Movimento estudantil e trabalhadores Urbanos durante a Reforma Universitária

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Onde se forjam os homens. 1 Movimento estudantil e os trabalhadores na Reforma Universitária 1 Em Lima e em Havana, como já havia acontecido, em 1918, em Córdoba, iniciou-se, em 1919, um movimento estudantil de intensidade inédita tanto no Peru quanto em Cuba. Possuía algumas características comuns nos vários países, de tal forma que os próprios contemporâneos aperceberam-se delas e passaram a tratá-lo por uma denominação genérica, visando consolidar a versão de que tinha proporções continentais: Reforma Universitária. Nesse contexto inscreve-se o surgimento, na vida pública, de nossos dois principais protagonistas: Víctor Raúl Haya de la Torre e Julio Antonio Mella. Ambos iniciaram sua atuação como lideranças estudantis, mas logo ganharam projeção nacional e passaram a ser líderes políticos de expressão. Cada um deles desempenhou, em seu país, um importante papel na mobilização dos estudantes e, além disso, na realização daquele que foi, na visão dos contemporâneos, o traço comum mais importante da Reforma Universitária em todos os lugares em que ela se deu: a aproximação entre as aspirações dos setores médios, que os estudantes representavam, e as classes populares. Víctor Raúl, nasceu em Trujillo, norte do Peru, em 22 de fevereiro de 1895, numa grande e aristocrática família na qual a política revelou ser uma verdadeira vocação. Vários de seus ascendentes ocuparam importantes cargos políticos na segunda metade do século XIX, em muitas ocasiões em lados absolutamente contrários, criando vivas 1 O presente texto é um fragmento da tese de doutoramento intitulada ANTIIMPERIALISMO E NACIONALISMO:A POLÊMICA DOS ANOS 20 NA VISÃO DE HAYA DE LA TORRE E JULIO ANTONIO MELLA. Apresentada à Universidade de São Paulo.

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Onde se forjam os homens.

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Movimento estudantil e os trabalhadores na

Reforma Universitária1

Em Lima e em Havana, como já havia acontecido, em 1918, em

Córdoba, iniciou-se, em 1919, um movimento estudantil de intensidade

inédita tanto no Peru quanto em Cuba. Possuía algumas características

comuns nos vários países, de tal forma que os próprios contemporâneos

aperceberam-se delas e passaram a tratá-lo por uma denominação

genérica, visando consolidar a versão de que tinha proporções

continentais: Reforma Universitária.

Nesse contexto inscreve-se o surgimento, na vida pública, de

nossos dois principais protagonistas: Víctor Raúl Haya de la Torre e

Julio Antonio Mella.

Ambos iniciaram sua atuação como lideranças estudantis, mas

logo ganharam projeção nacional e passaram a ser líderes políticos de

expressão. Cada um deles desempenhou, em seu país, um importante

papel na mobilização dos estudantes e, além disso, na realização

daquele que foi, na visão dos contemporâneos, o traço comum mais

importante da Reforma Universitária em todos os lugares em que ela se

deu: a aproximação entre as aspirações dos setores médios, que os

estudantes representavam, e as classes populares.

Víctor Raúl, nasceu em Trujillo, norte do Peru, em 22 de fevereiro

de 1895, numa grande e aristocrática família na qual a política revelou

ser uma verdadeira vocação. Vários de seus ascendentes ocuparam

importantes cargos políticos na segunda metade do século XIX, em

muitas ocasiões em lados absolutamente contrários, criando vivas

1 O presente texto é um fragmento da tese de doutoramento intitulada ANTIIMPERIALISMO E

NACIONALISMO:A POLÊMICA DOS ANOS 20 NA VISÃO DE

HAYA DE LA TORRE E JULIO ANTONIO MELLA. Apresentada à Universidade de São Paulo.

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polêmicas no velho casarão dos patriarcas da família, que seria

habitado por Haya e seus pais em seu primeiro ano de vida. Seu pai,

Raúl Edmundo Haya, além de deputado, foi o editor de um jornal em

Trujillo, La Industria, diretamente envolvido nos debates de seu tempo,

mostrando que a inclinação política de Haya de la Torre apenas

confirma uma vocação de várias gerações.

A infância e a adolescência de Haya foram vividas em sua cidade

natal. Recebeu a melhor educação que aos jovens de uma tradicional

família provinciana era recomendável; ingressou no seminário de São

Carlos, onde se instruíam os jovens trujillanos de alguma posição, e

recebeu importante complementação na sua formação de seu tio

Eduardo Gonzalez Orbegozo, que havia sido educado em Londres e

possuía sólidos conhecimentos em economia política e literatura. Essa

última influência foi fundamental no interesse posteriormente

manifestado por Haya com relação à sociedade e à cultura da

Inglaterra.

A primeira atividade de caráter social de Haya, em Trujillo, de que

se tem notícia foi a criação de um Club de Fútbol, em 1912, do qual,

com apenas 17 anos, foi presidente.

Em suas biografias, é constante a referência à primeira

aproximação entre ele e grupos de operários anarquistas, acontecida

ainda em Trujillo através de seu contato com uma biblioteca operária

mantida por um sindicato muito próximo de sua residência. Segundo o

próprio Haya, com 16 anos de idade foi quando, pela primeira vez, teve

contato com os escritos de Manoel González Prada2, particularmente

Páginas libres e Horas de luchas, textos que, a despeito da prática

política e jornalística de seu pai, por diferenças ideológicas jamais

entrariam em sua casa.

2 Manuel Gonzalez Prada (1848-1918): poeta, ensaísta e um dos maiores polemistas da cultura

peruana na virada do século. Com profunda convicção anticlerical, foi fonte de inspiração para os pensadores de esquerda do início do século.

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Em 1913, Haya foi admitido na Faculdade de Letras da

Universidad de Trujillo, onde permaneceu por três anos, antes de

transferir sua matrícula à Universidad San Marcos, em Lima.

Sua chegada a Lima e os primeiros anos foram vividos em meio à

alta sociedade da capital. A recomendação de seus parentes influentes

de Trujillo abriu algumas portas ao jovem estudante da província.

Foi convivendo nesse círculo de pessoas que conheceu Ana

Bilinghurst, uma adolescente, filha do ex-presidente Guillermo

Bilinghurst 3, única mulher por quem Haya apaixonou-se, segundo ele

mesmo. Durante os anos 30, com o pseudônimo de Ana Pantoja, ela

seria sua incansável companheira na organização da APRA, embora

jamais tenham se casado.

A Lima que Haya conheceu no final da década de 10 já era muito

diferente do que tinha sido até o início do século. Como o resto do Peru,

passava por importantes transformações, resultantes não só do

aumento dos investimentos estrangeiros britânicos e norte-americanos,

que contribuíam para diversificar as atividades econômicas do país,

mas também do crescimento significativo de uma indústria de capital

nacional que, apesar de incipiente, representava novas perspectivas de

emprego e renda para as classes populares, ampliando e diversificando

suas atividades. Segundo Julio Cotler:

“De allí que mientras 1890 la producción (da indústria textil) local

significaba menos de 10% del consumo de tejidos de algodón, quince años

mas tarde, dicha proporción se elevó a cerca de la tercera parte del consumo

total, al mismo tiempo que la producción absoluta se había duplicado. En las

dos primeras décadas del siglo XX, la expansión de la capacidad instalada

en la industria textil creció en 140%. La industrialización en curso significó

3 Guillermo Billinghurst, presidente do Peru entre 1912 e 1914. Governo caracterizado pelo

apoio recebido dos setores populares urbanos da capital que participaram ativamente de sua campanha eleitoral e mantiveram-se mobilizados durante seus anos de mandato. Esse estilo de exercício do poder foi exceção com relação aos governos desse período e custou-lhe a indisposição das principais lideranças políticas que, juntamente com o exército, organizaram

um golpe de Estado que depôs o presidente em 1914, substituindo-o pelo ex-presidente José Pardo.

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um crecimiento significativo de la población asalariada. Joaquín Capelo en

Lima en 1900, estima que, en 1900, Lima contaba con 100mil habitantes, de

los que 6000 eran obreros, y 16000 artesanos.” 4

Acompanhando essas mudanças, observava-se também que os

trabalhadores, das cidades e do campo, começavam a se organizar em

torno de suas demandas. O movimento sindical no Peru começou a

florescer no início do século, marcado por forte influência do

anarquismo em oposição às sociedades de auxílios mútuos de artesãos

que foram formadas durante o século precedente.

O Sindicato dos Padeiros de Lima, filiado à Federação Anarquista

La Estrella del Perú, organizou, em 1905, uma greve em busca da

jornada de oito horas. Em 1907, foi a vez dos trabalhadores têxteis de

Vitarte, também liderados por anarquistas.

Na região serrana, trabalhadores rurais também incrementavam

sua mobilização, reivindicando basicamente o pagamento integral em

moeda corrente, já que tradicionalmente eram pagos com fichas que os

habilitava a consumir produtos alimentícios nas tiendas de seus

empregadores.

Trabalhadores urbanos que apenas no início do século começavam

a adquirir importância no contexto nacional, protagonizaram o mais

importante movimento de protesto operário e greves já visto no país e

que tomou conta da capital durante o ano de 1919. Sobre sua

diversificação profissional e social, fazemos nossas as palavras de

Alberto Flores Galindo:

“Hemos venido hablando de ‘movimento obrero’. El termino requiere de

múltiples precisiones. En realidad deberíamos referirnos a ‘trabajadores’,

para así resumir la heterogeneidad de un movimento popular donde al lado

de obreros, en el más puro sentido europeu del término, como los textiles de

Vitarte, figuraban artesanos (carpinteros, empapeladores, sastres, etc...),

4 COTLER, Julio. Clase, Estado e Nación en el Perú. Lima, Instituto de Estudios Peruanos,

1992, p.134.

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servidores ‘domésticos’ (espécie de siervos en la propia ciudad), barredores,

lavaderas etc... Cuando los autores de la época se refieren a los obreros,

están pensando en todos estos personajes y así, por ejemplo, la relación de

Sociedades Obreras hecha por Carlos Cisneros (1911) al lado de la

Federación de Panaderos o la Confederación de Artesanos, figura la

sociedad del Señor de los Milagros o la Sociedad Hijos de Ancash.” 5

Os estudantes da Universidade de São Marcos não ficaram

indiferentes a essa ação. Os que possuíam alguma experiência com o

movimento estudantil - como Haya de la Torre que já havia atuado

como representante estudantil em Trujillo - procuraram rapidamente

agir de maneira articulada com os trabalhadores, oferecendo não só sua

solidariedade, mas também sua colaboração ativa na luta travada

contra os patrões e o governo.

Enfrentando na Federación de Estudiantes de Perú oposição de

grupos que acreditavam que as greves operárias não eram assunto

pertinente aos estudantes, Haya conseguiu aprovar o apoio aos

operários que consistiu não só na cessão do grande Salão de Atos de

que a Federação dispunha no Palácio de Exposições para realização de

Assembléias, como também na nomeação, por parte da Federação, de

uma comissão de três estudantes de São Marcos para compor o comitê

de greve. Além disso, foi fundada a Federación de Trabajadores de

Tejidos del Perú, sob a presidência do delegado universitário Víctor Raúl

Haya de la Torre.6

Nesse período, Haya converteu-se no principal mediador entre o

Ministro de Fomento, Manuel Vinelli - o homem do gabinete do

presidente José Pardo sobre quem recaiu a responsabilidade de pôr fim

5 FLORES GALINDO, Alberto. La agonía de Mariátegui. Lima, Instituto de Apoyo Agrario,

1989, p. 204. 6 NIETO, Jorge. “La transición intelectual del joven Haya” en ADRIANZÉN, Alberto. (org.)

