Olhares urbanos sobre o mundo rural: o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais na gestão de...

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação Núcleo de Apoio à Administração da Pesquisa Programa Interno de Bolsa de Iniciação Científica - PROIC/DPPG-UFRRJ RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA “Olhares urbanos sobre o mundo rural: o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais na gestão de Anísio Teixeira (1955-1964). BOLSISTA: Rafael José Galozi Soares COORDENADOR: Professor Dr. Fernando César Ferreira Gouvêa Seropédica Agosto de 2010

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL

DO RIO DE JANEIRO

Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação Núcleo de Apoio à Administração da Pesquisa

Programa Interno de Bolsa de Iniciação Científica - PROIC/DPPG-UFRRJ

RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA

“Olhares urbanos sobre o mundo rural: o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais

na gestão de Anísio Teixeira (1955-1964).

BOLSISTA: Rafael José Galozi Soares

COORDENADOR: Professor Dr. Fernando César Ferreira Gouvêa

Seropédica

Agosto de 2010

(...) A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez não seja menos vão esgotar-se em compreender o passado se nada se sabe do presente (...) (MARCH BLOCH, Apologia da história ou ofício do historiador, 2001, p. 65).

À guisa de apresentação: uma apreciação sucinta do orientador O relatório que ora apresenta o bolsista Rafael Soares, discente do curso de História

da nossa Universidade, soa-me como aqueles prenúncios distantes no tempo... num tempo

onde os seres humanos buscavam no céu as respostas para aquilo que haveria de vir ou devir

num momento de mais indagações do que certezas, mais ações de reflexo do que reflexões,

mais limites do que perspectivas..

Mas, cabem algumas indagações: o que mudou deste tempo distante até o nosso

tempo hodierno? Onde buscamos respostas? Construímos mais certezas do que

questionamentos? Refletimos mais antes das ações ou a vida nos empurra aos reflexos de

espelho? Questões complexas que muitas vezes silenciam todas as nossas respostas

semiprontas ou já devidamente embaladas para “presente” no presente.

Não seria este comentário sucinto o espaço para tantos fios de ideias a serem

“puxados” ou desvelados. No entanto, é o lócus para que eu possa assinalar que o iniciante à

pesquisa operou uma junção de dois momentos: buscou respostas e encontrou outras tantas

para prosseguir a jornada; refletiu sobre possibilidades e encontrou também limites...limites

que acabaram por tangenciar e costear imensas outras maneiras de pensar o mesmo objeto de

pesquisa e reler as fontes que revelam e que também escondem.

A leitura deste relatório final contribui para esclarecer os caminhos escolhidos,

negados, as marchas e contramarchas da pesquisa. Para além das linhas, perceber as

estratégias e táticas acionadas pelo discente na construção/edificação das suas participações e

intervenções acadêmicas. Os textos escritos e inscritos revelam a postura sempre

“desconfortável” mediante às acomodações intelectuais que muitas vezes “cristalizam” os

conhecimentos e infligem aos mesmos um “carimbo” de saber oficial.

Bem, só me cabe estabelecer o convite para um passeio pelas páginas a seguir haja

vista que já tenho um olhar “compromissado” com este trabalho e, desta forma, espero que

outros possam iluminar este relatório com os olhos de uma outra manhã.

Fernando Gouvêa- UFRRJ/IE/DTPE

SUMÁRIO

01. A introdução

02. O projeto de pesquisa em foco

03. O texto apresentado na XIX Jornada de Iniciação Científica da Universidade Federal

Rural do Rio de Janeiro

04. O texto apresentado na IV Semana de História da UNIRIO em 23 de novembro de 2009

05. O texto apresentado na I Jornada PET- História da Universidade Federal Rural do Rio de

Janeiro

06. A participação no IX Congresso Iberoamericano de História da Educação Latino

Americana (CIHELA)

07. O cotidiano da pesquisa: entre impressões e fichamentos

08. O acervo adquirido pela pesquisa

09. O cronograma atual da pesquisa

10. A participação em Grupos de Pesquisa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

11. Os anexos

01. A introdução

O leitor desavisado ao ler o relatório que se segue terá um grande espanto quanto ao

título do projeto apresentado e às atividades que foram realizadas. Esta breve nota tem como

objetivo mostrar ao leitor que o escopo preliminar do projeto teria que necessariamente passar

por tais preâmbulos. Tendo a história como uma locomotiva – afirmo que a nossa está em

perfeitas condições e com uma impecável manutenção – que anda sobre um trilho, e que parte

de um lugar determinado para chegar a outro local, também determinado.

Mas ao pensamento desavisado, parece que nossa locomotiva descarrilou. Partimos

para entender os “olhares urbanos sobre o rural” e descambamos para o “pensamento de

Anísio Teixeira”. Mas como uma locomotiva está sempre em um determinado terminal, se

parto de uma estação, inevitavelmente terei que perfazer paradas intermediárias. E como uma

única linha de trem, Anísio Teixeira e o pensamento cebepiano são do mesmo terminal.

Abandonarei a metáfora e partirei para a teoria, assim meu discurso não terá um tom

meramente poético, mas sim fundamentado cientificamente.

Como entender um pensamento institucional sem entender o pensamento de seu

fundador? Eis a primeira das perguntas que deve ser feita, e em sequência dela deverão vir

muitas outras. Tratarei aqui de explicar que todo indivíduo está presente em uma época e

também em um grupo de sociabilidade, e compartilha de uma multidiversidade de símbolos

linguísticos com os seus pares. Daí entendermos que toda obra está inserida em um

contextualismo, mas não em um contextualismo passivo onde o indivíduo não tem poder de

escolha, muito pelo contrário.*

Então, estudar Anísio Teixeira, suas ideias e formações sociais – em outras palavras,

sua trajetória como pensador – faz parte da pesquisa dos olhares urbanos. Quando essa

trajetória se reflete em um modo de ser que se espraia por toda uma vida de atuação política, é

mister que o estudo de uma instituição como o CBPE que tem Teixeira como diretor deve ser

visitada a partir de um estudo de sua filosofia. Ou seja, o CBPE não poderá ser apreendido em

* Sobre esse assunto aconselho a leitura de: JASMIN, Marcelo Gantus. História dos conceitos e teoria política e social: referências preliminares. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 20, n. 57, fev. 2005, p. 27-38; SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René (org.). Por uma nova história política. Rio de Janeiro: FGV / UFRJ, 1996; GONTIJO, Rebeca. História, cultura, política e sociabilidade intelectual. In: SOIHET, Rachel; BICALHO, Maria Fernanda Baptista; GOUVÊA, Maria de Fátima S. (orgs.). Culturas políticas: ensaios de história cultural, história política e ensino de história. Rio de Janeiro: Mauad, 2005, pp. 259-284; SKINNER, Quentin. Visões da política: sobre os métodos históricos. Algés: Difel, 2005.

maior abrangência se não passar pelos preâmbulos do contexto de seu criador e mantenedor

no período em tela.

2. O projeto de pesquisa em foco

Anísio Teixeira foi nomeado para a direção do Instituto Nacional de Estudos

Pedagógicos (INEP) em 1952, após a catástrofe área que culminou com o desaparecimento de

Murilo Braga. Segundo Bonamino (2001, p.1), uma das características mais marcantes da

gestão de Anísio Teixeira no INEP é que ele procurou estabelecer um compromisso entre a

produção de pesquisa na área das ciências sociais e a política educacional numa perspectiva

regionalizada e que visava a manter uma relativa autonomia com relação ao poder central

do MEC. Para Anísio essa articulação das ciências sociais com a educação era indispensável

para a consubstanciação de um projeto de cunho científico que pautasse as ações no campo

educacional.

Deste modo, considero o seu discurso de posse como dirigente do INEP um autêntico

projeto de dinamização do Instituto bem como o primeiro movimento para o lançamento de

estratégias para a configuração e consubstanciação de uma rede em ação haja vista considerar

que o referido discurso contém o alargamento das atribuições do INEP e sua centralidade no

processo de reconstrução da educação nacional ao afirmar que as funções do Instituto

Nacional de Estudos Pedagógicos deverão ganhar, nessa nova fase, amplitude ainda maior,

buscando tornar-se, tanto quanto possível, o centro de inspirações do magistério nacional

para a formação daquela consciência educacional comum [...] os estudos do INEP deverão

ajudar a eclosão desse movimento de consciência nacional indispensável à reconstrução

escolar (TEIXEIRA, 1952).

Assim, o referido discurso trouxe também a gênese do Centro Brasileiro de Pesquisas

Educacionais (CBPE) ao definir que são necessários estudos cuidadosos e impessoais, de que

o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos deverá encarregar-se com o seu corpo de

técnicos e analistas educacionais, mobilizando ou convocando também, se preciso e como fôr

possível, outros valores humanos, onde quer que se os encontre e segue o discurso afirmando

que [...] até o momento, não temos passado, de modo geral, de simples censo estatístico da

educação. É preciso levar o inquérito às práticas educacionais e [...] Enquanto assim não

procedermos, não poderemos progredir nem fazer recomendações para qualquer progresso,

que não sejam de valor puramente individual ou opinativo (CPDOC-FGV, 1952, ATt

05.06.52).

Em dezembro de 1954, Teixeira enviou uma carta ao Ministro da Educação Cândido

Mota Filho – que ingressara em agosto na pasta - com esclarecimentos no tocante às

atribuições do INEP e à necessidade de criação de órgãos para o pleno funcionamento da

Instituição. Finalmente, em 1955 foram criados o Centro Brasileiro de Pesquisa Educacional

e os Centros Regionais de Pesquisa Educacional (CRPEs) pelo Decreto n. 38.460. Centros

que estiveram relacionados ao esforço intelectual amplo e multifacetado com o qual a

aproximação entre os temas planejamento e questões regionais; conhecimento local e questão

nacional; procedimentos científicos e estudo de casos estiveram imbricados, partindo da

urgência de pesquisas sobre as condições culturais e escolares e das tendências de

desenvolvimento de cada região e da sociedade brasileira como um todo numa perspectiva de

um olhar urbano sobre o mundo rural.

Ainda sobre a criação do CBPE, desejo aduzir o comentário de Mendonça (1997, p.30)

ao afirmar que A experiência do CBPE constituiu-se em mais um desdobramento de uma meta

que Anísio vinha perseguindo desde os anos 20-30. A saber, a meta das ações no campo

educacional pautadas por instrumentos de cunho científico, levantamentos, surveys e

pesquisas.

