Panorama do Antigo Testamento [introdução da literatura do AT]

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Panorama do Antigo Testamento Ewerton Barcelos Tokashiki Curso de Teologia 2018

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Panorama do Antigo Testamento

Ewerton Barcelos Tokashiki

Curso de Teologia2018

Panorama do Antigo Testamento

Introdução

Este texto surgiu da necessidade de um roteiro de aula para adisciplina “Panorama do Antigo Testamento” no Instituto Bíblico deRondônia. Quando convidado para lecionar, em 2004, precisa de umtexto breve, mas que cumprisse o propósito de um curso de umsemestre. Além disso, havia a minha necessidade de estudar e prepararas aulas, bem como a dificuldade de obter literatura para os alunos,motivou-me escrevê-lo. Durante o semestre letivo questionado pelosalunos, e as dúvidas pessoais, levaram-me a acrescentar notas eoutros tópicos em cada capítulo. Criei algumas tabelas comparativaspara facilitar a visualização do conteúdo de algumas aulas, oumenções recorrentes.

Atualmente não leciono mais introdução ao AT. Mas nunca parei deler, ou pensar sobre o assunto. Após 2004 continuei aplicando cursosmodulares de AT nas igrejas que pastoreei, por isso, adquiri outroslivros que tratam do Antigo Testamento.1 Todavia, a urgência comoutros textos e assuntos, e a falta de oportunidade que justificassecontinuar escrevendo, fizeram com que não mais mexesse nele.2 Mas,surgiu o interesse do professor de compartilhar com a classe de AT daEscola Bíblica Dominical da Igreja Presbiteriana de Vila Guarani, porisso, propus fazer uma revisão pelo menos gramatical.

É verdade que o texto está longe de seu término. Mas ele podeser usado em aulas de cursos básicos e médios de teologia, ou emclasses de escola dominical. Este é um projeto em andamento, semdata, mas com o intuito de um dia tornar-se num livro.

1 Doravante será usada a abreviatura AT.2 A última revisão do texto foi em 2008.

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Sinceramente desejo que ele contribua com o conhecimentoestrutural do AT. A minha oração é que ele seja útil para despertarum continuado estudo da lei, narrativa, poesia, orações, cânticos etodo o conjunto literário que forma a revelação da antiga aliança.

“A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos doSenhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes. Ospreceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Osmandamentos do Senhor são límpidos, e trazem luz aos olhos. O temordo Senhor é puro, e dura para sempre. As ordenanças do Senhor sãoverdadeiras, são todas elas justas.” (Salmos 19:7-9, NVI)

O ANTIGO TESTAMENTO É PALAVRA DE DEUS

A revelação especial no Antigo TestamentoA mente infinita de Deus ao comunicar a revelação da sua

perfeita vontade entra em contato com o finito e imperfeito. Porisso, ocorre sob o controle do Espírito de Deus a acomodação darevelação. A Palavra de Deus é acomodada em categoria do pensamentohumano, bem como à sua linguagem comum. Ela passa a participar e semanifestar com, em, através e além da cultura do escritor. Cremos que aPalavra de Deus registrada no Antigo e no Novo Testamento, sendo escritapor autores humanos, foi inspirada por Deus (2Tm 3:16) garantindo asua inerrância, autoridade, suficiência e clareza. Absolutas verdadesexistem na mente de Deus, que através da revelação vêm à mente doescritor original, assim na inspiração esta revelação registrou-se emEscritura: a Palavra de Deus em palavras humanas. Com a preservaçãodos manuscritos temos os textos atuais que precisam sercriteriosamente comparadas todas as cópias para termos o que foi

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originalmente escrito pelos autores. Pela tradução obtemos as nossasversões que procuram transmitir fielmente o significado essencial dotexto original. Por fim, através da interpretação a verdade chega amente do leitor comunicando, em forma de proposições, a verdadeoriginal da mente de Deus.

A revelação é por natureza progressiva. Podemos adotar aseguinte definição de “revelação progressiva” oferecida por D.A.Carson que diz

Deus progressivamente revelou-Se em acontecimentos e nasEscrituras, culminando tais eventos com a morte-ressurreição-exaltação de Jesus Cristo, e culminando as Escrituras com ofechamento do cânon. O resultado é que os caminhos e propósitos deDeus foram progressivamente cumpridos não apenas nos eventosredentivos, mas também na explanação registrada nas Escrituras.3

Em cada estágio de desenvolvimento a revelação passou por umprocesso de transição entre os distintos períodos da história daredenção. Charles Hodge comenta que “sem nenhuma transição violenta,as mais antigas revelações deste mistério foram gradualmentedesvendadas, até que o Deus Triúno, o Pai, o Filho e o Espírito,surge no Novo Testamento como o Deus universalmente reconhecido detodos os crentes.”4 Há quatro características do desdobramentoprogressivo da revelação especial.5 Primeiro, a revelação especial éorgânica. Segundo, a revelação foi progressivamente manifestada.Terceiro, a revelação especial é histórica. Por último, que arevelação foi adaptável aos tempos em que foi entregue.

A inspiração da Escritura SagradaA Bíblia é plenamente inspirada pelo Espírito Santo.6 Por

inspiração plenária entendemos como sendo aquela completa e suficiente influênciado Espírito Santo estendendo-se a todas as partes das Escrituras, ou seja, todos osassuntos abordados, conferindo-lhes uma revelação autorizada de Deus,de modo que esta manifestação proposicional vem a nós por intermédioda mente e palavras de homens, todavia, elas serão no sentido estritoa Palavra de Deus. A divina influência, que envolveu os escritoressacros, obteve a sua extensão não somente aos seus pensamentos3 D.A. Carson, Teologia Bíblica ou Teologia Sistemática, p. 60.4 Charles Hodge, Teologia Sistemática, p. 337.5 Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, pp. 59-60.6 Lorraine Boettner, Studies in Theology, p. 11

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gerais, mas também as todas as palavras que eles usaram, de modo que ospensamentos que Deus desejou revelar-nos foram conduzidos com infalívelexatidão – que os escritores foram os instrumentos de Deus no sentidoque aquilo que eles disseram, foi de fato o que Deus disse.7

A inspiração além de ser plenária e verbal, também foi orgânica.Por inspiração orgânica entendo que os autores não foram anulados em suapersonalidade, em sua cultura, capacidade mental, estilo pessoal, maso Espírito Santo agiu em, com, através e além deles. Os autores, de ummodo sobrenatural, tiveram os seus impulsos pecaminosos inibidos, demodo que não contaminassem o resultado de seu registro. As suasfaculdades foram aguçadas, de modo que, mesmo tendo umsubdesenvolvimento cultural, as suas opiniões se tornaram tão sábiase verdadeiras, sendo evidente que ainda hoje, não conseguimosalcançar nem reproduzir obra literária de semelhante valor ecoerência como a Escritura Sagrada. O Espírito Santo capacitou homensa conhecer, interpretar e expressar a verdade de Deus com exatidão.Ele também os impediu de incluir qualquer afirmação que fossecontrária a essa verdade, bem como qualquer informação que lhe fossedesnecessária.

Os escritores sacros foram movidos e inspirados pelo EspíritoSanto, envolvendo tanto os pensamentos, como a linguagem, entretanto,eles foram preservados livres de todo erro, fazendo com que os seusescritos fossem inteiramente autênticos e divinos. A Escritura é aPalavra de Deus e não pode mentir (Nm 23:19; 1Sm 15:29; Tt 1:2; Hb6:18). Se a Bíblia contêm algum erro histórico, geográfico, oucientífico, como podemos ter certeza de que não terá erros morais (Sl12:6)? A Escritura tivesse erros, teríamos que questionar se Deusmentiu, ou errou em alguma de suas informações? Ele soberanamente nãopoderia livrar os seus escritores de errarem? Como poderíamos aceitara autoridade da Bíblia, que alega ser a verdade, ensinar a verdade,inspirada por um Deus verdadeiro, e que ama a verdade, se sua Palavraestivesse cheia de erros (Nm 23:19; 2Sm 7:28; Jo 17:17; Tt 1:2; Hb6:18)? A inerrância da Escritura está associada com a intenção damente do autor primário, ou seja, do próprio Espírito Santo. Ainerrância é a base de autoridade para toda a Escritura (Mt 5:17-20;Jo 10:34-35).

7 Cornelius Van Til na “Introduction” da obra B.B. Warfield, The Inspiration and Authority of the Bible, p. 9.

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O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

A palavra cânon teve a sua origem no termo hebraico qâneh (Ez40:3), que posteriormente foi transliterado para o grego kánon,significando regra (Gl 6:16). No século II d.C. tomou o significado de“regra de fé”, isto é, o seu uso passou a indicar o padrão de verdaderevelada. Entre 185 a 254 d.C., Orígenes usava a palavra aplicando-apara se referir aos livros inspirados, sendo que no século IV o seusignificado técnico era recebido por toda a Igreja.

Livros não canônicos mencionados no Antigo TestamentoO livro das Guerras do SENHOR (Nm 21:14).O livro das histórias de Salomão (1Rs 11:41).

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A história do rei Davi (1Cr 27:24).As crônicas de Samuel, o vidente (1Cr 29:29).As crônicas de Natã (1Cr 29:29).As crônicas de Gade, o vidente (1Cr 29:29)O livro da História de Natã, o profeta (2Cr 9:29).A profecia de Aías, o silonita (2Cr 9:29).As visões de Ido, o vidente (2Cr 9:29).O livro da História de Semaías, o profeta (2Cr 12:15).O registro das genealogias (2Cr 12:15).O livro da História do profeta Ido (2Cr 12:15; 13:22).

Os princípios da formação do cânon do Antigo TestamentoCritérios falhos de canonicidade:

A idade do livro não determina a sua canonicidade.O fato de ter sido escrito em hebraico.A sua concordância com a Toráh.

Critérios para se estabelecer a canonicidade:A inspiração divina. O livro foi escrito por um profeta de Deus? A autoridade do livro. O autor foi confirmado pelos atos de Deus?A autenticidade. A mensagem diz a verdade procedente e acerca de

Deus?O poder transformador. O livro veio com o poder de Deus?A aceitação pelo povo de Deus.

ESTRUTURA DO ANTIGO TESTAMENTO

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Divisão literária doTM

Personagens dahistória de Israel

Períodos Nações antigas

Estrutura Aliancista

TORÁH Adão Criação Unidade da raça

A criação

PROFETASAnterioresPosteriores

Noé Dilúvio A continuidade da raça humana

A preservação

ESCRITOSEmeth [Verdade]Meguiloth [Rolos]

Abraão Patriarcas Semitas: antiga Babilônia - Canaã

A promessa

Moisés Saída do Egito

Deserto do Sinai

A Lei

Josué - Samuel Juízes Egito O reino teocrático

Davi Monarquia AssíriaRoboão Divisão Reino

do Sul e do Norte

Peca Dispersão do Reino do Norte

Assíria

Isaías/Jeremias/Daniel

Exílio babilônico

Neo-Babilônia

Neemias Retorno à Judá e construção templo

Medo-Persa

Esdras Construção muros

Medo-Persa

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QUADRO COMPARATIVO DO ANTIGO TESTAMENTOVulgataLatina

Septuaginta

CânonHebraico

CânonProtestante

CânonCatólico

LEI (5)GênesisÊxodoLevíticoNúmerosDeuteronômio

HISTÓRIA(12)JosuéJuízesRuteSamuelReisCrônicasEsdrasNeemiasTobiasJuditeEsterMacabeus

POESIA (7)Jó

LEI (5)GênesisÊxodoLevíticoNúmerosDeuteronômio

HISTÓRIA(18)JosuéJuízesRuteSamuelReisParalipômenosCrônicas1-4 EsdrasEsterJuditeTobias1-4 Macabeus

POESIA (8)

TORÁ (5)GênesisÊxodoLevíticoNúmerosDeuteronômio

PROFETAS (8)Profetasanteriores (4)JosuéJuízes1-2 Samuel1-2 ReisProfetasposteriores (4)IsaíasJeremiasEzequiel12 profetasmenores

ESCRITOS (11)Emeth -

LEI (5)GênesisÊxodoLevíticoNúmerosDeuteronômio

HISTÓRIA (12)JosuéJuízesRute1 Samuel2 Samuel1 Reis2 Reis1 Crônicas2 CrônicasEsdrasEster

POESIA (5)JóSalmosProvérbios

LEI (5)GênesisÊxodoLevíticoNúmerosDeuteronômio

HISTÓRIA (14)JosuéJuízesRute1 Reis / 1Samuel2 Reis / 2Samuel3 Reis / 1Reis4 Reis / 2Reis1 Crônicas2 CrônicasEsdras-NeemiasTobias

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SalmosProvérbiosEclesiastesCantaresSabedoriaEclesiástico

PROFETAS(18)IsaíasJeremiasLamentaçõesBaruqueEzequielDanielOséiasJoelAmósObadiasJonasMiquéiasNaumHabacuqueSofoniasAgeuZacariasMalaquias

SalmosOdasProvérbiosEclesiastesCantaresJóSabedoriaSalmos deSalomão

PROFETAS(19)OséiasJoelAmósObadiasJonasMiquéiasNaumHabacuqueSofoniasAgeuZacariasMalaquiasIsaíasJeremiasBaruqueLamentaçõesCarta deJeremiasEzequielDaniel

verdade (3)SalmosProvérbiosJóMegilloth –rolos (5)CantaresRuteLamentaçõesEclesiastesEsterDanielEsdras-Neemias1-2 Crônicas

EclesiastesCantares

PROFETAS MAIORES(5)IsaíasJeremiasLamentaçõesEzequielDaniel

PROFETAS (12)OséiasJoelAmósObadiasJonasMiquéiasNaumHabacuqueSofoniasAgeuZacariasMalaquias

JuditeEster

POESIA (7)Jó SalmosProvérbiosEclesiastesCantaresSabedoriaEclesiástico

PROFETAS (20)IsaíasJeremiasLamentaçõesBarucEzequielDanielOséiasJoelAmósObadiasJonasMiquéiasNaumHabacuqueSofoniasAgeuZacariasMalaquias1-2 Macabeus

PENTATEUCO

TítuloGeralmente esta seção do Antigo Testamento é comumente conhecido

como toráh (Lei). O substantivo toráh se deriva da raiz yarah,“lançar” ou “projetar”, e significa orientação, lei, instrução.Edward J. Young observa que

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como designação dos cinco primeiros livros da Bíblia, esse termo éempregado em sentido mais restrito para destacar o elemento legalque forma tão grande porção desses livros. Esse emprego do termo,porém, não exclui as seções históricas ou de narrativa; antes,inclui-as, visto que formam o segundo plano ou arcabouçoapropriado para a legislação.8

A palavra “Pentateuco” é uma derivação de duas palavras gregaspenta (cinco) e teuchos (volume). Seu primeiro uso se encontra, talvez,nos escritos de Orígenes, em que menciona em Jo 4:25 a respeito “doPentateuco de Moisés”.

No AT o Pentateuco é chamado de:Lei: Js 8:34; Ed 10:3; Ne 8:2,7,14; 10:34,36; 12:44; 13:3; 2Cr

14:4; 31:21; 33:8.Livro da Lei: s 1:8; 8:34; 2Rs 22:8; Ne 8:3.Livro da Lei de Moisés: Js 8:31; 23:6; 2Rs 14:6; Ne 8:1.Livro de Moisés: Ed 6:18; Ne 13:1; 2Cr 25:4; 35:12.Livro do Senhor: Ed 7:10; 1Cr 16:40; 2Cr 31:3; 35:26.Lei de Deus: Js 24:26; Ne 8:18.Livro da Lei de Deus: Js 24:26; Ne 8:18.Livro da Lei do Senhor: 2Cr 17:9; 34:14.Livro da Lei do Senhor seu Deus: Ne 9:3.Livro de Moisés, servo de Deus: Dn 9:11, 13; Ml 4:4.

No Novo Testamento o Pentateuco é chamado de:1. Livro da Lei: Gl 3:10.2. Livro de Moisés: Mc 12:26.3. Lei: Mt 12:5; Lc 16:16; Jo 7:19.4. Lei de Moisés: Lc 2:22; Jo 7:23.5. Lei do Senhor: Lc 2:23-24.

Autoria do PentateucoO Pentateuco é uma obra contínua, completa, produzida por um só

autor inspirado. É possível que se tenha feito o uso de fontes oraise escritas sob orientação divina.

Negação da Autoria Mosaica

8 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 47.

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Alguns movimentos como o Deísmo e Racionalismo forneceram ocenário e contribuíram para o surgimento da Teoria Documentária.Estas duas correntes de pensamento, embora diferentes, concordam numacoisa: a negação de uma relação sobrenatural de Deus com o homem.Negando a premissa sobrenatural, não se pode sustentar a doutrina dainspiração, profecias, a providência divina, etc. A Bíblia torna-seum livro meramente humano. Foi quando começaram a questionar aautoria mosaica, e a sua data de escrita, como também a veracidade deseu conteúdo.

1. Thomas Hobbes em sua obra Leviathan (1651) afirmou que oPentateuco havia sido editado por Esdras a partir de fontesantigas.

2. Benedicto Spinoza declarou em Tractatus Theologico-Politicus (1670) queEsdras havia editado o Pentateuco com interpolação deDeuteronômio, questionando a autoria mosaica.

3. Jean Astruc, médico francês, foi o primeiro a dar expressãoliterária a essa teoria (em 1753). Limitou suas dúvidas apenas aautoria de Gn 1. Sua tese era que Moisés havia compilado o livrode Gênesis a partir de duas memórias (Memoires), e outrosdocumentos menores. Astruc identificou 2 fontes principais: FonteA, com o uso da palavra Elohim, e fonte B, o uso da palavraYahweh. Todavia, aceita Moisés como autor do livro todo. Alegavater encontrado em Gênesis mais de dez fontes e outrasinterpolações textuais!

4. Johann G. Eichorn em sua Einleitung (1780-1783), expandiu asideias de Astruc a todo o Pentateuco e não apenas a Gênesis.Negou a autoria mosaica. Dividiu Gn e Êx 1-2 em fontesdesignadas J e E, e afirmou que estas foram editadas por umautor desconhecido.

5. Alexander Geddes, padre católico escocês, investigou as“memoires” de Astruc. Em 1792-1800 desenvolveu a teoriafragmentária. Segundo a Teoria Fragmentária o Pentateucoconsiste em fragmentos lendários, desconexos entre si e demuitos autores desconhecidos, mas possuindo apenas um redator.Foi o primeiro a sugerir a existência de um Hexateuco. SegundoGeddes o Pentateuco foi compilado por um redator desconhecido apartir de numerosos fragmentos que tiveram sua origem emcírculos diferentes, um elohístico, e o outro javístico. A data

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da composição final do “Hexateuco” teria ocorrido em Jerusalém,durante o reinado de Salomão.

6. J. Vater (1802-1805) fez a divisão do Pentateuco em 39fragmentos. A data da composição final do Pentateuco foi noexílio babilônico, sendo que nesta época adquiriu a forma quehoje conhecemos.

7. A.T. Hartmann foi o primeiro a dizer que a escrita eradesconhecida no tempo de Moisés entre os israelitas (1831).Segundo ele, o Pentateuco era constituído de um grande número depequenos documentos pós-mosaicos, a que foram feitas adições, detempos em tempos, até se tornarem nos cinco livros. Consideravao Pentateuco como lenda e mito.

8. Wilhelm M. L. De Wette (1780-1849) em 1805 escreveu um livro,acerca de Deuteronômio, dando este livro como pertencente aotempo de Josias e escrito um pouco antes da sua reformareligiosa, em 621 a.C.

9. Heinrich Ewald (+1875) rejeitou a autoria mosaica. Segundo ele oPentateuco é composto de muitos documentos, mas enfatizando odocumento E como sendo básico.

10. Tuch foi quem deu expressão clássica à teoria. Deu ênfase adois documentos básicos, o E e o J, tendo datado o E no tempo deSaul, e o J no tempo de Salomão. Representa uma volta a TeoriaDocumentária primitiva. Segundo essa teoria, o documento básico,original era um só, o documento E (elohista), combinado com umsuplemento principal que era o documento J (jeovísta) formavam abase para o Pentateuco. No decorrer dos séculos novas adiçõesforam feitas a estes documentos, terminando na cristalização doatual conjunto de cinco livros. Todos estes críticos negaram aautoria mosaica do Pentateuco.

11. Hermann Hupfeldt, em 1853, ensinou que, além doDeuteronômio, havia três documentos contínuos que eram J,E1 eE2, combinados por um único redator.

12. E. Riehm (1854) defendeu que os documentos contínuos eramquatro e não três. Foi o primeiro a apresentar um quartodocumento principal, chamado D. A forma dos documentos seria E1,E2, J, D.

13. Reuss (1850) acreditava em cinco documentos principais J,E1, E2, d, P. Foi o primeiro a sugerir o documento P como sendo

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documento básico e também como sendo o último deles. Atribuiu aotempo de Esdras como data final da redação do Pentateuco.

14. Karl H. Graff, em 1865, afirmou a literatura de Êxodo,Levítico e Números, não pertencia ao período de Josias, mas aocativeiro babilônico. Rejeitou o documento E1 como sendo umdocumento independente. Para ele o E1 é igual ao P, um documentoprocedente do período do reinado de Josias. Para Graff a ordemdos documentos seria P–histórico, E, J, D, P-legal.

15. Abraham Kuenen (1869-1870) desenvolveu a teoria de Graff ea difundiu, principalmente na Alemanha. Em sua obra “A Religiãode Israel” (1869) argumentou que o P-histórico não poderia serseparado do documento P-legal. Sua teoria resultou em J, E, D,P.

16. Julius Wellhausen foi quem deu uma popular formulaçãoliterária à teoria, em sua obra Die Composition dês Hexateuchs, em1876. Com ele a teoria adquiriu o nome de Graff-Kuenen-Wellhausen. Causou um grande impulso ao criticismo moderno.

17. Herman Gunkel (1862-1932) e Hugo Gressmann (1877-1927)posicionaram-se contra as tendências do wellhausenismo clássico.Os grandes expoentes na crítica das fontes. Defendiam anecessidade de se descobrir o Sitz im Leben (contexto vital).Comparação com a mitologia antiga.9

18. Otto Eissfeldt em sua Einleitung in das Alte Testament (1934)defendia a classificação da literatura do AT em vários gêneros ecategorias. Tenta traçar o desenvolvimento (a influência pré-história literária) dos diferentes documentos. Propõem aexistência de um documento L (fonte leiga). Não possui umaconcepção adequada da revelação, considera a literatura do ATcomo de origem meramente humana.

19. R.H. Pfeiffer em Introduction to the Old Testament (1941) mostraerudição e apologia, basicamente anticristã. Ensinou aexistência de um documento S (Sul ou Seir), mas obteve aceitaçãopopular. Nega a revelação, milagres, etc.. Segundo Pfeifferestas são cousas subjetivas, sem prova científica e devem serdesconsideradas como fatos históricos.

20. Gerhard Von Rad (1934) defendeu a existência de mais doisdocumentos Pa e Pb. Propôs a teoria do Hexateuco.

9 D. Roos, Isagoge do Antigo Testamento: Pentateuco, p. 4.

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21. Aage Bentzen publicou em 1941 uma obra que esposa o métodohistórico-crítico que presta dedicada atenção ao estudo das supostasformas da literatura do AT.

A atual situação entre os estudiosos do ATAtualmente o liberalismo predomina nos estudos do AT em todo o

mundo. Todavia, há vozes conservadoras que se fazem ouvir com vastaerudição. Temos em português algumas obras acadêmicas publicas sobreIntrodução ao Antigo Testamento:

Liberais: que negam a unidade do Pentateuco e autoria mosaica1. Klaus Homburg, Introdução ao Antigo Testamento, Editora Sinodal, 1981.2. Aage Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, ASTE, 1968, 2 vols.3. E. Sellin & G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, Edições Paulinas,1978, 2 vols.4. Werner H.Schmidt, Introdução ao Antigo Testamento, Editora Sinodal.

Conservadores: que confirmam a unidade do Pentateuco e autoriamosaica1. Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, Edições Vida Nova,1964.2. Clyde T. Francisco, Introdução do Velho Testamento, JUERP, 1969.3. Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento?, Edições VidaNova, 1991.4. Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, Edições Vida,1996.5. W.S. Lasor, D.A. Hubbard & F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento,Edições Vida Nova, 1999.

É necessário fazermos uma breve observação a título deorientação. A “Introdução ao Antigo Testamento” de Lasor, Hubbard eBush, recentemente editada (1999), pela Edições Vida Nova, deve serestudada com ressalvas. Embora, seja indicado “para alunos,professores e estudiosos evangélicos conservadores”10 e os trêsautores pertencessem ao renomado Seminário Teológico Fuller de

10 Comentário na sobrecapa do livro.

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seguimento conservador11. Esta obra não pode ser considerada comototalmente conservadora, por alguns motivos muito relevantes:12

1. Nega a autoria fundamental de Moisés, pág.10;2. Adota a “teoria documentária” proposta pelo teólogo liberal

alemão Martin Noth, chamada “Tetrateuco” [Gn, Êx, Lv, Nm] e“História Deuteromística” [Dt, Js, Jz, Sm, Rs] (págs.11-14);

3. Defende uma “unidade temática-histórica” (pág. 3-6), e uma“unidade estrutural” (págs.14-15), mas não “literária-textual”;

4. Adota o pressuposto evolucionista hegeliano (pág.10);5. Enfatiza que a formação do Pentateuco “é uma antologia

literária” e o produto de “comunidade de fiéis ao longo demuitos séculos”(pág. 14).

6. Aceita como premissa a teoria da “crítica canônica” de B.S.Childs (neo-ortodoxo). Afirma que o importante é o produtofinal, ou seja, o cânon (pág.14), sem importar com o métodoutilizado, embora, não rejeita os pressupostos e métodosbásicos da teoria documentária de Martin Noth (veja as notas17-19 na pág. 754 da obra).

Uma avaliação crítica da Teoria Documentária.Devemos considerar algumas implicações da Teoria Documentária em

afirmar a formação final do Pentateuco num período pós-exílico (entre500-400 a.C.), quando a religião de Israel já estava bemdesenvolvida.

1. A Teoria Documentária não prova a não autoria de Moisés. Falandofrancamente, esta teoria nem sequer conseguiu provar a suaprópria veracidade científica, para tirar de sobre si o estigmade “teoria” a que está vinculada durante todos esses séculos.

2. Mesmo entre os adeptos desta teoria não há concordância acercada identificação e classificação dos textos e dos gruposdocumentais a que eles supostamente pertencem.

3. Aceitar a teoria JEDP anula a credibilidade do Pentateuco.Segundo a Teoria Documentária a história bíblica é forjada. Olivro de Dt foi inventado pelos profetas para reforçar a idéiada centralização. O uso do nome de Moisés no Pentateuco, era

11 Este seminário, embora conservador, tem adotado uma postura mais pluralista em sua teologia e métodos, perdendo sua identidade original.12 Os pressupostos teológicos e metodológicos, sobre a obra, podem ser encontrados todos no cap. 1, pp. 3-15.

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simplesmente para dar autoridade ao texto, mas ele nada tinha aver com a composição histórica do mesmo. O documento P, compostopara assegurar a aceitação do sistema sacerdotal por parte dopovo, fora baseado em lendas e crendices folclóricas. Comoobserva Stanley A. Ellisen “rejeitar a autoria de Moisés érejeitar o testemunho universal dos escritores bíblicos esolapar a credibilidade do Pentateuco e do resto da Bíblia. É daautoria de Moisés, e não apenas um ‘mosaico’ de diferentes”.13

4. Retira todo o caráter normativo do Pentateuco.14 Não teriaqualquer valor para o povo da época, já que nada acrescentariaao judaísmo. Se o Pentateuco fosse apenas um produto de umareligião tardiamente desenvolvida, e não o princípio regulador,não faria sentido chamá-lo de “a Lei”. Se ele não foi oprincípio regulador para os primeiros leitores, não teria valoralgum para os crentes de outras épocas, uma vez que os conceitoshumanos mudam e o que não foi normativo para um povo, pode nãoser para outro.

5. Invalida o esforço de composição. O relato do Pentateuco15 é ricoem detalhes e informações. Possui informações das origens edesenvolvimento dos povos, em especial do povo de Israel. Ossupostos autores teriam se dado a um imenso trabalho deimaginação para simplesmente manter uma ordem que já estavaestabelecida.

6. Devemos considerar a ausência de evidências histórica, oumanuscritológicas, de que estes supostos documentos (JEDP)tenham circulado em algum período soltos uns dos outros.16

7. Considera o autor mal intencionado. A Teoria Documentáriaimplica que um autor (ou autores), com um sentimentoprofundamente religioso e com o intuito de conduzir o povodiante de Deus, tenha se rebaixado a abandonar valores que querensinar e redigir uma mentira, colocando na boca de Deus, o queEle não disse, inventando “estórias” e fazendo com que todos aconsiderassem como verdadeiras!

8. Impossibilidade do sobrenatural no AT. Consequentemente aintervenção divina é negada: revelação, inspiração, encarnação,milagres, etc.

13 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 13.14 Oswald T. Allis, The Five Books of Moses, p. 10.15 Veja o “Esboço do Pentateuco”.16 Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of the Old Testament, p. 50.

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9. Negação da revelação especial. A Bíblia torna-se meramente umareferência literária semítica. Um livro antigo como outroqualquer, deixando de ser a auto-revelação proposicional deDeus.

Argumentos à favor da autoria Mosaica do PentateucoNão há no Pentateuco uma declaração objetiva de que Moisés tenha

escrito o Pentateuco. Todavia, há um testemunho suficiente, que apoiaa sua autoria. A ausência do nome do autor harmoniza-se com a práticado AT em particular, e com as obras literárias antigas em geral. Noantigo Oriente Médio, o “autor” era basicamente um preservador dopassado, limitando-se ao uso de material e metodologia tradicionais,conforme já foi observado.

Evidências InternasÊx 17:14 indica que Moisés estava em condições de escrever.Êx 24:4-8 refere ao “Livro da Aliança” (Êx 21:2-23,33).Êx 34:27 pela segunda vez a ordem de escrever. Refere-se a Êx

34:10-26, o 2º Decálogo.Nm 33:1-2 Moisés anotou a lista das paradas desde o Egito até

Moabe (caminhada pelo deserto).Dt 31:9,24 referência aos 4 livros anteriores do Pentateuco.Dt 31:22 refere-se a Dt 32.Narra detalhes de uma testemunha ocular. O número de fontes e

palmeiras (Êx 15:27), a aparência e paladar do maná (Nm 11:7-8).

Em Gn e Êx, o autor exprime um detalhado conhecimento do Egito, edo percurso do êxodo.

Conhecimento de palavras e nomes egípcios. O autor possuí umanoção estrangeira da Palestina. Os termos usados para asestações, tempo, fauna, flora são egípcios, não palestinos. Oautor estava familiarizado com a geografia egípcia e sinaítica.Menciona quase nada sobre a geografia palestina, o queevidencia seu pouco conhecimento da região.

Evidências ExternasLivro de Josué repleto de referências a Moisés como autor do

Pentateuco Js 1:7-8; 8:31; 22:9; 23:6; etc.Jz 3:4 declara “...por intermédio de Moisés.”

17

Expressões frequentes nos livros históricos: “lei de Moisés”,“livro da lei de Moisés”, “livro de Moisés”, etc. 1Rs 2:3; 2Rs14:6; 21:8; Ed 6:18; Ne 13:1; etc.

Evidências do NTCristo menciona passagens do Pentateuco como sendo de Moisés. Mt

19:8; Mc 10:4-5.O texto sobre a circuncisão (Gn 17:12) mencionado no NT (Jo 7:23)

como fazendo parte da Lei de Moisés. Restante do NT em harmonia com Cristo. At 3:22-23; 13:38-39;

15:5,21; 26:22; 28:23; Rm 10:5,19; 1Co 9:9; 2Co 3:15; Ap 15:3.

Moisés era qualificado para escrever o PentateucoAlguns críticos questionam não somente a autoria de Moisés, mas

inclusive até mesmo a sua historicidade. Acham inconcebível comotamanhos desastres puderam atingir um povo tão desenvolvido eorganizado, como eram os egípcios, e ainda assim não existir nenhumregistro desses fatos? Respondemos mencionando a contribuição doarqueólogo Alan Millard que declara

os faraós, e isso não é surpresa, não apresentam descrições dasderrotas sofridas diante dos seus vassalos ou sucessores. Se osmonumentos reais não podem ajudar, os distúrbios vividos peloEgito com as pragas e a perda da mão-de-obra poderiam ter geradomudanças administrativas. Como qualquer estado centralizado, ogoverno do Egito consumia grandes quantidades de papel (papiro), eboa parte da documentação era arquivada para consulta. Mas issotambém não ajuda, pois, como já vimos, praticamente todos osdocumentos pereceram, e a probabilidade de recuperar algum quemencione Moisés ou as atividades dos israelitas no Egito érisível.17

Moisés é reconhecido como o homem erudito na antiguidadebíblica. Nos dias de Moisés o Egito era a maior civilização do mundo,tanto em domínio, construções e conhecimento. Moisés teve aoportunidade de ter sido educado na corte real egípcia, recebendo ainstrução de disciplinas acadêmicas que no Egito já eram tãodesenvolvidas. Incluindo a arte da escrita, que há muito tempo erausada, de comum uso dos egípcios, inclusive entre os própriosescravos.17 Alan Millard, Descobertas dos Tempos Bíblicos, p. 80.

