O uso das tecnologias em aulas de ciencias - Ensino fundamental I - Dissertação

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC Programa De Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino, História e Filosofia Das Ciências e Matemática Dissertação de Mestrado Verônica Gomes Dos Santos O uso das Tecnologias em aulas de Ciências: Diversificando Estratégias e Ressignificando Conteúdos no Ensino Fundamental I Santo André 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

Programa De Pós-Graduação Stricto Sensu em

Ensino, História e Filosofia Das Ciências e Matemática

Dissertação de Mestrado

Verônica Gomes Dos Santos

O uso das Tecnologias em aulas de Ciências: Diversificando

Estratégias e Ressignificando Conteúdos no Ensino

Fundamental I

Santo André

2014

Programa De Pós-Graduação Stricto Sensu em

Ensino, História e Filosofia Das Ciências e Matemática

Dissertação De Mestrado

Verônica Gomes Dos Santos

O USO DAS TECNOLOGIAS EM AULAS DE CIÊNCIAS:

DIVERSIFICANDO ESTRATÉGIAS E RESSIGNIFICANDO

CONTEÚDOS NO ENSINO FUNDAMENTAL I

Trabalho apresentado como requisito

parcial para obtenção do título de Mestre

em Ensino, História e Filosofia das

Ciências e da Matemática, sob orientação

do Professor Doutor Marcelo Zanotello

Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original, de acordo com as observações levantadas pela banca no dia da

defesa, sob responsabilidade única do autor e com a anuência de

seu orientador.

Santo André, ____de _______________ de 20___.

Assinatura do autor: _____________________________________

Assinatura do orientador: _________________________________

“Será que estamos mesmo à espera de

que as crianças se mantenham passivas

perante os currículos pré-digeridos do

ensino básico, quando já exploraram o

saber contido nas auto-estradas da

informação (…) procurando por si

próprias o conhecimento… ?”

Seymour Papert

Dedico este trabalho ao meu marido

Vanderson, aos meus filhos Gabriel e

Matheus, por tornarem a família mais

presente e compreensiva. A minha mãe

Marly, por ser a primeira a acreditar em

meus estudos. E a todos que, de alguma

forma, fizeram parte deste processo.

Agradecimentos

A Deus, por me conceder saúde e disposição para trilhar o caminho que escolhi, guiado

por Vossas Mãos.

Aos meus filhos Gabriel e Matheus e meu marido Vanderson, por compreenderem os

longos dias de sono incerto, ausência para viagens, finais de semana dentro de casa e

comidinhas rápidas, sem reclamarem e sendo o apoio e sustentação de que preciso.

A minha mãe, que soube valorizar minha aptidão para os estudos e incentivou-me a

seguir pelo percurso escolhido.

Aos meus irmãos Fábio, Junior, Tati e Isabel (e aos postiços Luana e Tales), eternos

companheiros e incentivadores das minhas escolhas.

Aos meus sogros, cunhadas e cunhados, por curtirem comigo cada momento.

“Às minhas comadres Patrícia, Viviane e Wilma, por vibrarem com cada novidade e

conquista.

Às minhas amigas passarinhas (Analúcia, Elaine, Fabiana, Kátia, Olga, Patrícia, Regina

e Rúbia) por me ouvirem, aconselharem, vibrarem e me ajudarem sempre e a toda hora.

À amiga e companheira Suseli, primeiramente, por me indicar ao melhor orientador que

já conheci e, depois, por ser a parceira perfeita em desabafos e viagens para

apresentação em congressos e encontros e, ainda, por compartilhar a responsabilidade

do êxito deste trabalho.

Ao Profº Dr Marcelo Zanotello, pelo excelente trabalho de orientação, por aturar minhas

invenções e por ler, pacientemente, meus longos e-mails de dúvidas e expectativas.

À equipe de gestão da Emeb Neusa Macellaro (Sueli, Lucilia e Paula) e aos professores

(especialmente Daniele), por me apoiarem e acreditarem neste trabalho.

Aos alunos, que partilharam comigo tanta descoberta e aprendizagem com tamanha

disposição e boa vontade.

Aos responsáveis pelos alunos, por autorizarem o desenvolvimento do trabalho,

confiando no nosso planejamento.

À equipe da SE 134, especialmente Nanci, por acompanhar, ajudar e acreditar que este

trabalho traria bons frutos.

À Secretaria de Educação do Município de São Bernardo do Campo, por autorizar a

realização desta pesquisa e apresentação em diversos congressos e eventos.

Aos professores que ministraram as disciplinas em que participei e que contribuíram,

consideravelmente, com muitas escolhas.

Às professoras Bette Prado e Maria Cândida, por comporem a banca de qualificação e

defesa e contribuírem, de forma tão significativa, para a qualidade desta pesquisa.

A todos os demais que estiveram envolvidos, direta ou indiretamente, neste trabalho.

Resumo

SANTOS, Verônica G. dos. O uso das tecnologias em aulas de ciências: diversificando

estratégias e ressignificando conteúdos no ensino fundamental I. 2014. 160p.

Dissertação de Mestrado - UFABC - Programa de Ensino História e Filosofia da

Ciência e Matemática.

O ensino de ciências no primeiro ciclo do Ensino Fundamental tem se realizado

basicamente a partir da leitura de textos nos manuais didáticos, imagens e esporádicas

experiências meramente ilustrativas, contribuindo para um distanciamento entre os

conteúdos científicos abordados na sala de aula e suas relações com o dia a dia das

crianças, dificultando a contextualização e significância dos mesmos. Diretrizes

curriculares e pesquisas atuais recomendam que a educação científica se inicie nos

primeiros anos da Educação Básica, com o intuito de desenvolver no aluno uma postura

crítica e investigativa. Compreender as transformações sociais à luz da evolução

científica e tecnológica e sua história, são essenciais para possibilitar aos sujeitos um

protagonismo fundamental para a formação da cidadania. Esta pesquisa propõe e analisa

o funcionamento de estratégias metodológicas nas quais o uso das tecnologias

integradas ao currículo foram utilizadas com a intenção de promover o ensino e a

aprendizagem contextualizada e significativa nas aulas de ciências, através da

elaboração de uma Sequência Didática (SD), desenvolvida com 56 alunos do ensino

fundamental I com idades entre 6 e 7 anos, em uma escola pública no município de São

Bernardo do Campo - SP. A SD teve como ponto de partida o universo fantástico dos

contos de fadas e uma abordagem interdisciplinar. A análise das produções das crianças

foi organizada em 6 dimensões que evidenciaram, dentre outros aspectos: o

envolvimento e a participação ativa delas no decorrer da SD, bem como o gosto pelo

uso diversificado de tecnologias com clara intencionalidade pedagógica; uma formação

conceitual significativa em certos temas da física; a capacidade dos estudantes em

estabelecerem relações entre o que foi realizado na escola e situações cotidianas; e o

desenvolvimento da autoria e do protagonismo infantil na construção do conhecimento.

Palavras-Chaves: integração tecnológica, construcionismo, ensino fundamental I,

ciências, aprendizagem, robótica.

Abstract

SANTOS, Verônica G. dos. The use of the Technologies in Science classes:

diversifying strategies, and resignifying the contents in elementary school I. 2014.

160 pages. Master’s Thesis - UFABC - History Teaching Program and Philosophy of

Science and Mathematics.

Teaching Science in the first period of Elementary School has been basically performed

through reading texts in teaching materials, images and illustrative only sporadic

experiences, contributing to a gap between the scientific content covered in classroom

and its relationship with children daily routine, making it difficult to context and the

significance thereof. Curriculum guidelines and current researches recommend that

science education should begin in the early years of Basic Education in order to develop

the student’s critical and investigative approach. Understanding the social changes at the

light of scientific and technological developments and their history, to assign a key role

to develop the citizenship of the individuals. This study aims and analyzes how the

methodological strategies works, in which the use of technology integrated into the

curriculum, were used with the intent to promote education, contextualized and

meaningful learning in science classes through the development of a Didactics

Sequence (DS), performed with fifty-six (56) elementary school I students, between six

and seven years old, in a public school in the City of São Bernardo do Campo – SP. The

DS had as its starting point the fantastic world of fairy tales and an interdisciplinary

approach. The analysis of the children's productions was organized into six dimensions

that showed, among other aspects: their involvement and active participation during the

course of DS, as well as the liking for diversified use of technologies with clear

pedagogical intentionality; a significant conceptual education in certain subjects of

Physics; the students’ ability to establish relationships between what has been achieved

in school and everyday situations; and the development of authorship and the children's

role in the construction of knowledge.

Keywords: technological integration, constructionism, elementary school I, science,

learning, robotics.

Sumário

Dedicatória

Agradecimentos

Resumo

Siglas .......................................................................................................................... 11

Listagens..................................................................................................................... 12

Capitulo 1

Introdução ............................................................................................................... 14

Capitulo 2

Fundamentação teórica ............................................................................................ 17

2.1. Pressupostos Educacionais .............................................................................. 17

2.1.1.O Construtivismo ........................................................................................ 18

2.1.2.As relações de ensino e aprendizagem ......................................................... 23

2.1.3.Estilos, inteligências e competências ........................................................... 28

2.2. As tecnologias na educação............................................................................. 35

2.2.1.A tecnologia na educação brasileira: breve histórico .................................... 36

2.2.2.As políticas públicas na Educação ............................................................... 40

2.2.3.Professor ou computador? Metodologia ou tecnologia? ............................... 43

2.2.4.O computador na escola. Por quê? ............................................................... 46

2.2.5.O construcionismo e o aluno do século XXI ................................................ 52

2.3 Um panorama do Ensino de Ciências no ciclo I da Educação Fundamental ....... 61

2.3.1 A realidade do ensino de Ciências ............................................................... 61

2.3.2 O socioconstrutivismo, diretrizes curriculares e o ensino de ciências:

possibilidades para a educação integral ................................................................ 64

2.3.3 As novas tecnologias e o ensino de ciências ............................................... 68

Capítulo 3

Metodologia ............................................................................................................ 72

3.1.A pesquisa, suas perspectivas e correntes ....................................................... 72

3.2.Abordagem e métodos .................................................................................... 74

3.3.Caracterização do local e sujeitos da pesquisa ................................................ 77

Capítulo 4

A sequência didática “Os Contos de Fadas e as Invenções Tecnológicas” ................ 82

Capítulo 5

Apresentação e análise de dados .............................................................................. 92

5.1. Posicionamento e preferências dos alunos ..................................................... 92

5.2. Formação conceitual ................................................................................... 101

5.3. O caráter de formação colaborativa e crítico-investigativa ........................... 109

5.4. A atribuição de significados e relações com o cotidiano .............................. 116

5.5 A autoria e o protagonismo infantil - o ponto de partida e chegada ............... 122

5.6 A contribuição implícita e explícita do uso das tecnologias integradas ao

currículo ............................................................................................................ 130

5.6 Posicionamentos dos professores envolvidos e da equipe escolar ................. 135

Capítulo 6

Conclusões Finais .................................................................................................. 142

Referências Bibliograficas..........................................................................................146

Anexos ..................................................................................................................... 157

11

Siglas

CEFAM: Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério

CEP: Conselho de Ética e Pesquisa

DI: Deficiência Intelectual

DA: Deficiência Auditiva

EAD: Educação a Distância

EDUCOM: Educação com Computador

FORMAR: Cursos de Especialização em Informática na Educação

LIBRAS: Língua Brasileira de Sinais

MEB: Movimento de Educação de Base

MEC: Ministério da Educação e Cultura

NTDIC: Novas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação

NTIC: Novas Tecnologias da Informação e Comunicação

PAPE: Professor de Apoio aos Programas Educacionais

PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais

PMSBC: Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo

PPP: Projeto Político Pedagógico

PRONINFE:Programa Nacional de Informática Educativa

PROUCA: Programa Um Computador por Aluno

SACI: Sistema Avançado de Comunicações Interdisciplinares

SBC: São Bernardo do Campo

SD: Sequência Didática

SE: Secretaria de Educação

SEED: Secretaria de Educação a Distância

UE: Unidade Escolar

USP: Universidade de São Paulo

ZDP: Zona de Desenvolvimento Proximal

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Listagens

Tabelas

Tabela 1: Estilos de aprendizagens de Felder

Tabela 2: Os eixos constantes no projeto, com os respectivos contos, invenções e

mecanismos.

Tabela 3: Recursos usados nos eixos quando a SD era trabalhada com as novas

tecnologias e estratégias diversificadas.

Quadros

Quadro 1: Esquema de aplicação do método comparativo para as duas turmas.

Quadro 2: Alternância das estratégias com as quais os eixos 4 e 5 foram desenvolvidos

em cada turma.

Quadro 3: Respostas da turma A à questão 2.

Quadro 4: Respostas da turma B à questão 2.

Gráficos

Gráfico 1: Preferências pelo conto nas turmas A e B a partir das respostas à primeira

questão.

Gráfico 2: Frequência da citação de recursos e instrumentos nas respostas à questão 2.

Gráfico 3: Compilação das respostas à questão 3 nas categorias definidas.

Figuras

Figura 0.1: Ensino e aprendizagem usando o computador

Figura 1: Explicação sobre o funcionamento da caravela.

Figura 2: Desenhos produzidos durante o desenvolvimento do eixo para encerrar etapas

e discussões ou resgatar etapas anteriores.

Figura 3: Sistematização do conceito para produção do álbum de figurinhas

Figura 4: Montagem base para todos os grupos

Figura 5: Grupo em negociação de ideias e testes

Figura 6: Primeiro grupo que conseguiu concluir a comanda explicando aos demais as

estratégias necessárias

Figura 7: Exposição da professora e da Pape (pesquisadora). Compartilhamento do

primeiro livro de contos produzido pelos alunos e que originou a SD.

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Figura 8: Explicação da aluna C sobre o funcionamento das engrenagens

Figura 9: Uma mãe prestando atenção na explicação de um ex-aluno da escola e irmão

de uma aluna da turma, que participou das aulas de robótica de anos anteriores, sobre as

montagens de funcionamento manual ou energia mecânica.

Figura 10: Monitora interagindo com o grupo

Figura 11: Alunos fazendo testes

Figura 12: Momento que antecedeu à explicação da SD.

Figura 13: Retomada de alguns momentos para auxiliar o colega na escrita.

Figura 14: Intervenção da professora para a construção do texto

Figura 15: Pesquisa e seleção das imagens para a folha de figurinhas

Figura 16: Revisão textual.

Figura 18: Trabalho em grupo para completar o álbum

Figura 19: O papel da leitura para a busca e seleção das informações

Figura 20: Confrontando informações

Figura 21: Guardar o álbum incompleto para terminar com a família.

Figura 22: Assistindo ao filme do conto.

Figura 22: Pesquisa com roteiro

Figura 23: Animação sobre o conceito de Força e o uso de polias

Figura 24: Jogo virtual sobre equilíbrio - mais cabeças para ajudar a passar de fase.

Anexos

Anexo 1: Quadro de proposta curricular

Anexo 2: Questionário dos alunos

Anexo 3: Questionário das professoras envolvidas

Anexo 4: Questionário da Equipe de Gestão

Anexo 5: Questionário das professoras posteriores ao trabalho

Anexo 6: Álbum de Figurinhas e folha de colagem

14

Capítulo 1

1. Introdução

O objeto desta pesquisa se constituiu, gradativamente, a partir de experiências

vividas em sala de aula e de mediações no uso de espaços e recursos tecnológicos

disponíveis em uma escola da rede municipal de São Bernardo do Campo - SP.

Enquanto tais recursos eram, efetivamente, utilizados para o ensino de conteúdos

relacionados à Língua Portuguesa, produção textual e à Matemática, com o intuito de

torná-los contextualizados, funcionais e significativos ao aprendizado, o ensino de

Ciências continuava a ser ministrado, em geral, de forma basicamente instrucional e

informativa, em um proceder distante, por exemplo, das recomendações constantes nos

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Ciências Naturais para o Ensino

Fundamental I.

É importante, no entanto, que o professor tenha claro que o ensino de

Ciências não se resume à apresentação de definições científicas, em geral

fora do alcance da compreensão dos alunos (...) são procedimentos

fundamentais aqueles que permitem a investigação, a comunicação e o debate de fatos e ideias. A observação, a experimentação, a comparação, o

estabelecimento de relações entre fatos ou fenômenos e ideias, a leitura e a

escrita de textos informativos, a organização de informações por meio de

desenhos, tabelas, gráficos, esquemas e textos, a proposição de suposições, o

confronto entre suposições e entre elas e os dados obtidos por investigação, a

proposição e a solução de problemas, são diferentes procedimentos que

possibilitam a aprendizagem. (PCN, 1998:27-28)

O problema central deste trabalho pode ser colocado da seguinte forma: como

seria possível desenvolver estratégias que utilizam recursos tecnológicos para o ensino

de ciências, capazes de propiciar condições para a promoção de uma formação integral,

contextualizada e significativa para estudantes no ciclo I do Ensino Fundamental?

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Com base nesta questão, foram delineados os seguintes objetivos:

Objetivo geral

● Analisar as contribuições de estratégias que utilizam tecnologias digitais e

ambientes tecnológicos educacionais para as relações de ensino e aprendizagem

em aulas de ciências no ensino fundamental I.

Objetivos específicos

● Analisar como seria possível trabalhar com as tecnologias digitais aplicadas à

educação escolar para auxiliar no desenvolvimento de uma postura científica,

investigativa, crítica e argumentativa nos alunos.

● Comparar o envolvimento e interesse dos alunos quando se empregam

estratégias diversificadas e recursos tecnológicos variados para a promoção de

uma educação científica, em relação aos observados em atividades

essencialmente instrucionistas e explanatórias.

● Investigar como os recursos tecnológicos podem auxiliar os alunos a

compreender e relacionar os conteúdos científicos abordados, curricularmente,

ao cotidiano, contextualizando-os e os ressignificando.

Para fundamentar a pesquisa, o capítulo 2 apresenta discussões acerca dos

Pressupostos Educacionais, das Tecnologias na Educação e do Ensino de Ciências no

fundamental I. Os pressupostos educacionais considerados situam o trabalho a partir das

concepções adotadas para pensar as relações de ensino e aprendizagem, que são

condicionantes para se planejar o uso das tecnologias nas aulas de ciências com as

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crianças. A discussão acerca do uso das Tecnologias na Educação tem como objetivo

fornecer elementos de sua relação com o universo educacional, levantando alguns

aspectos críticos que promovem uma reflexão constante e necessária para delinear o

papel da tecnologia na escola, seu uso social e funcional, visando à construção do

conhecimento. Na última parte deste capítulo é apresentado um panorama das diretrizes

curriculares e de pesquisas sobre o Ensino de Ciências na Educação Fundamental I, com

o intuito de discutir aspectos que configuram a realidade do currículo orientado e de

práticas vivenciadas, bem como levantar possibilidades de mudanças passíveis de serem

alcançadas com o uso das tecnologias para o ensino de ciências.

No capítulo 3 é apresentada a metodologia, caracterizando a pesquisa como

empírica e qualitativa, justificando os procedimentos e instrumentos de coletas de

dados, bem como descrevendo o cenário onde a mesma ocorre.

A Sequência Didática (SD) desenvolvida com os alunos, por ter corpo e

estrutura densos, foi considerada no capítulo 4, onde há a descrição de todas as etapas,

seu planejamento e justificativas, apresentando, de forma detalhada, os aspectos que a

compõem.

O capítulo 5, destinado à análise de dados obtidos com o desenvolvimento da

SD, apresenta uma compilação dos dados mais relevantes, organizados em dimensões

que buscam estabelecer um diálogo com o debate teórico do capítulo 2 e do

planejamento da mesma. Gráficos, tabelas, fotos e trechos transcritos de diálogos

ilustram este capítulo.

Como encerramento, o capítulo de considerações finais busca apresentar as

conclusões obtidas com o desenvolvimento da pesquisa e todo o debate promovido, de

forma aberta a outros olhares.

17

Capítulo 2

2. Fundamentação teórica

Neste capítulo são apresentados os referenciais teóricos nos quais a presente

pesquisa se fundamenta. Ele está subdividido em três grandes temas, articulados no

decorrer do texto: Pressupostos Educacionais; Tecnologias na Educação e Ensino de

Ciências.

2.1. Pressupostos Educacionais

Na área da Educação, coexistem correntes, abordagens e propostas que são

orientadas por diversos referenciais teóricos, elaborados no decorrer do tempo por

pesquisadores que dedicam-se ao estudo de problemáticas educacionais. Tal variedade

de visões resulta de um processo histórico e cultural contínuo, no qual a sociedade e a

educação são analisadas a partir de questões consideradas fundamentais. Diante de

diferentes possibilidades em relação às abordagens educacionais, se faz necessário

assumir determinados posicionamentos que orientarão o desenvolvimento desta

pesquisa.

A rede de ensino municipal na qual está inserida a escola em que esta

pesquisa foi realizada, baseia sua proposta curricular nos pressupostos do

Construtivismo:

“A concepção pedagógica adotada pela Secretaria de Educação e Cultura é a Sócio-construtivista-interacionista, que considera a construção do

conhecimento a partir das necessidades que o meio ambiente nos colocar e

das inter-relações que fazemos com ele, tendo como base psicológica as

teorias da construção do conhecimento desenvolvidas principalmente pelos

teóricos: Piaget, Vygotsky e Wallon. (SBC-PROPOSTA CURRICULAR,

2004:19)

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Apesar disto não garantir, em termos práticos, uma identidade única, nem um

funcionamento homogêneo para todas as escolas, a opção por esta abordagem é

constitutiva das relações de acompanhamento, orientação, direção, formação e avaliação

que se estabelecem na rede.

Como professora, me identifico com o Construtivismo, tanto em virtude de

sua influência em minha formação profissional, quanto pelas experiências que acumulei

nas tentativas de incorporá-lo em meu trabalho cotidiano na sala de aula. Assim,

enquanto pesquisadora, opto por desenvolver minhas investigações assumindo

premissas relacionadas a uma visão construtivista para a educação escolar, buscando

nela subsídios para a estruturação deste trabalho.

2.1.1. O Construtivismo

Segundo Carreteiro e Limón (1997) é possível identificar três aspectos na

caracterização do construtivismo: filosófico/social, psicológico e educacional.

● Filosófico/Social: diz respeito à linha filosófica que se posiciona em

relação a origem do conhecimento ou Epistemologia, considerando-o como uma

construção humana que advém da relação entre os sujeitos e seus entornos,

capaz de modificar o seu meio e a si próprio.

● Psicológico: se refere fundamentalmente a processos cognitivos e

biológicos durante o desenvolvimento mental, com níveis de organização

estrutural do pensamento.

● Educacional: parte dos pressupostos epistemológicos e se pauta nas

orientações psicológicas para propor e conduzir estratégias e metodologias

19

educacionais com vistas à construção do conhecimento pelos aprendizes.

Estes aspectos são essencialmente complementares e interligados,

influenciando-se mutuamente. Como exemplo dessas relações, pode-se citar as teorias

psicogenéticas do psicólogo Jean Piaget, que encontrou nas bases filosóficas do

construtivismo (COLL, 2007) o aporte necessário para seus estudos a respeito do

desenvolvimento cognitivo, que culminaram no delineamento do construtivismo

psicológico. Suas pesquisas foram tomadas como subsídio para as primeiras inserções

do construtivismo na educação, relacionando suas descobertas acerca do

desenvolvimento infantil ao processo educativo e às necessárias transformações

estratégicas e metodológicas a fim de respeitar as “fases de desenvolvimento” e suas

limitações.

A falta de uma análise mais cuidadosa acerca do trabalho de Piaget tende a

minimizá-lo, conferindo ao mesmo um caráter meramente instrumental, que deveria

conduzir as atividades em uma aula considerada construtivista. Outra preocupante

postura é atribuir ao construtivismo educacional uma relação única com este

pesquisador, tomando-o, de certo modo, como o responsável por esta “descoberta”,

conforme aponta Moreira (1999).

Hoje, essa influência é tão acentuadamente piagetiana que se chega a

confundir construtivismo com Piaget. Quer dizer, chega-se a pensar, com

certa naturalidade, que a teoria de Piaget é, por definição, a teoria

construtivista. Não é bem assim, existem outras visões construtivistas, mas

o enfoque piagetiano é indubitavelmente, o mais conhecido e influente.

(MOREIRA, 1999:95-96)

Ao considerar que existem outras visões, estudos e propostas que contribuem

na configuração da teoria construtivista em sua vertente educacional, se abre um leque

de possibilidades que, de alguma forma, se situam dentro dessa abordagem. Entre

20

nomes como Piaget, Ausubel, Novak, Vygotsky e outros, ainda na primeira linha de

tradição do construtivismo, observam-se desdobramentos de ideias e antagonismos que

geram correntes específicas, como a bifurcação entre o construtivismo cognitivo e o

construtivismo social ou sócio-construtivismo (Laburu, Carvalho e Batista, 2001).

Dos períodos de desenvolvimento mental às interações sociais mediadas por

símbolos, conforme Piaget e Vygotsky, há mais a considerar do que simplesmente

posicionar-se entre um e outro. É preciso reconhecer que mesmo na sustentação de

vertentes divergentes há pontos em comum e complementares, como afirma Goulart

(2009), referindo-se aos principais teóricos do construtivismo:

“Como se pode verificar, todos esses teóricos consideram que o

desenvolvimento resulta de um processo de interação do indivíduo com o

ambiente e admitem que o conhecimento é construído de maneira ativa

neste processo de interação. Infelizmente o ambiente da guerra e a

divergência dos modelos políticos sob os quais viviam esses autores não

favoreceram sua aproximação e consequente troca de ideias.” (GOULART,

2009:132)

Reconhecendo as contribuições dos trabalhos de cada teórico citado para a

transformação da prática pedagógica e do fazer educativo cotidiano, esta pesquisa se

pauta essencialmente nas ideias apresentadas nos estudos do psicólogo russo Lev

Semenovich Vygotsky sobre as relações sociais, principalmente pelo caráter

interacional e social que atribui à formação do sujeito e à aprendizagem.

Apesar do processo de construção do conhecimento poder ser considerado um

processo “de natureza essencialmente individual e interno” (Coll, 2007), uma vez que

caberia principalmente ao aluno atribuir sentido e significado a todo o processo partindo

das estruturas e condições cognitivas propicias, é inegável o poder e a importância das

relações sociais de interação e comunicação neste processo, afinal

21

“(...) considerar a aprendizagem como um processo de construção do

conhecimento essencialmente individual e interno não implica

necessariamente que deva ser considerado também como um processo

solitário. (...) enquanto o construtivismo cognitivo situa o processo de

construção no aluno e tende a ser considerado como um processo individual, interno e basicamente solitário, o socioconstrutivismo vê antes o

grupo social, a comunidade de aprendizagem da qual o aluno faz parte - isto

é, a sala de aula e todos os seus membros -, como o verdadeiro sujeito do

processo de construção.” (COLL, 2007:37)

Sem desconsiderar as funções psicológicas internas, Vygotsky as apresenta a

partir dos conceitos de zona de desenvolvimento potencial ou proximal (ZDP), zona de

desenvolvimento real e maturação. Para Vygotsky existem dois níveis de

desenvolvimento humano, caracterizados pelo que o individuo já sabe fazer sozinho

(zona de desenvolvimento real) e por aquilo que pode fazer com ajuda de outro

indivíduo (zona de desenvolvimento proximal), havendo entre elas um processo de

maturação que transforma sistematicamente a segunda em primeira, formando uma

superestrutura, abrindo espaço para outras funções e aprendizagens. Deste processo

contínuo e essencial, Vygotsky destaca que

“A Zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda

não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que

amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário.”

(VYGOTSKY, 2010:98)

Ou seja, considera-se que é na ZDP que se encontram todas as condições para

promover o aprendizado e atuar no desenvolvimento do individuo como um todo.

Porém, esta atuação não é nem de longe um ato solitário e introspectivo, uma vez que

ocorre a partir da interação entre os pares, o ambiente e os instrumentos mediadores da

aprendizagem, com “a atividade psicológica interna do indivíduo tendo sua origem na

atividade externa” (Oliveira, 2006).

Nesta perspectiva, a valorização das relações sociais através da interação e

22

colaboração mútua deixa de ser uma opção de organização de trabalho e passa a

encontrar respaldo no desenvolvimento das funções e processos mentais.

(...)os processos mentais humanos (as funções psicológicas superiores) adquirem uma estrutura necessariamente ligada aos meios e métodos sócio-

historicamente formados e transmitidos no processo de trabalho cooperativo

e de interação social. (LEONTIEV apud OLIVEIRA, 2006: 97)

Desta forma, quando se compreendem os processos a partir das relações

estabelecidas entre estes dois níveis de desenvolvimento definidos por Vygotsky,

consideram-se as relações sociais como imprescindíveis para o desenvolvimento e

constituição da pessoa, seja na aquisição de conceitos, competências e habilidades,

sejam na formação sócio-histórica do cidadão e na interação com o ambiente ao seu

entorno em um movimento mútuo de construção e reconstrução.

