ELABORAÇÃO DE ESCOPO DE LABORATÓRIOS DE ENSAIOS E DE PROVEDORES DE ENSAIOS DE PROFICIÊNCIA
Novas formas de radiofonia: a adaptação de um programa de rádio para tablet
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Novas formas de radiofonia: a adaptação de umprograma de rádio para tablet
BAGGIO, Lúcio; HOMRICH, Lalo; e THIBES, Fabíola(mestrandos)1
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Resumo: O presente artigo propõe trazer uma discussão sobre a forma deprodução das rádios tradicionais e webradios, além de informações sobrecomo foi feita a adaptação para tablet de um programa informativo daRádio Ponto – webemissora do curso de Jornalismo da UFSC. A união dadiscussão teórica com a parte empírica permite que diferentes linguagenssejam experimentadas e que a convergência tecnológica seja efetivada,levando-se em consideração os aspectos discursivos e de complementaçãodo áudio com elementos textuais e imagéticos. Ao final do artigo, tambémhá uma avaliação de usabilidade do produto criado, verificando-se se osobjetivos iniciais foram atendidos. Assim, este artigo propõe-se acontribuir com uma discussão mais ampla sobre os caminhos doradiojornalismo, da emergência do webjornalismo e a adaptação destaslinguagens para novos suportes, como o tablet, aliando conceitos destesdois campos para desenvolver um produto final ainda inexistentecomercialmente no Brasil.
Palavras-chave: webradio; tablet; rádio para tablet; convergênciatecnológica; webjornalismo
Os meios de comunicação tradicionais (jornal impresso,
TV e rádio) ainda são importantes nos dias de hoje, mas é
inegável que os novos dispositivos e suportes influenciam a
produção e o consumo dos programas jornalísticos. A invenção
e o advento da internet – e, consequentemente, da World Wide1 Jornalistas e mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo
(PosJor) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mails:[email protected]; [email protected];[email protected].
Web – é registrada em todo o mundo e, apesar de mais da
metade da população brasileira não ter acesso à internet em
sua própria residência2, constata-se que o total de pessoas
que acessam regularmente este suporte vem crescendo com o
passar dos meses. Dentro deste contexto, também se percebe
que os dispositivos móveis estão ampliando o seu alcance em
toda a sociedade. Segundo um relatório da Cisco3 publicado
em fevereiro de 2013, o total de dispositivos móveis no
mundo vai ultrapassar a marca de sete bilhões de aparelhos
ainda em 2013. Neste total estão incluídos smartphones,
laptops, celulares e tablets. Reforçando a ideia dos
tablets, a previsão é que 2013 seja o ano em que, no
Brasil, serão vendidos mais destes produtos do que
computadores de mesa e notebooks4.
Estes dados demonstram que os dispositivos móveis já
não fazem mais parte do futuro, mas sim do presente. Daí a
preocupação em pensar em produtos jornalísticos voltados
para estes aparelhos, que possuem um público específico,
comumente identificado como sendo em parte jovens e pessoas2 Agência Brasil da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Acesso à
internet alcança 40% das residências brasileiras. Disponível em:http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-06-20/acesso-internet-alcanca-40-das-residencias-brasileiras-aponta-pesquisa. Acesso em: 21jul 2013.
3 CISCO. Cisco Visual Networking Index: Global Mobile Data TrafficForecast Update, 2012-2017. Disponível em:http://www.cisco.com/en/US/solutions/collateral/ns341/ns525/ns537/ns705/ns827/white_paper_c11-520862.pdf. Acesso em: 5 maio 2013.
4 IDC. Mercado de tablets no Brasil foi o que mais cresceu em 2012,revela estudo da IDC. Disponível em:http://br.idclatin.com/releases/news.aspx?id=1457. Acesso em: 5 maio2013.
que gostam de tecnologia.
Avaliando os meios de comunicação que apresentam
produtos voltados especificamente para tablets,
identificamos que, no Brasil, existe uma ausência de opções
em relação às emissoras radiofônicas. Atualmente, as rádios
não possuem interfaces adaptadas especificamente para
tablets, contendo apenas aplicativos que permitem ao ouvinte
escutar a programação ao vivo. Porém não é possível acessar
o conteúdo escrito e imagético e ouvir os podcasts, sejam
eles programetes criados para complementar a programação ou
matérias veiculadas na programação e que podem ser acessadas
posteriormente pelo ouvinte.
Sobre este ponto, é importante destacar o fato de
atualmente existirem três tipos de emissoras radiofônicas,
conforme PRATA5 (2009, p. 46-47): rádios analógicas (também
chamadas de hertzianas, são emissoras que transmitem somente
pelas ondas eletromagnéticas e são ouvidas através do
aparelho de rádio tradicional), rádios hertzianas com
transmissão digital (emissoras que transmitem pelas ondas
eletromagnéticas, mas que também possuem sites na internet
nos quais a programação pode ser acessada ao vivo ou através
de podcasts) e webradios (ou seja, emissoras que transmitem
exclusivamente pela internet e não têm espectro no dial AM ou
FM).
As webemissoras, inclusive, estão conquistando cada vez
5 PRATA, Nair. WEBRadio: novos gêneros, novas formas de interação. Florianópolis: Insular, 2009.
mais espaço. Aproveitando-se do fato de que o rádio ainda é
o meio de comunicação mais acessado em todo o Brasil (sendo
ouvido frequentemente por mais de 37 milhões de pessoas,
segundo pesquisa da Ipsos/Marplan de janeiro de 20136), as
webradios vêm crescendo em número e tipo de segmentação.