18

Como historiador, soube coletar as informações da rica tradiçãooral de seu povo. Mas além da tradição oral, Moisés dispôs, enquantoesteve no palácio real egípcio, do seu acervo literário. Erapossuidor de um vasto e detalhado conhecimento geográfico. O clima,vegetação, a topografia, o deserto tanto do Egito como do Sinai, e ospovos circunvizinhos lhe eram familiares. O modo como o autor doPentateuco descreve os eventos e lugares, indica que ele não erapalestino. Alguns fatos contribuem para esta conclusão 1) conhecialugares pelos nomes egípcios, 2)usa uma porcentagem maior de palavrasegípcias do qualquer outra parte do AT, 3) as estações e tempo que semencionam nas narrativas são geralmente egípcias e não palestinas,4)a flora e a fauna descritas são egípcias, 5)os usos e costumesrelatados que o autor conhecia e eram comuns em seus dias.18

Moisés como fundador da comunidade de Israel, também exerceu opapel de legislador, educador, juiz, mediador, profeta, libertador,sacerdote, pastor, historiador, entre outros. Possuía vários motivos,segundo as funções que exerceu, para prover ao seu povo alicercesmorais concretos e religiosos, e era preciso registrar e distribuir aLei entre o povo, de modo que ela fosse acessível a todos. Comoescritor teve tempo mais que suficiente. O Êxodo durou quarentaárduos e longos anos de peregrinação pelo deserto do Sinai. Apesar desua ocupação ativista, este seria um tempo mais do suficiente paraque pudesse escrever todo o Pentateuco, e ainda se necessárioalfabetizar todo o povo.19Ele mesmo reivindicou escrever soborientação de Deus (Êx 17:14; 34:27; Dt 31:9, 24). Nenhum outro autorda antiguidade foi assim identificado.

O que se entende por autoria Mosaica?20

1. Não significa que Moisés tenha pessoalmente escrito originalmentecada palavra do Pentateuco. Certamente ele lançou mão da“tradição oral”;21

2. É possível que ele tenha empregado porções de documentospreviamente existentes;

18 G.L. Archer,Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 499-507.19 Martinho Lutero apesar de possuir uma vida tão atribulada pode escrever (e em alguns casos reescrever) uma verdadeira biblioteca. A obra completa da edição alemãde Weimar possuí um acervo de 100 volumes.20 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 52.21 Oswald T. Allis, The Five Books of Moses (New Jersey, Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1964), pp. 12-14.

19

3. Talvez, tenha usado escribas ou amanuenses para escrever;4. Moisés foi o autor fundamental ou real do Pentateuco;5. Sob a orientação divina, talvez, tenha havido pequenas adições

secundárias posteriores, ou mesmo revisões (Dt 34);6. Substancial e essencialmente o Pentateuco é obra de Moisés. O

especialista em Antigo Testamento Robert D. Wilson comenta “queo Pentateuco, conforme se encontra, é histórico e data do tempode Moisés; e que Moisés foi seu autor real, ainda que talveztenha sido revisado e editado por redatores posteriores, adiçõesessas tão inspiradas e tão verazes como o restante, não existedúvida.”22

Unidade do PentateucoUnidade literária e textual

Pequenas adições e mudanças no Pentateuco podem ser admitidassem que se negue a unidade literária, e autoria mosaica da obra. Nãohá nenhuma evidência história ou manuscritológica de que váriosredatores tenham “costurado” os livros do Pentateuco. Não existenenhuma evidência de que em algum período da história o Pentateucotenha circulado como “pedaços” (fontes JEDP), e que algum redator, ouredatores, tenha compilado e dado sua formação final, como propõe aTeoria Documentária. A tradição judaica desconhece tal coisa.

Unidade históricaO Pentateuco possui uma linha histórica que se desenvolve linear

e progressivamente. A ligação cronológica entre os cinco livros,transmite-nos a ideia de que, é somente um livro de cinco capítulos.Podemos resumir a história de Israel registrada no Pentateuco daseguinte forma:

1. Deus é o criador de toda a raça humana, e dela formou para si umpovo.

2. Deus escolheu Abraão e seus descendentes, e lhes prometeu dar aterra de Canaã.

3. Israel foi para o Egito, e caiu na escravidão, da qual o Senhoros livrou.

4. Deus conduziu Israel a Canaã conforme prometeu.

22 Robert D. Wilson, A Scientific Investigation of Old Testament, p. 11.

20

Unidade temática1. Em Gn vemos a origem do universo e a aliança com Israel.2. Em Êx vemos a escravidão e libertação de Israel.3. Em Lv vemos a santificação de Israel.4. Em Nm vemos a recontagem do povo de Israel.5. Em Dt vemos a renovação da aliança com a nova geração de Israel

DivisõesO Pentateuco é uma unidade em cinco livros. Entretanto, entre os

eruditos liberais não há consenso quanto a isto. O pensamento críticomais antigo defendia que Dt não termina o Pentateuco, mas culmina como livro de Josué. Esta tese formulada por Julius Wellhausen e GerhardVon Rad, é conhecida como “Teoria do Hexateuco”(Gn+Êx+Lv+Nm+Dt+Js).Outro perspectiva crítica mais recente defende que Dt é umaintrodução teológica à subseqüente “História Deuteronomística”.Segundo a “História Deuteronomística” o livro de Deuteronômio fazparte de sequência de livros compilados por redatores. Formulada porMartin Noth:

Tetrateuco História Deuteronomística

Gn Êx Lv Nm Dt Js Jz Sm Rs

As teorias críticas de G. Von Rad e Martin Noth negam tanto aautoria, quanto a unidade do Pentateuco. Seguimos a divisãotradicional em cinco livros. Não há evidência de que o Pentateucotenha sido “mutilado” ou “acrescentado” como querem sustentar osdefensores de um “Tetrateuco” ou “Hexateuco”.

Apesar de novas teorias surgirem defendendo uma divisãodiferente da tradicional, mantemos que ela é a melhor, por sercoerente com a nossa opinião da autoria mosaica. Algumas evidênciasda unidade estrutural dos cinco livros, ou Pentateuco:1. O Pentateuco Samaritano2. A Septuaginta3. Filo, filósofo judeu de Alexandria (Egito)4. Flávio Josefo, historiador judeu

21

5. Designações judaicas posteriores se referiam ao Pentateuco como“os cinco quintos da Lei” (Talmud de Jerusalém, Sanhedrin 10:1 eKoheleth rabba Ec 12:11).

Esboço do Pentateuco23

O Pentateuco é formado por cinco livros que, juntos, abrangem umperíodo de tempo que se estende desde a Criação até a chegada do povode Israel aos limites de Canaã.

Evento histórico Referência bíblica

História primitiva com um contexto histórico amplo

Gn 1-11

História dos patriarcas Gn 12-50Opressão de Israel e preparativos para a saída do Egito

Êx 1-9

O êxodo e a chegada ao Sinai Êx 10-19O Decálogo e o Pacto no Sinai Êx 20-24Tabernáculo e o sacerdócio aarônico Êx 25-31A violação idolátrica do Pacto Êx 32-34Acréscimo de leis acerca do Tabernáculo

Êx 35-40

A lei das oferendas Lv 1-7Consagração dos sacerdotes e oferendas iniciais

Lv 8-10

As leis da purificação Lv 11-15O dia da expiação Lv 16Leis acerca da moralidade e pureza Lv 17-26Votos e dízimos Lv 27Censos e leis Nm 1-9A viagem desde o Sinai até Cades-Barnéia

Nm 10-20

Peregrinações até Moabe Nm 21-36Primeiro discurso Dt 1-4Segundo discurso com uma introduçãoexortativa

Dt 5-11

23 R.K. Harrison, Introdución ao Antiguo Testamento, vol. 2, p. 4.

22

Coleção de estatutos e direitos Dt 12-26Maldições e Bênçãos Dt 27-30Ascensão de Josué e a morte de Moisés

Dt 31-34

Importância do PentateucoAspecto social

O Pentateuco funcionou como uma constituição da teocracia deIsrael. Antes de refletir os costumes nacionais, o Pentateucotencionou ditá-los. G.L. Archer escreve que “estes seriam osalicerces morais e religiosos nos quais a sua nação haveria decumprir o seu destino”.24 Quando Deus deu a Moisés a Lei, Ele forneceuo princípio regulador que nortearia toda uma nação.

Aspecto científicoA origem do universo com um ato criativo de Deus. O movimento

Criacionista tem desenvolvido argumentos consistentes numa tentativade explicar cientificamente a origem do universo à partir depressupostos bíblicos encontrados, especialmente, no livro de Gênesis. Apresenta Deus como a “primeira causa eficiente”. Como tambémtransformações que podem ser explicadas pelo evento de um dilúviouniversal.

Aspecto teológicoRaízes do Cristianismo e judaísmo estão profundamente firmadas

no Pentateuco. Tudo se firma, ou tudo caí com a autoridade doPentateuco. No Pentateuco encontramos informações e pressupostos parao desenvolvimento da teologia. A origem do universo, sobre a vidahumana, pecado, “proto-evangelho”, cerimonial, culto, nomes de Deus,aliança, início de Israel, etc.

Aspectos históricosEsses livros são os únicos a traçar uma linha contínua a partir

de Adão. Todavia, não sua intenção apresentar uma história completade todas as gerações e raças, mas sim um relato altamenteespecializado da implantação do reino teocrático no mundo. Não é merahistória. Mas a história da redenção do ser humano pecador. História24 G.L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 508.

23

especial com um motivo teológico por trás. História apontando paraCristo.

Aspectos étnicosOs livros do Pentateuco descrevem o começo e a expansão das

divisões raciais do mundo.

Aspectos proféticosO Pentateuco é o fundamento para os temas proféticos mais

importantes da Bíblia. As profecias preenchem a interpelaçãohistórica através das demais revelações.

PropósitoEsta obra não é um mero ensaio literário, mas o registro

histórico de uma grande família, a descendência de Abraão. Toda ahistória gira em torno deste povo. A sua identidade étnica sedelineia nestes cinco livros. O Pentateuco procura situar o povo deIsrael dentro do mundo, especialmente em Gn, apresentando suasorigens e a origem dos povos que posteriormente viriam a cruzar o seucaminho. Tal conhecimento da história nacional seria tão importantepara o povo no deserto, quanto para o povo já estabelecido em Canaã.

O Pentateuco foi escrito para apresentar o Deus que libertou opovo de Israel. De modo que o povo pudesse adorar e obedecer a Deus,sabendo que Ele é verdadeiramente o único Deus e que é poderoso,santo e glorioso.

GÊNESIS

TítuloO título do Texto Massorético segue a prática hebraica de intitular

a obra com a primeira palavra, ou frase da mesma. O nome “Gênesis”procede da Vulgata Latina (Gn 1:1 e 2:4) que por sua vez é umatransliteração da LXX.25

25 H.C. Leupold, Exposition of Genesis, p. 5.

24

AutoriaNão há nenhuma declaração direta quanto ao autor. Isto ocorre

devido a uma característica literária hebraica poisa ausência do nome do autor harmoniza-se com a prática do AntigoTestamento em particular e com as obras literárias antigas emgeral. No antigo Oriente Médio, o “autor” era basicamente umpreservador do passado, limitando-se ao uso de material emetodologia tradicionais. A “literatura” era mais uma propriedadecomunitária que particular.26

Jesus aponta Moisés como o seu autor (Jo 7:23). Vide* Autoria eUnidade do Pentateuco

Gênero literárioÉ importante lembrar que Gênesis é uma obra narrativa hebraica.

Um trabalho que interessa diretamente os judeus, já que ela descrevea formação da nação Israelita, e também de outros povos no mundo. Olivro segue um plano lógico e procura evitar detalhes desnecessários.Os personagens são sempre apresentados como seres humanos reais,descrevendo seus defeitos e pecados cometidos, nunca como figurasmitológicas.

DataSegundo os arqueólogos, Moisés viveu num período da história

conhecida como “Idade do Bronze”, datado aproximadamente 1550-1200a.C.. E muitas datas tem sido sugeridas para a escritas do livro deGênesis, as duas mais relevantes são 1445 e 1290 a.C..

A data de 1445 a.C. é preferida por causa da evidência interna,que se encontra no livro de 1 Rs 6:1. Esta passagem relata queSalomão iniciou a construção do Templo no quarto ano do seu reinadosobre Israel, o qual “era 480 anos depois que os israelitas haviamsaído do Egito”. Lembrando que o quarto ano do reinado de Salomão foiaproximadamente 965 a.C., somando aos 480, o resultado é que o livrotenha sido escrito cerca de 1445 a.C.27

Local da escrita26 W.S. Lasor, D.A. Hubbard, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 9.27 R.F. YoungBlood, The Book of Genesis, pp. 14-15.

25

Gênesis foi, provavelmente, redigido durante a primeira parte daperegrinação pelo deserto de Sim, enquanto procurava instruir Israelsobre as verdades fundamentais divinas.

Extensão históricaO livro de Gênesis abrange um período de tempo maior do que

qualquer outro livro da Bíblia. Sua narrativa inicia na “pré-história” e vai até o ano 2500 a.C.. Começa com a criação do universoe termina com a morte de José, e o povo de Israel residindo no Egito.

Extensão geográficaA ação geográfica do livro é do vale da Mesopotâmia até o vale

do Nilo no Egito. Essa área é chamada de “Fértil Crescente”.

PropósitoPropósito teológico

Foi escrito para revelar ao soberano Deus como Criador, Juiz eRedentor do mundo, que escolheu o povo de Israel como canal debenção.28 Apresenta Deus como um Ser pessoal, com atributos egovernando os acontecimentos nos seus pormenores pela suaprovidência.

Propósito históricoFornecer uma cosmovisão da origem do universo.Descrever raízes genealógicas até a entrada de Israel no Egito.

Modelos de estrutura do livroEstrutura temática

Referência bíblica

Raça humana corrompida

1-11

Raça hebraica escolhida

12-50

Estrutura temática Referência bíblica

28 David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 4.

26

A criação do universo 1O começo da raça humana

1-5

O dilúvio 6-9A origem da diversidade das raças

10

A preparação de Abraão

11-25

A jornada de Isaque 21-27Os conflitos de Jacó 25-36A ida para o Egito 37-50

Estrutura textual de “...são estas as gerações de...” 29

Referência bíblica

Os céus e a terra 2:4Adão 5:1Noé 6:9Os filhos de Noé 10:1-2, 6Sem 11:10Terá 11:27Ismael 25:12Isaque 25:19Esaú 36:1, 9Israel 37:2

Esboço de GênesisO Começo da Humanidade...............................1:1-11:32A Criação do Mundo...............................................1:1-2:3O lugar do homem no mundo...............................2:4-25A Queda e consequências......................................3:1-4:26As Raças antediluvianas.......................................5:1-32ODilúvio..................................................................6:1-9:29

29 W.S. Lasor, D.A. Hubbard & F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 19.

27

A posteridade deNoé.............................................10:1-11:32A Vida deAbraão..........................................12:1-25:18Chamado de Abraão...............................................12:1-14:24Renovação e Confirmação da Aliança.................15:1-17:27Ló é poupado em Sodoma....................................18:1-19:38Abraão e Abimeleque.............................................20:1-18Nascimento e casamento de Isaque.....................21:1-24:67A Vida de Isaque e Sua Família....................25:19-26:35Nascimento de Esaú e Jacó..................................25:19-28Esaú vende a primogenitura a Jacó.....................25:29-34Isaque e Abimeleque II.........................................26:1-16A disputa em Berseba...........................................26:17-33Os casamentos de Esaú........................................26:34-35A Vida deJacó..............................................27:1-37:1Jacó no larpaterno................................................27:1-46Jacó foge deEsaú..................................................28:1-22Jacó com Labão na Síria......................................29:1-33:15Retorno à terra de Canaã.....................................33:16-35:20Os descendentes de Jacó e Esaú........................35:21-37:1A vida deJosé...............................................37:2-50:26José naInfância....................................................37:2-36

28

Judá eTamar........................................................38:1-30José promovido no Egito...................................39:1-41:57José e o reencontro com seus irmãos..............42:1-45:15José recebe Jacó no Egito..................................45:16-47:26Últimos dias de Jacó e profecias finais............47:27-50:14José garante perdão completo..........................50:15-26

Análise do ConteúdoGênesis se divide em duas partes principais: cap. 1-11 (a origem

do mundo e das nações) e cap. 12-50 (a origem de Israel). A primeiraparte se refere à história geral da raça humana, tendo umaperspectiva universal que é relacionada de alguma forma com outrastradições orientais. A narrativa vai progressivamente se estreitandoaté que a partir do cap. 12 a história da humanidade em geral dálugar à narrativa da história de Abraão e sua descendência até ofinal do livro.

Fontes de GênesisForam descobertos muitos escritos antigos do Oriente Próximo,

que trazem em si similaridades com as narrativas bíblicas. O Épico deGilgamesh que contém um épico Babilônico do Dilúvio, e a narrativa dacriação conhecido como Enuma Elish.30 Tais semelhanças são tão grandesque se levantou a questão de que tais obras serviram de material debase para a edição de Gênesis. Vejamos algumas propostas para asolução do problema:31

1. Alguns pensam em coincidência acidental, ou desenvolvimentoespontâneo. Nenhum estudioso criterioso poderia aceitar tais“coincidências”.2. As narrativas babilônicas teriam sido derivadas das hebraicas.Mas as narrativas babilônicas são mais antigas que as hebraicas.3. As narrativas hebraicas teriam sido derivadas das babilônicas.Muitos críticos pensam assim, e há possivelmente alguma verdadenisso. Abraão veio da Babilônia e deveria conhecer muita coisa dacivilização da sua terra. Entretanto, isto não explica o problemada aparência das duas narrativas.

30 John H. Walton, O Antigo Testamento em Quadros, p. 80-81.31 Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 37.

29

4. As narrativas hebraicas e babilônicas teriam uma origem comum,quer fosse tradição oral ou escrita. A raça humana começou nasproximidades dos rios Tigre e Eufrates. Dali se espalhou por todaa terra. Onde quer que fossem, esses homens levariam consigo astradições dos acontecimentos dos primeiros dias. Sendo aBabilônia o centro dos primeiros anos da vida humana, épresumível e natural que ali se encontrasse, estas mesmasnarrativas, mais bem delineadas do que em qualquer outro lugar.Entre tantas diferenças, as tradições babilônicas e bíblicas sãobem parecidas. Podemos crer que, a revelação divina dada a Moiséslivrou as narrativas bíblicas do politeísmo, tão comum a todos ospovos antigos.

Contribuições na Teologia do AT1. Deus como soberano Criador.2. Origem do pecado na raça humana altera radicalmente a criação

original.3. O julgamento de Deus se opõe ao pecado humano em todos os seus

aspectos.4. Deus preserva, sustenta e governa a criação e os homens por sua

graça.5. Deus estabelece uma aliança, com seu povo. Elementos do

desenvolvimento da Aliança em Gênesis:- Aliança da criação......2:15-17- Aliança da preservação..9:8-17- Aliança da promessa.....12:1-3.

6. Promessa messiânica- à Adão e Eva............3:15- à Sem...................9:25-27- à Abraão................12:1-3- à Judá..................49:8-12

Contribuição ao Cânon1. Sem Gênesis não teríamos como saber nada sobre “as origens”.2. Fornece um fundamento histórico, salvífico e teológico que

unifica toda a Escritura.

Questões debatidas na interpretação de GênesisCriacionismo e Evolucionismo

30

Argumentos bíblicos321. “No princípio Deus criou o céu e a terra”(Gn 1:1). A Bíblia

começa com Deus não propõe prová-lo, ou explicá-lo.2. “Pela fé entendemos que foi o universo formado pela palavra de

Deus, de maneira que visível veio a existir das coisas que nãoaparecem”(Hb 11:3).

3. Salvação e o testemunho de Jesus estão ligados intimamente com acriação (Mc 13:19; Rm 5:12-15).

Argumentos da Teologia1. Deus não age conforme a maneira proposta pela evolução (Mt 5:3-

10).2. A natureza do homem (criado à “Imagem de Deus”, diferente de

outros animais) argumenta contra o processo de evolução decriaturas baixas.

3. A consciência humana testemunha a verdade da criação (Rm 1:20).

Argumentos da Filosofia1. A evolução é ilógica e impossível de ser defendida de maneira

consiste.2. A Evolução pressupõe a casualidade, mas “nada não pode produzir

algo.”a) O efeito não pode ser maior do que a causa.b) O que não vive, não produz nada com vida.c) O que falta de personalidade, não produz personalidade.d) O que falta inteligência, não produz inteligência.

Argumentos da Ciência1. A lei da termodinâmica diz que cada “sistema” do universo tende

a se gastar com o tempo, piorar, e a se tornar mais e maiscaótico, não mais ordenado e melhor.

2. Quanto às mutações. 99,9% de todas as mutações são prejudiciais.A probabilidade de se ter uma série de mutações úteis épraticamente zero.

3. O crescimento da população mundial é de 2% ao ano. Se fosseuniforme, então o mundo não aguentaria a população hoje. Se o

32 Para informações mais detalhadas vide* David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 6.

31

mundo cresceu 2% ao ano, e se a terra possuí alguns bilhões deanos, então onde estão todos os fósseis de tantas pessoas?

4. Quanto aos fósseis, não há provas definitivas de nem sequer um eloperdido! Tanto a teoria da Evolução como o relato da Criaçãoexigem “olhos da fé”. É impossível provar, cientificamente, umprocesso ou evento que aconteceu há tantos anos atrás, porqueciência empírica exige a experiência da observação, ou a provada repetição.

Os “dias” de Gênesis 11. Só pela palavra hebraica yom é impossível calcular, gramatical e

textualmente, a sua extensão temporal.2. O problema de Gn 1 não é exegético, mas hermenêutico. Isto

significa dizer que os pressupostos filosóficos de queminterpreta inevitavelmente influenciará nos resultados.

A historicidade de AdãoA antiguidade da raça humanaA identidade dos “filhos de Deus”A extensão do Dilúvio: universal ou local?

Fatos Interessantes1. Gênesis é o quarto maior livro da Bíblia.2. A sua narrativa é seletiva, e não inclusiva. É uma interpretação

da história, escolhendo os pontos salientes do desenvolvimentoda história da salvação.

3. Os começos em Gênesis (o mundo, a raça humana, o casamento, afamília, o pecado, a promessa de redenção, a civilização, osidiomas e as nações, a raça hebraica, o julgamento, a morte, ador, o sacrifício, a poligamia, o shabbath [descanso], ogoverno).

4. Respostas às grandes perguntas da alma (de onde veio o homem?Como surgiu o pecado? Como pode o pecador voltar para Deus? Comopode o homem agradar a Deus?).

5. O messias como semente da mulher (3:15); de Abraão (22:18); deIsaque (26:4); de Jacó (28:14); de Judá (49:10).

6. Os grandes julgamentos sobrenaturais como a maldição sobre aqueda (3); o Dilúvio (6-9); a confusão de línguas (11:1-9); adestruição de Sodoma e Gomorra (19:23-29).

32

ÊXODO

TítuloO título em português deriva tanto da LXX, quanto da Vulgata

Latina. Ambas as versões se baseiam em Êx 19:1.

AutoriaA autoria mosaica é confirmada com a estreita conexão e unidade

com os livros restantes do Pentateuco. Neste livro, Moisés coloca-secomo o personagem principal (17:14; 24:4; 25:9; 36:1).

Data e local da escritaEscrito entre 1445-1405 a.C. durante a primeira parte da

caminhada no deserto de Cades-Barnéia.

Extensão histórica1. Narra período inicial da vida de Moisés: 40 anos no Egito.2. Narra período preparatório de Moisés: 40 anos em Mídia.3. Narra período êxodo com o povo de Israel: 2 anos (Êx 40:17)

Extensão geográficaDescreve o período em que o povo de Israel esteve no deserto de

Sim, na península do Sinai, sendo preparado para ir à terra de Canaã.

PropósitoPropósito literário

Dar continuidade histórica entre Gn e o restante do Pentateuco.Isto se percebe pela conjunção hebraica w (e)que aparece na primeirafrase do livro.

Propósito históricoFoi escrito para descrever o nascimento da “nação de Israel” que

eventualmente traria benção para o mundo, para combater a idolatria erevelar a identidade do Deus de Israel (YHWH). Narrar como Deus

33

livrou Israel da escravidão e da idolatria no Egito, conduzindo-o aum lugar de destaque de povo exclusivamente seu.

Estrutura do LivroA libertação do Egito (1-19)

A entrega da Lei (20-34)

A construção do Tabernáculo (35-40)

A libertação (1-12)

As leis: civil, rituais, moral (20-31)

A saída e jornada até o Sinai

Apostasia e retorno (32-34)

EsboçoLivramento do Egito e jornada para o Sinai........1:1-18:27

1. Opressão dos hebreus no Egito..................1:1-222. Primeiros 40 anos de Moisés....................2:1-253. Chamado no monte Horebe........................3:1-6:274. Pragas e Páscoa................................6:28-13:165. Início do êxodo................................13:17-15:216. Jornada para o Sinai...........................15:22-18:27

Aliança no Sinai...................................19:1-24:18Teofania no Sinai..............................19:1-25Garantia da Aliança............................20:1-21Livro da Aliança...............................20:22-23:33Ratificação da Aliança.........................24:1-18

Instruções quanto ao Tabernáculo e aos cultos.....25:1-31:18Tabernáculo e utensílios................25:1-27:21; 29:36-30:38Sacerdotes e consagração......................28:1-29:35Artesãos do Tabernáculo........................31:1-11Observância do Shabath.........................31:12-18

Violação e renovação da Aliança....................32:1-34:351. Bezerro de ouro................................32:1-352. Presença de Deus com o povo....................33:1-233. Renovação da Aliança...........................34:1-35

Construção do Tabernáculo...........................35:1-40:381. Oferta voluntária..............................35:1-292. Chamado dos artesãos...........................35:30-36:13. Construção do Tabernáculo......................36:2-39:43

34

4. Conclusão e dedicação do Tabernáculo...........40:1-38

CronologiaHá uma discordância entre os estudiosos de AT quanto à data do

êxodo de Israel. Aceitamos que a data do êxodo ocorreuaproximadamente entre 1440 a.C., todavia há outra data que concorrecom esta datando o êxodo em 1290 a.C..33A data de 1290 a.C. esposadapor alguns estudiosos é hipotética. Está baseada na teoria de queRamessés II (1292-1232) construiu as cidades-celeiros de Pitom eRamessés no Delta. Porém, esse ponto de vista está cria umadificuldade na cronologia bíblia. Se Moisés liderou o êxodo em 1290a.C., então entraria em desacordo a ocupação de Jericó e Canaã nofinal do século XV.

A data de 1440 a.C. é preferível pelas seguintes razões:

1. No livro de 1 Rs 6:1 registra o êxodo 480 anos antes de Salomãocomeçar a construir o templo, o que está fixado em 967 a.C.

2. O texto de Jz 11:26 coloca a conquista da Transjordânia cercade 300 anos da época de Jefté (1100 a.C.).

3. Em At 13:17-20 lemos que o período aproximado da saída do Egitoa Samuel como sendo de 450 anos. Samuel morreu por volta de 1020a.C.

4. Se aceitarmos 1290 como data do êxodo, seremos forçados aadmitir a ocorrência desse evento entre a data 1210 a.C., pois atribulação e a construção das cidades começaram antes de Moisésnascer, oitenta anos antes do êxodo. Todavia, isso é impossívelde ser historicamente demonstrado até mesmo por aqueles queadvogam aquela data.

Contribuições na Teologia do AT1. O nome de Deus é derivado do verbo hebraico haya [ser]. A

expressão “Eu sou o que sou” (Êx 3:14) indica o atributo divinode imutabilidade do seu Ser na continuidade da Aliança de “Abraão,Isaque e Jacó” (Êx 3:6).

2. Que função tinha a Lei?a. Ela declara o propósito divino no relacionamento de cada

parte da vida com a vontade soberana de Deus.

33 Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 139-152.

35

b. Indicava a escravidão da vontade humana ao seu egoísmo einteresse próprio.

c. Demonstrar que o homem estava sob a condenação divina eprecisava depender de Deus para a sua salvação (o que eraexpresso pelos sacrifícios).

d. O aspecto moral da lei apontava ao homem sua necessidade. Oaspecto cerimonial apontava ao homem a graça redentora deDeus, que haveria de se consumar em Cristo.

e. A Lei não foi dada com o propósito de salvar (Gl 3:31; Rm10:5). Os 6. O fato de estarmos sob um novo sacerdócio edesfrutarmos de uma nova aliança indica que a Lei mosaicajá não é um princípio governante em nossas vidas como o erana antiga aliança (Hb 7:11-12; 2 Co 3:7-11).

Fatos interessantes1. A vida de Moisés se divide em três grandes períodos de 40 anos:

Egito, deserto e êxodo.2. Descreve os primeiros milagres na Bíblia.3. Instituição da Páscoa.4. Narra a construção do Tabernáculo.5. Os Salmos e os profetas olharam para trás e visam os eventos do

êxodo como o milagre mais impressionante na história de Israel.

Dificuldades de interpretaçãoO fato de Deus endurecer o coração de Faraó não elimina a sua

responsabilidade como um agente livre? A resposta a esta questão deveharmonizar-se com o fato de que Deus prometeu endurecer o coração deFaraó (7:3), mas não o fez contra a sua vontade (5:1-4). Por cincovezes o endurecimento é voluntário (7:13; 7:22; 8:15; 8:32; 9:7), sódepois se diz que Deus endureceu o coração de Faraó (9:12; 10:20;10:27). Faraó ainda é responsabilizado em 9:34.

Tipologia no Tabernáculo34

34 David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 13.

36

As dez pragas35

Primeiro conjunto Segundo conjunto

Terceiro conjunto

Estrutura

1. Água transformada em sangue

4. Moscas 7. Chuva de granizo

Moisés se apresenta a Faraó

2. Rãs enchem a terra 5. Gado morre

8. Gafanhotos

Moisés “chega-se”a Faraó

3. Piolhos 6. Feridas 9. Escuridão Moisés não vai a Faraó

Cronologia das dinastias egípcias O Egito teve um desenvolvimento muito longo, passando por várias

modificações:36

- Pré-História (cidade-estado)- Período Faraônico (com 31 dinastias)

- Antigo Império 2800-2200 a.C.- Médio Império 2200-1600 a.C.- Novo Império 1580-1080 a.C.- Baixa Época 1080-330 a.C.

- Período Egito-helenístico 330-30 a.C.- Período Egito-romano 30 a.C.- 395 d.C.

35 W.S. LaSor, D.A. Hubbard, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 74.36 J.I.Packer, Merril C.Tenney & W. White Jr., op. cit., pp. 121-133.

37

LEVÍTICO

TítuloO nome do livro no original hebraico é “e Ele chamou...”.

Entretanto, o nome adotado nas traduções é ambíguo, já que “levitas”pode descrever (1) os membros da tribo de Levi, como a casa de Arão,cuja descendência sacerdotal desempenha um papel importante no livro;ou, (2) somente os oficiais menores cuja função era servir aossacerdotes.

AutoriaA autoria é confirmada no próprio livro pelo fato de o texto

declarar cinquenta e seis vezes: “disse o Senhor a Moisés”. Nenhumoutro livro da Bíblia tem uma confirmação tão acentuada da autoriamosaica quanto este. É também um dos livros confirmados por Jesuscomo sendo de Moisés, conforme Mt 8:4.

Data e local da escritaMoisés deve ter escrito este livro logo após o Êxodo,

aproximadamente 1440 a.C. Este livro foi escrito no deserto do Sinai.

PropósitoPropósito litúrgico.

Regulamentar quanto ao culto no tabernáculo e quanto à santidadena vida. Israel tornara-se uma nação teocrática. A aliança foraratificada com a nova geração. O Tabernáculo erigido. O povo estavadiante do Sinai. Antes do povo prosseguir em sua jornada até a terrade Canaã, era necessário que conhecessem as leis que os orientariamem sua adoração ao Senhor no Tabernáculo, e o calendário com datassolenes.

Propósito teológico.

38

Revelar que a santa presença de Deus entre o seu povo exige umaaproximação baseada em sacrifícios e a separação nacional de todacontaminação e impureza.

Propósito pastoralConvocar o povo de Deus para a santidade pessoal. Os muitos

rituais são usados como auxiliares visuais para retratar o Senhorcomo o Deus Santo, e para enfatizar que a comunhão com o Senhor deveser na base da expiação pelo pecado e vida obediente.

