MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais Turma 8 Economia Internacional

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MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais Turma 8 Coordenador Acadêmico Miguel Ferreira Lima Economia Internacional Mario Rubens de Mello Neto Local de Realização SOCIESC Itajaí Itajaí/SC

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MBA em Gestão de Comércio Exterior e

Negócios Internacionais

Turma 8

Coordenador Acadêmico Miguel Ferreira Lima

Economia Internacional

Mario Rubens de Mello Neto

Local de Realização SOCIESC – Itajaí

Itajaí/SC

Diretor Clovis de Faro Direção Acadêmica Diretor Executivo Carlos Osmar Bertero e Diretora Adjunta Elisa Maria

Rodrigues Sharland Central de Qualidade Coordenadora Prof Elisa Sharland

Direção Executiva FGV Management Diretor Ricardo Spinelli de Carvalho .

FGV Management Diretor Executivo Ricardo Spinelli de Carvalho

Diretores Adjuntos Rio de Janeiro Mário Couto Soares Pinto

São Paulo Paulo Mattos de Lemos Brasília Silvio Roberto Badenes de Gouvea

Superintendência de Rede Felipe Gonçalves

[email protected]

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Sumário

1. PROGRAMA DA DISCIPLINA 1

1.1 CONCEITOS ECONÔMICOS 1 1.2 CARGA HORÁRIA TOTAL 1 1.3 OBJETIVOS 1 1.4 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 2 1.5 METODOLOGIA 2 1.6 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 2 1.7 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 2 CURRICULUM VITAE DO PROFESSOR 3

2. CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA 4

2.1 INTRODUÇÃO 4 2.2 OBJETO DA MACROECONOMIA 7 2.3 POLÍTICA FISCAL 8 2.4 POLÍTICA MONETÁRIA 9 2.5 POLÍTICA CAMBIAL 12

3. A MOEDA E O SISTEMA FINANCEIRO 17

3.1 A MOEDA 17 3.2 O BANCO CENTRAL 17 3.3 O MULTIPLICADOR MONETÁRIO (Α) 18

4. INFLAÇÃO E ÍNDICES DE PREÇOS 20

4.1 CONCEITO DE INFLAÇÃO 20 4.2TIPOS DE INFLAÇÃO 20 4.3 PRINCIPAIS ÍNDICES DE PREÇOS NO BRASIL 21 4.4 AS DISTORÇÕES E AS CONSEQÜÊNCIAS DAS ALTAS TAXAS DE INFLAÇÃO 22

5. O BALANÇO DE PAGAMENTOS 24

5.1 A TAXA DE CÂMBIO 26

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1. Programa da Disciplina

1.1 Conceitos Econômicos

Mensuração da atividade econômica. A moeda e o sistema financeiro. Inflação e índices de preços. Balanço de Pagamentos

1.2 Carga Horária Total

24 Horas-aula

1.3 Objetivos

Compreender os mecanismos básicos de funcionamento de uma economia de mercado;

Compreender o processo de formação dos preços; Compreender as restrições internas à firma que impõem óbices ao lucro; Identificar fatores-chave que, segundo a teoria econômica, determinam o

sucesso ou o fracasso da gestão empresarial; Compreender o processo de tomada de decisão por meio da ótica marginal; Compreender a importância de conceitos tais como elasticidade e custo de

oportunidade, na elaboração de estratégias empresariais; Compreender os vários ambientes de mercado, de concorrência, monopólio e

oligopólio; e as implicações de cada um desses ambientes na formulação de estratégias;

Compreender o processo de tomada de decisão em situações que envolvem incertezas;

Desenvolver uma visão sistêmica da economia, identificando a inter-relação entre os diversos setores econômicos, bem como a função desempenhada pelos distintos agentes.

Obter informação a respeito do mecanismo de funcionamento da economia, identificando os instrumentos e os canais de transmissão da política cambial, fiscal e monetária.

Estabelecer a ponte entre a teoria e os problemas macroeconômicos, como recessão, desemprego, inflação, dívida externa, déficit e dívida mobiliária do setor público

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1.4 Conteúdo Programático

Introdução Conceitos Moeda e política monetária

. Origem e evolução da moeda

. Funções da moeda

. Os agregados monetários

. Instrumentos de política monetária

. A política monetária: um resumo geral O setor externo e o balanço de pagamentos

. Conceitos básicos . A estrutura do balanço de pagamentos

Taxas de câmbio e regimes cambiais

. Introdução . Formação das taxas de câmbio . Desequilíbrio no mercado de câmbio . Regimes cambiais . A política cambial: uma síntese

O Sistema de Contas Nacionais

Inflação, desemprego e crescimento econômico: a curva de Phillips

Inflação e imposto inflacionário

Conclusão

1.5 Metodologia

O curso será baseado em aulas expositivas, com a utilização de retro-projetor e data-show, além de fitas de vídeo;

Consta do material didático: apostila e material a ser distribuído em sala; Como o objetivo do curso é oferecer a teoria associada à sua aplicabilidade, a teoria, constante da apostila, foi bastante sintetizada. Para os que se sentirem motivados e desejarem prosseguir os estudos pelos próprios meios, por favor, contactar o professor pelo e-mail: [email protected] para bibliografia adicional.

1.6 Critérios de Avaliação

Prova individual (70%). Trabalho em grupo (30%).

1.7 Bibliografia Recomendada

Robson Ribeiro Gonçalves, Mario Rubens de Melo Neto, Nora Raquel Zygielszyper, Virene Roxo Matesco. Economia Internacional. Editora FGV, Rio de Janeiro, 2013.

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Curriculum vitae do professor

Mario Rubens de Mello Neto é Mestre em Economia pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), professor de macroeconomia da UFF, e está cursando o Doutorado em Economia pela UFF. Sua experiência profissional inclui o cargo de Gerente de Operações em empresas do setor financeiro, pesquisador do Grupo da Moeda e Sistema Financeiro, docência em cursos de economia, bem como consultoria em diversas empresas e na Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro. Autor de artigos.

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2. Conceitos Básicos de Economia

2.1 Introdução

A economia de um país caminha em ciclos, isto é, passa por períodos de crescimento vigoroso e por períodos de menor crescimento ou de queda na produção. Os economistas chamam de recessão quando a produção e o nível de emprego estão caindo e de recuperação quando a produção e o nível de emprego aumentam rapidamente. De fato, todas as economias crescem em ciclos, vale dizer, crescem no longo prazo, atravessando períodos de recessão e de desaceleração do crescimento. A análise macroeconômica, ou a teoria macroeconômica, ou, mais simplesmente, a macroeconomia, é o estudo das razões (variáveis) que conduzem a economia para esses movimentos. Procura compreender porque uma economia entra em recessão, o que fazer para retirá-la da recessão, o que fazer para evitar que ela entre em recessão, ou o que fazer para mantê-la em crescimento com um elevado nível de emprego. A teoria econômica como um todo pode ser subdividida em teoria microeconômica (microeconomia) e teoria macroeconômica (macroeconomia). A primeira estuda o comportamento dos consumidores e das firmas em seus mercados, as razões que levam os consumidores a comprarem mais ou menos de um determinado produto, a pagarem mais ou menos por ele. Estuda também os motivos que levam uma firma a produzir mais ou menos de uma mercadoria e de que forma seus preços são determinados. Nesse sentido, a microeconomia tenta identificar o comportamento dos diversos empresários nos diversos mercados - portanto é uma teoria da decisão da firma. Por isso é micro, isto é, analisa o comportamento individual de cada unidade produtiva. Já a macroeconomia analisa as conseqüências globais dessas ações. Preocupa-se, portanto, com o conjunto das decisões de todos os empresários da economia, que se refletirão, à nível macro, em maior ou menor produção, maior ou menor nível de emprego. Preocupa-se com o conjunto das decisões sobre a política de fixação de preços em cada mercado, em razão do seu impacto sobre o nível geral de preços. Preocupa-se, enfim, com os efeitos agregados das decisões tomadas no interior das firmas. Inflação, taxa de juros, nível de emprego global, crescimento econômico, são objetos da análise macro. Sendo assim, se a microeconomia estuda as decisões no âmbito da firma, é possível afirmar que a macroeconomia estuda as decisões que devem ser tomadas pelo formulador de política econômica do país, normalmente o Ministro da Fazenda. Alguns conceitos são mais utilizados na análise macroeconômica. São eles: - Produto Interno Bruto (PIB) - é o valor monetário dos bens e serviços produzidos no país num determinado período (quantidade de tudo o que foi produzido na

