Novas formas de radiofonia: a adaptação de um programa de rádio para tablet

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Novas formas de radiofonia: a adaptação de um programa de rádio para tablet BAGGIO, Lúcio; HOMRICH, Lalo; e THIBES, Fabíola (mestrandos) 1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Resumo: O presente artigo propõe trazer uma discussão sobre a forma de produção das rádios tradicionais e webradios, além de informações sobre como foi feita a adaptação para tablet de um programa informativo da Rádio Ponto – webemissora do curso de Jornalismo da UFSC. A união da discussão teórica com a parte empírica permite que diferentes linguagens sejam experimentadas e que a convergência tecnológica seja efetivada, levando-se em consideração os aspectos discursivos e de complementação do áudio com elementos textuais e imagéticos. Ao final do artigo, também há uma avaliação de usabilidade do produto criado, verificando-se se os objetivos iniciais foram atendidos. Assim, este artigo propõe-se a contribuir com uma discussão mais ampla sobre os caminhos do radiojornalismo, da emergência do webjornalismo e a adaptação destas linguagens para novos suportes, como o tablet, aliando conceitos destes dois campos para desenvolver um produto final ainda inexistente comercialmente no Brasil. Palavras-chave: webradio; tablet; rádio para tablet; convergência tecnológica; webjornalismo Os meios de comunicação tradicionais (jornal impresso, TV e rádio) ainda são importantes nos dias de hoje, mas é inegável que os novos dispositivos e suportes influenciam a produção e o consumo dos programas jornalísticos. A invenção e o advento da internet – e, consequentemente, da World Wide 1 Jornalistas e mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo (PosJor) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mails: [email protected] ; [email protected] ; [email protected] .

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Novas formas de radiofonia: a adaptação de umprograma de rádio para tablet

BAGGIO, Lúcio; HOMRICH, Lalo; e THIBES, Fabíola(mestrandos)1

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Resumo: O presente artigo propõe trazer uma discussão sobre a forma deprodução das rádios tradicionais e webradios, além de informações sobrecomo foi feita a adaptação para tablet de um programa informativo daRádio Ponto – webemissora do curso de Jornalismo da UFSC. A união dadiscussão teórica com a parte empírica permite que diferentes linguagenssejam experimentadas e que a convergência tecnológica seja efetivada,levando-se em consideração os aspectos discursivos e de complementaçãodo áudio com elementos textuais e imagéticos. Ao final do artigo, tambémhá uma avaliação de usabilidade do produto criado, verificando-se se osobjetivos iniciais foram atendidos. Assim, este artigo propõe-se acontribuir com uma discussão mais ampla sobre os caminhos doradiojornalismo, da emergência do webjornalismo e a adaptação destaslinguagens para novos suportes, como o tablet, aliando conceitos destesdois campos para desenvolver um produto final ainda inexistentecomercialmente no Brasil.

Palavras-chave: webradio; tablet; rádio para tablet; convergênciatecnológica; webjornalismo

Os meios de comunicação tradicionais (jornal impresso,

TV e rádio) ainda são importantes nos dias de hoje, mas é

inegável que os novos dispositivos e suportes influenciam a

produção e o consumo dos programas jornalísticos. A invenção

e o advento da internet – e, consequentemente, da World Wide1 Jornalistas e mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo

(PosJor) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mails:[email protected]; [email protected];[email protected].

Web – é registrada em todo o mundo e, apesar de mais da

metade da população brasileira não ter acesso à internet em

sua própria residência2, constata-se que o total de pessoas

que acessam regularmente este suporte vem crescendo com o

passar dos meses. Dentro deste contexto, também se percebe

que os dispositivos móveis estão ampliando o seu alcance em

toda a sociedade. Segundo um relatório da Cisco3 publicado

em fevereiro de 2013, o total de dispositivos móveis no

mundo vai ultrapassar a marca de sete bilhões de aparelhos

ainda em 2013. Neste total estão incluídos smartphones,

laptops, celulares e tablets. Reforçando a ideia dos

tablets, a previsão é que 2013 seja o ano em que, no

Brasil, serão vendidos mais destes produtos do que

computadores de mesa e notebooks4.

Estes dados demonstram que os dispositivos móveis já

não fazem mais parte do futuro, mas sim do presente. Daí a

preocupação em pensar em produtos jornalísticos voltados

para estes aparelhos, que possuem um público específico,

comumente identificado como sendo em parte jovens e pessoas2 Agência Brasil da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Acesso à

internet alcança 40% das residências brasileiras. Disponível em:http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-06-20/acesso-internet-alcanca-40-das-residencias-brasileiras-aponta-pesquisa. Acesso em: 21jul 2013.

3 CISCO. Cisco Visual Networking Index: Global Mobile Data TrafficForecast Update, 2012-2017. Disponível em:http://www.cisco.com/en/US/solutions/collateral/ns341/ns525/ns537/ns705/ns827/white_paper_c11-520862.pdf. Acesso em: 5 maio 2013.

4 IDC. Mercado de tablets no Brasil foi o que mais cresceu em 2012,revela estudo da IDC. Disponível em:http://br.idclatin.com/releases/news.aspx?id=1457. Acesso em: 5 maio2013.

que gostam de tecnologia.

Avaliando os meios de comunicação que apresentam

produtos voltados especificamente para tablets,

identificamos que, no Brasil, existe uma ausência de opções

em relação às emissoras radiofônicas. Atualmente, as rádios

não possuem interfaces adaptadas especificamente para

tablets, contendo apenas aplicativos que permitem ao ouvinte

escutar a programação ao vivo. Porém não é possível acessar

o conteúdo escrito e imagético e ouvir os podcasts, sejam

eles programetes criados para complementar a programação ou

matérias veiculadas na programação e que podem ser acessadas

posteriormente pelo ouvinte.

