Livestock and Small Animals Medicine Journal

36
PETVet News. Volume 4, número 2, mai – ago, 2015 1 Vaca da Raça Nelore, Fazenda Xingu, São Francisco do Pará, PA, Brasil. Foto: Rinaldo B. Vianna Buiatria do futuro. Uma saúde. Uma só Medicina “One health. One Medicine” LiveS Livestock and Small Animals Medicine Journal Volume 1, Jan. – Jun., 2016 https://lives.ufra.edu.br ISSN 2594-9446 ISSN-L 2594-9446

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PETVet News. Volume 4, número 2, mai – ago, 2015 1

Vaca da Raça Nelore, Fazenda Xingu, São Francisco

do Pará, PA, Brasil. Foto: Rinaldo B. Vianna

Buiatria do futuro. Uma saúde. Uma só Medicina

“One health. One Medicine”

LiveS Livestock and Small Animals Medicine Journal Volume 1, Jan. – Jun., 2016

https://lives.ufra.edu.br

ISSN 2594-9446 ISSN-L 2594-9446

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LiveS Livestock and Small Animals Medicine Journal

Volume 1, Jan. – Jun., 2016

ISSN 2594-9446

ISSN-L 2594-9446

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LiveS Editorial Board

Editor-in-Chief

Rinaldo Batista Viana

DVM., MSc. Ph.D,

Buiatrics (ruminants health and reproduction)

Amazon Rural Federal University

Associate Editors

Bruno Moura Monteiro

DVM., MSc. Ph.D, Pos-Doc

Buiatrics (ruminants health and reproduction)

Amazon Rural Federal University

Luciara Celi da Silva Chaves

Agronomic Engineer., MSc. DSc.,

Genetic improvement of ruminants

Amazon Rural Federal University

Pedro Paulo Maia Teixeira

DVM., MSc. Ph.D, Pos-Doc

Buiatrics (ruminants health and reproduction

and Veterinary surgery)

Federal University of Pará

Waldjânio de Oliveria Melo

MSc. Animal Science

Amazon Rural Federal University

Damazio Campos Souza

DVM., MSc.

Buiatrics (Buffaloes helth)

São Paulo State University “Júlio de Mesquita

Filho”

Pedro Ancelmo Nunes Ermita

DVM., MSc.

Buiatrics (Buffaloes helth)

Federal University of Viçosa

Junior Editors

André Augusto do Nascimento Mendonça

Amazon Rural Federal University

Walberson Dias da Silva

Amazon Rural Federal University

Joévelyn Jacqueline Santos da Silva

Amazon Rural Federal University

Raquel de Alencar e Silva

Amazon Rural Federal University

Verena Maciel da Costa

Amazon Rural Federal University

Brunna Gonçalves Vidal de Lima

Amazon Rural Federal University

Contato

Grupo de Pesquisa em Andrologia,

Inseminação Artificial, Sanidade e

Melhoramento Genético de Bovinos e

Bubalinos/Ufra

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66.077-830 Terra Firme Belém-Pará-Brasil

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Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 3

LiveS Livestock and Small Animals Medicine Journal

Volume 1, Jan. – Jun., 2016

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Índice

2 LiveS Editorial Board

4

Editorial Buiatria do futuro. Uma saúde. Uma só Medicina “One health. One

Medicine R.B. Viana

12

Minireview

Comercialização de bovinos vivos e seus requisitos sanitários para a

exportação

Samantha Silva e Silva, Waldjânio de Oliveira Melo, Pedro Ancelmo Nunes Ermita, &

Rinaldo B. Viana

16

Minireview

Segurança alimentar: resíduos de medicamentos veterinários em

alimentos de origem animal Caio Cesar Rocha Mendes & Rinaldo B. Viana

21

Minireview

Encefalite espongiforme bovina Andra Nunes Ferreira, Pedro Ancelmo Nunes Ermita & Rinaldo B. Viana

26

Minireview

Granulomas pós-vacinais e abscessos: uma causa de prejuízos no

rendimento das carcaças de bovinos e bubalinos Brunna Vidal, Carolyne Texeira, Pedro Ancelmo Nunes Ermita & Rinaldo B. Viana

30 Entrevista à Brunna Vidal & Rinaldo B. Viana

Manejo de bovinos de corte em EPEs Dr. Arnaldo Naves Nunes & Dr. Daniel Carisio

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 4

LiveS Livestock and Small Animals Medicine Journal

Volume 5, número 2, Mai. – Ago., 2016

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Buiatria

“Uma saúde.

Uma só Medicina” “One health. One Medicine

Rinaldo B. Viana1 1Prof. Dr. ISPA-Ufra/Tutor PETVet- SESu/MEC

[email protected]

A Buiatria, área de atuação do

médico veterinário que cuida dos

bovídeos, é tão antiga quanto a

própria Medicina Veterinária.

Por Buiatria (substantivo feminino

de origem grega (buyus = bovino e

iatrikos = medicina, ou iatreia =

tratamento médico) conceitua-se

a arte e a ciência do diagnóstico,

tratamento e prevenção das enfermidades que acometem os bovinos; área

profissional exclusiva do médico veterinário (vide Buiatra). Atualmente,

por Buiatria, entende-se como o segmento da medicina veterinária que

Editorial

Buiatra atuando no controle e prevenção das

ectoparasitores dos bovinos. Estado do Pará, Brasil. Foto:

Rinaldo B. Viana

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 5

aborda os diversos aspectos relacionados à sanidade e produção dos

bovídeos.

E por Buiatra compreende-se

o médico veterinário especializado

em buiatria; ou seja, o veterinário

especializado na medicina de

espécimes bovídeos.

As principais doenças emergentes

que acometem os seres humanos

são zoonóticas. Pensando nesse

paradigma a Organização Mundial

de Saúde (OMS) passou a

estabelecer para o combate às

zoonoses a necessidade de

cooperação mútua entre as

Medicinas Veterinária e Humana,

desenvolvendo conjuntamente

pesquisas nas áreas da epidemiologia, diagnóstico e vigilância das doenças

que acometem os seres vivos de modo geral.

O conceito de saúde única (do inglês one health) foi concebido

modernamente pelo Médico Veterinário Calvin W. Schwabe (1927–2006), em

seu tratado “Veterinary Medicine and Human Health”.

A OMS, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e

Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde Animal/World

Organisation for Animal Health (OIE), em outubro de 2008, elaboraram o

documento “Zoonotic diseases: a guide to establishing collaboration

between animal and human health sectors at the country level”, um manual

para implantação da colaboração entre autoridades governamentais e não

governamentais responsáveis pela saúde animal e humana. Neste manual

encontra-se o conceito “Um Mundo - Uma Só Saúde”.

No documento “SUSTAINABLE ANIMAL HEALTH AND CONTAINED ANIMAL-

RELATED HUMAN HEALTH RISKS: FAO’s Strategic Action Plan In support of the

emerging one health agenda” da FAO contém um plano estratégico para

adoção da agenda da saúde única.

