Pensamento Preireano - Bases Educacionais

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44 ANOS ACOMPANHANDO O EDUCADORANO 44 . Nº 382SETEMBRO . 2011

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SETEMBRO . 2011 . Nº 382Capa de Renata Pimenta

Fotos: arquivo pessoal de Nita Freire

Av. Bernardo Monteiro, 861 - Santa Efigênia - Belo Horizonte - CEP 30150-281 - MG - Brasil - Telefax: (31) 3224-5400 / 3224-6158 - www.fundacaoamae.com.br

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[email protected] e jornalista responsável: Cristina Elizabeth de Vasconcelos Ministerio - Reg. prof. MG 06124/SJP - [email protected]: Célia Sanches, Vera Lúcia Pyramo Costa PimentaEstagiária: Bárbara DinizIlustração: Mirella Spineli (31) 3482-0081/9184-8954Projeto gráfico: Renata Pimenta (31) 3267-6762/8489-3851Impressão: Gráfica Del Rey (31) 3369-9400Conselho Editorial: Albertina Salazar, Célia Sanches, Cristina Ministerio, Gilda P. Lodi, Gleisa C. Antunes, Mª das Graças D. Andrade e Valderez A. Valle. Suplentes: Ângela Franco e Marise Nancy de Alencar.Atendimento ao assinante:Rejane Pereira LopesAv. Bernardo Monteiro, 861 - Santa Efigênia - Belo Horizonte - MG - Brasil- CEP 30150 - 281 -Telefax (31) 3224-5400 / 3224-6158 - [email protected]

Nosso jeito de ser – A revista AMAE Educando é uma publicação da Fundação AMAE para Educação e Cultura. Escrita por professores para professores, com uma abordagem ligada à realidade vivida em sala de aula, a revista diferencia-se das publicações acadêmicas pela linguagem clara e objetiva, voltada, principalmente, para educadores de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Suas oito edições anuais (quatro em cada semestre) são comercializadas por assinaturas.

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Há quem diga que o Brasil é um país sem memó-ria, onde não existe espaço para valorizar e preservar os fatos, os objetos, os personagens que, cotidianamente, tecem a trama da nossa história. Em relação à educação brasileira, a revista AMAE Educando faz a sua parte e relembra a trajetória histórica do grande educador Pau-lo Freire, no mês em que comemoramos os 90 anos de seu nascimento. Desde a concepção de uma nova se-ção – Memória – até a diagramação das páginas 8 a 18, muitos foram os momentos de pesquisas na internet, de leituras de textos impressos, de elaboração de matérias, de convites para o envio de material, de solicitações de fotos, de identificação de fontes, de contatos por telefo-ne e e-mail, etc. Foi aprendendo mais sobre o trabalho de Paulo Freire que nos veio a certeza de que, se não ti-vemos o privilégio de conviver com ele, cabe-nos, pelo menos, o dever de difundir um pouco de suas ideias, para que a educação popular mantenha, no alto do mas-tro, a bandeira empunhada por ele de uma educação re-almente transformadora, a que leva à liberdade.

Acreditando que é desde os primeiros anos es-colares que as crianças aprendem a fantástica arte de viajar pelo tempo, como pequenos historiadores, pu-blicamos alguns projetos que despertam a curiosida-de, envolvendo os alunos em interessantes pesquisas (p.27). Todavia, há os que, chegando ao final do Ensino Fundamental, preferem realizar experiências e se pre-parar para outro tipo de pesquisa – as que revelam os segredos da Física. Para eles, vale guiar-se pela matéria da página 36. Com um olhar plural, podemos trabalhar também com conteúdos que parecem não ter muita coi-sa em comum: números, palavras e arte. “Buscamos, num universo de possibilidades, aquela que promove-ria a integração e transitasse pelos universos temáticos sem perder a essência”, afirmam as autoras na matéria da página 42.

Mas é setembro. Mês verde e amarelo. Dia da pátria. À página 41, Valderez Valle reúne, com a sen-sibilidade de sempre, algumas palavras que nos falam sobre o que é pátria. Lição para grandes e pequenos, para professores e alunos. Arte para ser compartilhada com toda a comunidade escolar.

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N E S T A E D I Ç Ã O

EM FOCOUm modelo contemporâneo de comunicação em sala de aula

BOLETIMNotas sobre educação e cultura

MEMÓRIA Um roteiro sobre a trajetória de Paulo Freire e seu revolucionário método de alfabetização, algumas ideias que embasam a pedagogia freireana, as leituras de mundo e as possibilidades de aprendizagens mútuas em sala de aula, numa homenagem ao educador brasileiro que completaria 90 anos neste mês de setembro

EDUCAÇÃO INFANTILA transmissão de conteúdo em segundo plano, quando o que se pretende é um fazer pedagógico que transforme a realidade

HISTÓRIAComo ensinar História a crianças que iniciam sua vida escolar?

