PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: AFINAL QUAL É O NOSSO PAPEL?

12
VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: AFINAL QUAL É O NOSSO PAPEL? Cristina Maria Dacach Fernandez Marchi – Professora da Escola de Administração de Empresas da Universidade Católica do Salvador – autora principal Roberto José Tripodi Marchi - Professor de Empreendedorismo do Instituto Federal de Educação Tecnológica da Bahia – Campus de Simões Filho - co-autor RESUMO: Este trabalho busca alinhavar aspectos essenciais no processo de mudança da Administração tradicional para a moderna. Aborda questões pertinentes ao desenvolvimento sustentável, onde organizações que não visem só os lucros se tornem parte essencial da construção de uma nova ordem mundial. Apresenta conceitos como Consenso de Washington, Responsabilidade Social Empresarial, Princípios da Administração, Sustentabilidade e Triple Botton Line. Trata dos novos desafios para o aprimoramento da Administração no Brasil, no intuito de colaborar com o desenvolvimento social e a sustentabilidade regional, e finalmente avalia como os princípios da Administração Moderna podem disciplinar e contribuir para este objetivo. Palavras-Chave: Consenso de Washington, Responsabilidade Social Empresarial; Triple Botton Line; Sustentabilidade; Funções da Administração. ABSTRACT: This work aims to tack essential aspects in the changing process of the traditional Administration for a modern one. A “modern administration” can mean different things to different people. However, this work presents concepts as Consensus of Washington, Social Responsibility, Principles of the Administration, Sustentabilidade and Triple Botton Line. This paper also evaluates as the principles of the Modern Administration can contribute for a new career structure, which creates a closer link between objective annual assessments and career evolution. KEY-WORDS Consensus of Washington, Social Responsibility, Principles of the Administration, Sustentabilidade and Triple Botton Line.

Transcript of PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: AFINAL QUAL É O NOSSO PAPEL?

VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração

PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: AFINAL QUAL É O NOSSO PAPEL?

Cristina Maria Dacach Fernandez Marchi – Professora da Escola de Administração de Empresas da Universidade Católica do Salvador – autora principal

Roberto José Tripodi Marchi - Professor de Empreendedorismo do Instituto Federal de Educação Tecnológica da Bahia – Campus de Simões Filho - co-autor

RESUMO:

Este trabalho busca alinhavar aspectos essenciais no processo de mudança da

Administração tradicional para a moderna. Aborda questões pertinentes ao

desenvolvimento sustentável, onde organizações que não visem só os lucros se tornem

parte essencial da construção de uma nova ordem mundial. Apresenta conceitos como

Consenso de Washington, Responsabilidade Social Empresarial, Princípios da

Administração, Sustentabilidade e Triple Botton Line. Trata dos novos desafios para o

aprimoramento da Administração no Brasil, no intuito de colaborar com o

desenvolvimento social e a sustentabilidade regional, e finalmente avalia como os

princípios da Administração Moderna podem disciplinar e contribuir para este objetivo.

Palavras-Chave: Consenso de Washington, Responsabilidade Social Empresarial; Triple Botton Line; Sustentabilidade; Funções da Administração.

ABSTRACT:

This work aims to tack essential aspects in the changing process of the traditional

Administration for a modern one. A “modern administration” can mean different things to

different people. However, this work presents concepts as Consensus of Washington,

Social Responsibility, Principles of the Administration, Sustentabilidade and Triple Botton

Line. This paper also evaluates as the principles of the Modern Administration can

contribute for a new career structure, which creates a closer link between objective

annual assessments and career evolution.

KEY-WORDS

Consensus of Washington, Social Responsibility, Principles of the Administration,

Sustentabilidade and Triple Botton Line.

VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração

INTRODUÇÃO

Em abril de 2009, na reunião londrina dos vinte principais líderes mundiais, foi aprovada uma ampla reforma da política oficial do Fundo Monetário Internacional, o Consenso de Washington, formulada em 1989, baseada em estudos de John Williamson. O Consenso de Washington foi concebido para promover disciplina macroeconômica, economia de mercado e uma política de abertura tanto para o comércio internacional, quanto para investimentos estrangeiros diretos nos países em desenvolvimento, que passavam por dificuldades. Em Londres, houve um debate em torno de novos paradigmas. As medidas discutidas não foram somente direcionadas para os paises em desenvolvimento, mas, sobretudo, para que os países desenvolvidos saíssem da crise econômica que se engendraram por diversos motivos. Dentre algumas deliberações, foi sugerida a criação de uma comissão para evitar crises, aumentar a regulamentação dos bancos e dos mercados financeiros, vigiar paraísos fiscais, e fiscalizar os bônus pagos a executivos do mercado. A partir desta reunião, o G-8, grupo dos sete países mais industrializados do mundo e Rússia, perde em importância para o G-20. Pelo pacto criado, os países mais ricos passam a compartilhar a liderança da economia mundial com países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia, que obtêm voz nas reuniões de cúpula.

Caso os desdobramentos se apresentem como o previsto, esta nova ordem mundial, tão diferente da anterior, pode ter muitos significados. Uma perspectiva que pode ser debatida neste novo contexto seria a subestimação do poder financeiro como fator preponderante no desenvolvimento das sociedades. Por outro lado, assim como os países em desenvolvimento ganharam maior relevância, a Responsabilidade Social Empresarial e o Terceiro Setor também podem angariar maior destaque no mundo dos negócios, e na promoção do avanço social. Este destaque pode advir do processo de democratização do tema sustentabilidade, que vem deixando os segmentos elitizados para se transformar em tema cívico – reunindo e fortalecendo o espírito de cidadania.

Conceitos de Responsabilidade Social e Terceiro Setor vêm se aprimorando ao longo do tempo, têm se configurado em um contexto mais ampliado e diversificado de organizações e formas de comportamento. Prega o comprometimento permanente das organizações e da sociedade civil organizada para a adoção de comportamento ético e desenvolvimento econômico, que contemple a qualidade de vida de empregados e de suas famílias, das comunidades nas quais operam, e da sociedade em geral. Empreendimentos Sociais podem ser desempenhados junto a órgãos governamentais, negócios éticos, órgãos públicos, voluntários, ou comunitários.

A gestão de um trabalho social não é tarefa fácil. Dificuldades na capacitação de pessoal com um novo perfil de liderança, cuidados com a marca, busca por resultados, visão unilateral, escassez de resultados das práticas de Responsabilidade Social, dentre outros fatores, inviabilizam a urgência que a sociedade e o meio ambiente exigem em suas defesas. A aplicação de Funções Administrativas, com uma nova configuração relativa aos negócios não convencionais, é prática ainda incipiente.

Dentro desse contexto, este artigo aborda questões pertinentes ao desenvolvimento sustentável, onde organizações que não visem só os lucros se tornem parte essencial da construção de uma nova ordem mundial. Apresenta conceitos como Consenso de

VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração

Washington, Responsabilidade Social Empresarial, Funções Administrativas, Sustentabilidade e Triple Botton Line. Busca debater os novos desafios para o aprimoramento da Administração no Brasil, no intuito de colaborar com o desenvolvimento social e a sustentabilidade regional, e finalmente avalia como os princípios da Administração Moderna podem disciplinar e contribuir para este objetivo.

O RESGATE DA RECEITA DO CONSENSO DE WASHINGTON

Em 1989, em Washington, o Institute for International Economics (IIE), entidade de caráter privado, conclamou a presença de diversos economistas latino-americanos de perfil liberal, funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial (BIRD), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e do governo norte-americano para avaliar as reformas econômicas em curso no âmbito da América Latina. John Willianson, economista inglês e diretor do IIE, alinhavou dez pontos tidos como consensuais entre os participantes, e que auxiliaria os países da região a saírem da chamada “Década Perdida” dos anos oitenta.

