MAPA CONCEITUAL PARA ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E AUXÍLIO À REDAÇÃO DE TRABALHO ACADÊMICO
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MAPA CONCEITUAL PARA ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E AUXÍLIO À
REDAÇÃO DE TRABALHO ACADÊMICO
Lenora de Beaurepaire da Silva Schwaitzer
Universidade Federal Fluminense – UFFNúcleo de pesquisas do Poder Judiciário – NUPEJ
TEMA: REDES TECNOLÓGICAS E SOCIAIS: INFORMAÇÃO ESTRATÉGICAPARA COMPETITIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES
Subtema: Gestão da informação para o conhecimento e tomada dedecisão. Ferramentas e sistemas de Inteligência.
Compartilhamento, acesso e uso da informação estratégica.Modelos de gestão.
Av. Lúcio Costa, 4000, bl. 01, apto 204 – Barra da Tijuca –Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22630-011 e-mail: [email protected]
RESUMO
O objetivo do presente artigo é discorrer sobre a validade do
mapa conceitual como ferramenta para a representação gráfica e
temática de conceitos, e avaliar a utilidade da ferramenta
para auxiliar a organizar conceitos e a estabelecer a ordem a
ser desenvolvida na elaboração de trabalho acadêmico. No
desenvolvimento do trabalho acadêmico, apresenta-se o conceito
de aprendizagem significativa, sobre mapa conceitual e quanto
ao aplicativo desenvolvido para sistematização da ferramenta.
A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e o
estudo de caso concreto em que o mapa conceitual foi utilizado
para organização do conhecimento antes do desenvolvimento de
trabalho acadêmico.
Palavras-Chave: Mapa conceitual; Aplicativo CmapTools;
Organização do conhecimento; Desenvolvimento de trabalho
acadêmico.
1 INTRODUÇÃO
A partir do término da 2ª Guerra Mundial, pode-se
perceber a difusão do uso de ferramentas tecnológicas para a
produção de bens, serviços e também da difusão da informação,
o que vem ensejando extensos debates em praticamente todas as
áreas do conhecimento quanto a esta nova “sociedade da
informação”. Tal terminologia foi cunhada para traduzir um
momento em que a criação, armazenagem, processamento,
transmissão e disseminação da informação desempenham um papel
central na vida dos cidadãos e no desenvolvimento global
político, social e econômico. Ela remete a uma coletividade
que incorporou as ferramentas tecnológicas em suas atividades
diárias, sem que o abandono dos meios tradicionais se operasse
por completo.
É uma época em que “o tempo individual e colectivo
é acelerado, impondo reajustamentos de valores e de
comportamentos, devido à obsolescência de anteriores
paradigmas elaborados sobre uma base tecnológica diferente”
(PORTUGAL, 1997, p. 10). Atualmente, a informação produzida
circula instantaneamente e se avoluma nos bancos de dados que
também passam a abrigar as reproduções digitais dos saberes de
outrora que estavam custodiados e acessíveis a poucos.
2
Em um ambiente cada vez mais complexo, como o
descrito acima, cada vez mais se percebe a viabilidade de
acesso a informações produzidas em formatos distintos e com
abrangência temática variada. Se, por um lado, isso propicia
facilidade de obtenção de novos dados, por outro, provoca
maior dificuldade em organizá-los de maneira coerente e útil.
Para contornar esse problema, vários têm sido os recursos
concebidos para auxílio do processo cognitivo, dentre eles, o
mapa conceitual, criado por Joseph Novak e seus colaboradores
na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Segundo
Moreira (2010), mapas conceituais são diagramas que indicam
relações entre conceitos ou entre termos usados para
representar conceitos, que não seguem regra fixa para seu
traçado.
Através da descrição da situação real em que a
ferramenta contribuiu para a elaboração do trabalho de
conclusão de curso de especialização em políticas
informacionais e organização do conhecimento, promovido pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com o
Arquivo Nacional, realizado em 2011, o objetivo do presente
artigo é discorrer sobre a validade do mapa conceitual como
ferramenta para a representação gráfica e temática de
conceitos, e avaliar a utilidade da ferramenta para auxiliar a
organizar conceitos e a estabelecer a ordem a ser desenvolvida
na elaboração de trabalho acadêmico.