Como todas são comerciais, a maioria é voltada para músicas
jovens, mas também há rádios voltadas para a programação
esportiva e religiosa, por exemplo.
Não existe um número absoluto quanto ao total de
webradios existentes no Brasil. Até hoje, nenhuma pesquisa
foi feita utilizando-se o conceito adotado neste artigo, ou
seja, de que webradio é uma emissora que transmite
exclusivamente pela internet. Mesmo assim, 91,3% das rádios
brasileiras têm presença na internet7 e, deste total, 84,1%
disponibiliza a programação diretamente no site. Além disso,
o site radios.com.br8 lista 2.100 resultados na categorias
“WebRádios do Brasil”. Vale a pena destacar, porém, que este
rol de emissoras contabiliza tanto emissoras hertzianas com
presença na internet quanto webradios.
6 Associação Brasileira de Emissoras de Radiodifusão (Abert). Estudoconfirma amplo alcance do rádio. Disponível em:http://www.abert.org.br/site/index.php?/noticias/todas-noticias/estudo-confirma-amplo-alcance-do-radio.html. Acesso em 13 jan 2013.
7 ________________. Rádio aposta na internet e na convergência paracrescer. Disponível em:http://www.abert.org.br/site/index.php?/noticias/todas-noticias/radio-aposta-na-internet-e-na-convergencia-para-crescer.html. Acesso em 13jan 2013.
8 Informação disponível emhttp://www.radios.com.br/cnt/resultado/271/uf/webradio. Acesso em: 21jul 2013.
Diante deste contexto apresentado, que demonstra que a
presença dos tablets na sociedade é uma tendência crescente
e que as webradios estão ganhando espaço, os autores deste
artigo decidiram, como teste experimental, criar uma
adaptação para tablet de um programa da webemissora Rádio
Ponto, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC). O programa escolhido foi o “Floripa
Mágica”, veiculado no segundo semestre de 2012 como fruto do
trabalho da disciplina de Radiojornalismo I, ministrada pelo
professor doutor Eduardo Meditsch.
A escolha pela Rádio Ponto deu-se devido ao fato de a
webemissora ter sido a primeira de caráter educativo com
transmissão exclusiva pela internet e de ter sido uma das
primeiras webradios brasileiras, já que este tipo de
emissora radiofônica tinha surgido no Brasil apenas um ano
antes, em 1998, no Pará, com a criação da Rádio Totem. A
Rádio Ponto foi criada em novembro de 1999, a partir do
Trabalho de Conclusão de Curso das graduandas Fabiana de Liz
e Sabrina Brognoli D'Aquino. Na época, ambas foram
orientadas pelos professores Eduardo Meditsch e Maria José
Baldessar.
A ideia de criar a Rádio Ponto surgiu porque, até
então, o curso de Jornalismo da UFSC apenas oferecia
projetos de extensão para que os alunos aprendessem a
prática radiofônica. O projeto de maior destaque era o
Universidade Aberta, no qual eram feitas coberturas
especiais (eleições municipais, eleições para a reitoria da
UFSC, etc), clipagem de jornais, grandes reportagens em
áudio e para a internet, agenda de eventos, notícias, etc.
Nesta época, para permitir que o trabalho dos alunos fosse
veiculado, eram feitas parcerias com emissoras comerciais,
que divulgavam alguns programas realizados através do
Universidade Aberta. No entanto, o cotidiano de uma redação
de rádio ainda estava longe de ser alcançado. Surge, então,
a Rádio Ponto, que vem suprir esta falha, apesar de não
excluir a existência do Universidade Aberta e do Fazendo
Rádio na Escola, outro projeto de extensão realizado na
época.Assim, cada um destes três projetos, ao seu modoespecífico de se desenvolver, acaba buscando, entreseus resultados maiores e mais perseguidos,contribuir para promover a inclusão social e oestímulo ao exercício da cidadania. Isto através,principalmente, do atendimento de um direitoessencial dos cidadãos para se movimentarem econstruírem socialmente a realidade, em especial naépoca contemporânea – a chamada Era da Informação: odireito de receberem uma informação ética,democrática e efetivamente voltada para o interessepúblico. Porque esta é a função social do jornalismo,da comunicação, a qual, ao ser democratizada no seuacesso e na sua produção, constitui-se em instrumentofundamental para a democratização da própriasociedade (ZUCULOTO, 2006)9
Além da opção pela Rádio Ponto, os autores do artigo
escolheram fazer a adaptação em um dos programas realizados9 ZUCULOTO, Valci. Universidade Aberta, Fazendo Rádio na Escola e Rádio
Ponto UFSC: a extensão cumprindo a função social da universidade e dojornalismo. Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo, Campos dosGoytacazes, 9, abril, 2006. Disponível em:http://www.fnpj.org.br/dados/grupos/universidade-abertafazendo-radio-na-escola-e-radio-ponto-ufsc-[3].pdf. Acesso em: 24 mar 2013.
pela turma de Radiojornalismo I do segundo semestre de 2012.
Os estudantes veiculavam semanalmente a atração “A Cara da
Cidade”, que teve o objetivo de mostrar Florianópolis
através de suas particularidades. A partir da percepção de
que a tentativa de adaptar todas as edições do programa
radiofônico para tablet demandaria mais tempo do que o
previsto para a execução do projeto, foi escolhido somente
um dos programas transmitidos, o “Floripa Mágia”, que trouxe
as histórias de bruxas e demais seres fantásticos que
permeiam o folclore e o imaginário da ilha de Santa
Catarina. O programa foi montado com base em matérias
gravadas que intercalam uma entrevista no estúdio. O
convidado foi Gelci Coelho, o Peninha, historiador e
museólogo, um dos maiores especialistas na obra de Franklin
Cascaes e um dos profundo conhecedor das lendas que envolvem
Florianópolis. No programa ainda foi realizado o quadro “A
Cara de Outra Cidade”, em que as lendas de Cabo Verde foram
apresentadas por um cabo-verdiano que faz intercâmbio na
UFSC.