Mas, como seria essa parceria, interação ou colaboração? Seriam todos aptos

a aprender tudo a partir do auxilio do outro? A consideração destas questões poderia ter

efeitos na aprendizagem?

As respostas para tais questões encontram apoio e fundamento nas ideias de

Vygotsky a ponto de definir que, embora em sociedade as relações entre os pares de

modo geral propicia situações de aprendizagens e desenvolvimento mútuo, é essencial

considerar e respeitar as condições e/ou requisitos propícios para tal. A respeito destas

considerações, Oliveira (2006) destaca:

Essa possibilidade de alteração no desempenho de uma pessoa pela

interferência de outra é fundamental na teoria de Vygotsky. Em primeiro

lugar, porque representa de fato, um momento de desenvolvimento: não é

qualquer indivíduo que pode, a partir da ajuda de outro, realizar

qualquer tarefa1. Isto é, a capacidade de se beneficiar de uma colaboração

de outra pessoa vai ocorrer em certo nível de desenvolvimento, mas não

antes. Uma criança de cinco anos, por exemplo, pode ser capaz de construir

1 Grifo do próprio autor

23

a torre de cubos sozinha; uma de três anos não consegue construí-la

sozinha, mas pode conseguir com assistência de alguém; uma criança de um

ano não conseguiria realizar essa tarefa, nem mesmo com ajuda. Uma

criança que ainda não sabe andar sozinha só vai conseguir andar com a

ajuda de um adulto que a segure pelas mãos a partir de um determinado nível de desenvolvimento. Aos três meses de idade, por exemplo, ela não é

capaz de andar nem com ajuda. A idéia de nível de desenvolvimento

potencial capta, assim, um momento do desenvolvimento que caracteriza

não as etapas já alcançadas, já consolidadas, mas etapas posteriores, nas

quais a interferência de outras pessoas afeta significativamente o resultado

da ação individual. (OLIVEIRA, 2006: 60)

Assim, quando se afirma que as relações entre os pares propiciando a

interação e a colaboração tem potencial significativo de atuação na ZDP, de agir

positivamente no desenvolvimento do individuo de forma que este alcance níveis cada

vez mais superiores, não se desconsidera a maturação física do ser humano e a

organização do desenvolvimento cognitivo em faixas etárias aproximadas das

correspondentes. O que se sustenta com esta argumentação é que, independente da

organização cognitiva, esta atuação não é uma ação solitária e individual, mas

essencialmente interacional, seja em relação ao ambiente, a parceiros nas mesmas

condições ou mais experientes. Ou seja, o avanço progressivo aos níveis, etapas ou

estágios superiores é atingindo internamente quando a ação externa atua no

desenvolvimento do indivíduo, entre o que ele sabe e o que pode aprender.

A este respeito, Palangana (2001) conclui:

Partindo da concepção de um organismo ativo, Vygotsky defende o

princípio de contínua interação entre as mutáveis condições sociais e a base

biológica do comportamento humano. Ele observou que a partir das

estruturas orgânicas elementares, determinadas basicamente pela

maturação, formam-se novas e mais complexas funções mentais,

dependendo da natureza das experiências sociais a que as crianças se acham

expostas. Os fatores biológicos preponderam sobre os sociais apenas no

início da vida. Aos poucos, o desenvolvimento do pensamento e o próprio

comportamento da criança passam a ser orientados pelas interações que esta

estabelece com a pessoas mais experientes. Logo, a maturação por si só não

é suficiente para explicar a aquisição dos comportamentos especificamente humanos. (PALANGANA, 2001:96)

24

Na educação, compreender como se dá este processo contribui para o

entendimento e a valorização das relações de ensino e aprendizagem, além do redesenho

essencial dos papéis e valores dos que figuram na cena educativa. Para tanto, é

necessário explicitar a que tipo de ensino e aprendizagem me refiro e como as mesmas

acontecem dentro da abordagem construtivista adotada.

2.1.2. As relações de ensino e aprendizagem

De modo geral, o construtivismo, enquanto concepção e abordagem

educacional faz uso das principais teorias cognitivistas e diz respeito à construção do

conhecimento pelo aluno de modo significativo e contextualizado. Implica também em

mudanças nos papéis dos que atuam no cenário escolar, transformando as relações de

poder e a ideia enraizada de transmissão do conhecimento. Entre os pontos abordados

pelo construtivismo psicológico, que estabelece níveis de construção cognitiva para a

maturação biológica, e o construtivismo pedagógico, que se baseia nas condições de

desenvolvimento cognitivo para promover a construção do conhecimento, é essencial

uma relação estreita e definida.

De fato, não é possível que haja sucesso e embasamento quando se privilegia

o construtivismo pedagógico e se desconsidera o aprofundamento de suas raízes

psicológicas e a compreensão dos seus processos cognitivos e estruturais. O risco, neste

caso, é alto demais, principalmente com a tendência “receituária”2 recorrente na história

da Educação, que por vezes cria padrões, métodos, regras e modelos que pretendem

atender a moda educacional do momento e não à compreensão de como o conhecimento

se desenvolve no indivíduo. Afinal, a proposta do construtivismo enquanto abordagem

está muito além de ser “una teoría de la instrucción prescriptiva” (Carretero e Limón,

2 Marcação nossa

25

1997).

Na sala de aula, o construtivismo tem sido confundido com “método construtivista”, ou com “aprendizagem por descoberta”, ou ainda , o que é

pior, com simples atividades manipulativas (crê-se, ingenuamente, que só

por estar manipulando coisas o alunos está “construindo”). Construtivismo

não é isso. Não existe um método construtivista. Existem, isso sim, teorias

construtivistas (...) e metodologias construtivistas, todas consistentes com a

postura filosófica construtivista. No ensino, esta postura implica deixar de

ver o aluno como um receptor de conhecimentos, não importando como os

armazena e organiza em sua mente. Ele passa a ser considerado agente de

uma construção que é sua própria estrutura cognitiva. (MOREIRA,

1999:15)

Se a proposta da abordagem construtivista não é oferecer modelos ou receitas

aos educadores, como estes devem agir para irem de encontro ao que a mesma propõe?

De fato, a ação transformadora e essencial do professor se encontra nas

relações de ensino e aprendizagem que ocorrem no ambiente educativo, tal como na

vida. Embora as situações de aprendizagens escolarizadas se condensem na reprodução

de situações reais de desenvolvimento, é sabido que se “o aprendizado impulsiona o

desenvolvimento, então a escola tem um papel essencial na construção do ser

psicológico adulto dos indivíduos que vivem em sociedades escolarizadas” (Oliveira,

2006:61).

Desta forma, ao compreender que é na ZDP que se deve atuar, buscando criar

situações reais de aprendizagem onde o aluno estabeleça relações interacionais entre

seus pares, colocando em jogo tudo o que sabe para alcançar níveis mais elevados de

desenvolvimento, o professor está assumindo um compromisso intrínseco de

proporcionar um ensino contextualizado, significativo, colaborativo e que promova a

construção do conhecimento de cada indivíduo.

Neste cenário as relações ultrapassam a hierarquia de poder e dever para

26

compor um ambiente de investigação onde o protagonismo é intercambiável entre

professores e estudantes e o que ganha destaque é um processo de desenvolvimento

mútuo. No estabelecimento destas relações, o que se espera e o que se prepara deve ter

fins claros e bem delineados, preparados considerando-se a bagagem daqueles que

atuarão, afinal:

No estudo do processo de aprendizagem, o aluno assume um lugar muito importante, pois é para ele que as estratégias pedagógicas são destinadas. É

a partir de suas capacidades já adquiridas e de seu desenvolvimento, que as

atividades lhe serão propostas. O grande desafio do educador é exatamente

a capacidade de trabalhar em um nível acima das capacidades do aluno (...)

(BRAGA, 2012: 05)

Assim, “o processo de ensino e aprendizagem na escola deve ser construído

tomando como ponto de partida o nível de desenvolvimento real da criança” (Oliveira,

2006:61),deixando de ser transmitido através de receitas e instrumentos padronizados,

repassados imutáveis ano a ano ou de professor para professor, numa prática, ainda

habitual, que não privilegia as interações no ambiente da sala de aula, uma vez que

padroniza e classifica todos os alunos no mesmo nível de desenvolvimento para um

trabalho homogêneo.

É importante apontar ainda que tal abordagem não visa descaracterizar o

papel do professor como alguém que possui um conhecimento profissional decorrente

de sua formação, como o “conocimiento de La materia, conocimiento pedagógico, y

conocimiento curricular” destacado por Shulman (1989:36), nem desconsiderar a

necessidade de apresentação de conteúdos e conceitos novos para os alunos. O que se

propõe é um olhar atento e criterioso ao “como” isso será feito e “de que forma” tais

conteúdos estarão ligados à vida real, que sentidos fará aprendê-los para cada aluno;

afinal, “uma concepção, para ser acomodada, deve ser não apenas inteligível, mas

27

também plausível e fértil para o aprendiz” (El-Hani e Bizzo, 2000:05).

Se, por um lado, não há receitas e prescrições, por outro a abordagem

construtivista na Educação pressupõe uma reavaliação estratégica e metodológica na

ação educativa do professor. A intencionalidade pedagógica deve orientar cada ação,

escolha e tomada de decisão. E esta intencionalidade precisa ser pautada à luz de

referenciais teóricos que consideram o aluno capaz de construir o seu conhecimento

através das relações sociais que são constitutivas dos sujeitos, tanto na escola quanto

fora dela.

Nesta perspectiva o professor deixa de ser considerado um simples

expectador, visão erroneamente atrelada ao construtivismo educacional por décadas

(Oliveira, 2006), e passa a ter um papel essencial e imprescindível antes, durante e

depois do processo protagonizado pelo aluno.

O único bom ensino, afirma Vygotsky, é aquele que se adianta ao

desenvolvimento3. Os procedimentos regulares que ocorrem na escola -

demonstração, assistência, fornecimento de pistas, instruções - são

fundamentais na promoção do “bom ensino”. Isto é, a de criança não tem condições de percorrer, sozinha, o caminho do aprendizado. A intervenção

de outras pessoas - que, no caso específico da escola, são o professor e as

demais crianças - é fundamental para a promoção do desenvolvimento do

indivíduo. (OLIVEIRA, 2006: 62)

Consciente desse papel fundamental e intencional, o professor na abordagem

construtivista precisa buscar meios de fazer com que a estratégia metodológica utilizada

dê conta de atingir positivamente o aluno, colocando em jogo os procedimentos

necessários para auxiliar o desenvolvimento de toda a turma, considerando as

singularidades.

3 Grifo do próprio autor

28

O que priorizar para que tal ação obtenha sucesso, considerando a

heterogeneidade que geralmente compõe as turmas?

De fato, a diversidade na sala de aula deve ser encarada como um aspecto

positivo, principalmente quando considera-se que serão as interações provenientes de

saberes diferenciados e experiências distintas que promoverão a construção do

conhecimento e o desenvolvimento. Porém, tal diversidade pode ser uma grande

barreira educacional quando o professor a desconsidera no ato do planejar e antecipar

estratégias metodológicas. Desconsiderar, principalmente, que o grupo tem ritmos,

meios e formas diferentes de aprender é um dos principais problemas encontrados ao se

planejar aulas e atividades que priorizem a construção do conhecimento.

Então, o que seria trabalhar com formas diferentes de aulas? Seriam os

agrupamentos produtivos, onde a organização dos alunos aproximam dificuldades e

habilidades, ou a elaboração de diferentes atividades com níveis de dificuldade

crescente, circulando ao mesmo tempo, ou ainda momentos distintos que priorizam

diferentes recursos e estratégias a cada vez?

2.1.3. Estilos, inteligências e competências.

Ao considerar que o processo de ensino e aprendizagem não se restringe à

mera transmissão e aquisição de conhecimento, numa relação unilateral entre professor

e aluno (Senra, Lima & Silva, 2008) e que o indivíduo “aprendente”4 é um ser

histórico, socialmente em construção e que sofre influências de diversos fatores ao

longo da vida (cognitivo, afetivo, emocional, físico, estrutural, familiar, cultural, entre

outros), é preciso se atentar para a forma como se dá a aprendizagem individualmente.

4 Marcação nossa

29

Seria inconcebível acreditar que todos os estudantes partam do mesmo ponto inicial e

que tenham as mesmas condições para a construção do conhecimento, pois seria o

mesmo que afirmar que há um padrão inalterado e ritmado no processo de

desenvolvimento.

Nos últimos anos, algumas pesquisas trouxeram conceitos e inovações que

sugerem um olhar atencioso para esta questão. Entre estudiosos como Kolb, Silverman,

Felder e outros, um ponto comum é a busca por compreender como se dá a

aprendizagem a partir da compreensão de que os indivíduos são únicos e constituídos

sociohistoricamente. Desta busca surgiram modelos de organização dos chamados

estilos de aprendizagem, sendo os mesmos compreendidos como:

(...) a forma como cada um de nós aprende melhor e que tipo de inteligência

utilizará para tal (ALMEIDA). São características internas e nem sempre

conscientes. Vários elementos podem intervir na definição do estilo de

aprendizagem de um indivíduo (...) (SCHNITMAN, 2010:04)

Embora muitos destes estudos tenham sido desenvolvidos no âmbito da

Educação Superior, é consensual que suas contribuições podem ser pensadas nos

diversos níveis de ensino como alternativas para contemplar a individualidade dos

estudantes.

No modelo de Kolb, os estilos de aprendizagem podem ser organizados da

seguinte maneira (Schnitman, 2010):

● Divergente - Ativo: articulam atividades concretas com reflexão e observação

ou seja, aprendem melhor combinando sensação e observação.

● Convergente - Reflexivo: convergem a conceitualização abstrata e

experimentação ativa, tendo melhor aprendizado pensando e realizando.

30

● Assimiladores - Teóricos: ancora a aprendizagem na conceitualização abstrata

e observação reflexiva, combinando pensamento com reflexão.

● Acomodadores – Pragmáticos: combinam observação concreta e

experimentação ativa, aprendendo melhor experimentando e realizando

Já o professor Richard M. Felder organiza e apresenta os estilos de

aprendizagem em quatro dimensões com dois estilos opostos em cada, conforme a

tabela 1.

Tabela 1: Estilos de aprendizagens de Felder (CAVELLUCCI apud

SCHNITMAN, 2010)

Dimensões Estilo 1 Estilo 2

1 Ativo: aprende praticando, prefere

trabalhar em grupo Reflexivo: aprende refletindo, prefere

trabalhar individualmente

2 Racional: concreto, prático, busca

fatos e procedimentos Intuitivo: conceitual e inovador, busca

teorias e significados

3 Visual: prefere a representação visual

l do material (fotografias, diagramas,

fluxogramas).

Verbal: prefere explicações escritas e

faladas

4 Sequencial: linear, ordenado, aprende

através da execução de pequenas

etapas.

Global: holístico, pensamento

sistêmico, aprende através de insights.

Somando-se aos estilos de aprendizagem que evidenciam diferentes formas de

31

aprender em um grupo, procurando respeitar as peculiaridades de cada indivíduo

encontram-se as ideias de Gadner (Travassos, 2001) sobre as inteligências múltiplas,

nas quais:

(...) o propósito da escola deveria ser o de desenvolver essas inteligências e ajudar as pessoas a atingirem seus objetivos de ocupação adequados ao seu

espectro particular de inteligência. Gadner propõe uma escola centrada no

indivíduo, voltada para um entendimento e desenvolvimento ótimos do perfil

cognitivo do aluno (TRAVASSOS, 2001:2)

Em suas pesquisas, Gadner teoriza oito principais inteligências:

● Inteligências Linguísticas

● Inteligências Lógico-matemática

● Inteligências Espacial

● Inteligências Musical

● Inteligências Corporal-Cinestésica

● Inteligências Interpessoal

● Inteligências Intrapessoal

● Inteligências Naturalista

E embora tenha apontado os perfis pessoais que melhor se identificam com cada

inteligência, não considera que sejam únicas em cada indivíduo, havendo apenas uma

predominância de uma ou outra. Nessa perspectiva, o indivíduo em sua singularidade

encontra formas e meios, assim como detêm aptidões e estilos diferenciados de

construir seu conhecimento. É nessa variedade que a interação social pode

complementar o mosaico do processo, na troca de saberes e conhecimentos distintos e

em um movimento constante que não se limita à vida escolar do sujeito.

32

Sendo estes estilos e inteligências características intrínsecas do indivíduo que

podem ser aumentadas, diversificadas e compartilhadas através da interação social, qual

seria o papel da escola ? De fato, o reconhecimento de estilos e inteligências

diferenciados nos alunos requer do professor uma mudança de atitude quanto à sua

prática. Padrões, homogeneidade, constância, são atributos improváveis em uma aula

que considere estes fatores em seu planejamento. Afinal:

Cada sujeito tem qualidades e habilidades essenciais que geram aprendizado, servem como fonte de criatividade e transmitem um senso de contentamento

em relação à vida. O limite de versatilidade permite que o sujeito aja com

flexibilidade ao deparar-se com situações de aprendizagem que não fazem

parte do seu estilo. Nesses casos, é provável que as habilidades e as

informações utilizadas sejam superficiais e temporárias. Quando a habilidade

de ser flexível começa a diminuir ou se torna exaustiva, significa que o

sujeito está na área de incompatibilidade e permanecer muito tempo nesta

área pode comprometer o aprendizado e o bem estar do sujeito.

(LINDEMANN, 2008:46-47)

Assim, considerar tamanha diversidade em um mesmo grupo irá requerer do

professor uma desenvoltura em planejar aulas e articular recursos que contemplem a

todos, promovendo condições de aprendizagem para todos, independentemente de suas

aptidões ou estilos. Nessas investidas será necessário mais que conhecimento ou

abertura em acolher novos recursos ou propostas; será necessária uma revisão no papel

do professor, sua postura e as competências necessária para desenvolver um trabalho

coerente e integral.

Sobre este papel inovador e diferenciado, abordado por Perrenoud (2000) como

a capacidade de gerenciar e utilizar as competências cruciais para o desenvolvimento de

uma prática comprometida com a aprendizagem do aluno, cabe muito mais que passos,

receitas e prescrições que tendem a se desdobrar ano a ano ou de sala em sala como

soluções infalíveis. Esta nova postura requer do professor a capacidade de atuar entre os

saberes, os alunos, a escola, a comunidade e as inovações que invadem o ambiente

33

escolar, de forma que tudo se articule e ganhe sentido. São competências especificas,

mas relacionais, sem valoração de prioridades e que ganham destaque dependendo da

atuação e necessidade.

Perrenoud (2000:14) aponta que há mais de 50 competências que compõe o

fazer educativo do professor, porém destas, ele destaca as que “são novas ou adquiriram

uma crescente importância nos dias de hoje em função das transformações dos sistemas

educativos” e que são agrupadas em 10 “famílias”. São elas:

1. Organizar e estimular situações de aprendizagem.

2. Gerar a progressão das aprendizagens.

3. Conceber e fazer com que os dispositivos de diferenciação evoluam.

4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e no trabalho.

5. Trabalhar em equipe.

6. Participar da gestão da escola.

7. Informar e envolver os pais.

8. Utilizar as novas tecnologias.

9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão.

10. Gerar sua própria formação contínua.

De forma geral, essas competências demandam do professor um envolvimento

integral, como já foi dito, sem descaracterizar ou minimizar uma ou outra. De nada

valerá ao professor nos dias atuais ter o domínio dos conteúdos de sua área ou disciplina

se não conseguir “envolver os alunos” em situações de aprendizagem, estabelecer

parcerias entre a escola como um todo e a comunidade ou vice-versa.

Porém, apesar de sustentar esta paridade de importância, não há como, tomando-

34

se a prática como referência, deixar de entender que algumas competências desta

listagem sugerida são, não apenas imprescindíveis ao professor desde o começo da

carreira (com o devido aperfeiçoamento ao longo do tempo), mas, simultaneamente,

pré-requisitos mínimos para a profissão docente. Estabelecer parcerias, ter desenvoltura

com novos recursos, conseguir atingir aos pais de forma positiva, envolver-se com a

gestão escolar são competências que se desenvolvem conforme há o estabelecimento de

vínculos com a profissão e com a unidade escolar e seu entorno; mas o domínio do

conteúdo mínimo a ser trabalhado e as formas com que o mesmo é desenvolvido nos

processos de ensino e aprendizagem são competências de base na formação docente.

Embora pareçam distintas ou isoladas, tais competências necessitam caminhar

lado a lado, ou melhor, integradas ao ponto de dependência. A este respeito Shulman

(1987, apud Fernandez, 2011) abriu caminhos consagrados, tratando a questão sob a

ótica do “conhecimento pedagógico e conhecimento do conteúdo” balizando a

importância de cada um para a formação do professor, e destacando a sua inter-relação

como sendo “a capacidade de um professor para transformar o conhecimento do

conteúdo que ele possui em formas pedagogicamente poderosas e adaptadas às

variações dos estudantes, levando em consideração as experiências e bagagens dos

mesmos”. A esta capacidade ou relação imprescindível, Shulman chamou de PCK

(Pedagogical Content Knowledge - Conhecimento Pedagógico do Conteúdo). Tão

importante quanto saber sobre o conteúdo é saber trabalhar pedagogicamente este

conteúdo de modo que todos os envolvidos tenham as mesmas condições de

aprendizagem, mesmo considerando as diferenças, peculiaridades, estilos e inteligências

distintas.

Das ideias iniciais de Shulman até os dias atuais muitas proposições (Fernandez,

35

2011) e novas subdivisões foram agregadas ou se desdobraram dos PCK, propondo o

olhar para outros tipos de conhecimentos, tão necessários quanto os primeiros. Porém,

partindo da revolução tecnológica que caracteriza a sociedade como “da Informação ou

do Conhecimento” (Pretto e Pinto, 2006) e considerando a 8º competência observada

por Perrenoud (2000) que aponta a necessidade do professor “utilizar as novas

tecnologias” de forma integrada e contextualizada ao currículo, destaca-se nesta

“evolução” dos PCK as contribuições de Mishra e Koehler (2006) com os chamados

TPACK ou seja, o conhecimento tecnológico e pedagógico do conteúdo (Technological

Pedagogical Content Knowledge). Segundo Palis (2010:434) esses autores definem o

TPACK “como o conhecimento que os professores precisam ter para ensinar com e

sobre tecnologia em suas áreas disciplinares e nível escolar de atuação”. Partindo dos

pressupostos dos PCK, os TPACK consideram “a habilidade de aprender e de adaptar-

se a uma nova tecnologia”, diante da constante evolução tecnológica e crescente

necessidade educacional de acompanhá-la.

A integração e utilização das tecnologias no currículo por parte do professor,

seja por motivação social, educacional ou pessoal, exigem muito mais que boa vontade,

sendo necessário um conhecimento específico para tal. E, se conhecer e considerar o

processo de aprendizagem requer do professor o desenvolvimento de competências

condizentes com as necessidades dos novos tempos e, principalmente, se rever,

enquanto profissional docente, que necessita articular velhos e novos conteúdos e

conhecimentos para abarcar a todos em suas especificidades, por onde começar? Qual

seria o segredo ? Há receitas prescritivas ?

Responder a estas questões afirmativamente seria tomar um caminho contrário

ao que foi apresentado até então, sobre as concepções de educação pautadas na

36

construção do conhecimento. Porém, ao reconhecer que a Educação sofre uma grande

influência tecnológica advinda de contextos sociais e econômicos mais amplos

(interferindo na ação docente e nas relações de ensino e aprendizagem na escola em

aspectos positivos e negativos), percebe-se como uma reflexão acerca do histórico, das

possibilidades e contribuições dos recursos tecnológicos para o fazer educativo pode

contribuir na construção de caminhos e alternativas. E, se não responder diretamente às

questões anteriores, ao menos, fomentar o debate.

2.2 As tecnologias na educação

O uso das tecnologias na educação tem sido objeto de estudos acerca de suas

possíveis contribuições para os processos de ensino e aprendizagem. Em meio a

posicionamentos contraditórios sobre o assunto, é recomendável um olhar cuidadoso

para o tema, evitando a superficialidade de jargões e modismos. O objetivo aqui é

compreender de que forma a tecnologia está presente na escola, quando ela pode

colaborar na promoção de mudanças e se constituir em um possível diferencial

estratégico no processo de construção do conhecimento, ou quando serve apenas para

reproduzir velhas práticas de ensino.

2.2.1 A tecnologia na educação brasileira: breve histórico

Falar sobre o uso das tecnologias na educação pode demandar, dependendo do

ponto de vista, um profundo estudo através da história, principalmente ao considerar

que tecnologia é tudo o que o homem produz, inventa ou transforma a partir dos

recursos naturais.

37

[...] em um sentido básico e fundamental, tecnologia é todo artefato ou técnica

que o homem inventa para estender e aumentar seus poderes, facilitar seu

trabalho ou sua vida, ou simplesmente lhe trazer maior satisfação e prazer.

Assim, a alavanca, o machado, a roda, o arado, o anzol, o motor a vapor, a

eletricidade, a carroça, a bicicleta, o trem, o automóvel, o avião, o telégrafo, o

telefone, o rádio, a televisão, tudo isso certamente é tecnologia. (CHAVES,

1998:21)

Neste âmbito, seria possível iniciar a partir da chegada do lápis, giz, papel,

mimeógrafo ou outras tecnologias que transformaram a sociedade e a escola no decorrer

do tempo. Evitando um recuo tão acentuado, o foco será nas tecnologias conhecidas por

promoverem a Informação e a Comunicação, ou seja, nas denominadas Novas

Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC).

As décadas de 70 e 80 foram períodos marcantes e de grandes avanços para a

entrada das tecnologias no ambiente escolar mundial. Embora a proposta seja apresentar

os principais traços deste processo histórico no Brasil, é impossível desconsiderar

alguns marcos mundiais que o influenciaram significantemente. Nos Estados Unidos, já

na década de 70, pesquisas que atrelavam o uso da tecnologia na educação promoviam

grandes debates na comunidade educacional. Almeida (2008) aponta que tais discussões

se davam em torno da questão da funcionalidade defendida por linhas distintas, que

viam a tecnologia com objetivos diferentes na educação.

Por um lado, existiam profissionais que defendiam um enfoque baseado no

desenvolvimento, armazenamento e distribuição do software do tipo CAI, sendo

para tanto necessário investir no desenvolvimento de hardware em sistemas de

grande porte então disponíveis, para que pudessem desempenhar adequadamente

a realização de tais tarefas. Outro grupo de profissionais, entre os quais Papert e

Minsky, defendia o uso de computadores para provocar mudanças na educação

(ALMEIDA, 2008:06)

Por trás da distinção das linhas abordadas o que se discutia era a manutenção

ou transformação da educação e seus propósitos. Ao mesmo tempo, o Brasil era

38

marcado com a entrada dos computadores nas grandes universidades públicas, ainda

com o objetivo central da elaboração e desenvolvimento de softwares e projetos piloto

de experimentação. Na década de 80, a Europa se voltava para as pesquisas e análises

sobre os impactos do uso das tecnologias na educação formal. Tais pesquisas refletiram

de forma direta na implantação de programas e propostas no Brasil.

Altoé e Silva (2005) destacam que projetos como MEB, SACI, TELECURSO

2000 e TV Escola, foram investidas significativas para aproximar o uso de tecnologias

como o vídeo, o áudio e a TV das instâncias educacionais de forma ativa, abrindo

caminhos e ao mesmo tempo causando a estranheza de muitos profissionais.

De forma direta e com a mesma estranheza que tecnologias anteriores, as NTIC

na educação entraram para o cenário brasileiro por iniciativa e organização do governo

federal com o intuito de definir uma política estruturada e aplicável. Almeida

(2008:116) pontua que, mesmo havendo o objetivo inicial de uma ação “voltada ao

desenvolvimento de produtos da microeletrônica, atendimento das demandas dos

setores produtivos para a contratação de profissionais com competência científica-

tecnológica e incentivo a formação na área”, a forma como foi conduzida promoveu

debates e diálogos entre os que começavam seus estudos e pesquisas neste setor, apesar

do receio insistente da utilização da tecnologia como ferramenta de influência

ideológica, de uniformização estética e de empobrecimento cultural, tal qual aconteceu

com outros veículos servidos equivocadamente para a manutenção do sistema (Bévort e

Belloni, 2009). Sobre esta visão, Crochik (1998) destaca:

Claro que a função de formar mão-de-obra aproxima o conteúdo, a didática e os

objetivos da escola dos processos de produção e, assim, a racionalização na

educação não é iniciada pela presença da tecnologia educacional, mas é fortalecida por ela. O fato de o computador, um dos produtos da tecnologia

propostos para aperfeiçoar a educação, ter como origem a área de produção

material já indica a proximidade das duas esferas. A inovação que ele pode trazer

39

à educação é o aperfeiçoamento daquilo que já existe. (CROCHIK, 1998:18)

Ainda que um caráter reprodutor e massificador associado à tecnologia na

educação tenha originado posicionamentos questionadores e críticos, a discussão no

âmbito educacional ganhou uma conotação diferente. A organização de congressos,

seminários e eventos que abarcavam a comunidade científica, pesquisadores e

profissionais da educação de modo geral, além de representantes governamentais,

fomentou a concretização de estudos e exemplos de práticas externas a partir de projetos

pilotos, antes de promover a “massificação” desenfreada das tecnologias na educação.

