REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA - Marinha do Brasil

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REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA (Editada desde 1851) R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 129 n. 07/09 p. 1-320 jul. / set. 2009 v. 129 n. 07/09 jul./set. 2009 DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA FUNDADOR Sabino Elói Pessoa Tenente da Marinha – Conselheiro do Império COLABORADOR BENEMÉRITO Luiz Edmundo Brígido Bittencourt Vice-Almirante

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REVISTAMARÍTIMA

BRASILEIRA(Editada desde 1851)

R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 129 n. 07/09 p. 1-320 jul. / set. 2009

v. 129 n. 07/09jul./set. 2009

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA

FUNDADOR

Sabino Elói PessoaTenente da Marinha – Conselheiro do Império

COLABORADOR BENEMÉRITO

Luiz Edmundo Brígido BittencourtVice-Almirante

Revista Marítima Brasileira / Serviço de Documentação Geral da Marinha.–– v. 1, n. 1, 1851 — Rio de Janeiro:Ministério da Marinha, 1851 — v.: il. — Trimestral.

Editada pela Biblioteca da Marinha até 1943.Irregular: 1851-80. –– ISSN 0034-9860.

1. M A R I N H A — Periódico (Brasil). I. Brasil. Serviço de DocumentaçãoGeral da Marinha.

CDD — 359.00981 –– 359 .005

COMANDO DA MARINHAAlmirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto

SECRETARIA-GERAL DA MARINHAAlmirante de Esquadra Marcos Martins Torres

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHAVice-Almirante (EN-RM1) Armando de Senna Bittencourt

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRACorpo Editorial

Capitão de Mar e Guerra (Refo) Milton Sergio Silva Corrêa (Diretor)Capitão de Mar e Guerra (RM1) Carlos Marcello Ramos e Silva

Jornalista Deolinda Oliveira MonteiroJornalista Manuel Carlos Corgo Ferreira

Diagramação/Assinatura/DistribuiçãoCelso França Antunes

Departamento de Publicações e DivulgaçãoCapitão de Fragata (T) Ivone Maria de Lima Camillo

Apoio Administrativo e ExpediçãoSuboficial-CN Maurício Oliveira de RezendeSuboficial-MT João Humberto de Oliveira

Segundo-Sargento-SI José Alexandre da SilvaIlda Lopes Martins

Impressão / TiragemGráfica e Editora Prelo Ltda. / 7.000

A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA é uma publicação oficial da MARINHA DO BRASIL desde1851. Entretanto, as opiniões emitidas em artigos são da exclusiva responsabilidade de seus autores. Nãorefletem, assim, o pensamento oficial da MARINHA. É publicada, trimestralmente, pela DIRETORIA DOPATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA. As matérias publicadas nestaRevista podem ser reproduzidas, desde que citadas as fontes.

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRARua Dom Manoel no 15 — Praça XV de Novembro — Centro — 20010-090 — Rio de Janeiro — RJ

(21) 2104-5493 / -5506 - R. 215, 2262-2754 (fax) e 2524-9460

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SUMÁRIO

11 NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL – 200 ANOS NO BRASIL – 1808- 2008Antonio Luiz Porto e Albuquerque – Capitão de Fragata (RM1)Criação da Academia Real dos Guardas-Marinha; mudanças de nome. Transferência para

o Brasil pela iminência da invasão francesa – instalação. Primeiros estudos superiores no Brasil.A Independência e a continuação da Escola – mudanças de sede até a Ilha de Villegagnon

25 A GUERRA DE UM CAPITÃO-TENENTEHelio Leoncio Martins – Vice-Almirante (Refo)Relato de participação de oficial embarcado em navios da Marinha do Brasil durante a

Segunda Guerra Mundial

37 A MARINHA IMPERIAL NEUTRALIZA AS FORTIFICAÇÕES DE TEBIQUARILuiz Edmundo Brígido Bittencourt – Vice-Almirante (Refo)O Tebiquari. Esclarecimento por terra; apoio da Esquadra. Forçamento de Tebiquari e

bombardeio de São Fernando e de Fortim pela Esquadra Imperial

44 PALESTINA: UMA TERRA, DOIS POVOSArmando Amorim Ferreira Vidigal – Vice-Almirante (Refo)Síntese sobre a Palestina – as guerras: Seis Dias, Yonkippur, Líbano, Primeira e Segunda

Intifadas. Acordos de Camp David e de Oslo. Conferência de Annapolis. Atores estatais e multi-estatais – grupos políticos

75 EUREKA! EUREKA!Roberto Gama e Silva – Contra-Almirante (Refo)O Princípio de Arquimedes aplicado ao transporte aquaviário, resultando em economia

de custos, comparado à rodovia e à ferrovia

78 GLOBALIZAÇÃO, MONOPOLARIDADE E ASSIMETRIA REVERSAReis Friede – DesembargadorGlobalização: crise militar – mito da repressão americana. Assimetria

84 AVIAÇÃO NAVAL: PERSPECTIVASEduardo Italo Pesce – ProfessorConsiderações estratégicas – tarefas e missões. A formação de pilotos e tripulações.

Evolução da tecnologia. Continuidade de investimento para o futuro da Aviação Naval

96 NAE 55.000 – UM SUCESSOR PARA O NAVIO-AERÓDROMO SÃO PAULORené Vogt – EngenheiroNecessidade do NAe no Poder Naval; conceituação do NAe moderno – tecnologia –

características – manutenção – custos – logística

110 AMAZÔNIA – ALI TAMBÉM É BRASILJosé Roberto da Costa – EconomistaVisão sobre a Amazônia – atuação das Forças Armadas

116 AIR FRANCE, VOO 447 – MARINHA SUPERA DESAFIO NA MAIOR OPERAÇÃOSAR JÁ REALIZADA NO BRASIL

Carlos Marcello Ramos e Silva – Capitão de Mar e Guerra (RM1)Deolinda Oliveira Monteiro – JornalistaO desafio; localização e recolhimento; as quantidades de meios navais envolvidos;

homenagens. Seminário. Salvamar Brasil – missão, atuação e como contatar

131 A HISTÓRIA SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN (II)Francisco Eduardo Alves de Almeida – Capitão de Mar e Guerra (RM1)Concepção de história segundo Mahan. O ofício de historiador. Influências sobre

Mahan

153 AS AVES MARINHAS DO ‘CÉU’ DO MUSEU NAVAL E DO BRASILJacir Roberto Guimarães – JornalistaMóbile com 52 pássaros no Museu. Aves marinhas em ilhas costeiras e oceânicas.

Descrição das 18 espécies de aves – habitat, alimentação

163 A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRORoberto Loiola Machado – Capitão de FragataA segurança e o submarino; o emprego; a construção. O convencional versus o nuclear.

A estratégia e a aspiração da Marinha e do País

192 CENTRO DE DADOS: FUTURO DA GUERRA DE MINASJosé Corrêa Paes Filho – Capitão de FragataA guerra de minas; importância do centro de dados. A guerra de minas na Marinha

200 OPERAÇÃO UNITAS GOLD – SOLIDARIDAD HEMISFERICA – DEFENSAHEMISFERICA – 50 ANOS

Otacílio Bandeira Peçanha – Capitão de CorvetaBruno Pereira da Cunha – Capitão de CorvetaKaio Reich Bulhões de Morais – Capitão-TenenteObjetivos da operação; aspectos político-estratégicos; fases da operação – inovações –

experiências colhidas pela Marinha

209 GERENCIAMENTO E CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO DEBENS IMÓVEIS OU DE CONSUMO DURADOURO

Jeisom de Melo Fajardo – Capitão-Tenente (IM)Pool de serviços; contratos tipo power by the hour. Caso da Embraer

215 ARTIGOS AVULSOS215 FORTE DE COIMBRA

Dois séculos de história, de fé e de glóriasCláudio Moreira Bento – CoronelHistória do Forte na margem direita do Rio Paraguai. A relação com os índios guaicurus.

Criação da Flotilha de Mato Grosso

216 CARTAS DOS LEITORESCorrespondência do Almirante de Esquadra Mario Jorge da Fonseca Hermes sobre a série

de sua autoria o Japão, Pearl Harbor e o Almirante Kimmel. Ensinamentos obtidos e a obter

217 O LADO PITORESCO DA VIDA NAVALTenente recém-embarcado confunde os serviçosContramestre desaparece de bordo

220 DOAÇÕES À DPHDM

221 NECROLÓGIO

234 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

249 REVISTA DE REVISTASSinopses de matérias selecionadas em publicações, entre mais de meia centena –

recebidas e lidas –, do Brasil e do exterior

273 NOTICIÁRIO MARÍTIMOColetânea de notícias mais significativas da Marinha do Brasil, de outras Marinhas,

incluída a Mercante, e assuntos de interesse da comunidade marítima

A SEGUNDA REVISTA MAIS ANTIGA DO MUNDO

A Revista Marítima Brasileira completou 158 anos em 1o de março de 2009. Fundada em 1851 pelo

Primeiro Tenente Sabino Elói Pessoa,foi a segunda revista mais antiga do mundo

a tratar de assuntos marítimos e navais.Conforme os registros obtidos, a Rússia foi o primeiro

país a lançar uma revista marítima,a Morskoii Sbornik, (1848).

Depois vieram:Brasil – Revista Marítima Brasileira (1851),

França – Revue Maritime (1866),Itália – Rivista Marittima (1868),

Portugal – Anais do Clube Militar Naval (1870),Estados Unidos – U.S Naval Institute Proceedings (1873)República Argentina – Boletín Del Centro Naval (1882).

EDITORIAL

A Revista Marítima Brasileira teve o privilégio de receberdo Vice-Almirante Ruy Barcellos Capetti a tradução do livro PureLogistic, de George C. Thorpe, tenente-coronel do Corpo de Fuzi-leiros Navais dos Estados Unidos. Essa obra foi escrita em 1927 erepublicada em 1986, pela Universidade de Defesa Nacional, porter sido reconhecida como publicação de excelência pela Associa-ção Nacional de Comunicadores Governamentais, ambas institui-ções norte-americanas. A tradução e seu uso pela Marinha do Brasilforam autorizados, sem destinação comercial.

A iniciativa do Almirante Capetti se deve ao conhecimentoacentuado de temas como estratégia, logística e controle de qualida-de, desde quando estava no serviço ativo. A Marinha, assim, tem aoportunidade de oferecer ao seu pessoal um aspecto da Logísticaum tanto diferente do que habitualmente está acostumado a conhe-cer e compreender.

A Revista Marítima Brasileira editou o livro com o título“Logística Pura”, com 76 páginas, com a colaboração da Gráfica eEditora Prelo Ltda, e o distribuiu apenas aos integrantes da alta ad-ministração naval. Ele trata, como diz o título, de Logística, um dosramos da Arte da Guerra. Nele, são apresentados exemplos históri-cos: a Campanha de Napoleão na Rússia, a Campanha de Atlanta naGuerra de Secessão, o Exército alemão na Guerra Franco-Prussiana,as organizações da Marinha e do Exército dos Estados Unidos. Nocapítulo final, é enfatizada a importância da educação do homem napreparação da guerra.

Os interessados na obtenção do livro devem encomendá-lo aoDepartamento de Publicações da DPHDM, na Ilha das Cobras, 1o

Distrito Naval, mediante indenização de despesa de confecção, novalor de R$ 20,00 (vinte reais) – e-mail: [email protected](internet), dphdm-522@dphdoc (intranet). Tels.: (21) 2104-5492 /2104-6852.

NOSSA CAPA

SUMÁRIO

Em PortugalNo BrasilIndependência do Brasil – Escola Naval de PortugalA Escola Naval do BrasilDestino

ESCOLA NAVAL:200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

O tema de que agora se trata é muitocaro ao pessoal de História, muito es-

pecialmente aos oficiais de Marinha: os 200anos da Escola Naval no Brasil.

Esse tema nos leva, antes de mais nada,a uma reflexão sobre o mar. Se os continen-tes se separam, se a terra encontra marcase limites naturais de divisão entre os paí-ses, o mar é único e indivisível. Mesmo

apresentando características diversas defauna, de salinidade, de temperatura e deoutros elementos, o mar é uma vocação; omar é uma infinidade; o mar é beleza terrí-vel e beleza serena; o mar é o horizontepleno dos astros da abóbada celeste; o marnos aproxima mais de Deus, porque, comodisse um marinheiro de outrora, o mar ensi-na o homem a rezar.

N.R.: O autor produziu a matéria “A Academia Real dos Guardas-Marinha” que está publicada na HistóriaNaval Brasileira – Segundo Volume – Tomo II – págs. 353 a 367, e que é a base para o atual artigo.

É bacharel em História e doutor em Filosofia. Foi professor de História Naval na Escola Navalpor cerca de 30 anos e é colaborador assíduo da RMB.

ANTONIO LUIZ PORTO E ALBUQUERQUECapitão de Fragata (RM1)

REVISTA MARÍTIMABRASILEIRAV. 129 n. 07/09 – jul./set. 2009

Nesta edição – Escola Naval – 200 anos

– Submarino Nuclear– Aviação Naval– Air France, Voo 447

EscolaNaval, foto Aerocolor 107.27

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NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL: 200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

É impressionante ver e sentir a unidadetransmitida pelo mar, que se percebe nosusos e costumes daqueles que com ele li-dam, por toda parte do globo. Pescadores,marinheiros, homens do mar, enfim, unem-se por traços comuns tão fáceis de identifi-car. Entre as Marinhas de guerra, especial-mente, até seus uniformes e suas cores separecem: o azul e o branco e os botões deâncora dourados são um sinal comum dasinstituições marinheiras militares.

Não se podendo negar tal identidadetão evidente, vimos encontrar o exemplomais perfeito de entrelaçamento de desti-nos históricos, o ponto de interseção maisdefinido que pensoser possível encontrarentre dois povos. É ocaso de Portugal e doBrasil, por meio desuas Marinhas e, maisparticularmente, desuas Escolas Navais:a Escola Naval brasi-leira foi criada por umarainha portuguesa, e aEscola Naval portu-guesa foi criada por uma rainha brasileira;ambas chamadas Maria, a primeira e a se-gunda daquele nome, respectivamente.

Como isso se fez, só o destino históricopode explicar, lembrando o pensamento his-tórico-teológico de Bossuet, para quem ohomem se agita e a providência o conduz.

EM PORTUGAL

Povo essencialmente marítimo, os por-tugueses experimentaram a vida do mar,quer para fins de subsistência, fins mer-cantes ou militares, abstraindo-se, por lar-go tempo, de instrução teórica. Esta con-templou particularmente os pilotos, na Aula

do Cosmógrafo-Mor, iniciada por PedroNunes, no século XVI, e que existiu porcerca de duas centúrias. A manobra do na-vio, porém, a cargo do mestre, e o coman-do militar, por conta do capitão, só “ven-do, tratando e pelejando”, como disseCamões1, se aprendia.

A primeira tentativa de se sistematizar aformação profissional do oficial de Mari-nha deu-se em 1761, num contextomodernizador impulsionado por SebastiãoJosé de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras,depois Marquês de Pombal. Naquela opor-tunidade, criavam-se em Lisboa 24 vagasde guardas-marinha, de inspiração france-

sa, a serem preenchi-das por jovens fidal-gos, que se destinas-sem à carreira de ofici-ais da armada real. De-veriam, assim, ter elesinstrução e habilidadepara alcançarem pos-tos maiores. Logo noano seguinte, 1762,abria El-Rei Dom JoséI 24 vagas de tenentes

de mar, às quais podiam concorrer os guar-das-marinha criados no ano anterior. Ain-da em 1762, Dom José criou na cidade doPorto 18 guardas-marinha e 12 tenentes demar, “com aula e residência na mesma cida-de”, para guarnecerem fragatas armadas porseus habitantes na defesa daquela costa.

Esse foi, na Marinha, apenas o começo,que correspondia a um esforço maior, o dedesenvolver intelectualmente a sociedadeportuguesa, dando-lhe instrumentos ágeispara progredir rapidamente.

Não foi outra a inspiração da Aula doComércio, estabelecida em 1759, de tão no-táveis resultados para a burguesia de Por-tugal, dotando-a de novos meios para a

1 Camões, Luís de. Os lusíadas, Canto X, CLIII.

A Escola Naval brasileirafoi criada por uma rainha

portuguesa, e a EscolaNaval portuguesa foi

criada por uma rainhabrasileira

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NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL: 200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

atividade mercantil, de modo a concorrerem melhores condições com seus colegasingleses e franceses, principalmente. So-bre esse assunto, o eminente heurista quefoi Marcos Carneiro de Mendonça publi-cou primoroso trabalho sob o título Aulado Commercio, em edição da Xerox do Bra-sil S.A.

Era o abrir-se de Portugal para amodernidade, por meio da educação.

Também a velha aristocracia portugue-sa foi contemplada com a fundação em Lis-boa, em 1761, do Colégio Real dos Nobres,que devia dar a seus filhos esmerada edu-cação, sob rigorosa disciplina.

A tentativa, porém, de formar oficiais apartir dos moldes do decreto de 1761, quecriou os guardas-marinha de Lisboa, nãodeu certo. Mostraram eles pouca aplica-ção, segundo o texto do diploma legal queextinguiu aquele sistema, em 1774. O ilus-tre comandante Manuel Primo de Brito Lim-po Serra, professor de Direito da EscolaNaval portuguesa, em sua brilhante confe-rência “Da Companhia de Guardas-Mari-nha à actual Escola Naval portuguesa”,pronunciada no Alfeite em 3 de maio de1982, lembra o Almirante Almeida d’Eça,para quem a abolição dos guardas-marinhafoi menos inspirada por sua pouca aplica-ção do que pela feroz rivalidade entre oMarquês de Pombal e a velha aristocraciaportuguesa, justamente num momento emque a luta entre eles era mais viva. Pois omarquês extinguiu aquela classe dos guar-das-marinha, exclusivamente de fidalgos,que tinham a graduação de alferes de in-fantaria, e a substituiu pelos “voluntáriosexercitantes”, dispensados da provança denobreza e com praça e ração de grumetes.

E assim a oficialidade da Armada Real,que já contava com alguns notáveis ele-mentos oriundos desses dois métodos an-teriores, diversos entre si, de preparaçãoquase exclusivamente prática, somente

veio a ter uma estrutura sólida de caráteracadêmico para sua formação em 1779,quando já Pombal estava em desgraça ereinava D. Maria I, tendo como ministro daMarinha Martinho de Melo e Castro. Tra-tava-se, desta vez, da criação da AcademiaReal da Marinha, onde se ministravam só-lidos cursos matemáticos em três anos, for-mando pessoal qualificado para a engenha-ria militar e para a Armada Real, como ofici-ais combatentes ou pilotos. Num curso dedois anos, em que, portanto, se excluíamas cadeiras de Álgebra e sua aplicação àGeometria, Cálculo Diferencial e Integral,Estática, Dinâmica, Hidrostática e Ótica,preparavam-se pilotos para a Marinha Mer-cante. O pessoal destinado à Armada ain-da se obrigava a dois anos de embarqueapós o curso, devendo os que pretendes-sem postos de tenente para cima fazer via-gem à Índia ou ao Brasil.

Tal foi a Academia Real de Marinha, aprimeira instituição a dar formação acadê-mica de peso aos oficiais da Armada Real.Ela funcionou desde logo no Colégio Realdos Nobres e existiu em Lisboa até 1837,quando foi transformada em Escola Poli-técnica. Nela, até pouco antes da indepen-dência do Brasil, foi lente Francisco VilelaBarbosa, depois ministro da Marinha de D.Pedro I e Marquês de Paranaguá. Mais tar-de, em 1801, o príncipe regente Dom Joãoinstituiu na cidade do Porto outra Acade-mia Real de Marinha, que veio a substituiras antigas “aulas de navegação” que láhavia desde 1764. Esta academia tambémse transformou em Escola Politécnica nomesmo ano que a de Lisboa.

Malgrado engano de alguns historia-dores, nenhuma dessas academias veiopara o Brasil e nenhuma delas tem qual-quer relação direta com nossa Escola Na-val, cujo segundo centenário de criaçãodeu-se em 1982 e o segundo centenário deinstalação no Brasil é em 2008.

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NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL: 200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

Os discípulos da Academia Real de Ma-rinha eram, entretanto, paisanos e não ti-nham, pois, a formação militar necessáriapara o serviço na Armada Real. Desejando,então, apurar a preparação dos futuros ofi-ciais da Armada, dando-lhes também forma-ção militar além da acadêmica, a rainha donaMaria I criou, em 14 de dezembro de 1782, aCompanhia de Guardas-Marinha em Lisboa,dizendo em seu decreto que tinha por fim“que na Marinha haja oficiais hábeis e ins-truídos para me servirem com utilidade”.Estava morto o Marquês de Pombal e renas-ciam os guardas-marinha, organizados mili-tar e administrativamente na respectiva com-panhia, com 48 vagas,às quais somente po-diam concorrer os dafidalguia e alguns ou-tros escolhidos, filhosde capitães-tenentes esargentos-mores paracima, ou que tivessemsido premiados na Aca-demia Real de Marinha.Todos, como regra geral muitas vezes des-respeitada, entre 14 e 18 anos de idade àépoca da admissão.

Os estudos desses rapazes passaram afazer-se por meio duma academia que lhesera específica, chamada, a princípio, de Aca-demia da Companhia de Guardas-Marinha.Pelo menos a partir de 1790, consagrou-se,pelo uso, o nome Academia Real dos Guar-das-Marinha, reconhecido oficialmente pelaCarta de Lei de 1o de abril de 1796, que lhebaixou os primeiros estatutos.

Os trabalhos acadêmicos abriram-se em24 de março de 1783, na Casa das Formasdo Arsenal de Marinha, na antiga Ribeiradas Naus, em Lisboa.

Da turma que nesse primeiro ano con-correu às aulas e teve praça de guarda-

marinha, constava o famoso poeta portu-guês Manuel Maria Barbosa l’Hedois deBocage, matriculado – como hoje diríamos– em 2 de agosto de 1783.

Muitos historiadores brasileiros e por-tugueses acreditaram que a Academia Realdos Guardas-Marinha foi criada em 1796,porque datam daí seus estatutos e porquea legislação portuguesa não a mencionaaté então. As pesquisas, porém, que fiz emLisboa em janeiro de 1982, inspirado pelosaudoso e insigne mestre que foi o Almi-rante Teixeira da Mota, trouxeram à luz osprimeiros registros da Academia, desde oano de 1783, incluindo algumas anotações

referentes ao ano an-terior, registros essesconcernentes à nome-ação de professores,ao estabelecimento docurrículo, aos horáriosdas aulas, à matrículados alunos, a provi-dências administrati-vas e disciplinares

que, enfim, deram vida à Companhia de Guar-das-Marinha e a sua Academia Real. Tam-bém foram encontrados os dois primeirosdocumentos básicos que regiam a vida daCompanhia e sua Academia, que eram: o“Regulamento provisional que por ordemdo Ilmo. e Exmo. Sr. Marquês de Angejacapitão general da Armada devem obser-var os guardas-marinha dentro e fora daAcademia”, de 25 de março de 1783, e o“Regulamento provisional para serviço einstrução dos destacamentos de guardas-marinha embarcados em os navios e fraga-tas da rainha minha senhora”, baixado em25 de abril do mesmo ano. Todos essespapéis estão na Secção de Reservados daBiblioteca Nacional de Lisboa2 . Um tercei-ro documento que julgo completar o trio

2 Biblioteca Nacional de Lisboa, Secção de Reservados, códice 6473.

A rainha dona Maria Icriou, em 14 de dezembrode 1782, a Companhia de

Guardas-Marinha emLisboa

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NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL: 200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

regulador dessas instituições, o “Regula-mento provisional da Companhia de Guar-das-Marinha”, vim a encontrá-lo, ou o quesuponho sê-lo, na Seção de Manuscritosde nossa Biblioteca Nacional, em setem-bro de 19823. Embora sem data anotada,estimei-a como sendo 1785, pelos estudosque fiz desse importante documento com122 páginas.

Nasceram assim a Companhia de Guar-das-Marinha e sua Academia Real. Em seucomando e direção ficou o Marechal Con-de de São Vicente, então com exercício naMarinha, desde sua nomeação em 1783 atésua morte em 1795.

Em 1788, a legislação consagrou o cos-tume, havido pelo me-nos três anos antes,de chamar de “aspi-rantes a guarda-mari-nha” os novos alunosdo primeiro ano mate-mático, que deviampassar por provas dedevotamento aos es-tudos, de disciplina ede aptidão para a vidano mar, antes de seremnomeados guardas-marinha.

Entre aulas teóricasdas disciplinas acadêmicas, aulas práticasdas chamadas “artes do marinheiro”, exer-cícios militares e embarques para a práticade navegação e de outros assuntos, aspi-rantes e guardas-marinha, acompanhadosde seus mestres, foram tecendo as tradi-ções que perduraram por dois séculos naformação de oficiais de Marinha em Portu-gal e no Brasil.

Comandada interinamente desde 1795,a Companhia de Guardas-Marinha veio a

ter seu comando efetivo entregue, em 1799,a um distintíssimo lente de sua AcademiaReal, o então Capitão de Fragata José Ma-ria Dantas Pereira. Em 1807, ele também foinomeado diretor da mesma Academia, acu-mulando-se novamente os dois cargosnuma só pessoa.

NO BRASIL

Ao iniciar-se o último trimestre de 1807,a iminência da invasão francesa e as pres-sões britânicas encaminhavam o governoportuguês para a decisão de abandonarLisboa, transferindo-se para o Brasil. A 29de novembro, de fato, o Estado português

e não apenas a corte,como lembra o eminen-te mestre PedroCalmon4, passava avela pela barra do Tejo,rumo ao Novo Mundo.Um mês antes, contu-do, a 29 de outubro, aCompanhia de Guar-das-Marinha e suaAcademia embarca-vam já a bordo da NauConde Dom Henriquepara virem para o Bra-sil. Acompanhavam-

nas seu comandante e diretor e dois de seuslentes, sendo que um terceiro professor jáse encontrava na Bahia àquela altura. Seuefetivo era então de 25 discípulos, dentreaspirantes e guardas-marinha, dos quaisapenas 14 embarcaram na Conde DomHenrique. “Em novembro, ainda em Portu-gal, houve pelo menos três promoções deaspirantes a guardas-marinha. Alguns alu-nos deixaram efetivamente de acompanhara rainha e o príncipe regente nessa viagem

3 Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos, I-13-2, 24.4 Calmon, Pedro. História do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959, v. 4, p. 1.376.

Em 1788, a legislaçãoconsagrou o costume,havido pelo menos três

anos antes, de chamar de“aspirantes a guarda-

marinha” os novos alunosdo primeiro ano

matemático

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NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL: 200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

para o Brasil, ou porque estavam no es-trangeiro ou porque eram menores de 15anos, ou estavam doentes ou por outrosmotivos. É certo que pelo menos cincoguardas-marinha já haviam concluído ocurso. Três ou quatro deles viajaram acom-panhando os pais em outros navios.”5

É importante notar-se que nenhuma ou-tra instituição acadêmica se transferiu parao Brasil. A universidade ficou em Coimbra; aAula do Comércio e as Academias de Mari-nha e de Fortificações quedaram-se no Por-to e em Lisboa. Que curiosa distinção fizeraapenas a AcademiaReal dos Guardas-Ma-rinha e a respectivaCompanhia cruzarem oAtlântico em busca doRio de Janeiro?

O fato é que, em 18de janeiro de 1808,chegava à Baía deGuanabara a Nau Conde Dom Henrique.Em maio, Dantas Pereira recebia ordenspara instalar a Academia no Mosteiro deSão Bento, que seria entre nós sua primei-ra sede. Ainda nesse mês devem ter-se aber-to as aulas, fazendo-se a nomeação de seusecretário6. Em junho, Dantas Pereira faziaa sugestão de criar-se um periódico a car-go dos lentes da Academia, “por meio doqual prontamente se difundisse no Brasil oconhecimento dos melhores procedimen-tos e das invenções modernas da indústriahumana, concernentes aos ofícios, artes e

ciências; sem aliás omitir o passado, quepareça merecer esta divulgação”7. Isto malsurgida a Impressão Régia, no mês anteri-or, e três meses antes de aparecer a Gazetado Rio de Janeiro, que inaugurou a im-prensa periódica no Brasil8. Nesse mesmodocumento, Dantas Pereira propunha a re-forma da Academia Real dos Guardas-Ma-rinha, de modo a torná-la “uma Academiadestinada ao ensino das Matemáticas emgeral, e das artes e ciências navais em par-ticular, vindo portanto a equivaler em certomodo às Reais Academias da Marinha e

dos Guardas-Marinhaestabelecidas na cida-de de Lisboa; e à fa-culdade de Matemáti-ca da Universidade deCoimbra”9. E aindacontinuou Dantas Pe-reira, dirigindo-se aoministro da Marinha,

Visconde de Anadia: “Bem desejei acres-centar uma aula da Notícia Geral do Comér-cio e Mercantil Escrituração, pois que osdiscípulos, passando do primeiro ano ma-temático para esta aula, habilitar-se-iam,sem maior despesa, para os mesmos fins aque se destinavam em Lisboa, aqueles quefreqüentavam a (Aula) do Comércio”10. Eainda registrou uma observação sobre oBrasil, dizendo: “Também me lembrou ajun-tar à Faculdade Matemática a das CiênciasNaturais, atendido o muito que convémpresentemente no Brasil a difusão do co-

5 Albuquerque, A. L. Porto e. “A Escola Naval do Brasil de 1808 aos nossos dias”; conferênciapronunciada na Escola Naval portuguesa, no Alfeite, em 3/5/1982, na abertura das comemoraçõesdo bicentenário da criação da Companhia de Guardas-Marinha. (Ver Arquivo Geral da Marinha,Lisboa, caixa 142, nos 170 e 171).

6 Ofício de Dantas Pereira ao Visconde de Anadia, de 18/5/1808 (Arquivo Nacional seção do PoderExecutivo, XM 60).

7 “Apontamentos” anexos ao ofício de Dantas Pereira ao Visconde de Anadia, de 9/6/1808 (ArquivoGeral da Marinha, Lisboa, caixa 142, nos 178 e 179).

8 Calmon, Pedro, ob. Cit., p. 1.378.9 “Apontamentos” citados em 7.10 Ofício citado em 7.

É importante notar-se quenenhuma outra instituiçãoacadêmica se transferiu

para o Brasil

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NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL: 200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

nhecimento destas ciências: cheguei mes-mo a traçar algumas linhas a este respeito,mas enfim não foi por isto o que V. Exa. memandou”11. Na verdade, parece-me queDantas Pereira tivera ideias ainda mais ou-sadas, pois atribuo a sua autoria algunsrascunhos em que se manifesta a ideia dereunir numa única academia os estudos quese faziam em Lisboa em cinco academiasdiferentes, chamando a nova instituição deAcademia Militar, Náutica e Econômica.Seria a primeira universidade brasileira12.

A Academia Real dos Guardas-Marinhainaugurou, no Brasil,os estudos superiores.Em seu primeiro anoletivo, em 1808, abriu-se ao público, rece-bendo alunos paisa-nos. Foi procurada atépor um frade, frei JoséPolicarpo de SantaGertrudes, que nela requereu matrícula13.Penso, assim, que a Academia polarizou osestudos no Rio de Janeiro, sendo, pelomenos num documento oficial, referidacomo “Academia de Matemática em SãoBento”14.

Não apenas no âmbito educacional aAcademia dos Guardas-Marinha foi pionei-ra. No campo da cultura ela se apresentou

como um expoente, guardando em sua bi-blioteca uma invejável coleção de impor-tantíssimos manuscritos, muitos dos quaisoriundos da Torre do Tombo, em Lisboa.Dentre estes, aponto a carta de Pero Vaz deCaminha a el-rei Dom Manuel sobre o des-cobrimento do Brasil. Essa Biblioteca foicatalogada em 1812 por Dantas Pereira.Comparando seu catálogo, hoje na Seçãode Manuscritos de nossa Biblioteca Naci-onal15, com outros documentos que tive àmão, assaltou-me a dúvida quanto à ori-gem de suas obras impressas. Estas certa-

mente não acompa-nharam a Academia abordo da Nau CondeDom Henrique, comopor tanto tempo sepensou16. Podem tervindo depois, de Lis-boa, ou então foramadquiridas por outros

meios, como por exemplo a partida de li-vros encomendada na Inglaterra, vinda abordo do navio Albion, que deixou de se-guir para Lisboa por causa do bloqueiodaquele porto17. Quanto aos manuscritos,estes sim devem ter vindo com a Compa-nhia de Guardas-Marinha e sua Academia,juntamente com farta documentaçãocartográfica de grande valor, antes perten-

11 Idem.12 Manuscrito no Arquivo Geral da Marinha, em Lisboa, caixa 142, nos 176 e 177.13 Ofício citado em 7.14 Carta patente de nomeação do Padre Antônio do Carmo Pinto de Figueiredo Mendes Antas para

professor de Desenho da “Academia de Matemática em São Bento”, na verdade Academia Real dosGuardas-Marinha, como se depreende do próprio texto da carta patente. Livro de Registro. (Arqui-vo Nacional, Seção do Poder Executivo, XM 1217).

15 Biblioteca Nacional, Seção de Manuscritos, 7, 4, 92.16 No dia seguinte da leitura deste texto no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 18/11/1982,

chegou-me às mãos, enviada de Lisboa pelo comandante Limpo Serra, já citado, a fotocópia do“inventário de tudo quanto pertence à Real Academia dos Goardas Marinha e vai embarcar para oRio de Janeiro em a charrua São João Magnânimo por ordem do exmo.sr. barão da Arruda, almiranteda Armada real”. Esse documento elucida tudo. Os pertences da Academia, inclusive biblioteca,estandarte, instrumentos, objetos mais diversos, tudo veio depois, entre 1809 e 1810. O documentonão tem data. (Arquivo Geral da Marinha, Lisboa, caixa 142 no 392).

17 “Apontamentos” citados em 7.

A Academia Real dosGuardas-Marinha

inaugurou, no Brasil, osestudos superiores

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NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL: 200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

cente à Sociedade Real Marítima e que, apedido de Dantas Pereira, lhe foi entreguea bordo da Nau Conde Dom Henrique nodia 27 de novembro de 1807, antevésperada partida, por ordem do Visconde deAnadia18. Estes papéis dividiram-se aquientre a biblioteca da Academia e o ArquivoMilitar. E muita coisa desapareceu. Algodeve ter regressado para Lisboa, particu-larmente dentre os manuscritos.

Em 4 de junho de 1810, quis o infantealmirante-general, Dom Pedro Carlos, man-dar abrir ao público a Biblioteca da Acade-mia Real dos Guardas-Marinha, “conside-rando não haver nesta corte biblioteca pú-blica”19, apenas criada esta quase cincomeses depois, com os livros trazidos porDom João da Biblioteca Real da Ajuda20.Dantas Pereira se opôs a tal medida21 e nis-so deixou nossa Academia de ser mais umavez pioneira22.

INDEPENDÊNCIA DO BRASIL –ESCOLA NAVAL DE PORTUGAL

Quando do regresso do rei Dom João VIpara Portugal, em 1821, e da regência deDom Pedro, continuou a Academia dosGuardas-Marinha funcionando no Mostei-ro de São Bento. Apertando-se o cercocontra o regente, o ministro da Marinha emPortugal baixou uma portaria, em 4 de ja-

neiro de 1822, comunicando ao Conselhodo Almirantado, em nome do rei, que foram“expedidas as ordens necessárias para oregresso da Companhia dos Guardas-Ma-rinha do Rio de Janeiro, seu cartório e bi-blioteca”23. O príncipe regente Dom Pedronão consentiu no cumprimento de tais or-dens. Ficou no Rio de Janeiro a Compa-nhia de Guardas-Marinha com sua Acade-mia, conservando-se aqui seus pertences.

Em 7 de setembro de 1822, veio o Gritodo Ipiranga. Já em outubro, três professo-res tiveram licença para regressar a Portu-gal24. Alguns alunos fizeram o mesmo. Emnovembro, adotou-se na Companhia a ban-deira do Império25. Em dezembro veio a or-dem para tomar-se o juramento do pessoalda Companhia e da Academia, na Câmara26.A grande maioria aderiu, inclusive o co-mandante da Companhia e diretor da Aca-demia, chefe de divisão Francisco MariaTeles, nesses cargos desde 1817, em subs-tituição a Dantas Pereira, do qual fora porlongos anos imediato. Àquela altura,Dantas Pereira regressara a Portugal, jácomo chefe de esquadra.

Em 25 de março de 1824, veio a Consti-tuição do Império. A 7 de abril, lavrou-se aata do juramento de fidelidade à Constitui-ção, prestado por quase todo o pessoal daCompanhia e da Academia27. Os poucosque não quiseram fazê-lo regressaram defi-

18 Oficio de Dantas Pereira ao Visconde de Anadia, de 26/11/1807; o despacho, escrito no próprio ofício,é do dia seguinte. (Arquivo Geral da Marinha, Lisboa, caixa 142 no 175).

19 Ofício do Quartel-General da Marinha a Dantas Pereira, de 4/6/1810 (Arquivo da Marinha, códice20472).

20 Calmon, Pedro. Ob. Cit., p. 1.380.21 Ofício do Quartel-General da Marinha a Dantas Pereira, de 5/6/1810 (Arquivo da Marinha, códice

20472).22 Arquivo Geral da Marinha, Lisboa, caixa 2 no 675.23 Arquivo Geral da Marinha, Portugal, caixa 2 no 675.24 Portaria do ministro da Marinha, de 3/10/1822 (Arquivo da Marinha códice 20.477).25 Idem, de 22/11/1822 (Arquivo da Marinha, códice 20477).26 Idem, de 11/12/1822 (Arquivo da Marinha, códice 20477).27 Scavarda, Levy. “A Escola Naval através do tempo” in Subsídios para a História Marítima do Brasil.

Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1955, v. XIV, p. 67.

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NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL: 200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

nitivamente para Lisboa. Estes continua-ram por lá seus estudos, na Academia Realde Marinha, que por aquelas bandas per-manecera.

Organizou-se uma nova Companhia deGuardas-Marinha em Portugal, sem jamaisse reestruturar completamente por lá suaAcademia. O que dessas organizações lárestou extinguiu-se pelo decreto de 23 deabril de 1845, de Dona Maria II, que criou aEscola Naval portuguesa28.

A ESCOLA NAVAL DO BRASIL

No Brasil, a institui-ção prosseguiu comos mesmos estatutosde 1796, que durariamaté 1858. Permanece-ram ainda seu coman-dante, sua biblioteca,seu arquivo, seus per-tences, enfim, e maisque tudo ficou sua alma, ficaram suas tra-dições, que perduram até nossos dias. In-terrupção, pois, não houve na vida da Aca-demia, que continuou normalmente suasaulas, prestando o inestimável serviço decontribuir decisivamente para a história daeducação no Brasil. Se antes, ainda em Lis-boa, nela estudavam brasileiros, dentre osquais Felisberto Caldeira Brant Pontes eHorta, depois Marquês de Barbacena, eLuís da Cunha Moreira, o primeiro ministroda Marinha do Brasil independente, e tam-bém estrangeiros além de portugueses,aqui continuaram a estudar portugueses,franceses e ingleses, além de brasileiros,que, após 1822, foram se tornando sempremais numerosos. O fato, pois, de mudar-se

a nacionalidade oficial da instituição não adestruiu nem substituiu, mas ela continuouplenamente. Pois o príncipe, retendo-a aqui,contra as ordens de seu pai soberano,garantiu sua permanência entre nós pormais 160 anos, até hoje.

Tornara-se ela “Academia Nacional eImperial dos Guardas-Marinha”, tambémreferida em documentos diversos como“Academia Imperial dos Guardas-Mari-nha”, ou simplesmente “Academia de Ma-rinha” ou “dos Guardas-Marinha”.

Em 1832, tentou-se pôr em prática umaideia já antiga, fundindo a Academia dosGuardas-Marinha com a Academia Militar,

esta criada em 1810, efuncionando no Largode São Francisco, noedifício construídosobre os alicerces doque seria a sé nova.Surgiu assim a Acade-mia Militar e de Mari-

nha da Corte29, subordinada ao Ministérioda Guerra e comandada pelo Tenente-Co-ronel José de Sousa Corrêa, antigo lenteda Academia dos Guardas-Marinha. O de-creto da fusão não foi nunca aprovado pelaAssembleia-Geral Legislativa, e seus finsnão foram alcançados30. Por isso revogou-se a fusão em 183331, e já em 1834 a Acade-mia dos Guardas-Marinha estava funcio-nando outra vez no Mosteiro de São Ben-to, onde ficaria até 1839. A documentaçãopertinente a essa fase, dos anos de 1832 e1833, ainda não foi encontrada, de modoque quase nada se sabe sobre ela. O últimodocumento da Academia Militar e de Mari-nha da corte, que dá conta da dissoluçãoda respectiva congregação de lentes e tra-

28 Moraes, Tancredo. “Esboço histórico” in Os primeiros cem anos da Escola Naval. Lisboa: Tip.União Gráfica, 1945, p. 27.

29 Decreto de 9/3/1832.30 Decreto de 22/10/1833.31 Decreto de 19/12/1833.

Mais que tudo ficou suaalma, ficaram suas

tradições, que perduramaté nossos dias

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NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL: 200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

ta de algumas providências para a liquida-ção daquela Academia, encontrei-o no Ar-quivo Nacional, entre papéis do antigoMinistério da Guerra32.

Em 1839, a Academia de Marinha, comoera já mais comumente denominada, mu-dou-se para bordo da Nau Pedro II, con-forme decisão da regência33. O navio eradesarmado e pouco poderia contribuir efe-tivamente para a parte prática da formaçãodos futuros oficiais. A academia, entretan-to, permaneceu a bordo por dez anos. Nes-se período, dois fatos muito importantesocorreram. O primeiro, ao que se saiba nun-ca referido na historiografia brasileira, po-deria ter alterado profundamente o pano-rama educacional no Brasil. Trata-se daproposta apresentada por José Cesário deMiranda Ribeiro, na Seção de Negócios doImpério do Conselho de Estado, em 24 denovembro de 1842, que criaria na corte aUniversidade Pedro II, primeiro estabeleci-mento do gênero em nosso país. Essa pro-posta teve parecer absolutamente favorá-vel em 13 de julho de 1843, com as assina-turas do Visconde de Olinda, de BernardoPereira de Vasconcelos e do próprioMiranda Ribeiro34. A universidade seria cri-ada “para o ensino das ciências sociais,exatas e naturais, consideradas em todasas suas diversas ramificações, e na suaaplicação às profissões científicas”, con-forme o artigo 1o do estatuto proposto, e acomporiam as faculdades de Teologia, Di-reito, Matemática, Filosofia e Medicina, oscursos de ciências físico-matemáticas(onde entrariam os militares, inclusive en-genheiros), curso farmacêutico, curso departos e a Faculdade de Letras, sendo estao Colégio de Pedro II, como anexo. Dessa

forma, seriam extintos os cursos de ciênci-as jurídicas e sociais de São Paulo e deOlinda, as escolas de Medicina do Rio deJaneiro e da Bahia, e as Academias Militare de Marinha. Quanto a estas, apenas aparte prática de formação profissional fica-ria por conta das respectivas organizações.Seria, vê-se, uma verdadeira revolução nosistema brasileiro de ensino. Infelizmente,não tive a oportunidade de prosseguir osestudos desse assunto para saber por quetal proposta não se transformou em lei.

O segundo fato a que me referi foi a cri-ação da Biblioteca da Marinha em 184635,tendo como acervo inicial os livros da bi-blioteca da Academia de Marinha, que nãoforam transferidos para bordo da NauPedro II. Reduziu-se desse modo a muitopouco esta biblioteca, o que, porém, se ate-nuou pelo fato de se haver criado o que éhoje a riquíssima Biblioteca da Marinha,ao alcance do público, no Serviço de Do-cumentação da Marinha (hoje Diretoria doPatrimônio Histórico e Documentação daMarinha – DPHDM). Só quem se habituouàs pesquisas em fontes primárias e sabe daimportância da preservação dos bens cul-turais é capaz de avaliar o trabalho magní-fico que vem realizando há anos a equipedaquela Diretoria. Falta talvez à Marinhaconcentrar agora esforços redobrados emseu preciosíssimo arquivo para que se pos-sa dispor com melhor técnica das informa-ções que ele é capaz de fornecer, pela vas-ta documentação que abriga. Pois nele dor-me grande parte do passado de nossa Ar-mada, sem cujo conhecimento seremossempre menores do que poderíamos ser.

Após dez anos a bordo da Nau Pedro IIfundeada na Guanabara, a Academia voltou

32 Ofício do comandante da extinta Academia Militar e de Marinha da Corte ao ministro da Guerra, de8/1/1834 (Arquivo Nacional, Seção do Poder Executivo, IG3 5).

33 Decreto de 19/12/1833.34 Arquivo Nacional Seção do Poder Executivo XM 16.35 Decreto no 470, de 17/10/1846.

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NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL: 200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

para terra, sem ter ainda uma sede especial-mente sua, apropriada para esse fim. Insta-lou-se em prédio alugado no Largo da Prai-nha, hoje Praça Mauá, exatamente no localonde se ergueu muito mais tarde o edifíciode A Noite. Enquanto ela aí se encontrava,sofreu a primeira grande reforma de sua his-tória. Teve fim a longa vigência de 62 anosdos estatutos de 179636. Era o ano de 1858, ea Revolução Industrial corria pelo mundo,com profundasconsequências sobre aguerra no mar. Desde1847 tivéramos nossoprimeiro navio de guer-ra a vapor em constru-ção na Inglaterra. Já aguerra da Crimeia,eclodida em 1854, mos-trara a superioridadedos navios a vaporsobre os a vela e apre-sentara ao mundo acouraça como a gran-de novidade para pro-teção das belonaves.Era preciso, pois, ajus-tar o passo, o que sefez. A Academia pas-sou a chamar-se Esco-la de Marinha, e seu“comandante” passoua ser “diretor”. A velhaCompanhia de Guar-das-Marinha foi suce-dida pela Companhiade Aspirantes a Guar-das-Marinha. Ampliou-se consideravelmen-te a base teórica de caráter científico em fun-ção das necessidades da tecnologia.

Outros navios de guerra vinham sendoincorporados à Armada Imperial, dentreeles a última palavra da época, o Encoura-

çado Brasil, encomendado à França e lan-çado ao mar em 1864.

Enquanto a Escola de Marinha funcio-nava nesse mesmo local, eclodiu o maiordos conflitos de nossa história, a Guerrado Paraguai, precedida pela Campanha Ori-ental, de 1864. Esse conflito foi também ricode ensinamentos em todas as artes da guer-ra, muito especialmente no campo dalogística. Nossa Armada mobilizou-se para

a construção de navi-os de guerra com pro-jetos de casco e demáquinas brasileiros.

Para tudo isso, po-rém, notara-se que erapreciso aperfeiçoar ocurso acadêmico e,sobretudo, era neces-sário garantir-se me-lhor padrão intelectu-al dos candidatos àEscola de Marinha.Diante das dificulda-des do sistema de en-sino nacional, finda aguerra, criou-se em1871 o Externato deMarinha, viveiro privi-legiado para os candi-datos à Escola de Ma-rinha. Em 1876, o Ex-ternato transformou-se no Colégio Naval,como curso preparató-rio para a Escola deMarinha, em regime de

internato.Essas mudanças ocorreram quando já a

Escola de Marinha voltara a funcionar abordo de um navio de guerra, desta feita aFragata Constituição, onde ficou de 1867a 1882.

36 Decreto no 2163, de 1/5/1858.

A velha Companhia deGuardas-Marinha foi

sucedida pela Companhiade Aspirantes a

Guardas-Marinha.Ampliou-se

consideravelmente a baseteórica de caráter científico

em função dasnecessidades da tecnologia

Deu-se aí a fusão doColégio Naval com a

Escola de Marinha, em1886, passando esta a

chamar-se Escola Naval,nome que ostenta até hoje

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NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL: 200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

No ano de 1882, passou a Escola para oArsenal de Marinha, provisoriamenteabrigada apenas para as aulas, enquantoos aspirantes aquartelavam-se em naviosde guerra surtos no porto do Rio de Janei-ro. É que a velha Fragata Constituição fi-zera água e, quase sexagenária, não apre-sentava mais condições de ter a seu bordoa Escola de Marinha.

A sede seguinte foi a Ilha das Enxadas,onde a Escola ficaria de 1883 até 1914. Deu-se aí a fusão do Colégio Naval com a Escolade Marinha, em 1886, passando esta a cha-mar-se Escola Naval, nome que ostenta atéhoje. Viveu também aí a Escola Naval a gran-de crise da Revolta da Armada, em 1893-94,quando, sob a direção do inolvidável Almi-rante Luís Felipe de Saldanha da Gama, co-mungou com a Mari-nha heroicos ideais deuma época. Foi fecha-da; teve seu diretor,professores e alunosdeclarados desertores,mas tudo terminoucom a anistia de Pru-dente de Morais. A Es-cola reabriu em 1895 econtinuou sua vida.

Quanto a suas ins-talações físicas, em1887 o engenheiroAarão Reis, o mesmoque projetou Belo Horizonte, elaborou gran-dioso projeto para construir-se a sede defi-nitiva para a Escola Naval. As constantesfaltas de verba, porém, não permitiram reali-zar-se o intento. Em 1908, na administraçãodo Almirante Alexandrino Faria de Alencar,então ministro da Marinha, dois outros pro-jetos se apresentaram, dos arquitetosLudovico Berna (em estilo flamengo) e Hei-tor de Melo (em neoclássico), ambos desti-nados para a sede da Escola Naval na Ilhade Villegagnon.

Em 1914, ia finalmente a Escola Navalpara sua única sede fora do Rio de Janeirodesde 1808: Angra dos Reis, na Tapera, queveio a chamar-se Enseada Batista das Ne-ves. Abrigou-se aí em prédio recém-inau-gurado, que fora construído para ser esco-la de grumetes. Alexandrino inverteu ascoisas e trouxe os grumetes para a Ilha dasEnxadas. Em Angra dos Reis a Escola fica-ria até 1919, não permanecendo lá pelasdificuldades de comunicações com a capi-tal federal existentes à época.

Até então, duas reformas importantessofreu a Escola Naval, dentre outras. Umaem 1899, que lhe anexou a Escola de Ma-quinistas, num curso separado. Outra em1914, que fundiu os dois cursos, o de Ma-rinha e o de Máquinas. Estes dois cursos

separaram-se nova-mente em 1920 e tor-naram a unir-se em1923.

Ocorrera a PrimeiraGuerra Mundial, comformidáveis ensina-mentos para todas asMarinhas. Na nossa,tínhamos já a esqua-dra de 1910, surgidado Programa Naval de1906.

A modernização eraimperativa. Por isso,

contratamos a Missão Naval americana em1922, que reestruturou completamente osserviços navais, inclusive a Escola Naval,dando a esta uma organização administra-tiva que durou até 1971, inspirada em mo-delos norte-americanos. Vem daí, de umarecomendação de 1923, a adoção de livros-texto, substituindo as antigas apostilas, quepor tantos anos serviram de base aos estu-dos dos aspirantes.

De volta à Ilha das Enxadas desde 1920,a Escola aí ficaria até 1938, quando se trans-

De volta à Ilha dasEnxadas desde 1920, a

Escola aí ficaria até 1938,quando se transferiu parasua atual sede, na Ilha deVillegagnon, construída

finalmente com estepropósito

RMB3oT/2009 23

NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL: 200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

feriu para sua atual sede, na Ilha deVillegagnon, construída finalmente comeste propósito, por iniciativa do AlmiranteProtógenes Pereira Guimarães.

Em 1937, a Escola passou a dar três cur-sos distintos, formando oficiais para os cor-pos da Armada, de Fuzileiros Navais e deIntendentes Navais (chamados depois deIntendentes de Marinha). Quanto a estes,data de 1893 a primeira proposta para seremformados pela Escola Naval com o nome de“comissários”. Em 1924, a Missão NavalAmericana também formulara projeto paraque os intendentes fossem formados pelaEscola, o que somente veio a ocorrer, comodisse, em 1937.

Desde então, a pri-meira grande novidadefoi o curso de engenha-ria de operações – mo-dalidade “mecânica” –superposto ao currícu-lo tradicional da Escolaem 1969. Tal curso res-pondia a uma solicita-ção de momento, masnão dava ainda o gran-de salto modernizadorque a velocidade de transformação do fenô-meno da guerra estava por exigir.

Vieram, pois, em 1973, os estudos quedariam nova feição à Escola, diversifican-do seus cursos, ampliando o leque de op-ções dos alunos e atendendo, assim, àsnecessidades de concentração de conhe-cimentos em áreas específicas, conformerequerido pelo serviço naval. Ao encami-nhar ao diretor da Escola Naval os resulta-dos desses estudos, em 20 de maio de 1974,o então Capitão de Mar e Guerra MárioJorge da Fonseca Hermes sintetizou a vo-cação de grandeza da Escola no panorama

nacional com memoráveis palavras dasquais destaco:

“Pertencemos a um país que nos permi-te, pela pujança de sua natureza e pelaspeculiaridades de seu povo, traçar nossosdesígnios nessa direção de grandeza.

“A esperança crescente na realização des-ses desígnios é fator altamente motivadorpara o aspirante, tal a conotação existenteentre as aspirações nacionais e a carreira dasarmas.

“Cabe, pois, à Escola Naval, com a res-ponsabilidade da formação da futura eliteda Marinha, proporcionar que as bases des-se progresso científico-tecnológico sejam

ministradas aos futu-ros oficiais”37.

A partir daí, a Esco-la Naval passou a ofe-recer quatro cursos,nas modalidades deEletrônica, Mecânica,Sistemas e Administra-ção de Sistemas, quese combinam com ostrês cursos anteriorestradicionais, formandodoze terminalidades

possíveis. E novos cursos deverão enrique-cer o currículo escolar, engendrando o queestá perto de ser uma universidade naval,incluindo os cursos de pós-graduação de ofi-ciais, que ainda um dia se hão de ver por lá.

DESTINO

Pioneira em muitas iniciativas de cará-ter científico e técnico em nosso país, aMarinha se tem recolhido modestamente,recatadamente, a viver sua vida própria,deixando que os frutos de seu trabalho ape-nas eventualmente se explicitem. É caso

37 Comunicação interna no 049/74, de 20/5/74, do superintendente do Ensino ao diretor da Escola Naval(arquivo do autor).

O então Capitão de Mar eGuerra Mário Jorge da

Fonseca Hermes sintetizoua vocação de grandeza da

Escola no panoramanacional com memoráveis

palavras

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NOSSA CAPA – ESCOLA NAVAL: 200 ANOS NO BRASIL – 1808-2008

exemplar a formação do homem que vivena Marinha sua profissão, nos diversospostos e graduações, do almirante aogrumete, recebendotodos apurado grau deinstrução, de formaçãomoral e cívica, vindo acontribuir para o cres-cimento do nível decivilização de nossasociedade. Pois, quan-do retorna à vida civil,de onde veio, o ho-mem que teve na Ma-rinha parcelaponderável de suaeducação o faz enri-quecido por uma con-tribuição inestimávelque recebeu para sua formação integral.Quer, portanto, para o estrito exercício daprofissão naval, quer para o prosseguimen-

to da vida civil, a Marinha é toda ela umaescola formadora de homens, de militares,destinados à defesa da Pátria no mar.

Por tudo isso, a so-fisticação e a comple-xidade que alcançaramos meios de destrui-ção, ampliando-lhesem muito o poderio,tornaram também mui-to mais complexos oscurrículos escolares ecada vez mais exigen-te a base moral da for-mação dos futuros ofi-ciais e sua componen-te humanística. Nessesentido é que se vemtransformando a Esco-

la Naval. É assim que ela se renova, na ju-ventude de seus 200 anos, desejando ser-vir mais e melhor à Marinha e ao Brasil.

Quando retorna à vidacivil, de onde veio, ohomem que teve na

Marinha parcelaponderável de sua

educação o faz enriquecidopor uma contribuição

inestimável que recebeupara sua formação integral

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<EDUCAÇÃO>; Escola Naval; História da Marinha do Brasil; Preparo do homem;

No dia 23 de agosto de 1942 (dia se-guinte ao de nossa declaração de estado

de guerra), estava eu, como hidrógrafo, com-pensando a agulha deum navio que seguiapara o Norte, quando,por mensagem, fui cha-mado ao Estado-Maiorda Armada. Lá, um capi-tão de fragata que eu nãoconhecia, Ernesto Araú-jo, disse-me que haviasido criado um GrupoPatrulha do Sul com trêscontratorpedeiros anti-gos, o qual comandaria,sendo eu seu assisten-te. Sairíamos para o mar às 23 horas.

A essa hora largamos, de baixo de muitomau tempo, para a primeira ação de guerra,

A GUERRA DE UM CAPITÃO-TENENTE

O que vai se ler abaixo são as memórias da passa-gem de um capitão-tenente pela Segunda Guerra Mun-dial. Com certeza semelhantes às dos muitos outroscapitães-tenentes (e primeiros-tenentes, segundos-te-nentes e até guardas-marinha) que nela operaram.

HELIO LEONCIO MARTINSVice-Almirante (Refo)

rumo a Santos, onde incorporaríamos as duasoutras unidades. A nossa tarefa principal eradar cobertura a uma centena de pequenos

carvoeiros que traziamde Imbituba carvãopara fabricação de gásdoméstico no Rio e emSão Paulo. Eles nave-gavam bem junto à cos-ta, e os contrator-pedeiros traçavam uma“linha grega” por fora.No fim de um mês, viu-se a dificuldade de uti-lizar aqueles anacrôni-cos navios, queimandocarvão, construídos em

1908. O Grupo passou a ser formado por duascorvetas e um contratorpedeiro com caldeiraa óleo.

A nossa tarefa principalera dar cobertura a uma

centena de pequenoscarvoeiros que traziam de

Imbituba carvão parafabricação de gás

doméstico no Rio e em SãoPaulo

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A GUERRA DE UM CAPITÃO-TENENTE

Ao mesmo tempo, recebíamos informações,com fidelidade duvidosa, de “inimigos” avis-tados. Um pescador afirmava ter encontradoum submarino com duas chaminés! O alertade possível desembarque inimigo em praia aonorte de Santos movimentou força do Exérci-to, aviões da base de Santos e o Grupo Patru-lha. Um destacamento de marinheiros desem-barcado por este último verificou que tudopartira do fato de um sargento da vigilância terdado uns tiros para afastar um ladrão de suasgalinhas! De efetivo,além da proteção doscarvoeiros, trouxe-mospara o Rio quatro mer-cantes e o Navio-Esco-la Almirante Sal-danhacom guardas-marinha,que estavam paradosno Rio Grande esperan-do escolta. Com a pro-moção do ComandanteErnesto de Araújo e suanomeação para o co-mando do Contra-torpe-deiro Greenhalg, fiqueilivre para o que mais de-sejava, que seria embar-car nos caça-submari-nos, sendo recebidosem Miami, pelo que te-ria que ir via Natal, ondeo Grupo de Caças esta-va sendo organizado.Mas antes o Grupo Pa-trulha do Sul, com reforço de um cruzador eduas corvetas, recebeu a tarefa de escoltardois comboios de Salvador para Rio e do Riopara Salvador. E o novo chefe, ComandanteBraz Veloso, pediu-me que eu passasse as fun-ções e a minha experiência (?) ao meu substi-tuto nas travessias.

Voei para Natal a 3 de abril de 1943. Aochegar, a surpresa inicial foi frustrante. OAlmirante Ary Parreiras, que construía a

Base Naval, mas já a operava, disse-me queprecisara efetuar o recrutamento dos re-servistas navais de Natal e Mossoró, eprepará-los, pois não dispunha de gentesuficiente. Por isso, utilizando os galpõesde um cortume junto à Base, fez nele algu-mas melhoras e o transformou em um cen-tro de treinamento. Iria prender-me trêsmeses, a fim de organizá-lo e preparar aprimeira turma, tendo como auxiliares trêssuboficiais, três sargentos e alguns

taifeiros cozinheiros.A minha frustração foidiminuindo ao ser en-volvido pelo entusias-mo do almirante e porsua liderança e pelanovidade da tarefa detransformar 600 des-confiados componen-tes de uma formatura,na qual bateram pal-mas para minhaalocução. Essa experi-ência narrei em umacrônica, à qual dei otítulo de “Cossacosde Natal”, como assimeram chamados peloalmirante, porque, paramelhor conforto e de-vido à carência de uni-formes, eles usavamhabitualmente calçãoe camiseta, o que não

era hábito na Marinha. E, o que não eramuito de crer, utilizando suas habilidadesna vida civil, muitos deles foram prepara-dos como motoristas, maquinistas,foguistas, paioleiros, homens de manobra.

Os três meses viraram cinco, os quaispassei ansioso para embarcar, mas juntan-do, em minhas memórias navais, recorda-ções muito interessantes daquela tarefa di-ferente. A 3 de setembro voei para Miami.

Miami era, na guerra, umagrande base naval, com oshotéis servindo de quartéise o porto transformado em

um múltiplo centro deinstrução, onde se

fabricava, em série, os“ninety days wonders” (as

maravilhas de 90 dias),recrutados em massa, quefizeram crescer a Marinhade 75 mil homens para uma

de alguns milhões e quevenceram duas guerras, no

Pacífico e no Atlântico

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A GUERRA DE UM CAPITÃO-TENENTE

Essa cidade era, na guerra, uma grande basenaval, com os hotéis servindo de quartéis eo porto transformado em um múltiplo centrode instrução, onde se fabricava, em série, os“ninety days wonders” (as maravilhas de90 dias), recrutados em massa, que fizeramcrescer a Marinha de 75 mil homens parauma de alguns milhões e que venceram duasguerras, no Pacífico e no Atlântico.

Fizemos a viagem de dois dias para Miamiem aviões DC3 de carga, usando uniformebranco. Chegamos imundos, cansados, es-fomeados. Fomos acolhidos pela Comissãode Recebimento de Caças, chefiada pelo Ca-pitão de Fragata HaroldCox. Dois excelentessargentos, em horas,nos transformaram emoficiais norte-america-nos, limpos, descansa-dos e envergando ouniforme cáqui da USNavy, usando nossasplatinas e nossos bo-nés. O mote da Comis-são era “keep thembusy” (mantenha-osocupados). As princi-pais atividades que nosaguardavam seriam fa-zer o curso de tática antissubmarinos (AS) ereceber um caça (naquele tempo eram os de300 toneladas, ou caças-ferro). Mas qualquerespera era preenchida frequentando um dasdezenas de cursos de toda a espécieofertados, sendo selecionados aqueles quepoderiam nos interessar – motores diesel,manutenção de sonares e radares etc. A es-colha às vezes falhava, como aconteceu comum dos sargentos da Comissão, o Negrão,especializado em Educação Física. Na imen-sa lista de cursos, havia um que se chamavaPhysical Fitness, ou preparação física. Foi,devido ao título, considerado próprio para oNegrão, de físico robusto mas normal. Trata-

va-se entretanto de um treinamento para osrangers, homens excepcionalmente fortes se-lecionados para se adestrarem em luta pes-soal. E diariamente havia uma seção de pan-cadaria geral, uns contra os outros, com lu-vas de boxe leves, a fim de “desenvolveremcombatividade”. Na primeira seção em quetomou parte, o Negrão foi a nocaute e pediuque o tirassem dali antes que morresse.

Eu não tive muita espera. Chegando aMiami em 5 de setembro, a 13 iniciava ocurso de tática antissubmarino na Base deTreinamento de Key West, bem na pontada Flórida. Era um pequeno burgo, mais

cubano do que ameri-cano (hoje é um gran-de resort de turismo epesca). Passavam porlá, a cada cinco sema-nas, centenas de ofi-ciais e praças de mui-tas Marinhas além danorte-americana – in-glesa, francesa, brasi-leira, peruana, holan-desa, polonesa e rus-sa. Eram cinco sema-nas exaustivas. Na pri-meira assistia-se a oitohoras de aulas, com

enorme quantidade de leitura a que se ti-nha de dedicar, sendo verificado seu apro-veitamento por testes rápidos. As outraspassava-se no mar. Antes das 7 da manhãlargavam perto de 30 navios (a maioria ia-tes de recreio providos de equipamentosonar) e uns dez submarinos antigos. Emcada navio embarcavam duas equipes deoficiais e marinheiros. E repetia-se, semcessar, ataques ao submarino destacadopara o exercício com aquele navio, até as 6horas da tarde. A finalidade era tornar oataque rotineiro, quase subconsciente. Econseguia-se, com a exaustão dos alunos,que tinham um refresco na piscina do

Passavam por Key West acada cinco semanas,centenas de oficiais e

praças de muitas Marinhasalém da norte-americana –

inglesa, francesa,brasileira, peruana,

holandesa, polonesa erussa

Officers Club antes do jantar (para o qualnós e o ingleses éramos convidados; osdos demais países tinham que pagar; osrussos não apareciam; os cubanos nãopodiam frequentar o clube, do que FidelCastro deve ter sabido muitos anos de-pois). À noite, mais leitura. Nos domingosera permitido respirar.

Aliás, esse é o método da US Navy: atin-gir o grau de eficiência que possui, mesmoem tempo de paz, trabalho contínuo, atranspiração dominando a inspiração. Issoverifiquei no pós-guerra, quando embar-quei em cruzadores e navio-aeródromo nor-te- americanos.

Voltando a Miami, embarquei como ime-diato no Caça-Submarino (CS) Goiana,comandado por meu colega e amigo GoosenMarques, com três oficiais – Israel Lemos,Rubem Matos e José Guarita. Teríamospouco mais de duas semanas para conhe-cer o navio, prepará-lo e sermos submeti-dos ao shake down, uma inspeção rigoro-sa, depois da qual, se aprovados, podería-mos nos considerar operativos.

Quem havia guarnecido o Goiana an-tes (durante muito pouco tempo, pois eraum navio novo) ainda não devia ter atingi-do a categoria de wonder (maravilhoso),embora fosse cheio de boas intenções. Oconvés estava muito bem pintado, tendosido, entretanto, esquecido um pequenodetalhe: embaixo da tinta não haviam reti-rado a ferrugem. Também parecia que oporão fora considerado lugar cômodo parajogar o lixo. E uma nova praga desafiava oimediato: até pouco antes desconhecida, aCoca-Cola fascinara os marinheiros. Nocais, três maquinetas forneciam asgarrafinhas quase de graça. E ainda recebí-amos caixas com dúzias de cocas enviadaspela Comissão para melhorar o moral. E asfaxinas e fainas eram interrompidas todahora para se retirarem garrafas vazias es-condidas nos mais incríveis lugares. Peloque, autoritariamente, a Coca-Cola foi con-siderada bebida alcoólica – e, como tal, proi-bida de passar o portaló.

Foram alguns dias de intensa atividade,em que nos familiarizamos com cada item debordo. Depois saíamos para o mar, onde tudofoi posto em movimento – máquinas, arma-mento, equipamento. Um fim de semana dedescanso, repasse fino, e largamos para oshake down. Ao largo, quatro inspetores, emdois dias, hipoteticamente massacraram o na-vio. Criaram problemas simultâneos: com asmáquinas, o sonar, o radar, os canhões, me-tralhadoras e foguetes, com avarias imaginá-rias que tinham de ser resolvidas correta erapidamente. Eram estas de tal ordem e de talmagnitude que um inimigo real não poderia

Primeira oficialidade (1943) do CSGoiana (esq/dir): CT Leoncio

(Imediato); 1o T Rubens Matos (OfSom); 1o T Jose Guarita (Of

Conves); CT Goosens Marques(Comte); CT Israel Lemos (ChMaq)

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A GUERRA DE UM CAPITÃO-TENENTE

provocá-las em um mêsde contínuos ataques.Mas foi animador ter-mos sido capazes deenfrentar aquele dilúviode problemas sem gran-des erros.Verificamosque, se não éramoswonders, tínhamos detempo de Marinha,como profissionais, maisde ninety days (noven-ta dias). Mesmo semmuito preparo nos últi-mos anos devido aoabandono do Governo,desconhecendo tática antissubmarino (a ta-refa que teríamos, com certeza, na guerra quese aproximava), aindaéramos marinheiroscom uma dezena deanos no mar, com o mo-ral, o entusiasmo e osenso de responsabili-dade impostos por maisde cem anos de tradi-ção, permitindo que, empoucos meses, dispon-do do material e do trei-namento necessários,fôssemos capazes deguarnecer e operarmeia centena de unida-des A/S que ajudarama garantir a segurançado tráfego marítimo na-cional e internacional,vitais para o País naépoca.

Aprovados no sha-ke down, e o naviopronto para operar,rumamos para KeyWest, onde integramos a escolta (único na-vio brasileiro) de um comboio que partiu

para Guantánamo, emCuba. A minha experiên-cia até então fora nasoperações e como as-sistente de uma força,não participando dire-tamente das atividadesindividuais antissub-marino, como iria acon-tecer no Goiana, fazen-do oito horas de servi-ço no passadiço, comatenção ao pingue dosonar – e em possíveleco –, no posiciona-mento correto do navio

na cobertura, o que estreei na curta traves-sia. A estadia em Guantánamo, grande base

naval norte-americana,encravada em territóriocubano, foi rápida –por um dia foi aprovei-tada para exercícios deartilharia contra alvosaéreos. De uma encos-ta, na qual estavaminstalados canhões emetralhadoras, atirava-se contra alvo reboca-do por avião, com pou-cos acertos. Aliás, otiro antiaéreo (AA) ti-nha baixa prioridadeno adestramento dosnavios. O que se exer-citava bastante era otiro direto, a curta dis-tância, rápido, aponta-do quase somente como canhão, isto é, o quese esperava contra ossubmarinos que vies-sem à superfície.

O mesmo comboio continuou para Trini-dad, cruzando o Caribe, que, sendo foco

As avarias imagináriaseram de tal ordem e de talmagnitude que um inimigo

real não poderiaprovocá-las em um mês de

contínuos ataques

Aprovados no shake down,e o Goiana pronto para

operar, rumamos para KeyWest, onde integramos a

escolta (único naviobrasileiro) de um comboio

que partiu paraGuantánamo, em Cuba

CS Goiana no mar

30 RMB3oT/2009

A GUERRA DE UM CAPITÃO-TENENTE

de muitas linhas marítimas, atraía os sub-marinos. A Base de Trinidad destinava-seespecialmente a apoiar navios AS, caças,corvetas, contratorpedeiros de escolta, quepatrulhavam o Caribe ou aguardavam sairescoltando comboios, entre eles os nos-sos TJ – Trinidad-Rio de Janeiro. Em ter-mos norte-americanos, era uma base depequeno porte, o que não queria dizer quenão dispusesse de meios de reparos e su-primentos substanciais. Para estes últimoshavia um depósitoimenso, que nós mui-to aproveitávamos,talvez de maneira nãomuito correta. Produ-tos excelentes eramabarrotados nos pai-óis de mantimentos.Esses produtos seriampagos pela Lei de Em-préstimo e Arrenda-mento no fim da guer-ra. Os pedidos eramatendidos sem nenhu-ma verificação dequantidade. Contava-se a história de umcaça com 60 homensde guarnição que pe-dira seis perus congelados, julgando ser aunidade um, quando era dúzia, do que re-sultou receber 72 perus! Tal abundânciafavorecia as Caixas de Economia dos nos-sos navios, uma quantia utilizada legalmen-te para despesas miúdas não orçamentári-as, cujas receitas eram as sobras domuniciamento diário de mantimentos, so-bras estas que, a cada mês, eram transfor-madas em dinheiro, sobras que, naturalmen-te, cresciam com esse suprimento extra.

Uma particularidade da estadia emTrinidad era que, além das unidades quesaíam patrulhando, algumas outras, inclusi-ve as que esperavam para escoltar comboi-

os, ficavam de prontidão, largando imedia-tamente se um alerta especial o exigisse. Paradar certo alívio às guarnições, como nosnavios norte-americanos não se podia con-sumir bebidas alcoólicas, havia na base doisbares, o Crows Nest e o Maqueripe, onde opessoal de folga dos navios de prontidãopodia permanecer tomando a sua cerveja,sendo chamado por alto-falante, citando-seo nome do navio, para regressar com urgên-cia para bordo. Já encontravam seus caças

e contratorpedeiros deescolta de máquinasfuncionando e saben-do o que deviam fazer.

Depois de dois outrês dias, o Goiana in-corporou-se à escoltade um TJ, sendo aindao único navio brasilei-ro presente. E recome-çou a rotina de perma-nente atenção ao pin-gue do sonar, à posiçãodo navio na cobertura,ao zigue-zague, foraguarnecer os postos decombate nas situaçõessuspeitas, ao alvorecere em exercícios. Uma

preocupação existente em todos os comboi-os era o salvamento dos náufragos, não sópor motivos humanitários e de melhora domoral dos tripulantes (que sempre espera-vam ser salvos) como também por razões prá-ticas: poupar marinheiros, mais difíceis defazer do que os navios. Em comboios maio-res, ou cruzando zonas perigosas, um escol-ta na retaguarda tinha como missão a pescadas vítimas dos afundamentos.

Havia duas exceções, nas quais a procu-ra de náufragos era inútil: quando o navioatingido carregava gasolina de altaoctanagem ou munições (pelo que eram co-locados nas colunas centrais do comboio) e

Uma preocupação existenteem todos os comboios era osalvamento dos náufragos,

não só por motivoshumanitários e de melhora

da moral dos tripulantes(que sempre esperavam sersalvos) como também porrazões práticas: poupar

marinheiros, mais difíceisde fazer do que os navios

RMB3oT/2009 31

A GUERRA DE UM CAPITÃO-TENENTE

nas passagens para Murmansk, no norte daRússia, onde a água gelada não permitiriamais do que alguns minutos de vida a quemnela mergulhava. Com o comboio que es-coltávamos, navegando ao largo da Ilha deTobago, houve a oportunidade de tomar-mos parte em um dos primeiros casos: à noi-te, um navio-tanque de combustível de avi-ação foi atingido. E tivemos um contato. Seseria positivo ou não, não era objeto de dis-cussão, especialmente tendo o comboio sidoatacado. Aproamos para o contato, de acor-do com as regras. Foi interessante notar,nesse nosso primeiro confronto com o ini-migo, um fator criadopelas semanas deexaustivos e furiososataques de treinamen-to no curso de táticaantissubmarino.

Havíamos repetidotanto o processo doataque, que este pas-sara a ser rotineiro. Ocontato que fazíamosno momento era igualao que fizéramos cen-tenas de vezes em KeyWest. O fator emoção,se existiu, pouco in-fluiu. Quando tínhamos o contato na dis-tância adequada, lançamos os hedgehogs,uns 12 ou 15 foguetes (não me lembroquantos), que formavam uma elipse no arque, assim, caía no mar, na mesma distân-cia onde deveria estar o submarino. Se nãoo alcançavam, as camadas térmicas do marpermaneciam tranquilas, permitindo passa-gem normal para as ondas sonoras dosonar. E o ataque continuava, embora oalvo se escondesse na “zona cega” dosonar. Havia certas maneiras de compen-sar a invisibilidade do alvo, inclusive o lan-çamento de um “padrão” de bombas de pro-fundidade predeterminado, formado pelas

que deslizavam pela calha na popa e asejetadas pelos morteiros laterais (k guns),as explosões formando um desenho, comvários afastamentos e profundidades, mai-or ou menor conforme a confiança que setivesse no contato.

Foi isso o que fizemos, selecionando o“padrão” de sete bombas. Daí por diante, aagitação causada nas camadas térmicaspelas explosões impediria qualquer conta-to sonoro. A tática correta seria continuarna área, procurando novo contato quandoo mar se acalmasse. Mas nisso residia afrustração na ação passiva da defesa dos

comboios. Aos escol-tas cabia a defesa ime-diata ao se ter um con-tato. Mas, passado ocomboio, tinham elesde regressar à cober-tura a fim de evitar quea brecha deixada fos-se aproveitada paraoutro ataque (no nos-so caso em especial,pois o delineamentonítido dos mercantescontra o fundo ilumi-nado pelo navio-tan-que em fogo era bom

alvo para torpedos). A ação ofensiva cabe-ria aos independentes Grupos de Caça eDestruição (os hunter killers), quando oshavia. Voltamos para nossa posição. O com-boio continuava, ainda que com uma per-da. Era uma vitória. O submarino, ou teriamergulhado mais fundo para se livrar dasbombas, perdendo o posicionamento parao lançamento dos torpedos, ou teria sidoavariado, vindo posteriormente à superfí-cie e sendo destruído pela aviação.

E a rotina no TJ, dos zigue-zagues, com osonar emitindo seu pingue circularmente, decinco em cinco segundos, continuou atéRecife, quando a escolta brasileira substi-

E a rotina no comboio, doszigue-zagues, com o sonar

emitindo seu pinguecircularmente, de cinco emcinco segundos, continuou

até Recife, quando aescolta brasileira substituiu

a norte-americana. Eranoite de Natal

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A GUERRA DE UM CAPITÃO-TENENTE

tuiu a norte-americana. Era noite de Natal.As fonias encheram-se de votos de “FelizNatal” ou “Nice Christmas”, ambos since-ros, mas nem todos com acertada filologia.

O Goiana prosseguiu sua vida operativa,escoltando comboios JT e TJ no trecho Riode Janeiro-Recife e noabastecimento da Ilhade Fernando de No-ronha. Em fevereiro de1944, de acordo comsistema de rotatividadeadotado pela Força Na-val do Nordeste, fuidesignado para o co-mando do CS Juruena,dos chamados “caças-pau”, de madeira, de 110toneladas. Os “caças-ferro”, por suas propor-ções, seu raio de açãoe seu armamento, ain-da podiam ter a respei-tabilidade de um navio de guerra e recebermissões mais longas e importantes, como aproteção entre Recife e Trinidad. Os classe J,entretanto, eram barcos rústicos, sem água,sem radar, jogando enormemente (o que im-punha resistência física de suas tripulações),

construídos para desempenhar tarefas rápi-das em torno dos portos. Mas com as 30bombas que portavam, o sonar, um pequenocanhão de 76mm de cano curto e duas metra-lhadoras de 20mm, tivemos que usá-los comoescolta de comboios em pequenos trechos

(nos TJ e JT, entre Rio eSalvador), e, como fica-vam mais tempo dispo-níveis, eram utilizadosem muitas atividadesparalelas, de responsa-bilidades maiores doque aquelas para asquais teriam sido feitos.

Com a diminuiçãoda ofensiva dos sub-marinos em 1944, fo-ram empregados, iso-lados, para protegerum único navio, o quenão parece ter sidomedida aconselhável,

como provou o afundamento do Transpor-te Vital de Oliveira, que seguia com umúnico caça-pau varrendo em sua proa. Ha-via também um perigo por que passavamquando patrulhando isolados, em mar pi-cado, que era a semelhança que apresenta-

Os classe J, eram barcosrústicos, sem água, sem

radar, jogandoenormemente (o que

impunha resistência físicade suas tripulações),

construídos paradesempenhar tarefasrápidas em torno dos

portos

No passadiço do CS Juruena (esq/dir):1o T Paulo Irineu Roxo de Freitas (Of Som);

CT José Cals de Oliveira (Imediato);CT Helio Leoncio Martins (Comandante)

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A GUERRA DE UM CAPITÃO-TENENTE

vam, para as aeronaves, com submarinosna superfície. O Javari e o Jaguarão so-freram tais ataques. O primeiro foi vítimade um avião Catalinaque, por duas vezes, ometralhou, acertandoas pernas do mesmohomem, que morreu dehemorragia. O opera-dor da metralhadorado caça pediu autori-zação do comandantepara derrubar o ata-cante, negada porque,como disse, não que-ria cometer o mesmoerro. Sobre o Jagua-rão, um blimp (dirigí-veis, dos quais um es-quadrão era mantidopela US Navy no sulda Bahia) lançou ànoite duas bombas deprofundidade, que nãoo acertaram, mas fize-ram o barquinho sal-tar, caindo os homensdos beliches.

Belicamente, oJuruena teve duas atu-ações, ou dois conta-tos que mereceram umataque, um deles tendo êxito... uma baleiaque resolvera nadar devagar, adquirindo,nos registros do sonar (chemical recorder),toda aparência de um submarino. A pobre

ficou em pedaços, o que foilamentável, pois acreditavaser ela neutra.

Mas houve outras tare-fas que merecem referência,pois dão uma mostra da di-versidade com que eramempregados os “cacinhas”.

Dava-se muita impor-tância à proteção dos navios de manuten-ção do cabo telegráfico submarino, por sero cabo submarino o meio de comunicação

mais livre de interferên-cias. Os navios empre-gados nesse mistercolhiam o cabo queapresentava defeito,faziam-no passar poruma roldana (gorne)na proa, seguir peloconvés para exame, emesmo reparo, saindopor outra roldana napopa. Navegavam mi-lhas à procura do de-feito, com o cabo noconvés, ou ficavamparados durante o re-paro. Em ambos os ca-sos, o caça rodeava-osa 1.000 metros de dis-tância, mudando osentido da rotação emcada volta, isso portrês ou quatro dias.

De outra feita, umavião em patrulha co-municou ao ComandoNaval do Leste queavistara duas embarca-ções encalhadas e gen-

te, possivelmente náufragos, em uma praiaao norte de Salvador. O Juruena, tendo sidorendido na altura de Salvador na escolta doJT, e aguardando para integrar-se no TJ se-

Com a diminuição daofensiva dos submarinos em

1944, foram empregados,isolados, para proteger um

único navio, o que nãoparece ter sido medida

aconselhável, como provou oafundamento do TransporteVital de Oliveira, que seguia

com um único caça-pauvarrendo em sua proa.

Havia também um perigopor que passavam quandopatrulhando isolados, em

mar picado, que era asemelhança que

apresentavam, para asaeronaves, com submarinos

na superfície

CS Juruena

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A GUERRA DE UM CAPITÃO-TENENTE

guinte, recebeu ordem de verificar a veraci-dade da mensagem aérea. Foram reconheci-dos os escaleres e as pessoas em umarestinga que se alongara para o sul da fozdo Rio São Francisco, detendo o fluxo daágua, o qual seguia paralelamente à costa,detido pela restinga. Encontrando a resis-tência de um rochedo, abrira para o mar, nachamada (como informou um pescador)“barra nova”, pouco ou nunca utilizada. Oproblema apareceu: retirar os náufragos pelolado do mar, fazendo-os romper as vagasremando as embarcações, seria impossível.Teriam que ser recolhidos por dentro darestinga e, assim, iríamos cruzar a desco-nhecida passagem, com vagas quebrando.Também era impensável abandonarmos oshomens. Fiando-nosno pouco calado e namanobrabilidade docaça, resolvemos ten-tar o cruzamento,aproando para umaparte da abertura maislisa, com um oficialacompanhando peloecobatímetro quantaágua tínhamos embai-xo da quilha, ao mes-mo tempo que fixáva-mos um alinhamentode árvores da margem com o do rumo queseguíamos, a fim de garantir a saída. Tive-mos êxito. Ao varar a barra, sondamos trêsmetros, logo aprofundando ao ficarmos pro-tegidos pela restinga.

Uns 20 homens foram transportadospor botes de borracha para bordo doJuruena. Eram náufragos do mercante daRoyal Mail Nebraska, torpedeado no meiodo Atlântico, e estavam havia dez dias nomar. Naquele momento tínhamos de sairda restinga. Procuramos manter pela popao mesmo alinhamento da entrada, o que,tratando-se de árvores, era difícil. E real-

mente o ecobatímetro deu-nos um susto,sondando apenas um metro. Estávamosno caminho errado. Modificamos o rumo,contando mais com a sorte. Aliviados,chegamos a águas mais profundas. Masnão acabaríamos, entretanto, a missão semvítimas, de diferente e inesperada espé-cie. Cedemos os beliches para oscansadíssimos ingleses e como, apesar debem nutridos, estavam com os estômagossensíveis, pois haviam comido apenas ra-ções desidratadas, servimos-lhes só umchá com biscoitos para que se fossemacostumando. No meio da noite, entretan-to, na viagem para Salvador, acordaram eforam para o convés, onde mantínhamosumas caixas com frutas, não sendo nos

caças o rancho muitoseguro. Estavam chei-as de laranjas daBahia. Eles não resis-tiram, devoraram-nas.Os estômagos reagi-ram. Desembarcamospela manhã com qua-tro deles afogados...em suco de laranja.

Duas outras tarefaslevaram o Juruena aoMaranhão e a Belém,ambas com aconteci-

mentos não muito ortodoxos. Devíamos es-coltar, de São Luís a Recife, um transportecom destacamento do Exército que iria inte-grar a projetada Segunda Divisão da FEB.Para sua segurança, a operação foi cercadade segredo. Recebemos ordem de chegar ànoite, fundear ao largo, só o comandante ir aterra, a paisana, para encontro na Capitaniado Porto com a autoridade do Exército. A tro-pa seria embarcada à meia-noite, naturalmen-te em silêncio. O sentimento patriótico e oentusiasmo foram mais fortes: à meia-noite,luzes, música, vivas aclamaram aqueles queiam para a guerra! Mas chegaram a Recife...

Uns 20 homens foramtransportados por botes de

borracha para bordo doJuruena. Eram náufragos

do mercante da Royal MailNebraska, torpedeado no

meio do Atlântico, e estavamhavia dez dias no mar

RMB3oT/2009 35

A GUERRA DE UM CAPITÃO-TENENTE

Os Estados Unidos julgaram que a pro-dução de borracha na Amazônia não esta-va sendo suficientepara as necessidadesda guerra (a Malásiana mão dos japone-ses). Eram poucos ospeões que mergulha-vam na floresta para“ordenhar” as serin-gueiras. Solicitaramentão que recrutásse-mos no Nordeste um“Exército da Borra-cha” (foi o nome quederam), com uniforme,treinamento, e salário.O “Exército” seria le-vado para Belém e, daí,para o Amazonas. E oJuruena seguiu escol-tando um navio trans-portando o primeirolote dos borracheiros.

Tudo indicava, en-tretanto, que as pro-messas heroicas e ten-tadoras, feitas no re-crutamento, não esta-

vam coincidindo com a realidade, especial-mente a bordo: os passageiros mantidos no

porão, comida detestá-vel, enjoo etc. Revol-taram-se. O comandan-te do mercante, sentin-do o movimento cres-cer, encontrou uma so-lução para coibi-lo. Pe-diu-me que lançasseumas bombas de pro-fundidade à vista deseu navio, com o quepoderia dizer aos rebel-des que se acalmassemporque havia perigo desubmarinos. E assimfoi feito, com trêsgêiseres se elevandona frente do navio. E otruque funcionou, por-que não houve maisqueixas. Foi a primeirarebelião conhecida,creio que única, domi-nada com bombas deprofundidade.

Um ano terminou,com ele também meu

Havia dez anos estava nomar, sendo que nos três

últimos quase não indo emcasa

O sacrifício valera.Eu fizera parte dos muitos

que cumpriram missãoessencial para o Brasil:

a proteção dotráfego marítimo

Adquirira uma mentalidade

operativa, que se refletiuna recomposição da

Marinha do pós-guerra,com resultados usufruídos

até hoje

O Governo dos EstadosUnidos concedeu, em1948, ao CT Leoncio aMedalha do MéritoMilitar, por condutaexcepcional em trabalhoconjunto com a QuartaEsquadra Norte-Americana no comandodo CS Juruena, naSegunda Guerra Mundial

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A GUERRA DE UM CAPITÃO-TENENTE

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS>; Marinha do Brasil; Segunda Guerra Mundial; Caça-submarino;

primeiro comando e a guerra. Em fevereirode 1945 fui nomeado instrutor da EscolaNaval. Havia dez anos estava no mar, sen-do que nos três últimos quase não indo emcasa. O mundo mudara, o Rio de Janeiromudara, minha família mudara – e eu nãopercebera, enclausurado nas “torres de fer-ro” (e madeira...) dos navios. O sacrifíciovalera. Eu fizera parte dos muitos que cum-priram missão essencial para o Brasil: a pro-teção do tráfego marítimo. E adquirira, comotodos que participaram, direta ou indireta-

mente, das operações, uma mentalidadeoperativa, que se refletiu na recomposiçãoda Marinha do pós-guerra, com resultadosusufruídos até hoje. Mas a continuada au-sência fizera-me, na volta, desligado deminha vida particular de antes da guerra –convívio, amizades, hábitos. Os meus pais,muito doentes, faleceram em seguida. Afamília tomou outra feição. Era uma novaexistência, profissional e pessoal, que co-meçava. Tive que me adaptar. O primeiropasso: casei-me.

SUMÁRIO

AntecedentesO TebiquariO esclarecimento terrestre de 4 de junhoO apoio da Esquadra ImperialO forçamento de Tebiquari e o bombardeio de San Fernando pela Esquadra ImperialO bombardeio de Fortim pela Esquadra Imperial

A MARINHA IMPERIAL NEUTRALIZA ASFORTIFICAÇÕES DE TEBIQUARI*

A Marinha Imperial na Guerra do Paraguainão foi só Riachuelo

LUIZ EDMUNDO BRÍGIDO BITTENCOURTVice-Almirante (Refo)

ANTECEDENTES

Após três anos e meio da invasãoparaguaia à Argentina e ao Brasil, as

tropas aliadas, em 25 de julho de 1868, en-

tram em uma Humaitá abandonada, sufocadaque foi pelo bloqueio imposto pela MarinhaImperial e pelas tropas de Caxias.

Conquistado o grande baluarte inimigo,as tropas prosseguem para o norte rumo a

* N.A.: Este artigo baseia-se na magnífica obra História da Guerra entre a Tríplice Aliança e o Paraguai,em cinco volumes, com mais de 1.870 páginas, de autoria do General de Divisão Augusto TassoFragoso, editada em 1934 pela Imprensa do Estado-Maior do Exército, e inclui inúmeras outrasinformações contidas na bibliografia. Preferi não fazer paráfrases e abusar das transcrições paraobter mais autenticidade nos relatos.

É também parte de um trabalho maior sobre as ações bélicas de toda a guerra, com o propósitode dar à massa da oficialidade uma visão geral, fácil de ser lida, ressaltando a participação da Marinhanaqueles longos anos de beligerância, com a esperança de que os mais jovens se motivem paraempreender novas pesquisas.

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A MARINHA IMPERIAL NEUTRALIZA AS FORTIFICAÇÕES DE TEBIQUARI

A história da guerra da Tríplice Aliança e o Paraguai. Gen. Tasso Fragoso – Volume IV págs. 12/13

De CORRIENTES até TEBIQUARIRascunho feito pelo autor baseado em mapa deFragoso – vol. IV, págs. 8/9 e outros.

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A MARINHA IMPERIAL NEUTRALIZA AS FORTIFICAÇÕES DE TEBIQUARI

Assunção. Interpõe-se como primeiro obs-táculo a travessia do Rio Tebiquari, em cujafoz, na Ilha de Fortim, os paraguaios cons-truíram fortificações.

Coube à Marinha Imperial destruí-laspara possibilitar a passagem de Caxias rumoao norte.

Este artigo pretende contar como issofoi feito.

O TEBIQUARI

Na confluência do Tebiquari, o RioParaguai faz uma curva de 90º, criando con-dições favoráveis à defesa da posição, talcomo em Curupaiti, Humaitá, Timbó e, maistarde, Angustura.

“A largura do Tebiquari, na sua conflu-ência com o Paraguai, mede cerca de 500jardas, e o Paraguai... precisamente 330. Azona de confluência forma uma ilha de ter-ra firme que se estende 2.000 jardas peloParaguai acima e 200 pelo Tebiquari. Co-nhecem-na sob a denominação de Fortim...todo terreno, quer do lado do Tebiquariquer do Paraguai, é um verdadeiro carriçal,*de modo que seria... materialmente impos-sível estabelecer baterias nas imediaçõespara hostilizar Fortim.”1(Thompson)

A quatro milhas para dentro da Ilha doFortim situa-se San Fernando, onde Lópezse instalou com seu QG após ter deixadoHumaitá.

Fortim tinha duas baterias: a da extremi-dade de jusante montava sete peças de oitopolegadas e duas de calibre 32, e a de mon-tante, distante 2.000 jardas, montava duaspeças de 8 polegadas e três de calibre 32.Havia também uma bateria de doisobuseiros raiados de 32, na margem do

Tebiquari, com o propósito de impedir qual-quer desembarque dos aliados.

Todas as baterias eram guarnecidas por300 homens.2 (Thompson)

O ESCLARECIMENTO TERRESTREDE 4 DE JUNHO**

Na tarde de 4 de junho de 1868, o Gene-ral João Manuel Mena Barreto partiu deTaií rumo ao norte com as seguintes ins-truções de Caxias: “...marchará pela estra-da mais próxima da margem do Paraguaiaté a barra do Tebiquari... fará bater quais-quer forças inimigas que por aí encontrar...No caso de... ao chegar em Tebiquari nãoencontre ali o inimigo, fará passar algunsexploradores bem montados ao outro ladodo rio, com o fim de saber notícias do exér-cito de López... Não consentirá V. Exa. quese queime ou destrua nenhuma proprieda-de que pertença a particulares, mas faráqueimar todos os ranchos... onde consteque se abriga o inimigo ou tenha ele osseus depósitos... exortando as nossas tro-pas que tanto vigor lhes cumpre ter com oinimigo enquanto combaterem, com huma-nidade com os vencidos”3. (Caxias)

À esquadra determinou que fizesse su-bir o rio quatro encouraçados para apoiartoda a operação terrestre.

J. M. Mena Barreto abalou de Taií commil homens de cavalaria; mais tarde deveri-am juntar-se a ele 400 argentinos.

Às 8 horas do dia 6, os brasileiros de MenaBarreto chegaram às proximidades do Passoda Posta sobre o riacho Jacaré, último obstá-culo antes do Tebiquari. Uma patrulha en-controu o Passo da Posta e o da Estância (3km a montante) guarnecidos por soldados

* N.A.: Carriçal – “Terreno cortado por profundas lagoas e atoleiros intercalados de bosques impenetrá-veis e espessos matagais de 3 metros de altura. Quando o rio cresce, o carriçal fica inteiramentecoberto pelas águas, com poucas exceções. Quando o rio baixa, podem-se fazer veredas entre aslagoas” (Thompson)

** N.A.: Caxias continuava a pensar mais adiante. Humaitá só cairia a 25 daquele mês.

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paraguaios, o que não aconteceu com o Pas-so das Ovelhas, outros 3 km acima.

Ao amanhecer do dia 7, os brasileirosatravessaram o Rio Jacaré no Passo dasOvelhas – 40 caçadores e 14 lanceiros emcanoa e 200 homens a nado “armados delança e montados em pelo”, liderados pelosseus chefes, um tenente-coronel e dois ma-jores.4 (Fragoso) Antes de chegarem à Fa-zenda Jacaré, foram atacados por “grossascolunas de infantaria e cavalaria ameaçan-do cortar-lhes a retirada”.5 (Fragoso) Bate-ram em retirada ordenada e cruzaram nova-mente o rio, protegidos pela artilharia quehavia permanecido na margem esquerda.

Considerada cumprida a missão do reco-nhecimento, os brasileiros (agora com osargentinos) iniciaram o regresso às 15 horasdo dia 7, chegando a Taií na noite do dia 8.

O APOIO DA ESQUADRA IMPERIAL

Às 6 horas do dia 5 de junho de 1868, ochefe Delphim de Carvalho (Barão da Pas-sagem), com seus navios Bahia (com oAlagoas a contrabordo) e Barroso (com oRio Grande), suspendeu de Taií, chegan-do às proximidades da foz do Tebiquari às17 horas, sem ter sido molestado. Fundeouum pouco abaixo daquele ponto.

De lá, foram observadas “novas e im-portantes fortificações estabelecidas namargem esquerda do Rio Paraguai”6 (Partedo chefe Delphim). O Alagoas avançoupara reconhecê-las melhor quando as bom-bardeou com alguns tiros. À noite, novobombardeio, agora por todos os navios.

Ao amanhecer do dia 6, Delphim sus-pendeu com toda a divisão, aproximou-see fez novo esclarecimento: “... na pontaacima da foz do Tebiquari, ..., tem uma ba-teria de mais duas peças de grosso calibreque fizeram fogo para os navios... O inimi-go rompeu fogo logo que os navios seaproximaram de suas baterias... e verificou-

se não haver correntes, torpedos ou outroqualquer obstáculo na ocasião...[Após oreconhecimento, toda a divisão assumiuposição e bombardeou] ativamente todo odia e durante a noite até às 9 horas da ma-nhã seguinte”7. (Parte do Chefe Delphim)

Assumido que a missão de reconheci-mento e apoio tinha sido cumprida, todosregressaram a Taií, onde fundearam às15h30 do dia 10.

O FORÇAMENTO DE TEBIQUARI EO BOMBARDEIO DE SANFERNANDO PELA ESQUADRAIMPERIAL

Ainda antes da queda de Humaitá, a 21 dejulho de 1868, Caxias determinou que quatroencouraçados fossem “bombardear as no-vas posições do inimigo em San Fernando eaprisionar os navios que porventura se atra-vessassem nas imediações”8. (Fragoso)

O comandante da Divisão Avançada –Chefe Delphim, Barão da Passagem –, comos encouraçados Bahia, Silvado, Cabrale Tamandaré e os monitores Piauí,Alagoas e Pará, suspendeu às 15 horasdaquele mesmo dia rio acima.

Em frente a Andaí, deixou o Cabral, oTamandaré e o Pará com ordem para bom-bardear a bateria inimiga existente abaixode Guaicuru e que importunava nossas tro-pas em luta no Chaco.

Os outros quatro navios fundearam emfrente a Timbó e a bombardearam de 16 ho-ras às 19h30. Às 21 horas chegaram a Taií.

Às 15 horas do dia 23, fundearam aoalcance dos canhões de Tebiquari. De ime-diato começaram a bombardear a posiçãoinimiga, que respondeu ao fogo.

Para cumprir a sua missão – bombarde-ar San Fernando –, os navios deveriam for-çar as baterias de Tebiquari navegando porum canal estreito e tortuoso e, segundoinformações, defendido por torpedos.

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A MARINHA IMPERIAL NEUTRALIZA AS FORTIFICAÇÕES DE TEBIQUARI

Cedo pela manhã do dia 24, o Barão daPassagem, dignificando o seu título, maisuma vez liderou um forçamento de passa-gem fortificada e navegou rio acima com oBahia (com o Alagoas a contrabordo) e oSilvado. Logo que investiram pelo canal,foram recebidos com fogos cruzados e con-vergentes de todos os canhõesparaguaios. Os brasileiros responderamcom vigor e continuaram rio acima.

Um tiro feliz de grosso calibre acertouuma das arestas da torre de comando doBahia, matando o prático, o Segundo-Tenente Luiz Repeto. O local ficou atu-lhado de escombros e cadáveres; o lemenão pôde mais funcionar livremente. Oprático Picardo, do Alagoas, passou parao Bahia e começou amanobrar o par denavios com as máqui-nas do encouraçadoavariado.

Às 10 horas, oforçamento havia sidorealizado com sucesso.

O Barão da Passa-gem continuou rio aci-ma um pouco mais, atéque descortinou o acampamento de SanFernando. Os três navios imediatamente ini-ciaram o bombardeio.

Com o Bahia, aquele chefe alcançoumais adiante o Arroio Recado, onde a gran-de distância foram avistados, através damata espessa, as chaminés de dois vapo-res. Passagem mandou o Alagoas penetrarno arroio e destruir os vapores inimigos,porém avaria na maquina e falta de práticofizeram com que o ataque fosse cancelado.

Ainda no dia 24, os três navios desceramo rio, forçaram as baterias de Tebiquari nova-mente e fundearam junto aos que ficaram.

Às 12 horas do dia 25, Passagem sus-pendeu com todos os seus navios, e às 17horas fundeou na embocadura da LagoaTimbó, onde pernoitou.

Na manhã do dia 26, o Rio Grande pe-netrou na Lagoa Timbó por cerca de 18 km,em reconhecimento: nada foi encontradode importância.

A divisão avançada chegou de volta aTaií às 17h30 do dia 26.

A descrição do ataque feita porThompson é bem mais rica em detalhes:

“Chegaram na tarde de 23 [de julho] e a24, o Bahia, com um monitor atracado aseu contrabordo de boreste*, e o Silvadopassam águas acima a todo vapor.

O rio era profundo em toda a largura, maso canal se encontravapróximo à bateria.

Para assegurar-mede que uma bala decada peça pegasseperpendicularmenteas chapas dos navios,coloquei os canhõesinteiramente retospara o rio, de maneiraque cada um fizesse

fogo sobre o vapor no momento de ele porali passar... então retomaram o canal e pas-saram a 18 jardas das peças, recebendotodas as suas balas. A maior parte destasexplodiram em mil pedaços, mas fizeram mui-tos danos; recolhemos um fragmento daschapas do Bahia de dez polegadas de es-pessura, o qual havia saltado para a terradevido à força do golpe! [e da proximidadedo navio].

Um dos encouraçados passou quasetodo um dia ao largo de Monte Lindo repa-rando suas avarias. Os outros dois bom-bardearam os vapores... que estavam no

* N.A.: Penso que Thompson se enganou. A prática até então era colocar o monitor a salvo dos tirosinimigos, portanto o monitor deveria estar atracado a contrabordo por bombordo do encouraçado.

Recolhemos um fragmentodas chapas do Bahia de dezpolegadas de espessura, oqual havia saltado para a

terra devido à força dogolpe!

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Riacho Recodo... e o bombardeio não lhescausou qualquer avaria...

[Um pouco mais tarde], repentinamen-te, o vigia avisou que o inimigo voltava.Vinham a todo vapor e com a correnteza aseu favor, desenvolviam uma velocidadetal que apenas tivemos tempo para apon-tar corretamente os canhões e prepará-lospara um só tiro. Apesar disso, cada peçaacertou uma bala à queima-roupa... chega-ram a cinco milhas abaixo, lá permanecen-do por três dias para reparar as suas avari-as antes de regressar a Taií.

Os encouraçados voltaram várias vezespara nos bombardear, mas não se atreve-ram a passar outra vez.”9

O BOMBARDEIO DE FORTIM PELAESQUADRA IMPERIAL

Atendendo ao pedido de colaboraçãoda esquadra feito por Caxias, os monitoresPará, Piauí e Rio Grande neutralizaram aartilharia de Fortim no dia 29 de agosto.

Thompson assim descreve as ações:“... três encouraçados subiram o rio

[Paraguai] e, depois de um reconhecimen-to minucioso, verificaram que somente per-maneciam três peças velhas de 32, pois asdemais haviam sido transportadas paraAngustura; seus lugares estavam vazios,mas não parecia, porque em seu lugar esta-vam suas capas protetoras de couro. O Ba-talhão 18 permaneceu no forte, com sufici-ente número de artilheiros para operaremas três peças.

Os encouraçados se acercaram da cos-ta tanto quanto lhes foi possível e, cercan-

do a bateria, tanto pelo Tebiquari como peloParaguai, romperam fogo.

Os soldados estavam perfeitamente acoberto quando não manejavam as peças epor isso suas perdas foram muito peque-nas; limitavam-se a fazer fogo sobre osencouraçados quando estes acabavam dedisparar seus canhões, tendo tempo sufi-ciente para voltar à carga antes que fizes-sem fogo novamente.

Isto se prolongou do dia 26 a 28, quandoMoreno [mais antigo de Fortim] recebeu or-dem de retirar-se atirando ao rio as três pe-ças; retirou-se durante a noite. Osencouraçados se surpreenderam muitíssimoquando perceberam, na manhã seguinte, queseus hóspedes haviam desaparecido.”10

No dia 31, o Barão da Passagem pene-trou no Tebiquari com o EncouraçadoBahia e os monitores Alagoas e Ceará atin-gindo Passo Real, onde deixou o trem depontes do Exército que transportavam, oque facilitou, e muito, a faina da travessiadas tropas.

Lá, encontrou-se com Caxias.Na subida do rio, os navios tinham “ata-

cado a artilharia de uma trincheira que osparaguaios tinham levantado, e ainda guar-neciam, na margem direita em frente ao Pas-so Real”11 (Fragoso), conseguindo “des-montar uma peça e saltar uma pontesuspensa sobre o fosso da mesma trinchei-ra”.12 (Diário de Caxias)

Uma vez dominada a Ilha do Fortim, se-guiu-se a travessia do rio pelas tropas deCaxias, sem oposição.

A Marinha Imperial havia cumprido oseu dever.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<GUERRAS> / Guerra do Paraguai ;

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A MARINHA IMPERIAL NEUTRALIZA AS FORTIFICAÇÕES DE TEBIQUARI

NOTAS

1. THOMPSON, George. La Guerra del Paraguay. Assuncion, Paraguai: [s.n.] 1869 (1ª ediçãoem Buenos Aires), p. 180.

2. ib, p. 181. 3. CAXIAS in FRAGOSO, Augusto Tasso (General de Divisão) História da Guerra entre a

Tríplice Aliança e o Paraguai, Rio de Janeiro, Brasil, Imprensa do Estado-Maior do Exército,1934, v. III, p. 418 e 419.

4. FRAGOSO, ib, v. II. P. 321. 5. ib, v. III, p. 421. 6. DELFIM, Chefe (Barão da Passagem). Parte de, in FRAGOSO ib, v. III. P. 422. 7. ib, v. III, p. 423. 8. FRAGOSO, ib, v. III, p. 438. 9. THOMPSON, ib, p. 182.10. ib, p. 193.11. FRAGOSO, ib, v. IV, p. 19.12. ib, ib.

BIBLIOGRAFIA

(1) FRAGOSO, Augusto Tasso (General de Divisão). História da Guerra entre a Tríplice Alian-ça e o Paraguai. Rio de Janeiro, Brasil: Imprensa do Estado-Maior do Exército, 1934 (5volumes com 1.873 páginas).

(2) THOMPSON, George. La Guerra del Paraguay. Assuncion, Paraguay: [s.n.], 1869 (1ªedição em Buenos Aires), 266 páginas.

SUMÁRIO

IntroduçãoAntecendentes

A Guerra de Independência de IsraelA Guerra dos Seis DiasA Guerra do Yom KippurO reconhecimento internacional da OLPA Guerra Civil do LíbanoOs Acordos de Camp DavidA Iniciativa de FezDe volta à Guerra Civil do LíbanoA Primeira IntifadaO Iraque ataca o KuwaitOs Acordos de OsloUm período de distúrbiosO Memorando de Wye RiverA Segunda IntifadaOs ataques terroristas aos EUACrepúsculo e morte de ArafatA vitória do HamasA Conferência de AnnapolisResposta desproporcional

Análise político-estratégicaA disputa pela terraO fracasso do Islã

PALESTINA: UMA TERRA, DOIS POVOS

ARMANDO AMORIM FERREIRA VIDIGALVice-Almirante (Refo)

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PALESTINA: UMA TERRA, DOIS POVOS

Os atores estataisOs EUAIrãSíriaLíbanoJordâniaEgitoArábia SauditaRússia

Atores multiestataisUnião EuropeiaNações UnidasLiga Árabe

Grupos PolíticosHezbollahHamasJihad IslâmicaFatah

Conclusão

INTRODUÇÃO

Para compreendermos as dificuldades re-lacionadas com o Oriente Médio, basta

atentarmos para o fato de que o conflitoenvolve basicamente judeus e muçulma-nos, os primeiros acusados de sionistaspor muitos analistas – o que significa into-lerância a tudo o que não é judeu – e depraticarem o terrorismo de Estado; os se-gundos, tidos por outros analistas comofundamentalistas islâmicos, radicais, que-rendo, por meio da violência (a jihad), im-por a todos a lei muçulmana (a sharia).