O CBPE contava na sua estrutura básica com a Direção de Programas, as Divisões de

Estudos e Pesquisas Educacionais, de Estudos e Pesquisas Sociais, de Documentação e

Informação Pedagógica e a Divisão de Aperfeiçoamento do Magistério, além da Secretaria

Executiva e do Serviço Administrativo. Os Centros regionais deveriam ter uma estrutura

organizacional idêntica à do CBPE – o que não se confirmou ao longo do processo de

estruturação de cada centro. Na estrutura do CBPE desejo destacar três divisões: a Divisão de

Documentação e Informação Pedagógica, a Divisão de Estudos e Pesquisas Educacionais e a

Divisão de Estudos e Pesquisas Sociais

A Divisão de Documentação e Informação Pedagógica tinha, dentre outros objetivos: a

elaboração de periódicos – com destaque para a Revista Educação e Ciências Sociais - e todo

o tipo de material impresso que contribuísse para os estudos do magistério nacional, para a

atualização das diferentes instituições educacionais brasileiras e para a divulgação das

pesquisas educacionais e sociológicas encetadas pelo CBPE num processo que

consubstanciou o impresso como uma rede em ação através das estratégias de articulação,

intervenção e legitimação institucionais sob o ângulo de um determinado grupo de poder com

suas respectivas discordâncias e dissensões (CERTEAU, 2004).

A Divisão de Estudos e Pesquisas Educacionais manteve sob sua responsabilidade os

seguintes objetivos: o estudo das condições históricas, sociais, econômicas e culturais da

elaboração dos currículos elementares e médios e sua relação com a comunidade; estudo do

aluno, considerando as relações escolares, a situação familiar e econômico-social e outras

condições de desenvolvimento da aprendizagem e, por fim, organização de descrições

monográficas a serem confiadas a educadores de diferentes estados da federação sobre

situações educacionais específicas de suas regiões ou aspectos gerais da situação educacional

do seu estado.

Por último, a Divisão de Estudos e Pesquisas Sociais sustentaria a sua existência na

realização de estudos e pesquisas que conduzissem ao conhecimento da cultura e da sociedade

brasileira e de seu desenvolvimento, em conjunto e em cada região do país a fim de permitir a

compreensão mais ampla e profunda possível dos fatos educacionais em suas relações com a

vida social. Coube a Darcy Ribeiro a direção desta divisão que contou com a colaboração

efetiva de antropólogos e sociólogos brasileiros e estrangeiros.

Vale destacar algumas pesquisas realizadas pela referida divisão e que apresentam

relação direta com as inquietações acadêmicas que sustentam este projeto de pesquisa:

“Relações entre o processo de socialização e a estrutura da comunidade”; “Indicações sobre o

processo educativo fornecidas pelos estudos de comunidade”; “Estrutura social da escola”;

“Estratificação social no Brasil”; “Estudo sobre o desenvolvimento econômico e as

transformações da estrutura ocupacional no Brasil”; “estudo básico para a delimitação das

regiões culturais do Brasil”; “Estudo sobre as consequências ideológicas e políticas da

ascensão das massas urbanas no Brasil” e, finalmente, o maior investimento do CBPE, o

“Programa de pesquisas em cidades-laboratório”

Objetivo Geral

Examinar as contribuições do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais na gestão

do educador Anísio Teixeira no que concerne a pesquisas sobre o “mundo rural” e

“regionalização” com vistas a pensar o “nacional” sobre a perspectiva dos “olhares urbanos”

de educadores, sociólogos e antropólogos nos anos 1950 e 1960.

Objetivos Específicos . Estabelecer o contexto histórico da criação e ação do Centro Brasileiro de Pesquisas

Educacionais.

Compreender os pressupostos teóricos de sustentação dos estudos culturais e pesquisas

de caráter educacional e sociológico no período em tela.

Estudar os conceitos relativos aos pares “rural” e urbano”; “regional” e “nacional”

presentes no ideário cebepiano.

Analisar as publicações do CBPE, em especial a revista Educação e Ciências Sociais,

no tocante às pesquisas realizadas e aos seus resultados

Elaborar um estudo comparativo entre as perspectivas e olhares para o “mundo rural”

deste período histórico e os diferentes olhares do século XXI

Justificativa

O presente estudo é importante para uma compreensão acurada das contribuições das

pesquisas desenvolvidas pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais - no período de

1955 a 1964 - que tiveram como centralidade as relações entre Educação e Sociedade numa

trama que conduziu ao cotejamento entre o “mundo rural” e o “mundo urbano”, entre o

“regional” e o “nacional” e que envolveu expoentes de diferentes áreas do conhecimento

como Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Oraci Nogueira, Jaime Abreu, Nelson Werneck

Sodré, J. Roberto Moreira, Charles Wagley, Bertram Hutchinson, Jacques Lambert, Andrew

Pearse, dentre outros.

O período em tela se refere à gestão do educador Anísio Teixeira frente ao CBPE que

foi criado em 1955 no âmbito do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. Vale considerar

que tal período histórico foi marcado pelo nacional-desenvolvimentismo num processo de

tentativa de transformação acelerada das relações econômicas e sociais numa perspectiva de

dimensionar o progresso representado pela evolução urbana brasileira em contraste com o

propalado imobilismo do universo rural.

As questões atinentes a estes “olhares” estiveram presentes em diversas pesquisas e

seus passos e resultados divulgados pelas publicações do CBPE com destaque para o

periódico “Educação e Ciências Sociais” – publicação quadrimestral que circulou

regularmente até 1962. Desta forma, este trabalho busca mapear, analisar e revelar o

entendimento das categorias “rural” e “urbano” nos anos 1950 e 1960 na maior instituição de

pesquisas educacionais e sociais da América do Sul.- que foi extinta nos anos 1970.

Metodologia

A metodologia para a consecução deste projeto buscará estabelecer uma acurada

compreensão da presença de múltiplos fatores na determinação da estrutura e evolução da

sociedade. Tal determinação, fundamental para o percurso deste estudo, entende a história

como uma junção de correlações e interferências, possibilitando um novo olhar sobre a

dinâmica que preside as instituições no âmbito da sociedade.

Neste caminho a teoria e o método estão colocados como ponto de partida frente ao

trabalho proposto pois ambos constituem possibilidades de lidar com o objeto de estudo e não

elementos limitadores da ação do pesquisador, ensejando um processo que permita que a

teoria revisitada e reavaliada possa contribuir para o ajustamento do percurso e - se preciso -

transformar o próprio método. Anunciados a teoria e o método percebo que conformam a

opção por um determinado caminho, mas permitem a existência de atalhos e retornos na

problemática que envolve lidar com documentos que expressam a vida pelo alarido ou o

esquecimento mais profundo; pela presença ou pela ausência. A leitura das linhas e

entrelinhas, a postura crítica face ao dito e a tentativa de desvelar o não dito, revelam a difícil

missão de entender as lacunas como mais um desafio (GOUVÊA, 2001).

A utilização da história cultural articulada à história política possibilita Uma dinâmica

na qual o Estado, segundo Maria de Fátima Gouvêa (2006, p. 33), é [...] aquele que se situa

no centro daquilo que constitui as preocupações as preocupações da Nova História Política.

Mesmo quando se trata de um estudo sobre cultura política, essa “cultura política” é aquela

que envolve elementos relacionados ao Estado e às instituições de poder vinculadas a ele

mais diretamente. Portanto, considero forçoso exprimir o entendimento do fato histórico

como resultado de um processo em constante construção/desconstrução – longe das verdades

intocáveis e marcado por rupturas e permanências que são frutos das suas múltiplas relações

de dependência com os campos econômico, social, político etc. (MENDONÇA, 1997).

Mas, por que a escolha de tais bases teórico-metodológicas para esta pesquisa?

Certamente, pelo reconhecimento de que a produção do conhecimento histórico, nos últimos

anos, vem recebendo as marcas de outras tendências que ao trazerem novos interesses e novas

questões para a historiografia fazem com que a mesma incorpore novos procedimentos ao

campo da pesquisa. A preocupação com o lugar do sujeito, suas práticas e a constituição

material dos objetos investigados delineiam algumas das propostas contidas na nova história

Cultural e na nova história Política.

O impacto causado, principalmente, pela primeira tendência histórica, expressa-se,

no entender de Nunes e Carvalho (1993, p.37), numa preferência cada vez mais manifesta por

privilegiar como objetos de investigação as práticas culturais, seus sujeitos e seus produtos,

tomados estes últimos em sua materialidade de objetos culturais. A mudança de concepção

possibilita uma inversão no que se refere à apropriação dos objetos culturais postos em

circulação – livros, periódicos etc.. Tais objetos, antes considerados velhos, passam por um

processo que atenta para aspectos anteriormente desconsiderados no rol da investigação

histórica.

As reflexões sobre a produção, a circulação e a apropriação desses objetos culturais

são fundamentais pois - na tentativa de constituir um campo de estudos - voltam-se para

questões educacionais, numa perspectiva que vem propiciando uma extensa produção sobre a

história da educação e a utilização desses impressos como estratégia de intervenção no campo

educacional. Tal intervenção torna-se cada vez mais significativa porque os impressos que

enfocam a questão pedagógica vêm consolidando uma importante presença na investigação

historiográfica.

É forçoso lembrar que a construção de um trabalho com este viés não deve ocasionar

o esquecimento do contexto histórico em que tais objetos culturais estão imersos e, muito

menos, descuidar das contribuições da histórica política e sua capacidade heurística em

relação ao tecido social.

Assim, a história do tempo presente não é mais impregnada de ideologias do que a

história medieval ou a história das revoluções. Percebo que cada escrita da história

corresponda ao olhar do historiador em seu momento de vida... tenha ele vivido no tempo

medievo, no calor de uma revolução do século XVIII ou distante do tempo que narra a sua

história – os preceitos de sua época estarão sempre presentes pois a história não é o absoluto

dos historiadores do passado, providencialistas ou positivistas, mas o produto de uma

situação, de uma história [...] que oscila entre a história vivida e a história construída,

sofrida e fabricada [...] e, ainda segundo os autores, o essencial, porém, não é sonharmos

agora com um prestígio passado ou futuro, mas sabermos fazer a história de que o presente

tem necessidade (LE GOFF e NORA, 1976, p. 12 e et seq.). Uma colocação que reputo

importante para a compreensão dos obstáculos a serem enfrentados e, ao mesmo tempo, dos

possíveis caminhos a serem trilhados por este trabalho acadêmico.

O itinerário da pesquisa será composto por levantamentos das publicações do CBPE,

bem como dos documentos oficiais no âmbito do Ministério da Educação numa postura crítica

frente às pesquisas e outros movimentos institucionais do órgão em tela que apresentem

relação com o objeto deste estudo. Cabe assinalar que serão feitas pesquisas nos acervos da

biblioteca e do Centro de Memória da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, da

Biblioteca Anísio Teixeira da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do CPDOC da

Fundação Getúlio Vargas.

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3. O texto apresentado na XIX Jornada de Iniciação Científica da Universidade Federal Rural

do Rio de Janeiro em 06 de novembro de 2009

Título: “Apresentação do campo de estudo: o CBPE e os CRPEs na tentativa cultivar as

populações do campo”

O Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) foi um projeto de Anísio

Teixeira (1900-1971), formulado inicialmente para ser um centro de altos estudos em

educação, foi sendo modificado até tomar a forma do que seria quando da sua

institucionalização em 1955. A forma de atuação do CBPE era peculiar em dois sentidos. O

primeiro era a forma de com que ele se desdobrava, em Centros Regionais (CRPEs); o

segundo a forma das pesquisas que não eram estritamente em educação, mas também em

ciências sociais.

