Darwin e o pensamento evolutivo (2013)
Transcript of Darwin e o pensamento evolutivo (2013)
Darwin e o pensamento
evolutivo
Claudio Ricardo Martins dos Reis
“Para ser um bom observador é preciso ser um bom teórico” Charles Darwin
Graduando em Ciências Biológicas - UFRGS
Semana Acadêmica do curso de Ciências Biológicas
Múltiplas Abordagens da Biologia
UNIVATES - 2013
• Filosofia da Biologia
• Filosofia da Ciência
O objetivo principal é instigar a curiosidade, mais
do que trazer respostas prontas
• O artigo propriamente
• Minha experiência de estágio
Pretendo abordar aspectos mais gerais sobre:
A Filosofia da Ciência se ocupa de problemas
filosóficos que surgem na pesquisa científica
• Todos os cientistas utilizam filosofia, embora, a maioria
deles, sem se dar conta
Simplesmente por fazer uso de certos conceitos, tais como:
CiênciaFilosofia da Ciência
Iniciando...
Padrão, mecanismo, lei, fato, verdade, conhecimento, teoria, modelo,
hipótese, causalidade, explicação, predição ou mesmo ciência.
• Isso significa que, de modo geral, o cientista adota uma
filosofia sem questioná-la.
CiênciaFilosofia da Ciência
Iniciando...
• Necessidade de pesquisas filosóficas desde dentro dos
departamentos de ciências (química, biologia, sociologia, etc.)
“O caso mais comum é o do cientista que aceita o dogma positivista de que
só importam os fatos da experiência: que as teorias são apenas resumos de
dados observacionais ou experimentais. Quem se atém a esta filosofia
grosseira condena a si mesmo a juntar dados sem saber por que nem para
que, empresa esta tão chata como cara. Não foi esse o caso do maior
biólogo de todos os tempos, Charles Darwin, que afirmou que toda
observação (interessante) se faz à luz de alguma hipótese”. Bunge (2006, p.12)
Contexto da descoberta x contexto da justificação
“A filosofia da ciência sem a história da ciência é vazia; a história
da ciência sem a filosofia da ciência é cega.” Lakatos (1978)
• CD: Quais as condições que motivaram Darwin a criar
sua Teoria de Descendência com Modificação
• CJ: Que dados e argumentos justificam sua teoria
História da Ciência Epistemologia da Ciência
Iniciando...
Justificativa para o meu artigo
História Epistemologia
Iniciando...
Justificativa para a minha apresentação
• O que me levou até o artigo (história)
• O conteúdo do artigo (epistemologia)
• Relevância em estudar Darwin (história)
• Análise da argumentação darwiniana (epistemologia)
O que seria a filosofia da ciência?
Metafísica da ciência
• Princípio da legalidade
• Realismo ontológico
• Materialismo
O mundo externo existe independente do sujeito cognoscente
Todos os constituintes do mundo são materiais
Todos os eventos satisfazem alguma(s) lei(s)
O que seria a filosofia da ciência?
Epistemologia da ciência
• Problema da redução
O mundo pode ser conhecido?
Podemos distinguir ciência de
outras formas de conhecimento?
• Debate realismo/anti-realismo epistemológico
• Problema da demarcação
São as ciências de um nível acima redutíveis
às ciências de um nível abaixo?
Existe tal coisa como
“o” método científico?
Uma amostra das questões
levantadas pela filosofia da biologia
Qual a diferença entre causas próximas e remotas?
Qual a relação entre biologia e outras ciências?
A evolução ocorre de maneira gradual, aos saltos ou
de ambas as maneiras?
A seleção natural atua exclusivamente sobre genes
ou podemos falar em níveis de seleção?
Qual o sentido de acaso quando dizemos em
evolução que “as mutações ocorrem ao acaso”?
O que é uma espécie?
Uma amostra das questões
levantadas pela filosofia da biologia
É a seleção natural o único mecanismo relevante
para a diferenciação das espécies?
Seriam importantes outros mecanismos de herança,
além do genético?
Existem leis já conhecidas na biologia?
Como conceituar “cultura”?
A biologia pode ser considerada uma ciência autônoma?
A evolução responde a perguntas do tipo “Por quê”?
Anna Carolina Regner
Graduação em Filosofia (UFRGS); Mestrado em Filosofia (PUCRS);
Doutorado em Educação (UFRGS); Pós-Doutorado em Filosofia e
História da Ciência (Standford University).
• Olhei o Currículo Lattes
E
S
T
Á
G
I
O
Anna Carolina Regner
The Structure Of The Darwinian Argument In The Origin Of Species (ELOSS, 2010);
Darwinian Controversies: Logic, Dialectics and Rhetoric in Scientific
Argumentation (Livro, in press, John Benjamins - Amsterdam/Florida)
O papel da metáfora no longo argumento da “origem das espécies” (TriploV, 1997)
Uma nova racionalidade para a ciência? (do livro: Conhecimento prudente para
uma vida decente, Org. Boa Ventura de Sousa Santos, Cortez, 2006)
(1988)(2005)
(2006)
Justificativas:
Projeto de Pesquisa
A argumentação darwiniana na Origem
• Darwin é considerado um dos maiores pensadores nas ciências biológicas;
• São poucos os trabalhos que enfatizam os tipos de argumentos e
estratégias argumentativas de Darwin em A Origem das Espécies;
• Inexistência de disciplinas de filosofia da ciência no curso de graduação;
• Melhor fundamentação para a pesquisa científica.