Certamente essas visões radicais nãonos permitem enxergar a realidade dessaconturbada região, já que a mídia, em boaparte, se posiciona num ou noutro dessespolos, dificilmente adotando uma posturaneutra e imparcial, que permitiria uma leitu-ra mais neutra das questões envolvidas.

Se isso ocorre com os que não estãodiretamente envolvidos, que não perderamamigos ou parentes nem tiveram sua pro-priedade roubada ou destruída, qual nãoserá a postura dos que dia a dia sofremesses percalços, como é o caso específicoda Palestina?

Isso, mais do que qualquer outra coisa,mostra as imensas dificuldades para umacordo que traga a convivência pacíficaentre palestinos e israelenses.

ANTECEDENTES

A Guerra de Independência de Israel

O movimento sionista surgiu na Euro-pa, no século XIX, como uma reação à per-seguição aos judeus naquele continente.Um dos seus principais objetivos era o es-tabelecimento de um lar nacional judeu naPalestina, à qual eles se sentiam ligadospor laços históricos e religiosos.

Já no início do século XX, com a evi-dência do desmoronamento do ImpérioOtomano, franceses e ingleses negociaramsecretamente o acordo que ficou conheci-do como Acordo Sykes-Picot – negociadoem 1915 e concluído em 1916 pelo inglêsMark Sykes e o francês Georges Picot –,que dividia os territórios árabes entre osdois países: o Reino Unido receberia o con-trole dos territórios correspondentes apro-ximadamente ao que hoje é a Jordânia egrande parte do Iraque, além de uma pe-

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PALESTINA: UMA TERRA, DOIS POVOS

quena área em torno de Haifa; à Françacaberia o controle do sudeste da Turquia,da Síria, do Líbano e de uma porção donorte do Iraque. A Palestina ficaria sob le-gislação internacional, aguardando acor-do com a Rússia e outras potências.

Mais tarde, o Acordo foi ampliado paraincluir a Itália e a Rússia. A Revolução Rus-sa de 1917 levou, porém, a público o Acor-do até então secreto, abrindo mão, assim,das reivindicações russas sobre o ImpérioOtomano. Em consequência dessa revela-ção, a desconfiança árabe com o Ocidenteaumentou.

Em 1917, como in-tuito de mobilizar osjudeus na guerra aolado da Entente, os bri-tânicos, pela Declara-ção Balfour, apoiarampublicamente a preten-são judia para um lar naPalestina, mas, termi-nada a Primeira GuerraMundial, o único fatoconcreto foi a retiradaotomana dos territóri-os que correspondiam à Palestina.

Os palestinos, por sua vez, alegaram queoficiais ingleses (clara referência a Lawrenceda Arábia), para fomentar a revolta árabecontra o domínio otomano, acenaram du-rante a Primeira Guerra Mundial com a cria-ção de um Estado árabe na mesma área.

Até aproximadamente 1920, o interessecolonial no Oriente Médio era predominan-temente estratégico: o Reino Unido procu-rava facilitar a comunicação com a Índia,sua principal colônia; para a França, a pro-ximidade com suas colônias da África doNorte era a principal motivação. Os fatoreseconômicos eram ainda secundários, poiso petróleo, embora já despertasse um inte-resse cada vez maior, não tinha ainda a im-portância que tem hoje.

Em julho de 1922, a Liga das Nações rati-ficou praticamente a partilha estabelecidano Acordo, ficando, porém, a Palestina sobmandato britânico até que a partilha pudes-se ser implementada.

Desde a declarada intenção sionista decriar uma pátria na Palestina, a imigração dejudeus não parou de crescer: no início dosanos 20 o número de judeus na Palestina ha-via praticamente dobrado, atingindo 85 mil.Mais tarde, mesmo sob mandato inglês, osjudeus continuaram chegando, o que provo-cou uma série de revoltas da população ára-be, em especial no período entre 1936 e 1939.

A disputa por terras foia principal motivaçãopara essa série de con-flitos. Em 1947, já havia600 mil judeus na Pales-tina para cerca de 1,3milhão de árabes, quequeriam não só inter-romper a vinda de no-vos judeus, mas exigi-am a independência,pondo fim ao mandatoinglês, criando um Es-

tado palestino na área. Há um fato que nãopode deixar de ser considerado em qualqueranálise do Oriente Médio: tanto a Palestinacomo as demais colônias estabelecidas naregião com o desmoronamento do ImpérioOtomano não correspondiam a nenhum Es-tado preexistente: as novas fronteiras sepa-raram em diversos pedaços o que antes cons-tituía uma única sociedade, estabelecida pormais de um milênio, com uma economia co-mum, e que se encontrava num processo deconscientização de ter um destino comum. Oideal de uma unidade política que unisse to-dos os árabes ressurgiria mais tarde, sendo abase do pan-arabismo.

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, alembrança do Holocausto, que vitimaramais de 6 milhões de judeus, mortos pelos

As novas fronteirassepararam em diversos

pedaços o que antesconstituía uma única

sociedade, estabelecida pormais de um milênio, comuma economia comum

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PALESTINA: UMA TERRA, DOIS POVOS

nazistas, criou um ambiente internacionalfavorável aos judeus, o que veio a propici-ar o estabelecimento de um Estado judeuna Palestina, evidentemente em detrimen-to das pretensões palestinas1. Emconsequência, a Organização das NaçõesUnidas (ONU), que substituiu a fracassa-da Liga das Nações, aprovou, em 1947, apartilha da Palestina (Resolução 181): osjudeus ficariam com 56% do território, fi-cando o restante com os palestinos2.

Os árabes rejeitaram de pronto a divi-são, dando início a um conflito em que osjudeus, tendo imedia-tamente declarado aindependência de Isra-el3, foram atacadospor uma coalizão deEstados árabes – Egi-to, Síria, Líbano eTransjordânia. Para osjudeus, essa guerra éconhecida como Guer-ra de Independênciaou Guerra da Libera-ção, enquanto para osárabes como a Catástrofe ou o Desastre(nakba).

Apesar de as forças árabes serem maisnumerosas e mais bem equipadas, a vitóriade Israel foi incontestável: ocupavam, aofim do conflito, 75% do território da Pales-tina – os 14.500 km2 que lhes cabiam pelapartilha e mais 6.500 km² da parte que cabe-ria aos palestinos. O conflito provocou afuga de cerca de 500 mil palestinos das áre-as ocupadas por Israel, que se dispersa-ram por todo o Oriente Médio, especial-

mente na Jordânia, o que, ainda hoje, cons-titui um dos formidáveis obstáculos para apacificação da região. O território restanteda Palestina ficou com a Transjordânia, queocupou a Cisjordânia, e com o Egito, queassumiu a responsabilidade sobre a Faixade Gaza, até que se pudesse organizar umEstado palestino.

Ainda durante o conflito, a Assembleiadas Nações Unidas aprovou a Resolução194, na qual, em um dos artigos, ficou esta-belecido que “os refugiados que quises-sem voltar para os seus lares e viver em

paz com seus vizinhosdeveriam ser permiti-dos de fazê-lo o maiscedo possível” e osque não quisessemdeveriam ser indeniza-dos. Para os palesti-nos, essa Resoluçãolhes dava o “direito devoltar”.

Noutros artigos, fi-cou estabelecido o di-reito de todos à prote-

ção e o livre acesso aos lugares sagrados ea Jerusalém, que ficaria sob controle dasNações Unidas.

Todas as tentativas de resolver a ques-tão dos refugiados têm sido inúteis, pois osEstados árabes se recusam a conceder anacionalidade a eles, preferindo mantê-losem condição de refugiados permanentes.

De janeiro a julho de 1949, foram assi-nados os armistícios com Egito, Líbano,Transjordânia e Síria. As fronteiras de Isra-el ficaram as resultantes da guerra. O não

1 É verdade que essa boa vontade internacional foi “estimulada” por atentados terroristas judeus contrainstituições inglesas na Palestina, como, por exemplo, o ataque ao quartel-general inglês, o HotelRei David, em 1946.

2 A partilha seguiu aproximadamente o disposto pela Comissão Peel, em 1937, cujo relatório, ao ser divulga-do, provocou o exílio do Grão Mufti de Jerusalém para o Líbano, tendo em vista que ele, não aceitandoa resolução da comissão, incitou os árabes à violência e, por suas atitudes, inibiu a ação dos moderados.

3 Logo reconhecida pela França, os EUA e a URSS.

Israel consolidou suaindependência e, consciente

do antagonismo árabe,procurou construir um

poder militar muitosuperior ao de seus

inimigos

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PALESTINA: UMA TERRA, DOIS POVOS

reconhecimento por parte das nações ára-bes do Estado de Israel fez com que acor-dos de paz só fossem assinados muito maistarde e, mesmo assim, apenas com algunsdesses Estados.

Em 1950, a Cisjordânia foi anexada pelaTransjordânia, constituindo-se assim oEstado da Jordânia.

Nos anos que se seguiram, Israel con-solidou sua independência e, conscientedo antagonismo árabe, procurou construirum poder militar muito superior ao de seusinimigos, que considera ainda como únicagarantia da sua sobrevivência. A aprova-ção pelo Knesset, oParlamento israelense,da Lei do Retorno, em1950, que asseguravaaos judeus que vies-sem para a Terra Santaa imediata cidadania,fez com que mais 500mil chegassem, soma-dos a outros tantosvindos logo depois daindependência e aindaantes da lei. Esses imi-grantes vinham deuma Europa devastada pela guerra ou pro-vinham de países árabes, de onde haviamsido expulsos. O crescimento da popula-ção judia levaria, um pouco mais tarde, ogoverno israelense a estabelecer assenta-mentos nos territórios palestinos, confor-me veremos adiante.

A guerra fria teve efeitos no mundo ára-be, dividindo-o em dois grupos antagôni-cos (o mesmo aconteceu em todo o mun-do): de um lado, a Arábia Saudita, ossultanatos e emirados peninsulares, aJordânia e o Marrocos, além de alguns ou-tros, alinharam-se com os EUA; do outrolado, alguns países, em especial o Egito, aSíria, o Iraque, a Argélia e a Líbia, alinha-ram-se com o bloco soviético, defendendo

uma união dos países árabes (pan-arabismo) e um socialismo de estado.

A Guerra dos Seis Dias

Sem dúvida, a grande figura desse perí-odo, que se tornou o símbolo do pan-arabismo, foi Gamal Abdel Nasser, do Egi-to. Seu fracasso na grande empreitada le-vou igualmente ao fracasso da ideia da as-sociação dos países árabes numa unidadepolítica.

Nasser, em 1956, de forma unilateral, na-cionalizou o Canal de Suez, fechando o por-

to do Eilat, ameaçan-do assim os projetosde Israel de irrigaçãodo Deserto de Negeve cortando a sua úni-ca via para o Golfo deAqaba, no Mar Verme-lho. Com o apoio detropas da França e doReino Unido, que nãoaceitaram a nacionali-zação do Canal, Israelconquistou a penínsu-la do Sinai e controlou

o Golfo de Aqaba, reabrindo o porto deEilat.

Por pressão conjunta dos EUA e daURSS – esta, querendo evitar a derrota doEgito, ameaçou intervir –, as tropas dostrês países retiraram-se para suas posiçõesiniciais. Nasser transformou uma derrotamilitar numa importante vitória política, oque lhe deu enorme prestígio junto às mas-sas árabes: ele manteve o controle sobre ocanal, comprometendo-se em troca apenasa mantê-lo, bem como o porto de Eilah, aber-to para a navegação mundial.

A principal consequência desse fato,além do aumento do prestígio de Nasser,foi trazer a União Soviética para o debatesobre as questões do Oriente Médio.

As diferenças entre ospaíses árabes eram

maiores do que qualquerdesejo de integração, e opan-arabismo não passou

de um sonho de uns poucosidealistas distantes da

realidade

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PALESTINA: UMA TERRA, DOIS POVOS

O prestígio de Nasser no Terceiro Mun-do4 e sua imensa popularidade entre asmassas árabes deram um impulso ao pan-arabismo. Em 1958, o Egito e a Síria uniram-se numa entidade política, a República Ára-be Unida (RAU), que deveria ser o núcleoem torno do qual se aglutinariam aos pou-cos os demais países árabes. Isso, porém,não aconteceu – a única exceção foi oIêmen, que aderiu à RAU algumas sema-nas depois da sua criação – e, dois anosmais tarde, a união se dissolveu, a pedidoda Síria. As diferenças entre os países ára-bes eram maiores do que qualquer desejode integração, e o pan-arabismo não pas-sou de um sonho de uns poucos idealistasdistantes da realidade.

Em 1960, por sugestão da Venezuela, foicriada a Organização dos Países Produto-res de Petróleo (Opep), para controlar e re-gular os preços e os estoques de petróleono mundo (na verdade, constituíram umcartel). A adesão de países do Oriente Mé-dio à Organização – Arábia Saudita,Emirados Árabes, Irã, Iraque, Kuwait eQatar – fez com que a Opep passasse a terum papel importante nas questões da re-gião, influindo no rumo dos acontecimen-tos, especialmente durante e logo após aGuerra do Yom Kippur, conforme iremos ver.

Numa reunião de cúpula dos países ára-bes no Cairo, em 1964, decidiu-se criar, sobos auspícios da Liga Árabe, a Organizaçãopara Libertação da Palestina (OLP), umacoalização de grupos palestinos naciona-listas e marxistas que não reconheciam oEstado de Israel, exigiam a volta dos refu-

giados palestinos e o reconhecimento daautonomia da Palestina. A coalizão era li-derada pelo Movimento para Libertação daPalestina (Al Fatah), que, com base naJordânia, iniciou uma série de ataques con-tra Israel. Com a OLP, sob o comando deYasser Arafat, os palestinos passaram aocupar um lugar conspícuo no campo polí-tico, embora ainda com ingerência do Egi-to e da Jordânia, que ocupavam, respecti-vamente, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia,inclusive Jerusalém Oriental.

Ainda apoiado em seu enorme prestígio,Nasser, em maio de 1967, provocou o aumen-to das tensões com o Estado judeu, concen-trando tropas na fronteira do Egito com Isra-el, o mesmo fazendo a Jordânia. Israel, dessaforma ameaçado, desencadeou um ataquepreemptivo5 contra os dois países. A Sírialogo veio em socorro do Egito e da Jordânia.

Na manhã do dia 5 de junho, a força aé-rea israelense atacou nove bases aéreasegípcias, destruindo a sua aviação antes queesta pudesse deixar o solo. Simultaneamen-te, forças blindadas israelenses investiramcontra a Faixa de Gaza e o norte do Sinai econtra-atacaram as tropas da Jordânia quehaviam atacado em Jerusalém. Logo todo oSinai ficou sob controle de Israel, assim comotoda a Cisjordânia, o setor oriental de Jeru-salém e as Colinas de Golã, na Síria.

Foi uma humilhante derrota para os ára-bes, e o cessar-fogo manteve os israelen-ses na posse de todos os territórios quehaviam ocupado6. O número de refugiadospalestinos aumentou consideravelmente,principalmente na Jordânia e no Egito. Tan-

4 Só Nehru teve mais prestígio do que Nasser junto ao Terceiro Mundo. Afastado das complexidades do OrienteMédio, ele pôde ser mais tolerante do que Nasser e, portanto, foi capaz de granjear mais simpatia.

5 Um ataque preemptivo, diferentemente de um ataque preventivo, é um ataque em resposta a umaameaça clara e iminente, como caracterizado tanto pela disposição das tropas egípcias e jordanianasna fronteira com Israel, como pela ordem de Nasser para que os soldados da ONU se retirassem dafronteira, bem como pelo bloqueio do Golfo de Aqaba etc.

6 Já no primeiro dia, os árabes haviam perdido 400 aviões contra 20 de Israel. Ao final, tanto a forçaaérea egípcia como a jordaniana haviam sido completamente destruídas; os árabes perderam 18 milhomens e Israel 766.

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to o Egito como a Síria, graças ao apoiorecebido, estreitaram as relações com aURSS e começaram a adquirir novos arma-mentos soviéticos, dessa forma envolven-do definitivamente a União Soviética nasquestões do Oriente Médio.

Pela Resolução 242, de 1967, a ONU de-terminou a retirada israelense dos territóri-os ocupados e o regresso dos refugiadospalestinos. Israel ignorou a Resolução eanexou Jerusalém oriental ao seu território.

A derrota não mudou a posição árabeanti-Israel. Numa reunião da Liga Árabe, emoutubro de 1967, em Cartum (Sudão), ospaíses árabes adotaram a política dos trêsnãos: não ao reconhecimento, não à nego-ciação e não à paz comIsrael. Para eles, a Re-solução da ONU nãopassava de mera ex-pressão de desejos,sem significado maior.

A morte de Nasser,em 1970, sem recuperaros territórios perdidos– ele foi substituído porAnwar Sadat –, marcou o fim de um períodoem que o Estado secular parecia ser a solu-ção para os países árabes. O fracasso deNasser assinalou o fracasso do Estado secu-lar como instrumento da modernização domundo árabe. O Estado religioso, conduzidodentro da lei muçulmana, a xaria, vai surgircomo a nova instituição capaz de tirar o mun-do árabe de seu atraso em relação ao Ociden-te. A vitória da revolução iraniana contribuirásignificativamente para isso.

A Guerra do Yom Kippur

A grande quantidade de refugiados pa-lestinos na Jordânia, por volta de 1970, cau-

sava uma série de dificuldades no país, pois,afinal, eles representavam quase a metadeda população total. A OLP7 passou a atri-buir à má vontade dos dirigentesjordanianos os problemas enfrentados pe-los palestinos e tentou derrubar a monar-quia Hashemita. Em junho de 1970, os mem-bros da OLP fracassaram numa tentativade assassinar o Rei Hussein, além de reali-zarem uma série de sequestros de aviões efazer reféns para obrigar Israel a ceder àspretensões palestinas. Em setembro, as tro-pas de Hussein atacaram os palestinos,com o intuito de livrar-se dos guerrilheirosda OLP, seguindo-se conflitos graves queteriam causado quase 10 mil baixas entre

os palestinos. A Síriatentou intervir a favordos palestinos comuma divisão blindada,mas esta foi derrotadapelas tropas jorda-nianas. Este infelizacontecimento fi-cou conhecido comoSetembro Negro. Os

israelenses pensavam em intervir a favorda Jordânia, mas, pelo desenrolar dos acon-tecimentos, isso não foi necessário. Cercade dez meses mais tarde, a OLP tinha sidoexpulsa da Jordânia, dirigindo-se para o suldo Líbano, o que, como veremos, teria vá-rias consequências.

Uma pequena célula de homens da al-Fatah, determinada a se vingar de Hussein ede seus homens, mas sem se afastar do seuobjetivo central de se opor a Israel, juntou-se a outros grupos fundamentalistas e fun-dou a Organização do Setembro Negro, tris-temente célebre pelo ataque à vila olímpicados Jogos de Munique, em 1972, quandoseus membros mataram dois atletas israe-

7 Desde 1969, a OLP tornou-se independente, sob a presidência de Yasser Arafat, deixando de ficar soba tutela da Liga Árabe.

Os países árabes adotarama política dos três nãos:não ao reconhecimento,

não à negociação e não àpaz com Israel

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PALESTINA: UMA TERRA, DOIS POVOS

lenses e fizeram outros nove atletas reféns,exigindo a libertação de centenas de pales-tinos presos em Israel. Os israelenses, porprincípio, recusaram-se a negociar. Os fun-cionários alemães concederam livre trânsitoaos sequestradores para se dirigirem ao Egi-to, mas, ainda no aeroporto, agentes israe-lenses fizeram uma trágica tentativa para li-bertar os reféns, do que resultou a morte detodos eles e de cinco dos oito sequestrado-res, além de um policial alemão (os trêssequestradores sobreviventes foram desdeentão perseguidos pelo serviço secreto deIsrael até serem mortos).

Inconformados com a não devolução porIsrael dos territórios perdidos durante aGuerra dos Seis Dias, Egito e a Síria ataca-ram de surpresa Israel quando os judeuscelebravam o Dia do Perdão (Yom Kippur), a6 de outubro de 1973. Essa guerra ficou co-nhecida como a Guerra do Yom Kippur, ouGuerra de Outubro. Apanhados de surpre-sa, os israelenses recuaram, permitindo queas forças egípcias penetrassem até 15 qui-lômetros no seu território. Logo, porém, rea-giram violentamente ao ataque, bombarde-ando com sua força aérea Damasco e cer-cando os exércitos egípcios no Sinai. A in-gerência violenta da União Soviética, amea-çando intervir no conflito, levou os EUA eas Nações Unidas a atuarem no sentido deconter Israel, do que resultou um cessar-fogo, a 26 de outubro, que impediu a des-truição dos exércitos egípcios no Sinai.

A guerra, a única que até então não ter-minara com uma nítida vitória israelense,manteve o statu quo ante, com Israel aindade posse de todos os territórios conquis-tados em 1967.

Embora não tendo constituído uma humi-lhação para os árabes – afinal, no início doconflito eles obtiveram algumas importantes

vitórias e infligiram baixas significativas às for-ças de defesa de Israel –, a guerra serviu paramostrar a alguns setores do mundo árabe quea derrota pelas armas de Israel era algo queestava acima da capacidade militar de que po-diam dispor, mesmo contando com ajuda daUnião Soviétiva. Isso teria consequências im-portantes, como veremos.

Durante o conflito, a Opep negou-se afornecer petróleo para os países que apoia-ram a posição de Israel – em especial osEUA e alguns países europeus –, usando,portanto, esse produto como arma política.As consequências foram significativas, comos preços do óleo quadruplicando, provo-cando queda generalizada nas bolsas detodo o mundo e aumento da inflação, afe-tando muito a economia dos países impor-tadores de petróleo – o que ficou conheci-do como a primeira crise do petróleo.

Aqui cabe uma reflexão: o aumento brutaldos preços do petróleo carreou recursos con-sideráveis para os países exportadores, qua-se todos em desenvolvimento, com grandesproblemas sociais. No que diz respeito aoOriente Médio, esse fluxo de recursos extra-ordinário não serviu para atenuar a diferençaentre os países árabes produtores e os nãoprodutores8 e, menos ainda, para atenuar asdiferenças existentes dentro dos países pro-dutores, entre uma classe dirigente cada vezmais rica e poderosa e a grande massa decidadãos com crescentes problemas e semperspectivas. O fundamentalismo muçulma-no ganhou novas forças com mais esse fra-casso dos líderes em modernizar o Islã.

É a partir do Yom Kippur que a relaçãodos EUA com Israel se estreita mais, creioque devido a Israel ter cedido à pressãoamericana para não destruir o exército egíp-cio e, dessa forma, conter a União Soviética.O apoio cada vez mais irrestrito e ostensivo

8 O apelo dos defensores do pan-arabismo para que os países produtores compartilhassem suas acrescidasrendas com os países não produtores foi rapidamente rejeitado.

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a Israel não tem contribuído para melhorar avisão que os árabes têm dos EUA nem dasua condição de mediador dos conflitos.

O reconhecimento internacional da OLP

Em 1974, a Liga Árabe, numa conferên-cia realizada em Rabat, reconheceu a OLPcomo único representante legítimo do povopalestino, agora sem qualquer ingerênciado Egito e da Jordânia.

O Conselho Nacional da Palestina, órgãolegislativo da OLP, ratificou, ainda em 1974,um programa político de dez pontos, com oobjetivo final de libertar o território da Palesti-na e de estabelecer um Estado palestino. Naprática, o programa reconhecia o direito de oEstado judeu existir, desde que se ativesse àsfronteiras anteriores à guerra de 1967, aceitas-se o regresso dos refugiados palestinos e re-conhecesse um Estado palestino livre de con-troles externos. Em novembro, na Assembleia-Geral das Nações Unidas, Arafat, na qualida-de de convidado, fez um discurso em que pro-curou mostrar seu interesse pela paz: “Eu tra-go um ramo de oliveiras e uma arma para lutarpela liberdade. Não deixem que o ramo de oli-veiras caia das minhas mãos!”

No ano seguinte, 1975, a ONU conce-deu à OLP o estado de observador e reco-nheceu o direito dos palestinos à autode-terminação. Foi um passo importante paradar à OLP a representatividade de que, atéentão, ela carecia.

A Guerra Civil do Líbano

A guerra civil que irrompeu no Líbanoem 1975, e que prosseguiria até 1991, é im-portante pela influência que teve na ques-tão de Israel e dos palestinos.

Durante o período que vai de 1940 a1970, o Líbano foi considerado um oásisde paz e prosperidade no Oriente Médio,graças principalmente ao Pacto Nacionalde 1944, que atenuou a dominação maronita(cristãos), com a partilha do poder com asdemais comunidades, em especial a muçul-mana9. A partir da Guerra da Independên-cia de Israel, centenas de milhares de refu-giados palestinos, majoritariamente muçul-manos, migraram para o Líbano, mas foramvistos pela população local como intrusos,sendo rejeitados e discriminados; a partirde 1970, conforme apontamos anteriormen-te, com a expulsão da Jordânia, após o epi-sódio do Setembro Negro, essa imigraçãoaumentou significativamente; muitos dosrecém-chegados eram guerrilheiros que sedirigiram para o sul do Líbano, de ondepodiam fazer ataques contra Israel, que, emrepresália, revidava, atacando o territóriolibanês, afugentando assim os habitantesprimitivos da região, a maioria campone-ses xiitas, a facção mais pobre, atrasada epoliticamente sub-representada10. Esseshabitantes, devido à crise econômica epolítica do país, foram para as favelas deBeirute ocidental.

A administração do Líbano, incapaz deneutralidade em qualquer de seus níveis de-vido à partilha de poder entre as diversasfacções, totalmente impossibilitada de con-trolar a situação e carente de um exércitoinstitucional que pudesse impor a ordem en-tre as inúmeras facções existentes, não pôdeevitar a guerra civil, que eclodiu em 1975, comdiversas milícias brigando entre si, algumascom apoio de Israel, outras, da Síria.

A guerra civil no Líbano provocou, em1976, uma intervenção da Síria, para evitarque os palestinos pudessem dominar o

9 A maior taxa da natalidade dos muçulmanos era, porém, uma ameaça, além das pretensões da Síriasobre o Líbano.

10 O outro grande bolsão xiita habitava o Vale de Bekaa, próximo à fronteira com a Síria.

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país, criando condições para que as milíci-as maronitas massacrassem os palestinosem Beirute.

Ainda em 1976, ocorreu o incidente deEntebbe (Aeroporto de Uganda). Um vooda Air France, proveniente de Tel Aviv, foisequestrado por membros da Frente Popu-lar para a Libertação da Palestina, que le-varam os reféns judeus para Entebbe, exi-gindo a libertação de prisioneiros palesti-nos em Israel. Numa operação de grandeousadia, uma força militar israelense de eli-te realizou um ataque aos sequestradores,matando seis deles e 45 soldados ugan-deses e liberando os cem reféns, com amorte de apenas um soldado e de um refémque não estava, na hora, no aeroporto.

Em 1977, o advento de um governo is-raelense comandado pelo Partido Likud,que defende a criação do Grande Israel(Eretz Israel), deu início à política de esta-belecimento de assentamentos judeustanto na Faixa de Gaza como naCisjordânia. Este continua a ser um pontodifícil nas negociações para um acordoentre Israel e os palestinos.

A revolução iraniana de 1978-1979, quetirou do poder o xá Rehza Pahlevi, trouxemais um ingrediente para o drama palestino.De imediato, voluntários iranianos chega-ram ao Líbano para combater os sionistas.

O grupo xiita11, desde 1961, com a chega-da do imã Mussa Sadr, vindo do Irã, haviase tornado um grupo reivindicante, prontoa lutar por seus direitos. Ele organizou ogrupo Amal (esperança), que defendia ajihad como forma de conseguir arepresentatividade a que se julgavam comdireito, num Estado islâmico. Com a guerracivil, eles passaram a integrar o bloco mu-çulmano progressista, que, por meio da lutaarmada, queria pôr fim à hegemonia maronita.

Com o apoio do líder líbio Kadafi, Sadr orga-nizou a milícia xiita. Em 1978, porém, os doislíderes se desentenderam e Kadafi mandoufuzilar Sadr, que foi então substituído na di-reção do Amal por Nabih Berri, líderocidentalizado, mais interessado na demo-cratização do Líbano, com uma representa-ção proporcional para os xiitas, do que naconstituição de um Estado islâmico. A posi-ção do novo líder não foi aceita por um seg-mento do Amal, constituído por funda-mentalistas islâmicos que, empolgados pelavitória no Irã da revolução islâmica (1978-1979), criaram o Hezbollah (Partido de Deus).Dois radicais – Muhammad Hussein Fallallahe Hussein Musawi – assumiram a direçãodo grupo, que quer o estabelecimento noLíbano de um Estado islâmico por meio daluta armada.

Em 1978, foi a vez de Israel invadir oLíbano para expulsar os palestinos do suldo país. Sob forte pressão dos EUA, oConselho de Segurança da ONU aprovoua Resolução 425, em março de 1978, quedeterminou a retirada das forças israelen-ses do Líbano, e a Resolução 426, que criouuma força internacional para a manuten-ção da paz na região.

Os Acordos de Camp David

Sob a direção do novo líder egípcio,Anwar Sadat, que tirou as conclusões cer-tas da Guerra do Yom Kippur e que era maismoderado do que Nasser, o Egito aceitou oconvite do Presidente americano JimmyCarter para uma reunião em Camp David,em 1978, com Menachem Begin, premierisraelense, e Arafat. A 17 de setembro, Isra-el e Egito comprometeram-se a assinar umTratado de Paz, segundo os princípios de-lineados nos acordos de paz de 1973, 74 e

11 Em 1975, quando teve início a guerra civil libanesa, os xiitas representavam 32% da população total;hoje, representam cerca de 40%.

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PALESTINA: UMA TERRA, DOIS POVOS

75. Os Acordos de Camp David, que dari-am aos líderes envolvidos o Prêmio Nobelda Paz – “A Framework for Peace in theMiddle East” e “A Framework for theConclusion of a Peace Treaty betweenEgypt and Israel” –, estabeleceram dispo-sições de como encaminhar a questão pa-lestina e como negociar o tratado de paz:reconhecimento mútuo, desocupação daPenínsula do Sinai por Israel, restrições àpresença militar na fronteira comum, solu-ção pacífica de controvérsias, fim dos boi-cotes econômicos e direito de passagem,entre outros. O Tratado de Paz foi assina-do em Washington, emmarço de 1979, e foi oprimeiro celebrado en-tre Israel e um país ára-be. Em consequência,o Egito foi isolado dacomunidade árabe emuçulmana, sendosuspenso da LigaÁrabe.12

A Iniciativa de Fez

Em 1980, Saddam Hussein, líder doIraque, ambicionando tomar o lugar deNasser, imaginou que poderia atacar o Irã ederrubar o regime religioso ali instalado,ainda não inteiramente consolidado. Sabiaque poderia contar com o apoio Ocidental– o que de fato ocorreu – e que, usandouma linguagem antissionista, empolgaria omundo árabe – que aconteceu apenas emparte. Saddam contou com o apoio dosEUA – para Khomeini, “o Grande Satã” –,da França e, ainda, da URSS, que lhe deram

ajuda militar; alguns países árabes, entreos quais o Kuwait, emprestaram-lhe bilhõesde dólares. Apesar de toda a ajuda, a guer-ra se arrastaria por cerca de oito anos eterminaria num impasse.

A promulgação por Israel, em 1981, daLei das Colinas de Golã, estabelecendo aaplicação às colinas da lei civil de Israel, enão mais da lei militar, na prática significa-va a anexação da área a Israel, fato que nãofoi reconhecido nem pelos EUA nem pelacomunidade internacional. Criou-se, assim,mais uma dificuldade para um eventual tra-tado de paz com a Síria.

As tentativas deum acordo para resol-ver a questão palesti-na continuavam, ape-sar das crescentes di-ficuldades. O PríncipeFahd, da ArábiaSaudita, propôs, em1981, um plano de pazbaseado na retirada de

Israel de todos os territórios ocupados naGuerra dos Seis Dias, a remoção dos as-sentamentos judeus tanto na Faixa de Gazacomo na Banda Ocidental13 e o estabeleci-mento de um Estado palestino nessas áre-as. Numa reunião de cúpula realizada emFez, no Marrocos, em 1982, a Liga Árabeaceitou o plano. A chamada Iniciativa deFez teve de imediato o apoio dos EUA e daEuropa, mas Israel rejeitou a proposta soba alegação de que não havia garantias su-ficientes para sua segurança. A propostado Presidente Reagan de formação de umEstado associado com a Jordânia e os ter-ritórios palestinos foi rejeitada tanto por

12 Esta suspensão se estenderia até o fim dos anos 80. Em 1981, Anwar Sadat pagaria com a vida suainiciativa pela paz. A Jordânia assinaria o Tratado de Paz em 1994.

13 É a região conhecida como Cisjordânia, na margem ocidental do Rio Jordão, compreendendo aSamaria e a Judeia dos judeus. É uma área com cerca de 2 mil milhas quadradas. Suas cidadesprincipais são Ramallah (de fato a capital administrativa da Palestina), Nablus (um centro comer-cial) e Hebron (no sul).

O Tratado de Paz foiassinado em Washington,em março de 1979, e foi oprimeiro celebrado entre

Israel e um país árabe

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PALESTINA: UMA TERRA, DOIS POVOS

Israel como pela OLP, embora, no meu en-tender, merecesse ser mais bem discutida.

De volta à Guerra Civil do Líbano

Em 1982 Israel invadiu o sul do Líbano paraexpulsar os palestinos. Isso decretou o afas-tamento geográfico da OLP de Israel: Arafatfoi para a Tunísia e os militantes palestinosforam para vários campos em países árabes,longe de Israel. O Hezbollah assumiu entãouma posição radical anti-Israel, projetando-seinternacionalmente como mais um ator que nãoaceitava a existência do Estado judeu, estrei-tando seus laços com o Irã e com a Síria. Coma intervenção das tropas da ONU – america-nos, franceses e italianos –, que expulsaram aOLP para a Tunísia, Israel recuou para uma“zona de segurança” de apenas 12 milhas delargura, patrulhada por tropas recém-recruta-das de um exército do sul do Líbano em forma-ção e por uma milícia cristã armada por Israel.Antes da retirada de suas tropas, Israel aju-dou a eleger um Presidente libanês simpáticoà sua causa – Bashir Gemayel –, que logo de-pois foi assassinado pelos sírios.

A Síria não reconheceu o acordo entreIsrael e o Líbano, mediado pelos EUA, parapôr fim ao conflito; para que o Líbano de-sistisse do acordo, manteve 40 mil ho-mens de suas forças armadas no país (daíIsrael ter mantido a “zona de segurança”).

Aproveitando-se da retirada das tropasisraelenses, as milícias cristãs aliadas de Is-rael massacraram pelo menos 700 refugiadospalestinos nos campos de Sabra e Shatila.14

No Líbano, envolto na guerra civil, atenta-dos contra americanos e contra as tropas daONU se sucediam. Em abril de 1983, uma vancarregada de explosivos foi detonada em fren-te à embaixada americana em Beirute, causan-do 63 mortos; em outubro, dois ataques qua-

se simultâneos, com caminhões-bomba, forampraticados contra aquartelamento de tropasfrancesas, causando 58 baixas, e contra aquar-telamentos americanos, deixando 241 mortos.Segundo inquérito americano, esses ataquesforam da responsabilidade do Hezbollah, comajuda do Irã. Para Israel, a Síria estaria tambémenvolvida. Apenas cinco meses mais tarde, astropas da ONU retirar-se-iam do país, deixan-do o Líbano entregue à própria sorte.

O incidente do Achille Lauro, um navio decruzeiro italiano que, em 1985, foi sequestradoem águas egípcias por terroristas da OLP, queexigiam a libertação de palestinos presos emIsrael, terminou com o assassinato de um ju-deu americano. Após dois dias de negocia-ções, o Egito garantiu o direito de livre passa-gem dos terroristas para a Tunísia num aviãoegípcio; o avião foi, porém, interceptado porcaças americanos e forçado a pousar na Sicília,onde alguns terroristas foram presos pelasautoridades italianas e outros foram deixadospartir, embora fossem posteriormente conde-nados in absentia pelos tribunais italianos.Um deles, Abu Abbas, foi capturado, em 2003,por tropas americanas no Iraque, morrendoem custódia no ano seguinte.

A Primeira Intifada

O Hamas, uma ala mais radical da OLP,foi fundado em 1987 pelo sheik AhmedYassim, oriundo da Irmandade Muçulmanado Egito, com o objetivo de criar-se umEstado religioso na Palestina, diferencian-do-se assim de outras facções que defen-diam um Estado secular. Os estatutos domovimento, publicados no ano seguinte,apelavam para que todos os muçulmanosiniciassem uma jihad para libertar o territó-rio palestino dos sionistas. Como a OLPnão dispunha, desde 1982, com o estabele-

14 Um inquérito israelense concluiu posteriormente que o general, então ministro da Defesa de Israel,Ariel Sharon, era indiretamente responsável pelo massacre.

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PALESTINA: UMA TERRA, DOIS POVOS

cimento da “zona de segurança” no Líba-no, de um território de onde pudesse ata-car Israel, declarou, em 1987, a PrimeiraIntifada (revolta) em Gaza e no West Bank,procurando pôr fim a 20 anos de ocupa-ção. Para alguns palestinos, a intifadacorrespondia à desobediência civil, à or-ganização de greves e à grafitagem; outrosgrupos mais radicais passaram a atacar asforças israelenses com machados, coque-téis Molotov, granadas e armas de fogoleves. Demonstrações, com grupos de ci-vis palestinos (em geral muito jovens), ati-rando pedras contra forças israelenses for-temente armadas tornaram-se comuns.

Em 1988, o Rei Hussein da Jordânia, pro-vavelmente com receio de que a intifada seestendesse para o seu território, transferiupara a OLP, reconhecida como “única entida-de representante dos palestinos”, todas asreivindicações de seu país relativas àCisjordânia (West Bank) e a Jerusalém Orien-tal. Em dezembro, Arafat fez um discurso con-ciliatório na Assembleia-Geral da ONU, masfoi criticado por Washington, que esperavauma denúncia pública do terrorismo comoforma de ação e o reconhecimento claro dodireito de Israel de existir. No dia seguinte,numa conferência de imprensa, Arafat mos-trou-se disposto a aceitar essas premissas, oque levou Reagan a propor um “diálogo cons-trutivo” com a OLP, para desagrado de Israel.O Hamas afastou-se do Fatah, grupo domi-nante da OLP, e alguns setores em Israel, jul-gando enfraquecer o Fatah, apoiaram oHamas. Logo iriam se arrepender desse apoio.

O Iraque ataca o Kuwait

Em 1988, sob os auspícios da ONU, foiassinado o armistício entre o Iraque e o Irã,

mantendo-se o statu quo ante. Mais doque os ímpetos imperialistas de Saddam,as nações árabes temiam o radicalismo doregime iraniano, o que, combinado com ummisto de racismo antipersa e anticurdo, le-vou os países árabes a apoiarem Saddam.Os EUA e alguns países europeus, por nãoaceitarem o regime dos aiatolás iranianos,cooperaram com Saddam. Isso, muito embreve, iria mudar.

A invasão do Kuwait pelo Iraque em1990, com o objetivo de se apossar dosrecursos petrolíferos do país, além de con-seguir uma saída mais ampla para o GolfoPérsico, levou à formação de uma coliga-ção liderada pelos EUA, da qual participa-ram muitos países árabes que não tinhammais razão para apoiar Saddam e que, pelocontrário, o temiam. Para os Estados Uni-dos, Saddam tinha que ser detido, já queseria perigoso ele controlar uma quantida-de tão grande de petróleo.

A postura de Saddam, em desafio aber-to ao Ocidente e de não aceitação de Israel– chegou a condicionar sua saída doKuwait à retirada de Israel dos territóriosocupados –, tornou-o extremamente popu-lar entre as massas árabes, de modo que a“cruzada internacional” que o derrotou foiextremamente impopular entre os povosárabes, e os governos que se opuseram aele e o derrotaram em 1991 perderam prestí-gio junto às massas.

Arafat, para não deixar o terreno livrepara o Hamas, apoiou Saddam, indispon-do-se com os EUA e também com os Esta-dos árabes que participaram da coalizão.15

A permanência de Saddam no poderapós a derrota militar deve ser interpretadacomo a dificuldade americana de encontraruma liderança capaz de substitui-lo sem

15 A mágoa desses países para com Arafat ficou evidenciada com a morte do líder palestino. Embora maisde 14 anos se tivessem passado desde então, os países do Golfo não se fizeram representar nofuneral.

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desestabilizar o país, única barreira contrao inaceitável Irã.

Os Acordos de Oslo

A Conferência de Madri, de outubro de1991, foi uma consequência da Guerra do Gol-fo. A Conferência, que teve o apoio dos EUA eda URSS (a queda do Muro de Berlim em 1989já anunciava a dissolução da URSS, que ocor-reria em novembro de 1991), contou com dele-gados de Israel, Síria, Jordânia, Líbano e dospalestinos (Fatah) e estabeleceu um padrãopara o estabelecimento de negociações multi-laterais, para tratar dos grandes problemas re-gionais, e de conversas bilaterais entre Israel ecada um dos países par-ticipantes para tratar dequestões específicasentre cada um deles eIsrael.

No final de 1992,Israel expulsou 415ativistas islâmicos deIsrael, na maioria mili-tantes do Hamas, emdireção ao Líbano, massua entrada nesse paísfoi impedida por partedo exército do sul doLíbano, aliado de Isra-el, ficando eles, duran-te cerca de um ano, numa terra de ninguém,entre Israel e o Líbano. Na volta para osterritórios ocupados tiveram recepção deheróis, e desde então passaram a ter gran-de prestígio entre o seu povo.

Em abril de 1993, o Hamas praticou oprimeiro atentado suicida contra Israel.

Como resultado da Conferência de Ma-dri, foi aberto o caminho para os Acordosde Oslo e para a assinatura do tratado dePaz entre Israel e a Jordânia16.

Os acordos conhecidos como Acordosde Oslo aconteceram em 1993, envolvendoIsrael e a OLP, e culminaram com uma De-claração de Princípios, em que cada ladoreconhecia a existência do outro e renunci-ava ao uso da violência. Foi estabelecida aAutoridade Nacional da Palestina (ANP),com autoridade limitada na Faixa de Gaza eparte do West Bank. A OLP encarou essesacordos como um passo adiante no senti-do do reconhecimento das fronteiras deIsrael pré-1967 e do direito dos imigrantespalestinos de voltarem ao seu lar. Os israe-lenses, por outro lado, consideravam osacordos como o início de um processo que,passo a passo, poderia levar a uma solu-

ção de compromisso.No seu retorno a

Gaza, após um exílio de27 anos, Arafat, ao as-sumir a ANP, foi sauda-do por uma multidão depalestinos nas ruas.Esse foi um passo impor-tante para a futura cria-ção de um Estado pales-tino, embora não reco-nhecido pelo Hamas.

Em setembro de1995 foi assinado oAcordo Provisório,também conhecido

como Acordo de Oslo II, pelo qual era dadamais autonomia aos palestinos, mas semcomprometer a segurança de Israel. Poresse acordo, algumas áreas de Gaza e doWest Bank ficavam totalmente sob contro-le civil e de segurança da ANP, outras deIsrael e, finalmente, as restantes sob con-trole civil dos palestinos e de segurançade Israel. Foi criada uma força policial pa-lestina com 24 mil homens para manter asegurança e para garantir o trânsito livre

16 Tratado assinado em 1994.

Isaak Rabin, primeiro-ministro de Israel, foi

assassinado a tiros por umextremista judeu que se

opunha a qualquerconcessão aos palestinos.Sua morte foi uma perda

irreparável para oprocesso de paz

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dos palestinos entre Gaza e o West Bank.Acusações de violações do acordo logose seguiram, feitas por ambos os lados,uma constante no caso palestino.

No mês seguinte, ao deixar um comícioa favor das negociações de paz de Oslo,Isaak Rabin, primeiro-ministro de Israel, foiassassinado a tiros por um extremista ju-deu que se opunha a qualquer concessãoaos palestinos. Sua morte foi uma perdairreparável para o processo de paz. Ele foisubstituído no cargo por Shimon Perez.

Um período de distúrbios

Já no início de 1996, para responder aoaumento dos ataques de Hezbollah na fron-teira com o Líbano, Shimon Perez decretoua operação conhecida como Operação Vi-nhas da Ira, em que o Líbano foi bombar-deado durante 16 dias. O Hezbollah, emrepresália, lançou foguetes Katyusha con-tra áreas populosas ao norte de Israel. Emabril, Israel atingiu um posto das NaçõesUnidas em Qana, matando cerca de cemcivis libaneses que lá se tinham abrigado.A onda de violência só teve fim quando foifeito um acordo em que ambos os lados secomprometeram, mais uma vez em vão, aevitar a morte de civis.

Em maio de 1996, Shimon Perez, que ori-entou sua campanha eleitoral na defesa dosAcordos de Oslo, foi derrotado por peque-na margem por Benjamin Netanyahu, lídermais à direita, que foi beneficiado porque,nos meses que precederam a eleição, umasérie de ataques suicidas desfechados peloHamas deram força aos que em Israel seopunham a concessões aos palestinos.

Em 1997, agentes israelenses, fazendo-se passar por turistas canadenses, naJordânia, tentaram envenenar o líder doHamas, Kaled Meshal, criando uma crisecom a Jordânia (o Canadá também protes-tou contra a ação israelense), só contorna-

da quando Israel providenciou um antído-to para Meshal e libertou o líder espiritualdo Hamas, o sheik Ahmed Kassim.

O Memorando de Wye River

Numa tentativa de reativar os Acordosde Oslo que estavam em compasso de es-pera, em 1998 o Presidente dos EUA, BillClinton, pressionou tanto Netanyahu comoArafat a assinarem o Memorando de WyeRiver, pelo qual eram apontadas as medi-das que os palestinos deveriam tomar paragarantir a segurança de Israel, cabendo àCIA monitorar o cumprimento de cada umadessas medidas e, em contrapartida, o com-promisso de Israel de devolver uma deter-minada percentagem de terra aos palesti-nos, até, o mais tardar, março de 2000. Acoalizão que elegeu Netanyahu se rompeudevido ao acordo, e ele foi derrotado naseleições seguintes por Ehud Barak.

Em julho de 2000, Bill Clinton fez umanova tentativa em Camp David. Duranteduas semanas, israelenses e palestinosnegociaram e Barak fez concessões impor-tantes para Arafat: Israel se retiraria de maisde 90% do território ocupado, a cidade ve-lha de Jerusalém poderia vir a ser comparti-lhada por palestinos e judeus e seria cria-do um Estado palestino na área desocupa-da. Segundo os americanos, Arafat foi oresponsável pelo fracasso do acordo, mas,segundo os palestinos, Barak estava ofe-recendo o que ele não podia dar, e sua ofertanão atendia às pretensões dos palestinosde recomposição das fronteiras pré-1967 eda volta dos refugiados palestinos.

A única coisa que se salvou da reuniãode cúpula foi uma Declaração Trilateralonde se estabelecia o procedimento parafuturas negociações. Na verdade, mais umavez os esforços para uma solução negoci-ada fracassaram, nada tendo mudado. Ouaté mesmo as coisas ficaram piores, pois, a

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partir de mais esse fracasso, os EUA e Isra-el desistiram de negociar com Arafat, que,entretanto, era o único líder palestino ca-paz de, com seu prestígio e carisma, con-trolar os radicais do seu lado.

A Segunda Intifada

Em setembro de 2000, Ariel Sharon, en-tão presidente do Partido Likud e líder for-mal da oposição, fez uma visita ao TemploMount, em Jerusalém oriental, que é tam-bém o local do terceiro lugar mais sagradodo Islã, o Mosteiro al-Aqsa. Essa visita foia centelha que causou uma nova intifada,a segunda, que, diferentemente da primei-ra, de 1997, se caracterizou por um númeromenor de demonstrações e maior empregode armas de fogo e ataques suicidas porparte dos palestinos, levando assim Israela tomar medidas mais duras, que incluírama reocupação de partes do West Bank, ata-ques aéreos, os “assassinatos seletivos”de líderes palestinos e a construção de ummuro separando os palestinos dos núcle-os populacionais judeus no West Bank.

A Segunda Intifada assinala o fracassodos Acordos de Oslo e o descrédito da OLPe de Arafat.

A mudança presidencial dos EUA, assu-mindo George W. Bush em janeiro de 2001,acarretou de pronto a mudança da estraté-gia americana para a questão da Palestina. Anão indicação de um enviado especial parao Oriente Médio, como era praxe, mostrouclaramente o desengajamento americano deuma solução diplomática, pelo menos en-quanto não houvesse uma mudança na cú-pula palestina.

Em fevereiro, em meio à violência domi-nante, Ehud Barak foi derrotado na luta paraprimeiro-ministro por Ariel Sharon17, numaclara demonstração de que os radicais em

Israel se fortalecem à medida que se deteri-oram as questões de segurança.

Ainda no primeiro semestre de 2001, Is-rael interceptou um carregamento de armaspara os palestinos vindo do Irã, deixandoclaro que as declarações de Arafat de queprocurava combater a violência eram fal-sas. Bush aproveitou a ocasião para pedira emergência de uma nova liderança pales-tina, mais confiável, o que, sem dúvida, foium erro grosseiro de avaliação, dificultan-do ainda mais qualquer negociação de paz.

Os ataques terroristas aos EUA

Os ataques terroristas às Torres Gêmease ao Pentágono, em setembro de 2001, leva-ram os EUA a declarar uma “guerra ao ter-ror”. Sharon habilmente associou sua lutacontra os palestinos a essa guerra, aproxi-mando-se mais ainda dos EUA. As celebra-ções dos palestinos quando do ataque ter-rorista aos EUA e o oferecimento de Israelde colaborar com os americanos na guerraao terror com material e inteligência afasta-ram ainda mais os EUA dos líderes palesti-nos e estreitaram os laços com Israel.

Crepúsculo e morte de Arafat

Em 2002, após um ataque de homem-bomba do Hamas a um grupo de israelensesque celebravam o Passover, deixando 28mortos, as Forças de Defesa de Israel lança-ram um ataque ao West Bank, assumindo ocontrole da cidade de Jenin e cercando oquartel-general de Arafat por cinco sema-nas. Refugiados palestinos procuraram abri-go na Igreja da Natividade, em Belém, lá per-manecendo por 38 dias cercados por tropasde Israel. Teve início efetivamente a cons-trução do muro para separar Israel do WestBank. Em setembro, um segundo ataque ao

17 Eleito premier em 2001, Sharon fundou o Partido Kadima, prometendo abrir mão do Grande Israel.

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quartel-general de Arafat pelos israelensesdeixou o prédio em ruínas.

O isolamento de Arafat levou os pales-tinos a elegerem Mahmoud Abbas comoprimeiro-ministro, continuando Arafat comopresidente. Com a invasão do Iraque, emmarço de 2003, por uma coligação EUA-Reino Unido e a necessidade, agora urgen-te, de os americanos darem solução à ques-tão palestina – a “democratização” doIraque e a exploração do seu petróleo justi-ficavam a urgência –, o Presidente Bushdelineou o que cha-mou de Mapa do Ca-minho (Road Map),com o propósito deassinalar pontos espe-cíficos que indicassemo caminho da paz. Omapa, endossado peloQuarteto* – isto é, osEUA, a Rússia, aUnião Europeia e asNações Unidas –, exi-gia reformas palesti-nas (como o abando-no de táticas terroris-tas), garantindo emtroca o fim dos assen-tamentos israelenses ea criação de um Esta-do palestino, pela pri-meira vez admitido pelos americanos.

Em março de 2004, em resposta à renova-ção dos ataques suicidas do Hamas, Israel,num ataque aéreo deliberado, matou AhmedYassim, líder espiritual do grupo. O ato foicondenado por toda a comunidade interna-cional, dando origem a pedidos para que Is-rael pusesse fim aos “assassinatos seletivos”.

Surpreendentemente, Ariel Sharon, umfalcão, toda a vida a favor dos assenta-mentos judeus, apresentou um Plano de

Desengajamento em que determinava a re-moção de todos os assentamentos judeusem Gaza.

Yasser Arafat caiu doente em outubrode 2004; ele foi transportado para a Françapara tratamento médico, mas veio a falecerem novembro. Mahmond Abbas foi eleitoseu sucessor.

A Segunda Intifada oficialmente aindanão terminara, mas, no início de 2005, ha-via evidências de que a violência diminuí-ra. Sem dúvida, os ataques suicidas pales-

tinos e as medidas pre-ventivas tomadas porIsrael provocaram bai-xas consideráveis deambos os lados: deacordo com um grupode direitos humanosem Israel, a violênciatirou a vida de 1.050israelenses e de 3.358palestinos desde se-tembro de 2000, quan-do teve início a Segun-da Intifada, até janeirode 2005.

Em agosto de 2005,segundo o plano deSharon, Israel inicioua retirada de 9 mil ju-deus dos assentamen-

tos em Gaza. Alguns judeus aceitaram acompensação oferecida pelo governo e seretiraram pacificamente, enquanto outrosforam removidos à força pelas Forças deDefesa de Israel. Dessa forma, Sharon pre-tendia reduzir os ataques palestinos con-tra Israel, mas, pelo contrário, em breveesses ataques far-se-iam também a partirde Gaza. Todo otimismo decorrente da ati-tude de Sharon desapareceu quando o pri-meiro-ministro de Israel sofreu um proble-

* N.A.: O Mapa do Caminho endossado pelo Quarteto, também é chamado Mapa da Paz.

O Presidente Bush delineouo que chamou de Mapa doCaminho (Road Map), com

o propósito de assinalarpontos específicos que

indicassem o caminho dapaz. O mapa, endossadopelo Quarteto – isto é, osEUA, a Rússia, a UniãoEuropeia e as Nações

Unidas –, exigia reformaspalestinas

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ma cardiovascular, entrou em coma e foideclarado incapacitado, assumindo EhudOhmert, do mesmo partido do líder afasta-do. Uma de suas primeiras decisões foimanter a retirada dos judeus dos assenta-mentos em Gaza.

A vitória do Hamas

Um novo acontecimento veio agravaros problemas na Palestina. Em janeiro de2006, o Hamas venceu as eleições para aformação do Gabinete da Autoridade Pa-lestina, o que acarretou imediatamente asuspensão da ajuda econômica dada aospalestinos pelos EUA, União Europeia (EU)e outros doadores. O poder palestino pas-sou a ficar dividido entre o PresidenteMahmoud Abbas, representando o movi-mento Fatah de Arafat, e o Hamas, comcontrole do Gabinete e do Parlamento. To-das as tentativas de um governo de coali-zão rapidamente fracassaram.

Em julho de 2006, a situação se deterio-rou mais uma vez. O Hamas e o Hezbollahinfiltraram-se em Israel e capturaram algunssoldados israelenses, o que fez Israel rea-gir, invadindo simultaneamente Gaza e oLíbano. Os combates duraram mais de ummês, com ataques aéreos de Israel contraalvos nos dois territórios e mísseis doHezbollah contra a área ao norte de Israel.O conflito cessou com a aprovação, peloConselho de Segurança, da Resolução no

1.701, que determinou o deslocamento doexército libanês para ocupar o sul do Líba-no e o envio de forças de manutenção dapaz das Nações Unidas. As baixas doHezbollah foram grandes, mas o seu prestí-gio e o de seus aliados, Irã e Síria, cresce-ram em quase todo o Líbano. A vitória deIsrael teve pequena consequência estraté-gica, embora o Egito e a Arábia Saudita te-nham condenado as ações do Hezbollah.O pior que aconteceu, porém, foi que, pelo

menos aparentemente, o plano de Ohmertde retirada de assentamentos judeus foiabandonado.

Confirmadas as dificuldades de um go-verno de coalizão Hamas-Fatah, o Hamasexpulsou o Fatah de Gaza, em junho de 2007.Abbas declarou tratar-se de um golpe doHamas e nomeou um novo governo,sediado em Ramallah, imediatamente reco-nhecido pelos EUA e UE. O auxílio dosdoadores foi reiniciado. Israel retomou aentrega dos impostos palestinos recolhi-dos, que tinha sido interrompida desde avitória do Hamas. O Hamas continuou deposse de Gaza, e as cidades do sul de Isra-el estão sujeitas a ataques quase diáriosde foguetes. Israel tem revidado com ata-ques contra Gaza.

A Conferência de Annapolis

Conforme já apontado, o acordo doMapa do Caminho, defendido pelo Quarte-to, estabelece reciprocidade, com cada par-tido tendo que cumprir certas obrigaçõesao longo do processo: Israel tendo quedesmantelar os assentamentos judeus con-siderados ilegais e impedir qualquer expan-são territorial dos demais assentamentos –sem dúvida, a dificuldade central é estabe-lecer que assentamentos são ilegais –, e ospalestinos renunciando definitivamente aoterrorismo e estabelecendo um governocapaz de funcionar – o que, com a atualdivisão entre o Hamas e o Fatah, pareceextremamente difícil.

Em novembro de 2007, Bush tentou umnovo plano de paz para a região. A Conferên-cia de Annapolis reuniu, além das duas par-tes diretamente envolvidas (os palestinosrepresentados apenas pelo Fatah), represen-tantes do Quarteto, os países membros daLiga Árabe e do Conselho de Segurança daONU. O conceito fundamental do acordo foide que os dois lados diretamente envolvi-

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dos, por meio de negociações, estabeleceri-am a partilha do território – quem ficaria como quê – de modo que, então, algum dia, ospalestinos pudessem estabelecer um gover-no capaz de dirigir seus territórios e proverum grau adequado de segurança.

Resposta desproporcional

No início de 2008, devido à expulsão doFatah de Gaza pelo Hamas, Israel passou abloquear a área, seguindo-se ataques doHamas com foguetes de fabricação caseiraOassam contra cidades israelenses. O blo-queio tem afetado não apenas o Hamas,mas, principalmente, os cerca de 1,4 milhãode palestinos que vivem, em condições ex-tremamente precárias, em Gaza. Já os fo-guetes têm causado poucas baixas entreos israelenses, que, entretanto, não se sen-tem seguros com esses frequentes e ines-perados ataques.

O enfraquecimento do governo de Isra-el, devido às acusações de corrupção doPrimeiro-Ministro Ehud Ohmert – obriga-do a deixar a presidência do Kadima –, nãotem impedido que a repressão aos palesti-nos aumente de intensidade; pelo contrá-rio, a instabilidade do governo faz com queele reaja às ações palestinas com vigor re-dobrado para não parecer fraco.

A nova presidente do partido, TzipLivnit, tentou reorganizar a coalizão quegoverna o país, estreitando seus laços como Partido Trabalhista de Ehud Barak e apro-ximando-se do Partido Shas, ultraortodoxo,mas, tendo fracassado, recorreu à eleiçõesgerais, que tiveram lugar em fevereiro de2009, tendo Ohmert continuado no postoaté o resultado do pleito.

Em dezembro de 2008, tendo o Hamasaumentado os ataques contra Israel, estereagiu: aviões israelenses bombardearam

intensamente Gaza, despejando mais de 100toneladas de bombas. Até o fim do ano,morreram cerca de 400 palestinos e mais de2 mil ficaram feridos, incluindo-se nessestotais muitas mulheres e crianças. A comu-nidade internacional acusou Israel de “res-posta desproporcional”. O veto dos EUAimpediu uma resolução do Conselho deSegurança condenando Israel.

As perspectivas abertas pela eleição deBarak Obama nos EUA – que parece termuito mais disposição que seu antecessorpara um diálogo construtivo que envolvapaíses como a Síria e o Irã – podem ser frus-tradas pela eleição em Israel de BenjamimNetanyahu, do Partido Likud, que, para for-mar o governo, teve que se aliar a AvgorLieberman, do Partido Yisrael Beiteinu, feitoministro das Relações Exteriores, ainda maisà direita do que ele. Para alguns analistas,porém, os novos dirigentes reconhecem quea solução passa pelo estabelecimento dedois Estados e que, portanto, não serão detodo intransigentes na procura de uma so-lução. Esses analistas lembram que, em 1970,foi com um governo do Likud que Mena-chem Begin negociou com o Egito um acor-do para o Tratado de Paz, devolvendo a Pe-nínsula de Sinai (terra por paz). Não seesperava também que Ariel Sharon propu-sesse unilateralmente a retirada dos assen-tamentos judeus em Gaza, e ele o fez.

A questão não é tão simples, porém.Apesar do que dizem esses analistas, naverdade a posição de Netanyahu não é ade aceitar o estabelecimento de dois Esta-dos. Após o encontro com Obama, em maiode 2009, disse ele:

“Eu não digo dois Estados paradois povos. Precisamos esclarecer oque é isso. Isso significa um Estado doHamas? Espero que não.”18

18 “Obama exige que Israel detenha assentamentos”, Gilberto Scofiel Jr, O Globo, 19/5/09.

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Os pontos de vista expressos porObama não diferem muito daqueles doMapa da Paz*. Após afirmar que “a situa-ção humanitária em Gaza precisa ser trata-da”, disse ele:

“Os assentamentos devem pararpara que possamos seguir adiante. Édo interesse não apenas dos palesti-nos, mas dos israelenses e da comuni-dade internacional, que se chegue auma solução de dois Estados na qualisraelenses e palestinos viverão em pazlado a lado.”19

No mesmo dia, porém, em que Obamapedia o fim dos assentamentos, o governoisraelense autorizou a construção de umanova colônia no norte do território daCisjordânia – a colônia de Masklot20.

ANÁLISE POLÍTICO-ESTRATÉGICA

No mundo globalizado, conflitos não fi-cam, em geral, limitados aos atores direta-mente envolvidos. Isso é ainda mais verda-deiro no que se refere às questões do OrienteMédio, em que o conflito entre israelenses epalestinos envolve todos os países da re-gião e até mesmo países fora da região, comoos EUA e a Rússia, e também organizaçõesmultinacionais, como as Nações Unidas e aUnião Europeia. Uma análise político-estra-tégica do Oriente Médio não estaria comple-ta se não levasse em consideração determi-nados grupos políticos que, pelo papel des-tacado que têm no conflito, merecem consi-deração especial, como o Fatah, o Hamas, oHezbollah e a Jihad Islâmica.

No nosso entendimento, há duas ques-tões relevantes para o entendimento da

problemática entre palestinos e israelen-ses, uma envolvendo a disputa pela terraem si e outra mais de caráter sociológico,que decorre do fracasso do Islã, em geral,de promover o desenvolvimento econômi-co e social dos países muçulmanos.

A disputa pela terra

A questão da terra é o problema funda-mental que hoje divide israelenses e pales-tinos e afeta a relação de Israel com as na-ções árabes e não árabes, mas muçulma-nas, especialmente no Oriente Médio.

Apoiados por concepções históricas ereligiosas, dois povos disputam a mesmaregião geográfica: os judeus, perseguidosem toda parte, especialmente na Europa –o Holocausto, promovido pela Alemanhanazista, em que perderam a vida mais de 6milhões de judeus, é o exemplo maior des-sa perseguição –, querem retornar à TerraSanta, terra de seus ancestrais, onde estãoos lugares sagrados do judaísmo; os pa-lestinos, instalados na região há tempos,expulsos do seu território durante a Guerrada Independência de Israel, de 1948, bemcomo depois da Guerra dos Seis Dias, de1967, querem o retorno para o seu lar natu-ral e a formação de um Estado palestino.

A partilha da Palestina, determinada pe-las Nações Unidas em 1947, não foi aceitapelos palestinos porque não respeitavasequer a proporcionalidade das duas co-munidades: coube aos judeus 56% do ter-ritório, ficando os palestinos com os res-tantes 44%, embora em termos populacio-nais houvesse mais de 1,3 milhão de ára-bes para cerca de 600 mil judeus. Egito,Síria, Líbano e a Transjordânia uniram-sena luta contra Israel, que, embora inferiori-

* N.R.: Mapa da Paz – é o endosso do Mapa do Caminho conforme o entendimento do Quarteto.19 Ibidem20 “Expansão de colônia judaica na Cisjordânia é autorizada”, Renata Molkes, O Globo, 19/5/2009.

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zado numericamente e em equipamento mi-litar, graças à sua superioridade moral ven-ceu a guerra, passando a ocupar 75% doterritório da antiga Palestina, sendo o res-tante ocupado pela Transjordânia, que fi-cou com a Cisjordânia, e pelo Egito, queficou com a Faixa de Gaza.

O conflito provocou a fuga de cerca de500 mil palestinos, que se dispersaram portodo o Oriente Médio, especialmente naTransjordânia21. A partir daí, a questão dosrefugiados é fundamental na procura de umasolução para a Palestina, constituindo-senum ponto crítico de difícil conciliação.

A esmagadora vitória de Israel na Guer-ra dos Seis Dias, quando desencadeou umataque preemptivo contra o Egito, aJordânia e a Síria, aumentou ainda mais aárea sob o controle judeu, ocupando Israela Cisjordânia, inclusive Jerusalém Orien-tal22, cuja posse estava com a Jordânia, e aFaixa de Gaza, até então em poder do Egi-to; além dos territórios da Palestina, Israelocupou a Península do Sinai, do Egito23, eas Colinas de Golã, da Síria.24

A Guerra do Yom Kippur, de 1973, nãoresultou em mudanças territoriais, manten-do o statu quo ante.

Os Acordos de Oslo, de 1993, estabele-ceram a Autoridade Nacional Palestina(ANP)25, com autoridade limitada na Faixade Gaza e partes do West Bank, o que deveser considerado como um passo importantepara um futuro acordo entre Israel e os pa-lestinos, para os quais, entretanto, a voltade Israel às fronteiras pré-1967, a volta dos

refugiados palestinos e a solução da ques-tão de Jerusalém Oriental são requisitos in-dispensáveis para uma paz duradoura.

O controle de Israel sobre as áreas emmãos dos palestinos – tudo o que entra ousai é supervisionado por Israel, que, alémdo mais, arrecada os impostos devidos aospalestinos (já se negou a entregá-los à ANP,impossibilitando a administração da áreasob gestão desta) – é inaceitável para es-tes. Israel julga não poder abrir mão destecontrole, pois, enquanto perdurarem ata-ques terroristas contra seu território, ele éessencial para garantir a sua segurança.

A ocupação das Colinas de Golã é umentrave para a solução da disputa, já queenvolve inapelavelmente a Síria no conflito.Para Israel, trata-se de uma posição de altovalor estratégico que, caso não haja umamudança considerável na posição da Síria,não pode ser negociada; para a Síria, a devo-lução incondicional de seu território é o pon-to inicial para qualquer negociação de paz.

O incessante aumento dos assentamen-tos judeus na região das Colinas de Golã,onde convivem com sírios de etnia drusa,e no West Bank, onde há três assentamen-tos gigantes, além de inúmeros menores, éoutro problema que exige solução.

Houve um incremento considerável noestabelecimento de assentamentos quando,em 1977, o Partido Likud venceu as eleiçõesem Israel, já que o partido defende a criaçãodo Grande Israel (Eretz Israel) e promove,sempre que pode, novos assentamentos.Isso, entretanto, mudou quando, em 2005, na

21 Em 1950, a Transjordânia anexou a Cisjordânia, transformando-se no Estado da Jordânia.22 Logo anexada por Israel.23 Devolvida ao Egito em 1978, após a assinatura dos acordos de Camp David.24 As Colinas de Golã foram praticamente anexadas por Israel quando, em 1981, substituiu a lei militar

então vigente pela lei civil israelense, o que, entretanto, não foi reconhecido nem pelos EUA nempela comunidade internacional.

25 Desde 1969 a OLP, sob a presidência de Yasser Arafat, não estava mais sob a tutela da Liga Árabe. Acriação da ANP, em 1993, deu à OLP a condição de ser o braço administrativo da Autoridade. Em1975, a ONU reconheceu o status de observador à ANP e reconheceu ainda o direito de autodeter-minação dos palestinos.

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gestão de Ariel Sharon, Israel decidiu unila-teralmente retirar os seus assentamentos daFaixa de Gaza, embora mantendo o controledo acesso internacional à área, tanto por viaaérea como marítima e terrestre. Emconsequência, Sharon e seu grupo retiraram-se do Likud, fundando o Partido Kadima. Essadecisão de acabar com os assentamentos emGaza foi um grande passo no sentido de re-solver a questão dos assentamentos, mas,infelizmente, incompleto.

O falecimento deYasser Arafat, em no-vembro de 2004, fezdesaparecer de cena oúnico homem capaz deconter os radicais pa-lestinos, pois, inega-velmente, tinha umenorme carisma e con-tava com o apoio dagrande maioria dopovo. Com as eleiçõesde janeiro de 2006, oHamas ganhou a res-ponsabilidade de for-mar o Gabinete pales-tino e nomeou primei-ro-ministro IsmailHaniyeh. Como essegrupo não reconheceo Estado de Israel edefende o uso da vio-lência para destruir os judeus, a situaçãoficou bem mais complicada, já que, por suavez, nem os EUA nem Israel reconhecem oHamas como representante dos palestinos.Em meados de 2007, devido a desavençascom Mahmoud Abbas, sucessor de Arafatna presidência da ANP, o Hamas, depoisde uma série de confrontos, expulsou oFatah da Faixa de Gaza, estabelecendo umadivisão no lado palestino e complicando

ainda mais a situação: Israel decretou o blo-queio da Faixa de Gaza e o Hamas passou abombardear o território israelense com fo-guetes de fabricação caseira, o que levou àtragédia de dezembro de 2008, quandobombardeios israelenses a Gaza causarama morte de 400 palestinos e feriram mais de2 mil, inclusive mulheres e crianças. A co-munidade internacional reagiu contra Isra-el – “resposta desproporcional” –, e o Con-selho de Segurança só não aprovou uma

resolução condenan-do Israel devido aoveto dos EUA.

A cidade de Jerusa-lém é outro ponto dedificuldades. Declara-da capital eterna eindivisível de Israel em1980, Jerusalém é umacidade que abriga al-guns dos lugares maissantos do judaísmo edo cristianismo e o ter-ceiro lugar mais sagra-do dos muçulmanos.Até 1967 a cidade fi-cou dividida, com Is-rael controlando a par-te oeste da cidade,onde instalou suasprincipais agênciasgovernamentais, e a

Jordânia a parte leste, negando aos judeuso acesso aos seus lugares sagrados na Ci-dade Velha. A partir de 67, Israel ocupoutoda a cidade, declarando-a sua capital em198026. Procurando estabelecer uma situa-ção de fato, Israel tem estimulado a mudan-ça de judeus para lá e dificultado o estabe-lecimento de árabes na Cidade Velha.

A disputa pela água é outro importanteponto a ser resolvido. Os palestinos acu-

26 Poucos países reconheceram essa anexação.

O falecimento de YasserArafat, em novembro de2004, fez desaparecer de

cena o único homemcapaz de conter osradicais palestinos

O fato é que a Faixa de

Gaza dependecompletamente de Israel

tanto para o suprimento deágua como para a geração

de energia

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sam Israel de tirar do Rio Jordão uma quan-tidade de água desproporcional à sua po-pulação; para os israelenses, entretanto,as obras de engenharia por eles feitas as-seguram maior suprimento de água tambémpara os palestinos. O fato é que a Faixa deGaza depende completamente de Israel tan-to para o suprimento de água como para ageração de energia.

O fracasso do Islã

Durante o período das Cruzadas, os en-tão “bárbaros” oci-dentais destruíram asofisticada cultura doIslã,27 que, a partir daí,entrou em retrocesso.Mesmo com o adven-to do petróleo como aprincipal fonte de ener-gia – num mundo que,pelo seu rápido desen-volvimento, se tornoucrescentemente de-pendente dessa maté-ria-prima –, a situaçãodo Oriente Médio,onde se localizam as principais reservas dovalioso hidrocarboneto, pouco mudou, poisa riqueza veio beneficiar uns poucos diri-gentes, mantendo a grande massa da popu-lação na pobreza e no atraso.

O islamismo não se modernizou, nãosendo influenciado pela “modernidade”que dominou o Ocidente. Por outro lado, ocristianismo foi-se adaptando aos novostempos – para Max Weber, a ética protes-tante impulsionou o nascente capitalismo– ou, pelo menos, não se constituiu emobstáculo para o progresso geral.

O fracasso do pan-arabismo, do qualNasser foi o símbolo maior, a incapacidadedo islamismo de se modernizar e promover odesenvolvimento social e econômico e osaltos índices de natalidade entre osmulçumanos são fatores que estão criandouma multidão de jovens com pouca cultura,sem oportunidades de emprego e de realiza-ção pessoal, desiludidos e facilmente seduzi-dos por radicais que, frustrados, pregam ajihad contra o Ocidente, no entender delesculpado por todas as suas atribulações. Oterrorismo dos homens e mulheres suicidas é

decorrência dessa situ-ação, que só pode sermudada por meio de umlongo processo quepossa trazer aos povosmuçulmanos uma pers-pectiva de futuro.

Nenhuma soluçãopara os problemas doOriente Médio terá êxi-to se não for resolvidaessa questão.

OS ATORESESTATAIS

Os EUA

A poderosa comunidade judaica dosEUA tem pressionado os governos, sejamdemocratas ou republicanos, a apoiaremIsrael na sua disputa com as nações mu-çulmanas no Oriente Médio. Esse apoioquase incondicional – o veto às Resolu-ções do Conselho de Segurança que, es-pecialmente após a Guerra de Yom Kippur,condenam Israel é apenas um dos exem-plos possíveis – vem minando o prestígiodos EUA entre os países muçulmanos, ti-

27 Nossa herança grega foi preservada pelos árabes. A tolerância religiosa dos muçulmanos fez com queos sultanatos na Espanha moura fossem local de refúgio para todos que se sentiam perseguidos, porquestões étnicas ou religiosas; após a Restauração, os sultanatos do norte da África substituíram osda Espanha nesse papel.

O islamismo não semodernizou, não sendo

influenciado pela“modernidade” que

dominou o Ocidente. Poroutro lado, o cristianismo

foi-se adaptando aos novostempos

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rando a sua força moral como possívelmediador e tornando-o alvo de ataques ter-roristas como o de setembro de 2001.

A parcialidade americana pró-Israel é, ine-gavelmente, uma das dificuldades para o apa-ziguamento da região, já que não há nenhumoutro país com condições políticas para pro-mover a paz. Não há solução possível sem aparticipação de todos os interessados – o Irãinclusive –, e só os EUA parecem capazesdesse esforço se conseguirem se despir dospreconceitos. A eleição de Barak Obama abreuma perspectiva nesse sentido, mas, por ou-tro lado, a eleição de Benjamim Netanyahu,com o apoio do ultrarradical AvigdorLieberman, é preocupante28.

Israel é, ainda, o maior recebedor da aju-da externa americana, e os dois países tro-cam inteligência e tecnologia militar, o quetransforma os EUA em aliado.

Irã

A revolução islâmica, que em 1978-9 pôsfim ao regime de Reza Pahlevi, criou no Irãum estado islâmico dominado pelos xiitase influenciou todo o mundo islâmico, fa-zendo surgir por toda a parte grupos radi-cais que defendem o estabelecimento deEstados regidos pelas leis islâmicas. Paraisso também contribuiu a invasão doAfeganistão pela União Soviética, já queimplicava uma nova cruzada contra o Islã,a que se deveria resistir com a luta armada.

A eliminação do Iraque, em 2003, comopotência que contrabalançava o Irã no Ori-ente Médio deixou este livre para atuar naárea com desembaraço.

Classificado pelos americanos como umdos países que constituem o “eixo do mal” , oIrã dá apoio, não apenas diplomático29, aosgrupos radicais, especialmente ao Hezbollah.As ambições nucleares do país, que, segundoos EUA e Israel, vão além do uso pacífico daenergia nuclear, criam a possibilidade de umataque preventivo de Israel às instalaçõesnucleares do Irã, o que poderá causar um novoconflito de proporções inimagináveis.

Os países árabes não têm colaboradopara integrar o Irã à comunidade muçulma-na, em parte, pelo menos, devido a seuspreconceitos em relação à etnia persa, alémde temerem um governo religioso, que érejeitado pela grande maioria dos paísesárabes, que querem o Estado laico.

Sendo o Irã o regime xiita mais poderosona região, procura ajudar os outros gruposxiitas, como, por exemplo, no Iraque. O nãoreconhecimento de Mahmoud Ahmadinejaddo Holocausto e sua pregação para que oEstado de Israel seja eliminado do mapa sãoelementos de complicação na região.

A possibilidade de Ahmadinejad* nãoser eleito nas eleições deste ano são reaisdevido às dificuldades com a economia (ainflação anda na casa dos 19%) e à eviden-te perda de prestígio interno30, tendo até

* N.R.: Esta matéria foi escrita antes da eleição, em junho de 2009, de Ahmadinejad.28 Há uma corrente de opinião – um representante dessa corrente é Greg Sheridan, jornalista australiano

– que julga que tanto Netanyahu como Lieberman estão sendo demonizados como uma forma dedeslegitimar a existência do Estado de Israel. Segundo ele, ambos apoiam o conceito de dois Estados,desde que, conforme previsto no Mapa do Caminho, tanto Israel como os palestinos assumamcertas obrigações: Israel tendo que eliminar os assentamentos ilegais(?) e evitar a expansão dosdemais e os palestinos tendo que acabar com o terrorismo e constituir um governo capaz defuncionar.

29 Tendo havido evidências do fornecimento de armas e de outras formas de ajuda.30 A proibição de reformistas, que defendem mais liberdades políticas e sociais, de participarem das

eleições legislativas de março de 2008 foi um dos fatores que levou os conservadores a vencerem areferida eleição, ocupando a maioria dos assentos do Parlamento e elegendo para seu presidente AlLanjani, grande adversário de Ahmadinejad.

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recebido uma reprimenda pública do aiato-lá Khamenei, substituto de Khomeini. Essefato, combinado com a eleição de Obamanos EUA, pode dar início a um processode distensão entre os dois países, desdeque o líder eleito seja menos radical. Dequalquer forma, porém, será um processolongo.

Síria

A Síria, envolvida em duas guerras con-tra Israel, numa das quais perdeu as Coli-nas de Golã, pendência ainda não resolvi-da, apoia grupos radi-cais anti-Israel, comoo Hezbollah e a JihadIslâmica, e se mantémnum estado de perma-nente hostilidade con-tra o Estado judeu. AsColinas de Golã, incor-poradas por Israel aoseu território, consti-tuem um formidávelobstáculo para a paz.

Suas aspirações re-lativas ao Líbano sãoum complicador para apaz na região.

Líbano

Apesar de vizinho de Israel, o Líbanonão esteve envolvido nas guerras de 67 e73. Tendo, porém, abrigado durante certotempo a OLP, e mais recentemente oHezbollah, atualmente influente partidopolítico libanês, tem sido alvo de diversasincursões israelenses, inclusive uma emlarga escala em 1982, que durou até 2000, euma breve em 2006.

O forte envolvimento da Síria na políti-ca libanesa, já que ela pretende que o Líba-no faça parte do seu território, e o apoio

dela e do Irã ao Hezbollah introduzem umaforte tensão nas relações do Líbano comIsrael.

A transformação do Hezbollah em par-tido político é uma etapa importante noprocesso de descaracterizá-lo como umgrupo terrorista. Se isso de fato vier a acon-tecer, um poderoso obstáculo à paz terásido removido.

Jordânia

Desde a assinatura, em 1994, de um Tra-tado de Paz com Israel, a Jordânia tem tido

um papel ativo nasnegociações de pazna área. A presença,porém, no seu territó-rio de mais de 2 mi-lhões de refugiados,quase que metade detoda população dopaís, e o fato de quegrande parte dosjordanianos são des-cendentes de palesti-nos, além da religiãocomum, não contribu-em para a isenção daJordânia. É bem ver-

dade que os incidentes do Setembro Ne-gro, no qual quase 10 mil palestinos per-deram a vida em confronto com o exércitojordaniano, deixaram sequelas nas rela-ções com os palestinos.

A Jordânia, que antes da guerra de 67ocupava o West Bank, abriu mão de suapretensão sobre a área para o futuro Esta-do palestino.

A incorporação das terras palestinas àJordânia e a constituição de um Estadoúnico, com palestinos e jordanianos, tive-ram, penso eu, sua oportunidade, mas essapossibilidade foi se tornando, com o pas-sar do tempo, cada vez menos viável.

A transformação doHezbollah em partidopolítico é uma etapa

importante no processo dedescaracterizá-lo como umgrupo terrorista. Se isso de

fato vier a acontecer, umpoderoso obstáculo à paz

terá sido removido

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Egito

Até a assinatura, em 1978, dos Acordosde Camp David, Egito e Israel eram ferozesadversários. Desde então, tem se mantidoa paz entre os dois países, embora tensõeseventuais tenham ocorrido. Hoje, o Egitoestá ativamente envolvido nas negociaçõesde paz entre Israel e os palestinos, rece-bendo em troca substancial ajuda dos EUA(é o segundo beneficiário dessa ajuda, sóperdendo para Israel).

Arábia Saudita

A Arábia Saudita mantém relações diplo-máticas formais com Israel e tem, por trásdos bastidores, desempenhado certo papelnas negociações de paz entre Israel e ospalestinos. O país, porém, agora vítima deatentados perpetrados por grupos islâmicosradicais, tem procurado assumir uma posi-ção ambígua, ora apoiando as ações dosEUA, ora subsidiando com recursos finan-ceiros grupos extremistas islâmicos em di-versos lugares do mundo. A influênciasaudita em Washington é grande, certamentepor ser grande fornecedor de petróleo paraos EUA, o que, por outro lado, desagradaaos grupos islâmicos mais radicais.

O apoio ao Hamas visa principalmente acontrabalançar a crescente influência dosxiitas iranianos nas questões do OrienteMédio, já que tanto na Arábia Saudita comono Hamas predominam sunitas.

Rússia

Desde a independência de Israel, em1948, mais de 1 milhão de judeus emigra-ram da União Soviética para Israel, sendoque ela foi um dos primeiros países a reco-nhecer o novo Estado.

No período da guerra fria, num claro mo-vimento para contrabalançar a influência dos

EUA na área, a URSS apoiou os países ára-bes nacionalistas e os militantes palestinos.Após 1991, com a dissolução da União So-viética, a Rússia passou a atuar diplomati-camente no sentido de se alcançar a paz naregião, participando, juntamente com osEUA, a União Europeia e as Nações Unidas,do Quarteto. Venda de armas para a Síria e oapoio ao programa nuclear do Irã, que admi-te pacífico, causam ainda suspeitas quantoà real posição da Rússia.

ATORES MULTIESTATAIS

União Europeia

A União Europeia, também membro doQuarteto, procura apresentar um ponto devista europeu comum, que não seja ummero apoio às posições americanas. A UEdefende a criação de dois Estados no terri-tório palestino, como delineado no Mapada Paz. Tem dado substancial ajuda eco-nômica aos palestinos, mas tem se recusa-do a ajudar o governo liderado pelo Hamasdesde que este rompeu com MahmoudAbbas, em 2007.

Nações Unidas

As Nações Unidas têm estado no cen-tro dos esforços diplomáticos para a solu-ção do conflito Israel-palestino, a começarpela proposta de 1947 para a formação dedois Estados na Palestina. Israel tem sidoduramente criticado pela sua alegada ne-gação de cumprir diversas Resoluções doConselho de Segurança. Em 1975, a URSSe um bloco de países árabes, na Assembleia-Geral, onde não há direito de veto, mas tam-bém não se votam sanções, fizeram apro-var uma moção condenando o sionismocomo racismo, mais tarde anulado. As Re-soluções 242 e 328, aprovadas, respectiva-mente, após as guerras de 1967 e 1973, ain-

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da hoje servem como base para negocia-ções de paz. Eventualmente, forças de paztêm atuado na região, interpondo-se entreos litigantes para evitar conflitos entre eles.

Liga Árabe

A Liga Árabe mantém uma posição hos-til contra Israel. Após a guerra de 67, a Ligaaprovou uma resolução que ficou conheci-da como a dos três “nãos”: não à paz, nãoao reconhecimento e não às negociaçõescom Israel, e, por isso, após o tratado de pazdo Egito com Israel, o Egito teve suspensasua filiação à Liga por cerca de uma década.Atualmente, a Liga Árabe defende posiçõesmais moderadas, como a Iniciativa Árabepara a Paz, uma forma de Israel normalizarsuas relações com o mundo árabe. Os go-vernos sunitas da Liga desejam que as ne-gociações de paz avancem, uma forma decontrabalançar a crescente influência do Irãxiita sobre o Hamas e o Hezbollah. Muitosisraelenses duvidam, entretanto, da sinceri-dade da Liga Árabe quanto aos planos depaz devido a campanhas na mídia e aos tex-tos dos livros usados nas escolas árabesvoltados contra os judeus.

GRUPOS POLÍTICOS

Hezbollah

O Hezbollah, na atualidade, é um dosgrupos mais radicais voltados para a des-truição do Estado de Israel. Ele nasceu,entretanto, unicamente em função dos pro-blemas do Líbano.

Em 1961, o imã Mussa Sadr, clérigo xiitacom forte influência iraniana, dirigiu-se aoLíbano, lá pregando a jihad junto à comu-nidade xiita do país, a mais pobre, atrasadae sub-representada, concentrada em doisbolsões, um no sul e outro próximo ao Valede Bekaa, junto à fronteira da Síria. Ele criouo grupo Amal (esperança), com o propósi-to de fazer com que a comunidade xiita do

Líbano pudesse ser adequadamente repre-sentada no Governo e, assim, tivesse con-dições de sair do atraso e vencer a pobrezacrônica num Estado religioso.

No começo dos anos 70, os palestinos daOLP, expulsos da Jordânia, chegaram ao Lí-bano, dirigindo-se para o sul, de onde teriampossibilidade de realizar ataques a Israel.Como Israel revidava aos ataques, os xiitasmigraram para as favelas de Beirute, deixan-do o sul do país para os homens da OLP.

Quando a guerra civil irrompeu em 1975,os xiitas integravam o bloco muçulmanoprogressista que estava engajado na lutacontra a hegemonia maronita-conservado-ra, que queria a manutenção do statu quono país. Com o apoio de Kadafi, da Líbia,Sadr organizou a milícia xiita com o propó-sito de lutar para a implantação no Líbanode um estado islâmico em que os xiitas teri-am representação proporcional. Em 1978,Sadr e Kadafi se desentenderam e Sadr foifuzilado por ordem de Kadafi, sendo subs-tituído no controle do Amal por Nabih Berri,líder ocidentalizado que lutava pelo esta-belecimento de um sistema democrático noLíbano, onde os xiitas tivessem uma re-presentação no governo do país compatí-vel com seu número. A recusa da Nabih delutar pela constituição de um Estadoislâmico desgostou os fundamentalistas doAmal, agora com os ânimos exaltados peloêxito da revolução islâmica no Irã (1978).

Esta foi a origem do grupo Hezbollah (Par-tido de Deus), criado por dois radicaisfundamentalistas: Muhammad HusseinFallallah e Hussein Musawi. O Hezbollah estácomprometido com a implantação no Líbanode um Estado islâmico, nos moldes do Irã.

Com a invasão do sul do Líbano por Israelem 1982, e a consequente expulsão da OLPpor Israel, ficou criado um vazio no sul, logodominando a anarquia; o vazio foi preenchi-do por grupos radicais, na maioria xiitas, quese empenhavam numa feroz resistência aos

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judeus e, em geral, ao mundo Ocidental. Como aval sírio e o apoio iraniano, o Hezbollahiniciou as primeiras operações suicidas queexpulsaram os norte-americanos da Força dePaz; após algum tempo, em 1986, os israelen-ses se retiraram para uma linha de segurançade apenas 12 milhas de largura. Desde 1983,os xiitas combateram tanto os cristãos comoos palestinos na infame Guerra dos Campose conquistaram Beirute Ocidental. A retiradade Israel do Líbano dar-se-ia apenas 18 anosmais tarde, em 2000; o protetorado sírio ter-minaria em 2005. Após o fim da guerra civilem 1992, o Hezbollah transformou-se em par-tido político e, nas eleições de 2005, num Par-lamento de 128 lugares conquistou 14 cadei-ras. Recentemente, teve seu poder ampliado,conquistando o direito de veto em diversossetores governamentais.

O Hezbollah é reconhecido pelos EUAcomo grupo terrorista e recusa toda influ-ência ocidental e qualquer compromissocom Israel. Recebe apoio material e finan-ceiro do Irã e da Síria.

A sua transformação em partido políti-co, conforme já discutido quando tratamosdo Líbano, abre a possibilidade de o grupovir a abandonar suas táticas terroristas, em-bora não a curto prazo.

Hamas

O Hamas (ânimo, empolgação)31, tambémconsiderado pelos EUA como organizaçãoterrorista, foi criado em 1987 pelo sheikAhmed Yassim, oriundo do violento grupoIrmandade Muçulmana do Egito, uma dissi-dência da OLP de Yasser Arafat que querque a “bandeira de Alá cubra cada polegadada Palestina”. A criação do Hamas foi de-corrente da necessidade de aproveitar amobilização da juventude palestina durantea Primeira Intifada bem como para preen-

cher o vazio político criado pelo afastamen-to geográfico da OLP dos territórios ocupa-dos. Seus estatutos, publicados no ano se-guinte, apelam para todos os muçulmanoslibertarem o território em mãos israelensespor meio de uma violenta jihad. A ênfase dogrupo no aspecto religioso contrasta com avisão secularista de outros grupos palesti-nos. Quando foi criado, contou com o apoiode certos grupos israelenses que julgavamdessa forma enfraquecer a OLP (hoje arre-pendem-se deste apoio, considerando oHamas como terrorista).

O Hamas é basicamente sunita e tem rece-bido o apoio da Arábia Saudita e, segundoalguns analistas, também do Irã, o que parecemenos provável devido à condição xiita deste.

Em janeiro de 2006, o Hamas, muito volta-do para a assistência social dos palestinos,venceu as eleições legislativas da AutoridadeNacional Palestina (ANP), indicando o primei-ro-ministro e o Gabinete, ficando MahmoudAbbas, da OLP, ainda como presidente. A re-cusa do Hamas de aceitar a decisão da ANP,de 1993 (Acordos de Oslo), de renunciar àviolência, reconhecer Israel e de aderir aosacordos já assinados, levou-o a sofrer san-ções por parte do mundo ocidental, que, des-sa forma, aumentou o seu apoio à OLP, o mai-or rival do Hamas. O fracasso das negocia-ções para formar um governo de coalizão coma OLP levou o Hamas a expulsá-la da Faixa deGaza, em junho de 2007, partindo o movimen-to palestino em duas facções e dificultandoainda mais os esforços para a paz.

O bloqueio da Faixa de Gaza por Israel, queteve início em 2008, e os consequentes ata-ques ao território israelense com foguetes deconstrução caseira levaram ao aumento dastensões na área, culminando, em dezembro de2008, com pesados ataques aéreos desferidospor Israel à Faixa de Gaza, causando a morte

31 São também as iniciais em árabe de Harakat Al Mulawa Al Islamya (Movimento de ResistênciaIslâmica).

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de mais de 400 palestinos e ferindo mais de 2mil, incluindo mulheres e crianças.

Jihad Islâmica

O grupo foi fundado em 1975 por estudan-tes palestinos refugiados no Egito, sendo de-pois organizado para operar na Faixa de Gazapor Fathi Shikaki, que permaneceu na lideran-ça do grupo até 1995, quando foi assassina-do, possivelmente por agentes israelenses. Oatual secretário-geral da Jihad é RamadanShallah, que vive em Damasco (Síria).

Diferentemente do Hamas, a Jihad nãotem nenhum papel no campo social. Temcomo objetivo a criação de um Estado pa-lestino islâmico e adestruição de Israelpor meio de uma guer-ra santa. Sua caracte-rística marcante é aoposição que faz aosgovernos árabes ali-nhados com o Ociden-te; embora tendo des-ferido ataques contraIsrael, seu principalalvo são os dirigentesque traíram o Islã adotando práticas oci-dentais totalmente contrárias à sharia eseguindo políticas que não se coadunamcom os ensinamentos do Profeta.

Fatah

O Fatah, fundado por Yasser Arafat nadécada de 50, é o maior partido palestino e,diferentemente do Hamas, é inteiramente se-cular. Após ter atuado por muitos anos ver-dadeiramente como grupo terrorista, desde acriação da ANP reconheceu o Estado de Is-rael, renunciou ao uso da violência e partici-pa ativamente, com seu presidente,Mahmoud Abbas, do processo de paz, em-bora, é forçoso reconhecer, o seu braço ar-mado (as Brigadas Al Aqsa), ocasionalmen-te, conduza ações retaliatórias contra Israel.

CONCLUSÃO

A questão palestina é de difícil solução,mas o estabelecimento de uma forma deconvívio entre israelenses e palestinos nosterritórios da antiga Palestina é indispen-sável para a paz mundial.

O estabelecimento de um Estado únicopara os dois povos parece ideia totalmentedescartada; a união da atual Jordânia com osterritórios da Cisjordânia e da Faixa de Gazapara a constituição de um Estado jordaniano-palestino não parece mais uma solução, prin-cipalmente após os acontecimentos do Se-tembro Negro. A única solução que resta é a

constituição de doisEstados, um para os is-raelenses e outro paraos palestinos, indepen-dentes, convivendopacificamente.

A implementaçãodessa solução enfren-ta, porém, muitas difi-culdades. Os palesti-nos insistem que Isra-el volte a ocupar as

fronteiras pré-1967, o que não é aceito pelosjudeus; pelo contrário, estes continuam afazer novos assentamentos na Cisjordâniae nas Colinas de Golã, estas pertencentes,antes da Guerra dos Seis Dias, à Síria (a reti-rada dos assentamentos da Faixa de Gazainiciada por Ariel Sharon foi um passo im-portante, mas tímido nesse sentido). A situ-ação de Jerusalém é outro ponto de contro-vérsia, pois os israelenses a consideram ca-pital una e indivisível de Israel, e os palesti-nos querem ficar de posse da Cidade Velha,na Jerusalém Oriental, onde está um dos lu-gares mais sagrados dos muçulmanos.

A política de troca de terras por paz, quetanto sucesso teve quando do Acordo dePaz de Israel com o Egito, fará parte, dealguma forma, da solução do problema.

O estabelecimento de umaforma de convívio entre

israelenses e palestinos nosterritórios da antiga

Palestina é indispensávelpara a paz mundial

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A situação dos refugiados palestinos éoutra das questões difíceis. Desde a Guerrade Independência, milhões de refugiadospalestinos, a que outros tantos vieram sesomar após a Guerra dos Seis Dias, procura-ram abrigo nos países árabes vizinhos, ondevivem, até hoje, em condições sub-huma-nas; sem terem o direito de naturalizaçãoreconhecido, vivem na condição de refugia-dos permanentes. Alguns fugiram de terrasque hoje são reconhecidamente de Israel,que não os aceita de volta de nenhuma for-ma. Possivelmente,uma forma de indeniza-ção terá de ser estabe-lecida para eles.

As condições atu-ais de vida na Faixa deGaza são terríveis, prin-cipalmente após o blo-queio decretado porIsrael quando do esta-belecimento do gover-no do Hamas na re-gião. Na Cisjordânia, asituação não é muito melhor, e haverá ne-cessidade de se criar os requisitos indis-pensáveis para a sobrevivência do futuroEstado palestino em termos econômicos, oque me parece uma tarefa extraordinaria-mente complexa. Seria indispensável o es-tabelecimento de um tipo de Plano Marshallpara a região, que ampliasse muito a ajudaque hoje é dada pelos Estados doadores.

Essa questão traz à baila o problema mai-or, que é o dos países muçulmanos em geral,onde as massas, pobres, sem acesso à edu-cação, não têm perspectivas para o futuro.A falta de capacidade do Islã em criar socie-

dades modernas, com acesso aos frutos dodesenvolvimento, está gerando, na juven-tude desses países, multidões de homens emulheres desesperados, cuja falta total deperspectivas leva-os inexoravelmente a su-cumbirem ao apelo de líderes radicais, en-grossando as legiões de homens e mulhe-res-bomba que agravam os problemas e afas-tam as soluções negociadas.

O fortalecimento dos grupos não radicaise o apoio às correntes modernizantes nospaíses muçulmanos é o que pode ser feito,

embora sejam medidascujas consequênciassó apareçam depois demuito tempo.

Os países ociden-tais podem pressionarpara que os governosatuais nos países mu-çulmanos se preocu-pem mais com a assis-tência às suas popu-lações, de modo quenão se criem condi-

ções para que os radicais assumam o con-trole da situação ou perturbem a ordempública por meio de atos terroristas.

O Quarteto, constituído por EUA,Rússia, União Europeia e Nações Unidas,parece o grupo adequado para resolver aquestão como um todo. A ausência daLiga Árabe nesse grupo é o aspecto maisnegativo, pois ela representa um grupode interesse relevante, sem o qual dificil-mente será exequível um acordo que sejaefetivamente implementado. Os pontosde vista do Irã e da Síria não podem serignorados.

Seria indispensável oestabelecimento de um tipode Plano Marshall para a

região, que ampliassemuito a ajuda que hoje é

dada pelos Estadosdoadores

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<POLÍTICA>; Palestina; Israel; OLP; Líbano; Iraque; Kuwait; EUA; Análise política;Geopolítica;

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PALESTINA: UMA TERRA, DOIS POVOS

BIBLIOGRAFIA

1 – Demant, Peter – O Mundo Muçulmano – Ed. Contexto, São Paulo, 2005, 428p.2 – “Expansão de colônia judaica na Cisjordânia é autorizada”, Renata Malkes, O Globo, 19/5/2009.3 – Hourani, Albert – A History of the Arab People, Harvard University Press, USA, 1991, 552p.4 – “Israel leaders mislabeled by foes”, Greg Sheridan, The Australian, 9 April 2009.5 – Johson, Paul – História dos Judeus, Imago, Rio de Janeiro, 1989, 654p.6 – “Obama exige que Israel detenha assentamentos”, Gilberto Scofield Jr., O Globo, 19/5/2009.7 – Oren, Michael B. – Seis Dias de Guerra, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 2004, 532p.8 – Council on Foreign Regulations, The Israeli – Palestinian conflict: http://www.cfr.org/publication/

CGME_transcritp.html9 – Hamas: http://www.cfr.org/publication/896810 – Hezbollah: http://oglobo.com/mat/2006/08/15/285279275.asp

Arquimedes de Siracusa, nascido no ano287 a.C. e falecido no ano 212 a.C., foi

uma das mentes mais brilhantes da Huma-nidade. Distinguiu-se na Matemática, naFísica e como inventor. No campo da Físi-ca, contribuiu para o desenvolvimento daHidrostática, tendo introduzido, entre ou-tras inovações, o famoso princípio que levao seu nome.

Diz a História que Hierão, rei de Siracusa,pediu a ajuda de Arquimedes para desco-brir, sem danificar a peça, se um ourives oenganara na pureza de uma joia de ouro.Estava Arquimedes pensando na soluçãodo problema apresentado pelo rei quandonotou que uma quantidade de água cor-respondente ao seu próprio volume trans-bordava da banheira quando nela entrava.Imediatamente, o sábio vislumbrou a solu-ção do problema pela comparação entre a

EUREKA! EUREKA!

ROBERTO GAMA E SILVAContra-Almirante (Refo)

quantidade de líquido derramado com omergulho da joia num recipiente cheio deágua, e a quantidade de líquido derramadopelo mergulho de iguais pesos de prata eouro, colocados no mesmo recipiente. Tãoentusiasmado ficou com a descoberta quesaiu à rua nu, gritando Eureka! Eureka!(Achei! Achei!).

Daí surgiu a definição do Princípio deArquimedes, por ele mesmo incluído noTratado dos Corpos Flutuantes: “Todocorpo mergulhado total ou parcialmente emum fluido sofre uma impulsão vertical,dirigida de baixo para cima, igual ao pesodo volume do fluido deslocado, e aplicadono centro de impulsão”.

Traduzindo em miúdos, para um objeto,que pode ser um navio, flutuar, o peso daágua deslocada tem que ser maior do que opeso do próprio objeto. O objeto que flutua,

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EUREKA! EUREKA!

então, apresentará um peso aparente bemmenor do que o real, por conta da impulsãovertical, dirigida de baixo para cima. O na-vio, quando flutua, apresenta, pois, um pesobem menor do que o seu peso total, incluin-do o da carga que transporta.

É com base no Princípio de Arquimedesque o transporte aquaviário é o mais baratodentre os sistemas modais de movimenta-ção de pesos, além de consumir menos ener-gia para movimentação de cargas. A compa-ração normal de custosobedece à série: umpara as aquavias, qua-tro para as ferrovias edez para as rodovias.

Tudo o que foi des-crito tem como objeti-vo adiar, sine die, umasangria desnecessáriado dinheiro dos con-tribuintes, em momen-to de crise, para asfal-tar a rodovia BR-319,que promoveria a liga-ção terrestre entrePorto Velho e Manaus.

A dita rodovia temum traçado paralelo aocurso do Rio Madeira,aquavia francamentenavegável entre osdois pontos terminais da rodovia. Não sedeve, a priori, condenar a abertura de umarodovia paralela ao curso de um rio nave-gável, eis que o ideal seria a existência devários sistemas modais, para conceder odireito de escolha aos usuários. Entretan-to, há que se considerar que a Amazônianão apresenta características continentais,mas as de um gigantesco arquipélago, tan-tos são os rios que a dividem em ilhas.

Já para deixar PortoVelho surge o primei-ro obstáculo: a travessia de balsa do pró-prio Madeira, para alcançar a sua margem

esquerda. Daí até a margem direita do RioAmazonas são 819 quilômetros de estrada.

Depois da travessia do Madeira, faz-senecessário transpor nada menos que 30igarapés, capazes de serem ultrapassadospor pontes. No caminho, entretanto, há trêsrios, o Castanho, o Igapó-Açu e o Araçá,que obrigam travessias por balsas. Depoisdisso, os veículos precisarão ainda embar-car em balsa para duas outras pernadas lon-gas: o Rio Amazonas, até a Ilha do Careiro,e ainda o trecho entre a Ilha do Careiro até

a margem esquerda doRio Negro, onde se lo-caliza a capital doAmazonas.

Com o fatorcondicionante doshorários das balsas, atravessia dos 819 qui-lômetros da BR-319poderá demorar unsdois dias para carrosde passeio e uns trêsdias para caminhões eônibus. Outrossim,devido às exigênciasambientais, que custa-rão R$ 653,5 milhões,a pavimentação da es-trada acabará custan-do R$ 1,35 bilhão, des-

pesa essa perfeitamente adiável.O sistema modal que deve ser utilizado,

prioritariamente, para manter a ligação en-tre Porto Velho e Manaus é, sem dúvida, oaquaviário. Seria muito mais econômico eduradouro investir numa empresa de trans-porte fluvial dotada com empurradores ebalsas para transporte de granéis, balsascom propulsão própria para transporte decarretas carregadas e, também, balsas comautopropulsão e camarotes para transpor-te de automóveis de passeio e respectivospassageiros.

A comparação normal decustos obedece à série: umpara as aquavias, quatropara as ferrovias e dez

para as rodovias

A Amazônia não apresentacaracterísticas

continentais, mas as de umgigantesco arquipélago,tantos são os rios que a

dividem em ilhas

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EUREKA! EUREKA!

Ora, se até no “igarapé” chamado Reno,na Alemanha, boa parte do transporte parao interior usa a aquavia, por que não fazero mesmo no caudaloso Madeira?

A duração da tra-vessia até Manauspara as balsas comautopropulsão seriaaproximadamente igualà da rodovia asfaltada,pois, navegando a 10nós (1 nó equivale a1.852 metros por hora),gastar-se-ia umas 45horas rio abaixo. A opção aquaviária, ade-mais, poluiria menos o ambiente, pois gas-taria menor quantidade de combustível que

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<PODER MARÍTIMO>; Hidrovia; Mentalidade marítima; Transporte marítimo; Políticainterna;

o transporte rodoviário e, além disso, prote-geria a cobertura vegetal primitiva existenteàs margens da projetada rodovia asfaltada,ponto muito importante para a manutenção

do equilíbrio ecológicolocal.

Entretanto, acredi-tem que, para conven-cer os responsáveispelo projeto deasfaltamento da BR-319 a mudá-lo para aversão aquaviária, tal-vez fosse necessário

muito mais do que Arquimedes desfilar nupela Esplanada dos Ministérios, em Brasília,bradando num potente megafone.

A duração da travessia atéManaus para as balsas

com autopropulsão seriaaproximadamente igual à

da rodovia asfaltada

SUMÁRIO

GlobalizaçãoCrise militarMito da repressão americana

Assimetria reversa

GLOBALIZAÇÃO, MONOPOLARIDADE E ASSIMETRIAREVERSA

REIS FRIEDE*Desembargador

GLOBALIZAÇÃO

Embora os Estados Unidos demonstremuma natural aversão em associar os fe-

nômenos da globalização e da monopo-laridade, muitos estudiosos preferem en-tender, pelo menos em parte, o processode globalização como uma consequênciadireta da plena restauração da liderançaabsoluta dos EUA no cenário mundial, apartir do início dos anos 90.

De fato – como ocorreu, em termos apro-ximados, no imediato período do pós-guer-ra (1945-1950) –, os EUA se constituem, nopresente momento, na única potência glo-bal completa, ou seja, detentora, simulta-neamente, de todas as variáveis do podernacional (como instrumentos de projeção– e imposição – da soberania), posto quesão, ao mesmo tempo, a maior potência eco-nômica, militar, política e psicossocial doplaneta, não obstante toda a sorte de re-

* Desembargador federal e professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro; mestre e doutorem Direito Público. Autor, dentre outras obras, do Curso de Ciência Política e Teoria Geral doEstado, 4a ed., Editora Forense Universitária, 2009.

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GLOBALIZAÇÃO, MONOPOLARIDADE E ASSIMETRIA REVERSA

centes acontecimentos relativos à chama-da crise global, herdada pela administra-ção Barack Obama.

Essa invejável posição foi resultado dire-to, como preferem entender alguns especia-listas em geoestratégia, da política empreen-dida na era Reagan, que ficou conhecidacomo contraforça e que originou, nas rela-ções Leste-Oeste, a chamada bipolaridadeconfrontativa, típica do início da década de50, com novo matiz decompetição tecnoló-gico-militar, cujo objeti-vo último foi, nas pala-vras de seus defenso-res diretos e indiretos(Ray Cline, AlexanderHaig, Zbigniew Brze-zinski, Thomas Enders,Robert Powers, entreoutros), “sufocar aUnião Soviética, fazen-do-a desviar seus es-cassos recursos parauma corrida armamen-tista, com novos mati-zes tecnológicos, exau-rindo, dessa feita, o seupotencial econômico”.

Crise militar

Na época (final dadécada de 70), inclusi-ve, era comum as es-colas de estado-maiordas forças armadas proclamarem a todoinstante a crise militar (e de liderança polí-tica) que minava o prestígio e a influêncianorte-americana no mundo (corroboradacom os fatos relativos ao resultado da guer-ra no Vietnã, 1975; o episódio da queda doxá e dos reféns no Irã, 1979; a intervençãocubana na África, 1975/1979; a insurreiçãona América Central – notadamente na Ni-carágua, 1980; etc.), nos seguintes termos:

“A crise militar dos Estados Unidospode ser descrita como a principal cau-sa da perda de poder relativo dessa Na-ção. Mais do que qualquer outro cam-po, foi a decadência bélica a razão fun-damental da decadência norte-america-na em questões de poder global e omotivo central da crise de liderança e dedeterminação política.