E na publicação “People, Pathogens, and Our Planet Volume 1:

Towards a One Health Approach for Controlling Zoonotic Diseases” editada

pelo THE WORLD BANK AGRICULTURE AND RURAL DEVELOPMENT HEALTH,

NUTRITION AND POPULATION (2010) trata-se sobre a atual situação de

entendimento dos conceitos de saúde única, das maneiras de

operacionalização desses conceitos e das possibilidades de levantamento e

O papiro veterinário de Londres, encontrado em Kahun, é o

documento mais antigo deste tipo que foi relatado. O papiro

contém várias receitas contra doenças dos olhos dos animais,

provavelmente parte de um tratado mais abrangente, infelizmente,

agora perdido para sempre. Atualmente, o papiro encontra-se

preservado no Museu Petrie University College, Universidade de

Londres; é datada entre 2.000 e 1.785 a.C.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 6

economia de recursos para o caso de adoção de abordagens nacionais em

saúde única.

Esses documentos e publicações deixam clara a importância da

saúde animal para a saúde humana. Isso verifica-se não somente pela

preocupação com doenças emergentes e re-emergentes zoonóticas, ou

seja, transmitidas dos animais para o seres humanos, mas também pelas

questões que perpassam pela segurança alimentar. É nesse contexto que se

insere a Buiatria, garantindo a saúde dos bovídeos e, consequentemente

dos seres humanos, tanto pelo controle e combate às doenças que assolam

os animais pecuários, como também pela produção de alimentos com

segurança e qualidade.

Essa atuação do Buiatra foi muito bem destacada durante o

congresso Latinoamericano de Buiatria em 2015, realizado em São

Paulo/SP, pelo médico veterinário Sergio Duffy, Membro da Comissão

Científica para Doenças dos Animais da OIE que ressaltou a importância

de um esforço conjunto para detectar e controlar as enfermidades

emergentes:

"A maioria das enfermidades humanas emergentes é de origem

animal. Lutar contra essas enfermidades na sua origem acarretará um

grande benefício para as populações humanas e animais. Assim, a

Medicina Veterinária é uma interlocutora fundamental quando se

trata do combate a essas enfermidades”

(http://portal.cfmv.gov.br/portal/noticia/index/id/4292/secao/6 ).

World Association for Buiatrics

Para congraçar todos esses profissionais no 2º Congresso Internacional

de Doenças dos Bovinos em Viena (Áustria) em 17 de maio de 1962, como

desdobramento de uma reunião preliminar realizada em Hannover

(Alemanha) em outubro de 1960 foi criada a World Association for Buiatrics

(WAB), uma associação que visa promover a boa vontade e a transferência

de conhecimentos dentro da comunidade veterinária internacional pelo

intercâmbio de experiências e discussão científicas, culturais e pessoais no

âmbito da Associação Mundial de Buiatria1.

Atualmente a WAB congrega cerca de 53 associações nacionais dos

mais diferentes continentes (Fig. 1).

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 7

Figura 1. Países e Associações Nacionais de Buiatria associados à WAB em

2014. Fonte: http://www.buiatrics.com/Affiliated_Associations-p-en.html

Buiatria Brasileira: 35 anos de legado

A Associação Brasileira de Buiatria

foi fundada em 21 de agosto de

1980, nas dependências da

Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia da

Universidade de São Paulo, tendo

sido eleito como 1º presidente, o

Prof. Dr. Leonardo Miranda de

Araújo.

Atualmente existem sedes

regionais e ou núcleos em várias

unidades da Federação (Tabela 1; Figura 2):

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 8

Tabela 1. Associações e núcleos de Buiatria no Brasil

Associações estaduais Núcleos estaduais

1) Associação Baiana de Buiatria 1) Núcleo de Buiatria do Espírito Santo

2) Associação Cearense de Buiatria 2) Núcleo de Buiatria do Rio Grande do

Norte

3) Associação de Buiatria de

Goiás/Distrito Federal

3) Núcleo de Buiatria do Rio Grande do

Sul

4) Associação de Buiatria de Minas

Gerais 4) Núcleo Paraibano de Buiatria

5) Associação de Buiatria do Pará e

Amapá

6) Associação de Buiatria do Rio de

Janeiro

7) Associação Matogrossense de

Buiatria

8) Associação Paranaense de Buiatria

9) Associação Paulista de Buiatria

10) Associação Pernambucana de

Buiatria

11) Associação Sulmatogrossense de

Buiatria

Segundo o Artigo 23 do estatuto da Associação Brasileira de Buiatria

entende-se por "associações estaduais" as entidades estaduais de buiatria

que possuírem sua própria inscrição no cadastro nacional de pessoa jurídica

(CNPJ) e que apresentarem ao Conselho Nacional de Representantes

Estaduais uma cópia de seus estatutos em conformidade com os dispositivos

deste estatuto nacional e a ata de eleição de sua diretoria. Já os núcleos,

segundo o Artigo 24 os "núcleos estaduais" são entidades provisórias,

composta por buiatras interessados em criar uma associação estadual. Uma

vez criados, os núcleos terão um prazo de 12 meses para se transformar em

associação, atendendo os requisitos especificados artigo 23.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 9

Figura 1. Indicação geográfica das associações e núcleos estaduais de buiatria no Brasil

Congressos Brasileiros de Buiatria

No ano de 1981, de 12 a 15 de outubro, foi realizado o I Congresso

Brasileiro de Buiatria, junto com o IV Congresso Latino Americano de

Buiatria.Dois anos seguintes, ou seja em m 1983 foi realizado em Salvador/BA

o II Congresso Brasileiro de Buiatria. Em 1990, de 13 a 17 de agosto,

aconteceu na cidade de Salvador/BA, o VI Congresso Latinoamericano de

Buiatria e o XVI Congresso Mundial de Buiatria. Após essa fase inicial, a

entidade teve uma discreta atuação, até que em junho de 1996, durante o

Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária, realizado em Goiânia, decidiu-

se iniciar os trabalhos de reestruturação da entidade. Foi então convocada

uma nova reunião, a qual ocorreu em 22 de outubro de 1996, durante o XV

Congresso Panamericano de Ciências Veterinárias, realizado em Campo

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 10

Grande/MS. Nesta reunião, foi criada a Comissão para Reestruturação da

Associação Brasileira de Buiatria, presidida por Maurício Garcia, de São

Paulo/SP. A partir de 1999 e até os dias atuais o congresso passou a ser

realizado bianaulmente:

Congressos Brasileiros de Buiatria

III Congresso Brasileiro de Buiatria (5 a 7 de

julho de 1999) realizado no Anfiteatro

Central da USP de São Paulo/SP. Estiveram

presentes 310 inscritos e foram

apresentados 99 trabalhos.

IV Congresso Brasileiro de Buiatria (14 a 18

de maio de 2001) realizado em Campo

Grande - MS, no Palácio Popular da

Cultura. O evento registrou a presença de

1000 inscritos e discutiu temas de grande

relevância para a bovinocultura.

V Congresso Brasileiro de Buiatria, (2 a 5 de

setembro de 2003) realizado no Centro de

Convenções de Salvador - BA, juntamente

com o XI Congresso Latinoamericano e o III

Congresso Nordestino de Buiatria.

Participaram do evento cerca de 400

pessoas.

VI Congresso Brasileiro de Buiatria (25 a 28

de maio de 2005) foi realizado na cidade

de Búzios, no Estado do Rio de Janeiro.

VII Congresso Brasileiro de Buiatria (10 a 13

de outubro de 2007) realizado na cidade

de Curitiba, no Estado do Paraná.

VIII Congresso Brasileiro de Buiatria (21 a 24

de outubro de 2009) realizado na cidade

de Belo Horizonte, no Estado de Minas

Gerais.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 11

Congressos Brasileiros de Buiatria

IX Congresso Brasileiro de Buiatria (04 a 07

de outubro de 2011) realizado na cidade

de Goiânia, no Estado de Goiás.