Estrutura do LivroA lei dos sacrifícios

1:1-7:38

A consagração dos sacerdotes

8:1-10:20

A separação das coisas impuras

11:1-15:33

As exigências para asantidade

16:1-25:55

Recompensa: benção emaldição

26:1-46

Os votos e os dízimos

27:1-34

EsboçoAs leis dossacrifícios............................................1:1-7:38

1. Oferta queimada (holocausto).................1:1-172. Manjares (cereal)........................................2:1-

16

3. Sacrifícios pacíficos (comunhão)...............3:1-174. Oferta pelo pecado e culpa.........................4:1-6:7

Consagração dossacerdotes.....................................8-10

1. Consagração dos filhos de Arão.................8:1-362. Arão como sumo Sacerdote........................9:1-243. Julgamento contra Nadabe e Abiu............10:1-20

39

Separação das coisasimpuras.................................11:1-15:33

1. Comidas puras e impuras............................11:1-15:332. Purificação das mães após o parto.............12:1-83. Regulamentos sobre a lepra.........................13:1-14:574. Purificação dos corrimentos corporais......15:1-33

Dia daExpiação...................................................16:1-34O lugar dosacrifício................................................17:1-16A santidadeprática................................................18:1-20:27Deveres dossacerdotes..............................................21:1-22:33As santasconvocações..............................................23:1-44Penalidade pelaprofanação......................................24:1-23Ano de descanso ejubileu........................................25:1-55Benção emaldição....................................................26:1-46Votos edízimos.......................................................27:1-34

Análise do Conteúdo

40

Há cinco princípios básico que operam em todas as parte dolivro.37

1. Como povo singular de Deus, o Israel redimido deve: primeiro,conservar-se puro, isto é, separado do mundo para servir eprestar culto ao único Deus verdadeiro; segundo, conservaraberto o acesso a Deus, através da propiciação substitutiva.

2. Visto que este acesso a Deus é possibilitado unicamente pelagraça, o fiel só pode comparecer perante Deus exclusivamentepelo meio que o próprio Deus definiu. Portanto, todos osregulamentos quanto ao rito e ao sacrifício tem de surgir daparte de Deus, não do homem.

3. Como povo santo, espiritualmente “casado” com o Senhor, Israeldeve abster-se de qualquer falta de castidade sexual, dequalquer violação dos vínculos nupciais. Precisa afastar-se dequalquer contato com a corrupção e a deterioração (inclusivecadáveres e doenças imundas).

4. Nada de corrupto, ou passível de rápida deterioração pode seroferecido como oferta a Deus. Isto exclui a levedura, o leite(que azeda rapidamente), o mel (que fermenta), porcos(associados pelos pagãos com o culto às divindades do inferno),roupas feitas de materiais diferentes (tais como a lã com olinho, que tipificam uma mistura entre o santo e o profano).

5. O ano religioso é denominado pelo número sagrado 7 (simbolizandoa obra perfeita de Deus). Portanto, a cada sétimo ano é um anode descanso para a terra lavrada; depois de 7 vezes 7 anos, oquinquagésimo ano é santificado como jubileu, no qual as terrashipotecadas tinham que ser devolvidas aos seus donos originais;a Páscoa é celebrada no fim do segundo período de 7 dias do mêsde Abib, isto é, no fim do dia 14; a festa de pães asmos secelebra por 7 dias, depois do dia 14; a festa do Pentecostes écelebrada depois de 7 períodos de 7 dias que se seguem à ofertado molho movido (no quinquagésimo dia); o sétimo mês, Tisri, éespecialmente santificado por três observâncias sagradas: afesta das Trombetas, o dia da Expiação, a festa dosTabernáculos; a festa dos Tabernáculos se celebra durante 7 dias(dia 15 até 22 de Tisri), mais um oitavo dia para a convocaçãofinal.

37 Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 158-159.

41

Contribuições na Teologia do AT1. Os sacrifícios cumpriam uma dupla função. Eles estavam ligados à

manutenção do indivíduo como membro da sociedade teocrática queera Israel. Assim, ele sobrevivia como membro da aliança setrouxesse regularmente os seus sacrifícios (Lv 1:4; 4:26-31;16:20-22). Por outro lado, havia algum vislumbre de que Deushaveria de lidar com os efeitos espirituais do pecado de maneiradefinitiva e, através da fé, havia uma eficácia espiritual nossacrifícios (Rm 3:25).38

2. A expiação por substituição. Se o transgressor quer salvar suavida, a expiação pelo pecado deve ser feita por substituição. Opecador deve trazer uma oferta que será seu substituto. Ninguémpode ser seu próprio salvador.

Contribuição ao Cânon1. Revela a importância de santidade no povo.2. Provê o sistema religioso para a nação.3. Estabelece alguns padrões de relacionamento entre Deus e o

homem.4. Dá um profundo sentimento de horror ao pecado.

Fatos interessantes1. Deus antecipou medicina em muitos pontos da lei.39

2. De todos os livros do AT, Levítico é o que encontra maiorcorrespondência tipológica no NT.

3. Deus decretou vários feriados para o povo de Israel.4. Era o manual de instruções para os sacerdotes e levitas.5. Os termos “imundo e impuro” não significam “cheio de pecado”,

mas “não adequado para estar na presença de Deus”. Não significaque a pessoa não pode adorar a Deus, só que ela não poderiaentrar no Tabernáculo da Sua presença.

6. Enquanto os outros livros tratam mais de história, Lv refere-sequase somente a leis (com exceção dos caps.8-10). A sualegislação é primordialmente sobre ritos religiosos. Trata daorganização espiritual do povo, como Êxodo e Números tratam daorganização civil, social e militar.

38 David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 11.39 Sobre este assunto veja S.I. McMillen, A Provisão Divina Para a Sua Saúde (São José dos Campos, Editora Fiel).

42

7. A santidade consumidora de Deus. O impuro não subsiste diante dototalmente puro. O pecado é coisa séria. Implica em morte.

NÚMEROS

TítuloO hebreus deram-lhe o nome de “no deserto...” devido ao ser a

primeira frase. Os tradutores da LXX chamaram-no de “números” porcausa do censo registrado nos capítulos 1-3 e 26.

AutoriaA autoria mosaica é confirmada:No próprio livro por sua estreita conexão com Lv e Dt.Pelas inúmeras afirmações “o Senhor falou a Moisés”.Deus ordenou que Moisés registrasse (Nm 33:2).Jesus atribui Lv à Moisés (Jo 3:14; 5:46).Apóstolos atribuem autoria à Moisés (1 Co 10; Hb 3; 4; 10:28).

Data e local da escritaConcluído em 1405 a.C. no deserto do Sinai (Nm 1:1).

Extensão históricaA narrativa de Nm começa com a ordem de fazer o recenseamento,

cerca de maio de 1444 a.C., e termina com uma assembleia às margensdo Jordão, pouco antes da morte de Moisés. A data de Abril para asegunda Páscoa é dada retroativamente a fim de explicar a dataopcional para celebrarem a Páscoa mais tarde (Nm 9). A duração totaldos acontecimentos de Nm é de 38 anos.

Extensão geográfica1. Recenseamento e preparo para a marcha...............1-10.2. Jornada até Cades-Barnéia. Missão de espionagem.....11-14.3. Peregrinação no deserto em torno de Cades...........15-20.4. Jornada em torno de Edom até as campinas de Moabe...36

Propósito

43

Propósito didáticoEscrito para demonstrar à nova geração de Israel (pronta para

entrar na terra da promessa) as consequências da descrença e dadesobediência, ou a fidelidade ao Deus da aliança. O livro de Nmcomeça com um relatório sobre os preparativos feitos para prosseguira jornada.

Propósito teológicoPreservar um registro da paciência de Deus para com o povo que

Ele escolhera, e demonstrar que a redentora misericórdia divina nãoimpediu que Ele os castigasse severamente por causa dos pecadosdeles. Apesar de tê-los redimido graciosamente, Ele não os libertoupara uma vida fácil, permissiva e independente.

Estrutura do livroA estrutura aponta para o itinerário israelita40

Referência bíblica

Preparo para a partida do Sinai 1:1-10:10No deserto de Parã, em Cades-Barnéia

13:1-20:13

Jornada do Sinai até as planíciesde Moabe

10:11-22:1

Episódios nas planícies de Moabe 22-36

A estrutura aponta para a transiçãodas duas gerações41

Referência bíblica

Organização da primeira geração 1-10Anarquia da primeira geração 11-20Reorganização da segunda geração 21-36

EsboçoPreparação para a jornada do Sinai.....................1:1-10:10

Censo do exército..........................................1:1-2:34

Censo e deveres dos levitas..........................3:1-4:49Impureza é excluída do acampamento.......5:1-31

40 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 91.41 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 47.

44

Nazireus..........................................................6:1-27

Tesouros dedicados ao Tabernáculo..........7:1-89Levitas instalados no seu ofício...................8:1-26Observância da primeira Páscoa anual.......9:1-14Seguindo a coluna de nuvem.......................9:15-10:10

Do Sinai até Cades-Barnéia...............................10:11-14:45

Primeira parte da jornada............................10:11-36Murmurações................................................11:1-

15Setenta anciãos profetizam.........................11:16-35Julgamento contra Miriã e Arão................12:1-16Recusa de entrar na terra de Canaã...........13:1-14-45

De Cades-Barnéia até as Planícies de Moabe.....15:1-21:35Diversas

leis..................................................15:1-41Rebelião de Core..........................................16:1-

17:13Relacionamento entre sacerdotes e levitas.18:1-32Água de purificação pela impureza............19:1-22Morte de

Miriã...............................................20:1Moisés fere a rocha em Meribá...................20:2-13Edom proíbe a passagem de Israel.............20:14-21Morte de

Arão...............................................20:22-29Murmuração e serpente de bronze.............21:1-20Conquistas permanentes...............................21:21-35

Encontro com os moabitas e Balaão.....................22:1-25:18Balaque contrata os serviços de Balaão.....22:1-25:18A tríplice benção de Balaão.........................23:1-24:25O pecado de Baal-peor................................25:1-18

Preparativos para a conquista de Canaã.............26:1-36:13Planos para a conquista de Canaã..............26:1-27:23Leis sobre sacrifícios e votos......................28:1-30:16A vingança contra os midianitas................31:1-54Divisão da Transjordânia............................32:1-42

45

Resumo das viagens do Egito até Moabe.33:1-56Planos a divisão de Canaã...........................34:1-36:13

Análise do conteúdoA lição ressaltada em Nm é que o povo de Deus só pode avançar na

medida de sua disposição em confiar totalmente nas suas promessas, dependendo totalmente da capacitação divina.

Fatos interessantes1. Em Nm a narrativa histórica tem mais espaço que em Lv e Dt.2. O livro de Nm descreve uma jornada de 40 dias que levou 40 anos.3. Uma nação inteira morreu no deserto, com exceção de três homens:

Moisés, Josué e Caleb.4. 38 anos de peregrinação são ignorados na história.5. A palavra “número” ocorre 125 vezes neste livro.6. Dois trechos extensivos no NT usam muito o livro: 1Co 10 e Hb

3:7-4:6.7. Os líderes do povo de Deus tem grande responsabilidade como

exemplos para o povo (20:12) e recebem maior julgamento peladesobediência.

8. A federação das tribos de Israel: cada tribo possuía seu próprioexército e estava estrategicamente disposta no acampamento.Todas as tribos estavam sob a teocracia de Deus, sendo que oponto de convergência das tribos era o Tabernáculo. A “Lei deMoisés” era o princípio regulador da nação. Os dias de festasreligiosas serviam para renovar a lealdade tribal à aliança ejulgar questões de relevância nacional entre as tribos.

9. As cidades de refúgio (Nm 35:5-34).

DEUTERONÔMIO

TítuloO título hebraico {yrbdh hL) (“estas são as palavras...”) segue

a tradição de se nomear os livros pela sua primeira frase. Deve-seobservar que o título da LXX e Vulgata Latina está baseado numa

46

tradução incorreta de Dt 17:18. Não corresponde ao fato, pois,segundo Dt 17:18 o rei deveria providenciar uma cópia e não umasegunda lei.42

AutoriaAté recentemente, os críticos adeptos da Teoria Documentária

afirmavam que esse livro havia sido escrito no tempo de Josias (621).Esta teoria, porém, foi posta de lado em razão do pouco acordo quantoà data, ou ao autor do livro.

A autoria mosaica tem forte apoio, tanto no próprio livro. Àsemelhança da maioria dos escritores bíblicos, Moisés escreveu naterceira pessoa, referindo-se a si mesmo 38 vezes neste livro. Poucoantes da sua morte, declarou que havia escrito esta lei antes deentregá-la aos sacerdotes (DT 31:9, 24-26). Além das muitasreferências do AT à “Lei de Moisés”, há muitas confirmações de Jesuse dos apóstolos (Mt 19:8; Mc 10:3; Jo 1:17; 5:46; At 3:22; Rm 10:5;1Co 9:9).

As informações aparentemente discordantes da Lei em Êx e Dt nãonegam a autoria de Moisés. Enquanto um pseudo-Moisés não se desviariade Êx, o próprio Moisés dificilmente apenas repetiria o original. Asdiferenças são devido a novas circunstâncias que precisavam dessaposterior elaboração do código sinaíta para as novas condições.

DataMoisés especificou a data de 1 de fevereiro de 1405 a.C., quando

reuniu o povo para entregar este conjunto final de discursos (1:3).Apesar deste pronunciamento ter sido feito, provavelmente, emdiversas sessões, a expressão “hoje” foi repetida 67 vezes em todo olivro.

Local da escritaNa planície de Moabe (Dt 1:1). O povo estava próximo das margens

do Jordão, todos ansiosos em conquistar Canaã. Tendo já dominado aenorme área da Transjordânia quase sem perdas humanas sob a direçãodo Senhor, estavam prontos para o desafio à frente.

Propósito

42 D. Ross, Isagoge do Antigo Testamento, p. 14.

47

Relembrar e motivar a nova geração a amar a Deus e obedecer àaliança para receber a benção de Deus. O erudito exegeta Keilobservou que

uma descrição, explicação e ratificação hortatória sobre oconteúdo mais essencial da revelação e das leis da aliança, comproeminência enfática dada ao princípio da lei e seu cumprimento,além de um desdobramento da organização eclesiástica, judicial,política e civil, tencionada como alicerce para a vida e bem-estardo povo na terra de Canaã.43

Estrutura do livroA estrutura básica de Dt divide-se em discursos contínuos:

Primeiro discurso: O passado e a fidelidade de Deus................1-4Segundo discurso: As estipulações daAliança.............................4:44-26:19Terceiro discurso: Promulgação daLei........................................27-28Quarto discurso: Renovação daAliança.....................................29-34

EsboçoFidelidade do Senhor novamente lembrada........................1-4

1. Fracassos de Israel em Cades-Barnéis..................12. Vitórias de Israel na Transjordânia.......................2-33. Responsabilidades de Israel em Canaã.................4

Fundamentos da Leireafirmados.....................................5-11

Decálogo e “Shemá” deIsrael...................................5-6

Perigos de idolatria emCanaã...................................7-9

Deveres de amor e serviço ao Senhor.....................10-11Funcionamento da Lei referente à vida em Canaã...........12-26

1. Leiscerimoniais..................................................12-16

43 Citado por Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 101.

48

2. Leiscivis..............................................................17-21

3. Leissociais...........................................................26

Cumprimento da Lei para permanecer em Canaã............27-301. Condições para a permanência em Canaã..........27-282. Renovação da

Aliança............................................29-30DeterminaçõesFinais......................................................31-33Morte deMoisés.............................................................34

Contribuições na Teologia do ATEm Dt há várias ênfases dominando os discursos:1. A espiritualidade de Deus (4:12-16) e sua unicidade e unidade

são descritos (4:35, 39; 6:4; 7:9: 10:17).2. O relacionamento entre Deus e seu povo sob a aliança, é mais

de amor do que de legalismo (4:37; 7:13; 33:3).3. Para o que crê, o requerimento básico é amor para com Deus, e

este amor tem que ser o princípio básico da sua vida (6:5;7:8; 10:12, 15; 11:1, 13, 22; 13:3; 19:9; 30:6, 16, 20).

4. A fidelidade à aliança recebe o prêmio de benefíciosmateriais. A violação e o desrespeito serão acompanhadas pordesastres e perdas materiais (28-30).

5. A admoestação característica é: lembrai-vos, e não vos esqueçais!Israel, longe de se dedicar a uma busca de “novas verdades”para tomar o lugar das antigas, precisa guardar e obedecer averdade revelada que uma vez para sempre recebeu da fonteabsoluta e imutável da verdade.

Fatos interessantes1. O livro de Dt é um documento de renovação da aliança.

49

2. O Decálogo é repetido em Dt 5.3. Contém 259 referências aos quatro livros anteriores de Moisés.4. Ele é citado 356 vezes nos livros posteriores do AT.5. Ainda é citado até 200 vezes em 17 livros do NT.6. Jesus Cristo cita Dt cerca de 90 vezes.7. A prova para falsos profetas: inerrância (18:20-22).8. Moisés não entrou na Terra de Canaã na conquista, mas na

transfiguração (Mt 17).9. Resumo dos cinco livros usando o seus nomes hebraicos:

- Gn 1:1 “No princípio...” .............. tudo foi feito- Êx 1:1 “E estes são os nomes...” ...... que saíram do Egito- Lv 1:1 “E ele chamou...” .............. para Sua santidade- Nm 1:1 “No deserto...” ................ foram contados- Dt 1:1 “Estas são as palavras...” ..... que devem lembrar

OS LIVROS HISTÓRICOS

A partir daqui a disposição dos livros da tradição TM difere daLXX, como também das bíblias modernas. Os judeus denominavam o seislivros como os “primeiros profetas” (Js, Jz, 1-2 Sm, 1-2 Rs), emcontraste com os “últimos profetas” (Is, Jr, Ez, e os doze menores).Os livros de Js, Jz, Sm, Rs são conhecidos na TM como profetasanteriores. Por que profetas, se são históricos? O título na TMrefere-se mais ao conteúdo do que à forma. Estes livros narram ahistória da nação teocrática desde a entrada na Terra Prometida até adissolução da teocracia no exílio babilônico. Estes “profetasanteriores” são continuação e complemento ao Pentateuco. Tambémcomplemento e contexto histórico para os “profetas posteriores”.

Atualmente a historiografia busca objetividade científica. Isto équestionável. Como realmente pode-se ser objetivo sem serinfluenciado, por alguma premissa, ou informação que não seja umainterpretação anterior? A historiografia do AT adotada aqui pressupõeque o que é apresentado é totalmente verdadeiro, factual eteologicamente, mesmo que algumas questões fiquem temporariamente semrespostas. O Dr. Roos declara que “o estudioso da Bíblia é livre para

50

suplementar (com novas hipóteses ou com achados arqueológicos), porém,não suplantar o texto.”44

O povo israelita era um povo de memória. A “tradição oral” queera o ensino e a história dos antepassados contados de geração àgeração mostra o zelo e a valorização do que aconteceu, com quemaconteceu, e como aconteceu. A história não era meramente repetida,mas contada como uma herança de identidade. Clyde T. Franciscocomenta que

os hebreus tinham gênio para contar a história, e a sua imaginaçãohistórica fez com que nos legassem os antigos acontecimentos dumaforma viva e real. Mil anos nos parecem como um dia, quando lemosas admiráveis narrativas hebraicas com que embelezaram a suahistória e os seus escritos. Possuem uma clareza tal que apela aqualquer tipo de pensamento humano, a qualquer classe, e osentimento que permeia tais escritos é tão forte e profundo quedesperta o mais duro coração.45

JOSUÉ

TítuloO nome hebraico Yehoshua equivale ao grego “Jesus”.

AutoriaNão há indicação objetiva no texto quanto ao autor. Também não

há indicação posterior na Escritura que atribua o livro à Josué.Entretanto, devemos considerar algumas evidências sobre a autoria:46

1. Porções do livro afirmam ter sido escritas pelo próprio Josué(24:26);

2. O autor foi testemunha ocular dos acontecimentos. No enviodos espias, na passagem pelo Jordão, na captura de Jericó eAi, na aliança com os gibeonitas, sugerem a participaçãoativa do narrador (5:1,6; 15:4; 7-8);

44 D. Roos, Isagoge do Antigo Testamento: Profetas Anteriores, p. 1.45 Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 68.46 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 168.

51

3. O fato de esse livro ser o primeiro dos “Primeiros Profetas”sugere, como seu autor, alguém com dom ou cargo profético.Josué é provável autor;

4. O conteúdo do livro, que se limita à liderança de Josué,reforça a opinião de que tenha sido escrito pelo sucessor deMoisés e no seu próprio tempo, mais do que por qualquer outrapessoa em época posterior, que poderia ter continuado ahistória de fé até a época de Otoniel, em Jz;

5. Todavia, em sua forma presente, o livro não pode ter sidointeiramente escrito por Josué, pois registra a sua morte.Isto indica que Josué foi o autor fundamental do livro, mas otexto Js 24:29-33 foi acrescentado posteriormente por umredator, provavelmente Finéias (Js 24:33).

Gênero literárioNas Bíblias protestantes Js é classificado como livro histórico

por causa do seu conteúdo histórico. Mas na Bíblia Hebraica (TM) eleé listado entre as obras dos profetas.

DataO livro foi escrito nos primeiros anos da conquista de Canaã.

Evidências:1. Admitindo que Josué tivesse a mesma idade de Calebe (40 anos

quando espiaram Canaã, Js 14:7), é possível supor que Josuétenha começado a comandar a Israel com a idade de 79 anos.Visto ter morrido com 110 anos, a sua liderança durou 31 anos(24:29). Sabemos também que a conquista inicial durou 7 anos(14:7, 10).

2. Raabe ainda vivia (6:25).3. Os jebuseus habitavam em Israel (18:16). Foram expulsos no

tempo do reinado de Davi (2Sm 5:5-9).4. Cidades de Canaã recebem seus nomes antigos. Como Baalá, o

nome de Quiriate-Jearim (15:9), Quiriate-Sana, de Debir(15:49), Quirate-Arba, de Hebrom (15:13).

5. O autor afirma que os gibeonitas “até ao dia de hoje” eram“rachadores de lenha e tiradores de água para a congregação epara o altar do Senhor” (9:27). Isso não seria possível nosdias de Saul, pois ele massacrou os gibeonitas (2Sm 21:1-9).

6. Jerusalém não era capital de Israel (18:16,28).

52

7. A data pode ser calculada aproximadamente 1400-1375 a.C.Stanley A. Ellisen esclarece queAs escavações arqueológicas de John Garstang determinaram quea queda de Jericó ocorreu por volta de 1400 a.C. Documentosdescobertos em Tel-el-Amarna, no Egito, e em Ugarite, naSíria Ocidental, parece confirmar a data de 1400 nascorrespondências reais daquele período, as quais se referemao habiru em Canaã.47

Situação histórica e geográficaA liderança da nação tinha sido transferida a Josué por ocasião

da morte de Moisés. A travessia do Jordão teve lugar um pouco antesda Páscoa, época em que o Jordão inundou as margens.

Toda a população de Israel, cerca de dois milhões e meio, estavadecidida a invadir Canaã depois da bem-sucedida conquista daTransjordânia, elas mandaram 40.000 homens para participar daconquista.

Desde as planícies de Moabe, dominando toda a Transjordânia, atéa região norte, central e sul de Israel. A terra da Palestinaestende-se do elevado monte Hermon, ao norte, até ao sul da regiãodeserta do Mar Morto. Seu comprimento é de 240 km, de Dã a Berseba, esua largura média é de 110 km, da costa do Mediterrâneo ao planaltooriental. Grande parte desta região foi dominada inicialmente.

Os povos que ocupavam Canaã era um misto de descendentes deCanaã (Gn 10:15-20). Há no AT várias referências a estes povos elocalidades que ocupavam:48

Heteus: dos filhos de Hete, que se estabeleceram na Ásia Menor.Girgaseus: da região ocidental do mar da Galiléia.Amorreus: povo montanhês dos planaltos ao oeste e leste do mar

Morto.Cananeus: situando o norte.Ferezeus: associados com os cananeus ao norte.Heveus: os pacíficos gibeonitas perto de Jerusalém.Jebuseus: tribo guerreira estabelecida em torno de Jerusalém.

Religiosa e moralmente, Canaã era infestada de idolatria:49

47 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 69-70.48 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 70.49 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 71.

53

El era o deus supremo, poemas ugaríticos descrevem-no como umtirano cruel e sanguinário, de sensualidade incontrolável.

Baal era filho de El e o seu sucessor. Era considerado como “oSenhor do Céu”, deus da chuva e da vegetação.

Anate era irmã de Baal e uma das três deusas protetoras do sexo eda guerra. Em seus cultos envia a prostituição e sacrifícioinfantil.

Asterote (Astarte) e Aserá eram esposas de Baal e também deusas dosexo e da guerra.

Moloque e Milcom, de origem amonita, eram deuses da orgia, domesmo modo que Camos era a divindade nacional dos moabitas.

Propósito histórico e teológicoNarração de como Deus trouxe a nação de Israel do deserto para a

terra de Canaã. Objetiva preservar a história da conquista de Canaã ea divisão da terra entre as tribos. Desse modo serve para darprosseguimento a história da teocracia sob Josué.

Deus em fidelidade à sua Aliança deu ao seu povo a terra prometidavisando encorajar o povo a ser fiel à Aliança (1:2-6).

Estrutura do livro1. Conquista da terra........................ 1-122. Divisão da terra............................ 13-223. Despedida e morte de Josué....... 23-24

Contribuição para Teologia ATO livro de Js é continuação natural de Dt. A Aliança continua. A

terra de Canaã é o cumprimento da promessa de Deus na Lei;

Contribuição ao cânonA teoria do Hexateuco de Alexander Geddes e reformulada

posteriormente por Gehrard Von Rad, acrescenta Js ao Pentateuco.Segundo esta teoria o livro de Js seria parte do Pentateuco, umacompilação de redatores posteriores ao reinado de Josias. Entretanto,devemos considerar algumas evidências contrárias:50

1. Não há evidência histórica alguma de que Js fosse parteintegrante do Pentateuco, formando um Hexateuco.

50 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 166-167.

54

2. O Pentateuco Samaritano é composto dos cinco livros, não incluiJs.

3. Josefo se referiu “cinco [livros] são de Moisés”.51

4. A observação massorética, no fim do Pentateuco, fala sobre atotalidade dos versículos da Lei, e diz “os cinco quintos daLei estão completos”.

5. Os samaritanos aceitaram apenas o Pentateuco, não incluindoJs.

6. Peculiaridades linguísticas no Pentateuco que não aparecem emJs.

7. O livro de Js fornece a ligação histórica necessária entre oPentateuco e os livros históricos, mas é uma obra separada doPentateuco.

Dificuldades de interpretaçãoDeus ordenou que Israel exterminasse os habitantes de Canaã?

Para respondermos esta pergunta devemos levantar algumasconsiderações:

1. A destruição foi um ato de juízo divino sobre um povopecaminoso, sendo os hebreus considerados os executores dodecreto divino. O sistema religioso e a cultura estavamfadados por si mesmos à destruição.

2. A religião de Canaã tinha se tornado num politeísmoabominável diante de Deus. Ellisen observa que “a adoração aosexo demoníaco e aos ídolos de guerra refletiam uma sociedadepermeada da mais grosseira imoralidade e violência.Escavações arqueológicas revelam que os seus templos eramcentros de vício com sacerdotes sodomitas e sacerdotisasprostitutas. Queimar crianças vivas nos altares se tinhatornado ritual comum. A baixeza da idolatria de Canaã formavacontraste com a idolatria do Egito e Mesopotâmia, cujamoralidade não tinha caído em tão profunda vulgaridade ebrutalidade.”52

3. Se Israel continuasse seu convívio normal com os habitantesde Canaã, certamente, teria se corrompido com a crueldade, aidolatria e a imoralidade cananita. Os idumeus eram

51 Flávio Josefo, Contra Ápio in: História dos Hebreus (Rio de Janeiro, CPAD, 1990), p. 71252 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 75.

55

descendentes de Esaú, os Moabitas e Amonitas descendiam deLó, todavia, eram povos que apesar de terem a sua origemdireta na família de Abraão, haviam se corrompido. Os povosque foram poupados para trabalho escravo entre o povo deIsrael, posteriormente, induziram Israel ao pecado.

Fatos interessantes1. O longo dia de Josué (10:12-14).2. Raabe, a prostituta, está incluída na linhagem messiânica de

Jesus;3. Três campanhas de guerra resultaram na derrota de sete nações

com 31 reis;4. Temas repetidos:53

- “Sê forte e corajoso” (1:6,7,18; 8:1; 10:8; 11:6; 23:6)- Para cumprir a lei (1:7-9; 8:32; 23:6; 24:1; 24:20)- Deus está contigo (1:5,9,17; 3:7; 10:42)- Levantou-se Josué de madrugada (3:1; 6:12,15; 7:16; 8:19)- “segundo a Palavra do Senhor” (8:27; 10:40; 11:9,15,23;

15:13).

JUÍZES

TítuloO título do livro tem base no modelo de governo da época. O

significado desta palavra em hebraico é mais amplo que o conceitoforense em português. Talvez, uma tradução melhor seria“libertadores”. O título descreve algumas das características delíder militar:

1. Livrar o povo dos seus opressores, na função de lídermilitar.

2. Resolver disputas e defender a justiça, na função de lídercivil.

53 David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 25.

56

3. Não era escolhido pelo povo, mas levantado por Deus, olegislador da Lei.

4. Não era um governador vitalício. Não estabelecia dinastia ouuma família governante.

AutoriaO criticismo liberal defende que Jz é uma compilação de diversas

fontes. Teria originalmente sido escrito por J e E, posteriormentealterado pelo redator de JE. Depois da queda de Jerusalém houve aedição deuteronomista (influência de D) do livro. Portanto, o livroem sua forma final seria uma obra pós-exílica.54

A tradição talmúdica atribuí a autoria à Samuel:1. Ele era escritor e educador (1Sm 10:25).2. A ênfase dada à tribo de Benjamim sugere a época do rei Saul,

quando Samuel ainda julgava, antes do nome de Jebus ter sidomudado para “Jerusalém” (Jz 1:21; 19:10).

3. A tradição talmúdica (Baba Bathra, 14b) declara que “Samuelescreveu o livro que tem o seu nome, e o livro de Juízes eRute”.

DataAs evidências internas indicam algum período na monarquia

primitiva, antes da tomada de Jersusalém por Davi. Aproximadamente1043-1000 a.C.. Evidências internas para a antiguidade livro:

1. A expressão “naqueles dias não havia rei em Israel”, indicaque o livro foi composto antes da divisão em dois reinos, nãomenciona Judá, como reino do sul.

2. Os jebuseus ainda residiam em Jerusalém (Jz 1:21). Foramexpulsos no reinado de Davi (2 Sm 5:6).

3. Os cananeus em Gezer (1Rs 9:16).4. Sidom é a principal cidade fenícia, e não Tiro, que começou a

sobrepujar Sidom pouco antes de XI a.C..

Situação histórica e geográficaEste período abrange desde a morte de Josué até o surgimento de

Samuel, como profeta de Deus. Neste período consolidou-se a posse daterra de Canaã, mas o extermínio dos cananeus não aconteceu por

54 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 174-175.

57

completo. O livro de Jz descreve os ciclos de falhas em cada parte daterra: sul, norte, centro, leste e oeste.

PropósitoPropósito histórico

Narra a desordem social. Embora houvessem juízes, este foi umperíodo em que “cada um fazia o que achava mais reto”(Jz 21:25).

Propósito didáticoPreservar um registro do caráter de Israel durante o tempo em

que este não tinha um líder nacional, e enfatizar a sua necessidadede um rei teocrático. Os fracassos preparam caminho para a monarquia.Os muitos ciclos de fracasso e castigo salientam repetidamente averdade deuteronômica de que o abandono da fé no Senhor trazinevitavelmente o castigo da servidão e o caos.

Estrutura do livro1. Introdução de transição......1:1-2:52. História dos juízes..........2:6-16:313. Apêndice: corrupção..........17-21

Análise do conteúdoClyde T. Francisco oferece-nos uma excelente análise do livro

o assunto principal do livro começa com o capítulo 3 e vai até o16. Encontramos 13 juízes até aqui, sendo os mais notáveis: Eúde,que matou o rei de Moabe, Eglom; Débora, que derrotou Sísera;Gideão, o conquistador dos midianitas; Jefté, o homem do votolouco; Sansão, o rapaz das grandes bravatas. Os restantescapítulos –17-21- não seguem a ordem cronológica do capítulo 16.Os capítulos 17-18 relatam-nos a migração da tribo dos danitas(Dã) e o caso de Mica e sua imagem, enquanto 19-21 nos descrevem aquase destruição da tribo de Benjamim e, posteriormente, a buscade moças necessárias para os 600 benjamitas que tinham escapadocom vida da luta fraticida.55

55 Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 75.

58

Tradicionalmente se faz uma distinção entre seis pequenos juízese seis grandes juízes. Esta distinção se orienta pelo volume deinformações disponíveis sobre estes homens:56

Os grandes juízes

Os pequenos juízes

Otniel SangarDébora-Baraque

Tola

Jefté JairEúde EbsãGideão ElomSansão Abdom

CronologiaA cronologia de Jz apresenta algumas dificuldades. Segundo o AT,

o total de anos do período dos Jz é de 410 anos. Conforme 1 Rs 6:1passaram 480 anos entre a saída do Egito e o início do reinado deSalomão. A saída do Egito ocorreu no século XV a.C., e o início damonarquia aconteceu no século XI a.C.. Tirando os 410 anos (Jz) dos480 anos, sobra 70 anos, o que é pouco para todos os outros eventosque aconteceram. Propostas para solução:

1. Houve períodos de co-regência entre os juízes. Alguns dos juízesforam contemporâneos. A maioria, senão todos, governaram apenasparte das tribos ao mesmo tempo. Como foi o caso de Israel sendosubjugados pelos amonitas e filisteus simultaneamente (Jefté eSansão).