Pretende-se, de início, apresentar os conceitos que
envolvem a Teoria da Aprendizagem Significativa desenvolvida
pelo médico judeu David Ausubel, e também a proposta de mapa
3
conceitual, do pesquisador Joseph Novak, enfatizando a forma
como a ferramenta pode ser utilizada para a organização e
representação do conhecimento. Dar-se-á destaque, ainda, ao
aplicativo gratuito CmapTools, do Instituto de Cognição Homem-
Máquina (IHMC), que possibilitou a construção de um mapa
conceitual sobre o tema “O processo eletrônico e a preservação
digital: desafios para a gestão documental da Justiça
Federal”, objeto de trabalho acadêmico. A proposta do
presente artigo é a de não apenas descrever a metodologia
utilizada para a construção da ferramenta, mas apresentar os
resultados encontrados durante o efetivo uso da tecnologia
cognitiva.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONCEITUAL
Debater sobre a utilidade e adequação do mapa
conceitual para a organização do conhecimento envolve
necessariamente a discussão sobre a Teoria da Aprendizagem
Significativa, formulada por David Ausubel, e também sobre a
técnica desenvolvida por Novak e colaboradores na Universidade
de Cornell, Estados Unidos. Estes conceitos foram obtidos,
basicamente, a partir dos trabalhos de Moreira (2010), de
Novak (2010) e de Novak e Cañas (2006).
Para discorrer sobre o mapa conceitual e apresentar o
Programa CmapTools, desenvolvido pelo Florida Instituto for
Human and Machine Cognition - IHMC, optou-se por recorrer às
lições de Novak (2010), de Cañas et al (2004) e de Novak e
Cañas (2006a e 2006b), na língua original, em trabalhos
4
disponíveis na internet. Para fins de redação, considerou-se
pertinente a referência inicial da base teórica utilizada,
pois a mesma será mais desenvolvida após a descrição da
metodologia utilizada no artigo.
3 METODOLOGIA
A realização deste trabalho exigiu uma pesquisa
bibliográfica sobre os principais temas abordados, e as fontes
utilizadas foram basicamente secundárias, obtidas em livros ou
arquivos disponibilizados na internet.
O Software “Cmap Tools”, de uso aberto e disponível na
internet, foi objeto de análise e compreensão, não apenas
quanto ao seu desenvolvimento, mas também quanto aos recursos
por ele permitidos.
Após ter sido apreendido o propósito da ferramenta e de
haver familiaridade com o programa de computador, foi
desenvolvida a coleta de dados de elementos relativos ao tema
da pesquisa. Durante seis semanas foram localizados e
selecionados textos que forneceriam os conceitos que serviriam
de estrutura para o desenvolvimento do trabalho acadêmico.
Várias tentativas de organização das informações
colhidas no curso da pesquisa foram analisadas até que se
identificasse a melhor hipótese a ser desenvolvida no trabalho
de conclusão do curso de especialização. No final, optou-se
por seguir uma linha argumentativa que enfatizasse a
imprescindibilidade da criação urgente de um plano de
preservação digital no âmbito do Judiciário Federal, a fim de
5
garantir a preservação e o acesso às informações inseridas em
processos eletrônicos.
Traçada a linha mestra de pensamento a ser seguida na
construção do texto, foram identificados os principais
conceitos que seriam utilizados no desenvolvimento do
trabalho. A seguir, estabeleceu-se uma ordem provisória, do
conceito aparentemente mais inclusivo e genérico até o mais
específico. Tais conceitos foram sendo ligados por termos que
indicassem a relação entre eles por meio de forma gráfica.
A primeira tentativa (Figura 1), logo se revelou
inadequada e desequilibrada, o que resultou em seu abandono.
