Contributos para um Retrato Sociológico dos Idosos em Portugal
São os idosos sujeitos?
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SÃO OS IDOSOS SUJEITOS? ANÁLISE DO DISCURSO DOS SITES
DE CLÍNICAS DE REPOUSO PARA IDOSOS.
À minha mãe, Eunice Galery, pelo incentivo, disponibilidade para conversar e orientação;
À minha esposa, Ana Grein, e à minha filha, Bia, pela paciência com que me aturaram durante o processo de escrita...
I. INTRODUÇÃO
“Traga seu velhinho para nosso cantinho, ele será tratado com amor e
carinho”. Com essa frase, um residencial para idosos anuncia seus
serviços, no Guia Mais Online (2008). A frase é construída de forma a
aparentar calor humano e conquistar a família do 'velhinho'. Mas, ao
mesmo tempo, infantiliza o idoso e o exclui, no discurso, da decisão de
onde ele irá morar.
São frases como essa que suscitaram o interesse de escrever a presente
monografia, que encaminho para o Prêmio Talentos da Maturidade,
quando este propõe o tema “Mais de 60 anos: os desafios dos
profissionais de comunicação no relacionamento com esse público”.
Na presente monografia levantamos a hipótese de que as moradias para
idosos, e isto se reflete em seus sites na Internet, não vêem seus
moradores como sujeitos, atores de sua própria vida.
Para verificar nosso pressuposto, primeiro apresentaremos uma breve
discussão teórica que lhe sirva de embasamento. Começaremos
analisando a exclusão do corpo idoso, a partir de levantamentos
bibliográficos. Em seguida, discutiremos como a exclusão desse corpo
leva a uma homogeneização da visão do idoso que o objetifica diante os
olhos da sociedade. Na terceira parte da revisão teórica, discutiremos
como as moradias para idosos podem assumir dois papéis diante de seu
público-alvo: considerar o idoso como um indivíduo excluído e servir como
local de segregação, ou tomar o caminho inverso e considerá-lo ator de
sua própria vida.
O discurso dos sites é um reflexo da escolha de uma dessas visões das
organizações voltadas à moradia dos idosos, razão pela qual escolhemos,
como metodologia, a análise do discurso, que será mais bem detalhada
na terceira parte do texto, para, em seguida, apresentarmos a análise que
fizemos dos sites. Finalmente, apresentamos nossas conclusões e
considerações sobre o assunto.
II. O CORPO COMO LUGAR DE EXCLUSÃO
Cada sociedade, a cada momento histórico, vê o corpo e a corporeidade
de uma forma. Como afirma Simões (1998, p. 69), “em cada época,
define-se o perfil corporal do homem de acordo com os valores,
exigências e interesses dos projetos culturais e políticos elaborados pelos
grupos sociais dominantes”.
Na sociedade atual, três hipóteses não-excludentes buscam explicar
como a cultura vê e molda o corpo. Por um lado, temos a imagem
mecânica do homem máquina. De acordo com essa hipótese, a
sociedade industrial começa a ver o corpo como uma máquina que
despende energia e a transforma em força de trabalho (ALVES, 2004). O
corpo valorizado, então, passa a ser o corpo produtivo, “um corpo forte,
sadio, bonito, com capacidade de produzir mais” (SIMÕES, 1998).
A segunda hipótese de como a sociedade moderna vê o corpo é através
da biomedicina. Resultante do iluminismo cientificista (ALVES, 2004), a
biomedicina colocou sua ênfase nas diferenças entre o normal e o
patológico, sendo que curar coincidiria com retornar ao padrão
(CANGUILHEM, 2000). A sociedade passa a ser “guiada pela distinção
entre o normal e o anormal, fornecida pelo discurso médico em vigor”
(ALVES, 2004, p. 39). Os indivíduos são classificados como normais ou
anormais/doentes e coagidos a corresponderem aos padrões de
normalidade exigidos pela biomedicina. Começa, a partir daí, um 'culto
autopreservacionista do corpo' (DEBERT, 2004). Os indivíduos são
instados a cuidar de seu corpo e responsabilizados pela própria saúde,
boa aparência e bem-estar. Além disso, para ser reconhecido como
cidadão, e autônomo, são necessárias certas habilidades físicas e
cognitivas, também definidas pelo mesmo discurso médico.
Na terceira hipótese, o corpo se torna definidor de um mercado de
consumo, tese defendida por Simões (1998); Stoer, Magalhães e
Rodrigues (2004); Mucida (2004) e Debert (2004). Essa última autora
discute, de maneira particularmente interessante, como o idoso se torna
um novo 'mercado' a ser explorado, a partir do fortalecimento desse grupo
como ator político, que definiu o movimento que tem sido chamado de
'Terceira Idade'. Aí, o idoso aparece como um indivíduo ativo, que se
esforça para permanecer com o corpo e o espírito sempre jovens. Esse
esforço abre espaço para diversos novos serviços (clubes para idosos,
clínicas de cirurgia plástica etc.) e produtos (vitaminas, loções, 'tônicos da
juventude').