2. O texto apresenta interesse didático. O autor de Jz não tevepreocupação em expor numa ordem rigidamente cronológica, emboranão a despreze, mas o arranjo do livro enfoca a fragilidade dafé dos israelitas, nos diversos governos dos juízes, emdiferentes tribos.

Contribuição para Teologia ATComo se vive, ou se quebra a aliança de Yahweh. Mostra a

importância da obediência à Aliança na história de Israel e afidelidade de Deus à Sua Aliança;

56 Klaus Homburg, Introdução ao Antigo Testamento, p. 82.

59

Fatos interessantes1. O livro de Jz é um dos livros mais tristes da Bíblia,

apresentando o “período do obscurantismo” do povo de Israel.2. A época dos juízes foi um dos períodos mais longos da

história de Israel.3. A falha em cumprir completamente as instruções de Deus a

respeito dos pagãos (Dt 7:1-6) levou o povo ao pecado, àescravidão, e à derrota.

4. A conquista de Josué foi geral. Deus deixou algumas nações emCanaã para provar a obediência e fé de seu povo (3:1-4).

5. A história é marcada por ciclos de falhas:- Apostasia (pecado, corrupção interna)- Punição/escravidão (opressão externa)- Arrependimento- Livramento seguido por um período de descanso.

RUTE

TítuloO nome Rute significa amizade, uma característica muito aguçada

da personagem principal.

AutoriaEntre os críticos liberais é quase por consenso que o livro tem

uma datação pós-exílica. Muitos deles entendem como tendo sidoescrito em oposição às medidas de Esdras e Neemias contra oscasamentos mistos. Vejamos alguns argumentos destes críticos:57

1. No cânon hebraico, o livro de Rt não se encontra junto com osprimeiros profetas, onde também se encontra Jz e, sim, com oslivros da terceira coleção chamados poéticos. Dizem taiscríticos que foram os últimos a serem canonizados.

57 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 353.

60

2. A influência do aramaico é notório no estilo do autor, o queindicaria um autor influenciado pelo exílio babilônico.

3. Em 4:7 o autor menciona o costume de descalçar o sapato, paraconfirmar um negócio, costume este, aparentemente, não praticadoentre o povo de Israel, quando o livro foi escrito.

4. O estilo poético do livro marcado pela simplicidade e belezapastoril, sugere que temos aqui uma idealização do período dosjuízes.

A tradição judaica, o Talmud, Baba Bathra 14b, afirmaliteralmente que “Samuel escreveu o seu livro e Juízes e Rute”.Normalmente cogita-se com simpatia a possibilidade de Samuel ser oautor do livro de Rute. Mas há os que consideram esta possibilidadecomo improvável, com base na afirmação de Rt 4:22 que parece implicarque Davi era uma pessoa bem conhecida por ocasião da redação dotexto. Todavia, devemos analisar que a genealogia vai somente atéDavi (4:17,22) não incluindo Salomão, isso indica que o livro foiescrito depois de Davi ser ungido rei, mas antes dele tornar-se defato regente em Israel, ou antes de Salomão tornar-se rei. Samuelainda vivia, e é ele o escritor mais provável do livro.

Gênero literárioEntre os críticos o livro de Rt é entendido de muitas maneiras

diferentes, até como lenda popular ou como novela! R.H. Pfeifferbaseando-se nos significados dos nomes tenta interpretarsimbolicamente todo o conteúdo do livro:58

Malom....... doença;Quilom...... esbanjador;Orfa........ obstinado;Noemi....... minha doçura;Rute........ companheira.

No entanto, o NT decide a questão. Em Mt 1:5, Rute é aceito comopersonagem histórico, e não como um livro de romance ou novelafictícia. A genealogia de Lc 3:32 concorda com a que consta em Rt4:13-22.

O texto faz sentido tal qual se encontra. Ele registra umepisódio familiar dum período pré-monárquico. O livro se enquadra58 R. H. Pfeiffer, Introduction to the Old Testament, p. 718.

61

dentro do cenário histórico do período dos Juízes, e não há razõespara alterações. Young comenta que

outrora relações amistosas ligavam os dois países: Israel e Moabe(1Sm 22:3-4), [...]. Se tal livro não for histórico, massimplesmente obra de alguém que procurou explicar a origem dadescendência de Davi, não seria porventura mais provável que talescritor se esforçasse por descobrir aquela origem numa israelitae não numa estrangeira? O fato da moabita Rute ser tronco dadescendência da linha de Davi é por si argumento suficiente para ahistoricidade do livro.59

DataA questão da data está diretamente vinculada à questão da

autoria do livro. Assim, como a autoria, é difícil identificarexplicitamente a data da redação do livro.

As evidências linguísticas dão alguma pista. A linguagem e oestilo de Rt são puros, clássicos, em nível semelhante a Sm. Via deregra, o hebraico clássico implica em data da monarquia unida entreos reinados de Saul à Salomão.

Afirma-se também que a menção do rei Davi pelo nome implica numperíodo de redação obviamente não anterior ao reino davídico. Nenhumoutro rei é mencionado, nem mesmo Salomão. Para alguns, isto éindício que o livro não foi escrito no período de Salomão. Assim, aconclusão mais segura é que este livro foi composto no início, oudurante o reinado de Davi. Os comentaristas judeus apontam o ano de973 a.C. como marca em seu calendário.60

Situação histórica e geográficaO texto de Rt 1:1 situa a história de Rute no tempo dos juízes.

O livro começa com a circunstância não muito comum de que havia fomeem Belém (“casa do pão”). A história apresenta a característicairônica de uma mulher virtuosa, que veio de um povo nascido deincesto (Ló e suas filhas). Os moabitas, ancestrais de Rute, tinhamatraído Israel para a idolatria e imoralidade (Nm 25:1-3), mas agoraela estava influenciando Israel com o seu amor e fidelidade.

59 Edward Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 355.60 Menahem Mendel Diesendruck, ed., Tora & Meguilot, p. 658.

62

A história acontece no interior da Judéia, saindo da cidade deBelém, indo para a região de Moabe, e depois retornam para Belém (Rt1:1-7).

PropósitoPropósito histórico

O comentarista David Atkinson observa queo que está claro é que, através de sua leitura, aprendemos algo davida rural do século XI ou XII a.C. na Palestina, a rotina do dia-a-dia, a necessidade do trabalho, as alegrias familiares, a dor damorte, a separação dos parentes, o relacionamento com a sogra. E,na ilustração de pureza, inocência, fidelidade e lealdade, dever eamor, o escritor deseja que os seus leitores percebam a mão deDeus, que cuida, sustenta e provê.61

Propósito teológicoA história seria o cenário para mostrar a graça divina salvando

uma gentia moabita, de origem tão vergonhosa (Gn 19:30-38),enxertando-a na Aliança, fazendo dela uma ancestral do Messias (Rt4:13-22; Mt 1:5). Davi teria em sua árvore genealógica Raabe, aprostituta, uma cananita, e Rute, a moabita. “O livro pode servirainda para firsar que a verdadeira religião é supranacional e não selimita às fronteiras de qualquer país.”62

Estrutura do livroPrimeira sugestão de estrutura:

1. A peregrinação de Rute.................. Rt 12. Encontro de Rute e Boaz............... Rt 23. Rute apela a Boaz............................. Rt 34. O casamento de Rute com Boaz... Rt 4

Segunda sugestão de estrutura:1. Introdução: a família de Elimeleque.... 1:1-182. A dor e a pobreza de Noemi........ 1:19-223. Diálogo: Noemi e Rute.................. 2:1-24. Diálogo: Rute e Boaz..................... 2:3-175. Diálogo: Rute e Noemi.................. 2:18-23

61 David Atkinson, A Mensagem de Rute, pp. 25-26.62 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 355.

63

6. Diálogo: Noemi e Rute.................. 3:1-57. Diálogo: Rute e Boaz...................... 3:6-158. Diálogo: Rute e Noemi................... 3:16-189. Processo legal................................... 4:1-210.A satisfação de Noemi................... 4:13-1711.Genealogia: a família de Davi....... 4:18-22

Esboço

Análise do conteúdoA comentarista Joyce W. Every-Clayton observa que

o livro de Rute relata a história de uma pequena família. Mas umafamília é a célula na qual age o Deus da história; comoconsequência, o livro e a história da família de Rute tambémabordam assuntos de vida nacional e vida religiosa. Porém a ênfaseprincipal não é política, mas pessoal.63

Contribuição para Teologia AT1. Oferece uma prefiguração duma benção maior do porvir: os gentios

poderão juntar-se à comunhão de Israel, na condição de searrependerem e de crerem no Senhor. Rute não seria uma meraexceção, mas se tornaria a regra.64

2. A providência maravilhosa e inesperada de Deus é verificadatambém na inclusão duma gentia na linhagem real do Messias.

3. O parente-redentor serve como um tipo, ou prenúncio do Messias.4. Um entendimento de ligação entre Jz e Rt é absolutamente

indispensável para compreender a mensagem do livro. Rute é maisque um apêndice do livro de Jz (Jz 17-21), mas agora trazendouma história de graça e amor fiel, não de decadência einfidelidade.

Fatos interessantes1. Não há a ação sobrenatural divina no decorrer da história, como

ocorre em Juízes; Rute é uma das 4 mulheres na genealogia deJesus (Mt 1:5).

2. Os moabitas eram os descendentes da união incestuosa de Ló comsua filha (Gn 19:33-37).

63 Joyce W. Every-Clayton, Em Diálogo com a Bíblia: Rute, p. 11.64 Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 205-206.

64

3. Boaz era filho de Raabe, a prostituta de Jericó (Js 2:1; Mt1:5). Desta forma Davi, o bisneto de uma moabita, e trisneto deuma cananita, demonstrou mais ainda a graça de Deus.

4. A lei levita do parente-remidor exigia que o parente tomasse aviúva como esposa e desse filhos ao seu falecido irmão (Dt 25:5-10; Lv 25:25-31).65

5. Este livro é anualmente lido pelos judeus na Festa dePentecoste.

1 e 2 SAMUEL

TítuloNo TM o livro é uma unidade, mas a LXX os dividiu em dois. Desta

forma, a versão grega do AT encontramos os livros de 1 e 2 Rs com onome de “terceiro e quarto Livro dos reinos”. A Vulgata seguiu a LXXna divisão dos livros. O livro de Sm da TM ficou sendo 1 e 2 Rs naVulgata.

A divisão editada na Bíblia Hebraica de Sm e Rs, em 2 livroscada, a partir da edição de Daniel Bomberg, em Veneza, em 1516-1517.Essa prática foi continuada nas Bíblias protestantes.

AutoriaSamuel deve ter escrito ao menos a primeira parte do livro (1Sm

10:25). Mas certamente não escreveu tudo. Sua morte é relatada em 1Sm25:1 e 28:3. Há também narrativa de acontecimentos que foramposteriores à sua morte.

A tradição judaica no livro Baba Bathra 14b/15a é do parecer quea primeira parte livro foi escrita por Samuel, e o restante pelosprofetas Gade e Nata (1Cr 29:29). Young propõe que “os livros deSamuel foram compostos sob inspiração divina por um profeta,provavelmente da Judéia, que viveu pouco depois do cisma, o qualencorporou em sua obra material escrito já existente”.66

65 Para um estudo mais detalhado do assunto veja Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 87.66 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 184.

65

Gênero literárioO caráter e veracidade histórica desses livros podem ser

verificados no fato de serem aludidos em outras porções da Bíblia.Referências aos eventos dos livros de Sm são encontradas em 1Rs 2:27,em 1Cr, em Jr, e no Salmo 17. Cristo fez menção ao fato de Davi tercomido dos pães da proposição (1Sm 21:6; Mt 12:3). O apóstolo Pauloapresenta um resumo do conteúdo de Sm em At 13:20-22.

Os autores de 1 e 2 Sm indicam uma de suas fontes utilizadas:1. Livro dos Justos...... 2Sm 1:182. A tradição oral3. Testemunho ocular

DataOs estudiosos mais conservadores datam entre 930-922 a.C., o

início da monarquia dividida. Outros preferem 722 a.C. no período daqueda de Samaria e do Reino do norte. Devemos observar algumasevidências:

1. A pureza do hebraico indica uma época bem primitiva, mas podemosadmitir que passaram alguns anos, antes de serem escritos.

2. A explicação de termos arcaicos, como em 1Sm 9:9, e a referênciade costumes obsoletos, como em 2 Sm 13:18, do mesmo modo que afórmula “até hoje”, em 1Sm 5:5, 6:18, 27:6, 30:25, 2Sm 4:3, 6:8,18:18 indicam que algumas gerações se passaram até a escrita dolivro.

3. Em 1 Sm 27:6 aparentemente a divisão da monarquia já começaraquando o livro foi redigido. O autor faz menção aos “reis deJudá” (1Sm 27:6). Consequentemente a forma final do texto não secompletou antes da divisão dos dois reinos.

4. Apesar de não mencionar a morte de Davi, as palavras finais dolivro parece implicar no conhecimento do acontecido.

5. O autor (ou autores) nada sabe a respeito da queda da Samaria.Logo, é razoável que o redator final tenha terminado o livroantes deste evento, portanto, antes do cativeiro das dez tribospela Assíria.

6. A data de escrita mais provável é o início da monarquiadividida.

Situação histórica

66

Os acontecimentos relatados nos dois livros cobrem o período donascimento de Samuel até o fim do reinado de Davi. O livro de Sm faza ligação necessária entre o período dos juízes e o início damonarquia. Narra a “época de ouro” de Israel.

Contexto religiosoO tabernáculo e a arca estiveram em Silo, 14 km ao norte de

Betel, desde os tempos de Josué até os de Eli. Quando na ocasião damorte Eli a arca foi roubada, esses dois itens principais do sistemareligioso de Israel ficaram separados e assim permaneceram durante 75anos até que Davi fez com que a arca voltasse em 1000 a.C.

PropósitoPropósito histórico

Apresentar a história do desenvolvimento de Israel desde umestado de anarquia até um estado de monarquia teocrática. Samuel foiao mesmo tempo juiz (1Sm 7:6,15-17) e profeta (1Sm 3:20). Ele serviupara fazer essa transição do período dos juízes com o início damonarquia.

Propósito teológicoFoi escrito para demonstrar as consequências da obediência e

desobediência à Aliança durante a monarquia, segundo a fidelidade deDeus à mesma. O motivo dominante é a glória é a glória e o poder deuma nação que corresponde ao Senhor soberano.

Estrutura do livro1. A vida

Samuel...............................................1Sm 1-72. Ministério de Samuel e reinado de Saul....1Sm 8-153. Reinado de Saul e origem de Davi.............1Sm 16-314. Triunfo de Davi sobre a casa de Saul........2Sm 1-85. Reinado de Davi...........................................2Sm

9-206.

Apêndice........................................................2Sm21-24

Análise do conteúdo

67

Houve duplo preparo para a monarquia.Período de confusão e desorientação com os juízes.Necessidade de um bom rei diante da séria ameaça dos filisteus.

Fatos interessantes1. Moisés predisse a vinda do reinado (Dt 17:14-15).2. As “escolas de profetas” começaram durante a liderança de

Samuel (1Sm 10:5,10; 19:20; 2Rs 2:3-5).3. São os primeiros livros que usam a palavra “Messias” (1Sm

2:10) e a frase “Senhor dos Exércitos” (1Sm 1:3).4. Alguns erros de Saul: impaciência (13:8-14), impetuosidade (14),

desobediência (15).5. Davi é apresentado como pastor de ovelhas, músico, poeta,

soldado e estadista.6. Davi se tornou padrão para todos os outros reis.

1 e 2 REIS

TítuloOs livros de Rs eram primariamente um só livro. Tal divisão

aparece pela primeira vez na LXX, depois seguida por Jerônimo na suaVulgata Latina. Os judeus não reconheceram a existência destadivisão, mas a adotaram mais por motivos de facilidade de referênciasque por estarem convencidos de que se tratava de dois livros.67

AutoriaEm Baba Bathra 15a está escrito “Jeremias escreveu o seu próprio

livro, o livro de Reis, e Lamentações.”68 Esta tradição é muitoatraente, pois, há muita semelhança entre o livro do profeta Jeremiase Reis. Notemos algumas evidências:

1. Há muitas semelhanças entre Jr 52 e 2Rs 24-25.2. A ênfase dos livros sugere o ponto de vista dos profetas.3. Era um homem de notável capacidade literária.

67 Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 93.68 D. Roos, Isagoge do Antigo Testamento II, p. 11.

68

4. Jeremias que é descrito nos capítulos finais, pode muito bem tersido seu autor.

5. O último capítulo não foi escrito por Jeremias, sendo umacréscimo posterior por alguém que morava na Babilônia, e não noEgito, onde Jeremias morreu exilado;

Gênero literárioO autor como um historiador fez consultas e menciona o uso de

fontes escritas anteriores. Provavelmente estes “livros” fossemarquivos e anais oficiais do reino:

1. Livro da História de Salomão................ 1Rs 11:412. Livro da História dos Reis de Judá........ 1Rs 14:29;

15:7,23; etc3. Livro da História dos Reis de Israel...... 1Rs 14:19; 15:31;

etc4. Livro de Isaías...........................................

2Rs 18-20

Os livros de Rs apresentam alguns problemas textuais. A LXX temvariações em relação à TM. A LXX, às vezes, é mais curto que TM, oucontém matéria que a TM não tem.

DataA data mais provável é antes de 560 a.C.. Archer observa que

a composição final tem que ser datada depois da queda deJerusalém, provavelmente no começo do Exílio; mas é possível quesó o capítulo final pertença à época do Exílio, sendo que a frase,que frequentemente ocorre, “até ao dia de hoje”, pelo livro afora,indica inconfundivelmente uma perspectiva pré-exílica.69

Extensão históricaOs acontecimentos de 1-2 Rs estendem-se desde a morte do rei

Davi, até o cativeiro de Ezequias, o último rei de Judá. No últimocapítulo há ainda uma referência à libertação de Joaquim, no ano 560a.C., quando Evil-Merodaque começou a reinar na Babilônia.

O período de Salomão a Zedequias é conhecido como o período doTemplo de Salomão, estendendo-se desde a construção até a suadestruição por Nabucodonosor.69 Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 215.

69

PropósitoPropósito histórico

Relatar a história da teocracia até o seu final no exíliobabilônico. O relato vai desde as últimas palavras de Davi até ofinal exílio babilônico.

Propósito didáticoO autor narra e julga cada rei por sua conformidade ou

inconformidade com a lei de Deus. Dá ênfase ao fato de que todopecado traz as suas consequências, e que a fé e a justiça triunfarãofinalmente. Mostra a sua apreciação pelas reformas sociais.

Propósito teológicoEscrito para motivar o povo de Judá, antes e depois do cativeiro

babilônico a ser fiel à Aliança de Deus, porque Ele mesmo é pacientee fiel à Aliança.

Estrutura do livro1. Transição: morte de Davi e sucessão de Salomão.... 1Rs 1-22. Reino unido sobSalomão............................................. 1Rs 3-113. Monarquia divido: Reino do Norte e do Sul.............. 1Rs 12-2Rs 174. Reino de Judá (doSul)................................................... 2Rs 18-25

1. Reino Unido...................................... 1Rs 1-11 2. Reino Divido..................................... 1Rs 12-223. Reino Cativo: declínio de Israel..... 2Rs 1-174. Reino Cativo: declínio de Judá....... 2Rs 18-25

Análise do conteúdoOs livros de 1 e 2 Rs apresentam uma combinação de cronologia

com julgamentos religiosos. Os episódios dos dois reinos sãorelatados de forma paralela e contínua. Mostra através de contrastese comparações o declínio e o cativeiro dos dois.

O autor do livro segue uma metodologia rígida. Narra-se oreinado de um rei até o fim, e então, todos os reis do outro reino

70

durante aquele período. Depois, dá a sua opinião a respeito do reino,discutindo vários aspectos e acontecimentos. Finalmente, menciona asfontes de onde tomou as suas informações, onde o rei foi sepultado equem reinou em seu lugar.

Parece haver um certo “favoritismo” para o reino de Judá.Entretanto, a preocupação maior é com o culto em Jerusalém. Os reisde Judá que defenderam a monoteísmo, mas toleraram o baalismo, sãocensurados. Dos reis de Israel (exceto um) é dito que agiram mal. Épreciso lembrar que o Messias sairia de Judá.

O complemento histórico de 1 e 2 Rs é feito pelos livros deCrônicas e os livros proféticos, especialmente Jeremias.

Fatos interessantes1. Houve 19 reis e 9 dinastias em Israel, e 20 reis e 1 só dinastia

em Judá.2. A idolatria que começou com Salomão (suas esposas) aumentou cada

vez mais, e só foi eliminada no cativeiro babilônico.3. Eliseu pediu porção dobrada do espírito de Elias (2Rs 2:9). Há

exatamente doze milagres seus registrados, e seis de Elias.4. Os profetas do reino do Norte: Elias, Eliseu, Amós e Oséias; os

profetas do reino do Sul: Obadias, Joel, Isaías, Miquéias, Naum,Sofonias, Jeremias, Habacuque.

5. Os livros de reis:70

a. Começam com o rei Davi e terminam com o rei da Babilônia.b. Começam com a construção do templo e terminam com a sua

destruição.c. Começam com o primeiro sucessor de Davi ao trono (Salomão)

e terminam com o último sucessor, Joaquim, libertado docativeiro pelo rei da Babilônia.

1 e 2 CRÔNICAS

Título

70 David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 36.

71

No TM o título literal é palavra dos dias, podendo significar tambémlivro dos eventos. Na LXX a tradução literal seria coisas omitidas, sereferindo à alguns assuntos que foram omitidos em Sm e Rs. A Vulgataapenas translitera da LXX o seu título. A divisão de Cr em doislivros veio com a LXX. Esta divisão foi introduzida na BíbliaHebraica um pouco antes da Reforma do século XVI.

AutoriaA obra é anônima. Mas a tradição talmúdica Baba Bathra 15a

atribuí a autoria à Esdras. Algumas evidências da autoria de Esdras:71

1. A linguagem das Cr precedem a época de Esdras, segunda metade doséculo V a.C., provavelmente entre 450-425.

2. O estilo literário, o ponto de vista sacerdotal e o objetivoclaro são coerentes com Esdras.

3. Note-se que os últimos versículos de 2 Cr são os primeirosversículos do livro que leva o nome desse profeta posterior, oque sugere uma continuação natural entre as duas obras.

FontesO cronista menciona muitas de suas fontes. Talvez, haja mais do

que as mencionadas. Mas certamente a maior fonte é o texto canônicode Sm-Rs.

1. Livro das Crônicas do rei Davi.........................1Cr27:24

2. Crônicas de Samuel, o vidente..........................1Cr29:29

Crônicas de Natã, o profeta Crônicas de Gade, o vidente3. Livro da História de Natã, o profeta................2Cr 9:29 Profecia de Aias Visões de Ido4. Livros de Semaías,

profeta.................................2Cr 12:15 Ido, vidente4. História do profeta

Ido......................................2Cr 13:225. Livros dos reinos de Judá e Israel....................2Cr

16:1171 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 402.

72

6. Livro da História dos Reis................................2Cr24:27

7. Livro da História dos Reis de Judá e Israel....2Cr 25:268. Visão do profeta

Isaías......................................2Cr 26:22; 32:329. História dos Reis de

Israel................................2Cr 33:1810. História de

Hozai.............................................2Cr 33:1911. Tradição oral.

DataO livro termina com o edito de Ciro, em 538. Logo, não deve ser

anterior ao decreto persa. Foi escrito logo após a volta do exílio, afim de proporcionar um fundo teocrático para as exortações de Esdrase Neemias. O ano 500-430 a.C., aproximadamente seria o mais provável.

Extensão históricaA história abrange da criação até Ciro, rei da Pérsia (538

a.C.). O seu alcance cronológico é, portanto, maior do que qualqueroutro livro da Bíblia, desde Gênesis até Malaquias. Quando os livrosde 1-2 Cr foram escritos, Judá já não era uma monarquia, e sim apenasum pequeno grupo de exilados que tinham retornado da Babilônia sobvassalagem persa. Ellisen observa que

os judeus não deixaram de exercer influência sobre o império persanessa época. Daniel chegara à posição de primeiro-ministro, tantono império Babilônico de Nabucodonosor como no império Persa deCiro (Dn 2:6). Ester e Mordecai chegaram a ser, respectivamente,rainha e primeiro-ministro do império persa na época de Assuero,pai de Artaxerxes I Longímano, que reinou na época de Esdras. Elesexerceram grande influência no império a favor dos judeus.72

PropósitoPropósito didático

Estabelecer a auto-compreensão da comunidade pós-exílica comouma entidade essencialmente religiosa, centralizada nas instituiçõesdivinas do Templo e da dinastia davídica.

72 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 118.

73

Propósito históricoO objetivo histórico dos livros não era continuar a história de

Israel a partir do final de 2Rs, mas apresentar de maneira sucintatoda a história sob a perspectiva divina. Em vez de começar comSamuel ou Abraão, o cronista o faz com Adão. Nessa retomada dahistória, omite dos livros de Sm e Rs muito do conteúdo referentes aguerras, política e até mesmo aos pecados do povo. Os livros são uma“revista a história de Israel desde a aurora da raça humana até oCativeiro na Babilônia, e o Edito da Restauração.”73

Estrutura do livro1. 1Cr 1-9....... Genealogia de Adão-Davi2. 1Cr 10-29..... Reinado de Davi3. 2Cr 1-9....... Reinado de Salomão4. 2Cr 10-36..... História de Judá até o edito de Ciro

Análise do conteúdoA história pré-davídica é narrada somente nas genealogias. Não

há relato dos acontecimentos que ocorreram neste período no livro deCr. A cronista pressupunha que seus leitores estariam familiarizadoscom a história de Israel, preferindo mostrar a sequência históriasomente através de genealogias. As genealogias certamente pretendemevitar a duplicação de relatos já registrados na história anterior(Sm-Rs). Por outro lado, também mostra a continuidade do povo nalinhagem da Aliança do Senhor.

Os livros de Cr não pretendem suplantar a história anterior (Sm-Rs), mas, complementar a mesma, fornecendo novas informações de umângulo diferente.

Contribuição para Teologia ATA genealogia (1Cr 1-9) demonstra a fidelidade de Deus através dos

séculos à Aliança especialmente a preservação da linhagemdavídica.

A Aliança davídica é ratificada (1Cr 17:7-15).

Fatos interessantes1. Toda a história do Reino do Norte é omitido.

73 Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 348.

74

2. Os livros de Rs apresentam o aspecto político da época,enquanto 1 e 2 Cr apresentam o aspecto sacerdotal do mesmoperíodo.

3. O foco de Cr é: Judá.- Davi - Templo.4. Cobre um período mais abrangente do que qualquer outro livro

do AT (Adão-Ciro).5. Na Bíblia Hebraica são os últimos livros.

ESDRAS

TítuloNa LXX o livro de Ed possuí o título de segundo Esdras (Ed+Ne).

Entretanto deve-se notar que o primeiro Esdras na LXX é um livroapócrifo.74

AutoriaAlgumas considerações necessitam ser observadas:

Esdras.... 7:28-9:15 o uso 1ª pessoa “eu”.Sua importância como mestre da lei no AT é com frequência

comparada com Moisés. Dentre as obrigações de Esdras para com osjudeus que voltaram do exílio incluía, reeducar o povo na lei deMoisés, e apresentar-lhes a sua identidade de povo da Aliança.

A tradição judaica aponta Esdras, como o fundador das sinagogaslocai em Judá para o estudo da Lei, semelhantes àquelas fundadasna Babilônia, as quais se tornaram um lugar de reunião regulardos judeus dispersos, conforme Ez 20.

Gênero literáriovide* E.J. Young, pp. 392-393

DataAproximadamente entre 450 e 400 a.C..

74 Vide* gráfico in: W.S. Lasor, D.A. Hubbard, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 601.

75

Extensão históricaPodemos colocar o ministério de Esdras durante o reinado de

Artaxerxes I (465-424 a.C.)

PropósitoO restabelecimento do povo na terra prometida mostra a

fidelidade de Deus à Aliança, e exige um reavivamento da verdadeirareligião da Aliança. Por isso, insiste no estabelecimento do povo naregião como se fosse um reino de sacerdotes e uma nação santa, quedeve sempre caminhar sob a Lei.

Estrutura do livro1.1. Restauração do Templo.................. 1-61.2. Restauração do povo....................... 7-10

2.1. Primeiro retorno dos exilados........ 1-22.2. Restauração do culto....................... 3-62.3. Segundo retorno dos exilados........ 7-82.4. Reforma social.................................. 9-10

Análise do conteúdoEncontramos algumas porções em aramaico em Ed (4:8-6:18 e 7:12-

26).

UnidadeEm Ed 1-6 (a seção de Zorobabel) parece haver uma dependência de

listas, cartas e documentos oficiais variados.

Contribuição ao cânonComeça onde exatamente termina 2 Cr;Fornece informações sobre o período pós-exílico de Israel;

Fatos interessantes1. O decreto de Ciro, rei do império Medo-Persa, cumpriu a profecia

de Isaías feita 200 anos antes (Is 44:28; 45:1).2. Foram 3 deportações, de 3 profetas maiores (606...Daniel,

597...Ezequiel, 586...Jeremias) e 3 retornos, com 3 grandeslíderes (536...Zorobabel, 457...Esdras, 444...Neemias).

76

3. A partir desse tempo os israelitas são chamados judeus, porque amaior parte deles era da tribo de Judá.

NEEMIAS

TítuloNa LXX o livro de Ne possuí o título de Segundo Esdras (Ed+Ne). O

Primeiro Esdras na LXX é um livro apócrifo.

AutoriaAlgumas evidências indicam que realmente seja Neemias. O uso do

pronome na 1ª pessoa “eu”, bem como a obra recorda a missão do autorem Jerusalém, e as reformas que realizou.

DataAproximadamente 430-400 a.C.

Extensão históricaHá dúvidas quanto a sequência histórica de Ed e Ne. Questiona-se

se o “Artaxerxes” mencionado em Ne 2:1 é o mesmo “Artaxerxes I”? Oprimeiro retorno de Neemias a Jerusalém se deu em 445 a.C., depois de12 anos como governador (Ne 13:6). Mas, depois de aparentemente umano em Ecbatana, ele volta em 432 a.C. (“32º ano do rei” Ne 13:6),para uma segunda gestão de duração incerta.

A questão toda está na relação de Esdras e Neemias. Quando foique ambos trabalharam juntos? A resposta tradicional é a que o“Artaxerxes” de Ed 7:1, é o “Artaxerxes I” (465-424 a.C.). Destaforma, Esdras chegou em Jerusalém em 458 a.C. (Ed 7:8), 13 anos antesde Neemias (445 a.C., Ne 2:1).

O livro de Ne cobre um período de 100 anos de história dacomunidade israelita pós-exílica. Desde o final do exílio babilônicoà reconstrução do templo de Jerusalém.

Contexto religiosoA cosmovisão medo-persa contribuiu para o retorno dos israelitas

à terra. Ellisen comenta que

77

internacionalmente, um novo clima religioso foi introduzido pelospersas. Os decretos de Ciro e Dario surgiram parcialmenteinspirados por sua fé religiosa. Esta não passava de uma misturada visão tradicional de um panteão de deuses, e do zoroastrismodesenvolvido recentemente, com suas duas hierarquias: do bem e domal. Como resultado dessa visão, eles fizeram o povo voltar à suaterra natal a fim de aplacar os deuses locais e promover a paz noimpério. Tal política resultou na volta de Israel à Palestina comos vasos do templo, e uma reativação de seu sistema religioso.75

PropósitoPropósito teológico

A reconstrução de Jerusalém como centro político da teocraciaexige uma identificação do povo com o caráter santo do Deus quesoberanamente dirigiu a restauração.

Propósito históricoDocumentar historicamente a reconstrução dos muros de Jerusalém.

O livro mostra como Deus usou uma pessoa leiga, mas interessada, paraassentar os blocos do muro de Jerusalém a fim de que houvesseproteção aos restantes e, ao templo reconstruído, bem como defesa dospovos e da cultura pagã, que contaminaria a religião israelita.

Estrutura e esboço do livro1. Restauração dos muros.................... Ne 1-72. Reformas de Esdras e Neemias...... Ne 8-13

1. Reconstrução do Muro.................... 1-7a. Preparação............................ 1-2b. Reconstrução....................... 3-7

2. Restauração da Aliança.................... 8-13a. Renovação da Aliança......... 8-10b. Resposta à Aliança.............. 11-13

A unidade de Esdras e NeemiasSobre este assunto temos duas posições:

1. Ambos os livros formam uma unidade:

75 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 127.

78

Há escribas que tratam os dois livros como sendo um só. Háoutros estudiosos que acham que em bases históricas e literárias, osdois livros devem ser tratados como sendo uma obra só. Os principaisargumentos são:

1. O comentário talmúdico Baba Bathra 15ª entende que Ed e Nesão um só livro.

2. O livro apócrifo Eclesiástico menciona-os como sendo um.3. Na LXX os dois foram unidos e dado o título de Esdras B, para

distingui-los de Esdras A, o livro apócrifo.4. A mesma posição é defendida por Flávio Josefo.5. O TM parece demonstrar uma tradição estabelecida quanto a

unidade das duas obras. Há falta de espaço entre ambos oslivros, e a estatística massorética para ambos se acha aofinal de Neemias.