Projetos como EDUCOM, FORMAR e PRONINFE (Almeida, 2008) surgiam de

parcerias estabelecidas entre o governo e as universidades espalhadas pelo Brasil, com o

propósito de viabilizar a utilização das NTICs na Educação, através, principalmente, da

formação de professores e da produção de materiais de apoio, como softwares, tutoriais

e propostas. Repetia-se no cenário brasileiro a mesma distorção de propostas

vivenciadas nos Estados Unidos na década anterior, ou seja, a utilização da tecnologia

tanto para a instrução como para a construção do conhecimento.

Os ideais e as ideias de Seymour Papert, com o construcionismo5 como

abordagem educacional, assim como as ideias freirianas de educação transformadora,

fundamentaram as bases do Programa Nacional de Informática Educativa (Proninfe)

com o propósito de utilizar a tecnologia na educação para a formação de cidadãos

críticos e reflexivos, principalmente a partir de situações onde possam “pensar-sobre-o-

pensar” (Valente, apud Almeida, 2008) através da construção e não da simples

transmissão de informações.

5 Proposta elaborada por Seymour Papert que diz respeito a uma ação concreta em que resultam produtos

relevantes, palpáveis e sociais oriundos da relação mediada pelo o uso do computador, mais precisamente

a partir de linguagens de programação. Esta ideia será mais bem desenvolvida posteriormente.

40

Indo contra o temor da reprodução massiva e da formação de mão de obra para a

manutenção do sistema, o trabalho com a linguagem Logo, proposta por Papert já na

década de 60, prevê uma função diferente para a tecnologia na Educação, como aponta

Valente (1999).

(...) o uso do computador na criação de ambientes de aprendizagem que enfatizam a construção do conhecimento, apresenta enormes desafios. Primeiro,

implica em entender o computador como uma nova maneira de representar o

conhecimento, provocando um redimensionamento dos conceitos já conhecidos

e possibilitando a busca e compreensão de novas ideias e valores. Usá-lo com

essa finalidade, requer a análise cuidadosa do que significa ensinar e aprender

bem como, demanda rever o papel do professor nesse contexto. (VALENTE,

1999:02)

A partir desta visão básica, surgiram outras ações, setores, programas e

projetos encabeçados principalmente pelo MEC, tal como a SEED, Proinfo, Mídias na

Educação ou mais atualmente o PROUCA, entre outros, tendo ainda como principal

parceria a presença de universidades.

No contraponto de um histórico fundamentado à luz de pesquisas e discussões

coletivas, nota-se certa diferença entre o que é produzido na academia e o que chega

diretamente à sala de aula, o que remete a uma reflexão mais profunda sobre a forma

com que muitos projetos ou programas, tecnológicos ou não, chegam para o professor,

levantando críticas e descontentamentos, por vezes, pertinentes.

2.2.2 As políticas públicas na Educação

É comum encontrar no meio educacional descontentamentos ou estranhezas

com a chegada de novas propostas e projetos na escola, ainda mais quando estes

impõem responsabilidades e “um excesso de missões e tarefas” resultando no

transbordamento da escola (Nóvoa, 2012:15). Ao se considerar que, geralmente, tais

ações partem de pesquisas e estudos de grupos acadêmicos em conjunto com equipes de

41

administradores educacionais de variadas instâncias, visando o aprimoramento e

atualização das práticas pedagógicas, por que isso acontece? Por que se observam

muitas vezes extensas lacunas entre o que tais propostas e projetos preconizam e o que

ocorre realmente na sala de aula?

É sabido que mudanças sempre geram certos desconfortos e manifestações

contrárias. O desconhecimento do novo é desafiador e fonte de inseguranças, mas não

só; pode também ser um estímulo ao aprendizado, atualização e formação crítica. De

fato, se carece de uma reflexão mais aprofundada para compreender os sucessos e os

descaminhos da entrada das NTIC na prática educativa. Existem motivações políticas

que permeiam o problema, tais como questões ideológicas que muitas vezes

influenciam tais ações e permanecem nos bastidores de seus desenvolvimentos, uma vez

que “a política pública ao ser constituída pelos governantes não é neutra, sempre trará

em seu âmago ideias, visões e as filosofias adotadas por aqueles que compõem o

Estado” (Souza e Linhares, 2011:04). Mas não é objetivo deste trabalho se aprofundar

em tais motivações.

O ponto que se deseja destacar é que implantações de programas que levam as

tecnologias à escola se apoiam, frequentemente, em estudos acadêmicos que, em geral,

destacam benefícios possíveis para o desenvolvimento do aluno nas suas variadas

dimensões (cognitivas, sociais, motoras ou outras). O problema se agrava quando tais

estudos não dão conta de inserir o professor na perspectiva de transformação

considerada, colocando-o na posição passiva de mero seguidor de prescrições. Segundo

Souza e Linhares:

[...]essas ações acabaram sendo resultados de debates apenas ocorridos tanto,

nos meios acadêmicos (professores universitários e pesquisadores), quanto,

nas esferas governamentais; isso, permite afirmar que os professores das

42

outras modalidades de ensino, como os da educação básica, foram

considerados apenas participantes no sentido de utilização das politicas

públicas e não como elaboradores críticos. Desse modo, a participação

mínima, ou quase nenhuma, desses profissionais, tão importantes nessa

discussão, ocasiona lacunas ao processo de utilização das TIC na educação, uma vez que, esses docentes ao não integrarem esses debates, distanciam-se

das propostas efetivas sobre essas tecnologias. (SOUZA E LINHARES,

2011:14)

Na urgência da implantação, o que chega ao professor é a necessidade da ação,

da utilização e prática, geralmente em um desencontro natural com suas buscas, anseios

e necessidades. Nota-se no decorrer da história da Educação Básica no Brasil que esta

realidade é recorrente, independente da área, mesmo com tal cenário revelando

insistentemente perdas e ineficiências, como aponta Dourado (2007).

A constituição e a trajetória histórica das políticas educacionais no Brasil, em

especial os processos de organização e gestão da educação básica nacional, têm

sido marcadas hegemonicamente pela lógica da descontinuidade, por carência

de planejamento de longo prazo que evidenciasse políticas de Estado em

detrimento de políticas conjunturais de governo. Tal dinâmica tem favorecido

ações sem a devida articulação com os sistemas de ensino, destacando-se,

particularmente, gestão e organização, formação inicial e continuada, estrutura curricular, processos de participação. (DOURADO, 2007:296-297)

Esta desarticulação entre as políticas públicas, sistemas de ensino e a dinâmica

real dos processos educacionais de dentro das escolas podem causar uma “Torre de

Babel6” onde a comunicação estabelecida entre os atores não dá conta de promover uma

ponte necessária entre o que é feito e o que é necessário. Em relação às tecnologias na

educação, o processo de implantação de projetos e programas nas últimas décadas não

modificou significantemente este cenário. Como exemplo, Almeida e Prado (2008)

apontam que, por muito tempo, os estudos na área da Tecnologia na Educação seguiram

desarticulados dos currículos.

6 Menção Bíblica à torre cuja construção foi dificultada em razão dos operários passarem a falar idiomas diferentes, dificultando e confundindo a comunicação.

43

Atualmente, depara-se com a chegada de equipamentos e recursos de primeira

linha na escola de forma desconexa aos estudos, pesquisas e motivações que justificam

e validam o uso dos mesmos a bem do processo de ensino e aprendizagem. O caminhar

em direção à integração passa, dentre outros, pela revisitação dos currículos oficiais

buscando a sua funcionalidade e pelo processo formativo docente, afinal, “a inovação só

tem sentido se passar por dentro de cada um, se for objeto de um processo de reflexão e

de apropriação pessoal” (Nóvoa, 1994:09) e este não é nem de longe um processo fácil e

natural, principalmente por não fazer parte da formação de base do professor, por

requerer dele mais do que pré-disposição e vontade de inovar.

Em prol desta busca interna com disparadores externos, muitas ações de

políticas públicas consideram o estabelecimento de parcerias entre o professor da sala e

outros agentes ou professores em funções específicas, que se especializam na integração

das NTIC ao currículo e que atuam na mediação e articulação entre todos os envolvidos

neste cenário, um fator imprescindível. Esta é uma das ações mais acertadas que se pode

destacar em tais investidas, pois independente da sigla7 ou nomenclatura que receba, o

seu papel neste estreitamento da relação do professor com a tecnologia é ímpar:

O articulador do uso das tecnologias deve desempenhar o papel de gerente do

processo pedagógico mediado pelas tecnologias, devendo incentivar e mobilizar

os professores da escola na gradativa utilização das ferramentas tecnológicas

digitais no processo ensino-aprendizagem. Mesmo diante da realidade imposta

pelo desenvolvimento das tecnologias, a aula continua sendo do professor e ele

precisa saber usar as ferramentas disponíveis para articular, mediar e elaborar

conhecimentos, participar de cursos de formação continuada a fim de superar as barreiras e limites impostos na formação acadêmica. (Moraes, Silva e Pereira,

2010:09).

7 Atualmente existem diversos projetos e programas que concebem a entrada e afirmação da tecnologia na

educação a partir da formação de profissionais voltados á integração e mediação dos recursos

tecnológicos na escola. Como exemplos, a Prefeitura Municipal de São Paulo com os POIE (Professor

Orientador de Informática Educativa), a de Juazeiro/BA com os AET (articuladores de Educação

Tecnológica), a de Brusque/SC com os Professores Articuladores de Tecnologia, a rede Estadual do Rio

de Janeiro com os Mediadores de Tecnologia Educacional e a prefeitura Municipal de São Bernardo do

Campo com os Pape (Professor de Apoio aos Programas Educacionais), no caso, função desempenhada

pela pesquisadora durante o desenvolvimento desta pesquisa.

44

Embora, muitas vezes, esta função pareça ser mais prática ou instrumental, o

papel deste profissional dentro da escola é de grande valia no processo formativo dos

professores, possibilitando um avanço ou salto dos mesmos em relação à tecnologia na

educação, pois “sozinho, o professor não vai dar esse salto. Para dar o salto, é preciso de

uma ação educacional, no sentido de ter alguém, no sentido de ter formação, de modo

que seja possível criticar – no bom sentido – o que está sendo feito” (Valente apud

Moraes, Silva e Pereira, 2010:12).

Porém, mesmo diante deste diferencial que se expande cada vez mais nas redes

educacionais por todo o país, em relação às tecnologias na educação, é preciso dar um

passo além e chegar às discussões acerca das concepções de Educação.

2.2.3 Professor ou computador? Metodologia ou tecnologia?

As tecnologias chegam às escolas a partir de projetos, programas ou simples

aquisições, muitas vezes com uma expectativa de estarem “prontas para o uso e para

transformar a prática pedagógica”. Apesar do receio da substituição do professor pelo

computador, intenção primária dos especialistas em desenvolvimento de software por

instrução assistida pelo computador -CAI- como uma forma de chegar à máquina de

ensinar idealizada por Skinner, a partir de uma perspectiva comportamentalista

(Valente, 1999), o que se apresenta anos depois é uma realidade onde tal receio não

encontra fundamento e a presença do professor é cada vez mais requerida e necessária,

com ou sem tecnologias, como aponta Giordan (2005).

Embora a relação computador-professor não sofra mais a temível disputa por

território ou importância; a falta de intimidade entre eles, ou ainda, a associação com

45

concepções de educação centradas no professor e no seu poder como protagonista na

sala de aula podem suscitar críticas e utilizações questionáveis. Os desencontros

observados quando se espera da tecnologia uma modificação que não se alcança por

outros meios é o reflexo de uma questão de suma importância: tecnologia ou

metodologia ?

A partir do levantamento de críticas quanto à sua eficiência e real necessidade,

Valente (1999) aponta que o computador, quanto utilizado para transmitir informações,

afirmando e dando continuidade à prática pedagógica vigente, não encontra grandes

barreiras dentro da escola; pelo contrário, o cenário “tem facilitado a implantação do

computador nas escolas, pois não quebra a dinâmica tradicional já adotada. Além disso,

não exige muito investimento na formação do professor”, ou seja, não provoca a

transformação, não mexe com o que já existe, enfim, não questiona a metodologia. De

fato, neste cenário a tecnologia não passa de mais um recurso completamente

substituível por qualquer outro artefato capaz de “enfeitar ou dinamizar” a aula em

nome de uma inovação forjada, onde tais críticas encontram fundamentos e um vasto

campo de verdade.

Não se entenderá o real valor do uso das NTIC para os processos de ensino e

aprendizagens se não se olhar por um ângulo onde o aluno é visto como protagonista

destes processos e considerar que seu conhecimento é construído constantemente a

partir das relações estabelecidas por diversas formas de mediações. Para este alcance

são necessárias grandes mudanças, como aponta Almeida (2000).

O uso do computador segundo essa abordagem torna evidente o processo de

aprender de cada indivíduo, o que possibilita refletir sobre o mesmo a fim de

compreendê-lo e depurá-lo. Dessa forma, pode-se pensar em uma transformação no processo de ensino-aprendizagem, passando a colocar “a ênfase na

aprendizagem ao invés de colocar no ensino; na construção do conhecimento e

não na instrução...” (Valente, 1993a: 20). Mas isso não é uma tarefa simples.

46

Não se trata de uma junção da informática com a Educação, mas sim de integrá-

las entre si e à prática pedagógica, o que implica em um processo de preparação

contínua do professor e de mudança da escola. Ou seja, uma mudança de

paradigma(...) (ALMEIDA, 2000:21)

Desta forma, se percebe que críticas e posicionamentos receosos acerca do uso

das NTIC na Educação advém, em grande parte, de experiências nas quais a

metodologia empregada não alcançaria grandes evoluções, independente do recurso

disponível para a aula. Afinal, segundo Pretto e Pinto (2006:25), “o problema não está

no computador, mas nas imposições dos sistemas educacionais, fiéis a toda sorte de

objetivos, nem sempre educacionais, e, muitas vezes, dedicados a concepções utilitárias

da educação”.

Deste ponto de vista, é possível que haja uma indagação sobre a real

necessidade de tais recursos quando metodologias e concepções educacionais adequadas

dariam conta de promover a construção do conhecimento com todos ou nenhum

recurso. Poder-se-ia levantar a bandeira do “se há tão clara metodologia, para quê

tecnologia?”.

Ora, de fato, se as condições primárias de chegada de programas e projetos de

uso das NTIC na escola se fazem de forma conturbada e, se para alcançar o sucesso

esperado nas relações de ensino e aprendizagem se deve alicerçar um campo

metodológico definido, estruturado e condizente com a construção do conhecimento,

questionar sobre a pertinência e relevância das tecnologias na educação não parece algo

descabido. Porém, antes de afirmações e conclusões rasas, é necessária uma reflexão a

bem de responder essa questão.

2.2.4 O computador na escola. Por quê?

47

Práticas educacionais inovadoras e eficazes podem ser desenvolvidas sem o

uso de qualquer recurso tecnológico das chamadas NTIC. O sucesso e a significância de

determinada prática estariam mais relacionadas a uma clara concepção de educação do

que com a utilização de certos recursos. Desta forma, se pode questionar sobre os

motivos que validam o uso das tecnologias na educação e o que estimula pesquisadores

da área a sair em defesa desse uso.

De modo geral, três pontos principais justificam a entrada e permanência da

tecnologia na escola e suas potencialidades nos processos de ensino e aprendizagem de

forma diferenciada em relação a outros recursos: sua capacidade de evolução junto com

a sociedade, a promoção de mudanças nas posturas de professores e alunos e a

possibilidade de inclusão de todos, com seus variados estilos de aprendizagens e

inteligências diferenciadas.

Não com o intuito de fomentar um debate de caráter sociológico ou ideológico

acerca do papel da escola e o que ela representa para a sociedade (Imbernón, 2000), se

mantenedora de um sistema acomodado ou transgressora/regeneradora do mesmo

(Nóvoa, 1994), mas a fim de refletir sobre a forma como a escola conduz seu papel,

independente de qual seja, se percebe um distanciamento na relação escola e sociedade,

principalmente no tocante à evolução e ao progresso tecnológico. Por séculos, bastaram

à educação os recursos da oratória e das linguagens padronizadas, como a escrita

(Kawamura, 1998). Porém, as últimas décadas trouxeram transformações significativas

e a necessidade de revisão de papéis.

É comum encontrar nas produções atuais da área, como em Almeida (2005),

Pretto e Pinto (2006), Chaves (1998), Valente (1999), entre outros, afirmações de que o

“advento das Novas Tecnologias” causou uma grande revolução transformando a

48

sociedade na “Sociedade da Informação” e que atualmente se vive em uma “Era do

conhecimento” (Pretto e Pinto, 2006). De fato, a história não registra outra época em

que o desenvolvimento, independentemente da área, vivesse em um ritmo tão acelerado,

impulsionado principalmente pelo desenvolvimento tecnológico que tem se tornado

global e crescente. Tal progresso, acima das discussões maniqueístas que pode

promover, afinal, “a sociedade é que dá forma à tecnologia de acordo com as

necessidades, valores e interesses das pessoas que utilizam as tecnologias” (Castells,

2005:17), tem um reflexo direto e inevitável na educação, mesmo quando ela opta por

ignorá-lo e se voltar para si mesma.

A informação, até então posse de poucos, e o conhecimento, privilégio dos

bancos escolares e da educação formal sofreram uma democratização ímpar, assim

como o acesso aos mesmos se tornou possível das mais variadas formas através das

NTIC, com o advento da convergência digital, sua ubiquidade8 e mobilidade (Gabriel,

2013). Nos dias atuais observa-se, principalmente, os mais jovens, recorrerem a

pequenas telas portáteis para buscar, produzir e disponibilizar informações com uma

facilidade sem igual. Ignorar esta realidade apenas por opção é declarar guerra a um

“inimigo imaginário” que possui como vantagem principal a capacidade de atrair o

interesse de parcela significativa da sociedade, tornando uma eventual disputa desigual

e desnecessária.

É fato que o professor ou qualquer outra instância que represente a Educação

pode optar por não fazer parte desta revolução tecnológica, permanecendo imutável em

sua forma de ensinar, nadando bravamente contra a correnteza. Porém não deixará de

8 Ubiquidade é a capacidade de estar presente em vários lugares. As tecnologias são consideradas

ubíquas, pois se fazem presentes, muitas vezes de forma imperceptível, em lugares, formatos e situações

cotidianas.

49

colher os reflexos diretos desta, principalmente no novo perfil de aluno que adentra a

sala de aula, trazendo consigo esta transformação que ressoa nas formas de aprender.

Sobre esta transformação, Prensky (2001) afirma:

Agora fica claro que como resultado deste ambiente onipresente e o grande volume de interação com a tecnologia, os alunos de hoje pensam e processam as

informações bem diferente das gerações anteriores. Estas diferenças vão mais

longe e mais intensamente do que muitos educadores suspeitam ou percebem.

“Tipos distintos de experiências levam à distintas estruturas de pensamento,” diz

Dr. Bruce D. Barry da Faculdade de Medicina Baylor. Como veremos

posteriormente, é bem provável que as mentes de nossos alunos tenham mudado

fisicamente – e sejam diferentes das nossas – sendo resultado de como eles

cresceram. Mas se isso é realmente verdade ou não, nós podemos afirmar apenas

com certeza que os modelos de pensamento mudaram. (PRENSKY, 2001:01)

Esta mudança estrutural no pensamento fomentado pelo uso das NTIC no

cotidiano “se caracteriza pela desmaterialização do tempo e espaço, uma vez que

substituem os átomos pelos bits, originando transformações significativas na sociedade

contemporânea” (Alves, 1998:07), contribuindo para a transformação da sociedade do

conhecimento, constantemente interconectada, colaborativa e coletiva. O raciocínio, as

relações e representações já não possuem a mesma estrutura de outrora, quando a

influência tecnológica se dava de forma branda e pouco impactante. Sobre tal

transformação, Lévy (1993) aponta:

As tecnologias intelectuais desempenham um papel fundamental nos processos cognitivos, mesmo nos mais cotidianos; para perceber isto, basta pensar no lugar

ocupado pela escrita nas sociedades desenvolvidas contemporâneas. Estas

tecnologias estruturam profundamente nosso uso das faculdades de percepção,

de manipulação e de imaginação. (...) É pela dimensão objetal que atravessa a

cognição que esta se encontra envolvida na historia, uma historia muito mais

rápida que a da evolução biológica. As criações de novos modos de

representação e de manipulação da informação marcam etapas importantes na

aventura intelectual humana. E a historia do pensamento não se encontra

identificada, aqui, com a série dos produtos da inteligência humana, mas sim

com as transformações do processo intelectual em si, este misto de atividades

subjetivas e objetais. A ecologia cognitiva nos incita a revisar a distribuição kantiana dos papéis entre

sujeitos e objetos. A psicologia contemporânea e a neurobiologia já confirmaram

que o sistema cognitivo humano não é uma tábula rasa. Sua arquitetura e seus

diferentes módulos especializados organizam nossas percepções, nossa memória

e nossos raciocínios, de forma muito restritiva. Mas articulamos aos aparelhos

especializados de nosso sistema nervoso dispositivos de representação e de

50

processamento da informação que são exteriores a eles. Construímos

automatismos (como o da leitura) que soldam muito estreitamente os módulos

biológicos e as tecnologias intelectuais. O que significa que não há nem razão

pura nem sujeito transcendental invariável. Desde seu nascimento, o pequeno

humano pensante se constitui através de línguas, de máquinas, de sistemas de representação que irão estruturar sua experiência. (LÈVY, 1993:98).

Desta forma, desconsiderar a influência tecnológica nos processos

educacionais atuais não é uma decisão simples, pois não se trata apenas de optar por

utilizar ou não recursos diferenciados e sim entrar em uma concorrência com as

tecnologias pela atenção de alunos que se constituem, cada vez mais, desde cedo em

contato com as tecnologias, bombardeados por estímulos, linguagens e recursos

diferenciados, passando a serem denominados Nativos Digitais (Prensky, 2001) e

apresentando uma nova postura de aluno. Sobre este novo perfil de aluno, Demo (2008)

pontua:

As criança e jovens que tem acesso a computador em casa aprende a mexer nele

antes de ler e escrever. Manipulando o teclado sem maior susto – crianças são

“nativas”, nós somos “imigrantes” (PRENSKY, 2001; 2006) –, dão-se conta de

que precisam entender letras e números, em especial para comunicar-se e usar

programas de interesse (em geral jogos). Assim, alfabetizam-se não porque a

Constituição manda ou o professor exige, mas porque é necessidade “situada”

em sua cultura infantil, fazendo parte de suas vidas, não de suas obrigações

(GEE, 2004). Por isso mesmo, a motivação que a criança sente ao usar o

computador/internet é incomparável com a (des)motivação que sente na escola, onde tudo lhe parece “abstrato” (GEE, 2003; 2007). (DEMO, 2008:28)

Assim, este novo perfil de aluno que encontra motivações além da escola para

a aprendizagem, que é instigado a buscar, confrontar, produzir e compartilhar o tempo

todo, não encontrará sentido em ficar preso nos bancos escolares, olhando para a nuca

do amigo, ouvindo a fala do professor como único recurso de obtenção de informações

e copiando lousas e livros didáticos com o único objetivo de fazer atividades e passar

nas provas. Este modelo tradicional e instrucionista, que coube e serviu por muito

tempo, parece esgotar-se cada vez mais intensamente. A sociedade vem mudando e

51

pressiona a escola a se transformar, apesar de, como afirma Prado (1998:02), termos

sido “preparados para reproduzir o passado, para compartimentalizar nossos

pensamentos e nossas ações, e para ter uma compreensão linear e apenas racional dos

fatos - concebendo assim a imutabilidade daquilo que conhecemos”. Será difícil obter

um sucesso educacional nestes moldes e o risco, neste caso, é de apenas cumprir um

programa formando alunos de modo desconexo com o mundo.

Nesta perspectiva, a entrada das tecnologias na educação, somada a uma

concepção pedagógica condizente com a construção do conhecimento pelos envolvidos,

onde o aluno é protagonista deste processo, pode trazer grandes contribuições para o

desenvolvimento de uma educação, nem à frente e nem parada no tempo, mas que

caminha em consonância com tais transformações, promovendo uma educação integral.

Outra vantagem destacada com o uso das NTIC na Educação é a possibilidade

de inclusão de todos. Com este termo, não se define a inclusão apenas daqueles que

possuem algum tipo de necessidade educacional diferenciada ou deficiência, mas de

todos aqueles que possuem “estilos de aprendizagens” que extrapolam as aulas

meramente expositivas, que ficam à margem, buscando fazer relações próprias na

medida em que sua bagagem pessoal possibilita. Francisco e Neves (2010:167) apontam

que, ao considerar a todos, com seus estilos e inteligências diferenciados, o cuidado

deve ser maior, pois “os conteúdos devem ser preparados reunindo um conjunto

diversificado de materiais que contemplem textos, imagens e áudio e as atividades

propostas devem potenciar experiências de aprendizagem múltiplas.” Esta demanda

pode ser facilitada com a integração das NTDIC nas aulas, onde a convergência de

mídias integra áudio, imagem, gráficos, vídeos, textos e outros, de forma interativa e

acessível. Tais investidas configuram uma intenção clara, como afirma Almeida (2005).

52

O professor que atua nessa perspectiva tem uma intencionalidade enquanto

responsável pela aprendizagem de seus alunos e esta constitui o seu projeto de

atuação, elaborado com vistas a respeitar os diferentes estilos e ritmos de

trabalho dos alunos, incentivar o trabalho colaborativo em sala de aula no que se

refere ao planejamento, escolha do tema e respectiva problemática a ser investigada e registrada em termos do processo e respectivas produções, orientar

o emprego de distintas tecnologias incorporadas aos projetos dos alunos, de

modo a trazer significativas contribuições à aprendizagem. (ALMEIDA,

2005:69)

Apesar das vantagens destacadas com o uso das NTICs vinculadas aos

currículos educacionais, é preciso insistir na associação destes recursos a uma

concepção de educação condizente, a fim de que os resultados alcançados sejam

realmente significativos e contribuam para a construção do conhecimento por todos os

envolvidos. Ao ressaltar este aspecto, não se condiciona o seu uso apenas a certas

abordagens, mas salienta-se que o sucesso ou fracasso não estão associados diretamente

à tecnologia, mas sim ao uso que se faz dela. Valente (1999) afirma que “a atividade de

uso do computador pode ser feita tanto para continuar transmitindo a informação para o

aluno e, portanto, para reforçar o processo instrucionista, quanto para criar condições de

o aluno construir seu conhecimento”. Nesta diferença que existe entre um aspecto e

outro está a concepção de educação.

Ainda sobre estas diferenças de abordagens em relação ao uso das NTIC na

educação, Valente (1999) afirma:

Quando o computador transmite informação para o aluno, o computador assume o papel de máquina de ensinar e a abordagem pedagógica é a instrução auxiliada

por ele. Essa abordagem tem suas raízes nos métodos tradicionais de ensino,

porém em vez da folha de instrução ou do livro de instrução, é usado o

computador. Os software que implementam essa abordagem são os tutoriais e os

de exercício-e-prática. Quando o aluno usa o computador para construir o seu conhecimento, o

computador passa a ser uma máquina para ser ensinada, propiciando condições

para o aluno descrever a resolução de problemas, usando linguagens de

programação, refletir sobre os resultados obtidos e depurar suas idéias por

intermédio da busca de novos conteúdos e novas estratégias. Nesse caso, o

software utilizado pode ser os software abertos de uso geral, como as linguagens

de programação, sistemas de autoria de multimídia, ou aplicativos como

53

processadores de texto, software para criação e manutenção de banco de dados.

Em todos esses casos, o aluno usa o computador para resolver problemas ou

realizar tarefas como desenhar, escrever, calcular, etc.. A construção do

conhecimento advém do fato de o aluno ter que buscar novos conteúdos e

estratégias para incrementar o nível de conhecimento que já dispõe sobre o assunto que está sendo tratado via computador. (VALENTE, 1999:01-02)

Algumas abordagens são capazes de promover o uso diferencial e

contextualizado das NTIC na educação, como descreve Valente, entre elas o

construtivismo. A este tipo de abordagem, onde o aluno é estimulado a construir o

conhecimento a partir das interações entre seus pares (aluno-aluno-professor), instigado

a resolver problemas, valorizando o erro como parte do processo, colocando em jogo

sua bagagem de conhecimentos prévios, estimulados pelas diversas formas de

linguagens, produzindo, criando, tudo mediado pelo uso de computadores ou similares,

Seymour Papert chamou de Construcionismo.