Em novo traçado (Figura 2), foram identificados alguns
conceitos principais, mas somente com um terceiro mapa é que
foi possível identificar a formação, ainda que incipiente, de
uma estrutura que, após ser reconhecida como representativa,
passou por melhorias até a sua versão final (Figura 3). A
trajetória da construção do mapa e da representação de um
conhecimento poderá ser verificada após a apresentação
detalhada da base teórica da ferramenta utilizada.
4 MAPA CONCEITUAL
É pacífico o entendimento de que mapa conceitual é uma
técnica ou metodologia concebida nos anos setenta por Joseph
Novak. Para Souza (2005, p. 3), trata-se de uma “linguagem
para descrição e comunicação de conceitos”. Novak e Cañas
(2006a) o consideram uma concisa e poderosa ferramenta de
representação do conhecimento e que seu uso pode auxiliar
6
estudantes a efetuarem uma aprendizagem significativa. Para
Moreira (2010, p. 16), o mapa conceitual é uma “técnica muito
flexível”, útil em diversas situações, com diferentes
finalidades, diferindo apenas no “grau de generalidade e
inclusividade dos conceitos colocados no mapa”.
Segundo Novak (2010, p. 23), o mapa conceitual por ele
desenvolvido nos anos 1970 surgiu da necessidade de evidenciar
a forma como os conceitos e proposições se integram dentro de
uma estrutura cognitiva de aprendizagem. O autor destaca,
ainda, a versatilidade da ferramenta, que pode ser facilmente
utilizada por uma diversidade de públicos e por qualquer
disciplina, dentro do ambiente educacional ou mesmo
empresarial, com efetiva contribuição para o aprendizado em
qualquer contexto.
4.1 Elementos e características do mapa conceitual
Moreira (2010, p. 11-12) afirma que mapas conceituais
são “diagramas de significações, de relações significativas” e
que, por isso, não devem ser confundidos com redes semânticas,
já que estas não possuem somente conceitos, nem com mapas
mentais eminentemente associativos, ou se assemelham a quadros
sinóticos, que são, basicamente, diagramas classificatórios.
Eles podem seguir um modelo de hierarquia, ou não, e podem
utilizar figuras geométricas que não possuem codificação
específica que se unem por linhas de comprimento e espessura,
em princípio, em valores variáveis.
7
Novak e Cañas (2006b, p. 4) afirmam que o mapa
conceitual possui sua base teórica em uma epistemologia
construtivista conjugada com três idéias centrais da Teoria da
Assimilação de Ausubel:
Conceitos prévios e proposições são a base para o
desenvolvimento de novos significados;
A estrutura cognitiva se organiza hierarquicamente,
de forma que os conceitos mais genéricos e inclusivos
ocupam níveis mais elevados da hierarquia;
Quando ocorre uma aprendizagem significativa, os
relacionamentos entre conceitos se tornam mais
explícitos, mais precisos e melhor integrados com
outros conceitos e proposições.
O mapa conceitual, ainda segundo Novak e Cañas (2006b,
p. 4), difere de outros esquemas de representação do
conhecimento porque exige a presença de três elementos
fundamentais: conceito, proposição e palavras de ligação.
Estes autores definem conceitos como padrões ou regularidades
percebidas em eventos ou objetos.
Em um mapa conceitual, os conceitos estão inseridos
em nós ou caixas ligadas por linhas que apresentam palavras de
ligação com o intuito de elaborar uma declaração significativa
ou proposição. Estas proposições evidenciam o relacionamento
existente entre dois ou mais conceitos, ou mesmo entre
conceitos de duas áreas distintas de um mapa conceitual.