2. Ambos os livros são unidades independentes:Na verdade, assume-se que originalmente ambos eram um só livro.

Isto é duvidoso. O máximo que se pode afirmar é que foram unidosmuito cedo. Há evidências discretas de composições separadas:

1. Em Ne 1:1 há uma nota marginal (BHS) que expressa, talvez,ter testemunhado a uma memória de independência.

2. Em Ed 2 e Ne 7:6-70 existe uma duplicação da lista dosexilados que voltaram. Talvez, indique que originalmente nãoeram uma só obra.

3. Não está de todo excluída a possibilidade da combinação decertos livros para se obter um total de 22 livros canônicos,o que daria o número de letras do alfabeto hebraico. Sabe-seque Josefo referiu-se acerca deste assunto.

3. Comparações entre Ed e Ne:Ambos começam na Babilônia e terminam em Jerusalém.Ambos tem por centro o homem de Deus que o escreveu.Ambas as histórias começam com o decreto de um rei da Pérsia.Ambos tem por tema principal a reconstrução.Ambos contêm uma longa oração de humilhação e confissão.Ambos terminam com a purificação do povo.

Fatos interessantes

79

1. No final de Ed e Ne tudo é restaurado (templo, Jerusalém, opovo, a Aliança), menos o rei.

2. O atrito entre samaritanos e judeus já se encontra neste livro.3. Apesar da oposição, a reconstrução do muro só levou 52 dias.4. O cativeiro babilônico curou os judeus da idolatria.5. Retornos à terra prometida:

- Em 536 a.C. Zorobabel retornou para reconstruir o templo;- Em 457 a.C. Esdras retornou para reformar o povo;- Em 444 a.C. Neemias retornou para reconstruir os muros de

Jerusalém.

ESTER

TítuloO nome do livro é derivado da língua persa e significa estrela. O

seu nome hebraico é Hadessa que significa murta (Et 2:7).

AutoriaO comentário talmúdico Baba Bathra 15a afirma literalmente que

“os homens da Grande Sinagoga escreveram o livro de Ester”. Outratradição judaica aponta Mordecai como o autor do livro. Esta tradiçãoencontra apoio em Josefo e Abraham Ibn Ezra. O fundamento para estapossibilidade seria que nos últimos dois capítulos de Et menciona-secartas e escritos pessoais de Mordecai (9:20, 29).76Outra hipóteseseria a autoria a cargo de Esdras, ou de Neemias. No entanto, não háboa evidência linguística para sustentar esta posição. O estilo comque o livro foi escrito não parece ser o de Esdras, ou Neemias.

Podemos concluir quanto a autoria:1. O autor certamente viveu na Pérsia, talvez em Susã, ou

arredores, e pode ter sido testemunha ocular dos episódios.2. O texto demonstra conhecimento acurado dos costumes persas e sua

história.

76 Menahem Mendel Diesendruck, ed., Tora & Meguilot, p. 634.

80

3. O autor pode ter usado os escritos de Mordecai (9:20), as“crônicas dos reis da Média e da Pérsia” (2:23; 10:2), bem comoa tradição oral para a redação do livro de Et.

4. Disto é tudo o que se pode concluir quanto a autoria deste textoanônimo.

Gênero literárioAlguns eruditos modernos tem negado a historicidade de Et.77 Por

alguns é considerado como um romance ou, novela épica. Chega-se aoextremo de se afirmar que Et é um texto que defende interessesjudaicos e “sionistas”. Eis alguns argumentos à favor dahistoricidade do livro:

É preciso reconhecer que histórica e geograficamente o texto épreciso.

Os argumentos contra a historicidade do livro são fracos, e atémesmo insustentáveis.

Data e local da escritaDeve ter sido escrito logo após a morte de Assuero (Xerxes) em

465 a.C., quando os seus relatórios foram completados no livro dahistória dos reis (Et 10:2). Foi escrito durante o império Medo-persa, na cidade Susã.

Extensão históricaEm 483 a.C., a rainha Vasti foi deposta, durante o terceiro ano

de Assuero. Em 479 a.C., Ester foi coroada, no sétimo ano de Assuero.Em 473 a.C., houve o livramento dos judeus do Purim, durante o décimoterceiro ano de Assuero.

Os acontecimentos deste livro encaixam-se cronologicamente entreos capítulos 6 e 7 de Ed. Entre os anos 483-473 a.C..

PropósitoPropósito teológico

Mostrar como Deus em sua providência governa toda a existência.Ainda que eles sejam cativos num país estrangeiro, a proteçãoprovidencial de Deus cuida do Seu povo como Ele prometeu na Aliança.

77 Para uma exposição mais completa das críticas e historicidade do livro, vide* Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 369-371.

81

Propósito didáticoExplicar a origem e o contexto da Festa do Purim. Nesta festa

celebra-se a libertação dos judeus da sentença de Hamã.

Estrutura do Livro78

1.1. Festa deAssuero................................................ 1-4

1.2. Festa deEster..................................................... 5-8

1.3. Festa doPurim................................................... 9-10

2.1. Perigo de destruição do povo.......................... 1-52.2. Proteção graciosa de Deus sobre seu povo... 6-10

Contribuição ao cânon1. Fornece informações sobre os judeus durante o exílio babilônico.2. Não há indicação que sua canonicidade estivesse em disputa em

Jâmnia (90 d.C.). Logo, não é justo incluí-lo entre os livrosduvidosos.

3. Flávio Josefo o considerava canônico.4. O livro é popular entre os judeus.

Dificuldades de interpretaçãoComo um livro que omite os nomes de Deus pode ser considerado

canônico? O exegeta judeu Abraham Ibn-Ezra declarou que o autoromitiu intencionalmente o nome de Deus “por temer que o relato fossetraduzido pelos persas, que trocariam o nome do Deus Eterno peladivindade pagã que o povo adorava.”79

Fatos interessantes1. O único livro canônico sem o nome de “Deus”.2. O livro tem 187 referências ao rei persa.3. Ester é o único livro não representado entre os achados de

Qumran.4. Não há menção deste livro no Novo Testamento.

78 Para uma análise mais detalhada da estrutura do livro vide* W.S. Lasor, D.A. Hubbard, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 584-587.79 Menahem Mendel Diesendruck, ed., Tora & Meguilot, p. 634.

82

5. Descreve algumas qualidades de Ester: formosa e modesta (2:15),obediente (2:10), corajosa (7:6), cativante (2:9-17; 5:1-3),humilde (4:16), leal e persistente (2:22; 8:1-2; 7:3-4).

6. Acusa os pecados de Ester: não revelou sua identidade judia;casou-se com um rei pagão; não voltou à Terra Prometida (Is48:20; Jr 50:8; Ed 1:3);

OS LIVROS POÉTICOS

Título

AutoriaHá algumas opiniões discordantes quanto à autoria desta obra. A

tradição judaica (Baba Bathra 14b e 15a) declara que o autor foiMoisés o autor de Jó. Vejamos algumas objeções à autoria mosaica:

1. A obra foi escrita no mesmo estilo de Provérbios (Mashal); esteestilo literário teve início no período do reinado salomônico.

2. Se o livro fosse de autoria mosaica, sua posição no Cânonhebraico seria diferente. Jó é classificado como Ketubim(Escritos), e se encontra dentro do TM entre o livro de Salmos eProvérbios. Se ele fosse uma obra mosaica, certamente seriacolocado na mesma categoria que a Lei.

3. A Lei era a referência para as demais obras do AT, seria difícilque uma obra de natureza refletiva ou meditativa tenha sidoescrita por alguém cuja principal ocupação era a legislatura;

Sobre a autoria parece que a obra foi redigida no tempo deSalomão. Vejamos alguns argumentos em seu favor:

83

1. Era uma época de paz em que as atividades literárias desabedoria se desenvolveram. Um período propício para compor estelivro.

2. O livro de Jó tem o caráter dos livros da sabedoria (hokhmah).Os comentaristas Keil-Delitzch observa que “é um característicadaquele período criador e incipiente da hokhmah, daquela épocasalomônica da ciência e da arte, do mais profundo pensamento emmatéria de religião e da arte, do mais profundo pensamento emmatéria de religião revelada e de cultura inteligente eprogressiva das formas tradicionais da arte, duma época semprecedentes, em que a literatura correspondeu ao ápice damagnificência gloriosa para que o reino da promissão tendia.”80

3. Há uma exaltação semelhante de sabedoria piedosa entre Pv 8 e Jó28.

4. O autor mostra uma clara preferência pelo nome Elohim, traduzidopor “Deus”. O nome Yahweh ocorre somente duas vezes no cap. 1,uma vez no cap. 12, uma vez no cap. 38, três vezes no cap. 40, ecinco vezes no cap. 42. Isto associa com os escritos de Salomãoque geralmente utiliza o nome Elohim, e menos o nome Yahweh.81

Data da EscritaExistem várias datas propostas:82

1. Na época de Salomão: Keil, Delitzsch, Haevernick.2. No séc. VIII (antes de Amós): Hengstenberg.3. No princípio do séc. VII: Ewald Riehm.4. Primeira metade do séc. VII: Staehelin, Noeldeke.5. Na época de Jeremias: Koenig, Gunkel, Pfeiffer.6. No exílio babilônico: Cheyne, Dillmann.7. No séc. V: Moore, Driver, Gray, Dhorme.8. No séc. IV: Eissfeldt, Voltz.9. No séc. III: Cornill.

O livro foi escrito durante o reinado de Salomão. Os três amigoseram árabes. O local onde Jó residia era Harã, ao norte da Palestina,perto de Damasco. Não há qualquer referência à Lei de Moisés, ou

80 C.F. Keil & F. Deltzch, Commentary on the Old Testament: Job-Psalms vol.5, p. 19 (Books for the Ages, 1997), CD-Master Library Christian 01/02, in loco.81 Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento? p. 410.82 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 334-338.

84

registro de fatos da história judaica. “Jó pertence em pensamento eforma à corrente literária que se originou com Salomão; daí ter maiorsemelhança ao livro de Provérbios do que qualquer outro livro noVelho Testamento.”83

Gênero literárioSamuel J. Schultz considera o livro de Jó como sendo

“apropriadamente classificado como um drama épico. Apesar de que aporção principal da composição seja de natureza poética e tenha aforma de um debate, o arcabouço é escrito em prosa. Neste último, anarrativa provê a base para a discussão inteira.”84

Quanto ao estilo literário, Sellin-Fohrer observam que o livronos mostra que seu autor é um mestre da palavra raramentesuperado, um mestre dotado de poder de criatividade barroca epossuidor de elevada cultura, como nos indicam não só as imagens,numerosas e multiformes, que exprimem os sentimentos mais variadosem um só e mesmo discurso, como também as expressões raras, ou quejá nem mesmo se usavam.85

Situação históricaJó foi um personagem histórico, como indicam Ez 14:14 e Tg 5:11.

Parece que Jó viveu no período dos patriarcas, embora, não se podefazer nenhuma afirmação absoluta. Vejamos algumas evidências:

1. O personagem é identificado como um habitante de Uz, e não de umlugar fictício (1:1). As referências bíblicas a Uz sugerem umlocal a leste de Edom (Gn 10:23; Jr 25:20; Lm 4:21). A LXXtraduz terra dos Aisitai, povo, que segundo o geógrafo Ptolomeu,se localiza no deserto da Arábia perto dos edomitas do monteSeir.

2. Elifaz, amigo de Jó, era de Temã, localidade bem conhecida pertode Edom.

3. Eliú pertencia aos buzitas, região perto dos caldeus.4. A riqueza é medida pela quantidade em animais. Isso nos lembra

os dias de Abraão (Gn 13:1-11).5. A narrativa faz menção a uma época anterior à legislação do

Sinai (1:5).

83 Clyde T. Francisco, Introdução ao Velho Testamento, p. 216.84 Samuel J. Schultz, A História de Israel no Antigo Testamento, p. 265.85 E. Sellin, G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, vol.2, p. 480.

85

6. A ausência de citações sobre as instituições israelitas, indicaum cenário patriarcal

7. Jó viveu um modelo patriarcal de vida e religião.8. A idade avançada de 140 anos de Jó (42:16) está mais de acordo

com a idade atingida pelos patriarcas.

Propósito Ensinar como Deus pode usar a adversidade, bem como a

prosperidade, para amadurecer o seu povo. Deus usa os piores ataquesde Satanás para o cumprimento do seu santo decreto. O soberano Deusilustra através da vida de Jó, que “todas as coisas cooperam para obem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seupropósito” (Rm 8:28).

Estrutura e esboço do livro1. O Contexto Familiar............................... 1:1-2:132. Lamentação de Jó.................................... 3:1-263. Discursos Com os Três Amigos........... 4:1-31:40

1. primeiro ciclo de discursos....... 4:1-14:222. segundo ciclo de discursos....... 15:1-21:343. terceiro ciclo de discursos........ 22:1-31:40

4. Discursos de Eliú.................................... 32:1-37:24

5. Pronuncio do Senhor............................. 38:1-42:66. Conclusão.................................................

42:7-17

1. Prólogo (prosa)........................................ 1-22. Diálogos....................................................

3-282.1. Lamento inicial de Jó.............. 32.2. Diálogo entre Elifaz e Jó....... 4-5; 15; 222.3. Diálogo entre Bildade e Jó.... 8; 18; 252.3. Diálogo entre Zofar e Jó...... 11; 20

4. Poema de sabedoria............................... 285. Série de discursos................................... 29-42

5.1. Jó alega inocência.................. 29-315.2. Discursos de Eliú.................. 32-375.3. Discursos de Yahweh........... 38-42:6

86

6. Epílogo....................................................42:7-17

Análise do conteúdo Sellin-Fohrer fazem uma preciosa contribuição em perceber que

o poeta de Jó não aborda o problema da teodicéia, sob a forma dosofrimento merecido do justo, ou sob a forma da justiça de Deus,em contraposição com a experiência humana. Isto estaria emcontradição com o pensamento concreto e subjetivo do israelita.Também ele não apresenta pura e simplesmente um acontecimento.Pelo contrário: trata-se aí de um problema vital: o problema daexistência humana vivida no sofrimento; trata-se da questão sobreo modo de proceder corretamente dentro dessa existência. Jó vive ocomportamento que lhe parece possível e correto. Os amigos queremensinar-lhe um comportamento que, no seu parecer, é o melhor, eDeus o coloca diante do problema decisivo no que respeita a seucomportamento. (...) A narrativa que enquadra o poema interpreta osofrimento como provação do homem que deve, por este meio,confirmar a sua piedade que alimentar até então. Os amigos de Jóatribuem a infelicidade às culpas do homem, e o convidam a sedesviar do mal, a se voltar humildemente para Deus e a seconverter radicalmente. (...) Passando por cima de todas estasopiniões – as ortodoxas e as heréticas -, o poeta de Jó, que fazDeus condenar, inclusive, os amigos de Jó, apesar de sua féimaculada, e recomendá-los à intercessão daquele Jó que antesparecia tão herético, parte em busca de sua própria solução, aqual atesta a profunda influência da fé profética: a atitudecorreta do homem no sofrimento é o silêncio humilde, na plenaentrega de si mesmo, brotando da paz com Deus, e baseada nãosomente na intuição de que o sofrimento decorre de uma intervençãomisteriosa, impenetrável, mas inteiramente lógica de Deus, mastambém na certeza da comunhão com Deus, a qual faz com que tudo omais seja secundário.86

O conteúdo do livro demonstra uma unidade natural e estrutural.87

Fatos interessantes1. Jó é a maior de todas as obras dramáticas do AT.

86 E. Sellin, G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, pp. 496-497. 87 Aage Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, pp. 197-202, considera a prosa e a maior parte das seções poéticas como uma unidade.

87

2. Nenhum livro da Bíblia revela tanto da pessoa e do caráter deSatanás.

3. É citado explicitamente uma vez no NT (1 Co 3:19 – Jó 5:13).4. Implica que a terra é esférica (22:14), pendurada no espaço

(26:7).

SALMOS

TítuloO título hebraico significa livro dos louvores. O título adotado pela

LXX não é muito apropriado, pois a palavra psalmoi (salmos) é atradução da palavra hebraica mizraim. A Vulgata adotou seu títulotransliterando da LXX.88

AutoriaA tradição judaica Baba Bathra 14b declara “Davi escreveu o

livro dos Salmos auxiliado por dez anciãos: Adão, Melquisedeque,Abraão, Moisés, Hemã, Jedutum, Asafe e três filhos de Coré”.Evidentemente que Davi ao compor os “Salmos” não teve a assistênciadestas pessoas. Esta afirmação deve ser reinterpretada, por nãopossuir qualquer fundamento histórico. Melhor do que nós, os “homensda Grande Sinagoga” que escreveram o Talmud, certamente sabiam dodistanciamento cronológico entre estes personagens bíblicos e Davi.Provavelmente, que Davi compôs muitos dos salmos, outros foramescritos durante o seu reinado e o reinado de Salomão, e os demaisforam escritos num período pós-exílico. Há algumas considerações quedevemos fazer ao confirmar a autoria davídica de muitos dos salmos:

1. Algumas passagens do AT indicam Davi compondo cânticos para osantuário (1Cr 6:31; 16:7; 25:1; Ed 3:10; Ne 12:24, 36,45-46;Am 6:5);

2. Sabe-se que Davi foi talentoso músico;3. Davi também era poeta (2Sm 1:19-27);

88 Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, pp. 976-977.

88

4. Ele era um homem de profunda sensibilidade e riqueza deimaginação. “A riqueza da sua imaginação está patente napropriedade dos termos e nas frequentes figuras queemprega”;89

5. Davi era um homem piedoso, de sentimentos religiosos, com umaprofunda percepção de quem Deus era e como Ele agia, umverdadeiro adorador de Deus. Os salmos não poderiam serescritos por alguém que não amasse o Senhor, e que nãotivesse de modo experimental conhecido ao Senhor;

6. Era um homem vivido. Possuindo uma larga experiência de vidacomo pastor, soldado, músico, chefe, rei, administrador,poeta, pai, perseguido pelo seu rei (Saul), e traído pelopróprio filho (Absalão), com uma família atribulada emanchada de incesto e sangue. Ele estava apto para exprimiras alegrias da graça, e também as angústias do pecado;

7. Davi era um homem capacitado pelo Espírito de Deus (1Sm16:13);

8. É importante lembrar que Davi escreveu muitos salmos, mas nãotodos;

Geralmente através do título do Salmos90 pode-se identificar oautor. A preposição hebraica l denominada pelos estudiosos de lamedhauctoris pode significar: escrito por, pertencente à, ligado com, dedicado à, a respeitode. Acerca deste assunto, mesmo os eruditos liberais Sellin-Fohrer“aceitam que “a concepção de que, no caso dos salmos, se trate de umlamed auctoris, é reforçada pelo fato de que em várias passagens seindica a ocasião em que Davi deve ter composto um salmo, e quedificilmente se trataria de um comentário posterior.”91

O livro de Salmos é uma coletânea de escritos de diversosautores:

1. Atribuí-se 1 salmo à Moisés (90)2. Atribuí-se 73 salmos à Davi (3-9, 11-32, 34-41, 51-65, 68-70,

86, 101, 103, 108-110, 122, 124, 131, 133, 138-145. 3. Atribuí-se 2 salmos à Salomão (72, 127)4. Atribuí-se 12 salmos à Asafe (50, 73-83)5. Atribuí-se 12 salmos aos Filhos de Coré (

89 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 314.90 Salmos, no plural e com letra maiúscula indica o livro, salmo no singular e com letra minúscula indica o capítulo.91 E. Sellin, G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, vol.2, p. 410.

89

6. Atribuí-se 1 salmo à Hemã, o ezraíta (88)7. Atribuí-se 1 salmo à Etã, o ezraíta (89)8. São 48 salmos órfãos/anônimos

Autores sugeridos pelos tradutores da Septuaginta:1. Atribuí-se 15 salmos à Ezequias (120-134)2. Atribuí-se 1 salmo à Jeremias (137)3. Atribuí-se 1 salmo à Ageu (146)4. Atribuí-se 1 salmo à Zacarias (147)5. Atribuí-se 1 salmo à Esdras (119)

Os títulos dos SalmosOs títulos são indicadores da natureza literária de cada salmo.

Alguns títulos se referem ao uso litúrgico dos salmos a seremcantados em certas ocasiões.Há títulos descritivos da característica poética:

1. 57 salmos são chamados de mizmor. Estes se referem a músicaque deveria ser cantada com acompanhamento de instrumentos decordas.

2. Shir cântico de qualquer qualidade ou espécie, ocorre 30 vezes(46, 120-134).

3. Mashkil um cântico de especial qualidade, ocorre em 13 salmos,podendo significar vários tipos de cânticos: meditativos,didáticos (32).

4. Miktam salmo com ideia de lamentação pessoal (16, 56-60).5. Shiggayon só ocorre uma vez (7).6. Tephillah significa “oração” (17, 86, 90, 102, 142).7. Tehillah somente ocorre uma vez (145), significa “louvor”.

Há títulos que indicam a direção musical:92

1. Lamnatseach é a palavra que vem ao título de 55 salmos. AVulgata traduz “in finem”, e a Versão Almeida “para o cantormor” (IBB), e “ao mestre de canto” (SBB).

2. Neginoth aparece em 6 títulos, sempre combinado comlamnatseach. O termo significa “instrumentos de cordas”.Quatro dos títulos em que aparece, vem associado ao termomizmor;

92 Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, pp. 978-979.

90

3. ‘Al hashsheminith ocorre duas vezes, nos Sl 6 e 12, significa“sobre a oitava”.

4. ‘Al ‘alamoth se encontra no título do Sl 46, significa“instrumentos de cordas”.

5. Gittith aparece em três títulos, podendo significar “canção devindima”.

6. Nehiloth só ocorre no Sl 5, é traduzido pela SBB “paraflautas”.

7. Mahalath literalmente significa “doença, aflição”,possivelmente, indicava um salmo fúnebre. No título do Sl 88aparece como mahalath leannnoth que a SBB traduz “para sercantado com cítara”.

8. Selah esta palavra não aparece nos títulos, mas no fim dealgumas seções (Sl 46:7). Esta palavra chama a atenção porocorrer 71 vezes no Livro I, 30 vezes no Livro II, 20 noLivro III, e 4 no Livro V.93 É uma indicação musical, não paraser lida, mas significando uma pausa no cântico, para uminterlúdio instrumental, ou, uma elevação de som (forte).

Há títulos que indicam a tradição histórica da vida de Davi:

1. Salmo 3...................... 2Sm 15:1-18:332. Salmo 18.................... 2Sm 22:1-513. Salmo 30.................... 2Sm 5:11-7:294. Salmo 34.................... 1Sm 21:10-155. Salmo 51.................... 2Sm 11-12:1-256. Salmo 52.................... 1Sm 227. Salmo 54.................... 1Sm 23; 26:18. Salmo 56.................... 1Sm 21:13-159. Salmo 57.................... 1Sm 2410.Salmo 59.................... 1Sm 19:1111.Salmo 60.................... 2Sm 8:13; 1 Cr 18:1212.Salmo 63.................... 2Sm 15:23-2813.Salmo 142.................. 1Sm 24:1-3

Classificação dos SalmosO modo como podemos classificar os salmos é diverso. Nenhuma

classificação é perfeita, mas todas são necessárias para entendermos

93 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 166.

91

os temas e ênfases dos salmos. Roland K. Harrison propõe apossibilidade duma classificação a partir da experiência religiosa:94

1. Salmos de oração, envolvendo pedidos de proteção, libertação,intervenção ou bênçãos.

2. Salmos de adoração, por motivos gerais e específicos.3. Salmos penitenciais, incluindo a representação da confissão.4. Salmos de declaração de fé, em Deus como rei justo, um juiz ético, e

governador do universo.5. Salmos homiléticos, dividido com sabedoria, poder divino, o

verdadeiro serviço a Deus, e ao lugar da Torah na vida nacionale individual.

6. Salmos imprecatórios, constituindo uma resposta aos inimigosnacionais, e suplicando a Deus o exercício da justa retribuição.

7. Salmos sobre problemas de ordem moral, envolvendo o sofrimentos dosjustos, a prosperidade dos ímpios, e a esperança daimortalidade.

Arnold B. Rhodes realiza uma classificação mais detalhada dossalmos:95

Hino de adoração1. Adoração por motivos diversos: 100, 113, 117, 145, 150.2. Adoração ao SENHOR da Criação: 8, 19, 29, 104.3. Adoração ao SENHOR da história

- A história da salvação: 68, 78, 105, 106, 111, 114, 149.- O reinado de Deus: 47, 93, 96, 97, 98, 99.- O reinado dos ungidos: 18, 20, 21, 45, 61, 63, 72, 89, 101,132, 144.

4. Adoração ao SENHOR da Criação: 33, 65, 103, 115, 135, 136, 146,147, 148.5. Adoração ao SENHOR de Sião

-. Em geral: 46, 48, 76, 87.-. Canções de peregrinos: 84, 122, 134.-. Entrada em Sião: 15, 24.

Orações em tempo de aflição1. Lamentos do povo: 12, 44, 58, 60, 74, 77, 79, 80, 83, 90, 94, 106,123, 137.2. Lamentos individuais

94 Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 997.95 Arnald B. Rhodes, “The Book of Psalms” in Layman’s Bible Commentary, vol. 9, pp. 26-27.

92

- Em geral: 3, 5, 6, 13, 22, 25, 31, 39, 42-43, 52, 54-57, 61,63, 64, 71, 86, 88, 120, 141, 142.- Protestos de inocência: 7, 17, 26, 59.- Imprecações contra os inimigos: 35, 59, 69, 70, 109, 137, 140- Orações de Confissão: 6, 32, 38, 51, 102, 130, 143.

Declarações de fé: 4, 11, 16, 23, 27, 46, 62, 63, 90, 91, 121, 125, 131.Cânticos de ações de graças1. Gratidão da comunidade: 67, 75, 107, 118, 124.2. Gratidão individual: 18, 30, 32, 34, 41, 66, 92, 116, 138.Poesia sapiencial: 1, 2, 37, 41, 49, 73, 111, 112, 119, 127, 128, 133,139.Liturgias1. Liturgias didáticas: 15, 24.2. Hino e benção sacerdotal: 134.3. Liturgias reais: 2, 20, 110, 132.4. Liturgias proféticas

- Em geral: 12, 75, 85, 126.- Misto de Hino e oráculo: 81, 95.- Estilo livre de imitação de profecia: 14, 50, 82.

Poemas mistos1. Adaptação de materiais antigos: 36, 40, 89, 90, 107, 108, 144.2. Composições autônomas: 9, 10, 78, 94, 119, 123, 129, 139.

Data de compilação final96

Davi se preocupou em formar uma coleção dos seus salmos.Instituiu o seu uso litúrgico, determinando que fossem cantados nosantuário (1Cr 15:16-24; 16:4-43).

É possível que Ezequias tivesse compilado e acrescentado maissalmos ao livro que Davi havia iniciado (2Cr 23:18; 29:30). E numperíodo posterior ao exílio babilônico Esdras e Neemias tenham dado aforma final ao realizarem suas reformas sociais e religiosas (Ed3:10; Ne 12:24,27).

O livro apócrifo Eclesiástico 47:8-10 mostra que uma coleção desalmos sob o nome de Davi já circulava no tempo de Sirac (200 a.C.).

PropósitoPropósito teológico

96 A.F. Kirkipatrik, The Book of Psalms (London, Cambridge University Press, 1910).

93

Ao cantar, o povo aprendia e refletia sobre quem Deus é, ouseja, meditava-se nos atributos divinos. Aprendiam acerca da Aliançada graça, sobre o perdão dos pecados, a justiça, o proceder do justona santificação, acerca do Messias, a vida futura, etc. Aage Bentzendeclara que “foi criado a fim de conter a expressão autoritativa dareligião de Israel, da mesma forma que a Lei, os Profetas e aliteratura sapiencial, que foram colecionados com o mesmo escopo.”97

Propósito litúrgicoO saltério fora compilado para ser usado liturgicamente no

templo, e reuniões festivas do povo de Deus. O título do livro apontapara o seu objetivo literário: “o livro dos louvores”.

Propósito históricoOs salmos são parte da história de Israel, como também narram

acerca desta história (Sl 78, 105, 106, 135 e 136).

Propósito devocionalÉ um modelo para a prática devocional dos filhos de Deus. Um

completo livro de louvor e oração, que ensina o crente a dirigir-se aDeus, como Ele mesmo requer. Os crentes de todas as épocas e lugarespercebem a unidade do povo de Deus, por possuírem os mesmos anseios,temores, tristezas, sofrimentos, dúvidas, e por poderem esperar emDeus com esperança e confiança o cuidado providencial da Aliança.

Estrutura do livroO livro de Salmos é dividido em 5 livros.98 Esta divisão não

segue uma ordem cronológica, nem é por autoria, como não estádividida por classificação literária. Não se sabe qual o critérioexato adotado para esta divisão. Há a sugestão de que as divisões dosaltério correspondem aos 5 livros da Lei. É notório que cada um das5 divisões termina com uma doxologia especial a servir de conclusão:

PrimeiroLivro (1-41)

Sl41:13

Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel, da eternidade para aeternidade! Amém e amém!

97 Aage Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, p. 192.98 Para uma análise mais detalhada vide*, Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 163.

94

SegundoLivro(42-72)

Sl72:18-20

Bendito seja o SENHOR Deus, o Deus de Israel, que só ele operaprodígios. Bendito para sempre o seu glorioso nome, e da sua glóriase encha toda a terra. Amém e amém! Findam as orações de Davi,filho de Jessé.

TerceiroLivro(73-89)

Sl89:52

Bendito seja o SENHOR para sempre! Amém e amém!

QuartoLivro(90-106)

Sl106:48

Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel, de eternidade a eternidade; etodo o povo diga: Amém! Aleluia!

QuintoLivro(107-150)

Sl150:6

Todo ser que respira louve ao SENHOR. Aleluia!

Há certos grupos que seguem arranjos naturais:1. Há uma sequência de 15 salmos intitulados “cântico dos degraus”

ou “cânticos da ascensão” (120-134). A versão ARA traz o títulocomo “cântico de romagem”, o que é uma tradução ruim daexpressão hebraica shir hammaylot. A palavra “romagem” noportuguês significa peregrinação à Roma, que é uma alusão à práticaidólatra da Igreja Católica Romana. O título hebraico é umareferência à peregrinação dos israelitas em suas idas anuais àcidade de Jerusalém, que ficava sobre o monte Sião (cântico daascensão), quando chegavam e esperavam nas escadarias da portado Templo.

2. Os salmos alfabéticos ou acrósticos. Os salmos 9, 10, 25, 34,37, 111, 112, 119, 145 desenvolvem seu texto seguindo a ordemalfabética hebraica. O salmo 119 é o mais completo e possuí umarígida elaboração na divisão dos versículos.

3. Existem 11 salmos de “aleluia” (111-113; 115-117; 146-150).

Contribuição ao cânonPara o Cânon do AT está claro que os Salmos constituem os

cânticos inspirados para serem usados na adoração pública e comodevocionário individual e familiar. O conteúdo deles ajustou-os paraservirem como “o Livro de Louvor”.

Dificuldades de Interpretação

95

Princípios de interpretação dos Salmos:1. Se o título dá a situação histórica, deve ser considerado. Se

não, há pouca chance de recriar o contexto.2. Tentar classificar o salmo segundo as formas já existentes,

mas não forçá-lo a se enquadrar numa forma.3. Identificar as figuras de linguagem, tipos de paralelismo, e

explicar o significado.

Como interpretar os Salmos imprecatórios? Como é possívelconciliar a graça e o amor de Deus com o sentimento de vingança?

Fatos interessantes1. O livro de Salmos levou aproximadamente 1000 anos para ser

completado (Sl 90 de Moisés ... Sl 137 pós-exílico).2. É o livro mais conhecido e usado na literatura mundial de todos

os tempos.3. São mencionados cerca 90 vezes no NT.99

4. Sinônimos de salvo/justo e de perdido/ímpio nos Salmos.100

5. O livro de Salmos era o hinário do povo israelitas.6. O Sl 53 é uma repetição do 14, mas emprega Elohim (Deus), em vez

de Yahwéh (SENHOR.7. Há 21 salmos que se referem à história de Israel (êxodo ao

retorno do exílio).8. Os salmos apresentam o Messias de maneira semelhante aos

evangelistas:- Mateus (Rei) 2, 18, 20, 21, 24, 47, 110, 132- Marcos (Servo) 17, 22, 23, 40, 41, 69, 109- Lucas (Filho do Homem) 8, 16, 40- João (Filho de Deus) 19, 102, 118

PROVÉRBIOS

99 Vide alguns exemplos em: Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, pp. 169-170.100 Frans van Deursen, Los Salmos, vol. 1, pp. 45-46.

96

TítuloO título hebraico vem de uma raiz l#m significando ser como, e

por isso, tem primariamente o sentido de uma comparação indicandoduas situações de similar caráter.

AutoriaHá pelo menos sete indicações da autoria no próprio livro:1:1 – “provérbios de Salomão”10:1 – “provérbios de Salomão” (título)22:17 – “palavras dos sábios”24:23 – “provérbios dos sábios”25:1 – “também estes são provérbios de Salomão, os quais

transcreveram os homens de Ezequias, rei de Judá”30:1 – “palavras de Agur, filho de Jaque, de Massa” (título)31:1 – “palavras do rei Lemuel, de Massa, as quais lhe ensinou

sua mãe”.