CIÊNCIAS NATURAIS A compreensão do mundo a partir de experiências que demonstram a Física no cotidiano

RELATO DE EXPERIÊNCIA Língua Portuguesa, Matemática e Arte, em perfeita harmonia

COMEMORAÇÕES Poesia para lembrar o que é pátria

EDUCAÇÃO INFANTILProjeto mostra como matar a curiosidade dos alunos com atividades instigantes e esclarecedoras

Conte um contoDia de chuva Dia de sol

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M E M Ó R I A

No ano em que comemoramos os 90 anos do nascimento de Paulo Freire, relembrar um pouco da sua trajetória torna-se programa quase obrigatório. Trata-se, afinal, da vida de um modesto nordestino que che-gou a conhecer a fome, mas ganhou o respeito internacional. Que, preo-cupado com os pobres, os oprimidos, os cativos pela ignorância política, com o descompasso entre a educação ofertada e o processo de humaniza-ção, abole as cartilhas convencionais, posiciona-se contra a educação cha-mada por ele de bancária, investe no conceito de palavras geradoras e cria um revolucionário e libertador méto-do de alfabetização de adultos. É per-seguido, preso e exilado pelo golpe militar de 1964. Pesava sobre ele a seguinte acusação: alfabetizar para a conscientização e participação políti-ca na sociedade. Entra para a história mundial como um dos mais importan-tes e polêmicos filósofos da educação do século 20.

Luta sem trégua – Na Facul-dade de Direito do Recife, sua terra natal, fortaleceu a formação humanis-ta. No Setor de Educação e Cultura do Sesi/PE, teve os primeiros contatos com a realidade da educação brasi-leira, percebendo a desvantagem dos menos favorecidos na busca pela ci-dadania. Firme na sua crença de que todo ato de educação é um ato políti-co, Paulo Freire, sem pregar o uso de armas, mas com otimismo, coragem e disposição para enfrentar as injus-tiças sociais, passou a perseguir uma educação realmente transformadora e a dedicar-se à luta contra o analfabe-tismo. Um combate travado por toda a sua vida, primeiro no Brasil, depois na América do Sul, na Europa, na África. Fora do seu país, ele obteve os primei-ros reconhecimentos públicos desse trabalho, sendo homenageado de di-versas maneiras por diferentes insti-tuições internacionais. Paulo Freire marcou a cultural mundial e nunca mais “os saberes necessários à prática educativa” foram os mesmos. Nunca mais um projeto de educação de jo-vens e adultos deixou de considerar as ideias do incansável educador.

Eterna herança – Doutor Ho-

noris Causa por 34 instituições acadê-micas, cidadão honorário do Distrito Federal, do estado do Ceará e de 12 cidades brasileiras, Paulo Freire em-presta seu nome a cerca de 300 es-colas brasileiras, além de inúmeros diretórios acadêmicos, anfiteatros, bibliotecas, centros de pesquisas, pra-ças, ruas e conjuntos habitacionais. Aclamado como um dos mais impor-tantes pensadores brasileiros do sécu-lo 20, seu legado é tema de pesquisas, monografias e teses, sua vida, inspira-ção para uma geração de professores. Sua vasta obra literária, traduzida para muitas línguas, renovou os conceitos da época e tornou-se uma espécie de bandeira para os que se sentiam aban-donados pelo poder público. Seus escritos revelam a crença de que a escola deveria ser o local do diálogo, onde professores e alunos aprendem juntos, praticando uma educação pro-blematizadora e de grandes transfor-mações, onde o educando, conectado à sua realidade, recebesse as armas necessárias para uma liberdade trazi-da pelo conhecimento – delineava-se a Pedagogia da libertação. Sua obra é atemporal. É objeto, ainda hoje, de estudos em muitas instituições de pesquisa , faculdades de educação e

Cristina Ministerio é jornalista, pós-graduada em Jornalismo e Práticas Con-temporâneas (Belo Horizonte – MG).

O EDUCADOR DO POVO,UM CIDADÃO DA HISTÓRIA

PAULO FREIRE –

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universidades. O livro mais famoso, o Pedagogia do oprimido foi publicado primeiramente em língua inglesa, nos Estados Unidos, em 1970. No Brasil, foi publicado em 1974, pela Editora Paz e Terra.

Exercício da esperança – Em entrevista concedida ao jornalista Ed-ney Silvestre, em 1997, na Universi-

dade de Havard, nos Estados Unidos, Paulo Freire disse: “Quero ser lem-brado como um sujeito que amou pro-fundamente o mundo e as pessoas, os bichos, as árvores, as águas, a vida”. Talvez nos pareça pouco, diante de uma vida tão cheia de realizações. Talvez seja difícil respeitar um dese-jo tão humilde, vindo de tão grande mestre, afinal, são muitos os pedago-

gos, cientistas sociais, teólogos e mi-litantes políticos, quase todos ligados a partidos de esquerda, que cultivam a esperança de que ele seja lembrado como Patrono da Educação Brasileira – Projeto de Lei nº 5.418/05, de auto-ria da deputada Luiza Erundina, que aguarda a sanção da presidente Dilma Rousseff. Estará o Brasil, finalmente, fazendo justiça a Paulo Freire?

