RODRIGUES, Jaime e BARBIERI, Márcia. "Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São...

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VERBETE 52 ESCOLA PAULISTA DE ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (UNIFESP) Outras denominações: Escola de Enfermeiras do Hospital São Paulo (1939- -1968), Escola Paulista de Enfermagem (1968-1977), Departamento de Enferma- gem da Escola Paulista de Medicina (1977-1994), Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (1994-2009), Escola Paulista de Enferma- gem da Universidade Federal de São Paulo (2010) Localização: Vila Clementino, São Paulo – SP Categoria: Instituição de Ensino Superior Período de construção: 1945-1960 Proprietário: Governo Federal HISTÓRICO A história da criação do curso de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) dá-se em meio ao governo Getúlio Vargas (1930-1945), particu- larmente com a implantação do Estado Novo (1939-1945). É nesse contexto que, em março de 1938, por solicitação de Octávio de Carvalho, então diretor da Es- cola Paulista de Medicina (ver Verbete 53 – Escola Paulista de Medicina – EPM), ao vice-diretor Álvaro Guimarães Filho, foi apresentado um projeto para organi- zação e funcionamento de uma Escola de Enfermagem. A preocupação era com a escassez de profissionais no mercado de trabalho.

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Verbete 52

Escola Paulista dE EnfErmagEm da univErsidadE fEdEral dE são Paulo (unifEsP)

Outras denominações: Escola de Enfermeiras do Hospital São Paulo (1939-

-1968), Escola Paulista de Enfermagem (1968-1977), Departamento de Enferma-

gem da Escola Paulista de Medicina (1977-1994), Departamento de Enfermagem

da Universidade Federal de São Paulo (1994-2009), Escola Paulista de Enferma-

gem da Universidade Federal de São Paulo (2010)

Localização: Vila Clementino, São Paulo – SP

Categoria: Instituição de Ensino Superior

Período de construção: 1945-1960

Proprietário: Governo Federal

Histórico

A história da criação do curso de Enfermagem da Universidade Federal de São

Paulo (Unifesp) dá-se em meio ao governo Getúlio Vargas (1930-1945), particu-

larmente com a implantação do Estado Novo (1939-1945). É nesse contexto que,

em março de 1938, por solicitação de Octávio de Carvalho, então diretor da Es-

cola Paulista de Medicina (ver Verbete 53 – Escola Paulista de Medicina – EPM),

ao vice-diretor Álvaro Guimarães Filho, foi apresentado um projeto para organi-

zação e funcionamento de uma Escola de Enfermagem. A preocupação era com

a escassez de profissionais no mercado de trabalho.

Assim, o surgimento da Escola de Enfermeiras do Hospital São Paulo (EEHSP)

– primeira denominação da escola – tem estreita ligação com a EPM e com o Hos-

pital São Paulo (ver Verbete 81 – Hospital São Paulo), uma vez que, para os seus

fundadores, a enfermagem deveria garantir qualidade técnica à equipe de assis-

tência e suprir a carência de enfermeiras na cidade e, principalmente, no futuro,

com o término da construção e a inauguração do hospital de clínicas da Escola. A

EEHSP foi equiparada ao modelo estabelecido pelo Governo Federal como “esco-

la-padrão” para abertura de novos cursos de enfermagem em todo o Brasil. Esse

modelo, por sua vez, tinha por base a prática de assistência de enfermagem inspi-

rada no modelo norte-americano que, entre outras características, previa um cur-

so organizado em disciplinas com carga horária teórica e prática e incluía o regime

de internato. Aos poucos, tal regime extinguiu-se, terminando por volta de 1976.

Em 1938, foi criado um curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica,

por Álvaro Guimarães Filho, professor de clínica obstétrica, para formação de

enfermeiras especializadas, que começou a funcionar no ano seguinte, concomi-

tante ao de enfermagem, com 2 anos de duração.

A implantação da Escola de Enfermagem foi negociada junto à Arquidiocese

de São Paulo, que trouxe as religiosas da Congregação das Franciscanas Missio-

nárias de Maria para uma parceria com a EPM.

Em março de 1939, foi autorizada a implantação da escola, compartilhando

das instalações da EPM. A EEHSP foi oficializada pelo Decreto n. 9.101 de 24 de

março de 1942, sendo o curso reconhecido como de nível superior em 1962. Sua

federalização e incorporação à EPM como Departamento de Enfermagem ocor-

reram em 1977 e 1994, como Departamento de Enfermagem da recém-criada

Unifesp. Os 70 anos de luta pela autonomia do curso de Enfermagem não foram

em vão. Por decisão estatutária em 31 de março de 2010, tornou-se Escola Paulis-

ta de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (EPE-Unifesp).