As três hipóteses aqui apresentadas, sobre a maneira pela qual a
sociedade lida atualmente com o corpo – como máquina de produção;
através da biomedicina, e como definidor de um mercado de consumo –
são intimamente ligadas. No entanto, tal discussão é bastante complexa e
nos contentaremos, aqui, em deixar claro que as três hipóteses
apresentadas definem um padrão de corpo, e de atuação sobre o corpo,
na atualidade, o que estabelece também um processo de
inclusão/exclusão social (STOER; MAGALHÃES; RODRIGUES, 2004). As
condições do corpo – ou seja, sua distância ou proximidade em relação
aos padrões estabelecidos e discutidos acima – são definidores da
marginalidade, ou não, dos indivíduos. Por isso, diversos grupos são
excluídos socialmente, como os portadores de deficiência, os grupos
étnicos minoritários e, sem dúvida, os idosos.
O corpo idoso
A partir dessas hipóteses acima, podemos inferir que grande parte dos
idosos é triplamente excluído. Em primeiro lugar, excluído por não mais
fazer parte da máquina produtiva. Nesse sentido, a aposentadoria chega
a ser vista como uma ameaça ao sujeito (DEBERT, 2004; MUCIDA,
2004).
O corpo idoso também foge do padrão de saúde imposto pela medicina,
padrão esse reforçado pelo poder público (para diminuição de custos com
a saúde pública). Simões (1998) ao enumerar as modificações
biofisiológicas que ocorrem com o envelhecimento, conclui que, ao não se
incluir mais no padrão, o idoso vive uma sensação de impotência, que
pode chegar a um sentimento de incapacidade e aversão ao próprio
corpo.
Por fim, o corpo idoso, até pouco mais de uma década atrás, não era visto
como alvo de um mercado de consumo. Essa relação parece mudar,
atualmente, como aponta Debert (2004), principalmente para o idoso que
tem condições financeiras de continuar a participar da sociedade como
um consumidor. No entanto, grande parte dos idosos não se encontram
nessa posição, seja pela diminuição de renda imposta pela
aposentadoria, seja pela intervenção no controle financeiro operada pelas
famílias.
Visto como improdutivo, doente (pois fora das normas de saúde impostas)
e incapaz, o corpo idoso é relegado à exclusão social. Mas qual o impacto
para o sujeito dessa exclusão indisfarçável que o tempo impinge a seu
corpo?
A exclusão do idoso como sujeito
Enriquez (1997) caracteriza a oposição entre o indivíduo e o sujeito. Para
esse autor, indivíduo é aquele que vive na heteronomia, é 'levado' pela
vida e pelos ditames da sociedade, como define Manzine-Covre (2005).
Essa autora acrescenta que o indivíduo já não é um ser desejante. Ele já
não busca mais nada, é apenas 'atuado', e não atuante.
O sujeito, em contraposição, deseja. Ele busca uma determinada
autonomia e, por isso, reflete, cria, se reinventa, ao invés de se deixar
definir pela sociedade ou pelo grupo (MANZINE-COVRE, 2005;
ENRIQUEZ, 1997). Nesse sentido, o sujeito é um ator social, atua para
modificar sua própria condição e a da sociedade.
É importante apontar, no entanto, que, se somos indivíduos, e não
sujeitos, não é porque não queremos desejar, mas sim porque a
sociedade se impõe a nós. Nossa imagem de nós mesmos – nossa
identidade – é formada dentro dessa sociedade e pelos grupos que nos
cercam. Acabamos por nos ver a partir da percepção de como os outros
nos vêem.
Para conseguirmos exercer nossa cidadania e tornarmo-nos sujeitos é
necessária, então, uma sociedade que nos aceite como ser desejante e
único, ao invés de nos reduzir a uma parte de nosso corpo ('aleijado',
'negro', 'idoso' são formas de reduzir nossa complexidade como sujeitos a
apenas um detalhe de nossa aparência). Como tentamos mostrar acima,
o discurso social sobre o idoso foca a decadência do corpo, da
capacidade produtiva e da capacidade de consumo. O idoso é, assim,
excluído como sujeito. Passa a ser atuado, pois é visto como incapaz,
seja pela 'decadência' corporal, seja pela 'incapacidade' de produzir ou de
consumir. A identidade dos idosos fica, por isso, impregnada desse 'lugar
social' a ele relegado.
É papel da sociedade modificar seus paradigmas, buscando ser cada vez
mais inclusiva, para que essa situação mude. E, felizmente, tal mudança
parece ocorrer, embora lentamente. A proposta de Sociedade Inclusiva,
que vem ganhando peso, gradualmente, é a de que, “incluir não é 'moldar'
o cidadão para se adequar às normas e estruturas já estabelecidas, é
antes o inverso, adequar as normas e estruturas às necessidades do
cidadão” (ALVES; GALERY, 2006, p. 5). Em relação à velhice, Sosnowski
(2006) constata que a sociedade, pouco a pouco, inclui o idoso, fazendo
com que a experiência de envelhecer possa vir a ser um 'momento
gratificante'. “Podemos falar no aumento da auto-estima, no sentimento
de confiança e na percepção de que o passar dos anos é mais marcado
pela aquisição do que pela perda” (IDEM, p. 17), afirma a autora.