O livro é prefaciado com o nome de Salomão, mas há uma seçãoatribuída aos “sábios”, e dois capítulos que são atribuídos, um aAgur e o outro a Lemuel. Há quem tente explicar o fato, dizendo queLemuel e Agur são outros nomes de Salomão, embora essa tese não tenhabase histórica, nem bíblica.

A tradição judaica no Baba Bathra 15a afirma que “Ezequias eseus companheiros escreveram os Provérbios”. Provavelmente que estadeclaração talmúdica refira-se a “Ezequias e seus companheiros” nãocomo autores, mas como compiladores que ajuntaram e editaram o livro,acrescentando outros provérbios. Podemos admitir algumas conclusões:

1. A maior parte dos provérbios são realmente de Salomão. Conforme2Rs 4:32 lemos que Salomão “disse três mil provérbios e foram oseus cânticos mil e cinco”.

2. Agur foi o autor do cap. 30, e nada se sabe a seu respeito.3. O rei Lemuel foi o autor 31, e também, nada se sabe sobre a sua

identidade, e não há nenhum registro de tenha existido um rei emIsrael identificado com este nome.

4. Podemos deduzir que Salomão tenha compilado e incluído osprovérbios pré-existentes aos seus, os “provérbios dos sábios”.Edward J. Young observa que “pode ser que esta referência aossábios não seja indicação de autoria, mas mostre simplesmenteque as palavras empregadas pelo escritor são as aprovadas ou

97

seguidas pelos sábios, ou pelo menos estão de acordo com os seusditos”.101

5. Ezequias e sua equipe adicionaram em seus dias (cerca 700 a.C.),outros provérbios, talvez do próprio Salomão, e de outrossábios, que igualmente foram inspirados e guiados pelo EspíritoSanto.

6. Os dois últimos capítulos são unidades independentes, de autoresdesconhecidos. Seriam como apêndices.

DataNão há motivos sólidos para abandonarmos a autoria de Salomão da

primeira parte do livro. Nesse caso, a data provável seriaaproximadamente 950-900 a.C. para a escrita dos capítulos 1-24, nametade final do seu reinado, e aproximadamente 725-700 a.C. para osúltimos capítulos 25-31, que foram compilados por “Ezequias e seuscompanheiros”.

O livro apócrifo Eclesiástico 47:17, cita Pv 1:6. Este apócrifoé datado em 200 a.C.. Ao citar Provérbios isso aponta algumasevidências da data do livro:

1. Provérbios já existia tempo suficiente, antes deEclesiástico, para que tornasse reconhecido como fonte deautoridade canônica.

2. O livro de Provérbios influenciou o estilo literário deEclesiástico, o que indica uma imitação daquilo que setornara “padrão” no estilo Mashal.

PropósitoPropósito didático

Advertir dos grandes perigos que resultam inevitavelmente porseguir os ditames da natureza ou paixões pecaminosas (Pv 1:1-7). “Opropósito do escritor aqui é traçar o contraste mais nítido entre asconsequências de buscar e encontrar a sabedoria e as de seguir umavida de insensatez.”102

Propósito teológicoFoi escrito para dar ao povo de Deus um guia prático e memorável

de como aplicar o conhecimento de Deus (o temor do Senhor) à vida101 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 327.102 W.S. Lasor, D.A. Lasor, F.W. Bush, Introdução ao Antigo Testamento, p. 502.

98

diária, para aqueles que já entraram num relacionamento de Aliançacom Ele. Mostrando como a Aliança com Deus tem aplicação extremamenteprática na vida diária.

Estrutura e esboço do livro1.

Prólogo................................................................ 1:1-7

2. Provérbios aos jovens.......................................1:8-9:18

3. Miscelânea de Provérbios................................. 10-24

4. Coleção de Ezequias..........................................25-29

5. Apêndice de Agur e Lemuel............................. 30-31

1. Título eassunto................................................... 1:1-7

2. Váriosdiscursos................................................... 1:8-9:18

3. Primeira coleção de provérbios de Salomão... 10:1-22:164. Primeira coleção das “palavras dos sábios”..... 22:17-23:145. Discursos

adicionais............................................. 23:15-24:226. Segunda coleção das “palavras dos sábios”..... 24:23-347. Segunda coleção de provérbios de Salomão.... 25:1-29:278. As palavras de

Agur............................................. 30:1-339. As palavras de

Lemuel......................................... 31:1-910.O elogio à esposa prudente...............................

31:10-31

Análise do conteúdoO livro de Provérbios é uma excelente antologia de declarações

sábias. Estimula de forma provocante a imaginação, levando o leitor arefletir nas implicações de uma verdade simples e auto-evidente. R.K.Harrison observa que “os provérbios consistem geralmente de breves e

99

incisivas declarações em que podem ser usadas com grande efeito nacomunicação de verdades morais e espirituais, sobre a conduta.”103

Klaus Homburg comenta que “no provérbio da sabedoria sãoformulados expressões proverbiais segundo os critérios da analogia edo paradoxo.”104

Contribuição ao cânonO texto do Talmud, Shabbath 30b registra a dúvida entre os

rabinos quanto à canonicidade de Provérbios. Declara o Talmud que “olivro de Provérbios, também o procuraram esconder, por havercontradições no seu contexto”. E cita como exemplo a passagem de26:4-5 que diz “não respondas ao insensato segundo a sua estultícia(...), ao insensato responde segundo a sua estultícia...”. Mas opróprio Talmud interpreta a situação afirmando que “não hádificuldade; um refere-se a assuntos da lei e o outro a negóciosseculares.”

Fatos interessantes1. Em 1Rs 4:32, Salomão fez 3000 provérbios e 1005 cânticos. O

livro de Pv tem apenas 915 dos 3000.105

2. O cap. 31 inclui um poema acróstico (a primeira palavra de cadaversículo começa com uma letra do alfabeto hebraico, vide* TM);

ECLESIASTES

TítuloO nome original deste livro é Qoheleth que deriva duma raiz

hebraica lhq [qahal], que significa chamar ou reunir. Váriossignificados tem sido sugeridos a Qoheleth. Uns dizem que significa“alguém que reúne uma audiência”; outros insinuam a ideia de umcolecionador de verdades. Ainda há quem afirme que significa aqueleque debate ou discursa, ou seja, pregador. Talvez, este último seja o

103 Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 1011.104 Klaus Homburg, Introdução ao Antigo Testamento, p. 188.105 Samuel J. Schultz, A História de Israel no Antigo Testamento, p. 273, nota 13.

100

melhor significado da palavra Qoheleth, como adotam a maioria denossas versões em português. A tradução da LXX deriva da palavraekklhsia [ekklesia].

AutoriaA tradição judaica Baba Bathra 15ª declara que “Ezequias e seus

companheiros escreveram Eclesiastes”. Esta afirmação se refere apenasà compilação e publicação dos livros escritos por Salomão. Em outrostrechos, a tradição judaica de forma explícita diz que Salomão foi oautor Megilla 7ª e Shabbath 30).106

O erudito conservador Edward J. Young rejeita a autoria deSalomão e oferece algumas objeções:107

1. Por quê Salomão usaria tão estranho título (Qoheleth)? 2. O nome de Salomão não aparece no livro, como ocorre em

Cantares e Provérbios.3. As condições históricas não parecem ser da época de Salomão.

Em 1:16 o autor afirma que sobrepujou em sabedoria “a todosos que antes de mim em Jerusalém”. Salomão foi o segundo rei,no regime da teocracia de Israel, a morar em Jerusalém.

4. O livro supõe um contexto histórico de opressão (4:1-3,13;5:8; 7:10; 8:2,9; 9:14-16; 10:6-7,16-17,20).

5. Foi autor desconhecido, que viveu num posterior pós-exílico,que colocou as suas palavras na boca de Salomão. A linguagem,o uso das palavras e o estilo contém muito do aramaico.

Argumentos em defesa da autoria de Salomão:1. Visto ser o livro de Eclesiástico um livro de refinada

retórica, nada impediria Salomão referir-se a si mesmo como otítulo de Qoheleth.

2. É fato que há a omissão do nome de Salomão, mas, ele seidentifica de um modo inconfundível como sendo “filho deDavi, rei de Jerusalém”.

3. A afirmação “a todos os que antes de mim em Jerusalém” podeser uma referência aos reis da cidade-estado de Jerusalém, noperíodo que os jebuseus eram senhores sobre aquele lugar, ou,aos demais reis das nações pagãs (2Cr 9:22).

106 Gleason L. Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento? pp. 436-437.107 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 362-363.

101

4. Embora o autor fale de opressão, miséria, perversão dajustiça, isso pode ser uma descrição daquilo que Salomão viunos outros reinos antes dele, como também, em reinos pagãos.Todavia, não devemos cair no erro de pensar que o reinado deSalomão fora perfeito. Foi um reinado próspero, o melhorperíodo da história de Israel, mas nunca poderia serconsiderado um período de perfeição magisterial, ou isento decorrupções (1Rs 12:4); Salomão não está preocupado em fazerpropaganda positivista do seu reinado, mas mostrar acorruptibilidade do poder.

5. As possíveis ocorrências de palavras aramaicas, podem serexplicadas pelo contado comercial internacional (1Rs 9:10-10:29), como também pelas esposas estrangeiras (1Rs 11:1-2).

6. Se o autor não foi Salomão, então o escritor mentiu. As auto-identificações do autor indicam Salomão. “Caso Salomão nãofosse seu autor, a falsa personificação do mais sábio detodos os homens sábios teria sido descoberta há muito tempopelos rabinos de Israel, e esses não permitiriam a inclusãodo livro no Cânon.”108

a. Afirma “venho sendo rei em Jerusalém” (ARA).b. Em Ec 2:1-11 confere com as riquezas que Salomão possuiu

e construiu (2Cr 8:1-9:28).c. O autor identifica-se como aquele que reuniu e organizou

muitos provérbios (12:9).d. Ninguém possuiu tanta sabedoria, prosperidade e

expressão mundial no período monárquico, quanto Salomão,de fato, ele se tornou uma referência em muitos sentidospara seus posteriores.

DataA data aproximada de 935 a.C. é melhor aceita. O livro é uma

retrospectiva na velhice, da vida vazia em que ele viveu com ocoração desviado do temor do Senhor (1 Rs 11:1-8). Ellisen observaque “o conteúdo e as conclusões certamente combinam bem com os anosde maturidade de Salomão.”109 Esta tese é confirmada, pela tradiçãojudaica na Midrash (Shir Hashirim Rabá 1,10), que afirma ter o rei

108 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p.191.109 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 191.

102

Salomão escrito o livro de Cantares na sua juventude e o Eclesiastesna sua velhice.110

O comentarista A.R. Fausset esclarece que Eclesiastes fica “comoselo e testemunho de arrependimento de sua apostasia no período deintervenção (Sl 89:30,33) a prova de sua penitência.”111

PropósitoO propósito é descobrir qual o melhor bem da vida. Trata do

prazer, sabedoria, da riqueza, mas considerando-os vãos. O melhor bemda vida somente pode ser conseguido se alguém teme a Deus e guarda osseus mandamentos (12:13). A vida sem Deus, ou, fora da vontade deDeus é fútil.

Busca pelo verdadeiro significado da vida. Longe de Deus a vidanão é vida, pois só Deus lhe pode dar o verdadeiro significado.

O homem e sua relação com o mundo. “A única interpretaçãopossível do mundo é considerá-lo, pois como criação de Deus e usá-loe gozá-lo apenas para a Sua glória.”112

Estrutura e esboço do livro1. Prólogo: tudo é vaidade........ 1:1-112. Monólogo: Vida sem sentido..... 1:12-12:1-83. Epílogo: Temor de Deus........... 12:9-14

Análise do conteúdoO linguista Lyman Abbott faz uma análise do livro dizendo

assim, o livro de Eclesiastes é um monólogo dramático,apresentando as complicadas experiências da vida; essas vozesestão em conflito, porém apresentam ou relatam o conflito de umasimples alma em guerra consigo mesma. Nesse monólogo, o homem seapresenta monologando consigo mesmo, comparando as experiências davida umas às outras. Assim, o livro de Eclesiastes édeliberadamente de uma confusa intenção, porque é o quadro deexperiências confusas de uma alma dividida contra si mesma.113

110 Meir Matzliah Melamed, Torá a Lei de Moisés, p. 647.111 Jamieson, Fausset, Brown, Old Testament Commentary, vol.2, pp. 93-94 (Books for theAges, 1997), CD-Master Christian Library 01/02, in loco.112 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 367.113 Lyman Abbott, Life and Literature of the Ancient Hebrews, pp. 292-293.

103

Contribuição ao cânonVários fragmentos de Eclesiastes foram encontrado na caverna 4

de Qumran, que datam, aproximadamente, da metade do século II a.C..Disto pode-se concluir que na época ele já possuía reconhecido valorcanônico.

Dificuldades de interpretaçãoEmbora o livro tenha um tom existencial negativista em seu

discurso, para que tenha o correto entendimento da sua mensagem, eledeve ser interpretado como um todo. A chave para a interpretação deEclesiastes é o texto final 12:13-14.

Fatos interessantes1. Os argumentos do livro não são os argumentos de Deus, e sim os

registros de Deus para os argumentos do homem.2. O autor usa somente o nome Elohim (Deus), nunca o nome Yahweh

(SENHOR), “assim o autor pode estar enfatizando o relacionamentodo homem com Deus, à parte da experiência da redenção”.114

3. O judeus leem este livro na festa dos Tabernáculos. O rabinoDavid Gorodovits explica a razão desta prática entre os judeus“sendo Sucót considerado Zeman Simchatênu, ou seja, ‘época denossa alegria’, quando, em Israel, os celeiros estão abarrotadoscom os frutos da colheita, seria fácil entregar-se a futilidadese lazer, esquecendo de onde veio a benção que resultou nosucesso do trabalho. É exatamente quando a leitura do Cohelét,com suas mensagens profundas, conscientiza-nos da bondade e dajustiça do Eterno, sem as quais nenhum sucesso pode seralcançado pelo ser humano.”115

CÂNTICO dos CÂNTICOS

Título

114 David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 57.115 Meir Matzliah Melamed, Torá a Lei de Moisés, p. 669.

104

Considerando que Salomão escreveu 1005 cânticos (1Rs4:32), este seria o “cântico dos cânticos”, ou seja, “omelhor de todos os seus cânticos”.

AutoriaO Talmud Baba Bathra 15a declara “Ezequias e seus companheiros

escreveram o Cântico dos cânticos.” Mas, a mesma afirmação feitaacerca do livro de Provérbios (vide* autoria), é repetida sobre este,tendo o mesmo significado. “Ezequias e seus companheiros” não são osautores de Cânticos, mas apenas os compiladores das obras de Salomão.Algumas evidências internas e externas a respeito da autoria:

1. O primeiro versículo atribui o livro a Salomão com o prefixohebraico para autoria (lamedh auctoris).

2. A obra parece referir-se a uma época histórica anterior àdivisão do reino. O autor menciona várias localidades dopaís, como sendo único reino, por exemplo, Jerusalém,Carmelo, Sarom, Líbano, Em-Gedi, Hermon, Tirza, etc..

3. A comparação da noiva com “as éguas dos carros de Faraó”(1:9), é interessante, se atendermos a que foi Salomão quemimportou os cavalos do Egito (1Rs 10:28).

4. A autor mostra-se também conhecedor de plantas e animaisexóticos: 15 espécies de animais e 21 variedades de plantas(1Rs 4:33).

5. Salomão escreveu 1005 cânticos, sendo Cantares o únicopreservado (1Rs 4:32).

6. Negar a autoria, afirmando que um polígamo não poderia terescrito este cântico de fidelidade conjugal é a mesma coisaque fazer objeção à autoria salomônica de Provérbios,baseando-se no fato dele ter violado tantos dos seus própriosprincípios.

7. A tradição judaica considera universalmente Salomão como oautor. Os judeus leem liturgicamente todos os anos porocasião da Festa da Páscoa, atribuindo-o à Salomão.

DataEscrito depois dele ter adquirido muitas carruagens do Egito e

ter ampliado suas vinhas até o vale de Jezreel. O seu harém deesposas e concubinas era bem menor, de 60 a 80 mulheres, em

105

comparação com as 700 esposas e 300 concubinas como posteriormentechegou a ter.

O livro de Cantares, talvez, seja o mais antigo livro canônicode Salomão. Reflete a sua juventude vigorosa, do mesmo modo queProvérbios reflete sua meia-idade, e Eclesiastes mostra suamaturidade nos seus anos finais. Assim, aceita-se a data aproximadapara Cantares como sendo aproximadamente no ano 900 a.C.

PropósitoPropósito histórico

Comemorar o casamento de Salomão com a Sulamita e expressar oprazer do sexo no casamento como uma dádiva de Deus.

Propósito didáticoEdward J. Young afirma que o livro foi escrito “para leitores

que vivem num mundo de pecado, de prazeres e de paixões, ondeviolentas tentações nos assaltam e procuram afastar-nos do tipomodelar de casamento, nos moldes da lei de Deus, e lembra-nos de ummodo particularmente sublime, quão puro e quão nobre é o verdadeiroamor.”116

Análise do conteúdoO cântico apresenta interação entre Salomão, a Sulamita, e o

coro, passando repentinamente de uma pessoa para outra e de uma cenapara outra. A identificação é geralmente feita pelos pronomespessoais usados.

Contribuição para Teologia ATSellin-Fohrer comentam que

a importância do Cântico dos Cânticos deve ser vista não só nofato de que ele evita, de um lado, uma divinização sacral doelemento sexual, de que estavam impregnados os cultos míticos dafecundidade do Antigo Oriente, mas de que, por outro lado,contradiz também aquela atitude de desdém e de repulsa pelo sexo,que partiu sobretudo do judeu-cristianismo de cunho essênio e damística platônico-helenística. O Cântico dos Cânticos indica que,desde o momento em que o matrimônio está de acordo com a vontade

116 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 351.

106

de Deus, o amor sexual vale igualmente como seu pressuposto e comoseu fundamento.117

Contribuição ao cânonNa tradição judaica, Mishnah, Yadim, 3:5, lemos uma afirmação do

rabino Aqiba, da escola de Hillel, acerca da canonicidade de Cantaresque diz “pois em todo o mundo nada há que possa comparar-se ao dia emque Cantares de Salomão foi dado a Israel. Todos os escritos sãosantos, mas num grau superior o Cântico dos Cânticos”.118

Fazendo uma comparação temática entre Provérbios e Cantares,William M. Ramsay fornece um precioso motivo em favor da canonicidadedeste poema tão sensual. Ramsay observa que “livros como Provérbios,todavia, celebram a obra de Deus na criação. A vida diária, de acordocom a literatura sapiencial, é um dom de Deus. Assim, tão natural é afunção da união sexual como parte da boa criação de Deus. Crendo quea natureza é um dom do Criador, o sábio não poderia separar o“secular” do “sagrado”. Deste modo, o poema de amor, é igualmente, umpoema de amor sensual, não podendo ficar fora das Escritura.”119

Dificuldades de interpretaçãoHá controvérsias acerca da interpretação deste livro por muitos

séculos. Três interpretações principais:120

1. A alegorização judaica. A método alegórico é o mais antigo detodos. Segundo esta posição o livro estaria descrevendo emlinguagem figurada a relação entre Yahweh e Israel.121

2. A alegorização da Igreja Primitiva. Seguindo o método alegóricoa Igreja Primitiva (Orígenes e Hipólito) interpretou o livrocomo sendo uma descrição do amor de Cristo e a Igreja:

117 E. Sellin, G. Fohrer, Introdução ao Antigo Testamento, vol.2, p. 446.118 Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 1051.119 William M. Ramsay, The Westminster Guide to the Books of the Bible, p. 178.120 Para outras propostas hermenêuticas, vide* Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 348-350.121 Ainda hoje os judeus interpretam o livro de Cantares como sendo “símbolo do amorde Deus pela Congregação de Israel, sendo o dia de sábado seu intermediário.” Meir Matzliah Melamed, Torá a Lei de Moisés, p. 648. Em outro lugar, o comentarista faz a seguinte observação “apesar das expressões de amor e nostalgia parecerem referir-seao amor humano e à beleza física feminina, seu objetivo não é outro senão descreveralegoricamente as virtudes do povo de Israel e sua fidelidade ao Criador e a Seus preceitos, como também o amor de Deus a Seu povo predileto”. p. 655

107

a. 1:5 fala da cor morena, ou negra, pelo pecado, mas belapela conversão (Orígenes).

b. 1:13 “entre os meus seios” refere-se às Escrituras do AT eNT, entre os quais se encontra Cristo (Cirilo deAlexandria).

c. 2:12 alude à pregação dos apóstolos (Pseudo-Cassiodoro).d. 5:1 é uma alusão à Ceia do Senhor (Cirilo de Alexandria).e. 6:8 refere-se às oitenta heresias (Epifâneo).

3. A alegorização no período moderno. Os dois heruditos em AT,Hengstenberg e Keil, aplicam a interpretação alegórica nestelivro. Também a Versão Autorizada Inglesa em seus títulos dedivisão:

a. 1-3.... O mútuo amor de Cristo e da sua Igreja.b. 4...... As graças da Igreja.c. 5...... O amor de Cristo para com ela.d. 6-7.... A Igreja manifesta a sua fé.e. 8...... O amor da Igreja para com Cristo.

4. A interpretação do método gramático-histórico e o histórico-crítico interpretam como uma descrição do amor humano, numrelacionamento de pureza conjugal conforme Deus estabeleceu parao casamento desde o princípio.

Fatos interessantes1. Os judeus leem este livro na Páscoa.2. Assuntos não mencionados: nenhum dos nomes de Deus; pecado;

culto de Israel; nem alusão a outro livro do AT.3. Na época da escrita, Salomão já tinha 60 rainhas e 80 concubinas

(1Rs 11:3, 700 rainhas e 300 concubinas).4. O Novo Testamento não faz citação de Pv.5. O único livro dedicado completamente ao amor conjugal, romântico

e sexual.6. Os nomes Salomão e Sulamita são sinônimos. Seria o casamento do

“pacificador” e da “pacificadora”.

LIVROS PROFÉTICOS

108

Profetas da “Palavra”122

Estes foram aqueles que não escreveram suas profecias.Encontramos no AT a sua identificação como “profetas”. Todavia, elesnão registraram suas profecias, mas, outros foram inspirados paraescreverem as suas revelações, e perpetuarem sua memória na históriade Israel. Alguns deles nem sequer são mencionados pelo nome, masapenas a importância do seu feito.Eis alguns desses profetas da “Palavra”:1. Gade.......................................... 1Sm 22:52. Natã........................................... 2Sm 12:13. Ido............................................. 2Cr 9:294. Aías............................................ 1Rs 11:295. Semaías..................................... 1Rs 12:226. “Homem de Deus”................ 1Rs 13:17. “Velho profeta”...................... 1Rs 13:118. Azarias...................................... 2Cr 15:19. Hanani...................................... 2Cr 16:710. Jeú, filho de Hanani............. 1Rs 16:1; 2 Cr 19:211. Jaaziel...................................... 2Cr 20:1412. Elias........................................ 1Rs 17:113. “Profeta desconhecido”...... 1Rs 20:1314. Micaías................................... 1Rs 22:1415. Eliseu..................................... 2Rs 2:116. “Jovem profeta”.................. 2Rs 9:117. Zacarias, filho de Joiada..... 2Cr 24:2018. Obede.................................... 2Cr 28:9

Profetas Maiores

ISAÍAS

122 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, pp. 212-213.

109

TítuloO livro recebeu o nome do próprio profeta. No título TM o nome

ocorre hy($y igualmente em Baba Bathra 14b. No texto da profecia, enoutras porções do AT, o nome já ocorre numa forma mais longa, isto éwhy(#y embora a forma mais breve também aparece (1Cr 3:21; Ed 8:7,19; Ne 11:7).123

Quanto ao significado do nome “Isaías”, quer dizer “o SENHOR é asalvação”.

AutoriaO texto o descreve como “filho de Amoz”, marido de uma profetiza

e pai de dois filhos que deveriam ser “sinais” para a nação (1:1;8:3, 18). As tradições judaicas indicam que ele era primo do reiUzias e foi serrado ao meio pelo impiedoso rei Manassés. Ellisen odescreve como sendo “dotado de uma espiritualidade profunda, bem-educado e capelão da corte de quatro reis de Judá por um períodoaproximado de cinquenta anos, Isaías foi talvez a figura maismonumental dos séculos intermediários da história de Israel.”124

Debate sobre a autoria de IsaiasAté 1775 a autoria do livro de Isaias era assunto irrelevante.

Não se questionava sua autoria até esse período, hoje ela é quase queuniversalmente negada pela Alta Crítica.125O principal motivorelaciona-se com os detalhes das profecias do livro, algumascumpridas em todos os detalhes 150 anos mais tarde, chegando mesmo adar o nome de Ciro, o rei persa, que libertou o povo do seu cativeiro(44:28; 45:1).

Muitos são os argumentos levantados para defender uma autoriadupla ou múltipla, sendo que as maiores objeções negam que oscapítulos 40-66 tenham sido escritos por Isaias. A dificuldadedaqueles que negam a unidade e autoria fundamental de Isaias seencontra em suas premissas antissobrenaturais. Alguns argumentos quenegam que Isaias tenha sido seu único autor:

1. O nome de Isaías não é mencionado em 40-66.

123 Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 764.124 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 214.125 Veja Resumo histórico da negação da autoria de Isaías, in: Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 211-214.

110

2. O cenário histórico de Is 1-39 difere do cenário dos capítulos40-66.

3. O estilo literário de Is 1-39 difere do estilo dos capítulos 40-66. Esta premissa espera que o mesmo autor não varie o seuestilo literário, bem como não tenha liberdade linguística emsua redação.

4. Os conceitos teológicos de Is 1-39 são diferentes em 40-66. Épossível que o mesmo autor use a mesma palavra com significadosdiferentes (usus loquendi), bem como, enfatizando um aspecto, maisdo que outro do mesmo vocábulo. Ignora-se a progressão darevelação no decorrer do livro.

Defesa da autoria de Isaias1261. O próprio Isaias em 1:1 se indica como sendo o autor. O

versículo 1 se refere intencionalmente ao livro inteiro. Ofato de Isaías não ficar mencionando seu nome em todo livro,inclusive nos capítulos 40-66, deixa claro que, a suapreocupação central, não era a sua autobiografia, mas amensagem do Senhor. Isso fica evidente quando ele deixa paradescrever o seu chamado ao ministério somente no capítulo 6.

2. A regra quase invariável que os antigos hebreus seguiam paraaceitar aos escritos dos profetas como canônicos, era saber onome do profeta.

3. A evidência dos manuscritos estão em favor da autoria deIsaias. Não há indício de interrupção ou mudança de autoriaem nenhuma das suas divisões, e em nenhum dos seusmanuscritos. Mesmo os manuscritos da LXX, e de Qumranapresentam Is como sendo uma unidade. Não há evidência de queo livro tenha circulado mutilado, em dois, ou até mesmo emtrês porções nalgum período.

4. Nas obras de Dn, Ed e Ne percebemos a influência e presençaaramaica, por serem obras pós-exílicas. Entretanto, nalinguagem de Is o hebraico é perfeitamente puro, livre dequaisquer características pós-exílicas.

5. O cenário histórico de 40-66 ajusta-se melhor à Palestina doque à Babilônia. Isto fica claro, pelo fato do autor nãodemonstrar familiaridade com a terra, ou com a religiãobabilônica, o que seria natural se estivesse entre os

126 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, pp. 214-219.

111

exilados. Mas, são abundantes as referências sobre Jerusalém,as montanhas da Palestina, árvores nativas da Palestina(41:19; 44:14).

6. As cidades de Judá são descritas como ainda existindo. Se Is40-66 fosse posterior dum período posterior seriaininteligível as afirmações de 40:9 e 62:6.127

7. As referências à idolatria de Judá como ainda existindo,indicam um período anterior ao exílio na Babilônia (40:9;44:9-20; 57:4-7; 62:6; 66:17). A idolatria foi exterminada noexílio, e depois de 586 a.C. já não era um problema em Judá.

8. O autor quando escreveu não se encontrava na Babilônia, masna Palestina. Em 43:14, o Senhor fala em enviar para aBabilônia. Algumas expressões indicam que o autor escreviacomo olhando o mundo a partir de Jerusalém, para o judeucentro do mundo (41:9; 45:22; 46:11).

9. As duas seções 1-39 e 40-66, possuem uma simetria teológicanos seus conceitos acerca de Deus e do Messias. A expressão“o Santo de Israel” usada raramente por outros escritores, éencontrada vinte e cinco vezes no livro, doze em 1-39 ecatorze em 40-66.

10.Estudiosos conservadores indicaram no mínimo quarenta oucinquenta frases que aparecem em ambas as partes de Is 1-39 e40-66, indicando que ambas pertencem ao mesmo autor;128

11.Profetas do período pré-exílico mencionam os escritos deIsaías 40-66 (Na 1:15 e Is 52:7; Sf 2:15 e Is 47:8; Jr 31:35e Is 51:15), o que indica que Is sempre foi uma unidade,desde quando esses profetas escreveram.

12.A tradição judaica atribui o livro integralmente a Isaias. Oapócrifo Eclesiástico 49:17-25 cita e comenta a profecia deIsaías como uma unidade literária.

13.Os escritores do NT citam esse profeta mais do que todos osoutros juntos, tendo Isaias como o autor de ambas as seções(Mt 3:3 e Is 40:3; Jo 12:38-41 e Is 6:9-10, 53:1; Rm 9:27-29,33, 10:20 e Is 10:22-23; 1:9; 28:16; 65:1).

14.Se Is 40-66 não foi escrito por Isaías, é estranho que aidentidade do seu autor se tenha perdido, quando é certo que

127 Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 275.128 Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, pp. 282-283.

112

autores de menor porte e que escreveram na mesma época tenhamsido conservados.

15.Edward J. Young observa acertadamente que “quando alguémcomeça a separar ou dividir Isaías, é impossível aceitarapenas duas ou três divisões mais latas. Mas o indivíduo écompelido a continuar a analisar e a dividir, até que restaapenas uma conglomeração de fragmentos. A história docriticismo literário de Isaías tem demonstrado que o fim detal processo divisor em realidade é o ceticismo.”129

Data e local da escritaA sua data é aproximada entre 740-680 a.C., pelos seguintes

motivos:1. Isaías profetizou durante mais de sessenta anos, desde antes

da morte de Uzias [740], até algum tempo depois da morte deSenaqueribe [681](Is 1:1; 6:1; 37:38);

2. Tudo indica que ele escreveu a maior parte do livro (1-39)durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, e orestante dos capítulos (40-66), durante o impiedoso reinadode Manassés, entre 697 e 680 a.C.. “Seu sofrimento sob oreinado desse rei pode ter contribuído para o texto pungentedo ‘Sofrimento Vicário do Servo do Senhor’ (52:13-15; 53).Ele próprio teve sorte semelhante.”130

3. Foi escrito em Jerusalém.

Contexto históricoO cenário internacional era a ascensão do império Assírio.

Tiglate-Pileser veio ao ocidente para invadir Israel e aTransjordânia, em 745 e 734 a.C..

Isaías foi um profeta do reino do Sul (Judá). O cenário nacionalera uma época de opressão e desordem. O reino do Norte (Israel) haviase corrompido, após o reinado de Jeroboão II, sob o governo de reisimpiedosos. O reino do Sul (Judá) havia se tornado uma grandepotência sob o reinado de Azarias e Jotão, mas também declinara sob oreinado do idólatra Acaz. Muitas alianças foram feitas com potênciasestrangeiras a fim de adiar a sujeição total à Assíria, que procuravaconquistar todo o ocidente (Is 7:12). Quando Judá foi atacada pela129 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 218.130 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 218.

113

Síria e Israel, Acaz sacrificou o seu filho mais velho num altar, edepois pediu auxílio aos assírios. Como resultado, tornou-se vassalode Tiglate-Pileser, da Assíria.

Com a ascensão de Ezequias ao trono de Judá, surgiu um movimentode reforma (2Cr 30:1-13). A reforma apressada e o entusiasmo peloreavivamento promovido por Ezequias evitou a destruição de Judá, comoocorreu com Israel em 722 a.C. Entretanto, as alianças com o Egito eBabilônia, feitas posteriormente pelo próprio Ezequias, trouxeramrenovada agressão da Assíria contra Judá, que ameaçou destruí-la, atéque o rei aceitou o conselho de Isaías e confiou no Senhor para olivramento. Em 701 a.C. aconteceu o livramento esperado, quando oAnjo do Senhor destruiu o exército de Senaqueribe, de 185.000 homens,e pôs fim à campanha do invasor do ocidente. O registro desseacontecimento está na parte central da profecia de Isaías.

Alguns dos profetas menores eram contemporâneos de Isaías. Oprofeta Miquéias complementou o ministério de Isaías na região ruralde Judá. Enquanto Isaías profetiza à corte real e à aristocracia deJerusalém, Miquéias pregava ao povo interiorano de Judá. Enquantoisso, o profeta Oséias pregava no reino do Norte (Israel).

PropósitoEnsinar que a salvação vem pela graça, ou seja, só Deus salva,

não o esforço humano. Esta verdade se encontra inclusive no nome doprofeta “Yahweh é a salvação”. Lembrar à nação a Aliança com oSenhor, especialmente o seu programa redentor pela mediação doMessias, que primeiro viria como Servo Sofredor e, mais tarde, comogovernador de toda a terra (52:13-53:12). A salvação vem do Senhor,não de ídolos, nem de alianças seculares.