Não restam dúvidas de que o podermilitar continua sendoo principal fator de po-larização global relati-va e, nesse aspecto, ageratriz básica quecontribui para o statusde superpotência. Nomomento, é o poderiomilitar compacto degrande envergaduraque resguarda o títulode superpotência àUnião Soviética e, emdeterminado prisma, éo, ainda, poderoso ar-senal nuclear estadu-nidense que reserva àAmérica a denomina-ção honorífica de su-perpotência.

Na medida em queo mundo tende a semultipolarizar, emconsequência dosurgimento de novos

protagonistas no cenário mundial, a ca-pacidade militar de intervenção tenderáa adquirir maior importância no ambien-te internacional e, sobretudo, como ins-trumento eficiente de política nacional.

A Nação que não conseguir compre-ender, com precisão, o importante papeldas forças armadas no conjunto efici-ente da estratégia nacional, na conse-cução de seus objetivos nacionais atu-

A Nação que não conseguircompreender, com

precisão, o importantepapel das forças armadasno conjunto eficiente daestratégia nacional, na

consecução de seusobjetivos nacionais atuais e

permanentes, estaráirremediavelmente

condenada ao declíniovirtual de seu poderio

relativo e à atrofia de suaautonomia política e

econômica

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GLOBALIZAÇÃO, MONOPOLARIDADE E ASSIMETRIA REVERSA

ais e permanentes, estará irremediavel-mente condenada ao declínio virtual deseu poderio relativo e à atrofia de suaautonomia política e econômica.

Os Estados Unidos, neste momento,estão sofrendo as consequências de seusequívocos estratégicos que possibilita-ram a emergência da União Soviética comogrande potência militar no cenário mundi-al a partir das décadas de 60 e 70. A faltade visão global e o malogro em compreen-der os objetivos nacionais soviéticos fi-zeram a administração de Washingtoncometer um erro de tal proporção quecondicionou o ambiente mundial a um pro-cesso quase irreversível de recuo norte-americano em todos os campos de poderperceptível, especialmente o militar.

Pior, também, é que condicionou opovo americano a uma atitude passivaquanto à importância do instrumentomilitar, provocando, como efeito do de-nominado “trauma do Vietnã”, uma men-talidade míope que resolveu fechar osolhos para os acontecimentos externos,de interesse norte-americano, com peri-go de um novo isolamento da Américacom repercussões imprevisíveis.”Essa verdadeira doutrina estratégica de

bipolaridade confrontativa, que buscava tam-bém sepultar as ideias de bipolaridadedistensiva de Henry Kissinger (e, de formamais pretérita, as concepções de McNamara),foi constante e insistentemente ventilada,com maior ou menor ênfase, por seusidealizadores, em diferentes ocasiões, verbis:

“Representará o segundo centenárioo fim da idade americana? Talvez... masnão necessariamente, se os norte-ameri-canos tiverem o descortino de adaptarem-se às demandas de um mundo em evolu-ção. Entretanto, sozinhos ou num sistemapolítico internacional mais cooperativo, dealianças cambiantes e crescente regiona-lismo, é muito provável que os Estados

Unidos continuem sendo a esperança domundo durante mais tempo do que os pró-ximos 20 anos.” (Barry M. Meuse)

“...o fato é que, se empregássemostodas as nossas armas nucleares e osrussos empregassem todas as deles,cerca de 10% da humanidade seria ani-quilada. Isso é uma calamidade que estáalém do alcance da compreensão huma-na. É uma calamidade que não se justifi-ca de nenhuma maneira do ponto de vistamoral. Mas, do ponto de vista descriti-vo e analítico, não é o fim da humanida-de.” (Zbigniew Brzezinski)

“...embora os danos sejam terríveis,calcula-se que ambos os lados sobrevi-verão e serão capazes de se refazeremapós uma guerra nuclear.” (Conclusãodo estudo Ponast II, dos chefes do Es-tado-Maior Conjunto, EUA, 1980)

“De 30 anos para cá, a URSS se equi-pou com uma defesa absolutamenteperturbadora; toda Nação que dispõede tais meios pode um dia ser tentada autilizá-los.” (Marc de Joybert)

“Sendo insuperáveis em todas as di-mensões de força na década de 60, vi-mos a nossa liderança diminuir ou desa-parecer em setor após setor, ao mesmotempo em que tentávamos fazer ver àUnião Soviética que ambos poderíamosbeneficiar-nos no deslocamento de re-cursos militares para os usos pacíficos.A resposta soviética foi o aumento desua capacidade estratégica e bélica, bemcomo a busca de meios de projetar oseu poderio militar no mundo em desen-volvimento.” (Thomas O. Enders)

“A rivalidade é inerente num sistemaque funciona sem consenso global.”(Zbigniew Brzezinski)Também nessa fase das relações EUA-

URSS eram comuns as manifestações dedescontentamento com o nível de equilí-brio militar obtido, notadamente, pelas ini-

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GLOBALIZAÇÃO, MONOPOLARIDADE E ASSIMETRIA REVERSA

ciativas de Leonid Brejnev (1964/82), nosseguintes termos:

“A deterioração da superioridade mi-litar dos Estados Unidos é (ao lado dodeclínio econômico relativo) a segunda,e possivelmente a principal, razão, amiú-de oferecida, do declínio da influêncianorte-americana no mundo. Há apenas15 anos os EUA desfrutavam de esma-gadora superioridade em bombardeirosestratégicos, mísseis balísticos, ogivasnucleares e outros sistemas de armasimportantes. A partir de 1964, porém, co-meçou a expandir-se substancialmente odesdobramento de mísseis estratégicossoviéticos ante o crescente e gradativodesarmamento unilateral norte-america-no. Desde então, a URSS suplantou osEstados Unidos em diversos setores mi-litares, permitindo aos EUA conservarsua superioridade, ao menos por enquan-to, somente em alguns setores ligados àqualidade do equipamento e no númerode bombardeiros, quantidade geral deogivas termonucleares, esquadra de por-ta-aviões e força de helicópteros. Porém,a superioridade anterior dos EUA redu-ziu-se a um ponto em que os soviéticoslograram, grosso modo, equivalênciacom os EUA.

Mais importante que isso, os sovié-ticos parece que vão ou pretendem irmuito além da ‘equivalência’. Há indíci-os claros de que a URSS está determi-nadamente empenhada não em parida-de, mas em superioridade; a mesma queos Estados Unidos tinham em relação aeles, mas com uma grande diferença:Washington jamais utilizou essa vanta-gem contra Moscou, razão pela qualabriu mão da mesma; contudo, não hágarantias de que o Kremlin só deseje asuperioridade, com única e exclusiva in-tenção pacífica, de saciar o espírito mo-ral de seus dirigentes.”

O objetivo fundamental era não só en-cerrar de vez o decadente prestígio dasposições de Kissinger (como já afirmamos),flagrantemente pessimistas em relação aopotencial estadunidense, como tambémdesviar os rumos do confronto entre oslegisladores favoráveis (apelidados de fal-cões) e desfavoráveis (apelidados de pom-bas) a um substancial aumento do orça-mento militar estadunidense.

“(...) os Estados Unidos já não estãoem condições de operar programas glo-bais: precisam alentá-los. Já não podemimpor a solução que preferem (...) nossopapel terá que ser o de (...) incentivar ainiciativa de outros.” (Henry Kissinger)

“Do que os Estados Unidos preci-sam não é de falcões ou de pombas, masda sabedoria das corujas, que entendema natureza permanente do conflito in-ternacional e o papel da credibilidadeda força militar como instrumento depolítica nacional.” (Robert C. Powers)

Mito da repressão americana

Por outro ângulo, durante as décadasde 60 e 70 muitos intelectuais norte-ameri-canos expuseram o “mito da repressão ame-ricana”, isto é, o conceito de que o envol-vimento dos EUA na política de outras so-ciedades seria quase invariavelmente hos-til à liberdade e apoiador da repressão nes-sas sociedades. Hans J. Morgenthau, em1974, chegou mesmo a afirmar que “comuma invariável constância, desde o fim daSegunda Guerra, temos intervindo em nomeda repressão conservadora e fascista con-tra a revolução e a reforma radical. Numaépoca em que as sociedades se achamnuma etapa revolucionária ou pré-revolu-cionária, nós nos convertemos na primeirapotência do status quo pré-revolucioná-rio. Uma política assim pode unicamenteconduzir ao desastre moral e político”.

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GLOBALIZAÇÃO, MONOPOLARIDADE E ASSIMETRIA REVERSA

Como enérgica reação a este ponto devista, os partidários da política decontraforça também souberam, com reco-nhecida habilidade, desferir um verdadeirocontra-ataque a esse tipo de filosofia socio-lógica, impondo, por fim, uma doutrina quelegitimava, em última instância, as açõesinterventivas que se vislumbravam à época.

“A crença de que os Estados Unidosnão podem agir mal em nome dos valo-res da liberdade e da democracia é, evi-dentemente, tão errônea no exteriorcomo é nos EUA. Mas também é errô-nea a crença – mais prevalecente noscírculos intelectuais dos EUA nos anos70 – de que os Estados Unidos não po-deriam nunca agir bem em nome dessesvalores. É muito mais provável que opoder dos EUA seja empregado emnome de tais valores do que o poder dequalquer outra Nação importante.”(Samuel P. Huntington)Essa nova fase, indiscutivelmente, me-

lhorou a autoestima da Nação norte-ameri-cana, permitindo, por efeito, a restauraçãoda projeção do poderio (e da soberania)estadunidense no cenário internacional.

“(...) Este novo começo é uma renas-cença nacional.” (Ronald Reagan)

“Este notável desempenho deu for-ma ao desafio que enfrentamos hoje deadministrar sabiamente as forçasdesencadeadas pelo próprio dinamismo.Os Estados Unidos, por seu lado, en-contram-se atualmente restaurando o seupróprio dinamismo (...) O PresidenteReagan descreveu este novo começocomo uma renascença nacional. Os Es-tados Unidos vibram com um renovadosentimento de determinação nacional ede liderança internacional.” (T. O. Enders)Mais do que isso, contudo, viabilizou o

almejado retorno dos EUA à confortávelsituação de potência hegemônica únicanum novo contexto de mundo monopolar.

“As principais prioridades dos Esta-dos Unidos em matéria de política exter-na têm três componentes essenciais: afirmeza, a credibilidade e o equilíbrio.”(General Alexander Haig)Nesse aspecto particular, é forçoso con-

cluir, em absoluta sintonia com a posição devários estudiosos, que, diferentemente de al-gumas sínteses analíticas mais conhecidas,o resultado não satisfatório do envolvimentodos EUA na Coreia (1950/53) e, principalmente,no Vietnã (1964/75), como bem assim daURSS no Afeganistão (1979/85), decorreu,sobretudo, da confrontação bipolar indireta(posto que as superpotências da época ar-mavam de forma maciça os contentores dire-tos do conflito) e não propriamente de umapretensa força mora1 ou espiritual de deter-minação dos povos envolvidos. No Vietnã,em particular, não obstante a visão românticada impotência do gigante norte-americanovis-à-vis com as espetaculares táticas guerri-lheiras, é fato que se não fosse o fornecimen-to contínuo e maciço de armas soviéticas echinesas (nunca é demais lembrar que o Vietnãdo Norte possuía, à época dos fatos, a maiordefesa antiaérea de mísseis do mundofornecida e instalada pelos soviéticos), nãoteria ocorrido, durante praticamente toda aextensão temporal do episódio, o chamado“empate técnico” que tornou refém tanto oVietnã do Norte como o seu equivalente doSul. Aliás, essa conclusão é facilmente com-provada na análise do conflito coreano, noqual as tropas da ONU, lideradas pelo Gene-ral MacArthur, em apenas três meses recon-quistaram a península invadida, somente ca-racterizando o denominado “empate técni-co” com a entrada da China (com apoio téc-nico e bélico da URSS) por meio de mais de400 mil tropas “voluntárias”.

O mesmo aconteceu com os soviéticosno conflito do Afeganistão, considerandoque os EUA não mediram esforços em armare treinar (inclusive contratando mercenários)

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GLOBALIZAÇÃO, MONOPOLARIDADE E ASSIMETRIA REVERSA

os adversários da URSS na oportunidade, oque, posteriormente, ensejou os atuais pro-blemas com os talibãs naquela região.

Por outro lado, sem a confrontação deuma superpotência militar, a chamada Pri-meira Guerra do Golfo (1990) transcorreu semmaiores problemas para os EUA e seus alia-dos, mesmo considerando a envergadurado exército de Saddam Hussein (com maisde um milhão de homens), reputado um dosmaiores do mundo, à época dos fatos.

ASSIMETRIA REVERSA

Não obstante toda esta assertiva conclu-siva, é fato que, em idêntico exemplo – ouseja, na Segunda Guer-ra do Golfo (iniciada em2003) –, os mesmos re-sultados obtidos em1990 não lograram seapresentar de idênticaforma, fazendo surgir,com muito mais ênfasedo que no passado, umfenômeno outrora jáconhecido, que se manifestou de maneira maisevidente durante o conflito do Vietnã.

Ou seja, não obstante a importância dadenominada confrontação bipolar indireta,como efetiva explicação do insucesso daempreitada norte-americana naquela opor-tunidade, é fato que tal explicação apresen-ta-se insuficiente para o pleno conhecimen-to da sociologia geoestratégica relativa aotema, mormente se considerarmos a real di-mensão do autolimite do emprego do pode-rio bélico estadunidense na Indochina.

Destarte, foi especialmente durante a Guer-ra do Vietnã (e, em parte, focada nas percep-ções ímpares – e até então inéditas – deMcNamara) que a denominada assimetria

reversa se expressou com mais ênfase, reafir-mando o fenômeno segundo o qual aassimetria tecnológica de meios militares en-tre dois Estados – de forma diversa do que sepode concluir apressadamente – se subjugaao efeito da efetiva limitação do emprego detais instrumentos contra o oponente de limi-tados meios, em decorrência, sobretudo, dadificuldade de uma sociedade com elevadograu de civilidade aceitar os chamados da-nos colaterais em grande escala.

As dificuldades do Ocidente nas guerrasdo Iraque (Segunda Guerra do Golfo) e doAfeganistão, neste diapasão, são, portanto,muito mais facilmente explicáveis pela mani-

festação do fenômenoda assimetria reversa doque propriamente deum suporte logístico doIrã (no caso específicodo Iraque) ou de qual-quer outro Estado ou dealguma entidade para-estatal (no caso particu-lar do Afeganistão).

Portanto, em apertada síntese conclusi-va, podemos afirmar, sem qualquer receio deerrar, que os desafios do século XXI serãomuito mais caracterizados pelo fenômeno daassimetria reversa do que, como no séculopassado, por qualquer modalidade de con-frontação bipolar indireta, por parte de qual-quer entidade estatal formal.

Será, nesse sentido, muito mais um con-fronto de concepções ético-morais – comnecessidade de uma verdadeira reengenhariada própria forma de fazer guerras, em decor-rência da autolimitação do emprego da forçamilitar – do que propriamente de limitações(ou de contraposição efetiva) de meios ou,mesmo, de alta tecnologia militar.

Os desafios do século XXIserão muito mais

caracterizados pelofenômeno da assimetria

reversa

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<RELAÇÕES INTERNACIONAIS>; Direito de intervir; Globalização; Estados Unidos;Rússia; Iraque; Política dos Estados Unidos;

SUMÁRIO

IntroduçãoConsiderações estratégicasProjetos e prioridadesIncertezas e ameaçasNecessidades e soluçõesTarefas e missõesFormação de pilotos e tripulaçõesEvolução da tecnologiaAtuação integradaConclusão

AVIAÇÃO NAVAL: PERSPECTIVAS(*)

EDUARDO ITALO PESCE1

Professor

“When a sailor learns to fly he remains asailor, and the air for him is merely the roof ofthe sea.”

(Sir Walter Raleigh, c.1552-1618)(**)

INTRODUÇÃO

Em 1998, a Marinha do Brasil recuperouo direito de operar aeronaves de asa

fixa. O atual modelo de organização da Avi-ação Naval brasileira é de nítida inspiração

britânica. A aviação embarcada é operadapela Marinha, enquanto que a aviação depatrulha marítima baseada em terra é orgâ-nica da Força Aérea Brasileira (FAB).

Ainda em 1998, foram adquiridas aerona-ves de interceptação e ataque A-4 (AF-1/AF-

(*) Trabalho submetido à Revista Marítima Brasileira em julho de 2009.(**) “Quando um marinheiro aprende a voar ele continua marinheiro, e o ar para ele é apenas o telhado

do mar.” (tradução do autor)1 Especialista em Relações Internacionais, professor no Centro de Produção da Universidade do Estado

do Rio de Janeiro (Cepuerj), colaborador permanente do Centro de Estudos Político-Estratégicos daEscola de Guerra Naval (Cepe/EGN) e colaborador assíduo da RMB, da revista Segurança & Defesae do jornal Monitor Mercantil.

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AVIAÇÃO NAVAL: PERSPECTIVAS

1A) Skyhawk. Estas aeronaves começarama operar em 2000, tendo realizado o primeiropouso a bordo do Navio-Aeródromo MinasGerais (meses depois substituído pelo SãoPaulo) no início de 2001.2

O presente artigo examina a perspectivade renovação dos meios aéreos que cons-tituem a Aviação Naval brasileira, no con-texto estratégico considerado pela Estra-tégia Nacional de Defesa (END). O textobaseia-se em fontes e bibliografia de cará-ter ostensivo. As opiniões e os conceitosemitidos são estritamente pessoais.

CONSIDERAÇÕES ESTRATÉGICAS

A END foi aprovada pelo Decreto no

6.703, de 18/12/2008. Vários documentoscomplementares à nova estratégia ou deladecorrentes devem ser editados até o finalde 2010. Tais documentos tratam da reno-vação do material das Forças Armadas,assim como da reformulação de suas es-truturas e doutrinas.3

Até 30/6/2009, foram elaborados os Pla-nos de Equipamento e Articulação (PEA)das três forças singulares para o período2009-2030. A proposta de um Projeto de Leide Equipamento e Articulação da DefesaNacional (PLEADN), a ser submetida aoPresidente da República, deve estar con-cluída até 30/9/2009.

O Plano de Equipamento e Articulaçãoda Marinha do Brasil (PEAMB) sucede o

Programa de Reaparelhamento da Marinha(PRM), existente anteriormente. O novo pla-no visa a orientar a renovação dos meios e adistribuição espacial das forças, segundoprioridades estabelecidas pela END.4

A fim de cumprir sua destinação consti-tucional, a Marinha do Brasil passará a daràs tarefas básicas do Poder Naval a seguin-te ordem de prioridade: (1) negação do usodo mar; (2) projeção de poder sobre terra;e (3) controle de áreas marítimas.5 Acapacitação para o desempenho de tais ta-refas contribui para a dissuasão.

Para a primeira tarefa, os submarinos con-vencionais ou nucleares, as unidades ligei-ras de superfície (preferencialmente armadascom mísseis) e a aviação de ataque e patrulhabaseada em terra são meios adequados. Paraa segunda e a terceira, porém, é necessária amanutenção de um Poder Naval polivalente,com capacidade oceânica.

Isso significa que o Brasil deve possuirpelo menos uma Esquadra balanceada,nucleada em um ou mais navios-aeródromos(com os respectivos meios aéreos) e inte-grada por navios de combate de superfície,submarinos de propulsão nuclear e conven-cional e uma força anfíbia adequada, alémdos navios de apoio logístico móvel.6

Caso se concretize a perspectiva de cria-ção de uma segunda Esquadra, sediada nolitoral Norte/Nordeste do Brasil, esta teriapor atribuições defender a Amazônia pelomar e proteger os interesses nacionais na

2 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Aviação Naval, 92 anos”, Monitor Mercantil, Rio de Janeiro, 23, 24 e 25/8/2008, p. 2 (Opinião).

3 Cf. Presidência da República, Decreto no 6.703, de 18/12/2008 – Aprova a Estratégia Nacional deDefesa e dá outras providências (Brasília, 18/12/2008), pp. 58-59. Texto completo disponibilizadoem http://www.defesa.gov.br/. Cf. também Eduardo Italo Pesce, “Perspectivas para a Marinha doBrasil”, Monitor Mercantil, Rio de Janeiro, 22/5/2009, p. 2 (Opinião).

4 Ibidem.5 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Marinha do Brasil: perspectivas”, Revista Marítima Brasileira 129 (4/6):

104-120 – Rio de Janeiro, abr./jun. 2009. Cf. também Pesce, “Perspectivas para a Marinha doBrasil”, Op. cit. Cf. ainda Presidência da República, Op. cit., pp. 12-14.

6 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Uma segunda Esquadra para o Brasil?”, Revista Marítima Brasileira 129 (1/3): 153-160 – Rio de Janeiro, jan./mar. 2009. Cf. também Presidência da República, Op. cit., p. 12-14 e 41.

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AVIAÇÃO NAVAL: PERSPECTIVAS

área marítima situada ao norte de Natal-Dacar.Logo, sua composição não seria igual à daEsquadra sediada no Rio de Janeiro.7

PROJETOS E PRIORIDADES

O PEAMB inclui a obtenção de novosmeios flutuantes, aéreos e de fuzileiros na-vais, além da modernização dos existentes.No novo plano está prevista a implementaçãode vários projetos, visando à adequação e àrenovação da Aviação Naval e de suas plata-formas. Os projetos emandamento terão pros-seguimento até seremconcluídos.8

Está prevista a mo-dernização do Navio-Aeródromo São Paulo,a ser realizada pelo Ar-senal de Marinha doRio de Janeiro (AMRJ).Também serão modernizadas 12 aeronaves deinterceptação e ataque AF-1/AF-1A Skyhawk,assim como seis helicópteros de esclarecimen-to e ataque AH-11A Super Lynx.9

Foi adquirido um lote inicial de quatro(o total poderá chegar a 12) helicópterosanti-submarino S-70B Seahawk. A Mari-nha receberá 16 dos 50 helicópteros deemprego geral EC-725 Super Cougar en-comendados para as três forças singula-

res. Novos mísseis ar-superfície, para usodas aeronaves da Aviação Naval, tambémforam adquiridos.

Espera-se para breve o início do pro-cesso de obtenção de um lote de seis aero-naves de asa fixa, para missões de alarmeaéreo antecipado, reabastecimento em vooe apoio logístico. Estas aeronaves de se-gunda mão serão provavelmente do tipo S-2T Turbo Tracker, modernizadas e dotadasde motores turboélice.

Provavelmente, o NAe destinado a subs-tituir o São Paulo de-pois de 2025 teria umdeslocamento carre-gado de 40 a 50 mil to-neladas e seria capazde operar com cercade 40 aeronaves decombate. Estes são osparâmetros mínimos(ainda que não os ide-

ais) para operação com aeronaves moder-nas de tipo convencional.10

A END chamou a atenção para a neces-sidade de um navio de emprego múltiplo,semelhante ao navio-aeródromo de helicóp-teros de assalto (NAeHA) descrito em arti-gos deste autor.11 Um navio desse tipo(com ou sem doca para embarcações dedesembarque) poderá ser construído paraa Marinha do Brasil no futuro.12

7 Ibidem.8 Cf. Pesce, “Perspectivas para a Marinha do Brasil”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Marinha do Brasil:

perspectivas”, Op. cit. Cf. ainda Christopher P. Cavas, “Brazil Building Fleet to Protect Resources”,Defense News, Springfield, May 4, 2009, p. 20 (Worldwide Naval Forecast).

9 Cf. Pesce, “Perspectivas para a Marinha do Brasil”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Marinha do Brasil:perspectivas”, Op. cit.

10 Ibidem.11 Cf. Presidência da República, Op. cit., p.13. Cf. também Eduardo Italo Pesce, “Um navio-aeródromo

de helicópteros de assalto para a Marinha do Brasil”, Revista Marítima Brasileira 127 (7/9): 75-79– Rio de Janeiro, jul./set. 2007. Cf. ainda Eduardo Italo Pesce, “NAeHA: uma classe de navio dequarta geração”, Monitor Mercantil, Rio de Janeiro, 4/6/2008, p. 2 (Opinião). Cf. também EduardoItalo Pesce & Mário Roberto Vaz Carneiro, “Navios-aeródromo de helicópteros de assalto: novatendência?”, Segurança & Defesa 24 (91): 36-41 – Rio de Janeiro, 2008.

12 Cf. Pesce, “Perspectivas para a Marinha do Brasil”, Op. cit. Cf. também Cavas, Op. cit.

O futuro da aviação decaça na Marinha do Brasilestá ligado ao tipo de NAeque vier a ser selecionado

para substituir o atual

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AVIAÇÃO NAVAL: PERSPECTIVAS

Foi igualmente mencionada na END apossibilidade de desenvolvimento de umanova aeronave embarcada de interceptaçãoe ataque.13 O futuro da aviação de caça naMarinha do Brasil está ligado ao tipo deNAe que vier a ser selecionado para subs-tituir o atual. A evolução da tecnologia tam-bém deverá ser levada em consideração.14

INCERTEZAS E AMEAÇAS

Como observamos em trabalhos anterio-res, as guerras do século XXI tendem a serconflitos “não westfalianos”, nos quais o ini-migo não é necessaria-mente um Estado orga-nizado. Entretanto, amanutenção da capaci-tação militar convenci-onal das Forças Arma-das é indispensável, in-clusive para dissuadirpossíveis conflitosinterestatais.15

Mesmo no contextodos conflitos irregularese assimétricos de quar-ta geração, podem surgir ameaças ao uso pa-cífico dos mares que tornem necessário o em-prego de forças navais. Este é o caso da pira-taria no Golfo de Áden e litoral da Somália (naregião conhecida como “Chifre da África”) eem outras áreas marítimas estratégicas.16

Apesar disso, a ênfase do emprego dasMarinhas das principais potências está pas-

sando da guerra no mar para a projeção depoder sobre terra, em operações de tipo expe-dicionário. A aviação embarcada em NAe, osnavios de desembarque e a tropa de fuzileirosnavais são indispensáveis em tais operações.

Embora permaneça estável em nove onúmero de Marinhas que operam com ae-ronaves de asa fixa a bordo de algum tipode NAe, vem aumentando o das que optampela aquisição de um ou mais NAeHA ca-pazes de operar com helicópteros de gran-de porte, para o desembarque de tropa eequipamento nas operações anfíbias.17

Sete Marinhas atualmente operam com ae-ronaves STOVL (ShortTa k e o f f / Ve r t i c a lLanding), de decola-gem curta e pouso ver-tical, a bordo de seusNAe ou NAeHA. Essenúmero poderá aumen-tar no futuro – mesmose a Grã-Bretanha vier acancelar a substituiçãode seus atuais NAe ede suas aeronavesSTOVL embarcadas.18

O progressivo “encolhimento” da RoyalNavy vem sendo, em boa parte, motivadopelo custo da manutenção de uma presençamilitar britânica prolongada, no Afeganistãoe no Iraque. O futuro da Royal Air Force(RAF) também está ameaçado – o que pode-ria explicar possíveis pressões para absorverou extinguir a Aviação Naval de asa fixa.19

13 Cf. Presidência da República, Op. cit., p. 14.14 Cf. Pesce, “Perspectivas para a Marinha do Brasil”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Marinha do Brasil:

perspectivas”, Op. cit.15 Cf. Eduardo Italo Pesce, “Guerra de quarta geração: implicações para a Marinha do Brasil”, Revista

Marítima Brasileira 128 (1/3): 113-132 – Rio de Janeiro, jan./mar. 2008.16 Cf. Henrique Peyroteo Portela Guedes, “Pirataria marítima – uma ameaça em escala global”, Revista

Marítima Brasileira 128 (10/12): 159-179 – Rio de Janeiro, out./dez. 2008.17 Cf. Pesce & Carneiro, Op. cit. Cf. também Pesce, “Guerra de quarta geração”, Op. cit.18 Cf. Norman Polmar, “Back to the Future,” USNI Proceedings 135 (7/1,277): 88-89 – Annapolis, July

2009 (Royal Navy).19 Ibidem.

A manutenção dacapacitação militar

convencional das ForçasArmadas é indispensável,inclusive para dissuadir

possíveis conflitosinterestatais

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AVIAÇÃO NAVAL: PERSPECTIVAS

NECESSIDADES E SOLUÇÕES

Na Marinha do Brasil, a Força Aeronavalé atualmente constituída por seis esqua-drões de helicópteros e um de aviões. Nos-sa Marinha dispõe ainda de três esquadrõesregionais de helicópteros de emprego ge-ral, sediados em Manaus (AM), Ladário(MS) e Rio Grande (RS), que atuam nas áre-as dos respectivos Distritos Navais.

Nos próximos anos, podem ser criadosmais três esquadrões regionais de helicópte-ros, em Belém (PA), Natal (RN) e Salvador(BA). Caso se confirme a obtenção de aviõespara missões de alarme aéreo antecipado, re-abastecimento em voo e apoio logístico, de-verá ser criada, na Força Aeronaval, uma uni-dade aérea para operá-los.20

Os meios aéreos que constituem a AviaçãoNaval brasileira operam com o NAe São Pau-lo e com diversas classes de navios de super-fície, além de apoiar as operações do Corpo deFuzileiros Navais (CFN). A Base Aérea Navalde São Pedro d’Aldeia (BAeNSPA) é atual-mente a única base da Marinha capaz de apoi-ar aeronaves de asa fixa.21

Uma década após recuperar o direito deoperar aviões, nossa Aviação Naval ainda éuma força constituída basicamente por ae-ronaves de asa rotativa, e sua mentalidadeoperativa reflete esse fato. Tal peculiarida-de a coloca numa posição extremamente vul-nerável, diante de políticos ávidos por “ra-cionalizar” gastos e reduzir despesas.

A crônica falta de recursos, que vinhaforçando a Marinha a adiar a moderniza-ção ou substituição de seus meios, afetou

também a Aviação Naval.22 A penúria orça-mentária permanece em 2009. Aparentemen-te, a END ainda não conseguiu reverter oquadro de restrições financeiras a que es-tão sujeitas as Forças Armadas no Brasil.23

O pequeno número de aeronaves AF-1/AF-1A que será modernizado pela Embraer(apenas 12 das 23 adquiridas em 1998) éindicativo das limitações orçamentárias. Emcinco décadas, a Marinha do Brasil nãoconseguiu dotar nenhum de seus dois NAede um grupo aéreo completo, mesmo emconfiguração antissubmarino.24

O grupo aéreo embarcado num NAe detipo clássico (dotado de catapultas e apare-lhos de parada) seria constituído por aviõesde interceptação e ataque, reconhecimento,guerra eletrônica, guerra antissubmarino,alarme aéreo antecipado e reabastecimentoem voo, além de helicópteros para missõesantissubmarino e de busca e salvamento.25

Considerando o período 1960-2009, oantigo Navio-Aeródromo Ligeiro (NAeL)Minas Gerais (que serviu de 1960 a 2001) eo NAe São Paulo (incorporado em 2001)operaram mais frequentemente com heli-cópteros do que com aeronaves de asa fixa.Para reverter essa tendência, será neces-sário ampliar o número de aviões disponí-veis para operar com o São Paulo.

TAREFAS E MISSÕES

No contexto de uma operação de proje-ção de poder sobre terra ou de controle deárea marítima, um NAe deve ser capaz deempregar suas aeronaves na defesa aérea

20 Cf. Pesce, “Marinha do Brasil: perspectivas”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Aviação Naval, 92 anos”,Op. cit.

21 Cf. Pesce, “Aviação Naval, 92 anos”, Op. cit.22 Ibidem.23 Cf. Pesce, “Marinha do Brasil: perspectivas”, Op. cit.24 Cf. Pesce, Op. cit. Cf. também Pesce, “Aviação Naval, 92 anos”, Op. cit.25 Ibidem.

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AVIAÇÃO NAVAL: PERSPECTIVAS

de uma força naval, no ataque a alvos desuperfície (em terra ou no mar) e na guerraantissubmarino – bem como em missõesespeciais vinculadas a estas três áreas.26

A opção pela aquisição do A-4 Skyhawk(AF-1/AF-1A na Marinha do Brasil) deveu-se, sobretudo, às limitações físicas doNAeL Minas Gerais, com menos de 20 miltoneladas de deslocamento carregado. OsA-4 são aeronaves de ataque subsônicas,com reduzida capacidade de atuação emmissões de defesa aérea.

O NAe São Paulo desloca quase 33 miltoneladas carregado e tem capacidade paraaté 38 aeronaves (20 no convés e 18 nohangar). Contudo, as duas catapultas avapor do navio são capazes de lançar avi-ões com peso máximo de 20 toneladas – oque exclui aeronaves navais deinterceptação e ataque modernas, inclusi-ve o Rafale M francês.

Tais limitações conduzem à atualizaçãoe adequação da capacidade operativa dadotação de aeronaves embarcada no SãoPaulo, por meio da modernização dos A-4Skyhawk (com radar multifunção e novoarmamento ar-ar e ar-superfície) e da ob-tenção de um lote de S-2T Turbo-Tracker(com radar de alarme aéreo antecipado).27

O resultado da seleção do novo caçamultifunção para a FAB (Projeto F-X2) nãoterá influência imediata sobre a moderniza-ção da Aviação Naval. Entretanto, com apossível retomada dos estudos visando àsubstituição do NAe atual, será precisodefinir com que tipos de aeronaves o futu-ro NAe operará, depois de 2025 ou 2030.

Apesar das restrições financeiras, o com-ponente de asa rotativa (principal segmen-

to da Aviação Naval brasileira) deve reno-var os seus meios. Oito dos novos helicóp-teros de emprego geral EC-725 SuperCougar serão configurados para operaçõesde busca e salvamento em combate, e oitopara ataque a navios de superfície.

Estes helicópteros serão dotados de ra-dar panorâmico e armados com mísseisantinavio AM39 Exocet. Esse míssil já estáhomologado para a família de helicópterosSuper Puma/Cougar. Os novos helicópte-ros S-70B Seahawk serão armados commísseis AGM-119B Penguin, também jáhomologados para uso nos Super Lynx.28

É preciso incrementar a operacionalidadede nossa Aviação Naval, com ampliação donúmero de horas de voo e maior disponibili-dade de combustível, sobressalentes e ar-mamento.29 A renovação dos meios aéreospoderá resultar na construção de novas ba-ses aéreas navais, bem como na moderniza-ção e ampliação da BAeNSPA.

FORMAÇÃO DE PILOTOS ETRIPULAÇÕES

Haverá necessidade de formar e ades-trar maior número de pilotos e técnicos demanutenção para as aeronaves da Mari-nha.30 A instrução de voo dos futuros avi-adores navais brasileiros, que atualmenteé ministrada em conjunto com a FAB e aU.S. Navy, poderá ser revista no futuro.

Após um estágio de instrução primáriaem aeronaves de asa fixa, os futuros avia-dores navais prosseguem a instrução rea-lizando o estágio básico de asa fixa ourotativa. Os pilotos de helicóptero são for-mados e especializados pela própria Mari-

26 Cf. Norman Friedman, Carrier Air Power (New York: Rutledge, 1981), pp. 114-140.27 Cf. Mário Roberto Vaz Carneiro, “LAAD 2009", Segurança & Defesa 25 (95): 10-21 – Rio de Janeiro,

2009.28 Cf. Pesce, “Marinha do Brasil: perspectivas”, Op. cit.29 Cf. Pesce, “Aviação Naval, 92 anos”, Op. cit.30 Ibidem.

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AVIAÇÃO NAVAL: PERSPECTIVAS

nha, enquanto que os selecionados parapilotar aviões prosseguem sua instruçãocom a FAB.

Os futuros pilotos de caça, após con-cluírem sua instrução de voo na FAB, se-guem para os Estados Unidos, a fim decompletar sua instrução operacional e sequalificar para pouso e decolagem em NAe.O mesmo deverá ocorrer com os pilotosdas aeronaves de alarme aéreo antecipa-do, se estas vierem a ser adquiridas pelaMarinha do Brasil.

Se a Marinha do Brasil adquirisse umlote de aeronaves de instrução com pro-pulsão a jato capazes de operar a bordo deNAe, a instrução operacional e a qualifica-ção de pilotos de asa fixa poderiam ser rea-lizadas no Brasil, sem necessidade de enviá-los aos EUA. Tal possibilidade chegou aser cogitada há alguns anos.

Outra possibilidade interessante seriapadronizar a instrução básica dos pilotosde helicóptero da Marinha, do Exército eda FAB, que passaria a ser realizada nomesmo local, utilizando o mesmo tipo deaeronave. Instrutores e alunos de esqua-drões das três forças singulares emprega-riam aeronaves de um pool de uso comum.

Os helicópteros de instrução poderiamser de propriedade do fabricante, o qual tam-bém se encarregaria da manutenção. Solu-ções desse tipo vêm sendo adotadas emvários países, com resultados satisfatórios.Devido à economia de escala obtida, o cus-to da hora de voo de instrução em asa rotativapoderia ser bastante reduzido.

Com a provável entrada em serviço denovos tipos de aeronaves, existe a possi-bilidade de retorno da qualificação de ob-servador aéreo naval (OAN) para oficiaisincumbidos do gerenciamento e da opera-ção dos sistemas de armas de bordo. Tal

tarefa, assim como a supervisão da manu-tenção das aeronaves, cabe hoje aos pró-prios pilotos.

EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA

Ao adquirir aeronaves A-4KU/TA-4KUSkyhawk do Kuwait em 1998, assim comoo ex-NAe francês Foch em 2001, a Marinhado Brasil optou por continuar operandoaeronaves convencionais de asa fixa, abordo de um NAe equipado com catapultase aparelho de parada. Será essa a melhorsolução no futuro?31

Há dois outros modos de operar aviõesa partir de navios no mar. O modo de ope-ração STOVL (Short Takeoff/VerticalLanding) utiliza corrida de decolagem cur-ta e pouso vertical, enquanto que o STOAL(Short Takeoff/Arrested Landing) empre-ga decolagem curta e pouso com aparelhode parada.

Nos dois casos, emprega-se uma rampade decolagem curta Ski Jump na proa donavio, eliminando-se a necessidade do sis-tema de catapultas. Um NAe equipado comaeronaves STOVL é menor e mais baratodo que um de tipo clássico. O sistemaSTOAL, por sua vez, requer aeronaves con-vencionais e um NAe de médio ou grandeporte.

Sem dúvida, a eliminação do sistema decatapultas – considerado o item de maiorcusto no projeto de um NAe – é vantajosa.Contudo, existe hoje apenas um caça comcapacidade STOVL, prestes a entrar em pro-dução: o norte-americano F-35B LightningII. Isso deixa todos os potenciais operado-res nas mãos de um só fornecedor.32

O F-35A (versão convencional de em-prego terrestre do Lightning II) retirou-sedo processo de seleção do novo caça da

31 Cf. Pesce, “Marinha do Brasil: perspectivas”, Op. cit.32 Ibidem.

RMB3oT/2009 91

AVIAÇÃO NAVAL: PERSPECTIVAS

FAB, devido às restrições impostas pelogoverno dos EUA à exportação detecnologias sensíveis, como a capacidadestealth (que proporciona baixa probabili-dade de detecção pelo radar).

O desenvolvimento de uma aeronaveembarcada de interceptação e ataque “ge-nuinamente nacional” esbarraria no proble-ma da escala de produção, uma vez que ademanda do mercado por aeronaves dessetipo é limitada. O mesmo pode ser dito paraoutros tipos de aeronave embarcada.

A França procurou contornar o problemacitado, desenvolvendoo Rafale M, uma versãoembarcada de seu novocaça multifunção. Fabri-cantes norte-america-nos e russos vêm ado-tando soluções análo-gas. Para ser bem-suce-dido, o projeto conjun-to de uma aeronavedeve prever, desde o iní-cio, versões de uso ter-restre e naval.

A lição é que a associação com outrosfabricantes e operadores (do próprio paísou de outros) pode ser vantajosa para odesenvolvimento de um projeto tão com-plexo e dispendioso. Entretanto, tais par-cerias envolvem riscos que devem sercriteriosamente avaliados. Não há “fórmu-las mágicas” nessa área.33

Em qualquer hipótese, as característi-cas da futura aeronave de combateembarcada da Marinha do Brasil depende-rão do tipo de NAe que vier a substituir oatual: STOVL, STOAL ou de tipo clássico.

A evolução tecnológica, porém, poderá criarnovas possibilidades, dentro dessas trêsopções.

Na próxima geração de NAe norte-ame-ricanos, as catapultas a vapor serão subs-tituídas por um sistema de lançamento ele-tromagnético de aeronaves, denominadoEmals (Electro-Magnetic Aircraft LaunchSystem).34 Entretanto, o custo de tal siste-ma seria provavelmente proibitivo parapotências médias como o Brasil.

Além disso, a atual geração de caçasmultifunção pode ser a última geração de

aeronaves de comba-te tripuladas. Estaspoderão ser substituí-das por veículos aére-os não tripulados(VANT) de combateem meados deste sé-culo. A questão tam-bém é quando (e se)tal tecnologia estarádisponível para paísescomo o Brasil.35

ATUAÇÃO INTEGRADA

Apesar de sua longa autonomia de voo,a aviação de patrulha marítima baseada emterra não é capaz de substituir plenamenteos meios aéreos embarcados. Entretanto, aaviação de patrulha – operada pela Mari-nha ou pela Força Aérea – é um dos com-ponentes vitais das forças de um teatro deoperações marítimo.36

A aviação de patrulha marítima da FABdispõe de diversas bases aéreas ao longodo litoral brasileiro. Em junho de 2009, du-

33 Ibidem. Cf. também Carneiro, Op. cit. Cf. ainda Friedman, Op. cit., pp. 148-160.34 Cf. EMALS: Electro-Magnetic Launch for Carriers (01 Apr. 2009). Texto disponibilizado por http://

www.defenseindustrydaily.com/.35 Cf. Pesce, Op. cit. Cf. também Carneiro, Op. cit.36 Cf. Pesce, Op. cit. Cf. também Pesce, “Aviação Naval, 92 anos”, Op. cit.

A aviação de patrulha –operada pela Marinha oupela Força Aérea – é um

dos componentes vitais dasforças de um teatro de

operações marítimo

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AVIAÇÃO NAVAL: PERSPECTIVAS

rante a realização das operações de buscae resgate ao voo 447 da Air France, ficoucomprovada a importância estratégica deFernando de Noronha, cujo aeródromo ser-viu como base operacional temporária.37

A ampliação da infraestrutura e das insta-lações de apoio existentes no arquipélago deFernando de Noronha foi proposta, por vol-ta de 1986, pelo Estado-Maior das ForçasArmadas (Emfa), então chefiado pelo Almi-rante de Esquadra JoséMaria do Amaral de Oli-veira. Diversas razõesimpediram, naquelaépoca, a concretizaçãode tal proposta.38

Do mesmo modo, aconstrução de umaeródromo semelhan-te em Trindade ampli-aria consideravelmen-te o valor estratégicodesta ilha oceânica. Hápouco mais de 25anos, essa ideia foi promovida pelo entãoministro da Marinha, Almirante de Esqua-dra Maximiano da Fonseca, mas tambémacabou não sendo implementada.39

Durante as buscas ao avião acidentado,ficou evidente a necessidade de aeronavesde patrulha marítima de longo raio de ação,como os quadrimotores turboélice P-3AMOrion a serem recebidos pela FAB.40 Nove

dessas aeronaves (de um total de 12 adqui-ridas em segunda mão nos EUA) estão sen-do modernizadas na Espanha.41

Está prevista a modernização dos P-95Bandeirante-Patrulha (“Bandeirulha”)remanescentes, os quais deverão perma-necer em serviço por mais alguns anos. Étambém possível que um novo tipo de ae-ronave de patrulha venha a ser desenvol-vido no Brasil, possivelmente a partir da

célula do jato comer-cial Embraer 190/195.

O uso futuro de al-gum tipo de VANT degrande autonomia, emmissões de vigilânciamarítima, não deve serdescartado. A aquisição,pelo Brasil, da capacida-de de obter imagens emtempo real a partir desatélites de vigilânciamarítima equipados comradar de abertura sinté-

tica é uma necessidade estratégica.42

As buscas ao voo 447 mostraram aindaa conveniência de mecanismos deintegração operacional entre a Marinha e aForça Aérea, mesmo em tempo de paz.43

Historicamente, a FAB recebeu forte influ-ência doutrinária da U.S. Air Force. Entre-tanto, a aviação de patrulha marítima nosEUA é operada pela Marinha.44

37 Cf. Eduardo Italo Pesce & Mário Roberto Vaz Carneiro, “Voo 447: defesa ainda fora da agendanacional”, Monitor Mercantil, Rio de Janeiro, 3/7/2009, p. 2 (Opinião).

38 Cf. Milton Sergio Silva Corrêa, “Por que Fernando de Noronha? – Voo 447 da Air France”, RevistaMarítima Brasileira 129 (4/6): 126-127 – Rio de Janeiro, abr./jun. 2009.

39 Cf. Pesce & Carneiro, “Voo 447: defesa ainda fora da agenda nacional”, Op. cit.40 Ibidem.41 Cf. Eduardo Italo Pesce & Mário Roberto Vaz Carneiro, “A adequação da aviação de patrulha”,

Segurança & Defesa 24 (92): 4-10 – Rio de Janeiro, 2008. Cf. também Eduardo Italo Pesce & MárioRoberto Vaz Carneiro, “Aviação de patrulha marítima”, Monitor Mercantil, Rio de Janeiro, 12/8/2008, p. 2 (Opinião).

42 Ibidem.43 Cf. Pesce & Carneiro, “Voo 447: defesa ainda fora da agenda nacional”, Op. cit.44 Cf. Pesce & Carneiro, “A adequação da aviação de patrulha”, Op. cit.

A aquisição, pelo Brasil, dacapacidade de obter

imagens em tempo real apartir de satélites devigilância marítima

equipados com radar deabertura sintética é umanecessidade estratégica

RMB3oT/2009 93

AVIAÇÃO NAVAL: PERSPECTIVAS

A FAB considera a patrulha marítima e aguerra antissubmarino como missões dis-tintas. Há necessidade de definir politica-mente a qual força singular caberia desem-penhar os dois tipos de missão no futuro.À Força Aérea, mantendo o atual modelode inspiração britânica, ou à Marinha, ado-tando o modelo norte-americano?

Talvez o Brasil devesse dividir as atribui-ções, ficando com a FAB a vigilância de su-perfície e com a Marinhaa guerra antissubma-rino.45 Se a FAB manti-ver a atribuição de ope-rar aeronaves de patru-lha marítima, deveráincrementar seu inter-câmbio com a RAF bri-tânica e com outras For-ças Aéreas que tambémtenham tal atribuição.

CONCLUSÃO

A operação multi-nacional para localizaro voo 447 envolveuações típicas de guar-da costeira, que so-mente foram possíveisgraças à participaçãode meios navais comcaracterísticas de em-prego oceânico, além de aeronaves de lon-go alcance.46 O episódio serviu para de-monstrar o equívoco de teses como a da“Marinha costeira”.

Uma aviação embarcada polivalente, ca-paz de operar a partir de NAe e de outrostipos de navios de superfície, constitui com-

ponente essencial de uma verdadeira Mari-nha oceânica.47 Embora não seja indispen-sável para negar o uso do mar a um possíveladversário, é fundamental para projetar po-der sobre terra e controlar áreas marítimas.

Na prática, o Brasil possui dois litorais,separados pela cintura Natal-Dacar e forman-do uma cunha apontada em direção à África.A área marítima setentrional (ao norte de Na-tal) defronta-se com o Atlântico Norte e a

extremidade sudeste doCaribe, enquanto que aárea meridional (ao sulde Natal) está inteira-mente voltada para oAtlântico Sul.

Estas duas áreastêm característicasdissimilares. Ao nortede Natal, a postura doPoder Naval brasileiropoderia ser de conten-ção estratégica, dandoprioridade à tarefa denegação do uso do mar.Ao sul, deveria ser deprojeção estratégica,priorizando as tarefasde projeção de podersobre terra e o contro-le de áreas marítimas.48

Ao longo da últimadécada, o componen-

te aeronaval de nossa Marinha passou porinúmeras mudanças, que incluíram o reiníciodas operações com aeronaves de asa fixa ea substituição do antigo NAe. Apesar dasrestrições financeiras, novas aeronaves es-tão sendo adquiridas, e parte das existentesestá sendo submetida a modernizações.

45 Ibidem.46 Cf. Pesce & Carneiro, “Voo 447: defesa ainda fora da agenda nacional”, Op. cit.47 Cf. Pesce, “Marinha do Brasil: perspectivas”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Aviação Naval, 92 anos”,

Op. cit.48 Cf. Pesce, “Uma segunda Esquadra para o Brasil?, Op. cit.

Uma aviação embarcadapolivalente, capaz de

operar a partir de NAe ede outros tipos de navios

de superfície, constituicomponente essencial de

uma verdadeiraMarinha oceânica

O episódio do voo Air

France 447 serviu parademonstrar o equívoco de

teses como a da“Marinha costeira”

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AVIAÇÃO NAVAL: PERSPECTIVAS

Os projetos de longo prazo incluem o pos-sível desenvolvimentode uma aeronave decombate embarcadanacional, assim como aconstrução de um su-cessor para o NAe SãoPaulo.49 Há também apossibilidade de obten-ção de algum tipo deNAeHA, para apoio a operações anfíbias ede controle de área marítima.50

Contudo, o futuro da Aviação Naval eda Marinha do Brasildepende da continui-dade dos investimen-tos. É preciso garantirum fluxo ininterruptode recursos financei-ros para todos os pro-jetos. Sem tal garantia,investimentos realiza-

dos com grande sacrifício correrão o riscode serem desperdiçados.

49 Cf. Pesce, “Marinha do Brasil: perspectivas”, Op. cit. Cf. também Pesce, “Aviação Naval, 92 anos”,Op. cit.

50 Cf. Pesce, “Perspectivas para a Marinha do Brasil”, Op. cit. Cf. também Cavas, Op. cit.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS>; Aviação naval; Navio-aeródromo; Estratégia;

O futuro da Aviação Navale da Marinha do Brasil

depende da continuidadedos investimentos

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AVIAÇÃO NAVAL: PERSPECTIVAS

BIBLIOGRAFIA

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2009 (Royal Navy).

SUMÁRIO

IntroduçãoNecessidade de um novo navio-aeródromoConceito de um navio-aeródromo modernoEscolha do tamanho adequadoModernos critérios de projetoEscolha da tecnologiaCaracterísticas principais do NAe 55.000LogísticaManutençãoCustosConclusãoAnexo – Desenhos do NAe 55.000

NAe 55.000 – UM SUCESSOR PARA ONAVIO-AERÓDROMO SÃO PAULO

RENÉ VOGT[*]

INTRODUÇÃO

O nosso atual Navio-Aeródromo (NAe)São Paulo (A12), após um período de

dois anos de extensas reformas, deverá serliberado para o serviço ativo em 2009. Suavida útil operacional deve se estender até

o quinquênio 2020-2025. Assim, um novoprojeto para a obtenção de um substitutoconstruído no Brasil já estaria atrasado,pois se estima em cerca de 15 anos o prazode projeto e construção, diante doineditismo de tal empreitada em nossopaís.

[*] Segundo-Tenente RM2-CA, engenheiro civil, empresário e membro da Sociedade dos Amigos daMarinha de São Paulo (Soamar-SP).

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NAe 55.000 – UM SUCESSOR PARA O NAVIO-AERÓDROMO SÃO PAULO

Se por um lado, entre os conhecedoresda matéria, há um grande consenso quantoà necessidade de um ou mesmo dois NAepara a Marinha do Brasil, será preciso con-vencer a opinião pública e o contribuintesobre, primeiro, as necessidades estratégi-cas e militares e, segundo, as vantagenstecnológicas e econômicas de um navio des-se tipo, concebido e construído no País.

Um novo NAe não é o único objetivo daMarinha do Brasil, mas, sim, parte de umnovo conjunto de meios para recompor umPoder Naval adequadamente dimensiona-do e equilibrado, capaz de defender os inte-resses nacionais. Alémdo poder aeronaval re-presentado pelo novoNAe, a Marinha deve-rá contar com novosmeios para a Força deSuperfície, a Força deSubmarinos, a compo-nente expedicionária(representada peloCorpo de FuzileirosNavais e pelos meiosde desembarque anfí-bio) e uma frota de navios de apoio logístico.

Entretanto, no conjunto de navios deuma Marinha bem dimensionada, percebe-se que o NAe representa uma peça suma-mente importante (e imprescindível) nacomposição de um Poder Naval compatí-vel com as dimensões territoriais e oceâni-cas, as riquezas e os interesses do Brasil.

O presente trabalho se propõe a explicaraos leigos (e justificar junto aos especialistas)os motivos da aquisição e o dimensionamentode um novo tipo de NAe. O texto baseia-se emfontes e bibliografia ostensivas, não refletin-do pontos de vista oficiais da Marinha do Bra-sil nem interesses comerciais, sendo a men-ção de nomes, marcas e modelos apenas aopção do autor, que deseja manifestar agrade-cimentos especiais ao Vice-Almirante José

Carlos Cardoso e ao Professor Eduardo ItaloPesce, pelo incentivo na realização desta pes-quisa, sugestões e leitura crítica do texto.

NECESSIDADE DE UM NOVONAVIO-AERÓDROMO

Já na Segunda Guerra Mundial, ficouevidente a supremacia da aviação embarcadanum teatro de operações marítimo. A caçaao Bismarck e as famosas batalhas do Pací-fico condenaram ao desaparecimento osgrandes encouraçados e cruzadores. Porémnão somente nas batalhas navais, mas tam-

bém durante o desem-barque dos fuzileirosnavais norte-america-nos nas ilhas do Pací-fico ficou clara a impor-tância da cobertura aé-rea durante as opera-ções anfíbias. Assim, onavio-aeródromo as-sumiu a supremacia doPoder Naval. Depoisdaquele conflito, trans-formou-se numa plata-

forma de projeção de poder, por meio desuas aeronaves embarcadas.

Os aviões embarcados num NAe cobremáreas marítimas num raio de mais de mil qui-lômetros em torno de uma força-tarefa, emmissões de ataque, de superioridade aérea ede guerra antissubmarino, e alcances aindamaiores quando falamos de busca e vigilân-cia aérea (AEW – Airborne Early Warning).Quando consideramos, além disso, a mobi-lidade do NAe, com sua capacidade de sedeslocar rapidamente como uma base aéreaflutuante, fica evidenciada a importância es-tratégica da aviação embarcada no controlede áreas marítimas.

O NAe é, por sua natureza, a plataformaideal para a consecussão de três das quatrotarefas básicas de Poder Naval, a saber: con-

Um novo projeto para aobtenção de um substituto

construído no Brasil jáestaria atrasado, pois se

estima em cerca de 15 anoso prazo de projeto e

construção

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trole de áreas marítimas, projeção de podersobre a terra e contribuição para a dissuasão.Essas tarefas podem ser de natureza defensi-va ou ofensiva. A projeção de poder sobreterra é a de perfil nítidamente ofensivo e pri-vilegia a cobertura de operações anfíbias.

Em função de seu tamanho, o NAe aten-de a quatro requisitos para exercer o PoderNaval efetivo, que são os seguintes: mobili-dade – capacidade de rápido deslocamento agrandes distâncias, permanência – operaçãoindependente por períodos prolongados co-brindo grandes áreas, versatilidade – apti-dão para realizar grande gama de tarefas emvários níveis de intensidade, e, finalmente,flexibilidade – organizar e coordenar gruposoperativos a partir de uma força-tarefa emfunção de missões de naturezas diversas.

Mas sua importância não se mostra ape-nas em situações de conflito de alta inten-sidade (guerra declarada), mas também emsituações de conflito de média intensida-de, ou seja, situações de imposição de em-bargos, acordos de paz e negação do usodo mar a agressores recalcitrantes. Em con-flitos de baixa intensidade ou na estabiliza-ção de crises, o resgate de populações emsituações de alto risco, a ajuda humanitá-ria e o apoio de tropas sob a bandeira daOrganização das Nações Unidas (ONU) emterra tornam-se igualmente importantes.

Em tempos de normalidade, desfraldar aBandeira Nacional e praticar a projeção depoder pacífica, para mostrar o poderio aser empregado em caso de ameaça aos in-teresses nacionais, tornam a sua mera pre-sença um elemento de dissuasão. Não po-demos esquecer que 95% do comércio in-ternacional do Brasil são escoados por viamarítima e que somos signatários de acor-dos internacionais para proteção da nave-gação contra atos ilícitos, salvaguarda da

vida humana no mar e garantia dos nossosinteresses na Zona Econômica Exclusiva(ZEE) e na plataforma continental.

Tampouco podemos esquecer as imen-sas reservas de gás natural e petróleo off-shore, o potencial das reservas mineraisdo fundo do mar e a pesca. No conjunto,estamos falando de uma área atlântica (de-nominada “Amazônia Azul”) de aproxima-damente 4,5 milhões de km2 sob nossa ju-risdição, com direitos e deveres.

CONCEITO DE UM NAVIO-AERÓDROMO MODERNO

Desde o final de década de 60, os norte-americanos abandonaram o conceito denavios dedicados, como o NAe de ataque(CVA) e o NAe antissubmarino (CVS). Du-rante a Segunda Guerra Mundial, os tiposde NAe eram diferenciados, sendo os NAede escolta (CVE) menores e com missõesprimordialmente de guerra antissubmarino.

Isso perdurou por algum tempo, quandoentão se decidiu pelo NAe polivalente, comum GAE (Grupo Aéreo Embarcado) compostopor aeronaves com diferentes atribuições: su-perioridade aérea, ataque, guerra antissub-marino (ASW – Anti Submarine Warfare), vi-gilância aérea eletrônica (AEW – AirborneEarly Warning), guerra eletrônica (EW –Electronic Warfare), reabastecimento em voo(Revo), busca e salvamento (SAR – Searchand Rescue) e entrega de pessoal e carga abordo (COD – Carrier On-Board Delivery).1

Esta decisão obrigou a uma revisão dotamanho dos navios-aeródromos para po-der abrigar um GAE maior e mais flexível.Além disso, um deslocamento maior deve-ria permitir maior sustentabilidade das ope-rações e maior raio de ação do navio. OsNAe projetados no período pós-guerra se-

1 Cf. Norman Friedman, U.S. Aircraft Carriers: An Illustrated Design History (Annapolis: Naval InstitutePress, 1986), pp. 7-29 et passim.

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guiam uma regra empírica, que determinavao número de aeronaves embarcadas em fun-ção da tonelagem do navio: uma aeronavepara cada mil toneladas de deslocamento.Entretanto, demonstraremos abaixo que émais realista supor-se uma aeronave por1.200 t de deslocamento carregado.

Modernamente, o tamanho e a capaci-dade do NAe tornaram-no um centro nodalda guerra centrada em rede (NCW –Network-Centric Warfare). Além de sernecessariamente o núcleo de uma força-tarefa no âmbito tático, estrategicamenteele passa a ter importância ainda maior porseu poder bélico, suamobilidade e sua capa-cidade de coleta de in-formações. Devido aocusto inerente ao seutamanho e sofistica-ção, tais meios sãohoje concebidos paraficarem em operaçãopor períodos entre 40e 50 anos, incluindo osperíodos de manuten-ção e modernização.2

ESCOLHA DOTAMANHOADEQUADO

Para ser razoavelmente eficaz em suapolivalência, admite-se que um NAe deve-rá deslocar entre 50 mil e 60 mil toneladascarregado, embarcando um total de 40 a 50aeronaves. No caso da Marinha do Brasil,supomos um NAe com um GAE de 42 aero-naves e um deslocamento carregado de 55mil toneladas. Justificaremos essa premis-sa com nossos cálculos mais adiante.

Um super-NAe de quase 100 mil t, comoos da U. S. Navy (USN), não se aplicaria à

nossa realidade nem corresponderia aosnossos interesses políticos e estratégicos.No outro extremo, um NAe como o nossoSão Paulo, com suas 33 mil toneladas, édefinitivamente insuficiente para abrigar umnúmero necessário de aeronaves modernas.

Tomemos como exemplo o NAe (PAN –Porte Aéroneufs Nucléaire) francês Charlesde Gaulle, com suas 40 mil t carregado: em-barca normalmente 30 a 35 aeronaves e teveseveras restrições de operação com aerona-ves modernas no início, passando por cus-tosas modificações antes mesmo de ser in-corporado, devido ao convés de voo de com-

primento limitado e aproblemas com cabosde parada e catapultas.

Num NAe menor,como o atual A-12, onúmero insuficiente deaeronaves embarcadastornaria necessário uti-lizar dois ou mais NAenuma mesma operação,a fim de atingir os alvosem terra e proteger a for-ça naval. Donde se con-clui que um NAe maioré mais eficaz na conse-cução de suas missões

a um custo de aquisição inferior, se compara-do a dois menores, por exemplo.

Não deve ser coincidência que o projetocomum anglo-francês de NAe (os dois novosCVF ingleses e seu irmão francês PA-2 con-vencional) tenha resultado num modelo de 65mil toneladas carregado (os franceses poderi-am ter repetido o Charles de Gaulle, de 40 milt) com um GAE previsto de 50 aeronaves.

Em estudos anteriores do início dos anos70, a U.S. Navy considerava urgente e críti-co o projeto de um novo NAe, pois os daclasse Midway estavam chegando ao seu

2 Cf. Friedman, Op. cit., pp. 323-333 et passim.

Devido ao custo inerenteao seu tamanho e

sofisticação, tais meios sãohoje concebidos para

ficarem em operação porperíodos entre 40 e 50

anos, incluindo os períodosde manutenção e

modernização

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limite de 30 anos de serviço, portanto próxi-mos às suas baixas. Além disso, no início dadécada seguinte seria a vez de os navios daclasse Forrestal atingirem sua idade limite.3

Nessa época, o CNO (Chief of NavalOperations), Almirante Elmo Zumwalt, pro-punha um “Sea Control Ship” (SCS), umNAe de aproximadamente 15 mil t, de customuito menor do que o da classe Nimitz.Cancelado pela USN, o projeto básico foiadquirido pela Espanha, tornando-se o atu-al NAe Príncipe de Astúrias.

O projeto de um navio maior (foram anali-sadas variantes com deslocamento entre25.000 e 40.000 t), denominado VSS (V/STOLSupport Ship), não prosseguiu além dos es-tágios iniciais. Finalmente, o grupo propôsum novo projeto de NAe de 50 mil a 60 mil t,que veio a ser conhecido como “TentativeConceptual Base Line” (T-CBL). Esses estu-dos foram realizados entre 1972 e 1974.4

No Federal Year (FY)-74 foi autorizadoum terceiro classe Nimitz, o CVN-70 CarlVinson, sem contudo descontinuar a ideiade um NAe de propulsão convencional me-nor. Assim, no período entre 1979 e 1981,esse projeto evoluiu para o CVV, um NAede porte médio, capaz de operar as aerona-ves típicas da época. O CVV foi baseadono T-CBL, pois esse era o único estudoconceitual alternativo disponível à época.

O CVV teve alguns itens corrigidos,como o balanço entre a tripulação do na-vio e o pessoal do GAE. Algumas caracte-rísticas do convoo foram modificadas paramelhorar a capacidade de sobrevivência donavio. Assim, ficaram apenas duascatapultas, uma na proa e outra lateral abombordo, e um dos dois elevadores origi-nais de boreste foi deslocado para a ré abombordo. Entretanto, operacionalmente,

o NAe estaria limitado devido ao númerorestrito de aeronaves especializadas, comoAEW, ASW, Revo e Recon. A decisão daUSN de adotar um GAE flexível nos seusNAe tornou o mero número de aeronaves,por si só, um item particularmente valioso.

No governo do Presidente Carter, esseprojeto, já com cerca de 50 mil t de desloca-mento carregado, foi reavaliado e considera-do insuficiente e operacionalmente arrisca-do demais. O CVV incorporava capacidadeplena de cabos de parada para operaçõesCTOL, e seu deslocamento carregado foi au-mentado à medida que o projeto evoluía, atéchegar a mais de 62 mil t. Este é outro exem-plo do critério de dimensionamento mínimode um NAe, feito por uma Marinha com am-pla experiência no assunto. Finalmente o pro-jeto CVV foi abandonado em favor de unida-des adicionais da classe Nimitz.5

MODERNOS CRITÉRIOS DEPROJETO

A arquitetura naval é a chave da abor-dagem criativa na fase preliminar do proje-to de um navio. A abordagem do projetoinclui não somente os espaços internos,mas uma ampla gama de itens, inclusive aescolha do tipo de casco.

Os três principais parâmetros prelimina-res de um projeto são os seguintes:

(1) capacidade de abrigar todo o inven-tário a bordo;

(2) prover a capacidade militar exigidade um NAe; e

(3) a escolha do nível de sofisticaçãoda tecnologia adotada para a solução finaldo projeto.

A escolha do tipo de NAe deve focarprimordialmente a variedade de aeronavesembarcadas, além das demandas específi-

3 Ibid., pp. 323-333.4 Ibid., pp. 335-357.5 Ibid., pp. 323-333.

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cas de uma ampla gama de missões nasoperações aéreas no mar. A variedade detipos nos leva a uma primeira decisão notocante ao número de aeronaves e o tipode operação: V/STOL, Stobar ou CTOL.6

Estes são determinantes no projeto doconvoo. Temos, pois, os três primeiros re-quisitos fundamentais:

(1) tipo e quantidade de aeronavesembarcadas e operadas;

(2) catapultas e aparelhos de parada; e(3) o conceito de propulsão do navio.7

O projeto começa, portanto, pelo convôo.Este deve oferecer o espaço necessário paramanobras, estacionamento, pit-stops e ope-rações seguras, notadamente de catapul-tagem e pouso simultâneos, tanto para ope-rações diurnas como noturnas. O compri-mento e a potência das catapultas devemser tais que permitam o lançamento das ae-ronaves maiores em condições de ventosfracos, como uma eventual compensação àvelocidade contínua do NAe abaixo de 28nós. O mesmo critério se aplica à pista depouso, que deve ter um comprimento sufici-ente para permitir a instalação de três cabosde parada (e uma barricada de emergência),assim como garantir um ângulo de descida(glide slope) seguro e um trecho de frenagemsuficiente para operações a velocidades re-duzidas do navio e pouco vento de proa.

Definidas as dimensões do convoo, se-gue-se o dimensionamento do hangar, se-gundo os critérios adotados, relativos aonúmero de aeronaves a serem abrigadassimultaneamente, ao tipo de manutenção eserviços de apoio a serem feitos a bordo eà disposição das oficinas e depósitos demateriais pertinentes.

Na sequência, dimensiona-se o casco:comprimento e boca na linha-d’água, cala-do, coeficiente de bloco e a razão L/B (com-primento/boca, na linha-d’água). Disso re-sultam características como: qualidadesnáuticas (seaworthyness), estabilidade, ar-rasto, potência de propulsão, velocidade ecapacidade de armazenagem (ou DWT –Deadweight Tonnage). Em inglês, a repre-sentação sucinta “S5” significa resumida-mente para o projetista: speed, seakeeping,stability, strength, style.

As dimensões gerais de um NAe sãodeterminantes na sua capacidade militar, ouseja, na sua capacidade de atender a todasas missões para o qual ele foi projetado.

Os requisitos operacionais exigem donavio a capacidade de operar em situaçõesde conflito de baixa, média e alta intensida-des, flexibilidade para cumprir vários tiposde missões e capacidade de operar e coo-perar com toda a sorte de meios militaresnavais, aéreos, espaciais e terrestres.

Os requisitos de habilitação definem a suacapacidade de sobrevivência e de absorveravarias em condições operacionais, asustentabilidade que vem a ser sua mobilida-de e autonomia, tanto no deslocamento quan-to no tempo de permanência em ação sem su-primento. Assim sendo, sua capacidade inter-na de armazenar combustíveis, munição e ví-veres é crucial para atender aos requisitos aci-ma, e o tamanho resultante tem reflexos dire-tos na sua capacidade de sobrevivência.8

ESCOLHA DA TECNOLOGIA

A demanda contínua relativamente ele-vada de energia elétrica a bordo e a dis-

6 V/STOL = Vertical/Short Takeoff and Landing (decolagem e pouso verticais ou curtos); Stobar = ShortTakeoff but Arrested Landing (decolagem curta e pouso com aparelho de parada); CTOL =Conventional Takeoff and Landing (decolagem e pouso convencionais).

7 Cf. Friedman, Op. cit., pp. 323-333.8 Ibid., pp. 323-333. Cf. também David Andrews, “Architectural Considerations in Carrier Design”,

International Journal of Maritime Technology (London: RINA, 2004).

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NAe 55.000 – UM SUCESSOR PARA O NAVIO-AERÓDROMO SÃO PAULO

ponibilidade de novas tecnologias, comomotores de propulsão elétricos mais mo-dernos, catapultas e aparelhos de paradaeletromagnéticos, viabilizam a escolha dasolução do navio “totalmente elétrico”.Portanto, podemos gerar apenas um únicotipo de energia (elétrica) para todas as apli-cações a bordo, mediante o emprego dageração combinada, com turbina a gás eturbina a vapor. Este princípio tem um ren-dimento térmico muito elevado, permitin-do uma grande eficiência no consumo docombustível de propulsão.9

A nova e moderna tecnologia de propul-são elétrica reduz de forma marcante a assi-natura acústica do navio devido ao nívelmínimo de vibrações e ruídos, característi-cas típicas dos motores elétricos. A real fon-te de ruídos seriam os geradores primários,porém estes são enclausurados e montadosem base elástica. Os demais fatores são re-lacionados à hidrodinâmica do casco.

O novo conceito de catapultas eletro-magnéticas (EMALS – Electro MagneticAircraft Launching System) traz vantagensem relação ao sitema a vapor, que pode-mos resumir assim: eficiência elétrica iguala 89%, menor peso e metade do volume,30% menos pessoal de operação e manu-tenção, custo de ciclo de vida 20% menor,vida útil das células das aeronaves 30%maior e menor sacrifício físico dos pilotos.O sistema de administração e controleinformatizado dos lançamentos permite umaflexibilidade operacional impossível de serconseguida com as catapultas a vapor.10

No presente caso, escolhemos duascatapultas de 75 m capazes de lançar aero-naves de 35 a 40 toneladas.

Teoricamente, parte da energia gasta nolançamento poderia ser recuperada no pou-

so. Não toda, pois não existe “moto contí-nuo” e, no lançamento, o peso e a velocida-de são maiores do que no pouso. Entretan-to, com o aparelho de parada elétrico, emvez de utilizar um pistão hidráulico para dis-sipar calor, o mecanismo aciona um geradorde eletricidade com a energia cinética doavião em pouso. Essa energia gerada podeser armazenada numa bateria de acumula-dores, disponibilizando energia para prontouso pela rede do sistema elétrico do navio.O princípio é idêntico ao sistema defrenagem magnético dos trens de alta velo-cidade como os TGV e ICE, onde, durante oprocesso, os motores passam a funcionarcomo geradores, devolvendo energia à rede.

Os cabos de parada seriam três, locali-zando-se o primeiro a 54 metros da bordada pista a ré, com distâncias iguais de 12metros entre si. A distância de frenagem doterceiro cabo até o final da pista é de 122 m.Isto assegura um ângulo de pouso de 3,5ºcom uma altura de 5,4 metros entre o gan-cho do avião e o bordo da pista paraenganchar o primeiro cabo.11

Um meio naval da importância e do cus-to de um NAe não pode simplesmente rele-gar sua proteção aos navios de escolta. ONAe é um alvo prioritário em qualquer ce-nário de crise. Seguindo a tendência uni-versal atual, o NAe deve ser provido comalguma capacidade defensiva, como mís-seis de curto ou médio alcances e canhõesde pequeno calibre. A mesma discussãoexiste atualmente para equipar o São Pau-lo com uma capacidade defensiva minima-mente aceitável.

Os sensores eletrônicos seriam os clás-sicos, com um conjunto de radares e MAGE(Medidas de Apoio à Guerra Eletrônica).

9 Ibid.10 Cf. “EMALS – Electromagnetic Aircraft Launch System.” Disponibilizado no sítio: http://

www.globalsecurity.org/military/systems/ships/emals.htm.11 Cf. estimativas baseadas em Friedman, Op. cit., pp. 323-333.

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Esses sensores funcionam isoladamente ouem conjunto com as aeronaves AEW. Afi-nal, o NAe deve coordenar as operaçõesda força-tarefa e precisa dispor dos meioseletrônicos adequados.

Com sua vocação natural para ser um pon-to nodal de um sistema militar integrado de

NCW (Network-Centric Warfare) e CEC(Cooperative Engagement Capability), oNAe torna-se a plataforma ideal para abrigara eletrônica necessária com capacidade C4 &ISR (Command, Control, Communications,Computers & Intelligence, Surveillance,Reconaissance).

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DO NAE 55.000:

I – Os cálculos efetuados nos levaram a um estudo de projeto de concepção com asseguintes características:

Comprimento total (comprimento do convoo): 273,00 mComprimento entre perpendiculares (linha-d’água): 254,00 mBoca na linha-d’água: 36,00 mRazão L ÷ B (linha-d’água): 7,05Coeficiente de bloco: 0,62Largura média do convoo: 66,00 mLargura máxima do convoo (no final da pista de pouso): 76,00 mÁrea do convoo, inclusive elevadores: 15.800 m2

Pista de pouso: 200 m x 24 mPontal: 27,70 mBorda livre (linha-d’água ao convoo): 18,00 mCalado máximo: 9,70 mDeslocamento carregado: 55.000 tDensidade de potência: 1,82 kW / tonelada (full-load)Potência total de propulsão: 100,0 MW nominaisPotência total instalada: 130,0 MWCiclo combinado: (4 x turbinas a gás 25 MW) + 18,0 MW (1 x turbina a vapor)Auxiliar: 44,40 MW (6 x diesel geradores)Rede elétrica (hotelaria + catapultas): 30,00 MWVelocidade máxima: 32 nósVelocidade de cruzeiro: 18 nósAutonomia: 19.000 n.m. / 18 nósMantimentos: 45 dias

II – Tripulação total, base comparativa:

a) O CVV previa 4.024 oficiais e praças;b) O Charles de Gaulle tem uma tripulação total de 1.950 homens com víveres para 45

dias;c) O novo projeto do CVN-21 prevê uma tripulação fixa de 2.400 oficiais e praças, com

pessoal dedicado ao GAE de 2.450 oficiais e praças para 80 aeronaves (30,6/aeronave).Total geral: 4.850 tripulantes.

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d) Para NAe 55.000, estimamos:Tripulação do navio: 1.240 oficiais e praças, inclusive esquadra.Tripulação do Grupamento Aéreo Embarcado: 1.260 oficiais e praças, média 30/aeronave.

III – GAE típico:

24 Aeronaves de ataque e/ou interceptação;06 Aeronaves para AEW, REVO e COD;12 Hes de múltiplo emprego;06 Drones de asa rotativa.

IV – Balanço de pesos (dados comparativos ao CVV, segundo Norman Friedman):12

Deslocamento a plena carga: 55.000 tDeslocamento Leve: 41.250 tPeso morto (DWT): 13.750 t42 aeronaves + sobressalentes: 550 tTripulação e pertences: 500 tMunição: 1.950 tCombustível de aviação: 3.700 tDiesel Naval: 5.700 tLubrificantes: 150 tÁgua: 300 tVíveres: 900 t

LOGÍSTICA

A operação de um novo NAe deste porte, junto com seus escoltas, demandaria um apoiologístico em missão que atualmente não poderia ser adequadamente realizado. Abaixo, oautor relaciona um estudo feito para navios logísticos de três tipos com missões diferentes,a partir de um mesmo navio ou casco. O objetivo seria a construção modular de um só tipode casco e propulsão para reduzir os custos de aquisição, manutenção e logística. Asopções seriam as seguintes:

a) T-AO: Navio-Tanque de Esquadra (Fleet Tanker);b) T-AOE: Navio de Suprimento de Força-Tarefa (Fast Combat Replenishment Ship);c) T-AKE: Navio de Cargas Secas e Munições (Dry Stores Supply Ship).

T-AO: NAVIO-TANQUE DE ESQUADRA, ou Fleet Tanker, para abastecer a esquadrano mar com combustíveis para navios, aviões e helicópteros.Dimensões do navio: 190,0 / 178,0 m x 28,0 m x 9,6 m x 0,65 = 31.100 t (f l)Diesel Naval: 8.000 + 2.310 = 10.310 t /12.130 m3

JP5: 8.000 + 200 = 8.200 t /10.120 m3

Lubrificantes: 1.000 t / 1.110 m3

Água: 140 t / 140 m3

Total volume necessário normal: 23.500 m3

12 Cf. Friedman, Op. cit., pp. 323-333.

RMB3oT/2009 105

NAe 55.000 – UM SUCESSOR PARA O NAVIO-AERÓDROMO SÃO PAULO

T-AOE: NAVIO DE SUPRIMENTO DE ESQUADRA, ou Fast Combat Stores Ship, paraabastecer a esquadra no mar com combustíveis para navios, aviões e helicópteros, materialseco em geral, munição e víveres secos, refrigerados e congelados. Arquitetura idêntica aoT-AO.Dimensões do navio: 190,0 / 178,0 m x 28,0 m x 9,6 m x 0,65 = 31.100 t (fl)Carga útil total: 15.800 tCargas líquidas, incluindo as de consumo próprio do navio: 19.980 m3

Cargas sólidas, disponibilidade: 6.020 m3

Distribuição da carga útil:Diesel naval: 12.400 tJP-5: 1.500 tLubrificantes: 200 tMunição: 800 tCarga seca e peças sobressalentes: 300 tVíveres secos: 350 tVíveres congelados/refrigerados: 250 t

T-AKE: NAVIO DE SUPRIMENTO DE CARGAS SECAS, seria aproximadamente o inver-so do T-AOE, ou seja, maior volume de cargas secas e pequeno volume de combustíveis.Arquitetura idêntica aos dois anteriores.

O NAe normalmente navega acompanhado de seus escoltas e, à guisa de estimativa,suporemos o NAe acompanhado de 4 F-7000 (esta também objeto de um estudo feito peloautor). Em função da autonomia de 19.000 n.m./18 nós e das demandas operacionais doNAe 55.000, concluímos que os escoltas compatíveis precisariam ser do porte da F-7000,considerando-se velocidade, autonomia e qualidades náuticas. Para simplificar, adotare-mos apenas o regime de navegação em velocidade de cruzeiro de 18 nós e um gasto 28% doestoque total de munição e mísseis do NAe e das F-7000, para um regime estimado de baixaintensidade. Estudo para o emprego de um T-AOE proposto:

ITENS

DIESEL NAV.

JP-5

LUBRIF.

MANTIMENTO

MUNIÇÃO +MÍSSEIS

NAe

5.700 t19.000 n.m.44 dias de mar

3.700 t20 dias oper.

150 t

900 t45 dias

1.950 t

4 x F-7000

4.000 t6.100 n.m.11 dias de mar

740 t20 dias op.

104 t

200 t30 dias

828 t

TOTAL DEM.SUPRIMENTO

25.700 t60 dias missão

9.000 t60 dias missão

254 t

500 t

780 t

T-AOEESTOQUES

12.400 t(10.300 t)

1.500 t(3.600 t)

200 t

600 t

800 t

No

REABAST.

F-7: 5 x 4.000 tNA: 1 x 5.700 t

F-7: 2 x 740 tNA: 2 x 3.700 t

78% estoq.total

1 x 200 t F 70001 x 300 t NAe

28% estoq.total

EXTENSÃODA MISSÃO

Total 60 dias

Total 60 diasTotal 60 dias

30 dias (tot. 60)15 dias (tot. 60)

106 RMB3oT/2009

NAe 55.000 – UM SUCESSOR PARA O NAVIO-AERÓDROMO SÃO PAULO

Para uma missão de 60 dias cobrindo apro-ximadamente 36 mil n.m. em regime de cruzeiroa 22 kts, demandas a partir do primeiro RAS:

1) Diesel Naval: Demanda total de25.700 t ou 2,5X a capacidade de diesel doT-AOE = 10.300 t.

2) JP-5: Demanda total de 9.000 t ou 2,5Xa capacidade de JP-5 do T-AOE = 3.600 t.

3) Soma dos dois tipos de combustí-veis necessários: 34.700 t. Portanto, o T-AOE da força-tarefa precisa ser reabaste-cido três vezes durante a missão por um T-AO, este com sua capacidade de 16 mil t nolimite. Com alguma alteração do regime deoperações durante a comissão de 60 dias,seria necessário um terceiro reabastecimen-to de combustíveis.

CONCLUSÃO: A força-tarefa de 1 xNAe + 4 x F-7000 em missão durante 60dias de mar demanda 1xT-AOE acompa-nhando e 1xT-AO (shuttle) para três abas-tecimentos em viagem, o T-AOEretornando da comissão ainda com reser-vas de combustíveis.

MANUTENÇÃO

As novas tecnologias aqui propostasnão constituem soluções exóticas. Masnão resta dúvida de que o pessoal de ma-nutenção especializado deverá passar poruma grande reciclagem. Entretanto,catapulta, aparelhos de parada e propul-são, como exemplo, terão seu enfoque téc-nico na engenharia e manutenção elétrica.O restante são quadros de distribuição egeradores convencionais.

A eletrônica será mais moderna e natu-ralmente demandará novos conhecimentose práticas. Os armamentos idem. E todosos demais equipamentos mecânicos e má-quinas auxiliares, como plantas de produ-ção de água potável, tratamento deefluentes etc., requerem novos procedimen-tos práticos de operação e manutenção.

No quesito propulsão, a cogeração gás/vapor já é utilizada há décadas, sendo umatecnologia consagrada. Apesar de ser ma-joritariamente empregada em instalações emterra, existem grupos industriais que ofere-cem seu emprego em navios. A manuten-ção não constitui maiores problemas. Asturbinas a vapor são mais simples e fáceisde operar e manter. O vapor é gerado emtrocadores de calor que utilizam os gasesda exaustão das turbinas como fonte decalor, equipamentos de pleno domínio dopessoal técnico da Marinha.

CUSTOS

A questão dos custos deve atender a umcompromisso entre o orçamento e os requi-sitos militares. Modernamente, os critériosde projeto visam ao custo do ciclo de vida,em torno de 40 a 50 anos para um NAe, emdetrimento do mero custo de aquisição. Estecritério influencia diretamente o custo deaquisição, que tende a ser mais elevado,dependendo da tecnologia aplicada. Entre-tanto, o mesmo é amortizado/compensadoao longo da vida útil do navio, em função decustos operacionais menores advindos doemprego de tecnologia moderna.

O custo de implantação da obra é prati-camente idêntico, tenha o NAe um deslo-camento de 40 ou 55 mil t. A construção deum novo NAe demandaria a implantaçãode um novo estaleiro com um dique secode pelo menos 320 m x 80 m.

Na construção do navio, o aço é a partemenos onerosa. Contudo, a propulsão e asmáquinas auxiliares, os equipamentos, a ele-trônica etc., que precisam ser instalados numou noutro, são muito próximos em volume,peso e custo, donde colocá-los num espaçointerno maior é mais vantajoso sob todosos pontos de vista. No quesito do elementohumano, espaços dimensionados mais ge-nerosamente resultam em maior conforto

RMB3oT/2009 107

NAe 55.000 – UM SUCESSOR PARA O NAVIO-AERÓDROMO SÃO PAULO

para a tripulação, seja na habitabilidade, nolazer ou no trabalho – isto é, em melhor de-sempenho do pessoal.

CONCLUSÃO

Pelo exposto, vemos que um NAe preci-sa realmente ter um ta-manho mínimo parapoder atender satisfa-toriamente à grandemultiplicidade de mis-sões em tempos depaz, crise ou guerra. Aflexibilidade na conse-cução de suas mis-sões, mediante a com-binação ideal do GAE,autonomia, sustenta-bilidade e suas quali-dades náuticas, são parâmetros que apon-tam na direção “maior é melhor”. Porém,dentro dos limites da realidade e objetivospolíticos de cada país.

O eterno antagonismo entre requisitosmilitares e custos orçamentários leva às

concessões feitas entre as partes envolvi-das, no tocante aos parâmetros de projetoe ao dimensionamento final de um moder-no navio-aeródromo.

As conclusões do nosso estudo noslevaram à estimativa de um NAe de 55 miltoneladas (full-load), com um GAE de 42 a

48 aeronaves (depen-dendo do mix) e pos-sibilidade de abrigar100% das aeronavesno hangar. O convoopermite operar todasas aeronaves existen-tes atualmente, compousos e decolagenssimultâneas, dia ounoite e com qualquertempo.

Este seria, em nos-sa opinião, o balanço apropriado entre de-sempenho militar e custos de aquisição eoperacional, considerando-se as vastasextensões oceânicas a serem cobertascom rapidez e eficiência pela Marinha doBrasil.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS>; Navio-aeródromo;

Um NAe precisa realmenteter um tamanho mínimo

para poder atendersatisfatoriamente à grandemultiplicidade de missões

em tempos de paz, crise ouguerra

Desenhos do NAe 55.000

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NAe 55.000 – UM SUCESSOR PARA O NAVIO-AERÓDROMO SÃO PAULO

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2007.

Em julho de 1999, tive a satisfação deser convidado para participar do início

das atividades do Ministério da Defesa, as-sumindo o cargo de chefe de Gabinete daSecretaria de Organização Institucional,mais conhecida pela sigla Seori. Até aque-le momento, meu contato com o ambientemilitar restringia-se à percepção clássica econstitucional do papel das Forças Arma-das e sua atuação político-histórica no mo-vimento militar de 1964, ingredientes bási-cos e suficientes para um simples cidadãointegrante da classe média brasileira. Sem-pre trabalhando no Governo Federal, mi-nha vida profissional esteve quase que in-teiramente voltada para a área econômica,distante, portanto, do meio militar.

AMAZÔNIA – ALI TAMBÉM É BRASIL*

JOSÉ ROBERTO DA COSTA**

Economista

Ao longo desses oito anos no convíviodiário com a classe militar, motivado pelodesafio de participar, ainda que de formaminúscula, da existência do mais novo mi-nistério brasileiro, além de construir novase maravilhosas amizades, passei a conhe-cer, no pôr do sol da minha vida profissio-nal, com imensa riqueza de fatos e de deta-lhes, a verdadeira importância das ForçasArmadas no contexto da Nação. Uma des-sas facetas, certamente desconhecida degrande parte da população brasileira, estáapoiada num inestimável trabalho por elasdesenvolvido na ocupação das fronteirasbrasileiras e no papel integrador decorren-te do atendimento social e de saúde, pro-porcionado a um expressivo e esquecido

* Artigo escrito em maio de 2007.** Economista do quadro do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Chefe de Gabinete da

Secretaria de Organização Institucional do Ministério da Defesa.

RMB3oT/2009 111

AMAZÔNIA – ALI TAMBÉM É BRASIL

segmento da população do nosso país. Nocaso, refiro-me especificamente à RegiãoNorte do Brasil, geograficamente conheci-da como Amazônia Legal.

Ali já estive algumas vezes, sempre a tra-balho com os militares,e não me canso de fi-car chocado com agrandeza do desafioregional, com a imensadimensão dos proble-mas, enfim, com a faltade atenção permanen-te do País para com umpedaço tão importantequanto gigantesco deseu território. Tambémaprendi a ficar fascina-do com o trabalho sus-tentado, nas condi-ções mais adversas,por um punhado deheróis anônimos, entreos quais se incluem ci-vis e, com marcante presença, militares.

Recentemente, tive a oportunidade, du-rante quatro dias, de participar de um gru-po de civis e militares, integrantes da mi-

nha Secretaria, que visitou organizaçõesmilitares na Amazônia Ocidental, incluin-do o Comando Militar da Amazônia,sediado em Manaus; as 1a e 2a Brigadasde Infantaria de Selva, localizadas, respec-tivamente, nas cidades de Boa Vista(Roraima) e São Gabriel da Cachoeira

(Amazonas); os Pelotões de Fronteira daslocalidadas de Normandia e Maturacá; e,ainda, o 7o Comar/Cindacta IV e o Coman-do do 9o Distrito Naval, os dois últimostambém sediados naquela capital.

Seria impossíveldescrever em brevespalavras o rol de imen-sas dificuldades deordem logística, ope-racional e, principal-mente, financeira quecaracteriza o trabalhopersistentemente de-senvolvido pelas For-ças Armadas naquelaregião. Mas é absolu-tamente necessárioevidenciar alguns fa-tos que me parecem desuma importância paramelhor percepção doesforço e da presençamilitar na região.

Antes de tudo, é preciso perceber e afir-mar que a presença das Forças Armadasna Região Norte do País acaba por repre-sentar a figura do próprio Estado, entendi-do como Poder Central.

Em função das enormes extensõesterritoriais a serem cobertas, aliadas às re-conhecidas dificuldades de acesso, a im-pressão que salta aos olhos é a de que asForças Armadas aprenderam espontanea-mente a se integrar, produzindo estreita co-

A presença das ForçasArmadas na Região Norte

do País acaba porrepresentar a figura do

próprio Estado

Nos dois Pelotões deFronteira visitados

respiram-se disciplina naformatura e

patriotismo no ar

112 RMB3oT/2009

AMAZÔNIA – ALI TAMBÉM É BRASIL

laboração operacional entre os ComandosMilitares da região, como forma de enfren-tar dificuldades comuns. Eu ousaria dizerque, antes mesmo do advento do Ministé-rio da Defesa, as Forças Armadas já vinhamali atuando de forma “combinada”, por for-ça do quadro de adversidades locais.

No campo específico de atuação do Exér-cito brasileiro naquela região, torna-se fun-damental evidenciar o trabalho de ocupa-ção territorial que é levado a efeito pelasdiversas Brigadas de Infantaria de Selva, comdestaque para suas unidades militares, co-nhecidas como Pelotões Especiais de Fron-teira (PEFs). Essas últimas localizam-se aolongo da extensa fronteira brasileira com setepaíses, mantendo contingente de cerca de50 militares em cada unidade. Assim comonas Brigadas, nos dois PEFs visitados res-piram-se disciplina na formatura e patriotis-mo no ar. O Hino Nacional, entoado no meioda selva amazônica com amor e perfeição,cria um clima de emoção que é, em seguida,potencializado com a Oração do Guerreirode Selva, recitada por todos os seus milita-res, sob o comando de um deles. É tão em-polgante que a impressão que se tem é deque o País está unido, ainda que por brevesmomentos. Outra maravilhosa lição de ci-vismo e patriotismo é proporcionada pelosjovens na faixa entre 8 e 12 anos, filhos daspequenas comunidades locais e integran-tes de batalhões mirins, que se apresentamperfilados e em marcha, assumindo posturade ordem e de respeito à Pátria, ainda nomeio de suas infâncias.

É evidente que os Pelotões Especi-ais de Fronteira não podem ser enten-didos simplesmente como uma unida-de militar pronta para um eventual con-fronto de razoáveis proporções. Dadasua configuração militar (reduzido nú-mero de militares) e suas naturais limi-tações em instalações e mesmo em ar-mamentos, cabe a eles um papel maior

e longe de ser simplesmente simbólico, qualseja demonstrar e consolidar fisicamente aocupação de nossas fronteiras, afirmandoa presença do Estado em defesa da sobera-nia nacional. Além disso, seus integrantes,militares e familiares, sempre interagem comas comunidades locais, na sua maioria in-dígenas, participando de ações efetivas deinserção social e também de auxílio médi-co, com as naturais limitações impostas pelaadversidade da região. A exemplo das de-mais unidades militares incrustadas na sel-va, aqueles Pelotões acabam por atuar, ain-

RMB3oT/2009 113

AMAZÔNIA – ALI TAMBÉM É BRASIL

da, como polos catalisadores de processoespontâneo de colonização, oferecendocom a sua presença uma forma de aproxi-mação humana, sob aégide da ordem e dasegurança sempre de-vida pelo Estado.

Da mesma forma, ésignificativo o papeldesempenhado pelaMarinha do Brasil, nãosó no desempenho desua missão constituci-onal (controle, orienta-ção, fiscalização e segu-rança das vias fluviais)naquele imenso territó-rio, mas igualmente peloespecial e quase solitá-rio trabalho de proveratendimento médico às populações ribeiri-

nhas da região amazônica. Utilizando seusmeios navais apropriados (poucos, mas im-portantes navios de assistência hospitalar),

a Marinha desloca-sepraticamente durante oano inteiro, por milha-res de quilômetros, rioacima e abaixo, levan-do médicos, medica-mentos, equipamentose, também, a esperançapara os habitantes da-quele mundo tão des-conhecido e esquecidopela maioria dos brasi-leiros. São cerca de 160a 180 dias navegandonos rios amazônicos,acrescidos de 40 a 50dias de preparação

logística para a realização de tamanha tarefa,executando atendimento médico, locomoçãode pacientes e orientação humana em cente-nas de locais, com seus militares e civis abordo, envolvidos nesse admirável trabalhoque eu ousaria chamar de um SUS transpor-tado, único e navegante. Ali, onde tudo écomplexo e, por isso mesmo, difícil, a assis-tência médica proporcionada pela Marinhado Brasil – que é um dever do Estado – élevada ao cidadão ribeirinho, invertendo,naquela faixa do território nacional, ainda que

A assistência médicaproporcionada pela

Marinha – que é um deverdo Estado – é levada ao

cidadão ribeirinho,invertendo, naquela faixado território nacional, o

ciclo sabidamenteineficiente da assistência à

saúde pública no Brasil

114 RMB3oT/2009

AMAZÔNIA – ALI TAMBÉM É BRASIL

com escassos recursos, mas, sem dúvida,com muitos méritos, o ciclo sabidamenteineficiente da assistên-cia à saúde pública noBrasil. A exemplo dosPelotões de Fronteira,essa atividade é quasedesconhecida em âmbi-to nacional, porém pos-sui a expressão inequí-voca de um grandeexemplo de envolvi-mento militar com obem-estar da popula-ção civil.

Nesse contexto de atuação militar com-binada, e certamente incentivada pela ad-versidade comum, cabe também ressaltar o

papel fundamental desempenhado pela Ae-ronáutica. Centenas de missões aéreas deapoio logístico, transporte de pessoal e decarga são executadas ao longo do ano, des-tinadas às mais diversas localidades, inclu-sive àquelas que só podem ser alcançadaspor via aérea. Alguns Pelotões de Fronteirasão exemplos típicos desse nível de restri-ção. Ali, os parcos bens da civilização sóchegam por avião. O Exército depende mui-to desse indispensável apoio logístico paracumprir seu relevante papel naquela região.A exemplo das demais Forças, a Aeronáuti-

ca executa ações cívico-sociais e de assis-tência à saúde junto às comunidades mais

longínquas, por meiode mutirões formadospor equipes multidis-ciplinares, além de par-ticipar decisivamentede evacuações aero-médicas em toda a re-gião amazônica. Com-binada com as demaisForças, a Aeronáuticapratica missões de as-sistência às popula-ções assoladas por ca-

lamidades públicas (secas, queimadas, en-chentes), em apoio às autoridades estadu-ais. A sua área de atuação é tão extensa e

decisiva que abrange, inclusive,a manutenção dos pontos deapoio para controle do espaçoaéreo daquela vasta região.

A observação cuidadosa daatuação das Forças Armadas naAmazônia reafirma a necessidadede elas serem contempladas comvolumes crescentes de recursoshumanos e financeiros para utili-zação naquele pedaço do País,sem que isso possa representarchoque de interesses com o go-

A Aeronáutica praticamissões de assistência àspopulações assoladas por

calamidades públicas(secas, queimadas,

enchentes), em apoio àsautoridades estaduais

RMB3oT/2009 115

AMAZÔNIA – ALI TAMBÉM É BRASIL

verno estadual. É sabido que as Forças sãoobrigadas, anualmente, a fazer opções difí-ceis para aumentar a alocação desses meiosfinanceiros em seus li-mitados orçamentos.Por outro lado, não setrata simplesmente deinvestir no aumento dasimpatia da populaçãopelas Forças Armadas,mas sim de canalizar re-cursos específicospara quem sabe e podemelhor utilizá-los emnome do Estado.

Na Amazônia, asForças Armadas sãoamadas e desejadas, oferecendo, com a suapresença e atuação, um canal incansável deesperança para uma população esquecida

Na Amazônia, as ForçasArmadas são amadas e

desejadas, oferecendo, coma sua presença e atuação,

um canal incansável deesperança para uma

população esquecida pelamaioria dos brasileiros

pela maioria dos brasileiros. Operando qua-se sempre em situações adversas e muitasvezes críticas, elas não titubeiam em cumprir,

a qualquer custo, suasobrigações, em sacrifi-car o convívio familiarde seus integrantes eem despender recursospara amenizar o sofri-mento ou mesmo salvaruma única vida, quasesempre isolada e igno-rada naquela imensidãogeográfica. Sabem fazere fazem muito com pou-cos recursos e muita te-nacidade, num trabalho

de milhares de anônimos, movidos pelo pa-triotismo e pela vontade de afirmar que aque-le território é brasileiro.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<ÁREAS>; Amazônia; Forças Armadas;

AIR FRANCE, VOO 447MARINHA SUPERA DESAFIO NA MAIOROPERAÇÃO SAR* JÁ REALIZADA NO BRASIL**

SUMÁRIO

O desafioLocalização e recolhimentoOs númerosHomenagens

Entrevista do comandante da F-42Culto ecumênico e lançamento de flores no NordesteLançamento de flores no Rio de JaneiroCarta à tripulação da Constituição

SeminárioCaixas-pretasSalvamar Brasil

MissãoAtuaçãoComo contatar

* SAR (Search and Rescue) – Busca e Salvamento.** Texto compilado de diversas fontes, tais como: Boletins de Ordens e Notícias da Marinha (Bono),

Notas à Imprensa do Centro de Comunicação Social da Marinha, página oficial da Marinha nainternet, jornais etc.

O DESAFIO

No cumprimento da missão de Socorroe Salvamento do Salvamar Nordeste

SAR SNE 003/09, a Marinha do Brasil (MB)

teve participação primordial no trabalho debusca e resgate dos destroços e corpos dasvítimas do airbus A330-203, acidentado, daAir France, voo 447, Rio de Janeiro-Paris. Odesastre, sem sobreviventes, ocorreu na

CARLOS MARCELLO RAMOS E SILVACapitão de Mar e Guerra (RM1)

DEOLINDA OLIVEIRA MONTEIROJornalista

RMB3oT/2009 117

AIR FRANCE, VOO 447 – MARINHA SUPERA DESAFIO NA MAIOR OPERAÇÃO SAR JÁ REALIZADA NO BRASIL

noite de 31 de maio para 1o de junho últimos,quando a aeronave caiu no Oceano Atlânti-co, com 216 passageiros e 12 tripulantes.

A aeronave, de prefixo GZCP, havia de-colado às 19h03 (ho-rário de Brasília) doAeroporto Internacio-nal do Rio de Janeiro,transportando umbebê, sete crianças, 82mulheres e 126 ho-mens, além de seus 12tripulantes. O voo de-veria pousar às 6h10no Aeroporto Interna-cional Charles deGaulle, em Paris.

O último contato por voz recebido ocor-reu à 1h33 GMT1 de 1o de junho, segunda-feira, quando a aeronave se aproximava do

waypoint (ponto de referên-cia) Intol (01° 21’ S 032° 49’ W),localizado a 565 km da cidadede Natal (RN). A tripulação in-formou que esperava entrar noespaço aéreo controlado peloSenegal, na África, em cercade 50 minutos, no waypointTasil (04° 00’N 029° 59’W), eque o avião voava normalmen-te à altitude de 10.670 m(35.000 pés) e à velocidade de840 km/h. O avião então dei-xou a área de cobertura doCentro de Controle Aéreo(ACC) Atlântico.

O desaparecimento se deuapós a saída da zona de cobertura peloradar brasileiro e alguns minutos antes daentrada no espaço aéreo sob controle doACC Dacar, o que deveria ter ocorrido às

2h20 GMT. O últimocontato com o aviãoocorreu quatro horasapós a partida, às2h14 GMT, a cerca de100 km do waypointTasil e de 1.228 km deNatal, quando cercade dez mensagens au-tomáticas ACARS2 in-dicaram falhas. A tro-ca de mensagensACARS automáticas

durou cerca de quatro minutos. Naquelemomento, a aeronave atravessava áreacom formações meteorológicas pesadas.

1 Greenwich Mean Time – Tempo Médio de Greenwich, fuso horário de referência a partir do qual secalculam todas as outras zonas horárias. O horário GMT vem sendo substituído no meio civil, maisrecentemente, pelo UTC, acrônimo de Universal Time Coordinate – tempo universal coordenado–, também conhecido como tempo civil. É considerado o sucessor do GMT. Essa nova denomina-ção foi cunhada para basear a medida do tempo nos padrões atômicos mais do que nos celestes.

2 Aircraft Communications Addressing and Reporting System – sistema digital de envio de informaçõesentre aeronaves e estações terrestres, via rádio ou satélite. São mensagens simples e curtas queservem para analisar o comportamento da aeronave durante o voo e indicar falhas em sistemaselétricos e de pressurização.

Airbus A330-203 semelhante ao acidentado(Foto de Christopher Weyer)

O Salvamar recebeu ainformação oficial sobre odesaparecimento às 9h05

de 1o de junho. Vinte e doisminutos depois, suspendeuo navio de socorro distrital,

o Navio-Patrulha Grajaú

118 RMB3oT/2009

AIR FRANCE, VOO 447 – MARINHA SUPERA DESAFIO NA MAIOR OPERAÇÃO SAR JÁ REALIZADA NO BRASIL

Assim se iniciou o maior desafio SARcom que a MB se defrontou até hoje.

O Salvamar Brasil (Comando de Opera-ções Navais), que supervisiona o Serviço deBusca e Salvamento Marítimo em todo o Bra-sil (como será explicado adiante), recebeu ainformação oficial sobreo desaparecimento daaeronave às 9h05 dodia 1o de junho. Vinte edois minutos depois,suspendeu de Natal(RN) o navio de socor-ro distrital3 do SalvamarNordeste, o Navio-Pa-trulha Grajaú, com destino ao ponto estima-do do desaparecimento da aeronave, locali-zado a 680 milhas náuticas (1.260 km) de Na-tal e a 233 milhas náuticas (430 km) do Arqui-pélago de São Pedro e São Paulo.

Pouco mais de uma hora depois, no mes-mo dia, às 10h15, a Corveta Caboclo sus-pendeu de Maceió e, às 17 horas, a FragataConstituição, que se encontrava em Sal-vador, regressando da Operação UnitasGold, nos EUA, após 75 dias em viagem,

suspendeu com umaaeronave orgânicaAH-11A Super Lynx,ambas demandando aárea de buscas.

No decorrer dessedia, o Salvamar Brasile o Salvamar Nordes-te, utilizando informa-

ções do Comando do Controle Naval doTráfego Marítimo, acionaram os navios mer-cantes Douce France (França), Ual Texas(Holanda) e Jo Cedar (Holanda), que tran-sitavam nas proximidades do acidente e que

Onze navios da Marinha doBrasil envolveram-se

diretamente na operaçãode buscas

3 Navio em prontidão permanente para atender a missões de busca e salvamento.

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aceitaram participar das buscas. O SalvamarNordeste e o Salvaero Recife trabalharamconjuntamente para coordenar as ações,num primeiro momento, em busca de pos-síveis sobreviventes do acidente.

Em 2 de junho, sus-penderam da BaseNaval do Rio de Ja-neiro, com destino àárea de buscas, o Na-vio-Tanque AlmiranteGastão Motta e a Fra-gata Bosísio, esta, na-vio de serviço da Es-quadra, com uma aero-nave UH-13 Esquiloembarcada.

No dia 3, o Navio-Patrulha Grajaú e aCorveta Caboclo e, no dia 4, a FragataConstituição chegaram à área e iniciaramas buscas, em coordenação com as aero-naves da Força Aérea Brasileira (FAB),

passando a fazer criteriosa varredura deuma área que, ao final, se estendeu porcerca de 280.000 km2, o equivalente apro-ximado à superfície do estado do Rio Gran-de do Sul.

LOCALIZAÇÃO E RECOLHIMENTO

Em 6 de junho, a Corveta Caboclo loca-lizou e recolheu os dois primeiros corpos eobjetos que puderam ser identificados comosendo do voo 447 da Air France, fato esseque só foi informado à imprensa após tersido levado ao conhecimento dos familiaresdas vítimas pelos representantes dos Cen-tros de Comunicação Social da MB e da FAB.

Esse foi um cuidadoobservado ao longode toda a operação, emrespeito à angústia e àdor desses familiares.

No total, 11 naviosda Marinha do Brasilenvolveram-se direta-mente na operação debuscas: Navio de De-sembarque-Doca Riode Janeiro (suspendeude Porto Rico); Fraga-tas Constituição e

Bosísio (Comando do 2o Esquadrão de Es-colta – com o ComEsqdE-2 embarcado); Na-vio-Tanque Almirante Gastão Motta;Corvetas Jaceguai e Caboclo; Rebocador

1.350 militares da MBparticiparam das

operações embarcados nosnavios, além dos militares e

servidores civis que, emterra, prestaram o

necessário apoio logístico eoperativo

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de Alto-Mar Triunfo; e Navios-PatrulhaGrajaú, Guaíba, Goiana e Bocaina, além deseis aeronaves embarcadas – um UH-14 SuperPuma do EsqdHU-2, um AH-11A Super Lynxdo EsqdHA-1 e quatro UH-12/13 Esquilo doEsqdHU-1.

Juntaram-se, ainda, aos esforços de bus-ca e resgate três navios da Marinha Nacio-nal da França – o Navio Anfíbio Mistral, aFragata Ventôse e o Submarino Nuclear deAtaque Emeraude, este último a fim de auxi-liar o Navio de Pesquisa Pourquoi Pas –além dos Rebocadores de Alto-MarFairmount Expedition e FairmountGlacier, enviados pelo governo francês paraa busca das caixas-pretas da aeronave.

Foram resgatados 51 corpos e mais de600 partes e componentes estruturais daaeronave, além de bagagens diversas.

Os corpos resgatados foram entreguesà Polícia Federal e à Secretaria de DefesaSocial de Pernambuco para os trabalhosde identificação. Os destroços da aerona-ve e as bagagens recolhidas foram para oBureau D’Enquêtes et D’Analises Pour laSecurité de I’Aviation Civile (BEA), daFrança. A investigação sobre os fatoresque contribuíram para o acidente também éde responsabilidade do BEA e conta com oapoio do setor correspondente no Brasil, oCentro de Investigação e Prevenção de Aci-dentes Aeronáuticos (Cenipa).

Os muitos dias de mar e horas de voo atão longa distância das bases testaram o pre-paro e a capacidade da Marinha de dar su-

porte logístico (além do fornecimento de com-bustível), de enviar sobressalentes de terra ede realizar reparos no mar, sem que fosse afe-tada a capacidade de operação dos meios.Foi possível observar que as tripulações su-peraram a exaustiva e estressante rotina aque foram submetidas para o cumprimentodessa relevante missão humanitária.

Mesmo os navios que retornavam delongas comissões, como foi o caso do Na-vio de Desembarque-Doca Rio de Janei-ro, da Fragata Constituição, da CorvetaCaboclo e do Navio-Patrulha Goiana, apre-sentaram-se prontos, revigorados e efica-zes na cena de ação.

OS NÚMEROS

Aproximadamente 1.350 militares daMB participaram das operações embarca-

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dos nos 11 navios, além dos militares eservidores civis que, em terra, prestaramo necessário apoio logístico e operativo.Os navios da MB realizaram diversos rea-bastecimentos de combustível no mar, in-clusive de navios franceses, todos em con-dições máximas de segurança, possibili-tando ampliar a permanência desses mei-os nas buscas.