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economia vezes os seus respectivos preços). Também é a medida da renda dos habitantes do país. Quando o PIB cresce, a renda nacional também cresce no mesmo montante. Afirma-se que a economia está crescendo quando o PIB está crescendo, porque se produziu mais do que no período anterior. - Taxa de inflação - é a variação percentual do nível geral de preços dos bens e serviços que compõem o PIB, de um período para outro. Na maior parte das vezes, mas nem sempre, a inflação é vista como conseqüência de um aquecimento da demanda não correspondido por igual aumento da oferta. Se a demanda por um bem específico cresce muito, seu preço tende a aumentar. Da mesma forma, se a procura pelo conjunto de bens e serviços da economia cresce muito, seus preços (a taxa de inflação) tendem a aumentar. - PIB Real - é o PIB ajustado pela taxa de inflação. Como o PIB é obtido através da multiplicação dos preços pelas quantidades produzidas, os aumentos de preços podem fazer com que o PIB aumente, sem que tenha ocorrido uma maior produção. Nesses casos desconta-se a taxa de inflação do PIB para retirar o efeito do preço sobre sua variação, obtendo-se o PIB Real, ou seja, quanto de fato a economia produziu a mais (ou a menos). - Salário nominal e salário real - com uma inflação de 10% ao mês, por exemplo, um salário de R$ 1 mil compra menos no mês seguinte. Chama-se de salário nominal o valor expresso em reais (R$ 1 mil), que não variou, e de salário real quanto esse salário nominal pode comprar no mês seguinte (menos 10% do que no mês anterior). Dessa maneira, salário real equivale ao salário nominal descontado da taxa de inflação - num raciocínio idêntico ao do PIB real. Para manter o salário real do exemplo acima constante, após uma inflação de 10%, o salário nominal teria que ser alterado para R$ 1,1 mil. - Consumo - é a parte do PIB usado pelas famílias para seu próprio uso. Parte da renda gasta em consumo. - Poupança - é a parte da renda que não foi gasta em bens de consumo. Recursos, portanto, disponíveis para as firmas utilizarem para investimentos. - Investimento - é a parte do PIB usada pelas empresas para aumentarem suas capacidades produtivas e pelas famílias na construção de novas residências. Inclui máquinas, equipamentos, computadores, prédios, instalações e residências. Não incluem as aplicações financeiras em poupança, ações, etc. Assim, investimento para o economista só ocorre quando há aumento da capacidade produtiva na economia. Aplicações financeiras em poupança, outros títulos de crédito, ações, etc., não são consideradas investimento. - Taxa de juros - é o preço do dinheiro. Quanto se cobra pelo dinheiro emprestado. Quando a oferta de crédito aumenta, a taxa de juros tende a cair. Quando se retrai, a taxa de juros tende a subir.

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- Taxa de desemprego - corresponde ao percentual das pessoas que estão procurando emprego e não encontram. Medida do nível de emprego. - Déficit público - diferença entre o que o governo gasta e o que arrecada - sendo os gastos superiores à arrecadação, evidentemente. Essa diferença precisa ser financiada pela emissão de títulos públicos ou pela emissão de moeda. - Dívida pública - valor dos títulos que o governo vendeu ao público. Os juros pagos sobre esses títulos são gastos que contribuem para o déficit público. - Balança comercial - comparação entre o valor total das exportações e das importações num dado período. Quando as exportações superam as importações diz-se que ocorreu superávit comercial ou superávit no saldo da balança comercial. Caso contrário ocorreu déficit. - Saldo da Conta Corrente do Balanço de Pagamentos - diferença entre entrada e saída de divisas referentes a transações envolvendo bens e serviços. Por exemplo, a Balança Comercial é parte da Conta Corrente do Balanço de Pagamentos, pois refere-se a importações e exportações de bens e serviços. O saldo da conta turismo também faz parte da C/C do BP, pois diz respeito ao fluxo de turismo (serviço). Também os juros pagos pelo serviço da dívida externa compõem o saldo da C/C do BP. - Saldo da Conta de Capital - existem duas formas de entrar e sair moeda estrangeira (divisas) do país: 1. através das transações comerciais (compra e venda de bens e serviços), que compõem a Conta Corrente do BP; e 2. através do fluxo financeiro sem contrapartida em bens ou serviços, tais como empréstimos, financiamentos, investimento externo quando estrangeiros aplicam ou desaplicam recursos no país - ou quando residentes no país investem no exterior ou desinvestem, trazendo os recursos de volta, etc. Este último tipo de transação é contabilizado na conta de capital do balanço de pagamentos. Assim, quando o saldo das transações correntes é deficitário, por exemplo, a conta de capital precisa ser positiva, caso contrário o país perde divisas (esse é o quadro brasileiro hoje). Como nenhum país pode funcionar sem uma reserva de divisas mínima que permita ao país realizar importações, a política econômica quanto ao balanço de pagamento exige que não se percam divisas em escala que possa comprometer as reservas do país.

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2.2 Objeto da Macroeconomia

O objeto de estudo da macroeconomia é o nível da produção e do emprego. Todo governo pretende aumentar cada vez mais a produção da economia (o PIB) e o nível do emprego. Mas o que faz aumentar (ou reduzir) a produção? O economista John Maynard Keynes, em 1936, definiu os rumos da moderna macroeconomia, identificando nos gastos da economia a mola propulsora do crescimento. Dessa forma, o nível do produto (e da renda) dependem: 1. dos gastos em bens de consumo, por parte das famílias; 2. dos gastos em bens de investimento, por parte das empresas; 3. dos gastos do governo, sejam de investimento (nas suas empresas e em infra-estrutura), sejam de custeio (bens de consumo); 4. do saldo positivo da balança comercial do país. O somatório desses itens corresponde ao total da demanda agregada por bens e serviços na economia. Quando um consumidor adquire uma mercadoria, uma firma realiza uma venda. Quanto mais se consome, portanto, mais se vende. Gastos (demanda) maiores significam vendas maiores, que exigem produção maior e, na maior parte das vezes, mais trabalhadores para realizá-la. Da mesma forma, um aumento dos gastos em máquinas e equipamentos (investimento) provoca, normalmente, um aumento na produção de bens de investimento. Para se produzir mais bens é preciso comprar mais matérias-primas e contratar mais trabalhadores. O aumento da demanda por matérias-primas exige das firmas que operam ofertando esse tipo de produto que aumentem sua produção, comprando mais dos seus insumos e contratando mais trabalhadores. Os trabalhadores contratados, por sua vez, usarão seus salários para consumir, aumentando os gastos da economia e incentivando ainda mais o crescimento da produção e do emprego. Assim, os gastos em bens de consumo e de investimento fazem a produção e o emprego aumentar, isto é, fazem a economia crescer. Já quando o governo gasta, observa-se o mesmo movimento no interior da economia. E, finalmente, cada vez que um produto é exportado, significa que renda adicional foi transferida do exterior para o país exportador. Já quando ocorre uma importação, é preciso pagar por ela e a renda flui para o país do qual a mercadoria veio. Por isso, quanto maior for a exportação, em relação à importação, tanto maior será a produção e a renda nacionais. Já quando se importa um bem, deixando de comprá-lo no próprio país, a indústria nacional perde uma venda, reduzindo sua produção e a necessidade de trabalhadores. Assim, a produção (e a renda “Y” da economia) depende das seguintes varáveis: Y = C + I + G + (X-M) , onde Y = renda, C = total dos gastos em bens de consumo, I = total dos gastos em bens de investimento, X = ao valor das exportações, M = ao valor das importações e (X-M) = ao saldo da balança comercial do país. Se, por um lado, quando aumenta a demanda na economia, aumentam a produção e o emprego, por outro lado, quando cai a demanda, caem a produção e o emprego. Dessa forma, se o consumo, o investimento, os gastos do governo, ou o saldo da

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balança comercial se reduzem, a economia tende à desaceleração. Ou seja, são os gastos na economia (ou a demanda total - por bens de consumo e de investimento) que determinam se a economia se movimentará expansivamente ou no sentido da contração. Para interferir nas atividades econômicas, buscando melhorar o nível da produção e do emprego, o governo dispõe de alguns instrumentos de política econômica. As políticas econômicas podem ser subdivididas em política fiscal, monetária e cambial. Sendo assim, analisaremos as três políticas disponíveis para lidar com o crescimento econômico. Como já foi mencionado, o crescimento econômico depende do nível da demanda, isto é, do nível dos gastos na economia. Então, as políticas econômicas são instrumentos capazes de alterar o nível dos gastos na economia. Assim, políticas econômicas que incentivam gastos contribuem para acelerar o crescimento econômico, aumentando a produção e o emprego - são chamadas políticas expansivas. Já as mesmas políticas, quando usadas no sentido contrário, induzindo a redução dos gastos, provocam queda na produção e no emprego - são recessivas - sendo chamadas políticas restritivas. Este último tipo de política é utilizada para combater processos inflacionários que prejudicam a atividade econômica e impedem o crescimento.