Sobre este ponto, é importante destacar o fato de

atualmente existirem três tipos de emissoras radiofônicas,

conforme PRATA5 (2009, p. 46-47): rádios analógicas (também

chamadas de hertzianas, são emissoras que transmitem somente

pelas ondas eletromagnéticas e são ouvidas através do

aparelho de rádio tradicional), rádios hertzianas com

transmissão digital (emissoras que transmitem pelas ondas

eletromagnéticas, mas que também possuem sites na internet

nos quais a programação pode ser acessada ao vivo ou através

de podcasts) e webradios (ou seja, emissoras que transmitem

exclusivamente pela internet e não têm espectro no dial AM ou

FM).

As webemissoras, inclusive, estão conquistando cada vez

5 PRATA, Nair. WEBRadio: novos gêneros, novas formas de interação. Florianópolis: Insular, 2009.

mais espaço. Aproveitando-se do fato de que o rádio ainda é

o meio de comunicação mais acessado em todo o Brasil (sendo

ouvido frequentemente por mais de 37 milhões de pessoas,

segundo pesquisa da Ipsos/Marplan de janeiro de 20136), as

webradios vêm crescendo em número e tipo de segmentação.

Como todas são comerciais, a maioria é voltada para músicas

jovens, mas também há rádios voltadas para a programação

esportiva e religiosa, por exemplo.

Não existe um número absoluto quanto ao total de

webradios existentes no Brasil. Até hoje, nenhuma pesquisa

foi feita utilizando-se o conceito adotado neste artigo, ou

seja, de que webradio é uma emissora que transmite

exclusivamente pela internet. Mesmo assim, 91,3% das rádios

brasileiras têm presença na internet7 e, deste total, 84,1%

disponibiliza a programação diretamente no site. Além disso,

o site radios.com.br8 lista 2.100 resultados na categorias

“WebRádios do Brasil”. Vale a pena destacar, porém, que este

rol de emissoras contabiliza tanto emissoras hertzianas com

presença na internet quanto webradios.

6 Associação Brasileira de Emissoras de Radiodifusão (Abert). Estudoconfirma amplo alcance do rádio. Disponível em:http://www.abert.org.br/site/index.php?/noticias/todas-noticias/estudo-confirma-amplo-alcance-do-radio.html. Acesso em 13 jan 2013.

7 ________________. Rádio aposta na internet e na convergência paracrescer. Disponível em:http://www.abert.org.br/site/index.php?/noticias/todas-noticias/radio-aposta-na-internet-e-na-convergencia-para-crescer.html. Acesso em 13jan 2013.

8 Informação disponível emhttp://www.radios.com.br/cnt/resultado/271/uf/webradio. Acesso em: 21jul 2013.

Diante deste contexto apresentado, que demonstra que a

presença dos tablets na sociedade é uma tendência crescente

e que as webradios estão ganhando espaço, os autores deste

artigo decidiram, como teste experimental, criar uma

adaptação para tablet de um programa da webemissora Rádio

Ponto, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de

Santa Catarina (UFSC). O programa escolhido foi o “Floripa

Mágica”, veiculado no segundo semestre de 2012 como fruto do

trabalho da disciplina de Radiojornalismo I, ministrada pelo

professor doutor Eduardo Meditsch.

A escolha pela Rádio Ponto deu-se devido ao fato de a

webemissora ter sido a primeira de caráter educativo com

transmissão exclusiva pela internet e de ter sido uma das

primeiras webradios brasileiras, já que este tipo de

emissora radiofônica tinha surgido no Brasil apenas um ano

antes, em 1998, no Pará, com a criação da Rádio Totem. A

Rádio Ponto foi criada em novembro de 1999, a partir do

Trabalho de Conclusão de Curso das graduandas Fabiana de Liz

e Sabrina Brognoli D'Aquino. Na época, ambas foram

orientadas pelos professores Eduardo Meditsch e Maria José

Baldessar.

A ideia de criar a Rádio Ponto surgiu porque, até

então, o curso de Jornalismo da UFSC apenas oferecia

projetos de extensão para que os alunos aprendessem a

prática radiofônica. O projeto de maior destaque era o

Universidade Aberta, no qual eram feitas coberturas

especiais (eleições municipais, eleições para a reitoria da

UFSC, etc), clipagem de jornais, grandes reportagens em

áudio e para a internet, agenda de eventos, notícias, etc.

Nesta época, para permitir que o trabalho dos alunos fosse

veiculado, eram feitas parcerias com emissoras comerciais,

que divulgavam alguns programas realizados através do

Universidade Aberta. No entanto, o cotidiano de uma redação

de rádio ainda estava longe de ser alcançado. Surge, então,

a Rádio Ponto, que vem suprir esta falha, apesar de não

excluir a existência do Universidade Aberta e do Fazendo

Rádio na Escola, outro projeto de extensão realizado na

época.Assim, cada um destes três projetos, ao seu modoespecífico de se desenvolver, acaba buscando, entreseus resultados maiores e mais perseguidos,contribuir para promover a inclusão social e oestímulo ao exercício da cidadania. Isto através,principalmente, do atendimento de um direitoessencial dos cidadãos para se movimentarem econstruírem socialmente a realidade, em especial naépoca contemporânea – a chamada Era da Informação: odireito de receberem uma informação ética,democrática e efetivamente voltada para o interessepúblico. Porque esta é a função social do jornalismo,da comunicação, a qual, ao ser democratizada no seuacesso e na sua produção, constitui-se em instrumentofundamental para a democratização da própriasociedade (ZUCULOTO, 2006)9

Além da opção pela Rádio Ponto, os autores do artigo

escolheram fazer a adaptação em um dos programas realizados9 ZUCULOTO, Valci. Universidade Aberta, Fazendo Rádio na Escola e Rádio

Ponto UFSC: a extensão cumprindo a função social da universidade e dojornalismo. Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo, Campos dosGoytacazes, 9, abril, 2006. Disponível em:http://www.fnpj.org.br/dados/grupos/universidade-abertafazendo-radio-na-escola-e-radio-ponto-ufsc-[3].pdf. Acesso em: 24 mar 2013.

pela turma de Radiojornalismo I do segundo semestre de 2012.