Foram mais de 150 dias de mar e de 33 milmilhas náuticas navegadas, além de mais de150 horas voadas pelasaeronaves da MB. Emface da magnitude doevento, muitos óbicestiveram que ser supera-dos, por vezes cominventividade. Desta-cam-se, entre outros:

– a realização deoperação a grandes dis-tâncias de bases deapoio, sendo a maispróxima Natal, a 680 milhas náuticas. Essefato demandava um trânsito mínimo de trêsdias até a área de operações;

– realização de transferência de óleo nomar entre os navios-patrulha da classeGrajaú e a Corveta Caboclo e o Rebocadorde Alto-Mar Triunfo;

– navios suspendendo do exterior ou re-gressando de comissões de longa duração,como a Haiti-VII (G-31), a Unitas-Gold (F-42), a Africana (V-19) e a Caribex (P-43);

– reabastecimento de aguada, sobres-salentes, material comum e de higiene nomar;

– reparos de pequena e média montasefetuados pelas próprias tripulações du-rante a operação;

– adaptações e execução de fainas derecolhimento e armazenagem de corpos,de pertences pessoais e de destroços daaeronave;

– mobilização dos meios para suspen-der. Mesmo aquelesque foram intempesti-vamente acionados,não estando de pron-tidão, como navio deserviço, fizeram-se aomar com presteza, re-duzindo o tempo parachegar à cena de ação;

– grande esforçoaéreo por parte das ae-ronaves orgânicas dos

meios navais;– eficaz coordenação entre as unidades

navais e os meios da FAB; e– pela primeira vez, a realização a bordo

dos navios da Esquadra de fainas de pick-up com aeronaves Black Hawk e SuperPuma da FAB.

Cabe ressaltar que a Força Aérea Brasilei-ra utilizou 12 aeronaves e contou com o apoiode aviões da França, dos Estados Unidos eda Espanha. Foram voadas cerca de 1.550

Foram mais de 150 dias demar e de 33 mil milhas

náuticas navegadas, alémde mais de 150 horas

voadas pelas aeronaves daMB

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horas, com buscas visuais numa área corres-pondente a 350 mil km2, mais de três vezes adimensão do estado de Pernambuco. O aviãoR-99, por sua vez, realizou busca eletrônicanuma área correspon-dente a 2 milhões dekm2, oito vezes a dimen-são do estado de SãoPaulo. Participaram, daFAB, 268 militares.

A missão SAR SNE003/09 apresentou-secomo um grande desa-fio para a MB. Nela, va-lorosos marinheirosdemonstraram não sóao Brasil, mas tambémà comunidade interna-cional, que, apesar dasgrandes dificuldadesinerentes à missão,possuem preciosos di-ferenciais: profissiona-lismo, criatividade, ex-tremada dedicação, es-pírito de solidariedadee determinação em su-perar as dificuldades.

A operação de busca e resgate foi en-cerrada oficialmente em 26 de junho.

HOMENAGENS

Entrevista do comandante da F-42

O Capitão de Fragata Marcos BorgesSertã, comandante da Fragata Constitui-ção (F-42), ao atracar em Recife no dia 14de junho, após sua participação nas bus-cas aos corpos e destroços do voo 447,disse em entrevista:

“O primeiro pensamento que me veio àcabeça foi o de solidariedade e da impor-tância de nossa presença na área para ten-tarmos resgatar possíveis vítimas do aci-

dente e partes da aeronave que pudessemauxiliar a descobrir as causas desta fatali-dade. Por isso, sabíamos que quanto maisrápido chegássemos maior seria a probabi-

lidade de encontrar-mos sobreviventes.Tivemos diversos mo-mentos difíceis, porémos dois primeiros diasapós a chegada à áreaSAR foram os pioresporque não conseguí-amos encontrar nadaque nos confirmasse oque havia sido avista-do pelas aeronaves daForça Aérea e que pu-déssemos afirmar quepertencia à aeronaveda Air France. Cabedestacar, mais umavez, a garra, a dedica-ção e o comprometi-mento da tripulação,que em nenhum mo-mento se deixou aba-ter ou perdeu o foco.Estes aspectos foram

fundamentais para o cumprimento da mis-são com êxito”.

A homenagem às vítimas

A missão SAR SNE 003/09apresentou-se como um

grande desafio para a MB.Nela, valorosos

marinheiros demonstraramque, apesar das grandesdificuldades inerentes à

missão, possuem preciososdiferenciais:

profissionalismo,criatividade, extremadadedicação, espírito de

solidariedade edeterminação em superar

as dificuldades

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Estas palavras, é cer-to, valem para todos osenvolvidos na opera-ção SAR SNE 003/09.

Culto ecumênico elançamento de floresno Nordeste

No dia 29 de junho,a Marinha do Brasil re-alizou cerimônia alusi-va à memória das víti-mas do acidente dovoo 447 da Air France.A bordo da FragataBosísio, houve um cul-to ecumênico e lança-mento de flores ao marnas proximidades doRecife. Participaramtambém outros cinconavios da Força que

haviam integrado asbuscas. O eventocontou com a presen-ça de autoridades daMB e da FAB; do côn-sul-geral da França noRecife, Yves Lo-Pinto;e de convidados dasinstituições que parti-ciparam, de algumaforma, das atividadesde busca e de apoio.Os familiares das víti-mas também foramconvidados.

A cerimônia ini-ciou-se com um longoapito da FragataBosísio, momento emque todos os naviosparticipantes do even-Aspecto geral da cerimônia no mar do Nordeste, na Fragata Bosísio

Aspecto da cerimônia a bordo da Fragata Bosísio. Da direita para a esquerda:o comandante do 2o Comando Aéreo Regional; o comandante do 3o Distrito

Naval; o cônsul-geral da França no Recife; e o diretor doCentro de Comunicação Social da Marinha

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to – Navio de Desembarque-Doca Rio deJaneiro, Corveta Jaceguai, Navio-TanqueAlmirante Gastão Motta, Navio-PatrulhaGrajaú e Navio-Patrulha Guaíba – hastea-ram a Bandeira Nacional e a bandeira daFrança. Todos os presentes cantaram oHino Nacional Brasileiro. Na ocasião, foilida a seguinte mensagem da Marinha doBrasil à sociedade brasileira:

“Completam hoje 29 dias a partir do mo-mento que suspendeu da Base Naval deNatal o Navio-Patrulha Grajaú, primeiro na-vio que se deslocou para a área do aciden-te com a aeronave da Air France.

No meio do caminho entre o Brasil e aÁfrica, próximo ao mais longínquo arquipé-lago brasileiro, o Arquipélago de São Pedroe São Paulo, olhos atentos no azul infinitodo Oceano Atlântico, nossos marinheirosbuscavam encontrar qualquer sinal que nosdesse a esperança de que conseguiríamossalvar vidas, uma das mais nobres tarefasda missão de nossa Marinha no mar.

Acompanhados de nossos irmãos daForça Aérea, que com suas aeronaves ras-gavam o céu realizan-do intensas e bem pla-nejadas buscas, nós,verdadeiros marinhei-ros, tínhamos nossoscorações apertados esolidários com a dordos que sofriam por terem, naquele fatídi-co voo, entes queridos.

A dor com certeza era imensurável, masservia como combustível para que resistís-semos às adversidades, atravessando horasbuscando, sem cessar, algo que desse umalento aos familiares, à sociedade brasileira ea todas as outras nações que, atentas, aguar-davam por notícias da área de buscas.

Os dias passavam, tínhamos dificulda-de de dormir, mas sabíamos o porquê deacordar. Não podíamos desistir, as buscastinham que continuar para manter acesa a

esperança de podermos ser os portadoresde boas notícias.

Enfim, os primeiros avistamentos aconte-cem, as aeronaves de nossa Força Aérea in-dicam a posição, os olhos atentos dos mari-nheiros, vigias de nossos navios, e dos pilo-tos de nossos helicópteros confirmam: sãoos destroços da aeronave desaparecida.

Ombreados em solidariedade, machucadospelas notícias que nós próprios levávamos,continuávamos as buscas sem tempo de pa-

rar e abraçar aquelesque, naquele momento,precisavam de consolo.

Corpos iam sendoresgatados, pertencese destroços iam sendorecolhidos, dias intei-

ros de envolvimento operacional. Indefiníveltempo de envolvimento emocional. A ope-ração dos militares é permeada pelo senti-mento de pesar. A farda estava coberta deluto. Mas a dor não podia nos deter.

Não podíamos também nos esquecerda obrigação que tínhamos em esclarecera opinião pública acerca de cada um dosfatos que ocorriam, sempre com o cuida-do e a consciência de que o primeiro pú-blico a saber de cada fato é o primeiro queverdadeiramente foi afetado: os parentesdas vítimas.

A cerimônia no mar do Nordeste, na Fragata Bosísio

A farda estava coberta deluto. Mas a dor não podia

nos deter

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Com o passar dos dias e em virtude dasforças da natureza, os avistamentos foramdiminuindo e, por fim, praticamente não erapossível achar maisnenhum objeto relaci-onado à aeronave.

Cada planejamentoelaborado foi essenci-almente técnico, deforma rígida as buscasforam realizadas. Dehélices e asas ao ar,com as quilhas de nos-sos navios rasgando omar, gente fardada, debinóculos nas mãos, instrumentosposicionados, ligados, 24 horas por dia,todos os esforços foram empreendidos atéque a permanência de nossos navios e ae-ronaves na área não tivesse mais sentido,já que mais nada era avistado.

Nesse momento, em que consideramos en-cerradas as buscas, gostaríamos de nos soli-

darizar com todos os que sofrem comas perdas de seus entes queridos.

Recebam os sentimentos destesirmãos brasileiros que atuaram nes-ta missão e tenham a certeza de quetudo que estava ao nosso alcancefoi feito com muita dedicação eprofissionalismo.

Que tudo o que conseguimosresgatar valha como o começo doconsolo e da paz que todos nósbuscamos neste momento de dor.”

Após, foi tocado “silêncio”,com apito marinheiro e corneta, eforam disparadas três descargas defuzilaria. Fez-se, então, uma oraçãosolene e três coroas de flores fo-ram lançadas ao mar: a primeira,pelo comandante do 3o Distrito Na-val, Vice-Almirante EdisonLawrence Mariath Dantas; a se-gunda, pelo cônsul-geral da Fran-

ça no Recife; e outra pelo comandante do2o Comando Aéreo Regional, Major-Briga-deiro do Ar Louis Jackson Josuá Costa.

Lançamento de floresno Rio de Janeiro

No dia 18 do mes-mo mês, com o apoioda Marinha do Brasil,o Consulado-Geral daFrança no Rio de Ja-neiro também prestousua homenagem aosmortos no desastre. O

presidente do Senado francês, GérardLarcher, acompanhado de outros cincocongressitas e de setores da imprensa deseu país, embarcou no Rebocador LaurindoPitta (subordinado à Diretoria do PatrimônioHistórico e Documentação da Marinha –DPHDM), saindo do Espaço Cultural da Ma-rinha em direção à Enseada de Botafogo, na

Que tudo o queconseguimos resgatar

valha como o começo doconsolo e da paz que todos

nós buscamos nestemomento de dor

O lançamento de flores, na Fragata Bosísio

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Baía de Guanabara. Ali, em frente ao Pão deAçúcar, foram lançadas flores ao mar.

Por ocasião de sua vinda ao Rio de Ja-neiro, o senador Gérard Larcher informouque o Parlamento francês vai garantir quea Air France pague as indenizações devi-das aos familiares das vítimas do acidente.

Em memória das vítimas, também foramrealizadas cerimônias religiosas na Cate-dral de Notre-Dame de Paris, na França, ena Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro.

Carta à tripulação da Constituição

Em 16 de junho último, Renata Sertã, es-posa do comandanteda Fragata Constitui-ção, Capitão de Fraga-ta Marcos BorgesSertã, redigiu umaemocionada carta à tri-pulação do navio, en-volvido na missão:

“Era 1o de junhoquando minha filha de6 anos acordou e, como fazia desde o dia 8 demaio, coloriu mais um dia do seu calendárioque desenhou para visualizar quantos diasfaltavam para a chegada do pai. Com umacarinha repleta de alegria, me disse: ‘Mãe,faltam quatro dias para o papai chegar!’ (...)

Na mesma manhã, fomos todos surpre-endidos pelo trágico acidente aéreo quecomoveu todo o País, porém jamais pode-ria imaginar que esse fato iria também in-fluir na minha vida tão diretamente. Con-fesso que, quando soube que o navio ha-via sido designado para participar das ope-rações de busca, caí em prantos, sobretu-do por pensar nas minhas filhas (...)

Passados alguns minutos, abstraí o meusofrimento e pensei imediatamente nas cente-

nas de pessoas que tinham, muito provavel-mente, perdido a vida e no imenso sofrimentoe angústia dos familiares diante da incertezado que realmente havia acontecido. A minhador não poderia ser maior que a deles.

Sentei minha filha no colo e expliquei-lhe que o papai não iria voltar logo, poistinha sido escolhido para uma grande mis-são*, que era a de ajudar as pessoas da-quele avião. Ela, chorosa, olhou profundae fixamente para o seu calendário, levan-tou-se e riscou o tão esperado dia 6 (...)Meu coração partiu, mas percebi que elahavia entendido a importância da missão eassim substituiu a tristeza por um grande

orgulho do pai.Ao chegar da esco-

la, contou-me que umaamiguinha havia lhedito que ela era azara-da, porque o pai nãovoltaria agora, mastambém que erasortuda, pois seu paipoderia virar um herói!

Achei graça e ao mesmo tempo muito inte-ressante o que essa menina, na ingenuida-de dos seus 6 anos, vislumbrava.

Contei-lhes toda essa história para che-gar a duas palavras, que para mim resumemo sentimento atual de toda a Nação: herói eorgulho. Não sei se vocês têm a exata di-mensão do que esse fato todo representoue como repercutiu positivamente para as For-ças Armadas e, diria eu, mais precisamentepara a Marinha. Confesso que ao longo dosanos escutei muitas opiniões injustas e in-dagações absurdas e ignorantes, no senti-do da palavra, a respeito das funções daMarinha num país pacífico e sem guerras,como o Brasil. Infelizmente, foi preciso acon-tecer um trágico acidente para que essas

* N.R.: Vale lembrar aos leitores que a fragata, com seus cerca de 250 tripulantes, havia saído do Rio deJaneiro há 75 dias e permaneceu nas buscas por mais 14 dias, somente voltando após um total de 89dias de ausência.

Sentei minha filha no colo eexpliquei-lhe que o papainão iria voltar logo, poistinha sido escolhido para

uma grande missão

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pessoas, enfim, conhecessem e reconheces-sem a importância da grande e nobre carrei-ra que vocês abraçaram.

Recebi uma grande quantidade de tele-fonemas e e-mails exaltando o magníficotrabalho de vocês, e a palavra que eu maisescutava era: orgulho. Orgulho de saberda capacidade da nossa Marinha. Orgulhode ver o esforço, a tenacidade diária. Orgu-lho de estarem levando alento às famíliasde cada corpo encontrado. Orgulho demostrar à França o potencial operacionalde vocês. Orgulho de sermos brasileiros.

A Fragata Constituição caiu ‘na bocado povo’! Todos se referiam a ela com gran-de intimidade, como se já a conhecessemhá anos, mas o que eles não sabem é queela é ‘O Urso’! E vocês fizeram jus a estemascote: foram fortes, bravos e valentes!

Na impossibilidade de me dirigir pesso-almente a cada um de vocês, escrevi estamensagem para que soubessem que foramimpecáveis e souberam superar combrilhantismo todas as adversidades e desa-fios dessa inédita operação, desempenhan-do com louvor essa grande missão, apesarde terem pesado sobre vocês o cansaço, asaudade e a distância da família, que já esta-va tão próxima naquele 1o de junho.

Não tenham dúvidas de que terão muitoo que contar para seus filhos, parentes,amigos e gerações futuras, e que estes osreceberão como verdadeiros heróis!”

SEMINÁRIO

Com o propósito de disseminar proce-dimentos adotados e de nivelar esedimentar os conhecimentos adquiridosdurante as operações de busca e resgate, aMarinha promoveu, em 26 e 27 de agostoúltimo, o seminário SAR SNE-003/09 – Aci-dente com a Aeronave da Air France – VooAF-447. O evento aconteceu no auditórioda Escola de Guerra Naval (EGN), no Rio

de Janeiro, e foi organizado e coordenadopelo Comando de Operações Navais.

Contando com a participação do Almi-rante de Esquadra Alvaro Luiz Pinto, co-mandante de Operações Navais, de ofici-ais da Marinha e da Aeronáutica, e de civisque atuam na área de busca e salvamento,foram abordados os seguintes temas:

– “A atuação do Salvaero Atlântico”;– “A atuação do Salvamar Nordeste”;– “A atuação da Comunicação Social”;– “O apoio logístico aos meios em

operação”;– “A atuação do Centro de Hidrografia

da Marinha”;– “As operações SAR no mar: a atua-

ção do comandante da cena de ação”;– “A atuação dos meios da Esquadra”; e– “A atuação dos meios distritais”.As apresentações foram transmitidas

por meio de streaming de áudio pela pági-na da EGN na intranet - http://www.egn.mb.

CAIXAS-PRETAS

O diretor da investigação técnica fran-cesa do acidente com o voo 447, Paul-LouisArslanjan, anunciou, em 31 de agosto de2009, que será iniciada uma terceira fase debuscas submarinas às caixas-pretas da ae-ronave, cujas emissões cessaram em 10 dejulho, segundo ele.

A iniciativa, que procura aproveitar aprimavera no Hemisfério Sul, deve envol-ver a França, o Brasil, os Estados Unidosda América e a Alemanha. Seu custo devepassar de 10 milhões de euros (cerca de 27milhões de reais), segundo o diretor doEscritório de Investigações e Análises(BEA, na sigla em francês).

SALVAMAR BRASIL

Missão

O Serviço de Busca e Salvamento daMarinha – Salvamar Brasil – tem a missão

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de prover o salvamento de pessoas emperigo no mar, no interior da área marítimade responsabilidade brasileira. Ele foi cri-

ado em 20 de fevereiro de 1970, por meiodo Aviso Ministerial N-0201, em confor-midade com o previsto na Convenção so-

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bre o Alto-Mar, também conhecida comoConvenção da Jamaica, adotada na Con-ferência das Nações Unidas sobre o Di-reito do Mar, realizada em 1958. No item 2do artigo 12o daquela Convenção, foi es-tabelecido que “todos os Estados ribeiri-nhos estimularão a criação e manutençãode um serviço de busca e salvamento ade-quado e eficaz para garantir a segurançano mar e sobre o mar e assinarão, quandoas circunstâncias assim o exijam, acordosregionais de cooperação mútua com osvizinhos”.

O Comando de Operações Navais é oSalvamar Brasil e exerce a supervisão doServiço em todo o País, além de ser o res-ponsável pela elaboração e disseminaçãodas normas necessárias ao seu corretofuncionamento.

Atuação

A região de Busca e Salvamento Maríti-mo sob a responsabilidade de nosso paísabrange toda a costa, estendendo-se até omeridiano de 010º W. Essa imensa área foidividida em cinco sub-regiões marítimas,existindo para cada uma um Centro de Co-

ordenação SAR, como abaixo indicado. Acada Salvamar corresponde um Comandode Distrito Naval, com navios e aeronavessubordinados para a execução das missõesSAR. São eles:

– Salvamar Sul, com sede em Rio Gran-de, RS; Salvamar Sueste, com sede no Riode Janeiro, RJ; Salvamar Leste, com sedeem Salvador, BA; Salvamar Nordeste, comsede em Natal, RN; e Salvamar Norte, comsede em Belém, PA.

Compete também a esse Serviço a res-ponsabilidade pelas operações SAR nasvias navegáveis interiores das bacias do RioAmazonas e do Rio Paraguai. Para esse fim,existem dois Centros de Coordenação SAR,conhecidos internacionalmente pela siglaMRCC (Maritime Rescue CoordinationCenter):

– Salvamar Noroeste, com sede emManaus, AM; e Salvamar Oeste, com sedeem Ladário, MS.

Em cada Salvamar/Distrito Naval existeum navio de serviço de prontidão para aten-dimento de incidentes SAR. Previsõesmeteorológicas especiais para as áreas deincidentes são providas pelo Centro deHidrografia da Marinha.

SALVAMAR BRASILPraça Barão de Ladário, s/no, Edifício Almi-rante Tamandaré, 6o andar – CEP 20091-000 –Rio de Janeiro, [email protected](55-21) 2104-60-56 e 2104-6038 (fax.); eInmarsat C – 471009910Página na internethttps://www.mar.mil.br/salvamarbrasil/

SALVAMAR LESTEAvenida das Naus, s/no, Conceição da Praia– CEP 40.015-250 – Salvador, [email protected] (55-71) 3320-3711, 3320-3730 e 0800-2843878; 3320-3772 e 3320-3726 (fax.)Página na internethttps://www.mar.mil.br/com2dn/sar.html

Como contatar

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SALVAMAR NORDESTEAvenida Marechal Hermes da Fonseca, 780,Tirol – CEP 59.020-000 – Natal, [email protected](55-84) 3221-1947 e 0800-2802255; e 3216-3049e 3216-3057 (fax).Página na internethttps://www.mar.mil.br/com3dn/

SALVAMAR NOROESTERua Bernardo Ramos, s/no, Ilha de SãoVicente, Centro – CEP 69.005-310 – Manaus,[email protected](55-92) 3233-3733 e 0800-2807200; e 2123-2238e 2123-2239 (fax).Página na internethttps://www.mar.mil.br/com9dn/

SALVAMAR NORTEPraça Carneiro da Rocha, s/no, Cidade Velha– CEP 66.020-150 – Belém, PA.

[email protected]

Telefones(55-91) 3216-4030, 3216-4031, 3216-4123 e0800-2834141; e 3241-4700 (fax).

Página na internethttps://www.mar.mil.br/com4dn/.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<ATIVIDADE MARINHEIRA>; Busca e Salvamento; Acidente; Aeronave; Aviação Civil;

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SUMÁRIO

A concepção de história segundo Alfred MahanA história e o ofício do historiador segundo Alfred MahanAs influências sobre Alfred Mahan

Dennis Hart MahanAntoine Henri JominiStephen Bleeker Luce

A HISTÓRIA SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN (II)

FRANCISCO EDUARDO ALVES DE ALMEIDACapitão de Mar e Guerra (RM1)

O experiente secretário da Marinha dosEstados Unidos, Henry Stimson, no

conturbado período de 1940 a 1945, afir-mou que “a psicologia peculiar do Depar-tamento de Marinha frequentemente pare-cia se afastar do mundo da lógica em dire-ção a um mundo religioso no qual Netunoera o Deus, Mahan seu profeta e a Mari-nha de Guerra a única igreja verdadeira”1,indicando efetivamente o modo como

Mahan era percebido em todos os níveisem seu país. Alfred Thayer Mahan era overdadeiro profeta do poder marítimo.

Mahan não tinha uma formação acadê-mica formal em história. Ele não cursounenhuma universidade, nem foi oficial deestado-maior com curso de altos estudos,contudo modificou o modo como ahistoriografia naval era estudada ecorrelacionou essa historiografia com o

1 CROWL, Philip. “Alfred Thayer Mahan: the naval historian”. In: PARET, Peter. Makers of modernstrategy. Princeton: Princeton University Press, 1986,. p. 444.

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A HISTÓRIA SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN (II)

estudo da estratégia naval, formulandoconceitos e “princípios” de aplicação. Seucorpus editorial foi composto de 20 livros e137 artigos publicados2. Desses livros, seisforam de temas históricos, três biografias,duas autobiografias e nove de temas depolítica, estratégia e relações internacio-nais – uma produção razoável, consideran-do que quando tinha 43 anos de idade oseu primeiro livro foi publicado. O livroseguinte só foi escrito sete anos depois,quando contava com 50 anos.

O que se pretende discutir é a concepçãode história segundo Mahan e o modo comoele percebia o ofício de historiador. Em segui-da serão apresentados os três principais teó-ricos que influenciaram a sua historiografia ea sua teoria de poder marítimo.

A CONCEPÇÃO DE HISTÓRIASEGUNDO ALFRED MAHAN

Alfred Mahan tinha um modo muito pe-culiar de iniciar uma pesquisa histórica. Elecomeçava seus estudos com uma inspira-ção, uma “luz” que surgia de seu consci-ente. Dessa inspiração ele deduzia conclu-sões predeterminadas. Os fatos históricossurgiam para corroborar as suas conclu-sões previamente deduzidas. O que nãocorroborasse suas conclusões era descar-tado. Dentro dessa perspectiva ele come-çou a leitura do livro A History of Rome, deTheodor Mommsen3.

Ao analisar a Segunda Guerra Púnica,muito bem descrita por Mommsen, Mahanverificou que Aníbal preferiu correr sériosriscos com o seu exército, partindo daEspanha em direção à península itálica, porvia terrestre, do que se aventurar em umatravessia por via marítima. Naquela opor-tunidade Roma já dominava o Mediterrâ-neo e certamente atacaria a frotacartaginesa em seu trânsito para a Itália.Mommsen afirmara que Roma obtivera ocontrole do mar a partir da guerra prece-dente, e essa preponderância ainda existiapor ocasião da segunda guerra. A decisãode Aníbal de partir da Espanha, cruzar osul da França, atravessar os Alpes e atacarRoma pelo norte da península impressio-nara bastante Mahan. Ele chegou a conje-turar que talvez, se ele arriscasse o trânsitopelo mar, suas perdas não seriam de 33 milbaixas dos 60 mil que iniciaram a marcha naEspanha.4 Sua explicação para essa atitu-de de Aníbal era que o poder marítimo deRoma controlava os mares ao norte de umalinha traçada de Tarragona, na Espanha, aLilybaeum (ao norte de Marsala), no oci-dente da Sicília, passando pelo Estreito deMessina até Siracusa e dali a Brindisi, já noAdriático. Esse controle permaneceuinalterado durante toda a guerra5. Chegouele a imaginar como as coisas seriam dife-rentes caso Aníbal invadisse Roma por mare pudesse controlar suas comunicaçõescom Cartago6. A partir dessa constatação,

2 Ibidem, p. 448.3 Theodor Mommsen nasceu em 1817, em Garding, no Schleswig. Foi professor das Universidades de

Leipzig, Zurich e Breslau antes de assumir a cadeira de História Antiga na prestigiada Universidade deBerlim, em 1858, tendo sido também um político ligado ao Partido Liberal da Prússia. O seu clássicoHistory of Rome, que tanto impressionou Mahan, foi lançado em cinco volumes. O volume 3 (Fromthe Union of Italy to the Subjugation of Carthage and Greek States) descreve exatamente a passagemde Aníbal para a Itália. Mommsen recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1902. Faleceu em 1903.Fonte: Nobel Prize Organization. Mommsen Biography. Disponível em http://nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/1902/mommsen-bio.html. Acesso em 8 de julho de 2008.

4 MAHAN, Alfred. The Influence of Sea Power upon History. New York: Dover Publication, 1987, p. 15.5 Ibidem, p.17.6 MAHAN, From Sail to Steam. Recolections of a naval life. New York: Harper& Brothers Publisher,

1907, p. 277.

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A HISTÓRIA SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN (II)

Alfred Thayer Mahan

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Mahan começou a formular sua teoria depoder marítimo. Nessa observação estavaa chave para a emergência e a queda dosimpérios, o controle ou não dos mares, se-gundo imaginou.7

Além de Mommsen, Mahan leu com afin-co autores ingleses como Sir GeorgeAugustus Elliot, Sir John MontagueBurgoyne e Sir Charles Ekins. Os france-ses tampouco foram esquecidos. LeonardLa Peyrouse Bonfils e Henri Martin foramos dois mais apreciados. No entanto, omaior teórico militar estudado por Mahanfoi Antoine Henri Jomini8.

Ele pouco apreciava a pesquisaarquivística, preferin-do, ao contrário, o usode fontes secundári-as. Em algumas obrasespecíficas chegou apesquisar documen-tação primária; no en-tanto, preferia o cami-nho das obras pron-tas, o que de forma al-guma diminuiu a origi-nalidade de seu pen-samento. Vale mencio-nar a opinião do his-toriador Kenneth Moll, que analisou a obrade Mahan, constatando que a organizaçãodos capítulos de seus livros era muitasvezes confusa, misturando a interpretaçãode determinado evento histórico com suaspróprias conclusões finais9, embora pro-curasse seguir a lógica cronológica dasbatalhas e campanhas navais na maior par-te das vezes. Sua narrativa, entretanto, eradireta, dogmática e determinista, procuran-do apontar que o investimento no podermarítimo, como por ele apregoado, levaria

o país a desenvolver-se como um todo,numa clara interpretação teleológica.

Mahan não trouxe nenhum fato navalnovo ou mesmo novas interpretações à his-tória naval; no entanto, a partir de seu estu-do, divisou novos caminhos para o estudoda estratégia, e nesse ponto é que a leitura deseus livros tornou-se importante para qual-quer pesquisador de assuntos navais. A his-tória, para ele, servia como uma ferramentade análise aplicada e não como uma históriainterpretativa e problematizada. Certamenteque ele era um homem de seu tempo, procu-rando entender o mundo industrial que sur-gia e o modo como ele afetava as concep-

ções estratégicas na-vais no final do séculoXIX. Acreditava que aguerra no mar no pas-sado, no período a vela,poderia servir como re-ferência para o períododa Marinha a vapor,principalmente no cam-po da estratégia. Os“princípios” colhidosno passado, imaginava,continuariam válidospara o período em que

ele escrevia. Essa visão enviesada de histó-ria indicava um reducionismo exagerado, aodescrever que a complexidade da guerra nomar poderia ser interpretada com uma enor-me simplicidade, desde que seus “princípi-os” fossem seguidos por todos, o que dimi-nuía sobremaneira a validade científica deseus estudos. Deve ser mencionado, no en-tanto, que não era intenção de Mahan con-duzir uma pesquisa objetiva científica, nemaclamar que suas conclusões fossem o pro-duto de uma pesquisa arquivística exaustiva.

7 CROWL, op.cit. p. 450.8 À frente serão feitas outras considerações sobre a influência de Jomini no pensamento de Mahan.9 MOLL, Kenneth. A. T. Mahan. “American Historian”. In: Military Affairs. Virginia: Society for

Military History, v.27, n. 3, outono, 1963, p.139.

Por suas qualidades edefeitos, Moll afirmou,ainda, que Mahan era

simultaneamente um dosmais fortes e mais

deficientes autores a seremencontrados em toda a

historiografia naval

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A HISTÓRIA SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN (II)

Apesar dessas deficiências metodológicas,Mahan inovou e tornou-se um paradigma.Ele era um historiador naval criativo e, se-gundo interpretação de Kenneth Moll,Mahan foi “o pai da moderna historiografianaval”.10 Por suas qualidades e defeitos, Mollafirmou, ainda, que Mahan era simultanea-mente um dos mais fortes e mais deficientesautores a serem encontrados em toda ahistoriografia naval11.

No que concerne ao moderno estudoda estratégia naval, Sprout apontou queMahan contribuiu de três formas distintas.A primeira, ao desenvolver uma filosofiade poder marítimo que obteve reconheci-mento e aceitação emcírculos externos aomundo naval e, assim,conseguiu influenciarpolíticos em todo omundo. A segunda,por formular umanova e criativa teoriade estratégia naval e,por fim, por criticar enfaticamente o estudodas táticas navais até então utilizadas.12

Assim, para ele o poder marítimo poderiasignificar para os Estados Unidos da Amé-rica (EUA) o mesmo que significou para aGrã-Bretanha (GB), isto é, um instrumentopolítico eficaz e eficiente para a obtençãode poder e relevância mundial.

Um outro aspecto interessante da per-cepção de história por parte de Mahan é ainstrumentalização da disciplina como basepara a educação formal dos oficiais de Mari-nha dos EUA. Seus textos passaram a serdiscutidos inicialmente em Newport, depoisextravasando para outras escolas de altosestudos navais, inclusive a brasileira. Jon

Tetsuro Sumida afirmou, inclusive, que oslivros de Mahan eram apresentados comoum testamento do “valor do treinamento his-tórico” para a análise da estratégia naval.Para Mahan, o estudo da história naval de-veria ser incrementado, de modo a se teroficiais com maior capacidade de análise ereflexão, assim como um agente primário deeducação avançada para aqueles oficiais queteriam a tarefa de dirigir o que era tecnológicae burocraticamente uma instituição comple-xa como a Marinha de Guerra. A arte da guerraaplicada ao mar era o seu objeto final. A his-tória naval, sua ferramenta de análise.

No dia 6 de agosto de 1888, Mahan pro-feriu a aula inauguraldo Curso de Estado-Maior na Escola deGuerra Naval-EUA(EGN-EUA), afirman-do o seguinte:

A grande respostapara a questão “qual o

objetivo da Escola de Guerra Naval” foiantecipada pelos senhores daquilo quefoi apresentado aqui. É o estudo e o de-senvolvimento, de uma maneira sistemá-tica e ordenada, da arte da guerra aplica-da ao mar ou tais partes terrestresalcançadas pelos navios. Avaliando osnavios e suas armas aperfeiçoadas pelaciência de nosso tempo e formulando seupoderio e suas limitações como desen-volvidos pela experiência, teremos osmeios colocados nas mãos de especia-listas para obterem-se os grandes fins daguerra. Como melhor adaptar esses mei-os para o fim sob várias circunstâncias evários campos nos quais os navios e es-

10 Ibidem, p. 132.11 Ibidem, p. 139.12 SPROUT, Margaret Tuttle. Mahan, the evangelist of sea power. In: MEAD, Edward. Makers of

modern strategy: military thought from Machiavelli to Hitler. Princeton: Princeton UniversityPress, 1973, p. 418.

A arte da guerra aplicadaao mar era o seu objeto

final. A história naval, suaferramenta de análise

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A HISTÓRIA SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN (II)

quadras serão chamados a atuar é o pro-blema proposto.13

Após a análise de sua escrita e interpre-tação histórica, de que forma Mahan, emsuas próprias palavras, percebia a histó-ria? Como ele procurava, a partir de fatoshistóricos percebidos, formular conceitose definições sobre o poder marítimo? Quaisforam suas principais influências na for-mulação desses conceitos? É o que se dis-cutirá no próximo subitem.

A HISTÓRIA E O OFÍCIO DOHISTORIADORSEGUNDO ALFREDMAHAN

Mahan foi um ho-mem essencialmente re-ligioso, e sua religiosi-dade teve considerávelinfluência no modocomo ele percebia a his-tória. Sua compreensãodo cristianismo tambéminfluenciou sua teoria depoder marítimo e, por conseguinte, sua visãode política. A capacidade de conduzir a guerrafoi outorgada a autoridades legalmente cons-tituídas pelo poder de Deus, sendo que a for-ça era um meio deplorável, mas necessário, demanter a ordem, de defender os interesses na-cionais, de vingar atos “malévolos” e de ad-ministrar justiça.14 Uma vez que a humanidadenão era perfeita, a guerra era um “mal necessá-rio” e um remédio para combater maiores ma-les, especialmente os males morais, pensava

Mahan. Assim, a guerra era justificável comoum elemento de progresso humano, emboraafastada da perfeição humana e, por causadessa imperfeição, suscetível de remédio.Mahan afirmou também que, no atual estadoimperfeito do gênero humano, o mal pode fácile frequentemente alcançar um ponto no qualprecise ser controlado e talvez até destruídopela força física. Se, por acaso, o mal tiver con-dições de resistir, ele necessita ser destruído.Essa destruição virá pela guerra.15 Acreditava,então, que a guerra podia ser justificada, se-gundo o ponto de vista cristão. E qual seria opapel de Deus na guerra? Para ele, Deus dava

a consciência ao homempara decidir recorrer àguerra ou não. Cristodesignou a espada paraas autoridades de umaNação recorrerem a co-erção física do mal, den-tro do campo material,uma vez que o Reino deCristo não é desse cam-po. A cada Nação eradada a opção por Deuspara recorrer à força,

quando fosse necessário. A espada servia paradefender os direitos dessa Nação.16 Disse eleo seguinte sobre a necessidade de se aplicar aforça:

O poder e a força são faculdades davida nacional, elementos dados à Naçãopor Deus. E essa obrigação de manter odireito pela força, enquanto comum a to-dos os Estados, se coloca peculiarmentesobre o maior em proporção a seus mei-

13 MAHAN, Naval Administration and Warfare. Some general principles. Boston: Little Brown & Co,1918, p. 190.

14 LESLIE, Reo. “Christianity and the Evangelist of Sea Power: The Religion of Alfred Thayer Mahan”.In: HATTENDORFF, John. The influence of History on Mahan. Newport: United States Naval WarCollege Press, 1991, p. 133.

15 MAHAN, Alfred. Some Neglected Aspects of War. Boston: Little Brown, 1907, p. 100.16 LESLIE, op.cit. p. 134.

Uma vez que a humanidadenão era perfeita, a guerraera um “mal necessário” eum remédio para combater

maiores males,especialmente os malesmorais, pensava Mahan

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os. Assim vista a habilidade de rapida-mente arregimentar o poder da Naçãosendo um dos mais evidentes deveresenvolvidos na palavra cristã vigilância,prontidão quando o chamado chegar,esperado ou não [...] quando o mal é for-te e desafiador, a obrigação de usar aforça, isto é, a guerra, se apresenta.17

A visão de Mahan sobre a guerra é con-sistente com a visão de guerra justa de San-to Agostinho. Deve ser observado que eleera um homem com uma visão judaico-cris-tã, influenciado pela expansão norte-ameri-cana em direção ao Caribe e ao Pacífico, e ainfluenciando, quase como um “ato divino”imposto aos EUA para levar a “civilizaçãoaos povos atrasados” dessas regiões.

Sendo a guerra um fato histórico, Mahanpercebia a história como uma espécie de dra-ma divino no qual a vontade de Deus erarevelada pelas personalidades e eventosocorridos. A história era por ele definida comoa realização de um plano da Providência, demuito maior alcance e mais complicada quesimplesmente a tática de uma batalha ou aestratégia de uma campanha ou mesmo a po-lítica de uma guerra. Dizia ele que “cada umdesses eventos, as batalhas, as estratégiasdas guerras e as políticas, dentro de suasesferas, eram incidentes da história, possu-indo uma unidade intrínseca própria”.18

Sua crença na inevitabilidade da manifes-tação da Providência no curso da história,agindo sobre os homens e sua convicção deque a mão de Deus estava por detrás da gran-deza do poder marítimo britânico, pode serconstatada na afirmação de que a Jamaica pas-sara para as mãos da Inglaterra por acidenteno período de Cromwell, e que a expediçãoenviada pelos ingleses não era para tomá-la e

sim conquistar Santo Domingo. Em continua-ção, que a Espanha teve a oportunidade e achance de conquistá-la na Guerra da Indepen-dência dos EUA e não o fez, e que situaçõessimilares ocorreram em relação aos postos-chave do Mediterrâneo, Gibraltar e Malta enovamente a Espanha não os conquistou.Mahan atribui essa negligência espanholacomo a Providência, que tinha como pressu-posto a manutenção da predominância navalda GB. Se a Espanha não agiu, foi porque as-sim quis Deus em seus desígnios.19

Mahan confessou que o estudo da his-tória foi para ele incidental, tarde na vida,claramente superficial, limitado e sem a ne-cessária pesquisa documental. Ele tinhaconsciência de que não possuía oembasamento teórico necessário para dis-cutir e interpretar questões históricas emprofundidade. Disse ele que a história dopoder marítimo era largamente, embora nãosomente, uma narrativa de lutas e de vio-lência entre nações rivais, frequentementeculminando em guerras20. Para isso era ine-gável, para ele, a influência do comérciomarítimo na riqueza e no poderio dos paí-ses. Para assegurar esses benefícios, to-dos os esforços nacionais, por instrumen-tos ou métodos legislativos de monopólioou de proibição, foram realizados. No casodesses falharem, recorreu-se à violência.As guerras ocorreram, então, pelo choquede interesses, pelos sentimentos resultan-tes de outros tentarem obter maiores lu-cros em detrimento dos interesses nacio-nais contrários conseguidos pelo comér-cio. Assim, a história do poder marítimo,embora englobando tudo que incluía a gran-deza de um povo por meio do mar, é funda-mentalmente uma história militar, por en-volver a luta e a disputa militar.

17 MAHAN, Alfred. Lessons of the War with Spain and other Articles. Boston: Little Brown, 1899 p. 233.18 MAHAN, Alfred. Naval Administration and Warfare. op.cit. p. 267.19 LIVEZEY, William. Mahan on sea power. Oklahoma: Oklahoma University Press, 1981, p. 26.20 MAHAN, Alfred. The Influence of Sea Power upon History. op.cit. p. 1.

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Na análise da história militar, a ação degrandes líderes militares era essencial paraenfatizar ideias e para conduzir as guerrasdo futuro. Nomes como Napoleão, Alexan-dre, Aníbal e César foram muito admiradose citados por Mahan. Segundo ele, existi-ria uma concordância explícita de historia-dores de que, embora as diversas condi-ções de guerras passadas variassem, nosdiferentes períodos históricos, em relaçãoao progresso tecnológico dos armamentos,também existiriam ensinamentos da histó-ria que permaneceriam constantes e de apli-cação universal, alcançando a situação de“princípios gerais”.21 Dessa forma, o estu-do sistemático da história da guerra no marera instrutivo pela indicação e aplicaçãodesses “princípios ge-rais”, apesar das gran-des inovações quepudessem ocorrer nasarmas navais, incluin-do nesse caso o usodo vapor. Apesar dasinovações tecnológicas no campo da guer-ra, os “princípios gerais” permaneceriamos mesmos. O conhecimento desses prin-cípios era útil para o especialista nos estu-dos da guerra nos momentos de dúvida eperplexidade; no entanto, para um novato,esse conhecimento não seria suficiente.

A história, assim, passava a ter uma fun-ção fundamental, pois, além de exemplificarfatos que confirmavam a atualidade dos prin-cípios apontando o valor da experiência vi-vida em situações correlatas, indicavaconcomitantemente a pertinência do uso deprincípios. Experiência e uso de princípiosse complementavam no exame correto deuma situação. Um especialista que dominas-se o uso dos princípios e tivesse experiên-

cia estaria mais bem capacitado para avaliaruma situação de guerra e conflito22, segun-do Mahan. A história provia a matéria brutada qual se deveria obter e retirar lições. Osensinamentos seriam ilustrações dessesprincípios. Um exemplo, no entanto, que re-queria cuidado por parte do especialista eraa aplicação de princípios em casos envol-vendo questões morais, que poderiam trans-cender o campo militar. Os princípios queregiam a conduta militar na guerra nem sem-pre eram coincidentes com os conceitos queregiam a conduta moral na guerra, daí a difi-culdade de aplicar os mesmos princípios parao campo militar e o campo moral.23

Antes dos grandes encontros das esqua-dras em guerras no mar, Mahan levantou

questões fundamentaissobre como conduzir asoperações no teatro deguerra. Mencionou queas questões básicaseram as seguintes: quefunções seriam aloca-

das às Marinhas na guerra? Quais os seusprincipais objetivos? Onde as Marinhas se-riam concentradas? Quais os seus pontos deabastecimento? Como seriam protegidas ascomunicações entre esses pontos e as basesprincipais? Qual o papel do ataque ao comér-cio inimigo? Seria ele decisivo? Como seriaesse ataque, por meio de corsários isoladosou por forças navais em pontos focais? To-das essas questões estratégicas poderiam serrespondidas pelo estudo da história naval,segundo ele.

Mahan prosseguiu afirmando que as liçõesestratégicas retiradas dos princípios da histó-ria naval teriam maiores valores. As liçõestáticas poderiam indicar, também, algunsensinamentos, no entanto o encontro das es-

21 Ibidem, p. 2.22 MAHAN, Alfred. Naval Strategy. Compared and contrasted with the princiles and practice of

military operations on land. London: Sampson Low, Marston Ltd, 1911, p. 10.23 Ibidem, p. 234.

A história provia a matériabruta da qual se deveria

obter e retirar lições

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quadras oponentes no campo da tática trariamenos ensinamentos, pois foi a estratégia queprovocou esses encontros, daí os princípiosterem menos perenidade no campo da tática.As batalhas ocorridas no passado foramganhas ou perdidas segundo a aplicação des-ses princípios gerais, e o estudo das causas eefeitos dos sucessos e insucessos, por partedos profissionais do mar, podia permitir maioraptidão para a condução das esquadras emcombate. A história, então, para ele, teria opapel de demonstrar o que deveria ser feito, apartir de experiências analisadas do passado.Mahan procurava também analogias entreduas situações históricas similares para indi-car se determinado princípio tinha sido empre-gado corretamente ou não24. Em uma carta paraSamuel Ashe, ele disse que “toda a histórianaval até aqui fora feita por navios e armamen-tos [...] completamente diferentes dos que es-tão em uso agora”25, esforçando-se para de-monstrar que, apesar das diferenças, os prin-cípios continuavam os mesmos e apontar naslições do passado algo que pudesse servirpara o futuro. Sua intenção era “extrairensinamentos dos velhos cascos de madeirae dos canhões de 24 libras que trouxessemalguma luz às combinações a serem emprega-das entre navios encouraçados, canhões raia-dos e torpedos”26.

Mahan considerava também difícil es-crever o que se chama na atualidade a his-tória do tempo presente. Para ele deveriaexistir um tempo mínimo para a coleta dosfatos históricos correntes e para a análisedesses fatos, que poderiam se apresentarimperfeitos e conflitantes. Um tempo míni-mo seria requerido para o pesquisador ve-

rificar a sua totalidade e a sua verdadeiraimportância relativa. Afirmou ele:

Existem, assim, duas operações dis-tintas essenciais na acuidade de julga-mento para a finalidade da pesquisa. Aprimeira, o diligente e minucioso estudodo detalhe no qual o conhecimento écompleto; e a segunda um determinadoafastamento do pensamento deprejulgamentos e paixões provocadaspelo contato imediato [com o fato histó-rico], um certo afastamento correspon-dente à ideia de distância física no qual aconfusão e distorção desaparecem e as-sim pode ser possível não somente dis-tinguir os pontos decisivos do período,mas também relegar a seus lugares cor-retos os detalhes que, no momento emque ocorreram, fizeram uma impressãoexagerada devido a sua proximidade.27

Quanto ao ofício do historiador, ele con-siderava que o profissional da história deve-ria possuir fineza no conhecimento, percep-ção da íntima relação com os fatos históricosem suas mais diferentes ramificações e domí-nio das diferentes fontes de evidência, dedeclarações de testemunhas, muitas vezesconflitantes e irreconciliáveis. O poder de cri-ticar seria simplesmente um incidente oriun-do da compilação dos fatos reunidos. O his-toriador seria, segundo ele, um juiz e os jura-dos em um tribunal, não estabelecendo osfatos, mas decidindo conforme as evidênci-as. A isso tudo ele chamou de a “expressãogeral do conhecimento” do profissional dehistória, que devia ser paciente e diligente naanálise do material apresentado28. A preocu-

24 MAHAN, Alfred. Naval Strategy. op cit p. 44.25 BARBER, James. “Mahan e a Estratégia Naval na Era Nuclear”. Revista Marítima Brasileira. Rio de

Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 3.Trim, 1976, p. 90.26 Idem.27 MAHAN, Alfred. Lessons of the War with Spain. op.cit. p. 22.28 MAHAN, Alfred Thayer. “The Writing of History”. The Atlantic Monthly. Boston: Houghton,

Mifflin and Co, v.41, n. 545, mar, 1903, p. 290.

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pação principal do historiador devia ser com-pilar o que ele, Mahan, classificou como “ver-dades”, muitas vezes contraditórias, confu-sas e “indesejáveis”, que compunham umquadro que apontava a impressão do quedeveria ser a “verdade”29. A fidelidade naapresentação dos fatos não consistia mera-mente em apontar todos os fatos. A ênfasedada a cada um deles era tarefa essencial dohistoriador, de modo a facilitar a compreen-são do leitor ou do observador. O importanteera a ideia central.30

Reconhecia também que os historiado-res, de um modo geral, desconheciam asespecificidades da guerra naval, não pos-suindo nem interesse nem conhecimentonesse campo da história específico que eraa história naval. Dizia que esses historiado-res não percebiam a importância que o po-derio marítimo tivera no desenvolvimentodas nações31. Considerava que era simplespara um historiador apontar o mar, de umaforma generalizada, como um meio de de-senvolvimento das nações na história, noentanto a generalização não era o meio cor-reto de se abordar a questão. Essa visão eravaga e sem substância. O importante para ohistoriador naval era demonstrar e analisara relevância de casos particulares no usodo mar para o desenvolvimento nacional,em determinado período histórico, sem ge-neralizações que nada agregavam ao estu-do da história. O mar foi e continuava sendodesconhecido para a grande massa de pes-soas e para os historiadores. Acreditava,assim, que sua função social como historia-dor naval era trazer a discussão a importân-cia do poder marítimo no curso da história.Dois outros autores Mahan considerou

como seus predecessores: Sir Walter Raleighe Francis Bacon32.

Para Mahan, a função do historiador,ao escrever a história, não era simplesmen-te acumular fatos em sua totalidade ou emsua acuidade, mas apresentar esses fatosde modo inteligente para quem ele chamoude “homem da rua”33 de modo a que elenão tivesse qualquer dificuldade no seuentendimento. Em falhar a transmitir essaideia, o historiador deixava de cumprir suatarefa como profissional, apesar de toda asua “expressão geral do conhecimento”que simplesmente permanecia com ele enão era transmitida como deveria.

O texto histórico não era somente umanarrativa corrente, nem mesmo se fosseviva e eloquente. Não adiantava serdetalhista e perfeito na cronologia se aofinal da leitura se percebesse que os fatosdescritos passaram pelo texto como “ummovimento ocorrido na rua por quem ob-serva da janela”34. Um detalhe podia atéficar gravado na memória, contudo nadapermanecia, a não ser a sequência de ima-gens sem início nem fim. A história, para oautor norte-americano, devia ter uma con-tinuidade que consistia em sua utilidadecomo o poder de ensinar, baseado na expe-riência. Cuidado devia ser tomado na acu-mulação de fatos sem correlação. Isso eraum pecado, segundo ele.

Os fatos históricos, para Mahan, embo-ra exaustivos e ardorosamente obtidos, eramsomente tijolos e cimento para o profissio-nal, em sua forma bruta simplesmente. So-mente após a análise do “artista” a que elecorrelacionava ao historiador, a “obra” sur-gia, a verdadeira narrativa histórica, como

29 MAHAN, Alfred. Naval Administration and Warfare. op.cit. p. 250.30 Ibidem, p. 251.31 MAHAN, Alfred. The Influence of Sea Power upon History. op. cit. P. iii.32 MAHAN, Alfred. From Sail to Steam. op. cit. p. 276.33 No original “the man on the street”. Ibidem, p. 252.34 Idem.

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uma criação de arte, após árdua concepção.O historiador devia possuir, então, a capaci-dade de análise, perspicácia e imaginação.O requisito principal a ser seguido pelo pro-fissional deveria ser a unidade na escrita.Essa unidade se compunha da relação entreas partes do texto e da proporção dessaspartes. Essa unidade implicava multiplicida-de, subordinada a uma ideia dominante oucentral ou hipótese principal. Para enfatizarsua ideia, Mahan recorria à Ilíada de Homero,quando este mencionou as diversas ações,fatos e realizações dos diversos persona-gens que fluíram pelo poema, no entanto,para Mahan, Homeroqueria exaltar a supre-ma glória do grandeherói Aquiles35. Nesseponto, Mahan, aocorrelacionar a ideiacentral ou hipótese deHomero com a glória deAquiles, pareceu dimi-nuir o papel de Heitorno poema, tão ou maisimportante que o de Aquiles.

Mahan identificou o profissional da his-tória com um artista, ao analisar o seu obje-to, separar suas partes componentes, re-conhecer as inter-relações entre as partese a proporção de importância e interessede cada uma no texto final. Com isso per-feitamente delineado, o historiador forma-va um plano geral, um modelo bruto, já in-dicando a ideia central ou hipótese, po-dendo essa ideia ser até um conflito de doiscampos antagônicos, como, por exemplo,a liberdade e a escravidão, a união e a de-sunião no país ou região, devendo, no en-tanto, a unidade ser mantida. A ideia cen-tral não estava na liberdade ou na escravi-

dão, mas no conflito entre as duas ideias.Os eventos surgidos deviam ser congre-gados em torno da hipótese principal, comouma obra de arte que vai aos poucos sedelineando na frente do artista.

Mahan apontou que, além de artista, ohistoriador devia ter a tarefa de instruir oshomens, de ser um demonstrador de liçõesa serem apreendidas. A precisão do histo-riador, sem dúvida nenhuma, era sua obri-gação profissional, no entanto podiaacorrentá-lo, fazendo com que ele omitisseo mais importante: a ideia central. Ao cole-tar grande quantidade de fatos, ele poderia

não perceber que ocontrole desses fatosseria cada vez maisproblemático. Ele de-via, assim, limitar seucampo de análise aaquilo que ele podiacontrolar. A exaltaçãoda acuidade de pes-quisa histórica apon-tada por alguns histo-

riadores profissionais, por si só, para ele,era uma inutilidade. Acreditava que, em umtexto de história, o importante era perse-guir a ideia central objetivamente, com al-guns fatos bem fundamentados e interpre-tados. Afirmou inclusive que “a paixão pelacerteza [por parte do historiador] pode cairna incapacidade de decidir; um vício reco-nhecido na vida militar e que necessita dereconhecimento em outro lugar”36.Complementou, afirmando que o estudo in-tensivo de casos dotaria o pesquisador e oaluno de maior compreensão, uma amplavisão, maior aptidão e rapidez na aquisiçãode detalhes críticos, ao invés de estudardetalhes de menor significado na história.37

35 Ibidem, p. 255.36 MAHAN, Alfred. The Writing of History. op.cit. p. 294.37 MAHAN, Alfred. Naval Strategy. op.cit. p. 120.

Mahan apontou que, alémde artista, o historiador

devia ter a tarefa deinstruir os homens, de ser

um demonstrador de liçõesa serem apreendidas

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A “teoria de composição histórica”38,segundo suas próprias palavras, se basea-va em coletar material bruto, os fatos his-tóricos desconectados, e em perceber comoos homens agiram e de que forma, tempe-rados com grande dose de inspiração, talcomo um artista agiria na criação de umaobra de arte. Para ele existiam poucos his-toriadores dotados dessa inspiração, talcomo existiam poucos artistas. Para che-gar ao ponto de ser considerado um artis-ta, o historiador precisava desenvolver umprocesso intelectual acurado, ao contráriodo artista puro, que necessitava somentede genialidade e inspiração. A capacidadede estudar os fatos analiticamente, de de-tectar as grandes linhas principais de raci-ocínio, de determinar a importância relativade cada uma delas, de reconhecer as rela-ções mútuas e sobre tudo isso de apresen-tar um texto lógico deveria compor o pro-cesso intelectual do historiador. Não deviaser esquecido, lembrou Mahan, que o deli-neio de uma cadeia de causa e efeito, a or-ganização e classificação dos incidenteshistóricos, em princípio desconectados,deviam revelar a unidade central e expor aoleitor a principal tendência predominantede determinada época apresentada.39

Mahan acreditava que, utilizando essesprincípios, poderia ser obtida a solução paracompreender os problemas da guerra, casose relacionassem à conduta das campanhas,o que ele chamava de estratégia ou, caso serelacionassem com a direção das batalhas,o que chamava de tática. O historiador na-val que conhecesse os princípios de guerraencontrava a evidente necessidade de cons-

truir sua narrativa com uma unidade subs-tancial, percebendo a ideia central e os fa-tos que sustentavam essa ideia. Ele compa-rou essa tarefa de pesquisa com a palavra“concentração”, um evidente princípio deguerra, ao agrupar os fatos em torno de umaideia central e as tropas no campo em umponto definido.40 A lógica e a imaginaçãodeviam andar juntas, contudo, para ele, alógica devia prevalecer. Uma batalha bempesquisada e descrita devia ser como umaobra de arte realizada pelo historiador mili-tar. Para um estudante de história naval, oestudo da guerra terrestre era de suma im-portância, em virtude do extensivo desen-volvimento narrativo e por existirem maisguerras em terra que no mar. Acresça-se tam-bém a isso existir maior quantidade de mate-rial para pesquisa, assim como os exemplosno uso e aplicação de princípios eram maisexplícitos e numerosos.41

Mahan apontou uma analogia entre aescrita da história militar com os outros cam-pos da história, tais como a história política,a história econômica e a história social, noentanto chamou a atenção que ela se dife-renciava dos outros campos pela ênfase noque chamou de “plano humano”42, por umamarcada finalidade em sua conclusão e, aci-ma de tudo, por uma vivacidade nas ações,tudo isso enfatizado em uma grande unida-de temática. Uma declaração de guerra, umtratado de paz, uma vitória decisiva eram,por exemplo, indicadores importantes deuma época, havendo analogia com outroseventos ocorridos no que ele chamou de“história civil”.43 Na escrita da história mili-tar, a ofensiva chocou-se com a defensiva,

38 MAHAN, Alfred, Naval Administration and Warfare. op.cit. p. 262. A expressão usada por Mahan nooriginal foi ‘the theory of historical composition’.

39 Ibidem, p. 263.40 Ibidem, p. 265.41 MAHAN, Alfred. Naval Strategy. op. cit. p. 121.42 MAHAN, Alfred, Naval Administration and Warfare. op. cit. p. 268.43 Idem.

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opondo dois lados na guerra, reproduzin-do-se em toda a história. Da mesma forma, oconservadorismo chocou-se com o progres-so que exigia mudanças, sendo a resultantede cada conflito, como em cada guerra, umamodificação das condições reinantes, nãonecessariamente uma imediata reversão.Mudança total, para ele, tinha sido rara nahistória. Nem revolução nem estagnação,contudo avanço, gradual e moderado, fé naestabilização da ordem, nos princípios fun-damentais, no progresso regulado e pro-gressivo, assim pensava.44

Mahan, ao analisar a história, escolhiaos exemplos que melhor atendessem a suasconcepções, desprezando aqueles que, poralguma razão, não corroborassem os seusprincípios fundamentais. Essa visão sele-tiva e enviesada de interpretação históricao comprometeu como um historiador im-parcial. Sua ênfase exagerada no fato compouca problematização e excesso dedogmatismo e etnocentrismo anglo-saxãoo colocam atualmente como um historia-dor limitado. A escrita da história alterou-se no século XX, e Mahan era um homemde seu tempo, influenciado por outras con-junturas. Apesar de percalços no método eno determinismo explícito de sua concep-ção de história, Mahan, segundo Sumida,“estabeleceu a fundação da moderna his-tória naval e da estratégia em seus livrossobre o poder marítimo”45. ReproduzindoPaul Kennedy, “Mahan é e sempre será umponto de referência e partida de qualquerestudo sobre poder marítimo”.46

Com essa discussão bem definida, quaisforam seus principais influenciadores, queproporcionaram o ferramental teórico ne-cessário para as suas conclusões?

AS INFLUÊNCIAS SOBRE ALFREDMAHAN

Apesar de ter lido e estudado intensa-mente os clássicos franceses de história na-val e os livros de Theodor Mommsen, Mahansofreu influência de três intelectuais que vie-ram proporcionar o embasamento teóricopara suas conclusões. Como visto, a histórianaval serviu como ferramenta para sua fun-damentação teórica, no entanto os ditos “prin-cípios” por ele estabelecidos foram deriva-dos de escritos e ideias de outros autores.

Como sua primeira e destacada influên-cia, surgiu seu pai, Dennis Hart Mahan,que proporcionou ao filho o gosto pela in-vestigação e pelo questionamento. Em se-guida, a sua principal e relevante referên-cia para o estabelecimento de conceitos,princípios e concepções foi o teórico suíçoAntoine Henri Jomini. Por fim, o terceirodestacado influenciador de suas concep-ções foi Stephen Luce, oficial da Marinhanorte-americana, que o convidou para com-por o quadro docente da recém-fundadaEGN-EUA, por ele dirigida.

Dennis Hart Mahan

Dennis Mahan nasceu na cidade deNova Iorque, em 2 de abril de 1802, tendo-se criado em Norfolk, na Virginia. Foi, en-tão, indicado por esse estado para seguirpara a Academia Militar de West Point,onde se graduou em 1824 como primeirocolocado de sua turma. Como segundo-te-nente, foi indicado para atuar nessa Aca-demia como professor assistente na cadei-ra de Matemática, ao mesmo tempo em queera designado engenheiro militar.

44 Dessa forma, Mahan não concordaria hoje em dia com a definição de Revolução nos AssuntosMilitares, propugnada por muitos historiadores militares contemporâneos.

45 SUMIDA, Jon Tetsuro. Inventing Grand Strategy and teaching command: the classic works of AlfredThayer Mahan reconsidered. Washington DC: John Hopkins University Press, 1997, p. xi.

46 Ibidem, p. 1.

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Devido a seu desempenho, foi manda-do para a França pelo Departamento deGuerra, de modo a obter o título de enge-nheiro militar de Artilharia na Escola Mili-tar de Metz. Em 1830, Dennis regressou aWest Point para, dessa feita, assumir a car-reira de professor titular de Engenharia, aomesmo tempo em que ensinava fundamen-tos da conduta da guerra aos alunos. Em1838, assumiu o cargo de reitor da Acade-mia, em paralelo com suas atividades do-centes. Por suas mãos passaram diversoscadetes que se torna-riam posteriormentegenerais na Guerra deSecessão.

Dennis procuroutransmitir a interpreta-ção francesa das Guer-ras Napoleônicas, oque provocou grandeatração por parte dosalunos. Suas palestrassobre a conduta daguerra foram compila-das no livro AnElementary Treatiseon Advanced-Guard, Out-post andDetachment Service of Troops, que ofereciamais orientações para os altos níveis milita-res do que para os seus próprios alunos.47

Recebeu o título de doutor pelas Univer-sidades de William e Mary em 1852, de Brownnesse mesmo ano e de Dartmouth em 1867,tornando-se membro associado da Acade-mia Nacional de Ciências a partir de 1863.

Em 1871, Dennis suicidou-se ao tomarconhecimento de que seria afastado e apo-sentado de suas funções docentes pelaComissão de Benfeitores da Academia, ape-

sar de já ter sido assegurada anteriormentea sua permanência.

Seus livros textos de engenharia forammuito disseminados e estudados em diver-sas universidades norte-americanas, desta-cando-se entre os principais Treatise onField Fortification, de 1836; ElementaryCourse of Civil Engineering, de 1837;Elementary Treatise on Industrial Drawing,de 1853; e Field Fortifications, MilitaryMining, and Siege Operations, de 1865.

Dennis, sendo um grande admirador deNapoleão, acreditavaque a defesa, por si só,não era capaz de pro-porcionar a vitória nocampo de batalha. Aprocura da iniciativapor meio de uma açãoagressiva e ofensivaera indispensável parao sucesso em umaguerra. Acreditavaque a batalha de ani-quilamento era a úni-ca forma eficaz de seobter a vitória. Disse

ele, sobre isso, que “o vigor no campo debatalha e a rapidez na perseguição deveri-am ir de mãos dadas com o grande suces-so... levar a guerra ao coração do país ini-migo, ou de seus aliados, é o modo maisseguro de fazê-lo sofrer e prejudicar os seusplanos”.48 Russell Weigley afirmou que,com toda certeza, os métodos utilizados porUlisses Grant e William Sherman na Guerrade Secessão, ambos alunos de Dennis, fo-ram a aplicação das ideias desse mestre49.Essas ideias seriam importantes para seufilho Alfred estabelecer as condições ne-

47 WEIGLEY, Russell. “American Strategy from its Beginnings throuh the First World War”. In:PARET, Peter. Makers of Modern Strategy. Princeton: Princeton University Press, 1986, p. 414.

48 Ibidem, p. 416.49 Idem.

Dennis consideravafundamental o estudo dahistória, e que se alguém

tivesse dito quecompreendia e dominava a

arte da guerra, sem teranalisado a história, estaria

se iludindo

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cessárias para se obter o que viria a cha-mar de “controle do mar”.50

O professor Dennis Mahan, segundoum de seus alunos, possuía um “poder deanálise apurado pelo estudo crítico e in-tensiva pesquisa, [...] na descrição de umsítio, uma batalha ou uma campanha [mu-dou] o, que parecia ser uma confusão deeventos em uma clara ilustração dos prin-cípios verdadeiros de tática e estratégia”.51

Dennis chamava também a atenção de seusalunos para os princípios envolvidos naconduta da guerra, assim como para asqualidades exigidas de um chefe militar, quepara ele seriam grande arrojo, mesclado comprecaução, presença de espírito e bom jul-gamento.52 Considerava também que a con-duta da guerra era umaarte, baseada em prin-cípios simples bem es-tabelecidos, e que to-dos os combatentespercebiam a sua exis-tência, competindo,no entanto, a poucosa sua aplicação.

Dennis consideravafundamental o estudo da história, e que sealguém tivesse dito que compreendia e do-minava a arte da guerra, sem ter analisado ahistória, estaria se iludindo. Ele chegava aser repetitivo ao afirmar que era “na históriamilitar que olhamos para o cerne de toda aciência militar. É nela que encontramos exem-plos de erros e acertos nos quais a verdade eo valor das regras de estratégia podem servalidados”.53

O velho professor de engenharia de WestPoint incentivava seus filhos a lerem diver-sos livros e a terem a capacidade de analisar

e discernir conceitos e ideias deles deriva-dos. Sumida acredita firmemente que tantoele como seu filho Alfred mantiveram mui-tas conversas sobre assuntos envolvendoa arte da guerra, especialmente em tópicosrelacionados com a Guerra de Secessão.Assim, pode-se intuir que conceitos defen-didos por Dennis foram discutidos comAlfred, como, por exemplo, a questão dosprincípios simples, da importância da histó-ria como instrumento de análise, o caso dabatalha decisiva de aniquilamento, a vanta-gem da ofensiva e, por fim, a percepção deque o estudo da história e da conduta daguerra estava inserido em arte e não neces-sariamente em ciência, embora reconheces-se, como engenheiro militar, a importância

fundamental da ciênciamilitar para a conduçãoda guerra.

Dessas discussõesentre pai e filho, Alfredmoldou seu pensa-mento e se preparoupara compreender, apli-car e adaptar ao cam-po da guerra no mar os

ensinamentos do principal teórico militarda primeira metade do século XIX e seu“mentor” intelectual, Antoine Henri Jomini.

Antoine Henri Jomini

Jomini foi o principal teórico a influenci-ar o pensamento de Mahan. Nasceu nocantão de Vaud, na Suíça francesa, em 1779,sendo, a partir de tenra idade, envolvido peloambiente da Revolução Francesa e das Guer-ras da Revolução. Inicialmente orientadopela família a seguir a carreira dos negócios

Jomini provocou grandeadmiração em Napoleão

pela percepção estratégicaaguçada do jovem oficial

suíço

50 Essa ideia será discutida no próximo número da RMB.51 SUMIDA, op. cit. p. 10.52 Ibidem, p. 11.53 Ibidem, p. 13.

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bancários, preferiu a vida militar. O Exércitofrancês foi sua escolha, hipnotizado pelomagnetismo de Napoleão Bonaparte.

Sua ambição, combinada com sua curio-sidade e inteligência, o levou a galgar pau-latinamente os graus hierárquicos no Exér-cito francês. A primeira obra por ele escrita,um tratado das campanhas de Frederico IIda Prússia, foi presenteada ao Grande Corso,que reconheceu sua qualidade.

Em 1806, foi promovido a coronel e, emsetembro desse ano, apresentou-se paraservir no estado-maior de Napoleão. O pró-prio Jomini contouque, ao fim de umaconferência, na qualNapoleão discutiucom diversos oficiaisdo estado-maior a suaideia de manobra con-tra os prussianos,pouco antes da Bata-lha de Jena, não indi-cou para onde suasforças convergiriam.Não resistindo à pro-vocação, Jomini levantou-se e perguntoua Napoleão se poderia se apresentar a eleem Bamberg. O imperador, contrariado, certoque seu destino final era um segredo, per-guntou a Jomini de onde tinha tirado essaideia. Do “mapa da Europa e vossas cam-panhas de Marengo e Ulm”, foi a respostade Jomini54. Isso provocou grande admira-ção em Napoleão pela percepção estraté-gica aguçada do jovem oficial suíço. Nemtudo, no entanto, eram flores para Jominino estado-maior. Aos poucos foi se desen-tendendo com Berthier, chefe do estado-maior, chegando ao ponto de ter que resig-

nar a essa comissão depois que os desen-tendimentos se transformaram em francaanimosidade, que só terminaria na mortede ambos. Nunca se reconciliaram.

Pouco antes da Batalha de Lutzen, em1813, Jomini assumiu o cargo de chefe doestado-maior do Marechal Ney, já como ge-neral de brigada, tendo, no exercício dessafunção, se distinguido como um competenteteórico militar. Da impetuosidade de Ney e dacapacidade analítica de Jomini criou-se umacombinação eficiente no campo de batalha.

Ney propôs ao chefe do estado-maior im-perial a promoção deJomini a general de di-visão, o que foi recusa-do por Berthier, que ale-gou negligência do su-íço com alguns relató-rios que deveriam serenviados, propondoinclusive a sua deten-ção, bloqueando assimqualquer elevação deposto. Irado e amargu-rado, Jomini abando-

nou o Exército francês e apresentou-se comomercenário no Exército russo, que estava emcombate contra Napoleão. Muitos historia-dores franceses consideraram tal gesto umato de traição, entretanto isso não impediuque muitos de seus escritos fossem estuda-dos nas escolas de altos estudos militaresfrancesas.55

No Exército do czar, com o posto de ge-neral, Jomini continuou a escrever sobreassuntos militares e a prestar assessoria,inclusive na fundação da Academia Militarrussa, em 1832. Durante a Guerra daCrimeia, foi consultor do czar e, por oca-

54 JOMINI, Antoine Henri. A Arte da Guerra. Tradução do Major Napoleão Nobre. Rio de Janeiro:Bibliex, 1947, p. 15.

55 BRINTON, Crane; CRAIG, Gordon; GILBERT, Felix. Jomini. In: EARLE, Edward. Makers of ModernStrategy. Military Thought from Machiavelli to Hitler. Princeton: Princeton University Press,1973, p. 82.

Irado e amargurado,Jomini abandonou oExército francês e

apresentou-se comomercenário no Exército

russo, que estava emcombate contra Napoleão

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sião da aventura de Napoleão III na Itália,foi por ele procurado para prestarconsultoria militar.

Jomini viveu 90 anos, fato pouco usualno século XIX, vindo a falecer em 1869.Antes de morrer, teve a grata satisfação dese perceber uma celebridade e “uma dasmaiores inteligências militares do mundo”.56

Seus principais livros publicados foram:Traité des Grandes Operations Militaire,em oito volumes, de 1816; Histoire Criti-que et Militaire des Guerres de laRevolution, em cinco volumes, de 1824;Vie Politique et Militaire de Napoleon,em quatro volumes, de 1827; Introductiona L´Etude des Grandes Combinations dela Strategie e de la Tactique, de 1829;Precis Politiques et Militaire de laCampagne de 1815, de 1839; e por fim, oconhecido e clássico Precis de L´Art de laGuerre, em dois volumes, de 1838, obra maisimportante e de maior perenidade.

Sua obra foi muito lida e comentadadurante todo o século XIX. Além de suagrande produtividade literária, sua escritaera fácil e compreensível para os militarese os políticos envolvidos com a guerra.Suas ideias transformaram-se em uma ver-dadeira escola de pensamento militar, tor-nando-o um dos principais intelectuais doséculo XIX.

Por sua corrente e bem dirigida pena, ascampanhas de Frederico II da Prússia e deNapoleão tornaram-se fáceis de serem en-tendidas e interpretadas. Aos poucos pas-sou a ser considerado o grande intérpretede Napoleão. Como diz Domício Proença,“sucessivas gerações de militares se vol-tariam para seus escritos como os únicos

capazes de revelar-lhes os segredos doGrande Corso”.57 O que Jomini desejou comsua vasta obra foi demonstrar que o mun-do militar e, por conseguinte, a guerra po-deriam ser compreendidos pelos profis-sionais por meio de seus escritos.

Sua vaidade, vasta como sua obra, olevou a diminuir os escritos de seus con-temporâneos. A Jomini pode ser imputado,inclusive, o quase esquecimento da obrade Carl Von Clausewitz. Talvez percebesseem Clausewitz um oponente de peso, daías suas críticas ácidas e imerecidas. O cer-to é que a obra do prussiano possuía umaintegridade intelectual inegável e uma cons-trução teórica consistente, ao contrário daobra de Jomini, que transitava mais no cam-po operacional e com uma universalidadeincompatível com a complexidade da guer-ra. A simplicidade da visão de Jomini emrelação ao fenômeno da guerra embotavasuas próprias conclusões, distanciando-asda visão clausewitiana, mais consistente.Os escritos de Clausewitz só começaram aser analisados após a campanha de 1870,quando Moltke, respondendo a uma per-gunta sobre como conseguira uma vitóriatão retumbante contra o inimigo francês,respondeu que foi a leitura de Clausewitzque o conduzira ao sucesso militar.

Mahan leu tanto Jomini comoClausewitz, no entanto os escritos do pri-meiro tiveram maiores repercussões no seupensamento. Sumida apontou em seu “Ín-dice Analítico Selecionado dos Escritos deAlfred Thayer Mahan” vinte entradas paraa palavra Jomini em seus textos e nenhumapara Clausewitz.58 No entanto, Mahan ci-tou o teórico prussiano duas vezes em seu

56 JOMINI, Antoine Henri. A Arte da Guerra. op. cit. p. 16. Trata-se de uma opinião, a do Tenente-Coronel J.D. Hittle, comentador da obra de Jomini na língua inglesa.

57 PROENÇA, Domicio Jr; DINIZ, Eugenio; RAZA, Salvador. Guia de Estudos de Estratégia. Rio deJaneiro: Jorge Zahar, 1999, p. 59.

58 SUMIDA, op. cit. p. 154.

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Naval Strategy59. Existem, com certeza, al-guns pontos na obra de Mahan que coin-cidem com a obra de Clausewitz60, haven-do inclusive admiração de Mahan porClausewitz, segundo Sumida61. Entretantonão há dúvidas de que o seu grandeinfluenciador foi Jomini. Mahan quis, pormeio da obra de Jomini sobre a guerra ter-restre, compreender a guerra marítima eadaptar suas conclusões a esta. Como seuscontemporâneos, Mahan ficou fascinadopelas ideias do teórico suíço. Dennis HartMahan foi um assíduo leitor de Jomini epassou essa caracte-rística a seu filhoAlfred.

A primeira grandeideia “emprestada” deJomini foi a questãodos princípios, muitodefendida por DennisMahan. Disse Jomini oseguinte:

Existe um pe-queno número de princípios fundamen-tais de guerra, dos quais não se podedesviar sem perigo e cuja aplicação, aocontrário, tem sido, em quase todos ostempos, coroada de sucesso. As máxi-mas de aplicação que derivam dessesprincípios são também em pequeno nú-mero, e se elas se acham algumas vezesmodificadas segundo as circunstânci-as, podem, não obstante, servir comouma bússola a um comandante de exér-cito para orientá-lo na tarefa, sempre

difícil e complicada, de conduzir gran-des operações no meio da desordem edo tumulto dos combates.62

Em seu Traité, Jomini foi ainda mais ex-plícito ao afirmar que “têm existido, em to-dos os tempos, princípios fundamentaisdos quais dependem os bons resultadosna guerra [...] esses princípios são imutá-veis, independentes da espécie de arma-mento, da época e do lugar”63. Odogmatismo e a simplicidade de sua afir-mação influenciaram diversas gerações de

militares, nelas incluí-dos Dennis e AlfredMahan. A compreen-são de que a corretautilização dos princípi-os fundamentais naguerra pelos generaispoderia conduzir à vi-tória, tão claramentedesenvolvida porJomini, teve, sem dú-vida, um efeito notável

em Mahan. Seu pai já lhe indicara o cami-nho anteriormente. O teórico suíço afirmoutambém que a guerra não era, em seu con-junto, uma ciência, mas uma arte64, consis-tindo de cinco vertentes militares: a estra-tégia, a grande tática, a logística, a enge-nharia e a tática. A percepção de que a guerraera uma arte coincidiu com a visão deMahan em relação à história e à própriaguerra.

Jomini acreditava que o estudo objeti-vo da história militar era indispensável a

59 MAHAN, Alfred. Naval Strategy. Op. cit p. 120 e 279. Curioso que Mahan considerava o NavalStrategy o seu pior livro. Fonte: SUMIDA, op. cit. p. 2.

60 MOLL, op.cit. p. 134. Segundo Moll, Mahan leria, alguns anos depois, a obra de Clausewitz econcordaria com muitos pontos da teoria do autor prussiano.

61 SUMIDA, op. cit, p. 113.62 JOMINI, Antoine Henri. A Arte da Guerra. op. cit. p. 47.63 Ibidem, p. 18.64 JOMINI, Antoine Henri. The Art of War. Westport: Greenwood Press, [196-], p. 11 e 293.

Jomini afirmou que aguerra consiste de cinco

vertentes militares: aestratégia, a grande tática,a logística, a engenharia e

a tática

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qualquer oficial que aspirasse atingir osaltos postos militares e que ela, acompa-nhada de crítica sã, seria na realidade averdadeira escola da guerra. Declarava que“de todas as teorias sobre a arte da guerra,a única razoável é aquela que, fundamen-tada no estudo da história militar, admiteum certo número de princípios regulado-res, mas deixa ao gênio natural a maior par-te da conduta geral de uma guerra semtolhê-la com regras exclusivas”.65 Mahan,ao apontar a importância da análise da his-tória naval para a obtenção de princípios,utilizava quase as mesmas palavras deJomini.

Um fato interessante nos escritos deJomini foi a ênfase dada ao gênio militar, nocaso Napoleão. Sua genialidade e liderançaforam muito discutidas pelo suíço, que che-gou a provocar a observação de J. D. Hittle,comentarista da edição norte-americana deA Arte da Guerra, de que Napoleão foi umdeus da guerra e Jomini o seu profeta.66 Nãoseria Netuno o deus do mar e Mahan o seuprofeta?67 As coincidências parecem maisque evidentes. A admiração de Mahan porNelson se igualava à admiração de Jominipor Napoleão. Hittle, ao discutir a influênciade Jomini no pensamento de Mahan, afir-mou o seguinte:

Desde que fazia uma tão judiciosaapreciação do poder marítimo, não é par-ticularmente estranho que Jomini deves-se ocupar posição incomum em virtudede suas contribuições importantes, em-bora indiretas, ao desenvolvimento dadoutrina naval. O Almirante Mahan, au-tor do mais importante livro sobre a guer-

ra naval, The Influence of Sea Powerupon History, estudou as obras de Jominie reconheceu que a doutrina básica enun-ciada pelo antigo chefe do estado-maiorde Ney era tão universalmente aplicávelque podia fornecer conceitos guias deestratégia naval. O princípio de linhasinteriores, uma asserção básica da con-cepção de guerra de Jomini, como tam-bém a teoria de suprema importância es-tratégica das linhas de comunicação, in-fluenciaram fortemente o pensamento deMahan enquanto este escreveu o seuduradouro tratado.68

Jomini, em algumas passagens de seulivro, comentou a importância do controledo mar para o general. Disse ele que, se umpovo dominasse a longa faixa de costa deseu território e fosse senhor de seu marsubjacente ou fosse aliado de um povo quecontrolasse o mar e a faixa litorânea a elecontígua, poderia ter seu poder de resis-tência quintuplicado, não apenas para apoi-ar movimentos de insurreição e fustigar oadversário, mas também para dificultar amanutenção das linhas de abastecimentoinimigas provindas do mar.69

O teórico suíço preconizava também ouso intensivo da ofensiva que para ele, sobo ponto de vista moral e político, era semprevantajosa, pois poderia levar a guerra aosolo estrangeiro, pouparia o próprio territó-rio da devastação provocada pelo ataqueinimigo, aumentaria os recursos do atacan-te e diminuiria os do adversário, elevaria amoral do exército e deprimiria a do inimigo.Do ponto de vista militar haveria, entretan-to, pontos bons e ruins. Se as linhas de avan-

65 JOMINI, Antoine Henri. A Arte da Guerra. op. cit. p. 32 e 48.66 Ibidem, p. 42.67 Observação formulada por Henry Stimson, secretário da Marinha durante a Segunda Guerra Mundial.68 Ibidem, p. 36. Os conceitos de linhas interiores e linhas de comunicação serão discutidos no próximo

número da RMB.69 JOMINI, Antoine Henri. The Art of War. op. cit. p. 26.

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A HISTÓRIA SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN (II)

ço ficassem muito estendidas haveria peri-go de contra-ataques nos flancos. Os obs-táculos naturais poderiam também ser favo-ráveis à defesa; no entanto, se conseguisseo sucesso, o inimigo seria batido no seuponto vital, ficando privado de seus recur-sos e compelido a procurar a paz. Para umasimples operação, dizia Jomini, a ofensivaera quase sempre vantajosa, particularmen-te no campo estratégico.70 Mahan viria adefender a ofensiva como primordial para aconduta da guerra no mar.

Para Jomini, existiam três grandes ele-mentos em sua concepção de guerra. Oprincípio da concen-tração, o valor estraté-gico da posição cen-tral e linhas interiorese a relação entre alogística e o combate.Delas Mahan retiraraalgumas de suas prin-cipais concepções naformulação da obten-ção do poder maríti-mo71. Segundo pala-vras do próprioMahan:

A autoridade de Jomini principalmen-te me orientou para estudar desse modoa história naval. Com ele eu aprendi aspoucas considerações militares princi-pais e nelas eu encontrei a chave daqual, usando os registros das Marinhasa vela e dos líderes navais, eu podia re-tirar da análise da história naval infor-mações pertinentes. O curso das diver-sas campanhas ou das batalhas especí-ficas estudei e concluí da própria histó-

ria, comparando as testemunhas indivi-duais presentes nas ações; no entanto,os resultados desse processo constru-tivo se tornaram para mim mais que asimples narração.72

A influência de Jomini sobre Mahan foitão intensa que ele chegou a nomear seu ca-chorro de estimação “Jomini”, tal a impres-são que os escritos do suíço tiveram sobreele73. Tanto Dennis Mahan como Jomini tive-ram um efeito substancial na formulação deseu pensamento analítico; no entanto, Jominifoi o seu maior influenciador.

Stephen BleekerLuce

Responsável peloconvite formulado aMahan para compor oquadro docente daEGN-EUA, StephenLuce nasceu emAlbany, no estado deNova Iorque, em 1827.Graduado pela Acade-mia Naval de

Annapolis em 1849, participou da Guerrade Secessão como oficial da União, coman-dando o Monitor Nantucket no bloqueiode Charleston, na Carolina do Sul.

Em 1862, foi designado para servir emAnnapolis, onde escreveu o primeiro ma-nual sobre marinharia usado pela Acade-mia, tendo comandado o Corpo de Aspi-rantes entre 1865 e 1868, nutrindo grandepreocupação com a instrução e o treina-mento, tanto de praças como de oficiais.Entre 1878 e 1881, o então Capitão de Mar

70 JOMINI, Antoine Henri, A Arte da Guerra. op. cit. p. 69.71 Esses conceitos serão discutidos no próximo número da RMB.72 MAHAN, Alfred. From Sail to Steam. op. cit p. 282.73 TILL, Geoffrey. Maritime Strategy and the Nuclear Age. New York: St Martin´s Press, 1982, p. 155.

Em homenagem a StephenLuce a Marinha norte-americana batizou doispavilhões, na AcademiaNaval de Annapolis e naEGN-EUA, com o seu

nome

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A HISTÓRIA SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN (II)

e Guerra Luce foi inspetor dos navios-es-cola e, como comodoro, comandou o Es-quadrão de Treinamento da Esquadra dosEUA entre 1881 e 1884.

Logo em seguida, conduziu estudospara a criação da EGN-EUA, que acabousendo inaugurada em outubro de 1884, comLuce como seu primeiro presidente. Porisso ele é considerado o fundador dessaescola. Na seleção do corpo de docentes,Luce era o personagem principal, escolhen-do muitos oficiais pes-soalmente. Uma desuas escolhas foi exa-tamente Mahan paraministrar aulas de his-tória naval e estraté-gia. Luce foi funda-mental também na cri-ação do Instituto Na-val dos EUA e em suarevista acadêmica, aProceedings.

Luce permaneceu à frente da EGN-EUAentre 1884 e 1886, tendo sido promovido acontra-almirante nesse ano, transferindo apresidência da escola para Mahan, quan-do assumiu o comando do Esquadrão Na-val do Atlântico Norte. Transferiu-se paraa reserva em 1889, no entanto continuouligado à escola, retornando para o corpodocente como professor convidado, até oseu falecimento, em 1917.

Em sua homenagem, a Marinha norte-americana batizou dois pavilhões, na Aca-demia Naval de Annapolis e na EGN-EUA,com o seu nome74.

Suas principais obras foramSeamanship, de 1863, e a edição de ThePatriotic and Naval Songster de 1883.

Luce, a partir da experiência adquirida naGuerra de Secessão, propugnou que era fun-damental que os oficiais da Marinha tivessemconhecimento de estratégia naval, daí sua in-sistência na fundação da EGN-EUA, fórumideal para discussão de assuntos estratégi-cos. Dizia que o oficial-aluno “deveria ter ideiados princípios de estratégia, de modo a com-preender os pontos básicos no campo dasoperações e aplicá-los ou impedir que o inimi-go os aplicasse”.75 Complementava afirman-

do que era fundamentalao oficial-aluno prepa-rar-se pela análise e re-flexão estudando a ciên-cia da guerra nas esco-las de alto nível formal-mente estabelecidas e,dessa maneira, aplicaros princípios nas ope-rações navais. Seu es-tudo deveria ser “filosó-fico” no que compreen-

dia a história naval, examinando as batalhasnavais com o “olho crítico” profissional, reco-nhecendo os princípios e identificando quan-do as regras da arte da guerra levaram à vitóriaou ao desastre76.

Luce impressionou-se bastante com umapalestra proferida pelo General Sherman so-bre a Guerra de Secessão e, logo após essaexposição, comentou: “Aqui está um solda-do que conhece o seu ofício [...] percebi queexistem certos princípios fundamentais queorientam as operações militares e que devemser do conhecimento geral, princípios de apli-cação geral conduzidos em terra ou no mar”.77

Luce considerava os escritos de Jominifundamentais para a preparação do oficial deMarinha, apontando-o como o fundador da

74 Receberam o nome de Luce Hall.75 WEIGLEY, Russell. The American Way of War. Bloomington: Indiana University Press, 1977, p. 172.76 Ibidem, p. 172.77 GAT, Azar. A History of Military Thought. From the enlightenment to the Cold War. Oxford: Oxford

University Press, 2001, p.443.

Antoine Henri Jomini,Stephen Luce e Dennis

Mahan foram os principaisinfluenciadores das

concepções sobre podermarítimo de Alfred Mahan

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A HISTÓRIA SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN (II)

ciência militar78. Ele quis encontrar um novomestre que fosse capaz de atuar como umfundador da ciência naval, assim como Jominio fora da ciência militar. Segundo o próprioLuce, esse mestre foi Alfred Thayer. Apesardesse comentário elogioso, Luce não leu to-das as obras de Mahan ou pelo menos nãoleu algumas que considerava irrelevantes.

O professor Sumida comentou, em umaconferência na EGN-EUA, sobre Mahan eLuce, que, alguns anos atrás, ao procurar li-vros raros em um “sebo” em Bethesda, noestado de Maryland, se deparou com a primei-ra edição do Naval Strategy, de Mahan, o queo deixou fascinado. Mais intrigado ficou aoperceber que o livro continha uma dedicatóriaassinada por Mahan para Luce, com os dize-res “ao Almirante Stephen B. Luce, com sau-dades e saudações cordiais do autor”. Mahanpresenteava seu mentor e chefe com seu im-portante livro. Que fascinante descoberta! En-tretanto, essa descoberta não era a única sur-presa. O livro ainda tinha folhas não cortadas,indicando que Luce não lera esse livro, apesarda inegável importância dessa obra para o en-tendimento do pensamento de Mahan79.

Seja como for, para Luce, a conduta daguerra se inseria como arte, embora reco-nhecesse que sua análise deveria seguiros métodos científicos e os princípios deestratégia eram sempre os mesmos, poden-do ser aplicados indistintamente, tanto nocampo terrestre como no campo naval.

Na EGN-EUA Luce procurou aplicar umametodologia científica para o estudo daguerra naval. Acreditava que a ciência, quejá contribuíra para desenvolver diversas

artes, incluindo as marítimas, poderia auxi-liar no “correto” entendimento da guerranaval. Imaginava que a metodologia cien-tífica teria a função de reunir os fatos maisimportantes das batalhas navais, permitin-do que o estudante de história naval ad-quirisse o hábito da generalização, de modoa apontar os princípios a serem seguidosna guerra. Considerava que a história na-val estava repleta de exemplos dos quaisse poderia erigir uma ciência da guerra na-val. Esses exemplos retirados da histórianaval não teriam o rigor metodológico dasciências físicas, no entanto as batalhas na-vais do passado forneciam uma massa con-siderável para a formulação de “leis” ouprincípios que, uma vez consolidados,transformariam a guerra naval no nível deciência. Com esses princípios perfeitamen-te definidos pelo método indutivo, pode-ria-se aplicar o método dedutivo na aplica-ção desses princípios à arte da guerra.80 Ométodo que ele acreditava ser o mais perti-nente compreendia a observação, a acu-mulação de fatos, a indução, a generaliza-ção e, por fim, a dedução. O método decomparação poderia também ser usado noestudo da guerra no mar, ao confrontar asdiferentes campanhas navais na história.

Mahan, com certeza, bebeu nessa fonte,e muito de seu pensamento foi devido a seucontato íntimo com Luce. Existem pontosconcordantes entre os dois que não podemser negligenciados. Antoine Henri Jomini,Stephen Luce e Dennis Mahan foram osprincipais influenciadores das concepçõessobre poder marítimo de Alfred Mahan.

78 WEIGLEY, Russell. The American Way of War. op. cit, p. 173.79 HATTENDORFF, John; GOLDRICK, James. Mahan is not enough: The Proceedings of a Conference

on the Works of Sir Julian Corbett and Admiral Sir Herbert Richmond. Newport: NWC Press, 1993,p. 177.

80 GAT, op. cit. p. 445.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<HISTÓRIA>; Historiador; Mahan, Denis; Jomini, Antoine; Luce, Stephen; Guerra;Estratégia;

SUMÁRIO

“Céu” do Museu NavalAves marinhas

Diomedeidae (albatrozes)Procellariidae (pardelas, bobos, pombas-do-cabo)Hydrobatidae (petréis-das-tormentas ou andorinhas-do-mar)Pelecanoididae (petréis-mergulhadores)Spheniscidae (pinguins)Phaethontidae (rabos-de-palha ou grazinas)Sulidae (atobás)Pelecanidae (pelicanos)Phalacrocoracidae (biguás)Fregatidae (fragatas-tesourões)Haematopodidae (ostreiro ou piru-piru)Charadriidae (maçaricos e batuíras)Scolopacidae (maçaricos e outros)Recurvirostridae (maçaricão ou pernilongo)Chionididae (pomba-antártica)Stercorariidae (skuas, gaivotas-rapineiras)Laridae (gaivotas e trinta-réis)Rynchopidae (talha-mar)

AS AVES MARINHAS DO ‘CÉU’ DO MUSEU NAVALE DO BRASIL

JACIR ROBERTO GUIMARÃES*Jornalista

* N.R.: Jornalista – Encarregado da editora do Departamento de Publicações e Divulgação da Diretoriado Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha e possui 39 anos de serviço na Marinha doBrasil. É colaborador regular da RMB, com vários artigos publicados.

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AS AVES MARINHAS DO ‘CÉU’ DO MUSEU NAVAL E DO BRASIL

“CÉU” DO MUSEU NAVAL

Aves marinhas retiram do mar os recur-sos para sua sobrevivência. Ou seja,

aves marinhas são aquelas que “obtêm seualimento desde a linha da baixa mar até omar aberto”.1 Algumas são costeiras e ou-tras oceânicas e apresentam formas e hábi-tos variados.

O adorno do teto do Museu Naval, re-presenta algumas aves marinhas que po-voam os mares do Brasil, notadamente osdo Sul, inclusive reproduzindo aves daAntártica que para cá voam em determina-das épocas do ano.

O móbile, com 52 pássaros, medindo 9por 13 metros, é mais uma atração no Mu-seu Naval. Construído por Conny Baumgart,em São Francisco do Sul (SC), o móbile foiidealizado para ocupar o vão central (Pátiod’Armas) do prédio de três andares. No lo-cal, pode-se conhecer 12 espécies de avesque sobrevoam os mares do Brasil.

Formado por três estruturas de cabo deaço independentes, o móbile mostra mode-

1 AVES MARINHAS E INSULARES BRASILEIRAS: bioecologia e conservação. Organização JoaquimOlinto Branco. Itajaí: Univali Editora, 2004, pág. 13 (Introdução).

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AS AVES MARINHAS DO ‘CÉU’ DO MUSEU NAVAL E DO BRASIL

los de aves de tamanho natural, cujas espé-cies podem ser facilmente identificadas. Elassão feitas em poliestireno expandido, refor-çado com cola e resina e estrutura internade bambu.

A confecção da estrutura do móbilegigante e das aves consumiu três mesesde atividade do artista, que também é res-ponsável pela construção de uma gran-de maquete do Centro Histórico de SãoFrancisco do Sul, no Museu do Mar.

No Brasil, podem ser encontradas 18 es-pécies que nidificam em ilhas costeiras eoceânicas, representadas pelas famíliasDiomedeidae, Procellariidae, Hydroba-tidae, Pelecanoididae, Spheniscidae,Phaethontidae, Sulidae, Pelecanidae,Phalacrocoracidae, Fregatidae, Haema-topodidae, Charadriidae, Scolopacidae,Recurvirostridae, Chionididae, Sterco-rariidae, Laridae e Rynchopidae, as quaisapresentamos neste trabalho.

AVES MARINHAS

DIOMEDEIDAE (albatrozes)

Família representada por oito espéciesde albatrozes. São aves oceânicas de gran-de porte (na sua maioria do Hemisfério Sul),as maiores aves voadoras do mundo. Corpopesado, longas asas rígidas, muito estrei-

tas, cujas pontas (penas) jamais se abrem.Bico muito forte, curvado em gancho e cau-da muito curta. Alimentam-se de pequenose médios animais, sobretudo de peixes, lu-las e crustáceos, que se aproximam da su-perfície; seguem navios para apanhar detri-tos. Reproduzem-se nidificando em grupos

Albatroz fisgado por espinhel

de aproximadamente cem ninhos por hecta-re, em ilhas oceânicas afastadas do conti-nente. Os ninhos são construídos no chão,ao relento, utilizando uma mistura de barro,capim e musgo.

Baumgart e suas aves

Albatroz

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AS AVES MARINHAS DO ‘CÉU’ DO MUSEU NAVAL E DO BRASIL

PROCELLARIIDAE (pardelas, bobos,pombas do cabo)

São 21 espécies, que inclui pardelas,bobos, pomba-do-cabo e afins. São avesoceânicas de aspectos e costumes seme-lhantes aos albatrozes, porém de portemenor. Bico composto, longo e geralmente

pardelas (Pachyptila) vivem do plâncton,sendo o krill o principal alimento. Os fura-buxo (Pterodroma), com bico forte de ga-vião, têm o hábito de arrancar pedaços degrandes polvos ou lulas; outros desta fa-mília alimentam-se de peixe. Já o pardelão(Macronectes) utiliza animais mortos, ovose filhotes de aves costeiras como comple-mento alimentar. Nidificam em colôniasconstruindo ninhos no solo ou em tocas.

HYDROBATIDAE (petréis-das-tormentas ou andorinhas-do-mar)

São quatro espécies e inclui as menoresaves da ordem Procellariidae. Tamanhoentre 18 e 21cm e peso em torno de 20g.Plumagem preta, com marcas claras na baseda cauda e asas. Voam rente ao mar e logo

Pardela

fino; patas com três dedos palmados. Voamrapidamente, rente à superfície do mar, pla-nando e batendo as asas. Basicamente, al-gumas espécies diferem na alimentação. As

Bobos

Pomba-do-cabo

desaparecem atrás das ondas; manobramcom os pés pendentes, como se andassemsobre a superfície do mar. Durante as tem-pestades, refugiam-se nas baías e até nosportos. A espécie mais comum da família éa alma-de-mestre (Oceanites oceanicus),com 18cm de comprimento e membranasinterdigitais amarelas, o que chama muito aatenção em voo. Obtêm alimento no rastrodos navios em águas turbulentas. Nidificamao redor da Terra do Fogo, Ilhas Malvinase Geórgia do Sul.

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AS AVES MARINHAS DO ‘CÉU’ DO MUSEU NAVAL E DO BRASIL

PELECANOIDIDAE (petréis-mergulhadores)

Aves pequenas de 20 centímetros, se-melhantes às alcas e aos papagaios-do-mar.Vivem mais nadando e mergulhando que

membros anteriores modificados em nada-deiras; têm glândulas nasais bem desen-volvidas para excreção do cloreto de sódio.Vão à terra somente durante a reproduçãoou quando exaustos, formando grandescolônias conhecidas. No litoral sul do Bra-sil é possível encontrar quatro espécies:pinguim-de-magalhães – Spheniscusmagellanicus; pinguim-rei – Aptenodytespatagonicos; pinguim-testa-amarela –Eudyptes chrysolophus e pinguim-de-penacho-amarelo – Eudyptes chrysocome.O pinguim-de-magalhães é a espécie maiscomum. Os adultos atingem um comprimen-to de 71cm, asa entre 18 e 20cm e peso deaproximadamente 4kg. Utilizam uma gran-de variedade de presas na sua dieta, sendomais comum pequenos peixes, como asanchoitas, e lulas. Nidificam durante o ve-rão nas costas da Patagônia, das IlhasMalvinas e do Chile, em grande e densascolônias. Os juvenis migram para o norte eaparecem entre maio e agosto em grandenúmero nas águas da plataforma continen-tal sul brasileira.

PHAETHONTIDAE (rabos-de-palha ougrazinas)

Aves marinhas de distribuição restritaaos trópicos, de duas espécies lembram ostrinta-réis, com os quais não são aparenta-dos. Medem cerca de 1m de comprimento,dos quais pelo menos 40cm são de cauda.Ave semelhante a um pombo, com asretrizes medianas extremamente longas e

Pinguim-de-magalhães

voando. Nos mergulhos utilizam as asascomo remos. O Pelecanoides magellani é aúnica espécie que ocorre no Brasil. Repro-duzem-se no sul da Patagônia e no Chile.

SPHENISCIDAE (pinguins)

São conhecidas atualmente 18 espéciesde pinguins agrupados na famíliaSpheniscidae. São aves marinhasespecializadas em mergulhar e nadar com

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finas. Bico forte de cor vermelha ou laran-ja, com as bordas serrilhadas. Deixam-secair no mar de altura considerável, mergu-lhando de 3 a 4m para capturar polvos.Descansam de cauda levantada, pousadossobre a água. Nidificam em ilhas oceâni-cas, nas escarpas com fendas (Abrolhos eFernando de Noronha).

SULIDAE (atobás)

São aves de médio a grande porte, comcomprimento de 64 cm a 1 m e peso de até3,6 kg, e vivem nos mares tropicais esubtropicais. A plumagem é muito variávelde espécie para espécie, mas geralmente éem tons de castanho e preto, sendo brancana zona ventral. As asas são longas e adap-

dos unidos por membranas. Os pelicanossão encontrados em todos os continentes,exceto na Antártica. Podem chegar a medir3 metros de envergadura (de uma asa aoutra) e pesar 13 quilos, sendo que os ma-chos são normalmente maiores e possuemo bico mais longo do que as fêmeas. Prati-cam uma dieta restrita aos peixes. O pelica-no-pardo (Pelecanus occidentalis) é visi-tante ocasional do norte do Brasil. Pescamem águas rasas com pequenos mergulhosou na superfície; pernoitam empoleiradosem manguezais.

PHALACROCORACIDAE (biguás)

Aves aquáticas do porte de um pato, devasta distribuição por todo o mundo, in-clusive em regiões de clima frio. No Brasil,existem biguás marítimos ou pelágicos.Corpo pesado,bico estreito componta curva; plu-magem escura (cor-vos-marinhos) comaproximadamente75cm de compri-mento e peso de 1,3kg. Nadam meiosubmersos com obico um pouco le-vantado; são bonsmergulhadores ,utilizando os pés

tadas a longos voos e posicionadas nametade posterior do corpo. São excelentesmergulhadores, atingindo até 20m de pro-fundidade. São aves marinhas piscívorasque se alimentam de carapaus, sardinhas,anchovas e outros pequenos peixes oceâ-nicos. Os ninhos são construídos sobre ochão ou vegetação rasteira.

PELECANIDAE (pelicanos)

A principal característica do pelicano éo longo pescoço que contém uma bolsa naqual armazena o alimento. Assim como amaioria das aves aquáticas, possui os de-

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AS AVES MARINHAS DO ‘CÉU’ DO MUSEU NAVAL E DO BRASIL

fortes com grandes nadadeiras na locomo-ção em água; utilizam a cauda longa e rígi-da como leme. Descansam pousados nabeira da água, sobre rochas, árvores ou es-tacas. Pescam em rios, lagos, estuários ezonas de arrebentação, e apanham presasvariadas, como tainhas, bagres e outrospeixes, bem como crustáceos (camarões esiris). Pescam isolados. Quando em gru-pos, bloqueiam passagens de cardumes.No mergulho, podem atingir mais de 20metros de profundidade com duração de30 a 45 segundos. Nidificam em colôniassobre árvores, em matas alagadas.

FREGATIDAE (fragatas-tesourões)

Aves habitantes das ilhas oceânicas tro-picais, consideradas as aves de menor pesopor unidade de superfície de asa. Têm co-loração geral preta, asas extremamente lon-gas, estreitas e angulosas. Macho adulto,com plumagem preta-lustrosa, pode apre-sentar bolsa gular (inflada), vermelha noperíodo reprodutivo. A fêmea é preta-fos-ca e tem peito branco e pés rosados. Nun-ca pousam sobre o mar, pois encharcam-serapidamente, ou sobre a praia; descansamplanando ou pousadas em ilhas; pernoi-tam empoleiradas ou sobre rochas. No Bra-sil ocorrem três espécies: fragata-minor(Ilha da Trindade), fragata-ariel (menor es-pécie do gênero, Ilha da Trindade e MartimVaz) e fragata-magnificens, também conhe-cida como tesourão ou fragata, que mede

entre 98 e 106 cm e com envergadura quepode exceder 2 m. O peso é de apenas 1,5kg. No Brasil, são encontradas colônias naBahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná,Santa Catarina e Fernando de Noronha.Alimentam-se de pequenos peixes que so-bem à superfície ou dos descartes dosarrasteiros, onde utilizam os peixes que flu-tuam como alimento. Acredita-se que a es-pécie só nidifique em ilhas elevadas comvegetação arbustiva e arbórea, até em moi-tas de capim mais elevada.

HAEMATOPODIDAE (ostreiro ou piru-piru)

Aves costeiras, bico comprido e forte,achatado lateralmente, utilizado para reti-rar partes moles dos moluscos de dentro

das conchas. A família é cosmopolita, comum gênero e 11 espécies. A única espécieque ocorre no Brasil é a Haematopuspalliatus ( piru-piru).

CHARADRIIDAE (maçaricos ebatuíras)

Aves cosmopolitas, ribeirinhas,frequentadoras de praias costeiras elacustres. Apresentam bico grosso e maiscurto do que a cabeça. Dedo posterior(hálux) raramente presente; geralmente sãomigratórias. Existem descritos nove gêne-ros e 65 espécies. Chegam a medir até 15

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cm de comprimento, com o alto da cabeça epartes superiores ferrugíneas; fronte, gar-ganta e partes inferiores brancas; coleira ebico negros e pernas rosadas. Também são

variável, às vezes bastante longo. Maioriamigrante do Hemisfério Norte. Existem 22 gê-neros e 88 espécies. Calidris canutus eCalidris fuscicollis são abundantes no Brasil.

RECURVIROSTRIDAE (maçaricão oupernilongo)

Aves ribeirinhas, frequentadoras de praiascosteiras, lagoas e banhados. Com pescoçoalongado e pernas muito compridas (16 cm,contra 38 cm do corpo), bico longo; hálux au-sente ou rudimentar. Existem três gêneros e

chamadas de batuíra, batuíra-da-costa,batuíra-de-colar-simples, batuituí, colei-rinho, ituituí, lulutinho, maçarico-de-coleira,maçarico-pequeno e tarambola.

SCOLOPACIDAE (maçaricos e outros)

Aves cosmopolitas, ribeirinhas,frequentadoras de praias costeiras e lacustrese de campos alagados. Bico de comprimento

Maçarico

Calidris canutus

Calidris fuscicollis

Maçaricão

sete espécies. A espécie mais comum no Bra-sil é o pernilongo (Himantopus himantopus).

CHIONIDIDAE (pomba-antártica)

Aves marinhas com hábitos terrícolas, évisitante ocasional da Região Sul do Bra-sil. De porte médio, medindo aproximada-mente 39 cm de comprimento, apresenta plu-magem totalmente branca e pele nua rosa-

Batuíra

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da abaixo do olho e na base do bico. O bicoé curto e firme, de coloração esverdeada epreto na ponta, com um revestimentocaloso rosado na base. As patas são azuis-cinzentas e os pés são desprovidos demembranas, mas possibilitam à pomba-an-tártica nadar bem quando necessário.

Habita terras próximas da água, comopraias e regiões litorâneas. Alimenta-se decarniça, particularmente do produto

Pomba antártica

regurgitado por pinguins e cormorões.Come também fezes de focas, podendo ain-da roubar ovos de outras aves.

STERCORARIIDAE (skuas, gaivotas-rapineiras)

Aves oceânicas e polares aparentadasàs gaivotas, tendo em comum pernas curtase membrana natatória. São aves cosmopoli-tas e rapineiras, costumam atacar outras es-pécies para alimentar-se. Possuem bicorecurvado, unhas longas e pontiagudas;fêmeas, geralmente de maior porte. De voorápido e rente ao mar, apanham animais flu-tuantes, peixes mortos e detritos, ameaçam

Stercorariuspomarinus

Stercorariusparasiticus

outras aves marinhas, como trinta-réis, gai-votas e até maçaricos. Na costa brasileira,ocorrem quatro espécies: Catharacta skua(gaivota-rapineira-grande), Stercorariuspomarinus (gaivota-rapineira-pomarina),Stercorarius parasiticus (gaivota-rapineira-

Stercorariuslongicaudus

Catharacta skua

comum), Stercorarius longicaudus (raba-de-junco-preto). O tamanho dessas espéci-es varia entre 60 e 41cm.

LARIDAE (gaivotas e trinta-réis)

Aves aquáticas cosmopolitas e gregárias,asas longas, pernas curtas. A plumagem dotrinta-réis apresenta duas fases distintas:sexual (cor negra na fronte, de curta dura-

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AS AVES MARINHAS DO ‘CÉU’ DO MUSEU NAVAL E DO BRASIL

Larus dominicanus

ção), invernal ou repouso sexual (mais bran-cos, bicos e pés “descoram-se”, semelhan-te à dos imaturos). As gaivotas têm a caudaarredondada e o bico recurvado; os trinta-

Larus maculipennis

réis, cauda bifurcada (exceto os Anous),asas mais estreitas e bico mais reto, pontia-gudo, sendo dirigido para baixo em voo. As

camente insetívora, Larus dominicanus ata-ca ninhos e filhotes de aves marinhas, ostrinta-réis, em “pequenos mergulhos”, cap-tura peixes ou crustáceos. Voam vagarosa-mente em busca de presa, podem pairar “pe-neirando”, observando a água, para mergu-lhar sobre a presa até 1 metro.