2.3 Política Fiscal

Política fiscal é o gerenciamento dos gastos e da arrecadação do governo visando alcançar um dado objetivo. É provavelmente a mais importante política econômica. Após a Grande Depressão de 1929, nos EUA, tornou-se aceito que a política fiscal do governo deveria ser instrumento para alcançar certas metas. Se a economia estivesse operando a um nível de renda e produto relativamente baixo, com desemprego (recessão), uma política fiscal expansiva poderia ser usada de forma a aumentar a demanda da economia, induzindo-a à retomada do crescimento. Se, por outro lado, a economia está funcionando a um nível de renda e produto elevado, com pouco desemprego e reduzida ociosidade, uma política fiscal contracionista poderia ser adequada para evitar pressões inflacionárias. Assim, a política fiscal ideal agiria de forma anticíclica. Há dois conjuntos de alternativas básicas de política fiscal. Se a necessidade é expandir a produção e o emprego, porque a economia se encontra em recessão, as alternativas de política são aumentar a despesa do governo ou diminuir os impostos, ou uma combinação das duas. No primeiro caso, quando se aumentam as despesas do governo (o “G” da equação apresentada anteriormente), teoricamente em qualquer coisa, incrementa-se a demanda da economia, induzindo-a ao crescimento. No segundo caso, reduzindo-se os impostos, aumenta-se a renda pessoal disponível que será usada para gastos em bens de consumo e/ou de investimentos (o “C” e o “I” da mesma equação). Neste último caso a demanda agregada da economia também será acrescida.

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Se, por outro lado, a produção e o emprego já estiverem razoavelmente elevados, com reduzida capacidade ociosa na economia, um excesso de demanda poderá gerar pressões inflacionárias. Nesse caso, a política fiscal adequada seria contracionista, diminuindo os gastos do governo ou aumentando os impostos, ou, ainda uma combinação destas. Ressalte-se que quando o governo adota uma política fiscal expansionista, aumentando suas despesas ou reduzindo sua arrecadação, poderá estar provocando déficit público. Déficit público existe quando o governo gasta mais do que arrecada. Nesse caso, o aumento da demanda artificialmente provocada pela política econômica pode gerar pressões inflacionárias. Aparentemente a política fiscal a ser adotada deveria ser sempre expansionista, uma vez que o objetivo do governo é promover o crescimento da renda e do emprego. Entretanto, se a política fiscal expansionista gera inflação, seus benefícios sobre a renda e o emprego podem ser completamente anulados. Isso porque uma inflação alta não permite o planejamento empresarial e o cálculo econômico. Como já vimos, o investimento é um item da demanda total da economia, responsável pelo crescimento do emprego. Na verdade, o investimento privado é o mais importante item da demanda, porque é através dele que são gerados os empregos. Porém, como o investimento só é feito se houver retorno no tempo, e as projeções de retorno são feitas a partir de estimativas e previsões sobre o desempenho dos mercados no futuro, uma alta taxa de inflação reduz em muito a capacidade do empresário prever o futuro, bloqueando investimentos. Dessa maneira, o combate à inflação não seria, por si só, um objetivo da política econômica. Mas na medida em que seu controle é condição necessária para o planejamento econômico (que envolve estimativas e previsões sobre um futuro incerto), e, portanto, para o investimento, pode se tornar prioridade para o governo. De fato, foi isso que se observou no Brasil desde o início dos anos 80, quando, assolada por uma inflação elevada, a economia não cresceu suficientemente. Nestes anos, os sucessivos governos direcionaram toda sua política econômica para o controle da inflação, que não permitia o investimento das empresas já instaladas, a entrada de novas empresas estrangeiras no país e a criação de empregos. Assim, a política fiscal expansionista objetiva tirar uma economia da recessão e do elevado nível de desemprego, mas pode gerar pressões inflacionárias que podem inibir o investimento e a própria geração de empregos. Por outro lado, a política fiscal contracionista visa o controle da inflação, mas induz à economia à recessão (ou pelo menos à uma redução do seu crescimento).

2.4 Política Monetária

Política monetária é definida como o controle pelo Banco Central sobre a oferta de moeda (quantidade de moeda disponível no sistema econômico) e sobre o custo da moeda (taxa de juros), como instrumentos para se atingir objetivos de política econômica. Da mesma forma que a política fiscal, a política monetária é utilizada para a indução do crescimento econômico e para o controle da inflação.

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Se o objetivo da política econômica é o crescimento econômico, deve visar elevar o total dos gastos na economia (C+I+G+(X-M)). Assim, uma expansão da oferta de moeda injeta poder de compra na economia e deve provocar uma queda nas taxas de juros, que incentivarão os gastos em bens de consumo e de investimento. Dessa maneira, expansão da oferta de moeda e queda nas taxas de juros tendem a provocar aumento na demanda, nas vendas, na produção e no emprego. Porém, um aumento na demanda pode eventualmente conduzir a um aumento de preços. Nesse caso, se o objetivo da política econômica é o controle da inflação, a política monetária deve ser orientada para a redução da oferta de moeda e elevação das taxas de juros, contraindo o poder de compra (demanda) da economia. Com uma redução da demanda, a taxa de inflação deixa de ser pressionada. Assim, de maneira similar à política fiscal, uma política monetária expansionista (que aumenta a oferta de moeda e/ou reduz as taxas de juros) objetiva tirar a economia da recessão e reduzir o nível de desemprego, mas pode gerar pressões inflacionárias que podem inibir o investimento. Por outro lado, a política monetária contracionista (redução da oferta de moeda e/ou elevação das taxas de juros) visa o controle da inflação, mas induz a economia à recessão (ou pelo menos à uma redução do seu crescimento). Os instrumentos mais comuns, através dos quais o Banco Central executa sua política monetária, são as operações de mercado aberto, as alterações nas exigências de reserva legal dos bancos (depósitos compulsórios), e as alterações nas taxas de redesconto do Banco Central. Todos esses instrumentos operam direta ou indiretamente sobre a quantidade de moeda disponível para empréstimos e aplicações em títulos nos bancos comerciais. Nas operações de mercado aberto (open market) o Banco Central vende títulos públicos retirando dinheiro do mercado (“enxugando liquidez” da economia) e resgata títulos públicos injetando dinheiro no mercado. Com isso, reduz ou aumenta o volume monetário das reservas dos bancos comerciais. E maior ou menor quantidade de moeda na economia implica maior ou menor poder de compra (maior ou menor demanda). Ressalte-se que a opção de vendas de títulos públicos pode ser eventualmente uma imposição da política fiscal. Se os gastos do governo forem maiores que sua arrecadação, o excesso de gastos pode ser financiado através da colocação de títulos públicos, em troca de dinheiro do público. O que não significa dizer que o governo pode financiar seus déficits através da venda de títulos da dívida pública indefinidamente, porque para tanto é preciso apresentar taxas de juros cada vez mais atrativas. Além disso, quando a dívida pública (total dos títulos colocados no mercado) fica muito elevada, o público pode ficar com receio de que ela não seja honrada pelo governo (vide confisco do Plano Collor) e parar de comprar títulos do governo. De qualquer forma, as operações de mercado aberto constituem-se numa opção de política monetária para aumentar ou retirar moeda da economia, aumentando ou reduzindo a demanda, induzindo, por sua vez, ao aumento ou redução das atividades econômicas. A indução ao aumento das atividades econômicas visa o combate à recessão e ao desemprego, enquanto que a redução das atividades econômicas pode ser uma opção para reduzir a inflação.

