recursoextraordinário, o agravo de instru-mento do despacho presidencial tevenegado seguimento (fls. 43/44v. e47v.).

Sobreveio o trânsito em julgado dasentença.

7. Diante dos termos do acórdão,verifica-se que a matéria concernen-te à antecipação, na sentença previs-ta no art. 426, do CPC de 1939, do quedeveria ocorrer, ao ensejo do art.428, parágrafo único, do mesmo di-ploma, quanto à determinação doponto de partida da demarcação,não foi, sequer, invocada na apela-

ção dos autores, ora recorridos, em-bora tivessem discordado do localonde fixado o ponto de partida. Nãorecorreram, como lhes cumpria,qual anotou o 2? Revisor, na assenta-da de julgamento da apelação. Nãocabe, a esta altura, acolher, assim,argumento segundo o qual o ponto departida não podia ter sido determi-nado na sentença, ao ensejo do art.426, do Código revogado. No Códigoatual, de resto, a oportunidade dedeterminar o traçado da linha de-marcanda é a da sentença, que julgaprocedente a ação, ut art. 958, doCPC de 1973.

E de ressaltar, de outro lado,que, ao julgar procedente, em partea ação ordinária e reconhecer a ne-cessidade de demarcação, o magis-trado teve em conta prova testemu-nhal colhida, bem assim pericial (fl.16), conforme acima restou transcri-to. Destacadamente na sentença, ou-trossim, o Dr. Juiz asseverou cons-tituir ponto cruciante da demandaa localização do Córrego Canadá,considerando que, fixado este, «tudoo mais se resolve facilmente, porquetodas as linhas de todas as escritu-ras se amarram na intersecção des-te com o Curupay, sendo comum adivisa dos lotes do grupo AA. e Me-lão.» Localiza-o, a seguir, como «oprimeiro afluente do Rio Curupay, damargem direita», e, em expressostermos de decisão, acrescenta: «ecomo tal deve ser considerado paraponto inicial da demarcatória.» Nãose trata de afirmação desmotivada;ao contrário, a essa conclusão, pro-clama chegar, enumerando as ra-zões constantes dos itens a) a g), àsfls. 17/19, suso transcritos. Teve, en-tão, em conta, plantas oficiais, plan-tas elaboradas por agrimensores,depoimentos, referindo, ainda, que«também pelo mapa do Gal. Rondouvê-se que é o Canadá o primeiroda direita», e levantamento aerofoto-gramétrico. Discute a denominaçãoAjala-Cué, invocada pelos AA. Es-clarece, ainda, que, «tirando toda e

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qualquer dúvida» (sic ) (fl. 18), pes-soalmente, verificou in loco o estadoda demanda (sie).

Desse modo, na espécie, a deter-minação do ponto de partida, devida-mente fundamentada, não se pode,nos limites da apreciação da maté-ria, na instância rara, ter como àmargem do sistema legal previsto noart. 428 e parágrafo único, do CPCde 1939. A antecipação da determina-ção do ponto de partida, outrossim, étema insuscetível de reexame, emface do acórdão que confirmou ditasentença, pelos termos antes men-cionados. Também, na aludida ape-lação, o recurso dos ora recorridos,contra a sentença, ao estabelecerque o Córrego Canadá é o primeiroafluente do Rio Curupay, na margemdireita, «e como tal deve ser consi-derado para ponto inicial da demar-catórla», não vingou, mantendo-se odecimam de primeiro grau.

Não há, data venta, assim, comodeixar de reconhecer que o ponto departida da demarcação foi determi-nado na discutida sentença, quetransitou, por fim, em julgado.

Razão assistia, pois, aos ora recor-rentes quanto a se oporem à defini-ção de um novo ponto de partida pa-ra a execução demarcatória, de umnovo «traçado da linha demarcan-da», ut arts. 957, parágrafo único, e958, do CPC de 1973. Já estabelecidoesse ponto em sentença, trânsita emjulgado, no sistema do CPC de 1939,ao incidir nova disciplina processual,no prosseguimento do feito, cumpria,em realidade, se adotasse o dispostono art. 959 e seguintes do CPC em vi-gor.

O despacho impugnado, que oacórdão no agravo de instrumentomanteve, feriu, sem dúvida, a coisajulgada, ao determinar se procedes-se na forma do art. 957, parágrafoúnico, do CPC de 1973 (fl. 50), nãoatendida, a seguir, a petição dos orarecorrentes, por cópia, às fls. 67/73.

De todo o exposto, conheço do re-curso, por acolher a alegação deofensa ao art. 153, 3?, da Lei Maior,e de negativa de vigência do art. 504,do CPC, e lhe dou provimento, a fimde, concedendo o mandado de segu-rança, cassar o acórdão impugnadoe o despacho por ele mantido, e de-terminar prossiga a demarcação, ob-servado o disposto nos arts. 959 e se-guintes, do Código de Processo Civil.

EXTRATO DA ATA

RE 100.242 — MS — Rel. MinistroNéri da Silveira. Rectes.: Sérgio Pi-nho Melão e sua mulher (advs.: JoséFrederico Marques e outros). Rec-dos.: Turma Simples do Tribunal deJustiça do Estado de Mato Grosso doSul, Hiroshi Takahashi e sua mulher(Adv.: Carlos Amaral).

Decisão: Após o voto do MinistroRelator que conhecia do recurso elhe dava provimento, o julgamentofoi adiado pelo pedido de vista doMinistro Octavio Gallotti. Falou pe-los Rectes.: O Dr. José FredericoMarques.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Oscar Corrêa, Sydney Sanches eOctavio Gallottl. Subprocurador-Ge-ral da República, Dr. Aristides Jun-queira Alvarenga.

Brasília, 25 de agosto de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

VOTO (Vista)

O Sr. Ministro Octavio Gallotti • Oacórdão recorrido denegou mandadode segurança contra decisão que nãoconhecera de Agravo de Instrumen-to, oposto a despacho indeferitóriode pedido de implantação de mar-cos, em ação demarcatória.

Contra essa decisão preliminar, to-mada no Agravo de Instrumento, osora Recorrentes não haviam inter-

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posto recurso extraordinário, de talmodo que o provimento deste outro,ora apreciado, significará a conces-são de mandado de segurança contradecisão judicial transitada em julga-do, em dissonância com o enunciadoda Súmula n? 268.

Essa questão, posta nas informa-ções da autoridade coatora, na con-testação dos ora Recorridos e por es-tes reagitada nas contra-razões dopresente extraordinário, embora re-putada relevante pelo eminente Re-lator, Ministro Néri da Silveira, nãoteve o seu merecimento levado emconta por Sua Excelência, diante dasseguintes considerações:

«Essa quaestio juris preliminar,relevante, quanto ao cabimento domandado de segurança, na espé-cie, posta nas informações e nacontestação dos litisconsortes orarecorridos, embora o verbete 268da Súmula, não mereceu exameespecial da Corte a quo, nem em-bargos de declaração dos litiscon-sortes, que, desse modo, se confor-maram com o aresto. Não conhe-ceu do mandado de segurança,apenas, o ilustre DesembargadorPereira Rosa, às fls. 487/488, aco-lhendo dita preliminar.

Assim sendo, esse ponto não ca-be, aqui, ser apreciado, de vez que,não discutido no acórdão, dele nãohouve recurso.»Peço vênia para divergir de tão

autorizado magistério.O fato de os litisconsortes passivos

não haverem recorrido, não lhes po-de ser debitado à guisa de conforma-ção com determinado ponto do acór-dão que indeferiu a segurança. Fo-ram vencedores no todo e na conclu-são. Não eram sucumbentes e nãodeviam, nem mesmo podiam, recor-rer à instância superior. Nem ti-nham do que recorrer.

Penso que, assim sendo, não esta-vam igualmente obrigados a apre-sentar embargos declaratórios, com

a finalidade de prequestionamento.Essa obrigação concerne à parte quepretende interpor recurso extraordi-nário. Não ao eventual e futuro re-corrido (que nem o sabe se o será,ainda), para influir hipoteticamentena extensão do efeito devolutivo dorecurso que a outra parte poderá ounão vir a oferecer.

Julgo, então, que todas as prejudi-ciais, em matéria de direito, suscita-das oportunamente pela parte recor-rida e reiteradas nas contra-razõesdo extraordinário, estão naturalmen-te compreendidas no efeito devoluti-vo deste e merecem a apreciação daTurma.

Ora, no caso concreto, os Recor-rentes ao invés de ingressar com re-curso extraordinário contra a deci-são que não conhecera do seu agravode instrumento, deixaram para ar-rostá-la meses depois, mediante aimpetração de mandado de seguran-ça.

A concessão deste, que é o escopodo atual recurso, implicaria, portan-to, a desconstituição de acórdãotransitado em julgado.

O extraordinário persegue, portan-to, objeto juridicamente hnpossivel,motivo pelo qual dele não conheço.

VOTO (PRELIMINAR)

O Sr. Ministro Moreira Alves (Re-lator): Com a devida vênia do emi-nente Relator, considero devidamen-te prequestionado o não cabimentodo mandado de segurança.

Desde o momento em que houveum voto, que foi consignado no dis-positivo do acordão como vencidoquanto ao conhecimento do mandadode segurança, voto esse devidamentefundamentado, parece-me evidenteque os votos vencedores, ainda queexpressamente não fundamentados,a esse respeito tiveram, necessaria-mente, como errônea a tese do votovencido.

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Basta isso para que haja o pre-questionamento.

Conseqüentemente, também nãoconheço, com a devida vênia, do pre-sente recurso extraordinário, umavez que não é cabível mandado desegurança contra decisão transitadaem julgado, nem tem o Plenáriocompetência para julgar mandadode segurança contra acórdão de umadas Turmas do Tribunal.

EXTRATO DA ATARE 100.242 — MS — Rel.: Ministro

Néri da Silveira. Redes.: Séglo Pi-nho Melão e sua mulher (Advs.: Jo-sé Frederico Marques e outros).Recdos.: Turma Simples do Tribunal

de Justiça do Estado de Mato Grossodo Sul, Hiroshi Takahashi e sua mu-lher (Adv.: Carlos Amaral).

Decisão: Não conheceram do re-curso, vencido o Ministro Relator,que dele conhecia e lhe dava provi-mento.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Oscar Corrêa, Sydney Sanches eOctavio Gallotti. Subprocurador-Geral da República, Dr. José Arnal-do Gonçalves de Oliveira.

Brasília, 6 de novembro 1988 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 100.877 — (AgRg) — RS(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.Agravante: Instituto de Administração Financeira da Previdência e As-

sistência Social — LAPAS — Agravado: Serviço Autônomo Municipal deAgua e Esgoto — SAMAE.

Agravo Regimental.Ausência de questão constitucional hábil para assegurar trânsito

ao apelo extremo, que enfrenta veto regimental.Agravo desprovido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo TribunalFederal, de conformidade com a atade julgamentos e as notas taquigráfi-cas, à unanimidade de votos, negarprovimento ao Agravo Regimental.

Brasília, 19 de março de 1985 —Djaci Falcão, Presidente — Fran-cisco Rezek, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Francisco Rezek:Em autos onde se discutiu tema re-

lacionado com cobrança de quotasde previdência social, o LAPAS opôsrecurso extraordinário a aresto doTFR, invocando contrariedade aoart. 153-§ 4? da Lei Maior, porqueaquela Corte teria julgado pedido ou-tro que o deduzido nos embargos de-claratórios.

Com apoio em parecer da Procu-radoria Geral da República, negueiseguimento ao agravo, à falta deprequestionamento da matéria cons-titucional e porque inaplicável à es-pécie o dispositivo da Carta.

A petição de agravo regimental diz(fls. 46/48):

R.T.J. — 125

235

«O Instituto de AdministraçãoFinanceira da Previdência e Assis-tência Social — IAPAS, nos autosdo agravo em epígrafe, em quecontende com Serviço AutónomoMunicipal de Agua e Esgoto —SAMAE, inconformado, com o v.despacho agravado, vem interporagravo regimental, pelas razõesseguintes:

v. despacho entendeu que acontrariedade do art. 153, (1 4? daCF é claramente inaplicável, se-guindo o parecer.

Este é o único fundamento váli-do, visto que o outro não tem a me-nor pertinência. Com efeito, o pa-recer alega que não houve pre-questionamento da contrariedadeno acórdão. E alegação destituídado mais mínimo bom senso.

Efetivamente, não poderia mes-mo ter havido, jamais, tal preques-tionamento, tão-só porque a viola-ção do dispositivo ocorreu a partirda negativa do acolhimento dosembargos de declaração. Se antesnão ocorrera tal nulidade, não se-ria de exigir do agravante a alega-ção da nulidade.

Este Colendo STF tem sabido fa-zer estas diferenças elementares.

Vamos examinar apenas o outrofundamento.

parecer disse que o artigo éevidentemente inaplicável.

Engana-se!Os embargos declaratórlos pedi-

ram que o acórdão se manifestassesobre fatos necessários a reapre-ciação extraordinária, pois era elea última instância da prova. E in-dicou que nunca se pretendeu co-brar quota de previdência sobre ta-xas, mas sobre preços.

que o acórdão declaratório fezfoi simplesmente afirmar que a«Incidência dessa quota sobre taxad'água não podia subsistir. E vol-tando a dizer que não houve obscu-

ridade nem ponto omisso, não aco-lhia os embargos.

nada reportou sobre os termosda inicial.

Ora, a declaração pedia que oacórdão, Reformador da Sentença,Julgasse se aluguel de hidrômetros,se serviços de ligação e cortes, sealienação de hidrômetros são taxasou são preços públicos. No rol dospreços está até este de alienação.

acórdão declaratório não res-pondeu.

a prestação jurisdicional há deresponder as argüições dos recur-sos, em especial a dos embargosde declaração como manda positi-vamente o art. 128 combinado como art. 131 do CPC.

Todas as alegações das partesdevem ser respondidas. Quer dizerentão do acórdão que se recusa aresponder a única alegação da par-te?

Indiscutivelmente, houve negati-va da prestação jurisprudencial.

O contrário leva ao absurdo!Imaginamos uma ação de despe-

jo que é julgada como uma açãocominatória. Não há dúvida de que

Juiz sentenciou. Mas é fora dedúvida de que não prestou a juris-dição pedida. Não se pediu comina-ção, pediu-se despejo.

Se considerarmos que uma sen-tença que não responde aos argu-mentos da parte presta a jurisdi-ção, estaremos legitimando o dis-cricionarismo judiciário.

Assim, quando o acórdão afir-mou que não houve omissão e poristo rejeitava os embargos, negouele a prestação jurisdicional pedi-da, que era a de declarar.

Há assim violação da Constitui-ção. O recurso é cabível.»

o relatório.

236 R.T.J. — 125

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Reza(Relator): Bem ou mal a Corte deorigem se manifestou quando provo-cada pelos embargos declaratórios.Se Julgou fora do pedido, entretanto,a falha se circunscreve no terrenodas regras de processo civil, e o exa-me destas acha-se vedado pelo óbicedo art. 325-1V-e do Regimento Inter-no.

Nego provimento ao agravo regi-mental.

EXTRATO DA ATA

Ag 100.877 (AgRg) — RS — Rel.:Ministro Francisco Rezek. Agte.:

Instituto de Administração Financei-ra da Previdência e Assistência So-cial — TAPAS (Adv.: Paulo César Gon-Mo). Agdo.: Serviço Autônomo Mu-nicipal de Agua e Esgoto — SAMAE(Advs.: Arthur Luiz Borges e ou-tros).

Decisão: Negado provimento aoAgravo Regimental. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Cordeiro Guerra,Decio Miranda, Aldir Passarinho eFrancisco Rezek. Subprocurador-Geral da República, Dr. Mauro LeiteSoares.

Brasília, 19 de março de 1985 HélioFrancisco Marques, Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 101.176 — PE(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.Recorrentes: Banco Econômico S/A e outro — Recorridos: Construtora

Núbio Gadelha e outros.

Recurso extraordinário.I — Código Civil, arts. 98, 99 e 100. Indagação sobre o grau de in-

tensidade da coação exercida por uma parte sobre outra: matéria queenvolve reexame aprofundado da prova (Súmula 279). Ademais, oacórdão impugnado entendeu que houve dolo e coação, e o extraordi-nário busca descaracterizar tão-só a idéia da coação (Súmula 283).

II — Código Civil, art. 765.O Tribunal a quo considerou não apenas a ocorrência do pacto co-

~sério, como também a nulidade decorrente da cobrança de jurosonzenários — fundamento suficiente, e não atacado (Súmula 283).

III — Falta de abordagem, nas instâncias ordinárias, de parte dodireito federal suscitado em recurso extremo (Súmulas 282 e 356).

IV — Dissídio jurisprudencial não comprovado, nos moldes daSúmula 291 e do art. 322 do Regimento Interno.

Hipótese de não-conhecimento.ACORDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo Tribunalde Tribunal Federal, de conformida-

de com a ata de Julgamentos e as no-tas taquigráficas, à unanimidade devotos, não conhecer do recurso.

Brasília, 28 de junho de 1985 —Dl aci Falcão, Presidente — Fran-cisco Reza, Relator.

R.T.J. - 125

237

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Francisco Rezek:Trata-se de ação ordinária propostapela Construtora Núbio Gadelha — eNúbio Gadelha do Espírito Santo esua esposa — contra o Banco Econô-mico e o Banco Econômico de Inves-timento, com base nos arts. 86, 92, 98e 159 do Código Civil.

Sustentaram os autores que osbancos réus, aproveitando-se da difi-culdade que eles, autores, tiverampara saldar financiamentos contra-tados, pressionaram-nos a vender-lhes, por preço muito abaixo do real,23 apartamentos do Edifício Moradados Nobres, em Recife; e, ainda, aoutorgar-lhes promessa de venda doEdifício Tívoli, também por preçoacentuadamente inferior ao valor docusto da obra.

Alegaram que os réus se compro-meteram a revender-lhes os aparta-mentos compromissados, pelos mes-mos preços, com juros e correção,no prazo de 180 dias — depois pror-rogado —, quando deveria estar to-talmente construído o Edifício Mora-da dos Nobres, cuja comercializaçãoseria feita pela primeira autora. Noentanto, os Bancos credores impedi-ram os autores de vender os aparta-mentos, desinteressando candidatoscom manobras dolosas, impossibili-tando os autores de obter recursos àrecompra nos prazos previstos emcontrato, e preparando, dessarte, arevenda desses apartamentos a ter-ceiros com grandes lucros.

A sentença de primeiro grau en-tendeu que os Bancos agiram comdolo e empregaram coação no con-texto da venda dos 23 apartamentosdo Edifício Morada dos Nobres, as-segurando aos autores o crédito dasdiferenças de valor entre o preço decompra pago pelos Bancos e o preçode revenda dos apartamentos a ter-ceiros, além de perdas e danos peloabalo de crédito e lucros cessantes,apurados em execução. Quanto ao

contrato relativo ao Edifício Tivoli, asentença declarou sua nulidade, por-que existente o pacto comissário ve-dado pelo art. 765 do Código, acen-tuando ainda «a chocante despropor-ção entre o valor de custo doEdifício Tívoli e o valor que lhe foiatribuído na promessa de dação »(fl. 664).

Houve apelo, e a decisão singularfoi mantida em acórdão que assimse viu resumir:

«Negócios jurídicos rotulados depromessa de compra e venda deapartamentos e de edifícios emconstrução, com cláusula de retro-venda, mediante compensação deobrigações vencidas e vincendas —Promessa de dação em pagamento— Dolo e coação — Ato ilícito —Perdas e danos — Nulidade de con-trato por configurar disfarçado«pacto comissário» — Ação proce-dente em parte.

Uma autêntica promessa dedação em pagamento consubstan-cia cada um dos contratos focaliza-dos na inicial da ação.

O dolo e a coação por certoconstituem causa de anulabilidadedos contratos (arts. 92 e 98 do Cód.Civil); mas, no magistério do sau-doso Pontes de Miranda, «em vezde propor a ação de anulação pordolo, pode a vítima pedir a indeni-zação pelo ato ilícito absoluto».

3. Há impossibilidade jurídicade se admitir uma dação em paga-mento com cláusula de retrovenda,porque negócio dessa natureza na-da mais é do que um pacto comis-sório, a que a lei nega validade(art. 765 do Cód. Civil)».Houve embargos de declaração,

sem êxito. O Banco deduziu então orecurso extraordinário, falando emafronta aos artigos 98, 99, 100, 104 e765 do Código Civil; 460 do Código deProcesso; e 35 — II da Lei n?4.595/64; e suscitando dissídio de ju-risprudência.

238 R.T.J. - 125

recurso foi trancado, na origem,pelo despacho de fls. 854/857. Nãoobstante, decidi prover agravo paramelhor exame da controvérsia. Ten-do vista dos autos do apelo extremo,a Procuradoria-Geral opinou pelonão-conhecimento.

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Francisco Rezek(Relator): O parecer do MinistérioPúblico foi concebido pelo Subpro-curador-Geral Walter Medeiros. SuaExcelência faz um sucinto relatóriodo feito, dando noticia da interposi-ção do recurso extremo por afronta àlei federal e dissídio de jurisprudên-cia. Prossegue então:

«Por este último fundamento, orecurso não poderia, a meu ver,prosperar, porquanto não demons-traram os recorrentes, de formaanalítica, as circunstâncias capa-zes de assemelhar ou identificar oscasos confrontados, como reco-mendam a Súmula 291 e o art. 922do RI.

Limitaram-se a reproduzir, decada aresto trazido à conferência,trechos esparsos, por onde não épossível identificar o dissídio ale-gado, porquanto nas passagenstranscritas ressai apenas a asser-ção de não ser aplicável por analo-gia o princípio inscrito no art. 765do Código Civil a outros casos quenão os nele previstos.

Mas os paradigmas assentaramtambém a tese de que, mesmo ina-plicável ao negócio fiduciário oaludido art. 765, não ficava o deve-dor inerme diante do credor, umavez que, pelo sistema jurídico bra-sileiro, se a diferença entre o valordo direito transferido em garantiae o valor do empréstimo garantidofor representada por juros usurá-rios, a nulidade será decretada emvirtude da Lei da Usura.

Por conseguinte, ainda que seadmita a inaplicabilidade à espéciedo art. 765 do Código Civil, a nuli-dade do negócio não poderia deixarde ser pronunciada, por isso que ov. acórdão recorrido enfatizou aexistência de juros onzenários,consoante se depreende da seguin-te passagem:

«Demais disto, outros aspectosda questão confirmam esse en-tendimento.

O primeiro deles é a chocantedesproporção entre o valor decusto do «Edifício Tivoli» e o va-lor que lhe foi atribuído na pro-messa de dação. Enquanto nestafoi dado o valor de Cr$2.500.000,00, a perícia de fls.439/471 concluiu que o valor decusto foi de Cr$ 6.578.692,00 o querepresenta, como salientado foipelos Autores, à fl. 601, uma dife-rença da ordem de 263%» (fl. 664— 2? vol.).Enquanto nos acórdãos indicados

para cotejo ficou consignada às ex-pressas a inexistência de jurosusurários (RTJ 82/869), circuns-tância propositadamente omitidana transcrição feita pelos recorren-tes para comprovação do dissídio,já aqui não há notícia da mesmaparticularidade, pois, ao revés, co-mo se viu do trecho antes transcri-to, a v. decisão hostilizada reco-nheceu a existência de juros onze-nários, a justificar o decreto de nu-lidade do negócio celebrado entreos litigantes.

Por conseguinte, diversas as pre-missas em que se assentaram osarestos confrontados, chegou-seem cada qual a soluções diferen-tes, razão pela qual não se entre-mostra configurado o dissídio ca-paz de ensejar o conhecimento doapelo pela alínea d.

Cumpre, em seguida, averiguarse poderia a irresignação prospe-rar pelo fundamento da alínea a.Mas, ainda aqui, não me parece

R.T.J. - 125

239

assista qualquer razão aos recor-rentes, em face sobretudo da sin-geleza com que veio deduzida suainconformidade derradeira.

Sustentam eles em síntese que,para concluir pela existência dodolo e da coação, deveria a decisãohostilizada ter levado em conta osartigos 98, 99 e 100 do Código Civil,explicitando em que teria consisti-do a coação exercida contra os re-corridos, pois os negócios entabola-dos pelas partes tinham sido rea-lizados entre empresas comer-ciais de porte, onde, acrescentam,verbis, não é lícito imaginar-secoação pelo simples receio de queuma das empresas, a credora, pos-sa efetivar protesto de títulos cam-biais ou excutir hipotecas» (fl.833).

Nissoprecisamente consiste todaa argüição de negativa de vigênciaaos dispositivos do Código Civil an-teriormente enumerados.

Vê-se entretanto, claramente, atotal impertinência da invocaçãono âmbito estreito do recurso ex-traordinário. E que não seria lícitoaqui indagar o grau de intensidadeda coação exercida por uma partesobre a outra, pois tal matéria de-pende do reexame minucioso eaprofundado da prova, como tal in-comportável na sede do apelo cons-titucional (Súmula 279).

Improcede, por igual, a alegaçãode negativa de vigência ao art. 765do Código Civil, pois, para invali-dar o negócio levado a efeito entreos interessados, o Tribunal afundou-se não apenas na n-ela do pacto comissórlo, como tam-bém na nulidade decorrente da co-brança de Juros onzenários, funda-mento suficiente para embasar adecisão recorrida e inadvertida-mente inatacada na petição rectal"-sal (Súmula 283).

No pertinente à pretensa ofensaaos artigos 104 do Código Civil, 460do Código de Processo Civil e 35 da

Lei n? 4.595/64, trata-se de maté-rias a que falta o indispensável re-quisito do prequestionamento, poisdelas não cuidou a decisão vergas-tada nem, para suprir a omissão,foram a tempo opostos os cabíveisembargos declaratórios (Súmulas282 e 356).

Nessas condições, à míngua dospressupostos autorizativos do cabi-mento do recurso extraordinário,opina o Ministério Público Federalpelo seu não conhecimento, à luzdos Verbetes 279, 282, 283, 291, 356,400 e 454 da Súmula de Jurispru-dência predominante nesta Excel-sa Corte» (fls. 934/937).O parecer do douto Procurador

propõe exata solução para a contro-vérsia. Não será demais acrescen-tar, contudo, que o aresto impugna-do, no que concerne ao negócio en-volvente dos 23 apartamentos doEdifício Morada dos Nobres, foi bas-tante claro ao fundamentar seu en-tendimento no sentido de que os ban-cos ora recorrentes agiram com doloe fizeram emprego de coação nassuas tratativas com a construtora. Oextraordinário busca descaracteri-zar tão-só a idéia da coação, em-preendimento que, se pudesse terêxito, deixaria subsistir, de todo mo-do, o dolo apurado pelas instânciasordinárias. A conta deste tópico, nãohá dúvida quanto à realidade do 'ra-passe em que a Súmula 283 coloca ointento reclusa

No tocante ao contrato que disserespeito ao Edifício Tivoli, a decisãorecorrida não só aplicou, com pro-priedade, o art. 765 do Código Civil— que veda o pacto comissórlo —,mas também entendeu, e proclamousem rodeios, que o negócio foi conta-minado pela usura; e a tal respeito oextraordinário não se manifesta.

Com essas razões, ao lado das queescoram a percuciente quota do Mi-nistério Público Federal, não conhe-ço do recurso extraordinário.

240 R.T.J. — 125

VOTO (PRELIMINAR)

Sr. Ministro Djaci Falcão: Tam-bém acompanho o eminente Relator,porquanto as decisões, na instânciaordinária, assentaram, sobremodo,na aferição dos elementos de prova,não se podendo, aqui, rever o examee a análise ali soberanamente feita.Dai porque não se pode afirmar quehaja negativa de vigência dos arts.99 e 100, e, via de conseqüência, do art.765 do Código Civil.

De modo que acompanho o emi-nente Relator, não obstante o bri-lhante esforço do Advogado do recor-rente, não conhecendo do recurso ex-traordinário.

VOTO (PRELIMINAR)

Sr. Ministro Aldir Passarinho:Sr. Presidente, acompanho o Sr. Mi-nistro Francisco Rezek, basicamenteporque, mesmo que se afastasse oart. 765 do Código Civil, ainda sub-sistiria um fundamento que não ouvidiscutido, qual seja aquele expressa-mente mencionado do v. acórdão,com relação a haver uma cobrançaonzenária dos valores. É que o valorda dação em pagamento foi de cercade Cr; 2.500.000, enquanto que só ocusto do bem foi mais de duas vezese mela superior. Esse é fundamento

em que expressamente se baseou ov. acórdão, e que não foi infirmado.

Com relação à coação, examinan-do-se os arts. 98 e 99 do Código Civil,não se torna de fato possível dedecidir-se, na oportunidade.

Não conheço do recurso.

EXTRATO DA ATA

RE 101.176 — PE — Rel.: MinistroFrancisco Rezek. Redes.: BancoEconômico S/A e outro (Advs.: Ro-berto Rosas e outro). Recdos.: Cons-trutora Núbio Gadelha e outros(Advs.: Joaquim Correia de Carva-lho Júnior; José Guilherme Villela eoutro).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Falou pelos Rectes.: Dr. Roberto Ro-sas e falou pelo Recdos.: Dr. JoséGuilherme Vilela. Ausente, ocasio-nalmente, o Sr. Ministro CordeiroGuerra.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Cordeiro Guerra,Décio Miranda, Aldir Passarinho eFrancisco Rezek. Subprocurador-Geral da República, Dr. Mauro LeiteSoares.

Brasília, 28 de junho de 1985 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 101.737 — AM(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.Recorrente: Sul América Terrestres, Marítimos e Acidentes — Cia de

Seguros — Recorrida: Importadora de Estivas Gibrail Ltda.

Recurso extraordinário. Prequestionamento. Embargos declara-tórios. Obice regimental.

Não se conhece de recurso extraordinário que suscita temasnão debatidos na origem.

Discussão em torno de cabimento de embargos declaratórios.Incidência de óbice regimental.

Recurso extraordinário não conhecido.

R.T.J. - 125 241

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo TribunalFederal, de conformidade com a atade julgamentos e as notas taquigráfi-cas, à unanimidade de votos, não co-nhecer do recurso.

Brasília, 5 de fevereiro de 1985 —Djaci Falcão, Presidente — Fran-cisco Rezek, Relator.

RELATÓRIO

Sr. Ministro Francisco Rezek: Aempresa de seguros foi condenada,em juizo de primeiro grau, a pagarindenização à sociedade importado-ra, por perda — resultante de incên-dio — de bens segurados. A sucum-bente apelou alegando, entre outrostópicos, a nulidade da citação inicial,que teria sido feita na pessoa dequem, antes da propositura da ação,já vira revogado o mandato da em-presa. Disse também, no apelo, quea sentença feriu o art. 225 do Códigode Processo Civil, cerceando a defe-sa da ré.

acórdão do Tribunal de Justiçado Amazonas, apreciando documen-tos constantes dos autos, entendeuter sido válida a citação.

A seguradora embargou de decla-ração, pedindo que o tribunal verifi-casse o descumprimento das exigên-cias do art. 225 do estatuto adjetivo.Não obteve êxito, porém, tendo acorte de origem afirmado que a ma-téria fora apreciada no aresto quejulgou válida a citação inicial.

Novos embargos declaratórios fo-ram opostos, alegando-se erro mate-rial e omissão quanto ao tema dasexigências estabelecidas no art. 225do CPC., para a citação válida. Osembargos foram acolhidos apenaspara correção de erro material.

Inconformada, a sucumbente apre-sentou recurso extraordinário, falan-

do em afronta aos arts. 126, 515 e535-11 do CPC, porque não apreciadaa arguida nulidade do processo.

O apelo foi admitido na origem.o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Francisco Rezek(Relator): A recorrente, no apelo ex-tremo, não aponta infringência doart. 225 do CPC., Refere-se tão-só aodesprezo por normas processuaisque cuidam da devolução, à instân-cia superior, das questões debatidasno primeiro grau de jurisdição; e dehipóteses de cabimento de embargosdeclaratórios.

Sobre essas questões, todavia, écerto que não houve pronunciamentodo tribunal de origem.

Não fosse por isso, entretanto, emelhor sorte não colheria o apelo.De fato, o tribunal do Amazonas,apreciando os embargos, entendeuque se referiam a matéria de méritojá julgada. No aresto impugnado fi-cou dito que a citação inicial não pa-decia de vícios. Não admitiu o tribu-nal, assim, a ocorrência de desres-peito ao art. 225 do Código de Pro-cesso Civil. O inconformismo da se-guradora, na instância excepcional,teria que circunscrever-se no temada nulidade da citação. Cumpria-lhe,na petição do extraordinário, de-monstrar o vício da citação e a pre-tendida afronta ao art. 225 do CPC,em lugar de discutir o cabimento deembargos declaratórios, matéria queatrai o veto do art. 325-VII do Regi-mento Interno.

Não conheço do recurso.

EXTRATO DA ATA

RE 101.737 — AM — Rel.: MinistroFrancisco Rezek. Recte.: Sul Améri-ca Terrestres, Maríthno e Acidentes— Cia. de Seguros (Advs..: Almir deMello Dantas, Fernando Neves daSilva e outros). Recda.: Importadora

242 Ft.T.J. - 125

de Estivas Gibrall Ltda. (Advs.:Laurêncio Maia Viga e outros).

Decisão: Miado o julgamento porhaver pedido vista o Ministro AldirPassarinho, depois do voto do Rela-tor que não conhecia do recurso. Fa-lou, pela Recte.: Dr. Fernando Ne-ves da Silva.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Décio Miranda,Aldir Passarinho e Francisco Rezek.Ausente, justificadamente, o SenhorMinistro Moreira Alves. Subprocura-dor-Geral da República, Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 10 de abril de 1984 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

VOTO (VISTA)

O Sr. Ministro Aldir Passarinho:Para relembrar a espécie, releio orelatório do Sr. Ministro FranciscoRezek e o voto proferido por S. Exa.,e cuja conclusão foi a de não conhe-cimento do recurso (lê).

Na verdade, o que objetivou o ex-traordinário foi obter julgamento deponto que considerou omisso no v.acórdão, omissão esta que não teriasido suprida com dois embargos de-claratórios que interpôs, dizendo elarespeito a ter ficado sem exame odisposto no art. 225 do Código deProcesso Civil.

É de ver, preliminarmente, quenão tenho como intempestivo o ex-traordinário por ter sido ele interpos-to contando-se o prazo a partir dadecisão nos novos embargos declara-tórios, pois embora neste tenha insis-tido o embargante a respeito de pon-to já antes invocado como omissonos primeiros declaratórios, o certoé que estes segundos embargos fo-ram parcialmente acolhidos, paracorreção de erro material existente.Assim, tenho como ocorrente inter-rupção de prazo com a interposiçãodos novos embargos, com aplicação

do disposto no art. 538, do Código deProcesso Civil.

Entretanto, embora tenha comotempestivos os embargos — pontosobre o qual se manteve silente o vo-to do Sr. Ministro Relator natural-mente por assim também entender— não merece, de fato, conhecimen-to o extraordinário.

Ora, sustenta o recorrente que acitação não atendera ao disposto noart. 225 do Código de Processo Civil,posto que haviam sido descumpridasas exigências previstas em tal dispo-sitivo processual. Este ponto foi lar-gamente discutido na apelação quese alicerçou em dois pontos: o pri-meiro, na falta de poderes da pessoaque recebera a citação; e, o segundo,que o mandato citatório não continhaos requisitos exigidos pelo art. 225 doCódigo de Processo Civil. Ora, tantono v. acórdão como no segundo, rela-tivo aos embargos declaratórios, foidito que a matéria fora apreciada,mencionando tal ponto como questãode mérito da apelação, não havendo,assim, porque pretender o recorren-te, pela via do extraordinário, sejacompelido o C. Tribunal a quo a rea-preciar este mesmo ponto da contro-vérsia. Ademais, nem isso seriapossível pela via do excepcional,porquanto, referindo-se o tema aquestão de forma de ato processual,esbarraria a pretensão no óbice doinciso VII, do art. 325, do RI/STF,tal como mencionou o Sr. MinistroRelator no seu douto pronunciamen-to.

Pelo exposto, acompanho S. Exa.E o meu voto.

EXTRATO DA ATARE 101.737 — AM — Rel.: Ministro

Francisco Rezek. Recte.: Sul Améri-ca Terrestres, Marítimos e Aciden-tes — Cia. de Seguros (Advs.: Almirde Mello Dantas, Fernando Neves daSilva e outros). Recda.: Importadorade Estivas Gibrail Ltda. (Advs.:Laurêncio Mala Viga e outros).

R.T.J. - 125

243

Decisão: Não conhecido. Unânime.Não participou do julgamento o Se-nhor Ministro Moreira Alves, pornão ter assistido ao relatório.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Moreira Alves,

Decio Miranda, Aldir Passarinho eFrancisco Reza. Subprocurador-Geral da República, Dr. Mauro LeiteSoares.

Brasília, 5 de fevereiro de 1985 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO R? 102.760 — SP(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorrido: Elias Ferreira de

Souza.

Medida de segurança. Acórdão que cancelou a medida de segu-rança imposta na sentença condenatória. Agente imputável. Reinci-dência em crime doloso. Superveniência da Lei n? 7.209, de 11-7-1984,que excluiu de medida de segurança os imputáveis. Inviabilidade derestabelecer-se, no caso, a medida de segurança, diante da imediataaplicação da lei nova, mais favorável ao réu. Recurso extraordinárioprejudicado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráf I-cas, à unanimidade, julgar prejudi-cado o recurso.

Brasília, 10 de maio de 1985 —Rafael Mayer, Presidente — Néri daSilveira, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): O despacho que admitiu opresente recurso extraordinário, dalavra do ilustre Juiz Carlos OsórioAndrade Cavalcanti, Presidente doTribunal de Alçada Criminal do Es-tado de São Paulo, assim sumariou acontrovérsia (fls. 223/224):

«Elias Ferreira de Souza, por in-curso no art. 157, 2?, n?s I e II,combinado com o art. 12, n? II,ambos dispositivos do Código Pe-nal, foi condenado, na Décima Pri-

meira Vara Criminal de São Paulo,a 2 anos, 9 meses e 20 dias de re-clusão e a Cr$ 4.000,00 de multa,além de medida de segurança de-tentiva pelo prazo mínimo de 2anos.

Desta decisão apelou a defesa,tendo a E. Quinta Câmara destaCorte provido parcialmente o re-curso para reduzir a pena reclusi-va a 1 ano, 10 meses e 20 dias, amulta a Cr; 2.660,00 e cancelar amedida de segurança.

Com apoio no art. 119, n? III, le-tras a e d, da Constituição Federal,recorre extraordináriamente adouta Procuradoria-Geral da Justi-ça. Alega, em síntese, que o ven.acórdão atacado — ao cancelar amedida de segurança por entenderque, sem imputação expressa, nãoé possível aplicar-se medida de se-gurança por presunção normativade periculosidade — negou vigên-cia ao art. 41 do Código de Proces-so Penal e aos arts. 76, 78, n? IV,79, e 93, n! I, do Código Penal e di-vergiu de julgados do Colendo Su-

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premo Tribunal Federal e de ou-tros tribunais do País.

Não foi apresentada a impugna-ção.

No que tange á argüida negativade vigência de lei federal, há de seconsiderar que a turma julgadoraadotou tese razoável, o que impede

prosseguimento do recurso poreste fundamento (Súmula n? 400 doColendo Supremo Tribunal Fede-ral). E que, para a ven. decisão re-corrida, a medida de segurança,como providência limitativa da li-berdade individual, não pode serimposta ao acusado, por periculosi-dade presumida, sem a garantiada ampla defesa e do contraditó-rio.

Quanto aos julgados menciona-dos às fls. 211/219, manifesto odissídio jurisprudencial.

Pelo exposto, admito o recursopela letra d do inciso III do art.119, da Constituição Federal».Razões ás fls. 226/229 e contra-

razões às fls. 232/233.parecer da Procuradoria-Geral

da República, às fls. 240/242, é nosentido de que se dê por prejudicadoo recurso, em face do advento da Lein? 7.209, de 11-7-84.

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): A espécie foi assim exa-minada no parecer da Dra. MariaAlzira 'de Almeida Martins, com aaprovação do ilustre Subprocurador-Geral da República, professor Fran-cisco de Assis Toledo, às fls. 240/242,verbis:

«Trata-se de apelo extremo ma-nifestado sob a invocação dasalíneas a e d do permissivo consti-tucional (art. 119, III, da CF), vi-sando reformar acórdão que can-celou medida de segurança impos-ta em sentença de primeiro grau.

Aponta o recorrente, comodispositivos da lei federal violadospelo aresto recorrido, os arts. 41,do Código de Processa Penal, e 76,78, inciso IV, 79 e 93, inciso I, doCódigo Penal.

Aduz, quanto ao dissídio juris-prudencial, que a decisão «colegia-da dissentiu de jurisprudência doColendo Supremo Tribunal Federale de outros Tribunais no sentido deser obrigatória a aplicação de me-dida de segurança ao reincidenteem crime doloso, sustentando aProcuradoria-Geral da Justiça, orarecorrente, que assim o é portratar-se de presunção de periculo-sidade ex vi legLs; conseqüente-mente, independe de pedido de ex-presso nesse sentido».

O recurso deve ser julgadoprejudicado, em face da perda deseu objeto.

Com o advento da Lei n?7.209, de 11-7-1984, tornou-se im-possível a pretensão deduzida, por-quanto, esse diploma legal extin-guiu a medida de segurança paraos imputáveis.

6. Em hipótese idêntica, decidiua 2! Turma desse Excelso Pretó-rio:

«Ementa: Penal.Medida de segurança. Agente

imputável: Aplicação da Lei ri?7.209/84, que alterou a Parte Ge-ral do Código Penal. Recurso doMinistério Público prejudicado.

Tendo a sentença de primeirograu imposto ao recorrido medi-da de segurança, a qual, porém,foi excluída da condenação peloTribunal de Alçada Criminal deSão Paulo, é de se dar como pre-judicado o recurso do M.P. Esta-dual que objetiva o restabeleci-mento daquela medida, eis que aLei n? 7.209/84, já em vigor, eque pelo seu art. 2?, parágrafoúnico se aplica, até mesmo ha-vendo sentença condenatória

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com trânsito em julgado, no quefavorecer ao agente, prevê, aque-la medida somente para os inim-putáveis ou semi-imputáveis, oque não é o caso». (RECr.103.306-1/SP, Rel.: Min. AldirPassarinho, DJ de 22-3-84, pág.3629).Opinamos, em face do exposto,

que seja julgado prejudicado o re-curso».Cancelada pelo colendo Tribunal a

quo a medida de segurança, impostaem decisão de primeiro grau, bemde ver é a inviabilidade de seu resta-belecimento, nos termos pretendidosno apelo extremo, diante da Lei n?7.209/1984, posterior ao acórdão re-corrido, que excluiu de medidas desegurança os imputáveis, conformebem anotou o parecer supra.

Assim sendo, nos termos do pro-nunciamento da Procuradoria-Geral

da República, julgo prejudicado o re-curso extraordinário.

EXTRATO DA ATA

RE 102.760 — SP — Rel.: MinistroNéri da Silveira. Recte.: MinistérioPúblico Estadual. Recdo.: Elias Fer-reira de Souza (Adv.: Orlando Cal-vielli).

Decisão: Julgou-se prejudicado orecurso. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes á Sessão osSenhores Ministros, Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Sydney Sanches e Oc-tavio Gallotti. Subprocurador-Geralda República, Dr. Francisco de As-sis Toledo.

Brasília, 10 de maio de 1985 —Antônio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 103.082 — RO(Primeira Turma)

Relator para o acórdão: O Sr. Ministro Néri da SilveiraRecorrente: Estado de Rondônia — Recorridos: Dudeley Samuel Aleyne

e outros

Mandado de segurança. Atos de Secretário de Estado de que re-sultaram a rescisão de contrato de trabalho de servidores estaduais eseu afastamento das funções de agentes fiscais. Impetrantes que in-gressaram no serviço público, mediante concurso, no regime da CLT.Competência do Tribunal de Justiça e não da Justiça do Trabalho. Nomandado de segurança, tem-se presente a natureza da autoridade esua hierarquia, para definir a competência do órgão jurusdicional.Muito embora os direitos questionados sejam de índole trabalhista, oque se ataca, na via especialissima do mandado de segurança, é o atoda autoridade. A competência, para o processo e julgamento de man-dado de segurança, vem, assim, em principio, explicitamente, previs-ta na Constituição ou nas leis. Não basta, no caso, tenha a Justiça doTrabalho competência para julgar reclamações trabalhistas, entreempregados regidos pela CLT e os Estados-membros, para, dai,concluir-se pela competência dessa Justiça especializada federal, emordem a conhecer de atos de condutor político estadual, na via es-pecifica do mandado de segurança. Deferida a segurança pelo Tribu-nal de Justiça, competente para julgar mandado de segurança contraato de Secretário de Estado, não se conhece do recurso extraordiná-rio, por alegação de ofensa ao art. 142, da Constituição.

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ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata deJulgamento e das notas taquigráfi-cas, não conhecer do recurso, venci-do o Ministro Relator.

Brasília, 12 de fevereiro de 1985 —Rafael Mayer, Presidente — Néri daSilveira, Relator p/o Acórdão.

RELATORIO

O Sr. Ministro Rafael Mayer: Tra-ta-se de mandado de segurança re-querido perante o Egrégio Tribu-nal de Justiça do Estado, em que osimpetrantes intentam o anulamentodos atos praticados por Secretário deEstado que os afastaram dos cargosde agentes fiscais, mediante rescisãodos respectivos contratos de traba-lho, com a conseqüente reintegraçãoe consectários.

Consta do relatório adotado peloilustre Desembargador-Relator, inverbis:

«No dia 9 de janeiro de 1980,quando ainda eramos Território,através da Portaria n? 14, os Mi-nistros de Estado da Fazenda e doInterior autorizaram à Secretariada Receita Federal e ao Governodo Território Federal de Rondônia«a celebrarem convênio entre si,visando a participação do Territó-rio na realização de atividades deassistência e orientação ao contri-buinte, bem como fiscalização earrecadação de Imposto tinico so-bre Minerais e do Imposto sobreoperações relativas á Circulaçãode Mercadorias» (fls. 8/9, repetidaàs fls. 87/88).

Em conseqüência da autoriza-ção, foi celebrado o convênio entrea Secetaria do Governo Federal e oGoverno do então Território Fede-ral de Rondônia, especialmente pa-

ra o que dispõem as alíneas a, b, d,c do item I (fl. II, repetido à fl.90).

intercâmbio de informaçõese cadastramento de contribuin-tes;

fiscalização do cumprimen-to das obrigações tributárias, au-ditoria e lavratura dos necessá-rios autos de infração, bem comoorientação fiscal aos contribuin-tes;

c) arrecadação dos impostos,especialmente sem controle.O passo seguinte foi a realização

do competente concurso, estandoentre os aprovados os impetrantes(fls. 13/14), os quais foram admiti-dos como agentes fiscais AF-2, pe-lo regime celetista (fls. 18/21;28/32; 37/ 41; 49/53 e 61/65).

Criado o Estado de Rondônia, aAssociação dos Fiscais de TributosEstaduais de Rondônia — AFRON— numa exposição de motivos (fl.68), considera os seguintes pontos:

Em face da legislação perti-nente (arts. 97, 100, 108 e 109 daConstituição Federal e art. 2? daLei n? 6.185/74), o cargo de agentefiscal é privativo de funcionáriosestatutários, interpretação que foiconfirmada pela informação n?54/PGE, de 9-7-82, (fl. 71/73).

Conseqüentemente, os agen-tes fiscais do Estado, celetistas,não têm capacidade legal para asatribuições pelas quais foram con-vocados.

c) Para evitar possíveis pre-juízos ao Estado já que poderá «a-carretar grandes danos ao ErárioPúblico, pela impugnação dos au-tos de infração, com base na inca-pacidade legal dos Agentes Au-tuantes», a AFRON requer seja re-gularizada a situação jurídica dosAgentes Fiscais».

O Exmo. Sr. Secretário da Fa-zenda do Governo do Territóriohouve por bem rescindir o contrato

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dos impetrantes sem justa causa,convertendo o aviso prévio em sa-lários correspondentes a trinta (30)dias.»

Tribunal Pleno decidiu, pormaioria de votos, rejeitar a prelimi-nar de incompetência da Justiça Es-tadual e, no mérito, conceder a segu-rança, restabelecendo os contratosde trabalho, a partir do ajuizamentoda ação (fl. 192).

acórdão referido tomou a emen-ta seguinte:

«Servidor concursado, ainda quepor seleção interna, para exercíciode atividade prevista na Lei n?6.185, de 11-12-74, não pode ser dis-pensado imotivadamente.

Se não há cargo para lotação,nem por isso perde, aquele servi-dor, os direitos que se lhe aderemtão-só pelo concurso e exercido dafunção.

Regime sul generis instalado pe-la Administração do Território eencampado pelo Estado que, deconseqüência, terá que arcar como ônus da irregularidade.»Embargos de declaração foram

providos, em parte, para declarar(1) que o Relator rejeitou a prelimi-nar arguida pelo DesembargadorHélio Fonseca e (2) que o Tribunalinacolheu dita preliminar (fl. 206).

recurso extraordinário interpos-to pelo Estado, vem fundamentadona letra a do permissivo constitucio-nal, invocando contrariedade ao art.142 da Constituição.

recurso foi admitido e regular-mente processado.

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Rafael Mayer (Re-lator): Pressuposto incontroverso éque os impetrantes foram admitidos,por concurso, para exercer a funçãode agentes fiscais, sob a regência da

lei trabalhista, e ainda quando naadministração do Território, conti-nuando, nessa condição, após a cria-ção do Estado, ao qual passaram aservir, sem que houvessem logradoinvestidura sob o regime estatutário.A dispensa das ditas funções, contraa qual se insurgem, se fez sob a in-vocação de pertinentes normas tra-balhistas.

Não se suscitou, em nenhum passodos autos, tivesse o Estado editadolei institutiva de regime especial pa-ra servidores temporários ou contra-tados para a prestação de serviçostécnicos ou especializados, nos ter-mos do art. 106 da Constituição, efosse possível, de conseguinte, queos impetrantes se submetessem a talregime, em condições de arrogar acompetência da justiça comum paradirimir os litígios respectivos.

Resulta, portanto, que a situaçãode prestação de serviço dos impe-trantes é caracterizadora de uma re-lação de emprego de natureza tipica-mente trabalhista, sendo induvidosoque os litígios pertinentes a essa re-lação jurídica estão necessariamentesubmetidos á jurisdição especializa-da trabalhista, nos termos inequívo-cos do art. 142 da Constituição.

Para dirimir as lides emergentesde uma relação empregaticia regidapela Consolidação das Leis do Tra-balho, em que o empregador é o Es-tado, competente é a Justiça do Tra-balho, e não, a Justiça Estadual.

Prequestionada que está a matériaconstitucional, conheço do recurso, etendo em vista a incompetência ab-soluta da Justiça Estadual para pro-ceder, declaro nulo o acórdão recor-rido e competente, para o caso, aJustiça do Trabalho, a quem a causadeve ser remetida, provendo assim orecurso.

EXTRATO DA ATA

RE 103.082 — RO — Rel.: MinistroRafael Mayer. Recta.: Estado de

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Rondônia. (Advs.: Márcia Regina Ri-nI e outros). Recdos.: Dudeley Sa-muel Aleyne e outros (Advs.: Anto-nio Alberto Pacca e Alcio Luis Pes-soa).

Decisão: Depois dos votos dos Mi-nistros Relator e Sydney Sanches,que conheciam do recurso extraordi-nário e lhe davam provimento paradeclarar a incompetência da justiçacomum, o julgamento foi adiado apedido de vista do Ministro Néri daSilveira. Ausente, justificadamente oMinistro Oscar Corrêa. Falou pelosRecdos.: Dr. Alcio Luiz Pessoa.

Presidência do Senhor MinistroSoares Mufloz. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Rafael Mayer,Néri da Silveira e Sydney Sanches.Ausente, justificadamente o Sr. Mi-nistro Oscar Corrêa. Subprocurador-Geral da República, Dr. Franciscode Assis Toledo.

Brasília, 30 de outubro de 1984 —Antônio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

VOTO (VISTA)

O Sr. Ministro Néri da Silveira:Cuida-se de mandado de segurançaimpetrado contra ato de Secretáriode Estado, por servidores, agentesfiscais, que tiveram rescindidos,sem justa causa, seus contratos detrabalho, pleiteando reintegraçãonas funções e consectários. Os impe-trantes ingressaram no serviço pú-blico, mediante concurso, no regimeda CLT.

2. Recusada pelo Plenário daCorte a quo a incompetência da Jus-tiça do Estado, deferiu-se a seguran-ça, «restabelecendo-se os contratos,a partir do ajuizamento da ação.»

Tem esta fundamentação o voto doSenhor Desembargador Clemenceau

Pedrosa Maria, ao rejeitar a preli-minar de incompetência (fls. 183/186):

«Na verdade, é hoje ponto pacifi-co que a competência judiciáriapara Mandado de Segurança estáassentada em dois princípios: a) oda qualificação da autoridade co- -mo federal ou local; b) o da hierar-quia, isto é, da graduação hierár-quica da autoridade para o efeitoda competência no mecanismo dasinstâncias em cada uma daquelasjurisdições. E uma competênciaratione autoritatis, porque dependeda qualificação da autoridade pelocritério acima; e racione numeris,isto é, em razão do cargo ou fun-ção da autoridade contra a qual serequer a Segurança (Castro Nunes,do Mandado de Segurança, pág.258, 2? edição).

Com efeito, consoante o dispostono art. 125, inciso VIII da LeiMaior, compete aos Juizes Fede-rais processar e julgar «os Manda-dos de Segurança contra ato de au-toridade federal, como tal definidaem lei, excetuados os casos decompetência dos Tribunais Fede-rais.»

Exige-se, pois, que a autoridadede quem se queixa o impetranteseja federal, para sujeitar o man-damus à competência da JustiçaFederal.

A Lei n? 1.533, de 31 de dezembrode 1951, considera federal a autori-dade coatora «se as conseqüênciasde ordem patrimonial houverem deser suportadas pela União ou pelasentidades autárquicas federais».Isso não ocorreu na espécie. Asconseqüências de ordem patrimo-nial se concedido o writ, hão de sersuportadas pelo Estado e não pelaUnião. Já que o Governo Federalapenas transfere a dotação para oEstado, cumprindo a este comopessoa jurídica de direito público,com autonomia política, adminis-

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tratava e financeira, arcar com asconseqüências de ordem patrimo-nial.

Admitir-se o contrário seria ful-minar o sistema federativo que es-tabelece a autonomia estadual.

Assim, os atos emanados da au-toridade administrativa do Estadoou Território, rescindindo contra-tos de trabalho, são atos de autori-dade local, porque por ela pratica-dos, no caso, o Secretário de Segu-rança Pública.

A distinção entre atos adminis-trativos locais e os de natureza fe-deral foi levada ao Pretório Excel-so pelo então Juiz Federal CastroNunes, no julgamento do Mandadode Segurança nt 78 e ali acolhida,no venerando acórdão respectivo.

Segundo ele, devem-se distinguir«os atos praticados pelo interven-tor, de natureza puramente local,na execução de leis locais, istoatos de administração ordinária, eos atos que ele pratica executandouma missão federal, do interessegeral da nação.»

E prossegue:E aquela distinção muito conhe-

cida no direito argentino, e, entrenós, proficientemente exposta peloSr. Aurefino Leal, que estabeleceu,com muita precisão, as diferenças,as hipóteses.»

E continua o renomado mestre:«No caso do Interventor, se este

cumpre determinação do governofederal ou executa lei federal, semnenhum interesse local diretamen-te ligado a esta execução, poder-se-a cogitar de responsabilidade daUnião, mas, se ele faz as vezes deGovernador do Estado, ao nocumprimento de leis locais, desem-penha serviços regulados pela le-gislação do Estado, a bill-dade não pode ser da

São atos do Governo local, exer-cidos pelo Interventor ou seus dele-gados.»

E finaliza:«Na hipótese dos autos, parece-

me que se trata de uma rescisãode contrato, de um direito contra-tual, isto é, de ato normal da admi-nistração local» (Rev. Forense,vol. 221, págs. 127/130).

Fora dos casos em que a Cons-tituição atribui, expressamente,competência ao Supremo TribunalFederal e Tribunal de Recursospara conhecer de Mandado de Se-gurança, subsiste a competênciageral dos juizes e tribunais locais.As leis da Organização Judiciária,compete, portanto, fixar as normasgerais de competência dos respec-tivos juízes e tribunais. In cem; oCódice de Organização e DivisãoJudiciária do Estado (Decreto-Leio! 008, de 25 de janeiro de 1982),dispõe expressamente, em seu art.14, inciso III, letra e, que competeao Tribunal Pleno processar e lul-pr, originariamente, os Mandadosde Segurança contra atos do Go-vernador do Estado e de seu Secre-tário.

A competência, portanto, paraconhecer dos Mandados de Segu-rança, será a mesma fixada pelalei de organização judiciária paraos casos de babe** corpos, mas noJuizo Cível.

Nem se diga que os Governado-res dos Territórios ou seus Secretá-rios, quando pactuam ou rescin-dem contratos de trabalho, o fa-zem em nome da União. O equívo-co é manifesto. Os Governadoresdos Territórios fazem parte da or-ganização administrativa local, re-presentando o Território, em seunome — do Território — e não emnome da União. Tais consideraçõessão oportunas e necessárias, já queo Impetrante teve rescindido o seu

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contrato de trabalho quando Ron-dônia ainda era Território.

A dissipar dúvidas no tocante àincompetência da Justiça Federalpara apreciar e julgar o presentewrit, transcrevo pronunciamentodo Pretório Excelso, no julgamentodo Conflito de Jurisdição n? 5.463,relator o Ministro Thompson Flo-res, assim ementado:

«I — Mandado de Segurançacontra ato do Governador de Terri-tório Federal. Competência da Jus-tiça local. Motivação.

II — Critério para aferir se aautoridade firmatória do ato im-pugnado é ou não federal. Não de-ve ser buscado na origem da inves-tidura, . nem nos efeitos patrimo-niais decorrentes do ato, mas na-quele que qualifica a autoridade,pela sua integração no serviço, co--mo órgão desse serviço, necessa-riamente inserto em sua estruturaideal e lógica, ainda que por fato-res eventuais e contingentes, oupor desvio da normalidade, a situa-ção concreta seja outra. Dentrodesse critério, se de sorte a autori-dade se integra no serviço, e se es-se serviço é local ou federal, seráela também.» (Revista Trimestralde Jurisprudência do Supremo Tri-bunal Federal, vol. 58, pág. 707).

Pelo exposto, rejeitando a preli-minar suscitada pelo ilustre De-sembargador Relator, o meu votoé pela competência deste EgrégioTribunal para apreciar e julgar opresente mandamus.

Desejo ressaltar aos eminentescolegas, que a Justiça do Trabalhotambém é uma Justiça Federal.Pelas razões expostas, meu voto épela competência deste Tribunalpara apreciar e julgar o presentewrit.»3. O eminente Ministro Rafael

Mayer acolheu, ao conhecer do re-

curso extraordinário e cassar a deci-são, a quaestio jurls da incompetên-cia da Corte a quo. Tem este teor ovoto de S. Exa.:

«Pressuposto incontroverso é queos impetrantes foram admitidos,por concurso, para exercer a fun-ção de agentes fiscais, sob a regên-cia da lei trabalhista, e aindaquando na administração do Terri-tório continuando, nessa condição,após a criação do Estado, ao qualpassaram a servir, sem que , hou-vessem logrado investidura Sob oregime estatutário. A dispensa dasditas funções, contra a qual se in-surgem, se fez sob a invocação depertinentes normas trabalhistas.

Não se suscitou, em nenhum pas-so dos autos, tivesse o Estado edi-tado lei institutiva de regime espe-cial para servidores temporáriosou contratados para a prestação deserviços técnicos ou especializa-dos, nos termos do art. 106 daConstituição, e fosse possível, deconseguinte, que os impetrantes sesubmetessem a tal regime, emcondições de irrogar a competên-cia da Justiça comum para dirimiros litígios respectivos.

Resulta, portanto, que a situaçãode prestação de serviço dos impe-trantes é caracterizadora de umarelação de emprego de natureza ti-picamente trabalhista, sendo indu-vidoso que os litígios pertinentes aessa relação jurídica estão neces-sariamente submetidos à jurisdi-ção especializada trabalhista, nostermos inequívoco do art. 142 daConstituição.

Para dirimir as lides emergentesde uma relação empregaticia regi-da pela Consolidação das Leis doTrabalho, em que o empregador éo Estado, competente é a Justiçado Trabalho, e não, a Justiça Esta-dual.

Prequestionada que está a maté-ria constitucional, conheço do re-

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curso, e tendo em vista a incompe-tência absoluta da Justiça Esta-dual para proceder, declaro nulo oacórdão recorrido e competente,para o caso, a Justiça do Trabalho,a quem a causa deve ser remetida,provendo assim o recurso.»No mandado de segurança tem-se

presente a natureza da autoridade esua hierarquia, para definir a com-petência do órgão jurisdicional. Mui-to embora os direitos questionadossejam de índole trabalhista, o que seataca, na via especialissima do man-dado de segurança, é o ato da autori-dade. A competência para conhecerde mandado de segurança, vem, as-sim, explicitamente, prevista naConstituição ou nas leis. Não bastatenha a Justiça do Trabalho, compe-tência para julgar reclamações tra-balhistas, entre empregados regidospela CLT e os Estados-membros, pa-ra, daí, concluir-se pela competênciadessa Justiça especializada federal,para conhecer de atos de autoridadepolítica estadual, na via especificado mandado de segurança.

Hely Lopes Meirelles anota: «Acompetência para julgar mandadode segurança se define pela catego-ria da autoridade coatora ou pelasua sede funcional. Normalmente aConstituição da República e as leisde organização judiciária especifi-cam essa competência, mas casoshá em que a legislação é omissa exi-gindo aplicação analógica e subsí-dios doutrinários». E, noutro passo,assere: «E assim é, porque paraos remédios heróicos habeas cor-pus e mandado de segurança — oprincipio dominante é o da com-petência territorial do juiz que temjurisdição sobre o coator, a fim deque possa coibir a ilegalidade compresteza e possibilidade efetiva defazer cumprir direta e imediatamen-te a sua ordem, sem necessidade deprecatória» Adiante, ensina: «Paraa fixação do juizo competente emmandado de segurança, não lideres-

sa a natureza do ato impugnado; oque importa é a sede da autoridadecoatora e a sua categoria funcional,reconhecida nas normas de organi-zação judiciária pertinentes.» (apudMandado de Segurança e Ação Po-pular, 98 ed., págs. 38, 40 e 41).

Com efeito, os atos do Presidenteda República, qualquer seja seu con-teúdo, são atacados em mandado desegurança, perante o Supremo Tri-bunal Federal (CF, art. 119, I, letrai), incusive em matéria eleitoral,inobstante a regra do art. 137, VII, intine, da Lei Maior. O mesmo sucede,de referência às demais autoridadesou órgãos referidos no art. 119, I, le-tra i, da Constituição, porque osmandados de segurança contra seusatos são da competência origináriado STF.

Relativamente aos Ministros deEstados e autoridades mencionadasno art. 122, I, letra c, da Constitui-ção, os mandados de segurança con-tra seus atos são processados e jul-gados, originariamente, no TribunalFederal de Recursos, salvo se se tra-tar de matéria eleitoral, quando acompetência há de entender-se doTribunal Superior Eleitoral, ut art.137, VII, da Lei Magna federal, com-binado com o art. 22, I, letra e do Có-digo Eleitoral, a não ser se o ato forde Juiz Federal, quando, então, fica-rá sujeito ao Tribunal Regional Elei-toral respectivo.

Quanto às demais autoridades fe-derais, segundo o art. 125, VIII, daConstituição, a competência para oprocesso e julgamento de mandadode segurança contra seus atos serádo Juiz Federal, excetuados os casosde competência dos Tribunais Fede-rais. No particular, além das nor-mas constitucionais já aludidas, im-pende ter presente a regra do art.21, V, da Lei Complementar n? 35/1979, segundo a qual compete, pri-vativamente, aos Tribunais «julgar,originariamente, os mandados de se-gurança contra seus atos, os dos res-

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pectivos presidentes e os de suas Câ-maras, Turmas, ou Seções.»

Tratando-se de mandados de segu-rança, no ambito da Justiça do Tra-balho, coexiste norma de nível Cons-titucional a disciplinar a matéria decompetência, sendo de ter presente,todavia, o disposto no art. 21, V, daLOMAN, quanto aos atos dos Tribu-nais. Escreve, nesse sentido, HelyLopes Meirelles, na obra menciona-da, pág. 39:

«Não há previsão legal de órgãocompetente para processar e jul-gar mandado de segurança contraato dos juizes do trabalho, mas, seessas autoridades são suscetíveisde cometer ilegalidade ou abuso depoder, contra seus atos há de seradmitido o mandado de segurança,podendo fixar-se a seguinte orien-tação: contra ato dos Juizes doTrabalho (Juntas e seus Presiden-tes), a competência é do TribunalRegional do Trabalho respectivo;contra atos dos órgãos e autorida-des do Tribunal Regional do Tra-balho, a competência é do próprioTribunal Regional do Trabalho.»Não compreendo, dessa maneira,

se possa submeter, data verde, o atode Secretário de Estado, atacado pormandado de segurança, que, deacordo com a lei de organização ju-diciária estadual, está sujeito a pro-cesso e julgamento pelo Tribunal deJustiça, ao deslinde de urna Junta deConciliação e Julgamento, que nãotem competência para julgar man-dado de segurança. Se há um litígiode índole trabalhista, no âmago dapretensão dos impetrantes, o queconta, a definir a competência, não édata venta, na espécie, como ensinaHely Lopes Melreiles, a natureza doato impugnado, mas a categoria e asede da autoridade. No caso, Secre-tário de Estado dispensou, sem cau-sa, consoante se alega, servidoresestaduais regidos pela CLT. Para sa-ber se o ato é Ilegal ou abusivo de di-reito, praticado por esse condutor

político do Estado-membro, de mol-de a ferir direito certo e líquido, dosImpetrantes, servidores do próprioEstado, a competência é do Tribunalde Justiça do mesmo Estado. Tantoé assim que, se denegado o writ, pornão se caracterizar liquidez e certe-za do direito, poderão os impetrantesusar contra o Estado as vias ordiná-rias. Estas, sim, hão de ser, na Jus-tiça do Trabalho, por meio de recla-mação trabalhista. O que não se po-de é retirar do mandado de seguran-ça o caráter de instrumento constitu-cional a ser utilizado contra ato ile-gal ou abusivo de poder de autorida-de que se recuse deferir direito certoe liquido de alguém. Máxime, datavenda, no caso concreto, em que osimpetrantes sustentam possuir «o di-reito a serem «enquadrados» no re-gime estatutário, enquanto se encon-tram irregular e Ilegalmente, no re-gime da CLT, o que já vem dandomargem a uma série de mandadosde seguranss, por atos praticadospor parte os Fiscais de TributosEstaduais do Estado de Rondônia( ...).»

Assim sendo, com a devida vênia,reconhecendo a competência do Tri-bunal de Justiça do Estado de Ron-dônia, para julgar o mandado de se-gurança impetrado pelos servidoresdispensados contra ato do Secretáriode Estado, que os afastou das fun-ções, não conheço do recurso, porofensa ao art. 142, da Constituição.

EXTRATO DA ATA

RE 103.082 — RO — Rel.: MinistroRafael Mayer. Recte.: Estado deRondônia. (Advs.: Márcia Regina PI-M e outros). Recdos.: Dudeley Sa-muel Alayne e outros (Advs.: Anto-nio Alberto Pacca e Ateio Luis Pes-soa).

Decisão: Prosseguindo o julgamen-to e após os votos do Ministro Rela-tor e Sydney Sanches que conheciamdo recurso e dava provimento e do

R.T.J. — 125

253

voto do Ministro Néri da Silveira,que dele não conhecia, o julgamentofoi adiado pelo Ministro Sydney San-ches, para rever seu voto.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Sydney Saches e Oc-tavio Gallotti. Subprocurador-Geralda República, Dr. Francisco de As-ais Toledo.

Brasília, 4 de dezembro de 1984 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RETIFICAÇÃO DE VOTO

O Sr. Ministro Sydney Sanches: 1.Os ora recorridos tinham sido admi-tidos pelo regime da Consolidaçãodas Leis do Trabalho para exercíciode funções de agentes fiscais emRondónia, quando ainda Território.

tiveram seus contratos de traba-lho rescindidos por ato do então Se-cretário da Fazenda. quando iá cria

-do o Estado de Rondônia (Lei Com-plementar n? 41, de 22-12-81).

Impetraram mandado de seguran-ça contra esse ato da autoridade es-tadual. sustentando, em síntese, que,com a criação do Estado de Rondô-nia, têm o direito de enquadramentono regime estatutário e, conseqüen-temente, não poderiam ser dispensa-dos sumariamente, até porque admi-tidos e contratados após concursopúblico.

Tiveram êxito perante o Tribunalde Justiça, mas o Estado de Rondô-nia, inconformado, interpôs recursoextraordinário, alegando violação doart. 142 da Constituição Federal, por-que incompetente a Justiça Estadualpara dirimir a controvérsia.

Em sessões anteriores, o eminenteMinistro Rafael Mayer, Relator, co-nheceu do recurso e deu-lhe provi-mento, E o Exmo. Sr. Ministro Nerida Silveira dele não conheceu. TudoPor razões que já expuseram. Pediadiamento para exame dos autos e

passo a proferir meu voto, em retifi-cação ao que havia adiantado oral-mente.

2. E incontroverso o fato de te-rem sido os impetrantes contratadossob o regime da Consolidação dasLeis do Trabalho, para exercício defunções de agentes fiscais de renda.

Ocorre, entretanto que a preten-são deduzida em juizo nada tem aver com o regime da Consolidaçãodas Leis do Trabalho. O que plei-teiam os ora recorridos é o reconhe-cimento de que estatutário e não ce-letista seu regime de trabalho, ex vido disposto no art. 2? da Lei n? 8.185,de 11-12-74, verbis:

«Para as atividades inerentes aoEstado como Poder Púbico, semcorrespondência no Setor Privado,compreendidas nas áreas de Segu-rança Pública, Diplomacia, Tribu-tação, Arrecadação e Fiscalizaçãode Tributos Federais e contribui-ções Previdenciárias, e no Ministé-rio Público, só se nomearão servi-dores cujos deveres, direitos e van-tagens sejam os definidos em Esta-tuto próprio, na forma do art. 109da Constituição Federal».Ainda a propósito da pretensão,

destaco, da inicial, os seguintes tópi-cos:

«Assim agindo, no entanto, Exa.,Governo do Estado de Rondônia

feriu, frontalmente, direito liquidocerto dos ora impetrantes, que

tendo direito á regularização desua condição funcional, eis que ten-do sido concursados, devidamenteaprovados e, tendo cumprido, inte-gralmente, o Curso respectivo, deformação de Agentes Fiscais II, te-riam forçosamente, quer ser con-siderados como Funcionários Es-tatutários conforme previsto nalegislação referida e mesmo trans-crita na Consulta (doc. 8) e na «In-formação» da Procuradoria-Geraldo Estado (doe. 9) ...» (fl. 4).

«Assim agindo, infringiu o Go-verno do Estado, a toda a legisla-

254 R.T.J. — 125

ção pertinente à espécie, pois, deacordo com a «exposição de moti-vos» dirigida pela Associação dosFuncionários de Tributos Esta-duais de Rondônia — AFRON — ese vê na «Informação» da doutaProcuradoria-Geral do Estado, de-vidamete aprovada, tinham e têmos impetrantes o direito de serem«enquadrados» no Regime Estatu-tário enquanto se encontram irregu-lar e ilegalmente, no Regime daCLT ...» (fl. 4).Vê-se, portanto, que não reclamam

qualquer vantagem de natureza tra-balhista, regida pela Consolidaçãodas Leis do Trabalho ou por leis cor-relatas, mas apenas o reconheci-mento de que, como servidores esta-tutários, não poderiam ter sido demi-tidos ou sofrer despedida pela Admi-nistraçãoPública.

Em suma: o que pretendem é adesconstituição de ato de autoridadeadministrativa estadual, por razõesde ordem jurídica estatutária e nãotrabalhista.

Ora, em face do pedido, da causade pedir e, da condição do impetrado(autoridade pública e não empre-gador) cujo ato se quer desfazer, acompetência, a meu ver, é mesmodo Tribunal de Justiça do Estado deRondônia.

Por tais razões, com a devida vê-nia do eminente Relator, acompanhoo voto do Exmo. Sr. Ministro Néri daSilveira e não conheço do recurso ex-traordinário, pois não considero vio-lado o art. 142 da Constituição Fede-ral.

E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RE 103.082 — RO — Rel.: MinistroRafael Mayer. Recte.: Estado deRondônia. (Advs.: Márcia Regina Pi-ni e outros). Recdos.: Dudeley Sa-muel Alayne e outros (Advs.: Anto-nio Alberto Pacca e Meio Luis Pes-soa).

Decisão: Não se conheceu do re-curso, vencido o Ministro Relator,tendo o Ministro Sydney Sanches, re-considerado seu voto, não votaramos Ministros Oscar Corrêa e OctavioGallotti, por não terem assistido aorelatório.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros, Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Octavio Gallotti eSydney Sanches. Subprocurador-Geral da República, Dr. Franciscode Assis Toledo.

Brasília, 12 de fevereiro de 1985 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 103.299 (EDcl) — RJ(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Francisco RezekEmbargante: Orlindo Elias Filho — Embargada: Aconchego Creche e

Maternal Ltda.

Embargos Deelaraterios. Pressupostos.Embargos declaratórios que não encontram suporte nas hipóteses

do permissivo processual.Embargos rejeitados.

R.T.J. - 125

255

ACORDA°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por decisão unânime, rejeitaros Embargos de Declaração.

Brasília, 10 de fevereiro de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — Fran-cisco Reza, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Francisco Rezek:Trata-se de embargos declaratórlosopostos a acórdão que estimou im-próprio o uso de mandado de segu-rança quando a quebra do direito ob-jetivo nele denunciada não importaafronta a direito subjetivo do impe-trante, mas apenas a seus interesseslegítimos. O acórdão foi resumidodeste modo:

«Mandado de Segurança. DireitoSubjetivo. Interesse.

Descabe o mandado de seguran-ça quando o impetrante não temem vista a defesa de direito subje-tivo, mas a de mero interesse re-flexo de normas objetivas. Prece-dentes e doutrina.

Mérito do recurso extraordiná-rio» (fl. 507).Argumenta o embargante que, pa-

ra afirmar a existência tão-só de in-teresse na espécie, o STF viu-se nacontingência de interpretar direitolocal — tarefa desautorizada pelaSúmula 280. Alega, no mais, a razoa-bilidade da tese, prevalente na ori-gem, de que também os interessesse enquadram na previsão constitu-cional do mandado de segurança.Reclama que a tese não teria sidoenfrentada no acórdão embargado.

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Rezek(Relator): Não procede a censuracentrada na Súmula 280. O decisórioembargado em nenhum instante re-viu o mérito do pronunciamento dacorte estadual, que afirmou contrá-ria à lei a medida impugnada nomandado de segurança. Discutiu-se,isto sim, o correto entendimento dotexto constitucional, no tópico emque estabelece os pressupostos domandado de segurança. Qualificar alesão ao direito objetivo — afirmadana origem — de ofensiva a direitosubjetivo ou a mero interesse, cons-titui matéria de que não tem comofugir este Tribunal, para guardar-sefiel ao encargo de velar pela leimaior; da mesma forma que dizer selíquidos os fatos expostos numa con-trovérsia, enquanto pressupostos doremédio heróico, é função própria aoSTF, sem que disso resulte des-prestigio para a Súmula 279.

Vale notar que em tema constitu-cional a Súmula 400 não encontraaplicação. O argumento, ademais,da falta de debate sobre a tese dotribunal carioca a propósito do cabi-mento do mandado de segurança pa-ra preservar interesses reflexos per-de vigor ante o próprio teor do acór-dão embargado. Ali, nas seis pági-nas do voto de Relator, a matéria foilargamente examinada chegando aTurma a conclusões distintas daque-las que, na origem, haviam prevale-cido em segunda instância.

Sem o que dê suporte aos embar-gos declaratórios, rejeito-os.

EXTRATO DA ATA

RE 103.299 (EDc1) — RJ — Rel.:Ministro Francisco Rezek. Embte.:Orlindo Elias Filho (Advs.: LuizZveiter, José Guilherme Villela, Pe-dro Luiz Leão V. Ebert e outros).Embda.: Aconhego Creche e Mater-nal Ltda. (Adv.: Arthur de CastroBorges).

256 R.T.J. - 125

Decisão: Rejeitados os Embargosde Declaração. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjacl Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passarinho,Francisco Rezek, Carlos Madeira e

eólio Borja. Subprocurador-Geral daRepública, o Dr. Mauro Leite Soa-res.

