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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE IGOR RASEC BATISTA DE AZEVEDO CIRCUITO ESPACIAL DA PRODUÇÃO TÊXTIL NO SERIDÓ POTIGUAR: As especificidades do ramo de artefatos domésticos Natal-RN 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

IGOR RASEC BATISTA DE AZEVEDO

CIRCUITO ESPACIAL DA PRODUÇÃO TÊXTIL NO SERIDÓ POTIGUAR:

As especificidades do ramo de artefatos domésticos

Natal-RN

2017

IGOR RASEC BATISTA DE AZEVEDO

CIRCUITO ESPACIAL DA PRODUÇÃO TÊXTIL NO SERIDÓ POTIGUAR: As especificidades do ramo de artefatos domésticos

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestre, com área de concentração em Dinâmica Socioambiental e Reestruturação do Território. Orientador: Prof. Dr. Francisco Fransualdo de Azevedo

Natal-RN 2017

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

Azevedo, Igor Rasec Batista de.

Circuito espacial da produção têxtil no Seridó Potiguar: as

especificidades do ramo de artefatos domésticos / Igor Rasec Batista de Azevedo. - 2017.

243f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de

Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Francisco Fransualdo de Azevedo.

1. Produção têxtil (Rio Grande do Norte). 2. Seridó Potiguar.

3. Território. 4. Rio Grande do Norte. I. Azevedo, Francisco

Fransualdo de. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 658.5(813.2)

IGOR RASEC BATISTA DE AZEVEDO

CIRCUITO ESPACIAL DA PRODUÇÃO TÊXTIL NO SERIDÓ POTIGUAR: As especificidades do ramo de artefatos domésticos

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestre, com área de concentração em Dinâmica Socioambiental e Reestruturação do Território.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Prof. Dr. Francisco Fransualdo de Azevedo – Presidente

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________ Prof. Dr. Magno Vasconcelos Pereira Junior – Examinador Externo à Instituição

Universidade de Barcelona

______________________________________________ Prof. Dr. Celso Donizete Locatel – Examinador Interno

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família, em

especial ao meu Pai e minha Mãe, fontes

das quais bebi minha inspiração

acadêmica, pelo apoio irrestrito e pela

cumplicidade cotidiana.

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente e sobre todas as coisas, a Deus, por ter me

concedido raízes, por meio de uma linha existencial transcendental, para enfrentar as

turbulências e adversidades do caminho. Sou-lhe grato, sobretudo, por ter nutrido meu

terreno acadêmico, junto a intercessão de minha padroeira, Nossa Senhora dos

Aflitos, com serenidade, força, sabedoria e paz.

Agradeço a toda a minha Família, sobretudo ao meu pai, minha mãe e minha

irmã. Passei a compreender essa Instituição através de seu significado mais pleno,

que não é o da pretensa moral tradicional e patriarcal, mas principalmente o da

cumplicidade compartilhada por meio de laços fraternos. Sou profundamente grato ao

meu pai e a minha mãe por muitas vezes terem abdicado de gozar dos próprios planos

para objetiva-los em mim e na minha irmã. Obrigado pai por ter acreditado no meu

carisma para com as ciências humanas e o ter fomentado tão de perto. Obrigado mãe

pela humildade com a qual dialoga comigo e me faz aprender em todos os momentos,

inclusive nos silêncios. Em nome de todos os meus tios, primos e demais familiares,

gostaria de agradecer a minha tia Alexandra pela empreitada conjunta em terras

caicoenses. Agradeço ao meu Orientador, Prof. Dr. Fransualdo Azevedo, por todos os

ensinamentos e por me acolher de maneira tão cordial na vida acadêmica e nesse

território de complexidades que é a Universidade. Lhe sou grato, ademais, por ter

podido compartilhar, durante esses dois anos, de seu profundo conhecimento sobre o

Seridó, o Rio Grande do Norte, o país e o mundo, assim como sobre o aporte teórico

do espaço geográfico.

Agradeço a minha amada namorada, e colega desde os tempos de graduação,

por estar e se fazer sempre presente nos momentos dos mais felizes aos mais

importunos. Gostaria de ratificar meu sentimento de que todas as aulas, todas as

noites de estudo, teriam sido muito mais enfadonhas sem você, minha princesa, assim

como lhe agradecer, e por extensão agradecer a tua família, por acreditar tanto em

mim e me fazer ser a cada dia uma pessoa melhor.

Agradeço a todos os meus colegas da Pós-Graduação pela amizade, pelas

discussões e, sobretudo, pelo aprendizado advindo de nossa convivência dialógica.

Gostaria de agradecer, em especial, aos amigos Cleanto, Anderson e Arlindo pelo

companheirismo e pelos laços que levarei para o resto da vida. Também sou grato a

Eduardo, sobretudo pelas contribuições no processo de conclusão do trabalho. Me

congratulo, ainda, a Iuri pela diligência com a qual contribuiu para este trabalho.

Agradeço aos agentes de minha pesquisa, principalmente aos empresários

têxteis de Jardim de Piranhas, Caicó e Currais Novos que puderam me receber, assim

como ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

(IFRN) – Campus Caicó, ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas do Rio Grande do Norte (SEBRAE/RN) – unidade de Caicó, e a

Superintendência Regional do Trabalho do Rio Grande do Norte pelas informações e

materiais disponibilizados.

Agradeço a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e ao Programa de

Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia por acolher e acreditar em minha proposta

de trabalho, em especial aos professores Celso Locatel, Aldo Dantas, Ademir Costa e

Edna Furtado por terem ajudado a lapidar meus conhecimentos, bem como pela

disponibilidade e solicitude durante as disciplinas cursadas.

Agradeço a Fundação CAPES, em especial, ao Programa de Demanda Social,

pelo fomento da pesquisa. Gostaria, também, de demonstrar minha gratidão pelas

políticas de expansão, qualitativa e quantitativa, da educação e da pesquisa,

realizadas nos últimos 13 anos pelo Governo Federal, das quais pude compor a

segunda geração de minha família que delas se beneficiaram diretamente. Não

poderia deixar de registar, outrossim, o meu constrangimento e a minha mais profunda

indignação diante da ruptura velada, mas não menos violenta, que perpetrou

recentemente as Intuições do Estado democrático de Direito em nosso país.

Agradeço a minha orientadora de graduação, Profa. Maria Luiza Galvão, em

nome do Núcleo de Pesquisas e Estudos Geográficos (NUPEG) e do Instituto Federal

de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, pelo alicerce de

conhecimentos que me possibilitaram ingressar na Pós-Graduação.

“O espaço é que reúne a todos, com suas

múltiplas possibilidades, que são

possibilidades diferentes de uso do espaço

(do território) relacionadas com

possibilidades diferentes de uso do tempo.”

Milton Santos (1926-2001).

A Natureza do Espaço. 4. ed. São Paulo: Edusp, 2012, p. 160.

“O espaço que, para o processo produtivo,

une os homens, é o espaço que, por esse

mesmo processo produtivo, os separa.”

Milton Santos (1926-2001).

Pensando o Espaço do Homem. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2004a, p. 33.

RESUMO

A produção de artefatos têxteis distribui-se espacialmente no Rio Grande do Norte de

modo concentrado nas regiões Metropolitana de Natal e Seridó Potiguar. Esta última

abriga, aproximadamente, metade das unidades produtivas do estado, onde se

destaca o ramo de artefatos domésticos. A atividade concentra-se, outrossim, no

interior da própria região, sobretudo em sua porção ocidental, nos municípios de

Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas, cuja estrutura produtiva baseia-se em

tecnologias obsoletas, em relação aos processos produtivos baseados em um elevado

grau de capitalização, com a origem local ou regional do capital e uso intensivo de

mão de obra barata e pouco qualificada. Diante do exposto, o presente trabalho tem

como questionamento central: como uma atividade com as características da

produção de artefatos têxteis no Seridó Potiguar consegue lograr inserção na

dinâmica atual dos circuitos espaciais produtivos e coexistir com os sistemas técnicos

de ordem planetária? Desse modo, busca-se analisar o uso do território pelo circuito

espacial produtivo têxtil, com ênfase na produção de artefatos domésticos a partir dos

processos, dinâmica e conteúdo desta na região do Seridó Potiguar. Para o

desenvolvimento da pesquisa, realizou-se revisão bibliográfica, sobretudo a partir de

Andrade (1981), Arroyo (2008), Azevedo (2007, 2013), Barrios (2014), Castillo e

Frederico (2010), Furtado (1969), Marx (1990, 2011), Moraes (1984), Santos (2012) e

Silveira (2010b). Ademais, adotaram-se procedimentos teórico-metodológicos de

coleta e sistematização de dados, baseados nas técnicas de pesquisa documental,

pesquisa de campo – na qual executou-se a aplicação de entrevistas com base em

roteiros semiestruturados e formulários – articulada com uma base estatística.

Constatou-se, através da pesquisa, que, tratando-se do circuito espacial da produção

de artefatos têxteis no Seridó Potiguar, os fluxos de matéria-prima são oriundos

principalmente da própria região Nordeste, materializando a existência de monopólio

no fornecimento desses bens, controlado por empresas do Ceará com filiais no Rio

Grande do Norte. Os fluxos do consumo produtivo de máquinas e equipamentos são

oriundos exclusivamente da região concentrada, notadamente de São Paulo. Por

outro lado, o consumo consuntivo é marcadamente pulverizado, abrangendo

sobretudo o Nordeste, e, com menor expressão, as regiões Norte e Sudeste. Foi

possível depreender, outrossim, que o processo de circulação é completamente

alienado, haja vista que as firmas locais detêm uma capacidade relativa de produção,

todavia, por ocuparem posições subalternas no território, não detêm poder de

mercado suficiente para realizar o seu controle, outorgando-lhe a ação de

atravessadores. Nessa esfera, a união vertical dos lugares se sobrepõe em grande

medida aos nexos horizontais coadunados ao uso produtivo do território do Seridó

Potiguar. Considera-se que a baixa coesão social e produtiva entre os agentes do

ramo têxtil verificada no referido recorte se dá pela ausência, em certa medida

proposital, do Estado, enquanto promotor de políticas públicas, e em detrimento do

desenvolvimento da própria atividade na região. As acanhadas iniciativas do Poder

Público insistem em pensar os ramos produtivos isoladamente, e não o território usado

como um todo, isso quando não legam, arbitrariamente, o seu papel aos interesses

corporativos.

Palavras-chaves: Circuito espacial da produção de artefatos têxteis; Seridó Potiguar;

Território; Rio Grande do Norte.

ABSTRACT

The production of textile artifacts is spatially distributed in the state of Rio Grande do

Norte in a way that it is concentrated in the metropolitan area of Natal and in the Seridó

Potiguar region. The later houses 49% of the total of production units of the State, with

emphasis on the domestic utensils field (FIERN, 2017). The activity is likewise

concentrated within the region itself, especially in its western half, in the municipalities

of Caicó, Currais Novos and Jardim de Piranhas. Their productive structure is based

on obsolete techniques and technologies, with the origin of the capital being local or

regional and intensive use of cheap and low-skilled labour. In view of the above, the

present study has as central question: how can an activity with the characteristics of

the production of textile artefacts in Seridó Potiguar be successfully inserted in the

current dynamics of spatial circuits of production and, moreover, coexist with the

hegemonic technical systems of planetary order? Therefore, the aim is to analyze the

use of the territory by the spatial circuit of textile production, with emphasis on the

production of domestic utensils, through its processes, dynamics and content in the

region of the Seridó Potiguar. For the development of the research, a bibliographical

review was carried out, mainly from Andrade (1981), Arroyo (2008), Azevedo (2007,

2013), Barrios (2014), Castillo and Frederico (2010), Furtado (1969), Marx (1990,

2011), Moraes (1984), Santos (2012) and Silveira (2010b). Furthermore, some

theoretical and methodological procedures were adopted to collect and systematize

data, based on the techniques of documentary research, field research - in which

interviews were executed based on semi-structured scripts and forms - articulated with

a spatial descriptive statistical baseline. It was determined, through the research, that

in the spatial of production of textile artefacts in Seridó Potiguar, the raw material flow

derives mainly from the Northeast region itself, materializing the existence of a

monopoly, in these assets supply, controlled by companies from Ceará with

subsidiaries in Rio Grande do Norte. The machine's productive consumption flow and

equipment comes exclusively from the Concentrated Region, notably from São Paulo.

Conversely, the consumptive consumption is markedly sprayed, embracing mainly the

Northeast and, in a lesser extent, the North and Southeast region. It was possible to

conclude that the circulation process is completely alienated, considering that local

companies have a relative capacity of production, however, as they occupy subaltern

positions in the territory, they do not own market power to hold their control, awarding

themselves the middlemen action. In this field, the places vertical union overlaps to a

great extent to the horizontal links with the productive use of the Seridó Potiguar

territory. Considering that the low social and productive cohesion between the textile

field agents verified in the mentioned cut by means of the absent, to a certain extent,

of the State, as a public policies promoter, and in detriment of the development of the

activity itself in the region. The shy initiatives of the Public Power insists on thinking

about the productive branches in isolation, and not the territory used as a whole, when

they do not arbitrarily transfer their role to the corporative interests.

Keywords: Spatial circuit of production of textile artefacts; Seridó Potiguar; Territory;

Rio Grande do Norte.

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Organograma da relação entre categorias analíticas e matrizes teórico-

conceituais ................................................................................................................ 38

Figura 02 - Os processos produtivos do circuito espacial da produção têxtil .......... 143

Figura 03 - Principais segmentos do circuito espacial da produção têxtil ............... 144

Figura 04 - Fluxograma das etapas da produção de artefatos têxteis ..................... 145

Figura 05 - Principais segmentos do circuito espacial da produção de artefatos

têxteis no Seridó Potiguar ....................................................................................... 146

Figura 06 - Estruturas têxteis dos tecidos plano, de malha e tecido não tecido ...... 147

Figura 07 - Fios de trama, fios de urdume e ourela ................................................. 148

Figura 08 - Movimentos básicos do tear ................................................................. 155

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 01 - Fio de algodão 8/1, principal matéria-prima da fabricação de artefatos

têxteis para uso doméstico ...................................................................................... 149

Fotografia 02 - Disposição das embalagens dos fios de algodão ........................... 150

Fotografia 03 - Disposição das embalagens dos fios de algodão ........................... 150

Fotografia 04 - Roletes onde são depositados os fios durante o urdimento ............ 150

Fotografia 05 - Trabalhador executando urdimento para tecelagem de redes de

dormir e de mantas, em fundo de quintal. ............................................................... 151

Fotografia 06 - Urdideira visualizada lateralmente .................................................. 151

Fotografia 07 - Urdideira visualizada frontalmente .................................................. 152

Fotografia 08 - Urdimento para tecelagem de tapetes, executada em fundo de quintal

................................................................................................................................ 152

Fotografia 09 - Urdimento para tecelagem de toalhas ............................................ 153

Fotografia 10 - Roletes de fios preenchidos para a produção de toalhas de banho 154

Fotografia 11 - Rolete de fios preenchidos para a produção de toalhas de prato ... 154

Fotografia 12 - Exemplares de teares com lançadeira produzindo tecidos crus, para

confecção de toalhas de prato ................................................................................ 156

Fotografia 13 - Exemplar de tear com pinça produzindo tecido cru, para confecção

de toalhas de prato .................................................................................................. 157

Fotografia 14 - Exemplar de tear com lançadeira produzindo tapetes .................... 157

Fotografia 15 - Exemplar de tear com pinça produzindo toalhas de banho ............ 157

Fotografia 16 - Exemplar de lançadeira .................................................................. 158

Fotografia 17 - Exemplar de espuladeira, com destaque para as espulas sendo

preenchidas ............................................................................................................. 159

Fotografia 18 - Espulas preenchidas e preparadas para a tecelagem .................... 159

Fotografia 19 - Roletes com tecido cru prestes a serem alvejados ......................... 160

Fotografia 20 - Tecido de algodão em processo de alvejamento ............................ 162

Fotografia 21 - Espaço destinado para secagem dos substratos têxteis ................ 163

Fotografia 22 - Estabelecimento localizado no Seridó Potiguar voltado ao

beneficiamento de substratos têxteis ...................................................................... 164

Fotografia 23 - Execução de corte manual em substrato têxtil para fabricação de

toalhas de prato ....................................................................................................... 166

Fotografia 24 - Execução de costura em substratos têxteis para fabricação de

toalhas de prato ....................................................................................................... 166

Fotografia 25 - Acervo de instrumentos de estamparia ........................................... 167

Fotografia 26 - Execução de serigrafia para confecção de toalhas de prato ........... 168

Fotografia 27 - Varais de secagem de toalhas de prato .......................................... 168

Fotografia 28 - Varais de secagem de toalhas de prato .......................................... 168

Fotografia 29 - Operação de colagem de tecido com tecido não tecido .................. 170

Fotografia 30 - Exemplar de máquina de bordado industrial em operação ............. 171

Fotografia 31 - Profissional trabalhando na customização de ilustrações para Bonés

................................................................................................................................ 171

Fotografia 32 - Enxovais infantis bordados artesanalmente, confeccionados e

comercializados no Seridó Potiguar ........................................................................ 172

Fotografia 33 - Toalhas de banho, com destaque para os bordados ...................... 173

Fotografia 34 - Estabelecimentos especializados em suprimentos têxteis .............. 184

Fotografia 35 - Estabelecimentos especializados em suprimentos têxteis .............. 184

Fotografia 36 - Costureira realizando confecção de tapetes na área de sua

residência ................................................................................................................ 185

Fotografia 37 - Aspecto de unidade produtiva localizada em extensão ao

estabelecimento domiciliar ...................................................................................... 186

Fotografia 38 - Aspecto geral da Feira da Pedra em São Bento (PB), 2010 ........... 216

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 - Situação das unidades produtivas consultadas ..................................... 54

Gráfico 02 - Série histórica do valor adicionado bruto por setor da economia no RN

(1920-2000), em valores absolutos a preços básicos (R$) do ano 2000 .................. 68

Gráfico 03 - Série histórica do valor adicionado bruto pela Indústria no RN (1920-

2010), em valores absolutos a preços básicos (R$) do ano 2000 ............................. 69

Gráfico 04 - Série histórica do valor adicionado bruto por setor da indústria no RN

(1985-2009), em valores absolutos a preços básicos (R$) do ano 2000 .................. 70

Gráfico 05 - Série histórica do valor adicionado bruto a preços correntes por setor da

economia no RN (2002-2014), em valores absolutos (referência 2010) ................... 71

Gráfico 06 - Série histórica do valor adicionado bruto a preços correntes por setor da

economia no RN (2002-2014), em valores relativos (referência 2010) ..................... 71

Gráfico 07 - Percentual do valor adicionado bruto a preços correntes por setor da

economia no RN em 2014 (referência 2010)............................................................. 72

Gráfico 08 - Percentual do número de empresas por ramo da atividade têxtil no RN

.................................................................................................................................. 75

Gráfico 09 - Percentual do número de funcionários por ramo da atividade têxtil no

RN ............................................................................................................................. 75

Gráfico 10 - Percentual dos portes das empresas do ramo têxtil (global) no RN ...... 76

Gráfico 11 - Percentual do número de empresas por ramo da atividade têxtil no

Seridó Potiguar .......................................................................................................... 77

Gráfico 12 - Percentual do número de funcionários por ramo da atividade têxtil no

Seridó Potiguar .......................................................................................................... 77

Gráfico 13 - Percentual dos portes das empresas do ramo têxtil (global) no Seridó

Potiguar ..................................................................................................................... 77

Gráfico 14 - Percentual do número empresas do ramo têxtil (global) no Seridó

Potiguar em relação ao total do estado ..................................................................... 78

Gráfico 15 - Percentual do número funcionários do ramo têxtil (global) no Seridó

Potiguar em relação ao total do estado ..................................................................... 78

Gráfico 16 - Percentual das atividades primárias do ramo de confecção e vestuário

no RN por número de empresas ............................................................................... 79

Gráfico 17 - Percentual das atividades primárias do ramo de confecção e vestuário

no RN por número de funcionários ............................................................................ 80

Gráfico 18 - Percentual dos portes das empresas do ramo de confecção e vestuário

no RN ........................................................................................................................ 81

Gráfico 19 - Percentual das atividades primárias do ramo de confecção e vestuário

no Seridó Potiguar por número de empresas ............................................................ 82

Gráfico 20 - Percentual das atividades primárias do ramo de confecção e vestuário

no Seridó Potiguar por número de funcionários ........................................................ 83

Gráfico 21 - Percentual dos portes das empresas do ramo de confecção e vestuário

no Seridó Potiguar ..................................................................................................... 83

Gráfico 22 - Percentual do número empresas do ramo de confecção e vestuário no

Seridó Potiguar em relação ao total do estado.......................................................... 84

Gráfico 23 - Percentual do número funcionários do de confecção e vestuário no

Seridó Potiguar em relação ao total do estado.......................................................... 84

Gráfico 24 - Variedade de produtos fabricados no ramo de confecção e vestuário,

segundo a frequência de citações por empresas do RN ........................................... 85

Gráfico 25 - Principais segmentos do ramo de confecção e vestuário, segundo a

frequência de citações por empresas do RN............................................................. 86

Gráfico 26 - Principais serviços atrelados ao ramo de confecção e vestuário,

segundo a frequência de citações por empresas do RN ........................................... 87

Gráfico 27 - Percentual das atividades primárias do ramo de artefatos domésticos no

RN por número de empresas .................................................................................... 92

Gráfico 28 - Percentual das atividades primárias do ramo de artefatos domésticos no

RN por número de funcionários ................................................................................. 93

Gráfico 29 - Percentual dos portes das empresas do ramo de artefatos domésticos

no RN ........................................................................................................................ 94

Gráfico 30 - Percentual das atividades primárias do ramo de artefatos domésticos no

Seridó Potiguar por número de empresas ................................................................. 95

Gráfico 31 - Percentual das atividades primárias do ramo de artefatos domésticos no

Seridó Potiguar por número de funcionários ............................................................. 96

Gráfico 32 - Percentual dos portes das empresas do ramo de artefatos domésticos

no Seridó Potiguar ..................................................................................................... 97

Gráfico 33 - Percentual do número empresas do ramo de artefatos domésticos no

Seridó Potiguar em relação ao total do estado.......................................................... 98

Gráfico 34 - Percentual do número funcionários de artefatos domésticos no Seridó

Potiguar em relação ao total do estado ..................................................................... 98

Gráfico 35 - Variedade de produtos fabricados no ramo de artefatos domésticos,

segundo a frequência de citações por empresas do RN ........................................... 99

Gráfico 36 - Principais insumos/bens intermediários do ramo têxtil, segundo a

frequência de citações por empresas, fabricados no RN ........................................ 100

Gráfico 37 - Histograma da fundação por decênio das empresas do ramo de

artefatos domésticos do Seridó Potiguar ................................................................. 130

Gráfico 38 - Histograma da fundação por decênio das unidades produtivas da

Indústria do Seridó Potiguar .................................................................................... 131

Gráfico 39 - Percentuais das atividades produtivas terceirizadas, segundo o

SEBRAE/RN (2008) ................................................................................................ 175

Gráfico 40 - Tipos de urdideiras .............................................................................. 179

Gráfico 41 - Tipos de espuladeiras .......................................................................... 180

Gráfico 42 - Capacidade instalada no Brasil de máquinas de tecelagem em 1999. 181

Gráfico 43 - Tipos de máquinas de costura ............................................................. 183

Gráfico 44 - Grau de importância da estocagem na produção ................................ 188

Gráfico 45 - Estoque de capital humano em R$ nos municípios de Caicó, Currais

Novos e Jardim de Piranhas nos anos 1980, 1991 e 2000 (a preços do ano 2000)

................................................................................................................................ 189

Gráfico 46 - Distribuição percentual da mão de obra empregada formalmente entre

os municípios da amostra ....................................................................................... 191

Gráfico 47 - Principais formas de transporte da matéria-prima utilizadas ............... 211

Gráfico 48 - Formas de divulgação das unidades produtivas de Jardim de Piranhas-

RN aos seus clientes ............................................................................................... 215

LISTA DE MAPAS

Mapa 01 - Localização dos municípios da região do Seridó Potiguar historicamente

construída.................................................................................................................. 27

Mapa 02 - Distribuição do número de empresas e de funcionários do vestuário no

Rio Grande do Norte ................................................................................................. 90

Mapa 03 - Distribuição do número de empresas e de funcionários de artefatos têxteis

no Rio Grande do Norte .......................................................................................... 103

Mapa 04 - Distribuição espacial das tipologias do circuito espacial da produção têxtil

no Rio Grande do Norte .......................................................................................... 109

Mapa 05 - Localização dos municípios do Seridó Potiguar com unidades produtivas

de artefatos têxteis .................................................................................................. 134

Mapa 06 - Origem dos equipamentos e da matéria-prima ...................................... 207

Mapa 07 - Destino da produção .............................................................................. 219

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Síntese dos procedimentos metodológicos da pesquisa de campo ...... 44

Quadro 02 - Síntese dos blocos de aplicação de entrevista semiestruturada ........... 49

Quadro 03 - Síntese do bloco de aplicação de formulário ......................................... 52

Quadro 04 - Síntese dos procedimentos de classificação e organização dos dados

coletados ................................................................................................................... 55

Quadro 05 - Medidas descritivas para as variáveis nº de empresas, nº de

funcionários e porte médio do ramo de confecções e vestuário no RN .................... 88

Quadro 06 - Medidas descritivas para as variáveis nº de empresas, nº de

funcionários e porte médio do artefatos domésticos no RN .................................... 101

Quadro 07 - Medidas descritivas para as variáveis nº de empresas, nº de

funcionários e porte médio do ramo têxtil no RN ..................................................... 105

Quadro 08 - Atividades produtivas realizadas pelas próprias empresas e

terceirizadas ............................................................................................................ 174

Quadro 09 - Artigos produzidos e/ou comercializados por segmentos e por livre

citação ..................................................................................................................... 176

Quadro 10 - Tipos de teares e/ou máquinas de acabamento utilizados na produção

................................................................................................................................ 182

Quadro 11 - Características dos armazéns e grau de importação da estocagem na

produção ................................................................................................................. 187

Quadro 12 - Principais matérias-primas utilizadas na produção, locais de origem e

formas de transporte/deslocamento utilizadas ........................................................ 208

Quadro 13 - Principais locais de origem/aquisição de máquinas e equipamentos, e

suas respectivas formas de manutenção ................................................................ 211

Quadro 14 - Formas de comercialização/distribuição dos artigos ........................... 213

Quadro 15 - Formas de transporte utilizadas na distribuição dos artigos ................ 214

Quadro 16 - Principais locais de destino das mercadorias ...................................... 217

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Municípios do Rio Grande do Norte que mais se destacam em relação

ao ramo de confecções e vestuário ........................................................................... 89

Tabela 02 - Municípios do Rio Grande do Norte que mais se destacam no Circuito

Espacial de Produção de Artefatos têxteis .............................................................. 102

Tabela 03 - Municípios do Rio Grande do Norte que mais se destacam no circuito

espacial da produção têxtil ...................................................................................... 107

Tabela 04 - Principais produtos exportados do RN ................................................. 110

Tabela 05 - Principais produtos importados do RN ................................................. 113

Tabela 06 - Principais países de destino da importação do RN .............................. 116

Tabela 07 - Principais países de destino da exportação do RN .............................. 117

Tabela 08 - Dados mensais de produção, comercialização, preço médio e carteira de

clientes para os produtos das indústrias de tecelagens (valores referentes ao ano de

2007) ....................................................................................................................... 177

Tabela 09 - Número de trabalhadores do ramo de fabricação de produtos têxteis nos

municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas por sexo (2015) ........... 191

Tabela 10 - Número de trabalhadores do ramo de fabricação de produtos têxteis nos

municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas por faixas etárias (2015)

................................................................................................................................ 192

Tabela 11 - Número de trabalhadores do ramo de fabricação de produtos têxteis nos

municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas por subclasses da CNAE

2.0 (2015) ................................................................................................................ 194

Tabela 12 - Tipo de vínculo do pessoal ocupado em Jardim de Piranhas-RN ........ 195

Tabela 13 - Número de trabalhadores do ramo de fabricação de produtos têxteis nos

municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas por faixas de horas

contratadas (2015) .................................................................................................. 197

Tabela 14 - Número de trabalhadores do ramo de fabricação de produtos têxteis nos

municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas por faixas de tempo no

emprego (2015) ....................................................................................................... 198

Tabela 15 - Número de trabalhadores do ramo de fabricação de produtos têxteis nos

municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas por nível de escolaridade

(2015) ...................................................................................................................... 199

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ASISTEX Associação dos Tecelões de Jardim de Piranhas

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CAGED Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas

CENDES Centro de Estudios del Desarrollo da Universidade Central da Venezuela

CNAE Classificação Nacional de Atividades Econômicas

CNEFE Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos

CNPJ Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas

CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social

DRT Delegacia Regional do Trabalho

EPI Equipamento de Proteção Individual

FIERN Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MDIC Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços

MORVEN Metodologia para o Diagnóstico Regional

PB Paraíba

PIB Produto Interno Bruto

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

RAIS Relação Anual de Informações Sociais

RN Rio Grande do Norte

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SECEX Secretaria de Comércio Exterior

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SESI Serviço Social da Indústria

SIDRA Sistema IBGE de Recuperação Automática

SIG Sistema de Informações Geográficas

SISCOMEX Sistema Integrado de Comércio Exterior

TNT Tecido não tecido

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 26

2 DO ABSTRATO AO CONCRETO: PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO ... 31

2.1 O raciocínio geográfico enquanto pressuposto analítico: categorias, elementos

e variáveis .............................................................................................................. 32

2.2 Delineamentos operacionais: técnicas de pesquisa e procedimentos

metodológicos ........................................................................................................ 39

2.3 Diversificação e especificidades do ramo têxtil ................................................ 60

3 ESPECIALIZAÇÕES TERRITORIAIS PRODUTIVAS E ATIVIDADE TÊXTIL NO

RIO GRANDE DO NORTE E NO SERIDÓ POTIGUAR ........................................... 62

3.1 Entre conceitos e noções: o território como categoria de análise social .......... 62

3.2 Tipologia dos ramos do circuito espacial da produção têxtil no Rio Grande do

Norte ...................................................................................................................... 68

3.3 Uso corporativo do território e nexos extravertidos: o Rio Grande do Norte

enquanto espaço nacional da economia internacional ........................................ 110

3.4 Entre a técnica e o tempo, coexistências e permanências: materialidades

pretéritas da atividade têxtil no Seridó Potiguar .................................................. 120

4 O CIRCUITO ESPACIAL DA PRODUÇÃO DE ARTEFATOS DOMÉSTICOS NOS

MUNICÍPIOS DE CAICÓ, CURRAIS NOVOS E JARDIM DE PIRANHAS ............ 133

4.1 Marco teórico: circuitos espaciais produtivos ................................................. 135

4.2 Os espaços da produção propriamente dita................................................... 142

5 FIM DO CICLO OU ACÚMULO SEM FIM? CIRCULAÇÃO,

HETEROGENEIDADES DO CONSUMO E RELAÇÕES DE COOPERAÇÃO ...... 201

5.1 Circulação e consumo produtivo: os espaços da circulação dos bens de

produção .............................................................................................................. 206

5.2 Circulação e consumo consuntivo ................................................................. 212

5.3 Cooperações, conflitos e agentes da circulação ............................................ 220

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 223

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 229

APÊNDICES ........................................................................................................... 237

26

1 INTRODUÇÃO

Segundo Morais (2005, p. 2), o Seridó Potiguar historicamente constituído

comporta 23 municípios (Mapa 01), os quais, direta ou indiretamente: “[...]

desmembraram-se de Caicó, primeira municipalidade a se construir nestas plagas”. A

região está situada geograficamente: “[...] na porção centro-meridional do Rio Grande

do Norte, abrangendo uma superfície de 9.122,789 km², ou seja, 17,17% do total da

superfície do estado”. No tocante a urbanização, a autora assevera que predominam

na referida delimitação as pequenas cidades e os dois principais núcleos, com

concentração populacional mais acentuada, são Caicó e Currais Novos.

Tratando-se da produção de artefatos têxteis para uso doméstico, o Seridó

Potiguar, em particular, equipara-se apenas com a Região Metropolitana do Rio

Grande do Norte, que concentra e abriga o maior número de empresas, seja em

termos relativos ou absolutos, de toda a indústria de transformação.

Do total das 208 unidades produtivas do ramo no Rio Grande Norte, 102 estão

localizadas na região (FIERN, 2017). Este dado representa praticamente a metade –

49% do total – dos estabelecimentos. Vendo de outro modo, ao passo que para o total

do estado a média de 1 unidade produtiva por município, no Seridó Potiguar este

número aumenta para 12, revelando um percentual significativo de concentração. Isto

ratifica o fenômeno de especialização produtiva dos lugares, haja vista a expressão

deste vetor na especialização territorial.

Esta atividade também está espacialmente distribuída de forma concentrada

no interior da própria região, sobretudo em sua porção ocidental. De todos os

municípios que compõe a região do Seridó Potiguar, apenas 3 abrigam pelo menos

um estabelecimento do ramo - Jardim de Piranhas, Caicó e Currais Novos,

destacando-se o primeiro com 76 unidades produtivas, 75% do total da região.

27

Mapa 01: Localização dos municípios da região do Seridó Potiguar historicamente construída.

Fonte: IBGE (2006). Elaboração cartográfica: Igor Rasec Batista de Azevedo e Cleanto Carlos Lima da Silva.

28

Diante do exposto, temos como questão central:

Como uma atividade com as características da produção de artefatos têxteis

no Seridó Potiguar – baseada em técnicas e tecnologias obsoletas, em relação

aos processos produtivos baseados em um elevado grau de capitalização, com

a origem do capital local ou regional e uso intensivo de mão de obra pouco

qualificada – consegue lograr inserção na dinâmica atual dos circuitos

espaciais de produção e coexistir com os sistemas técnicos hegemônicos de

ordem planetária?

E como questões específicas, a serem respectivamente respondidas de acordo

com a sequência das seções:

Como o circuito espacial de produção têxtil se distribui e se materializa no RN

e no Seridó Potiguar?

Quais são as particularidades das etapas produtivas da atividade têxtil que se

circunscrevem ao Seridó Potiguar?

Como se dá a circulação dos capitais, das mercadorias, das ideias, das

pessoas nas esferas produtivas e consuntivas do consumo?

Quais são os embates, as cooperações e os conflitos empreendidos na ação

conjunta entre agentes da circulação e da produção propriamente dita?

Ademais, conforme havíamos encaminhado brevemente, apesar do relevo dado

em nossa análise à região do Seridó, não iremos circunscrevê-la somente à mesma.

Interessa-nos investigar o uso do território a partir do encadeamento estabelecido

entre as diferentes etapas da produção, conformadas, sobretudo, pela circulação, esta

presidida por uma tendência à união vertical dos subespaços, cada vez mais

articulados. Trata-se, portanto, de atentar para a lógica do território justapondo-se à

lógica das redes, para o convívio dialético entre ambas.

Nosso objetivo, portanto, é analisar o uso do território pelo circuito espacial

produtivo têxtil, com ênfase na produção de artefatos têxteis para consumo doméstico,

a partir dos processos, dinâmica e conteúdo desta na região do Seridó Potiguar.

29

Para tal, pretendemos caracterizar a configuração territorial da atividade têxtil

do Rio Grande do Norte, no período atual, em paralelo à região do Seridó e aos nexos

entre os ramos; refletir sobre a evolução da atividade têxtil no Seridó Potiguar

considerando os aspectos constitutivos da formação socioespacial, das normas e das

formas-conteúdo pretéritas; compreender a unidade e a circularidade do circuito

espacial da produção de artefatos têxteis para consumo doméstico com base nas

etapas que se realizam ou se interconectam ao Seridó Potiguar; e problematizar as

articulações empreendidas pelos agentes na constituição de círculos de cooperação.

Na seção seguinte, intitulada DO ABSTRATO AO CONCRETO: PERCURSO

TEÓRICO-METODOLÓGICO, refletiremos sobre o raciocínio geográfico enquanto

pressuposto analítico, dialogando com as categorias, os elementos e as variáveis de

nossa delimitação teórica, empírica e temporal a partir do conceito estruturante de

espaço geográfico. Outrossim, apresentaremos os delineamentos operacionais, os

quais consistem em técnicas de pesquisa e procedimentos metodológicos, bem como

teceremos um breve comentário acerca da diversificação e especificidades do ramo

têxtil e suas implicações metodológicas para o presente trabalho.

Em ESPECIALIZAÇÕES TERRITORIAIS PRODUTIVAS E ATIVIDADE

TÊXTIL NO RIO GRANDE DO NORTE E NO SERIDÓ POTIGUAR discutiremos,

primeiramente, sobre o nosso conceito geográfico central, o território à luz da noção

de território usado, em interface com os conceitos de técnica e de tempo. Em seguida,

apresentamos a tipologia dos ramos do circuito espacial da produção têxtil no Rio

Grande do Norte a partir de uma análise sobre suas características globais e suas

especificidades no vestuário e na fabricação de artefatos têxteis, no estado, de

maneira geral, com enfoque no Seridó Potiguar. Essas tipologias podem ser

compreendidas por meio de dois aspectos da atividade têxtil no referido recorte: de

um lado, existe um uso corporativo do território prenhe de nexos extravertidos que

transformam o Rio Grande do Norte em uma espaço nacional da economia

internacional; e, de outro, temos a existência de materialidades e virtualidades

pretéritas, as quais revelam coexistências e permanências da técnica e do tempo.

Em O CIRCUITO ESPACIAL DA PRODUÇÃO DE ARTEFATOS

DOMÉSTICOS NOS MUNICÍPIOS DE CAICÓ, CURRAIS NOVOS E JARDIM DE

PIRANHAS refletiremos sobre o marco teórico central em nossa investigação, isto é,

a teoria dos circuitos espaciais de produção e dos círculos de cooperação no espaço.

Problematizamos, outrossim, em que medida os municípios de Caicó, Currais Novos

30

e Jardim de Piranhas se constituem como espaços da produção propriamente dita,

abrigando um uso determinado de capitais, técnicas e tempos a partir dos seguintes

aspectos: as atividades produtivas, os artigos produzidos, os capitais fixos e a

coexistência de usos da técnica, e os agentes da produção propriamente dita, com

destaque para as características da mão de obra.

Na penúltima seção, antes de tecermos nossas considerações finais acerca do

presente trabalho, intitulada FIM DO CICLO OU ACÚMULO SEM FIM?

CIRCULAÇÃO, HETEROGENEIDADES DO CONSUMO E RELAÇÕES DE

COOPERAÇÃO, discutimos a circulação a partir das heterogeneidades do consumo,

subdivido entre as esferas produtivas e consuntivas, presentes no circuito espacial da

produção de artefatos têxteis no Seridó Potiguar. Para tal, problematizamos as

implicações espaciais do consumo produtivo a partir da circulação dos bens materiais

e imateriais de produção, e do consumo consuntivo a partir dos espaços de troca e

distribuição, bem como do consumo final. E, para finalizar, abordamos os conflitos, as

cooperações e os embates empreendidos no convívio dialético entre agentes da

produção e da circulação.

31

2 DO ABSTRATO AO CONCRETO: PERCUSO TEÓRICO-METODOLÓGICO

Toda pesquisa, inequivocamente, “[...] parte de um problema e se inscreve em

uma problemática” (LAVILLE e DIONNE, 1999, p. 85). Para Netto (2011), o objeto da

pesquisa imprime uma existência objetiva, que independe da consciência do

pesquisador. Nesse sentido, conforme salientamos anteriormente, a nossa pesquisa

tem como objeto/problema o uso território do Seridó Potiguar pelo circuito espacial da

produção têxtil, com ênfase na atividade de fabricação de artefatos têxteis para uso

doméstico.

Este apenas encontra significado se apreendido por meio de elementos

distintos, porém imbricados em uma lógica epistemológica própria, particular. Isto é,

toda problemática é composta por dimensões de ordem teórica e empírica,

intercambiáveis, por se complementarem, mas que não devem se confundir, por

preservarem traços particulares.

Trata-se de uma síntese, a qual Althusser (1978) nos chamou atenção, relativa

à combinação/conjunção dos dois tipos de elementos do conhecimento, aos quais nos

referimos acima, isto é, teóricos e empíricos. Segundo o autor, o discurso teórico é de

natureza abstrato-formal, enquanto que os aspectos empíricos da ordem da

singularidade dos objetos concretos1.

Não obstante,

É claro que este conhecimento dos objetos formais-abstratos não cai do céu, nem é fruto do “espírito humano”: é o produto de um processo de trabalho teórico, está submetido a uma história material que comporta, entre as suas condições e elementos determinantes, as práticas não teóricas (a prática econômica, a prática política, a prática ideológica) e os seus resultados (ALTHUSSER, 1978, p. 34, grifo do autor).

Este “processo de trabalho teórico” implica, necessariamente, em dificuldades.

Entre elas, o próprio Althusser (1978) cita o caso do método teórico, por ele definido

como a maneira pela qual se trata (analiticamente) o objeto da teoria; este, conforme

elucida o autor, da mesma forma que àquele, é necessariamente formal-abstrato. E

para que este exercício não permaneça apenas no nível da abstração “pura”, cabe ao

1 Os conceitos teóricos (em sentido estrito) dizem respeito às determinações ou objetos abstractos-formais. Os conceitos empíricos dizem respeito às determinações da singularidade dos objetos concretos (ALTHUSSER, 1978, p. 18).

32

pesquisador inferir e promover as devidas articulações com o “concreto”, isto é, com

exemplos, manifestações do real, concernentes ao universo “amostral” da pesquisa.

Segundo Netto (2011), a teoria é, com base em Marx, um modo bem peculiar

de conhecimento, o qual aborda aspectos como a arte, o conhecimento prático da vida

em seu cotidiano, a mística, entre outros aspectos. Portanto, “[...] o conhecimento

teórico é o conhecimento do objeto – de sua estrutura e dinâmica – tal como ele é em

si mesmo, na sua existência real e efetiva, independente dos desejos, das aspirações

e das representações do pesquisador” (NETTO, 2011, p. 20, grifos do autor).

Entretanto, como nos explica Althusser (1978), a pesquisa nunca é passiva.

Desenvolvê-la exige do pesquisador uma direção e um controle de seus elementos

teóricos, implicando em regras de observação, seleção e classificação. Além disso,

há montagem técnica, constituída pelo campo da experiência.

Nesta perspectiva, a teoria se refere, precisamente, a objetos abstrato-formais,

conceitos, e, consequentemente, ao encadeamento dos mesmos nos sistemas de

relações teórico-conceituais. Todavia, esta trama lógico-formal apenas efetiva-se na

medida em que sua intervenção ocorre para a contribuição do conhecimento dos

objetos reais-concretos, não se tratando, pois, de um jogo de abstração pura

(Althusser, 1978). Ora, este é o esforço que buscamos empreender: trilhar o caminho

entre o abstrato e o concreto, isto é, construir uma metodologia.

