MUSEUS ENQUANTO MUSEU INTEGRAL: REFLEXÃO COM BASE NA DECLARAÇÃO DA MESA REDONDA DE SANTIAGO DO...

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1 MUSEUS ENQUANTO MUSEU INTEGRAL: REFLEXÃO COM BASE NA DECLARAÇÃO DA MESA REDONDA DE SANTIAGO DO CHILE EM 1972 Rogério Carlos Petrini de Almeida *1 RESUMO Os museus tradicionais do culto ao objeto das relações fechadas ao espaço físico tem uma ampliação para novas perspectivas da geração de museus em espaços abertos ocupados por território, formando ecomuseus, museus comunitários e museus virtuais com premissas de melhor alcançar o seu público de atender as necessidades em disseminar saberes. São transformações provocadas pelos princípios de museu integral. Em texto fundamentado por pesquisa bibliográfica, reúne conceitos e a topologia de museu e assume um estudo de caráter não exaustivo. Comenta finalmente, a influência promissora deixada pelo conceito de museu integral na mudança de concepção dos museus, dentro de uma filosofia voltada à ação e comunicação em conjunto com a comunidade e seu público, permitindo um comportamento de museus mais voltados ao meio social, ao ambiente natural, comunitário, interativos, inovador-futurista sem deixar de lado ao ideal da 1* Bel.Biblioteconomia e aluno do Curso de Museologia – FABICO / UFRGS. Trabalho realizado como pré-requisito para avaliação da disciplina Iniciação à Museologia (BIB03207), ministrada pela Professora Ana Carolina Gelmini. Porto Alegre, junho de 2014. E- mail: rogé[email protected].

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MUSEUS ENQUANTO MUSEU INTEGRAL: REFLEXÃO COM BASE NA DECLARAÇÃO DA

MESA REDONDA DE SANTIAGO DO CHILE EM 1972

Rogério Carlos Petrini de Almeida*1

RESUMO

Os museus tradicionais do culto ao objeto das relações

fechadas ao espaço físico tem uma ampliação para novas

perspectivas da geração de museus em espaços abertos ocupados por

território, formando ecomuseus, museus comunitários e museus

virtuais com premissas de melhor alcançar o seu público de atender

as necessidades em disseminar saberes. São transformações

provocadas pelos princípios de museu integral. Em texto

fundamentado por pesquisa bibliográfica, reúne conceitos e a

topologia de museu e assume um estudo de caráter não exaustivo.

Comenta finalmente, a influência promissora deixada pelo conceito

de museu integral na mudança de concepção dos museus, dentro de

uma filosofia voltada à ação e comunicação em conjunto com a

comunidade e seu público, permitindo um comportamento de museus

mais voltados ao meio social, ao ambiente natural, comunitário,

interativos, inovador-futurista sem deixar de lado ao ideal da1* Bel.Biblioteconomia e aluno do Curso de Museologia – FABICO / UFRGS. Trabalho realizado como pré-requisito para avaliação da disciplina Iniciação à Museologia (BIB03207), ministrada pela Professora Ana Carolina Gelmini. Porto Alegre, junho de 2014. E-mail: rogé[email protected].

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preservação do patrimônio material e imaterial e a promoção da

pesquisa e do conhecimento.

Palavras-chave: Museu Integral. Declaração de Santiago do Chile.

ABSTRACT

Traditional museums cult object to the closed physical space

has a magnification relations for generating new perspectives

museums in the territory occupied by open spaces, forming eco-

museums, community museums and virtual museums with assumptions

better reach your audience to meet the needs to disseminate

knowledge. Changes are caused by the principles of full museum. In

substantiated by literature text, brings together concepts and

topology assumes museum and a study of non-exhaustive Finally

said, promising to influence left by the concept of comprehensive

museum in changing the design of museums, within a philosophy

focused action and communication with the community and their

audiences, enabling behavior museums more geared to the social

environment, the environment natural, community, interactive,

innovative futuristic without abandoning the ideal of preserving

the tangible and intangible heritage and the promotion of research

and knowledge.

Keywords: Integral Museum. Declaration of Santiago de Chile.