RYNCHOPIDAE (talha-mar)

Cosmopolita, mede em torno de 50 cm elembra uma gaivota, porém com asas maislongas e estreitas; cauda bifurcada. Bicovermelho com a base amarela e ponta preta,comprimido lateralmente, com a mandíbulaalongada. Vive em grandes rios e lagos doBrasil; durante as migrações ocorrem nacosta em estuários até a Terra do Fogo e

Trinta-Réis

América do Norte, onde ocorre somente nolitoral. Para pescar, voa rente à água, man-tendo o bico constantemente aberto, mer-gulhando 2/3 da mandíbula como se cortas-se a água, e batendo as asas com poucaamplitude para que as pontas não toquem aágua. Dessa forma, encontra pequenos pei-xes e camarões, engolindo a presa em voo.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<HISTÓRIA>; Museu;

gaivotas são onívoras, alimentando-se depeixes mortos, animais atropelados e depó-sitos de lixo. Larus maculipennis é periodi-

SUMÁRIO

IntroduçãoA segurança e o submarinoO submarino e o seu empregoA construção do submarino nuclear brasileiroSubmarino convencional versus submarino nuclearConclusão

A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINONUCLEAR BRASILEIRO*

ROBERTO LOIOLA MACHADO**

Capitão de Fragata

INTRODUÇÃO

“Sua aquisição exige muito dinheiro,(...), o treinamento de sua tripulação e asua manutenção requerem o mais altonível de profissionalismo, se a esqua-dra é eficiente e eficaz. (...) A dimensão

humana é muito evidente na guerra sub-marina, talvez mais importante do queem qualquer outra força armada.” 1 (Tra-dução do autor)

Este pequeno trecho extraído do livroSubmarine Technology for the 21st

* N.R.: Este artigo foi o vencedor do Prêmio Almirante Jaceguay/2009.1 “Their acquisition is expensive, (...), crew training and ship maintenance require the highest levels of

professionalism if the fleet is to perform creditably. (…) The human dimension is very evident inthe undersea warfare, perhaps more important than any other armed force.” Stan ZIMMERMAN,Submarine Technology for the 21st Century, p. 1.

** É, atualmente, instrutor na Escola de Guerra Naval e possui mestrado em História Comparada pelaUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

Century é emblemático. Ele mostra dois dosmais significativos temas que emergemquando da análise de viabilidade deimplementação do projeto de construção ede operação de um submarino: o seu custoe a adequada profissionalização do pesso-al envolvido. Além disso, depreende-se queo autor o redigiu referindo-se ao submari-no de uma maneira geral, ou seja, conside-ra que qualquer empreendimento relacio-nado com esta unidade militar-naval, sejaela convencional, nuclear ou outra qual-quer, deverá levar em consideração essesdois aspectos.

Quanto ao primeiro tema mencionado, ocusto, ele é reconhecidamente alto. Estetrabalho, de maneira proposital, não irá re-alizar qualquer abordagem financeira refe-rente ao projeto de construção de subma-rinos em solo brasileiro, pois entende queisto poderia cercear a abrangência do es-tudo e a caracterização da necessidade deconstrução e emprego de submarinos, prin-cipalmente do submarino nuclear nacional.A premissa assumida é de que, em um pra-zo não muito longo, os recursos financei-ros necessários serão devidamentealocados e permitirão a finalização do pro-jeto deste último, conforme está descritona Estratégia Nacional de Defesa (END) –tornada pública ao final de 2008 –, no itemAções Estratégicas (Ciência e Tecnologia):

“O Ministério da Defesa, em coorde-nação com os Ministérios (...) e com asForças Armadas, deverá estabelecer atolegal que garanta a alocação, de formacontinuada, de recursos financeiros es-pecíficos que viabilizem o desenvolvi-mento integrado e a conclusão de pro-jetos relacionados à defesa nacional,cada um deles com um polo integradordefinido, com ênfase para o desenvol-

vimento e a fabricação, dentre outros,de: (...); submarinos convencionais e depropulsão nuclear (...).”2

Quanto ao segundo tema, a adequadaprofissionalização do pessoal envolvido,foi possível observar que a Marinha nãose tem descuidado desta parte até agora,mas o que está por vir exigirá mais, princi-palmente mais treinamento e maiscapacitação.

Assim, o preparo profissional da tripu-lação de um submarino de propulsão nu-clear, bem como o de todo o pessoal envol-vido de alguma forma no projeto, é condi-ção sine qua non para o sucesso do em-preendimento. Dessa forma, capacidadeshumanas deverão ser expandidas ereformuladas.

Com a discussão de temas concernentesà importância e à necessidade do Estadobrasileiro possuir uma Força de Submari-nos de relevância, procurou-se mostrar,dentre outros, alguns importantes aspec-tos relacionados ao emprego de submari-nos, tais como dissuasão e ocultação, e,ainda, mostrar o quão valoroso ele é emtermos político-estratégicos.

Dissuasão, conforme poderá ser verifi-cado, é um conceito bastante identificadocom submarinos, e Estados terão sua capa-cidade dissuasória incrementada quandopossuírem um número significativo dessesmeios e se, além disso, possuírem o nível deaprestamento adequado a fim de tornar pos-sível a sua operação com efetividade.

Estados deverão também mostrarcredibilidade quando do emprego de seussubmarinos, ou seja, devem passar a impres-são de que, diante de uma situação em quese vislumbre a sua utilização, esta unidadenaval estará pronta para agir e contribuir parao alcance dos propósitos preestabelecidos.

2 BRASIL, Estratégia Nacional de Defesa, p. 48.

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

A ocultação, característica intrínsecados submarinos ressaltada em diversospontos, foi efetivamente conseguida como desenvolvimento do esnórquel pelos ale-mães durante a Segunda Guerra Mundial ese configura no grande diferencial que ossubmarinos possuem em relação a quais-quer outros meios navais quando são efe-tivamente empregados.3

A área onde se vislumbra, de maneiramais efetiva, a atuação dos submarinoscomponentes da Esquadra brasileira é aAmazônia Azul. Ela se configura em umespaço marítimo degrandes proporções,onde se constata aexistência de diversosinteresses político-es-tratégicos, incluindoos de natureza econô-mica. Constituem-seem exemplos dessesinteresses o petróleocontido na plataformacontinental, o intensotráfego marítimo oce-ânico e a grande quan-tidade de recursos vi-vos e não vivos.

Com base nos es-tudos realizados,pode-se afirmar que, estrategicamente, paraum Estado como o Brasil, em que se cons-tata uma busca crescente por maior inser-ção no cenário internacional, o estabeleci-mento de uma Força de Submarinos de re-levância objetiva dar suporte às decisõestomadas no nível político que possam,eventualmente, ser objeto de contestação.

Em suma, todo o trabalho desenvolvidoprocurou estabelecer um arcabouço teórico

baseado no seguinte pensamento central: oBrasil, e mais especificamente a sua Mari-nha, necessita possuir mais submarinos, in-cluindo o de propulsão nuclear, para seremutilizados na defesa dos interesses político-estratégicos nacionais, principalmente osrelacionados com a Amazônia Azul, a fim decontribuir para o incremento da sensaçãode segurança do Estado brasileiro.

A SEGURANÇA E O SUBMARINO

Os mares e oceanos vêm sendo, já háalgumas décadas, e deforma mais expressiva,alvos de novas dispu-tas internacionais. Opotencial de explora-ção econômica quelhes foram adjudica-dos explica este cená-rio conflituoso.

No caso brasileiro,pode-se citar comoexemplo pertinente aintensa atividade co-mercial existente naAmazônia Azul, que,utilizando-se do mar, écapaz de levar produ-tos brasileiros a qual-

quer parte do mundo, bem como trazer itensde qualquer origem. Esse tipo de atividadeserá mais bem discutida adiante, mas o quese reveste de primordial importância é queo seu exercício pleno tem, de formainconteste, servido como uma das basesdo desenvolvimento econômico e propor-cionado maior inserção internacional doBrasil. É importante ressaltar que a garan-tia de que isso possa ocorrer sem interfe-

3 Ressalta-se que o desenvolvimento do radar e o emprego do avião forçaram o surgimento do esnórquel,e que antes, até quase o final da Segunda Guerra Mundial, submarinos navegavam grande parte dotempo na superfície.

O emprego do Poder Navalpor si só não basta paraque um Estado se torne

respeitável e tenhapresença marcante diantedos outros. É necessário

ter políticas públicaseficazes que possam

propiciar maior e efetivaparticipação no concerto

das nações

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

rências externas se configura em significa-tivo atributo dos Estados, e o seu exercíciose dá, quase que exclusivamente, por meioda aplicação de seu Poder Naval, e nessemister poder-se-ia incluir o emprego desubmarinos.

No entanto, o emprego do Poder Navalpor si só não basta para que um Estado setorne respeitável e tenha presença marcantediante dos outros. É necessário ter políticaspúblicas eficazes que possam propiciar mai-or e efetiva participação no concerto dasnações. Como exemplo, pode-se citar o de-senvolvimento de uma política de seguran-ça de Estado capaz de fazer valer – interna eexternamente – os seus interesses de ma-neira autóctone e responsável.

O estabelecimento de uma política desegurança enseja inexoravelmente o desen-volvimento de ações concernentes ao Po-der Naval, e uma das formas de seu empre-go se dá por meio da aplicação da “diplo-macia naval”. Segundo Booth:

“A expressão ‘diplomacia naval’ re-fere-se ao uso dos navios de guerra emapoio à política externa, por meio da ‘si-nalização’, em vez do uso de seus arma-mentos. Isto implica, portanto, emutilizá-los de diferentes maneiras, como,por exemplo, para comunicar as inten-ções de uma nação, posicionando-os damaneira adequada a fim de negociar par-tindo de uma posição de força em umacrise; ou, de maneira geral, para propor-cionar trunfos para negociação.”4

De outra forma, a fim de se alcançar umaprojeção respeitável, é preciso também fi-car constantemente atento às mudançasque, de maneira constante, ocorrem no ce-nário internacional. De fato, o início do sé-culo XXI tem se configurado em um perío-

do profícuo de mudanças ocorridas em vá-rios aspectos concernentes às RelaçõesInternacionais, e quanto à segurança dosEstados é possível notar relevantes mu-danças. Sobre aspectos a ela relacionados,há hoje um entendimento diferente do queexistia no passado. Apesar de a manuten-ção da segurança em níveis satisfatórioster se constituído sempre em objeto de apre-ciação e consideração de qualquer gover-no, a percepção de que ela é vital para odesenvolvimento econômico e para a sal-vaguarda dos interesses do Estado é mui-to mais presente e marcante nos dias dehoje do que no passado. No Brasil, isso éclaramente observável, haja vista, entre ou-tras ações, a confecção da Política de De-fesa Nacional (PDN) em 1996 – e sua novaversão em 2005 – e da END em 2008.

Conceitualmente, podemos afirmar que,no cenário internacional, a segurança teve oseu sentido cognitivo alterado e ampliado.Ela é hoje compreendida e avaliada de formadiferente do que era até um passado recente.Isso não quer dizer que preceitos pertinentesà segurança cunhados e postos em práticano passado devem ser totalmente descarta-dos, bem como não devem ser vistos comodogmas ou princípios imutáveis. Eles devemser revistos para depois serem mantidos,modificados ou abandonados.

Um dos aspectos relacionados com asegurança que ainda subsiste, e que temsido utilizado com certa frequência no ce-nário internacional, é o estabelecimento detratados. Há até mesmo um que objetivouregular a guerra submarina e que estabele-cia limites à construção naval e reduzia oarmamento embarcado: o Tratado de Lon-dres, de 1930. Ele foi um acordo firmadoentre a Grã-Bretanha, o Japão, a França, aItália e os Estados Unidos das América(EUA) e estabelecia, entre outras delibera-

4 Ken BOOTH, Aplicação da lei, da força & diplomacia no mar, p. 157-158.

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ções, o valor de 2.032 toneladas como limi-te de construção de submarinos. Além dis-so, em artigos específicos relativos à guer-ra submarina, decretava que navios nãopoderiam ser afundados sem que a tripula-ção e os passageiros fossem primeiro co-locados em um “lugar seguro”.

Observa-se, ainda, que até o século pas-sado as questões de segurança dos esta-dos eram fortemente centradas na manu-tenção da integridadeterritorial, e tudo aqui-lo que ameaçasse essaintegridade deveriaensejar uma efetivaação estratégica con-trária. Atualmente, noentanto, além dasquestões que envol-vem a preservação doterritório, há outrasmuito mais delicadas eabrangentes.

De fato, findada aGuerra Fria, novos te-mas que dizem respei-to à segurança surgi-ram e ganharamtransnacionalidade,tais como os relacio-nados ao tráfego ma-rítimo, à proteção dasriquezas nacionais, àescassez energética, ao meio ambiente, aocrime organizado, ao terrorismo e aonarcotráfico. É possível até mesmo afirmarque a implementação de ações concer-nentes à manutenção da segurança pas-sou a não mais se restringir somente a atosde natureza militar, como acontecia até en-tão. A desmilitarização de parte das rela-ções de segurança passou a constar daagenda internacional.

Entre outros aspectos, a manutenção dasegurança do Estado exige que se conhe-çam bem, e de forma aprofundada, asvulnerabilidades estratégicas existentes,bem como as ameaças concernentes a cadauma dessas vulnerabilidades consideradas.Na verdade, não as ameaças propriamenteditas, mas como elas são percebidas.

Esse conhecimento dual é importante por-que as vulnerabilidades somente serão re-

conhecidas como taisse, e somente se, forpossível se visualizar eperceber ameaçascorrelacionadas.

Vulnerabilidade es-tratégica pode ser en-tendida como uma im-portante capacidadeque o Estado possui,e cuja perda pode afe-tar significativamentea sensação de segu-rança. É, ainda, a situ-ação em que mais fa-cilmente uma ameaçapercebida como talpode ser consolidada.Esse conceito é hojemuito importante, poissão essas vulnerabi-lidades que se devemdefender, são elas que

servirão de alvo para o inimigo, e em nomedelas é que muito provavelmente conflitosserão travados no século XXI. Todos osEstados as possuem. De outra forma,vulnerabilidade estratégica pode ser con-siderada tudo aquilo que, estando à mercêda ação de forças oponentes, é capaz, seatingida, de abalar a força produtiva, oethos nacional, e de enfraquecer a própriaexpressão do poder político.5

5 Armando F. VIDIGAL, Revista Marítima Brasileira: “Uma Estratégia Naval para o século XXI”, p. 82-85.

A fim de garantir o seudesenvolvimento e a sua

continuidade no tempo e noespaço, um Estado precisa,

além de conhecer suasvulnerabilidades

estratégicas, possuir osmeios necessários paraprover uma adequadadefesa, e isso torna-seimperativo para que a

“sensação de segurança”seja mantida em níveisconsiderados aceitáveis

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

Dessa forma, a fim de garantir o seu de-senvolvimento e a sua continuidade no tem-po e no espaço, um Estado precisa, alémde conhecer suas vulnerabilidades estra-tégicas, possuir os meios necessários paraprover – de forma antecipada – uma ade-quada defesa, e isso torna-se imperativopara que a “sensação de segurança” sejamantida em níveis considerados aceitáveis.É preciso, além disso, que se reconheçamas vulnerabilidades e que se obtenha tam-bém o conhecimento das ameaças que po-dem se concretizar sobre elas, pois só as-sim a segurança poderá ser adequadamen-te estabelecida.

A percepção das ameaças existentes éalgo que hoje, juntamente com a sensaçãode segurança, ganhou um espectro muitomais amplo. Ademais, antes do período detransição responsável pelo surgimento danova ordem mundial – 1989 a 2001 (da quedado Muro de Berlim ao 11 de Setembro) –, asameaças eram vistas e encaradas de formadiferente. Havia uma dissociação clara entreEstado e indivíduos como alvos de ameaças.Ameaças eram assim classificadas quandopodiam atingir estados e exigiam, na maioriadas vezes, uma ação militar para a sua manu-tenção ou restauração. As ameaças hoje, noentanto, se aproximaram mais do cidadãocomum. Existe a nítida percepção de que aqualquer momento você e pessoas do seuconvívio podem de alguma forma ser afeta-dos por atos que possam provocar uma sen-sação de insegurança.

Portanto, as percepções de ameaças têmhoje um outro espectro: suas fontes e ori-gens são bem mais amplas e não se restrin-gem mais às que somente emanam de ou-tros Estados. Além disso, são reconheci-das de outra forma e atingem a sociedadeem múltiplos aspectos.

“As ameaças que não tardaremos aenfrentar não podem ser facilmentecategorizadas como agressões de Esta-dos; de fato, pela primeira vez desde onascimento do Estado, não há mais ne-cessidade de uma estrutura estatal paraorganizar a violência em uma escala de-vastadora para a sociedade.”6

Dependendo de como cada um, Estado eaté mesmo indivíduo, percebe as ameaças,o universo de ações, atos e procedimentospassíveis de serem considerados como taisé enorme. É imperioso, portanto, descobriro que realmente se faz ameaçador.

Hoje, tudo ou quase tudo que possaobstar o desenvolvimento de ações visan-do a aumentar o bem-estar dos cidadãospertencentes a um Estado pode ser perce-bido como ameaça à segurança, e, com aampliação do universo de possíveis fon-tes ameaçadoras, há até mesmo certa difi-culdade em se delimitar uma fronteira entreaquilo que pode ser considerado comoameaça e o que seria somente um problemaa exigir uma solução.

Dentro desse contexto, o Poder Navaldeve sempre ser lembrado como um agentecapaz de incrementar a sensação de segu-rança. Assim foi, por exemplo, com o em-prego de navios no século XIX, por oca-sião da Guerra do Paraguai:

“Os navios a vapor, o casco de ferroe a couraça foram a eloquente represen-tação da Revolução Industrial na Guer-ra do Paraguai. Nunca se fez, no Brasil,esforço de guerra semelhante. Nunca osurto de desenvolvimento da Marinhafoi tão eloquente, fruto das imposiçõesdo estado de beligerância. Nunca os fa-tos mostraram com tanta evidência a

6 Philip BOBBIT, A Guerra e a Paz na História Moderna: o impacto dos grandes conflitos e da políticana formação das nações, p. 202.

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necessidade de se manter sempre umarazoável força naval atualizada nas maismodernas técnicas, não para conquista,mas para a segurança do Estado e a cer-teza de uma defesa eficaz que garantaos cidadãos amantes de sua pátria.”7

A partir do século XX, o Poder Navalpassou a utilizar, de forma mais efetiva, umaespecífica unidade naval, o submarino. Élícito afirmar que desde o século passadofoi possível observar, em diversas ocasi-ões, a capacidade deste meio de proversegurança a quem o possui e, o que é tam-bém significativo, provocar a sensação deinsegurança a quem o tinha como possívelinimigo. Foi também o submarino percebi-do como um vetor capaz de empreendersignificativa ameaça. Os u-boats alemãesempregados na Segunda Guerra Mundialse configuram em um claro exemplo dessaafirmativa anterior.

Nas primeiras décadas do século XX,os submarinos, apesar de se constituíremem ameaça, eram, ainda, apenas submersí-veis, e não tinham a eficácia dos que hojesingram os mares. Seu modus operandi osobrigava a permanecer a maior parte dotempo na superfície, de onde desferiam ata-ques fazendo uso de canhões e torpedos.

Durante a Segunda Guerra, no entanto,surgiu uma inovação implementada pelosalemães que iria revolucionar a maneira dese operar os submarinos: o esnórquel. Ca-racteriza-se por ser um tubo que se projetapouco acima da superfície da água a fim deproporcionar a admissão de ar para a com-bustão nos motores diesel. O emprego do

esnórquel possibilitou a realização derecarga das baterias em imersão e aumen-tou sensivelmente a eficiência e a eficáciadas ações perpetradas pelos submarinos.8

O esnórquel foi, sem dúvida, um grandepasso no desenvolvimento do submarino,mas sua taxa de indiscrição, apesar deminimizada e atenuada, não foi completamenteeliminada.9 Isso só viria a acontecer com oaparecimento da propulsão nuclear, pois esta,sabidamente, dispensa o uso de oxigênio.

Com o emprego desse novo tipo de pro-pulsão, alcançou-se o maior objetivo quan-to ao desenvolvimento tecnológico dossubmarinos: torná-los totalmente indepen-dentes da superfície do mar, ou seja, elimi-nar por completo sua taxa de indiscrição.

Na verdade, o que se busca, acima detudo, é tornar o submarino oculto. A capa-cidade de ocultação lhe confere vantagenscomparativas de tal ordem que a simplesdesconfiança de sua presença em águaspróximas à saída de um porto qualquer écapaz de alterar a sensação de segurançade uma esquadra inteira porventura atra-cada nesse mesmo porto. De outra forma,uma esquadra já no mar se sentiriaameaçada ao navegar em águas onde hajaa simples desconfiança da sua presençanas proximidades.

No mar, no entanto, não só existem es-quadras a navegar; o tráfego marítimo co-mercial e a existência de recursos naturaisvivos e não vivos se mostram voluptuo-sos e podem ser caracterizados como sen-do vulnerabilidades estratégicas de umEstado. Vulnerabilidades, nunca é demaisressaltar, só podem ser estabelecidas como

7 BRASIL, Fatos da História Naval, p. 73.8 Outra inovação da Marinha alemã na mesma guerra foi a “tática da matilha”. Era efetuada por seus

submarinos contra navios aliados que navegavam em comboio. Basicamente consistia em desferirataque com emprego de mais de um submarino ao mesmo tempo.

9 Taxa de indiscrição é a medida que expressa o tempo total que o submarino gasta esnorqueando divididopelo tempo total de operação. O objetivo é, portanto, minimizá-la ao máximo, de modo a aumentaro período total de ocultação submerso.

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tais com o reconhecimento de ameaçascorrelacionadas. Um ponto físico por si sóe uma determinada capacidade de um Esta-do não podem ser considerados intrinse-camente vulneráveis. A vulnerabilidadeestá na incapacidade do Estado, diante daameaça de outrem, em fazer uso livrementedaquilo que lhe pertence, seja um recursomaterial ou imaterial.

Portanto, há Estados que buscam esta-belecer o controle do tráfego marítimo quelhe é pertinente e pro-teger seus recursos, eisso tem se configura-do em um dos objeti-vos daqueles preocu-pados com a sua sen-sação de segurança.Por certo, a inclusãodesses objetivos naagenda desses Esta-dos tem se configura-do em um exemplo deampliação do univer-so da segurança.

De outra forma, háaqueles – Estados ounão – que, pertencen-do a grupo de interes-se qualquer, são capa-zes de usar o mar comoplataforma para infligir diversos tipos dedanos a um país banhado por oceanos emares, alterando, pois, a sensação de se-gurança existente.

Um submarino, navegando abaixo dasuperfície do mar, quase sempre sem servisto ou detectado, e fazendo uso de suacapacidade intrínseca de negar o uso domar ao inimigo, pode ser empregado com oobjetivo de coibir uma gama considerávelde atos porventura imaginados contra o

tráfego marítimo, ou contra aqueles queexploram legítimos recursos existentes nomar. Sua atuação é capaz de proporcionar,então, um incremento na sensação de se-gurança diante de possíveis ameaças deorigem marítima.

Para o Almirante Arlindo, o submarinopode ser considerado o “guerrilheiro dosmares” e, mais ainda, um “guerrilheirotecnológico”.10 De fato, suas táticas eações podem ser tipificadas – por verossi-

milhança – como par-te de uma “guerrilha”,só que de naturezamarítima. O guerrilhei-ro age nas sombras eusa habilmente o ele-mento surpresa emsuas ações. Assim étambém o submarino.

Na verdade, o sub-marino, em determina-das situações, nãoprecisa nem surpreen-der e nem, como já vis-to, estar presente àcena de ação para ini-bir atos de agressão.A simples dissuasãoque a sua posseenseja reduz o ímpeto

das ações inimigas e confere ao inimigoum risco demasiado se o mesmo optar emimplementar suas ações.

A dissuasão é definida pelo Glossáriodas Forças Armadas conforme a seguir:“Atitude estratégica que, por intermédiode meios de qualquer natureza, inclusivemilitares, tem por finalidade desaconselharou desviar adversários, reais ou potenci-ais, de possíveis ou presumíveis propósi-tos bélicos”.11

10 Arlindo VIANA FILHO, Revista Marítima Brasileira, “Submarinos, a clava forte”, p. 88.11 BRASIL, Glossário das Forças Armadas, p. 84.

Para o Almirante Arlindo,o submarino pode ser

considerado o“guerrilheiro dos mares”

e, mais ainda, um“guerrilheiro tecnológico”

O guerrilheiro age nas

sombras e usa habilmente oelemento surpresa em suasações. Assim é também o

submarino

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

A sua efetiva aplicação não se dá de for-ma direta. Quem dela faz uso objetiva, antesde tudo, persuadir o potencial inimigo a nãoempreender ações que provoquem danos. Amensagem subliminar contida na dissuasãoé a de que, diante de um comportamento con-siderado ameaçador, uma represália poderáser posta em prática. Claro está que o agentedesencadeador desta última ação terá que,obrigatoriamente, despertar credibilidadequanto à sua capacidade de poder agir.

O poder de dissuasão está intimamente li-gado à capacidade de empreender violência,em quantidade suficiente, de modo a fazer comque o adversário perceba-se impossibilitadode alcançar sucesso caso decida agir.

Pode-se afirmar, ainda, que a técnica deutilização da dissuasão transcende o uni-verso dos propósitos puramente bélicospara se constituir, basicamente, na frustra-ção das intenções do adversário: “O em-bate dissuasivo pode, portanto, ser imagi-nado como um embate de vontades e in-tenções contrapostas”.12

Conforme Zimmerman: “Para poderesregionais como França, China e Grã-Bretanha, a força de submarinos é usadapara abrigar e proteger uma mínima estra-tégia de dissuasão. Uma segunda utilida-de é uma rápida resposta a crises regio-nais” .13 (Tradução do autor)

Nessa citação é evidenciado o empregodissuasório do submarino por poderes re-gionais, e nesse mesmo grupo de França,China e Grã-Bretanha, apesar de não cita-do, poder-se-ia incluir o Brasil. Além disso,está exposto que o submarino seria postoa operar quando do surgimento de crisespolítico-estratégicas internacionais.

Segundo a Doutrina Militar de Defesa –publicada em 2007 –, crise político-estraté-gica é definida conforme a seguir:

“A crise internacional político-estra-tégica, nesta Doutrina, é definida comoum estágio do conflito, entre dois oumais Estados, em que o desencadea-mento proposital de uma situação detensão visa a alcançar objetivos políti-cos ou político-estratégicos, por meioda manipulação do risco de uma guerra,com atitudes e comportamentos que in-dicam ser a situação extrema compatívelcom razões maiores, quase sempre ocul-tas ou não explicitamente declaradas.”14

O mesmo documento afirma também quea institucionalização desse tipo de crisevisa a propiciar o emprego de pressão eforça de forma controlada e gradativa para,ao final, se obter um acordo. Mais adiante,estabelece que o processo de conduçãode uma crise deve ser alicerçado em deci-sões políticas e que deve, ainda, transcor-rer em conformidade com os interessespolítico-estratégicos nacionais. Quanto aoplanejamento das ações, devem as ForçasArmadas ser empregadas em situações nãofacilmente classificáveis como atos de guer-ra, mas como ameaça para dissuadir oupersuadir ou, ainda, para demonstrar dis-posição de escalar a crise.15

Outros aspectos podem se configurarem objeto de análise quando do estabele-cimento desse tipo de crise. Dentre eles,poderíamos, por exemplo, comentar sobrea capacidade militar dos litigantes envolvi-dos. Aquele que possui maior capacidade

12 BOBBIO Norberto, Dicionário de Política, p. 366.13 “For regional powers like France, China and Britain, the submarine force is required to shelter and

protect a minimal seaborne strategic deterrence. A second requirement is quick response to regionalcrises.” Stan ZIMMERMAN, op. cit., p. 2.

14 BRASIL, Doutrina Militar de Defesa, p. 29.15 BRASIL, Doutrina Militar de Defesa, p. 29-31.

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

de natureza bélica se encontrará em posi-ção mais confortável, podendo obter van-tagens no processo de negociação.

Em um cenário marítimo em que interes-ses político-estratégicos estivessem em evi-dência, a constituição de uma força navalformada, entre outros, por submarinos con-vencionais e nucleares, com suas capacida-des perfeitamente conhecidas e proporcio-nando um incremento na sensação de segu-rança se revestiria de importância ímpar. Adissuasão intrínseca a este tipo de unidadenaval respalda a afirmativa anterior.

Essa capacidade dissuasória, de formainconteste, se configura em um diferencialno estabelecimento do equilíbrio de poderinternacional, ocasionando, em determina-das situações de grandes disparidades depoderes, uma relaçãode subordinação entreEstados, podendo atémesmo ser caracteriza-da como uma relaçãode intimidação:

“Em todos oscasos nos quais ospoderes contra-postos não gozamde um estado de reciprocidade falar-se-á, então, em lugar de relação dissuasiva,de relação de intimidação, caracterizadapelo fato de um dos contendores de-sempenhar, em relação ao outro, um pa-pel de autoridade.”16

É claro que o Brasil não deseja sofrerintimidações de quem quer que seja, nemtampouco ficar submisso a uma autorida-de alienígena. Dessa forma, a capacidadedissuasória, se existente e acreditada, terá,por certo, o poder de contribuir para o im-pedimento de ocorrência de intimidação.

O SUBMARINO E O SEU EMPREGO

O submarino é uma unidade naval sin-gular capaz de realizar uma ação deconotação ofensiva. Assim, como já mos-trado, a simples desconfiança de sua pre-sença nas proximidades se configura emrisco ao inimigo. De fato, um único exem-plar, quando em operação, demanda umenorme esforço do oponente para que eletenha sua ação neutralizada, pois é precisocomprometer uma quantidade de meios sig-nificativa para se poder implementar umaação contrária que seja considerada, nomínimo, adequada.

“Os países de menor poder, cuja es-tratégia global se insere em um contexto

defensivo, necessitamde submarinos paranegar o uso do mar aooponente, possivel-mente a única arma quepoderão empregarofensivamente. Ouseja, seus meios de su-perfície e aeronavais,inferiores, podem serdizimados se adotarem

táticas ofensivas, enquanto que os sub-marinos sempre serão ofensivos e impo-rão risco ao oponente.”17

No Brasil, o emprego do submarino ob-jetiva contribuir para a consecução das ta-refas básicas do poder naval, em especial aque estabelece que é preciso “negar o usodo mar ao inimigo”. Deve, ainda, atenderaos anseios de uma política de segurançade Estado e, tomando como base teóricauma diretriz da Estratégia Nacional de De-fesa/2008, deve estar preparado para atuar

16 Norberto BOBBIO, op. cit., p. 366-367.17 BRASIL, Serviço de Relações Públicas da Marinha: A Arma Submarina, p. 20.

O Brasil não deseja sofrerintimidações de quem quer

que seja, nem tampoucoficar submisso a umaautoridade alienígena

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

tanto em relação às percepções de amea-ças conhecidas como em relação às quepoderão se estabelecer no futuro:

“Nenhuma análise de hipóteses de em-prego pode, porém, desconsiderar as ame-aças do futuro. Por isso mesmo, as diretri-zes estratégicas e as capacitaçõesoperacionais precisam transcender o hori-zonte imediato que a experiência e o enten-dimento de hoje permitem descortinar.”18

Todas as ações devem, no entanto, serimplementadas após a realização de umaanálise acurada das vulnerabilidades es-tratégicas e das percepções de ameaças, e,neste início de século, pode-se, por exem-plo, considerar como sendo vulneráveis asáreas e recursos de valor político-estraté-gico relacionados com a Amazônia Azul.Nesta região, o Estado brasileiro, além depossuir um tráfego marítimo intenso, pos-sui um grande número de plataformas ex-traindo petróleo para posterior produçãode energia e uma significativa concentra-ção de recursos vivos e não vivos na pla-taforma continental. Além disso, existempontos focais – marítimos – de grande va-lor estratégico a exigir defesa, e até mesmoas cidades litorâneas brasileiras podem serconsideradas vulneráveis na medida em queo ataque a algumas delas causaria perdaseconômicas e populacionais de grande va-lor capazes de atingir o ethos nacional.

O tráfego marítimo brasileiro representaa forma pela qual mais de 90% do comércioexterior é realizado. Ele se constitui em ummeio por onde escoa grande parte das ri-quezas nacionais e por onde grande partedos itens importados e exportados sãotransportados. É preciso, pois, proteger as

comunicações marítimas. “No Atlântico Sul,é necessário que o País disponha de meioscom capacidade de exercer a vigilância e adefesa das águas jurisdicionais brasileiras,bem como manter a segurança das linhas decomunicações marítimas”19, e conforme aEND: “a negação do uso do mar, (...) [deve]ter por foco (...) [a] prontidão para respon-der a qualquer ameaça, por Estado ou porforças não convencionais ou criminosas, àsvias marítimas de comércio.”20

Este tipo de atividade pode ser consi-derado uma significativa vulnerabilidadeestratégica, e várias são as formas que sepode ameaçá-la, inclusive, é claro, por meiode agentes posicionados no mar. Um exem-plo que tipifica bem esta vulnerabilidade éo que vemos acontecer atualmente nas pro-ximidades da costa da Somália, onde navi-os e embarcações são abordados e atos depirataria são, em sequência, empreendidos.

Quanto à capacidade de produção naci-onal de petróleo, ela poder ser considera-da uma vulnerabilidade estratégica na me-dida em que ameaças que impliquem danosàs plataformas podem ser concretizadas poruma força militar oponente ou por gruposque possuam interesses contrários ao paísque realiza a exploração do referido miné-rio, e, apesar de não ter havido até o pre-sente momento ataques a plataformas emum número significativo, não se deve ex-cluir a possibilidade de que isso venha aacontecer em uma escala maior no futuro.

Quanto aos recursos vivos e não vivosexistentes na plataforma continental, é preci-so que haja inúmeras políticas públicas vi-sando a obter um correto conhecimento desua magnitude e para que se desenvolva,então, uma adequada defesa. Mapeamentogeológico, prospecção, exploração, controle

18 BRASIL, Estratégia Nacional de Defesa, p. 3.19 BRASIL, Política de Defesa Nacional, item 6.14, p. 6.20 BRASIL, Estratégia Nacional de Defesa, p. 12.

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

e proteção são temas a serem apostos emagendas políticas para que possam servir deobjeto de estudo e atenção nesse mister.

Com relação às vulnerabilidades descri-tas, e a todas as demais que possamporventura ser imaginadas ou constatadasem relação à Amazônia Azul, é preciso que seplanejem ações visando à sua defesa. Quan-do da decisão de emprego de um submarinopara atuar nesse cenário que lhe é típico, deve-se sempre ter em mente os dois grandes as-pectos que lhe são intrínsecos, os já mencio-nados dissuasão e ocultação. A sua adequa-da utilização é capaz de inibir a aproximaçãode quem quer que seja de seu objetivo – mi-litar ou político – e de impedir que se desen-volva qualquer tipo de ação ameaçadora.

Assim, levando-se em consideração osaspectos mencionados e outros, tais comoo custo versus benefício de utilização deuma unidade naval e, ainda, a justa gradu-ação do emprego da força, poderá o sub-marino contribuir para a proteção e salva-guarda dos legítimos interesses político-estratégicos nacionais de alguma formarelacionados com a Amazônia Azul.

O submarino se configura em uma uni-dade naval, e é isto o que se desejaconsubstanciar, capaz de contribuir para oincremento da sensação de segurança di-ante das percepções de ameaças de ori-gem marítimas julgadas passíveis de seremcombatidas por ele, e, para tal, estratégiasdevem ser planejadas e implementadas afim de se atingir o nível de segurança con-siderado satisfatório.

Em relação ao emprego do submarinovisando a aplacar possíveis ameaças,Zimmerman escreve:

“Nações adquirem ou constroem sub-marinos para cumprir missões nacionais.Em conflitos do passado, submarinoseram usados agressivamente para des-truir comércio e combatentes inimigos;na Guerra Fria, a tarefa primária do sub-marino era a dissuasão estratégica, umpapel passivo.”21 (Tradução do autor).

Assim, o emprego de submarinos deve –ou deveria – atender a um planejamento ba-seado na política de segurança do Estado, eeste planejamento deve – ou deveria – serestabelecido no mais alto nível político, algoque se assemelha em muito, em sentido e emvalor, ao conceito da Grande Estratégia.22

Se em algum momento do passado sub-marinos eram empregados contra o tráfegomarítimo comercial, e se, durante a GuerraFria, eram usados basicamente como ele-mento de dissuasão estratégica, conformedescreveu Zimmerman, no futuro as possi-bilidades de emprego são, de certa forma,muito mais amplas. Seria possível, até mes-mo, imaginar, conforme se verá a seguir,um variado número de tarefas que lhe po-deriam ser imputadas.

Quando do começo de operação do sub-marino nuclear pela Marinha norte-america-na, em meados do século XX, houve, inclu-sive, uma busca por diferentes aplicabi-lidades da nova “arma” nuclear (sim, há quem

21 “Nations acquire or build submarines to fulfill national missions. In past conflicts, submarines were usedaggressively to destroy enemy commerce and combatants; in the Cold War, the submarine’s primarytask was strategic deterrence, a passive role.” Stan ZIMMERMAN, op. cit., p. 2.

22 Segundo LIDDELL HART, a Grande Estratégia é explicada da seguinte forma: “...embora praticamentesinônimo de política, que tem a seu cargo a direção da guerra, a grande estratégia se diferencia dapolítica que define seu objeto. O termo grande estratégia serve para dar um sentido de execução deuma política, pois seu papel é o de coordenar e dirigir todos os recursos de uma nação, ou de umgrupo de nações, para a consecução de objeto político”. Basil Henry LIDDELL HART, As GrandesGuerras da História, p. 406.

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

considere o submarino uma arma per se). Odesejo era de se maximizar o seu emprego.“Houve até mesmo um submarino que porvários anos foi um navio de pesquisa ocea-nográfica.”23 (Tradução do autor)

Essa ideia de uso múltiplo advém, porcerto, da grande valorização atribuída aonovo meio colocado à disposição, e da per-cepção de que se devia testá-lo e verificar olimite de potencialidade de seu uso. O espí-rito inovador e a certa euforia que a sua che-gada fez surgir na Marinha dos EUA foram amotivação de realização desses testes.

Para se combater com efetividade muitasdas novas ameaças existentes no cenáriointernacional, é preciso, de fato, inovar. Es-tados que não possuem um poder nucleararmamentista capaz de responder ao primei-ro ataque, como ocorria no período da GuerraFria, apto, portanto, a garantir a segurançapor meio do uso de bomba atômica, devemampliar suas capacidades convencionaiscapazes de promover um aumento da sen-sação de segurança. É preciso possuir, porcerto, uma força naval preparada, capacita-da, e constituída de maneira a poder atenderaos ditames do Planejamento Estratégicoefetuado no mais alto nível político, e estedeve ser feito observando-se asvulnerabilidades estratégicas e as percep-ções de ameaças consideradas como tais.

É preciso reforçar que a utilização de sub-marinos deve estar em consonância com oemprego do Poder Naval. O Brasil buscaobter em curto espaço de tempo capacitaçãopara operar submarinos nucleares a fim de

poder ficar apto a cumprir missões que se-jam pertinentes a esse tipo de unidade na-val. Não será uma tarefa fácil.

A primeira Marinha a possuir um sub-marino de propulsão nuclear foi a dos Es-tados Unidos da América. Ela construiu oNautilus e o pôs em operação a partir dadécada de 1950. Esse navio se constituíaem uma evolução do diesel-elétrico, e, ba-sicamente, a diferença se dava na forma dese produzir a energia necessária a bordo.

“O Nautilus era na verdade um sub-marino diesel-elétrico com um reator. Umaolhada no design do casco confirma isso.Ele era equipado com basicamente as mes-mas armas, equipamentos de navegaçãoe outros tal qual o estado da arte do die-sel-elétrico.”24 (Tradução do autor)

A Marinha brasileira começou com os trêssubmersíveis classe F italianos adquiridosno início do século XX; possuiu sete subma-rinos da classe norte-americana Guppy e trêsda classe inglesa Oberon, todos incorpora-dos na década de 1970; e presentemente rea-liza suas operações contando com cinco sub-marinos, quatro da classe Tupi e um da clas-se Tikuna.25 Envida esforços agora para terquatro da classe Scorpene de projeto fran-cês e um nacional de propulsão nuclear.26

Quanto à posse do submarino nuclear e asua fabricação no Brasil, isso representa umconhecimento bastante relevante, a ser ad-quirido e com possibilidade de trazer inúme-ros benefícios, e não somente os relaciona-dos à expressão militar e à segurança. O ar-

23 “There was even one boat for many years was an oceanographic research ship.” Dan GILLCRIST, Powershift: the transition to nuclear power in the U.S. Submarine Force as told by those who did it, p. 101.

24 “Nautilus was really a diesel boat with a reactor. One look at the hull design confirms that. It wasequipped with basically the same weapons, navigation and other equipment as the latest state of artdiesel boat.” Dan GILLCRIST, op. cit., p. 97.

25 Dos quatro submarinos da classe Tupi construídos com base na classe IKL alemã, um foi construído naprópria Alemanha e três no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ). O Tikuna também foiconstruído no AMRJ.

26 Chile e Malásia são países que já possuem submarinos da classe Scorpene. Além do Brasil, a Índia é outropaís que irá possuí-lo em breve.

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

rasto tecnológico a ser induzido é o que pri-meiramente se tem como certo e promissor.Na verdade, isso já vem ocorrendo mais for-temente desde 1979, ano em que a Marinhaassumiu a dianteira das atividadescorrelacionadas com a pesquisa nuclear. Des-de então, a pesquisa nessa área ganhou im-pulso e os resultados desse esforço se espa-lham para vários outros campos interconexos,contribuindo, dessa forma, para o desenvol-vimento de atividades correlacionadas:

“O patrimônio deconhecimentos téc-nico-científicosmultidisciplinarescujas formação, fixa-ção e manutençãoestão associadas àstecno-logias desen-volvidas e domina-das no País emconsequência des-ses programas abar-ca substancial parce-la do modernamentedenominado ‘setorquaternário’ da ativi-dade econômica na-cional – aquele asso-ciado à pesquisa e ao desenvolvimento –,tão discutido atualmente, e, sem dúvida, agrande alavanca do desenvolvimento eco-nômico e social das nações.”27

De fato, duas características significativasdeste nosso tempo, séculos XX e XXI, são oelevado número de surgimento de novastecnologias e o rápido aumento do saber emvárias áreas do conhecimento. Além disso, ahumanidade vem sendo acometida de uma fortealteração comportamental por conta da disse-minação mais ubíqua do conhecimento, e issopode ser sentido em diversos campos.

Pode-se afirmar que há, inclusive, mudan-ças capazes de mexer com o modo de se lidarcom um importante aspecto relacionado coma segurança, o emprego da violência. A vio-lência está modificando a sua própria naturezadevido ao incremento da absorção tecnológicae científica de quem a utiliza, está ficando maisdependente de tecnologias que fazem uso in-tensivo do conhecimento, como a eletrônica,as telecomunicações e os sistemas de armaspossuidores de softwares avançados. É preci-

so, pois, que os respon-sáveis diretos pela ma-nutenção da segurançapercebam essa evolu-ção. Assim, militares, etambém integrantes dopoder político que sãoobrigados a lidar, aindaque indiretamente, coma violência, precisamestar atentos às trans-formações que cercam otema e dar sua parcelade contribuição paraque os meios militaresalcancem o estado daarte tecnológico, e, nes-se sentido, podemos in-cluir o submarino.

De outra forma, o conhecimento e atecnologia são, ainda, fatores capazes tambémde influenciar as concepções estratégicas desegurança nacional de um Estado, e ações es-tratégicas serão mais eficazes e eficientes sehouver, de fato, um alargamento das capaci-dades de manejo de novas tecnologias.

A CONSTRUÇÃO DO SUBMARINONUCLEAR BRASILEIRO

“É um cilindro muito comprido comformato cônico. Pode-se dizer que tem a

27 BRASIL, Serviço de Relações Públicas da Marinha: A Arma Submarina, p. 33.

O conhecimento e atecnologia são fatores

capazes de influenciar asconcepções estratégicas desegurança nacional de um

Estado, e açõesestratégicas serão maiseficazes e eficientes se

houver um alargamentodas capacidades de manejo

de novas tecnologias

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

forma de um charuto. O comprimento éde 80 metros, e a largura maior é de oitometros. (...) O Nautilus compõe-se deum casco duplo, um interno e outro ex-terno. (...) Quando o Nautilus se encon-tra na superfície, somente uma décimaparte é emergida. (...) Abro algumas tor-neiras, os reservatórios se enchem e obarco submerge ou permanece na su-perfície, conforme o caso.” (Vinte milléguas submarinas – Julio Verne)

É interessante notar que, ainda no sé-culo XIX, mais especificamente em 1870,houve um escritor especializado no gêne-ro de ficção, JúlioVerne, que se anteci-pou aos aconteci-mentos históricos enarrou como seria umveículo capaz de na-vegar submerso, e odescreveu com umariqueza de detalhesque impressiona.

É justamente na época próxima à vividapor Verne que começaram a se implementarconsistentes projetos de construção de sub-marinos, e a sua forma no século XXI nãodifere, em essência, daquela que foi imagina-da por Verne. A grande diferença está relacio-nada com a propulsão. Ela pode ser, dentreoutras, do tipo diesel-elétrica, também cha-mada de convencional, ou nuclear. Décadasapós Verne, mais especificamente em 1954, enão por coincidência, os EUA deram ao seuprimeiro submarino de propulsão nuclear omesmo nome que o autor de Vinte mil léguassubmarinas deu ao seu engenho, Nautilus.

Assim como no passado recente, hoje,início do século XXI, alguns Estados, como

parte de uma discussão maior sobre o desen-volvimento de sua força naval, e oconsequente incremento do nível de segu-rança que se deseja alcançar, estão avalian-do a necessidade de implementar projetos deconstrução de submarinos convencionais enucleares, ou de ambos ao mesmo tempo.

Os Estados Unidos começaram, no iní-cio do século XX, fabricando o diesel-elé-trico Holland, e, a partir dele, os norte-ame-ricanos construíram muitos outros, conven-cionais e nucleares.

O Holland é geralmente considerado oprotótipo do submarino moderno. Outro quepode ser avaliado como uma pedra angular

da evolução do projetode construção de sub-marinos é o Albacore,comissionado à Mari-nha dos Estados Uni-dos em 1953. Ele pos-suía o formato gotifor-me, e, a partir daí, todosos outros projetos ado-taram esse design.

Um caso específico e digno de nota, emvirtude do rápido crescimento de suaflotilha de submarinos recentemente, sãoos chineses.

“(A) China comissionou 31 novossubmarinos entre 1995 e 2005. Conside-rando esta rápida evolução, a avaliaçãodas capacidades da China de empregar,de forma competente e letal, submari-nos diesel-elétricos nas áreas litorâne-as mudou gradualmente do ridículo parauma posição de respeito futura.”28 (Tra-dução do autor)Há, ainda, a Marinha australiana, que

está desenvolvendo um novo projeto que

28 “China commissioned 31 new submarines between 1995 and 2005. Given this rapid evolution, appraisalsof China’s capability to field competent and lethal diesel submarines in the littorals have slowlychanged from ridicule to grudging respect of late.” Andrew S. ERICKSON et al., China’s FutureNuclear Submarine Force, p. 182.

É necessário haver certoconsenso de múltiplos

setores da sociedade paraque este projeto nacional

avance com celeridade

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

promete ser revolucionário, o chamado deSea 1.000. Ele se constituirá, ao que tudoindica, em uma nova geração de diesel-elé-tricos e irá substituir, no futuro, os da clas-se Collins hoje em operação.

Atualmente, conforme consta da Estra-tégia Nacional de Defesa, o poder políticobrasileiro entende que é necessário cons-truir dois tipos, o convencional e o nuclear.

Em relação ao submarino de propulsãonuclear, mais especificamente, é necessáriohaver certo consenso de múltiplos setoresda sociedade para que este projeto nacionalavance com celeridade,e é preciso que muitastransformações ocor-ram para que a intençãode construção siga adi-ante com efetividade.Essas transformaçõesse iniciam com a sim-ples intenção de cons-truí-lo. Só isso já é ca-paz de gerar desdobra-mentos tecnológicos,industriais e militaresde grande vulto esignificância. De outraforma, a consolidaçãoda construção do sub-marino nuclear é frutode uma decisão política de Estado que trazem seu bojo significativos reflexos na áreado poder militar.

Trata-se de uma decisão de caráter emi-nentemente político, porque requer a exis-tência de uma massa crítica de pessoas einstituições que só o Estado é capaz de fo-mentar, e com reflexos militares porque sãoestes que irão tripulá-lo e que irão usá-locomo meio de aplicação de uma estratégiade segurança naval e marítima. Além disso,inserida em uma política de segurança de

Estado mais ampla, a construção será capazde promover um significativo desenvolvi-mento industrial em áreas sensíveis ligadasao setor nuclear e mecânico-naval.

Decidido, portanto, pela sua construção,é preciso encetar ações para que as trans-formações pertinentes ocorram. O poderpolítico, dentre outros aspectos, deve agircomo um elemento aglutinador dos diver-sos setores responsáveis pela consecuçãodo projeto e atuar com adequada acurácia afim de sustentar a sua consecução. Deve,ainda, estar preparado para a ocorrência de

eventuais críticasoriundas de diversossetores da sociedadenacional. Elas por cer-to se darão e precisa-rão ser debeladas.

Para o correto esta-belecimento das tare-fas dos submarinosnucleares, é precisotambém que o PoderPolítico seja capaz decongregar múltiplossetores da sociedade afim de possibilitar aidentificação dasvulnerabilidades estra-tégicas existentes, bem

como das respectivas percepções de amea-ças, e é bom ressaltar que militares são ape-nas um dos grupos responsáveis quanto àrealização deste serviço. Isso não exime aMarinha de ter efetiva participação nestemister: “É do Planejamento Estratégico Na-val identificar as vulnerabilidades no usodo mar para realizar os interesses nacionaise identificar ameaças que possam manifes-tar-se contra direitos alienáveis”.29

É preciso, então, conhecer as vulnera-bilidades que um submarino nuclear possa

29 Arlindo VIANA FILHO, op. cit., p. 93.

É do PlanejamentoEstratégico Naval

identificar asvulnerabilidades no uso do

mar para realizar osinteresses nacionais e

identificar ameaças quepossam manifestar-se

contra direitos alienáveisAlmirante Arlindo

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

defender, e, mais adiante, definir como o seuefetivo emprego pode proporcionar um in-cremento na sensação de segurança.

Outro fator de relevante significado parao desenvolvimento de qualquer projeto degrande envergadura, seja ele de naturezamilitar ou não, diz respeito à preparação e àqualificação de pessoal. Isso foi recente-mente evidenciadoquando da exposição,por parte de especia-listas, do conceito deRevolução em Assun-tos Militares (RAM).

Esta revolução nãocompreende apenas odesenvolvimento dearmas mais avançadastecnologicamente,mas também a neces-sidade de obter ummelhor preparo dosmilitares a fim de quepossam mantê-las eoperá-las com efeti-vidade, pois o empre-go de novas armas porsi só não enseja mu-danças de capacida-des; o homem, comadequado estudo eadestramento, conti-nuará sendo o grande responsável para queelas se desenvolvam.

No que tange aos integrantes de umaforça naval, esta valorização das capacida-des humanas corrobora a ideia do Mare-chal Foch exposta no livro de Coutau-

Bégarie: “Nós da força terrestre temos ar-mas para equipar nossos homens; vós, ma-rinheiros, tendes homens para armar vos-sos navios”.30 (Tradução do autor) É pos-sível, ainda, mostrar mais uma citação per-tinente: “De fato, uma bem educada popu-lação é provavelmente um pré-requisitopara o Poder Marítimo, simplesmente por-

que a Marinha incor-pora muita tecno-logia”.31 (Tradução doautor)

É preciso, então,mudar a forma de pen-sar, de treinar e de exer-citar, e haver um cons-tante esforço no de-senvolvimento de no-vas formas de comba-ter as ameaças perce-bidas como tais. É pre-ciso reviver e incorpo-rar o espírito que pos-suíam os nossosarquiduques navais doinício do século XX.Lembremos que estes,de posse de novos co-nhecimentos adquiri-dos no exterior, foramcapazes de disseminá-los de forma eficiente

e, movidos por forte motivação, foram tam-bém os responsáveis por promover umatransformação na Marinha da época.32

Dessa forma, assim como os nossosarquiduques do passado, é necessário ad-quirir conhecimentos a fim de possibilitar

30 Hervé COUTAU-BÉGARIE, Traité de Stratégie, p. 589.31 “Indeed, a well-educated population is probably a prerequisite for maritime power, simply because a

navy embodies so much techonology.” Norman FRIEDMAN, Seapower as Startegy, p. 229.32 A modernização dos encouraçados São Paulo e Minas Gerais criou, no início do século XX, uma

pequena elite de oficiais especialistas em artilharia que realizaram cursos no exterior, e que ficaramconhecidos na Marinha como os arquiduques. O nome acabou tornando-se, à época, sinônimo deexcelência quanto ao desempenho profissional naval.

Nós da força terrestretemos armas para equipar

nossos homens; vós,marinheiros, tendeshomens para armar

vossos naviosMarechal Foch

Uma bem educada

população é provavelmenteum pré-requisito para o

Poder Marítimo,simplesmente porquea Marinha incorpora

muita tecnologia

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

um incremento nas capacidades de todasas pessoas envolvidas com o projeto, se-jam elas civis ou militares, sejam ainda asque irão operar ou as que irão apoiar.

Qualquer planejamento estratégico deveprever o atendimento dessa premissa. Issoé mais do que essencial, é imprescindível,e o Planejamento Estratégico Naval deveconter diretrizes específicas quanto a isso.

A Marinha, para se capacitar integralmen-te para construir e operar o submarino nu-clear, será obrigada, além de realizar acapacitação de seupessoal, a trabalhar e aestudar muito. Um bomestudo de caso quepoderia ser realizado afim de possibilitar oentendimento de vári-os aspectos que inter-ferem e moldam esseperíodo de transiçãodiz respeito ao que sepassou na Marinhados Estados Unidosda América em meadosdo século XX.

“O serviço submarino entre as déca-das de 50 e 70 foi um tempo de transiçãonotável. (...) Isto levou duas décadas. Odesenvolvimento da tecno-logia neces-sária, a mobilização da indústria de basee a infra-estrutura educacional requeri-dos foram sem igual na história mili-tar.”33 (Tradução do autor)

De certa forma, a introdução do projetodo submarino nuclear na Marinha norte-americana incitou até mesmo uma transfor-

mação de valores culturais. “Quase todosos submarinistas desse período têm opi-nião sobre essa mudança cultural.”34 (Tra-dução do autor)

Este tipo de mudança pôde, segundo olivro de Gillcrist, ser sentido em vários as-pectos. Por exemplo, em comparação com aforça de superfície e a aviação naval, as ope-rações com submarinos convencionais eram,antes do surgimento do submarino nuclear,governadas por poucas publicações táticase doutrinas escritas. Hoje não é mais assim.

Afirma-se, ainda, que aprofunda mudançacultural foi forçada pelamassiva revoluçãotecnológica ocorrida.35

Hoje, nos EUA,não há somente sub-marinos dotados deuma planta de geraçãode energia nuclear; osnavios-aeródromos,por exemplo, tambémpossuem esta formade propulsão. Mas oque se reveste de gran-

de significado é a existência da Naval Nu-clear Power School, que, desde osprimórdios do desenvolvimento do subma-rino até hoje, é uma escola obrigatória paraaqueles que tripulam as unidades navaisnucleares.

Assim como os norte-americanos, qual-quer Estado desenvolvido, ou que desejater uma presença mais marcante no con-certo das nações, busca obter conhecimen-tos necessários para lidar de forma ade-quada com a energia nuclear. No Brasil, o

33 “Submarine service from the 50’s to the 70’s was a time of remarkable transition. (...) It took just twodecades. Necessary technological development, industrial base mobilization and education infra-structure required were without equal in military history.” Dan GILLCRIST, op. cit., p. XV.

34 “Nearly all submarines from this period have opinions about this cultural change” Dan GILLCRIST,op. cit., p.2.

35 Dan GILLCRIST, op. cit., p. XIIII - XIV.

A Marinha, para secapacitar integralmente

para construir e operar osubmarino nuclear, será

obrigada, além de realizara capacitação de seu

pessoal, a trabalhar e aestudar muito

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

governo federal, por meio de múltiplas ins-tituições, vem já há algumas décadasenvidando esforços para se consagrarcomo partícipe desse processo.

Hoje, além da Marinha, tem-se como umdos principais agentes envolvidos o Ministé-rio da Ciência e Tecnologia, que atua por meiodo Programa Técnico-Científico Nuclear(PTCN) e da Comissão Nacional de EnergiaNuclear (CNEN). Vinculadas a esta Comissãoexistem outras instituições: o Instituto de Pes-quisa Energéticas e Nucleares (IPEN), o Insti-tuto de Energia Nuclear (IEN), o Centro deDesenvolvimento de Tecnologia Nuclear(CDTN) e o Instituto de Radioproteção eDosimetria (IRD). Há ainda empresas subordi-nadas à CNEN que com-põem o Programa Nucle-ar Brasileiro (PNB) e quecontribuem para lhe darsustentação. As princi-pais são a EletrobrásTermonuclear S.A.(Eletronuclear), as In-dústrias Nucleares Bra-sileiras (INB) e aNuclebrás Equipamen-tos Pesados S.A.(Nuclep).

A Marinha do Brasil teve, e ainda tem,grande participação no desenvolvimentodo PNB. Suas ações, de maneira efetiva,engendraram significativas transformaçõesdo setor no País. Além de mudanças técni-co-científicas, a Marinha provocou também,e aí esteja talvez o seu maior mérito, maiordiscussão sobre o futuro energético nu-clear e sobre o futuro da segurança do Es-tado brasileiro. Atualmente se discute so-bre tudo o que diz respeito ao uso do com-bustível nuclear, sobre a importância de sua

posse e sobre como o seu domíniotecnológico poderá interferir nas relaçõesinternacionais referentes à segurança doEstado. Mais ainda: o que queremos sercomo nação e para onde queremos ir sãoquerelas que surgem com o debate sobre aconstrução do submarino nuclear.36

A participação da Marinha em ações denatureza nuclear teve início ainda na déca-da de 1940. Em 1946, o Capitão de Mar eGuerra Álvaro Alberto foi designado repre-sentante brasileiro na recém-criada Comis-são de Energia Atômica das Nações Unidase lá permaneceu por dois anos. Anos maistarde, entre 1951 e 1955, esse mesmo oficial,não por coincidência, presidiu o recém-cria-

do Conselho Nacionalde Pesquisas (CNPq).

Nos anos seguin-tes, entre 1956 e 1961,o Almirante OctacílioCunha presidiu a en-tão recém-criada Co-missão Nacional deEnergia Nuclear, e du-rante sua gestão foiconstruído o primeiroprotótipo de reatornuclear da América

Latina.Essa tarefa de desenvolver a atividade

nuclear não era, no entanto, uma políticaque a Marinha cumpria para satisfazer ex-clusivamente seus desejos próprios, emque pese ser ela, motivada pela constru-ção do submarino nuclear, uma das maisinteressadas. O poder político também secoadunava com este objetivo. Em discur-so proferido pelo Presidente Costa e Silvaem 1967, poucos dias após sua posse, épossível verificar a valoração dada ao tema:

36 Corroborando esta ideia de expansão nacional de discussão sobre o tema, a Estratégia Nacional deDefesa/2008 aponta os três setores considerados decisivos para a defesa nacional: o espacial, ocibernético e o nuclear.

A Marinha provocoutambém, e aí esteja talvez o

seu maior mérito, maiordiscussão sobre o futuro

energético nuclear e sobreo futuro da segurança do

Estado brasileiro

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

“Devemos ter consciência de que oprograma do nosso desenvolvimentotem de ser feito no quadro da Revolu-ção Científica e Tecnológica que abriupara o Mundo a Idade Nuclear e Espaci-al. Nesta nova era que começamos a vi-ver, a ciência e a tecnologia condi-cionarão, cada vez mais, não apenas oprogresso e o bem-estar das nações,mas a sua própria independência. O Bra-sil e toda a América Latina deverão fa-zer agora uma opção clara e decidida,engajando-se num programa racional eousado de promoção da pesquisa e dasaplicações práticas da ciência. Nessecontexto, a energia nuclear desempenhapapel transcendente...”37

Durante a Guerra Fria, época desse dis-curso, a conquista do domínio nuclear re-presentava a obtenção de um posiciona-mento diferenciado nas relações internaci-onais. Essa conquista significava, de certaforma, atingir um patamar político-estraté-gico próximo ao dos Estados Unidos daAmérica e da ex-União das Repúblicas So-cialistas Soviéticas (URSS). Representava,de forma dissimulada, a capacidade empre-endedora de uma nação. Portanto, houveestados que se empenharam em adquirireste domínio, e, neste caso, é possível in-cluir o Brasil.

É possível observar também, de acordo coma citação de Costa e Silva, a preocupação emse obter, desde o início da internalização dadiscussão do tema, a conquista de indepen-dência tecnológica. Neste aspecto, Estadobrasileiro e Marinha trabalhavam de maneiraunívoca. Os interesses e objetivos de ambosse assemelhavam e se complementavam.38 AMarinha visualizando, de forma prospectiva,

a construção do submarino nuclear, e o Esta-do querendo atingir um patamar diferenciadono cenário internacional.

Ainda no contexto da Guerra Fria, aMarinha retoma, em 1979, a liderança departe das ações com a criação do ProgramaNuclear da Marinha (PNM). Uma de suasintenções era alcançar o domínio do ciclode fabricação e do trato do combustívelnuclear, e o esforço maior se deu em rela-ção a uma significativa etapa: o enriqueci-mento isotópico do urânio. Previa, ainda, odesenvolvimento de ações a fim de se tor-nar capaz de construir um sistema de gera-ção de energia de natureza nuclear quepossuísse as especificidades de uma plan-ta aplicada à propulsão de submarinos.

Portanto, o programa inicial foi divididoem projetos, e o esforço para a concretizaçãodo que fora planejado foi grande. Mais es-pecificamente, se objetivava desenvolverultracentrífugas para atender à capacitaçãode enriquecimento do urânio e desenvolvero reator nuclear e os sistemas que com elese relacionam.

“O projeto da primeira ultracentrífuganacional foi iniciado em fevereiro de 1980.Em setembro de 1982 já se realizava, comêxito, a primeira operação de enriquecimen-to isotópico de urânio com equipamentototalmente projetado e construído no Bra-sil. Conseguia-se, dessa forma, em termoslaboratoriais, a viabilização da etapa maiscrucial do ciclo do combustível nuclear.”39

Dois anos depois, em setembro de 1984,atingia-se outro significativo objetivo: oenriquecimento isotópico com umaminicascata de ultracentrífugas de fabrica-ção inteiramente nacional.

37 Arthur da COSTA E SILVA, Pronunciamentos do Presidente - Tomo I, p. 198-199.38 Ainda hoje se constata a convergência de interesse de alcançar a independência tecnológica.39 BRASIL, Serviço de Relações Públicas da Marinha: A Arma Submarina, p. 24.

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

É óbvio, porém, que, a fim de se chegarao objetivo maior, que era tornar viável aconstrução do submarino de propulsão nu-clear, faltava, à época, empreender diversasoutras ações. Depois de adquirido o domí-nio da tecnologia do ciclo do combustível,ficou aberto o caminho para o desenvolvi-mento de reatores de água pressurizada parapropulsão naval. Este reator, o Inap (Insta-lação Nuclear de Água Pressurizada), tipoPWR, se configurou no primeiro reator nu-clear de potência projetado no Brasil e cons-titui-se em uma instalação-protótipo do sis-tema de propulsão nuclear.

A escolha pelo PRW foi acertada. Estáem consonância com o que russos e norte-americanos, após várias experimentaçõesde reatores, estabeleceram como padrão.Zimmerman corrobora com esta afirmação:“Na última metade do século [XX], reato-res de água pressurizada dominaram a pro-pulsão de submarinos nucleares”40 (tradu-ção do autor) e “reatores de águapressurizada suprem um padrão de resis-tência submarina”.41 (Tradução do autor)

Pelo que foi possível observar até o pre-sente momento, início do ano de 2009, aescolha de utilização de ultracentrífugasse mostrou acertada, e elas têm sofridoconstantes aperfeiçoamentos desde a suaprimeira unidade experimental. Além disso,engenheiros e técnicos, sob o comando daMarinha, foram capazes de construir e mon-tar “cascatas” de centrífugas considera-das muito efetivas, e em maio de 2006 maisum importante passo foi conquistado: oinício do funcionamento da primeira uni-dade industrial de enriquecimento de urâ-nio na INB.

Apesar dos avanços alcançados, aindahá passos referentes ao enriquecimento

que precisam de apoio externo. A INB, deposse do urânio, produz o material chama-do yellow cake. Este é enviado para o Ca-nadá, onde é transformado em um gás, ohexafluoreto de urânio. De lá, segue para aUrenco, empresa europeia, onde é cumpri-da mais uma etapa do enriquecimento.Quando do retorno ao Brasil, esta subs-tância segue novamente para a INB, e aí,finalmente, se obtém o combustível.

Quanto ao reator nuclear, foi inicialmen-te construído um de proporções reduzidasvisando a possibilitar a apropriação deexpertise ainda não dominada. Hoje, umoutro maior se encontra em fase de instala-ção no Laboratório de Geração Núcleo-Elé-trica (Labgene). Ele está sendo construídoem escala 1:1 e terá sistemas, apêndices,anexos e tudo aquilo pertinente ao funcio-namento de uma planta de propulsão na-val nuclear para submarinos.

Ressalta-se uma importante decisão to-mada ainda na década de 1980: a criação daCoordenadoria de Projetos Especiais(Copesp) e o seu estabelecimento no inte-rior do campus da Universidade de SãoPaulo (USP). Ademais, em uma cidade dointerior paulista, Sorocaba, foi criado oCentro Experimental de Aramar (CEA), quese configurou em um braço industrial doCentro Tecnológico da Marinha em SãoPaulo (CTMSP).

Em que pese todos os avanços alcança-dos, faltava empreender mais. Dentre ou-tras coisas, faltava ter tecnologia para cons-truir o casco. Assim, ainda nos idos da dé-cada de 1980, a Marinha assinou contratocom a empresa alemã Ingenieur KöntourLübeck (IKL), detentora do conhecimentodo processo de fabricação de um submari-no convencional, o IKL-209.

40 “For the last half-century, pressurized water reactors dominated nuclear submarine propulsion”. StanZIMMERMAN, op. cit., p. 30.

41 “Pressurized-water reactors provide the benchmark of underwater endurance”. Stan ZIMMERMAN,op. cit., p. 202.

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

O referido contrato atendia a um dosmaiores desejos da Marinha nessa área,qual seja, a transferência de tecnologia afim de possibilitar a fabricação de submari-nos no Arsenal de Marinha do Rio de Ja-neiro. Assim, passados pouco mais de 20anos, a Força de Submarinos conta hojecom uma unidade construída na Alemanhae quatro no Arsenal de Marinha do Rio deJaneiro (AMRJ).

Anos mais tarde, ao final de 2008, aMarinha formalizou um acordo com a Fran-ça para a construção no Brasil de quatrosubmarinos convencionais Scorpene. Oacordo celebrado “visa a abreviar as eta-pas da parte não nu-clear do submarino depropulsão nuclear,com a transferência detecnologias de proje-to e construção”.42

Nessa mesma épo-ca, foi criada a Coorde-nadoria-Geral do Pro-grama de Desenvolvi-mento de Submarinocom Propulsão Nucle-ar (Cogesn). Esta Coordenadoria tem as se-guintes atribuições:

– gerenciar o projeto e a construção doestaleiro dedicado aos submarinos;

– gerenciar o projeto e a construção dabase de submarinos;

– gerenciar o projeto de construção dosubmarino nuclear; e

– gerenciar o projeto de detalhamentodo submarino convencional a ser adquiri-do pela Marinha.

A criação da Cogesn pode ser conside-rada mais um exemplo da preocupação daMarinha em empreender ações, muitas dasquais inovadoras, que garantam a conse-cução do firme propósito de possuir sub-

marinos no estado da arte, em especial dosubmarino nuclear. Além disso, com a cons-trução do estaleiro e da base de submari-nos, consubstancia-se o objetivo da insti-tuição de proporcionar ao Estado brasilei-ro, da maneira mais autóctone possível, acapacidade de empreender todo o projeto.

O abandono do IKL 209 convencionalpelo Scorpene se deveu, dentre outros mo-tivos, ao fato de que, apesar das conquistasrealizadas em função do desenvolvimentodo projeto alemão (e não foram poucas), erapreciso dar um passo mais largo a fim deconcretizar o velho sonho de construçãodo submarino nuclear brasileiro.

A motivação precí-pua da Marinha é, des-de 1979, obter aexpertise necessáriapara a fabricação emsolo brasileiro destaunidade naval movidaa propulsão nuclear,mas a Alemanha nãopossui tal meio, e oIKL, ao contrário doScorpene, não possui

características que possam ser mais facil-mente adaptadas ao novo tipo de propul-são desejada. Assim, foi preciso buscar emoutras paragens – no caso a França – co-nhecimentos que pudessem alavancar oprojeto de construção do submarino nu-clear da Marinha.

No concerto das nações, essa busca peloque melhor atende aos interesses dos Esta-dos é recorrente. Às vezes, no entanto, oEstado, inserido nas intrincadas relaçõesinterestatais, toma iniciativas objetivandoestar em consonância com o que pensa acomunidade internacional, mas, com o de-senrolar dos fatos, verifica-se que estas nãologram alcançar o propósito estabelecido.

42 BRASIL, Centro de Comunicação Social da Marinha: Submarino Scorpene: a posição da Marinha.

O IKL, ao contrário doScorpene, não possui

características que possamser mais facilmente

adaptadas ao novo tipo depropulsão desejada

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

Em relação ao processo de desenvolvi-mento e domínio da tecnologia nuclear, issoocorreu. Em 18 de setembro de 1998, o Brasiladeriu ao Tratado de Não Proliferação deArmas Nucleares (TNP). Em discurso realiza-do por ocasião da cerimônia que formalizou aadesão, o então ministro de Relações Exteri-ores, Luiz Felipe Lampreia, afirmava: “Comomembros do TNP, trabalharemos mais ativa ecriticamente para assegurar que as ativida-des nucleares pacíficas em Estados não nu-clearmente armados e a cooperação interna-cional nesse campo não sejam restringidas, epara ajudar a eliminar a ameaça das armasnucleares”.43

Passados, então,mais de dez anos, épreciso que se questi-one se, com a medidaadotada, o efeito dese-jado foi alcançado, ouseja, se a adesão aoTNP e as ações decor-rentes implementadascontribuíram para aocorrência de maior li-berdade quanto ao de-senvolvimento das ati-vidades nucleares pa-cíficas no País. Maisainda, se a coopera-ção internacional foi ampliada e se a amea-ça das armas nucleares foi reduzida.

Uma análise da situação atual pertinente in-dica que os objetivos políticos estabelecidos nãoforam plenamente atingidos, e, o que parece maisimportante, o Estado brasileiro não recebeu, deforma qualitativa, qualquer tipo de tratamentodiferenciado que se traduzisse em significativosbenefícios por ter efetuado a adesão.

Recentemente, passados alguns anos,o tema, de forma surpreendente, novamen-te emergiu. O foco era a possibilidade de oBrasil aderir ao Protocolo Adicional doTNP. Este documento, criado em 1997, es-tabelece, dentre outros aspectos, a possi-bilidade de se efetuar, por meio da AgênciaInternacional de Energia Nuclear (AEIA),um controle mais rígido das ações desen-volvidas por aqueles que o assinarem.44

A decisão política de não adesão ao Pro-tocolo Adicional indica uma postura de in-dependência do Estado brasileiro. É o Bra-sil se inserindo nas Relações Internacio-

nais de forma a garan-tir e fazer valer seusinteresses político-es-tratégicos. Esta atitu-de funcionou comouma aquiescência aoprojeto da Marinha noque diz respeito aodesenvolvimento deatividades nucleares e,de certa forma tam-bém, à continuidadeda parceria com osfranceses.

A Marinha busca,com o acordo estabe-lecido com a França,

abreviar o tempo de construção do seu sub-marino nuclear, bem como o domínio de suaoperação. De fato, os conhecimentos a se-rem adquiridos com a operação doScorpene, somados à transferência detecnologia prevista em contrato, propicia-rão um desenvolvimento mais célere doprojeto nacional de construção do subma-rino de propulsão nuclear.

43 Eugênio Vargas GARCIA, Diplomacia brasileira e política externa: documentos históricos (1493-2008), p. 675.

44 O Protocolo Adicional garante à AIEA acesso, com um aviso prévio de duas a 24 horas, a todos oslugares oficialmente conhecidos, bem como a lugares suspeitos, a fim de que se possa assegurar a“ausência das atividades e dos materiais nucleares não declarados”.

A decisão política de nãoadesão ao ProtocoloAdicional indica uma

postura de independênciado Estado brasileiro. É o

Brasil se inserindo nasRelações Internacionais de

forma a garantir e fazervaler seus interessespolítico-estratégicos

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

O Scorpene, apesar de ser um submarinoconvencional, adequa-se aos interesses na-cionais brasileiros porque ele tem muito doBarracuda, novo projeto do submarino nu-clear francês. Além disso, especificações doseu casco carregam aspectos semelhantesao do Le Triomphant, outra classe de sub-marino nuclear da França. Há, ainda, noScorpene sistemas quesão passíveis de seremutilizados no projetonacional de desenvol-vimento do submarinode propulsão nuclear.

Outro fator de rele-vância concernente aosubmarino francês é afacilidade que seu pro-jeto oferece quanto àimplementação de adap-tações visando atransformá-lo em umAIP (Air IndependencePropulsion). Este tipode unidade não nucleartem a capacidade de ge-rar eletricidade para apropulsão mesmo sub-merso, e, concomitan-temente a isso, realizaro carregamento das ba-terias e a alimentaçãodos sistemas de bordo.O AIP se configura, namaioria das vezes, em uma fonte auxiliar deenergia. Não há, no entanto, submarino que ouse de modo exclusivo.45

SUBMARINO CONVENCIONALVERSUS SUBMARINO NUCLEAR

A Marinha, conforme já dito, busca pos-suir e operar, ao mesmo tempo, dois tipos

de submarinos mais comuns: o convencio-nal, também chamado de diesel-elétrico, eo movido a propulsão nuclear, o Submari-no Nuclear de Ataque (SNA).

O primeiro, por possuir limite de veloci-dade e por estar limitado em seu tempo depermanência submerso pela carga de suasbaterias, possui emprego estratégico “de

posição”, ou seja, édesignado para perma-necer em determinadaárea de patrulha para,a partir daí, havendodetecção inimiga, au-mentar a velocidade afim de se aproximarpara desferir ataque.

Já o de ataque, ape-sar de poder ser em-pregado em estratégiade posição, pode serclassificado, estrate-gicamente, como “demanobra”. Sua poten-cialidade em desen-volver altas velocida-des quando sub-merso, e por muitotempo, lhe fornecegrande capacidade demanobra. Possui, noentanto, duas condi-cionantes que, semserem limitativas, ori-

entam seu emprego: a profundidade deoperação e o (alto) nível de ruído emitido.É, pois, arriscado o SNA navegar em pro-fundidades inferiores a 100 metros (o con-vencional, de outra forma, pode operar emprofundidades de até 30 metros). Ademais,se estiver sob ameaça de detecção ou des-ferindo ataque, é necessário o desenvolvi-

45 São quatros os tipos mais comuns de AIP: motores de diesel de circuito fechado, turbinas a vapor deciclo fechado, motores de ciclo stirling, e sistemas de células de combustível.

A Marinha busca, com oacordo estabelecido com aFrança, abreviar o tempo

de construção do seusubmarino nuclear, bemcomo o domínio de sua

operação

O Scorpene, apesar de serum submarino

convencional, adequa-seaos interesses nacionais

brasileiros porque ele temmuito do Barracuda, novo

projeto do submarinonuclear francês

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

mento de velocidades expressivas, fatocapaz de gerar ruídos em excesso, acarre-tando redução de suas chances de perma-necer oculto.46

Assim é que é desejável a posse dosdois tipos de submarinos. Cada um pode-ria ser empregado na situação que melhorlhe couber. Por exemplo, o SNA seria maisbem empregado em áreas oceânicas e oconvencional em águas restritas.

“A maior ou menor eficácia de em-prego de cada uma delas [convencionale SNA] dependerá, essencialmente, doscenários em que irão operar.

A estratégia na-val submarina deum dado país deve-rá se subordinar,primeiramente, ao‘determinismo geo-gráfico’ (...). Ossubmarinos con-vencionais – ‘deposição’ – são ex-tremamente válidospara as áreas ondehá grandes concentrações de pontosfocais (...). Sendo de menor custo, po-dem ser construídos em maiores quanti-dades, oferecendo alto nível de risco eatrição aos oponentes. Melhor seráquando operarem próximo às bases.

Os submarinos de propulsão nucle-ar – ‘de manobra’ – são os únicos efica-zes em áreas oceânicas. Na verdade,eles não aguardam o inimigo para ata-car, eles o ‘caçam’.”47

Existem, no entanto, parâmetros especí-ficos que, ao serem estudados e analisa-dos, levariam o agente decisor a optar pelo

emprego de um dos dois tipos.O que é cla-ro, e que deve servir como dado de análiseem qualquer situação, diz respeito ao fatode que o SNA é capaz de desenvolver mai-ores velocidades, sua operação independedo ar atmosférico e sua autonomia é extre-mamente grande.

Um outro parâmetro comparativo de rele-vância diz respeito à mobilidade. Ela traduza capacidade de se manter determinadavelocidade por um período de tempo qual-quer. Quanto a esse aspecto, ao se estudaras capacidades de ambos, chega-se à con-clusão de que o SNA leva vantagem. Alémdisso, a enorme autonomia deste último,

limitada não mais pelaquantidade de com-bustível como outrasunidades navais, lheconfere uma singulareficiência operativa.

Outro aspecto com-parativo de signifi-cância é a já citada taxade indiscrição. No sub-marino convencionalela é maior. O mastro

do esnórquel e a esteira por ele gerada, bemcomo a descarga de gases na massa líquidapróximo à superfície, podem denunciar suaposição e ocasionar a perda do submarinoantes mesmo que ele atinja a área designadapara a sua permanência. O SNA, por sua vez– como já visto –, não necessita vir à super-fície, a não ser em casos de emergência ouespeciais.

Ser discreto é, na verdade, uma quali-dade sempre desejável para qualquer dosdois tipos de submarinos, e apesar dasclaras vantagens do SNA, o convencio-nal ainda conserva seu valor. SegundoGeoffrey Till:

46 BRASIL, Serviço de Relações Públicas da Marinha: A Arma Submarina, p. 11.47 BRASIL, Serviço de Relações Públicas da Marinha: A Arma Submarina, p. 19.

Possuímos um quadroestratégico marítimo e

naval em que se faznecessário dois tipos de

submarinos, o convencionale o de propulsão nuclear

188 RMB3oT/2009

A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

“Está errado, contudo, concluir que sub-marinos diesel-elétricos são, por compara-ção, sem utilidade. Modernas variantes,como o [IKL 209] alemão, são menores e,além disso, particularmente bem adaptadaspara operações em águas rasas. Eles, fre-quentemente, são muito silenciosos, e émuito difícil para forças de superfície ouaté mesmo outros submarinos encontrá-los.”48 (Tradução do autor)

Assim, de forma clara, em termos nacio-nais brasileiros possuímos um quadro es-tratégico marítimo e naval em que se faznecessário possuir os dois tipos mais co-muns de submarinos,o convencional e o depropulsão nuclear. Aposse deste último,ressalta-se, é demasi-adamente importante,haja vista a necessida-de de o Estado brasi-leiro ser capaz de defender, com um graude efetividade elevado, a totalidade de seusinteresses político-estratégicos, incluindoos de natureza econômica relacionados coma Amazônia Azul.

CONCLUSÃO

“Se as disputas entre Estados prendem-se a conflitos de interesse, mesmo quandosob disfarce de alegações mais nobres, ocrescente significado econômico do marpara o Brasil implica, necessariamente, oreconhecimento de que no mar, muito pro-vavelmente, poderão surgir problemas desegurança.”49

Nesta citação é possível se observardois significativos aspectos que deman-dam, de maneira constante e persistente, aimplementação de ações de natureza polí-tico-estratégica por parte dos Estados: aexistência de disputas e de conflito de in-teresses no cenário internacional e a preo-cupação com o desenvolvimento econô-mico próprio.

Estes dois aspectos se relacionam deforma imbricada e norteiam boa parte dosatos dos Estados, e para que esses atospossam ter eficácia é preciso que haja umambiente capaz de propiciar uma liberdadede ação para os agentes estatais. Esta li-

berdade pode ser en-tendida como uma for-ma de expressar von-tades sem sofrer ame-aças. Na verdade, semque haja a percepçãoda existência delas. Épreciso, ainda, que os

Estados possam garantir a consecução dasações implementadas ante os possíveis im-pedimentos propositalmente interpostos.

Para tal, faz-se necessário que o Estadoempreenda atos de modo a incrementar asua sensação de segurança, atos que pro-movam a execução daquilo que foi planeja-do, e que, diante de qualquer tipo deobstaculização, possa ele dispor de efeti-vos mecanismos visando à manutenção deseus interesses.

A citação mostrada traz ainda a noção deque no mar, devido ao seu crescente signifi-cado econômico, poderão surgir problemasde segurança. É possível, então, que obstá-culos e ameaças se concretizem no ambiente

48 “It would be wrong however, to conclude that diesel powered submarines are, by comparison, useless.Modern smaller variants, like German 209 type, are small and therefore particularly well suited foroperations in shallow water. They are often very quite, and so difficult to surface forces, or indeedother submarines, to find.” Geoffrey TILL, Modern Sea Power, p. 66-67.

49 Comissão Nacional Independente sobre Oceanos, O Brasil e o Mar no Século XXI: relatório aostomadores de decisão do País, p. 37.

O submarino de propulsãonuclear se configura naunidade naval perfeita

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

marítimo, atingindo, por conseguinte,vulnerabilidades estratégicas. Dessa forma,a existência de um Poder Naval bem equipa-do e preparado pode ser considerada comoum destes mecanismos capazes de proporci-onar uma satisfatória sensação de seguran-ça, e garantir que impedimentos porventuraexistentes possam ser debelados e que inte-resses possam ser resguardados e, ainda, queo crescimento econômico se desenvolva.

O Estado brasileiro vem já há alguns anosdemonstrando sua preocupação com ques-tões relacionadas coma sensação de seguran-ça, haja vista a publica-ção da Política de De-fesa Nacional e da Es-tratégia Nacional deDefesa – em ambos osdocumentos vislumbra-se o emprego do PoderNaval. No segundo háuma menção especialquanto à questão dossubmarinos: é precisopossuir o convencionale o nuclear. A grandiosidade da AmazôniaAzul, a necessária defesa dos interesses po-lítico-estratégicos a ela relacionados, bemcomo todo seu potencial econômico justifi-cam, quando da análise de emprego de sub-marinos, a posse destes dois tipos.

Quanto a esta questão, o Brasil não estásolitário. Existem Estados que, preocupadoscom a sua perenidade, planejam incrementarsua Força de Submarinos a fim de torná-lacapaz de contribuir para o estabelecimentode suas vontades político-estratégicas. Es-tados Unidos da América, França, Austráliae China são exemplos que comprovam a vali-dade desta afirmativa.

Submarinos são sempre lembrados quan-do se deseja negar o uso do mar ao inimigo.Para isso ele se utiliza de sua capacidade depromover a dissuasão e de agir oculto, e, nes-

ses misteres, o submarino de propulsão nu-clear se configura na unidade naval perfeita.

Essa é uma das principais razões que le-varam a Marinha a trabalhar com o intuitode possuí-lo. Um trabalho precedido de umavisão de futuro audaciosa, mas coerente,que serviu, e que ainda serve, para nortearuma série de ações a serem desenvolvidas afim de que se possa ter credibi-lidade econfiabilidade no projeto. Um trabalho in-sistente e persistente que já se pode contarem décadas e que objetiva, com indepen-

dência tecnoló-gica,capacitar o Estado bra-sileiro a fabricar o ele-mento combustível nu-clear, bem como a cons-truir, a operar e a man-ter um submarino depropulsão nuclear.

Para o Brasil, isso sereveste de significati-va importância, e épossível perceber queo Poder Político assimtambém entende. Atu-

almente, várias são as ações estabelecidasno nível da Grande Estratégia que denotamo firme propósito de haver continuidadequanto ao projeto de dotar o Estado brasi-leiro de uma unidade naval movida a pro-pulsão nuclear. A não ratificação do Proto-colo Adicional do TNP pode ser considera-da um exemplo disso.

Por fim, é preciso que se diga que o marsempre teve presença marcante na história doBrasil, e isto desde o seu descobrimento. Aságuas que banham o território brasileiro, ain-da que não sejam infinitas, são imensas – emvolume e extensão – e abrigam extremo valor,e, se a geopolítica de um passado recente erafortemente baseada em conceitos terrestres,hoje não é mais assim. Mares e oceanos, apartir do século XX, ganharam maistransnacionalida-de, passaram a se configu-

O trabalho de décadasobjetiva capacitar o Estado

brasileiro a fabricar oelemento combustívelnuclear, bem como a

construir, a operar e amanter um submarino de

propulsão nuclear

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A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

rar mais intensamente em instrumentos de de-senvolvimento econô-mico, e passaram a servistos como parte inte-grante do território na-cional, onde interessespolítico-estratégicosdevem ser preservados,defendidos ou explora-dos com liberdade, livrede objeções.

A Marinha tem ple-na consciência disso eatua de forma profissi-onal, objetivando contribuir para o que o

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS>; Submarino nuclear;

Estado brasileiro possa usufruir de seu es-paço marítimo da ma-neira que lhe for maisconveniente, e o incre-mento de sua Força deSubmarinos, em espe-cial com a aquisição deum submarino nuclear,significará, por certo,um grande passo paraa garantia de que o Bra-sil possa, então, exer-cer seu justo domíniosobre a parte do Atlân-

tico Sul que lhe pertence.

A Marinha atua de formaprofissional, objetivandocontribuir para o que oEstado brasileiro possausufruir de seu espaço

marítimo da maneira quelhe for mais conveniente

RMB3oT/2009 191

A NECESSIDADE DE CONSTRUÇÃO DO SUBMARINO NUCLEAR BRASILEIRO

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SUMÁRIO

A Guerra de MinasA importância do Centro de Dados de Guerra de MinasGuerra de Minas na MBConclusão

CENTRO DE DADOS:FUTURO DA GUERRA DE MINAS

JOSÉ CORRÊA PAES FILHO*Capitão de Fragata

A GUERRA DE MINAS

A Guerra de Minas (GM) é uma área ex-tremamente importante da Guerra Na-

val. Por exemplo, o número de perdas denavios japoneses atingidos por minas nosúltimos cinco meses da Segunda GuerraMundial foi praticamente o mesmo que o deperdas de navios americanos atacados porsubmarinos alemães durante toda a guerra.

As minas navais de hoje são projetadaspara serem usadas contra diferentes clas-ses ou tipos de navios com o propósito deprovocar diferentes tipos de avarias. Paracumprirem suas missões, as minas estãose tornando cada vez mais complexas.

Apesar da sua importância, a Guerra deMinas tem sido negligenciada por muitasMarinhas. O pouco interesse e a negligên-cia em relação à Guerra de Minas podem

* N.R.: Capitão de Fragata José Corrêa Paes Filho é encarregado do Grupo de Avaliação e Adestramentode Guerra de Minas (GAAGueM) e ex-comandante do Navio-Varredor Albardão. Possui mestradoem Pesquisa Operacional (Naval Postgraduate School, Monterey, Califórnia, EUA), é especialistaem Guerra de Minas e instrutor dos Cursos GUEM-OF, VAR-OF e VAR-PRA do Comando da Forçade Minagem e Varredura (ComForMinVar).

RMB3oT/2009 193

CENTRO DE DADOS: FUTURO DA GUERRA DE MINAS

Foto 1 – Navios-varredores da Segunda Guerra Mundial

Figura 1 – Diferentes tipos de minas navais

antidesembarque

194 RMB3oT/2009

CENTRO DE DADOS: FUTURO DA GUERRA DE MINAS

Foto 2 – Navio-alvo atingido por explosão submarina

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CENTRO DE DADOS: FUTURO DA GUERRA DE MINAS

ser explicados por não ser uma atividadeglamorosa ou de alto desempenho numaMarinha. A Contramedida de Minagem(CMM), por sua vez, tende a ser bem me-nos glamorosa. Embora a atividade de lim-par áreas minadas seja perigosa, árdua eentediante, sua importância é grande. Nacampanha de minagem contra o Japão, aofinal da Segunda Guerra Mundial, os EUAafundaram ou avariaram seriamente 670navios japoneses, quase toda a frota que oJapão possuía na época.

Todas as Marinhas devem ter consci-ência do risco que as minas impõem às suasesquadras e devem manter suas capacida-des de GM. A necessidade de moderniza-ção e a aquisição de novos meios de Guer-ra de Minas e a aquisição de novas minasnavais impõem à Marinha do Brasil a ne-cessidade de desenvolver novas ativida-des, tais como a criação de novos cursosde GM, a capacitação de pessoal, a aquisi-ção de simuladores e o processamento deum banco de dados digitais de GM.

No passado recente, de 1950 até osdias atuais, as avarias causadas por mi-

nas em navios americanos (figura 2) fo-ram muito maiores que as causadas porquaisquer outros tipos de armamentoscombinados (mísseis, torpedos, aerona-ves e ações terroristas).

A IMPORTÂNCIA DO CENTRO DEDADOS DE GUERRA DE MINAS

Segundo o Comandante Vanden Haute,ex-diretor da Escola de Guerra de Minas daOtan (Eguermin), a crescente ênfase noprocessamento de dados de GM é observa-da em várias Marinhas da Europa e do mun-do. Essas Marinhas possuem centros dedados de Guerra de Minas fundamentais napreparação e utilização das cartas eletrôni-cas vetoriais. O Centro de Hidrografia daMarinha (CHM) também desenvolve cartaseletrônicas, e a Marinha do Brasil (MB) pos-sui sistemas digitais capazes de processardados digitais aplicados à GM.

Segundo especialistas, a GM só se tor-na totalmente eficaz quando apoiada porsistemas de computadores dedicados e poruma capacidade de gerenciamento de ban-

Figura 2 – Navios americanos avariados por diferentes tipos de armamento

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CENTRO DE DADOS: FUTURO DA GUERRA DE MINAS

co de dados efetuado por um Centro deDados de GM (CDGM).

Um CDGM funciona como um centro deanálise e armazenamento de dados neces-sários para o planejamento e a execução deoperações de CMM e minagem. A informa-ção obtida pelo CDGM é combinada comoutras fontes de inteligência para proveruma capacidade de coordenação das ope-rações de CMM e minagem. O CDGM inte-gra-se diretamente com as unidades de

CMM, divulgando dados de planejamentoe de inteligência, e recebe informaçõesoperacionais destas unidades no retornodas operações. Um CDGM atua diretamen-te com os centros de hidrografia militares ecivis, bem como recebe e fornece informa-ções para os centros de treinamento, ondeas tripulações dos navios e os oficiais deestado-maior de forças de GM se adestrame se atualizam utilizando simuladores.

GUERRA DE MINAS NA MB

Hoje, o Grupo de Avaliação e Adestra-mento de Guerra de Minas (GAAGueM)do Comando do 2o Distrito Naval(Com2oDN) atua como um CDGM e um cen-tro de treinamento utilizando sistemas deapoio à decisão e simuladores desenvolvi-dos pela MB. Um CDGM vem sempre as-sociado a um centro de treinamento, comoacontece, por exemplo, na Espanha, na Fran-ça, na Itália, na Alemanha e, mais especifi-camente, na Eguermin.

A MB processa informações importan-tes para GM, tais como assinaturas mag-néticas e acústicas de navios e cartas ele-trônicas, e opera equipamentos fundamen-tais para a caça de minas (Sonares multifeixee side scan da Diretoria de Hidrografia e

Foto 3 – Lançamentode um side scan

Figura 3 –Levantamento de

porto com sidescan

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CENTRO DE DADOS: FUTURO DA GUERRA DE MINAS

Navegação – DHN). A MB possui tambémsistemas de apoio à decisão, desenvolvi-dos no Brasil, que auxiliam o planejamentode operações de CMM.

A aquisição, num futuro próximo, de no-vos navios de CMM, tais como caça-minas,demanda a criação de um Centro de Dados ede Treinamento de Guerra de Minas (CDTGM),englobando as funções de Centro de Dados eCentro de Treinamento em GM.

A estrutura de GM da MB, hoje, estádescentralizada, visto que as informaçõesde GM são geradas em diversas organiza-ções militares. Atividades fundamentaispara a GM, por exemplo, são geradas naRaia Acústica (Arraial do Cabo) e na RaiaMagnética (Salvador) da MB.

Aponta-se como uma necessária solu-ção para o desenvolvimento da GM na MB

a criação de um CDTGM, que centralizariatodas as atividades técnicas e de treina-mento relacionadas à GM. O CDTGM en-globaria o Departamento de Magnetologiada Base Naval de Aratu (BNA), incluindoas estações de tratamento e de medidasmagnéticas e o Centro de Adestramentodo Comando da Força de Minagem e Varre-dura. Hoje, dois oficiais de Marinha estãocursando mestrados em Geofísica e Pes-quisa Operacional, respectivamente naUniversidade Federal da Bahia (UFBA) eUniversidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), para servirem na Base Naval deAratu e no GAAGueM.

O CDTGM poderia também fazer parteda estrutura de Ciência e Tecnologia daMB, e o GAAGueM, embrião do CDTGM,evoluiria para uma estrutura com:

Figura 4 – Processamento de imagens digitais

198 RMB3oT/2009

CENTRO DE DADOS: FUTURO DA GUERRA DE MINAS

Foto 4 – Sistemas digitais, desenvolvidos pela MB, aplicados à GM

Figura 5 – Apresentação do sistema digital usado pela MB

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CENTRO DE DADOS: FUTURO DA GUERRA DE MINAS

1. Departamento de Magnetologia;2. Departamento de Acústica;3. Departamento de Avaliação Opera-

cional e Análise de Dados de GM; e4. Departamento de Adestramento em

GM.

CONCLUSÃO

A GM na MB passa por uma necessá-ria evolução em função das novas de-

mandas que se apresentam na atualidadee num futuro próximo. Assim, em facedessas demandas e da missão doGAAGueM de produzir informaçõesoperacionais de GM, a fim de contribuirpara o desenvolvimento, consolidação,disseminação e atualização de doutrina,procedimentos táticos e emprego dosequipamentos de GM, surge a necessi-dade da criação, num futuro próximo, deum Centro de Dados de GM.

REFERÊNCIAS

[1] “Be-Nl Minewarfare School”. http://www.eguermin.org. Março, 2008.[2] “Mine Warfare Data Centre”.http://www.ecagroup.com. Março, 2008.[3] Lok, Joris Jansen. “Mine-countermeasures forces emerge from splendid isolation”. Jane´s

International Defense Review, Fevereiro, 2006.[4] “Mine Warfare Data System”.http://www.saabsystems.com.au. Março, 2008.[5] “Mine Warfare Association”, http://www.minwara.org. Março, 2008.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<GUERRAS>; Guerra de minas;

SUMÁRIO

HistóricoObjetivos da operaçãoAspectos político-estratégicosParticipação e fases da operação

1a Fase de Mar – WORK-UP (23 a 27 de abril)Exercício Sinkex (28 e 29 de abril)Fase Scenario (30 de abril a 3 de maio)

InovaçõesVantagens colhidas pela MBConclusão

OPERAÇÃO UNITAS GOLD – SOLIDARIDADHEMISFERICA – DEFENSA HEMISFERICA – 50 ANOS

OTACILIO BANDEIRA PEÇANHACapitão de Corveta

BRUNO PEREIRA DA CUNHACapitão de Corveta

KAIO REICH BULHÕES DE MORAIS2

Capitão-Tenente

“We are a strong nation. But we cannot liveto ourselves and remain strong.”1

General George C. Marshall

HISTÓRICO

A operação Unitas é o mais antigo exer-cício naval multinacional do mundo.

Sua origem remonta a novembro de 1959, na

Conferência Anual dos Chefes de MissõesNavais dos EUA e América Latina, realizadano Panamá. Esse evento, dada a sua impor-tância, o fez ser reconhecido como a 1a Con-ferência Naval Interamericana.

1 Extraído do livro “The Naval Officer’s Guide” William P. Mack, Harry A. Seymour, Lesa A. McComas.Naval Institute Press, 1998. Publicação de referência para a oficialidade da Marinha dos EUA.

2 Oficiais membros do Estado-Maior ad hoc do Comando do Grupo-Tarefa 138.2 (Brasil).

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OPERAÇÃO UNITAS GOLD – SOLIDARIDAD HEMISFERICA – DEFENSA HEMISFERICA – 50 ANOS

Nessa ocasião histórica, os oficiais sul-americanos, liderados pelo Vice-Almirante(brasileiro) Paulo Antônio Telles Bardy,propuseram a criação de um exercício na-val multinacional, em contraponto aos exer-cícios bilaterais realizados, até então, comas antigas Força-Tarefa 86 (Atlântico) eForça-Tarefa 88 (Pacífico), criadas pelo Al-mirante Arleigh Burke, da Marinha dosEUA. Esse exercício foi batizado com onome de Unitas, palavra derivada do latim,que significa união. Alguns antigos docu-mentos ainda sugerem que o nome seriauma sigla derivada do termo “UnitedInternational Anti-Submarine WarfareTraining” (União Internacional para Ades-tramento de Guerra Antissubmarina).

Além de promover a boa vontade e soli-dificar as relações interamericanas, a Unitasnasceu com o propósito de adestrar e pre-parar meios navais multinacionais, operan-do de forma combinada, de maneira a en-frentar ameaças comuns às nações dasAméricas, reflexos das campanhasantissubmarinas do Atlântico, executadasdurante a Segunda Grande Guerra, onde osaliados combateram lado a lado na defesade comboios mercantes, compartilhandodoutrinas, apoio logístico e material bélico,com participação marcante, e única no con-texto sul-americano, da Marinha do Brasil.

As ameaças ao longo do século passa-do foram gradativamente se modificando.Inicialmente, as do pós-guerra deram lugaraos desafios da Guerra Fria, com a preocu-pação de combater a ameaça submarinasoviética num mundo ideologicamente po-larizado, alcançando os dias de hoje com atemática das “Novas Ameaças”.

No final dos anos 90, o Brasil propôsum exercício realizado em três fasesmultinacionais regionais (Caribe, Atlânti-co e Pacífico), havendo um revezamento

de anfitriões em cada fase. Em outubro de1999, o Brasil era anfitrião já na primeiraoperação regional multinacional durante afase Atlântica da Unitas 40-99.

O conceito de culminar cada Unitas em umexercício de confronto de forças (final battleproblem) foi introduzido pela primeira vez du-rante a Fase do Pacífico, no Chile, em 2002.Desde então, cada Unitas era estruturada paraincluir uma fase work-up, de preparo e incre-mento da interoperabilidade, e uma fase finalbattle problem.

Em 2008, a Unitas migrou do termo finalbattle problem para Exercise ScenarioPhase (ESP) caracterizando-se, efetivamen-te, em um jogo de guerra a testar as profici-ências em uma coalizão avançada de ope-rações navais.

3 Arquivo em pdf em: http://www.dhs.gov/xlibrary/assets/HSPD13_MaritimeSecurityStrategy.pdf.

OBJETIVOS DA OPERAÇÃO

No que tange às preocupaçõesgeoestratégicas dos EUA, a operaçãoUnitas se enquadra perfeitamente nos ob-jetivos traçados na sua atual EstratégiaNacional para a Segurança Marítima3

(National Strategy for Maritime Security)

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OPERAÇÃO UNITAS GOLD – SOLIDARIDAD HEMISFERICA – DEFENSA HEMISFERICA – 50 ANOS

de 2005, recentemente revisada em 2007.Discurso do Presidente George W. Bush,proferido em dezembro de 2004, já pontifi-cava que “as tarefas do século XXI nãopoderão ser cumpridas por uma única Na-ção”. Dessa forma, “a atual estratégiaestadunidense reforça o conceito de Par-ceria Marítima Global (Global MaritimePartnership), que servirá como catalisadorapara o aumento da interoperabilidade ecooperação internacional em apoio à se-gurança marítima cooperativa”4.

Além do exposto, e em conformidadecom o contido na publicação CTF 138Instruction 2050, Unitas Basic PlanningInstruction (UBPI), diretiva permanente daoperação, os objetivos principais a seremdestacados são:

(1) prover oportunidades para as Mari-nhas participantes conduzirem operaçõesnavais combinadas no contexto de umaforça-tarefa multinacional;

(2) incrementar as capacidades de com-bate naval, aéreo, e de fuzileiros navais;

(3) ampliar a prontidão para operaçõescombinadas e operações em coalizão;

(4) desenvolver a interoperabilidadeentre as forças multinacionais, incluindodoutrinas, adestramento, logística, comu-nicações, bem como outros assuntos deinteresse;

(5) promover um Teatro de SegurançaCooperativa (Theater Security Cooperation– TSC5) aumentando a estabilidade regio-nal pela interação e troca de ideias e ações;

(6) conduzir operações SAR, de resgatede pessoal, salvamento e de assistênciahumanitária;

(7) manter um elevado padrão de desem-penho profissional, disciplinar e moral;

(8) prover exercícios de demonstração evisitas para grupos nacionais e aliados;

(9) participar, na maior medida possível,de exercícios combinados e adestramen-tos com forças de outras nações;

(10) desenvolver conceitos e planos quepromovam a interoperabilidade;

(11) conduzir visitas de representação aportos estrangeiros; e

(12) no caso específico da edição de 2009,comemorar o cinquentenário da operação.

ASPECTOS POLÍTICO-ESTRATÉGICOS

Coube ao recém-reativado Comando daQuarta Esquadra, que acumula o Comandodas Forças Navais do Comando Sul(COMUSNAVSO), na condição de anfi-trião, o Comando da Força Tarefa Combi-nada Multinacional (CJTF 138). Mais doque uma reestruturação administrativa, aQuarta Esquadra enseja uma valorizaçãoestratégica do cenário do Atlântico Sul.Além disso, o também recém-criado Coman-do da África (Africa Command), atuandoao leste, reforça esse entendimento e de-monstra a necessidade de o Brasil, dada asua relevância geopolítica, contar com umadequado Poder Naval para contribuir com

4 Revista Marítima Brasileira Jan/Mar 2008 – “Uma Estratégia cooperativa para o poder naval dosEstados Unidos no século XXI” (CMG-RM1 Carlos Marcello Ramos e Silva).

5 Tradução livre: Atividade de Segurança Cooperativa – “Atividade militar que envolve outras nações etem como objetivo desenvolver um ambiente operacional em tempo de paz. As atividades incluemprogramas e exercícios que as Forças Armadas dos EUA conduzem com outras nações para promo-ver o entendimento mútuo e incrementar a interoperabilidade com nações aliadas e potenciaisparceiros. Tem como função apoiar os Comandos Combinados (no caso da Unitas o USsouthcomm)nos seus teatros estratégicos, conforme previsto no Plano do Teatro de Segurança Cooperativa”.

Nesse contexto, a Segurança Marítima Cooperativa é a vertente naval do plano do TSC.Referência: Joint Publication 3-0 “Joint Operations”, Publicação do Joint Chiefs of Staff (EUA),

Change 1, 13/2/2008.

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OPERAÇÃO UNITAS GOLD – SOLIDARIDAD HEMISFERICA – DEFENSA HEMISFERICA – 50 ANOS

a defesa dos interesses nacionais e com oatendimento dos seus compromissos pe-rante a comunidade internacional.

PARTICIPAÇÃO E FASES DAOPERAÇÃO

A operação Unitas 50 contou com a par-ticipação de meios navais dos seguintespaíses: Brasil, Alemanha, Chile, Colômbia,Canadá, Peru e EUA. A Marinha do Brasil(MB) participou dessa comissão compon-do o Grupo-Tarefa 138.2 (Fragata Constitui-ção, aeronave AH-11A e Submarino Tikuna),com seus meios adjudicados ao Comandodo GT 138.10 – GT Multinacional Marítimo,além de um pelotão de fuzileiros Navais ad-judicado à estrutura do Comando do GT138.20 – GT Multinacional Anfíbio.

Para consecução da operação foram re-alizadas três conferências de planejamen-

to, todas na Estação Naval de Mayport(Flórida – EUA), sede da 4a Esquadra dosEUA. Coube ao Comando da 2a Divisão daEsquadra representar a MB na conferênciainicial (nov/08) e principal (fev/09). A con-ferência final (mar/09) coube ao Comandodo 1o Esquadrão de Escolta.

Para a execução da operação foi criado,por determinação do Comando em Chefeda Esquadra, um Estado-Maior ad hoc,composto por oficiais da 2a Divisão da Es-quadra, da Força de Superfície e da ForçaAeronaval, de forma a assessorar o coman-dante do GT 138.2, atual chefe do Estado-Maior da 2a Divisão da Esquadra.

No Estado-Maior Multinacional forma-do para assessorar o CGT 138.10, a bordodo navio capitânia, o USS Mesa Verde (LPDclasse San Antonio), encontravam-se trêsoficiais superiores da MB, provenientes daForça de Superfície e de Submarinos.

Meios navais do Grasup Alpha na fase Work-Up

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OPERAÇÃO UNITAS GOLD – SOLIDARIDAD HEMISFERICA – DEFENSA HEMISFERICA – 50 ANOS

A comissão foi conduzida em duas fasesdistintas: a fase Work-Up e a fase Scenario,tendo sido ainda executado, no intervaloentre as duas fases, o exercício Sinkex (tirosobre o casco do ex-USS Connolly, ex-Contratorpedeiro da classe Spruance).

1a Fase de Mar – WORK-UP (23 a 27 deabril)

Fase introdutória, visando aprimorar ainteroperabilidade entre os navios das Ma-rinhas participantes. Nessa fase, os navi-os foram divididos em dois Grupos de Açãode Superfície (Grasup). Cada comandantede Grasup foi responsável pelo controletático dos meios, manobrando os naviosdentro da área de operações e conduzindoos exercícios de acordo com o programa deeventos. Estava programado, nessa fase,o rodízio de comandantes de Grasup entreas Marinhas participantes. Coube ao CGT138.2 o Comando do Grasup Alpha, nosdias 24 e 27 de abril, atuando como ODEdos seguintes exercícios:

– Guerra Antissubmarina: SubxSub,SubxAeronaves e Casex;

– Guerra de Superfície: ataque deNaPaRa (navio patrulha rápido), tiro sobrealvo de superfície de alta velocidade e tirosobre alvo rebocado.