2.1 O raciocínio geográfico enquanto pressuposto analítico: categorias,

elementos e variáveis

Para Milton Santos o espaço geográfico é um sistema de estruturas (SANTOS,

1979) – em contraposição à concepção de sistema de elementos – integrante da “[...]

realidade total, uma estrutura subordinada e autônoma ao mesmo tempo, autônoma

pelo fato de estar dotada de determinações que lhe são próprias” (SANTOS, 2004c,

p. 239). Assim sendo, o espaço “não é apenas um reflexo da realidade, mas um

condicionante condicionado, tal como as demais estruturas sociais” (SANTOS, 1988,

p. 15). Esta ideia é convergente a apresenta por Barrios (1986, p. 1), para quem o

espaço socialmente produzido seria um produto global “cuja realização não se pode

atribuir especificamente a nenhuma das ações e relações particulares observadas na

realidade (BARRIOS, 1986, p. 1)”.

33

Ao falar sobre manifestações particulares, a autora se refere mais de perto aos

processos de produção econômico, político, semântico e seus respectivos produtos,

o valor, o poder e o significado, para contrapô-los ao espaço. Isto é, além de produtos

característicos (valor, poder e significado), os processos de produção também

engendram produtos globais, dentre os quais estaria o espaço geográfico. Portanto,

enfatizamos, com Barrios (1986, p. 2-3), que a problemática espacial é derivada de

uma totalidade que deve ser apreendida em suas múltiplas dimensões, para que

assim se possa “compreender a natureza, especificidade e inter-relações dos

diferentes processos que geram tal problemática”.

Desse modo, se há um enfoque na espacialidade que possibilite compreender

a unidade contraditória entre as instâncias da produção, é mister atentar, conforme

elucida Santos (2008a) para a indivisibilidade do espaço, enquanto totalidade.

Portanto, estas instâncias, não possuem valor real se vistas separadamente, de

maneira independente. Contundo, são passíveis de distinção analítica, por disporem

de certa autonomia, cujo autor demonstra a partir do que ele chama de espaços “da

produção propriamente dita”, “da circulação e da distribuição”, e “do consumo”. Estes,

como bem observa Moraes (1984), são engendrados pela trama dos circuitos

espaciais da produção e podem ser denominados, de maneira mais estrita, como

espaços produtivos.

Santos (2005b) chama atenção, ainda, à interdependência das categorias

modo de produção, formação social e espaço. Para ele, as instâncias da produção-

troca-distribuição-consumo, apreendidas em união, formam um modo de produção.

Este se realiza num movimento conjunto, mas são objetivados por meio da formações

social, que pode ser compreendida como um modo de produção particular. Esta, por

seu turno, compreende, ao mesmo tempo, uma estrutura produtiva e uma estrutura

técnica. Desse modo, “Trata-se de uma estrutura técnico-produtiva expressa

geograficamente por uma certa distribuição da atividade de produção” (SANTOS,

2005b, p. 28).

Desta forma, com o objetivo de romper com as concepções fragmentárias,

Barrios (2014) postula ser necessário adotar uma nova abordagem metodológica para

os estudos do espaço, sobretudo em relação aos países subdesenvolvidos. Nesta

perspectiva, considera como pressupostos fundamentais para tal escrutínio, os

seguintes critérios:

34

[...] a) que a produção do espaço é um fato técnico em sua aparência, mas social em sua essência; b) que o elemento estruturante básico das sociedades históricas são as relações de dominação e subordinação que se estabelecem entre os homens durante o processo de trabalho; c) que o elemento dinamizante da totalidade social é constituído pelos conflitos resultantes da necessidade objetiva dos grupos dominantes de manter e fortalecer sua posição de classe através dos processos de acumulação, dos quais o espaço é seu instrumento material; d) e que o sistema político-ideológico, tendo por base o econômico, dê coesão para o funcionamento do todo social; devem estar claramente expressos [...] (BARRIOS, 2014, p. 352).

Ainda segundo a autora, para a análise da problemática espacial e suas

múltiplas expressões, devem-se somar à esses parâmetros o reconhecimento de três

classes complementares, porém distintas, de fenômenos: configuração espacial;

organização social do espaço; e fluxos de pessoas, bens e informação. A relevância

destas classes destaca-se não só por empreenderem categorias analíticas, mas,

sobretudo, porque compreendem e consideram os aspectos reais da dinâmica

social/espaço2.

A configuração espacial (ou, como preferimos, configuração territorial) é fruto

das formas particulares por meio das quais se encontram distribuídos os elementos

força de trabalho, atividades sociais da infraestrutura produtiva, recursos naturais e

condições ambientais sobre determinado território. A junção destes elementos

constitui um acúmulo de trabalho, ou seja, de capital fixado, cuja distribuição no

espaço é desigual e constituída historicamente por meio da correlação entre os

fenômenos de concentração e dispersão. Deste modo, concordamos com Moraes

(1984) que a chave para a compreensão geográfica é assimilar a combinação dessa

desigualdade.

Outras categorias também apontam nesta diretriz. A organização social do

espaço, por exemplo, revela como esses elementos são colocados em relação por

meio da ação dos homens, sejam indivíduos, firmas ou instituições. Por seu turno, os

fluxos, dialeticamente justapostos aos fixos, são definidores tanto do fenômeno da

configuração espacial, quanto dos variados níveis de integração funcional dos

agentes, isto é, da organização social do espaço (BARRIOS, 2014).

2 Segundo Barrios (2014, p. 354-355), a relação desta dinâmica compreende: “[...] existência, localização heterogênea e aproveitamento dos recursos naturais [...] necessidades de infraestrutura física que considerem as práticas dos grupos sociais [...] localização desses grupos e de suas atividades sobre o território e relação com o entorno [...] esfera de ação dos grupos sociais pertencentes a uma formação social”.

35

Conforme observa Moraes (1984), esta proposição autoriza pensar, de modo

mais concreto, o espaço como sendo, concomitantemente, objeto e instrumento de

trabalho, além de suporte de instrumento, constituindo-se, assim, um elemento

primordial do capital constante. Daí surge uma dica de método, caríssima para a

compreensão do uso do território por partes dos circuitos produtivo, e por extensão ao

presente trabalho: atentar para a identificação precisa da natureza dos capitais, sejam

eles fixos, constantes ou híbridos (fixo-constante), em interface com a organização

espacial, a partir da localização das unidades produtivas nesta.

Nesta perspectiva, Barrios (2014) objetiva conceitualmente os estudos sobre

os “circuitos regionais de produção e acumulação” - essa expressão foi depurada por

Santos (1986), preferindo tratar por circuitos territoriais, ou mais precisamente,

circuitos espaciais da produção. Podemos depreender das inferências apresentadas

um ponto central, levantado por Moraes (1984): a dedução de que atualmente o

espaço é uma espécie de mecanismo de sustentação das taxas de lucro. Dessa

maneira, com base na leitura do autor, faz-se premente averiguar não só a maneira

pela qual se estabelece a repartição deste excedente nos níveis mundial e nacional,

mas também analisar a apropriação dos recursos pelos “setores estratégicos dos

circuitos de acumulação”. Ou seja: “[...] como se organiza o espaço para se tornar

mais eficiente a valorização do capital” (MORAES, 1984, p. 20).

Ademais, com base em Silveira (2010a), gostaríamos de reconhecer, em nosso

trabalho, a complexidade que tem a noção de totalidade, sem, porventura, desistir de

analisa-la, buscando, para isso, cisões significativas. E, portanto, buscar apreendê-la

como situações, isto é, manifestações da coerência do real.

Isto é,

Considerar o espaço como esse conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações, assim como estamos propondo, permite, a um só tempo, trabalhar o resultado conjunto dessa interação, como processo e como resultado, mas a partir de categorias suscetíveis de um tratamento analítico que, através de suas características próprias, dê conta da multiplicidade e da diversidade de situações e processos. (Santos, 2012, p. 64)

Desse modo, o conselho de Santos (2003, p. 199) nos parece extremamente

pertinente: “O estudo da totalidade conduz a uma escolha de categorias analíticas que

devem refletir o movimento real da totalidade”. Isto posto, a abordagem de um

trabalho, ou melhor, a estruturação do raciocínio pode, assim como deve, partir de

36

categorias analíticas fundadas na teoria do espaço geográfico, cuja função é,

exatamente, nortear o desenvolvimento da pesquisa. No entanto, esta eleição não

pode ser fruto do acaso, tampouco definidas arbitrariamente.

Vale ressaltar que a nossa abordagem, neste momento, será tópica, no sentido

de promover breves apontamentos sobre o potencial das categorias estrutura,

processo, função e forma em desencadear uma interlocução entre as dimensões de

nosso objeto de estudo (teórico-metodológica, conceitual, empírica, temporal).

Portanto, com o intuito de lograr uma interpretação conjunta dos objetos formais-

abstratos e concretos, outras categorias, tais como fixos e fluxos, sucessões e

coexistências, horizontalidades e verticalidades, serão cotejadas oportunamente de

acordo com os objetivos de cada seção.

Categorias estruturantes: estrutura, processo, função e forma

Para Santos (2003), as categorias estrutura, processo, função e forma estão

relacionadas à totalidade concreta em seu processo incessante de totalização. Elas

se constituem como categorias balizadoras do raciocínio geográfico; função, forma e

estrutura são categorias espaciais, constitutivas do espaço, enquanto a de processo

vincula-se às noções de escala e de tempo. Portanto, em nossa abordagem,

lançaremos mão delas enquanto categorias estruturantes.

Tomadas isoladamente elas garantem-nos não mais que visões parciais,

fragmentadas. Assim, a intenção é entendê-las enquanto conjunto, ou seja, enquanto

realidade sistêmica. Cada categoria, pois, só encontra significado pleno se conjugada

às demais e interpretadas dentro de seu movimento dialético, enquanto unidade. Esta

é a justificativa de toma-las, aqui, de forma indissociável. No entanto, cada uma delas

possui especificidades para a análise dos circuitos espaciais da produção têxtil.

Interessando, pois, detalhar, minimamente, quais aspectos buscamos desenvolver e

qual o nosso entendimento acerca de cada uma delas.

As formas, segundo Santos (2008a), são os aspectos visíveis do real, referindo-

se ao arranjo ordenado de objetos, isto é, a um determinado padrão. Portanto, por

forma, também pode se entender configuração territorial. Estas surgem dotadas de

finalidade. Daí a ideia de função, sugerindo ou impondo à forma o exercício de

determinada tarefa ou atividade.

37

Isso está relacionado à interdependência dos elementos, cuja concretização

se dá a partir do elo com a estrutura. Considerando que as formas não são vazias,

mas prenhes de conteúdo, isto é, já surgem enquanto conteúdo, somos autorizados a

trata-las enquanto formas-conteúdo.

Em relação à estrutura per si, implica-se a ideia de inter-relação entre as partes

de um todo; seu modo de organização ou construção. Nosso trabalho dá relevo ao

fato desta categoria espacial implicar a noção de materialidade, ou seja, nos ajuda a

pensar a base material da produção têxtil no Seridó Potiguar – fábricas, vias de acesso

etc.

O processo também permeia todas as categorias precedentes, implicando a

ideia de continuidade, isto é, de uma ação se desenvolvendo rumo a um determinado

fim. Esta categoria se reporta, sobremaneira, à efemeridade dos nexos temporais,

denotando certa “externalidade” em relação às demais, denominadas pelo autor como

espaciais; vincula-se estreitamente, portanto, às noções de tempo e de escala. Trata-

se de uma síntese necessária à materialização da estrutura, cuja tendência é

especializar-se por meio de determinada função, que, por seu turno, está

consubstanciada à forma (SANTOS, 2003). Em suma, o processo implica ação; e a

ação é o próprio homem, mesmo que ele se constitua apenas como um veículo

condicionado por nexos exógenos – verticalidades. Ou seja, pensar o processo é

pensar a ação contínua (evolução pretérita ou atual) dos agentes e suas variáveis

respectivas.

Pois bem, se é verdade que estas categorias se constituem como um elo entre

os conceitos formais da Geografia e as situações concretas, interessa-nos objetiva-

las à realidade de nosso objeto, os circuitos espaciais da produção de artefatos têxteis

para uso doméstico, conforme ilustra a Figura 01.

A estrutura enquanto materialização conjunta dos elementos de um todo

representa o próprio circuito espacial; as formas, espaciais ou não, enquanto aspectos

palpáveis, tangíveis, ligadas à ideia do circuito, representam as etapas de uma

determinada produção – uma forma peculiar de se produzir, de se distribuir, de se

comercializar ou de se consumir determinadas produtos; estas, por seu turno, são

moldadas pelas funções, representativas das atividades produtivas determinadas. De

modo prático, a fabricação de artefatos têxteis (função) no Seridó Potiguar tem uma

forma que lhe é peculiar, mas que não pode ser compreendida fora de uma estrutura

38

(circuito espacial) pois depende de uma teia de relações com inúmeros subespaços,

agentes etc.

Figura 01: Organograma da relação entre categorias analíticas e matrizes teórico-

conceituais.

Fonte: Elaborado com base na presente discussão teórico-conceitual.

Essa interdependência é gerida pela necessidade premente de circulação,

constitutiva da ideia de processo, uma vez que implica ação, finalidade, acontecer

solidário, por mais que o projetos não sejam comuns, ou seja, esta categoria constitui

o nexo com as demais, indicando movimento, circularidade, conforme explicitado pelo

próprio Marx (1990, online), quando afirma que este “[...] circuito que passa sempre

pelas mesmas fases sucessivas forma a circulação”. E esta relação em particular nos

é caríssima pois nos afasta, como têm acontecido em algumas análises correntes na

própria Geografia, para não ir muito longe, do perigo de reduzir ou simplificar o

processo de circulação à etapa de distribuição.

Como desenlace, os usos particulares, concretos, do território são o motor de

toda essa trama, são esses quatro elementos atuando em conjunto. É o território que

abriga, a um só tempo, os circuitos, signos de uma estrutura dinâmica composta de

circularidade, espaciais, significados das formas-conteúdos, produtivos, significantes

das atividades e das relações de produção.

•ATIVIDADES PRODUTIVAS

•ETAPAS DA PRODUÇÃO

• CIRCULAÇÃO• CIRCUITOS

ESTRUTURA PROCESSO

FUNÇÃOFORMA

39

Ademais, atreladas às categorias que denominamos como estruturantes estão

também categorias específicas - aprofundadas oportunamente no corpo dos capítulos

- tais como: sucessões e coexistências; horizontalidades e verticalidades; fixos e

fluxos. Estes pares dialéticos permeiam toda a estrutura de nosso trabalho - por mais

que não haja, necessariamente, referências explícitas em formato textual.

Segundo Santos (2008b), outra maneira de se partir à investigação do espaço

é por meio dos fixos e dos fluxos, elementos constitutivos que se explicam através da

dialética empreendida entre eles. Para o autor, nós temos coisas fixas e fluxos que,

tanto se originam, quanto se destinam à elas. A justaposição destes elementos,

interagindo e metamorfoseando-se mutuamente, é o próprio espaço.

De modo específico, os fixos denotam o processo imediato do trabalho, uma

vez que são eles os próprios instrumentos de trabalho e as forças produtivas de

maneira geral, o que inclui os homens. Já os fluxos expressam ao mesmo tempo o

movimento e a circulação. Seu uso, portanto, permite analisar tanto o fenômeno da

distribuição, quanto o do consumo.

O casamento destes elementos, isto é, esta categoria, nos permite analisar

espacialmente as categorias clássicas da produção. Queremos salientar, com isso,

que a utilização dos mesmos nos parece bastante oportuna, haja vista estar

estreitamente atrelada à nossa dimensão teórico-conceitual, sobretudo às implicações

do agravamento da necessidade de acumulação.

2.2 Delineamentos operacionais: técnicas de pesquisa e procedimentos

metodológicos

Para o desenvolvimento da pesquisa adotamos como procedimentos teórico-

metodológicos de coleta de dados: a revisão bibliográfica, a pesquisa documental e a

pesquisa de campo, onde executaram-se as técnicas de observação sistemática (com

o auxílio do diário de campo e da produção fotográfica), bem como a realização de

entrevistas (semiestruturadas) e a aplicação de formulários. Outrossim,

estabelecemos diretrizes para a análise de conteúdo, precedida pela classificação e

organização das informações coletadas, cuja execução se subsidiou por recursos

técnicos, notadamente, o tratamento estatística, a elaboração cartográfica e outras

representações gráficas.

40

Procedimentos e técnicas de coleta de dados

Conforme elucida Pádua (2004, p. 55), esta é uma etapa crucial da pesquisa e

“[...] tem por objetivo reunir os dados pertinentes ao problema a ser investigado”. Este

procedimento consistem, portanto, na coleta de dados, subdivididos em quantitativos

e qualitativos, disponíveis para consulta em fontes secundárias – produzidas por

outros autores e/ou entidades coletivas de pesquisa e estatística –, ou podendo ser

produzidas pelo próprio autor através da aplicação de instrumentos ou da utilização

de recursos técnicos de pesquisa – fontes primárias.

É nesta fase da pesquisa “[...] em que se inicia a aplicação dos instrumentos

elaborados e das técnicas selecionadas, a fim de se efetuar a coleta dos dados

previstos” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 165). Tendo em vista nossos objetivos de

análise, bem como nossa orientação teórica, elegemos as técnicas de pesquisa

bibliográfica, pesquisa documental e pesquisa de campo para a produção das

informações necessárias à devida problematização das questões por nós levantadas.

Em consonância com o nosso enfoque – o geográfico – e com estas questões,

buscou-se agrupar dados relevantes à compreensão da distribuição das atividades de

produção material, dos serviços, das infraestruturas e dos homens de acordo com a

delimitação anteriormente apresentada; bem como atentar para os fluxos gerados

pela atividade têxtil no Seridó Potiguar e pela população a ela relacionada. Em síntese,

a distribuição das materialidades – estrutura e formas –, distribuição das ações –

funções, processos e agentes – e suas implicações (SANTOS, 2008b).

Revisão bibliográfica

A pesquisa bibliográfica, ou revisão bibliográfica, significa:

[...] para o pesquisador, revisar todos os trabalhos disponíveis, objetivando selecionar tudo o que possa servir em sua pesquisa [...] afinar suas perspectivas teóricas, processar e objetivar seu aparelho conceitual. Aproveitar para tornar ainda mais conscientes e articuladas suas intenções [...] (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 112).

Portanto, seu principal objetivo “[...] é colocar o pesquisador em contato com o

que já se produziu e já se registrou a respeito do seu tema de pesquisa” (PÁDUA,

2004, p. 55). Ademais, por suas características intrínsecas, este procedimento possui

41

caráter contínuo, interessando ao pesquisador desenvolver leituras durante todo o

processo de construção da pesquisa.

Neste sentido, em nosso trabalho, a revisão bibliográfica atendeu a uma dupla

finalidade: aprofundar o conhecimento sobre o uso do território do Seridó Potiguar

pelo circuito espacial de produção de artefatos têxteis, partindo das seguintes

perspectivas:

1) dos conceitos teórico-formais – em sentido estrito –, isto é, da compreensão

teórica sobre os circuitos espaciais produtivos, o conceito de território e as

categorias analíticas empregadas, tendo como resultado o Estado da Arte, cujo

desenvolvimento compõe-se em todas seções de nosso trabalho.

2) dos conceitos empírico-concretos, isto é, da evolução recente e da evolução

pretérita da atividade têxtil, levando em consideração dois níveis temporais

sobrepostos dialeticamente – tempos externos e tempos internos. Isto implica

averiguar os processos da escala da formação socioespacial à escala mais

interna dos usos do território e do tempo social no Seridó Potiguar;

Levantamento de dados secundários

A pesquisa documental, por seu turno, “É aquela realizada a partir de

documentos, contemporâneos ou retrospectivos, considerados cientificamente

autênticos [...]” (PÁDUA, 2004, p. 68-69). Por “documento” se compreende “[...] toda

base de conhecimento fixado materialmente e suscetível de ser utilizado para

consulta, estudo ou prova [...]”, conforme revela a própria etimologia da palavra,

originária do latim, documentum: “[...] aquilo que ensina ou serve de exemplo ou prova

[...]” (PÁDUA, 2004, p. 69).

Desta forma, podem ser de natureza diversa, variando desde documentos

propriamente ditos – tais como fotografias ou escritos – como também “[...] dados

estatísticos, elaborados por institutos especializados e considerados confiáveis para

a realização da pesquisa” (PÁDUA, 2004, p. 68-69). Ademais, geralmente são

oriundos de dois tipos de acervos: arquivos de instituições públicas ou privadas e

fontes estatísticas (MARCONI; LAKATOS, 2003).

42

Em acordo com nossos objetivos, a pesquisa documental subsidiou toda a

composição da pesquisa. Neste sentido, realizou-se a pesquisa documental em três

etapas, cujos procedimentos estão esquematicamente apresentados a seguir – os

algarismos arábicos representam os objetivos operacionais da pesquisa como um

todo (1, 2, 3) e as letras os procedimentais da pesquisa documental (a, b, c etc.):

1) Caracterizar a configuração territorial da atividade têxtil do Rio Grande do Norte,

no período atual, em paralelo à região do Seridó e aos nexos entre circuitos de

ramos:

a) Pesquisou-se no banco de dados on line – acervo estatístico – da Federação

das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN) informações

relativas às unidades produtivas do ramo têxtil no estado, com ênfase para o

Seridó Potiguar – quantidade de estabelecimentos, localização, ramo de

atividade, produtos fabricados (exportados ou não) e demais observações.

Nesta mesma fonte foram coletadas, oportunamente, informações de contato

e endereço das unidades produtivas, vislumbrando a pesquisa de campo e a

aplicação dos demais instrumentos de coleta;

b) Pesquisou-se no banco de dados on line – acervo estatístico – do Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), denominado ipeadata, informações

sobre: produto interno bruto, valor adicionado bruto pela indústria de

transformação a preços básicos nos níveis Estadual e Municipal; e produção,

produção industrial – têxtil;

c) Coletou-se por meio do aplicativo do CNEFE, Cadastro Nacional de Endereços

para Fins Estatísticos, a localização das unidades produtivas do ramo têxtil nos

municípios da amostra através da identificação por espécie de endereço

“Estabelecimento de outras finalidades” e tipo de estabelecimento. Este

procedimento possibilitou averiguar a existência, ou não, de estabelecimentos

não catalogados no banco de dados da FIERN.

2) Refletir sobre a evolução da atividade têxtil no Seridó Potiguar considerando os

aspectos constitutivos da formação socioespacial, das normas e das formas-

conteúdo pretéritas.

43

a) Catalogaram-se informações de documentos históricos pertinentes à

compreensão da evolução pretérita da atividade têxtil no Seridó Potiguar, a fim

de “descrever/comparar fatos sociais, estabelecendo suas características ou

tendências [...]” (PÁDUA, 2004, p. 68-69).

b) Pesquisou-se no banco de dados on line – acervo estatístico – do Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e tabulou as séries históricas da

produção industrial – têxtil;

c) Catalogaram-se as séries históricas da indústria de transformação sobre

pessoal ocupado e ano de fundação de empresas, disponível no Cadastro

Central de Empresas, na tabela 993 – Empresas e outras organizações, por

seção da classificação de atividades (CNAE 2.0), faixas de pessoal ocupado e

ano de fundação. Já que estes dados são globais (seção: indústria de

transformação) e não fracionados (Divisão: fabricação de produtos têxteis),

foram interpretados em contraposição aos documentos citados nos

procedimentos a e b deste tópico.

3) Compreender a circularidade do circuito espacial da produção de artefatos têxteis

para consumo doméstico a partir das etapas que se realizam no Seridó Potiguar e

com ele se interconectam diretamente; e problematizar as articulações

empreendidas pelos agentes envolvidos neste circuito, dinâmica pela qual se

constituem círculos de cooperação.

a) Pesquisaram-se na plataforma RAIS/CAGED dados relativos a emprego e

renda da atividade têxtil no Seridó Potiguar, uma vez que se faz necessário

obter informações “[...] sobre a mão de obra -, qualificação, origem, variação

das necessidades nos diferentes momentos da produção etc [...]” (SANTOS,

2008b, p. 56).

b) Pesquisou-se na plataforma da SISCOMEX os relatórios de exportações e

importações relativos ao Rio Grande do Norte.

44

Pesquisa de campo

Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 186) a pesquisa de campo engloba três

dimensões básicas. São elas a “observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem

espontaneamente”, a aplicação de instrumentos para “coleta de dados a eles

referentes” e o “registro de variáveis que se presumem relevantes, para analisá-los”.

Entre as várias técnicas de pesquisa de campo existentes, optamos pelo estudo

exploratório. Este permite formular problemáticas, com tripla finalidade, quais sejam,

a de desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com o campo

empírico, fato ou fenômeno, a fim de clarificar conceitos e averiguar a pertinência e

coerência dos documentos coletados (MARCONI; LAKATOS, 2003).

Nesta perspectiva, buscando atender aos propósitos estipulados em nossas

questões de pesquisa, e, portanto, inerentes à metodologia, dividimos a realização do

trabalho de campo em quatro momentos distintos, os quais estamos chamando de

“etapas”. O Quadro 01 apresenta uma síntese dos procedimentos metodológicos de

acordo com a sequência dessas etapas de desenvolvimento da pesquisa de campo.

Quadro 01: Síntese dos procedimentos metodológicos da pesquisa de campo.

ETAPAS DA PESQUISA DE CAMPO

1) Reconhecimento do campo empírico e identificação dos agentes.

2) Realização do primeiro grupo de entrevistas, junto a representantes das

unidades produtivas, sobre a evolução pretérita da atividade.

3)

Realização do segundo grupo de entrevistas, junto a representantes de

Associações ou Cooperativas, Instituições de Ensino Superior e Tecnológico,

Órgãos de apoio técnico e financeiro, sobre seus planos de ação.

4) Aplicação de formulários, junto as unidades produtivas.

Fonte: organizado pelo autor com bases nos procedimentos metodológicos do presente trabalho.

Conforme observamos no quadro supracitado, a única etapa exclusivamente

exploratória foi a primeira, haja vista não ter havido aplicação de instrumentos de

coleta, com exceção de registros observacionais. No entanto, esta desempenhou

papel crucial em relação às etapas posteriores, uma vez que foram nela identificados

45

os demais agentes do circuito espacial da produção de artefatos têxteis que puderam

ter sua atuação precisada a priori, como é o caso das firmas. Desta forma, o

reconhecimento inicial das unidades produtivas – devidamente catalogadas na

pesquisa documental –, bem como os diálogos informais introdutórios com seus

representantes e/ou trabalhadores, nos apresentaram encaminhamentos nesse

sentido.

A seguir, detalharemos os procedimentos retratados no Quadro 01 de acordo

com as técnicas e instrumentos de pesquisa empregados em cada um deles.

Iniciaremos pela técnica de observação, e seus respectivos recursos, que perpassou

todas as etapas do campo; na sequência abordaremos a técnica de entrevista

semiestruturada, que foram utilizadas para atender a dois propósitos específicos e,

portanto, se realizaram em etapas distintas; por último, deu-se enfoque ao instrumento

denominado formulário, cuja aplicação se realizou na quarta fase do referido trabalho

de campo.

Observação, diário de campo e fotografia

Em relação às observações como procedimentos de pesquisa, estas nos

permitiram identificar aspectos importantes para o desenvolvimento da pesquisa, além

de contribuir para o confronto analítico de alguns dados com aqueles coletados nas

entrevistas, levantados na revisão bibliográfica e na análise dos documentos.

Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 190), a observação se define como:

[...] uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver ou ouvir, mas também examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar.

De modo análogo a pesquisa de campo, a técnica de observação contêm

muitas variações, podendo ser executada de muitas maneiras a depender das

diretrizes adotadas. Ela tanto pode ser assistemática – principalmente no que se

refere ao período de exploração dos estudos – quanto sistemática, também chamada

de “[...] ‘planejada, estruturada ou controlada’ [...]”, quando realizada “[...] em

condições controladas para se responder a propósitos [...] requer planejamento e

46

necessita de operações específicas para o seu desenvolvimento” (RUDIO, 1986, p.

44).

Desta forma, realizamos observação de natureza sistemática, uma vez que

nela “[...] o observador sabe o que procura e o que carece de importância em

determinada situação; deve ser objetivo, reconhecer possíveis erros e eliminar sua

influência sobre o que vê ou recolhe” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 193). Neste

sentido, com intuito de conferir um maior grau de rigorosidade metodológica e

precisão, lançamos mão de dois recursos técnicos de registro de informações: diário

de campo e fotografia.

Conforme orientam Souza e Pessôa (2013, p. 187):

Durante o dia de atividade em campo, sempre que possível, devemos anotar, ainda que em forma de pequenas frases ou tópicos, as ideias e percepções momentâneas, desde que isso não prejudique o processo de comunicação estabelecido com os sujeitos da pesquisa.

Consequentemente, o diário de campo funcionou como uma

complementariedade ao processo de observação, colaborando com sua

sistematização e contribuindo também para esclarecer eventuais dúvidas suscitadas

na revisão posterior dos instrumentos aplicados.

Outrossim, a produção de fotografias3 revelou-se fundamental. Este recurso

apresenta um excelente potencial ilustrativo – tanto em seu sentido mais restrito, a

dimensão gráfica propriamente, quanto em seu sentido mais amplo, que suscita a

dimensão reflexiva – e buscamos não fazer um uso indiscriminado ou banal, “[...] sua

inserção no trabalho acadêmico deve ter relevância para a consolidação da ideia ou

do fato tratado textualmente” (SOUZA; PESSÔA, 2013, p. 188). Desse modo, elas nos

permitiram melhor retratar as peculiaridades do processo produtivo, como, por

exemplo, as condições das fábricas, os materiais produzidos, as formas de

distribuição e comercialização etc.

3 “As fotografias como procedimentos de pesquisa podem ser classificadas em duas categorias: as que foram feitas por outras pessoas e aquelas que o investigador produziu” (BODGAN; BIKLEN, 1994, p. 184).

47

Entrevistas semiestruturadas

Ainda como parte do instrumental metodológico, foram desenvolvidas

entrevistas semiestruturadas, cuja técnica consiste em “[...] uma conversação

efetuada face a face, de maneira metódica [...]”, onde o entrevistador solicita “[...] ao

entrevistado, verbalmente, a informação necessária” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p.

196). Este tipo de procedimento possibilita:

[...] um contato mais íntimo entre o entrevistador e o entrevistado, favorecendo assim a exploração em profundidade de seus saberes, bem como de suas representações, de suas crenças, de seus valores (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 189).

Desse modo, esta técnica teve o objetivo procedimental de verificação de

“fatos”, marcadamente, os coletados na pesquisa documental e na observação.

Dentre outras aferições a esse respeito, julgamo-la necessária e pertinente sobretudo

pelo seu potencial de obtenção:

[...] de respostas mais profundas para que os resultados da [...] pesquisa sejam realmente atingidos e de forma fidedigna. E só os sujeitos selecionados e conhecedores do tema em questão serão capazes de emitir opiniões concretas a respeito do assunto. (ROSA; ARNOLDI, 2006, p. 16).

Constituíram-se, portanto, como uma alternativa para a coleta de informações

não documentadas em arquivos ou fontes estatísticas. Sem o intuito de esgotar a lista,

elencamos ainda como vantagens: sua riqueza informativa, flexibilidade e diligência,

bem como a capacidade de realização de contrapontos qualitativos aos resultados

quantitativos (PÁDUA, 2004).

Conforme destacam Lakatos e Marconi (2003), o principal objetivo desta

técnica é, portanto, a obtenção de informações do entrevistado que sejam úteis para

o conhecimento do respectivo tema ou problema da pesquisa. Estes objetivos podem

variar, em conteúdo, de acordo com as informações que se pretendem coletar na

entrevista. Destacamos dois objetivos procedimentais apresentados pelas autoras,

que adequamos à aplicação de nossas entrevistas: a) Conduta atual ou do passado;

b) Descoberta de planos de ação.

48

Portanto, de maneira análoga às técnicas de pesquisa anteriormente

apresentadas, as entrevistas semiestruturadas foram sistematizadas em coerência

com nossos objetivos. Neste sentido, elas foram desenvolvidas a partir de dois blocos

separados, uma vez que buscaram atender, mais diretamente, a dois objetivos

específicos distintos. Cada bloco conteve, desta forma, um roteiro particular, conforme

as diretrizes apresentadas no quadro-síntese a seguir (Quadro 02).

49

SEQUÊNCIA

DE

APLICAÇÃO

OBJETIVO

OPERACIONAL

DIRETRIZES TEÓRICO-

METODOLÓGICAS AGENTES AMOSTRA

1)

Refletir sobre a evolução da

atividade têxtil no Seridó

Potiguar considerando os

aspectos constitutivos da

formação socioespacial,

das normas e das formas-

conteúdo pretéritas.

Conduta atual ou do passado.

Inferir que conduta a pessoa terá no

futuro, conhecendo a maneira pela

qual ela se comportou no passado

ou se comporta no presente, em

determinadas situações (MARCONI;

LAKATOS, 2003, p. 196, grifo do

autor).

Representantes das

unidades produtivas, com

predileção pelas fundadas há

mais tempo, conforme

identificação na pesquisa

documental.

Definição a partir do

método de saturação.

2)

Problematizar a

articulações empreendidas

pelos agentes envolvidos

neste circuito, dinâmica

pela qual se constituem

círculos de cooperação.

Descoberta de planos de ação.

Descobrir, por meio das definições

individuais dadas, qual a conduta

adequada em determinadas

situações, a fim de prever qual seria

a sua.

As definições adequadas de ação

apresentam em geral dois

componentes: os padrões éticos do

que deveria ter sido feito e

considerações práticas do que é

possível fazer. (MARCONI;

LAKATOS, 2003, p. 196, grifo do

autor).

Representantes de:

Associações ou

Cooperativas, Instituições de

Ensino Superior e

Tecnológico, Órgãos de

apoio técnico e financeiro,

sobre seus planos de ação, e

demais agentes a serem

identificados na pesquisa

exploratória.

Como se trata de

uma gama variada de

agentes, buscaremos

entrevistar no mínimo

um representante de

cada grupo

(instituição ou firma).

Fonte: Adaptado de Marconi e Lakatos (2003). Organizado pelo autor com base na metodologia do presente trabalho.

Quadro 02: Síntese dos blocos de aplicação de entrevista semiestruturada.

50

Em relação ao método utilizado para delimitação da amostra do primeiro grupo

de entrevistas, Thiry-Cherques (2009, p. 22) destaca que:

[...] o conceito de saturação vem da Física e, mais proximamente, da Estatística, onde indica o grau em que um fator aparece em relação a uma dada variável numa análise de correlação entre esse fator e um conjunto de variáveis aleatórias.

Todavia, o autor indica que sua noção determinante é a “saturação teórica”. Ela

implica em identificar o momento em que ocorre a inexistência de “dado adicional [...]

encontrado que possibilite ao pesquisador acrescentar propriedades a uma categoria.

(...), isto é, (...) quando o pesquisador torna-se empiricamente confiante de que a

categoria está saturada” (GLASER; STRAUSS, 1967, p. 65 apud THIRY-CHERQUES,

2009, p. 23).

Foram levados em consideração os objetivos operacionais do trabalho, as

diretrizes teórico-metodológicas, os agentes que concederam-nos as informações e

os métodos de definição da amostra. Diante destes elementos, foram construídos dois

roteiros de entrevistas contendo questões abertas (apresentados no apêndice), um

para cada grupo de agentes. A especificidade deste tipo de pesquisa, portanto, está

no fato de que o pesquisador “[...] organiza um conjunto de questões sobre o tema

que está sendo estudado, mas permite, e às vezes até incentiva, que o entrevistado

fale livremente sobre assuntos que vão surgindo como desdobramentos do tema

principal” (PÁDUA, 2004, p. 70).

De maneira antecipada, foi construído um ofício, contendo breve apresentação

do conteúdo da pesquisa, seus propósitos e seus vínculos profissionais e

institucionais (também disponível nos apêndices), e apresentado aos entrevistados.

Todas as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas, para que fossem

ser codificadas e posteriormente analisadas. Para assegurar a integridade dos

entrevistados diante das revelações feitas, utilizaremos pseudônimos.

Além de entrevistas semiestruturadas, realizamos também entrevistas

estruturadas, contendo perguntas “fechadas” e, logo, mais propícias à quantificação.

Existem algumas variações deste tipo de técnica, dentre as quais optamos pelo

formulário.

51

Formulário

Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 212), o principal aspecto do formulário é

“[...] o contato face a face entre pesquisador e informante e ser o roteiro de perguntas

preenchido pelo entrevistador, no momento da entrevista”, caracterizando um sistema

de coleta de dados que consiste em “obter informações diretamente do entrevistado”

(MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 212). À vista disso, podendo ser aplicado por mais

de uma pessoa, ou por uma equipe, desde que instruídas previamente sobre o

conteúdo da pesquisa e a técnica de aplicação.

Estes instrumentos, conforme observa Pádua (2004, p.73) são construídos “[...]

a partir de perguntas fechadas, visando a quantificação de resultados”. Propiciando,

assim, uma amostra de dados bastante expressiva da realidade investigada, haja vista

a “Facilidade na aquisição de um número representativo de informantes, em

determinado grupo” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 213).

Nesta perspectiva, optamos por adotar este instrumento para suprir a

inexistência de dados, principalmente quantitativos, que tratem especificamente sobre

fluxo de capitais, mercadorias e pessoas no seio do circuito espacial de produção têxtil

em se tratando, sobretudo, do Seridó Potiguar.

A sua aplicação contemplou a última etapa de nossa pesquisa de campo,

retomando a visitação das unidades produtivas. Diferentemente das entrevistas,

ocorreu em um único bloco, uma vez que se refere mais diretamente a apenas um de

nossos objetivos específicos. Conteve, portanto, um roteiro em comum, baseado no

quadro-síntese a seguir (Quadro 03). O modelo utilizado na aplicação também

encontra-se disponível para consulta nos apêndices do presente trabalho.

52

Quadro 03: Síntese do bloco de aplicação de formulário.

SEQUÊNCIA

DE

APLICAÇÃO

OBJETIVO OPERACIONAL DIRETRIZ TEÓRICO-

METODOLÓGICA AGENTES AMOSTRA

ÚNICA

Compreender a circularidade do circuito espacial da produção de artefatos têxteis para consumo doméstico a partir das etapas que se realizam no Seridó Potiguar e com ele se interconectam diretamente.

[...] sobre a matéria prima – local de origem, formas de seu transporte, tipo de veículo transportador etc.;

[...] sobre estocagem – quantidade e qualidade dos armazéns, dos silos, proximidade da indústria, relação entre estocagem e produção etc.;

[...] sobre a comercialização – existência ou não de monopólio de compra, formas de pagamento, taxação de impostos etc.;

[...] sobre o consumo – quem consome, onde, tipo de consumo, se produtivo ou consumptivo etc. [...]

(SANTOS, 2008b, p. 56, grifo nosso).

Representantes das unidades produtivas (firmas).

Global: 95 unidades produtivas (pessoa jurídica) consultadas e 75 formulários aplicados.

Fonte: Adaptado de SANTOS (2008b). Organizado pelo autor com base na metodologia do presente trabalho.

53

Em relação a sua estrutura, o formulário foi composto, inicialmente, por um

cabeçalho contendo “dados que identifiquem o informante (sexo, idade, estado civil,

profissão, data da aplicação), seguidos dos dados da pesquisa propriamente dita”. As

perguntas foram organizadas em um sequenciamento lógico, “[...] das mais simples

às mais complexas [...]” (PÁDUA, 2004, p. 73), permitindo maior clareza, por parte dos

entrevistados, à concessão das respostas.

Em relação as questões de pesquisa, vislumbramos os eixos teórico-

metodológicos cuja existência de dados era mais evidente, notadamente, sobre

aquisição e origem de matéria-prima, estocagem e sua relação com a produção,

formas de comercialização e de consumo. O alvo foram as unidades produtivas,

podendo ser não necessariamente o proprietário, mas qualquer representante com

um conhecimento relativo sobre o funcionamento da firma.

Foram aplicados 75 formulários, abrangendo todas as 95 pessoas jurídicas do

Seridó Potiguar que, em tese, atuariam na fabricação de produtos têxteis, conforme

demonstrado pelo levantamento no Banco de dados da FIERN. A diferença entre o

número de formulários e de pessoas jurídicas se justifica pelo fato de ter sido

constatado, no ato da coleta, que algumas empresas abrigam mais de um CNPJ

(registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas). Nesses casos, foi solicitado ao

entrevistado (representante da unidade produtiva) que as informações fossem

concedidas de forma global, ou seja, se pensando a unidade produtiva como um todo,

e não apenas os vínculos cadastrais.

Destas, conforme apresentado no Gráfico 01, 43 (57%) encontravam-se ativas,

5 (7%) fechadas, 16 (21%) inativas. Outras 8 (11%) não puderam, ou não se

mostraram solícitas a, responder. Ainda foi identificado que 2 (3%) não atuavam no

ramo e 1% delas mudou de localização.

54

Gráfico 01: Situação das unidades produtivas consultadas.

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Do percentual de 28% entre fechadas ou inativas, foram consideradas como

fechadas as empresas com CNPJ dado baixa, e inativas aquelas que encontram-se

regulares, no entanto sem realizar produção. Entre as unidades cujos representantes

não puderam responder, em alguns casos não possível contatá-los ou não foram

encontrados os endereços, em outros os representantes se mostraram receosos a

responder devido apresentarem algumas irregularidades e temerem fiscalização de

alguma natureza em nossa questões. Quanto as que não atuam no ramo, na realidade

houve erro de cadastro nas atividades primárias da empresa, pois voltavam-se, em

ambos os casos, ao vestuário. No único caso observado de mudança de endereço, a

unidade que localizava-se em Timbaúba dos Batistas e migrou para a cidade de São

Bento na Paraíba.

Ainda como inferência introdutória sobre a aplicação dos formulários, o nosso

recorte foi reestabelecido apenas para os municípios de Caicó, Currais Novos e

Jardim de Piranhas, pois verificou-se no trabalho de campo que, apesar de conter

registro para o ramo de artefatos têxteis, os municípios de Serra Negra do Norte, São

José do Seridó e Timbaúba dos Batistas atualmente não possuem fabricação desta

natureza.

Portanto, foram contabilizadas como válidas as repostas do montante de 47

formulários, sobre os seguintes eixos: 1) Atividades produtivas; 2) Artigos produzidos;

3) Matéria-prima; 4) Estocagem; 5) Máquinas e equipamentos; 6) Comercialização; e

7) Financiamento.

57%

7%

21%

11%

3% 1%

ATIVA FECHADA INATIVA NÃO PUDERAM RESPONDER NÃO ATUAM NO RAMO MUDOU-SE

55

Diretrizes e técnicas de análise

Coletados todos os dados julgados como pertinentes e relevantes para a

pesquisa, deu-se início aos processos de 1) classificação e organização, 2) análise e

interpretação e 3) representação dessas informações.

Segundo Pádua (2004, p. 83), a primeira etapa, compilação dos dados

coletados, permitire “[...] uma visão de conjunto da pesquisa”, assim como “[...]

visualização de certos problemas com relação aos dados coletados, possibilitando

uma correção ou superação das deficiências observadas”. Neste sentido,

fundamentados em Marconi e Lakatos (2003, p. 166), adotamos os seguintes

procedimentos: seleção, codificação, tabulação – retratados com maior detalhe no

Quadro 04.

Quadro 04: Síntese dos procedimentos de classificação e organização dos dados

coletados.