“O Painel Paulo Freire inspira-se no meio rural, onde Paulo Freire desenvolveu seu método de alfabe-tização de adultos, sob o tórrido sol do semi-árido. À esquerda, há uma trabalhadora do campo, que tem um livro sob o braço direito e carrega uma enxada, seu ins-trumento de trabalho, sobre o ombro esquerdo. Trata-se do adulto trabalhador a ser alfabetizado. No fundo, há casas típicas, à esquerda e à direita do mestre, que está no centro da composição, em atitude pensativa (imagi-nando as relações entre o universo do trabalho e o saber elaborado). Ele apóia o cotovelo direito sobre livros, que aqui representam o saber erudito, em meio ao universo popular. À direita, uma única árvore, sob a qual uma menina brinca com uma boneca de pano, remetendo-nos

a uma história contada pelo próprio Paulo Freire, sobre a filha do intelectual e a filha do operário, que sabia fazer bonecas. Trata-se de uma metáfora a respeito da cultura popular e da erudita. Também à direita, no pri-meiro plano, uma composição com uma enxada, uma bo-neca e um livro: o mundo do trabalho, a infância e a cul-tura erudita; diferentes universos a serem conciliados. Todos estão descalços, pois, para entender e vivenciar Paulo Freire, é necessário os pés no chão.”

Luiz Carlos Cappellano – educador e artista, autor do painel

localizado no CEFORTEPE / Secretaria Municipal de Educação de

Campinas / SP

Valéria A

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1921 – Nasce no dia 19 de setembro no Recife, Paulo Re-glus Neves Freire, filho do oficial da Polícia Militar de Per-nambuco Joaquim Themístocles Freire e Edeltrudes Neves Freire, prendas domésticas.

1925 – Inicia sua vida escolar.

1937 – Inicia o ginásio no Colégio 14 de Julho, concluindo- o no Colégio Oswaldo Cruz, ambos no Recife.

1941 – Inicia sua carreira de professor de Língua Portugue-sa no Colégio Oswaldo Cruz, realizando o sonho da adoles-cência de ser professor.

1943 – Ingressa na Faculdade de Direito do Recife, con-cluindo o curso quatro anos depois.

1947 – Exerce o cargo de assistente da Divisão de Divulga-ção, Educação e Cultura do setor de Educação e Cultura do Sesi-PE. No mesmo ano é promovido a diretor da Divisão de Educação e Cultura.

1947 – Inicia-se na docência do Ensino Superior, lecionan-do na Escola de Serviço Social, posteriormente anexada à Universidade do Recife.

1952 – É nomeado professor catedrático interino da cadeira de História e Filosofia da Educação da Escola de Belas Ar-tes da Universidade do Recife.

1954 – Torna-se diretor superintendente do Departamento Regional do Sesi-PE.

1955 – Funda, no Recife, com mais duas educadoras, o Ins-tituto Capibaribe, uma instituição privada de ensino.

1956 – É nomeado membro do Conselho Consultivo de Educação do Recife.

1959 – Apresenta à Universidade do Recife a tese Educa-ção e atualidade brasileira, para a obtenção do título de dou-tor em Filosofia e História da Educação.

1960 – Engaja-se em movimentos de educação popular surgidos no Nordeste, sendo um dos fundadores do Mo-vimento de Cultura Popular (MCP) do Recife, onde faz as primeiras experiências públicas do seu método de alfabeti-zação para adultos.

1960 – Presta concurso público para catedrático efetivo da cadeira de História e Filosofia da Educação da Escola de Belas Artes da Universidade do Recife, sendo aprovado em 2º lugar e obtendo o título de doutor.

1961 – Toma posse da cadeira de História e Filosofia da Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Recife.

1962 – Recebe o diploma de livre-docente da Escola de Belas Artes da Universidade do Recife.

1962 – Colabora na criação e torna-se diretor do Serviço de Extensão Cultural (SEC) da Universidade do Recife, onde sistematiza e aperfeiçoa o seu método de alfabetização.

1963 – É escolhido, pelo então governador de Pernambuco Miguel Arraes, como um dos 15 conselheiros pioneiros do Conselho Estadual de Educação de Pernambuco, por seu “notório saber e experiência em matérias de educação e cul-tura”.

1963 – Organiza e dirige a Campanha de Alfabetização de Angicos, por iniciativa do governo do Rio Grande do Nor-te, quando, graças ao sucesso na alfabetização de 300 adul-tos, torna-se conhecido como o educador do povo.

1964 – Assiste à adoção, pelo MEC, do “Método Paulo Freire” para integrar o Programa Nacional de Alfabetização (PNA) que previa a formação em massa de educadores para alfabetizar cinco milhões de adultos para a conscientização

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Leituras do tempo

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e participação política através do voto. 1964 – É acusado de subversivo pelo governo militar de 1964, que proibiu o “Método de Alfabetização Paulo Frei-re” por considerá-lo perigoso. É preso e, posteriormente, exilado.

1967 – Publica, no Brasil, seu primeiro livro – Educação como prática de liberdade (Ed. Paz e Terra), resultado de modificações feitas em sua tese Educação e atualidade bra-sileira.

1980 – Retorna ao Brasil e ao Recife, depois de 16 anos no exílio.