X Congresso Brasileiro de Buatria (9 a 12 de

setembro de 2013) realizado pela primeira

vez na região amazônica, o congresso

reuniu cerca de 830 inscritos e 79

conferencistas nacionais e internacionais

no Hangar, Centro de Convenções da

Amazônia, onde foram publicdos 500

trabalhos. O evento foi capitaneado pelos

prof. Dr. José Diomedes Barbosa Neto

(Presidente da ABB e do evento) e pelo

Prof. Rinaldo B. Viana (Presidente do

Comitê Científico do evento).

XI Congresso Brasileiro de Buiatria (24 a 26

de julho de 2015) realizado em São Paulo

conuntamente com O Congresso Latino-

americano de Buiatria, reuniu cerca e 600

participantes.

Referências

http://portal.cfmv.gov.br/portal/noticia/index/id/4292/secao/6

http://www.buiatrics.com/ http://www.buiatria.org.br/buiatriabr/defaultBui.asp

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Minireview

COMERCIALIZAÇÃO

DE BOVINOS VIVOS E

SEUS REQUISITOS

SANITÁRIOS PARA A

EXPORTAÇÃO LiveS. 2016; 1: 12-15

ISSN 2594-9446

ISSN-L 2594-9446

Samantha Silva e Silva1,

Waldjânio de Oliveira Melo2,

Pedro Ancelmo Nunes Ermita3,

& Rinaldo B. Viana4 1Acadêmica Medicina Veterinária/Ufra

Bolsista PET- SESu/MEC

Email: [email protected] 2Zootecnista Universidade

Federal Rural da Amazônia 3 Doutorando Universidade

Federal de Viçosa 4Prof. Dr. ISPA- Universidade

Federal Rural da Amazônia

Introdução

A atuação do Brasil no

comércio internacional de

gado vivo vem mostrando

resultados positivos desde 2004, tendo o Estado do Pará, como principal

exportador, seguido do Rio Grande do Sul e Amapá. Mesmo sofrendo uma

queda de 6% no ano de 2014, a exportação de boi vivo continua sendo uma

atividade promissora, sobretudo em países como a Venezuela (principal

parceiro comercial brasileiro na atividade), responsável por 82% da receita

total da exportação de bovinos vivos do Brasil¹.

No âmbito da exportação de gado vivo e também de produtos de

origem animal, as questões sanitárias para a execução do comércio entre os

países são de extrema relevância. O Acordo Sanitário e Fitossanitário (SPS)

elaborado por países-membros da Organização Mundial do Comércio

Foto: Rinaldo B. Viana. Pontes e Lacerda, MT

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 13

(OMC) tem como objetivo preservar a saúde animal e do consumidor, sem

que isto se torne um obstáculo desnecessário ao livre comércio.

Desse modo, objetiva-se trazer, à luz do conhecimento do leitor, informações

acerca dos principais requisitos sanitários para exportação de bovinos vivos

no Brasil.

Exigências sanitárias para a exportação de gado vivo

As empresas interessadas neste mercado devem atentar para as

exigências e procedimentos definidos pelo Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a devida certificação sanitária². São

os seguintes:

a) O estabelecimento deve obter primeiramente o registro no Serviço de

Inspeção Federal (SIF) do MAPA, que atesta a regularidade sanitária,

técnica e legal das instalações e etapas do processo de produção;

b) Autorização de Exportação do Ministério da Agricultura, com parecer,

exigências e orientações para os procedimentos a serem adotados;

c) Atestado de Saúde, emitido por Médico Veterinário, no qual constam

também as exigências do país importador;

d) Atestados de vacinações e/ou exames laboratoriais inerentes às

diversas espécies;

e) Extrato do Registro de Exportação;

f) Conhecimento/Manifesto;

g) Fatura.

Mediante à recensão de todos os itens citados acima e atendendo-se

todas as exigências, o Departamento de Saúde Animal da Secretaria de

Defesa Agropecuária do MAPA emite à empresa o Certificado Zoossanitário

Internacional (CZI), atestando assim a sanidade animal.

Os principais países compradores de gado vivo do Brasil são Venezuela e

países do Oriente Médio, sobretudo Egito e Jordânia, e as exigências

sanitárias para os animais variam de acordo com o país importador. Abaixo

tem-se algumas das requisições dos países árabes (informação verbal)1:

i. Vacinação exigida: vacina contra os agentes da rinotraqueíte

infecciosa bovina, antraz e febre aftosa (para animais originários da

zona livre com vacinação).

ii. Testes laboratoriais: Os animais são submetidos a teste para

diagnóstico de brucelose e tuberculose bovina.

1 Informação obtida por meio de comunicação pessoal do Médico Veterinário Dr. Daniel

Carísio. Informação obtida via e-mail em 15 de janeiro de 2016

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 14

iii. Identificação dos animais: Os animais são numerados e possuem

sistema de identificação permanente com possibilidade de

rastreamento até sua origem.

iv. Controle de ecto e endoarasitoses: Todos os animais exportados são

tratados adequadamente contra parasitos externos e internos e

devem estar livres de ectoparasitos e nematódeos gastrointestinais

antes do embarque. O processo de imersão ou pulverização do gado

é executado antes do carregamento e os animais não devem

apresentar ectoparasitose, bem como devem ser livres de feridas,

leões e abscessos. Os veículos de transporte da fazenda ao

estabelecimento pré-embarque (EPE) e deste ao porto de saída do

País exportador são desinfetados com inseticida eficaz contra moscas

causadoras de miíase.

Vale ressaltar que o Médico Veterinário Responsável Técnico (RT) é

quem valida todos os exames realizados nos animais para que estes possam

ser exportados, respeitando as exigências sanitárias de cada país

importador.

Quanto aos estabelecimentos de pré-embarque (EPE) de gado vivo para

exportação do Brasil, o MAPA institui que seja cumprida a instrução

normativa (IN) nº 13, DE 30 DE MARÇO DE 2010 com anexo que refere-se ao

REGULAMENTO TÉCNICO PARA EXPORTAÇÃO DE BOVINOS, BÚFALOS, OVINOS

E CAPRINOS VIVOS, DESTINADOS AO ABATE4:

“Art. 1º Este Regulamento estabelece as normas de

procedimentos básicos para a preparação de animais vivos

para a exportação, incluindo a seleção nos estabelecimentos

de origem, o transporte entre o estabelecimento de origem e

os Estabelecimentos de Pré-embarque e destes para o local

de saída do país e o manejo nas instalações de pré-embarque

e no embarque.”

Considerações finais

Levando-se em consideração sua significativa participação na receita

total de dividendos do país o mercado de bovinos vivos é uma alternativa

promissora para o desenvolvimento da pecuária brasileira. Todavia, é

necessário que as empresas exportadoras atendam aos requisitos exigidos

pelo MAPA, medidas estas que buscam assegurar a qualidade e segurança

dos alimentos produzidos, bem-estar dos animais e preservação do

ambiente, garantindo assim a credibilidade da pecuária de corte nacional.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 15

Referências

1 PORTAL DBO. Exportação de gado vivo recua 6% em 2014. Disponível em:

http://www.portaldbo.com.br/. Acesso em 03 set. 2015.

2 MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Exportações/ Requisitos

Sanitários. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/animal/exportacao. Acesso em 03

set. 2015.