Os estudantes veiculavam semanalmente a atração “A Cara da

Cidade”, que teve o objetivo de mostrar Florianópolis

através de suas particularidades. A partir da percepção de

que a tentativa de adaptar todas as edições do programa

radiofônico para tablet demandaria mais tempo do que o

previsto para a execução do projeto, foi escolhido somente

um dos programas transmitidos, o “Floripa Mágia”, que trouxe

as histórias de bruxas e demais seres fantásticos que

permeiam o folclore e o imaginário da ilha de Santa

Catarina. O programa foi montado com base em matérias

gravadas que intercalam uma entrevista no estúdio. O

convidado foi Gelci Coelho, o Peninha, historiador e

museólogo, um dos maiores especialistas na obra de Franklin

Cascaes e um dos profundo conhecedor das lendas que envolvem

Florianópolis. No programa ainda foi realizado o quadro “A

Cara de Outra Cidade”, em que as lendas de Cabo Verde foram

apresentadas por um cabo-verdiano que faz intercâmbio na

UFSC.

A partir deste material em áudio, foram pensadas outras

possibilidades de conteúdo capazes de complementar a

informação a partir da inserção de elementos textuais e

imagéticos, levando em consideração os conceitos de webradio

e também de interatividade, algo presente nas teorias sobre

os dispositivos móveis e a convergência tecnológica.

No entanto, uma das preocupações com a adaptação do

programa de rádio para tablets foi justamente o complemento

do áudio com as informações textuais e imagéticas. A este

respeito, utilizamos o conceito apresentado por PRATA (2009,

p. 73-74)10:O elemento-chave do rádio continua sendo o som, sóque agora com a agregação de novos signos nos campostextual e imagético gerados pela web. O som passa aser o elemento definidor, o divisor de águas, o pontode partida e de chegada da radiofonia. No rádio, osom deve ter sentido por si próprio, sem anecessidade do apoio do texto ou da imagem, como emoutras mídias.

A partir desta definição, o produto foi criado pensando

o áudio como elemento central e os demais elementos

funcionariam como apoio ou complementação ao conteúdo

sonoro. Por ser a webemissora do curso de Jornalismo da

UFSC, a Rádio Ponto tem como públicos-alvo a comunidade

universitária e os moradores da cidade de Florianópolis. O

produto adaptado para tablet tem a mesma finalidade, com a

vantagem de oferecer a programação da rádio através de um

suporte diferenciado e que possibilita a interatividade e os

usos de imagens e textos. Neste momento, o site da Rádio

Ponto conta apenas com algumas chamadas em texto e fotos dos

participantes da programação, mas estes elementos não são

utilizados como complementação ao áudio do programa. Por

isso, a adaptação do “Floripa Mágica” para tablets conta com

a possibilidade de o ouvinte ler toda a informação veiculad

em áudio e poder ver imagens e assistir a vídeos

10 PRATA, Nair. WEBRadio: novos gêneros, novas formas de interação. Florianópolis: Insular, 2009.

relacionados ao tema do programa.

O objetivo final foi o de tentar efetivar a chamada

convergência tecnológica, conforme apontado por BARBOSA

(2008, p. 2)11. A autora acredita que a convergência

relacionada ao jornalismo não se restringe apenas à

integração entre dois ou mais meios de comunicação, mas sim

que é necessário alterar a estrutura das redações,

introduzir novos aparatos e ferramentas tecnológicas no

processo de produção jornalístico e alterar a construção das

narrativas. Da mesma forma, MARTÍN-BARBERO apud SANTAELLA

(2007, p. 80)12 aponta que a chamada revolução tecnológica

envolve os processos simbólicos e suas relações culturais,

além das maneiras de se produzir e distribuir as informações

e conteúdos. Ou seja, para se conseguir efetivar a revolução

tecnológica é necessário modificar a linguagem e aproveitar

a transcodificação dos sinais e dos códigos feitas na

tecnologia digital para se chegar a uma mistura de elementos

sonoros, gráficos, visuais e textuais – exatamente o que foi

experimentado neste projeto empírico.

1. Desenvolvimento do Produto

Esta parte do relato tem a intenção de apresentar como

os conceitos orientadores foram trabalhados em sua forma

11 BARBOSA, Suzana. Jornalismo Digital em Base de Dados (JDBD) emInteração com a Convergência Jornalística. Revista Textual & VisualMedia, n. 1, p. 87-106, jan./dez., 2008.

12 SANTAELLA, Lúcia. As Linguagens como Antídoto ao Mediacentrismo. Revista MATRIZes,Vol. 1, n. 1, p. 75-97, jan/jun 2007.

prática na elaboração da adaptação para tablet do programa

“Floripa Mágica”. Partimos, então, às questões que

resultaram na escolha da edição “Floripa Mágica” do programa

“A Cara da Cidade”, da Rádio Ponto da UFSC. As propostas de

discussão sobre o futuro da informação radiofônica e as

características das webradios são colocadas como pano de

fundo das opções estilísticas e de conformação do produto

criado. Não se está propondo uma nova forma para a linguagem

radiofônica informativa, mas sim uma nova forma de

apresentação que a abarque nesse novo suporte, respeitando

suas convenções e forma de produção original.