2.2.5 O construcionismo e o aluno do século XXI

No final da década de 60 o matemático Seymour Papert, após ter fundado o

Laboratório de Inteligência Artificial no MIT (Massachusetts Institute of Technology),

se voltou a mostrar que o computador na educação tinha muito mais potencial do que as

propostas baseadas nos softwares na modalidade CAI e inspiradas na “máquina de

ensinar” idealizada por Skinner (Lima, 2009). Suas investidas trouxeram para este

cenário, de forma pioneira, os estudos iniciais da utilização de linguagem de

programação com crianças, apresentando ao mundo a Linguagem LOGO (Valente,

1999).

De forma acirrada e antagônica, o embate entre empresas como IBM e RCA e

os estudos da equipe dirigida por Papert cresciam e ganhavam força. Nos anos de

1970/80, enquanto propostas da modalidade CAI baseadas no instrucionismo, “que

54

reproduzem a instrução programada, ou seja: “ensinam” um determinado conteúdo para

o aluno” (Lima, 2009:31) adentravam os muros escolares em grande escala, crescia

também a inquietação de Papert, que compreendia o uso pedagógico do computador de

uma forma muito mais ampla. Parte dessa motivação tinha origem na observação do uso

limitado do computador pelos alunos:

Eu estava observando uma criança trabalhar com um software CAI para a multiplicação. Algo estranho estava ocorrendo. Eu havia visto a criança fazer

várias multplicações com rapidez e precisão. Então, vi-a dar uma série de

respostas erradas para problemas mais fáceis. Levei algum tempo para perceber

que a criança se entendiara com o programa e estava divertindo-se, praticando

um jogo de sua própria invenção. O jogo exigia algum raciocínio: o menino

redefiniu a resposta “certo” como aquela que gerava maior atividade de

computação, exigindo que o programa respondesse com as explicações pelo

“erro”. (PAPERT, 2008:156)

Assim, em contato com os estudos de Jean Piaget e suas contribuições para o

construtivismo enquanto teoria epistemológica, que considera que “as pessoas

constroem conhecimento na medida em que agem sobre o objeto de conhecimento (uma

coisa, uma ideia ou uma pessoa) e sofrem uma ação deste objeto” (Maltempi, 2005:02),

e partindo dos resultados do trabalho com a linguagem LOGO, Papert apresentava ao

mundo o Construcionismo, compreendendo “que o aprendizado ocorre especialmente

quando o aprendiz está engajado em construir um produto de significado pessoal (por

exemplo, um poema, uma maquete ou um website), que possa ser mostrado a outras

pessoas” (Maltempi, 2005:04), o que condiz com as propostas iniciais do trabalho com

linguagens de programação.

Mais que uma concorrência por espaço ou lucro, o antagonismo entre as

abordagens instrucionista e construcionista sustentava uma disputa acerca da

compreensão de como ocorrem o ensino e a aprendizagem quando mediados pelo uso

55

de computadores (Figura 1). É perceptível que cada abordagem apresentada se apoia

principalmente na concepção educacional que direciona seus pressupostos, definindo

como o ensino e a aprendizagem são compreendidos e quais as posições dos atores no

processo educativo.

Figura 01: Ensino e aprendizagem usando o computador (Lima, 2009:35)

Juntamente com os estudos sobre o LOGO e seu interesse pela Cibernética,

como “um mundo do qual as crianças gostariam e se beneficiariam” (Papert, 2008:184),

uniu-se a empresa Lego ao enxergar nos tradicionais blocos de montagem um grande

potencial para externalizar concretamente o trabalho com linguagem de programação,

justificando:

As crianças amam construir coisas, então escolhemos um conjunto de construção

e a ele acrescentamos o que quer que seja necessário para torná-lo um modelo

cibernético. Elas deveriam ser capazes de construir uma tartaruga com motores e

sensores e ter uma forma de escrever programas em LOGO para guiá-las; ou, se

desejassem fazer um dragão, um caminhão ou uma cama- despertador deveriam ter essa opção também. Elas seriam limitadas apenas por suas imaginações e

habilidades técnicas (PAPERT, 2008, p. 184).

56

A criação dos kits de Lego Mindstorms oficializou a entrada da linguagem de

programação para dentro das escolas, ampliando o cenário educacional, sendo umas das

formas concretas do construcionismo. Idealizado para ser utilizado desde os primeiros

anos da educação básica, abordando conceitos de máquinas simples até chegar na

construção e programação, juntando o computador com o brinquedo, o raciocínio com a

concretização, ou seja, a robótica.

Assim, a partir das contribuições de Papert com o construcionismo, a tecnologia,

primeiro representada pelo computador e hoje diversamente ampliada, assume um papel

diferenciado na construção do conhecimento, oferecendo ao aluno condições

necessárias para que a mesmo seja utilizada como ferramenta para tal, a partir de um

ciclo de descrição-execução-reflexão-depuração (Almeida, 1999:25), iniciado com o

trabalho com a linguagem de programação e se desdobrando para as demais propostas

que condizem com esta abordagem.

Sobre esta diferença de utilização, Valente (1993) define:

(...) o computador não é mais o instrumento que ensina o aprendiz, mas a

ferramenta com a qual o aluno desenvolve algo, e, portanto, o aprendizado

ocorre pelo fato de estar executando uma tarefa por intermédio do computador.

(VALENTE, 1993 apud ALVES, 1998:05)

Tão atual hoje quanto o foi quando Papert o apresentou para o mundo, o

construcionismo parte de forma natural das mãos dos alunos, que encontram na

convergência digital e no acesso fácil, as condições necessárias para produzir, colaborar,

compartilhar e publicar, enfim, construir o conhecimento a partir das tecnologias.

Assim, se o aluno apresenta um perfil diferente, modificado pela veloz transformação da

sociedade (Pretto e Pinto, 2006), não pode a escola caminhar em sentido contrário ou

parar estagnada no tempo (Kawamura, 1998), como se fizesse parte de outra geração. Se

o que se busca é a construção do conhecimento, de forma significativa e

57

contextualizada, ela deve ocorrer utilizando aquilo que já faz parte do cotidiano do

aluno e, neste caso, as tecnologias obtém muito mais intimidade e liberdade do que as

relações hierarquizadas padronizadas na escola tradicional, como relata Kenski (2008):

Em todos os níveis formais de escolaridade são costumeiras as divisões do ensino nestes três tempos. Há um momento para ensinar (professor falar e o

aluno ouvir), outro para interagir com a informação e aprender (ler, memorizar,

refletir,discutir, se posicionar) e um outro tempo para o fazer (muitas vezes

confundido com expor ou simular a atividade, em exercícios, provas ou testes),

ou seja, utilizar o aprendido no tempo real da necessidade. O ensino mediado pelas tecnologias digitais pode alterar estas estruturas

verticais (professor > aluno) e lineares de interação com as informações e com a

construção individual e social do conhecimento. Os ambientes digitais oferecem

novos espaços e tempos de interação com a informação e de comunicação entre

os mestres e aprendizes. (KENSKI, 2008:11)

Tal relação estabelecida com as tecnologias encontra aporte em situações ligadas

muito mais ao cotidiano do que à preferência. Obviamente que para o aluno dos tempos

atuais a tecnologia exerce certo fascínio natural por promover a interação de forma

síncrona e assíncrona, o estreitamento de tempo e espaço e a possibilidade de autoria

constante. A ubiquidade destas tecnologias as tornam transparentes (Araujo, 2003) para

esta geração, ou seja, a naturalidade da utilização é tamanha, que não existe limitação

que impeça o seu uso ou ainda, diante deste acesso não há barreiras de falta de

informação, de produção e compartilhamento. Um simples celular com acesso à internet

nas mãos, é suficiente para a comunicação, a diversão, a informação, o

compartilhamento, o registro e a resolução de situações simples do cotidiano.

Este novo perfil mantem uma relação recíproca com as mudanças sociais. Ao

passo que a sociedade muda, transformando as formas de interação, comunicação e as

relações entre os saberes, passa a exigir também uma transformação no novo perfil de

aluno e cidadão, que se modifica e modifica o meio, atuando na sociedade de forma

direta, conhecido como cidadão do futuro, ou cidadão do século XXI. Como esclarece

58

Papert (apud Martins, 2012):

Os cidadãos do futuro precisam lidar com desafios, enfrentar um problema inesperado para o qual não há uma explicação preestabelecida. Precisamos

adquirir habilidades necessárias para participar da construção do novo ou então

nos resignarmos a uma vida de dependência. A verdadeira habilidade

competitiva é a habilidade de aprender. Não devemos aprender a dar respostas

certas ou erradas, temos de aprender a solucionar problemas. (Papert, apud

Martins, 2012, p. 18)

Ao considerar que vivemos no século XXI e que seria desejável que este aluno

se faça atuante, como pode a escola se eximir do papel de contribuir para a formação de

um sujeito com essas características ? Depara-se assim com dois fatos inquestionáveis:

a tecnologia está na mão do aluno como uma extensão própria e, embora esta

naturalidade transpareça na facilidade de utilização técnica, ainda falta clareza em como

utilizar. Diante destes fatos, se a escola se abrir às possibilidades, poderá encontrar um

terreno fértil e propício para dar sentido tanto aos conteúdos curriculares, quanto à

utilização dos recursos tecnológicos. Para tanto, é essencial observar alguns pontos.

A autoria: O aluno do século XXI ou nativo digital (Presnky, 2001) chega na

escola com uma gama de publicações de autoria própria muito maior do que dezenas de

adultos. O conteúdo tem pouca importância, o que tem sentido é o “fazer parte”, é ser

responsável, trabalhar em colaboração, cooperação, observar os resultados dessas

contribuições na rede, acompanhar os feeds e os efeitos do mesmo. Quando a escola

reconhece este novo perfil e entende que “as contribuições efetivas de tecnologias

digitais portáteis à educação se evidenciam quando utilizadas como elementos de

mediação entre o conhecimento científico e as experiências da vida dos alunos que

usam as tecnologias para a leitura do mundo” (Almeida, 2007:01), passa a contribuir

para a qualidade das produções autorais dos alunos, tornando os conteúdos curriculares

significativos e funcionais, atribuindo valor e dando um destinatário real às produções

59

até então, apenas escolares.

O professor mediador: A importância da interação estabelecida entre os pares

(aluno-professor-ambiente) sustentada por Vygotsky e que atuam na ZDP para que o

indivíduo tenha condições de alcançar outros níveis conceituais e construam novos

conhecimentos (Oliveira, 2006) faz cair por terra o temor da substituição do professor

pela máquina. A relação computador-aluno possui uma intimidade ímpar e natural,

porém a qualidade desta relação, a bem da construção do conhecimento científico de

forma significativa, a partir da utilização da tecnologia, se fará, essencialmente, pela

mediação do professor. É importante esclarecer que “o poder de interação não está

fundamentalmente nas tecnologias, mas nas nossas mentes. Ensinar com as novas

mídias será uma revolução se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais

do ensino, que mantêm distantes professores e alunos” (Moran, Masetto e Behrens,

2007:08-09).

Nesta perspectiva o professor não é aquele que levará o conhecimento até o

aluno, nem o ensinará nada, mas aquele que mediará este processo de modo que os

alunos, de forma colaborativa, são instigados a solucionar problemas, devidamente

estruturados e conduzidos pelo docente. Ruben Alves9 propõe um novo tipo de

professor, que não ensine nada, pois as coisas já estão prontas e acessíveis, mas que

ensine a pensar e crie nos alunos a curiosidade necessária para se mover, para provocar

o espanto, a inteligência, fazendo as coisas que são essenciais no ambiente em que a

criança vive. Assim, o professor que conduz com maestria esse processo é

principalmente aquele que consegue problematizar, dar sentido, motivação, enfim,

conduzir os alunos à construção do conhecimento a partir perguntas bem feitas que

9 Em depoimento sobre “ A escola ideal: o papel do professor” dado ao canal “Revista Digital” do

governo federal no link https://www.youtube.com/watch?v=qjyNv42g2XU

60

instiguem a busca pelas respostas e a solução dos problemas, e que consegue percorrer o

caminho trilhado pelo aluno, compreendendo a sua construção cognitiva (Prado, 2005).

A pedagogia de projetos: Da mesma forma que se busca fazer um uso

significativo da tecnologia na educação, de modo que sejam recursos e instrumentos

contextualizadores dos conceitos científicos, se procura compreender como esta

perspectiva se encaixaria na atual disposição curricular de conteúdos metodicamente

organizados em disciplinas isoladas. Se a educação deve refletir a vida e o

conhecimento construído fazer sentido ao aluno, como propiciar isso com uma

organização escolar que é tão diferente do que ocorre na vida cotidiana, onde tudo se

articula para que se resolva um problema, se atinja uma meta, se investigue uma

solução. De fato, não há como buscar tamanha integração e contextualização com a

velha educação compartimentada em caixinhas quase incomunicáveis. Porém, esta não é

uma tarefa fácil, pois “essa integração não pode ser pensada apenas no nível de

integração de conteúdos ou métodos, mas basicamente no nível de integração de

conhecimentos parciais, específicos, tendo em vista um conhecer global” (Fazenda,

1979:11). Um meio de buscar o estreitamento entre as disciplinas historicamente

organizadas no currículo é a partir da organização e condução de projetos integradores.

A partir desta metodologia é possível articular, não somente disciplinas, mas estratégias,

conteúdos, posturas e recursos, de modo a fazer a diferença no processo, como aponta

Prado (2005):

A pedagogia de projetos deve permitir que o aluno aprenda-fazendo e reconheça

a própria autoria naquilo que produz por meio de questões de investigação que

lhe impulsionam a contextualizar conceitos já conhecidos e descobrir outros que

emergem durante o desenvolvimento do projeto. Nessa situação de

aprendizagem, o aluno precisa selecionar informações significativas, tomar

decisões, trabalhar em grupo, gerenciar confronto de ideias, enfim, desenvolver

competências interpessoais para aprender de forma colaborativa com seus pares. A mediação do professor é fundamental, pois, ao mesmo tempo em que o aluno

precisa reconhecer sua própria autoria no projeto, ele também precisa sentir a

61

presença do professor, que ouve, questiona e orienta, visando propiciar a

construção de conhecimento do aluno. A mediação implica a criação de

situações de aprendizagem que permitam ao aluno fazer regulações, uma vez que

os conteúdos envolvidos no projeto precisam ser sistematizados para que os

alunos possam formalizar os conhecimentos colocados em ação. O trabalho por projeto potencializa a integração de diferentes áreas de conhecimento, assim

como a integração de várias mídias e recursos, os quais permitem ao aluno

expressar seu pensamento por meio de diferentes linguagens e formas de

representação. (PRADO, 2005:07)

A compreensão de uma pedagogia de projetos pode articular e congregar a

essência de conceitos considerados fundamentais para que a tecnologia consiga exercer

o seu papel de propiciar as condições necessárias para a construção do conhecimento.

Apenas a tecnologia pela tecnologia não tem força para promover a mudança almejada,

mas com a mediação do professor que conduz projetos motivadores com a

intencionalidade de fomentar a autoria, tem o potencial de fazer a diferença dentro e

fora da sala de aula. Como propõe o construcionismo, “um problema e a sua

compreensão, a elaboração de uma estratégia de solução no computador, pelo aluno,

mediado por um profissional da educação; e no ferramental: um computador” (Lima,

2009:36).

Embora esta clareza metodológica se apresente na educação do século XXI, se

nota que ainda há uma distância considerável entre o que é possível e o que acontece.

Apesar de se visar à interdisciplinaridade, não há como desconsiderar a falta de

integração e interesse para com os conteúdos da área curricular das ciências naturais,

que deveriam despertar a curiosidade e a motivação. Assim, se questiona

inevitavelmente: seriam as tecnologias, baseadas na abordagem construcionista,

considerando todos os atores, fatores e recursos, capazes de colaborar na promoção de

um melhor aprendizado dos conteúdos científicos?

Buscando compreender o cenário em que se apresenta o ensino de ciências, suas

62

perspectivas, diretrizes e as possíveis contribuições das tecnologias como ferramentas

integradoras, seguem algumas reflexões e estudos na seção subsequente.

2.3 Um panorama do Ensino de Ciências no ciclo I da Educação

Fundamental

As orientações constantes em documentos oficiais e referenciais de educação para

o ensino de ciências, como os PCN, propostas curriculares e outros, consideram a

possibilidade e estabelecem objetivos norteadores para um ensino pautado no

desenvolvimento de competências e habilidades já na Educação Fundamental I, embora

o cenário atual destoe de tais orientações. O potencial do uso das tecnologias integradas

ao currículo, promovendo o respeito e considerando as peculiaridades de aprendizagem

dos alunos de forma contextualizada e funcional, poderia estreitar esta lacuna? A

proposta nessa seção é estabelecer um diálogo real entre as orientações e os caminhos

possíveis para o alcance de tais objetivos.

2.3.1 A realidade do ensino de Ciências

A realidade do ensino de ciências na educação básica encontra-se em um

descaminho tamanho que segue despertando um olhar atento e preocupado por parte de

pesquisadores da área. O debate promovido pela Unesco em 2005 e reavivado com a

segunda edição em 2009 (Werthein, 2009), promove uma reflexão acerca do “futuro em

risco” no qual se encaminha o ensino de ciências e consequentemente a formação

integral e a educação científica dos atores desta sociedade tida como a do conhecimento.

63

Tal preocupação encontra fundamento quando se direciona com mais atenção o

olhar para a forma como se dá o ensino de ciências na educação básica, principalmente

no ensino fundamental I. Apesar de se compreender que os fatores que configuram tal

cenário sejam diversos e articulados de alguma forma (Machado, 2007) e,

principalmente, que esta situação não se limita unicamente à realidade brasileira

(Fourez, 2003), ainda assim pode-se arriscar destacar alguns dos muitos pontos que se

apresentam gritantes e constantes na nossa realidade.

Para iniciar, ainda que não seja foco deste trabalho uma análise mais detalhada

em relação à formação do professor, seja em seu caráter de formação especializada ou a

sua falta na base aos professores generalistas, não se pode desconsiderar o quanto esta

carência, inicial ou continuada, se reflete diretamente na prática de ensino que chega ao

aluno. Sobre esta questão Malacarne e Strieder (2009) destacam:

A realidade de formação de professores, carente de reflexão sobre a Ciência e

sobre o seu ensino, provoca uma grande insegurança quanto ao desenvolvimento

do conhecimento científico em sala de aula; e resulta em um trabalho pouco ou

nada inovador, limitado em muitos casos a leitura ou realização de exercícios

propostos pelo livro didático que, por melhor que seja produzido, pouco

contribui para um primeiro contato atraente da criança com o mundo dinâmico

da Ciência. (MALACARNE e STRIEDER, 2009:76)

Como afirmam Zanon e Freitas (2007):

Para superar o senso comum e as concepções alternativas dos alunos, é

necessário um corpo de conhecimentos mais robusto por parte dos professores e

o desenvolvimento de diferentes formas de lidar com os problemas que surgem,

algo que eles também irão construindo. Consequentemente, cabe ao aluno

(aquele que investiga) e ao professor (aquele que orienta a investigação) lidarem

com as situações de desequilíbrio e com as capacidades cognitivas, buscando a

construção de conhecimentos coerentes com as evidências (empíricas ou não)

que vão surgindo nas atividades investigativas. (ZANON e FREITAS, 2007:101)

De fato, partir desta problemática real parece se justificar muito do que ocorre

efetivamente nas salas de aulas no ensino das ciências, mas ainda assim não parece um

64

fim em si mesmo. Dentre os inúmeros motivos que contribuem para configurar este

cenário, destaca-se aquele que vai muito além da falta ou continuidade de formação, da

carência de materiais e estrutura e tantos outros que devem sim ser considerados e

melhorados constantemente, mas ainda assim poderiam ser minimizados diante da

diversificação metodológica adotada pelo professor.

A princípio é possível haver certa estranheza quando questões metodológicas

são elevadas a um patamar de destaque diante de outras questões levantadas pelos

envolvidos diretos no processo educacional do ensino de ciências. Porém, essa não é

nem de longe uma questão simples e nem tampouco irrelevante, principalmente quando

são compreendidos todos os aspectos que norteiam e direcionam o “compor

metodológico” que caracteriza cada profissional, como aponta Borges (2012).

Ao preparar uma aula ou elaborar seu plano de ensino, o professor articula

objetivos, conteúdos, técnicas e recursos de ensino, de maneira a conseguir

melhores resultados na aprendizagem. Essa articulação é feita a partir de suas

concepções sobre educação e ciência. Nessa produção, é importante a sua prática

pedagógica, os “modelos” do que é ensinar, as condições materiais e,

dependendo de como foi o processo de elaboração, também o projeto pedagógico

da escola. É essa interação entre os elementos que constituem o processo

pedagógico que estamos considerando como metodologia de ensino. (BORGES, 2012:169)

Olhando por esta perspectiva é possível compreender o quão importante e ampla

são as discussões acerca do fazer metodológico que definem as escolhas e as ações

finais do professor em relação ao ensino de ciências desde o ensino fundamental I.

Diante de uma prática tradicional, pautada na centralidade no professor e que vê como

estratégias metodológicas apenas o conhecimento informativo, entregue ao aluno de

forma instrucional, que não promove a reflexão, a investigação e a atribuição de

significados, pouco fará efeito a profundidade formativa e especializada que muitos

profissionais adquirem, mas que não dão conta de utilizar à bem do processo de ensino

65

e aprendizagem.

A necessidade de clareza em relação à concepção de educação parece inevitável,

porém, podem apenas conduzir às justificativas de estratégias metodológicas

condizentes com esta escolha, o que remeteria a uma infinidade de conclusões acerca da

diversidade de teorias e abordagens educacionais e opções metodológicas, simplesmente

enquadrando professores e ações em caixas de posturas corretas e incorretas, o que seria

uma escolha rasa e irresponsável.

Assim, entendendo que não basta apenas reafirmar os insucessos e questões

problemáticas deste cenário e visando contribuir efetivamente para uma reflexão que

conduza, de alguma forma, ao repensar da prática, optou-se por realizar um

levantamento de ações que obtiveram certo avanço ou destaque no ensino de ciências

para o ensino fundamental a partir da perspectiva socioconstrutivista.

2.3.2 O socioconstrutivismo, diretrizes curriculares e o ensino de ciências:

possibilidades para a educação integral.

Há muito que o ensino de ciências pautado na abordagem socioconstrutivista ou

apenas construtivista tem despertado a atenção da academia sendo objeto de

desenvolvimento de pesquisas (Aguiar Jr, 1998; Driver et al, 1994; Villani e Pacca,

2001).

Os impactos dessa abordagem educacional foram e ainda são bastante

significativas, promovendo no ensino de ciências modificações no entendimento e na

compreensão das ciências, do papel do aluno, do professor e essencialmente das

relações estabelecidas nos processos de ensino e aprendizagem, como destaca Aguiar Jr

66

(1998):

Talvez o principal impacto das orientações construtivistas esteja na atenção antes dirigida aos métodos de ensino, entendido como técnicas capazes de ensinar com

eficiência, para os processos de aprendizagem. O olhar do educador dirige-se

assim para as potencialidades e as dificuldades dos estudantes em suas interações

com os conteúdos escolares. Segundo Ogborn (1997: 131) o construtivismo

educacional insistiu corretamente em quatro pontos essenciais, sendo por esses

reconhecido: 1. A importância do envolvimento ativo do aprendiz; 2. O respeito

pelo aprendiz e por suas próprias ideias; 3. O entendimento da ciência enquanto

criação humana; 4. Orientação para o ensino no sentido de capitalizar o que os

estudantes já sabem e dirigir-se às suas dificuldades em compreender os

conceitos científicos em função de sua visão de mundo. (AGUIAR JR,

1998:108)

Os objetivos constantes nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências

Naturais para o ensino fundamental preveem que o aluno seja capaz de:10

● posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes

situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de

tomar decisões coletivas;

● posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes

situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de

tomar decisões coletivas;

● utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica e

corporal — como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias,

interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados,

atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação;

● saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para

adquirir e construir conhecimentos.

Entende-se que o ensino de ciências, já nos anos iniciais da educação básica,

10

Retirado na íntegra dos objetivos constantes na página 07 dos Parâmetros Curriculares Nacionais de

Ciências Naturais para o ensino fundamental.

67

deva extrapolar as estratégias metodológicas centradas no professor e na mera

transmissão do conhecimento, ocorrendo de modo a contemplar o ensino por

investigação, a problematização, a experenciação e a colaboração, promovendo a

interação entre os pares e o desenvolvimento da criticidade através das relações

socioculturais:

Em Ciências Naturais são procedimentos fundamentais aqueles que permitem a investigação, a comunicação e o debate de fatos e ideias. A observação, a

experimentação, a comparação, o estabelecimento de relações entre fatos ou

fenômenos e ideias, a leitura e a escrita de textos informativos, a organização de

informações por meio de desenhos, tabelas, gráficos, esquemas e textos, a

proposição de suposições, o confronto entre suposições e entre elas e os dados

obtidos por investigação, a proposição e a solução de problemas, são diferentes

procedimentos que possibilitam a aprendizagem. (BRASIL, 2001:29)

Sobre o trabalho por investigação, problematização e experimentação destacam-

se práticas (Morais, Neto e Ferreira, 2014; Souza e Almeida, 2002; Junior, Souza e

Souza, 2009) que validam o que Azevedo (2003) sustenta:

A experimentação baseada na resolução de problemas não é suficiente para a

descoberta de uma lei física, tampouco achamos necessário que o aluno passe

por todas as etapas do processo de resolução de maneira autônoma, mas que, com base nos conhecimentos que os alunos já' possuem do seu contato cotidiano

com o mundo, o problema proposto e a atividade de ensino criada a partir dele

venham despertar o interesse do aluno, estimular sua participação, apresentar

uma questão que possa ser o ponto de partida para a construção do

conhecimento, gerar discussões e levar o aluno a participar das etapas do

processo de resolução do problema. Outro objetivo na resolução de problemas é proporcionar a participação do aluno

de modo que ele comece a produzir seu conhecimento por meio da interação

entre pensar, sentir e fazer. A solução de problemas pode ser, por tanto, um

instrumento importante no desenvolvimento de habilidades e capacidades, como:

raciocínio, flexibilidade, astúcia, argumentação e ação. Além do conhecimento

de fatos e conceitos, adquirido nesse processo, há a aprendizagem de outros conteúdos: atitudes, valores e normas que favorecem a aprendizagem de fatos e

conceitos. Não podemos esquecer que, se pretendemos a construção de um

conhecimento, o processo é tão importante quanto o produto. (AZEVEDO,

2003:22)

A opção por desenvolver um trabalho pautado nestas considerações não é uma

escolha fácil, assim como não o será o trabalho e o desprendimento exigido do professor

68

desde o planejamento até a avaliação. Porém, quando está em jogo a formação do aluno

e esta depende essencialmente de tais escolhas, da forma de trabalho, da mediação da

aula, do papel de cada integrante do processo, enfim, novamente afirmando, das

estratégias metodológicas adotadas, há muito o que considerar. Segundo os PCN

(2001), o ensino de ciências, quando desenvolvido a partir das considerações anteriores:

(...) é espaço privilegiado em que as diferentes explicações sobre o mundo, os fenômenos da natureza e as transformações produzidas pelo homem podem ser

expostos e comparados. É espaço de expressão das explicações espontâneas dos

alunos e daquelas oriundas de vários sistemas explicativos. Contrapor e avaliar

diferentes explicações favorece o desenvolvimento de postura reflexiva, crítica,

questionadora e investigativa, de não-aceitação a priori11 de ideias e

informações. Possibilita a percepção dos limites de cada modelo explicativo,

inclusive dos modelos científicos, colaborando para a construção da autonomia

de pensamento e ação. Ao se considerar ser o ensino fundamental o nível de escolarização obrigatório

no Brasil, não se pode pensar no ensino de Ciências como um ensino

propedêutico, voltado para uma aprendizagem efetiva em momento futuro. A criança não é cidadã do futuro, mas já é cidadã hoje, e, nesse sentido, conhecer

ciência é ampliar a sua possibilidade presente de participação social e viabilizar

sua capacidade plena de participação social no futuro. (BRASIL, 2001:22-23)

Sobre tais possibilidades e desenvolvimento, Carvalho (2010) aponta:

Nessa etapa do ensino fundamental, ao resolverem o problema proposto, os

alunos devem tomar consciência de algumas variáveis envolvidas no fenômeno e

achar a relação entre elas. Durante o desenvolvimento escolar, de quinta a oitava

série, esses significados, esses “conhecimentos provisórios”, deverão ser organizados, adquirindo novos significados; as relações entre as variáveis, agora

somente apontadas, mais tarde serão matematizadas e estruturadas em leis e

teorias. A escola deve trabalhar com a ideia de que a própria Ciência é provisória, de que

é continuamente reconstruída - estamos sempre criando novos significados na

tentativa de explicar nosso mundo. A história das Ciências nos mostra essa

evolução. Os professores das primeiras séries não precisam estar preocupados

em sistematizações fora do alcance dos alunos: assim como a Ciência evoluiu

nos séculos, também nossos alunos irão evoluir e reconstruir novos significados

para os fenômenos estudados. (CARVALHO et al, 2010:13)

Desta forma, o ensino de ciências é visto como uma das possibilidades de se

compreender o fazer científico como uma construção humana, não neutra, histórica,

colaborativa e oriunda de problemas e motivações que emergem da sociedade (Gil Perez

11

Grifo do autor

69

et al, 2001), tornando a sua funcionalidade e pertinência acessível e essencial a todos.