1 INTRODUÇÃO

3

O museu como instituição, aberta ao público, é considerado

como um fenômeno social, dinâmico, com característica de

preservar, difundir, expor o seu acervo, constituído de patrimônio

cultural. O museu, na sua amplitude, se apresenta nas mais

diversas formas perante seu público, aparecendo com a tipologia de

museus tradicionais: clássicos, ortodoxos, interativos; de

território: ecomuseus, museus comunitários; virtuais: ocupando

espaços digitais, como na internet.

O museu integral como uma entidade conceitual, abriu

horizontes para provocar a mudança sobre a ideologia dos museus

concentrados no objeto, na coleção, na necessidade de espaço

físico limitado, e na sua exposição museográfica, cria dessa forma

uma porta para a aproximação e o dialogo com a comunidade.

O presente texto construído com o uso da metodologia de

pesquisa bibliográfica explora com simplicidade o conceito de

museu integral a partir dos estabelecimentos de seus princípios na

Mesa-Redonda de Santiago, objetivando o conhecimento evolutivo do

conceito aplicado a museu integral e sua contribuição no cenário

dos museus.

O trabalho realizado não é exaustivo, anota alguns conceitos

e definições de museu e de sua tipologia, numa classificação

básica com esclarecimentos simples, mas com a finalidade de

conhecer sua essência e despertar seu entendimento na compreensão

das possibilidades e possíveis influências que o modelo conceitual

de museu integral exerceu ou exerce sobre as atividades dos museus

na contemporaneidade.

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2 MUSEU INTEGRAL: SINOPSE DA MESA-REDONDA DE SANTIAGO DO CHILE.

A Mesa-Redonda de Santiago de 1972, reunião interdisciplinar

por iniciativa da UNESCO, para discussão sobre os papeis dos

museus na América Latina, com o tema central “museu integral” como

um conceito daquela entidade que “participa ativamente da vida

nacional e recria os contextos dos objetos que expõe.” (12. p.165),

o museu interdisciplinar por excelência que se associa a outro

novo conceito o “ecomuseu”.

Grete Mostny Glaser menciona que a Mesa-Redonda de Santiago

do Chile permitiu que tivessem “uma visão clara e precisa do museu

na perspectiva do mundo que o rodeia” (1. p.165) além de relatar:

[…] que os museus na América Latina não sãoadaptados para os problemas suscitados pelodesenvolvimento da região e deveriam se esforçarpara cumprir sua missão social, que é permitir aohomem identificar-se com seu ambiente natural ehumano em todos os seus aspectos. O museu estápreocupado não apenas com a herança do passado, mastambém com o desenvolvimento (GLASER, 1. p.164).

O tema central da Mesa-Redonda de Santiago do Chile era a

investigação: se os museus latinos americanos como instituições

educacionais, culturais e científicas, estavam adaptados aos

problemas impostos pelo desenvolvimento da cultura social e

econômica da América Latina. Constataram que os museus não estavam

2 (1) utilizou-se para o texto o documento Mesa-redonda de Santiago do Chile. Revista Museum 1973. Disponível em: <http://www.ibermuseus.org/noticias/publicacao-sobre-a-mesa-redonda-de-santiago-do-chile-de-1972/> Acesso em: 28 mai. 2012. P. 164-165

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adaptados às estas realidades. Foi invocado um novo conceito de

museu revolucionário, o museu integral, que se afasta do conceito

tradicional de museus de disseminar cultura, para assumir um papel

no desenvolvimento cultural.

A Mesa-Redonda de Santiago do Chile delineia os princípios de

bases do museu integral, analisando os discursos sobre o meio

rural e meio urbano, sobre o desenvolvimento científico e educação

permanente, considerando que os museus devam participar na

educação das comunidades.

Resolvem adotar as seguintes medidas:

a) por uma mutação do museu da América latina: abrindo o

museu a conhecimentos multidisciplinar com caráter de

consultoria conscientizadora de desenvolvimentos

tecnológicos; esforços na recuperação do patrimônio

cultural, evitando dispersões; dispor de coleções mais

acessíveis a pesquisadores; modernização das técnicas

museográficas, melhor relacionamento objeto e visitante;

mecanismo de controle de eficácia; e a reciclagem de

pessoal (1).

b) em relação ao meio rural devem conscientizar com:

exposição de tecnologias aplicáveis ao aperfeiçoamento da

vida da comunidade; exposições culturais propondo soluções

diversas ao problema do meio social e tecnológico, a fim de

proporcionar ao público uma consciência mais aguda sobre

estes problemas, e reforçar as relações nacionais (1).