3 MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Panorama geral dos

estabelecimentos de pré- embarque de gado-vivo para exportação do Brasil. Pará, 2013.

4 BRASIL. Instrução normativa n.º 13 de 30 de março de 2010. Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento.

5 Procedimentos para a Certificação Sanitária de Exportações. Disponível em:

http://www.iea.sp.gov.br/. Acesso em 03 set. 2015.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 16

Minireview

Segurança

alimentar: resíduos de

medicamentos

veterinários em

alimentos de

origem animal LiveS, 2016;1:16-20

ISSN 2594-9446

ISSN-L 2594-9446

Caio Cesar Rocha Mendes1 & Rinaldo B. Viana2 1Acadêmico Medicina Veterinária Ufra,

Bolsista PET- SESu/MEC Email: [email protected]

2Prof. Dr. ISPA-Ufra/Tutor PETVet-SESu/MEC

Introdução

A segurança alimentar é uma preocupação crescente no mundo, uma

vez que as pessoas cada dia mais buscam alimentos saudáveis seguros, que

possam lhes proporcionar uma melhor qualidade de vida.

O uso de qualquer substância em animais de produção deve estar

associado ao conhecimento de farmacocinética, ou seja, o profissional deve

estabelecer valores limitativos, minimizando assim os riscos da presença de

resíduos que possam representar danos à saúde dos consumidores¹.

A produção moderna de alimentos aumentou consideravelmente os

riscos de contaminação química, haja vista que o crescimento da

produtividade na criação de animais, relaciona-se diretamente ao uso de

centenas de fármacos utilizados no tratamento e manutenção da saúde dos

animais produtores de alimentos, deixando-os assim expostos a substâncias

químicas que podem eventualmente deixar resíduos na carcaça e

organismo animal².

Portanto, objetiva-se descrever uma revisão sobre o uso responsável

de medicamentos nos animais de produção e as consequências do

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 17

consumo pelo seres humanos de alimentos de origem animal contaminados

com resíduos de fármacos.

Segurança

alimentar – uma

breve revisão

O termo

“segurança

alimentar”, segundo

a norma NBR ISO

22000 se aplica

somente a aspectos

relacionados à

inocuidade, ou seja,

à necessidade de

que o alimento não

se torne via de

exposição a perigos

que possam causar

danos à saúde dos

consumidores.

Agentes

biológicos, físicos,

químicos ou a

condição de

conservação do

alimento podem contaminá-lo³. A utilização de antimicrobianos no

tratamento ou prevenção de enfermidades nos animais pecuários, pode

acarretar na presença de resíduos desses fármacos nos tecidos animais.

Para se evitar a exposição dos consumidores a compostos ou resíduos

prejudiciais a saúde humana, a comercialização e utilização os

medicamentos devem passar por rigorosa fiscalização.

Destaca-se que somente são registrados oficialmente, aqueles

produtos aprovados em minuciosos estudos de segurança clínica e

avaliação residual. Mediante essas análises é que serão definidos os Limites

Máximos de Resíduos (LMR) e o período de carência do fármaco4. No Brasil,

mediante às legislações vigentes (Decreto-Lei Nº467, de 13 de fevereiro de

1969; Decreto Nº 1662, de 06 de outubro de 1995; e, Portaria/MA Nº 301, de

19 de abril de 1996), cabe ao Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA) a fiscalização, registro e controle do comércio e uso

dos medicamentos veterinários.

Vermifugação de Bovinos de corte. Pontes e Lacerda, MT.

Foto: Rinaldo B. Viana.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 18

Os limites máximos de resíduos em alimentos de origem animal no Brasil

são estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

vinculada ao Ministério da Saúde, e para medicamentos veterinários estes

limites estão dispostos na Resolução nº 53, de 2 de outubro de 2012, seguindo

a regulamentação técnica do MERCOSUL.

No caso em que esses limites não são estabelecidos, utilizam-se,

aqueles recomendados pelo Codex Alimentarius, ou constantes nas Diretivas

da União Europeia, ou ainda aqueles utilizados pelo Food and Drug

Administration (FDA/USA). Os métodos analíticos que são recomendados

pelos organismos internacionais mais utilizados para a detecção de resíduos

em alimentos de origem animal são: microbiológico; imunoenzimático;

cromatografia líquida de alta resolução; cromatografia de camada

delgada; e, cromatografia gasosa5.

O Plano Nacional de Controle de Resíduos em Produtos de Origem

Animal (PNCR) de 1986, adequado em 1995, foi instituído como uma

possibilidade para que o país pudesse se adequar às regras do comércio

internacional de alimentos de origem animal, sob o ponto de vista sanitário,

preconizadas por órgãos como a Organização Mundial do Comércio

(OMC). O principal objetivo do programa, controlado pelo MAPA, é

estabelecer a utilização correta dos medicamentos, levando-se em

consideração os aumentos de produtividade do mercado atual e das novas

tecnologias aplicadas, trazendo assim mais segurança aos consumidores6,7.

Outro programa estabelecido, coordenado pelo Ministério da Saúde,

é o Programa Nacional de Análise de Resíduos de Medicamentos

Veterinários em Alimentos Expostos ao Consumo (PAMVet), que busca

avaliar o nível de exposição a resíduos que os consumidores sofrem, por meio

de colheitas de amostras de alimentos disponíveis nos estabelecimentos de

comercialização.

A utilização de antimicrobianos no Brasil segue a Normativa nº 26, de 9

de julho de 2009, que aprovou as normas para fabricação, controle de

qualidade e comercialização destes fármacos no país. Quanto aos

antiparasitários, estes seguem a Portaria nº 48, de 12 de maio de 1997. As

regras para comercialização de fármacos destinados ao uso veterinário,

sujeitos ao controle especial, estão dispostas na Normativa nº 25, de 08 de

novembro de 2012, sendo que a prescrição de medicamentos com fins

terapêuticos deve ser feita apenas por médicos veterinários8.

Nos Estados Unidos, o órgão governamental responsável pelo controle

dos alimentos e que garante a inocuidade, segurança e eficácia dos

medicamentos de uso humano ou veterinário é o FDA, que trabalha em

associação com diversas outras agências regulatórias internacionais

buscando uma rede de segurança alimentar mundial9.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 19

Alimentos contaminados por medicamentos podem acarretar diversos

problemas, como por exemplo, resistência a antibióticos, reações alérgicas,

problemas endócrinos, toxicidade aguda ou crônica, efeitos carcinogênicos

e teratogênicos, dentre outros. Todos estes efeitos adversos variam entre os

indivíduos e dependem da quantidade de resíduos no alimento bem como

do intervalo de tempo entre a administração do medicamento no animal e

o seu abate10.

Considerações finais

O uso consciente de medicamentos nos animais e o conhecimento

técnico adequado acerca da ação dos fármacos, são de suma importância

para a segurança alimentar, uma vez que minimizam os riscos de

contaminação dos consumidores pela presença de resíduos de fármacos

nos produtos de origem animal.

Referências

1 SPISSO, Bernardete Ferraz; NOBREGA, Armi Wanderley de; MARQUES, Marlice Aparecida

Sípoli. Resíduos e contaminantes químicos em alimentos de origem animal no Brasil: histórico,

legislação e atuação da vigilância sanitária e demais sistemas regulatórios. Ciênc. saúde

coletiva, Rio de Janeiro. v. 14, n. 6, p. 2091-2106, Dec. 2009. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141381232009000600016&lng=en&n

rm=iso>.