Pensamiento político peruano. Lima, DESCO, 1987, p.170. Esse fato demonstra a disposição

dos estudantes em participar das lutas operárias e a credibilidade dos trabalhadores com relação aos estudantes.

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à greve - e as lideranças trabalhistas, intercambiando propostas e

contrapropostas.

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Depois de intensas negociações, algumas tentativas de prisão de

lideranças sindicais e por força dos resultados massivos da mobilização

– paralisando quase por completo as principais atividades produtivas na

capital e mantendo a cidade às escuras por vários dias - o governo

estabeleceu, por decreto, a jornada máxima de oito horas em todo

território nacional, não sem antes conseguir que o movimento grevista

desistisse de suas outras reivindicações de natureza econômica.

Dessa forma, os estudantes peruanos realizaram uma primeira

experiência de aproximação com os setores populares, ultrapassando a

retórica dos intelectuais que os haviam antecedido no início do século -

a chamada “geração do 900” - de “agitar as consciências” e realizando

uma ação concreta de organização de massa.

A vitória dos trabalhadores inquietou intensamente os setores

políticos mais conservadores do país. As comemorações em virtude da

decisão do governo, em Lima, com grandes passeatas em que se

agitavam bandeiras vermelhas e entoavam-se hinos revolucionários,

desencadearam grande preocupação entre os políticos do Partido

Civilista7 que, da tribuna do parlamento, não se cansavam de

denunciar que os “setores mais baixos da população” estavam dispostos

a promover o “terror rojo” e urdir uma “revolução bolchevique”

em terras peruanas 8. Essa participação bem sucedida na luta dos

trabalhadores da cidade inspirou também os estudantes a agirem de

forma mais decidida quanto a seus próprios problemas.

Tão logo terminaram as ações de massa de janeiro de 1919,

achava-se em Lima o importante político socialista argentino Alfredo

Palácios que, em meio a esse clima insurgente e favorável, deu algumas

7 Partido político fundado na década de 1860 por comerciantes de guano liderados por Manuel

Pardo e que realizaram intensa campanha contra os militares em seu periódico La Revista de Lima. Seu primeiro mandato na Presidência da República aconteceu em 1872, com Manuel Pardo.

8 Cf. COTLER, Julio., op. cit., p.180. O exagero desses setores políticos do parlamento é

perfeitamente compreensível quando consideramos que para eles qualquer manifestação da “ralé” nas ruas podia ser vista como um claro sinal de insurgência.

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conferências sobre sua experiência no movimento da Reforma

Universitária, em Córdoba.

Em junho de 1919, os estudantes lançaram-se à ação. Um

desentendimento entre os alunos da Faculdade de Letras e um

professor de História desencadeou uma greve. Formou-se um comitê,

apoiado na experiência que os estudantes tinham vivido com os

trabalhadores, e a greve rapidamente se alastrou para toda a

Universidade.

No dia 4 de setembro, os estudantes realizaram, na porta do

Palácio do Governo, um comício objetivando entregar sua pauta de

reivindicações nas mãos do presidente recém-empossado em seu

segundo mandato, Augusto B. Leguía.

Leguía havia sido presidente de 1908 a 1912; em 1913, foi exilado

do país por Guillermo Billinghurst que, num golpe de Estado, foi

derrubado por José Pardo que confirmou o exílio de Leguía o qual só

pôde voltar ao país nos primeiros meses de 1919.

Conhecedor dos mecanismos do poder no Peru, em resultado tanto

de seus sucessos quanto de seus fracassos, Leguía buscou organizar

uma ampla frente de apoio junto a todos os setores políticos que

vinham sendo marginalizados pelo Partido Civilista, não hesitando

nessa tarefa em forjar alianças com seus inimigos de períodos

relativamente recentes.

Leguía acercou-se também das novas forças sociais que se

insinuavam no cenário político, mantendo conversações e angariando

simpatizantes entre os universitários. Dessa feita, era com esperança

que os estudantes assomavam às dependências do palácio do Governo

trazendo suas demandas ao novo chefe de estado. Entre elas, além do

pedido de afastamento do professor que havia gerado o

descontentamento, exigia-se a participação de estudantes nos órgãos

deliberativos da Universidade e a extinção da presença obrigatória aos

cursos.

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Essa primeira fase da relação do movimento estudantil com o novo

governo foi muito tranqüila. Leguía, tão logo chegou ao poder, sabedor

das dificuldades existentes em governar o país sem uma maioria

significativa no Congresso e pretextando uma suposta indisposição de

seus opositores no parlamento em reconhecer sua vitória, promoveu um

Golpe de Estado, dissolvendo as Câmaras Legislativas e convocando

eleições para a composição de uma Assembléia Constituinte. Seguiu-se

a essa medida um intenso processo de expurgo de líderes do Partido

Civilista. Leguía conseguiu deportar ou prender vários deles. Um dos

redutos de seus adversários políticos eram as cátedras universitárias e,

na visão de Leguía, cada vitória dos estudantes representava perda de

influência e prestígio para esses homens. Assim, em outubro desse

mesmo ano, o governo já havia tratado de aprovar leis que sancionavam

a participação dos alunos no governo da Universidade e a supressão

das listas de presença, principais demandas dos estudantes, cuja

proximidade com o novo presidente foi muito além da mera simpatia de

parte à parte. Bem mais tarde, em 1928, analisando essa inicial relação

entre os estudantes e Leguía, tentando demonstrar sua aversão a

Leguía com efeito retroativo, Haya comenta numa carta ao editor de

Repertório Americano, periódico de Costa Rica em que colaborou por

muitos anos:

“Nunca fui leguiísta. Cuando Leguía llegó al Peru, yo trabajaba

ganando cinco libras, o sea, vinticinco dólares mensuales, en el gabinete de

un abogado, Dr. Eleodoro Romero, primo hermano de Leguía, su atual

embajador en Roma (...) Fácil me era pues, llegar hasta Leguía. Todo aquel

que quiso, fue leguiísta, y fue leguiísta afortunado. La casa del candidato

estaba siempre abierta y su mesa siempre lista, para los estudiantes

especialmente. Centenas de ellos desfilaron por la casa lujosa del

candidato, y se sentaron ante su mesa. Yo fui invitado varias veces, pero

nunca acepté.” 9

9 HAYA DE LA TORRE, V. R. Obras completas. Lima, Juan Mejia Paca Editores, 1977, v.2, p.94

Onde se forjam os homens.

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Já que essa carta havia sido apresentada como uma resposta a

uma outra do poeta Alberto Guillén, escrita à revista Claridad de

Buenos Aires, na qual o remetente acusava Haya de leguiísta, este faz

questão de demonstrar que outros nomes de sua geração mereceriam

muito mais o título do que ele e, para prová-lo, comentou aspectos

muito interessantes da relação entre os estudantes e o governo de

Augusto Leguía:

“La época era de aprovechar. Pocos dejaron pasar tan grata

oportunidad. Leguía, candidato a presidente flamante, se dedicó a comprar

gente. Venderse era fácil, y no se pagaban malos precios. De ese período

vergonzoso de subasta general quedan, sin duda, algunas buenas

consecuencias. Cuando Leguía enviaba a Europa a centenares de jóvenes

de todas las clases, especialmente a intelectuales e estudiantes, salienron

algunos que hoy son grandes compañeros nuestros, y que para Guillén

deberían ser exemplos a seguir. José Carlos Mariátegui es uno de ellos.

Enviado a Europa, pensionado e protegido, aprendió todo lo necesario para

estar listo a luchar desde el campo contrário.” 10

Essa relação harmoniosa entre estudantes e Leguía não duraria

muito tempo. Novas eleições foram realizadas para definir a presidência

da Federação de Estudantes, em 1919, e delas saiu vitorioso Haya de la

Torre.

A primeira importante medida tomada pelo novo presidente foi a

convocação de um Congresso Nacional de Estudantes que se reuniu

durante o mês de março de 1920, na cidade de Cuzco, contando com

representantes das quatro universidades peruanas.

No que se refere à Reforma Universitária, as oposições existentes

entre costa e serra, ou centro urbano e província, ganharam uma

importância central. Grande parte das lideranças estudantis, inclusive

em São Marcos, era oriundas de regiões distantes e vinham estudar em

10 HAYA DE LA TORRE, V. R. op. cit. p.95. Como isso foi escrito próximo à polêmica em torno

da fundação do Partido Nacional, é difícil saber se Haya estava sendo sincero ou irônico com relação a Mariátegui.

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Lima como forma de travar contato com o mundo urbano, onde se

concentrava o poder político.

No entanto, a valorização da capital como o lugar do progresso e da

civilização, porção do Peru mais próxima da tradição ocidental, em

contraste com uma visão da região serrana como espaço do atraso, da

presença numerosa de indígenas e símbolo das permanências do

mundo colonial, havia sido uma temática muito comum na percepção

do país que intelectuais peruanos do século XIX tinham consagrado.

Os estudantes da geração de Haya, fortemente inspirados por

aqueles que se opunham a essa leitura, dentre os quais González Prada,

o mais importante, tendiam, a cultivar uma idéia de pureza e

autenticidade da província, contrapondo-a à cidade como espaço

degenerado e de dissipação dos costumes. Na verdade, mantinham

inalterado o contraste, porém, invertendo a polaridade.

Essa idéia também era resultado de uma leitura específica do

indigenismo do início do século, informada por uma nova visão das

comunidades indígenas que tinha entre seus principais divulgadores

homens como Castro Pozo11, além do aumento dos conflitos na zona

serrana em defesa das terras comunais e contra a expansão do grande

latifúndio.

11 Hildebrando Castro Pozo. Titular da Sección de Asuntos Indígenas, órgão criado no governo

Leguía, destinado a investigar as condições de vida das comunidades indígenas da região serrana do Peru. Posteriormente, sua produção acadêmica relativa à questão diversificou-se, sendo publicada esparçamente em várias revistas dedicadas ao tema. Entre seus livros, destacam-se Nuestra comunidad indígena, de 1924, e Del ayllu al cooperativismo socialista, de 1936. Além de sua atuação à frente do órgão citado, Castro Pozo foi um dos articuladores dos primeiros Congressos Nacionais de Comunidades Indígenas organizados pelo Comitê Pro-Derecho Indígena Tahuantinsuyo. Este último, não só apoiou as propriedades comunais, como também interveio nas disputas entre elas e os latifundiários, radicalizando suas

posições ao longo dos anos. Foi deputado constituinte pela província de Piura, em 1931, defendendo propostas de luta em favor daquelas comunidades.

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O fato de o Congresso Nacional ter sido realizado em Cuzco diz

respeito exatamente a essa tendência que vigorava no movimento

estudantil. Embora o centro da agitação tenha sido Lima, esse

deslocamento geográfico no momento da tomada de decisões

importantes não tinha qualquer sentido prático, mas respondia a essa

necessidade de reafirmar o valor da província e daquilo que ela

representava, para a tentativa de proposição de uma nova identidade

nacional.

Em um texto de Haya sobre o Congresso, torna-se ainda mais claro

esse aspecto. O fato de que tenha sido escrito muito depois dos

acontecimentos, em março de 1927, apenas evidencia o uso ideológico

que se fez dessa decisão de escolher Cuzco para sediar o Congresso.

Exatos sete anos depois dos fatos, Haya comenta:

“Antes de la Reforma Universitaria de 1919, nuestra juventud creía

que masculinidad era donjuanismo y talento, viveza criolla.