Conceituando o tablet, podemos dizer que este é um

dispositivo móvel em formato de prancheta que pode ser usado

para acesso à internet, visualização de fotos, vídeos,

arquivos pessoais, leitura de livros, jornais e revistas e

também para entretenimento com jogos. No entanto, ele não

deve ser igualado a um computador completo ou um smartphone,

embora possua funcionalidade de ambos, pois tem um novo

conceito e linguagem.

Posto isso, a primeira etapa consistiu em reconhecer e

estudar a estrutura da edição do programa original.

Partimos, então, para a decupagem do áudio. O entendimento

da estrutura do programa foi realizada a partir desta

técnica pois os arquivos disponibilizados no site da Rádio

Ponto estão apenas organizados a partir da opção que permite

ter acesso ao programa completo ou às matérias que

participam da narrativa individualmente. Esta

disponibilização simples dos áudios não permite, por

exemplo, como foi identificado a partir do estudo da

estrutura com a decupagem, que a entrevista principal com

Gelci Coelho é pensada e permeada pelas matérias que estão

associadas aos temas abordados na entrevista e que

constituem a característica narrativa do programa. Algumas

matérias escapam a esse fluxo no momento que complementam e

se relacionam diretamente com uma matéria anterior e não com

um aspecto específico direcionado pela entrevista.

Assim, é possível perceber a organização da estrutura

do programa e a relação entre os conteúdos segundo o

fluxograma: Program a com pleto

M atéria 1

M atéria 2

M atéria 3

M atéria 4

M atéria 5

M atéria 6

M atéria 7

M atéria 8

Áudio Extra

intervalo

Fonte: elaborado pelos autores.

Este primeiro passo foi suficiente para se começar a

pensar no design que o produto teria, assim como suscitar os

primeiros questionamentos sobre as consequências das

escolhas gráficas na composição da interface para o tablet.

O desafio é a fusão da linguagem radiofônica com as

possibilidades que este novo suporte permite, de forma a

manter sua característica como produto jornalístico. Tanto a

informação sonora quanto a interface dos tablets

desenvolveram-se a partir de um profundo vínculo com seus

suportes de apresentação. Ambas têm na interatividade um

ponto de convergência comum e que definem como as audiências

se relacionam com elas. É necessário salientar que apesar

dessa característica a interatividade possível nas duas

situações é distinta. Seguimos aqui o que PRIMO (2007)13

sugere como interação mútua e interação reativa:

- Interação mútua: é caracterizada por relações

interdependentes e processos de negociação, em que cada

interagente participa da construção inventiva e cooperada do

relacionamento, afetando-se mutuamente. Não pode jamais ser

prevista.

- Interação reativa: é limitada por relações

determinísticas de estímulo e resposta.

São exemplos desses tipos de interação:

- clicar em um link (reativa);13

? PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: comunicação,cibercultura, cognição. Porto Alegre: Sulina, 2007.

- falar ao vivo com um jornalista durante a

apresentação de um programa radiofônico (mútua).

Ainda há o conceito de multi-interação, que ocorre

quando se estabelecem interações reativas e mútuas

simultaneamente, como num chat por exemplo.

Direcionados por essa questão, fomos em busca de uma

forma para estabelecer essa convergência sem descaracterizar

a estrutura da narrativa do programa, mas expandindo suas

possibilidades com os recursos de interatividade e

multimidiáticos oferecidos pelo tablet.

A primeira ideia colocada em prática na construção da

estrutura do documento buscou observar a sequência de

eventos do programa. A partir do que foi observado na sua

estrutura durante o processo de decupagem, o desenho do

fluxo dos conteúdos seria apresentado na capa como um dial e

funcionaria como um link para as matérias disponibilizadas

em forma de texto. Teríamos, então, duas alternativas de

leitura: uma página a página, linearmente, como no programa

de rádio, ou salteada, como no hipertexto, com links

diretamente para as matérias internas levando ao texto e ao

áudio específico. O material de referência que mais se

assemelha a essa ideia é o livro do ex-vice-presidente

americano Albert Arnold "Al" Gore Jr., “An Inconvenient

Truth”, editado em uma versão específica para tablets e que

trata sobre questões de sustentabilidade e ecologia. A ver:

um texto contínuo, no nosso caso, a entrevista com Peninha e

as intervenções dos locutores, adicionada com elementos que

aparecem ao longo desse texto principal, neste caso, as

matérias.

O layout em desenvolvimento alançou, então, o dilema

principal, que é o fluxo das informações, sua apresentação e

complementação com os itens de interatividade. A ideia de

partida era compor uma capa com diversos itens de

interativos que permitisse ao leitor escolher entre ser

ouvinte ou leitor. Na primeira opção, ele poderia ouvir o

programa como foi concebido ou acessar cada matéria

individualmente a partir do dial da publicação. Neste caso,

ele seria direcionado para a página com o destaque da

matéria acessando o link com o áudio. Mas se a opção for

pela estrutura de texto, ele passaria a interagir com a

plataforma a partir de suas características próprias, ou

seja, a entrevista com Peninha permeada ao longo do texto

por itens de interatividade que conduziriam às matérias

correlatas. A capa também tinha sido pensada de forma a

disponibilizar opções para acessar materiais extras, como

orações, lendas, vídeos ou outros áudios que não estão no

programa original, algo como encontrado em extras de mídias

de filmes e jogos.

Durante o desenvolvimento, essa concepção inicial

mostrou-se incompleta ao apresentar falhas conceituais

incapazes de absorver e priorizar a informação sonora como

característica diferenciadora do produto em questão. Ao se

transpor a narrativa radiofônica jornalística para o formato

de livro subestimou-se o alcance e as particularidades desta

linguagem, como destacou MEDITSCH (2007, p. 150)14 em

relação ao fluxo de informação, que “cria uma nova situação

comunicativa que impõe sua lógica sobre a organização dos

conteúdos”. A perspectiva da interatividade como ponto de

convergência também se apresentava frágil e sem o destaque

pretendido.