Segundo Batista (1995), o "Consenso de Washington" seria a versão mais sofisticada e sutil das antigas políticas colonialistas de abertura dos portos dos países sul americanos. O autor destaca a inadequação deste receituário, pois é aplicado de modo uniforme a todos os países da região. As diferenças de tamanho, de estágio de desenvolvimento ou de enfrentamento dos problemas são ignoradas. Para Batista “o diagnóstico e a terapêutica são virtualmente idênticos tanto para um imenso Brasil já substancialmente

industrializado, quanto para um pequeno Uruguai ou Bolívia ainda na fase pré-industrial”

(BATISTA, 1995: 26). O autor revela que os meios de comunicação se esforçam em mostrar os aspectos considerados positivos, que não podem deixar de ser vistos como modestos, limitados, tanto no que se refere à estabilização monetária quanto ao equilíbrio fiscal. Miséria crescente, altas taxas de desemprego e tensão social são aspectos não enfatizados pela grande parte da mídia dos países desenvolvidos. Finaliza advertindo que, a título de uma pretensa modernidade, a burocracia internacional busca pôr em prática “teorias e doutrinas temerárias para as quais não há eco nos próprios países desenvolvidos onde

alegadamente procura inspiração” (BATISTA, 1995: 26).

Este texto foi escrito em 1995. Treze anos depois, em 2008, a crise em Wall Street se espalhou pelo mundo, ratificando as idéias do autor.

Schneider (2008) afirma que as condições do Consenso de Washington, colocadas pelas Instituições Financeiras Internacionais, se enquadravam na lei da macroeconomia. O autor assegura que, mesmo aqueles que apoiavam o Consenso de Washington, tiveram que admitir que não houve êxito no crescimento econômico como fora prometido. Coloca que o trickle-down - impacto sobre a pobreza e a desigualdade, nunca alcançou os pobres e os excluídos. Sugere que, enquanto algumas das reformas estabelecidas pelos dez pontos consensuais tinham méritos claros, outras mudanças só seriam positivas se complementadas por uma gestão eficaz, por instituições reconhecidamente democráticas,

VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração

que buscassem a inclusão social, e por uma política focada na atenção ao investimento em capital humano e redução da pobreza.

A política focada na regulamentação dos bancos e dos mercados financeiros, a vigilância de paraísos fiscais, e a fiscalização dos bônus pagos a executivos do mercado, como preconizada pelo G20 na citada reunião de Londres, pode servir de contraposição passiva entre interesses econômicos e interesses dos grupos sociais existentes. O desenvolvimento da esfera pública da cidadania se torna uma condição a priori para o compartilhamento da economia mundial entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Este esforço para o compartilhamento econômico mundial não é uma novidade. A Organização das Nações Unidas, em 22 de novembro de 1965 criou o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Há mais de quarenta anos este Programa vem promovendo parcerias entre governos, iniciativa privada e sociedade civil em 166 países, visando o desenvolvimento sustentável para combater a pobreza. Busca conectar os países para difundir conhecimentos, experiências e recursos, e tenta fortalecer capacidades locais e proporcionar acesso a seus recursos humanos, técnicos e financeiros, à cooperação externa.

Neste contexto a Gestão Sustentável, praticada por organizações com preocupações e práticas sócio-ambientais tem um importante papel.

A BUSCA DE UMA UTOPIA POS CAPITALISTA: ORGANIZAÇÕES E SUSTENTABILIDADE

Para a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (UNCED), publicado no Relatório Nosso Futuro Comum, em 1987, o conceito de sustentabilidade se aplica na satisfação das necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. Desta forma, a sustentabilidade possui conceito amplo, relacionado ao alcance e a manutenção da qualidade de vida, preservando os recursos naturais e desenvolvendo cooperação e solidariedade entre os povos. No século XXI, as organizações não podem mais desconhecer este paradigma.

Segundo o Relatório Nosso Futuro Comum, em âmbito internacional, algumas medidas devem ser tomadas pelos países para promover o desenvolvimento sustentável, como: Adoção da estratégia de desenvolvimento sustentável pelos órgãos e instituições internacionais de financiamento; Banimento das guerras; Proteção pela comunidade internacional de ecossistemas supra-nacionais como, Antártica, oceanos, Amazônia; e Implantação de um programa de desenvolvimento sustentável pela Organização das Nações Unidas.