SEQUÊNCIA PROCEDIMENTO DEFINIÇÃO E ENCAMINHAMENTOS

1) SELEÇÃO

É o exame minuciosos dos dados. De posse do material coletado, o pesquisador deve submetê-lo a uma verificação crítica, a fim de detectar falhas ou erros, evitando informações confusas, distorcidas, incompletas, que podem prejudicar o resultado da pesquisa.

2) CODIFICAÇÃO

É a técnica operacional utilizada para categorizar os dados que se relacionam. Mediante a codificação, os dados são transformados em símbolos, podendo ser tabelados e contados. [...] Codificar quer dizer transformar o que é qualitativo em quantitativo, para facilitar não só a tabulação dos dados, mas também sua comunicação.

3) TABULAÇÃO É a disposição dos dados em tabelas, possibilitando maior facilidade na verificação das inter-relações entre eles.

Fonte: Adaptado de Marconi e Lakatos (2003, p.167).

Concluída a sistematização, procedemos à etapa de análise e interpretação

dos dados. Nesse sentido, as autoras anteriormente citadas nos explicam que

“análise” e “interpretação”, apesar de estreitamente relacionas, são atividades

distintas. O procedimento de análise, ou explicação, consiste na “[...] tentativa de

evidenciar as relações existentes entre o fenômeno estudado e outros fatores”,

56

enquanto o procedimento de interpretação “É a atividade intelectual que procura dar

um significado mais amplo às respostas, vinculando-as a outros conhecimentos”

(MARCONI; LAKATO, 2003, p. 167-168).

Segundo Pádua (2004), este processo implica estabelecer relações existentes

entre as informações coletadas nas etapas precedentes, dentre as quais interessa

identificar: 1) pontos de divergência, 2) pontos de convergência, 3) tendências, 4)

regularidades, e 5) possibilidades de generalização. Estes pontos levantados pela

autora se constituem, todavia, como diretrizes e não como elementos identificáveis a

priori. Isto é, a análise exigirá de nós uma teia complexa de inferências e depreensões,

advindas exclusivamente do exercício intelectual, o que requer criatividade.

É neste sentido que as categorias analíticas, anteriormente apresentadas, se

constituem como que um elo entre a abstração e o concreto, presente nos dados

empíricos propriamente ditos, autorizando o estabelecimento de classificações. Em

outras palavras, “[...] trabalhar com elas significa agrupar elementos, idéias ou

expressões em torno dos conceitos capazes de abranger todos estes aspectos”

(PÁDUA, 2004, p. 84).

Vale salientar, entrementes, que por conceitos compreendemos: [...]

abstrações, que adquirem um significado, um sentido, somente dentro de um quadro

de referência, de um sistema teórico, ou seja, a partir das teorias que orientaram a

coleta de dados e que devem também orientar [...] [a] análise (PÁDUA, 2004, p. 85).

Desse modo, nos parece oportuno reforçar alguns parâmetros para a análise

de conteúdo. Uma proposta, em particular, tem nos servido de alicerce; trata-se de

um esquema de operacionalização proposto por Santos (2008), englobando os

seguintes aspectos: 1) a evolução do contexto, suas variáveis, e causa respectivas;

2) o tipo da evolução, se espontânea ou induzida; 3) os efeitos recíprocos de cada

evolução; 4) as condições da evolução recente e atual.

Quanto aos aspectos da evolução do contexto, suas variáveis e causas

respectivas, buscamos:

[...] identificar os eventos que implicam modificações importantes dentro do sistema temporal correspondente, isto é, provocando mudanças nos valores relativos dos elementos, tanto no sistema temporal como no espacial (SANTOS, 1976, p. 23).

57

Este procedimento exigiu elencar e confrontar: características de cada período;

tendências e rupturas nascentes em cada período; fatores de evolução e mutação;

principais consequências em relação aos períodos anteriores.

Já em relação à análise dos aspectos da problemática atual, levamos em

consideração os seguintes elementos: 1) concentração geográfica e suas implicações;

2) as atividades de controle externo, recentes ou não, e suas implicações; 3) as

perspectivas de uma evolução “espontânea”, e aos seus componentes especulativos;

e 4) o papel do Estado nessa evolução. Acreditamos que a partir da realização de

inferências, estas diretrizes nortearam o processo de interpretação dos dados, bem

como foram passíveis de representação e espacialização, nos direcionando para a

última etapa de análise.

Estatística descritiva e representações espaciais

Dentre outros instrumentos e técnicas de representação, utilizaremos para

sistematização dos dados coletados principalmente quadros, tabelas e gráficos, bem

o recurso metodológico de SIG (Sistema de Informações Geográficas) e a estatística

descritiva simples aplicada a técnica de autocorrelação espacial como suporte para a

nossa análise.

A técnica de representação espacial de eventos é advinda de um dos ramos

da Estatística. Esta permite:

[...] além de identificar, localizar e visualizar a ocorrência de fenômenos que se materializam no espaço, tarefas possibilitadas pelo uso dos SIG, utilizando-se a estatística espacial é possível modelar a ocorrência destes fenômenos, incorporando, por exemplo, os fatores determinantes, a estrutura de distribuição espacial ou a identificação de padrões (SANTOS; SOUZA, 2007, p. 17).

Em suma, as representações espaciais são produtos da pesquisa – resultados

– que permitem identificar, localizar e visualizar fenômenos, mas, antes disso, são

instrumentos de análise para se compreender a materialização dos processos no

espaço. Deste modo, buscando melhor nos apropriar desta ferramenta, realizamos

algumas leituras técnicas aplicadas ao seu uso, como as encontradas em: Santos e

Souza (2007), Gomes (2015), Santos et al. (2014) e Carvalho (2011).

58

Quanto aos métodos estatísticos, os utilizaremos em duas principais frentes.

Em primeiro lugar buscando analisar a frequência dados, ou seja, observar sua

ocorrência em relação a determinada variável. Para esses casos, utilizaremos

métodos visuais de representação, em sua maioria, quadros, em se tratando número

absolutos, ou gráficos para os dados relativos, principalmente o tipo pizza, ambos por

serem adequados às respetivas formas de visualização dos dados. Os quadros

possibilitam uma melhor leitura de dados absolutos e os gráficos pizza de

porcentagem.

Adotamos, outrossim, a estatística descritiva com intuito de investigar as formas

de distribuição espacial das variáveis estudadas. Em linhas gerais, este método de

análise é aplicado para descrever ou resumir as características de uma amostra. Uma

vez que o nosso enfoque é a distribuição geográfica dos dados coletados, a técnica

de análise utilizada será a autocorrelação espacial que “[...] refere-se à relação entre

o valor de uma variável em um ponto no espaço e o valor dessa mesma variável em

uma localidade próxima. (ROGERSON, 2012, p. 18)”.

Esta técnica foi utilizada para embasar estatisticamente a construção das

tipologias dos ramos do circuito espacial da produção têxtil no Rio Grande do Norte,

objetivando mensurar os dados coletados de maneira, ao mesmo tempo, coerente e

concisa e, por extensão, garantir maior confiabilidade a representação das

informações compiladas.

Como os ramos possuem uma abrangência considerável, a amostra dos dados

carecia de precisão em relação as localidades cuja inserção no circuito espacial têxtil

é mais destacada. Intentando dirimir esta questão, definimos os principais municípios

para as tipologias tendo como parâmetro as variáveis 1) número de empresas, 2)

número de funcionários e 3) porte médio (relação empresas x funcionários)

correlacionadas espacialmente a partir da aplicação de estatística descritiva simples.

Para tal, adotamos algumas medidas matemáticas, definidas como descritivas

e de variabilidade, as quais tentaremos explicar sumariamente a seguir. Em primeiro

lugar, são utilizados os chamados números sínteses da distribuição: mínimo, máximo,

os 25º e 75º percentis e a mediana; e em segundo, números um pouco mais aplicados:

média aritmética, discrepância e desvio padrão.

Os números mínimos e máximos, como se supõe facilmente, são os menores

e maiores valores encontrados na amostra.

59

25º e 75º percentis: o 25º percentil é o ponto de interseção entre 25% dos

menores valores e 75% dos maiores valores; o 75º percentil é a interseção entre 25%

dos maiores valores e 75% dos menores. “Com n observações, o percentil 25 é

representado pelas observações (n + 1)/4, quando os dados forem classificados do

menor para maior. O percentil 75 é representado pela observação 3(n + 1)/4.

(ROGERSON, 2012, p.30)”.

A mediana:

[...] é definida como a observação que divide a lista ordenada de observações (ordenados do menor para o maior, ou do maior para o menor) ao meio. Quando o número de observações é ímpar, a mediana é simplesmente igual ao valor do meio em uma lista ordenada de observações. Quando o número de observações é par, tomamos a mediana como a média aritmética dos dois valores no meio da lista ordenana. (ROGERSON, 2012, p.30)

A moda: “[...] é definida como valor que ocorre mais frequentemente [...]

(ROGERSON, 2012, p.30)”.

A média amostral:

“[...] é a tendência central de nossa observações; ela é encontrada pela adição de todas as respostas individuais e por sua divisão pelo número de observações. [...] é a soma das observações dividida pelo número de observações” (ROGERSON, 2012, p. 29)”.

O Desvio padrão amostral é igual à raiz quadrada da variância da amostra. Esta

medida de variabilidade serve para mensurar o desvio da média, apesar de não ser

igual à média do desvio absoluto de uma observação em relação à média. Quão maior

o desvio da média menor a confiabilidade. (ROGERSON, 2012)

Por último, a discrepância demonstra os valores considerados extremos, ou

seja, que estão equidistantes da maioria dos outros valores observados. Essas

observações extremas estão entre 1,5 vezes o intervalo interquartil – diferença entre

os 25º e 75º percentis. Como em nossa amostra esses casos se fazem bastante

presentes, iremos modalizá-los entre: discrepância leve – 1,5 vezes o valor

interquartil, somado ao 75º percentil (quartil superior) – e discrepância severa - 3

vezes o valor interquartil - o dobro da modalização anterior -, somado ao 75º percentil

(quartil superior). (ROGERSON, 2012)

60

2.3 Diversificação e especificidades do ramo têxtil

É mister, a esta altura, uma distinção. De modo geral, a indústria têxtil envolve

dois segmentos principais; ambos estão presentes no Rio Grande do Norte, e,

especificamente, no Seridó Potiguar. Estamos nos referindo à diferenciação entre

fabricação de produtos têxteis e confecção de artigos do vestuário e acessórios.

Outras nomenclaturas poderiam ser empregadas, contudo, o crucial é identificar que

há no interior do circuito de ramo têxtil, de um lado, a produção de artigos de vestuário,

e, de outro, a produção de artefatos têxteis de uso doméstico, cujas especificidades

técnicas de cada uma das atividades não só permitem mas pressupõem distingui-las

analiticamente, em que pese estarem dialeticamente imbricadas e justapostas no

espaço.

Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE, 2014)4 a

fabricação de produtos têxteis compreende: 1) preparação e fiação de fibras têxteis;

2) tecelagem, exceto malha; 3) fabricação de tecidos de malha; 4) acabamentos em

fios, tecidos e artefatos têxteis; e 5) fabricação de artefatos têxteis, exceto vestuário.

Enquanto a confecção de artigos do vestuário e acessórios compreende: 1) confecção

de artigos do vestuário e acessórios; e 2) fabricação de artigos de malharia e

tricotagem (IBGE, 2007).

Uma vez que a nossa pesquisa tem como objeto o uso do território do Seridó

Potiguar pelo circuito espacial de produção de artefatos têxteis para consumo

doméstico. E como o aporte teórico dos circuitos espaciais da produção parte de um

ramo produtivo específico, estabelecemos para o nosso universo amostral as

seguintes atividades (concernentes à divisão 13 da CNAE 2.0):

[...] atividades de preparação das fibras têxteis, a fiação e a tecelagem (plana ou não). As fibras têxteis podem ser naturais (algodão, seda, linho, lã, rami, juta, sisal, etc.) ou químicas (artificiais e sintéticas). A preparação das fibras têxteis naturais consiste em processos tais como: lavagem, carbonização, cardação, penteação e outras. A fiação é um processo intermediário na cadeia produtiva têxtil e tem como insumo as fibras naturais e as fibras químicas. A fabricação de tecidos é feita a partir de técnicas distintas: a tecelagem de tecidos planos é resultantes do entrelaçamento de dois

4 Por razões metodológicas, estabelecemos como parâmetro para a nossa análise a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0), uma vez que esta classificação é a oficialmente utilizada por todo o Sistema Estatístico Nacional, e, por extensão, todos os órgãos estatísticos que serão consultados, bem como pela Administração Pública em geral.

61

conjuntos de fios que se cruzam em ângulo reto; a malharia é resultado da formação de laços que se interpenetram e se apóiam lateral e verticalmente, provenientes de um ou mais fios e o tecido não tecido (non-woven) é obtido diretamente de camadas de fibras que se prendem umas às outras por meios físicos e químicos, formando uma folha contínua, como p.ex.: feltros e enchimentos. Esta divisão compreende também as atividades de acabamento de fios, tecidos e artigos têxteis e do vestuário. As atividades de acabamento podem realizar-se em fibras, fios e tecidos e constituem-se em uma série de operações que preparam os produtos têxteis para o uso a que se destinam. Podem ser: alvejamento, tingimento, estamparia e outros. Esta divisão não compreende a fabricação de fibras artificiais e sintéticas que são produzidas na indústria química (divisão 20), a fabricação de fibra de vidro (divisão 23) e a confecção de artefatos do vestuário (divisão 14) (IBGE, 2007, p. 107).

Queremos com esta pequena diferenciação deixar claro que as referidas

atividades possuem lógicas de localização distintas, ao passo que envolvem lógicas

produtivas também distintas. Em vista disso, constituem uma variável significativa

para nossa formulação e delimitação analítica, à guisa de uma perspectiva

eminentemente geográfica, vislumbrando compreender a trama locacional

empreendida pela produção têxtil no Seridó Potiguar, cuja explicação, todavia, não

está circunscrita à região5.

5 A expressão “trama locacional” refere-se a um conjunto de “posições relativas segundo um sistema de referências espaciais” (Gomes, 2013, p. 36). Para o autor a explicação geográfica está mais relacionada à forma de inquirir os objetos investigados, do que neles próprios, em sentido estrito. Seria patente à geografia explicar porque este sistema de referências espaciais intervém na construção de sentidos, isto é, explicar o porquê do onde.

62

3 ESPECIALIZAÇÕES TERRITORIAIS PRODUTIVAS E ATIVIDADE TÊXTIL NO

RIO GRANDE DO NORTE E NO SERIDÓ POTIGUAR

3.1 Entre conceitos e noções: o território como categoria de análise social

Em consonância com as dimensões, questões, e elementos apresentados,

estruturaremos nosso trabalho considerando o território como conceito-chave.

Levando em consideração, todavia, que todo conceito é tributário de um sistema

teórico-conceitual, cuja estruturação envolve variados elementos.

Estes conceitos fazem parte de um amplo arcabouço teórico/epistemológico,

do qual não temos nem os meios, nem as condições, de disseca-lo por completo.

Entretanto, empreenderemos esforços em vislumbra-lo minimamente a partir do que

aqui tomaremos como noções fundadoras do nosso aparato teórico-formal, que,

segundo Althusser (1978), não se esgota na dimensão teórico-conceitual, mas

também envolve a dimensão metodológica.

Para tal, teceremos breves apontamentos concernentes àquelas que soam

para nós como imprescindíveis. Fizemos a revisão destas noções, sobretudo, na obra

de Santos (2012), haja vista ser este o autor que contribuiu de forma mais direta com

o que aqui temos desenvolvido.

Neste sentido, nossa discussão sobre território se dá à luz de Santos (2005). O

que o autor conjectura, fundamentalmente, é que o conceito puro de território herdado

da modernidade incompleta é insuficiente para legitimar o território enquanto objeto

da análise social. Essa assertiva está fundamentada na nova realidade do território

que é a interdependência universal dos lugares.

Ao longo da história, o Estado-nação foi um marco que entronizou a noção

jurídico-política do território. Contudo, hoje, a natureza é histórica e seu valor local é

relativo. Antes, o Estado definia os lugares. O território era a base, o fundamento do

Estado-nação que, ao mesmo tempo, o moldava. Hoje, evoluímos da noção de Estado

territorial para a noção de transnacionalização do território.

No entanto, ressalta o autor, como antes não era tudo território “estatizado”,

hoje nem tudo é “transnacionalizado”. A implicação disso é a de que o território

habitado cria sinergias e impõe ao mundo uma revanche. “Seu papel ativo faz-nos

pensar no início da História, ainda que nada seja como antes. Daí essa metáfora do

retorno” (SANTOS, 2005, p. 255).

63

Sempre segundo Santos (2005), de modo estrito, o território são as formas, ou

seja, configuração territorial. Por outro lado, o território usado representa a

reciprocidade entre objetos e ações, base material junto à vida social que lhe anima,

um sinônimo de espaço geográfico. Se bem compreendemos o autor, o território

usado enquanto sinônimo de espaço representa muito mais uma lição de método6, do

que propriamente conceitual, não havendo, assim, ambiguidade. Podemos

depreender, portanto, que o objetivo é compreender o território à luz da teoria do

espaço geográfico.

Segundo Santos (2004c, 181), o espaço geográfico é uma estrutura social, ou

seja, uma instância da sociedade:

Ora, o espaço, como as outras instâncias sociais, tende a reproduzir-se, uma reprodução ampliada, que acentua os traços já dominantes. A estrutura espacial, isto é, o espaço organizado pelo homem é, como as demais estruturas sociais, uma estrutura subordinada-subordinante. [...] E como as outras instâncias, o espaço, embora submetido à lei da totalidade, dispõe de uma certa autonomia que se manifesta por meio de leis próprias, específicas de sua própria evolução.

Esta autonomia se dá através do que ele apresenta como específico, como

particular, isto é, por características que lhe são constitutivas e o definem. O espaço

geográfico, portanto, se define como “[...] um conjunto indissociável, solidário e

também contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados

isoladamente, mas como quadro único no qual a história de dá” (SANTOS, 2012, p.

63).

Neste ínterim, a noção de técnica urge como basilar. Esta é definida por Santos

(2012) como um conjunto de meios instrumentais e sociais com os quais o homem

realiza sua vida, produz e também cria espaço.

Desta forma, concordamos com Silveira (2010a) ao afirmar que seria

necessário, hoje mais que ontem, tomar a técnica e a norma e entende-las como

elementos constitutivos do espaço geográfico. Ir além das técnicas particulares e

entender o fenômeno, para superar o estágio descritivo e se a aproximar do real.

6 O método para Santos (2012, p. 77) significa a “[...] construção de um sistema intelectual que permita,

analiticamente, abordar uma realidade, a partir de um ponto de vista. Este não é um dado em si, um dado a priori, mas uma construção. É nesse sentido que a realidade social é intelectualmente construída”.

64

O estudo das técnicas, portanto “[...] ultrapassa largamente, desse modo, o

dado puramente técnico e exige uma incursão bem mais profunda na área das

próprias relações sociais” (SANTOS, 2008c, p 59). Para tal, se deve partir do

entendimento da técnica como fenômeno histórico e vê-la como empiricização do

tempo. Esta atitude pressupõe analisa-la como forma e como ação. Enquanto forma,

a técnica é tecnologia, material, conjunto de objetos; enquanto ação, ou evento, é

procedimento, norma, uso, imaterial, ação tecnificada.

Não menos importante é compreender, hoje, a produção de necessidades como um

dado da técnica. O que permite inferir que a técnica é mediação e meio. A ideia de

meio geográfico deve ser retomada enquanto empiricização das possibilidades do

período histórico.

Neste embate, entre as formas e as ações, surge a noção de norma. Para

Santos (2012) está é fruto de duas situações extremas e de uma série de situações

intermediárias. Estas são da ordem do universal, do particular e do individual; aquelas

estão relacionadas à natureza de cunho mais geral da ação, isto é, de sua ordem

global ou local. No entanto, trata-se, em ambos os casos, de combinações distintas

entre normas e formas. “No caso do Mundo, a forma é sobretudo norma, no caso do

Lugar a norma é sobretudo forma” (SANTOS, 2012, p. 338).

O tempo, em comunhão com a técnica, como bem nos elucida Santos (2012),

não é apenas sincronia, mas também diacronia. Para o autor, é necessário considerar

o tempo não apenas como transcurso ou intensidade, mas também como extensão,

espacialidade. Dessa maneira, ficaríamos mais próximos de compreender esta noção,

de um ponto vista geográfico, a partir do(s) evento(s).

O evento é “um instante do tempo dando-se em um ponto do espaço”

(SANTOS, 2012, p. 144). “Eles acontecem em dado instante, uma fração de tempo

que eles qualificam. Os eventos são, simultaneamente, a matriz do tempo e do

espaço” (SANTOS, 2012, p. 145). Em outros termos, o tempo é uma dimensão do

espaço, conferindo-lhe o movimento. Trata-se de uma espécie de ligação covalente,

entre a geografia e a história.

O autor explica que os eventos possuem certa ordem, caracterizada como

ordem temporal, já que eles se sucedem, possuem um alinhamento cronológico.

Todavia, os eventos não se dão isoladamente. Na realidade, eles coexistem, tratando-

se de elementos constitutivos de uma lógica sistêmica, isto é, a natureza diversificada

dos eventos faz com haja uma superposição, um acúmulo.

65

Daí a constatação de que o tempo se estrutura a partir de dois eixos,

dialeticamente justapostos e imbricados. Não se tratando, pois, apenas de sucessões,

ordem temporal, mas também, e tão importante quanto, de coexistências,

temporalidades diversas interagindo. Trabalharemos um pouco mais detalhadamente

desta noção, a seguir, uma vez que lançaremos mão deste par-dialético enquanto

categorias analíticas, intentando, justamente, melhor trabalha-la em nossa pesquisa.

Nesta perceptiva, não partiremos, em relação ao nosso objeto, de uma data

precisa e determinada. Pois, não acreditamos que a dimensão temporal de um

trabalho se circunscreva a termos de cisão, interessando mais compreender os

processos, o movimento, isto é, “o acúmulo desigual de tempos”, à que nos referíamos

outrora.

Concentraremos esforços, portanto, em identificar o marco de inflexão para o

desenvolvimento da atividade têxtil no Seridó Potiguar, que para nós se circunscreve

ao período entre o auge e o declínio da atividade algodoeira no Rio Grande do Norte,

correlacionando esta evolução, de maneira específica, ao nosso interesse

investigativo. Em outros termos, trata-se de situar no tempo a convergência de vetores

que culminaram no surgimento, no Seridó Potiguar, da produção têxtil, em

consonância com as variáveis advindas do momento imediatamente anterior, cuja

soma empreendeu as condições para o seu desenvolvimento.

Além da concepção cronológica, outro problema que se impõe ao tratamento

analítico do tempo enquanto variável geográfica é a questão da escala. Santos (1976)

nos convida a pensar que de um ponto de vista genético os eventos são diacrônicos,

ou seja, eventos de “idades” diferentes coexistem no espaço. Entretanto, de maneira

contraditória, o funcionamento dessas variáveis, para cada situação, é sincrônico, ou

seja, transcorrem-se sucessivamente, cronologicamente.

Isso implica, portanto, na existência “[...] de defasagens (time-lag) entre as

variáveis, as quais explicam as diferenças da organização do espaço entre os países

e as chamadas ‘disparidades regionais’”. Logo, “[...] cada parte do espaço está dotada

de vários tempos externos e de um tempo interno” (SANTOS, 1976, p. 21).

Ou seja, a escala mais ampla é a do mundo, sendo externo à todos outros

sistemas temporais. Na menor escala se encontram os sistemas temporais dos usos

concretos do território, impactados por vários tempos externos. Por isso nesta

dimensão “[...] as mudanças sucessivas na estrutura espacial são mais frequentes por

66

unidade de tempo que nas instâncias mais altas”. É como que “[...] o tempo mesmo

se multiplicasse” (SANTOS, 1976, p. 21).

Não obstante, nos parece óbvia a existência, para além dessas situações

extremas, de uma infinidade de situações intermediárias:

Há uma coexistência de muitos modos particulares e concretos de produção, mas em cada sistema temporal o modo de produção dominante em cada país é uma expansão ou reprodução do modo de

produção dominante em seu centro internacional (SANTOS, 1976, p. 21).

Mas, para todos os casos, a formação socioespacial se constitui,

inequivocamente, como um catalizador. Pois “Somente o Estado pode modificar este

esquema. É por isso que o Estado-Nação se converte na unidade geográfica de

estudo” (SANTOS, 1976, p. 21). Conforme explicou Santos (1977, p.84), esta

categoria nos dá indícios e nos permite conhecer “[...] uma sociedade na sua

totalidade e nas suas frações [...]”, mas sempre a partir de “[...] um conhecimento

específico, apreendido num dado momento de sua evolução”. Destarte, se, unido à

este conhecimento, consideramos a existência de uma totalidade maior e de

sucessivas totalidades menores, e se, ainda, lembrarmos que a nossa estrutura

político-administrativa é consentânea ao modelo federativo, havemos de convir que o

Rio Grande do Norte e seus respectivos recortes, enquanto unidade na diversidade e

na totalidade federativa, se constituem em uma cisão significativa.

Diante disso, é o uso do território, e não o território em si mesmo, que faz dele

objeto de análise social. O que ele tem de permanente é ser constitutivo da vida, trata-

se de uma noção que carece de constante revisão histórica. Entendê-lo, pois, é

fundamental para afastar o risco de alienação, da perda do sentido da existência

individual e coletiva e de renúncia do futuro.

Destarte, depreendemos da leitura de Santos (2005) que o funcionamento do

território passa por horizontalidades e verticalidades. As horizontalidades são os

espaços da contiguidade, da vizinhança, da copresença; as verticalidades são pontos

distantes, redes (parte do espaço, espaço de alguns). À ideia de rede é necessário

contrapor a de espaço banal, já que além das redes, antes das redes, apesar das

redes, depois das redes, com as redes, há o espaço banal, o espaço de todos, todo o

espaço.

67

Afirma-se, desse modo, a dialética do território, já que o território usado é

humano. Essa dialética está fundada por um controle “local” da parcela “técnica” da

produção e um controle distante da parcela “técnica” e política da produção. A parcela

técnica permite certo controle do entorno, embasado na configuração técnica do

território, em sua densidade técnica e funcional (informacional).

É preciso refletir sobre este conflito estabelecido entre o espaço local (vivido) e

um espaço global (racionalizador e distante). Pois, o processo racionalizador, distante

(global), chega aos lugares via objetos e normas, através de redes (normas e formas

à serviço de alguns) que se contrapõem ao espaço banal.

O território (transnacionalizado) se reafirma pelo lugar, o que justifica a

tendência atual de união vertical dos lugares. Mas a eficácia dessa união está sendo

constantemente posta em jogo e só sobrevive com um aparato normativo rígido. Por

isso, o autor nos propõe pensar na construção de novas horizontalidades, fecundas

de possibilidade, que permitam um caminho para a libertação da globalização

perversa.

Como corolário, o lugar é condição/suporte de relações de ordem global, as

quais, sem o mesmo, não se realizariam (Santos, 2005). É no lugar onde tudo

acontece. Em outros termos, somente no lugar podem se realizar os eventos, ambos

metamorfoseando-se dialeticamente. “O lugar é a oportunidade do evento” (SANTOS,

2005, p. 163).

Os lugares se diferenciam, exatamente, pelos agrupamentos de distintos

atributos, ou seja, por essa virtualidade da possibilidade ao evento, à qual nos

referimos. Estes distintos agrupamentos de recursos, por seu turno, resultarão na

efetivação de atividades específicas.

“Tal distribuição de atividades, isto é, tal distribuição da totalidade dos recursos,

resulta da divisão do trabalho. Esta é o valor que permite à totalidade dos recursos

[...] funcionalizar-se e objetivar-se” (SANTOS, 2012, 133). Torna-se nítida a dedução

de que este processo se dá as expensas de uma hierarquização dos lugares, e,

portanto, supõe a existência de conflitos. Desse modo, a divisão do trabalho pode ser

interpretada como o processo pelo qual se dá a repartição dos recursos, cuja

disponibilidade está distribuída social e espacialmente.

68

3.2 Tipologia dos ramos do circuito espacial da produção têxtil no Rio Grande

do Norte

Inserido na lógica global do modo capitalista de produção, que apresenta

mudanças estruturais nas instâncias da produção e da sociedade, o estado do Rio

Grande do Norte, sobretudo a partir dos anos 1980, recebe a influência de novos e

variados vetores, implicando em um processo de solapamento de sua base

econômica, que nesse período era essencialmente rural. Para Azevedo (2013), a

indústria é um dos eixos significativos dessa reorganização.

Como podemos observar no gráficos 02 e 03, a indústria vem se consolidando

a partir de 1970, tanto individualmente (Gráfico 02), quanto inserida no conjunto da

economia potiguar (Gráfico 03). Como evidência disso, ela ultrapassa em matéria de

valor adicionado bruto todos os demais setores da economia na década de 1980,

apresentando seu auge.

Gráfico 02: Série histórica do valor adicionado bruto por setor da economia no RN

(1920-2000), em valores absolutos a preços básicos (R$) do ano 2000.

Fonte: IPEA, 2016.

O referido autor elenca alguns fatores que convergiram para essa evolução,

tais como a política de incentivos fiscais adotada no período, coadunada ao

fortalecimento do capital privado no Estado. Nesta perspectiva, Azevedo e Galindo

(2016, p. 19) elucidam que:

0,00

500000,00

1000000,00

1500000,00

2000000,00

2500000,00

3000000,00

3500000,00

4000000,00

1920 1939 1970 1975 1980 1985 1996 2000

Agropecuária Indústria Serviços

69

É notório que o estado do RN passou por uma diversificação em sua estrutura produtiva comparativamente a que existia nos anos 1970. (Re)produz-se, no estado, uma Indústria Extrativa baseada na existência/disponibilidade de recursos naturais, como os vetores de extração de petróleo e do refino de sal marinho, além de uma Indústria de Transformação que se instala devido as políticas de incentivos fiscais e disponibilidade de mão de obra barata.

Gráfico 03: Série histórica do valor adicionado bruto pela Indústria no RN (1920-

2010), em valores absolutos a preços básicos (R$) do ano 2000.

Fonte: IPEA, 2016.

Ela desenvolve-se no Rio Grande do Norte principalmente a partir da

agroindústria, do extrativismo e do ramo têxtil, conforme aponta a evolução ilustrada

no Gráfico 04. Cada eixo envolve as seguintes atividades:

[...] o agroindustrial, abrangendo a indústria de alimentos, bebidas e de insumos agrícolas; o extrativismo mineral, envolvendo a extração de petróleo, gás, sal, granito etc., e por último a indústria têxtil que tem retomado seu ritmo de crescimento a partir do ano 2000. (AZEVEDO, 2013, p. 119).

0

500000

1000000

1500000

2000000

2500000

3000000

3500000

4000000

1920 1939 1949 1959 1970 1975 1980 1985 1996 2000 2005 2010

Indústria

70

Gráfico 04: Série histórica do valor adicionado bruto por setor da indústria no RN

(1985-2009), em valores absolutos a preços básicos (R$) do ano 2000.

Fonte: IPEA, 2016.

Podemos depreender dessa evolução que o eixo extrativista foi o que sofreu

maiores sobressaltos ao longo do tempo, muito em parte devido questões

supranacionais como as variações de moeda e o surgimento ou fortalecimento de

outras cadeias internacionais. Enquanto que a indústria de transformação,

englobando os eixos agroindustrial e têxtil, após um queda no início da década de

1990, se manteve maios ou menos estável nos últimos anos, conforme podemos

verificar mais detalhadamente a evolução dos setores da economia no Rio Grande do

Norte, em números absolutos e relativos, compreendendo os últimos quinze anos,

representada nos gráficos 05 (valores absolutos) e 06 (valores relativos).

0,00

200.000,00

400.000,00

600.000,00

800.000,00

1.000.000,00

1.200.000,00

1.400.000,00

1.600.000,00

1.800.000,00

19

85

19

86

19

87

19

88

19

89

19

90

19

91

19

92

19

93

19

94

19

95

19

96

19

97

19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

Construção Extrativa mineral

Serviços de utilidade pública Transformação

71

Gráfico 05: Série histórica do valor adicionado bruto a preços correntes por setor da

economia no RN (2002-2014), em valores absolutos (referência 2010).

Fonte: IBGE, 2017.

Inferimos a partir desta leitura que, apesar de uma relativa queda em relação

às demais áreas no que se refere ao valor adicionado bruto, a Indústria no Rio Grande

do Norte manteve um ritmo de crescimento, em que pese os efeitos conjunturais da

crise internacional financeira de 2008, marcadamente sentidos em toda a economia

nacional.

Gráfico 06: Série histórica do valor adicionado bruto a preços correntes por setor da

economia no RN (2002-2014), em valores relativos (referência 2010).

Fonte: IBGE, 2017.

0

5.000.000

10.000.000

15.000.000

20.000.000

25.000.000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Agropecuária

Indústria

Serviços

Administração, saúde e educação públicas e seguridade social

0

10

20

30

40

50

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Agropecuária

Indústria

Serviços

Administração, saúde e educação públicas e seguridade social

72

Desta forma, a Indústria continua representando um papel relevante no uso

produtivo do território potiguar, em que pese compor atualmente 22% do Produto

Interno Bruto do estado (conforme ilustra o Gráfico 07), 6 pontos percentuais menor

em relação à 2002. Constamos, pois, que não há queda ou, propriamente, crise,

conforme tem se propagado no discurso hegemônico, mas ocorre, isso sim, um

crescimento relativo, e não absoluto, menor em comparação com outras áreas,

sobretudo em relação ao comércio e serviços - por n motivos que não nos convém

elencar no momento, mas que alguns trabalhos acadêmicos já sinalizaram, como

mostra Pessoa (2015), para ficar apenas com um exemplo. Uma prova cabal disto é

o próprio desenvolvimento da atividade têxtil no estado, que se dá em duas frentes:

“[...] verifica-se sensível aumento no número de unidades têxteis de produção, ao

passo que o número de empregos no setor cresceu de forma expressiva (Azevedo,

2013, p. 127).

Gráfico 07: Percentual do valor adicionado bruto a preços correntes por setor da

economia no RN em 2014 (referência 2010).

Fonte: IBGE, 2017.

Neste âmbito, conforme elucida Azevedo (2007), é necessário atentar para a

relevância do Seridó Potiguar, notadamente nas produções alimentícia, cerâmica e

têxtil. Esta última atividade – a têxtil – é marcadamente possui uma sensível

expressividade na região, observada a partir de uma especialização territorial

produtiva em relação ao ramo. O levantamento realizado pela FIERN (2013) reforça a

perspectiva mencionada, colocando o referido circuito como um dos mais

3%

22%

46%

29%

Agropecuária

Indústria

Serviços

Administração, saúde eeducação públicas e seguridadesocial

73

significativos da região: 34,8% das unidades produtivas e 10,6% dos empregados em

relação ao total do estado na atividade.

Fazemos a ressalva, entretanto, de que não são as localizações em si que nos

darão a chave para o entendimento do uso do território, mas sim a trama dos circuitos

espaciais produtivos. Não obstante, os processos de acumulação permitem distinguir,

por meio das firmas, poderes de mercado e ações territoriais.

Retomando a reflexão em torno da influência do território na distribuição

espacial das atividades, o ramo têxtil no Rio Grande do Norte está disposto tanto de

maneira dispersa, quanto concentrada. O maior exemplo do padrão de dispersão é a

pulverização do ramo das facções do vestuário por todo o estado, com políticas

específicas de proliferação e interiorização da atividade. Em contraponto, de forma

concentrada, nós temos a atividade das grandes empresas, cujas filiais se fazem

presente ao redor dos centros urbanos de maior expressão, se beneficiando de uma

infinidade de fatores, tais como proximidade e variedade de modais logísticos e

estratégicos, além da proximidades ao grandes centros de consumo. Temos ainda o

caso das pequenas unidades do ramo de artefatos domésticos, as quais expressam

um padrão de concentração mais evidente entre os exemplos correntes,

aprofundando-se progressivamente nas escalas do Estado, até apresentar níveis de

especialização territorial bastante expressivos.

Furtado (1969, p. 51) explica que esse processo faz parte da estruturação

espacial da economia. Para o autor, as atividades produtivas atacam,

concomitantemente, duas frentes de concentração: funcional e espacial. Ademais: “A

atividade econômica tende a concentrar-se no espaço, maximizando economias de

aglomeração, da mesma forma que ela se concentra no tempo a fim de reduzir o

coeficiente de incerteza”.

Como essas asseverações são marcadamente tributárias ao enfoque dos

circuitos espaciais de produção, e vice versa, sugerimos a existência de uma tipologia

de ramos, pautada em dois segmentos principais, confecção e vestuário e artefatos

domésticos. Consequentemente, paralelos a essas tipificações, estão dispostos

circuitos espaciais da produção têxtil no RN, havendo, neste ínterim, especificidades

e particularidades quanto ao Seridó Potiguar.

Conforme encaminhamos brevemente sobre a fundamentação sua conceitual,

o espaço geográfico é um sistema de estruturas, não de elementos. Tratamos,

outrossim, que as categorias analíticas estruturantes nos autorizam pensar o circuito

74

espacial produtivo enquanto estrutura, e que a totalidade, em seu incessante processo

de totalização, é composta de totalidades menores.

Depreendemos, portanto, ser inteiramente legítimo reconhecer na esfera da

formação sociespacial um circuito espacial da produção têxtil, mas na medida em que

esta estrutura avança nos tempos internos (nas escalas inferiores) ela vai

subdividindo-se em estruturas menores, revelando uma coexistência de atividades,

etapas, agentes, e, portanto, de circuitos espaciais menores. Diante disso, nos

consideramos fundamentados para esboçar tipologias do circuito espacial da

produção têxtil no Rio Grande Norte.

A atividade têxtil no Rio Grande do Norte: diferenças básicas entre os ramos

Como poderá se perceber ao decorrer da análise, fazemos muita referência as

variáveis unidades produtivas, funcionários e relação unidades produtivas e

funcionários, ou seja, porte médio das empresas. Estes três elementos, sobretudo os

dois primeiros, possuem bastante relevo em nossa análise pois acreditamos que eles

podem nos revelar a capilaridade das atividades que intentamos compreender.

Ora, se há um número expressivo de determinadas empresas em determinado

subespaço, isso é um indício muito forte de um uso produtivo intenso do território. Da

mesma maneira que, se há muitas pessoas trabalhando em determinada atividade,

isso gera movimento, envolve uma gama maior de agentes e assim por diante.

Ademais, essas variáveis nos permitem um grau mais elevado de mensuração, haja

vista a possibilidade de serem tratadas quantitativamente e estarem dispostas de

maneira mais abrangente que quaisquer outra.

Considerando estes aspectos e lançando mão das informações coletadas

sobre as variáveis supracitadas por meio do banco de dados da FIERN, realizamos,

doravante, uma análise da distribuição da atividade têxtil no Rio Grande do Norte,

objetivando estabelecer tipologias que ajudem a explicar a organização interna desse

circuito espacial produtivo, isto é, a maneira como ele se materializa no território

potiguar. Constatamos, inicialmente, que a quantidade de unidades produtivas e

funcionários entre os ramos de fabricação de produtos e confecções e vestuário têxtil

é bastante superior em relação a este último (gráficos 08 e 09). A atividade de

confecções e vestuário abriga uniformemente a maior das duas variáveis,

evidenciando uma uniformidade da distribuição das mesmas no estado.

75

Gráfico 08: Percentual do número de

empresas por ramo da atividade têxtil

no RN.

Gráfico 09: Percentual do número de

funcionários por ramo da atividade têxtil

no RN.

Fonte: FIERN, 2017. Fonte: FIERN, 2017.

Analisando em percentuais, 77% das unidades produtivas no RN executam

atividades voltadas ao vestuário, acumulando 683 empresas. Um percentual muito

próximo também é verificado quanto ao número de funcionários, 75% (18.527) estão

empregados no ramo. Já a fabricação de produtos têxteis contempla 208 unidades

produtivas, 23% da quantidade total, empregando 6.144 pessoas, equivalente à 25%

do têxtil global.

A maioria dessas unidades produtivas são de pequeno porte7, compostas de

Microempresas, 39% das ocorrências, seguidas por Microempreendedores

Individuais, 36% dos casos e, em menor número, mas com um percentual também

considerável, 23% são Pequenas. As empresas Médias e Grandes juntas não chegam

a acumular sequer 3% total, sendo 2% para as primeiras, e as últimas não chegando

a acumular 1% do montante (Gráfico 10).

7 Os valores de referência estabelecido por nós para tipificar os portes das empresas é o do SEBRAE (2017), por meio do qual as empresas são agrupadas em diferentes categorias com base no número de funcionários. Esta classificação segue dois parâmetros, havendo diferença de critérios segundo os tipos de estabelecimentos, divididos entre industriais e de comércio e serviços. Em nosso trabalho, adotamos as categorias de porte médio utilizadas para classificar os estabelecimentos industriais, que subdividissem entre: Microempreendedor Individual (0 empregados), Microempresa (até 19 empregados), Empresa de Pequeno Porte (de 20 a 99 empregados), Empresa de médio porte (de 100 a 499 empregados) e Grande empresa (500 ou mais empregados. Vale salientar que esta classificação

77%

23%

EMPRESAS

Confecção e Vestuário Artefatos domésticos

75%

25%

FUNCIONÁRIOS

Confecção e Vestuário Artefatos domésticos

76

Gráfico 10: Percentual dos portes das empresas do ramo têxtil (global) no RN.

Fonte: FIERN, 2017.

Já o Seridó Potiguar, de modo particular, registra um pequena alteração em

relação a distribuição de empresas nos dois ramos. Mantendo a coerência, no entanto,

para o total do estado no que se refere à distribuição dos funcionários. Esta variável

encontra-se distribuída da mesma maneira na região, ou seja, 75% dos funcionários,

3.613, no ramo de confecções e 25%, 1.234, no de artefatos (Gráfico 12).

A maior peculiaridade da indústria têxtil está no equilíbrio mais elevado entre a

quantidade empresas por ramos. Aqui, 67%, 209, são do vestuário e 33%, 102, da

fabricação de artefatos (Gráfico 11). Isso evidencia a capilaridade espacial desta

atividade no referido recorte, no qual o percentual maior de unidades não modifica a

estrutura quanto ao número de funcionários, indicando que existem mais empresas

distribuídas, porém com um porte médio ainda menor em relação ao estado.

0% 2%

23%

39%

36%

Grande (500 ou mais)

Média (100-499)

Pequena (20-99)

Micro (até 19)

MicroempreendedorIndividual

77

Gráfico 11: Percentual do número de

empresas por ramo da atividade têxtil

no Seridó Potiguar.

Gráfico 12: Percentual do número de

funcionários por ramo da atividade têxtil

no Seridó Potiguar.

Fonte: FIERN, 2017. Fonte: FIERN, 2017.

Aqui, o percentual de Micro e Pequenas Empresas é ainda mais elevado, 46%

(143 unidades) e 35% (59 unidades) respectivamente. E é interessante notar que a

quantia de Microempreendedores Individuais é bem menor, 19% (59 unidades) em

relação ao percentual para todo o estado (36%), 17 pontos percentuais de diferença

(Gráfico 13). Mais um indício da capilaridade, pois as empresas são relativamente

menores, mas ao mesmo tempo não são individuais. Vale notar, ainda, que inexistem

na região médias ou grandes corporações.