Onde estamos, então? É possível afirmar que a sociedade, como um
todo, está se tornando mais inclusiva em relação aos idosos? Se
aceitarmos que estamos num período de transição, então é provável que
encontremos dois discursos diferentes em relação ao idoso: um que o
trata como objeto, indivíduo, incapaz; o outro que o trata como sujeito e
ator de sua própria vida.
Moradia para idosos
Que as moradias e asilos exploram o nicho de mercado voltado para os
idosos é óbvio. Mas a partir de que paradigma? Vendo seu público-alvo
como sujeito ou objeto? Respeitando sua individualidade e seus desejos
ou reduzindo-o a indivíduo sujeitado ao desejo alheio?
Ao montar um serviço voltado para um determinado público, é essencial
que os empreendedores tenham em mente o benefício desse público.
Assim, qualquer serviço voltado para o idoso deveria adotar um
paradigma inclusivo, respeitando não só as necessidades físicas desse
grupo, mas seu direito de estar envolvido com a sociedade, de ser
cidadão e ator de sua própria vida. Zeisel (2007) chama essa atitude do
cuidador diante do idoso de 'ser uma pessoa e não uma pedra'. Ou seja,
preocupar-se mais com o idoso do que com as rotinas ou normas da
moradia.
Quando os empreendedores e cuidadores vêem os idosos como
incapazes, improdutivos e indivíduos, as moradias tendem a se tornar o
que Goffman chamaria de 'instituição total', fixando sistemas de regras
rígidos que estabelecem horários, atividades e condutas rigorosas,
voltadas, não para atender os grupos institucionalizados, mas para seguir
um objetivo 'oficial' determinado pela organização (DEBERT, 2004). As
moradias para idosos se aproximariam, assim, de outras instituições totais
como as prisões e os hospícios, levando as pessoas a perder seus
múltiplos papéis sociais. Mucida (2004) descreve:
Nos asilos e casa para idosos, exibe-se, na maioria das vezes, a mais incisiva marca segregatória ao idoso. [...] Mesmo que a infra-estrutura seja bem diferente das instituições asilares tradicionais, persiste, nos dois casos, a mesma prática do apagamento das diferenças; mesma comida, horários predeterminados para refeições, banho e outras atividades. [...]. Os sujeitos devem deixar para trás todas as lembranças, todos os hábitos, todos os gostos e escolhas para se adequarem ao grupo (p. 86-87).
O papel ambíguo da publicidade
Há que se abordar aqui, também, o papel da publicidade, já que nossa
proposta é a de analisar o discurso publicitário nos sites de moradias para
idosos. Charaudeau (2006) fala sobre a finalidade ambígua da mídia, em
geral, ao pretender, simultaneamente, passar informações e cativar o
receptor dessas informações. Essa ambigüidade aparece fortemente na
publicidade, onde a necessidade de vender o produto é prioritária.
Nenhum discurso é neutro, pois sempre “visa a, sobretudo, persuadir seu
interlocutor, na tentativa de fazer este crer naquilo que aquele enuncia”
(LEITE, 2001, p. 206). Para essa autora, o discurso da propaganda busca
dissimular a ideologia subjacente. Não diz o que 'deve' ser dito, nem se
preocupa com a 'verdade', mas expressa aquilo que acha que influenciará
o leitor (receptor da mensagem), para alcançar seu objetivo.
Ilustremos com um exemplo tirado de um site de moradia para idosos1.
Na seção 'Dúvidas', as cinco primeiras perguntas são: 1) De quem é a
obrigação de cuidar do idoso?; 2) E se o idoso não quiser ir?; 3) Quanto
tempo dura a adaptação?; 4) Chantagem emocional e 5) Qual o momento
correto para a internação? Todas as respostas dadas pelo site são de
cunho extremamente emocional e voltados para a família do idoso,
colocando-o no lugar de uma 'criança birrenta' que não quer ir para a
moradia. Todo o discurso é montado para diminuir um possível
sentimento de culpa dos familiares de querer deixar seu parente em uma
moradia, ao mesmo tempo em que alerta para as dificuldades de se
cuidar do idoso em casa. Além disso, busca influenciar os familiares para
entender como 'chantagem emocional' a resistência do idoso a ficar em
uma moradia.
1 Apesar de todos os sites serem públicos, já que publicados no espaço público da Internet, preferimos não citar, no texto, os nomes das instituições pesquisadas, para evitar constrangimentos.
É, portanto, um discurso persuasivo (PORTINE, 1983), no qual, ao invés
da argumentação, o publicitário utiliza um discurso em que simula dar
'suporte emocional' aos familiares para chegar ao seu objetivo: a
internação.