A partir deste material em áudio, foram pensadas outras
possibilidades de conteúdo capazes de complementar a
informação a partir da inserção de elementos textuais e
imagéticos, levando em consideração os conceitos de webradio
e também de interatividade, algo presente nas teorias sobre
os dispositivos móveis e a convergência tecnológica.
No entanto, uma das preocupações com a adaptação do
programa de rádio para tablets foi justamente o complemento
do áudio com as informações textuais e imagéticas. A este
respeito, utilizamos o conceito apresentado por PRATA (2009,
p. 73-74)10:O elemento-chave do rádio continua sendo o som, sóque agora com a agregação de novos signos nos campostextual e imagético gerados pela web. O som passa aser o elemento definidor, o divisor de águas, o pontode partida e de chegada da radiofonia. No rádio, osom deve ter sentido por si próprio, sem anecessidade do apoio do texto ou da imagem, como emoutras mídias.
A partir desta definição, o produto foi criado pensando
o áudio como elemento central e os demais elementos
funcionariam como apoio ou complementação ao conteúdo
sonoro. Por ser a webemissora do curso de Jornalismo da
UFSC, a Rádio Ponto tem como públicos-alvo a comunidade
universitária e os moradores da cidade de Florianópolis. O
produto adaptado para tablet tem a mesma finalidade, com a
vantagem de oferecer a programação da rádio através de um
suporte diferenciado e que possibilita a interatividade e os
usos de imagens e textos. Neste momento, o site da Rádio
Ponto conta apenas com algumas chamadas em texto e fotos dos
participantes da programação, mas estes elementos não são
utilizados como complementação ao áudio do programa. Por
isso, a adaptação do “Floripa Mágica” para tablets conta com
a possibilidade de o ouvinte ler toda a informação veiculad
em áudio e poder ver imagens e assistir a vídeos
10 PRATA, Nair. WEBRadio: novos gêneros, novas formas de interação. Florianópolis: Insular, 2009.
relacionados ao tema do programa.
O objetivo final foi o de tentar efetivar a chamada
convergência tecnológica, conforme apontado por BARBOSA
(2008, p. 2)11. A autora acredita que a convergência
relacionada ao jornalismo não se restringe apenas à
integração entre dois ou mais meios de comunicação, mas sim
que é necessário alterar a estrutura das redações,
introduzir novos aparatos e ferramentas tecnológicas no
processo de produção jornalístico e alterar a construção das
narrativas. Da mesma forma, MARTÍN-BARBERO apud SANTAELLA
(2007, p. 80)12 aponta que a chamada revolução tecnológica
envolve os processos simbólicos e suas relações culturais,
além das maneiras de se produzir e distribuir as informações
e conteúdos. Ou seja, para se conseguir efetivar a revolução
tecnológica é necessário modificar a linguagem e aproveitar
a transcodificação dos sinais e dos códigos feitas na
tecnologia digital para se chegar a uma mistura de elementos
sonoros, gráficos, visuais e textuais – exatamente o que foi
experimentado neste projeto empírico.
1. Desenvolvimento do Produto
Esta parte do relato tem a intenção de apresentar como
os conceitos orientadores foram trabalhados em sua forma
11 BARBOSA, Suzana. Jornalismo Digital em Base de Dados (JDBD) emInteração com a Convergência Jornalística. Revista Textual & VisualMedia, n. 1, p. 87-106, jan./dez., 2008.
12 SANTAELLA, Lúcia. As Linguagens como Antídoto ao Mediacentrismo. Revista MATRIZes,Vol. 1, n. 1, p. 75-97, jan/jun 2007.
prática na elaboração da adaptação para tablet do programa
“Floripa Mágica”. Partimos, então, às questões que
resultaram na escolha da edição “Floripa Mágica” do programa
“A Cara da Cidade”, da Rádio Ponto da UFSC. As propostas de
discussão sobre o futuro da informação radiofônica e as
características das webradios são colocadas como pano de
fundo das opções estilísticas e de conformação do produto
criado. Não se está propondo uma nova forma para a linguagem
radiofônica informativa, mas sim uma nova forma de
apresentação que a abarque nesse novo suporte, respeitando
suas convenções e forma de produção original.
Conceituando o tablet, podemos dizer que este é um
dispositivo móvel em formato de prancheta que pode ser usado
para acesso à internet, visualização de fotos, vídeos,
arquivos pessoais, leitura de livros, jornais e revistas e
também para entretenimento com jogos. No entanto, ele não
deve ser igualado a um computador completo ou um smartphone,
embora possua funcionalidade de ambos, pois tem um novo
conceito e linguagem.
Posto isso, a primeira etapa consistiu em reconhecer e
estudar a estrutura da edição do programa original.
