Os Militares e as Inovações do Armamento Ligeiro na Regeneração: Três Casos Notáveis
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Os Militares e as Inovações do Armamento Ligeiro na Regeneração, 1851 – 1905.
Três Casos Notáveis
Em 1851, na sequência do pronunciamento militar do Marechal Duque de Saldanha, teve inicio
(Fig.1. um período designado por Regeneração, que se caracterizou por uma estabilidade
polico-militar, social e a credibilização financeira do país, nacional e internacionalmente. Neste
contexto de pax regeneratoris assistiu-se a um significativo desenvolvimento do país, com
maior visibilidade a nível tecnológico, mas também social e cultural. Expandiu-se a rede viária
macadamizada, foi inaugurado o caminho de ferro, foi lançado o cabo telegráfico Lisboa–
Açores–Estados Unidos da América e foi modernizado o serviço postal. Sem que se possa falar
numa verdadeira revolução industrial, grande numero de processos industriais foram
automatizados e teve lugar um aumento significativo do parque de máquinas a vapor de
aplicação industrial.
Fig.1.- Marechal Duque de Saldanha
Se num sentido restrito da historiografia este período se estende até ao ultimatum, no
contexto militar, enquanto movimento impulsionador de modernização e reorganização, a
Regeneração pode estender-se até às reformas militares da transição do século XIX para o
século XX.
Assim, também a instituição militar foi objecto de profundas reformas, estas sob duas
vertentes: internas, com um vasto programa de modernização, que comtemplou aspectos
como a organização, recrutamento, instrução, táctica, armamento e equipamento; e externas
na sua relação com a sociedade.
Se até 1851 os conflitos políticos, pela afectação política do comando das unidades militares,
de imediato se tornavam em conflitos armados, na Regeneração assiste-se à desfeudalização
do exército e à consolidação do conceito de exército nacional.
Este regresso dos militares aos quartéis foi contudo efémero. Porém, sua nova saída seria
agora para uma intervenção directa na política, nas ciências, nas artes e nas letras.
Na política assiste-se a uma intervenção muito forte dos militares, que trocaram o teatro de
operações das ruas pela tribuna parlamentar. Enquanto na Câmara dos Deputados se instalava
um significativo número de oficiais do exército, ainda anónimos; a Câmara dos Pares estava
em grande parte preenchida pelos elevados postos militares que ao longo da primeira metade
do século XIX, encabeçaram os pronunciamentos e os levantamentos militares.
Reciprocamente, também os assuntos militares passaram a ser debatidos também por civis no
Parlamento, onde se procurava legislar no sentido de configurar um exército nacional, ao
serviço da nação e independente da influência de caudilhos militares.
Enquanto vectores de modernização, os militares, detentores de conhecimentos técnicos, de
maior ou menor especificidade, deram um forte contributo à comunidade civil em áreas como
a matemática e a estatística, a engenharia civil, telegrafia e telecomunicações, cartografia e
topografia, metalurgia, química ou a medicina. Algumas destas áreas da maior importancia no
processo de desenvolvimento tecnológico do país.
Em termos socio-culturais talvez o aspecto mais visível e de maior relevância, resultou do novo
modelo de recrutamento e mobilização, por conscrição nacional, sem excepções. Através das
escolas regimentais o exército passou a ser o principal vector de alfabetização, cidadania e de
hábitos de higiene, sobre as praças, que afinal eram a população portuguesa.
Internamente, as reformas foram igualmente profundas. Durante este período observa-se o
maior número de comissões militares deslocadas ao estrangeiro para observar e estudar a
aplicação nacional do que melhor se fazia internacionalmente, em termos de organização,
treino, armamento e equipamento. Criaram-se campos de manobras (Tancos e Vendas Novas)
e a efémera Escola Central de Tiro em Mafra, destinada não só às praças, mas também aos
oficiais. A preocupação com a formação técnica dos oficiais manifestou-se também pela
criação de bibliotecas regimentais e num elevado numero de traduções de obras militares dos
mais diversos países e disponibilização na Biblioteca do Exército (com listas actualizadas
mensalmente na Revista Militar), elaboração de manuais e a divulgação de periódicos militares
que são hoje ainda reveladores da participação escrita de muitos oficiais nos debates sobre
diversos assuntos essencialmente de interesse militar.