Ao aproximar a ciência do cotidiano do aluno, considerando a investigação, a

problematização, a experenciação, a observação e os processos de interação e

colaboração, o professor está contribuindo para a formação de uma visão sobre as

ciências e seus modelos que se ancora, a partir da atribuição de significados reais, à vida

social e individual de cada um.

Conforme Driver (1994):

O desafio está em ajudar os aprendizes a se apropriarem desses modelos, a

reconhecerem seus domínios de aplicabilidade e, dentro desses domínios, a

serem capazes de usá-los. Se ensinar é levar os estudantes às ideias

convencionais da ciência, então a intervenção do professor é essencial, tanto para

fornecer evidências experimentais apropriadas como para disponibilizar para os

alunos as ferramentas e convenções culturais da comunidade científica.

(DRIVER, 1994:34)

2.3.3 As novas tecnologias e o ensino de ciências

Nas pesquisas sobre ensino de ciências, as contribuições da integração das

tecnologias vêm se consolidando através de trabalhos (Gabini e Diniz, 2012; Macedo,

Nascimento e Bento, 2013; Martinho e Pombo, 2009; Garcia e Ortega, 2007) que visam

extrapolar a mera transmissão de conceitos e fatos. As possibilidades de utilização e as

diferenças que as tecnologias podem exercer nas aulas são variadas, permitindo o

desdobramento de uma extensa lista de indicações, estratégias e caminhos. Porém, o

objetivo deste trabalho é refletir acerca de onde e como as tecnologias podem contribuir

para um ensino de ciências contextualizado.

Como recurso integrador, as tecnologias são tidas nos referenciais e diretrizes

como um meio capaz de ampliar as estratégias metodológicas, atribuindo-lhe sentido e

direção:

70

Organicamente articuladas, a base comum nacional e a parte diversificada

são organizadas e geridas de tal modo que também as tecnologias de

informação e comunicação perpassem transversalmente a proposta

curricular desde a Educação Infantil até o Ensino Médio12, imprimindo

direção aos projetos político-pedagógicos. Ambas possuem como referência geral o compromisso com saberes de dimensão planetária para que, ao cuidar e

educar, seja possível à escola conseguir: I – ampliar a compreensão sobre as relações entre o indivíduo, o trabalho, a

sociedade e a espécie humana, seus limites e suas potencialidades, em outras

palavras, sua identidade terrena; II – adotar estratégias para que seja possível, ao longo da Educação Básica,

desenvolver o letramento emocional, social e ecológico; o conhecimento

científico pertinente aos diferentes tempos, espaços e sentidos; a compreensão do

significado das ciências, das letras, das artes, do esporte e do lazer; III – ensinar a compreender o que é ciência, qual a sua história e a quem ela se

destina; IV – viver situações práticas a partir das quais seja possível perceber que não há uma única visão de mundo, portanto, um fenômeno, um problema, uma

experiência podem ser descritos e analisados segundo diferentes perspectivas e

correntes de pensamento, que variam no tempo, no espaço, na intencionalidade; V – compreender os efeitos da “infoera”, sabendo que estes atuam, cada vez

mais, na vida das crianças, dos adolescentes e adultos, para que se reconheçam,

de um lado, os estudantes, de outro, os profissionais da educação e a família,

mas reconhecendo que os recursos midiáticos devem permear todas as atividades

de aprendizagem. (BRASIL, 2013:33)

Nesta perspectiva, as Tecnologias da Informação e Comunicação alcançam um

patamar pouco atribuído a outros recursos estratégicos, pois suas possibilidades são

reconhecidamente próprias e praticamente únicas, uma vez que “que permitem el acceso

a una cantidad ingente de información y abre nuevos canales de comunicación

rompiendo, como se ha dicho tantas veces, barreras temporales y espaciales” (Garcia e

Ortega, 2007:564).

Para o ensino de ciências, tais contribuições se evidenciam principalmente

porque “as diferentes possibilidades de interação e formas de linguagem permitem que a

educação em ciência seja um processo que se construa em diversas frentes e em

diferentes formatos” (Macedo, Nascimento e Bento, 2013:21), da mesma forma que

contribui para a difusão e expansão das ciências através dos diversos veículos de

12

Grifo do autor

71

comunicação síncrona e assíncrona atuais. Esta facilidade promove nos alunos a

possibilidade de se sentirem capazes de fazer parte deste fazer científico de alguma

forma, seja atuando diretamente com os conceitos e teorias integrados ao cotidiano, seja

pela reflexão histórica e social dos mesmos.

O uso das NTIC pode também funcionar como um elemento capaz de propiciar

a interdisciplinaridade, integrando conteúdos e abordando sua dimensão complexa e

constextualizadora, principalmente pela possibilidade do trabalho por projetos,

extravazando as simples experiências empiristas com o único intuito de reproduzir

vivências dos cientistas. Sobre esta potencialidade, Almeida (2000) afirma que:

Alunos e professores – sujeitos da própria ação – participam ativamente de um

processo contínuo de colaboração, motivação, investigação, reflexão,

desenvolvimento do senso crítico e da criatividade, da descoberta e da

reinvenção. É a superação tanto da perspectiva instrucionista como da

empiricista ou experimental, a partir da resolução de problemas que surgem no

contexto social, que faz uso de ferramentas culturais como elementos de

transformação social. Os problemas ou projetos trazem embutidos conceitos de

distintas áreas inter-relacionadas em uma situação real e singular, que ignora a compatimentalização do conhecimento. Um ambiente criado e explorado segundo essa abordagem favorece a integração

em rede entre diferentes formas e conteúdos de conhecimento; desconsidera as

barreiras entre as disciplinas; propicia relações de parceria e reciprocidade que

caracterizam uma perspectiva interdisciplinar. (ALMEIDA, 2000:38)

Assim, ao destacar a potencialidade integradora e interdisciplinar das NTIC para

o ensino e compreendendo que há uma estreita e necessária relação estabelecida entre

os pressupostos educacionais, as tecnologias na educação e o ensino de ciências,

debatido e refletido a partir das considerações anteriores, faz-se necessário, a partir do

capítulo seguinte, delinear os aspectos metodológicos que conduzirá e orientará as

ações e análises que comporá esta pesquisa.

72

Capítulo 3

3. Metodologia

3.1 A pesquisa, suas perspectivas e correntes.

Quando se planeja uma pesquisa há várias opções metodológicas que orientam

escolhas e definem o caráter da mesma, tornando possível atingir os objetivos da

investigação. Esteban (2010) considera que é essencial definir e fundamentar as

escolhas teórico-metodológicas evitando possíveis desencontros e contradições entre o

que se acredita (referenciais teóricos) e o que se realiza (atividades práticas) durante o

processo investigativo.

Por ser tratar de uma pesquisa na área educacional, com grande abertura para a

subjetividade e interpretação, este trabalho se enquadra dentro dos perfis da Pesquisa

Qualitativa. Para Minayo (2001, apud Gehardt e Silveira - 2009: 32) “a pesquisa

qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,

valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos

processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de

variáveis”.

Tendo seu inicio no século XIX no contexto das Ciências Sociais, a Pesquisa

Qualitativa se expandiu para a Psicologia, Antropologia e demais ciências que buscam

compreender os processos de interação social e de relações humanas. Na Educação

encontrou um vasto campo, principalmente por valorizar os processos construtivos de

conhecimento e aprendizagem, além de considerar o papel do pesquisador como

agente ativo nestes processos.

Mesmo sendo a Pesquisa Qualitativa uma forma aberta e com certo caráter de

73

subjetividade de se realizar uma investigação científica, ainda assim é fundamental que

se definam previamente as Perspectivas Epistemológica e Teórica da pesquisa. A

definição da Perspectiva Epistemológica consiste na apresentação da visão de

Epistemologia que o pesquisador considera para orientar seu trabalho.

Uma perspectiva epistemológica é uma forma de compreender e explicar como conhecemos o que sabemos: Que tipo de conhecimento obteremos em

uma pesquisa? Que características terá esse conhecimento: Que valor

podemos dar aos resultados obtidos? Essas, entre outras, são questões

epistemológicas. Cada postura epistemológica é uma tentativa de explicar

como obtemos um determinado conhecimento da realidade e de determinar o

status que se deve atribuir às interpretações que realizamos e às

compreensões que alcançamos. (ESTEBAN, 2010:50).

Segundo Crotty (apud Esteban, 2010) é possível identificar três perspectivas

epistemológicas fundamentais: o objetivismo, o construncionismo social e o

subjetivismo. Dentre estas, destaca-se o construcionismo social que considera o

conhecimento como uma construção humana, que advém da relação entre os sujeitos e

seu entorno, capaz de modificar o seu meio e a si próprio. Rejeita a ideia de que há

uma verdade objetiva a ser descoberta a qualquer momento e salienta que a construção

é pessoal, onde diferentes pesquisadores podem construir diversos significados em

relação aos mesmos fenômeno e materiais de análise. Diante de tais referenciais, a

pesquisa em questão se aproxima e se enquadra dentro da perspectiva epistemológica

construcionista, uma vez que acredita no processo contínuo, dinâmico e processual da

construção do conhecimento, a partir das relações estabelecidas entre aluno/aluno,

aluno/professor e aluno/ambiente, tornado os sujeitos agentes ativos e responsáveis por

tal processo.

Em relação à Perspectiva Teórica, onde são apresentadas a “postura filosófica

subjacente a uma metodologia e que proporciona um contexto e uma fundamentação

74

para o desenvolvimento do processo de pesquisa e uma base para sua lógica e seus

critérios de validação” (Crotty, apud Esteban 2010:52), dentre as três perspectivas

apresentadas - positivista, interpretativista e sociocrítica - esta pesquisa se pauta na

Perspectiva Interpretativista, uma vez que busca interpretar as relações e interações

que promovem a construção do conhecimento, atribuindo significado à ação humana e

ao seu contexto, buscando sempre a compreensão do fenômeno social. No

interpretativismo, encontram-se ainda as correntes fundamentais que lhes conferem

forma e o interpretam: Hermenêutica, Fenomenologia, Interacionismo Simbólico,

Teoria Crítica, Feminismo e Pós-Modernismo. Dentre elas, destaca-se o

Interacionismo Simbólico, pelo qual

(...) devemos ser capazes de tomar o lugar de outros. Essa tomada de papel é

uma interação. É uma interação simbólica porque só é possível para os

“símbolos significativos”, isto é, a linguagem e outras ferramentas

simbólicas que os seres humanos compartilham e por meio dos quais

comunicamos. Só através do diálogo podemos ser conscientes das

percepções, dos sentimentos e das atitudes de outros e interpretar seu

significados. Vem daí o termo interacionismo simbólico. (CROTTY, apud

ESTEBAN, 2010, pg 67)

Tomando a visão de Crotty e considerando o apontamento de Esteban (2010:67)

quando afirma que nesta corrente “considera-se a experiência não uma sequência de

sensações isoladas, mas como um mundo de fenômenos inter-relacionados que

tomamos como certos, que aceitamos em nossa vida diária”, esta pesquisa se situa na

corrente citada, por considerar seu caráter processual, flexível, experimental e

interativo, além de buscar promover as relações interpessoais, o protagonismo, a

colaboração e, principalmente, por considerar todos os papéis envolvidos e seus

olhares - pesquisador, professor, aluno e cenário.

3.2 Abordagem e métodos

75

É possível definir a abordagem mais condizente com o desenvolvimento desta

pesquisa como sendo a Pesquisa Colaborativa que, segundo Chacon (2012), se

caracteriza como uma modalidade da pesquisa-ação, cuja “abordagem de investigação

na área da Educação busca romper com os modelos empírico-analíticos predominantes

de pesquisa”. Uma particularidade desta modalidade é a diversidade de meios de coleta

de dados possíveis, o que vai ao encontro do planejado, uma vez que a faixa etária dos

sujeitos pesquisados requer uma variação de meios e formas de intervenção e coleta

para se atingir a amplitude dos objetivos.

Outro aspecto identificado neste cenário é o papel do pesquisador perante os

sujeitos pesquisados, a problemática e o contexto. Devido ao planejamento inicial que

previa a comparação entre situações, alguns momentos da sequência didática foram

pensados de forma á promover a “experienciação” planejada e intencional por parte do

grupo. Assim, o papel do pesquisador se assemelha ao desenvolvido em uma

“Pesquisa Participativa” ou “Observação Participante”, como apontam Lakatos e

Marconi (2003), quando definem que esta “consiste na participação real do

pesquisador com a comunidade ou grupo. Ele se incorpora ao grupo, confunde-se com

ele”. Da mesma forma, na pesquisa colaborativa a ação desempenhada pelos sujeitos

envolvidos no processo (pesquisador, professor da sala e alunos) se confunde

naturalmente, revelando notoriedade ou saindo de cena quando necessário. Como

aponta Ibiapina e Sousa (2010):

(...) os professores participantes não são considerados apenas como objeto de

análise, mas sujeitos cognoscentes, ativos, agentes que contribuem com a

produção de novos conhecimentos, imbuídos de uma postura de co-

responsabilização a respeito das situações em que estão inseridos. A pesquisa

colaborativa rompe então, com a lógica da racionalidade técnica que se restringe

a descrever e analisar a prática pedagógica. Os docentes nesse contexto, junto

com o pesquisador tomam parte do processo investigativo e assim, “as pesquisas deixam de ser sobre o professor e passam a investigar com o professor ".

(IBIAPINA e SOUSA, 2010:08)

76

Neste movimento de colaboração e construção mútua, os sujeitos que integram

todo o processo e aplicação visam, acima de tudo, a transformação da ação e da prática

e para tanto reformulam constantemente os meios e propostas que norteiam a ação

educativa. Assim, esta pesquisa objetiva a realização de uma análise de como as

ciências e os experimentos científicos podem ser abordados com a utilização de

tecnologias digitais e ambientes tecnológicos, no ciclo I do ensino fundamental, a

partir dos referenciais teóricos selecionados. Foram planejadas e aplicadas atividades

acerca de conteúdos e experiências científicas, com a utilização dos recursos

midiáticos para coleta de dados, pesquisa exploratória, softwares, objetos de

aprendizagem, entre outros.

O planejamento das atividades foi realizado em parceria com os professores das

turmas, sendo aplicadas por eles em conjunto com a pesquisadora, cabendo a esta

também o acompanhamento e a coleta dos documentos escritos e registros produzidos

para análise posterior.

Mais especificamente, o método de pesquisa comparativo norteou a coleta de

dados acerca das preferências metodológicas dos alunos. Visando evitar influências

externas e a atribuição de valores por parte dos professores e da pesquisadora, a coleta

procurou respeitar as características subjetivas e influenciáveis do método comparativo

com sujeitos humanos. O planejamento não previa uma comparação entre duas turmas

que receberiam estímulos e propostas distintas (atividades experienciais/tecnológicas e

atividades convencionais/instrutivas) durante todo o processo de coleta de dados, mas

uma tentativa de comparação entre ambas as turmas que receberam os mesmos

estímulos e propostas de forma alternada em momentos diferentes, não deixando de

77

serem oferecidas as mesmas condições e oportunidades aos envolvidos. Espera-se que

esta organização possa garantir a igualdade de condições para a produção de sentidos

nas turmas.

Como atividades experienciais/tecnológicas, são consideradas as planejadas para

a utilização de recursos variados, entre eles, os recursos tecnológicos disponíveis na

escola e que foram utilizados a partir de uma intencionalidade pedagógica clara e

descritos na sequência didática. Como atividades convencionais/instrutivas, são

consideradas aquelas que habitualmente utilizam como únicos recursos textos

informativos contidos nos livros didáticos, cópias de textos da lousa, exposição oral

para explicação do conteúdo e questionários estruturados e fechados como atividades

avaliadoras do conteúdo passado.

Para a comparação dos resultados, ambas as turmas tiveram contato com as duas

formas de planejamento e condução das aulas, de forma alternada e na mesma

proporção referente ao período de coleta de dados a partir de questionários

semiestruturados, como apresentado no quadro 1. Esta organização buscou a não

influência tendenciosa na coleta dos dados.

Quadro 1: Esquema de aplicação do método comparativo para as duas turmas.

Turma A Turma B

Conteúdo A Estratégia metodológica Instrucional e convencional

Estratégia metodológica Tecnológica e diversificada

Conteúdo B Estratégia metodológica Tecnológica e diversificada

Estratégia metodológica Instrucional e convencional

3.3 Caracterização do local e sujeitos da pesquisa

78

Visando a formalização do processo, o projeto de pesquisa foi submetido ao

CEP Conselho de Ética em Pesquisa (CEP) e à Secretaria de Educação (SE) do

Município de São Bernardo do Campo, rede educacional onde a Unidade Escolar (UE)

está inserida. Foi recebido do CEP o Parecer Consubstanciado13

de pesquisa com

sujeitos e da SE a autorização14

para o desenvolvimento das atividades relativas ao

projeto.

A Unidade Escolar alvo da pesquisa está situada na região central do município

de São Bernardo do Campo (SBC) e conta, em sua infraestrutura, com um prédio de

dois andares (sem rampas ou elevadores) no qual estão distribuídos:

● 15 salas de aulas

● 1 ateliê de artes

● 1 laboratório de Informática com 18 computadores

● 1 biblioteca interativa

● 1 refeitório com cozinha

● 1 quadra poliesportiva

● 1 pátio interno e externo

● 1 cozinha

● 1 secretaria de atendimento administrativo

● Salas de uso específico (sala de professores, direção, coordenação

pedagógica)

● Salas de atendimento específico (DI - deficiência intelectual - e DA -

Deficiência Auditiva)

● Outros espaços de estoque e armazenagens em geral. 13 Anexo 1 14

Anexo 2

79

● Dispositivos móveis de uso discente (laptops educacionais)

A escola segue um padrão de estrutura e atendimento definidos pela rede

municipal de SBC, preservando as peculiaridades do bairro e comunidade interna e do

entorno. Os espaços comuns tem seu uso garantido em grade de horário de 45 minutos,

uma ou duas vezes na semana de acordo com a orientação curricular, podendo ser

expandido por agendamento dos horários livres a partir do interesse ou necessidade do

professor de cada turma. As atividades desenvolvidas no Laboratório de Informática

tem a parceria e acompanhamento da PAPE15

da unidade

Outra característica peculiar da UE é o atendimento de um grande numero de

crianças com necessidades educacionais especiais por deficiências variadas, tanto

motora quanto intelectual e auditiva. Esta última se justifica pela implantação na UE do

polo de atendimento ao aluno com surdez. Tal diversidade de atendimento transforma o

perfil da comunidade de modo geral, devido principalmente ás distâncias variadas de

residências e estilos de vida característicos de cada região onde as famílias estão

inseridas, além de promover no grupo de professores que atuam nesta UE um

movimento maior de busca formativa e estabelecimento de parcerias produtivas. Este

cenário foi fundamental para a relação entre os professores das turmas participantes e a

pesquisadora.

A escolha do ano/ciclo16

se deu primeiramente pelo desejo de uma das

15

PAPE (Professor de Apoio aos Programas Educacionais): Esta função é ocupada por professores da rede de SBC

em função gratificada e que atuam dentro dos laboratórios de Informática de cada UE, estabelecendo uma relação

direta no planejamento, acompanhamento e desenvolvimento de atividades, sequenciadas e projetos com o uso das mídias em geral (Laboratório e Laptops). A ação destes profissionais visa atender as necessidades dos professores e acompanhar as aulas com alunos, dando suporte necessário para a autonomia de professores e alunos no uso das NTICs contextualizadas ao currículo. 16

Na rede Municipal de São Bernardo do Campo o sistema educacional é dividido em 2 ciclo de trabalho. O ciclo

inicial compreende o 1º, 2º e 3º anos com crianças entre 5 a 8 anos. O ciclo II compreende o 4º e 5º anos com crianças entre 9 e 10 anos (salvo as exceções de idade, como repetência, necessidades educacionais especiais e entrada tardia na escola). A organização do ciclo considera o período de desenvolvimento do aluno e respeita o tempo necessário para o acompanhamento dos conteúdos e desenvolvimento de competências e habilidades

80

professoras em trabalhar de forma diferenciada como meio de conhecer novas

estratégias viáveis ao ensino e posteriormente pela aceitação da segunda professora,

configurando assim o quadro necessário para a comparação planejada. Logo em seguida

foi realizada, juntamente com as professoras das turmas uma análise no PPP17

do ano

ciclo e identificados conteúdos relacionados á história das tecnologias e seu

funcionamento, como possibilidade de desenvolvimento da SD.

As turmas participantes das pesquisas faziam parte do 2º ano do ciclo inicial,

estando uma no período matutino e outra no vespertino, com 28 alunos cada, com

idades entre sete e oito anos, totalizando 56 alunos. Entre os alunos da turma A havia

duas alunas com surdez que faziam uso da LIBRAS18

e de intérprete em grande parte do

tempo. Entre os alunos da turma B havia um aluno com comprometimento intelectual

(certo grau de autismo), acompanhado constantemente por uma estagiária de inclusão

do curso de pedagogia de faculdade conveniada á Prefeitura Municipal de SBC. De

modo geral, foram garantidas as mesmas condições de trabalho com as duas turmas,

inclusive com o agendamento de aulas extras não prejudicando o planejamento geral do

2º ano do ciclo inicial e tendo sido acordado com os demais professores do mesmo

ano/ciclo não participantes da pesquisa.

A escolha dos instrumentos de coleta de dados levou em consideração a

diversidade de possibilidades para este tipo de pesquisa, ou seja, pesquisa qualitativa na

abordagem de estudo de caso (Oliveira, 2010). Os seguintes instrumentos foram

empregados:

imprescindíveis para o ciclo, sendo adotadas todas as medidas quando o não acompanhamento já é identificado logo no inicio de cada um. 17

PPP (Projeto Político pedagógico) é o documento central que move o funcionamento da escola durante o ano. Na

rede educacional de SBC é prática comum a elaboração a partir da participação coletiva de todos os envolvidos. 18

LIBRAS - Lingua brasileira de Sinais.

81

● Produções escritas

● Produções ilustrativas

● Registro de foto/filmagem

● Diário de observação da pesquisadora

● Questionário semiestruturado do aluno

● Questionário semiestruturado do professor (direto e indireto)

● Questionário semiestruturado da Equipe de Gestão

Bogdan e Biklen (1994) consideram que tais instrumentos possuem um grande

potencial de coleta de dados para a pesquisa qualitativa, ampliando o campo de

observação e contribuindo para análise e resultados que contemplem a dimensão da

mesma. Objetivando uma coleta de dados ampla e diversificada, foi planejada a

Sequencia Didática (SD) “Os contos de fadas e as invenções tecnológicas”, que

conduziu o desenvolvimento de atividades visando atender ao problema central e atingir

os objetivos apresentados.

82

Capítulo 4

4. A sequência didática “Os Contos de Fadas e as Invenções

Tecnológicas”

A sequência didática (SD) foi planejada de modo a propiciar oportunidades para

a:

● Organização grupal de trabalho, proporcionando relações pessoais e

interações sociais entre aluno-aluno e aluno-professor, oportunizando o

desenvolvimento da aprendizagem a partir do diálogo e da construção

coletiva.

● Utilização de variados recursos midiáticos e convencionais procurando

abarcar diferentes formas de aprendizagens e uma relação com os

conteúdos de forma integrada e contextualizada ao currículo.

● Problematização constante e motivadora, buscando incentivar o espírito

investigativo e o interesse pelos conteúdos científicos de forma

significativa.

● Produção autoral coletiva e individual durante todo o desenvolvimento

da SD, culminando em um produto real e socialmente funcional.

A partir de uma formação realizada pelo grupo escolar em 2008, denominada

“Curso em parceria”, no qual profissionais de áreas curriculares específicas escolhidas

pelas unidades escolares da rede estabeleciam uma parceria financiada pela Secretaria

de Educação visando atender os grupos em suas maiores dificuldades, foi reestruturada

a matriz programática19

dos conteúdos de ciências de 1º ao 5º ano. Organizada de

19

Anexo 3

83

modo a ampliar a sequência de conteúdos apresentados nos livros didáticos, a proposta

apresentada pelo professor Ophelis A. Françoso (USP) sugeria que os temas não

deveriam aparecer estanques em cada ano, de forma única e finita, mas sim fossem

apresentados gradualmente ano a ano de forma crescente, organizados por eixos tendo

seu aprofundamento de acordo com a faixa etária. Esta organização curricular dos

conteúdos das ciências pode contribuir para a compreensão gradativa dos temas,

mostrando uma relação crescente e suas varias aplicações no cotidiano, além de tornar

o livro didático um recurso e não apenas o único fim para o ensino das ciências que

deve ser seguido rigorosamente.

Assim, partindo dos conteúdos apresentados no eixo 4 (Tecnologia, energia,

transformações das matérias – físicas e químicas), que para a faixa dos 8 anos de idade

previa o trabalho com peso, massa, força, máquinas simples, polias, roldanas,

engrenagens, alavancas, balança-dinamômetro, e da parceria estabelecida entre as

professoras das turmas e a pesquisadora, que na ocasião atuava como a professora

mediadora dos recursos informacionais e tecnológicos da escola (PAPE), foi elaborado

o projeto “Os contos de Fadas e as invenções tecnológicas” com intuito de desenvolver

estratégias de ensino que utilizem os recursos tecnológicos para abordagem de

conceitos científicos e aspectos históricos de certas invenções de forma dinâmica,

concreta e significativa para os estudantes do segundo ano do ciclo I do ensino

fundamental. A opção por se trabalhar com contos de fada se deve ao fato de se tratar

de um gênero textual conhecido pela maioria das crianças, com potencial para criação

do enredo necessário para o estabelecimento de relações entre o fantástico e o real.

A estrutura da sequência é composta por sete eixos temáticos que foram

trabalhados ao longo do ano letivo de 2013, cada um contendo:

84

● 1 conto de fadas;

● 1 invenção tecnológica condizente com a problemática do conto;

● 1 mecanismo responsável pelo funcionamento da invenção tecnológica

abordada;

● 1 conceito físico constante na invenção tecnológica abordada;

● 1 montagem com material estruturado (estratégias tecnológicas e diversificada);

● 1 momento de pesquisa;

● 1 momento de tratamento da informação;

● 1 momento de ilustração tecnológica ou real (estratégias tecnológicas e

diversificada);

A tabela 2 mostra os contos de fadas, a invenção tecnológica e o mecanismo

constantes em cada eixo.

Tabela 2: Os eixos constantes no projeto, com os respectivos contos, invenções e

mecanismos.

Eixo Conto de Fadas Invenção Tecnológica Mecanismo

1 João e o pé de feijão Elevador Manivela

2 A princesa e o grão de Ervilha Guindaste Polias e Roldanas

3 Branca de neve e os 7 anões Batedeira Engrenagens

4 Cinderela Carros Rodas e Eixos

5 A pequena Sereia Caravela Estrutura

6 Rapunzel Escorregador Plano Inclinado

7 A Bela Adormecida Catapulta Alavanca

Os conceitos físicos trabalhados com os alunos numa abordagem inicial a partir

85

da tentativa de compreender o funcionamento dos mecanismos foram: movimento e

repouso, direção e sentido, movimentos retilíneos e circulares, forças e equilíbrio,

energia.

O desenvolvimento de cada eixo, com as estratégias metodológicas tecnológica

e diversificada, se deu por uma série de atividades que envolviam estratégias e

vivências diversas, compreendidas nas seguintes etapas:

● A apreciação dos contos escolhidos: A professora da turma lia o conto para as

crianças ou o exibia através de filme. O trabalho com outras mídias, portadores e

gêneros textuais variados, com linguagens e formatos diversos, pode propiciar

uma aprendizagem integral, além da inclusão de alunos com dificuldades de

aprendizagem e com necessidades educacionais especiais. O contato com

diversas versões de um mesmo conto, em formatos (escrita/leitura, áudio/vídeo)

e portadores (livros, filme, revista, CD) diversos, promovia o confronto e

garantia o debate sobre ponto de vista, diferenças de obras e as influências

culturais possíveis.