Tanto o primeiro aspecto quanto o segundo estão imbricados em um esforço comum,

conhecer as especificidades do grande Brasil. Porém, essa ideia não era de simples

conhecimento, muito pelo contrário era uma forma de fazer levar uma educação que faria

sentido para as populações de localidades diferentes do país. Deste esforço é visível uma

preocupação com o localismo, com pouca preocupação com a pasteurização do Brasil sendo

emanada de um centro único. O Brasil que Teixeira idealizava não era homogêneo, mas

heterogêneo; era um Brasil que mesmo local não tinha o porquê de não ser nacional.

Mas o Brasil do CBPE não era um Brasil qualquer. Era um lugar fortemente marcado

por pares antitéticos – “rural x urbano”; “agrário x industrial”; “arcaico x moderno”. Daí a

ideia de existirem “dois brasis” como diria Jacques Lambert em 1959.

Desse modo, a política do CBPE era pautada em estudos de comunidades específicas,

sempre campesinas ou periféricas. Marcando essa conjuntura de um Brasil dividido em dois,

arcaico – campo e periferias – e moderno – cidade industrializada. Portanto o maior

investimento do CBPE, aquele que possuía o maior fôlego era o de estudo em Cidades-

Laboratório. Segundo Mendonça (1997, p. 42), se valendo de Darcy Ribeiro em apresentação

do Projeto de pesquisa em Cidades-Laboratório: [A] apropriação do método de estudos de comunidade consistia [...] na sua associação com “técnicas sociológicas de amostragem”, o que, nas palavras do próprio Darcy Ribeiro, ao apresentar o Programa de Pesquisas em Cidades-Laboratório, permitiria “contar com uma metodologia unificada que assegura a comparatividade dos dados colhidos e, deste modo, a generalização para todo o país dos resultados alcançados” (RIBEIRO, 1958, pp. 19-20)

É importante notar que sempre há uma ideia de unir as pontas dos dois brasis

formando um novo unificado agora por uma imbricação em rumo à industrialização e à

desruralização do Brasil.

O PERCURSO DO CONHECIMENTO

O conhecimento gerado pelo CBPE, em esforço combinado com os CRPEs, tem um

percurso peculiar. A formação do conhecimento era feito de modo orgânico: havia as

pesquisas in loco que geravam um saber que era apenas preliminar; depois desse colhimento

científico ele era aplicado nas salas de aula por professores, que por seu turno procurariam

estabelecer questões sobre esse saber; então as questões formadas pelos professores em sala

de aula, com a aplicação desse saber eram enviadas novamente para a continuação das

pesquisas. Essa visão da construção de conhecimento é típica de um pensamento pragmático,

é uma forma de dialética da pesquisa científica.

Para Anísio Teixeira a educação não constitui uma área de conhecimento com um

corpus científico, ela teria que usar as pesquisas de ciências sociais como instrumental para a

utilização na educação. A educação seria o lugar onde se poria em prática os saberes, ela seria

uma “arte”, como diria o próprio Teixeira: Os educadores – sejam professores, especialistas de currículo, de métodos ou de disciplina, ou administradores – não são, repitamos, cientistas, mas artistas, profissionais, práticos (no sentido do practioner inglês), exercendo, com métodos e técnicas tão científicas quanto possível, a sua grande arte, o seu grande ministério (TEIXEIRA, 1977, p. 55).

Portanto, para o conhecimento ser formado com eficiência seria necessário seguir as

etapas ditas acima, passando pela mão dos “artistas” para que eles dêem o seu toque criativo,

para mais tarde serem novamente revisadas.

Mas não é só pesquisando que se conseguiria dar esse efeito de dialética ao saber do

CBPE e dos CRPEs. Além de pesquisa eram oferecidos cursos de atualização do magistério,

onde o saber colhido no campo pelos sociólogos, antropólogos e outros cientistas eram

disseminados. Esses cursos garantiam que as pesquisas não fossem apenas pilhas de papel

colocadas em prateleiras e esperando outros eruditos e cientistas que dali fariam outras

pesquisas.

Outra forma de disseminar o saber era pelos impressos editados pelo CBPE. O último

levantamento feito pele Centro em 1962 contava de 51 livros publicados ou a publicar.

Também era de grande importância a Revista “Educação e Ciências Sociais” que foi

publicada no período de 1956 até 1962, com um total de 21 volumes. A revista era um canal

de comunicação com a comunidade científica e educacional em todo o Brasil, divulgando os

resultados preliminares das pesquisas em comunidades. Tanto as revistas quanto os livros

eram responsabilidade da Divisão de Estudos e Pesquisas Sociais, de Documentação e

Informação Pedagógica.*

PERGUNTAS A TÍTULO DE [NÃO]CONCLUSÃO

Seria muito pedir a esse estudo emergente uma conclusão que desse um fim ao nosso

discurso. Como um estudo nunca esgota o seu objeto de estudo, o nosso recém nascido

trabalho não tem condições de dar ao público uma conclusão ou mesmo estabelecer quaisquer

aproximações conclusivas preliminares. Entretanto, gostaríamos de oferecer uma noção das

questões que nortearão o nosso trabalho.

Cabe perguntar qual o sentido político de uma estruturação de tamanho agigantado,

como o CBPE para a educação? Não é possível que essa estrutura se forme sem nenhuma

estratégia política, mas não uma estratégia política sem corpo, como Foucault† irá propor e,

sim, uma que apresenta corpo e cabeça. Mas que é um corpus não único, mas composto por

várias pessoas. Um projeto de um indivíduo-sujeito que, portanto, sempre será imbricado por

vários outros projetos individuais.

Se faz forçoso indagar, de uma maneira peculiar à história cultural, quais as

transformações qualitativas na concepção de construção do saber científico do CBPE? Como

eram os cotidianos das escolas de experimentação do CBPE (no Rio de Janeiro a Escola

Guatemala – localizada no Bairro de Fátima no centro da cidade) - onde o saber era

distribuído aos educadores e aplicado aos educandos?

Por fim, fica a grande questão dessa nossa pesquisa: como se dava a “cultivação” das

populações campesinas? Essa questão só poderá ser respondida quando a nossa pesquisa

estiver em seu estágio final. Porém, se pode fazer uma conjectura de forma indagativa: qual a

participação das Universidades Federais Rurais neste processo?

* Sobre os impressos ver GOUVÊA, Fernando César Ferreira. Tudo de novo no front: o impresso como estratégia de legitimação do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (1952-1964).. Tese de Doutorado, Departamento de Educação, PUC-Rio, 2008. Onde o autor dará mais informações detalhadas sobre as estratégias usadas nos impressos. † Sobre Foucault ver: FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. 35° ed. Tradução de Raquel Ramalhete Rio de Janeiro: Vozes, 2008. e FOUCAULT, Michel. Nietzsche, a genealogia e a história. In: FOUCAULT, Michel. Tradução e revisão técnica de Roberto Machado. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

Entendemos que este aspecto merece atenção por parte de historiadores e estudiosos

da área de educação, tendo como esteio as contribuições da história política e da história

cultural.

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04. O texto apresentado na IV Semana de História da UNIRIO em 23 de novembro de 2009.

EM BUSCA DA IDENTIDADE DE UM EDUCADOR: ANÍSIO TEIXEIRA (1924-1935)

Rafael José Galozi Soares*

Introdução

A memória é a responsável por sermos quem somos. Ela é quem nos mostra a estrada

pela qual caminhamos até nos tornarmos quem somos no tempo e no espaço. A memória não

começa no passado, a memória é um ato do presente. O que chamamos de “agora” dita quem

nós fomos ontem e quem somos hoje.

Michel Pollack (1998) vai nos dizer que a memória é uma conjunção perfeita de

lembrar, esquecer, e também de silenciar. Desta forma, a memória será uma construção que

sempre será linear, sem erros ou os erros serão explicados de uma forma lógica. A memória é

muito semelhante à história positivista do século XIX.

Girando em torno dessas afirmações da memória será necessário acrescentar apenas

mais um conceito a estes, o de projeto. Gilberto Velho (1997) vai afirmar que há alguém que

pode projetar através da memória, quando esta dá a sua identidade. Ele chama este alguém de

indivíduo, porém não é um indivíduo comum do jeito que estamos acostumados a conceber.

Primeiro irei explicar a questão da formação da identidade pela memória e, em seguida,

explicarei o conceito de indivíduo para Velho.

As lembranças são fragmentos do passado que quando passam pelos mecanismos do

lembrar, esquecer e silenciar se tornam uma massa uniforme e linear. Só será possível projetar

algo se a memória for bem formulada, sendo capaz de visionar um futuro próximo que poderá

ser diferente da memória; ou se o presente for diferente da memória, o projeto será de fazer o

futuro ser igual à memória de um tempo remoto.

Porém, nem todas as pessoas são capazes de formar tão bem os seus fragmentos de

passado, formando assim uma memória sólida que dê sustentação ao ato de projetar. É

necessário também ser um indivíduo, este indivíduo é o único que pode projetar. Para Georg

Simmel (2006) o indivíduo precisa passar por um processo de individuação, ou seja, tem que

ser capaz de lidar com a massa a partir de um processo de socialização. A socialização é o

movimento de dialogar com as massas, o indivíduo é aquele que dialoga com as massas e,

portanto, é o único que pode dar forma a um projeto, que sempre é coletivo, e de apelo a uma * Graduando do curso de história da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, bolsista de iniciação científica PROIC/UFRRJ.

memória que é identidade – ou identitária. As outras pessoas da massa só são capazes de

planejar, e um plano é algo feito com minúcia e com muitas etapas que são sucedâneas e

imbricadas para o sucesso ou para o fracasso, sempre dependentes. Um projeto é algo que

pode mudar e – geralmente – muda, é um campo de estratégias que possui individuo e massa,

juntos em prol do projeto.

Anísio Teixeira (1900-1971) é um exemplo de individuo, e é sobre ele que iremos

falar aqui, de sua formação de identidade através dos seus percursos intelectuais, e até certo

ponto pessoais. A formação de memória de Teixeira é um percurso não linear, que mostra a

vivacidade de um ator, que não está em busca de uma linearidade, mas vive de acordo com o

tempo, um homem que projeta, um indivíduo-coletivo-sujeito.

Gostaria de explicar por último que as datas presentes no título não são datas de corte,

ou seja, não são marcos temporais fixos. Isto é, são pontos de confluência sobre a vida de um

sujeito histórico que ao mesmo tempo em que é produtor de história é alimentado pela

mesma. Então, o ponto de confluência de 1924 não pode ser explicado sem antes se recorrer

ao tempo que o antecede; assim como o de 1935 só fará sentido se olharmos para frente em

alguns anos.