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c) em relação ao meio urbano devem conscientizar: o

desenvolvimento urbano e seus problemas mediante exposição

e trabalhos de pesquisa; criar exposições e museus em

bairros e zonas rurais, para ilustrar os problemas urbanos

as vantagens e desvantagens da vida nos grandes centros;

experimentar técnicas museológicas do museu integral;

d) em relação ao desenvolvimento científico e técnico:

estimular o desenvolvimento científico e tecnológico;

difusão do conhecimento, do progresso tecnológico, por meio

de exposições, exposições itinerantes, promovendo a

descentralização de suas ações;

e) em relação à educação permanente deve estar condicionado:

Serviço educativo, função de ensino dentro e fora de suas

instalações; ser integrado a política de ensino para

garantir sua regularidade no campo de ensino; ser difundido

nas escolas e meio rural; material educativo

descentralizado; formar educadores (1)

O que se atesta nas considerações e resoluções tomadas na

reunião da Mesa-Redonda de Santiago do Chile são delineações

consistentes para a construção do conceito de museu integral.

Museu que se destina a oferecer à comunidade uma visão de conjunto

de seu meio material e cultural.

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3 MUSEU INTEGRAL – MUSEU INTEGRADO: CONCEITUAÇÕES E EXEMPLIFICAÇÃO

O museu integral na visão de Scheiner (2012, p.11):

[...] se fundamenta não apenas na musealização detodo o conjunto patrimonial de um dado território,ou na ênfase no trabalho comunitário, mas nacapacidade intrínseca que possui qualquer museu deestabelecer relações com o espaço, o tempo e amemória – e de atuar diretamente junto adeterminados grupos sociais.

Para Scheiner (2012, p.11), “o sentido de museu está na sua

própria existência” e o museu integral tem a proposta e as

práticas museológica voltada à comunidade conforme disposições da

Mesa-Redonda de Santiago de 1972.

Insere-se neste contexto o Museu Comunitário da Lomba

Pinheiro, criado em 2006, fica localizado em Porto Alegre-RS, no

bairro com a mesma denominação do Museu, o que já demonstrando sua

afinidade e relação com a comunidade. O atuar junto a grupos

sociais a promover o desenvolvimento cultural do espaço

geográfico, é também, características do conceito de museu

integral, e o Museu Comunitário da Lomba do Pinheiro tem uma

grande atuação e participação nas atividades culturais e

educativas junto a escolas de sua localidade. Promove oficinas

culturais, de reflexão da comunidade, dentro e fora de seu espaço;

tem parceira com UFRGS e desenvolve projetos como História Oral,

turismo no bairro, museus de rua. Tem a tipologia de museu

comunitário, possui acervo doado pela Família Remião, conta com

uma biblioteca que serve a comunidade, mas é um museu que carrega

consigo características de museu integral.

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Observa-se que o conceito de museu integral não ficou inerte

após as decisões da Mesa-Redonda de Santiago, e reproduzimos os

resumos dos encontros realizados pelo Subcomitê Regional para

Museologia da América Latina e Caribe (ICOFOM – LAM), entre

1992/2002, com a finalidade de examinar a evolução e aspectos

inerentes sobre a conceitualização de museu integral.

Resumos:

1992 Encuentro del ICOFOM LAM.

• El museo es un fenómeno social dinámico que sepresenta en distintas formas, de acuerdo con lascaracterísticas necesidades de la sociedad en quese encuentra.

• El medio ambiente debe ser considerado demanera integral

1993- II Encuentro Regional del ICOFOM LAM.

• La Museologìa es una disciplina científica.

• Los conceptos presentados en los documentospublicados por el Comité internacional deMuseologìa – ICOFOM (…) constituyen la baseteórica fundamental para el desarrollo de laMuseologìa como disciplina científica.