Gráfico 13: Percentual dos portes das empresas do ramo têxtil (global) no Seridó

Potiguar.

Fonte: FIERN, 2017.

67%

33%

EMPRESAS

Confecção e Vestuário Artefatos domésticos

75%

25%

FUNCIONÁRIOS

Confecção e Vestuário Artefatos domésticos

35%

46%

19%

Pequena (20-99) Micro (até 19) Microempreendedor Individual

78

Na mesma perspectiva, podemos observar que o percentual de empresas do

Seridó é bem mais significativo em relação as outras regiões do estado se comparado

ao percentual de funcionários. 35% das unidades produtivas do Rio Grande do Norte

se concentram na região (Gráfico 14), assim como 20% dos funcionários (Gráfico 15).

Em suma, podemos depreender que a Indústria têxtil no estado se concentra

em maior número, tanto de empresas quanto de empregados, no ramo de vestuário e

que o porte médio das unidades estão entre os produtores individuais (que trabalham

sem empregar outros funcionários) e micro empresas. O Seridó Potiguar, por seu

turno, apresenta uma distribuição mais equitativa de unidades produtivas por ramo,

em que pese apresentar a mesma tendência em relação ao número de empregados

por ramo. Destaca-se, ainda, pela capilaridade de Pequenos e Micro

empreendimentos em seu território.

Gráfico 14: Percentual do número

empresas do ramo têxtil (global) no

Seridó Potiguar em relação ao total do

estado.

Gráfico 15: Percentual do número

funcionários do ramo têxtil (global) no

Seridó Potiguar em relação ao total do

estado.

Fonte: FIERN, 2017. Fonte: FIERN, 2017.

35%

65%

EMPRESAS

Seridó Restante do RN

20%

80%

FUNCIONÁRIOS

Seridó Restante do RN

79

As especificidades do ramo de confecções e vestuário

Conforme analisamos anteriormente, cada ramo da Indústria têxtil constitui-se

de peculiaridades quanto à sua distribuição no Rio Grande do Norte e no Seridó

Potiguar. Nós podemos, portanto, fazer o mesmo exercício realizado acima no interior

de cada ramo.

Entre outras características, identificamos quais são e como estão dispostas as

atividades produtivas primárias8 e os portes das empresas para o Rio Grande do Norte

e para o Seridó Potiguar, e qual a participação deste em relação a aquele.

Apresentamos, outrossim, a variedade de artigos produzidos no referido recorte, seus

principais segmentos e classes de serviços. Por último, evidenciamos as formas de

distribuição territorial e quais municípios denotam maior capilaridade no ramo.

Gráfico 16: Percentual das atividades primárias do ramo de confecção e vestuário no

RN por número de empresas.

Fonte: FIERN, 2017.

Quanto ao percentual de empresas para o Rio Grande do Norte (Gráfico 16),

67% das unidades têm como atividades primária a confecção de peças do vestuário,

exceto roupas íntimas (455 unidades); 13% a fabricação de artigos do vestuário,

8 Para realizar o cadastro de pessoa jurídica, todas as empresas devem declarar qual atividade primária executa, isso para fins estatísticos e tributários. No entanto, não significa que as atividades doravante descritas sejam as únicas executadas por unidade produtiva, mas as principais.

67%

12%

7%

13%

1% Confecção de peças do vestuário,exceto roupas íntimas

Confecção de roupas íntimas

Confecção de roupas profissionais

Fabricação de acessórios dovestuário, exceto para segurança eproteção

Fabricação de artigos do vestuário,produzidos em malharias etricotagens, exceto meias

80

exceto para segurança e proteção (91 unidades); 12% a confecção de roupas íntimas

(80 unidades); 7% a confecção de roupas profissionais (51 unidades); e 1% a

fabricação de artigos do vestuário, produzido em malharias e tricotagens, exceto

meias (6 unidades).

Já em relação à distribuição de funcionários por atividade (Gráfico 17), 85%

estão empregados na confecção de peças do vestuário, exceto roupas íntimas

(15.756 funcionários); 9% na fabricação de acessórios do vestuário, exceto para

segurança e proteção (1.695 funcionários); 4% na confecção de roupas de íntimas

(694 funcionários); 2% na confecção de roupas profissionais (337 funcionários).

Gráfico 17: Percentual das atividades primárias do ramo de confecção e vestuário

no RN por número de funcionários.

Fonte: FIERN, 2017.

Depreende-se, portanto, que a atividade majoritária é a confecção de peças do

vestuário, exceto roupas íntimas. Mas também vale destacar o relevo da fabricação

de acessórios do vestuário, exceto para segurança e proteção, da confecção de

roupas íntimas, e da confecção de roupas profissionais no estado.

Em relação ao porte médio das empresas de confecção (Gráfico 18), 39% das

unidades produtivas são constituídas por Microempreendedores Individuais (264

unidades); 35% por Micro empresas (238 unidades); 25% por Pequenas empresas

(171 unidades); 1% são Médias empresas (9 unidades); as Grandes empresas não

compõe uma porcentagem significativa. Esses percentuais estão estreitamente

próximos dos globais, inferindo-se que, em certa medida, por ser mais abrangente, o

85%

4%2%

9%

0% Confecção de peças do vestuário,exceto roupas íntimas

Confecção de roupas íntimas

Confecção de roupas profissionais

Fabricação de acessórios dovestuário, exceto para segurança eproteção

Fabricação de artigos do vestuário,produzidos em malharias etricotagens, exceto meias

81

ramo de vestuário conformam os dados para Indústria têxtil do RN, mascarando as

peculiaridades do ramo de artefatos domésticos e fabricação de tecidos planos em

geral.

Gráfico 18: Percentual dos portes das empresas do ramo de confecção e vestuário

no RN.

Fonte: FIERN, 2017.

Tratando-se especificamente do Seridó Potiguar (Gráfico 19), 57% das

unidades produtivas atuam na atividade primária de confecção de peças do vestuário,

exceto roupas íntimas (120 unidades); 36% na fabricação de acessórios do vestuário,

exceto para segurança e proteção (75 unidades); 4% na confecção de roupas íntimas

(8 unidades); 2% na fabricação de artigos do vestuário, produzidos em malharias e

tricotagens, exceto meias (5 unidades); e 1% na confecção de roupas profissionais (1

unidades).

1%

25%

35%

39%

Média (100-499) Pequena (20-99) Micro (Até 19) Individual

82

Gráfico 19: Percentual das atividades primárias do ramo de confecção e vestuário no

Seridó Potiguar por número de empresas.

Fonte: FIERN, 2017.

Já em relação à distribuição de funcionários por atividade primária (Gráfico 20),

64% dos estão empregados na confecção de peças do vestuário, exceto roupas

íntimas (2.307 funcionários); 32% na fabricação de acessórios do vestuário, exceto

para segurança e proteção (1.255 funcionários); 3% na confecção de roupas íntimas

(102 funcionários); 1% na fabricação de artigos do vestuário, produzidos em malharias

e tricotagens, exceto meias (48 funcionários).

Auferimos, portanto, que no Seridó Potiguar, em particular, as atividades de

confecção de roupas íntimas e fabricação de artigos do vestuário, produzidos em

malharias e tricotagens, exceto meias, diminuem sua participação relativa. Outra

percepção relevante é que, neste recorte, a fabricação de acessórios do vestuário,

exceto para segurança e proteção se contrapõe bem mais fortemente à confecção de

peças do vestuário, exceto roupas íntimas se comparado ao estado. Isso se justifica,

como já sabemos, pela forte presença na região da atividade boneleira.

57%

4%

1%

36%

2% Confecção de peças do vestuário,exceto roupas íntimas

Confecção de roupas íntimas

Confecção de roupas profissionais

Fabricação de acessórios dovestuário, exceto para segurança eproteção

Fabricação de artigos do vestuário,produzidos em malharias etricotagens, exceto meias

83

Gráfico 20: Percentual das atividades primárias do ramo de confecção e vestuário no

Seridó Potiguar por número de funcionários.

Fonte: FIERN, 2017.

Em relação ao porte das empresas na delimitação empírica em questão

(Gráfico 21), 41% das unidades produtivas são de Pequeno porte (86 unidades); 37%

são Micro empresas (77 unidades); e 22% Microempreendedores Individuais (45).

Inexistem Grandes empresas e o percentual de Médias é ínfimo. O que, aqui,

comparativamente se sobressai é a o percentual de Micro e Pequenas empresas em

relação às demais categorias. Vale lembrar que, no estado, o porte com o maior de

número de observação são os Microempreendedores Individuais.

Gráfico 21: Percentual dos portes das empresas do ramo de confecção e vestuário

no Seridó Potiguar.

Fonte: FIERN, 2017.

64%

3%

32%

1%Confecção de peças do vestuário,exceto roupas íntimas

Confecção de roupas íntimas

Fabricação de acessórios dovestuário, exceto para segurança eproteção

Fabricação de artigos do vestuário,produzidos em malharias etricotagens, exceto meias

41%

37%

22%

Média (100-499) Pequena (20-99) Micro (até 19) Microempreendedor Individual

84

O Seridó compreende 31% das unidades produtivas (Gráfico 22) e 19% dos

funcionários do ramo em relação ao restante do RN (Gráfico 23). Os percentuais para

esse ramo são bem similares ao têxtil global, mas vale salientar que são menores que

a média. Depreendemos, portanto, que a importância relativa do recorte em relação

ao estado para o ramo não é a mais significativa.

Gráfico 22: Percentual do número

empresas do ramo de confecção e

vestuário no Seridó Potiguar em

relação ao total do estado.

Gráfico 23: Percentual do número

funcionários do de confecção e

vestuário no Seridó Potiguar em

relação ao total do estado.

Fonte: FIERN, 2017. Fonte: FIERN, 2017.

Para apresentar a variedade de artigos produzidos no referido recorte, seus

principais segmentos e classes de serviços, nós utilizamos o método de frequência de

citações, ou seja, o número de vezes que este produto é observado no Banco de

Dados utilizado como amostra (FIERN, 2017). Nós consideramos que esta seja a

forma mais adequada de retratar os dados amostrais, haja vista que essas

modalidades de informações não estão preenchidas para todos os elementos da

amostra, isto é, para todas as unidades produtivas catalogadas.

Assim sendo, os produtos citados com mais frequência pelas unidades

produtivas do ramo no RN (Gráfico 24) são: 19% Uniformes e fardamentos; 15%

Bonés; 12% Camisetas; com 8% aparecem Chapéus e Peças avulsas do

vestuário; 7% Roupas íntimas e Calças; constam, ainda, com 5% Shorts, com 4%,

31%

69%

EMPRESAS

Seridó Restante do RN

19%

81%

FUNCIONÁRIOS

Seridó Restante do RN

85

cada um, Tapetes, Bermudas, Camisas Sociais e Roupas Esportivas; com 2%,

Viseiras, e com 1%, cada um, Blusas, Bolsas e Enxoval de Bebê.

Vale frisar, uma vez mais, que não necessariamente estes sejam os artigos

mais fabricados, ou seja, com maior volume de produção, mas que contém o maior

número de menções.

Gráfico 24: Variedade de produtos fabricados no ramo de confecção e vestuário,

segundo a frequência de citações por empresas do RN.

Fonte: FIERN, 2017.

Auferimos que entre a confecção de peças do vestuário está a maior variedade,

englobando 9 artigos principais: Camisetas, Peças avulsas do vestuário, Calças,

Shorts, Bermudas, Camisas sociais, Roupas Esportivas, Blusas, mais voltados a área

de atuação das facções e das grandes marca do vestuário; e Enxoval de Bebê, onde

destacam-se as Bordadeiras. Na fabricação de artigos de acessórios do vestuário

estão 4 artigos: Bonés, Chapéus e Viseiras, onde atuam as Bonelarias; e Bolsas, que

poderemos ver mais a seguir, é um produto do vestuário que de vincula muito

fortemente aos artefatos têxteis. Verificamos, ainda, referência a confecção de roupas

19%

15%

12%

8%8%

7%

7%

5%

4%

4%

4%4%

2%1% 1%

1%Uniformes e fardamentos

Bonés

Camisetas

Chapéus

Peças avulsas do Vestuário

Roupas íntimas

Calças

Short

Tapetes

Bermudas

Camisa social

Roupas esportivas

Viseiras

Blusas

Bolsas

Enxoval de bebê

86

íntimas e a fabricação de roupas profissionais com os artigos Uniformes e

fardamentos.

Quanto aos principais segmentos (Gráfico 25), temos como principais citações

por empresa a Moda Feminina com 44%, Moda Masculina com 26%; Moda infantil

com 13%; Moda praia com 9%, Moda teen com 5%, ambas inerentes à confecção

de peças do vestuário e roupas intimas; e a Cadeia do Petróleo com 3%,

representando a confecção de roupas profissionais. Este segmento, curiosamente, ao

contrário dos demais, se vincula diretamente a um ramo produtivo específico, no caso

a indústria extrativista mineral.

Gráfico 25: Principais segmentos do ramo de confecção e vestuário, segundo a

frequência de citações por empresas do RN.

Fonte: FIERN, 2017.

Correspondendo aos serviços prestados no ramo de confecção e vestuário

(Gráfico 26), foram citados: Facção de roupas com 72% das ocorrências; Bordado

industrial e Costura de roupa com 6% cada; Serigrafia com 5%; Bordado artesanal

e Reparação ou concertos de roupas com 3% cada; e, por último, Estamparia

química, Confecção de golas e punhos, Acabamentos gráficos, Lavanderia

Industrial e Lavanderias com 1% cada.

44%

26%

13%

9%

5% 3%

Moda feminina Moda masculina Moda infantil Moda praia Moda teen Cadeia do petróleo

87

Gráfico 26: Principais serviços atrelados ao ramo de confecção e vestuário, segundo

a frequência de citações por empresas do RN.

Fonte: FIERN, 2017.

Esta modalidade se diferencia das demais pelo objeto da produção, que não é

um objeto em si, mas a prestação de um determinado serviço, podendo ser produtivo,

no sentido da produção propriamente dita, ou não. As ocorrências de longe mais

vultosas estão vinculadas à este último caso. A Facção de roupas, o Bordado

Industrial, a Estamparia química e Lavanderia industrial são serviços, em geral,

terceirizados nas atividades de confecção de peças do vestuário, sobretudo no

primeiro caso, e na fabricação de acessórios. A Serigrafia e os Acabamentos gráficos,

para além destes dois casos, também se vinculam à fabricação de Uniformes e

fardamentos. O Bordado artesanal, como o próprio nome aponta, vincula-se não a

produção como um todo, mas à uma fase dela, que são os acabamentos e vincula-se

e pode estar ligada à todos os circuitos.

E por último, mas não menos importantes, temos as formas concretas de

distribuição territorial da atividade nos municípios do Rio Grande do Norte, o qual

evidencia uma capilaridade sociespacial em consideração ao ramo. No estado, como

já asseveramos anteriormente, estão distribuías um total de 683 unidades produtivas

e 18.530 funcionários, espalhados por 77 municípios (FIERN, 2017).

Como o ramo possui uma abrangência considerável, esses dados carecem de

um maior grau de precisão em relação as localidades cuja inserção nesse circuito é

72%

6%

6%

5%

3% 3% 1% 1% 1% 1% 1%

Facção de roupas

Bordado industrial

Costura roupa

Serigrafias

Bordado artesanal

Reparação ou conserto de roupas

Estamparia química

Confecção de golas e punhos

Acabamentos gráficos

Lavanderia Industrial

Lavanderias

88

mais destacada. Intentando dirimir esta questão, definimos os principais municípios

do ramo de confecção e vestuário no RN, tendo como parâmetro as variáveis 1)

número de empresas, 2) número de funcionários e 3) porte médio (relação empresas

x funcionários) correlacionadas espacialmente a partir da aplicação de métodos

estatísticos descritivos simples9, conforme ilustrados no Quadro 05.

Quadro 05: Medidas descritivas para as variáveis nº de empresas, nº de funcionários

e porte médio do ramo de confecções e vestuário no RN.

Medidas Empresas Funcionários Porte médio

Municípios 77 77 77

Mínimo 1 0 0

Máximo 208 11.403 81

25º percentil 1 1 1

75º percentil 6 79 42,2

Mediana 3 27 9

Moda 1 0 0

Média 9 241 14

Desvio padrão 77 77 77

Discrepância

Leve 14 196 104

Extrema 21 313 166

Fonte: FIERN, 2017. Cálculos amostrais: ASSISTAT (2016). Elaborado pelo autor.

Utilizamos como padrão as medidas de média aritmética e, na maioria dos

casos, discrepância. Não obstante a sua menor presença em pesquisas estatísticas,

que usualmente utilizam a média como padrão, para o presente caso a discrepância

torna-se mais coerente pois pretendemos identificar exatamente aquilo (os

subespaços) que se sobressai em relação aos demais. Isso significa que, quando

encontradas acima do limite da discrepância, as variáveis elencadas estão

distribuídas de modo concentrado nos municípios indicados. E a concentração é um

dos indicadores espaciais mais precisos.

Ademais, conforme foi possível verificar na maioria das ocasiões aplicadas as

nossas análises, a confiabilidade da média não apresentou bons resultados –

limitando-nos a dois exemplos, o nível de confiança da média é inversamente

9 Este mesmo parâmetro serve para os subtópicos posteriores.

89

proporcional à distância entre ela e a mediana e ao número do desvio padrão, ou seja,

quanto menores essas medidas, maior a confiabilidade.

Com base nisso, os municípios do Rio Grande do Norte que possuem maior

relevo para o ramo de confecção e vestuário são (Mapa 02): Natal, com 208 empresas

e 11.403 funcionários; Caicó, com 67 unidades empresas e 792 funcionários; Jardim

do Seridó, com 28 empresas e 566 funcionários; e Parnamirim, com 41 empresas e

633 funcionários. Em um segundo grupo estão presentes: Mossoró, com 47

empresas e 233 funcionários; São José do Seridó com 20 empresas e 590

funcionários; Serra Negra do Norte, com 19 empresas e 517 funcionários; Parelhas

com 19 empresas e 365 funcionários; e Acari com 14 empresas e 328 funcionários.

Tabela 01: Municípios do Rio Grande do Norte que mais se destacam em relação ao

ramo de confecções e vestuário.

Município Nº

empresas Nº

funcionário Porte médio

Natal 208 11403 55 Caicó 67 792 12 Jardim do Seridó 28 566 20 Parnamirim 41 663 16 Mossoró 47 233 5 São José do Seridó 20 590 30 Serra Negra do Norte 19 517 27 Parelhas 19 365 19 Acari 14 328 23 Santa Cruz 13 289 22 Ceará Mirim 13 245 19 Macaíba 9 286 32 São José do Mipibu 7 213 30 Cerro Corá 5 216 43 Cruzeta 8 127 16 Vera Cruz 6 133 22 São Francisco do Oeste 3 168 56

Fonte: FIERN, 2017.

Merecem menção, ainda: Santa Cruz, com 13 empresas e 289 funcionários;

Ceará Mirim, com 13 empresas e 245 funcionários; Macaíba com 9 empresas e 286

funcionários; São José do Mipibu, com 7 empresas e 213 funcionários; e Cerro Corá,

com 5 empresas e 216 funcionários. Além desses, outros três municípios se

destacam, apesar de não apresentarem discrepâncias, por estarem acima da média

em relação aos demais, são eles: Cruzeta, Vera Cruz e São Francisco do Oeste.

90

Mapa 02: Distribuição do número de empresas e de funcionários do vestuário no Rio Grande do Norte.

Fonte: FIERN, 2017. Elaboração cartográfica: Igor Rasec Azevedo e Luiz Eduardo Perônico.

91

Ressaltamos que as informações supracitadas não constituem um ranking da

importância dos municípios. Mas, o que queremos extrair delas são os indícios de uma

determinada capilaridade destes subespaços para com a produção destacada. Desta

forma, os critérios utilizados para classificação dos municípios foram: em primeiro

lugar, apresentar números com discrepância severa (destacados em vermelho na

tabela) para as variáveis nº de empresas e nº de funcionários; segundo; apresentar

discrepância severa em pelo uma das variáveis e discrepância leve (destacados em

negrito na tabela) em outra; em terceiro, apresentar discrepância leve em pelo menos

uma das variáveis; e em quarto conter números relativamente superiores em

comparação aos demais municípios.

Estes dados nos ajudaram a definir uma tipologia dos circuitos, a qual

abordaremos no último subtópico desta subseção.

As especificidades do ramo de artefatos têxteis

De maneira análoga à que fizemos para as confecções e vestuários, buscamos

identificar no ramo de artefatos têxteis para uso doméstico quais são e como estão

dispostas as atividades produtivas primárias e os portes das empresas para o Rio

Grande do Norte e para o Seridó Potiguar, e qual a participação deste em relação

àquele. Buscamos, outrossim, apresentar a variedade de artigos produzidos no

referido recorte, seus principais segmentos e classes de serviços. Por último,

evidenciamos as formas de distribuição territorial e quais municípios denotam maior

capilaridade no ramo.

Quanto ao percentual de empresas para o Rio Grande do Norte (Gráfico 27),

32% das unidades têm como atividades primária a Fabricação de artefatos têxteis

para uso domésticos (66 unidades); 21% Fabricação de outros produtos têxteis não

especificados anteriormente (42 unidades); 18% Acabamentos em fios, tecidos e

artefatos têxteis (36 unidades); 8% Preparação e fiação de fibras de algodão (16

unidades); 5% Fabricação de artefatos de cordoaria (10 unidades); 4% Tecelagem de

fios de algodão (9 unidades); 3%, cada, Fabricação de linhas para costurar e bordar

(6 unidades), Fabricação de tecidos especiais, inclusive artefatos (6 unidades), e

Preparação e fiação de fibras têxteis naturais, exceto algodão (6 unidades); 2%

Fabricação de artefatos de tapeçaria (5 unidades); e 1% Fabricação de tecidos de

malha (3 unidades).

92

Gráfico 27: Percentual das atividades primárias do ramo de artefatos domésticos no

RN por número de empresas.

Fonte: FIERN, 2017.

Já em relação à distribuição de funcionários por atividade (Gráfico 28), 38%

estão empregados na Tecelagem de fios de algodão (2.301 funcionários); 22% na

Fabricação de artefatos têxteis para uso doméstico (1.367 funcionários); 15% na

Fabricação de linhas para costurar e bordar (918 funcionários); 12% na Fabricação de

outros produtos têxteis não especificados anteriormente (723 funcionários); 10% em

Acabamento em fios, tecidos e artefatos têxteis (609); e 1%, cada, na Fabricação de

artefatos de cordoaria (62 funcionários), na Preparação e fiação de fibras de algodão

(77 funcionários) e na Tecelagem de fios de fibras artificiais e sintéticas (28).

18%

5%

2%

32%

3%

21%

1%

3%8%

3%

4%

Acabamentos em fios, tecidos eartefatos têxteis

Fabricação de artefatos decordoaria

Fabricação de artefatos detapeçaria

Fabricação de artefatos têxteispara uso doméstico

Fabricação de linhas para costurare bordar

Fabricação de outros produtostêxteis não especificadosanteriormenteFabricação de tecidos de malha

Fabricação de tecidos especiais,inclusive artefatos

Preparação e fiação de fibras dealgodão

Preparação e fiação de fibrastêxteis naturais, exceto algodão

Tecelagem de fios de algodão

93

Gráfico 28: Percentual das atividades primárias do ramo de artefatos domésticos no

RN por número de funcionários.

Fonte: FIERN, 2017.

Constamos, pois, que a atividade majoritária, considerando o número de

empresas e número de funcionários é a Fabricação de artefatos têxteis pra uso

doméstico. Mas com um grau de destaque muito próximo também estão a Tecelagem

de fios de algodão, levando em consideração o pessoal ocupado; a Fabricação de

outros produtos têxteis não especificados anteriormente e os Acabamentos em fios,

tecidos e artefatos têxteis, levando em consideração o número de unidades produtivas

. Em relação ao porte médio das empresas fabricantes de artefatos domésticos

(Gráfico 29), 53% das unidades produtivas são constituídas Micro empresas (111

unidades); 27% por Microempreendedores Individuais (56 unidades); 16% por

Pequenas empresas (33 unidades); e 2%, cada, por Médias (5 unidades) e Grandes

empresas (3 unidades). Esses percentuais são ligeiramente diferentes do valores para

o ramo global, evidenciando uma maior participação das Micro empresas, ao passo

que as Médias e Grandes empresas também possuem uma participação

relativamente mais alta. Ou seja, apesar dos Microempreendedores Individuais

apresentarem um alto grau de integração ao ramo, ela é menor do que a média

apresentada para o conjunto da Indústria têxtil no Rio Grande do Norte.

10% 1%

22%

15%12%1%

38%

1% Acabamentos em fios, tecidos eartefatos têxteis

Fabricação de artefatos decordoaria

Fabricação de artefatos têxteispara uso doméstico

Fabricação de linhas para costurare bordar

Fabricação de outros produtostêxteis não especificadosanteriormentePreparação e fiação de fibras dealgodão

Tecelagem de fios de algodão

Tecelagem de fios de fibrasartificiais e sintéticas

94

Gráfico 29: Percentual dos portes das empresas do ramo de artefatos domésticos no

RN.

Fonte: FIERN, 2017.

Tratando-se especificamente do Seridó Potiguar (Gráfico 30), 40% das

unidades produtivas atuam na atividade primária de Fabricação de artefatos têxteis

para uso doméstico (41 unidades); 28% na Fabricação de outros produtos têxteis não

especificados anteriormente (29 unidades); 11% em Acabamentos em fios, tecidos e

artefatos têxteis (11 unidades); 10% na Fabricação de artefatos de cordoaria

(10unidades); 6% na Tecelagem de fios de algodão (6 unidades); 3% na Fabricação

de linhas para costurar e bordar (3 unidades); e 1%, cada, na Fabricação de artefatos

de tapeçaria (1 unidade) e na Preparação e fiação de fibras de algodão (1 unidade).

2% 2%

16%

53%

27%

Grande (500 ou mais) Média (100-499) Pequena (20-99) Micro (Até 19) Individual

95

Gráfico 30: Percentual das atividades primárias do ramo de artefatos domésticos no

Seridó Potiguar por número de empresas.

Fonte: FIERN, 2017.

Já em relação à distribuição de funcionários por atividade primária (Gráfico 31),

51% dos funcionários estão empregados na Fabricação de artefatos têxteis para uso

doméstico (629 funcionários); 30% na Fabricação de outros produtos têxteis não

especificados anteriormente (374 funcionários); 7% na Fabricação de linhas para

costurar e bordar (87 funcionários); 6% na Tecelagem de fios de algodão (67

funcionários); 5% na Fabricação de artefatos de cordoaria (62 funcionários); e 1% em

Acabamentos em fios, tecidos e artefatos têxteis.

11%

10%

1%

40%3%

28%

1%

6%

Acabamentos em fios, tecidos eartefatos têxteis

Fabricação de artefatos decordoaria

Fabricação de artefatos detapeçaria

Fabricação de artefatos têxteispara uso doméstico

Fabricação de linhas para costurare bordar

Fabricação de outros produtostêxteis não especificadosanteriormentePreparação e fiação de fibras dealgodão

Tecelagem de fios de algodão

96

Gráfico 31: Percentual das atividades primárias do ramo de artefatos domésticos no

Seridó Potiguar por número de funcionários.

Fonte: FIERN, 2017.

De maneira análoga ao estado, no Seridó Potiguar as atividades de Fabricação

de artefatos têxteis para uso doméstico e de Fabricação de outros produtos têxteis

não especificados anteriormente possuem maior relevo no interior do ramo. E como

contraponto, apresenta uma diminuição marcante da atividade de Tecelagem de fios

de algodão, obviamente que enquanto atividade primária, haja vista que a fabricação

de todo e qualquer artefato têxtil pressupõe a fabricação de tecidos planos e,

consequentemente, tecelagem de fios de algodão ou outras fibras naturais e

sintéticas.

Em relação ao porte das empresas na delimitação empírica em questão

(Gráfico 32), 65% das unidades produtivas são Micro empresas (66 unidades); 21%

Pequenas empresas (22 unidades); e 14% Microempreendedores Individuais (14

unidades). Comparativamente a região se sobressai, como no ramo das confecções,

pelo percentual de Micro e Pequenas empresas em relação às demais categorias. E

para a fabricação de artefatos têxteis esse dado particular do Seridó Potiguar torna-

se ainda mais marcante se lembrarmos que, relativamente, este ramo apresenta uma

participação maior das corporações de maior porte que o de vestuário.

1%

5%

51%

7%

30%

6%

Acabamentos em fios, tecidose artefatos têxteis

Fabricação de artefatos decordoaria

Fabricação de artefatostêxteis para uso doméstico

Fabricação de linhas paracosturar e bordar

Fabricação de outrosprodutos têxteis nãoespecificados anteriormenteTecelagem de fios de algodão

97

Gráfico 32: Percentual dos portes das empresas do ramo de artefatos domésticos no

Seridó Potiguar.

Fonte: FIERN, 2017.

O Seridó Potiguar abriga 49% das unidades produtivas (Gráfico 33) e 20% dos

funcionários (Gráfico 34) do ramo em relação ao restante do Rio Grande do Norte.

Aqui, evidencia-se a capilaridade do ramo na região, pois aproximadamente metade

das unidades produtivas estão nela concentradas.

Consideramos que este é percentual mais peculiar de todos apresentados até

o presente momento, uma vez que não há caso similar em relação à distribuição de

quaisquer das variáveis tratadas. E, mais uma vez, é reforçado o uso produtivo do

território pelas firmas de menor porte, haja vista que em contraposição à quantidade

de unidades produtivas, o percentual de funcionários do ramo em relação ao estado

não foge dos padrões até aqui apresentados.

21%

65%

14%

Pequena (20-99) Micro (até 19) Microempreendedor Individual

98

Gráfico 33: Percentual do número

empresas do ramo de artefatos

domésticos no Seridó Potiguar em

relação ao total do estado.

Gráfico 34: Percentual do número

funcionários de artefatos domésticos no

Seridó Potiguar em relação ao total do

estado.

Fonte: FIERN, 2017. Fonte: FIERN, 2017.

Voltando à escala do Rio Grande do Norte, os produtos citados com mais

frequência10 pelas unidades produtivas do ramo (Gráfico 35), segundo a quantidade

de citações por empresa, são: as Toalhas de prato, com 28%; os Tapetes, com 11%;

os Panos de chão e as Redes de dormir, com 9% cada um; as Toalhas de banho

8%; os Conjuntos de cozinha, as Cortinas, as Roupas de cama e mesa, com 4%

cada um; as Flanelas, as Mantas, os Aventais, com 3% cada um; as Almofadas, as

Capas para almofadas, os Lençóis, com 2% cada um; e as Capas para gelágua,

os Coadores de café, os Conjuntos de banheiro, os Cobertores, os Guardanapos,

com 1% cada produto.

10 O banco de dados da FIERN agrupa dados genéricos sobre os principais produtos fabricados pelas empresas do ramo têxtil para todo o Rio Grande do Norte, atendendo aos objetivos da discussão realizada na presente seção, sobre a distribuição da atividade têxtil em todo o estado. No entanto, ao analisar especificamente o uso produtivo do território nos municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas (na seção 4, p. 176), utilizamos informações mais consolidadas territorialmente em relação ao Seridó Potiguar, lançando mão, para tal, dos dados coletados em campo, bem como de valores quantitativos do volume de produção do ramo têxtil para o município de Jardim de Piranhas, em particular, catalogadas em 2008 por SEBRAE/RN.

49%

51%

EMPRESAS

Seridó Restante do RN

20%

80%

FUNCIONÁRIOS

Seridó Restante do RN

99

Gráfico 35: Variedade de produtos fabricados no ramo de artefatos domésticos,

segundo a frequência de citações por empresas do RN.

Fonte: FIERN, 2017.

Inferimos que fabricação de artefatos têxteis para uso doméstico abrange a

toda a gama de variedade de bens de consumo, englobando inteiramente os produtos

citados. Todos eles englobam a seção de artigos para o lar, convencionalmente

subdivididos nos segmentos de cama, mesa e banho.

Entre o segmento de cama, estão 4 deles: Redes de dormir, Mantas, Lençóis e

Cobertores. O segmento de mesa, por seu turno, abriga o maior volume de citações:

Toalhas de prato, Conjuntos de cozinha, Aventais, Coadores de café e Guardanapos.

No último deles, encontram-se as Toalhas de banho e os Conjuntos de banheiro.

Temos, ainda, aqueles materiais que não possuem um segmento em específico, ou

se aplicam a mais de um, como, por exemplo os Panos de Chão, as Cortinas, as

Roupas de cama e mesa, as Flanelas, as Almofadas e as Capas para Almofadas e

Geláguas.

28%

11%

9%9%

8%

4%

4%

4%

3%

3%

3%

2% 2%2%

1%

1%

1%1%

1%Toalhas de prato

Tapetes

Pano de chão

Redes de dormir

Toalhas de banho

Conjunto de cozinha

Cortinas

Roupas de cama e mesa

Flanelas

Mantas

Aventais

Almofadas

Capas para almofadas

Lençóis

Capas para gelágua

Coadores de café

Conjunto de banheiro

Cobertores

Guardanapos

100

No entanto, o ramo de artefatos têxteis se evidencia não só pela produção de

bens de consumo, mas também pelos bens intermediários. Ou seja, abrange o

fornecimento de insumos para os demais segmentos têxteis. Nesta perspectiva, os

principais insumos do ramo (Gráfico 36), no estado, de acordo a frequência de

citações por empresa, são: os Tecidos de algodão, com 31%; os Insumos para a

confecção de Bonés, com 26%; os Tecidos de Malha, com 17%; as Linhas e fios

para tricô e crochê e os Tecidos dublados, 13% cada um.

Gráfico 36: Principais insumos/bens intermediários do ramo têxtil, segundo a

frequência de citações por empresas, fabricados no RN.

Fonte: FIERN, 2017.

Todavia, considerando as informações precedentes, esse tipo de produção é

mais residual do ponto de vista da distribuição das unidades produtivas. Ela envolve

as atividades de Tecelagem de fios de algodão, servindo de insumo para a indústria

local, tanto de artefatos quanto de confecções, e também do exterior, como é o caso

da Vicunha. Este mesmo exemplo vale para as produtoras de fios sintéticos, tecidos

de malha, e de Linhas e fios para tricô e chochê, com a diferença de que: estas

fornecem para o têxtil global e também se distribuem no Seridó Potiguar; e aquelas

fornecem majoritariamente para o ramo do vestuário e se concentram na Região

Metropolitana do Estado. Por seu turno, a parte de insumos para confecção de Bonés,

como o próprio nome já indica, é bem específica, tanto territorialmente (no Seridó)

quanto funcionalmente e é concentrada pelas próprias Bonelarias ou por Dubladoras,

31%

26%

17%

13%

13%Tecidos de algodão

Insumos para aconfecção de Bonés

Tecidos de malha

Linhas e fios para tricô echochê

Tecido dublado

101

o que já abrange a área dos tecidos dublados - cuja produção consiste basicamente

na colagem de diferentes tipos de tecidos, adquiridos em firmas como as supracitadas.

Esses casos correspondem as formas concretas de distribuição territorial da

atividade nos municípios do Rio Grande do Norte, evidenciando capilaridade

sociespacial do ramo de artefatos têxteis. No estado, conforme já foi apresentado,

estão distribuídas 208 unidades produtivas e 6.144 funcionários, espalhados por 26

municípios (FIERN, 2017).

Quadro 06: Medidas descritivas para as variáveis nº de empresas, nº de funcionários

e porte médio do artefatos domésticos no RN.

Medidas Empresas Funcionários Porte médio

Municípios 26 26 26

Mínimo 1 0 0

Máximo 76 1982 148,9

25º percentil 1 0 0

75º percentil 7 47 13,3

Mediana 1,5 3,5 2,3

Moda 1 0 0

Média 8 236 19

Desvio padrão 15,9 511,0 39,0

Discrepância

Leve 16 118 33

Extrema 25 188 53

Fonte: FIERN, 2017. Cálculos amostrais: ASSISTAT (2016). Elaborado pelo autor.

Com base nas medidas descritivas apresentadas no Quadro 06 e nos métodos

estatísticos já mencionados, o município do Rio Grande do Norte que possui maior

relevo para o ramo de artefatos têxteis é Natal, com 37 empresas e 1.982 funcionários.

Em segundo lugar, Jardim de Piranhas, com 76 empresas e 1.100 funcionários. Em

terceiro grupo estão presentes: São Gonçalo do Amarante, com 10 empresas e

1.437 funcionários, e Macaíba, com 9 empresas e 1.042 funcionários. Em um quarto

nível, encontra-se Parnamirim: 17 empresas e 336 funcionários.

102

Tabela 02: Municípios do Rio Grande do Norte que mais se destacam no

Circuito Espacial de Produção de Artefatos têxteis.

Município Nº

empresas Nº

funcionário Porte médio

Natal 37 1982 54 Jardim de Piranhas 76 1010 13,3 São Gonçalo do Amarante 10 1437 144 Macaíba 9 1042 83 Parnamirim 17 336 20 Caicó 18 149 8 Mossoró 16 47 3

Currais Novos 3 34 11,3

Fonte: Adaptado de FIERN, 2017.

Merecem menção, ainda: Caicó, com 18 empresas e 149 funcionários,

Mossoró, com 16 empresas e 45 funcionários; e Currais Novos, com 3 empresas e

47 funcionários.

103

Mapa 03: Distribuição do número de empresas e de funcionários de artefatos têxteis no Rio Grande do Norte.

Fonte: FIERN, 2017. Elaboração cartográfica: Igor Rasec Azevedo e Luiz Eduardo Perônico.

104

Depreendemos a partir da distribuição destas variáveis que o ramo está bem

mais circunscrito territorialmente, evidenciando as especializações de Natal e

municípios circunvizinhos, do Seridó Potiguar, e Mossoró, em uma proporção bem

menor (Mapa 03). Em face desta ocorrência, os critérios utilizados para classificação

se deram na escala municipal, com exceção de São Gonçalo e Macaíba que

apresentaram resultados semelhantes, diferentemente dos critérios utilizados para o

vestuário, onde foi possível forma faixas.

De forma descendente os parâmetro de classificação foram: primeiramente,

discrepância severa (destacados em vermelho na tabela) para todas as variáveis;

segundo, discrepância severa nas variáveis nº de empresas e nº de funcionários;

terceiro, discrepância severa em duas variáveis quaisquer; quarto, discrepância

severa em uma variável e leve (destacada em negrito na tabela) em outra; quinto,

discrepância leve em duas variáveis; sexto, discrepância leve em uma variável.

Os critérios para inserção de Currais Novos são mais analíticos, no sentido de

correlação, do que propriamente estatísticos e descritivos. O município não apresenta

números com a mesma expressão que os anteriores, mas os sucede diretamente na

sequência decrescente, faz parte de nossa delimitação empírica referente à análise

do circuito espacial produtivo no Seridó Potiguar, e serve para evidenciar

comparativamente a pertinência dos demais subespaços.

Em face da caracterização pormenorizada dos referidos ramos, que

acreditamos ter realizado, definiremos a seguir a tipologia dos circuitos espaciais da

produção têxtil no Rio Grande do Norte.

Tipologia dos ramos do circuito espacial da produção têxtil no Rio Grande do Norte

A materialização dos circuitos espaciais da produção se dá na configuração

territorial que, por seu turno, é a materialização do trabalho humano no espaço por

meio da dinâmica social. Esta base material é composta por infraestruturas,

acrescentadas ao meio ecológico através dos sistemas de engenharia – da

comunicação, dos transportes etc. Todavia, este “meio ecológico já é meio modificado,

e cada vez mais é meio técnico” (SANTOS, 2008a, p. 19).

Em se tratando das infraestruturas especificamente, vale salientar que a

distribuição delas no território não dependem apenas do volume ou do tipo da

produção, mas, também, e, sobretudo, da circulação. Pois,

105

Nas condições da economia atual, é praticamente inexistente um lugar em que toda produção local seja localmente consumida ou, vice versa, em que todo o consumo local é provido por uma produção local (SANTOS, 2008c, p. 61).

A configuração territorial do ramo têxtil no Rio Grande do Norte se materializa

por meio de um uso produtivo que abrange 891 empresas e 24.671 funcionários em

82 municípios (FIERN, 2017). Esse fenômeno não é aleatório. Ele é tributário de

manifestações estruturais, mas também apresenta particularidades funcionais e

espaciais em sua distribuição concreta. A análise estatística correlacionada aos dados

históricos, não quantitativos, dos municípios de nossa amostra nos direcionam a uma

tipologia das manifestações do circuito espacial da produção têxtil em nosso estado.

Quadro 07: Medidas descritivas para as variáveis nº de empresas, nº de funcionários

e porte médio do ramo têxtil no RN.

Medidas Empresas Funcionários Porte médio

Municípios 82 82 82

Mínimo 1 0 0

Máximo 245 13.385 83

25º percentil 1 1 1

75º percentil 7 81 19

Mediana 3 28 10

Moda 1 0 0

Média 11 301 15

Desvio padrão 30,2 1.482,4 18,8

Discrepância

Leve 16 201 46

Extrema 25 321 73

Fonte: FIERN, 2017. Cálculos amostrais: ASSISTAT (2016). Elaborado pelo autor.

Com base nas medidas descritivas do Quadro 07, os municípios do Rio Grande

do Norte que possuem maior relevo para o ramo têxtil são:

1) Natal, com 245 empresas e 13.385 funcionários;

2) Caicó, com 85 empresas e 941 funcionários, Jardim de Piranhas, com 76

empresas e 1.010 funcionários, e Parnamirim, com 58 empresas e 999 funcionários.

3) São Gonçalo do Amarante, com 18 empresas e 1.456 funcionários, e

Macaíba, com 16 empresas e 1.328 funcionários.

4) Mossoró, aparece em seguida, com 63 empresas e 280 funcionários.

106

5) Jardim do Seridó, com 28 empresas e 566 funcionários, São José do

Seridó, com 21 empresas e 628 funcionários, Serra Negra do Norte, com 20

empresas e 528 funcionários, e Parelhas, com 19 empresas e 365 funcionários.

6) Acari, com 14 empresas e 328 funcionários.

7) Santa Cruz, com 13 empresas e 245 funcionários, Ceará-Mirim, com 13

empresas e 245 funcionário, São José de Mipibu, 10 empresas e 233 funcionários,

e Cerro Corá, com 5 empresas e 216 funcionários.

8) Cruzeta, com 8 empresas e 127 funcionários, Vera Cruz, 6 empresas e 133

funcionários, e São Francisco do Oeste, com 3 empresas e 168 funcionários.

107

Tabela 03: Municípios do Rio Grande do Norte que mais se destacam no circuito

espacial da produção têxtil.