O Desenvolvimento Sustentável não ignora aspectos sociais, culturais e ambientais, tampouco prioriza o lucro. Desde o inicio dos anos 90, se preconizava que as organizações trilhassem um caminho sustentável. Uma iniciativa desenvolvida pela ONU, o Pacto Global, conclama a comunidade empresarial internacional para a adoção, em suas práticas de negócios, de valores fundamentais e internacionalmente aceitos nas áreas de direitos

VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração

humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. O Pacto Global advoga dez Princípios universais, que visam fornecer diretrizes para que as organizações possam promover crescimento sustentável e cidadania (ONU, 2009)

O objetivo principal do Pacto Global é encorajar o alinhamento das políticas e práticas empresariais com os valores e os objetivos aplicáveis internacionalmente e universalmente acordados, fortalecendo idéias e pondo-as em ação, a fim de promover desenvolvimento sócio ambiental contínuo nas nações do mundo. Nesse caso, o Pacto Global é um instrumento mundial, que possui potencial efetivo para influenciar e gerar mudanças nos modelos adotados pelos países capitalistas.

Ao longo dos anos, inúmeros questionamentos sobre a lógica neoliberal de desenvolvimento foram levantados. No modelo neoliberal, o desenvolvimento é visto como estágio mais avançado dentro de um processo evolutivo linear, o qual todos os países inseridos na sociedade capitalista e no mercado globalizado alcançariam caso aplicassem a formula preconizada por este receituário. Desenvolvimento, sobretudo baseado na idéia de difusão dos padrões de consumo dos países ricos do norte para os países pobres do sul. Paulatinamente, a democratização dos debates acerca de uma série de outras questões relativas aos aspectos sociais, culturais e ambientais foram se impondo, se ampliando, dando lugar a uma nova massa crítica. Essa transformação se aplica como um desafio maior para as organizações, um processo de alteração causado por um novo consumidor, que exerce pressão pelo desenvolvimento de produtos e serviços de forma responsável, trazendo sistematicamente, progressivamente mudanças no ambiente de negócios. A adesão das organizações ao Pacto Global é uma das respostas à mudança de paradigmas. A busca por métodos facilitadores para a implantação da gestão social empresarial é constante.

Em 1994, John Elkington, sociólogo e consultor britânico, formulou o conceito Triple Bottom Line (TBL) - Tripé da Sustentabilidade (Figura 1.0), buscando auxiliar as organizações a conectarem os três componentes do desenvolvimento sustentável: prosperidade econômica, justiça social e proteção ao meio ambiente, contribuindo para transformar idéias em ações.

Fonte: Elaboração dos autores.

Figura 1.0 – TRIPLE BOTTON LINE

MEIO-AMBIENTE ECONOMIA

SOCIEDADE

DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração

Para Elkington (1998), o TBL seria uma linguagem contemporânea, que expressava o que se considerava como inevitável: a expansão do conceito de Desenvolvimento Sustentável, elaborado pela UNCED/ONU em 1987. Segundo esse modelo, para ser sustentável uma organização ou negócio deveria ser financeiramente viável, socialmente justa e ambientalmente responsável. O autor estabelece sete revoluções da sustentabilidade nas organizações. (Quadro 1.0)

Revoluções Velhos Paradigmas Novos Paradigmas

1- Mercado Acordo Competição2- Valores Rígido Flexível3- Transparência Fechada Aberta4- Tecnologia do Ciclo de Vida Baseada no Produto Baseada na Função5- Parceiros Conflito Simbiose6- Tempo Longo Duradouro7- Governança das Empresas Exclusiva InclusivaFonte: Elkington (1998)

Quadro 1.0 - As Sete Revoluções da Sustentabilidade nas Organizações

Elkington (1999) assegura que a transição para o TBL não é uma questão simples para as organizações, que também são forçadas a pressionar sua cadeia de negócios. Essas pressões serão seguidas por mudanças nas expectativas da sociedade, com reflexos no mercado de negócios local e global. É imprescindível o preparo das organizações para a nova realidade do mundo dos negócios a partir da ascensão do TBL, e da formação de gestores imbuídos da lógica de negócios afinada aos princípios do pensamento de sustentabilidade.