• (se recomienda al ICOM Y AL ICOFOM) estimularla unificación conceptual de la Museologìa;promover la producción y difusión de los textosde museología de carácter teórico;

• (Se recomienda a los museos) desarrollaracciones que tiendan a fortalecer el conocimientoy la comprensión del carácter multicultural ypluriétnico de los países de la región, elaborarprogramas especialmente diseñados en los cualeslos habitantes de América latina ay el Caribe se

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reconoce en un proceso de autentica integracióncultural.

1997- IV Encuentro Regional del ICOFOM- LAM.

• El museo se presenta como la instancia idealpara contribuir a la preservación,interpretación, valorización y difusión delpatrimonio integral.

• Se considera como objeto/documento todomaterial de la realidad Tangible o intangible quepueda ser objetivado:

• (se recomienda) que se amplié el máximo deconcepto de musealidad, para que incluye todoslos aspectos constitutivos del patrimoniointegral.

• ( se recomienda) que se dé valor al realimaginario ( Imaginación) como superación de losabordajes que sistemáticamente incluye losfactores intuitivos, activos y Vitales en eltratamiento del objeto/documento.

1998 VII Encuentro Regional del ICOFOM LAM.

• Es imprescindible e impostergable revisar ellenguaje museológico, establecido pautas comunesde comunicación que respeten e incluyan ladiversidad cultural a través de un dialogoparticipativo.

• ( Se recomienda) promover la actualización delos contenidos basados en el desarrollo de lasperspectivas multiculturales, así como de clasesétnicas, género y de las minorías sociales:

• (Se recomida) que los museos refuercen suspotencialidad como espacios de reconexión desentido, vivencia, afectividad y emociones parael encuentro con la diversidad creativa;

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• (Se recomienda) que los museos apoyen eldesarrollo sustentable de las comunidades dondese insertan.

2000-IX Encuentro Regional de ICOFOM LAM.

• Apelamos para que lo Real sea definido comototalidad.

• La problemática ambiental es un objeto deconocimiento complejo que necesita no solo laconcurrencia de los saberes académicos sinotambién la de los saberes populares:

• (consideramos necesario) Valorizar ladiversidad cultural de América Latina, comofuentes de recursos creativos para dominar ladominación.

2002 Encuentro Regional del ICOFOM LAM.

• Es prioridad para los museos de América latinael permanente desafió de dar respuesta a losproblemas sociales y educacionales de la región

• Es necesario profundizar prioritariamente laproblemática terminològica y su relación com lainformática a fin de definir lo que es virtual ylo que es Digital, en el sentido de comprender loque representa las nuevas concepciones,herramientas y estrategias de trabajo.

2003 XII Encuentro Regional del ICOFOM LAM.

• El patrimonio está relacionado con el proceso,permanente de resignificación cultural individualy colectiva.

• El discurso museológico es una poderosa formade interpretación de lo real.

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• Los museos deben poner a disposición de lasdiferentes clases y/o grupos sácielas, losconocimientos de las colecciones de manerainteligible, respetando sus respectivos códigosculturales.

• (Recomendamos) Motivar a los gobiernos de losEstados para que establezca leyes que reglamentenla preservación y presentación de los bienespatrominiales en su lugar de origen.

Verifica-se pelos resumos dos encontros promovidos pelo

ICOFOM LAM, que o museu é considerado como um fenômeno social e

deve ser levado em conta de maneira integral, e nestes encontros é

forte a recomendação para que os museus efetuem a difusão do

conhecimento e interajam com a comunidade respeitando a

diversidade cultural relacionado-se dessa forma com o sujeito,

memória e lugar.

A Declaração de Caracas de 1992 reporta-se a Mesa-Redonda de

Santiago, inferindo museu integral como destinado a “situar o

público dentro do seu mundo, para que tome consciência de sua

problemática como homem-indivíduo e homem-social”3. Que não pode

existir um museu integral, ou integrado na comunidade se o

discurso museológico não utilizar uma linguagem aberta,

democrática e participativa.

Ainda, o encontro manifesta que a função museológica

[…] é, fundamentalmente, um processo de comunicaçãoque explica e orienta as atividades específicas doMuseu, tais como a coleção, conservação e exibição

3 DECLARAÇÃO DE CARACAS - ICOM, 1992. Cadernos de Sociomuseologia.  v. 15, n. 15 Lisboa. 199 9 . Disponível em: <http://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/article/view/345>Acesso em: 28 mai.2014. p 245.