Município Nº

empresas Nº

funcionário Ramo

principal Porte médio

Natal 245 13.385 Confecções 55 Caicó 85 941 Confecções 11 Jardim de Piranhas 76 1.010 Artefatos 13 Parnamirim 58 999 Confecções 17 São Gonçalo do Amarante 18 1.456 Artefatos 81 Macaíba 16 1.328 Artefatos 83 Mossoró 63 280 Confecções 4 Jardim do Seridó 28 566 Confecções 20 São José do Seridó 21 628 Confecções 30 Serra Negra do Norte 20 518 Confecções 26 Parelhas 19 365 Confecções 19 Acari 14 328 Confecções 23 Santa Cruz 13 289 Confecções 22 Ceará-Mirim 13 245 Confecções 19 São José de Mipibu 10 233 Confecções 23 Cerro Corá 5 216 Confecções 43 Cruzeta 8 127 Confecções 16 Vera Cruz 6 133 Confecções 22 São Francisco do Oeste 3 168 Confecções 56

Currais Novos 9 56 Artefatos 6 Santana do Seridó 7 77 Confecções 11 Carnaúba dos Dantas 8 60 Confecções 8 Jucurutu 6 88 Confecções 15 Açu 6 68 Confecções 11 Ouro Branco 4 74 Confecções 19 São Vicente 4 67 Confecções 17 Equador 4 65 Confecções 16 Brejinho 6 33 Confecções 6 Serra de São Bento 4 55 Confecções 14 Caraúbas 5 33 Confecções 7 Monte Alegre 3 61 Confecções 31 Tangará 3 57 Confecções 19 Passa e Fica 1 81 Confecções 81 Taboleiro Grande 3 37 Confecções 12 São Bento do Norte 1 60 Confecções 60

Fonte: FIERN, 2017.

Merecem menção, ainda: Currais Novos, Santana do Seridó, Carnaúba dos

Dantas, Jucuturu, Açu, Ouro Branco, São Vicente, Equador, Brejinho, Serra de São

Bento, Caraúbas, Monte Alegre, Tangará, Passa e Fica, Taboleiro Grande e São

Bento do Norte.

108

Este grupo de municípios, apesar de ser relevante, não comporá a nossa

tipologia por dois motivos. Em primeiro lugar, ela precisa ser concisa. Para tal, nós

precisamos estabelecer um recorte e já o definimos antecipadamente através de

parâmetros quantitativos, com base no cálculo da discrepância. E por outro lado, não

queremos dar uma conotação exagerada da presença deste circuito em nosso estado,

o que transpareceria caso incluíssemos esses municípios na representação

cartográfica das tipologias.

Após perceber a capilaridade do circuito, por meio da eleição dos municípios

que comporão as tipificações, nós precisamos entender como ele se dá em cada ponto

do espaço. Para tal, nós analisamos no nível municipal quais atividades se

destacavam em cada unidade, chegando à delimitação de 6 diferentes tipologias,

representadas espacialmente de maneira didática no Mapa 04.

1) O circuito das grandes marcas do vestuário

2) O circuito internacionalizado dos artefatos têxteis

3) O circuito dos suprimentos têxteis para a cadeia do petróleo

4) O circuito das facções do vestuário

5) O circuito dos Bonés

6) O circuito dos artefatos têxteis para uso doméstico

Cada uma destas tipologias possuem significado e lógicas próprias, mas

também podem ser analisados em conjunto. Neste sentido, nós buscaremos

compreendê-las individualmente e inseridas em determinados contextos, mas em

todos os casos para compreender o nosso objeto particular, que é a última destas

tipologias.

Portanto, no primeiro contexto, que descrevemos como “Uso corporativo do

território e seus nexos extravertidos: o RN enquanto espaço nacional da economia

internacional” faremos breves inferências com base na relação que as tipologias 1, 2,

3 e 4 possuem com o nosso objeto, que são ao mesmo tempo sutis mas também

reveladoras.

109

Mapa 04: Distribuição espacial das tipologias do circuito espacial da produção têxtil no Rio Grande do Norte.

Fonte: Tipologia desenvolvida a partir de análise estatística com base nos dados no Guia Industrial da FIERN. Elaboração cartográfica: Igor Rasec B. de Azevedo e Luiz Eduardo V. Perônico.

110

E iniciaremos a próxima seção abordando a origem comum entre as tipologias

5 e 6, na subseção intitulada “Entre a técnica e tempo, coexistências e permanências:

materialidades pretéritas no Seridó Potiguar”, antes de verticalizarmos diretamente

para esta última.

3.3 Uso corporativo do território e nexos extravertidos: o Rio Grande do Norte

enquanto espaço nacional da economia internacional

O circuito espacial da produção têxtil no Rio Grande do Norte possui um relativo

grau de internacionalização. Conforme podemos observar na Tabela 04, onde estão

destacados, entre os principais produtos exportados, os artigos têxteis, 34,04% de

nossas exportações em 2016 foram de insumos industriais, um aumento de 7,32% em

relação ao ano anterior.

Tabela 04: Principais produtos exportados do RN.

2016 Var%

Principais produtos exportados

US$ % Kg 16/ 15

TOTAL GERAL 284.679.968 100,000 1.393.106.364 -10,5

TOTAL DOS PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS 284.305.249 99,87 1.392.923.200 14,6

1 MELOES FRESCOS 75.318.687 26,46 120.363.468 19,2

2 SAL MARINHO, A GRANEL, SEM AGREGADOS 25.708.902 9,03 1.130.333.038 2,8

3 CASTANHA DE CAJU, FRESCA OU SECA, SEM CASCA 25.183.477 8,85 3.232.202 45,4

4 MELANCIAS FRESCAS 16.145.173 5,67 37.669.717 29,8

5 MAMOES (PAPAIAS) FRESCOS 11.885.593 4,18 11.692.799 11,6

6 TECIDO DE ALGODAO>=85%, BRANQUEADO, PTO.SARJADO, P>200G/M2 11.210.409 3,94 2.183.195 -11,3

7 BOMBONS, CARAMELOS, CONFEITOS E PASTILHAS, SEM CACAU 9.423.448 3,31 5.233.930 34,6

8 OUTRAS CHAPAS,ETC.DE OUTRAS PLASTICOS, ESTRATIFICADAS 9.169.194 3,22 2.049.589 -3,9

9 ALIMENTOS PARA CAES E GATOS 7.013.746 2,46 251.222 454,0

10 MANGAS FRESCAS OU SECAS 6.684.115 2,35 7.820.360 -4,7

11 OUTROS GRANITOS TRABALHADOS DE OUTRO MODO E SUAS OBRAS 5.474.336 1,92 5.537.073 200,1

12 CONSUMO DE BORDO - COMBUSTIVEIS E LUBRIF.P/AERONAVES 5.439.995 1,91 10.433.787 -4,7

13 GRANITO CORTADO EM BLOCOS OU PLACAS 5.188.262 1,82 20.526.407 16,4

14 ALBACORAS-BANDOLIM (PATUDOS) FRESCOS, REFRIG. 4.882.694 1,72 604.680 12,0

15 OUTS.FRUTAS DE CASCA RIJA, OUTS.SEMENTES, PREPARS/CONSERV 4.096.890 1,44 517.989 34,2

111

16 TECIDO DE ALGODAO>=85%, TINTO, PONTO SARJADO, PESO>200G/M2 4.026.990 1,41 717.469 -4,6

17 TECIDO DE ALGODAO>=85%, FIO COLOR.DENIM, INDIGO, P>200G/M2 3.847.730 1,35 647.242 -47,3

18 OUTRAS LAGOSTAS, CONGELADAS, EXCETO AS INTEIRAS 3.728.243 1,31 116.489 -45,5

19 ESPADARTE (XIPHIAS GLADIUS), FRESCOS OU REFRIGERADOS 3.232.770 1,14 485.310 51,8

20 OUTROS TECIDOS DE ALGODAO>=85%, BRANQUEADO, PESO>200G/M2 3.056.457 1,07 550.256 76,3

21 DESPERDICIOS E RESIDUOS, DE COBRE 2.672.076 0,94 687.065 -29,5

22 OUTROS ATUNS FRESCOS, REFRIG.EXC.FILES, OUTS.CARNES, ETC. 2.663.701 0,94 364.324 -42,8

23 OUTROS CAMAROES INTEIROS, CONGELADOS 2.541.799 0,89 408.000 --

24 BANANAS FRESCAS OU SECAS, EXCETO BANANAS-DA-TERRA 2.498.268 0,88 6.962.378 1,9

25 DESPERDICIOS E RESIDUOS, DE ALUMINIO 2.320.534 0,82 2.143.674 130,8

26 ALBACORAS/ATUNS BARBAT.AMARELA, FRESCAS/REFRIG.EXC.FILES 2.277.229 0,80 282.417 34,0

27 OUTROS ACUCARES DE CANA 2.247.258 0,79 4.309.590

28 OUTS.PROD.D/ORIGEM ANIMAL, IMPRÓP.P/ALIM.HUM. 2.076.685 0,73 176.109 -52,9

29 MINERIOS DE TUNGSTENIO E SEUS CONCENTRADOS 2.040.665 0,72 212.000 -39,7

30 OUTS.TECIDOS ALGODAO<85%, COLOR/FIBRA SINT/ART.P>200G/M2 1.628.465 0,57 304.896 189,4

31 FIGADOS, OVAS E SEMEN DE PEIXES, CONGELADOS 1.618.640 0,57 338.260 -34,6

32 OUTROS PEIXES FRESCOS OU REFRIGERADOS 1.592.861 0,56 291.554 -1,4

33 OUTROS TECIDOS DE ALGODAO>=85%, TINTO, PESO>200G/M2 1.183.001 0,42 177.640 -12,5

34 MINERIOS DE NIOBIO, TANTALO OU VANADIO, SEUS CONCENTRADOS 1.139.783 0,40 25.256

35 CARAPACAS DE TARTARUGAS, CHIFRES, GALHADAS, CASCOS, ETC. 1.037.367 0,36 2.814.600 44,4

36 MICA EM BRUTO OU CLIVADA EM FOLHAS, LAMELAS IRREGULARES 997.755 0,35 1.918.000 145,2

37 ESPADARTE (XIPHIAS GALDIUS), CONGELADO 906.467 0,32 182.590 36,2

38 FILES DE ESPADARTE (XIPHIAS GLADIUS), CONGELADOS 834.061 0,29 85.363 -3,1

39 OUTROS SUCOS E EXTRATOS VEGETAIS 773.625 0,27 1.570.830 661,3

40 OUTS.ACUCARES DE CANA, BETERRABA, SACAROSE QUIM.PURA, SOL. 643.503 0,23 2.002.000 -65,3

41 OUTROS PRODUTOS HORTICOLAS, FRESCOS OU REFRIGERADOS 567.891 0,20 2.584.076 211,0

42 OUTS.FRUTAS, PARTES DE PLANTAS, PREPARS/CONSERVS.OUT.MODO 494.427 0,17 202.579

43 PEDRAS PRECIOSAS/SEMI, EM BRUTO, SERRADAS OU DESBASTADAS 492.905 0,17 208 --

44 TECIDO ALGODAO>=85%, ESTAMPADO, PTO.TAFETA,100<P<=200G/M2 435.951 0,15 66.104 5,1

45 TECIDO DE ALGODAO>=85%, ESTAMPADO, PTO.SARJADO, P>200G/M2 413.591 0,15 61.549 14,2

46 OUTRAS PEDRAS DE CANTARIA, ETC.TRABALHAD.OUT.MODO E OBRA 395.641 0,14 155.623

47 TEC.ESTAMPADOS PT.SARJ/DIAG.TEXTURA < 4 381.001 0,13 48.576 125,7

48 OUTROS PEIXES CONGELADOS, EXC.FILES, OUTRAS CARNES, ETC. 379.043 0,13 68.970 -0,8

49 TECIDO POLIESTER<85% C/ALGODAO, P<=170G/M2, TAFETA, ESTAMP 357.799 0,13 39.895 132,0

50 TECIDO DE ALGODAO>=85%, TINTO, PTO.TAFETA,100<P<=200G/M2 345.285 0,12 40.310 12,8

51 OUTROS TECIDOS DE ALGODAO>=85%, FIO COLOR.PESO>200G/M2 291.694 0,10 48.847 181,0

52 CONSUMO DE BORDO - QQ.OUTRA MERCADORIA P/AERONAVES 286.558 0,10 60.701 -20,9

53 OUTROS CONVERSORES ELETRICOS ESTATICOS 284.320 0,10 7.550

54 OUTROS PRODUTOS DE CONFEITARIA, SEM CACAU 264.432 0,09 145.112 -81,9

55 FIOS TEXTEIS DE POLIESTERES CRUS 263.439 0,09 34.981 --

56 ADUBOS OU FERTILIZANTES DE ORIGEM ANIMAL/VEGETAL, ETC. 259.503 0,09 735.200

57 TECIDO DE ALGODAO>=85%, CRU, PONTO SARJADO, PESO>200G/M2 249.721 0,09 56.413 -26,1

112

58 FARINHAS, SEMOLAS E POS, DE FRUTAS, CASCAS DE CITRICOS, ETC 209.955 0,07 35.154 170,7

59 OUTROS TECIDOS DE ALGODAO>=85%, FIO COLOR.PESO<=200G/M2 197.125 0,07 31.201 302,4

60 OUTS.TECIDOS ALGODAO<85%, TINTO/FIBRA SINT/ART.P>200G/M2 194.228 0,07 25.283 -25,7

61 DESPERDICIOS, RESIDUOS E APARAS, DE OUTROS PLASTICOS 191.738 0,07 285.710 97,6

62 OUTRAS FRUTAS CONGELAD.N/COZIDAS, COZIDAS EM AGUA/VAPOR 190.094 0,07 104.699 -74,1

63 ÓLEOS ESSENCIAIS DE VETIVER 183.298 0,06 820

64 OUTRAS PEDRAS PRECIOSAS/SEMI, TRABALHADAS DE OUTRO MODO 175.851 0,06 5 74,1

65 OUTRAS GORDURAS E OLEOS VEGETAIS, MESMO REFIN. 163.955 0,06 5.744 107,3

66 OUTS.TEC.D/ALG.BRANQ.SINT.ARTIF.>200G/M2 161.261 0,06 29.723 -79,2

67 FIO DE POLIESTERES, RETORCIDO OU RETORCIDO MULTIPLO 161.047 0,06 22.451

68 AUTOMOVEIS C/MOTOR DIESEL, CM3>2500, ATE 6 PASSAGEIROS 147.912 0,05 10.420 35,8

69 GARRAFOES, GARRAFAS, FRASCOS, ARTIGOS SEMELHS.DE PLASTICOS 139.697 0,05 5.426 -16,3

70 OUTS.ARTIGOS DE TRANSPORTE OU DE EMBALAGEM, DE PLASTICOS 122.041 0,04 5.115 -60,4

71 LINHA P/COSTURA, DE POLIESTER, EXC.PARA VENDA A RETALHO 117.330 0,04 17.280

72 DESPERDICIOS E RESIDUOS DE FERRO FUNDIDO 112.344 0,04 754.120

73 BARBATANAS DE TUBARAO 107.146 0,04 4.911 -27,7

74 SAL DE MESA 88.438 0,03 606.296 23,7

75 DESPERDICIOS E RESIDUOS DE ACOS INOXIDAVEIS 77.032 0,03 69.860 44,1

76 OUTRAS LINHAS P/COSTURA, DE ALGODAO, PARA VENDA A RETALHO 73.867 0,03 4.614 -30,6

77 ROUPAS DE CAMA, DE ALGODAO, ESTAMPADAS 72.283 0,03 10.139

78 OUTROS VEICULOS AUTOMOVEIS P/TRANSPORTE>=10 PESSOAS 68.000 0,02 4.000

79 GOMAS DE MASCAR, SEM CACAU, MESMO REVESTIDAS DE ACUCAR 55.213 0,02 40.151 -83,9

80 TECIDO ALGODAO<85%, INDIGO BLUE/FIBRA SINT/ART.P>200G/M2 54.836 0,02 13.501 -75,9

81 OUTROS FLORS.SEUS BOTS.CORT.P/BUQUÊS, ORN.FRES. 53.566 0,02 13.156 -14,7

82 MAQUINAS P/AMARRAR URDIDEIRAS DE MATERIA TEXTIL 53.283 0,02 520

83 SUCOS (SUMO) DE OUTRAS FRUTAS, N/FERMEN.S/ADICAO DE ACU. 48.047 0,02 20.004 --

84 ALBACORAS-BANDOLIM (PATUDOS) CONGELADOS 46.008 0,02 18.185 -18,8

85 OUTRAS MAQUINAS E APARELHOS P/COLHEITA 45.669 0,02 32.240

86 MAQUINAS P/INSPECIONAR TECIDOS 40.000 0,01 3.000

87 COMPLEMENTOS ALIMENTARES 39.000 0,01 3.000

88 TECIDO DE ALGODAO>=85%, BRANQ.PTO.TAFETA,100<P<=200G/M2 38.607 0,01 4.035 343,6

89 FIGOS FRESCOS 34.689 0,01 5.957

90 LIMOES E LIMAS, FRESCOS OU SECOS 32.260 0,01 24.000

91 OUTROS FIOS TEXTEIS DE POLIESTERES 31.747 0,01 4.493 103,4

92 TECIDO ALGOD<85%, ESTAMP/FIBRA SINT/ART.SARJAD.P>200G/M2 31.642 0,01 4.308 166,1

93 QUARTZITOS, EM BRUTO OU DESBASTADOS 28.774 0,01 81.800 -18,6

94 OUTRAS PREPARACOES CAPILARES 24.874 -- 14.386

95 TECIDO DE ALGODAO>=85%, FIO COLOR.PTO.SARJADO, P<=200G/M2 23.619 -- 3.280 --

96 OUTS.TECIDOS ALGODAO<85%, ESTAMP/FIBR.SINT/ART.P>200G/M2 21.623 -- 3.130 -40,7

97 TECIDO DE FIBRAS ARTIFICIAIS>=85%, CRU OU BRANQUEADO 19.979 -- 2.767

98 COCOS FRESCOS 18.285 -- 16.530 837,7

99 CAMISAS,BLUSAS,ETC.DE OUTRA MATERIA TEXTIL, USO FEMININO 17.603 -- 188

113

100 OUTROS TECIDOS DE ALGODAO>=85%, ESTAMPADO, PESO>200G/M2 17.228 -- 2.136 23,00

DEMAIS PRODUTOS 374.719 0,13 183.164 -99,5

*Alguns valores foram arredondados para melhor legibilidade dos dados.

Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (MDIC/Secex), 2016.

Percentual extremamente proporcional ao quadro das importações (Tabela 05)

no qual 38,27% do total, para esse mesmo ano, foram de insumos industriais,

acumulando uma variação positiva de 0,94% em relação ao anterior. Esse índice não

é elevado em termos absolutos, mas se o compararmos com a variação global das

importações para esse mesmo período, cuja queda atingiu -25,44%, depreendemos

que houve uma certa estabilidade do ramo - em pese ser essa uma inferência de

conjuntura e não estrutural. Com efeito, por trataram-se de dados relativos e sabendo

da situação favorável de nossa balança comercial, vale ressaltar que a diferença entre

importação e exportação de insumos industriais no RN é de 27,12% em favor esta

última.

Tabela 05: Principais produtos importados do RN.

2016 (JAN - DEZ) Var%

Principais produtos

US$ % Kg 16/ 15

TOTAL GERAL 184.556.123 100,00 454.276.089 -25,4

TOTAL DOS PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS 163.634.275 88,66 446.706.431 39,2

1 OUT.TRIGOS E MISTURAS DE TRIGO C/CENTEIO, EXC.P/ SEMEAD 53.336.884 28,90 282.526.991 25,1

2 CAIXAS DE PAPEL OU CARTAO, ONDULADOS (CANELADOS) 6.909.914 3,74 6.684.208 84,2

3 OUTS.FORNOS N/ELETR.P/USTULACAO,ETC.DE MINERIOS/METAIS 6.586.884 3,57 2.233.134

4 POLIETILENO LINEAR, DENSIDADE<0.94, EM FORMA PRIMARIA 5.937.820 3,22 3.620.250 -1,3

5 POLICLORETO DE VINILA, OBT.PROC.SUSPENSAO, FORMA PRIMARIA 5.231.612 2,83 6.701.000 88,5

6 COQUE DE PETROLEO NÃO CALCINADO 4.805.590 2,60 107.578.250 -12,0

7 OUTROS TIPOS DE ALGODAO NÃO CARDADO NEM PENTEADO 4.491.097 2,43 3.238.623

8 COPOLIMERO DE ETILENO/ACIDO ACRILICO, EM FORMAS PRIMARS. 4.437.404 2,40 1.413.750 -34,0

9 PARTES DE OUTROS MOTORES/GERADORES/GRUPOS ELETROG.ETC. 4.364.674 2,36 671.345 --

10 OUTRAS CHAPAS DE POLIMEROS DE ETILENO, N/REFORCADAS, ETC. 4.265.739 2,31 1.817.290 56,2

11 CASTANHA DE CAJU, FRESCA OU SECA, COM CASCA 3.633.112 1,97 2.500.000 -64,7

12 OUTS.CONSTRUCOES E SUAS PARTES, DE FERRO FUND/FERRO/ACO 3.471.335 1,88 1.462.911 297,6

13 POTAS E LULAS (OMMASTREPHES, LOLIGO, ETC), CONGELADOS 2.394.479 1,30 1.498.985 126,5

114

14 MAQS.E APARS.P/ESMAGAR, ETC.SUBST.MINER.SOLIDA, DE BOLAS 2.260.568 1,22 337.659 --

15 MÁQUINAS DE IMPRESSÃO POR JATO DE TINTA 2.260.175 1,22 45.644

16 TRANSFORMADOR DE DIELETRICO LIQUIDO,650<POT<=10000KVA 2.175.018 1,18 267.890

17 OUTS QUADROS ETC.C/APAR INTERRUP CIRCUITO ELETR T>52KV 1.846.606 1,00 63.158 111,4

18 OUTS.FOLHAS/TIRAS, DE ALUMINIO S/SUPORTE, LAMIN.E<=0.2MM 1.803.731 0,98 539.176 -18,4

19 FORNOS INDUSTRIAIS, N/ELETR.P/CERAMICA 1.542.425 0,84 676.490

20 ALGODAO SIMPLESMENTE DEBULHADO, NAO CARDADO NEM PENTEADO 1.390.142 0,75 504.760 -1,0

21 OUTS.INSTRUMENTOS E APARS.AUTOMAT.P/REGULACAO/CONTROLE 1.350.773 0,73 24.533 --

22 SEMENTES DE MELAO, PARA SEMEADURA 1.273.222 0,69 995 56,0

23 OUTROS SACOS, BOLSAS E CARTUCHOS, DE POLIMEROS DE ETILENO 1.255.504 0,68 187.259 65,1

24 MILHO EM GRAO, EXCETO PARA SEMEADURA 1.243.235 0,67 6.641.518

25 PARTES DE FECHOS ECLER 1.223.375 0,66 149.918 36,0

26 OUTRAS CORDAS E CABOS, DE FERRO/ACO, N/ISOL.P/USO ELETR. 1.170.653 0,63 507.911 -43,7

27 OUTS.MAQUINAS E APARS.P/ESMAGAR, ETC.SUBST.MINER.SOLIDA 1.163.426 0,63 664.116

28 FIO DE ALTA TENACIDADE, DE POLIESTERES 1.141.208 0,62 402.200 61,0

29 SULFATO DE POTASSIO, TEOR DE OXIDO DE POTASSIO(K2O) <=52% 1.123.048 0,61 2.172.000 20,3

30 POLIETILENO SEM CARGA, DENSIDADE<0.94, EM FORMA PRIMARIA 982.482 0,53 618.750 -2,6

31 OUTS.REAGENTES DE DIAGNOSTICO OU DE LABORATORIO 948.018 0,51 3.013 58,6

32 OUTS.MAQUINAS E APARELHOS P/TRABALHAR MATERIAS TEXTEIS 940.556 0,51 81.810 33,9

33 COMPLEMENTOS ALIMENTARES 874.290 0,47 58.913 -14,9

34 MAQUINAS E APARS.P/SELECIONAR, ETC.SUBST.MINER.SOLIDA 817.724 0,44 529.608 71,4

35 TECIDO DE ALGODAO>=85%, CRU, PONTO SARJADO, PESO>200G/M2 793.562 0,43 215.928

36 CASTANHA DE CAJU, FRESCA OU SECA, SEM CASCA 739.513 0,40 146.286

37 OUTS.QUADROS, ETC.C/APARS.INTERRUP.CIRCUITO ELETR.T<=1KV 711.475 0,39 8.896 122,5

38 OUTRAS 696.883 0,38 554.989 8,6

39 FIO DE FIBRAS DE POLIESTERES>=85%, RETORCIDO/RETORC.MULT 650.634 0,35 161.612 -36,5

40 ISOLADORES DE VIDRO P/USO ELETRICO 643.603 0,35 402.814

41 OUTS.ADUBOS/FERTILIZ.MINER.QUIM.C/NITROGENIO E POTASSIO 631.945 0,34 199.932 165,8

42 OUTROS TECIDOS DE FIBRAS DE POLIESTER 631.423 0,34 72.798 13,7

43 OUTROS AGENTES ORGANICOS DE SUPERFICIE, ANIONICOS 630.708 0,34 657.520 621,3

44 OUTROS CLORETOS DE POTASSIO 615.961 0,33 636.000 -4,0

45 TECIDO ALGODAO>=85%, FIO COLOR.PTO.TAFETA,100<P<=200G/M2 607.136 0,33 55.001 -68,5

46 OUTS.REC.DEC.INTEG.SIN.DIG.D/VÍDEO COD.CORES 597.741 0,32 12.592 -16,0

47 TECIDO DE FILAM.POLIESTER TEXTUR>=85%, CRUS/BRANQUEADOS 592.024 0,32 72.016 1,0

48 MAQS.E APARS.P/ENCHER/FECHAR LATAS, CAPSULAR VASOS, ETC. 580.910 0,31 301.489

49 OUTS.APARELHOS E DISPOSITIV.P/TRAT.MATER.MODIF.TEMPERAT 575.729 0,31 10.912 --

50 DIIDROGENO-ORTOFOSFATO DE AMONIO, INCL.MIST.HIDROGEN.ETC 548.591 0,30 840.000 24,3

51 SAIS DUPLOS E MISTURAS DE NITRATOS DE CALCIO E AMONIO 542.792 0,29 2.352.000 50,4

52 PASTA QUIM.MADEIRA DE CONIFERA, A SODA/SULFAT.SEMI/BRANQ 515.410 0,28 754.602 1,1

53 OUTRAS MAQUINAS E APARELHOS MECANICOS C/FUNCAO PROPRIA 502.617 0,27 2.898 161,1

54 MEDICAMENTO C/OUTS.VITAMINAS/PROVITAMINAS,ETC.EM DOSES 475.553 0,26 19.974 278,4

55 OUTRAS PREPARACOES PARA ALIMENTACAO DE ANIMAIS 472.765 0,26 119.737 18,4

115

56 OUTS.FRACOES DO SANGUE, PROD.IMUNOL.MODIF. (MEDICAMENTOS) 468.818 0,25 6

57 OUTS.PARTES DE MAQUINAS E APARS.MECAN.C/FUNCAO PROPRIA 410.883 0,22 3.450 484,8

58 ADUBOS OU FERTILIZANTES C/NITROGENIO, FOSFORO E POTASSIO 400.627 0,22 445.385 229,9

59 OUTROS POLICLORETOS DE VINILA, EM FORMAS PRIMARIAS 368.132 0,20 561.000

60 OUTRAS COLAS E ADESIVOS PREPARADOS 367.891 0,20 141.334 252,3

61 TECIDO DE FILAM.POLIESTER TEXTUR>=85%, TINTOS, S/BORRACHA 366.460 0,20 36.039 8,5

62 OUTRAS PARTES P/APARELHOS INTERRUP.CIRCUITO ELETR. 365.065 0,20 1.499 -4,0

63 MODULAD. /DEMODUL. (MODENS)P/TELEC.(PORT.DIG) 352.005 0,19 5.027 503,6

64 OUTROS SECADORES 349.459 0,19 122.466 267,3

65 OUTS.APARS.P/INTERRUPCAO, ETC.P/CIRCUITOS ELETR.T<=1KV 333.033 0,18 3.996 -19,1

66 CAIXAS DE TRANSMISSAO,REDUTORES,ETC.DE VELOCIDADE 324.702 0,18 36.844 243,0

67 TECIDO POLIEST<85% C/ALGOD.P<=170G/M2, TAFETA, DIVS.CORES 317.473 0,17 34.793 37,4

68 PARTES DE OUTRAS TURBINAS A GAS 316.587 0,17 1.067 -74,9

69 MICROSCOPIOS P/FOTOMICROGRAFIA 296.674 0,16 503 684,3

70 OUTS.INSTRUMENTOS E APARS.DE GEODESIA, TOPOGRAFIA, ETC. 285.612 0,15 306 -24,0

71 PARTES DE MAQS.E APARS.P/SELECIONAR, ETC.SUBST.MINERAIS 280.993 0,15 75.898 159,5

72 TECIDOS DE MALHA DE FIBRA SINTETICA TINTOS L>30CM 279.980 0,15 42.608 -35,4

73 EQUIPAMENTO DE ALIMENT.ININTERRUPTA DE ENERGIA ELETR. 279.326 0,15 9.045 282,9

74 OUTRAS ARVORES (VEIOS) DE TRANSMISSAO 277.553 0,15 59.511 910,5

75 GUINCHOS E CABRESTANTES, DE MOTOR ELETRICO, CAP<=100T 259.786 0,14 5.183 206,3

76 APARELHOS P/FILTRAR OU DEPURAR AGUA 259.403 0,14 62.318 --

77 OUTRAS OBRAS DE FERRO OU ACO 258.498 0,14 33.526 -55,2

78 OUTS.CHAPAS, FOLHAS, PELICULAS, TIRAS, LAMINAS, DE PLASTICOS 252.509 0,14 54.135 --

79 PARTES DE OUTRAS MAQUINAS DE SONDAGEM/PERFURACAO 252.007 0,14 9.505 -89,3

80 OUTRAS BOMBAS VOLUMETRICAS ALTERNATIVAS 244.786 0,13 7.719 -89,6

81 OUTRAS CABECAS DE IMPRESS.P/MECAN.IMPRESS.JATO DE TINTA 243.432 0,13 28 200,7

82 OUTRAS PARTES DE COMPRESSORES DE AR/OUTRAS GASES 240.878 0,13 2.185 169,8

83 OUTRAS CEBOLAS FRESCAS OU REFRIGERADAS 240.762 0,13 725.000 -42,4

84 DISPOSITIVOS DE ACOPLAMENTO, INCL.JUNTAS DE ARTICULACAO 235.967 0,13 5.740 --

85 OUTS.AP.COMUTAÇÃO P/TELEFONIA E TELEGRAFIA 232.506 0,13 315 --

86 TECIDOS DE MALHA DE FIBRA SINT CRUS/BRANQUEADOS L>30CM 224.568 0,12 41.044 15,8

87 FIO ALGODAO<85%, SIMPLES, FIBRA N/PENT.192.31D<=T<232.56D 222.341 0,12 28.933 344,2

88 CIRCUITO IMPRESSO MONTADO P/APARS.INTERRUP.CIRC.ELETR. 221.590 0,12 894 172,4

89 PARTES DE MAQS.E APARS.P/TRAB.BORRACHA/PLAST.FABR.PRODS 213.806 0,12 11.846 -37,6

90 BOBINADEIRAS P/FIOS ELASTANOS, AUTOMATICAS 213.475 0,12 5.682

91 ADUBOS OU FERTILIZANTES EM TABLETES/EMBALAGENS P<=10KG 208.623 0,11 20.333

92 OUTROS CONVERSORES ELETRICOS ESTATICOS 205.240 0,11 1.803 27,3

93 OUTRAS EMPILHADEIRAS AUTOPROPULSORAS, CAP>6.5T 200.975 0,11 39.800

94 OUTS.MÁQS.APAR.ELÉTR.C/FUNÇÃO PRÓPRIA, Ñ CIT. 198.272 0,11 626 -69,6

95 TECIDO DE FIBRAS ARTIFICIAIS>=85%, DE FIOS DE DIVS.CORES 197.489 0,11 22.497 59,8

96 OUTS.INSTRUMENTOS, APARELHOS E MAQS.DE MEDIDA/CONTROLE 195.967 0,11 2.051 -1,9

97 OUTRAS CONSTRUCOES PRE-FABRICADAS, DE FERRO OU ACO 191.153 0,10 1.800 998,0

116

98 MAQUINAS P/ENFESTAR OU CORTAR TECIDOS, AUTOMATICAS 190.588 0,10 3.900

99 OUTS.INTERRUPTORES,ETC.DE CIRCUITOS ELETR.P/TENSAO<=1KV 190.146 0,10 3.320 4,0

100 OUTROS TECIDOS DE ALGODAO>=85%, FIO COLOR.PESO<=200G/M2 188.537 0,10 13.417 -88,0

DEMAIS PRODUTOS 20.921.848 11,34 7.569.658 -83,9

*Alguns valores foram arredondados para melhor legibilidade dos dados.

Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (MDIC/Secex), 2016.

Em face desse cenário e analisando o fluxo dos principais produtos

concernentes à estes dois vetores, podemos auferir que, em nosso estado, o aumento

da produtividade do ramo têxtil é diretamente proporcional à demanda de produtos

intermediários fabricados em território estrangeiro – pela falta de disponibilidade aqui

ou atratividade maior lá fora, como é caso dos artigos de fibras sintéticas. A Tabela

06 dos principais países de destino de nossa importação é uma evidência disso,

encabeçadas por Estados Unidos e Chinas, grandes produtores de bens de capital,

ao passo que também se fazem presentes países como a Costa Marfim, grande

produtora de algodão, bem intermediário.

Tabela 06: Principais países de destino da importação do RN.

2016 2015 Var%

Países

US$ % US$ % 16/15

TOTAL DO ESTADO 184.556.123 100,00 247.528.234 100,00 -25,44

TOTAL DOS PRINCIPAIS PAÍSES DESTINOS 181.909.328 98,57 243.752.142 98,47 -25,37

1 ESTADOS UNIDOS 39.818.688 21,58 30.598.686 12,36 30,13

2 CHINA 38.244.020 20,72 27.484.892 11,10 39,15

3 ARGENTINA 35.605.143 19,29 34.962.757 14,12 1,84

4 ESPANHA 16.322.572 8,84 90.231.556 36,45 -81,91

5 ITALIA 7.093.154 3,84 8.341.624 3,37 -14,97

6 ALEMANHA 6.308.449 3,42 10.304.454 4,16 -38,78

7 URUGUAI 4.911.100 2,66 5.767.116 2,33 -14,84

8 PARAGUAI 4.062.934 2,20 - -- --

9 PAISES BAIXOS (HOLANDA) 4.001.620 2,17 3.612.343 1,46 10,78

10 COSTA DO MARFIM 3.642.835 1,97 10.298.393 4,16 -64,63

DEMAIS PAÍSES 24.545.608 13,30 25.926.413 10,47 -5,33

Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (MDIC/Secex), 2016.

Na direção oposta, dos fluxos de exportação a produção têxtil se insere no

agregado total do estado com um percentual de 11,7%. Desta forma, com base nos

117

principais países de destino da exportação norte-rio-grandense (Tabela 07),

depreendemos a inserção do ramo nos fluxos da divisão internacional do trabalho.

Encabeçando a tabela estão grandes importadores de bens de consumo, no caso das

roupas de cama, mesa e banho oriundas das multinacionais localizadas em solo

potiguar, como é o caso da COTEMINAS®, e também de bens intermediário, como é

caso da produção de tecidos para a produção do vestuário, tendo como grande

exemplo a Vicunha com uma topologia extremamente internacionalizada.

Tabela 07: Principais países de destino da exportação do RN.

2016 2015 Var%

Países

US$ % US$ % 16/15

TOTAL DO ESTADO 284.679.968 100,00 318.039.847 100,00 -10,49

TOTAL DOS PRINCIPAIS PAÍSES DESTINOS 273.967.101 96,24 240.443.323 75,60 13,94

1 ESTADOS UNIDOS 72.691.385 25,53 58.971.092 18,54 23,27

2 PAISES BAIXOS (HOLANDA) 49.420.644 17,36 45.328.464 14,25 9,03

3 REINO UNIDO 30.195.795 10,61 23.131.656 7,27 30,54

4 ESPANHA 26.657.717 9,36 25.497.462 8,02 4,55

5 ARGENTINA 8.840.138 3,11 11.402.107 3,59 -22,47

6 NIGERIA 8.709.845 3,06 8.617.800 2,71 1,07

7 COLOMBIA 8.151.638 2,86 5.910.900 1,86 37,91

8 ITALIA 7.688.986 2,70 4.608.826 1,45 66,83

9 MEXICO 6.242.253 2,19 5.202.761 1,64 19,98

10 PERU 5.903.865 2,07 7.470.235 2,35 -20,97

DEMAIS PAÍSES 60.177.702 21,14 121.898.544 38,33 -50,63

Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (MDIC/Secex), 2016.

Segundo Sposito e Azevedo (2016), os quais analisam a expansão

contemporânea do modo industrial no Rio Grande do Norte, os principais produtos

têxteis exportados pelo estado são camisas de malha de algodão de uso masculino,

camisetas (t-shirts) e outros produtos de malha de algodão, tecidos de algodão índigo,

cobertores e mantas de algodão, assim como roupas de cama de algodão e de fibras

sintéticas ou artificiais estampadas. Os países que se destacam na aquisição da

maioria dos produtos supracitados são os Estados Unidos e membros do bloco da

União Europeia, tendo havido um considerável recessão a partir de 2007. Por seu

turno, os países do Mercosul ganham notoriedade na importação de tecidos índigo e

118

roupas de cama estampadas produzidos em território potiguar, apresentando

crescimento relativo a partir do ano de 2012 no fluxo de aquisições destes e

interrupção a partir de 2008 daqueles.

Em síntese: intensificam-se as relações na escala internacional, na medida em

que se ampliam, como analisaremos mais detalhadamente nos capítulos

conseguintes, as lacunas que separam as multinacionais – alienígenas, haja vista

seus interesses extravertidos - das pequenas e médias firmas nativas, os grandes dos

pequenos, os espaços opacos dos luminosos, e assim por diante. Lembrando que o

tamanho da firma não significa menor espoliação do trabalho de nosso cidadãos, mas

apenas sentidos diferentes da mesma. Se justapõem alienação da produção por meio

dos ditames da técnica e da informação hegemônicas e por meio da exploração e o

uso intensivo do trabalho.

Sendo assim, as duas primeiras tipologias (Grandes marcas do vestuário e

Multinacionais da produção de artefatos têxteis) são as responsáveis mais diretas pela

inserção do RN no circuito internacional da produção têxtil. As firmas do ramo de

artefatos domésticos atuam como fornecedoras, ao mercado externo, de bens

intermediários, em sua maioria tecidos de algodão ou de fibras sintéticas, e no

mercado interno distribuindo artigos de cama, mesa e banho, voltados aos estratos

de renda médio e alto.

De maneira similar, o vestuário engloba detentoras de grandes marcas

nacionais (Hering e Riachuelo) que também atuam nesses dois níveis, diferenciando-

se por comercializarem, majoritariamente, apenas bens de consumo. Ainda se fazem

presentes nesta tipologia, grandes marcas nacionais do vestuário que apesar de não

chegarem a ser internalizadas têm uma topologia ao mesmo tempo abrangente e

seletiva no território brasileiro. A Toli© é um exemplo dessas grifes que, apesar de

não serem internacionalizadas, estão presentes na maioria dos grandes templos do

consumo do país, com filial no Rio Grande do Norte.

Na base disso tudo, estão as firmas que se aventuram nas escalas regional e

nacional, não obstante aos vínculos, sobretudo, de dependência com os agentes

atuantes na escala do mundo. E essa é uma das justificativas da nossa opção pela

abordagem dos circuitos espaciais produtivos, haja vista que os circuitos espaciais

produtivos são multiescalares, porém tributários, sobremaneira, da teia de interesses

internacionais.

Em todos os casos, no entanto:

119

[...] devemos hoje considerar, com Milton Santos, que as sincronias funcionais locais obedecem a um tempo e a um ritmo da acumulação mundial. O circuito, claramente internacionalizado do capital financeiro aparece como um vigoroso elemento ordenador da produção nos diferentes rincões do planeta (MORAES, 1984, p. 24-25).

Isto evidência uma inserção periférica nos círculos de cooperação do espaço

de determinados agentes que apesar de usarem produtivamente o território, não são

eles que o dominam. Ou seja, é a dependência dos pequenos aos grandes. Esta

dependência pode ser direta, como é no caso da tipologia das facções do vestuário

que dependem quase que exclusivamente da demanda de seus serviços pelas

Multinacionais, que por razões estratégicas terceirizam a maior parte de sua produção

propriamente dita para preocupar-se com a concepção, com as informações etc.

Portanto, o uso do território pelas facções é um uso alienado, enquanto o das

multinacionais é alienígena.

Um exemplo da dependência indireta das pequenas pelas grandes firmas é que

estas, por serem mais fortes financeiramente e conseguirem administrar seus lucros

a longo prazo, adotam políticas de preços que lhes sejam conveniente, em detrimento

da população em geral e dos pequenos produtores. Estes, por trabalharem em um

nível bem mais baixo de valor agregado aos seus produtos, apenas sobrevivem na

selva mercadológica se fixando seus preços bem abaixo daqueles impostos pelas

firmas mundialmente capitalizadas.

Em resumo, o que agrupa estas tipologias, o que as une, são solidariedades

organizacionais. É o uso produtivo do território gerido e gestado pelas grandes

corporações, as quais fazem do Rio Grande do Norte, nesse sentido, um território

nacional da economia internacional. Em contraponto, as atividades analisadas a

seguir têm em comum estarem vinculadas, sobretudo em sua evolução pretérita, por

solidariedades orgânicas, no sentido da coabitação, das continuidades do território e

dos acúmulos desiguais do tempo.

120

3.4 Entre a técnica e o tempo, coexistências e permanências: materialidades

pretéritas da atividade têxtil no Seridó Potiguar

Em nosso entendimento, partir ao estudo das materialidades pretéritas significa

analisar os usos do tempo social justapondo-se no território. Neste contexto, Santos

(2012) nos explica que há duas maneiras de trabalharmos a noção de tempo em

geografia: a partir do eixo das sucessões e do eixo das coexistências. Estas categorias

referem-se, sobremodo, à técnica enquanto empiricização do tempo.

“A vida social, nas suas diferenças e hierarquias, dá-se segundo tempos

diversos que se casam e anastomosam, entrelaçados no chamado viver comum”

(SANTOS, 2012, p. 159). Este último acontece nos lugares, através dos quais

podemos fazer uma distinção do tempo social. Inicialmente, é possível observar,

nesses lugares, o transcurso do tempo ocorrendo na forma de sistemas sucessivos,

permitindo diferencia-lo em períodos distintos. Estamos nos referindo ao eixo das

sucessões.

Todavia, cabe lembrar que o lugar é um quadro dinâmico, no qual se

apresentam possibilidades à realização dos eventos. Como cada evento depende de

uma ação para se realizar, podemos deduzir que cada lugar comporta, ao mesmo

tempo, diversos agentes, os quais não possuem os mesmos meios de efetivação e

objetivação do uso do tempo. Em outros termos, na medida em que os eventos são

simultâneos, eles também são concomitantes. Trata-se, nesse caso, do eixo das

coexistências.