● Levantamento da problemática central: para introduzir a invenção

tecnológica anacrônica ao período do conto assistido pela turma, foi preciso dar

ênfase a uma situação problema apresentada no conto e fomentar o levantamento

de ideias e sugestões por parte das crianças. Soluções para ajudar o João a subir

com a família para o castelo depois da morte do gigante, como ajudar a princesa

a subir na torre tão alta feita de colchões ou o quê poderia auxiliar Branca de

Neve a fazer tantas panquecas para o café da manhã dos anões, foram algumas

perguntas colocadas para estimular a reflexão coletiva.

● Levantamento de Hipóteses: falar, ouvir, respeitar sua vez, considerar a ideia

86

do colega, refletir sobre as hipóteses, refutar, analisar, reconsiderar, escolher.

Tudo isso trabalhado em um momento de conversa coletiva. De posse da

situação problema, os alunos faziam uma “tempestade de ideias” das possíveis

soluções, que foram todas anotadas e, em um segundo momento, questionadas

sobre sua pertinência ou funcionalidade para resolver a situação. Assim, cada

ideia foi refletida e classificada como possível ou não. Em outro momento,

somente as possíveis foram conduzidas a uma reflexão para chegar à invenção

tecnológica planejada. Esta era apresentada em imagens em suas diversas formas

e funcionalidades, juntamente com a explicação da professora para encerrar esta

etapa.

● Montagem com material estruturado: Uma forma de concretização da

invenção selecionada, de promoção do lúdico e do raciocínio, é a utilização do

material estruturado. No caso, foi usada a caixa 9674 da Lego Dacta (Edacom),

disponível na rede municipal de Educação. A proposta inicial era a montagem,

em grupos, da invenção trabalhada e depois problematizá-la. Por exemplo, no

conto do “João e o pé de feijão”, todos montaram a mesma proposta do elevador

utilizando a ficha de montagem, trabalhando a leitura do texto instrucional por

imagens. Ao final desta etapa a professora acrescentou problemática, tais como:

adaptar o suporte do elevador para o João levar toda a família de uma vez, assim

como nos demais, como fazer com que as pás da batedeira da Branca de Neve

girem mais rápido, ou dar mobilidade ao guindaste do quarto da Princesa. Este

momento da adaptação da montagem foi dos mais ricos. Os alunos colocaram

em jogo o conhecimento adquirido, os poderes da argumentação, do teste

experimental, da comprovação e da escolha. Era preciso trabalhar em grupo,

ceder e negociar em uma idade onde o “meu” tem o maior valor. Por fim, a

87

socialização do elaborado privilegia a comunicação, a expressão oral e a

apresentação.

● Pesquisar, aprofundar, conhecer: a etapa da pesquisa teve a intenção

primordial de fazer com que os alunos percebessem que toda invenção

tecnológica é uma produção humana, que as mesmas passam por transformações

evolutivas ao longo da história e, principalmente, que existe uma forma de

funcionamento (o mecanismo) que seria destacada posteriormente. Estes

momentos propiciavam também o espírito investigativo, a seleção do conteúdo

estudado, o foco, a sistematização e tratamento das informações. Desta forma,

era apresentado aos alunos uma das muitas formas de se consumir informações

transformando-as em conhecimento. As formas de pesquisas variaram entre as

diversas fontes (Internet, livros, revistas, jornais) e com recursos e locais

diferenciados (Laboratório de Informática, net books, biblioteca interativa, sala

de aula, casa), mostrando que existem diversos meios de buscar informações

necessárias. Os roteiros elaborados para orientação procuraram fazer com que os

alunos buscassem as informações necessárias a partir de uma leitura global e não

por escolhas de frases determinadas.

● Retomada da pesquisa, descoberta do mecanismo: a retomada coletiva da

pesquisa era realizada para promover o tratamento das informações encontradas,

confrontando fontes variadas e informações divergentes encontradas pela turma.

Este momento também foi utilizado para a delimitação da pesquisa até chegar ao

mecanismo que é ou foi responsável pelo funcionamento da invenção

tecnológica estudada. O relacionamento do mecanismo com o cotidiano e a

atribuição de funcionalidade ao mesmo foi um momento de descoberta e euforia

pelos alunos.

88

● Compreensão do conceito: o trabalho com alguns conceitos científicos da

Física surgiram ao se abordar o mecanismo. O “como funciona” era o disparador

do tema e através de questões que induzem a participação por levantamento de

hipóteses, os alunos construíram sentidos para o conceito planejado. Perguntas

como “Se eu virar a manivela para a direita o que acontece? E se for para a

esquerda?” faziam os alunos perceberem que a ação determina a direção - em

cima/em baixo, subir/descer, direita/esquerda - ou “Se puxarmos esta corda sem

nenhum mecanismo o que acontece? E agora que colocamos a polia lá em cima,

o que mudou?”

● Ilustração tecnológica ou real: quanto maior o estímulo aos alunos através de

atividades concretas ou ilustradas com objetos de aprendizagens, maior é a

resposta positiva, coerente e significativa que se espera que eles produzam.

Desta forma, agregou-se ao trabalho momentos onde a turma assistia uma

animação, brincava em jogos virtuais, ou passavam por situações reais que

promoviam a reflexão sobre o conceito. Utilizar a batedeira montada com o

material estruturado para fazer espuma em um recipiente com água e detergente

é uma tarefa fácil e mais fácil ainda é testar a troca de tamanho das engrenagens,

das pás, da manivela para verificar a mudança. “O que acontece?” “Quem faz

mais espuma? O que tem de diferente na montagem deste grupo?” Fazer uma

roda dentro da outra com os alunos e contar em um mesmo tempo determinado

quem deu mais voltas, a grande ou a pequena, pode ajudá-los a responder

questões como: “Então, quando usamos umas engrenagens pequenas na

montagem para fazer a mesma espuma da outra, ela terá que dar mais ou menos

voltas?” “O esforço de quem move é maior ou menor?” E assim, é possível

construir gradualmente uma conceituação teórica a partir dos momentos

89

vivenciados na prática, no lúdico, no virtual.

Durante o desenvolvimento dos eixos com as estratégias metodológicas

instrucional e convencional, o trabalho foi conduzido da seguinte forma:

● A apreciação dos contos escolhidos: O conto de fadas foi oferecido aos alunos

de forma literária, assim como é realizada a leitura diária, com momentos

posteriores de conversa, tira-dúvidas e tradução simultânea para a Libras,

atendendo as necessidades dos alunos com deficiência auditiva.

● Levantamento da problemática central: com o mesmo objetivo explicitado

anteriormente, a problemática do conto era introduzida de forma oral ou às vezes

utilizando alguns recursos visuais, como ocorrem nos livros paradidáticos.

● Levantamento de Hipóteses: O momento do levantamento de hipóteses se dava

da mesma forma que a estratégia anterior, com espaço para falar, ouvir,

argumentar, refutar hipóteses e ideias, individuais e coletivas. Uma curiosidade

desta etapa era o fato de terem poucas sugestões em relação à estratégia anterior,

como se não entrassem no conto ou na fantasia criada.

● Pesquisar, aprofundar, conhecer: da mesma forma que ocorre com os textos

informativos trabalhados a partir de do livro didático ou de “folhinhas

xerocadas”, a pesquisa nesta etapa se restringiu a uma folha com uma única

versão sobre a invenção tecnológica destacada e com questionário de busca de

resposta logo abaixo, uma ou outra imagem como ilustração. Era visível a

frustração dos alunos, principalmente depois de saberem que podiam pesquisar

verdadeiramente, confrontando fontes e agregando gêneros e portadores

distintos.

● Retomada da pesquisa, descoberta do mecanismo e Compreensão do

conceito: geralmente conduzíamos a descoberta do mecanismo a partir de

90

alguma questão ao final da folha com o texto informativo, o que disparava a

conversa sobre o mesmo. Como a interação era limitada, tanto quanto os

recursos, já introduzíamos a explicação do conceito física através de uma aula

dialogada, desenhos na lousa e imagens impressas para ilustração. Pequenas

demonstrações com recursos disponíveis na sala eram inseridas, quando os

alunos sentiam a necessidade de aprofundar o tema.

A princípio, ambas as turmas passariam por todos os eixos, alternando a forma

de desenvolvimento dos mesmos. Porém, a demanda organizacional e administrativa

da turma B fez com que a professora optasse pela não conclusão da SD durante o

desenvolvimento do eixo 6. Vale ressaltar que um mesmo eixo temático foi trabalhado

em ambas as turmas, porém numa de modo convencional/instrucional - através de

leitura textual, cópia textual, rodas de conversas, preenchimento de questionário com

uma única fonte comum de busca de informações e desenho como registro - enquanto

que a outra turma recebeu o mesmo conteúdo previsto para o eixo só que através de

meios tecnológicos, recursos variados, atividade práticas, além das rodas de conversa,

produções e sistematizações, como descritos nas etapas da SD. No eixo seguinte os

conteúdos foram oferecidos seguindo a mesma organização, porém nas turmas

contrárias, ou seja, a turma que trabalhou convencionalmente passou a trabalhar de

forma diversificada e variada e assim sucessivamente.

No desenvolvimento da SD empregando os recursos tecnológicos e estratégias

diversificadas, algumas situações eram privilegiadas nos eixos e outras não cabiam, ou

por não contribuir com o tema em questão, ou por não ser possível encontrar materiais

adequados. A condução dos eixos se deu conforme mostra a tabela 3.

Tabela 3: Recursos usados nos eixos quando a SD era trabalhada com as novas

91

tecnologias e estratégias diversificadas.

Ao final do projeto, os alunos produziram coletivamente um álbum de

figurinhas20

contendo ilustrações de personagens dos contos, dos recursos

tecnológicos, dos mecanismos e de conceitos da Física. Este produto final elaborado

foi adequado à faixa etária da turma, dando sentido à função social e real da escrita,

colocando a prova todo o conteúdo abordado durante o projeto revisitando-o de forma

significativa e contextualizada, além de estimular a autoria.

Todo o registro fotográfico, produções, filmagens e materiais utilizados como

suporte, além do relato do processo e cada etapa dos sete eixos temáticos, podem ser

apreciados no veículo de comunicação elaborado a pedido dos pais e da comunidade

escolar que acompanhou direta ou indiretamente a SD no seguinte endereço:

http://labneusamacellaro.wix.com/tecnologiasnoscontos hospedado, conforme

orientação da Secretaria de educação de São Bernardo do Campo, no blog institucional

20 Anexo 6

92

desta UE, cujo endereço é http://emebneusamacellaro.blogspot.com.br/.

Capítulo 5

5. Apresentação e análise de dados

Durante o desenvolvimento da SD entre os meses de Março21

a Dezembro do

ano de 2013 - considerando inclusive o planejamento prévio com as professoras das

turmas - muitas produções e situações significativas para a pesquisa foram registradas e

organizadas a fim de buscar responder as questões que direcionam esta pesquisa. A

diversidade de instrumentos de coleta de dados permitiu contemplar saberes e

aprendizados nas suas mais distintas formas, considerando necessidades, dificuldades e

estilos diferenciados de se construir o conhecimento.

Neste capítulo serão apresentados alguns dos dados colhidos, de modo que esta

seleção apresente de forma fidedigna o caminhar da SD e permita estabelecer uma

relação com os referenciais apresentados no capítulo 2. A apresentação está organizada

a partir de algumas dimensões definidas para sistematizar a análise em função dos

objetivos e questões definidos neste trabalho.

5.1 Posicionamentos e preferências dos alunos

Buscando verificar a preferência e escolhas dos alunos em relação ás estratégias

metodológicas utilizadas, além de vislumbrar os instrumentos e recursos que melhor

21

É importante salientar que as atividades realizadas em período anterior ao recebimento da autorização do CEP não foram consideradas como dados diretos para esta pesquisa, apenas como pré-testes de observação e acompanhamento.

93

atraem a atenção e promove uma melhor aceitação em relação ao processo de ensino e

aprendizagem, foi elaborado um questionário semiestruturado para avaliar as possíveis

diferenças e posicionamento em relação à aprendizagem e o conhecimento construído

na diferentes formas (estratégias) de apresentação do tema (eixo temático) e

consequentemente dos conteúdos.

Este instrumento é considerado por Lakatos e Marconi (2003) como uma forma

de recolher dados abrangentes, fiéis, com respostas mais precisas e com maior liberdade

para as mesmas. Cabe esclarecer que certos critérios de elaboração e aplicação, como a

leitura individual sem contato direto com o pesquisador, tiveram que ser alterados em

função das peculiaridades próprias da faixa etária das crianças no que se refere a seus

estágios de alfabetização e capacidade de leitura autônoma.

Para realizar uma comparação entre as escolhas dos alunos em relação às

estratégias, o questionário foi aplicado para ambas as turmas com perguntas focadas nos

eixos 4 e 5, que foram trabalhados em cada uma conforme o quadro 2.

Quadro 2: Alternância das estratégias com as quais os eixos 4 e 5 foram

desenvolvidos em cada turma.

Eixo 4

Cinderela

Eixo 5

A pequena Sereia

Turma A Estratégia metodológica Instrucional e convencional

Estratégia metodológica Tecnológica e diversificada

Turma B Estratégia metodológica Tecnológica e diversificada

Estratégia metodológica Instrucional e convencional

Durante a aplicação os estudantes estiveram organizados em assentos

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individuais e as questões foram apenas lidas em voz alta para o coletivo. Não houve

explicação com exemplos durante a leitura. A primeira questão foi:

Questão 1: Qual conto você gostou mais?

Já era esperado que algumas respostas poderiam considerar apenas a preferência

pessoal pela fantasia que o conto pode despertar nas crianças e, embora não solicitado,

grande parte dos alunos da turma B que escolheram o conto trabalhado

convencionalmente, acrescentaram à resposta justificativas como as seguintes:

“Por que ela vira humana por três dias…” - aluna P

“O conto que eu mais gostei foi a pequena sereia ela é muito linda.” - aluna S

“A sereia foi que mais gostei ela tem calda e pernas” - aluna D

O gráfico 1 computa as respostas dadas pelas turmas A e B.

Gráfico 1: Preferências pelo conto nas turmas A e B a partir das respostas à

primeira questão.

É possível perceber que, em sua maioria, as escolhas dos alunos se voltaram

para os contos que foram trabalhados de forma diversificada com os recursos

95

tecnológicos, chamando a atenção para o quanto as estratégias metodológicas podem ser

um ponto chave no desenvolvimento de atividades e apresentação de conteúdos. Neste

aspecto, é possível considerar, como aponta Chaves (1999:33) em relação a tecnologias

utilizadas na educação, “que elas nos permitem a criar ambientes ricos em

possibilidades de aprendizagem nos quais as pessoas interessadas e motivadas podem

aprender quase qualquer coisa”, inclusive conteúdos considerados não condizentes para

a faixa etária do grupo. A motivação apontada por Chaves foi instigada e proporcionada

na SD pelo planejamento e condução de aulas a partir de estratégias metodológicas que

propiciaram o interesse e maior envolvimento dos estudantes.

A segunda questão, de dimensão mais aberta, pretendia verificar o que cada

aluno lembrava-se de ter realizado durante o trabalho com o conto escolhido como

preferido.

Questão 2: Escreva tudo o que você lembra que fizemos durante o trabalho

com este conto.

O objetivo era identificar se a escolha do conto podia estar atrelada às estratégias

metodológicas diferenciadas ou apenas por gosto pessoais e identificação ao universo

fantástico. Os quadros 3 e 4 ilustram alguns tipos de respostas dadas pelos alunos à

questão 2, procurando realçar a variedade de colocações e mantendo a forma de escrita

original

Quadro 3: Respostas da turma A à questão 2.

Cinderela A pequena Sereia

“Eu lembro que aprendi de rodas e aprenti sobre

caros” “Nós fizemos um teste com um barco de água para o

caso da pequena sereia”

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“Carro desenhado - atividade de pesquisa” “Eu lembro que eu fiz um barco e ponhou na água e

não ficou navegando e a genti fui construindo e

construindo e consigimo”

“Eu pesiqui (pesquisei) a batedeira” “Construir um caravela com o lego e fizemos um

desenho e pesquisemos” “Eu lembro que a gente montou um lego - eu lembro

que eu asiti o filme”

“Eu fizemos uma pesquisa do navio e da caravela e

peque camos uma pasia e colomos água” (pegamos

uma bacia e colocamos água)

“Aprendemo a história das caravelas”

“O barco a vela e a pesquisa do barco a vela”

“Montamos lego e pesquisamos” “Eu lembro que eu pesquisei, asistiu” “A montagem do barco caravela - o filme” “Barco a vela na água - eu vi filme” “Eu pesquisei eu vi filme”

“Eu lembro que a gente fez uma caravela e a gente foi

ver se ela boiava e fez a pesquisa” “Nós montamos um barco com o lego para ver se ele

boiava”

“Agente monto uma caravela e fez ela boia na primeira

vez afundo mas agente almento a barra e fez ela boia

foi com o lego que a gente montou”

“Nois fizemos o lego do barco e nois fizemos a lista de

que eles podem usar”

“Nós trabalhamos sobre - a gente fez lego e a gente

também pesquisou”

Nos jogamos, montamos, nos tivemos desafios e vimos

o filme”

Quadro 4: Respostas da turma B à questão 2.

Cinderela A pequena Sereia

“Eu lembro que fomos para o laboratório de Informática assitimos o filme montamos um carro

de lego e um grupo falou sobre o eixo e só” “Nos feis o carro para transporta a cinderela de

peça de montar - asistim o filme da cinderela”

“A pro Veronica contou uma história para a gente” “A gente ouviu a historia comentamos sobre a historia

e a Veronica fez perguntas”

“Eu lembro que a gente vio o filme no laboratório

que nos montamos o carro da cinderela, nós

também vimos os tipos de carros e de carruagens e

ouvimos uma história para saver as diferenças da

cinderela do filme e da história”

“Eu lembro que na sala nos lemos…” (reproduziu parte

do conto) “Eu ouvia a história - A Veronica comentou que a

pequena sereia ela fica no mar” “Eu ouvi a história - A Veronica comentou que a

pequena sereia…”

97

“Em Cinderela nos trabalhamos com o lego,

estudamos o primeiro carro, também estudamos o

eixo e é só isso que eu lembro” “A gente fez o carrinho a parte de cobrir o carro

da cinderela a gente fez no laboratorio - a gente assitiu o filme da cinderela” “a gente fez o carrinho, tem uma fada

madrinha…” (reproduziu parte da história)

“A professora Veronica leu o livro da pequena Sereia e

tinha um problema a barco do principe afundou, eram

muitas pessoaso. O comandante mandou trazer um

barco que não tinha motor para não machucar

ninguém - a gente falou alguns e a Lorena falou barco dos piratas e a professora Veronica deu mais 5

perguntas só que eu não me lembro quais perguntas

são”

“Agente aprendeu que a Cinderela não tinha como

voltar para casa antes da madrasta mais tinha um

problema, como ela vai chegar até la com lego -

pra ela não se molhar”

“Eu lembro que fizemos o carrinho nos viu o filme da cinderela fez o trabalho” “A gente fez a carruagem com lego lemos o livro

assitimo o filme” “ Assitimos um filme, montamos um carro para ela

chegar mais rapido em casa - montamos uma

cobertuira no carro para ela não se molhar - e

pronto”

“A gente foi no laboratorio e a gente respondeu no

telão o que a cinderela podia usar para voltar para casa, confortavel e rapido e a gente assistiu o

filme da cinderela”

“ Nos vimos na sala de laboratorio as coisas do

filme, colocamos na tela como a cinderela ia

embora e fi o carro - tivemos que fazer o carro

com bloquinho. Tivemos que tampar o carrinho

com bloquinho para ela não se molhar”

“Eu lembro que a gente duas vezes no laboratório e uma vez na sla de aula a minha turma fez um

carrinho com lego para ele chega antes das irmãs

da madrasta e também uma prova e foi muito

tranquilo”

A partir destes relatos foi possível identificar quais recursos, naquele momento,

pareciam mais atrair o interesse dos alunos, por terem sido citados nas respostas à

questão 2.

98

Gráfico 2: Frequência da citação de recursos e instrumentos nas respostas à questão 2.

Tais resultados evidenciam dois pontos de importante reflexão para o fazer

educativo: o papel do lúdico e os diferentes estilos de aprendizagens e inteligências

múltiplas.

O valor atribuído ao lúdico e ao brincar pelas crianças, mesmo carregados de

intencionalidade pedagógica e problematizados constantemente, na fase da montagem

com o Lego propiciou condições para a manutenção de um ambiente prazeroso e

agradável. Tais momentos proporcionavam as interações necessárias para negociações,

aprendizagem colaborativa e a troca entre pares, promovendo condições que, segundo

Vygotsky, podem conduzir à construção do conhecimento. Embora cauteloso sobre as

relações de significados e desenvolvimento entre a criança e o brinquedo, ele afirma:

Assim, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança. No

brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de

sua idade, além do seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse

maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o

brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma

condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento.

(VYGOTSKY, 2010:122)

Durante o ato de brincar, mesmo com a problematização colocando desafios a

99

serem superados, a socialização e as interações estabelecidas contribuíram para o

desenvolvimento mútuo dos envolvidos. A importância do brincar na formação das

crianças é reconhecida, porém seu espaço dentro da escola ainda parece ser pouco

explorado. Oliveira (2006) aponta que, para Vygotsky, o brincar deveria ser uma ação

deliberada e planejada pedagogicamente.

Sendo assim, a promoção de atividades que favoreçam o envolvimento da criança em brincadeiras, principalmente aquelas que promovem a criação de

situações imaginárias, tem nítida função pedagógica. A escola e, particularmente,

a pré-escola poderiam se utilizar deliberadamente desse tipo de situações para

atuar no processo de desenvolvimento das crianças. (OLIVEIRA, 2006:67)

Valendo-se intencionalmente desse recurso, a SD buscou promover e articular

rotineiramente momentos lúdicos e pedagogicamente estruturados, atribuindo

significados à observação das interações e dos conhecimentos constantemente

colocados em jogo através do brincar. De forma explícita, as respostas de ambas as

turmas validaram a importância destes momentos, não desmerecendo, em hipótese

alguma, qualquer outra disciplina ou atividade, mas, ao contrário, como meio de

aproximar e apropriar-se de conteúdos curriculares.

Ainda sobre os quadros 3 e 4 e o gráfico 2, outro ponto de reflexão diz respeito

à variedade de recursos que foram levantados pelos alunos. Tal diversidade de

colocações evidencia a relevância de se considerar as variadas formas de aprender e de

se relacionar com o conhecimento, de acordo com as teorias sobre os estilos de

aprendizagem e as múltiplas inteligências, sustentadas por pesquisadores como Felder e

Gardner.

Mesmo com uma grande concentração de escolhas para os itens voltados à

montagem (ativo), filme (visual), pesquisa (sequencial) e experiência (ativo), é possível

100

verificar através de observações e anotações que outras estratégias, embora com menos

destaque nas respostas dos alunos, também tiveram seu valor, como a aula expositiva e

a história contada (verbais). Na figura 1, se pode notar o envolvimento de alguns alunos

durante a explicação verbal em uma aula expositiva, porém dialogada, sobre o

funcionamento da caravela.

Figura 1: Explicação sobre o funcionamento da caravela.

Quando é enfatizada a necessidade de considerar diferenciadas formas de

planejamento e condução das aulas para garantir que todos os alunos tenham condições

de participação, aproveitamento e aprendizagem, não significa que apenas esta ou

aquela estratégia tem valor neste processo, mas sim que “todos poderão aprender se

acolhermos os diferentes estilos de aprendizagem” (Almeida, 2007:01), ou seja, que a

inovação e variedade de estratégias têm potencial para acolher um número cada vez

maior de estudantes.

Obviamente, há uma ampla variedade de modos para promover a diversidade de

estratégias condizentes com os estilos ou inteligências dos alunos, mas o fato é que

neste quesito a tecnologia com sua convergência de mídia tem um potencial relevante,

pelo fato de já estar adentrando a escola e se fazer presente de forma natural, e por que

PPMMSSBBCC

101

não, nata, no cotidiano dos alunos. Neste sentido, Amaral e Barros (2007) destacam:

Os estímulos do virtual instigam no pensamento uma maneira diferente de assimilação, cujas características visíveis são: mais rapidez na leitura e visualização

textual; maior capacidade de dar atenção a uma diversidade de opções ao mesmo

tempo, percepção aguçada para seleção de informação, uso da imagem como

referencial e a visualização do texto é visualizado como uma imagem e não como

texto. (AMARAL e BARROS, 2007:23)

Atualmente, os alunos, independente da faixa etária, têm contato cada vez mais

intenso e precoce com tecnologias variadas. Este contato faz surgir um novo perfil de

indivíduo, os “nativos digitais” (Prensky, 2001) e estes recebem e percebem o mundo de

variadas formas, interagem, compartilham, produzem, colaboram a todo momento

muitas vezes com simples dispositivos como celulares ou tablets. Como querer que a

escola encontre sucesso indo contra este novo cenário? Como requerer dos alunos uma

postura ativa em aulas passivas, instrucionistas e desmotivadoras? Consideram-se

efetivamente os diversos estilos, inteligências e perfis ou executa-se um nivelamento

inexistente para priorizar o que é mais fácil de conduzir?

As estratégias variadas, a valorização e o respeito a cada forma de aprender fez

com que esta SD buscasse atender a cada aluno, não somente naquilo em que se sentiam

mais confortáveis em aprender, mas também a instigar o desenvolvimento de outros

estilos e aptidões menos exploradas, mostrando que há novas formas de aprendizagens.

Esta constatação pode ser apreciada nas respostas dos alunos ao questionário e durante a

observação no decorrer da sequência.

5.2 Formação conceitual

A terceira questão procurou investigar o que as crianças consideraram ter

aprendido no trabalho com o conto que indicaram como preferido.

102

Questão 3: O que você aprendeu com este conto que escolheu?

Nesta faixa etária, os estudantes podem dar respostas incompletas ou mesmo um

tanto superficiais devido a dificuldades em se expressarem por escrito mas, mesmo

diante desta dificuldade, é possível que revelem indícios do que foi mais significativo

para eles.

As respostas dadas à questão 3, computadas graficamente no gráfico 3, foram

classificadas em quatro categorias, a saber:

● História da invenção do aparato tecnológico: dados, curiosidades,

histórico e informações diversas sobre a invenção tecnológica trabalhada

no conto.

● Mecanismo: peça ou parte responsável pela forma de funcionamento da

invenção.

● Conceito: conceito físico que explica o funcionamento do mecanismo na

invenção.

● Contos de fadas: entendimento ou retomada do conto estudado.

Gráfico 3: Compilação das respostas à questão 3 nas categorias definidas.

103

As transcrições de algumas respostas exemplificam o que os alunos

consideraram como aprendizado com o desenvolvimento dos eixos:

“Eu aprendi que a caravela foi feita de madeira” - aluna M

“Que a caravela funciona com a força do vento” - aluna C

“Eu aprendi que os carros tinham pauzinhos que se chama eixos e que sem eles

o carro não anda e que ele prende o volante e as rodas para elas se moverem para

onde o volante está se movendo” -aluna L

“Eu aprendi como a caravela boiava e ficava em cima da água boiando” -

aluna M

“Eu aprendi o que era uma caravela que ela tem que ter equilíbrio” - aluno R

“Eu aprendi sobre o eixo e que sem o eixo as rodas do carro não funcionam”

aluna G

Embora os questionários aplicados apresentem elementos para uma reflexão

acerca da questão central desta pesquisa, este instrumento, por si só, limita para os

registros da produção das crianças durante o desenvolvimento da SD, não dando voz

àqueles alunos para os quais dificuldades relacionadas à alfabetização não os impendem

de participar ativamente do processo. Assim, visando acolher a todos, outros

instrumentos foram empregados, como a filmagem das atividades.

Durante uma roda de conversa filmada após a aplicação do questionário, é

possível destacar situações interessantes. Na cena 1, ao ser perguntado pela

pesquisadora o que eles lembram sobre alguns mecanismos que haviam trabalhado

104

anteriormente, as interações que se seguiram ilustram como a mediação dialogada pode

ser útil para a discussão de conceitos.