El mismo gran movimiento reformista habría naufragado en la tibia y

convencional marejada de limeñismo cobarde si el ímpetu provinciano no

hubiera renovado el ambiente lanzado por la borda a los últimos

representantes de la reacción capitalina que ya conducían nuestro glorioso

movimiento hacia el derrotismo y hacia el compromiso. Entonces fuí yo el

intérprete de esse gran anhelo provinciano, y electo presidente de la

Federación, sin carrozas presidenciales ni lujos de sastreria, en medio a la

inquietud del conflicto que el entonces rector de San Marcos trataba de

arrastrar hacia la transacción, sistema de limeñista patente.” 12

Mais adiante, no mesmo texto, Haya desenvolve uma sorte rara de

“determinismo geográfico” que busca explicar os sucessos ocorridos

durante o Congresso:

“La intriga llevada a Lima cuidadosamente no prosperó. Fue como

esos jazmines de invernadero que mueren en las faldas de las montañas

florecidas al contacto con la luz y el aires libres. La altura quebró los brotes

12 HAYA DE LA TORRE, V. R. Obras completas. Lima, Juan Mejia Paca Editores, 1977, v.2,

p.56.

Onde se forjam os homens.

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del veneno llevado desde los limeños dormitorios sombríos. La lluvia lavó las

manchas, el trueno y el rayo limpiaron los oídos y los ojos de los

ensordecidos y de los miopes. Nuestro Congreso de Cuzco se penetró de un

claro espíritu serrano. Nuestros pulmones respiraban mejor y nuestra

sangre desintoxicada y activa dio a todos, aun a los más sórdidos, limpidez

y alegría. Ya volviendo, después de la victória, una medianoche en Crucero

Alto, lavamos nuestros rostros y lavamos los rostros de los adormitados con

la nieve pura.

Los reaccionarios limeños necessitaron meses para rehabituarse a la

atmósfera de las intrigas. ¡Hasta ellos!, ¿es posible?, habían vuelto más

dignificados de la montaña.” 13

Fica evidente, nesse trecho, o esforço ideológico de erigir uns

tantos valores subjetivos que seriam a base de sustentação de uma

nova percepção do mundo serrano. Não por acaso, o texto em questão,

que respondia muito mais aos imperativos da luta política, em 1927, do

que às reminiscências do alvorecer das lutas estudantis, intitulava-se

“Del Cuzco salió el nuevo verbo y saldra la nueva acción”. Em meio a

uma crescente expectativa de que as comunidades indígenas da região

serrana pudessem tomar a iniciativa de uma luta política em associação

com os trabalhadores da cidade, Haya, do exílio, buscava estabelecer

um nexo direto entre os embates de sua juventude e os grandes

desafios do presente.

Entre todas as resoluções do Congresso, aquela que teve a maior

transcendência do ponto de vista da solidificação da aliança que

começou a se estabelecer entre o movimento estudantil e os

trabalhadores, foi a da criação das Universidades Populares. Iniciativa

concebida e, em grande parte, organizada por Haya, a Universidade

Popular, que ganharia o nome de González Prada, foi talvez a que

conquistou a maior adesão por parte dos trabalhadores. Sua realização

representou o fim da frágil união que havia sido estabelecida entre os

estudantes e a Patria Nueva. Na prática as UPs representavam um meio

13 Idem, p. 57.

Onde se forjam os homens.

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concreto de ampliar e solidificar a ação dos estudantes na organização

do movimento operário. Sobre seu funcionamento, informa-nos

Portocarrero:

“El sistema de enseñanza se basaba en la organización de cursos,

conferencias y veladas culturales. Se comprometía a alumnos de la

Universidad de San Marcos, según su especialidad, para su dictado.

Generalmente, se le entregaba a cada asistente una breve explicación de los

temas y contenidos de cada curso. Las actividades se realizaban de noche

en el local de la Federación de Estudiantes en el parque de la Exposición. Al

igual que la Universidad, los cursos eran semestrales. Las conferencias se

dictaban con regularidad como complemento a otros cursos (...). Los cursos

eran de tipo básico (historia, geografia, salubridad, matemáticas, castellano,

economía, entre otros).” 14

Embora nos estatutos de fundação da Universidade Popular

estivesse explicitamente consignado que ela não tinha “más doctrina

que la justicia social”, os estudantes envolvidos manifestavam

constantemente sua adesão cada vez mais decidida aos princípios

socialistas. Essa tendência não raro criou alguns confrontos com

lideranças dos trabalhadores que tinham uma clara orientação

anarquista. No entanto, isso não era suficiente para invalidar a

iniciativa, até porque, por tradição própria, os anarquistas prezavam

muito os esforços no sentido de ampliar os horizontes intelectuais dos

trabalhadores.

14 PORTOCARRERO, Ricardo. “José Carlos Mariátegui y las Universidades Gonzalez Prada” en

PORTOCARRERO, Gonzalo. (org.) La aventura de Mariátegui. Nuevas perspectivas. Lima,

Pontificia Universidad Católica, 1995, p.392.

Onde se forjam os homens.

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Um dos jovens que tomaram para si a tarefa de realizar

conferências nas UPs foi José Carlos Mariátegui15 que, embora nunca

tenha sido aluno em São Marcos, desenvolveu ligação estreita com o

grupo que tomava a cargo essa atividade, tão logo retornou de sua

estada na Europa, entre 1919 e 1923.

O programa exposto a seguir, ministrado por Mariátegui, foi

inicialmente publicado na Revista Claridad, dirigida então por Haya,

sofrendo posteriormente pequenas modificações em função de

imprevistos. Nele podemos ter a chance de perceber os temas que um

conferencista especial - pelo importante papel que posteriormente

desenvolveu na organização do movimento sindical no Peru - dessas

Universidades Populares escolheu para discutir com os alunos:

“1 – La crisis mundial y el proletariado peruano. (15/6/23)

2 – Literatura de guerra. (22/6/23)

3 – El fracasso de la Segunda Internacional. (30/6/23)

4 – La intervención de Italia en la Guerra. (6/7/23)

5 – La Revolución Rusa. (13/7/23)

6 – La Revolución Alemana. (20/7/23)

7 – La Revolución Húngara. (18/8/23)

8 – La actualidad política alemana. (24/8/23)

9 – La paz de Versalles y la Sociedad de las Naciones (31/8/23)

10 – La agitación proletaria en Europa en 1919 y 1920 (7/9/23)

11 – Los problemas económicos de la paz. (13/9/23)

12 – La crisis de la democracia. (25/9/23)

13 – La agitación revolucionaria y socialista del mundo oriental.

(28/9/23)

15 José Carlos Mariátegui (1895-1930). Intelectual, jornalista e político peruano. Uma das

mais importantes personalidades de esquerda da América Latina no século XX. Com apenas 16 anos, iniciou uma carreira jornalística em Lima. Entre 1919 e 1923, fez uma viagem a vários países da Europa onde teve a oportunidade de conhecer de perto as lutas entre a social-democracia e o comunismo inspirado pela Revolução Russa. De volta ao Peru, dedicou grande energia a duas tarefas simultâneas: realizar um estudo marxista da formação social

do país e promover o surgimento de organizações sindicais e políticas que contribuíssem para a integração das classes populares na vida política.

Onde se forjam os homens.

16

14 – Exposición y crítica de las instituiciones del régimen ruso.

(19/10/23)

15 – Internacionalismo y nacionalismo. (2/11/23)

16 – La Revolución Mexicana. (22/11/23)

17 – Los intelectuales y la revolución. (1/12/23)

18 – Lenin. (26/1/24)” 16

A escolha de tais temas demonstra como o socialismo estava

presente no horizonte teórico daquele jovem. Apesar de se tratar de um

intelectual que acabava de retornar de uma estada européia e que era

particularmente talentoso, não há motivo para crer que a forma como

conduziu suas conferências estivesse em desacordo com o padrão

corrente entre os demais professores.

Durante esse período de atividades, a inicial simpatia manifestada

entre o regime de Leguía e o movimento estudantil transformou-se em

franca hostilidade.

Num acordo para tentar conquistar também o apoio de

conservadores ligados à Igreja Católica, Leguía negocia com a

hierarquia eclesiástica, na figura do Arcebispo de Lima, a realização de

uma cerimônia destinada a consagrar o Peru ao Sagrado Corazón de

Jesus.

Na prática, a medida prometia aumentar a intolerância oficial com

relação à liberdade de culto, contrariando frontalmente a constituição

do país.

Os estudantes decidiram mostrar sua insatisfação e, juntamente

com vários sindicatos e grupos anticlericais, organizaram, para 23 de

maio de 1923, uma grande manifestação de rua em protesto contra as

intenções do governo. O ato tornou-se um marco numa grande coalizão

de oposição, já que dele participaram vários setores políticos. Não só os

estudantes e os trabalhadores, mas também liberais moderados e

16 PORTOCARRERO, Ricardo., op. cit., p.397-398. Segundo o autor, a décima oitava

conferência estava destinada ao tema “La crisis filosófica” mas foi alterada de última hora em função do recebimento da notícia da morte de Lenin.

Onde se forjam os homens.

17

muitos representantes do próprio Partido Civilista, que vinham sofrendo

com as perseguições do governo de Leguía.

As Universidades Populares tornaram-se o centro no qual os

opositores da medida planejada pelo governo organizaram a resistência.

Era em suas aulas e nas conferências que os operários dos vários

sindicatos discutiam entre si o significado da cerimônia, e de que

maneira ela poderia ser combatida e impedida.

A decisão do governo Leguía foi agir com a máxima energia possível

contra os manifestantes e, quando eles tomaram a praça San Martin, as

tropas destacadas para reprimir as manifestações daquele dia abriram

fogo contra a multidão. O saldo da operação policial foi de dois mortos:

um estudante e um trabalhador.

No dia seguinte, a tentativa das forças policiais de apoderarem-se

dos cadáveres para evitar que seu sepultamento gerasse novo motivo

para protestos, mostrou ser um erro maior do que a ação truculenta da

véspera. No recinto da Universidade São Marcos, estudantes e

trabalhadores armados montaram guarda em defesa de seus mortos,

ampliando a repercussão do episódio.

Do ponto de vista ideológico, estudantes e trabalhadores

convenceram-se da importância da aliança. A ação precipitada do

governo gerou dois mártires que consagraram, com suas vidas, o

significado que aquela união teria nos anos subseqüentes.

Ao fim, a manifestação foi efetivamente vitoriosa, já que o governo

decidiu voltar atrás em seus intentos e a cerimônia planejada não se

realizou. Porém, Leguía percebeu que o inicial apoio que seu governo

havia recebido nos primeiros anos, entre os setores populares de Lima e

particularmente entre os estudantes, havia acabado e já era hora de dar

às lideranças desse grupo o tratamento habitual reservado a seus

opositores mais perigosos. Vários líderes da manifestação de 23 de maio

foram perseguidos e presos. Entre eles Haya de la Torre que, depois das

manifestações, havia sido reeleito presidente da Federação.

Onde se forjam os homens.

18

Depois de um período de pouco mais de uma semana de greve de

fome num presídio na Colônia Penal da Ilha de São Lourenço, e

mediante a reivindicação constante de estudantes e trabalhadores,

Haya conseguiu uma deportação ao Panamá, de onde se dirigiu a Cuba.