Como não há no mundo nenhum subespaço que ofereças aos homens

(indivíduos, firmas e instituições) usos uniformes do tempo, pensamos ser este o

domínio propriamente geográfico de investiga-lo, haja vista ser o espaço que: “[...]

reúne a todos, com suas múltiplas possibilidades, que são possibilidades diferentes

de uso do espaço (do território) relacionadas com possibilidades diferentes de uso do

tempo” (SANTOS, 2012, p. 160).

Vale salientar que, à luz de Azevedo (2007, p. 23), consideramos o Seridó

Potiguar enquanto a região historicamente constituída:

O Seridó Potiguar [...] corresponde aos municípios da regionalização anterior a 1989. Em junho daquele ano, o IBGE fragmentou a região, criando novas microrregiões e desmembrando municípios para constituir outras, por isso, não consideraremos essa regionalização, a

121

qual está em vigor. Assim, a região estudada corresponde aos municípios de: Acari, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Florânia, Ipueira, Jardim de Piranhas, Jardim do Seridó, Jucurutu, Lagoa Nova, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Seridó, São Fernando, São João do Sabugi, São José do Seridó, São Vicente, Serra Negra do Norte, Tenente Laurentino Cruz e Timbaúba dos Batistas.

Ao tratar da evolução pretérita da atividade têxtil no Seridó Potiguar,

depreendemos que as sucessões são a linearidade do tempo, e podem se objetivar,

conforme presentemente proposto, em periodizações. Nesse sentido, lançaremos

mão da noção utilizada por Santos (2008b) e, por extensão, das noções de regime e

ruptura, para sistematização das informações adquiridas.

Para o autor o regime é dado pelo conjunto de variáveis funcionando

harmonicamente, ao longo de um período considerável de tempo, mas cuja evolução

não é homogênea. O que permite o funcionamento da conjuntura é sua organização,

impondo normas de ação. A ruptura é o processo, que por algum motivo, abala a

estrutura orgânica, desencadeando metamorfoses.

Atentamos, outrossim, à periodização construída por Santos e Silveira (2008)

para compreender o território brasileiro a partir da evolução dos meios geográficos.

Desse modo, em contraposição aos nexos gerais da formação socioespacial,

buscamos distinguir as particularidades da evolução do atividade têxtil no Seridó

Potiguar, por meio das quais identificamos três regimes temporais distintos: o período

do auge da agroindústria algodoeira e da fase inicial da atividade têxtil; o período da

mecanização e expansão fabril; e o período da incorporação periférica ao meio

técnico-científico informacional.

Período do auge da agroindústria algodoeira e da fase inicial da atividade têxtil (de

aproximadamente 1920 até o início da década de 1970)

Existe no Nordeste uma recalcitrância temporal mais aguda se comparada com

as demais regiões. Aqui, os novos regimes temporais, para se incorporarem, de fato,

precisam se acotovelar com inúmeras rugosidades oriundas de um quadro

socioespacial praticamente engessado, conforme asseveram Santos e Silveira

(2008). Por essa razão, grandes parte dos subespaços que ocupam essa parcela do

território brasileiro são constituídas por anacronismos temporais, ou seja, cada

122

sucessão do meio geográfico acumula uma gama relativa de permanências advindas

dos períodos anteriores.

Nesse contexto, o início da atividade têxtil no Seridó Potiguar é um híbrido, e

ao mesmo tempo uma transição, entre os períodos, denominados pelos autores

supracitados, do Brasil arquipélago e do meio técnico da circulação mecanizada e dos

inícios da industrialização.

O primeiro deles tem por característica uma mecanização incompleta do

território, composta por um conjunto de manchas ou pontos onde se realizavam

determinadas produções mecanizadas – como no caso da agroindústria algodoeira.

O outro período é situado pelos autores, para o conjunto do país, entre o começo do

século XX e a década de 1940, apresentando defasagens em relação ao nosso recorte

empírico. Nesse intervalo gesta-se uma circulação mecanizada concomitante ao

descortinar da industrialização sistêmica, marcadas por heranças tributárias da

mecanização raquítica.

Grosso modo, conforme aponta Gomes (1998), foi a pecuária que deu suporte

ao povoamento do Seridó, que se inicia no interstício entre o final do século XVII e o

início do XVIII, permanecendo até meados do fim do século XIX como a principal

atividade econômica da região, quando é ultrapassada em termos relativos pela

monocultura do algodão.

Segundo Andrade (1981, p. 20):

Este produto [o Algodão] utilizado pelos indígenas antes mesmo do descobrimento, foi objeto de pequena exportação para a metrópole, desde os primeiros tempos. Tornou-se importante, porém, quando a indústria têxtil inglesa, em expansão, teve que substituir grande parte do linho pelo algodão, estimulando a sua cultura no mundo tropical. [...] Bem adaptado ao clima do semi-árido, o algodão logo se expandiu pelas áreas de pecuária, transformando o processo de utilização da área sertaneja [...].

Neste contexto, surge ou, melhor dizendo, intensifica-se a atividade

agroindustrial em torno do produto:

Estando a produção associada diretamente à revolução industrial, a expansão dessa cultura no Rio Grande do Norte vai acontecer a partir da segunda metade do século XVIII, devido a forte procura do mercado inglês pelo algodão, para o abastecimento de sua indústria têxtil [...] (GOMES, 1998, p. 31-32).

123

Esta autora salienta, ainda, que a crise nos Estados Unidos da América,

instalada pelas guerras da Independência e Secessão norte-americanas, foi salutar

para a consolidação dessa economia no Rio Grande do Norte, uma vez que o principal

centro de abastecimento do produto na época, ali se instalava.

Essa atividade econômica “otimizou”, em certa medida, a dinâmica econômica

norte-rio-grandense, incorporando ao território aspectos relevantes, como o

fortalecimento do comércio por meio da criação de novas rotas; a efetivação do Rio

Grande do Norte como criador de infraestruturas; e o surgimento de novas cidades,

motivado pelo fortalecimento relacional da interdependência entre o campo e a cidade.

Nesta perspectiva, o circuito têxtil do auge da agroindústria algodoeira e da fase

inicial da atividade se constituía no Seridó Potiguar como uma interface à economia

tradicional do algodão, principal atividade produtiva do referido período, apresentando

uma espécie de produção complementar residual e pontual. Com as mesmas

características, o bordado artesanal apresenta laços históricos com a produção têxtil.

Essas são as três atividades mais tradicionais cuja configuração compõe o quadro do

período do auge da agroindústria algodoeira e da fase inicial da atividade têxtil.

A mais residual de todas elas era o bordado artesanal, na época, composta por

relações de caráter muito mais familiar e de vizinhança que propriamente comerciais.

No entanto, também era a mais tradicional. A atividade é uma herança direta do tempo

colonial, introduzida no Seridó Potiguar por meio dos portugueses, e, assim como no

caso dos artefatos têxteis, foi potencializada pelo cultivo do algodão, sobretudo em

seu declínio, conforme afirma Toalhas de Banho (2016, p. 1): “[...] de lá pra cá,

também [...] veio a filosofia da parte do bordado, que são as bordadeiras daqui do

Seridó, que é uma profissão que veio com os portugueses”.

Por seu turno, conforme aponta os registros históricos aos quais conseguimos

lograr acesso, o ramo propriamente têxtil mais tradicional do Rio Grande do Norte,

desenvolvido inicialmente no Seridó Potiguar, é o de artefatos domésticos,

desdobramento direto da agroindústria presente na região. Uma das maiores

evidências desse processo é a então figura do Coronel “Marinheiro” Saldanha, que

chegou em, na época distrito de Caicó, Jardim de Piranhas/RN por volta de 1928:

[...] onde se firmou no comércio de tecidos, compra de algodão e de sementes de oiticica. [...] naquela época, empregava os mais modernos processos de cultura mecânica, que o ajudaram a se tornar

124

um dos maiores produtores de algodão ‘mocó’ do Estado. (ARAÚJO; ARAÚJO; MEDEIROS, 1994 p. 19)

Segundo Araújo, Araújo e Medeiros (1994) os primeiros teares foram instalados

nos idos de 1945. A maioria da produção era comercializada na vizinha cidade de São

Bento (PB), situação presente até os dias atuais, e os métodos empregados na

produção de redes de dormir – principal produto fabricado a época – eram bastante

rudimentares (AZEVEDO, 2015).

Os principais equipamento eram o teares artesanais, na linguagem vernácula

chamados de teares de pau, e todo o maquinário era completamente manuais. “Eram

teares rudimentares feitos de madeira, que a produção era muito lenta [...] E era um

serviço artesanal [...]” (BRIM, 2016, p. 2). Todas elas produzidas por artesões locais:

“Os teares de pau, quando eu comecei eram fabricados numa oficina, por um

marceneiro em São Bento” (PANOS DE CHÃO, 2016, p. 4); “Esses teares artesanal

[sic], de madeira, eles eram feitos na madeireira de Joaquim de Jorge [ainda em

funcionamento no município de Jardim de Piranhas]” (BRIM, 2016, p. 3).

Os estabelecimentos que abrigavam a atividade eram os interiores das próprias

residências: “[...] geralmente era a chamada fábrica de fundo de quintal, dentro do

muro, praticamente como artesão [...] (PANOS DE CHÃO, 2016, p. 6)”.

O principal artefato produzido era a rede de dormir, mas também verificava-se

a produção de cobertores, vernaculamente conhecidos por cobertas: “Os artefatos,

aqui na região, produzidos anteriormente eram somente rede e lençol [...]” (BRIM,

2016, p. 1); “Na época era rede que fabricava” (PANOS DE CHÃO, 2016, p. 2).

E a comercialização dos produtos realizava-se, outrossim, na contiguidade

territorial: “Quando eu comecei a gente vendia por aqui, pelas cidades circunvizinhas”,

marcadamente nas tradicionais feiras do Seridó Potiguar. Na época, os

atravessadores, em uma quantidade bem menos expressiva que a atual: “Compravam

pra vender nas feiras aqui de Parelhas, Jucurutu, no agreste... De natal, a gente as

vezes se deslocava até lá e iam vender [sic]” (PANOS DE CHÃO, 2016, p. 4).

Destarte, depreendemos que no referido período havia uma preponderância

dos nexos horizontais no uso produtivo do território. Conforme apontaram os agentes

entrevistados, toda a parte de aquisição da matéria-prima realizava-se na região, a

fabricação dos instrumentos de trabalho em madeireiras locais, e a pequena produção

era comercializa em sua totalidade na vizinhança. O período da mecanização e

125

expansão fabril representou uma transição entre esse quadro e o atual, cuja tendência

é consentânea a uma união vertical dos lugares.

Período da mecanização e expansão fabril (entre as décadas de 1970 e 1990)

A partir da década de 1970, o capital industrial, de forma mais intensiva,

fomentou sucessivamente o maquinista descaroçador de algodão a incorporar

mudanças nas formas de produção agrícola, levando o algodão mocó – de fibra longa

– a sofrer algumas restrições. Logo, o surgimento das fibras sintéticas e a

modernização das técnicas de colheita e beneficiamento vão de encontro à estrutura

local – baseada no latifúndio –, com uma base técnica manufatureira que, logo, se

tornou ultrapassada, em relação ao sistema técnico mundial. O sistema técnico e os

vetores modernos por ele desencadeados, como decorrência da economia

globalizada, imprimiram alterações na produção e, portanto, no uso do território,

levando à sucessiva diminuição na demanda por produtos originários da região.

Com a decadência da atividade algodoeira, surgem novas atividades, bem

como se renovam, se remodelam, algumas daquelas já existentes, embora

comportando-se muito mais como uma interface da produção outrora predominante.

[...] A derrocada da principal base econômica sertaneja, associada às limitações edafoclimáticas e à decadência da atividade mineradora, refletiram sobremaneira nas condições sociais e materiais de vida da população regional seridoense. Já [...] os anos 1990, foi marcada por incessantes buscas de alternativas para a reestruturação produtiva da região, que pudessem ainda viabilizar melhorias no âmbito social. (AZEVEDO, 2007, p. 389)

Doravante,

A expansão da indústria têxtil, ou, mais exatamente dos setores de fiação e tecelagem, repercute em diferentes níveis alterando fundamentalmente as relações de produção e comercialização de algodão tradicionalmente estabelecidas no sertão nordestino [...] (CLEMENTINO, 1985, p. 199).

Como desdobramento desses fatores, dá-se início a consolidação da

fabricação de artefatos têxteis, que até então apenas coexistia ao cultivo do algodão

de maneira residual. A tecelagem, então, começa a se mecanizar, com a aquisição de

126

materiais que se tornaram obsoletos para a indústria têxtil paulista, que modernizava

seus parques.

Esse processo é tributário de um contexto maior, do qual inferimos, a partir da

leitura de Furtado (1969, 1987), que as condições de sua realização foram logradas

em duas frente. Inicialmente, por meio da formação de um mercado interno a partir de

um certo protecionismo por parte do Estado. Por outro lado, urgia naquele momento

a necessidade de reação frente a insuficiência estrutural que o país apresentava em

sua capacidade de importação, cujo processo de substituição de importações

engendrou as bases da industrialização brasileira.

Essas condições possibilitaram a consolidação de um sistema industrial na

escala nacional, a partir da expansão territorial diacrônica desse modo de produção

(SPÓSITO, 2015). Diacrônica porque os diferentes subespaços não apresentam

condições uniformes de acolhida dos vetores de modernização, assimilando-os de

maneira defasada, descontínua. Por esta razão o espaço é um acúmulo desigual de

tempos (SANTOS, 2004).

Neste sentido, por volta de 1970 ao início da década de 1990 a atividade

industrial têxtil se fortaleceu com a chegada dos primeiros teares elétricos, tornando-

se reconhecível na prática social em termos de uso e de forma, e intensificando a

urbanização do território (AZEVEDO, 2015). Conforme assevera Araújo (2013, p. 3),

acerca da cidade de Jardim de Piranhas:

[...] Em meados dos anos 70 pros anos 80, Jardim (...) já passava pelo fenômeno de migração de quem morava na zona rural e vinha morar na cidade. Isso se intensificou muito nos anos 80, quando a atividade têxtil começou a ser incrementada através (...) da vinda dos teares elétricos.” (ARAÚJO, 2013)

No período da mecanização e expansão fabril, a atividade começa a sofrer uma

irradiação maior dos nexos verticais, havendo a substituição de uma autonomia local

relativa por uma interpendência crescente entre os lugares, “[...] e sobretudo a

interdependência “local” entre sociedade regional e natureza, fundada em circuitos

locais, é rompida por circuitos mais amplos [...]” (SANTOS; SILVEIRA, 2001 p. 52).

A capilaridade do ramo têxtil no Seridó Potiguar começa a ser perceptível

através da pulverização de pequenos estabelecimentos. Nesse sentido, “A partir do

final da década de 1980 as fábricas proliferaram bastante e de forma desordenada, a

127

maioria funcionando dentro das residências de seus proprietários e operando na

informalidade” (BRASIL, 1998, p. 10).

Nesta perspectiva, os nexos advindos do período anterior foram

imprescindíveis para a expansão fabril, haja vista que o algodão foi:

[...] um importante elemento de atração de capitais estrangeiros, ingleses sobretudo, tanto no setor produtivo como no da comercialização e da industrialização. Em 1988, Natal teve a sua primeira indústria de fiação e tecelagem que fabricava sacos para acondicionamento de produtos agrícolas – principalmente o açúcar [...] (ANDRADE, 1981, p. 35).

Começa a haver, então, uma maior diversificação produtiva do ramo no interior

do estado, ao passo que a aquisição de matérias-primas, antes circunscrita

localmente, expande seus limites e os do próprio uso produtivo do território.

Por outro lado, podemos inferir a permanência de formas-conteúdo pretéritas

através de elementos da estrutura produtiva do período artesanal que se mantém. O

exemplo de Flanelas (2016, p. 5) serve para ilustrar esse processo: “Sempre foi tudo

começado de fundo de quintal. Era no muro, tinha um “espaçozinho”, fazia um

“terreirinho”, “butava” um tear e começava [sic]. E o acabamento era feito dentro de

casa. Tinha hora que tinha mercadoria até dentro do quarto”. De maneira análoga

ocorreu com Redes de dormir (2016, p. 1): “Aqui a gente começou trabalhando pra os

outros. Aí, em seguida, veio a ideia de botar um “tearzinho” e começou no fundo de

quintal. Ou seja, a ampliação do escopo fabril e da mecanização progressiva

desenvolvem-se coadunadas à materialidade pretérita dos fundos de quintais.

Todavia, a tendência à mecanização sugere uma mudança no uso da técnica,

a qual evidencia a marca de um novo que impõe uma distinção fundamental entre o

referido período e o momento precedente. Na medida em que os teares de pau caíram

em desuso: “[...] vieram os teares de lançadeira mecânico [sic] [...]” (BRIM, 2016, p. 2).

Esses equipamentos: “[...] foram comprados em São Paulo, precisamente em

Americana, que foram os teares Ribeiro. Eles eram uns teares mecânicos, não

automáticos, mas mecânicos [...] (BRIM, 2016, p. 3).

Depreendemos, portanto, que a mudança do uso da técnica ocorre em

concomitância a metamorfose no uso do território, o qual repercute o espraiamento

da divisão do trabalho, desenvolvendo-se progressivamente em um número maior de

escalas. Esses nexos permitiram não só uma ampliação da produção, através da

128

incorporação de novos artigos, tais como as Mantas, mas também da troca, da

distribuição e, consequentemente, da circulação. Nesse período, por exemplo, a

participação da figura dos atravessadores logrou maior expressividade, conforme

ilustra o seguinte depoimento: eles “[...] se aventuraram e foram para o Rio, São Paulo,

Paraná e foram expandindo isso e esse mercado cresceu muito [...]” (PANOS DE

CHÃO, 2016, p. 4).

Ademais, o processo de mecanização da produção de artefatos têxteis, inserida

em uma reorganização do uso produtivo do território no Rio Grande do Norte e do

Seridó Potiguar, se deu atrelada à desdobramentos de outras atividades tradicionais,

sobretudo a pecuária. Esta serviu de inspiração para o início da fabricação de

acessórios do vestuário na região.

Conforme assevera Cobertas (2016, p. 3), a atividade: “[...] começou buscando

[...] a experiência [...] de fazer o chapéu de couro [...] da bovinocultura leiteira”. Então,

a partir disso, criaram-se as chapelarias:

[...] que faziam primeiro [...] pra linha de vaqueiros. Mas como isso foi [...] reduzindo o mercado, se transformou os mesmos fabricantes [...] dos chapéus de vaqueiro, “pros” bonés [sic]. Aí começou a se fazer a parte de Bonelaria, que se tornou o segundo maior polo do país, perdendo apenas pra Apucarana, em termos de produção de bonés na parte de... Não só de marcas, como também na parte que nós chamamos de brindes, né ?! (TOALHAS DE BANHO, 2016, p. 1)

O elo entre as atividades de artefatos domésticos e as Bonelarias é histórico,

haja vista que esta alicerçou-se nas experiência daquela: “[...] muitos “redeiros” hoje

mexe com bonés [sic]” (PANOS DE CHÃO, 2016, p. 5). Além disso, a fabricação de

bonés esteve vinculada, no referido período, ao surgimento de novas formas de

consumo, bem como a consolidação de formas pretéritas, notadamente por meio da

concessão de brindes para promoção política. Esse expediente, muito comum em face

das relações clientelísticas intrínsecas ao uso político do território, encontra-se vetado

pela regulamentação eleitoral vigente.

129

Período da incorporação periférica ao meio técnico-científico-informacional (da

metade da década de 1990 ao presente momento)

Segundo Santos e Silveira (2008, p. 52), com a instalação do meio técnico

científico informacional:

O território ganha novos conteúdos e impõe novos comportamentos, graças às enormes possibilidades da produção e, sobretudo, da circulação dos insumos, dos produtos, do dinheiro, das ideias e informações, das ordens e dos homens.

Nesse sentido, a incorporação da atividade têxtil do Seridó Potiguar ao meio

técnico-científico-informacional, desde seu momento inicial, é periférica pois o meio

geográfico atual abrange seletivamente os subespaços. No Brasil, ele “[...] se instala

sobre o território, em áreas contínuas no Sudeste e no Sul ou constituindo manchas e

pontos no resto do país” (SANTOS; SILVEIRA, 2008, p. 52).

Isso ocorre em função da heterogeneidade dos lugares, os quais abrigam

distintas combinações entre materialidades e virtualidades, implicando numa

segmentação do mercado, que, por seu turno, segundo Santos (2012) corresponde

cada vez mais ao território. Segundo Arroyo (2008), em face dessas determinações,

coexistem diferentes formas de produzir que, por sua vez, correspondem a diferentes

formas de consumir, autorizando a convivência de uma ampla variedade de formas

de realização econômica, que trabalham segundo diversas taxas de lucro,

produtividade, rendimentos e salários.

É exatamente esse domínio que endossa o que estamos tratando por condição

periférica. Em contraposição as sucessões, as coexistências são as permanências,

as defasagens, os usos descontínuos do território. São as coexistências, da produção

e do consumo, que endossam a condição periférica do uso do território do Seridó

Potiguar pelo circuito espacial da produção têxtil.

Do ponto de vista da produção, o uso do território é pautado em índices

paupérrimos de capitalização tecnológica, em sua maioria utilizando-se máquinas

baixa produtividade, levando em consideração a modernização tecnolófica pela qual

o ramo passou nas escalas mundial e nacional, o que exige, por seu turno, um uso

intensivo de mão de obra barata e pouco qualificada em jornadas extenuantes de

trabalho. Em contraponto, temos os sistemas técnicos hegemônicos, com alta

130

assimilação tecnológica e financeira, atacando sempre a ampliação exponencial da

produtividade por meio do consumo de ciência e de informação.

Além disso, conforme elucidou Marx (2013), assim como uma determinada

produção conforma seu respectivo consumo, as formas determinadas de consumo

conformam respectivas produções. Diante disso, a referida atividade apenas torna-se

viável por corresponder a formas periféricas de consumo, haja vista que se insere em

um segmento bastante atomizado, cujas demandas atendem à uma determinada

classe da sociedade que, por seu turno, também é periférica. De maneira geral, esse

grupo, em face de um baixo poder aquisitivo, é menos exigente quanto a qualidade e

mais preocupado com o acesso às mercadorias, sobretudo através de preços

relativamente mais baixos.

Destarte, inferimos que este regime temporal tem como principal característica

a consolidação definitiva da atividade têxtil no Seridó Potiguar. Analisando os

histogramas de fundação de empresas por decênio, inferimos que a fabricação de

artefatos têxteis na região teve seu auge iniciado na década de 1990 e consolidado

na de 2000 (Gráfico 37), acompanhando a tendência global em relação aos

estabelecimentos industriais (Gráfico 38).

Gráfico 37: Histograma da fundação por decênio das empresas do ramo de artefatos

domésticos do Seridó Potiguar.

Fonte: FIERN, 2017.

0

5

10

15

20

25

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35

40

45

1970-1979 1980-1989 1990-1999 2000-2009 2010-2017

131

Gráfico 38: Histograma da fundação por decênio das unidades produtivas da

Indústria do Seridó Potiguar.

Fonte: IBGE, 2016.

A intensificação da atividade têxtil no Seridó Potiguar durante o corrente regime

temporal ocorreu, entre outros fatores, em função da efetivação – material e virtual –

de uma especialização territorial produtiva. Esta foi notadamente fomentada por

políticas de Estado, sobretudo as realizadas nos últimos treze anos, de incentivo ao

crédito, de maior profusão de financiamentos para capital de giro, de expansão do

ensino técnico e profissionalizante. E por políticas das empresas, individuais ou de

coesão entre as firmas, com objetivo lograr benefícios fiscais, de mercado etc.

As virtualidades são o acúmulo histórico de determinantes que potencializam o

uso produtivo do território. Cobertas (2016, p. 9), oferece-nos um exemplo:

[...] é muito mais fácil você montar uma tecelagem em Jardim de

Piranhas, “né” ?! Que já tem mecânico que sabe trabalhar com os

teares, já tem o operador que já sabe operar e tudo isso, do que você

montar um tear, por exemplo, lá em Macaíba, que ninguém tem essa

aptidão, “né” ?!

Outrossim, as materialidades apresentam os mesmos acúmulos, pelos quais,

nesse caso, configuram-se rugosidades, permanências temporais constitutivas do

território usado. Isto é, permanece, em grande medida:

[...] uma indústria de fundo de quintal, [onde] muita gente tem a tecelagem, a casa e o tear junto da porta da cozinha. Tem deles que é dentro de casa. A maioria começou assim. Essa é a tradição,

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

Até 1970 1971-1980 1981-1990 1991-2000 2001-2010 2011-2014

132

indústria de fundo de quintal. Desde a década de 60 que eu vejo isso. O cara sai puxando telhado dentro do muro, bota um “tearzinho” lá dentro, aí começa [sic] (MANTAS, 2016, p. 6).

No entanto, de maneira análoga ao período precedente, a grande mudança é

no uso da técnica, na qual se completa a transição tear artesanal, tear mecânico, tear

automático, conforme resume o entrevistado: “Teve de equipamento que eu comecei

com tear de pau, como se diz né. Depois, eu comprei um tear mecânico. Depois,

comprei o tear automático [...]” (MANTAS, 2016, p. 10). Os principais equipamentos

da produção de artefatos têxteis no referido período são os teares automáticos de

lançadeira e de pinça, com o mesmo histórico de aquisição que os lhes precederam.

Em face das materialidades e virtualidades acumuladas na atividade pela

região, o vestuário ganha, atualmente, musculatura, sobretudo amparado por uma

estratégia territorial de desindustrialização e terceirização de atividades, conforme

podemos assevera o seguinte agente:

[...] com essa filosofia de costura, de aprendizado e costura, começou servindo com a RM NOR - que era uma intermediária onde pegava trabalhos das grandes magazines: C&A, Riachuelo... - para terceirizar essa parte de costura e começou a se trazer aqui para Seridó, porque se sabia que aqui se tinha costureiras (TOALHAS DE BANHO, 2016, p.1).

O processo descrito refere-se ao Pró-Sertão, uma espécie de política de

empresa travestida de política Estado, cujo discurso aventa a interiorização do uso

produtivo do território potiguar como projeto de desenvolvimento a partir da geração

de emprego e renda na região do Seridó Potiguar. É bem sabido que, ao contrário,

trata-se de apropriação alienígena dos instrumentos estatais (sobretudo fiscais) para

captação dos recursos do território por meio da exploração de seus agentes, aos quais

ele serve de abrigo.

133

4 O CIRCUITO ESPACIAL DA PRODUÇÃO DE ARTEFATOS DOMÉSTICOS NOS

MUNICÍOS DE CAICÓ, CURRAIS NOVOS E JARDIM DE PIRANHAS

O Seridó Potiguar, historicamente constituído, está localizado na mesorregião

central do estado do Rio Grande do Norte, abrangendo um total de 23 municipalidades

(AZEVEDO, 2007). Entre esses municípios, conforme constatamos e identificamos a

partir das informações da FIERN (2017), bem como da averiguação em campo,

integram com maior efetividade o circuito espacial da produção de artefatos

domésticos no Seridó Potiguar: Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas, nos quais

foi realizada a coleta para produção dos dados primários analisados nesta seção

(Mapa 05).

Entre eles, Caicó possui uma população estimada para 2016 de 67.747

habitantes, com percentual de urbanização de 92%, instalado em uma área de

1.228,583 km², contém um índice de desenvolvimento humano (IDH) considerado

médio (0,710), e PIB per capita a preços correntes de 2014 de R$ 13.944,06.

Por seu turno, Currais novos, por seu turno, tem uma população estimada de

45.060, com percentual de urbanização de 89%, instalado em uma área de 864,349

km², contém um IDH médio (0,691), e PIB per capita a preços correntes de 2014 de

R$ 12.705,85.

O menor entre os três é Jardim de Piranhas, com população estimada de

14.734 habitantes e percentual de urbanização de 78%, instalado em uma área de

330,532 km², contendo IDH também considerado médio (0,603) e PIB per capita a

preços correntes de 2014 de R$ 9.928,20. (IBGE, 2017)

134

Mapa 05: Localização dos municípios do Seridó Potiguar com unidades produtivas de artefatos têxteis.

Fonte: Regionalização do IBGE, 2017. Elaboração cartográfica: Igor Rasec Azevedo e Cleanto Carlos da Silva.

135

4.1 Marco teórico: circuitos espaciais produtivos

Em nossa pesquisa, como já ressaltamos anteriormente, nos respaldamos na

teoria dos circuitos espaciais de produção. Esta noção enfatiza, a um só tempo: a

centralidade da circulação no encadeamento das diversas etapas da produção

(circuito); o espaço enquanto variável significativa da reprodução social (espacial); e

o enfoque centrado em determinado ramo, numa atividade produtiva dominante

(produtivo) (CASTILLO; FREDERICO; 2010).

Para estes autores, a teoria remonta à Marx (2008), quando este discorre sobre

a unidade contraditória entre as diferentes etapas da produção. Trata-se de uma

geografização da unidade contraditória entre as instâncias produtivas, cuja

articulação, conforme elucida Moraes (1984), se dá por meio da circulação11,

implicando circularidade, de onde, para o autor, surge a ideia e a noção de circuito.

Isto é, a teoria visa compreender o sentido da localização (espacialidade) das

atividades econômicas, no período atual, ou seja, “discutir a espacialidade da

produção-distribuição-troca-consumo como movimento circular constante” (MORAES,

1984, p. 4).

Segundo Castillo e Frederico (2010), os estudos relativos ao conceito de

circuito espacial produtivo são relativamente recentes na história da ciência

geográfica, tendo sido inicialmente formulados, de forma sistematiza, em 1970, por

Sonia Barrios no projeto “MORVEN: Metodologia para o Diagnóstico Regional”,

desenvolvido pela Universidade Central da Venezuela. Destarte, interessa averiguar

sucintamente o alicerce desta construção analítica, em termos de concepção,

pressupostos e classes de fenômenos.

Ao analisar a metodologia utilizada no projeto realizado pelo CENDES (Centro

de Estudios del Desarrollo da Universidade Central da Venezuela) para construção de

um Modelo Regional, Santos (1986) observa a iniciativa de Sonia Barrios em romper

com os enfoques tradicionais, cujas interpretações dos processos sociais se dão de

forma fragmentária. A propósito, Barrios (1986) possui uma concepção sobre espaço

geográfico que encontra algumas convergências em relação à desenvolvida por

Santos (2008c), sobretudo, quanto este trata da questão da totalidade e do espaço.

11 Neste sentido, a circulação não é necessariamente uma das instâncias da produção, mas a interlocução, a imbricação, entre elas. Portanto, distribuição, troca e circulação, em que pese estarem sobrepostas, não são sinônimas.

136

Não se trata, todavia, em nenhum dos casos, de uma visão especulativa, tampouco

tautológica.

Conceitualmente, as diversas etapas pelas quais passaria um produto, desde

o começo do processo de produção até chegar ao consumo final, para Santos (2008b),

caracterizam e definem os circuitos espaciais de produção. Dessa forma, eles

pressupõem atentar a um conjunto de elementos distintos do encadeamento

produtivo, tais como: matéria prima, mão de obra, estocagem, transportes,

comercialização e consumo.

Segundo Barrios (1978 apud Santos, 1986, p. 121), “esses circuitos de

produção e acumulação se estruturam a partir de uma atividade produtiva definida

como primária ou inicial” compreendendo, ao mesmo tempo, “uma série de fases ou

escalões correspondentes aos distintos processos de transformação por que passa o

produto principal da atividade até chegar ao consumo final”. Ademais, os circuitos são

diferenciados pela identificação de seus respectivos insumos principais. Neste

sentido, a produção propriamente dita assume o papel de “instância reveladora”.

Esta definição guarda uma diretriz metodológica elementar. Tomemos o

exemplo de nosso objeto. O insumo básico para a fabricação de qualquer que seja o

produto do circuito espacial de produção de artefatos têxteis para uso doméstico é o

fio de algodão. Este é produzido por meio da etapa de fiação, que por seu turno, tem

como matéria-prima o algodão propriamente dito, produzido por meio do cultivo

agrícola. No entanto, o circuito que investigaremos não compreenderá esta última

atividade, uma vez que:

Uma atividade pertencerá a um dado circuito quando seu insumo principal provier da fase anterior do mencionado circuito; caso contrário, considera-se que a partir desse ponto se desenvolve outro circuito, que deve ser analisado separadamente (Barrios, 1978 apud Santos, 1986, p. 121-122).

Em sua contribuição teórica, Santos (1986) propõe que este problema deva ser

tratado por partes. O autor compreende que a primeira tarefa a se impor é a distinção

entre aspectos, claramente, técnico-organizativos. Estes possuem uma propriedade

específica se tratando individualmente de cada circuito espacial produtivo. Entretanto,

considera que, tomados de modo separado ou conjunto, eles irão permanecer como

137

abstrações até que se efetive a sua realização concreta em uma determinada fração

do espaço total.

Como contraposição a esse dado, tratamentos individuais concernentes aos

estabelecimentos ou firmas surgirão como um impasse, já que não irão abordar se

não fenômenos técnicos, em sentido estrito. E no tocante os aspectos propriamente

econômicos, um tratamento estratificado não permitirá isolar e identificar as

manifestações reais de cada firma.

Destas apurações chegamos à conclusão de ser fundamental o conhecimento

das relações técnicas, todavia elas só podem ser apreendidas “[...] a partir das

relações econômicas que presidem a atividade (SANTOS, 1986, p. 126-127)” sejam

elas desencadeadas por grupos econômicos multifirmas e /ou multiatividades, ou por

firmas compostas por uma única família ou indivíduo.

Neste sentido, o autor sugere uma classificação dos níveis de relações

econômicas correspondentes a cada atividade como parâmetro para compreendê-las.

Considera, todavia, que, para a tarefa cumprir-se a contendo, as variadas atividades

devem ser tratadas em conjunto, ou seja, atentando para a inter-setorialidade. São

estabelecidas, assim, duas situações distintas de relações entre firmas: “1) em suas

relações propriamente econômicas, dentro de cada firma e independentemente da

existência de relações técnicas; 2) em suas relações técnicas, ainda que entre firmas

diferentes (SANTOS, 1986, p. 127).

Logo, estaríamos diante do seguinte quadro de situações:

1) relações técnicas, que são também relações econômicas dentro de uma mesma firma; 2) relações econômicas dentro de uma mesma firma, mas que não são relações técnicas; 3) relações técnicas que criam relações econômicas entre firmas; 4) relações econômicas, mas não técnicas, entre firmas (SANTOS, 1986, p.127).

Por conseguinte, também é possível identificar um quadro dos fluxos

engendrados neste contexto, seguindo, mais uma vez, níveis qualitativos.

Percebemos aqui mais uma dica salutar de método, englobando a dialética entre fixos

e fluxos - uma das categorias analíticas por nós utilizadas cujo intento é tecer a

intermediação entre a trama do real e a delimitação metodológica empregada. Por isto

a importância de estabelecer, com base no autor, um detalhamento segundo natureza

e origem desses vetores. Se tratando da natureza, há de se considerar aqueles

138

criados por relações técnicas e relações econômicas; já em relação à origem, os fluxos

transcorrem-se dentro de uma mesma firma ou entre firmas.

Segundo Santos e Silveira (2008) para entender o uso do território é necessário

captar o movimento - de onde surge a referida proposta de abordagem teórica. Para

os autores, como os circuitos espaciais de produção são definidos por meio da

circulação de bens de produtos, oferecem uma compreensão dinâmica da maneira

como os fluxos perpassam o território.

Destarte, para manter e reproduzir esse movimento são necessários

abundantes conteúdos organizacionais, com importante e prévio trabalho intelectual.

Ou seja, fluxos imateriais. É a interlocução destes vetores que empreende os círculos

de cooperação. Para Silveira (2010b), as tessituras destes círculos cingem o território

sob a forma de ordens, informações, propaganda, dinheiro e outros instrumentos

financeiros.

A interpretação conjunta dessas duas noções possibilita verificar a

interdependência dos espaços produtivos, compreendendo, ao mesmo tempo, a

unidade e a circularidade do movimento. Em síntese, “Circuitos espaciais de produção

e círculos cooperação mostram o uso diferenciado de cada território por parte das

empresas, das instituições, dos indivíduos, e permitem compreender a hierarquia dos

lugares” (SANTOS; SILVEIRA, 2008, p. 144).

Outrossim, os processos técnicos também nos permitem distinções analíticas,

direcionando, por seu turno, às localizações. Elas se dão via reconhecimento dos

diferentes ramos e sub-ramos, ou seja, especificações dentro dos próprios ramos.

O circuito de ramo têxtil serve como um bom parâmetro para esta afirmação,

uma vez que contém uma notável diversidade técnico-produtiva. Ele contempla,

grosso modo, dois sub-ramos: a confecção de artigos do vestuário (vestimentas em

geral) e a fabricação de artefatos têxteis voltados para o consumo consultivo,

sobremaneira o doméstico (tapeçaria, roupas de cama, mesa, banho etc.), ou

produtivo (linhas, fios, cordoaria etc.). Apesar de apresentarem vários nexos, estes

sub-ramos preservam vetores com propriedades bem específicas. Por exemplo,

dentro da fabricação de artefatos têxteis há uma série de circuitos espaciais produtivos

usando o território diferentemente de acordo com as especificidades técnicas de cada

produto, que são tanto da ordem da produção propriamente dita, quanto da

distribuição, das trocas ou da circulação. Ou seja, nós temos dialeticamente um

circuito espacial de produção têxtil, na macro escala, que se dilui com a divisão

139

territorial do trabalho, subdividindo-se em uma série de outros circuitos “menores” – o

circuito produtivo do Boné (LINS, 2011), das redes de dormir (CARNEIRO, 2011) etc.

– e à eles se sobrepondo.

Vale atentar, todavia, que não são as localizações em si que nos dão a chave

para o entendimento do uso do território, e sim a trama global do circuito espacial

produtivo - cujas localizações constituem apenas uma de suas manifestações. Por

isso, quando falamos em circuitos “menores”, devemos utilizar todas as aspas

possíveis para que não haja confusão entre esta perspectiva e a dos arranjos

produtivos locais, pois estamos nos referindo aos ramos e não aos subespaços.

Os processos de acumulação permitem distinguir, do mesmo modo, as firmas

através dos seus respectivos poderes de mercado e ações territoriais. Havendo, entre

esses dois processos, inúmeras superposições “cujos limites devem, em cada caso,

ser examinados (SANTOS, 1986, p. 128)”. Com base nas aferições sobre as

realidades de tais processos, o autor sugere considerar três categorias analíticas para

o estudo dos circuitos espaciais produtivos: os circuitos de ramos de produção; os

circuitos de firmas; e os circuitos territoriais.

Os circuitos de ramos possuem as relações técnicas, somadas às respectivas

relações sociais, como motrizes e nos direciona para as localizações das atividades

produtivas, bem como à aspectos da tipicidade ou especificidade dos lugares que as

abrigam. Por outro lado, os circuitos de firmas contemplam relações econômicas nos

mais variados níveis e em múltiplas escalas, englobando as relações sociais por elas

provocadas e/ou controladas.

Já os circuitos territoriais, em certa medida, são uma síntese das categorias

precedentes, uma vez que conjugam as modalidades de uso do território por parte

dos ramos da produção e das firmas ou demais agentes envolvidos. Há de se

considerar, no entanto, que:

[...] o movimento dos circuitos territoriais é relativamente independente do movimento dos circuitos de ramo e de firmas, pois o espaço não se define apenas pelas firmas e sua produção respectiva, mas também

por uma série numerosa de outros fatores (SANTOS, 1986, p. 129).

Conquanto seu conteúdo global, esta categoria não nos possibilitará

empreender uma resposta total sobre espaço geográfico. Uma vez que este é um

produto social, sua análise deve tangenciar outros aspectos, isto é, outras instâncias

140

da vida social (SANTOS, 1986). Como essa nos parece uma missão demasiadamente

ardilosa e, sobretudo, pretenciosa, cabe-nos coadunar ao pensamento do autor de

que os circuitos espaciais produtivos nos darão uma resposta sobre “[...] a situação

relativa dos lugares, isto é, a definição, num dado momento, da respectiva fração de

espaço em função da divisão do trabalho sobre o espaço total de um país” (SANTOS,

1986, p. 130, grifo do autor).

Todos estes fatores e relações também são tributários das relações de

produção pretéritas, sejam elas mantidas como relíquias ou heranças do passado, ou

mesmo rejuvenescidas por vetores modernos. Todas elas, no entanto, são patentes

das formas-conteúdo.

O autor nos explica que os processos de modernização possuem

desdobramentos diversos sobre as estruturas pretéritas, podendo sua ação

desencadear de corrosões a destruições totais destas bases. Como ele nos mostra,

os circuitos de grandes firmas ou ramos, podem até mesmo, oportuna e

eventualmente, apropriar-se de heranças advindas de fases produtivas

remanescentes, prolongando, com isso, a existência das formas pretéritas, a despeito

da natureza renovada dos conteúdos que as envolvem.

Outro fator preponderante para o entendimento dos diferentes circuitos é a

escala geográfica de ação. Esta, lançando mão uma vez mais das elucubrações de

Santos (1986, p. 131), “constitui um princípio de organização que não pode deixar de

ser considerado, mesmo que os seus efeitos não se imponham uniformemente nem

sobre o todo social nem sobre o território como um todo”.

Neste caso, Moraes (1984) complementa afirmando que a ótica balizadora para

a análise dos circuitos espaciais da produção deve ser a global, uma vez reconhecido

e considerado o espaço mundializado do capitalismo monopolista, e as localizações

particulares devem ser interpretadas em coesão com a divisão internacional do

trabalho. Isto porque, segundo o autor, mesmo que o circuito do capital e das

mercadorias circule no nível da escala local, ele coaduna, direta ou indiretamente,

com a circularidade mundial do processo de reprodução ampliada.

Procede, todavia, que a diversidade dos circuitos de ramos e de firmas, bem

como a heterogeneidade dos subespaços não respondem uniformemente à estes

vetores, existindo, destarte por um lado circuitos profundamente dispersos, e por outro

circuitos concentrados espacialmente de forma aguda. Nesta perspectiva, os circuitos

141

espaciais produtivos são multiescalares, porém tributários, sobremaneira, da teia de

interesses internacionais. Em todos os casos, portanto:

[...] devemos hoje considerar, com Milton Santos, que as sincronias funcionais locais obedecem a um tempo e a um ritmo da acumulação mundial. O circuito, claramente internacionalizado do capital financeiro aparece como um vigoroso elemento ordenador da produção nos diferentes rincões do planeta (MORAES, 1984, p. 24-25).

Cabe inquirirmos, destarte, qual o direcionamento metodológico mais

adequado para responder à questão das escalas no estudo dos circuitos espaciais.

Santos (1986, p 132) interpela se deveríamos “partir do espaço regional para construir

ou identificar variáveis; ou das variáveis significativas para, através de outras análises,

chegar depois ao ‘regional’?”. O próprio autor não acredita haver a priori uma resposta

para tal questionamento, sendo a escolha do método um difícil exercício. Ele propõe,

ainda assim, que, em todo caso, devam se levar em consideração o dado internacional

por um lado, e as realidades históricas particulares de cada país por outro, enquanto

elementos balizadores de toda a reflexão, para que assim afastemo-nos do risco de

que determinados aspectos sejam colocados em relevo, em detrimento dos outros.