A organização técnica e administrativa do curso coube às religiosas francesas

dessa congregação – enfermeiras diplomadas na Europa que, posteriormente,

revalidaram seus diplomas no Brasil. Destacam-se, entre elas, as madres Marie

Fontenelle, Hermana Joseph, Marie de Lenaik, Saint Domice e Marie Domineuc.

Essa última teve grande destaque no cenário nacional da enfermagem, ao propor

e participar da realização do primeiro Congresso Nacional de Enfermagem, sob

a organização da Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras

– atual Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) –, bem como de muitos

outros eventos acadêmicos, além de ter cooperado na criação de associações de

classe e fundado o Amparo Maternal (ver Verbete 39 – Amparo Maternal), com o

objetivo de acolher e prestar assistência às mães e às famílias desamparadas. Por

seu trabalho em prol do ensino de enfermagem no Brasil, recebeu várias home-

nagens da ABEn e do governo francês.

Por exigência regimental, a diretora do curso deveria ser brasileira nata. Res-

salta-se que as primeiras dirigentes foram muito assessoradas pelas estrangeiras. A

primeira diretora foi Madre Maria das Dores (1939-1944), formada na Escola Anna

Nery, do Rio de Janeiro. Em 1944, assumiu a direção Madre Áurea Vieira da Cruz,

enfermeira diplomada na própria EEHSP e que permaneceu na função até 1945.

De 1945 a 1948, assumiu Madre Marie Domineuc, em virtude do afastamento de

Madre Áurea, que retornou em 1948 e ficou no cargo até 1973. Em 1973, Francisca

Nogueira Soares (Madre Maria do Cristo Redentor) tornou-se diretora da EPE.

Com as transformações ocorridas após a Segunda Guerra Mundial, pós-

-Concílio Vaticano II e com o país cada vez mais integrado ao capitalismo in-

ternacional, as práticas abnegadas e voluntárias das irmãs no setor da educa-

ção e da saúde foram sendo substituídas. Dessa forma, encerrava-se o ciclo reli-

gioso na direção da escola, assumindo, pela primeira vez, uma professora laica,

Esmeralda Augusto (1976-1982), sucedida por Laís Helena Ramos (1982-1988),

Rosa Apparecida Pimenta de Castro (1988-1991), novamente Laís Helena Ramos

(1991-1994), Lucila Amaral Carneiro Vianna (1994-2000), Conceição Vieira da

Silva (2000-2006) e, por fim, Alba Lúcia Bottura Leite de Barros (2006 – dias

atuais). Em 1977, terminava também o caráter de escola particular – ainda que

nem todas as alunas pagassem pelo ensino, em função do grande número de bol-

sas distribuídas e do pagamento sob a forma de trabalho junto ao HSP prestado

pelas alunas ao longo de seus estudos.

A EEHSP, em decorrência da origem de suas fundadoras, teve uma marca

católica no ensino e no exercício profissional. Essa marca conservava uma tra-

dição de forte influência religiosa na assistência aos enfermos, que, vinda dos

tempos coloniais e do império brasileiro, ainda se manteria por muitos anos

no regime republicano. No entanto, ainda sob a administração das religiosas,

os primeiros homens ingressaram na EPE, em 1969 e 1970, sem constituir um

fluxo contínuo. O ingresso regular de alunos do sexo masculino deu-se após a

federalização, em 1977, ainda que em pequeno número.

A EEHSP, ligada a uma escola médica, iniciou suas atividades em 1939 nas

dependências do recém-construído HSP e, durante anos, ocupou a área do 11º

andar. Para o internato, possuía uma casa nas proximidades do hospital.

Os anos que se seguiram ao final da Segunda Guerra foram de retomada da

expansão na EPM. Além do curso médico, tanto o HSP como a EEHSP tinham

necessidade de crescer para atender ao ampliado número de pacientes que de-

mandavam seus serviços e de alunos que procuravam as duas escolas da área da

saúde, procedentes de diferentes regiões do estado e do país.

Na década de 1970, atendendo às transformações ocorridas no sistema de saú-

de brasileiro, o Conselho Federal de Educação modificou o currículo mínimo de

enfermagem, criando as habilitações. Assim, a EPE passou a formar enfermeiros

generalistas, com aprofundamentos específicos em diferentes áreas. Aquela déca-

da foi marcada pela abertura dos cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sen-

su, tendo grande expansão ao longo dos três decênios seguintes (Figuras 1 e 2).