Essas deportações e prisões representaram, num primeiro

momento, uma diminuição da pressão exercida por uma oposição que

se organizava rapidamente, garantindo ao governo Leguía a chance de

consolidar seu modelo de desenvolvimento que se assentava na

realização de obras públicas de infra-estrutura como forma de

incrementar os níveis de emprego urbano e diminuir as tensões sociais

nas cidades. Já estava vigente, desde 1920, a Lei de Conscripción Vial,

segundo a qual todos os homens entre 18 e 60 anos estavam obrigados

a trabalhar gratuitamente doze dias ao ano na construção de estradas.

A única maneira de eximir-se da obrigação era através do pagamento de

uma soma em dinheiro.

A realização dessa ampla reforma urbana foi garantida através do

aumento indiscriminado da dívida externa contraída sobretudo junto

aos bancos norte-americanos. Segundo Julio Cotler:

“El desorbitado uso de los préstimos norteamericanos significó que la

deuda externa se decuplicara entre 1920 y 1930, pasando de diez a cien

millones de dólares, y si en 1920 los intereses de la deuda comprometían el

2,6% del presupuesto nacional, al finalizar la década los intereses

alcanzaban el 21% del mismo. Sólo durante el bienio 1926 – 1928, el 40% de

los ingresos fiscales provino de los préstimos. El endeudamiento externo y el

gasto público que le seguió favorecieron el propósito imediato de dinamizar

la economía. Durante el ‘oncenio‘, el presupuesto se cuadriplicó, las

inversiones públicas dedicadas a construcción se duplicaron y la

importación de materiales de construcción cresció en 70%.” 17

17 COTLER, Julio., op. cit., p.196.

Onde se forjam os homens.

19

Com a maioria de seus adversários políticos fora do país ou

encarcerados, Leguía conseguiu manter uma certa estabilidade política

durante o resto da década de 20.

No entanto, como veremos, o exílio permite a Haya de la Torre,

travar contato com diferentes realidades nacionais, dar mais

consistência ao seu pensamento e preparar-se para um retorno a seu

país em condições completamente diversas daquelas em que o deixou,

em 1923. A primeira parada de sua longa trajetória de exílio foi Cuba,

onde se deu, pela primeira vez, o encontro entre ele e Julio Antonio

Mella.

Julio Mella nasceu em 25 de março de 1903, foi registrado como

Nicanor Mac Partland, era filho de um bem sucedido alfaiate de origem

dominicana chamado Nicanor Mella y Bréa e de uma jovem de

Hampshire, Inglaterra, chamada Cecília Magdalena Mac Partland y

Diez.

Tanto Mella quanto seu irmão mais novo Cecílio não haviam

nascido de uma união legal, pois seu pai já era casado com a

dominicana Mercedes Bermúdez. Em 1910, os meninos viram-se

privados da mãe - que viajou definitivamente a Nova Orleans, EUA,

onde tinha alguns parentes - e foram incorporados à família oficial de

seu pai que tinha já outros três filhos.

Os primeiros níveis de escolarização de Mella foram realizados em

colégios católicos cujos custos estavam ao alcance das posses de seu

pai. Os estudos secundários foram na Academia Newton, no bairro de

San Lázaro de Águila. Dessa fase da vida de Mella, o único aspecto

digno de nota parece ter sido a sua grande facilidade e entusiasmo pelo

esporte. Praticante de uma grande variedade de modalidades, que

incluíam a natação, o remo e o basquete, parece que a primeira vocação

de Mella foi a de atleta.

Onde se forjam os homens.

20

Aos 16 anos, tentou ingressar no Colégio Militar de San Jacinto, na

cidade do México. Sua solicitação, no entanto, não foi atendida,

forçando-o a regressar a Cuba.

Em 1921, aos 18 anos, matriculou-se como aluno de Direito na

Universidade de Havana, e logo no início dedicou-se ativamente ao

movimento estudantil. Foi na Universidade que organizou o primeiro

periódico de que participaria, denominado inicialmente de Alma Mater,

mais tarde rebatizado Juventud. Nesse jornal, sua primeira causa foi a

fundação de uma Federación de Estudiantes, o que aconteceu em 8 de

dezembro de 1922, figurando Mella como secretário na primeira gestão.

O ano de 1921 marcou uma das mais graves crises econômicas de

Cuba desde a independência, no começo do século. A partir do início da

I Grande Guerra, os preços internacionais do açúcar, principal produto

produzido no país, haviam crescido muito, gerando uma situação

artificial de desenvolvimento econômico no país.

Tal situação começou a reverter-se com o final da Primeira Guerra,

sobretudo durante os anos de 1920 e 1921. Os preços do açúcar

voltaram aos patamares de antes de 1914, o que resultou numa

profunda crise econômica. Os engenhos de capital nacional que tinham

sido construídos durante os anos de alta, em muitos casos, foram

financiados junto a instituições de capital estrangeiro e tratados com

base nos elevados preços do produto. A queda drástica nos valores

levou muitos desses produtores à falência, forçando-os, por obrigações

hipotecárias, a entregar seus engenhos aos credores, aumentando

ainda mais a proporção dessas unidades de produção controladas pelo

capital monopólico.

Os produtores de açúcar, incapazes de saldar suas obrigações, não

tinham condição de fornecer ao sistema financeiro a liquidez necessária

para restituir-lhe a credibilidade. Diante de um aumento na demanda

de saques, os bancos viram-se incapazes de honrá-los, gerando uma

situação de pânico entre os correntistas e desconfiança no sistema.

Onde se forjam os homens.

21

O governo conservador de Mario Menocal18, que cumpria seu

segundo mandato iniciado em 1917, não viu outra alternativa senão

decretar, em 10 de outubro de 1920, uma moratória bancária, dispondo

que os bancos só estavam obrigados a pagar 10% de todos os depósitos

efetuados até o dia primeiro de dezembro daquele ano.

Antes mesmo desses acontecimentos, já estava em curso um

processo de organização de alguns setores dos trabalhadores. Em várias

regiões do país os sindicatos, com profunda influência ideológica do

anarquismo, em meio a um drástico aumento do custo de vida,

levaram-nos à ação:

“El agravamiento de la situación de los trabajadores se traduce,

lógicamente, en el notable auge de su combatividad. Una ola de huelgas sin

precedentes se extiende por todo el país y abarca a los trabajadores de

numerosas e importantes ramas economicas. Se calcula que entre fines de

1917 y comienzos de 1920, ocorrieron más de 220 huelgas parciales y

generales. La ola huelguística obliga al presidente Menocal a emplear

como rompehuelgas no solo al ejército y la policía, sino también a los

presidiarios.” 19

Vale lembrar a influência que tiveram, neste contexto nacional,

fatores mais amplos da conjuntura mundial como o advento da

Revolução Russa. As lideranças sindicais, em que pese sua

inquestionável orientação anarquista, percebiam os acontecimentos

vividos no império do Czar como uma luz, uma indicação clara de que a

classe trabalhadora de todo o mundo poderia representar um

importante papel, através de sua rebeldia e da grande arma à sua

disposição: a greve.

18 Mario Menocal. Presidente de Cuba no período de 1913 a 1917 e novamente entre 1917 e

1921. Antes de ser presidente, destacara-se como administrador do engenho de cana Chaparra, um dos maiores de Cuba, de propriedade da poderosa Cuban-American Sugar Company. Tal origem haveria de ser sempre lembrada por seus opositores que a utilizavam como evidência da submissão do presidente aos interesses norte-americanos.

19 Instituto de História del Movimiento Comunista y de la Revolución Socialista de Cuba: Historia del movimiento obrero cubano. Havana, Editora Política, 1985, p.197.

Onde se forjam os homens.

22

Além dos trabalhadores, a crise econômica dos anos 20, por suas

proporções, mobilizou as classes médias e particularmente os

estudantes.

Essa tomada de consciência refletia o descontentamento geral com

relação à aceitação tácita da influência política e econômica dos

Estados Unidos no país que se fazia presente desde o processo de

independência, tornando cada vez mais sólida a convicção da falta de

iniciativa de garantir a soberania nacional, inclusive entre os setores

políticos mais nacionalistas.

A questão para a geração que entrou na Universidade, em 1920,

não era como impedir a intervenção - que ao longo dos anos de

República independente mantinha-se como um “fantasma”, rondando a

vida política cubana - mas sim como liquidar a estrutura que a

determinava. Era esse o horizonte ideológico dos jovens que

participaram da Reforma Universitária, em Cuba.

Os estudantes cubanos, como os de outros países da América

Latina, acompanhavam com interesse os conflitos vividos em Córdoba,

Argentina, em 1918.

Os manifestos escritos pelos estudantes argentinos haviam sido

verdadeiras conclamações à juventude de todos os países, não só para

lutarem por uma reforma radical das universidades latino-americanas

que lhes garantisse uma participação democrática na vida universitária,

mas também pela retomada de um antigo sentimento de unidade que

remetia às lutas pela independência do século anterior. Também

destacavam a necessidade de união com os trabalhadores na conquista

de uma nova independência, agora com relação às forças econômicas

que ainda ameaçavam a soberania desses países.

Em Cuba, no começo da década de 20, tais aspirações tinham,

como nunca antes, um contexto favorável. A eclosão do movimento de

Reforma Universitária deu-se, não por acaso, exatamente no momento

da crise econômica. O governo de Menocal, em meio à fase mais aguda

Onde se forjam os homens.

23

das dificuldades, havia sofrido mais uma vez a ação interventora dos

EUA. Sob pretexto de resolver os graves problemas econômicos, o

Presidente W. Wilson ordenou ao General Enoch Crowder que fosse a

Cuba como seu representante oficial20, mas houve também ingerência

política no processo eleitoral que estava em curso, dando vitória a

Alfredo Zayas. O problema econômico foi resolvido com um empréstimo

de 50 milhões de dólares, conseguido pelo interventor junto a

banqueiros norte-americanos.

Em novembro de 1921, o novo presidente decidiu, em acordo

firmado com a direção da Universidade de Havana, conceder o título de

doutor Honoris Causa ao recente interventor, Enoch Crowder, e ao

primeiro deles, o General Leonard Wood 21.

Os universitários resolveram reagir contra esse intento.

Identificando, na entrega do título, a confirmação da subserviência dos

políticos cubanos à presença constante do interventor estrangeiro,

julgaram indispensável uma manifestação prática de seu

descontentamento.

No manifesto dos estudantes de Direito contra a nomeação,

redigido em 15 de novembro de 1921, lemos:

“Hoy no nos guía el exhibicionismo ni el propósito pueril de intervenir

como clase y de un modo inesperado en nuestra vida pública. Se acude a

nuestra casa y se pretende algo de lo nuestro para coronar con nuestras

flores, las mejores de Cuba, el sable de un interventor, ¿y qué há de hacer la

juventud sino lo que hace en todas partes, y lo que en épocas pasadas hizo

en la propia Cuba? Un honor como el que se pretende, implica mucho o

nada. En la situación porque atraviesa el país, sin formol en las Salas de

Anatomía y Disección, con nuestros edificios a medio hacer, la Biblioteca

20 Vale lembrar que essa era, desde a independência, a segunda intervenção norte-americana,

já que, entre 1906 e 1908, o país foi dirigido por outro governo militar, nomeado por Theodore Roosvelt e que tinha à frente o general Charles Magoon.

21 Leonard Wood foi o primeiro governador militar norte-americano que administrou a ilha entre 1898 e 1902. Depois dessa experiência, o general jamais voltou à ilha e seu prestígio junto

aos cubanos, sobretudo os jovens universitários, não era em nada melhor que o do interventor mais recente.

Onde se forjam os homens.