Partimos, então, para a decupagem do áudio. O entendimento
da estrutura do programa foi realizada a partir desta
técnica pois os arquivos disponibilizados no site da Rádio
Ponto estão apenas organizados a partir da opção que permite
ter acesso ao programa completo ou às matérias que
participam da narrativa individualmente. Esta
disponibilização simples dos áudios não permite, por
exemplo, como foi identificado a partir do estudo da
estrutura com a decupagem, que a entrevista principal com
Gelci Coelho é pensada e permeada pelas matérias que estão
associadas aos temas abordados na entrevista e que
constituem a característica narrativa do programa. Algumas
matérias escapam a esse fluxo no momento que complementam e
se relacionam diretamente com uma matéria anterior e não com
um aspecto específico direcionado pela entrevista.
Assim, é possível perceber a organização da estrutura
do programa e a relação entre os conteúdos segundo o
fluxograma: Program a com pleto
M atéria 1
M atéria 2
M atéria 3
M atéria 4
M atéria 5
M atéria 6
M atéria 7
M atéria 8
Áudio Extra
intervalo
Fonte: elaborado pelos autores.
Este primeiro passo foi suficiente para se começar a
pensar no design que o produto teria, assim como suscitar os
primeiros questionamentos sobre as consequências das
escolhas gráficas na composição da interface para o tablet.
O desafio é a fusão da linguagem radiofônica com as
possibilidades que este novo suporte permite, de forma a
manter sua característica como produto jornalístico. Tanto a
informação sonora quanto a interface dos tablets
desenvolveram-se a partir de um profundo vínculo com seus
suportes de apresentação. Ambas têm na interatividade um
ponto de convergência comum e que definem como as audiências
se relacionam com elas. É necessário salientar que apesar
dessa característica a interatividade possível nas duas
situações é distinta. Seguimos aqui o que PRIMO (2007)13
sugere como interação mútua e interação reativa:
- Interação mútua: é caracterizada por relações
interdependentes e processos de negociação, em que cada
interagente participa da construção inventiva e cooperada do
relacionamento, afetando-se mutuamente. Não pode jamais ser
prevista.
- Interação reativa: é limitada por relações
determinísticas de estímulo e resposta.
São exemplos desses tipos de interação:
- clicar em um link (reativa);13
? PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: comunicação,cibercultura, cognição. Porto Alegre: Sulina, 2007.
- falar ao vivo com um jornalista durante a
apresentação de um programa radiofônico (mútua).
Ainda há o conceito de multi-interação, que ocorre
quando se estabelecem interações reativas e mútuas
simultaneamente, como num chat por exemplo.
Direcionados por essa questão, fomos em busca de uma
forma para estabelecer essa convergência sem descaracterizar
a estrutura da narrativa do programa, mas expandindo suas
possibilidades com os recursos de interatividade e
multimidiáticos oferecidos pelo tablet.
A primeira ideia colocada em prática na construção da
estrutura do documento buscou observar a sequência de
eventos do programa. A partir do que foi observado na sua
estrutura durante o processo de decupagem, o desenho do
fluxo dos conteúdos seria apresentado na capa como um dial e
funcionaria como um link para as matérias disponibilizadas
em forma de texto. Teríamos, então, duas alternativas de
leitura: uma página a página, linearmente, como no programa
de rádio, ou salteada, como no hipertexto, com links
diretamente para as matérias internas levando ao texto e ao
áudio específico. O material de referência que mais se
assemelha a essa ideia é o livro do ex-vice-presidente
americano Albert Arnold "Al" Gore Jr., “An Inconvenient
Truth”, editado em uma versão específica para tablets e que
trata sobre questões de sustentabilidade e ecologia. A ver:
um texto contínuo, no nosso caso, a entrevista com Peninha e
as intervenções dos locutores, adicionada com elementos que
aparecem ao longo desse texto principal, neste caso, as
matérias.
O layout em desenvolvimento alançou, então, o dilema
principal, que é o fluxo das informações, sua apresentação e
complementação com os itens de interatividade. A ideia de
partida era compor uma capa com diversos itens de
interativos que permitisse ao leitor escolher entre ser
ouvinte ou leitor. Na primeira opção, ele poderia ouvir o
programa como foi concebido ou acessar cada matéria
individualmente a partir do dial da publicação. Neste caso,
ele seria direcionado para a página com o destaque da
matéria acessando o link com o áudio. Mas se a opção for
pela estrutura de texto, ele passaria a interagir com a
plataforma a partir de suas características próprias, ou
seja, a entrevista com Peninha permeada ao longo do texto
por itens de interatividade que conduziriam às matérias
correlatas. A capa também tinha sido pensada de forma a
disponibilizar opções para acessar materiais extras, como
orações, lendas, vídeos ou outros áudios que não estão no
programa original, algo como encontrado em extras de mídias
de filmes e jogos.
Durante o desenvolvimento, essa concepção inicial
mostrou-se incompleta ao apresentar falhas conceituais
incapazes de absorver e priorizar a informação sonora como
característica diferenciadora do produto em questão. Ao se
transpor a narrativa radiofônica jornalística para o formato
de livro subestimou-se o alcance e as particularidades desta
linguagem, como destacou MEDITSCH (2007, p. 150)14 em
relação ao fluxo de informação, que “cria uma nova situação
comunicativa que impõe sua lógica sobre a organização dos
conteúdos”. A perspectiva da interatividade como ponto de
convergência também se apresentava frágil e sem o destaque
pretendido.
Partimos, então, para uma abordagem mais prática, que
pudesse dar conta de traduzir os questionamentos pelos quais
gostaríamos que o produto transitasse. A análise mais
detalhada do suporte permitiu reconhecer os limites e quais
das suas funcionalidades seriam úteis para a composição de
uma interface que pudesse valorizar e preservar a informação
sonora como elemento central dentro da perspectiva, não de
uma webradio nos moldes conhecidos, mas da informação
jornalística sonora adaptada à forma e às limitações
decorrentes da opção pelo suporte do tablet condicionada
pelos softwares utilizados para a composição do produto.