Figura 1

Vista geral do edifício

sede da Escola Paulista de

Enfermagem, 1970.

A organização administrativa da EPE, desde sua federalização, ocorrida em

1977, transformou-a em um departamento integrante da EPM. A partir de 1994,

a EPM foi extinta e, em seu lugar, foi criada a Unifesp, sendo mantida a mesma

estrutura departamental. Desde a federalização, o Departamento de Enferma-

gem é composto por quatro grandes disciplinas administrativas: Fundamentos

de Enfermagem e Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermagem Pediátrica; En-

fermagem Obstétrica; Enfermagem de Saúde Pública e Administração Aplicada

à Enfermagem – responsáveis, com seu corpo docente, pelo ensino e pela pes-

quisa junto ao curso de graduação em Enfermagem.

O curso de Enfermagem da Unifesp destaca-se por formar profissionais vol-

tados à assistência ao paciente, à família e à comunidade nos diferentes níveis de

atenção à saúde.

Descrição arquitetônica

Um marco da expansão na área física do complexo EPM/HSP/EEHSP foi a doa-

ção, em 1947, pela Prefeitura Municipal de São Paulo, de um terreno de 12.387,2 m2,

contíguo ao hospital. Pouco menos da metade da área foi destinada à construção de

Figura 2

Aula de anatomia ministrada

às alunas de Enfermagem, s/d.

ambulatórios e 2.660,5 m2 ficaram reservados à construção da nova sede da EEHSP,

inicialmente projetada para ser residência das madres e das alunas. As obras foram

iniciadas em 1954 e concluídas em 1960, com recursos próprios e de doações gover-

namentais. O térreo e os dois pavimentos superiores foram totalmente ocupados

pela residência nos primeiros 13 anos. No subsolo, encontrava-se o vestiário.

Em 1972, foi instalada, em parte do andar térreo do edifício, a Comunidade

Infantil, creche destinada aos filhos de professoras e funcionários dos diversos

departamentos da EPM, do HSP e da Biblioteca Regional de Medicina, tendo

permanecido nesse local até 1989, quando já era pequena para seu fim. Em de-

corrência do número de crianças que recebia, ganhou novas instalações nas ime-

diações. Atualmente, a creche iniciada na Escola de Enfermagem por iniciativa

de seus docentes possui prédio próprio e tem o nome de Escola Paulistinha de

Educação, com maternal, educação infantil e ensino fundamental.

A partir de 1973, com o crescimento da EPE em decorrência do aumento da

demanda pelo curso, somente o terceiro andar foi mantido com aposentos das

alunas, o qual, paulatinamente, também foi reformado, dando lugar a salas de

aula e gabinetes para docentes. Parte do terreno situado nos fundos do edifício,

ocupada por jardim e pomar, foi destinada às instalações da Associação Atlética

Acadêmica Pereira Barretto e do Centro Acadêmico Pereira Barretto.

Na fachada do edifício (Figura 3), encontra-se um afresco decorativo mar-

cante executado em 1966, o mural O bom samaritano, de autoria do artista

Figura 3

Detalhe da fachada do

edifício sede da Escola

Paulista de Enfermagem,

Departamento

de Enfermagem

da Unifesp, 2009.

italiano Pietro Nerici, que apresenta a parábola do Bom Samaritano. Narrada

no Evangelho segundo Lucas (Lc 10, 25-37), essa parábola dialoga com o lema

da EEHSP: “Não viver senão para servir”.

Registro de tombamento: não está tombada.

créDitos

Márcia Barbieri e Jaime Rodrigues: pesquisa, texto e descrição arquitetônica.

Fontes

AUgUstO, M., MARAnhãO A. M. s. A. Resenha histórica do Departamento de Enfermagem da

Escola Paulista de Medicina. Anais do jubileu de ouro do curso de graduação em Enfermagem

da Escola Paulista de Medicina. são Paulo 1989, 17-22.

siLVA, M. R. g. A criação da Escola de Enfermeiras do hospital são Paulo e o desenho de seu

primeiro currículo (1939-1942). [Dissertação de Mestrado]. são Paulo: Universidade Federal de

são Paulo, 2007.

ViAnnA, L. A. C. Enfermagem: da vida abnegada à autodeterminação profissional. Acta paulis-

ta de Enfermagem 2000; 13(1): 17-26.

BARBiERi, M, Rodrigues, J. (orgs.). Memórias do cuidar. setenta anos da Escola Paulista de En-

fermagem. são Paulo: Unifesp, 2010.