Anísio Teixeira, o começo da formação: percursos em sua memória e identidade

Em 1924 Anísio Teixeira é empossado Inspetor de Instrução Geral da Bahia. Até

então, Teixeira era um bacharel em direito, e sua nomeação ao cargo público não apresenta

relação com seu talento para a educação e sim a um favor político que seu pai Deocleciano

Pires Teixeira que fora cabo eleitoral do então governador Góis Calmon conseguiu “cobrar”.

Mas a história não começa por este momento. Voltemos ao tempo da formação de

Teixeira na escola e na universidade. Muitas tentativas de mudar a educação na Bahia foram

frutos de sua formação jesuítica e de sua graduação em bacharel em direito. Sendo assim, no

início de sua carreira Teixeira era dominado por um pensamento marcadamente religioso –

cristão católico – e por um apego às leis – resultado de sua graduação. Nas palavras de Clarice

Nunes (2001, p. 6): Anísio não nasceu educador. Tornou-se educador num processo laboriosamente construído, lapidado no diálogo com os diversos educadores que dentro dele transitaram, na intensa experiência dos exercícios espirituais realizados na juventude, nas reflexões suscitadas pelas viagens internacionais, nas fiéis amizades, como a que manteve com Monteiro Lobato e Fernando de Azevedo, na experiência da gestão pública da educação. Nesse sítio de vivências, povoado de lembranças pessoais, de forças vivas, quero lançar luz sobre as sombras e surpreender...os momentos de ruptura.

E serão alguns momentos de ruptura, não nas ações como Nunes irá ressaltar, mas no

âmbito da memória e da identidade que se farão centrais na carreira deste pensador da

educação.

Até 1927 as reformas educacionais promovidas por Teixeira foram feitas a partir de

um viés metafísico e bastante burocrático através de leis e decretos. Anísio tenta até

incorporar a educação religiosa à escola pública, o que mais tarde abominará. Em 1927

Teixeira fará sua primeira viagem aos Estados Unidos e à Europa. Quando de sua volta ao

Brasil escreve um livro já com algumas mudanças em seu pensamento, que não poderá ser

debatido aqui, chamado Aspectos Americanos da Educação.

Depois, em 1929 após sua segunda viagem aos Estados Unidos é que a sua identidade

será modificada mais radicalmente, estudará com Jonh Dewey e outros, donde tirará a sua

filosofia da educação, o pragmatismo. Substituindo a forma metafísica de pensar por um outro

modo, onde o pensamento imbricado com a ação seria a sua nova diretriz.

A memória de Teixeira será modificada em certos elementos que serão esquecidos;

outros que serão deformados e isolados e outros novos construtos. Há um conflito de ideias

que serão de forma diferente resgatadas do passado e terão um novo arranjo, formando assim

sua nova identidade. Da educação jesuítica ficará em sua memória as leituras de São Tomas

de Aquino e a ideia de bem comum, e será afastado o que o próprio Teixeira chamará de

ultramontanismo católico, que é uma visão política religiosa do século XIX, ou seja, deixará

de ser um partidário da igreja; da formação do direito ficará o conhecimento das leis e das

formas de agir, e deixará para trás a crença em que as leis poderiam mudar as situações, sendo

assim usa o seu conhecimento das leis para mais tarde burlar a morosidade da burocracia.

Não sendo apenas isso que fez com que o personagem em questão se transformasse de

jovem advogado, funcionário público arranjado para o então recém educador; há a questão de

sua formação no seio de uma família patriarcal. Formação esta naturalista e cientificista,

segundo Geribello (1977, p. 20): Onde absorvera o menino de Caiteté [Anísio Teixeira] essa orientação naturalista e científica? ... Certamente “no ambiente de austeridade patriarcal e veemência intelectual e cívica” do lar e do círculo de intelectuais que frequentavam sua casa.

Dessa forma, a formação cientificista foi o que promoveu Teixeira à busca de saberes

educacionais para melhor poder exercer o seu cargo de Inspetor na Bahia. Sendo assim, a sua

busca por conhecimento determina o itinerário das suas viagens ao exterior. Mas essa

formação no seio patriarcal não possui somente qualidades, há também as que foram

esquecidas por Teixeira. Proveniente desse patriarcalismo há a ideia de uma educação dualista

na qual a escola universal seria uma afronta ao pensamento liberal e à liberdade de

competição. Mais tarde, Anísio Teixeira irá negar completamente esse tipo de ideia, embora

em 1924 a defendesse com bastante furor.

Em 1929 Teixeira volta de sua segunda viagem aos Estados Unidos, trazendo uma

identidade totalmente diferente da que tinha quando fora nomeado Inspetor Geral de

Educação da Bahia. De lá vinha o novo Teixeira, agora homem pragmático que visava ao bem

comum, e que já achava que a burocracia era a grande vilã da ação reformadora de verdade;

homem que já não via o interesse no dualismo e que pensava uma educação para todos como

forma de melhorar o país. Eis o Anísio Teixeira que tentará reformular a educação na Bahia e

não conseguirá, por não aceitação de seu relatório propositivo apresentado ao governador

Vital Soares que vetou suas propostas e Teixeira fora exonerado do cargo, sendo admitido na

escola normal de Salvador.

Ainda na sua viagem aos Estados Unidos Teixeira conheceria Monteiro Lobato que

iria abrir as portas para o recém educador Anísio Teixeira, como Lobato dirá em missiva para

Fernando de Azevedo: Fernando. Ao receberes esta, pára!Bota pra fora qualquer senador que te esteja

aporrinhando. Solta o pessoal da sala e atende o apresentado pois ele é o nosso

grande Anísio Teixeira, a inteligência mais brilhante e o maior coração que já

encontrei nestes últimos anos de minha vida. O Anísio, viu, sentiu e compreendeu a

América e aí te dirá o que realmente significa esse fenômeno novo no mundo. Ouve-

o, adora-o como todos os que conhecemos o adoramos, e torna-te amigo dele como

me tornei, como nos tornamos eu e você, Bem sabes que há uma certa irmandade no

mundo que é desses irmãos, quando se encontram, reconhecem-se. Adeus. Estou

escrevendo a galope, a bordo do navio que vai levando uma grande coisa para o

Brasil: o Anísio lapidado pela América” (AZEVEDO, 1973, p. 127. Grifo

nosso.)

1931 e o primeiro grande projeto de Anísio Teixeira: a Universidade do Distrito Federal

(UDF)

Em 1931 Teixeira tomará posse do cargo de Diretor Geral da Instrução no Distrito

Federal. E já como um educador experimentado trará reformas mais substanciais para o

campo da educação. Destaca-se a transformação de Escola Normal e Instituto de Educação e a

criação da Universidade do Distrito Federal. Universidade esta que não tinha uma única

parede, nem um único prédio ou sala de aula. Era uma universidade que ficou muito no

âmbito do projeto, utilizando instalações improvisadas.

Como disse na introdução, o projeto é uma qualidade que está para um indivíduo-

sujeito. Desta forma, ele só poderá ser bem formulado se a memória deste indivíduo estiver

bem formulada. Os fragmentos de lembranças devem estar bem arrumados para que o futuro

seja pensado. E como todo um projeto de um indivíduo é um projeto coletivo, pois sozinho

ele não poderia fazer nada a UDF será um projeto de muitos. Estes muitos teriam projetos

menores que se ligariam ao projeto maior de Anísio Teixeira. Alguns dos colaboradores de

Teixeira nesse projeto foram Afrânio Peixoto, Fernando de Azevedo, Gilberto Freyre, e

muitos outros.

A ideia de criar UDF não veio à mente de Anísio Teixeira de uma hora para a outra,

ela é fruto de um pensamento de muito tempo. A preocupação com a formação de professores,

que vem desde o seu mandato na Bahia. Como dirá Fernando Gouvêa (2009, p. 6): Dessa forma, considero que tanto a criação do Instituto de Educação quanto o processo que originou a Universidade do Distrito Federal estavam imbuídos de uma visão que considerava tal perspectiva de formação um aspecto central na reconstrução do próprio sistema educacional brasileiro. A “escola de professores” como centro vital da universidade.

Porém, a ação de Teixeira que sempre anda junta com o pensamento, dessa vez foi de

um ímpeto superior ao pensamento, que tomou a dianteira face ao projeto. O projeto de

criação da UDF foi feito com regime de urgência, uma característica de Teixeira é essa; fazer

com que o seu ímpeto de ação urgente às vezes ultrapasse o pensamento calmo e

contemplativo das possibilidades do devir. O que virá acontecer com a UDF em 1935, com o

endurecimento do governo Vargas, será o desmantelamento sem nenhuma resistência de

paredes a se derrubar, só um nome a se apagar. E mais uma vez Anísio Teixeira irá se

exonerar de um cargo público, como dirá Geribello: “Anísio Teixeira é um homem que

incomoda” (1977, p. 61).

O projeto será a forma com que Teixeira irá formular as suas políticas no âmbito da

educação; será a sua estratégia para que as coisas deem certo. Essa será a forma com que

combaterá a morosidade da burocracia. A forma com que a UDF fora construída foi de forma

um tanto precipitada, mas era o único caminho para que ela fosse instaurada e começasse a

agir de pronto. Caso não fosse desse jeito não haveria nem o prelúdio da nova universidade

que Teixeira queria erigir.

Será assim, com essa estratégia, quando ele voltar à vida pública, novamente à Bahia

em 1947 e novamente ao Distrito Federal em 1951. Sempre projetando um caminho prático de

um lado e desviando de um caminho burocrático do outro, tentando serpentear entre os dois

para conseguir fazer as suas mudanças.

Conclusões

Como foi demonstrado Anísio Teixeira foi um homem que “mudou” de identidade

algumas vezes durante um período curto de tempo. E que continuaria a mudar a sua forma de

pensar. Por ser um pensador pratico consegue organizar suas lembranças em uma memória

que faz com que consiga projetar suas esperanças de forma a não esquecer os amigos e

aqueles que o apoiaram.

Deve-se levar em consideração que o modus operandi de Teixeira será assim para o

resto de sua vida pública. Sempre fazendo projetos aqui e ali, sempre tentando acabar com a

centralidade burocrática, por mais que seja contraditório esse pensamento para um homem

que ocupou o monopólio dos cargos centrais da educação brasileira à sua época – CAPES*,

INEP† e CBPE‡ – e quando não ocupava um cargo, quase sempre uma amigo seu esta

ocupando esse cargo da educação. Os projetos de Teixeira foram sempre assim, com o ímpeto

da ação, alguns deram certo outros não. Mas o que é importante ressaltar é que em Anísio

Teixeira Memória, identidade e projeto são características nítidas que compõem este

indivíduo coletivo que por mais de quarenta anos teve um papel relevante na organização e

gestão da educação pública no Brasil.

