MAPA CONCEITUAL PARA ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E AUXÍLIO À REDAÇÃO DE TRABALHO ACADÊMICO

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MAPA CONCEITUAL PARA ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E AUXÍLIO À REDAÇÃO DE TRABALHO ACADÊMICO Lenora de Beaurepaire da Silva Schwaitzer Universidade Federal Fluminense – UFF Núcleo de pesquisas do Poder Judiciário – NUPEJ TEMA: REDES TECNOLÓGICAS E SOCIAIS: INFORMAÇÃO ESTRATÉGICA PARA COMPETITIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES Subtema: Gestão da informação para o conhecimento e tomada de decisão. Ferramentas e sistemas de Inteligência. Compartilhamento, acesso e uso da informação estratégica. Modelos de gestão. Av. Lúcio Costa, 4000, bl. 01, apto 204 – Barra da Tijuca – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22630-011 e-mail: [email protected] RESUMO O objetivo do presente artigo é discorrer sobre a validade do mapa conceitual como ferramenta para a representação gráfica e temática de conceitos, e avaliar a utilidade da ferramenta para auxiliar a organizar conceitos e a estabelecer a ordem a ser desenvolvida na elaboração de trabalho acadêmico. No desenvolvimento do trabalho acadêmico, apresenta-se o conceito de aprendizagem significativa, sobre mapa conceitual e quanto ao aplicativo desenvolvido para sistematização da ferramenta. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso concreto em que o mapa conceitual foi utilizado para organização do conhecimento antes do desenvolvimento de trabalho acadêmico.

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MAPA CONCEITUAL PARA ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E AUXÍLIO À

REDAÇÃO DE TRABALHO ACADÊMICO

Lenora de Beaurepaire da Silva Schwaitzer

Universidade Federal Fluminense – UFFNúcleo de pesquisas do Poder Judiciário – NUPEJ

TEMA: REDES TECNOLÓGICAS E SOCIAIS: INFORMAÇÃO ESTRATÉGICAPARA COMPETITIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES

Subtema: Gestão da informação para o conhecimento e tomada dedecisão. Ferramentas e sistemas de Inteligência.

Compartilhamento, acesso e uso da informação estratégica.Modelos de gestão.

Av. Lúcio Costa, 4000, bl. 01, apto 204 – Barra da Tijuca –Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22630-011 e-mail: [email protected]

RESUMO

O objetivo do presente artigo é discorrer sobre a validade do

mapa conceitual como ferramenta para a representação gráfica e

temática de conceitos, e avaliar a utilidade da ferramenta

para auxiliar a organizar conceitos e a estabelecer a ordem a

ser desenvolvida na elaboração de trabalho acadêmico. No

desenvolvimento do trabalho acadêmico, apresenta-se o conceito

de aprendizagem significativa, sobre mapa conceitual e quanto

ao aplicativo desenvolvido para sistematização da ferramenta.

A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e o

estudo de caso concreto em que o mapa conceitual foi utilizado

para organização do conhecimento antes do desenvolvimento de

trabalho acadêmico.

Palavras-Chave: Mapa conceitual; Aplicativo CmapTools;

Organização do conhecimento; Desenvolvimento de trabalho

acadêmico.

1 INTRODUÇÃO

A partir do término da 2ª Guerra Mundial, pode-se

perceber a difusão do uso de ferramentas tecnológicas para a

produção de bens, serviços e também da difusão da informação,

o que vem ensejando extensos debates em praticamente todas as

áreas do conhecimento quanto a esta nova “sociedade da

informação”. Tal terminologia foi cunhada para traduzir um

momento em que a criação, armazenagem, processamento,

transmissão e disseminação da informação desempenham um papel

central na vida dos cidadãos e no desenvolvimento global

político, social e econômico. Ela remete a uma coletividade

que incorporou as ferramentas tecnológicas em suas atividades

diárias, sem que o abandono dos meios tradicionais se operasse

por completo.

É uma época em que “o tempo individual e colectivo

é acelerado, impondo reajustamentos de valores e de

comportamentos, devido à obsolescência de anteriores

paradigmas elaborados sobre uma base tecnológica diferente”

(PORTUGAL, 1997, p. 10). Atualmente, a informação produzida

circula instantaneamente e se avoluma nos bancos de dados que

também passam a abrigar as reproduções digitais dos saberes de

outrora que estavam custodiados e acessíveis a poucos.