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Alterações nas reservas legais dos bancos comerciais (depósitos compulsórios) também são muito utilizadas na execução da política monetária. Os bancos comerciais são obrigados a manter um percentual do total dos depósitos que recebe no Banco Central. Dessa forma, sempre que o Banco Central aumenta esse percentual, diminui a disponibilidade de crédito dos bancos, retirando dinheiro do sistema econômico. Já uma política monetária expansionista é executada através da redução do nível de exigência de reservas legais (isto é, da redução do percentual dos depósitos recebidos pelos bancos comerciais depositado compulsoriamente no Banco Central), aumentando a liquidez do sistema econômico e o poder de compra geral. Finalmente, as alterações nas taxas de redesconto afetam o custo de obtenção de recursos adicionais junto ao Banco Central. Na sua rotina diária os bancos comerciais recebem depósitos e saques por parte dos seus correntistas. Por essa razão precisam ter uma reserva voluntária (encaixe voluntário) para fazer frente àqueles dias em que os saques superam os depósitos. Mas não podem manter encaixes voluntários muito elevados porque isso significa deixar de fazer empréstimos e aplicações financeiras. Ou seja, precisam calcular o volume de reservas exatamente suficiente para suprir um eventual volume de saques superior ao volume de depósitos. Porém, se num determinado dia o banco sofreu mais saques do que esperava, ele precisa de recursos suplementares para honrar esses saques. O Banco Central é um dos supridores desses recursos, cobrando uma taxa de juros conhecida como taxa de redesconto (outra fonte de recursos para essa finalidade é o chamado “interbancário”, onde bancos comerciais superavitários repassam recursos para os bancos comerciais deficitários, num dado dia, através da negociação de Certificados de Depósitos Interbancários - CDI). Quando o Banco Central aumenta sua taxa de redesconto, induz o banco comercial a aumentar seus encaixes voluntários, para não correr o risco de ter seus volumes de depósitos superados pelo volume de saques e ser obrigado a recorrer ao redesconto a custos muito elevados. Já quando o Banco Central reduz sua taxa de redesconto, induz o banco comercial a aplicar maior percentual das suas reservas monetárias, obtendo rendimento, uma vez que se precisar recorrer ao redesconto as taxas de juros cobradas estão baixas. Assim, quando o Banco Central aumenta a taxa de redesconto, provoca uma retração do volume de crédito disponível nas instituições bancárias. Com menos liquidez no sistema econômico, as atividades econômicas também se reduzem. De outra forma, se o Banco Central reduz o redesconto, incentiva os bancos comerciais a emprestarem e aplicarem um maior volume de recursos, dando liquidez ao sistema, aumentando a demanda, incentivando a produção e o emprego. À medida que o Banco Central decide restringir a capacidade dos bancos comerciais de fazer empréstimos e comprar títulos, simultaneamente exerce pressão para cima sobre toda a estrutura das taxas de juros. Isso é evidente no caso das operações de mercado aberto. A venda de títulos pelo Banco Central em grande escala só pode ser executada com taxas de juros crescentes. Isso tende a elevar o rendimento sobre outros títulos e racionar o crédito aos solicitantes de empréstimos aos bancos comerciais. O mesmo efeito final se observa na elevação do depósito compulsório ou da taxa de redesconto. Esses não são os únicos instrumentos de controle do volume de recursos monetários na economia, mas são os mais conhecidos e utilizados.

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Geralmente se considera que a política monetária é mais eficaz para controlar a inflação, através de uma política contracionista, do que em estimular o crescimento da produção, através de uma política expansiva. Isso porque a disponibilidade de crédito abundante em condições favoráveis (taxas de juros baixas) não é suficiente para induzir a tomada de empréstimo para consumo e investimento, se as demais condições da economia que influenciam as decisões de gastos são de tal modo desfavoráveis que anulam as condições favoráveis do crédito. Nesse caso, uma política fiscal expansiva seria mais apropriada, porque os gastos do governo reaquecem a economia e trazem de volta o otimismo aos agentes econômicos (consumidores e produtores).

2.5 Política Cambial

A política cambial diz respeito basicamente aos mecanismos de controle da taxa de câmbio da moeda nacional. Apesar de não ser tão evidente como no caso dos bens e serviços, a moeda também possui um mercado onde recebe um preço (em moeda estrangeira). O mercado de câmbio é exatamente este mercado, no qual a moeda de um país é trocada pela moeda de outro país. O mercado poder ser livre, no sentido de que não recebe influência por parte da autoridade monetária, ou não. No caso brasileiro, por exemplo, o mercado não é livre, uma vez que o Banco Central fixa, através de um sistema de bandas cambiais, os limites inferior e superior das taxas de câmbio que ele permitirá. De fato, o Banco Central não deixa o mercado funcionar e a taxa de câmbio flutuar nem mesmo no interior dessas bandas, conduzindo o mercado (a taxa de câmbio, ou o preço do real em moeda estrangeira) através de intervenções diárias (comprando e vendendo moeda estrangeira). O regime cambial no Brasil é de monopólio cambial, cabendo somente ao Banco Central a posse de moeda estrangeira no país - ou aos agentes por ele autorizados. Mas a determinação da taxa de câmbio, ou o preço da moeda nacional em moeda estrangeira, não pode ser confundida com a noção de monopólio cambial. A taxa de câmbio é estabelecida pelas forças do mercado e pelas intervenções do Banco Central. Coexistem no mercado brasileiro três taxas de câmbio. A taxa de câmbio comercial, utilizada para as transações envolvendo fluxo de comércio internacional (entrada e saída de divisas como conseqüência de importações e exportações, principalmente). A taxa de câmbio-turismo, válida para a compra e venda de moedas estrangeiras utilizadas em viagens internacionais. Finalmente, a taxa de câmbio paralela (black), que surge da oferta e demanda de moeda para transações não autorizadas. Observe-se que o detentor de dólar no Brasil - e, portanto, quem compra e vende no mercado paralelo - comete uma ilegalidade prevista na legislação penal. O preço da moeda nacional em termos de moedas estrangeiras surge, como em qualquer outro mercado, do jogo de mercado, ou seja, da oferta e da demanda. Assim, quando a oferta é muito grande (maior do que a demanda), o preço do bem tende a cair. Já quando existe uma restrição da oferta ou a demanda se eleva muito, o preço do bem tende a subir. No mercado de câmbio, quando existe uma entrada muito grande de dólar norte-americano, por exemplo, o preço do dólar cai, o que

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equivale a dizer que o preço do real aumenta - ocorreu então uma desvalorização do dólar em relação ao real, ou uma valorização do real em relação ao dólar. Já quando ocorre uma saída de dólar muito grande do país, isto é, os agentes econômicos estão querendo comprar dólar, oferecendo em troca obviamente real, isto equivale dizer que a demanda por dólar aumentou, aumentando seu preço em relação ao real. Ocorreu, então uma desvalorização do real em relação ao dólar. Dessa forma, o mercado de câmbio é fruto da interação entre oferta e demanda de divisas - definindo-se divisas como moedas de outros países aceitas internacionalmente (o que significa que a moeda da Etiópia, embora estrangeira, não é divisa, pois ninguém a aceita como meio de pagamento fora daquele país). A oferta de divisas ocorre quando são realizadas exportações, na chegada de turistas estrangeiros, quando ocorrem investimentos estrangeiros no país, ou quando empréstimos internacionais são obtidos por residentes no país - vale dizer, sempre que ingressa divisa no país. A demanda de divisas, por sua vez, ocorre quando são realizadas importações, viagens de turismo de residentes para o exterior, investimentos de residentes no exterior, empréstimos concedidos por residentes para outros países, etc. - sempre que divisas deixam o país. Quando uma empresa precisa realizar uma importação, precisa enviar dólar para o exterior e por isso quer trocar seus reais pela moeda norte-americana. Procura um exportador, por exemplo, que recebeu em dólar mas quer transformá-lo em reais para pagar seus trabalhadores e fornecedores. Se o número de exportadores que desejam obter reais for muito grande, excedendo o de importadores que querem dólares, o preço da moeda brasileira sobe. Do contrário cai, significando uma desvalorização cambial. Generalizando, sempre que a oferta de divisas aumenta, a taxa de câmbio se altera com uma valorização do real, e sempre que se reduz, a taxa de câmbio se altera com uma desvalorização do real. Evidentemente, como já foi mencionado, o exportador não tem o dólar nas mãos. O dólar do exportador fica numa instituição autorizada pelo Banco Central para operar no mercado de câmbio, que faz a intermediação entre este e o demandante de divisas. Assim, a taxa de câmbio pode surgir do jogo livre do mercado, com ofertantes e demandantes de divisas determinando os preços relativos das moedas. Ou pode sofrer a influência do Banco Central, quando este entra no mercado ofertando divisas (basicamente dólares norte-americanos) para valorizar a moeda nacional, ou comprando divisas, para desvalorizar a moeda nacional. Quando o Banco Central intervém no mercado cambial diz-se que as flutuações cambiais são “sujas”, significando que não são conseqüência do livre jogo do mercado. Ressalte-se que para o Banco Central ter capacidade para intervir no mercado ele precisa ter reservas em montante elevado, para poder vendê-las quando quiser, alterando a taxa de câmbio. Atualmente o Banco Central possui reservas em moeda estrangeiras em montantes nunca vistos, o que lhe permite a tranqüilidade necessária para fixar a taxa de câmbio que quiser. Aliás, esse é um dos trunfos para a administração do Plano Real, como veremos posteriormente. E qual é o efeito de uma alteração na taxa de câmbio? Uma desvalorização torna mais cara a moeda estrangeira, encarecendo tudo que vem de fora (importações, principalmente). Imagine uma taxa de câmbio em que R$ 1,00 = US$ 1,00. Nessa