24

pobre y desvalida, los maestros públicos del interior entrampados y

hambrientos, y los poderes del Estado, sin distinción alguna, vejados a cada

paso, como en Santo Domingo y en Haití, es una imprudencia que nos duele,

que se acurden de la Universidad para vincularla en el carro de triunfo del

imperialismo yanqui de la postguerra, como una justificación de cuanto aquí

se está haciendo para entregar la Patria al extranjero.” 22

Três dias depois da redação do manifesto, organizou-se uma

passeata que contou não só com a participação dos estudantes de

Direito, mas também com os alunos da Escola de Medicina, de colégios

particulares e também de trabalhadores urbanos da cidade.

O protesto estudantil teve amplo apoio da opinião pública, pois

vinha ao encontro de um difuso sentimento de repúdio às constantes

intervenções já corriqueiras na vida política do país.

Essa foi a primeira ação organizada dos estudantes cubanos que se

mantiveram mobilizados até a realização dos importantes

enfrentamentos, a partir de 1923.

Como resultado da manifestação dos estudantes, uma comissão

formada por sete estudantes de Medicina e oito de Direito, entre eles o

calouro Julio Antonio Mella, foi recebida pelo Presidente Alfredo Zayas.

O movimento, que se iniciou com o protesto contra a titulação dos

interventores, logo passou a incorporar expectativas cada vez maiores

com relação aos anseios dos estudantes.

O Reitor da Universidade de Buenos Aires, Dr. José Arce, que se

encontrava em Havana, em 1922, ofereceu uma conferência em que

narrou em detalhes o processo de insurreição estudantil em Córdoba,

mostrando aos estudantes cubanos a importância, para o processo

cordobês, da existência de uma federação estudantil que centralizasse

sua ação.

22 CABRERA, Olga e ALMODÓBAR, Carmen (org.) “Manifesto de los estudiantes de derecho” en

Las luchas estudantiles universitarias. 1923 a 1934. Havana, Editorial de Ciencias Sociales,

1975, p.66.

Onde se forjam os homens.

25

Como podemos ver, a presença desses intelectuais argentinos

ocupados em socializar sua experiência pessoal com universitários de

outros países latino-americanos, teve um papel determinante na

expansão do movimento. No entanto, sobre a forma como a agitação

estudantil articulou-se em cada realidade nacional, concordamos com

Portantiero quando afirma:

“No se trataba de un proceso de mera imitación; detrás de esa

expansión continental subyacían estructuras comunes, pese a diversidades

particulares, que expresaban la voluntad de vastos sectores sociales por

conquistar mayor participación social, política e cultural.

El proceso englobaba a las clases medias que, con mayor o menor

grado de difusión, se habían expandido en las sociedades latinoamericanas

desde finales del siglo XIX, al amparo de la modernización urbana abierta

por el capital estranjero.” 23

Constituída a Federação, no início de dezembro de 1922, os

estudantes trataram de promover uma “depuração” no quadro de

professores. O primeiro passo nesse sentido foi levar à direção da

Faculdade de Medicina a demanda dos alunos do 5o ano que exigiam o

afastamento do professor de Clínica Cirúrgica, acusado de conduta

imoral.

Diante da recusa da direção da Universidade e da punição aos

signatários do pedido, os estudantes de medicina decidiram não

freqüentar as aulas no início do ano letivo de 1923. A Federação

realizou uma assembléia, na qual foi estabelecida a pauta de

reivindicações a ser encaminhada para a presidência da República. Nela

encontramos demandas mais abrangentes do que aquelas que haviam

dado início ao movimento. Ao lado do pedido de afastamento daquele

professor, os estudantes exigiam uma reforma radical nos estatutos da

23 PORTANTIERO, J. C. Estudiantes y política en América Latina. 1918-1938. El proceso de

la Reforma Universitária. México, Siglo XXI, 1978, p.58.

Onde se forjam os homens.

26

Universidade, instituindo a representação discente em sua gestão, além

da autonomia da instituição em assuntos econômicos e acadêmicos.

No dia 12 de janeiro, realizou-se nova assembléia dos estudantes

com a participação do reitor, Carlos de la Torre. Nela, vários professores

manifestaram seu apoio ao programa de reforma apresentado.

Ao mesmo tempo, crescia a solidariedade de alunos de outras

instituições, como os dos Institutos de Segunda Enseñanza,

preparatórios para a Universidade, das Escolas Normais e das Escolas

de Artes e Ofícios, dispuseram-se inclusive a participar da greve.

Com tal apoio, dentro e fora da Universidade, os estudantes

sentiram respaldo suficiente para uma manobra ousada. Em 15 de

janeiro, cerca de setenta alunos de todas as faculdades invadiram o

campus da Universidade de Havana e declararam-na fechada, enviando

à presidência da República solicitação para o acatamento à decisão.

Com isso, os estudantes conquistam a primeira grande vitória do

movimento. Além do afastamento do professor que havia sido o estopim

do processo, a direção da Universidade aprovou a reforma de seus

estatutos, criando a Assembléia Universitária, órgão deliberativo

formado por 90 membros (30 professores, 30 graduados e 30 alunos) e

presidido pelo Reitor. A decisão foi confirmada por Decreto Presidencial

em 13 de março de 1923.

Após realizar de maneira satisfatória seus primeiros intentos, a

Federación de Estudiantes encarregou-se de preparar o I Congresso

Nacional, de 14 a 25 de outubro de 1923, que teve como lema, por

sugestão de Mella, “Todo tiempo futuro tiene que ser mejor”. Na

convocatória do Congresso estavam tanto os objetivos de seus

organizadores quanto a abrangência pretendida:

“I - Este Congreso Nacional de Estudiantes, que se celebra por primera

vez en la República de Cuba, organizado por la Federación de estudiantes

de la Universidad, radicará en la ciudad de La Habana, celebrando sus

sesiones en el Aula Magna de la Universidad Nacional.

Onde se forjam os homens.

27

II - El objetivo de este Congreso es llegar a la determinación de

conclusiones conducentes al perfeccionamiento de la acción estudantil, en

los campos EDUCACIONAL, SOCIAL E INTERNACIONAL, presentándose

dichas conclusiones, una vez clausurado el Congreso, a la Asamblea

Universitaria y a los poderes Ejecutivo y Legislativo de la República.

III - Podrán concurrir a este Congreso los representantes de todos los

núcleos estudantiles, Institutos de primera y Segunda Enseñanza, Colégios

y Academias, Asociaciones de Antiguos Alumnos, publicaciones

Estudantiles, etc., no pudiendo enviar más de tres delegados cada

Instituición.” 24

Como se vê, diferentemente do Congresso do Peru, em 1920, do

qual só participaram representantes das universidades, o de Cuba foi

muito mais abrangente, e esteve empenhado em unificar as

reivindicações dos estudantes de todos os níveis de escolaridade, além

de dar direito a representação própria aos órgãos de imprensa

estudantil.

Na primeira seção ordinária, realizada em 17 de outubro de 1923,

Mella fez aprovar no plenário, por unanimidade, sua Declaración de

Derechos y Deberes del Estudiante, instrumento a partir do qual a

direção do Congresso buscava estabelecer um consenso mínimo de

expectativas com relação aos trabalhos seguintes, definindo, ao menos,

o sentido genérico de suas possíveis resoluções. Na Declaração, cinco

itens qualificados como direitos e cinco como deveres. O primeiro

direito e o primeiro dever dão uma boa imagem do teor do documento:

24 “Bases del Primer Congreso Nacional de Estudiantes” en JULIÁ, Maria Antonieta. (org.)

Mella. Documentos y artículos. Havana, Editorial de Ciencias Sociales, Instituto Cubano del

Libro, 1975, p.519.

Onde se forjam os homens.

28

“Direitos:

1- El estudiante tiene el direcho de eligir los directores de su vida

educacional, y de intervenir en la vida administrativa y docente de las

Instituiciones de Enseñanza, ya que él es soberano en estas instituiciones,

que sólo existem para su provecho.

(...)

Deberes:

1- El estudiante tiene el deber de divulgar sus conocimientos entre la

Sociedad, principalmente entre el proletariado manual, por ser éste el

elemento más afín del proletariado intelectual, debiendo así hermanarse los

hombres de Trabajo, para formentar una nueva sociedad, libre de parásitos

y tiranos, donde nadie viva sino en virtud del próprio esfuerzo.” 25

Como se pode ver, os objetivos centrais do documento estavam

voltados, por um lado, ao esforço de generalizar as conquistas dos

estudantes da Universidade que haviam conseguido a participação em

órgãos deliberativos e, por outro lado, ao desejo de confirmar vínculos

entre estudantes e trabalhadores, vivenciados durante as manifestações

contra a titulação dos interventores. Esses dois temas eram de

fundamental importância para a direção do Congresso e poderiam

orientar as demais decisões, daí o empenho pela aprovação imediata da

declaração logo na abertura.

No entanto, o pensamento predominante entre os diretores da

Federação não era o único entre os estudantes que participaram do

Congresso. Delegações provenientes de instituições privadas de ensino,

sobretudo ligadas a ordens religiosas, como o Colégio Inglés de Ciego de

Ávila ou o Colégio Champagnat, dos Maristas, bem como a Asociación de

Estudiantes de las Escolas Pias, de Havana, ao longo do Congresso,

realizaram sistemática oposição às teses dos membros dirigentes da

Federación e do Congresso, dificultando, em muitos casos a aprovação

completa de suas propostas. O representante mais significativo dessa

tendência de oposição era Emílio Nuñez Portuondo, que teve ativa

25 JULIÁ, Maria Antonieta. (org.), op. cit., p.530-532.

Onde se forjam os homens.

29

participação no Congresso, sempre dificultando a aprovação integral

das pretensões de Mella e de outros líderes.

Exemplos dessa oposição podem ser encontrados tanto nos temas

em que discordavam, como naqueles em que havia consenso. A idéia,

ainda que relativamente vaga, de unidade latino-americana era um

ponto em comum entre todos os estudantes. Na ata da quinta seção de

trabalhos do Congresso, do dia 19, vemos o esforço de Mella em aprovar

uma simples proposição voltada apenas a marcar o caráter latino-

americanista presente em todos os estudantes. A proposição se

expressava nos seguintes termos:

“Considerando que el porvenir y progreso de la patria y de la

humanidad necesita de un sinciero acercamiento entre los pueblos latinos

de la América; la patria, por la necesidad de su engrandecimiento y

solidificación, mediante la unión con las repúblicas hermanas, y la

humanidad, porque la unión de los pueblos de América Latina serviría de

base y de sana orientación, pues creemos que con la sola excepción de la

actual República Rusa, ninguna outra comunidad de pueblos está más

capacitada que nuestra América para dictar ideas y principios renovadores

y progresistas a la civilización, por nuestras condiciones biológicas e

socilógicas particulares (...) El Primer Congreso Nacional de Estudiantes

envía un cordial saludo a todas las Federaciones de estudiantes de la

América Latina comunicándole su constituición, y a la terminación de las

sesiones enviará también una copia de sus acuerdos a las citadas

Federaciones. (...)

El señor Nuñes Portuondo manifesta que está de acuerdo con la

moción presentada, pero que lo que ella dice de la República Rusa debe

considerarse como una apreciación particular del señor Mella y no como el

criterio del Congreso. El Sr. Mella asegura que si se conociera a Rusia, nadie

se habria levantado a protestar de su moción en lo que a ella se refiere, que

con respecto al problema social ruso lo que hay es mucha ignorância(...) 26

26 JULIÁ, Maria Antonieta. (org.), op. cit., p.557-558.

Onde se forjam os homens.