Brasília, 10 de fevereiro de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO Ni' 104.284 (AgRg) — PA(Tribunal Pleno)

(RE na RTJ 113/913)

Relator: O Sr. Ministro Francisco RezekAgravante: Anwar Rafie Taki Eddine — Agravado: Ciro Saraiva Lima.

Embargos de Divergência. Falta de pressupostos.São inadmissíveis os embargos de divergência se não se Identifi-

cam as premissas dos acórdãos postos em confronto.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por decisão unânime, negar pro-vimento ao agravo regimental.

Brasília, 3 de dezembro de 1986 —Moreira Alves, Presidente —Francisco Rezek, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Francisco Rezek: Oacórdão a que a parte sucumbenteopôs embargos de divergência foi to-mado à unanimidade pela PrimeiraTurma, e mereceu do relator, Minis-tro Gailotti, a seguinte Súmula:

«Retomada decretada em açãorenovatória de locação.

Prevalecem os óbices previstosno art. 325, V, f e VIII, do Regi-mento Interno, por não estar confi-gurado o dissídio com as Súmulas409 e 485, nem contrariada a Cons-

titulção em seus artigos 160, III e153, f 15, este último porque o ale-gado cerceamento da defesa, emcausa civel, comportou-se no planode lel processual. Precedentes doSupremo Tribunal Federal.

Recurso extraordinário de quenão se conhece» (fl. 425).Sobre a aventada divergência das

Súmulas 409 e 485 dissera, em seuvoto, o relatoé:

«Certo que a presunção erigidaem favor do retomante não é abso-luta, como está assente na Súmula485, também mencionada pelo Re-corrente. Mas nada impede que oJuiz, convencido da sinceridade dopedido, dele conheça diretamente,nos termos do art. 330 do Código deProcesso Civil, cuja aplicação nãoé restrita às questões unicamentede direito, mas se estende ás de fa-to, quando não houver necessidadede produzir prova em audiência.

A propósito da invocada Súmula409, nenhum indicio se apresen-

tou de abuso de direito, na escolhade prédio a ser retomado» (fl. 416).

R.T.J. - 125

237

O Ministro Sanches, após vista dosautos, observara em seu voto:

«Diz a Súmula n? 485:«Nas locações regidas pelo De-

creto n? 24.150, de 20-4-1934, a pre-sunção de sinceridade do retamen-te é relativa, podendo ser ilididapelo locatário».

Juizo de primeiro grau e o Tri-bunal a quo não admitindo produ-ção de provas, poderiam ter con-vertido em absoluta essa presun-ção de sinceridade e, então, nessecaso, estaria caracterizada viola-ção à Súmula, que a tem por rela-tiva, admitindo prova em contrá-rio.

exame dos autos, porém, meconvenceu de que o recurso não po-de mesmo ser conhecido.

que o v. acórdão recorrido, pa-ra manter a sentença de improce-dência da renovatória, admitiu aexceção de retomada, tanto parauso próprio, quanto para a realiza-ção de obra mais útil (v. fls.260/262 e 272).

Ora, a Súmula n? 485 trata ape-nas da retomada para uso próprio,estabelecendo presunção relativade sinceridade do retamente. Tan-to que se refere ao art. 8?, letra e,de Lei de Luvas. Não cuida da re-tomada para construção mais útil.

Subsiste, pois, um fundamentodo acórdão, para deferimento daretomada (para construção maisútil) que não pode ser examinado,

dá quSú

e nãao envol

85).vido no tratamento

a mul n? 4

E, não estando envolvido no tra-tamento na Súmula, não pode serexaminado porque, então, a respei-to do tema, incidem os óbices regi-mentais, relativos á natureza dacausa (ação renovatória)e seu va-lor.

Por outro lado, a Súmula rd 409,também Invocada no recurso, esta-belece:

«Ao retamente, que tenha maisde um prédio alugado, cabe optarentre eles, salvo abuso de direi-to».

Mas, quanto a isso, o EminenteRelator assinalou:

«A propósito da Invocada Sú-mula n! 409, nenhum indicio seapresentou de abuso de direito,na escolha do prédio a ser reto-mado.»

Ademais, essa Súmula tambémcuidou da retomada para uso pró-prio (art. 8?, e do Decreto n?24.150/4).

Mas, como ficou dito, no caso.ela foi deferida não só para essefim, mas também para construçãomais útil, ponto que refoge ao am-bito de ambas as Súmulas invoca-das. E que não pode ser examina-do, sob o enfoque de violação doCódigo de Processo Civil ou da Leide Luvas, porque, quanto a isso,como ficou dito, subsistem os óbi-ces regimentais» (fls. 420/422).

Votaram em seguida os MinistrosOscar Corrêa, Néri da Silveira, e oPresidente Rafael Mayer, tambémpelo não conhecimento, sem registrode outro comentário.

Na petição de embargos de diver-gência a parte chamou em seu prol,de novo, as Súmulas Mi MN e 485, etranscreveu, pela ementa, acórdãosno sentido de que a presunção de sin-ceridade do locador-retomante podeser elidida pelo locatário, e alWe node que descabe julgamento antecipa-do da lide se há questões dependen-tes do exame da prova. Despacheisobre tal petição:

258 R.T.J. — 125

«Não atendem estes embargosde divergência ao estatuído naSúmula 290 e no art. 331 c/c o art.322 do Regimento Interno. O em-bargante limita-se a transcrever aementa dos acórdãos colacionados,sem demonstrar as circunstânciasque identifiquem ou assemelhamos casos confrontados.

Não admito os embargos» (fl.487).

recurso regimental sustenta que«... a evidência das ementas aponta-das divergentes» exclui a necessida-de de argumentos outros, e que seencontram satisfatoriamente atendi-dos os artigos 322 e 331 do Regimen-to Interno.

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Francisco Reza(Relator): Ainda que se estimasseque a apresentação formal dos em-bargos, na espécie, não desatendeuàs prescrições do Regimento, nãohaveria como admiti-los. Limitou-se

embargante a contestar argumen-tos do relator, Ministro Gallotti, dei-xando a descoberto outras razõesbastante de decidir, expressas novoto do Ministro Sanches, e por igualintegrantes do acórdão embargado.A ementa concebida pelo relator, deresto, tem estatura para cobrir todasas teses invocadas num e noutro dosdois únicos votos em que se exprime

acórdão, visto que de adesão nãodiscriminada os três restantes.

Observo que, mesmo na crítica dovoto do relator, o embargante nãotem razão alguma. Sua Excelêncialembrou expressamente que a pre-sunção de sinceridade, erigida emfavor do locador-retomante, não éabsoluta. Mas admitiu, em tese, queo juiz dispense dilação probatória seconvencido, desde logo, por quanto

se pré-constituiu nos autos, da since-ridade do pedido.

De outra parte, ponderou o Minis-tro Sanches que no caso concreto àretomada pediu-se não apenas paraoportuno uso do proprietário-locador,mas também para a realização ime-diata de obra mais útil Dessarte,Súmulas pertinentes tão-só ao argu-mento do uso próprio não antagoni-zam o deslinde dado ao caso nas ins-tâncias ordinárias. Esta assertivaescapou a qualquer crítica nos em-bargos de divergência. De todo mo-do, pois, o despacho que inadmitiutais embargos não causou à parte in-justo prejuízo.

Nego provimento ao agravo regi-mental.

EXTRATO DA ATA

ERE (AgRg) 104.284 — PA — Rel.:Min. Francisco Rezek. Agte.: AnwarRafie Taki Eddine (Advs.: MiguelBorghezan, Rodolfo Hans Geller eCelso Franco de Sá Santoro). Agdo.:Ciro Saraiva Lima (Advs.: OswaldoPojucan Tavares Júnior, FranciscoMartins Leite Cavalcante, Auro Vidi-gal de Oliveira e outros).

Decisão: Negou-se provimento aoagravo regimental, unanimemente.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Mac' Falcão,Rafael Mayer, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho, Fran-cisco Rezek, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti e Célio Borja. Ausente,licenciado, o Sr. Ministro Carlos Ma-deira. Procurador-Geral da Repúbli-ca, Dr. José Paulo Sepúlveda Per-tence.

Brasília, 3 de dezembro de 1986 —Dr. Alberto Veronese Aguiar, Secre-tário.

R.T.J. - 125 259

EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 104.284 (AgRg-EDcl-EDc1) — PA

(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Francisco Reza.Embargante: Anwar Refle Taki Eddine — Embargado: Ciro Saraiva Li-

ma.

Embargos de Declaração.Paradigmas que não colidem com o decidido no extraordinário, já

que neste último não houve pronunciamento sobre o mérito datão da retomada para construção mais útil: — Carece de propriedadeo pedido de emenda à Súmula 409, visto que os verbetes resultam doassentamento de teses na jurisprudência corrente do Tribunal, e nãodo exercício de uma função legislativa.

Rejeição dos embargos.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por decisão unãnime, rejeitar osembargos de declaração.

Brasília, 14 de maio de 1987 —Rafael Mayer, Presidente — Fran-cisco Rezek, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Francisco Itezek:

Sobre embargos de declaração con-tra acórdão proferido em agravo re-gimental nos embargos em recursoextraordinário, exarei o seguinte vo-to:

«O acórdão proferido no recursoextraordinário entendeu pertinen-tes ao caso os vetos do art. 325-V-fe VIII do Regimento Interno, nãoconfigurado o dissídio das Súmulas409 e 485, e tampouco contrariadaa Constituição em seus artigos 160-III e 1534 15.

Ao entender inexistente odissídio das Súmulas 409 e 485, oaresto embargado teve como ra-zões de decidir, além das constan-tes do voto do relator, as do votodo Ministro Sydney Sanches, que

demonstrou que os referidos verbe-tes dizem respeito apenas à reto-mada para uso próprio, subsistindoo fundamento do acórdão proferidoem apelação no que se refere à re-tomada para construção mais útil.

Ora, os embargos de divergêncianão aventaram um só paradigmaque afirme que as Súmulas 409 e485 se aplicam também à retoma-da para construção mais útil, argu-mento decisivo que subsistiu intan-gido.

Assim, não havendo qualquer er-ro de fato a corrigir, rejeito os em-bargos» (fl. 566).Contra essa decisão foram opostos

novos embargos de declaração, ale-gando a existência de erro material.Sustenta o embargante:

4. Suscintamente apresentamosas razões de fundo dos presentesEmbargos. Julgando o recurso an-terior, assim referiu Vossa Exce-lência no voto:

«Ora, os embargos de diver-gência não aventaram um só pa-radigma que afirme que as Sú-mulas 409 e 485 se aplicam tam-bém à retomada para construçãomais útil, argumento decisivoque subsistiu inatingido» (fls.)WH.

240 R.T.J. — 125

Com esse argumento, Vossa Ex-celência rejeitou sumariamente osEmbargos. Entretanto, com a res-salva do devido respeito, fizemosintegrar aos Embargos o arrazoa-do das fls. 160 a 178 dos autos. E asfls. 161, In fine, e 162. ab initio, lé-se o seguinte:

«O Supremo Tribunal Federal,Julgando o Recurso Extraordiná-rio n? 62.747, de São Paulo, defi-niu um percentual minimo para odeferimento da retomada paraconstrução mais útil, por partedo locador. Abraçando a tese deque há que haver um aumentoconsiderável na área do Imóvel,assim decidiu a Suprema Corte;retomada para reforma de que re-sultada maior capacidade de uti-lizado do prédio. Reformada asentença porque o aumento re-querido era de apenas 14 metrosquadrados, inferior, portanto, aMi que é o critério legalvigente» (Ac. Unãn. r TurmaSTF ...)».Existe, Pois, o paradigma recla-

mado, data maxima venta. Alémdo mais, há indicação de outro pa-radigma também no recurso de fls.430 a 436, e referência ex pressa nosEmbargos Divergentes, à fl. 478.Por essas razões, respeitosamentepedimos venta para solicitar novoJulgamento. A configuração deexistência de erro material parece-nos assim melhor identificada pelatranscrição supra, cuja integraencontra-se in RTJ 49/195;

5. Por fim, numa súplica de mi-sericórdia, o recorrente vem pedirà Vossa Excelência que, nos ter-mos do art. 102, fi 3?, do RISTF,proponha uma emenda ou umadendo á Súmula 409, para c onsi-derar, também, como abuso de di-reito do locador o pedido do imóvelpara construção mais útil quando aobra pretendida não aumenta a ca-pacidade de utilização, á áreaconstruída, em pelo menos 20%(vinte por cento) da existente. Es-

sa matéria é relevantIssima, poisespancará e eliminará a indecisãohoje existente na legislação pátria,em virtude da revogação da Lei n?4.494/64 pela Lei do Inquilinato(6,649/79), Reforçará e esclareceráa Jurisprudência Sumulada, comgrande alcance social, evitando aprática artificiosa do abuso de di-reito por parte de locadores-pro-prietários.

6. Quando menos, rogamos aVossa Excelência benevolência pa-ra pedir a revisão da Súmula 409nos termos do art. 103 do RISTF,ou então, a construção de uma no-va Súmula para assentar a Juris-prudência do Supremo Tribunal so-bre a matéria» (fls. 573/572).

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Rezek(Relator): O acórdão embargadoressaltou que o recurso extraordiná-rio não fora conhecido porque incidiasobre a espécie veto regimental, enão restara configurado o dissídiodas Súmulas 409 e 405, nem qualquerafronta a Constituição. Ressaltei, nomeu voto, que o acórdão em recursoextraordinário, ao entender inexis-tente o dissídio das Súmulas 409 e485, demonstrou que elas dizem res-peito apenas á retomada para usoPróprio, subsistindo o fundamento doacórdão em apelação no que se refe-re à retomada para construção maisútil. Os paradigmas que o embar-gante alega terem sido confrontadosnos embargos de divergência — enão examinados — não colidem como decidido no recurso extraordinário,já que neste último não houve pro-nunciamento sobre o mérito da ques-tão da retomada para construçãomais útil: decidiu-se apenas que essamatéria restara inatacada, já quenão abrangida pelas Súmulas, inci-dindo sobre o restante o óbice regi-mental.

R T J — 125

261

Carece de ropriedade o pedido deemenda á ula 409, visto que osverbetes resultam do assentamentode tens na jurisprudência correntedo Tribunal, e não do exercido deuma função legislativa.

Rejeito os embargos.

EXTRATO DA ATA

ERE 104.284 (AgRg-Encl-EDch —PA — Rel.: Min. Francisco Rezek.Embte.: Anwar Refle Taki Eddine(Advs.: Miguel Borghezan, RodolfoHans Geiler e Celso Franco de SãSantoro). Embdo.: Ciro Saraiva Li-ma (Advs.: Oswaldo Pojucan Tava-res Júnior, Francisco Martins Leite

Cavalcante, Auro Vidigal de Oliveirae outros).

Decisão: Rejeitados os embargosde declaração, unanimemente.

Presidência do Exmo. Sr. MinistroRafael Mayer. Presentes á Senão osSenhores Ministros Djaci Falcão,Moreira Alves, Néri da Silveira, Os-car Corrêa, Aldir Passarinho, Fran-cisco Rezek, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti, Carlos Madeira e CO°Borla. Procurador-Geral da Repúbli-ca, o Dr. José Paulo Sepúlveda Per-tence.

Brasília, 14 de mato de 1967 — Dr.Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO NP 103.142 — SP(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Nen da Silveira.Recorrente: Instituto Nacional de Previdência Social — INPS Recorri-

do: Alvint José Gama Lobo.

Previdência Social. Aposentadoria por tempo de serviço e com-tadoria por invalides acidentaria. Obice regimental afastado pelo eco-Iiiimento da argüição de relevância da, questão federal. Alegação denegativa de viggixtia do art. 5?, ft 5?, da Lei n? 8.387/19711, e art. 9?,31?, do Decreto n? 79.037/1978. Dloositivos não prequestionados. Sú-mulas 292 e 358. Dissídio pretorlano não demonstrado. Súmula 291.Recurso extraordinário não conhecido..

ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cite, à unanimidade, não conhecer dorecurso extraordinário.

Bramias, 11 de junho de 1985 —Rafael Mayer, Presidente — Ninei daSilveira, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Nati da Silveira(Relator): Trata-se de recurso ex-

traordinario, com argüição de rele-vância da questão f~al, Interpostopelo INPS, com fundamento no art.119, inciso III, alineas a e d, da Cons-tituição Federal, contra o acórdãoda Terceira Camara — declaradopio de fls. 199/130 — do eg. SegundoTribunal de Alçada Civil do Estadode São Paulo, que exibe o seguinteteor (fls. 119/149):

*Ao relatório da sentença,acrescenta-se que a ação acidenta-ria foi julgada procedentegrart:conceder ao autor aposentapor Invalidez acidentária, a partirda alta módica, além das comina-çóes legais.

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Apelou o autor para pleitear amajoração de 25%, uma vez quenecessita da assistência permanen-te de outra pessoa, além de seremdevidas diárias, que não recebeuoportunamente.

Apelou, também, o INPS para di-zer que o benefício correto é oauxílio-acidente, que já está sendopago, além do que é inacumulávela aposentadoria acidentária com aprevidenciária. Ademais, o julga-mento foi extra petita, pois a ini-cial não havia pedido essa cumula-ção, devendo o obreiro optar entreum dos benefícios, compensando-seo que foi recebido anteriormente,com honorários na forma do art.20, § 4?, do CPC.

Recursos bem processados, comrespostas. O Dr. Procurador opi-nou pelo não conhecimento do ape-lo do autor, por ser intempestivo.No mérito, deu parecer pelo impro-vimento das duas apelações.

Este o relatório.O autor sofreu acidente em 13-2-

81, na sua função de cabo-foguistado navio Itaquicê, resultando fratu-ra de fêmur.

A perícia, inclusive com apoio doassistente do réu, concluiu que oobreiro não se recuperou, ficandocom seqüelas do grave acidente,que o incapacitam total e perma-nentemente para o labor.

Portanto, a inconformidade daautarquia não se justifica. Está pa-gando apenas auxílio-acidente de40%, inadequado para o caso, queé de aposentadoria.

De outra parte, não se configu-rou julgamento extra petita, poisapresentados os fatos na peça ves-tibular, ao magistrado cabe a apli-cação do direito pertinente. Enten-deu que era devida a aposentado-ria por invalidez acidentária, semprejuízo da aposentadoria por tem-

po de serviço. E o fez com inteirarazão, pois o obreiro aposentadoem 1977, voltou ao trabalho e reco-lheu as contribuições devidas áPrevidência. Sofrendo infortúnioem 1981, nada impede que recebanovo benefício, desta vez de natu-reza acidentária. Esta a orienta-ção deste Tribunal: «A aposentado-ria previdenciária não patalógicaé compatível e acumulável comos benefícios acidentários» (JTA72/292).

Destarte a cumulação é possível,neste caso, mas como o INPS jávem pagando auxilio-acidente des-de 9-7-82, que é a mesma data emque se concedeu a aposentadoriaacidentária, deve ser feita a neces-sária compensação. Apenas paraeste fim é provido o recurso da au-tarquia, uma vez que os honoráriosadvocaticios foram fixados na for-ma adotada por esta Corte.

No tocante ao apelo do obreiro, omesmo é tempestivo, ao contráriodo que afirma o Dr. Procurador.No dia 3-6-83 não houve expedientena comarca de Santos, conformeinformação prestada pela Secreta-ria (fl. 116), cumprindo determina-ção do Relator.

Entretanto, o acréscimo de 25%não é devido, porque o suplicantenão necessita de assistência per-manente de outra pessoa. Emboraande com dificuldade, sem conse-guir pegar objetos no solo, ou colo-car sapatos sozinho, estes sãoeventos isolados, que não autori-zam o pleiteado. O espírito da leiestá bem delineado no vocábulo«permanente», ou seja, o acrésci-mo é devido ao acidentado que pre-cise do auxílio de terceiros em to-dos os atos da vida. Apenas a com-pleta incapacidade de sobreviversem o amparo de outra pessoa,permite que esse plus seja acresci-do à aposentadoria. Como isto não

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ocorre, nesta demanda, o juiz bemandou em não concedê-lo.

Por fim, verifica-se que o INPSnão pagou auxilio-doença acidenta-rio, como informa á fl. 67, alegan-do que se tratava de aposentadoválido que retomou à atividade.Como se disse acima, isto não Jus-tifica o indeferimento, pois no seuretorno o obreiro estava seguradopela autarquia. Sobrevindo o infor-túnio, lhe são devidos todos os be-nefícios previstos em lei. Aliás, oINPS é contraditório, posto queconcedeu auxílio-acidente que, pe-los seus argumentos, não poderiaser pago. O certo é que deve arcarcom o auxílio-doença acidentáriode 13-2-81 a 8-7-82, observando-sequanto aos consectários o dispostona sentença.

Pelo exposto, dão provimentoparcial a ambos os recursos, comoacima explicitado.Sustenta o recorrente que o aresto

recorrido infringiu os artigos 153, §2, e 165, parágrafo único, da LeiMaior; negou vigência aos artigos 5?,§ 5?, da Lei n? 6.367/76, 9?, § 1?, doDecreto n? 79.037/76, além de seapresentar em divergência com ojulgado proferido no RE 93.702-SP(fls. 131/135).

Negado seguimento ao recurso, pe-lo despacho de fls. 138/140, proces-sou-se o apelo extremo, em virtudedo acolhimento da Arv. n? 25.939-9-SP, por decisão de Conselho (fl. 41,do apenso), vindo aos autos as ra-zões de fls. 169/171, e contra-razõesde fls. 186/191.

«O recurso extraordinário nãocomporta conhecimento» — é o quesugere o parecer do Ministério Pú-blico Federal, às fls. 199/201.

o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Néri da Silveira

(Relator): Afirmou o acórdão, como

se vê de sua declaração, no julgado,às fls. 128/129, que, apesar de benefi-ciário da aposentadoria por tempode serviço, «o autor tinha direitotambém à aposentadoria por invali-dez acidentaria». E adiante (fl. 129):«Portanto, expressamente foi aceitaa possibilidade de cumulação de be-nefícios, no caso dos autos, limi-tando-se esta Corte a confirmar asentença no ponto em que conce-deu a aposentadoria acidentaria,matéria afeta à competência do Se-gundo Tribunal de Alçada Civil».

O óbice regimental (RISTF, art.325, IV, letra c) foi afastado peloacolhimento da argüição de relevân-cia da questão federal (fl. 41, dos au-tos apensos).

Alega-se negativa de vigência doart. 5?, § 5?, da Lel n? 6.367/1976, eart. 9?, § 1?, do Decreto n?79.037/1976.

Sucede, porém, que esses dispositi-vos não se prequestionaram, noacórdão, ás fls. 120/122, e no aresto,que julgou os embargos de declara-ção, às fls. 128/129, onde, tão só, seinvocou a regra do art. 125, I, e § 3?,da Constituição, quanto à competên-cia da Justiça Federal. Incidem, as-sim, as Súmulas 282 e 356. Da mes-ma forma, a alegada ofensa aosarts. 153, § 2?, e 165, parágrafo único,da Lei Maior, não foi objeto de deci-são nos acórdãos locais.

Quanto ao dissídio pretoriano, fez-se no apelo extremo, à fl. 132, refe-rência a acórdão do STF, no RE93.702-SP, sem qualquer atendimentoà Súmula 291 ou menção a repositó-rio de jurisprudência que o haja pu-blicado.

O parecer da Procuradoria-Geralda República, dessa maneira, ao opi-nar pelo não conhecimento da irre-signação extrema, fê-lo, com inteiroacerto, às fls. 199/201, nestes termos:

«O Recurso Extraordinário é in-terposto com fundamento nas alí-

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neas a e d do permissivo consti-tucional, fazendo alegação de ofen-

sa aos artigos 153, 2?, e 185, pará-grafo único, da Lel Maior, 5?, 5?,da Lei n? 6.367, de 1978, e 9?, f 1?,do Decreto Federal n? 77.037, de1978, bem como de discrepânciado julgado em relação ao arestoapontado á fl. 132, além de mani-festar argüição de relevância daquestão federal, esta acolhida (au-tos apensos).

Malgrado haja sido acolhidaa argüição de relevância da ques-tão federal, o apelo extremo não ésuscetível de conhecimento.

Com efeito, nenhum dos dis-positivos tidos como vulnerados

constituiu tema prequestionado,visto como:

os artigos 185, parágrafoúnico, da Constituição e 5?, 5?,da Lei n? 8.387, de 1976, só foramcogitados na interposição do re-curso derradeiro;

o artigo 153, f 2?, da CartaMagna apenas velo a ser lembra-do com a oposição dos Embargosde Declaração de fls, 128/129, oque não o faz prequestionado(*Se a questão constitucional nãofoi discutida nas instâncias ordi-nárias, só tendo sido invocadaem embargos declaratOrios, co-mo expediente para a aberturada via do recurso extraordinário,razão por que, acentuando-se aausência de omissão, os embar-gos foram rejeitados, não há oprequestionamento dela* (Ag.96.582-9-Ag (AgRg) — PE, Rel.:Min. Moreira Alves, In MI de 29-8-84, pág. 10.748):

c) o art. 9?, 1?, do DecretoFederal n! 79.037, de 1976 — cujanegativa de vigência, aliás, nãoenseja a inconformação extraor-dinária, que é restrita á violaçãode Lel (art. 119, III, a, da Consti-

tuição) —, embora ventilado pelorecorrente em sua apelação defls. 92/95 e na resposta á apela-ção que ofereceu a fls. 102/103,não foi reavivado nos embargosdeclaratórios de fls. 124/125, antea omissão do E. Tribunal a quoem pronunciar-se sobre tal ques-tão».

Pela alínea a da autorizaçãoconstitucional, pois, as Súmulas 282e 358 impedem o conhecimento dainconformação última.

A luz da alínea d, é tambéminadmissível o recurso, porquanto,com respeito ao único aresto cogi-tado (fl. 132), deixou o recorrentede transcrever-lhe qualquer tre-cho, assim como não informou orepositório oficial que o publicou,nem apresentou a demonstraçãoanalítica do dissídio conforme exi-gem a Súmula 291 e o art. 322 doRegimento Interno».Do exposto, não conheço do recur-

so extraordinário.

EXTRATO DA ATA

RE 105.142 — SP — Rel.: MinistroNéri da Silveira. Recte.: InstitutoNacional de Previdência Social —INPS (Adv.: Vera Regina de SouzaRodrigues). Recdo.: Alvlm José Ga-ma Lobo (Adv.: Ademir Correta).

Decisão: Não se conheceu do re-curso. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes á Sessão osSenhores Ministros Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Sydney Sanches e Oc-tavio Gallotti. Subprocurador-Geralda República, Dr. Francisco de As-sis Toledo.

Brasília, 11 de junho de 1985 —António Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 105.155 — SP(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Recorrente: Estado de São Paulo — Recorridos: Antonio Maurício da Sil-

va e outros.

Policiais militares reformados. Ação visando alteração dos pro-ventos mediante reconhecimento de vantagens náo incluídas quandode sua fixação e proposta mais cinco anos depois do ato de reforma.

Procedência da ação em ambas as instâncias ordinárias.R. E. do Estado de São Paulo, com alegação de negativa de vi-

gência do art. 1? do Decreto n? 20.910, de 8-1-1932, e de dissídio juris-prudencial.

Conhecimento e provimento do recurso para se julgar prescrita apretensão dos autores que se inativaram mais de cinco anos antes dapropositura da ação.

Precedentes do STF.ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfl-cas, por unanimidade de votos, emconhecer do recurso e dar-lhe provi-mento.

Brasília, 4 de setembro de 1987 —Moreira Alves, Presidente. SydneySanches, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Sydney Sambes: 1.

Trata-se de ação proposta por Poli-ciais Militares reformados contra oEstado de São Paulo, reclamandoadicionais por tempo de serviço(qüinqüênios e 8! parte), com basena legislação estadual (fls. 2/5).

A respeitável sentença de fls.196/203 julgou-a procedente, sendoparcialmente reformada, em graude apelação e recurso oficial, pelo v.acórdão da E. 5! amara Civil doTribunal de Justiça (Ap. Civel n?35.201-1-SP, julgada a 29 de setembrode 1983) (fls. 247/251).

Irresignado, o Estado de SãoPaulo interpôs recurso extraordiná-

rio, com base nas alíneas a e d dopermissivo constitucional, alegandonegativa de vigência do art. 1? doDecreto n? 20.910, de 6-1-1932, alémde dissídio com julgados que indicou,pois alguns dos autores se inativa-rarn mais de cinco anos antes da c-ta cão da Fazenda para os termos daação (fls. 253/324).

O R.E. foi indeferido pela E. 4!Vice-Presidência do Tribunal a quo,face ao óbice regimental do valor dacausa (art. 325, VIII do RISTE, naredação anterior á Emenda Regi-mental n? 2/85). Já que não foi susci-tada questão constitucional nem su-mular.

Mandou, porém, processar-se a ar-güição de relevância da questão fe-deral, que foi acolhida pelo E. Con-selho (autos em apenso).

Subiu o apelo arrazoado e con-tra-arrazoado (fls. 355/366).

E o relatório.VOTO

O Sr. Ministro Sydney Sanches (Re-lator): 1. Acolhida, que fel. peloE. Corlselho, a argüição de relevân-cia da questão federal, superado res-tou o óbice regimental do valor dacausa.

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O tema da prescrição, com re-lação aos autores que se inativarammais de cinco anos antes da citaçãodo Estado para os termos do proces-so, foi suscitado na contestação e naapelação.

n o v. acórdão recorrido assim oapreciou às fls. 248/249:

«A análise preliminar do temada prescrição da ação, que, funda-do no disposto no artigo 1? do De-creto Federal n? 20.910/32, por en-volver a pretensão inicial a modifi-cação dos atos de reformas dos mi-litares apelados, foi alegado pelaFazenda do Estado, não leva àconclusão pretendida pela recor-rente.

E que, sem embargo de entendi-mento contrário, por sinal respei-tável, a prescrição qüinqüenal nãoatinge senão as parcelas decorren-tes dos benefícios postulados pelosrecorridos, em caráter progressivoem relação às prestações, à medi-da que se completa o prazo previs-to na lei.

A propósito, assim reza a Sú-mula n? 443, do Pretório Excelso:

«A prescrição das prestações an-teriores ao período previsto em leinão ocorre, quando não tiver sidonegado, antes daquele prazo, o pró-prio direito reclamado, ou a situa-ção jurídica de que resulta».

Como persiste a situação funcio-nal e não se depara com ato ex-presso da administração denegan-do a pretensão, nem mesmo porocasião da lavratura dos atos dereforma dos autores apelados, a-certada a deliberação judicial im-pugnada que merece, portanto, sub-sistir, neste aspecto» (fls. 248/249).

Esse entendimento do v. acór-dão recorrido entrou em dissídiocom os vv. acórdãos trazidos a con-fronto, como se demonstrou às fls.254/261, 263/324.

que, ao ensejo da inativação, osautores ficaram definitivamente ci-entes de que o Estado de São Paulonão computaria o tempo de serviçoreferido na inicial, e cuja contagemeles pleitearam com base nas Leis6.043, de 21-1-1961, 6.800, de 24-4-1962,no Decreto 34.438, de 31-12-1958, naConstituição Estadual de 13-5-1967(art. 92, VIII), no Dec.-Lei n? 260/70

em leis federais sobre tempo deserviço público (Lei n? 4.102, de 4-9-57,Lei n? 4.096, de 23-8-1957) (v. fls.2/5).

4. Ora, a ação foi distribuída a 20-8-1980, (fl. 2) sendo o Estado citado a9 de setembro de 1980 (fl. 49 v?).

como há, dentre os autores, al-guns que se inativaram mais de cin-co anos antes do ajuizamento daação, (pois o fato foi afirmado pelaFazenda Pública e não negado pelosrecorridos) não há dúvida de que,quanto a eles, prescreveu a própriapretensão às diferenças de proventos

não apenas as parcelas mensais,face ao disposto no art. 1? do Decre-to n? 20.910, de 1932.

que, no momento da inativação,tomaram ciência da recusa definiti-va da Administração Pública à con-tagem de tal tempo de serviço e pa-ra os fins explicitados na inicial.

Nesse momento nasceu a preten-são ao pagamento de tais vantagens,que, todavia, não foi exercitada atempo.

5. Assim decidiu, aliás, o v. acór-dão da E. 2? Turma, no RE 97.859-3-SP, reproduzido nestes autos às fls.317/324, Relator o eminente MinistroMoreira Alves:

«Policiais Militares. Inclusão, nosproventos, de benefícios patrimo-niais não concedidos quando da fi-xação daqueles. Prescrição.

A prescrição, no caso, é da pró-pria pretensão aos benefícios emcausa, e não apenas das parcelasdevidas, uma vez que só se teriadireito a elas se a pretensão àque-

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les benefícios — não reconhecidaquando da fixação dos proventos —viesse a ser tida como legítima.

Recurso extraordinário conheci-do e provido» (RTJ 106/406).

No voto de Relator, seguido pe-la Turma, disse o Ministro MoreiraAlves, nesse precedente, que é prati-camente idêntico à hipótese dos au-tos:

«Com efeito, concedida a aposen-tadoria sem que nos proventos en-tão fixados se computassem asvantagens perseguidas na presenteação, começou a fluir, desde então— e nesse sentido é, atualmente, ajurisprudência pacifica desta Corte—, o prazo de prescrição de cincoanos da pretensão decorrente daviolação do direito subjetivo àque-las vantagens que, se teria efetiva-do quando da fixação dos proven-tos da inatividade. E a prescrição,no caso, diz respeito à própria pre-tensão às vantagens, e não apenasàs prestações que só seriam devi-das se aquela pretensão viesse aser reconhecida como legítima».

Mutatis mutandis, v. tb. RTJ115/426.

8. Em face do exposto, conheçodo recurso (pelas letras a e d) e lhedou provimento para julgar prescri-ta a pretensão dos autores que sehouverem inativado mais de cincoanos antes do ajuizamento da ação,ocorrido a 20-8-1980 (fl. 2), inverti-dos, quanto a eles, proporcionalmen-te, os ônus da sucumbência.

EXTRATO DA ATARE 105.155 — SP — Rel.: Ministro

Sydney Sanches. Recte.: Estado deSão Paulo (Adva.: Ana Maria Ran-gel Pestana) . Recdos.: Antonio Mauri-cio da Silva e outros (Advs.: MoysésFlora Agostinho e outro).

Decisão: Recurso conhecido e pro-vido. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Sydney Sanches e Octavio Gallot-ti. Ausente, justificadamente, o Se-nhor Ministro Oscar Corrêa, Sub-procurador-Geral da República, Dr.Cláudio Lemos Fonteles.

Brasília, 4 de setembro de 1987 —Antônio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 105.205 — SP(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Recorrente: Instituto Nacional de Previdência Social — INPS — Recorri-

da: Maria Rita Roberto ou Maria Rita de Carvalho, Representada por Cura-dor.

Ação rescisória. Acidente do Trabalho. Trabalhador rural. Ofensaao art. 165, parágrafo único, da Constituição Federal. Súmula 343 (1-naplicabilldade). A atribuição ou extensão de benefício previdenciárioa categoria não contemplada no sistema próprio implica ofensa aoart. 165, parágrafo único, da Constituição Federal, dada a inexistên-cia da correspondente fonte de custeio.

A Súmula n? 343 tem aplicação quando se trata de texto legal deinterpretação controvertida nos tribunais, não, porém, de texto consti-tucional.

Recurso extraordinário conhecido e provido.

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ACORDA°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata doJulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emconhecer do recurso e dar-lhe provi-mento.

Brasília, 4 de setembro de 1987 —Moreira Alves, Presidente — SydneySanches, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Sydney Sanches: 1.O ilustre Juiz José Gui de CarvalhoPinto deferiu o processamento dopresente recurso extraordinário, porrazões que assim expôs ás fls. 94/96:

«O acórdão de fls. 74/80, deu pelaimprocedência da rescisória deacórdão que deferira a trabalhado-ra rural benefícios acidentários, naforma da Lei n? 6.195, complemen-tada pela Lei n? 6.367. Apresenta oINPS, contra essa decisão, recursoextraordinário (artigo 119, III, a ed da Lei Maior), embasado em vio-lação ao principio de legalidade,inscrito no artigo 153, • 2? da Cons-tituição Federal, e em ofensa ao daprevisão da fonte de custeio, pre-visto no artigo 165, parágrafo fani-co, da mesma Carta; alega, ainda,em argüição de relevãncia, ter-senegado vigência ao artigo 22 da Lein? 5.316/67 e artigo 1?, §§ 1? e 2? daLei n? 6.367/76 e, finalmente, ao ar-tigo 7? do Decreto n? 76.022/75, re-gulamentador da Lei n? 6.195, vistocomo outorgada reparação infor-balística por ela não prevista. Aluz da letra d, acusa divergênciacom o enunciado na Súmula n? 343,que não prevalece para deslinde decontrovérsia constitucional. Recur-so bem processado. Manifestou-sea Procuradoria da Justiça pelo in-deferimento.

Vem sendo adotado na SupremaCorte o entendimento segundo oqual é completo o sistema de be-nefícios acidentários, aplicável atrabalhador rural pela Lei 6.195;regime inteiramente diversificadodo proposto para trabalhadores ur-banos pelas leis n?s 5.316 e 6.367.Não podendo estas suprirem lacu-nas daquela, á falta de fonte pró-pria de custeio, teria o Julgado sobcensura ferido princípios constitu-cionais (artigo 153, 2? e 165 pará-grafo único da Constituição Fede-ral). Confira-se, a propósito, o se-guinte elenco de precedentes: RE97.289-7-SP — 2! Turma — Rel.:Min. DJaci Falcão — J. 26-10-82, inDJ de 26-11-82, pág. 12124; RE97.290-1-SP — 2! Turma — Rel.:Min. Moreira Alves — J. 31-8-82, inDJ de 17-12-82, pág. 13211; RE97.287-1-SP — 2! Turma — Rel.:Min. Moreira Alves — J. 31-8-82, InDJ de 17-12-82, pág. 13211; RE97.865-8-SP — 2! Turma — Rel.:Min. Mac! Falcão — J. 5-11-82, inDJ de 17-12-82, pág. 13212 e RE96.602-1-MG — 1!. Turma — Rel.:Min. Rafael Mayer — J. 16-12-82, inDJ de 25-3-83, pág. 3466).

A Súmula n? 343, foi, aqui, inde-vidamente colacionada.

Com efeito, o Excelso Pretóriocassou, recentemente, decisão des-te Tribunal, em caso absolutamen-te idêntico, salientando que «aSúmula n? 343 tem aplicação quan-do se trata de texto legal de inter-pretação controvertida nos tribu-nais não, porém, de texto cons-titucional». E mais uma vez pro-clamou que «a atribuição ou ex-tensão de beneficio previdenclarioa categoria não contemplada nosistema próprio implica ofensa aoartigo 165, parágrafo único, daConstituição Federal, dada a ine-xistência do pressuposto da corres-pondente fonte de custeio total»(cf. RE 101.114-9-SP 1! Turma —Rel.: Min. Rafael Mayer — DJ de10-2-84, pág. 1020).

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Verifica-se, portanto, que dianteda interpretação conferida ao ver-bete, dele também divergiu o vene-rando acórdão recorrido, o queconstitui mais um motivo para atransposição dos vetos regimen-tais.

Defiro o extraordinário. Proces-se-se-o, observadas normas regi-mentais quanto à argüição de rele-vância» ( fls. 94/98) .

O RE foi arrazoado às fls.98/99, manifestando-se o MinistérioPúblico pela recorrida, em contra-razões, às fls. 102/4, no sentido doimprovimento do recurso.

Anoto que a argüição de rele-vância da questão federal foi rejeita-da pelo E. Conselho (autos em apen-so).

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator): 1. Rejeitada, que foi, peloE. Conselho, a argüição de relevân-cia da questão fdleral, resta o exa-me, apenas, da matéria constitucio-nal e sumular (1'1. 94).

2. Além doe precedentes do STF,citados na respeitável decisão (fls.94/95), que deferiu o processamentodo RE, outros, mais recentes, podemser referidos, com as seguintesementas:

«Ação rescisória. Acidente dotrabalho. Trabalhador rural. Ofen-sa ao artigo 185, •arágrafo únicoda Constituição. S É ala 343 (ina-plicação).

A atribuição ou extensão de be-neficio previdenciãrlo à categorianão contemplada no sistema pró-prio implica ofensa ao art. 185, pa-

ragrafo único, da CF, dada a ine-xistência do pressuposto da corres-pondente fonte de custeio total. ASúmula 343 tem aplicação quandose trata de texto legal de interpre-tação controvertida nos tribunais,não, porém, de texto constitucio-nal. Recurso extraordinário conhe-cido eprovido» (RTJ 108/1.3(9 —1! T., 12-12-1983, Relator eminenteMinistro Rafael Mayer).

Com a mesma ementa: RE 103.880— SP — 1! T., j. 17-12-1984, Relator omesmo deste feito RTJ 114/381.

3. Por tudo isso e pelo mais queficou em todos os precedentes, co-nheço do recurso e lhe dou provi-mento para julgar procedente a açãorescisória, levantando o autor o de-pósito efetuado à fl. 34, insujelta aré, ora recorrida, ã responsabilidadepor honorários advocaticlos e custasprocessuais.

EXTRATO DA ATA

RE 105.205 — SP — Rel.: MinistroSydney Sanches. Recte.: InstitutoNacional de Previdência Social —INPS (Adva.: Vera Regina de SouzaRodrigues). Reata.: Maria Rita Ro-berto ou Maria Rita de Carvalho,rep. p/curador.

Decisão: Recurso conhecido e pro-vido. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Neli da Silvei-ra, Sydney Sanches e Octavio Gallot-ti. Ausente, justificadamente, o Se-nhor Ministro Oscar Corrêa. Sub-procurador-Geral da República, Dr.Cláudio Lemos Ponteies.

Brasília, 4 de setembro de 1987 —Antônio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

270 R.T.J. — 125

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 105.667 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.Recorrente: D. F. Vasconcellos S.A.

— Recorrido: Estado de São Paulo.Óptica e Mecânica de Alta Precisão

Recurso Extraordinário.Falta de prequestionamento

356. Não conhecimento.ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas por unanimidade de votos, nãoconhecer do recurso.

Brasília, 9 de agosto de 1985 —Djaci Falcão, Presidente — Francis-co Rezek, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Francisco Rezek:Este o acórdão do Tribunal de Justi-ça de São Paulo, a que se opõe oapelo extremo:

«D. F. Vasconcelos S.A. — Ópti-ca e Mecânica de Alta Precisão,nos autos da ação que propôs con-tra a Fazenda do Estado objetivan-do a repetição de acréscimo pelainscrição incluído no parcelamentode débito de ICM, interpôs embar-gos infringentes contra o Veneran-do Acórdão de fls. 443/444 quemanteve a sentença que dera pelaimprocedência da demanda, contrao voto do Desembargador Machadode Araújo, que a acolhia.

O recurso tramitou regularmen-te.

Merece subsistir, por seus pró-prios fundamentos, o VenerandoAcórdão embargado.

Sem dúvida que o acréscimo ins-tituído pelo artigo 93 da Lei n? 440,de 1974, vem sendo declaradoilegítimo sob o fundamento de que

da questão federal. Súmulas 282 e

não cabe ao Estado legislar sobredespesas processuais, que a parce-la busca ressarcir.

Todavia, como bem se disse nadecisão recorrida, a hipótese não éde cobrança judicial do acréscimo,através da qual se procure aniqui-lar a competência dos Juízes, noatinente à estipulação das despe-sas em geral, e em particular daverba honorária.

Trata-se, isto sim, de parcela in-cluída, com o livre assentimentoda embargante, em acordo de par-celamento ajustado com a Fazendado Estado para indenização dasdespesas acarretadas pelo serviçode cobrança.

Firmado o acordo, não podem aspartes voltar-se contra os termosdo ajuste o que implicaria emventre contra factum proprium,que, na defesa da boa-fé dos con-tratantes, também é vedado noâmbito do direito tributário (cf.Weber-Fas, Allgemeines Steuerrecht, pp. 99 seguintes; H. Paulick,Vewirking, no HwStR, 1? ed., vol.II, p. 1244).

Ademais, embora implicitamen-te, a embargante pretende que sedê pela nulidade da cláusula im-pugnada. Ocorre, porém, que nos-sa lei consagra o principio da indi-visibilidade da transação (CódigoCivil, artigo 1.026; Clóvis, CódigoCivil Comentado, 5° ed., vol. IV, p.185; Fraga, Da Transação, pp. 197seguintes), de sorte que, anuladaqualquer das cláusulas, invalidadoestará todo o negócio — resultado

R.T.J. - 125

271

que, obviamente, não é pretendidopela autora.

Registra-se, finalmente, que nemVenerando Acórdão embargado,

nem a decisão de primeiro grau,rejeitaram a demanda com apoiono artigo 90, § 3?, da Lei Estadualn? 440, de 1974, que pretendia darao pedido de parcelamento o efeitode bloquear o acesso à via judicial— preceito que o Pretório Excelsodeclarou inconstitucional no julga-mento do Recurso Extraordinárion? 94.141-0, de São Paulo.

Ao contrário, examinando o mé-rito da impugnação a cláusula doacordo, tacitamente afastaram aaplicação da Lei local» (fls. 532-534) .Em recurso extraordinário argu-

menta a empresa, na linha do votovencido, que houve afronta ao art.153, §§ 2? e 4? da Carta da República,porque se aplicou norma inconstitu-cional, e ainda porque se estimou, naorigem, que o acordo entre as partesseria inatacável judicialmente.

A irresignação encontra parecerfavorável da Dra. Edylcéa de Paula,que opina pela Procuradoria-Geralda República nos termos seguintes:

«Já decidiu esta Suprema Corteque o acréscimo previsto na Lein? 440/74, é inconstitucional (RE89.306-7).

Sua cobrança, em acordo firma-do entre as partes, em conseqüên-cia, não tem apoio legal. Ninguémé obrigado a fazer alguma coisasenão em virtude de lei (§ 2? doart. 153 da CF). E o poder público,todo poderoso, ao elaborar essescontratos de adesão, praticamentecoage o contribuinte a assiná-los.

Porém este fato não impede quea parte, se entender estar prejudi-cada, socorra-se do Poder Judiciá-rio (§ 4? do art. 153 da CF) paraproceder à correção do ato, por is-so que esta forma de extinção docrédito tributário não se sujeita aoprincipio da autonomia da vontade,

mas à vinculação à lei, não afas-tando, destarte, a tutela jurisdicio-nal.

Se a lei é inconstitucional, inexis-te; e se inexiste, não pode haver,como corolário, cobrança de acrés-cimo nela fundada.

E, evidentemente, impossível ar-gumentar-se com a sua substitui-ção nor honorários, por isso quenão houve cobrança judicial e,multo menos, sucumbência.

Estão, assim, ofendidos os §§ 2? e4? do art. 153, da Constituição Fe-deral, merecendo se conheça e sedê provimento ao apelo extremo(fls. 578/579).É o relatório.

VOTOSr. Ministro Francisco Reza

(Relator): No despacho com que ne-gou trânsito ao recurso extremo, dis-se o Desembargador Nereu Moraes:

«Os dispositivos constitucionaismencionados no recurso não foramventilados no acórdão recorrido,que se limitou a confirmar a im-procedência da ação face à imuta-bilidade do acordo celebrado coma Fazenda do Estado, sem discutiros princípios constitucionais alega-dos pela recorrente. Assim, ausen-te o indispensável prequestiona-mento, impedem a admissão do re-curso as Súmulas n?s 282 e 356»(fls. 544/545).

exame acurado dos autos origi-nais, que fiz subir provendo agravo,mostra a absoluta correção daquelaassertiva, o que frustra o apelo ex-tremo. Pareceu-me claro, de todomodo, que nenhuma afronta sofreuno deslinde deste caso pelas instân-cias ordinárias, o texto da lei funda-mental.

acórdão não deixou de reconhe-cer a ilegitimidade do dispositivo delei estadual que impõe, unilateral-mente, certo acréscimo às cobran-ças judiciais. Ressalvou, todavia,

R.T.J. — 125

que não se cuidava, na espécie, dedar aplicação ao malsinado diploma.Ao contrário, destacou que a contro-vénia gira em torno de acordo devontades, onde as partes acordaramno pagamento, pela empresa, de cer-ta verba indenizatória de despesasrealizadas pelo fisco. O decisório, aoprestigiar o ajuste, seguramente nãoinfringiu o principio da legalidade.

De outra parte, em momento al-gum foi enunciada tese adversa àgarantia constitucional de acesso aoJudiciário. A corte paulista simples-mente proclamou que o acordo devontades merecia subsistir, à faltade evidência de vícios conducentes àdeclaração de sua invalidade.

Não conheço do extraordinário.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho:Sr. Presidente, acompanho o Minis-tro Relator, mas me restrinjo à pri-meira parte do seu voto, que já é su-ficiente para o não conhecimento doextraordinário.

Tendo em vista a natureza das leisde ordem pública, que são aquelasque cominam penalidades para oscontribuintes faltosos, tenho, real-mente, as minhas dúvidas se não es-

taria correto o entendimento da dou-ta Procuradoria-Geral da República,quando considerou inválida cláusulaque, no final de contas, faz com quehaja, sob a forma de um ressarci-mento de despesas do fisco, um ónuspara o contribuinte, que a lei nãoprevê. Mas prefiro não me adentrarnesse aspecto, ficando na primeiraparte, que é suficiente para o não co-nhecimento do recurso.

EXTRATO DA ATARE 105.667 — SP — Rel.: Ministro

Francisco Rezek. Recte.: D. F. Vas-concellos S.A. Optica e Mecânica deAlta Precisão (Advs.: Fausto Renatode Rezende e outros). Recdo.: Esta-do de São Paulo (Adv!: Ana LuciaAmaral).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Presidência do Senhor Ministro

Djaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Décio Miranda,Aldir Passarinho e Francisco Rezek.Ausente, justificadamente, o Sr. Mi-nistro Cordeiro Guerra. Subprocura-dor-Geral da República, Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 9 de agosto de 1988 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nt 105.717 — GO(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Néri da Silveira.Recorrente: Instituto Nacional de Previdência Social — INPS, rep. pelo

LAPAS — Recorrida: Francisca Dias Carneiro.

Previdência Social. Puxirum I. Pensão. O Plenário do SupremoTribunal Federal firmou orientação, no julgamento do Recurso Ex-traordinário a! 101.044-4/MG, por maioria de votos, a 27+19114, no sen-tido de não reconhecer direito á pensão previdenclária, em favor deviúva ou dependente de trabalhador rural, falecido em data anterior àLei Complementar n? 11, de 25-5-1971, que instituiu o Programa de As-sistência ao Trabalhador Rural, em face do disposto nos arte. 165, pa-rágrafo único, 153, parágrafos 3? e 2?, da Constituição Federal. Nãoestando, todavia, regularmente prequestionada a matéria constitucio-nal, incidem as Súmulas 282 e 356. Recurso extraordinário nãoconhecido.

R.T.J. - 125 273

ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquipxáfi-cas, não conhecer do recurso, venci-dos os Ministros Sydney Sanches eOscar Corrêa.

Brasília, 24 de maio de 1985 —Rafael Mayer, Presidente — Néri daSilveira, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Néri da Silveira(Relator): Julgando, em grau de ape-lação, ação ordinária movida porFrancisca Dias Carneiro, contra oFundo de Assistência e Previdênciado Trabalhador Rural — FUNRURAL,em que pleiteava a concessão depensão previdenciária, na condi-ção de viúva de trabalhador rural,falecido em 16-7-1964, o coleado Tri-bunal Federal de Recursos, por sua2? Turma, em votação uniforme, de-cidiu em acórdão assim ementado(fl. 53):

«Previdência Social. FUNRURAL.Pensão.

Comprovada a condição de tra-balhador rural, nos termos e condi-ções do disciplinamento jurídicopertinente, não constitui óbice aodeferimento da pensão o fato de ofalecimento ter ocorrido antes dainstituição do sistema, tendo emvista a natureza do beneficio e asdisposições aplicáveis á espécie.

Precedentes judiciais.Recurso parcialmente provido».

Opostos embargos de declaração,em que visava a Autarquia pregues-tionar o tema constitucional, decidiua referida Turma, por unanimidade,rejeitá-los, por entender inexistir, noacórdão embargado, a omissão indi-cada (fls. 59/71).

Inconformado, interpôs o InstitutoNacional de Previdência Social —INPS, representado pelo Instituto deAdministração Financeira da Pre-vidência e Assistência Social —IAPAS, recurso extraordinário, comfundamento no art. 119, item M,alíneas a e d, da Constituição Fede-ral, alegando que o aresto recorridovulnerou os arts. 6?, parágrafo úni-co, 8?, item XVII, letra b, 43, 153, 02? e 3?, e 165, parágrafo único, da LeiMaior, bem como se encontra emdivergência com a jurisprudênciadeste Tribunal. Argüiu, ainda, a re-levância da questão federal (74/81).

Pelo despacho de fls. 83/84, o ilus-tre Ministro Lauro Leitão, VicePresidente do TFR, admitiu o apeloextremo.

Quanto ti argüição de relevânciada questão federal, não reiterou o re-corrente o pedido de seu processa-mento (fl. 85v.).

Razões do recorrente ás fls. 87/92,não manifestando a recorrida suascontra-razões, embora intimada arespeito (fl. 93).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Mui da Silveira(Relator): O Plenário do SupremoTribunal Federal, no Recurso Ex-traordinário n? 101.044-4 — MinasGerais, Relator o ilustre MinistroOscar Conta, cujo julgamento foiconcluído na sessão de 27-8-1984, pormaioria de votos, não reconheceu di-reito a pensão previdenciária ás viú-vas de trabalhadores rurais, faleci-dos anteriormente ã Lei Complemen-tar n? 11, de 25-5-1971, que instituiu oPrograma de Assistência ao Traba-lhador Rural (PRORURAL), diantedo disposto nos arts. 153, 2? e 3?, e165, parágrafo único, da Constitui-ção. Na oportunidade, fiquei venci-do, nos termos de voto-vista, quepreferi, reconhecendo direito a pen-são ás viúvas de trabalhadores rts-

274 R.T.J. — 125

rais, falecidos após a vigência da Lein? 4.214, de 1963 (Estatuto do Traba-lhador Rural). Essa orientação ado-tada pela maioria do Plenário daCorte velo a ser objeto da Súmula613.

Sucede, porém, que, na espécie,nem na sentença (fl. 32), nem no re-curso do INPS, às fls. 34/35, não háqualquer referência aos dispositivosconstitucionais, acima referidos(Constituição, arts. 153, §§ 2? e 3?, e165, parágrafo único). O acórdão, àsfls. 43/49, não discute a matéria comexplícita menção às aludidas normasmaiores. Invocou-se o art. 153, § 3?,da Lei Magna, tão-só, em auxílio aodireito adquirido da autora, em vir-tude da Lei Complementar n?11/1971, que, então, não poderia serprejudicado pela incidência da LeiComplementar n? 16/1973 (fl. 47). Aapelação do réu não cuida dessa ma-téria, como se vê das razões, à fl. 35,verbis:

«Em que pese o brilhantismo e afundamentação jurídica em que seapegou o MM. Juiz, prolator da v.sentença de fls., esta deverá ser,data venia reformada, pelas razõesseguintes:

Como se vê da certidão de óbitode fl. 10 o esposo da apelada fale-cera em 16 de julho de 1964, épocaem que não existia nenhum siste-ma previdenciário que amparasseo trabalhador rural, e, a Lei Com-plementar n? 11, de maio de 1971,entrou em vigor nessa data, comas alterações posteriores pela LeiComplementar n? 16/73. Assim nãoassiste à apelada nenhum direitosobre o que pleiteia.

A jurisprudência pátria tem sefirmado no sentido de se exaurir osrecursos administrativos para pos-teriormente, se for o caso, ingres-sar na justiça.

«Prévia postulação administra-tiva. Inexistindo negativa ao di-reito vindicado mesmo no cursoda ação. Carência da ação. Ac.

65.167-BA Rel.: Min. A. G. Passa-rinho, publicado no DJU em20-11-00».Mesmo se tivesse a apelada al-

gum direito à pensão, os acrésci-mos relativos a juros e correçãocondenados não têm embasamentojuridico, vez que a Previdênciadiante do não requerimento daapelada, não fica sujeita à mora,pois os benefícios quando de direitosão cedidos mediante requerimen-to, por provocação da parte e nãode ofício.

Diante do exposto a v. sentençadeverá ser reformada, por ser deinteira justiça».Dessa sorte, não havia ponto omis-

so, no acórdão, em face dos arts.153, §§ 2? e 3?, e 165, parágrafo único,da Constituição. Os embargos de de-claração foram rejeitados, emborapor fundamento diverso, sendo certo,porém, que não se deu pela existên-cia da omissão, porque, do contrário,os embargos haveriam de ser recebi-dos, para, reconhecendo ponto omis-so, desde logo, examiná-lo. Não ten-do, portanto, como regularmenteprequestionado, no caso concreto, osdispositivos constitucionais em apre-ço, incidem, desde logo, as Súmulas232 e 356.

Do exposto, não conheço do recur-so extraordinário, por falta de opor-tuno e regular prequestionamento damatéria constitucional.

VOTO

O Sr. Ministro Oscar Corrêa: Se-nhor Presidente, desejaria anteciparmeu voto. Temos adotado, nesta ma-téria, menos rigidez quanto ao pre-questionamento constitucional, tendoem vista os resultados a que levariaa rigidez no exame dos casos: em fa-ce de dados de fato absolutamenteiguais, soluções absolutamente di-versas, numa — concessiva, noutra,recusando a pensão.

R.T.J. — 125

275

Isto em vista do prequestionamen-to, que, existente, leva ao conheci-mento pela Corte e recusa da pen-são; inexistente, o não conhecimentoe a manutenção do acórdão do Tri-bunal Federal de Recursos que aconcedeu.

Pelo que ouvi do voto do eminenteRelator, o acórdão faz referência ex-pressa à matéria e ao fato de ser aconcessão do beneficio anterior àpromulgação da lei, o que não seriaobstáculo a essa concessão.

Assim, em principio, prequestiona-da a matéria. Além disso, diz S.Exa., foram interpostos embargosdeclaratórios. O fato de o Tribunalnão os ter acolhido não pode impor-tar em detrimento da parte, secabíveis.

Já disse e repito que os embargosde declaração não servem para pre-questionar matéria que não se pro-pôs anteriormente ao exame.

In casu, o acórdão salientou quenão havia lei fixando a obrigação, e,ainda assim, a exigiu. Isto, paramim, é prequestionamento: discutiu,na remissão feita à AC 72.783, a ma-téria e fixou a orientação contraria-mente ao texto constitucional, refe-rindo-se, aliás, ao artigo 153, § 3:3 , daConstituição Federal (fl. 47).

Se a matéria do direito adquirido— ainda que da parte contrária —foi discutida, propiciou-se à outraparte acentuar que prequestionado,e é o dela o adquirido.

E no acórdão dos embargos, ex-pressamente, aos textos depois invo-cados no extraordinário; e o próprioRelator, no voto com que os rejeitou,começa por dizer: (fl. 60).

«E certo que o recurso faz ligei-ra referência ao art. 165, parágrafoúnico, da Constituição Federal, se-gundo o qual «Nenhuma prestaçãode serviço de assistência ou be-neficio compreendidos na previ-dência social será criada, majora-

da ou estendida, sem a correspon-dente fonte de custeio total».E depois examina os §§ 2? e 3? do

artigo 153 para concluir por «suainadequação à espécie», incorporan-do ao seu voto o do ilustre MinistroEvandro Gueiros Leite na AC 85.966-MG (fls. 62/68).

Em face desses dados, data venhado eminente Relator, conheço do re-curso e dou-lhe provimento, aplican-do a Súmula 613.

É o voto.

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Octavio Gallotti: Sr.Presidente, sou sensível à pondera-ção do eminente Ministro Oscar Cor-rêa, no sentido de que casos da natu-reza do presente merecem umabrandamento na aferição do pre-questionamento, para evitar discri-minações que dificilmente seriamcompreendidas pelas partes.

Mas, recentemente, V. Exa., Sr.Presidente, relatou uma hipótese aque não corresponde, ainda, um pre-ceito sumulado, mas em que tam-bém há jurisprudência reiterada doTribunal, definindo a matéria: é ocaso dos qüinqüênios pleiteados pe-los empregados do Correio, comopreservação de conseqüência do seuregime estatutário. E, apesar dessajurisprudência, no sentido de não ha-ver direito adquirido a esses qüin-qüênios, concluiu V. Exa., Sr. Presi-dente, com o apoio da Turma, nosentido de que a matéria constitucio-nal não estava prequestionada com origor que o Tribunal tem exigido.Também, aqui, acontece isso. Osembargos de declaração, como mos-trou o eminente Relator, não aten-diam a uma efetiva omissão do acór-dão proferido na apelação, em cujapetição também não estava ventila-da a matéria, e, por isso, não pode-riam servir, esses embargos, de ex-pediente para forçar o cabimento do

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recurso extraordinário, como temconsiderado este Tribunal.

Por isso, com a devida vénia doeminente Ministro Oscar Corrêa,acompanho o voto do eminente Rela-tor, não conhecendo do recurso.

EXTRATO DA ATARE 105.717 — GO — Rel.: Ministro

Néri da Silveira. Recte.: InstitutoNacional de Previdência Social —INPS, rep. pelo JAPAS (Adv.: Jolicedos Anjos Brltto). Recda.: FranciscaDias Carneiro (Adv.: Paulo Sergiode Guimarães Cardoso).

Decisão: Não se conheceu do re-curso. Vencidos os Ministros SydneySanches e Oscar Corrêa.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes á Sessão osSenhores Ministros Néri da Silveira,Oscar Corrêa, Sydney Sanches e Oc-tavio Gallotti. Subprocurador-Geralda República, Dr. Francisco de As-sis Toledo.

Brasília, 24 de maio de 1985 —António Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N° 108.148 — CE(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Recorrente: Banco Nacional da Habitação — BNH — Recorrido: Fran-

cisco das Chagas Araújo.

Jurisdição. Competência. Justiça Federal: art. 1Z, b da CF.Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Alvará deferido por

Juiz estadual, sem a intervenção do BNH. Apelação deste não conhe-cida pelo Tribunal local, por falta de legitimidade para recorrer. Re-curso extraordinário do apelante, pelas alíneas a e d com alegaçãode negativa de vigência do artigo 125, I, da Constituição Federal e dedissídio jurisprudenclal. Conhecimento e provimento do apelo extre-mo para anulação dos atos decisórios e remessa á Justiça Federal,competente para o exame do pedido.

ACORDA() fundamento no art. 8?, II, c, e III daLei n? 5.107/66, deferido em procedi-mento de jurisdição voluntária (al-vará), sem a intervenção do BNH(fls. 2/41 v11).

Este, tomando conhecimento do fa-to, interpôs apelação (fls. 56/70), quenão foi conhecida pelo E. Tribunalde Justiça do Ceará, por falta de le-gitimidade recursal (art. 499 doCPC) (fl. 117).

2. Irresignado, o apelante recor-reu extraordinariamente, pelas le-tras a e d do permissivo constitucio-nal, alegando negativa de vigênciado art. 125, I, da CF; art. 1.105 doCPC c/c arts. 11 e 12 da Lel n? 5.107,de 13-9-1966, e dissídio com julgado

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emconhecer do recurso e dar-lhe provi-mento.

Brasília, 21 de agosto de 1987 —Moreira Alves, Presidente — SydneySanches, Relator.

RELATORIOO Sr. Ministro Sydney Sanches: 1.

Trata-se de pedido de levantamentode depósito de Fundo de Garantia deTempo de Serviço, formulado com

R.T.J. - 125

277

desta Corte no CJ n? 6.287-7 (RTJ103/104) (fls. 120/135).

Deferido pela respeitável deci-são de fls. 141/42, subiu o recurso de-vidamente processado (fls. 148v9/153), não se instrumentalizando, po-rém, a argüição de relevância daquestão federal (fl. 122, item II).

Parecer do Ministério PúblicoFederal pelo não conhecimento dorecurso, mas, se conhecido, pelo pro-vimento (fls. 157/158).

5. Por ordem do Relator veio pa-ra os autos cópia do acórdão do Tri-bunal de Justiça do Ceará na Ap.Cível n? 15.457, de Fortaleza (fls.163/177).

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator): 1. O tema constitucional(art. 125, I, da CF) foi expressamen-te abordado no v. acórdão proferidoPelo E. Tribunal de Justiça do Cea-rá, na Ap. Cível n? 15.457, de Forta-leza, Relator o Desembargador JoséBarreto de Carvalho , tendo sido oprecedente expressamente invocadono v. acórdão recorrido (fls. 117 e173).

Assim, ocorrendo uma das ex-cludentes de inadmissibilidade pre-vista no caput do art. 325 do RISTF,com a redação anterior à EmendaRegimental n? 2/85, não operam, nocaso, os óbices dos incisos V, letra e,VI e VIII.

E a jurisprudência do STF épacifica no sentido de que, havendointervenção do BNH, em processosde pedido de alvará para levanta-mento de Fundo de Garantia deTempo de Serviço, a competência,para o julgamento, passa para aJustiça Federal, face ao disposto noart. 125, I, da CF.

4. Nesse sentido, além do prece-dente invocado pelo recorrente (CJ-6.287-7-RTJ-103/104), outros podem

ser referidos: RTJ-99/746, 115/404,115/484; RE 108.601-7-CE, DJ 30-5-86,pág 9282; RE 106.491-9-CE, DJ 28-11-86,pág. 23464.

Nesses dois últimos, de que fui Re-lator, a ementa dos arestos assim seexpressou:

«Fundo de Garantia por Tempode Serviço. Alvará deferido porJuiz estadual, sem a intervençãodo BNH. Apelação deste não co-nhecida pelo Tribunal local, porfalta de legitimidade para recor-rer. Recurso extraordinário doapelante, pelas alíneas a e d, comalegação de negativa de vigênciado art. 125, I, da Constituição Fe-deral e de dissídio jurisprudencial.Conhecimento e provimento doapelo extremo para anulação dosatos decisórios e remessa à JustiçaFederal, competente para o examedo pedido».5. Adotando os fundamentos de

todos esses vv. arestos, conheço dorecurso e lhe dou provimento paraanular os atos decisórios e determi-nar a remessa dos autos á JustiçaFederal, competente para o examedo pedido.

EXTRATO DA ATARE 106.148 — CE — Rel.: Ministro

Sydney Sanches. Recte.: Banco Na-cional de Habitação — BNH (Advs.:Marcos Aurélio Martins da Silveira,Carlos Robichez Penna e outros).Recito.; Francisco das Chagas Araú-jo (Advs.: Ana Lourdes Nogueira Al-meida e outro).

Decisão: Recurso conhecido e Pro-vido. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Oscar Corrêa, Sydney Sanches eOctavio Gallotti. Subprocurador-Geral da República, Dr. AristidesJunqueira Alvarenga.

Brasília, 21 de agosto de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

278 R.T.J. — 125

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N9 107.009 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.Recorrente: Prefeitura Municipal de São Paulo — Recorrido: Jockey

Club de São Paulo.

ISS. Serviços prestados por associações civis recreativas a seussócios ou a seus próprios empregados: estacionamento e fisioterapia.

Correção monetária: repetição de indébito.A jurisprudência do STF, quanto a serviços prestados por associa-

ções civis recreativas, tem-se orientado no sentido de que se tais em-presas prestam serviços a terceiros, obtendo lucro, no que diz respei-to a tais serviços, incide o ISS, pois, sob esse aspecto, se equipara aempresas. Sendo, porém, os serviços destinados a atender seus pró-prios sócios, e mesmo a empregados da entidade, mas com vistas àprópria realização de suas finalidades, sem objetivo de lucro, não háincidência daquele tributo.

Assim, o serviço de estacionamento do Jockey Club de São Paulo,destinado aos próprios sócios e os de fisioterapia também a estes des-tinados e utilizados por empregados da associação, com vistas à pró-pria finalidade desta, sem objetivo de lucro, não estão sujeitos ao ISS.

Precedentes.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, por sua Se-gunda Turma, na conformidade daata do julgamento e das notas taqui-gráficas, por unanimidade de votos,não conhecer dos recursos extraordi-nários.

Brasília, 27 de outubro de 1987 —Djacl Falcão, Presidente — AldirPassarinho, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): Na parte que interessa,adoto, como relatório, o despacho daautoria do Juiz Ruy Pereira Camilo,Vice-Presidente do 1? Tribunal de Al-çada Civil do Estado de São Paulo:

«1. Cuida-se de ação de repeti-ção de indébito, objetivando a res-tituição de importâncias pagas àPrefeitura de São Paulo, relativas

a ISS, por ter o autor mantido ser-viços de fisioterapia e estaciona-mento de veículos. A ação foi jul-gada procedente em primeiro graude jurisdição (fls. 422/ 424).

Ao recurso oficial, somou-se tem-pestiva apelação da vencida, insis-tindo no decreto de improcedênciada ação, sustentando a existênciade fato gerador para a cobrança dotributo.

A Egrégia Primeira Câmara,por maioria de votos, deu provi-mento parcial aos recursos, paraque a correção monetária incida apartir do advento da Lei n? 6.899/81e, os juros de mora, a partir dotrânsito em julgado da decisão(fls. 466/ 479).

O autor apresentou embargos dedeclaração que, por unanimidadede votos, foram rejeitados (fls.486/494v.).

Inconformado, o embargante in-terpôs agravo regimental, o qual

R.T.J. - 125

279

foi indeferido, por falta de amparolegal (0. 500).

Com base no voto minoritário,declarado às fls. 502/506, o JockeyClub apresentou embargos infrin-gentes, para que a correção mone-tária incida a partir do recolhi-mento indevido. A Colenda Primei-ra Câmara, por votação unânime,acolheu os embargos (fls. 535/541).

Inconformada com o v. acórdãoproferido na apelação, recorre ex-traordinariamente a Municipalida-de, arrimada na alínea a, do incisoIII do artigo 119 da Constituição daRepública. Aponta negativa de vi-gência dos artigos 24, inciso II, daCarta Magna, 8? e 10 do Decreto-Lei n? 406/68, uma vez que existefato gerador para a cobrança doimposto, não sendo necessária aprestação de serviços com o intuitode lucro.

Contra o acórdão proferido nosembargos infringentes, ingressou aMunicipalidade com novo recursoextraordinário, apoiada no artigoL19, inciso III, letras a e d do Esta-tuto Supremo, sob alegação de con-trariedade do artigo 1?, 2?, da Lein? 6.899/81. Pugna pela incidênciada correção monetária a partir dadata do ajuizamento da ação. Invo-ca divergência com os julgados:RE 92.644, ln DJ de 6-11-81, fl.11.102, AR-948-7, RJ in DJ de 31-1-81,fl. 8.305, RJTJESP n? 73/50,72/78, 72/96 e RT n? 555/126.»

Inadmitidos os recursos, agravoua Municipalidade. Provi o agravopara melhor exame do seu recurso.

E este o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): O C. Tribunal de Justiçado Estado de São Paulo entendeuque não havia incidência do 1SS so-

bre os serviços de estacionamento ede fisioterapia prestados pelo JockeyClub de São Paulo, tendo, entre ou-tros, adotado os fundamentos do r.decisório de primeiro grau, decla-rando:

«A sentença recorrida decidiucom acerto, e dela se extrai, por-que precisos os seus termos: «Oautor, realmente, como disse a réem seu memorial, não está isentodo ISS, eis que é entidade onde sevendem talões de apostas. Toda-via, aqui, não alega o autor isen-ção, mas não incidência do tributopor falta de fato gerador. Manti-vesse o autor estacionamentosabertos ao público e prestasse aqualquer um serviço de fisiotera-pia, mediante retribuição, paracom o proveito dessa retribuiçãomanter suas atividades, inegável aincidência do imposto. A prova, po-rém, foi no sentido de que os esta-cionamenos são utilizados por eles,mantidos esses estacionamentospara facilitar a atividade social. Eque prova não houvesse nestes au-tos, irrecusável a existência de coi-sa julgada material a esse respei-to. No que tange aos serviços de fi-sioterapia, a prova pericial, comunanimidade inclusive por parte doassistente da ré, demonstrou queno que tange aos serviços presta-dos na Rua Boa Vista, apenas ossócios do autor deles se socorre.Quanto aos serviços prestados naRua Lineu de Paula Machado,além dos sócios, funcionários doautor e profissionais do turfe tam-bém foram atendidos, mediante opagamento de taxas reduzidas. Es-sa exceção não desfigura a presta-ção de serviços com finalidade ex-clusivamente de atendimento aosassociados: trata-se de uma socie-dade voltada para o turfe e tem oautor interesse em que os profis-sionais desse esporte tenham umbom físico. Assim, o atendimentodesses profissionais está dentrodas suas atividades sociais. Qual-

280 R.T.J. - 125

quer boa associação e por outro la-do, permite que seus funcionáriosusufruam dos serviços prestadosaos sócios. O fato gerador do Im-posto Sobre Serviços de QualquerNatureza não é apenas a prestaçãodos serviços, mas a prestação porempresa ou profissional autônomo(art. 8? do Decreto-Lei n? 406/68).O profissional é aquele que vive dedeterminado serviço e o conceitode empresa leva necessariamenteà busca do lucro. Evidentementenão é o caso do autor com os servi-ços que ele presta apenas para fa-cilitar aos seus associados o me-lhor atendimento aos fins a que sepropuseram quando se associa-ram. Não se nega que o impostoserá devido independentemente doresultado financeiro obtido, ou seja,prestado o serviço sobre o preçocobrado, será devido o imposto,desde que esse serviço tenha sidoprestado por profissional ou porempresa, mesmo que não tenhahavido lucro, por um mal cálculodos custos ou por qualquer outrofator adverso à atividade que delucrativa deveria ser. Por outro la-do, ausente os requisitos do art. 8?já referido, mesmo que algum lu-cro tenha havido, não sendo essa aintenção do prestador do serviço,não incide o imposto a falta de fatogerador» (fl. 423v.).

O entendimento, assim, acolhido, éo que não se inclui no conceito deempresa a associação civil que pres-ta serviços a seus associados, sem fi-nalidade de lucro. A respeito, inclu-sive em hipótese de estacionamentode veículos em que demanda em quefoi parte também o Jockey Club deSão Paulo, invocou o aresto ora im-pugnado vários precedentes no senti-do da não incidência do ISS.

Este Tribunal admite que sejamIncluídas no conceito de empresa,para fins de tributação de ISS, asso-ciações civis, no que digam respeitocom atividades que tenham o objeti-

vo de lucro. Assim, por exemplo, jádecidiu no RE 102.647-sP (1! Turma)ser possível a incidência de ImpostoSobre Serviços em relação a festasrealizadas mediante a cobrança deingressos, para não associados, bai-les esses realizados com habitualida-de (RTJ 113/880). No parecer quenaquela oportunidade emitiu, a dou-ta Procuradoria-Geral da República(parecer do Dr. Moacir Antonio Ma-chado da Silva), deixou acentuado:

«No julgamento do RE n? 74.506-SP (RTJ n? 100/182), o SupremoTribunal Federal adotou orienta-ção no sentido de que uma socieda-de civil que desenvolva atividadeslucrativas para angariar fundostendentes à realização de obras ouempreendimentos de vulto, podeser havida como contribuinte doimposto, sujeita, portanto, à tribu-tação. No julgado então recorrido,destacou-se que, embora a nature-za do contribuinte seja elemento dofato gerador, não se poderia deixarde equiparar a sociedade civil áempresa, quando aquela se dedi-casse ao exercício de atividadescom fins de lucro.

O critério único para definir ocontribuinte do ISS é o desempe-nho de atividade econômica sujeitaà incidência desse tributo, no caso,a cobrança de bilhetes para ingres-so do público em geral em espetá-culos de diversão pública, em na-da importando, para fins de inci-dência do tributo, a circunstânciade que a prestação de tais serviçosseja levada a efeito por uma socie-dade civil. Em voto proferido noRE n? 74.849 e reproduzido no REn? 74.506, indicado anteriormente,observou o Exmo. Senhor MinistroDecio Miranda:

«Por último, mostra-se inacei-tável o argumento de que as so-ciedades autorizadas à prática deapostas em corridas de cavalosnão se enquadram no conceito de

R.T.J. — 125 281

«empresa» para efeito de sujei-ção á obrigação tributária do Im-posto Sobre Serviços (art. 71 doCódigo Tributário Nacional: art.8?, caput, do Decreto-Lei n? 406,de 31-1248).E complementa S. Ex! logo

adiante:«Quando admite a participa-

ção, nas apostas, de estranhos ásociedade, o Jockey Club atua co- -mo empresa, e, assim, não seafasta do campo de incidência doImposto Sobre Serviços.»Acrescente-se, aliás, que se as

sociedades civis pudessem promo-ver a realização de espetáculos pa-ra o público em geral, com cobran-ça de ingressos, independentemen-te do pagamento do imposto, certa-mente que essa não incidência te-ria o efeito de posicioná-las numasituação privilegiada em relaçãoás empresas que têm por objeto amesma atividade, em detrimentoda igualdade que deve ser asse -roda num regime de concorrên-cia.»No seu voto, naquele mesmo ense-

jo (RE 102447), lembrou o RelatorMinistro Octavio Gallotti que em ca-so de baile promovido esporadica-mente por clube recreativo, aindaque com venda deingressos, não ca-bia a incidência do ISS, pois a ativi-dade imPonivel devia revestir-se decaráter de habitualidade, confor-me decidido no RE 99.682 (RTJ107/1.291), Relator o Ministro RafaelMayer.