No entanto, mesmo quando o discurso é dissimulado, sua análise permite
perceber quais os valores por trás dos textos publicitários, pois estes são
reflexos daqueles. As práticas discursivas trazem, em si, as
representações de mundo daquele que as exprime, deixando 'escapar'
sua visão de mundo nas entrelinhas do texto. O discurso deixa
transparecer as cognições e crenças do sujeito que discorre, pois suas
idéias a respeito do assunto influenciam, de forma interveniente e
camuflada (RODRIGUES, 1979), sua expressão: a escolha dos termos e
ênfases, os enunciados, o posicionamento.
Por essa razão, escolhemos, como metodologia, a análise de discurso,
que será discutida abaixo. Antes, porém, gostaríamos de, rapidamente,
levantar a questão sobre a inclusão digital de idosos e os preconceitos
que cercam o assunto.
O idoso e a Internet
A sociedade brasileira aos poucos se torna uma Sociedade de
Informação, que se baseia na tecnologia tanto para seu funcionamento
quanto para a interação entre pessoas (TAKAHASHI, 2000). A utilização
de serviços, por exemplo, fica, a cada dia, mais dependente das
inovações tecnológicas. Por essa razão, a inclusão digital tem sido tratada
como uma forma de inclusão social (IDEM). Também Arch (2008)2, ao
rever a literatura científica sobre o uso de computadores e Internet por
idosos sugere que não devemos usar o estereótipo que classifica esse
grupo como 'tecnófobo'.
Citando outros estudos, Kachar (2001) alerta que os idosos têm interesse
e razões para aprender novas tecnologias, mas que encontram
dificuldades específicas, que precisam ser superadas pelas metodologias
de ensino para auxiliá-lo. Segundo o princípio da Sociedade Inclusiva, é
necessário, não só capacitar os idosos, mas adequar as tecnologias às
características de acessibilidade para esse público, oferecendo, por
exemplo, sites com letras maiores e conteúdo de interesse.
Dessa forma, seria exemplar esperar-se que os serviços dedicados aos
idosos fossem construídos para eles, com conteúdo de interesse desse
público, tratando-o como cliente do serviço.
III. MÉTODO DE ANÁLISE
Nenhum texto, ou fala, é neutro, como dissemos acima. Eles resultam de
um processo social, que é determinado pela sociedade e regulado pela
ideologia (LEITE, 2001, p. 207). O sujeito, ao falar, deixa perceber, em
2 O estudo de Arch (2008) traz uma série de recomendações sobre como se deve construir um site voltado para idosos, a partir de princípios de acessibilidade e usabilidade. Não entraremos nesse mérito ao analisar os sites das moradias, por uma questão de foco, mas é fácil perceber que não há nenhuma preocupação a esse respeito ao se construir os sites. A maioria deles, por exemplo, não apresenta letras grandes ou possibilidade de cores em alto contraste. Muitos apresentam animações rápidas, que não dão tempo ao idoso de ler e podem causar convulsões.
seu discurso, os paradigmas da sociedade (GREGOLIN, 2001, p. 23).
Indo além, a propaganda, através de seus especialistas, tenta se
apropriar dessas ideologias – ou representações sociais – presentes nas
práticas discursivas, para influenciar seu público-alvo (SOUZA FILHO,
1995).
“Por isso, a análise do discurso deve procurar encontrar as regras
anônimas que definem as condições de existência dos acontecimentos
discursivos” (GREGOLIN, 2001, p. 17). Apoiada nas teorias da lingüística,
da sociologia e na psicanálise, a análise de discurso pretende ir além do
conteúdo explícito das entrevistas, buscando dar valor ao não-dito no
discurso: aquilo que, apesar de não ter sido expresso diretamente na fala
dos entrevistados, “escapa” através das formas de se expressar (WOOD;
KROGER, 2000). Tal análise permite ver como as ideologias e
representações sociais influenciam a produção do discurso, que delas se
apropria ou a elas resiste.
Para analisar o discurso dos sites, montamos alguns critérios, que
esclarecemos abaixo:
Critérios de Análise do Discurso
a. Objeto do discurso
Para quem se dirige o discurso? O emissor de um discurso – 'eu' –, seja
esse discurso falado ou escrito, se dirige a uma pessoa – 'tu', para lhe
passar uma mensagem que diz de si. O 'eu' do discurso fala sobre si para
o 'tu', necessariamente presente e, portanto, enunciado pelo 'eu'
(BENVENISTE, 1976). Existe uma relação entre o 'eu' e o 'tu' dada pelo
discurso.
No entanto, quando a terceira pessoa – 'ele' – aparece, nomeia uma não-
pessoa (IDEM, p. 251). O 'ele' se opõe às pessoas 'eu/tu', sendo privado
da marca da pessoa. Não há relação ente 'eu/tu' e 'ele'.