Simultâneamente era exigida a estes oficiais da nova escol a participação na afirmação da
Identidade Nacional através de obras de história militar, tendo sido abertos concursos públicos
para a sua elaboração, como a História Politico-Militar de Portugal, ganho pelo então Capitão
Latino Coelho ou a Historia do Exército Português, ganha pelo Capitão Cristovão Ayres. Aos
comandantes das unidades era-lhes pedida a elaboração de monografias sobre a história dos
respectivos regimentos.
O armamento ligeiro, nas suas componentes técnica e táctica, foi um aspecto igualmente
cuidado, desde 1851. Muitas das comissões militares que se deslocaram a Inglaterra,
Alemanha, Áustria ou França (para citar os destinos mais frequentes) trouxeram para Portugal
as inovações tecnológicas destes países. Tiveram igualmente lugar em Portugal diversos
ensaios comparativos de armamento, trazido por estas comissões ou adquirido
especificamente para testes, muitas vezes com a intervenção directa do jovem Rei D. Pedro V,
que nos polígonos de tiro participou em alguns ensaios e revia pessoalmente os manuais a
distribuir às tropas.
Entre 1851 e 1908 o exército português passou da espingarda de pederneira e de
carregamento pela boca à metralhadora automática. Nestes escassos sessenta anos passou
pelos mais importantes estadios da evolução geral do armamento ligeiro: Percussão,cano
estriado e carregamento pela boca (1860 – sistema Minié); Percussão, cano estriado e
carregamento pela culatra (1866 – sistema Westley Richards); Percussão central e cartucho
metálico (Sistema Snider, Martini-Henry); armas de repetição e calibre reduzido (1886 –
Sistema Kropastchek, 1895 – Sistema Mannlicher, 1904 – Mauser-Vergueiro); Metralhadoras
manuais (Montigny, Gatling, Nordenfelt-Palmkrantz), pistolas automáticas para os oficiais
(1908-Parabelum) e metralhadora automática (1904 – Metralhadora Maxim).
Apesar das modernizações de armamento ligeiro acabarem sempre por ter uma origem
internacional, houve intervenções nacionais, no contexto da modernização do armamento e
do desenvolvimento tecnológico que, por diversos factores não tiveram uma aplicação militar
generalizada. Destes, ressaltam três casos notáveis: Raoul Mesnier, Castro Guedes e José
Alberto Vergueiro.
Raoul Mesnier
Raoul Mesnier du Ponsard, nasceu no Porto em 1849 e faleceu em Moçambique em 1914.
Com origens familiares francesas licenciou-se em Matemática e Filosofia pela Universidade de
Coimbra e em França em Engenharia Mecânica. Percorreu depois diversas escolas-oficina
entre França, Suiça e Alemanha, sobretudo em contacto com projectistas e fabricantes de
material ferroviário.(Fig.2)
Fig.2. - Eng.º Raul Mesnier du Ponsard
As suas obras mais visíveis têm a ver com o projecto e construção de elevadores e funiculares
em Portugal. Como engenheiro de obras públicas, em Lisboa, projectou os elevadores de
Santa justa, Glória, Bica e do Lavra bem como dos entretanto extintos elevadores da
Biblioteca, Estrela, Graça, Chiado e S. Sebastião; em Braga o elevador do Bom Jesus; no Porto o
funicular dos Guindais; na Nazaré o respectivo elevador e, no Funchal, o extinto combóio do
Monte(Fig.3a. e 3b.)
Fig.3ª e 3b. – Elevador de Santa Justa e Elevador da Biblioteca (extinto) duas obras emblemáticas do Eng.º Raul Mesnier
Apesar da traça de alguns destes elevadores levarem a pensar que tenha sido discipulo de
Gustave Eifel, tal não é provavel, reflectindo apenas o seu estilo e o gosto da época.
Apesar de civil e sem ligações à instituição militar, teve igualmente uma profícua obra em
termos de armamento, que na sua maioria não terão passado de projectos, publicados em
opúsculos. (Fig.4a e 4b) dos quais se conhece apenas um protótipo.