Bibliografia

AZEVEDO, Fernando de. Figuras de meu convívio. São Paulo: Duas Cidades, 1973.

FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO, Janaina. Usos e abusos da história oral. Rio de

Janeiro, ED. FGV, 1996.

GERIBELO, Wanda Pompeu. Anísio Teixeira - análise e sistematização de sua obra. São

Paulo: Atlas, 1977.

GOUVÊA, Fernando. A história da formação de professores no Brasil: um percurso com o

pensamento/ação de Anísio teixeira (1924-1950). Trabalho apresentado no VII Encontro

Nacional Perspectivas do Ensino de História. Universidade Federal de Uberlândia, 2009.

* Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior – ano de criação: 1951. † Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – ano de criação: 1937. ‡ Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais – ano de criação: 1955.

NUNES, C. Anísio Teixeira: a poesia da ação. Revista Brasileira de Educação, São Paulo,

n. 16, p. 5-18, abr. 2001.

POLLAK, Michel. "Memória e identidade social". Revista Estudos Históricos. Rio de

Janeiro, vol.5, no10, 1992. p. 200-212.

______. "Memória, Esquecimento, Silencio". Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro,

vol2, no3, 1989. p. 3-15.

SIMMEL, George. Questões fundamentais da Sociologia: indivíduo e sociedade. Trad.

Pedro Caldas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2006.

______. As grandes cidades e a vida do espírito. Mana, vol. 11, n. 02. Rio de Janeiro, oct.

2005.

VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1994.______.

"Memória, identidade e projeto" in: Revista Tempo Brasileiro., n.85, out-dez, 1988, p. 119-

126.

05. O texto apresentado na I Jornada PET- História da Universidade Federal Rural do Rio de

Janeiro

EM BUSCA DA IDENTIDADE DE UM EDUCADOR: ANÍSIO TEIXEIRA (1924-1935)

Rafael José Galozi Soares*

Resumo: Anísio Teixeira foi um educador, indivíduo-sujeito-coletivo. Deste modo este

trabalho pretende mostrar um percurso na memória deste indivíduo, no período de 1924 a

1935. Usando como referência teórica os trabalhos sobre memória de Michael Pollack, e

Gilberto Velho. Sendo assim pretendo dar uma aproximação preliminar sobre este

personagem histórico e sua trajetória de vida que longe de ser linear e determinada é

totalmente torta e casual, e sem esquecer que a história de uma vida é uma história de várias

vidas.

Palavras chave: Anísio Teixeira; Trajetória de vida, história do Brasil republicano.

Introdução

A memória é a responsável por sermos quem somos. Ela é quem nos mostra a estrada

pela qual caminhamos até nos tornarmos quem somos no tempo e no espaço. A memória não

começa no passado, a memória é um ato do presente. O que chamamos de “agora” dita quem

nós fomos ontem e quem somos hoje.

Michel Pollack (1998) vai nos dizer que a memória é uma conjunção perfeita de

lembrar, esquecer, e também de silenciar. Desta forma, a memória será uma construção que

sempre será linear, sem erros ou os erros serão explicados de uma forma lógica. A memória é

muito semelhante à história positivista do século XIX.

Girando em torno dessas afirmações da memória será necessário acrescentar apenas

mais um conceito a estes, o de projeto. Gilberto Velho (1997) vai afirmar que há alguém que

pode projetar através da memória, quando esta dá a sua identidade. Ele chama este alguém de

indivíduo, porém não é um indivíduo comum do jeito que estamos acostumados a conceber.

Anísio Teixeira (1900-1971) é um exemplo de individuo, e é sobre ele que iremos

falar aqui, de sua formação de identidade através dos seus percursos intelectuais, e até certo * Graduando do curso de história da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, bolsista de iniciação científica PROIC/UFRRJ.

ponto pessoais. A formação de memória de Teixeira é um percurso não linear, que mostra a

vivacidade de um ator, que não está em busca de uma linearidade mas vive de acordo com o

tempo, um homem que projeta, um indivíduo-coletivo-sujeito.

Gostaria de explicar por último que as datas presentes no título não são datas de corte,

ou seja, não são marcos temporais fixos. Isto é, são pontos de confluência sobre a vida de um

sujeito histórico que ao mesmo tempo em que é produtor de história é alimentado pela

mesma. Então, o ponto de confluência de 1924 não pode ser explicado sem antes se recorrer

ao tempo que o antecede; assim como o de 1935 só fará sentido se olharmos para frente em

alguns anos.

Anísio Teixeira, o começo da formação: percursos em sua memória e identidade

Em 1924 Anísio Teixeira é empossado Inspetor de Instrução Geral da Bahia. Até

então, Teixeira era um bacharel em direito, e sua nomeação ao cargo público não apresenta

relação com seu talento para a educação e sim a um favor político que seu pai Deocleciano

Pires Teixeira que fora cabo eleitoral do então governador Góis Calmon conseguiu “cobrar”.

Mas a história não começa por este momento. Voltemos ao tempo da formação de

Teixeira na escola e na universidade. Muitas tentativas de mudar a educação na Bahia foram

frutos de sua formação jesuítica e de sua graduação em bacharel em direito. Sendo assim, no

início de sua carreira Teixeira era dominado por um pensamento marcadamente religioso –

cristão católico – e por um apego às leis – resultado de sua graduação. Nas palavras de Clarice

Nunes (2001, p. 6): Anísio não nasceu educador. Tornou-se educador num processo laboriosamente construído, lapidado no diálogo com os diversos educadores que dentro dele transitaram, na intensa experiência dos exercícios espirituais realizados na juventude, nas reflexões suscitadas pelas viagens internacionais, nas fiéis amizades, como a que manteve com Monteiro Lobato e Fernando de Azevedo, na experiência da gestão pública da educação. Nesse sítio de vivências, povoado de lembranças pessoais, de forças vivas, quero lançar luz sobre as sombras e surpreender...os momentos de ruptura.

E serão alguns momentos de ruptura, não nas ações como Nunes irá ressaltar, mas no

âmbito da memória e da identidade que se farão centrais na carreira deste pensador da

educação.

Até 1927 as reformas educacionais promovidas por Teixeira foram feitas a partir de

um viés metafísico e bastante burocrático através de leis e decretos. Anísio tenta até

incorporar a educação religiosa à escola pública, o que mais tarde abominará. Em 1927

Teixeira fará sua primeira viagem aos Estados Unidos e à Europa. Quando de sua volta ao

Brasil escreve um livro já com algumas mudanças em seu pensamento, que não poderá ser

debatido aqui, chamado Aspectos Americanos da Educação.

Depois, em 1929 após sua segunda viagem aos Estados Unidos é que a sua identidade

será modificada mais radicalmente, estudará com Jonh Dewey e outros, donde tirará a sua

filosofia da educação, o pragmatismo. Substituindo a forma metafísica de pensar por um outro

modo, onde o pensamento imbricado com a ação seria a sua nova diretriz.

A memória de Teixeira será modificada em certos elementos que serão esquecidos;

outros que serão deformados e isolados e outros novos construtos. Há um conflito de ideias

que serão de forma diferente resgatadas do passado e terão um novo arranjo, formando assim

sua nova identidade. Da educação jesuítica ficará em sua memória as leituras de São Tomas

de Aquino e a ideia de bem comum, e será afastado o que o próprio Teixeira chamará de

ultramontanismo católico, que é uma visão política religiosa do século XIX, ou seja, deixará

de ser um partidário da igreja; da formação do direito ficará o conhecimento das leis e das

formas de agir, e deixará para trás a crença em que as leis poderiam mudar as situações, sendo

assim usa o seu conhecimento das leis para mais tarde burlar a morosidade da burocracia.

Não sendo apenas isso que fez com que o personagem em questão se transformasse de

jovem advogado, funcionário público arranjado para o então recém educador; há a questão de

sua formação no seio de uma família patriarcal. Formação esta naturalista e cientificista,

segundo Geribello (1977, p. 20): Onde absorvera o menino de Caiteté [Anísio Teixeira] essa orientação naturalista e científica? ... Certamente “no ambiente de austeridade patriarcal e veemência intelectual e cívica” do lar e do círculo de intelectuais que frequentavam sua casa.

Dessa forma, a formação cientificista foi o que promoveu Teixeira à busca de saberes

educacionais para melhor poder exercer o seu cargo de Inspetor na Bahia. Sendo assim, a sua

busca por conhecimento determina o itinerário das suas viagens ao exterior. Mas essa

formação no seio patriarcal não possui somente qualidades, há também as que foram

esquecidas por Teixeira. Proveniente desse patriarcalismo há a ideia de uma educação dualista

na qual a escola universal seria uma afronta ao pensamento liberal e à liberdade de

competição. Mais tarde, Anísio Teixeira irá negar completamente esse tipo de ideia, embora

em 1924 a defendesse com bastante furor.

Em 1929 Teixeira volta de sua segunda viagem aos Estados Unidos, trazendo uma

identidade totalmente diferente da que tinha quando fora nomeado Inspetor Geral de

Educação da Bahia. De lá vinha o novo Teixeira, agora homem pragmático que visava ao bem

comum, e que já achava que a burocracia era a grande vilã da ação reformadora de verdade;

homem que já não via o interesse no dualismo e que pensava uma educação para todos como

forma de melhorar o país. Eis o Anísio Teixeira que tentará reformular a educação na Bahia e

não conseguirá, por não aceitação de seu relatório propositivo apresentado ao governador

Vital Soares que vetou suas propostas e Teixeira fora exonerado do cargo, sendo admitido na

escola normal de Salvador.

Ainda na sua viagem aos Estados Unidos Teixeira conheceria Monteiro Lobato que

iria abrir as portas para o recém educador Anísio Teixeira, como Lobato dirá em missiva para

Fernando de Azevedo: Fernando. Ao receberes esta, pára!Bota pra fora qualquer senador que te esteja aporrinhando. Solta o pessoal da sala e atende o apresentado pois ele é o nosso grande Anísio Teixeira, a inteligência mais brilhante e o maior coração que já encontrei nestes últimos anos de minha vida. O Anísio, viu, sentiu e compreendeu a América e aí te dirá o que realmente significa esse fenômeno novo no mundo. Ouve-o, adora-o como todos os que conhecemos o adoramos, e torna-te amigo dele como me tornei, como nos tornamos eu e você, Bem sabes que há uma certa irmandade no mundo que é desses irmãos, quando se encontram, reconhecem-se. Adeus. Estou escrevendo a galope, a bordo do navio que vai levando uma grande coisa para o Brasil: o Anísio lapidado pela América” (AZEVEDO, 1973, p. 127. Grifo nosso.)

1931 e o primeiro grande projeto de Anísio Teixeira: a Universidade do Distrito Federal

(UDF)

Em 1931 Teixeira tomará posse do cargo de Diretor Geral da Instrução no Distrito

Federal. E já como um educador experimentado trará reformas mais substanciais para o

campo da educação. Destaca-se a transformação de Escola Normal e Instituto de Educação e a

criação da Universidade do Distrito Federal. Universidade esta que não tinha uma única

parede, nem um único prédio ou sala de aula. Era uma universidade que ficou muito no

âmbito do projeto, utilizando instalações improvisadas.