No julgamento do RE 87.890, Rela-tor o Ministro Dedo Miranda, deci-diu o STF, conforme espelhado narespectiva ementa:

«Tributário. Imposto Sobre Ser-iEatacionamento pago deveículos, mantido por sociedade ci-vil para uso de associados, na pró-pria sede social e em local pelai-

mo. Inexistência do intuito econô-mico, implícito na cláusula «porempresa ou profissional autóno-mo», lida tanto no art. 71 do CódigoTributário Nacional quanto no art.8? do Decreto-Lei n? 406, de 31-12-68,normas gerais de direito finan-ceiro sobre a matéria. Tributo in-devido.»O voto do Sr. Ministro Dedo Mi-

randa bem representa o pensamentoda Corte, que se manteve semprecom a mesma orientação, dizendoele, então:

«Restrita a prestação do serviçoti comunidade dos membros da as-sociação e aparentemente relacio-nada á facilitação do compareci-mento deles à sede social, não há,no caso dos autos, a finalidade eco-nómica, lucri faciendi causa.

O intuito do lucro, como requisitopara a ocorrência do tato ador.agá implícito na cláusula

gerde se

tratar de prestação de serviços«por empresa ou profissional autô-nomo», como se lê no art. 8? noDecreto-Lei n? 406, de 1968, queconstitui lei complementar sobrenormas gerais de direito financei-ro.

Essa, de resto, a orientação jáuma vez adotada no Supremo Tri-bunal, no acórdão a que alude oparecer da Procuradoria-Geral,RE 78.368, Relator o Sr. MinistroOswaldo Trigueiro, RTJ 70/583.

Inderrionstrada, Pols. a contra-riedade á Constituição e á lei com-

plementar.»O entendimento, deste modo, pode

assim ser resumido: embora a lei serefira a empresas e profissionais au-tónomos como aqueles cujos servi-ços podem ficar sujeitos ao ISS,equiparam-se a empresas associadasrecreativas no que digam com servi-ço* que prestem a terceiros, obtendolucro; mas não hã inchando de ISSse, embora cobrando os serviços, são

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eles prestados a seus próprios asso-ciados ou a seus servidores, sem fi-nalidade específica de lucro.

No referente à correção monetá-ria, a jurisprudência desta Corte seencontra em harmonia com o decidi-do no v. acórdão. A Lei n? 6.899/81não implica em ter-se como revoga-da a correção monetária em hipóte-ses em que a jurisprudência já a vi-nha admitindo ou prevista em leisespeciais, mas sim a ampliou, comoregra geral. Assim, e apenas comoexemplo, em se tratando de repeti-ção de indébito — que é a hipótesedos autos — esta C. Segunda Turmadecidiu na conformidade do consubs-tanciado na ementa do acórdão doRE 109.087-1 (Sessão do dia 23 demaio de 1986):

«Fiscal.Repetição de indébito. Correção

monetária.Em se tratando de repetição de

indébito, já se firmou a jurispru-dência do Supremo Tribunal Fede-ral no sentido de que a devoluçãodo tributo indevidamente exigidopela Fazenda Pública deve rea-lizar-se com incidência da corre-ção monetária a partir da data dodescabido recolhimento.

A Lei n? 6.899/81 não restringiu aaplicação da correção monetária,

mas sim a ampliou a outras hipóte-ses além daquelas que a jurispru-dência e outras leis já a admi-tiam.»E os acórdãos trazidos a confronto

pelo recorrente não trazem tese di-versa que se firmou nesta Corte.

Pelo exposto, não conheço dos re-cursos.

É o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RE 107.009 — SP — Rel.: MinistroAldir Passarinho. Recte.: PrefeituraMunicipal de São Paulo (2 recursos)(Adv?: Marcia Heloisa P. S. Bucco-lo). Recdo.: Jockey Club de São Pau-lo (Advs.: Rui Lemos de Vasconcelose outros).

Decisão: Não conhecidos. Unâni-me.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek e Carlos Ma-deira. Ausente, justificadamente, oSr. Ministro Célio Borja. Subprocura-dor-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 27 de outubro de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 107.514 — RJ(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Recorrente: Antonio Luciano da Silva — Recorrido: Instituto Nacional de

Previdência Social — INPS.

Acidente do Trabalho.Recurso extraordinário. Não conhecimento: pela letra a, porque

não prequestionado o tema constitucional suscitado e, quanto ã invo-cação da Súmula 230, porque não interposto pela letra d, subsistindo,ainda, quanto aos temas infraconstitucionais, os óbices do RISTF(art. 325, IV, a e V, b).

R.T.J. - 125 283

ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emnão conhecer do recurso.

Brasília, 4 de setembro de 1987 —Moreira Alves, Presidente — SydneySanches, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Sydney Sanches. Ailustre Procuradora da RepúblicaDra. Anadyr de Mendonça Rodri-gues, em parecer aprovado pelo emi-nente Subprocurador-Geral Dr. Mau-ro Leite Soares, assim resumiu a hi-pótese e, em seguida, emitiu pare-cer às fls. 119/121 destes autos deRE 107.514-7-RJ:

«O Recurso Extraordinário é in-terposto com fundamento exclusi-vamente na alínea a do permissivoconstitucional, fazendo alegação deofensa aos artigos 165, XVI, daCarta Magna, 29, §1?, I e II, e 3?,e 18, II, da Lei n? 6.367, de 1976, e272, e parágrafo único, do Decreton? 83.080, bem como de discrepân-cia do julgado em relação à Sú-mula 230, além de manifestarargüição de relevância da questãofederal (não reiterada na forma doart. 329, I, do Regimento Interno).

Tratando-se de ação aciden-tária, está a espécie submetida aoóbice instituído pelo art. 325, W, a,do Regimento Interno.

Das excludentes à vedaçãoregimental, restam apenas a impu-tação de mácula à Constituição ede divergência com a Súmula, emface da desistência presumida daargüição de relevância.

4. De tema constitucional, toda-via, não cogitou o v. acórdão recor-rido, ao qual não se opuseram os

Embargos de Declaração hábeis afazer sanar a eventual omissão doJulgado, com o que, resulta plena aincidência da previsão contida nasSúmulas 282 e 356, a obstar o co-nhecimento do apelo extremo a taltitulo.

No que respeita à Súmula230, observa-se que dela não destoao V. aresto recorrido, cuja ementabem espelha o decidido:

«Ação acidentária: prescriçãoqüinqüenal prevista no art. 18 daLei n? 6.367. No caso corre a par-tir da aposentadoria pelo INPS,na forma do item II do aludi-do dispositivo legal, ocorridaem 1977. Pode ser alegada e aco-lhida em qualquer instância» (fl.55).

Com efeito, essa ExcelsaCorte tem firme entendimento queprestigia tal decisum:

«A Súmula 230 do Supremo Tri-bunal Federal há de ser com-preendida em harmonia com oart. 31, letra b, da Lei n? 5.316/67que determina seja o fluxo pres-cricional contado a partir doafastamento do trabalhador pormotivo de doença, nos casos dedoença do trabalho. Preceden-tes» (Re 83.968-2-RJ, Rel.: Min.Aldir Passarinho, in DJ de 6-5-83,pág. 6027).

«Se definitivamente ficou ca-racterizada a doença incapaci-tante, decorrente de acidente, hámais de cinco anos do aj uizamen-to do feito, foi atingido o própriofundo do direito. Sentido daSúmula 230. Precedentes» (RE104.956-1-SP, Rel. Min. Aldir Pas-sarinho, In DJ de 6-9-85, pág.14876) .7. O parecer é, por conseguinte,

de que o Recurso Extraordinárionão comporta conhecimento» (fls.119/121).E o relatório.

R.T.J. - 125

VOTO

O Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator): 1. A argüição de relevân-cia não foi processada, de sorte quesubsistem os Óbices regimentais(art. 325, IV, a, e V, b, do RISTE', naredação anterior à Emenda Regi-mental n? 2/85).

Duas excludentes de inadmissi-bilidade do recurso foram alegadas:violação do art. 165, XVI, da CF; emanifesta divergência com aSúimila 230.

Todavia, do tema constitucio-nal não se ocupou o v. acórdão re-corrido, faltando, pois, o requisito doprequestionamento (Súmulas 282 e356).

4. Quanto à alegação de manifes-ta divergência com a Súmula, só se-ria apreciável se o RE tivesse sidointerposto também com base na le-tra d do art. 119, III, da CF.

No entanto, só se invocou a letra a(v. fls. 60 e 64), desatendido, Pois,quanto à d, o disposto no art. 321 do

RI e subsistindo, quanto à a, os óbi-ces regimentais.

5. Do exposto, não conheço do re-curso.

EXTRATO DA ATA

RE 107.514 — RJ — Rel.: MinistroSydney Sanches. Recte.: Antonio Lu-ciano da Silva (Adva.: Jorgina Ma-ria de Freitas Fernandes). Recdo.:Instituto Nacional de PrevidênciaSocial — INPS (Advs.: Decio Mendesdos Santos e outro).

Decisão: Recurso não conhecido.Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Nêri da Silvei-ra, Sydney Sairches e Octávdoti. Ausente, justificadamente, o Se-nhor Ministro Oscar Conta. Sub-procurador-Geral da República, Dr.Cláudio Lemos Fonteles.

Brasília, 4 de setembro de 1987—António Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 1011.104 —(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Célio Borla.Recorrente: Frigorifico Rost Ltda. — Recorrido: Estado do Rio Grande

do Sul.

ICM. Exigência de pagamento antecipado do imposto quando amercadoria destinar-se a outro Estado.

isOef 1? do art. 3! do Decreto-Lei n? 406/86 deferiu á lei estadual acom Linda para diapor (Obre o período de apuração do ICM; dai nãoex o alegado conflito entre a norma local e a complemditar, nema ocorrência da cumulação vedada pela Constituição.

Quanto à apreensão da mercadoria, adMitida pelo acórdão por setratar de simples ato impeditivo de sua circulação irregUlar, Morre adivergência com o Enunciado 323 da Súmula por ser evidente ene oobjetivo desse tipo de coerção é sempre o pagamento do tributo, salvose se tratasse de contrabando, o que não foi o caso.

RE conhecido em parte, e nesta parte provido.

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ACÓRDÃO

Vigas, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo TribunalFederai, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigrafi-a" á unanimidade de votos, em co-nbeaer, em parte, do recurso, e nes-ta parte, me dar provimento.

Sraillia, 23 junho de 1997 — DjaciFalcão, Presidente — Célio Borla,Relatar.

RELATORIO

O Sr. Ministro Célia Borla: Frl-gorifico Rost Ltda. Impetrou man-dado de segurança contra ato do Sr.Coordenador Geral do ICM, queapreendeu 24.230 quilos de sebo in-dustrial que circulava com destino aSão Paulo, sem o Pagamento anteci-pado do 1CM, conforme permissãoda Lel Estadual n? 6.485/79. art. 25,parágrafo único. Alegou que estanorma é inconstitucional, ferindo oart. 23, II, da Constituição Federal, eMaricas ante o art. 3?, parágrafo 1?,do Decreto-Lei Federal n? 406/66,Pediu tosse suspensa a exigência doPagamento antecipado. Ademais,amParado

migalvel ana Sena tif 3.13 do STF

(«E inad apreensão demercadorias como meio coercitivoPara pagamentos de tributos»), de-vem as mercadorias ser liberadas.

Concedida a liminar para suspen-são do ato impugnado, a autoridadeapontada como coatora respondeu

s

io o parágrafo único do art. 25 dan? 6.485/72 permite a antecipa-

o do recolhimento do imposto, re-gulado que foi peio art. 5.2 do Regula-mento do 1CM. Na realidade Mo setrata de antecipação de recolhimen-to, mas sim de um período diversode apuração daquele que constituiregra geral da legislação. Portanto,não é inconstitucional o Pagamentoexigido, pois o é, em tais casos, nointeressa da segurança da arrecada-ção, nenhum Prefulso trazendo ao

contribuinte, eis que a impetrantepoderia ter compensado o valor aPagar com crédito fiscal que tivessesido transferido do período anterior.Tal crédito, no entanto, é inexisten-te. Aduziu que a exigência do reco-lhimento está dentro da competênciado Ratado. Assim, a circulação damercadoria era efetivada com infra-ção às normas legais pertinentes ámatéria, e ela foi apreendida não co-mo meio coercitivo para pagamentodo tributo, mas Para qUe cessasse acirculação irregular da mesma, nãose aplicando portanto ao caso agámula 323 do STF invocada pelaimpetrante.

O Dr. Juiz denegou a segurança,cassando a liminar concedida, Teveque «se aos Estados, que são desti-natários do IC61, cabe o direito deregUlar a forma de arrecadação,lançamento e canstitUlMo doa crédi-tos tributários, poderão utilizar oscritérios que lhes sejam convenien-tes e mais seguros à Própria arreca-dação, desde. evidentemente, queobedecido o princípio da não cumula-tividade» (fl. 86). Como os critériosutilizados pelo legislador não fere eMo afronta esse princípio, art. 25da Lei Estadual n? 6.4M/72 e respec-tivo Regulamento ao estabelecer seuparágrafo Único, legal e constitu-ciona Impôs à impetrante a conde-nação em custas e honorários.

Apelando, a vencida sustenta que«não há possibilidade de convivênciaanta o dignogto no Decreto-Lei n?906, artigo 3? 1? e o procedimentoda Fazenda 'Palia* Estadual, queexige Pagamento antecipado do Ranas saldas de mercadorias para forado Estado» (fl. 93), eis que se o refe-rido Decreto-Lei assegura a apura-ção do imposto em determinadoperíodo, constituindo-se num créditotributário se o saldo for a favor daFazenda e transferindeo para operíodo seguinte se favorável ao con-tribuinte, não pode ser exigido paga-mento antecipado para determina-das operaMes. Pede seja examinada

288 R.T.J. — 125

a questão referente á liberação damercadoria apreendida, não aprecia-da na sentença. Insurge-se aindacontra a condenação na verba hono-rária.

Houve contra-razões e em ambasas instâncias o Ministério Públicoopinou pelo provimento parcial dorecurso, no tocante à condenação emhonorários advocaticios» (fls. 113/115).

O egrégio Tribunal de Justiça deci-diu:

«ICM. Possibilidade de ser exigidoo pagamento antecipado do tributo,quando a mercadoria se destinar aoutro Estado da Federação. Aplica-ção do art. 25 da Lei Estadual n?6.485/72. Apreensão da mercadoriaque circulava irregularmente. Apeloprovido apenas para afastar a con-denação em honorários advocati-elos» (fl. 117).

No recurso extraordinário, comfundamento no art. 119, III, c e d, daConstituição Federal, alega a recor-rente a ocorrência de lesão a direitolíquido e certo, porque:

«1?) a exigência de pagamentoantecipado de ICM conflita com oart. 23, II, da Constituição Federal eart. 3?, 1?, do Decreto-Lei n? 406/68;

a apreensão de mercadoriascomo meio coercitivo do pagamentode tributos;

o exercício de um direito as-segurado na Constituição e reguladoem lei federal não pode ficar na de-pendência de «autorização» de quemquer que seja» (il. 127).

e mais que«a apreensão de mercadorias, as-

sim como qualquer outro meio coer-citivo de pagamento de tributos es-tão banidos do relacionamentoFisco-contribuinte, pela pacifica ju-risprudência do Supremo TribunalFederal — Súmula 323, e cita o RE71.394, publicado na RTJ 57/75-76.»

Impugnação do Estado às fls. 132/133, sustentando:

«Primeiramente, o art. 25 da LeiEstadual n? 6.485, de 20 de dezembrode 1972, não conflita com o dispostono inciso II, do art. 23, da Constitui-ção Federal. Este apenas traça a di-retriz da não-cumulatividade, esta-belecendo o meio como se fará: aba-tendo, em cada operação, o montan-te cobrado nas anteriores. De suaparte, a norma editada pelo Estadonão impede esta sistemática, pois ocontribuinte pode compensar, quan-do do pagamento que for efetivar an-tes da saída da mercadoria do terri-tório estadual, o crédito fiscal dis-ponível até então (item 3.1 da Circu-lar 01/81, DOE de 10-7-81); e se nadadispuser, lançará a crédito o valorpago nessa circunstância, o que di-minuirá seu saldo devedor no finaldo período.

Objeta-se apenas quanto ao mo-mento do recolhimento do tributo, di-verso do estabelecido como regra ge-ral. Mas também ai não se vislum-bra ofensa á regra constitucional,pois esta não disciplina que tão-somente um único período poderiaser estabelecido pelo legislador ordi-nário; por isto, usando dessa facul-dade, a lel estadual, observando aregra da não-cumulatividade, fixououtro período além do mensal» (fls.132/133).

O despacho de fls. 137/141v. negouseguimento ao recurso, mas manda-do processar em razão do provimen-to do AG 104.513-2 (processo apenso).

Com as razões de fls. 152/157, vie-ram os autos.

2 o relatório.VOTO

O Sr. Ministro Célio Boda (Rela-tor): O recorrente não teve sucessonas instâncias ordinárias e o despa-cho de fls. 138/140 lhe negou o acessoao Supremo Tribunal Federal pornão ser razoável a argüição de in-constitucionalidade, ao teor da Sti-

R.T.J. - 125

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mula 285, nem haver-se comprovadoo dissídio jurisprudencial.

O parecer da douta Procuradoria-Geral da República, da lavra do Dr.Miguel Frauzino Pereira, aprovadopelo Subprocurador-Geral, Dr. Mau-ro Leite Soares, bem examinou acontrovérsia, assim se manifestan-do:

«Subiu o apelo extremo, por forçade agravo, com endosso destaProcuradoria-Geral. Seu melhor exa-me leva-nos a concluir que à recor-rente assiste razão apenas em parte.

Duas são as questões ventiladas:inconstitucionalidade do pará-

grafo único do art. 25 da Lei n? 6.485,do Estado do Rlo Grande do Sul, quetrata do ICM;

ilegitimidade de apreensão demercadoria, à vista da Súmula 323.

Prescreve o mencionado parágrafoúnico: «Sempre que houver necessi-dade ou conveniência, poderá serexigido que o pagamento do impostoseja efetuado antes da salda da mer-cadoria do território do Estado.»Sustenta a Recorrente que esse dis-positivo ofende o principio da não-cumulatividade do tributo, constantedo inciso II do art. 23 da Constituiçãoe do art. 3? e 1? do Decreto-Lei n?406/68.

Rejeitando a argüição, entendeu oacórdão impugnado que, obedecidopelo legislador estadual o principioconstitucional do abatimento do im-posto cobrado na operação anterior,tem ele plena liberdade para estabe-lecer o período ou períodos de apura-ção.

Na verdade, o referido 4 1? do art.3? do Decreto-Lei n? 406/68 deferiu àlei estadual a competência para dis-por sobre o período de apuração doICM; dal não existir o alegado confli-to entre a norma local e a comple-mentar, nem a ocorrência da cumu-lação vedada pela Constituição.

Já quanto à apreensão da merca-doria, admitida pelo acórdão por se

tratar de simples ato impeditivo desua circulação irregular, ocorre a di-vergência com o enunciado 323 daSúmula, por ser evidente que o obje-tivo desse tipo de coerção é sempreo pagamento do tributo, salvo se setratasse de contrabando, o que nãofoi o caso.

Diante do exposto, opinamos peloconhecimento em parte do recurso,dando-se-lhe provimento para reco-nhecer a ilegalidade da apreensãoda mercadoria» (fls. 168/170).

Com efeito, reza a Súmula 323 des-te Tribunal:

«É inadmissível a apreensão demercadorias como meio coercitivopara pagamento de tributos.»

De fato, quando o decisum impug-nado impediu a circulação irregularda mercadoria sujeita à tributaçãoestadual, efetivamente fez a apreen-são porque o tributo antecipado nãohavia sido pago.

Acolhendo os fundamentos do pa-recer antes transcrito, conheço dorecurso em parte e nesta parte dou-ihe provimento.

R o meu voto.

EXTRATO DA ATARE 108.104 — RS — Rel.: Ministro

Célio Borja. Rede.: Frigorífico Rost.Ltda. (Adv.: João Alberto SchenkelFilho). Recdo.: Estado do Rio Gran-de do Sul (Adv.: Floriano Miller Net-to).

Decisão: Conhecido em parte, enesta parte provido nos termos dovoto do Relator. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão.

Presente à Sessão os Senhores Mi-nistros Aldir Passarinho, FranciscoRezek, Carlos Madeira e Célio Bor-ja. Subprocurador-Geral da Repúbli-ca, o Dr. Mauro Leite Soares.

Brasília, 23 de junho de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

2873 R.T.J. - 125

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 108.272 — RS(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Célio Borja.Recorrente: Lydio Arno Weber e sua mulher — Recorrido: Maguefa, In-

corporações Imobiliárias Ltda.

Ação de cobrança.«Confissão flete do autor que, intimado para depoimento pessoal,

não compareceu (CPC, art. 343, se). Inaplicável a pena de confiado,se a contestação não afirmava peremptoriamente tatos contrários aoautor, limitando-se a suscitar dúvidas sobre a propriedade da ação eafirmar genericamente a improcedência do pedido» (RTJ 111/681).

Assim, o que a outra parte não afirmou, o depoente revel não po-deria ter confessado. Não invocável o art. 136 do Código Civil, no qualestão enumerados os diferentes elementos do conjunto probatório,sem atribuição de valor especial a qualquer deles.*

Quanto a quitação, por escritura, de parcela do preço cobrado nainicial, a matéria requer reexame probatório (Súmula 279).

RE não conhecido.

ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade de votos, em nãoconhecer do recurso.

Brasília, 10 de abril de 1987 — AldirPassarinho, Presidente — Célio Sor-*, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Célio Borja: Trata-se de ação de cobrança intentadapor Maguefa — Incorporações Imo-biliária Ltda. contra Lydio ArnoWeber, visando o pagamento de481.9937'UPCs. Os réus, em recon-venção, plelteam reparos dos defei-tos de origem do imóvel.

O MM. Juiz julgou procedente aação e a reconvenção.

Confirmando a sentença, o Tribu-nal de Justiça assim decidiu:

*Confissão ficta. A pena de confes-so é obrigatoriamente imposta pelo

Juiz à parte que, regularmente Inti-mada com a cominação correspon-dente, deixa de comparecer para de-poimento pessoal. Nem por isso sehá de, necessariamente, decidir domérito em desfavor dessa parte: aconfissão é apenas um melo de pro-va, a ser ponderado dentro do con-junto dos elementos de convicção co-letados.

Prova de pagamento. Demonstra-do que, em negócio imobiliário, o va-lor do financiamento habitacionalobtido ficou aquém do previsto nopré-contrato, resulta clara a existên-cia de um saldo favorável ao vende-dor. O devedor, alegando havsi-lopago, assume o ónus da prova dopagamento. Não o dispensa a quita-ção geral contida na escritura, praxenotória em negócios da espécie parapossibilitar a liberação do financia-mento.

Sentença confirmada» (fl. 294).Recorreram extraordinariamente

os réus-reconvintes, com base noart. 119, a e d, da Constituição Fede-ral, alegando que o v. acórdão recor-rido negou vigência aos anis. 945,

R.T.J. 125 289

2? do CC; 61, { 5? da Lei n? 4.380, de2-8-84, pois a quitação, quando fordada por escritura pública, comoocorreu na espécie, não admite pro-va em contrário; 136 do CC e 343, II2?, 348 e 350 do CPC, porque a con-fissão flete não é relativa, isto é, in-depende de outros fatos ou circuns-tâncias verificados na instrução; e,também, divergiu dos seguintes jul-gados: RE 85.584 e 91.771.

despacho de fls. 322/925 negouseguimento ao apelo extremo, mas oagravo foi provido para melhor exa-me.

E o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Célio Boda (Rela-tar): A hipótese é singela: o vende-dor de imóvel adquirido mediantemútuo do Sistema Financeiro da Ha-bitação declara, na escritura decompra e venda com pacto adjectode hipoteca, haver recebido todo opreço e do mesmo dá ao comprador,em emseqüencia, quitação. Poste-riormente, cobra do adquirente, me-diante apresentação do documentoParticular de confiado de divida,parte do preço não coberta pelo ff-nanciamento obtido.

comprador exime-se do paga-mento, alegando a quitação por ins-trumento público e a respectiva

r2f,rálkergtiltne.t de jure (art. 94,5frar-

No caso dos autos, intimado paradepor na audiência de instrução ejulgamento, o vendedor não compa-rece ensejando reclame o compradora pena de confiando.

conjunto probatório que Infirma adupla ficção do pagamento integral eda confissão, julga procedente aaça. A instância superior confirmaa decisão de 1? grau, e o réu interpõerecurso extraordinário sob o páliodas alíneas a e d, do art. 119, III, da

Constituição Federal, apontando du-pla afronta ao Código Civil e ao esta-tuto processual.

A r. sentença de fls. 248/252 retra-ta bem a hipótese e, nela, transpare-cem os motivos e os fundamentos dadecisão de 1? grau.

«Firmaram autora e réus, em datade 29-3-73, recibo arras referente-mente à compra do apartamento 702e espaço-estacionamento n? 4 doedifício na Rua Marquês do Pombaln? 546, pelo valor de Cri 169.700,44,ocasião em que recebeu a autora Cri8.108,00, acertando que o saldo de Cri121.329,00, equivalente a 1.711,9937UPC's seriam pagos mediante obten-ção de financiamento, num prazo de90 dias, além de terem sido emitidasnotas promissórias pelo restante.

Ocorre que os réus obtiveram fi-nanciamento pela equivalência de1.230.0000 UPC's acertando, então,através de novo recibo arras, que osaldo de 481,9937 UPC's seria pagopor ocasião das assinaturas de com-pra e venda, o que incorreu, tendo aautora dado quitado. mediante apromessa da assinatura de uma con-fissão de divida por parte dos réus.O que deixaram de cumprir, razãopor que ajuizam a presente ação pa-ra cobrança do saldo equivalente a481.9937 UPC's. Juntou documentos.

Citados, contestaram os réus di-zendo que a não assinatura da escri-tura no prazo e não concessão do fi-nanciamento pelo valor primeirodeu-se por culpa exclusiva da autoraque não solucionou problema com adescrição do imóvel junto ao Regis-tro Imobiliário, tanto que entregouaos réus do imóvel, dando-lhes quitação, não se entendendo acobrança dito saldo. Ademais, se dé-bito há, há de compensar-se com osreparos necessários no apartamento,insistentemente reclamada,

Em reconvençao, dizem ter recebi-do o imóvel com defeito de constru-ção e mal acabado, faltando pintura

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de aberturas, pia, piso, chuveiro,etc., o que foi denunciado à autora,sem que essa tivesse concluído os re-paros. Requerem a condenação daautora/reconvinda para que faça osreparos exigidos, sob pena de seremefetuados as suas expensas.

Contestando os termos da recon-venção diz a autora terem os recon-vintes assinado termo de vistoria,segundo o qual não foram encontra-dos defeitos, e os que se apresenta-ram posteriormente foram sanados.Ademais, a obrigação da autora estálimitada a seis meses a contar datradição da coisa, estando, assim,prescrita a pretensão dos réus.

Designada audiência de instruçãoe julgamento, ouviram-se duas teste-munhas arroladas pelos réus, opor-tunidade em que indeferiu o Juizo opedido de aplicação da pena de con-fesso pela ausência do representantelegal da autora, agravando retida-mente os réus.

Debateram as partes, sendo queaos réus foi deferida a juntada dealegações escritas.

Contados e preparados, atendidasas diligências de fls., vieram conclu-sos para decisão:

2. Discussão: A Ação.Há certas coisas no mundo que se

tornam conhecidas pela simples ex-periência diária. E a lição da vida.E a obra humana, quando não en-contra censura no senso moral quecada um possui, torna-se livrementeconsentida, vale dizer, licita. Assimé na aquisição da casa própria, peloSistema Financeiro de Habitação. Sede um lado criou-se uma dificuldade,o «jeitinho brasileiro», de outro, tra-ta de superá-la. Desse modo, para arealização do sonho da casa Própria,exige-se, como pré-requisito, que ocandidato faça uma poupança demodo a cobrir, com recursos pró-prios, parte do preço. Nem sempreisso é possível. Dai, então, sem que-

brar a licitude e sem ferir a morali-dade, criaram-se dois procedimentosalternativos: ou se eleva o preço fic-ticiamente no valor aproximado aoda poupança, quitando o vendedoraquela parte do preço fictício, ou opróprio vendedor, dando quitaçãodaquela parte não sujeita a financia-mento, concede, à parte, um finan-ciamento particular ao adquirente.No caso em cogitação, procedeu-seda última forma.

No cotejo da prova documentalacostada ã peça vestibular, verifica-se que as partes ajustaram o valorda transação, em 29-3-73, em Cr;169.700,44 (cento e sessenta e novemil, setecentos cruzeiros e quarentae quatro centavos). No ato, a título dearras os compradores, ora réus/re-convintes, desembolsaram Cri 8.108,00(oito mil, cento e oito cruzeiros). Porfinanciamento a ser obtido junto àCaixa Econômica Federal, os com-pradores pagariam Cr$ 121.329,00(cento e vinte e um mil, trezentos evinte e nove cruzeiros), correspon-dente a 1.711, 9937 UPC's (UnidadePadrão de Capital). O restante, atra-vés de financiamento particular daprópria vendedora, com parcelas re-presentadas por notas promissórias,comprovadamente resgatadas (fls.13/78).

Os compradores só deveriam serimitidos na posse do imóvel por oca-sião da assinatura do instrumentodefinitivo da compra e venda e mú-tuo com hipoteca. Todavia, tal con-venção restou logo modificada pelo«termo de entrega provisória». Des-sarte, já em 10-5-73 os compradoresreceberam o apartamento.

Só em 28-12-73 é que a compra-e-venda tornou-se formalizada (fls. 8 e9). Naquele instrumento, consignou-seo preço antes ajustado (C4169.700,44 ) ,mas a parcela coberta pelo financia-mento da Caixa Econômica Federaldesceu para Cri 95.780,10 (noventa ecinco mil, setecentos e oitenta cru-zeiros e dez centavos), correspon-

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281

dente a 1.230,0000 UPC's (a previsãoera de 1.711,9937 UPC's). Há, portan-to, evidente discrepância entre oajuste preliminar e o final, só expli-cável do modo feito pela autora.

Os requeridos/reconvintes compro-varam o resgate das promissóriascorrespondentes ás parcelas inicial-mente combinadas. E não compro-varam a quitação da diferença senãoinvocando a quitação geral outorga-da no instrumento final, por ocasiãodo financiamento. Releva considerarque a escritura referida ao «saldo jápago pelos compradores diretamenteaos vendedores, do que estes dãoquitação» (fl. 8). Ora, quando dasubstituição do primeiro recibo ar-ras (fl. 14), já reduzido o valor do fi-nanciamento pelo SFH, o novo ins-trumento estabeleceu que o saldo(481,9937 UPC's) deveria ser pago noato da assinatura da escritura decompra e venda e de mútuo. E essaexpressamente aludiu à quitação to-ral da parte não financiada, induzin-do à crença de ter havido, na oportu-nidade, pagamento do saldo.

Os réus não sustentam terem efeti-vado esse pagamento. Dizem queprocuraram sempre «com demasia-da insistência, pagar tudo quanto de-viam à autora», mas expressamentenão afirmam o pagamento do créditoreclamado. O crédito, como demons-trado, existia. O pagamento, se ocor-rido, teria sido antes da escritura, enão no ato dela, como lá registrado.Os compradores logicamente não ofariam sem a contra-entrega do res-pectivo recibo, prova de pagamentonão trazida aos autos. E nem é acre-ditável tenha acontecido isso de par-te de quem, pouco mais de um mêsantes, propunha pagar o débito alusi-vo ao saldo não financiado em deze-nove (19) prestações (fl. 7).

A perícia contábil escorou definti-vamente os elementos probatóriostrazidos pela autora, como sustenta-

culo de sua pretensão, dai porque sereconhece a procedência do pedido.

3. Conclusão: A vista do exposto,Julgo procedentes ação e reconven-cão.

Condeno Lydio Arno Weber e suaesposa Amélia Zanata Weber a pa-garem à autora Maguefa — Incorpo-rações Imobiliárias Ltda., a impor-tância que corresponder 481,9937Unidades Padrão de Capital (UPC),do Banco Nacional da Habitação(BNH), saldo do preço do imóvel queadquiriram a essa, não efetivamentepago.

Doutra banda, condeno a autora/reconvinda a ressarcir aos réus/re-convintes o valor dos reparos dosdefeitos de origem, pericialmenteconstatados no imóvel adquiridopor esses àquela, arbitrado em Cr;19.705, 68 (dezenove mil, setecentos ecinco cruzeiros e sessenta e oito cen-tavos), devendo esse valor ser corri-gido desde a data do laudo, 21-5-79,mediante aplicação dos índices devariação das ORTN's até a data doefetivo pagamento, eis trata-se dedivida de valor.

Os dois créditos deverão com-pensar-se. As partes são condenadasàs custas relativas às respectivas su-cumbênclas, bem como o pagamentoda verba honorária dos patronos daparte ex-adversa, que arbitro em20% do valor da condenação, obser-vados os critérios do art. 20, 3?,CPC. Arbitro, ainda, para fins dereembolso por efeitos da sucumbên-cia, os honorários do assistente técni-co da parte vitoriosa (na ação, eisque reconvenção não houve indicaçãopelos vitoriosos) em 2/3 (dois terços)do arbitrado para o período oficial).»

E de 481,9937 UPC's o saldo que oréu afirma quitado, por escritura pú-blica, e cujo recebimento tem porconfessado, em razão do não compa-

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recimento da autora para prestaçãodo depoimento pessoal.

O v. acórdão assim apreciou a pri-meira pretensão:

«Aferra-se, tão simplesmente, àdeclaração de quitação geral, conti-da na escritura.

Essa declaração, porém — e tam-bém no particular a sentença apa-nhou com acuidade a situação táticanão tem o condão de provar definiti-va e inquestionavelmente cada umdos pagamentos devidos. E isso por-que, como é notório, essa modalida-de de negócio imobiliário, com finan-ciamento do Sistema Financeiro daHabitação, consagrou a praxe de seregistrar sempre, corresponda ounão à verdade, dita declaração naescritura, até mesmo porque a libe-ração do dinheiro mutuado só se po-de fazer i vista da quitação da par-cela não financiada. Trata-se de si-mulação inocente, voltada para o ob-jetivo de

s pertintorna

es iamais flexíveis as re-

graent concessã o de taisfinanciamentos, colocando-os assimao alcance de pessoas que, na apli

-cação rigorosa daquelas regras, nãoos poderiam alcançar. Tão notóriase tio consagrada pelo uso está essaprática que até mesmo em anúnciosatravés da Imprensa é corriqueira amenção á «poupança financiada» ouao financiamento suplementar, para-lelo ao do sni, assegurado pelo ven-dedor,

Diante dessa realidade, de todosconhecida, empalidece o convenci-mento que poderia resultar da Inser-ção, na escritura definitiva, da qui-tação geral. E consabido que, con-quanto quase sempre presente, essareferenda não corresponde quasenunca à verdade, quando se trata denegócios imobiliários feitos com fi-nanciamento oficial. Nem cabe invo-car, como Invocam os apelantes, odisposto no art. 945, li 2? do CódigoCivil, sela em razão das peculiarida-des que vêm de ser expostas, sejapor não se tratar, no caso, de escri-

tura pública, como facilmente se vêa fls. 8 e 9.»

Já quanto à segunda, decidiu Impora pena de confissão, mas atribui-lhe oseguinte valor probante, verbis:

«Com efeito, ainda que pesem con-tra a apelada a ficta contesto e aquitação geral expressa na escriturapública, essa modalidade de revela-ção de urna verdade formal, apoiadaa presunções, estão em conflito clarocom as evidências capazes de re-construir, no caso, a verdade real.

E fato documentalmente provado eIncontroverso que o negócio entabu-lado entre as partes previa a obten-ção, pelo comprador, de um finan-ciamento imobiliário de maior valordo que o efetivamente alcançado,Dai resulta que a parcela não finan-ciada do preço, necessariamente,cresceu em idêntica medida, exi gin-do do comprador um aumento dosrecursos próprios a serem emprega-dos no pagamento do preço. Ale gan-do, pois, que pegou também essa di-ferença, assume o comprador o Onuide provar tal pagamento, o que nãotez no caso concreto. Aliás, comocorretamente destacou o culto julga-do de primeiro grau, sequer chegouo casal dos ora apelantes a formulartuna clara assertiva de haver pagotal diferença, com a necessária es-pecificação da forma, lugar e Mo-mento,»

Vé-se, Pois, que não tendo o réualfrmado, de maneira inequívoca, opagamento, o v. atesto recorrido queimpôs à autora a pena de contem,entendeu que esta última não pode-ria ter o condão de tornar liquidaafirmação que a outra parte não fez.

Em precedente deste supremo Tri-bunal (RE n? 96.364-SP, Relatoreminente Ministro Dedo Miranda)esta colenda Segunda Turma aplicouidêntica solução, verbis,

4. Confissão ficta, do autor que,intimado para depoimento pessoal,

— 125

não compareceu (Cód. Proc. Civ.art, 343, 2?), Inaplicável a pena deconfissão, se a contestação não afir-mava peremptoriamente fatos con-trários ao autor, limitando-se a sus-citar dúvidas sobre a propriedade daação e afirmar genericamente a im-procedência do pedido.» (RTJ 111/681).

Assim, o que a outra parte nãoafirmou, o depoente revel não pode-ria ter confessado. Não o socorre oartigo 198, do Código Civil, no qualestão enumerados os diferentes ele-mentos do conjunto probatório, sematribuição de valor especial a qual-quer deles.

Quanto à quitação, por escritura,de parcela do preço cobrada na ini-cial, tem-se que, não afirmando oseugagamento e, convencendo-se omagistrado de 1? grau por perlaicore bil como afirma na sentença,ser artificiosa a quitação formal,deu-lhe a solução ditada por suaapreciação do conjunto das provasoferecidas peias partes.

Em sede extraordinária, não hácomo reapreciar a matéria de fato(SONSO 27e e seu precedente básico,el` ti? 3.712-PE).

Por exposto, não conheço do recur-so.

EXTRATO DA ATA

RE 108.272 — RS — Rel.: MinistroCOM Borla. Rocies.: Lydlo Ano We-ber e sua mulher (Adva.: JoséEduardo Boelra, Henrique Fonsecade Araújo e outros). Recdo.: Maque-ta, Incorporações Imobiliárias Ltda.(Adva.: Paulo M. Fischer e outros).

Decisão: Nio conhecido. Unanime.Falou pelos Rocies o Dr. HenriqueFonseca de Araújo. Presidência doSr. Ministro Alibi- Passarinho, na au-Sèneill ocasional do Sr. Ministro Dia-cl Falcão.

Presidência do Senhor Ministro Ai-dir Passarinho, na ausência ocasio-nal do Sr. Ministro Djaci Falcão.Presentes i Sessão os Senhora Mi-nistros Carlos Madeira e Cêlio Bor-la. Ausente, justificadamente, o Sr.Ministro Francisco Rock. Subpro-curador-Geral da República, o Dr.Mauro Leite Soares.

Brasília, 10 de abril de 1967 —Hélio Francisco Mania, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 106.880 — SP(Segunda Turma)

Rektor: O Sr. Ministro Cego Borla.Recorrentes: STARVESA — Serviços Técnicos Acessórios e Revenda de

Veículos Ltda, e outros — Recorridos: Transamérica, Representações e Par-ticipo:0es Ltda. e outra — Administradora Fortaleza Ltda. e outro.

Sociedade Andaina*,

— Sociedades de Caappital Aberto do «Grupo Real». Ação ajuiza-da por acionistas e ¡ressoa das empresas do emaloMorado Objetivando à indeniza da diferença entre lionortria par.tielpaçõee e verbas de reprceen ção etetimmeete recebida Sio ad-miniiltrador e controlador das companIdas a tetimittanciadeveria ter recebido, considereuxio-as o valor de m

Ii - Im rociaste da ação an grau de Onbarges SOMpara restabeleceras a matanee de 1! grau que amideran deusessikria a prodtiell0 de prova* orai e pericial, ate os eleennbis ja COne-tentes doe autos.

294 R.T.J. - 125

III — Recurso extraordinário que vislumbra ofensa aos artigos117, 4 1?, alíneas ce f e 152 das Leis das Sociedades Anónimas e 130,332 e 333, inciso I, do CPC, além de divergência jurisprudencial, pro-pugnando pela produção das provas oportunamente requeridas.

IV — Insubsistência da prejudicial de coisa julgada suscitada pe-los recorridos. O pedido formulado no recurso extremo é, precisamen-te, o da anulação da sentença, em face do julgamento antecipado dalide.

V — Provas requeridas desnecessárias para os efeitos pretendi-dos, porquanto visam não a infirmar a politica lesiva aos interessesdas companhias, mas sim a demonstrar as disparidades das remune-rações individuais dos diretores. Falta de legitimidade dos recorren-tes para postularem em juizo quanto a estes.

VI — Inexistência de violação dos dispositivos legais apontados efalta de comprovação do dimidio jurisprudencial (art. 322 do RISTF).

RE não conhecido pelas alíneas a e d do permissivo constitucio-nal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, á unanimidade de votos, em nãoconhecer do recurso.

Brasília, 21 de agosto de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CélioSeria, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Célio Boda: Starve-sa — Serviços Técnicos, Acessórios eRevenda de Veículos Ltda., Disbrasa— Distribuidora Brasileira de Veícu-los Ltda. e Marco Enrico Slerca, naqualidade de acionistas e substitutosprocessuais das sociedades de capi-tal aberto do denominado «GrupoReal», nos termos do art. 246 da Lein? 6.407/74, ajuizaram, perante ojuizo da 10! Vara Cível da Capital,ação ordinária de indenização contraTransamérica, Representações eParticipações Ltda, Nova América— Representações, Administração eParticipações Ltda., AdministradoraFortaleza Ltda. e Aloysio de Andra-de Faria — respectivamente, socie-dades controladoras de todas as em-

presas do referido grupo e, o último,detentor da quase totalidade dasações dessas sociedades controlado-ras — objetivando ressarcimento dadiferença entre os honorários, parti-cipações e verbas de representaçãoefetivamente percebidos pelo 4? réu,em decorrência da administraçãodas empresas do conglomeradoReal, e a importância que deveriater recebido, a esse titulo, dentro dospadrões do mercado (cf. item VI, c,petição inicial, fl. 14).

A r. sentença de fl. 1360/1372(4? vol. ), afastando preliminaresrelativas á prestação de caução, ca-rência da ação e inépcia da inicial,entendeu desnecessária a produçãode provas em audiência, ante os ele-mentos já constantes dos autos e, de-cidindo antecipadamente a lide, jul-gou improcedente a ação, no mérito.

Em grau de apelação, a egré-gia Sexta Câmara do Tribunal deJustiça, por maioria, anulou a sen-tença para permitir a produção dasprovas oportunamente requeridas,em acórdão do seguinte teor (fls.1613/1621 — 5? vol.):

«Os autores (duas sociedades co- -merciais e uma pessoa física), naqualidade de acionista das empresasque formam o denominado «Grupo

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Real», ajuizaram a presente ação In-denizatória, alegando em resumoque as três primeiras rés são contro-ladoras das sociedades anônimas doreferido grupo e que o quarto réu,por sua vez, detém a quase totalida-de das quotas das litisconsortes pas-sivas. Valendo-se de seu poder decontrole, o quarto réu integra a ad-ministração das sociedades controla-das, percebendo quantias astronómi-cas e inimaginárias a titulo de hono-rários, participações e verbas de re-presentação, com prejuízo para asempresas e seus acionistas. Em facedisso, pedem uma indenização cor-respondente à diferença entre asverbas efetivamente percebidas peloquarto réu e os valores situados den-tro dos padrões do mercado.

A sentença de primeira instânciacujo relatório é adotado, antecipou ojulgamento da lide, rejeitando aspreliminares das contestações e, nomérito, concluindo pela improcedên-cia da ação.

Apelaram os autores, através dedois recursos separados (fls. 1374 e1398), pleiteando o acolhimento dopedido inicial, ou a abertura da pos-sibilidade de produção de provas.

As Apelações foram regularmenteprocessadas, com respostas dos ape-lados.

o relatório.As preliminares das contestações

foram bem repelidas pelo magistra-do, por fundamentos jurídicos que fi-cam adotados (fls. 136/1/1369 — 4? vo-lume).

Precipitou-se, contudo o MM. Juizao antecipar o julgamento do mérito,pois a controvérsia envolve matériade alta indagação, que depende dadilação probatória.

Os autores não impugnam propria-mente a regularidade formal das re-munerações do quarto réu, mas en-tendem configurado o abuso de direi-to, consistente no exercício anormaldo poder de controle para a obtenção

de verbas remuneratórias exagera-das, acima dos padrões usuais.

A r. sentença apelada concluiu pe-la improcedência da ação porque aremuneração global dos administra-dores, fixada pela assembléia geral,estaria dentro dos limites da norma-lidade, sendo irrelevante indagar seum dos administradores recebe so-ma superior à dos demais, pois aforma de repartição da verba nãoacarreta qualquer dano à sociedadeou aos acionistas.

Trata-se de argumento que vemapoiado em pareceres de ilustres erespeitáveis juristas, mas que temcomo base um pressuposto de fatoque precisa ser esclarecido pela pro-va, conforme será demonstrado maisadiante:

Antes, porém, convém que se esta-beleça, desde logo, que o simples fa-to de ter sido a verba aprovada pelaassembléia não afasta, em tese, apossibilidade do abuso de poder e daresponsabilidade do acionista contro-lador, nos termos do art. 117 da Lein? 6.404/76. Isto porque, de acordocom o art. 116 do mesmo estatuto, oacionista controlador é aquele quedetém ações suficientes para a cons-tituição da maioria dos votos nas de-liberações da assembléia geral, demodo permanente. Sendo assim, oabuso de poder pode caracterizar-seatravés de deliberações da assem-bléia, manifestadas pelos votos ma-joritários do controlador.

A enumeração do 11 1? do art. 117da Lei n? 6.404/76 é exemplificativa.Conforme ensina Waldirio Bulga-reill, as teorias do abuso de direito edo desvio de poder *poderão sertambém invocadas em casos nãoprevistos como integrantes do abusode poder, fornecendo aos juizes asbases para a decisão apreciadora davida social» (A Proteção ãs Minoriasna Sociedade Anónima, ed. Pionei-ra, 1977, pág. 98).

Em principio, portanto, a respon-sabilidade poderá configurar-se, de-

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pendendo da prova do pressupostode fato que, no caso concreto, consti-tui o ponto principal da controvérsia(exagero ou normalidade do quan-tum das verbas remuneratórias).

O MM Juiz admitiu, desde logo,que a remuneração global se situanos limites da normalidade.Tra-tando-se, porem, de matéria de fatode alta indagação, o magistrado nãopoderia ter antecipado o julgamentoda lide, antes de dar ás partes aoportunidade da produção de todasas provas. Note-se que tanto os auto-res, na inicial (fl. 16), como os réus,nas contestações (fls. 170, 360 e 361),protestaram por prova oral e peri-cial (exame de livros). Os própriosdemandantes, portanto, sentiram anecessidade da dilação probatória.

E certo que, para aceitar o pressu-posto de fato da normalidade da re-muneração global, o MM. Juiz nãofoi arbitrário, pois se baseou em al-guns elementos informativos já exis-tentes nos autos. O conjunto probató-rio, contudo, ainda não está comple-to. Se os próprios demandantes, deambos os lados, manifestaram inte-resse na produção de outras provas,tal possibilidade não pode ser afasta-da.

Ademais, a comparação entre osgastos de administração do grupoReal, e os de outros grupos financei-ros, deve basear-se em critérios derelatividade. Tais gastos podem va-riar, em maior ou menor escala, de-pendendo do porte, do capital e domovimento de negócios de cada em-presa. Dal a necessidade de melho-res e mais seguros elementos para aaferição da normalidade ou da anor-malidade das despesas de adminis-tração.

Em resumo, somente após a ins-trução ordinária do feito, poderá ojulgador formar sua convicção a res-peito da existência ou inexistênciade dano para a sociedade, seja emrazão do quantum da remuneração

global, seja em razão do montanteda remuneração individual dos ad-ministradores.

A antecipação do julgamento da li-de é medida salutar de economiaprocessual. Tal faculdade, contudo,deve ser exercida com cautela, paraque não haja risco de cerceamentode defesa.

No caso em questão, a controvér-sia é complexa e exige uma apura-ção mais cuidadosa dos fatos.

Por tais motivos, a apelação é pro-vida para a anulação da sentença, afim de que outra seja proferida, apósa produção das provas pelas quaisprotestaram as partes.

Participou do julgamento, com vo-to vencedor, o Sr. DesembargadorCamargo Sampaio.

São Paulo, 10 de agosto de 1983 —Macedo Bittencourt, Presidente eRelator Macedo Costa, 3? Juiz,vencido, conforme declaração de vo-to em separado.

Declaração de voto vencidoApelação Cível n? 35.055 — 1 —

Comarca São Paulo

Adoto o relatório do r. acórdão.A presente ação tem objeto preciso

e explícito: sustentam os autores,acionistas das rés, que se rebelam eimpugnam «uma política global dascontroladoras posta em benefício do4? réu» que resulta, no pagamento aeste de «inimagináveis», pelo vulto eexagero, honorários e participaçõesque contaminam os resultados finan-ceiros e provocam, defluentemente,lesão prejudicial da distribuição dedividendos. Estão os autores, legiti-mados para a demanda, nos termosdo art. 246, { 1?, letra b, da LSA e fo-ram convocados ao pólo passivo to-dos os que responderiam pela alega-da incontinência.

Os autos da ação se avolumaram;muito do que se trouxe é despiciendopara o desate; nada obstante os lon-

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gos e eruditos arrazoados das par-tes, todos de alto nível, facilitam oexame da controvérsia e sua solu-ção.

As rés compõem um dos mais rele-vantes e atuantes conglomerados fi-nanceiros do país, sendo notório querepresentam, em crescendo, exem-plo de notável êxito no quadro em-presarial da nação. Desnecessário épesquisar, em minudências, a razãode tanto; no entanto é indescartávela presunção de que para atingir taismetas e resultados teve orientação epolitica dirigente bem ordenadas.Nesta ação, porém, se põe em dúvi-da um dos itens de sua administra-ção, asseverando-se que na sua inti-midade gerencial, ocorrem abusosde poder a dano de melhores resulta-dos para os acionistas.

A imputação do libelo não se ani-nha em nenhuma das práticas típi-cas que envolvem administração rui-nosa das empresas coligadas, de for-ma a levá-las à ruína, quer pela ges-tão fraudulenta, incompetente, teme-rária, negligente ou imperita, doelenco do art. 117 da LSA; na verda-de sequer se afirma ou se levantasuspeita que o acionista controladortenha deixado de cumprir os deveresinseridos, In genere, no parágrafo ú-nico do art. 116 da mesma lei. Tudoquanto se argúi na inicial é a indigi-tada atribuição de honorários exces-sivos ao 4? réu que detém 99,99% dascotas das rés controladoras do gru-po.

Ora, está comprovado e confessa-do pelos autores, que todas as socie-dades envolvidas na lide, tiveram fi-xados o montante global da remune-ração aos administradores por deli-beração das assembléias gerais ordi-nárias de cada qual, nos expressostermos do artigo 152 da LSA, enfati-zando os demandantes que não im-pugnam «a fixação de honorários eparticipações nesta ou naquela socie-dade*. Este posicionamento dos au-tores é de capital importância, admi-tem, e não impugnam, a legitimi-

dade e o montante global da re-muneração dos administradores,que só a assembléia geral pode ou-torgar. Forçoso é convir, portanto,que o libelo é risarlitsinte ao preten-der caracterizar a lesão reflexa aosacionistas, na excessividade da re-muneração aos administradores poreles expressamente não impugnada.Em outros termos, aceitando a deli-beração da assembléia em item dedefesa fixa e imutável (nos balançossocietários) não podem, ao depois,alegar que o Item é motivador dodesfalque de lucros para os dtviden-doa.

Por Isso mesmo, a sentença recor-rida bem atentou para o inusitado dolibelo; se os autores não negaram(como premissa do silogismotear%) , nem contestaram que omontaste global das remuneraçõesestava conforme aos paradigmas domercado (prova documental queacompanhou as respostas) a conclu-são de remate é absolutamente des-conexa.

E verdade que os autores preten-dem se esquivar desse incontornavelveto da lógica. afirmando que naparta do montante global é queocorre

ilh o abuso de poder, desde que é

nesse ato Intata corparia que o 4?réu ganha o indevido; mas se ganhao indevido é intuitivo e óbvio que oepisódio não guarda relação causalcom lesão aos réus (concordes. emuníssono, com a verba votada pelasassembléias); se lesão houvesse se-ria na sua distribuição atire os ad-ministradores e seriam os constatesdo 4? réu que suportariam o desfal-que; e os autores, como já se afir-mou nos autos, não são substitutosprocessuais desses. Oportuno é colar

Zge;to) percuclente argumento deCarvalha um dos mais

insignes intérpretes da LSÁt. «0montante destinado á remuneraçãodos administradores contou com aaprovação dos acionistas, em delibe-ração válida, tomada em assembléia

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geral. Será esse montante, o qual re-presenta encargo da pessoa jurídica,que, nas demonstrações financeiras,refletirá na determinação do lucro ena distribuição dos dividendos.»

Os respeitáveis votos dos DD., Re-lator e Revisor, dão provimento par-cial ao recurso para a prova dequanto é partilhado ao 4? réu naque-le montante não impugnado. Com adevida vênia é absolutamente incon-seqüente a diligência. Admitida a hi-pótese de uma partilha que favoreçao 4? réu com régia remuneração aação proposta não pode cortá-los,diminui-los ou fazer arbitramentodiscricionário: tanto importaria emimiscuir-se em ato típico e internacorporis de cada sociedade, ofen-dendo-lhes a intimidade gerencial,com censura e invalidação de delibe-ração da assembléia geral que não équestionada nem impugnada nestacausa.

Pelo sumulado, o meu voto negaprovimento ao recurso e mantém asentença recorrida, acolhendo e ado-tando, nos pontos de contato com es-ta síntese, as contra-razões dos ape-lados.

a) Macedo Costa» (fls. 1613/1621)

4. Rejeitados embargos declara-tórios sobre as preliminares argüi-dai; (fls. 1635/1636), interpuseram osréus, ora recorridos, na esteira dodouto voto vencido, embargos infrin-gentes, os quais foram recebidos pe-les fundamentos expendidos ás fls.1683/1685, verbis:

«Os presentes embargos só podemser apreciados nos limites do votovencido. A douta maioria repeliu ex-pressamente as preliminares tantono acórdão de fls. 1613 a 1617 quantono de fls. 1635 a 1636 prolatado emembargos de declaração. O respeitá-vel voto vencido (primeiro acórdão)enfrentou o mérito, pelo que, obvia-mente, repeliu as preliminares. Ade-mais, o acórdão proferido nos em-bargos de declaração (onde se discu-

tiram ainda as preliminares) foiunânime. Portanto, as preliminaresnão podem ser objeto de apreciaçãonos presentes embargos infringen-tes.

Quanto ao mérito, é de notar, deinício, que o fato de as partes protes-tarem por prova, não significa queelas, necessariamente fossem produ-zidas. A circunstância, com efeito,não era óbice para o julgamento an-tecipado da lide. Basta que o juiz en-tendesse desnecessária a prova oralou pericial, ante os elementos doprocesso, para que pudesse, desdelogo, proferir a sentença. E foi o quefez.

As alegações da inicial não se en-quadram em nenhuma das hipótesesdo art. 117 da Lei das SociedadesAnônimas. O que diz a inicial é quesão pagos honorários excessivos aum dos réus que, por sinal, detém99,99% das cotas das suplicadas con-troladoras do grupo.

Contudo, está provado pela própriaconfissão dos autores, que todas associedades rés tiveram o montanteglobal da remuneração aos adminis-tradores fixados em assembléia ge-ral ordinária, com respeito ao art. 152da Lei das Sociedades Anônimas. Ospróprios embargados salientam nãoimpugnar a «fixação de honorários eparticipações nesta ou naquela socie-dade». Admitem, o que é mais rele-vante para a decisão, a legitimidadedo montante global da remuneração.

Ora, se tal ocorre, a alegada ex-cessividade da remuneração aos ad-ministradores por eles não foi im-pugnada. E que aceitam as delibera-ções das assembléias, os balançossocietários, não podendo, por issomesmo, falar em desfalque de lucrospara os dividendos.

2 certo que os autores buscaramconvencer de que o abuso de poderresidiria no montante global aceitopelas assembléias, ato do qual de-correriam os ganhos ditos ilícitos do4? réu. Todavia, como esclareceu o

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respeitável voto vencido, «se lesãohouvesse seria na sua distribuiçãoentre os administradores e seriamconsortes do 4? réu que suportariamo desfalque; e os autores, como já seafirmou, não são substitutos proces-suais desses» (fl. 1620). Não há dúvi-da (os embargados não negam) queo montante destinado aos adminis-tradores foi aprovado por assem-bléias gerais. Tal montante é que re-fletirá na determinação do lucro ena distribuição dos dividendos.

Na realidade, de nada adiantaria aprova do quantum recebido pelo 4?réu. A importância por ele recebidaserá sempre legitima, pois decorreda assembléia geral, num típico aointerna cornaria, no qual, por issomesmo, não se pode imiscuir. Seria,em última análise, anular o que foradeliberado em assembléia, o quenem se pediu na presente causa.

Ante a prova produzida, decidiucom acerto o magistrado quandoafirmou que «dúvidas não há, por-tanto, de que foi observado o dispos-to na Lei das Sociedades Anônimas,fitando-se a remuneração de acordocom os padrões de mercado. Aliás,os próprios autores reconhecem essacircunstância na inicial, convalidan-do, por conseguinte, as deliberaçõesda assembléia.»

Pelo exposto, recebem os embar-gos, nos precisos termos do voto ven-cido, data venha da ilustrada maio-ria, ficando restabelecida a respeitá-vel sentença de primeiro grau.

O julgamento foi presidido pelo Sr.Desembargador Garrigós Vinhaes,com voto vencedor, e dele tambémparticiparam os Srs. Desembargado-res Macedo Costa, com voto vence-dor e Macedo Bittencourt e CamargoSampaio, com votos vencidos.

São Paulo, 24 de maio de 1984 —Gonçalves Santana, Relator.»

5. Os recorrentes, imputando aoacórdão supratranscrito contradiçãoe omissão que implicariam em ofen-

sa à Lei n? 6.404, de 15-12-76 (arts.116, parágrafo único, 117, § 1?, c, e152, caput) e ao Código de ProcessoCivil (arts. 130 a 131), opuseram em-bargos de declaração (fls. 1693/1701), unanimemente rechaçados pe-la eg. Câmara Julgadora (fls. 1704/1705).

Em decorrência do acolhimen-to dos embargos infringentes, mani-festaram o presente recurso extraor-dinário, com apoio nas alíneas a e ddo permissivo constitucional, alegan-do afronta aos artigos 117, § 1?,alíneas c e f, e 152 da Lei das Socie-dades Anônimas e 130, 332 e 333, inci-so I, do CPC, bem como divergênciajurisprudencial, requerendo o conhe-cimento e provimento do apelo paradeterminar-se a anulação da senten-ça, devendo outra ser proferida,após a produção de provas pelasquais protestaram as partes, comodecidira o v. acórdão de fl. 1617.

Impugnado o cabimento do re-curso (fls. 1726/1744), o ilustre De-sembargador Nereu César de Mo-raes inadmitiu o seu processamento,através do r. despacho de fls.1746/1752, aduzindo:

«2. O recurso, porém, não reúnecondições de admissibllidade.

Os recorrentes estabeleceram co-mo objetivo do recurso «a anulaçãoda sentença, a fim de que outra sejaproferida, após a produção das pro-vas pelos quais protestaram as par-tes.»

Aliás, não poderia o apelo extremoensejar a procedência da ação, por-que, com o julgamento das apela-ções (fls. 1613/1621) e restringindo-seos embargos infringentes ao votovencido, ficaram exauridas as ins-tâncias ordinárias para tal finalida-de, restando a alternativa: a anula-ção da sentença ou da improcedên-cia da ação.

Nestas condições, pode causar per-plexidade a apreciação da alegaçãode infringência dos artigos 117 e 152

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da Lei de Sociedades Anónimas, por-que pretendendo, exclusivamente, aanulação da sentença, em face dojulgamento antecipado, estariam osrecorrentes, na verdade, discutindoo mérito da causa.

Todavia, impõe-se o exame da ma-téria tratada pelos referidos disposi-tivos legais, exclusivamente paraaveriguação da necessidade de pro-dução de provas, o que obstaria ojulgamento antecipado.

O v, acórdão recorrido concluiuque não ocorreu nenhuma uicitude,ou prejuízo para as sociedades dochamado «Grupo Real». A respeitodo julgamento antecipado da lide,deixou claro que as provas existen-tes no processo, naquele ensejo, jáeram suficientes para conclusão aque chegou.

Resta saber, portanto, se a inter-pretação que se deu aos referidosdispositivos, por errónea que fosse,tenha sido a çausa determinante doentendimento pelo qual seriam des-necessárias outras provas.

Os recorrentes indicam como su-porte fálico a «remuneração excessi-va» do quarto réu, argumentandoque o art. 117 da Lei de SociedadeAnônimas é, meramente, enuncia-tivo e não taxativo como considerouo v. acórdao recorrido.

Paradoxalmente, apontam a ocor-rência das hipóteses previstas pelasalíneas c e f do parágrafo 1? do refe-rido artigo.

Na verdade, excluindo a aprecia-ção da matéria não prequestionada,o que se poderia cogitar, para averi-guação da necessidade de produçãode provas, seria, apenas, a abran-gência do art. 117, da Lei de Socieda-des Anônimas, quanto aos fatos nar-rados na inicial. Assim, resta saberse a «remuneração excessiva» atri-buída ao quarto réu configura supor-te fálico para a conseqüência preten-dida pelos recorrentes, a ser de-monstrado com a dilação probatória.

O v. acórdão não negou que essefato pudesse ensejar a conseqüênciarequerida. Mas, asseverou, clara-mente, que a fixação da remunera-ção dos administradores foi regulare que é legitima a importância per-cebida pelo quarto réu.

Por outro lado, reportou-se o julga-do ao artigo 152 da Lei de SociedadesAnônimas, para justificar a regulari-dade com que se fixou a remunera-ção dos administradores.

Nestas condições, não há como seconcluir pela necessidade de produ-ção de outras provas, em face de er-rônea interpretação ao texto legalatinente ao mérito da causa. Mas,mesmo que a interpretação dada aosartigos 117 e 152 da Lei de Socieda-des Anônimas venha a afetar o crité-rio que determinou o julgamento an-tecipado, essa interpretação se mos-tra razoável, dando ensejo à atuaçãoda Súmula 400.

Os .preceitos do Código de Proces-so Civil, apontados no recurso, tam-bém não foram afrontados.

Não negou o v. acórdão recorridoque os recorrentes tenham direito àprodução de provas e que lhes in-cumbe os ônus de demonstrar os fa-tos que alegaram (arts. 332 e 333, I,do CPC).

Também, não se negou que ao juizincumbe determinar as provas ne-cessárias à instrução do processo(art. 130 do CPC).

Houve, no caso, correta interpreta-ção e aplicação do art. 330, I, do es-tatuto processual, porque ficou evi-denciado que não era necessária aprodução de outras provas para jul-gamento da demanda.

Assim, o recurso, pela alínea a dopermissivo constitucional, é obstadopelo enunciado na Súmula 400.

Quanto à alegação de dissídio ju-risprudencial, os recorrentes nãocumpriram os requisitos do artigo322 do RISTF, porque não indicaramcircunstâncias comprovadoras da se-

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melhança ou identidade dos julgadoscolacionados com o caso em foco.

Aliás, neste particular, tem o eg.Pretório Excelso asseverado a ne-cessidade de demonstração analíticada divergência jurisprudencial, me-diante o confronto das partes idênti-cas ou semelhantes do acórdão re-corrido e dos apontados como para-digmas (RTJ 93/1133).

3. Por essas razões, indefiro oprocessamento do recurso extraordi-nário.»

Porquanto, todavia, providoagravo de instrumento pelo meueminente antecessor, Ministro Cor-deiro Guerra, os autos subiram aesta Corte para melhor exame.

Razões ás fls. 17/4/1780.10. Contra-razões às ris. 1784/

1819, destacando-se, nesta peça,preliminar de coisa julgada, paraque o Supremo Tribunal Federal,Mo conhecendo do recurso ex-traordinário, «também declare quepassou em julgado a decisão demérito contida no acórdão recorri-do.» (item 2.4., fl. 1793).

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Célio forja (Rela-tor): Registro a prejudicial suscitadapelo r. despacho que, na origem, in-deferiu o recurso:

«Aliás, não poderia o apelo extre-mo ensejar a procedência da ação,porque, com o julgamento das apela-ções (fls. 1813/1821) e restringindo-seos embargos infringentes ao votovencido, ficaram exauridas as ins-tâncias ordinárias para tal finalida-de, restando a alternativa: a anula-ção da sentença ou da improcedên-cia da ação.»

A seu Ulmo, o recorrido pede, nassuas contra-razões que o SupremoTribunal Federal, não conhecendo dorecurso «também declare que pas-

sou em julgado a decisão de méritocontida no acórdão recorrido». (fl.1793).

Tenho que o pedido formulado norecurso extraordinário é, precisa-mente, o da anulação da sentençapara que os autores produzam asprovas pelas quais, oportunamente,protestaram (fls. 1721/1722).

Mas, para apreciar tal requeri-mento, é mister examinar eventualinfringencia dos artigos 117 e 152, daLei das Sociedades Anónimas, porparte dos réus, adverte a decisãoque negou trânsito, no tribunal aquo, ao presente recurso.

A questão prejudicial que o recor-rido propõe à suprema instância é ada possibilidade de anular — porvício processual — sentença de méri-to, preferida na primeira Instância,confirmada, no segundo grau de ju-risdição e, ai, transitada em julga-do!

E certo que o voto vencido da la-vra do Desembargador Macedo Cos-ta, já transcrito, afirmou que a di-ligência pretendida pelos recor-rentes «é absolutamente inconse-qüente» porque,

«Admitida a hipótese de uma par-tilha que favoreça o 4? réu com régiaremuneração, a ação proposta nãopode cortit-las, diminui-ias ou fazerarbitramento discricionário: tantoimportaria em imiscuir-se em atotipico e interna emparia de cada so-ciedade, ofendendo-lhes a intimidadegerencial, com censura e invalida-ção de deliberação da assembléiageral que não é questionada nem im-pugnada nesta causa.»

Conclui o voto vencido negandoprovimento ao recurso e msentença recorrida (fl. 1821

antendo a).

Em grau de embargos infringen-tes, o eg. Tribunal a quo estatuiu,verbis:

«Os presentes embargos só podemser apreciados nos limites do votovencido... O respeitável voto vencido

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enfrentou o mérito... Quanto ao mé-rito, é de notar, de início, que o fatode as partes protestarem por prova,não significa que elas, necessaria-mente fossem produzidas. A circuns-tância, com efeito, não era óbice pa-ra o julgamento antecipado da lide.»

Fundamentando a decisão de mé-rito que, como se viu da transcriçãoacima, diz à recusa de produção deprovas, pelo julgamento antecipadoda lide, entra o v. aresto recorrido afundamentar a desnecessidade da di-lação reclamada pelos recorrentes,na inexistência de ofensa ao artigo152 da Lei das Sociedades Anônimas.

Perfilha, a esse propósito, a afir-mação do magistrado de primeirograu, segundo a qual

«dúvidas não há, portanto, de quefoi observado o disposto na Lei dasSociedades Anônimas, fixando-se aremuneração de acordo com os pa-dites de mercado. Aliás os própriosautores reconheceram essa circuns-tância na inicial, convalidando, porconseguinte, as deliberações da as-sembléia.» (Fls. 1683/1685).

Conclui recebendo os embargos,nos termos do voto vencido,

«... ficando restabelecida a respei-tável sentença de primeiro grau.»

Parece-me claro que os sucessivosapelos, interpostos pela parte su-cumbente, voltaram-se contra o jul-gamento antecipado da lide, que vi-ciaria, assim a sentença de primeirograu, como os vv. acórdãos proferi-dos na apelação e nos embargos in-fringentes.

E que ao terceiro grau de jurisdi-ção somente incumbe decidir essaquestão, preclusa a apreciação daspreliminares, como resolvido, semrecurso, no julgamento da apelação.

Dai, a alegação dos recorrentes deofensa aos artigos 130, 332 e 333 doCódigo de Processo Civil.

Em princípio cabe ao juiz

«...determinar as provas neces-sárias à instrução do processo.»(Art. 330, CPC).

O nexo entre o fato que se querprovar e o direito alegado pela par-te, há de ser necessário.

Ora, os AA. assim definiram o seuintento, verbis:

«.... Aliás, o que se impugna nestalide é uma politica global das contro-ladoras posta em benefício do 4? réue não a fixação de honorários e par-ticipações nesta ou naquela socie-dade. Quer isto dizer que não sedenuncia a fixação da verba hono-rária da sociedade X, aprovada pe-la AGO realizada em data Y. Os Au-tores insurgem-se — isto sim — con-contra a política ilícita que visou obenefício do 4? demandado, em pre-juízo das sociedades abertas do de-nominado «Grupo Real.» (Fl. 13,item 35, grifos e caixa alta dosAA.)

O prejuízo causado pelos réus éexemplificado:

«... não é difícil de imaginar queos resultados do Banco Real S/A sãodiminuidos pela remuneração, parti-cipação nos lucros e verbas de re-presentação que são auferidos pelo4? Réu em todas as sociedades coli-gadas ao Banco Real S.A. ou que de-le são controladas...» (fl. 13, item36).

Fiquemos por aqui, por ora, parapodermos analisar detidamente oque se afirma e a necessidade daprova reclamada e não autorizada,nas vias ordinárias.

Comecemos pela última afirma-ção: a remuneração, participaçãonos lucros e verbas de representaçãodiminuem os resultados da socieda-de anônima. Lembro, a propósito, alição de Mariano Gagliardo:

«Finalmente, remuneración deidirector y dividendos, soa noclonesvinculadas pues como se ha sosteni-do (184) em ia medida en que exis-tan mayores utilidades para retri-

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buir ai directoria menor sera el sal-do para distribuir entre los accionis-tas y, en su caso, constituir reservaspotestativas.» (El Directorio en LaSociedad Anonima, Abeledo-Perrot,Buenos Ayres, cap. VI, Remunera-ción de los Directores, págs. 137/138).

Em nota 184, socorre-se o ilustrecomercialista argentino de decisãoda Corte Suprema de seu país, se-gundo a qual os honorários de direto-res e conselheiros fiscais

«Se consideran como gastos regis-trados en la fecha de realizaclón dela assamblea y se reflejan comoafectación de resultados (gasto) enel estado de resultados acumuladosy como pasivo en los assentos de cozi-tabilidad de ese ejercIcio posterior.»(Op. cit. pág. 137).

Parece óbvio que remuneração,participação nos lucros e verbas derepresentação dos diretores influemnegativamente naquela parte dos re-sultados que deverá ou poderá serdistribuída aos acionistas sob a for-ma de dividendos.

Sensatamente, dizem os AA., porisso mesmo, que não impugnam a fi-xação de honorários e participaçõesnesta ou naquela sociedade, pelasrespectivas assembléias gerais ordi-nárias. Mas uma política global dascontroladoras que beneficiam o 4?Réu.

Em que consiste tal política. Des-crevem-na, literalmente:

«O esquema foi montado de formatal que o Réu integra a administra-ção de um vastíssimo número de so-ciedades, de vez que aí se encontramas subsidiárias, coligadas e controla-das das sociedades abertas do «Gru-po Real».

Tudo isso faz com que o 4? Réu re-ceba honorários, participações e ver-bas de representação que atingem,anualmente, a cifras astronômicas einimagináveis, do que decorre enor-mes prejuízos para os acionistas das

companhias que as As., nesta lide,processualmente substituem» (fl. 6,item 14).

Tais vantagens seriam ilícitas ávista do que dispõe o artigo 152 daLei das Sociedades Anônimas:

«152. A Assembléia Geral fixará omontante global ou individual da re-muneração dos administradores ten-do em conta suas responsabilidades,o tempo dedicado ás suas funções,sua competência e reputação profis-sional e o valor dos seus serviços no.mercado.

O estatuto da companhia quefixar o dividendo obrigatório em 25%(vinte e cinco por cento) ou mais dolucro liquido, pode atribuir aos ad-ministradores participação no lucroda companhia, desde que o seu totalnão ultrapasse a remuneração anualdos administradores nem 0,1 (um dé-cimo) dos lucros ( art. 190), prevale-cendo o limite que for menor.

Os administradores somentefarão jus á participação nos lucrosdo exercício social em relação aoqual for atribuído aos acionistas o di-videndo obrigatório de que trata oart. 202.»

Invocam, os ora recorrentes, a re-gra da razoabilidade e compatibili-dade com o mercado, para afirmarque eventual excesso é participaçãoadicional nos lucros da sociedade(fls. 7/8, item 19).

Socorrem-se, também, do artigo117, ISA, para vislumbrar abuso depoder por favorecer outras compa-nhias em detrimento daquelas que o4? Réu controla e os AA. substituem,neste processo (§ 1?, alínea a) e, ain-da, por prejudicar, tal política glo-bal, os acionistas minoritários, (alí-nea c) (fl. 12, item 31).

Com vistas a provar quanto afir-maram, os AA., ora recorrentes, es-pecificaram as seguintes provas:

«a) As Cias. abertas do GrupoReal, substituídas processualmentenesta ação (Cia. Real de Investimen-

304 R.T.J. - 125

tos S/L, Banco Real de Investimen-tos S/A., Banco Real S.A., ConsórcioReal Brasileiro de AdministraçãoS/A., Real Participações e Adminis-tração S/A.), para que informem du-rante o período em que permanece-ram sob o controle das Rés, quantopagaram ao seu Presidente direta-mente, aqui e no exterior, ou atravésde suas subsidiárias e coligadas,componentes do chamado GrupoReal até o fim da linha (Isto é a sub-sidiária/coligada da subsidiária/coli-gada até a última Cia. do GrupoReal), ano após ano, a qualquer títu-lo, informando inclusive, as vanta-gens do cargo (ex.: automóvel, avião,motoristas, pilotos, verbas de repre-sentação e viagens ao exterior etc..);

Idem em relação ao 2? executivodiretor mais bem pago do Grupo,não acionista importante e um dire-tor executivo médio que também nãoseja acionista importante no Grupo.Neste caso esclarecer o n? de açõespossuídas aqui ou no exterior;

b) A receita federal, para que en-vie a esse Juizo cópia das três últi-mas declarações de Imposto de Ren-da, ano/base 78/79/80 do Presidentedo conglomerado Real e controla-dor Aloysio de Andrade Faria, (CPFn? 001156577/20), brasileiro, casado,banqueiro, domiciliado e residenteno Rio de Janeiro-RJ, na AvenidaVieira Souto n? 350, a fim de pro-var o alegado na inicial, inclusivea respeito das suas outras ativi-dades, além das do Grupo Realque influenciam a remuneraçãonos termos citados no artigo 152.

Outrossim, os autores pedem arealização de perícia técnica para oexame dos números e elementos co-letados através dos dois ofícios e ou-tros dados, no mercado de trabalho,e determinar o que seria, em termosde remuneração do Presidente doConglomerado Real, o «razoável» ecompatível com a realidade do mer-cado, responsabilidade e tempo dedi-cado á função, cotejando com o total

recebido. Isto ano a ano, desde oinicio do conglomerado Real.

Protestam os autores ainda pelajuntada de novos documentos e pelodepoimento pessoal dos Réus e detestemunhas.

Termos em quePedem Deferimento.» (Fls. 948/

949).Ora, como se vê, as provas reque-

ridas não visam a infirmar a políticalesiva aos interesses das companhiasde que são eles substitutos proces-suais, ou aos dos seus acionistas mi-noritários; mas, sim, a demonstraras disparidades das remuneraçõesindividuais dos diretores, ou o con-junto dos ganhos de quaisquer fontesdo 4? Réu (declaração do seu Impos-to de Renda).

Como se viu antes, a desigualdadedos ganhos dos diretores não lesa in-justamente e por si só, o montanteda parcela dos resultados que seconvertem em dividendos, nem,tampouco, outros ganhos da compa-nhia. Não se enquadra, pois, nem naalínea a, nem na c, do parágrafo I?do artigo 117 da Lel n? 6.404/76. Paraesses efeitos, a prova requerida enão produzida, pela antecipação dojulgamento da lide, não é neces-sária.

de recordar-se, porém, que osAA., ora recorrentes, deram comovulnerado o artigo 152, da lel acimareferida, que vincula a remuneraçãodos diretores aos seguintes critérios

responsabilidades;— tempo dedicado ás suas funções;

competência e reputação profis-sional e

valor dos seus serviços no mer-cado.