Partimos, então, para uma abordagem mais prática, que

pudesse dar conta de traduzir os questionamentos pelos quais

gostaríamos que o produto transitasse. A análise mais

detalhada do suporte permitiu reconhecer os limites e quais

das suas funcionalidades seriam úteis para a composição de

uma interface que pudesse valorizar e preservar a informação

sonora como elemento central dentro da perspectiva, não de

uma webradio nos moldes conhecidos, mas da informação

jornalística sonora adaptada à forma e às limitações

decorrentes da opção pelo suporte do tablet condicionada

pelos softwares utilizados para a composição do produto.

Avaliando-se o aspecto visual como elemento de maior

peso para a plataforma, a ideia decorrente foi materializada

a partir da opção pelo uso de metáforas visuais, que têm o

objetivo de propiciar a interação de forma fluida pelo

14

? MEDITSCH, Eduardo. O rádio na era da informação: teoria etécnica do novo radiojornalismo. Florianópolis: Insular, Ed. Da UFSC,2007.

reconhecimento por parte do interagente de elementos

análogos a outros suportes. Assim, o novo ponto de partida

sugerido foi a ideia de um player eletrônico de som como

elemento físico análogo mais completo metaforicamente que a

opção inicial do dial. O player foi projetado para servir de

suporte para todo o conjunto de áudio disponível do

programa. Seu design faz referência a um aparelho de rádio

moderno com botões que permitem o reconhecimento visual e o

acesso ao fluxograma das matérias na estrutura apresentada

pelo programa. Completam o layout da interface a sugestão

visual de uma caixa de som e um pequeno mostrador que traz

informações sobre o trecho do programa selecionado. Estes

elementos adicionam realismo e informação sobre o conteúdo

sonoro, ressaltando a característica da apresentação da

informação.

Por se tratar de um produto que tem sua origem mais

distante nos readers digitais, a maioria dos aplicativos ou

conteúdos disponibilizados nos tablets guarda algumas

características simples e pontuais, como a utilização de

capa como uma tela de reconhecimento e apresentação do

produto. Pensando nisso também foi pensado em uma capa para

o projeto. Com a intenção de diferenciar, mas utilizando a

referência visual anterior para a identificação do programa,

o elemento principal da imagem da capa é uma releitura do

logotipo original criado para o “A Cara da Cidade”. Com a

intenção de valorizar o aspecto sonoro, estão em destaque

nesta composição caixas de som e notas musicais que pulsam

assim que a capa é acessada. As notas são, na verdade,

botões de toque que apresentam chamadas para o conteúdo do

programa. Ainda compõem a capa a identificação da edição e

pequenos ícones que sugerem o toque nas notas musicais. Esta

orientação foi feita após testes preliminares que

constataram que apenas o pulsar das notas não estimularia o

interagente a tocá-las.

Toda iconografia de apoio à interação foi criada de

forma a permitir seu entendimento de forma conceitual,

relacionando-a a outros elementos metafóricos ou a

indicações de ações. A intenção foi tornar a orientação mais

ágil. Como sugere PELTZER (1991, p. 71)15, “a informação

visual chega ao intelecto no nível do conceito, exigindo da

nossa mente um esforço menor de captação”. Por isso, optou-

se por não trabalhar com uma tela guia para a navegação. Os

ícones pretendem ser autoexplicativos ou na primeira vez em

que aparecem são acompanhados de uma breve orientação de sua

função.

Definidas estas questões, restava resolver como o

interagente teria acesso às demais opções de conteúdo, de

forma que fossem percebidos como complementares ao conteúdo

sonoro. Voltando à metáfora do player, a tela seguinte da

navegação vertical foi pensada como sendo a parte de trás do

aparelho. Esta tela funciona como uma espécie de índice com

15 PELTZER, Gonzalo. Jornalismo Iconográfico. Lisboa: Planeta, 1991.

opções para acessar diretamente os conteúdos de imagem,

vídeo e a íntegra do programa em forma de texto, além de

links para redes sociais e o expediente do produto e do

programa na parte inferior da tela.

O design neste estágio do desenvolvimento do produto

continua a referência a elementos análogos que pudessem ser

metaforicamente utilizados. Assim, o verso do aparelho foi

estilizado com botões que assumem a forma de adesivos,

decalques ou mesmo o relevo de botões. O destaque fica

concentrado no trabalho de composição e na utilização das

cores contrastantes para os adesivos e o decalque, que

permitem o acesso ao conteúdo definido como complementar ao

programa original. Um slideshow com 14 obras do acervo da

coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes, do Museu

Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral da UFSC; a

íntegra do programa para leitura, utilizando a mesma

apresentação gráfica da estrutura das laudas dos programas

de rádio; e, finalmente, dois vídeos do YouTube

selecionados, sendo que um narra a história de Franklin

Cascaes e o outro é o curta “As Bruxas de Franklin”. Os

botões com aspecto comum de botões são links para redes

sociais. O objetivo aqui foi adicionar ao produto outras

formas de interação possíveis no ambiente digital com a

utilização da internet.

A navegação entre as telas do produto ocorre apenas

verticalmente e também tem a intenção de simplificar a

localização dentro do conteúdo. Em seguida à tela que

representa o verso do player foi posicionado o texto da

decupagem do programa, porém ele não é apresentado de forma

linear. É priorizada a entrevista com historiador, que está

disposta nas sete telas em sequência. A orientação entre as

telas é feita por um elemento de localização na parte

inferior esquerda que indica em qual página o leitor

encontra-se. As matérias que permeiam o texto principal

ficam recolhidas, mas podem ser acessadas, lidas e ouvidas

com a simples rolagem vertical da barra com o título da

matéria – um ícone específico orienta essa ação. No final do

texto foi colocada a imagem da equipe que produziu o

programa com o professor da disciplina e o entrevistado.