1980 – Filia-se, em São Paulo, pela primeira vez, a um par-tido político – o Partido dos Trabalhadores (PT), do qual é um dos fundadores e supervisor do programa do partido para a alfabetização de adultos.

1980 – Torna-se professor da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.

1989 – É nomeado para o cargo de secretário municipal de Educação de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina, quando concebe o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova), programa público de apoio a salas co-munitárias de educação de jovens e adultos.

1997 – Dá sua última aula na Pontifícia Universidade Cató-lica – PUC de São Paulo.

1997 – Morre no dia 2 de maio em São Paulo, Paulo Reglus Neves Freire, de enfarte agudo do miocárdio, no Hospital Albert Einstein.

Fonte: Fundação Joaquim Nabuco ([email protected]), Paulo Freire – uma história de vida (de Ana Maria Araújo Freire, Ed. Villa das Letras, 2006), www.paulofreire.org, http://pt:wikipedia.org/wikipaulo_freire

“Ninguém nasce feito, é expe-rimentando-nos no mundo que nós nos fazemos.”

Paulo Freire

Começamos esta breve incur-são sobre algumas ideias de Paulo Freire nos utilizando de uma frase na Nota do Editor do livro Sobre educa-

ção: diálogos (1982, p.11): “Paulo Freire (ainda é preciso dizer alguma coisa?)”.

O pensamento de Paulo Freire está embebido nas filosofias que tive-ram o homem como centro. Seu pen-samento está baseado no neotomismo, no humanismo, no personalismo, no existencialismo, na fenomenologia e

no neomarxismo.Paulo Freire não se limitou a

teorizar, mas empenhou-se para que estas questões tivessem repercussão positiva na sociedade humana, em geral, e na brasileira especificamente, o que faz dele um homem profunda-mente comprometido com a socieda-de, principalmente com as camadas

Laércia Maria Bertulino de Medeiros é licenciada em Psicologia com habilitação em Psicologia Educacional, pós-graduada em Ciên-cias da Sociedade e doutoranda em Ensino, Filosofia e História das Ciências; professora e líder do grupo de pesquisa Psicologia, De-senvolvimento e Educação do Curso de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba e Roberta Magna Silva Siqueira é estudante do curso de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, bolsista de Iniciação Científica, participa do grupo de pesquisa Psicologia, Desenvolvimento e Educação (Campina Grande - PB).

Autoras apontam algumas ideias de Paulo Freire consideradas, por elas, representativas da reflexão/ação/reflexão freireana.

- BASES EDUCACIONAIS - PENSAMENTO FREIREANO

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populares. É por isso que Paulo Freire constitui um caminho seguro para a educação brasileira.

Formação docente e concep-ção de teoria e prática

As ideias freireanas servem como orientação para o processo de formação docente no que se refere à reflexão crítica da prática pedagógica que implica em saber dialogar e escu-tar, que supõe o respeito pelo saber do educando e reconhece a identidade cultural do outro.

Hoje, mais que em outras épo-cas, se exige do educador uma postura alicerçada num processo permanente

de reflexão que leve a resultados ino-vadores no trato da educação. Sem dúvida que as contribuições de Paulo Freire levam o educador à consciência de si enquanto ser histórico que, con-tinuamente, se educa num movimento dialético no mundo que o cerca. Não é, pois, por acaso que as ideias frei-reanas se articulam com os interesses na formação do educador, pois, não se perde de vista o caráter histórico do homem associado sempre à prática social.

É por essa ótica, tomando-se como critério de escolha a objetivi-dade que explicita o pensamento pe-dagógico, antropológico e filosófico freireano, que destacamos duas obras: Pedagogia do oprimido e Educação

como prática da liberdade. Estas obras mostram as ideias sobre edu-cação que permeiam a construção do educador, assim como atendem ao critério de criticidade em relação à vi-são de homem, sociedade e educação, aqui pretendida.

No livro Educação como prá-tica da liberdade, Freire (1979) se re-fere à teoria como um “contemplar”, certamente sendo fiel à etimologia da palavra que vem do grego ( ), e significa ver. Daí o sentido de teo-ria como observar, contemplar, ver. De fato, contemplar é uma expressão que, apesar de carregada de conteúdo místico, (embora se declarasse mar-xista, Paulo Freire era católico e esta-va profundamente ligado a entidades de caráter religioso como o Conselho Mundial das Igrejas – CMI), tem pro-fundo sentido pedagógico, ao fazer desse contemplar a cultura, o sujeito da educação, o fenômeno educativo e, principalmente, o homem e a socie-dade, um passo fundamental do que- fazer pedagógico. Isto é, na compre-ensão de Freire, teoria é um princípio de inserção do homem na realidade como ser que existe nela e, existindo, promove a sua própria concepção da vida social e política.