Objetivo:
Projeto de Pesquisa
A argumentação darwiniana na Origem
Analisar a argumentação de Darwin em A Origem das Espécies, no que se refere à:
• Relação entre teoria e suporte empírico;
• Leis ou regularidades empíricas;
• Princípios;
• Casos específicos;
• Dificuldades e objeções da teoria.
Artigo
Grupo de Pesquisa (CNPq)
Racionalidade e Controvérsia
Linha de Pesquisa
Linguagem,
Racionalidade e o
Discurso da Ciência
O que é racionalidade?
Ênfase nos tipos de argumentos e nas suas estratégias de
apresentação (dedutivo, indutivo, retórica)
Podemos criar uma teoria das controvérsias?
Argumento dedutivo
Retórica
Argumento indutivo
• Figuras de linguagem e estratégias de argumentação
(P1) Todos os humanos são mortais;
(P2) Darwin é humano; logo,
(C) Darwin é mortal.
(P1) Darwin é mortal;
(P2) Eu sou mortal;
(C) Todos os humanos são mortais.
Logicamente válido
Logicamente inválido
“se-então”
Pesquisadores:
• Anna Regner • Marcelo Dascal • Rodrigo de Faveri
UNISINOS Tel-Aviv UNIPAMPA
Estudantes:
• Iniciação Científica: Darwin (1) e Descartes (1).
• Doutorado: Aristóteles (2), Feyerabend (2), Controvérsias (1).
• Estágio Supervisionado: Darwin (1).
Análise
• 6ª edição da obra The Origin of Species (Darwin, 1872)
• Argumentos presentes nos quatro primeiros cap. da obra
Cap. I: Variação em Estado Doméstico
Cap. II: Variação na Natureza
Cap. III: Luta pela Existência
Cap. IV: Seleção Natural
Introdução do artigo
Objetivo
• Reconstruir parte da argumentação darwiniana,
estruturando-a de forma clara em premissas e conclusão,
considerando, além disso, o uso da linguagem por Darwin
• A análise compreendeu três níveis distintos
Casos específicos: os chamados
particulares (entidades concretas)
Regularidades empíricas: padrões
gerados por particulares
Princípios: assunções
extremamente genéricas
Capítulo I
Capítulo II
Capítulos III e IV
Introdução do artigo
A argumentação darwiniana para casos específicos: a
origem e diferenciação das raças do pombo doméstico
Capítulo I da obra
Seção “Raças dos pombos domésticos,
suas diferenças e origem”
• Darwin se diz um grande conhecedor das raças de
pombos domésticos, afirmando possuir várias delas além
de participar de clubes de columbófilos de Londres
• Após essa introdução estratégica, Darwin descreve as grandes
diferenças de 12 das muitas raças de pombos domésticos:
• Segundo Darwin, um ornitólogo incluiria todas essas raças em
espécies diferentes, incluindo algumas delas até mesmo em gêneros
distintos, caso não soubesse que se trata de animais domésticos
O argumento de Darwin para sustentar essa tese pode ser
sintetizado da seguinte maneira:
• Os naturalistas da época concordavam que as diferentes
raças do pombo-doméstico descendem de uma única
espécie: o pombo-de-rocha Columba livia
(P1) implausibilidade de o homem ter domesticado uma gama de supostas
espécies de pombo que não são conhecidas em estado selvagem;
{P2} princípio da parcimônia;
{C/P3} inexistência das supostas espécies selvagens;
(P4) presença de estruturas ou comportamentos anômalos, característicos de
cada raça;
(P5) presença de características similares às do pombo-de-rocha;
(P6) reaparição de alguns caracteres do pombo-de-rocha, tais como a cor
azul e as manchas negras, em várias raças de pombos domésticos quando
cruzadas;
(P7) a extrema fecundidade dos híbridos;
(C) todas as raças domésticas de pombo descendem do pombo-de-rocha
Columba livia
A argumentação darwiniana para regularidades
empíricas (REs)
“Espécies com ampla distribuição, muito
difundidas e comuns, variam mais” (RE-1)
Capítulo II da obra
• Segundo Darwin, alguns autores, tais como Alphonse de
Candolle, mostraram que as plantas que possuem grande
dispersão geralmente apresentam variedades bem marcadas
• O argumento de Darwin pode ser estruturado da seguinte maneira:
A argumentação darwiniana para regularidades
empíricas (REs)
(P1) existem variações individuais dentro de uma espécie;
{P2} algumas variações são hereditárias;
(P3) espécies com ampla distribuição estão expostas a diferentes
condições físicas do ambiente;
(P4) espécies com ampla distribuição interagem com diferentes
comunidades de organismos;
(C) essas espécies apresentarão uma gama enorme de variações
favoráveis que serão preservadas pela seleção natural. Em outras
palavras, espécies com ampla distribuição possuirão variedades
bem marcadas.