Avaliando-se o aspecto visual como elemento de maior
peso para a plataforma, a ideia decorrente foi materializada
a partir da opção pelo uso de metáforas visuais, que têm o
objetivo de propiciar a interação de forma fluida pelo
14
? MEDITSCH, Eduardo. O rádio na era da informação: teoria etécnica do novo radiojornalismo. Florianópolis: Insular, Ed. Da UFSC,2007.
reconhecimento por parte do interagente de elementos
análogos a outros suportes. Assim, o novo ponto de partida
sugerido foi a ideia de um player eletrônico de som como
elemento físico análogo mais completo metaforicamente que a
opção inicial do dial. O player foi projetado para servir de
suporte para todo o conjunto de áudio disponível do
programa. Seu design faz referência a um aparelho de rádio
moderno com botões que permitem o reconhecimento visual e o
acesso ao fluxograma das matérias na estrutura apresentada
pelo programa. Completam o layout da interface a sugestão
visual de uma caixa de som e um pequeno mostrador que traz
informações sobre o trecho do programa selecionado. Estes
elementos adicionam realismo e informação sobre o conteúdo
sonoro, ressaltando a característica da apresentação da
informação.
Por se tratar de um produto que tem sua origem mais
distante nos readers digitais, a maioria dos aplicativos ou
conteúdos disponibilizados nos tablets guarda algumas
características simples e pontuais, como a utilização de
capa como uma tela de reconhecimento e apresentação do
produto. Pensando nisso também foi pensado em uma capa para
o projeto. Com a intenção de diferenciar, mas utilizando a
referência visual anterior para a identificação do programa,
o elemento principal da imagem da capa é uma releitura do
logotipo original criado para o “A Cara da Cidade”. Com a
intenção de valorizar o aspecto sonoro, estão em destaque
nesta composição caixas de som e notas musicais que pulsam
assim que a capa é acessada. As notas são, na verdade,
botões de toque que apresentam chamadas para o conteúdo do
programa. Ainda compõem a capa a identificação da edição e
pequenos ícones que sugerem o toque nas notas musicais. Esta
orientação foi feita após testes preliminares que
constataram que apenas o pulsar das notas não estimularia o
interagente a tocá-las.
Toda iconografia de apoio à interação foi criada de
forma a permitir seu entendimento de forma conceitual,
relacionando-a a outros elementos metafóricos ou a
indicações de ações. A intenção foi tornar a orientação mais
ágil. Como sugere PELTZER (1991, p. 71)15, “a informação
visual chega ao intelecto no nível do conceito, exigindo da
nossa mente um esforço menor de captação”. Por isso, optou-
se por não trabalhar com uma tela guia para a navegação. Os
ícones pretendem ser autoexplicativos ou na primeira vez em
que aparecem são acompanhados de uma breve orientação de sua
função.
Definidas estas questões, restava resolver como o
interagente teria acesso às demais opções de conteúdo, de
forma que fossem percebidos como complementares ao conteúdo
sonoro. Voltando à metáfora do player, a tela seguinte da
navegação vertical foi pensada como sendo a parte de trás do
aparelho. Esta tela funciona como uma espécie de índice com
15 PELTZER, Gonzalo. Jornalismo Iconográfico. Lisboa: Planeta, 1991.
opções para acessar diretamente os conteúdos de imagem,
vídeo e a íntegra do programa em forma de texto, além de
links para redes sociais e o expediente do produto e do
programa na parte inferior da tela.
O design neste estágio do desenvolvimento do produto
continua a referência a elementos análogos que pudessem ser
metaforicamente utilizados. Assim, o verso do aparelho foi
estilizado com botões que assumem a forma de adesivos,
decalques ou mesmo o relevo de botões. O destaque fica
concentrado no trabalho de composição e na utilização das
cores contrastantes para os adesivos e o decalque, que
permitem o acesso ao conteúdo definido como complementar ao
programa original. Um slideshow com 14 obras do acervo da
coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes, do Museu
Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral da UFSC; a
íntegra do programa para leitura, utilizando a mesma
apresentação gráfica da estrutura das laudas dos programas
de rádio; e, finalmente, dois vídeos do YouTube
selecionados, sendo que um narra a história de Franklin
Cascaes e o outro é o curta “As Bruxas de Franklin”. Os
botões com aspecto comum de botões são links para redes
sociais. O objetivo aqui foi adicionar ao produto outras
formas de interação possíveis no ambiente digital com a
utilização da internet.
A navegação entre as telas do produto ocorre apenas
verticalmente e também tem a intenção de simplificar a
localização dentro do conteúdo. Em seguida à tela que
representa o verso do player foi posicionado o texto da
decupagem do programa, porém ele não é apresentado de forma
linear. É priorizada a entrevista com historiador, que está
disposta nas sete telas em sequência. A orientação entre as
telas é feita por um elemento de localização na parte
inferior esquerda que indica em qual página o leitor
encontra-se. As matérias que permeiam o texto principal
ficam recolhidas, mas podem ser acessadas, lidas e ouvidas
com a simples rolagem vertical da barra com o título da
matéria – um ícone específico orienta essa ação. No final do
texto foi colocada a imagem da equipe que produziu o
programa com o professor da disciplina e o entrevistado.