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situação, um aparelho norte-americano, por exemplo, que pode ser importado por US$ 300, custa para o consumidor brasileiro R$ 300. Após uma desvalorização do real em relação ao dólar, imaginemos uma taxa de câmbio em que R$ 1,50 = US$ 1,00. Agora, o mesmo videocassete importado ainda custa US$ 300, mas são precisos R$ 450 para comprá-lo. Isso porque agora são necessários R$ 450 para comprar US$ 300. Sendo assim, desvalorizações cambiais aumentam o custo das mercadorias importadas, fazendo com que o consumidor compre o produto nacional. Dessa forma, a desvalorização protege a indústria nacional da concorrência internacional e melhora a situação da balança comercial do país ao reduzir as importações. Por outro lado, agora que o produto importado subiu de preço, em reais, o produtor nacional pode ser tentado a subir seus preços também. Em resumo, desvalorizações cambiais protegem a indústria nacional, melhoram o saldo da balança comercial, mas apresentam efeito perverso sobre os preços internos, isto é, sobre a inflação. Por outro lado, uma desvalorização cambial tende a aumentar o volume das exportações do país. Isso porque o exportador antes da desvalorização recebia, por exemplo, US$ 100/t do seu produto, equivalentes a R$ 100/t - mantida a mesma taxa de câmbio do exemplo anterior. Após a desvalorização, receberá os mesmos US$ 100/t, mas que agora serão equivalentes a R$ 150/t. Com isso o exportador tem mais incentivo para exportar. Além disso, imagine uma firma que tenha um custo de produção de R$ 120/t. Antes da desvalorização ela não podia exportar, porque o preço internacional do produto era US$ 100, equivalentes a R$ 100, o que lhe daria prejuízo na venda para o exterior. Após a desvalorização, entretanto, ela passou a poder exportar com lucro. Desse modo, diz-se que a desvalorização cambial aumenta a competitividade das exportações do país. Por isso, também contribui para a geração de empregos internos e para uma melhor situação da balança comercial. Em resumo, desvalorizações cambiais aumentam as exportações, reduzem as importações, aumenta a produção e o emprego, mas podem gerar inflação. Já uma valorização da moeda nacional tem por efeito o aumento das importações e a redução das exportações. Supondo novamente uma taxa de câmbio inicial de R$ 1 = US$ 1, um videocassete de US$ 300 pode ser importado por R$ 300,00. Após uma valorização cambial, que altere a taxa de câmbio para R$ 0,80 = US$ 1, o aparelho permanecerá custando US$ 300 nos EUA, que entretanto serão convertidos para apenas R$ 240, no Brasil, tornando mais barato o produto importado, contribuindo negativamente para o saldo da balança comercial ao incentivar o aumento das importações. No caso das exportações, a firma que realizou a venda para o exterior receberá menos reais por dólar recebido, o que representa um desincentivo e pode até mesmo inviabilizar suas exportações. Dessa maneira, uma valorização cambial ameaça as empresas e o emprego nacionais, porque facilita a entrada do produto importado. Com vendas menores, a indústria doméstica pode ser obrigada a reduzir o nível do emprego. A taxa de câmbio que importa é a taxa real. Assim, mesmo após uma desvalorização cambial, a nova taxa de câmbio real ainda pode estar valorizada, caso a desvalorização nominal tenha sido inferior à taxa de inflação do período. Ou seja, quando a inflação num período for maior do que a taxa de desvalorização cambial,

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há desvalorização nominal da taxa de câmbio, e valorização da taxa de câmbio em termos reais, ou uma taxa de câmbio real valorizada. Situação semelhante acontece com o salário do trabalhador. Se este recebe um salário mensal de R$ 100 e é reajustado para R$ 150, mas a inflação foi de 100%, seu salário nominal mudou (de R$ 100 para R$ 150), mas seu salário real caiu, porque seria necessário um salário de R$ 200 para anular o efeito da inflação. Seu salário ficou com menor poder de compra, então, seu salário real é menor. Da mesma forma, se a inflação do país foi de 40% num dado período, a moeda nacional deve ser desvalorizada em 40%, para manter a taxa de câmbio real constante. O fato da taxa de câmbio real brasileira ter estado valorizada entre agosto de 1994 e janeiro de 1999 refletiu-se em déficits da balança comercial e da conta corrente do Balanço de Pagamentos, que começaram a ser observados já nos últimos meses de 1995. Por essa razão, vários economistas sugeriram, naquele período, uma aceleração nas desvalorizações do câmbio, para reduzir o déficit comercial e proteger a indústria nacional, que era obrigada a concorrer com artigos importados a preços reduzidos devido à valorização cambial. O governo, entretanto, temia acelerar a desvalorização cambial devido aos seus efeitos perniciosos sobre o controle da inflação. A desvalorização contribui para a elevação dos preços por alguns motivos: 1. eleva o custo das matérias-primas importadas, elevando o custo de produção de várias mercadorias nacionais que contam com insumos que não são produzidos no Brasil. Assim, obriga essas empresas a aumentarem seus preços; 2. como foi mencionado anteriormente, eleva o preço do produto importado, dando margem a que o produtor brasileiro também eleve seus preços. Ou seja, enquanto o automóvel e o videocassete importados estiverem baratos devido ao câmbio valorizado, os empresários nacionais não podem aumentar seus preços para não perder vendas para o concorrente externo; 3. a taxa de câmbio é um indexador importante da economia. Muitos agentes têm seus preços no Brasil, em reais, atrelados ao dólar. Assim, uma desvalorização, que faz com que R$ 1 = US$1 passe para, por exemplo, R$ 1,5 = US$ 1, pode induzir alguns empresários, que têm seus preços fixados em dólar, a aumentarem de R$ 1 para R$ 1,5, pois dessa forma estarão mantendo seus preços em dólar. Isso é muito comum em empresas multinacionais que têm seus orçamentos e planejamentos feitos em moeda estrangeira. Além disso, essa reação é típica de uma economia que ainda não deu mostra de ter esquecido a indexação. Se um índice importante como a taxa de câmbio (ou o dólar, como é mais conhecido) varia, alguns preços internos podem acompanhar essa variação pelo hábito da indexação. Em resumo, como todas as políticas econômicas, uma medida de política cambial tem seus aspectos favoráveis e seus aspectos desfavoráveis. Uma desvalorização cambial melhora a balança comercial do país e protege a indústria e o emprego nacionais, mas é ruim para o combate à inflação. Um câmbio valorizado é bom para o combate à inflação - e a isso se denominou âncora cambial no Plano Real - mas é péssimo para a balança comercial. Os que defendiam a manutenção do câmbio valorizado achavam que o controle da inflação é fundamental para o país, pois é isso que possibilita a retomada dos investimentos e a modernização do parque industrial brasileiro. Quanto à balança comercial, acham que os exportadores devem procurar reduzir custos e melhorar a qualidade dos seus produtos, em vez de exigir

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desvalorizações cambiais para poder exportar. Por outro lado, os que defendiam uma aceleração nas desvalorizações cambiais achavam que a inflação é muito ruim, mas consideram pior a quebra de empresas nacionais diante do crescimento dos importados e temem por uma crise cambial - isto é, que a perda de divisas iniciada na balança comercial provoque uma saída maior de divisas, inclusive na conta de capital do balanço de pagamentos. Vale ressaltar que além da política cambial, o governo tem outro instrumento para reduzir o déficit da balança comercial. O uso de políticas fiscal ou monetária restritivas (isto é, que reduzam o crescimento econômico) reduz as importações e incentivam o aumento das exportações. Se a demanda é freada, caem as vendas tanto de bens de consumo importados como nacionais. Assim, a recessão reduz as importações. Por outro lado, se as vendas de produtos nacionais caem, a necessidade de importações de insumo também se contrai, fazendo cair o volume total das importações. Por fim, uma queda nas vendas internas incentiva os produtores nacionais a exportarem a qualquer preço, já que perderam parte importante do seu mercado doméstico. Em resumo, medidas clássicas de restrição de demanda agregada são freqüentemente utilizadas pelos governos para conter déficits nas balanças comerciais.

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3. A Moeda e o Sistema Financeiro

3.1 A Moeda

Representa qualquer ativo financeiro usado para adquirir bens e serviços e liquidar qualquer outro compromisso futuro ou à vista. Apresenta as seguintes funções:

Meio de troca: a moeda possui aceitação geral e permite que os indivíduos troquem entre si o que produzem;

Unidade de conta: a moeda funciona como uma medida de valor das mercadorias, ou seja, é utilizada para fixar preços;

Reserva de valor: a moeda apresenta poder de compra ao longo do tempo. Vale destacar que em economias altamente inflacionárias a moeda perde valor ao longo do tempo.

O desempenho das três funções da moeda está relacionado à presença dos seguintes atributos:

Físicos: divisível (que possa ser fracionada em múltiplos e submúltiplos),

durável e difícil de ser falsificada; Econômicos: custos de estocagem e transação praticamente nulos.