4.2 Mapa conceitual e aprendizagem significativa
8
Conforme esclarecido por Novak e Cañas (2006b, p. 4), o
mapa conceitual guarda estreita relação com a Teoria da
Aprendizagem Significativa, ou Teoria Cognitivista de
Aprendizagem proposta por David Ausubel, que defendia a idéia
de que a apropriação de um novo conceito ocorre a partir da
incorporação por ancoragem de novas informações à estrutura
cognitiva do aluno, denominada “subsunçores”. Segundo Moreira
(2010, p. 18), a teoria de Ausubel se centra na ideia de que
“há uma interação entre o novo conhecimento e o já existente,
na qual ambos se modificam” por meio de um processo dinâmico,
no qual o novo conceito nunca é internalizado literalmente e
assume conotações individuais. Para o autor,
Aprender significativamente implica atribuirsignificados e estes têm sempre componentes pessoais.Aprendizagem sem atribuição de significados pessoais,sem relação com o conhecimento preexistente, é mecânica,não significativa. Na aprendizagem mecânica, o novoconhecimento é armazenado de maneira arbitrária eliteral na mente do indivíduo. O que não significa queesse conhecimento seja armazenado em um vácuo cognitivo,mas sim que ele não interage significativamente com aestrutura cognitiva preexistente, não adquiresignificados. Durante um certo período de tempo, apessoa é inclusive capaz de reproduzir o que foiaprendido mecanicamente, mas não significa nada paraela.
Novak (2010) relata que, durante sua pesquisa no campo
educacional, percebeu a existência de um paralelo entre idéias
construtivistas e a proposta de aprendizagem significativa de
Ausubel. Diz que tal conclusão ensejou, inicialmente, a
descrição de uma epistemologia que denominou de
“construtivismo humano” e, posteriormente, a sua expansão que
foi apresentada em 1998 e refinada em 2010.
9
Segundo Novak (2010, p. 23), podem ser observados cinco
elementos no processo educacional que podem ser combinados em
uma infinidade de formas que, tanto podem ser ineficazes como
altamente efetivas. Tais elementos, em sua proposta, são:
aprendizado, ensinamento, conhecimento, contexto e avaliação.
O aprendizado, segundo o autor, deve estar de acordo com a
teoria de assimilação de Ausubel, com alguns acréscimos
advindos de sua própria pesquisa; o conhecimento ocorre com
base em sua proposta anterior de “construtivismo humano”; o
ensinamento foi apresentado como qualquer evento em que o
aprendizado se dá pela aquisição de novos significados; o
contexto, foi descrito para incluir não apenas a estrutura de
um aprendizado específico, mas também os diferentes níveis de
ambientes físicos e sociais em que o aprendizado ocorre e,
finalmente, a avaliação deve ser acrescentada entre os
elementos essenciais para o aprendizado porque auxilia alunos
e professores a avaliar como os novos sentidos são adquiridos
ou aplicados.
4.3 Usos do mapa conceitual
Souza (2005, p. 4-5) identifica vários usos válidos
do mapa conceitual como ferramenta de aprendizagem. Diz que,
para o estudante, auxilia a fazer anotações, resolver
problemas, planejar o estudo e/ou a redação de grandes
relatórios, preparar-se para avaliações e identificar a
integração dos tópicos. Para os professores, pode ser uma
poderosa ferramenta para ensino de um novo tópico, reforço à
10
compreensão, identificação de conceitos mal assimilados e para
testar o “alcance dos objetivos e a compreensão dos conceitos
e suas interligações”.
Alerta ainda que a tecnologia por si só não garante
a melhoria do processo educativo, mas que a avaliação com base
em mapa conceitual propicia o acesso às “estratégias
cognitivas dos alunos” (2005, p. 7), auxiliando o professor a
conceber uma abordagem de ensino que melhor se adeque ao ritmo
e estilo de aprendizagem do aluno. Para o autor
[...] a análise dos mapas é essencialmente qualitativa.O professor, ao invés de preocupar-se em atribuir umescore ao mapa traçado pelo aluno, deve procurarinterpretar a informação dada pelo aluno no mapa a fimde obter evidências de aprendizagem significativa(MOREIRA apud SOUZA; BORUCHOVITCH. 2010, p. 8).