Ora, a norma invocada não estabe-lece nem a paridade, nem a propor-ção reciproca entre os honoráriosdos diretores, seja no regime de atri-buição individual de valor, pela As-sembléia, a cada um deles, seja no

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de asslgnação global e coletiva à di-retoria, como um todo.

A disparidade que a prova preten-dida poderia vir a demonstrar, nãoteria pertinência ao art. 152, em exa-me.

Se prejuízo resulta da despropor-ção entre as diferentes retribuiçõespagas pelas companhias é para seusdiretores, não para elas mesmas ouseus acionistas. Não sendo substitu-tos ou representantes eletivos, dati-vos ou legais dos eventuais prejudi-cados, em nome deles não podem osrecorrentes reivindicar (art. 3?,CPC).

Não tendo por vulnerados os dispo-sitivos da Lei das Sociedades Anóni-mas, nem os do Código de ProcessoCivil, invocados pelos recorrentes,não conheço do recurso pela alíneaa, inciso III, artigo 119, da Constitui-ção Federal.

Nem pela alínea d, posto que oaresto colacionado não teve demons-tradas, analiticamente, afinidades ediscrepâncias com a hipótese dos au-tos (artigo 322, RISTF), nem, a meuver, guarda com ela pertinência.

E o meu voto.

VOTO (PRELIMINAR)O Sr. Ministro Djacl Falcão (Pre-

sidente): Também acompanho o

eminente Relator. Tive oportunidadede ler, inclusive, o memorial apre-sentado pelo patrono dos recorridose não cheguei a outra conclusão. Orecurso inclusive dá ênfase à anula-ção da sentença, não atacando fron-talmente o acórdão.

Não conheço do recurso.

EXTRATO DA ATARE 108.650 — SP — Rel.: Ministro

Célio Borja. Recta.: Starvesa —Serviços Técnicos, Acessórios e Re-venda de Veículos Ltda. e outros(Advs.: Márcio Slerca Júnior e ou-tros). Recdos.: Transamérica, Re-presentações e Participações Ltda. eoutra (Advs.: José Frederico Mar-ques e outros); Administradora For-taleza Ltda. e outro (Advs.: JoséFrederico Marques e outros).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Falou pelos Recdos. o Dr. José Fre-derico Marques.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Borja. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 21 de agosto de 1967 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRARDINARIO N! 101.0112 — DF(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorridos: João embreai('

de Jesus e outros.

Recurso extraordinário. Argumento ~dente, no acórdão recor-rido, sem censura.

É inviiivel o extraordinário toe hã argumento suficiente para man-ter o decisório impugnado, mie escapou ã censura do apelo extremo.

306 R.T.J. - 125

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por decisão unânime, não co-nhecer do recurso.

Brasília, 2 de dezembro de 1986 —Djaci Falcão, Presidente — Fran-cisco Rezek, Relator.

RELATORIO

Sr. Ministro Francisco Rezek:juiz da vara de entorpecentes destacapital rejeitou denúncia contra pre-sidiários acusados de posse decannabis sativa. Referiu-se o magis-trado a irregularidades no flagrante,à falta de prova da autoria, e aindaà circunstância de ter sido encontra-da a droga em estabelecimento peni-tenciário, onde se exerce continuavigilância sobre os internos, de modoa fazer ver como impossível o delitoem causa. Concluiu o despacho:

«... muito embora esteja eviden-ciada a materialidade da infraçãopenal, não ficou devidamente es-clarecida a possível autoria e mui-to menos a participação eventualdos acusados» (fl. 81).

Tribunal de Justiça preservou aautoridade dessa decisão. O argu-mento da inexigibilidade de outraconduta, associado à idéia de queimpossível aperfeiçoar-se o delitonuma cadela pública, recebeu consi-deração especifica no aresto.

Ministério Público local recorrea esta Corte, alegando ofensa ao art.16 da Lel de Tóxicos e ao art. 41 doCódigo de Processo Penal, além desuscitar dissídio de jurisprudência.

Relevância acolhida.

o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Rezek(Relator): O dispositivo da lei quereprime o uso de entorpecentes nãoestá prequestionado. Está, no entan-to, a norma do estatuto adjetivo queautoriza o juiz a deixar de receber adenúncia quando esta narra fatoatípico. Sobre este tema se desenvol-ve o arrazoado da acusação, visandoa arredar a exculpaste invocada naorigem. E este, por igual, o domínioonde o Ministério Público busca de-monstrar dissídio pretoriano — em-bora sem proceder à necessária aná-lise do perfil dos casos confrontados.Ainda, porém, que se recuse qual-quer matiz de razoabilidade ao en-tendimento assentado na origem,cumpre notar que subsiste inabaladoo fundamento atinente à ilegitimida-de das partes — no caso, dos réus —,tema que escapou à censura do ex-traordinário.

A vista, portanto, desse argumentosuficiente para manter o decisório,tenho como inviável o recurso, e delenão conheço.

EXTRATO DA ATA

RE 109.092 — DF — Rel.: MinistroFrancisco Reza. Recte.: MinistérioPúblico Estadual. Recdos.: João Am-brósio de Jesus e outros. (Advs.: Wil-ma Francisca Mendes, Edson Ribei-ro de Souza e outra).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Presidência do Senhor Ministro

Djaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek e Célio Boda.Licenciado o Sr. Ministro Carlos Ma-deira. Subprocurador-Geral da Re-pública, o Dr. Mauro Leite Soares.

Brasília, 2 de dezembro de 1986 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

R.T.J. - 125

307

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 109.516 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Aidir Passarinho.Recorrente: Sul América Terrestres, Marítimos e Acidentes — Compa-

nhia de Seguros — Recorrido: Vencaribe C.A.

Transporte marítimo. Cláusula de não Indenizar. Súmula 161 doSTF.

O fundamento de que a mercadoria era frágil e, portanto, o riscodo transporte não era de atribuir-se ao transportador marítimo, não éde acolher-se, porquanto a jurisprudência do STF firmou-se, con-forme a sua Súmula n? 161, no sentido que é inoperante, em contratode transporte, a cláusula de não indenizar.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal por sua Se-gunda Turma, na conformidade daata do julgamento e das notas taqui-gráficas, por unanimidade de votos,conhecer e dar provimento ao recur-so extraordinário nos termos do votodo Ministro Relator.

Brasília, 11 de dezembro de 1987 —Djacl Falcão, Presidente — AldirPassarinho, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): No que interessa ao pre-sente recurso extraordinário, adoto,como relatório, a parte expositiva dodespacho do Juiz Edwilson Alexan-dre Loureiro, Vice-Presidente do 1?Tribunal de Alçada Civil do Estadode São Paulo:

«Argúi relevância da questãofederal.

Houve impugnação (fls. 378/379).2. Impõe-se a abertura da via

extraordinária, em que pese aexistência do óbice estatuído noart. 325, inc. V, letra b do Regi-mento Interno do Supremo Tribu-nal Federal, por tratar-se de açãosubmetida ao procedimento su-marissimo.

que o veto regimental cai porterra porque está configurada aalegada divergência entre o v.acórdão guerreado e a Súmula 161do Colendo Supremo Tribunal Fe-deral.

De fato, apesar do brilhantismodas razões que fundamentaram ov. acórdão ora atacado, forçoso éreconhecer que se deu validade àcláusula de não indenizar nos con-tratos de transporte.

A circunstância de a carga serde reconhecida fragilidade não temo condão de afastar a aplicação daSúmula, pois esta não faz distinçãoentre as espécies de volumes trans-portados.

3. Viável, também, o recursoextraordinário sob o enfoque daalínea a do permissivo constitucio-nal.

Com efeito, a indigitada Súmula161, resulta da cristalização de Jul-gados em que se discutia o alcancedo art. 1? do Decreto n? 19.463, de10-12-1930.

v. acórdão recorrido, ao enten-der possível a exclusão da respon-sabilidade do transportador, alémde divergir do enunciado da Súmu-la, colidiu com a tese da regra emapreço, como conseqüência neces-sária daquela divergência.

4. Posto isso, defiro o recursoextraordinário.»

R.T.J. - 125

Admitido o recurso, subiram osautos a esta Corte.

Observo que a relevância da ques-tão federal, apesar de argüida, nãoveio a ser processada.

E este o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): Embora na contestaçãonão tenha a transportadora, ré naação e ora recorrida, alegado queela não era responsável por avaria,por quebra, da mercadoria transpor-tada, o v. acórdão, que veio a refor-mar a sentença, considerou passívelde exame tal argumento, e nele veioa fulcrar-se, sob a consideração deque somente com a tradução dos do-cumentos relativos ao conhecimentodo transporte, que Inseria tal cláusu-la, era de exigir-se ter invocado a rétal fundamento.

Não é de deixar de atentar, porém,o conhecimento de transporte é

cqueonhecimento do transportador, pelo

que poderia tal argumento ter sidopor ele de logo trazido à balha, e nãodeixar para fazê-lo quando da apela-ção.

De qualquer sorte, o que cabe exa-minar é a pertinência, ou não, daaplicabilidade da cláusula referida,que é o ponto objeto de impugnação.

extraordinário invoca, no apeloúltimo, maltrato ao art. 1? do Decre-to n? 19.473, de 10-12-30 e divergênciacom a jurisprudência consubstancia-da na Súmula 161 do STF. Quanto aoferimento do preceito referido, tem-se que não foi ele objeto de exameno v. acórdão impugnado, mas oapelo excepcional se torna possívelde apreciação em face da alegadadivergência pretorlana.

v. acórdão, após justificar a ra-zão pela qual examinou a cláusulade exclusão de responsabilidade,apesar de não ter sido ela trazida aexame, na contestação, no mérito

declara que, no referente à cargatransportada, «embora não se tratede produto inflamável, o certo é que

vidro de 2 mm a verdade é sabida— é altamente frágil e, por tal moti-vo, a transportadora fez inserir cláu-sula não impressa, ressalvando suaresponsabilidade». Entende que acláusula de isenção de responsabili-dade é possível quando se tratar demercadorias de alto risco, transpor-tada no convés do navio. E, então,caberia ao importador provar que aperda ou avaria ocorreu por culpado transportador e não por fato nor-mal».

A meu ver, porém, não tem razãorecorrido. Diz o enunciado da

Súmula 161 — que decorre da legis-lação referente ao transporte (art. 12do Decreto nt 2.681/12 e Decreto n?19.473, de 1930, art. 1?) e da insisten-te jurisprudência:

«Em contrato de transporte, éinoperante a cláusula de não inde-nizar».De minha parte, sempre admiti, e

ainda quando integrava o C. Tribu-nal Federal de Recursos, a inser-ção, no contrato de transporte, decláusula limitativa de responsabili-dade, a fim de que, pagando o pro-prietário da mercadoria apenas a ta-xa normal de frete, não viesse, ha-vendo a falta ou avaria, a receberquantia maior que aquela do conhe-cimento, quando poderia pagar sobre-taxa de frete para declarar maiorvalor do bem transportado (RR n?466 — RJ sessão do dia 11-3-81 e AC45.006 — SP sessão de 25-6-76, doTFR), ou para compensar os malares riscos do transporte.

Entretanto, no caso, o v. acórdãoentendeu válida a exclusão da res-ponsabilidade do transportador, orarecorrido, à consideração de que erafrágil a mercadoria transportada, eque no caso, deveria ser invertido oónus da prova. Entretanto, o que ca-beria era provar a transportadora

R.T.J. - 125 309

que adotara as providências paraque a mercadoria chegasse incólumeao seu destino, cobrando, se fosse ocaso, a sobretaxa de frete e exigindoa embalagem adequada. O que nãoparece cabível é dizer o v. acórdãoque o ónus da prova caberia ao pro-prietário da mercadoria, cujos direi-tos foram sub-rogados á seguradora-autora, quando é certo que isso se-quer poderia ser exigível, se a alega-ção em que se baseou o aresto só foiformulada quando da apelação. Mas,na verdade, a prova haveria de ca-ber ao transportador que, por lei, é oresponsável pelo transporte.

Pelo exposto, conheço do recursopela letra d do art. 119, III, da Cons-tituição Federal, e lhe dou provimen-to, para restabelecer a r. sentençade primeiro grau.

E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RE 109.516 — SP — Rel.: MinistroAldir Passarinho. Recte.: Sul Amé-rica Terrestres, Marítimos e Aciden-tes Companhia de Seguros (Advs.:Vesna Kolmar, Fernando Neves daSilva e outro). Recdo.: VencaribeC.A. (Mv.: Antonio Barja Filho).

Decisão: Conhecido e provido nostermos do voto do Ministro Relator.Unanime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes á Sessão osSenhores Ministros, Aldir Passari-nho, Francisco Reza, Carlos Madei-ra e alio Borla. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 11 de dezembro de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO CRIMINAL N? 109.794 — PR(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Oscar Corrêa.Recorrente: Pedro Scomparim — Recorridos: Ministério Público Esta-

dual e Câmara Municipal de RolAndia.

Recurso extraordinário — Afronta alegada ao artigo 1?, I e II, doDecreto-Lei n? 201/87 e arts. 1? e 17 do Código Penal. Caracterizaçãodo tipo penal, na conceituado da lei e da prova produzida: apropria-ção ou utilização Indébita de bens, rendas ou serviços públicos, emproveito próprio.

Recurso extraordinário não conhecido.

ACORDA°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emnão conhecer do recurso.

Brasília, 26 de fevereiro de 1988 —Moreira Alves, Presidente — OscarCorrêa, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Oscar Corrêa: 1. Eeste o relatório que precede a deci-são recorrida (fls. 11389/18138):

*Pedro Scomparlm foi denuncia-do pela Promotoria de Rolãndla,como incurso nas sanções dos arts.1?, I, II, V e XI, do Decreto-Lei n?201/67 e 316, caput, do Código Pe-nal, combinados com os arts. 51,

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caput, e 51, § 2?, do mesmo Diplo-ma pelo seguinte:

Como Prefeito Municipal deRolândia e sabedor da existênciado Loteamento «Parque Residen-cial Asteca I, II e III», devidamen-te registrado, ali construíra umaresidência para seu uso, usando deuma rua do loteamento denomina-da «F», que ficou incluída em suapropriedade constante de diversoslotes de terrenos.

Nos exercícios de 1977, 1978,1979, 1980 e 1981 efetuara uma sériede despesas sem nota de empenhoe adquirira bens e realizara servi-ços sem licitações, — cujos mon-tantes alcançaram Cr$ 7.320.088,89e Cr$ 1.690.779,05, respectivamente.

Nos exercícios de 1977, 1978 e1979 — pagara indenizações a fun-cionários estatutários em face derescisões de contrato, acordos eexonerações, sem autorização le-gal.

Em 1978 e 1980 exigira «co-missão» de Sebastião Osvaldo Pro-ni e de Braulino Dezam, que cons-truíram para a Prefeitura de Ro-lândia, a fim de liberar crédito re-manescente que os mesmos ti-nham.

5. Em 1979, beneficiara-se daconstrução de meios-fios e sarjetasque contratara de Jair OrildesGonçalves, os quais deveriam tersido construidos pela imobiliáriaresponsável pelo Loteamento Aste-ca onde o acusado fizera sua casa.

Em alegações finais o Dr. Pro-motor pediu a condenação do réu,exceto no que dizia respeito às des-pesas sem emissão de empenho,ausência de licitações e pagamen-tos de funcionários estatutários.

Finda a instrução, o Dr. Juizproferiu sua decisão.

Após longa e minuciosa análisedo material probatório dos autos,julgou procedente, em parte, a de-núncia, para o efeito de condenar o

réu Pedro Scomparim como incur-so nas sanções do art. 1?, incisos Ie II, do Decreto-Lei n? 201/67, pelosfatos descritos nos itens 1 e 7 da-quela exordial, combinado com oart. 51, caput do Código Penal.Absolveu-o quanto às demais impu-tações.

Apenou-o com quatro (4) anos dereclusão, pagamento das custas einabilitação por cinco (5) anos pa-ra o exercício de cargo ou funçãopública, eletiva ou de nomeação,sem prejuízo da reparação civil dodano causado ao patrimônio públi-co.

Foi-lhe concedido o benefício daprisão albergue, nos termos do dis-posto no art. 30, § 5?, inciso I, doCódigo Penal (sic).

Inconformada, a Câmara Muni-cipal de Rolándia interpôs este re-curso, como assistente de acusa-ção, por não concordar com a ab-solvição parcial do acusado.

O réu, ao seu turno, também in-terpôs recurso, alegando, em sínte-se, a ilegitimidade da Câmara Mu-nicipal, eis que não fora admitidacomo tal e nem poderia sê-lo, e quea sua ingerência no feito, a partirde certo momento, foi ilegal e abu-siva e restou argüida em tempooportuno, isto é, antes da sentença.Por isso, pediu a anulação do pro-cesso desde a indevida intromissãoda assistência de acusação.

No mérito, aduziu que não seapropriara daquele terreno, que fo-ra seu e cedera para o loteamento,e que o muro que estaria fechandoa referida rua «F», futuramente,quando necessário, seria demolido.

Afirmou ainda que não propor-cionara prejuízo algum ao Mu-nicípio, motivo pelo qual o crimede peculato não se teria caracteri-zado.

No que pertine à construção demeios-fios, alegou que nada deanormal teria ocorrido, porquanto,

R.T.J. — 125

311

diante da negativa da ImobiliáriaRolândia em fazê-lo, a Prefeitura ofez, debitando o custo, posterior-mente, em nome daquela firma.

Pediu, por derradeiro, a reformado decisório, a fim de ser absolvi-do.

A Câmara Municipal requereuque o recurso fosse indeferido, anão ser que o réu se recolhesse àprisão, porquanto não seria pessoade bons antecedentes e, vem as-sim, fosse revoltada a sua prisãoalbergue, porque quebradas assuas condições.

O Dr. Juiz (fl. 1225) não acolheuestas ponderações, suspendendo aexecução da pena, eis que o recur-so do réu fora recebido nos efeitossuspensivo e devolutivo.

Em suas razões a Câmara Muni-cipal propugna pela condenação doréu nos termos da denúncia.

Os recursos foram contra-arra-zoados e os autos subiram a estaCorte.

A douta Procuradoria-Geral daJustiça opina pelo conhecimento eimprovimento do recurso do réu epelo conhecimento e provimento dorecurso da Assistência para conde-nar-se o réu nas penas dos crimescapitulados nos incisos V e XI doart. 1?, do Decreto-Lei n? 201/ 67.»2. O Tribunal de Justiça negou

provimento aos recursos e mantevea sentença, assim resumindo o deci-sório na ementa (fl. 1892):

«Ementa: Peculato. Concussão.Responsabilidade de ex-prefeito.Realização de obras e aquisição debens sem observância dos ditameslegais:

Preliminares de não conheci-mento dos recursos por ilegitimi-dade de parte o da câmara munici-pal, e por não se recolher à prisãoo do réu, tido como de maus ante-cedentes. Rejeição e conhecimentodos recursos.

Material probatório insuficien-te para ensejar condenação pelaprática de concussão.

A responsabilidade penal pelanão observância da lei para reali-zação de obras e aquisição de bensinocorre quando demonstrado sernenhum o prejuízo do erário muni-cipal, aliado ao fato de terem sidoaprovadas as contas do prefeito pe-lo Tribunal de Contas.

Desprovimento dos recursospara confirmar o decisório que re-conheceu ter o réu praticado os de-litos do art. 1? incisos I e H, doDecreto-Lei n? 201/67, quando apro-priou-se de área destinada à cons-trução de uma rua, murando-a; equando obteve vantagem indevidacom a construção de meios-fios esarjetas às apensas da prefeitu-ra.»

Inconformado, interpôs PedroScomparim o recursó extraordináriode fls. 1899/1905, pela alínea a, sus-tentando negativa de vigência dosarts. 1? e 17 do Código Penal e 1?, I eII, do Decreto-Lei n? 201/67; e admi-tido pelo despacho de fls. 1912/1913velo à Corte.

A Procuradoria-Geral da Repú-blica, em parecer da ilustre Procu-radora Laurita Hilário, Vaz, comaprovação do eminente Subpro-curador-Geral José Arnaldo Gonçal-ves de Oliveira, opinou pelo não co-nhecimento do recurso; se conheci-do, pelo improvimento (fls. 1931/1937).

E o Relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Oscar Corrêa: (Re-lator): 1. Sustenta o recurso, emsíntese:

I — Trata o ilícito do art. 1?, I, doDecreto-Lel n? 201/67, de tipo espe-cial em relação aos tipos gerais daapropriação indébita e do peculato(Código Penal, arts. 168 e 312), anali-

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sando na lição de Nelson Hungria,na ação, no objeto material (coisamóvel alheia), e na consumação.

Ora, atento ao principio dalegalidade, consagrado no art. 1? doCódigo Penal, não há como reconhe-cer a apropriação ou desvio de bensimóveis.

II — O Recorrente foi condenadopela prática de um crime impossí-vel, pela absoluta impropriedade doobjeto (art. 17 do Código Penal) —ou seja, a apropriação de área desti-nada à construçã de uma rua —bem insuscetível de apropriação, einaplicável o art. 161 do Código Pe-nal.

Tu — Ausência de tipo, na condu-ta explicitada pelo acórdão, pois nãoSe configurou o delito do art. 1?, II,do Decreto-Lei n? 201/67 — utilizaçãoindevida, em proveito próprio oualheio, de bens, vendas ou serviçospúblicos». A questão seria resolvidacom a cobrança da contribuição demelhoria (art. 18, II, da ConstituiçãoFederal e 81 do Código TributárioNacional).

2. Não procedem os argumentosdo Recorrente por seus ilustres de-tensores. De inicio, saliente-se comoimportante, que não se negam os fa-tos, apenas busca-se explicá-los.

E os fatos comprovados foram ob-jeto de reexame no acórdão, que ex-plicitou os que acolheu e os que recu-sou, detidamente.

I — Quanto ao tipo especial doart. 1?, I, do Decreto-Lei n? 201/67precisamente porque o texto legalaponta como crime de responsabili-dade dos prefeitos municipais.

*I — apropriar-se de bens ou ren-das públicas, ou desviá-las em pro-veito próprio ou alheio», fugindo, as-sim, ao tipo do art. 168 do Código Pe-nal — coisa alheia móvel, paraampliar-se a bens e rendas públicas,qualquer a espécie e natureza.

Por isso, asseverou o parecer daProcuradoria-Geral da República (fls.1933/1936):

«Para afirmar a negativa de vi-gência do inciso I do art. 1? doDecreto-Lei n? 201/67 sustenta o re-corrente, em síntese, ser o delitodescrito no evidenciado inciso, umtipo especial em relação aos tiposgerais de apropriação indébita epeculato (art. 168 e 312 do CódigoPenal), por isso só pode ter comoobjeto material coisa móvel.

Não procede a argumentação,como bem evidencia o parecer mi-nisterial, da lavra do ilustre Procu-rador de Justiça Ronaldo AntonioBotelho que às fls. 1924/1925 assi-nalou, verbis:

«No âmbito do Código Penal,pode o agente apropriar-se tantode coisas móveis como de coisasimóveis. Se de coisas móveis res-ponderá por apropriação indébi-ta:

«Art. 168. Apropriar-se decoisa alheia móvel, de que tema posse ou detenção»;se, de coisas imóveis, por usur-

pação (alteração de limites):«Art. 161. Suprimir ou des-

locar tapume, marco ou qual-quer outro sinal indicativo delinha divisória para apropriar-se, no todo ou em parte, decoisa imóvel alheia».

1 3? Se a propriedade é par-ticular, e não há emprego deviolência, somente se procedemediante queixa.Portanto, é inteiramente desca-

bida a assertiva de que só se po-de apropriar de coisas móveis,buscando a similitude do tipoapenas com a apropriação indé-bita e o peculato, quando a alte-ração de limites também é umaforma de apropriação, só que decoisas imóveis.

Assim, o tipo de lei especial, aodispor genericamente sobre aapropriação de bens, englobou aapropriação de móveis e imóveis.

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313

Se o agente, qualquer que sejaa sua condição — funcionário pú-blico ou não — av inça os seus li-mites sobre a propriedade vizi-nha, pública ou particular, come-te o crime do art. 161 do CódigoPenal. Entretanto, se o agentefor o Prefeito Municipal e assimproceder em relação a Imóvel domunicípio, incidirá nas sançõesdo tipo próprio da lei especial,que é o art. 1?, inciso I, doDecreto-Lei n? 201/77.

E foi o que, no caso, aconteceu.O recorrente, como Prefeito deRol/índia, avançou os limites desua propriedade sobre áreacontígua destinada a via pública.

Nem se diga, como faz o recor-rente, que, por se tratar de bempúblico de uso comum é insus-cetível de apropriação.

Tanto não é insuscetivel que orecorrente incorporou a área doMunicipio ao seu patrimônio,colocando-a entre as cercas de li-mitação de sua propriedade, pas-sando a usá-la como se fosse sua.

Talvez tenha o recorrente pre-tendido dizer que, por se tratarde bem público de uso comum,era impossível, sem a sua desa-fetação, sair do domínio do poderpúblico.

Mas, a apropriação não envol-ve o domínio, bastando a possedo bem, comportando-se o agentecomo se dono fosse. E a posse daárea inquestionavelmente aconte-ceu.

Improcedentes, pois, os argu-mentos em torno do primeirofundamento do recurso extraordi-nário.»Com efeito, ao contrário do que

afirma o recorrente, não se confun-dem os tipos da apropriação indé-bita e do peculato com o delito doinciso I do art. 1? do Decreto-Lei n?201/67, que está previsto em lei es-pecial e tem tipificação própria.

O Decreto-Lei n? 201/67 (art. 1?inciso I) dispôs, genericamente, solbre a apropriação de bens, semqualquer limitação, englobando aapropriação de bens móveis e imó-veis.

A propósito, a lição de AntonioDito C.Ma, em sua obra Responsa-bilidade de Prefeitos e Vereadores,São Paulo, Ed. Revista dos Tribu-nais, 1979, pág. 23:

*A configuração do crime sedá, em se tratando de bens públi-cos, quer sejam eles móveis ouimóveis. E aqui a figura penal di-fere do peculato comum do Códi-go de 1940, que se refere tão-só abens móveis (art. 312).»Outro não é o ensinamento de

Ruy Barbosa Corrêa Filho, (emseu livro Dos Crimes Contra a Ad-ministração Pública e o Decreto-Lei Mi 201/67, São Paulo, 1974, Ed.Vellenich, pág. 35, verbis:

*Por bens públicos com-preendem-se os especificados noartigo 66 do Código Civil, desdo-brando-se em:

de domínio público — os de usocomum do povo, tais como ma-res, rios, estradas, ruas e praças

os patrimoniais indisponíveisde uso especlel, tais como os

edifícios ou terrenos aplicados aserviço ou estabelecimento fede-ral, estadual ou municipal — e ospatrimoniais disponíveis — queconstituem o património daUnião dos Estados ou dos Mu-nicípios, como objeto de direitopessoal ou real, de cada umadessas entidades.

Desde logo se repara que nãofez o Decreto-Lei n! 201, na defi-nição do peculato, menção à con-dição de móvel ou imóvel do bempúblico objeto da infração.»A decisão hostilizada, portanto,

não negou vigência ao citado dispo-sitivo. Reafirmou-o, ao invés decontrariá-lo.»

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E, assim, não se trata de crimeimpossível, nem se invocaram ostextos do Código Penal, mas os dalei específica de responsabilizaçãodos Prefeitos, surgindo o art. 161 nãono acórdão recorrido, mas na peti-ção de extraordinário.

3. Da mesma forma, quanto aoart. 1?, II, do Decreto-Lei n? 201/67,que dispõe:

«II — utilizar-se, indevidamen-te, em proveito próprio ou alheio,de bens, rendas ou serviços públi-cos».Não poderia ser mais ampla a

abrangência do texto, podendo al-cançar extensa responsabilizaçãoquanto a bens, rendas ou serviçospúblicos.

A pretensão do Recorrente deconvertê-lo em fato gerador de con-tribuição de melhoria e não de ilícitopenal é contestada pelo acórdão, ex-pressamente, valendo-se da condiçãode Prefeito.

Ainda aqui acentuou, com proprie-dade, o parecer da Procuradoria-Geral da República:

«Também é de manifesta impro-cedência a alegação de atipicidadedo fato caracterizado pela coloca-ção de meios-fios em sua proprie-dade, sem o devido pagamento.Ora, o recorrente ao se utilizar, in-devidamente, de serviços e benspúblicos, valendo-se de sua condi-ção de Prefeito Municipal infringiuo disposto no inciso II, do art. 1? doDecreto-Lei n? 201/67, verbis:

«Utilizar-se, indevidamente, emproveito próprio ou alheio, debens, rendas ou serviços públi-cos.»A possibilidade de ressarcimento

do dano ao Erário Público não eli-de a criminalidade do fato, até por-que, nem mesmo a efetiva repara-ção tem essa força, a teor do quedispõe o art. 16 do Código Penal.»4. Desta forma, inocorrentes as

violações alegadas, de improcedên-cia manifesta em face dos textos le-gais e da prova acolhida, nos termosdo parecer da Procuradoria-Geralda República.

Não conheço do recurso.E o voto.

EXTRATO DA ATA

RECr 109.794 — PR — Rel.: Minis-tro Oscar Corrêa. Recte.: PedroScomparin (Advs.: René Ariel Dottie outros). Recdos.: Ministério Públi-co Estadual e Câmara Municipal deRolândia (Adv.: Alvaro Pesenti).

Decisão: Recurso não conhecido.Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Oscar Corrêa, Sydney Sanches eOctavio Gallotti. Subprocurador-Geral da República, Dr. José Arnal-do Gonçalves de Oliveira.

Brasília, 26 de fevereiro de 1988 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 110.001 (AgRg-EDCI) — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.Embargante: Estado de São Paulo — Embargada: Cia. Força e Luz Ca-

taguazes — Leopoldina.

Embargos de declaração. Ausência de contradição ou de omissãoa sanar.

Embargos rejeitados. •

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por decisão unânime, rejeitaros Embargos de Declaração.

Brasília, 18 de dezembro de 1986 —Djaci Falcão, Presidente — Francis-co Rezek, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Francisco Rezek:Assim relatei, em sessão de dez deoutubro último, o agravo regimental:

«Este o sumário teor do despa-cho agravado:

*Deve ser mantido o despachoimpugnado. O acórdão recorridonão versou explicitamente a ma-téria questionada no extraordiná-rio, e não lhe foram opostos em-bargos de declaração (Súmulas282 e 356).

Nego seguimento ao agravo.

Arquive-se» (fl. 122).

Em recurso regimental, o Esta-do de São Paulo estima que algunsdos temas aventados no extraordi-nário não padecem do vicio da fal-ta de prequestionamento, e chamaem seu prol a jurisprudência destaCasa sobre revogação de isençãotributária» (fl. 135).

Votei, em seguida:

«Bem observou o Procurador Mi-guel Frauzino Pereira que

«Não assiste razão á Agravan-te. O acórdão reconheceu que, ao

ser revogada a isenção, existiadireito adquirido, em favor daAgravada, pelo cumprimento dosrequisitos indispensáveis à obten-ção do benefício. Como se tratade mandado de segurança, éinadmissível examinar-se essefundamento, no grau constitucio-nal, por se tratar de matéria defato» (fl. 132).

Com efeito, pretende o Estadovaler-se de uma jurisprudência pa-dronizada para fazer sucumbir, naespécie, o contribuinte a quem otribunal de origem só deu razão àvista da singularidade do trato quese estabelecera entre ele e o fisco.

Nego provimento ao recurso re-gimental» (fl. 136).

Com os embargos de agora, o Es-tado de São Paulo pretende ver su-pridas a contradição e a omissão quevislumbra no acórdão unânime daSegunda Turma. Estima o Estado,desde logo, que na fase do agravo re-gimental

«... a questão do prequestiona-mento foi superada, e o processojulgado pelo mérito, onde ficou as-sentado que a tese de direito adqui-rido é matéria de fato, e que a ju-risprudência padronizada não seaplica á singularidade da presentelide» (fl. 142).

Aponta, mais tarde, a primeiracontradição do acórdão: este teriadeixado de atentar a que

«... não está em discussão aquestão do projeto: isto seria real-mente matéria de fato. O que sediscute é a norma que incide sobreo fato: isto é questão jurídica. Emoutras palavras, quer-se saber se,com relação ao fato, existia, ounão, direito adquirido à isenção»(fl. 145).

316 R.T.J. 125

Pondera o Estado, em seguida:«Além desta contradição, entre o

que consta dos autos, e que estáefetivamente em discussão, e o queacabou sendo efetivamente julga-do, há uma outra de suma relevân-cia: é a questão da jurisprudênciapadronizada referida, que foi en-tendida inaplicável em face da sin-gularidade do vertente caso, en-quanto a singularidade deste casoé exatamente a mesma singulari-dade da jurisprudência padroniza-da» (fl. 145).Finalmente, a sustentar a tese da

omissão do acórdão da Turma, o Es-tado evoca a doutrina resultante decerto pronunciamento da PrimeiraTurma, concluindo:

«Postas estas considerações pe-de-se vênia para retornar ao vene-rando Acórdão embargado, na par-te onde sua fundamentação alber-gou o douto Parecer de fl. 132, eque diz:

ao ser revogada a isenção,existia direito adquirido, em fa-vor da Agravada, pelo cumpri-mento dos requisitos indispensá-veis á obtenção do beneficio» (fl.135).

Como se vê, a referência aorequisito para fruir a isenção, ain-da não era suficiente para aplicaro instituto do direito adquirido. Se-ria necessário dar um passo àfrente e examinar a condição paraa isenção, e então, ai sim, poder-se-la falar em eventual direito adqui-rido.

Mas, não foi percorrido o iter,tendo restado examinado o «requi-sito de requerimento, requisito desolicitação de isenção» não se che-gando a examinar a «condição pa-ra a concessão da isenção». E nes-ta parte o venerando Acórdão foiomisso» (fls. 149/150).

o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Rezek(Relator): Observo, de inicio, que,ao contrário do que supõe o Estadoembargante, a questão do preques-tionamento não quedou superada pornão haver sido objeto de exame aoensejo do agravo regimental. Admi-tir tal ponto de vista significaria de-sautorizar aqueles tantos preceden-tes em que, trancado na origem o re-curso extremo por intempestividade,ou em razão da alçada, o relator doagravo verifica que houve erro nainvocação do motivo, mas que o re-curso, de todo modo, não tem comosubir, por razões de outra ordem.Também não é raro que, ante oagravo regimental, o relator se dêconta da improcedência do motivocom que negou trânsito ao agravo deinstrumento, mas decida, com o abo-no da Turma, preservar o tranca-mento do recurso extremo, à luz deargumentação nova, bastante em simesma para conduzir a tal desfecho.A prestigiar a tese agora insinuadapelo Estado, deveríamos admitir queum singelo despacho presidencial detrancamento do extraordinário porintempestividade torna preclusas to-das as outras possíveis razões deinadmissão do apelo, e que a even-tual conclusão, nesta instância, deque o recurso é tempestivo, faz im-periosa sua subida, sem embargo deoutras várias razões de trancamentoporventura pertinentes. Devo dizer,pois, que neste caso o tema da faltade prequestionamento não se encon-tra ao largo de nova análise. Estimo,de todo modo, que tanto não será ne-cessário.

Prossigo no exame dos embargosdeclaratórios lembrando algo ele-mentar: a contradição corrigivel me-diante tal recurso há de estar jacen-te no contexto do aresto embargado.Dois ou mais tópicos deste hão deser incompatíveis para que os em-bargos façam sentido. O antagonis-

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317

mo há de verificar-se entre asserti-vas expressas no teor do acórdão.Aqui, o Estado de São Paulo nos ofe-rece um originalíssimo conceito decontradição. Exime-se de apontaruma só silaba que, no aresto embar-gado, seja incompatível com parteoutra do próprio texto. Fala o Esta-do numa contradição «entre o queconsta dos autos» e «o que acabousendo efetivamente julgado»... Pensonão ser injusto se disser que este ra-ro raciocínio do Estado embarganteficaria mais claro se seu douto Pro-curador afirmasse, rasamente, quehouve «contradição» entre o que aTurma decidiu, de modo unívoco ecristalino, e o que ele, enquanto par-te, teria desejado que se decidisse.

A segunda «contradição» aventadapelo Estado não difere, em natureza,da primeira. Diz o acórdão que

«... pretende o Estado valer-sede uma jurisprudência padroniza-da para fazer sucumbir, na espé-cie, o contribuinte a quem o tribu-nal de origem só deu razão á vistada singularidade do trato que seestabelecera entre ele e o fisco»(fl. 136).

A tal propósito, afirma o embar-gente que a dita singularidade mar-cava também outras espécies. afinalresolvidas nesta Corte nos termos dajurisprudência padronizada. Aqui,portanto, a «contradição» existiriaentre o acórdão embargado e aquelajurisprudência — ou, caso se prefira,entre o acórdão embargado e a reali-dade objetiva. Nada me cabe esta-tuir sobre o mérito de tal tese. E se-guro, porém, que ela não diz em ab-soluto, de uma contradição no con-texto do acórdão em exame, e, pois,de um vicio remediável por meio deembargos de declaração.

Por derradeiro, tive dificuldadeem atinar com o texto em que o Es-tado diz entrever omissão. Pareceu-

me, à leitura do que se estampa en-tre fls. 148 e 150, ora estar diante deum arrazoado em embargos de di-vergência, ora defrontar-me com urusimples jogo de palavras. Como querque seja, cumpre lembrar o escopode um acórdão em agravo regimen-tal: não se cuida de promover a var-redura dos autos, e sequer o es-crutínio do acórdão a que se opôs orecurso extremo, ou do despacho detruncamento lavrado na origem.Cuida-se tão-só de deliberar sobre osargumentos com que, na petição doagravo regimental, a parte buscouelidir o despacho do relator. Não ten-do faltado a tal propósito, o acórdãonão pode ser omisso. E é certo, nocaso, que o tema agora exploradosob a rubrica da omissão é estranhoa quanto sustentou, naquele momen-to processual, o Estado de São Pau-lo.

Rejeito os embargos de declara-ção.

EXTRATO DA ATA

Ag 110.001 (AgFtg-EDc1) — SP —Rel.: Ministro Francisco Reza.Embte.: Estado de Silo Paulo(Advs.: Oswaldo Rathsan e AreentoKairalla Riemma. Embda.: Cio For-ça e Luz Cataguazes-Leopoldlna(Advim Eliseu Roque e outro).

Decisão: Rejeitados os Embargosde Declaração. Unanime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes ã Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Borla. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 18 de dezembro de 1988Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO NI 110.315 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.Recorrente: Paulo Valiengo — Recorrido: Thamea Danelon, representada

por sua mãe Maria Tereza Giuzio Danelon.

Investigação de paternidade, cumulada com prestação de alimen-tos. Cerceamento de defesa: Inocorrêncla. Divergência pietoriana nãodemonstrada.

Se o réu, ora recorrente, apesar de toda a insistência do Juizo, dei-xou de comparecer aos exames hematológicos a que devia submeter-se, tendo sido mesmo advertido do que a sua ausência poderia signifi-car em seu desfavor, não é admissivel venha ele a alegar sua própriaomissão para pretender anular o processo, a partir da sentença. Omesmo de dizer-se quanto a não terem sido inquiridas as testemunhasarroladas pelo réu, se a defesa sequer forneceu os seus endereços.

Divergência não demonstrada, se no caso paradigma, diferente-mente do ocorrido na espécie dos autos, não se furtou o réu ã realiza-ção das provas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, por sua Se-gunda Turma, na conformidade daata de Julgamento e das notas taqui-gráficas, por unanimidade de votos,não conhecer do recurso.

Brasília, 6 de novembro de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — AldirPassarinho, Relator.

RELATORIO

Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): Thamea Danelon, repre-sentada por sua mãe, Maria TerezaGiuzio Danelon, intentou contra Pau-lo Vallengo ação de investigação depaternidade cumulada com pedidode alimentos.

MM. Juiz de 1? grau Julgou pro-cedente a ação considerando:

«Provou-se:— que o réu e a mãe da autora

mantiveram reiterados congressossexuais até outubro de 1973;

— que ambos, durante esse perío-do de namoro inúmeras vezes dor-

miam Juntos no apartamento damãe da autora, tanto assim queaté chaves desse imóvel e do pré-dio o réu possuía;

que a mãe da autora não erapromíscua, mas tinha boa condutamoral;

que o réu não compareceu aoIMESC, em nenhum dos dias e ho-rários estabelecidos para o examehematológico, evidenciando, comostensividade, sua certeza quantoao resultado da pesquisa que — elesempre soube — não excluiria aalegada paternidade.»Em grau de apelação, a sentença

veio a ser reformada em parte, pararelegar a fixação dos alimentos àexecução, sendo certo que estes de-verão ter como termo inicial a sen-tença, consoante reiterada jurispru-dência.

O acórdão registra esta passagem:«O comportamento do réu du-

rante o processo, procurando re-tardar o desfecho da demanda, portodas as maneiras, bem comofurtando-se ao comparecimento ao

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exame hematológico, são tambémindícios que depõem em seu desfa-vor.»Dai o recurso extraordinário do

vencido, estribado nas letras a e dda permissão constitucional, sob ale-gação de que o v. acórdão teria ne-gado vigência ao art. 453, § 2? do Có-digo de Processo Civil, visto que ex-trapolou o alcance do dispositivoprocessual, além de cercear seu di-reito de defesa.

Observo que a relevância da ques-tão federal, embora argüida, deixoude ser processada (ri. 430).

Inadmitido o recurso, agravou orecorrente.

Provi o agravo para melhor exa-me do contraditório. Aqui, oficiou adouta Procuradoria-Geral da Repú-blica pelo não conhecimento do re-curso ou, acaso conhecido, pelo nãoprovimento.

E este o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): Não tendo sido admitido oprocessamento do recurso extraordi-nário, agravou de instrumento o re-corrente. Ao agravo neguei segui-mento, tendo antes ouvido a doutaProcuradoria Geral da Repúblicaque em tal sentido se manifestou.Entretanto, tendo o recorrente inter-posto agravo regimental, e ante anatureza da questão, entendi de me-lhor alvitre a subida dos autos paraensejar maior exame sobre o temaem debate. Voltei, subindo os autos,a ouvir a douta Procuradoria Geralda República que novamente se pro-nunciou, entendendo que o recursonão era de ser conhecido. Se o fosse,porém, a ele deveria ser negado pro-vimento.

Sustenta o recorrente, interpondo oseu recurso pelas letras a e d do art.119, III, da Constituição Federal, quea sentença de 1? grau e o acórdão

que a manteve assumiram risco deenormes proporções, pois decidiramser ele o pai da autora, baseado ape-nas no depoimento desta e de suastestemunhas. E tais provas, além deserem exclusivamente testemunhais,foram colhidas na ausência do réu ede sua advogada à audiência e, porisso, não foram submetidas sequerao crivo do contraditório ou de re-perguntas da advogada do réu. Nomais, a sentença se fundamentaraem presunções e indícios, sem teremsido o réu e a autora submetidos aexame hematológico, embora o Juizo tivesse considerado de fundamen-tai importância, tanto que havia sidodeferido. E acentua:

«Do exame da «prova» produzidanos autos jamais se poderia inferira paternidade do réu pois não sesabe na falta do exame se o mes-mo é fertil ou mesmo se é apto arelações sexuais, não há qualquerprova pericial que possa indicarsequer isso, menos ainda que aautora-impúbere seja sua filha,pois teria que haver necessário co-tejo com prova muito mais abun-dante do que a produzida nos au-tos.» (fls. 402)O reexame das provas não é possí-

vel de fazer-se, no âmbito do ex-traordinário e, deste modo, o que sehá de ver são as questões de direitosuscitadas pelo recorrente, e alegaele que lhe foi cerceada a defesa eviolação ao disposto no § 2? do art.453 do Código de Processo Civil.

Insiste o recorrente que lhe foi cer-ceada a defesa por lhe ter sido nega-da a realização do exame hematoló-gico.

Entretanto, a respeito, bem de-monstra a sentença as razões pelasquais não se realizou tal exame, aodizer, após a análise das provas tes-temunhais:

«III) — Por outro lado, é degrande significação probatória ofato de não ter o réu comparecidoao IMESC, para a efetivação da

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perícia hematológica, inobstantedesignada várias datas para tanto.Esta ausência do réu foi tão itera-tiva que na penúltima audiência(fl. 314), com ele presente, o Juizolhe endereçou admoestação no teorde que «o não comparecimento dequalquer dos Interessados (ao exa-me hematológico, cuja data se fi-xou naquela audiência) será inter-pretado de maneira contrária aosseus interesses, pois evidenciará oreceio do omisso em relação ao re-sultado do exame».

Debalde, pois aquela parida nãose efetivou, por ausência do réu, li-mitando o ~SC a apresentar olaudo de fls. 323/325, confirmadorda idade cronológica da autora,conforme sua certidão de nasci-mento de fl. 7.» (fls. 347/348)O v. acórdão sobre tal ponto acen-

tua:«O comportamento do réu duran-

te o processo, procurando retardardesfecho da demanda, por todas

as maneiras, bem como furtando-se ao comparecimento ao examehematológico, são também indiciosque depõem em seu desfavor» (fis.

).

Ora, se o réu foi quem dificultou arealização do exame hematológico, oual agora vem a sustentar ser In-

nsável, não pode ele, agora, vira disso queixar-se. Pretender anularo processo a partir da sentença, poisnisso implicaria em ser acolhida suaalegação de cerceamento de defesa,não se torna viável pela aplicação doprincipio que emana da regra da se-gunda parte do art. 243 do Código deProcesso Civil e que é também váli-da para o direito material, como as-sinala Moniz de Aragao (Comentá-rios ao Código de Processo Civil.vol. II. 1? ed., pág. 287) e consagradono brocardo nemo afinam propriamturpltudinem auditur. E de observarque o recorrente, na sua apela-ção insistiu em que faltas ás audién-

cias decorreram de omissões das de-vidas intimações, na petição do ex-traordinário somente se refere a nãoter sido intimado para a audiênciade 13 de abril de 1982, quando seriaouvido em depoimento pessoal.

Assim, incabivel acolher-se o argu-mento de cerceamento de defesa,por falta da prova pericial, se não serealizou ela por culpa do próprio re-corrente.

Também alega ter havido açodadadispensa da Inquirição das suas tes-temunhas, com as quaispoderia serapurada a conduta da mãe da auto-ra. Entretanto, conforme ressaltou ar, sentença, os depoimentos do réu edas suas testemunhas foram dispu-sados a pedido do patrono da autorae dos curadores, com base no art.253, § 2? do Código de Processo Civil.E a respeito declara o v, acórdão re-corrido:

«A audiência de instrução e jul-gamento designada para o dia 22de março de 1982 não se realizouem virtude de pretexto apresenta-do pela Dra. Advogada do réu (fls.329/331). Designada nova data, pa-ra a qual a mesma advogada foiIntimada regularmente pela im-prensa (fl. 332), não cuidou estade diligenciar no sentido de ser ex-pedido mandado para a intimaçãodas testemunhas que arrolara, co-mo lhe competia. Outrossim, semmotivo justificado deixou de com-parecer na data marcada,sujeitando-se A dispensa de suasprovas, como decorre do permissi-vo contido no § 2? do artigo 453 doCódigo de Processo Civil.

O depoimento pessoal do réu éprova de Interesse da parte contra-ria e podia, obviamente, ser dis-pensado,» (fl. 396).O recorrente Invoca exatamente o

§ 2? do art. 253, segunda parte doCPC como a ele tendo sido negada

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vigência, mas justamente com basenele é que o Juiz atendeu ao requeri-mento sobre a dispensa dos depoi-mentos. O procedimento do réu, orarecorrente, tudo fazendo para difi-cultar o andamento do feito foi am-plamente ressaltado na sentença ebem anotado no acórdão. E da sen-tença:

«Criticável, a maneira como oréu se conduziu nestes autos: difi-cultou ao máximo sua localização,para fins hatimatóries, sendo este omotivo por que os autos tanto seavolumaram; não compareceu aosexame hematológicos, reiterada-mente marcados pelo IMESC, nãoobstante a par de que «o não com-parecimento de qualquer dos inte-ressados será interpretado de ma-neira contrária aos seus interesses,pois evidenciará o receio do omissocom relação ao resultado do exa-me» (fls. 314v.).

Não é á toa, pois, que o réu foiadmoestado pelo Juizo, na audiên-cia de fl. 211, mas sem resultado:continuou ele na mesma e critica-va' conduta, prejudicial ao regularandamento do processo.

O IMESC apresentou, tio-so-mente, laudo atinente à idade daautora, concluindo de maneira aconfirmar os dados da sua certidãode nascimento de fl. 7.

Na audiênéia de fls. 314/314V. to-maram-se várias providências notocante ao frustrado exame peri-cial, hematológico e deliberou-se apropósito de alguns itens de inte-resse, designando-se em continua-ção, audiência para 22-3-82 á qualnão compareceu a advogada doréu, nem este, em vista do atesta-do médico de fl. 331.

Nova designação, para 13-4-112,sendo intimados os patronos daspartes (fl. 332).

Nesta audiência, comparecerama representante legal da autora,seu advogado e as Curadorias ofi-ciantes. A pedido do patrono daautora e dos Curadores, dis-pensaram-se os depoimentos doréu e das testemunhas, tudo combase no art. 453 i) 2?, do CPC.Inquiriram-se três testemunhas daautora e foi homologada desistên-cia no tocante às demais. O patro-no desta pediu a procedência daação, entendendo perfeitamentedemonstrados os fatos enunciadosno pedido vestibular. O Dr. Cura-dor de Ausentes e Incapazes, evi-denciando que o réu «tumultuou detodas as formas o regular anda-mento do feito», sem produção dequalquer prova que confirmasse oque alegou, opinou pela procedên-cia da ação, em vista da convin-cente prova efetivada pela autora.A Curtdoria de Familia e Suces-sões emitiu parecer em idênticoteor, examinando a nutrida provaadvinda da autora e, também, cen-surando as «manobras protelató-rias» provocadas pelo réu.»346).

Como se vê, não exorbitou o KM.Juiz quando atendeu ao requeridopelo patrono da autora e dos Curado-res, dispensando o depoimento doréu e das testemunhas deste. Aliás,quanto ao depoimento do réu, Pode-ria a autora pedir sua dispensa inde-pendentemente da configuração dahipótese do art. 453, $ 2? do CPC.

No referente à divergência juris-prudencial, na qual também se apoiao recorrente, traz ele à baila acór-dão do Tribunal de Justiça de SantaCatarina, transcrevendo tópico se-gundo o qual da faculdade prevista no11 2? do art. 453 do CPC só pode usaro Juiz quando a prova não for neces-sária para esclarecer ponto relevan-te que seja decisivo para o deslindeda questão. Entretanto, não serve oacórdão para a prova pretendida, de

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vez que, no caso vindo a confronto, odecidido, no tocante à consideraçãofeita no acórdão quanto à faculdadeprevista no 2? do artigo 453 doCPC, foi somente um fundamento dasentença, exatamente para não apli-cá-lo à hipótese que então estavasendo decidida. É o que resulta dainteira leitura do aresto que se en-contra reproduzido a fl. 416 (pág. 322da RF n? 165).

No referente à necessidade da pro-va pericial em caso de investigaçãode paternidade, trouxe a exame o re-corrente, para comprovar o dissídiosobre tal aspecto, o aresto do Pretó-rio Excelso no RE 93.272-RJ ( In RTJ99/856). Em tal caso, o acórdão doTribunal de Justiça entendera insufi-ciente a então produzida e o v. acór-dão, pela voz do Ministro Clóvis Ra-malhete deixou assentado:

«Faltou sobretudo o recurso deperícia, que se juntasse à provatestemunhal obtida, eloqüente, maslimitada aos lances do romance.Não se completou a prova, com oelemento cientifico da perícia, queseria indicador, pelo exame do san-gue, da possibilidade da paternida-de. No processo não se vê a tenta-tiva de demonstrar a paternidadepela confrontação quadriculada deampliações fotográficas, da confor-mação e justaposição de segmen-tos construtivos do rosto do menore do indigitado pai, e que fizesse aindicação morfológica da possívelhereditariedade de traços fisionô-micos, se acaso transmitidos aomenor. A prova científica, se não éconclusiva, é indiciaria. Reunida àprova testemunhal ajudaria à con-clusão da paternidade.» (fl. 410).

Ocorre, porém, que entre o queora se examina e o caso confrontadoduas diferenças existem. A primei-ra, é que a sentença e o acórdão con-sideraram suficientes as provas co-lhidas na instrução, não só pelos de-poimentos ouvidos, como pela pró-

pria atitude do réu, que foi conside-rada indicio forte em seu desfavor; ea segunda que o exame hematológi-co não foi realizado por a ele se terfurtado o réu, como bem ficou desta-cado no r. decisório de primeirograu e no acórdão. Na audiência deinstrução e julgamento, cujo termose encontra a fl. 314, por cópia, tendoem vista as dificuldades até entãoencontradas para localização do réu,a fim de que fosse intimado ele paraa realização do exame hematológico,o MM. Juiz advertiu as partes quan-to a interpretação contrária aos seusinteresses no caso de ausência paraele submeter-se, de logo ficando oréu intimado. Entretanto, apesar detudo o réu não compareceu e nemsua ausência foi justificada.

Assim, situações dissimeis se rele-vam a dos autos e a dos arestos vin-dos a confronto.

Pelo exposto, não conheço do re-curso.

É o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RE 110.315 — SP — Rel.: MinistroAldir Passarinho. Recte.: Paulo Va-Bengo (Adv.: Juarez Eduardo de An-drade Fortes). Recdo.: Thaméa Da-nelon, repres. p/sua mãe Maria Te-reza Gluzio Danelon (Advs.: JorgeEid e outro).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Presidência do Senhor Ministro

Djaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros, Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Borla. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 6 de novembro de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 110.324 — PR(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.Recorrente: Reitor da Universidade Estadual de Londrina — Recorrido:

Waidimir José Mendes.

Mandado de Segurança. Legitimidade do recorrente, por repre-sentar a pessoa jurídica de direito público interessada. Recurso nãoconhecido, por falta de prequestionamento (Súmulas 282 e 356).

ACORDA°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros compo-nentes da Segunda Turma do Supre-mo Tribunal Federal, à unanimidadede votos e na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, não conhecer do recurso.

Brasília, 1? de março de 1988 —Djaci Falcão, Presidente e Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Djaci Falcão: Oacórdão recorrido guarda o seguinteteor:

«Writ — Fundação de Direito Pú-blico — Ato de Autoridade — Duplograu de jurisdição — Processo se-letivo para admissão de docentes— Jornalista profissional sem for-mação universitária.

Em sendo o mandamus «remédioespecifico contra a violação peloPoder Público de direito liquido ecerto, outro que o de locomoção»(Manoel Gonçalves Ferreira Filho,Comentários à ConstituiçãoBrasileira, Saraiva, 2! ed., 3? vol.,pág. 101) e a Universidade Esta-dual de Londrina uma Fundaçãode Direito Público, a sentença con-cessiva fica sujeita ao duplo graude Jurisdição (artigo 12 da Lel n?1.533, de 31 de dezembro de 1951).

Acertada a decisão que cassa atoadministrativo que impede jorna-lista, não possuidor de graduaçãoacadêmica, mas registrado regu-

larmente, de inscrição para con-correr à vaga de professor auxiliardo Departamento de Comunicação.

Reexame desprovido.Acórdão n? 3.153 — 3? CIV.Vistos, relatados e discutidos es-

tes autos de Reexame Necessárion? 29/85, de Londrina (10! Vara),em que são: Dr. Juiz de Direito(Remetente), Waldimir José Men-des (Autor) e Reitor da Universi-dade Estadual de Londrina (Réu).

Acordam os Juízes da TerceiraCâmara Civel, do Tribunal de Jus-tiça do Estado do Paraná, adotadaa exposição de fls. e sem discre-pância, conhecer da remessa obri-gatória, nos termos do artigo 12,da Lei n? 1.533, de 31 de dezembrode 1951, negando-lhe provimento,para o efeito de confirmar, Inte-gralmente, a respeitável e jurídicadecisão de primeiro grau.

O impetrante vale-se do remédioheróico a fim de cassar o ato admi-nistrativo, praticado pelo Magnifi-co Reitor da Universidade Esta-dual de Londrina, que lhe obstacu-lizou a inscrição para concorrer àvaga de professor auxiliar do De-partamento de Comunicações, porisso que, inobstante registro regu-lamentar, não possui formaçãouniversitária.

O ilustrado Juiz a quo, após sus-pensão liminar do ato impugnado,informações de autoridade aponta-da como coatora e pronunciamento

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do Ministério Público, houve porbem conceder a segurança, atra-vés da bem lançada sentença de fls.212 negue 216, complementada poroutra, onde reconheceu a necessi-dade de aquela ser submetida aochamado duplo grau de jurisdição.

Todavia, a emérita Procurado-ria-Geral da Justiça, manifes-tou-se pelo não conhecimento daaludida remessa, por considerardesnecessária, em vista das carac-teristkas da Universidade Esta-dual de Londrina, pois, sendo Fun-dação instituída pelo Estado, não sesubordina as regras processuaisatinentes que protegem as pessoasJurídicas de direito público interno.

Contudo, falece razão ao órgãoestatal de segundo grau.

O mandamus «é remédio es-pecifico contra a violação pelo Po-der Público de direito líquido e cer-to, outro que o de locomoção» (Ma-noel Gonçalves Ferreira Filho,Comentários à Constituição Brasi-leira, Saraiva, 2? ed., vol. III, pág.101).

Aduz o mestre paulista, por ou-tro lado que, «Segundo a melhordoutrina, somente contra o PoderPúblico pode ser reclamado o man-dado».

Ora, a Fundação UniversidadeEstadual de Londrina, como defineo próprio Regimento Geral, é «en-tidade de direito Público, sem finslucrativos, no cumprimento desuas funções de Ensino, Pesquisa eExtensão» (fl. 91).

Trata-se, por conseguinte, defundação de direito público que noensinamento de José Cretella Jú-nior (Dicionário de Direito Admi-nistrativo, Forense, 3? ed., pág.265) é «Pessoa Jurídica de direitopúblico interno, de índole adminis-trativa, criado pelo Estado e afeta-da de um património que é institui-do pela entidade criadora para queao novo ente persiga os fins especí-ficos que tem em mira».

Assim, a decisão concessiva dowrit tem que ser, obrigatoriamen-te, submetida a reexame destaCorte de Justiça, por força da re-gra estabelecida pelo artigo 12, daLei n? 1.533, de 31 de dezembro de1951, nova redação dada pela Lein? 6.071, de 3 de março de 1974, Inverbis: «A sentença que conceder omandado fica sujeito ao duplo graude jurisdição, podendo, entretanto,ser executada provisoriamente».

A esse propósito, escreve Ul-de rico Pires dos Santos (O Manda-do de Segurança na Doutrina e naJurisprudência, Forense, 2? ed.,pág. 413): «Isto quer dizer que hojeas sentenças de primeira instânciaque concederem o mandamus es-tão sujeitas ao duplo grau de Juris-dição, mas podem ser provisoria-mente executadas. E se elas sãoexeqüíveis, mesmo que tenha havi-do apelação oficial, é evidente quea apelação só poderá ser recebidano efeito devolutivo, ainda que aLei n? 6.014, de 27-12-73, ao modifi-car o caput do art. 12 da Lei n?1.533 e disciplinar que a apelação éo recurso cabível das sentençasconcessivas do writ não haja ditoem que efeito ela deva ser recebi-da».

Portanto, bem se conduziu o ma-gistrado ao admitir o reexame ne-cessário (fl. 219), inobstante adouta Procuradoria-Geral da Justi-ca defenda ponto de vista em senti-do contrário.

No mérito, decisório não ensejaqualquer corrigenda.

O ilustre prolator bem enfrentoua questão, reconhecendo o direitoliquido e certo do impetrante emconcorrer à vaga disputada, dadaa sua condição de Jornalista profis-sional, devida e regularmente re-gistrado.

Daí, a conclusão incensurável:«Assim, jornalista profissional queobtém registro junto ao Ministério

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do Trabalho com base no Decreto-Lei n? 972/69, está equiparado, pa-ra todos os efeitos legais, ao jorna-lista profissional graduado, poden-do lecionar jornalismo em cursosuperior. Impedindo a inscrição doimpetrante, a Universidade res-tringiu onde a lei não o fez, e, fa-zendo isto feriu direito liquido ecerto do impetrante» (fl. 216).

Por todo o exposto, o Colegiado,conhecendo da remessa obrigató-ria, confirma, em todos os seustermos, a bem lançada e jurídicadecisão de primeiro grau.

Curitiba, 25 de junho de 1985 —Renato Pedras), Presidente e Re-lator. — Maximiliano Stasiak, Re-visor — Plinia Cachuba, Vogal.»(fls. 231 a 234)Inconformado, o Reitor da Univer-

sidade Estadual de Londrina inter-pôs o recurso extraordinário de fls.239 a 243, com base unicamente naletra a, do permissivo constitucional,alegando que o atesto impugnado ne-gou vigência ao art. 10 do Dec.-Lein? 972/69.

Admitido o apelo por meio do des-pacho de fls. 250/251, e após ser ins-truido apenas com as razões de fls.262 a 266, vieram os autos a estaCorte.

Com vista à Procuradoria-Geralda República, esta emitiu o seu pa-recer de fls. 279 a 282, opinando pelonão conhecimento do recurso.

VOTO

O Sr. Ministro Disc! Falcão (Rela-tor): Preliminarmente, esclareçoque a decisão recorrida foi tomada a25485, sob a vigência do RegimentoInterno anterior à Emenda ti? 2/85.Todavia, a ação escapa da restriçãoregimental, eis que está em discus-são o direito á constituição da pró-pria relação jurídica fundamental.

Quanto a questão relativa à faltade legitimidade para recorrer, departe do Reitor da Universidade Es-

tadual de Londrina levantada pelaProcuradoria da República, não me-rece acolhimento. E que o recursofoi interposto pelo Reitor da Univer-sidade de Londrina, autoridade con-tra a qual foi impetrado o writ. Enão resta dúvida que este tem o po-der de decisão, representando a Uni-versidade, Fundação de Direito Pú-blico interessada. Portanto, acha-selegitimado para recorrer.

No entanto, o recurso não merececonhecimento, de vez que, segundoexpõe o parecer «jamais ventiladono V. aresto recorrido (fls. 231/234)— nem na R. sentença de primeirainstância cujos fundamentos acolheu(fls. 212/216) — o art. 10 do Decreto-Lei n? 972, de 1969. E bem verdadeque o E. Tribunal a quo deu aplica-ção ao aludido decreto-lei mas emmomento algum especificou aquele,dentre os 15 artigos que compõem odiploma legal em referência (fls.72/74), do qual estava cuidando, nemfoi provocado a fazê-lo, através daoposição dos Embargos de Declara-ção. E caso de incidência da previ-são contida nas Súmulas 282 e 356.»(fls. 280/281).

Ante o exposto, em preliminar nãoconheço do recurso.

EXTRATO DA ATA

RE 110.324 — PR — Rel.: MinistroDl aci Falcão. Recte.: Reitor da Uni-versidade Estadual de Londrina(Advs.: Luiz Carlos da Rocha e ou-tros). Recdo.: Waldimir José Mendes(Adv.: Luiz Roberto L. Kracik).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Presidência do Senhor Ministro

Djaci Falcão.Presentes á Sessão os Senhores

Ministros, Aldir Passarinho, Fran-cisco Reza, Carlos Madeira e CeioBorja. Subprocurador-Geral da Re-pública, o Dr. Mauro Leite Soares.

Brasília, 19 de março de 1988 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 110.441 — PR(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorrido: Orion de Macedo

Xavier Vllianueva.

Prisão civil. Alimentos. Inclusão de verbas estranhas t) prestaçãoalimentícia.

Não há cabida para a prisão civil por não liquidação de presta-ções alimentícias, se ela foi decretada não só pelo não pagamento de-las mas também de honorários de advogado. A divida de alimentos,que justifica a prisão civil, não pode conter débitos de outra origem,bem advertindo o Tribunal a quo não lhe caber, no Ambito do babeasempas separar as parcelas. Possibilidade de voltar a ser decretada aprisão se a recusa do pagamento se fizer em relação ás prestaçõesalimentícias tão-somente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, por sua Se-gunda Turma, na conformidade daata do julgamento e das notas taqui-gráficas, por unanimidade de votos,não conhecer do recurso.

Brasília, 15 de setembro de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — AldirPassarinho, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): No ponto que interessa aopresente recurso extraordinário cri-minal, adoto, como relatório, a parteexpositiva do pronunciamento dadouta Procuradoria-Geral da Repú-blica:

«Pretende-se no presente recursoextraordinário, obter a reforma doJulgado proferido pelo SegundoGrupo de Câmaras Cíveis do Tri-bunal de Justiça do Paraná, queassentou, ao decidir pedido dehabeas corpus, que na decretaçãode prisão civil contra devedor depensão alimentícia não podem serincluídas as verbas referentes ahonorários advocaticlos e custasprocessuais. Sustenta o recorrente

que o acórdão recorrido, assim de-cidindo, teria negado vigência aosartigos 153, 17, da ConstituiçãoFederal e 733, 1?, do Código deProcesso Civil.»A Procuradoria-Geral da Repúbli-

ca, parecer do Dr. Valim Teixeira,Subprocurador-Geral da República,manifestou-se pelo não conhecimentodo apelo último.

Inadmitido o recurso, agravou oMinistério Público Estadual. Provi oagravo para melhor exame do con-traditório.

É este o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): O parecer da doutaProcuradoria-Geral da República,na sua parte conclusiva, é do seguin-te teor:

«A nosso ver, razão não assisteao recorrente, de vez que o acór-dão recorrido, ao contrário do quese alega, decidiu a questão comacerto. O pedido de habeas corpuscontinha dois fundamentos: 1?: acobrança de custas e honoráriosadvocaticios englobando as presta-ções alimentícias em atraso; 2?: oJusto impedimento do paciente em

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saldar os compromissos, dada suacondição econômica. A ordem foiconcedida quanto ao primeiro fun-damento e indeferida no tocante àsegunda parte, por exorbitar aquestão das lindes do habeascorpus. Tal decisão deu adequadasolução à controvérsia, não negan-do vigência aos dispositivos invo-cados. Nada impede que a prisãodo devedor de alimentos seja nova-mente decretada, só se exigiu quea dívida da pensão alimentícia nãocontenha os referidos acréscimos.

Opinamos, pelo exposto, pelo nãoconhecimento do presente recursoextraordinário.»O recurso não é de ser conhecido.O C. Tribunal de Justiça, fixou,

com precisão, os exatos limites daconcessão do habeas corpus, sendoesta a parte decisória do v. acórdão:

«Denegam a ordem, eis que osfundamentos do pedido não seprestam para possibilitar a suaconcessão.

Efetivamente, a matéria sobreter ou não o alimentante condiçõesfinanceiras de efetuar o pagamen-to de pensão alimentícia é assuntoque extravasa a âmbito do habeascorpus.

Nos lindes restritos da medidaexcepcional impetrada cabe ape-nas examinar se, decretando a pri-são civil do paciente, agiu o MM.Juízo em conformidade às normasprocessuais e substantivas que re-gem a espécie.

Mas, a ordem é concedida deoficio.

O documento de fl. 16 dá contade que a cobrança frustrada, ense-jadora do decreto de prisão contrao qual se insurge esta impetração,Incluiu, além da prestação ali-mentícia, com a correspondente

atualização monetária, a verba ho-norária e custas processuais.

E, em tais casos, tem-se decididoreiteradamente que a divida de ali-mentos, que justifica a prisão civildo alimentante, não pode conterdébitos de outra origem, tais comohonorários advocaticios e custasprocessuais (RT-553/75, 552/325,539/351-352 e 535/276; ADCOAS-BJA, n? 41, 1982, p. 646, v. 86648 en? 20, 1982, p. 211, vs. 83.880, 83.879e 83.878).

E nesse mesmo sentido tambémjá decidiu, por mais de uma vez,este 2? Grupo de Câmaras Cíveis(cf. DJE. de 19-10-81, p. 3, r. 109,HC n? 152-81, Relator Des. LimaLopes; DJE de 27-5-1981, p. 4, r. 40,HC n? 78-81, Relator Des. MerinoBraga).

Assim, incluídas no quantum de-vido parcelas relativas a custas ju-diciais e honorários advocatIclos, aprisão se tornou ilegal, dai advindoconstrangimento ilegal.

Por isso, concedem a ordem deoficio para anular o decreto de pri-são, sem prejuízo de ser restabele-cido, atendidas as prescrições le-gais. Custas na forma da lei.»

E decidindo embargos de declara-ção, declarou a Corte Estadual, apósreferir-se à alegação do embargantede que teria havido omissão no acór-dão:

«Mas, data venta, inexiste omis-são no decisório impugnado quejustifique declaração.

Em seu corpo consigna o acór-dão: «O documento de fl. 16 dáconta de que a cobrança frustrada,ensejadora do decreto de prisãocontra o qual se insurge esta impe-tração, incluiu, além da prestaçãoalimentícia, com a correspondente

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atualização monetária, a verba ho-norária e custas processuais» (fl.77).

O embargante não se apercebeude que o Dr. Juiz, no decreto deprisão do paciente, esclareceu que«O Executado Orion de MacedoXavier Villanueva, a requerimentode Milcea Chesnau Cesar XavierVillanueva, sua ex-esposa, foi cita-do para, em três (3) dias, pagar osalimentos em atraso, referentesaos meses de janeiro a junho doano em curso, no importe de Cri1.303.885,18 (um milhão, trezentose três mil, oitocentos e oitenta ecinco cruzeiros e dezoito centavos)além dos honorários advocaticlos(10%) e custas processuais, ou, emigual prazo, provar que os pagou,ou ainda a impossibilidade de faze.-lo, sob pena de prisão» (fls.51/51v).

Ademais, os embargos declarató-rios são viáveis na omissão, porémincabíveis para inconformidade.»

Como se vê, tendo sido a decreta-ção da prisão pelo não pagamento dapensão alimentar e dos ónus dasucumbência, por certo que não ca-bia ao Tribunal, no âmbito do ha-beas corpus separar as duas parce-las, isso cabendo ao próprio Juiz pro-lator da sentença, o que ficou bas-tante claro no aresto em exame.

O fundamento do extraordinário éque fram feridos o 17 do art. 153da Constituição

oFederal e o art. 733,

1? do Código de Processo Civil.Quanto ao primeiro, não foi ele vio-lado, porquanto não negou o arestoque pudesse haver prisão civil porinadimplemento de obrigação ali-mentar, mas sim que tal prisão sepudesse dar se havia sido a medidapelo não pagamento de uma dividana qual, além da prestação alimen-tar, se incluíam custas e honoráriosde advogado.

O mesmo de dizer-se quanto ao1? do art. 733 do Código de ProcessoCivil, eis que o Tribunal deixou bemclara a possibilidade de ser a prisãodecretada pelo não pagamento daprestação alimentar, não a admitin-do, porém, se a verba exigida incluíaoutros valores.

Assim, para que o extraordináriopudesse ser conhecido e sua interpo-sição apenas se alicerçou na letra«a» do art. 119, III, da ConstituiçãoFederal, — teria sido necessárioquehouvesse negativa de vigência a dis-positivo legal, ou violação a preceitoconstitucional, e isso se estipulassemeles que no valor das prestações de-veriam ser incluídas as verbas cor-respondentes ao Ônus da sucumbên-eia, sob pena de prisão civil, o queporém, não ocorre.

Pelo exposto, não conheço do re-curso.

o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RECr 110.941 — PR — Rel.: Minis-tro Aldir Passarinho. Recte.: Minis-tério Público Estadual. Recdo.:Orion de Macedo Xavier Villanueva(Adv.: Waldemar Moretti).

Decisão: Não conhecido. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão.

Presentes á sessão os Senhores Mi-nistros Aldir Passarinho, FranciscoRezek, Carlos Madeira e Célio Bor-la.

Subprocurador-Geral da Repúbli-ca, o Dr. Mauro Leite Soares.

Brasília, 15 de setembro de 1988 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 110.716 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Célio Borja.Recorrente: Estado de São Paulo — Recorridos: José Miguel e outros.

Policiais militares de São Paulo.Gratificação de Regime Especial de Trabalho: incidência sobre os

valores dos adicionais por tempo de serviço e da sexta parte.Ausência de pressupostos constitucionais e regimentais.Aplicação das Súmulas 280, 282, 284 e 356.RE não conhecido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade de votos, em nãoconhecer do recurso.

Brasília, 30 de junho de 1987 —Aldir Passarinho, Presidente —Célio Borla, Relator.

RELATÓRIO

Sr. Ministro Célio Borja: A hipó-tese é de ação ordinária movida porpoliciais militares, objetivando o re-cálculo de seus vencimentos, de mo-do que haja incidência reciproca en-tre os adicionais por tempo de servi-ço e as gratificações de Regime Es-pecial de Trabalho Policial, a partirda Lei Complementar n? 255/81. Apretensão foi acolhida em ambas asinstâncias.

Recorre extraordinariamente aFazenda do Estado, com fundamentono art. 119, III, a e c, da ConstituiçãoFederal. Alega que o julgado violouo art. 13, IX, ff 4?, c/c o art. 8?,XVIII, v, da Carta Magna, além deter infringido o art. 24 do Decreto-Lel Federal n? 667/68.

recurso foi indeferido pelo des-pacho de fls. 381/384, mas encami-nhado para melhor exame em razãodo provimento do Ag. 110.352-3-SP.

A argüição de relevância foi re-jeitada na sessão do Conselho de23-4-86.

o relatório.VOTO

Sr. Ministro Célio Borja (Rela-tor): A douta Procuradoria-Geral daRepública, em parecer da lavra daDra. 'duna E. Weinert, assim se ma-nifestou:

«2. Cuidam os autos de ação ordi-nária movida por policiais minaresde São Paulo, objetivando recálculode seus vencimentos para que hajaincidência reciproca entre os adicio-nais por tempo de serviço e as grati-ficações do Regime Especial de Tra-balho Policial, incidindo sobre a es-pécie os impedimentos ao apelo ex-tremo previstos no art. 325, IV, d(litígio decorrente de relação estatu-tária de serviço público militar, emque não se discute o direito à consti-tuição ou subsistência da própria re-lação jurídica fundamental) e VIII(valor da causa), do RI desse Colen-do Supremo Tribunal Federal, tendoo feito logrado acesso a esse Pretó-rio Excelso por força do provimentodo agravo de instrumento interpoitopelo ora recorrente (Ag 110-352-3-SP— autos em apenso), após a rejeiçãoda argüição de relevância suscitadano apelo (ARv. 36.394-3/SP — autosapensos).

3. A leitura da r. sentença de fls.318/329, bem como do v. acórdão re-

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corrido (fls. 369/370), que manteve asentença, para julgar procedente aação ordinária movida pelos ora re-corridos, não deixa dúvidas de que alide foi decidida, exclusivamente, àluz do art. 92, VII, da Constituição doEstado de São Paulo e de sua LeiComplementar n? 255/81, o que atraia incidência, sobre o apelo extremo,do Enunciado n? 280, da Súmula des-se Pretório Excelso.

Por outro lado, verifica-se quea v. decisão impugnada não levouem conta os preceitos da Constitui-ção Federal e da lei federal, ora ti-dos por violados pelo recorrente, nãose revestindo os temas, pois, do re-quisito imprescindível do prequestio-namento, a que se referem os verbe-tes n?s 282 e 356, vez que não opostosos enibargos declaratórios cabíveis.

Vê-se, por fim, que o recorren-te não deduziu uma (mica palavracomo fundamento do recurso, comapoio na letra c, do permissivo cons-titucional, mostrando-se o mesmo in-viável, ainda sob esse aspecto(Súmula n? 284).

Conclusão6. Parecer, em conclusão, pelo

não conhecimento do presente recur-so extraordinário, ante a ausênciados seus pressupostos constitucionaise regimentais » (fls. 423/425).

Nos termos do parecer que acabode ler, não conheço do recurso.

E o meu voto.EXTRATO DA ATA

RE 110.716 — SP — Rel.: MinistroCélio Boda. Recte.: Estado de SãoPaulo (Adva.: Maria José GriloAraújo de Aquino). Recdos.: José Mi-guel e outros (Adva.: Neide RibeiroPalaro).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Presidência do Senhor Ministro Al-

dir Passarinho. Presentes á Sessãoos Senhores Ministros Carlos Madei-ra e Célio Borja. Ausentes, justifica-damente os Srs. Ministros Djaci Fal-cão, Presidente, e Francisco Rezek.Subprocurador-Geral da República,o Dr. Mauro Leite Soares.