2

Em um ambiente cada vez mais complexo, como o

descrito acima, cada vez mais se percebe a viabilidade de

acesso a informações produzidas em formatos distintos e com

abrangência temática variada. Se, por um lado, isso propicia

facilidade de obtenção de novos dados, por outro, provoca

maior dificuldade em organizá-los de maneira coerente e útil.

Para contornar esse problema, vários têm sido os recursos

concebidos para auxílio do processo cognitivo, dentre eles, o

mapa conceitual, criado por Joseph Novak e seus colaboradores

na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Segundo

Moreira (2010), mapas conceituais são diagramas que indicam

relações entre conceitos ou entre termos usados para

representar conceitos, que não seguem regra fixa para seu

traçado.

Através da descrição da situação real em que a

ferramenta contribuiu para a elaboração do trabalho de

conclusão de curso de especialização em políticas

informacionais e organização do conhecimento, promovido pela

Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com o

Arquivo Nacional, realizado em 2011, o objetivo do presente

artigo é discorrer sobre a validade do mapa conceitual como

ferramenta para a representação gráfica e temática de

conceitos, e avaliar a utilidade da ferramenta para auxiliar a

organizar conceitos e a estabelecer a ordem a ser desenvolvida

na elaboração de trabalho acadêmico.

Pretende-se, de início, apresentar os conceitos que

envolvem a Teoria da Aprendizagem Significativa desenvolvida

pelo médico judeu David Ausubel, e também a proposta de mapa

3

conceitual, do pesquisador Joseph Novak, enfatizando a forma

como a ferramenta pode ser utilizada para a organização e

representação do conhecimento. Dar-se-á destaque, ainda, ao

aplicativo gratuito CmapTools, do Instituto de Cognição Homem-

Máquina (IHMC), que possibilitou a construção de um mapa

conceitual sobre o tema “O processo eletrônico e a preservação

digital: desafios para a gestão documental da Justiça

Federal”, objeto de trabalho acadêmico. A proposta do

presente artigo é a de não apenas descrever a metodologia

utilizada para a construção da ferramenta, mas apresentar os

resultados encontrados durante o efetivo uso da tecnologia

cognitiva.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONCEITUAL

Debater sobre a utilidade e adequação do mapa

conceitual para a organização do conhecimento envolve

necessariamente a discussão sobre a Teoria da Aprendizagem

Significativa, formulada por David Ausubel, e também sobre a

técnica desenvolvida por Novak e colaboradores na Universidade

de Cornell, Estados Unidos. Estes conceitos foram obtidos,

basicamente, a partir dos trabalhos de Moreira (2010), de

Novak (2010) e de Novak e Cañas (2006).

Para discorrer sobre o mapa conceitual e apresentar o

Programa CmapTools, desenvolvido pelo Florida Instituto for

Human and Machine Cognition - IHMC, optou-se por recorrer às

lições de Novak (2010), de Cañas et al (2004) e de Novak e

Cañas (2006a e 2006b), na língua original, em trabalhos

4

disponíveis na internet. Para fins de redação, considerou-se

pertinente a referência inicial da base teórica utilizada,

pois a mesma será mais desenvolvida após a descrição da

metodologia utilizada no artigo.

3 METODOLOGIA

A realização deste trabalho exigiu uma pesquisa

bibliográfica sobre os principais temas abordados, e as fontes

utilizadas foram basicamente secundárias, obtidas em livros ou

arquivos disponibilizados na internet.

O Software “Cmap Tools”, de uso aberto e disponível na

internet, foi objeto de análise e compreensão, não apenas

quanto ao seu desenvolvimento, mas também quanto aos recursos

por ele permitidos.

Após ter sido apreendido o propósito da ferramenta e de

haver familiaridade com o programa de computador, foi

desenvolvida a coleta de dados de elementos relativos ao tema

da pesquisa. Durante seis semanas foram localizados e

selecionados textos que forneceriam os conceitos que serviriam

de estrutura para o desenvolvimento do trabalho acadêmico.