2 VRAGOVIC, N.; BAZULIC, D.; NJARI, B. Risk assessment of streptomycin and tetracycline

residues in meat and milk. Food and Chemical Toxicology. Oxford. v.49, p. 352–355, 2011.

3 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 22000: Sistemas de gestão da

segurança de alimentos - Requisitos para qualquer organização na cadeia produtiva de

alimentos. Rio de Janeiro: ABNT; 2006.

4 PIKKEMAAT, M.I.G.; DIJK, S.Ov.; SCHOUTEN, J.; RAPALLINI, M.; van EGMOND, H.J. A new

microbial screening method for the detection of antimicrobial residues in slaughter animals:

The Nouws antibiotic test (NAT-screening). Food Control. Guildford. V. 19. P. 781-789. 2008.

5 GOMES, D. M. Resíduos de Antibióticos Promotores de Crescimento em Produtos de Origem

Animal. Brasília: 2004. Disponível em: http://treinamento-

dspace.bce.unb.br/bitstream/10483/521/1/2004_DanielleMoraesGomes.pdf

6 SOUZA, M. I. A. Resíduos de antibióticos em carne bovina. Goiânia. 2009. Disponível em:

http://ppgca.evz.ufg.br/up/67/o/Maria_Izabel.pdf?1355500347.

7 BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Portaria n.º 51, de 6 de

fevereiro de 1986. Dispõe sobre a instituição do Plano Nacional de Controle de Resíduos

Biológicos em Produtos de Origem Animal – PNCRB. Disponível em:

http://sistemasweb.agricultura.gov.br/sislegis/action/detalhaAto.do?method=consultarLegisl

acaoFederal.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 20

8 CASELANI, K. Resíduos de medicamentos veterinários em alimentos de origem animal. Arq.

Ciênc. Vet. Zool. UNIPAR,Umuarama, v. 17, n. 3, p. 189-197, jul./set. 2014.

9 FDA. El Compromiso Mundial: Administración de Alimentos y Medicamentos de los EE.UU.

Disponível em:

http://www.fda.gov/downloads/AboutFDA/ReportsManualsForms/Reports/UCM349987.pdf

10 SOFOS, J.N. Improving the safety of fresh meat. 1 ed. Boca Raton, CRC Press LLC, 2005,

780p.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 21

Desenho: João Gabriel do Espirito Santo.

LiveS©, 2016. Conteúdo de criação própria.

Minireview

Encefalopatia

espongiforme

bovina LiveS. 2016; 1: 21 – 25

ISSN 2594-9446

ISSN-L 2594-9446

Andra Nunes Ferreira1, Pedro Ancelmo Nunes Ermita2, Rinaldo B. Viana3 1Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra

Bolsista PETVet- SESu/MEC

Email: [email protected]

2 Doutorando Universidade Federal de Viçosa 3Prof. Dr. Universidade Federal Rural da Amazônia

A encefalopatia espongiforme bovina (EEB ou BSE da sigla em inglês

“bovine spongiform encephalopathy”) é conhecida em todo o mundo

como “doença da vaca louca” e pertence ao grupo de encefalopatias

espongiforme transmissíveis – EET1.

As EET são doenças neurodegenerativas que acometem gravemente

toda a estrutura do sistema nervoso central2. Entre estas doenças destacam-

se:

i. Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD): acomete humanos, tem

distribuição mundial e com incidência de cerca de um caso por

milhão de pessoas.

ii. Nova Variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob (vCJD): também

acomete humanos, e está associada à ingestão de alimentos

contaminados com o agente da EEB.

iii. Paraplexia enzoótica dos ovinos ou Scrapie: afeta ovinos e caprinos,

encontra-se em muitos países e é conhecida há mais de 200 anos;

iv. Encefalopatia Espongiforme Bovina: acomete bovinos, popularmente

chamada de “doença da vaca louca”2.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 22

A EEB é definida como uma doença degenerativa crônica que afeta

o sistema nervoso central de bovinos, causada pela proteína amilóide (príon)

depositada na substância cinzenta do cérebro e caracterizada pela

presença de vacúolos microscópicos.

Deste modo, este artigo tem como objetivo trazer uma revisão acerca

da etiopatogenia, sinais clínicos, métodos de diagnóstico e das medidas

profiláticas para EEB, visto que a mesma possui importância mundial, tanto

por se tratar de doença zoonótica quanto por causar perdas econômicas

consideráveis.

Etiopatogenia

Em relação ao agente patogênico (príon), sabe-se que é uma forma

especial de proteína altamente estável e resistente ao congelamento, ao

ressecamento e ao calor do cozimento normal, da pasteurização e da

esterilização a temperatura e tempo usuais3.

Para Costa1, não existem sinais de uma transmissão horizontal da

doença, ou seja, pelo contato direto entre bovinos ou destes com outras

espécies. A transmissão ocorre pela ingestão de alimento, como farinha de

carne e de osso, contaminados por tecidos de ruminantes com EEB.

Além disso, Horn4 acredita que a contaminação vertical (da vaca

para o bezerro), a contaminação ambiental e a transmissão por meio da

fabricação de medicamentos veterinários oriundos de tecidos bovinos são

muito baixas.

Sinais clínicos

O

período de

incubação da EEB

(tempo decorrido

desde que o animal

foi infectado até o

aparecimento dos

primeiros sinais

clínicos) é de 2 a 8

anos (média 5 anos),

embora períodos de

incubação mais

longos tenham sido

relatados.

Desenho: João Gabriel do Espirito Santo.

LiveS©, 2016 Conteúdo de criação própria.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 23

Após o aparecimento dos sinais clínicos, a doença evolui invariavelmente

para óbito em curso de três semanas a seis meses. Bovinos afetados por EEB

sofrem de degeneração progressiva do sistema nervoso central e podem

apresentar alterações do temperamento, da sensibilidade e da

locomoção5,6,7. Sinais clínicos gerais incluem decréscimo na produção de

leite e perda de peso, apesar da manutenção do apetite.

Os distúrbios no comportamento incluem medo ou agressividade,

postura anormal, incoordenação e dificuldade em levantar; geralmente os

animais estão em estado de alerta e são facilmente excitáveis, alterações

que podem se manifestar por um tipo de movimento espasmódico de todo

o corpo. Esses distúrbios do comportamento são mais evidentes quando o

animal é excitado. Podem ocorrer ainda salivação e um olhar assustado

com olhos em alerta, com ranger de dentes. Nos estágios terminais da EEB, o

animal tem dificuldade em levantar-se ou pode permanecer em decúbito

permanente7.

Bovinos com EEB apresentam hipersensibilidade cutânea (ao toque ou

ao estimulo doloroso), ao som e à luz.

Na locomoção observa-se andar rígido, incoordenação, hipermetria e

ataxia generalizada. A hipermetria é mais pronunciada nos membros

pélvicos e confere aos bovinos um passo alto semelhante ao observado em

cavalos com harpejamento. A ataxia grave evolui para quedas e finalmente

paresia posterior e decúbito7.

As lesões no sistema nervoso central são características e consideradas

patognomônicas ou altamente específicas7 para EEB. As lesões

microscópicas são bilaterais e simétricas no tronco cerebral, e consistem na

presença de vacúolos ou espaços vazios e largos na substância cinzenta do

cérebro com leve gliose1.