Brasília, 30 de junho de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 111.079 — MG(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Célio Boda.Recorrente: Prefeitura Municipal de Divino — Recorrido: Estado de Mi-

nas Gerais.Desapropriação. Decretos estadual e municipal declaratórios de uti-

lidade pública do mesmo imóvel de domínio privado, para fins de de-sapropriação.

O domínio eminente, atributo originário da União, como entesoberano, e do qual deriva a faculdade de desapropriar; o poder dogoverno federal de legislar sobre desapropriações e tutelar os direitosindividuais — entre os quais, o de propriedade — abonam a compe-tência federal para dispor sobre a preferência do Estado ou do seuMunicípio, em caso de atos expropriatórios concorrentes e reciproca-mente excludentes;

Nessa hipótese, a preferência do ato estadual deriva de inter-pretação e aplicação analógicas da norma do art. 2?, 1 2?, do Decreto-Lei 3.365/41;

RE não conhecido, pela alínea c, art. 119, RI, CF.

R.T.J. — 125 331

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade de votos, em nãoconhecer do recurso.

Brasília, 10 de abril de 1987 —Aldir Passarinho, Presidente —Célio Boda, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Célio Borla: A Pre-feitura Municipal, em 1?-7-83, baixoudecreto expropriatório de área per-tencente a Campanha Nacional deEducandários Gratuitos. Em 22-7-83,o estado de Minas Gerais, igualmen-te por decreto, declarou, a mesmaárea, de utilidade pública para efeitode desapropriação. Ingressaram am-bos, Estado e Município com as res-pectivas ações exproprietárias domesmo imóvel, sendo que a primei-ra, a do Município, foi ajuizada em1?-8-83,e a segunda, intentada peloEstado, despachada em 27-9-83. Pe-diram, ambos, o Estado e o Mu-nicípio, a imissão na posse do imó-vel. Deferiu-a o MM. Juiz à Prefeitu-ra.

O Tribunal de Justiça deu provi-mento ao recurso, nestes termos: (fl.57)

«Data venta, tenho para mimque o recurso interposto mereceser acolhido, cassada a decisão, afim de que o MM. Juiz aprecie con-venientemente o pedido formuladopelo Estado de Minas Gerais, incasu, a entidade de direito públicohierarquicamente superior. Faceaos termos do art. 2?, 2?, do De-creto-Lei 3.365/41, os bens de domí-nio do Estado, Municípios, DistritoFederal e Territórios, podem ser de-

sapropriados pela União, e os dosMunicípios pelos Estados. A evidên-cia, sendo assim, a preferência, háde ser da entidade de direito públi-co maior, no caso o Estado, o qual,em última análise, poderia mesmovir a desapropriar a PrefeituraMunicipal do bem que esta viessea expropriar, bastando para tantoa autorização legislativa. Dai por-que, a meu sentir, não pode ser apreferência da pessoa jurídica dedireito público que primeiro desa-propriar. Assim sendo, dou provi-mento ao agravo interposto, cas-sando a decisão impugnada, a fimde que o MM. Juiz aprecie o pedidode imissão provisória da posse naárea expropriada, dando prosse-guimento ao processo desapropria-tório movido pelo Estado de MinasGerais.»

Opostos embargos declaratóriosforam eles rejeitados.

A Prefeitura Municipal de Divinorecorreu extraordinariamente, combase no art. 119, III, a e c, da Consti-tuição Federal, alegando que o v.acórdão , recorrido ofendeu o art. 15,II, da Carta Magna, ao ferir sua au-tonomia municipal; e negou vigênciaao 2? do art. 2? do Decreto-Lei n?3.365/41 (Lei de Desapropriações),pois, para desapropriar bem já inse-rido no património do Município, ne-cessário se faz a prévia autorizaçãolegislativa. Também, aponta a ilega-lidade do Decreto n? 22.922, do Esta-do de Minas Gerais, em face do ij 2?do art 2? do Decreto-Lei n? 3.365/41.

Com base na Súmula 400, o despa-cho de fls. 90/91 inadmitiu o apelo,mas o agravo foi provido para me-lhor exame.

A douta Procuradoria-Geral da Re-pública opina pelo provimento do re-curso, com apoio na alínea c do per-missivo constitucional, ante a ilegali-dade do Decreto n? 22.922, de 22-7-83,

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do Estado de Minas Gerais, contes-tado em face do § 2? do art. 2? doDecreto-Lei n? 3.365/41, porque estesomente admite a desapropriação debem que já seja do domínio do Mu-nicípio e mediante autorização legis-lativa.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Célio Borja (Rela-tor): A douta Procuradoria-Geral daRepública entende cabível, o recursoextraordinário, pela alínea c do art.119, III, da Constituição Federal.

Examinemos a hipótese.Declarado de utilidade pública o

imóvel referido neste processo, pri-meiro por ato do Município, logo de-pois, por decreto do Poder ExecutivoEstadual, pediram um e outro aoMM. Juiz da Comarca imissão naposse do bem, assim, duplamenteexpropriado.

Registre-se, desde logo, que se tra-ta de imóvel de domínio privado,posto que, dele, o Município tem,apenas, a posse provisória, deferidapelo r. despacho inicialmente agra-vado.

Rigorosamente, pois, não haveriaque exigir-se ao decreto expropriató-rio estadual a prévia autorização le-gislativa, pois, essa, só é indispensá-vel, nos termos do § 2?, art. 2?,Decreto-Lei 3.365/41, quando o bem éde domínio dos Estados, Municípios,Distrito Federal e Territórios e aUnião os pretenda, ou é ele dodomínio municipal, e o exproprie oEstado.

O que se apresenta, pois, é o pro-blema criado pelo exercício simultâ-neo, pelo Estado e o Município, decompetência concorrente para desa-propriar bens do domínio privado,

que reclama a definição de prece-dência ou preferência a favor deum ou de outro. A lei federal invoca-da não é expressa a respeito. Nadaobstante, se a competência para dis-por na matéria, for da União, há quebuscar, no direito federal, a soluçãopara o caso. Se tal não se contivernos poderes expressos ou implícitosdo Governo Nacional, cessa a ju-risdição desta Corte Suprema, poisnão existirá a indispensável federalquestion, pois a controvérsia deveráser decidida à luz do direito local.

É, indiscutivelmente, da União acompetência de legislar, com exclu-sividade, sobre desapropriações. En-te soberano, tem ela o domínio emi-nente e, com ele, o poder de disporsobre todas as coisas que estão noseu território. Congruentemente, oConstituinte deu-lhe a atribuição delegislar a respeito.

Mas, o que se ha de entender pordesapropriação? A translação força-da dos bens do domínio de outrempara o patrimônio do soberano. Porextensão e derivadamente, a lei fe-deral (Decreto-Lei n? 3.365/41) esten-deu tal prerrogativa às pessoasjurídicas territoriais de direito públi-co interno (art. 2?) e concedeu àUnião e aos Estados o poder de desa-propriar os bens do domínio dasmais entidades de direito públicoexistentes no território que jurisdi-cionam, respectivamente, o territó-rio nacional e o estadual.

Não estabeleceu, porém, explicita-mente, as regras destinadas a resol-ver os previsíveis conflitos oriundosda concorrência de ambos — Mu-nicípio e Estado — no poder de desa-propriar.

Não teria disposto a respeito, porentender que as relações jurídicasdos entes públicos da mesma unida-de federada são matéria de direito

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local, ou por presumir que oprincípio hierárquico, insito no § 2?,art. 2? do Decreto-Lei n? 3.365/41, re-solveria tais conflitos? A mera invo-cação da mens legislatoris, como écurial, não é argumento de razão su-ficiente para o exegeta. Mais forçatêm os princípios gerais da ordemjurídica positiva do Estado, pois em-basam a interpretação sistemática,cuja lógica conduz, mais seguramen-te, à verdade ontológica.

No sistema dualista da federaçãode 1891, seria razoável afirmar o di-reito dos Estados de disciplinaremtais relações no branco da Constitui-ção Federal. Já, à vista das que selhe seguiram, tal certeza paulatina-mente esmaece, dado a tutela consti-tucional do peculiar interesse muni-cipal, e, enfim, do alçamento domesmo Município à condição de par-te constitutiva da Federação, tal co-mo foi entendido por poderosa cor-rente doutrinária. Por isso tudo,passou-se a admitir que o Municípioé titular de um direito próprio,oponível às pretensões da União edos Estados, que somente prevalece-rão se fundadas em expressa ouimplícita autorização da Constitui-ção Federal.

Razão de ordem estritamenteconstitucional, abonam o entendi-mento adotado pelo v. acórdão re-corrido, que reconhece à União o po-der de dispor sobre a matéria, e vê,no § 2? art. 2?, do Decreto-Lei n?3.365/41, a regra que, em caso deatos expropriatórios concorrentes,privilegia o do Estado, em detrimen-to do Município.

A competência da União para re-gular o conflito entre o Estado e seusMunicípios, na hipótese, é conse-qüência direta da sua condição de ti-tular originária do domínio eminentee da competência exclusiva para le-gislar sobre desapropriação (art. 89.

XVII, f, da Constituição Federal).Sendo derivado o poder de desapro-priar dos Estados e dos Municípiosnada lhes usurpa a União ao regulartais conflitos.

Considere-se, depois, que na quasecentenária tradição republicana bra-sileira, a tutela dos direitos civis epolíticos dos cidadãos assenta naConstituição Federal e tem, nela ena lel federal disciplinado o sistemade suas garantias. Entre esses direi-tos individuais, o de propriedade —protótipo de todos os direitos subjeti-vos, no dizer dos doutores — é o ob-jeto precipuo da atividade expropria-tória.

Se é no direito federal que a con-trovérsia deve encontrar seu deslin-de e se o juiz não se exime de sen-tenciar alegando lacuna ou obscuri-dade da lei, que serão supridas pelaanalogia, os costumes e os princípiosgerais de direito (art. 126, CPC), émister que o Supremo Tribunal Fe-deral examine o cabimento do pre-sente recurso extraordinário e, sevencida esta preliminar, julgue co- -mo for de direito.

Interposto pelas alíneas a e e, arti-go 119, III, da Constituição Federal,tenho que a decisão recorrida nãocontrariou dispositivo desta, ou ne-gou vigência a tratado ou a lei daUnião, nem julgou válido lei ou atodo governo local contestado em faceda Constituição ou de lel federal. Aocontrário, resolveu o litígio aplican-do-lhe analogicamente o § 2?, art. 2?,do Decreto-Lei n? 3.365/41, no qual es-tá imita a regra de precedência doEstado sobre seu Município quandoambos exerçam, sobre o mesmo obje-to, o poder de desapropriar.

Invoca o Município de Divino a au-tonomia assegurada por norma cons-titucional da União (art. 15) para

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afastar a posição hierarquicamentesubalterna a que o relegou o v. ares-to recorrido.

Se, a meu ver, não há que falarem hierarquia entre partes constitu-tivas da Federação, quando uma de-las é titular de um direito próprio deautonomia, concedido pela Constitui-ção Federal, é, contudo, de afirmar-se que, no caso, existe uma regra depreferência a favor do Estado, que oTribunal a quo reconheceu correta-mente.

Inexigivel a prévia autorização le-gislativa, posto que o Decreto Esta-dual n? 22.922, de 22 de julho de 1983,não visou a bem público municipal,mas, de domínio privado; assentadaa competência da União para regu-lar a preferência entre o Estado eseu Município quando ambos exer-çam, sobre o mesmo bem dedomínio privado, o poder expropria-tório de que, igualmente, dispõem; eexplicitada a preferência que os Es-tados têm sobre seus Municípios, emdecorrência da norma do § 2?, art. 2?do Decreto-Lei n? 3.365/41, não en-contro, no v. acórdão recorrido vio-lação ou ofensa à Constituição ou àlei federal.

Por todos esses fundamentos nãoconheço do recurso.

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Presidente): Igualmente não conhe-ço do recurso, mas faço uma ponde-ração no tocante a um ponto do pa-recer da Procuradoria-Geral da Re-pública. A Procuradoria-Geral daRepública, interpretando o § 2? doart. 2? do Decreto-Lei 3.365/41, decla-ra que somente os bens do domíniodos Municípios podem ser expropria-dos pelos Estados. Quando o bem édo município, segundo se encontraexpresso na lei, pode ser desapro-

priado mediante lei autorizativa,mas não quer isso dizer que não pos-sam também ser desapropriadosbens de particulares. Pela mesmarazão, aquele dispositivo também,ao dizer que a União pode desapro-priar bens dos Estados e dos Mu-nicípios, não implica em proibir queela possa desapropriar bens de parti-culares.

No caso, houve, também, um de-creto do Estado declarando de utili-dade pública o imóvel, para efeito dedesapropriação, e ele iniciou o pro-cesso respectivo, anteriormente.

Acompanho o Sr. Ministro Relator,não conhecendo do recurso.

EXTRATO DA ATA

RE 111.079 — MG — Rel.: MinistroCélio Borja. Recte.: Prefeitura Muni-cipal de Divino (Adv.: Alberto Lou-renço de Lima). Recdo.: Estado deMinas Gerais (Advs.: Albani GomesCarneiro e Francisco Deiró C. Bor-ges).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Falou pelo Recdo.: o Dr. FranciscoDeiró Couto Borges. Presidência doSenhor Ministro Aldir Passarinho,na ausência ocasional do Sr. Minis-tro Djaci Falcão.

Presidência do Senhor Ministro Al-dir Passarinho, na ausência ocasio-nal do Sr. Ministro Djaci Falcão.Presentes à Sessão os Senhores Mi-nistros Carlos Madeira e Célio Bor-ja. Ausente, justificadamente, o Sr.Ministro Francisco Rezek. Subpro-curador-Geral da República, o Dr.Mauro Leite Soares.

Brasília, 10 de abril de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 111.128 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Recorrentes: 1?) Ministério Público Federal. 2?) Banco Nacional da Habi-

tação — BNH — Recorrido: Sérgio Rodrigues.

Sistema Financeiro da Habitação. Mandado de Segurança impe-trado por mutuário, objetivando que o reajuste das prestações men-sais não excedam à variação salarial. Lei nt 4.380/64, artigo 5? e ff eDecreto-Lei n? 19/66.

Fundamento suficiente do acórdão recorrido (artigo 153, I 3?, daConstituição Federal), não atacado pelos recursos extraordinários.Aplicação da Súmula 283.

Recursos extraordinários não conhecidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, emnão conhecer de ambos os recursos.

Brasília, 20 de outubro de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Carlos Madeira:Adoto como relatório, o despacho doilustre Vice-Presidente do TribunalFederal de Recursos, que admitiu osrecursos extraordinários (fls. 368/373):

«Trata-se de mandado de segu-rança Impetrado por mutuário doSistema Financeiro da Habitaçãocom o objetivo de reduzir o reajus-te mensal referente á amortizaçãodo financiamento para aquisiçãode casa própria, na proporçãoocorrida com os aumentos sala-riais, consoante cláusula contra-tual.

A sentença de primeira instân-cia, que denegou a segurança, foireformada pela 5? Turma deste

Tribunal, Relator o Ministro PedroAcioll, nos termos da seguinteementa:

Processual Civil. Civil. Man-dado de Segurança. Contrato deMútuo. Casa própria, reajusta-mento das prestações. SistemasHipotecário e Financeiro. Planode Equivalência salarial. Lei n?4.380/64, art. 5?, 5?, 6? e 9?.Preliminares de carência deação e de ilegitimidade passivaad causam do BNH. Decreto-Lein? 2.065/83, art. 23. Percentagemde reajustamento. Abrangência.Efeitos.

I — O Decreto-Lei n? 2.065/83ofereceu condições de opção aosmutuários para legitimar altera-ção bilateral de contrato de mú-tuo. A celebração da opção, quesubtrai dos mutuários optantes ointeresse de agir, não foi firmadapelos impetrantes. Discute-se,nos autos, de modo subjetivo econcreto, a quebra de cláusulacontratual, contrato perfeito eacabado, e que nenhuma das par-tes pode alterar cláusula unilate-ralmente sem aquiescência daoutra. Inaplicação desse decreto-lei aos contratos de mútuo semque a outra parte se manifestefavoravelmente à alteração, massim aos contratos novos que se

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realizarem. Preliminar de carên-cia de ação, por falta de interes-se de agir, repelida.

II — Compete ao BNH a fun-ção precipita de fiscalizar, orien-tar e disciplinar o Sistema Finan-ceiro da Habitação, por expressadisposição legal, e é evidente queseus agentes financeiros aplicamo índice de reajustamento quelhes é determinado, sem qual-quer dose de competência paraalterá-lo, consoante o art. 18 daLei n? 4.380/64. Será o BNH quemsuportará os efeitos pretendidosna medida, o qual é tambémcompetente para adotar as provi-dencias necessárias ao cumpri-mento das normas relativas aosetor habitacional. Preliminar deIlegitimidade de parte passivarejeitada.

III — No nosso direito objeti-vo, a liberdade de contratar éampla e informal — arts. 82 e129, do CC — salvo as restriçõesda lei e as exigências especiaisde forma para alguns ajustes.Todo contrato, seja privado ouPúblico, tem como base funda-mental dois princípios: o da leientre as partes, lex partes, e o daobservância do que foi pactuado,pacta sunt servanda, ambos emrespeito à equivalência nos en-cargos e vantagens. Os contratosque se encontram nos autos sãoatos jurídicos perfeitos e acaba-dos, resguardados e garantidosconstitucionalmente — art. 153, §3? —, bem como a Lei de Introdu-ção ao Código Civil, art. 6?.

IV — Decreto-Lei — que só po-de ser editado em condições es-peciais, nos casos de urgência erelevante interesse público, sobreas matérias enumeradas nos in-cisos I, II e III do art. 55 daConstituição — bem assim o de-creto, que é ato meramente regu-lamentar, não podem alterar re-gra juridica constante de lel for-

mal, os quais não têm eficáciaante a supremacia desta. E in-fundada a alegação de que os §§5?, 6? e 9? do artigo 5? da Lei n?4.380/64 teriam sido revogados ouderrogados pela legislação poste-rior e, a teor do art. 2?, § 1? daLei de Introdução ao Código Ci-vil, a lei posterior só poderia terrevogado ou derrogado o art. 5? eparágrafos da lei citada se comela fosse incompatível ou regu-lasse de maneira inteiramentediversa a matéria.

V — O mandamento constitu-cional não quer distinção entre oscidadãos, é imperativo a ordemde igualdade de todos perante alel — art. 153, § 1? — e a próprialei que criou e instituiu o PlanoNacional de Habitação não fazdistinção entre os mutuários,mas previu para todos a obser-vância do principio da equivalên-cia salarial — Lei n? 4.380/64,art. 5?, §§ 5?, 6? e 9?, que é único,com duas formas de reajuste:

a) o reajuste das prestaçõesmensais dos mutuários não podeexceder, em relação ao saláriomínimo em vigor, à percentagemnele estabelecida, tomando-se co-mo base o percentual destinadoregião onde se acha situado oimóvel, cuja tabela, por região,se acha anexada ao ato próprioque fixa o salário mínimo e esta-belece a percentagem destinadaao custeio da habitação — Lei n?4.380/64, art. 5?, §§ 5? e 6?.

Cada reajustamento entraráem vigor após 60 (sessenta) diasda data da vigência da alteraçãodo salário mínimo que o autori-zar, e a prestação mensal reajus-tada vigorará até o novo reajus-tamento (art. 5?, § 3? da mesmalei). Este procedimento aplica-seàqueles mutuários que tenhamcomo relação de reajuste dassuas prestações o salário mínimoe para aqueles mutuários que te-

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337

nham como relação para reajus-tamento de suas prestações, pa-râmetros diferentes do saláriomínimo, o limite de reajuste desuas prestações estará limitadoao percentual de reajuste de seussalários. .

b) o reajuste que, como co-mando especial previsto na lei —quando se tratar de servidor pú-blico ou autárquico — não podeexceder o percentual estabeleci-do na lei que lhes altere os venci-mentos — art. 5? 9?, da Lel n?4.380/64.

Ambas as formas se aplicamaos sistemas financeiro e hipote-cário, apenas o primeiro estáprevisto na lel, o outro se revestedas mesmas formalidades do pri-meiro com uma simples garantiaa mais para o credor.

VI — Na cláusula padrão cons-tante dos contratos, seja do sis-tema financeiro ou hipotecário,que diz: ao reajustamento dasprestações será anualmente nodia 1? de julho», a expressãoanualmente quer dizer de 12 em12 meses, só que a contar de 1?de julho, ou seja, de julho a ju-nho do ano seguinte e não, é evi-dente, de janeiro a dezembro.Por isto, o índice de reajuste quese aplica ás prestações mensaisdos mutuários é, no máximo, apercentagem estabelecida no sa-lário mínimo para o custeio dahabitação ou a percentagem es-tabelecida na lei, hoje decreto-lei, que lhes altere os vencimen-tos recebidos nos últimos 12 (do-ze) meses, contando-se de 1? dejulho a 30 de junho do ano seguin-te. Essas duas formas de reajus-te da prestação mensal dos mu-tuários guardam inteira confor-midade com o art. 5? da Lei deIntrodução ao Código Civil, se-gundo o qual o juiz deve aplicara lei em consonância com os finssociais aos quais ela se destina.

VII — Preliminares rejeita-das. Apelação provida. Sentençareformada'.Dois embargos de declaração fo-

ram opostos ao acórdão:pelo BNH, visando aclarar

interpretação do acórdão sobre oíndice de correção monetária a seraplicado nos reajustamentos e so-bre a questão de ineficácia dosdecretos-leis;

pelo Ministério Público Fe-deral, aduzindo os mesmos funda-mentos dos embargos anteriores,alegando, ainda, que o acórdão te-ria decidido extra Denta, estabele-cendo percentual inferior ao plei-teado.

Os embargos declaratórios fo-ram rejeitados.

O respectivo acórdão restou as-sim ementado:

'Embargos de declaração. Con-trato de mútuo. Casa própria.Reajustamento das prestações.Credor hipotecário. Terceiro inte-ressado. Recurso. Admissibilida-de. Pressupostos dos embargos.Conhecimento. Descabimento.Decreto-Lei. Condições. Consti-tuição, art. 55.

I — No juizo de admissibilida-de dos recursos é que se saberáda figura da embargante comoparte, terceiro prejudicado ounão, de vez que, tendo sido parteno contrato de financiamento quedeu ensejo á causa, permaneceusilente em todas as fases anterio-res do processo. Como conse-qüência, as condições ou pressu-postos que legitimam o terceiroprejudicado a recorrer serão ob-jeto de exame no juizo de admis-sibilidade dos recursos e não viaembargos declaratórios. Embar-gos da credora hipotecária nãoconhecidos.

II — do confronto da ementacom a integra do voto se eviden-

338 R.T.J. — 125

cia a inexistência dos pressupos-tos dos embargos declaratórios.Estes não deveriam ser conheci-dos, mas sim, serem julgados in-cabíveis, contudo, a jurisprudên-cia predominante inclina-se pelarejeição.

III — Os anseios mais eleva-dos de uma Nação repousam nodireito, numa legislação clara enuma justiça imparcial. Essa im-portância deve ser conhecida detodos, notadamente daqueles quemilitam no Poder Judiciário.Pondere-se que o decreto-lei, co-mo previsto na Constituição, sópode ser editado nas condiçõesprevistas no art. 55 e, tão-somente, sobre as matérias alienumeradas. Atendidas as condi-ções ali mencionadas e aprova-das pelo Congresso terá ele forçade lei no sentido formal e, nestecaso, poderá alterar regra jurídi-ca constante de lei. Não é lei,mas decreto com força de lei.

IV — Embargos rejeitados'.O Banco Nacional da Habitação

— BNH interpõe recurso extraordi-nário, com base nas letras a e d doart. 119, III, da CF, cumulado comargüição de relevância da questãofederal, sustentando que o acórdãohostilizado:

contrariou os arts. 46 e 55da CF;

negou vigência ao art. 30,do Ato Institucional n? 2, de 27-10-65;

negou eficácia ao Decreto-Lei n? 19, de 30-8-66;

negou vigência ao art. 13 daLei n? 5.107, de 13-9-66; ao pará-grafo único do art. 2? da Lei n?6.205, de 29-4-75; e á Lei n? 6.423,de 17-6-77;

e) ao aplicar de forma inteira-mente diversa do sentido origi-nal, os dispositivos da Lei n? 4.380,de 21-8-64, o V. acórdão tambémnegou-lhes vigência;

por indicar, como cabível,tratamento mais rigoroso e desi-gual aos servidores públicos, adecisão contraria o parágrafo 1?,do art. 153 da Constituição Fede-ral;

por oferecer solução que ul-trapassa o pedido inicial formu-lado pelos Impetrantes, fazendo-ode forma ilíquida, o aresto desa-tendeu aos artigos 128, 460 e aoparágrafo único do artigo 459 doCódigo de Processo Civil;

em sua parte final, a deci-são recorrida infringiu o dispostono parágrafo único do art. 17 daLei n? 4.380/64;

negou vigência ainda ás Leisn?s 4.864, de 29-11-65 (art. 30) e5.049, de 29-6-66 (art. 3?), que cui-dam da correção monetária'.Também se opõe ao acórdão o

Ministério Público Federal, e o fazem recurso extraordinário fundadotão-somente na letra a do incisoIII, art. 119, da Constituição.

Entende o recorrente que o ares-to impugnado «contraria os artigos6?, 46 e 55, da Constituição Federale o artigo 30, do Ato Institucionaln? 2, de 27-10-65, bem como negavigência do art. 1?, do Decreto-Lein? 19, de 30-8-66, art. 23, doDecreto-Lei n? 6.423/77 e aos arts.128, 459 e 460, do Código de Proces-so Civil'.

Ao que se depreende da leituraatenta das peças recursais,verifica-se que os dois recorrentesatacam, sobremodo, os seguintesaspectos do acórdão:

supremacia da lei sobre odecreto-lei;

critério de reajustamento dovalor monetário das prestaçõesmensais dos contratos imobiliários;

3. julgamento ultra perna.Em principio, descaberia o apelo

extremo, uma vez que o arestohostilizado cuida de interpretação

R.T.J. - 125

339

de cláusulas contratuais, não dan-do lugar ao recurso extraordinário,de acordo com a Súmula 454-STF.

Ocorre, porém, que a matéria éde alta indagação jurídica. Cuida-se, primordialmente, da validadedo decreto-lei e da sua eficácia, noâmbito da hierarquia das leis. Des-sa questão decorrem as demais,atinentes à indexação das presta-ções da casa própria, segundo osparâmetros que informa o SistemaFinanceiro da Habitação.

O exame da argüição razoávelde ofensa à Constituição, autoriza-do no art. 326, do Regimento Inter-no da Suprema Corte, e o relevodas questões suscitadas, que foramobjeto de prequestionamento, acon-selham a admissão do apelo extre-mo.

Admito os recursos extraordiná-rios fundados, na letra a do per-missivo constitucional, o que ense-ja o seu processamento pelos de-mais pressupostos invocados.

Quanto à argüição de relevância,suscitada pelo Banco Nacional daHabitação — BNH, aguarde-se ainiciativa da suscitante, nos ter-mos do art. 329, I, do RISTF.

Publique-se, inclusive para osefeitos do art. 545 do CPC».E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): O acórdão impugnadoreportou-se à fundamentação do jul-gado proferido na Apelação em Man-dado de Segurança n? 104.763, domesmo Tribunal, que concluiu:

a) que o contrato firmado pelasimpetrantes com o Banco Nacionalda Habitação «é lei entre as partes ehá de ser observado e cumprido pe-las mesmas, até que estas dispo-nham consensualmente de forma di-ferente», tratando-se, assim, de umato jurídico perfeito e acabado, res-

guardado e garantido constitucional-mente pelo artigo 153, § 3?, bem co-mo pelo artigo 6? da Lei de Introdu-ção ao Código Civil. Ausentes os mo-tivos de caso fortuito e força maior,para justificarem a aplicação dacláusula rebus sie stantibus, de mo-do a permitirem a sua alteração uni-lateral;

que o reajuste das prestaçõesmensais deveria ser feito na mesmapercentagem estabelecida em rela-ção ao salário mínimo em vigor,acrescentando, quanto ao funcioná-rio público ou autárquico, que o per-centual não pode ser superior ao au-mento da lei que lhe alterou os ven-cimentos;

que a Lei n? 4.380/64 está em ple-na vigência, sendo infundadas asalegações de que teria sido revogadaou derrogada pelo Decreto-Lei n?19/66, no que respeita aos limites dosreajustes das prestações, porquedecreto-lei «é lei no sentido mate-rial» e «não pode alterar regrajurídica constante de lei formal».

Observo, porém, que os recursosextraordinários não atacaram funda-mento suficiente do acórdão paraconceder a segurança, qual seja o di-reito adquirido das partes, respalda-do nos artigos 153, 41 3?, da Constitui-ção Federal, e 6?, da Lei de Introdu-ção ao Código Civil.

A exemplo do que ficou decididono julgamento do RE n? 108.859, inci-de, na espécie, a Súmula 283.E a se-guinte a ementa do referido acórdão:

«Recurso extraordinário. Aquisi-ção de casa própria. Reajuste deprestações. Fundamento inataca-do. Súmula 283.

Inadmissível é o recurso extraor-dinário se não atacou fundamentosuficiente do acórdão para conce-der a segurança com base em di-reito adquirido, explicitamente res-paldado no art. 153, § 3?, da CF.

340 R.T.J. - 125

Recurso extraordinário não co-nhecido».

De acordo com o verbete daSúmula citada («É inadmissível orecurso extraordinário, quando a de-cisão recorrida assenta em mais deum fundamento suficiente e o recur-so não abrange todos eles») não hácomo se conhecer dos apelos. Anotoque tal decisão não interfere com adecisão do E. Plenário da Corte, naRepresentação de Interpretação deLei n? 1.288, Relator o Ministro Ra-fael Mayer, porque também ali nãoforam apreciados os problemas dedireito intertemporal, envolventesquer da aplicação de cláusulas con-tratuais, quer de interpretação denormas de sobredireito (art. 153, g 3?da CF; art. 6? e ff da LICC).

É o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RE 111.128 — SP — Rel.: MinistroCarlos Madeira. Rectes.: 1?) Ministé-rio Público Federal. 2?) Banco Na-cional da Habitação — BNH (Advs.:Carlos Robichez Penna e outros).Recdo.: Sérgio Rodrigues (Advs.:Aristino Flausino Teixeira da Almei-da e outro).

Decisão: Não conheceram de am-bos os recursos. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Botija. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 20 de outubro de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 111.221 — MA(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Aldir Passarinho.Recorrente: Estado do Maranhão — Recorridos: Waldir Reis e outros.

Funcionalismo. Proventos da aposentadoria. Cálculo de adicionalde tempo de serviço.

Art. 1o2, g 2? da Constituição Federal.Se o cálculo dos adicionais por tempo de serviço incide apenas so-

bre o valor correspondente ao padrão de vencimentos dos funcioná-rios em atividade, do Estado do Maranhão, o acórdão que mandouque o percentual de tais adicionais incida também sobre o valor dagratificação de produtividade, para cálculo dos proventos dos funcio-nários aposentados, fere o g 2? do art. 102 da Constituição Federal.

Precedentes relativos ao Estado do Maranhão: RE 97.467: 99.145 e99.144.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, por sua Se-gunda Turma, na conformidade daata do Julgamento e das notas taqui-

gráficas, por unanimidade de votos,conhecer do recurso extraordinário elhe dar provimento nos termos dovoto do Ministro Relator.

Brasília, 4 de dezembro de 1987 —Aldir Passarinho, Presidente e Rela-tor.

R.T.J. - 125 341

RELATORIO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): O Estado do Maranhãopropôs contra Waldir Reis e outros,ação rescisória com fundamento noinc. V, do art. 485 do Código de Pro-cesso Civil, a fim de rescindir a deci-são que concedeu aos réus a gratifi-cação adicional por tempo de servi-ço, no percentual de 35%, a ser cal-culada sobre a parte fixa (vencimen-tos), e sobre a parte variável ( grati-ficação de produtividade).

O Tribunal de Justiça do Estadodo Maranhão, por unanimidade, jul-gou a ação improcedente observandoque:

«Não vemos como o acórdão vio-lou dispositivo de lei, vistos que osjulgadores não se afastaram uminstante sequer, do direito substan-tivo, interpretando corretamenteos mais variados artigos de leie jurisprudência, para finalmenteefetuar um perfeito e substancia-do julgamento, reconhecendo, porconsequente, os direitos dos réus,ou sejam, a percepção da gratifi-cação adicional por tempo de ser-viço, no percentual de 35%, a sercalculada sobre a parte fixa (ven-cimentos) e sobre a parte variável(gratificação de produtividade)».A essa decisão, opôs o Estado em-

bargos de declaração que foram re-jeitados.

Irresignado com essa decisum, re-correu extraordinariamente o Esta-do, escorado na letra a da permissãoconstitucional, sob alegação de que ov. acórdão impugnado maltratara osarts. o?, parágrafo único e 102, 1 2?,ambos da Constituição Federal, ne-gado vigência ao art. 485, V, do CPC,entrara em testllha com a Súmula339 desta Corte, além de outros jul-gados posto que a gratificação adi-cional por tempo de serviço, semprefora calculada à base do vencimentopadrão do cargo efetivo e não sobrea remuneração.

Inadmitido o recurso, agravou oEstado. Provi o agravo para melhorexame da questão.

2 este o relatório.VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): Embora, no caso, incida oóbice do art. 325, IV, d do art. 325 doRI/STF na sua redação anterior àEmenda Regimental n? 2/85, no ex-traordinário foi alegado violação aoart. 102, 4 2? da CF e divergênciacom a Súmula 339 do STF.

No relatório do Mandado de Segu-rança cujo acórdão agora procura oEstado do Maranhão rescindir, im-petrado por Waldir Reis, e no qualingressaram depois os outros litis-consortes, ora também recorridos, apretensão ficou bem esclarecida nes-te passo:

«Alega mais o impetrante:que «quando em atividade o impe-trante, em razão do seu cargo, per-cebia os seus vencimentos consti-tuídos de uma parte fixa (venci-mentos), e uma parte variável(Gratificação de produtividade), e,conseqüentemente, passando paraa inatividade, levara todas as van-tagens que percebia em atividadequer no que diz respeito aos venci-mentos, quer no tocante à Gratifi-cação de Produtividade, portanto')com proventos integrais;que apor conseguinte, a Gratifica-ção Adicional por Tempo de Servi-ço do impetrante, em razão de seucargo, sem a menor sombra de dú-vidas, terá de ser calculada sobrea totalidade dos proventos, ou seja,parte fixa (vencimentos), e partevariável (Gratificação de Produti-vidade). Entretanto, conforme severifica pelos termos do Titulo deProventos, o Excelentíssimo Se-nhor Secretário da Fazenda do Es-tado do Maranhão, não vem cum-prindo o que determina a legisla-ção pertinente à espécie» (fls.10/11).

342 R.T.J. — 125

Pelo que se encontra transcrito,tem-se que os então impetrantes eora recorridos, quando em atividade,recebiam parte fixa e parte variá-vel, aquela correspondente ao pa-drão de vencimentos, e esta comogratificação de produtividade. E per-cebiam, ainda, gratificação de tem-po de serviço, mas esta era calcula-da apenas sobre a parte fixa.

Entretanto, passando para a inati-vidade, posto que vieram a aposen-tar-se, pretenderam e conseguiramque a gratificação de tempo de ser-viço lhes fosse paga também sobrea parte variável, à alegação de queas duas partes passaram a consti-tuir os proventos, e sobre estes cabiacalcular o adicional de tempo de ser-viço.

Ora, o art. 102, § 2? da Constituiçãoé expresso no sentido de que, verbis:

«Ressalvado o disposto no pará-grafo anterior, em caso nenhum osproventos da inatividade poderãoexceder a remuneração percebidana atividade».O § 1? a que se refere o § 2?, do

art. 102, diz que «os proventos dainatividade serão revistos sempreque, por motivo de alteração do po-der aquisitivo da moeda, se modifi-carem os vencimentos dos funcioná-rios em atividade».

E de ver que o art. 156 do Estatutodos Funcionários Públicos Civis doEstado do Maranhão, (Lel Delegadan? 36, de 15-10-69), estabelece:

«Art. 156. O funcionário que com-pletar 20 anos de efetivo exercí-cio no serviço público estadualterá direito à gratificação de 15%(quinze por cento) do vencimentodo cargo (grifei) efetivo, a qual se-rá acrescida de 5% (cinco por cen-to) por qüinqüênio até o máximode 30% (trinta por cento).

§ 1? Para o cálculo da gratifica-ção do que trata este artigo não se-rão computadas quaisquer vanta-gens pecuniárias ainda que incor-

poradas aos vencimentos para to-dos os efeitos legais» (fl. 3).Tem-se, deste modo, que para os

funcionários em atividade, e tal,aliás, como deixam claro os recorri-dos, na oportunidade da impetraçãodo Mandado de Segurança, os servi-dores em atividade não tinham agratificação por tempo de serviçocalculada sobre a soma da parte fixacom a parte correspondente à Grati-ficação de produtividade, mas ape-nas sobre aquela.

Deste modo, o acórdão concessivoda segurança por certo que feriufundo o § 2? do art. 102, da CartaMagna.

A espécie dos autos se identificacom precedentes desta Corte nosRREE n?s 92.467-9 e 99.145-0, ambosdo Estado do Maranhão, Relatores,respectivamente, os Ministros Mo-reira Alves e Rafael Mayer, tendo osrespectivos acórdãos ficado com asseguintes ementas:

RE 97.467-9 — MA«Fixação de gratificação adicio-

nal por tempo de serviço sobre atotalidade dos proventos, e não,apenas, sobre a parte correspon-dente ao vencimento do cargo efe-tivo, que é a base de cálculo dessagratificação para os funcionáriosda ativa.

Ofensa ao § 2? do art. 102 daConstituição Federal.

Recurso extraordinário conheci-do e provido» (RE n? 97.467-9 —MA, acórdão anexo, doc. de fls.44/57).RE 99.145-0-MA

Ementa: Aposentadoria. Proven-tos. Adicionais por tempo de servi-ço (cálculo) CF, art. 102, g 2?. Vio-la o dispositivo constitucional emcausa a decisão que determina secalcule a gratificação adicional portempo de serviço sobre a totalida-de dos proventos, em base supe-

R.T.J. - 125

343

rior, portanto, ao regime da ativi-dade, onde se tem ela calculadaapenas sobre os vencimentos docargo.

Recurso extraordinário conheci-do e provido» (RE 99.145-0 — MA,acórdão anexo) (fl. UM).No seu voto, no primeiro preceden-

te aludido, o Exmo. Ministro Morei-ra Alves, após salientar que o óbiceregimental (art. 325, II, do RI) fo-ra ultrapassado por invocação de ma-téria constitucional, observando-seque, então, se tratava de mandadode segurança, e o recorrente era oEstado do Maranhão, declarou:

«2. Escapam, porém, desse obs-táculo, as questões constitucionaisinvocadas no recurso extraordiná-rio.

E tem o recorrente razão quandoafirma que o acórdão recorridoviolou o disposto no 2? do art. 102da Constituição Federal.

Com efeito, como se vê dos pró-prios termos do acórdão em causa,este concedeu ao recorrido vanta-gem de que ele não gozava na ati-vidade, pois mandou calcular agratificação adicional por tempode serviço sobre a totalidade dosproventos, e não apenas sobre aparte deles correspondentes ape-nas ao vencimento do cargo efeti-vo, que é a base de cálculo dessagratificação para os funcionáriosna ativa.

Em face do exposto, conheço dopresente recurso e lhe dou provi-mento, para indeferir o mandadode segurança, pagas as custas pelorecorrido» (fl. 56).Posteriormente, na sessão de 7 de

fevereiro de 1984, como o comprovao recorrente, o que aliás fez tambémcom aqueles dois outros casos antesindicados, veio a Colenda II Turmadeste Tribunal, a manter o mesmoentendimento ao ensejo do julgamen-to do RE 99.144-1, também do Mara-nhão, relator o Min. Neri da Silvei-

ra, reportando-se, inclusive, àquelesdois precedentes antes referidos. Aementa do aresto assim ficou enun-ciada:

«Ementa. Funcionário Públicoaposentado. Cálculo de proventos.Adicional por tempo de serviço,quando os vencimentos se com-põem de uma parte fixa e outravariável, denominada gratificaçãode produtividade. Se a lel estabele-ce que o adicional referido incidesobre o padrão de vencimento docargo efetivo, não pode seu cálculofazer-se sobre a totalidade dos pro-ventos da aposentadoria, onde in-corporada a gratificação de produ-tividade, em base superior, assim,ao regime da atividade. Ofensa aoart. 102, 2?, da Constituição. Di-vergência com as Súmulas 339 e359. Precedentes do STF, nos Re-cursos Extraordinários n?s 97.467 e99.145, ambos do Maranhão. Recur-so conhecido e provido» (fl. 237).A Procuradoria-Geral da Justiça

do Estado do Maranhão e o v. acór-dão observaram que o reconheci-mento do direito ao cálculo da grati-ficação sobre a soma da parte fixacom a variável se deu a 29 de outu-bro de 1981, bem antes da vigênciada Lei n? 4.441, de 5 de julho de 1982,e que em seu art. 12 alterou o art.156, da Lei Delegada n? 36, de 15-10-69. Sobre tal aspecto nada há que di-zer senão que o mandado de segu-rança cujo acórdão é objeto da pre-sente rescisória, foi julgado peranteo Estatuto dos Funcionários Públicosdo Estado do Maranhão, sem quefosse levada em consideração a Lein? 4.441, de 5 de julho de 1982, certa-mente pelo entendimento ituispru-dencial que veio a firmar-se no enun-ciado da Súmula 359. Aliás, qualquerextensão a inativos de benefíciosconcedidos a servidores em ativida-de haveria que ser expressa.

Ademais, a rescisória há de serapreciada ante os pressupostos queorientaram o julgamento do acórdãorescindendo.

344 R.T.J. — 125

Quanto ao fundamento do arestorecorrido de não caber ação rescisó-ria quando a questão for controverti-da nos Tribunais, não é de vingar oargumento, porquanto controvérsianão a demonstrou existente a Corteestadual, pois apenas se sabe de jul-gados daquele Tribunal, em sentidofavorável aos demandantes, e do Su-premo Tribunal Federal em sentidocontrário.

Pelo exposto, conheço do recursopela letra a do art. 119, IV, da CF elhe dou provimento para rescindir oacórdão do mandado de segurançaajuizado por Waldir Reis, e no qualingressaram posteriormente os de-mais ora recorridos como litiscon-sortes ativos, de vez que foi ferido o

2? do art. 102 da Constituição Fede-ral. Em conseqüência, condeno osrecorridos nas custas processuais eem honorários de advogado na basede 10% sobre o valor atribuído à cau-sa, com correção a partir da publi-cação do acórdão. Os Ônus da su-

cumbência serão divididos em par-tes iguais entre os recorridos.

E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RE 111.221 — MA — Rel.: MinistroAldir Passarinho. Recte.: Estado doMaranhão (Adv.: Nemias NunesCarvalho). Recdos.: Waldir Reis eoutros (Advs.: Victório de OliveiraRicci e outro).

Decisão: Conhecido e provido nostermos do voto do Ministro Relator.Unânime.

Presidência do Senhor Ministro Al-dir Passarinho. Presentes á Sessãoos Senhores Ministros Francisco Re-zek, Carlos Madeira e Célio Borja.Ausente, justificadamente, o Sr. Mi-nistro Djaci Falcão, Presidente. Sub-procurador-Geral da República, o Dr.Mauro Leite Soares.

Brasília, 04 de dezembro de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO CRIMINAL N? 111.552 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorrido: Francisco José

do Nascimento Oliveira.Prisão domiciliar para condenado apto ao regime aberto. Peculia-

ridades do caso. Não configurada negativa de vigência ao art. 117 daLei de Execução Penal. Súmula 400. Dissídio jurisprudencial nãocomprovado nos termos da Súmula 291.

Recurso não conhecido.

ACORDA() RELATÓRIO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros compo-nentes da Segunda Turma do Supre-mo Tribunal Federal, á unanimidadede votos e na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, não conhecer do recurso.

Brasília, 26 de fevereiro de 1988 —Djaci Falcão, Presidente e Relator.

O Sr. Ministro Djaci Falcão: Deci-diu o egrégio Tribunal de Alçada:

«Vistos, relatados e discutidos es-tes autos de Agravo em Execuçãon? 411.043/2, da comarca de San-tos, em que é agravante a Justi-ça Pública, sendo agravado Fran-cisco José do Nascimento Olivei-ra:

R.T.J. - 125

345

Acordam, em Décima Câmara doTribunal de Alçada Criminal, pormaioria de votos, negar provimen-to ao recurso.

Trata-se de agravo em execuçãode pena, interposto pela Promoto-ria de Justiça contra decisão do r.Juízo de Execuções Criminais daComarca de Santos, que deferiu aosentenciado Francisco José do Nas-cimento Oliveira o cumprimentodo restante da pena em regime aberto, na forma de «prisão-alberguedomiciliar», porque inexistente va-ga na Casa do Albergado local.

recurso objetiva cassar o be-neficio concedido, por incablvel le-galmente, afrontando a norma doart. 117 da Lel Federal nt 7.210/84.

O julgamento, pelo V. acórdão defls. 82/83 fora convertido em dili-gência, para cumprimento do atoprocessual previsto no art. 589, doCódigo de Processo Penal. Cum-prindo-a, o Ilustre Magistrado deprimeiro grau sustentou a decisãoagravada, em fls. 65 e verso, ano-tando que «a existência de Casa doAlbergado não é pressuposto do re-gime aberto, como pode parecer,mas mera forma de sua execução.Assim, não se há de evitar a satis-fação de um direito subjetivo pú-blico do condenado, frente ao Esta-do, pela argüição de uma omissãodo próprio Estado, não do conde-nado».

douto Procurador de Justiça,em seu parecer complementar defls. 69/70 opina pelo provimento doagravo, entendendo violada a Leide Execuções Penais.

E o relatório.agravado foi condenado ás pe-

nas de 5 anos e 4 meses de reclu-são e multa de Cri 8.000, pela prá-tica de roubo qualificado, pelo usode arma de fogo e concurso deagentes.

Já cumpriu mais de 1/3 (um ter-ço) da apenação.

Era primário, esta é a sua únicacondenação, por isso as penas fo-ram firmadas no mínimo legal.

Tem o sagrado Direito Subjetivoao livramento condicional ou aobeneficio do regime aberto; a pri-são-albergue; mormente por seucomportamento carcerário.

Fol-lhe deferido o regime aberto,mas para cumprimento em alber-gue domiciliar, eis que a Casa doAlbergado de Santos não tem vaga,para o agravado.

O desconto da pena é gerido peloEstado-Administração (Executivo),quem detém o dever de providen-ciar o cumprimento da Lei, tam-bém, quanto a infra-estrutura, cum-pre a ela dotar o sistema carcerá-rio de estabelecimentos adequados.

O agravado tem o inaudível di-reito ao albergue, portanto, estariacumprindo pena em estabelecimen-to inadequado, contrário à Lei, mes-mo em regime fechado.

Não há novidade de molde a cau-sar espantos, na digna decisão doDouto Magistrado pois, em passa-do recente, quando não havia va-ga, em estabelecimento adequado,para o desconto de medida de se-gurança detentiva a mesma eratransformada em liberdade vigia-da.

Tem-se, ainda, que as normas daLei n? 7.210/84, são programáticase para serem atendidas depende-riam de recursos materiais, quenão foram providenciados até ago-ra, já vigindo a Lei.

Dai porque negam provimentoao recurso.

Presidiu o Julgamento o Sr. JuizCosta Porto, participando os Srs.Juizes José Santana (vencido, comdeclaração) e P. Costa Manso.

São Paulo, 4 de rnrço de 1986 —Viana Santos, Relatora Designado.

346 R.T.J. — 125

Declaração de Voto Vencidodo Sr. Juiz José Santana

Agravo em ExecuçãoN? 411.093/2 — Santos

O agravo merecia provimento. Aprisão-albergue não se confundecom a prisão domiciliar, tanto que,para evitar dúvidas, o art. 117, daLei n? 7.210 de 11 de julho de 1984,declara que «o regime aberto nãoadmite a execução da pena em re-sidência particular, salvo quandose tratar de condenado maior desetenta anos ou acometido de gra-ve doença e de condenada com fi-lho menor ou deficiente físico oumental ou, finalmente, de condena-da gestante. Trata-se, aí, de exce-ção plenamente justificada em fa-ce das condições pessoais do agen-te» (Lei de Execução Penal —Juarez de Oliveira — Ed. 1985, ed.Saraiva, pág. 18).

No caso, de inexistência de Casado Albergado na Comarca ou esta-belecimento adequado ocorre aimpossibilidade do cumprimentoda pena em local substitutivo.

Assim tem decidido este E. Tri-bunal, porquanto «as deficiênciasde ordem geral, no que se refereao regime aberto, conferem ás nor-mas que o elencaram no CódigoPenal, mero caráter programático.Assim, o beneficio só poderá serdeferido quando e onde houver Ca-sa do Albergado, examinados osdemais requisitos para tal formade cumprimento de pena» (Ac. un.,de 5-7-1985, em Primeira Câmarado Turim, Habeas Comas n?142.020/3, de Caçapava, RelatorJuiz Veiga de Carvalho).

No caso, embora exista na co-marca de Santos o estabelecimentoadequado — Casa do Albergado,afirmou o MM. Juiz a inexistênciade vaga, para conferir ao senten-ciado o beneficio da prisão domici-liar. Fê-lo, como se viu, ao arrepioda norma contida no art. 117 da

Lei n? 7.210/84, motivo por que taldecisão não poderia subsistir.

Isto posto, dava provimento aoagravo, para cassar o beneficio deprisão domiciliar concedida ao sen-tenciado, ora agravado — JoséSantana.» (Fls. 73 a 78).Irresignada a Procuradoria da

Justiça interpôs recurso extraordiná-rio, sob alegação de negativa de vi-gência do art. 117 da Lei n? 7.210 de11-7-84 e divergência jurisprudencial(fls. 80 a 87).

Admitido pelo despacho de fl. 90,tramitou regularmente (fls. 92 a 94).

Perante esta Corte oficiou a Pro-curadoria da República, nos seguin-tes termos:

«1. O Ministério Público mani-festou recurso extraordinário con-tra acórdão do Tribunal de AlçadaCriminal do Estado de São Paulo,que manteve a prisão domiciliardeferida pelo Juiz de ExecuçõesCriminais ao sentenciado Francis-co José do Nascimento Oliveira,por falta de vaga na Casa do Alber-gado, alegando afronta ao art. 117da Lei Federal n? 7.210, de 11-7-84e dissídio jurisprudencial com Jul-gado do Tribunal de Justiça do mes-mo Estado.

2. Na hipótese versada no acór-dão de fls. 73/76, o direito do recor-rido à progressão foi reconhecidosem objeção do recorrente, situ-ando-se a controvérsia no seguintetrecho do voto do Juiz de AlçadaViana Santos:

`Tem o sagrado Direito Subjeti-vo ao livramento condicional ouao beneficio do regime aberto; aprisão-albergue; mormente porseu comportamento carcerário.

Foi-lhe deferido o regime aber-to, mas para cumprimento emalbergue domiciliar, eis que aCasa do Albergado de Santos nãotem vaga, para o agravado.

O desconto da pena é geridopelo Estado-Administração (Exe-

R.T.J. — 125 347

cutivo), quem detém o dever deprovidenciar o cumprimento dalei, também, quanto a infra-estrutura, cumpre a ele dotar osistema carcerário de estabeleci-mento adequado.

O agravado tem o iniludível di-reito ao albergue, portanto, esta-ria cumprindo pena em estabele-cimento inadequado, contrário áLei, mesmo em regime fechado.'(Fls. 74/75) . .

Na interposição do apelo raro(fls. 80/87) o Parquet estadual sus-tentou, pela alínea a do permissivoconstitucional, que a afronta aoart. 117 da Lei de Execução consis-tiu em concessão da prisão domici-liar em hipótese não prevista nessedispositivo, que só admite o be-nefício a condenado maior de sen-tenta anos ou acometido de doençagrave, bem como à condenada ges-tante, mãe de filho menor ou defi-Ciente. Quanto ao permissivo daalínea d, transcreveu Acórdão doTJSP que cuidara de hipótese idên-tica, mas com desfecho oposto aodo acórdão recorrido.

O despacho do Presidente doTribunal a quo (fl. 90) opôs aSúmula 400 do STF, sustentando arazoabilidade da tese adotada, masreconheceu o dissídio jurispruden-cial.

5. De início, parece pelo menosduvidoso que, entre as hipóteses decabimento do recurso extraordiná-rio previstas no atual artigo 325 doRegimento Interno, se inclua con-trovérsia específica da execuçãopenal. Quando o inciso III admite orecurso «nos processos por crime aque seja cominada pena de reclu-são» certamente se refere ao pro-cesso de conhecimento, condenató-rio, e não a qualquer procedimentopenal relativo a crime punido comreclusão, tanto que, para admitir omesmo recurso nas revisões crimi-nais de crimes também punidos

com reclusão, foi necessário o inci-so IV, expresso nesse sentido.

Vencida que seja esta preli-minar, o despacho se afigura cor-reto na parte em que rejeitou o re-curso pela alínea a. Quer o acór-dão, na hipótese vertente, tivessedeferido ou indeferido a prisãoaberta domiciliar, sempre poderiaser increpado de afrontar a lel. Deferido, como deferiu, está sendoimpugnado por desobedecer a dis-posição literal de um artigo de lei,o 117. Se, ao contrário, tivesse in-deferido a pretensão do preso co-mo quer o MP estadual, só porquenão há vagas na prisão albergue,afrontaria todo um ordenamentojurídico e uma plêiade de dispositi-vos, inclusive constitucionais, asse-guradores da individualização dapena (Constituição, art. 153, jj 13),da reserva legal no tocante á pena(Código Penal, art. 1?), do sistemaprogressivo no cumprimento da pe-na (art. 112 da Lei de Execução),do direito público subjetivo ao regi-me mais brando, presentes os re-quisitos legais (CP, art. 33, iE 2?, b),que, no conjunto, consagram a exis-tência de uma relação jurídica en-tre o condenado e o Estado.

Entre a afronta á lei federalpraticada pelo juiz e a praticadapela administração pública, quer oMinistério Público que prevaleçaesta última, às expensas do réu ecom a condescendência do Judiciá-rio. Com efeito, a Lei n? 7.210/84,vigente desde 11 de janeiro de 1985,nas suas disposições transitórias,conferiu aos Estados-membros oprazo de seis meses para instala-ção de casas de albergados, sópassível de ampliação por ato doConselho Nacional de Política Cri-minal e Penitenciária, sob pena dasuspensão de ajuda financèira daUnião (art. 203 e ff).

8. A afronta a um dispositivo le-gal, para ser afirmada, devereportar-se a todo o direito positi-

348 R.T.J. — 125

vo; do contrário ocorrerão situa-ções, como a de que se cuida, emque qualquer decisão pode ser ar-güida de ilegal. Os argumentos ex-pendidos na interposição poderiamser igualmente utilizados paracombater a solução nela preconiza-da. Entre uma decisão que aparen-temente afronta um artigo, mesmoassim a contrariu sensu, e umadecisão que, para obedecer tal ar-tigo, necessita negar todo um siste-ma jurídico e uma tradição doutri-nária de ver no cidadão um sujeitode direitos frente ao Estado, optouo juiz, confirmado pelo acórdão,pela solução mais favorável aoréu, nos estritos limites da Lei In-trodução ao Código Civil, art. 4? e5? e para evitar que ele permane-cesse preso por mais tempo do quea lei considera justo.

Os mesmos argumentos atéaqui alinhados servem para afas-tar a pretensão de se aplicar à hi-pótese a tese do acórdão trazido aconfronto, que não parece a me-lhor, data venta, ainda mais no Es-tado de São Paulo. Ademais, o ca-so apresenta algumas circunstân-cias particularíssimas no tocante àindividualização da pena, nem to-das presentes no paradigma. Con-denado a pena inferior a oito anose sendo primário, o recorrido pode•ria, se atendesse aos requisitossubjetivos, iniciar a execução emregime semi-aberto, mas fé-lo noregime fechado, até perfazer umterço do total, quando a lei se con-tenta com um sexto para ocorrer aprogressão (CP, art. 33, §§ 2?, b e3?; LEI', art. 112). O próprio pro-motor que se insurgiu contra a de-cisão do juiz singular admitiu queo recorrido tinha direito ao livra-mento condicional (CP, art. 83).Tudo isso foi sopesado na decisãoagravada de ri. 23, mantida às fls.65 e v.

Vé-se, assim, que a decisãoatacada não traduziu mera liber-

dade do julgador, mas a única al-ternativa possível, ou a mais ra-zoável, entre duas igualmente in-desejáveis, uma das quais, porém,juridicamente impossível, por com-pelir o réu a um castigo maior queo previsto em lei e reconhecido ju-risdicionalmente, (mica via de seimpor penas.

11. Face ao exposto, reiteramosa manifestação pelo não conheci-mento do recurso, ou, se conhecido,pela alínea d, pelo seu improvi-mento.

Brasília, 22 de janeiro de 1988 —Carlos Eduardo Vasconcelos, Pro-curador da República.

Aprovo: José Arnaldo Gonçalvesde Oliveira, Subprocurador-Geralda República.» (Fls. 101 a 106).

VOTO

O Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela-tor): Na espécie trata-se de procedi-mento penal que se relaciona comcrime punido com reclusão (art. 325,IH, do Reg. Interno). Portanto, ense-ja o recurso extraordinário.

Verifico, porém, que o caso sob aapreciação reveste-se de peculiari-dade. Além de ser réu primário, pu-nido com a pena mínima, conformereconhece o julgado, preenche os re-quisitos para o livramento condido-nal (fls. 74 a 75).

Assim, o órgão julgador adotouuma interpretação pelo menos ra-zoável (Súmula 400). Por outro lado,pondera o parecer da douta Procura-doria da República:

«Ademais, o caso apresenta al-gumas circunstâncias particula-ríssimas no tocante à individuali-zação da pena, nem todas presen-tes no paradigma. Condenado a pe-na inferior a das presentes no pa-radigma. Condenado a pena bife-

R.T.J. - 125

349

rior a oito anos e sendo primário, orecorrido poderia, se atendesse aosrequisitos subjetivos, iniciar a exe-cução em regime semi-aberto, masfé-lo no regime fechado, até perfa-zer um terço do total, quando a leise contenta com um sexto paraocorrer a progressão (CP, art. 33,

2?, b e 3?; LEP, art. 112). O pró-prio promotor que se insurgiu con-tra a decisão do juiz singular ad-mitiu que o recorrido tinha direitoao livramento condicional (CP,art. 83). Tudo isso foi sopesado nadecisão aprovada de fl. 23, manti-da às fls. 65 e v.» (fl. 105).Diante do exposto, em preliminar,

não conheço do recurso.

EXTRATO DA ATA

RE 111.552 — SP — Rel.: MinistroDjaci Falcão. Recte.: Ministério Pú-blico Estadual. Recdo.: FranciscoJosé do Nascimento Oliveira (Adv.:Reinaldo Cirilo).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Presidência do Senhor Ministro

Djaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Reza, Carlos Madei-ra e Célio Borla. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 26 de fevereiro de 1988— Hélio Francisco Marques, Secre-tário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO Ti? 111.801 — MG(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Célio Borla.Recorrente: Departamento Nacional de Estradas de Rodagem — DNER

— Recorrido& Alvaro Orlando Teixeira Leal e sua mulher.

RE. Requisitos indispensáveis. Desatende aos requisitos do art.321 do RISTF e, por isso, não é conhecivel o recurso extraordinárioque não faz a precisa indicação do dispositivo ou alínea que o autoriza(RE 105.081 — RS — In RTJ 113/14094413 e RE 113.942-2).

RE não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata deJulgamento e das notas taquigráfi-cas, á unanimidade de votos, em nãoconhecer do recurso.

Brasília, 18 de setembro de 1987 —Mui

RelaFalcão, Presidente — Caio

Boda, tor.

RECURSO EXTRAORDINÁRION? 111.801-8 — MG

Relator: O Sr. Ministro CélioBoda.

Recorrente: Departamento Na-cional de Estradas de Rodagem —DNER — Recorridos: Alvaro Orlan-do Teixeira Leal e sua mulher.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Célio Borla: O v.acórdão do qual se recorre extraor-dinariamente está assim ementado:

«Desapropriação. Cálculo de atua-lização.

— Improcede o inconformismo doexpropriante quanto à atualizaçãoda dívida. Pouco importa se se tratade um segundo ou terceiro pedido deatualização monetária. O que impor-ta é que houve demora no pagamen-

350 R.T.J. - 125

to da indenização, suficiente, nos ter-mos da Súmula n? 561 do PretórioExcelso, a ensejar o pagamento dacorreção monetária no período veri-ficado.

— Apelação improvida.» (Fl. 180).O eminente Ministro Gueiros

Leite, Vice-Presidente do eg. Tribu-nal Federal de Recursos, admitiu orecurso em despacho assim funda-mentado:

«Argumenta o recorrente ter oaresto divergido da Súmula 561-STF,que dispõe sobre a data do efeti-vo pagamento e não do efetivo re-cebimento. Sustenta que só é devi-da uma única parcela de correçãomonetária complementar, justamen-te porque sua apuração foi efetuadaaté 28-4-82, data do efetivo pagamen-to daquela indenização.

Examinando a alegada divergên-cia com matéria sumulada, parece-me que a Suprema Corte encaminha-se para o estabelecimento de parti-metros dentro da amplitude daSúmula 561, segundo resulta de deci-são no RE 78.499-3-SP, da lavra doeminente Ministro Aldir Passarinho,assim ementada:

«Desapropriação. Correção mone-tária.

A correção monetária deve incidirsobre o valor do imóvel desapropria-do se não liquidado o preço dentro doprazo previsto em lei.

Como, entretanto, efetuados os cál-culos, o pagamento não é imediato,quando chega ele a realizar-se, já seencontra defasado o valor apuradorelativo aos juros e correção mone-tária. Cabe, assim, atualizá-los até adata em que efetivamente foi liqui-dado o preço do principal, não ha-vendo margem, porém, para futurascorreções monetárias pela demorahavida no pagamento da correçãomonetária anterior. É que ela deveincidir tão-somente sobre o princi-

pai, sob pena de infindáveis e suces-sivos pagamentos de correção sobrecorreção.»

Assim, parece-me aconselhável asubida do recurso, com base no art.325, II, do RISTF, com a redação da-da pela Emenda Regimental n? 2/85.

A vista do exposto, admito o recur-so» (fls. 186/187).

parecer da douta Procuradoria-Geral da República é no sentido deque o recurso não comporta conheci-mento, mas, se conhecido for, mere-ce provimento.

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Céllo Borja (Rela-tor): O único fundamento do recursoextraordinário, como confessa o re-corrente (fl. 183) é a «manifesta di-vergência entre o acórdão recorridoe a Súmula 561 do STF, nos termosdo art. 325, item II, do RISTF, comoadiante se demonstra».

Ora, o art. 321 do Regimento Inter-no é taxativo no sentido de que «o re-curso extraordinário será interpostono prazo estabelecido na lei proces-sual pertinente, com precisa indica-ção do dispositivo ou alínea que o au-torize, dentre os casos previstos noart. 119, III, a, b, c, d, 139 e 143 daConstituição.» -

Nesse sentido o julgado no RE105.081-RS, in RTJ 113/1412, relatadopelo eminente Ministro RafaelMayer, quando disse:

«Essa disciplina estrita tem sidolimitadamente liberalizada, pelo Su-premo Tribunal Federal, quando hálapso excusável na indicação do dis-positivo, sendo apreensível, pelosfundamentos do recurso, que a umoutro, consentâneo, é que a partequis referir-se.

Essa excusa não alcança, porém,a inteira omissão, como é o caso dosautos. Omissão que não cabe á Corteou ao Presidente do Tribunal a quo

R.T.J. — 125 351

suprir, por ofensiva ao principio daigualdade processual e pela surpresaque se acarretaria à contraparte,mesmo porque, em tema de recursoextraordinário, não rege o principiojura novlt curia.»

Aliás, caso idêntico, julguei nestaTurma recentemente, ao apreciar oRE 113.342-2-MG, do mesmo recor-rente, onde salientei que, mesmo queassim não fosse, a decisão recorridaem nada discrepou da Súmula 581 doSupremo Tribunal Federal — pelocontrário, fez dela inteira aplicação.

Além do mais, pelo menos até ago-ra, o Supremo Tribunal não acolheua limitação dos precatórios, na mes-ma execução, com o que continuaplenamente autorizada a Súmula561. Aliás, este é o ponto de vista quedefendi no RE 107.784, ainda penden-te de julgamento.

Porque não atendidos os requisitosdo art. 321 do RISTF, não conheço dorecurso.

E o meu voto.

VOTO (PRELIMINAR)

O Sr. Ministro Aldir Passarinho(Relator): Sr. Presidente, a questãoestá sendo submetida à decisão doPleno, no tocante à repetição de cor-reção monetária, estando com vista,

se não me falha a memória, ao Mi-nistro Néri da Silveira. Mas, por cer-to, não há divergência manifestacom a Súmula 561. Nesse sentidomesmo, já tenho decidido, como Re-lator, e parece que ultimamente ailustre Vice-Presidência do TribunalFederal de Recursos, também já nãotem mandado subir os recursos ex-traordinários, em hipóteses seme-lhantes, à base da Súmula 561.

Com estas considerações, acompa-nho o Sr. Ministro Célio Borja.

EXTRATO DA ATA

RE 111.801 — MG — Rel.: MinistroCélio Borja. Recte.: DepartamentoNacional de Estradas de Rodagem— DNER (Advs.: Novély Vilanovada Silva Reis e outros). Recdos.: Al-varo Orlando Teixeira Leal e suamulher (Advs.: Wander Santos Pintoe outro).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Presidência do Senhor Ministro

Djaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Reza, Carlos Madei-ra e Célio Borja. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 18 de setembro de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 112.340 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.Recorrente: Universidade de São Paulo — Recorridos: Alvaro Augusto

Lopes e outros.

Recurso extraordinário.Falta de preqüestionamento da questão federal. Divergência da

Súmula 443 não configurada. Interpretação a contrario sensu.Não conhecimento.

352 RT.J. — 125

ACORDA°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por decisão unãnime, não co-nhecer do recurso.

Brasília, 17 de dezembro de 1987 —piaci Falcão, Presidente —Francisco Retek, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Francisco Rezek:Na origem, o presente recurso ex-traordinário mereceu do Vice-Presidente do Tribunal de Justiça deSão Paulo, Desembargador NereuCésar de Moraes, a análise seguinte:

«Trata-se de ação promovida porservidores autárquicos, objetivan-do o recebimento da denominadagratificação de curso noturno, combase em decretos estaduais, e nãona Resolução 570/74, com reper-cussão sobre adicionais e sexta-parte, além da gratificação do Re-gime de Dedicação Exclusiva, res-peitada a prescrição qüinqüenal. Apretensão foi acolhida em ambasas instâncias.

Rejeitados os embargos declara-tórios que opôs, recorre a Universi-dade de São Paulo com fundamen-to no artigo 119, inciso M, alíneasa e d, da Constituição Federal, sus-tentando que o julgado impugnadoviolou o artigo 116, da Lei Maior,além de haver afrontado a Súmula443, do Pretório Excelso.

Não houve violação do artigo 116da Constituição Federal, pois, co--mo proclamou o Pretório Excelso,no julgamento do RE 100.769-9, 1!Turma, Rel.: Min. Rafael Mayer, j.

24-9-84, DJ 11-2-85, «não está su-jeita ao quorum estatuído nos arts.116 e 144, V, da Constituição, a de-claração de Invalidade de Resolu-ção da Universidade, por contráriaa preceitos legais».

Não houve, também, manifestadivergência do julgado com aSúmula 443, tanto que a contrarie-dade apontada implica em inter-pretação a contrario sensu doenunciado no citado verbete.

A propósito, a Suprema Corte jádecidiu que «o óbice regimental sóé afastado por manifesto dissídiocom a Súmula, e não por pretensadivergência que só ocorreria porvia de interpretação abrangente doseu enunciado» (Ag. n? 95.492+AgRg — SP, Rel.: Min. Moreira Al-ves, 117 25-5-84, pág. 8226).

Afastadas as alegações de ofensaá Constituição e de afronta á Sú-mula, Incide, no mais, o veto do ar-tigo 325, inciso IV, allnea d, do Re-gimento Interno do Colendo Supre-mo Tribunal Federal, por se tratarde discussão sobre relação estatu-tária de serviço público civil, semdebate sobre a validade da relaçãojurídica fundamental.

Indefiro, pois, o processamentodo recurso extraordinário, semprejuízo da formação do instru-mento de relevância da questão fe-deral argüida» (fls. 1099/1100).

A esse despacho a Universidadenão contrapôs agravo de instrumen-to. Entretanto, acolhida em Conselhoa argüição de relevância, o recursoteve trânsito. Falou então, pelo Mi-nistério Público Federal, a Procura-dora Anadyr Rodrigues, concluindo:

se a Súmula 443 exige quenão tenha sido negado o próprio di-reito reclamado, ou a situaçãojurídica de que ele resulta — o que

R.T.J, — 125

353

pressupõe a inexistência de ato for-mal recusando o direito almejado—, e, In hoc casu, o direito quebuscaram os Autores havia sidoformalmente afastado pela ediçãoda discutida Resolução n? 570, de26 de dezembro de 1974, parece evi-dente qub existiu ato denegatóriodo próprio direito reclamado.

Prova disso é que, só uma vezremovido do mundo jurídico o atodenegatório — com a declaraçãode sua frivolidade —, poderiam osAutores voltar a submeter-se ao or-denamento próprio aos demais ser-vidores estaduais, como pretende-ram.

Ocorre que esta ação só foi ajui-zada em 16 de junho de 1983 (fl. 2),quando, há multo, há havia escoa-do o qüinqüênio prescricional dasações voltadas contra a FazendaPública.

Configuradas estão, portanto, anegativa de vigência do art. 1? doDecreto n? 20.910, de 1932, e a dis-cordância do julgado, com relaçãoá Súmula 443.

O parecer é, por conseguinte, deque o Recurso Extraordinário com-porta conhecimento e provimento,para que fique pronunciada a pres-crição consumada» (fls. 1219/1220).It o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Reset(Relator): O Desembargador Nereude Moraes tem inteira razão quandolembra, primeiro, que a questãoconstitucional já foi, em caso igual,deslindado por esta Corte, em senti-do que abona o acórdão recorrido. Aquestão sumular (Súmula 443), comoficou também claro no despacho deindeferimento, prende-se a uma pre-

tensão interpretativa da súmula porextensão, e a contrario suou. Temosestatuído que manifesta divergênciada súmula não é isso. Se fossepossível discutir neste caso o temasumular, caberia de inicio firmarconvicção sobre um tópico contro-vertido e preliminar: pode uma reso-lução normativa ser considerada co-mo aquele ato que nega a pretensão,e do qual começa a correr o prazoprescricional? Não adentraremos,entretanto, esta interessante discus-são, porque aqui não se pretendeque o acórdão recorrido tenha sidohostil ao enunciado da súmula, masa seu desdobramento a contrariosenso.

O que sobra, em conseqüência, é atese da afronta ao direito federal or-dinário, em razão do acolhimento darelevância em sessão de Conselho.Isso posto, volto-me para a quintaparte da petição do recurso extraor-dinário (fls. 1055 e seguintes), ondese desenvolve o arrazoado pertinenteá relevância. Ali, depois de reconhe-cer a incidência do óbice regimental,a Universidade argumenta:

«O decisório recorrido, como vis-to, para acolher a postulação ajui-zada, viu-se compelido a afastar aResolução n? 570, de 28 de dezem-bro de 1974, que os autores apon-tam como lesiva do seu direito. Va-le dizer que o direito dos postulan-tes fora negado por aquele atonormativo, cuja desconstituiçãopleiteiam para obterem o restabe-lecimento da gratificação anterior-mente estipulada em bases supe-riores nos Decretos estaduais n?19.279/50, 19.280/50 e 20.810/51, sobo argumento de que referida reso-lução, que reduziu essa gratifica-ção, seria inconstitucional.

Não obstante ser do rigor a inci-dência no caso do principio firma-do no artigo 1? do Decreto Federal

359 R.T.J. — 125

n? 20.910, de 1932, o julgado recor-rido entendeu de aplicar a regra doartigo 3? do mesmo diploma legalque, à evidência, contempla hipóte-se diversa.

Ora, exata e precisamente nesseponto acha-se inserida relevantequestão federal, desde que, por umlado, envolve a interpretação eaplicação das disposições do citadoDecreto Federal n? 20.910, de 6 dejaneiro de 1932, que «regula a pres-crição qüinqüenal» e por outro la-do, está em jogo a primazia da Su-prema Corte no concernente à tute-la político-constitucional, sem con-traste do direito objetivo da Uni-ão.

Como atiladamente observa JoséAfonso da Silva, «fundamental-mente, a função do Supremo naFederação está em exercer vigi-lância no sentido de controlar a va-lidade das leis em face da Consti-tuição, defender a autoridade doDireito federal em face do Direitoestadual e municipal, e ainda velarpela unidade da aplicação do Direi-to federal em todo o pais. Vela, emsuma, pela constitucionalidade dasleis, por sua hierarquia, sua autori-dade, sua interpretação uniforme.»(Do Recurso Extraordinário no Di-reito Processual Brasileiro, pág.17).

Além disso, consoante doutrinaOrlando Gomes, «a prescrição sefunda no interesse social da segu-rança do comércio jurídico, e é in-contestável sua natureza de Institu-to de ordem pública». (Introduçãoao Direito Civil, pág. 425).

E, pois, manifesta a relevânciadesta questão federal, com vistas aensejar que a Suprema Corte,cumprindo uma de suas funçõesfundamentais, vele pela unidadeda aplicação do Direito Federal.

Cuida-se de afastar a interpreta-ção dos artigos 1? e 3? do DecretoFederal n? 20.910, de 1932, adotadano Acórdão recorrido em flagranteantagonismo ao entendimento doExcelso Pretório, inclusive com-pendiado, como demonstrado noitem precedente desta peça, naSúmula 443» (fls. 1057-1059).

Está visto, desse modo, que o di-reito federal ordinário a que o acór-dão recorrido alegadamente negouvigência, ou em cuja implementaçãodivergiu de outras cortes do Pais,resume-se no artigo 1? do Decreto n?20.910, de 6 de janeiro de 1932. Essanorma, contudo, está radicalmenteausente do acórdão recorrido, e a ela— quer á sua exata identificação nu-mérica, quer a seu conteúdo, ou aqualquer tese deste depreensivel —não disseram respeito os embargosdeclaratórios com que a Universida-de atacou a decisão ora trazida aexame. Não há, pois, como conhecerdo presente recurso extraordinário.Nesse sentido é meu voto.

EXTRATO DA ATA

RE 112.340 — SP — Rel.: MinistroFrancisco Rezek. Rede.: Universi-dade de São Paulo (Advs.: Maria Te-reza Dutra Carrijo, José AlbertoCouto Maciel e outros). Recdos.: Al-varo Augusto Lopes e outros (Advs.:João Bernardino Garcia Gonzaga eoutro).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Presidência do Senhor Ministro

Djaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Borja. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 17 de dezembro de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

R.T.J. - 125 355

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 112.413 — RJ(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Recorrente: Hoger Carvalho de Oliveira — Recorrido: Instituto Nacional

da Previdência Social — INPS.

Ação de acidente do trabalho. Prescrição.A aposentadoria por invalidez, concedida pela autarquia previ-

denciária, marca o inicio do prazo qüinqüenal da prescrição da açãoacidentária. Inteligência do art. 18, H, primeira parte da Lei n? 6.367,de 19-10-76.

Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, emnão conhecer do recurso.

Brasília, 5 de maio de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Carlos Madeira: Odespacho que admitiu o recurso pelaalínea d, tem este teor (fls. 62/63):

«Trata-se de recurso extraordi-nário interposto contra a decisãoproferida pela Egrégia 6! Câmaradeste Tribunal, nos autos da Apela-ção n? 44.072, com fundamento noartigo 119, inciso III, alíneas a e dda Constituição FederalEm relação à alínea a,

configura-se incabível o apelo ex-tremo, uma vez que não foi alega-da ofensa a preceito constitucional,nos termos do artigo 325 do Regi-mento Interno do Egrégio SupremoTribunal Federal, com a redaçãodada pela Emenda Regimental n?2 de 9-12-85.

No tocante à alínea d, alega o re-corrente que a decisão recorridafoi prolatada em manifesta diver-

gência com a Súmula 230 do Pretó-rio Excelso.

Acontece que, com referência àSúmula 230 é de se salientar queexiste pronunciamento do EgrégioSupremo Tribunal Federal adap-tando esta Súmula à legislaçãoposterior, no sentido de que o exa-me médico, termo inicial da pres-crição não há que ser feito obriga-toriamente em Juízo (RE 82.025-RTJ 76/947).