Várias tentativas de organização das informações

colhidas no curso da pesquisa foram analisadas até que se

identificasse a melhor hipótese a ser desenvolvida no trabalho

de conclusão do curso de especialização. No final, optou-se

por seguir uma linha argumentativa que enfatizasse a

imprescindibilidade da criação urgente de um plano de

preservação digital no âmbito do Judiciário Federal, a fim de

5

garantir a preservação e o acesso às informações inseridas em

processos eletrônicos.

Traçada a linha mestra de pensamento a ser seguida na

construção do texto, foram identificados os principais

conceitos que seriam utilizados no desenvolvimento do

trabalho. A seguir, estabeleceu-se uma ordem provisória, do

conceito aparentemente mais inclusivo e genérico até o mais

específico. Tais conceitos foram sendo ligados por termos que

indicassem a relação entre eles por meio de forma gráfica.

A primeira tentativa (Figura 1), logo se revelou

inadequada e desequilibrada, o que resultou em seu abandono.

Em novo traçado (Figura 2), foram identificados alguns

conceitos principais, mas somente com um terceiro mapa é que

foi possível identificar a formação, ainda que incipiente, de

uma estrutura que, após ser reconhecida como representativa,

passou por melhorias até a sua versão final (Figura 3). A

trajetória da construção do mapa e da representação de um

conhecimento poderá ser verificada após a apresentação

detalhada da base teórica da ferramenta utilizada.

4 MAPA CONCEITUAL

É pacífico o entendimento de que mapa conceitual é uma

técnica ou metodologia concebida nos anos setenta por Joseph

Novak. Para Souza (2005, p. 3), trata-se de uma “linguagem

para descrição e comunicação de conceitos”. Novak e Cañas

(2006a) o consideram uma concisa e poderosa ferramenta de

representação do conhecimento e que seu uso pode auxiliar

6

estudantes a efetuarem uma aprendizagem significativa. Para

Moreira (2010, p. 16), o mapa conceitual é uma “técnica muito

flexível”, útil em diversas situações, com diferentes

finalidades, diferindo apenas no “grau de generalidade e

inclusividade dos conceitos colocados no mapa”.

Segundo Novak (2010, p. 23), o mapa conceitual por ele

desenvolvido nos anos 1970 surgiu da necessidade de evidenciar

a forma como os conceitos e proposições se integram dentro de

uma estrutura cognitiva de aprendizagem. O autor destaca,

ainda, a versatilidade da ferramenta, que pode ser facilmente

utilizada por uma diversidade de públicos e por qualquer

disciplina, dentro do ambiente educacional ou mesmo

empresarial, com efetiva contribuição para o aprendizado em

qualquer contexto.

4.1 Elementos e características do mapa conceitual

Moreira (2010, p. 11-12) afirma que mapas conceituais

são “diagramas de significações, de relações significativas” e

que, por isso, não devem ser confundidos com redes semânticas,

já que estas não possuem somente conceitos, nem com mapas

mentais eminentemente associativos, ou se assemelham a quadros

sinóticos, que são, basicamente, diagramas classificatórios.

Eles podem seguir um modelo de hierarquia, ou não, e podem

utilizar figuras geométricas que não possuem codificação

específica que se unem por linhas de comprimento e espessura,

em princípio, em valores variáveis.

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Novak e Cañas (2006b, p. 4) afirmam que o mapa

conceitual possui sua base teórica em uma epistemologia

construtivista conjugada com três idéias centrais da Teoria da

Assimilação de Ausubel:

Conceitos prévios e proposições são a base para o

desenvolvimento de novos significados;

A estrutura cognitiva se organiza hierarquicamente,

de forma que os conceitos mais genéricos e inclusivos

ocupam níveis mais elevados da hierarquia;

Quando ocorre uma aprendizagem significativa, os

relacionamentos entre conceitos se tornam mais

explícitos, mais precisos e melhor integrados com

outros conceitos e proposições.

O mapa conceitual, ainda segundo Novak e Cañas (2006b,

p. 4), difere de outros esquemas de representação do

conhecimento porque exige a presença de três elementos

fundamentais: conceito, proposição e palavras de ligação.

Estes autores definem conceitos como padrões ou regularidades

percebidas em eventos ou objetos.