Cena22

1

__ Agora a última pergunta para encerrar. Quero ver se está tudo fresquinho

na cabeça de vocês. Vou escolher uma pessoa para me contar, ok? A, você se lembra

para que serve uma engrenagem? __ pergunta da pesquisadora

Após algumas outras manifestações de tentativa de resposta

__ É o A, ele está pensando __relembra a pesquisadora.

__Pra funcionar, daí ela vai girar e vai fazer a força em todas __aluno A

__Isto mesmo. E cadê o P? Ah, está ali. P, você lembra (trecho inaudível) a

gente usa uma manivela?__pesquisadora

__Você vai girar para funcionar para um lado e gira depois e funciona do

outro. Assim, sobe e desce __aluno P

__Quem se lembra….vamos ver, a MF, pode ser? Você se lembra para quê que

a gente usa uma polia? Roldana e polia? __pesquisadora

Outras manifestações da turma não deixaram a aluna responder, invertendo os

papéis e tendo destaque a resposta do aluno R.

__ É para levantar as coisas pesadas que a gente não consegue levantar. A

gente põe uma corda e uma polia e puxa.__aluno R

22 Neste momento a intenção foi dar voz aos alunos que pouco se expressam por registro escrito e são tímidos para se manifestarem voluntariamente durante a roda de conversa. O objetivo era saber o quanto o envolvimento deles, mesmo de forma quase observatória estava garantindo um aprendizado real.

105

__ E aí a gente faz mais ou menos força? __pesquisadora

__ Menos, bem menos força __aluno R

__ A polia diminui a força __aluna C

Outra forma de registro, que pode evidenciar os significados atribuídos pelas

crianças e que é adequado inclusive para os que não se encontram devidamente

alfabetizados, é através de desenhos. Os desenhos eram solicitados, geralmente, ou para

finalizar (sistematizar) uma aula que tenha acabado de ser desenvolvida, para resgatar

algum tema/conceito e assim passar para etapa seguinte ou para levantar os

conhecimentos prévios dos alunos sobre determinado tema.

Os desenhos utilizados abaixo são essencialmente sistematizadores ou formas

de resgate de aulas anteriores, onde se apresentam com muita clareza alguns conceitos e

mecanismos trabalhados com as turmas. No caso, representam as engrenagens

trabalhadas no eixo 3, as polias e a força, trabalhadas no eixo 2 e rodas e eixo,

trabalhadas no eixo 4.

106

Figura 2: Desenhos produzidos durante o desenvolvimento do eixo para encerrar etapas e

discussões ou resgatar etapas anteriores.

A sistematização final para a produção do álbum de figurinhas se tornou mais

uma via de resgate e registro dos conteúdos e conceitos trabalhados durante a SD.

Organizados em sete grupos, representando os eixos trabalhados, com quatro

integrantes por grupo, cada criança se responsabilizou por conceituar com suas próprias

palavras um item do eixo estipulado (conto, invenção tecnológica, mecanismo ou

conceito físico). O diálogo e a interação durante a produção escrita permitiu resgatar

conteúdos trabalhados há meses e que ainda faziam sentido para eles. Na figura 3 são

mostrados alguns registros elaborados na composição do álbum.

107

Figura 3: Sistematização do conceito para produção do álbum de figurinhas

Esta produção exemplifica a atribuição de valor e a capacidade de aprendizado

de conceitos e conteúdos por vezes considerados distantes da faixa etária abarcada pelo

ensino fundamental I. Mesmo havendo indicação em documentos e referenciais

orientadores para que o trabalho com os conceitos físicos e a história das invenções

ocorra já nos primeiros anos da Educação Básica (PCN, 2001), normalmente o ensino

de ciências é colocado em segundo plano e, quando ocorre, geralmente está no fim de

bimestre/trimestre, se dá de forma instrucional, informativa e nada desafiadora, como

apontam Rodrigues e Pinheiro (2012). Os PCN indicam que é possível o

desenvolvimento de um ensino de ciências que leve o aluno “à compreensão da natureza

e do meio em que vive” (Rodrigues e Pinheiro, 2012:15), através de técnicas e

procedimentos que contribuam para a formulação e apreensão de conceitos diversos.

Observar, comparar, descrever, narrar, desenhar e perguntar são modos de buscar e organizar

informações sobre temas específicos, alvos de investigação pela classe. Tais procedimentos por si só não permitem a aquisição do conhecimento conceitual sobre

o tema, mas são recursos para que a dimensão conceitual, a rede de ideias que

confere significado ao tema, possa ser trabalhada pelo professor. (BRASIL,

1998:46)

Por este aspecto, a pesquisa aqui relatada exibe certo caráter inovador ao

procurar viabilizar práticas de ensino de ciências efetivas no ciclo I do ensino

fundamental.

108

Outro ponto de destaque é o emprego de terminologias e nomenclaturas por

alunos que podem ser considerados, a princípio, com idade insuficiente para as

compreenderem. Durante o desenvolvimento da SD esta preocupação foi considerada e

o resultado final de certo modo surpreendeu, ainda que tenham sido necessárias

adaptações e o uso de exemplos simples na mediação dos termos técnicos e científicos

com as crianças. Como apontam Gabini e Diniz (2012):

(...) a terminologia científica “deve ser entendida dentro de seu contexto, com seus significados compreendidos, e deve ser utilizada de forma correta, mesmo que de

forma simplificada – mas nunca distorcida – para ser acessível aos estudantes de

diferentes idades”. Aponta, também, que para aprender ciência, faz-se necessário

conhecer alguns nomes, algumas classificações, o que permitirá a compreensão e a

atribuição de sentido ao mundo. (GABINI E DINIZ, 2012:336)

As referências aos conceitos, mecanismos e invenções por seus nomes e

funcionalidades reais durante o desenvolvimento da sequência colaboraram para a

associação e a contextualização do aprendizado em situações cotidianas. Os alunos

faziam uso de tais termos com certa propriedade e sabiam, a seu modo, empregá-los na

resolução de situações problemas ou quando indagados, conforme se evidencia pelos

escritos, desenhos e falas registrados.

Esse uso dos termos, mesmo com sentidos equivocados em determinadas

situações, são essenciais para a construção de uma compreensão acerca de conceitos

abstratos que apresentam uma complexidade inerente. Um exemplo foi a associação

direta do uso das polias como recurso para diminuir a força necessária para erguer um

objeto. É sabido que o conceito de força, “força liquida ou força resultante” (Hewitt,

2009) está além da explicação simplista produzida pelos alunos, assim como a

compreensão de que a diminuição da força a ser aplicada só se dá pela associação de

polias móveis. Porém, ao se propor com o material estruturado (Lego) uma simples

109

experiência de puxar uma corda, a qual passava por uma barra e tinha na outra

extremidade um peso, e subsequencialmente realizar a mesma tarefa inserindo uma

polia no lugar da barra, o que ficou evidenciado e que fazia sentido naquele momento,

para relacionar ao funcionamento de guindastes capazes de erguerem pesos extremos,

foi a diminuição da força com o uso da polia. Não cabia e nem era previsto abordar

conceitos relativos ao atrito ou à “força de atrito” (Hewitt, 2009).

Quanto ao trabalho com história das invenções tecnológicas, a SD contribuiu

para desenvolver a noção de uma história das ciências que “caracteriza o conhecimento

científico e tecnológico como atividades humanas, de caráter histórico e, portanto, não-

neutras” (Brasil, 2001:15). Batista e Araman (2009) enfatizam que uma abordagem

histórico-pedagógica para o Ensino de Ciências que atenda às características cognitivas

dos alunos em suas respectivas faixas etárias pode colaborar para o processo de

aprendizagem de conceitos físicos e contribuir para o estabelecimento de significados

reais possíveis de serem relacionados com o cotidiano. A abordagem realizada na SD

sobre a história das invenções esteve vinculada com o mecanismo de funcionamento e

com o conceito físico a ser explorado.

O domínio das “técnicas que medeiam a relação do ser humano com o meio”

(Brasil, 2001:67) e o seu emprego e identificação em montagens e máquinas reais,

exemplificados com o uso dos mecanismos em destaques, despertaram interesses nos

alunos. A compreensão do papel do homem como responsável pelo desenvolvimento de

técnicas e tecnologias capazes de delinear o desenvolvimento social foi manifestada

pelas crianças no decorrer da SD.

5.3 O caráter de formação colaborativa e crítico-investigativa

110

A participação dos alunos durante o desenvolvimento da SD, ao expressarem-

se oralmente trocando ideias e posicionando-se criticamente acerca de informações

adquiridas durante as etapas de pesquisa, montagens e tratamento das informações, foi

registrada por meio de fotografias, filmagens e anotações no diário de observação da

pesquisadora. Muitas destas situações demonstram a capacidade dos alunos em

estabelecer uma relação de interação entre os pares, mediados pelo diálogo e

negociação, assim como o posicionamento pessoal perante algumas situações a partir de

reflexões e tomadas de decisão.

As figuras 4, 5 e 6 apresentam situações nas quais cada grupo, para atender o

comando da professora, precisava colocar em jogo a capacidade de negociar, expressar

ideias, abrir mão, fazer escolhas e trabalhar em conjunto. Nesta atividade específica, os

alunos receberam uma montagem inicial (figura 4) e a orientação para que a

completassem de forma que, ao se rodar a manivela de um lado, as pás do outro lado

começassem a girar. Para resolver o problema com os materiais disponíveis, os

estudantes precisaram montar uma combinação de engrenagens de tamanhos diferentes

presas por eixos em um suporte.

Figura 4: Montagem base para todos os grupos

PPMMSSBBCC

111

Figura 5: Grupo em negociação de ideias e testes

Figura 6: Primeiro grupo que conseguiu concluir a comanda explicando aos demais as estratégias

necessárias

Um trabalho como este, que propicia a interação, o diálogo e a negociação,

pode promover uma relação com o outro, pautada no respeito e na colaboração. Cenas

como as registradas nas figuras 5 e 6 foram mais de uma vez presenciadas durante o

desenvolvimento da SD o que nos levou - professoras e pesquisadora - a observar uma

PPMMSSBBCC

PPMMSSBBCC

112

qualidade crescente nas interações entre as crianças, nas suas capacidades investigativas

e na aprendizagem colaborativa.

Segundo Villardi e Oliveira (2005:08), tais situações “possibilitam à criança

construir logicamente, estabelecendo relações que lhe permitam coordenar diferentes

pontos de vista (dela mesma ou de pessoas diferentes) e integrá-los de maneira lógica e

coerente. Desta forma, é a partir do que é possível desenvolver com a ajuda (Zona de

Desenvolvimento Potencial) e a atuação na ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal)

como aponta Vygotsky, realizado pela interação entre os pares, que possibilita o

alcance de funções superiores consolidadas com a internalização (Oliveira, 2006).

Assim, o exercício destas habilidades mentais ocorre, no entanto, a partir de objetos

reais ou concretos”. Assim, as relações interacionais no processo de construção do

conhecimento e desenvolvimento da aprendizagem, principalmente na mediação

estabelecida entre aluno-objeto, aluno-aluno e professor-aluno, passam a ter significado

considerável. Um papel da escola seria proporcionar situações onde tais relações sejam

mais valorizadas em relação a um ensino exclusivamente compartimentado e entregue

de forma instrucional, numa relação unilateral entre professor e aluno.

Com relação à atividade escolar, é interessante destacar que a interação entre os

alunos também provoca intervenções no desenvolvimento das crianças. Os grupos

de crianças são sempre heterogêneos quanto ao conhecimento já adquirido nas

diversas áreas e uma criança mais avançada num determinado assunto pode

contribuir para o desenvolvimento das outras. Assim como o adulto, uma criança

também pode funcionar como mediadora entre outra criança e às ações e

significados estabelecidos como relevantes no interior da cultura. (OLIVEIRA, 2006:64)

Momentos de aprendizagem colaborativa, nos quais o que eu sei já não tinha

tanto valor quando não podia ser compartilhado e discutido, foram verificados. A

renegociação das ideias e a integração de vários pontos de vista e posicionamentos para

113

a construção coletiva visando às soluções de problemas ganharam destaque durante o

processo. A intencionalidade pedagógica planejada e a mediação dos adultos envolvidos

contribuíram para esse processo.

A aprendizagem colaborativa pressupõe um ambiente de aprendizagem aberto em que o aluno

se envolve a “fazer coisas e a refletir sobre o que faz”, sendo-lhe dada a

oportunidade de pensar por si mesmo e de comparar o seu processo de pensamento com o dos outros, estimulando, assim, o pensamento crítico. Para Borges (1995, p.

53), a “aprendizagem colaborativa é uma técnica com a qual os estudantes se

ajudam no processo de aprendizagem, atuando como parceiros entre si e com o

professor, visando adquirir conhecimento sobre um dado objeto”. (ALCÂNTARA,

SIQUEIRA E VALASKI, 2004:3-4)

Esta organização do trabalho escolar proporcionou aos alunos a segurança

necessária para investidas e posicionamentos pessoais, a partir de reflexão, análise,

comparação e atribuição de valores, ou seja, a criticidade perante si, os demais e os

acontecimentos sociais que os cercam. Situações de tomada de posição e julgamento

pessoal a partir de dados, informações ou atitudes se tornaram crescentes, modificando a

relação dos alunos com os conteúdos “recebidos”, promovendo, a partir da criticidade,

uma real construção do conhecimento.

A cena 223

, registrada por filmagem, apresenta a fala de uma aluna que, ao

deparar-se com a informação em um site, a julga duvidosa e a questiona coletivamente

colocando em foco conhecimentos trabalhados em relação à história das tecnologias

como construção humana e a oportunidade de se expressar.

Cena 2

A aluna S (turma B), se posicionando sobre a informação de um dos sites

utilizados durante a pesquisa que afirmava não haver um inventor para o carro,

23

Esta cena pode ser apreciada da íntegra no site de sistematização e socialização da Sequência Didática na página do eixo 5 (Cinderela) ou pelo seguinte endereço http://labneusamacellaro.wix.com/tecnologiasnoscontos#!cinderela/c3qo

114

argumenta perante o grupo:

“Ninguém inventou o carro, como que o carro foi inventado? O carro não

inventou ele mesmo, né? E também neste tempo não existia (trecho inaudível) é isso que

eu acho”

Obviamente que a intenção do site era não atribuir a um único nome a

responsabilidade pela invenção do carro e sim apresentá-lo como uma elaboração

processual da história, com vários personagens importantes. Mas, ao não mencionar ao

menos alguns desses personagens e suas contribuições, fez com que o texto deixasse a

invenção do carro como uma “aparição espontânea”, o que chamou a atenção da aluna

pelo fato de já ter sido conversado que todo aparato tecnológico é uma construção

humana e que sofre modificações e evoluções ao longo dos tempos.

Na cena 3, relatada a partir de anotações no diário de observação, durante a

apresentação do roteiro de pesquisa, com a professora e a pesquisadora utilizando de

artifícios motivacionais para dar função à pesquisa, a turma A reagiu de forma

considerada surpreendente.

Cena 3

Ao serem informados que as afirmações projetadas sobre a história da catapulta

poderiam ser falsas e tendo a necessidade de informações precisas para o próximo passo

do trabalho, os alunos são instigados a encontrarem uma alternativa. Como resolver a

questão?

“Isso é fácil de resolver, a gente pesquisa de novo” - aluno L.

“É prô, tem que olhar em muitos sites da Internet, lembra?” - aluna M.

“Aí a gente podia arrumar a Internet para nenhuma pessoa do mundo ficar

115

sendo enganado” – aluno R.

“Ah é? E como podemos arrumar a Internet? Será que conseguimos mexer no

que as pessoas criaram?” – Pesquisadora

Silêncio

“Então a gente cria um site contando para todo mundo que tem sites que falam

mentiras e até fala que tem que fala verdade. Todo mundo vai gostar” – aluna C.

As cenas 2 e 3 remetem a situações nas quais os alunos apresentam uma

postura diferenciada perante a informações, até então consideradas verdadeiras e

confiáveis. Julgar uma informação e se posicionar ativamente sobre a mesma é indício

da formação de uma postura crítica, ainda mais na faixa etária em que estas crianças se

encontram. Promover situações nas quais o aluno tenha condições de avaliar, inferir

opiniões, descartar e comprovar é, acima de tudo, dar condições para o desenvolvimento

de posturas investigativas e argumentativas que levam à criticidade, elemento

constituinte de um processo de educação científica. Neste caso, apenas o que é

apresentado não basta para o grupo; é preciso ir além, promover a investigação e o que

se encontra é passível de argumentação, de constatação. Dar condições para que as

conclusões sejam elaboradas em um processo dialético e constante de pesquisa,

investigação e debate tem um papel diferencial em relação às verdades apresentadas e

aceitas. A partir da cena 3, é possível perceber o quanto este grupo se sentia responsável

e capaz de contribuir com uma rede de publicação e divulgação de conteúdos, revelando

uma postura que demonstra o quanto a criticidade e um fazer científico se tornou uma

prática atingível e não apenas mais um ensaio de espaço aberto pelo professor para

finalizar com a reprodução do conhecimento científico, como apontam Brandi e Gurgel

(2002).

116

5.4 A atribuição de significados e relações com o cotidiano.

Considera-se que o aprendizado se torna significativo quando ultrapassa os

muros da escola e começa a fazer sentido permitindo tecer relações com o cotidiano de

forma natural. Durante uma reunião de pais e mestres na qual o projeto foi apresentado,

alguns pais socializaram relatos que advinham do trabalho que estava sendo

desenvolvido com as crianças. O trecho a seguir, registrado no diário da pesquisadora,

expressa o relato de uma mãe durante a reunião.

“Eu imaginei que tinha alguma coisa diferente, pois quando passamos em

frente a Tomé24

o A me deu uma aula sobre polias, roldanas e o peso que os guindastes

conseguem erguer por conta disso tudo. Ele falou que até as pessoas erguem mais peso

quando usam polias, pois a força aumenta” - mãe do aluno A

Outro momento que propiciou relatos dos pais foi o evento Mostra Cultural25

,

onde a professora da turma A e a pesquisadora realizaram uma divulgação do trabalho

de forma mais dinâmica, com as montagens de cada eixo sendo explicadas pelos alunos,

e outros materiais, como fotos, vídeos e resultados de atividades, sendo

disponibilizados. Após a apresentação, enquanto os pais exploravam o espaço com os

alunos, uma mãe comentou com outra:

“Este trabalho é muito legal, mas quase me deu prejuízo. A M me perguntou

se poderia desmontar a batedeira para ver se tinha engrenagens funcionando. Ainda

24 Tomé: empresa especializada em aluguéis de guindastes e gruas de grande porte, entre outros. 25 Mostra Cultural é um evento organizado anualmente para a socialização de projetos, sequenciadas e atividades desenvolvidos pelos alunos no decorrer do ano, geralmente através de exposição ou apresentações culturais. No ano de 2013 a Mostra Cultural foi organizada no dia 30/11, um sábado letivo e compensação de emenda de feriado.

117

bem que ela me perguntou antes, né? Fomos procurar engrenagens em outros lugares

(risos)” - mãe da aluna M.

As figuras 7, 8 e 9 ilustram alguns momentos vivenciados durante a Mostra

Cultural. As famílias que prestigiaram o evento demonstraram com a participação,

perguntas e comentários que estavam acompanhando o processo através de relatos e da

empolgação dos filhos, evidenciando desdobramentos do trabalho fora da escola.

Figura 7: Exposição da professora e da Pape (pesquisadora). Compartilhamento do

primeiro livro de contos produzido pelos alunos e que originou a SD.

Figura 8: Explicação da aluna C sobre o funcionamento das engrenagens

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118

Figura 9: Uma mãe prestando atenção na explicação de um ex-aluno da escola e irmão

de uma aluna da turma, que participou das aulas de robótica de anos anteriores, sobre as

montagens de funcionamento manual ou energia mecânica.

Ainda sobre a atribuição de significados aos conteúdos abordados e a suas

relações com o cotidiano, em uma visitação ao Museu Catavento26

no final do mês de

outubro, a professora da turma A solicitou o acompanhamento da pesquisadora, ao ser

informada que o roteiro destinado à sua turma era composto pelas seções VIDA -

ENGENHO - NANOTECNOLOGIA. Ambas acharam por bem aproveitar a visitação

ao setor Engenho para observar as relações possíveis de serem estabelecidas entre os

conteúdos trabalhados durante a SD e os abordados pelos monitores na visitação. O

diálogo da cena 4, constante no diário de observação da pesquisadora, exemplifica tais

relações:

Cena 4

“Quem é tão forte para pedalar esta bicicleta bem rápido?” - Monitora do

museu

26 Catavento Cultural e Educacional é um museu interativo dedicado ás ciências localizado no antigo Palácio das indústrias na cidade de São Paulo. O espaço disponibiliza a visita guiada por monitores capacitados em cada setor ou livre passeio, se for o interesse do visitante. Para saber mais acesse http://www.cataventocultural.org.br/

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119

Diversas manifestações de indicação própria do grupo

“Mas precisa ser tão forte que aquelas lâmpadas precisam acender. Vamos

medir quem vai acender uma ou todas. Façam uma fila de quem quer tentar” -

Monitora

Depois de algumas tentativas dos estudantes, umas com êxito pleno outras não,

a monitora pergunta:

“Muito bem, mas estou com um problema. Como será que estas lâmpadas

acendem quando a gente pedala com força? Será que tem um interruptor lá dentro.

Será que somos mágicos e conseguimos fazer energia?" - Monitora

“Claro que sim! O nosso corpo faz a Energia Mecânica que só existia quando

não tinha energia da tomada” - aluna MF

Após outras manifestações dos alunos sobre o conceito de energia, a monitora

procura com os olhos a professora que está com um grupo em outro equipamento e,

percebendo a presença da pesquisadora, sorri.

“É isso mesmo! Mas como vocês sabem disso?”- Monitora

“A prô Verônica ensinou e eu sei que ai dentro tem um monte de engrenagens

que faz a gente pedalar aqui e acender lá” - aluno R

“Igual o joguinho de colocar as engrenagens para a luz chegar nas casas”-

aluno P, referindo-se a um jogo (recursos virtuais ilustrativos) utilizado para demonstrar

outras funcionalidades da integração de engrenagens de tamanhos diferentes.

Depois de uma explicação rápida sobre a SD e os principais conteúdos para a

monitora, que se interessou em compreender como crianças de sete e oito anos tinham

noções muitas vezes ausentes em alunos do fundamental II que visitam o setor, a mesma

120

parabeniza o grupo e os incentiva a continuar com o trabalho.

As figuras 10, 11 e 12, ilustram parte deste momento.

Figura 10: Monitora interagindo com o grupo

Figura 11: Alunos fazendo testes

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121

Figura 12: Momento que antecedeu a explicação a SD.

Tais relatos e situações vivenciadas fazem refletir o quanto a SD e os

conteúdos nela abordados se tornaram vivos, prazerosos e significativos para os alunos.

Quando os conteúdos escolares passam a ilustrar as situações do cotidiano,

estabelecendo uma relação de atribuição de valores e contextualização, pode-se concluir

que os mesmos passaram a ter um significado diferenciado, passando da escolarização à

vida real, com função social e agindo na formação do sujeito. O que está aqui relatado

evidencia a transformação de conteúdos pragmáticos e essenciais para a formação do

aluno. Muitas vezes, em aulas expositivas e descontextualizadas,

Os professores narram o que aprenderam e os alunos os seguem nesta prática de

repetição. O conteúdo trabalhado desta maneira torna-se algo supérfluo, vazio na

vida do estudante que desconhece a função daquele assunto no seu cotidiano; o aluno não delimita nenhum grau de importância neste tipo trabalho, pois se

apresenta de forma fria, solitária, e percebe que o seu educador também não

consegue dar sentido/luz a seu planejamento, rotulado já como tradicional.

(CARNEIRO, 2012:03)

Tal transformação está centrada principalmente nas estratégias metodológicas

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122

de condução da aula. Tornar a aprendizagem significativa é alcançar a função social dos

conteúdos, permitindo que a eles sejam atribuídos valores pessoais. Afinal, “o aluno,

quando aprende de maneira significativa, não reproduz simplesmente o que lhe foi

ensinado, mas constrói significados para suas experiências” (El-Hani e Bizzo, 1999:03)

e as ressignifica no fazer cotidiano. Coll (2004) afirma que a preocupação inclinada aos

problemas de ensino e aprendizagem devem começar por uma atenção voltada aos

conteúdos e “à maneira como se procura promover sua aprendizagem mediante o

ensino”. Esta preocupação pode ser o ponto de partida para que a extensa lacuna

existente entre a escola e a vida real seja cada vez mais estreitada a ponto de que o único

meio de separação entre ambas sejam, quando necessários, os muros físicos do seu

entorno.

5.5 A autoria e o protagonismo infantil - o ponto de partida e chegada

De pouco adiantaria um trabalho estruturado nesta amplitude, se não se

priorizasse em algum momento a autoria e a oportunidade para o desenvolvimento do

protagonismo infantil, ainda mais quando os alunos já se sentiam responsáveis e

capazes de produzir e colaborar de alguma forma com o conhecimento compartilhado,

como exposto anteriormente na cena 3.

Visando oferecer oportunidades para que os alunos pudessem sistematizar o

conhecimento construído e pertencente de algum modo ao cotidiano de cada um, com a

elaboração de uma produção concreta, com função social real e de interesse para a faixa

etária da turma, foi planejado desde o início da SD a construção de um álbum de

figurinhas contendo informações referentes ao conto, invenção tecnológica, mecanismo

e conceito abordado em cada eixo. O planejamento previa um espaço para que todos os

alunos pudessem se sentir autores de parte da produção, independentemente da

123

dificuldade, necessidade ou desenvoltura. Justamente por isso a SD foi organizada

contendo Sete eixos com quatro itens em cada, totalizando 28 produções independentes,

ou seja, a mesma quantidade de alunos em cada sala.

O desenvolvimento dos textos que compuseram o álbum se deu de forma

individual, no tocante à responsabilidade de cada um, porém surpreendentemente

colaborativa em relação à liberdade de expressão, cooperação e sentimento de

construção coletiva que pairava na sala. Mesmo divididos em grupos representando os

sete eixos, os alunos, por iniciativa própria ao final da produção, andavam pela sala

perguntando o que um ou outro tinha escrito e muitos faziam perguntas resgatando as

situações ocorridas como forma de melhorar a produção alheia.

Cada etapa para a construção do álbum - produção escrita, digitação e seleção

das imagens para a folha de figurinha - foi de responsabilidade dos alunos. A atuação da

professora se deu no auxilio à produção escrita para os alunos com dificuldades de

alfabetização, como uma ação de intervenção a bem do avanço no processo de escrita e

posteriormente na revisão textual realizada durante a fase de digitação. A atuação da

professora mediadora de LIBRAS se deu no auxilio à interpretação ou tradução de

termos, situações e palavras para facilitar a produção das alunas com deficiência

auditiva. Já a pesquisadora atuou no registro dos momentos e na edição e impressão do

álbum, por ser esta umas das atribuições da PAPE no exercício de suas funções.

As figuras 13, 14, 15, 16 e 17 ilustram partes do processo de construção do

álbum.

124

Figura 13: Retomada de alguns momentos para auxiliar o colega na escrita.

Figura 14: Intervenção da professora para a construção do texto

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125

Figura 15: Pesquisa e seleção das imagens para a folha de figurinhas

Figura 16: Revisão textual.

Sobre o papel da autoria e do protagonismo infantil planejado e executado

durante toda a SD e sistematizado com a produção do álbum de figurinhas, é possível

observar que a postura dos alunos perante os conteúdos e estratégias priorizaram na sua

essência o sentimento de “fazer parte”, muitas vezes alheio no processo educacional,

possibilitando o “desenvolvimento de um currículo organizado em torno da

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126

investigação, da flexibilidade, da liberdade, da colaboração e da autoria do aluno”

(Almeida, 2008:122), alcançado essencialmente com o uso das NTIC de forma

contextualizada.

É inegável que vivemos em “tempos de autoria”, onde a conversão midiática

coloca, literalmente, nas mãos de um número expressivo de pessoas, independentemente

de idade e classe social, a oportunidade de produzir e compartilhar conteúdos de

qualidade diversa. Caminhar em consonância com esta realidade faz da escola um meio

possível para olhar para tais produções através de um prisma ético e rigoroso, atribuindo

significado e função social a produções ali desenvolvidas.. Sobre tais possibilidades,

Souza et al (2011) apontam:

De qualquer forma, no contexto de interconexão e compartilhamento de recursos

na rede, a autoria tende a ganhar fôlego e contribuir para a inovação de práticas

pedagógicas, sob a forma de autoria coletiva, autoria colaborativa, autoria

individual, retorno ao autor anônimo (como opção e não por convicção

religiosa), copyleft, licença Creative Commons. Nas escolas começam a surgir

projetos pedagógicos que incorporam o uso de blogs, wikis e redes sociais para

interconectar alunos e professores, e desse modo, favorecer a participação

colaborativa e a interatividade, integrando funcionalidades e conteúdos. (Souza

et al, 2011: 52 e 53)

Ainda que a produção do álbum de figurinhas não tenha previsto sua

veiculação digital e sim impressa, como característico do portador selecionado, o papel

da autoria foi amplamente discutido e propiciado em momentos já apresentados nesta

pesquisa e na busca pela qualidade estética e de produção escrita, cuidando sempre de

apresentar ao leitor receptivo um material de qualidade. Esta situação, fomentada e

articulada durante todo o desenvolvimento da SD, tinha o intuito de evidenciar o papel

do aluno como autor, responsável e privilegiado, ou seja, em um espaço que é antes de

tudo “central e caracteriza-se pelo protagonismo, pela interação e pela autonomia para

criar, aprender, inovar” (Neves, 2009:26).