Argumento:
A argumentação darwiniana para regularidades
empíricas (REs)
“Em cada território, espécies dos gêneros
maiores variam mais frequentemente do que
espécies dos gêneros menores” (RE-2)
(P1) um habitat proporciona a formação de muitas espécies
extremamente afins, isto é, do mesmo gênero;
{P2} princípio da parcimônia, através do uniformitarismo;
(C) este mesmo habitat deve formar muitas variedades de tais espécies.
Argumento:
A argumentação darwiniana para regularidades
empíricas (REs)
“Estes fatos têm um significado evidente na visão de que as espécies são
tão só variedades permanentes muito caracterizadas, pois onde quer que
tenham sido formadas muitas espécies do mesmo gênero, ou onde – se
nós podemos empregar a expressão – a fabricação de espécies foi muito
ativa, devemos, geralmente, encontrar ainda a fábrica em movimento.”
(Darwin, 1872, p. 45)
Metáfora:
A argumentação darwiniana para regularidades
empíricas (REs)
“Muitas das espécies de gêneros maiores
assemelham-se a variedades, mais do que a
espécies de gêneros menores” (RE-3)
(P1) geralmente, espécies de gêneros grandes são mais proximamente
relacionadas que espécies de gêneros pequenos;
(P2) espécies de gêneros grandes normalmente apresentam distribuição
restrita quando comparadas a espécies de gêneros próximos menores;
(C) espécies de gêneros maiores assemelham-se a variedades, mais que
a espécies de gêneros menores.
Argumento:
A argumentação darwiniana sobre princípios
gerais
Capítulo III da obra
• Darwin traz uma série de exemplos:
As complexas relações de animais e plantas na
luta pela existência
- Ação do gado mantendo o habitat de brejo
- Moscas impossibilitando que o gado e cavalos se tornassem selvagens
“Podemos observar aqui que o gado determina em absoluto a existência
do pinheiro; mas em diferentes regiões do mundo os insetos determinam a
existência do gado” (Darwin, 1872, p. 56)
A argumentação darwiniana sobre princípios
gerais
• Darwin enfatiza que dificilmente sabemos as causas
da extinção de espécies
• Darwin pretende, com a seleção destes exemplos,
nos convencer das seguintes teses:
“Tão profunda é nossa ignorância e tão grande nossa presunção, que nos
extasiamos quando ouvimos falar da extinção de um ser orgânico e, como
não sabemos as causas, invocamos cataclismos que teriam assolado a
terra ou inventamos leis sobre a duração da vida”. (Darwin, 1872, p. 57)
I. as causas por trás dos padrões de abundância dos organismos
são normalmente inesperadas;
II. essas causas podem ser desvendadas com investigação minuciosa.
A argumentação darwiniana sobre princípios
gerais
Capítulo IV da obra
• É o princípio segundo o qual variedades e espécies de um
mesmo ambiente tendem a se tornar cada vez mais distintas
Princípio da divergência
Analogia:
“[a] vantagem da diversidade de estruturas nos habitantes de uma mesma
região é, no fundo, a mesma que a da divisão fisiológica do trabalho nos
órgãos de um corpo individual [...]. Nenhum fisiologista duvida de que um
estômago adaptado a digerir só materiais vegetais, ou só carne, retira
mais alimento destas substâncias. De igual modo, na economia geral de
um ambiente, quanto mais extensa e perfeitamente diversificados estejam
os animais e plantas para diferentes hábitos, tanto maior será o número de
indivíduos que possam manter-se”. (Darwin, 1872, pp. 89-90)
A argumentação darwiniana sobre princípios
gerais
Argumento:
(P1) existe variação entre os indivíduos de qualquer espécie (princípio de
variação);
{P2} parte desta variação pode ser herdada (princípio da hereditariedade);
(P3) existe competição entre os indivíduos que habitam um mesmo
ambiente (princípio da luta pela existência);
{P4} a competição diminui a aptidão dos indivíduos (princípio de variação
na aptidão);
(P5) a competição é menor entre indivíduos com maiores diferenças nas
estruturas ou hábitos;
(C) as variedades e espécies de um mesmo ambiente se tornarão cada
vez mais distintas (princípio da divergência de caracteres).
Modelos (a) de caixa-preta e (b) de caixa-translúcida que apresentam
como resposta ou saída a divergência de caracteres.
ENTRADA MECANISMO SAÍDA
(a) FATORES AMBIENTAIS ? DIVERGÊNCIA DE CARACTERES
(b) FATORES AMBIENTAIS SELEÇÃO NATURAL DIVERGÊNCIA DE CARACTERES
A argumentação darwiniana sobre princípios
gerais
• Darwin trata o PDC junto ao PSN
• Dessa forma, Darwin avança de uma simples explanação
fenomenológica para uma explanação mecanísmica.