– Guerra Antiaérea:detecção, identificaçãoe engajamento simula-do de alvos aéreos, tiroantiaéreo contra alvorebocado por aerona-ve, tiro antiaéreo con-tra drone, lançamento eavaliação dos efeitoscausados por chaffs etiro antiaéreo sobregranada iluminativa;

– exercícios deengajamento com mís-

seis de alvos além do horizonte por múlti-plas unidades;

– exercícios avançados de interdiçãomarítima (MIO – Maritime InterdictionOperations) e abordagem por grupos de vi-sita e inspeção e grupo de presa (GVI/GP);

– transferência de óleo no mar(replenishment at sea); e

– manobras táticas com coberturafotográfica.

Exercício Sinkex (28 e 29 de abril)

Em um ambiente combinado emultinacional, foram realizados exercícios detiro superfície-superfície e aéreo-superfíciecom mísseis, foguetes e canhões. Dessecomplexo exercício, também participaramaeronaves P-3 Orion e F-18 Super Hornet daMarinha e bombardeiros B-52 Stratofortressda Força Aérea dos EUA, além dos meiosmultinacionais previamente designados paraa operação Unitas. Foi empregada variadagama de munições, como mísseis Harpoone Maverick, bombas inteligentes e muniçõesde canhões de diversos calibres (5 e 4.5 pol,76 mm, 57 mm, e 40 mm), despendendo umtotal de 8.369 libras de explosivos. Na figurapodem ser visualizados alguns dos impac-tos dos projéteis sobre o alvo, disparadosda Fragata Constituição.

Exercício Sinkex – fogo da Fragata Constituição(Alvo: ex-CT da Classe Spruance)

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OPERAÇÃO UNITAS GOLD – SOLIDARIDAD HEMISFERICA – DEFENSA HEMISFERICA – 50 ANOS

Fase Scenario (30 de abril a 3 de maio)

Esta fase consistiu em um jogo de guerratendo como cenário os países hipotéticosGarnet e Amber, envolvidos em uma escala-da de crise político-estratégica que desen-cadearia, ao final, um confronto entre as for-ças navais. Como resposta à crescente ins-tabilidade regional, o Conselho de Seguran-ça das Nações Unidas emitiu uma resolu-ção, decidindo pelo estabelecimento de umaForça Multinacional (FT 138) com o objeti-vo de aumentar a interoperabilidade e reali-zar demonstração de força em apoio aGarnet. Para tal, as unidades multinacionaisdeveriam estar preparadas para:

– conduzir operações de combate aonarcotráfico;

– conduzir operações MIO;– conduzir operações de liberdade de

navegação;– conduzir assistência humanitária;– conduzir operações SAR de comba-

te (Search and Rescue) no mar e em terra;– conduzir operações de combate à

pirataria; e– evoluir para ações hostis contra as

forças de Amber, em caso de insucesso nasações de dissuasão.

Na fase Scenario, o GT Multinacionalfoi dividido em três Grasup. Coube ao CGTbrasileiro o comando de um dos Grasup,com a tarefa de proteger a UMV (Unidadede Maior Valor – USS Mesa Verde).

INOVAÇÕES

Na operação Unitas-50, foram realizadosexercícios e simuladas situações não roti-neiras em operações conduzidas pela Es-quadra, bem como empregados diferentesmeios e recursos, além dos diversos proce-dimentos operativos e métodos de planeja-mento utilizados pelas Marinhas participan-tes. Estes novos conhecimentos adquiridos

são fundamentais para o nosso aprimora-mento, evolução e aumento do grau deinteroperabilidade. Os seguintes pontosmereceram destaque nesta operação:

Procedimento Force Protection – Prote-ção de meios navais dos EUA em águas res-tritas contra ameaças assimétricas. Consis-te na adoção de medidas iniciais não letais(chamadas VHF, sirenes, holofotes,pirotécnicos, sistema de som direcional) e,caso necessário, emprego de metralhadorasdistribuídas nos conveses. Outro procedi-mento que pôde ser visto nesta comissãofoi a escolta dos navios por lanchas da Guar-da Costeira nas entradas e saídas de porto.

Operação de Liberdade de Navegação(Fonop) – Consiste em uma coluna de navi-os cumprindo uma derrota entre pontos de-terminados, com o propósito de demonstraro direito previsto na legislação internacio-nal de liberdade de navegação (marítima eaérea) e o emprego de linhas de comunica-ções marítimas, que podem estar localiza-das em águas reclamadas por um Estado;

Carrossel de fogo – Consiste em subdi-vidir a área de operações em váriassubáreas adjacentes, onde são realizadosexercícios atinentes a cada ambiente deguerra. Essa concentração em um único

Procedimento “Force Protection”(lanchas da USCG)

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OPERAÇÃO UNITAS GOLD – SOLIDARIDAD HEMISFERICA – DEFENSA HEMISFERICA – 50 ANOS

polígono resulta em considerável reduçãodas distâncias a serem navegadas pelo gru-po-tarefa, otimização do emprego dos mei-os de apoio e figurativos inimigos, além depriorizar o adestramento em cada ambienteseparadamente.

Exercícios de tiro – O planejamento, acondução e a execução de uma gama varia-da de exercícios com diferentes recursos deapoio, como o tiro sobre alvo aéreo reboca-do, sobre drone, sobre alvo de superfícierápido e sobre casco de navio, possibilita-ram grande aquisição de conhecimentos euma ímpar oportunidade de adestramento.

Atividade de inteligência – É exercidapelo Grupo de Controle (CECG), constituí-do por civis e militares, que durante a fasede planejamento cria um cenário fictício paraa fase Scenario da operação e, durante afase de mar, embarca no navio capitânia eatua como Grucon, coordena as ações doFigin, controla as regras de comportamentoe dissemina as informações de inteligênciapertinentes ao desenvolvimento das ações.

Linha de Comunicação Sea CombatCommand – Concentração, em uma única li-nha, de todas as linhas de coordenação e in-formações das guerras de superfície (CI/GSU),antissubmarino (CI/GAS) e guerra eletrônica(CI/GE). Tal concentração de linhas só é pos-sível quando se dispõe de informaçõesconfiáveis fornecidas por um link comum.

Sítio na internet e chat – Empregadospara troca de informações e dados entre osmeios participantes. Foi disponibilizado umambiente seguro na internet denominadoNon-Class Enclave (NCE), que possibili-tou a troca de documentos operativos nafase de planejamento e o uso de chat detexto durante a operação, ferramenta fun-damental para o comando e o controle dasações em uma grande área de operaçõescom meios distantes.

Gerenciamento do Risco Operacional– Utilização dessa ferramenta pela Mari-nha dos EUA em todos os eventos queenvolviam algum risco, relacionados ounão à atividade aérea.

“Carrossel de Fogo” (área de operações da fase Work-Up)

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OPERAÇÃO UNITAS GOLD – SOLIDARIDAD HEMISFERICA – DEFENSA HEMISFERICA – 50 ANOS

Aeronaves e embarcações civis – Aero-naves de asa fixa como Learjet e turbo-hé-lice Cheyenne foram empregadas intensi-vamente para simulação de ameaças aére-as, reboque de alvos e limpeza de área.Embarcações contratadas foram utilizadascomo apoio ao adestramento de GVI/GP,para reboque de alvos e plataforma de lan-çamento e recolhimento de drone.

Mídia – A Marinha dos EUA atribuiu gran-de prioridade à divulgação da operação para amídia local e internacional, alocando períodosespecíficos durante afase de porto e de marpara esta atividade. Jor-nalistas norte-america-nos, brasileiros e de ou-tros países embarcaramno navio capitânia, onderealizaram entrevistas eassistiram a demonstra-ções de emprego de ae-ronaves e hovercrafts.Registrou-se também apresença de diversosmeios navais participan-tes nas proximidades.

VANTAGENS COLHIDAS PELA MB

Operações Multinacionais Combinadas,como a Unitas, e a mais recentemente cria-da Panamax (operação de defesa do Canaldo Panamá), ensejam oportunidades decolher ensinamentos táticos e estratégicos.A participação nessas operações, desdesua concepção, planejamento até sua exe-cução, permite o acompanhamento dasnovas tendências de emprego das forçasnavais, em um cenário político-estratégicodinâmico e complexo.

O Quadrennial Defense Review Report6,de fevereiro de 2006, publicação do Depar-

tamento de Defesa dos EUA que veio aatualizar a Estratégia de Segurança Nacio-nal dos EUA (National Security Strategy),de setembro de 2002, fortemente influenci-ada à época pela chamada Doutrina Bush,encara os desafios enfrentados pelos EUAcomo uma “guerra global” e permanece pre-vendo a necessidade do enfrentamento daschamadas “novas ameaças” ou “ameaçasnão tradicionais”, problemas hodiernosque podem afetar todas as nações, taiscomo: terrorismo, proliferação de armas de

destruição em massa,pirataria, narcotráfico,contrabando, crimestransnacionais, tragé-dias naturais que de-mandem assistênciahumanitária, proble-mas ambientais, dentreoutros. Não há sinaisde que as ameaças vi-gentes sejam reava-liadas pelo atual gover-no dos EUA. Efeito cla-ro disso foi o fato deque na Unitas 50 era

notória a preocupação em abordar tais tó-picos ao longo de toda a fase Scenario, emespecial a consecução constante de ope-rações MIO adicionalmente às clássicasoperações navais de guerra de superfície,antissubmarina e antiaérea.

CONCLUSÃO

Na cerimônia de encerramento da Opera-ção Unitas 50, que contou com a presençade diversas autoridades estrangeiras repre-sentando os 12 países participantes, dentreelas o adido naval do Brasil nos EUA e Ca-nadá e o secretário da Marinha dos EUA,em discurso proferido pelo Almirante de

6 Arquivo em pdf em: http://www.defenselink.mil/qdr/report/Report20060203.pdf.

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OPERAÇÃO UNITAS GOLD – SOLIDARIDAD HEMISFERICA – DEFENSA HEMISFERICA – 50 ANOS

Esquadra James Stavridis (comandante doComando Sul dos EUA – USsouthcomm),foi feita uma menção especial às palavrasproferidas pelo ministro da Defesa do Brasilem visita recente feita àquele Comando, deque nossas relações devem estar semprepautadas em “confiança e transparência”(trust and transparency). Envolvidos poresse espírito, os marinheiros e fuzileiros bra-sileiros, por meio de estado-maiores, meiosnavais ou participação de tropa, desempe-nharam com profissionalismo todas as tare-

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS>; Operação; Operação Unitas;

fas impostas, desde as conferências de pla-nejamento até a execução da operação, queterminou sem óbices significativos quantoa incidentes de pessoal ou material, a des-peito de contar com uma robusta participa-ção de meios: 30 navios, quatro submarinose dezenas de aeronaves. O mesmo espíritode solidariedade e defesa hemisférica en-cerrado no escudo cinquentenário da Ope-ração Unitas, que revela a tônica desse im-portante evento multinacional do calendá-rio naval.

SUMÁRIO

IntroduçãoO pool de serviços

CaracterísticasOperacionalidadeVantagens

Contratos do tipo power by the hourConceito e logísticaVantagens e desvantagens

Caso EmbraerRelevância e considerações finais

GERENCIAMENTO E CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOSDE MANUTENÇÃO DE BENS IMÓVEIS OU DECONSUMO DURADOURO1

JEISOM DE MELO FAJARDO2

Capitão-Tenente (IM)

1 Título original apresentado pelo autor: “Alternativas para o gerenciamento e a contratação de serviçosde manutenção de bens imóveis ou bens de consumo duradouro – A operacionalidade de um pool deserviços e os contratos do tipo power by the hour”.

O artigo foi apresentado no V Congresso Nacional de Excelência em Gestão, ocorrido de 2 a 4 dejulho deste ano na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro.

2 O autor é graduado com MBA em Contabilidade e Auditoria e mestrado em Sistemas de Gestão pelaUniversidade Federal Fluminense (UFF). Atua desde 2004 na área de Licitações e Contratos daMarinha do Brasil.

INTRODUÇÃO

Com o advento da globalização, houveo crescimento dos mercados tecnoló-

gicos voltados para venda de produtos,manutenção de materiais e prestação deserviços. Tal boom de empresas proporci-

ona as mais diversas formas de contra-tação, a fim de suprir uma cadeia logísticade necessidades, principalmente de ven-das e serviços voltados para manutençãoou suprimento de meios.

Conforme dados da Associação Brasi-leira de Manutenção (Abraman), a

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GERENCIAMENTO E CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO DE BENS IMÓVEIS OUDE CONSUMO DURADOURO

tecnologia empregada nos equipamentose na manutenção alterou a forma das em-presas tratarem o assunto, incrementandoa utilização de novas ideias e de softwaresde informática como instrumentos de apoioe controle da manutenção. Desta forma,muitas empresas tendem a ter um especialapuro nas formas de tratarem a manuten-ção de bens e meios, procurando sobrepu-jar dificuldades e tentando obter umaminimização dos custos e do tempo dispo-nível dentro do encadeamento dos servi-ços por intermédio de novas estratégiasde gestão.

Uma das facetas que contribuem para su-prir as necessidades de uma cadeia logística éa formação de um pool de serviços. Essa sis-temática consiste na multicontratação de pro-ponentes técnicos ou na formação de setoresinternos encadeados com profissionais da pró-pria organização, capacitados a oferecer, emcada fase da cadeia logística de manutenção,ou quando da necessidade de reposições e/ou instalação de sobressalentes, as variáveisde serviço necessárias que comporão, a qual-quer tempo, a completa formação operacionale colocarão o meio/item em condições técni-cas de ótimo funcionamento.

Hoje em dia pode-se imaginar ainda,dentre as várias formas de consumo deserviços que um cliente possa desejar, acompra, por exemplo, de um automóvel emuma concessionária. Já se pode pensar emsair da mesma com o veículo e ficartranquilo, sem se preocupar com nenhumaoutra despesa de manutenção ou troca depeças gastas pelo tempo. A única preocu-pação ou despesa seria, neste caso, demantê-lo abastecido de combustível.

Ao sair com o automóvel, você já podecontar que, como pagou o preço que pa-gou, é para usá-lo sempre que estiver fun-cionando, tendo o benefício de não gastarabsolutamente nada quando o veículo ti-ver algum problema mecânico, elétrico ou

similar, por um período de tempo ou quilo-metragem previamente acertado. Toda amanutenção e a comodidade estão inclu-sas no preço pago. Isso já é possível com aimplementação de uma nova modalidadede contratação, que está remodelando osconceitos de venda e prestação de servi-ços. São os chamados contratos do tipopower by the hour.

Levando-se em conta que o pool de ser-viços e a contratação do tipo power by thehour são as duas mais novas estratégias degerenciamento de serviços num mercado emconstante expansão, iremos discorrer sobrecomo são e de que forma poderemos apro-veitar, com efetividade, tais alternativas.

O POOL DE SERVIÇOS

Características

Primordialmente, toda a caracterizaçãoe a especificação técnica dos serviços einsumos a serem utilizados serão oriundasde um projeto específico, acompanhado deum demonstrativo orçamentário que darárespaldo aos futuros custos e contrata-ções. Tal documentação servirá de subsí-dio ao encadeamento do fluxo de serviçose reposições, devendo este ser elaboradoe planejado por funcionários capacitadosa oferecerem todas as condições técnicasde delineamento.

A escolha pela realização de um pool deserviços pode ter uma opção de imple-mentação que algumas organizações de-nominam de on-site, cuja característica éo desenvolvimento de todas as etapas dosserviços em setores ou órgãos internos dacorporação, de forma compartimentada. Taloperacionalização contempla a realizaçãodos serviços por membros do quadro defuncionários da organização ou mesmoterceirizando-se as etapas do processo,tendo-se a preocupação em se disponi-

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bilizar as mesmas funcionalidades, áreas efluxos da gestão interna.

O pool de serviços também pode ter aopção de ser implementado de forma total-mente terceirizada, com a contratação detodos os insumos e pessoal que garantamum encadeamento eficiente da cadeia demanutenção. No entanto, essa forma deoperacionalização tende a desvincular ocontrole e o acompanhamento de todo oprocesso e pode gerar maior gasto compagamento de pessoal e material no esco-po de sua contratação.

Operacionalidade

Todos os custos das etapas do proces-so, sejam elas on-site ou terceirizadas, de-vem ser associados de forma a dar umaideia do custo da concepção do serviço.

A subdivisão dos serviços de manuten-ção de um meio/item para que se adapte àsistemática de pool deve primeiramente serorientada para a organização de métodosconsistentes de acompanhamento. Com umbom acompanhamento das etapas de tal pro-cesso, obtém-se a capacidade de reconheci-mento, dentre outros, dos óbices no anda-mento dos serviços, como, por exemplo, alocalização dos “gargalos” de tempo, nosquais tal limitação contribua para o desviodentro de um cronograma preestabelecido.

Há de se ter também a preocupação eminventariar periodicamente os estoques desobressalentes e materiais de apoio queestão à disposição das gerências do pool,para que não ocorra a falta destes duranteo processo em lide.

Como ideia de acompanhamento, a fim detornar a sistemática mais efetiva, algunsutilizadores inserem ainda, dentro do contex-to do pool, módulos integrados, tais como:

– Administração de Contratos;– Controle de Inventário (constrói e

mantém um inventário dinâmico dos servi-

ços disponíveis e em andamento e dos equi-pamentos de sobressalentes disponíveis);

– Auditoria (verifica o não cumprimentode cláusulas contratuais ou algum compro-metimento dentro de sua contextualização);

– Financeiro (gerencia contas, rateios,pagamentos, aprovações e créditos);

– Obtenção (automatiza processos deaquisição); e

– Pesquisa de Mercado (base de dadoscom informações de mercado que propor-ciona tomada rápida de decisão).

A melhor forma de acompanhamento dopool seria obter um sistema de Tecnologia deInformação (TI), de preferência numa plata-forma web, de forma a possibilitar pronta-mente um acesso de forma on-line, permitin-do, assim, o controle dos módulos por inter-médio de uma base de dados centralizada.

Dentro de cada módulo, deve haver umfuncionário, denominado gerente de módulo,que será o responsável pela inserção e atua-lização dos dados de acompanhamento.

A fim de proporcionar maior eficácia notocante às limitações de tempo e de distân-cia que possam porventura aparecer, ogerenciamento de cada etapa de manuten-ção do meio/item a ser inserido na sistemá-tica de manutenção de pool de serviço po-derá ser feito por um funcionário nomeadogerente de etapa. Tal indivíduo ficaria res-ponsável por assistir o cliente, dentro daetapa do processo pelo qual é responsá-vel, no que diz respeito a todos os aspec-tos de suas operações, incluindo manuten-ção, testes e peças de reposição. É ele quemfaz a interface entre a organização, o clien-te e os representantes das empresasterceirizadas, quando for o caso.

Vantagens

De diversas maneiras pode-se conside-rar a sistemática de pool de serviços van-tajosa, principalmente se levarmos em con-

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sideração a segregação de funções e par-tindo-se do princípio que todos os setoresenvolvidos estejam comprometidos com osserviços em andamento. Podem ser consi-deradas como vantagens da utilização detal sistemática, dentre outras: para os ser-viços que se encontrarem pendentes, exis-te a possibilidade do gerenciamento eacompanhamento completo de valores pen-dentes; há uma distribuição precisa doscustos envolvidos nas diversas etapas doprocesso; da sistemática obtém-se a pos-sibilidade de geração de inventário dinâ-mico dos serviços e sobressalentes envol-vidos; e, ainda, o cliente pode ter menospeças de reposição em estoque, reduzindoseus custos sem, porém, perder o padrãode qualidade na manutenção dos meios.

CONTRATOS DO TIPO POWER BYTHE HOUR

Conceito e logística

Trata-se de uma contratação na qual ofornecedor tem, dentre outras obrigaçõesassumidas, a de fornecer o material/servi-ço e, juntamente com este, apresentar, emperíodos de tempo ou quilometragem pre-determinados (prevenção) ou quando so-licitado pelo contratante (correção), manu-tenções e assistências técnicas. Tal manu-tenção pode incluir, ou não, a troca de pe-ças usadas por peças novas e reparos osmais diversos, desde que, previamente, hajaa inclusão de tais necessidades no escopoda contratação.

A formalização entre as duas partes terácomo cláusula relevante o período de tem-po ou a quilometragem durante a qual ocor-rerá o benefício dentro do objeto descrito.Todas as outras cláusulas obedecerão aospreceitos legais de contratação e disposi-tivos legais preconizados pelo Código deDefesa do Consumidor.

O que não se pode esquecer é que, jun-tamente com a pactuação das previsões deserviços a serem ofertados pela contrata-da, estão inclusos os custos estimados dosserviços e peças, baseados em um históri-co relevante. Ou seja, quanto maior a co-bertura relativa à manutenção do meio aque se destina, quanto maior o período detempo estabelecido, maiores os custos deaquisição e o preço total a ser pago. É omesmo que pagar por tranquilidade.

Com tal inovação, há, entre outros ad-ventos, a garantia da performance de pro-dutos ao longo de sua vida útil. A garantiade tal performance e a mutabilidaderelacional entre contratante e contratado,principalmente nos campos de obtençãovoltados para a aquisição de sistemas dearmas militares, sistemas de informaçãogerencial, aquisições automobilísticas,equipamentos industriais e aeroespaciais,apelidaram tal sistemática de Performanceà Base de Logística (PBL).

Vantagens e desvantagens

Para os contratantes, as vantagens es-tão ligadas à acertada previsibilidade damanutenção de meios, nos quais os cus-tos adicionais serão mínimos, aconteça oque acontecer. Além disso, um contrato detal valia funciona como um “seguro de co-bertura contra danos próprios” devidamen-te aplicado aos custos de manutenção, mo-tivo este que leva alguns estudiosos a cha-marem-no também de contrato-seguro.

Por essas vantagens, e pelo fato da exis-tência de relações contratuais, as mais im-plícitas e padronizadas possíveis, os ser-viços advindos desse tipo de contrataçãosão, pelos contratantes, conhecidos comoverdadeiros serviços de apoio à cadeia deabastecimento – o que também remete aotítulo PBL. No que preceitua o tema expos-to, retirando-se as análises de valor aplica-

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das ao caso, não existem desvantagenspara o proponente.

No entanto, existe uma grande desvan-tagem para o contratado, que está ligada àprobabilidade de ocorrência de anomaliasinopinadas, colocando-o numa situação deperda, diante do que havia sido acordadopreviamente, cujos custos estavam basea-dos em intervenções programadas. Por isso,para levar adiante compromissos como es-ses, o ideal é a contratação direta de fabri-cantes e de, no máximo, prepostos do mes-mo, que tenham condições hábeis, técnica ejuridicamente, de arcar com os imprevistos.

Em contrapartida, inúmeras são as van-tagens, dentre elas a possibilidade de es-tabilização de uma contratação e de enco-mendas em média e larga escala, um escoa-mento contínuo de peças novas e a garan-tia do mercado de manutenção para si esuas proponentes.

CASO EMBRAER

Em termos atuais, a Empresa Brasileira deAeronáutica (Embraer)* se utiliza, em sua li-nha de construção, manutenção e ressupri-mento de peças de aeronaves, de um imensopool de serviços do tipo on-site, aliado a umpool de empresas subcontratadas cujo obje-to é a reposição de peças originais. Quandoda necessidade de manutenção dos mais di-versos escalões, a Embraer promove a facili-dade efetiva de ter, em território nacional, ca-pacidade de atender a seus clientes de formacélere e condicionada.

Todos os requisitos que tal empresa ofe-rece tendem a minimizar o problema da na-cionalização de peças e serviços de manu-tenção de equipamentos e materiais aero-náuticos, pois a mesma costuma, dentrodo escopo do pool que oferece, manter

estoques de sobressalentes a baixo custoe atender à demanda de serviços com pro-fissionais técnicos capacitados.

Além disso, por ser um imenso parqueindustrial e logístico, a Embraer tem realiza-do constantemente contrato do tipo powerby the hour com empresas compradorasde seus produtos e aeronaves, o que ga-rante um especial apoio ao cliente, permi-tindo que se possa manter um perfeito con-trole dos estoques de peças de reposição,reduzindo o custo do investimento inicialem infraestrutura para manter seus aviões.

O contrato define o pagamento de umaquantia calculada pelo número de horasvoadas pelas aeronaves, garantindo o for-necimento das peças sempre que sejamnecessárias. Juntamente com esta contra-tação, a Embraer disponibiliza outro tipode contrato, por meio do qual seu clientegerencia as ferramentas e o material deapoio para a manutenção da frota e cujoobjeto contempla, para tal gerenciamento,a assessoria técnica completa da empresa.

RELEVÂNCIA E CONSIDERAÇÕESFINAIS

Para alguns pesquisadores, todas as es-tratégias que venham a efetivar um melhornível de gerenciamento tendem a fazer su-cesso. Como na prática os mercados consu-midores querem pagar mais para ser maisbem atendidos, mais precisamente nobinômio qualidade x tempo, tais estratégiasestão se tornando duas das componentesmais importantes do novo modelo de ges-tão. Aliados à melhoria da manutenção debens, os serviços pós-venda das cadeiasde manutenção e abastecimento possuemvantagens e implicações que ultrapassampotencialmente os setores mais comuns da

* N.R.: O autor não encontrou na Marinha exemplo que se assemelhasse ao contrato que é praticado pelaEmbraer.

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indústria, como o setor de automobilística,indo com toda a certeza de encontro a seto-res mais lucrativos e potencialmente impor-tantes, como o de defesa e o aeroespacial.

É de conhecimento geral que, no exteri-or, as alternativas propostas são utilizadasmaciçamente, como ferramentas de apoio àadministração de indústrias e mercados dedefesa naval e aeroespacial, mais precisa-mente em países que desenvolveram taistecnologias em níveis de venda e assistên-cia internacional, como os Estados Unidos,a Grã-Bretanha e a Rússia.

Há de se conotar importância maior aoassunto, ainda mais em um momento emque a dependência de mercados estran-geiros pode vir de encontro aos interes-ses nacionais. A discussão que surgiu, emnível político-estratégico, sobre maneirasde se nacionalizar a produção e acomercialização de materiais de defesa noBrasil, fruto das descobertas recentes depetróleo no pré-sal, tende a fazer crescer ebrotar, em âmbito brasileiro, novas e me-lhores ideias de gerenciamento de proces-sos operacionais.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<APOIO>; Manutenção; Gerenciamento; Contrato; Embraer;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Sistemas, Organização e Métodos. São Paulo, 2005.Pool de Serviços: Disponível em www.embraer.com.br/institucional/download/1_009-ComVPD-

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SANTOS, Ernani Marques dos. Aprisionamento Tecnológico: Novos Desafios da Gestão das Estra-tégias Organizacionais na Era da Informação. In: Caderno de Pesquisas em Administração,São Paulo, 2001. Disponível em: http: // www.geocities.com / daneillecfilgueiras / TI /Aprisionamento_Tecnológico.pdf. Acesso em: 24 jun. 2008.

VIANA, Herbert Ricardo Garcia. Planejamento e Controle da Manutenção – PCM. Rio de Janeiro,2002.

WIKIPÉDIA – A enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipedia.org. Acesso em: 24 jun.2008.

ARTIGOS AVULSOS

Esta seção divulga os artigos que não puderam ser publicados– na íntegra – na RMB e que passarão a fazer parte do acervo daBiblioteca da Marinha.

Aqui é apresentado o título, o autor, posto ou título, número depáginas do trabalho completo, classificação para índice remissivoe o resumo do artigo.

FORTE DE COIMBRADois séculos de história, de fé e de glórias

CLÁUDIO MOREIRA BENTOCoronel

Número de páginas: 14Identificação: AV 030/09 – # 1.677 – RMB 3o/09CIR: FORÇAS ARMADAS; Forte; Exército; História do Brasil; História Militar;

O autor aborda a rica história do Forte de Coimbra, pontilhada de episódios e tradi-ções originais, desde a sua primeira estacada, em 1775, na margem direita do Rio Paraguai.

O Forte assegurou a posse portuguesa do médio Paraguai e contribuiu para definircomo brasileiro o sul-matogrossense, o território de Roraima e a terra sobre os vales dosrios Paraguai e Guaporé.

Houve erro na localização inicial do Forte, apesar do justificado acerto na estratégiado fundador – o Capitão Mathias Ribeiro da Costa.

O autor aborda, ainda, Coimbra e os índios guaicurus – o massacre da guarnição; apacificação e posterior aliança com contribuição militar dos índios; a fundação do Forteatual em novembro de 1797 e seu batismo de fogo em 1801; o ataque da esquadra paraguaiaao Forte, em dezembro de 1864, iniciando a Guerra da Tríplice Aliança – atuação de 70mulheres na resistência ao inimigo; a retirada de Coimbra para Corumbá e Cuiabá, apósheroica resistência. O Forte foi retomado em abril de 1868, sob liderança de Caxias.

A Marinha verificou, em face das operações realizadas, a necessidade de criação daFlotilha de Mato Grosso.

CARTAS DOS LEITORES

Esta seção destina-se a incentivar debates, abrindo espaço ao leitor paracomentários, adendos esclarecedores e observações sobre artigos publicados. Ascartas deverão ser enviadas à Revista Marítima Brasileira, que, a seu critério,poderá publicá-las parcial ou integralmente. Contamos com sua colaboraçãopara realizarmos nosso objetivo, que é o de dinamizar a RMB, tornando-a umeficiente veículo para idéias, pensamentos e novas soluções, sempre em benefí-cio da Marinha, mais forte e atuante. Sua participação é importante.

A DIREÇÃO

Recebemos correspondência do Almi-rante de Esquadra Mário Jorge da FonsecaHermes a respeito do encerramento da pu-blicação da série “O Japão, Pearl Harbor ea saga do Almirante Kimmel”, publicadapela Revista Marítima Brasileira. A seguir,um trecho da carta:

“ (...)Espero que os leitores mais pacientes

tenham encontrado assuntos que não lheseram peculiares e que outros, sob a óticaprofissional, tenham conseguido extrair al-gum ensinamento que lhes permitisseacrescentar algo aos seus conhecimentos,

principalmente quando tiverem oportuni-dade de exercer cargos mais altos na admi-nistração de seus afazeres, momento emque nem tudo com o que sonhamos, nem oque pensamos ou acreditamos, consegui-mos tornar realidade.

Por fim, que a saga do Almirante Kimmeltenha registrado as incertezas e as dificulda-des da guerra, que, por motivos vários, nosmantêm como Nação, tão distante dos seushorrores, e que, por sermos dela profissio-nais, tenhamos por obrigação, a despeito detudo e de muitos, pensar diuturnamente napossibilidade de sua ocorrência.

(...)”

O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

As histórias aqui contadas reproduzem, com respeitoso humor, oque se conta nas conversas alegres das praças-d’armas e dos conveses.Guardadas certas liberdades, todas elas, na sua essência, são verídicase por isso caracterizam várias fases da vida na Marinha.

São válidas, também, histórias vividas em outras Marinhas.Contamos com sua colaboração. Se desejar, apenas apresente o caso

por carta, ou por e-mail ([email protected]).

Em uma certa Organização Militar (OM), oimediato não andava muito satisfeito com oserviço dos oficiais. Julgava que a voga es-tava muito “solecada” e que por isso a Divi-são de Serviço andava muito “arvorada”.

Chamou então o capitão-tenente maisantigo:

– Oficial, não estou gostando da quali-dade do serviço aqui na OM.

– Mas o que está pegando especifica-mente, imediato?

– Os oficiais não estão fazendo as ins-peções com o devido critério, o pessoal deserviço está mal uniformizado, os toquesde rotina não estão sendo divulgados noshorários previstos...

– Pode deixar comigo, imediato. Isso nãoacontecerá mais.

QUARTO D’ALVA

O chefe da Divisão de Serviço convo-cou então todos os oficiais e determinouum “aperto geral” na voga.

Uma semana depois, a melhora era visí-vel. Os horários estavam sendo cumpridoscom pontualidade britânica, os uniformesdo pessoal estavam dignos de elogios e asinspeções rotineiras dos oficiais detecta-vam as discrepâncias, que eram prontamen-te corrigidas.

Mas “o carvão somente vira diamantesob pressão”. Como algum tempo se pas-sou sem reclamações do imediato, o pa-drão do serviço caiu novamente.

O imediato chamou então novamente o“velho capitão”:

– Tenente, o serviço está pegando denovo. Amanhã vou fazer uma inspeção ri-

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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

gorosa logo após a faxina do quarto d’alva.Se pegar, a culpa será sua.

Eis que, no dia da inspeção, quem esta-ria de serviço seria um segundo-tenenterecém-embarcado. O chefe da Divisão deServiço, preocupado, chamou o “quati-rabudo” na véspera e ordenou:

– Boy, amanhã o imediato vai fazeruma inspeção rigorosa da faxina do quar-to d’alva. Atenção, não pode pegarnada!

O segundo-tenente ainda não estavamuito familiarizado com o jargão naval, mas,diante do exaltado chefe, não quis demons-trar sua falta de conhecimento:

– Sim, senhor tenente, o “quarto” d’alvaestará impecável para a inspeção.

Querendo mostrar serviço, o jovem ofi-cial mal dormiu naquela noite. Passou ho-ras varrendo, encerando e arrumando ocamarote (quarto) do oficial de serviço.

No dia seguinte, estava no portaló bemcedo, aguardando o imediato:

– Bom dia, imediato!– Bom dia. Já está pronta a faxina do

quarto d’alva?– Sim senhor, eu fiz pessoalmente!Achando aquela resposta muito estranha,

o imediato começou a inspeção. Obviamen-te, como a Divisão de Serviço não sabia da-quela inspeção, muitas discrepâncias foramobservadas. O único compartimento aprova-do pelo imediato foi exatamente o camarotedo oficial de serviço, também conhecido pelosegundo-tenente como “quarto” d’alva.

O capitão-tenente teve então bastantetempo para ensinar o jargão naval para seujovem subordinado no bailéu...

Colaboração de:Igor de Assis Sanderson de Queiroz

Capitão-Tenente (IM)

Na década de 70, precisamente em 1977,num dia de sábado, estava eu, primeiro-te-nente, de serviço na Base Naval de Natal.

A Corveta Forte de Coimbra estavadocada, na época do PNR*, com as ofici-nas trabalhando a todo vapor, e dessas eraeu também encarregado. Mesmo da sala deestado eu coordenava alguns reparos,quando solicitado.

Tudo corria perfeitamente bem, sem ne-nhuma anormalidade.

Os contramestres da divisão de serviçoeram um suboficial, um primeiro-sargentoe um segundo-sargento.

O serviço foi iniciado com a tradicionaldistribuição de faxinas, coordenada pelocontramestre do quarto de 8 às 12 horas, osuboficial, competente eletricista.

PROCURA-SE UM CONTRAMESTRE

No ínicio do segundo tempo, o referidosuboficial dirigiu-se a mim, solicitando bai-xar terra para visitar uma tia que estavadoente, afirmando que regressaria para oCerimonial da Bandeira. Esta solicitaçãoembaralhou minha decisão, sabendo euque era ele um excelente “EL”, porém tam-bém um fiel alcoólatra.

Talvez guiado pela sua eficiência na pro-fissão e após um longo diálogo, resolvi aten-der à solicitação, entretanto fui traído pelovício do suboficial, que não regressou.

Aproximadamente às 20 horas, ordeneique o sargento mais antigo da Divisão fossecom o ronda, marinheiro recém-incorporado,na viatura à procura do suboficial nos forrósda cidade, que, segundo informações, eramos locais que ele costumava frequentar.

* PNR – Período Normal de Reparos, hoje conhecido como PMG – Período de Manutenção Geral.

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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

Natal, naquele tempo, era ainda peque-na. Após procurá-lo em diversos forrós enão obtendo êxito, o sargento resolveu darvolta às buscas e regressar para bordo,entretanto, já próximo a Base, o ronda dis-se ao sargento que ainda faltava um forró,o Forró de Gerson. O sargento achou es-tranho, mas resolveu checar, e qual não foi

a sua surpresa ao ver que no local não ha-via nenhuma festividade. Na frente do pré-dio, ao alto, porém, havia uma placa ondeestava escrito “Forro de Gesso”.

Colaboração de:João Márcio Barreto de Souza

Capitão de Corveta (RM1-EN)

DOAÇÕES À DPHDM – 3o TRIMESTRE DE 2009DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA

DOADORES

Biblioteca NacionalBiblioteca “Aluísio de Almeida”Clube NavalDiretoria de Portos e Costas

USNI (U.S. Naval Institute) Proceedings the Independent Forum onInstituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ibp)Universidad Francisco de VitoriaSra. Fernanda Letícia da Silva

PERIÓDICOS RECEBIDOS

FILIPINASInternational Portfólio – jun.2009

PORTUGALRevista da Armada – v. 38 no 431 jun./2009; v. 39 no 432 jul./2009

BRASILCadernos de História da Ciência Instituto Butantan – v. 3 no 2 jul./dez. 2007;

v. 4 jan./jun. 2008Caderno de História Memorial do Rio Grande do Sul – no 34Círculo Militar de São Paulo (CMSP) – v. 29 no 350 jul./2009CNT Transporte Atual – v. 14 no 164 abr./2009; v. 15 no 167 jul./2009;FLAP Internacional – v. 46 no 442 jul./2009New’s – v. 6 no 32 jul./2009NOMAR – no 803 mar./2009; no 804 abr./2009Pesquisa Fapesp – no 161 jul./2009; no 162 ago./2009Portos e Navios – v. 51 no 582 jul./2009; v. 51 no 583 ago./2009Quaestio revista de estudos de educação – v. 10 no 1/2 mai./nov. 2009Revista de História da Biblioteca Nacional – v. 4 no 46 jul./2009; v. 4 no 47 ago./2009Revista do Clube Naval – v. 117 no 350 abr./mai./jun. 2009

NECROLÓGIO

† AE José Maria do Amaral Oliveira† VA Roberto Mário Monnerat† VA Márcio de Faria Neves Pereira Lyra† CA Milton Ribeiro de Carvalho† CMG Carlos Augusto Andrade Marcondes† CF Renan Polônio Tavares† CC Walmir Pereira Tavares† 1o TEN Carlos Farias de Menezes† 1o TEN Flávio da Silva Formigosa

Nasceu no Pará, filho de Manoel Olivei-ra e de Beatriz do Amaral Oliveira. Promo-ções: a segundo-tenente em 16/01/1947, aprimeiro-tenente em 05/02/1949, a capitão-tenente em 22/03/1952, a capitão de corvetaem 28/02/1956, a capitão de fragata em 21/09/1962, a capitão de mar e guerra em 28/12/1968. Alcançou o almirantado em 31/07/1974, sendo promovido a vice-almirante em31/03/1978 e a almirante de esquadra em31/03/1984. Transferido para a reserva em31/07/1986.

Em sua carreira comandou cinco vezes:1o Esquadrão de Helicópteros de EmpregoGeral; Centro de Adestramento AlmiranteMarques de Leão; Força Aeronaval; Co-mando de Operações Navais; e Estado-Maior das Forças Armadas.

Exerceu cinco direções: Centro de Ins-trução Almirante Graça Aranha; Diretoriade Aeronáutica; Diretoria de Obras Civis;

JOSÉ MARIA DO AMARAL OLIVEIRA 07/12/1925 † 18/05/2009

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NECROLÓGIO

Diretoria-Geral do Material; e Diretoria-Ge-ral de Navegação.

Comissões: Navio-Escola AlmiranteSaldanha; Encouraçado Minas Gerais;Contratorpedeiro de Escolta Bauru; Escolade Aperfeiçoamento da Aeronáutica; Gabi-nete Militar da Presidência da República;Comissão Naval Brasileira em Washington;Centro de Instrução e AdestramentoAeronaval (Imediato); Comissão Fiscal deConstrução de Navios na Europa; Navio-Aeródromo Ligeiro Minas Gerais; Escola deGuerra Naval; Comando do 4o Distrito Naval(chefe do Estado-Maior); Estado-Maior daArmada; Gabinete do Ministro da Marinha;Comissão de Fiscalização e Recebimento deFragatas na Inglaterra (presidente); e Conse-lho Militar da Missão do Brasil junto à Orga-nização das Nações Unidas (conselheiro).

Em reconhecimento aos seus serviços,recebeu inúmeras referências elogiosas e foicondecorado com as seguintes medalhas:Ordem do Mérito Naval – Grau Grã-Cruz; Or-dem do Mérito da Defesa – Grau Grã-Cruz;Ordem do Mérito Militar – Grau Comendador;Ordem do Mérito Aeronáutico – Grau

Comendador; Ordem de Rio Branco – GrauGrande-Oficial; Medalha Militar de Ouro compassador de platina; Medalha do Mérito deServiços de Guerra – sem estrelas; MedalhaMérito Tamandaré; Medalha Mérito Mari-nheiro – 1 âncora; Medalha Mérito SantosDumont; Cruz Peruana do Mérito Naval (Re-pública do Peru); Medalha da Ordem doMérito Marítimo (República da França); Me-dalha Mérito Militar de 2a Classe (Repúblicade Portugal); Medalha da Armada Nacional(República do Paraguai); Medalha do MéritoMauá (Ministério dos Transportes); Meda-lha Comemorativa do Centenário de Nasci-mento do Marechal Gregório Taumaturgo deAzevedo (Ministério da Justiça); Medalhado I Congresso Nacional de Hospitais; Me-dalha Comemorativa do IV Centenário daChegada do Padre Anchieta ao Brasil (Go-verno do Estado de São Paulo); MedalhaComemorativa do Centenário de Rui Barbo-sa; Medalha Marechal Caetano de Faria; eMedalha Marechal Souza Aguiar.

À família do Almirante José Maria doAmaral Oliveira, emérito colaborador, opesar da Revista Marítima Brasileira.

MEU ÚLTIMO ALMOÇO COM O ÁGUIA CINZENTA

Ao me despedir do Almirante Amaral,depois de um prazeroso almoço em seuapartamento em São Paulo e de uma tarderegada pelo bom papo e por recordaçõesinesquecíveis vivenciadas na Aviação Na-val, não poderia imaginar que este serianosso último encontro e que três semanasdepois o Águia Cinzenta viria a falecer.

Desde que soube que havia sofrido umadelicada cirurgia, passei a acompanhar suaconvalescença por e-mail e telefone pormeio de Sonia, sua esposa. Nas últimas se-manas, ele já falando, embora baixo e comdificuldade, passamos a planejar minha idaa São Paulo para vê-lo. A visita foi final-mente acertada, com a condição que fosse

para almoçar em sua casa, com a promessaque o prato principal seria a Aviação Na-val, seu status e seus rumos, e como so-bremesa suas preocupações em relação aofuturo da Asa Fixa e como manter as quali-ficações de nossos pilotos.

Era o Águia Cinzenta em seu ninho, emplena convalescença de uma delicada in-tervenção e iniciando a difícil fase daquimioterapia, porém com a mente ativa e,como de hábito, preocupado e vivendo seutema preferido: a sua amada Aviação Na-val. O almoço contaria também com a pre-sença de dois queridos companheiros daAviação Naval: o seu filho, Capitão de Mare Guerra (RM1) Aviador Naval Eduardo

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Hartz; e o Almirante Fernando, aviador na-val mais antigo na ativa e diretor de Aero-náutica da Marinha.

Não poderia ser melhor; além da opor-tunidade de rever o Águia Cinzenta e meusempre lembrado amigo e chefe, teria aindaa companhia de dois estimados aviadoresnavais: o Fernando, que conheço desde1979 como tenente “Guerreiro” do HS-1, eo Eduardo, que foi meu tenente quando,em 1980, comandei o HU-1 e que conheçodesde guri, quando brincava de ser pilotono recém-criado HU-1, comandado pelo en-tão Capitão de Fragata Amaral.

Pelo telefone, com muita dificuldade aofalar, o Almirante disse-me que gostaria deaproveitar nossa visita para ouvir comentá-rios sobre a minuta de carta que havia escri-to, durante sua convalescença, para o co-mandante da Marinha. Para tal estava nosenviando uma cópia por e-mail para anteci-par nossa leitura e possíveis comentários.

Em sua carta, recebida dias depois, o Almi-rante externava suas preocupações sobre osrumos da Aviação Naval de asa fixa vis-a-viscom a volta ao mar do São Paulo e a manuten-ção da qualificação de nossos pilotos forma-dos nos Estados Unidos. Parte da carta esta-va baseada na sua aula inaugural do Curso deAperfeiçoamento de Aviação para Oficiais(CAAVO), ministrada no Centro de Instruçãoe Adestramento Aeronaval (CIAAN), em ja-neiro deste ano. Como alternativa, sugeria emsua carta o aproveitamento do atual contratocom a Embraer para ser acrescentado no seuobjeto um estudo de viabilidade e custo para anavalização de pelo menos seis “supertuca-nos”. Esses “tucanos navalizados”, comlogística assegurada e estabelecida no País,seriam utilizados a custo muito inferior aosnossos A-4, para treinamento e manutençãodas qualificações básicas de voo de nossospilotos e ainda, se viável, com instalação detrem de pouso especial e gancho para treina-mento de pouso a bordo.

Assim, três semanas atrás peguei a ponteaérea das 9 horas para almoçar com o Almi-rante. Fui sozinho, uma vez que o Eduardo jáestava em São Paulo com o pai e o Fernandoteve um compromisso de serviço inopinadoque o obrigou, penalizado, a transferir a suavisita para outra oportunidade.

Durante o voo de 45 minutos e no percur-so de táxi do aeroporto para seu apartamentonos Jardins, fui dominado por uma ansieda-de crescente, preocupado com o estado desaúde do Almirante e o seu prognóstico.Assim, com espírito preparado e com emo-ção controlada, abracei o Águia Cinzenta, queme recebeu à porta com seu tradicional sorri-so fácil, simpatia e jeito charmoso de sempre.

Confesso que, não fora sua voz sussur-rante e estar um pouco mais magro (antes dacirurgia estava acima do peso), continuava aser o mesmo elegante e bem-disposto Almi-rante Amaral que conhecia. O papo, as boasgargalhadas sobre fatos vivenciados, as re-cordações de briefings e missões voadas, ogostoso almoço, permeado pelo reencontrodas três gerações de aviadores navais liga-dos por laços de amizade e vida operacional,fizeram o tempo passar rápido. Quando medei conta, estava na hora de pegar a pontedas 5 horas. Com um abraço apertado, nosdespedimos emocionados pelo dia tão agra-dável e positivo. Infelizmente não sabia sernosso último almoço juntos. Duas semanasdepois recebi do Almirante César de Andradea triste notícia do seu falecimento.

Enquanto aguardava pela chamada deembarque e, posteriormente, durante o voode regresso para o Rio, pensei com admira-ção na coragem, praticismo e determina-ção do Almirante Amaral no enfrentamentoe trato com a doença solerte. Otimista, es-tava tratando a tão temida quimioterapiacomo mais uma missão a ser voada e con-quistada. Estava satisfeito por não ter per-dido o cabelo, uma das consequências dotratamento. Enfim, passando por tudo isso,

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ainda tinha tempo para pensar e se preocu-par com nossa Aviação Naval.

Pensando bem, não poderia esperar umaconduta diferente após mais de 40 anos deintensa convivência, servindo como seutenente, oficial de Operações, chefe de de-partamento, delegado e chefe de Comis-são de Recebimento de Aeronaves e, so-bretudo, como seu amigo pessoal.

Conheci o Almirante Amaral em 1962,quando, como primeiro-tenente recém-pro-movido, desembarquei do Soares Dutra re-cém-chegado de Suez, para servir no Primei-ro Esquadrão de Helicópteros de EmpregoGeral (HU-1). O Esquadrão, recém-criado nasantigas instalações do CIAAN, na AvenidaBrasil, era comandado pelo então Capitãode Corveta Amaral e seu famoso cachimbo.Ao ser apresentado, não poderia imaginarque 18 anos depois eu estaria assumindoaquele mesmo Comando e começando umahistória e a consolidação de uma sólida ami-zade de mais de 40 anos.

Pouca gente sabe que a ativação do HU-1, primeira unidade aérea da Marinha, foiprovocada por dois acidentes inusitados,ocorridos em um mesmo dia em um intervalode três horas, que danificaram seriamente doisdos três helicópteros S-55 seminovos (cha-mados de “vacas” pela sua forma), que cons-tituíam o destacamento embarcado do Mi-nas. Os referidos acidentes, o primeiro ocor-rido em treinamento na pista de Poconé e osegundo ao decolar do Minas, provocaramgrande impacto na Administração Naval porterem reduzido em um mesmo dia dois terçosda aviação embarcada da Marinha.

Naquele momento de perplexidade, mani-festaram-se a criatividade, a praticidade, o co-nhecimento profissional, o bom senso e a ou-sadia do então Capitão de Corveta Amaral,características que passaram a fazer parte cons-tante de sua brilhante carreira. Logo depoisdo duplo acidente, como oficial de Aviação daEsquadra, convenceu o Comando em Chefe

da Esquadra (Comemch), que, como os repa-ros teriam que ser feitos em terra, em instala-ções de aviação, a solução de melhor custo/benefício seria a ativação de um Esquadrão deEmprego Geral (HU-1) para ser responsávelpelo reparo, recuperação e posterior manu-tenção das aeronaves acidentadas. Como ar-gumento decisivo ressaltou que a ativação doEsquadrão seria feita sem grandes despesas,pois ocuparia as antigas instalações doCIAAN da Avenida Brasil e teria a tripulaçãodo Destacamento Aéreo do Minas, cursadana fábrica em S-55, para realizar os trabalhosde recuperação das aeronaves. Com relaçãoaos meios aéreos, o Esquadrão seria ativadocom cinco aeronaves, sendo três S-55 (duas aserem reparadas) e mais os dois helicópterosS-51 Widgeon que estavam em São Pedro, to-das aeronaves fabricadas pela Westland parafins de padronização e apoio logístico por meioda sua representante Mesbla.

Assim, convencidas as autoridades, osdois helicópteros acidentados foram trans-portados de caminhão para o hangar do re-cém-criado Esquadrão, na Avenida Brasil,tendo o único S-55 em condições de voodecolado do Minas diretamente para o HU-1. Posteriormente, o Comandante Amaralconseguiu junto à Esquadra que os dois S-51 Widgeon de São Pedro fossem incorpo-rados à dotação do Esquadrão juntamentecom os seus pilotos. Estava criada a primei-ra unidade aérea da Marinha! “Um episódiode coragem, ousadia e determinação”.

Embora estivesse servindo com o Coman-dante Amaral havia pouco tempo, já tinha mehabituado ao seu estilo de comando, objeti-vo e descomplicado, pouco ortodoxo, e coma sua coragem de ousar. Dessa forma, nãofiquei surpreso quando, em uma certa ma-nhã, após a parada, ele me perguntou se jáhavia construído uma pista de pouso paraaviões. Como esperado, respondi que nuncahavia tido tal experiência. Com seu charmosocachimbo e simpática forma de liderar, disse-

me: “Venha comigo, tenente”. E andando emdireção ao fundo do terreno do Esquadrãoapresentou-me a uma área cheia de mato, areiae entulho, dizendo: “Lynch, aqui vais cons-truir em 60 dias uma pista com 600 metrospara a decolagem de cinco aviões Pilatus com-prados pela Marinha que serão descarrega-dos amanhã à noite em caixotes. Boa sorte,tenente. Vamos ao trabalho!”

Os aviões desmontados em caixotes fo-ram desembarcados do Navio-TransporteBarroso Perreira fundeado na Baía deGuanabara, e transportados em lanchas dedesembarque para um cais localizado nosfundos do terreno do Esquadrão. Sob pro-teção de tropas do Corpo de Fuzileiros Na-vais (CFN), os caixotes foram transporta-dos e armazenados no hangar e montadosno seu interior.

A construção da pista, com o auxílio dasmáquinas do Batalhão de Pioneiros doCFN, começou em uma semana e três me-ses depois estava pronta.

A pista foi construída paralela à pista prin-cipal do Galeão, e a cerca de 2.000 metros damesma. De um lado a cabeceira de decolagemera limitada pela Liga de Esportes do Arsenal

de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), e aoutra cabeceira pelos três andares da Escolade Marinha Mercante. A operação de decola-gem seria feita ao nascer do sol, para evitar adetecção pela Força Aérea Brasileira (FAB),

Pista em construção. No final da pista, o prédio daEscola da Marinha Mercante e à esquerda, o

Hospital do Fundão

Inspecionando a construção da pista: Capitão deFragata Amaral, Primeiro-Tenente Lynch e Capitão

de Corveta Hercel. A Avenida Brasil ao fundo,junto à torre

Pista de acesso em construção. Ao fundo, o hangardo ESQ HU-1 e a torre de controle. À direita, a

Igreja da Penha

com vento vindo da barra, decolando em dire-ção aos prédios da Escola de Marinha Mer-cante (EMM) e esperando passar com trem depouso recolhido antes de atingir o terceiro an-dar da Escola. Seria uma decolagem sem rádioe sem volta. Assim, em plena madrugada, de-pois de três meses de muita chuva e barro, oscinco Pilatus decolaram com destino a SãoPedro. Coincidentemente, no momento da de-

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Esquadrão HU-1 com seus seis helicópteros pousadosem sua base, no km 11 da Avenida Brasil. Notar a pistaimprovisada, construída para a decolagem dos aviões

Pilatus e a proximidade da pista do Galeão

colagem do primeiro Pilatus pilotado pelo Ca-pitão de Corveta Ariera, um C 47 da FAB tam-bém decolava da pista do Galeão paralela ànossa pista do HU-1. Pode-se imaginar o sus-to do piloto da Força Aérea ao se deparar comum avião da Marinha decolando ao seu lado eem ala.

Sobre aquela histórica madrugada, valeressaltar o importante e decisivo papel de-sempenhado pelo Comandante Amaral e seuHU-1 no planejamento, apoio logístico, rece-bimento e montagem dos aviões Pilatus nasinstalações do HU-1 e, ainda, a construçãoem tempo recorde de uma pista improvisadaque permitiu a decolagem desses aviões paraSão Pedro d’Aldeia, dando um importante edecisivo passo para que a nossa Marinha

pudesse iniciar o processo de consolidaçãode sua aviação naval de asa fixa.

E assim foi em toda sua carreira, reali-zando, definindo, consolidando, ousando,deixando em todas as suas comissões umextenso e importante legado de realizaçõespara a Aviação Naval e para a Marinha.

Adeus, Águia Cinzenta, bons ventos emsua nova dimensão. Estou certo de quedeve estar na porta do céu convencendoSão Pedro a entrar para a Aviação Naval.

PEDRO AUGUSTO DE BITTENCOURTLYNCH

Capitão de Mar e Guerra (Refo)

Um helicóptero S-55 “vaca” do HU-1, o “FazTudo”, pilotado pelo então Capitão deFragata Amaral, deixa o Vice-Almirante

Zilmar Campos de Araripe Macedo a bordodo Submarino Rio Grande do Sul para

presidir, no mar, a passagem de comando doCapitão de Fragata Nelson Rieti para o

Capitão de Fragata Alfredo Karam.

HU-1 pousado emIlhabela

Sala de briefing dos pilotos no Minas Gerais.Foto publicada na Revista Manchete, 1962.

Da esq/dir: Capitão de Corveta Anísio,Capitão de Fragata Amaral, Capitão de

Corveta Carlos Augusto, Capitão-TenenteLynch e Capitão de Fragata (FN) Louzada

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ROBERTO MÁRIO MONNERAT 11/01/1919 † 01/05/2009

Nasceu no Rio de Janeiro, filho dePaulino Lemgruber Monnerat e de AlinaCosta Monnerat. Promoções: a segundo-tenente em 31/01/1941, a primeiro-tenenteem 06/11/1942, a capitão-tenente em 29/12/1944, a capitão de corveta em 22/03/1952, acapitão de fragata em 22/09/1955, a capitãode mar e guerra em 03/09/1962. Alcançou oalmirantado em 09/12/1969, sendo promo-vido a vice-almirante em 31/07/1973. Trans-ferido para a reserva em 24/12/1976.

Em sua carreira comandou nove vezes,sendo dois navios: Caça-Submarinos

Guajará; Centro de Instrução e Adestramen-to Aeronaval; Base Aeronaval de São Pedrod’Aldeia; Estação de Helicópteros Embarca-dos; Navio-Transporte Soares Dutra; ForçaAeronaval; Força de Transportes; 6o DistritoNaval; e Comando em Chefe da Esquadra.

Comissões: Navio-Escola AlmiranteSaldanha; Navio-Hidrográfico Rio Bran-co; Cruzador Rio Grande do Sul; Navio-Mineiro Itapemirim; Escola Naval;Contratorpedeiro Babitonga (imediato);Diretoria de Portos e Costas; Comando daForça de Alto-Mar; Escola de Guerra Na-val; Diretoria de Aeronáutica da Marinha(vice-diretor interino); Comissão Naval Bra-sileira em Washington; Navio-AeródromoLigeiro Minas Gerais (imediato); e EscolaSuperior de Guerra.

Em reconhecimento aos seus serviços,recebeu inúmeras referências elogiosas e foicondecorado com as seguintes medalhas:Medalha Naval do Mérito de Guerra – Servi-ços Relevantes; Medalha de Serviços deGuerra com 3 estrelas; Medalha da ForçaNaval do Nordeste; Ordem do Mérito Naval– Grau Grande-Oficial; Ordem do Mérito Mi-litar – Grau Comendador; Ordem do MéritoAeronáutico – Grau Comendador; Ordem deRio Branco – Grau Grande-Oficial; MedalhaMilitar de Ouro com passador de platina;Medalha Mérito Tamandaré; Medalha Méri-to Marinheiro – 4 âncoras; Medalha do Paci-ficador; e Medalha Mérito Santos Dumont.

À família do Almirante Roberto MárioMonnerat, o pesar da Revista Marítima.

SAUDADES DE UM CHEFE

Conheci Monnerat na Escola Navalquando eu era aspirante veterano e ele co-mandante de companhia.

Era 1948, um ano tumultuado discipli-narmente falando, no meu ponto de vista,devido à deslealdade e ao menosprezo comque alguns poucos oficiais tratavam os

aspirantes. Nunca incluí Monnerat naque-le grupo.

Naquele tempo de Escola Naval, viviuma inesquecível passagem com Monnerata bordo do Navio-Escola Guanabara, du-rante uma viagem de instrução de aspiran-tes no princípio do ano de 1948.

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Para minha tristeza, sempre enjoei (bem,quase sempre), embora nunca tenha falta-do às minhas obrigações de serviço.

Mas naquele dia eu estava muito ruim,provavelmente porque aliei ao naturalenjoo alguma indisposição.

Lá pelas tantas, o “tenente-tesa”Monnerat, com a sua voz sempre altamen-te “animada”, ordenou que todos os aspi-rantes se encaminhassem para as enxárciase subissem os mastros.

Seu comando me acordou (estava “joga-do” em um banco de madeira do convés) e,cambaleante, comecei a me dirigir àsenxárcias para cumprir a ordem de Monnerat.Ai daquele que não as cumprisse!

Então, para suspresa minha, Monnerat,aquele oficial superexigente, demonstrouque tinha também a sua faceta humana ede compreensão do verdadeiro líder. Vol-tou-se para mim e disse: “Você não, Brígido,você fica”.

O meu pensamento imediato foi um só:“Devo estar muito ruim mesmo paraMonnerat me dispensar da faina geral”.*

Posso dizer que realmente comecei a co-nhecer Monnerat quando eu era primeiro-te-nente oficial do Caça-Submarinos Guajará eele apresentou-se a bordo para comandá-lo.

Tinha sido o seu navio durante a Segun-da Guerra Mundial, quando fez mais de 400dias de mar em serviço de escolta de com-boios, incluíndo-se, assim, em um seleto gru-po de oficiais (que não totalizou 40) conde-corados com a Medalha Naval do Mérito deGuerra – Serviços Relevantes.

Monnerat chegou a bordo cheio dasrecordações e com um entusiasmo incom-parável; não deixou mais a sua oficialidadeem paz...

Ele tinha o espírito e a coragem do “li-berdade de ação”.

* N.A.: Mais tarde, nas águas tranquilas da Baía da Ilha Grande, e já recuperado, fiz questão de subir asenxárcias até a borda do mastro grande.

Lembro-me que fizemos boas pates-carias. Como exemplo, a exploração até ofundo do Saco do Mamanguá (nas proximi-dades de Parati). Lá chegando, a sensaçãoera de o navio estar em um pequeno lago.Montanhas nos cercavam nos 360 graus.

Outra interessante patescaria foi a co-missão de apoio a um grupo de marinhei-ros e de operários civis, liderado por umcientista(?), o Dr. Paulo Fernandini Tirry, efiscalizado permanentemente pelo entãoCapitão-Tenente Júlio de Sá Bierrembach.

Tirry conseguiu convencer as altas au-toridades da Marinha que o apoiassem nabusca de um tesouro lá no alto de um des-filadeiro, junto à Enseada do Sombrio, ondemontou um rudimentar acampamento. Láficaram (inclusive Bierrembach), de cadavez (foram três ao todo), por duas semanasou mais.

Depois do almoço no acampamento junto ao “tesouro”na Enseada do Sombrio (Monnerat sentado à direita)

Monnerat foi o comandante do Guajarána segunda das missões de apoio que aMarinha autorizou. Com seu entusiasmo, ocomandante do navio arrastou morro acimao seu chefe de máquinas e lá passamos al-

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* N.A.: Não quero ser ingrato: graças a essa distorção, comandando o Barroso Pereira, fui duas vezes àAlemanha, com escala na Inglaterra e em Portugal.

gumas horas, inclusive almoçamos uma boacomida caseira feita por um dos nossos ma-rinheiros para isso destacado, o Gilberto.

O pitoresco dessa faina é que a missãofoi classificada de “secreta”, mas logo de-pois o jornal O Globo de 4 de dezembro de1951 divulgou, em extensa reportagem naprimeira página, toda a história e mais ou-tra na edição do seguinte dia 10, esta, in-clusive, mostrando o Caça-SubmarinosGuajará fundeado na Enseada do Sombrio.

A comissão ensejou mais umapatescaria, sempre liderada por Monnerat:apoio ao farol da Ponta do Boi com direitoa desembarcar em local de difícil acesso emuma pedra, de bote a remo e descarga dematerial pesado.

Monnerat manobrava muito bem e sa-bia como lidar com aqueles seus motoresde propulsão, com partida e inversão a arcomprimido, iniciando o seu funcionamen-to já a cerca de 6 nós! E não podia errar amanobra, pois o ar comprimido, naquelaépoca, por envelhecimento dos equipamen-tos, era restrito.

Minha admiração por Monnerat come-çou àquela época. Ao mesmo tempo que eraexigente, também era um comandante queprestigiou a sua oficialidade e sabia defen-der seu pequeno navio junto a seus chefes.

O tempo passou e seguimos por rotasbem distantes uma da outra, ele na Avia-ção Naval e eu na linha do Cruzador Barro-so e na instrutoria e encargo do Curso deAperfeiçoamento de Armamento para ofi-ciais, o então CEAO.

Viemos a nos reencontrar quando eu eracapitão de mar e guerra e ele contra-almi-rante comandante da Força de Transpor-tes da Marinha.

Ao terminar meu tempo de comando doNavio-Transporte Barroso Pereira, fui

agradavelmente surpreendido pelo convi-te de Monnerat para que eu fosse seu che-fe de estado-maior.

Foi um período curto, de cerca de seismeses de convivência; no seu comando,Monnerat revolucionou a Força de Trans-portes da Marinha, levando-a a sua verda-deira destinação de uma força naval militare não um aglomerado de navios-mercantesmendigando fretes no cenário do transportemarítimo internacional.*

O período coincidiu com a chegada doNavio de Desembarque de Carros de Com-bate Duque de Caxias, que tinha no seucostado o “revolucionário” pontão.

Monnerat não deixava seus navios dedesembarque em paz (Duque de Caxias eGarcia D’Avila); eram exercícios e mais exer-cícios, a vários dos quais comparecia fisca-lizando tudo. Queria que o Duque de Caxias,em praia distante da base, efetuasse o lan-çamento dos pontões na praia e nele atra-casse de proa. Bem ou mal, conseguiu seuintento em praia da Ilha do Governador.

Na preparação para a Operação Dragão,preocupou-se em adestrar, com exercícios,os patrões das EDVPs (embarcações dedesembarque de veículos e pessoal), coi-sa, pasmem, nunca feita antes. O resultadofoi um sucesso nas abicagens das lanchas.

No meu entendimento, por causa deMonnerat, de suas ideias, de seu entusias-mo, de seu dinamismo com as coisas deMarinha, foi a melhor Operação Dragão atéentão realizada.

A consequência de tudo isso foi eu metornar um fã absoluto de Monnerat, o Chefe.Senti muito, enquanto no comando da Es-quadra, ele não ter recebido a quarta estrela.

Mas esse episódio não abateuMonnerat, que continuou um oficialentusiasmadíssimo e interessadíssimo pela

Na folga do almoço durante a OperaçãoMaracangalha na Restinga de Marambaia, em

1973. Monnerat com oficiais de seu estado-maior

Marinha e seus problemas, em especial asua grande paixão, a Aviação Naval.

Mais tarde nos reencontramos, ambosna reserva, eu à frente da Revista MarítimaBrasileira e ele arrumando seus interminá-veis arquivos (documentos, fotografias, fil-mes e textos por ele escritos) e fazendo pes-quisas para o seu livro História da AviaçãoNaval. Sua sede de informações constituiu

em motivo para uma nova aproximação, comum grande número de telefonemas que delerecebia indagando alguma coisa que ele su-punha que eu soubesse ou se eu conheciaalguém que poderia dar a informação.

Nesses telefonemas, mais de 60 anosapós nos conhecermos na Escola Naval,Monnerat continuava com o ânimo de um“tenente entusiasmado”, sempre queren-do uma resposta para ontem.

Nas cerimônias e eventos de Marinha aque comparecíamos, a maior parte do tem-po permanecíamos juntos a conversar ousimplesmente, mesmo em silêncio, a sabo-rear as lembranças que compartilhamos.

Vou sentir saudades de Monnerat, aque-le que, para mim, personifica um verdadei-ro chefe.

LUIZ EDMUNDO BRÍGIDO BITTENCOURTVice-Almirante (Refo)

MÁRCIO DE FARIA NEVES PEREIRADE LYRA

16/10/1923 † 05/06/2009

Nasceu em Pernambuco, filho de JoãoAlvares Baptista de Lyra e de Aldina Elysa

Faria Neves de Lyra. Promoções: a segun-do-tenente em 16/01/1947, a primeiro-tenen-te em 05/02/1949, a capitão-tenente em 22/03/1952, a capitão de corveta em 03/01/1956,a capitão de fragata em 08/06/1962, a capi-tão de mar e guerra em 18/08/1967. Alcan-çou o almirantado em 31/03/1974, sendopromovido a vice-Almirante em 31/07/1977.Transferido para a reserva em 10/04/1979.

Em sua carreira comandou quatro ve-zes, sendo dois navios: Contratorpedeirode Escolta Baependi; Navio-Transporte deTropas Barroso Pereira; Comandante Na-val de Manaus; Comandante da Força deTransporte.

Comissões: Navio-Escola AlmiranteSaldanha; Contratorpedeiro de EscoltaBauru; Encouraçado Minas Gerais; Caça-Submarinos Grajaú; Contratorpedeiro Apa;Base Naval do Recife; Escola de Aprendi-zes-Marinheiros de Pernambuco; Arsenalde Marinha do Rio de Janeiro; Capitania

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dos Portos do Espírito Santo (Capitão dosPortos); Escola de Guerra Naval; Navio-Oceanográfico Almirante Saldanha (Ime-diato); Embaixada do Brasil no Panamá(Adido Naval); Capitania dos Portos do RioGrande do Sul (Capitão dos Portos); Dire-toria de Portos e Costas (Vice-Diretor); Es-tado-Maior da Armada (Subchefe); Comis-são Militar Mista Brasil-Estados Unidos daAmérica (Presidente); e Diretoria de Ensi-no da Marinha (Diretor).

Em reconhecimento aos seus serviços,recebeu inúmeras referências elogiosas e foicondecorado com as seguintes medalhas:Ordem do Mérito Naval – Grau Grã-Cruz; Or-

dem do Mérito Militar – Grau Comendador;Ordem do Mérito Aeronáutico – GrauComendador; Ordem de Rio Branco – GrauOficial; Ordem do Mérito do Trabalho – GrauOficial; Medalha Militar de Ouro com passa-dor de Platina; Medalha do Mérito de Servi-ços de Guerra – sem estrela; Medalha MéritoTamandaré; Medalha Mérito Santos Dumont;Medalha Comemorativa do Centenário deNascimento de Rui Barbosa; MedalhaHonorífica da Armada Nacional (Repúblicado Paraguai); e Honra ao Mérito da GuardaNacional (República do Panamá).

À família do Almirante Lyra, o pesar daRevista Marítima Brasileira.

ALMIRANTE LYRAOficial de alta capacidade profissional e uma

brilhante inteligência, o Almirante Lyra sem-pre se sobressaiu em todas as funções queexerceu, inclusive junto a organizações civis edelegações estrangeiras, tendo por diversasvezes sido eleito chairman nas reuniões, ele-vando cada vez mais o nome da Marinha. Hajavista o número de elogios e de condecora-

ções que recebeu, conforme atestam seus as-sentamentos. Dotado de um espírito alegre epor vezes irônico, fez, quando mais jovem, di-versas paródias de poesias célebres, acompa-nhadas de desenhos característicos, pois tam-bém era um exímio desenhista.GERALDO LUIZ BRANDÃO UNGERER

Capitão de Mar e Guerra (Refo)

MILTON RIBEIRO DE CARVALHO

27/08/1924 † 05/05/2009

Nasceu em São Paulo, filho de OctávioRibeiro de Carvalho e de Angelina PennaBotto. Promoções: a segundo-tenente em01/02/1948, a primeiro-tenente em 01/03/1950, a capitão-tenente em 25/03/1953, acapitão de corveta em 05/11/1957, a capi-tão de fragata em 25/02/1964, a capitão demar e guerra em 15/04/1969. Alcançou o al-mirantado em 31/03/1975.

Em sua carreira comandou oito vezes,sendo quatro navios: Corveta Mearim;Navio-Mercante Rio Juruá; Navio-Mer-cante Itaparica; ContratorpedeiroParaíba; Centro de Adestramento Almiran-te Marques de Leão; Esquadrão deMinagem e Varredura; Colégio Naval; e 3o

Distrito Naval.

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NECROLÓGIO

A turma de aspirantes da Escola Navalde 1943, apesar do grande número de seuscomponentes e de haver ingressado naMarinha em três etapas, como não pode-ria deixar de ser, era formada por jovensde temperamentos diferentes, e como taltudo tinha para ser um grupo heterogê-neo e pouco unido. Porém ocorreu com-pletamente o diverso, e talvez tenha sidoa turma mais coesa do seu tempo, e até osdias de hoje.

Além de ser seu chefe de classe EdgarPereira de Beauclair, aglomerador por exce-lência, havia outros que, por sua liderançae feitio, tinham um relacionamento quaseunânime no seio do grupo. Nesse últimocaso destacamos o Almirante Milton, quesempre primou por sua tranquilidade, sim-patia e qualidade de fazer amigos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, noperíodo pós-guerra e durante a Guerra Fria,nossa Marinha tinha por missão principalmanter livre o mar territorial brasileiro daameaça de submarinos que pudessem ame-açar o tráfego marítimo em nossas águas.

ALMIRANTE MILTON RIBEIRO DE CARVALHO

Nessa missão, logo se destacou o entãotenente e mais tarde comandante Milton,servindo e comandando contratorpedeiros,fazendo cursos de guerra antissubmarino edo Centro de Adestramento Almirante Mar-ques de Leão (CAAML), como instrutor ecomandante do importante órgão da áreaconsiderada.

O Almirante Milton, além de tranquilo econfiável, era ainda muito firme em suas con-vicções, defendendo ferrenhamente seuspontos de vista, mas incapaz de se alterar,mesmo nas condições mais adversas.

Sabia com inteligência comandar seussubordinados, conviver em seus pares econquistar os superiores. Também na famí-lia, sempre manteve um ambiente feliz, fru-to de suas qualidades pessoais.

Sintetizando sua personalidade, podemosafirmar que, sem medo de errar, tanto no âm-bito particular como na carreira que abraçou,ele era um marinheiro e um cavalheiro.

PAULO FREIRECapitão de Mar e Guerra (Refo)

Comissões: Navio-Escola AlmiranteSaldanha; Contratorpedeiro Bocaina; Co-missão Naval Brasileira em Washington;Contratorpedeiro Greenhalgh; Navio deSalvamento de Submarinos GastãoMoutinho; Navio-Aeródromo Ligeiro Mi-nas Gerais; Comando do 4o Distrito Naval(chefe-geral dos Serviços); Comando do1o Distrito Naval; Escola de Guerra Naval;Gabinete do Ministro da Marinha; AdidoNaval na Argentina e Uruguai (adido); Es-tado-Maior da Armada; e Comissão Navalem São Paulo (presidente).

Em reconhecimento aos seus serviços,recebeu inúmeras referências elogiosas e foicondecorado com as seguintes medalhas:

Ordem do Mérito Naval – Grau Comendador;Ordem do Mérito Aeronáutico – GrauComendador; Ordem de Rio Branco – GrauGrande-Oficial; Medalha Militar de Ourocom passador de ouro; Medalha do Méritode Serviços de Guerra – sem estrela; Meda-lha Mérito Tamandaré; Medalha Mérito Ma-rinheiro – 2 âncoras; Medalha Mérito San-tos Dumont; Medalha Mérito Militar de 2a

Classe (República de Portugal); Ordem deMayo ao Mérito Naval (República da Ar-gentina); e Medalha Brigadeiro Tobias (Po-lícia Militar do Estado de São Paulo).

À família do Almirante Milton Ribeirode Carvalho, o pesar da Revista MarítimaBrasileira.

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NECROLÓGIO

20/07/1956 † 22/06/200924/12/1925 † 02/05/200903/08/1949 † 08/07/200916/03/1928 † 22/06/200925/10/1921 † 01/04/2009

A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos assinantes:

CMG 73.0025.18 – Carlos Augusto Andrade MarcondesCF 44.4442.14 – Renan Polônio TavaresCC 69.1610.46 – Walmir Pereira Tavares1oTEN 45.0498.31 – Carlos Farias de Meneses1oTEN 42.7375.67 – Flávio da Silva Formigosa

ACONTECEU HÁ 100 ANOS

Esta seção tem o propósito de trazer aos leitores lembranças enotícias do que sucedia em nossa Marinha, no País e noutras partesdo mundo há um século. Serão sempre fatos devidamente reporta-dos pela nossa sesquicentenária Revista Marítima Brasileira.

Com vistas à preservação da originalidade dos artigos, observa-remos a grafia então utilizada.

MARINHA MERCANTEMARINHA MERCANTEMARINHA MERCANTEMARINHA MERCANTEMARINHA MERCANTE(RMB julho/1909, p.5-14)

Constituindo a marinha mercante umadas principaes razões de ser da marinha deguerra, de que é a um tempo causa e effeito,não nos poderia de modo algum passar des-percebido o promissormovimento que ora denovo se accentua noCongresso Nacionalem favor do bem-estare desenvolvimentodessa poderosa eindispensavel alavan-ca de progresso dasnações maritimas, como sobejamente o com-provam a opulencia e o poderio da Ingla-terra e outros paizes, que muito acertada-mente lhe tributam toda a attenção e o me-recido carinho.

Para os que porventura pudessemextranhar o titulo do primeiro artigo com que,em uma publicação naval como esta, enceta-mos a parte technica do presente numero, ahi

fica a explicação do nos-so procedimento dandocordial acolhida ao se-guinte artigo do nossocamarada sr. capitão-te-nente ArmandoBurlamaqui, já univer-salmente conhecidocomo um dos mais com-

petentes escriptores navaes; artigo que, pe-los criteriosos conceitos que encerra e pelasua palpitante actualidade, estamos certosde que muito agradará aos nossos leitores.

(...)

Constituindo a marinhaConstituindo a marinhaConstituindo a marinhaConstituindo a marinhaConstituindo a marinhamercante uma das principaesmercante uma das principaesmercante uma das principaesmercante uma das principaesmercante uma das principaesrazões de ser da marinha derazões de ser da marinha derazões de ser da marinha derazões de ser da marinha derazões de ser da marinha de

guerraguerraguerraguerraguerra

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Nenhum dos problemas da vidaecconomica do Brazil prende-se maisdirectamente ao seu futuro que o da explo-ração de suas immensas riquezas naturaes.Assim o comprehendendo, o governo actual,correspondendo a urgentes necessidadesdo progresso industrial e commercial, depar com as severas exigencias da defesanacional, trata de facilitar pelos meios aoseu alcance, com o poderoso auxilio do Con-gresso Nacional, a exploração da nossaimmensa riqueza de minerios de ferro.

Cansado, talvez, de ser um paiz essen-cialmente agricola, o Brazil anceia poraproveitar os vastos recursos que possue eque lhe permittem adquirir uma posiçãopreponderante no mundo industrial.

Sem duvida que, nas condições actuaes,no momento presente, ainda nos faltam ele-mentos imprescindiveis para que seja de re-

sultados immediatos a patriotica tentativado governo, procurando auxiliar e regular aindustria metallurgica. Esses resultados,entretanto, não se farão demorar, guiando-se o governo em sua acção pelas lições dosoutros povos, nomeadamente o dos Estados-Unidos, onde essa industria, após os doloro-sos passos de uma infancia difficil, veio aconstituir a maior fonte de riqueza publica,de que é grande o orgulho do paiz. (...)

Qualquer que seja o systema preferidopelo governo, ou a sua orientação, o queabsolutamente nunca poderá ser esqueci-do é a corajosa iniciativa que elle está to-mando e que constituirá um dos seus maio-res titulos á benemerencia publica, muitoprincipalmente da marinha de guerra, quesó se sentirá forte e segura quando possuirno paiz tudo quanto o seu progresso exigeem assumptos desta ordem.

O AEROPLANO “DESLANDES”O AEROPLANO “DESLANDES”O AEROPLANO “DESLANDES”O AEROPLANO “DESLANDES”O AEROPLANO “DESLANDES”(RMB, agosto/1909, p. 167-200)

(...)A exacta solução do problema da loco-

moção aérea, por qualquer dos dois mo-dos, trará á sciencia daguerra um meio segu-ro de prever e agir.Ella vem facilitar oproblema, resolvendoa unica parte, talvez,na qual ainda reinaincerteza.

Auxiliada pela telegraphia sem fio, comalgum novo processo de signalar, oslocomotores aéreos serão os grandes explo-

radores dos exercitos e esquadras e presta-rão assignalados serviços.

No estado actual da collectividade hu-mana, por maiores quesejam os esforços dospacifistas e as sincerasmanifestações etendencias da politica,é ainda a guerra quemais facilita o exito de

qualquer descoberta.Applicados á guerra, os locomotores aé-

reos de qualquer especie, uma vez provadaa sua praticabilidade, terão conseguido o

A INDUSTRIA METALLURGICA NO BRAZILA INDUSTRIA METALLURGICA NO BRAZILA INDUSTRIA METALLURGICA NO BRAZILA INDUSTRIA METALLURGICA NO BRAZILA INDUSTRIA METALLURGICA NO BRAZIL(RMB agosto 1909, p.153-165)

É ainda a guerra que maisÉ ainda a guerra que maisÉ ainda a guerra que maisÉ ainda a guerra que maisÉ ainda a guerra que maisfacilita o exito de qualquerfacilita o exito de qualquerfacilita o exito de qualquerfacilita o exito de qualquerfacilita o exito de qualquer

descobertadescobertadescobertadescobertadescoberta

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

melhor processo de obter o indispensavelsuccesso para o seu aperfeiçoamento eapplicação nos outros campos da vida.

Fortalecidas por esse lado, onde, de fac-to, imperam exigencias e recursos que nãose póde ter nos outros campos de trabalhoe emprehendimento, as descobertas em ge-ral conseguem se impor e adquirir o premioque tanto almejam. Só depois de vencidaesta dolorosa etapa da marcha inicial, po-dem os inventores e seus inventos pensar eservir a outros fins.

A historia de todas as grandes desco-bertas nos tempos pre-sentes confirma o queenunciamos. O casodos aerostatos eaeroplanos não foge aessa regra geral.

Nos grandes cen-tros onde elles estãolutando para vencer asmil difficuldades doproblema, os maioresauxilios que lhes che-gam provêm dos ele-mentos e recursos daguerra. Os grandes exercitos continentaesda Europa e as formidaveis esquadras dasprincipaes potencias já estão iniciados noassumpto, e nelle applicando tanto as suasforças materiaes como as moraes eintellectuaes, confiantes de exito e certosda real utilização desses instrumentos quedevem dominar os ares, e que facilitarãoenormemente a ardua tarefa do preparo econducta da guerra, pelo menos, no seu pri-meiro periodo.

Não descendo ao estudo do que osexercitos já possuem, nem podendo dizer comsegurança o que ha nas grandes marinhas, sem-

pre queremos deixar bem patente o interessedessas forças em relação á locomoção aérea.

A marinha italiana, ao que sabemos, foia primeira a ter um navio com parque deaerostação, o Etna, que por mais de umavez tem acompanhado as esquadras em ma-nobras, servindo-se de um balão captivopara explorações.

A Inglaterra, posto que sempre poucoconfiante em innovações, seguiopromptamente as pegadas italianas, e pre-parou dois navios auxiliares para asexperiencias de aerostação, tendo-lhes fei-

to partilhar de variasmanobras na vizinhan-ça de Portsmouth.

Sobre esse assum-pto, porém, nada maisfoi deixado saber.

Em França, ondetão intensa é a partici-pação do exercito, sinão fossem as gravesperturbações que teemretardado a resur-reição de sua esquadrae a reorganização dos

seus serviços navaes, já teriamos assistido alições bem proveitosas que induziriam a de-cisões mais positivas sobre o emprego doslocomotores aéreos nas esquadras.

A marinha allemã, que guarda tambemrigoroso sigillo neste ponto, mais que emqualquer outro, já tem trabalhos e estudossobre o assumpto e persiste em continuasexperiencias, existindo mais de um navioallemão com parque de aerostação.

Na esquadra americana e japoneza essemovimento é perfeitamente conhecido e ellastambem possuem os seus recursos e procedem aserias investigações.

A locomoção aérea, aA locomoção aérea, aA locomoção aérea, aA locomoção aérea, aA locomoção aérea, adespeito dos grandesdespeito dos grandesdespeito dos grandesdespeito dos grandesdespeito dos grandes

progressos que tem feito, estáprogressos que tem feito, estáprogressos que tem feito, estáprogressos que tem feito, estáprogressos que tem feito, estáainda em um estadoainda em um estadoainda em um estadoainda em um estadoainda em um estadoexperimental, e suaexperimental, e suaexperimental, e suaexperimental, e suaexperimental, e sua

utilização como arma deutilização como arma deutilização como arma deutilização como arma deutilização como arma deguerra não passa de estreitosguerra não passa de estreitosguerra não passa de estreitosguerra não passa de estreitosguerra não passa de estreitos

l imitesl imitesl imitesl imitesl imites

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

O movimento é, portanto, geral e indis-cutivelmente será maior logo que essa loco-moção seja perfeitamente praticavel.

Quando os exemplos das grandespotencias não nos servissem para provarque o mundo maritimo tem grande interes-se na solução do problema da locomoção aé-rea, a utilização della para os fins da guer-ra no mar ou em terra evidenciar-se-ia dasproprias difficuldades com que lutam es-quadras e exercitos para conhecerem osmovimentos, marchas, posições e intentosdo inimigo, bem como, as vezes, de suasproprias forças.

Infelizmente, porém, a locomoção aé-rea, a despeito dos grandes progressos quetem feito, está aindaem um estado experi-mental, e sua utiliza-ção como arma de guer-ra não passa de estrei-tos limites, mas mesmodentro delles já se co-gita em descobrir os meios e processos deguerrear nos ares.

A nosso ver, indubitavelmente, o prin-cipio da opposição de armas iguaes teráverdadeira applicação neste caso.

A boa tactica de guerra será a de opporaerostatos e aeroplanos a iguaes machinas,uns destruindo os outros.

Não se deve pensar actualmente em terarmas que de bordo ou dos campos de ope-rações possam impedir a presença daquellesinstrumentos de guerra e que ellestranquillamente exerçam o seu mister; nemprocurar ter machinas de destruição paraalcançar em altitude os mesmos effeitos quese consegue na superficie da terra.

Ellas nunca poderão igualar em resul-tado as que armarem os navios aéreos.

O que se deve procurar é construir umaarma apropriada a um locomotor aéreo eque possa dar-lhe poder para nos ares de-fender-se ou atacar.

O governo inglez já encarregou o seunotavel artilheiro vice-almirante PercyScott de estudar o fabrico de um canhãopara armar os navios aéreos independen-tes de proseguir nos estudos e ensaios deuma arma capaz de combater de terra, oudo mar, esse novo inimigo. A casa Kruppaffirma estar apparelhada com um canhãoque satisfaz plenamente as severas e deli-cadas exigencias do problema de destruirnavios que naveguem nos ares.

Por emquanto não se sabe se ella jáconseguio o canhãopara armar os naviosaéreos.

P r o v a v e l m e n t edisto cogitam tambemos outros paizes eprincipalmente os

grandes industriaes e fabricantes de mate-rial de guerra.

Não se tem caminhado grande coisa nes-te terreno, porque á difficuldadeinsuperavel do peso, juntar-se-á a dedeslocação do ar e sua influencia para oproprio portador da arma.

A esse respeito direi que o livro do coronelDanrit, La guerre en balon, si bem que umaphantasia, é de uma leitura interessante.

A tactica de guerra para esse genero deinstrumentos será sempre a dos combatessingulares entre elementos da mesmaespecie, tal como aconselham os factos emrelação aos submarinos, os torpedeiros, equaesquer outros navios.

Porfim, tambem agita-se, e com certocabimento, a questão dos direitos aéreos.

A propriedade do ar deve serA propriedade do ar deve serA propriedade do ar deve serA propriedade do ar deve serA propriedade do ar deve sergovernada pelas mesmasgovernada pelas mesmasgovernada pelas mesmasgovernada pelas mesmasgovernada pelas mesmas

regras da propriedade no marregras da propriedade no marregras da propriedade no marregras da propriedade no marregras da propriedade no mar

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

A propriedade do ar deve ser governa-da pelas mesmas regras da propriedadeno mar. Assim como neste ha uma faixa deaguas chamadas territoriaes, haverátambem para aquelle uma faixa de aresterritoriaes, que poderá ser limitada, comopara o mar, pelo alcance, neste caso emaltitude, de um projectil atirado com omaior canhão collocado em um ponto medioentre o nivel das aguas e o pico mais ele-vado das montanhas do paiz, ou, por ou-tra, na altitude que for, para o caso, uni-versalmente fixada.

Este assumpto, que já foi lembrado emuma revista de direito, tem merecido asdevidas attenções, tendo sido sujeito á de-cisão de um tribunal francez. A grande as-piração universal é, porém, antes de tudo,a da praticabilidade da locomoção aérea, epara conhecer-se o gráo em que ella se acha,e os passos que vai dando para uma soluçãodefinitiva, o notavel parecer que o dr.Carlos Sampaio apresentou ao Club deEngenharia é uma lição que esta Revistase ufana em divulgar, como passa a fazel-o.

[Segue o parecer do Dr. Carlos Sampaio]

SUBMARINOSSUBMARINOSSUBMARINOSSUBMARINOSSUBMARINOS(RMB setembro/1909, p. 343-365)

A se julgar por tudo quanto se tem ulti-mamente dito ou escripto sobre esta terrivelarma de guerra naval, ella virá dentro embreve revolucionar a organização das es-quadras, tornando inuteis os descommunaescolossos de aço, ouriçados de suasformidolosas, si bem que então innocuasguelas flammivomas: visto que – uma vezobtido do submarino tudo quanto delle seespera – a facilidade de aniquilação des-ses colossos, pelo seu minusculo eintangivel adversario, fará redundar empura perda os enormes dispendios que ellesacarretam, e que se transformarão, nessecaso, em loucos disperdicios ou esbanjamen-tos da fortuna publica.

O facto, porém, de persistirem as diver-sas potencias no empenho de augmentarcada vez mais a tonelagem desses monstrosmarinhos nos leva a hesitar em crer que oactual aperfeiçoamento da navegação sub-marina, ou por outra, que os melhoramen-

tos já introduzidos na construcção dos sub-marinos e o que já se tem ganho quanto ásegurança de seus tripulantes e as facili-dades e certeza de sua manobra no momen-to asado, tenham chegado ao ponto procla-mado pelos seus enthusiastas. No entanto,não se póde deixar de reconhecer que, sinão tudo, pelo menos muito já se ha conse-guido, como parece licito deduzir das ulti-mas experiencias feitas em França, paizem que maior importancia e mais geral im-pulso se tem dado a essa temivel arma deguerrilha maritima.

Não somos dos que imaginam possiveluma entente mundial para reducção dearmamentos, espontaneamente feita porsentimentalismo, em concordatas interna-cionaes mais ou menos sinceras, mastambem, sem duvida alguma, perfeitamen-te ephemeras: contra isso se insurge apropria natureza das coisas, queremos di-zer, todo o acervo de virtudes civicas e,

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

ainda mais, de paixões inherentes áespecie humana, que enobrecem (aquellas)ou assoberbam (estas) as collectividadesterritoriaes, da mesma fórma por que vi-vem aninhadas em cada peito individual;mas, no dia em que essa reducção se impu-ser irresistivelmente com toda a brutali-dade da força material, sempre – em quepese a humanitaristas ou ideologos – mui-to mais efficaz ou convincente do que asillusorias blandicias do direito publico ouprivado; no dia em que uma tal força ficará mão até do mais fraco dos povos fracos,nivelando-os a todos no mesmo poder dedestruição: nesse dia, a não se quereradmittir que a humanidade em peso sejaatacada do delirio do proprio aniquila-mento ou que pretendam as diversas na-ções entrechocar-se ás cegas no insano afande reduzir o mundo a um vasto cemiterio,forçoso se tornará que todas ellas esta-quem – pelo proprio instincto da conser-vação – no plano inclinado e escorregadioem que freneticamente e á porfia se estãohoje arremessando, com a construcção des-ses navios, cada vez mais vultuosos, e afabricação desses formidaveis canhões eoutros instrumentos de guerra, cada vezmais aperfeiçoados e mortiferos.

Só assim se resolverão os diversos po-vos a pôr de lado o seu egoismo, a suacobiça, o seu orgulho regional, de en-volta com as desmarcadas ambições im-perialistas e pretenções de hegemoniabellicosa ou de predominio commercialde umas sobre outras; e só então serátalvez possivel que – levados por impe-riosa e incontrastavel necessidade ma-terial – cheguem todos a entender-secom inteira sinceridade, para pôr umparadeiro def init ivo á barbara e

deshumana arte que, nascida com otroglodyta, e acompanhando pari passu,através de tantos seculos, o lento cami-nhar da humanidade, ainda hoje perdu-ra, para vergonha nossa, no meio dos es-plendores da moderna civilização, deque ha muito já a devera ter repellidodo seu seio...

Ora, o submarino (como, em terra, oaeroplano) representa nesse sentido umpasso gigantesco; o que explica e justificao crescente enthusiasmo dos seuspropugna-dores, e, bem assim, asatisfacção com que acolhemos quaesquernoticias fidedignas sobre seus aperfeiço-amentos e victorias no terreno pratico.Dahi tambem o interesse com que lemosultimamente na Revue Maritime um arti-go, pela mesma revistra extractado da“Mitteilungen aus dem Gebiete desSeewesens”, dando conta do desenvolvi-mento e estado actual dos submarinos nosdiversos paizes maritimos; artigo que vemacompanhado do quadro que adiante da-mos, e do qual vamos socorrer-nos paradizer resumidamente alguma coisa sobreo mesmo assumpto, seguindo, no nossorapido percurso por esses diversos paizes,a ordem alphabetica dos seus nomes, amesma em que remodelámos o quadro aque acima alludimos.

[N.R.: Segue exposição sucinta referen-te a cada um dos seguintes países: Alema-nha, Áustria-Hungria, Dinamarca, Esta-dos Unidos, França, Holanda, Inglaterra,Itália, Japão, Noruega, Rússia e Suécia. Oautor então apresenta o detalhado “Qua-dro dos submarinos de differentespotencias, construidos, em construcção ouprojectados até o fim de 1908” e sua análi-se do assunto.]

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

JULHO/1909

A GUERRA SUBMARINA – TheGraphic de 15 de maio ultimo, insere:

“Nestes dias de prodigios aereos, orapido augmento da importancia do sub-marino na formação das marinhas de guer-ra deve ser tomado em consideração; aindafaltam muitos annos para que o aeroplanoou o dirigível esteja em coindições de serposto em parellelo com o submarino sob oponto de vista militar.

Os balões dirigiveis teem circulado du-rante muitas horas em uma certa direcção;mas estão sempre á mercê dos elementos. Osaeroplanos teem realisado com algumsuccesso vôos de duas ou tres milhas quandoas condições atmosphericas lhes teem sidofavoraveis, mas não ha um navio desse typoque se approxime da utilidade do primeirosubmarino inglez, que, apesar de construídoem 1901, tinha um raio de acção de quinhen-tas a seiscentas milhas. Hoje, emquanto oestado da navegação aerea permanece emuma phase essencialmente experimental, osubmarino aperfeiçoou-se nesse periodo emque o seu desenvolvimento póde continuara realisar-se completamente e com umobjectivo ha muito assentado pelos que teemque lidar com os mesmos.

A França inaugurou um typo de subma-rino moderno ha dezesseis annos, com oGustave Zédé, deslocando duzentas a qui-nhentas toneladas.

Actualmente ella não tem menos quecincoenta e seis navios promptos durante va-rias phases de construcção, dos quaes cincoentadeslocam 400 toneladas, em que os outrosdeslocam 568, 546 e 521 toneladas.”

Em seguida refere-se ao systema desigillo que se guarda em França, em tornodesses navios.

(...)Certo vamos entrar em um periodo de

grandes revoluções navaes e o submarinoou, melhor o submersivel, será com certezade todas ellas a maior, percorrendo gran-des distancias, arremessando com seguran-ça poderosas cargas de destruição e evolu-indo com extrema facilidade.

Para nós, na arte da guerra naval dofuturo será uma das mais engenhosasapplicações do dominio da sempremysteriosa e providencial electricidade queincontestavelmente é a energia que maisserviços tem prestado ao progresso e atémesmo á civilisação da humanidade.

Oxalá que com o apparecimento dosubmersivel de todo aperfeiçoado tornem-se as guerras mais difficeis e portanto maisraras.

Que todos os paizes maritimos procu-rem melhorar as condições do navio subma-rino é o que muito almejamos, certos de queuma radical transformação se dará napolitica naval do mundo.

TELEPHONIA SEM FIO – Foi apre-sentado em sessão de 10 de maio de 1909,na Academia de Sciencias de França, porum de seus membros, o methodo de que seservem os officiaes de marinha Colin eJeance para a transmissão da palavra pelosapparelhos que imaginaram, aproveitandode um dispositivo ideado por Tompson, em1892.

As experiencias feitas com essesapparelhos pelos seus inventores, em pre-

REVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTAS

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

sença do ministro da marinha, deramexcellente resultado, ouvindo-se perfeita-mente as palavras e sem o incommodo ruidoespecial á telephonia usual, com fio.

As estações que serviram para asexperiencias estavam a uma distancia de50 kilometros, approximadamente. Numa,a transmissora, situada no Campo de Mar-te, em Pariz, estava o tenente Colin, naoutra, situada na estação radio-telephonicade Melun, estava o ministro da MarinhaAlfred Picard, acompanhado do tenenteJeance.

TORPEDOS VOADORES – Diz oDaily Express que a casa Krupp entrou emnegociações com umprofessor do Institu-to Meteorologico deGoettingen, para aacquisição de umapparelho por elleideado que, asseme-lhando-se a umaeroplano accionado por motor electrico, é,em suas evoluções no ar, dirigido, ou gover-nado, á distancia, pela acção de ondashertzianas. Destina-se á conducção de tor-pedos, que essas mesmas ondas fazem ex-plodir no momento que se deseja.

As experiencias que, pelas informa-ções colhidas pelo correspondente, emBerlim, do Daily Express, teem dado bonsresultados, continuam ainda em Essen,sobre a direcção do seu inventor, o pro-fessor Weichert, com um pequeno mode-lo de uns 35 kilogrammasapproximadamente, que já chegou a per-correr a respeitavel distancia de 15kilometros por minuto, segundo diz omesmo correspondente.

AGOSTO/1909

PRODUCÇÃO MUNDIAL DE CAR-VÃO DE PEDRA – O carvão de pedrapelos ines-timaveis serviços que presta nassuas innumeras applicações, é talvez ofactor mais importante do progresso mun-dial; com effeito, delle dependem todas asindustrias, e sua energia calorifica é queproduz o vapor que faz mover essas massasenormes que sulcam os mares e as locomoti-vas velozes que arrastam os comboios emtodas as direcções, no trafego commercialentre as nações.

São dignos, portanto, de attenção os ele-mentos estatisticos referentes á produção

do carvão, producçãoque augmenta de annopara anno e que cons-ta do quadro abaixopublicado peloBulletin Statistiquede l’Officine deCommerce dÁnvers e

se refere a um periodo bastante longo, de1850 a 1906.

AnnosAnnosAnnosAnnosAnnos Toneladas Toneladas Toneladas Toneladas Toneladas

1850 ......................................... 89.881.3751860 ....................................... 128.529.1601870 ........................................... 208.321.1121880 ........................................... 308.546.4681890 .......................................... 469.815.0451900 ........................................... 696.159.3251901 ........................................... 712.904.2171902 ........................................... 728.164.1281903 ........................................... 800.501.6421904 ........................................... 803.679.0851905 ........................................... 844.194.2171906 ........................................... 893.249.557

As mais altas vagasAs mais altas vagasAs mais altas vagasAs mais altas vagasAs mais altas vagasobservadas por navegantesobservadas por navegantesobservadas por navegantesobservadas por navegantesobservadas por navegantes

dignos de fé não iam além dedignos de fé não iam além dedignos de fé não iam além dedignos de fé não iam além dedignos de fé não iam além de15 a 18 metros15 a 18 metros15 a 18 metros15 a 18 metros15 a 18 metros

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Das nações que têm grandes minas de car-vão de pedra a que mais produz actualmenteé a Republica Norte-Americana; segue-se-lhea Inglaterra, que occupou o primeiro logaraté 1889, vindo depois a França, a Belgica ea Russia. O Japão e o Canadá tambem já pro-duzem bastante.

ALTURA DAS VAGAS – As mais al-tas vagas observadas por navegantes dig-nos de fé não iam além de 15 a 18 metros.

Póde-se qualificar taes ondas comoexcepcionaes, pois, mesmo no Cabo da BoaEsperança, o ponto mais exposto do globo,rodeado da mais vasta extensão d’agua, asmaiores vagas rara-mente attingem a al-tura de 14 ou 15metros.

Em outros pon-tos, a altura das va-gas é ainda inferioraos algarismos acimamencionados.

Ellas nunca excedem de 13 metros noOceano Pacifico, 12 no Oceano Atlantico,7 no Golpho de Gasconha.

No Mancha, as mais alterosas vagas malchegam a 6 metros.

As famosas vagas da altura de uma casade seis andares não passam de legenda.

De onde provêm semelhante legenda?Naturalmente, de que á altura da vaga

se junta a da espuma que se lhe fórma nacrista ao quebrar-se de encontro a qualquerobstaculo.

A espumarada produzida nessas condi-ções póde, effectivamente, attingir alturaconsideravel.

No pharol de Eddystone, durante asgrandes tempestades, os caixões de espu-

ma de 25 metros de altura passam por cimada cupula que corôa a lanterna.

O Sr. Bonnin, de quem tiramos este de-talhe, affirma que no dique de Cherburgoteem-se a miudo observado jactos de espu-ma da altura de 36 metros; de 30 metros noforte Bayard e de 23 em Hague.

Taes algarismos dão idéa approximadado poder demolidor das vagas.

Dêmos, para maior esclarecimento do lei-tor, ligeira prova desse desmedido poder.

No quebra-mar do porto de Wick, naEscocia, um monolitho de cimento pesando1350 toneladas, foi deslocado, em 1871,durante uma tempestade, e derribado sobre

o enrocamento que lheservia de suporte.

Mais e melhor ain-da: em 1877, no mes-mo quebra-mar, umoutro monolitho de ci-mento pesando 2600toneladas foi igual-

mente deslocado pelas ondas enfurecidas.No porto de Jumiden, que serve de

entrada ao canal de Amsterdan, um blo-co de pedra de 20 toneladas foi levanta-do á altura de 4 metros e lançado ao cimodo dique.

Poder-se-ia facilmente citar outrosexemplos ainda mais surprehendentes dopoder das vagas.

NAVIO BOLA – Existe velha balladaanglo-saxonia que reza assim: – “Emesphera ôca lá deslisam por sobre as aguasem amistoso e ledo convivio, tres homenssabios de Gotha”

Criticos modernos desta composiçãopoetica duvidam quasi em absoluto de se-melhante meio legendario de locomoção

A idéa da fórma redondaA idéa da fórma redondaA idéa da fórma redondaA idéa da fórma redondaA idéa da fórma redondapara navios tem tambempara navios tem tambempara navios tem tambempara navios tem tambempara navios tem tambementre modernos ardentesentre modernos ardentesentre modernos ardentesentre modernos ardentesentre modernos ardentes

proselytosproselytosproselytosproselytosproselytos

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

aquatica, baseando-se na idéa de que o mo-delo commummente usado hoje nos trans-portes por mar, rios e lagos têm por origema consideração da formação typica e espe-cial do peixe, a unica justa, a unica por as-sim dizer naturalmente necessaria.

A historia responde negativamente.Herodoto fala de embarcações arredonda-das e feitas de pelles, que navegavam emtrafego activo no rio Euphrates; podendo-se ainda hoje ver, em Bagdad, descenden-do em linha recta daquellas embarcações,barcos de fórma circular, com cavernamecoberto de pelles.

A idéa da fórma redonda para naviostem tambem entre modernos ardentesproselytos.

Conhecido cons-tructor naval norteamericano, JoãoHelder, tentou, em1888, demonstrar combons argumentos a su-perioridade daconstrucção de cruza-dores-couraçados defórma redonda sobre a fórma alongada, ten-do a administração da marinha russa man-dado construir dous navios de guerra sobos planos, aliás um pouco modificados, deJ. Helder.

O partidario mais moderno da idea, sr.Stokes, de New-York, pretende construirnavios cuja fórma semi-espherica foi porelle definida como a de um sino semi-espherico invertido. Attribue a estaestructura naval o maximo de fluctuação.

O Tridente – o sr. Stokes assim chamouo seu futuro navio – deslocará 11000 to-neladas e terá como armamento dous ca-nhões de 15 polegadas.

Os canhões serão fixos nas respectivascarretas, de modo que, para dar aos tirosdirecção determinada, será mister que onavio gire na mesma direcção.

A mais recente tentativa desta especieé a Doenvig life saving globe (bala ou bolade salvação) que será embarcada em naviosde grande porte e deverá servir para salvartripulações e passageiros em caso denaufragio.

O movimento é regularizado pelo leme.A vantagem consiste em que, mesmo quan-do a Doenvig life saving globe seja envadidapela agua, esta só encherá o diminuto po-rão, sem prejudicar a fluctuabilidade dopequeno navio.

SETEMBRO/1909

OS SUBMARI-NOS – A Revista Ge-neral de Marina, bri-lhante periodicoofficial que se publicaem Madrid, trouxe, emum de seus numeros

deste anno, um criterioso estudo sobre os sub-marinos em geral, suas machinas, velocida-des, combustiveis e tudo mais que é impor-tante de merecer attenção nessas modernasmachinas de guerra, cujo desenvolvimentoainda não attingiu ao extremo limite.

Desse bem traçado artigo reproduzimosem resumo as conclusões a que chegou o seuillustre autor, por serem ellas dignas, anosso ver, da attenção dos que se dedicamao estudo do momentoso assumpto:

“O submarino actualmente passou dasexperiencias para o dominio da pratica eefficiencia, podendo-se consideral-o umaarma de guerra.

O numero e a qualidade dosO numero e a qualidade dosO numero e a qualidade dosO numero e a qualidade dosO numero e a qualidade dossubmarinos de uma potenciasubmarinos de uma potenciasubmarinos de uma potenciasubmarinos de uma potenciasubmarinos de uma potencianaval são factores de que nãonaval são factores de que nãonaval são factores de que nãonaval são factores de que nãonaval são factores de que não

se póde prescindir nase póde prescindir nase póde prescindir nase póde prescindir nase póde prescindir naapreciação do seu valorapreciação do seu valorapreciação do seu valorapreciação do seu valorapreciação do seu valor

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

O numero e a qualidade dos submarinos deuma potencia naval são factores de que não sepóde prescindir na apreciação do seu valor.

A evolução desses navios não chegou a umaperfeição que permitta utilizal-os em alto mar,segundo um plano tactico preconcebido.

Suas qualidades actuaes restringem asua acção á defesa de costas e, afastadosdellas, só em condições muito especiaes,poderão operar satisfactoriamente.

Ampliar o raio securo e efficaz de sua acçãoé um problema que se impõe á tactica futura.”

A marinha franceza, que é grandeapologista dessas unidades, ainda não ha mui-to tempo realizou um importante exercicio, quese póde considerar uma verdadeira prova com-parativa e demonstrativa da sua efficacia, fa-zendo evoluir conjunta e separadamente ossubmarinos Pluviôse e Émeraude.

É possível que dessas experiencias tenhamsido tiradas outras conclusões, que venhamevidenciar a conveniencia dos minusculos bar-cos, que parecem destinados a revolucionarpor completo a tactica naval moderna.

A SOLDAGEM DO ALUMINIO – OSr. Felicio Drummond, dentista na cidade deOuro Preto, Estado de Minas Geraes, acabade ser premiado pelo Jury da Exposição Na-cional, realizada no Rio de Janeiro em 1908,com a medalha de ouro, pelos trabalhos apre-sentados, de soldagem do aluminio, feitos peloprocesso de que tem a patente de invençãodada pelo Governo Federal, sob o n. 5179, de25 de novembro de 1907.

Esses trabalhos mereceram elogiosasreferencias de leigos e profissionaes queos viram na Exposição, não só pelo bem aca-bado da obra de soldagem, feitas com osinstrumentos de uso commum, como peloaspecto da solda, que muito se assemelhan-

do ao do aluminio, pela côr que tem, tornapouco perceptivel sua applicação.

Pelas experiencias feitas em objectos deuso domestico, verificou-se resistir a solda áacção do tempo, ao fogo, ao peso e ao attrito,tanto ou mais que o proprio aluminio.

O CANAL DO PANAMÁ – A gravuraque ao lado reproduzimos do ShippingIllustrated, dá uma idéa do que será o ca-nal do Panamá quando concluido.

A importancia desse grandeemprehendimento, tentado pelo genio do

Perspectiva do futuro Canal de Panamá(Do Shipping Illustrated)

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

grande engenheiro francez Lesseps e emvia de conclusão pelo governo dos EstadosUnidos, não é discutivel.

A abertura deste canal colloca os Esta-dos Unidos em uma situação privilegiada evem favorecer enormemente o desenvolvi-mento tanto das republicas sul-americanasda costa do Pacifico, approximando-as daEuropa e da America Septentrional, comodos paizes do Extremo Oriente e daOceania, visto diminuir tambem para essesas grandes travessias a que se é presente-mente obrigado, para lá chegar, seja pelocanal de Suez ou, mais raramente, pelosextremos africano e sul-americano.