A tela seguinte é a do slideshow, que foi pensada como

uma galeria. O interagente tem a opção de ampliar as obras

por um menu na parte inferior da tela que apresenta as

imagens reduzidas posicionadas lateralmente dentro de uma

caixa com rolagem horizontal. A última tela do produto

contém os vídeos selecionados como opções de conteúdo

complementar ao programa “Floripa Mágica”.

2. Aplicabilidade do programa

Conforme afirmado anteriormente, os desafios da

comunicação estão cada vez maiores e são influenciados

diretamente pelo desenvolvimento das novas tecnologias e das

novas ferramentas de transmissão de conteúdo na era digital.

Entre as tantas possibilidades disponíveis no mercado há que

se pensar em novas estratégias de produção para um público

que se torna cada vez mais exigente e consumidor de

tecnologias. Cada pessoa pode possuir um dispositivo próprio

e acessar a World Wide Web através de celulares, notebooks e

tablets, por exemplo.

De acordo com pesquisa do Centro de Estudos sobre as

Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic)16

publicada em 2013, 40% dos domicílios brasileiros tinham

acesso à internet em 2012, 4% a mais que no ano anterior.

Ainda segundo a pesquisa, o aumento de tecnologias móveis

nos domicílios brasileiros também cresceu, o que reforça a

tendência da mobilidade no país. A proporção de usuários de

telefone celular que acessam a internet por este dispositivo

chegou a 24% em 2012. Em 2011, o número não chegava a 18%.

Sobre estas mudanças, PINTO (1997)17 diz que há uma

disseminação geral das tecnologias da informação e

comunicação e afirma que elas estão presentes no cotidiano e

influenciam a vida social. O autor ainda diz que não se pode

negar o relacionamento entre o conhecimento no campo da

informática e os demais campos do saber humano. Trata-se de

uma nova forma de linguagem e de comunicação, um novo

16 Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação(Cetic). Uso da internet. Disponível em: http://www.cetic.br/usuarios/tic/2012/ . Acesso em 29 jul 2013.

17 PINTO, Aparecida M.. As novas tecnologias e a educação. Disponível emhttp://www.portalanpedsul.com.br/admin/uploads/2004/Poster/Poster/04_53_48_AS_NOVAS_TECNOLOGIAS_E_A_EDUCACAO.pdf. Acesso em 26 jul2013.

código: a linguagem digital.

Por ser um dispositivo recente no mercado, o tablet

ainda não está totalmente popularizado e suas ferramentas

ainda não são aproveitadas de forma completa pela maioria

dos usuários diante das possibilidades pelo aparelho. Uma

das dificuldades enfrentadas é a falta de produção

específica para este dispositivo no Brasil. O jornal O Globo

foi um dos primeiros a adaptar conteúdo para a ferramenta e

lançou em 2012 “O Globo a Mais”, um produto com conteúdo

exclusivo desenvolvido para tablet.

Avaliando o processo e as mudanças decorrentes das

novas tecnologias, os autores deste artigo buscaram fazer um

teste e verificar a usabilidade do tablet como ferramenta de

comunicação, a partir da adaptação do programa radiofônico

“Floripa Mágica” transmitido pela Rádio Ponto UFSC.

Para a realização da análise foram usadas as categorias

de qualidade para interfaces em tablets desenvolvidas em

trabalho ainda não publicado pela mestranda em jornalismo da

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Vivian

Rodrigues de Oliveira. Segundo Oliveira, 10 categorias são

suficientes para identificar a usabilidade do aplicativo

projetado. As categorias são: orientação, contextualização,

padronização, autonomia, precisão, assimilação, economia,

estática, documentação e imersão.

Sobre a categoria orientação, a pesquisadora afirma que

a interface do aplicativo deve permitir que usuário realize

uma navegação consciente, de modo que ele tenha conhecimento

de onde está situado e para onde pode ir. O usuário deve

perceber a localização de cada conteúdo e as possibilidades

de realizar uma ação, desfazê-la e/ou refazê-la.

No que se refere à contextualização, a autora defende

que a interface do aplicativo deve estar adequada às

características de seu público alvo, bem como do tempo e do

espaço de distribuição. É necessário que o aplicativo seja

adequado à cultura e aos costumes de seu ambiente de uso.

Na padronização, a interface do aplicativo deve

apresentar uma estrutura coerente e uma identidade

consistente. É preciso que o usuário não tenha dificuldades

em se familiarizar com os itens de navegação (botões,

ícones, menus, transição de seções, entre outros), evitando

ações repetidas de tentativa e erro.

Sobre autonomia, a autora diz que o aplicativo deve

permitir que o usuário interaja com a interface por meio de

suas próprias escolhas e seja correspondido adequadamente.

Também deve ser preciso e não apresentar possibilidades de

erro durante a navegação.

No se que refere à assimilação, Oliveira declara que a

interface do aplicativo deve ser autoexplicativa e permitir

que o usuário aprenda a interagir a partir do primeiro

contato com o produto, sendo capaz de manter os mesmos

níveis de conhecimento, mesmo após períodos de tempo sem o

utilizar.

Outro ponto destacado pela autora é a questão da

estética, que deve ser clara, estruturada e agradável. Os

elementos visuais como cores, resoluções, proporção,

tipografia, tamanhos, luz, volume, entre outros, não devem

incomodam o usuário, mas auxiliar no processo interativo.

Para finalizar os critérios de usabilidade são

destacados também fatores como a documentação e a imersão.