Como disse na introdução, o projeto é uma qualidade que está para um indivíduo-

sujeito. Desta forma, ele só poderá ser bem formulado se a memória deste indivíduo estiver

bem formulada. Os fragmentos de lembranças devem estar bem arrumados para que o futuro

seja pensado. E como todo um projeto de um indivíduo é um projeto coletivo, pois sozinho

ele não poderia fazer nada a UDF será um projeto de muitos. Estes muitos teriam projetos

menores que se ligariam ao projeto maior de Anísio Teixeira. Alguns dos colaboradores de

Teixeira nesse projeto foram Afrânio Peixoto, Fernando de Azevedo, Gilberto Freyre, e

muitos outros.

A ideia de criar UDF não veio à mente de Anísio Teixeira de uma hora para a outra,

ela é fruto de um pensamento de muito tempo. A preocupação com a formação de professores,

que vem desde o seu mandato na Bahia. Como dirá Fernando Gouvêa (2009, p. 6):

Dessa forma, considero que tanto a criação do Instituto de Educação quanto o processo que originou a Universidade do Distrito Federal estavam imbuídos de uma visão que considerava tal perspectiva de formação um aspecto central na reconstrução do próprio sistema educacional brasileiro. A “escola de professores” como centro vital da universidade.

Porém, a ação de Teixeira que sempre anda junta com o pensamento, dessa vez foi de

um ímpeto superior ao pensamento, que tomou a dianteira face ao projeto. O projeto de

criação da UDF foi feito com regime de urgência, uma característica de Teixeira é essa; fazer

com que o seu ímpeto de ação urgente às vezes ultrapasse o pensamento calmo e

contemplativo das possibilidades do devir. O que virá acontecer com a UDF em 1935, com o

endurecimento do governo Vargas, será o desmantelamento sem nenhuma resistência de

paredes a se derrubar, só um nome a se apagar. E mais uma vez Anísio Teixeira irá se

exonerar de um cargo público, como dirá Geribello: “Anísio Teixeira é um homem que

incomoda” (1977, p. 61).

O projeto será a forma com que Teixeira irá formular as suas políticas no âmbito da

educação; será a sua estratégia para que as coisas deem certo. Essa será a forma com que

combaterá a morosidade da burocracia. A forma com que a UDF fora construída foi de forma

um tanto precipitada, mas era o único caminho para que ela fosse instaurada e começasse a

agir de pronto. Caso não fosse desse jeito não haveria nem o prelúdio da nova universidade

que Teixeira queria erigir.

Será assim, com essa estratégia, quando ele voltar à vida pública, novamente à Bahia

em 1947 e novamente ao Distrito Federal em 1951. Sempre projetando um caminho prático de

um lado e desviando de um caminho burocrático do outro, tentando serpentear entre os dois

para conseguir fazer as suas mudanças.

Conclusões

Como foi demonstrado Anísio Teixeira foi um homem que “mudou” de identidade

algumas vezes durante um período curto de tempo. E que continuaria a mudar a sua forma de

pensar. Por ser um pensador pratico consegue organizar suas lembranças em uma memória

que faz com que consiga projetar suas esperanças de forma a não esquecer os amigos e

aqueles que o apoiaram.

Deve-se levar em consideração que o modus operandi de Teixeira será assim para o

resto de sua vida pública. Sempre fazendo projetos aqui e ali, sempre tentando acabar com a

centralidade burocrática, por mais que seja contraditório esse pensamento para um homem que

ocupou o monopólio dos cargos centrais da educação brasileira à sua época – CAPES9, INEP10

e CBPE11 – e quando não ocupava um cargo, quase sempre um amigo seu está ocupando esse

cargo da educação. Os projetos de Teixeira foram sempre assim, com o ímpeto da ação, alguns

deram certo outros não. Mas o que é importante ressaltar é que em Anísio Teixeira Memória,

identidade e projeto são características nítidas que compõem este indivíduo coletivo que por

mais de quarenta anos teve um papel relevante na organização e gestão da educação pública do

Brasil.

Bibliografia

AZEVEDO, Fernando de. Figuras de meu convívio. São Paulo: Duas Cidades, 1973.

FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO, Janaina. Usos e abusos da história oral. Rio de

Janeiro, ED. FGV, 1996.

GERIBELO, Wanda Pompeu. Anísio Teixeira - análise e sistematização de sua obra. São Paulo:

Atlas, 1977.

GOUVÊA, Fernando. A história da formação de professores no Brasil: um percurso com o

pensamento/ação de Anísio teixeira (1924-1950). Trabalho apresentado no VII Encontro

Nacional Perspectivas do Ensino de História. Universidade Federal de Uberlândia, 2009.

NUNES, C. Anísio Teixeira: a poesia da ação. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n.

16, p. 5-18, abr. 2001.

POLLAK, Michel. "Memória e identidade social". Revista Estudos Históricos. Rio de

Janeiro, vol.5, no10, 1992. p. 200-212.

______. "Memória, Esquecimento, Silencio". Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro,

vol2, no3, 1989. p. 3-15.

SIMMEL, George. Questões fundamentais da Sociologia: indivíduo e sociedade. Trad.

Pedro Caldas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2006.

______. As grandes cidades e a vida do espírito. Mana, vol. 11, n. 02. Rio de Janeiro, oct.

2005.

VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1994.

______. "Memória, identidade e projeto" in: Revista Tempo Brasileiro., n.85, out-dez, 1988,

p. 119-126. 9 Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior – ano de criação: 1951. 10 Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – ano de criação: 1937. 11 Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais – ano de criação: 1955.

06. A participação no IX Congresso Iberoamericano de História da

Educação Latino Americana (CIHELA)

A cidade do Rio de Janeiro sediará o IX Congresso Iberoamericano de

História da Educação Latino Americana (CIHELA), que ocorrerá na

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), sob os auspícios

desta instituição e da Sociedade Brasileira de História da Educação

(SBHE). Reunirá pesquisadores da América Latina e da Península

Ibérica, bem como de outros países, que investiguem objetos

relacionados à história latino-americana de educação.

Fruto da iniciativa de pesquisadores latino-americanos e ibéricos,

reunidos por interesses comuns e desejosos de maior intercâmbio

científico, o evento teve sua primeira edição em 1992, na cidade de

Bogotá, capital da Colômbia. Os Congressos seguintes ocorreram em

Campinas (Brasil), Caracas (Venezuela), Santiago (Chile), San José

(Costa Rica), San Luis Potosi (México), Quito (Equador), Buenos Aires

(Argentina).

Ao longo dessa trajetória, foram criadas entidades científicas próprias dessa área de

estudos em vários países. Além disso, redes de pesquisadores, grupos de pesquisa e

investigadores individuais têm trabalhado para intensificar os esforços institucionais e

informais de intercâmbio, por meio de trocas de informações, projetos comuns e

publicações em periódicos especializados dos países que integram a organização do evento.

Em todas as suas edições, o CIHELA contou com a liderança de um Comitê Internacional,

composto por representantes dos países envolvidos. Nesta edição, há representantes dos

seguintes países no Comitê Internacional: Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia,

Costa Rica, Equador, El Salvador, Espanha, México, Nicarágua, Peru, Portugal, Uruguai,

Venezuela.

O tema central do IX CIHELA é “Educação, Autonomia e Identidades na América Latina”,

sintonizado com o início das comemorações que marcam os 200 anos dos processos de

independência das antigas colônias da América em relação ao domínio metropolitano. O

tema, então, propõe o debate e a problematização a respeito da relação entre a educação e a

construção da autonomia e as feições identitárias que a ela se associam.

Espera-se que o desdobramento dessa discussão geral, por conferencistas, palestrantes e

expositores de trabalhos, estimule o aprofundamento dos estudos desenvolvidos nos nossos

países, proporcionando intercâmbios e possibilitando novas interrogações, abordagens e

leituras. O compromisso com uma educação de qualidade difundida para toda a população

de nossos países é a meta que ilumina nossas preocupações como pesquisadores da História

da Educação.

MINICURSO:

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E TEORIA SOCIAL: CONTRIBUIÇÕES DE NORBERT

ELIAS

CYNTHIA GREIVE VEIGA.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE.

Para o estudo do passado, as teorias sociais têm-se mostrado fundamentais para o avanço da

pesquisa histórica. Seja no âmbito dos estudos culturais, da Antropologia, da Economia, da

Política, da Geografia, entre outras disciplinas que compreendem o vasto domínio de uma

teoria social, a escrita da História tem demandado maior sistematização teórica e conceitual

para a elaboração do problema de pesquisa ou ainda na problematização do passado. Isto se

apresenta como modo para se romper com a pesquisa descritiva e factual. O sociólogo Norbert

Elias desenvolve instigante teoria sobre a sociedade e sua organização cuja centralidade está na

análise relacional da dinâmica dos indivíduos em sociedade. Sua principal contribuição para a

pesquisa histórica se faz pelo fato de apresentar a teoria social de modo interdisciplinar

(História, Psicologia, Antropologia, Sociologia), com base empírica e fundada em estudos de

longa duração, o que o diferencia das práticas mais comuns de produção sociológica. Para o

mini curso em proposta, dar-se-á ênfase aos principais conceitos desenvolvidos pelo autor –

figuração, civilização e processos sociais – e à problematização da escola como componente do

processo civilizador. Especificamente, será focado a partir de seus conceitos o processo de

monopolização da escola pelo Estado e as categorias de análise para estudos da escola e seus

sujeitos: classe social, gênero, geração e origem étnica - racial, evidenciando a escola como

figuração e as relações de interdependência produtoras das múltiplas identidades entre os

sujeitos. O objetivo desse minicurso é introduzir, para o campo da História da Educação, a

teoria social de Norbert Elias.

Síntese das aulas: 17/11 – Apresentação e comentário da trajetória e obra de Norbert Elias

(ELIAS, 2001b). 18/11 – Apresentação principais conceitos: figuração, civilização e processos

sociais (ELIAS, 1993, p. 193-297; ELIAS, 2006, p. 21-34 e 197-238). 19/11 – Educação e

processo civilizador: categorias de análise (VEIGA, 2005).

Bibliografia:

1. ELIAS, Norbert. A condição humana. Lisboa: Difel, 1991.

2. ELIAS, Norbert. Teoría del símbolo: um ensaio de antropologia cultural. Barcelona, 1994.

3. ELIAS, Norbert. O processo civilizador volume 2: formação do Estado e Civilização. Rio de

Janeiro: Zahar, 1993.

4. ELIAS, Norbert. O processo civilizador volume 1: uma história dos costumes. Rio de

Janeiro: Zahar, 1994.

5. ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1994a.