30

Esse tipo de obstrução foi uma constante em todo o evento e marca

bem as divergências entre os membros da diretoria da Federação e os

representantes de delegações de escolas particulares ou religiosas. Mas,

ao que parece, essa oposição não se localizava apenas em níveis

anteriores de ensino, mas inclusive entre os próprios estudantes

universitários, a julgar pelo destino da diretoria que conduziu o

Congresso.

Apesar da direção do Congresso ter conseguido a aprovação da

maioria de suas resoluções, a correlação de forças entre o setor mais

progressista e o mais conservador dos estudantes ainda não estava

completamente decidida em favor do primeiro e, quando se iniciou a

reação do governo e da Universidade contra eles, a partir de 1925,

novos embates foram travados. Nesse primeiro momento, foi garantido

pela direção da Federação um certo estreitamento nas relações entre o

movimento estudantil e os trabalhadores. Este era, na perspectiva de

Mella, o aspecto mais importante da Reforma Universitária e todos os

seus esforços voltavam-se para ele. No período imediatamente posterior

ao Congresso, por exemplo, Mella decidiu lançar um novo periódico

estudantil, a Revista Juventud da qual foi o diretor, e recorreu às

oficinas de imprensa da Federación de Torcedores que aceitou imprimi-

la sob a promessa de posterior pagamento. Freqüentando diariamente a

oficina que imprimia o Boletin del Torcedor, Mella passou a conviver de

perto com a organização dos trabalhadores, chegando a montar um

pequeno escritório para si nas dependências daquele sindicato. Lá

conheceu também Carlos Baliño, ancião de mais de setenta anos, que

havia consagrado a vida a divulgar idéias socialistas e que havia

fundado, em 1903, na cidade de Havana, um clube para propaganda

socialista. A amizade entre o jovem estudante e o velho sindicalista

contribuiu para aproximar Mella do referencial teórico dos comunistas.

Onde se forjam os homens.

31

Obviamente a revista que ali era produzida pelos estudantes

também refletia a aproximação com os trabalhadores, tanto na escolha

dos temas quanto na abordagem.

Outra decisão mais importante do Congresso nesse sentido foi a

criação das Universidades Populares José Martí, inspiradas em

experiências anteriores realizadas no México e no Peru.

Assim que a proposta foi aprovada pelo Congresso, Mella dedicou-

se de corpo e alma a pô-la em prática, e em 3 de novembro do mesmo

ano a solenidade de inauguração da instituição tinha lugar nas

dependências da Universidade de Havana. O jornal Heraldo de Cuba,

em edição do dia seguinte, registrou os detalhes da cerimônia:

“Se inalguró ayer con gran brillantez la Universidad Popular ‘José

Martí’ fundada por iniciativa del Congreso de Estudiantes. Fue un acto

transcendental y significativo. Por primera vez en Cuba, los obreros

invadieron la Universidad y tomaron asiento en la Aula Magna, junto a los

doctores del mañana.

Allí estaban también ilustres catedráticos y familias distinguidas, y

era grato ver a su lado a los trabajadores de manos encallecidas por la ruda

labor cuotidiana, que anhelan nutrir su inteligencia y subir en la escala de la

cultura. (...)

Los estudiantes confraternizaban con las comisiones de los distintos

Centros Obreros que habian sido especialmente invitados. Vários

trabajadores llevaron también a sus familias que daban una bella nota con

sus sencillas ‘toilettes’ ; de discreta elegancia.” 27

Foi por ocasião dessa cerimônia que se encontraram pela primeira

vez Julio Mella e Haya de la Torre. Durante seus primeiros dias no país,

Haya visitou a redação de vários jornais da capital e preparou-se para

participar da cerimônia. Era considerado um convidado de honra por

ter sido, em seu país, o fundador de uma instituição com as mesmas

27 Heraldo de Cuba. Versão facsimilar da edição de 4 de novembro de 1923, publicado em:

ALVA CASTRO, Luis. Haya de la Torre. Peregrino de una unidad continental. Lima, Fondo

Editorial V. R. Haya de la Torre, s/d, p.51.

Onde se forjam os homens.

32

características da que estava sendo lançada em Cuba. O estudante

vinha cercado por uma aura de heroísmo, conquistada com o

derramamento de sangue nas manifestações de 23 de maio.

Mella, que acompanhou Haya durante toda sua visita de dez dias a

Havana, não escondia seu entusiasmo e registrou sua admiração, em

artigo para Revista Juventud na edição de novembro/dezembro de

1923:

“En su breve estancia se nos presentó ora como um Mirabeau

demoledor con la fuerza de su verbo de las eternas tiranías que el hombre

sostiene sobre el hermano hombre, ora como el Mesías de una Buena Nueva

que dice la palabra mágica de esperanza, ora como el camarada jovial, casi

infantil de alma pura e ingenua que lo entrega todo en aras de la amistad.

(...)

Como Haya debió ser Martí, el mismo amor, la misma consagración al

ideal, el mismo espíritu de combatividad serena, pero agresiva y enérgica,

igual desprecio a los placeres a las comodidades, a la vida misma.” 28

Dada a quase veneração que Mella devotava a Martí, é possível

avaliar a intensidade do elogio.

Depois da fundação da Universidade Popular, Mella passou a

estreitar cada vez mais seus vínculos com o movimento dos

trabalhadores, de modo muito mais intenso do que o movimento

estudantil como um todo estava disposto a acompanhar. Ao mesmo

tempo, parecia querer deixar clara sua divergência com os que não

concordavam com sua atuação. Aos opositores sempre reservou um

duro tratamento em seus textos nos órgãos de imprensa para os quais

escreveu.

A manutenção de sua hegemonia como liderança universitária

tornou-se cada vez mais difícil, à medida que as facções mais

28 Citado em: VALCARCE, Carmen. (org) Escritos revolucionarios. México, Siglo XXI, 1978.

Onde se forjam os homens.

33

moderadas dos estudantes ganhavam espaço na direção da Federação.

Mas Mella reagiu. Em texto escrito para El Heraldo, de 16 de outubro de

1924, procurou qualificar seus inimigos e confrontá-los:

“...No existindo maestros no podía haber discípulos. He aquí la causa

del adormecimiento de las reformas universitárias. Tipos llenos de la baba

del servilismo, se hacen aparecer como conductores de la muchachada. Se

pretenden erigir en apóstoles, no estando capacitados, ni siquiera, para

formar parte de rebaños. (...) Mediocres hábiles, hipócritas vanidosos, se

mueven en la sombra, y gritan, como ranas asustadas, cuando oyen el

rumos de la verdad dicha por labios puros. Temen la polémica abierta como

el corderillo e las águilas. (...)” 29

Apesar dessa disposição para polêmica e enfrentamento de seus

adversários, a verdade é que, a partir do fim do primeiro intento

vitorioso no movimento de 1923, Mella começava a perder espaço no

movimento estudantil universitário para correntes menos radicalizadas

– tanto assim, que chegou a fundar um novo órgão estudantil, a

Confederación Nacional Estudantil, que congregava membros dos

Institutos de Segunda Enseñanza, antes que adentrassem à

Universidade.

Entre 1923 e 1925, quando os estudantes lutavam por consolidar

as primeiras conquistas do movimento da Reforma Universitária, a

questão política que concentrava a atenção nacional era a discussão em

torno da soberania política do país sobre a Ilha de Pinos.

Quando a primeira ocupação militar do país terminou, em 1903,

ficou postergada a definição do status político da referida província.

Procedeu-se dessa maneira porque a Ilha de Pinos constituiu-se na

principal região de fixação de cidadãos norte-americanos durante o

período de dominação daquele país. A intenção do governo americano

parecia ser a de estabelecer naquela região uma ou mais bases navais,

29 VALCARCE, Carmen., op. cit., p.53-54.

Onde se forjam os homens.

34

conforme lhe permitia explicitamente o texto da Emenda Platt. Durante

o período que se manteve em suspenso a decisão sobre o assunto, os

norte-americanos residentes na ilha destacaram-se em sua luta contra

a República recém-fundada, inclusive através da Revista Isle of Pines

Appeal, dirigida por Arthur Willis. Segundo Julio Le Riverend:

“Los colonos de Isla de Pinos se distinguieron por su agitación contra

las autoridades de la República intervenida. Organizaron un movimiento

para no reconocer dichas autoridades, no pagar contribuiciones y exigir del

gobierno norte-americano que declarara la Isla de Pinos anexionada a los

Estados Unidos. Era un movimiento que coincidía con todas las demás

pretenciones de tipo anexionista.” 30

Finalmente, durante a década de 20 o governo norte-americano

decidiu por não fazer uso da prerrogativa que lhe conferia a Emenda

Platt e aceitou a soberania de Cuba sobre a província.

De qualquer modo, a opinião pública nacional agitou-se em torno

do tema e Mella, na direção da Federación de Estudiantes, garantiu a

participação estudantil no debate nacional, em clara oposição aos

moradores da ilha que exigiam a anexação aos EUA, e malgrado o

desejo de alguns estudantes, que acreditavam que essa não era uma

questão que dizia respeito a seus interesses.

Quando, em março de 1925, o Senado norte-americano ratificou o

Tratado de Hay-Quesada, que reconhecia definitivamente a soberania

de Cuba sobre a ilha, o governo de Alfredo Zayas organizou uma

manifestação pública de agradecimento ao governo norte-americano

para a qual convidou os estudantes.

A reação de Mella deu-se em duas frentes. Em nome do diretório

estudantil, respondeu ao Reitor da Universidade que os havia convidado

dizendo que os estudantes não participariam do ato programado para o

dia 18 de março por ser uma obra que...

30 LE RIVEREND, Julio. História económica de Cuba. Barcelona, Ediciones Ariel, 1972, p.208.

Onde se forjam os homens.

35

“...tiene como fin no la satisfacción de un pueblo que há visto, en su

triunfo, el triunfo internacional de las pequeñas nacionalidades, sino que

antes al contrário, es para manifestar una gratidu inadecuada y sin

causa.” 31

Por outro lado, como presidente do Comitê Antiimperialista da

Universidade, redige um manifesto em que expressa:

“... Isla de Pinos es de Cuba pero Cuba no es libre. Los capitalistas

yanquis, con sus dineros, posen la tierra y las industrias esclavisando al

pueblo, y el gobierno de Washington con la Enmienda Platt y con el abuso de

su fuerza tiene convertida la Isla en una colonia. Recordad a Magoon, el

primer ladrón interventor, a Mr. Gonzáles, el que ordenó el asesinato de

cubanos, y a Crowder, el amo de Zayas en su tiempo, hoy su esclavo por el

suborno.” 32

Às duas manifestações por escrito seguiram-se ações de repúdio ao

ato com manifestação de rua dedicada a comprometer a cerimônia

oficial. A ação da polícia foi imediata e os líderes estudantis presos.

Instaurou-se inquérito contra Mella que foi condenado ao pagamento de

multa.

Nesse episódio, tornavam-se mais uma vez evidentes as

divergências entre Mella e outras lideranças do movimento estudantil

que estiveram presentes ao ato convocado pelo governo. O fato é que, à

medida que o líder estudantil incorporava à sua militância as questões

mais gerais do país e aproximava-se dos setores políticos mais

radicalizados, ia acumulando desafetos entre os estudantes.