No primeiro tópico, o aplicativo precisar ser

suficientemente documentado com informações formalizadas a

respeito de registros de privacidade, contatos para

assinatura e compra, suporte, termos de uso, guia de

navegação e ajuda tutorial. No segundo tópico, o aplicativo

deve estimular e atrair a concentração e a atenção do

usuário, não apresentando possibilidade de dispersão ou

fadiga, pois favorecem, segundo a autora, uma navegação mais

lúdica e isto deve ser aproveitado. Para a avaliação dos

fatores de usabilidade do projeto “Floripa Mágica” adaptado

para tablet também foi utilizado o questionário organizado

pela mestranda.

Segundo NIELSEN (2000)18, os grandes testes de

usabilidade são um desperdício de recursos. Os melhores

resultados vêm a partir de testes com cinco pessoas ou mais,

pois este grupo poderá detalhar mais precisamente as falhas

e o que pode ser melhorado em um produto, desde que seja um

18 NIELSEN, Jakob. Why you only need to test with 5 users. Disponível emhttp://www.nngroup.com/articles/why-you-only-need-to-test-with-5-users/. Acesso em 25 jul 2013.

grupo homogêneo.

Conforme a teoria, o questionário foi aplicado com

cinco jornalistas que trabalham na redação da RBS TV de

Florianópolis, afiliada da rede Globo em Santa Catarina.

Entre os que responderam estão dois editores, um produtor,

um repórter e um apresentador. O formulário traz as

alternativas orientadas que apontam: não sei, não concordo,

concordo parcialmente e concordo completamente. Dos

jornalistas que responderam, dois disseram ser usuários

experientes em tablets, dois declararam usar tablets com

frequência e um disse ter usado o dispositivo menos de 10

vezes.

A primeira pergunta do questionário referiu-se à

orientação, ou seja, se o usuário teve dificuldades ao

navegar pelo programa. Todos concordaram parcialmente que o

tablet permite uma navegação consciente e situada, ou seja,

100% dos usuários. Neste quesito, três pessoas disseram ter

ficado em dúvida na movimentação da página inicial,

indicando falta de orientação. Outro ponto destacado foi a

não valorização do áudio no início do aplicativo.

A segunda pergunta era sobre contextualização. Ela

questiona se o aplicativo é moderno, se utiliza bem os

recursos do tablet e também se está adequado ao público que

consome o produto. Neste item, 80% disse que concorda

parcialmente, ou seja, quatro pessoas, e uma pessoa,

totalizando 20%, disse concordar completamente.Uma das

observações levantadas é que faltou contextualização direta

sobre o assunto abordado no aplicativo, uma explicação sobre

a origem do termo Ilha da Magia e sobre o tema. Um apontou

que faltou interatividade, achando linear e parado; já outro

usuário achou que as informações estavam bem destacadas.

No quesito autonomia, que questiona se o aplicativo

deixa o usuário fazer escolhas e optar por caminhos de

navegação, dois disseram não concordar (40%), um disse

concordar parcialmente (20%) e dois disseram concordar

completamente (40%). Os que não concordaram observaram que o

aplicativo influencia uma navegação linear, não permitindo a

liberdade do usuário. Quem concordou parcialmente afirmou

ter sentido falta de direcionamento ao tocar na nota

musical.

Na pergunta sobre padronização, que avalia se o

aplicativo está estruturado de forma consciente, 60% alegou

concordar parcialmente e 40% concordaram completamente. As

observações questionam a usabilidade dos botões, ícones e

menus, alegando falta de indicação para retornar ao

tutorial.

A quinta pergunta é sobre a precisão. Ela questiona se

o aplicativo apresenta possibilidade de erro durante a

navegação e se o objetivo pretendido foi atendido conforme o

esperado. Uma pessoa (20%) não concordou, outra pessoa (20%)

concordou parcialmente e três pessoas (60%) concordaram

completamente. Um observou que a operação é simples, mas que

o processo poderia ser facilitado por ícones mais claros.

Sobre a assimilação, que verifica se o aplicativo é

autoexplicativo, três pessoas disseram concordar

parcialmente (40%) e outras duas pessoas concordaram

completamente (60%). Nas observações foi apontado que o

usuário consegue compreender as informações e se organizar

facilmente e que a compreensão aumenta conforme o contato

com o produto.

Quando questionados sobre a economia, que verifica se o

aplicativo desencadeia ações rápidas e sem esforço, 60%

declarou concordar parcialmente e 40% completamente. Sobre

isso um observou que, para que haja uma navegação mais

simples, rápida e eficiente ainda seriam necessários alguns

recursos.

A oitava pergunta era sobre a estética do aplicativo.

Duas pessoas não concordam (40%), duas concordam

parcialmente (40%) e uma concordou completamente (20%) que o

produto apresenta uma interface bem estruturada e agradável

ao visitante. Sobre a estética foi observado pelos usuários

que falta cor, ícones que agilizem o processo de navegação,

além de conter muito texto. Uma elogiou a estética, sem

criticar negativamente.

No que se refere à documentação, que questiona se o

aplicativo apresenta registros de privacidade e suporte

operacional, 40% afirmou concordar parcialmente e 60%

concordou completamente. Um usuário que respondeu disse que

essa documentação existe de forma muito discreta e que fica

perdida no meio dos textos.

A última pergunta era sobre a imersão. A legenda

questionava se o aplicativo atrai a concentração e a

atenção, não apresentado possibilidade de dispersão. Do

total, 20% disse não concordar com isso, duas pessoas

concordam parcialmente (40%) e outros 40% concordaram

completamente. Neste quesito também houve pontos divergentes

de opinião. Um apontou que a atratividade é mais válida pelo

tema do que pela forma. Outros dois destacaram que os

recursos multimídia utilizados valorizam a informação do

produto.