Ao enfatizar o caráter contem-plativo da teoria, Paulo Freire garan-

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te a inserção do homem na realidade. Ele deixa claro que teoria é sempre a reflexão que se faz do contexto con-creto, isto é, deve-se partir sempre de experiências do homem com a realidade na qual está inserido, cum-prindo também a função de analisar e refletir essa realidade, no sentido de apropriar-se de um caráter crítico so-bre ela. Esse caráter de transformação tem uma razão de ser, pois provém antes de tudo, da sua vivência pessoal e íntima numa realidade contrastante e opressora, influenciando fortemente todas as suas ideias. Compreende-se, então, que teoria para Freire não será identificada se não houver um caráter transformador, pois só assim estará cumprindo sua função de reflexão so-bre a realidade concreta.

A definição de prática em Pau-lo Freire está baseada, inicialmente, na dialética hegeliana da relação entre “consciência servil” e “consciência do senhor”, ampliada para a concei-tuação de práxis colocada por Marx, referindo-se à relação subjetividade- objetividade. Para tanto, Freire diz que é necessário não só conhecer o mundo, é preciso transformá-lo, o que coincide com Marx. Isto é significati-vo, visto que conhecer em Freire não é um ato passivo do homem frente ao mundo. É, antes de tudo, conscien-tização. Envolve intercomunicação, intersubjetividade, que pressupõe a educação dos homens entre si media-tizados pelo mundo, tanto da natureza como da cultura. Então, a prática não pode ater-se à leitura descontextuali-zada do mundo, ao contrário, vincu-la o homem nessa busca consciente de ser, estar e agir no mundo num processo que se faz único e dinâmi-

co, melhor dizendo, é apropriar-se da prática dando sentido à teoria. Sobre essa conceituação, assim se expressa Freire “[...] a práxis, porém, é ação e reflexão dos homens sobre o mun-do para transformá-lo” (1983, p.40). Portanto, a função da prática é a de agir sobre o mundo para transformá--lo.

A relação entre teoria e prática centra-se na articulação dialética en-tre ambas, o que não significa, neces-sariamente, uma identidade entre elas. Significa, assim, uma relação que se dá na contradição, ou seja, expressa um movimento de interdependência em que uma não existe sem a outra. Assim, cada coisa exige a existência do seu contrário, como determinação e negação do outro; na superação, onde os contrários em luta e movi-mento buscam a superação da contra-dição, superando-se a si próprios, isto é, tudo se transforma em nova unida-de de nível superior; e na totalização, em que não se busca apenas uma com-preensão particularizada do real, mas coordena um processo particular com outros processos, onde tudo se rela-ciona. Portanto, a relação teoria e prá-tica, em Freire, não é apenas um jogo de palavras, é reflexão teórica, pressu-posto e princípio que busca uma pos-tura, uma atitude do homem face ao homem e do homem face à realidade. A esse respeito reitera: “E é ainda o jogo dessas relações do homem com o mundo e do homem com os homens, desafiando e respondendo ao desafio, alterando, criando, que não permite a imobilidade, a não ser em termos de relativa preponderância, nem das sociedades nem das culturas. E, na medida em que cria, recria e decide,

vão se conformando as épocas histó-ricas. É também criando e decidindo que o homem deve participar destas épocas” (Freire, 1993).

Na afirmação acima está a base para entender teoria e prática na ação pedagógica, pois a relação teoria e prática se dá primeiro e antes de tudo na relação homem/mundo. Esta rela-ção busca coerência entre pensamento e ação que é práxis. Do contrário, a ação sem pensamento é ativismo e o pensamento sem ação é verbalismo.

Com isso, a ênfase da relação teoria e prática sobrepuja a visão di-cotômica quando admite que: “É preciso que fique claro que, por isto mesmo que estamos defendendo a práxis, a teoria do fazer, não estamos propondo nenhuma dicotomia de que resultasse que este fazer se dividisse em uma etapa de reflexão e outra, distante, de ação. Ação e reflexão e ação se dão simultaneamente” (Frei-re, 1983, p.149).

A fundamentação, teoria e prá-tica numa relação de unidade, impõe- se como uma relação dialética, pois se a ação/reflexão/ação estiverem ausen-tes perde-se o ápice do processo de conscientização onde o educador se descobrirá autêntico com todo o sig-nificado profundo que essa descoberta acarreta.

Diante dessas afirmações, é esclarecedor e indispensável para o educador considerar que nesta pers-pectiva se conseguirá superar a ten-dência tão frequente de trabalhar teo-ria e prática dissociadas entre si. Para tanto, é necessário que o educador compreenda que teoria e prática não se separam, ou seja, o vínculo teoria e prática forma um todo onde o saber

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tem um caráter libertador.Para tanto, o pensamento pe-

dagógico de Paulo Freire aponta para a comunicação, como princípio que transforma o homem em sujeito de sua própria história através de uma re-lação dialética vivida na sua inserção na natureza e na cultura, diferencian-do-o dos outros animais. Esse proces-so de integração interativa é significa-tivo quando vinculado ao diálogo que contém no seu cerne ação e reflexão, levando o homem a novos níveis de consciência e, consequentemente, a novas formas de ação.

A fórmula que contém os ele-mentos constitutivos para a análise do diálogo é esta: teoria/prática; dis-curso/ação; pensar/agir; pensamento/ato. A partir desta visão, observa-se que a comunicação é possuidora de um caráter problematizador que gera consciência crítica e, através do diálo-go como o dado da problematização, busca-se o compromisso de transfor-mação da realidade.