A tela seguinte é a do slideshow, que foi pensada como
uma galeria. O interagente tem a opção de ampliar as obras
por um menu na parte inferior da tela que apresenta as
imagens reduzidas posicionadas lateralmente dentro de uma
caixa com rolagem horizontal. A última tela do produto
contém os vídeos selecionados como opções de conteúdo
complementar ao programa “Floripa Mágica”.
2. Aplicabilidade do programa
Conforme afirmado anteriormente, os desafios da
comunicação estão cada vez maiores e são influenciados
diretamente pelo desenvolvimento das novas tecnologias e das
novas ferramentas de transmissão de conteúdo na era digital.
Entre as tantas possibilidades disponíveis no mercado há que
se pensar em novas estratégias de produção para um público
que se torna cada vez mais exigente e consumidor de
tecnologias. Cada pessoa pode possuir um dispositivo próprio
e acessar a World Wide Web através de celulares, notebooks e
tablets, por exemplo.
De acordo com pesquisa do Centro de Estudos sobre as
Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic)16
publicada em 2013, 40% dos domicílios brasileiros tinham
acesso à internet em 2012, 4% a mais que no ano anterior.
Ainda segundo a pesquisa, o aumento de tecnologias móveis
nos domicílios brasileiros também cresceu, o que reforça a
tendência da mobilidade no país. A proporção de usuários de
telefone celular que acessam a internet por este dispositivo
chegou a 24% em 2012. Em 2011, o número não chegava a 18%.
Sobre estas mudanças, PINTO (1997)17 diz que há uma
disseminação geral das tecnologias da informação e
comunicação e afirma que elas estão presentes no cotidiano e
influenciam a vida social. O autor ainda diz que não se pode
negar o relacionamento entre o conhecimento no campo da
informática e os demais campos do saber humano. Trata-se de
uma nova forma de linguagem e de comunicação, um novo
16 Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação(Cetic). Uso da internet. Disponível em: http://www.cetic.br/usuarios/tic/2012/ . Acesso em 29 jul 2013.
17 PINTO, Aparecida M.. As novas tecnologias e a educação. Disponível emhttp://www.portalanpedsul.com.br/admin/uploads/2004/Poster/Poster/04_53_48_AS_NOVAS_TECNOLOGIAS_E_A_EDUCACAO.pdf. Acesso em 26 jul2013.
código: a linguagem digital.
Por ser um dispositivo recente no mercado, o tablet
ainda não está totalmente popularizado e suas ferramentas
ainda não são aproveitadas de forma completa pela maioria
dos usuários diante das possibilidades pelo aparelho. Uma
das dificuldades enfrentadas é a falta de produção
específica para este dispositivo no Brasil. O jornal O Globo
foi um dos primeiros a adaptar conteúdo para a ferramenta e
lançou em 2012 “O Globo a Mais”, um produto com conteúdo
exclusivo desenvolvido para tablet.
Avaliando o processo e as mudanças decorrentes das
novas tecnologias, os autores deste artigo buscaram fazer um
teste e verificar a usabilidade do tablet como ferramenta de
comunicação, a partir da adaptação do programa radiofônico
“Floripa Mágica” transmitido pela Rádio Ponto UFSC.
Para a realização da análise foram usadas as categorias
de qualidade para interfaces em tablets desenvolvidas em
trabalho ainda não publicado pela mestranda em jornalismo da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Vivian
Rodrigues de Oliveira. Segundo Oliveira, 10 categorias são
suficientes para identificar a usabilidade do aplicativo
projetado. As categorias são: orientação, contextualização,
padronização, autonomia, precisão, assimilação, economia,
estática, documentação e imersão.
Sobre a categoria orientação, a pesquisadora afirma que
a interface do aplicativo deve permitir que usuário realize
uma navegação consciente, de modo que ele tenha conhecimento
de onde está situado e para onde pode ir. O usuário deve
perceber a localização de cada conteúdo e as possibilidades
de realizar uma ação, desfazê-la e/ou refazê-la.
No que se refere à contextualização, a autora defende
que a interface do aplicativo deve estar adequada às
características de seu público alvo, bem como do tempo e do
espaço de distribuição. É necessário que o aplicativo seja
adequado à cultura e aos costumes de seu ambiente de uso.
Na padronização, a interface do aplicativo deve
apresentar uma estrutura coerente e uma identidade
consistente. É preciso que o usuário não tenha dificuldades
em se familiarizar com os itens de navegação (botões,
ícones, menus, transição de seções, entre outros), evitando
ações repetidas de tentativa e erro.
Sobre autonomia, a autora diz que o aplicativo deve
permitir que o usuário interaja com a interface por meio de
suas próprias escolhas e seja correspondido adequadamente.
Também deve ser preciso e não apresentar possibilidades de
erro durante a navegação.
No se que refere à assimilação, Oliveira declara que a
interface do aplicativo deve ser autoexplicativa e permitir
que o usuário aprenda a interagir a partir do primeiro
contato com o produto, sendo capaz de manter os mesmos
níveis de conhecimento, mesmo após períodos de tempo sem o
utilizar.
Outro ponto destacado pela autora é a questão da
estética, que deve ser clara, estruturada e agradável. Os
elementos visuais como cores, resoluções, proporção,
tipografia, tamanhos, luz, volume, entre outros, não devem
incomodam o usuário, mas auxiliar no processo interativo.
Para finalizar os critérios de usabilidade são
destacados também fatores como a documentação e a imersão.