6. ELIAS, Norbert. Mozart: sociologia de um gênio. Rio de janeiro: Zahar, 1995.

7. ELIAS, Norbert. Os Alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e

XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

8. ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

9. ELIAS, Norbert. Envolvimento e alienação. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998a.

10. ELIAS, Norbert e SCOTSON, John. Os estabelecidos e outsiders. Rio de Janeiro: Zahar,

2000.

11. ELIAS, Norbert. A Sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da

aristocracia de corte. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

12. ELIAS, Norbert. A solidão dos moribundos. Rio de Janeiro: Zahar, 2001a.

13. ELIAS, Norbert. Norbert Elias por ele mesmo. Rio de Janeiro: Zahar, 2001b.

14. ELIAS, Norbert. Introdução à sociologia. Lisboa: Edições 70, 2005.

15. ELIAS, Norbert. A peregrinação de Wateau à ilha do Amor. Rio de Janeiro: Zahar, 2005a.

16. ELIAS, Norbert. Escritos e ensaios 1: estado, processo, opinião pública. Organização e

apresentação de Frederico Neiburg e Leopoldo Waizbort. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

Bibliografia complementar:

1. BRANDÃO, Carlos da Fonseca. Norbert Elias: formação, educação e emoções no processo

civilizador. Petrópolis: Vozes, 2003.

2. CARVALHO, Alonso Bezerra de e BRANDÃO, Carlos da Fonseca. Introdução à sociologia

da cultura: Max Weber e Norbert Elias. São Paulo: Avercamp, 2005.

3. GARRIGOU, Alain e LACROIX, Bernard. Norbert Elias: a política e a história. São Paulo:

Perspectiva, 2001.

4. GEBARA, Ademir. Conversas sobre Norbert Elias. São Paulo: Biscalchin, 2005.

5. KAPLAN, Carina V. La civilización en cuestión.Buenos Aires – Argentina: Miño y Dávila,

2008.

6. LALLEMENT, Michel. História das ideias sociológicas: de Parsons aos contemporâneos.

São Paulo: Vozes, 2004.

7. VEIGA, Cynthia Greive. História política e História da Educação. In VEIGA, Cynthia

Greive e FONSECA, Thais Nivia de Lima e (orgs) História e Historiografia da Educação no

Brasil. Belo Horizonte: Autêntica: 2003.

8. VEIGA, Cynthia Greive. Infância e modernidade: ações, saberes e sujeitos. In FARIA

FILHO, Luciano Mendes de (org.) A infância e sua educação. Belo Horizonte: Autêntica,

2004.

9. VEIGA, Cynthia Greive. Pensando com Elias as relações entre sociologia e História da

Educação. In FARIA FILHO, Luciano Mendes de (org.) Pensadores sociais e História da

Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

10. WAIZBORT, Leopoldo. Dossiê Norbert Elias. São Paulo: Edusp, 2001.

07. O cotidiano da pesquisa: entre impressões e fichamentos

CONSIDERAÇÕES APÓS PRIMERA REUNIÃO

Após a primeira reunião, realizada no dia 23 de setembro de 2009, foi possível ponderar

um pouco sobre os caminhos trilhados por Anísio Teixeira antes da data referente à pesquisa.

Essas ponderações são importantes para: em primeiro lugar, me aproximar melhor do pensador

que idealizou o CBPE em suas vicissitudes, caminhos e descaminhos, até a chegada no ponto

onde queremos pesquisar; em segundo lugar para podermos entender melhor que sempre há um

passado mais remoto que o passado que está em tela, sendo assim, não seria possível entender

as conjunturas políticas, sociais e culturais que foram favoráveis a Teixeira.

O primeiro momento de Anísio Teixeira é marcado por um predomínio de sua formação

jesuítica e também da sua formação como bacharel em direito. Com essas duas formações há

uma aproximação do educador em formação de uma religiosidade e de uma tentativa de

reforma que seria feita através de decretos. Segundo o pensamento de Anísio Teixeira, na

época, os decretos regeriam por si sós a educação e suas reformas.

Após a sua viagem aos Estados Unidos para fazer a pós-graduação Teixeira conhece o

pensamento do filósofo John Dewey. Este tem um pensamento pragmático/progressivista. E se

Teixeira era acusado de ser muito católico antes, agora será acusado de ser muito protestante,

com suas ideias importadas dos Estados Unidos. Quando volta de sua viagem, agora com mais

amadurecimento acadêmico e pedagógico, tenta fazer uma reforma educacional pautada não

mais nos decretos, mas em verdadeira ação de agentes reais. A partir deste momento, me

parece que há uma ruptura, já não existe mais uma espécie de metafísica da educação. Anísio

Teixeira já não quer mais normatizar a educação, e sim transformá-la como “agência” (agency)

de muitos. Essa tentativa de ação, tentativa conjunta com o pensamento, não deu certo. O

governador da época não aceitou a reforma de Teixeira e o exonerou do cargo, mas o educador

não foi alijado de educar, foi nomeado professor de Filosofia e História da Educação na Escola

Normal. Sempre em Teixeira há uma importante urgência na formação de professores.

A formação de professores foi um forte aparato de pensamento para Anísio Teixeira. A

reforma que ele empreendeu na Escola Normal de ter que ter um concurso de provas e títulos

para ser admitido na carreira do magistério, revela uma preocupação latente com a formação de

professores. O educador vai pensar a formação de professores em todos os níveis: Normal,

formação de professores primários; Graduação, formação de professores secundários; e a pós-

graduação, formação de professores de professores. Essa última categoria, de alta formação se

revelará no decreto de formação da Fundação para o desenvolvimento da Ciência na Bahia.

Esta tinha sua preocupação com a pós-graduação no Brasil, e antecipa a formação da CAPES –

órgão que Anísio Teixeira vai coordenar, em 1951 – em um ano.

Quando da sua nomeação para o cargo de Diretoria Geral de Instrução Pública do

Distrito Federal em 1931 Teixeira institui a Universidade do Distrito Federal, na qual a escola

de educação seria a locomotiva que puxaria os outros vagões. Porém, no ato de antecipar as

suas ações ao pensamento, os vagões e locomotiva nunca existiram materialmente. A UDF não

possuía prédio, de forma que com o endurecimento do governo Vargas, a universidade foi

desmantelada de forma quase instantânea, sem prédios a derrubar a solidez do projeto de

Teixeira foi por água abaixo.

Esta característica de antecipar as ações frente ao pensamento, o que seria um eterno

planejar, é uma característica de um indivíduo-sujeito, como diria Gilberto Velho12, tem seus

prós e contras. Ela serve para burlar a burocracia que tanto incomodava Anísio Teixeira; mas

se revelava em revés quando não dava as bases de sustentação necessárias para a solidificação

dos projetos.

Por fim, é necessário não achar que este educador era apenas uma ilha, pois, nenhum

homem é uma ilha. Teixeira assim como uma ilha esta rodeado de um mar de pessoas. Pessoas

com as quais conversou inúmeras vezes, como esse diálogo, outra característica de indivíduo-

sujeito, foi possível que Anísio ganhasse projeção nacional, que se mostrasse. Monteiro

Lobato, foi um dos grande responsáveis por abrir as portas para Teixeira, estas duas figuras

emblemáticas se encontraram em uma segunda viajem de Anísio Teixeira aos Estados Unidos.

Após esse encontro, que marcaria de maneira efetiva a trajetória do intelectual baiano pois

Lobato envia uma missiva na qual apresentava Teixeira a Fernando de Azevedo, Teixeira

passaria a trilhar caminhos “nacionais”.

Neste caminho encontraria abrigo na Associação Brasileira de Educação (ABE) criada

em 1924. Exatamente, a ABE seria o locus de nascimento da formação de um grupo de

intelectuais responsáveis pela elaboração de um documento dirigido ao “povo e ao governo”

que resultou na escritura do Manifesto dos pioneiros da escola nova de 32. A capacidade de se

associar é o que dá a esse educador uma forma que não é única, mas que é um bom exemplo a

ser estudado. Não quero aqui dizer que ele era um caso normal-excepcional, muito pelo

contrário era normal assim como todos, mas que vale a pena ser estudado pela simples

capacidade de ser um ser sociável, com bastante documentação sobre sua vida. Sendo assim, é

12 VELHO, Gilberto. "Memória, identidade e projeto" in: Revista tempo brasileiro., n.85, out-dez, 1988 p. 119-126.

importante estudar sua vida e a vida de seus companheiros para entender a conjuntura vigente

na época.

CONSIDERAÇÕES APÓS SEGUNDA REUNIÃO

As formas de como se tratar um sujeito histórico é o que mais me chamou atenção nesta

segunda reunião, realizada no dia 29 de setembro. Nunca deixando de lado o enfoque de que

estamos falando de Anísio Teixeira e de um livro que pretende sistematizar sua obra. Livro este

que não e feito com preocupação histórica, e que tem suas dificuldades em vôos muito rápidos

sobre alguns aspectos.

As abordagens de Garibello sobre Teixeira são envoltas por uma aura de santidade, de

uma pessoa com um destino manifesto, que nasceu para aquilo e não para outra coisa. Deste

modo, o educador passa a ser uma pessoa com pensamento linear, totalmente racional e que

nunca erra. O pensamento linear pressupõe que - desde o início da vida pública de nosso ator -

ele já tinha, digamos, a semente que iria desembocar no educador de mais tarde; totalmente

racional, dá a impressão de que todos os pensamentos dele são feitos sempre após muito

raciocínio e que nunca faz nada sem pensar, ou que nunca faz algo achando que dará certo e

não dá (há vários exemplos durante o texto, mas a autora não enxerga); por fim, pensamento

não contraditório, esse aspecto se dá pelo fato de Anísio Teixeira também ter suas contradições

e a autora não consegue identificar, como no exemplo dele ser contra a educação universal e

querer divulgar a educação ao máximo no primeiro mandato na Bahia.

Após essas considerações, considero importante salientar também um fator que é

bastante presente neste livro. Nele sempre há um predomínio do contexto explicando o ator. De

forma que, eu um adepto da micro-história, prefiro fazer o contrário. Por mais que o contexto

ajude a entender as formas de surgimento deste ator, o processo interno de projeção deve ser

levado mais em conta. Usar o exemplo de Teixeira para re-explicar o meio onde ele vivia.

A questão da centralidade que sempre incomodou Teixeira só o incomodava quando

não se tratava dele mesmo centralizando o poder. Sendo assim, no auge de sua centralidade

(CAPES, INEP, CBPE) ele controlava 80% das verbas do MEC. Centralização que não é só

política, mas também econômica, que nem sempre caracteriza uma boa coisa. O excesso de

centralidade muitas vezes era uma coisa ruim, não só para o próprio Anísio Teixeira mas para

as suas instituições. Essas centralizações faziam de Teixeira um homem que incomodava muito

a elite, e não só a elite, mas também a massa reacionária brasileira.