Entretanto, tendo em vistatratar-se de matéria ainda contro-vertida, entendendo algumas deci-sões a permanência da validade dareferida Súmula, torna-se conve-niente o exame da hipótese peloEgrégio Supremo Tribunal Fede-ral.

Nestas condições, admito o re-curso pela alínea d do inciso III doartigo 119 da Constituição Federal.

Ademais, tendo sido argüida arelevância da questão federal, de-ve a mesma ser apreciada poraquela Corte de Justiça, nos ter-mos do artigo 327, caput do seurespectivo Regimento Interno.

Prossiga-se.»

Com as razões do recorrente, subi-ram os autos a esta Corte. Argüiçãode relevância acolhida pelo Eg. Con-selho.

E o relatório.

358 R.T.J. - 125

VOTO

Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): O recorrente, segundo ex-põe na inicial, gozou auxilio doençada previdência social a partir de 24de julho de 1972, sendo aposentadopor invalidez em 1? de novembro de1977, em virtude da patologia de co-luna.

Em novembro de 1984, propôs estanão, pleiteando a transformação daaposentadoria previdenciária emaposentadoria acidentaria, em facede sua invalidez decorrer de doençaProfissional.

que tem entendido a Corte é quea concessão da aposentadoria por in-validez importa em reconhecimento,pela autarquia previdenciária, da in-capacidade permanente do segura-do. E, pois, da data da aposentado-ria que começa a correr o lapsoprescricional de cinco anos para apropositura da ação acidentaria (RE109298, Relator Ministro Rafael Ma-yer, 23-5-86).

que, em se tratando de moléstiaprofissional, a prescrição corre apartir da entrada do pedido de be-neficio no INPS ou do afastamentodo trabalho, quando este for poste-rior aquela (art. 18, II, primeira par-te, da Lel n? 6.367, de 19-10-76).

A prescrição só começa a fluir doexame pericial que comprovar o ne-xo de causalidade entre o trabalho ea doença, quando não reconhecidoeste pela previdência social.

No caso do recorrente, a sua apo-sentadoria por invalidez em novem-bro de 1977, fixou o inicio do prazoprescrkional, que se expirou em no-vembro de 1982.

Já estava prescrita a ação, em no-vembro de 1994.

Não conheço do recurso.E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RE 112.413 — RJ — Rel.: MinistroCarlos Madeira. Recta.: Roger Car-valho de Oliveira (Adv.: Dayse Mar-tins Couto). Recdo.: Instituto Nacio-nal da Previdência Social — INPS(Adv.: Gustavo Cortes Barroso).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Presidência do Senhor Ministro

Djaci Falcão. Presentes á Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Céllo Boda. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 5 de maio de 1987 — HélioFrancisco Marques, Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nt 112.853 — RS(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Recorrentes: Companhia de Navegação Uoyd Brasileiro e outra — Re-

corrida: Manah S/A.

Transporte marítimo internacional de granel sólido. Responsabili-dade das empresas armadora e afretadora do navio transportador,por quebra de peso da carga, perante a destinatária (empresa impor-tadora).

Acórdão recorrido que condenou as rés ao pagamento do valor doprejuízo

ebra naturda importadora

890., deduzido apenas o percentual corresponden-

te :I qual (0,

R.T.J. - 125 957

Recurso extraordinário da afretadora, com alegação de negativade vigência dos artigos , I 2?, da C F, 102, 103, 104, 529, 617 e711 do Código Comercial,

1 3?53

, 4?, 5?, 8? e 9?, e. do Decreto-Uil n583,

? 118/67,1.218, XI, do CPC, de dissídio com as Súmulas 281 e 535 e com outrosjulgados.

Temas constitucional e legais não prequestionados (Súmulas 282 e356) ou impertinentes á solução da causa, inocorrente, pois, a negati-va de vigência dos dispositivos focalizados.

Dissídio com as Súmulas e julgados paradigmas não caracteriza-do (art. 322 do RI e Súmula 291).

Precedentes do STF.Recurso extraordinário não conhecido.

ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata doJulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emnão conhecer do recurso.

Brasília, 30 de junho de 1987 —Moreira Alves, Presidente — SydneySambes, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Sydney Sambes: 1.Trata-se de ação, com rito su-marlasimo, proposta por importado-ra de cloreto de potássio granulado(a granel), contra as empresas ar-madora e afretadora do navio, visan-do ressarcimento do prejuízo decor-rente de quebra de peso da carga.

Foi julgada procedente, em parte,pela r. sentença de fls. 178/186, con-firmada, em grau de apelação, peloE. Tribunal de Alçada do Estado doRio Grande do Sul (fls. 208/213 — 2?volume).

2. Rejeitados seus embargos de-claratórios (fls. 215/240), as rés-ape-lantes interpuseram recurso extra-ordinário (fls. 245/423), que foi in-deferido pelo ilustre Presidente doE. Tribunal a quo, às fls. 601/604, 3?volume, verbis:

«I — Companhia de NavegaçãoLloyd Brasileiro e Elservicio Inc.

representada no Brasil por Ham-burg Sud Agencias Marítimas S/Arecorrem extraordinariamente dadecisão da Quarta Câmara Cível,proferida em ação de indenização(transporte marítimo), ajuizadapor Manah S/A, em 3 de dezembrode 1984.

A recorrente dizendo-se ampara-da nas alíneas a e d, do artigo 119,inciso III, da Constituição Federal,alega ofensa ao 0 2? ao artigo 153,da Lel Maior, divergência com asSúmulas 281 e 535, do Supremo Tri-bunal Federal, negativa de vigên-cia aos artigos 102, 103, 104, 529,582, 617 e 711 do Código Comerciale os artigos 3?, 4?, 5?, 6? e 9? letra edo Decreto-Lei n? 116/67, e o art.1.218, inciso XI do Código de Pro-cesso Civil, bem como divergênciajurisprudencial.

II — Ofensa à Constituição.1. A matéria constitucional in-

vocada não foi objeto de pregues-tlonamento, incidindo a Súmula282. A invocação do tema somentenos embargos, visando a abrir avia extraordinária, não é suficientepara embasar o recurso, pois osembargos declaratórios pressu-põem omissão a ser suprida, o que.in casu, não ocorreu.

Por outro lado, cumpre conotarque é assente o entendimento doSupremo Tribunal Federal, confor-me despacho exarado no Agravode Instrumento n? 102.901-3-RS, do

358 R.T.J. — 125

DJU de 16-5-85, pág. 7.215, no senti-do de que a ofensa à Constituição,para afastar óbices regimentais(RISTF, art. 325, caput), há de serdireta e imediata, não por viaobliqua. «Não se atende, assim, noparticular, à exigência regimental,se, para concluir pela existênciada vulneração, a norma constitu-cional, é necessário, antes, decidiracerca da procedência, ou não, doacórdão, quanto a seus fundamen-tos baseados em lei ordinária ounão, no contrato ou na prova».

Divergência com a Súmula261.

Assentou a Câmara, seguindo ori-entação jurisprudencial do Egré-gio Supremo Tribunal Federal,que a vistoria não tem forma sa-cramental e pode ser extrajudi-cial. Por isso, considerou válida eeficaz aquela instrumentada pelaadministração dos portos ou pelaReceita Federal, que constatou fal-ta de mercadoria de diversos con-signatários, transportada a granel,em comum, e somente apurável noúltimo porto, mormente porque oconteúdo material da certidão ja-mais foi impugnado. Ou seja, o fa-to da falta de mercadoria perma-neceu incontroverso nos autos. Osmotivos da falta, estes sim, foramabjeto de discussão e tema de pro-va.

Divergência com a Súmula535.

Também não ocorre divergênciacom a Súmula 535 porque essa serefere a transporte de combustí-veis líquidos, a granel, enquan-to, na espécie, cuida-se de granéissólidos ou líquidos com compo-sição química inteiramente diversa.

A recorrente pretende, é verda-de, se faça interpretação extensivada Súmula, de modo a incidir so-bre o transporte de granéis em ge-ral; todavia, força é convir, a ne-gativa de tal interpretação não po-

de ser qualificada como ofensiva àSúmula, até porque não permiteela tal elastério.

Realmente, examinando-se os a-córdãos referidos na Súmula, veri-fica-se que eles sempre tratam dediferença de peso de óleo combus-tível (M 43.649-GB), óleo mineralcombustível e gasolina (RE n?58.997-GB). gasolina (ERE 59.136-GB) óleo combustível (ERE 59.309-SP), gasolina (ERE 60.063-GB) eóleo cru (RE 60.064-GB).

Não há, a pretendida identidade,ainda que genérica, com as ques-tões debatidas neste processo. ASúmula portanto não incide.

III — Óbice regimental ao re-curso extraordinário.

Finalmente, consigna-se que orecurso encontra óbice no art. 325,incisos V, letra b e VIII, do Regi-mento Interno do Supremo Tribu-nal Federal, pois além de tratar-sede procedimento sumarissimo, ovalor da causa Cri 7.209.349, estáaquém da alçada regimental fixa-da em Cr$ 16.656.000, ou seja, cemvezes o maior salário mínimo vi-gente no pais á época da propositu-ra da demanda, eis que uniformesos pronunciamentos das instânciasordinárias.

Isso posto, nego seguimento aorecurso. Determino o processa-mento da argüição de relevânciada questão federal na forma do ar-tigo 328, I e III, do Regimento In-terno do Supremo Tribunal Fede-ral.

Publique-se e intimem-se.Porto Alegre, 8 de maio de 1986

— Ernani Graeff, Presidente» (fls.601/604).3. Todavia, o RE acabou subin-

do, devidamente processado, porqueacolhida argüição de relevância daquestão federal, prejudicado o agra-vo de instrumento (ambos os autosem apenso).

E o relatório.

R.T.J. - 125 359

VOTO

O Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator): 1. Acolhida, que foi, peloE. Conselho, a argüição de relevân-cia da questão federal, restaram su-perados os óbices regimentais, que aE. Presidência do Tribunal a quo en-contrara ã subida do RE (fl. 603).

Na apelação, as rés, ora recor-rentes, haviam questionado o dispos-to na Constituição Federal (art. 153,§ 2?), no Decreto-Lei n? 116/67 (arti-gos 1?, § 1?, 3?, § 2?, 6?), nos artigos617 e 618, § 2?, do Código Comercial,756 do CPC de 1939 e 1.218-X11, doCPC de 1973 (fls. 187/192).

Nenhum deles foi examinado no v.acórdão da apelação (fls. 208/213) epor isso, nos embargos declarató-rios, as apelantes renovaram o ques-tionamento de alguns deles: art. 153,§ 2?, da CF; art. 6? do Decreto-Lein? 116/67; arts. 617 e 618 do C. Comer-cial; arts. 756 do CPC de 1939 e 1.218-XI, do CPC de 1973 (fls. 215/221).

Não podiam, porém, nessa oportu-nidade, questionar novos dispositi-vos, como fizeram, por exemplo,com os artigos 4? e 5? do Decreto-Lei n? 116/67, 711, 102 e 104 do C. Co--mercial (fls. 215/221).

E certo que, no acórdão daapelação, haviam sido adotados ex-pressamente os fundamentos de ou-tro aresto, na Apelação Civel n?183.058.312 (fls. 212/3).

Todavia, nessa oportunidade, nãofoi junta aos autos cópia desse pre-cedente. Não a exibiram as rés, orarecorrentes, ao ensejo dos embar-gos declaratórios já referidos (fls.215/234). Nem mesmo quando da in-terposição do recurso extraordinário(fls. 243/423 e 425/600).

Só o fizeram, tardiamente, quandodas razões do RE., às fls. 681/686.

4. Isso bastaria para que não fos-sem objeto de exame, agora, as ale-

fiações de negativa de vigência dosdispositivos só focalizados nos em-bargos declaratórios (não antes naapelação), ou até mais tarde no pró-prio RE.

5. De qualquer maneira, nãoocorreu violação a qualquer dos dis-positivos neste último apontados.

5.1. Quanto ao art. 153, § 2?, daCF, não houve afronta, pois a ofensaa preceito constitucional, para queautorize o recurso extraordinário, háde ser «direta e frontal» (RTJ-107.661), «direta e não por via refle-xa» (RTJ-105/704, 105/1.279, 94/462,60/294, 84/120, 103/188, 104/191).

o v. acórdão recorrido não ne-gou a existência de lei, que respon-sabilize as rés, ora recorrentes, pelaindenização.

Ao contrário, afirmou-a.Se a invocou adequada ou inade-

quadamente, nem por isso afrontoudiretamente a norma constitucional.

5.2. Os artigos 102, 104, 529, 582 e711 do Código Comercial não interes-sam à solução da causa.

o art. 103 foi aplicado correta-mente, em se tratando de transportemarítimo.

Quanto ao art. 617, é de se lembrarque, no caso, foi adotada umaperícia genérica, realizada nos autosda referida Apelação Cível n?183.058.312, da 4! Câmara Ove' (fls.184 e 212) e que, em principio, é ad-missivel.

uma reinterpretação dessa pro-va não pode ser alcançada em RE(Súmula 279).

5.3. Quanto ao art. 1.218, incisoXI, do CPC de 1973, cabe observarque, no caso, não se trata de fazen-das avariadas, mas de simples que-

380 R.T.J. — 125

bra de peso de carga, comprovadapor outros meios.

5.4. Os dispositivos do Decreto-Lei n? 116/67 não são invocáveis na es-pécie, pois não se trata aqui de rela-ções entre transportador marítimo eentidades portuárias, mas, sim, entreempresas armadora e afretadora denavio e a importadora, destinatá-ria da carga, reguladas pelo art. 103do C. Comercial.

Igualmente não ocorreu mani-festa divergência com a Súmula 261do STF, segundo a qual apara a açãode indenização, em caso de avaria, édispensável que a vistoria se faça ju-dicialmente».

E que aqui não se trata de avaria.Ademais, o v. acórdão recorrido nãodecidiu que vistoria judicial seja in-dispensável.

Diz, por outro lado, a Súmula535 que, «na importação, a granel,de combustíveis líquidos, é ad-missivel a diferença de peso, paramais, até 4%, motivada pelas varia-ções previstas no Decreto-Lei n?1.028, de 4-1-1939, art. 1?».

Ora, aqui não se trata de importa-ção, a granel, de combustíveis líqui-dos. Mas, sim, de sólido (cloreto depotássio granulado).

Por fim, o dissídio jurispruden-ciai não resultou demonstrado, comobservancia do art. 322 do RISTF eda Súmula 291.

De resto, o E. Plenário destaCorte, em situação semelhante à dosautos, ao julgar o RE 109.466-4-RS,relatado pelo eminente Ministro Os-car Corrêa, em data de 2-10-1986,deixou assentado:

«Transporte marítimo. Granéissólidos. Inocorrência de questão

constitucional e não prequestiona-mento dos textos legais invocados.

Dissídio sumular (Sumulas 261 e535) inexistente.

Acórdão padrão fundado no exa-me da matéria, como comprovadaem perícia precedida, de oficio, pe-la Corte a tato.

Ausência de divergência comaresto deste STF, proferido em hi-pótese diversa.

RE não conhecido» (votaçãounânime).

No mesmo sentido: RR.EE109.365-0-RS, 109.607-1-RS, 109.967-4-RS, 110.027-3-RS e 112.564-1-RS.

Por tais razões e pelo maisque ficou dito nesses vv. acórdãos doSupremo Tribunal Federal, não co-nheço do recurso.

EXTRATO DA ATA

RE 112.853 — RS — Rei.: MinistroSydney Sanches. Rectes.: Compa-nhia de Navegação Uoyd Brasileiroe outro (Advs.: Luiz F. F. Athanásioe outro). Recda.: Manah S/A (Advs.:Nely Quint, Hugo Mósca e outros).

Decisão: Recurso não conhecido.Unanime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Oscar Corrêa, Sydney Sanches eOctavio Gallotti. Subprocurador-Geral da República, Dr. AristidesJunqueira Alvarenga.

Brasília, 30 de junho de 1987 —António Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

R.T.J. — 125

381

RECURSO EXTRAORDINARIO PH 112.947 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos MadeiraRecorrente: Ideal Transportes e Guindastes Ltda. — Recorrida: Prefei-

tura Municipal de Santos

Tributário. ISS na locação de bens móveis. O que se destaca,utllitatis causa, na locação de bens móveis, não é apenas o uso e gozoda coisa, mas sua utilização na prestação de uni serviço. Leva-se emconta a realidade económica, que é a atividade que se presta com obem móvel, e não a mera obrigação de dar, que caracteriza o contra-to de locação, segundo o artigo 1.188 do Código Civil. Na locado deguindastes, o que tem relevo é a atividade com eles desenvolvida. queadquire consistência económica, de modo a tornar-se um índice de ca-pacidade contribtativa do Imposto sobre Serviços.

Recurso não conhecido.

ACORDA°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado Julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, emnão conhecer do recurso.

Brasília, 19 de Junho de 1987 —Diaci Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Carlos Madeira:Trata-se de embargos à execuçãofiscal, visando desconstituir titulo dedívida ativa oriunda de tributação deImposto Sobre Serviços de locaçãode bens móveis.

Julgados procedentes, em parte,para excluir acréscimo de 20% atítulo de encargos com a inscriçãoda divida. E a Quarta Camara do Pri-meiro tribunal de Alçada Civil, porvotação imantam, negou provimentoaos recursos, confirmando a senten-ça de primeiro grau.

Recorre extraordinariamente aembargante, com fundamento nasalíneas a e c do permissivo consti-tucional. alegando negativa de vis

gência aos arts. 24. IL da CartaMagna e 110 do Código TributárioNacional. Sustenta ser inconstitucio-nal a incidência de ISS na locação debens móveis.

Houve impugnação as fls. 100/182.O despacho do Ilustre Presidente

em exercido do Tribunal a caio defe-riu o processamento do recurso pe-las letras a e c.

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): Tem a recorrente por ati-vidade a locação de guindastes. E asentença de primeiro grau entendeuque o tributo que lhe está sendo exi-gido não tem por fato gerador ape-nas a locação de guindada. mas osserviços de guindastes e empilhadei-ras. Dai a Incidência do ISS. na for-ma prevista no item 52 da Lista deServiços anexa ao Decreto-Lei n?834/09.

Sustenta a recorrente que a loca-ção de coisas móveis não pode serfato gerador do imposto sobre servi-ços. Adota. para tanto, a conceitua-do civilista do contrato dd=de coisas móveis, para

362 R.T.J. — 125

de simples serviço prestado, que étributável.

Em polêmica travada, entre 1928 e1930, com Lotais Trotabas, afirmavaFrançois Geny que, sendo o direitoum todo incindivel, uma unidade sis-temática, o direito tributário, comodireito de sobreposição, que buscaem outras categorias jurídicas osconceitos de que se utiliza para fazerincidir os tributos, nada mais faz doque servir-se de institutos e noçõesalheias, às quais lhe é vedado darum tratamento próprio. Assim,quando se faz remissão à venda, àpropriedade, à sucessão como fatosgeradores de tributos, a referência éplena a institutos de direito civil, demodo que o conceito utilizado temque ser concebido ou acolhido com aregulação e o sentido que lhe dá essadisciplina jurídica.

E o que pretende a ora recorrente,com o irrogável brilho de seu doutopatrono.

Não há, porém, recepção plena deum conceito de direito privado, nemda regulação pertinente a esse direi-to, pois a referência a ele é feita, emdireito tributário, utilitatis causa.Importa ter em consideração quesão diversos os modos de tratar osmesmos institutos jurídicos e as fi-nalidades que se tem em vista, aoconsiderá-los, diferem profundamen-te em cada uma das disciplinas. As-sim, quando o direito civil regula acompra e venda, ele tem em vista osefeitos da relação jurídica e as con-dições de validade necessárias paraa sua constituição. Quando o direitotributário, entretanto, encara a mes-ma relação, ele tem o objetivo de aiencontrar um índice de capacidadeeconômica, ou de capacidade contri-butiva e, assim, considerando a ope-ração como um fato econômico, des-pido de todo o formalismo e de todasas aparências, vai ali buscar ou veri-ficar a realidade econômica subja-cente, através do exame da circula-ção de riqueza que se operou.

A lição é do saudoso Amilcar deAraújo Falcão e se ajusta perfeita-mente à hipótese em exame.

O que se destaca, utilitatis causa,na locação, não é apenas o uso e go-zo da coisa, mas sua utilização naprestação de um serviço. Ai está ofato gerador do Imposto Sobre Servi-ços. Leva-se em conta a realidadeeconômica, que é a atividade que sepresta com o bem móvel, e não amera obrigação de dar, que caracte-riza a locação, segundo o art. 1.188do Código Civil. Só assim o poder detributar pode alcançar a relaçãojurídica, levando-se em conta a suaconsistência econômica.

E o que se dá precisamente na lo-cação de guindastes, por parte da re-corrente: não se cuida de locação decoisas móveis, mas do fato da suaatividade, desenvolvida com os guin-dastes, pelos serviços que com elessão prestados, adquirirem consistên-cia econômica, de modo a tornar umíndice de capacidade contributiva doImposto Sobre Serviços.

Não há, assim, contrariedade ánorma do art. 24, II, da Constituiçãoou violação ao art. 110 do Código Tri-butário Nacional, na inclusão da lo-cação de bens móveis na Lista deServiços do Decreto-Lei n? 406/68,com a redação do Decreto-Lei 834/69.

Não conheço do recurso.

E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RE 112.947 — SP — Rel.: MinistroCarlos Madeira. Recte.: Ideal Trans-portes e Guindastes Ltda (Advs.: Ru-bens Miranda de Carvalho e outro).Recda.: Prefeitura Municipal deSantos (Adv.: Hortência MartinezSoares).

Decisão: Não conhecido. Unânime.

R.T.J. - 125

363

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Francisco Rezeke Carlos Madeira. Ausentes, justifi-cadamente, os Srs. Ministros AldirPassarinho e eólio Borja. Subpro-

curador-Geral da República, o Dr.Mauro Leite Soares.

Brasília, 10 de junho de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N! 113.263 — SP(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Recorrente: Companhia do Metropolitano de São Paulo — METRO —

Recorrida: Luzia Lopes de Oliveira.

Correção monetária em desapropriação direta.Acórdão recorrido que determinou a incidência da correção mo-

netária, com base na Lel n? 6.899/81, a partir da data do laudo, semobserváncia do interstício de um ano previsto no parágrafo 2? do art.26 do Decreto-Lei n? 3.365/41.

Inocorrência de divergência com a Súmula 475 do STF, não de-monstrado, também, o dissídio com outros acórdãos (Súmulas 281 e291).

Temas legais não prequestionados (Súmulas 282 e 356).Recurso prejudicado, quanto ao parágrafo 2? do art. 26 do

Decreto-Lei n? 3.365/41, porque já decorrido mais de um ano, entre adata do laudo e a do julgamento do RE.

Não conhecimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dojulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emnão conhecer do recurso.

Brasília, 4 de setembro de 1987 —Moreira Alves, Presidente — SydneySanches, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Sydney Sanches: ACompanhia do Metropolitano de SãoPaulo — METRO moveu, contra aora recorrida, ação de desapropria-ção, julgada procedente pelo MM.Juiz de primeiro grau (fls. 124/125).

Inconformada com a determinaçãode cálculo de correção monetária, naforma da Lei n? 6.899/81, a partir dolaudo, sem observância do inters-tício de um ano (fls. 125/V?), a auto-ra apelou, mas o Eg. Tribunal deJustiça do Estado de São Paulo ne-gou provimento ao recurso (fl. 154).

No recurso extraordinário, combase nas alíneas a e d do permissivoconstitucional, a apelante alega nega-tiva de vigência dos artigos 26, 2?,do Decreto-Lei n? 3.365/41, com a re-dação das Leis n?s 4.686/65 e6.306/75, 2?, 2?, da LICC e 59 do Có-digo Civil, além de manifesta diver-gência com a Súmula 475-STF edissídio com outros julgados (fls.156/166).

O recurso foi indeferido pela r. de-cisão de fls. 172/173, em face do óbi-

964 R.T.J. - 125

ce do art. 325, V, c do RISTF, masacabou subindo, devidamente pro-cessado, porque acolhida a argüiçãode relevância da questão federal(autos em apenso).

o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator) 1. O acolhimento da argüi-ção de relevância afastou o óbice doart. 325, V, c, do Regimento Internodo Supremo Tribunal Federal, com aredação anterior á Emenda Regi-mental n? 2/85.

2. Entretanto, pela alínea d dopermissivo constitucional, o RE nãopode ser conhecido.

2.1. Quanto à alegação de mani-festa divergência com a Súmula 475,porque o apelo, nesse ponto, não foiadmitido na origem, sem agravo deinstrumento (v. fls. 172/174). Ade-mais, a Súmula é anterior á Lei n?6.899/81, não a tendo, pois, levadoem conta.

2.2. Quanto ao dissídio com os jul-gados referidos às fls. 163/164 porqueemanados do mesmo Tribunal deorigem (Súmula 281).

2.3. E, quanto ao paradigma doTribunal de Justiça do Distrito Fede-ral, porque indicado mediante sim-ples reprodução de ementa publica-da no Diário da Justiça da União, ealegadamente transcrito de Boletimda AASP, que, conforme anota Theo-tõnlo Negrão, apor mais respeitávelque seja», não é «um repertório au-torizado, nem oficial, de jurispru-dência do STF, como exige o Regi-mento Interno da Corte» (despachodo Min. Antonio Neder, no Ag.81.372-SP, DJU 5-5-81, pág. 3911, 3!Col.) (Tlleotónio Negrão, CPC e le-gislação processual em vigor, Ed.RT, 17! ed., atualizada até 5-1-87,pág. 884, nota 4 ao art. 99 doRISTF).

3. Quanto á letra a, o que se ale-art. negativa de vigência do (1 2? doart. 26 da Lei de Desapropriações,com a redação dada pelas Leis n?s4.686/85 e 6.304/75, do art. 2!, 2!, daLICC e do art. 59 do C. Civil.

Contudo, as normas da LICC e doC. Civil não foram questionadas nov. acórdão recorrido (fl. 154), inci-dindo, a respeito, as Súmulas 282 e356.

Já o 2? do art 26 da Lei de Desa-propriações, com a redação dada pe-las leis referidas, foi posto em con-fronto com a Lei n! 6.899/81, haven-do o v. acórdão, com base nesta últi-ma, determinado a correção monetá-ria, a partir do laudo, mesmo sem ointerstício de um ano, àquela altura.

Sucede que, nesse ponto, o recursorestou prejudicado, pois, no momen-to do presente julgamento, já decor-reu o referido prazo anual, datado,que está, o laudo de 20-6-1985 (fl. 78).

Por tudo isso, não conheço do re-curso.

EXTRATO DA ATA

RE 113.263— SP — Rel.: MinistroSydney Sanches. Recte.: Companhiado Metropolitano de São Paulo —METRO (Adv.: Agilberto de L. Fi-gueiredo Santos). Recda.: Luzia Lo-pes de Oliveira (Adv.: Flávio Augus-to Asprino).

Decisão: Recurso não conhecido.Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes á Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Sydney Sanches e Octavio Gailot-ti. Ausente jtastificadamente. o Se-nhor Ministro Oscar Corrêa. Subpro-curador-Geral da República, Dr. Cláu-dio Lemos Fonteles.

Brasília, 4 de setembro de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

R.T.J. - 125 365

RECURSO EXTRAORDINÁRIO CRIMINAL Nt 113.= — SP(Tribunal Pleno)

Relator: O Sr. Ministro Célio Borla.Recorrente: Ministério Público do Estado de São Paulo — Recorrido:

Carlos Corrêa.

Penal. Prescrição Retroativa. Extinção da Ptmlbilidade.Decorridos, quando do exame do recurso extraordinário, mais de

dois anos da sentença de 1? grau, da qual o Ministério Público não re-correu, que condenou o réu a 8 (seis) meses de detenção e multa (art.109, VI, CP) sem a ocorrência de qualquer nova causa interruptiva daprescrição, é de reconhecer extinta a punibilidade, julgando-se preju-dicado o apelo do parquet estadual.

ACORDA0

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em SessãoPlenária, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade de votos, em de-clarar extinta a punibilidade e julgarprejudicado o recurso.

Brasília, 1? de julho de 1987 —Rafael Mayer, Presidente — CélioBorla, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Célio Borla: CarlosCorrêa, denunciado como incurso noart. 16, da Lei n? 6.368/76, por trazerconsigo, para uso próprio, um cigar-ro de maconha, foi condenado, emprimeira instância, a seis meses dedetenção e pagamento de 20 (vinte)dias-multa, com direito a sumis, peloperíodo de 2 (dois) anos, sem condi-ções especiais (sentença de fls.89/90).

O eg. Tribunal de Justiça do Esta-do de São Paulo, em assentada de30-9435, todavia, julgando apelaçãointerposta unicamente pelo réu, con-siderou «que a porção de maconhaapreendida em poder do apelante, éínfima, ... portanto, não tem condi-ções de produzir distorções psíquicasou físicas ...» absolvendo-o, em con-seqüência.

Dessa decisão, o ilustre Procu-rador-Geral da Justiça recorre ex-traordinariamente, com fundamentonas alíneas a e d do permissivo cons-titucional, argüindo a relevância daquestão federal, sustentando a nega-tiva de vigência do art. 16 da men-cionada Lei n? 6.368/76 e dissídio ju-risprudencial que aponta (fls. 123/134).

Em face do óbice do art. 325, I, doRegimento Interno deste Tribunal(redação anterior à Emenda n?2/85), o apelo extremo foi processa-do em decorrência do acolhimentoda argüição de relevância (autosapensos).

Processado o extraordinário, vie-ram os autos a esta Corte, propug-nando o recorrido em suas contra-razões, datadas de 1? de abril do cor-rente ano, pela declaração da pres-crição da pretensão punitiva do Es-tado, «porque transcorreram maisde dois anos entre a r. sentença con-denatória recorrível e a data de ho-je, sem que tenha havido outra cau-sa interruptiva dessa prescrição, es-tando este pedido amparado pelo dis-posto no art. 109, VI, do Código Pe-nal vigente» (fls. 163/164).

A douta Procuradoria-Geral daRepública, através do ilustrado pa-recer de fls. 169/170, opina pelo co-nhecimento do recurso pela alínea d,caracterizada a divergência juris-

366 R.T.J. — 125

prudencial, e pelo provimento, na li-nha do entendimento da corte a res-peito da controvérsia.

o relatório.

VOTO

Sr. Ministro Célio Borja (Rela-tor): Comprovado o dissídio jurispru-dencial, como se vê do parecer dadouta Procuradoria-Geral da Repú-blica (fls. 169/170), é de ser conheci-do o recurso, pela alínea d, artigo119, III, da Constituição Federal.

In casu, o conhecimento levaria aoprovimento do recurso do MinistérioPúblico local, pois é conhecida apacífica jurisprudência da Corte Su-prema, contrária à absolvição dosacusados de porte de pequena quan-tidade de maconha (RE 109.553-9 —(Cr) SP, Ministro Oscar Corrêa; RE109.619-5-SP, Ministro Octavio Gal-lota; RE 109.435-4-SP, Ministro CélioBorja).

Alega-se, porém, a intercorrênciada prescrição da pretensão punitivado Estado

«porque transcorreram mais dedois anos entre a r. sentença conde-natória recorrível e a data de hoje(1?-4-1987) sem que tenha havido ou-tra causa interruptiva dessa prescri-ção, estando esse pedido amparadopelo disposto no art. 109, VI, do Códi-go Penal vigente, portanto» (fls.163/164).

acrescenta o recorrido:«A r. decisão ainda não transitou

em julgado e o quantum da pena nãopode ser aumentado, em face de nãoter o Ministério Público recorrido,daí requerermos o reconhecimentoda prescrição da pretensão punitiva,como de justiça» (fl. 164).2 de 02 (dois) anos a prescrição

que corresponde à pena inferior a 01(um) ano (art. 109, VI, CP).

art. 111, I, CP, fixa, como termoinicial da prescrição, quando nãotransitada a sentença final — e é es-

te o caso dos autos — o dia em que ocrime se consumou, ou seja, 8 de de-zembro de 1983 (fls. 5 e 90).Interrompeu-a a sentença condenató-ria recorrível (art. 117, IV, CP). Pro

-latada em 8 de novembro de 1984 (fl.90v.), quando, igualmente, se deu aaudiência admonitória (fl. 91v.). Daícomeça a correr todo o prazo, nova-mente (art. 117, 42?, CP).

José Paulo da Costa Júnior lecio-na, a propósito:

«A prescrição da pretensão puniti-va desdobra-se em duas subespécies:a prescrição intercorrente e a pres-crição retroativa.

A primeira hipótese, de prescriçãointercorrente, cuida da prescriçãoda pretensão punitiva de que somen-te o réu tenha recorrido, incidindosobre o lapso temporal entre a sen-tença e a decisão de segunda instân-cia. Ou então quando, mesmo haven-do recurso do órgão acusatório, te-nha sido ele Improvido. Ao revés,não haverá prescrição intercorrentese o recurso da acusação for provi-do, qualquer que seja o aumento dapena imposta pela instancia supe-rior.» (Comentários ao Código Pe

-nal, Parte Geral, Vo. I, Saraiva, 1986,pág. 487).

No caso, não houve recurso do Mi-nistério Público da sentença conde-natória recorrível; mas, recorreu oacusado (v. fls. 93 e 1(17). Não haviatranscorrido, até então, o lapso tem-poral de dois anos, não havendo,pois, que suscitar a ocorrência deprescrição, seja pela prescrição daação penal (v. RECr. 104.500-1-SP,Ministro Néri da Silveira) ou da pre-tensão punitiva.

O mesmo Autor (loc. cit.) esclare-ce, sublinhando que o recurso do Mi-nistério Público ou do assistente,

«para obstar a prescrição, deverávisar o aumento da pena privativade liberdade infligida.»

Na hipótese dos autos, parece-meocorrer a prescrição retroativa, ain-

R.T.J. - 125 367

da que se tome como seu dies a quoo da sentença condenatórla (8-11-1984), abandonadas que fossem asteses que advogam termo inicialmais remoto.

Ex positis, julgo prejudicado o re-curso porque prescrita a pretensãopunitiva.

É o meu voto.EXTRATO DA ATA

RECr 113.323 — SP — Rel.: Min.Célio Borja. Recte.: Ministério Públi-co do Estado de São Paulo. Recdo.:Carlos Corrêa (Adv.: Marcondes deGodoy Andrade).

Decisão: Declarou-se extinta a pu-nibilidade e julgou-se prejudicado orecurso. Decisão unânime.

Presidência do Senhor MinistroRafael Mayer. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Moreira Alves,Néri da Silveira, Oscar Corrêa, AldirPassarinho, Sydney Sanches, Octa-vio Gallotti, Carlos Madeira e CélioBoda. Ausentes, justificadamente,os Senhores Ministros Djaci Falcão eFrancisco Rezek. Procurador-Geralda República, o Dr. José Paulo Sepú-veda Pertence.

Brasília, 1 de julho de 1987 — Dr.Alberto Veronese Aguiar, Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 113.701 — SI'(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Moreira Alves.Recorrente: Estado de São Paulo — Recorrido: Laboratórios Pfizer

Ltda.ICM. Extensão de isenção a produto importado de pais signatário

do GATT sendo isento o similar nacional. Interpretação do 11 do ar-tigo 23 da Carta Magna, na redação dada pela Emenda 23/83.

O mencionado dispositivo constitucional é regra de explicitaçãodo âmbito de incidência do ICM a nortear a legislação estadual que oinstituir, e não norma de instituição direta desse imposto nessa hipó-tese de incidência, ou preceito proibitivo da concessão de isenção,nesse caso, do tributo por torça de lei estadual ou de tratado interna-cional.

Ainda nos Estados em que a legislação local instituiu o ICM paraessa hipótese de incidência permitida pela Emenda Constitucional n?23/83, se também a legislação estadual concede isenção á saída de de-terminado produto, essa isenção se estende ao similar importado depais signatário do GATT, e isso porque aquela lei instituidora tem deser interpretada, para não ofender o disposto no artigo 98 do CTN, co-mo aplicável a todos os casos que não os ressalvados, em virtude deextensão de isenção, pelos tratados Internacionais.

Recurso extraordinário não conhecido.

ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos es-tes autos, acordam os Ministros daPrimeira Turma do Supremo Tribu-nal Federal, na conformidade da ata

do julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, nãoconhecer do recurso.

Brasília, 2 de outubro de 1987 —Moreira Alves, Presidente e Relator.

368 R.T.J. - 125

RELATORIO

O Sr. Ministro Moreira Alves: Eeste o teor do acórdão recorrido (fls.209/210):

«Acordam, em Décima SegundaCâmara Civil do Tribunal de Justi-ça do Estado de São Paulo, por vo-tação unãnime, adotado o relatórioconstante dos autos como parte in-tegrante deste, dar provimento àapelação.

A apelante pretende o reconheci-mento de estar Isenta de ICM a im-portação de produto veterinário,por circular sem pagamento dessetributo o similar nacional.

A sentença, que denegou a segu-rança por entender seu douto pro-lator que a isenção não mais vigo-ra, por revogada pela EmendaConstitucional n? 23/83, não mere-ce subsistir.

A Emenda Constitucional referi-da somente se refere a importaçãode matéria-prima destinada a In-dustrialização de produto tributá-vel e a máquinas destinadas a inte-grar o ativo fixo das empresas im-portadoras. Não alcança as isen-ções decorrentes de tatados inter-nacionais, que continuam em vigore asseguram tratamento tarifárioIdêntico ao similar nacional.

O Tratado do GATT continua emvigor, bem como a Súmula n? 575do Egrégio Supremo Tribunal Fe-deral, que estende a isenção conce-dida ao produto nacional ao simi-lar importado de nação subscritorado GATT ou da ALALC. Aplicado oenunciado da Súmula, impõe o pro-vimento da apelação para conce-der a segurança, invertidos os ônusda sucumbência, por incontroversocircular os produtos veterináriosnacionais com isenção e ser dessanatureza o «Citrato de Morantel»importado de pais subscritor doGATT.

Ante essas razões fica a apela-ção provida e a segurança concedi-da, suportando a vencida os ônusda sucumbêncla.»Interposto recurso extraordinário,

foi ele admitido pelo seguinte despa-cho (fls. 242/245):

«1. Trata-se de mandado de se-gurança impetrado por PFIZERS/A contra ato do Coordenador daAdministração Tributária, visandoà exoneração de pagamento deICM incidente sobre mercadoriaimportada de pais signatário doGATT (o Regulamento do ICM pre-vê isenção para o similar nacio-nal), mesmo após o advento daEmenda Constitucional n! 23/83 eda Lei Estadual n? 3.991/83.

Inconformada com a concessãoda segurança, por acórdão unâni-me da E. 12! Câmara Civil desteTribunal, a Fazenda do Estado re-corre extraordinariamente, comfundamento no art. 119, III, letrasa e d, da CR: alega que o arestonegou vigência ao art. 23, § 11, daCarta Magna, divergindo tambémda jurisprudência de outros Tribu-nais.

A Empresa apresentou a impug-nação de fls. 233/7, e a Procu-radoria-Geral de Justiça o parecerde fls. 239/40, opinando pelo indefe-rimento do recurso.

2. A Emenda Constitucional ii?23, de 1? de dezembro de 1983,acrescentou ao art. 23 da CartaMagna o § 11, que dispõe: «O im-posto a que se refere o item II (nocaso, o ICM) incidirá, também, so-bre entrada, em estabelecimentocomercial, industrial ou produtor,de mercadoria importada do exte-rior por seu titular, inclusive quan-do se tratar de bens destinados aconsumo ou ao ativo fixo do esta-belecimento».

O v. e fundamentado acórdão re-corrido, ao sustentar a compatibili-dade do novo preceito constitucio-

R.T.J. - 125 369

nal com o favor fiscal decorrentedo Tratado Internacional referidonos autos (GATT), terá violadodata venta, o art. 23, II, (1 11, daConstituição da República.

Ressalta a impetrante que o im-posto é indevido porque os benssão originários de pais signatáriodo GATT. Logo, apesar da modifi-cação introduzida, no âmbito fede-ral, pela Emenda Constitucional nt29/83 e, no âmbito estadual, pelaLei Ws 3.991/83, o tributo, em ope-rações como a descrita nos autos,não seria devido, em face da regrado art. 98 do CTN.

Não é bem assim.A regra instituída nesse disposi-

tivo legal não pode contrapor-se ànova orientação adotada na Consti-tuição da República. Em tais con-dições, se na vigência da EmendaConstitucional n? 1/89, como am-plamente reconhecido, não se exi-gia o recolhimento do tributo emoperações que envolvessem a im-

rtação de bens destinados aousopo

, consumo ou integração no ati-vo fixo das Empresas, a partir davigência da EC n? 23/83 esse proce-dimento foi reformulado, passandoa ser devido o ICM.

Quando o legislador pátrio esta-beleceu, no aludido art. 98 do CTN,que os Tratados e Convenções In-ternacionais revogam ou modifi-cam a disciplina tributária interna,por certo teve em mente a legisla-ção ordinária ou complementar,nunca a própria Constituição, leisuprema do Pais, contra cuja letranão podem prevalecer outras cons-tituições, nem muito menos leis,decretos ou tratados.

Isso permite concluir que o v.aresto recorrido terá infringido anorma inscrita no art. 23, II, 11,da Carta Magna, na redação dadapela Emenda n? 23/83, que estabe-leceu a incidência do ICM em ope-rações de entrada, no Pais, debens importados.

Por outro lado, e em conseqüên-cia mesmo do que acima ficou as-sentado, será de considerar-se tera decisão recorrida, ainda que im-plicitamente, negado vigência aoart. 2?, $ 1?, da Lei de Introduçãoao Código Civil. E que a entradados bens ocorreu já na vigência daLel Estadual n? 3.991/83, que, esta-belecendo nova hipótese de inci-dência do ICM, revogou, nessa par-te, a legislação anterior (Lei n?440/74 e seu decreto regulamenta-dor).

Deve, pois, prosperar o RE, pelopermissivo constitucional da letraa.

O dissídio pretoriano — letrad — não restou bem configurado,pois, com os paradigmas trazidos aconfronto, a Fazenda não cuidouda demonstração analítica da pre-tendida divergência, desatendendoa diretrizes do art. 322 do RI doCol. Supremo Tribunal Federal ede sua Súmula 291.

Defiro, ante todo o exposto, oprocessamento do RE, pelo funda-mento da letra a do permissivoconstitucional, observando-se, quan-to à argüição de relevância daquestão federal, o disposto no art.328, $ 1?, do RI do Col. SupremoTribunal Federal.»

É o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Moreira Alves (Pre-

sidente): 1. O artigo 23 da Constitui-ção Federal — como decorre !negai-vocadamente de seu caput («Compe-tente aos Estados e ao Distrito Fede-ral instituir impostos sobre: ...») — énorma que estabelece a competênciados Estados e do Distrito Federalpara a instituição de impostos.

O que implica dizer que ele nãoinstitui diretamente os impostos emcausa em favor dos Estados e doDistrito Federal, mas dá competên-cia a estes para, por lei local, fazê-lo.

370 R.T.J. - 125

Portanto, em virtude da EmendaConstitucional n? 23/83, depois de es-se dispositivo, no inciso II, ter carac-terizado que compete aos Estados eao Distrito Federal instituir impostosobre «operações relativas à circula-ção de mercadorias, realizadas porprodutores, industriais e comercian-tes, imposto que não será cumulati-vo e do qual se abaterá, nos termosdo disposto em lei complementar, omontante cobrado nas anteriores pe-lo mesmo ou por outro Estado. Aisenção ou não-incidência, salvo de-terminação em contrário da legisla-ção, não implicará crédito de impos-to para abatimento daquele inciden-te nas operações seguintes», a nor-ma, a ele referente, contida no § 11(«O imposto a que se refere o item IIincidirá também, sobre a entrada,em estabelecimento comercial, in-dustrial ou produtor, de mercadoriaimportada do exterior por seu titu-lar, inclusive quando se tratar debens destinados a consumo ou ativofixo do estabelecimento»), somentepoderá ser entendida como regra deexplicitação do âmbito de incidênciadesse tributo a nortear a legislaçãoestadual que o instituir, e não, evi-dentemente, como norma de institui-ção direta desse imposto nessa hipó-tese de incidência, ou como preceitoproibitivo da concessão de isenção,nesse caso, do tributo por força delei estadual ou de tratado internacio-nal, até porque — com relação a es-ta última hipótese — o pressupostonecessário da isenção é a incidência.

Assim, e sendo certo que, pela le-gislação do Estado de São Paulo, co-mo acentua o acórdão recorrido, osimilar nacional goza de isenção deICM, essa isenção terá de ser esten-dida ao produto importado de paissignatário do GATT, em virtude dotratado internacional (Súmula 575).

Essa extensão continua de pé, umavez que o § 11 do artigo 23 da Consti-tuição não instituiu diretamente talhipótese de incidência a qualquer en-

trada de mercadoria importada doexterior, nem pode ser entendido co- -mo preceito proibitivo de isenção, e,conseqüentemente, de extensão dela.

E, ainda nos Estados em que a le-gislação local instituiu o ICM paraessa hipótese de incidência permiti-da pela Emenda Constitucional n?23/83, se também a legislação esta-dual concede isenção à saída de de-terminado produto, essa isenção seestende ao similar importado de paissignatário do GATT, e isso porqueaquela lei instituidora tem de ser in-terpretada, para não ofender o dis-posto no artigo 98 do CTN, comoaplicável a todos os casos que não osressalvados, em virtude de extensãode isenção, pelos tratados internacio-nais. O artigo 98 do CTN, nesse caso,é levado em consideração, não paraafastar a norma do § 11 do artigo 23da Carta Magna, mas para Impedirque a aplicação generalizada da leiestadual não observe a extensão deisenção resultante de tratado inter-nacional.

Nesse sentido, aliás, em hipóteseanáloga à presente, esta PrimeiraTurma, ao Julgar o RE 109.817, em31-10-86, Relator o Sr. Ministro Ra-fael Mayer, decidiu:

«Nenhuma incompatibilidadeocorre entre o advento do parágra-fo 11 do artigo 23 da ConstituiçãoFederal (Emenda 23/83) e o reco-nhecimento da isenção do ICM ex-tensivamente ao produto importa-do de pais signatário do GATT, go-zando de isenção o similar nacio-nal».Igualmente, decidiu também esta

Turma, mais recentemente, ao Jul-gar o RE 113.711, de que fui relator.

2. Em face do exposto, não co--nheço do presente recurso.

EXTRATO DA ATA

RE 113.701 — SP — Rel.: MinistroMoreira Alves. Recte.: Estado deSão Paulo (Adva.: Ana Lúcia Ama-

R.T.J. - 125 371

ral). Recda.: Laboratórios PfizerLtda. (Adv.: Jair José Spuri) .

Decisão: Recurso não conhecido.Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Oscar Corrêa,

Sydney Sanches e Octavio Gallotti.Ausente, justificadamente, o SenhorMinistro Néri da Silveira. Sub-procurador-Geral da República, Dr.José Arnaldo Gonçalves de Oliveira.

Brasília, 2 de outubro de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 113.709 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Célio Boda.Recorrente: Estado de São Paulo — Recorrida: Exportadora e Importa-

dora Ruibal Ltda.

O importador de frutas frescas procedentes de país signatário doGATT e membro da ALALC, de acordo com a orientação jurispruden-dal dominante nesta Corte, não poderá utilizar o crédito presumidode 80% do valor do ICM que beneficiaria o produtor nacional.

Falta de prequestionamento dos dispositivos invocados pelo recor-rente (Súmulas 282 e 356).

Dissídio jurisprudencial caracterizado.RE conhecido e provido.

ACORDA°

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade de votos, em co-nhecer do recurso e lhe dar provi-mento.

Brasília, 30 de junho de 1987Aldir Passarinho, PresidenteCélio Boda, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Céllo Boda: A hipó-tese dos autos é de mandado de se-gurança impetrado por empresa im-portadora de maçãs da Argentina,visando ao reconhecimento do direi-to de beneficiar-se do crédito presu-

mido de 80%, tal como ocorre com oproduto similar nacional.

A sentença concedeu a segurança,para garantir à impetrante o créditopretendido, e o Tribunal de Justiçado Estado de São Paulo, pela suaDécima Nona Câmara Cível, pormaioria, negou o apelo da Fazenda.

Daí o recurso extraordinário, pelasalíneas a e d do permissivo, com

alegação de ofensa ao Convênio ICM07 e 03/80; art. 1? da Lei Complemen-tar n? 24/75; art. 23, ij 6? da Constitui-ção Federal; divergência com o RE102.480-1 e RE n? 100.105-4 — RS des-te Tribunal e com a Súmula 575.

Inadmitido o recurso pelo despa-cho de fls. 173/174, foi, contudo, de-terminado o seu processamento, emface do provimento do Ag. 113.322,em apenso.

E o relatório.

972 R.T.J. - 125

VOTOO Sr. Ministro Célio Boda (Rela-

tor): A matéria em discussão é bemconhecida deste Tribunal, havendodecisões de ambas as Turmas quenão beneficiam os importadores defrutas frescas pois, segundo reitera-do entendimento, o crédito presumi-do de 80% somente poderá ser conce-dido ao produtor nacional.

Precedentes: RE 102.480, Rel. Mi-nistro Carlos Madeira, RE 100.105,Rel. Ministro Moreira Alves, RE112.691-4 — SP, por mim relatado,dentre outros.

Os dispositivos indicados pelo re-corrente não foram ventilados na de-cisão recorrida (Súmulas 282 e 356).

Caracterizado o dissídio com asdecisões acima mencionadas conhe-ço do rpcurso e lhe dou provimentopara cassar a segurança.

o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RE 113.709 — SP — Rei.: MinistroCélio Boda. Recte.: Estado de SãoPaulo (Adva.: Maria Mafalda Thin).Recda.: Exportadora e ImportadoraRulbal Ltda. (Adv.: Alvaro Beneditode Oliveira).

Decisão: Conhecido e provido nostermos do voto do Ministro Relatór.Unânime.

Presidência do Senhor Ministro Al-dir Passarinho.

Presentes à Sessão os SenhoresMinistros Carlos Madeira e CélioBorla. Ausentes, justificadamente, osSrs. Ministros Djaci Falcão, Presi-dente, e Francisco Rezek. Subpro-curador-Geral da República, o Dr.Mauro Leite Soares.

Brasília, 30 de junho de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 113.980 — MD(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Sydney Sanches.Recorrente: Instituto de Administração Financeira da Previdência e As-

sistência Social — LAPAS — Recorrida: Gercllia Queiroz de Oliveira.

Recurso. Alçada. Apelação não conhecida pelo TFR com base noart. 4? da Lei te 8.825, de 22-9-1980.

Existência, porém, no âmbito da apelação, de matéria constitu-cional, que, com o não conhecimento, restou Inapreciada e cujo aces-so ao STF não pode ser interceptado, segundo precedentes da Corte.

Recurso extraordinário conhecido e provido para que o TFR,afastada a questão relativa à alçada, julgue a apelação como dedireito.

ACÓRDÃO melra Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata do

Vistos, relatados e discutidos estes julgamento e das notas taquigráfi-

autos, acordam os Ministros da Pri- cas, por unanimidade de votos, em

R.T.J. - 125

373

conhecer do recurso e dar-lhe provi-mento.

Brasília, 1? de setembro de 1987 —Néri da Silveira, Presidente — Syd-ney Sanches, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Sydney Sanches: 1.Trata-se de ação movida por viúvade trabalhador rural, reclamandopensão previdenclária, em face daLei Complementar n? 11/71, que foijulgada procedente pela r. sentençade fls. 46/49.

O Eg. Tribunal Federal de Recursos não conheceu da apelação doLAPAS, em acórdão com a seguinteementa:

«Processual civil. Alçada. Lei n?6.825/80.

Prolatada a sentença na vigênciada Lel n? 6.825, de 1980, há de seatender o disposto no seu art. 4?,que prevê, apenas, embargos in-fringentes do julgado ou embargosdeclaratórios, para o mesmo Juizo,quando o valor da causa esteja noslimites ali especificados, comoocorre na espécie.

Recurso não conhecido» (fl. 77).O Instituto opôs embargos de-

claratórios, que foram rejeitados (fl.89).

No recurso extraordinário (fls.91/93), interposto com base nasalíneas a e d do permissivo constitu-cional, alega negativa de vigênciados artigos 153, 3? e 165, parágrafoúnico, da Constituição Federal edissídio com a Súmula 613 do STF.

4. O apelo extremo subiu a estaCorte, devidamente processado, por-que provido o agravo de instrumento(autos em apenso).

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sydney Sanches(Relator): 1. O Instituto, ora recor-rente, vem, desde a contestação (fls.18/25), alegando que, sem a fonte decusteio, não é possível conceder-sepensão às viúvas de trabalhadoresrurais, falecidos antes do advento daLel Complementar n? 11/71, sob penade ofensa ao art. 165, parágrafo úni-co, da Constituição e de inadmissívelaplicação retroativa de tal diploma.

Voltou a sustentar a tese nas ra-zões de apelação (fls. 51/60), comampla citação de decisões desta Su-prema Corte, bem como nos embar-gos de declaração (fls. 79/80).

2. Ora, no julgamento do RE100.100-3, esta Eg. Turma entendeuque «versando apelação matéria ex-clusivamente constitucional, seria deconsiderar, com relação ao art. 4? daLei n? 6.825/80, a construção juris-prudencial constante do Ag. Inst.73.999 (RTJ 88/131), sob pena de in-terceptaçáo do acesso da questãoconstitucional ao Supremo TribunalFederal» (RE 100.100-3 DJ 9-9-83 —Rei: Min. Rafael Mayer.

Também a Segunda Turma, no jul-gamento do RE 108.365-4, estabele-ceu que, «versando a apelação maté-ria constitucional, não cabe fique in-terceptado o recurso na primeirainstância, sem que seja possibilitadoo exame de tema daquela questãopor aplicação de óbice decorrente doart. 4? da Lei n? 6.825/80» (RE108.3654 DJ 6-6-86 — Rel. Min. AldirPassarinho.

A mesma tese foi adotada no jul-gamento do RE 110.147-4:

«Não é de ter-se o valor da cau-sa, mesmo com relação ao art. 4?da Lei n? 6.825/80, como impeditivodo recurso, se o tema for de natu-reza constitucional, sob pena de in-terceptado do acesso da questãoconstitucional ao Supremo Tribu-

374 R.T.J. — 125

nal Federal (jurisprudência: RE100.100 (RTJ-107/438); Ag 73.999(RTJ-88/131-TP); AI 63.550 (ver vo-tos então proferidos sobre a ques-tão in RTJ 76/482-487)». (RE110.147-4 DJ 6-3-87).

3. Ante o exposto, conheço do re-curso e lhe dou provimento para queo Eg. Tribunal Federal de Recursos,afastado o veto da alçada recursal,prossiga no julgamento da apelação,como de direito.

EXTRATO DA ATA

RE 113.960 — MG — Rel.: MinistroSydney Sanches. Recte.: Instituto deAdministração Financeira da Previ-dência e Assistência Social — IAPAS(Advs.: Solange Maria Correia de

Souza Campello e outros). Recda.:Gercilia Queiroz de Oliveira (Advs.:Antonio Gonçalves de Oliveira e ou-tros).

Decisão: Por unanimidade a Tur-ma conheceu do recurso e lhe deuprovimento.

Presidência do Senhor MinistroNéri da Silveira na ausência justifi-

cada do Ministro Moreira Alves(Presidente). Presentes à Sessão osSenhores Ministros Oscar Corrêa,Sydney Sanches e Octavio Gallotti.Subprocurador-Geral da República,Dr. Aristides Junqueira.

Brasília, 1 de setembro de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 114.011 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Célio Borja.Recorrente: Estado de São Paulo — Recorridos: Antônio Ferreira de Me-

lo e outros.

Policiais militares. Vantagens. Hipótese em que a falta de com-provação do excesso remuneratório, vedado pelo art. 13, fl 4?, daConstituição Federal, perante as instancias ordinárias, não enseja oconhecimento do recurso extraordinário.

RE não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade de votos, em nãoconhecer do recurso.

Brasília, 11 de setembro de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CélioBorja, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Célio Boja: AntônioFerreira de Melo e outros, todos po-liciais militares, moveram ação or-dinária objetivando o recálculo deseus proventos, de modo que haja in-cidência reciproca entre os adicio-nais por tempo de serviço e as grati-ficações de Regime Especial de Tra-balho Policial, a partir da Lei Com-plementar n? 255/81. A pretensão foiacolhida em ambas as instâncias.

R.T.J. — 125

375

Os embargos de declaração opos-tos pela vencida foram rejeitados(fls. 134/135).

Recorreu extraordinariamente aFazenda do Estado, com base no art.119, III, a e d, da Constituição Fede-ral, alegando que o v. acórdão recor-rido violou os arts. 116, 13, § 4?, daConstituição Federal e divergiu dojulgado no RE 104.218-4.

Indeferido o recurso pelo despachode fls. 143/144, dei provimento aoagravo n? 115.622-9 (em apenso), pa-ra melhor exame.

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Célio Borja (Rela-tor): Conforme aponta o despacho in-deferitórlo do apelo, a ação em quefoi interposto o presente recurso ex-traordinário não consta do elencoexaustivo do art. 325 do RegimentoInterno do Supremo Tribunal Fede-ral, na redação da Emenda Regi-mental n? 2/85.

Ocorre que existe alegação deofensa à Constituição Federal, noseu art. 13, § 4? que reza:

«As policias militares, instituídaspara a manutenção da ordem públi-ca nos Estados, nos Territórios e noDistrito Federal, e os corpos de bom-beiros militares são consideradosforças auxiliares, reserva do Exérci-to, não podendo seus postos ou gra-duações ter remuneração superior áfixada para os postos e graduaçõescorrespondentes no Exército.»

Em caso semelhante ao destes au-tos, no julgamento do RE 110.865-7-SP, nesta Turma, afirmei que, emações condenatórias, como a dos au-tos, não pode o Juiz apequenar o di-

reito inicialmente reclamado, combase em alegação não provada.

Se o direito local, interpretado eaplicado pela Justiça dos Estados,dá aos autores da ação alguma van-tagem pecuniária que a norma cons-titucional da União (art. 13, § 4?)condiciona a determinado fato —qual seja, o de não exceder remune-ração «fixada para os postos e gra-duações correspondentes no Exérci-to» — sem a sua prova não há queaplicar a regra federal restritiva.

Poder-se-ia, até mesmo admitirque o Estado de São Paulo, em cadacaso, viesse a recusar o pagamentodo excesso, acaso verificado, invo-cando o preceito da lei fundamentalnacional. Não tendo, porém, provadoque tal anomalia jurídica ocorre incaso, não cabe ao Poder Judiciáriosuprir-lhe a omissão, estatuindo ge-nericamente, em caráter quase nor-mativo e mais declaratório do quecondenatório.

Isto posto, não conheço do recurso.E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

RE 114.011 — SP — Rel.: MinistroCélio Boda . Recte.: Estado de SãoPaulo (Adv.: Antonio Carlos Marcon-des Machado). Recdos.: Antonio Fer-reira de Melo e outros (Adv.:TemIstocles Brito de Sena).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Presidência do Senhor Ministro

Djaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Francisco Rezek,Carlos Madeira e Célio Borja. Au-sente, justificadamente o Sr. Minis-tro Aldir Passarinho. Subpro-curador-Geral da República, o Dr.Mauro Leite Soares.

Brasília, 11 de setembro de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

376 R.T.J. - 125

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 114.187 — (AgRg) — SP

Relator: O Sr. Ministro Francisco Rezek.Agravante: Companhia Leco de Produtos Alimentícios — Agravados: Es-

meralda Lupoli Ludovice e outros.Agravo regimental. Improcedência da alegação de que o recurso

extraordinário veio fundamentado na divergência da Súmula 229.Agravo regimental não provido.

ACÓRDÃO VOTOO Sr. Ministro Francisco Reza

(Relator): Não procede o argumentoda agravante, quando diz que o ex-traordinário veio fundamentado tam-bém na divergência da Súmula 229.

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por decisão unânime, negarprovimento ao Agravo Regimental.

Brasília, 9 de dezembro de 1986 —Djad Falcão, Presidente — Fran-cisco Reza, Relator.

RELATÓRIO

Sr. Ministro Francisco Reza:Neguei seguimento a agravo com oseguinte despacho:

«A decisão que, na origem, ne-gou trânsito ao recurso extremo éde inteira procedência quando con-sidera prematura a alegação de di-vergência da Súmula 490, ante acircunstância de ter o acórdão re-corrido «remetido á liquidação aaferição do quantum da renda,oportunidade em que deverá ser fi-xado o valor do real salário do fa-lecido». Rejeitada a argüição derelevância, e incidente sobre a es-pécie o veto do art. 325-V-b do Re-gimento Interno, o recurso não temperspectiva de êxito.

Nego seguimento ao agravo.Arquive-se» (fl. 223).agravo regimental sustenta que

recurso extraordinário «teve outromais decisivo fundamento, que foi

a violação do preceito da Súmula229, com a qual entrou em flagrantedissídio o v. acórdão embargado».

o relatório.

Examinando a petição de recursoextraordinário verifiquei que porduas vezes mencionou-se, de passa-gem, a referida Súmula, mas semdizer-se que tenha sido objeto deafronta. Tanto é certo que não eraintenção da recorrente invocá-la co-mo fundamento, pela alínea d, que odespacho que negou trânsito ao ex-traordinário a ela não fez menção, eo agravo de instrumento não se in-surgiu contra isso.

Ante o exposto, nego provimentoao agravo regimental.

EXTRATO DA ATAAg 114.187 (AgRg) — SP — Rel.:

Ministro Francisco Reza. Agte.:Companhia Leco de Produtos Ali-mentícios (Advs.: Maria AparecidaBueno e Paulo Cesar Gontijo). Ag-dos.: Esmeralda Lupoli Ludovice eoutros (Adv.: Adelino Cirno e outro).

Decisão: Negado provimento aoAgravo Regimental. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes á Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Reza e Célio Boda.Licenciado o Sr. Ministro Carlos Ma-deira. Subprocurador-Geral da Re-pública, o Dr. Mauro Leite Soares.

Brasília, 9 de dezembro de 1986 —Hélio Francisco Marques, Secre-tário.

R.T.J. - 125 377

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 114.554 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Recorrente: Estado de São Paulo — Recorrida: Impressora Industrial

Bonfaz Ltda.

Processual Civil. Liquidação de sentença por cálculo. Cabimentode recurso.

Sendo autónoma a ação de liquidação de sentença, da sentençaque nela homologa o cálculo, cabe apelação no efeito devolutivo (art.520, III, e 611 do Código de Processo Civil).

Recurso extraordinário conhecido e provido.ACORDA° o recurso cabível da homologação

era o de agravo de instrumento, nãoa apelação» (fls. 190/191).Vistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, emconhecer do recurso e lhe dar provi-mento, nos termos do voto do Minis-tro Relator.

Brasília, 20 de outubro de 1987 —Mui Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATORIOO Sr. Ministro Carlos Madeira:

Julgados procedentes embargos dodevedor, opostos por Impressora In-dustrial Bonfaz Ltda., al execuçãofiscal movida pela Fazenda do Esta-do de São Paulo, requereu a embar-gante a liquidação da sentença, coma elaboração do cálculo dos honorá-rios e das custas a que foi condenadoo exedente.

Elaborada a conta, o Juiz de Direi-to homologou-a (fl. 189).

Apelou a Fazenda do Estado, masa Décima Oitava Câmara Civil doTribunal de Justiça do Estado deSão Paulo não conheceu do recurso,

consideração de que a decisão ho-mologatória de cálculo do contador«traduz mera verificação de débito,em determinado momento, não colo-cando fim ao processo ou, mesmo, adeterminada fase processual. Assim,

Opostos embargos de declaração,foram rejeitados (fl. 199). Dai o re-curso extraordinário da exedente,com fundamento nas alíneas a e d dopermissivo constitucional, em que sealega contrariedade aos artigos 153,

C, da Carta Ma e seguin-tes, 803 e 611 do Códi

gna,go

513de Processo

Civil, além de dissídio com arestosdo Tribunal de Alçada Civil e do Tri-bunal Federal de Recursos (fls.201/205).

Face ao óbice do artigo 325, incisosVI e VII, do RISTF, na redação an-terior ã Emenda Regimental n! 2/85,o recurso foi indeferido na origem,mas subiu em decorrência do acolhi-mento da argüição de relevância, si-multaneamente oferecida.

E o relatório.VOTO

O Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): O Supremo Tribunal Fe-deral entende que a decisão homolo-gatória de liquidação de sentença,ainda que por cálculo do contador,constitui sentença de mérito, sendo,portanto, apelável (artigo 520, Inc.III, do CPC).

O acórdão recorrido, ao entenderde forma diversa, negou vigênciaaos artigos 520, UI e 611, do estatutoprocessual (o último deles indicadona petição recurso».

378 R.T.J. — 125

A exigência do prequestionamentofica afastada, para conhecimento dorecurso, porque a alegada contrarie-dade à lei federal concretizou-se nopróprio acórdão recorrido.

Julguei recentemente nesta Turmao RE 110.627, que versa hipóteseanáloga à presente. Nele ressaltei oseguinte:

«É que, no atual Código de Pro-cesso Civil, as ações de liquidaçãode sentença e de execução são es-tanques, tendo procedimentos dis-tintos, nos quais se exigem citaçãoe sentença também distintas.

A sentença na ação de liquidaçãoé que enseja o exercício da açãoexecutiva. Como observa Pontesde Miranda: «Não devemos admi-tir, diante da ação de liquidação(passiva ou ativa), que é sempre ou-tra ação, autônoma, que se acolhao que escreveram alguns juristas,ao considerarem a ação de liquida-ção mera etapa, com um só pro-cesso, mesmo se o sistema jurídi-co, erradamente, como aconteceucom o Código de 1939, art. 917, fazprosseguir o processo sem nova ci-tação para a ação executiva.» Eadiante: «o que se quis e se pediufoi apenas que se procedesse à li-quidação. Tanto o credor como odevedor pode ter interesse em sa-ber o quanto se lhe deve, ou oquanto que deve.» (Comentários aoCPC de 1973, Tomo IX, págs.548/549).

O acórdão recorrido, data venta,regrediu ao sistema do Código deProcesso Civil de 1939, entendendocomo uma só ação a de liquidaçãoe a de execução de sentença. Comisso negou vigência não só ao art.520, III, mais ao art. 611 do Códigode Processo Civil.»Também, os arestos trazidos a

confronto, oriundos de outros Tribu-nais, bem demonstram a divergên-cia com o julgado recorrido

Em face do exposto, conheço dorecurso e lhe dou provimento, paraque a Egrégia Câmara aprecie o re-curso da executada, interposto dasentença de liquidação.

o meu voto.EXTRATO DA ATA

RE 114.554 — SP — Rel.: MinistroCarlos Madeira. Recte.: Estado deSão Paulo (Adv.: Solange GarciaReis Freire). Recda.: Impressora In-dustrial Bonfaz Ltda. (Advs.: BeatrizT. Shinohara Tortorelli e outro).

Decisão: Conhecido e provido nostermos do voto do Ministro Relator.Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes á Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Borja. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 20 de outubro de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 114.671 — RJ(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Recorrente: Casas Sendas Comércio e Indústria S/A — Recorrido: Ivan

Balbi.Responsabilidade civil. Estacionamento de veículos. Furto. Não

sendo cobrado dos proprietários de veículos o estacionamento no es-paço destinado a esse fim, fora do prédio do supermercado, não hácuidar do dever de vigilância, em ordem a caracterizar a responsabi-lidade civil da firma proprietária do estabelecimento, em caso de furto.

Recurso conhecido e provido.

R.T.J. - 125 379

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, emconhecer do recurso e lhe dar provi-mento.

Brasília, 20 de outubro de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Madeira:Ivan Balbi Júnior foi ao estabeleci-mento das Casas Sendas, na rua Do-mingos Lopes, em Madureira, numsábado pela manhã. Deixou o seu au-tomóvel Volkswagen Sedan no esta-cionamento interno e ingressou nosalão de compras pela passagemintima que liga o estacionamento aoauto serviço do supermercado.

De volta, não encontrou seu auto-móvel. Deduzindo haver sido furta-do, reclamou da gerência do estabe-lecimento, onde o informaram que afirma não se responsabiliza peloscarros ali estacionados.

Inconformado, propôs ação ordiná-ria, pleiteando indenização pelo pre-juízo sofrido. A ação foi julgada im-procedente, mas a E. Sétima Câma-ra Cível do Tribunal de Justiça doEstado do Rio de Janeiro reformou asentença, em acórdão com a seguin-te ementa:

«Responsabilidade Civil. Furtode veículo em estabelecimento desupermercado. Culpa in vigilandocaracterizada. Responde a empre-sa pelos prejuízos causados aocliente. Remuneração indireta daclientela através de compras. Açãoprocedente. Sentença reformada.Recurso provido.»Foram opostos dois embargos de

declaração, sendo rejeitados os pri-meiros e recebidos em parte os últi-

mos para explicitar a incidência dacorreção monetária.

Recorreu extraordinariamente avencida, com apoio nas alíneas a e dda previsão constitucional, dando co-mo malferido o art. 159 do Código Ci-vil e trazendo a confronto acórdãoda E. Primeira Turma, no RE69.923-PR, Relator o eminente Minis-tro Djaci Falcão.

recurso não foi admitido, massubiu em razão da acolhida da argüi-ção de relevância.

o relatório.VOTO

Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): Acentua o acórdão recor-rido que «não há contrato escrito dodepósito, mas no terreno da respon-sabilidade civil aquiliana ficou ca-racterizada a culpa in vigilando daré. As Casas Sendas mantêm aqueleestacionamento com o intuito eviden-te de atrair a freguesia e lhe oferecepública e notoriamente garantia naguarda dos veículos dos clientes con-vidados às compras. Tal fato eviden-te caracteriza a sua responsabilida-de civil para com os veículos ali es-tacionados» (fl. 79).

A recorrente esclarece que nãomantêm guardas no estacionamento,sendo o risco ali totalmente do pro-prietário do veículo. Não assumeela, portanto, a responsabilidade daguarda dos veículos. O fato de pos-suir local para estacionamento paraveículos não induz a responsabilida-de pela guarda.

A tese do acórdão recorrido de queo estacionamento é pago indireta-mente pelas compras feitas pelosclientes, não tem, data vênia, subs-tância para configurar a culpa do es-tabelecimento pelo furto do automó-vel, em ordem a responsabilizá-lopelo prejuízo sofrido pelo cliente. Eque não há, na espécie, vigilânciapresumida, desde que o que é ofere-cido aos clientes é apenas o espaçopara que estacionem seus carros.

980 R.T.J. — 125

A decisão baseada em que houveomissão do dever de vigilância eguarda, na espécie, viola o art. 159do Código Civil, na medida em quevislumbra omissão voluntária ou ne-gligência por parte da recorrente,em fato pelo qual não é responsávele nem lhe cabe culpa.

O acórdão da lavra do MinistroDjaci Falcão, que se encontra naRTJ 55/68, não guarda exata seme-lhança com o caso presente. Trata-se ali de estacionamento em espaçocedido por um colégio a seus alunos,para que angariassem donativos pa-ra sua festa de formatura. Aqui,trata-se de uma comodidade ofereci-da aos clientes de um supermercado,sem qualquer outra obrigação da fir-ma, nem mesmo a de guarda dosveículos ali estacionados.

Conheço, assim, do recurso pelaletra a e lhe dou provimento, para

restabelecer a autoridade de senten-ça de primeiro grau.

E o meu voto.EXTRATO DA ATA

RE 114.671 — RJ — Rel.: MinistroCarlos Madeira. Recte.: Casas Sen-das Comércio e Indústria S/A.(Advs.: Nelson Antunes Coimbra eoutros). Recdo.: Ivan Balbi (Advs.:Odney Bittencourt da Costa e outro).

Decisão: Conhecido e provido nostermos do voto do Ministro Relator.Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Boda. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 20 de outubro de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO CRIMINAL N? 114.687 — DF(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Oscar Corrêa.Recorrente: Ministério Público do Distrito Federal — Recorrido: Eurico

de Andrade Valois.

Júri. Quesito que conduzia obrigatoriamente á configuração dohomicídio doloso, inviabilizando a formulação de outro com a tese dadefesa — de bomkidlo culposo. Prejuízo do réu.

Protesto oportuno e regular da defesa no julgamento.Júri anulado. Inocorrência de ofensa ao art. 484, I e UI, do Código

de Processo Penal e de divergência jtwisprudencial.Recurso extraordinário não conhecido.

ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros da Pri-meira Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata doJulgamento e das notas taquigráfi-cas, por unanimidade de votos, emnão conhecer do recurso.

Brasília, 11 de dezembro de 1987 —Moreira Alves, Presidente — OscarCorrêa, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Oscar Corrêa: 1. Aquestão vem corretamente sintetiza-da no parecer da ilustre Procurado-

R.T.J. - 125

381

ra Laurita Hilário Vaz, com aprova-ção do eminente Subprocurador-Geral J. Arnaldo Gonçalves de Oli-veira (fls. 288/289):

«1. O recorrido Eurico de An-drade Valois foi condenado peloTribunal do Júri da Circunscriçãojudiciária desta Capital, a cumprirpena de 16 anos de reclusão, porinfringência ao art. 121, 2, incisoII, do Código Penal, conforme posi-tiva a sentença monocrática de fls.203 e 204 dos autos.

Irresignado, apelou o réu(fls. 213/218), argüindo em prelimi-nar a nulidade do julgamento e, nomérito, argumentando que a deci-são apelada foi manifestamentecontrária à prova dos autos.

O E. Tribunal de Justiça lo-cal acolheu a preliminar de nulida-de e anulou o julgamento pelo Tri-bunal do Júri, em acórdão assimementado, verbis:

«Júri. Quesito.Se a resposta ao primeiro que-

sito, referente à autoria, implicaem tornar inadmissível o quesitoda defesa, anula-se o julgamen-to» (fl. 238).

Interpostos embargos de de-claração, pelo Ministério Público,no qual alegava omissão do Acór-dão nos termos do que dispõe o art.484 e incisos, do Código de Proces-so Penal, foram tais embargos re-jeitados, pelas razões sintetizadasna ementa do julgado, In verbis:

«Embargos de Declaração. Re-jeição. Se o acórdão não apresen-ta qualquer omissão e decidiumatéria questionada nas razõesde apelação, rejeitam-se os em-bargos de declaração a ele opos-tos» (fl. 247).

Inconformado, recorreu ex-traordinariamente o Ministério Pú-blico, pelas alíneas a e d do per-missivo constitucional (art. 119,III). Alega negativa de vigência ao

art. 484, incisos I e III, do Códigode Processo Penal Para funda-mentar o dissídio aponta divergên-cia com a jurisprudência dessa Su-prema Corte.»

O recurso foi admitido pelodespacho de fls. 269/270, vindo à Cor-te.

O parecer da Procuradoria-Geral da República concluiu pelo co- -nhecimento e provimento do recurso,a fim de que o Tribunal de Justiçaprossiga no julgamento da apelaçãodo ora recorrido.

E o relatório.

EXTRATO DA ATA

RECr 114.687 — DF — Rel.: Minis-tro Oscar Corrêa. Recte.: MinistérioPúblico do Distrito Federal. Recdo.:Eurico de Andrade Valois (Advs.:Joaquim José Safe Carneiro e ou-tro).

Decisão: Após a leftura do relató-rio e a sustentação oral pelo recdo., ojulgamento foi adiado a pedido doMinistro Relator. Falou o Dr. PauloPires pelo Recdo.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Oscar Conta, Sydney Sanches eOctavio Gallotti. Subprocurador-Geral da República, Dr. José Arnal-do Gonçalves de Oliveira.

Brasília, 1 de dezembro de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

VOTO

O Sr. Ministro Oscar Corrêa (Rela-tor): 1. O acórdão da apelação assimse fundamentou (fls. 239):

«Bem examinada a preliminarsuscitada nas razões de Apelação,vê-se ter ela procedência, porquan-to, indagando o primeiro quesito seo ora apelante efetuou disparascontra pessoas que se encontra-

382 R.T.J. — 125

vam no interior do bar, logicamen-te, a resposta positiva a ele impli-caria em prejudicialidade do quesi-to precípuo da defesa, que se ati-nha à alegação de crime culposo.No momento em que o júri reco-nhecesse que o apelante desfechoudisparos contra determinada pes-soa, logicamente, prejudicada es-tava a alegação de possível crimeculposo.

Por esse motivo, entendendo de-ficiente e prejudicial à defesa a re-dação desse quesito, dou provimen-to à Apelação para anular o julga-mento e determinar que a outro sesubmeta o apelante.»2. Insurge-se o Ministério Público

do Distrito Federal, como se viu,alegando negativa de vigência aoart. 484, I e III, do Código de Proces-so Penal e divergência jurispruden-cial.

O parecer da Procuradoria-Geralda República examinou a hipótese,assinalando (fls. 290/295):

«7. No caso, o Júri após reco-nhecer que o acusado Eurico deAndrade Valois efetuou disparoscontra as pessoas que se encontra-vam nas imediações do Bar Cerra-dão, causando na pessoa da vitimaNeuza Lourdes as lesões descritasno laudo de fl. 11, que foram a cau-sa eficiente de sua morte, negou osquesitos que indagavam sobre aocorrência de homicídio culposo —tese defendida pela defesa do acu-sado.