Admoestar a nação do iminente julgamento devido à idolatria e àsalianças com povos pagãos.

Estrutura do LivroI.Condenação (1-39)

1. Contra Judá............... 1-122. Contra as Nações pagãs.... 13-233. O Dia do Senhor........... 24-274. Julgamento e Benção....... 28-355. Parêntese histórico....... 36-39

II.Consolação (40-66)

114

1. A salvação da Nação....... 40-482. O Salvador (Servo)........ 49-573. O futuro da Nação......... 58-66

Fatos interessantes1. Conforme a tradição judaica Isaías sofreu uma violenta morte,

cortado ao meio no reino de Manasses.2. É citado no NT mais do que outro profeta.3. É considerado o melhor escritor entre os profetas. Seu estilo

literário inclui bastante variedades. Seu vocabulário possuiquase 2200 palavras diferentes no original, mais do que qualqueroutro autor do AT.

JEREMIAS

Título

AutoriaA formação do profeta Jeremias é toda envolvida em profecia.

Sabe-se mais acerca da vida desse profeta, do que de qualquer outro.Eis algumas informações sobre ele:

1. Nasceu cerca de 647 a.C., em Anatote, uma cidade sacerdotal, anordeste de Jerusalém (cerca 5 Km). Era filho de Hilquias, queprovavelmente, foi o sumo sacerdote na ocasião da reforma deJosias. Hilquias, que também foi bisavô de Esdras (Ed 7:1).

2. Constituído profeta pelo Senhor antes do seu nascimento (1:5) echamado pelo Senhor no décimo terceiro ano do reinado de Josias,aos 20 anos de idade (1:2).

3. Não se casou, pois o Senhor proibiu que o fizesse como um sinalao povo da próxima destruição de Jerusalém (16:2).

4. Jeremias pregou em Jerusalém durante quarenta anos (627-586) eno Egito, durante cinco anos (Jeremias 43-44). Aconselhou cincoreis e um governador de Judá, bem como os rebeldes judeus quefugiram para o Egito.

115

5. Foi considerado um traidor devido a esses julgamentos. Pareceque não viu uma só pessoa converter-se no seu longo ministériode mais de quarenta anos.

A autoria de Jeremias é fato provado e não tem recebido sériacontestação. Pode ser afirmada:

1. O livro possuí numerosas referências biográficas eautobiográficas de Jeremias como autor e Baruque como seuescriba, ou secretário. Nenhum outro profeta teve o seu nometantas vezes repetido, cerca de 131 vezes, e o nome de seuescriba citado 23 vezes.

2. O livro é atribuído a Jeremias em Dn 9:2 e em Ed 1:1.3. A tradição judaica indica Jeremias como o autor do livro.

Data e localO ministério de Jeremias começou no reinado do rei Josias e

continuou em Jerusalém durante os dezoito anos de reforma e os vintee dois anos de colapso nacional. Foi levado cativo para o Egito com oresto rebelde dos judeus em 586 a.C., ali profetizou durante cincoanos, condenando a idolatria dos judeus (44:8) e anunciando a vindapróxima de Nabucodonosor para conquistar o Egito, o que de fatoocorreu em 568 a.C..

O livro foi escrito entre 627-580 a.C..

Contexto histórica e geográficoNo cenário político mundial, essa foi uma época em que os três

grandes impérios, a Assíria, Babilônia e Egito, estavam lutando pelodomínio entre as nações. Em 626, Nabopolasar da Babilônia, com oauxílio dos medos, tomou essa cidade do domínio dos assírios, quecontrolavam o mundo por quase dois séculos. Em 612, destruíram Nínivee em 610 tomaram Harã. Em 605, a Babilônia derrotou o exércitoegípcio em Carquemis e assumiu o controle da Palestina. Nesse anoNabucodonosor chegou ao poder em 605, ano da morte do seu pai,apesar, de o Egito só ser finalmente conquistado em 568 a.C.. Durantea maior parte daquele período, o Oriente Médio esteve em desordem, eJeremias advertia em vão, os filhos de Josias a submeterem-se àBabilônia, e não se rebelarem. Mas, em 586 a.C., Jerusalém e o templo

116

foi destruído por Nabucodonosor depois da rebelião e um cerco de doisanos à cidade.131

A história abrange uma vasta região. Toda a Palestina,especialmente o reino de Judá. A temível Babilônia. A região doEgito, aonde um grupo de judeus buscaram refúgio, e Jeremias seguiupara repreendê-los.

Contexto religiosoO reavivamento do rei Josias, embora promovido com sinceridade,

foi evidentemente seguido de modo superficial pelos líderes e pelopovo. A nação viu-se diante da destruição, por causa da idolatria einiquidade de Manassés e da incorrigível decadência dos judeus. Logodepois da prematura morte de Josias na batalha do Megido, a naçãoretornou quase imediatamente à idolatria e corrupção.

PropósitoO grande tema que atravessa todas as mensagens de Jeremias é

acerca do julgamento contra Judá. O livro registra tanto a rejeiçãoda lei divina, como também a recusa inflexível da correção dosprofetas de Deus.

Estrutura do livroA ordem dos capítulos é mais tópica do que cronológica:1. Chamado de Jeremias............ 12. Profecias contra Judá.......... 2-453. Profecias contra as Nações..... 46-514. A Queda de Jerusalém........... 52

Análise do conteúdoAo contrário do apelo de Isaías para que confiassem na

libertação do Senhor, a mensagem de Jeremias era que a nação deveriasubmeter-se ao julgamento do Senhor aceitando o cativeiro daBabilônia, para que assim a cidade e a nação fossem salvas dadestruição total. O livro demonstra como esse solitário clamor.

Fatos interessantes

131 Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, pp. 802-803.

117

1. O livro Jr menciona a Babilônia 164 vezes, mais do que qualqueroutro livro bíblico.

2. Ele é o segundo maior livro da Bíblia.

LAMENTAÇÕES de JEREMIAS

TítuloOs hebreus chamavam-no de como?, pelo fato de ser essa a

primeira palavra do livro. De fato, esta é uma palavra característicade lamento. Posteriormente os rabinos mudaram-lhe o nome para qînath(Jr 7:29) que significa “alto choro” ou lamentações, como num cantofúnebre.

O título em português “Lamentação” é a tradução latina do termogrego krenoi que significa “alto choro”.

AutoriaO livro é anônimo. O título não se encontra no hebraico, sendo o

seu nome mencionado somente nas traduções. A sua autoria é atribuídaà Jeremias, tanto pelas tradições judaicas, como cristãs. Algumasevidências internas reforçam esta tese:

1. Foi ele um dos líderes a lamentar a morte de Josias.2. O Senhor o instruiu a “prantear sobre os altos desnudos” (Jr

7:29).3. Jeremias estava intimamente ligado aos trágicos acontecimentos

como testemunha ocular. O que se pode deduzir pela vivacidadegeral da descrição, é ainda o fato do poeta parecer identifica-se com o destino da cidade. Baruque poderia ter sido o escriba atomar nota das expressões de pesar, ditadas pelo profeta (Jr36:4; Lm 1:13-15; 2:6,9; 4:10).

4. Embora os estilos literários sejam um tanto diferentes nos doislivros, muitos dos temas e expressões são muito semelhantes.Edward J. Young observa as semelhanças notáveis entre os doislivros: “opressão da virgem filha de Sião” (Lm1:15; Jr 8:21); osolhos do profeta “se desfazem em águas” (Lm 1:16; 2:11 e Jr 9:1,18; 13:17), “há terror por todos os lados” (Jr 6:25; 20:10 e Lm

118

2:22), “veja eu a tua vingança sobre eles” (Jr 11:20 e Lm 3:64-66), etc.132

5. O título deste livro na LXX se lê o acréscimo dizendo:”aconteceu, depois de Israel ter sido posto em cativeiro eJerusalém em desolação, que Jeremias se sentou a chorar e lançouestas lamentações sobre Jerusalém, dizendo...”. A Vulgata repeteas mesmas palavras, e acrescenta ainda: “com espírito amargo elamentoso”.

6. A tradição judaica Baba Bathra 15a afirma que “Jeremias escreveuas lamentações”.

Gênero literárioNo TM este livro se encontra entre os “Escritos”, mais

especificamente, entre os cinco “Meguiloth” (Cantares, Rute,Lamentações, Eclesiastes e Ester). Enquanto o livro de Jr é uma obraprofético-preditiva que contém poesia, o livro de Lm é a poesia daprofecia cumprida.

O acróstico que encontramos em Lm aumenta ainda mais o valorliterário desta obra poética (vide* “Estrutura do livro”).

Não podemos esquecer de mencionar que Lm também é um registrohistórico por alguém que foi testemunha ocular daquilo que descreveu.

DataO livro foi escrito aproximadamente em 586 a.C.. Veja as

seguintes considerações:1. As expressões e o conteúdo emocional de tristeza. Sua linguagem

sugere uma época logo após a queda de Jerusalém, quando alembrança era bem recente.

2. A redação bem elaborada, apresentada em formato de acrósticoalfabético sugere, por outro lado, período mais longo dereflexão e construção literária.

3. É possível que o profeta tenha escrito o livro na esteira dosacontecimentos e que mais tarde tenha formado o texto comrequintes de acróstico para melhor memorização.

Contexto históricoA fuga e captura de Zedequias pôs fim à dinastia de Davi em sua

sequência histórica. O rei Zedequias rejeitou com arrogância a132 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 358.

119

exortação de Jeremias, bem como em virtude da deslealdade eingratidão a Nabucodonosor, que havia conquistado o reinado deJoaquim e o dera a Zedequias. A última cena contemplada antes de teros seus olhos furados, foi a chacina dos seus filhos e dos nobres.Levaram-no em cadeias para a Babilônia (Jr 39:6-7).

A queda de Jerusalém em 586 a.C., ocorreu depois de um cerco dedezenove meses, que trouxe fome e peste. Embora Jerusalém já tivessesido ameaçada e saqueada algumas vezes, essa destruição erainaceitável à mentalidade judaica que a via como cidade eterna (1Cr17:12; 22:10).

A época da redação desse livro, foi sem dúvida o mais sombrioperíodo da religião de Israel. A cidade escolhida por Deus estavaarrasada, o templo projetado e habitado pelo Senhor estava destruído,o povo havia sido levado para a terra idólatra da sua origem, aBabilônia.

A destruição do templo trouxe levou a religião de Israel a umnovo modus operandi, a origem da sinagoga. Não havendo templo muito dosistema sacrificial foi suspenso, pois as ofertas que acompanhavam asfestas e os rituais só podiam ser feitas no altar do templo. NaBabilônia os judeus adaptaram-se a adorar em conjunto, para estudar aLei, em pequenas reuniões (Ez 11:16). Nestas reuniões os fiéis eramobrigados a lembrar e aprimorar a sua fé a fim de sobreviver comoraça no meio duma cultura pagã.

PropósitoExpressar o grande pesar dos fiéis de Israel pela enorme perda

do templo e sua cidade sagrada. Outro propósito foi registrar como oSenhor cumpriu completa e literalmente as suas admoestações sobre ojulgamento da cidade e do santuário, devido ao povo ter persistido naidolatria e rebelião.

Estrutura e esboço do livroCada capítulo é um poema, e todos os capítulos são acrósticos:cap. 1-2.... 22 vs., cada vs. com 3 linhas cap. 3...... 66 vs., cada vs. com 1 linhacap. 4...... 22 vs., cada vs. com 2 linhascap. 5...... 22 vs., cada vs. com 1 linha

Análise do conteúdo

120

As lamentações expressam a profunda solidão de Israel quando aGlória do Senhor que afastou-se envergonhada. “O sujeito do poema éaqui o de uma pessoa que se identifica com o povo.”133

O livro de Lm confirma a soberania de Deus, reconhecendo-o comoo promovedor da devastação, e não apenas a Babilônia (2:17; 3:37-38).O livro fala do juízo de Deus, mas apontando para a sua fidelidade àAliança com o seu povo. A esperança está vinculada às promessas debenevolência divina condicionadas ao arrependimento (3:22-23).

Alguns dos eventos na destruição da cidade são mencionados: omassacre dos reis (2:6,9; 4:20), dos príncipes (1:6; 2:2,9; 4:7-8;5:12), dos anciãos (1:19; 2:10; 4:16; 5:12), sacerdotes (1:4,19;2:6,20; 4:16), dos profetas (2:9, 20), dos cidadãos comuns (2:10-12;3:48; 4:6), a prática do canibalismo (2:20; 4:10), a deportação (1:3,18) e enfim, a destruição de Jerusalém (1:4, 10).

EZEQUIEL

TítuloO nome significa “Deus fortalece”.

AutoriaA formação de Ezequiel preparando-o para o ministério profético:

1. Nasceu na família de Buzi, o sacerdote, em 622 a.C., no auge dareforma de Josias em Jerusalém. O “trigésimo ano” de 1:1 égeralmente entendido ser a idade de Ezequiel no ano de 592 a.C..Portanto, teria 30 anos quando lhe foi dada a primeira visão.Essa é também a data do quinto ano do reinado de Joaquim, pois oministério de um sacerdote começava aos 30 anos (1:2-3).

2. Foi exilado com Joaquim em 597 a.C., quando Nabucodonosor levoupara a Babilônia o que havia de melhor na terra. Na Babilôniaviveu em sua própria casa numa colônia judia chamada Tel-Abibe,junto ao rio Quebar (canal do Eufrates), evidentemente perto deNipur (1:1; 3:15).

133 Aage Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, p. 220.

121

3. Ezequiel era casado, mas a sua esposa faleceu em 588 a.C., diaem que começou o cerco de Jerusalém (24:1, 15-18).

Não há contestações da autoria de Ezequiel. Embora seu nome nãonome seja mencionado em nenhum outro livro da Bíblia, é identificadode diversas maneiras como o seu autor:

1. Identifica-se pelo nome em 1:3 e 24:24, em todo o livroapresenta um estilo autobiográfico.

2. A similaridade de pensamento usando um singular estilo gráficode visões, parábolas, alegorias e ações simbólicas no livro,deixa claro que a obra é resultado de uma única mente.

3. A ênfase sacerdotal do livro também sugere ser Ezequiel umsacerdote;

Data e local da escritaO exílio de Ezequiel era numa colônia judia de Tel-Abibe perto

de Nipur, cerca de 80 Km a sudeste da Babilônia, nas proximidades dogrande canal Quebar. Esse canal corria em volta da Babilônia entre osrios Eufrates e Tigre, estava aproximadamente a 240 Km ao sul damoderna Bagdá, e cerca de 200 Km ao norte de Ur, cidade natal deAbraão. O nome Tel-Abibe significa “outeiro de grão”, que sugere afertilidade da planície bem irrigada. O estabelecimento naquele localprivilegiado, pode ter sido arranjado por Daniel, que governava comNabucodonosor a província da Babilônia desde 603 a.C. (Dn 2:48).

Escrito aproximadamente entre 592-570 a.C..

Contexto religiosoO lugar de reunião religioso era na casa de Ezequiel, onde ele

aconselhava os anciãos. Esses anciãos eram provavelmente, osprimeiros líderes das sinagogas, que se tornaram mais tarde osdirigentes do povo.

A situação espiritual do povo no exílio nos dias de Ezequiel,não era muito diferente de Jeremias. Ezequiel empregava a frase “casarebelde”, cerca de 16 vezes. A mudança do local não mudou os seuscorações.

PropósitoConvencer os cativos de que não iriam voltar para a Judéia, nem

para a cidade de Jerusalém por muitos anos. Os cativos deveriam

122

procurar uma vida de paz e prosperidade na Babilônia, durante a suapermanência ali, pois Deus ainda restauraria o seu povo.

Análise do conteúdoA narrativa do livro vai desde a época da submissão de Judá à

Babilônia até a época do cativeiro na Babilônia.Nenhum outro profeta fez tanto uso de linguagem figurada,

acompanhada de ações simbólicas como Ezequiel. Foram formas usadasespecialmente para chamar a atenção e imprimir as verdades norestante do rebelde povo judeu. Eis alguns exemplos:1:4-28........... visão da glória do Senhor2:9-3:3.......... Ezequiel come o rolo de lamentações3:16-27......... Ezequiel torna-se mudo4:1-17........... encena o cerco de Jerusalém e a fome5:1-17........... barbeia-se com espada afiada, dividindo o cabelo6:1................. profetiza na direção das montanhas de Jerusalém8:2................. Em visão, é levado para observar a idolatria10:2............... Querubim espalha brasas sobre Jerusalém10:4-22......... A Glória afasta-se da cidade e do templo12:3............... encena a queda de Jerusalém13:10-16....... Jerusalém é comparada a uma parede prestes a cair14:13-23....... Julgamento inevitável15:2-6........... Jerusalém é comparada com uma videira queimando16:2-63......... Jerusalém é comparada a uma esposa meretriz17:2-10......... Alegoria de Israel como cedro18:2-3........... Provérbio dos pais que comeram uvas verdes19:1-9........... Alegoria de Israel como leoa aprisionada19:10-14....... Alegoria de Israel como videira desarraigada21:3-22......... Parábola da espada do Senhor22:18-22....... Israel é comparada à escória da fundição23:2-49......... Jerusalém e Samaria são comparadas à duas irmãsadúlteras24:2-14......... Alegoria da panela e da carne rejeitada24:16-27....... Não chora pela morte da esposa, como um sinal paraIsrael27:1-36......... Alegoria do orgulho e do navio que afunda28:12-19....... Retrato da criação e expulsão do Querubim29:2............... O Egito é comparado ao dragão do Nilo31:2-18......... Alegoria do corte de dois cedros, Assíria e Egito

123

34:2-10......... Líderes de Israel são comparados maus pastores37:1-14......... Parábola dos “ossos secos”37:16-22....... Parábola dos “dois pedaços de pau”40-42............ visão de um agrimensor medindo Jerusalém43:2-7........... visão da volta da Glória do Senhor ao novo templo.

Fatos interessantes1. Ezequiel esteve no exílio durante todo o seu ministério, que

durou 22 anos aproximadamente.2. Ocorre 65 vezes a expressão “saberão que eu sou o Senhor”.3. Ocorre 89 vezes o título messiânico “Filho do Homem”.4. O livro contém mais datas do que qualquer outro livro

profético.5. Daniel é mencionado 3 vezes, embora fosse contemporâneo de

Ezequiel (14:14, 20; 28:3).6. Traça a história do povo de Deus desde o cativeiro até a

consumação da sua redenção.

DANIEL

TítuloO nome Daniel significa “Deus é meu juiz”.

AutoriaDaniel era membro da família real, nascido em Jerusalém, em 623

a.C., aproximadamente, durante a reforma de Josias e no princípio doministério de Jeremias. Ele foi levado para a Babilônia por ocasiãodo primeiro exílio (605), e sendo selecionado para o serviço real,depois de um período de três anos de estudos, tendo recebido o nomede “Beltessazar” uma das divindades da Babilônia.

Em 603 a.C., Daniel foi declarado governador da província daBabilônia e chefe de todos os sábios. Como conselheiro-mor deNabucodonosor durante o período da destruição de Jerusalém e do

124

exílio para a Babilônia, tendo exercido influência favorável aosjudeus cativos.

Durante um período de quase setenta anos, Daniel serviu a seisgovernadores babilônicos e a dois persas. No governo de três deles(Nabucodonosor, Belsazar e Dário I) foi elevado a primeiro-ministro.Ocupou essa função durante o cativeiro final de Judá e o regresso doscativos.

Quanto à autoria é universalmente contestada pelos adeptos daAlta Crítica. A autoria foi pela primeira vez negada por Porfírio em275 d.C. Segue um sumário dos argumentos que negam a autoria deDaniel:

1. Sua posição no cânon hebraico com as “Escrituras” (Ketubim)sugere uma data posterior. Esse argumento pressupõe que ocânon dos profetas foi completado em 425 a.C.aproximadamente, e as “Escrituras” em 165 a.C. É essa umasuposição errada, pois muitos livros das “Escrituras” foramescritos antes do tempo de Daniel (ex., Salmos, Jó,Provérbios, etc.). Daniel faz parte dos Escritos, porque éuma literatura sapiencial, ou por causa da demora de suaaceitação no cânon, devido à sua porção aramaica.

2. As “imprecisões históricas” sugerem que o livro tenha sidoescrito mais tarde. Apesar de lhe apontarem muitasdiscrepâncias, pesquisas posteriores e descobertasarqueológicas forneceram explicações adequadas.

3. Suas características literárias, especialmente o uso determos persas e gregos, indicam que sua escrita é tardia,chegando ao período Macabeu. Daniel, porém, também viveudurante o reinado persa, e muito antes dele já existia ativoo comércio com os gregos (Jl 3:6). Houve tempo suficientepara Daniel adquirisse um vocabulário persa de quinzepalavras. Se o livro fosse do período Macabeu, o livrodeveria ter mais de três palavras gregas em todo o seuconteúdo (3:5).

4. Seus últimos conceitos teológicos, tais como o advento doMessias, sua ênfase nos anjos, na ressurreição e nojulgamento são considerados anacrônicos, mais relacionados àliteratura apócrifa do terceiro e segundo século a.C.Todavia, esse argumento ignora que esses conceitos já

125

existiam em livros mais antigos (Gn 3:15; 18:1; Jz 13:17-18;Jó 1-2; Sl 16:10; Ec 12:14; Is 2:4-22).

5. Suas profecias detalhadas acerca da época dos Macabeus (Dn11), não poderiam ter sido escritas antes de 165 a.C., quandomuitas delas foram cumpridas. Esse é o principal em rejeitaro livro Dn, a negação da profecia. O resultado de tal pontode vista é também negar a soberania de Deus em sua revelaçãodos eventos futuros.

Argumentos em favor da autoria de Daniel:1. Seguindo o estilo de narrativa veterotestamentária (Moisés,

Samuel, Esdras, etc), Daniel registra os capítulos históricos naterceira pessoa. Mas, ao narrar as quatro visões (7-12), escrevesempre na primeira pessoa, identificando-se muitas vezes: “eu,Daniel”.

2. As várias partes da mesma seção encontram-se em mútua relação.Observe 3:12 com 2:49; o transporte dos vasos sagrados (1:1-2)prepara-nos para a compreensão do festim de Belsazar do cap. 5;relacione 9:21 com 8:15ss. e 10:12 com 9:23. Se a lermosatentamente, sem dúvida, descobriremos como as diferentes partesse ligam e dependem umas das outras

3. Todas as narrativas históricas são uniformes na sua finalidadede demonstrar a soberania de Deus sendo glorificado sobre todasas nações.

4. O autor demonstra conhecimento dos hábitos, costumes, história ereligiões Babilônicas e Persas, do sexto século a.C. (1:5, 10;2:2; 3:3, 10; 8:2; etc.).

5. Ezequiel reconheceu a historicidade de Daniel na sua época,mostrando ser ele comparável sua sabedoria e caráter aos de Noée Jó (Ez 14:14, 20; 28:3).

6. Jesus reconheceu Daniel como o autor das visões de Dn 9:27;11:31 e 12:11, as últimas partes do livro (Mt 24:15).

7. Josefo (aproximadamente 75 d.C.), mencionou que Alexandre, oGrande foi anunciado no livro de Daniel e na sua profecia sobreo poder em ascensão na Grécia e o primeiro rei que conquistariaa Pérsia (8:21; 11:3). Isso aconteceu bem antes da época dosMacabeus.134

134 Flávio Josefo, Obras Completas: Antiguidades Judaicas, Livro 11, viii.

126

Gênero literárioCategoria história profética-preditiva (Dn 2:19, 29).Contêm porções em aramaico (2:4 – 7:28).

DataTexto ano Acontecimento1:1 605 Deportação de Daniel e três anos de treinamento2:1 603 Interpretação do sonho por Daniel, eengrandecimento5:31 559 Interpretação da “escritura na parede”6:1 558 Daniel na cova dos leões7:1 553 Visão dos “quatro grandes animais”8:1 551 Visão de um carneiro e um bode9:1 539 Visão das “setenta semanas” de Israel10-12 536 Visão da Pérsia, da Grécia e do tempo do fim

É provável que o livro tenha sido completado em 535, logo após aúltima visão.

Contexto históricoDurante um período de 20 anos, começando em 605 a.C., os

exércitos babilônicos invadiram Judá por três vezes. Saqueando edestruindo as cidades e levando para a Babilônia milhares de judeus,incluindo Daniel.

No ano 586 a.C., a cidade de Jerusalém, e o templo foi destruído(2Rs 24:1-25:30; 2Cr 36; Dn 1:1-7). Os babilônios dominaram o mundodurante 75 anos, sendo derrotados posteriormente pelo império Medo-Persa, do rei Ciro no ano 536 a.C.135

PropósitoSeu objetivo principal é declarar a soberania de Deus sobre

todas as nações. Uma garantia da sobrevivência do povo de Deus, e documprimento de todas as suas promessas. Motivar o povo à fidelidadeda Aliança, no cativeiro.

Estrutura do livro1. Seção histórica.................... 1-62. Seção profética................... 7-12

135 John C. Jeske, Comentário de Daniel, p. 2.

127

1. A vida de Daniel............................ 12. História: o tempo dos gentios..... 2-73. História: a situação de Israel........ 8-12

Fatos interessantes1. Daniel foi cativo na primeira deportação, cerca de 10.000

pessoas, em 605 a.C. (2Rs 24:12-14).2. Viveu 90 anos, sendo por 72 anos como oficial nos reinos pagãos.3. Ele conhecia a profecia de Jeremias de que o cativeiro duraria

apenas 70 anos (Jr 25:12; 29:10 e Dn 9:2-3).4. Um dos poucos homens na Bíblia, de quem não há menção de suas

imperfeições.

Profetas Menores

O povo de Deus é o povo da Aliança, e o tema Aliança aparece em larga escala em toda a sua literatura. Esses livros podem ser agrupados em três períodos de crise à medida que a nação avança em direção ao julgamento.

Antes do cativeiro do Reino do Norte (722 a.C.)Profeta

Local de atuação

Data aproximada

Oséias

a.C.

Joel a.C.Amós a.C.Obadias

a.C.

Jonas a.C.Miquéias

a.C.

128

Antes do cativeiro do Reino do Sul (606-586 a.C.)Profeta

Local de atuação

Data aproximada

NaumHabacuqueSofonias

Depois do retorno do cativeiro (536-425)Profeta

Local de atuação

Data aproximada

AgeuZacariasMalaquias

Quanto à ordem dos livros há divergências. O TM conta os doze Profetas Menores como sendo somente um, junto aos “Profetas Posteriores”. Embora exista algumas teorias, nenhuma delas é satisfatórias136.

OSÉIAS

Título

AutoriaSabe-se pouco de Oséias, exceto que é “filho de Beeri” e que

profetizou para Israel, reino do Norte, nos últimas trinta anos antes

136 Edward J. Young, Introdução ao Antigo Testamento, p. 260.

129

do cativeiro Babilônico. Evidentemente foi profetizar também paraJudá, antes do cativeiro em 722 (1:1).

DestinatáriosA profecia deste livro destinava-se originalmente ao reino do

Norte (Israel). Embora sejam mencionados os nomes dos reis de Judá,isto foi feito com a finalidade de localizar a época (1:4,6,10; 3:1;4:1,15, etc). Refere-se à Israel chamando-o “Efraim” (cerca de 37vezes), em virtude desta poderosa tribo do centro descendentes dofilho de José.

DataProfetizou durante os reinados de quatro reis de Judá, Uzias a

Ezequias, entre 769 a 697 a.C., e durante o reinado de Jeroboão II deIsrael, entre 793 a 752 a.C.

Escrito aproximadamente em 740 a.C. Tendo como contemporâneo oprofeta Isaías.

Contexto históricoO Sitz im Leben de Oséias era de desordem e inquietude (2Rs 14:2-

17:6). A pressão da Assíria tornava-se cada vez mais intensa etemível. Internamente, a nação vivia dias de uma diplomacia dementiras e traições.

PropósitoO propósito deste livro é registrar o convite divino ao

arrependimento do indiferente reino do Norte que se afundava nacorrupção. Teria de vir um período de purificação, quando Israelpassaria muitos dias em condição incomum. Deus revela sua fidelidadecom Israel, apesar da sua “prostituição espiritual”.

Análise do conteúdoO profeta descreve o estado abominável da nação que, à

semelhança de sua esposa, tinha-se entregue à prostituição. Falasobretudo do infinito amor do Senhor, sempre pronto a receber o povode volta para a Aliança, mediante arrependimento.

130

Dificuldades de interpretaçãoComo entender a ordem “vá, tome uma mulher adúltera e filhos da

infidelidade” (Os 1:2, NVI)?

Fatos interessantes1. Oséias é conhecido como o “profetas do amor divino”;2. “Efraim” como a maior tribo de reino do Norte, simboliza

Israel nas profecias do livro (5:3,5,11,13);3. Os filhos de Oséias possuíram nomes que indicavam a sua

mensagem:- Jesreel (espalhado) o povo seria espalhado no cativeiro- Lo-Ruhamah (desfavorecida) o povo entraria em juízo- Lo-Ami (não povo meu) o povo seria rejeitado

JOEL

TítuloO nome do profeta significa Yahweh é Deus. O nome do profeta

ajusta-se ao tema principal de sua profecia “sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus” (2:27 e 3:17).

AutoriaSegundo o conteúdo do livro sabemos que era filho de Petuel,

profetizou e residiu em Jerusalém, e pode ter sido sacerdote. Existemna Bíblia, pelo menos, outras quatorze pessoas com o nome Joel.

O apóstolo Pedro no dia de Pentecoste, inspirado pelo Espírito Santo disse: “isto é o que foi dito pelo profeta Joel (At 2:16 e Jl 2:28).

DataPara datarmos este livro precisamos considerar que:1. Joel é um dos seis Profetas Menores que não tem uma indicação

específica de data no próprio texto (como Obadias, Jonas, Naum, Habacuque e Malaquias).

131

2. A importância dos sacerdotes e anciãos e a ausência de referências aos reis de Judá. Isto subentende-se que o rei era menor de idade, e que eram os anciãos e sacerdotes os responsáveis pela liderança nacional (2Rs 11:4).

3. A ausência absoluta de referência à idolatria ao falar dos pecados do povo;

4. A denúncia de inimigos locais (filisteus e fenícios 3:4, egípcios e edomitas 3:19), e a total ausência de referências à Assíria, à Babilônia ou à Pérsia.

5. A posição de Joel antes de Amós no cânon sugere uma data anterior (Jl 3:18 e Am 9:13);

6. Joel é mencionado por outros profetas pré-exílicos, tais comoAmós, Isaías e Miquéias. O contrário é altamente improvável (compare Jl 3:10 com Is 2:4 e Mq 4:3; Jl 3:16 e Am 1:2; Jl 3:18 e Am 9:13).

7. A referência ao vale de Josafá, somente mencionado em Jl, é apropriado, pois foi ele o último rei aprovado naquela época.

8. Por esses motivos a data aceita é 830 a.C., aproximadamente.

Contexto históricoNo cenário internacional, não havia projeção de nenhum grande

império. Todavia, Judá se encontrava em conflito com várias inimigos vizinhos, tais como Tiro, Sidom, Filístia, Edom e Egito (3:4, 19).

Judá passava por um período de construção após o perverso reinado da rainha Atalia (841-835 a.C.). Essa reconstrução ocorreu principalmente sob a liderança do velho sumo sacerdote Joiada, que contribuiu para a morte da rainha e tornou o Joás, aos seis anos de idade, rei de Judá (2Rs 11:21).

Contexto religiosoA profecia de Joel foi entregue cerca de vinte anos depois que

Obadias exerceu o seu ministério. Joel precedeu os ministérios de Jonas e Amós junto a Israel, que profetizaram cerca de sessenta anos mais tarde. Joel profetizou para Judá, Elias pregou em Israel num longo ministério que durou entre 850 a 798 a.C.

O período da adoração a Baal tinha terminado com a purificação de Jeú em 841 a.C., e a de Joiada em Judá em 835 a.C.. Todavia, após aquela purificação, a verdadeira santidade não se perpetuou, mas passou a prevalecer um espírito de indiferença. O próprio templo não

132

foi reparado adequadamente antes de 813 a.C., o vigésimo terceiro anos de Joás (2Rs 12:6).

PropósitoChamar a nação de Judá ao arrependimento como uma reação

adequada aos julgamentos do Senhor com gafanhotos e seca, para que uma calamidade mais devastadora não viesse sobre eles. Mantendo-se continuamente fiéis à Aliança do Senhor.

Apresentar o futuro Dia do Senhor, no qual ele dominará os pagãos, libertará o seu povo para habitar com ele.

AMÓS

TítuloO nome Amós significa “carregador de fardos”.

AutoriaHá pouca controvérsia entre os estudiosos quanto à autoria de

Amós. O livro revela algumas características do autor:1. Nascido em Tecoa, uma pequena aldeia a 8 Km ao sul de Belém.2. Era homem de negócios, fazendeiro e pregador, embora não

fosse um profeta treinado na escola de profetas. Ocupava-secom a criação de ovelhas e bois, como também na plantação defrutas (1:1; 7:14).

3. Era hábil escritor e pensador. Seu livro é consideradoclássico, tanto no conteúdo quanto na expressão artística.

4. Tinha um claro senso de justiça social e coragem paraconfrontos;

5. Foi uma profeta missionário.6. Estava perfeitamente a par dos acontecimentos sociais e

nacionais, obviamente por ir sempre ao Norte a fim decomerciar os seus produtos.