Essa pretensão é comum às empresas que participam do Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), criado em 1999, com sede na Suíça. O WBCSD tem como objetivo a sustentabilidade industrial de 175 empresas que operam junto a negócios sustentáveis. Os membros do WBCSD acreditam que a globalização pode ser utilizada no intuito de ser inclusiva, consideram que, no futuro, as empresas líderes serão aquelas que realizam negócios buscando enfrentar os desafios do desenvolvimento sustentável de forma efetiva.

Na publicação de dezembro de 2008, a Revisa Brasileira de Administração (RBA) coloca que nos “últimos cinquenta anos o homem interferiu e modificou ecossistemas mais rápido e extensivamente do que outro intervalo de tempo equivalente na história da

humanidade” (ALMEIDA, 2008:8). Segundo o entrevistado da RBA, Fernando Almeida, um dos responsáveis pela implantação no Brasil de conceitos desenvolvidos pela WBCSD, como Ecoeficiência e Responsabilidade Social Corporativa, a sustentabilidade começa a deixar as elites para se transformar numa bandeira da sociedade em geral. Almeida defende ainda a tese que só se ultrapassará os desafios da devastação a partir da formação de lideranças que formulem e implementem políticas públicas ou privadas para acelerar o processo de

VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração

transformação. A formação tradicional de profissionais não responde adequadamente às questões que a sustentabilidade das organizações levanta.

Em 1993, foi criada a Escola de Empreendedorismo Team Academy, em Jyvaskyla University of Applied Sciences, Finlândia. Esta Escola é voltada para a formação sistêmica baseada nos novos paradigmas. Corresponde a um bacharelado em Administração, e tem duração de três anos e meio. Possui também programas de MBA para executivos e empreendedores. As turmas do Team Academy reúnem 40 estudantes por módulo em salas de aulas, onde carteiras dão lugar a sofás confortáveis em espaços amplos com grandes janelas. Não existem professores, mas coaches, que orientam os alunos conforme as necessidades. Logo no início do curso, os alunos realizam visitas aos empreendimentos locais para identificação de demandas. Com essas informações, elaboram um Team Project, no qual trabalham ao longo de todo o curso, desenvolvendo modelos de negócios adaptados à realidade local (PUROKURU & RYYNANEN, 2007). O Team Academy é um desafio para os processos pedagógicos tradicionais, tanto no que se refere ao ensino, quanto à aprendizagem.

O Team Academy busca participar da complexa agenda da sustentabilidade, trabalhando na formação e na construção de formas de angariar lucros economizando energia, protegendo o meio ambiente e diminuindo a poluição.

Entretanto, as iniciativas que emanam de diversos organizações e organismos mundiais, estruturadas de modo a desenvolver uma abordagem via engajamento de distintos atores, como: governantes, acionistas, assalariados, clientes, fornecedores, parceiros, comunidade, encontram inúmeras dificuldades para serem concretizadas. Em 1995, foi iniciado um projeto para a construção de indicadores de Desenvolvimento Sustentável, pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (CDS-ONU) visando apoiar processos de tomada de decisões, no âmbito de países, definindo-os, elucidando metodologias e fornecendo atividades de treinamento e capacitação para sua construção. Os benefícios trazidos pela construção de indicadores são inúmeros.

A tradução de um cenário, por meio de indicadores, facilita a organização e avaliação de ações e atividades de um novo campo de trabalho, desprovido de história e de valores subjacentes. Fornece base para novas estratégias de desempenho e procedimentos do setor, incentivando e promovendo a operacionalização de espaços de engajamento social. Vale ressaltar que as ferramentas tradicionais, princípios já estabelecidos, adaptados, podem contribuir para o avanço dessa nova questão, reforçando os diferentes estágios da evolução sustentável, e identificando suas lacunas e suas conquistas.

Embora exija um processo mais complexo e um número maior de pessoas envolvidas, de dentro e fora da organização, princípios tradicionais são pertinentes aos negócios sustentáveis. Para tanto, a perspectiva evolucionária de sobrevivência da firma, diante de um ambiente de mudanças, reforça decisões de aprender, de transformar as antigas práticas, e passa a colaborar para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Mas, novas habilidades são exigidas; a formação de novas competências não pode esperar.

VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração

PRINCIPIOS DA ADMINISTRAÇÃO MODERNA: SUPORTE PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL

Em 1937, Coase criou a teoria da firma. O autor assegura que as empresas produzem conforme a demanda do mercado, e a oferta é ajustada pelos próprios consumidores. Em um contexto atualizado, as ações de responsabilidade social devem ser vistas como uma forma de investimento que a organização desenvolve visando agregar valor à marca, e maximizar os lucros, ao mesmo tempo em que estariam atuando no combate a desigualdades e injustiças sócio ambientais, satisfazendo aos anseios do mercado.

As organizações contemporâneas têm que estar voltadas para a responsabilidade corporativa e social, e para a sustentabilidade no uso de recursos humanos, naturais e financeiros. A concepção da Escola Científica e Clássica da Administração, assinalada pela figura de gerentes controladores, e caracterizada por “chefes” encarregados pela divisão de tarefas, pela preocupação em aumentar a eficiência da organização por meio da racionalização e organização científica do trabalho, resultando em ordenadores de um lado e subalternos de outro, não mais cabe nos tempos atuais.

Produtos e serviços de qualidade são exigidos pelos clientes, provocando nas organizações adaptação rápida e constante. Um estudo elaborado pelos Institutos Ethos e Acatu revela que 76% dos consumidores brasileiros tem consciência de que pode interferir na gestão das empresas, através do consumo responsável, 72% tem interesse em saber mais sobre as ações e iniciativas ligadas à responsabilidade sócio-ambiental das organizações (MARCHI et al, 2007).

Gestores vêm buscando novos modelos e formas de gerir as organizações diante da necessidade de sobrevivência do seu negócio frente ao mercado internacional e aos seus clientes, praticando um novo pensar e agir no âmbito empresarial. O preço e a qualidade não são mais fatores decisivos para a competitividade das organizações. Atualmente, investir nas relações com todos os públicos dos quais dependem e com os quais se relacionam, ou seja, os stakeholders, é de fundamental importância para que uma organização seja competitiva.

Mas, qual o perfil exigido para desenvolver e difundir ações e conceitos para as transformações pretendidas? O perfil de competências desejadas para um desempenho gerencial de excelência nas organizações voltadas para o desenvolvimento sustentável deve contemplar a visão multidisciplinar. Este estudo apresenta um quadro que insere antigos perfis, que devem ser aprimorados, e novos, que devem ser incorporados pelos gerentes organizacionais para atender a à esta visão (Quadro 2.0),

VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração

Gerente Tradicional Gerente Moderno

Planejamento Criatividade e InovaçãoOrganização Visão de Futuro SistêmicaContratação e Treinamento Relacionamento InterpessoalTomada de Decisões Ética e Geração de ValorCoordenação LiderançaInformação Interna e Externa Comunicação e Habilidade com a MídiaResponsabilidade pelo Orçamento Responsabilidade e Atuação SocialControle Técnica e ReaprendizadoFontes: Koontz& O’Donnell (1969), Gulick (1973), Botelho (1991), Kestin (1993), Chiavenato (2000).

Quadro 2.0 - Perfil Gerencial: Tradicional X Moderno

Novos significados para as funções administrativas foram sendo tecidos ao longo dos anos. Couvre (1991) expõe sobre a necessidade da transformação na formação da Administração, para responder aos desafios e mudanças contemporâneas:

A perspectiva tradicional do ensino de Administração fundamentada sobretudo na racionalização mecanicista cartesiana, não mais garante a produção de resultados satisfatórios e adequados para a formação de administradores que irão atuar em cenários de transformações contínuas, porque se encontra em dissonância com a realidade empresarial econômica atual (COUVRE, apud CORRÊA, 2008).