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do patrimônio cultural e natural. Isto significaque os museus não são somente fontes de informaçãoou instrumentos de educação, mas espaços e meios decomunicação que servem ao estabelecimento dainteração da comunidade com o processo e com osprodutos culturais.4

A Declaração de Caracas participa uma evolução do conceito do

museu integral, aqui também, comparado a integrado, saindo do

direcionamento de museu de ação junto a sociedade para um museu de

comunicação e interação junto a sociedade.

Mensch (1992, p.3) comenta a renovação dos objetivos dos

museus “mais voltados para o desenvolvimento comunitário” com

vistas na Mesa-redonda de Santiago, detentora de um enfoque

voltado ao desenvolvimento e o papel dos museus, destacando-se o

conceito de museu “integrado”, alterando ao termo de “integral”,

empregado na Mesa-redonda, para “integrado”. Quanto ao museu

integrado o descreve da seguinte maneira:

Num museu integrado, as funções de preservação,investigação e comunicação devem estar inter-relacionadas (integração interna) e ainda com omeio ambiente natural e cultural (integraçãoexterna). Integração significa, pois o somatório deinterdisciplinaridade e socialização (MENSCH, 1992,p.3).

Varines (1996, p.7), questionado sobre o Museu integral,

declara: “[...] O museu total seria um museu onde todas as

disciplinas, todos os conhecimentos seriam representados sob todos

os seus aspectos. [...]”. Museu total ou integral seria um absurdo

4 Idem. p.250.

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para Varines, que coloca o Mundo como única situação, porém se

refere ao assunto como museu global com uma ideologia a ser

buscado em virtude de um museu poder ser interessar por tudo

dentro de seus objetivos. Um contraponto a ser feito seria a

colocação de que o museu integral ou total como sinonímia, remete

a uma associação do seu entorno, ou a integração com interesses de

sua comunidade e visitantes enquanto que um museu global, além de

remeter a objetivação total, nos projeta uma idéia de esfera

global de abrangência cultural de todo o mundo.

Para Scheiner (2012, p.22) museu integral “é uma percepção

integrada da relação entre os museus e as realidades sociais,

econômicas e políticas dos museus latino-americanos”, e,

relacionam que uma das marcas da Mesa-Redonda de Santiago é a

consideração sobre os museus tradicionais poderem ser ou deverem

ser considerados museus integrais e que a partir de 1960 os museus

começaram a incorporar as ações participativas visionadas na

reunião de Santiago e do ICOM.

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4 MUSEUS E SUA TIPOLOGIA

Extraímos do site Museohoje (2014) as informações pertinentes

a definição de museus pelo ICOM e pelo IPHAM e as quais

reproduzimos a baixo visto a importância destas neste conteúdo.

O museu segundo a definição de atribuída pelo Conselho

Internacional de Museus – ICOM, definição aprovada pela 20ª

Assembleia Geral Barcelona, Espanha, 6 de julho de 2001: é uma

instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da

sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que

adquire, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos

materiais do homem e de seu entorno, para educação e deleite da

sociedade.

Insere nesta definição:

- Os sítios e monumentos naturais, arqueológicos eetnográficos;

- Os sítios e monumentos históricos de carátermuseológico, que adquirem, conservam e difundem aprova material dos povos e de seu entorno;

- As instituições que conservam coleções e exibemexemplares vivos de vegetais e animais – como osjardins zoológicos, botânicos, aquários e vivários;

- Os centros de ciência e planetários;

- As galerias de exposição não comerciais;

- Os institutos de conservação e galerias deexposição, que dependam de bibliotecas e centrosarquivísticos;

- Os parques naturais;

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- As organizações internacionais, nacionais,regionais e locais de museus;

- Os ministérios ou as administrações sem finslucrativos, que realizem atividades de pesquisa,educação, formação, documentação e de outro tipo,relacionadas aos museus e à museologia;

- Os centros culturais e demais entidades quefacilitem a conservação e a continuação e gestão debens patrimoniais, materiais ou imateriais;

- Qualquer outra instituição que reúna algumas outodas as características do museu, ou que ofereçaaos museus e aos profissionais de museus os meiospara realizar pesquisas nos campos da museologia,da educação ou da formação.