3.2 O Banco Central

Tem a missão de garantir um sistema financeiro sólido e eficiente e assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda. Desse modo, apresenta as seguintes funções:

Responsável pela emissão de papel – moeda e controle da liquidez O Banco Central autoriza as emissões monetárias, cuja decisão obedece a um conjunto de critérios determinado pela política econômica em curso no país. A produção das cédulas de dinheiro e a cunhagem de moedas metálicas são realizadas pela Casa da Moeda. Além disso, a instituição pode controlar a liquidez da economia através do controle da base monetária.

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Exemplo: o aumento dos encaixes compulsórios tende a inibir a concessão de empréstimos pelos bancos comerciais e, conseqüentemente, a criação de moeda escritural.

Banqueiro dos Bancos A instituição é responsável pela compensação de cheques, pelo transporte de cédulas e moedas aos bancos e demais atividades de auxílio ao sistema bancário. Concede empréstimos aos bancos comerciais e demais instituições financeiras em dificuldades visando garantir a saúde do sistema financeiro nacional. O Banco Central também é considerado o banqueiro do governo federal, uma vez que pode financiá-lo através de empréstimos e aquisição de títulos públicos.

Regulador do Sistema Monetário e Financeiro O Banco Central pode supervisionar os negócios bancários, estabelecer limites para certas operações, realizar inspeções regulares e intervenções em instituições mal administradas com o objetivo de proteger os depósitos dos clientes e garantir a solvência do banco.

Depositário de Reservas Internacionais A instituição tem a obrigação de possuir divisas suficientes para atender a demanda dos agentes que precisam adquirir moeda estrangeira, evitando escassez de divisas e a suspensão temporária de pagamentos ao exterior. O Banco Central, por ser o depositário de todas as divisas que ingressam no país, atua como comprador e vendedor de moeda estrangeira. As casas de câmbio e demais instituições financeiras autorizadas a realizar as trocas entre as moedas doméstica e estrangeira comercializam divisas junto à instituição.

3.3 O Multiplicador Monetário (α)

Definição: Variável que indica, dada a base monetária, o volume de meios de pagamento que está circulando na economia num determinado momento. Sintetiza o mecanismo de multiplicação da base monetária através do processo de criação de moeda escritural pelos bancos comerciais. É divulgado mensalmente pelo Banco Central. Os bancos comerciais, ao receberem os depósitos à vista, devolvem uma parte dos mesmos ao público através da concessão de empréstimos. Isso é possível porque os bancos estão cientes de que o público não utiliza o total depositado de uma única vez e por isso fornecem meios de pagamentos em um nível superior aos encaixes em moeda corrente. A partir desta operação, os bancos multiplicam a quantidade de moeda corrente e geram maior liquidez à economia, tendo em vista

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que os meios de pagamento são ativos plenamente líquidos e, portanto, apresentam poder de compra imediatamente disponível. Significado do multiplicador: cada unidade a mais de base monetária dá origem a α unidades monetárias de meios de pagamento. É utilizado na seguinte expressão: MP = meios de pagamento B = base monetária Significado: Se o multiplicador de uma economia corresponde a 1,83 e o Banco Central fez a base monetária variar em 200 milhões de unidades monetárias, então os meios de pagamentos foram expandidos em 366 milhões de unidades monetárias. Fatores que influenciam o multiplicador:

Encaixes compulsórios (Ec): O aumento do encaixe compulsório tende a

reduzir a oferta de recursos disponíveis para a realização de negócios bancários (empréstimos) e, portanto, os bancos tendem a reduzir a oferta de crédito ao publico, independentemente de sua demanda.

O aumento do nível de depósitos à vista tende a aumentar o multiplicador,

uma vez que os bancos passam a dispor de mais recursos e assim aumentam a oferta de crédito ao público e adotam condições de créditos mais atrativas.

α = Meios de Pagamento

Base Monetária

ΔMP = αΔB

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4. Inflação e Índices de Preços

4.1 Conceito de Inflação

Taxa de inflação - é a variação percentual do nível geral de preços dos bens e serviços que compõem o PIB, de um período para outro. Na maior parte das vezes, mas nem sempre, a inflação é vista como conseqüência de um aquecimento da demanda não correspondido por igual aumento da oferta. Se a demanda por um bem específico cresce muito, seu preço tende a aumentar. Da mesma forma, se a procura pelo conjunto de bens e serviços da economia cresce muito, seus preços (a taxa de inflação) tendem a aumentar. O objetivo da macroeconomia, alcançado através dos instrumentos de política econômica, é o crescimento econômico - leia-se crescimento da produção/renda e do emprego. Mas por que, então, a política econômica brasileira nos últimos quinze anos dedicou-se tão somente ao combate à inflação? Fundamentalmente porque a inflação é freqüentemente um poderoso obstáculo na consecução desses objetivos. Dessa forma, seria preciso primeiro estancar o processo inflacionário para, em seguida, perseguir o crescimento econômico.

4.2Tipos de Inflação

As várias teorias da inflação disponíveis na literatura econômica explicam a elevação sistemática dos preços de diversas maneiras, cada qual delas com uma contribuição para o entendimento da questão. A explicação clássica para a inflação está ligada ao crescimento da oferta de moeda na economia. Segundo essa corrente de pensamento econômico, que domina as universidades de todo o mundo, a causa primária da inflação se encontra no déficit público, ou mais precisamente na emissão de moeda necessária para financiar o governo quando seus gastos são maiores do que a arrecadação. E na medida em que o governo emite moeda, esta, como qualquer outra mercadoria, perde valor relativo, isto é, é necessário mais moeda para comprar uma mesma mercadoria. Em resumo, um aumento da oferta de moeda gera aumento generalizado de preços. Já a explicação, que ficou conhecida como keynesiana, imputa a inflação ao excesso de demanda agregada na economia. Dessa forma, o crescimento da demanda, apesar de apresentar efeito positivo sobre o nível da produção e do emprego, também pressiona o nível geral de preços, uma vez que a capacidade ociosa da economia comece a diminuir. Por outro lado, o aumento da demanda e da produção tornam os insumos mais raros e, por isso, mais caros, aumentando os custos de produção que são repassados para os preços. Portanto, uma explicação da causa da

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inflação está associado ao crescimento da demanda, independentemente de ter ocorrido ou não déficit público e aumento da oferta de moeda. Finalmente, trabalhos apresentados na década de 50 deram origem ao que ficou conhecido como a teoria da inflação inercial, que recebeu esse nome após refinamentos teóricos nos anos 80, que contou com importantes contribuições de economistas brasileiros. Segundo essa idéia, após a inflação atingir um nível elevado - e aí não importa mais como o processo inflacionário foi iniciado -, alguns mecanismos entram em ação impedindo que ela se reduza. Suponha que a taxa de inflação nos últimos dez meses é de 20% ao mês. Diante desse fato, todos os agentes econômicos esperam que a inflação do mês corrente também seja de 20%. E mais, esperam que os seus fornecedores aumentem seus preços pela inflação passada. Sendo assim, os agentes econômicos reajustarão seus preços também em 20%, para manter suas margens de lucro. Se reajustarem por menos de 20%, como os preços dos seus insumos deverão ser reajustados em 20%, perderão margem de lucro e poderão até mesmo vender com prejuízo. Ademais, contratos de aluguel, contratos de trabalho (salários), e outros contratos estarão sendo ajustados pela inflação passada, de 20%. Ou seja, com inflação alta, observa-se uma tendência a que os agentes econômicos reproduzam para o futuro a inflação observada no passado, gerando uma inércia na inflação, que não cai através dos

instrumentos de política econômica tradicionais.

4.3 Principais Índices de Preços no Brasil

Mesmo com a inflação muito mais baixa nos dias de hoje, persistiram as operações pós-fixadas, isto é, aplicações e empréstimos onde a taxa de juro é associada a um instrumento chamado de indexador, que antes era a Correção Monetária (CM), hoje não mais necessariamente. O indexador é a parte variável do Custo das operações pós-fixadas, podendo ser a própria CM ou uma taxa de juros usada também para esse fim, como as TBF, TR, TJLP ou até mesmo a variação do “dollar” dos Estados Unidos. Todas essas taxas têm a ver com a inflação, ou seja, oscilam com a inflação, porém não medem a inflação. São apenas indexadores, i. e, indexador não é necessariamente medida de inflação. Atualmente, como a ORTN não existe mais, a inflação mensal é medida pelos índices calculados por Institutos e Fundações. Assim temos os IGP’s – Índice Geral de Preços da FGV, o INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor e o IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo, ambos calculados pelo IBGE, IPC – Índice de Preços ao Consumidor da FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas etc., cada um com a sua metodologia de cálculo. Então, o mercado usa como indexador tanto a CM dos índices – apenas para operações de prazo superior a um ano – quanto as citadas taxas de juro, para prazos a partir de um mês. As taxas de juro acopladas aos indexadores variam de acordo com as previsões e séries históricas de cada indexador. É sempre bom frisar que o “dollar” dos USA usado como indexador, é privativo das operações do Governo Federal.