No primeiro tópico, o aplicativo precisar ser
suficientemente documentado com informações formalizadas a
respeito de registros de privacidade, contatos para
assinatura e compra, suporte, termos de uso, guia de
navegação e ajuda tutorial. No segundo tópico, o aplicativo
deve estimular e atrair a concentração e a atenção do
usuário, não apresentando possibilidade de dispersão ou
fadiga, pois favorecem, segundo a autora, uma navegação mais
lúdica e isto deve ser aproveitado. Para a avaliação dos
fatores de usabilidade do projeto “Floripa Mágica” adaptado
para tablet também foi utilizado o questionário organizado
pela mestranda.
Segundo NIELSEN (2000)18, os grandes testes de
usabilidade são um desperdício de recursos. Os melhores
resultados vêm a partir de testes com cinco pessoas ou mais,
pois este grupo poderá detalhar mais precisamente as falhas
e o que pode ser melhorado em um produto, desde que seja um
18 NIELSEN, Jakob. Why you only need to test with 5 users. Disponível emhttp://www.nngroup.com/articles/why-you-only-need-to-test-with-5-users/. Acesso em 25 jul 2013.
grupo homogêneo.
Conforme a teoria, o questionário foi aplicado com
cinco jornalistas que trabalham na redação da RBS TV de
Florianópolis, afiliada da rede Globo em Santa Catarina.
Entre os que responderam estão dois editores, um produtor,
um repórter e um apresentador. O formulário traz as
alternativas orientadas que apontam: não sei, não concordo,
concordo parcialmente e concordo completamente. Dos
jornalistas que responderam, dois disseram ser usuários
experientes em tablets, dois declararam usar tablets com
frequência e um disse ter usado o dispositivo menos de 10
vezes.
A primeira pergunta do questionário referiu-se à
orientação, ou seja, se o usuário teve dificuldades ao
navegar pelo programa. Todos concordaram parcialmente que o
tablet permite uma navegação consciente e situada, ou seja,
100% dos usuários. Neste quesito, três pessoas disseram ter
ficado em dúvida na movimentação da página inicial,
indicando falta de orientação. Outro ponto destacado foi a
não valorização do áudio no início do aplicativo.
A segunda pergunta era sobre contextualização. Ela
questiona se o aplicativo é moderno, se utiliza bem os
recursos do tablet e também se está adequado ao público que
consome o produto. Neste item, 80% disse que concorda
parcialmente, ou seja, quatro pessoas, e uma pessoa,
totalizando 20%, disse concordar completamente.Uma das
observações levantadas é que faltou contextualização direta
sobre o assunto abordado no aplicativo, uma explicação sobre
a origem do termo Ilha da Magia e sobre o tema. Um apontou
que faltou interatividade, achando linear e parado; já outro
usuário achou que as informações estavam bem destacadas.
No quesito autonomia, que questiona se o aplicativo
deixa o usuário fazer escolhas e optar por caminhos de
navegação, dois disseram não concordar (40%), um disse
concordar parcialmente (20%) e dois disseram concordar
completamente (40%). Os que não concordaram observaram que o
aplicativo influencia uma navegação linear, não permitindo a
liberdade do usuário. Quem concordou parcialmente afirmou
ter sentido falta de direcionamento ao tocar na nota
musical.
Na pergunta sobre padronização, que avalia se o
aplicativo está estruturado de forma consciente, 60% alegou
concordar parcialmente e 40% concordaram completamente. As
observações questionam a usabilidade dos botões, ícones e
menus, alegando falta de indicação para retornar ao
tutorial.
A quinta pergunta é sobre a precisão. Ela questiona se
o aplicativo apresenta possibilidade de erro durante a
navegação e se o objetivo pretendido foi atendido conforme o
esperado. Uma pessoa (20%) não concordou, outra pessoa (20%)
concordou parcialmente e três pessoas (60%) concordaram
completamente. Um observou que a operação é simples, mas que
o processo poderia ser facilitado por ícones mais claros.
Sobre a assimilação, que verifica se o aplicativo é
autoexplicativo, três pessoas disseram concordar
parcialmente (40%) e outras duas pessoas concordaram
completamente (60%). Nas observações foi apontado que o
usuário consegue compreender as informações e se organizar
facilmente e que a compreensão aumenta conforme o contato
com o produto.
Quando questionados sobre a economia, que verifica se o
aplicativo desencadeia ações rápidas e sem esforço, 60%
declarou concordar parcialmente e 40% completamente. Sobre
isso um observou que, para que haja uma navegação mais
simples, rápida e eficiente ainda seriam necessários alguns
recursos.
A oitava pergunta era sobre a estética do aplicativo.
Duas pessoas não concordam (40%), duas concordam
parcialmente (40%) e uma concordou completamente (20%) que o
produto apresenta uma interface bem estruturada e agradável
ao visitante. Sobre a estética foi observado pelos usuários
que falta cor, ícones que agilizem o processo de navegação,
além de conter muito texto. Uma elogiou a estética, sem
criticar negativamente.
No que se refere à documentação, que questiona se o
aplicativo apresenta registros de privacidade e suporte
operacional, 40% afirmou concordar parcialmente e 60%
concordou completamente. Um usuário que respondeu disse que
essa documentação existe de forma muito discreta e que fica
perdida no meio dos textos.
A última pergunta era sobre a imersão. A legenda
questionava se o aplicativo atrai a concentração e a
atenção, não apresentado possibilidade de dispersão. Do
total, 20% disse não concordar com isso, duas pessoas
concordam parcialmente (40%) e outros 40% concordaram
completamente. Neste quesito também houve pontos divergentes
de opinião. Um apontou que a atratividade é mais válida pelo
tema do que pela forma. Outros dois destacaram que os
recursos multimídia utilizados valorizam a informação do
produto.