Stoer, Magalhães e Rodrigues (2004, p. 36) dão um exemplo interessante
para ilustrar essa relação: quando um cadeirante3 entra em um
restaurante acompanhado de outra pessoa, o garçom se dirige ao
acompanhante e pergunta, referindo-se ao cadeirante: “e o que ele vai
querer?” Ao cadeirante, resta o papel da não-ação, característica da
despersonalização.
Assim, é possível apreender, no discurso, com quem o emissor 'eu' tenta
se relacionar e quem está excluído dessa relação, relegado a um papel
'despersonalizado'.
b. Forma de tratamento do idoso
É importante ressaltar que há uma grande discussão em torno das formas
de nomear os grupos minoritários, hoje em dia, insuflada pelo que tem
sido chamado de atitudes 'politicamente corretas', que podem servir, tanto
3 Cadeirante é a designação para a pessoa com deficiência que se utiliza de cadeira de rodas para a locomoção.
para mascarar preconceitos, através da eufemização, quanto, realmente,
ser uma proposta de discussão a respeito do preconceito contra aquele
grupo.
'Melhor idade', para se tratar do envelhecimento, é um exemplo da
eufemização (SIMÕES, 1998), muito utilizada pela propaganda. Ao
mesmo tempo, a discussão – a princípio, teórica – a respeito do termo
'Terceira Idade', iniciada nos anos 60, trouxe benefícios aos idosos, que
foram, através dela, recolocados na pauta da sociedade (DEBERT, 2004).
O substantivo escolhido pelas moradias para idosos para enunciar o idoso
podem nos dar pistas de como os idosos são vistos pela organização.
c. Infantilização do discurso
Uma das formas que o discurso pode assumir para ditar uma relação de
poder entre o 'eu' e o 'tu' é através da infantilização do outro, utilizada
como forma de “expressar uma imagem do outro como sujeito incapaz de
situações dialógicas em condições de igualdade” (VASCONCELLOS-
SILVA et al., 2003, p. 1675). Para tanto, o uso de diminutivos é bastante
comum, assim como o de estereótipos afetivos. Pode-se contrapor a esse
tipo de discurso formas profissionais de tratamento do texto, assim como
formas afetivas, mas que não busquem uma relação de poder.
d. Objetivo das moradias
Por objetivo das moradias, entendemos a ênfase na função social que ela
se propõe em relação ao idoso. Os serviços oferecidos por essas
organizações variam bastante, assim como a ênfase do discurso
publicitário, que se baseia na assunção, pelos autores do texto, daquilo
que é necessário dizer para influenciar a escolha do cliente.
Amostra
Os sites utilizados nessa pesquisa foram levantados através de busca no
site GuiaMais São Paulo, no dia 27 de maio de 2008, circunscrito, por
critério de pesquisa, à cidade de São Paulo, e nos quais se usa a palavra
‘Idoso’. Optamos pelo GuiaMais, pois a busca em mecanismos
tradicionais, como o Google ou o Yahoo, retornavam centenas de
milhares de páginas, sendo que a maioria delas eram notícias diversas a
respeito do assunto. Assim, preferimos utilizar um buscador que nos
desse, como retorno, apenas empresas ligadas à área de moradia para
idosos, evitando o trabalho de 'limpeza' da busca para se chegar à
amostra.
Ao fazer tal busca, observamos três categorias de respostas:
Acompanhante para Idoso (com 5 empresas)
Clínica de Geriatria (com 46 empresas)
Clínica de Repouso (com 187 empresas)
Selecionou-se, então, a categoria ‘Clínica de Repouso’, pois uma rápida
análise mostrou que essa categoria era a que aglutinava o maior número
de moradia para idosos e, dentro dessa, as moradias cujo site estivesse
indicado no serviço de busca, num total de 18 sites (9,6% do total). No
entanto, 2 sites não existiam, apesar da indicação do endereço, e 1 deles
trazia apenas a mensagem “Aguarde, website em construção”. Por outro
lado, uma das clínicas tinha dois sites (um para cada uma de suas
unidades). Por fim, um dos sites estava com problemas e só era possível
ver parte do primeiro parágrafo de cada página.
Dessa forma, nossa amostra final contou com 16 sites de moradias para
idosos, que foram analisados entre maio e julho de 2008. Todas as
moradias ficavam dentro da grande São Paulo, sendo que 13 na cidade
de São Paulo e 3 na cidade de Santo André.
IV. ANÁLISE
Ao analisarmos os sites das moradias para idosos, o primeiro fato que
chama a atenção é a ênfase dada ao tempo de funcionamento. Seis dos
10 sites analisados trazem a informação de há quantos anos está 'no
mercado', com alguma ênfase. Um dos sites traz uma figura na Home
Page (HP)4 informando que funciona há treze anos. Outras quatro
páginas começam o texto de sua HP com essa informação. Um dos sites
exclama “Estamos a quinze anos no ramo!”5. O tempo de funcionamento
4 Por Home Page (HP) entenderemos a página mostrada ao se digitar a URL de um site, sendo, assim, sua 'capa' – ou seja, o primeiro contato que se tem com o site.5 Todas as frases entre aspas são citações diretas de textos dos sites analisados.
parece ser usado para dar legitimidade à organização, tentando passar a
idéia de que funcionar há muito tempo é sinônimo de qualidade de serviço
e/ou de um lugar tradicional. O vínculo com a idéia de 'tradição' é comum
nesses sites.