É importante também dizer que a autora não cita o CBPE, o que é estranho por que ele

ainda estava em funcionamento quando da escrita do livro. O CBPE que em minha opinião é o

órgão de maior fôlego de Teixeira, e da educação brasileira não foi nem sequer citado no texto

de sistematização da obra de Anísio Teixeira.

Fichamento N° 1

A HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL: UM PERCURSO

COM O PENSAMENTO/AÇÃO DE ANÍSIO TEIXEIRA (1924-1950)

- Afinidade com o pensamento de Dewey.

- Pesquisa como o “motor” do fazer pedagógico.

- Anísio Teixeira não separa o pensar do agir.

- Preocupação constante com a formação de professores.

- Urgência da criação da pós-graduação – formar professores de professores.

- Percurso: 1934- Inspetor Geral de Ensino do Estado da Bahia; 1932 Diretor Geral do

Departamento de Educação do Distrito Federal; defende uma reforma em 1947 enquanto

Secretário de Educação e Saúde do Estado da Bahia.

- Em 1924 assume a pasta com um fervor católico; formação jesuítica.

- Reformulação do curso primário na Bahia.

- Este primeiro momento é anterior a leituras e encontros importantes; Teixeira se encontra em

formação.

- Em 1929 Teixeira já é Master of arts e já tem uma outra formulação intelectual.

- De volta dos EUA apresenta um relatório propositivo ao então governador Vital Soares, que

não aceitou e exonerou Teixeira do cargo de inspetor. Mas o nomeou como professor da escola

normal.

- Como diretor geral propôs inúmeras mudanças.

- “A ‘escola de professores’ como centro vital da universidade” (p. 6).

- A segunda gestão na Bahia antecipa a formação da CAPES em alguns anos.

REFLEXÕES ACERCA DO TEXTO:

O importante de entender os percursos de Anísio Teixeira antes da criação real do

CBPE nos serve de arcabouço para entendermos a transformação de pensamento ligado às

ações deste educador. A formação de professores é um tema que também está presente no

CBPE, sem contar que a pesquisa ganha uma importância maior com a criação do CBPE, sem

deixar de oferecer cursos de aperfeiçoamento para professores.

Também é importante salientar que Teixeira sempre parece estar um passo a frente na

ação em relação ao pensamento. Ou seja, Anísio Teixeira é capaz de projetar e não de planejar.

A princípio pode parecer que as duas palavras dizem a mesma coisa, mas diferem muito:

planejar requer que o plano seja seguido como uma receita rígida de bolo, que se mexendo nela

dará errado; já a capacidade de projetar, segundo Gilberto Velho13, além de ser uma

característica de um indivíduo, é sem dúvidas um caráter de fluidez que permite adequar o

pensar e o agir sem que a receita desande.

Portanto, chego a seguinte conclusão: Anísio Teixeira é um bom cozinheiro que não

segue receitas14. Ou seja, não dá valor ao simples conhecimento a priori, visa sempre uma por

vir para gerar os resultados a posteriori. Assim como um bom cozinheiro, sabe onde e quando

mudar o jeito de fazer a alteração na receita para agradar a outros gostos. Teixeira é por inteiro

um homem pragmático.

FICHAMENTO N° 2

MENDONÇA, A. “O CBPE: um projeto de Anísio Teixeira”. In: Por que não lemos Anísio

Teixeira? Uma tradição esquecida. Ravil, 1997 p.29-46

- O objetivo do texto é a partir da reconstituição dos autores que recuperaram a tradição de

pesquisa em ciências sociais, reconstituir a tradição da educação.

- No projeto convergiam duas tradições: uma das ciências sociais e outra da educação.

- O projeto é uma característica de um indivíduo-sujeito (VELHO, 1994).

- “Desta perspectiva, um projeto coletivo supõe sempre a imbricação de uma série de projetos

individuais distintos – e algumas vezes conflitivos – e este fato é condicionante, ano caso de

uma instituição como o CBPE, da sua própria trajetória.”. (p.30)

- O CBPE é um desdobramento de uma meta perseguida desde 20-30, para a autora.

- O CBPE visa fundar em bases científicas a educação brasileira.

- Espírito científico: espírito para a pesquisa.

- O planejamento do centro é sempre regionalizado.

- Pesquisa social tinha a missão de mudar a educação do país.

13 Ver: VELHO, Gilberto. "Memória, identidade e projeto" in: Revista tempo brasileiro., n.85, out-dez, 1988 p. 119-126. 14 Neste caso, receita, quer significar uma espécie de burocracia que pode ser burlada. Dessa forma, o educador, poderia fazer coisas por fora desta receita.

- Conhecer a complexidade da sociedade para mudar a educação, caso contrário seria

impossível mudar a educação.

- Educação nunca poderia ser uma ciência autônoma, ela deve se basear na sociologia,

antropologia e psicologia. [Notar que ela não vê a história, não olha para trás].

- Pesquisa em ciências sociais daria o instrumental; o educador, por seu turno, colocaria em

pratica; essa pratica por sua vez traria novos problemas. Uma espécie de dialética da educação.

- O centro divulgava os resultados das pesquisas. Para levar aos mestres de classe o

instrumental para gerar pesquisas novas.

- O CBPE era, por tanto: “um órgão de elaboração de políticas e de formação de pessoal de alto

nível.” p. 34). Tendo inclusive um curso de pós-graduação de 1957 a 1959, dirigido por Darcy

Ribeiro.

- A tradição de pesquisa em ciências sociais da década de 50 foi esquecida. Assim como a de

educação.

- A “estranha amnésia” foi produzida a partir dos anos 1970, uma negação do que eles

achavam liberal.

- O CBPE queria trazer o desenvolvimento para o Brasil. Por tanto funcionava com pares

antitéticos: rural e urbano; arcaico e urbano.

- “Programa de pesquisa em cidades laboratórios”: era uma forma regionalizada de levar a

educação adaptada a realidade da sociedade brasileira.

- Anísio Teixeira sempre se preocupou com a descentralização da educação. [Descentralização

essa, na minha opinião, das mãos do governo e não dos educadores; ou do indivíduo-sujeito-

coletivo].

- O projeto inicial do CBPE era para ser um centro de Altos Estudos Educacionais.

- Para o centro cidade era a grande cidade. As pequenas cidades e os centros semi-rurais

[Seropédica?] eram, nesse ideário das cidades laboratórios dependentes dessas grandes cidades.

- Há claramente uma priorização do urbano, uma tentativa de modernizar a sociedade

brasileira. O moderno representa o urbano e industrializado.

- Essas pesquisas regionalizadas pretendiam ser generalizadas, na forma de amostragem, para

outras tantas regiões do Brasil.

- Em 1964 há uma descontinuidade das pesquisas e do modo de fazer educação como uma

“arte-científica”.

- Anísio Teixeira, possuía uma relação ambígua com o estado. Não só ele mas uma

intelligentsia Brasileira em geral.

- Por exemplo: Anísio Teixeira não gostava da forma com que era levada a campanha de

erradicação do analfabetismo no Brasil, mas essa campanha foi crucial [de cruz, cruzou com o

momento, foi oportuno para a ocasião] para a implantação das cidades laboratórios.

- Isto é uma das formas de burlar a burocracia que era comum em Teixeira.

CONSIDERAÇÕES APÓS A LEITURA

Este me parece ser um texto que dá uma visão panorâmica sobre o CBPE e as políticas

que o levaram a ser o que ele era. Uma vez que se configura em um projeto de Anísio Teixeira

que imbrica sempre a pesquisa, educação e extensão. Ele passa por diversos momentos da

configuração do CBPE, já apontando para a forma regionalizada de ver os problemas de

desenvolvimento do país, em uma lógica industrial.

Apesar de apontar o regional ele é dito apenas para reforçar uma vertente de pesquisas

em ciências sociais, e de uma adaptação da educação para essas regiões. Por tanto já aponta as

direções de nossa pesquisa para uma tradição de pesquisa, mas não toca na tradição de ensino e

de divulgação in loco das pesquisas realizadas. Que imagino que será a nossa tarefa nessa

pesquisa.

08. O acervo adquirido pela pesquisa

SUPORTE TÍTULO AUTOR ANO PUBLICAÇÃO Livro O que se deve

ler para conhecer o Brasil

Nelson Werneck Sodré

1960 INEP/CBPE

Livro Mobilidade e trabalho

Bertram Hutchinson

1960 INEP/CBPE

Livro O Brasil no pensamento brasileiro

Djacir Menezes 1957 INEP/CBPE

Livro Evolução da rede urbana brasileira

Pedro Pinchas Geiger

1963 INEP/CBPE

Livro Educação para uma sociedade de homens livres na era tecnológica

Georges S. Counts

1958 INEP/CBPE

Revista Bibliografia Brasileira de Educação

Afrânio Coutinho; Elza Nascimento Alves (orgs.)

1955 (junho-setembro, vol. 3, n 3, n. 185/296)

MEC/INEP

Revista Bibliografia Brasileira de Educação

Afrânio Coutinho; Elza Nascimento Alves; Elza Rodrigues Martins (orgs.)

1958 (abril-junho vol. 6, n 2, n. 89/176)

INEP/CBPE

Catálogo Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos

Roberto Gomes Leobons (org.)

1959 (do nº 1 de 1944 ao nº 70 de 1958)

INEP/CBPE

Revista Pesquisa e Planejamento

CRPE-SP 1966 (nº 10 – dezembro)

CRPE-SP

Revista Revista Brasileira de Ciências Sociais

Comissão de redação

1963 (vol. 3, nº 1, março)

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DA UNIVERSIDADE DE MINAS GERAIS

Revista Anhembi Paulo Duarte (diretor)

1960 (vol. 38, nº 112, março)

Publicação independente (assinaturas)

Revista Anhembi Paulo Duarte (diretor)

1961 (vol. 42, nº 124, março)

Publicação independente (assinaturas)

Revista Veritas Irmão José Otão (diretor)

1960 ( nº 1, março)

PUC-RS

Revista Interamericana de Ciencias Sociales

Luis Olivos (diretor)

1963 (volume 2- número especial)

OEA/União Panamericana

Boletim/Revista Educação e Ciências Sociais

Péricles Madureira de Pinho (diretor)

1956 a 1962 (Coleção completa)

INEP/CBPE

09. O cronograma atual da pesquisa DATA: 05 DE MAIO - 15 HORAS - SALA 32 - 1ª reunião: "A democratização de 1945 e o

movimento queremista"

DATA: 12 DE MAIO - 15 HORAS - SALA 32 - 2ª reunião: "Os anos JK: industrialização e

modelo oligárquico de desenvolvimento rural" e "O Governo Goulart e o golpe civil-militar de

1964"

DATA: 19 DE MAIO - 15 HORAS - SALA 32 - 3ª reunião: "Forças armadas e política, 1945-

1964: a ante-sala do golpe" e "Do nacional-desenvolvimentismo à política externa

independente (1945-1964)"

10. A participação em Grupos de Pesquisa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

11. Os anexos