8. Sustenta o Ministério Públi-co, em seu inconformismo, parafundamentar a vulneração do dis-positivo do Código de Processo Pe-nal que inexiste complexidade noquestionário submetido à aprecia-ção dos jurados e «que os quesitosda culpa seguem-se aos relativosao fato principal e, mesmo queImplícito do dolo — como sempre oé nos quesitos autoria-materia-lidade — pode ele ser afastado pela

resposta afirmativa a um dos itensda culpa» (fls. 259 e 260).

A nosso ver, a questão favo-rece o combativo e culto represen-tante do Ministério Público local.

A peça inicial acusatória defls. 2 e 2v. dos autos narra os fatosdelituosos imputados ao recorridonos termos seguintes:

«Eurico de Andrade Valois,qualificado a fl. 57 dos autos dei.p. em anexo, eis que, aos 24 deagosto de 1980, por volta das 2:00horas, princípio da madrugada, odenunciado, que se encontravaao volante de seu carro, efetuouvários disparos com sua armacalibre 7.65 contra as pessoasque se encontravam no interiordo «Bar Cerradão», situado àCLN 204, nesta Capital. Os dispa-ros atingiram e causaram a mor-te de Neuza Aparecida Lourdes(laudo de fl. 57) — cliente do barque lá se encontrava — e feriramos empregados Paulo Cesar daSilva Bento e Eraido Marques deLira, causando nestas vitimas aslesões corporais narradas peloslaudos de fls. 8 e 9.

Os tiros foram precedidos deum tumulto generalizado no inte-rior do bar, envolvendo clientesbêbados e intoxicados, alguns dosquais são amigos do irresponsá-vel homicida.

Ao que consta, indiferente aoresultado que pudesse provocar— matar ou ferir — o denuncia-do, em atitute própria de bando-leiro insensível, descontente como tumulto que não o permitiaservir-se de uma bebida, já dedentro de seu automóvel, saca desua arma e desfecha tiros contratodo o grupo de circunstantes,agindo de modo inesperado e desurpresa, não possibilitando àsvitimas — que não esperavampor tal gesto — qualquer defesa».(Grifamos. — v. fl. 2, dos autos).

R.T.J. - 125

383

Após a instrução criminalcontraditória foi o recorrido pro-nunciado nos termos da denúncia,conforme positiva a sentença defls. 151/153.

No momento próprio ofere-ceu o Ministério Público o libelo-crime acusatório, nos exatos ter-mos do art. 417 do Código de Pro-cesso Penal, assim redigindo o pri-meiro item, verbis:

«No dia 24 de agosto de 1980,por volta das duas horas da ma-drugada, o réu, do interior de seucarro que se encontrava nas line-diações do Bar Cerradão, situadona CLN 204, nesta Capital,efetuou disparos contra as pes-soas que se encontravam no inte-rior do referido bar, causando napessoa de Neusa Aparecida Lour-des as lesões descritas no laudode fl. 11)» (Grifamos. v. fl. 180).13. No julgamento pelo Tribunal

do Júri foram submetidos à apre-ciação do Conselho de Sentença, osquesitos concernentes ao fato prin-cipal (autoria e materialidade) e àtese apresentada pela defesa, as-sim redigidos:

«1? Quesito:No dia 24 de agosto de 1980, por

volta das 2:00 horas da madruga-da, o réu Eurico Andrade Valois,do interior de seu carro que seencontrava nas imediações doBar Cerradão, situada no CLN204, nesta Capital, efetuou dispa-ros contra as pessoas que se en-contravam no interior do referidobar, causando na pessoa de Neu-za Aparecida as lesões descritasno laudo de fl. 11?

Quesito:Essas lesões deram causa à

morte da vitima?Quesito:

O réu cometeu o crime por im-prudência?

Quesito:O réu cometeu o crime por ne-

gligência?Quesito:

O réu cometeu o crime por im-perícia?» (fl. 201).14. Vê-se, pois, que os quesitos

foram formulados com a observân-cia das regras constantes nos inci-sos do art. 484, do Código de Pro-cesso Penal. Diz o texto legal:

«Art. 484. Os quesitos serãoformulados com observância dasseguintes regras:

I — o primeiro versará sobre ofato principal, de conformidadecom o libelo;

II — omissis...III — se o réu apresentar, na

sua defesa, ou alegar, nos deba-tes, qualquer fato ou circunstân-cia que por lei isente de pena ouexclua o crime, ou o desclassifi-que, o juiz formulará os quesitoscorrespondentes, imediatamentedepois dos relativos ao fato prin-cipal.»15. Segundo o disposto nos inci-

sos citados «o primeiro quesitoversará sobre o fato principal, deconformidade com o libelo» (Grifa-mos). Após os quesitos concernen-tes à autoria e materialidade é queserão formulados aqueles relativosàs teses de defesa.

No caso, o primeiro quesito— acoimado de complexo pelo E.Tribunal —, foi formulado de con-formidade com o libelo. Os quesi-tos que propiciaram a desclassifi-cação do crime foram colocadosimediatamente depois dos relativosao fato principal, nos exatos ter-mos do art. 484, incisos I e III, doCódigo de Processo Penal.

A formulação do primeiroquesito, portanto, não implicou emexame do grau de voluntariedadedo réu, ou seja, na aferição da cul-pa em sentido amplo.

384 R.T.J. - 125

Assim sendo, o Egrégio Tri-bunal a quo, ao anular o julgamen-to pelo Tribunal do Júri, sobre aargumentação de que a respostaao primeiro quesito, referente aofato principal (autoria), implicouem tornar inadmissível a tese dadefesa, vulnerou o art. 484, incisosI e III, do diploma processual,pois, tanto não prejudicou que osquesitos que propiciariam a des-classificação do crime para ho-micídio culposo (tese da defesa),foram formulados e receberamrespostas negativas do Conselho deSentença.

Além disso, a decisão recor-rida não tem respaldo na jurispru-dência desse Excelso Pretória co-mo demonstrou a petição do apeloincomum.

20. É o que, aliás, está dito,com todas as letras, no trecho dovoto do eminente Ministro CordeiroGuerra, em acórdão prolatado nojulgamento do RECr. n? 94.150 —PR, publicado na RTJ 98/933,verbis:

«Quando se perguntou se haviafeito disparos em direção ao me-nor, não envolvia essa Indaga-ção, por isso só, a presunção dedolo. Fixava apenas a causalida-de: fez disparos em direção a al-guém. Não é dolo, mesmo por-que, vez por outra, ele pode fazerdisparos numa outra direção, nahipótese de imprudência, e, porimprudência, foi o quesito subse-qüente. Atirando em direção a al-guém, não foi negligente nem im-perito, porque acertou. Só se po-deria formular realmente o que-sito sobre a imprudência que é oque pode ter acontecido, e o Júrinão reconheceu.

Sei, e segundo disse o nobreAdvogado, da tribuna, que essescasos acontecem — casos de doloeventual, ou de culpa lata, doloproxima — e são realmente mui-

to dramáticos, embora causemgrande repercussão e impacto so-cial.»21. Idêntica orientação foi ado-

tada por esse Excelso Pretória nojulgamento do HC 60.950 — RJ, re-latado pelo eminente Ministro Mo-reira Alves que diz em certo trechode seu voto:

«Com efeito, logo após os que-sitos relativos ao fato principal,foi colocado o referente à tese dadefesa no tocante à desclassifica-ção do delito — a da inexistênciade dolo, por haver o agente agidoculposamente —, tanto assim quea resposta negativa a esse quesi-to implicaria a inexistência decrime doloso contra a vida, dei-xando, portanto, o Júri de tercompetência para julgar o fato»(RTJ 108/1.035).»

3. Não nos parece que a hipótesese revista dessa simplicidade senãoem aparência.

Na verdade, a tese da defesa —homicídio culposo — viu-se compro-metida seriamente com a formula-ção do 1? quesito, ao indagar (no queinteressa) — «o réu... efetuou dispa-ros contra as pessoas que se encon-travam...» explicitando claramentedolo do agente na ação desenvolvida.

Quando o Código de Processo Pe-nal, no art. 484, I, determina que oprimeiro quesito versará sobre o fa-to principal, de conformidade com olibelo — obviamente não impõe quese use a linguagem deste, peça daacusação, mas que o formule demolde que, explicitando-lhe o funda-mento, nem por isso induza o corpode jurados no sentido de acolhê-lo.

Tanto assim que, no item III, de-termina que se formulem os quesitosde defesa — se alega qualquer fatoou circunstância que por lei isentede pena ou exclua o crime, ou o des-classifique — «imediatamente depoisdos relativos ao tato principal».

R.T.J. - 125

385

Ora, in casu, como formulado oquesito do fato principal conformeao libelo, os seguintes perderam sig-nificação, levando os juizes à conclu-são iniludivel do homicídio doloso,tanto mais quanto a conseqüênciadas respostas aos quesitos seguintes— que poderiam servir à tese da de-fesa (o 3?, o 4? e o 5?) haveriam deser negativas. E, ainda assim,saliente-se, o 4? — relativo ànegligência — teve só 5 votos e o daimperícia, 6 votos — o que demons-tra que mesmo dois, ou um dos queafirmaram o primeiro quesito — ni-tidamente doloso — não o preten-diam.

Ao decidir, portanto, pela nuli-dade do julgamento, não negou oacórdão recorrido vigência ao art.484, I e II, antes lhe deu interpreta-ção correta, conforme à letra e o es-pírito.

Frise-se, aliás, que a defesa im-pugnou oportunamente a redação do1? quesito, e que consta da ata dejulgamento (fl. 206v.), impugnaçãorepelida.

Renovada na apelação, acolheu-a oacórdão recorrido.

Pretendeu a acusação se desse ao1? quesito esta redação (fl. 214):

«No dia 24 de agosto de 1980 —por volta das 2:00 horas da madru-gada, o réu Enrico de Andrade Va-lois, do interior de seu carro que seencontrava nas imediações do BarCerradão, situado na CLN 204, nes-ta Capital, efetuou disparos, cau-sando na pessoa de Neusa Apareci-da Lourdes as lesões descritas nolaudo de fl. 11?»O «contra as pessoas» teria de con-

duzir, forçosamente, ao homicídiodoloso.

6. Cabe examinar, então, a ocor-rência do dissídio.

Cita o recorrente os seguintesacórdãos:

I — RTJ 98/927 — Ministro Leitãode Abreu. No voto do eminente Mi-

nistro Cordeiro Guerra se considerouque a expressão — «fez disparos emdireção a alguém» — «não envolviaa presunção de dolo», «mesmo por-que, vez por outra, ele pode fazerdisparos numa outra direção, na hi-pótese de imprudência», etc...

Ora, em direção a alguém não é amesma coisa que contra as pessoas:ali é indeterminado, admitindo-seque por imprudência, negligência ouimperícia atinja alguém; aqui écontra, isto é, com a vontade delibe-radamente dirigida — o que indicadolo.

II — O segundo, trecho do voto doeminente Ministro Moreira Alves(RTJ 108/1.035), assim expresso (fl.259):

«Com efeito, logo após os quesi-tos relativos ao fato principal, foicolocado o referente à tese da defe-sa no tocante à desclassificação dodelito — a da inexistência de dolo,por haver o agente agido culposa-mente —, tanto assim que a res-posta negativa a esse quesito im-plicaria a inexistência de crime do-loso contra a vida, deixando, por-tanto, o Júri de ter competênciapara julgar o fato.»E acrescentou o recorrente este

trecho também do voto do Relator(fl. 260):

«Tal fato nunca causou perplexi-dade.

Veja-se além a argumentação doeminente Ministro:

«Note-se que a pergunta nãoensejava, a respeito, dúvidas,certo, aliás, como é, que houvedois votos que negavam a exis-tência do dolo, a demonstrar, toe-quivocadamente, que os juradossabiam exatamente o que esta-vam votando» (repertório citado,108/1.035 e 1.036 — grifo nãoconsta do original).Pois bem. No caso em estudo os

jurados também entenderam aquesitação; naqueles quesitos da

386 R.T.J. — 125

culpa, apenas por cinco votos ver-sos dois afastaram-na.

Dois votos reconheciam a negli-gência e UM a imperícia, (fl. 201)».

Ainda aqui, as hipóteses são com-pletamente diversas, como se vê doexame Integro do acórdão.

Conhece-se pela leitura da ementa,não citada pelo recorrente:

«Habeas corpus. Alegação de nu-lidades relativas a quesitos.

Não há nulidade se o quesito,embora complexo, não acarretouprejuízo à defesa, pois a definiçãoda espécie de dolo (se direto ou seeventual) não afastaria o funda-mental, que foi a afirmação do ca-ráter doloso da conduta.

O quesito colocado logo após aosrelativos ao fato principal diziarespeito à tese, sustentada pela de-fesa, de que o crime fora culposo,pois a resposta negativa a ele afas-taria o dolo, acarretando a desclas-sificação. A questão, portanto, dizrespeito à forma por que foi formu-lada o quesito, não tendo havido,no caso, prejuízo para o réu, cujadefesa, aliás, não protestou, a essepropósito, quando da leitura dosquesitos formulados pelo Juiz, nema atacou ao apelar.» (RTJ 108/1.033).

Desde logo se vê, portanto:1. que considerado complexo o 1?

quesito, não acarretou prejuízo à de-fesa — e tinha esta redação:

«O réu quis o resultado morte ouassumir o risco de produzi-lo?»(RTJ 108/1.034) — respondido afir-mativamente por 5 a 2, o que, dissebem o Relator, — comprovou quehouve dois votos que negaram aexistência do dolo. a demonstrar,inequivocadamente, que os juradossabiam exatamente o que estavamvotando» (RTJ 108/1.035 — 1.036).

In casu, os 7 votos afirmativos se-laram a sorte, induzidos ao doloso. Etanto restaram dúvidas, que se ex-pressaram nos 2 votos pelanegligência e 1 voto pela imperícianos 4? e 5? quesitos.

Houve evidente prejuízo para oréu.

E mais essa diferença que o votodo Relator do acórdão-padrão acen-tua: ali «não houve protesto do réuquando da leitura dos quesitos for-mulados pelo juiz, nem a atacou aoapelar», aqui, houve protesto do réu,constante da Ata de julgamento, eapelação que o renovou, tanto que oacórdão recorrido o acolheu.

Diversas, portanto, as hipóteses eindemonstrado o dissídio.

Nestes termos, inocorrentes a ne-gativa de vigência ao art. 484, I eIII, do Código de Processo Penal e odissídio de jurisprudência, não co-nheço do recurso.

É o voto.

EXTRATO DA ATA

RECr 114.687 — DF — Rel.: Minis-tro Oscar Corrêa. Recte.: MinistérioPúblico do Distrito Federal Recdo.:Eurico de Andrade Valois (Advs.:Joaquim José Safe Carneiro e ou-tro).

Decisão: Recurso não conhecido.Unânime. 1! Turma, 11-1247.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Oscar Corrêa, Sydney Sanches eOctavio Gallotti. Subprocurador-Geral da República, Dr. AristidesJunqueira Alvarenga.

Brasília, 11 de dezembro de 1987 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

R.T.J. - 125 387

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 114.866 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.Recorrente: Banco Itaú de Investimento S/A — Recorrido: Sidney Lopes

Gonzalez e sua mulher.

Recurso extraordinário. Sua interposição dentro de 15 dias, peran-te o Presidente do Tribunal, mediante petição protocolizada na suaSecretaria (arte. 542 e 543 do CPC e 326 do Regimento Interno doSTF). Matéria disciplinada pela legislação especifica, que não podeser contrariada através de Provimento dos Tribunais.

In casu, não tem eficácia a protocollzação na Comarca de origemdo feito, efetuada no último dia do prazo do recurso. Intempestividadedo recurso desde que protocolizada a petição do recurso na Secretariado Tribunal, fora do prazo legal.

Recurso não conhecido.

ACORDA0

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros compo-nentes da Segunda Turma do Supre-mo Tribunal Federal, à unanimidadede votos e na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, não conhecer do recurso.

Brasília, 1? de março de 1988 —Djaci Falcão, Presidente e Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Djaci Falcão: Oacórdão recorrido guarda o seguinteteor:

«Vistos, relatados e discutidos es-tes autos de Apelação n? 372.542/1,da Comarca de São Vicente, emque apelante Banco Itaú de Inves-timento S/A e apelados Sydney Lo-pes Gonzalez e outro.

Acordam, em Terceira Câmarado Primeiro Tribunal de Alçada Ci-vil, por votação unânime, negarprovimento ao recurso.

Nenhum reparo está a merecer ar. sentença que bem apreciou amatéria.

Conforme ficou bem esclarecido,a posse dos embargantes sempre

foi exercida em nome próprio, semqualquer simulação, visto que ad-quiriram efetivamente a proprie-dade. O contrato foi cumprido e opreço pago (fls. 35 a 67).

Nesse sentido, verifica-se quehouve outorga de escritura definiti-va e matrícula do imóvel, aindaque superveniente à execução, nãoimplicando esse ato negociai emfraude contra credores, mas simconfirmação de negócio trans-latido consumado antes da referi-da execução (fl. 75).

Em nenhum momento, portanto,poder-se-ia falar em posse precá-ria ou dependente de condição re-solutiva, visto que revestiu-se aavença de caráter de irrevogabili-dade e irretratabilidade (fl. 16 ev.).

De outra parte, outros bens imó-veis do devedor foram objeto dearresto, conforme ficou esclarecidona inicial, embora posteriormentetivesse o embargado desistido depenhora sobre um deles.

Vê-se, portanto, que realmentesão cabíveis embargos de terceirovisando à liberação da penhora,quando o promitente tiver pago in-tegralmente o preço em razão decompromisso irretratável, estiver

388 R.T.J. - 125

na posse do imóvel e desde que au-sente qualquer modalidade defraude, tanto de credores como deexecução.

Prevalece, portanto, o entendi-mento já sustentado por esta Câ-mara no sentido de que «compro-vada a pOsse desde a época da ces-são de direitos e afastada a fraude,mesmo inexistindo inscrição decessão no Registro de Imóveis, éde ser repelida a constrição judi-cial (RT vol. 585/121. No mesmosentido, Julgados, ed. Saraiva, vol.80/107 a 110).

Registre-se, por derradeiro, tersido esse o entendimento do C. Su-premo Tribunal Federal no julga-mento dos embargos de RecursoExtraordinário n? 87.958, inscritona Revista Trimestral de Juris-prudência, vol. 89/285.

Conforme declarou o eminenteMinistro Soares Mufloz nessa opor-tunidade: «a situação de visibilida-de da propriedade resultante dessaposse confere ao compromissário,legitimidade ad causam para oporembargos de terceiro». «Aduz: «apretensão a embargar, por partedo possuidor, salienta Pontes deMiranda, dá a quem quer que te-nha posse indireta, ou direta, a le-gitimação ativa ...»

A luz desses fundamentos, nega-se provimento ao recurso.

Participaram do julgamento osJuizes Alexandre Germano (revi-sor) e Araújo Cintra.

São Paulo, 13 de abril de 1987 —Luciano Leite, Presidente e Rela-tor» (fls. 158 a 160).Inconformado, o Banco interpôs o

recurso extraordinário de fls. 162 a171, cumulado com argüição de rele-vância, com base nas letras a e d dopermissivo constitucional, alegandoque a decisão impugnada não só vio-lou o inciso II do art. 593 do Códigode Processo Civil, e inciso I, do art.

530, do Código Civil, como tambémdivergiu da Súmula 621 do STF.

Admitido o apelo por meio do des-pacho de fls. 179 a 181, e tendo sidorejeitada a argüição de relevância(fl. 197), foi processado apenas comas contra-razões de fls. 186 a 194,vindo os autos a esta Corte.

VOTOO Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela-

tor): Inicialmente, cabe apreciar apreliminar de intempestividade le-vantada pelos ora recorridos na im-pugnação de fls. 173 a 178 e reiteradanas contra-razões de fls. 186 a 194.

Ao afastá-la, o juizo de admissibili-dade do recurso entendeu que se orecurso foi protocolizado na Comar-ca de São Vicente no dia 20-5-87 ( fl.162), e somente dera entrada no Tri-bunal em 22 do mesmo mós, a data aser considerada era a anterior, con-forme os Provimentos CCIX eCCXXVII, oriundos daquela Corte,os quais autorizam e regulamentamos protocolos dos Foros do Estado areceber petições dirigidas a outrascomarcas.

No caso em tela, o acórdão recor-rido foi publicado no dia 5-5-87 (fl.161), que caiu numa terça-feira.Iniciando-se o prazo no dia seguinte(quarta-feira), seu termo finalverificou-se a 20 do mesmo mós(quarta-feira), quando então o recur-so foi protocolizado na Comarca deSão Vicente, somente vindo a ser le-vado ao protocolo da Secretaria doTribunal, no dia 22 seguinte (fl. 162).Como é sabido, o recurso extraordi-nário deve ser interposto dentro dequinze (15) dias, perante o Presiden-te do Tribunal mediante petição pro-tocolizada na sua Secretaria (arts.542 e 543 do CPC e 326 do RegimentoInterno do STF). Assim sendo, o re-curso foi interposto fora do prazo le-gal. A matéria, como se viu, estádisciplinada na legislação específica,não podendo ser contrariada porProvimento baixado pelos Tribunais.

R.T.J. - 125

389

A propósito, decidiu a egrégia Pri-meira Turma ao julgar o Ag. 117.336(AgRg), relatado pelo eminente Mi-nistro Néri da Silveira, sobre ques-tão idêntica:

`Agravo de instrumento. Intem-pestividade. A petição de agravodeve ser protocolizado, na Secreta-ria do Tribunal a quo, no

Se o agravante apresentoua petição, no último dia do prazo,em cartório de comarca do interiordo Estado, onde reside, somente nodia seguinte sendo o documento en-tregue na Secretaria da Corte, háde ter-se por intempestivo o recur-so. Aos efeitos de prazo de recursoextraordinário ou de agravo de ins-trumento contra despacho do Pre-sidente do Tribunal, que não o ad-mite, não cabe Invocar Provimen-to, do Conselho Superior da Magis-tratura do Estado, que admite aentrega de petição destinada a ou-tra comarca, do mesmo Estado,em cartório da comarca do do-

micIllo da parte interessada. Agra-vo regimental desprovido.»Ex positis, e adotando essa mesm

orientação, não conheço do presentea

recurso.

EXTRATO DA ATARE 114.866 — SP — Rel.: Ministro

Djaci Falcão. Recte.: Banco Itaú deInvestimento S/A (Advs.: José DavidPimentel Tavares e outros). Rec-dos.: Sidney Lopes Gonzalez e suamulher (Advs.: José Roberto Guima-rães e outro).

Decisão: Não conhecido. Unânime.Presidência do Senhor Ministro

Dl aci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Reza, Carlos Madei-ra e Célio Borja. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 1? de março de 1988 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nt 115.181 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos Madeira.Recorrente: Instituto de Administração Financeira da Previdência e As-

sistência Social — JAPAS — Recorrida: Tapeçaria Marina Ltda.

Contribuições previdenebirlas. Divida correspondente a exercidoposterior à Emenda Constitucional nt 8/77. Não estão sujeitas às nor-mas do Código Tributário Nacional, não se lhes aplicando a prescri-ção qüinqüenal, nele prevista.

Recurso conhecido e provido.ACORDA() Brasília, 5 de fevereiro de 1988 —

Djaci Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Carlos Madeira:Adoto, como relatório, o despacho doilustre Vice-Presidente do TribunalFederal de Recursos, Ministro Was-hington Bolívar (fl. 234):

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrã-ficas, por unanimidade de votos, emconhecer do recurso e lhe dar provi-mento nos termos do voto do Minis-tro Relator.

390 R.T.J. — 125

«Trata-se de embargos à execu-ção fiscal promovida pelo IAPAScontra a embargante, na qual sediscute a natureza tributária dasobrigações previdenciárias.

Neste Tribunal, em grau de re-curso, a e Turma, Relator Minis-tro Carlos M. Venoso, seguindoorientação já firmada em jurispru-dência sumulada desta Corte, pro-clamou (fl. 226):

«Tributário. Previdenciário.Contribuições. Decadência. Sú-mulas n?s 108 e 219-TFR. CTN,art. 173, I.

I — Decadência reconhecidade parte do débito, justamente oque vai de janeiro/79 a dezem-bro/79, por isso que, começandoa fluir, a partir de 1-1-80, o prazodecadencial, na forma do enun-ciado do verbete da Súmula n?219 - TFR, vai ele terminar em1-1-85. Realizado o lançamentoem 30-4-85, assim o foi a destem-po.

II — Recurso provido, parcial-mente.»Dai o recurso extraordinário ma-

nifestado pelo LAPAS, com arrimona letra a do permissivo constitu-cional, ao argumento de que, apartir da vigência da EmendaConstitucional n? 8, de 14-4-77, ascontribuições previdenciárias per-deram sua natureza tributária.Sustenta a recorrente, nesse tema,ofensa aos arts. 21, § 2?, I e 165,XVI, da Constituição Federal.

O entendimento do STF tem sidode que, até o advento da EC n?

8/77, as contribuições previdenciá-rias eram configurantes da espécietributária e com essa naturezajurídica se regiam pelos princípios

normas gerais do Sistema Tribu-tário (RE n? 86.595, RTJ 87/271).

No presente caso foi reconhecidaa decadência de parte do débito, deacordo com o art. 173, I, do CTN,

referente a período posterior à ECn? 8/77 (janeiro a dezembro de1979).

Assim, ao contrário de inúmerosoutros recursos sobre a espécie, es-te se prenuncia admissivel, tantomais que a matéria constitucionalresultou prequestionada.

Por outro lado, a questão se ofe-rece razoavelmente bem suscitada,o quanto basta ao juízo de admissi-bilidade.

Pelo exposto, admito o recurso.»Admitido o apelo, subiram os au-

tos a esta Suprema Corte.o relatório.

VOTOSr. Ministro Carlos Madeira

(Relator): As contribuições previ-denciárias em cobrança correspon-dem ao exercício de 1979, sendo pro-posta a execução em 30 de abril de1985.

A divida exeqüenda, portanto, foiapurada e ajuizada já na vigência daEmenda Constitucional n? 8/77, nãosendo aplicável à espécie o entendi-mento anterior de que as contribui-ções previdenciárias tinham nature-za tributária.

Afastado tal entendimento por ex-pressa decisão constitucional, não hácuidar da prescrição qüinqüenal pa-ra a hipótese.

Com tais razões, conheço do recur-so e lhe dou provimento, para decla-rar não prescritas as contribuiçõesobjeto da execução fiscal.

2 o meu voto.

EXTRATO DA ATARE 115.181 — SP — Rel.: Ministro

Carlos Madeira. Recte.: Instituto deAdministração Financeira da Previ-dência e Assistência Social — IAPAS(Adv.: Carlos Antonio de Araújo eoutros). Recda.: Tapeçaria MaríliaLtda. (Adv.: João Fernandes Móre eoutros).

R.T.J. - 125 391

Decisão: Conhecido e provido nostermos do voto do Ministro Relator.Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Carlos Madeira e Célio Borj a.

Ausente, justificadamente, o Sr. Mi-nistro Francisco Rezek. Subpro-curador-Geral da República, o Dr.Mauro Leite Soares.

Brasília, 5 de fevereiro de 1988 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO CRIMINAL N? 115.343 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorrido: Rui Domingos

Ferreira.

Processo Penal. Réu condenado. Intimado o defensor eencontrando-se ausente o réu veio a ser citado por edital, transitandoem julgado a decisão (art. 392,.. 1? e 2?, do CPP). Se vier a ser pre-so, não há cogitar de devolução de prazo para apelação. Provimentodo recurso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros compo-nentes da Segunda Turma do Supre-mo Tribunal Federal, à unanimidadede votos e na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, conhecer do recurso e lhe darprovimento, nos termos do voto doMinistro Relator.

Brasília, 23 de fevereiro de 1988 —Djaci Falcão, Presidente e Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Djaci Falcão: O v.acórdão recorrido guarda o seguinteteor:

«Vistos, relatados e discutidosestes autos de Habeas Corpus n?160.124/6, da Comarca de SãoPaulo, em que são impetrantes osB. eis Ahmad Lakis Neto e MariaCristina Rachid, sendo pacienteRui Domingos Ferreira:

Acordam, em Décima PrimeiraCâmara do Tribunal de Alçada Cri-

minai, por votação unânime, con-ceder parcialmente a ordem paradevolver ao paciente o prazo paraapelação, após regular intimação,sem a faculdade do art. 594 do Có-digo de Processo Penal.

Os impetrantes alegam que opaciente, condenado a 4 anos de re-clusão por roubo, sofre constrangi-mento ilegal, pois não foi pessoal-mente intimado da sentença conde-natórla.

Requisitadas e prestadas in-formações, a Procuradoria opinoupela denegação da ordem.

Em sustentação onde o impe-trante sustentou a nulidade de atasprocessuais da instrução.

E o relatório.Impossível conhecer da ma-

téria alegada na sustentação oral,não só porque não constou ela daimpetração, mas também porqueseu deslinde exigiria exame de vá-rios elementos do processo originá-rio que não foram debatidos —nem possivelmente alegados —nestes autos.

392 - 125

Não se conhece, portanto, de ne-nhuma alegação nova de nulidade.

O paciente não podia receberoportunidade de apelar em liberda-de porque era reincidente (senten-ça, fl. 15), circunstância nem mes-mo desmentida pelas alegações daimpetração — muito menos desfei-ta por prova em contrário.

O procedimento de intimaçãoda sentença iniciou-se de forma re-gular, pois, após a intimação dodefensor constituído, não encontra-do o paciente para a intimaçãopessoal, publicaram-se editais (fls.20v. e 22).

Mas, ocorrida a prisão, deve aintimação perfazer-se com a inti-mação pessoal do paciente, comdevolução, inclusive, do prazo deapelação.

Participaram do julgamento,além do infra-assinado, os Srs.Juizes Gilberto Gama (Presidente)e Gonçalves Nogueira.

São Paulo, 18 de maio de 1987 —Sidnei Beneti, Relator» (fls. 77 a79).

Inconformado, o Ministério Públi-co interpôs recurso extraordináriocom fundamento nas alíneas a e d doPermissivo constitucional, alegandoviolação do art. 392, i 2?, do CPP,além de dissídio jurisprudencial queaponta (fls. 81 a 89).

Pelo despacho de A. 93 foi o recur-so admitido.

Com as razões de fls. 95 a 98, subi-ram os autos a esta Corte.

VOTO

O Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela-tor): O réu foi condenado a 4 anos dereclusão por crime de roubo (fls. 74a 75). Foi intimado o defensor.Encontrando-se ausente o réu velo aser intimado por edital, tendo transi-tado em julgado a sentença (fl. 30).

No entanto, o v. acórdão recorridoentendeu que ocorrendo a prisão doréu mesmo após o trânsito em julga-do, deve a intimação perfazer-secom a intimação pessoal, com devo-lução, inclusive, do prazo da apela-ção.

Tal entendimento diverge frontal-mente do RHC 60.192, relatado peloeminente Ministro Néri da Silveira,em aresto assim ementado:

«Habeas corpus. Intimado o réu,por edital, da sentença condenató-ria, transitou em julgado a deci-são. CPP, art. 392, $1) 1? e 2?. Se,após esse fato, vier a ser preso ocondenado, não merece conhecida,por intempestiva, a apelação queporventura, interponha da senten-ça condenatória. Pedido indeferi-do» (RTJ 104/122)Estão configurados a negativa de

vigência do art. 392, f 2?, do CPP, eo dissídio jurisprudencial. Em facedo exposto, conheço do recurso paracassar o v. acórdão, restabelecida asituação anterior, ou seja, do t rânsi

-to em julgado da sentença condena-tória.

EXTRATO DA ATA

RE 115.343 — SP — Rel.: MinistroDjaci Falcão. Recte.: Ministério Pú-blico Estadual. Recdo.: Rui Domin-gos Ferreira (Advs.: Ahmad LakisNeto e outra).

Decisão: Conhecido e provido nostermos do voto do Ministro Relator.Unânime.

Ri esidéncia do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Borla. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 23 de fevereiro de 1988 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

R.T.J. - 125 393

RECURSO EXTRAORDINÁRIO CRIMINAL N? 115.388 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorrido: Vedison da Silva

Carvalho.

Processo Penal. Ouvida de testemunhas de acusação sem a pre-sença do réu, por se encontrar preso em outra Comarca, sem conheci-mento do Juiz processante. Inexistência de nulidade do processo, faceà ausência de prejuízo e à falta de artificio oportuna. Precedentes doSTF. Recurso extraordinário conhecido e provido.

ACORDA0

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros comPo-nentes da Segunda Turma do Supre-mo Tribunal Federal, ã unanimidadede votos e na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, conhecer do recurso e lhe darprovimento, nos termos do voto doMinistro Relator.

Brasília, 23 de fevereiro de 1988 —Djaci Falcão, Presidente e Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Djaci Falcão: A ma-téria objeto do recurso diz respeito,exclusivamente, à desnecessidade dese decretar a nulidade do processo,em virtude da ausência do réu à in-quirição das testemunhas de defesa,quando este estava preso e tal fatonão era do conhecimento do Juizprocessante.

O v. acórdão recorrido guarda oseguinte teor:

*Vistos, relatados e discutidosestes autos de Apelação nt464.221/1, da comarca de São Josédo Rio Preto, em que 4) . apelanteVedison da Silva Carvalho, sendoapelada a Justiça pública:

Acordam, em Sexta Câmara doTribunal de Alçada Criminal, porvotação unânime, anular o proces-so a partir da Instrução 36).Expeça-se alvará de soltura na for-ma da lei.

Ao relatório da R. Sentença, quese adota, acrescenta-se que o ape-lante foi condenado às penas de 1ano de reclusão e Cr$ 1.000, por in-curso no artigo 155, caput do Códi-go Penal, por haver furtado a mo-tocicleta marca Honda CB-400, queestava estacionada defronte aoapartamento da vitima.

Irresignado, apelou, pleiteandoabsolvição por falta de provas. ODr. Promotor contra-arrazoou e oprocesso teve regular tramitação.

A douta Procuradoria-Geral daJustiça é pelo improvimento.

Este é o sucinto relatório.A materialidade está bem de-

monstrada pelo laudo de fls. 7/8,onde se comprova que a motocicle-ta estava desmontada. Não haviaqualquer motivo razoável paradesmontar a motocicleta, bastantenova e em perfeito estado de con-servação. Ainda mais, como se ar-gumentou na R. Sentença, se fosseo caso da motocicleta precisar dereparo, seu proprietário iria procu-rar uma oficina idónea e jamais ospréstimos de um simples «curio-so».

Ganha toda força a hipótese le-vantada pela acusação no sentidode que estar-sela preparando um«desmanche» do veiculo, com fina-lidade de venda das caras peçascomponentes, com a circunstânciamuito a gosto dos criminosos daespécie, de ficarem praticamente

394 R.T.J. — 125

impunes, pelo desaparecimento doobjeto furtado na sua individuali-dade.

Questionou a defesa os elementosque induziram à autoridade de«Vedinho». Considerou pouca aprova testemunhal e presencial.

De início se diga que em tema defurto não se exige que a prova tes-temunhal seja presencial ao fato,pois a clandestinidade é normal-mente o ambiente em que se verifi-ca o crime. Outros delitos têm amesma característica.

A motocicleta foi encontrada emsua casa semidesmontada. Todo ocomentário levava a «Vedinho».Temos o depoimento de Célia.

Todavia, o processo penal deveser respeitado, e existe no feitouma nulidade insanável.

Conforme prova o ofício de fl. 41,o apelante estava preso na CadeiaPública de Barretos, quando se ini-ciou a instrução do processo.

Alertado pela Defesa o MM. Juiznada decidiu a respeito, limitando-se a dar vistas ao Dr. Promotor,que não houve prejuízo.

Sem decisão sobre o fato aponta-do, prosseguiu o processo, tendo aR. Sentença encontrado arrimo pa-ra condenar o apelante com basena prova produzida em sua ausên-cia, quando preso.

Ante o exposto, anula-se o feito apartir do inicio da instrução (fl.36).

Presidiu o julgamento o Sr. JuizMafra Carboneri, participando osSrs. Juízes José Pacheco e ChavesCamargo.

São Paulo, 30 de junho de 1987 —Pedro Gagliardi, Relator». (Fls.129 a 132)Pelo despacho de fl. 148, foi admi-

tido o recurso interposto pelo Minis-tério Público, com base no art. 119,III, d, da Lei Magna (fls. 136 a 145).

Com as razões de fls. 150 a 153, su-biram os autos a esta Corte.

VOTO

O Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela-tor): Em 15 do mês de agosto de 1983foi realizada a audiência de instru-ção com a presença do defensor doréu. Estando o réu ausente foi decre-tada a revelia, ouvindo-se as teste-munhas de acusação. Somente em 5de setembro chegou a informação aoJuízo que o referido réu estava presoem outra Comarca.

Nas alegações finais fls. 66 a 68,não se alegou nulidade decorrente daausência do réu na oitiva das teste-munhas.

O acórdão recorrido, no entanto,decidiu pela nulidade do processo,em face da ausência do réu na inqui-rição das testemunhas.

A jurisprudência do STF fixouorientação no sentido de que «a faltade comparecimento do réu à audiên-cia de inquirição de testemunhas nãoconfigura nulidade insanável, mor-mente se não argüida em razões fi-nais» (RHC 47.643, Rel.: saudosoMin. Barros Monteiro).

Acrescento, ainda, o He 56.682 —Pleno — Rel.: eminente Min. AntonioNeder (RTJ 89/806).

Mais recentemente, nesta mesmadiretriz, também decidiu esta Corte,no RE 105.483, relatado pelo eminen-te Ministro Carlos Madeira, em ares-to assim ementado:

«Criminal. A ausência do réu à au-diência de inquirição de testemu-nha, sem qualquer objeção da defe-sa e sem demonstração de prejuízo,na oportunidade das alegações fi-nais, não constitui vício insanável,a acarretar a nulidade do processo.Precedentes do STF.» (RE 105.483-2— SP, Rel.: Min. Carlos Madeira,r Turma, j. 22-11-85 DJ de 13-12-85,pág. 23211) (fl. 153).

R.T.J. — 125

395

Na linha dos precedentes, conheçodo recurso e lhe dou provimento pa-ra que, afastada a nulidade ora refe-rida, o Tribunal a quo aprecie aquestão em seu mérito, julgando co-mo entender de direito.

EXTRATO DA ATA

RECr 115.3116 — SP — Rel.: Minis-tro Djaci Falcão. Recte.: MinistérioPúblico Estadual. Recdo.: Vedisonda Silva Carvalho (Adv.: Luiz Fer-nando Cassilhas Volpe).

Decisão: Conhecido e provido nostermos do voto do Ministro Relator.Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes á Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Boda. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 23 de fevereiro de 1988 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 115.452 — SP(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Octavio Gallotti.Recorrente: Comet Fitas Auto-Adesivas Ltda. — Recorrido Estado de

São Paulo.

A imposição, ao arbítrio da autoridade fiscal, de restrições de ca-ráter punitivo decorrentes do regime especial do ICM, devido á ina-dimpléncia do contribuinte, é contrária à garantia assegurada peloart. 153, { 23, da Constituição. Precedentes do Supremo Tribunal:RREE n? 106.759, n? 190.918 e ri? 76.455.

Recurso extraordinário provido.

ACORDA()

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Primei-ra Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, co-nhecer do recurso e dar-lhe provi-mento.

Brasília, 22 de março de 1988 —Moreira Alves, PresidenteOctavio Gallotti, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Octavio Galotti: Amatéria acha-se exposta, como se-gue, pelo despacho do ilustre Desem-bargador Prestes Barra, quartoVice-Presidente, em substituição, do

Tribunal de Justiça de São Paulo, aoindeferir o extraordinário:

«Irresignada com a reforma dasentença concessiva do mandadode segurança ajuizado contra atoda Inspetoria Fiscal de Piracicaba(fls. 194/204 e 232/3), recorre ex-traordinariamente a COMET FitaAuto-Adesivas Ltda., apoiada nasletras a, c e d do permissivo cons-titucional.

Alega ter o aresto ofendido osarts. 6?, parágrafo único, 19, I, e153, ff 2? 23 e 29 da CR; os arts. 7?,caput, 9?, I, 99, 113, 2?, e 194 doCTN, e ainda divergido dasSúmulas 70, 323 e 547 da AugustaCorte, além de se basear no art. 53da Lei n? 440/74, contestado peran-te o art. 3?, 1?, do Decreto-Lei n?406/68 (fls. 253/65). Atribui tais

996 R.T.J. - 125

vícios ao julgado, por ter admitidoregime especial de recolhimento

do ICM aplicado à impetrante.Houve impugnação (fls. 267/9),

seguindo-se o parecer de fls. 271/2,pela admissão da inconformidadesob o enfoque da alínea a.

Não concorrem, todavia, os re-quisitos necessários à abertura dainstância excepcional.

Em primeiro lugar, porque nãose caracterizou o dissídio, pela fal-ta de prequestionamento dos ver-betes, sendo orientação firme doCol. STF a exigência desse indis-pensável requisito também quandose trata de temas sumulares (RE99 203-1-DF, Rel. Min. Soares Mu-foz, DJ de 25-3-1983; Ag 99.930.2-PR, Rel.: Min. Soares Mufioz,de 20-8-1984; e RE 103.159-0-PE,Rel.: Min. Sydney Sanches, DJ de20-114984).

Depois, porque com a mesma fa-lha se mostra a alegação de afron-ta aos preceitos constitucionais,não integrantes da fundamentaçãodecisória do julgado e, portanto,incapazes de servir de acesso à viaespecialissima, nos termos daSúmula 282 do Pretório Excelso(RE 108.953-9-SP, 1! T., v.u., Rel.:Min. Oscar Corrêa, j. em 18-4-1986,DJ 9-5-1986, pág. 7634; RE 103.683-1-SP, 1! T., v.u., Rel.: Min. RafaelMayer, j. em 25-4-1986, DJ 9-5-1986,pág. 7632; AgRg 101.700 e Ag104.382-2-SP, AI 14-6-1985, Rel.:Min. Djaci Falcão;; Ag. 105.693-2-SP, Rei.: Min. Sydney Sanches, AT7-10-1985, pág. 17359; Ag. 101.598-5-RS, Rel.: Min. Néri da Silveira,DJ 20-2-1985, pág. 1394; Ag. 101.274-9-SP, Rel.: Min. Sydney Sanches, j.24-10-1984, AI 6-11-1984, pág. 18636).

Por outro lado, não tendo a sup-te. demonstrado, de forma ao me-nos razoável, a inconstitucionalida-de do dispositivo local contestadoem face do diploma ordinário supe-rior, a irresignação não pode pros-seguir sob o prisma da alínea c do

art. 119, III, da Carta Magna, se-gundo o conteúdo da Súmula 285 doCol. STF.

No mais, os argumentos basea-dos na afronta aos preceitos de leifederal também são insuficientespara viabilizar o apelo, não se en-quadrando a espécie nas previsõesdo art. 325 do RISTF (aplicávelcom a redação da Emenda n? 2/85,por se tratar de decisão prolatadaapós 1?-2-1986 — fl. 251).

Acresce ter-se fundamento o v.acórdão em normas de direito esta-dual (Lei n? 440), cujo eventualgravame não oferece ensejo à in-conformidade máxima (Súmula280).

Por todos esses motivos, nego se-guimento ao recurso, processando-se a argüição de relevância» (fls.274/276).Rejeitada a argüição de relevân-

cia, subiram os autos, a melhor exa-me, ante o provimento do Agravo deInstrumento n? 117.503-6, em apenso.

E o relatório.

VOTOO Sr. Ministro Octavio Galotti (Re-

lator): Dada a rejeição da relevân-cia, concentra-se, o exame do recur-so, na apreciação das alegações decontrariedade à disciplina constitu-cional (arts. 6?, parágrafo único, 19,I e 153, §1 2?, 23 e 29) e de divergên-cia com as Súmulas n? 70, n? 323 e n?547.

Os artigos 6?, parágrafo único, 19, Ie 153, § 2? e 29 da Constituição Fede-ral não foram ventilados no acórdãorecorrido e tampouco agitados nosembargos declaratórios, opostos à-quele decisório.

Tenho, contudo, por satisfeito oprequestionamento do art. 153, § 23,adotado como um dos fundamentospela sentença (fl. 200) e invocado pe-la ora Recorrente, desde a inicial (fl.6) até os embargos declaratórios (fl.247).

R.T.J. - 125

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Cuida-se de mandado de seguran-ça, interposto pela ora Recorrente,contra o ato da autoridade fiscalque, com base nos arts. 53 e 61 daLei n? 440-74 e no art. 490 do Decreton? 17.727-81, a submetera ao chama-do «regime especial» de recolhimen-to do ICM, em virtude da inadim-plência da Impetrante, quanto ao pa-gamento dos seus débitos fiscais.

Em decorrência do regime espe-cial, foram estabelecidas, entre ou-tras, as seguintes restrições ao con-tribuinte: a) recolhimento compulsó-rio do ICM, antes da saída da mer-cadoria do estabelecimento comer-cial, ou após a salda e antes da en-trega ao destinatário; b) vedação,aos negociantes compradores, de uti-lizarem o crédito a que têm direito,quando desacompanhados de «guiaespecial» de pagamento do tributopor parte do vendedor; c) retençãodos talonários de nota fiscal, paraaposição de um carimbo, mostrandoque o contribuinte se encontra sob«regime especial» e d) publicação doato impositivo da Administração, naimprensa oficial.

A questão de saber da constituclo-nalidade das medidas aplicadas no«regime especial» de pagamento doICM é matéria já conhecida destaCorte, que, pelo menos em três as-sentadas, pelas suas duas Turmas,teve ocasião de pronunciar-se emsentido contrário á sua imposição,sob o fundamento de que as sanções,cominadas ao contribuinte, carecemde respaldo constitucional, particu-larmente á vista da inaceitável mar-gem de arbítrio reservada aos agen-tes do Fisco.

Assim, no Recurso Extraordináriori? 106.759 (RTJ 115-1439), decidiu es-ta Turma, em hipótese idênticaàquela dos presentes autos, conhecerdo recurso do contribuinte e dar-lheprovimento, em acórdão cuja emen-ta, bem sintetiza a orientação consa-grada por este Supremo Tribunal:

«ICM. Regime especial.Sanções não impostas por lel e

entregues ao exclusivo arbítrio daautoridade fiscal.

Inaceitabilidade. Precedentes daCorte.

Recurso extraordinário conheci-do e provido.»Daquela assentada, realço, pela in-

teira pertinência ao deslinde da es-pécie em exame, a seguinte passa-gem do voto do eminente MinistroOscar Corrêa, Relator:

«O regime especial imposto peloRegulamento paulista (Decreto n?5.410/74, substituído pelo Decreton? 17.727/81) deixa ao critério daautoridade as normas do regimeespecial a que se submeterá o con-tribuinte (arts. 490/491), pelo perío-do que for fixado.

Ora, é inaceitável esse arbítrioda autoridade, ilimitado, que nãose compadece com o regime de le-galidade tributária vigente entrenós, garantia essencial da ordemjurídica» (RTJ 115/1442).A mesma orientação fora adotada,

por este Tribunal no julgamento dosRecursos Extraordinários n? 76.455(RTJ 73-821), Relator o em. MinistroLeitão de Abreu e n? 100.918 (RTJ111-1307), Relator o em. MinistroMoreira Alves, sublinhados, em am-bas as oportunidades o caráter depenalidade ou sanção política das co-minações originárias do regime es-pecial, consideradas ofensivas à ga-rantia constitucional do art. 153, I 23.

Conheço e dou provimento ao re-curso, para restaurar a sentença deprimeiro grau.

EXTRATO DA ATA

RE 115.452 — SP — Rel.: MinistroOctavio Gallotti. Recte.: Comet FitasAuto-Adesivas Ltda. (Adv.: LaércioPaulino da Costa). Recdo.: Estadode São Paulo (Adv.: André Rodri-gues Sarmento Filho).

398 R.T.J. — 125

Decisão: Recurso conhecido e pro-vido. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes á Sessãoos Senhores Ministro Néri da Silvei-ra, Oscar Corrêa, Sydney Sanches e

Octavio Gallotti. Subprocurador-Geral da República, Dr. José Arnal-do Gonçalves de Oliveira.

Brasília, 22 de março de 1988 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 115.477 — PA(Primeira Turma)

Relator: O Sr. Ministro Octavio Gallotti.Recorrente: Estado do Pará — Secretaria de Estado de Educação —

SEDUC — Recorridos: Luiz Carlos de Oliveira e outros.

Magistério estadual.A remuneração prevista no Decreto n? 67.322-70 é simples diretriz

de aplicação do produto do Fundo de Participação dos Estados e dosMunicípios, sem configurar piso salarial, reivindicável por meio dereclamação trabalhista. Precedentes do Supremo Tribunal.

Recurso Extraordinário provido, por contrariedade dos artigos 6?e 8?, XVII, b, da Constituição.

ACORDA°Vistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros do Su- Recorrendo ambas as partes, opremo Tribunal Federal, em Primei- Tribunal Regional da Oitava Regiãora Turma, na conformidade da ata negou provimento ao apelo do Esta-do julgamento e das notas taquigrá- do, mas acolheu o dos reclamantes,ficas, por unanimidade de votos, co- para incluir, na condenação, as dite-nhecer do recurso e dar-lhe provi- renças que a Junta havia recusado.mento, nos termos do voto do Mi-nistro Relator.

Brasília, 15 de março de 1988 —Moreira Alves, Presidente — Oc-tavio Gallotti, Relator.

RELATORIOO Sr. Ministro Octavio Gallotti:

Trata-se de reclamação trabalhista,proposta por professores públicos doEstado do Pará, ora Recorrente,pleiteando a remuneração de 3,5%do salário mínimo regional por hora-aula, prevista no Decreto n? 67.322/70, e, ainda, o pagamento de gratifi-cação natalina.

A ação foi julgada, em parte, pro-cedente, apenas em relação ao últi-mo dos dois benefícios (13? salário),repelida a pretensão relativa às dife-

renças salariais, decorrentes do de-creto federal (fls. 84/5).

Dai a revista do empregador, porviolação dos artigos 6? e 8?, XVII, b,da Constituição, além de divergênciajurisprudencial. Apreciando esse re-curso, a Terceira Turma do ColendoTribunal Superior do Trabalho, apósnão conhecer de preliminar de in-competência, também do recursonão conheceu, ante as seguintes con-siderações:

«2. Preliminar de inconstitucio-nalidade da decisão por ofensa aosarts. 6? e 8? da CF.

Diz o recorrente que a interpre-tação das disposições do DecretoFederal ri? 67.322/70, como estabe-lecendo norma obrigatória para afixação de salário mínimo para osprofessores do antigo «ensino mé-dio», é inconstitucional por ferir osdispositivos mencionados em epl-

R.T.J. — 125

399

grafe e, nesse sentido, aponta deci-sões do Excelso Pretório (fls.62/63) e da 2? Turma desta Eg.Corte Superior (fl. 64), todas inser-viveis, mercê de sua procedência,para caracterizar a divergêncianos termos da alínea a do art. 896da CLT. Quanto à afronta, o Legis-lativo deu a forma, o Executivo apôs em prática e o Judiciário dis-se que não estava bem. Não vejoonde a pretendida afronta, à reve-lia do mérito da decisão.

De qualquer maneira, o arestorecorrido não abordou o assunto,nem no particular do piso salarialdos professores, nem no geral doDecreto n? 67.322/70 não ter criadoobrigações de cunho trabalhista.Aliás, nem carecia, que o recursovoluntário, mais preocupado com aquestão da competência, tambémnão cuidou disso, e decreto nãoserve de base para revista.

Por falta de prequestionamento,não conheço desse tópico que, ade-mais, restaria desfundamentado.

3. Onus da prova. Finalmente,melhor sorte não há de socorrer oréu, quanto ao ônus da prova deter sido utilizado irregularmente oFundo de Participação do Estado,visto como, aqui também, nãoocorreu o prequestionamento, e ca-beria antes saber se os reclaman-tes provocaram ou não a negadaobrigação do Estado em pagar aosprofessores de «ensino médio» nabase de 3,5% do salário mínimo re-gional.

Não conheço, pois, integralmenteda revista.

Isto postoAcordam os Ministros da Tercei-

ra Turma do Tribunal Superior doTrabalho, unânime e preliminar-mente, determinar a renumeraçãodo processo a partir de fl. 121, ex-clusive, e não conhecer dos docu-mentos de fls. 110/112. Unanime-mente, não conhecer da revista pe-la preliminar de incompetência.

Por maioria, dela não conhecer,quanto à tese da ofensa aos artigos6? e 8? da Constituição Federal,vencido o Sr. Ministro GuimarãesFalcão e, quanto ao mérito, unani-memente, dela também não conhe-cer» (fls. 201/2).

Apresentados embargos para oTribunal Pleno, sob o mesmo funda-mento constitucional que inspirara aRevista, foram os mesmos indeferi-dos, por despacho do ilustre Presi-dente da Turma (fl. 255), confirmadopela Corte, em grau de agravo regi-mental, por meio do acórdão de fl.292, ao qual se opuseram embargosdeclaratórios, acolhidos em parte,para esclarecimentos, às fls. 306/7.

Recorre o Estado, perseverandona sustentação do recurso de revista(ofensa aos artigos 6? e 8? XVII, b,da Constituição) e invocando os pre-cedentes desta Corte, ao julgar osRecursos Extraordinários n?s 93.197,96.920 e 97.090 desde então menciona-dos, aos quais acrescenta alusão aosRecursos Extraordinários n? 94.334,n? 92.015, nt 96.919, n? 91.217 e n?95.551.

O recurso teve o seguimento nega-do na origem (fl. 397), mas sobe, amelhor exame, em virtude do provi-mento de Agravo.

Razões do Recorrente às fls. 412/5e contra-razões dos Recorridos, àstis. 417/21.

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Octavto Gallottt(Relator): Desde a contestação, ar-gúi o ora Recorrente que, ao Decreton? 67.322-70 não se poderia atribuir oefeito de estabelecer piso remunera-tório dos professores da rede esta-dual de ensino, mas apenas o cará-ter de norma de percepção e dispên-dio de quotas do Fundo de Participa-ção dos Estados, na arrecadação dos

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impostos sobre a renda e os produtosindustrializados.

Só teve êxito, entretanto, na sen-tença de primeiro grau, reformada,nesse ponto, pelo Tribunal Regional.

Manifestada a Revista, dela não seconheceu, no tocante à divergência,porque o Tribunal Superior do Tra-balho não admite, para esse fim, pa-drões oriundos de suas próprias Tur-mas ou do Supremo Tribunal, po-rém, somente, decisões de seu Ple-nário ou de outros Regionais. No to-cante à violação da lei, no caso dosartigos 6? e 82, XVII, b, da Constitui-ção, foi a matéria versada no seguin-te trecho, que destaco do já reprodu-zido no Relatório:

«Quanto á afronta, o Legislativodeu a forma, o Executivo a pôs emprática e o Judiciário disse quenão estava bem. Não vejo onde apretendida afronta, á revelia domérito da decisão» (fl. 201).Ora, o citado Decreto n? 67.322-70,

tal como aplicado pelo acórdão re-corrido, não se teria, data venta, li-mitado a dar forma a um direito ins-tituído por lei. Emprestou-se-lhe, aorevés, a conseqüência de criar umaobrigação de direito do trabalho, pri-vativa de ato legislativo da União.

Além disso, o texto regulamentarem causa é simples diretriz de utili-zação do Fundo de Participação,suscetível de gerar reivindicação sa-larial, como tem reiteradamente de-cidido o Supremo Tribunal, a partirdó julgamento, em Plenário, do Re-curso Extraordinário n? 94.334, pro-vido por contrariedade, precisamen-te, dos artigos 6? e XVII, b, daConstituição. Els a ementa do acór-dão respectivo, da lavra do eminenteMinistro Cunha Peixoto:

«O Decreto n? 67.322, de 2-10-70,determinou condições para os Es-tados utilizarem a parcela destina-da it Educação na quota dos res-

pectivos Fundos de Participação e,entre ela fixou um limite mínimode retribuição aos professores deensino médio oficial, mas não insti-tuiu um piso salarial para os refe-ridos professores, capaz de ensejarreclamação trabalhista». (RTJ 104/745).

Observo que o Recorrente pregues-Minou os citados dispositivos consti-tucionais (artigos 6? e 82, XVII, b)na oportunidade adequada, isto é, ade interposição do Recurso de revis-ta. O julgado nesta proferido respon-deu, explicita, embora equivocada-mente, à tese então proposta.

O Recorrente perseguiu a exaustãodas instâncias especializadas, insis-tindo na alegação da infringênciadas normas questionadas (fl. 204).

Os seus embargos, de que não seconheceu, tinham, como a Revista,pressuposto comum ao cabimento dopresente recurso extraordinário, va-le dizer, a ofensa á Constituição.

E o entendimento, dado a esta (ar-tigos 6? e 82, XVII, b), contraria osentido fixado pelo Supremo Tribu-nal, em remansosa orientação.

Conheço do Recurso e dou-lhe Pro-vimento, para restabelecer a senten-ça de primeiro grau.

EXTRATO DA ATA

RE 115.477 — PA — Rel.: MinistroOctavio Gallotti. Recte.: Estado doPará — Secretaria de Estado deEducação — SEDUC (Advs.: HugoMósca e outro). Recdos.: Luiz CarlosCorrêa de Oliveira e outros (Advs.:Roberto de Figueiredo Caldas e ou-tros).

Decisão: Recurso conhecido e pro-vido, nos termos do voto do MinistroRelator. Unânime. Falaram peloRecte.: o Dr. Hugo Mósca e pelos

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Recdos.: Dr. Roberto de FigueiredoCaldas.

Presidência do Senhor MinistroMoreira Alves. Presentes à Sessãoos Senhores Ministros Néri da Silvei-ra, Oscar Corrêa, Sydney Sanches e

Octavio Gallotti. Subprocurador-Geral da República. Dr. José Arnal-do Gonçalves de Oliveira.

Brasília, 15 de março de 1988 —Antonio Carlos de Azevedo Braga,Secretário.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO ?C 115.552 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Djaci Falcão.Recorrente: Ministério Público Estadual — Recorrido: Sidney dos San-

tos.

Direito Penal. Surgis. Tanto a prorrogação obrigatória no períodode prova do sumis (art. 81, 2?), como a revogação obrigatória (art.til, Inc. I, do Cód. Penal) é automática, não exigindo a lei decisão dojuiz. Precedentes do STF. Recurso provido.

ACOR.DA0

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros compo-nentes da Segunda Turma do Supre-mo Tribunal Federal, à unanimidadede votos e na conformidade da atado Julgamento e das notas taquigrá-ficas, conhecer do recurso e lhe darprovimento.

Brasília, 26 de fevereiro de 1988 —Djaci Falcão, Presidente e Relator.

RELATORIO

O Sr. Ministro Djaci Falcão: Oacórdão recorrido guarda o seguinteteor:

«Vistos, relatados e discutidosestes autos de Recurso em SentidoEstrito n? 468.093/5, de CândidoMota, em que é Recorrente a Jus-tiça Pública, sendo recorrido Sid-ney dos Santos ou Sidnei dos San-tos:

Acordam, em Sexta Câmara doTribunal de Alçada Criminal, porvotação unânime, negar provimen-to ao recurso.

O Representante do MinistérioPúblico ajuizou o presente recursoem sentido estrito em processo em

que Sidney dos Santos foi condena-do a dois anos de reclusão e multade Cr$3.000, pela prática de roubona sua forma tentada, tendo sidoconcedido o sursis, incondicional-mente, pelo prazo de dois anos.

Em razão da execução da sen-tença, o MM. Juiz das ExecuçõesPenais da Comarca, refutando ob-servação do Representante do Mi-nistério Público de estar a suspen-são condicional da pena prorroga-da em virtude de estar o réu sendoprocessado na Comarca de Palml-tal (fls. 12S/126v.), Julgou extinta asua punibilidade, pelo simples de-curso do período probatório dosursis, escoado entre 21 de marçode 1984 e 9 de outubro de 1985 e porentender necessário o pronuncia-mento Judicial revocatório duranteo curso daquele tempo de prova, sóse prorrogando o que está em cur-so e não o que Já se expirou.

O recorrido apresentou suas con-tra-razões (fls. 134/136), pronun-ciando-se pela manutenção da de-cisão recorrida.

A douta Procuradoria-Geral daJustiça opinou pelo provimento dorecurso ministerial (fl. 140).

É o relatório.

402 R.T.J. — 125

Confirma-se a sentença de fl.127, posto que o período de provado sursis expirou em 9 de outubrode 1985, há muito mais de um ano.Por outro lado, «o cumprimento dosursis prescinde de despacho oudeclaração judicial, pois é automá-tico» (RT 490/313, 461/434). Destar-te, quando foi solicitada a prorro-gação do sursis, fato ocorrido em13 de outubro de 1986, já se achavaextinta a punibilidade, porquantojá decorrera o período de prova.

Convém observar, em apoio a es-ta decisão, que, «terminado o pe-ríodo de prova, não pode mais ser osursis revogado, ainda que se des-cubra condenação ocorrida duran-te o decurso de seu tempo» (RT567/336). Como bem decidiu a r.sentença, não há como prorrogaruma pena já extinta. Prorroga-seapenas o que está em vigor, o quenão é o caso dos autos.

Nega-se provimento ao recursoministerial.

Presidiu o julgamento o Sr. JuizMafra Carbonieri, participando osSrs. Juizes José Pacheco e ChavesCamargo.

São Paulo, 30 de junho de 1987 —Lima Rebelo, Relator» (fls. 145 a147)O Ministério Público Estadual in-

terpôs apelo extremo com funda-mento nas alíneas a e d do permissi-vo constitucional alegando violaçãodos arts. 81, n? 1 e § 2? e 82, do CP,além de dissídio jurisprudencial queaponta (fls. 140 a 160).

Pelo despacho de fls. 163 a 164, foio recurso admitido.

Com as razões de fls. 166 a 168, su-biram os autos a esta Corte.

VOTO

O Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela-tor): O v. acórdão ao entender que

expirado o prazo da prova, não épossível revogar automaticamente osursis, mesmo que o réu esteja sen-do processado por outro crime,afronta o art. 81 do C. Penal.

Assim me pronunciei em casoidêntico ao relatar o RECr 112.829,quando aduzi em meu voto: «não pa-dece dúvida de que a prorrogação doprazo do sursis é automática, desdeque o beneficiário esteja sendo pro-cessado por outro crime ou por moti-vo de contravenção. Tanto a prorro-gação obrigatória do período de pro-va do sursis (art. 81, § 2? do CódigoPenal), como a revogação obrigatória(art. 81, inc. I do Cód. Penal) é auto-mática, não se exigindo decisão dojuiz. Nesse sentido orienta-se tam-bém a melhor doutrina (Damásio deJesus, in Comentários ao CódigoPenal, vol. 2?, págs. 717 a 720).»

Acrescento, ainda, nessa mesmalinha o RHC 59.984, Relator o emi-nente Ministro Alfredo Buzaid e osRE 112.595 e RHC 64.900, por mimrelatados.

Ante o exposto, conheço do recursoe lhe dou provimento.

EXTRATO DA ATA

RE 115.552 — SP — Rel.: MinistroDjaci Falcão. Recte.: Ministério Pú-blico Estadual. Recdo.: Sidney dosSantos (Adv.: Luiz Carlos Malho).

Decisão: Conhecido e provido nostermos do voto do Ministro Relator.Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Borja. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 26 de fevereiro de 1988 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

R.T.J. - 125 403

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N? 115.711 — SP(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Djacl FalcãoRecorrente: SINTEBRAS S/A — Recorrido: Estado de São Paulo

Direito Tributário. ICM. Matéria-prima. Creditamento. Repassedo ônus tributário ao adquirente sem dedução do valor da matéria-prima. Recurso extraordinário não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros compo-nentes da Segunda Turma do Supre-mo Tribunal Federal, à unanimidadede votos e na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, não conhecer do recurso.

Brasília, 11 de março de 1988 —Djaci Falcão, Presidente e Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Djacl Falcão: Oacórdão recorrido guarda o seguinteteor:

«Vistos, relatados e discutidosestes autos de Apelação Civel n?105.704-2, da Comarca de São Pau-lo, em que é recorrente oJuízo ex offi-cio, sendo apelante SINTEBRASS/A e apelada a Fazenda do Esta-do de São Paulo.

Acordam, em Décima TerceiraCâmara Civil do Tribunal de Justi-ça do Estado de São Paulo, por vo-tação unânime, receber embargos.

Custas na forma da lei.1. Trata-se de ação declaratória

do direito de crédito do valor pre-sumido do ICM que não foi pagoem razão da isenção relativamenteà entrada de matéria-prima impor-tada que SINTEBRAS S/A move àFazenda do Estado de São Paulojulgada procedente em parte pelar. sentença de fls. 586/594 cujo re-latório se adota com a declaraçãodo direito do crédito no valor deCr$ 90.450,55 com a condenação da

ré ao reembolso de 60% das custase despesas do processo e honorá-rios advocaticlos de oitocentos milcruzeiros.

Houve o recurso oficial e o volun-tário da autora que pretende a am-pliação do valor a ser creditado e acorreção monetária. Este recursofoi processado regularmente.

o relatório.2. Dá-se provimento ao recurso

oficial para julgar improcedente aação, condenada a autora nas cus-tas, despesas e honorários advo-catícios de 10% do valor dado àcausa, prejudicado o recurso daautora.

Trata-se de ação declaratória, enão, de ação condenatória comoafirma a apelante. Aliás descabe-ria ação condenatória, pois no ca-so, visa-se tão-somente à declara-ção da existência, ou não, do direi-to de crédito, já que o credftamen-to independe de autorização da ré,nem de decisão judicial.

Relator sempre entendeu quea isenção não gera direito de crédi-to do valor presumido do ICM nãopago pelos fundamentos seguintes.

A isenção pela entrada damatéria-prima importada e desti-nada a integrar produtos industria-lizados, tributados na saída nãoimporta no direito de crédito dovalor do ICM que não foi pago.

art. 23 da Constituição Federalé expresso ao consignar que os Es-tados podem instituir impostos so-bre operações relativas à circula-ção de mercadorias, tributos esses

404 R.T.J. - 125

que não serão cumulativos e dosquais se abaterá, nos termos dodisposto em lei complementar, omontante cobrado nas anteriorespelo mesmo ou por outro Estado.

Citada disposição constitucionalé expressa ao dizer que o abati-mento (direito de crédito) se refe-re ao montante do ICM cobrado, ena forma da lei complementar.

E a lei complementar estabele-ceu que o direito de crédito do ICMse restringe ao imposto cobradonas operações anteriores (art. 1?,V, da Lei Complementar Federaln? 4/69).

A lei estadual (regulamento doICM) concedeu a isenção condicio-nada, ou seja, desde que da saídados produtos industrializados resul-tantes ficasse sujeito efetivamenteao pagamento do ICM.

Ora, se se conceder o direito decrédito pretendido do ICM que nãofoi pago, porque a operação de en-trada estava isenta, na saída nãose estará assegurando o efetivo pa-gamento do ICM, pois a Fazendaestará recebendo apenas o valor doICM correspondente à salda menos

crédito que se pretende fazer doICM que não foi pago.

Há por isso certa procedência noparalelismo que se faz com o insti-tuto do diferimento. E que não háisenção do ICM em todas as fasesda circulação. Apenas não se co-brou o ICM na entrada da matéria-prima, isenção essa que ficou con-dicionada ao efetivo pagamento doICM na saída do produto resultanteda industrialização, de modo inte-gral.

Por outro lado, as conseqüênciasque se pretende tirar do principioda não cumulatividade do ICM im-procedem. Por não cumulatividadea Constituição Federal quis dizerque não se cobrará duas vezes oICM sobre a mesma mercadoria.Assim, se na primeira operação foi

pago o ICM, na operação seguinte,o ICM pago na anterior pode serdeduzido.

Tanto isso é verdade que o legis-lador Constitucional acabou pordar interpretação autêntica, face àdivergência jurisprudencial, aoeditar a Emenda Constitucional n?23, esclarecendo em definitivo queas isenções ou reduções do ICMnão importam no direito de créditodo ICM correspondente à operaçãoisenta, justamente, por ele não foipago.

Além desse aspecto de teses, háo aspecto tático.

Excelso Pretório já decidiuque o reconhecimento de créditospretéritos em ação declaratória,na realidade envolve repetição deindébito, e por isso mesmo, nostermos da Súmula 546 se exige aprova de que o autor não cobrou otributo do contribuinte de fato(RTJSTF 113/308; 113/1.306).

No caso concreto a autora nãofez essa prova. Pelo contrário tudoindica que houve o repasse do tri-buto ao contribuinte de fato.

perito respondendo ao quesito8 (fls. 376/377) esclareceu que o va-lor considerado pela autora quandodo consumo das mercadorias im-portadas utilizadas como matéria-prima foram aqueles constantesdas notas de entrada, ou seja, o va-lor da importação sem a deduçãodo ICM omissis

Ora, se não houve a dedução dovalor presumido do ICM que nãofoi pago e de que se pretende cre-ditar, esse valor integrou o preçode custo do produto e assim na suavenda o valor do tributo foi repas-sado ao contribuinte de fato, tantoque nas notas fiscais de venda hou-ve o destaque do valor do ICM in-tegrante do preço da mercadoria(fls. 453/534).

Se a matéria-prima importadaestivesse sujeita à tributação, a

R.T.J. - 125 405

autora pagaria o ICM sobre amatéria-prima importada e se cre-ditaria do respectivo valor. Assimo preço real de custo da matéria éo constante da nota de entrada.

Mas, havendo Isenção, como nãohouve o pagamento do ICM e sepretende o creditamento do valorcorrespondente, o custo real damatéria-prima seria o constante danota de entrada menos o valor deque se pretende creditar. O custoindustrial no caso, seria menor,mas como a autora considerou ovalor constante da nota de entra-da, o valor do ICM de que se pre-tende creditar foi repassado aopreço de custo industrial e por viade conseqüência, ao contribuintede fato.

A conseqüência é de rigor o pro-vimento do recurso oficial para sejulgar improcedente a ação, preju-dicado o recurso da autora.

O julgamento teve a participaçãodos Desembargadores Pereira daSilva (Presidente) e Borelli Ma-chado, com votos vencedores» (fls.723/726).Houve embargos declaratórios que

foram rejeitados (fls. 735 a 736).O recorrente interpôs recurso ex-

traordinário com fundamento nasalíneas a e d do permissivo constitu-cional alegando ofensa ao art. 23 daCF, além de dissídio jurisprudencialque aponta.

Pelo despacho de fls. 784 a 785, foio recurso indeferido, porém veio aser processado em virtude do provi-mento do Ag. 118.402.

Com as razões de fls. 805 a 814 econtra-razões de fl. 815, subiram osautos a esta Corte.

VOTO

O Sr. Ministro Djaci Falcão (Rela-tor): O v. acórdão julgou improce-dente a ação que objetivava credita-

mento de ICM sobre matéria-primaimportada com isenção, sob o funda-mento de que as notas fiscais sãoclaras ao mencionar que o impostoteve seu valor incluído no preço.Houve, portanto, repercussão, poisforam os adquirentes do produto fi-nal que arcaram com o recolhimentodo ICM. Não há, destarte, a satisfa-ção dos pressupostos indispensáveispara o acolhimento do pedido (cf. fl.426). Posta a questão nestes termos,nenhum direito tem a Empresa comrelação ao crédito pretendido.

Aliás, a orientação do aresto re-corrido se alinha na mesma diretrizdo AgRg 107.778, relatado pelo emi-nente Ministro Aldir Passarinho emacórdão que guarda a seguinteementa:

«Tributário. ICM.Matéria-prima. Isenção.Creditamento.Não é de se ter como malferido o

art. 166 do CTN, se tal preceito le-gal se refere a repetições de indé-bito, com expressa determinaçãode que haja prova de que o valordo imposto cuja devolução é reque-rida não foi repassado ao contri-buinte «de fato», e no caso há pro-va de que houve tal repasse.

Não é de admitir-se, também, oextraordinário pela letra d do art.119, III, da CF, se os paradigmastrazidos a confronto não configu-ram hipótese idêntica ou seme-lhante a este objeto de exame.»Acrescento, ainda, os RREE

114.080, 111.192 e 113.677, por mtm re-latados.

Na mesma linha dos precedentes,não conheço do presente recurso.

EXTRATO DA ATA

RE 115.711 — SP — Rel.: MinistroDjaci Falcão. Recte.: SINTEBRASS/A. (Adv.: Ricardo Gomes Louren-

406 R.T.J. — 125

co). Recdo.: Estado de São Paulo(Adv.: George Takeda).

Decisão: Não conhecido. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-

nho Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Boda. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 11 de março de 1988. —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 116.504 (AgRg) — PR(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Célio BorjaAgravante: Dúlcio Mendes dos Santos — Agravado: Juiz de Direito da 1!

Vara Civel da Comarca de São José dos Pinhais

Agravo Regimental que não ataca os fundamentos da decisão im-pugnada.

AgRg improvido.

ACORDA°Vistos, relatados e discutidos estes

autos, acordam os Ministros da Se-gunda Turma do Supremo TribunalFederal, na conformidade da ata dejulgamento e das notas taquigráfi-cas, à unanimidade de votos, em ne-gar provimento ao agravo regimen-tal.

Brasília, 29 de maio de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CélloBorja, Relator.

RELATÓRIOO Sr. Ministro Céllo Borja: Neguei

seguimento ao agravo por este des-pacho (fl. 215):

«O despacho impugnado (fls.198/199) — negou seguimento ao ex-traordinário com base no veto doart. 325, III, do RISTF (redação an-terior à Emenda n! 2/85) e dasSúmulas 282 e 356. As razões do pre-sente instrumento não atacam osfundamentos desse despacho e o eg.Conselho, em 11-3-87, não conheceuda argüição de relevância. Além dis-so, a diligência requerida pelo agra-vante (fls. 208/211) não se justificaem face das certidões de fl. 202.

Nego, pois, seguimento ao recur-so».

O agravo regimental dai decorren-te (fls. 217/218), em confusa petição,observando que o Tribunal de Justi-ça do Paraná extrai certidões corre-tamente com os nomes das partes, omesmo devendo suceder com a V!Vara Cível e o Cartório da Comarcade São José dos Pinhais e «a fim deque seja corrigido esses erros, apon-tados contra os agravados, que vio-laram os artigos 166, 255 e 528 do Có-digo de Processo Civil, inclusive, oparágrafo 35, do art. 153, da Consti-tuição Federal, do processo subjudice».

Requer:«a) seja reconsiderado o r. despa-

cho naquele Agravo de Instrumentosob n? 116.504 do STF, porque vemcausando prejuízo processual e aodireito da parte agravante, a fim deque, seja posto ao julgamento doPlenário ou da Turma, uma vez que,sem o nome do Excepto-LeonldasSilva Filho, naquele livro público deregistro geral de feitos e,

Sem o nome do Excepto-LeonidasSilva Filho, naquela capa de autua-

R.T.J. — 125 407

ção dos Autos n? 21.375/82 de Exce-ção de suspeição, que naquela 1? Va-ra Civel e respectivo cartório da Co-marca de São José dos Pinhais-PR,não extraindo e não expedindo as re-feridas certidões solicitadas de fls. efls., que vem causando prejuízo pro-cessual e prejuízo ao direito da par-te, aqui agravante, até a presentedata e, o mais que o saber de V.Exa. suprirá».

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Célio Boda (Rela-tor): Como visto, neguei seguimentoao agravo porquanto o recorrentenão atacou os fundamentos da deci-são impugnada.

No presente recurso, uma vezmais, o agravante não faz referênciaàs razões do despacho agravado, quesubsistem íntegras.

Tais as circunstâncias, nego provi-mento ao agravo regimental.

E o meu voto.

EXTRATO DA ATA

Ag 116.504 (AgRg) — PR — Rel.:Ministro Célio Boda. Agte.: MeioMendes dos Santos (Adv.: em causaprópria). Agdo.: Juiz de Direito da EVara Cível da Comarca de São Josédos Pinhais.

Decisão Negado provimento aoAgravo Regimental. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Aldir Passari-nho, Francisco Rezek, Carlos Madei-ra e Célio Boda. Subprocurador-Geral da República, o Dr. MauroLeite Soares.

Brasília, 29 de maio de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 119.205 (AgRg) — RJ(Segunda Turma)

Relator: O Sr. Ministro Carlos MadeiraAgravante: Cia. Capital de Produtos Alimentícios — Agravado: Estado

do Rio de Janeiro

ICM. Isenção e direito de crédito na operação subseqüente. Corre-ção monetária.

A jurisprudência da Corte, em inúmeras oportunidades, tem semanifestado no sentido de que os efeitos patrimoniais do mandado desegurança devem ser pleiteados na ação própria (Súmula 271).