No mesmo trabalho, Souza e Boruchovitch (2010, p. 213)
concluem que:
Os mapas conceituais, empreendidos na qualidade deferramenta avaliativa, não pretendem medir um objeto,nem meramente permitir o contemplar passivo de umasituação. Eles, confundindo-se com estratégias deaprendizagem, aclaram como as expectativas estão seconsubstanciando em aprendizagem e, então,responsabilizam professores e alunos na gestão de seusprogressos – um, na condução do ensino, o outro, naelaboração e efetivação de estratégias deautorregulação.
O mapa conceitual, portanto, viabiliza uma avaliação
formativa, na qual as atenções estão centradas no processo de
aprendizagem como um todo e não apenas em um momento único
ocorrido durante a elaboração da atividade que se pretende
examinar.
11
5 O APLICATIVO CMAPTOOLS
CmapTools é um software gratuito desenvolvido pelo
Instituto de Cognição Homem-Máquina da Flórida – IHMC, e está
disponível para os interessados em página específica deste
instituto.
Novak e Cañas (2006a) relatam que, durante anos,
mapas conceituais foram desenhados à mão e sua reiterada
revisão de conceitos constituía procedimento complicado que
demandava tempo. Porém, o uso de computadores pessoais
possibilitou o desenvolvimento de programas que facilitavam a
construção de mapas conceituais. Segundo os autores, as
primeiras versões não aumentaram o poder da ferramenta, já que
se limitavam a dispor o mapa em uma tela. Entendem, no
entanto, que a combinação do mapa conceitual com a internet
abriu um novo mundo de possibilidades de aplicações e usos dos
mapas conceituais.
Argumentam que o desenvolvimento de um programa
de mapeamento conceitual digital, como o CmapTools, quando
usado em conjunto com a internet, possibilita um novo modelo
educacional, e que uma abordagem digital do mapeamento
conceitual possibilita a visualização sinergética tanto da
estrutura da informação quanto do conhecimento. Afirmam, por
fim, que, o CmapTools possibilita o desenvolvimento de um mapa
conceitual genérico que venha a servir como estrutura ou
esqueleto do conhecimento para o desenvolvimento de
outros trabalhos futuros ou para verificação de aprendizagem.
12
Cañas et al (2004) esclarecem que as pesquisas
desenvolvidas pelo IHMC para a criação de aplicativo voltado
para a construção de mapas conceituais partiram de duas linhas
distintas, ICONKAT e Quorum, cujos resultados ensejaram a
criação de um software para a construção e compartilhamento de
mapas conceituais que recebeu o nome de CmapTools. Dizem que o
aplicativo foi desenvolvido para criar, dentro de um ambiente
de desenvolvimento de modelos de conhecimento de todos os
tamanhos e sem limitações de recursos, um sistema multiusuário
que permite o compartilhamento, facilmente compreensível e que
possua interface simples.
6 O USO DO MAPA CONCEITUAL EM RELAÇÃO AO TRABALHO ACADÊMICO
Os conceitos base utilizados para a elaboração do mapa
conceitual para organizar o conhecimento antes da redação
final do trabalho acadêmico foram aqueles que se referem ao
problema a ser enfrentado. Em rápida síntese, a pesquisa
estava sendo desenvolvida a partir do desafio da implantação
do processo eletrônico na Justiça Federal e da dificuldade
advinda da fragilidade do objeto digital, muito mais
suscetível a perdas irreparáveis do que os documentos
produzidos em papel. A hipótese desenvolvida na pesquisa era a
de criação de um repositório confiável capaz de garantir a
preservação e o acesso às informações contidas em processos
eletrônicos no Poder Judiciário.
Desta forma, na redação do trabalho de conclusão de
curso de especialização dever-se-ia destacar o desafio de
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preservar e dar acesso às informações contidas nos processos
judiciais, principalmente após a criação do processo
eletrônico. Era ainda obrigatória a abordagem de aspectos que
envolvessem a preservação dos elementos de um objeto digital:
físico, lógico e conceitual e também deveria enfrentar a
novidade de se tratar o documento híbrido, o qual possuía
informações em formato analógico e digital.