Vê-se que Paulo Freire parte sempre da análise do contexto da edu-cação como um processo de humani-zação, ou seja, o caráter problematiza-dor que se dá através do diálogo tem base existencialista, visto que o diá-logo “se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens” (Freire, 1983, p.93). É fenomenológico, quando pri-vilegia a palavra como objeto auxiliar do pensamento, quando diz que, “não existe uma linguagem sem um pensar e ambos, linguagem e pensar, sem uma realidade a que se encontrem referidos” (Id, p.102). E político, na medida em que permite uma com-preensão crítica da prática social na

relação social, histórica e cultural na qual o homem está inserido, ou seja, conhecimento e transformação da realidade são exigências recíprocas. Assim sendo, todo ato pedagógico em Freire é um ato político, assim como a comunicação é uma relação social, uma prática social transformadora e eminentemente política.

Freire (1983, p. p. 94-97), aponta matrizes necessárias para con-quistar ou chegar à práxis através do diálogo. São elas:

• O amor ao mundo e aos ho-mens como um ato de criação e recria-ção.

• A humildade, como qualida-de compatível com o diálogo.

• A fé, como algo que se deve instaurar antes mesmo que o diálogo aconteça, pois o homem precisa ter fé no próprio homem. Não se trata, aqui, de um sentimento que fica no plano divinal, mas de um fundamento que creia no poder de criar e recriar, fazer e refazer, através da ação e reflexão.

• A esperança, que se caracteri-za pela espera de algo que se luta.

• A confiança, como conse-quência óbvia do que se acredita en-quanto se luta.

• A criticidade, que percebe a realidade como conflituosa e inserida num contexto histórico que é dinâmi-co.

É sobre esta base que Pau-lo Freire enfatiza o ato pedagógico, como uma ação que não consiste em comunicar o mundo, mas criar, dia-logicamente, um conhecimento do mundo, isto é, o diálogo leva o ho-mem a se comunicar com a realidade e a aprofundar a sua tomada de cons-ciência sobre ela até perceber qual

será sua práxis na realidade opressora para desnudá-la e transformá-la. Nes-te sentido, é que, através do diálogo, a relação educador/educando deixa de ser uma doação ou imposição, mas uma relação horizontal, eliminando as fronteiras entre os sujeitos.

Educação problematizadora x educação bancária

Freire não se limitou a analisar como são a educação e a pedagogia, mas mostra uma teoria de como elas devem ser compreendidas teorica-mente e como se deve agir através de uma educação denominada libertado-ra. Para ele, educação é um encontro entre interlocutores, que procuram, no ato de conhecer, a significação da re-alidade e, na práxis, o poder da trans-formação. Entende-se por pedagogia em Freire, a ação que pode e deve ser muito mais que um processo de treina-mento ou domesticação; um processo que nasce da observação e da reflexão e culmina na ação transformadora.

Em oposição à Pedagogia do diálogo, Paulo Freire desnuda a con-cepção bancária de educação; é uma crítica à educação que existe no sis-tema capitalista. Nessa concepção: “O educador é o que educa; os edu-candos, os que são educados; o edu-cador é o que sabe; os educandos, os que não sabem; o educador é o que pensa; os educandos, os pensados; o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam docil-mente; o educador é o que discipli-na; os educandos, os disciplinados; o educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos os que seguem a prescrição; o educador é o que atua;

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os educandos, os que têm a ilusão de que atuam; o educador escolhe o con-teúdo programático; os educandos, se acomodam a ele; o educador iden-tifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que opõe an-tagonicamente à liberdade dos edu-candos; estes devem adaptar-se às determinações daquele; o educador, finalmente, é o sujeito do processo; os educandos, meros objetos” (Freire, 1983, p.68).

Este desnudamento serve de premissa para visualizar o poder do educador sobre o educando e, como consequência, à possibilidade de for-mar sujeitos ativos, críticos e não do-mesticados. A educação bancária se alicerça nos princípios de dominação, de domesticação e alienação transfe-ridas do educador para o aluno atra-vés do conhecimento dado, imposto, alienado.

De fato, nessa concepção, o co-nhecimento é algo que, por ser impos-to, passa a ser absorvido passivamen-te: “Na visão ‘bancária’ da educação, o ‘saber’ é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideo-logia da opressão - a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorân-cia, segundo a qual esta se encontra sempre no outro” (Id. p. 67).

Como se vê, a opressão é o cer-ne da concepção bancária. Para anali-sar esta concepção que se fundamenta no antidiálogo, Freire (1983) apresen-ta características que servem à opres-são. São elas: a conquista, a divisão, a manipulação e a invasão cultural.

• Conquista - a necessidade de

conquista se dá desde “as mais duras às mais sutis; das mais repressivas às mais adocicadas, como o paternalis-mo” (p.162).

• Divisão - “na medida em que as minorias, submetendo as maiorias a seu domínio, as oprimem, dividi-las e mantê-las divididas são condições indispensáveis à continuidade de seu poder” (p.165).