127

Assim, tão importante como a produção do material planejado, foi o

recebimento e o espaço para brincar, manusear, comparar e socializar o que foi

produzido, se reconhecendo na produção e identificando o que os colegas criaram.

Nesta etapa, vista pelos alunos como um momento lúdico, se apresentam falas,

expressões e atitudes repletas de significados. Durante este momento, ao serem

indagados se gostaram do álbum e o porquê, alguns alunos sinalizam:

“Tem tudo o que fizemos durante o ano.”__ aluna MF

“Vou mostrar para minha família o que eu fiz e aprendi.” __aluno R

“Nós que fizemos” __ aluna M

“A gente lê e procura a figurinha. Lembra tudo o que fizemos.” __ aluno A

“A gente vai guardar o que a gente fez este ano __ aluna N

“Tem autores com o nosso nome”__ aluno não identificado visualmente na

filmagem

Tais comentários validam o que foi discutido sobre o papel da autoria e o valor

agregado em produções que emergem da sala de aula para sistematizar e significar

conteúdos.

As figuras 18, 19, 20 e 21 apresentam partes do registro deste momento.

128

Figura 18: Trabalho em grupo para completar o álbum

Figura 19: O papel da leitura para a busca e seleção das informações

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Figura 20: Confrontando informações

Figura 21: Guardar o álbum incompleto para terminar com a família.

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130

5.6 A contribuição implícita e explícita do uso das tecnologias integradas

ao currículo

O papel das tecnologias integradas de forma contextualizada e significativa ao

currículo, juntamente com uma proposta pedagógica baseada na construção do

conhecimento, tem um potencial indiscutível. A partir das ideias de Seymour Papert

acerca do construcionismo, ou seja, a construção do conhecimento mediado pela

tecnologia (Valente, 1999), e dos Tpack de Mishra e Koehler (Misra e Koehler, 2006)

acerca dos saberes imprescindíveis ao professor como uma revisão dos princípios de

Shulman e acrescidos dos saberes tecnológicos, pode-se tecer um perfil do real valor de

tais recursos para o fazer pedagógico.

É possível afirmar que parte significativa dos resultados apresentados nesta

pesquisa dificilmente seriam alcançados sem a utilização das NTIC como mediadoras

do processo educacional, diversificando estratégias metodológicas e colocando a

aprendizagem no centro do processo. Este papel ímpar dos alunos exige da escola uma

modificação a bem de caminhar articulada com a sociedade, podendo promover uma

revolução no fazer ciências na escola, tornando o conhecimento científico mais

acessível a todos (Gil-Perez, 2001) e democratizando o acesso à Informação e à

Comunicação (Pretto e Pinto, 2006).

Considerar a diversidade de estilos de aprendizagem (Almeida, 2007) e

proporcionar condições para que a aprendizagem ocorra a partir do que se apresenta

mais confortável, sem desconsiderar a oportunidade de ter contato com novas formas de

aprender, é uma potencialidade aflorada e promovida, principalmente, pela

convergência digital propiciada pelas NTIC (Prado, 1998) e amplamente explorada na

SD a que se refere esta pesquisa.

131

Acerca destas considerações, ao serem questionadas sobre o valor que

atribuíram ao uso das tecnologias a todo o processo educacional, as professoras de

ambas as turmas relatam:

“Por ter duas alunas DA na turma, certamente o modelo incrementado

favoreceu muito mais a compreensão dos conceitos do que apenas o instrucional. O

interesse, a participação, o entendimento, a exploração dos mecanismo, o trabalho em

grupo, a explicação para os pais, também foram alguns ganhos” __ professora da

turma A

“Devido ter me ausentado duas semanas durante o projeto não consegui fazer

o fechamento do mesmo dando continuidade, mas pude perceber que através da

sequência ao contrário do modelo instrucional motiva os alunos, visto que os recursos

tecnológicos eles dominam bem, já fazendo parte do dia a dia deles, das pesquisas e o

uso do concreto com o Lego puderam despertar a reflexão para a aprendizagem dos

conceitos, muitas das vezes não sendo possível garantir através de uma simples leitura

de um texto em sala de aula, sem contar com as dinâmicas em grupo.” __ professora da

turma B

Trabalhar com conceitos considerados difíceis de forma diversa, procurando

contextualizá-los, privilegiando o concreto com as montagens, o lúdico com os jogos

virtuais, o papel investigativo com a busca, seleção e reflexão a partir de pesquisas na

internet, o prazeroso com as animações, pode ser viabilizado pela exploração

intencional e pedagógica das NTIC, em um movimento constante de “pensar sobre o

pensar” (Valente, apud Almeida, 2008).

As figuras 22,23, 24 e 25 ilustram partes desse processo.

132

Figura 22: Assistindo ao filme do conto.

Figura 22: Pesquisa com roteiro

Figura 23: Animação sobre o conceito de Força e o uso de polias

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133

Figura 24: Jogo virtual sobre equilíbrio - mais cabeças para

ajudar a passar de fase

Alguns resultados interessantes obtidos com os alunos no que se refere, por

exemplo, à dimensão crítico-investigativa e ao papel da autoria e do protagonismo

infantil, talvez pudessem ser alcançados sem o uso das NTIC. Mesmo assim,

demandaria do professor um esforço no sentido de revisão de práticas, metodologias e

concepções de ensino para lidar com a complexidade dos fatores atuais envolvidos nas

relações de ensino e aprendizagem. O uso dos recursos tecnológicos pautados em uma

concepção de educação condizente, além das razões já citadas, consiste ainda em um

modo de, no âmbito da escola, promover o incremento na autoestima das crianças pela

sua inserção em questões próprias de seu tempo. Mesmo porque, o movimento contrário

é entrar em uma concorrência desnecessária, como aponta Freire e Guimarães (2011):

Porque, se se quer fazer a escola sem saber nada do que pensam os alunos, do

que é que eles gostam etc., há uma grande probabilidade de que isso os chateie, e

a partir do momento em que isso os aborrece, entra menos. E, aí, mais eles terão

a tendência de pôr a escola em concorrência com os meios de comunicação.

Portanto, a primeira coisa é conhecer os alunos, e se convencer de que a

verdadeira virtude pedagógica - eu vou talvez te chocar - é a autonomização, ou seja, o desenvolvimento da capacidade do aprendiz em aprender. (FREIRE E

GUIMARÃES, 2011:183)

A utilização das tecnologias para a produção virtual ou real torna a autoria um

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134

objetivo acessível, permitindo abordar inclusive aspectos éticos, morais e legais. O

acesso democratizado às informações e à produção científica, assim como a

possibilidade de se posicionar critica e socialmente em relação aos novos

acontecimentos, é outra potencialidade das NTIC que foi explorada SD.

O sentimento de atuação e pertença é uma das características que pode ser

notada ao se retomar alguns trechos dos quadros 2 e 3, onde os alunos descrevem o que

aprenderam durante o desenvolvimento do conto escolhido. Falas que remetem ao

trabalho coletivo ou próprio e à produção colaborativa e autoral são evidenciadas nos

alunos que escolheram os contos trabalhados de forma tecnológica e diversificada:

“Nós fizemos um teste com um barco de água para o caso da pequena sereia”

“Eu lembro que a gente montou um lego - eu lembro que eu asiti o filme”

“Nos jogamos, montamos, nos tivemos desafios e vimos o filme”

“Eu lembro que a gente vio o filme no laboratório que nos montamos o carro

da cinderela, nós também vimos os tipos de carros e de carruagens e ouvimos

uma história para saver as diferenças da cinderela do filme e da história”

Em contrapartida, as falas dos alunos que escolheram os contos trabalhados de

forma instrucional e convencional, por motivo de preferencia e empatia com a história

ou até mesmo com a estratégia metodológica, evidenciam a centralidade da professora

ou pesquisadora na condução da proposta, mesmo havendo espaço para o diálogo entre

os alunos:

“A pro Veronica contou uma história para a gente”

“A gente ouviu a historia comentamos sobre a historia e a Veronica fez

135

perguntas”

“Eu ouvia a história - A Veronica comentou que a pequena sereia ela fica no

mar”

“Eu lembro que aprendi de rodas e aprenti sobre caros”

Embora não imprescindível, o papel das NTIC nos resultados obtidos para

processo de ensino e aprendizagem dos alunos envolvidos, representa um diferencial

dificilmente atingível com estratégias que desconsiderem o potencial destes recursos.

Os recursos tecnológicos podem ter espaço sistemático numa educação escolar que

prioriza a produção, a construção, o raciocínio constante, como aponta Papert (2008):

(...) o que os computadores proporcionaram a mim era exatamente o que deveriam proporcionar às crianças! Eles deveriam servir às crianças como

instrumentos para trabalhar e pensar, como meios para realizar projetos, como

fonte de conceitos para pensar novas ideias. A última coisa no mundo que eu

desejava ou precisava era de um programa de exercício e prática dizendo-me

para fazer uma soma ou escrever uma certa palavra! Por que deveríamos impor

tal coisa às crianças? (Papert, 2008: 158).

Este ponto de vista remete a uma reflexão sobre a formação de uma sociedade

que interage com a tecnologia, na qual os indivíduos se posicionem perante a mesma de

forma autônoma e consciente, tornando-se cada vez menos suscetíveis à utilização

alienante estimulada pelo consumo excessivo, propositalmente afirmada pelos que tem

interesses estreitos na reprodução de determinadas ideologias.

5.6 Posicionamentos dos professores envolvidos e da equipe escolar

Os impactos de uma proposta dessa natureza para docentes e gestores

envolvidos direta e indiretamente se torna uma dimensão de análise que procura

compreender a escola como um organismo vivo e integral (Machado, 2007) que se

136

movimenta a bem do aprendizado do coletivo escolar. Assim, nesta pesquisa se buscou

obter dados que contemplasse esta dimensão. Em relação à aprendizagem observada

durante o desenvolvimento da SD, pode-se destacar o posicionamento das professoras

das turmas através da seguinte solicitação da pesquisadora:

“Conte-me suas observações em relação à aprendizagem da turma após a

sequência didática”.

Professora da turma A

“Foram muitas! Inicialmente pelo trabalho em grupo e tudo o que ele envolve

(negociação, ouvir o outro, divisão de tarefas), avanços no processo de alfabetização

e leitura, procedimento de pesquisa, seleção de informações pertinentes, a produção

de textos significativos (não só pelo conteúdo, mas também porque havia uma

finalidade e um destinatário - álbum de figurinhas), e sobretudo, em relação à ciência,

aos conhecimentos da física, tão distante deste público.”

Professora da turma B

“Através da sequência didática, com a apresentação dos vídeos originais,

pesquisa na Internet com o uso do laboratório de Informática e desafios com o uso do

datashow para instigar os alunos e a finalização com o uso/manuseio do “lego”

resultou na compreensão dos alunos para os conceitos de física sendo um ganho para

os mesmos não somente para o entendimento como para o procedimento visto que

através dos recursos tecnológicos além da pesquisa os alunos puseram “a mão na

massa” no momento da construção do conceito de física com o material do lego.”

As considerações das professoras validam o que sustenta Papert sobre “hands-on

e head-in” ou seja aprender com a mão na massa e a mente envolvida (Prado,

137

2009:209) e reforçam aspectos da análise acerca dos avanços dos alunos em relação à

aprendizagem conceitual, procedimental e atitudinal. E com relação ao

desenvolvimento dos conteúdos procedimental e atitudinal, a mediação das professoras

e da PAPE foram essenciais e estiveram em consonância com o que preconizam Lima

e Maués (2006):

Trata-se de um domínio mais da ordem dos conteúdos procedimentais e atitudinais do que conceituais propriamente ditos. Refere-se ao saber ensinar as

crianças, de saber ser um par mais capaz para elas, de estar com elas e de

conduzi-las a outros patamares de compreensão do mundo. Enfim, de serem

capazes de mediar o processo de ascendência dos conceitos cotidianos, de

auxiliar as crianças a se desenvolverem. (LIMA E MAUÉS, 2006:170)

Embora os conteúdos conceituais tenham sido intencionalmente planejados para

o trabalho e os resultados alcançados foram muito bons considerando a faixa etária dos

alunos, os ganhos com os conteúdos e aprendizagens procedimentais e atitudinais

foram marcantes, refletindo-se no dia a dia dos alunos mesmo com o término da SD.

Tomando como base a turma A que desenvolveu a SD do início ao fim e

produziu o álbum de figurinhas, foi solicitado às professoras A. e M.F, que receberam

respectivamente 11 e 12 alunos provenientes desta turma em suas novas turmas de 3º

ano em 2014, a resposta a um questionário com o intuito de saber o que elas poderiam

ter notado em tais alunos em relação à:

A. participação oral nas discussões e conversas em sala;

B. desenvoltura no uso da Internet ou recursos tecnológicos;

C. discussões em torno das invenções tecnológicas ou noção de

funcionamento de algum recurso;

A professora A, responsável pelo 3º ano B e que recebeu 11 alunos relata:

138

“Sim. Estes alunos são bem participativos e questionadores. Usam estes

recursos com mais autonomia que os outros alunos. Inclusive no trabalho com Lego

eles são bem criativos. Durante as discussões apresentam bastante conhecimentos

quanto às invenções.”

A professora M.F, responsável pela turma A e que recebeu 12 alunos aponta:

“Sim, eles são participativos. Uma parte dos alunos consegue realizar o uso de

maneira autônoma e a outra necessita de intervenção. Eles têm bastante interesse e

querem saber de tudo.”

As considerações das professoras que receberam no ano seguinte os alunos que

participaram da SD apresentam indícios de que o uso das NTIC como estratégia

metodológica diversificada é capaz de refletir diretamente e de forma prolongada nas

relações estabelecidas pelos alunos com o conhecimento e as informações, bem como

nas suas atitudes e posturas nas aulas. Dados relativos ao conhecimento conceitual não

foram alvo deste questionário, uma vez que não fazia sentido retomar conteúdos e

conceitos de forma descontextualizada para os alunos.

Partindo do entendimento de que na escola não deveria haver ações solitárias e

desarticuladas do ambiente escolar coletivo, esta pesquisa procurou saber de que forma

o trabalho desenvolvido no ano de 2013 foi recebido, acompanhado e avaliado pela

equipe gestora da U.E., mesmo não tendo havido intervenção dos integrantes da equipe

no processo.

Quando questionadas sobre a possibilidade, na posição em que atuam, de

“perceber alguma diferença na participação e envolvimento dos alunos em relação aos

demais projetos e SD da escola”, relatam:

139

“O trabalho com projetos, a meu ver, proporciona por si só um maior

envolvimento e participação dos alunos porem, neste caso, as professoras conseguiram

unir duas coisas que fascinam as crianças nesta faixa etária: os contos de fadas e o uso

da tecnologia. Com certeza foi um dos projetos em que houve maior envolvimento” __

S - Diretora escolar.

“O que percebi foi um intenso envolvimento e grande participação das crianças

no próprio projeto, não acompanhei com relação aos demais projetos da escola.”__ L -

Vice-diretora

“Por ser um tema de interesse dos alunos percebi um grande envolvimento dos

alunos na resolução das questões apresentadas no projeto.”__ P - Coordenadora

pedagógica.

A valorização dada pelos gestores ao trabalho com projetos, como apontada por

Prado (2009) mostra que a integração e envolvimento por parte de alunos e professores

com temas, conteúdos e conceitos articulados e desenvolvidos a partir da condução de

projetos se tornam mais significativos e possibilitam a interdisciplinaridade.

Sobre o que observaram acerca das “expectativas dos pais e da comunidade em

relação ao projeto, durante a apresentação do mesmo em reuniões de pais e Mostra

Cultural”, a equipe relata:

“Alguns pais comentaram durante a execução do projeto sobre a euforia de

seus filhos e a ansiedade quanto à próxima etapa. A expectativa pelo produto final foi

também evidenciada por eles” __ S - Diretora escolar

“A apresentação aos pais foi realizada durante a Mostra Cultural onde eles

demonstraram interesse em descobrir o que seus filhos vinham desenvolvendo” __ L -

140

Vice-diretora.

“Sim, os pais comentaram sobre as aprendizagens e descobertas dos filhos nos

momentos de reunião com pais.” __ P - Coordenadora Pedagógica.

Tais relatos também atestam a atribuição de significados reais e a relações

estabelecidas com o cotidiano das crianças, tornando os conteúdos significativos. O

envolvimento dos pais foi evidente, destacando a interação escola-residência que foi

estabelecida com o envolvimento os alunos no trabalho.

Por fim, ao serem questionadas sobre “o valor que um projeto como este tem

para a escola”, as gestoras apontam:

“Imenso. Os bons projetos, quando bem executados, proporcionam grande

aprendizagem. A mistura dos contos de fadas, onde podemos deixar a imaginação fluir

com prazer e o fascínio pela tecnologia abriu um leque de possibilidades incentivando

novos trabalhos deste nível” __ S - Diretora Escolar

“O projeto é de grande valia pois desenvolve o senso investigativo das

crianças e utiliza, de forma altamente positiva, as tecnologias existentes na escola.” __

L - Vice-diretora.

“Enorme, pois além de proporcionar aprendizagens significativas aos alunos

também ampliou o olhar para diversos aspectos relacionados à tecnologia.” __ P -

Coordenadora Pedagógica.

Assim, diante de tais considerações e unindo-se a estas todos os dados

apresentados e analisados que abordaram dimensões acerca do fazer científico, de

estratégias metodológicas, posturas crítico-investigativo e de ensino e aprendizagem,

141

destaca-se a potencialidade que um projeto (SD) como o desenvolvido tem perante os

atores. Além de envolver alunos, articular competências gerais (Perrenoud, 2000) ou

específicas para a integração das NTIC ao currículo (Mishra e Koehler, 2006), fomenta

a formação continuada que se dá pela reflexão, troca e ação possibilitando a

reformulação pessoal e profissional do recurso humano que caracteriza e dá vida a

escola. Este movimento não é estrategicamente planejado, se dá no decorrer do

processo, impactando a todos ao final. Sobre esta, Prado (1999) aponta:

A reflexão-na-ação desenvolve-se simultaneamente com a ação (diálogo do pensamento com a situação-problema), quando o professor vai ao encontro do

aluno, procura compreender o seu processo de desenvolvimento (interação),

ajuda-o a formalizar o seu “conhecimento em uso” – conhecimento intuitivo,

espontâneo, experimental – e a articulá-lo com o conhecimento científico

(intervenção). Durante esse processo, o professor pode “reformular suas ações no

decurso de sua intervenção”, levantar e testar novas hipóteses “que demandam

do professor uma forma de pensar mais flexível e aberta” e o faz construir novas

teorias sobre o caso, além de vivenciar a dialética da aprendizagem. (PRADO,

1999, p.49).

Desta forma, a fim de ilustrar o que esta pesquisa buscou apresentar como

ponto primordial do processo educativo e que justifica lançar mão de recursos,

instrumentos e todas as possibilidades para diversificar as estratégias metodológicas, ou

seja, o aluno como centro e protagonista da sua aprendizagem, é resgatado do encontro

de Paulo Freire com Papert27

um trecho crítico acerca de uma concepção educacional

baseada na ideia de transmissão de conhecimentos.

Em uma piada clássica, uma criança fica depois da aula para fazer a pergunta:

“Professora, o que eu aprendi hoje?”.

A professora, com ar de surpresa, questiona:

“Por que está perguntando isso?”. A criança responde:

“Papai sempre me pergunta e eu nunca sei o que dizer!”.

Seymour Papert

27

O encontro entre Paulo Freire e Seymour Papert ocorreu no princípio dos anos 90 na USP. Parte dele

pode ser apreciado nesta gravação: http://www.youtube.com/watch?v=BejbAwuEBGs

142

Capítulo 6

6. Considerações Finais

A partir de aportes teóricos relevantes para o debate educacional atual e após o

planejamento e desenvolvimento da Sequência Didática que forneceu subsídios e

dados para análise, foi possível tecer considerações que visam primeiramente

responder ao questionamento central e objetivos desta pesquisa e, por conseguinte,

avaliar as contribuições e relevância desta para o cenário educativo.

Ao analisar as contribuições de estratégias metodológicas que utilizam os

recursos tecnológicos variados como meio de potencializar as relações de ensino e

aprendizagem de ciências, foi possível constatar que tais estratégias, pautadas em uma

concepção de educação condizente, podem ampliar significantemente tais relações. De

fato, é imprescindível esclarecer que tal sucesso encontra apoio em uma concepção

que considera o processo educativo como construção conjunta, processual e

interacional, no qual o aluno tem espaço para desenvolver sua autonomia através de

situações colaborativas, investigativas e autorais.

Ao se comparar os resultados advindos de estratégias metodológicas

diferenciadas com os oriundos de estratégias essencialmente instrucionais, se notou

maior interação e envolvimento dos alunos nas estratégicas que utilizaram os recursos

tecnológicos, os momentos de interação, trabalho em grupo e outros. Além de

preferências manifestas refletindo tal envolvimento, os resultados indicam que, de

uma forma ou de outra, os grupos se sentiam pertencentes e capazes de testar, ousar,

participar e errar, pois ficou evidente durante o desenvolvimento da SD que eles não

encontrariam nada pronto e acabado, mas que muitas soluções surgiriam de

143

experiências “mal sucedidas” e de dúvidas que conduziriam à investigação.

Os momentos apresentados, que evidenciavam situações de argumentação,

reflexão crítica e desenvoltura investigativa, mostraram que é possível utilizar as

tecnologias de forma a contribuir para formação integral do sujeito, visando à

constituição de cidadãos com perfis mais atuantes e com posturas próximas de

características científicas desde o início da Educação Básica.

Esta postura fomentada e instigada durante a pesquisa possibilitou investigar

onde e como certos conteúdos podem se tornar funcionais e significativos, mesmo em

um grupo de tão pouca idade. As relações estabelecidas entre termos científicos,

conceitos e história com o dia a dia se tornaram possíveis com a utilização de recursos

e estratégias que, com a mediação das professoras, propiciou aos alunos estabelecer

associações iniciais entre aspectos abstratos e concretos vinculados ao conhecimento.

A identificação, resgate e associação dos conteúdos de forma contextualizada,

percebida em falas, exemplos e posicionamentos, demonstram a atribuição de sentidos

e sua funcionalidade social para os alunos.

Assim, considerando as orientações constantes em referenciais e parâmetros

oficiais a respeito da formação de cidadãos capazes de participar e atuar ativamente na

história e na sociedade a partir da Educação Científica, diante dos dados e análises

aqui apresentados, que sugerem a viabilidade de se alcançar os objetivos propostos

com o uso das tecnologias e, enfim, partindo da realidade atual onde o cenário do

ensino de Ciências no Fundamental I se apresenta precário e desestimulante, se coloca

uma questão fundamental: o que impede o encontro entre o que se espera, o que é

possível e o que é realizado? Uma alternativa para integração entre esses três aspectos

consiste na transformação do que existe a partir do que se espera e é possível.

144

De fato, seria irresponsável e perigoso apontar diretamente as causas que

configuram este quadro sem realizar um estudo aprofundado, considerando os aspectos

e variáveis que o compõem. Entretanto, alguns indícios podem ser levantados visando

essencialmente à reflexão e a busca pela melhoria.

De forma geral é possível perceber que parte dos motivos pelos quais o ensino

de ciências se dá de modo informativo e instrucional estão relacionados com uma

formação em ciências aparentemente insuficiente oferecida ao professor responsável

pela Educação Fundamental I. A formação generalista deste professor polivalente

parece não garantir, a priori, um embasamento necessário para assegurar o tratamento

de temas e conteúdos de algumas áreas científicas. Entretanto, se observam casos nos

quais estes professores ainda assim conseguem desenvolver relações de ensino e

aprendizagem frutíferas mesmo diante de conteúdos não trabalhados em sua formação

de base, e em outro extremo, mesmo professores especialistas em suas áreas trabalham

por vezes sem contextualizar e atribuir significados ao que pretendem ensinar. Esta

complexidade pode ocorrer também em relação ao uso das tecnologias, que pode ser

feito de modo a perpetuar práticas tradicionais meramente instrucionais, ou ajudar a

promover uma formação ativa, investigativa e crítica.

Ora, diante desta complexa realidade, onde está o segredo para o sucesso? Se as

evidências do uso das tecnologias comprovaram sua eficiência na formação social e

científica no tocante à criticidade, investigação, argumentação e atribuição de

significados e contextualização dos conteúdos tratados, o que se constatou entre o que

se esperava e o que realmente aconteceu?

A partir dos indícios apresentados durante o desenvolvimento desta pesquisa, o

ponto que norteia e direciona o ensino de ciências através da utilização das NTIC com

145

vistas à formação deste ideal de cidadão, tão almejada atualmente, será a concepção

que o professor tem de educação e sua bases epistemológicas. A formação insuficiente

pode se tornar uma dificuldade, mas não um entrave; as tecnologias podem se tornar

um diferencial e não um obstáculo a mais quando o professor entende o processo de

ensino e aprendizagem como uma construção constante do conhecimento por parte do

aluno e das relações necessárias entre todos. Diante de uma postura passiva, de uma

visão tradicional de ensino que é entregue compartimentado e indiscutível aos alunos,

não há receita, não há recurso, não há caminhos que levem a uma formação integral,

construtiva, argumentativa e crítico-investigativa. Só haverá sempre a reprodução,

imutável e acrítica do que já há. Somente mais do mesmo.

Porém, ao constatar o quão enriquecedor pode se tornar o processo de ensino e

aprendizagem, mediados pela tecnologia e baseado no construcionismo e entendendo o

quanto o trabalho com a robótica educacional desperta a curiosidade e promove um

ciclo de raciocínio autoral, construtivo e colaborativo, esta pesquisa busca em um

posterior aprofundamento, compreender quais os impactos reais e imediatos deste

trabalho na formação do tido cidadão do século XXI. Seria o trabalho com as

linguagens de programação na educação, um meio capaz de desenvolver habilidades e

competências (intrapessoais, interpessoais e de cognição) que reflitam diretamente na

formação do aluno e não apenas se projete para um futuro imensurável?

146

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157

Anexos

158

Anexo 1

159

Anexo 2

Questionário para o aluno

Nome:_______________________________________________

Data:____/_____/___________

Turma:_________________________________________________________

1- Você gostou de trabalhar com o projeto de Contos de Fadas? Por quê?

2- O que foi mais legal neste projeto?

3- O que você achou chato?

4- Você aprendeu muitas coisas? Quais você lembra? Vamos fazer um desenho

para mostrar.

160

Anexo 3

Questionário para o professor

Nome:_______________________________________________

Data:____/_____/___________

Instituição:_________________________________________________________

1- Quais as diferenças avaliadas nos dois modelos trabalhados com o grupo?

2- Quais os ganhos considerados no modelo instrucional?

3- Quais os ganhos considerados no modelo incrementado com os recursos

tecnológicos variados?

4- Conte-me as suas observações em relação à aprendizagem da turma após a

sequência de atividade:

161

Anexo 4

Questionário para a equipe de gestão

Nome:_______________________________________________

Data:____/_____/___________

Instituição:_________________________________________________________

1- No ano de 2013 foi desenvolvido um projeto com duas turmas, intitulado “Os

contos de fadas e as invenções tecnológicas”. Você acompanhou este

desenvolvimento? De que forma?

2- Da sua posição foi possível perceber alguma diferença na participação e

envolvimento dos alunos em relação aos demais projetos da escola? Quais?

3- Foi possível perceber o envolvimento e expectativas dos pais e da comunidade

em relação ao projeto, durante a apresentação do mesmo em reuniões de pais

e Mostra Cultural?

4- Qual o valor que um projeto como este tem para a escola?

162

Anexo 5

Questionário para o professor do ano posterior

Nome:_______________________________________________

Data:____/_____/___________

Instituição:_________________________________________________________

1- Você recebeu alguns alunos que fizeram parte do projeto de contos de fadas e

as invenções tecnológicas no ano de 2013? Quantos?

2- Notou alguma diferença destes alunos em relação à participação oral nas

discussões e conversas em sala?

3- Notou alguma diferença destes alunos em relação à desenvoltura no uso da

Internet ou recursos tecnológicos?

4- Notou alguma diferença destes alunos em relação às discussões em torno das

invenções tecnológico ou noção de funcionamento de algum recurso?

163

Anexo 6

164

165

166

167

168

169

170

171

Figurinhas

ENCONTRE A IMAGEM CERTA, RECORTE E COLE EM SEU LOCAL.

172

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