O resultado dos processos de usabilidade do aplicativo

pode ser resumido da seguinte maneira:

1) Orientação: 100% concorda parcialmente.

2) Contextualização: 80% concorda parcialmente e 20%

concorda completamente.

3) Autonomia: 40% não concorda; 20% concorda parcialmente e

40% concorda completamente.

4) Padronização: 60% concorda parcialmente e 40% concorda

completamente.

5) Precisão: 20% não concorda; 20% concorda parcialmente e

60% concorda completamente.

6) Assimilação: 40% concorda parcialmente e 60% concorda

completamente.

7) Economia: 60% concorda parcialmente e 40% concorda

completamente.

8) Estética: 40% não concorda; 40% concorda parcialmente e

20% concorda completamente.

9) Documentação: 40% concorda parcialmente e 60% concorda

completamente.

10) Imersão: 20% não concorda; 40% concorda parcialmente e

40% concorda completamente.

3. Considerações Finais

Refletindo sobre o resultado do teste com os cinco

jornalistas da RBS TV de Florianópolis, pode-se afirmar que

o programa “Floripa Mágica”, adaptado para tablet, necessita

de alguns ajustes na sua usabilidade. Neste sentido, é

importante destacar que alguns processos que foram

considerados intuitivos ainda não fazem parte da cultura dos

usuários de tablets. No contato com o produto desenvolvido,

a maioria dos entrevistados apontou algo que pode ser

melhorado em cada um dos itens, identificado que a linguagem

do produto é complexa.

Segundo GORCZESKI (2013)19, o jornalismo ainda está em

busca de rumos sobre a forma de se produzir para tablets.

Tudo indica, segundo o autor, que o público já acostumado

com o meio não se satisfaz apenas com notícias, mas também

busca entretenimento. Um passo além nesta discussão seria a

19 GORCZESKI, Vinicius. Em busca de uma linguagem para tablets.Disponível em http://6congressoabraji.wordpress.com/2011/07/02/em-busca-de-uma-linguagem-para-tablets/. Acesso em 26 jul 2013.

produção de conteúdos específicos para cada suporte:

celulares, internet e tablets, por exemplo.

Sendo assim, pode-se concluir que os profissionais

responsáveis pelo desenvolvimento dos aplicativos devem

buscar referências em outras plataformas e em outras formas

de comunicação para criar esses produtos, além de somente

reproduzir conteúdos realizados para outros suportes, como a

World Wide Web, por exemplo. Sobre o distanciamento dos

usuários com os tablets, nota-se que existe ainda uma certa

dificuldade no uso deste dispositivo, mas isto tende a se

dissipar nos próximos anos com a ampliação do uso dos

tablets.

Concluindo, a proposta final reflete uma série de

questionamentos que direcionaram a composição de um produto

novo, fruto inicialmente da habilidade prática e da

percepção de conceitos fundamentais para a webemergência e o

radiojornalismo. As respostas alcançadas e concretizadas no

desenvolvimento têm o objetivo de servir como hipóteses que

precisam ser amplamente testadas, mas que podem balizar a

criação de produtos similares. As questões que definiram as

proposições gráficas e objetivas em relação ao que foi

apresentado e que ainda demandam uma busca mais detalhada

dizem respeito à utilização dessa plataforma, em como manter

o foco na perspectiva sonora da informação em um suporte com

grande apelo visual e em que medida deve-se desenvolver os

recursos multimídias associando-os ao áudio como forma de

aproveitar o recurso interativo do cenário sonoro. Outro

ponto que merece atenção é em relação a quem forma a

audiência de um produto como esse, como motivá-la a escolher

essa opção de mídia. Ainda, como melhorar a interatividade

no produto aproximando de sua característica mútua ou de

multi-interação, que, na plataforma tradicional do rádio, é

desempenhada pelo jornalista. Questões como essas servirão

como base para estudos futuros e devem ajudar na adaptação

da informação sonora em novos suportes tecnológicos.

Por fim, esta é uma tentativa de se criar uma nova

maneira de se olhar a produção radiofônica, saindo dos

aspectos tradicionais e criando novas formas de comunicação

com o ouvinte. A proposta, portanto, foi a de reinventar o

conteúdo radiofônico e o das próprias webradios, que, em sua

grande maioria, apenas reproduzem a forma de produção comum,

sem se aprofundar nos quesitos da convergência tecnológica.

Com propostas como esta, é possível pensar na situação que

TOME e MOTA (2005, p. 61) apresentam em seu artigo “Uma Nova

Onda no Ar”20. Neste estudo, os pesquisadores apontam que

hoje existe um triângulo em cujos vértices estão a TV

digital, o rádio digital e o terceiro vértice conteria a

verdadeira convergência dos meios, criando uma nova forma de

comunicação eletrônica. Este terceiro vértice contém algumas

características inerentes, como a interatividade, a

20 MOTA, Regina e TOME, Takashi. Uma Nova Onda no Ar. In: MídiasDigitais: convergência tecnológica e inclusão social. ColeçãoComunicação-estudos. São Paulo: Paulinas, 2005, p. 51-84.

possibilidade de se obter conhecimento no momento em que o

receptor desejar e o fato de o usuário poder tornar-se ativo

na produção e divulgação do conhecimento. Avaliando todos

estes aspectos, os autores deste artigo acreditam ter

alcançado a concretude destes conceitos na adaptação para

tablet do programa “Floripa Mágica”, transmitido na Rádio

Ponto.

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Anexos

Telas da primeira versão:

Capa

Página 2

Página 3 com destaque para a matéria e o estado em quea página é acionada

Telas da versão final:

Capa

Página 2 – player de som:

Página 3 – verso do player

Páginas 4 a 10 – íntegra do programa com as matériascorrelatas

Página 11 – Slideshow

Página 12 – Vídeos