Em um mapa conceitual, os conceitos estão inseridos

em nós ou caixas ligadas por linhas que apresentam palavras de

ligação com o intuito de elaborar uma declaração significativa

ou proposição. Estas proposições evidenciam o relacionamento

existente entre dois ou mais conceitos, ou mesmo entre

conceitos de duas áreas distintas de um mapa conceitual.

4.2 Mapa conceitual e aprendizagem significativa

8

Conforme esclarecido por Novak e Cañas (2006b, p. 4), o

mapa conceitual guarda estreita relação com a Teoria da

Aprendizagem Significativa, ou Teoria Cognitivista de

Aprendizagem proposta por David Ausubel, que defendia a idéia

de que a apropriação de um novo conceito ocorre a partir da

incorporação por ancoragem de novas informações à estrutura

cognitiva do aluno, denominada “subsunçores”. Segundo Moreira

(2010, p. 18), a teoria de Ausubel se centra na ideia de que

“há uma interação entre o novo conhecimento e o já existente,

na qual ambos se modificam” por meio de um processo dinâmico,

no qual o novo conceito nunca é internalizado literalmente e

assume conotações individuais. Para o autor,

Aprender significativamente implica atribuirsignificados e estes têm sempre componentes pessoais.Aprendizagem sem atribuição de significados pessoais,sem relação com o conhecimento preexistente, é mecânica,não significativa. Na aprendizagem mecânica, o novoconhecimento é armazenado de maneira arbitrária eliteral na mente do indivíduo. O que não significa queesse conhecimento seja armazenado em um vácuo cognitivo,mas sim que ele não interage significativamente com aestrutura cognitiva preexistente, não adquiresignificados. Durante um certo período de tempo, apessoa é inclusive capaz de reproduzir o que foiaprendido mecanicamente, mas não significa nada paraela.

Novak (2010) relata que, durante sua pesquisa no campo

educacional, percebeu a existência de um paralelo entre idéias

construtivistas e a proposta de aprendizagem significativa de

Ausubel. Diz que tal conclusão ensejou, inicialmente, a

descrição de uma epistemologia que denominou de

“construtivismo humano” e, posteriormente, a sua expansão que

foi apresentada em 1998 e refinada em 2010.

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Segundo Novak (2010, p. 23), podem ser observados cinco

elementos no processo educacional que podem ser combinados em

uma infinidade de formas que, tanto podem ser ineficazes como

altamente efetivas. Tais elementos, em sua proposta, são:

aprendizado, ensinamento, conhecimento, contexto e avaliação.

O aprendizado, segundo o autor, deve estar de acordo com a

teoria de assimilação de Ausubel, com alguns acréscimos

advindos de sua própria pesquisa; o conhecimento ocorre com

base em sua proposta anterior de “construtivismo humano”; o

ensinamento foi apresentado como qualquer evento em que o

aprendizado se dá pela aquisição de novos significados; o

contexto, foi descrito para incluir não apenas a estrutura de

um aprendizado específico, mas também os diferentes níveis de

ambientes físicos e sociais em que o aprendizado ocorre e,

finalmente, a avaliação deve ser acrescentada entre os

elementos essenciais para o aprendizado porque auxilia alunos

e professores a avaliar como os novos sentidos são adquiridos

ou aplicados.

4.3 Usos do mapa conceitual

Souza (2005, p. 4-5) identifica vários usos válidos

do mapa conceitual como ferramenta de aprendizagem. Diz que,

para o estudante, auxilia a fazer anotações, resolver

problemas, planejar o estudo e/ou a redação de grandes

relatórios, preparar-se para avaliações e identificar a

integração dos tópicos. Para os professores, pode ser uma

poderosa ferramenta para ensino de um novo tópico, reforço à

10

compreensão, identificação de conceitos mal assimilados e para

testar o “alcance dos objetivos e a compreensão dos conceitos

e suas interligações”.

Alerta ainda que a tecnologia por si só não garante

a melhoria do processo educativo, mas que a avaliação com base

em mapa conceitual propicia o acesso às “estratégias

cognitivas dos alunos” (2005, p. 7), auxiliando o professor a

conceber uma abordagem de ensino que melhor se adeque ao ritmo

e estilo de aprendizagem do aluno. Para o autor

[...] a análise dos mapas é essencialmente qualitativa.O professor, ao invés de preocupar-se em atribuir umescore ao mapa traçado pelo aluno, deve procurarinterpretar a informação dada pelo aluno no mapa a fimde obter evidências de aprendizagem significativa(MOREIRA apud SOUZA; BORUCHOVITCH. 2010, p. 8).