Concernente à dimensão metodológica da teoria, Castillo e Frederico (2010)

sugerem um esquema de análise caríssimo ao desenvolvimento de nossa pesquisa.

Os autores propõem que, grosso modo, a investigação dos circuitos espaciais de

produção perpasse quatro parâmetros. É necessário frisar que o conteúdo

apresentado a seguir trata de diretrizes, isto é, elementos extraídos da teoria, cujo

objetivo é nortear a elaboração dos procedimentos operacionais, portanto, não os

substituem.

Inicialmente, pelo fato da referida teoria partir de um ramo específico, e não dos

agentes (caso da teoria dos circuitos da economia urbana dos países

subdesenvolvidos), deve-se identificar a atividade predominante, que no caso da

nossa pesquisa é a fabricação de produtos têxteis. Outra orientação é reconhecer os

principais agentes envolvidos, no circuito, e as respectivas formas de articulação.

Trata-se da compreensão dos círculos de cooperação do espaço, visando identificar

quem usa e quem domina.

Em seguida, além de compreender a logística, isto é, analisar as condições

materiais e o ordenamento dos fluxos, o trabalho deverá culminar na explicação sobre

142

a organização e o uso do território pelo circuito espacial da produção. Isto é,

compreender o sentido da localização desses nexos.

Outrossim, a explicação deve permear a organização interna dos subespaços;

o uso seletivo dos sistemas técnicos; e a forma como são estabelecidas as relações

com outros subespaços. Levando em consideração esses elementos, a pesquisa

permitirá: confrontar a configuração territorial pretérita com os novos arranjos

espaciais produtivos; avaliar as relações de conflito e cooperação entre os agentes; e

identificar a hierarquia entre os lugares e as diversas temporalidades coexistentes.

4.2 Os espaços da produção propriamente dita

Segundo Santos (2008a), o espaço geográfico enquanto totalidade é

constitutivo de indivisibilidade, todavia podemos analisa-lo a partir de processos que

o afetam como instância, ou que o utilizam como suporte ou instrumento. Em se

tratando dos espaços da produção propriamente dita:

O espaço sempre foi o locus da produção. A idéia de produção supõe a idéia de lugar. Sem produção não há espaço e vice-versa. Mas, o processo direto da produção é, mais que as outras instâncias produtivas [...], tributário de um pedaço determinado de território, adredemente organizado por uma fração da sociedade para o exercício de uma forma particular de produção. (SANTOS, 2008a, p. 81)

O circuito espacial da produção de artefatos têxteis é passível de distinção

analítica em ambos os sentidos, uma vez que ele afeta o território do Seridó Potiguar

através das instâncias da produção, ao passo que esse território lhe serve de suporte

e de instrumento de trabalho. Isto é, cada etapa da produção coaduna a diferentes

espaços produtivos, cuja inter-relação e interpendência tendem historicamente a se

dilatarem.

O uso direto do espaço, como suporte do processo produtivo e como meio de trabalho tecnicamente elaborado, leva a um nível mais alto que jamais a sua capacidade de transferir valor ao conjunto de instrumentos e meios de trabalho que nele têm base. Pode-se, desse modo, dizer que a produção de valor começa antes mesmo que a mercadoria produzida na fábrica, no atelier ou no escritório esteja concluída. Estamos diante de um espaço-valor, mercadoria cuja aferição é função de sua prestabilidade ao processo produtivo e da parte que toma na realização do capital. (SANTOS, 2008a, p. 82)

143

Neste sentido, o território é moldado por meio dos usos produtivos

demandados, haja vista que a produção (material ou imaterial) se dá segundo

condições determinadas de tecnologia, capital e tempo. Nós analisamos, a seguir,

como se constituem atualmente essas condições em relação ao circuito espacial da

produção de artefatos têxteis a partir do uso do território dos municípios de Caicó,

Currais Novos e Jardim de Piranhas na etapa de produção propriamente dita.

As etapas do processo de produção propriamente dita

Segundo Pereira (2017), a indústria têxtil engloba basicamente as etapas de

fiação, tecelagem (subdividida em plana e malharia) e acabamentos de fios e tecidos

(Figura 02). A fiação é a base de todo o processo e pode ser realizada a partir de três

tipos de fibras: Sintéticas (Poliamida, Poliéster, Elastano, Polipropileno), Artificiais

(Viscose, Acetato) ou Naturais (Algodão, Seda, Linho, Lã, Juta). As demais etapas

variam de acordo com as especificades de cada ramo, notadamente o do vestúário e

dos artefatos têxteis – brevemente descritas na segunda seção do presente trabalho.

Figura 02: Os processos produtivos do circuito espacial da produção têxtil.

Fonte: Pereira, 2017.

144

Cada uma dessas etapas constituem:

[...] atividades interdependentes, porém com relativa independência dentro do processo produtivo, o que permite a coexistência de empresas especializadas e com diferentes graus de atualização tecnológica. O resultado de cada etapa de produção pode alimentar a etapa seguinte, independentemente de fatores como escala e tecnologia de produção. (PEREIRA, 2017, p. 3)

Neste contexto, cada etapa pode ser determinada pelo que a precede,

fornecimento industrial de alguma natureza, e pelo que a procede, as diferentes

demandas. Analisada de forma global, o fornecimento industrial da indústria têxtil

abrange as máquinas, as fibras e os outros implementos, tais como corante; e seus

segmentos são a confecção do vestuário, a confecção de acessórios, os artigos para

o lar e os artigos técnicos e industriais (Figura 03).

Figura 03: Principais segmentos do circuito espacial da produção têxtil.

Fonte: Pereira, 2017.

Em particular, a produção propiamente dita dos artefatos têxteis compreende

as etapas (Figura 04) de: fiação; tecelagem plana; beneficiamento; e acabamentos.

145

Figura 04: Fluxograma das etapas da produção de artefatos têxteis.

Fonte: Adaptado de Pereira, 2017.

No Seridó Potiguar realizam-se as etapas de tecelagem, beneficiamento e

acabamentos, exetuando-se apenas a de fiação12. Desta forma, inferimos que a

principal matéria-prima, o fio de algodão, é adquirida em outras localidades.

Lembrando que:

Uma atividade pertencerá a um dado circuito quando seu insumo principal provier da fase anterior do mencionado circuito; caso contrário, considera-se que a partir desse ponto se desenvolve outro circuito, que deve ser analisado separadamente (Barrios, 1978 apud Santos, 1986, p. 121-122).

Neste sentido, o uso do circuito espacial de artefatos têxteis no referido recorte

se destaca pela realização, na etapa da produção propiamente dita, das atividades de

tecelagem, beneficiamento e acabamentos (Figura 05). Estas se articulam à

circulação por meio de nexos de consumo produtivo – fornecimento de máquinas, de

fiação e de outros implementos industriais – e consuntivo – troca, distribuição e

consumo final dos artefatos, sobretudo domésticos, resultantes da produção.

12 Por fiação estamos considerando o processamento da matéria-prima (fibras têxteis) em relação as atividades primárias das unidades produtivas. Vale salientar que há no Seridó Potiguar a fabricação de linhas de costurar e bordar, no entanto, esse produto não se caracteriza como matéria-prima principal das atividades realizadas na região, que nesse caso é o fio de algodão.

Fiação Tecelagem Beneficiamento Acabamentos

146

Figura 05: Principais segmentos do circuito espacial da produção de artefatos têxteis

no Seridó Potiguar.

Fonte: Elaboração própria.

A seguir, detalharemos os principais aspectos de cada uma dessas etapas –

tecelagem, beneficiamento e acabamentos –, para posteriormente descrever como

elas ocorrem nos municípios de nossa delimitação empírica e compreender os nexos

entre elas e as demais intâncias da produção.

Tecelagem

De forma genérica, a tecelagem é o processo de fabricação do tecido. Este é

definido como:

[...] um material à base de fios de fibra natural, artificial ou sintética, que compostos de diversas formas tornam-se coberturas de diversos tipos formando roupas e outras vestimentas e coberturas de diversos usos, como cobertura para o frio, cobertura de mesa, limpeza, uso medicinal (como faixas e curativos), entre outros. (PEREIRA, 2017, p. 34)

Nesta etapa, a produção de artefatos têxteis se diferencia dos demais ramos

por fabricar especificamente tecidos do tipo plano, os quais “[...] são resultantes do

entrelaçamento de dois conjuntos de fios que se cruzam em ângulo reto. Os fios

dispostos no sentido horizontal são chamados de fios de trama e os fios dispostos no

sentido vertical são chamados de fios de urdume” (PEREIRA, 2017, p. 34).

Fornecedores Industriais

Máquinas

Fiação

Implementos industriais

Produção Propiamente

Dita

Tecelagem

Benefiamento

Acabamentos

Segmentos

Artigos domésticos

Artigos Industriais

Artigos para fins diversos

147

As outras técnicas existentes são a malharia e a fabricação de tecido não

tecido. Para compreendermos melhor a diferença entre elas, na fabricação do tecido

de malha:

A laçada é o elemento fundamental [...], constitui-se de uma cabeça, duas pernas e dois pés. A carreira de malhas é a sucessão de laçadas consecutivas no sentido da largura do tecido. Já a coluna de malha é a sucessão de laçadas consecutivas no sentido do comprimento do tecido. (PEREIRA, 2017, p. 34)

Por seu turno, o tecido não tecido, ou TNT como é popularmente conhecido:

[...] é uma estrutura plana, flexível e porosa, constituída de véu ou manta de fibras, ou filamentos, orientados direcionalmente ou ao acaso, consolidados por processos: mecânico (fricção) e/ou químico (adesão) e/ou térmico (coesão) ou combinação destes. (PEREIRA, 2017, p. 34)

Em resumo, o que os distiguem são as suas respectivas estruturas têxteis, ou

seja, os diferentes formatos pelos quais estão agrupados e orientados os fios ou as

fibras do tecido. A Figura 06 representa a estrutura particular de cada um deles.

Figura 06: Estruturas têxteis dos tecidos plano, de malha e tecido não tecido.

Fonte: Pereira, 2017.

Em relação a estrutura têxtil particular dos tecidos planos (Figura 07), seu

formato é composto, basicamente, por “[...] por fios de ourela (fios que formam bordas

do tecido) e fios de fundo (fios que formam o tecido) que se situam entre as ourelas.”

Tecido Plano Tecido de

Malha

Tecido Não

Tecido

148

Ele é obtido “[...] pelo entrelaçamento de conjuntos de fios em ângulos retos, ou seja,

fios no sentido longitudinal (chamados de URDUME) e fios no sentido transversal

(chamados de TRAMA), realizados por um equipamento chamado tear” (PEREIRA,

2017, p. 35).

Figura 07: Fios de trama, fios de urdume e ourela.

Fonte: Pereira, 2017.

Os fios que se justapõe paralelamente na direção horizontal são chamados de

urdume e os fios entrelaçados verticalmente com os precedentes são os fios de trama.

Nas bordas dos tecidos, em suas extremidades laterais, se encontram as ourelas. No

entanto, para lograr essa composição:

[...] é necessária a realização de operações preliminares de preparação destes fios para sua utilização no processo de tecelagem, tanto para os fios de urdume quanto para os fios de trama, por métodos adequados, tais como o processo de urdimento e o processo de engomagem oriundos ao setor de preparação à tecelagem. (PEREIRA, 2017, p. 35)

As etapas preliminares a tecelagem são o urdimento e a espulagem, as quais

variam de acordo com os diferentes tipos de teares.

149

Preparação à tecelagem

Conforme poderemos averiguar mais detalhadamente em tópicos posteriores

sobre a sua origem, aquisição, formas de transporte etc., contatamos na pesquisa

exploratória que a principal matéria-prima da fabricação de artefatos têxteis é o fio de

algodão 8/1 (Fotografia 01), geralmente de baixa qualidade.

Fotografia 01: Fio de algodão 8/1, principal matéria-prima da fabricação de artefatos

têxteis para uso doméstico.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016.

Este produto vem das fiações enrolado em várias estruturas cilíndricas de

papelão, conhecidas popularmente por “tabocas” (Fotografias 02 e 03), geralmente

contendo 12 rolos por embalagem, das quais precisam ser retirados para a

preparação à etapa de tecelagem.

150

Fotografias 02 e 03: Disposição das embalagens dos fios de algodão.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Da esquerda para a direita, unidades produtivas em Caicó e

em Jardim de Piranhas-RN.

O urdimento é o primeiro processo da produção propriamente dita dos artefatos

têxteis, no qual se preparam os fios para a tecelagem. Esta operação consiste na “[...]

passagem dos fios que formarão o urdume do tecido, transferindo-os de seus suportes

iniciais (cones, bobinas, cops, etc.) para o rolete do tear” (Fotografia 04). O rolete do

urdume é composto por “[...] um tubo rosqueado em suas extremidades, onde são

posicionados 2 discos denominados flanges que determinam a largura sobre a qual

serão enrolados os fios de urdume” (PEREIRA, 2017, p. 40).

Fotografia 04: Roletes onde são depositados os fios durante o urdimento.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2015. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

O equipamento que realiza esta operação é chamado de urdideira, composta

por pentes de distribuição e de entrecruzamento. O equipamento que dá suporte aos

151

fios que passarão pela urdideira chama-se de gaiola. Na Fotografia 05, esses

equipamentos estão dispostos da direita (urdireira) para a esquerda (gaiola). Na

Fotografia 06 e na Fotografia 07, podemos visualizar a partir de diferentes ângulos

alguns tipos de urdireira.

Fotografia 05: Trabalhador executando urdimento para tecelagem de redes de

dormir e de mantas, em fundo de quintal.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Caicó-RN.

Fotografia 06: Urdideira visualizada lateralmente.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Caicó-RN.

152

Fotografia 07: Urdideira visualizada frontalmente.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

Há de se considerar, também, que apesar desta técnica resultar sempre em um

mesmo produto final, o rolete de urdume, “[...] as diferenças existentes ao

processamento implicam em certas vantagens de utilização de acordo com o artigo a

ser produzido [...]” (PEREIRA, 2017, p. 40). Nesta perspectiva, nós ilustramos a seguir

mais algumas variações na aplicação da referida técnica de acordo com os exemplos

voltados para a tecelagem de tapetes (Fotografia 08) e de toalhas (Fotografia 09).

Fotografia 08: Urdimento para tecelagem de tapetes, executada em fundo de quintal.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

153

Fotografia 09: Urdimento para tecelagem de toalhas.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

Depreendemos, outrossim, que o nível tecnológico aplicado se relaciona tanto

nas condições finais dos artigos produzidos, quanto nas condições intermediárias,

como a estrutura necessária ao estabelecimento. Por exemplo, o urdimento das

toalhas emprega à tecelagem uma maior produtividade se comparada ao urdimento

de tapetes. Assumindo, hipoteticamente, que os roletes produzidos nos casos

supracitados sejam tecidos em máquinas similares, no primeiro exemplo haverá a

tecelagem de uma camada maior de tecido por unidade de tempo. Podemos inferir,

desse modo, que as exigências, finais e intermediárias, variam de acordo com os

artefatos produzidos.

Tipos de teares e peças sobressalentes

Após a realização do urdimento, com os roletes já previamente preenchidos e

preparados, conforme ilustram a Fotografia 10 e a Fotografia 11, a produção segue

para a etapa da tecelagem.

154

Fotografia 10: Roletes de fios

preenchidos para a produção de

toalhas de banho.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local:

Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

Fotografia 11: Rolete de fios

preenchidos para a produção de

toalhas de prato.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local:

Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

A máquina responsável pela tecelagem é o tear, na qual se realiza o

entrelaçamento do urdume com a trama. Aqui, o fio de urdurme é designado apenas

como fio, e o fio de trama é chamado de passagem. Para a realização dessa etapa

são necessárias três operações fundamentais, ilustradas na Figura 08: 1) a formação

da cala, “[...] que consiste na separação dos fios da teia em duas folhas, formando um

túnel conhecido por cala”; 2) a inserção de trama, “[...] que consiste na passagem do

fio de trama no interior da cala, ao longo da largura do tecido”; e 3) o batimento do

pente, “[...] que consiste em empurrar a passagem inserida contra o tecido já formado,

até um ponto designado por ‘frente do tecido’” (PEREIRA, 2017, p. 63).

155

Figura 08: Movimentos básicos do tear.

Fonte: Adaptado de Pereira, 2017.

As combinações entre essas operações variam de acordo com os diversos

modelos de teares. No entanto, em nossa pesquisa exploratória, constatamos que na

1)

2)

3)

156

produção de artefatos têxteis do Seridó Potiguar são utilizados apenas dois tipos: o

tear de lançadeira (Fotografia 12) e o tear de pinça (Fotografia 13).

De forma análoga ao caso das máquinas de urdir, cada modelo oferece

limitações quanto a produção de determinados produtos. Isso ajuda a explicar o

sucesso relativo da produção de toalhas de prato, que são produzidas nos dois

modelos, não obstante as respectivas possibilidades, maiores ou menores, de

acabamento. Outro exemplo é a produção de tapetes em formato xadrez (Fotografia

14), cujo tear com lançadeira é mais adequado, diferente da produção de toalhas de

banho (Fotografia 15), cujo tear com pinça melhor potencializa o acabamento final do

produto.

Fotografia 12: Exemplares de teares com lançadeira produzindo tecidos crus, para

confecção de toalhas de prato.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2015. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

157

Fotografia 13: Exemplar de tear com pinça produzindo tecido cru, para confecção de

toalhas de prato.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2017. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

Fotografia 14: Exemplar de tear com lançadeira produzindo tapetes.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

Fotografia 15: Exemplar de tear com pinça produzindo toalhas de banho.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

158

Os teares de lançadeira, como o próprio nome indica, se diferenciam dos

demais pela utilização de uma peça sobressalente chamada lançadeira (Fotografia

16). Este equipamento possui formato cilíndrico e contém uma abertura longitudinal,

na qual se localiza uma haste para fixação dos fios de trama.

Fotografia 16: Exemplar de lançadeira.

Fonte: Loja do Tear, 2017.

Neste caso, “[...] a trama é conduzida de um lado a outro, através da lançadeira

que se constitui de um dispositivo de madeira resistente onde se acomodam as

espulas com os fios de trama” (PEREIRA, 2017, p. 63).

Este tipo de procedimento requer, portanto, uma etapa complementar de

preparação à tecelagem, chamada de espulagem. Esta operação é realizada pela

espuladeira (Fotografia 17), por meio da qual as espulas são preenchidas com os fios

de trama. O resultado desse procedimento, as peças sobressalentes (espulas)

preenchidas e devidamente preparadas para a tecelagem, está ilustrado na Fotografia

18.

159

Fotografia 17: Exemplar de espuladeira, com destaque para as espulas sendo

preenchidas.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2015. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

Fotografia 18: Espulas preenchidas e preparadas para a tecelagem.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Caicó-RN.

Esta operação é desnecessária nos teares de pinça. Esse equipamento é uma

evolução do tear com lançadeira e, apesar de preservar algumas semelhanças, se

diferencia por conter, em substituição a lançadeira, uma pinça cuja utilização descarta

a necessidade da espula, além de conter menor massa e volume. Neste sistema de

inserção, o fio da trama do tecido “[...] vem diretamente dos cones que alimentam a

trama dos dois lados do tear. A cada batida do pente é inserida uma trama, ora da

direita ora da esquerda” (PEREIRA, 2017, p. 64).

160

Em resumo, para ser tecida, a matéria-prima principal (o fio de algodão) precisa

ser preparada. Este procedimento é realizado de acordo com as máquinas nos quais

serão tecidos os dois tipos de fios da estrutura têxtil. Nos dois casos acima descritos

realiza-se a operação de urdimento, para preparação dos fios de urdume.

Especificamente para os teares de lançadeira, emprega-se a espulagem para

preparação dos fios de trama.

Beneficiamento

Na sequência da tecelagem, efetua-se o beneficiamento, onde o tecido cru

(tecido bruto), ilustrado na Fotografia 19, oriundo das tecelagens, será beneficiado.

Em linhas gerais, o beneficiamento visa “[...] melhorar as características físico-

químicas do substrato13, esteja ela na forma que estiver” (PEREIRA, 2017, p. 86).

Fotografia 19: Roletes com tecido cru prestes a serem alvejados.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

Esta técnica é subdivida em três partes: beneficiamento primário,

beneficiamento secundário e beneficiamento terciário. Este último, em particular,

encontra-se referenciado por Pereira (2017) como acabamentos, mas optamos por

essa outra nomenclatura com o objetivo de diferenciá-la da etapa final do processo de

produção propriamente dita dos artefatos têxteis – Acabamentos –, na qual ocorrem

as operações de finalização e confecção dos produtos, tais como corte, costura e

13 Substrato: Nome dado aos suportes, às bases ou fundamentos que serão beneficiados (PEREIRA, 2017, p. 86, grifo nosso).

161

serigrafia. Além disso, a referida autora faz uso do termo pensando exclusivamente o

beneficiamento, diferente de nossa apreensão, haja vista que nos interessa averiguar

o processo produtivo como um topo e não as etapas isoladamente.

O beneficiamento primário consiste, basicamente, em:

[...] operações de limpeza para eliminar do tecido todos os óleos e aditivos que foram utilizados no processo de tecelagem [...]. Estes processos são normalmente os primeiros tratamentos que o tecido recebe após sair do tear [...] e são requeridos antes que qualquer tingimento, estamparia ou acabamento seja efetuado (PEREIRA, 2017, p. 87).

Essas operações podem ser de natureza física, química, bioquímica ou físico-

química, e englobam os processos de chamuscagem, desengomagem, purga,

merceirização e, em especial para a produção de artefatos têxteis para uso doméstico,

alvejamento. Este, por seu turno, envolve a “[...] adição de agentes químicos que

reagem com o composto de cores da fibra, tornando-a sem cor”; além de ser requerido

para o tingimento de tecidos “[...] em cores de tonalidade clara ou que serão

estampados” (PEREIRA, 2017, p. 87). As toalhas de prato são o maior exemplo de

aplicação de ambas as operações, pois são ao mesmo tempo fabricadas a partir de

tecidos brancos e confeccionadas com aplicação de serigrafia.

O alvejamento pode ser concedido por meio de diversas operações físico-

químicas, mas no Seridó Potiguar, em particular, percebemos o predomínio da

aplicação do processo de oxidação com oxidantes clorados, notadamente o

Hipoclorito de sódio e/ou o Clorito de sódio, ambos com elevada presença de Cloro

(Cl) em sua composição. Essa técnica é aplicada em estruturas de alvenaria – haja

vista a utilização de água e de elementos corrosivos –, através das quais os tecidos

são imergidos na composição, perpassando em movimento rotacional permanente de

um rolete à outro, de modo que o substrato seja atingido homogeneamente (Fotografia

20).

162

Fotografia 20: Tecido de algodão em processo de alvejamento.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

O beneficiamento secundário engloba basicamente o tingimento dos substratos

têxteis. Ele pode ser resumido como:

“[...] o processo de coloração dos substratos têxteis, de forma homogênea, mediante a aplicação de corantes. Como regra geral, divide-se o processo de tingimento em três etapas, nas quais ocorrem os seguintes processos de natureza físico-química: migração, absorção e difusão/fixação do corante (PEREIRA, 2017, p. 91).

Por seu turno, a terceira etapa da técnica de beneficiamento têxtil engloba “[...]

todas as operações executadas nos substratos têxteis, com o objetivo de torná-lo

próprio ou mais adequado para o fim a que se destina”. Ela pode ser aplicada no

sentido de: “[...] dar ao tecido um encorpamento, aumento de rigidez, maior peso,

maior brilho, melhor toque ou amaciamento”. Ou seja, enquanto os “[..] processos de

alvejamento, tinturaria, e estamparia conferem a cor ao tecido [...]”, o “[...] acabamento

confere suas propriedades finais” (PEREIRA, 2017, p. 96).

Ao final do beneficiamento, os tecidos devem ser enxugados ao abrigo da

incidência solar direta, com intuito de preservar os melhoramentos realizados. Para

tal pode-se utilizar equipamentos de secagem, mas em todos os casos averiguados

por nós em relação à referida delimitação empírica se utilizam a secagem espontânea

dos substratos em varais de porte industrial com cobertura, conforme ilustrado na

Fotografia 21.

Depreendemos diante do exposto que o beneficiamento como um todo é uma

das etapas mais onerosas da atividade têxtil, haja vista ser necessário para sua

163

execução o manejo de uma gama de insumos químicos e o cumprimento de uma série

de requisitos estabelecidos por meio da legislação ambiental. Essas normas

regulamentam sobretudo os cuidados dispensados à lida com os reagentes químicos,

bem como com a utilização consciente dos recursos hídricos, a fim de evitar

desperdícios, os quais requerem uma estrutura física e produtiva diferenciada.

Fotografia 21: Espaço destinado para secagem dos substratos têxteis.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

Desse modo, os estabelecimentos devem ser exclusivamente destinados e

devidamente adaptados as referidas operações, contendo, por exemplo, instalações

elétricas devidamente dispostas e infraestrutura de alvenaria com esgotamento

adequado, como é possível observar na Fotografia 22 – em que pese as condições

de preservação – no interior de um prédio de alvejamento, localizado no Seridó

Potiguar. Somado a esses fatores, devem-se seguir, ainda, parâmetros de coleta e

separação dos resíduos oriundos da atividade, os quais devem ser reaproveitados

durante determinado período e devidamente descartados em seguida.

164

Fotografia 22: Estabelecimento localizado no Seridó Potiguar voltado ao

beneficiamento de substratos têxteis.

Fonte: Pesquisa de campo, 2015. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

Em vista disso, nos municípios estudados, percebemos que nem todas as

etapas do beneficiamento são cumpridas, sobretudo a última. A mais recorrente é a

primeira, haja vista que boa parte dos artigos não levam tingimento, como é o caso

dos panos de prato, e a segunda é aplicada a uma minoria de substratos destinados

a confecção de artigos que a requerem, por exemplo alguns tipos de redes de dormir.

Constatamos, outrossim, que a quase totalidade dos processos de alvejamento

aplicados à fabricação de artefatos têxteis no Seridó Potiguar utilizam oxidantes

clorados, não obstante a existência de materiais mais avançados e, em contrapartida,

financeiramente mais dispendiosos. Esses materiais possuem um elevado potencial

poluente, cujo manejo inapropriado pode levar a sérios danos ambientais aos solos,

aos lençóis freáticos, aos afluentes etc. Além disso, expõem os trabalhadores a um

grau considerável de insalubridade, trazendo sérios riscos à saúde, dos quais podem

culminar graves repercussões à integridade física desses indivíduos, conforme foi

constatado em relatórios de inspeções realizadas pela Delegacia Regional do

Trabalho no Rio Grande do Norte (DRT, 1998a, 1998b, 1999).

165

Acabamentos

A fase de acabamentos varia bastante de acordo com os artigos que se

pretendem produzir. No entanto, algumas operações podem ser generalizadas para

quase todos eles, tais como corte, costura e embalagem. Por outro lado, cada artigo

específico, exigirá, por seu turno, operações de acabamento particulares. O exemplo

de atividade dessa natureza mais recorrente é a serigrafia. Podemos citar, outrossim,

o empunhado, exigência peculiar para fabricação de redes de dormir.

Para a produção de todos os artigos é necessário a operação de corte do tecido

do qual se operará a confecção, haja vista que os substrato têxteis oriundos das

etapas anteriores estão dispostos a granel. Ele é realizado, portanto, para condicionar

o tecido aos padrões do artigo que se pretende.

Existem vários equipamentos destinados a esse fim, com os quais operam-se,

com o auxílio de um suporte contendo as marcações das medidas a serem seguidas,

de modo a executar mecanicamente cortes em série. Ou seja, possibilitam acomodar

maiores volumes em um menor intervalo de tempo.

Além de possibilitar maior produtividade ao processo, esse tipo de equipamento

também confere maior segurança ao trabalhador se comparado as operações

completamente manuais – as quais verificamos serem mais frequentes em relação à

referida delimitação empírica. No corte manual, conforme podemos observar

Fotografia 23, o trabalhador realiza a operação manuseando diretamente os

instrumentos cortantes, principalmente facas comuns.

166

Fotografia 23: Execução de corte manual em substrato têxtil para fabricação de

toalhas de prato.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

Em seguida, os substratos têxteis passam pelos procedimentos de costura.

Essa operação também é variável de acordo com o artigo, mas, assim como o corte,

é empregada em todos os segmentos. Na confecção de tapetes felpudos, por

exemplo, a costura é empregada para junção das felpas ao molde do tecido. E no

caso das toalhas de prato – mais representativo – é utilizada para moldar as

extremidades do tecido, desgastadas no processo de corte, formando, como é

chamado na região, o “abanhado”. Podemos visualizar esta operação sendo

executada, em uma das unidades produtivas do Seridó Potiguar na Fotografia 24.

Fotografia 24: Execução de costura em substratos têxteis para fabricação de toalhas

de prato.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

167

A serigrafia, apesar de não ser aplicada na maioria dos produtos, é recorrente

na confecção de toalhas de prato e em alguns artefatos de tapeçaria. Essa operação

de acabamento consiste na estampagem de determinadas ilustrações nos artigos,

visando agregar valor aos mesmos. Um fato peculiar é que o trabalho de concepção

dos desenhos e das estampas é desenvolvido na própria região, sobretudo de

maneira artesanal, desenhado a mão, conforme atesta o seguinte depoimento: “[...]

do desenho é que surgia as melhores vagas da tecelagem. Sempre surgia pelo

desenho...” (PANO DE PRATO, 2014).

Realizada a concepção, os desenhos são aplicados às telas manualmente ou

automaticamente, por meio de equipamentos de revelação. Como as ilustrações, em

geral, são coloridas, é necessário para cada cor uma tela diferente, exigindo, por seu

turno, que as unidades produtivas contenham um acervo relativo desses instrumentos

(tintas e telas), conforme observado no exemplo da Fotografia 25, se se pretende

haver uma gama diversificada de artigos.

Fotografia 25: Acervo de instrumentos de estamparia.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

A aplicação do tingimento, portanto, se dá de maneira sequencial, cada

funcionário manuseando uma tela para determinada cor, até ser composto o aspecto

final do produto. O suporte para essa operação é composto de várias plataformas

individuais, nas quais são colocados os substratos a serem estampados, com encaixe

padrão para acomodar as diferentes telas, possibilitando a operação conjunta e

contínua dos funcionários (Fotografia 26).

168

Fotografia 26: Execução de serigrafia para confecção de toalhas de prato.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Jardim de Piranhas-RN.

A versão elétrica desse instrumento, como no caso do exemplo ilustrado acima,

contém plataformas com aquecimento automático, das quais os artigos já saem

enxutos. Na sequência, eles são contabilizados, dobrados e devidamente embalados,

em espaços reservados dentro das próprias estamparias, para posteriormente serem

encaminhados à comercialização ou à estocagem.

Ademais, esse diferencial em relação às mesas de estamparia comuns implica

na qualidade dos produtos, pois evita borrados e, consequentemente, perdas na

produção. Como podemos observar nas Fotografias 27 e 28, quando a estamparia

não utiliza o sistema de aquecimento, as toalhas de prato precisam, assim como

observado no beneficiamento, ser estendidas para que a tinta utilizada seque

completamente, podendo haver nesse processo as implicações supracitadas.

Fotografias 27 e 28: Varais de secagem de toalhas de prato.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Jardim de Piranhas-RN.

169

Essa particularidade do uso produtivo do território do Seridó Potiguar também

é um convite à depreensão sobre a coexistência de tempos inscrita em sua

materialidade. A evidência cabal dessa asseveração se dá na medida em que esse

tipo de operação é considerada relativamente arcaica, obsoleta e, ao mesmo tempo,

é umas das principais marcas da paisagem de Jardim de Piranhas-RN, por exemplo

– as quais podem ser percebidas através de um breve passeio pelas ruas da cidade.

De formar peculiar, a confecção de redes de dormir requer a anexação ao

tecido de artefatos de cordoaria. Para esse artigo, portanto, incorpora-se a operação

de acabamento conhecida como empunhar a rede. Ela é realizada por meio do

entrelaçamento de cordas nas duas extremidades mais estreitas do artigo, onde serão

formados os punhos, os quais permitem que a rede de dormir seja armada.

As redes de dormir podem conter, ainda, outros adereços complementares em

suas extremidades laterais, tais como franjas e varandas, ou ao longo de outras partes

de seu tecido, como no caso dos bordados artesanais, os quais podem ser realizados

em uma infinidade de artigos. Além disso, outros materiais podem requerer etapas

complementares, realizada após sua finalização, como no caso da dublagem de

tecidos, cuja confecção de bonés utiliza como insumos.

Etapas complementares: os casos da dublagem e dos bordados industrial e artesanal

Conforme expusemos anteriormente, a produção de artefatos têxteis no Seridó

Potiguar envolve outras atividades além da fabricação de artigos domésticos, em que

pese o fato de serem mais residuais. Coadunada sobretudo a atuação das Bonelarias,

nós temos a fabricação de insumos têxteis, bens intermediários para a indústria de

confecção de acessórios do vestuário, bem como a prestação de alguns serviços,

marcadamente os de bordados industriais. Outrossim, a atividade de bordados

artesanais está historicamente presente na região e relaciona-se à ambos os circuitos

espaciais da produção têxtil.

A operação de dublagem de tecidos consiste na junção, colagem, de dois

substratos têxteis distintos em um só, conforme representado na Fotografia 29,

gerando, dessa forma, um material com novas características. Geralmente esse

processo é realizado para conferir maior durabilidade e/ou resistência aos artefatos

que servem de insumo ao ramo do vestuário, onde geralmente o tecido de algodão

170

fica na parte externa e o sintético na interna e na junção entre as peças que compõe

o acessório.

Fotografia 29: Operação de colagem de tecido com tecido não tecido.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Caicó-RN.

Os tipos de tecidos utilizados nesse processo podem variar bastante em função

do material fabricado, mas de maneira geral são utilizados substratos de fibra natural,

tecidos de algodão, substratos de fibras sintéticas, em sua maioria poliéster, e tecidos

não tecidos. A grande parte das toalhas de mesa comercializadas, por exemplo, são

compostas por, na camada inferior, tecido não tecido (TNT) e, na parte superior, tecido

sintético.

A concessão de serviços de bordado industrial também está mais voltada ao

ramo do vestuário, mas nós optamos por pontua-la porque ela e a fabricação de

artefatos de insumos coadunam, se complementam, ou seja, estão imbricadas. Essa

atividade se diferencia do bordado industrial pela estrutura produtiva, totalmente

automática, e, evidentemente, pelo nível de acabamento, de cuidado, de valor

agregado ao produto, uma vez que o trabalho artesanal é individualizado,

personalizado etc. Além de bordar várias fôrmas de bonés ao mesmo tempo

(Fotografia 30), com o uso dos equipamentos industriais é possível criar ilustrações

computadorizadas e reproduzi-las uniformemente em uma infinidade de artigos. Como

apresenta a Fotografia 31, onde um profissional trabalha na customização de uma

ilustração, a firma logra com isso uma maior liberdade criativa, podendo atuar em

outros níveis, além da tradicional seara dos brindes.

171

Fotografia 30: Exemplar de máquina de bordado industrial em operação.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Caicó-RN.

Fotografia 31: Profissional trabalhando na customização de ilustrações para Bonés.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Unidade produtiva em Caicó-RN.

No Seridó Potiguar, apesar da forte presença das facções de roupas, o principal

circuito que nutre as atividades dessa natureza é o da produção de Bonés. Isso se

explica porque as facções, em sua maioria, não elaboram ou concebem os artigos,

apenas executam procedimentos de montagem propriamente dita, tais como pregar

botões, costurar etiquetas, golas etc. E como esse nexo é extremamente vertical, elas

não ficam a cargo da aquisição de matérias-primas, haja vista que todas as peças

com as quais operam são exclusivamente oriundas das firmas contratantes, inclusive

acompanhadas de fichas técnicas com as instruções exatas de customização dos

artigos.

172

Por último, mas não menos importante, temos o bordado artesanal cuja

tradição das bordadeiras do Seridó, como já vimos, vem desde os tempos da

colonização. Essa atividade pode ser classificada como acabamentos em fios, tecidos

e artefatos têxteis, mas não configura, no nosso entendimento, uma atividade

produtiva propriamente dita do ramo de artefatos têxteis, haja vista que não realiza o

processo de transformação em mercadoria, mas apenas agrega valor a um

determinado produto já acabado, objetivado. Isto é, acrescenta trabalho – o qual, com

efeito, é sempre sobretrabalho, mais valia – à mercadoria, mas não necessariamente

a produz.

No entanto, se considerarmos com Marx (2011) que toda produção é consumo,

e que todo consumo também é produção – uma instância conforma a outra e vice e

versa –, a aquisição de produtos têxteis, nos quais se realizarão o trabalho de

bordado, trata-se de um consumo, todavia de um consumo produtivo, imbricado a

produção. Dessa forma, cabe identificar as formas pelas quais essa atividade se

concatena ao uso do território pela produção de artefatos têxteis no Seridó Potiguar.

A análise corrente, bem como a inferências realizadas no trabalho de campo,

nos permite afirmar que o bordado do Seridó abrange duas linhas principais de

produtos têxteis: peças avulsas do vestuário, com destaque para a confecção de

enxovais infantis (Fotografia 32); e em artigos domésticos variados – os quais nos

interessam mais de perto.

Fotografia 32: Enxovais infantis bordados artesanalmente, confeccionados e

comercializados no Seridó Potiguar.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Loja de bordados em Caicó-RN.

173

Os artefatos domésticos de maior demanda para o bordado artesanal são

principalmente os artigos de cama e de banho. Os produtos mais recorrentes são

roupas de cama (lençóis, colchas de cama, fronhas de travesseiros) e toalhas de

banho (Fotografia 33).

Fotografia 33: Toalhas de banho, com destaque para os bordados.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Loja de bordados em Caicó-RN.

Todos esses produtos são adquiridos, em geral, no comércio local, todavia são

produzidos fora, por firmas detentoras de marcas de departamento. Exceção feita as

redes de dormir, únicos artigos pelos quais o bordado seridoense coaduna ao uso

produtivo de seu próprio território. Geralmente são utilizados artigos de maior

qualidade, produzidos na própria região, tais como o bordado feito em redes sol a sol

– fabricada com tecido Brim.

As atividades produtivas

As atividades do processo de produção propriamente dita podem abrigar, ao

mesmo tempo, várias etapas ou concentrarem-se em etapas específicas. Desse

modo, para distingui-las e averiguar suas formas de espacialização no municípios de

Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas subdividimo-las por etapas (fiação,

tecelagem, beneficiamento, acabamentos ou apenas comercialização), de acordo

com as respectivas formas de operação, se realizadas pelas próprias firmas ou

terceirizadas (Quadro 08).

174

Quadro 08: Atividades produtivas realizadas pelas próprias empresas e terceirizadas.

ATIVIDADES

Alternativas Realizadas pela

própria empresa Terceirizadas

Freq. Freq.

A Fiação 1 X B Tecelagem 36 4 C Beneficiamento 10 19 D Acabamentos 33 12 E Apenas comercialização 3 X

NDA X 16

TOTAL 83 51 Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Em relação às unidades produtivas consultadas, constamos que as atividades

com maior relevo são a tecelagem (43%) e as operação de acabamento (40%). Em

apenas 12% do total de respostas, as firmas realizam elas mesmas o beneficiamento

de seus produtos. A frequência da alternativa de apenas comercialização é bem

residual (4%), de maneira análoga ao percentual da etapa de fiação (1%). Conforme

foi possível identificar, esta está circunscrita à apenas uma unidade produtiva no

Seridó Potiguar, a qual fabrica linhas para costurar e bordar.

A distribuição das atividades terceirizadas se contrapõe em grande medida as

atividades realizadas pelas unidades produtivas consultadas, sendo o beneficiamento

a atividade mais importante para esse quesito (54%). Conforme já abordamos, esta

etapa, em particular, impõe restrições técnicas quanto a sua realização, exigindo um

nível de capitalização maior que o apresentado pela maioria firmas do ramo no Seridó

Potiguar, o que explica o percentual elevado de terceirização.

As operações de acabamento apresentam um nível considerável de

terceirização (34%), não obstante ser uma etapa bastante significativa também em

relação as atividades não terceirizadas. Podemos inferir, a partir desse dado, que as

unidades produtivas trabalham de maneira híbrida, intercalando a realização de

acabamentos pelas própria fábrica e terceirando outras. A atividade de costura é uma

das grandes responsáveis pela representatividade desta etapa nesse espectro de

atividades.

O percentual de 12% de terceirização em relação à tecelagem, por seu turno,

pode ser interpretada a partir de dois aspectos. Endossa, de certa maneira, a

175

representatividade da atividade de acabamentos no primeiro caso (atividades

realizadas pelas próprias empresas), indicando que há um grupo firmas cuja ocupação

é concentrada apenas em atividades de acabamento.

Por outro lado, pode ser um indicativo de interação produtiva entre os agentes,

desencadeada por quadros sazonais, por exemplo, tais como excesso imprevisto de

demanda. A distribuição percentual de terceirização de atividades coletada por

SEBRAE/RN (2008), no município de Jardim de Piranhas, reforça essa perspectiva

(Gráfico 39). O levantamento observou que aproximadamente 32% das tecelagens

realizam alguma forma de terceirização. Deste montante, estão distribuídas de

maneira decrescente entre: urdimento (30%), alvejamento (20%), costura (20%),

tingimento (10%), estamparia (10%), acabamento (6,67%) e lavagem (3,33%)

(SEBRAE/RN, 2008, p.46).

Gráfico 39: Percentuais das atividades produtivas terceirizadas, segundo o

SEBRAE/RN (2008).

Fonte: SEBRAE/RN, 2008.

Os artigos

A fabricação de artefatos têxteis abrange, grosso modo, os segmentos de

roupas de cama, mesa e banho, tapeçaria, cordoaria, tecidos especiais e outros

produtos têxteis não especificados anteriormente, além da malharia, cuja existência

no Seridó Potiguar não foi identificada. Cada um desses segmentos, em particular,

abrange uma gama de artigos, os quais identificamos a partir da pesquisa de campo,

30%

20%20%

10%

10%

6,67% 3,33%

Urdimento Alvejamento Costura Tingimento Estamparia Acabamento Lavagem

176

através de citação livre (Quadro 09), bem como por meio dos dados levantados por

SEBRAE/RN (2008).

Quadro 09: Artigos produzidos e/ou comercializados por segmentos e por livre

citação.

ARTIGOS PRODUZIDOS E/OU COMERCIALIZADOS

Alternativas Segmentos

Freq.

A Roupas de cama, mesa e banho 37 B Tapeçaria 9 C Cordoaria 1 D Tecidos especiais 4 E Outros produtos têxteis 6

TOTAL 57

Detalhamento: (Citação livre dos principais produtos)

Artigos citados Freq.