Diagnóstico

Para animais infectados, pode se realizar um exame físico e

neurológico para observar o comportamento, a postura, a atitude geral do

animal, além de se verificar a sensibilidade superficial e profunda e a função

dos nervos cranianos. Além disso, exames laboratoriais, como hemograma e

urinálise são importantes para auxiliar no diagnóstico diferencial da doença.

Por fim, o exame do líquido cérebro-espinhal (LCE) também é importante

para diferenciar de outras encefalites, visto que a EEB não causa alterações

no LCE1.

Todavia, até o momento, não existem provas disponíveis, validadas

internacionalmente, para o diagnóstico da doença no animal vivo. Apenas

o diagnóstico laboratorial realizado em amostras do sistema nervoso central

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 24

do animal, adequadamente colhidos por médicos veterinários, pode

confirmar a existência da doença. No Brasil, as técnicas laboratoriais de

rotina para o diagnóstico das EET são o exame histológico seguido da

técnica de imunohistoquímica, realizado nos laboratórios credenciados pelo

MAPA, distribuídos em diferentes unidades da federação2.

Medidas de Controle

Desde 1997 é obrigatória a notificação das suspeitas de doenças

nervosas em ruminantes. No Brasil, o controle para EEB é feito pelo

Departamento de Saúde Animal (DSA) baseado nas estratégias de ação do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) quanto às

medidas sanitárias e à vigilância epidemiológica de doenças nervosas de

bovinos, a qual é feita por médicos veterinários nas Unidades Federativas.

Essa vigilância é direcionada, principalmente, para uma população

estabelecida como de maior risco, que inclui:

a) ruminantes domésticos com distúrbios nervosos;

b) bovinos acima de 24 meses, e ovinos e caprinos acima de 12 meses,

com resultados negativos para raiva;

c) bovinos, ovinos e caprinos destinados ao abate de emergência em

matadouros;

d) e bovinos importados de países de risco para EEB2.

Profilaxia

O método mais indicado como profilaxia para bovinos é o não

fornecimento de rações à base de proteínas de origem animal (cama de

aviário, os resíduos da exploração de suínos, farinhas de animais e qualquer

outra fonte de alimento que contenha proteínas de origem animal)2.

É importante também conferir no rótulo de rações se estão presentes

dizeres como: “uso proibido na alimentação de ruminantes”. Ademais

segundo o MAPA2 deve-se observar e informar à unidade local do serviço

veterinário oficial, a existência de algum animal apresentando sinais de

doença do sistema nervoso, como alteração do comportamento,

dificuldades de locomoção, paralisia, andar cambaleante, entre outros4.

Considerações finais

Sabe-se que a EEB é uma doença que possui grande importância

econômica mundial e afeta principalmente ruminantes podendo ser

transmitida aos seres humanos.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 25

Como a contaminação dos bovinos se dá pela ingestão de alimentos

oriundos de proteína animal contaminada é imprescindível a não

alimentação desses animais com rações à base de proteína animal. Além

disso, como não há tratamento ou vacina para impedir o aparecimento da

doença, medidas para prevenir a introdução de casos incluem ainda a não

importação de ruminantes e seus produtos de países considerados de risco

para a EEB, e impedir a permanência de carcaças no campo.

Referências

1 COSTA LMC da, BORGES JRJ. Encefalopatia Espongiforme Bovina – “Doença da Vaca

Louca”. Caderno Técnico, Anvisa - Brasil [Internet]. 2004 [citado em 09 Dez 2015]. 1ªed:61-76.

Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/anvisa/caderno_tecnico_.pdf

2 Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Encefalopatia espongiforme

bovina – EEB : doença da vaca louca / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Secretaria de Defesa Agropecuária. – Brasília : MAPA/SDA, 2008. 24 p.

3 WORLD HEALTH ORGANIZATION. Bovine spongiform encephalopathy (BSE). Fact Sheets nº

113. 2000 [citado em 09 Dez 2015]. Disponível em: http://who.int/inffs/en/fact113.html

4 HORN, G. Review of the origin of BSE. DEFRA, 2001;p. 66.

5 ORTOLANI, EL. Encefalite Espongiforme Bovina: considerações epizootiológicas, etiológicas

e clínicas. Revista de Educação Continuada do CRMV-SP. 1999;2: 3-8.

6 World Health Organization: Understanding the BSE Threat, WHO, Genebra 23 p, 2002.

7 Barros, Claudio Severo Lombardo e Guilherme Henrique Figueiredo Marques.

Procedimentos para o diagnóstico das doenças do sistema nervoso central de bovinos.

Brasília : MAPA/SDA/DDA, 2003. 50 p.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 26

Minireview

Granulomas

pós-vacinais

e abscessos: uma causa de

prejuízos no

rendimento das

carcaças de

bovinos e

bubalinos

LiveS. 2016; 1: 26 – 29 ISSN 2594-9446

ISSN-L 2594-9446

Brunna Vidal1, Carolyne Texeira2, Pedro Ancelmo Nunes

Ermita3, & Rinaldo B. Viana4 1Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra, Bolsista IC-PIBIC/CNPq

[email protected] 21Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra, Membro PET- SESu/MEC

3Doutorando Universidade Federal de Viçosa 4Tutor Grupo PETVet SESu-MEC, Prof. Dr. ISPA/Ufra

Introdução

A Bubalinocultura possui atualmente grande importância no mercado

mundial, destacando-se principalmente em países de clima tropical, dentre

eles o Brasil1. O Pará possui o maior rebanho da espécie no país, chegando a

39% do rebanho nacional, ou seja aproximadamente 1,15 milhão de

bubalinos2, destinados principalmente produção de carne, tanto para o

mercado interno, quanto à exportação em países como Venezuela, Líbano

e Egito3.

Este cenário de exportação de bubalinos vivos também é observado

na bovinocultura brasileira, a qual assumiu liderança na exportação em 2004

com um quinto da carne comercializada internacionalmente. Sendo

Figura 1. Granuloma ulcerado pós-reação vacinal em bubalino vacinado

contra febre aftosa. Foto: Brunna G. V. de Lima & Rinaldo Viana. Biotério

Unidade de Bubalinocultura Leiteira Eva Daher Abufaiad (BUBAli-ISPA/Ufra)

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 27

também o setor do agronegócio que gera estimados 67 bilhões de reais a

partir da produção de leite e de carne, contabilizando cerca de 200 milhões

de cabeças. Cenário que, dentre outros fatores, vem do investimento em

tecnologia e capacitação profissional².

Todavia, para exportação de animais vivos os requisitos sanitários têm

sido uma das mais relevantes exigências dos mercados compradores. Além

de serem isentos de enfermidades, os animais não podem apresentar

ectoparasitos, tampouco lesões de pele tais como granulomas e abscessos.

Os granulomas pós-vacinais e abscessos possuem uma destacada

importância quanto ao valor comercial da carcaça e ocorrem devido ao

acúmulo de pus (produtos piógenos e pútridos)4. São normalmente causados

por uma penetração traumática na pele seguida de uma infecção, além do

que tanto as culturas vivas quanto os adjuvantes vacinais são capazes de

levar a uma irritação muscular e gerar assim granulomas e abscessos5.

Deste modo, objetiva-se como este artigo trazer à luz do

conhecimento uma discussão quanto a ocorrência da presença de

granulomas pós-vacinais e abscessos em bubalinos e bovinos e suas perdas

econômicas.