No mesmo trabalho, Souza e Boruchovitch (2010, p. 213)

concluem que:

Os mapas conceituais, empreendidos na qualidade deferramenta avaliativa, não pretendem medir um objeto,nem meramente permitir o contemplar passivo de umasituação. Eles, confundindo-se com estratégias deaprendizagem, aclaram como as expectativas estão seconsubstanciando em aprendizagem e, então,responsabilizam professores e alunos na gestão de seusprogressos – um, na condução do ensino, o outro, naelaboração e efetivação de estratégias deautorregulação.

O mapa conceitual, portanto, viabiliza uma avaliação

formativa, na qual as atenções estão centradas no processo de

aprendizagem como um todo e não apenas em um momento único

ocorrido durante a elaboração da atividade que se pretende

examinar.

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5 O APLICATIVO CMAPTOOLS

CmapTools é um software gratuito desenvolvido pelo

Instituto de Cognição Homem-Máquina da Flórida – IHMC, e está

disponível para os interessados em página específica deste

instituto.

Novak e Cañas (2006a) relatam que, durante anos,

mapas conceituais foram desenhados à mão e sua reiterada

revisão de conceitos constituía procedimento complicado que

demandava tempo. Porém, o uso de computadores pessoais

possibilitou o desenvolvimento de programas que facilitavam a

construção de mapas conceituais. Segundo os autores, as

primeiras versões não aumentaram o poder da ferramenta, já que

se limitavam a dispor o mapa em uma tela. Entendem, no

entanto, que a combinação do mapa conceitual com a internet

abriu um novo mundo de possibilidades de aplicações e usos dos

mapas conceituais.

Argumentam que o desenvolvimento de um programa

de mapeamento conceitual digital, como o CmapTools, quando

usado em conjunto com a internet, possibilita um novo modelo

educacional, e que uma abordagem digital do mapeamento

conceitual possibilita a visualização sinergética tanto da

estrutura da informação quanto do conhecimento. Afirmam, por

fim, que, o CmapTools possibilita o desenvolvimento de um mapa

conceitual genérico que venha a servir como estrutura ou

esqueleto do conhecimento para o desenvolvimento de

outros trabalhos futuros ou para verificação de aprendizagem.

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Cañas et al (2004) esclarecem que as pesquisas

desenvolvidas pelo IHMC para a criação de aplicativo voltado

para a construção de mapas conceituais partiram de duas linhas

distintas, ICONKAT e Quorum, cujos resultados ensejaram a

criação de um software para a construção e compartilhamento de

mapas conceituais que recebeu o nome de CmapTools. Dizem que o

aplicativo foi desenvolvido para criar, dentro de um ambiente

de desenvolvimento de modelos de conhecimento de todos os

tamanhos e sem limitações de recursos, um sistema multiusuário

que permite o compartilhamento, facilmente compreensível e que

possua interface simples.

6 O USO DO MAPA CONCEITUAL EM RELAÇÃO AO TRABALHO ACADÊMICO

Os conceitos base utilizados para a elaboração do mapa

conceitual para organizar o conhecimento antes da redação

final do trabalho acadêmico foram aqueles que se referem ao

problema a ser enfrentado. Em rápida síntese, a pesquisa

estava sendo desenvolvida a partir do desafio da implantação

do processo eletrônico na Justiça Federal e da dificuldade

advinda da fragilidade do objeto digital, muito mais

suscetível a perdas irreparáveis do que os documentos

produzidos em papel. A hipótese desenvolvida na pesquisa era a

de criação de um repositório confiável capaz de garantir a

preservação e o acesso às informações contidas em processos

eletrônicos no Poder Judiciário.

Desta forma, na redação do trabalho de conclusão de

curso de especialização dever-se-ia destacar o desafio de

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preservar e dar acesso às informações contidas nos processos

judiciais, principalmente após a criação do processo

eletrônico. Era ainda obrigatória a abordagem de aspectos que

envolvessem a preservação dos elementos de um objeto digital:

físico, lógico e conceitual e também deveria enfrentar a

novidade de se tratar o documento híbrido, o qual possuía

informações em formato analógico e digital.