• Manipulação - “através da manipulação, as elites dominadoras vão tentando conformar as massas populares a seus objetivos. E quanto mais imaturas politicamente estejam, tanto mais facilmente se deixam ma-nipular pelas elites dominadoras que não podem querer que se esgote seu poder” (p.172).

• Invasão cultural - “a invasão cultural é a penetração que fazem os invasores no contexto cultural dos in-vadidos, impondo a estes sua visão de mundo, enquanto lhes freiam a cria-tividade, ao inibirem sua expansão” (p.178).

Ao contrário da educação liber-tadora, a concepção bancária de edu-cação não exige a consciência crítica do educador e do educando, assim como o conhecimento não desvela os porquês do que se pretende saber. Eis porque a educação bancária oprime, negando a dialogicidade nas relações entre os sujeitos e a realidade. Educa-ção, para Freire, é libertação. Nesta concepção, o conhecimento parte da realidade concreta do homem e este reconhece o seu caráter histórico e transformador. Freire ressalta a ne-cessidade de o homem entender sua vocação ontológica, como ponto de partida para se obter, nessa análise, uma consciência libertadora, isto é, o

homem só chegará à consciência do seu contexto e do seu tempo na re-lação dialética com a realidade, pois só desta maneira terá criticidade para aprofundar seus conhecimentos e to-mar atitudes frente a situações obje-tivas.

O comprometimento com a transformação social é a premissa da educação libertadora. Libertação que não é só individual, mas principal-mente coletiva, social e política. O ponto de partida do pensamento de Paulo Freire se dá a partir da visão de uma realidade onde o homem já não era sujeito de si próprio, ou como ele mesmo se referia, se “coisificava”, anulando o sentido de sua vocação ontológica, ou seja, deixa de ser su-jeito de seu agir e de sua própria his-tória. Por essa análise, em Pedagogia do oprimido, a dialogicidade como essência da educação libertadora Freire aponta características necessá-rias para que se concretize. São elas: a colaboração, a união, a organização e a síntese cultural.

• Colaboração - a ação dia-lógica só se dá coletivamente, entre sujeitos, “ainda que tenham níveis distintos de função, portanto de res-ponsabilidade, somente pode reali-zar-se na comunicação” (p.197).

• União - a classe popular tem de estar unida e não dividida, pois significa “a união solidária entre si, implica esta união, indiscutivelmente, numa consciência de classe” (p.205).

• Organização - “[...] é o mo-mento altamente pedagógico, em que a liderança e o povo fazem juntos o aprendizado da autoridade e da liber-dade verdadeiras que ambos, como um só corpo, buscam instaurar, com

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a transformação da realidade que os mediatiza” (p.211).

• Síntese cultural - consiste “na ação histórica, se apresenta como instrumento de superação da própria cultura alienada e alienante”. “[...] faz da realidade objeto de sua análise crítica” (p. p. 214 -215).

Por essa ótica, o modelo de educação proposto por Paulo Freire se diferencia da educação tradicional, pois abomina, dentre outras coisas, a dependência dominadora, que inclui, entre outras, a relação de dominação do educador sobre o educando. Na ação educativa libertadora, existe uma relação de troca horizontal entre edu-cador e educando exigindo-se, nesta troca, atitude de transformação da realidade conhecida. É por isso que a educação libertadora é, acima de tudo, uma educação conscientizadora, na medida em que além de conhecer a re-alidade, busca transformá-la, ou seja,

tanto o educador quanto o educando aprofundam seus conhecimentos em torno do mesmo objeto cognoscível para poder intervir sobre ele.

Neste sentido, quanto mais se articula o conhecimento frente ao mundo, mais os educandos se senti-rão desafiados a buscar respostas, e, consequentemente, quanto mais inci-tados, mais serão levados a um estado de consciência crítica e transformado-ra frente à realidade. Esta relação dia-lética é cada vez mais incorporada na medida em que, educadores e educan-dos se fazem sujeitos do seu processo.

Bibliografia

FREIRE, Paulo e GUIMARÃES, Sér-gio. Sobre educação: diálogos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da auto-nomia: saberes necessários à prática

educativa. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

_______. Pedagogia do oprimido. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

_______. Educação como prática da liberdade. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

_______. Conscientização: teoria e prática da libertação. São Paulo: Mo-raes, 1999.

http://www.paulofreire.ce.ufpb.br/paulofreire/principal.jsp.Acesso em:30 de julho 2011.

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Não é tarefa simples retomar as reflexões daquele que considerou a construção do conhecimento como um processo de construção social no qual ninguém constrói saberes sozi-

nho, mas na interação com o outro. Ainda hoje há incompreensão, por parte de alguns professores, quan-do Paulo Freire (1996) afirma que “ninguém ensina ninguém e ninguém

aprende sozinho. As pessoas apren-dem em comunhão.” Não são raros os momentos em que ouvimos o profes-sor repetir esta expressão ou afirmar, em sala de aula, que não veio só ensi-

Uma reflexão, sempre oportuna, sobre o pensamento de Paulo Freire no que diz respeito às leituras do mundo feitas pelos alunos.