Fig.4a e 4b. - Frente e verso do Opúsculo descritivo da espingarda de tiro simples concebida por Raul Mesnier em 1879. Designada por Raul Mesnier n.º1 existe um protótipo no Museu Militar
(Col.Particular)
Em 1879 projectou o sistema de culatra/obturador para uma espingarda de tiro simples, do
sistema culatra de gaveta (“falling block”). Deste projecto conhece-se um protótipo no Museu
Militar de Lisboa que, apesar de contemporâneo da aquisição das espingardas Martini-Henry,
não terá nunca passado de protótipo.(Fig.5.)
Fig.5. – Diagramas descritivos da espingarda Raul Mesnier n.º1 (Col.Particular)
A revista Cientifico-Militar publicou ainda um diagrama do segundo modelo de espingarda de
tiro simples, com culatra de ferrolho (semelhante ao sistema desenvolvido por Werndl na
Áustria), mas que se desconhece se alguma vez passou a protótipo.(Fig.6.)
Fig.6. – Diagrama descritivo da espingarda Raul Mesnier n.2, com culatra de ferrolho,
publicada na Revista Cientifico-Militar.(Col.Particular)
Pelos opúsculos publicados e no prelo, é possivel verificar que este ilustre civil projectou ainda
duas carabinas de repetição; um sistema para conversão das armas Westley Richards de
carregamento pela culatra com cartucho combustível, para utilizar um cartucho metálico da
Kynoch e uma espingarda de guerra de características não conhecidas.
Tenente Castro Guedes
Luiz Fausto de Castro Guedes Dias nasceu em Lisboa em 1854. Em 1875 assentou praça como
(Fig.7.) voluntário em Caçadores 5, depois de passar dois anos pela Marinha, sendo graduado
Alferes em 1877. Graduado a Oficial-General em 1907, foi Ajudante de Campo de S. M. D.
Carlos I e passou à situação de Reserva. Faleceu em Lisboa em 1926.
Fig.7.- Tenente Luis Castro Guedes com a esposa. (Col. Pedro Soares Branco)
Em 1880 tiveram lugar os primeiros ensaios conhecidos, no polígono de tiro de Vendas Novas,
com uma espingarda cujo sistema de culatra e obturação foi concebido pelo então Alferes de
Caçadores 10, Castro Guedes. Estes ensaios preliminares estenderam-se até 1882, altura em
que foi solicitada a nomeação de uma comissão de avaliação dos resultados obtidos com este
sistema de culatra, montado em canos Gras de calibre 11 mm.
Estes e outros ensaios foram suficientemente satisfatórios para que fosse ordenado o fabrico
de 50 espingardas protótipo para ensaios futuros e que, a partir desse momento, todos os
trabalhos tivessem lugar nas oficinas do Arsenal do Exército.(Fig.8a e 8b.)
Fig.8a. – Espingarda protótipo com a culatra concebida pelo Alferes Castro Guedes. Um dos 50 protótipos fabricados na oficina de espingardeiros do Arsenal do Exército em 1884.
(Col.Particular)
Fig.8b.
Na sequência de mais resultados promissores com estes protótipos, a Secretaria de Estado da
Guerra encarregou o Alferes Castro Guedes de se deslocar a Steyer, na Áustria, a fim de
estudar a possibilidade do fabrico e melhoramento desta arma de sua invenção, autorizando-o
a executar nesta fábrica 19 espingardas em calibre 11 mm e uma em calibre 8 mm. Dava-se
assim o primeiro passo no sentido de adoptar o calibre reduzido, no qual Portugal foi pioneiro
na Europa.
Na fábrica da OEWG em Steyr, uma das mais conceituadas fábricas de armamento da Europa,
estas armas sofreram ainda diversos melhoramentos que aparecem já implementados na
patente nº 929, registada em Portugal em Julho de 1884 (Fig.9.)
Fig.9.- Diagrama com o mecanismo do bloco de culatra concebido pelo Tenente ? Castro Guedes já com as modificações introduzidas em Steyr. (In Luiz Mardel , História da Arma
de Fogo Portátil, Lisboa, 1885. (Col. Particular)
Em novas experiencias efectuadas em Portugal, revelou-se a superioridade balistica do calibre
8 mm, tendo sido introduzido o aumento da carga de polvora para 4,5 g com as respectivas
alterações no passo das estrias e comprimento do cano bem como uma pequena alteração
para facilitar a abertura da culatra porque, após alguns tiros, com a acumulação da fuligem da
pólvora nos mecanismos, se tornava dificil a sua abertura. (Fig.10.)