As lesões e os prejuízos na carcaça

A legislação brasileira trata o

tema dos abcessos da seguinte

forma: nas carcaças ou órgãos

atingidos por abcessos ou lesões

supuradas quando localizados,

faz-se a remoção dessas lesões,

condenando apenas os órgãos e

partes atingidas.

Ainda as carcaças ou parte

delas que se contaminarem

acidentalmente com pus serão

também condenadas.6

Em 2013, na Bahia,

constatou-se com 64,28% das

causas de descarte de descarte

de órgãos (fígado, rim, baço) e

carcaças eram por abscessos.

Aos animais constatados com a presença de abscessos, o serviço de

inspeção estadual age para a condenação do órgão, o que gera perdas

econômicas advindas da diminuição do rendimento da carcaça, ou da

Figura 2. Reação vacinal pós-vacinação

contra febre aftosa. Foto: Brunna G. V. de

Lima & Rinaldo Viana; Biotério Unidade de

Bubalinocultura Leitera Eva Daher Abufaiad

(BUBAli-ISPA/Ufra)

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 28

vísceras não comercilalização pela condenação e descarte.7 No Brasil, a

ocorrência de lesões, por aplicações medicamentosas e/ou vacinas,

identificadas durante o processo de desossa das carcaças, após inspeção

na linha de abate, causa uma perda anual de US$ 11,3 milhões8.

Quanto aos abscessos externos, estes também causam danos ao

produtor, prejudicando a comercialização do couro,

que possui relevada

influência na indústria de

calçados e roupas. O

incômodo causado pelos

abscessos também

prejudica o bem-estar

animal e afeta sua

produtividade.

Tratamento dos abscesso

O procedimento

mais recomendado é a

drenagem cirúrgica dos

abscessos, e esses

devem ser tratados

como feridas abertas4,

realizando cuidados

necessários para evitar

uma nova

contaminação.

Importante associar a

utilização de anti-

inflamatórios e

antibióticos nos casos

em que haja

necessidade

Considerações finais

As perdas econômicas são consideráveis quando ocorrem abscessos e

granulomas pós-vacinais, que estão entre as maiores causas de descarte de

órgãos específicos como fígado e rim e condenação de carcaças, gerando

prejuízos na indústria de alimentos, calçados e roupas.

Abscesso pós-reação vacinal em bovinos submetidos

a vacinação contra febre aftosa. Foto: Rinaldo B.

Viana. São Francisco do Pará/PA

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 29

Referências

1 Júnior, J.D.B. L., Garcia, A.R.; "Panorama da bubalinocultura na Amazônia. "Embrapa

Amazônia Oriental-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: Encontro internacional da

pecuária da Amazônia, 1, 2008, Belém, PA. Meio ambiente e pecuária:[anais]. Belém, PA:

FAEPA; Instituto Frutal; SEBRAE-PA, 2008., 2009.[citado 18 Jan 2016] Disponível em:

http://www.cienciaanimal.ufpa.br/CA_selecao/M/2011/biblio/LourencoJr_e_Garcia.PDF

2 MAPA – Ministério da Agricultura, pecuária e abastecimento[Internet]. Brasil: MAPA; [citado

em 18 Jan de 2016]. Ministério da Agricultura [1 página]. Disponível em:

http://www.agricultura.gov.br/animal/especies/bovinos-e-bubalino

3 CANAL RURAL, Exportação de gado vivo do Pará representa 98% das vendas do país.

2013, [atualizado em 14 Nov 2014, concluído em 19 Jan 2016], 1 pag, 2013. [Disponível em

http://www.canalrural.com.br/noticias/pecuaria/exportacao-gado-vivo-para-representa-

das-vendas-pais-27310

4 Fioravanti, M. C. S., da Silva, L. A. F., Moreira, P. C., de Sá Jayme, V., Borges, G. T., & de

Oliveira, N. M. Tratamento de abscessos subcutâneos com ácido metacresolsulfônico

associado à nitrofurazona e à aplicação parenteral de enrofloxacina. Pesquisa

Agropecuária Tropical. 2007, 26(2), 1-7, [ citado em 18 Jan 2016]. Dísponível para download.

5 Boelter, R.; Magalhães, H. M.. Elementos de terapêutica veterinária. 2 ed. Porto Alegre:

Sulina, 1987 [17 Jan de 2016],164

6 BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regulamento da inspeção

industrial e sanitária de produtos de origem animal- RIISPOA. Rio de Janeiro, 1952. Disponível

em:

http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/Aniamal/MercadoInterno/Requisitos/Regulame

ntoInspecaoIndustrial.pdf

7 Barreto, S. D. B, et al. "Principais causas de condenação de órgão de bovinos abatidos no

matadouro municipal de pilão arcado–Bahia." XIII Jornada de ensino, pesquisa e extensão.

2013 [citado em 18 Jan 2016]. Disponível em:

http://www.eventosufrpe.com.br/2013/cd/resumos/R1409-1.pdf

8 Moro, E.; Junqueira, J. O. B. Levantamento da incidência de reações vacinais e/ou

medicamentosas em carcaças de bovinos ao abate em frigoríficos no Brasil. A Hora

Veterinária, 1999, [citado em 18 de Jan de 2016]; (19),112: 74-77. Disponível em:

http://cloud.cnpgc.embrapa.br/bpa/files/2013/02/Levantamento-da-incid%C3%AAncia-de-

rea%C3%A7%C3%B5es-vacinais.doc

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 30

Entrevista LiveS. 2016; 1: 30 – 36

Dr. Arnaldo Naves Nunes & Dr. Daniel Carisio Médicos Veterinários

Entrevista à Brunna Vidal1 & Rinaldo B. Viana2 1Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra; Bolsista IC Pibic/CNPq-Ufra

[email protected] 2Tutor Grupo PETVet SESu-MEC; Prof. Dr. ISPA/Ufra

LiveS. O que é um EPE? Há legislação específica um estabelecimento dessa

natureza? Descreva-nos a infraestrutura de um EPE.

Dr. Arnaldo Naves Nunes & Dr. Daniel Carisio. EPEs são Estabelecimentos Pré-

Embarque criados a partir da publicação da Instrução Normativa 13, de 30

de março de 2010 do Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento

(MAPA/BRASIL). Esses estabelecimentos servem para que os animais fiquem

por no mínimo 24 horas antes do embarque, para que possam se alimentar,

ingerir água e se recuperar do transporte. Os animais são acompanhados

por Médico Veterinário (Responsável Técnico) da empresa exportadora e

vistoriados por Fiscais Agropecuários Federais do MAPA e Estaduais da

Manejo de bovinos de corte em EPEs

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 31

Agencia de Defesa do Estado do Pará (Adepará) antes de serem

embarcados.

LiveS Descreva-nos a infraestrutura de um EPE.