O resultado dos processos de usabilidade do aplicativo
pode ser resumido da seguinte maneira:
1) Orientação: 100% concorda parcialmente.
2) Contextualização: 80% concorda parcialmente e 20%
concorda completamente.
3) Autonomia: 40% não concorda; 20% concorda parcialmente e
40% concorda completamente.
4) Padronização: 60% concorda parcialmente e 40% concorda
completamente.
5) Precisão: 20% não concorda; 20% concorda parcialmente e
60% concorda completamente.
6) Assimilação: 40% concorda parcialmente e 60% concorda
completamente.
7) Economia: 60% concorda parcialmente e 40% concorda
completamente.
8) Estética: 40% não concorda; 40% concorda parcialmente e
20% concorda completamente.
9) Documentação: 40% concorda parcialmente e 60% concorda
completamente.
10) Imersão: 20% não concorda; 40% concorda parcialmente e
40% concorda completamente.
3. Considerações Finais
Refletindo sobre o resultado do teste com os cinco
jornalistas da RBS TV de Florianópolis, pode-se afirmar que
o programa “Floripa Mágica”, adaptado para tablet, necessita
de alguns ajustes na sua usabilidade. Neste sentido, é
importante destacar que alguns processos que foram
considerados intuitivos ainda não fazem parte da cultura dos
usuários de tablets. No contato com o produto desenvolvido,
a maioria dos entrevistados apontou algo que pode ser
melhorado em cada um dos itens, identificado que a linguagem
do produto é complexa.
Segundo GORCZESKI (2013)19, o jornalismo ainda está em
busca de rumos sobre a forma de se produzir para tablets.
Tudo indica, segundo o autor, que o público já acostumado
com o meio não se satisfaz apenas com notícias, mas também
busca entretenimento. Um passo além nesta discussão seria a
19 GORCZESKI, Vinicius. Em busca de uma linguagem para tablets.Disponível em http://6congressoabraji.wordpress.com/2011/07/02/em-busca-de-uma-linguagem-para-tablets/. Acesso em 26 jul 2013.
produção de conteúdos específicos para cada suporte:
celulares, internet e tablets, por exemplo.
Sendo assim, pode-se concluir que os profissionais
responsáveis pelo desenvolvimento dos aplicativos devem
buscar referências em outras plataformas e em outras formas
de comunicação para criar esses produtos, além de somente
reproduzir conteúdos realizados para outros suportes, como a
World Wide Web, por exemplo. Sobre o distanciamento dos
usuários com os tablets, nota-se que existe ainda uma certa
dificuldade no uso deste dispositivo, mas isto tende a se
dissipar nos próximos anos com a ampliação do uso dos
tablets.
Concluindo, a proposta final reflete uma série de
questionamentos que direcionaram a composição de um produto
novo, fruto inicialmente da habilidade prática e da
percepção de conceitos fundamentais para a webemergência e o
radiojornalismo. As respostas alcançadas e concretizadas no
desenvolvimento têm o objetivo de servir como hipóteses que
precisam ser amplamente testadas, mas que podem balizar a
criação de produtos similares. As questões que definiram as
proposições gráficas e objetivas em relação ao que foi
apresentado e que ainda demandam uma busca mais detalhada
dizem respeito à utilização dessa plataforma, em como manter
o foco na perspectiva sonora da informação em um suporte com
grande apelo visual e em que medida deve-se desenvolver os
recursos multimídias associando-os ao áudio como forma de
aproveitar o recurso interativo do cenário sonoro. Outro
ponto que merece atenção é em relação a quem forma a
audiência de um produto como esse, como motivá-la a escolher
essa opção de mídia. Ainda, como melhorar a interatividade
no produto aproximando de sua característica mútua ou de
multi-interação, que, na plataforma tradicional do rádio, é
desempenhada pelo jornalista. Questões como essas servirão
como base para estudos futuros e devem ajudar na adaptação
da informação sonora em novos suportes tecnológicos.
Por fim, esta é uma tentativa de se criar uma nova
maneira de se olhar a produção radiofônica, saindo dos
aspectos tradicionais e criando novas formas de comunicação
com o ouvinte. A proposta, portanto, foi a de reinventar o
conteúdo radiofônico e o das próprias webradios, que, em sua
grande maioria, apenas reproduzem a forma de produção comum,
sem se aprofundar nos quesitos da convergência tecnológica.
Com propostas como esta, é possível pensar na situação que
TOME e MOTA (2005, p. 61) apresentam em seu artigo “Uma Nova
Onda no Ar”20. Neste estudo, os pesquisadores apontam que
hoje existe um triângulo em cujos vértices estão a TV
digital, o rádio digital e o terceiro vértice conteria a
verdadeira convergência dos meios, criando uma nova forma de
comunicação eletrônica. Este terceiro vértice contém algumas
características inerentes, como a interatividade, a
20 MOTA, Regina e TOME, Takashi. Uma Nova Onda no Ar. In: MídiasDigitais: convergência tecnológica e inclusão social. ColeçãoComunicação-estudos. São Paulo: Paulinas, 2005, p. 51-84.
possibilidade de se obter conhecimento no momento em que o
receptor desejar e o fato de o usuário poder tornar-se ativo
na produção e divulgação do conhecimento. Avaliando todos
estes aspectos, os autores deste artigo acreditam ter
alcançado a concretude destes conceitos na adaptação para
tablet do programa “Floripa Mágica”, transmitido na Rádio
Ponto.
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