Fig.10.- Pormenor do bloco de culatra de um dos protótipos fabricados em Steyr. Museu Militar de Lisboa
Assim, por despacho da Secretaria de Estado da Guerra de 8 de Outubro de 1885, foi
contratado com a fábrica de Steyr o fabrico de 40 000 espingardas do sistema Guedes para o
exército português.
Tendo chegado a Portugal as primeiras dezenas destas armas, foram novamente efectuados
ensaios, constactando-se que, na sequencia do aumento da carga de pólvora e das pequenas
alterações ao mecanismo, a culatra se abria demasiado facilmente. (Fig.11a e 11b.)
Fig.11a. - Espingarda Castro Guedes modelo final, fabricado pela OEWG, Steyr. (Col.Particular)
Fig.11b.
Na impossibilidade de Steyr de corrigir este problemas, o contrato foi cancelado e as 40 000
espingardas contratadas substituidas por espingardas de repetição sistema Kropastchek,
também em calibre 8 mm.
As cerca de 18 000 espingardas, alegadamente em fase de acabamento, acabaram por ser
vendidas pela OEWG para o Transval e para o Estado Livre do Orange e usadas com muito
sucesso na guerra Anglo-Boer.
Na verdade, o rápido curso dos acontecimentos e a rapidez de evolução dos sistemas de
armas, levou a que quando esta espingarda atingiu a sua maturidade, já se impunham os
sistemas de repetição, sobretudo pela naturaza dos conflitos que se adivinhavam nos
territórios africanos. Deve-se contudo ao Tenente Castro Guedes a adopção oportuna e
inovadora do calibre 8 mm, o primeiro país na Europa a adoptá-lo militarmente.
Capitão José Alberto Vergueiro
José Alberto Vergueiro nasceu em 1851, em Gebelim, no concelho de Alfandega da Fé e
faleceu em 1908, com o posto de Tenente-Coronel de Infantaria. (Fig.12)
Fig.12.- Capitão de Infantaria José Alberto Vergueiro
Ao longo da sua carreira militar, aliás distinta, integrou frequentemente comissões de estudo e
escolha de armamento, tendo sido director da Carreira de Tiro de Pedrouços.
Apesar da aquisição recente, em 1886, das espingardas e carabinas de repetição 8 mm,
Kropastchek, estas revelavam já alguns inconvenientes, relacionados sobretudo com o sistema
de carregador tubular, sob o cano. Nestas armas, a capacidade do carregador ficava
condicionada pelo seu comprimento; a morosidade do seu carregamento deixava o soldado
muito tempo sem possibilidade de fazer fogo e, não menos importante, a má distribuição do
peso, ficando demasiado pesadas à frente quando completamente carregadas, o que era
agravado com a colocação da baioneta.
Estas limitações, inerentes às armas de repetição com carregador tubular no fuste,
afectavam particularmente as tropas de cavalaria, que utilizavam carabinas mais curtas e que
se supunha serem empunhadas apenas com uma mão. Percebe-se assim, a aquisição para a
Cavalaria, em 1896, das carabinas Mannlicher 6,5 mm, muito mais leves e manobráveis, com
depósito central sob a culatra.
Assim, pela Ordem do Exército nº 23 de 1898, foi nomeada uma comissão para a
escolha de uma nova espingarda para o exército.
No final desse mesmo ano, a referida comissão definiu os requisitos que esta nova
arma devia incluir: utilizaria munições calibre 6,5 mm; utilizaria um depósito central de
munições, para carregador ou lâmina carregadora; deveria funcionar em tiro simples ou tiro de
repetição; o seu peso não devia exceder 3 500 g. A comissão recomendou ainda que deveria
ser dada particular atenção ao mecanismo de segurança, e à facilidade de utilização do
aparelho de pontaria.
Naturalmente que as atenções da comissão recaíram sobre a espingarda Mannlicher,
idêntica às carabinas adoptadas pela Cavalaria em 1896 (e pela Armada em 1895). No entanto,
ao longo do ano de 1899, foram efectuados vários ensaios com diversas armas de diversas
origens: a espingarda Veterli-Vitali (Suiça), a Daudeteau e a Baudoin (França); a Passaricini-
Carcano (Itália); dois modelos da Krag-Jörgensen (Dinamarca), um com depósito central e
outro com depósito lateral para fácil carregamento de cartuchos isolados, vários modelos da
Mannlicher (Áustria), alguns deles com alterações sugeridas pela própria comissão; a
Mannlicher modelo 1886 (“straight-pull”); a Mannlicher 1895 com o carregador rotativo
Schonhauer, a Mauser espanhola e a Mauser 98 Alemã.