Para se ter uma idéa de quanto o canalvem diminuir a exten-são da viagem, bastaque se compare aactual travessia deNew-York aYokohama, via Suez,que é de 13.040 mi-lhas maritimas, com aque será via Panamá,de 10.086, ou umadifferença de quasi 3.000 milhas, que, emdias, tomando-se como marcha média donavio a velocidade de 16 nós ou umasingradura de 384 em 24 horas, representaa economia de sete dias e dezenove horas.

Vantagem semelhante terão as linhasde vapores que demandarem a Australia.

A extensão do canal, de Colon, noAtlantico, a Panamá, no Pacifico, será de40 milhas.

Os navios vindos do Atlantico navega-rão ao nivel das aguas do mar até Satem, nolago do mesmo nome. Ahi, por meio de trescomportas, elles serão levados ao nivel dolago, onde navegarão 30 milhas. Passando

Culebra, o nivel começa a baixar, vindo osnavios passar pela comporta de PedroMiguel e pouco depois por mais duas emMiraflores, para entrar no canal que osconduzirá directamente ao Pacifico, tendo500 pés de largura, isto é, 150 metros. Alargura minima é em frente a Culebra de200 pés (160 metros), com a profundidadetambem minima de 41 pés ou pouco mais de12 metros.

A maior parte do canal, porém, terá umalargura de 1000 pés (300 metros) e umaprofundidade de 50 pés ou quasi 16 metros.

Calcula-se que a duração da passagemdo canal será normalmente de 15 horas eque elle será inaugurado em 1 de janeiro

de 1915.Para os Estados

Unidos além dasincalculaveis vanta-gens que adquirem osseus portos econsequentemente oseu commercio, existemas que se referem á facilconcentração de suas

forças navaes, um dos principaes objectivosdo governo. A situação estrategica do canaldo Panamá é de ordem tal a destruir oequilibrio asiatico e garantir aos EstadosUnidos a supremacia no Pacifico e por as-sim bem comprehenderem os americanosguardam a ilha de Porto Rico, no Atlantico eo archipelago de Hawai, no Pacifico, comosentinellas avançadas.

O canal será grandemente fortificado etoda sua direcção, bem como seu pessoal,será de origem americana.

A PREDICÇÃO DAS MARÉS – Nãoprecisamos encarecer a importancia que

Tomando-se como marchaTomando-se como marchaTomando-se como marchaTomando-se como marchaTomando-se como marchamédia do navio a velocidademédia do navio a velocidademédia do navio a velocidademédia do navio a velocidademédia do navio a velocidadede 16 nós ou uma singradurade 16 nós ou uma singradurade 16 nós ou uma singradurade 16 nós ou uma singradurade 16 nós ou uma singradura

de 384 em 24 horas,de 384 em 24 horas,de 384 em 24 horas,de 384 em 24 horas,de 384 em 24 horas,representa a economia derepresenta a economia derepresenta a economia derepresenta a economia derepresenta a economia desete dias e dezenove horassete dias e dezenove horassete dias e dezenove horassete dias e dezenove horassete dias e dezenove horas

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

tem para o navegante o conhecimentoexacto da curva de maré nos portos emque a sua entrada esteja dependendo dosvalores dessa curva, principalmente como crescente augmento de tonelagem econsequentemente do calado dos naviosmodernos.

É por isso de incontestavel utilidade a de-terminação dos elementos necessarios ao cal-culo dessa curva, agora muito simplificados,pelo que nos diz a Revue Internationale del’Industrie, duConnerce et del’Agriculture, na noticiaque dá de um apparelhocom esse fim ideado porEdward Roberts, doBritish NauticalAlmanac Office.

O emprego desseapparelho, premiadoem diversas exposições,realiza uma economiade tempo consideravel, dando em duas ho-ras, com bastante precisão, o que um habilcalculador poderia levar seis mezes a fazer.

Diversos desses apparelhos, que o seu au-tor denomina – the universal tide predictingmachine – estão em funccionamento em Fran-ça, Hollanda e India, dando, ao que dizem,excellentes resultados.

Muito seria para desejar que nóstambem, que tão poucos elementos pos-suimos, para o calculo da maré de nossosportos experimentassemos o engenhosoapparelho Roberts.

MATERIAL DE CONSTRUCÇÃONAVAL INCOMBUSTIVEL – Nos com-partimentos dos navios de guerra allemães,d’ora avante, só se empregará o amiantho, emlogar do ferro, que tinha substituido a madei-

ra, outr’ora utilizada.O material de

amiantho a que nos re-ferimos, mais barato ede melhor apparenciaque o ferro, é umproducto da industriaallemã e denomina-seAsbestholz (madeirade amiantho). São pla-cas de amiantho mui-to fortes, que se podem

furar, recortar e a que se pódem dardifferentes e variadas fórmas, facilmente.

Além destas vantagens e da do preço,reune mais a inherente ao amiantho, de serincombustivel, máo conductor de calor, daelectricidade e do som, vantagens deincontestavel valor em qualquerconstrucção, naval ou civil.

Nos compartimentos dosNos compartimentos dosNos compartimentos dosNos compartimentos dosNos compartimentos dosnavios de guerra allemães,navios de guerra allemães,navios de guerra allemães,navios de guerra allemães,navios de guerra allemães,

d’ora avante, só sed’ora avante, só sed’ora avante, só sed’ora avante, só sed’ora avante, só seempregará o amiantho, emempregará o amiantho, emempregará o amiantho, emempregará o amiantho, emempregará o amiantho, emlogar do ferro, que tinhalogar do ferro, que tinhalogar do ferro, que tinhalogar do ferro, que tinhalogar do ferro, que tinhasubstituido a madeira,substituido a madeira,substituido a madeira,substituido a madeira,substituido a madeira,

outr’ora utilizadaoutr’ora utilizadaoutr’ora utilizadaoutr’ora utilizadaoutr’ora utilizada

NOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMO

JULHO/1909

CHINACHINACHINACHINACHINA

REORGANISAÇÃO DA MARINHA– Depois de um longo periodo de inacção

em que tem permanecido a marinha de guer-ra da China, desde que terminou a guerracom o Japão, o governo volta, agora, as suasvistas para a esquadra decadente, e formu-la um projecto, cujo escopo principal é asua remodelação completa e a de todos os

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

serviços inherentes ao desenvolvimento dasua marinha.

O referido projecto consigna aconstrucção de varios couraçados,detroyers, torpedeiros, submarinos, trans-portes, etc.

A nova esquadra, depois de organisada,formará tres divisões, com tres bases de ope-rações: Tientsin, Tacu e Soulhong Kong.

RUSSIARUSSIARUSSIARUSSIARUSSIA

INDULTO AO ALMIRANTENEBOGATOFF – Por occasião doanniversario natalicio do imperadorNicolau II, foi indul-tado o almiranteNebogatoff que tinhasido condemnado a 10annos de prisão, emconselho de guerra,por se ter rendido aosjaponezes na batalhade Tsushima.

O almirante passa-ra 25 mezes na fortaleza de S. Pedro e S.Paulo, onde, apezar do bom tratamento quelhe era ministrado e relativo conforto quegosava, ficou com a saude profundamentealterada.

O mesmo indulto foi extensivo aosofficiaes que faziam parte da mallogradaesquadra russa e que estavam tambem cum-prindo diversas penas.

AGOSTO/1909

ALLEMANHAALLEMANHAALLEMANHAALLEMANHAALLEMANHA

POMBOS CORREIOS – No ultimo con-gresso das sociedades colombophilas allemães,

que se effectuou em Francfort, o representan-te da marinha de guerra manifestou a sua opi-nião de que os pombos correios, apesar dos mei-os de communicação existentes, prestariamgrandes serviços em tempo de guerra. Por issoo governo mantém ainda as estaçõescolombophilas de Dantzig, Cuxhaven,Wilhelmshaven e Heligoland.

O centro de organização do serviço depombos correios acha-se estabelecido emFriedrichsort, perto de Kiel.

FRANÇAFRANÇAFRANÇAFRANÇAFRANÇA

TELEPHONIA SEM FIO – O cruza-dor couraçado Condé,do porto de Toulon,fez-se ao mar em diasdo mez passado pararealizar experienciascom o telephone semfio, invenção dos te-nentes Jeance eCollin, os quaes conse-guiram falar para ter-

ra a uma distancia de 160 kilometros.A vista deste resultado animador, espe-

ra-se poder brevemente conversar por meiodos novos apparelhos entre Corsega e a ci-dade de Nice.

O governo francez, scientificado dos bri-lhantes resultados obtidos nessas experiencias,agraciou o tenente Jeance com o gráo decavalleiro da Legião de Honra e o seu compa-nheiro foi inscripto na lista para a promoção acapitão de fragata nas primeiras vagas.

INGLATERRAINGLATERRAINGLATERRAINGLATERRAINGLATERRA

ESTAÇÕES DE TELEGREPHOS SEMFIO – O almirantado pretende adquirir di-

Os pombos correios, apesarOs pombos correios, apesarOs pombos correios, apesarOs pombos correios, apesarOs pombos correios, apesardos meios de communicaçãodos meios de communicaçãodos meios de communicaçãodos meios de communicaçãodos meios de communicação

existentes, prestariamexistentes, prestariamexistentes, prestariamexistentes, prestariamexistentes, prestariamgrandes serviços em tempo degrandes serviços em tempo degrandes serviços em tempo degrandes serviços em tempo degrandes serviços em tempo de

guerraguerraguerraguerraguerra

248 RMB3oT/2009

ACONTECEU HÁ CEM ANOS

versas installações de telegrapho sem fio nacosta léste e estabelecer outras em pontosestrategicos da mesma costa; estas ultimas, ain-da que sob fiscalização immediata do almiran-tado, serão franqueadas para transmissão detelegrammas particulares, pelos preçoscommuns das tabellas dos telegraphos inglezes.

JAPÃOJAPÃOJAPÃOJAPÃOJAPÃO

AS UNIDADES DA ESQUADRA –A esquadra prompta comprehende 13 cou-raçados, 12 cruzadores couraçados, 43 cru-

zadores, 57 contra-torpedeiros, 64 torpe-deiros, e 9 submarinos e mais alguns outrosnavios auxiliares.

Estão em construcção dois couraça-dos, dois cruzadores couraçados e umcruzador protegido; além destes naviosadiantados em construcção tem começa-dos dois grandes couraçados de 20000toneladas.

Projecta-se mais a construcção das se-guintes unidades: tres cruzadores coura-çados, cinco cruzadores de pequeno deslo-camento e dois submarinos.

REVISTA DE REVISTAS

Esta seção tem por propósito levar ao conhecimento dosleitores matérias que tratam de assuntos de interesse maríti-mo, contidas em publicações recebidas pela Revista MarítimaBrasileira e pela Biblioteca da Marinha.

As publicações, do Brasil e do exterior, são incorporadasao acervo da Biblioteca, situada na Rua Mayrink Veiga, 28 –Centro – RJ, para eventuais consultas.

SUMÁRIO(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

APOIOCONSTRUÇÃO NAVAL

Força para os nacionais (251)

ARTES MILITARESPODER NAVAL

A visão do oeste: a corrida por navios-aeródromos na Ásia (253)À beira de uma virada do jogo (255)

CIÊNCIA E TECNOLOGIARADAR

Antes do radar. Refletores acústicos (257)TORPEDO

Mudando a aparência da guerra submarina (258)

EDUCAÇÃOFORMAÇÃO

O coração de um oficial (261)

250 RMB3oT/2009

REVISTA DE REVISTAS

FORÇAS ARMADASARMAMENTO

É de novo o tempo do “bom e velho” canhão? (262)MARINHA DA CHINA

Desenvolvimento de navios de guerra: a Marinha da China (263)A República Popular da China e sua necessidade de uma Marinha oceânica (264)

MARINHA DA RÚSSIAMarinha da Rússia – Quo vadis? (265)

MARINHA DO BRASILA Marinha do Brasil: um poder regional com capacidade estratégica (266)Presente e perspectivas da Marinha do Brasil (267)

SUBMARINO NUCLEARPor que o Brasil precisa de submarinos nucleares? (268)

RMB3oT/2009 251

REVISTA DE REVISTAS

Este artigo, por evidenciar a importân-cia para a indústria brasileira do Programade Reaparelhamento da Marinha (PRM), éaqui transcrito na íntegra.

“Se depender do PRM, tanto os estalei-ros brasileiros como os fornecedores nacio-nais de navipeças têm bons motivos para seanimar. Depois de amargar alguns anos embanho-maria devido à escassez de recursosem seu orçamento, a Marinha do Brasil estáagilizando o processo de renovação de suafrota. A intenção da instituição é contratar 27navios-patrulha de 500toneladas até 2016 e 12navios-patrulha ocea-nográficos, de 1.800 to-neladas em prazo aindanão definido. Além dis-so, segundo o coorde-nador do Programa deReaparelhamento daMarinha, Contra-Almi-rante Antonio CarlosFrade Carneiro, a inten-ção é utilizar cada vezmais equipamentos pro-duzidos por fabricantesnacionais. ‘Temos o de-safio de trazer as micro,mini, pequenas e médi-as empresas para parti-cipar de licitações da Marinha’, afirmou eleem recente evento na Associação Brasileirada Indústria de Máquinas e Equipamentos(Abimaq), no Rio de Janeiro.

Sem dúvida que a meta de contratar ta-manha quantidade de embarcações é ambi-ciosa, principalmente se for levada em contaa atual dificuldade na obtenção de créditotanto no Brasil quanto no exterior. Mascomo o próprio governo federal já mani-festou sua vontade de modernizar os sis-

FORÇA PARA OS NACIONAIS(Portos e Navios, junho/2009, edição 581, p.36-38)

temas de defesa do país e de incentivar aindústria nacional de defesa, são maioresas chances de que dessa vez as propostasse concretizem. Em 2009 as Forças Arma-das tiveram um aumento no orçamento deR$ 6 bilhões para R$ 9 bilhões, além de umaotimização de mais R$ 1 bilhão de execu-ção orçamentária.

Outra boa notícia é que, segundo a Leino 11.768/2008, os royalties do petróleo quepassarem a constituir receita do orçamen-to da Marinha não poderão ser contingen-

ciados, o que propor-cionou maior seguran-ça ao planejamento fi-nanceiro da Marinha.

Atualmente, os doisprimeiros navios-pa-trulha de 500 toneladasestão em construçãono estaleiro cearenseInace. As propostascomerciais para outrosquatro estão em análi-se pela Marinha desdeo final do ano passado.Três estaleiros apre-sentaram propostas:Mauá, Eisa e o próprioInace. Somente os doisúltimos seguem na

disputa, e o resultado final deve ser divul-gado ainda neste semestre. A previsão daMarinha é de que os quatro entrem em ope-ração até 2012. Os recursos para eles estãogarantidos no orçamento da Marinha.

O Contra-Almirante Frade Carneiro ex-plica que, como mais uma medida para com-bate à crise econômica atual, o governopretende selecionar projetos que têm pos-sibilidades de execução imediata, e outrosseis dos 27 navios-patrulha poderão estar

252 RMB3oT/2009

REVISTA DE REVISTAS

entre eles. ‘A antecipação da construçãopode ser vista como mais uma medida dogoverno brasileiro para minimizar os efei-tos da crise econômica, fomentando a in-dústria naval brasileira’, avalia, acrescen-tando que a Marinha aguarda decisão, parabreve, sobre a autorização governamentalpara início de mais este processo licitatório.A meta é de que as obras sejam concluídasaté 2016.

Em todos estes casos a construção seráfeita em estaleiro nacional e de preferênciaem unidades industriais distintas, para fa-cilitar a difusão do conhecimento. ‘A in-tenção é ter diversos estaleiros capacita-dos para tocar as obras, para que o know-how não fique concen-trado em um só esta-leiro e a Marinha tenhacondições de enco-mendar em diversosparques industriais aomesmo tempo.’

O coordenador doPRM explica que aMarinha comprou o projeto francês utiliza-do nos dois navios em construção no Inacee está promovendo uma espécie decustomização. Com isso será possível in-serir mais itens nacionais, além de facilitara aquisição de sobressalentes, a assistên-cia técnica e a cotação dos preços dosmateriais. ‘Queremos que as empresas quefornecem para os navios-patrulha venhampara o Brasil. Ou para fabricar aqui ou parafazer parcerias’, explica o coordenador doprojeto. Cada navio-patrulha custa cercade R$ 75 milhões.

Segundo ele, ainda não é possível ternúmeros exatos sobre o índice de naciona-lização dos navios-patrulha em construçãono Inace porque, dentre outros motivos,muitos sistemas e equipamentos ainda es-tão em fase de seleção. Para os próximos, aMarinha pretende, com o aumento da es-

cala de construção, atingir um índice denacionalização cada vez maior. ‘A meta parao segundo lote é iniciar com no mínimo 50%de conteúdo nacional’, afirma o coordena-dor do PRM.

Frade Carneiro sugere que seja formadoum pool de micro e pequenas empresaspara viabilizar a participação delas em pro-jetos grandes. ‘Queremos que o majorcontractor se responsabilize por algunsprocedimentos que seriam dos fornecedo-res. As empresas menores em geral não têmcondições de produzir a documentaçãonecessária, seja por dificuldades de enten-dimento das especificações técnicasfornecidas pela Marinha, seja por contar

com departamentoscomerciais frágeis.Mas o contato com aMarinha não é a únicadificuldade. Exigênci-as ambientais, fiscais,exigências de ensaiose certificações tambéminviabilizam ou inibem

a participação do pequeno fornecedor.’ Eleapontou ainda a falta de comunicação en-tre a Marinha e os fornecedores como ou-tro entrave. Às vezes, a Marinha abre umalicitação e não tem a participação que es-perava. ‘Até para o pequeno fornecedorfazer chegar até nós a sua dúvida é difícil’,afirma o contra-almirante, que pretendebuscar uma aproximação maior entre a Ma-rinha e os fornecedores nacionais.

A Marinha também planeja encomendar12 navios-patrulha oceanográficos de 1,8mil toneladas. A licitação dos três primei-ros, com opção de mais dois, é estimadapara junho de 2010. A confirmação, no en-tanto, só virá após a aprovação do novoPlano de Equipamento e Articulação daMarinha (Peamb) pelo governo federal. Osrecursos financeiros deverão ser proveni-entes do orçamento da Marinha. Cada um

Construir no Brasil naviocom tal nível de sofisticação– o patrulha de 1,8 mil t –

não será tarefa simples

RMB3oT/2009 253

REVISTA DE REVISTAS

deles custa cerca de R$ 230 milhões, e aintenção é de que as obras, a serem execu-tadas em estaleiros nacionais, tenham 60%de conteúdo nacional.

Construir no Brasil navio com tal nívelde sofisticação não será tarefa simples.Questionários multidisciplinares elabora-dos por especialistas de diversos setoresda Marinha serão enviados para projetis-tas tradicionais interessados em fornecero projeto. Estes projetistas devem ter con-dições de atender aos requisitos da Mari-nha e dispor de projetos executados, já emuso em outras marinhas do mundo. ‘Deposse das respostas, três deles serão es-colhidos para compor uma short list paranegociarmos e escolhermos os que nosderem as melhores condições. Diremos oque queremos e escolheremos o que se dis-puser não só a fazer aqui como a ter parce-ria com estaleiros nacionais para prepará-los para as construções. Pretendemos, porexemplo, estabelecer uma pontuação con-forme o índice de nacionalização apresen-tado na proposta de licitação’, detalha ocontra-almirante, acrescentando ainda que

a Empresa Gerencial de Projetos Navais(Emgepron) está se capacitando para quea construção dos canhões também possaser feita no Brasil. Cada um dos navios-patrulha oceanográficos será equipadocom um canhão de 76 milímetros e duasmetralhadoras de 20 milímetros. O sistemade armas destes navios representa cercade 50% de seu custo.

Entre os poucos estaleiros que têm knowhow para tocar essa encomenda estão oitaliano Fincantieri, o alemão Thyssen e oespanhol Navantia.

Em sua apresentação na Abimaq, o co-ordenador do Programa afirmou que ou-tras embarcações previstas no PRM somamcerca de R$ 400 milhões para encomendaaté 2017. São chatas de água e óleo, rebo-cadores de portos, agências-escolas, lan-chas, botes etc.

O PRM prevê ainda a construção de cin-co navios-patrulha logísticos até 2028 comprevisão de início em 2010. Eles tambémterão projeto estrangeiro e construção noBrasil. O custo total do PRM é estimadoem cerca de R$ 2,7 bilhões.”

A VISÃO DO OESTE:A CORRIDA POR NAVIOS-AERÓDROMOS NA ÁSIA

Christian Bedford*(Canadian Naval Review, Canadá, Volume 5,

Número 1, primavera 2009, págs. 33-35)

* Analista sênior no Maritime Forces Pacific Hedquarters, seção Asia-Pacific Advisor.

Qual o pensamento político e estratégi-co prevalente na região Ásia-Pacífico – fu-turo centro geopolítico do mundo no sé-culo XXI – em relação à atual corridaarmamentista? Essa é a questão colocadapor Christian Bedford e que ele busca res-ponder neste artigo, no qual afirma cate-

goricamente a existência dessa competição,apesar de ela não ser admitida diretamentepela maioria dos Estados pertencentes àárea.

Sua análise enfoca o porta-aviões, paraele o ícone da guerra naval do século XX,reconhecendo que a corrida abrange ou-

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tras áreas, como a de alta tecnologia dearmamento, de mísseis antissatélites, de ca-ças a jato de quinta geração e de platafor-mas espaciais para guerra cibernética. Paramuitos observadores, de Seul a Camberrae de Pequim a Nova Délhi, todos os esta-dos se ocupam em estabelecer forças denavios-aeródromos (NAe) de tamanhos va-riados, afirma Bedford.

Seu estudo busca abranger dados atu-ais relativos aos principais poderes atuan-tes na região. Assim, inicia examinando oposicionamento pelos Estados Unidos daAmérica (EUA) de seis dos seus 11 porta-aviões no Pacífico e a substituição do USSKitty Hawk, seu último NAe com propul-são convencional, e sediado no Japão, peloUSS George Washington, com propulsãonuclear. Passa então a analisar a China, con-siderando seus projetos e aquisições, e oscompara aos da Índia, que vem sofrendoreveses em suas encomendas junto àRússia.

A seguir, considera os países que, se-gundo ele, “têm se movido silenciosa e re-

solutamente em direção ao negócio da pro-jeção de poder”. Assim, cita a Coreia doSul, o Japão e a Austrália, comparando suasiniciativas, e enfoca outros, comoIndonésia e Cingapura, países que, emmenor escala, vêm adotando ações namesma direção por meio da aquisição denavios anfíbios com capacidade de trans-porte de helicópteros. Todos esses paí-ses, sumariza o autor, têm um propósito co-mum: projetar poder fora de suas águasterritoriais.

Em sua conclusão, Bedford afirmaque, para países como EUA, China e Ín-dia, os NAe representam instrumentosde projeção de poder e são também sím-bolos adequados às grandes economi-as de seu poder nacional. Nos casos daChina e da Índia, assevera que a cons-trução de uma força desses navios con-tribuirá para a solução dos respectivosdilemas de Málaca e de Hormuz, referin-do-se aos “gargalos” de energia que ostornam vulneráveis.

O autor indica que, em áreas próximas àcosta, os NAe e os grandes navios anfíbi-os podem ser utilizados para uma vastagama de tarefas, como para apoio em ca-sos de desastres naturais, para operaçõesde paz e estabilidade e para operações alémdo horizonte em tempos de crises. Lembraainda que a capacidade de um Estado emreagir com rapidez e eficácia, e ditar os des-dobramentos finais em casos de ocorrên-cias como o tsunami de 2004, na Indonésia,ou o ciclone Nargis, em Mianmar, em 2008,pode incrementar consideravelmente seupoder regional.

Para Bedford, no século XXI os NAeserão a forma mais eficaz para os Estadosda região Ásia-Pacífico garantirem sua in-fluência. E afirma, concluindo: “Com tan-tos Estados buscando esses navios, a di-nâmica da segurança da região sofrerámudanças significativas”.

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Para os autores deste artigo, um míssilantinavio balístico (ASBM – antishipballistic missile) chinês pode alterar as re-gras no Pacífico e colocar os grupos deataque nucleados em navios-aeródromos(CSGs – carrier strike groups) dos Esta-dos Unidos da América (EUA) em risco,trazendo consequências profundas àdissuasão, às operações militares e ao equi-líbrio de poder na região oeste do OceanoPacífico. Erickson e Yang acrescentam ain-da que, dependendo da munição usada nosASBM (para neutralização apenas, porexemplo), os chineses alcançariam seusobjetivos com menos risco de escalada doconflito.

A busca do desenvolvimento dos ASBMfoi acelerada pelos chineses, segundo osautores, desde a percepção pela liderançamilitar e política do país, após a Crise doEstreito de Taiwan (1995-1996). Para eles,os CSGs seriam as plataformas vitais emqualquer futuro conflito envolvendoTaiwan. Como essa área é entendida comojá escolhida por Washington para interven-ção em caso de crise, os desenvolvimen-tos militares chineses foram acelerados sig-nificativamente.

As novas plataformas de lançamento eos sistemas de armas resultantes, de natu-reza assimétrica e enfocados no impedimen-to de acesso, visam a atacar todo o lequede vulnerabilidades dos CSGs. Para os au-tores, os ASBM, a serem desenvolvidoscom o know-how de mais de seis décadasde experiência em mísseis balísticos, pode-

À BEIRA DE UMA VIRADA DO JOGOAndrew S. Erickson* e David D. Yang**(Proceedings, EUA, maio/2009, p. 27-32)

* Andrew S. Erickson é professor associado no China Maritime Studies Institute do Naval War College.É coautor de volume de livro que será editado pelo Naval Institute Press sobre a evolução do papelmarítimo do poder aeroespacial chinês.

** David D. Yang é cientista político associado da Rand Corporation. Foi pesquisador da StanfordUniversity e engenheiro de software de aviônica na Lockheed Martin.

rão atingir alvos a centenas de milhas dacosta chinesa, lançados a partir de plata-formas móveis e com capacidade deocultação. O Segundo Corpo de Artilhariachinês – definido pelos autores como sen-do um comando de foguetes estratégicos– teria divulgado um estudo de aplicabi-lidade sobre o assunto, em 2003, que indi-cava que esses conceitos vinham sendodesenvolvidos havia mais de cinco anosou, talvez, mais de uma década.

Diante dos conhecimentos acima, osautores se propuseram a examinar a biblio-grafia chinesa disponível, buscando iden-tificar os desafios com que se defronta oPLA (People’s Liberation Army – Exércitode Libertação Popular) para desenvolverum sistema de ASBM eficiente e saber comoele poderá vir a ser usado em caso de ten-são ou conflito com outras nações.

Para isso, analisaram as discussões in-ternas na China sobre o tema, examinaramaspectos técnicos e doutrinários, e identi-ficaram a necessidade de cooperação en-tre agências do governo. Verificaram tam-bém que, do ponto de vista analítico chi-nês, o desenvolvimento de um sistema deASBM teria como principal consequênciamaior confiança na capacidade do PLA emrestringir as operações da Marinha dosEUA e maior controle sobre a escalada dacrise, mesmo em circunstâncias ambíguas.Em contrapartida, uma eventual retaliaçãonorte-americana atacando bases em solochinês poderia gerar uma situação de es-calada incontrolável do conflito.

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Alcance máximo do DF-21/CSS-5 a partir do solo chinês

Em conclusão, os autores afirmam quequaisquer sinais de aquisição de capaci-dade de lançamento de ASBM pelos chi-neses devem ser cuidadosamente consi-derados pelos EUA. Eles sugerem que osplanejadores americanos busquem solu-ções de longo prazo e admitem, antecipa-damente, que o poder aéreo baseado emterra não seria uma delas, já que os chine-ses, sabidamente, já possuem mísseis con-vencionais com capacidade de ataque às

bases americanas na região, cujas localiza-ções são conhecidas. Poder-se-ia, sugerem,investir em tornar os CSGs menos visíveispor meio de despistadores ou de medidaseletrônicas que confundissem os sistemasde detecção chineses, por exemplo. Consi-deram ainda que, se essas medidas foremconsideradas ineficazes, deve-se instalarmaior capacidade de combate nos subma-rinos, nos veículos aéreos não tripuladosbaseados além do alcance dos mísseis chi-

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neses e em plataformas de baixos perfis dereflexão radar, de modo a que os CSGs nãoprecisem ser expostos.

Erickson e Yang afirmam que, no nívelpolítico, Washington deve deixar claro paraPequim que o desenvolvimento de ASBMenfraquecerá tratados de limitações de armasjá existentes e motivará outros países a de-senvolverem sistemas próprios, resultandoem tensões estratégicas que alimentarão aqui-sições militares para busca do equilíbrio depoder na região, gerando prejuízos para to-dos. Salientam que a percepção pública ame-ricana desse desequilíbrio deterioraria acredibilidade regional dos EUA e poderia, si-

multaneamente, gerar excesso de confiançaem Pequim, levando a uma demonstraçãopública dessa capacidade e fazendo parecerque a guerra como um todo sofreu mudançaradical em detrimento dos EUA. Isso, em casode guerra, pode ter consequências catastró-ficas, particularmente se o PLA superestimarsua capacidade de controlar a escalada.

Erickson e Yang finalizam sentenciandoque, para se evitarem desdobramentos ne-gativos, os EUA devem redobrar seus es-forços de promover paz e cooperação naregião e em assegurar que suas própriascapacidades sejam mantidas, em caso defalha na dissuasão estratégica.

Este artigo foi escrito com o propósitode identificar os sistemas acústicos queforam utilizados para a detecção antecipa-da de um ataque inimigo a partir da Primei-ra Guerra Mundial até a invenção do radar,ocorrida na década de 1930.

O radar é um invento cuja aplicação prá-tica se encontra integrada à nossa vidacotidiana. Um exemplo são os radaresdetectores de chuva que alimentam os no-ticiários com previsões meteorológicas.Além disso, para o autor, as vantagens es-tratégicas que um sistema de alerta oferecesão muito claras, por exemplo, ao fornecerrumo, velocidade e altitude de alvos mó-veis, permitindo a antecipação de ataques,a prevenção de acidentes e a administra-ção segura do tráfego de veículos tantoaéreos como marítimos.

A origem dos receptores acústicos

“É um gesto natural do ser humano le-var a mão à orelha quando tenta escutar

ANTES DO RADAR,REFLETORES ACÚSTICOS

Segundo-Tenente (Espanha) Miguel Carrasco Sandino(Revista General de Marina, Espanha, Maio 2009, p. 653-659)

um som distante ou muito leve. Dessa for-ma, o que se pretende é dirigir uma quanti-dade maior de ondas sonoras até o ouvi-do”, afirma Carrasco Sandino. Ele prosse-gue afirmando que o uso de cornetas acús-ticas em tempos remotos por pessoas comdificuldades auditivas permitiam amplificaros sons ao seu redor, concluindo que es-

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tas são as origens em que se baseiam osreceptores acústicos.

O documento mais antigo sobre o usodesses aparatos data de 1880. O chamado“topophone” era usado para a localizaçãode navios em nevoeiros. O aparato, comum par de cornetas conectadas ao ouvidodo usuário por meio de tubos semelhantesaos de estetoscópios, era colocado noombro. Ao girar o tronco no momento emque um navio soava seu apito de nevoeiro,o operador podia identificar, com algumaprecisão, por meio da variação da intensi-dade do som em cada ouvido, a direção dooutro navio, evitando-se, assim, colisões.

Segundo o autor, foi apenas a partir de1910 que o Exército britânico passou a de-monstrar interesse no uso desse aparelho.Carrasco Sandino passa então a relatar osresultados de sua pesquisa, que identifi-cou diversas experiências realizadas a par-tir de 1914 para desenvolver um aparelhoque detectasse e acompanhasse a aviaçãoinimiga por meio do som.

Segundo ele, essa necessidade tornou-se óbvia a partir de maio de 1915, quandoLondres começou a ser bombardeada pordirigíveis, pela aviação do Exército e pelaMarinha alemães. E, mais ainda, a partir de1917, quando os dirigíveis foram substitu-ídos por aviões bimotores e foram lançadas300 toneladas de bombas sobre a Grã-

Bretanha durante a Primeira Guerra Mun-dial. Assim, era evidente a urgente neces-sidade de algum sistema de alarme anteci-pado, especialmente para prevenir ataquesnoturnos.

O autor relata inúmeras experiências fei-tas com aparatos de grandes proporções,alguns tendo obtido sucesso, apesar doceticismo inicial dentro do Exército. Foramrealizados testes de desenvolvimento des-ses sistemas até 1939, quando o último re-fletor acústico foi, finalmente, abandonado.

Carrasco Sandino acrescenta que a mai-oria dos refletores foi destruída ao longodos anos, exceto aqueles que foramconstruídos por último e que ainda podemser visitados na Inglaterra, como curiosi-dade. Finaliza afirmando que “os refletoresacústicos continuam escutando os ruídosque vêm do céu, mesmo sem ter ninguémpara escutá-los”.

“Primavera, 2021.Aquela era uma vista inédita desde a

última guerra mundial. A maior armada anavegar para a batalha despontava na né-

MUDANDO A APARÊNCIA DA GUERRA SUBMARINACapitão de Mar e Guerra (EUA) David M. Portner*

(Proceedings, EUA, junho/2009, p. 52-56)

* O Comandante Portner se transferiu para a reserva da Marinha dos Estados Unidos da América (EUA)em 2007, após 26 anos servindo em submarinos, incluindo o comando no mar e a designação paragerente do Programa de Armas Submarinas. É, atualmente, pesquisador sênior no Laboratório dePesquisas Aplicadas da Penn State University, que apoia o Navy Torpedo Defense Program Office,da Marinha dos EUA.

voa matinal, 82 navios ao todo, incluindoo novo navio-aeródromo, incorporadohavia apenas nove meses... Duas décadasde planejamento que finalmente renderia

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Ele não percebeu o início doataque à sua força! Uma

mudança quaseimperceptível na formatura

a bombordo

frutos por meio de uma invasão rápida egloriosa... Os americanos, com suas decla-rações de que defenderiam aquele país,chegarão muito atrasados para prestarqualquer ajuda...

O almirante, no passadiço do porta-aviões, não consegue evitar sorrir aoolhar para aquele conjunto de navios epensar no porvir dos acontecimentos. Elenão percebeu o início do ataque à suaforça! Uma mudança quase imperceptívelna formatura a bombordo – dois cruzado-res, um navio de transporte de tropas eum contratorpedeiro (CT) diminuíram avelocidade, enquanto um outro CT gui-nava bruscamentepara bombordo, comose estivesse em fuga.Havia sido a fonia rui-dosa que chamara asua atenção.

‘Almirante’, chamao jovem oficial de ma-nobra alarmado, ‘oCruzador Razorbackreporta perda total das máquinas. O Cru-zador Fortune reporta o mesmo’. O almi-rante vira rapidamente na direção dos doisnavios avariados no exato momento em queum CT colide contra um navio de apoio, o‘bico-fino’ cortando profundamente o cos-tado do grande navio. Fogo irrompe. Umgrito vindo da ponte aberta a boreste cha-ma a atenção do almirante para o outrolado da armada. Quatro outros navios di-minuíam rapidamente sua velocidade, cau-sando confusão na formatura, enquantooutros navios se desviavam dos navios ava-riados. A mente do almirante apressada-mente questiona: O que é isso? Como issopode acontecer a tantos navios em momen-to tão inoportuno? Então, ele avistou! Umleve spray de água próximo ao espelho depopa de um cruzador que, logo a seguir,reduziu sua velocidade. Algo havia explo-

dido abaixo da popa daquele navio, dei-xando-o aleijado. Em menos de dez minu-tos, mais da metade dos navios da podero-sa armada estava à matroca. Outros dezhaviam colidido. Iniciou-se um incêndioferoz no navio-tanque que transportava ocombustível para a força invasora.

A situação já estava clara para o almi-rante: ele estava sendo atacado por um ini-migo invisível, um submarino, ou, mais pre-cisamente, por vários submarinos. Mas quearmamento novo é esse que parece neutra-lizar em vez de destruir? Vários navios ha-viam reportado a detecção de ruído doshélices de alta velocidade de torpedos, mas

as explosões que neu-tralizaram a força nãoeram as típicas de tor-pedos lançados porsubmarinos. Além dis-so, o ataque a tantosnavios em período detempo tão curto deve-ria significar que esta-vam sob ataque de uma

força de submarinos. Nenhum navio haviaafundado, porém a força inteira estava en-volta em confusão. Já não havia mais a cer-teza do sucesso. Regressar significaria de-sonra e desgraça.

O que o almirante não sabia o teriafeito estremecer dos pés à cabeça. Apenasdois submarinos americanos haviam ata-cado, cada um usando apenas quatro dostorpedos de suas dotações.”

Dessa forma original, o ComandantePortner faz a introdução de seu artigo, noqual busca divulgar as qualidades de novaarma que está sendo desenvolvida por seuLaboratório de Pesquisas Aplicadas naPennsylvania State University, nos EUA:o CVLWT (Common Very Lightweight Tor-pedo – torpedo comum muito leve). Essearmamento está sendo criado para ser umtorpedo antitorpedo com financiamento do

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Office of Naval Research e do UnderseaDefensive Systems Program Office.

Esse torpedo miniatura, com apenas 1/3do peso do torpedo Mark 46, apesar de nãovir substituir os demais torpedos atualmenteexistentes, é visto com otimismo pela Mari-nha dos EUA por, segundo o autor, “expan-dir a capacidade do arsenal do país”. Ressal-vando que não endossa qualquer arquitetu-ra específica, ele alega buscar indicar tão so-mente o potencial de uma arma desse tipopara uma grande variedade de missões.

Um bisturi naval

Portner argumenta que a força destruido-ra de um torpedo – pode afundar um naviodo porte de um cruzador em poucos minutos– dificulta o emprego de submarinos em ope-rações de intervenção marítima. “Não se podeusar um machado quando se precisa de umbisturi”, alega. Para ele, os rápidos avançostecnológicos já obtidos podem prover aosubmarino exatamente esse bisturi.

Reforçando sua argumentação, ele dizque o afundamento de um navio inimigo,apesar de lhe impor uma significativa perda,propicia uma fácil decisão: reconhecer a per-da e prosseguir a missão. Em contrapartida,

a simples neutralização, além de impedi-lode prosseguir na batalha, deixa ao coman-dante do grupo uma difícil decisão estraté-gica: abandonar o navio à deriva, prover asua proteção ou rebocá-lo? As duas últimasopções comprometem outros meios navaise diminuem o ímpeto da luta. Se deixado àmatroca, o navio avariado se torna um obs-táculo aos demais e dificulta os movimen-tos da formatura. Na confusão, haverá apossibilidade de colisões e o potencial paranovos incêndios e alagamentos.

O potencial da nova arma, informaPortner, é a arquitetura de processamentode seu controlador (Torpedo IntelligentController), que utiliza uma forma de lógicafuzzy, que pode acompanhar múltiplos al-vos, separando os de interesse com preci-são surpreendente. Além disso, acrescenta,o CVWLT pode ser pré-programado paraatingir pontos específicos no casco do na-vio alvo (hélices, lemes ou áreas onde selocalizem paióis de munição, tanques decombustível ou praças de máquinas). Issopermite um engajamento que não provoca adestruição e minimiza a quantidade de víti-mas fatais. A arma pode ser empregada indi-vidualmente em combate próximo ou comcabeça múltipla usando a propulsão do Tor-

O CVLWT, apesar de possuir o mesmo comprimento dos outros torpedos leves americanos, serásignificativamente mais fino e leve, abrindo amplas e novas possibilidades de emprego

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pedo Mark 48 para ataques a longa distân-cia, modalidade já utilizada com sucessodurante testes de desenvolvimento na água.

Para o Comandante Portner, o CVWLT,que apresenta custo significativamente me-nor do que o dos torpedos convencionais,por ser pequeno e leve, pode ser lançado apartir de navios de superfície, de submarinosou de aeronaves contra alvos de superfícieou submarinos, aumentando as opções docomandante. As propriedades desse novotorpedo, para o autor, permitirão maior con-trole do ambiente político ou estratégico pormeio da dosagem das avarias impostas aooponente, minimizando a perda de vidas hu-

manas. Em acréscimo, o submarino poderápassar a ser empregado em operações clássi-cas de interdição de áreas e contra a pirataria.O torpedo poderá ser utilizado igualmentepara a proteção de portos, lançado a partir delançadores em terra, e, ainda, poderá equiparveículos aéreos não tripulados (Vant).

O Comandante Portner conclui seu artigoindicando que, no mundo de ameaçasassimétricas atual, a sua Marinha precisa trans-formar seu arsenal, preparando-o paraengajamentos limitados com capacidade deefetiva neutralização, acarretando o mínimo deconsequências para passageiros e tripulações,que devem ser presumidos como inocentes.

Este instigante artigo provoca a reflexãodo leitor que possui interesse por assuntosrelacionados à carreira militar-naval. Exami-nando os problemas identificados pelosautores em sua Marinha, buscam explicitá-los e indicar soluções e uma visão do futurodesses assuntos que, mais cedo ou maistarde, poderão afetar as Marinhas de paísescom aspirações a atores globais.

Usando como evidências os ataques àsTorres Gêmeas de Nova York, os conflitoscom terroristas no Afeganistão, no Iraque eao redor do mundo, além do combate aonarcotráfico e a guerra cibernética, os auto-res concluem que os comandantes militarescontemporâneos se defrontam com um mun-do em constante mudança e com novas

O CORAÇÃO DE UM OFICIALAlmirante (EUA) James Stavridis* e

Capitão de Mar e Guerra (EUA) Mark Hagerott**(Naval War College Review, EUA, primavera/2009, volume 62, número 2, pág. 27-41)

* Almirante da ativa da Marinha dos Estados Unidos da América (EUA) e comandante do SouthernCommand, desde outubro de 2006. É oficial de superfície, doutor em Relações Internacionais egraduou-se pelo National War College e pelo Naval War College. É autor de vários livros sobreliderança e manobra de navios, além de contumaz colaborador de revistas especializadas em temasnavais.

** Oficial da ativa da Marinha dos EUA, serviu em cinco navios diferentes e em diversos estados-maiores. Comandou o USS Kauffman (FFG 59) de 2001 a 2003. É engenheiro nuclear naval e possuiPhD nas áreas de ciências, tecnologia e história militar. É professor na Academia Naval de Annapolis.

ameaças que impõem dinamismo sem pre-cedentes aos acontecimentos, exigindoacompanhamento durante as 24 horas dosdias. Acrescentam que esses desafios, porserem transnacionais e não tradicionais, obri-gam ao comandante conjunto ser capaz deintegrar esforços de uma grande variedadede organizações – desde serviços de inteli-gência até organizações de caridade.

Por isso, os autores indicam que é requeri-do do comandante que se defronta com desa-fios dessa ordem o desenvolvimento de umagrande capacidade de integração, e, dessemodo, deve ser conhecedor de operações con-juntas, interagências e internacionais; de co-municações estratégicas; e, idealmente, devefalar pelo menos uma língua estrangeira.

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Os autores admitem que a produção delíderes com essas habilidades não é tarefafácil. Eles consideram que, em sua Mari-nha, o segmento do corpo de oficiais res-ponsável por dominar esses conhecimen-tos – a comunidade Unrestricted Line (ofi-ciais de carreira sem restrições) – se en-contra, devido à saturação de designações,próximo ao limite do admissível por seu pla-no de carreira atual.

Assim, para se estabelecerem requisitospara oficiais que os preparem para as tarefasvislumbradas, o atual plano de carreira deve-rá ser alterado, defendem os autores, acres-centando que a revisão a ser feita deve al-cançar o sistema educacional naval, o de de-signações e o de promoções – desde aspi-rante até almirante. O artigo prossegue bus-cando identificar quais seriam esses requisi-tos e, para isso, analisa aspectos sociais, cul-turais, geográficos, estratégicos etc. das mis-sões atribuídas aos comandantes navais.Examina também aspectos históricos associ-ados à formação de oficiais durante a GuerraFria e como o modelo de carreira de então setornou permanente. Ao final, indica caminhosa serem seguidos no futuro, buscando abor-dar os diversos níveis de formação e a políti-ca de designações de comissões.

O novo oficial de Marinha?

“A atual geração de oficiais seniores aten-deu ao chamamento da nação”, afirmamStavridis e Hagerott ao final de seu texto.

Segundo eles, “ela guarneceu e comandoumais operações conjuntas e atividadesinteragências do que qualquer outra desde aSegunda Guerra Mundial”. Entretanto, afir-mam, esses oficiais obtiveram suas qualifica-ções por si mesmos ou enquanto exerciam asrespectivas funções, esforçando-se para ad-quirir a experiência adequada, as credenciaistécnico-profissionais e a habilidade em lín-guas estrangeiras por iniciativa própria.

“Da mesma maneira que a Marinha for-malizou a criação de excelentes aviadoresnavais e engenheiros nucleares de elite, eladeve aprimorar seus mecanismos formais demodo a criar o novo oficial de Marinha, pos-suidor da qualificação necessária a traba-lhar em arenas conjuntas, internacionais ouinteragências”, afirmam, em conclusão, oAlmirante Stavridis e o ComandanteHagerott, não sem antes abordarem outroimportante aspecto da questão:

“O coração do oficial de Marinha não édefinido por treinamentos ou planos decarreira, pois estes se desvanecem e sãosubstituídos, como sempre foram. O quehá no verdadeiro coração da profissão sãoas crenças centrais de nossas vidas: a co-ragem, a honra e a obstinação com o deverque se encontra dentro de nós. Mas, alémdesses elementos centrais e vitais, existemos campos da educação, do treinamento eda experiência. Estes podem e devem sermoldados da melhor forma possível nestenovo e ameaçador século XXI.”

É DE NOVO O TEMPO DO “BOM E VELHO” CANHÃO?Otto Kreisher*

(Naval Forces No III/2009, Vol. XXX, págs. 88-93)

* Editor da Naval Forces na América do Norte. É formado em jornalismo e ciências políticas pela Universi-dade do Missouri. Foi fuzileiro naval e oficial navegador da aviação naval na Marinha dos Estados Unidosda América, tendo passado para a reserva como capitão de fragata após 25 anos de serviço ativo.

“Durante a Segunda Guerra Mundial, asbaterias principais dos navios aliados ti-veram que cumprir uma grande variedade

de tarefas. Foram usadas no combate aoutras unidades de superfície e em bom-bardeios de costa – papéis clássicos dos

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canhões navais”, afirma o autor no iníciodeste artigo, no qual faz detalhada apre-sentação dos canhões da atualidade e dosmodernos tipos de munições disponíveis.

Atualmente, quando a maior ameaça aocombatente de superfície provavelmente seráum míssil veloz, furtivo e mortal, alguns analis-tas questionam se o canhão naval pode fazertudo. Ou seja, será que existem realmente ca-nhões navais multiuso? Com essa proposta,Otto Kreisher, usando dados de diversas Ma-rinhas, enumera os papéis de vários tipos decanhões e munições dentre os mais avança-dos existentes. Aborda o reconhecimento pelaMarinha dos Estados Unidos da América(EUA) da importância do canhão naval

multiuso, cita a necessidade de que os ca-nhões tenham a capacidade de engajar comameaças próximas e de alta velocidade e usa oexemplo do USS Cole para demonstrar comoum navio de custo de construção de 1 bilhãode dólares e dotado de mísseis quase foi afun-dado por terroristas que usavam um pequenobote de borracha. Segundo o autor, a culpateria sido da pouca quantidade de proteçãoclose-in naquela situação.

Otto Kreisher examina também a neces-sidade de integração de mísseis e canhõespara uma defesa eficiente do navio de su-perfície e aborda a importância das espole-tas das munições, que, para ele, “são a cha-ve da capacidade multiuso”.

Como o foco de preocupação no que serefere ao poder econômico mundial vem,gradualmente, sendo transferido para a Ásia,em especial para a China, observa-se que,naturalmente, a literatura especializada mili-tar vem apresentando o mesmo movimento.

Neste artigo sobre o tema, Doug Thomasapresenta um histórico sucinto da People’sLiberation Army (Navy) – Plan, que é o ramonaval do exército de libertação popular chi-nês, além de um resumo das operações quese encontram em andamento e alguns dosplanejamentos existentes, dando um panora-ma daquela Marinha, do qual se busca aquiapresentar os aspectos mais importantes.

A Plan foi fundada em 23 de abril de 1949.De 1950 ao final dos anos 1970, a sua tarefaprincipal foi a de conduzir operações defen-sivas em águas interiores, representando tãosomente um ramo do Exército Vermelho. A

DESENVOLVIMENTO DE NAVIOS DE GUERRA:A MARINHA DA CHINA

Doug Thomas*(Canadian Naval Review, Canadá, Volume 5,

Número 1, primavera 2009, págs. 38-39)

* Editor-assistente da Canadian Naval Review.

Contratorpedeiro chinês suspendendo para acosta da Somália

partir dos anos 1980, ela passou por transfor-mações estratégicas que a tornaram capaz deconduzir operações marítimas de defesa. Apartir de 2000, a Plan vem se esforçando paraaumentar sua capacidade de conduzir opera-ções integradas no mar e de fazer a dissuasãoe o contra-ataque estratégicos. Vem tambémdesenvolvendo capacidade de operar em ma-res distantes de seu litoral e de contraposição

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a ameaças não tradicionais. Por meio desseesforço de cerca de seis décadas, o país mol-dou uma força operacional naval moderna,com nível crescente de automação naintegração de dados e com armamento tantonuclear como convencional.

O efetivo da Plan é de 250 mil oficiais,homens e mulheres, incluindo os 25 mil daaviação naval. Ela conta com três esqua-dras distintas, cada uma possuidora de seupróprio comando de aviação, bases deapoio e fuzileiros navais. Possui tambémoito instituições de educação, desde umaescola de altos estudos navais até umauniversidade de engenharia naval e de en-genharia aeronáutica naval.

A força de submarinos possui submari-nos nucleares com mísseis estratégicos,nucleares de ataque e convencionais, to-dos organizados em bases e flotilhas. A for-ça de navios de superfície consiste decontratorpedeiros, fragatas e de navios-pa-trulha com mísseis, varredores, de desem-barque de tropas e de apoio. A aviação écomposta por caças, caças-bombardeiro ebombardeiros, além de contar com aerona-ves de reconhecimento e de patrulha e heli-cópteros, todos organizados em divisõesaéreas. O corpo de fuzileiros conta com via-turas blindadas anfíbias, tropas de infanta-ria, de engenheiros e de reconhecimento.

Para o autor, houve alto investimentofinanceiro e se despendeu grande esforço

para se desenvolver a Marinha chinesa atéo estágio atual. Ele prediz que essemomentum será mantido ou incrementadono futuro e prossegue examinando as evo-luções mais recentes na área do poder nu-clear chinês, em especial o desenvolvimen-to do míssil balístico antinavio. A seguirentra em considerações sobre quantitati-vos de submarinos nucleares estratégicose de ataque, examinando a capacidade des-ses navios de patrulharem seus mares.

Analisa também as operações empreen-didas pela Marinha chinesa, a partir de ja-neiro de 2009, contra os piratas somalis noGolfo de Áden. Thomas considera que elasindicaram um rompimento em relação aotradicional perfil discreto de Pequim em suasrelações internacionais, marcando o rom-pimento com a antiga política deminimização de seu poder militar. Por isso,ele pergunta: “Será esse um divisor deáguas na política de segurança da China?A operação no Golfo de Áden mudará apolítica chinesa no leste da Ásia?”.

Para Doug Thomas, a Plan é uma forçaem ascensão, uma organização que estádescobrindo e explorando suas fronteirase as possíveis contribuições que poderáprestar como ferramenta de política nacio-nal e exterior chinesa. Para ele, ela será fun-damental no apoio às reivindicações dopaís em relação às riquezas existentes nofundo do Mar do Sul da China.

A REPÚBLICA POPULAR DA CHINAE SUA NECESSIDADE DE UMA MARINHA OCEÂNICA

Gabriel A. Cancellarich*(Boletín Del Centro Naval, Argentina, Ano 127 – Vol. CXXVII no 823, janeiro/abril de

2009, págs. 65-74)

* Capitão de corveta da Marinha da Argentina, é mestrando em Políticas Públicas na UniversidadeTorcuato Di Tella e aluno do Curso de Estado Mayor y Planeamiento Conjunto em la EscuelaSuperior de Guerra Conjunta de las Fuerzas Armadas, da Argentina.

Observa-se que, recentemente, a preo-cupação internacional no que se refere ao

equilíbrio de poderes vem sendotransferida para a Ásia, em especial para a

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China. Assim, natural-mente, a literatura es-pecializada em estraté-gia apresenta o mesmomovimento.

No caso deste arti-go sobre o tema, o au-tor aborda a relevânciaque o mar deveria terpara uma potência emer-gente como a China,levando-a a vislumbraralém do ambiente regi-onal, adotando uma vi-são mais ampla paraonde confluem seus in-teresses nacionais.Para tanto, Cancellarich examina a situa-ção atual do país – visto como uma ameaçapotencial aos Estados Unidos da Américae a outros países de sua região –, buscaidentificar as variantes de sua política dedefesa, no passado e no presente, sua in-fluência na região, e apresenta mapas de-talhados com o fluxo de petróleo, com aslinhas de comunicação marítimas e do Es-treito de Málaca.

Dentre suas conclusões, o autor apre-senta o seguinte diagnóstico para o país:“A China precisa projetar uma estratégiamarítima mais ambiciosa em função de seusinteresses, de modo a lhe permitir assegu-

rar seu acesso aos recursos energéticosque importa do estrangeiro, assim como aproteção do livre trânsito de seu comércioexterior por mar, assegurando, assim, osmeios necessários ao seu desenvolvimen-to econômico. Deveria ter mais presençaefetiva na região do sudeste asiático, pro-jetando sua política exterior por meio desua Marinha, cooperando com outras na-ções em operações de prevenção ao terro-rismo e contra a pirataria, que afetam porigual toda a região; assim poderia conquis-tar prestígio e liderança regional em detri-mento de outros atores relevantes, comoos EUA e a Índia”.

O Estreito de Málaca como ponto de estrangulamento

Neste artigo sobre o futuro da Marinhada Rússia, o autor examina as dificuldadesque o país atravessa para realizar a manu-tenção dos meios existentes e para a reno-

MARINHA DA RÚSSIAQUO VADIS?

Keith Jacobs*(Naval Forces No III/2009, Vol. XXX, págs. 56-63)

* Escritor assíduo em várias publicações sobre as forças militares e Marinhas da Ásia. Possui graduaçãoem estudos sino-russos. Assessora regularmente a Naval Forces sobre construção naval e necessida-des operativas da Marinha dos Estados Unidos da América.

vação de sua esquadra – promessas doPresidente Medvedev –, que são similaresàs dos tempos da Guerra Fria, segundoJacobs.

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O artigo começa com uma detalhadadescrição da comissão realizada pela fra-gata russa BFS Neustrashimyy, de 24 desetembro de 2008 a 8 de fevereiro de 2009,na qual, após navegar no Oceano Atlânti-co e no Mediterrâneo, passando pelo Ca-nal de Suez, operou no Mar Vermelho comnavios de outras nacionalidades para pro-teção de navios contra ataques de piratasda Somália.

Após abordar detalhes dos engajamentose outros incidentes, tais como o de busca esalvamento de que o navio participou duran-te essa missão, Jacobs conclui que ficou de-monstrada a necessidade da presença cons-tante da Marinha russa no Golfo de Ádencitando, inclusive, o comandante da Mari-nha do país, Almirante Vladimir Vysotsky. Se-gundo ele, essa comissão do navio demons-trou também a intenção da Marinha russa deoperar em apoio à comunidade marítima in-ternacional e em apoio à proteção de linhasde comunicação marítimas vitais. Demons-trou também a disposição de sua Marinhaem atuar de forma preventiva, até com o usode canhões, em defesa de navios mercantesneutros contra a pirataria – algo que vinhafaltando na política adotada pelos navioseuropeus e norte-americanos na região. Ana-lisando em contexto mais amplo, o autor ava-

lia que esse tipo de abordagem para o uso deseu poder militar pode ressoar em Moscoucomo sendo mais produtivo do que o uso deuma política de confronto semelhante à daGuerra Fria.

Jacobs passa então a examinar as inicia-tivas do Presidente Medvedev de se aproxi-mar dos militares por meio de investimentosem planos de manutenção e de construçãode novos meios, incluindo um novo diquecom capacidade de docar navios de 100 miltoneladas. Passa então a analisar as atuali-dades no que se refere aos submarinos, nu-cleares e convencionais; aos porta-aviões,identificando as dificuldades de construçãoexistentes; aos navios de superfície; e à avi-ação naval. Para permitir ao leitor acompa-nhar os dados que analisa, o autor apresen-ta uma tabela de navios e submarinoscomissionados na Marinha da Rússia e umade navios e submarinos em construção.

Então, após essa detalhada apresenta-ção, na qual demonstra claramente as difi-culdades pelas quais a Rússia está pas-sando em relação à manutenção e à cons-trução naval, Keith Jacobs conclui afirman-do que só se pode estar pessimista no quese refere à possibilidade de se completar oprograma de construção da Marinha daRússia.

Este artigo, publicado na seção PerfisNavais da revista Naval Forces, apresentaum histórico da Marinha do Brasil, um bre-ve perfil da carreira do comandante daMarinha, Almirante de Esquadra Julio Soa-

A MARINHA DO BRASIL:UM PODER REGIONAL COM CAPACIDADE ESTRATÉGICA

José Higuera*(Naval Forces No II/2009, Vol. XXX, págs. 44-50)

* Nascido no Chile, é formado em jornalismo e possui mestrado em Política Internacional e Segurança(Bradford). Foi conselheiro no Comitê de Defesa do Parlamento do Chile e realizou extensaspesquisas na América do Sul e na América Central. Atualmente trabalha em um estudo sobre osfatores que influenciam as obtenções e os gastos militares na América do Sul.

res de Moura Neto, e uma análise evolutivadetalhada da Força, desde o pós-SegundaGuerra Mundial até os dias atuais.

Amparado por seu trabalho de pesqui-sa, Higuera explana, por exemplo, a adesão

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brasileira ao Tratado Interamericano de As-sistência Recíproca (Tiar), em 1947, peloqual o País foi beneficiado por transferên-cias de navios norte-americanos por meiodo Programa de Assistência Militar (MAP);a aquisição, em 1958, do Navio-AeródromoLigeiro Minas Gerais, que foi incorporadoem 1961, e os problemas daí advindos jun-to à Força Aérea para a operação das aero-naves embarcadas; o programa de aquisi-ção e de construção das fragatas da classeNiterói; e a encomenda dos submarinosda classe Oberon.

O autor aborda, ainda: o projeto dascorvetas classe Inhaúma, citado por elecomo sendo altamente ambicioso por pre-ver a construção de 12 a 16 navios no Bra-sil; a construção daquelas corvetas e asdificuldades para a construção da Barro-so; o programa dos submarinos da classeTupi, que tornou o Brasil o único país doHemisfério Sul a construir esse tipo de na-vio; o marco representado pela mudançade lei, em 1997, que passou a permitir àMarinha operar aeronaves de asa fixa; aaquisição do Navio-Aeródromo São Pau-lo; e a construção do submarino Tikuna.

José Higuera analisa também a nova Es-tratégia Nacional de Defesa (END) brasilei-ra, lançada em dezembro de 2008, identifi-cando as tarefas por ela propostas à Mari-nha. Busca, nesse exame, identificar os mei-os necessários à consecução da Negaçãodo Uso do Mar, do Controle de Área Maríti-ma e da Projeção de Poder. Passa, então, aapresentar um histórico do esforço brasilei-ro para o desenvolvimento da propulsãonuclear para submarinos, iniciado em 1979,levando ao leitor fatos e dados até o mo-mento atual, em que foi assinado acordocom o governo francês nesse sentido.

Higuera conclui afirmando que a Mari-nha do Brasil, “apesar das dificuldades fi-nanceiras em anos recentes, possui a maioresquadra da América do Sul”. Acrescentatambém que o Brasil está a caminho de pos-suir, até o final da próxima década, uma es-quadra detentora de uma força de submari-nos expressiva, ainda mais se obtiver o sub-marino com propulsão nuclear. Esse subma-rino, segundo ele, será “ferramenta muitoútil na conquista das ambições do País dese tornar ator importante nas relações inter-nacionais além da região sul-americana”.

O comandante da Marinha do Brasil (MB),Almirante de Esquadra Julio Soares de MouraNeto, é entrevistado neste artigo pela revistaTecnologia Militar sobre as atualidades daMB e seus programas e projetos.

Os temas abordados, todos alvos de ex-planações detalhadas do comandante daMB, foram:

– Nível operativo atual da Força;– Estratégia Nacional de Defesa e a par-

ticipação da MB;

PRESENTE E PERSPECTIVAS DA MARINHA DO BRASILAntonio Ciranno Maureira*

(Tecnologia Militar No 2/2009, págs. 25-29)

* Jornalista e enviado especial da revista Tecnologia Militar à LAAD 2009. Esta entrevista foi o últimotrabalho antes de seu prematuro falecimento.

– Programa nuclear, seu significado eobjetivos;

– Programa de Reaparelhamento daMarinha (PRM);

– A indústria militar naval brasileira; e– Perspectivas de desenvolvimento da

MB.Dentre as importantes informações pres-

tadas pelo comandante da MB, ressaltam-se as prioridades que indicou em relaçãoao PRM:

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O comandante da Marinha do Brasil e ojornalista Antonio Ciranno Maureira na

LAAD 2009

– modernização dos submarinos da clas-se Tupi, construção de submarinos con-vencionais e do primeiro submarino compropulsão nuclear;

– aquisição de helicópteros de múltiploemprego, para guerra antissubmarino eantissuperfície, a serem recebidos nos pró-ximos três anos;

– modernização de helicópteros de ata-que Super Lynx;

– aquisição de viaturas blindadas detransporte de pessoal e para socorro, paraemprego em missões de paz e de garantiada lei e da ordem;

– modernização do Navio-AeródromoSão Paulo, de fragatas classe Greenhalghe de corvetas classe Inhaúma;

– construção de navios de escolta, apartir de projeto a ser desenvolvido em trêsanos;

– construção de navios-patrulha fluvi-ais de 200 toneladas;

– construção de embarcações do Siste-ma de Segurança do Tráfego Aquaviário(SSTA);

– modernização de navios hidrográficos;– projeto de fabricação de mísseis naci-

onais; e– aquisição de minas e munição.O comandante da Marinha afirma, ao fi-

nal da entrevista, que “a MB vem desen-volvendo um acentuado esforço no senti-do de construir uma força moderna, equili-brada e balanceada, composta por meiosnavais, aeronavais e de fuzileiros navais,compatíveis com a inserção político-estra-tégica do País no cenário internacional eem sintonia com os anseios da sociedadebrasileira”.

POR QUE O BRASIL PRECISA DESUBMARINOS NUCLEARES?

Paul D. Taylor*(Proceedings, EUA, junho/2009, p. 42-47)

* O embaixador Taylor é veterano da Marinha dos EUA e oficial da Reserva de Serviços Internacionais.É pesquisador sênior de estratégia do Centro de Estudos de Guerra Naval do U.S. Naval War College.Reconhece o auxílio nas pesquisas e as opiniões do Capitão de Mar e Guerra P. Norman, ex-comandante do USS Maine (SSBN-741).

Este artigo, baseado em pesquisa reali-zada em textos brasileiros, como discur-sos do presidente e do vice-presidente daRepública, artigos jornalísticos que inclu-em citações do ministro da Defesa e do

comandante da Marinha, artigos publica-dos em revistas como a da Escola de Guer-ra Naval e outras especializadas em Defe-sa, além da Estratégia Nacional de Defesabrasileira (END), examina as motivações

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brasileiras para a aquisição de submarinonuclear.

O desenvolvimento de programanuclear pelo Brasil demonstra suacrescente proeminência global

Citando a END,divulgada no final de2008, o autor inicia seutexto indicando que elanão provê justificativaplausível para o recém-acelerado programanuclear brasileiro e es-pecula que a explicaçãoestá mais relacionada,aparentemente, a fato-res políticos e econô-micos da grande estra-tégia nacional do queaos requisitos da estra-tégia naval. Prossegue,neste subitem, anali-sando aspectos histó-ricos e econômicos doprograma desde o seuinício, em 1979.

O projeto do submarino

Taylor cita que o programa do subma-rino nuclear brasileiro abrange três fasesdistintas:

1 N. R.: O texto cita, por força da época em que foi escrito, que o ministro da Defesa, Nelson Jobim; o deAssuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger; e o comandante da Marinha, Almirante deEsquadra Julio Soares de Moura Neto, viajaram para a França e para a Rússia em busca de parceirospara a construção. A parceria com a França foi assinada em 23 de dezembro de 2008 pelo governobrasileiro e prevê a construção, no Brasil, de quatro submarinos convencionais do tipo Scorpene,isto é, movidos a propulsão diesel-elétrica, e o desenvolvimento do projeto, bem como a constru-ção, de um submarino movido a propulsão nuclear. Toda a parte nuclear propriamente dita serádesenvolvida exclusivamente pelo Brasil. Estão previstos, ainda, o projeto e a construção de umestaleiro especialmente dedicado à construção de submarinos nucleares, e onde os convencionaistambém poderão ser produzidos. Junto ao estaleiro será construída, ainda, uma base naval paraapoio a esses submarinos.

– a primeira se concentra no ciclo docombustível nuclear, que, correntemente,abrange o envio para o Canadá paraprocessamento e para a Europa, onde umconsórcio britânico-holandês-alemão faz oenriquecimento;

– a segunda fase é a da construção doreator naval, que se en-contra em andamento,com previsão de inves-timentos da ordem de525 milhões de dólaresnas instalações ao lon-go de oito anos; e

– a fase final é a daconstrução do subma-rino propriamente dito,na qual, segundo o au-tor, os líderes nacionaisreconhecem a necessi-dade de se estabeleceruma parceria internaci-onal com cláusula rigo-rosa referente à trans-ferência de tecnologia1.

Falandoestrategicamente

Taylor argumenta neste subitem que ajustificativa apresentada pelo PresidenteLula de que não houve investimento no pas-sado nas Forças Armadas em virtude dasdificuldades econômicas pelas quais o País

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vinha passando revela apenas um dos as-pectos da história. Cita a argumentação doministro Jobim de que os submarinos nucle-ares servirão para proteção de plataformasde petróleo e as do vice-presidente JoséAlencar de que, além disso, eles desenco-rajarão possíveis agressões estrangeiras emáguas brasileiras. Aborda, ainda, a rejeiçãodo vice-presidente aos rumores levantadospela imprensa de que a reativação da QuartaEsquadra Norte-Americana (4th Fleet) teriasido um dos argumentos que levaram à de-cisão de se adquirir submarinos nucleares.Segundo o embaixador Taylor, apesar deBrasil e Estados Unidos da América desfru-tarem de relações cordiais e de possuíremforte laço econômico, “o medo da domina-ção pelo Norte é uma parte resistente dapsique política brasileira”.

O autor passa então a analisar a capaci-dade de submarinos nucleares sedesincumbirem das missões propostas ouvislumbradas para eles no caso brasileiro:

– Proteção de plataformas de petróleo:submarinos não são apropriados para essatarefa. Segundo Taylor, o próprio Presiden-te Lula indicou a importância de se cons-truir navios-patrulha com esse propósito.Uma força de pequenos e rápidos navios-patrulha poderia ser construída pelo custode um submarino nuclear e seria umdissuasor visível a qualquer pretendente aquestionar o controle brasileiro de suas pla-taformas;

– Patrulha da Zona Econômica Exclusi-va: um submarino nuclear, com suas capa-cidades de ocultação e velocidade, pode-ria exemplificar o conceito de mobilidadeemitido pelo ministro da Defesa por poderestar de fato presente onde e quando ne-cessário, em vez de “apenas” ter essa ca-pacidade. Entretanto, argumenta Taylor,essa capacidade não é privativa dos sub-marinos nucleares, que apresentam altoscustos de aquisição, treinamento e manu-

tenção. Cita o reconhecimento pelo coman-dante da Marinha do Brasil de que essessubmarinos seriam alguns dos vários mei-os envolvidos em patrulhas costeiras, masque sua maior utilidade viria do fato de po-derem permanecer embaixo d’água quaseindefinidamente, sendo limitados apenaspelo fator humano. Ele também ressalta aimportância dada pela END à defesa da re-gião amazônica, tanto em terra como no mar.

– Dissuasão de ameaças por Estados: acapacidade de ocultação dos submarinosnucleares serve perfeitamente para essamissão, um dos princípios fundamentais daEstratégia de Defesa Nacional brasileira deacordo com o ministro Jobim, afirma Taylor.Entretanto, pondera, não houve discussãopela opinião pública de qual ameaça preci-saria ser dissuadida e prossegue afirman-do que há mais de um século, à exceção de1944, quando o Brasil enviou tropas à Itá-lia, que o País não se engaja em conflitomilitar.

Na opinião do Embaixador Taylor, “sub-marinos são plataformas ideais para defe-sa contra outros submarinos e se pode ar-gumentar que o recente acordo entre aVenezuela e a Rússia para aquisição demodernos submarinos a diesel se apresen-ta como uma ameaça hipotética ao Brasilpara os próximos 40 a 50 anos, vida proje-tada de novos submarinos nucleares”.

– Projeção de poder e proteção de li-nhas de comunicação marítimas: segundoo autor, independentemente do que moti-vou o programa brasileiro, seu sucessoproporcionará ao País a capacidade estra-tégica de projetar poder para ajudar naçõesamigas e para dissuadir adversários emqualquer parte do planeta. Porém não háevidências, na política de relações exterio-res ora adotada, de qualquer aspiração emse usar essa capacidade, mas ela poderáinfluenciar o pensamento de futuros go-vernos, acrescenta Taylor. Uma contingên-

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REVISTA DE REVISTAS

cia que pode surgir é a de um maiorenvolvimento do Brasil com países africa-nos do Atlântico Sul, especialmente aque-les participantes da Zona de Cooperaçãodo Atlântico Sul (ZCAS), criada por inicia-tiva brasileira, em 1986, por via de resolu-ção da Organização das Nações Unidas(ONU).

Considerações similares adicionais

– Desenvolvimento tecnológico e expor-tações militares: a END, segundo o embai-xador, indica como um de seus objetivosprincipais a reestruturação da indústria dedefesa, declarando-a “inseparável da estra-tégia de desenvolvimento nacional”. Paraele, o Presidente Lula propositalmente ligouessa argumentação ao programa do subma-rino nuclear na esperança de reproduzir osucesso da Embraer (Empresa Brasileira deAeronáutica S. A.). Indo além, o autor cita oacordo França-Brasil e as palavras do Mi-nistro Mangabeira Unger, o qual afirma a

vontade brasileira de construir uma indús-tria de armamento de ponta, tornando o Bra-sil um exportador de armas ativo. Lembra,ainda, que no passado, entre 1975 e 1998, oPaís chegou a ser exportador de aviões mili-tares e de carros de combate.

– Política, respeito e o Conselho de Se-gurança da ONU: a nova END, para Taylor,pode ser vista também como um passo nadireção da implementação de uma políticaexterna crescentemente ativa. Um objetivoseria a busca da realização de antiga aspi-ração: um assento permanente no Conse-lho de Segurança da ONU. O autor prosse-gue analisando os inúmeros fatores queenvolveram os pleitos brasileiros anterio-res de passar a integrar esse seleto grupoda ONU e os aspectos que seriam altera-dos pela obtenção do submarino nuclear.Afirma, após sua análise, que o submarinoseria uma demonstração de que o poderbrasileiro excederia em muito o dos demaisvizinhos regionais, tornando-o a escolhanatural para o assento permanente.

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– Um desafio para o Brasil: a constru-ção de um submarino nuclear representaum investimento substancial de capital paraum país que ainda se defronta com gran-des desafios de desenvolvimento e no qualcerca de um terço da população vive abai-xo da linha da pobreza, assevera o autor.

“A despesa com a aquisição do subma-rino será apenas o início, ela será seguidapelo custo de preparação da estrutura ne-cessária para desenvolver e guarnecer osnavios. A operação e a manutenção tam-bém serão desafios a vencer, especialmen-te considerando-se o alto custo de se man-ter uma planta de propulsão nuclear den-tro de padrões de segurança”, afirma. Afavor desse ponto ele cita que haverá inte-resse dos países que já possuem submari-nos nucleares na operação segura dos sub-marinos brasileiros, já que qualquer aciden-te poderia afetar a forma como a propulsãonuclear é vista no mundo. Ademais, acres-centa Taylor, o País tem um histórico posi-tivo no manuseio de plantas nucleares.

No final de seu artigo, o EmbaixadorTaylor sumariza as conclusões a que chegouafirmando que considera compreensível enormal a aspiração de um país de buscar con-

quistar o símbolo que a aquisição datecnologia no “estado da arte” envolvida emsubmarinos nucleares representa, aumentan-do assim o seu prestígio internacional. Acres-centa que o fato de não estarem claras asimplicações do submarino nuclear na estra-tégia marítima brasileira não significa que elasnão serão importantes no futuro. Segundoele, esses meios navais e, especialmente, suacapacidade de projetar o poder letal de torpe-dos e mísseis em qualquer lugar do planetapoderiam promover o ímpeto para um pro-grama agressivo de aquisição de recursoscomplementares em apoio a uma estratégiade projeção global de poder. Se houvesseesse desenvolvimento, ele seria o reflexo de– ou poderia gerar – grande reformulação daestratégia nacional brasileira.

Em contrapartida, os submarinos nucle-ares podem resultar apenas em símbolosde conquista tecnológica, sem que hajauma mudança correspondente na estraté-gia militar, conclui Taylor. E afirma, finali-zando, que, “apesar de um submarino nu-clear ser por sua natureza um meio oculto,sua emersão em um porto distante poderiarapidamente sinalizar a conquista brasilei-ra de um novo nível de proeminência”.

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Esta seção destina-se a registrar e divulgar eventos importan-tes da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída aMercante, dar aos leitores informações sobre a atualidade e per-mitir a pesquisadores visualizarem peculiaridades da Marinha.

Colaborações serão bem-vindas, se possível ilustradas comfotografias.

SUMÁRIO(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ADMINISTRAÇÃOCOMEMORAÇÃO

57o aniversário da Secretaria-Geral da Marinha (276)273o aniversário de criação do Comando da Marinha (276)Aniversário da Diretoria de Administração da Marinha (278)Cinquentenário do Instituto de Pesquisas da Marinha (IPQM) (279)Desfile naval do Dia da Independência (281)Dia Internacional dos Guardiães da Paz (283)Ministério da Defesa comemora dez anos e recebe homenagem do Congresso (283)

CONTRATOProsub – Programa de Desenvolvimento de Submarinos (284)

CRIAÇÃOCriado o Núcleo de Inovação Tecnológica da Marinha (NIT-MB) (284)

INAUGURAÇÃOServiço de Inativos e Pensionistas da Marinha (SIPM) inaugura novas instalações (285)

LANÇAMENTO AO MARLançamento do Submarino Arpão, da Marinha de Portugal (285)

POSSEAssunção de cargos por almirantes (286)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

PRÊMIOPrêmio Internacional em Tecnologia da Informação para a Marinha (287)

PROMOÇÃOPromoção de almirantes (287)

TRANSFERÊNCIA DE NAVIOTransferência de subordinação do NDCC Almirante Saboia (287)Transferência de subordinação do RbAM Triunfo (290)

VISITAÇÃOPríncipe Albert II visita a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) (291)

APOIOOBRAS CIVIS

Recuperação do Cais da Bandeira (291)

ATIVIDADES MARINHEIRASBUSCA E SALVAMENTO

Assinatura de Termo de Cooperação Marinha do Brasil-Agência Nacional deTransportes Aquaviários (Antaq) (291)

REGATAV Regata A Mulher na Marinha (292)Cisne Branco vence regata internacional do Atlântico Norte (292)

SINALIZAÇÃO NÁUTICAMarinha e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) assinam

termo de cooperação (293)

CIÊNCIA E TECNOLOGIAENERGIA

Marinha mantém Farol do Arvoredo com energia solar (294)PROJETO

Projeto Ocean Acoustic Exploration – OAEx (294)

CONGRESSOSENCONTRO

Encontro de Bioincrustação, Ecologia Bêntica e Biocorrosão – VIII Bioinc (295)EXPOSIÇÃO

O Brasil, a França e o Mar (295)SEMINÁRIO

Seminário Comemorativo da Tomada de Caiena (297)Seminário sobre Ondas, Marés, Engenharia Oceânica e Oceanografia por Satélite (298)

SIMPÓSIOI Simpósio de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha (298)Simpósio Naval de Liderança (299)I Mesa de Aplicações Militares de Pesquisa Operacional (299)

ECONOMIARECURSOS DO MAR

Marinha celebra acordo de cooperação com o Departamento Nacional deProdução Mineral (DNPM) (299)

EDUCAÇÃOCOLÉGIO NAVAL

Colégio Naval participa da 4a simulação das Nações Unidas (300)

RMB3oT/2009 275

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ESPORTEResultados esportivos (301)

FORMAÇÃOBase Aérea Naval de São Pedro d’Aldeia (BAeNSPA) presta apoio ao Centro de

Instrução de Aviação do Exército (Ciavex) (303)PREPARO DO HOMEM

Pessoal, nosso maior patrimônio (304)RECURSO INSTRUCIONAL

Marinha produz material de comunicação para deficientes visuais (306)

FORÇAS ARMADASAVIÃO

AF-1 lança bomba de aviação (307)NAVIO-AERÓDROMO

Qual o futuro do porta-aviões? (307)OPERAÇÃO

Fragata Liberal participa da Team Work South 2009 (307)

INFORMÁTICAINTERNET

Página da Secretaria de Ciência, Teconologia e Inovação da Marinha (SecCTM) nainternet (308)

INTRANETNova página da Marinha na intranet (308)

MEIO AMBIENTEAQUECIMENTO GLOBAL

Artigos do Vice-Almirante Costa Fernandes na Revista Scientific American – Brasil (308)

PODER MARÍTIMOEMPRESA DE NAVEGAÇÃO

Grupo Rickmers – 175 anos em transporte marítimo (309)SISTEMA PORTUÁRIO

Presidente das Filipinas inaugura terminal em Suape (309)

PSICOSSOCIALASSISTÊNCIA SOCIAL

Serviço integrado de atendimento domiciliar (310)Voluntárias Cisne Branco-RJ assumem Obra do Berço (311)

MORALPara viver melhor (311)Serviço de Assistência Social da Marinha (SASM) firma acordos para descontos

em hotéis e pacotes turísticos (312)LANÇAMENTO DE LIVRO

Cadernos Navais – reflexões sobre o mar (313)LITERATURA

Conhecendo a História através da Marinha (313)SOCIEDADE

Confraria Marítima de Portugal (319)TEATRO

Se meus livros falassem (320)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Secretaria-Geral da Marinha comple-tou, em 4 de agosto último, 57 anos de exis-tência. A seguir, transcrevemos a Ordemdo Dia relativa à data, expedida pelo secre-tário-geral da Marinha, Almirante de Es-quadra Marcos Martins Torres.

“Passados 57 anos, comemoramos hojemais um aniversário de criação da Secretaria-Geral da Marinha, celebração que traz em seubojo o orgulho pelas realizações e a motiva-ção para atender às novas responsabilida-des que, certamente, o futuro apresentará.

Tendo sua gênese em 4 de agosto de1952, pela Lei no 1.658, resultado da propo-sição do então ministro da Marinha, Almi-rante de Esquadra Renato de AlmeidaGuillobel, ao Presidente da República, Ge-túlio Vargas, inicialmente teve como prin-cipal finalidade prestar assessoria adminis-trativa ao ministro.

No decorrer de sua história, suas atribui-ções evoluíram e se multiplicaram, sempreem consonância e no encalço do desenvol-vimento observado no Brasil e no mundo, oque ampliou o universo de responsabilida-des e exigiu esforços desmedidos para oaperfeiçoamento contínuo e consecução dosobjetivos com eficiência e eficácia.

Atuando praticamente em todas as áre-as, atendendo às múltiplas e complexas ne-cessidades tempestivamente surgidas, prin-cipalmente em face da grande velocidadedos avanços tecnológicos, o que exigetransformações e modificações sucessivas,cumpriu seus objetivos de forma exemplar ealcançou resultados expressivos, sempreorientados e voltados para o preparo e pron-tidão, atingindo plenamente o seu foco –

57o ANIVERSÁRIO DA SECRETARIA-GERAL DA MARINHAque é prestar o melhor serviço à Marinha – econtribuindo para que nossa Força conti-nuasse cumprindo, de forma competente, asua missão constitucional.

Hoje, como no passado, vivemos dias di-fíceis, com restrições de recursos,potencializadas pelos constantes avanços emudanças de toda ordem, o que nos imputanovos desafios, mas, apesar de todos osóbices, foram grandes as realizações nas áre-as orçamentária, financeira, de abastecimen-to, de tecnologia de informação, de controleinterno, nas ações que proporcionaram o in-cremento na oferta e melhores condições paraaquisição de moradias para o pessoal daMarinha, no trabalho com o saudoso e valio-so Patrimônio Histórico, tudo fruto da dedi-cação, competência, preparo intelectual e daproficiência em suas Organizações Militaressubordinadas, assessorias e divisões,traduzidas no seu valoroso pessoal.

Por tudo isso, neste momento de come-moração e de júbilo, é por dever de justiçaque agradeço e congratulo-me com todosaqueles que, com esmero, colaboraram ecolaboram para a consecução de todas astarefas atribuídas à Secretaria-Geral e, ob-servando os vários projetos implantados naMarinha no presente, vislumbramos um fu-turo promissor, mas que demandará muitotrabalho para suplantar os incontáveis de-safios que se apresentarão. Assim, conclamotodos para que mantenham a dedicação e aqualidade dos trabalhos até aqui demons-trados e que tanto enalteceram e contribuí-ram para o cumprimento de nossa missão.

Bravo Zulu, Secretaria-Geral!”(Fonte: Bono Especial no 533, de 4/8/09)

O Comando da Marinha comemorou, em28 de julho último, seu 273o aniversário decriação. Na ocasião, o comandante da Ma-

273o ANIVERSÁRIO DE CRIAÇÃO DO COMANDO DA MARINHArinha, Almirante de Esquadra Julio Soaresde Moura Neto, emitiu a seguinte Ordemdo Dia:

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

“Ao comemorarmos o nosso 273o ani-versário de criação, faz-se necessário retro-ceder a 1736, ano em que, por Alvará de D.João V de Portugal, foi estabelecida, entreoutras, a Secretaria da Marinha e DomíniosUltramarinos, subordinada diretamente aomonarca. Ao longo dos séculos, desde aColônia, passando pelo Império, até o pre-sente, sucessivas modificações em sua de-nominação foram sendo efetuadas, sem que,contudo, suas tarefas fundamentais sofres-sem mudança. Assim, ao alcançarmos o anode 1999, quando da implementação do Mi-nistério da Defesa, a Lei Complementar no

97, de 9 de junho, mudou o nosso nomepara Comando da Marinha, mantendo-se asmesmas responsabilidades anteriores.

Como se pode verificar, desde o distan-te 28 de julho de 1736, não se tem notíciade registro que indique alteração substan-cial da estrutura administrativa da nossainstituição, fator determinante para que adata em lide fosse considerada como a nossaorigem, cujas atribuições básicas têm sidoconservadas desde então, efetuando-se asadaptações e modernizações em decorrên-cia das novas realidades vivenciadas nodecurso do tempo.

O mar sempre exerceu uma forte influên-cia no destino da Pátria. Foi a via do des-cobrimento, o acesso para invasores. Nelelutamos pela integridade do território e pelaconsolidação da independência e, atravésdele, fomos agredidos nos dois últimosconflitos mundiais, o que fez com que ab-dicássemos da neutralidade.

Fruto dessa pujante história, temos hojeuma vasta faixa litorânea com cerca de 8.500km de extensão e uma rede fluvial com, apro-ximadamente, 40.000 km de rios navegáveis.

No Atlântico, detemos a jurisdição sobreuma imensa área que, em sendo aceito opleito referente à plataforma continental, jáapresentado à ONU, atingirá algo em tornode 4,5 milhões de km2; por ser extensa, rica e

de valor indiscutível, convencionamoschamá-la de ‘Amazônia Azul’.

Como corolário da incontestável riquezadesse “mar que nos pertence”, possuímosuma posição de destaque no cenário inter-nacional, já que temos inegável competên-cia em construção de meios, inclusive desubmarinos; dominamos tecnologias sensí-veis, como o ciclo de enriquecimento do urâ-nio; dispomos de Grupamentos Operativosde Fuzileiros Navais em condição de prontoemprego, dotados de capacidade expedici-onária e de projeção de poder; operamosaviação de asa fixa embarcada em navio-aeródromo; e procuramos, firmemente, de-senvolver uma Força equilibrada, balancea-da e moderna, com aptidão para inibir even-tuais agressões e estimular soluções pacífi-cas de controvérsias.

Nos oceanos, as fronteiras são linhasimaginárias que não existem fisicamente. Oque as definem e as fazem respeitadas sãoos navios patrulhando-as ou realizandoações de presença. Nunca é demaisrelembrar Rui Barbosa alertando-nos que“esquadras não se improvisam”.

Dentro desse enfoque, buscamos aten-der a uma estratégia de dissuasão, que re-quer reconhecidas credibilidade e pronti-dão, com o suporte de uma emergente ecrível indústria de defesa.

Nesta oportunidade, em que se recordamalguns remotos fatos históricos que deter-minaram o surgimento deste Comando e asnossas crescentes responsabilidades, gos-taria de felicitar todos os militares e civis,homens e mulheres, da ativa e da reserva, econclamá-los a continuarem seu trabalhodiuturno com dedicação, entusiasmo e cren-ça na formação de uma instituição cada vezmais à altura do papel do Brasil no concertodas nações, certos de que, assim proceden-do, estaremos também contribuindo paraperpetuar nossa tão querida Marinha.”

(Fonte: Bono Especial no 516, de 28/7/09)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Foi comemorado, em 1o de julho último, o40o aniversário da Diretoria de Administra-ção da Marinha (DAdM). Abaixo, transcre-ve-se a Ordem do Dia relativa à data,expedida pelo diretor da DAdM, Vice-Almi-rante (IM) Indalecio Castilho Villa Alvarez.

“Há 40 anos, acompanhando o momen-to de transformações administrativasestabelecidas pelo Decreto-Lei no 200/1967,foi implementada a Reforma Administrati-va no âmbito da Secretaria-Geral da Mari-nha, incluindo a criação da Diretoria deAdministração da Marinha, composta, ini-cialmente, pelos Departamentos de Finan-ças, de Coordenação e Controle do PlanoDiretor, de Administração e de Patrimônio,e, ainda, como órgãos diretamente subor-dinados, a Divisão de Arquivo da Marinhae a Imprensa Naval.

Naquela oportunidade, a AdministraçãoNaval estabeleceu uma nova configuraçãoorganizacional que visava à agilidade e à efici-ência dos processos da Marinha, em especialnos setores de apoio, com base na inserçãode maior racionalidade e na descentralizaçãodas atividades administrativas.

Hoje, quando comemoramos o 40o ani-versário da nossa DAdM, podemos fazê-locom a certeza de uma trajetória de sucesso,construída sob direções firmes e competen-tes, conduzidas por eminentes chefes na-vais, que sempre contaram com tripulações,compostas por oficiais, praças e servidorescivis, qualificadas e extremamente compro-metidas com a realização de seus trabalhos.

Desde a criação da Diretoria de Admi-nistração, muitos foram os ajustesorganizacionais implementados, em razãodas evoluções na estrutura da Força, sem-pre voltados para melhor cumprir as nos-sas tarefas. As múltiplas e complexas mu-tações globais vivenciadas, em especial no

ANIVERSÁRIO DA DIRETORIA DE ADMINISTRAÇÃO DAMARINHA

segmento tecnológico e na área de gestãoadministrativa, impuseram ação proativa àDAdM para o cumprimento das suas tare-fas. Todos os desafios apresentados sem-pre tiveram resposta positiva e tempestiva,permitindo que esta Diretoria Especializa-da possa ter orgulho da sua eficiente e efe-tiva contribuição para o cumprimento damissão da Marinha do Brasil.

Nos dias atuais, a multiplicidade de tare-fas e a variedade de sistemas digitais, bemcomo os diversos processos de gestão ad-ministrativa, constituem característicasmarcantes das nossas atividades. Nesta opor-tunidade, é relevante registrar ações e ativi-dades extremamente importantes concluídasrecentemente, como a adequação do Sistemado Plano Diretor (SPD) ao Plano Plurianual(PPA), visando a compatibilizá-lo, ao máxi-mo, com o Sistema de Planejamento e Orça-mento Federal (SPOF) e com os respectivosSistemas Gerenciais de Informações; a ela-boração do Plano de Gestão do ProgramaNetuno (PGN), que tem como objetivo a con-solidação do Programa, na busca da excelên-cia em gestão na Marinha; a atualização doprocesso de montagem e apresentação doAnuário Estatístico; a implantação doLegisMar, sistema que permite acesso a do-cumentos de interesse da AdministraçãoNaval; a nova versão do Sistema de Gerênciade Documentos Eletrônicos da Marinha(Sigdem 2.0), desenvolvida pelo Centro deAnálises de Sistemas Navais (Casnav); e oCadimaWeb, sistema que propicia ogerenciamento do patrimônio da Marinha doBrasil. Menção especial deve ser direcionadaà importante participação em apoio ao Pro-grama de Submarinos, no que tange ao direi-to administrativo, ao planejamento e execu-ção do orçamento, assim como às atividadesligadas ao patrimônio imobiliário.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Os resultados alcançados foram possíveiscom o trabalho, o profissionalismo e oengajamento da nossa tripulação, embasadosem longo e efetivo programa de capacitaçãodo pessoal. Naturalmente, não poderíamosobter resultados positivos sem o constanteapoio e orientação da Secretaria-Geral daMarinha, nosso Comimsup, bem como do tra-balho cooperativo desenvolvido com as vá-rias Organizações Militares que participamdos sistemas administrativos sob nossa res-ponsabilidade operacional.

Aos nossos antecessores, rendemos umahomenagem pelo legado positivo, razão pelaqual a responsabilidade por uma conduçãoproativa e efetiva das tarefas sob nossa res-ponsabilidade se reveste de maior significa-do. Dessa forma, exorto a tripulação da DAdMa sobrepujar os desafios impostos pela reali-

dade, com o emprego do conhecimento e dadeterminação pessoal na realização das ativi-dades profissionais. A criatividade, a iniciati-va e a participação no planejamento são es-senciais para a desejável melhoria contínuados processos, de modo que a Diretoria deAdministração continue a merecer o elevadoconceito de que, atualmente, desfruta no con-texto da Administração Naval.

É com satisfação que cumprimento to-dos com os quais interagimos, por inter-médio de sistemas e processos gerenciais,pelo apoio e pela confiança, reafirmando ocompromisso de prestar serviços de exce-lência nas tarefas que nos são atribuídas.

Diretoria de Administração da Marinha,parabéns pelo transcurso de seu 40o ani-versário! Bravo Zulu!”.

(Fonte: Bono Especial 451, de 1/7/2009)

CINQUENTENÁRIO DO IPQM

O Instituto de Pesquisas da Marinha(IPqM) completou, em 14 de julho último,50 anos de criação. As comemorações serealizaram na semana de 13 a 17 de julho.No dia 14, aconteceua cerimônia militar nasede do IPqM, na Ilhado Governador, Rio deJaneiro, quando tam-bém foi lançado selocomemorativo da data.Nos dias 15 e 16 de ju-lho, realizou-se o semi-nário “Pesquisa e De-senvolvimento Tecno-lógico – Atividadesem Andamento”. Ascomemorações encer-raram-se no dia 16,com Coquetel de Confraternização no Clu-be Naval Piraquê.

A seguir, transcrevemos a Ordem do Diarelativa ao cinquentenário, expedida pelo

diretor do IPqM, Contra-Almirante (EN)Eduardo Maculan Vicentini.

“Na década de 50, o mundo vivenciavanovas tecnologias, em consequência das

invenções e desco-bertas ocorridas du-rante e após a Segun-da Guerra Mundial.Fazia-se clara a neces-sidade do domínio deconhecimentos quepudessem dar maiorgarantia de soberaniaàs nações, estimulan-do o crescimento dosimportantes setorescientífico e econômi-co, fazendo com queas forças armadas de

vários países buscassem adaptação a essanova realidade.

Neste contexto, pelo Decreto Presiden-cial no 46.426, de 14 de julho de 1959, foi

As pesquisas aquidesenvolvidas resultaramem protótipos e produtoscomplexos nas áreas de

armamento, guerraeletrônica, acústicasubmarina, sistemasdigitais e materiais

280 RMB3oT/2009

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

criado o Instituto de Pesquisas da Mari-nha (IPqM), com o propósito de ‘promo-ver, realizar e incentivar as pesquisas cien-tífica e tecnológica nos campos das ciênci-as físicas e setores correlatos, objetivandoa obtenção de materiais, equipamentos,técnicas e sistemas apropriados para usona Marinha do Brasil’.

A escolha do local para a instalação donovo instituto, na Ilha do Governador, Riode Janeiro, deveu-se não só à disponibili-dade de terrenos da União junto ao mar,mas também à proximidade da Ilha doFundão, onde, posteriormente, viria a seinstalar a Universidade do Brasil, hoje Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro. Essaproximidade objetivava a desejadaintegração com o meio acadêmico.

Na década de 70,levando-se em consi-deração as carênciasdo País em vários se-tores, o Instituto pas-sou a desenvolvertambém atividades dealcance social, atuan-do nos campos de bi-ologia marinha, ener-gia solar, biomassa,alimentação e saúde. Em 1984, o ProjetoCabo Frio, segmento da pesquisa ambientalmarítima do IPqM, deu origem a uma Orga-nização Militar independente, vindo pos-teriormente a chamar-se Instituto de Estu-dos do Mar Almirante Paulo Moreira(IEAPM). Com a transferência dessas ati-vidades ambientais e o cancelamento deoutras, o IPqM passou a dedicar-se, inte-gral e exclusivamente, aos seus propósi-tos iniciais.

Em 1997, dadas as especificidades dassuas atividades, e obedecendo ao novosistema de controle implantado em algunssetores da Marinha, o IPqM foi alçado àcategoria de Organização Militar

Prestadora de Serviços de Ciência eTecnologia (OMPS-C).

Em 31 de março de 2008, numa demons-tração do reconhecimento da Alta Admi-nistração Naval pela importância das ativi-dades de Ciência & Tecnologia, foi criadaa Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ino-vação da Marinha (SecCTM) para plane-jar, coordenar e controlar as atividades dosetor. Em 30 de abril desse mesmo ano, oIPqM passou à subordinação da SecCTM.

Ao longo desses 50 anos de existência,o IPqM consolidou-se como uma institui-ção respeitada no País e no exterior. Aspesquisas aqui desenvolvidas resultaramem protótipos e produtos complexos nasáreas de armamento, guerra eletrônica,acústica submarina, sistemas digitais e ma-

teriais, que, quandoimplantados nos nos-sos meios navais,além de torná-los maisnacionais, seguros econfiáveis, vêm con-tribuindo para dimi-nuir nossa dependên-cia tecnológica.

O IPqM adota a fi-losofia de atuar em

parceria com outras instituições de pes-quisa das Forças Armadas, universidades,centros de pesquisas e empresas nacionais,com o objetivo de unir esforços na obten-ção de soluções técnicas para os desafiosapresentados. O Ministério da Ciência eTecnologia, por meio da Financiadora deEstudos e Projetos (Finep), órgão de fo-mento à pesquisa, também tem viabilizadoalgumas das nossas realizações. Parte doque aqui foi e está sendo realizado deveser creditado ao apoio desses parceiros.

Com relação ao que está por vir, assimcomo a Marinha do Brasil, o IPqM caminharána direção de um futuro glorioso, onde osparadigmas serão muito diferentes daqueles

Trabalhamos comtecnologias sensíveis para aDefesa Nacional, em áreasem que a criatividade deve

ser vista como o grandediferencial

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

de 50 anos atrás. Trabalhamos comtecnologias sensíveis para a Defesa Nacio-nal, em áreas em que a criatividade deve servista como o grande diferencial. Temos a cons-ciência de que não podemos nos descuidar edevemos perseverar na busca do conheci-mento mais atualizado, normalmente não dis-ponível. A ciência continua evoluindo, no-vas gerações de equipamentos e sistemasaqui desenvolvidos precisam ser continua-mente aprimorados. Há muito trabalho a rea-lizar no horizonte dos próximos 50 anos, emprol da nossa Marinha do futuro.

O conhecimento é o maior legado doInstituto, e esse conhecimento se deposi-ta naqueles que aqui trabalham, homens emulheres, civis e militares, que estudam,

pesquisam e labutam com afinco na buscade soluções para os desafios tecnológicosque surgem. Estamos cientes de que nos-sa atividade não é corriqueira e de que nos-sos profissionais foram especialmente pre-parados ao longo de vários anos. Assim, acontinuidade desse legado é a maior preo-cupação que ora temos. Essa capacitaçãonão deve e não pode se perder.

Enfim, muitas foram as conquistas doIPqM nestes 50 anos de labor e dedicaçãoà Marinha. Há muito a comemorar.

Parabéns IPqM, 50 anos colaborandopara a independência tecnológica da Mari-nha do Brasil!”

(Fontes: Bonos no 456, de 2/7/09, e 483,de 14/7/09)

A Marinha do Brasil comemorou o Diada Independência na terra, no mar e no ar.Além da tradicional parada militar na Aveni-da Presidente Vargas, no Rio de Janeiro,quando aproximadamente 1.800 marinheirose fuzileiros Navais desfilaram, navios e ae-ronaves da Marinha realizaram um desfilenaval pela orla carioca, também no dia 7 desetembro. O desfile começou na Barra daTijuca por volta das 9h, passou pelo Fortede Copacabana aproximadamente às 11h eadentrou a Baía de Guanabara ao meio-dia.

Participaram os seguintes navios, nosquais estavam embarcados cerca de milmilitares: Navios de Desembarque de Car-ros de Combate Garcia D’Avila e Almi-rante Saboia, Fragata Constituição,Corveta Frontin, Navio-Tanque Almiran-te Gastão Motta, Submarinos Timbira eTikuna, Navio Oceanográfico Antares, Na-vio Faroleiro Almirante Graça Aranha eNavio-Patrulha Guajará.

O desfile naval, dentre outros efeitos,busca despertar a consciência marítima, jáque o mar foi nossa via de descobrimento,

DESFILE NAVAL DO DIA DA INDEPENDÊNCIA

de colonização, de invasões e de consolida-ção da Independência.Do ponto de vista eco-nômico, 95% de todo ocomércio exterior brasilei-ro são transportados porvia marítima. Ademais,85% do petróleo nacio-nal são extraídos dosubsolo marinho, numtotal de 1,6 milhão de bar-ris por dia que, ao ano,somam cerca de US$ 35bilhões. Cabe à Marinhado Brasil defender os in-teresses da nação no mar

e, ali, garantir a integridade e asoberania, assegurando aoPaís o direito ao uso econômi-co e estratégico da nossaAmazônia Azul.

A Marinha também se fezpresente nos céus do Rio deJaneiro nas comemorações do7 de Setembro, promovendoum desfile aéreo, com partici-pação de aeronaves SH-3,UH-14 e UH-12, subordina-das à Força Aeronaval.

(Fontes: www.mar.mil.br e Bono no 619,de 3/9/09)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Foi realizada, em 2 de junho último, naSede Principal do Clube Militar, no Rio deJaneiro, a cerimônia comemorativa do DiaInternacional dos Guardiães da Paz das Na-ções Unidas (Peacekeepers). O evento foipromovido pelo Clube Militar e pelo Institu-to de Geografia e História Militar do Brasil.

O Dia Internacional dos Guardiães daPaz das Nações Unidas foi instituído porResolução da Assembleia-Geral da Orga-nização das Nações Unidas (ONU) de 21de outubro de 2002. A referida Resoluçãorecomendou aos estados-membros da ONUque a comemoração “seja observada anu-almente, para render tributo a todos oshomens e mulheres que serviram e conti-nuam a servir às Operações de Manuten-

DIA INTERNACIONAL DOS GUARDIÃES DA PAZção de Paz das Nações Unidas, por seualto grau de profissionalismo, dedicação ecoragem, bem como para honrar a memóriadaqueles que perderam suas vidas pelacausa da paz”.

(Fonte: www.batalhaosuez.com.br)

O aniversário de dez anos do Ministérioda Defesa (MD) foi celebrado no Plenárioda Câmara dos Deputados, no CongressoNacional, na manhã do dia 4 de agosto de2009. Parlamentares da Câmara e do Sena-do participaram do evento, juntamente commilitares das três Forças Armadas, adidosnavais de nações amigas e alunos do Colé-gio Militar de Brasília.

O senador Romeu Tuma presi-diu a mesa, composta pelo ministroda Defesa, Nelson Jobim; pelo co-mandante da Marinha, Almirante deEsquadra Julio Soares de MouraNeto; pelo comandante do Exérci-to, General de Exército Enzo Peri;pelo comandante da Aeronáutica,Tenente-Brigadeiro do Ar JunitiSaito; pelo Deputado Édio Lopes epelos Senadores Heráclito Fortes eSerys Slhessarenko.

MINISTÉRIO DA DEFESA COMEMORA DEZ ANOSE RECEBE HOMENAGEM DO CONGRESSO

Dezesseis parlamentares discursaram. ODeputado José Genoíno ressaltou o papelfundamental do MD na elaboração do pro-jeto da Estratégia Nacional de Defesa. “Fa-lar de defesa é diminuir a vulnerabilidade dopaís. É construir uma real autonomia”, ava-liou. O deputado revelou que o seu gover-no trabalha para fortalecer os projetos mili-tares de defesa, e destacou sua demonstra-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

ção de consciência do papel influenciadornas importantes decisões do País.

Já o Deputado Rodrigo Rollemberg pa-rabenizou o MD e expressou profundo or-gulho das Forças Armadas Brasileiras,considerando-as patrimônio do País. “Vi-vemos um momento singular, em que otema Defesa Nacional passou a fazer par-te da agenda política e estratégica do Bra-

sil”, avaliou. Ele também afirmou que aDefesa Nacional é prioridade na agendada Câmara.

A Banda Aérea do Brasil encerrou a so-lenidade com um pout-porri especialmen-te preparado para a ocasião, entoando ascanções Cisne Branco, Hino do Soldadoe Hino do Aviador.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O diretor-geral do Material da Marinha,Almirante de Esquadra Marcus ViníciusOliveira dos Santos, assinou todos os con-tratos comerciais referentes ao Programade Desenvolvimento de Submarinos(Prosub), que passaram a vigorar em 3 desetembro último.

Foram os seguintes os contratos assi-nados: compra do pacote de materiallogístico para os quatro submarinos con-vencionais (S-BR); construção dos quatroS-BR; projeto e construção do submarinocom propulsão nuclear (SN-BR) – este con-trato incorpora a compra do pacote de ma-terial logístico para o SN-BR; compra detorpedos e despistadores; projeto e cons-trução de um estaleiro e de uma base na-val; administração, planejamento e coor-denação do projeto e da construção do SN-BR; transferência de tecnologia; e offset.

Esses contratos foram celebrados comas seguintes instituições: Direction desConstructions Navales et Services (DCNS);

PROSUB –PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE SUBMARINOS

Construtora Norberto Odebrecht; Consór-cio Baía de Sepetiba (composto pela DCNSe Odebrecht); e Itaguaí Construções Na-vais (sociedade de propósito específicocomposta da DCNS, Odebrecht e Marinhado Brasil).

O custo total do Prosub é da ordem de6,7 bilhões de euros, dos quais 4,3 bilhõesserão objeto de financiamento externo em20 anos, já aprovado pelo Senado Federalem 2 de setembro, e o restante será custea-do diretamente com recursos do TesouroNacional.

Com a assinatura desses contratos, aMarinha do Brasil receberá, até 2015, umestaleiro e uma base naval dedicados àconstrução e ao apoio de submarinos. Tam-bém incorporará à nossa Armada o primei-ro dos quatro submarinos convencionaisaté 2017, e o submarino com propulsãonuclear até 2021.

(Fonte: Bono Especial no 625, de 8/9/2009)

Foi criado, em 31 de julho último, o Nú-cleo de Inovação Tecnológica da Marinha(NIT-MB) para atender às exigências da Leide Inovação Tecnológica (Lei no 10.973, de

CRIADO O NÚCLEO DE INOVAÇÃOTECNOLÓGICA DA MARINHA – NIT-MB

2 de dezembro de 2004). O NIT-MB vai ge-rir a política de inovação da Marinha.

Entre as suas atribuições estão as deestimular a proteção intelectual dos pro-

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dutos desenvolvidos pelos pesquisadoresda MB, assessorar as parcerias para reali-zação de pesquisas científicas e tecnoló-gicas, interagir com instituições públicas,privadas e outros núcleos na geração deconhecimentos de Ciência, Tecnologia eInovação (CT&I), além de acompanhar eorientar a implementação das diretrizes depropriedade intelectual, em fase deprontificação.

O NIT-MB é composto por uma gerên-cia, que funcionará na Secretaria de Ciên-cia, Tecnologia e Inovação da Marinha

(SecCTM), e pelas Organizações Militares(OM) que realizam atividades de pesquisae desenvolvimento na Marinha do Brasil –Instituições Científicas e Tecnológicas(ICT). Atualmente, são ICT na MB o Insti-tuto de Pesquisas da Marinha (IPqM), oCentro Tecnológico da Marinha em SãoPaulo (CTMSP), o Instituto de Estudos doMar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), oCentro de Análises de Sistemas Navais(Casnav) e o Centro de Hidrografia daMarinha (CHM).

(Fonte: Bono no 571, de 19/8/09)

Dando continuidade ao processo dereestruturação do Serviço de Inativos e Pensi-onistas da Marinha (SIPM), foram inaugura-das, em 31 de agosto último, as novas instala-ções deste serviço no Prédio da MaternidadeOswaldo Nazareth, situado na Praça XV, aolado do Tribunal Marítimo e da Capitania dosPortos do Rio de Janeiro. A solenidade de inau-guração contou com a presença do diretor-geral do Pessoal da Marinha, Almirante de Es-quadra José Antonio de Castro Leal; do dire-tor do Pessoal Militar da Marinha, Vice-Almi-

SIPM INAUGURA NOVAS INSTALAÇÕES

rante Carlos Augusto de Sousa; e do diretorde Obras Civis da Marinha, Contra-AlmiranteSergio Roberto Fernandes dos Santos.

Nessa fase da mudança, foram transfe-ridos os Departamentos de Acerto de Con-tas, Pagamento e Controle. Futuramente,quando o prédio estiver totalmente à dis-posição da Marinha, serão realizadas obrasde modernização que permitirão a transfe-rência completa do SIPM, inclusive do aten-dimento ao público.

(Fonte: Bono no 614, de 2/9/2009)

Foi realizada, em 18 de junho último, acerimônia de batismo e lançamento ao mardo Submarino Arpão, da Marinha de Por-tugal. Este navio é a segunda e última uni-dade da classe Tridente.