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4.4 As Distorções e as Conseqüências das Altas Taxas de Inflação

A inflação clássica, conseqüência do déficit público (do aumento da oferta de moeda) é combatida pela política fiscal, através do ajuste entre gastos e arrecadação do governo. Com isso cai a demanda total da economia, seja porque o governo passou a gastar menos, seja porque passou a tributar mais, retirando poder de compra das famílias e das empresas. Também é combatida pela política monetária, retirando crédito dos bancos comerciais e elevando as taxas de juros. Com isso também cai a demanda porque os gastos em consumo e investimento se reduzem. Assim, a recomendação de política econômica clássica de combate à inflação prevê o amargo remédio da recessão. A inflação keynesiana, fruto do crescimento da demanda, também exige políticas restritivas (restrição e demanda) para seu combate, sejam fiscais ou monetárias. Também é, portanto, recessiva. As políticas tradicionais, entretanto, não apresentam êxito no combate à inflação inercial. Isso porque a restrição de demanda agregada que caracteriza o combate tradicional não elimina a indexação e a inércia. Isto é, os custos da economia vão continuar subindo pelo menos igual à taxa da inflação passada, e se o agente econômico não obtiver repasse igual para os seus preços perderá margem e lucro, venderá com prejuízo, incorrerá em perda de capital, poderá falir. Assim, prefere aceitar a perda nas vendas decorrente da restrição da demanda agregada, reajustando seus preços e mantendo sua margem, garantindo sua sobrevivência. Dessa maneira, o combate à inflação inercial exige medidas que ficaram conhecidas como heterodoxas (porque não eram tradicionais na teoria econômica, isto é, ortodoxas), principalmente congelamento de preços acompanhado de desindexação da economia. Mas por que o combate à inflação merece tanta atenção por parte dos economistas? A elevação sistemática dos preços desequilibra o sistema de preços relativos, isto é, faz com que as mercadorias variem de preços entre si, confundindo o consumidor sobre o que é caro ou barato. Também torna imprevisível a evolução dos custos de produção das firmas, dificultando sua política comercial, principalmente no que se refere ao preço que manteria as margens de lucro constantes no tempo. Quando o empresário fixa seu preço e os custos aumentam mais do que o previsto, suas margens de lucro diminuem e o retorno do investimento pode ficar comprometido. Já quando fixa seus preços acima da evolução dos custos, pode estar perdendo demanda ao tornar sua mercadoria muito cara. Assim, decisões sobre quanto produzir e quanto cobrar pelo produzido ficam mais difíceis. Por outro lado, e certamente mais grave, a inflação alta reduz os investimentos da economia, e sem investimento não se criam empregos. A realização do investimento requer uma previsão de quanto se vai vender no futuro e a qual preço. A estimativa da demanda futura sob alta inflação é um exercício muito mais complicado porque o governo poder ser obrigado a aplicar medidas econômicas de restrição de demanda para conter a inflação. Com menos poder de compra na economia as vendas caem e o investimento pode não ter retorno. Também existe

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sempre o risco de uma desorganização maior da economia provocada por um acirramento do processo inflacionário, como uma situação de hiperinflação, onde os negócios virtualmente param. Com alta inflação não se pode prever com algum grau de certeza a evolução futura dos custos e, portanto, não se pode prever qual preço mínimo deverá ser fixado no produto final. Se os custos aumentam muito, os preços também precisam subir, o que pode diminuir a demanda pelo produto e inviabilizar o retorno do investimento. Alta inflação, enfim, reduz a capacidade de prever o futuro, e, portanto, de planejar e de se efetuar o cálculo econômico. Assim, alta inflação inibe o crescimento da renda e do emprego. Por isso precisaria ser atacada antes de tudo.

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5. O Balanço de Pagamentos

Definição: Registro contábil de todas as transações econômicas realizadas entre os residentes de um determinado país e o resto do mundo num determinado período. São considerados residentes:

Moradores permanentes, inclusive aqueles nascidos em outros países e aqueles que estão temporariamente no exterior;

Firmas sediadas no país, inclusive as filiais de empresas estrangeiras; Esferas do Governo, inclusive embaixadas e consulados sediados em outros

países. Os lançamentos são regidos pelo Princípio das Partidas Dobradas: cada lançamento a débito corresponde a outro de mesmo valor a crédito e vice - versa. Os registros são efetuados segundo a moeda de referência para transações internacionais (atualmente corresponde ao dólar americano).

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Resumo dos Lançamentos

Balança Comercial Exportações: crédito Importações: débito

Balança de Serviços

Operação que dá origem à entrada de recursos: crédito Operação que dá origem à saída de recursos: débito

Conta de Rendas

Operação que dá origem à entrada de recursos: crédito Operação que dá origem à saída de recursos: débito

Transferências unilaterais correntes

Operação que dá origem à entrada de recursos / mercadorias: crédito Operação que dá origem à saída de recursos / mercadorias: débito

Conta de Capital

Operação que dá origem à entrada de recursos / bens: crédito Operação que dá origem à saída de recursos / bens: débito

Conta Financeira

Operação que dá origem à entrada de recursos: crédito Operação que dá origem à saída de recursos: débito

Haveres da Autoridade Monetária Variação positiva nas reservas: débito

Variação negativa nas reservas: crédito Empréstimos do FMI: crédito

Atrasados: crédito Pagamento de atrasados: débito

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5.1 A Taxa de Câmbio

As transações entre residentes e não residentes são realizadas em moeda de referência internacional. Desse modo, há a necessidade de um mecanismo no qual as moedas doméstica e estrangeira sejam trocadas entre si. Exemplos:

Os importadores precisam de dólares para realizar suas operações de

compra, assim como os exportadores precisam converter os dólares recebidos em moeda doméstica para a realização de operações no mercado nacional.

Os turistas estrangeiros necessitam converter sua moeda doméstica em

moeda local do país no qual estão situados. A troca de moedas é possibilitada pela taxa de câmbio definida no mercado cambial. Existem dois tipos de taxa cambial:

Nominal (e): Representa o preço de uma moeda em termos de outra moeda, podendo ser apresentada de duas formas. A primeira é definida como o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda estrangeira. Por exemplo, a taxa de câmbio do real em relação ao dólar indica qual é preço, em reais, de US$ 1,00. A maioria dos países, inclusive o Brasil, utiliza esta definição. A segunda é definida como o preço, em moeda estrangeira, de uma unidade de moeda doméstica. Ou seja, qual é o preço em US$, de R$ 1,00. Primeira definição e = moeda doméstica

moeda estrangeira

Segunda definição e = moeda estrangeira moeda doméstica

Real: Representa um ajuste da taxa de câmbio nominal mediante a inclusão

das taxas de inflação interna e externa. A inflação interna tende a encarecer os produtos nacionais, tornando – os desvantajosos em relação aos produtos importados. Já a inflação externa tende a encarecer os produtos importados, tornando os produtos nacionais mais atrativos. Corresponde a:

E = taxa de câmbio real; e = taxa de câmbio nominal;

*P = índice de preços do país estrangeiro; P = índice de preços no mercado nacional.

P

PeE

*

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As taxas de câmbio nominal e real apresentam dois movimentos: Desvalorização cambial: Representa elevação da taxa cambial, ou seja, a

moeda perde valor em termos de outra moeda. Exemplo: A desvalorização do real em relação ao dólar significa que a partir de agora é necessária uma quantidade maior de reais para comprar uma unidade de dólar.

Valorização cambial: Representa queda da taxa cambial, ou seja, a moeda ganha valor em termos de outra moeda. Exemplo: A valorização do real em relação ao dólar significa que a partir de agora é necessária uma quantidade menor de reais para comprar uma unidade de dólar.

Exemplo 1: Taxa de câmbio nominal nos períodos 1 e 2. e1: US$ 1,00 = R$ 2,00 e2: US$ 1,00 = R$ 2,10 Receita de exportação: US$ 2.000,00 Receita de exportação em R$ no período 1 = US$ 2.000,00 R$ 2,00 = R$ 4.000,00 Receita de exportação em R$ no período 2= US$ 2.000,00 R$ 2,10 = R$ 4.200,00 Considere a partir de agora as seguintes taxas cambiais: e1: US$ 1,00 = R$ 2,00 e2: US$ 1,00 = R$ 1,75 Receita de exportação: US$ 2.000,00 Receita de exportação em R$ no período 1 = US$ 2.000,00 R$ 2,00 = R$ 4.000,00 Receita de exportação em R$ no período 2= US$ 2.000,00 R$ 1,75 = R$ 3.500,00

Desvalorização cambial da moeda doméstica

Conclusão: A desvalorização cambial aumenta o poder de compra do exportador, ao mesmo tempo em que encarece a despesa com importações em termos de moeda doméstica. Portanto, uma elevação da taxa de câmbio estimula as exportações e desestimula as importações.