Agravo regimental improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estesautos, acordam os Ministros do Su-premo Tribunal Federal, em Segun-da Turma, na conformidade da atado julgamento e das notas taquigrá-ficas, por unanimidade de votos, emnegar provimento ao Agravo Regi-mental.

Brasília, 26 de junho de 1987 —Djaci Falcão, Presidente — CarlosMadeira, Relator.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Madeira:Trata-se de mandado de segurançaimpetrado pela Companhia Capitalde Produtos Alimentícios, ora agra-

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vante, contra a Inspetoria Regionalda 12 Região Tributária do Estadodo Rio de Janeiro, que considerou in-devidamente contabilizada, em suaescrituração fiscal, a correção mo-netária por atraso na dedução docrédito do ICM Incidente na aquisi-ção de café ao IBC.

A Terceira Câmara Cível do Tribu-nal de Justiça do Estado do Rio deJaneiro denegou a segurança. Sobre-veio recurso extraordinário, indeferi-do, e agravo de instrumento, ao qualneguei seguimento através do se-guinte despacho (f1.162):

«Trata-se de recurso extraordi-nário interposto a acórdão, cujaementa é a seguinte:

«Inexistindo norma jurídicaque autoriza a correção monetá-ria na apropriação de crédito doICM, denega-se a segurança.

Apelação desprovida.»A alegação de contrariedade ao

artigo 23, II, da Constituição Fede-ral prescinde do indispensável pre-questionamento, que não se admiteimplicitamente (Súmulas 282 e356).

Afastada a matéria constitucio-nal, não há condições para o pro-cessamento do apelo, visto que acausa não se enquadra nas hipóte-ses elencadas no artigo 325 doRISTF, na redação da Emenda Re-gimental n? 2/85.

A par disso, a jurisprudência daCorte não acolhe a pretensão darecorrente (Súmula 271).

Nego seguimento ao agravo.»Dai o presente agravo regimental

em que a agravante sustenta, emsíntese, o seguinte (fls. 164/166):

«a) Desta forma é evidente quetodo o prequestionamento foi susci-tado desde a petição inicial doMandado de Segurança, e mesmoque não tivesse sido ventilado nadecisão recorrida (o foi na sua fun-damentação e no relatório de

fls 198/199), há que ser apreciada aquestão face a jurisprudência cor-rente sobre a questão: STF-RT594/233; STF — 1? Turma, RE102.133-1-EDcl-MG, Rel. Min.Sydney Sanches, J. 15.285 DJ14.685, pág. 9571, 1? Col. em) e RTJ95/1349.»

b) No mais data venia, a Súmu-la 271 não tem aplicabilidade sobreo mérito da questão.

Estando esgotada a via adminis-trativa, recorreu a agravante à viajudicial através do Mandado de Se-gurança. Porém, entende V. Exa.que a via judicial própria, no caso,seria a Ação Declaratória ou osEmbargos á Execução. Data ve-nta, a primeira não satisfaz, vez quena apreciação do Mérito do pró-prio Mandado de Segurança ob-tém-se uma sentença declaratóriae a segunda também porque seassim o fosse seria negar no Direi-to Brasileiro a própria existênciajurídica do Mandado de Seguran-ça.»Mantida a decisão recorrida, sub-

meto o agravo regimental a esta Co-lenda Turma.

E o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Madeira(Relator): O acórdão recorrido, aoindeferir a segurança, assim se posi-cionou (fls. 142/143):

«Neste processo discute-se, ape-nas, o direito de corrigir moneta-riamente esses créditos, invocandoa impetrante como fundamento desua pretensão os parágrafos 2? e 3?do art. 7? da Lei n? 4.357/64.

«Art. 7? Os débitos fiscais, de-correntes de não recolhimento,na data devida, de tributos adi-cionais ou penalidades que nãoforem efetivamente liquidados notrimestre civil em que deveriamter sido pagos, terão o seu valor

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409

atualizado monetariamente emfunção das variações no poderaquisitivo da moeda nacional.

g 1? ...

2? A correção prevista nesteartigo aplicar-se-á inclusive aosdébitos cuja cobrança seja sus-pensa por medida administrativaou judicial, salvo se o contribuin-te tiver depositado em moeda aimportância questionada.

{ 3? No caso do parágrafo an-terior, a importância de depósitoque tiver de ser devolvida, porter sido julgado procedente o re-curso, reclamação ou medida ju-dicial, será atualizada nos ter-mos deste artigo e seus parágra-fos.»

Este dispositivo, sem dúvida, serefere aos créditos da União, Esta-dos e Municípios e não às dividasdestas unidades, razão pela qual,não pode servir de amparo à pre-tensão de Apelada, de modo a con-figurar em seu favor um direitoliquido e certo.

Não indicou a Impetrante qual-quer outra norma Jurídica que lheassegure a apropriação dos crédi-tos com correção monetária, sendocerto que o art. 7? da Lei nt4.357/64 não lhe concede esse direi-to.

Por outro lado, a jurisprudênciatem-se manifestado no sentido deque a *concessão de mandado desegurança não produz efeitos patri-moniais, em relação a período pre-térito, os quais devem ser recla-mados administrativamente ou pe-la via judicial própria», conformese ve da Súmula ri? 271 do SupremoTribunal Federal.

A apelada, quando impetrou asegurança já se havia apropriadodos créditos, como afirma na ini-cial, sem contudo precisar a dataem que isso ocorreu, o que gera in-

determinação quanto à matéria defato.»Pelas considerações postas no

aresto, vê-se que a questão do direitode crédito nele não foi tratada, porjá ser fato certo, reconhecido inclusi-ve nas vias judiciais (RE 93.148). Is-so afasta a alegação de contrarieda-de ao artigo 23, II, da Carta Magna,que prescinde do indispensável pre-questionamento.

No pertinente à aplicação da Sú-mula 271 ((Concessão de mandado desegurança não produz efeitos patri-moniais, em relação a perlado preté-rito, os quais devem ser reclamadosadministrativamente ou pela via ju-dicial própria»), esta Corte, em inú-meras oportunidades, tem se mani-festado no sentido de que é im-possível atribuir-se efeito patrimo-nial pretérito à concessão de segu-rança. Os efeitos patrimoniais devemser pleiteados na ação própria, con-forme se vé dos arestos prolatadosnos RREE 99.324; 105.197; 102.301,dentre outros. O primeiro julgadoguarda a seguinte ementa:

KICM. Isenção. Crédito. Manda-do de Segurança.

Isenta a importação de matéria-prima, não há o direito de creditar-se do correspondente valor na ope-ração subseqüente. A segurança,para tanto, é inextensivel aos lan-çamentos préteritos, o que envolverepetição de indébito, a ser ques-tionada nas vias ordinárias.»Afastada a questão constitucional

suscitada, não há viabilidade para oprocessamento do apelo, visto que acausa não se encontra no elencoexaustivo do artigo 325 do RISTF, naredação da Emenda Regimental n?2/M.

Procedentes as razões do despachodenegatórfo do agravo, que mante-nho, nego provimento ao agravo re-gimental.

E o meu voto.

910 R.T.J. — 125

EXTRATO DA ATA

Ag 119.205 (AgRg) — RJ — Rel.:Ministro Carlos Madeira. Agte.: Cia.Capital de Produtos Alimentícios(Advs.: Maurício dos Reis e ou-tro). Agdo.: Estado do Rio de Janeiro(Adv.: Humberto Ribeiro Soares).

Decisão: Negado provimento aoAgravo Regimental. Unânime.

Presidência do Senhor MinistroDjaci Falcão. Presentes à Sessão osSenhores Ministros Francisco Rezeke Carlos Madeira. Ausentes, justifi-cadamente, os Srs. Ministros AldirPassarinho e Célio Borja. Subpro-curador-Geral da República, o Dr.Mauro Leite Soares.

Brasília, 26 de junho de 1987 —Hélio Francisco Marques, Secretá-rio.

INDICE ALFABETICO

ATrAc Ação de acidente do trabalho (... ) Prescrição. RE 112.413 RTJ 125/355PrCv Ação de cobrança. Confissão !feta. Contestação quanto à qualificação do

fato (inexistência). Código de Processo Civil, art. 343, 2?. RE 108.272RTJ 125/288

Cm Ação de indenização (...) Sociedade anónima. RE 108.650 RTJ 125/293TrAc Ação rescisória. Acidente do trabalho. Trabalhador rural. Ofensa ao art.

165, par. único da CF. Súmula 343 (Inaplicação). RE 105.205 RTJ 125/267PrSTF Ação rescisória. Competência. Súmula 249. Rei 231 RTJ 125/10PrCv Ação rescisória. Interpretação controvertida. Texto constitucional. Súmu-

la 343 (inaplicação). RE 105.205 RTJ 125/267Adm Ação rescisória (matéria de fato) (...) Moinho de trigo. AR 961 RTJ 125/28TrAc Acidente do trabalho (...) Ação rescisória. RE 105.205 RTJ 125/267Adm Adicional por tempo de serviço (cálculo) (...) Funcionalismo. RE 111.221

RTJ 125/340Adm Adicional por tempo de serviço (...) Policial Militar. RE 110.716 RTJ

125/329PrPn Advogado constituído não encontrado (... ) Defesa. RHC 65.512 RTJ 125/190PrPn Agente imputável (...) Medida de segurança. RE 102.760 RTJ 125/243Prev Agravo regimental. Decisão impugnada. Fundamento inatacado. Ag

116.504 (AgRg) RTJ 125/406PrSTF Agravo regimental (...) Recurso extraordinário. Ag 114.187 (AgRg) RTJ

125/376Ct Agrotóxicos (uso nos Estados) (...) Representação por inconstitu-

cionalidade. Rp 1.243 (medida cautelar) RTJ 125/39Ct Agrotóxicos e blocidas (...) Representação por inconstitucionalidade. Rp

1.442 (medida cautelar) RTJ 125/56TrGr Alegação de nulidade da transação (...) Empregado. RE 86.385 RTJ

125/199PrPn Alegação de nulidades (...) Inquérito policial. RHC 65.289 RTJ 125/177PrPn Alegações finais (... ) Defesa. RHC 63.376 RTJ 125/136PrPn Alimentos (cumulação) (...) Investigação de paternidade. RE 110.315 RTJ

125/318PrCv Alimentos (...) Prisão civil. RE 110.441 RTJ 125/326

II Ape-at — INDICE ALFABETico

PrGr Apelação (...) Competência. CJ 6.702 RTJ 125/94PrCv Apelação (...) Justiça Federal. RE 113.960 RTJ 125/372PrCv Apelação (... ) Liquidação de sentença RE 114.554 RTJ 125/377PrPn Apelação criminal. Direito de apelar em liberdade. Primariedade. Maus

antecedentes. Código de Processo Penal, art. 594 (Inteligência). RHC62.816 RTJ 125/117

PrPn Apelação criminal. Prazo (devolução). Revelia. Intimação-edital. Códigode Processo Penal, art. 392,f 1? e 2?. RECr 115.343 RTJ 125/391

PrPn Apelação pendente (...) Habeas corpus. MC 64.939 RTJ 125/157Pn Aplicação no mercado aberto (... )Inquérito. lnq 305 RTJ 125/21TrPrv Aposentadoria por tempo de serviço e por invalidez (cumulabilidade) (... )

Previdência Social. RE 105.142 RTJ 125/261Trbt Apreensão da mercadoria (inadmissibilidade) (...) Tributo. RE 108.104

RTJ 125/284PrPn Apuração de crime em tese ( ) Habeas corpus. RHC 65 071 RTJ 125/163Trbt Arbitrio da autoridade fiscal (...) ICM. RE 115.452 RTJ 125/395Adm Assessor Parlamentar (... ) Mandado de segurança MS 20.488 RTJ 125/97PrCv Atividade produtiva contestada nas informações (...) Desapropriação

indireta. MS 20.674 RTJ 125/104PrCv Ato Judicial recorrível (...) Mandado de segurança. MS 20.776 (AgRg)

RTJ 125/112PrCv Ato de Secretário de Estado (...) Mandado de segurança. RE 103.082 RTJ

125/245PrCv Ato de tribunal estadual (... ) Mandado de segurança. MS 20.776 (AgRg)

RTJ 125/112Adm Atos da Mesa do Senado Federal (...) Mandado de segurança. MS 20.488

RTJ 125/97Prev Ausência (..J Embargos de declaração. Ag 110.001 (AgRg-EDcI) RTJ

125/314PrSTF Avocação de causa. Desapropriação indireta. Depósito prévio de vultosa

indenização. Bloqueio de rendas públicas. Grave lesão às finanças públi-cas. Deferimento. PA 12 RTJ 125/1

BPrSTF Bloqueio de rendas públicas (... ) Avocação de causa. PA 12 RTJ 125/1

CPrPn Cabimento do «writ» (...) liarmos corpus. RHC 64.939 RTJ 125/157PrTr Caixa Económica Federal (...) Competência. CJ 6.678 RTJ 125/87Prev Causa de alçada (... ) Justiça Federal. RE 113.960 RTJ 125/372PrPn Cerceamento de defesa (... )Defesa. RHC 63.376 RTJ 125/136PrPn Cerceamento de defesa (...) Habeas anus. RHC 64.939 RTJ 125/157PrPn Cerceamento de defesa (inocorrência) (...) Investigação de paternidade.

RE 110.315 RTJ 125/318Prev Cerceamento inexistente (... )Habeas corpus. RHC 65.222 RTJ 125/173PrPn Citaçãoedltal. Endereço certo. Réu viajando. Diligência não repetida. Nu-

lidade. RHC 63.314 RTJ 125/132

INDICE antártico — Clt-Cõd III

Int Citação de pessoa domlciliada no Brasil (...) Sentença estrangeira. SE3.889 RTJ 125/76

Int Citação por carta rogatória (exigibilidade) (... ) Sentença estrangeira. SE3.889 RTJ 125/76

Int Citação via postal (Irregularidade) (...) Sentença estrangeira. SE 3.889RTJ 125/76

Adm Classificação por «área de atividade» (...) Mandado de segurança. MS20.488 RTJ 125/97

Cm Cláusula de não Indenizar (...) Transporte marítimo. RE 109.516 RTJ125/307

TrGr CLT, arts. 9? e 832 (...) Empregado. RE 86.885 RTJ 125/199PrPn Coação do juiz das execuções (. ..) Rabeais cospus. HC 65.287 RTJ 125/176PrSTF Coação de juiz de 1? grau (...) Habena corpos. HC 85.496 RTJ 125/189Trbt Coação para o pagamento (...) Tributo. RE 108.104 RTJ 125/284PrPn Co-autoria (...) Habena corpos. RHC 65.061 RTJ 125/162PrCv Cobertura florestal (... >Desapropriação indireta. MS 20.674 RTJ 125/104Cv Código Civil, arta. 98, 99 e 100 (...) Recurso extraordinário. RE 101.176

RTJ 125/236PrPn Código de Menores, art. 41, ff 3? e 4? (Inteligência) (...) Menor. RHC

65.579 RTJ 125/193Pn Código Penal, arts. 1? e 17 (...) Recurso extraordinário. RECr 109.794 RTJ

125/309Pn Código Penal, art. 59 ( ...) Pena. RHC 65.414 RTJ 125/187Pn Código Penal, art. 81, f (... ) Surgis. RE 115.552 RTJ 125/401Pn Código Penal, art. 111, I (...) Prescrição retroativa. RECr 113.323 RTJ

125/385Pn Código Penal, arta 315 e 319 (.,.) Inquérito. Inq 305 RTJ 125/21Cm Código de Processo Civil, arts. 130, 332 e 333, I (...) Sociedade anónima.

RE 108.650 RTJ 125/293PrCv Código de Processo Civil, art. 343, ft ( ...) Ação de cobrança RE 108.272

RTJ 125/288Pres,Código de Processo Civil, arts. 520, III e 611 (...) Liquidação de sentença.

RS 114.554 RTJ 125/377PrCv Código de Processo Civil, arta. 542 e 543 ( ...) Recurso extraordinário. RE

114.866 RTJ 125/387PrPn Código de Processo Penal, art. 44 (inteligência) (...) Queixa-crime. RHC

62.839 RTJ 125/121PrPn Código de Processo Penal, art. 302. III e IV (...) Flagrante. RHC 65.082

RTJ 125/168PrPn Código de Processo Penai, art. 392, ff 1? e 2? (...) Apelação criminal.

RECr 115.343 RTJ 125/391PrPn Código de Processo Penal, art. 424 (...) Habena corpo. HC 62.618 RTJ

125/114PrPn Código de Processo Penal, art. 484, I e III (...) JOH. RECr 114.687 RTJ

125/380PrPn Código de Processo Penal, art. 564, III, meu, «In fine» e IV, c/c 572 (...)

Nulidade relativa. HC 65.340 RTJ 125/179PrPn Código de Processo Penal, art. 594 (inteligência) (...) Apelação criminal.

RHC 62.816 RTJ 125/117

IV Cód-Con — INDICE ALFABÉTICO

Prev Código de Processo Penal, art. 904 (... ) Habeas crupes. RHC 65.222 RTJ125/173

PrGr Coisa julgada (... ) Mandado de segurança. RE 100.242 RTJ 125/209Pn Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) (...) Inquérito. Inq 305

RTJ 125/21PrSTF Competência (... ) Ação rescisória. Rei 231 RTJ 125/10PrTr Competência. Dissídio coletivo de trabalho. Caixa Econômica Federal.

Tribunal Federal de Recursos. CJ 6.678 RTJ 125/87PrGr Competência. Ex-deputado federal. Crime de sonegação de imposto de

renda. Justiça federal. Inq 260 RTJ 125/19PrPn Competência (. ) Inquérito policial. RHC 65.080 RTJ 125/166Ct Competência. Justiça Federal. Fundo de Garantia de Tempo de Serviço

(levantamento). Intervenção do BNH. Constituição Federal, art. 125, I.RE 106.148 RTJ 125/376

Prev Competência (...) Mandado de segurança. RE 103.082 RTJ 125/245PrGr Competência. Matéria trabalhista. Mandado de segurança. Decisão de

juiz de direito. Apelação. Tribunal de justiça estadual. CJ 6.702 RTJ 125/94PrPn Competência. Policial militar. Crime de lesões corporais. Função civil.

Justiça comum. HC 64.911 RTJ 125/154PrGr Competência. Taxa rodoviária única (falsificação). Justiça federal. Cons-

tituição Federal, art. 125, IV. CJ 6.658 RTJ 125/84PrPn Competência do juizo das execuções (...) Habeas corpus. HC 65.287 RTJ

125/176Prev Competência originária (...) Mandado de segurança. MS 20.776 (AgRg)

RTJ 125/112Ct Competência para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional

(...) Universidade Estadual (UERJ). Rp 1.453 RTJ 125/58Ct Competência do Presidente para prover os cargos do poder judiciário (... )

Poder Judiciário. Rp 1.423 RTJ 125/46Adm Concurso público (...) Mandado de segurança. MS 20.488 RTJ 125/97PrPn Condenação superveniente (...) Habeas corpus. HC 65.184 RTJ 125/171PrPn Condenado apto ao regime aberto (...) Prisão domiciliar. RECr 111.552

RTJ 125/344Prev Confissão Beta (... ) Ação de cobrança. RE 108.272 RTJ 125/288Pn Congelamento de preços (desrespeito) (...) Crime contra a economia

popular. RHC 64.172 (EDc1) RTJ 125/137Ct Constituição Federal, art. 8?, XVII, «q», da CF (... ) Universidade Esta-

dual (UERJ). Rp 1.453 RTJ 125/58Trbt Constituição Federal, art. 23, 11 na redação da EC 23/83 (interpretação)

(...) ICM. RE 113.701 RTJ 125/367a Constituição Federal, art. 81, inc. VIII, c/c 13, «V» (...) Poder Judiciário.

Rp 1.423 RTJ 125/46Adm Constituição Federal, art. 102, 2? (... ) Funcionalismo. RE 111.221 RTJ

125/340Ct Constituição Federal, art. 125, I (... ) Competência. RE 106.148 RTJ 125/276PrGr Constituição Federal, art. 125, IV (... ) Competência. CJ 6.658 RTJ 125/84Adm Constituição Federal de 1.969, arts. 6? e 8?, XVII, «b» (...) Magistério

estadual. RE 115.477 RTJ 125/398PrSTF Constituição Federal de 1969, art. 119, II, letra «c» (...) Habeas corpus. HC

65.496 RTJ 125/189

INDICE ALFABETICO — Con-Dec V

Trbt Constituição Federal de 1969, art. 153, f 23 (...) ICM. RE 115.452 RTJ125/395

PrPn Constrangimento ilegal inexistente (...) Habeas corpos. HC 63.013 RTJ125/127

PrCv Contestação quanto a qualificação do fato (inexistência) (...) Ação decobrança. RE 108.272 RTJ 125/288

Prev Contradição (...) Embargos de declaração. Ag 110.001 (AgRg-EDc1) RTJ125/314

PrPn Contravenção. Locação. Despesas tidas como não cobráveis do inquilino.Seguro incêndio. Contravenção Inexistente. Lei n? 6.649/79, arts. 18, V, «infine», 30 e 52. RHC 64.950 RTJ 125/158

PrPn Contravenção inexistente (...) Contravenção. RHC 64.950 RTJ 125/158TrPrv Contribuições previdenciórias. Divida correspondente a exercício poste-

rior à EC 8/77. Prescrição qüinqüenal (inaplicação). RE 115.181 RTJ125/389

Prev Correção monetária (... ) Desapropriação indireta. RE 113.263 RTJ 125/363Trbt Correção monetária. Repetição do indébito. RE 107.009 RTJ 125/278Trbt Creditamento (...) ICM. RE 115.711 RTJ 125/403Trbt Crédito de 80% do ICM (...) Importação da ALALC. RE 113.709 RTJ

125/371PrPn Crime de abuso de autoridade (...) Habeas corpos. RHC 65.061 RTJ

125/162Pn Crime contra a economia popular. Lei n? 1.521/51, art. 2?, VI. Congela-

mento de preços (desrespeito). Tipicidade penal. Embargos de declaração(efeito protelatório). RHC 64.172 (EDc1) RTJ 125/137

PrPn Crime doloso (...) Medida de segurança. RE 102.760 RTJ 125/243PrPn Crime de lesões corporais (...) Competência. HC 64.911 RTJ 125/154Pn Crime de prefeito (...) Recurso extraordinário. RECr 109.794 RTJ 125/309PrGr Crime de sonegação de imposto de renda (...) Competência. Inq 260 RTJ

125/19

PrCv Decisão impugnada (...) Agravo regimental. Ag 116.504 (AgRg) RTJ125/406

PrGr Decisão de juiz de direito (...) Competência. CJ 6.702 RTJ 125/94Adm Decreto estadual e municipal (...) Desapropriação. RE 111.079 RTJ

125/330Min Decreto-Lei n? 19/66 (...) Sistema Financeiro da Habitação. RE 111.128

RTJ 125/335Pn Decreto-Lei n? 201/67, art. 1?, I e II (...) Recurso extraordinário. RECr

109.794 RTJ 125/309Trbt Decreto-Lel n? 406/68, art. 3?, 1? (...) ICM. RE 108.104 RTJ 125/284Adm Decreto-Lei n? 3.365/41, art. 2?, 4 2? (...) Desapropriação. RE 111.079 RTJ

125/330Prev Decreto-Lei n? 3.365/41, art. 26, 4 2? (...) Desapropriação indireta. RE

113.263 RTJ 125/363PrPn Decreto-Lei n? 3.415/41 (constitucionalidade) (...) Prisão administrativa.

RHC 62.933 RTJ 125/123Adm Decreto n? 20.910/32, art. 1? (...) Prescrição. RE 105.155 RTJ 125/265

VI Dec-Dir — INDICE ALFABÉTICO

Adm Decreto n? 67.322/70 (...) Magistério estadual. RE 115.477 RTJ 125/398PrPn Defensor dativo nomeado (...) Defesa. RHC 65.512 RTJ 125/190PrSTF Deferimento (... ) Avocação de causa. PA 12 RTJ 125/1PrPn Defesa. Inquirição de testemunhas. Réu preso não requisitado. Desconhe-

cimento do juiz processante. Nulidade inexistente. RECr 115.386 RTJ125/393

PrPn Defesa. Instrução criminal. Alegações finais. Intimação do advogado doréu (falta). Cerceamento de defesa. Rife 63.378 RTJ 125/136

PrPn Defesa. Réu preso. Prazo para diligências (art. 499 do CPP). Intimação.Advogado constituído não encontrado. Defensor dativo nomeado. Prejuízonão demonstrado. RHC 65.512 RTJ 125/190

PrPn Demora na publicação de acórdão (... ) Habeas anus. HC 63.013 RTJ125/127

PrPn Denúncia. Inquérito policial. Indicios (falta). Justa causa. Habeas corpus.RHC 64.439 RTJ 125/145

PrPn Denúncia oferecida (...) Inquérito policial. RHC 65 289 ETJ 125/177PrPn Denunciação caluniosa (...) Habeas corpos. RHC 65.071 RTJ 125/163PrPn Depositário infiel (...) Prisão administrativa. RHC 82.933 RTJ 125/123PrSTF Depósito prévio de vultosa indenização (...) Avocação de causa. PA 12

RTJ 125/1PrPn Desaforamento (... ) Habeas corpos. FIC 62.616 RTJ 125/114Adm Desapropriação. Utilidade pública. Decreto estadual e municipal. Estado

(preferência). Decreto-Lei n? 3.365/41, art. 2?, 4 2?. RE 111.079 RTJ125/330

PrSTF Desapropriação indireta (...) Avocação de causa. PA 12 RTJ 125/1Prev Desapropriação indireta. Correção monetária. Decreto-Lei n? 3.365/41, art.

28, 2?. RE 113.283 RTJ 125/383PrCv Desapropriação Indireta. Interesse social. Latifúndio por exploração. Co-

bertura florestal. Atividade produtiva contestada nas informações. Man-dado de segurança (matéria de fato complexa). MS 20.674 RTJ 125/104

PrPn Desconhecimento do juiz processante (...) Defesa. RECr 115.386 RTJ125/393

PrPn Desinternamento (... ) Menor. RHC 65.579 RTJ 125/193PrPn Despesas tidas como não cobráveis do inquilino (...) Contravenção. RHC

64.960 RTJ 125/158TrOr Dispensa posterior (... )Empregado. RE 88.385 RTJ 125/199Cm Dissídio não caracterizado (...) Transporte marítimo. RE 112.853 RTJ

125/358PrSTF Divergência manifesta com a súmula (...) Recurso extraordinário. RE

112.340 RTJ 125/351TrPrv Divida correspondente a exercido posterior a EC 8/77 (...) Contribuições

prendes:ciarias. RE 115.181 RTJ 125/389Int Divórcio ( ) Sentença estrangeira. SE 3.848 RTJ 125/70Int Divórcio em consulado (...) Sentença estrangeira. SE 3.846 RTJ 125/70Int Divórcios consensuais perante autoridades administrativas japonesas (... )

Sentença estrangeira. SE 3.869 RTJ 125/72PrPn Dúvida sobre a imparcialidade do júri (...) Habena caruma MC 62.816 RTJ

125/114PrPn Diligência não repetida (... ) Citação-edital. RHC 63.314 RTJ 125/132PrPn Direito de apelar em liberdade (...) Apelação criminal. RHC 62.816 RTJ

125/117

INDICE ALFABÉTICO — VII

Cm Diretoria (... ) Sociedade anónima. RE 108.650 RTJ 125/293Peri' Dissidio coletivo de trabalho (...) Competência. CJ 6.678 RTJ 125/87PrSTF Divergência com a súmula (inexistência) (... ) Recurso extraordinário. Ag

119.187 (AgRg) RTJ 125/376Cv Dolo e coação (...) Recurso extraordinário. RE 101.176 RTJ 125/236

E

PrCv Efeitos patrimoniais pretéritos ( ...) Mandado de segurança. Ag 119.205(AgRg) RTJ 125/407

Pn Embargos de declaração (efeito protelatório) (... ) Crime contra a econo-mia popular. RHC 64.172 (EDc1) RTJ 125/137

PrCv Embargos de declaração. Omissão. Contradição. Ausência. Ag 110.001(AgRg-EIMI) RTJ 125/314

PrCv Embargos de declaração. Pressupostos. RE 103.299 (EDc1) RTJ 125/254PrGr Embargos de declaração. Retomada para construção mais útil. Súmula

409. ERE 104.284 (AgRg-EDel-ELMI) RTJ 125/259PrSTF Embargos dechtratórios (... ) Recurso extraordinária RE 101.737 RTJ

125/240PrSTF Embargos de divergência. Pressupostos. ERE 109.284 (AgRg) RTJ 125/256Adm Emenda Constitucional Estadual n? 7/87-RO (...) Processo Legislativo, Rp

1.478 RTJ 125/67Adm Emenda Constitucional do Poder Legislativo ( ...) Procriar° Legislativo. Rp

1.978 RTJ 125/67TrOr Empregado. Estabilidade. Transação do tempo de serviço anterior à op-

ção pelo FGTS. Dispensa posterior. Alegação de nulidade da transação.Lel n? 5.107/66. CLT, arte. 9? e 832. RE 86.385 RTJ 125/199

PrPn Endereço certo (... ) Citação-edital. RHC 63.314 RTJ 125/132Adm Equivalência salarial (...) Sistema Financeiro da Habitação. RE 111.128

RTJ 125/335Ct Escolha dos dirigentes (...) Universidade Estadual (UERJ). Rp 1.453 RTJ

125/58TrOr Estabilidade (...) Empregado. RE 86.385 RTJ 125/199Adm Estabilidade ( ...) Processo Legislativo. Rp 1.478 RTJ 125/67Cv Estacionamento (... ) Responsabilidade civil. RE 114.671 RTJ 125/378Adm Estado (preferência) (...) Desapropriação. RE 111.079 RTJ 125/330

PrPn Exame de cessação de periculosidade (...) Menor. RHC 65.579 RTJ 125/193PrPn Exame hematológico não realizado (... ) Investigação de paternidade. RE

110.315 RTJ 125/318PrPn Excesso de prazo (...) Habena comua. RHC 64.717 RTJ 125/147 — HC

85.087 RTJ 125/170 HC 65.184 RTJ 125/171PrPn Excesso de prazo superado (...) Habena colmas. HC 65.184 RTJ 125/171

PrGr Ex-deputado federal (...) Competência. Inq 260 RTJ 125/19Pn Extinção da punlbilidade (...) Prescrição retroativa. RECr 113.323 RTJ

125/365Int Extradição. Pressupostos. Reciprocidade. Extr 447 RTJ 125/26

VIII Fal-Hab — INDICE ALFABÉTICO

FTrPrv Falecimento anterior a Lei Complementar n? 11/71 (... ) Previdência

Social. RE 105.717 RTJ 125/272PrPn Falta de justa causa (... ) Habeas corpus. RHC 65.061 RTJ 125/162Pn Fixação acima do mínimo legal (... ) Pena. RHC 65.414 RTJ 125/187Adm Fixação de cotas (...) Moinho de trigo. AR 961 RTJ 125/28PrPn Flagrante. Flagrante presumido (hipótese). Código de Processo Penal,

art. 302, III e IV. RHC 65.082 RTJ 125/168PrPn Flagrante presumido (hipótese) (...) Flagrante. RHC 65.082 RTJ 125/168Trbt Frutas frescas (... ) Importação da ALALC. RE 113.709 RTJ 125/371Ct «Fumus boni jures» (...) Representação por inconsUtucionalidade. Rp

1.442 (medida cautelar) RTJ 125/56PrPn Função civil (... ) Competência. HC 64.911 RTJ 125/154Adm Funcionalismo (...) Processo Legislativo. Rp 1.478 RTJ 125/67Adm Funcionalismo. Proventos. Adicional por tempo de serviço (cálculo). Gra-

tificação de produtividade (incidência). Constituição Federal, art. 102, {)2?. RE 111.221 RTJ 125/340

Pn Fundamentação (...) Pena. RHC 65.414 RTJ 125/187PrSTF Fundamentação deficiente (...) Recurso extraordinário. RE 111.801 RTJ

125/349PrCv Fundamento inatacado (...) Agravo regimental. Ag 116.504 (AgRg) RTJ

125/406Cv Fundamento não atacado (...) Recurso extraordinário. RE 101.176 RTJ

125/236 — RE 109.092 RTJ 125/305Ct Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (levantamento) (... ) Compe-

tência. RE 106.148 RTJ 125/276TrPrv FUNRURAL (...) Previdência Social. RE 105.717 RTJ 125/272Cv Furto de veículo (...) Responsabilidade civil. RE 114.671 RTJ 125/378

GCm Granel sólido (...) Transporte marítimo. RE 112.853 RTJ 125/356Adm Gratificação de produtividade (incidência) (...) Funcionalismo. RE

111.221 RTJ 125/340Adm Gratificação de Regime Especial de Trabalho (incidência) (... ) Policial

Militar. RE 110.716 RTJ 125/329PrSTF Grave lesão às finanças públicas (... ) Avocação de causa. PA 12 RTJ

125/1

HPrPn Habeas corpus. Cerceamento de defesa. Apelação pendente. Cabimento do

«writ». RHC 64.939 RTJ 125/157PrSTF Habeas corpus. Coação de juiz de 1? grau. Incompetência do STF. HC

65.496 RTJ 125/189PrPn Habeas corpus. Demora na publicação de acórdão. Constrangimento ile-

gal inexistente. HC 63.013 RTJ 125/127PrPn Habeas corpus (... )Denúncia. RHC 64.439 RTJ 125/145PrPn Habeas corpus. Desaforamento. Dúvida sobre a imparcialidade do júri.

Código de Processo Penal, art. 424. HC 62.616 RTJ 125/114

INDICE ALFABÉTICO — Hab-Imó IX

PrPn Habeas corpus. Excesso de prazo. Instrução criminal. Condenação super-veniente. Excesso de prazo superado. HC 65.184 RTJ 125/171

PrPn Habeas corpus. Excesso de prazo. Tráfico de entorpecente. HC 65.087 RTJ125/170

PrPn Habena corpus. Indulto (recusa). Coação do juiz das execuções. Incompe-tência do STF. HC 65.287 RTJ 125/176

PrPn Habeas corpus (...) Inquérito policial. RHC 65.080 RTJ 125/166PrPn Habena corpus. Inquérito policial (truncamento). Denunciação caluniosa.

Apuração de crime em tese. RHC 65.071 RTJ 125/163PrPn Habeas corpus. Pauta de julgamento. Súmula 431. RHC 62.933 RTJ 125/123PrCv Habeas corpus. Prisão decretada em ação de depósito. Intimação do de-

creto de prisão. Cerceamento inexistente. Código de Processo. RHC 65.222RTJ 125/173

PrPn Habeas corpus. Prisão preventiva. Instrução criminal. Excesso de prazo.RHC 64.717 RTJ 125/147

PrSTF Habeas corpus. Recurso ordinário (substituição). Pedido originário. Cons-tituição Federal de 1969, art. 119, II, letra «c». HC 65.496 RTJ 125/189

PrPn Habeas corpus. Regime de prisão (alteração). Competência do juizo dasexecuções. HC 65.287 RTJ 125/176

PrPn Habeas corna. Reincidência. Inexistência. RHC 64.819 RTJ 125/153PrPn Habeas corpus. Sentença (omissão). Regime inicial de cumprimento da

pena. Lel n? 7.209/84, arts. 33, par. 3? e 59, III. Lei n? 7.210/84, art. nu.RHC 65.412 RTJ 125/185

PrPn Habeas corpus. Sentença transitada em julgado. Revisão de provas. Inido-neidade do «wrlt». Recurso cabível. Revisão criminal. HC 64.771 RTJ125/151

PrPn Habeas corpus. Trancamento de ação penal. Falta de justa causa. Crimede abuso de autoridade. Co-autoria. RHC 65.061 RTJ 125/162

PrPn Homicídio doloso ou culposo (... ) Júri. RECr 114.687 RTJ 125/380PrCv Homologação do cálculo (...) Liquidação de sentença. RE 114.554 RTJ

125/377Int Homologação com restrições quanto ao segundo divórcio (...) Sentença

estrangeira. SE 3.869 RTJ 125/72Int Homologação indeferida (...) Sentença estrangeira. SE 3.846 RTJ 125/70PrCv Honorários de advogado ( ...) Prisão civil. RE 110.441 RTJ 125/326

Trbt ICM. Importação de Pais signatário do GATT. Isenção de similar nacio-nal. Constituição Federal, art. 23, § 11, na redação da EC 23/83 (interpre-tação). RE 113.701 RTJ 125/367

Trbt ICM. Matéria-prima. Isenção. Creditamento. RE 115.711 RTJ 125/403Trbt ICM. Pagamento antecipado do tributo. Mercadoria destinada a outro Es-

tado da Federação. Decreto-Lei n? 406/68, art. 3?, § 1?. Súmula 323. RE108.104 RTJ 125/284

Trbt ICM. Regime especial. Sanções não impostas por lei. Arbicrio da autorida-de fiscal. Inaceitabilidade. Constituição Federal de 1969, art. 153, § 23. RE115.452 RTJ 125/395

Int Imóvel situado no Brasil ( ...) Sentença estrangeira. SE 3.989 (AgRg) RTJ125/80

X Imp-Int - INDICE ALFABETICO

Trbt Importação da ALALC. Frutas frescas. Crédito de 80% do ICM. Recursoextraordinário. Prequestionamento. RE 113.709 RTJ 125/371

Trbt Importação de Pais signatário do GATT (...) ICM. RE 113.701 RTJ 125/367Trbt Inaceitabilidade (... )ICAL RE 115.452 RTJ 125/395PrPn Incompetência do STF (...) Habeas corpos. MC 65.287 RTJ 125/176 - 11C

65.496 RTJ 125/189Adm Inconstitucionalidade (... ) Processo Legislativo. Rp 1.478 RTJ 125/67PrSTF Indicação do dispositivo ou alínea autorizativa (omissão) (... ) Recurso

extraordinário. RE 111.801 RTJ 125/349PrPn Indícios (falta) (... )Denúncia. RHC 64.439 RTJ 125/145PrPn Indulto (recusa) (--• i nanem coreus. HC 65.287 RTJ 125/176Int Inexeqüibilidade (... ) Sentença estrangeira. SE 3.989 (AgRg ) RTJ 125/80PrPn Inexistência (...) Habeas corpus. RHC 64.819 RTJ 125/153PrSTF Informações (...) Representação por inconstitucionalidade. Rp 1.437

(Questão de ordem) RTJ 125/49Adm Iniciativa legislativa (... ) Processo Legislativo. Rp 1.478 RTJ 125/67PrPn Inidoneidade do «wrlt» (...) Habeas corpos. HC 64.771 RTJ 125/151Pn Inquérito. Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Verba secreta

(DELTA III). Aplicação no mercado aberto. Código Penal, arts. 315 e 319.Inq 305 RTJ 125/21

PrPn Inquérito policial. Alegação de nulidades. Denúncia oferecida. RHC 65.289RTJ 125/177

PrPn Inquérito policial ( ) Denúncia. RHC 64.439 RTJ 125/145PrPn Inquérito policial (trancamento) (... ) Habeas comia RHC 65.071 RTJ

125/163PrPn Inquérito policial. Instauração. Requisição por autoridade judiciária. Ba-

be= corpus. Competência. RHC 65.080 RTJ 125/166PrPn Inquirição de testemunhas (... ) Defesa. RECr 115.386 RTJ 125/393PrPn Inquirição de testemunhas de defesa (falta) (...) Investigação de

paternidade. RE 110.315 RTJ 125/318PrPn Instauração (... ) Inquérito policial Filie 65.080 RTJ 125/166PrPn Instrução criminal (... ) Defesa. RHC 63.376 RTJ 125/136PrPn Instrução criminal (...) Habeas corpos. RHC 64.717 RTJ 125/147 - HG

65.184 RTJ 125/171PrCv Intempestividade (...) Recurso extraordinário. RE 114.886 RTJ 125/387PrCv Interesse social (... ) Desapropriado indireta. MS 20.674 RTJ 125/104PrPn Internamento na FEBEM ( ) Menor. RHC 65.579 RTJ 125/193PrSTF Interpretação «a contrario sensu» (não configuração) (...) Recurso

extraordinário. RE 112.340 RTJ 125/351PrCv Interpretação controvertida (...) Ação ~séria. RE 105.205 RTJ 125/267Ct Intervenção do BNH (... ) Competência. RE 106.148 RTJ 125/276PrPn Intimação (... ) Defesa. RHC 65.512 RTJ 125/190PrCv Intimação do decreto de prisão (... ) Habeas corpus. RHC 65.222 RTJ

125/173PrPn Intimação-edital (...) Apelação criminal. RECr 115.343 RTJ 125/391PrPn Intimação do advogado do réu (falta) (... ) Defesa. RHC 63.376 RTJ

125/136

INDICE ALFABETICO — Inv-Lei XI

PrPn Investigação de paternidade. Alimentos (cumulação). Exame hematológi-co não realizado. Inquirição de testemunhas de defesa (falta). Cercea-mento de defesa (inocorrência). RE 110.315 RTJ 125/318

Trbt Isenção (...) ICM. RE 115.711 RTJ 125/403Trbt Isenção de similar nacional (...) ICM. RE 113.701 RTJ 125/367Trbt ISS. Locação de bens móveis. Locação de guindastes. RE 112.947 RTJ

125/361Trbt WS. Serviços prestados por associações civis recreativas a seus sócios ou

empregados (estacionamento e fisioterapia). Não incidência. RE 107.009RTJ 125/278

Cm Julgamento antecipado da lide (...) Sociedade anônima. RE 108.650 RTJ125/293

PrPn Júri. Quesito complexo. Homicídio doloso ou culposo. Prejuízo para o réu.Código de Processo Penal, art. 484, I e III. RECr 114.687 RTJ 125/380

PrPn Justa causa (... ) Denúncia. RHC 64.439 RTJ 125/145PrPn Justiça comum (...) Competência. HC 64.911 RTJ 125/154Prev Justiça Federal. Causa de alçada. Lei n? 6.825/80, art. 4?. Apelação. Maté-

ria constitucional. RE 113.960 RTJ 125/372PrGr Justiça Federal (...) Competência. Inq 260 RTJ 125/19 — CJ 6.658 RTJ

125/84 — RE 106.148 RTJ 125/276

PrCv Latifúndio por exploração (...) Desapropriação indireta. MS 20.674 RTJ125/104

PrCv Legitimidade para recorrer (...) Mandado de segurança. RE 110.324 RTJ125/323

PrPn Lel de Execução Penal, art. 117 (... ) Prisão domiciliar. RECr 111.552 RTJ125/344

PrPn Lei mais benigna (aplicação) (...) Medida de segurança. RE 102.760 RTJ125/243

Ct Lel n? 1.115/87-FtJ (...) Universidade Estadual (UERJ). Rp 1.453 RTJ125/58

Pn Lei n? 1.521/51, art. 2?, VI (...) Crime contra a economia popular. RHC64.172 (EDcl) RTJ 125/137

Ct Lei n? 4.075/86-PI, art. 4? (inconstitucionalidade) (...) Poder Judiciário. Rp1.423 RTJ 125/46

Adm Lei n? 4.380/64, art. 5? e ft (... ) Sistema Financeiro da Habitação. RE111.128 RTJ 125/335

TrGr Lei n? 5.107/66 (... ) Empregado. RE 86.385 RTJ 125/199TrAc Lei n? 6.367/76, art. 18, II, primeira parte (...) Prescrição. RE 112.413 RTJ

125/355PrPn Lei n? 6.649/79, arts. 18, V, «In fine», 30 e 52 (...) Contravenção. RHC

64.950 RTJ 125/158Prev Lel n? 6.825/80, art. 4? (...) Justiça Federal. RE 113.960 RTJ 125/372PrPn Lel n? 7.209/84 (... ) Medida de segurança. RE 102.760 RTJ 125/243PrPn Lei n? 7.209/84, arts. 33, par. 3? e 59, III (...) Habeas corpus. RHC 65.412

RTJ 125/185

XII Lel-Men — INDICE ALFABETICO

PrPn Lei n? 7.210/84, art. 110 ( ) Habeas corpus. RHC 65.412 RTJ 125/185Ct Lei n? 9.265/86-MG, art. 8? (... ) Representação por Inconstitucionalidade.

Rp 1.476 (medida cautelar) RTJ 125/65CL Lei n? 9.465/84-PE (...) Representação por Inconstitucionalidade. Rp 1.243

(medida cautelar) RTJ 125/39Cm Lei das Sociedades Anónimas, arts. 117, § 1?, «c» e «f» e 152 (...)

Sociedade anônima. RE 108.650 RTJ 125/293PrCv Liquidação de sentença. Homologação do calculo. Recurso cabível. Apela-

ção. Código de Processo Civil, art. 520, III e 611. RE 114.554 RTJ 125/377PrPn Locação (... ) Contravenção. RHC 64.950 RTJ 125/158Trbt Locação de bens móveis (... ) ISS. RE 112.947 RTJ 125/361Trbt Locação de guindastes ( ) ISS. RE 112.947 RTJ 125/361

MAdm Magistério estadual. Remuneração mínima. Decreto n? 67.322/70. Recla-

mação trabalhista. Constituição Federal de 1969, arts. 6? e 13?, XVII, «b».RE 115.477 RTJ 125/398

PrPn Maioridade civil (...) Menor. RHC 65.579 RTJ 125/193Prev Mandado de segurança. Ato judicial recorrível. Súmula 267. MS 20.776

(AgRg) RTJ 125/112Adm Mandado de segurança. Atos da Mesa do Senado Federal. Concurso públi-

co. Assessor Parlamentar. Classificação por «área de atividade». MS20.488 RTJ 125/97

PrGr Mandado de segurança. Coisa julgada. Súmula 268. RE 100.242 RTJ125/209

PrGr Mandado de segurança (...) Competência. CJ 6.702 RTJ 125/94PrCv Mandado de segurança. Competência. Questão trabalhista. Ato de Secre-

tário de Estado. Tribunal de Justiça. RE 103.082 RTJ 125/245PrCv Mandado de segurança. Pessoa jurídica de direito público. Legitimidade

para recorrer. Prequestionamento (falta). Súmula 282. RE 110.324 RTJ125/323

PrCv Mandado de segurança. Competência originária. Ato de tribunal estadual.Súmula 330. MS 20.776 (AgRg) RTJ 125/112

Prev Mandado de segurança (matéria de fato complexa) (...) DesapropriaçãoIndireta. MS 20.674 RTJ 125/104

PrCv Mandado de segurança. Efeitos patrimoniais pretéritos. Súmula 271. Ag119.205 (AgRg) RTJ 125/407

PrPn Mandato (requisitos) ( ) Queixa-crime. RHC 62.839 RTJ 125/121PrCv Matéria constitucional ( ) Justiça Federal. RE 113.960 RTJ 125/372Trbt Matéria-prima ( ) ICM. RE 115.711 RTJ 125/403PrGr Matéria trabalhista ( ) Competência. CJ 6.702 RTJ 125/94PrPn Maus antecedentes (... ) Apelação criminal. RHC 62.816 RTJ 125/117PrSTF Medida cautelar (... ) Representação por inconstituclonalidade. Rp 1.437

(Questão de ordem) RTJ 125/49 — Rp 1.442 (medida cautelar) RTJ 125/56— Rp 1.476 (medida cautelar) RTJ 125/65

Ct Medida cautelar (...) Universidade Estadual (UERJ 1. Rp 1.453 RTJ 125/58PrPn Medida de segurança. Reincidência. Crime doloso. Agente imputável. Lei

mais benigna (aplicação). Lei n? 7.209/84. RE 102.760 RTJ 125/243PrPn Menção ao fato criminoso (...) Queixa-crime. RHC 62.839 RTJ 125/121

INDICE ALFABETICO — Men-Pol XIII

PrPn Menor. Internamento na FEREM. Periculosidade. Maioridade civil. De-sinternamento. Exame de cessação de periculosidade. Código de Menores,art. 41, §§ 3? e 4? (Inteligência). RHC 65.579 RTJ 125/193

Trbt Mercadoria destinada a outro Estado da Federação ( ) ICM. RE 108.104RTJ 125/284

Adm Moinho de trigo. Fixação de cotas. SUNAB. Revisão. Prova física paraaferição de capacidade. Ação rescisória (matéria de fato). AR 961 RTJ125/28

NTrbt Não incidência (...) ISS. RE 107.009 RTJ 125/278Cv Negócio jurídico (... ) Recurso extraordinário. RE 101.176 RTJ 125/236PrPn Nulidade (...) Citação-edital. RHC 63.314 RTJ 125/132PrPn Nulidade inexistente (... ) Defesa. RECr 115.386 RTJ 125/393PrPn Nulidade relativa. Prazo em horas (não observância). Código de Processo

Penal, art. 564, III, «e», «in fine» e IV, c/c 572. HC 65.340 RTJ 125/179

PrSTF Óbice regimental (... ) Recurso extraordinário. Ag 100.877 (AgRg I RTJ125/234 — RE 101.737 RTJ 125/240 — RE 107.514 RTJ 125/282 — RE 112.340RTJ 125/351

TrAc Ofensa ao art. 165, parágrafo único da CF (... ) Ação rescisória. RE 105.205RTJ 125/267

PrCv Omissão (...) Embargos de declaração. Ag 110.001 (AgRg-EDcI) RTJ125/314

PTrbt Pagamento antecipado do tributo (...) ICM. RE 108.104 RTJ 125/284Adm Parãmetros federais (... ) Policial militar. RE 114.011 RTJ 125/374PrPn Pauta de julgamento (... ) Habeas corpus. RHC 62.933 RTJ 125/123PrSTF Pedido originário (... ) Habeas corpus. HC 65.496 RTJ 125/189Pn Pena. Fixação acima do mínimo legal. Fundamentação. Código Penal,

art. 59. RHC 65.414 RTJ 125/187TrPrv Pensão a dependente de trabalhador rural (...) Previdência Social. RE

105.717 RTJ 125/272PrPn Periculosidade (... ) Menor. RHC 65.579 RTJ 125/193Ct «Periculum im mora» (demonstração necessária) (...) Representação por

inconstitucionalidade. Rp 1.442 (medida cautelar) RTJ 125/56PrCv Pessoa jurídica de direito público (...) Mandado de segurança. RE 110.324

RTJ 125/323Ct Poder Judiciário. Tribunal de Justiça. Competência do Presidente para

prover os cargos do poder judiciário. Constituição Federal, art. 81, Inc.VIII, c/c 13, «V». Lel n? 4.075/86-PI, art. 4° (inconstitucionalidade). Rp1.423 RTJ 125/46

Ct Policia Militar do estado de Minas Gerais (... ) Representação porinconstituclonalidade. Rp 1.476 (medida cautelar) RTJ 125/65

Adm Policiais militares reformados (...) Prescrição. RE 105.155 RTJ 125/265PrPn Policial militar (...) Competência. HC 64.911 RTJ 125/154

XIV Pol-Pri - INDICE ALFABETICO

Adm Policial Militar. Gratificação de Regime Especial de Trabalho (incidên-cia). Adicional por tempo de serviço. Sexta-parte. RE 110.716 RTJ 125/329

Adm Policial militar. Vantagens. Recálculo. Parâmetros federais. RE 114.011RTJ 125/374

PrPn Prazo (devolução) ( ) Apelação criminal. RECr 115.343 RTJ 125/391TrAc Prazo ( ) Prescrição. RE 112.413 RTJ 125/355PrPn Prazo em horas (não observância) (...) Nulidade relativa. HC 65.340 RTJ

125/179PrPn Prazo para diligências (art. 499 do CPP) (... ) Defesa. RHC 65.512 RTJ

125/190PrPn Prejuízo não demonstrado (...) Defesa. RHC 65.512 RTJ 125/190PrPn Prejuízo para o réu (... )n11. RECr 114.687 RTJ 125/380Trbt Prequestionamento (... ) Importação da ALALC. RE 113.709 RTJ 125/371PrCv Prequestionamento (falta) (... ) Mandado de segurança. RE 110.324 RTJ

125/323TrPrv Presquestionamento (... ) Previdência Social. RE 105.142 RTJ 125/261PrSTF Prequestionamento (...) Recurso extraordinário. RE 101.737 RTJ 125/240

- RE 105.667 RTJ 125/270 - RE 107.514 RTJ 125/282Cm Prequestionamento (...) Transporte marítimo. RE 112.853 RTJ 125/356Adm Prescrição. Policiais militares reformados. Vantagem funcional. Prescri-

ção do direito. Decreto n? 20.910/32, art. 1?. RE 105.155 RTJ 125/265TrAc Prescrição. Prazo. Ação de acidente do trabalho. Lei n? 6.367/76, art. 18,

II, primeira parte. RE 112.413 RTJ 125/355Adm Prescrição do direito (... ) Prescrição. RE 105.155 RTJ 125/265TrPrv Prescrição qüinqüenal (inaplicação) (...) Contribuições previdenciárlas.

RE 115.181 RTJ 125/389Pn Prescrição retroativa. Extinção da punlbilidade. Código Penal, art. 111, I.

RECr 113.323 RTJ 125/365Int Presença de cônjuge brasileiro bínubo (...) Sentença estrangeira. SE 3.869

RTJ 125/72PrCv Pressupostos (...) Embargos de declaração. RE 103.299 (EDcl) RTJ

125/254PrSTF Pressupostos (...) Embargos de divergência. ERE 104.284 (AgRg) RTJ

125/256Int Pressupostos (... ) Extradição. Extr 447 RTJ 125/26TrPrv Previdência Social. Aposentadoria por tempo de serviço e por invalidez

(cumulabilldade). Prequestionamento. RE 105.142 RTJ 125/261TrPrv Previdência Social. FUNRURAL. Pensão a dependente de trabalhador ru-

ral. Falecimento anterior a Lel Complementar n? 11/71. Súmulas 282 e356. RE 105.717 RTJ 125/272

PrPn Primariedade (...) Apelação criminal. RHC 62.816 RTJ 125/117PrPn Prisão administrativa. Depositário infiel. Decreto-Lei n? 3.415/41 (consti-

tucionalidade). RHC 62.933 RTJ 125/123PrCv Prisão civil. Alimentos. Verbas estranhas ã prestação alimenticia (inclu-

são). Honorários de advogado. RE 110.441 RTJ 125/326PrCv Prisão decretada em ação de depósito (...) Habeas corpus. RHC 65.222

RTJ 125/173PrPn Prisão domiciliar. Condenado apto ao regime aberto. Lei de Execução Pe-

nal, art. 117. Súmulas 400 e 291. RECr 111.552 RTJ 125/344PrPn Prisão preventiva ( ) Habeas corpus. RHC 64.717 RTJ 125/147

INDICE ALFABÉTICO — Pro-Rec XV

Adm Processo Legislativo. Iniciativa legislativa. Funcionalismo. Estabilidade.Emenda Constitucional do Poder Legislativo. Inconstitucionalidade.Emenda Constitucional Estadual n? 7/87-RO. Rp 1.478 RTJ 125/67

PrCv Protocollzaçâo na comarca de origem do feito (...) Recurso extra-ordinário. RE 114.866 RTJ 125/387

Adm Prova física para aferição de capacidade (...) Moinho de trigo. AR 961RTJ 125/28

Adm Proventos (...) Funcionalismo. RE 111.221 RTJ 125/340

Cm Quebra de peso (...) Transporte marítimo. RE 112.853 RTJ 125/356PrPn Queixa-crime. Mandato (requisitos). Menção ao fato criminoso. Remissão

ao inquérito policial (equivalência). Código de Processo Penal, art. 44 (in-teligência). RHC 62.839 RTJ 125/121

PrPn Quesito complexo (...)JúrI RECr 114.687 RTJ 125/380PrSTF Quesito constitucional (ausência) (...) Recurso extraordinário. Ag 100.877

(AgRg) RTJ 125/234PrSTF Questão de ordem (...) Representação por inconstitucionalidade. Rp 1.437

(Questão de ordem) RTJ 125/49PrCv Questão trabalhista (... ) Mandado de segurança. RE 103.082 RTJ 125/245

RAdm Reajuste da casa própria (critérios) (...) Sistema Financeiro da

Habitação. RE 111.128 RTJ 125/335Adm Recalculo (...) Policial militar. RE 114.011 RTJ 125/374Int Reciprocidade (...) Extradição. Extr 447 RTJ 125/26Adm Reclamação trabalhista (... ) Magistério estadual. RE 115.477 RTJ 125/398PrPn Recurso cabível (...) Habeas corna. HC 64.771 RTJ 125/151Prev Recurso cabível (...) Liquidação de sentença. RE 114.554 RTJ 125/377PrSTF Recurso extraordinário. Agravo regimental. Divergência com a súmula

(Inexistência). Ag 114.187 (AgRg) RTJ 125/376Pn Recurso extraordinário. Crime de prefeito. Tipicidade penal. Decreto-Lei

n? 201/67, art. 1?, I e II. Código Penal, arte. 1? e 17. RECr 109.794 RTJ125/309

PrSTF Recurso extraordinária Fundamentação deficiente. Indicação do disposi-tivo ou alínea autorizativa (omissão). Regimento Interno do STF/80, art.321. RE 111.801 RTJ 125/349

PrSTF Recurso extraordinário. Fundamento não atacado. Súmula 283. RE 109.092RTJ 125/305

Trbt Recurso extraordinário (...) Importação da ALALC. RE 113.709 RTJ125/371

PrCv Recurso extraordinário. Intempestividade. Protocolização na comarca deorigem do feito. Código de Processo Civil, arte. 542 e 543. RE 114.866 RTJ125/387

Cv Recurso extraordinário. Negócio jurídico. Dolo e coação. Reezame de pro-va. Fundamento não atacado. Súmulas 279 e 283. Código Civil, arte. 98, 99 e100. RE 101.176 RTJ 125/236

XVI Rec-Res — INDICE ALFAstrico

PrSTF Recurso extraordinário. Óbice regimental. Divergência manifesta com aSúmula. Interpretação «a contrario sensu» (não configuração). Súmula443. RE 112.340 RTJ 125/351

PrSTF Recurso extraordinário. Óbice regimental. Quesito constitucional (ausên-cia). Ag 100.877 (AgRg) RTJ 125/234

PrSTF Recurso extraordinário. Óbice regimental. Regimento Interno do STF/80,art. 325, IV, «a» e V, «b». Prequestionamento. RE 107.514 RTJ 125/282

PrSTF Recurso extraordinário. Prequestionamento. Embargos deciaratórios.Óbice regimental. RE 101.737 RTJ 125/240

PrSTF Recurso extraordinário. Prequestionamento (falta). Súmula 282. RE105.667 RTJ 125/270

Cv Reexame de prova (...) Recurso extraordinário. RE 101.176 RTJ 125/236PrPn Regime inicial de cumprimento da pena (...) Habeas cernis. RFIC 65.412

RTJ 125/185PrPn Regime de prisão (alteração) (...) Habeas corna HC 65.287 RTJ 125/176PrSTF Regimento Interno do STF/80, art. 170, f 1? (Interpretação) (...)

Representação por inconstitucionalidade. Rp 1.437 (Questão de ordem)RTJ 125/49

PrSTF Regimento Interno do STF/80, art. 321 (...) Recurso extraordinário. RE111.801 RTJ 125/349

PrSTF Regimento Interno do STF/80, art. 325, IV, «a» e V, «b» ( ) Recursoextraordinário. RE 107.514 RTJ 125/282

PrSTF Recurso ordinário (substituição) (...) Habeas corpos. HC 65.496 RTJ125/189

Trbt Regime especial ( ) ICM. RE 115.452 RTJ 125/395PrPn Reincidência ( ) Habeas coreus. RHC 64.819 RTJ 125/153PrPn Reincidência ( ) Medida de segurança. RE 102.760 RTJ 125/243PrPn Remissão ao inquérito policial (equivalência) (...) Queixa-crime. RHC

62.839 RTJ 125/121Cm Remuneração (... ) Sociedade anónima. RE 108.650 RTJ 125/293Adm Remuneração mínima ( ) Magistério estadual. RE 115.477 RTJ 125/398Trbt Repetição do indébito (... ) Correção monetária. RE 107.009 RTJ 125/278Ct Representação por inconstitucionalidade. Medida cautelar. Agrotóxicos

(uso nos Estados). Lei n? 9.465/84-PE. Rp. 1.243 (medida cautelar) RTJ125/39

Ct Representação por inconstitucionalidade. Medida cautelar (pressupostos).«Fumus boni juris». «Periculum in mora» (demonstração necessária).Agrotóxicos e blocidas. Rp 1.442 (medida cautelar) RTJ 125/56

Ct Representação por inconstitucionalidade. Medida cautelar. Policia Militardo estado de Minas Gerais. Vinculação de vencimentos com os militaresdas Forças Armadas. Lel n? 9.265/86-MG, art. 8?. Rp 1.476 (medida caute-lar) RTJ 125/65

PrSTF Representação por inconstitucionalidade. Medida cautelar. Questão de or-dem. Informações. Regimento Interno do STF/80, art. 170, 4) 1? (interpre-tação). Rp 1.437 (Questão de ordem) RTJ 125/49

PrPn Requisição por autoridade judiciária (...) Inquérito policial. RHC 65.080RTJ 125/166

Cv Responsabilidade civil. Supermercado. Estacionamento. Furto de veiculo.RE 114.671 RTJ 125/378

Cm Responsabilidade das empresas armadora e transportadora (...) Trans-porte marítimo. RE 112.853 RTJ 125/356

INDICE ALFABETICO — Ret-Súm XVII

PrGr Retomada para construção mais útil (...) Embargos de declaração. ERE104.284 (AgRg-EDcl-Encl) RTJ 125/259

PrPn Réu preso (... ) Defesa. RHC 65.512 RTJ 125/190PrPn Réu preso não requisitado (...) Defesa. RECr 115.386 RTJ 125/393PrPn Réu viajando (...) Citação-edital. RHC 63.314 RTJ 125/132PrPn Revelia (...) Apelação criminal. RECr 115.343 RTJ 125/391Adm Revisão (... ) Moinho de trigo. AR 961 RTJ 125/28PrPn Revisão criminal (... ) Habeas corpus. HC 64.771 RTJ 125/151PrPn Revisão de provas (... ) Habeas corpus. HC 64.771 RTJ 125/151Pn Revogação automática (...) Sursis. RE 115.552 RTJ 125/401

Trbt Sanções não impostas por lei (...) ICM. RE 115.452 RTJ 125/395PrPn Seguro incêndio (...) Contravenção. RHC 84.950 RTJ 125/158PrPn Sentença (omissão) (...) Habeas corpus. RHC 65.412 RTJ 125/185Int Sentença estrangeira. Citação de pessoa domiciliada no Brasil. Citação

via postal (irregularidade). Citação por carta rogatória (exigibilidade).SE 3.889 RTJ 125/76

Int Sentença estrangeira. Divórcio. Sistema jurídico japonês. Divórcio emconsulado. Homologação indeferida. SE 3.846 RTJ 125/70

Int Sentença estrangeira. Divórcios consensuais perante autoridades adminis-trativas japonesas. Presença de cônjuge brasileiro bínubo. Homologaçãocom restrições quanto ao segundo divórcio. SE 3.869 RTJ 125/72

Int Sentença estrangeira. Imóvel situado no Brasil. Inexeqüibilidade. SE 3.989(AgRg) RTJ 125/80

PrPn Sentença transitada em julgado (...) Habeas corpus. HC 64.771 RTJ125/151

Trbt Serviços prestados por associações civis recreativas a seus sócios ou em-pregados (estacionamento e fisioterapia) (...) ISS. RE 107.009 RTJ 125/278

Adm Sexta-parte (...) Policial Militar. RE 110.716 RTJ 125/329Adm Sistema Financeiro da Habitação. Reajuste da casa própria (critérios).

Equivalência salarial. Lei n? 4.380/64, art. 5? e $11. Decreto-Lei n? 19/66.Súmula 283. RE 111.128 RTJ 125/335

Int Sistema jurídico japonês (...) Sentençà estrangeira. SE 3.846 RTJ 125/70Cm Sociedade anônima. Diretoria. Remuneração. Ação de indenização. Julga-

mento antecipado da lide. Lei das Sociedades Anônimas, arts. 117, 1?,«c» e «f» e 152. Código de Processo Civil, arts. 130, 332 e 333, I. RE 108.850RTJ 125/293

Cm Súmula 161 (...) Transporte marítimo. RE 109.516 RTJ 125/307PrSTF Súmula 249 (...) Ação rescisória. Rd 231 RTJ 125/10PrCv Súmula 267 (... ) Mandado de segurança. MS 20.776 (AgRg) RTJ 125/112PrGr Súmula 268 (... ) Mandado de segurança. RE 100.242 RTJ 125/209PrCv Súmula 271 (... ) Mandado de segurança. Ag 119.205 (AgRg) RTJ 125/407Cv Súmula 279 e 283 (...) Recurso extraordinário. RE 101.176 RTJ 125/236PrCv Súmula 282 (... ) Mandado de segurança. RE 110.324 RTJ 125/323PrSTF Súmula 282 (... ) Recurso extraordinário. RE 105.667 RTJ 125/270Cm Súmula 282 e 291 (...) Transporte marítimo. RE 112.853 RTJ 125/356

XVIII SBM-Mi — INDICE ALFABÉTICO

TrPrv Súmula 282 e 356 (... ) Previdência Social. RE 105.717 RTJ 125/272PrSTF Súmula 283 (... ) Recurso extraordinário. RE 109.092 RTJ 125/305Adm Súmula 283 (...) Sistema Financeiro da Habitação. RE 111.128 RTJ 125/335Trbt Súmula 323 (...) ICM. RE 108.104 RTJ 125/284Trbt Súmula 323 (...) Tributo. RE 108.104 RTJ 125/284PrCv Súmula 330 (... ) Mandado de segurança. MS 20.776 (AgRg) RTJ 125/112TrAc Súmula 343 (inaplicação) (...) Ação rescisória. RE 105.205 RTJ 125/267PrPn Súmula 400 e 291 (... ) Prisão domiciliar. RECr 111.552 RTJ 125/344PrGr Súmula 409 (... ) Embargos de declaração. ERE 104.284 (AgRg-EDcl-

EDc1) RTJ 125/259PrPn Súmula 431 (... ) Habeas corpos. RHC 62.933 RTJ 125/123PrSTF Súmula 443 (... ) Recurso extraordinário. RE 112.340 RTJ 125/351Adm SUNAB (... ) Moinho de trigo. AR 961 RTJ 125/28Cv Supermercado (... ) Responsabilidade civil. RE 114.671 RTJ 125/378Pn Sursis. Revogação automática. Código Penal, art. 81, 1) 2?. RE 115.552 RTJ

125/401

PrGr Taxa rodoviária única (falsificação) (... ) Competência. Cl 6.658 RTJ125/84

PrCv Texto constitucional (...) Ação rescisória. RE 105.205 RTJ 125/267Pn Tipicidade penal (...) Crime contra a economia popular. RHC 64.172

(EDc1) RTJ 125/137Pn Tipicidade penal (...) Recurso extraordinário. RECr 109.794 RTJ 125/309TrAc Trabalhador rural (...) Ação rescisória. FIE 105.205 RTJ 125/267PrPn Tráfico de entorpecente (...) Habeas corpus. HC 65.087 RTJ 125/170PrPn Trancamento de ação penal (...) Habeas coima. RHC 65.061 RTJ 125/162TrGr Transação do tempo de serviço anterior à opção pelo FGTS (...)

Empregado. RE 86.385 RTJ 125/199Cm Transporte marítimo. Cláusula de não indenizar. Súmula 161. RE 109.516

RTJ 125/307Cm Transporte marítimo. Granel sólido. Quebra de peso. Responsabilidade

das empresas armadora e transportadora. Prequestionamento. Dissídionão caracterizado. Súmula 282 e 291. RE 112.853 RTJ 125/356

PrTr Tribunal Federal de Recursos (...) Competência. Cl 6.678 RTJ 125/87PrCv Tribunal de Justiça (...) Mandado de segurança. RE 103.082 RTJ 125/245Ct Tribunal de Justiça (... ) Poder Judiciário. Rp 1.423 RTJ 125/46PrGr Tribunal de Justiça estadual (...) Competência. Cl 6.702 RTJ 125/94Trbt Tributo. Coação para o pagamento. Apreensão da mercadoria (InadmIssi-

bilidade). Súmula 323. RE 108.104 RTJ 125/284

Ct Universidade Estadual (UERJ). Escolha dos dirigentes. Competência pa-ra legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Constituição Fe-deral, art. 8?, XVII, «q», da CF. Lei n? 1.115/87-F1J. Medida cautelar. Rp1.453 RTJ 125/58

Adm Utilidade pública (...) Desapropriação. RE 111.079 RTJ 125/330

INDICE ALFABETico — XIX

V

Adm Vantagem funcional (... ) Prescrição. RE 105.155 RTJ 125/265Adm Vantagens (...) Policial militar. RE 114.011 RTJ 125/379Pn Verba secreta (DELTA III) (...) Inquérito. Inq 305 RTJ 125/21Prev Verbas estranhas à prestação alimentícia (inclusão) (... ) Prisão civil. RE

110.441 RTJ 125/326Ct Vinculação de vencimentos com os militares das Forças Armadas (...)

Representação por inconstitucionalidade. Rp 1.976 (medida cautelar) RTJ125/65

INDICE NUMÉRICO

Vol./patRel.: Min. Sydney Sanches 125/1Fiel.: Min. Octavio Gallotti 125/10Rel.; Min. Aldir Passarinho 125/19Rel.: Min. Oscar Corréa 125/21Rel.: Min. Célio Borla 125/26Rel.: Mln. Néri da Silveira 125/28

Rel.: Min. Néri da Silveira 125/39Rel.: Min. Djaci Falcão 125/46

Fiel Min. Sydney Sanches 125/49

Rel.: Min. Carlos Madeira 125/56Rel.: Min. Sydney Sanches 125/58

Rel.: Min. Carlos Madeira 125/65Rel.: Min. Octavio Gallotti 125/67Rel.: Min. Rafael Mayer 125/70Rel.: Min. Rafael Mayer 125/72Rel.: Min. Carlos Madeira 125/76Rel.: Min. Rafael Mayer 125/80Rel.: Min. Francisco Rezek 125/84Rel.: Min. Aldir Passarinho 125/87Rel.: Min. Djaci Falcão 125/94Rel.: Min. Néri da Silveira 125/97ReI.: Min. Octavio Gallotti 125/104Rel.: Min. Djaci Falcão 125/112Rel.: Min. Néri da Silveira 125/114Rel.: Min. Néri da Silveira 125/117Rel.: Min. Néri da Silveira 125/121Rel.: Min. Néri da Silveira 125/123Rel.: Min. Néri da Silveira 125/127Rel.: Min. Néri da Silveira 125/132Rel.: Min. Néri da Silveira 125/136Rel.: Min. Sydney Sanclies 125/137Rel.: Min. Francisco Rezek 125/145Rel.: Min. Sydney Sanches 125/147Rel.: Min. Carlos Madeira 125/151Rel.: Min. Francisco Rezek 125/153Rel.: Min. Carlos Madeira 125/154Rel.: Mln. Carlos Madeira 125/157Fiel.: Min. Aldlr Passarinho 125/158

12 (PA)231 (Rd)260 (Ing)305 (Int)447 (Extr)961 (AR)

1.243 (Rp-MedidaCautelar)

1.423 (Rp)1.437 (Rp-Questão de

Ordem)1.442 (Rp-Medida

Cautelar)1.453 (Rp)1.476 (Rp-Medida

Cautelar1.478 (Rp)3.846 (SE)3.889 (SE)3.889 (SE)3.989 (SE-AgRg)6.658 (CJ)6.678 (CJ)6.702 (CJ)

20.488 (MS)20.674 (MS)20.776 (MS-AgRg)62.616 (HC)62.816 (RHC)62.839 (RHC)62.933 (RHC)63.013 (HC)63.314 (RHC)63.376 (RHC)64.172 (RHC-EDcl)64.439 (RHC)64.717 (RHC)64.771 (HC)64.819 (RHC)64.911 (HC)64.939 (RHC)64.950 (RHC)

XXII INDICE NUMÉRICO

Vol./pal.

Rel.: Min. Carlos Madeira 125/162Rel.: Min. Sydney Sanches 125/163Rel.: Min. Sydney Sanches 125/166Rel.: Min. Calo Borja 125/168Rel.: Min. Carlos Madeira 125/170Rel.: Min. Sydney Sanches 125/171Rel.: Min. Carlos Madeira 125/173Rel.: Min. Sydney Sanches 125/176Rel.: Min. Carlos Madeira 125/177Rel.: Min. Moreira Alves 125/179Rel.: Min. Sydney Sanches 125/185Rel.: Min. Carlos Madeira 125/187Rel.: Min. Moreira Alves 125/189Rel.: Min. Célio Borla 125/190Rei.: Min. Djaci Falcão 125/193Rel.: Min. Néri da Silveira 125/199Rel.: Min. Octavio Gallotti 125/209Rel.: Min. Francisco Rezek 125/234Rel.: Min. Francisco Rezek 125/236Rel.: Min. Francisco Rezek 125/240

Néri da Silveira 125/243Néri da Silveira 125/245Francisco Reza 125/254Francisco Rezek 125/256

Francisco Reza 125/259Néri da Silveira 125/261Sydney Sanches 125/265Sydney Sanches 125/267Francisco Reza 125/270Néri da Silveira 125/272Sydney Sanches 125/276Aldir Passarinho 125/278Sydney Sanches 125/282Caio Borla 125/284Célio Borla 125/288Célio Borja 125/293Francisco Rezek 125/305Aldir Passarinho 125/307Oscar Corrêa 125/309Francisco Rezek 125/314Aldir Passarinho 125/318Djaci Falcão 125/323Aldir Passarinho 125/326Célio Borja 125/329

Rel.: Min. Célio Borla 125/330Rel.: Min. Carlos Madeira 125/335Rel.: Min. Aldir Passarinho 125/340Rel.: Min. Djaci Falcão 125/344Rel.: Min. Calo forja 125/349Rel.: Min. Francisco Reza 125/351Rel.: Min. Carlos Madeira 125/355Rel.: Min. Sydney Sanches 125/356Rel.: Min. Carlos Madeira 125/361Rel.: Min. Sydney Sanches 125/363Rel.: Min. Calo Borja 125/365Rel • Min. Moreira Alves 125/367Rel.: Min. Caio Borla 125/371

65.061 (RHC)65.071 (RHC)65.080 (RHC)65.082 (RHC)65.087 (HC)65.184 (HC)65.222 (RHC)65.287 (HC)65.289 (RHC)65.340 (HC)65.412 (RHC)65.414 (RHC)65.496 (HC)65.512 (RHC)05.579 (RHC)86.385 (RE)

100.242 (RE)100.877 (Ag-AgRg)101.176 (RE)101 . 737 (RE)102.760 (RE) Rel.: Min.103.082 (RE) Rel.: Min.103.299 (RE-EDc1) Rel.: Min.104.284 (ERE-AgRg) Rel.: Min.104.284 (ERE-AgRg-EDci-

EDcI) Rel.: Min.105.142 (RE) Rel.: Min.105.155 (RE) Rei.: Min.105.205 (RE) Rel.: Min.105.667 (RE) Rel.: Min.105.717 (RE) Rel.: Min.106.148 (RE) Rel.: Min.107.009 (RE) Rel.: Min.107.514 (RE) Rel.: Min.108.104 (RE) Rel.: Min.108.272 (RE) Rel.: Min.108.650 (RE) Rel.: Min.109.092 (RE) Rel.: Min.109.516 (RE) Rel.: Min.109.794 (RECr) Rel.: Min.110.001 (Ag-AgRg-EDci) Rel.: Min.110.315 (RE) Rel.: Min.110.324 (RE) Rel.: Min.110.441 (RE) Rel.: Min.110.716 (RE) Rel.: Min.111.079 (FIE)111.128 (RE)111.221 (RE)111.552 (RECr)111.801 (RE)112.340 (RE)112.413 (RE)112.853 (RE)112.947 (RE)113.263 (RE)113.323 (RECr)113.701 (RE)113.709 (RE)

1NDICE NUMERICO XXIII

Vol./Pág.113.960 (RE) Rel.: Min. Sydney Sanches 125/372114.011 (RE) Rel.: Min. Célio Boda 125/374114.187 (Ag-AgRg) Rel.: Min. Francisco Reza 125/376114.554 (RE) Rel.: Min. Carlos Madeira 125/377114.671 (RE) Rel.: Min. Carlos Madeira 125/378114.687 (RECr) Rel.: Min. Oscar Corrêa 125/380114.866 (RE) Rel.: Min. Djaci Falcão 125/387115.181 (RE) Rel.: Min. Carlos Madeira 125/389115.343 (RECr) Rel.: Min. Djaci Falcão 125/391115.986 (RECr) Rel.: Min. Djaci Falcão 125/393115.452 (RE) Rel.: Min. Octavlo Gallotti 125/395115.477 (RE) Rel.: Min. Octavlo Gallotti 125/398115.552 (RE) Rel.: Min. Djaci Falcão 125/401115.711 (RE) Rel.: Min. Djaci Falcão 125/403116.504 (Ag-AgRg) Rel.: Min. Célio Borla 125/406119.205 (Ag-AgRg) Rel.: Mn. Carlos Madeira 125/407