Dos 16 sites, 12 são extremamente simples, com uma estrutura que não
passa de: Home Page, serviços oferecidos, filosofia (ou objetivo) da
empresa, equipe de profissionais, fotos, localização e contato. Alguns não
passam de folders eletrônicos, com frases tipo 'Call to Action' (por
exemplo: “Venha nos conhecer e conferir” ou “Agende uma visita”), textos
publicitários breves e fotos na própria HP.
Apenas 3 páginas trazem algum tipo de conteúdo de interesse para os
idosos, como link para o estatuto do idoso, artigos sobre gerontologia,
saúde, nutrição, direitos, ou similares.
Outro ponto importante de se notar, que não tínhamos previsto em nossos
critérios de análise, é a questão da culpa dos familiares. Para os sites, a
culpa parece ser uma constante e diversos discursos são montados para
tentar eximir os familiares de sua culpa, permitindo a internação dos
idosos: “Nos relacionamentos, em especial entre pais e filhos é comum
que o mesmo se baseie em chantagens emocional [sic]. Na terceira idade
as características se acentuam”; “Nem sempre a família pode cuidar do
idoso, seja por suas próprias dificuldades ou pelo estado de saúde”.
Os sites tratam o assunto de forma aberta, mas com dois enfoques
diferentes. No primeiro, a culpa é vista como um dificultador do negócio,
que deve ser contornada: “Por que tanta dificuldade em buscar e aceitar
ajuda sem o sentimento de culpa, sem cobranças nem transferência de
responsabilidade?”; “É muito difícil aceitar o fato de não podermos mais
cuidar de nossos heróis em casa.”
No outro enfoque, a culpa é usada como estratégia de convencimento,
segundo a qual é obrigação da família dar o melhor ao parente idoso, ou
seja, interná-lo: “Atenção, carinho e amor, condições de limpeza e saúde,
assistência 24 horas, é o que precisa aquele que já trabalhou muito a vida
inteira, e só quer agora um lugar para ficar tranquilo”; “Algumas vezes
você ainda pode se sentir culpado. Talvez você pense não ter sido
suficientemente paciente ou compreensivo. [...] Lembre-se: seus
familiares idosos precisam de amor e amparo. Os problemas da velhice
podem ser muito difíceis [...]”; “
Analisemos os sites, agora, a partir dos critérios de análise de discurso
definidos na metodologia.
a. Objeto do discurso
Notamos, basicamente, dois tipos de discurso, quanto ao objeto: aquele
que se volta para a família do idoso e o discurso impessoal.
1. O discurso voltado para a família: Dirige-se à família do idoso, numa
triangulação que o excluí, onde a casa aparece como aquele que emite e
o familiar aquele que recebe a mensagem. O idoso é deixado no papel de
terceiro, sobre o qual se fala, mas que não participa da conversa. Por
exemplo: “A [nome da moradia] encontra-se adaptada para oferecer o
melhor para o seu Idoso”; “Lembre-se: seus familiares idosos precisam de
amor e amparo”.
Dez dos sites analisados voltam seu discurso abertamente à família ('tu')
e o idoso como terceira pessoa ('ele'). Dentro do discurso voltado para a
família, chamam atenção duas formas diferentes de se tratar esse
terceiro. A primeira trata o idoso como alguém difícil, que deve ser
'convencido', mesmo contra a sua vontade, a ir para a moradia6.
A segunda, que aparece em apenas 3 sites, é uma forma de discurso
voltado para a família, mas que informa a família que o idoso é um sujeito
e que, portanto, seus desejos devem ser observados. Um dos sites, por
exemplo, afirma que, diante da impossibilidade dos familiares de cuidar
dos idosos que necessitem de acompanhamento, montou-se a moradia
para “estabelecer, um lugar que realmente se propusesse e permitisse
que o idoso reconstruísse um novo lar, atendendo as necessidades deste
momento de sua vida”. Nesses três sites, a tônica do discurso é a
qualidade de vida no envelhecer - “Hoje é possível chegar aos 70, 80, 90,
100 anos, com qualidade de vida”. Não à-toa, em nossa opinião, dois
6 Citamos um exemplo dessa abordagem acima, quando discutimos sobre o papel ambíguo da publicidade.
desse três sites oferecem conteúdo de interesse para os idosos, além da
publicidade, e dois deles mostram certa flexibilidade na rotina, como
horários livres para visitas dos familiares.
2. O discurso impessoal: aparentemente sem objeto, utiliza frases
construídas de forma a não deixar claro para quem o texto se dirige. A
família e o idoso são tratados na terceira pessoa, indiscriminadamente:
“Aqui o bem-estar e a satisfação do idoso e de seus familiares vem em
primeiro lugar!”; “[...] oferece todo o conforto e serviços, para que seus
clientes tenham boa saúde e bem estar”; “Os medicamentos prescritos
pelo médico, são custeados pela família do idoso”. Esse tipo de discurso
apareceu nos outros seis sites analisados.