No sistema taylorista, algumas funções administrativas tinham como características a represália, a punição e a visão linear da realidade, onde não se estimulava a criatividade, a inovação e a discussão. As alterações provocadas por mudanças na sociedade recaem nas organizações e nas necessidades destas de aprimorarem o seu desempenho. O administrador moderno, para Drucker, deve possuir maior integridade, e o bem comum deve sobrepujar o interesse pessoal. O autor afirma que as organizações devem se preparar para as mudanças que acontecem na sociedade, no meio ambiente, na demografia e no conhecimento, que propiciam oportunidades para a inovação. Afirma ainda, que estas mudanças requerem um alto grau de descentralização. Assinala que as decisões, além de rápidas, devem se basear na proximidade com o desempenho, com o mercado e com a tecnologia, de forma responsável (DRUCKER, 2000).

A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é oriunda de movimentos tecnológicos, educacionais e cívicos. Ocorre quando as decisões de uma empresa também respeitam o direito, os valores e os interesses de todos aqueles que são por elas afetados.

Segundo Quazi e O’Brien (2000), modelos de Responsabilidade Social Empresarial vêm sendo examinados sob duas perspectivas,

1) Tradicional, as operações têm a função única de maximizar lucros, com ênfase nos custos do envolvimento social para os negócios. Nesta perspectiva a visão da organização é a obtenção de resultados, bens e serviços para a sociedade, onde o lucro será critério único para o julgamento da eficiência das operações dos negócios;

VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração

2) Multidimensional, os negócios devem servir aos interesses da sociedade. Os custos do envolvimento social não são os únicos critérios para a avaliação dos negócios. Outras medidas das ações sociais também são avaliadas como: contribuição para a geração de vantagens estratégicas a longo prazo; melhoria no desempenho em termos de produtividade e inovação; limitação de formalidades e exigências governamentais para a obtenção do licenciamento ambiental e outras autorizações para instalação e operação de novos negócios; e promoção da marca. O macro ambiente, onde a organização se encontra inserida, entra nesse contexto, como um stakeholder, que deve ser considerado.

Os autores apresentam o Modelo Bidimensional de Responsabilidade Social Corporativa, que percorre desde a visão mais restrita a mais ampliada da Responsabilidade Social das organizações. Este modelo é representado por quatro distintos quadrantes que englobam diversas ações sócio-ambientais, ou seja, a visão clássica, a visão socioeconômica, a visão moderna e a visão filantrópica (Figura 2.0). A elasticidade da visão é justificada pela variação de decisões gerenciais sobre a rede de benefícios e de custos, que deve ou pode ser criada a partir do exercício da Responsabilidade Social.

Fonte: Quazi e O’Brien (2000)

Figura 2.0 – Modelo Bidimensional de Responsabilidade Social Corporativa

O modelo de duas dimensões é representado por dois eixos: horizontal e vertical. O eixo horizontal representa a Primeira Dimensão, significa os extremos das visões sobre Responsabilidade Social, onde o ponto extremo direito indica a Visão Clássica, restrita (maximizar lucros), e o ponto extremo esquerdo representa a Visão Moderna, ampliada (organizações respondendo e provendo as expectativas da sociedade).

Visão Ampliada

Benefícios

Visão Restrita

Custos

Visão Visão

Sócio

Visão Visão

VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração

O eixo vertical assinala a Segunda Dimensão, onde o extremo inferior apresenta o lado negativo da responsabilidade social (Visão Filantrópica), e o lado positivo é representado pelo extremo superior, a Visão Sócio-Econômica, caracterizada pelo envolvimento organizacional com o seu macro ambiente.

Entretanto, por maior esforço que uma organização, ou pelo conjunto de organizações, realize, os desafios são complexos demais para serem superados com o trabalho de apenas um ou outro setor da sociedade. O esforço é saudável, porém insuficiente. A atuação em rede, a sistematização e divulgação do trabalho social desenvolvido, o estímulo e facilitação na construção de parcerias são desafios que devem ser perseguidos.

