Notas para a definição da propriedade dos terrenos do Largo da República e do Tribunal de...

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Resumo: A partir do trabalho publicado no nº 2 dos “Cadernos de Estudos Leirienses”, elaborou-se este pequeno texto incindindo sobre quem expropriou os mais de 4.000 m2 da Villa Portela, em Leiria, para fazer o Largo da República. Igualmente se mostra que os serviços do Ministério da Justiça se apropriaram de vias públicas, bem como não participaram na expropriação da Villa Portela. Como conclusão aponta-se para a necessidade de serem consultados os processos de expropriação que passaram pela Relação de Coimbra e pelo Supremo Tribunal, para uma mais completa clarificação Ricardo Charters d’Azevedo Eng. Notas para a definição da propriedade dos terrenos do Largo da República e do Tribunal de Justiça, em Leiria

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Resumo:

A partir do trabalho publicado no nº 2

dos “Cadernos de Estudos Leirienses”,

elaborou-se este pequeno texto

incindindo sobre quem expropriou os

mais de 4.000 m2 da Villa Portela, em

Leiria, para fazer o Largo da República.

Igualmente se mostra que os serviços

do Ministério da Justiça se apropriaram

de vias públicas, bem como não

participaram na expropriação da Villa

Portela.

Como conclusão aponta-se para a

necessidade de serem consultados os

processos de expropriação que

passaram pela Relação de Coimbra e

pelo Supremo Tribunal, para uma mais

completa clarificação

Ricardo Charters d’Azevedo

Eng.

Notas para a definição da

propriedade dos terrenos

do Largo da República e do

Tribunal de Justiça, em

Leiria

Notas para a definição da propriedade dos terrenos do Largo da República e do Tribunal de Justiça, em Leiria Por: Ricardo Charters d’Azevedo (Eng.)

A investigação que realizei com vista a produzir um trabalho, que foi recentemente

publicado no nº 2 dos Cadernos de Estudos Leirienses com o título “Epanáfora das maldades

feitas á Villa Portela”, permite a elaboração da seguinte nota:

Figura 1 - Vista área da Villa Portela, mostrando o desenvolvimento da rua Sá de Miranda até à Estrada Leiria-Barreira, bem como a parcela que foi expropriada para a construção do Largo da República

A fotografia aérea da Villa Portela (fig 1) datada dos anos 40 do século passado (naquela

altura constituída pela Quinta e pelo Chalé, cómodos, etc., e jardins) incluída como fig 2 na

publicação mencionada, permite verificar dois pontos:

A precisa localização e desenvolvimento da Rua Sá de Miranda, hoje cortada por uma

escada;

A localização da área de 4.336 m2 expropriada á Vila Portela.

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A figura seguinte, retirada de um processo existente no Arquivo Histórico da CMLeiria,

permite verificar que:

Figura 2- Extrato da planta existente no Arquivo Histórico da CML, mostrando a área expropriada à Villa Portela pela CMLeiria, bem como a área de implantação do Tribunal

O Palácio da Justiça não foi construído em terreno pertencente à Vila Portela,

ocupando sim um pedaço da rua Sá de Miranda e um quarteirão a sul desta. O corte

da rua Sá de Miranda, durante a construção do Palácio da Justiça, levou a que utentes

dessa via reclamassem à CML. Esperava o ministério da Justiça que a expropriação da

Villa Portela fosse mais célere para que os moradores da Sá de Miranda tivesse um

desvio.

Somente a 24 de Junho de 1953, a CMLeiria aprova o projeto de arranjo do Largo da

República, estando já em construção adiantada o Palácio, e solicita comparticipação do

Estado para expropriar a Villa Portela.

Comentado [up1]:

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Julgo que o Palácio da Justiça é inaugurado em 1954. Nesse ano já se falava da

urgência da CMLeiria expropriar a Villa Portela, para “desencravar” o Palácio da

Justiça.

Verifica-se que se pretendia fazer uma rotunda (ver fig 2), pois considerava-se que o

Largo deveria ser o novo “Centro Cívico” da cidade, devendo este ser rematado em

frente á CMLeiria por um edifício tipo “Palácio das Corporações” ou pelo novo edifício

do Governo Civil.

Assim, já estando terminada a construção do Palácio da Justiça, tendo a CMLeiria

recebido uma dotação financeira do “ministério das Corporações”1, lança2 a 20 de

1 Talvez por conta do investimento que este ministério ira fazer em leiria para ter o seu palácio. Hoje é o edifício da Segurança social ao lado da CMLeiria 2 As vicissitudes para o lançamento deste processo estão resumidamente contadas na pag 167 e seguintes, do nº 2

do Cadernos de Estudos Leirienses.

Figura 3 – Extrato da planta existente num processo do Arquivo Histórico da CMLeiria, onde se indica a vermelho a área que seria

expropriada/comprada pelo ministério da Justiça, não “tocando” na Villa Portela

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outubro de 1959, um procedimento de expropriação urgente de utilidade pública, tendo

tomado posse administrativa imediata dos 4.336 m2 da Vila Portela, anunciando-o por

edital de 4 de setembro de 1959.

Somente a partir dessa data é que foram rompidos os muros da Vila Portela, mas só em

finais de 1966 a CMLeiria, colocou o portão (ver figura nº 4) depois de lentamente ter

construídos os muros de que ainda hoje se encontra a propriedade dotada. E tal na

sequência de decisão de 11 de maio de 1962 do Supremo Tribunal Administrativo para

onde os proprietários recorreram.

Os proprietários da Villa Portela nunca foram contactados pelos serviços do ministério

da Justiça, para a compra ou expropriação de qualquer parte do terreno da Villa Portela

Fig 4 – Foto do espólio do Fabião (esteve exposto em exposição no Mimo) mostrando a situação da Villa Portal sem

muros e sem acessos de viaturas

Conclusão:

Do acima exposto podemos inferir que os terrenos do Largo da República foram constituídos

por parte da Villa Portela, expropriada pela CMLeiria, de forma a desencravar o Palácio da Justiça

e pelos arruamentos denominados de Sá de Miranda e estrada Leiria Barreira.

Notas para a definição da propriedade dos terrenos do Largo da República e do Tribunal de Justiça, em Leiria Por: Ricardo Charters d’Azevedo (Eng.)

O Pácio da Justiça foi implementado em área expropriada/comprada pelos serviços do

ministério da Justiça, no quarteirão constituído pelo vértice a sul da Sá de Miranda e da estrada

de Leiria à Barreira. O edifício do tribunal e seus logradouros, ocupa ainda parte das ruas Sá de

Miranda e da estrada de Leiria à Barreira.

Os proprietários da Villa Portela nunca foram contactados pelos serviços da Justiça para lhe

serem expropriados parte da Villa Portela.

Existem nos serviços da CMLeiria e nomeadamente no seu Arquivo Histórico, documentação e

plantas que permitiram a elaboração destas notas sobre o Largo da República. Existe igualmente

um grande processo referente á expropriação da Villa Portela que passou pela Relação e

terminou no STA, contendo informação relevante.

Importante será a consulta do processo de expropriação da Villa Portela, que depois de ter sido

julgado em 1ª instância, foi à Relação de Coimbra e acabou no Supremo Tribunal.

Leiria, Villa Portela, 27 de Outubro de 2014

Ricardo Charters d’Azevedo