Dr. Arnaldo Naves Nunes & Dr. Daniel Carisio. Para aprovação pelo MAPA, o EPE

deve estar situado, em relação ao local de embarque, a uma distância que

não implique uma jornada superior a oito horas de transporte por via

rodoviária, e dispor, no mínimo, do que segue: (Redação dada pela

Instrução Normativa 53/2011/MAPA)

I. Equipamento e local adequado para limpeza e desinfecção de

veículos; (Revogado pela Instrução Normativa 53/2011/MAPA);

II. Alimentação de qualidade e na quantidade suficiente;

III. Currais, brete e tronco de contenção adequados ao manejo dos

animais;

IV. Instalações individuais ou coletivas - estábulos ou pastos -, construídos

de forma a assegurar que o estresse aos animais seja o mínimo possível

durante o período de sua permanência;

V. Pastos com drenagem adequada e, no caso de instalações cobertas,

drenagem e ventilação adequadas;

VI. Comedouros para os animais, em tamanho adequado e na

quantidade necessária;

VII. Local para armazenamento de forragem e outros alimentos para os

animais, quando necessário;

VIII. Instalações para o fornecimento de água limpa e de qualidade;

IX. Alojamento para os empregados do estabelecimento;

X. Acesso controlado para veículos e pessoas;

XI. Médico veterinário habilitado como Responsável Técnico (RT) para o

exercício profissional na Unidade da Federação onde se situa o

estabelecimento.

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 32

Todo EPE deve

possuir currais de

manejo com pisos

de fácil

higienização,

fornecimento de

água ad libitum

em bebedouros

artificiais, controle

da entrada de

veículos com

lavador e

rodolúvio para

sua desinfecção,

cochos para suplementação dos animais e adequada infraestrutura para

armazenamento de alimentos. As áreas de aguadas naturais e reservas

devem cercadas para os animais não tenham acesso.

LiveS. Quais os primeiros passos tomados logo após o desembarque dos

animais em uma EPE?

Dr. Arnaldo Naves Nunes & Dr. Daniel Carisio. No momento do desembarque é

conferida a quantidade de animais, sendo os mesmos, inspecionados

quanto a ocorrência de alguma lesão de transporte ou de origem. Em

seguida são apartados os lesionados, sendo a posteriori tratados, conforme

recomendações do Veterinário da empresa exportadora.

LiveS. Como se dá o manejo dos animais, sobretudo na tentativa de

minimizar o estresse durante o desembarque, permanência e reembarque

no EPE?

Dr. Arnaldo Naves Nunes & Dr. Daniel Carisio. Os animais são pesados e

apartados segundo exigência do clientes importadores. São direcionados

para os pastos ou piquetes do confinamento conforme seu suporte ou

capacidade, visando sempre o bem-estar dos animais. No momento do

embarque, os animais são trazidos de acordo com a quantidade que serão

embarcados naquela hora, permanecendo o mínimo de tempo no curral.

Animais que apresentam alguma lesão ou enfermidade são separados para

posterior tratamento. Todos os animais são manejados conforme premissas

Limpeza de currais em EPE, Estado do Pará

Foto: Rinaldo B. Viana

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 33

de bem-estar animal e todos os colaboradores recebem treinamento

anualmente para tal atividade.

LiveS. As

instalações e

infraestrutura

física do EPE,

podem

contribuir nas

condições de

bem-estar

animal dos

animais?

Dr. Arnaldo

Naves Nunes &

Dr. Daniel

Carisio. Todas

as instalações

e Infraestrutura

física do EPE

são construídos com intuito de otimizar o manejo dos animais, minimizando

condições estressantes e promovendo bem-estar animal. Devem ser, sempre,

projetadas por especialistas na área.

LiveS. Quanto às práticas como a vacinação, controle de ecotoparasitas e

diagnósticos de enfermidades como ocorrem? Existe um período para serem

realizadas? Elas são práticas obrigatórias?

Dr. Arnaldo Naves Nunes & Dr. Daniel Carisio. As práticas de vacinação, controle

de ectoparasitas e diagnósticos de enfermidades são feitas conforme as

exigências especificadas no Certificado Zoosanitário Internacional (CZI). O

CZI é um acordo bilateral no qual os países importadores e exportadores

estabelecem os parâmetros sanitários para a exportação. Sendo assim para

cada país existe uma exigência diferenciada.

LiveS. Quanto à alimentação dos animais, há alguma restrição? Como ela é

feita?

Dr. Arnaldo Naves Nunes & Dr. Daniel Carisio. Não são permitidos na

alimentação a utilização de produtos de origem animal conforme Instruções

Currais anti-estresse em EPE, Estado do Pará, Foto: Rinaldo B. Viana

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 34

Normativas do MAPA e CZI. A dieta dos animais em confinamento são

balanceadas conforme a categoria e peso sendo com objetivo de

maximizar o consumo individual para obter o maior ganho de peso possível.

A dieta é constituída de milho grão ou sorgo grão (fonte energética), farelo

de soja ou torta de algodão (fonte proteica), silagem de milho ou capim

picado ou cana-de-açúcar picada ou bagaço de cana (fonte forrageiro) e

núcleo mineral. Esse

alimentos são

processados quando

necessário (moagem),

misturados em vagões

forrageiros

misturadores móveis

ou estacionários e

finalmente distribuídos

nos cochos. Os

animais mantidos à

pasto tem como base

da alimentação a

pastagem e

suplementação

mineral ou proteica-

energética.

LiveS. Quais os

cuidados pré-

embarque devem ser

tomados com os

animais?

Dr. Arnaldo Naves

Nunes & Dr. Daniel

Carisio. Os animais

devem ser vistoriados

antes do embarque

sendo retirados os animais lesionados e com baixo escore de condição

corporal (ECC), sendo embarcados apenas os animais saudáveis que

suportarem a viagem.

Controle de ecotoparasitoses em EPE, Estado do Pará

Foto: Rinaldo B. Viana

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 35

LiveS. Existe uma ordem estabelecida para facilitar o embarque dos animais?

(Quais animais são embarcados primeiro? O peso, idade e sexo possuem

relevância?)

Dr. Arnaldo Naves Nunes & Dr. Daniel Carisio. Geralmente são embarcados os

animais pesados e mais velhos primeiros por questão de estabilidade do

navio e por ficarem mais tempo embarcados.

LiveS. Em Outubro de 2015, na Vila do Conde em Barcarena/PA um navio de

bandeira libanesa que levaria 5000 cabeças de gado à Beirute naufragou,

levando os animais a óbito e resultando em acidente catastrófico não

somente com a morte dos animais, mas também com a contaminação

ambiental do local e adjacências pelas carcaças de animais mortos e óleo

que vazou do navio naufragado. Na sua opinião é seguro esse tipo de

transporte para animais vivos? Qual o papel do médico veterinário na

situação apresentada? Como fica a situação do fazendeiro e exportadora

com as perdas econômicas?

Dr. Arnaldo Naves Nunes & Dr. Daniel Carisio. Sim, o transporte marítimo para

animais vivos é seguro, infelizmente foi uma fatalidade. O papel do

veterinário é verificar as condições de acomodamento dos animais no navio,

condições de fornecimento de água e alimentos, higiene das instalações e

Cochos para alimentação animal em EPE, Estado do Pará Foto: Rinaldo B. Viana

Livestock and Small Animals Medicine Journal. Volume 1, Jan. – Jun., 2016 36

bem-estar animal, funções essas realizadas pelo Fiscal Agropecuário Federal

do VIGIAGRO/MAPA. Também possuem a função de verificar as condições

dos veículos de transporte do EPE para o porto realizado pelo Responsável

Técnico Veterinário da empresa exportadora. Uma tragédia dessa afeta não

somente os fazendeiros e as exportadoras mas toda a economia local da

atividade como os fornecedores de insumos, transportadoras de bovinos,

caminhoneiros e funcionários. Hoje a exportação de bovinos vivos serve

como opção de venda para os pecuaristas de todo o Estado do Pará,

ajudando a balizar melhor os preços da arroba do boi, além de gerarem

empregos e divisas para o país.