Segundo o Departamento de Museus e Centros Culturais – IPHAN

(atual IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus), em 2005, define:

O museu é uma instituição com personalidadejurídica própria ou vinculada a outra instituiçãocom personalidade jurídica, aberta ao público, aserviço da sociedade e de seu desenvolvimento e queapresenta as seguintes características:

- o trabalho permanente com o patrimônio cultural,em suas diversas manifestações;

- a presença de acervos e exposições colocados aserviço da sociedade com o objetivo de propiciar àampliação do campo de possibilidades de construçãoidentitária, a percepção crítica da realidade, aprodução de conhecimentos e oportunidades de lazer;

- a utilização do patrimônio cultural como recursoeducacional, turístico e de inclusão social;

- a vocação para a comunicação, a exposição, adocumentação, a investigação, a interpretação e apreservação de bens culturais em suas diversasmanifestações;

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- a democratização do acesso, uso e produção debens culturais para a promoção da dignidade dapessoa humana (sic);- a constituição de espaços democráticos e

diversificados de relação e mediação cultural,

sejam eles físicos ou virtuais.

Sendo assim, são considerados museus, independentemente de

sua denominação, as instituições ou processos museológicos que

apresentem as características acima indicadas e cumpram as funções

museológicas.

O que se observa nas duas definições são colocações com

aspectos diferentes, mas que na essência tem a preocupação com a

interação e participação da sociedade em espaços abertos e na

diversificação destes espaços.

Para Sartini (2011, p. 127) O museu deve ser um espaço de

preservação e memória destinado a toda comunidade e que além de

preservar, difundir, pesquisar, deve: “do presente, olhar o

passado pensando no futuro!”.

O conceito de museus integral está em evolução, assim como o

próprio conceito de museu, que recebeu no encontro do ICOFOM LAM

de 1992 a descrição como “El museo es un fenómeno social dinámico

que se presenta en distintas formas[…]”, considerando estas

evoluções e associando as contribuições das práticas estabelecidas

para o museu integral enumera-se a tipologia dos museus

conceituando-os e exemplificando cada tipo.

Tipos de Museus:

a) Museus tradicionais

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Os Museus Tradicionais clássicos possuem o espaço

controlado, com foco na existência do objeto e com uma mensagem

para alguém com abordagem conceitual definida. Guardam objetos de

várias partes do mundo. Tem horário de visitação pública pré-

determinado. Exemplo. Museu do Louvre. Estão subdivididos em

museus tradicional ortodoxo, do tipo interativo e do tipologia com

coleções vivas.

- Museu Tradicional Ortodoxo:

Localizados em edifício com espaço limitado a cada núcleo de

exposição, valorizando o objeto dando ênfase ao acervo como

produto cultural, e possuem um roteiro definido. Tem horário de

visitação pública pré-determinado. Exemplo: Museu Histórico

Nacional no Rio de Janeiro. A característica do museu histórico é

a relevância histórica de seu acervo. Outro exemplo é MARGS -

Museu de Arte do Rio Grande do Sul Aldo Malagoli. A característica

do museu de arte esta voltada a acervo composto com exclusividade

para pinturas e esculturas.

- Museu Tradicional do tipo Interativo:

Está limitado a um edifício, tem horário de visitação

pública pré-determinado, exposições do objeto definido, os espaços

não são rigidamente delimitados, roteiros interativos com a

participação do visitante. Assistência de monitoria. Exemplo:

Museu de Ciência e tecnologia da PUCRS e relata em seu site que

objetiva a difusão de conhecimento e valorização da participação

do visitante através de experiências lúdicas.

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- Museu Tradicional com coleções vivas:

Espaço delimitado e controlado para cada núcleo expositivo,

com ou sem roteiro definido, o visitante não interage, o acervo

constituído por seres vivos, paisagem, ecológico. Igualmente tem

horário comercial de visitação.

Para Mensch (2012), jardins botânicos e zoológicos

encarregam-se de organismos vivos e trazemos como exemplo o Jardim

Botânico de Porto Alegre e o Museu de Ciências Naturais, Mantidos

pela Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, instituições

atuantes com participação de alunos de escolas em conservação da

fauna e flora e participante de trabalhos de pesquisas e em

jornadas de iniciação científica.

b) Museus de Territórios

Espaço em que o visitante se subordina aos processos

culturais e aos fenômenos da natureza local.