Ainda assim, mesmo adotando o discurso impessoal, alguns sites deixam
transparecer que seu serviço é voltado para a família do idoso: “Buscando
atender a uma demanda das famílias...”.
b. Forma de tratamento do idoso
“Idoso” é a forma de tratamento que aparece em todos os sites, sendo a
forma mais genérica de tratamento. No entanto, outras formas são dignas
de nota.
1. Formas de tratamento ligadas à medicina: Sete sites tratam os idosos a
partir de uma nomenclatura utilizada por médicos e hospitais, como
'paciente' ou 'internado', deixando claro o foco da moradia na condição
'doente' do idoso.
2. Eufemismos: Em apenas três sites foram usados eufemismos ao se
tratar os idosos. Um dos sites os chama de “heróis” que envelheceram.
Outro os chama de “jovens de ontem”. O terceiro usa o já citado
“velhinhos”.
3. Terceira idade: O termo é usado em cinco sites, o que parece indicar
que essa terminologia, que vem sendo bastante utilizada em outros
serviços para o idoso, não é amplamente aceita nas moradias.
4. Formas de tratamento ligadas ao negócio: Quatro sites utilizam
expressões que referem aos idosos como utilizadores de seus serviços, a
saber, “clientes” e “hóspedes”.
c. Infantilização do discurso
Apenas quatro sites utilizaram a infantilização em seu discurso, como
comparar-se a um “colo de mãe” para os idosos. Em geral, a infantilização
está ligada a tentar contornar o sentimento de culpa da família, afirmando
que o idoso precisa de muitos cuidados, “amor e amparo”. A infantilização
aparece junto a generalizações, como “reduzindo a tendência natural do
idoso ao isolamento e não permitindo que fiquem tão auto centrados em
si mesmos” [grifo nosso].
O discurso profissional aparece na maioria dos sites (dez deles), em que
se tenta enumerar as vantagens da organização e mostrá-la como a mais
vantajosa. Dois sites trazem uma linguagem mais afetiva, sem buscar a
infantilização, afirmando, principalmente, que o idoso receberá bastante
carinho na moradia: “[...] respeitamos: Segurança; Qualidade de Vida;
Conforto; Carinho”. “sem ferir o seu emocional [do idoso], oferecendo
qualidade de vida com muita segurança e carinho”.
d. Objetivo das moradias
Percebemos quatro tipos de ênfase nos discursos, levando em
consideração a função social que a moradia pretende preencher:
1. Saúde: para sete moradias, sua função está ligada principalmente à
manutenção da saúde do idoso. A ênfase do discurso é médica, incluindo
informações sobre o monitoramento da saúde e a sua garantia: “oferece
todo o conforto e serviços, para que seus clientes tenham boa saúde e
bem estar”; “a tarefa de lhe garantir um convívio social sadio, através de
uma rotina pautada por atividades terapêuticas”.
2. Moradia: quatro dos 16 sites enfocam seu discurso nos aspectos
habitacionais, apresentando-se como um 'loft' ou um 'condomínio'.
Embora todos os sites tragam muitas imagens, nesses sites as fotos
mostram principalmente os aspectos estruturais das moradias, como
quartos, banheiros e jardins. Frases típicas desse discurso são: “Estamos
prontos a abrigar todos os pacientes com qualidade e dedicação”; “Nossa
infra-estrutura é adequada e regularizada”.
3. Lar: esse tipo de discurso, presente em três moradias, difere do
discurso anterior por ser mais afetivo, tentando mostrar a organização
como um substituto ou uma extensão do lar familiar: “Permitimos tudo
isso para que cada um sinta-se em sua própria casa!”; “permitisse que o
idoso reconstruísse um novo lar”.
4. Qualidade de vida: por fim, dois sites centram seu discurso na
qualidade de vida do idoso. O foco desses sites é nas atividades, mais do
que na moradia ou na saúde: “oferecendo qualidade de vida com muita
segurança e carinho”; “Hoje é possível chegar aos 70, 80, 90, 100 anos,
com qualidade de vida”.
V. CONCLUSÕES
Em primeiro lugar, chama a atenção o descaso das moradias para idosos
da amostra com a Internet. Das 187 empresas da amostra inicial, apenas
16 têm sites, mesmo assim muito simples, com problemas como links
quebrados, sem preocupação com usabilidade ou acessibilidade e quase
sem conteúdo de interesse.
Por trás desse fato, existe, provavelmente, a crença, por parte dos
profissionais de marketing, de que a Internet não é utilizada como veículo
para escolha do serviço de moradia para idosos. No entanto, parece que,
cada vez mais, esse meio tem sido usado como parte do processo de
escolha de um serviço.