Tais conceitos foram extraídos da legislação
pertinente, notadamente da Lei no 11.419, de 19 de dezembro de
2006 (BRASIL, 2006), e em trabalho de autoria de Ferreira
(2006), sobre preservação digital. Por fim, todas as noções
sobre o Repositório de Objetos Digitais Autênticos – RODA,
advieram de relatório final da Direção Geral de Arquivos
(2007).
A tentativa de fazer o primeiro mapa esbarrou na
dificuldade em se estabelecer a hierarquia entre os conceitos
trabalhados. Alguns conceitos, já naquele momento, se
destacavam dos demais: preservação, acesso e documento
híbrido, (informações gravadas em formato analógico e em
formato digital), porém, não estava clara a relação
hierárquica. Os pontos de partida escolhidos foram a
preservação e o acesso. O traçado, no entanto, revelou que se
encontraria dificuldade se houvesse a opção de partir desses
parâmetros.
14
Figura 1: Primeira tentativa de efetuar um mapa conceitual sobre o
tema.
Na segunda tentativa, privilegiou-se os documentos
híbridos, colocando-se a preservação e o acesso em etapa
posterior. Porém, tal abordagem também não dava conta da
questão. Apenas quando se estabeleceu identidade de valores
para os conceitos de preservação e de documentos, é que
ocorreu o desenvolvimento analítico da questão.
Figura 2: A imagem mostra a relação dos principais conceitos eo início de uma
estrutura de organização mentalpara enfrentar o problema da pesquisa.
15
de trabalho acadêmico sobre preservação dosdocumentos arquivísticos digitais do Judiciário Federal.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tema central do presente trabalho é a validade do uso
do mapa conceitual como ferramenta para a organização e
representação do conhecimento. Novak e Cañas (2006b, p. 10)
afirmam que, quando um estudante constrói um mapa conceitual
sobre uma questão ou um problema em qualquer área do
conhecimento, ele revela de forma bastante específica o seu
potencial de desenvolvimento em relação àquele tópico.
A assertiva acima pode ser constatada a partir do
desenvolvimento do presente trabalho, que se deu em duas
etapas. Na primeira, foram absorvidos os conceitos que
envolvem a Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel e a
ferramenta concebida por Joseph Novak e colaboradores, o mapa
conceitual. Em uma nova etapa, o trabalho incluiu item sobre o
uso prático do mapa conceitual na representação do
conhecimento sobre as questões que deverão ser enfrentadas no
trabalho acadêmico. Esse segundo momento, no entanto, só
ocorreu após vasta pesquisa sobre os desafios e critérios
existentes para a preservação de documentos digitais e sobre
diversas propostas de sistemas operacionais já existentes e em
funcionamento.
Apesar do lapso temporal entre as duas fases do
trabalho, percebeu-se que sua nova versão se mostrou coesa, e
que a ferramenta desenvolvida por Novak demonstrou ser de
utilidade inequívoca para organizar inclusive a redação que o
trabalho final deveria seguir. Releva observar que foi
17
possível delimitar, com certa precisão, os capítulos que
deveriam ser desenvolvidos, evidenciando-se os aspectos a
serem enfrentados em cada fase.
A experiência vivenciada e relatada no presente artigo
possibilitou a tradução da pesquisa desenvolvida para o papel,
com observância do formato acadêmico. Por meio da construção
do mapa conceitual foi possível, ainda, conceber a estrutura
geral do trabalho, evidenciando-se os pontos centrais que
deveriam ser abordados e a sequência que seria desenvolvida em
sua redação final.
Os resultados positivos alcançados evidenciam a
importância dos princípios da teoria cognitiva de Ausubel e a
validade da ferramenta desenvolvida por Novak, não apenas para
o aprendizado de novos conceitos, mas também para a
organização de conhecimentos em momento anterior à sua
tradução para o papel. Compreensível, portanto, o entusiasmo
de seu inventor e de diversos pesquisadores do IHMC, quando
afirmam que, a cada ano, são descobertas novas formas de
criação de mapas conceituais e novas possibilidades para seu
uso.
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