- Cidades Monumentos:

O espaço da exposição e todo o conjunto formado pela cidade,

não havendo um horário definido para a observação do visitante, em

espaços abertos, podendo haver definição de horário em alguns

pontos de visitação, pois, outros tipos de museus podem se

constituir seu objeto. Valoriza os resultados da presença humana

sobre o território. Exemplos: Cidade de Ouro Preto, localizada em

Minas Gerais, considerada Patrimônio Mundial da UNESCO e monumento

nacional. Roma é outro exemplo de cidade monumento tem dezenas de

monumentos que refletem o passado do povo romano. Ambas são

cidades turísticas e objetos de estudo e pesquisa.

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- Parques Nacionais e outros sítios naturais musealizados:

Está baseado no espaço musealizado de um território com

ênfase em um ecossistema que teve ou não registro humano baseado

nos valores naturais ou culturais da presença humana, onde a

exposição é decorrente do lugar. Pode conter eventos de exposições

tradicionais, mas não são essenciais. Exemplificam estes espaços:

Parque Nacional do Iguaçu; Parque Marinho Fernando de Noronha;

Parque Nacional da Tijuca. Espaço com forte visitação, com

visitação controlada ou liberada, mas que se integram com sua

comunidade às vezes reduzida com finalidade de seu

preservacionismo, como é o caso do arquipélago Fernando de

Noronha.

- Ecomuseu:

Para Varines (2013) o ecomuseu tem a função de dar a

comunidade local o sentimento de apropriação de sentirem-se

moralmente proprietária do território. Relata que o princípio

fundador do museu era a inexistência de coleções, no entanto a

doação participativa conduziu a construção de coleção própria

alojada em uma sede.

De um modo geral o ecomuseu apropria um território com a

preocupação ecológica, preservação paisagística, com a relação

homem- território e vínculos culturais e sociais. Com mencionado

pode ou não possuir coleções como pode conter exposições

eventuais. É uma iniciativa da comunidade. Nas questões de

preservação Mensch (1992) coloca que os ecomuseus exploram

soluções funcionais com vista ao uso sustentável.

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O termo ecomuseu foi trazido para evidencia na Mesa-Redonda

de Santiago, como um novo conceito de museu e representando como

exemplo deste tipo de museu o já existente desde 1971, Museu

Creusot-Monteceau, na França, uma referencia na contribuição da

mudança de concepção de museus somatizados no objeto.

- Museu Comunitário

Lersch e Ocampo (2014, p.x) conceitua o museu comunitário

como uma ferramenta para que a comunidade construa um espaço que

venham a se conhecer a si mesma participando do processos

coletivos para expressar suas histórias e reportam-se ao museu

comunitário como “uma ferramenta para a construção de sujeitos

coletivos, enquanto as comunidades se apropriam dele para

enriquecer as relações no seu interior, desenvolver a consciência

da própria história, propiciar a reflexão e a crítica e organizar-

se para a ação coletiva transformadora.”

Os autores supramencionados ainda se referenciam que as

coleções destes museus são provenientes de um ato de vontade da

doação de objetos patrimoniais da comunidade e que o objeto não é

predominante, mas sim a memória e a significação de sua história

em um processo de fortalecimento de identidade da coletividade

através da legitimação destas histórias e de seus valores.

É um museu de território com uma sede doada pela comunidade

local onde decidem sobre sua realidade, participam estudando

reunindo objetos e trocando ideias em criações coletivas.

Hugues de Varine (1996, p.11-12) posiciona o museu

comunitário como:

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[…] saído da sua comunidade e cobrindo o conjunto

do seu território, com vocação global ou

“integral”, processo vivo que implica a população e

não se preocupa com um público, que é ao mesmo

tempo o centro e a periferia. A vida desses museus

será curta ou longa, alguns nem se chamarão museus,

mas todos seguirão os princípios da nova museologia

(Santiago, Quebec, Caracas, etc.) no seu espírito

ou na sua escrita (teoria).

A colocação de Varines nos conduz a refletir sobre

promissora contribuição nascida com os princípios instituídos para

museu integral, por decorrência da mesa redonda de Santiago que se

refletem nas discussões e aplicações e nas novas concepções dos

museus na atualidade.