O fato desse sites não se dirigirem ao idoso, não o tratarem como cliente,
nem apresentarem conteúdo de interesse desse público parece confirmar
o preconceito de que os idosos não são digitalmente incluídos. Reforça
essa conclusão o fato de nenhuma das organizações oferecer, entre seus
serviços ou em sua infra-estrutura, computadores, ou Internet, para uso
dos moradores.
Mais do que isso, sugerem também que os responsáveis pelas moradias
não pensam que o idoso tem voz ativa na decisão de onde vão morar. Tal
fato transparece ao percebermos que os sites utilizam um discurso
caracterizado por três vozes: “Nós” (a instituição), “vocês” (a família) e
“eles” (os idosos). Os familiares aparecem, portanto, como sujeitos da
relação, enquanto que, aos idosos, é relegado o papel da alienação, da
não-pessoa.
Para um rápido paralelo, entramos nos sites de dois famosos parques
voltados para crianças, em São Paulo. Apesar de as crianças serem
dependentes de seus pais, esses sites as tratam como clientes, dirigindo
seu discurso a elas, apresentando atividades e conteúdo de seu interesse
(“divirta-se colorindo esses desenhos ou teste sua inteligência no jogo dos
7 erros”) e dialogando com elas, inclusive em questões de
responsabilidade: “você deve ter altura mínima de 0,90m para utilizar
essa atração”.
Para grande parte das casas, o idoso pode ser reduzido a um corpo que
precisa de cuidados. A maior parte das casas (7 das 16) enfoca os
cuidados com a saúde como seu objetivo principal. E mesmo aquelas que
colocam outras características (moradia, lar, qualidade de vida) como seu
foco citam a saúde dos idosos como uma preocupação central, e que
exige atenção. Nenhuma das casa pesquisadas centra seu discurso em
atividades, a não ser quando se fala em fisioterapia ou terapia
ocupacional (esta última voltada para tirar os idosos de seu “isolamento
natural”). As exceções ficam para as atividades dirigidas à integração com
a família, como festas juninas e carnavais.
Sobre a família, o que mais chama a atenção é o discurso que tenta
demovê-la de sua culpa em relação a internar o idoso. Enquanto alguns
sites tentam 'contornar' a culpa dos familiares, chamando a atenção para
a complexidade de se cuidar do idoso, outros discursos a usam para
convencer a família: “cuide bem de quem sempre cuidou de você”.
A palavra mais usada para caracterizar os possíveis clientes, nos sites, foi
“idoso”, a mesma que aparece na maioria dos livros e artigos que
estudamos para escrever o presente artigo. A escolha dessa palavra
pelas moradias parece estar ligada à sua neutralidade, não suscitando
reações negativas, como as atualmente levantadas pelo uso da palavra
“velho”. Essa mesma neutralidade é obtida através de um discurso mais
profissional do que afetivo, que evita os eufemismos e se mostra, por
vezes, impessoal.
Chama a atenção, por outro lado, o pouco uso da expressão “terceira
idade”. Tal expressão, utilizada em cinco sites e, ainda assim, com pouca
freqüência, é amplamente utilizada por outros serviços, e parece vincular-
se a outra concepção de velhice, como uma idade ativa e produtiva
(DEBERT, 2004).
Os sites de nossa amostra, enfim, pareceram homogeneizar o idoso, a
partir de uma representação social que o vê como um corpo decadente
(que precisa mais do que tudo de atenção à sua saúde); um ser incapaz
(inclusive de tomar decisões sobre onde irá morar, podendo ser excluído
do diálogo a esse respeito) e inativo (que quer apenas “ter paz” para
descansar no final de sua vida).
Mais do que um desafio para os profissionais de marketing que lidam com
as moradias para idosos, renovar o discurso parece um desafio para as
próprias moradias, que precisam entender que não são instituições totais,
como as prisões e os presídios. A sociedade tem evoluído para incluir
todos os cidadãos e os movimentos de terceira idade são fortes dentro
dessa evolução. Os sujeitos idosos querem ser ouvidos, não querem ser
reduzidos a preconceitos e querem ter uma vida ativa. É preciso que as
moradias evoluam na mesma velocidade.
Uma última pergunta fica: Se a sociedade tornar-se verdadeiramente
inclusiva, haverá espaço para esse tipo de serviço? Debert (2004) cita
casos de pessoas idosas que preferiram ir para esse tipo de moradia, o
que pode significar que esse serviço tem alguma função social. No
entanto, a mesma autora conclui que essas pessoas se sentiram
extremamente insatisfeitas com os serviços oferecidos, comparando as
organizações em que moravam a instituições totais.
A resposta a essa pergunta é complexa e transcende o escopo a que nos
propomos nessa monografia. Mas uma coisa parece certa: as instituições
que baseiam seus serviços em estereótipos parecem fadadas à morte ou
ao enfraquecimento, como podemos notar ao observar o movimento
antimanicomial. É preciso entender que o ser humano é ativo e quer ser
reconhecido como ator de sua própria vida, independente de sua idade.
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