CONCLUSÃO

A democratização do conceito de desenvolvimento sustentável estimulou a atuação cívica, que cobra ações estratégicas das organizações por benefícios sócios ambientais. A RBA coloca alguns desafios para a Responsabilidade Social Corporativa, como: lucratividade e comércio justo, bem estar social, sustentabilidade e gestão ambiental, engajamento, e envolvimento dos stakeholders (ALMEIDA, 2008). A partir desses desafios, pode-se responder, com maior precisão, a indagação posta sobre o papel reservado ao administrador moderno. O administrador, assim como o cidadão, precisa estar informado e comprometido com os projetos de mudanças nas organizações, que vêm ocorrendo no âmbito global. Deve estar aberto para novos aprendizados, para alterar conceitos e idéias internalizados há muito tempo, para assumir novas atitudes e formas de comportamento. Um panorama mais amplo tem que ser arquitetado para a construção de um novo paradigma, que conduza com mais celeridade a reversão da tendência degenerativa que ameaça o tecido sócio ambiental mundial.

Este trabalho buscou alinhavar aspectos essenciais no processo de mudança da Administração tradicional para a moderna; não pretende acender debates em torno de questões polêmicas sobre as dificuldades, ou as facilidades na implementação de ações sustentáveis corporativas. Busca, somente, contribuir para o avanço da formação e atuação de profissionais da Administração, comprometidos, ou que desejem se comprometer, com as diretrizes norteadoras para o desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, F. O capital natural do planeta corre perigo. Brasília:2008. Revista Brasileira de Administração, Brasília, ano XVIII, n. 67, nov./dez 2008. Entrevista concedida a Tânia Mendes.

VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração

BATISTA, Paulo Nogueira. O Consenso de Washington. A visão neoliberal dos problemas latino-americanos. Editora Peres, SP: 1995

BOTELHO, F. E. Do gerente ao líder: a evolução profissional. 2a. ed., Atlas, SP: 1991.

CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria Geral da Administração. 6ª. Edição. Editora Campus. Rio de Janeiro: 2000

CORRÊA Dalila A. A Emergência de um Perfil Profissional Transformador na Administração. Disponível em http://www.angrad.org.br/area_cientifica/artigos/ Acesso em 17/04/2009.

DRUCKER, P. A nova sociedade das organizações. In: HOWARD, R. (Org.) Aprendizado organizacional. Rio de Janeiro: Campus, 2000. p.1-7.

ELKINGTON, J. Cannibals with forks: triple bottom line of 21st century business. Canada: New Society 406p, 1998

GULICK, L. Papers on the science administration. New York: M. Kelly, 1973.

KESTIN, H. Gerência do século 21. Berkeley Brasil Ed., RJ: 1993.

KOONTZ, H.; O’DONNELL, C. Princípios de Administração. Trad. Albertino Pinheiro Júnior e Ernesto D’orsi. 4 Ed. São Paulo: Pioneira, 1969. P. 827, V. 2.

MARCHI, Cristina D. F., SANTOS, O; SANTANA, A; MIGUEZ, D. Gestão Ambiental Empresarial: Uma Análise da Inserção da Variável Ambiental no Curso de Graduação em Administração. In: Anais da X Semana de Mobilização Científica da Universidade Católica do Salvador - SEMOC, Salvador, 2007. Anais: “Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável”.

PUROKURU Riitta, RYYNANEN Hannu. Team Academy in Finland – a new learning environment. Disponível em http://www.hltmag.co.uk/jul06/sart03.rtf . Acesso em 15/04/2009.

Organização das Nações Unidas (ONU). Pacto Global. Disponível em http://www.pactoglobal.org.br Acesso em 22/04/2009.

QUAZI, A. M. and O`BRIEN D. An Empirical Test of a Cross-national Model of Corporate Social Responsibility. Journal of Business Ethics; May 2000; 25, 1. 2000.

SCHNEIDER, Mark L. Além do Consenso de Washington: “Reflexões” Sobre Eqüidade, Democracia e Conflito na América Latina. Revista Debates. Porto Alegre, v.2, n.1, p. 20-32, jan- jun.2008.

WHH. Gestão do Conhecimento - Compêndio para Sustentabilidade: Ferramentas de Gestão de Responsabilidade Socioambiental. Disponível em http://www.compendiosustentabilidade.com.br/2008/index.asp Acesso em 10/04/2009.