O Museu da Lomba do Pinheiro, citado no tópico 2, é exemplo

desta tipologia de museu de território e comunitário, com

características nítidas de museu integral.

c) Museus virtuais

Áreas em meios eletrônicos, acessadas via internet, ou através

de mídias eletrônicas, visíveis em desktop, ou em meio eletrônicos

televisivos, que permitem acessos e navegações na referida área

eletrônica, onde se tem a possibilidade de se assistir a proposta

e exposição efetuada pelo museu. Neste caso intitulado de museu

virtual, pela utilização do ambiente digital e disponibilizar

imagens digitais.

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O objeto não está presente é visionado através de imagens

digitais e virtuais e o público visitante não é presencial, se

considerado o estar em ambiente físico, mas marca sua presença

pelo acesso realizado no site do museu.

Segundo Menezes (2007) o museu virtual tem a tendência de

desmaterialização e ampliação do mercado simbólico e considera que

é na informática que mais se tem produzido mudanças no campo

museológico e refere-se a museu virtual “como uma panaceia capaz

de superar todas as limitações” (p.52). Comenta que é um museu a

ser visitado a qualquer dia, qualquer hora e de qualquer lugar,

esclarecendo que o virtual a serviços do museu parece abrir

horizontes de benefícios e que a ideia deste tipo de museu junta a

problemática em relação a especificidade que justifica o museu.

Na atualidade os museus tradicionais buscam os recursos da

internet e do mundo virtual como forma de se divulgarem, e divulgarem

de modo virtual parte de seu acervo, coexistindo com museus

totalmente virtuais a exemplo do Museu da Pessoa, visto pelo site:

'http://www.museudapessoa.net/index.htm.

Os museus virtuais que se surgem com o avanço das

tecnologias voltadas ao mundo da internet se sintonizam com os

princípios do museu integral, por sua globalização e estar

permanentemente em contado com o público, especialmente

influenciando em uma nova concepção de museu, com dinâmica

interativa e de transmissão de conhecimento.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conceito de museu integral tomou força na Mesa-Redonda de

Santiago do Chile, como uma entidade que deveria estar integrada a

comunidade evoluiu nas discussões da reunião de Caracas, em 1992,

imputando ideais de ações comunicativas e interativas com a

comunidade.

Reflexões sobre os museus integrais estiveram presentes nas

reuniões dos comitês internacionais de museologia, e se nota que é

conceito em aprimoramento. Há de se esclarecer que o Museu

integral não é uma unidade física, mas um conceito destinado a

provocar mudanças paradigmáticas da atuação dos museus e mesmo de

outras instituições que se assemelham.

O conceito museu integral é incentivador da criação de novos

modelos de museus, dentro dos princípios instituídos pela Mesa-

Redonda de Santiago enriquecido com o resultado das novas

propostas delineadas pelos encontros promovidos pelo ICOM.

O museu integral na sua essência pode ser empregado em

qualquer tipo de museu e se constata que sua filosofia se associou

amigavelmente aos tipos de museu comunitário e ecomuseus, onde a

comunidade se apresenta participante em contribuições sociais e na

construção e manutenção destas tipologias de museus, ampliando

seus conhecimentos. Isto não significa que outros tipos de museus

estejam ausentes do sentido de museu integral, aplicam por vezes

alguns princípios e incorporam algumas características, lembrando

que o próprio conceito de museu é ampliado no sentido de

transmitir conhecimento, promover pesquisa difundir-se mesmo que

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seja como atração voltada ao seu espaço, mas que de fato coloca

seus serviços para a comunidade.

O surgimento de novas tecnologias promoveu a criação de

museus virtuais que permitem a interação de público não

presencial, de se ter acesso de qualquer lugar e se constituem

exemplo, juntamente, com os museus comunitários e ecomuseus, da

contribuição evoluída de museu integral, na proposta de mudança de

concepção de modelos clássicos de museus, permitindo um

comportamento destas instituições mais voltado à ação social,

comunitário, interativos, inovador-futurista, sem deixar de lado

ao ideal da preservação do patrimônio material e imaterial e a

promoção da pesquisa e do conhecimento.

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REFERÊNCIA

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