Data

133

Escrito aproximadamente em 760 a.C. Ellisen fornece uma preciosacontribuição quanto à data da escrita comentando que “o grandeterremoto de 1:1 foi evidentemente acompanhado de um eclipse solar,conforme está sugerido em 8:8-10. Segundo astrônomos, esse eclipseocorreu em 15 de junho de 763 a.C. A profecia sobre Israel foiproferida dois anos antes, em 765 a.C., e escrita algum tempo depoisdo terremoto. Este foi tão violento que Zacarias se referiu a ele 270anos mais tarde (Zc 14:5).”137

Contexto históricoDurante este período tanto o reino do Norte, quanto o Sul

desfrutavam de prosperidade (Am 6:1; 2Rs 14:23-15:7; 2Cr 26). A ideiade um julgamento ou colapso nacional estava longe do pensamento detodos. Ninguém suspeitava que, nos próximos dez anos, desordenspolíticas e assassinatos estremeceriam o país.

Amós foi chamado do seu lar no sul (Judá, governado por Uzias)para desempenhar um ministério no reino do Norte (Israel, governadopor Jeroboão II). Foi expulso daquele país depois de denunciarAmazias, sacerdote de Betel (7:10-14).

Contexto religiosoO sistema de adoração do bezerro de ouro em Betel já durava 170

anos. Betel era também o centro de adoração ao deus Baal.A nação está moralmente corrompido. A aristocracia era rica e

perversa. Profetas e sacerdotes viviam a serviço dos seus própriosinteresses. O poderosos usurpavam os pobres e viviam na suntuosidadee no vício.

Amós atribuiu toda essa corrupção ao rei e ao sumo sacerdote.Por esse motivo, declarou que as famílias de Jeroboão II e Amazias, osacerdote, seriam destruídas pela espada (7:8, 7).

Extensão geográficaAmós vivia a 7 Km ao sul de Jerusalém, nas altas colinas de

Judá, perto da estrada que ia de Jerusalém a Hebrom e Berseba.Betel (onde Amós profetizou) localizava-se a cerca de 35 Km ao

norte de Tecoa, e a 3 Km ao norte dos limites de Judá. Era oprincipal santuário de Israel, residência do sumo sacerdote, enquanto

137 Stanley A. Ellisen, Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 287.

134

que Jeroboão II morava em Samaria, cerca de 40 Km também ao norte.Foi daquele centro religioso que Amós se dirigiu ao povo.

PropósitoRepreender a aristocracia de Israel do iminente julgamento

divino sobre a nação. Essa admoestação não visava apenas a idolatria,mas especialmente à corrupção espiritual, moral e social.

O povo de Israel estava confiante na crença que, sendo o povoescolhido, não poderiam ser alcançados por calamidade alguma.

Estrutura do livro1. 8 profecias contra as nações..... 1-2 2. 3 sermões...................................... 3-63. 5 visões.......................................... 7-9:104. 5 promessas.................................. 9:11-15

Fatos interessantes1. O uso da linguagem rural (3:4-5,12; 5:8,19; 9:9);2. Citações no NT: 4:11 (Rm 9:29); 5:25-27 (At 7:42-43); 8:9 (Mt

24:29); 9:11-12 (At 5:16-18);3. Os pecados do povo (2:6-8; 3:10; 4:1; 5:10-12; 8:4-6;

OBADIAS

TítuloObadias significa “servo do Yahweh”.

AutoriaNão deve ser confundido com o contemporâneo de Elias, que teve o

mesmo nome (1Rs 18:1-15). As datas não conferem entre este e aquele.

DataÉ um dos livros que oferece mais dificuldades para datá-lo. Os

estudiosos conservadores dividem-se, dependendo de como consideram a

135

calamidade de Jerusalém referida nos versículos 10-14. A capital doreino do Sul foi pilhada cinco vezes durante a monarquia:

926 – pelo Egito, quando Roboão reinava (1Rs 14:25-26);845 – pelos filisteus e árabes (depois da revolta de Edom, 2Cr

21);790 – por Israel, quando Joás reinava em Judá (2Cr 24:23-24);597 – pela Babilônia, quando Joaquim foi exilado (2Rs 24:10-16);586 – pela Babilônia, quando a cidade e templo foram destruídos

(2Rs 25);

Os edomitas envolveram-se apenas nas pilhagens de 845 e 586 a.C.Mas data de 845 a.C. é preferida pelas seguintes razões:

1. O livro foi colocado na primeira parte do cânon peloshebreus;

2. O desastre referido por Obadias não chegou a sernecessariamente a destruição completa, seguido de exílio. Foiapenas uma pilhagem;

3. Obadias é citado em Jr 49:7-22, quase literal, cerca de 240anos mais tarde.

Contexto histórico e geográficoO cenário histórico pode ser encontrado nos livros históricos de

1Rs 8:16-22 e 2Cr 21.Edom ficava na cadeia de montanhas e nos planaltos do monte

Seir, a sudeste de Judá, além do mar Morto. Seu território estendia-se desde Moabe, no rio Arnom, até o golfo de Acaba, distante cerca160 Km, com Sela (Petra) no meio. Após o cativeiro de Judá em 586a.C., Edom tomou o sul da Judéia, fazendo de Hebrom a sua capital.

Contexto religiosoElias e Eliseu foram contemporâneos de Obadias. Enquanto Obadias

profetizava contra Edom, Elias e Eliseu falavam no reino do Norte.Cerca de 845 Judá estava sob o governo de Jeorão, rei ímpio, que

com a iníqua rainha Atalia permitiu o culto a Baal. Acabe e Jezabeltinham introduzido esse culto em Israel cerca de 25 anos antes. Issofez com que o Senhor usasse a invasão estrangeira para punir Judá.

Propósito

136

Anunciar a destruição final de Edom devido a sua violência,orgulho e vingança insaciável contra Israel. Reafirmar o triunfofinal do monte Sião no Dia do Senhor, quando Israel possuirá a terrade Edom.

Estrutura do livro1. Condenação de Edom......... vs. 1-182. Restauração de Israel...... vs. 19-21

Fatos interessantes1. O livro mais curto do AT.2. A nação de Edom surgiu de Esaú, irmão gêmeo de Jacó.3. Herodes, o Grande era descendente deste povo.4. Edom deixou de existir durante o império romano, cerca de 79

d.C..5. Não há referências à Obadias no NT.

JONAS

TítuloO nome Jonas significa “pomba”.

AutoriaA autor foi o próprio Jonas. O fato de tê-lo escrito na terceira

pessoa não nega a sua autoria. Outros escritores do AT seguiram essaprática literária.

Ele é identificado com o profeta de 2Rs 14:25, como o “filho deAmitai”. A sua cidade natal era Gate-Hefer, uma pequena aldeia deZebulom, cerca de 3 Km a nordeste de Nazaré.

DataEssa profecia foi entregue no início do reinado de Jeroboão II,

cerca de 793-753 a.C., anunciando a Israel que o Senhor terianovamente misericórdia dele (2Rs 14:23-28).

137

A visita de Jonas a Nínive ocorreu, provavelmente, no fim do seulongo ministério em Israel, aproximadamente em 765 a.C. O profetacertamente escreveu o livro após seu retorno e procurou, por meiodele, ministrar a Israel.

Contexto históricoA Assíria era uma ameaça para Israel desde o tempo de Onri (880

a.C.), forçando os israelitas a pagarem impostos nos últimoscinquenta anos até Jeroboão II tornar-se rei. No tempo de Jonas,Israel sentia-se seguro e estava em ascensão, enquanto a Assíriaestava em declínio político.

Esse declínio político havia começado com a morte de Adad-nirariIII em 782 a.C., e se estendeu até a vinda de Tiglate-Pileser III em745 a.C. Depois de Adad-nirari reinaram Salmanasar IV (782-773) eAsurdam III (773-754). A visita de Jonas foi provavelmente durante oreinado deste último.

Extensão geográficaJonas residia em Gate-Hefer, uma pequena aldeia de Zebulom,

cerca de 3 Km a nordeste de Nazaré. Recebeu a “palavra do Senhor”para ir à Nínive. Todavia, pegou um barco para Társis, cidadeportuária ao sul da Espanha, em direção oposta à que Deus lheordenou. No percurso pelo mar Mediterrâneo foi engolido por um“grande peixe” (1:17) que o levou de volta para o ponto de partida(2:10).

Nínive estava localizada a leste do rio Tigre, e distante deIsrael, aproximadamente 960 Km, uma viagem de três meses, naquelesdias. Era uma das cidades mais antigas do mundo, fundada por Ninrode(Gn 10:11). Embora o muro interno da cidade tivesse menos de 5 Km dediâmetro, a suas aldeias e subúrbios espalhavam-se numacircunferência de mais de 32 Km (3:3).

Inicialmente Jonas foi mais fiel ao seu nacionalismo, do que doDeus de sua nação.

PropósitoO seu objetivo era declarar a universalidade tanto do

julgamento, quanto da graça divina. A história também retrata averdade de que, quando o povo de Deus deixa de ter interesse pelos

138

perdidos, perde a perspectiva do seu papel como representantes eproclamadores da graça e julgamento de Deus.

Estrutura do livro1. A primeira comissão de Jonas.... 1-22. A segunda comissão de Jonas..... 3-4

Análise do conteúdoO livro Jn é o mais biográfico de todos os profetas. No

nacionalismo de Israel, o povo se esqueceu de sua responsabilidadecomo representantes de Deus no mundo.

O livro possui algumas ironias:138

1. Jonas foge da presença de Deus, que ele mesmo crê ser o Deusque criou o céu e a terra. Nenhum homem consegue fugir dapresença de Deus, pois o seu encontro torna-se mais terrível;

2. Todos obedecem a Deus, menos o próprio profeta;3. Os marinheiros estão orando, enquanto o profeta está

dormindo;4. O profeta prefere a própria morte, em vez de orar por

conversões.

Dificuldades de interpretaçãoA historicidade dos acontecimentos do livro tem sido desafiada

pelos críticos modernos. O problema não se encontra na hermenêutica,e sim nos pressupostos que irão norteá-la! Existem duas linhas deinterpretação, o alegórico e o histórico. A primeira afirma que anarrativa é um mito, ou uma figura fictícia visando transmitir umaverdade moral, semelhante às parábolas. A segunda perspectivareconhece-a como fato acontecido. Algumas motivos para aceitar-se ahistoricidade do livro:

1. Nenhuma alegoria do AT apresenta um personagem histórico.2. A narrativa é apresentada como verdadeira, referindo-se a povos

e lugares antigos específicos, a relação com a Assíria (Os 5:13;10:6; 2 Rs 15:19), o ateísmo de Nínive (Jn 1:2; Na 3:1; Sf 2:13-15), extensão de Nínive (Jn 3:3). Não possuí características deficção.139

138 David Merkh, Síntese do Velho Testamento, p. 79.139 W.G. Kunstmann, Os Profetas Menores, p. 91.

139

3. Jonas é apresentado como “filho de Amitai” em Jn 1:1 e 2Rs14:25.

4. Toda a tradição judaica testifica a historicidade de Jonas e suajornada a Nínive, tal como aconteceu;

5. Cristo confirmou a historicidade de Jonas, mencionando ambos osmilagres como sendo acontecimentos verdadeiros (Mt 12:4-42;16:4; Lc 11:29-32). Associando a historicidade de Jonas com ahistoricidade de Salomão.

6. Não aceitar essa narrativa como um evento literal por causa dosseus elementos miraculosos é questionar toda a estruturasobrenatural da Bíblia, inclusive a sua própria inspiração.

7. É possível alguém ser engolido por uma baleia, e durante umtempo continuar vivo. Archer menciona um caso assim.140

MIQUÉIAS

TítuloO nome significa “quem é como a Yahweh?” É um nome que expressa

bem a mensagem do livro: “quem, ó Deus, é semelhante a ti, queperdoas a iniquidade?”(7:18). A nome ocorre de duas modos nohebraico, como aparece no título hkym ou numa forma mais longawhykym.

AutoriaA autoria de Miquéias é geralmente reconhecida, com exceção de

alguns modernos comentaristas que atribuem as seções de esperança (4-7) a uma época posterior. Todavia, o livro de Jr (26:18) afirma queMiquéias foi muito respeitado naquela época (cerca 600 a.C.). Oconteúdo do livro é compatível com a época e as circunstâncias deMiquéias.

DataProfetizou durante o reinado de Jotão, Acaz e Ezequias, que

reinaram consecutivamente de 740 a 697 a.C.(1:1). A sua escrita deveter se dado antes da queda da Samaria que ocorreu em 722 a.C.140 Gleason L. Archer, Jr., Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 245.

140

A data aceita é 730 a.C. aproximadamente.

Contexto histórico e geográficoContemporâneo do profeta Isaías, Miquéias defrontou-se com um

cenário semelhante, no que se refere à política, corrupção social ereligião da época.

Esse profeta era da zona rural ocidental de Morasti Gate, umacidade localizada nos limites entre Judá e a Filístia. Esse localficava a 320 Km a sudoeste de Jerusalém, longe da política e docomércio da capital.

Contexto religiosoMiquéias é reconhecido como o único profeta cujo ministério foi

desempenhado tanto em Israel como em Judá (1:1). Isaías tambémprofetizou a destruição de Samaria, mas a sua profecia era “arespeito de Judá e Jerusalém” (1:1).

PropósitoEnfatizar o peso da juízo que estava próximo sobre a nação, por

causa de seus pecados de violência e injustiça social, enquantofingiam ser religiosos.

O objetivo adicional de Miquéias era lembrar-lhes da futuravinda do Messias, que surgiria de origem humilde para governar, comjustiça e verdade.

Estrutura do livro1. Ameaça de julgamento........ 1-32. Promessa de restauração..... 4-53. Chamada ao arrependimento... 6-7

Fatos interessantes1. A citação de Mq 3:12 em Jr 26:18 (100 anos depois) foi

instrumental na libertação de Jeremias da morte.2. Na época, a Assíria dominava o mundo, mas Miquéias viu a

conquista de Judá pelos Babilônicos (4:10).3. Profecias cumpridas:

- A queda da Samaria em 722 a.C...... 1:6,7- A invasão de Judá em 702 a.C....... 1:9-16

141

- A queda de Jerusalém em 586 a.C.... 3:12; 7:13- O exílio babilônico em 586 a.C..... 4:10- O retorno em 520 a.C............... 4:1-8,13; 7:11,14-17- Nascimento do Messias em Belém..... 5:2

NAUMTítulo

Naum significa “consolação”.

AutoriaTemos pouca informação acerca deste profeta. É provável que

tenha nascido em Elcós, perto de Cafarnaum (do aramaico “cidade daconsolação”), na parte norte da Galiléia (1:1, NVI).

Gênero literárioO livro de pertence ao gênero profético. Contudo, Naum inicia

seu livro com um salmo profético (1:2-2:2).

DataNaum é um dos seis Profetas Menores que não tem data no próprio

texto. Os estudiosos conservadores apontam duas datas diferentes. Aprimeira, em 710 a.C. durante o reinado de Ezequias, ou 650 a.C.durante o reinado de Manassés. Entretanto, a data mais provável é 710a.C., pelos seguintes argumentos:

1. Em 710, os assírios representavam uma grande ameaça a Judá, poisse dirigiam para o ocidente mais do que em 650, quando o seupoder começou a cair.

2. A profecia de “consolação” enquadra-se melhor em 710, época deEzequias. Quase não havia necessidade de consolação para Judá em650, sob o corrompido reinado de Manassés, o mais depravado reide Judá, cujo reinado trouxe o julgamento divino.

Contexto históricoA Assíria continuava a sua conquista para o ocidente, enquanto a

Babilônia exercia o controle no oriente. Diante do ameaçador

142

deslocamento da Assíria para o ocidente, Ezequias procurou reforçarsuas defesas com o auxílio do Egito e da Babilônia (2Rs 10:12ss;18:21).

Era uma época de reformas no cenário político mundial e Judáprecisava de consolação divina.

Estrutura do livro1. Decreto da destruição......... 12. Descrição da destruição....... 2-3

Fatos interessantes1. O seu nome é mencionado apenas uma vez na Bíblia.2. Os três Profetas Menores que enfatizaram o julgamento contra os

inimigos do povo de Deus: Obadias (Edom), Habacuque (Babilônia)e Naum (Assíria).

3. Nínive caiu em 612 a.C., cumprindo a profecia de Naum. O rioTigre superabundou nas margens, e destruiu uma parte do muro(1:8), por onde os babilônios entraram, e destruíram a cidade(1:10; 2:13; 3:13-15). A cidade somente foi descoberta em 1845d.C..

4. Naum não é citado no NT.

HABACUQUE

Título

AutoriaHabacuque não é mencionado em nenhum outro livro da Bíblia,

apenas duas vezes no seu próprio livro (1:1 e 3:1).A porção apócrifa “Bel e o Dragão” (vs.33-39) afirma que ele

levou uma sopa a Daniel, enquanto se estava na cova dos leões. Outroapócrifo “Vida dos Profetas” descreve-o como pertencente à tribo deSimeão, e que fugiu quando Nabucodonosor avançou contra Jerusalém(587 a.C.), todavia, estas informações não são confiáveis.

143

DataEmbora o livro não possua uma datação específica, podemos fazê-

lo pelo seu contexto. Algumas considerações devem ser feitas paraencontrarmos uma data aproximada:

1. A referência aos caldeus, que viriam numa impetuosa ferocidade(1:6), sugere uma anterior a 605 a.C., ano em que o Egito foiderrotado.

2. A ausência de qualquer referência a Nínive sugere uma dataposterior à destruição dessa cidade em 612 a.C..

3. A grande preocupação do profeta quanto à violência de Judásugere uma época posterior à morte de Josias, cerca de 609 a.C.,no início do reinado de Jeoaquim.

4. Portanto, a data mais provável seria 607 a.C., durante o iníquoreinado de Jeoaquim, antes de Judá ser subjugado porNabucodonosor em 605 a.C..

Contexto históricoVerificando a disputa internacional pelo domínio mundial, entre

Assíria, Babilônia e Egito, se encontrava favorecida pelascircunstâncias a Babilônia. Nínive caiu em 612 a.C., e o exércitoegípcio seria derrotado em 605 a.C., em Carquemis. Nabucodonosorestava em ascensão.

Habacuque era contemporâneo do profeta Jeremias, tendoprofetizado com ele para o reino do sul, que caiu num caos nacional.A reforma de Josias terminou com a sua morte em 509 a.C., e acorrupção implantada por Manassés perpetuou com rapidez sob o reinadode Jeoaquim. O seu dever como profeta era enfatizar a santidadedivina ao julgar o violento reino de Judá pelos seus pecados.

Fatos interessantes1. As predições referentes à queda da Babilônia foram cumpridas

cerca de 70 anos depois.2. No ano de 612 a.C. os babilônios conquistaram Nínive, e

construíram o seu império que dominou toda aquela região.3. A profecia em 2:14 é pela quinta vez declarada: “a terra se

encherá do conhecimento da glória do Senhor” (Nm 14:21; Sl72:19; Is 6:3; 11:9).

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SOFONIAS

Título

AutoriaO profeta é identificado com o trineto de Ezequias (1:1).

Certamente, uma referência ao rei Ezequias que reinou setenta e cincoanos antes dele. Conclui-se que Sofonias foi o único Profeta Menorpertencente à família real.

Sendo da família real, Sofonias tinha acesso à corte e conheciabem a situação religiosa em toda a cidade de Jerusalém.

DataSofonias profetizou durante o reinado de Josias, entre 640-609

a.C., e antes da queda de Nínive em 612 a.C. (1:1; 2:13). Os pecadoscondenados por Sofonias, são os mesmos lamentados por Josias (2Cr 34-35; 2Rs 22-23).

A condenação da idolatria e rebeldia, sugere que ele tenhaprofetizado antes de 621 a.C., se não antes de 628 a.C., quandoJosias executou a sua reforma. Se a profecia tiver precedido aprimeira purificação, a data mais provável será 630 a.C., mas, seprecedeu a purificação posterior, então a data de escrita será 625a.C.

Contexto históricoSofonias profetizou no início do ministério de Jeremias. A

situação mundial passava por profundas transformações. A Assíriaestava em declínio, a Babilônia ascendia sob o poder de Nabopolassare o Egito entrava na Palestina, mas com dificuldades.

Josias começou a reinar em 640 a.C., com oito anos, uma naçãoenfraquecida, tanto política quanto moralmente.

Josias começou a reinar após 55 anos de corrupção no reinado deManassés e Amom.

Propósito

145

Advertir a nação sobre a condenação que se aproximava. Eledescreve o dia da ira do Senhor, mas, também aponta para o livramentoque estava mais adiante.

Estrutura e esboço do livro1. Punições sobre os povos....................... 1-22. Restauração de Judá................................ 3

1. Apresentação do profeta.............. 1:12. A destruição vindoura................... 1:2-33. A punição de Judá......................... 1:4-134. O Grande Dia do Senhor............ 1:14-2:35. A punição da Filístia...................... 2:4-76. A punição de Moabe e Amom.... 2:8-117. A punição da Etiópia.................... 2:127. A punição da Assíria..................... 2:13-158. O Futuro de Jerusalém................. 3

Fatos interessantes1. Considerado o mais severo dos profetas;2. Três espécies de pecadores serão destruídos: 1) os que estão

divididos em sua Aliança com Yahweh, 2) os que abandonaram aYahweh, 3) os que nunca procuraram Yahweh;

AGEU

TítuloO seu nome está relacionado ao maior objetivo da sua profecia,

que era completar o templo para reiniciar as festividades religiosas.

AutoriaNão fugindo à regra dos demais Profetas Menores, pouco se sabe

de Ageu. Seu nome é mencionado por Esdras (5:1; 6:14).A tradição judaica afirma que Ageu nasceu na Babilônia, e

estudou sob a orientação de Ezequiel. Provavelmente, veio para

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Jerusalém após o retorno do primeiro grupo de exilados em 537 a.C.,pois o seu nome não consta na lista dos que retornaram (Ed 2:2).

DataEste profeta pertence aos pós-exílicos.O livro de Ag é um livro muito preciso em sua datação. Datado do

segundo ano do rei Dario Histaspes, cerca 521 a 486 a.C., rei daPérsia.

Contexto históricoApós setenta anos de exílio no cativeiro na Babilônia, os judeus

regressaram para a Judéia, sob nova política persa que encorajava oscativos a sua origem.

O profeta Zacarias foi contemporâneo de Ageu. Os dois tornaram-se os principais incentivadores dos trabalhos de restauração dotemplo, convocando o povo recém chegado do exílio ao trabalho.Durante a sua permanência na Babilônia, os exilados estavamacostumados viver sem o templo.

A oposição à reconstrução do templo veio dos samaritanos, povovizinho, situados ao norte. Essa oposição teve como resultadoperseguições e a construção ficou parada durante 14 anos. A pausa nareconstrução esfriou o entusiasmo de todos, e eles se voltaram paraos interesses seculares, esquecendo do seu compromisso com o templo.

O não cumprimento de antigas profecias quanto às glórias darestauração, tendia a desenvolver indiferença e ceticismo religiosos.

O Senhor enviou seca e má colheita ao povo a fim de alertá-lo.Ageu e Zacarias denunciaram que a causa do problema econômico era asua negligência com o templo, e que cuidassem da sua responsabilidademais importante, a reconstrução.

PropósitoAlertar aos que retornaram do exílio que continuassem a

reconstruir o templo, mostrando-lhes que os fracassos eram resultadoda negligência na obra do Senhor.

Fatos interessantes1. É um dos poucos profetas que experimentou o sucesso de sua

pregação.2. É um dos três profetas pós-exílicos.

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3. Ageu era mais velho que seu contemporâneo, o profeta Zacarias.4. Profetizou durante o governo de Zorobabel.5. A história revela que a impureza e desânimo são mais

contagiantes do que a santidade.

ZACARIAS

Título

AutoriaZacarias foi um sacerdote, nascido no cativeiro, que voltou para

Israel com seu pai e eu avô (1:1), no primeiro retorno da Babilôniacom Zorobabel (Ne 12:4, 16).

A unidade de Zc não contestada até o surgimento da Alta Crítica,com o erudito de Cambridge, Joseph Mede, em 1653. Desde então, osúltimos seis capítulos de Zc tem sido atribuídos a desconhecidosautores, embora haja o reconhecimento de que Zacarias tenha escritoos capítulos 1-8. A contestação da autoria de Zacarias a todo livro,tem se baseado nos seguintes argumentos:

1. Mt 27:9-10 parece atribuir Zc 11:12-13 a Jeremias;2. A referência à Assíria (Zc 10:10-11) parece sugerir uma época

anterior a 612 a.C., data da queda de Nínive;3. A referência à Grécia em 9:13 sugere uma data posterior a

Alexandre, o Grande;4. O conteúdo apocalíptico de 9-14 sugere uma data depois do

terceiro século;5. A diferença de estilo literário indica autores diferentes;

Entretanto, existem bons motivos para a unidade do livro, bem como para sustentar-se a autoria de Zacarias:

1. O livro de Zc possui uma pureza de linguagem, livre dearamaísmos;

2. A tradição judaica reconhece a sua unidade;3. A referência de Mt 27:9-10 combina as duas profecias, a de Jr

32:6-9 e a de Zc 11:12-13, declarando somente o profeta mais

148

velho, Jeremias, que se referia à compra de um campo.Zacarias apenas fazia parte dos “Doze”;

4. A referência à Assíria foi apenas uma menção simbólica dosinimigos de Israel;

5. A referência à Grécia (9:13) foi preditiva, mas foi declaradaapós a Grécia ter se tomado expressão mundial (cerca 490a.C.);

6. O conteúdo apocalíptico de 9-14 não foi influenciado àliteratura apocalíptica posterior (período inter-bíblico),mas sim, subordinado sob orientação divina como Ezequiel eDaniel;

7. As diferenças de estilo não são tão grandes quanto assemelhanças;

DataAs três seções de Zacarias possuem data exata, mas os últimos seiscapítulos não tem:1:1-6................ 520 a.C. depois da primeira mensagem de Ageu(Ag 1:1)1:7-6:15.......... 519 a.C. depois da última mensagem de Ageu (Ag2:18)7-8................... 518 a.C. 9-14................. 480 a.C. aproximadamente.

Contexto históricoO cenário dos capítulos 1-8 envolve problemas na reconstrução do

templo, com considerável oposição local e desencorajamento do povo. Ocontexto dos últimos capítulos 9-14 parece ser diferente. O templo jánão é a preocupação central. Dário tentou aumentar seu reinado persaaté a Europa, mas foi derrotado pelas cidades gregas na batalha deMaratona, em 490 a.C. Seu filho Assuero (marido de Ester), numainvestida em 480 a.C., sofreu uma derrota ainda maior em Salamina, oque mudou o curso do avanço persa no ocidente.

Foi nesse contexto histórico que Zacarias escreveu os capítulos9-14, começando com a descrição detalhada de uma invasão grega que seapossaria de toda a Palestina com exceção de Jerusalém, que seriapoupada e protegida miraculosamente pelo Senhor (9:1-8). Os exiladosque ainda se achavam na Babilônia foram incentivados a voltar devidoà promessa do Senhor de defendê-los e lhes dar poder.

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Estrutura do livro1. 8 visões.................. 1-62. 4 mensagens.......... 7-83. 3 reprovações........ 9-14

Fatos interessantes1. Zacarias é o único Profeta Menor identificado como sacerdote.

Sendo que Jeremias e Ezequiel, Profetas Maiores, também foramsacerdotes.

2. Zacarias profetizou aos cativos que retornaram da Babilôniacom Zorobabel, era parceiro de Ageu (Ed 5:1; 6:14).

3. O maior dos Profetas Menores.4. As 8 visões foram dadas numa só noite.5. “Assim diz o Senhor” ocorre 89 vezes.6. “O Senhor dos Exércitos” ocorre 36 vezes.

MALAQUIAS

TítuloMalaquias significa “meu mensageiro”, pode ainda ser, uma

contração das palavras hebraicas malak Yah que significa “mensageirodo Senhor”. É possível que este não seja propriamente um nome, mas umtítulo.

AutoriaDo profeta nada mais se sabe, senão o seu nome. Seus ancestrais

não são identificados, nem nenhum personagem de importânciahistórica, nem cidade natal, cargo secular ou data de ministério.

Algumas versões antigas obscurecem a autoria. No Targum deJonatas ben-Uzziel são adicionadas as palavras “cujo nome é chamadoEsdras, o escriba”. A LXX traduz “Sentença do Senhor a Israel, pelamão de seu mensageiro”.141

141 Roland K. Harrison, Introduction to the Old Testament, p. 958.

150

Não há motivos sólidos para se negar a autoria de Malaquias pelofato de nenhum outro livro bíblico falar da família, ou função doautor, que se preocupou mais em entregar a sua mensagem comfidelidade, do que apresentar uma esclarecedora autobiografia.

Malaquias foi a voz profética final. Contemporâneo de Esdras,sacerdote e historiador que escreveu antes e depois dele. Foi oúltimo profeta para o povo da antiga Aliança, ministrando cerca de1.000 anos depois de Moisés.

DataMalaquias é o último dos seis Profetas Menores não datados.

Todavia, pode-se chegar à data aproximada pelas referênciashistóricas do texto:

1. Os edomitas tinham sido levados do monte Seir, mas não tinhamvoltado, o que sugere uma posterior a 585 a.C. (1:3-4).

2. Os exilados tinham voltado, reconstruído o templo e caído nocomodismo e na formalidade ritualista (1:6 ss).

3. Não estavam mais sob o governo de Neemias, mas sob domíniopersa, que era passível a suborno (1:8).

4. Os problemas morais e religiosos eram semelhantes aosenfrentados por Esdras e Neemias. Por exemplo, materialismo (Ne13:15 e Ml 3:5,9), e casamento com pagãos (Ed 10:2 ss, e Ml 2:1ss).

5. Essas observações sugerem uma data aproximada de 430 a.C..Depois de Neemias ter voltado para a Pérsia em 432 a.C., por umcurto período, e que estando ausente de Jerusalém, antes do seuretorno depois de 430 a.C. (Ne 13:6-31).

Contexto histórico e geográficaO contexto histórico de Malaquias é o mesmo que Neemias. O rei

era Artaxerxes I, que então reinava sobre o grande império persa(465-424 a.C.).

A Palestina fazia parte da quinta satrápia. Embora Zorobabeltinha sido escolhido para ser governante da Judéia em 537 a.C., e adata de sua morte seja incerta, nenhum dos seus filhos foi designadopara substituí-lo.

Neemias, pertencente a corte de Artaxerxes I, foi escolhido comogovernador em 444 a.C., e exerceu o cargo até o seu retorno à Pérsiaem 432 a.C. (Ne 5:14), e posteriormente retornou para a Judéia,

151

encontrando desordem, tendo que tomar rígidas decisões (Ne 13:6-31).O império Pérsia, sob reinado de Artaxarxes I.

Contexto religiosoO templo havia sido reconstruído sob o governo de Zorobabel, em

516 a.C., o sistema de culto restaurado em 457 a.C. por Esdras, e omuro de Jerusalém reconstruído, por Neemias em 444 a.C.. Todavia, asituação espiritual predominante era de infidelidade, indiferença eceticismo.

PropósitoSeu objetivo foi despertar o povo de sua indiferença, e

repreendê-lo em sua infidelidade, para que o Senhor os abençoasse.

Estrutura do livroO livro segue uma estrutura de um diálogo imaginário entre Deus

e a situação de Judá. Este diálogo compõe-se de acusação,interrogação e refutação:

1. Reprovação contra a hipocrisia dos sacerdotes...... 1:1-2:92. Reprovação contra a infidelidade conjugal.............. 2:10-

163. Reprovação contra a indiferença do povo.............. 2:17-

3:64. Reprovação contra a infidelidade dízimo................ 3:7-

125: Reprovação contra o ceticismo................................

3:13-4:6

1. O amor de Deus por seu povo.................................1:1-5

2. A infidelidade dopovo............................................... 1:6-3:15

3. A esperança dofuturo................................................ 3:16-4:6

Esboço1. Tema e apresentação do

profeta................................ 1:1

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2. O amor incondicional porIsrael................................ 1:2-5

3. A rejeição dos sacrifíciosimpuros............................. 1:6-14

4. A Repreensão dossacerdotes..................................... 2:1-9

5. A infidelidadeconjugal................................................ 2:10-16

6. O Dia doJulgamento.................................................. 2:17-3:5

7. A infidelidade nosbens.............................................. 3:6-12

8. O ceticismo sobre a justiçadivina............................ 3:13-18

8. O Dia doSenhor......................................................... 4

Análise do conteúdoEm Ml temos a profecia dentro da Lei. Reafirma verdades

ensinadas pelos profetas anteriores a si mesmo, quanto ao amor eprovidência divina, e julgamento do impiedade e infidelidade. Suaapresentação tolerante recebe severa condenação. Sua exortação finalé “lembra-te da Lei de Moisés (4:4).

Fatos interessantes1. Contemporâneo de Neemias (2:7; 3:1);2. A última profecia refere-se explicitamente à João Batista e à

Jesus (3:1-3);3. João Batista é realmente o único profeta que é objeto de

qualquer profecia;4. A última palavra do AT é “maldição”;5. De 55 versículos, Deus fala 47.

153

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