Tais conceitos foram extraídos da legislação

pertinente, notadamente da Lei no 11.419, de 19 de dezembro de

2006 (BRASIL, 2006), e em trabalho de autoria de Ferreira

(2006), sobre preservação digital. Por fim, todas as noções

sobre o Repositório de Objetos Digitais Autênticos – RODA,

advieram de relatório final da Direção Geral de Arquivos

(2007).

A tentativa de fazer o primeiro mapa esbarrou na

dificuldade em se estabelecer a hierarquia entre os conceitos

trabalhados. Alguns conceitos, já naquele momento, se

destacavam dos demais: preservação, acesso e documento

híbrido, (informações gravadas em formato analógico e em

formato digital), porém, não estava clara a relação

hierárquica. Os pontos de partida escolhidos foram a

preservação e o acesso. O traçado, no entanto, revelou que se

encontraria dificuldade se houvesse a opção de partir desses

parâmetros.

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Figura 1: Primeira tentativa de efetuar um mapa conceitual sobre o

tema.

Na segunda tentativa, privilegiou-se os documentos

híbridos, colocando-se a preservação e o acesso em etapa

posterior. Porém, tal abordagem também não dava conta da

questão. Apenas quando se estabeleceu identidade de valores

para os conceitos de preservação e de documentos, é que

ocorreu o desenvolvimento analítico da questão.

Figura 2: A imagem mostra a relação dos principais conceitos eo início de uma

estrutura de organização mentalpara enfrentar o problema da pesquisa.

15

Figura 3: Mapa conceitual que representa um roteiro a ser seguidopara desenvolvimento

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de trabalho acadêmico sobre preservação dosdocumentos arquivísticos digitais do Judiciário Federal.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema central do presente trabalho é a validade do uso

do mapa conceitual como ferramenta para a organização e

representação do conhecimento. Novak e Cañas (2006b, p. 10)

afirmam que, quando um estudante constrói um mapa conceitual

sobre uma questão ou um problema em qualquer área do

conhecimento, ele revela de forma bastante específica o seu

potencial de desenvolvimento em relação àquele tópico.

A assertiva acima pode ser constatada a partir do

desenvolvimento do presente trabalho, que se deu em duas

etapas. Na primeira, foram absorvidos os conceitos que

envolvem a Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel e a

ferramenta concebida por Joseph Novak e colaboradores, o mapa

conceitual. Em uma nova etapa, o trabalho incluiu item sobre o

uso prático do mapa conceitual na representação do

conhecimento sobre as questões que deverão ser enfrentadas no

trabalho acadêmico. Esse segundo momento, no entanto, só

ocorreu após vasta pesquisa sobre os desafios e critérios

existentes para a preservação de documentos digitais e sobre

diversas propostas de sistemas operacionais já existentes e em

funcionamento.

Apesar do lapso temporal entre as duas fases do

trabalho, percebeu-se que sua nova versão se mostrou coesa, e

que a ferramenta desenvolvida por Novak demonstrou ser de

utilidade inequívoca para organizar inclusive a redação que o

trabalho final deveria seguir. Releva observar que foi

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possível delimitar, com certa precisão, os capítulos que

deveriam ser desenvolvidos, evidenciando-se os aspectos a

serem enfrentados em cada fase.

A experiência vivenciada e relatada no presente artigo

possibilitou a tradução da pesquisa desenvolvida para o papel,

com observância do formato acadêmico. Por meio da construção

do mapa conceitual foi possível, ainda, conceber a estrutura

geral do trabalho, evidenciando-se os pontos centrais que

deveriam ser abordados e a sequência que seria desenvolvida em

sua redação final.

Os resultados positivos alcançados evidenciam a

importância dos princípios da teoria cognitiva de Ausubel e a

validade da ferramenta desenvolvida por Novak, não apenas para

o aprendizado de novos conceitos, mas também para a

organização de conhecimentos em momento anterior à sua

tradução para o papel. Compreensível, portanto, o entusiasmo

de seu inventor e de diversos pesquisadores do IHMC, quando

afirmam que, a cada ano, são descobertas novas formas de

criação de mapas conceituais e novas possibilidades para seu

uso.

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