A cerimônia aconteceu nos estaleiros daHDW – Howaldtswerke Deutsche Werft, emKiel, na Alemanha, onde o novo submarinoestá sendo construído, sendo presidida peloministro da Defesa Nacional e com a presen-ça do chefe do Estado-Maior da Armada, Al-mirante Fernando Melo Gomes; de deputa-

LANÇAMENTO DO SUBMARINO ARPÃO,DA MARINHA DE PORTUGAL

dos membros da Comissão de Defesa Nacio-nal da Assembleia da República; e do co-mandante da Esquadrilha de Submarinos.

A entrada em serviço dos dois novossubmarinos da classe Tridente irá permitir asubstituição da antiga esquadrilha de sub-marinos de origem francesa (Daphne), a clas-se Albacora, da qual só se encontra atual-mente em serviço (mesmo assim com muitaslimitações operacionais) o Barracuda.

O contrato de construção dessas no-vas unidades do tipo U-209PN foi assina-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

do em 2004 e garantiu também a formaçãodas duas primeiras guarnições, de um nú-cleo de elementos da Esquadrilha de Sub-marinos e da Escola de Submarinos, res-ponsáveis pelo treino dessas unidades epela futura formação de novos elementospara as guarnições, e de um grupo de téc-nicos e operários do Arsenal de Alfeite, noâmbito da reparação e da manutenção.

Os novos submarinos têm capacidadepara executar tarefas de proteção e apoio aforças navais anfíbias, controle e vigilân-cia de pontos focais, interdição de áreasou portos, reconhecimento e levantamen-to de informações em áreas hostis, ataquea navios de superfície e submarinos e pro-jeção de força contra alvos em terra, nasáreas costeiras. Poderão também partici-par em missões de contraterrorismo e decombate ao narcotráfico, em apoio a ope-rações da Polícia Judiciária, em articulaçãocom outros organismos estatais, de âmbi-to nacional e internacional.

A futura guarnição das unidades da clas-se Tridente compreende 33 militares (seteoficiais, dez sargentos e 16 praças). Estas

unidades terão um deslocamento máximode 2.020 t, 68 m de comprimento e 6,3 m deboca, uma velocidade máxima em imersãode 20 nós, a possibilidade de se manteremimersos durante longos períodos, em vir-tude de disporem de fuel cells e do sistemaAIS, e uma autonomia de 45 dias, o quelhes permite operar no Atlântico Sul.

Disporão de sensores de melhorperformance (comparados com os da classeAlbacora) e de um moderno sistema de co-municações, que inclui equipamentos utili-zando canais via satélite. O armamento com-preende o moderno torpedo Blackshark,antissubmarino e antinavio, e o míssilHarpoon, numa versão recente para atacaralvos em terra. Estarão preparados para rece-ber mísseis antiaéreos e poderão substituiros torpedos por minas, na razão de um torpe-do por duas minas. Os mísseis antiaéreos se-rão o sistema Idas, concebido primariamentepara atacar helicópteros, mas com capacida-des adicionais contra alvos de superfície, ouem terra, a curta distância (12 milhas).

(Fonte: Revista de Marinha no 951, ago/set 2009)

Contra-Almirante Dilermando RibeiroLima, adido naval nos Estados Unidos daAmérica e no Canadá, em 14/7;

Contra-Almirante (IM) Francisco José deAraújo, diretor de Contas da Marinha, em 31/7;

Vice-Almirante Elis Treidler Öberg, asses-sor do Inspetor-Geral da Marinha, em 3/8;

Contra-Almirante Leonardo Puntel, che-fe do Estado-Maior do Comando do 1º Dis-trito Naval, em 4/8;

Contra-Almirante (EN) Arthur ParaizoCampos, diretor do Departamento de Ciên-cia e Tecnologia da Secretaria de Ensino,Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologiado Ministério da Defesa, em 14/8;

ASSUNÇÃO DE CARGOS POR ALMIRANTES

Vice-Almirante Carlos Autran de Olivei-ra Amaral, assessor do Diretor-Geral doPessoal da Marinha, em 18/8;

Contra-Almirante (EN) Maurillo EuclidesFerreira da Silva, diretor do Instituto dePesquisas da Marinha, em 21/8;

Contra-Almirante Nelson Garrone Pal-ma Velloso, diretor de Aeronáutica da Ma-rinha, em 26/8;

Contra-Almirante Fernando Mauro Bar-bosa de Oliveira, comandante da ForçaAeronaval, em 28/8;

Contra-Almirante (IM) Samy Moustapha,diretor do Centro de Controle de Inventárioda Marinha, em 3/9.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Em razão da iniciativa de implantaçãodo Centro de Dados da Diretoria de Finan-ças da Marinha (DFM), a Marinha do Bra-sil foi indicada como finalista do concursointernacional “Itanium SolutionsInnovation Awards”, selecionada na cate-goria Modernização de Centro de Dados,após julgamento efetuado por uma comis-são formada por 12 membros, recrutadosentre renomados pesquisadores da áreaacadêmica, executivos e consultores daárea de Tecnologia da Informação (TI). Nacompetição deste ano, foram inscritos pro-jetos oriundos de 14 diferentes países.

O concurso é anualmente promovido pelaItanium Solutions Alliance (ISA), organiza-ção independente que congrega diferentescomunidades dedicadas a incentivar inicia-tivas reconhecidas como soluções inova-doras desenvolvidas com base na platafor-ma “Intel Itanium” para prover suporte aambientes de missão crítica. Dentre os crité-rios considerados para o julgamento dasiniciativas concorrentes, destacam-se a di-ficuldade e o desafio para implementar a

PRÊMIO INTERNACIONAL EM TECNOLOGIA DAINFORMAÇÃO PARA A MARINHA

solução descrita, os resultados obtidos e aoriginalidade das tecnologias e da estraté-gia concebida para a implantação.

O projeto do Centro de Dados da DFMfoi iniciado há cinco anos e consiste, basi-camente, na implantação de um ambiente depadrões abertos, no uso intensivo de recur-sos de software livre, na migração do ambi-ente computacional de arquitetura proprie-tária (mainframe) para o de padrões abertos(rede), no estabelecimento do modelo degovernança Information TechnologyInfrastructure Library (ITIL) e na qualifica-ção dos especialistas em TI da DFM. Comoresultados obtidos, citam-se: redução decustos e economia de recursos de TI, flexi-bilidade operacional, mitigação dos riscosde segurança operacional e da informação ea obtenção de grande capacidade deprocessamento e armazenamento de dados.O anúncio dos vencedores em cada catego-ria e a respectiva premiação oficial estão pre-vistos para setembro deste ano, na cidadede São Francisco, Califórnia, EUA.

(Fonte: Bono no 512, de 27/7/09)

Foram promovidos por decreto presi-dencial, contando antiguidade a partir de31 de julho de 2009, os seguintes oficiais.

– No Corpo da Armada: ao posto deContra-Almirante, o Capitão de Mar e Guer-ra Leonardo Puntel.

– No Corpo de Intendentes da Marinha:ao posto de Contra-Almirante (IM), o Ca-

PROMOÇÃO DE ALMIRANTESpitão de Mar e Guerra (IM) SamyMoustapha.

– No Corpo de Engenheiros da Mari-nha: ao posto de Contra-Almirante (EN), oCapitão de Mar e Guerra (EN) ArthurParaizo Campos.

(Fonte: Bono Especial Nº 508, de 24/7/2009)

Foi realizada, em 6 de agosto último, naBase Naval do Rio de Janeiro (BNRJ), a

TRANSFERÊNCIA DE SUBORDINAÇÃO DONDCC ALMIRANTE SABOIA

cerimônia de transferência de subordina-ção do Navio de Desembarque de Carros

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

de Combate (NDCC) Almirante Saboia doSetor do Material para o Comando de Ope-rações Navais.

A cerimônia contou com a presença docomandante de Operações Navais, Almi-rante de Esquadra Alvaro Luiz Pinto, e dodiretor-geral do Material da Marinha, Almi-rante de Esquadra Marcus Vinicius Olivei-ra dos Santos.

O navio foi incorporado em 21 de maioúltimo e chegou ao Rio de Janeiro no dia 31de julho, após cumprir uma travessia deregresso de Falmouth (Inglaterra), com es-calas em Lisboa (Portugal), Tenerife(Espanha), Fortaleza, Maceió e Arraial doCabo. No percurso de Arraial do Cabo parao Rio de Janeiro, foi realizado um desfilenaval e aéreo com a participação de diver-sos navios e aeronaves da Marinha.

O NDCC Almirante Saboia poderáser empregado para realizar as seguin-tes tarefas:

– transporte e desembarque de pessoale de material (viaturas anfíbias, carro decombate, contêineres e outros) em provei-to de Operações de Guerra, em especial asde Operações Anfíbias, com emprego derampas na proa e popa;

– transporte e desembarque de Fuzilei-ros Navais para adestramento em Opera-ções Anfíbias;

– transporte para Apoio LogísticoDistrital (Apolog) aos 2o, 3o, 4o, 5o e 8o Dis-tritos Navais;

– transporte de pessoal e de material,em apoio ao emprego de força, para garan-tia da lei e da ordem;

– transporte de pessoal e material emOperações Humanitárias e em Operaçõesde Paz;

– adestramento e formação do pessoal; e– ações de presença em portos que aten-

dam às necessidades da política externabrasileira.

O NDCC Almirante Saboia será opera-do e mantido pelo Comando-em-Chefe daEsquadra, por intermédio do Comando do1o Esquadrão de Apoio.

HISTÓRICO

O RFA Sir Bedivere (L3004) foi um naviologístico e de desembarque da classe RoundTable, construído originalmente para servirao Exército britânico, sendo transferido paraa Royal Fleet Auxiliary – RFA em 1970.

O navio foi lançado ao mar em 1967 edesde então desempenhou suas tarefas emdiversas operações navais da Grã-Bretanha. Em 18 de fevereiro de 2008, o RFASir Bedivere foi colocado na Reserva Na-val da Royal Navy.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A partir de novembro de 2008, após aassinatura do acordo de venda entre oMinistério da Defesa do Reino Unido e aMarinha do Brasil, o navio iniciou um perí-odo de reativação, realizando um extensoprograma de manutenção em seus siste-mas e de treinamento da tripulação, visan-do ao seu retorno à vida operativa no mar.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DONAVIO

– Deslocamento máximo: 6.700 t– Comprimento: 137,50 m– Boca: 8,30 m– Calado: 4,80 m– Raio de ação: 9.200 Mn a 15 nós– Velocidade (cruzeiro/máxima.):14/17

nós– Propulsão: 2 MCP Wartisila diesel

Bow-Thruster– Armamento: 2 metralhadoras 20 mm– Tripulação: 150 militares

Na ocasião da cerimônia de transferên-cia de subordinação, foi lida a seguinteOrdem do Dia, do diretor-geral do Materialda Marinha:

“Além do simbolismo e especial signifi-cado, a data de hoje confirma o empenhoda Marinha do Brasil em cumprir o seu Pro-grama de Reaparelhamento, seja por meioda construção de novos navios seja porobtenções de oportunidade.

O NDCC Almirante Saboia, ex-RFA SirBedivere, foi construído originalmente paraservir ao Exército britânico, sendo transfe-rido, posteriormente, para a Royal FleetAuxiliary. Desempenhou tarefas em diver-sas operações navais da Grã-Bretanha,participando da Guerra das Malvinas, em1982. Em 1991 foi destacado em apoio àsforças americanas na Operação Gramby, noGolfo Pérsico. No período de 1994 a 1998, onavio sofreu uma completa modernização,

na qual teve sua vida útil estendida, e emque, entre outras modificações, teve a suasuperestrutura totalmente substituída, tro-cou todos os motores e equipamentos deporte e foi “jumborizado” em cerca de 12metros. Entre os anos de 2000 e 2006, atuouem Serra Leoa, em operações britânicasnaquela área. Em 2002, apoiou as tropas daRoyal Marines no Golfo Pérsico e em 2003operou como capitânia do grupo-tarefa denavios britânicos e americanos decontramedidas de minagem na OperaçãoTelic.

O navio tem como principais caracterís-ticas a flexibilidade, advinda de suas ram-pas de proa, meio navio e popa, dos seusguindastes, de sua capacidade de trans-porte de tropas, carros de combate e car-gas diversas, características anfíbias coma possibilidade de abicagens e o rápidodesembarque do material transportado. Onavio possui um convés de voo, na popa,e heliponto, a meio navio, permitindo oemprego de aeronaves de asa rotativa atéo porte do SH-3.

Sua aquisição vem possibilitar ao SetorOperativo renovar a nossa capacidade deoperações anfíbias e de transporte de tro-pas e carga, fruto das características donavio, que o tornam um meio de grandeversatilidade, capaz de atuar em diferentescenários, e apto, também, a suprir a Esqua-dra com os requisitos de um navio-trans-porte de apoio.

A cerimônia de incorporação do navio àMarinha do Brasil foi realizada na cidadede Falmouth, Inglaterra, em 21 de maio de2009. A partir dessa cerimônia, o pavilhãonacional passou a tremular no mastro doNDCC Almirante Saboia. Em 23 de junho,após seis meses de realização de extensoprograma de obras, manutenção e treina-mento, o navio suspendeu de Falmouth,iniciando uma travessia que incluiu os por-tos de Lisboa, Tenerife, Fortaleza, Maceió

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

e Arraial do Cabo, até sua chegada ao Riode Janeiro, no dia 31 de julho.

O nome do navio é uma justa homena-gem a um dos grandes ministros da nossaMarinha, o Almirante de EsquadraHenrique Saboia, responsável por inúme-ras realizações, das quais podemos desta-car o apoio na continuidade do ProgramaNuclear da Marinha e a revitalização doprograma de construção naval no Arsenalde Marinha do Rio de Janeiro, com a incor-poração do Navio-Escola Brasil e daCorveta Inhaúma, o lançamento ao mar daCorveta Jaceguai e o início da construçãodos submarinos Tamoio, Timbira e Tapajó.Além disso, encomendou em estaleiros pri-vados as corvetas Júlio de Noronha eFrontin, o Navio-Tanque AlmiranteGastão Motta e os Navios-Patrulha Graúnae Goiana.

Ao transferir a subordinação do Naviode Desembarque de Carros de CombateAlmirante Saboia ao setor do Comando

de Operações Navais, aproveito a oportu-nidade para registrar os meus sinceros cum-primentos ao seu comandante, Capitão deMar e Guerra Oscar Moreira da Silva Filho,a sua valorosa tripulação, além do Grupode Apoio Técnico e de Apoio de Adestra-mento, pelo excelente trabalho executado.Mesmo longe da sua pátria e de seus fami-liares, em um país de idioma e costumesbem diferentes dos nossos, souberam su-plantar todas as adversidades, conduzin-do o recebimento do meio com extrema com-petência e profissionalismo, para que, emum curto espaço de tempo, o navio esti-vesse capacitado a enfrentar essa longatravessia, até aportar com segurança naBase Naval do Rio de Janeiro e poder, hoje,apresentar-se para o serviço.

Ao NDCC Almirante Saboia expressoos meus votos de bons ventos e marestranquilos! Bravo Zulu!”.

(Fontes: Bono no 519, de 29/7/09, BonoEspecial no 542, de 6/8/09, e www.mar.mil.br)

O Comando do 3o Distrito Naval (Natal-RN) realizou, em 21 de julho último, a ceri-mônia de transferência de subordinação doRebocador de Alto-Mar (RbAM) Triunfopara o seu Comando. A cerimônia foi pre-sidida pelo comandante de Operações Na-vais, Almirante-de-Esquadra Alvaro LuizPinto, e contou com a presença do coman-dante do 3o Distrito Naval, Vice-AlmiranteEdison Lawrence Mariath Dantas e do co-mandante do 2o Distrito Naval (Salvador-BA – ao qual o RbAM era subordinado),Vice-Almirante Arnon Lima Barbosa.

Oficiais da Reserva, representantes daSociedade Amigos da Marinha (Soamar),veteranos da Força Expedicionária doBrasil (FEB) e convidados militaresprestigiaram a cerimônia.

TRANSFERÊNCIA DE SUBORDINAÇÃO DO RbAM TRIUNFO

Na ocasião, foi cantado o Hino Nacio-nal e lida a Ordem do Dia do comandantedo 3o Distrito Naval.

(Fonte: www.mar.mi.br)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O Príncipe Albert II de Mônaco visitoua Estação Antártica Comandante Ferraz(EACF), onde pôde conhecer os trabalhosdesenvolvidos pela Marinha do Brasil nocontinente e o Programa Antártico Brasi-leiro (Proantar).

PRÍNCIPE ALBERT II VISITA A EACF

O príncipe esteve na Antártica a convite dacomunidade científica, visitando 26 estaçõesde 18 países. Ao final das atividades, houve odescerramento de uma placa comemorativa àvisita do príncipe às instalações brasileiras naAntártica. (Fonte: Nomar 801, jan./2009)

A Diretoria de Obras Civis da Marinha(DOCM) assinou, em 23 de junho último,contrato com a empresa Engrest – Enge-nharia de Recuperação Estrutural Ltda.para a conclusão do remanescente da obrade recuperação do Cais da Bandeira doComando do 1o Distrito Naval (RJ).

Tal obra prevê a construção de novacortina, composta de 593 estacas-pran-

RECUPERAÇÃO DO CAIS DA BANDEIRA

cha em concreto pré-moldado, à frenteda existente, e de novo paramento nos278 metros do cais. As pedras de canta-ria serão reposicionadas para manter aoriginalidade da construção anterior,bem como serão recompostos o calça-mento em pedras portuguesas e os jar-dins existentes.

(Fonte: Bono 467, de 9/7/2009)

A Marinha do Brasil e a Agência deTransportes Aquaviários (Antaq) assina-ram, em 30 de julho último, um Termo deCooperação que tem por objetivo a coope-ração técnica e operacional para o inter-câmbio de informações e conheci-mentos visando ao aperfeiçoamen-to da Segurança da Navegação e doacompanhamento das atividades dotransporte aquaviário.

O termo foi assinado pelo diretorda Antaq, Vice-Almirante (RM1)Murilo de Moraes Rêgo Correa Bar-bosa; pelo subchefe de Operaçõesdo Comando de Operações Navais,Contra-Almirante José Aloysio deMelo Pinto; pelo comandante doControle Naval do Tráfego Maríti-mo (Comcontram), Capitão de Mar

ASSINATURA DE TERMO DE COOPERAÇÃOMARINHA DO BRASIL-ANTAQ

e Guerra Antonio Reginaldo Pontes LimaJúnior; e pelo gerente de Desenvolvimen-to e Regulação da Navegação Marítima, Ca-pitão de Mar e Guerra (RM1) Wagner deSousa Moreira.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O documento prevê, ainda, a colabora-ção da Antaq no desenvolvimento do sis-tema Long Range Identification andTraking (LRIT) e no aperfeiçoamento doSistema de Informações sobre o TráfegoMarítimo (Sistram), bem como a instalação,pela Marinha, nas dependências da Antaq,de estrutura que permita acesso à apresen-tação gráfica dos sistemas do Comcontram.

O SISTRAM tem por objetivo manter oacompanhamento da movimentação de na-vios na área de Busca e Salvamento do

Brasil, por meio de informações de nave-gação padronizadas, fornecidas pelos pró-prios navios participantes, quando nave-gando naquela área, de modo a se utilizar ogrande potencial de recursos para o salva-mento no mar representado por esses na-vios, que podem acorrer rapidamente aolocal de um incidente SAR (sigla paraSearch and Rescue – Busca e Salvamen-to), antes mesmo que qualquer outro meioo faça.

(Fonte: www.mar.mil.br)

V REGATA “A MULHER NA MARINHA”Como parte do Circuito Poder Marítimo

de Remo em Escaler e válida pelo Circuitode Remo em Escaler do Estado do Rio deJaneiro, foi realizada, em 18 de julho último,a V Regata “A Mulher na Marinha”. O even-to aconteceu no Estádio de Remo da La-goa, Rio de Janeiro, nas seguintes catego-rias: feminino, aspirantes, veteranos, mas-culino “A” e masculino “B”.

A Regata contou com a presença de di-versas Organizações Militares (OM) e declubes de remo do Rio de Janeiro, num to-tal de 470 atletas participantes.

Foram os seguintes os resultados.– 1a prova – Escaler Masculino-B: 1o lu-

gar – Colégio Naval, 2o – CIAW, 3o –Botafogo;

– 2a prova – Single-Skiff Junior-B Femi-nino: 1o – Flamengo, 2o – Botafogo-A, 3o –Botafogo-B;

– 3a prova – Escaler Veteranos – 1o – Co-mando em Chefe da Esquadra (ComemCh), 2o

– Ciaga, 3o – DHN;– 4a prova – Double-Skiff Misto Master-

D – 1o – Botafogo-A, 2o – Vasco, 3o –Flamengo-A;

– 5a prova – Escaler Aspirantes(Iniciantes) – 1o – ComemCh, 2o – Botafogo-B, 3o – CIAA-A;

– 6a prova – Double-Skiff Infantil Femi-nino – 1o – Flamengo, 2o – Botafogo-B, 3o –Botafogo-A;

– 7a prova – Escaler masculino-A – 1o –ComemCh, 2o – Flamengo, 3o – CIAA;

– 8a prova – Yole a 8 Misto 4x4 – 1o – Bota-fogo-A, 2o – Flamengo-A, 3o – Botafogo-B; e

– 9a prova – Escaler Feminino – 1o –DGMM, 2o – Ciaga, 3o – ComemCh.

(Fontes: Bonos no 467, de 9/7/2009 e 507,de 24/7/2009)

O Navio-Veleiro (NVe) Cisne Branco ven-ceu, no dia 5 de agosto, a 5a etapa das regatasque compuseram a Tall Ships AtlanticChallenge 2009, maior evento náutico realizadoeste ano. Esta foi a única etapa de que o naviobrasileiro participou. O evento foi parte inte-

CISNE BRANCO VENCE REGATA INTERNACIONAL NOATLÂNTICO NORTE

grante das atividades programadas pela SailTraining International (organização europeiasem fins lucrativos, criada com o objetivo deformar jovens pela arte de navegar).

Esta programação náutica começou emVigo (Espanha), em maio, passando por

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Tenerife (Espanha), Bermuda, Estados Uni-dos, Canadá e Irlanda, com veleiros de vá-rias nacionalidades, alguns integrando afrota durante todo opercurso e outros ape-nas parcialmente, comofoi o caso do NVe Cis-ne Branco.

A regata estava pre-vista para cruzar oAtlântico Norte, saindode Halifax (Canadá),indo até Belfast (Irlan-da), retornando à Europa. O tempo totalestimado para a travessia era de 23 dias,sendo que o veleiro brasileiro completou opercurso em apenas 15 dias. O “Fita Azul”(Line of Honours) foi o prêmio destinadoao primeiro navio a cruzar a linha de chega-da, independentemen-te da classe e do tempocorrigido (fator utiliza-do para equalizar o tem-po entre veleiros de ca-racterísticas distintas).

Além do CisneBranco, estavam ins-critos na regata velei-ros de Alemanha, Bél-gica, França, Holanda, Portugal, Reino Uni-do, Rússia e Uruguai. O navio veleiro rus-so Kruzenshtern participou apenas da lar-gada, em virtude de séria avaria sofrida nomastro do traquete (mastro mais avante dosquatro que possui), ocorrida dias antes dalargada.

A derrota inicialmente traçada passariapróximo à área onde houve o acidente como Titanic, em 1912, porém os organizadores

da regata propuseramque os navios montas-sem uma boia localiza-da mais ao sul para evi-tar a rota dos icebergs,tornando impossível anavegação direta paraBelfast e acrescentandodose extra de desafiopara os competidores.

Foram 15 dias de navegação, em que onavio enfrentou calmarias e mares agita-dos, com ventos de até 48 nós (89 km/h) eondas de 7 metros de altura, totalizandocerca de 2.350 milhas náuticas (4.350 km) evariações de pressão atmosférica de 25

milibares, muito acen-tuada se comparadacom a média encontra-da no Atlântico Sul, al-cançando o máximo de16,3 nós de velocidade.

Além de ser o “FitaAzul”, o NVe CisneBranco recebeu os prê-mios de 1o lugar entre

os navios de sua classe e o de 2o lugargeral (considerando-se todos os naviosdas demais classes participantes) entre os12 competidores, elevando o nome do Bra-sil à posição mais alta do pódio das rega-tas internacionais de veleiros clássicos.

(Fonte: www.mar.mil.br)

A Marinha do Brasil e o DepartamentoNacional de Infraestrutura de Transportes(DNIT) assinaram, em 3 de agosto último,um Termo de Cooperação para a execuçãode levantamentos hidrográficos, atualiza-ção de documentos cartográficos e implan-

MARINHA E DNIT ASSINAM TERMO DE COOPERAÇÃOtação de sinalização náutica no RioParaguai, no trecho compreendido entre okm 1.522 (Corumbá-MS) e o km 2.183(Cáceres-MT), em uma extensão de 661 km.

As atividades serão executadas pela Di-retoria de Hidrografia e Navegação (DHN)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

e pelo Comando do 6o Distrito Naval. Otermo foi assinado pelo diretor deHidrografia e Navegação, Vice-AlmiranteLuiz Fernando Palmer Fonseca; pelo co-mandante do 6o Distrito Naval, Contra-Al-

mirante Edlander Santos; pelo diretor-ge-ral do DNIT, Luiz Antônio Pagot; e pelodiretor de Infraestrutura Aquaviária, HerbertDrummond.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Tendo como ponto de partida a parceriafirmada entre a Universidade Federal de

MARINHA MANTÉM FAROL DOARVOREDO COM ENERGIA SOLAR

Santa Catarina, a Marinha do Brasil, asCentrais Elétricas de Santa Catarina e aEletrosul Centrais Elétricas, o Farol do Ar-voredo usufrui, atualmente, de um sistemade abastecimento por energia solar.

Inaugurado em 14 de março de 1883, ofarol possui 15 metros de altura e está ins-talado na parte sul da Ilha do Arvoredo,localizada próximo a Florianópolis (SC). Aimponente estrutura, com faixas brancas evermelhas, é avistada a 24 milhas náuticas(44 km) de distância, o que faz do farol umimportante ponto de referência para as em-barcações que navegam na região.

(Fonte: Nomar no 803, mar./2009)

O Instituto de Estudos do Mar Almiran-te Paulo Moreira (IEAPM) recebeu da De-legação da Comissão Europeia no Brasil,em 13 de agosto último, o certificado dereconhecimento pelo êxito na participaçãodo Projeto – Ocean Acoustic Exploration(OAEx), no segundo edital do 7o ProgramaQuadro de Pesquisa e Desenvolvimento daUnião Europeia, em que menos de 10% dosprojetos inscritos lograram êxito.

A cerimônia de entrega dos certificadosocorreu na Escola Politécnica da Universi-dade de São Paulo (USP) e foi presididapelo conselheiro de Ciência e Tecnologia(C&T) da Delegação da União Europeia noBrasil, Angel Landabaso. Participam doProjeto OAEx: o IEAPM e a Universidade

PROJETO OCEAN ACOUSTIC EXPLORATION (OAEX)

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ/Coppe),pelo Brasil; o Centro de InvestigaçãoTecnológica do Algarve (Cintal), de Portu-gal; a Universidade Livre de Bruxelas (ULB),da Bélgica; e a Universidade de Vitória(UVIC), do Canadá.

O projeto começou a vigorar em janeirode 2009 e irá até janeiro de 2012, e tem comoobjetivo principal promover a cooperaçãocientífica entre o Brasil e os países da Comu-nidade Europeia, especificamente para a de-finição de metodologias, tecnologias e pro-cedimentos na execução de pesquisas na áreade propagação da energia acústica submari-na, monitoramento ambiental e no desenvol-vimento de redes acústicas submarinas.

(Fonte: Bono no 628, de 9/9/2009)

Promovido pelo Instituto de Estudos doMar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), foirealizado, de 27 a 31 de julho último, nasdependências do Hotel de Trânsito ARessurgência, em Arraial do Cabo (RJ), oVIII Encontro de Bioincrustação, EcologiaBêntica e Biocorrosão (VIII Bioinc). O temaprincipal do evento foi “O conhecimentodos processos incrustantes como ferra-menta para o controle da bioincrustação”.

Este encontro, parte do Programa deSimpósios de Ciência e Tecnologia para2009, é realizado desde 1993 e tem por pro-pósito ampliar e diversificar o intercâmbio

ENCONTRO DE BIOINCRUSTAÇÃO, ECOLOGIA BÊNTICA EBIOCORROSÃO (VIII BIOINC)

científico e tecnológico no País, visando aproporcionar aos profissionais das áreasafins o conhecimento do estado da arte nasáreas de bioincrustação, biocorrosão e eco-logia bêntica, a fim de estabelecer melho-res critérios no emprego de recursos finan-ceiros, nas atividades navais e na conser-vação do meio ambiente.

Participaram do encontro cerca de 150pessoas, entre cientistas, estudantes depós-graduação, empresários do setor na-val e representantes de órgãos públicosrelacionados ao meio ambiente.

(Fonte: Bono 429, de 23/6/09)

Como parte das comemorações do Anoda França no Brasil, foi inaugurada, em 2 desetembro último, no Espaço Cultural da Ma-rinha, Rio de Janeiro, a exposição “O Brasil, aFrança e o Mar”. Organizada pela Marinhado Brasil, a exposição tem a participação doMusée National de la Marine (Museu Nacio-nal da Marinha), da França, e o patrocínio daempresa francesa DCNS (Direction deConstrutions Navales Services).

O evento contou com a presença do co-mandante da Marinha, Almirante de EsquadraJulio Soares de Moura Neto, e, na mesmaocasião, foi inaugurada a exposição “Mo-delo da Nau dos Descobrimentos”.

“O Brasil, a França e o Mar” mostradiversos aspectos da contribuição fran-cesa relacionada com o mar para o Bra-sil, desde o término das GuerrasNapoleônicas até os dias de hoje. O temaé apresentado em seis módulos princi-pais. O primeiro introduz a exposição; osegundo mostra o Brasil visto pelos ma-rinheiros franceses; o terceiro, os ins-

O BRASIL, A FRANÇA E O MAR

trumentos e equipamentos, produtos datecnologia francesa, para a navegação nosoceanos e sua segurança na proximidadedo litoral; o quarto, a comunicação marítimaentre o Brasil e a França; o quinto, a cons-trução naval francesa para a Marinha doBrasil; e o sexto, a transferência contempo-rânea de tecnologia para a MB.

Vieram do Musée National de la Marine,de Paris, 17 objetos do acervo francês, gra-ças ao patrocínio da DCNS. Esse acervo fran-cês enriquece o conjunto, também exposto,

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

de muitos outros objetos importantes doacervo histórico e cultural brasileiro, sob aguarda da Marinha do Brasil (Diretoria doPatrimônio Histórico e Documentação daMarinha e Diretoria de Hidrografia e Nave-gação) e do Museu Imperial de Petrópolis.

Destacam-se entre os objetos mais notá-veis dessa exposição: um panorama da Baíade Guanabara em 1840, com 4,4 metros decomprimento e 1 metro de altura, que é ex-posto pela primeira vez no Brasil, pintadopelo Almirante Pâris, pertencente ao acervoda França; vários instrumentos náuticos defabricação francesa; modelos de vários na-vios de guerra da Marinha do Brasil, do pas-sado e do presente, e que foram construídosna França; e o resultado do trabalho doshidrógrafos franceses que realizaram, noséculo XIX, o primeiro levantamento siste-mático da costa do Brasil, produzindo car-tas náuticas para a segurança do transporte

marítimo, “abrindo caminhos no mar” parao comércio internacional a partir de 1819.

O Espaço Cultural da Marinha tambémabriu à visitação pública um modelo emescala natural de uma nau da época dosdescobrimentos, com uma exposição so-bre a vida a bordo no final do século XV einício do XVI. Essa nau estará exposta, flu-tuando, atracada ao cais do ECM, soman-do-se aos navios museus, submarino e he-licóptero já existentes no local.

O modelo da nau foi construído no ano2000 para as comemorações do 5o centená-rio do descobrimento do Brasil e entregueà Marinha do Brasil em 2008, tendo sidoadaptado e decorado para sua atual finali-dade por meio de um projeto do PatrimônioHistórico e Documentação da Marinha quese baseou em fontes iconográficas do sé-culo XVI. Dessa forma, a nau passa a teruma utilidade educativa, pois completa,como imagem, o que é ensinado sobre asGrandes Navegações portuguesas por meiode palavras nas escolas. Os visitantes de

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todas as idades poderão imaginar,quando estiverem a bordo, a aven-tura de cruzar os oceanos há 500anos.

No fim de semana subsequenteà inauguração das exposições (de 5a 7 de setembro), o Espaço Culturalda Marinha foi visitado por cercade 4.500 pessoas. O Espaço Cultu-ral está situado à Rua Alfred Aga-che, s/no, no Centro, e está aberto àvisitação de terça a domingo, das12 às 17 horas.

Será realizado nos dias 28 e 29 de outu-bro, no Salão Nobre do Instituto Históricoe Geográfico Brasileiro (IHGB), o Seminá-rio Comemorativo do Bicentenário da To-mada de Caiena. O encontro científico teráa participação de historiadores e especia-listas no assunto e debaterá o primeiro atomilitar da política externa de Dom João eque se constituiu no batismo de fogo do

SEMINÁRIO COMEMORATIVO DO BICENTENÁRIO DATOMADA DE CAIENA

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Corpo de Fuzileiros Navais. Caiena, capitalda Guiana Francesa, foi ocupada por tro-pas portuguesas em 1809 em represália àinvasão de Portugal por tropas francesas.

O Seminário é uma promoção conjuntada Diretoria do Patrimônio Histórico e Do-cumentação da Marinha (DPHDM) e doIHGB, com apoio do Instituto de Geografiae História Militar do Brasil (IGHMB), e con-tará com a presença de representantes daUniversidade Federal Fluminense (UFF), daUniversidade do Estado do Rio de Janeiro(Uerj), da Associação Nacional dos Pro-fessores de História (ANPUH), da Direto-ria do Patrimônio Histórico e Cultural do

Exército (DPHCEx) e do Comando-Geral doCorpo de Fuzileiros Navais (CGCFN).

As inscrições encontram-se abertas amilitares e civis, particularmente estudan-tes. Serão conferidos certificados de parti-cipação a quem estiver presente nos doisdias do evento.

Inscrições podem ser feitas pelo [email protected], informandonome completo. Os que desejarem certifi-cado de participação deverão informar tam-bém endereço completo, telefone, profis-são e a instituição da qual fazem parte. Ou-tras informações podem ser obtidas pelostelefones (21) 2104-6722 ou 2104-5491.

Em cumprimento ao calendário de Simpósiosde Ciência & Tecnologia para 2009, o Institutode Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira(IEAPM) realizará, de 10 a 13 de novembro pró-ximo, o VIII Seminário sobre Ondas, Marés,Engenharia Oceânica e Oceanografia por Saté-lite (VIII Omarsat). O evento acontecerá nasdependências do Hotel de Trânsito ARessurgência, em Arraial do Cabo (RJ).

O seminário tem por propósito discutire disseminar assuntos relacionados a On-das, Marés, Engenharia Oceânica e Ocea-

SEMINÁRIO SOBRE ONDAS, MARÉS,ENGENHARIA OCEÂNICA E OCEANOGRAFIA POR SATÉLITE

nografia por Satélite, bem como divulgar oestado da arte desses assuntos no Brasil eno exterior. Pretende propiciar também oacompanhamento dos trabalhos e discus-sões sobre as modernas técnicas e suaspossibilidades de aplicação.

Informações sobre inscrição, participa-ção e submissão de trabalhos poderão serobtidas no site www.ieapm.mar.mil.br/omarsat2009 ou pelos telefones (22)26229021 e 8123-9021 (Retelma).

(Fonte: Bono 442, de 29/6/09)

Foi realizado na Escola de Guerra Naval(EGN), Rio de Janeiro, de 23 a 25 de setembroúltimo, o I Simpósio de Ciência, Tecnologia eInovação da Marinha, com o tema “Os desafi-os para a inovação tecnológica”. O evento foiorganizado e coordenado pela Secretaria deCiência, Tecnologia e Inovação da Marinha,com o intuito de apresentar o estado da arte

I SIMPÓSIO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA EINOVAÇÃO DA MARINHA

na área de Ciência, Tecnologia e Inovação(CT&I), contribuindo, também, para o fortale-cimento da indústria de material de defesa.

Na ocasião, foram enfatizadas ascapacitações das instituições governamen-tais, militares, empresas e universidades parasobrepujar os desafios que se avizinham.

(Fonte: Bono no 512, de 27/7/09)

RMB3oT/2009 299

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Com o tema “O ensino, o exercício e aavaliação da liderança na MB”, foi realizado,de 15 a 17 de setembro, o Simpósio Naval deLiderança-2009, no Auditório Tamandaré, daEscola de Guerra Naval, no Rio de Janeiro.

SIMPÓSIO NAVAL DE LIDERANÇA

O evento foi aberto pelo diretor de En-sino da Marinha, Vice-Almirante TereniltonSousa Santos, e constou de palestras e me-sas-redondas.

(Fonte: Bono no 619, de 3/9/2009)

Com o tema “Ferramentas de PesquisaOperacional para validar o processodecisório nas Forças Armadas”, o Centrode Análises de Sistemas Navais (Casnav)organizou, em 6 de agosto último, a I Mesade Aplicações Militares de PesquisaOperacional, realizada durante o XIISimpósio de Pesquisa Operacional eLogística da Marinha – Spolm 2009.

A Mesa foi composta por professoresconvidados, oficiais das Forças Armadas erepresentantes da Escola Superior de Guer-ra (ESG), Escola de Guerra Naval (EGN), Es-cola de Comando e Estado-Maior do Exérci-to (Eceme), Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica (Ecemar) e Casnav.

Durante a Mesa, foram feitas duas abor-dagens para a estruturação e a resolução deproblemas que envolvam mais de uma variá-

I MESA DE APLICAÇÕES MILITARES DE PESQUISAOPERACIONAL

vel, conhecidos como problemas multicritério.O enfoque militar foi apresentado pelos ofici-ais representantes das escolas aludidas e peloCasnav, conforme as especificidades de cadaForça Armada. A abordagem acadêmica foiapresentada por professores doutores naárea de Pesquisa Operacional. O problemamulticritério foi abordado desde a suaestruturação até a sua resolução, conside-rando os aspectos cognitivos, envolvidosem qualquer processo decisório.

O evento, realizado na Escola de GuerraNaval (EGN), Rio de Janeiro, teve o propósi-to de promover a interação entre o meio aca-dêmico, na área de Pesquisa Operacional, eas escolas de Comando e Estado-Maior, alémde contribuir para o aprimoramento do pro-cesso decisório nas Forças Armadas.

(Fonte: Bono no 503, de 22/7/09)

A Marinha do Brasil, por intermédio doEstado-Maior da Armada (EMA), e o De-partamento Nacional de Produção Mineral(DNPM) celebraram, em 6 de agosto, emBrasília-DF, um Acordo de Cooperação vi-sando ampliar e intensificar o intercâmbiode informações que contribuam para melho-rar o planejamento e a implementação dasações de fiscalização das atividades de pes-quisa e lavra de minerais no mar territorial,

MARINHA CELEBRA ACORDO DE COOPERAÇÃO COM ODNPM

na zona econômica exclusiva e na platafor-ma continental brasileiros, respeitados osatos internacionais ratificados pelo Brasil ea legislação nacional em vigor.

O Acordo de Cooperação, que vigorarápor cinco anos, podendo ser prorrogadopor igual período, foi assinado pelo chefedo Estado-Maior da Armada, Almirante deEsquadra Aurélio Ribeiro da Silva Filho, epelo diretor geral do DNPM, Miguel Antô-

300 RMB3oT/2009

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

nio Cedraz Nery, levando em conta as res-pectivas atribuições legais e capacidadese vocações de ambas as instituições, privi-legiando, assim, a economia de recursos(financeiros, materiais e humanos).

Caberá à Marinha prestar apoio logísticoao DNPM, empregando navios, embarca-ções e aeronaves, de acordo com a sua dis-ponibilidade e conveniência, mediante pré-vio entendimento e conforme as normas deoperação em conjunto a serem firmadas.

O acordo visa, também, assegurar es-treita cooperação entre os Comandos dosDistritos Navais e os Distritos do DNPM,nas respectivas áreas de jurisdição, comespecial atenção ao intercâmbio de infor-mações e ao planejamento de operaçõesde fiscalização, além de participar, quandocouber, dos grupos de trabalho criados poraquele órgão para discussão e aperfeiçoa-mento da legislação referente à atividadede mineração no mar.

Ao DNPM caberá fornecer, regularmen-te, informações sobre áreas autorizadaspara pesquisa e áreas concedidas para la-vra mineral, bem como qualquer outra in-formação que contribua para melhorar oplanejamento e a implementação das açõesde inteligência e de fiscalização; disponi-bilizar servidores para embarque em meiosda Marinha; e providenciar o apoio dosfiscais e agentes de órgãos de fiscalizaçãocompetentes, que se responsabilizarão pe-los produtos e bens apreendidos, de acor-do com a legislação vigente.

(Fonte: www.mar.mil.br)Momento da assinatura do Acordo de Cooperação

Com uma delegação de 25 alunos, o Co-légio Naval se fez representar na 4a Simula-

COLÉGIO NAVAL PARTICIPA DA 4a SIMULAÇÃODAS NAÇÕES UNIDAS

ção das Nações Unidas (IV Simun), ocorri-da no período de 11 a 14 de junho de 2009

na Universidade Federal Fluminense(UFF), em Niterói, RJ. O evento, quesimula uma conferência da ONU, coma participação de diversas delegações,foi promovido neste ano pelo Cursode Relações Internacionais da UFF. OColégio Naval foi premiado como a me-lhor delegação e também como a quepossuía o melhor delegado do Comitêda Interpol – comandante-aluno Pimen-ta, recebendo, ainda, Menção Honro-sa no Comitê da Organização das Na-ções Unidas para a Educação, a Ciên-cia e a Cultura (Unesco) e o prêmio de

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Delegação Solidária pela doação de 150 kgde alimentos não perecíveis para institui-ções carentes.

A Simun é um espaço de preparação paraque os jovens cidadãos de hoje superemos desafios do futuro, pois leva indivídu-

os de todo o Brasil a um cenário repleto deoportunidades para que haja um intercâm-bio de cunho social, político e cultural parao desenvolvimento da cidadania plena.

(Fonte: Bono no 414, de 18/6/09, ewww.mar.mil.br)

V CAMPEONATO MUNDIAL MILI-TAR FEMININO DE FUTEBOL

A equipe feminina de futebol militar doBrasil sagrou-se campeã invicta do evento,realizado em junho nos Estados Unidos eorganizado pelo Conselho Internacional doEsporte Militar. As jogadoras conquistaramo Campeonato ao vencer, por 1 x 0, a Coreiado Sul, na final da competição, realizada nodia 13, na cidade de Biloxi, Mississippi, EUA.

O time é composto por 15 atletas da Mari-nha do Brasil e três da Aeronáutica, que estãoem plena fase de preparação para os JogosMundiais Militares, a serem realizados em ju-lho de 2011, na cidade do Rio de Janeiro.

A Coreia do Sul ficou em segundo lugar,seguida de Holanda, França, Alemanha,Canadá e Estados Unidos.

CIRCUITO TRIMAX DE TRIATLOOLÍMPICO

A MN Fernanda Garcia, recentemente in-corporada à Marinha do Brasil, sagrou-secampeã feminina geral da 1a etapa do circui-to, realizada em 7 de junho, no Rio de Janeiro.

43o CAMPEONATO MUNDIAL MILI-TAR DE ATLETISMO

A equipe de atletismo militar do Brasilconquistou o 11o lugar na competição, or-ganizada pelo Conselho Internacional doEsporte Militar (CISM), com a participaçãode 37 países e 480 atletas, realizado na ci-dade de Sofia – Bulgária, no período de 6 a13 de junho. Esta foi a melhor classificaçãodo Brasil na história dos campeonatos.

RESULTADOS ESPORTIVOS

Destaque para os seguintes militares daMarinha: MN Rodrigo da Silva Pereira, MNRenan de Souza Oliveira, MN VanessaVieira Sales, MN Wallace MagalhãesDaflon Vieira, MN Ana Paula Carvalho Pe-reira e MN Gisele Barros de Jesus.

CLASSIFICATÓRIAS PARA OS JOGOSOLÍMPICOS DE 2012 – COPA DO MUN-DO DE JUDÔ

A equipe feminina de judô da Marinhaparticipou das etapas classificatórias, reali-zadas nas cidades de Lisboa e Madri, no pe-ríodo de 6 a 14 de junho, com destaque paraas seguintes atletas: MN Sara Menezes, MNCamila Minakawa, MN Mariana Barros, MNKetleyn Quadros, MN Andressa Fernandes,MN Natália Bordignon e MN Daniele Yuri.

IX REGATA BATALHA NAVAL DORIACHUELO – DATA MAGNA DAMARINHA

Realizada em 20 de junho, como partedo X Circuito Poder Marítimo de RemoEscaler, reuniu 474 remadores marinheiros,fuzileiros e atletas dos clubes de remo doRio de Janeiro. Destacaram-se as equipesda Esquadra, do Centro de Instrução Almi-rante Graça Aranha (Ciaga), da Escola Na-val, do Colégio Naval, do Centro de Ins-trução Almirante Wandelkolk (CIAW), daDiretoria de Hidrografia e Navegação(DHN), do Centro de Instrução AlmiranteAlexandrino (CIAA), da Diretoria-Geral doMaterial da Marinha (DGMM), todas da

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

MB, e as dos clubes Vasco da Gama,Flamengo e Botafogo.

30o CAMPEONATO MUNDIAL MILI-TAR DE VOLEIBOL

Realizado de 20 a 30 de junho noMaracanãzinho, Rio de Janeiro, nas cate-gorias masculino e feminino, o evento va-leu como teste para os V Jogos MundiaisMilitares de 2011, com a participação de 13países. Foi a seguinte a classificação final:

– Masculino: 1o lugar – Irã, 2o – Brasil,3o – China, 4o – Índia, 5o – Catar, 6o – Fin-lândia, 7o – Holanda, 8o – Estados Unidos,9o – Venezuela, 10o – Canadá; e

– Feminino: 1o – Alemanha, 2o – Itália, 3o

– Grécia, 4o – Estados Unidos, 5o – Holanda,6o – Canadá.

TERCEIRA MEIA MARATONA DASCATARATAS DO IGUAÇU

Em 5 de julho, uma equipe composta pornove militares representou a Marinha doBrasil na Terceira Meia Maratona das Cata-ratas do Iguaçu, realizada na cidade de Fozdo Iguaçu-PR. A equipe foi composta pelosseguintes militares: CF Dondeo (capitão dosportos do Rio Paraná), SO Martins, SOMacêdo, 1oSG Galisa, 2oSG Mattos, 2oSGAquiles, 3oSG-FN Neves, SD-FN Defler e SD-FN Reynaldo. Participaram da Meia Mara-tona 1.025 atletas. O SO Martins Soares deOliveira foi o 66o colocado na classificaçãogeral e o 4o colocado em sua categoria, com-pletando a prova em 1h31min20s. Todos osmilitares receberam medalha pela participa-ção. O Comando do 5o Distrito Naval (RioGrande – RS) e a Diretoria de Abastecimen-to da Marinha foram as OM patrocinadoras.

22a CORRIDA DO CORPO DE FUZILEI-ROS NAVAIS – RJ CLASSIC

Cerca de 3.200 atletas e apaixonados peloesporte participaram do evento, realizado em19 de julho, em parceria com a Corpore, no

Aterro do Flamengo. A corrida compreen-deu as modalidades individuais, com per-cursos de 5, 10 e 20 km, registrando recordede atletas civis, e a já tradicional competi-ção entre pelotões militares de diversas Or-ganizações Militares (OM) da Marinha.

Dentre os 38 pelotões representantes,sagraram-se campeões: no feminino, o Pelo-tão do Centro de Educação Física AlmiranteAdalberto Nunes (Cefan) e, no masculino, odo 2o Batalhão de Infantaria dos FuzileirosNavais (2oBtlInfFuzNav - Batalhão Humaitá).O pelotão do Centro de Instrução AlmiranteSylvio de Camargo (Ciasc) ficou em 2o lugare o da EN em 3o lugar.

Dentre os pontos marcantes da prova,destacou-se a participação de diversas OMque realizaram o percurso (10 km) de “calçae coturno”, demonstrando a determinaçãoe o arraigado espírito de corpo dos Fuzilei-ros Navais.

46o CAMPEONATO MUNDIAL DEPENTATLO NAVAL

Realizado de 30 de julho a 7 de agosto,na cidade de Eckernforde, Alemanha, foi pro-movido pelo Conselho Internacional do Es-porte Militar (CISM), com a participação de70 atletas de 11 países. O Brasil obteve aquarta colocação geral por equipe masculi-na e o quinto lugar geral por equipe femini-na, sendo esta a primeira competição inter-nacional da atual equipe feminina, após 13anos de ausência nessa competição.

Na classificação individual geral, o Bra-sil obteve significativos resultados, desta-cando-se os seguintes militares: 3oSGErnesto Geisel Araújo Nascimento, MNVinicius Teixeira de Almeida Morais, CB-FNAlex Sandro Barreto Santana, 1oSG-FNCarlos Renato de Mattos, 1oSG-FN CarlosRenato Lourenço, MN Simone Lima, CBFabiane Jesus Marinho e MN ManuellaCorrêa. Nos resultados individuais, por pro-vas, destacaram-se a MN Manuella Corrêa,

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

que obteve o 2o lugar na prova de Nataçãode Salvamento, e a MN Simone Lima, com o3o lugar na prova de Natação Utilitária.

VII REGATA A REMO CORPO DE FU-ZILEIROS NAVAIS

Como parte das comemorações do ani-versário do Corpo de Fuzileiros Navais(CFN), realizou-se em 2 de agosto, no Es-tádio de Remo da Lagoa, Rio de Janeiro.Além das provas da Regata, o CFN apre-sentou mostruários e exposição dos veí-culos motorizados utilizados nas opera-ções navais.

Destacaram-se as equipes: CIAW, CN,Corpo de Intendentes da Marinha, EN, Es-quadra, Ciaga, CIAA, Piraquê, DGMM, Ba-talhão Tonelero, Comando da Tropa de Re-forço, Grupamento de Mergulhadores deCombate (todas da Marinha) e os clubesPiraquê, Flamengo, Guanabara e Botafogo.

43o CAMPEONATO MUNDIAL MILI-TAR DE NATAÇÃO

A equipe de natação militar do Brasilconquistou o 6o lugar geral no quadro demedalhas e o 2o lugar geral por número demedalhas no campeonato, organizado peloConselho Internacional do Esporte Militar(CISM), no período de 10 a 12 de agosto,

na cidade de Montreal – Canadá. Partici-param 13 países e 156 atletas, sendo esta amelhor classificação do Brasil na históriados campeonatos, com 27 medalhas.

Foi fundamental a participação das se-guintes militares da Marinha em tão expres-sivo resultado: MN Fernanda Alvarenga,MN Juliana Marangoni Marin, MN LorenaAraujo Rezende, MN Dandara Mendes An-tonio, MN Izabela Passos Fortini e MNLarissa Freitas Cieslak, todas lotadas noCefan. O primeiro lugar obtido pela MNFernanda Alvarenga na prova 200 metrosnado costas, reveste-se de um significadoespecial para o esporte militar nacional, porter sido a primeira vez que uma mulher bra-sileira conquistou uma Medalha de Ourona história dos campeonatos mundiais mi-litares de natação organizados pelo CISM.

VII REGATA COLÉGIO NAVAL DEREMO

Fazendo parte das comemorações do 58o

Aniversário de Criação do Colégio Naval edo IX Circuito Poder Marítimo de Remo emEscaler, realizou-se em 22 de agosto. Desta-caram-se as seguintes equipes: CN, CIAW,Corpo de Intendentes da Marinha, DGMM,Ciaga, Esquadra, CFN e CIAA (todas da MB)e os clubes Loureiro e Flamengo.

A Base Aérea Naval de São Pedro daAlveia (BAeNSPA) apoiou o Centro de Ins-trução de Aviação do Exército (Ciavex) narealização do Estágio de Pilotagem Tática(EPT). Este estágio é parte integrante doCurso de Piloto de Combate do Exército Bra-sileiro, que tem como propósito qualificaros pilotos militares a utilizarem a plataformaaérea como uma genuína arma de combate.

Além do apoio administrativo a seus44 oficiais e 32 praças, a BAeNSPA pres-

BAeNSPA PRESTA APOIO AO CIAVEX

tou o essencial apoio operativo a essa ati-vidade, como o Serviço de Tráfego Aéreo(ATS) de sua competência, controlandoas oito aeronaves (sete Esquilos e um Pan-tera), que realizaram, durante 12 dias con-secutivos do semestre passado, um totalde 200 lançamentos, perfazendo 300 ho-ras de voo.

Entre os 18 oficiais-alunos matriculados nocurso, estão dois oficiais aviadores navais.

(Fonte: A Macega no 39, 1o trim. 2009)

304 RMB3oT/2009

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

PESSOAL, NOSSO MAIOR PATRIMÔNIO

O diretor-geral do Pessoal da Marinha,Almirante de Esquadra José Antônio deCastro Leal, assinou, no jornal Noticiáriode Bordo do 3o trimestre de 2009, o textoque transcrevemos a seguir. A publicaçãoé editada pelo Abrigo do Marinheiro.

“Uma Marinha somente será eficiente sedispuser de pessoal qualificado, que se sin-ta bem empregado, motivado e apoiado. Agrande desafio reside em desenvolver ade-quadamente as habilidades individuais, paraaplicação das capacidades humanas na ope-ração, manutenção e renovação dos meiosconstituintes do Poder Naval.

Na Marinha do Bra-sil, de há muito os mili-tares e servidores civisnão são consideradoscomo simples ‘recur-sos humanos’, quepodem ser facilmentesubstituídos, mas simcomo o maior patri-mônio da instituição.De modo a formar um vínculo sólido e pere-ne, procura-se criar um relacionamento ba-seado em compromisso mútuo e dedica-ção recíproca, muito mais complexo do queo existente em relações formais de emprego.

Para tal, é preciso selecionar, junto à so-ciedade brasileira, pessoal de qualidade evocacionado para a carreira naval, prepará-lo por meio de cursos e adestramentos paraatender aos exigentes requisitos navais,conduzir de forma equilibrada as diversascarreiras, suprir bem as necessidadesassistenciais e de apoio e, por fim, permitir oamparo apropriado àqueles que dedicaramsuas vidas em prol da instituição.

Em função disso, a Marinha vem colo-cando o máximo de atenção na melhoriacontínua de todos os processos que en-

volvem o seu pessoal, valendo destacaros seguintes presentes desafios, na áreade responsabilidade da Diretoria-Geral doPessoal da Marinha:

– buscar o aumento dos efetivos de mi-litares de carreira, convocados eprestadores de tarefa por tempo certo e deservidores civis, dos diversos planos decargos e carreiras, de modo a assegurarmelhor repartição e distribuição da imensacarga de trabalho ora requerida para o aten-dimento das tarefas navais;

– preparar oficiais, praças e servidorescivis para projetar, construir, operar e man-

ter os modernos sub-marinos e meios de su-perfície e aéreos queserão incorporadosnas próximas décadas,com especial ênfasepara o desenvolvimen-to do submarino depropulsão nuclear;

– aperfeiçoar osprocessos de acompanhamento e controledas carreiras dos oficiais e praças, visandoà otimização do emprego, mas atentandosempre e de forma prioritária, para a pro-gressão equilibrada e contínua, com pro-moções dentro dos interstícios e à luz domérito individual;

– buscar a criação de um plano de car-gos para os servidores civis que não sejamintegrantes de carreiras organizadas e con-tribuir para o processo de criação de umplano de carreiras único dos servidores ci-vis do Ministério da Defesa;

– manter os investimentos narevitalização das instalações físicas dosestabelecimentos de ensino, de formaconcomitante com a melhoria dos currícu-los e a oferta de cursos e estágios que con-

Uma Marinha somenteserá eficiente se dispuser

de pessoal qualificado, quese sinta bem empregado,

motivado e apoiado

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

tribuem para o crescimento individual, embenefício da capacitação da Marinha;

– prosseguir com as obras de moderni-zação do Hospital Naval Marcílio Dias, comprioridade para a ampliação do número deleitos e a modernização dos setores de pron-to atendimento e emergência, desenvol-vendo em paralelo um programa dehumanização no atendimento, com focovoltado para o bem-estar do usuário;

– prosseguir com a reestruturação dosambulatórios navais, com prioridade paraa melhoria das instalações do AmbulatórioNaval da Penha e a construção do novoAmbulatório de Niterói, buscando-se umaoferta de atendimento de qualidade, maispróximo dos usuários e com menores pra-zos de marcação deconsultas;

– estabelecer umprograma de assistên-cia social, voltado parao atendimento aos pa-cientes internados eem tratamento pós-hospitalar, sob a égidedo Sistema de Assis-tência Integrada aoPessoal da Marinha;

– implantar um Serviço Integrado deAtendimento Domiciliar no Hospital NavalMarcílio Dias, com prioridade para o ido-so, mediante atuação coordenada do Sis-tema de Saúde e do Sistema de AssistênciaSocial;

– desenvolver programas específicosnas Organizações Militares (OM) que pres-tam atendimento ao público interno, emespecial no Serviço de Inativos e Pensio-nistas, com foco no preparo do pessoalatendente, na melhoria das instalações, narevisão de procedimentos e no aprimora-mento dos canais de comunicação, demodo a humanizar o relacionamento comos usuários;

– implementar uma estrutura capaz deaferir continuamente o nível de satisfaçãopessoal e profissional e por melhoriasmotivacionais;

– manter o elevado nível de qualidadeatingido nas instalações da Casa do Mari-nheiro e construir uma Área Recreativa emSão Gonçalo, para assegurar facilidade deentretenimento e lazer às praças;

– desenvolver um programa de obten-ção e ampliação de facilidades para praçase seus familiares em trânsito e instalação;

– apoiar o Departamento do Abrigo doMarinheiro ‘Voluntárias Cisne Branco’, re-cém-criado, auxiliando-o no estabelecimen-to de novos serviços assistenciais à famí-lia naval; e

– aperfeiçoar osprocessos de comuni-cação social com mili-tares e servidores ci-vis, de modo a mantê-los mais bem informa-dos sobre as medidasem curso no que serefere a políticas depessoal.

Esses desafios sãoapenas alguns no in-

tenso e continuado esforço da Marinhapara prover as melhores condições a seusintegrantes. Somam-se a eles muitos ou-tros, todos visando contribuir para quenossa Nação disponha de pessoal qualifi-cado, como elemento principal de um Po-der Naval compatível com os interessesnacionais, especialmente agora que se vis-lumbra claramente o imenso potencial da‘Amazônia Azul’.

Vale sempre repetir que o desenvolvi-mento, a manutenção e a operação do Po-der Naval do futuro dependem, desde otempo presente, de inúmeras ações na áreade pessoal. As novas tecnologias empre-gadas nos meios e as possibilidades na área

Esses desafios são apenasalguns no intenso e

continuado esforço daMarinha para prover as

melhores condições a seusintegrantes

306 RMB3oT/2009

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

de saúde e informática exigem a atualiza-ção dos processos de formação. Adicio-nalmente, a necessidade de obtenção deum número adequado de pessoal para aMarinha do futuro ocorre com antecedên-cia de alguns anos, jáexistindo ações emcurso para dimen-sioná-la e qualificá-laadequadamente.

Ainda, outro desa-fio motivador refere-se à constante muta-ção da sociedade bra-sileira, da qual somosparte e de onde sãoselecionados nossosmilitares e servidorescivis. Por isso, a Mari-nha estuda atenta-mente o perfil de seupessoal, que, comoparte da sociedadebrasileira, apresenta omesmo dinamismo emtermos de expectati-vas, nível de conheci-mento e valores. As-sim, é preciso estaratento para, à luz das virtudes necessáriaspara o bom andamento do serviço, atuali-zar-se na motivação e preparo das novasgerações.

A Marinha do Brasil, portanto, consci-ente da importância das pessoas na cons-trução do futuro, vem agindo em inúmerasfrentes, preparando-se desde já para asnecessidades de uma Marinha com a di-

mensão e a prontidãoque o Brasil necessi-ta. E todos nós somosconvocados a partici-par desse processo,por meio de nossasações diárias, buscan-do a própria atualiza-ção profissional e amelhoria dos proces-sos em nosso ambien-te de trabalho.

Esta obrigaçãonasce do comprometi-mento com o sucessodessa instituição, coma qual teremos laçospor toda a nossa vida,e é fruto da importân-cia de cada indivíduona execução de tarefassimples que, bem rea-lizadas, somam-se emum Poder Naval forte,

pronto e respeitado.É por tudo isso que afirmamos sempre,

com muito orgulho, o lema ‘Pessoal, nossomaior patrimônio!’”

A Marinha estudaatentamente o perfil de seupessoal, que, como parteda sociedade brasileira,

apresenta o mesmodinamismo em termos de

expectativas, nível deconhecimento e valores.Assim, é preciso estaratento para, à luz das

virtudes necessárias para obom andamento do serviço,atualizar-se na motivação e

preparo das novasgerações

A Diretoria de Assistência Social daMarinha (Dasm) prontificou, para publica-ção em Sistema Braille, a cartilha AmazôniaAzul, publicação infanto-juvenil sobre omar e seus recursos. O objetivo da iniciati-va é estimular nas crianças com deficiênciavisual o desenvolvimento de uma mentali-dade marítima, conscientizando-as sobre a

MARINHA PRODUZ MATERIAL DE COMUNICAÇÃO PARADEFICIENTES VISUAIS

preservação e a exploração racional e sus-tentável dos recursos do mar.

Outra iniciativa da Dasm foi a dedisponibilizar sua nova página na internet(www.dasm.mar.mil.br), que permite o aces-so de deficientes visuais e possui o selode aprovação “Acessibilidade Brasil”.

(Fonte: Nomar no 803, mar./2009)

RMB3oT/2009 307

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Foi realizado, em 24 de julho último, noEstande de Tiro de Maxaranguape (Base daForça Aérea, em Natal), o primeiro lança-mento de bomba de aviação por uma aero-nave AF-1 da Marinha do Brasil. A aerona-ve N-1021 (bi-place) lançou uma bomba iner-te Mk-81 de 250 libras, de fabricação nacio-nal (Britanite) e amplamente empregada poraeronaves de caça de outras nações.

Os oficiais aviadores navais da mis-são foram o Capitão de Corveta (FN)

AF-1 LANÇA BOMBA DE AVIAÇÃOAlexandre Vasconcelos Tonini (2P) e oCapitão-Tenente Rogério RamosMedeiros Filho (1P). O evento realizadoreveste-se de caráter ímpar, haja vista oseu ineditismo na Marinha e o fato deter alçado o Esquadrão VF-1 a um pata-mar operacional mais elevado, contribu-indo sobremaneira para o incremento doemprego operacional desse vetor daEsquadra.

(Fonte: Bono no 521, de 30/7/09)

Está à disposição dos interessados, naBiblioteca da Marinha, o artigo “Qual ofuturo do porta-aviões – função e empre-go da Aviação Embarcada no cenário doséculo XXI”, publicado como suplementoda Rivista Marittima, editada peloMinistero della Difesa da Itália.

De autoria de Michele Cosentino, cola-borador permanente daquela publicação,o suplemento contém 156 páginas, é farta-mente ilustrado e está dividido em capítu-los, a saber:

– O emprego do porta-aviões em tarefasnão tradicionais;

– Futuro cenário de emprego do porta-aviões;

– Cenário e deduções;– Os principais programas de construções;– A aviação embarcada; e– Conclusões.

QUAL O FUTURO DO PORTA-AVIÕES?

A Fragata Liberal participou, de 18 de ju-nho a 6 de julho deste ano, do exercício mul-tinacional Team Work South 2009 (TWS2009).

FRAGATA LIBERAL PARTICIPA DATEAM WORK SOUTH 2009

(Fonte: Rivista Marittima, Itália, feve-reiro/março 2009)

Durante o exercício, o navio operou, naságuas do Pacífico, com meios navais eaeronavais das Marinhas dos EUA, do Chi-

308 RMB3oT/2009

NOTICIÁRIO MARÍTIMO

le, da Argentina, do Reino Unido e da Fran-ça. Além de reforçar os laços de amizade ede mútua cooperação entre as Marinhasparticipantes, a TWS2009 alcançou seu pro-pósito maior, qual seja o de adestrar forçasnavais dentro de um cenário de múltiplasameaças, inclusive as de naturezaassimétrica.

A Liberal visitou os portos de Rio Grande(RS); Punta Arenas, Valparaíso, Mejillones eIquique, no Chile; e Montevidéu, no Uruguai,num total de dois meses e seis dias de comissão.

O navio atracou na Base Naval do Riode Janeiro em 31 de julho último.

(Fontes: Bono no 521, de 30/7/09 ewww.alide.com.br)

Desde 27 de julho último, encontra-se disponível , no endereço http:/ /www.secctm.mar.mil.br, a nova página daSecretaria de Ciência, Tecnologia e Ino-vação da Marinha (SecCTM) na internet.O objetivo do site é permitir ao público

PÁGINA DA SecCTM NA INTERNET

externo a visibilidade das áreas de atua-ção das Organizações Militares (OM) depesquisa e desenvolvimento e das ati-vidades de Ciência, Tecnologia e Infor-mação na Marinha do Brasil.

(Fonte: Bono no 512, de 27/7/09)

Encontra-se disponível, desde 20 de ju-lho último, no endereço http://www.mar.mb,a nova página da Marinha do Brasil (MB)na intranet. A nova página visa propiciar aopúblico interno maior difusão das ativida-des desenvolvidas pela Força.

Até então, os assuntos de interessepara divulgação interna vinham sendohospedados na página da intranet do Ga-binete do Comando da Marinha (GCM),

NOVA PÁGINA DA MB NA INTRANET

por inexistência de um site específico daMB.

A nova página apresenta um layout se-melhante ao da página da Marinha na internet(http://www.mar.mil.br), a fim de garantir omesmo nível de informação nos dois ambien-tes. Além disso, preserva links e assuntos deinteresse específico da Força, que já se en-contravam disponíveis na página do GCM.

(Fonte: Bono no 498, de 20/7/09)

A Revista ScientificAmerican – Brasil publicou noseu volume 2, série Oceanos,dois artigos assinados peloVice-Almirante (Refo) LuizPhilippe da Costa Fernandes.

Neste volume, a série faz umaviagem pelos maiores tesourose mistérios do mar, mostrandocomo as transformações que hojeocorrem no oceano vão mudar o

ARTIGOS DO VA COSTA FERNANDES NA REVISTASCIENTIFIC AMERICAN – BRASIL

futuro do planeta. Esta primeira edi-ção aborda o papel-chave dos oce-anos nas mudanças ambientais daatualidade, tendências e estimati-vas sobre questões tão importan-tes como o aquecimento global, aelevação do nível do mar e a pre-servação da biodiversidade.

Além de esclarecer vários dosmaiores problemas mundiais, Oce-anos apresenta a análise de des-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

tacados especialistas sobre fenômenos queafetam especialmente a costa brasileira.

Os artigos do Vice-Almirante LuizPhilippe da Costa Fernandes publicadossão:

– “A Oceanografia no Brasil – Decifran-do a Amazônia Azul”, em que o autor ava-lia a colaboração desta área do conheci-

mento, há 75 anos, na busca de saberesvitais para o futuro do País; e

– “Geopolítica – Poder sobre as águas”,texto em que defende a imposição de no-vas ações para garantir a segurança do marbrasileiro, diante de recentes mudanças nocenário internacional.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Comemorou 175 anos de criação, em 12de junho passado, o Grupo Rickmers. OGrupo iniciou suas atividades em 1834 aoser fundado, por Rickmer Clasen Rickmers,um estaleiro na cidade de Bremerhaven, naAlemanha. Hoje, ele atua na área de trans-porte marítimo global, na área de investi-mentos e no mercado imobiliário, por meiode mais de 20 escritórios internacionais.

Empregando mais de 2.750 tripulantesno mar e outros 450 nos escritórios em ter-

GRUPO RICKMERS – 175 ANOS EMTRANSPORTE MARÍTIMO

ra, o Rickmers possui mais de uma centenade navios-transporte de diversos tipos, taiscomo os de contêineres, os de automóveis,os de carga geral e outros.

As comemorações dos 175 anos do gru-po incluíram um simpósio realizado em Ham-burgo, na Alemanha, além de uma exibiçãoespecial sobre suas atividades, realizada noMuseu Alemão Marítimo, em Bremerhaven.

(Fonte: Nota à imprensa do RickmersGroup, de 12 de junho de 2009)

A presidente das Filipinas, GloriaMacapagal Arroyo, inaugurou no por-to de Suape, em Pernambuco, a expan-são do terminal da Suape ContainerTerminal (SCT).

Essa expansão é parte do programade investimento de US$ 120 milhões, ini-ciado em 2002, após a InternationalContainer Terminal Services, Inc. (ICTSI)obter a concessão para exploração, por30 anos, do gerenciamento, operação edesenvolvimento do terminal.

Esta foi a primeira visita de um pre-sidente filipino ao Brasil, e a ICTSI é a pri-meira companhia daquele país a investir nosetor marítimo brasileiro. A expansão re-

PRESIDENTE DAS FILIPINAS INAUGURATERMINAL EM SUAPE

A Presidente Arroyo descerra a placacomemorativa de sua visita, acompanhadapelo governador de Pernambuco, EduardoCampos, e pelos senhores Razon e Kano

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O Sr. Kano explica à presidente das Filipinas o estágio do desenvolvimento do SCT

presenta um acréscimo de sete hectares àárea de contêineres, que passou a ter umtotal de cerca de 30 hectares.

(Fonte: International Portfolio doInternational Container Terminal Services,Inc. (ICTSI), julho de 2009)

Dando continuidade ao esforço para oaperfeiçoamento do Sistema de Saúde daMarinha e visando elevar a qualidade dosserviços ofertados à Família Naval, foi ati-vado, em 1o de agosto último, o ServiçoIntegrado de Atendimento Domiciliar(Siad), vinculado à Clínica de Geriatria doHospital Naval Marcílio Dias (HNMD) ecomposto por equipe multiprofissional desaúde. O serviço é fruto de estudos con-duzidos pela Diretoria de Saúde da Mari-nha (DSM) em conjunto com a Diretoria deAssistência Social da Marinha (Dasm).

SERVIÇO INTEGRADO DE ATENDIMENTO DOMICILIAR

Em paralelo, desde então, os usuários ido-sos que apresentem impossibilidade de pro-ver suas necessidades de moradia, alimenta-ção, saúde e convivência social passaram acontar com a possibilidade de internação eminstituições de longa permanência, com am-paro no Programa de Maturidade Saudável,vinculado ao Serviço de Assistência Integra-da ao Pessoal da Marinha. Essas iniciativasencontram-se perfeitamente alinhadas comas políticas mais atuais de atendimento médi-co e assistencial, em especial no que se refe-re ao Estatuto do Idoso.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Informações detalhadas sobre as nor-mas de funcionamento encontram-se naDGPM-401 – 2aRev. (Normas para Assis-tência Médico-Hospitalar) e na DGPM-501– 3aRev. (Normas sobre a Assistência Inte-grada na Marinha do Brasil). A divulgação

está sendo efetuada por meio da distribui-ção de folhetos explicativos nas OM degrande atendimento ao público, no infor-mativo Noticiário de Bordo e nos sites daDSM e da Dasm, na internet e na intranet.

(Fonte: Bono no 519, de 29/7/09)

Foi concretizada a transferência daatividade “Obra do Berço” do Comandodo 1o Distrito Naval para a DiretoriaSeccional das Voluntárias Cisne Brancona área do Rio de Janeiro (DSec-VCB-RJ).Esta Associação é vinculada ao Departa-mento de Serviços Sociais do Abrigo doMarinheiro e, desde 29 de julho último,vem efetuando o gerenciamento integraldessa atividade.

A Obra do Berço é um serviço de cará-ter filantrópico, executado voluntariamen-te por esposas de oficiais que se reúnem,semanalmente, no Departamento Esporti-vo do Clube Naval – Piraquê, para a con-fecção de enxovais destinados aos recém-nascidos filhos de cabos, marinheiros esoldados.

VOLUNTÁRIAS CISNE BRANCO-RJ ASSUMEMOBRA DO BERÇO

Para a retirada do material é solicitada aapresentação da papeleta de requisição deenxoval, cópia da certidão de nascimentoou Declaração de Nascido Vivo e chequeno valor de R$ 98,00 da Caixa de Economi-as da Organização Militar onde a praça ser-ve, nominativo ao Serviço de AssistênciaSocial da Marinha.

A entrega é realizada ao responsável pelorecém-nascido às quintas e sextas-feiras, das8 horas às 11h30 e das 13 às 16 horas, naSede da VCB, situada à Rua ConselheiroSaraiva, no 8, Centro, Rio de Janeiro.

Informações adicionais podem ser obti-das com a Capitão-Tenente Elenice ou coma Segundo-Sargento Márcia, pelos telefo-nes 2104-5341, 2233-6908 ou 2516-7473.

(Fonte: Bono no 539, de 5/8/09)

Os usuários da Carteira de AssistênciaMédica Hospitalar para o Pessoal da Ma-rinha do Brasil (AMHPMB) residentes nosmunicípios do Rio de Janeiro e do GrandeRio puderam participar de umMapeamento de Saúde, como o primeiropasso para a plena implementação, noâmbito da Carteira de Saúde do Abrigo doMarinheiro, do programa de gestão desaúde da Unimed-Rio batizado de “ParaViver Melhor”. Esse programa tem o pro-pósito de estimular a busca por hábitosde vida mais saudáveis, que contribuem

PARA VIVER MELHOR

para a prevenção e redução dasconsequências de muitas doenças crôni-cas, como diabetes, câncer e doençascardiovasculares.

O mapeamento consistiu na aplicaçãode um questionário para levantamento dasatitudes, hábitos de vida e condições desaúde dos beneficiários da Unimed-Riomaiores de 18 anos. O questionário visaavaliar o risco de saúde para diabetesmellitus, doenças cardiovasculares, doen-ça pulmonar obstrutiva crônica e algunstipos de cânceres (colo-retal, mama, colo

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

de útero) e à identificação de idosos frá-geis. A participação foi voluntária, por meiode um questionário virtual no site da

Unimed-Rio, disponibilizado até 31 de ju-lho último.

(Fonte: Bono no 519, de 29/7/09)

Com o propósito de ampliar as facilida-des oferecidas à Família Naval, o Serviçode Assistência Social da Marinha (Sasm)firmou acordos com a Rede Atlântico deHotéis, com os Hotéis Íbis RJ SantosDumont e Centro, com a Pousada Maricá,o Hotel Fazenda Canto da Serra e o RealPark Hotel, para que sejam concedidos des-contos na tarifa de balcão, e com a Agên-cia de Viagens Bessitur, que oferece des-contos em pacotes turísticos.

Os descontos são válidos para milita-res, servidores civis e seus dependentes,bastando, no momento da reserva ou deobtenção do pacote, mencionar o vínculocom a Marinha do Brasil e solicitar o res-pectivo desconto.

Os detalhes sobre as facilidades sãoapresentados a seguir, sendo que a rela-ção também está disponível na página doSasm na intranet, no menu “Notícias”.

1) A Rede Atlântico constitui-se dos cin-co primeiros hotéis relacionados, oferecen-do um desconto médio de 30% sobre a tarifade balcão, com exceção do Hotel AtlânticoBúzios, com 5% de desconto, em média:

– Hotel Astoria Palace – Av. Atlântica,1.866, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, tel:(21) 2545-9550, www.astoriapalace.com.br.Reservas: [email protected]

– Hotel Atlântico Búzios – Estrada da Usi-na, no 294, Praia da Armação, Búzios, RJ, tel:(22) 2620-8850, www.atlanticobuzios.com.br.Reservas: [email protected]

– Hotel Atlântico Copacabana – RuaSiqueira Campos no 90, Copacabana, Rio

SASM FIRMA ACORDOS PARA DESCONTOS EM HOTÉIS EPACOTES TURÍSTICOS

de Janeiro, RJ, tel: 2548-0011,www.atlanticocopacabana.com.br. Reser-vas: [email protected]

– Hotel Bandeirantes – Rua BarataRibeiro no 548, Copacabana, Rio deJ a n e i r o , R J , t e l : 2 5 4 8 - 6 2 5 2 ,www.hotelbandeirantes.com.br. Reservas:[email protected]

– Hotel Astoria Copacabana – Rua Repú-blica do Peru, no 345, Copacabana, Rio de Ja-neiro, RJ, tel: 2545-9090, www.astoria.com.br.Reservas: [email protected]

2) Pousada Maricá – Rua JerônimoRodrigues, no 1, Centro, Maricá, RJ, tel:3731-0089 ou 9727-9571. Desconto de 10%para o pessoal da MB.

3) Hotel Fazenda Canto da Serra – Estra-da Niterói/Saquarema, km 48, na descida daSerra do Mato Grosso, a 1km do asfalto,Saquarema, RJ, tel:2613-1256 ou 3021-4233,www.hotelfazendacantodaserra.com.br.Desconto de 10% para o pessoal da MB.

4) Real Park Hotel – Rua Professor Car-doso de Menezes, s/no, Lote 01, Itaipuaçu,Maricá, RJ, tel: 2638-1259 ou 2638-7420,www.realparkhotel.com.br.Desconto de 30%sobre a tarifa balcão para o pessoal da MB.

5) Bessitur Agência de Viagens – Av. RioBranco, no 123, 14 o andar, Centro, Rio de Ja-neiro, RJ, tel : 3035-3036, www.bessitur.com.br.Pacotes da Bessitur 10% de desconto; cir-cuitos Europa 7% de Desconto; cruzeirosmarítimos 5% de desconto; e cursos no exte-rior 5% de desconto.

(Fonte: Bono Especial no 565, de 14/8/09, e Bono no 591, de 26/8/09)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

CADERNOS NAVAIS – REFLEXÕES SOBRE O MAR

Lançado pelo Grupo de Estudos e Re-flexão Estratégica de Portugal, ao qual com-pete a elaboração e divulgação de temassobre assuntos estratégicos de interessegeral e em especial para a Marinha do país,este Caderno Naval homenageia o Vice-Al-mirante António Emílio Ferraz Sacchetti, fa-lecido em 2009.

O Almirante Sacchetti teve carreira lon-ga e diversificada em sua Marinha, em ter-ra e no mar, carreira esta que culminou como cargo de vice-chefe do Estado-Maior daArmada. Também foi professor catedráticoconvidado de várias universidades e leci-onou por mais de 20 anos no Instituto Su-perior de Ciências e Políticas da Universi-dade Técnica de Lisboa. É autor de vastasobras nas áreas de doutrina, de relaçõesinternacionais e de estratégia, e de 68 arti-gos publicados na Revista da Armada, de

Portugal, entre junho de 1992 e janeiro de2009.

Os temas abordados nesta edição, abai-xo citados, podem ser de interesse paraestudiosos de estratégia em geral e, emparticular, para os cursos e grupos de es-tudos da Escola de Guerra Naval brasileira.Temas desta edição:

– “Portugal e o Mar”, do ProfessorAdriano Moreira;

– “O Mar Português e a Fronteira Marí-tima Europeia”, do Vice-Almirante AntónioEmílio Ferraz Sacchetti;

– “A Nova Descoberta do Mar”, do Al-mirante Nuno Gonçalo Vieira Matias; e

– “Paz e Segurança nos Oceanos”, doVice-Almirante Victor Manuel LopoCajarabille.

(Fonte: Cadernos Navais no 29, Portu-gal, abril-junho 2009).

A Diretoria do Patrimônio Histórico eDocumentação da Marinha (DPHDM)disponibiliza para o público em geral obrasde grande importância para a cultura militarnaval, tanto para quem quer se aprofundarno estudo da História do Brasil como paraquem deseja apenas um bom passatempo.

Apresenta-se a seguir a relação das pu-blicações que podem ser adquiridas na pró-pria DPHDM, na Praça Barão de Ladário,s/no, Ilha das Cobras, Centro, RJ, ou pormeio da Mala Postal-MB. Neste caso, opedido deve ser feito pelos e-mails:[email protected] ou dphdm-522@dphdoc, ou ainda pelo tel/fax(0xx21)2104-5492 ou RETELMA 8110-5492,mediante envio do comprovante do depó-sito bancário no valor dos livros solicita-dos, em nome do Departamento Cultural

CONHECENDO A HISTÓRIA ATRAVÉS DA MARINHA

do Abrigo do Marinheiro – Banco Real,Agência 0915-6, C/C 3003212-4, CNPJ72.063.654/0011-47.

– A Bordo do ContratorpedeiroBarbacena, de João Carlos Gonçalves Ca-minha, Editora Catatau, 1994, 840 páginas,ilustrado. Romance ambientado no Nordes-te, tendo como personagens oficiais e pra-ças da Força Naval do Nordeste e da IVEsquadra Norte-Americana, pessoal daMarinha Mercante, espiões, nacionais eestrangeiros e outros elementos que circu-lavam a bordo dos navios ou nas cercani-as dos portos no desenrolar da SegundaGuerra Mundial (R$ 35,00).

– A Guerra da Lagosta, de Cláudio daCosta Braga, SDM, 2004, 196 páginas.Relato sobre a crise externa com a Françano início da década de 1960 (R$ 25,00).

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

– A Mala Marrom, de João PauloMoreira Brandão, Edição Independente, 84páginas. Recordações sobre o período emque o autor foi aluno do Colégio e da Esco-la Naval (fim dos anos 50), contadas deforma pitoresca (R$ 5,00).

– A Marinha D’outrora, de Afonso Cel-so de Assis Figueiredo (Visconde de OuroPreto), SDGM, 1981, 326 páginas. O maiscompleto livro sobre a Guerra do Paraguai.O autor foi ministro da Marinha de 1866 a1868 (R$ 5,00).

– A Marinha do Meu Tempo, de GastãoPenalva, SDGM, 1983, 355 páginas. Crôni-cas autobiográficas desde a entrada dePenalva na Escola Naval em 1904 até suareforma em 1928, no posto de capitão-te-nente (R$ 5,00).

– A Marinha Pitoresca, de Helio Leon-cio Martins, Décio de Oliveira Guimarães eAugusto César da Silveira Carvalhedo, Clu-be Naval, 238 páginas, 1988, ilustrado. Cole-tânea de crônicas bem-humoradas basea-das em fatos reais ocorridos durante a pas-sagem dos autores pela Marinha (R$ 5,00).

– A Paz é Possível?, de Luiz SanctosDöring, SDM, 1989, 143 páginas. O autoranalisa os comportamentos humanos queparecem contribuir para a eclosão de con-flitos (R$ 5,00).

– A reconciliação do Brasil com o mar,de Arthur Oscar Saldanha da Gama, SDGM,1976, 150 páginas. Estudo em linguagemleve das origens da família Saldanha daGama, recordando a formação históricapeninsular e as façanhas coloniais portu-guesas (R$ 5,00).

– Abrindo estradas no mar: ahidrografia da costa brasileira no séculoXIX, de Helio Leoncio Martins, SDM, 2006,110 páginas, ilustrado. Narra a história dodesenvolvimento da Hidrografia no Brasil,no século XIX e a saga de idealistas, pio-neiros das atividades hidrográficas em nos-sas águas jurisdicionais, apresentando os

trabalhos efetuados por Diogo Jorge deBrito, Albin Reine Roussin, Louis MariusBarral, Louis François Tardy de Montravel,Vital de Oliveira, Barthélemy Mouchez,Torres e Alvim e Antonio Luiz vonHoonholtz, o Barão de Teffé. Conta, ainda,a história da Repartição Hidrográfica até1920 e da atual DHN (R$ 20,00).

– As Preciosas Redicolas – Entremezrepresentado a bordo da Nau Santa Ana-Carmo-S.Jorge em 1771, de Carlos Fran-cisco Moura, Instituto Luso-Brasileiro deHistória do Liceu Literário Português, Rio,2001, 63 páginas. O autor estuda as cir-cunstâncias da encenação da peça (LesPrécieuses Ridicules), uma comédia deMolière, que servia para divertir tripulan-tes e passageiros a bordo de embarcaçõesque, no século XVIII, faziam longas e pe-nosas viagens (R$ 10,00).

– Baliester. Oito cartões-postais de anti-gos navios: Cruzador Barroso, TorpedeiraPedro Afonso, Navio-Mercante Maranhão,Encouraçados Minas Gerais e São Paulo,Cruzador Primeiro de Março, Navio-EscolaBenjamin Constant e Corveta Bertioga, to-dos no tamanho 15 x 10cm (R$ 3,00).

– Biografia dos Ministros da Marinhana República – Volume I, SDM, 2004, 226páginas. Este primeiro volume abrange operíodo de 1889 a 1931, do Almirante Eduar-do Wandenkolk ao Vice-Almirante ConradoHeck, e reúne dados pessoais, da carreiramilitar e o resumo das realizações à frenteda pasta da Marinha (R$ 35,00).

– Cinco anos na Pasta da Marinha, deMaximiano Eduardo da Silva Fonseca, Edi-ção Independente, 1985, 303 páginas. OAlmirante registra sua experiência duranteos cinco anos em que foi Ministro da Ma-rinha (R$ 5,00).

– Colégio Naval – 50 anos, SDM, 2001,100 páginas. O livro, de autoria de Guilher-me de Andrea Frota, antigo professor dainstituição, reúne a história do Colégio

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Naval desde a sua fundação até os dias dehoje, sendo não apenas um livro de histó-ria, mas também um álbum da família aocompletar 50 anos de existência (R$ 5,00).

– Como elaborar e apresentarmonografias, de André Figueiredo Rodrigues,Associação Editoral Humanitas, 2008, 94 pá-ginas, 3a edição. Manual para elaboração, re-dação e apresentação de livros, relatórios,teses, dissertações, folhetos, artigos etc. Omanual aborda técnica redacional, apresen-tação gráfica e os elementos que compõe umapublicação científica, de acordo com as nor-mas da Associação Brasileira de Normas Téc-nicas – ABNT (R$ 10,00).

– Como elaborar citações e notas derodapé, de André Figueiredo Rodrigues,Associação Editorial Humanitas, 2005, 74páginas, 2a edição. Orientações para auto-res, acadêmicos ou não, que mostram comoelaborar citações e mencionar dados ne-cessários à sua identificação (R$ 5,00).

– Como elaborar Referência Bibliográ-fica, de André Figueiredo Rodrigues, Asso-ciação Editorial Humanitas, 2004, 93 páginas,4a edição. Manual de uso obrigatório paratodas as pessoas que produzem informações,garantindo a identificação das fontes utiliza-das no todo ou em parte do texto (R$ 5,00).

– Conselhos aos jovens officiaes, deHenrique Aristides Guilhem, SDM, 121 pá-ginas, ilustrado. O ex-ministro da marinha(1935/45) reúne conselhos e regras sobreetiqueta e cartas e instruções para manejode embarcação sob mau tempo e para sal-vamento de afogados (R$ 5,00).

– De aspirante a almirante – Volumes I eII, de Artur Silveira da Mota (Barão deJaceguay), SDGM, 1984-1985, 1.218 páginas.Relatos de 1858 a 1900: campanhas do Uru-guai e do Paraguai; a primeira missão brasi-leira à China; Canudos; a formação da Ar-mada brasileira e outros assuntos (R$ 5,00).

– Diário da Campanha Naval doParaguai – 1866, do Almirante Manuel

Carneiro da Rocha, SDM, 1999, 356 pági-nas. A Guerra do Paraguai vista por um ofi-cial de Marinha a bordo de um navio deguerra em operação de combate. Abrangeo período em que o Almirante Tamandaréesteve à frente do combate, de 8 de feve-reiro a 31 de dezembro de 1866 (R$ 5,00).

– Efemérides Navais, Garcez Palha,SDM, 1983, 448 páginas. Resumo cronoló-gico dos fatos mais importantes da Histó-ria Naval Brasileira, de 1o de janeiro de 1822a 31 de dezembro de 1890 (R$ 5,00).

– Estórias Navais Brasileiras, Helio Le-oncio Martins e Antônio Augusto Cardosode Castro, SDGM, 1985, 218 páginas. Casospitorescos vividos pelos autores na Mari-nha, da Segunda Guerra Mundial até a via-gem de circunavegação do Navio-EscolaAlmirante Saldanha em 1952/53 (R$ 5,00).

– Fatos da História Naval, de AntonioLuiz Porto e Albuquerque e Léo Fonseca eSilva, SDM, 2006, 184 páginas. Segundaedição do livro didático que evoca os fa-tos da História Naval para a formação daconsciência marítima nacional, pois é atra-vés do mar que ocorre grande parcela decomércio internacional, explora-se petró-leo e outros recursos, mas também de ondepodem vir muitas das ameaças externaspara os interesses nacionais (R$ 25,00).

– Fuzileiros Navais: da Praia de Caienaàs ruas do Haiti, do Almirante CarlosAugusto Costa, SDM, 2005, 95 páginas.Neste livro, o autor descreve a trajetóriado Corpo de Fuzileiros Navais desde suacriação, no século XVIII, aos dias de hoje,com ênfase na segunda metade do séculoXX, quando o CFN se transformou de umatropa de guarda e representação, mal equi-pada e mal armada, em um instrumento ade-quado para a projeção do Poder Naval so-bre terra (R$ 30,00).

– Gíria maruja, Gastão Penalva, SDGM,1982, 112 páginas. Verdadeiro dicionário dagíria maruja, com palavras e expressões

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

registradas pelo autor até 1944, ano de suamorte (R$ 5,00).

– Gloriosas amantes, de Helio LeoncioMartins, BHMN, 2005, 128 páginas. Não éum livro de história, garante o autor, mas umlivro de amor. As relações entre quatro gran-des ícones da história mundial recente – Hitler,Mussolini, Solano López e Giuseppe Garibaldi– e suas amantes, todas fidelíssimas até osúltimos momentos (R$ 20,00).

– Guerra e desarmamento, Roberto LuizFontenelle Lima, Edição Independente,1993, 216 páginas, ilustrado. Coletânea dedez artigos publicados ao longo de 20 anosna Revista Marítima Brasileira que tra-tam de questões referentes à paz e à guerra(R$ 5,00).

– História da construção naval no Bra-sil, de Pedro Carlos da Silva Telles, Femar,2001, 275 páginas. O autor apresenta umrelato histórico dos esforços, sucessos eciclos de crescimento propiciado no ramoda engenharia naval, dando impulso naconstrução naval civil e levando o País ase colocar, não só em qualidade como emquantidade, como um dos líderes mundiaisnesse ramo industrial (R$ 10,00).

– História da Intendência da Marinha(1500-1800), de Luís Cláudio PereiraLeivas e Levy Scavarda, Diretoria de In-tendência da Marinha, 1972, 437 páginas,ilustrado. Profunda pesquisa que inclui fac-símiles de manuscritos coloniais (R$ 5,00).

– História Naval Brasileira – PrimeiroVolume, Tomo I, SDGM, 1975, 346 páginas,ilustrado. A Marinha e o Brasil (PedroCalmon); A arte de navegar na época dosGrandes Descobrimentos (Luiz Mendonçade Albuquerque); A navegação a vela nolitoral brasileiro (João da Gama Pimentel Ba-rata, Carlos Francisco Moura e Max JustoGuedes); As primeiras expedições de reco-nhecimento da costa brasileira (Max JustoGuedes); Cristóvão Jaques e as armadasguarda-costas (Rolando A. Laguarda Trías);

A expedição de Sebastião Caboto (RolandoA. Laguarda Trías)– R$ 5,00.

– História Naval Brasileira – PrimeiroVolume, Tomo II, SDGM, 1975, 276 páginas,ilustrado. A viagem de Martim Afonso de Sou-za (Rolando A. Laguarda Trías); A França An-tártica (Philippe Bonnichon Ferrez); Incursõesde corsários e piratas na costa do Brasil (PauloBerger, Antônio Pimentel Winz e Max JustoGuedes); A França Equinocial (PhilippeBonnichon e Max Justo Guedes); Ações na-vais contra os estrangeiros na Amazônia 1616-1633 (Max Justo Guedes) – R$ 5,00.

– História Naval Brasileira – SegundoVolume, Tomo I-A, Max Justo Guedes,SDGM, 1990, 428 páginas, ilustrado. Asguerras holandesas no mar: do ataque àBahia em 1624 à expedição de HendrickBrouwer ao Chile (1643/44) – R$ 5,00.

– História Naval Brasileira – SegundoVolume, Tomo I-B, Max Justo Guedes,SDGM, 1993, 180 páginas, ilustrado. As guer-ras holandesas no mar: a restauração deAngola e a guerra anglo-holandesa (R$ 5,00).

– História Naval Brasileira – SegundoVolume, Tomo II, SDGM, 1979, 492 pági-nas, ilustrado. A expedição de Silva Pais eo Rio Grande de São Pedro (AbeillardBarreto); Segurança da navegação nos sé-culos XVI-XVIII: navios artilhados, frotase comboios (Max Justo Guedes); Tentati-vas espanholas de domínio do Sul do Bra-sil (Abeillard Barreto); Opção Portuguesa:restauração do Rio Grande e entrega daColônia do Sacramento (1774/77) (AbeillardBarreto); Transmigração da família real parao Brasil (Antônio Marques Esparteiro,Pedro Calmon e Antônio Luiz Porto eAlbuquerque); A conquista de Caiena (LuísCláudio Pereira Leivas e Luís Felipe deCastilhos Goycochêa); A Marinha e a Re-volução Pernambucana de 1817 (AntônioPimentel Winz e Max Justo Guedes); Ocu-pação da Banda Oriental (José AntônioSoares de Souza) – R$ 5,00.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

– História Naval Brasileira – TerceiroVolume, Tomo I, SDM, 2002, 436 páginas,ilustrado. A Evolução da Estrutura Admi-nistrativa do Ministério da Marinha noImpério (Herick Marques Caminha); Orga-nização do pessoal na Marinha Imperial(Herick Marques Caminha); A Criação daMarinha Imperial (Brian Vale); A ação daMarinha nas Guerras da Independência(Brian Vale); A ação da Marinha na Confe-deração do Equador (Brian Vale); Campa-nha Naval na Guerra Cisplatina (Helio Le-oncio Martins e Lucas Alexandre Boiteux)– R$ 5,00.

– História Naval Brasileira – QuartoVolume, Lauro Nogueira Furtado de Men-donça, SDM, 2001, 186 páginas, ilustrado.Retrata a Marinha Imperial de 1870 a 1889,abordando os aspectos administrativos, depessoal, o material, os sinistros marítimos,comissões de destaque, os serviços dehidrografia, cartografia e navegação, a vidacultural, entre outros (R$ 5,00).

– História Naval Brasileira – QuintoVolume, Tomo I-A, Helio Leoncio Martins,SDM, 1995, 297 páginas, ilustrado. A re-cém-nascida República brasileira enfrentaum período de grande turbulência política,que culmina com a Revolta da Armada(1893) e a Revolução Federalista (R$ 5,00).

– História Naval Brasileira – QuintoVolume, Tomo 1-B, Helio Leoncio Martins,Herick Marques Caminha, Dino Willi Cozzae Mônica Hartz Oliveira Moitrel, SDM,1997, 290 páginas. A estrutura administra-tiva do Ministério da Marinha na Repúbli-ca; Pessoal; Poderes combatentes; A Re-volta dos Marinheiros; Comissões de des-taque; Sinistros marítimos; Participação daMarinha brasileira na Primeira Grande Guer-ra; Panorama dos primeiros anos da Mari-nha republicana (R$ 5,00).

– História Naval Brasileira – QuintoVolume, Tomo II, SDGM, 1985, 472 pági-nas, ilustrado. A Marinha brasileira no pe-

ríodo entre as guerras – 1918-1942 (Álvarode Rezende Rocha, Helio Leoncio Martins,Herick Marques Caminha, Antônio MariaNunes de Souza, José Celso de MacedoGuimarães e Fernando Cotta Portela); AMarinha na Segunda Guerra Mundial (ArturOscar Saldanha da Gama e Helio LeoncioMartins); O após-guerra, olhando para ofuturo (Mario Cesar Flores) – R$ 5,00.

– Ilha da Trindade, de Ruy José VálkaAlves, SDM, 1998, 140 páginas. O autorapresenta dados sobre a história e geogra-fia, a geologia e a geomorfologia, a ecolo-gia, a flora e fauna desta singular porçãode um outro Brasil, tão diferente da massageologicamente estável do Brasil continen-tal, o Brasil vulcânico erguido sobre as pro-fundidades atlânticas e apenas emergidopelos topos de suas projeções singularescomo Trindade, Martin Vaz e Fernando deNoronha (R$ 10,00).

– Luvas e punhais, de Gastão Penalva,SDGM, 1982, 168 páginas. Contos e crôni-cas sobre as viagens do autor pelo mundocomo oficial da Marinha (R$ 5,00).

– Manual de higienização e acondici-onamento do acervo museológico do SDM,SDM e Fundação Vitae de apoio a cultura,Educação e Promoção Social, 88 paginas,2006, ilustrado. Publicação inédita no Bra-sil, apresenta a experiência do SDM no tra-to do seu acervo numa linguagemsimples,objetiva, que mostra passo a pas-so todos os procedimentos necessáriospara uma boa manutenção de acervosmuseológico e mesmo particulares, comodocumentos, pinturas, cerâmicas, roupas,etc (R$ 30,00).

– Manual de Liderança, de AfonsoBarbosa, Julio Roberto Gonçalves Pinto eJoy Morais, Diretoria de Ensino da Mari-nha, 1996,193 páginas, dois volumes. Osautores visam ao aperfeiçoamento dos re-cursos humanos, criando condições paraa melhoria de seu desempenho como pro-

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fissionais em nossos navios e estabeleci-mentos (R$ 12,00 cada volume).

– Marquês de Tamandaré – Patronoda Marinha: seu perfil histórico. José Fran-cisco de Lima. SDM, 1999, 724 páginas, ilus-trado. Documentos revelam as qualidadesque fizeram do Almirante Tamandaré umlegítimo intérprete da formação moral e in-telectual do povo brasileiro. (Prêmio Lite-rário Nacional – INLL-1982) – R$ 10,00.

– Medalhas e condecorações, SDGM,1983, 67 páginas, ilustrado. Edição luxuo-sa, ilustrada, em papel couché, que apre-senta a evolução histórica das medalhas econdecorações conferidas pela Marinha doBrasil desde sua criação (R$ 10,00).

– Memórias das campanhas contra oEstado Oriental do Uruguai e a Repúbli-ca do Paraguai, de Euzébio José Antunes,SDM, 2007, 162 páginas. Secretário e aju-dante de ordens do Almirante Tamandaréquando este assumiu o Comando em Che-fe da Força Naval em Operações no Rio daPrata, Antunes revela a sensatez do Almi-rante Tamandaré nas decisões tomadas etambém suas próprias preocupações dian-te da iminente ameaça paraguaia. Ediçãocomemorativa do Bicentenário de Nasci-mento do Almirante Tamandaré (R$ 30,00).

– Memórias de um Engenheiro Naval,de Júlio Regis Bittencourt, Serviço de Do-cumentação da Marinha, 2005, 275 pági-nas. Memórias do Almirante Júlio RegisBittencourt, destacando sua imensurávelcontribuição para a MB, por meio de seuespírito empreendedor, colocando em fun-cionamento pleno, durante a Segunda Guer-ra Mundial, o Arsenal de Marinha do Riode Janeiro e incrementando a construçãode navios de guerra. O autor ressalta aindao seu relacionamento harmônico com a fa-mília e com os amigos (R$ 15,00).

– Navigator, SDM. Publicação semes-tral que tem como propósito preservar amemória marítima por meio de publicação

de artigos científicos que versem sobreHistória da Navegação, ArqueologiaSubaquática, Cartografia Marítima Antiga,Colonização e Defesa do Litoral, BatalhasNavais e outros temas relativos à HistóriaMarítima (R$ 8,00).

– Noções básicas sobre navios de vela,de Alberto Piovesana Júnior, Femar, 2006,52 páginas, ilustrado. Ex-comandante doNavio Veleiro Cisne Branco, o autor ofere-ce neste folheto conhecimentos mínimosimprescindíveis para o pessoal da Marinhaque vá servir a bordo (R$ 5,00).

– O Brasil e a Nova Ordem Mundial, deArmando Amorim Ferreira Vidigal, SDGM,1991, 95 páginas, ilustrado. O fim do mun-do bipolar, a Nova Ordem Mundial e o pa-pel que está reservado ao Brasil neste con-texto (R$ 5,00).

– O Descobrimento do Brasil, de MaxJusto Guedes, DPHCM, 1998, 64 páginas.A obra visa dar aos leitores perspectivasnáuticas da epopeia de Pedro ÁlvaresCabral (R$ 10,00).

– O Tenentismo na Marinha, de Fran-cisco Carlos Pereira Cascardo, Editora Paze Terra, 2005, 825 páginas. O livro mostraque as rebeliões tenentistas não começa-ram com o levante do Forte de Copacabanaem julho de 1922 (que deu origem ao episó-dio dos 18 do Forte) e sim dois meses an-tes, com a conspiração dos aviadores na-vais da Ilha das Enxadas, que planejavambombardear o cortejo do Presidente daRepública (R$ 25,00).

– O Último Baile do Império, de Cláu-dio da Costa Braga. Edição do Autor, 113páginas, ilustrado. O livro apresenta ospormenores do baile oferecido pelo gover-no brasileiro à oficialidade do Encouraçadochileno Almirante Cochrane em retribui-ção às homenagens prestadas no ano an-terior ao Navio-Escola brasileiro Almiran-te Barroso quando de sua passagem peloChile: a escolha do local, a presença da

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Família Imperial, as roupas usadas, a deco-ração, o jantar, a ceia, as danças e os fatosmarcantes ocorridos nos seus bastidores,que serviram de argumento para os repu-blicanos que tramavam a queda da Monar-quia (R$ 25,00).

– Organização e administração doMinistério da Marinha na República, deHerick Marques Caminha, SDM e Funcep,1989, 514 páginas. Os principais momen-tos da atuação da Marinha na República esua evolução administrativa (R$ 5,00).

– Panorama do Poder Marítimo Brasi-leiro, de Mario Cesar Flores (coordenador),SDGM e Bibliex, 1972, 448 páginas, ilustra-do. Oficiais de Marinha, diplomatas e espe-cialistas escrevem sobre o tema (R$ 5,00).

– Patescas e Marambaias, de GastãoPenalva, SDGM, 1981, 108 páginas. Rela-tos de episódios verídicos, recheados deamores, aventuras, esperanças e desenga-nos (R$ 5,00).

– Quatorze meses na Pasta da Mari-nha, Veiga Miranda, SDGM, 1982, 280 pá-

ginas. Relatório das realizações do ex-mi-nistro da Marinha (1921), como os inéditosexercícios de tiro em alvos móveis com osencouraçados (R$ 5,00).

– Reminiscências da Guerra doParaguai, de Artur Silveira da Mota (Ba-rão de Jaceguay), SDGM, 1982, 196 pági-nas. Cenas e episódios passados no palcoe nos bastidores da guerra (R$ 5,00).

– Revista Marítima Brasileira, DPHDM.Publicação trimestral, apresenta artigos deautores nacionais e estrangeiros sobre as-suntos históricos, técnicos e estratégicos,além de outras seções (Ass. Anual R$ 36,00;Avulso R$ 9,00; Ass. permanente (descon-to em folha mensal) R$ 3,00.

– Rolo de Japona – Dicionário, Con-tos e Crônicas do Linguajar Marinheiro(Praças), de Roberto de Sousa Maior, 160págs. Coletânea de termos típicos dolinguajar marinheiro, intercalados com crô-nicas que exemplificam o uso das expres-sões (R$ 15,00).

(Fonte: Bono Especial no 540, de 5/8/09)

Em cerimônia realizada no salão nobredo Clube Naval de Cascais, foi fundada,em 26 de maio último, a Confraria Marítimade Portugal.

A iniciativa de criação da Confraria por-tuguesa foi do Comandante Fernando AbelCosta, oficial aposentado da Marinha Mer-cante do Brasil, que nasceu em Portugal,mudou-se ainda criança para o Brasil e re-side atualmente em seu país de origem.

Tomaram posse como confrades: o vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais,Carlos Carreiras; o diretor da Revista deMarinha, Vice-Almirante Alexandre da Fon-seca; o Comandante Fernando Abel Costa;os comandantes Aires Martins, RodriguesPereira, Castro Centeno e Neves Coelho; o

CONFRARIA MARÍTIMA DE PORTUGAL

engenheiro Sabino Júnior e mais cerca deuma dezena de personalidades portugue-sas e brasileiras ligadas ao mar e áreas afins.

Após a posse, o confrade Alexandre daFonseca proferiu palestra sobre um episó-dio pouco conhecido da história comumde Portugal e do Brasil: a viagem do caíqueBom Sucesso de Olhão ao Rio de Janeiro,no verão de 1808.

A Confraria Marítima de Portugal terá asua sede em Cascais, município que apoioua sua criação desde o surgimento da ideia.Os objetivos da entidade são de naturezacultural, além de fomentar a solidariedadee a amizade entre os homens do mar.

(Fonte: Revista de Marinha no 951, ago/set 2009)

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Anne-Louise é uma bela turista france-sa que, ao desembarcar no Rio de Janeiro,ganha um livro de presente de um anciãomisterioso. Ao ler seus primeiros escritos,dois seres mágicos saltam das páginas tra-zendo qualquer história que a estrangeiradesejar ouvir. O livro é encantado, milenare sua origem desconhecida, deixando a jo-vem apavorada e apreensiva. Assim come-ça a peça Se meus livros falassem..., queestá sendo encenada no Espaço Culturalda Marinha, Rio de Janeiro, e que prometefazer o espectador viajar pelos encantosda Ilha Fiscal, desde o seu projeto inicial esua construção até os dias de hoje.

SE MEUS LIVROS FALASSEM...

O centro da narrativa desta fábula é o“Último Baile do Império”, realizado na IlhaFiscal às vésperas do fim do regime imperi-al no Brasil. O público é remetido ao ambi-ente social e político dos últimos dias damonarquia no Brasil, podendo conhecer vá-rios detalhes do evento, como: preparação,realização, detalhes da festa, os convida-dos ilustres, a decoração, o cardápio e asdanças da época.

A Ilha Fiscal, com sua edificação em es-tilo gótico, é hoje como uma bela joia naBaía de Guanabara. E a peça Se meus livrosfalassem... vem homenagear os 120 anosde existência desta edificação.

O espetáculo, que fica em cartaz aténovembro, é parte do projeto educativoConhecendo e Brincando no Espaço Cul-tural da Marinha, da Diretoria dePatrimônio Histórico e Documentação daMarinha, em parceria com a Liga dos Ami-gos do Museu Naval e com patrocínioda Companhia de Navegação Norsul. Apeça é indicada para pessoas de todasas faixas etárias.

O projeto, elaborado e coordenadopela museóloga Vera Lucia Finkel, cons-ta de peças teatrais com narração da his-tória da Marinha do Brasil, seus perso-nagens e feitos. O texto e a direção des-ta peça são de Murillo Franco, tambémautor das letras e músicas apresentadas.A produção e coordenação de monta-gem são de Raquel Brum e no elencoestão Alessandra Cervieri, Murillo Fran-co e Rita J. Bogado. O espetáculo é en-cenado aos sábados e domingos, às14h30 e 16 horas, com oficinas de arte às15 horas e 15h50. O Espaço Cultural daMarinha fica na Av. Alfred Agache, s/no,próximo à Praça XV.

(Fonte: Nota à Imprensa, 17/8/09)