Entre 1924 e 1925, Mella participou de ações que demonstraram

claramente sua vinculação com o comunismo. Em setembro de 1924,

estava programada pelo governo cubano uma cerimônia oficial e um

programa de festejos para recepcionar o navio mercante Itália, que se 31 Citado em: DUMPIERRE, Erasmo. Julio Antonio Mella. Biografia. Havana, Editorial Orbe,

Instituto Cubano del Libro, 1975, p.17. 32 Idem, p. 98.

Onde se forjam os homens.

36

transformara numa exposição flutuante. O objetivo real da iniciativa era

fazer propaganda do regime fascista e por esse motivo já havia

desencadeado manifestações de protesto nos portos de Montevidéu,

Buenos Aires e Veracruz.

Mella foi então um dos principais articuladores contra a visita do

navio italiano. À frente da Confederación de Estudiantes de Cuba,

conclamou os cidadãos a manifestarem seu descontentamento com a

chegada da embarcação.

Em estreito entendimento com o movimento sindical, Mella

conseguiu que, em plena visita da tripulação à fábrica de tabacos

Partagás, os trabalhadores abandonassem seus postos em protesto à

entrada da comitiva, pondo em situação delicada os representantes do

governo.

No porto de Havana, Mella aproveitou outra oportunidade para

fustigar a diplomacia de Gerardo Machado 33 e reafirmar suas posições

políticas. Um ano depois do episódio do navio italiano, anunciou-se a

ancoragem de um navio russo, o Vatslav Vorouski, que realizaria um

carregamento de açúcar.

O governo cubano havia, com base na inexistência de relações

diplomáticas com a Rússia soviética, proibido o desembarque da

tripulação, alegando que ela contrariava os interesses do povo cubano.

Disposto a enfrentar novamente o governo, Mella foi encarregado pela

Agrupación Comunista La Habana de montar um comitê de recepção à

embarcação russa.

Em meio às dificuldades interpostas pelo governo, Mella não se

intimidou e tornou-se o anfitrião do navio russo, ainda que para isso

tivesse que nadar quase duas milhas em alto mar para alcançá-lo, já

que o governo não permitiu sua permanência no porto além do tempo

necessário para carga e descarga. Essas ações, embora possam ter

33 Presidente eleito em maio de 1925 e que, desde os primeiros meses de mandato, demonstrou

abertamente sua simpatia com relação a Mussolini. O referido navio foi a Cuba a seu convite.

Onde se forjam os homens.

37

afastado Mella da maioria dos estudantes cubanos que não tinham

disposição para assumir suas posições, aproximou-o bastante do

movimento sindical e das lideranças comunistas da América Latina.

Outro fato que talvez tenha ampliado a distância entre parte do

movimento estudantil e Mella foi sua união a lideranças sindicais, na

fundação do Partido Comunista Cubano. O envolvimento de Mella com

a Liga Antiimperialista, fundada em Cuba, em 1925, aproximou-o

definitivamente do comunismo internacional, pondo-o em contato com

lideranças comunistas de outros países da América Latina onde se

organizavam Ligas semelhantes.

Isso, aliado ao prestígio que Mella vinha angariando entre

lideranças sindicais – que parecia inversamente proporcional ao caráter

polêmico de sua atuação junto aos estudantes – acabou convertendo-o

num dos nomes importantes na organização dos agrupamentos

comunistas em todo país para a formação do Partido Comunista

Cubano. Em congresso realizado nos dias 16 e 17 de agosto de 1925,

mediante exposição do representante do Partido Comunista Mexicano,

Enrique Flores Magón, o partido que ali se criava decidiu incorporar-se

à III Internacional Comunista.

Vendo aumentar a divergência entre o líder estudantil e parte dos

estudantes por força dessas ações, os grupos interessados em anular

suas conquistas nos anos anteriores, começaram a urdir uma reação

sistemática, visando explorar as diferenças entre eles.

O destino dos professores que haviam sido afastados de suas

cátedras durante as agitações estudantis de 1923, onze ao todo, tinha

ficado a cargo de uma comissão nomeada pelo presidente da República,

em decretos de 7 e 21 de setembro de 1925, e composta por três

doutores da Universidade: Rensoli y Machado, Manuel Enrique Gómez e

Freyre de Andrade.

A decisão final da comissão, publicada na Gazeta Oficial, em 21 de

novembro de 1925, era de absolvição de todos os catedráticos,

Onde se forjam os homens.

38

pagamento de seus rendimentos referentes ao período de afastamento e

imediata retomada de suas atividades, marcando o momento em que as

autoridades universitárias e o governo de Gerardo Machado iniciam a

contra-ofensiva à organização dos estudantes.34

Alguns meses antes, em 25 de setembro de 1925, o Conselho de

Disciplina da Universidade já havia decidido pela expulsão de Mella. O

pretexto imediato utilizado foi um desentendimento com um professor

de Legislação Operária, Dr. Rodolfo Méndez Peñale, em resultado do

tratamento que este teria dado à esposa de Mella, Olivia Zaldívar.

O caráter prosaico da expulsão parece ter indignado mais a Mella

do que o ato em si. No texto de apelação, procurou demonstrar o

absurdo da expulsão sob tal alegação:

“Creo que más de una vez he cometido actos punibles. Me parece que

cuando el Claustro de la Universidad pretendió nombrar Rector Honoris

Causa al representante de la dominación Yanqui en Cuba, silbé e insulté,

desde la misma Aula Magna, a los que pretendían de esa manera dar

muestrar de servilismo y humillación ante los nuevos conquistadores de la

América. (...) Me parece que durante dos días tuvimos en nuestro poder con

las armas en las manos, los edificios de la Universidad, impidiendo de esta

manera que se reuniese el Claustro para tomar resoluciones contra nosotros.

(...) No hace mucho cometimos el grave delito de rebelarnos contra la

autoridad de la nación, y lo que es más grave, en este lugar donde el

espíritu de sumisión está tan arraigado, contra el mismo representante de

Estados Unidos. (...) Recuerdo todos estos puntos al Honorable Consejo,

para que se sirva hacer justicia, de acuerdo con los Estatutos, y por todos

los hechos enunciados anteriormente.” 35

A despeito do acontecimento, Mella tentou resistir aos intentos de

reverter as conquistas estudantis. No mesmo dia da publicação da

decisão da comissão com relação à absolvição dos professores

34 Cf. GONZALES CARBAJAL, Ladislao. Mella y el movimiento estudantil. Havana, Editorial de

Ciencias Sociales, 1977. 35 “Apelación de Mella al Consejo Universitario de la Universidad” citado em CABRERA,

Olga y ALMODÓBAR, Carmen., op. cit., p.134-135.

Onde se forjam os homens.

39

acusados, Mella compareceu à Faculdade de Medicina e conclamou os

estudantes a protestarem com a ausência às suas aulas.

A direção da Faculdade de Medicina resolveu reagir à ação de Mella

e o reitor, Fernández Abreu, em audiência com o Ministro de Instrucción

Pública de Machado, Fernandez Mascaró, recebeu a orientação de que o

Conselho Universitário deveria declarar oficialmente que Mella não

pertencia mais ao corpo discente da Universidade, não estando mais

sujeito a seus códigos disciplinares nem a sua autoridade.

No entanto, o governo não estava disposto a tomar a seu cargo as

medidas punitivas contra o líder estudantil no contexto de sua atuação

como tal, pois tinha consciência da fragilidade das razões de uma

detenção que tivesse por base a atuação como liderança estudantil.

Apesar disso, em 27 de novembro, Mella foi detido pela polícia.

Desta vez, juntamente com alguns operários que estavam sendo

processados pela violação da Lei dos Explosivos e de sedição contra o

governo. Tratava-se do “processo comunista”, iniciado como resultado

da explosão de três bombas em distintos lugares da capital. Como não

havia nenhuma decisão por parte da direção do Partido Comunista

Cubano por iniciar qualquer ação de resistência, tudo leva a crer que os

atentados tenham sido organizados pelas forças policiais para justificar

a perseguição. Como resultado o Partido Comunista foi condenado à

ilegalidade e suas principais lideranças foram presas.

Nesse momento em que a própria vida de Mella estava em jogo,

percebe-se claramente a que ponto tinham chegado as divergências

entre a direção da Federación de Estudiantes e o estudante preso. No

dia 5 de dezembro, na prisão, Mella decretou greve de fome e realizou-a

com determinação. As Faculdades de Medicina, Farmácia e Direito

haviam iniciado a greve no mesmo dia em que Mella esteve nas

dependências da Universidade conclamando os estudantes, de forma

que a Federação realizou uma Assembléia no dia 22 de dezembro. Nela

discutiu-se a greve de fome do líder estudantil (que já durava 17 dias) e

Onde se forjam os homens.

40

decidiu-se apenas por fazer saber ao governo que os estudantes eram

favoráveis a que Julio Mella fosse posto em liberdade. Antes disso, a

direção da Federação havia expedido dois boletins em que se pôde

perceber a preocupação da direção com relação ao envolvimento dos

estudantes com o “caso Mella”.

No primeiro boletim, datado de 6 de dezembro, aparentemente

preocupada com a formação de comitês espontâneos entre os

estudantes que exigiam a libertação de Mella e produziram manifestos

nesse sentido, a Federação assim se expressou:

“... Que una vez más prevenimos la pública opinión de que sólo debe

considerar oficiales, las manifestaciones de este organismo publicadas en

forma de boletines, y considerar absolutamente ajenas a esta Federación

las publicaciones o manifestos en que se invoque un carácter estudantil, que

generalmente motivan intereses bastardos.” 36

No mesmo boletim, figuravam entre as decisões tomadas pela

Federação a disposição insofismável de afastar-se, em caráter definitivo,

dos estudantes que insistiam em manifestar sua oposição ao governo de

Machado, não só desqualificando sua ação como também fazendo a

apologia do poder instituído:

“Primeiro: Esta Federación lanza una condenación rotunda contra

aquellos malvados que, animados de sentimientos abyectos, se empeñan en

hacer aparecer a un Gobierno justo con un Gobierno venal, que se empeñan

en presentar un Gobierno honrado como un Gobierno arbitrario y violento,

con el proposito criminal de llevar a la rebelión contra el actual Gobierno a

los Estudiantes, que han jurado, por su honor y por el legado patriótico de

sus antepasados, acatar disciplinadamente, sin estridencias, sin

exaltaciones, serenamente, los mandatos supremos de la Ley.” 37

36 CABRERA, Olga e ALMODÓBAR, Carmen., op. cit., p.147. 37 CABRERA, Olga e ALMODÓBAR, Carmen., op.cit., p.148.

Onde se forjam os homens.

41

O tom do documento demonstra que a direção do órgão estudantil,

em que pese manifestar-se publicamente a favor da soltura de Mella,

tinha intenção de deixar claras as divergências ideológicas com relação

aos ideais que o inspiravam.

Com certeza Mella esperava melhor sorte com relação ao

envolvimento da instituição de que foi secretário durante quatro anos.

No entanto, o maior reconhecimento que a nova direção da Federación

de Estudiantes poderia lhe conceder expressou-se em outro boletim,

datado de 10 de dezembro do mesmo ano. Vendo-se forçada, talvez por

pressão de estudantes que certamente votavam mais apreço a Mella do

que suas lideranças, dedicou ao líder estudantil encarcerado três

considerações:

“Primero: Que el señor Julio Antonio Mella, compañero activo que há

sido en pasadas luchas universitarias, no se halla vinculado en forma

alguna a esta Federación, ni organismo estudantil alguno de esta

Universidad.

Segundo: Que enquanto concierne a su actuación dentro de esta

Universidad, en el pasado, hemos podido conocer su contextura moral que le

há revelado ante nosotros como un gran luchador ideológico, y que por razón

de otras atividades, ajena a los problemas universitarios, determinaram su

completa separación de nuestras luchas.