Valorização cambial da moeda doméstica

Conclusão: A valorização cambial reduz o poder de compra do exportador, ao mesmo tempo em que reduz a despesa com importações em termos de moeda doméstica. Portanto, uma redução da taxa de câmbio desestimula as exportações e incentiva as importações.

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Exemplo 2: Taxa de câmbio real nos períodos 1 e 2. e1: US$ 1,00 = R$ 2,00 e2: US$ 1,00 = R$ 2,10 Inflação interna = 20% Inflação externa (Estados Unidos) = 5%

Considerando P

PeE

* ,

00,2$100

10000,2$1 RRE

84,1$120

10510,2$2 RRE

Variação da taxa de câmbio real = %81002

84,111001 2

tE

E

VALE DESTACAR QUE A POLÍTICA CAMBIAL NÃO É A

ÚNICA RESPONSÁVEL PELO ESTÍMULO / DESESTÍMULO ÀS EXPORTAÇÕES E

IMPORTAÇÕES. TAMBÉM SÃO IMPORTANTES, POR EXEMPLO, A POLÍTICA

COMERCIAL E AS CONDIÇÕES DE FINANCIAMENTO DAS OPERAÇÕES.

Desvalorização cambial da moeda doméstica

As taxas de inflação devem ser convertidas em números índices.

Conclusão: Em termos nominais houve uma desvalorização cambial, movimento que estimula as exportações. Em termos reais houve valorização cambial de 8,0%, comportamento que desestimula as exportações e incentiva as importações. Essa valorização decorre do fato de que o crescimento nominal do câmbio não foi suficiente, mesmo considerando a inflação externa de 5%, para compensar a elevação dos preços internos, que foi de 20%.

Conclusão: As transações de bens entre residentes e não residentes são influenciadas pela taxa de câmbio real.

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Mario Rubens de Mello Neto

[email protected]

OFERTA E DEMANDA DE MOEDAOFERTA MONETÁRIA

- QUEM OFERTA?

1. BANCO CENTRAL (por emissão ou controle via política monetária)

2. Bancos Comerciais (via multiplicador bancário)

DEMANDA MONETÁRIA

- QUEM DEMANDA?

1. PÚBLICO (FAMÍLIAS, EMPRESAS, GOVERNO E SETOR EXTERNO)

- PARA QUÊ?i) Para realizar

transações(Y = C + I + G + X – M);ii) Ou para retenção

(demanda especulativa)

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Instrumentos de política monetária

. Exigência de depósitos compulsórios;

. Manipulação das taxas de redesconto (“taxas de juros” cobradas pelo Banco Central aos bancos comerciais)

. Operações de mercado aberto (open market)

. Fixação das taxas de juros pela Diretoria do Banco Central (no Brasil, COPOM)

Mecanismo global de formação das taxas de juros numa economia aberta

• Taxa de juros determinada pela chamada equação de paridade dos juros

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EQUAÇÃO DE PARIDADE DOS JUROS:

• Taxa de juros doméstica = Taxa de juros internacional + Variação cambial esperada + spread de risco-país

BALANÇO DE PAGAMENTOS

• CONCEITO: Registro sistemático das transações (comerciais e financeiras) realizadas entre residentes (de um país) e não-residentes (de outro país) durante determinado período de tempo (por ex., um ano)

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Estrutura Geral do Balanço de Pagamentos (sem erros e omissões)

PIB Nominal e PIB Real

• RKD PQOKPCN< Crwtcfq c rtgèqu cqttgpvgu.

kpcqtrqtcpfq. rqtvcpvq. c xctkcèçq fqu rtgèqu

qcqttkfc pq rgtîqfq *kphncèçq qw fghncèçq+=

• RKD TGCN< Crwtcfq c rtgèqu cqpuvcpvgu.

fgfw|kpfq. rqtvcpvq. c kphncèçq *qw fghncèçq+

qcqttkfc pq rgtîqfq *qw uglc. cqttgurqpfg.

rqtvcpvq. cq xcnqt fq RKD pqokpcn fghncckqpcfq+0

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Calculo do PIB REAL

Inflação: Efeitos

• Afeta preços relativos;

• Altera distribuição de renda;

• Reduz capacidade de previsão e tomada de decisão.

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INFLAÇÃO (CAUSAS CLÁSSICAS)

• Inflação de demandaDEMANDA AGREGADA ↑↑↑↑ DEMANDA AGREGADA →→→→ ↑↑↑↑ P

OFERTA MONETÁRIA ↑↑↑↑ OF. MONET. →→→→ ↑↑↑↑ DD AGREG. →→→→ ↑↑↑↑ P

DÉFICIT PÚBLICO ↑↑↑↑ DÉF. PÚBL.→↑→↑→↑→↑OF. MONET. →↑→↑→↑→↑ DD AGREG. →→→→ ↑↑↑↑ P

• Inflação de CustosCUSTOS ↑↑↑↑ CUSTOS →→→→ ↑↑↑↑ P

• Inflação InercialINÉRCIA REPASSE AUTOMÁTICO DA INFL. PASSADA ↑↑↑↑ P

(INFLAÇÃO PASSADA)

REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO

• O regime monetário de metas de inflação foi oficialmente instituído em junho de 1999, sob a justificativa de ser o instrumento mais adequado à manutenção da estabilidade de preços em um cenário de liberalização cambial.

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• O artigo 2o do Decreto que instituiu o regime monetário de metas de inflação conferiu ao BCB independência de instrumentos para cumprir as metas de inflação estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) – Ministro da Fazenda (presidente), Ministro do Planejamento e o Presidente do BCB.

• O artigo 4o estabeleceu que o Presidente do BCB deveria tornar públicas as razões do descumprimento das metas em carta aberta ao ministro da fazenda, contendo: i) as causas do descumprimento, (ii) as medidas necessárias para trazer a inflação para dentro da meta e, (iii) o prazo esperado para essas medidas produzirem efeito.

COPOM:� Formado pelos 8 membros da Diretoria Colegiada do BCB, que

têm direito a voto, e presidido pelo presidente – que tem voto de Minerva.

� Também participam da primeira etapa das reuniões – sem direito a voto – os chefes dos seguintes departamentos do BCB: Departamento Econômico (Depec), Operações das Reservas Internacionais (Depin), Operações Bancárias (Deban), Operações de Mercado Aberto (Demab), Estudos e Pesquisas (Depep), além do gerente-executivo da Gerência de Relacionamento com Investidores (Gerin).

� Comparecem ainda a essa sessão de avaliação técnica 3 consultores: o secretário-executivo, um assessor especial da Diretoria e o assessor de imprensa; podendo ser convocados outros chefes de departamento.

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COPOM:

� Reúne-se 45-45 dias em caráter ordinário e, extraordinariamente, quando necessário, mediante convocação de seu presidente.

� Reuniões ordinárias: são divididas em duas sessões => 1a realizada às terças-feiras, dedicada às apresentações de natureza técnica; 2a no dia seguinte, reservada à tomada das decisões de política monetária

COPOM:

• 1a parte: análise de conjuntura => os chefes de departamento e o gerente-executivo abordam os seguintes temas: inflação, nível de atividade, evolução dos agregados monetários, finanças públicas, balanço de pagamentos, economia internacional, mercado de câmbio, reservas internacionais, mercado monetário, operações de mercado aberto, avaliação prospectiva das principais variáveis macroeconômicas e, em especial, da tendência da inflação.

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COPOM:

• 2a parte: presença apenas dos membros do COPOM e do chefe do Departamento de Estudos e Pesquisas, encarregado da avaliação prospectiva das tendências de inflação (sem direito a voto) => os diretores de Política monetária e de Política Econômica apresentam, com base na análise da conjuntura realizada na 1a sessão, recomendações sobre a política monetária e, especificamente, alternativas para a fixação da taxa de juros de curto prazo.

COPOM:

� Encerrada a reunião: a meta para taxa Selic e seu eventual viés, bem como as demais decisões sobre a política monetária, são imediatamente divulgados por meio de comunicado veiculado pelo Sistema de informações do BCB (SISBACEN).

� As atas em português são divulgadas na manhã da segunda quinta-feira posterior a cada reunião. No dia seguinte = versão em inglês.