- ESPAÇO DE APRENDIZAGENS MÚTUAS - Cleidson Carneiro Guimarães é engenheiro civil, especialista em Astronomia, mestre em Ensino, Filosofia e História das Ciências, coordenador dos cursos de Engenharia Mecânica, Elétrica e Civil do Senai (Feira de Santana-BA).

SALA DE AULA

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nar, mas, também, aprender. Todavia, o professor, muitas vezes, não sabe ao certo o que irá aprender com seus alu-nos e frequentemente ouve-se: “Afi-nal, o que vou aprender com o meu aluno?” “Vou ensinar Química e sou especialista na matéria, então o que o meu aluno tem a me ensinar acerca desta ou de outra disciplina?”

Certamente, quando Paulo Freire afirma que a interação ensino/aprendizagem não tem apenas um sentido, originando-se no professor e direcionado ao aluno, ele tem uma compreensão de conhecimento muito mais vasta do que o da disciplina que

o professor leciona. Se o educador compreende que conhecimento

é apenas aquele expresso pelo livro didático e presente no currículo escolar, então po-derá concluir que ele aprende pouco com os seus alunos, afinal, uma vez ou outra, um deles lhe traz uma in-formação sobre a disci-plina a qual ele ainda não conhece.

Para Paulo Freire (1988), o conhecimento tem uma fronteira mui-to mais extensa. Segundo ele, a nossa leitura de mundo não começa na esco-la nem termina nela. Antes de apren-der a ler as palavras, aprendemos a ler o mundo. É por meio da nossa leitura do mundo que aprendemos a ler as palavras e, depois, por meio da razão,

utilizamos as palavras para expressar o mundo. Nessa perspectiva, os alu-nos que chegam à escola trazem leitu-ras de mundo muito mais extensas do que os limites das disciplinas impos-tos pela escola.

Se a compreensão do educa-dor apresenta essa sensibilidade de-fendida por Paulo Freire, então, no diálogo com sua turma, ele aprenderá:

• os valores construídos por seus alunos em grupo;

• como eles interpretam os fe-nômenos ensinados em sua matéria;

• como lidar com pessoas em grupo, liderar, motivar e inspirar aprendizes;

• a estabelecer regras para o bem comum;

• a habilidade de escutar;

Segundo ele (Paulo Freire), a nossa leitura de mundo não

começa na escola nem termina nela.

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• a argumentar com base nas ideias do outro;

• a gerenciar conflitos.Os pontos destacados

podem ser considerados como conteúdos? São competências e habilidades importantes à ação docente? Não pretendo completar esta lista ou tecer respostas aos questionamen-tos, mas trazê-las à reflexão, no intuito de contribuir com o educador para compreender a sala de aula como um espaço de construção de saberes que jamais é unilateral, mas de mão dupla. Nesse sentido, concor-do com Cesar Coll (2000) ao apontar que a escola deve ser conteudista, pois o problema não está no conteúdo, mas na compreensão que temos acerca deles. Portanto, a crítica não está no conteúdo, mas na compreen-são do que é ou não conteúdo. É ne-

cessário redimensionar o nosso enten-dimento ou, então, passaremos a vida inteira na escola e teremos a sensação

de não ter aprendido nada, en-quanto os aprendizes trazem várias lições de vida e estão dispostos a ensinar. Cabe-nos ouvi-los e extrair deles o que há de melhor e que possa nos fazer viver mais felizes.

BibliografiaFREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 18.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1988.

COLL, César. Os conteúdos na reforma: ensino e aprendiza-gem de conceitos, procedimen-tos e atitudes. Porto Alegre:

Artmed, 2000.

Jovens portadores de “leituras” que vão além das exigidas pela escola

Nina Alexandrina

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Atenção ao novo e-mail da Fundação Amae: [email protected]

Fiquei encantada e tão feliz com meu conto publicado na edição nº 380, como se fosse a primeira vez que vocês publicam trabalhos meus. Nossa revista está cada vez mais rica de ensinamentos e colaboração para o crescimento das es-colas no Brasil. Que Deus abençoe todas vocês! Um grande abraço.

Maria Luísa Amorim (Brasília-DF)

Gostaria de saber como posso con-seguir uma edição antiga da revista. Pre-

ciso da edição 294, não consegui acessar esta adição no site.

Obrigada.Natália (por e-mail)

A edição 294 (set.2000) está es-gotada. Outros números mais recentes podem ser obtidos pelo telefone (31) 3224-5400.

Agradeço, sinceramente, a gentile-za do envio da revista AMAE Educando

nº 381, de agosto de 2011. Expresso os meus cumprimentos pela excelente quali-dade da revista. Parabenizo toda a equipe de brilhantes profissionais envolvidos na preparação desse trabalho tão impor-tante. Gentileza transmitir meus especiais cumprimentos à Bárbara Diniz, aluna do UniBH e estagiária de Jornalismo da re-vista. Parabéns! Obrigada e um grande abraço.

Sueli Maria Baliza Dias

Reitora do UniBH (Belo Horizonte-MG)

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