Tercero: Que en razón a lo anteriormente expuesto, creemos que en su

atual prisión pueda existir un error judicial y por ello, rogamos ao Poder

Judicial, cuya recta actuación es secundada por el Poder Ejecutivo, la

revisión de su auto de procesamiento, en la confianza de que dicho error se

dilucide si ello se realiza.” 38

Ressalta-se aqui o cuidado na redação que só responde pela

contextura moral do prisioneiro “dentro da Universidade” e “no

passado”. Percebe-se também que o afastamento entre Mella e os

estudantes dizia respeito a seu envolvimento com questões que,

segundo a Federação eram “ajenas a los problemas universitarios”, o

38 Idem, p.153,154.

Onde se forjam os homens.

42

que confirma nossa suposição de que, na medida em que Mella dava

maior abrangência à sua militância, afastava-se daqueles estudantes

que insistiam em ver os problemas da universidade como apartados dos

grandes problemas nacionais.

A Federación de Estudiantes negou seu apoio a Mella, devido ao

seu envolvimento com o movimento comunista internacional, mas

nessa ocasião ela foi uma das variantes que pôde garantir sua

sobrevivência. O governo de Machado começou a receber várias

manifestações internacionais de protesto contra a prisão do estudante,

inclusive uma enviada pelo Senado da República do México.

Somaram-se a elas a solidariedade de órgãos sindicais dentro do

país que chegaram a cogitar uma paralisação geral com vistas a

conseguir a libertação do líder estudantil e das lideranças operárias

condenadas à prisão no mesmo processo.39

A crise terminou no dia seguinte à realização da referida

Assembléia, quando o governo de Machado decidiu-se pela liberação do

estudante mediante fiança. Apesar disso, foram necessários dezoito dias

de greve de fome, comprometendo quase que irremediavelmente a saúde

de Mella, para que o governo se dignasse soltá-lo.

Depois de liberto, já não havia condições para permanecer em

Cuba. Novo processo foi instaurado contra ele, em janeiro de 1926,

tornando-se evidente que só seria possível continuar gozando de

liberdade e praticar a atividade política se o fizesse fora do país.

Seus companheiros do Partido Comunista de Havana organizaram

sua saída do país num cargueiro rumo a Honduras. Ao chegar a Puerto

Cortés, foi identificado por autoridades policiais e obrigado a seguir

viagem no cargueiro até a Guatemala, onde foi detido. Apenas dias

depois, graças à intervenção de Flores Magón, pôde prosseguir viagem

até o México, onde viveu o resto de seus dias.

39 Cf. GONZALES CARBAJAL, Ladislao., op.cit., p.60.

Onde se forjam os homens.

43

Sob muitos aspectos, tanto para Mella quanto para Haya, o exílio

foi uma nova fase na militância. Longe de seus países, vivendo

intensamente experiências novas, deram início, na segunda metade da

década, a importantes debates.

No que se refere a Haya, a primeira constatação é que o tema do

antiimperialismo, central na sua reflexão depois de 1924, ainda não

estava presente na mesma intensidade em seus escritos antes do exílio.

Apenas à medida que começou a conhecer de perto a realidade de

diferentes países latino-americanos - sobretudo a região do Caribe - e,

ao mesmo tempo, acercou-se da perspectiva que os comunistas, por

influência do leninismo, passaram a atribuir ao imperialismo, qual seja,

a de um papel central na compreensão dos principais problemas

políticos dos anos 20 - é que começou a considerar o antiimperialismo

como questão relevante.

O tema de maior importância para Haya antes do exílio, radicava

na discussão existente no Peru em torno das comunidades indígenas.

Como vimos, a geração a que pertenceram Haya e Mariátegui,

manifestou grande esforço no sentido de conhecer a realidade indígena

do Peru. Consolidando uma tendência que nasceu ainda no século XIX,

com González Prada, o inicio do século viveu um renascimento do

indigenismo. Ao contrário do centenário desprezo dedicado às

populações indígenas por parte das elites políticas no século XIX,

durante o governo de Augusto Leguía, houve um grande avanço, em que

pese a situação precária em que continuaram a viver as comunidades

indígenas.

Lembremos que durante a administração de Leguía criou-se a

Sección de Assuntos Indígenas, ligada ao Ministério de Fomento e Obras

Públicas e dedicada especificamente à discussão do problema das

condições econômicas e sociais das comunidades indígenas. O

Patronato de la Raza Indígena e o Dia do Índio, são também instituições

do governo de Leguía, e isso não denota uma especial preocupação do

Onde se forjam os homens.

44

governante pelo tema, mas sim uma forte pressão da sociedade civil no

sentido de transformar a disposição do Estado com relação ao

problema.

A pressão dessa sociedade civil organizada em grupos como a

Associación Pró Indígena 40 e outras garantiu que o governo sancionasse

leis de proteção ao índio.

Foi durante esse período novo de retomada e valorização das

tradições indígenas que muitos intelectuais, entre eles Castro Pozo,

Mariátegui e o próprio Haya, puderam voltar sua atenção para antigas

instituições sociais das comunidades indígenas, como a propriedade

comunal da terra, e supor que a partir delas, com as adaptações

exigidas pelo tempo, seria possível pensar alternativas ao latifúndio e à

exploração imperialista.

Dessa forma, a atuação de Haya nos primeiros anos, passando

pelo movimento operário de orientação anarquista, nas greves de 1919,

e por sua posterior defesa da serra como lugar de purificação das

mazelas da nação no período do Congresso de estudantes, aponta para

uma percepção da questão nacional, centrada naquelas comunidades.

Há que se considerar que no período em que Haya desenvolveu sua

reflexão, antes e depois do exílio, consolidava-se uma leitura indigenista

que manifestava um certo preconceito, uma vez que tendia a identificar

a nação peruana com os Incas e com os Andes, vendo o mestiço como o

símbolo dos males da colonização. Essa tendência, ainda que com os

sinais contrários, reproduzia a leitura “racial” do problema indígena que

tinha sido característica da colonização e dos primeiros anos de

República. O empenho realizado por Haya em destacar os aspectos

econômicos e sociais das condições adversas das comunidades

indígenas no Peru buscava oferecer uma compreensão alternativa a

40 Grupo criado, em 1909, no meio universitário de São Marcos e que foi um dos pioneiros a

denunciar os abusos cometidos contra os índios e sublinhar a responsabilidade social das autoridades públicas locais. Sobreviveu até 1915, mas sua atuação não foi muito além das

denúncias. O comitê pró-indígena que o seguiu dedicou-se também a despertar nos índios consciência de seus direitos cívicos.

Onde se forjam os homens.

45

essa perspectiva indigenista e encarava diferentemente a relação índio-

mestiço, partindo mais em direção a uma aliança do que a uma

oposição entre eles. É verdade que, quando comparado a outros

intelectuais peruanos seus contemporâneos, essa proposição não está

explícita nos escritos de Haya, mas durante o exílio, quando Haya

estabeleceu a ligação entre a questão nacional e o imperialismo, as

proposições em termos da aliança entre os índios e os trabalhadores

urbanos tornaram evidente que esse era seu objetivo.

No caso de Mella, embora o exílio tenha contribuído muito para a

ampliação de seus horizontes, interessando-o e qualificando-o para

discutir com muito mais propriedade assuntos que transcendiam às

questões nacionais, sua aproximação do comunismo internacional e

sua filiação incondicional a seus princípios elementares já se tinham

dado bem antes de exilar-se.

Nos escritos anteriores ao exílio, era possível perceber que o

problema nacional encontrava-se desde logo vinculado ao imperialismo.

Em seu texto mais importante da fase cubana de sua produção,

terminado meses antes de sua prisão, vemos de que forma as questões

já apareciam imbricadas:

“Hay algo cómico en esse asunto, que nunca han visto los famosos

internacionalistas cubanos y yanquis de los Congresos panamericanos y

europeus. Si un estado es soberano tiene siempre la suficiente fuerza

armada para imponer su soberanía a todos sus súbditos o ciudadanos

luego, si Cuba es estado soberano, como dicen en la Universidad de la

Habana y en todos los lugares donde hay hipócritas ¿para qué necesita la

fuerza armada de los Estados Unidos?, ¿para imponer ese respecto y

proteción garantizados en la parte cubana y en la parte americana de

nuestra constituición? Falta estado verdadero, e sobra protección.” 41

41 VALCARCE, Carmen. (org.). Escritos revolucionarios. México, Siglo XXI, 1978, p. 68.

Onde se forjam os homens.

46

A percepção aguda da dependência econômica como fator limitador

da soberania nacional, não se evidenciava apenas na análise do caso de

Cuba, mas se generalizava para toda a América Latina:

“La América Latina, en mayor o menor grado, no es libre, pertenece al

solo estado, al solo poder, que absorbe a todos los otros: los Estados Unidos

de Wall Street. Los países como Chile, Argentina, Brasil y Uruguay, que por

situaciones especiales no estan bajo la influencia directa del capitalismo

imperialista, son también, estados capitalistas nacionales: feudos de una

casta explotadora.” 42

Assim, é preciso considerar que Cuba oferecia a Mella uma longa

tradição na discussão da luta contra o opressor estrangeiro e pela

soberania nacional que remonta aos líderes da revolução de

independência no final do século XIX.

Durante o período de dominação militar norte-americana na ilha,

cresceu consideravelmente a expectativa de uma efetiva independência

e as sucessivas derrotas vividas pelo Congresso Constituinte de 5 de

novembro de 1900, sobretudo, a aceitação da Emenda Platt, impuseram

à vida política de Cuba o receio constante da intervenção militar.

Nos primeiros anos de independência, por força da presença

onipotente do poderio militar norte-americano, a diferença entre liberais

e conservadores em Cuba radicava no fato de que enquanto estes, em

alguns casos eram francamente anexionistas e consideravam a

incorporação definitiva da ilha, aos EUA, aqueles empenhavam toda sua

energia em viabilizar as reformas sociais necessárias sem provocar a

desconfiança e conseqüentemente a intervenção norte-americana.

Nesse contexto, as expectativas da geração participante da Reforma

Universitária em Cuba passava pela liquidação completa da dominação

estrangeira e a imposição definitiva da autonomia nacional. O principal

componente da mobilização estudantil, no primeiro momento, foi a luta

42 Idem, p. 69.

Onde se forjam os homens.

47

pela soberania nacional e esse contexto favoreceu uma aproximação da

questão do antiimperialismo que para Mella antecedeu ao exílio e que

apenas se aprimorou depois dele.

Ainda durante as duas primeiras décadas do século, a

preocupação com a vocação interventora dos Estados Unidos deixou de

ser uma exclusividade dos cubanos, visto que um número crescente de

países da América Central passava a viver mais de perto essa realidade.

Não é de se estranhar que o nacionalismo como componente do

ideário da Reforma Universitária em Cuba tivesse muito mais força do

que no caso peruano. Existiu também alguma preocupação manifestada

por Mella com relação ao preconceito racial de que era vítima a

população negra na ilha, inclusive por parte de setores do próprio

movimento operário, mas essa problemática apareceu de forma

absolutamente secundária em comparação com a questão da

necessidade de defender a soberania nacional contra o opressor

estrangeiro.

Essa é, a nosso ver, a distinção essencial entre as concepções

nacionalistas nos dois países que ajuda a entender as posteriores

polêmicas em torno do antiimperialismo desenvolvidas por Haya de la

Torre e Julio Mella.

Onde se forjam os homens.

48

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