No ano de 1900, a comissão de escolha havia chegado a um impasse. De todas as
armas examinadas e ensaiadas, distinguiam-se, por razões diferentes a Mannlicher com o
carregador Schonhauer e a Mauser 98, sobre as quais se dividiam as opiniões dos elementos
da comissão. Ambas as armas irrepreensíveis no seu desempenho balístico e correspondendo
ambas aos requisitos impostos pela comissão, a questão residia nas respectivas culatras
móveis e nos sistemas de alimentação.
A culatra móvel da Mannlicher, mais simples, mais suave no seu funcionamento mas
apresentando alguns problemas, sobretudo ao nível da segurança. A culatra Mauser, muito
mais robusta, mais complexa, com um funcionamento mais duro e uma montagem e
desmontagem mais difícil.
Surgiu então uma proposta do Capitão de Infantaria José Alberto Vergueiro, que não
integrava a comissão de escolha, para submeter a apreciação um modelo de culatra móvel,
baseada na culatra da Mannlicher, à qual foram introduzidos alguns melhoramentos. Tendo
sido entregue a esta Comissão um protótipo desta culatra móvel, fabricado pelo Capitão
Vergueiro, na Fábrica de Armas do Arsenal do Exército.
Reconhecidas as vantagens desta culatra móvel foi decidida a sua implementação na
nova arma a escolher. A Mannlicher-Schonhauer, apesar da excelência da arma, foi excluída
por o carregador não apresentar a robustez exigida para o serviço militar. A escolha recaiu
sobre a espingarda Mauser, calibre 6,5 mm, com a culatra móvel do Capitão Vergueiro.
Assim, a 21 de Dezembro de 1903, foi contratada com a DWM (Deutsch Waffen und
Munitzionfabrik) em Berlim, o fabrico de 100 000 espingardas Mauser-Vergueiro, com a
respectiva baioneta.
A comissão, que entretanto integrou o Capitão Vergueiro, deslocou-se então para
Berlim onde, em conjunto com o director técnico da DWM, procedeu à optimização da culatra-
móvel Vergueiro e da sua integração no fabrico das espingardas, escolha dos aços para o
fabrico dos canos, optimização do aparelho de pontaria, de forma a estabelecer o caderno de
encargos que regeria o seu fabrico.
Em 1904, foi estabelecida a arma padrão e fabricados quatro exemplares, dos quais
dois foram enviados dois para Portugal, para aprovação. (Fig.13)
Fig.13.- Espingarda Portuguesa 6,65mm m/904 – Mauser-Vergueiro com Pormenores da culatra e da alimentação
A culatra-móvel desenvolvida pelo Capitão Vergueiro foi, inicialmente, um
melhoramento da culatra-móvel da Mannlicher m/96, de modo a superar alguns problemas
que esta apresentava.
Estes melhoramentos foram: sistema de segurança, conservação da força constante da
mola do percutor, colocação de um extractor amovível que permitia uma substituição ou
limpeza sem recurso a oficina ou ferramenta, impossibilidade de montar incorrectamente a
cabeça da culatra, introdução de um sistema de escape de gases, para que no caso de o
percutor perfurar a cápsula fulminante, não se produzissem lesões no atirador, redução do
numero de peças (sobretudo molas) e maior simplicidade na montagem e
desmontagem.(Fig.14.)
Fig.14.- Pormenores do ferrolho da culatra, concebido pelo Capitão Vergueiro, de modo a optimizar a culatra Mannlicher e cumprir com os requisitos técnicos da
comissão de escolha para a nova arma de Infantaria.
A espingarda Mauser-Vergueiro calibre 6,5 mm m/904 apesar das suas excelentes
características balísticas foi frequentemente, na sua época, considerada uma arma com fracas
características militares. Contudo, no âmbito das reformas militares de 1937, foram
convertidas nas Oficinas de Braço de Prata para o novo calibre adoptado (o calibre 7,9 mm
alemão) continuando esta culatra a prestar excelente serviço.