Pano de prato 22 Tapetes 10 Redes de dormir 9 Conjuntos de cozinha 3 Pano de chão 3 Colcha de cama 3 Toalhas de banho 3 Mantas 3 Tecido tipo Oxford 2 Linhas para costurar e bordar 2 Tecido tipo Brim 2 Suador (insumo para vestuário) 2 Viés 2 Tecido não tecido (TNT) 1 Cortinas 1 Flanelas 1 Bordados artesanais em artigos de cama, mesa e banho 1 Tecido Tactel 1 Conjunto de banheiro 1 TOTAL 19 72

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Os dados levantados em campo vão em encontro aos produzidos por

SEBRAE/RN, em relação a produção de artefatos domésticos em Jardim de Piranhas,

177

onde identificou-se a existência de 15 artigos (Tabela 08). Entre os principais em

termos de volume de produção estão: pano de prato (24%), mantas (17%), redes de

dormir (14%), toalhas de banho (7%), cobertores (7%), substratos têxteis não

alvejados (6%) e panos de chão (6%). Foram verificados, ainda, com menor

frequência a fabricação de conjuntos e tapetes de banheiro, lençóis, conjuntos de

cozinha, tecidos brim, flanelas, linhas para crochê e almofadas. (SEBRAE/RN, 2008,

p. 42)

Tabela 08: Dados mensais de produção, comercialização, preço médio e carteira de

clientes para os produtos das indústrias de tecelagens (valores referentes ao ano de

2007)

Produto Produção

mensal Vendas

mensal (R$) Preço Médio

(R$) Carteira de

clientes

Pano de prato 2.353.800 2.207.800 0,77 320 Manta 88.750 88.750 8,43 117 Rede de dormir 85.300 83.200 10,16 143 Toalha de banho 38.000 38.000 5,00 31 Toalha de rosto 31.700 28.000 1,55 20 Cobertor 19.100 19.000 3,52 30 Tecido cru 47.700 47.700 1,22 9 Pano de chão 620.000 600.000 0,93 1.245 Conjunto de banheiro 3.500 3.200 7,50 89 Tapete de banheiro 58.500 53.200 1,48 140 Lençol 14.000 14.000 3,20 21 Conjunto de cozinha 5.200 4.900 9,25 88 Tecido Brim 362.000 362.000 2,50 62 Flanela 60.000 50.000 0,70 80 Linha de crochê 12.000 12.000 2,50 120 Almofada 12.000 9.000 3,00 80

Fonte: SEBRAE/RN, 2008.

Capitais fixos e coexistência de usos da técnica

Com base na leitura de Marx (2011) e Santos (2012), os capitais fixos

representam os instrumentos de trabalho e são um contraponto ao capital variável, ao

sobretrabalho. Como a própria noção indica, eles são constitutivos de uma

produtividade fixa, determinada, ou seja, não é dos instrumentos de trabalho que se

extrai o aumento constante de produtividade, aumento do volume da produção em um

mesmo intervalo de tempo, diferentemente dos trabalhadores, da força de trabalho.

178

Desta forma, os fixos e fluxos, enquanto pares dialéticos, constituem uma

mediação geográfica acerca do conceito de capital. Os fixos são os instrumentos de

trabalho, a materialidade e a materialização da produção – máquinas, equipamentos,

unidades produtivas, matérias-primas, mercadorias etc. Por seu turno, os fluxos são

as interações, os deslocamentos e o movimento em geral fruto da dinâmica dessa

produção.

Segundo Santos (2008b), na medida em que essas categorias são constitutivas

do espaço geográfico, podem nortear a sua investigação por meio de uma explicação

conjunta da dialética empreendida entre elas. Para o autor, nós temos coisas fixas e

fluxos que, tanto se originam, quanto se destinam à elas. A justaposição entre esses

elementos, interagindo e metamorfoseando-se mutuamente, é o próprio espaço.

De modo específico, os fixos denotam o processo imediato do trabalho, uma

vez que são eles os próprios instrumentos de trabalho e as forças produtivas de

maneira geral, o que inclui os homens. Já os fluxos expressam ao mesmo tempo o

movimento e a circulação. Seu uso, portanto, permite analisar tanto o fenômeno da

distribuição, quanto o do consumo.

O casamento destes elementos, isto é, esta categoria, nos permite analisar

espacialmente as categorias clássicas da produção. Queremos salientar, com isso,

que a utilização dos mesmos nos parece bastante oportuna, haja vista estar

estreitamente atrelada à nossa dimensão teórico-conceitual, sobretudo às implicações

do agravamento da necessidade de acumulação.

A distribuição heterogênea dos instrumentos de trabalho no território provocam

um uso, concomitantemente, seletivo e desigual. Seletivo do ponto de vista das

grandes corporações, as quais coordenam o espraiamento da divisão territorial do

trabalho às expensas de um acúmulo desigual de tempos pelos lugares, utilizando a

seu talante os sistemas técnicos hegemônicos, ultramodernos e capitalizados. E o

caráter desigual é perceptível através da técnica enquanto empiricização das

temporalidades. Pensando o circuito espacial da produção de artefatos têxteis no

Seridó Potiguar, depreendemos que este expressa um uso defasado da técnica e das

tecnologias, conforme asseveramos a seguir14.

14 Doravante, utilizaremos os dados primários produzidos através da coleta em campo, bem como dados secundários, sobretudo os do Censo das Tecelagens de Jardim de Piranhas, realizado pelo SEBRAE/RN no ano de 2007, entre outros.

179

Cada etapa da produção propriamente dita, como já expusemos, tem

especificidades quanto a utilização de máquinas e equipamentos. Desta forma,

tentaremos organizar nossa exposição de acordo com a sequência lógica dos

processos empregados na produção. Devido a abrangência do referido ramo no

Seridó Potiguar, conseguimos coletar informações para todos os municípios da

amostra sobre os tipos de teares (principais equipamentos da etapa de produção

propriamente dita), manutenção, condições das unidades produtivas e estocagem. Os

parâmetros técnicos para as demais tipologias de equipamentos se restringem ao

município de Jardim de Piranhas, tendo como base o levantamento do SEBRAE/RN

(2008).

Em relação as urdideiras, máquinas pelas quais se executam as operações

iniciais de preparação a tecelagem, foram identificadas 6 variações (Gráfico 40). Na

grande maioria dos casos utilizam-se os tipos Seccional (52,74%, mais da metade das

ocorrências) e Manual (38,46%). Dividindo apenas 8% do total ainda encontram-se as

Elétricas (4,40%), Mecânicas (2,20%), Diretas e Automáticas (1,10%, cada).

Gráfico 40: Tipos de urdideiras.

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

A forte presença de urdideiras seccionais se justifica porque este tipo de

equipamento: “[...] é apropriado para a produção de urdume com pequenas metragens

[...]” (PEREIRA, 2017, p. 47), o que coaduna com o tipo de produção verificada em

nosso recorte, bastante capilarizada e de pouca monta. E os equipamentos manuais

são uma evidência nítida da permanência e da resistência temporal de uma produção

53%38%

4% 2% 1% 1%

Seccional Manual Elétrica Mecânica Direta Automática

180

relativamente arcaica. Muito em função disso, da possibilidade de operar com técnicas

comparativamente obsoletas e pouco onerosas, “Tem-se que 89,0% das tecelagens

possuem até 1 máquina por empresa” (SEBRAE/RN, 2008, p.47).

Situação análoga é verificada quanto as máquinas do processo de espulagem.

Foram identificados 5 tipos de espuladeiras (Gráfico 41), com o forte predomínio das

Mecânicas (74,4%), fato que ajuda a explicar a instalação periférica do meio técnico-

científico-informacional, haja vista que esse dado deixa evidente a superação

incompleta do regime de mecanização da indústria têxtil no Seridó Potiguar. As outras

variações observadas foram as seguintes: Automática (10,5% das ocorrências),

Scherer (9,3%), Elétrica (4, 65%) e Espuladeira Simples (1,15%).

Gráfico 41: Tipos de espuladeiras.

Fonte: SEBRAE/RN, 2008.

Todavia, o leitor pode questionar-se até aqui quanto a atualidade desses dados,

uma vez que já está para se completar uma década entre o ano corrente deste

trabalho e a pesquisa censitária realizada pelo SEBRAE/RN (2008). Nesse sentido,

as informações coletadas em campo sobre os tipos de teares utilizados na produção

vem a calhar. Com efeito, podemos considerar este como o principal equipamento da

produção têxtil, pois nele se realiza a tessitura, processo central de transformação dos

fios em tecidos.

Segundo SEBRAE/RN (2008, p 52), contabilizaram-se, no referido período,

1.175 teares, com uma média de 3 tecelões para cada equipamento, divididos em

74%

11%

9%

5% 1%

Mecânica Automática Scherer Elétrica Simples

181

apenas dois tipos. Na absoluta maioria das ocorrências estão os teares com

lançadeira (98,12%) e, em bem menor número, estão os de pinça (1,88%).

Esse percentual ultrapassa largamente a média da capacidade instalada de

máquinas dessa natureza no Brasil (Gráfico 42). Com base em Gorini (2000),

respaldada nos dados mais atuais disponibilizados pelo BNDES até o presente

momento, 74% dos teares no país são do tipo com lançadeira e 18% são de pinça.

Esses números são ainda mais discrepantes, em relação ao observado no município

de Jardim de Piranhas-RN, se observarmos a presença das tecnologias de Jato de Ar

e Projétil, 4% da capacidade instalada cada uma. Além disso, a autora salienta que

os teares com lançadeira correspondiam, no referido período, à apenas 12% da

produção total do Brasil e com uma utilização média, igualmente baixa, de 20% de

sua capacidade produtiva.

Gráfico 42: Capacidade instalada no Brasil de máquinas de tecelagem em 1999.

Fonte: GORINI: 2000.

A nossa amostra reforçou a permanência desses dois tipos de teares15 (Quadro

10). No entanto, podemos auferir a ocorrência de uma relativa modernização desse

maquinário, em que pese a nossa coleta ter uma abrangência menor por referenciar-

se exclusivamente nos empreendimentos formais, cujos índices de capitalização

geralmente são mais elevados que aqueles observados nos empreendimentos sem

formalização.

15 No ato da aplicação dos formulários, este item foi desconsiderado para as empresas que apenas realizam comercialização.

18%4%

0%

4%

74%

Tear de Pinça Tear a Jato de Ar Tear a Jato de Água Tear de Projétil Tear de Lançadeira

182

Quadro 10: Tipos de teares e/ou máquinas de acabamento utilizados na produção.

TIPOS DE TEARES

Alternativas Freq.

A Teares com lançadeira 19 B Teares de projétil 0 C Teares de pinça 23

D Teares de jato de ar 0

E Teares jato d’água 0

F Apenas máquinas de acabamento

3 *Máquinas de costura, corte e embalagem

TOTAL 45

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Em 45% das ocorrências os representantes das unidades produtivas afirmaram

possuir teares com lançadeira, e em 55% teares com pinça. Em alguns casos

houveram a múltipla escolha, ou seja, algumas empresas operam com ambas as

máquinas. Por um lado, isso se deve, conforme sinalizamos anteriormente, pelas

possibilidades distintas que cada equipamento dispõe quanto aos tipos dos produtos;

e, por outro, temos indícios de uma capitalização progressiva, isto é, as empresas não

estão financeiramente preparadas para mudar abruptamente as estruturas produtivas.

Reforçamos que estes dados não são representativos do global das unidades

produtivas do Seridó Potiguar, tendo em vista as limitações impostas pela inexistência

de informações completas das mesmas. Todavia, depreendemos que esse quadro

ilustra um processo concomitante de tecnificação e de financeirização do território, em

função, sobretudo, das políticas de Estado desenvolvidas nos últimos 13 anos. Não

obstante as várias críticas que poderíamos elencar, o incentivo ao crédito e a

expansão da concessão de capital de giro às micro e pequenas empresas, agentes

historicamente marginalizados nessa esfera, trouxeram consigo avanços

substanciais, os quais não se restringem ao progresso técnico. Voltaremos ao tema

nas subseções sobre a circulação de dinheiro, de ideias etc.

Quanto à etapa de beneficiamento, foram assinaladas as técnicas de

alvejamento por peróxido e por cloro. Na absoluta maioria dos casos, é realizado o

alvejamento por cloro (94,75%), e em apenas 6,25% das tecelagens se utiliza o

peróxido.

Em relação aos acabamentos, na etapa de costura foram identificadas 6 tipos

de máquinas (Gráfico 43). Em mais da metade das ocorrências estão as Máquinas

183

Retas (53,21%), seguidas pelas máquinas Overlock (23,85%), Interlock (11,01%),

Galoneira (6,42%), Viés (4,59%) e Travete (0,92%).

Gráfico 43: Tipos de máquinas de costura.

Fonte: SEBRAE/RN, 2008.

Em relação às técnicas empregadas na etapa de serigrafia foram identificadas

os tipos quente e fria, as quais já discorremos anteriormente. O predomínio é a de tipo

fria (72,97%), e a quente aparece com 27,03% do total.

As entrevistas com representantes das unidades produtivas podem resumir o

cenário acima descrito.

Segundo Flanela (2016, p. 3), essas máquinas:

[...] vinham já de São Paulo. Que São Paulo [...] Já num “tava” mais se trabalhando com elas... [sic] Eles tinham outra moderna [sic]. Então... Pra gente aqui era o ideal. Como até hoje ainda serve, né?!

Manta (2016, p. 3), também aponta que a maioria dos equipamentos é

composta por: “Máquina velha, obsoleta, que ninguém usa mais lá. [em São Paulo]”.

No entanto, há que se fazer a ressalva de que:

[...] o ramo evoluiu muito. Questão de maquinário, modernidade, tingimento, alvejamento... [...] hoje já têm muitas máquinas bem modernas aqui, [...] de fabricar a rede e o pano de prato... Hoje já tão se fabricando toalhas [sic]. Fabrica-se tecidos pra rede Brin [sic]. E... Flanelas... São vários artigos [...] (Pano de chão, 2016, p. 8).

53%

24%

11%

6%5% 1%

Máquina Reta Overlock Interlock Galoneira Viés Travete

184

Essas aferições demonstram que a grande maioria dos capitais fixos são

oriundos do estado de São Paulo e se inserem num processo de espraiamento da

divisão territorial do trabalho, o qual se realiza de maneira defasada, isto é, na medida

em que se tornam obsoletas em determinadas formas de produzir mais capitalizadas

são transferidas para subespaços que abrigam formas menos capitalizadas, tais como

o Seridó Potiguar. Não obstante, têm-se observado nos últimos anos um progresso

técnico em paralelo à um processo de financeirização do território.

Esses nexos verticais são acompanhados de respostas horizontais por meio

das virtualidades dos lugares, pois na medida em que a divisão territorial do trabalho

se expande, ela gera especializações. Um reflexo disso são os dados sobre a

manutenção das máquinas e equipamentos, os quais revelam um nexo horizontal do

consumo produtivo, possibilitada pelas especializações territoriais produtivas. No

município de Jardim de Piranhas, por exemplo, existem agentes da produção

propriamente dita completamente direcionados para esse tipo de demanda, onde são

comercializadas máquinas, peças sobressalentes e equipamentos em geral

(Fotografias 34 e 35).

Fotografias 34 e 35: Estabelecimentos especializados em suprimentos têxteis.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Jardim de Piranhas-RN.

Grande parte das unidades produtivas realizam a manutenção de seu

maquinário na própria cidade, por meio de profissionais locais (90% das ocorrências),

muitas vezes operadas pelos próprios funcionários, na medida em que vão obtendo

ao longo do tempo o conhecimento operacional e técnico dos capitais fixos. Quando

185

muito, a manutenção desses equipamentos é realizada na própria cidade por

profissionais oriundos de outras localidades (10%).

Em relação as condições das fábricas:

[...] a maioria delas é instalada, literalmente, nos fundos das casas ou em prédios vizinhos. O índice de doenças respiratórias é muito alto na sede do município devido ao pêlo dos teares em funcionamento, que exalam os fragmentos do fio de algodão. (AZEVEDO, 2004).

Os imóveis são, portanto, em sua maioria de propriedade das próprias firmas,

86% das ocorrências. Devido ao caráter familiar, as unidades produtivas estão na

própria casa dos proprietários ou em extensão a ela (Fotografias 36 e 37). Em apenas

10% dos casos os imóveis são alugados, com um custo médio de R$ 414,00 (valor

referente ao ano de 2007). “O imóvel alugado de menor valor é de R$ 60,00 e o de

maior valor atinge R$ 1.000,00”. O levantamento mostrou, ainda, que 4% dos imóveis

foram cedidos. E com relação ao tamanho médio dos estabelecimentos: “[...] têm em

média 367 m²” (SEBRAE/RN, 2008, p.42).

Fotografia 36: Costureira realizando confecção de tapetes na área de sua casa.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Jardim de Piranhas-RN.

186

Fotografia 37: Aspecto de unidade produtiva localizada em extensão ao

estabelecimento domiciliar.

Fonte: Igor Rasec Azevedo, 2016. Local: Caicó-RN.

As firmas, enquanto elementos do espaço geográfico, são as próprias unidades

produtivas distribuídas ao longo das etapas do circuito espacial produtivo. Segundo

levantamento da Superintendência Regional do Trabalho do Rio Grande do Norte em

1999, apena em Jardim de Piranhas, haviam 220 estabelecimentos, dos quais 78,35%

na informalidade (DRT, 1999, p. 6). Em 2007, o SEBRAE/RN (2008) identificou 112

indústrias, das quais 55,36% eram informais e 44,64% informais.

Um depoimento, em particular, ilustra bem a estrutura dos empreendimentos,

ao passo que revela condição de resiliência dos pequenos produtores, a qual Santos

(2008d) conceituou como flexibilidade tropical:

[...] Nós temos galpões e quando estoura num canto, aí você leva para a sua casa, aí você tem que se virar, tem que sair do seu quadrado. Você arruma uma casa emprestada, você bota dentro de um carro e bota uma lona. Depende do período também, você não pode brincar... Quer dizer, o período mais crítico de você fazer isso, pelas estruturas, é o período de chuva, porque o produto é de algodão e se ele molhar ele mofa. Mas depois que passa esse período, aí você fica mais à vontade para se você não vender armazenar. [...] Tem que ter habilidade, se você quiser continuar tecendo, se você não vender e quer continuar produzindo você tem que se virar para locar um espaço de um, um espaço de outro. (PANO DE PRATO, 2014)

Essa capacidade de resiliência é tributária sobremaneira da relação entre

produção, capitais fixos e estocagem. Conforme pudemos detectar em nossa

pesquisa (Quadro 11), o armazenamento não se configura em objeto de maiores

187

preocupações dos produtores, que em sua maioria os colocam em segundo plano por

organizarem sua produção quase que exclusivamente sob demanda, muito em função

do baixo nível de liquidez.

Quadro 11: Características dos armazéns e grau de importação da estocagem na

produção.

ESTOCAGEM

Alternativas Características dos

armazéns Freq.

Grau de importância da estocagem na produção

Freq.

A Próprio 40 Pouca ou nenhuma, a empresa trabalha

apenas sob encomenda 16

B Terceirizado 1 Proteger a empresa de incertezas na

demanda e no tempo de ressuprimento 16

C Coletivo 1 Servir como segurança conta imprevistos 10 D Não Possui 1 X X

NDA X 1 TOTAL 43 43

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Como evidencia do baixo índice de liquidez, nós temos os percentuais de

estocagem de produtos do SEBRAE/RN (2008). Apenas 23% das unidades produtivas

contêm produtos estocados, em contraposição a 77% das quais não realizam o

armazenamento dos mesmos. Entre as empresas que realizam estocagem, esses

dados vão em encontro com os da natureza dos imóveis. Em 93% das unidades

produtivas os armazéns são próprios. Com efeito, isso não significa haver nas

empresas espaços reservados para esse fim, sobretudo levando em consideração o

depoimento supracitado. Apenas 3% são terceirizados, e 2%, cada, não possuem

estoques, ou realizam estocagem coletiva.

Reforçando a perspectiva de baixa relevância da estocagem para a produção

(Gráfico 44), em 37% dos casos, os representantes da unidades produtivas afirmaram

haver pouca ou nenhuma importância, pois trabalham apenas sob encomenda; o

mesmo percentual foi apresentado para a alternativa de proteger a empresa de

incertezas na demanda e no tempo de ressuprimento; servir como segurança contra

imprevistos apresentou 23%; e em 3% consideraram não ser nenhuma das

alternativas anteriores.

188

Gráfico 44: Grau de importância da estocagem na produção.

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Essas constatações de certa forma são preocupantes, haja vista que o ramo

têxtil exige alguns cuidados específicos nesse quesito. Seus substratos são

inflamáveis, sobretudo em contanto com eventuais chamas geradas por

intercorrências elétricas dos equipamentos, além de serem perecíveis em caso de

contato, inadequado, com água.

Mão de obra

Os Homens, enquanto elementos do espaço geográfico, são cruciais pelo fato

de desencadearem as ações, os processos e a dinâmica empreendida em seu interior.

Segundo Santos (2008b), eles se organizam entre firmas e instituições, ou

propriamente enquanto indivíduos. De modo geral, os indivíduos são a população,

que, no caso de nosso objeto de pesquisa, engloba as relações sociais transcorridas

diretamente no seio do circuito espacial da produção de artefatos têxteis para

consumo doméstico. Um recorte significativo em relação aos indivíduos são os

trabalhadores, ou seja, a mão de obra e todas as relações históricas de produção

desenvolvidas por e com esses agentes.

Segundo Santos (2008b, p. 56), para analisar os circuitos espaciais é

necessário atentar à diferentes aspectos da mão de obra, tais como: “[...] qualificação,

origem, variação das necessidades nos diferentes momentos da produção etc [...]”.

Dessa forma, para compreender o papel desses agentes em relação ao circuito

37%

37%

23%

3%Pouca ou nenhuma, aempresa trabalha apenas sobdemanda

Proteger a empresa deincertezas na demanda e notempo de ressuprimento

Servir como segurançacontra imprevistos

NDA

189

espacial da produção de artefatos têxteis nos municípios de Caicó, Currais Novos e

Jardim e Piranhas, discutiremos em seguida: a origem da mão de obra; o perfil dos

trabalhadores; a divisão social do trabalho, isto é, a distribuição do trabalho através

das atividades produtivas; os tipos de vínculos empregatícios; as jornadas laborais;

as formas de qualificação da mão obra; a renda; bem como as precariedades as quais

estes agentes estão expostos. Para tal, lançaremos mão de dados secundários,

marcadamente do RAIS (2016), SEBRAE/RN (2008) e BRASIL (1998), bem como dos

dados primários coletados a partir das entrevistas.

A origem dos trabalhadores do circuito espacial da produção de artefatos

têxteis nos municípios estudados é oriunda da própria região, cujo crescimento da

população economicamente ativa se deu paralelamente ao desenvolvimento da

atividade, lhe permitindo incorporar progressivamente essa mão de obra. Conforme

podemos observar no Gráfico 45, Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas, de

acordo com suas respectivas populações, dispõem de um relativo estoque de capital

humano16, o qual evoluiu quantitativamente uniformemente nos últimos anos, de

acordo com o crescimento da atividade têxtil inserida no processo de reorganização e

diversificação do uso produtivo do território.

Gráfico 45: Estoque de capital humano em R$ nos municípios de Caicó, Currais

Novos e Jardim de Piranhas nos anos 1980, 1991 e 2000 (a preços do ano 2000).

Fonte: IPEA, 2017.

16 O estoque de capital humano consiste no valor esperado presente dos rendimentos anuais associados à escolaridade e experiência (idade) da população em idade ativa (15 a 65 anos). Ele é calculado por meio da diferença entre o rendimento obtido no mercado de trabalho e a estimativa daquele obtido por um trabalhador sem escolaridade e experiência. Para se estimar os rendimentos futuros esperados utilizam-se os coeficientes de retorno à educação e à experiência estimados pelos dados do Censo Demográficos para os anos 1980, 1991 e 2000 e da PNAD nos demais anos do período 1981-99 (IPEA, 2017).

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

1980 1991 2000

Caicó Currais Novos Jardim de Piranhas

190

Apesar de atualmente essa mão de obra ser majoritariamente de origem

urbana, essa situação já foi diferente. Sobretudo no período da mecanização e da

expansão fabril, a produção têxtil do Seridó Potiguar incorporou bastante mão de obra

oriunda do campo, conforme alega um dos entrevistados: “E essas pessoas,

geralmente, elas vinham oriunda dos sítios morar nas cidades, né ?!” (BRIM, 2016, p.

5). Esse fenômeno, em certa medida, se relaciona ao expressivo êxodo rural ocorrido

na época, compreendendo uma transição urbana em toda a formação socioespacial.

O alto índice de empregabilidade (em termos relativos para a região) gerado

durante o auge da atividade, serviu de atração de agentes nas escalas local e regional.

A princípio houve uma migração de pessoas na esfera local para se trabalhar no

circuito têxtil da região. Esses agentes vinham de outros municípios do próprio Seridó

Potiguar, bem como do Seridó Paraibano, sobretudo de São Bento, cidade que

historicamente também abriga esse tipo de atividade.

Ocorreram, outrossim, fluxos migratórios pontuais para trabalho originários de

outras localidades, conforme podemos inferir por meio das entrevistas: “Aqui tem

funcionário do Ceará, da Paraíba, do Pernambuco (BRIM, 2016, p. 5)”; vieram

trabalhadores também “Da região de Janduís, Messias Targino, Brejo do[s] Santo[s]...

Dessa região de Catolé... [...] (MANTAS, 2016, p.6). Dessa forma, os fluxos se deram

tanto no interior do Rio Grande do Norte, os quais, além do Seridó, vieram

notadamente do Médio Oeste (Brejo dos Santos), bem como de estados vizinhos.

Foram citados, na ocasião, Ceará, Pernambuco e, em especial a Paraíba, que além

do Seridó Paraibano, houve irradiação de mão de obra dos municípios da microrregião

de Catolé do Rocha.

Atualmente, essa mão de obra encontra-se predominantemente distribuída,

entre os municípios do nosso recorte empírico (Gráfico 46), em Jardim de Piranhas

(67%), o menor entre os três, ratificando nossa análise preliminar sobre a formação

de uma especialização territorial produtiva, que tende a se afunilar conforme avança

por entre as escalas. Não obstante, Caicó também possui um percentual significativo

(29%), sobretudo por compreender, além das unidades de artefatos domésticos, a

fabricação de insumos têxteis. A cidade com menor expressão para a referida

amostra, entre as três, é Currais Novos (4%).

191

Gráfico 46: Distribuição percentual da mão de obra empregada formalmente entre os

municípios da amostra.

Fonte: RAIS, 2016.

Para o conjunto dos três municípios do Seridó Potiguar com unidades

produtivas do circuito espacial de artefatos têxteis, a maior parte da mão de obra

empregada formalmente é composta por homens (60%) e a menor parte por mulheres

(40%), por mais que os respectivos percentuais sejam relativamente equilibrados

(Tabela 09).

Tabela 09: Número de trabalhadores do ramo de fabricação de produtos têxteis nos

municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas por sexo (2015).

Sexo Trabalhador Caicó Currais Novos Jardim de Piranhas

Sexo Freq. Freq. Freq.

Masculino 124 17 264 Feminino 69 8 191

TOTAL 193 25 455

Fonte: RAIS, 2016.

Com efeito, acreditamos que exista, na prática, uma uniformidade ainda maior

entre número de trabalhadores e de trabalhadoras, uma vez que boa parte da mão de

obra feminina acumula jornadas laborais no circuito e fora dele, realizando atividades

domésticas. Conforme podemos observar em relação a divisão social do trabalho na

atividade têxtil dos três municípios, uma das atividades produtivas mais terceirizadas

é a costura, cuja operação é majoritariamente executada por mulheres. Entre outras

atividades com perceptível predomínio de mulheres está a estamparia. Por outro lado,

29%

4%67%

Caicó Currais Novos Jardim de Piranhas

192

as atividades de tecelagem e beneficiamento é quase que completamente realizada

por homens.

Nos municípios, em particular, o percentual de homens empregados é mais

elevado que a média em Currais Novos (68% homens, 32% mulheres) e em Caicó

(64% homens, 36% mulheres), apresentando uma leve discrepância da distribuição

da mão de obra por sexo. Por outro lado, os dados de Jardim de Piranhas (58%

homens, 41% mulheres), município com maior percentual de empregados no ramo,

ratificam a análise corrente, haja vista ser a sua amostra mais significativa em termos

absolutos.

Em relação a faixa etária dos trabalhadores (Tabela 10), em torno de 60% estão

entre os 30 e 49 anos de idade, evidenciando que uma grande parte da mão de obra

é relativamente madura. A faixa etária com maior destaque, compreendendo

isoladamente o maior número de empregados, está entre os 30 e 49 anos (39%). Em

seguida, com percentuais bastante próximos estão as faixa entre 40 e 49 anos (19%),

entre 25 e 29 anos (19%), e entre 18 e 24 anos (16%). E, com menor representação,

está a faixa etária de 50 a 64 anos (8).

Tabela 10: Número de trabalhadores do ramo de fabricação de produtos têxteis nos

municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas por faixas etárias (2015).

Faixa etária Caicó Currais Novos Jardim de Piranhas

Idade Freq. Freq. Freq.

15 a 17 2 0 0 18 a 24 35 9 60 25 a 29 30 3 91 30 a 39 72 6 183 40 a 49 39 2 86 50 a 64 14 5 35 65 ou mais 1 0 0

TOTAL 193 25 455

Fonte: RAIS, 2016.

Além disso, averiguarmos que a faixas compreendidas nos limites inferiores e

superiores das idades são praticamente irrelevantes – ambas acumulam menos que

1% do total da mão de obra, presentes apenas no municípios de Caicó. Alguns fatores

nos ajudam a explicar as razões pelas quais essa faixas são pouco representativas,

ou porque as faixas entre 25 e 49 o são mais.

193

Na prática, o índice de jovens e adolescentes trabalhando na atividade têxtil no

Seridó Potiguar é mais elevado que o apresentado nos dados de vínculos formais.

Primeiramente, porque esse tipo de mão de obra geralmente é empregado no tipo de

trabalho familiar, onde os filhos ajudam os pais a desempenhar suas funções. Além

disso, há de se considerar que a legislação trabalhista vigente garante uma relativa

proteção das crianças e adolescentes, abrangendo critérios especiais, tais como

redução de jornada de trabalho. Infelizmente, constatamos que esses parâmetros na

maioria das vezes são tidos como empecilhos à formalização dos vínculos e acabam

sendo transgredidos.

Vale salientar, no entanto, que em comparação ao período da mecanização e

do início da expansão fabril essa realidade mudou bastante, conforme ilustram os

depoimentos abaixo – além da análise posterior um pouco mais detalhada presente

na seção sobre as precariedades laborais do referido circuito:

É dificilmente [sic] você ir numa estamparia para você achar uma menina com 17 anos, 18 anos. Antes era com 15 anos, meu filho! E se a gente fosse dá... fosse butar [sic] eles queriam trabalhar mais cedo. E hoje é o contrário. [...] Não vou dizer que não existe. Existe! (FLANELAS, 2016, p. 10)

Eu costumo dizer aos meninos: olhe, nós... Já tá [sic] surgindo os carroceis de estampar. Todos nós vamos ser obrigados a comprar. Num [sic] é querer não, é obrigado! Porque um funcionário que eu tenho hoje com 28 anos, ele num [sic] vai aguentar mais 15 anos, nem 10 anos, rodando ao redor de uma mesa com uma tela não. E cadê o outro que vem pra substituir ele? Que, graças a Deus, tão tudo estudando!? (FLANELAS, 2016, p. 10)

Podemos elencar duas políticas de Estado que foram essenciais para a

mudança relativa desse quadro, marcadamente as de expansão do acesso à

educação, a partir da criação do Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação, e

as de erradicação do trabalho infantil, pontualmente realizadas no Seridó Potiguar no

final do século passado.

A última asseveração, em particular, ajuda a explicar não só a diminuição da

exploração da mão de obra jovem, bem como a baixa presença de funcionários de

faixas etárias elevadas. As longas e extenuantes jornadas de trabalho impõem um

alto nível de insalubridade, fazendo com que o trabalhador dificilmente consiga ser

produtivo, e, ao mesmo tempo, manter sua integridade física durante muito tempo.

194

Além disso, vale salientar que boa parte da mão de obra foi empregada recentemente,

no auge do ramo têxtil no Seridó Potiguar (mais ou menos entre os anos 2000 e 2009),

e presentemente começa a envelhecer.

Pensando a distribuição percentual do pessoal ocupado pelas subclasses da

CNAE (Tabela 11), depreendemos que o circuito de artefatos domésticos é o mais

significativo quanto à absorção de mão de obra, haja vista que, enquanto atividade

primária, a fabricação de artefatos têxteis para uso doméstico emprega 62% do total

das atividades. Além desta, a fabricação de outros produtos têxteis não especificados

anteriormente também aparece com relativa expressividade quanto ao emprego de

mão de obra, com 21%

Tabela 11: Número de trabalhadores do ramo de fabricação de produtos têxteis nos

municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas por subclasses da CNAE

2.0 (2015).

Subclasses Caicó Currais Novos Jardim de Piranhas

Atividades Freq. Freq. Freq.

Preparação e fiação de fibras de algodão 0 1 0 Fabricação de linhas para costurar e bordar 0 0 42 Tecelagem de fios de algodão 0 0 31 Estamparia e texturização em fios, tecidos, artefatos têxteis e peças do vestuário

0 4 0

Alvejamento, tingimento e torção em fios, tecidos, artefatos têxteis e peças do vestuário

0 0 5

Outros serviços de acabamento em fios, tecidos, artefatos têxteis e peças do vestuário

2 0 0

Fabricação de artefatos têxteis para uso doméstico 137 20 258 Fabricação de artefatos de cordoaria 1 0 19 Fabricação de tecidos especiais, inclusive artefatos 10 0 0 Fabricação de outros produtos têxteis não especificados anteriormente

43 0 100

TOTAL 193 25 455

Fonte: RAIS, 2016.

As demais atividades produtivas do circuito representam uma absorção residual

no Seridó Potiguar. A fabricação de linhas para costurar e bordar abrange 6% do total

da mão obra, a tecelagem de fios de algodão 5%, a fabricação de artefatos de

cordoaria 3%. E com 1% do total cada uma estão: estamparia e texturização em fios,

tecidos, artefatos têxteis e peças do vestuário; alvejamento, tingimento e torção em

195

fios, tecidos, artefatos têxteis e peças do vestuário; e fabricação de tecidos especiais,

inclusive artefatos.

Analisando os municípios individualmente, inferimos que Currais Novos está

circunscrito pontualmente à produção de artefatos domésticos. Entre os três

municípios, Jardim de Piranhas é o que mais se destaca quanto a diversificação da

distribuição de mão de obra cuja atividade primária envolve artefatos domésticos. A

cidade contém uma produção pontual de bens intermediários (linhas de costurar e

bordar), assim como é a única entre as três que apresentam mão de obra voltada

especificamente para a etapa de alvejamento. Por seu turno, Caicó se diferencia por

possuir mão de obra empregada, além de nos artefatos domésticos, na produção de

tecidos especiais, os quais concatenam-se à produção de acessórios do vestuário.

Em se tratando dos vínculos por meio dos quais essa mão obra está empregada

(tabela 12), o mais frequente é o de empregados com carteira nacional de trabalho

assinada ou não (67%). Em segundo lugar, com 18%, estão os familiares que

trabalham na empresa, excetuando-se os sócios, evidenciando que o trabalho a nível

familiar continua sendo uma forma-conteúdo pretérita bastante expressiva da

produção têxtil do Seridó Potiguar. Acima do percentual de participação dos

terceirizados, estão ainda os agentes cujos cargos são de sócios ou proprietários das

unidades produtivas (8% do total de pessoal envolvido na produção propriamente

dita). Com apenas 1% cada estão os estagiários e os funcionários temporários.

Tabela 12: Tipo de vínculo do pessoal ocupado em Jardim de Piranhas-RN.

Vínculo Freq. %

Empregados (com ou sem carteira assinada) 1.047 67 Familiares que trabalham na empresa, exceto sócio 286 18 Sócios/proprietários 127 8 Estagiários 11 1 Terceirizados 83 5 Temporários 17 1

TOTAL 1.571 100

Fonte: Adaptado de SEBRAE/RN, 2008.

Depreendemos que existe, ainda, um número relativo de mão de obra

empregada em atividades terceirizadas, nas quais os trabalhadores atuam de maneira

autônoma. Em Jardim de Piranhas, no ano de 2008, 5% do total de vínculos do

pessoal ocupado na fabricação de artefatos domésticos.

196

Retratando-se às operações produtivas da etapa de acabamentos, tomemos a

afirmação abaixo:

O meu é tudo de fora, terceirizado. As costureiras tudo nas casas. Também por produção. Nas próprias casas delas, que a maioria tem as máquinas delas lá. Não querem sair, aí costuram em casa, faz o comê [sic], arruma a casa... [...] Aí vindo dar o expediente tem que assinar a carteira, é aquela dependência. (MANTAS, 2016, p.7)

No exemplo ilustrado acima, temos o caso do processo de costura cuja

produção é predominantemente terceirizada. Esse tipo de terceirização, diferente do

acontece no beneficiamento, se dá menos pela questão da técnica do que do trabalho.

No caso do beneficiamento, o território normativo impõe maiores constrangimentos

técnicos em comparação à outras etapas. Ao contrário do que se tem observado nas

facções, na divisão social do trabalho da fabricação de artefatos domésticos no Seridó

Potiguar, historicamente, a costura é realizada por mulheres. E, devido a rugosidades

históricas advindas de uma cultura patriarcal, essas mesmas mulheres são as

responsáveis diretas pelos afazeres domésticos de suas respectivas moradias, onde

vivem, em geral, na companhia de filhos e marido.

Portanto, esses agentes são compelidos, em face de suas “atribuições

domésticas”, a realizar o regime laboral supracitado em suas respectivas resistências.

Não bastasse esse cerceamento, este tipo de atividade (remuneração por quantidade

produzida), que por si só é extremamente predatório, isenta os empregadores de suas

obrigações trabalhistas e os trabalhadores da garantia de seus direitos.

Ainda em relação ao tipo de remuneração por produção, nós percebemos,

através da pesquisa exploratória, durante a aplicação de entrevistas, que esse

expediente é mais expressivo até que a forma de remuneração salarial. Fizemos uma

seleção de asseverações, de diferentes representantes de unidades produtivas, as

quais endossam essa assertiva.

Pegavam bem cedo, 4-5 horas da manhã e trabalhavam até 4-5 horas da tarde. Era uma jornada bem puxada... Como eles trabalhavam por produção, quanto mais trabalhasse/produzisse mais ganhava... (PANOS DE CHÃO, 2016, p. 6) Agora, tem funcionário, na tecelagem, que trabalha por produção, que eles trabalham mais de 8 pra poder produzir mais, né?! A maioria, eu vejo aí, pega de 5 horas da manhã... 5 às 6 da noite... Bote 10-12 horas de trabalho aí. (MANTAS, 2016, p.7)

197

Tem muitos que trabalha [sic] por produção (TAPETES, 2016, p. 5)

Percebemos, desse modo, que essa relação histórica de produção requer uma

profunda expropriação de mais valia dos trabalhadores na forma de jornadas

extenuantes de trabalho, sobretudo levando em consideração que a atividade têxtil é

manufatureira, cuja base consiste em trabalho braçal constante. Segundo

levantamento realizado em 1998 nas unidades produtivas de artefatos domésticos em

Jardim de Piranhas pela Superintendência Regional do Trabalho do Rio Grande Norte,

Delegacia Regional do Trabalho na época (BRASIL, 1998), 70,46% dos trabalhadores

cumpriam jornada diária de trabalho superior a 8 horas. Além disso, aproximadamente

40% do total trabalhavam mais de 10 horas por dia.

Quase 20 anos separam essa estatística do presente momento. No entanto,

essa realidade demonstra-se recalcitrante. Baseado nos vínculos formais da referida

atividade, 97% dos trabalhadores atuam em uma faixa de horas contratadas entre 41

e 44 horas por semana (Tabela 13). Supondo que esses agentes trabalham 5 dias por

semana, essa faixa de contrato significa quase 9 horas de jornada diária. Se

consideramos o levantamento supracitado, houve um aumento de cerca 27%, nas

últimas duas décadas, da quantidade relativa de funcionários trabalhando durante

mais de 8 horas por dia.

Tabela 13: Número de trabalhadores do ramo de fabricação de produtos têxteis nos

municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas por faixas de horas

contratadas (2015).

Faixa hora contratada Caicó Currais Novos Jardim de Piranhas

Horas Freq. Freq. Freq.

16 a 20 1 0 0 21 a 30 4 0 18 41 a 44 188 25 437

TOTAL 193 25 455

Fonte: RAIS, 2016.

Outro aspecto relevante é a presença de 3% dos trabalhadores

compreendendo entre 21 e 30 horas contratadas. É verossímil supor que esse

pequeno percentual (3%) de pessoal com contrato semanal entre 21 e 30 horas é

representado por trabalhadores cujas funções requerem um nível mais elevado de

198

qualificação, tais como nas funções de gestão, de engenharia etc., sobretudo pelo fato

das demais faixas, a saber, entre 16 e 20 e entre 31 e 40 horas semanais, serem

irrelevantes.

Deste modo, identificamos uma divisão social do trabalho muito nítida entre as

atividades braçais, manuais, repetitivos, cujas jornadas de trabalhos são intensivas.

Por outro lado, os trabalhos criativos, organizacionais, predispõem de uma menor

jordana de trabalho mas de um maior nível de qualificação, portanto de um maior

tempo acumulado em formação.

De maneira análoga às jornadas de curto prazo, observa-se também uma

frequência relativamente dessa mão obra na atividade ao longo dos anos. Conforme

apresenta a Tabela 14, mais da metade dos trabalhadores está no emprego atual há

pelo menos 2 anos (57%), em que pese a faixa de tempo entre de 1 a 2 anos ser a

mais expressiva (27%). Esse percentual está distribuído entre: 15% estão no atual

emprego de 2 a 3 anos; 16% de 3 a 5 anos; 18% de 5 a 10 anos; e 8% a 10 anos ou

mais. Em 10% dos casos os funcionários estão trabalhando de 6 a meses a 1 ano, e,

em apenas 3%, cada faixa, de 3 a 6 meses e até 3 meses.

Tabela 14: Número de trabalhadores do ramo de fabricação de produtos têxteis nos

municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas por faixas de tempo no

emprego (2015).

Faixa tempo emprego Caicó Currais Novos Jardim de Piranhas

Meses Freq. Freq. Freq.

Até 2,9 8 0 16 3 a 5,9 6 0 14 6 a 11,9 18 6 44 12 a 23,9 56 7 119 24 a 35,9 37 3 59 36 a 59,9 34 5 68 60 a 119,9 20 2 100 120 ou mais 14 2 35

TOTAL 193 25 455

Fonte: RAIS, 2016.

Em relação a qualificação dos empregados (Tabela 15), quase metade

possuem escolaridade abaixo do ensino médio completo e apenas 1% deles tem

199

ensino superior completo. Além disso, o trabalho aparece como principal motivo para

os funcionários pararem de estudar (BRASIL, 1998, p.5).

Tabela 15: Número de trabalhadores do ramo de fabricação de produtos têxteis nos

municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim de Piranhas por nível de escolaridade

(2015).

Escolaridade Caicó Currais Novos Jardim de Piranhas

Nível Freq. Freq. Freq.

Analfabeto 0 0 9 Até 5ª Incompleto 3 0 54 5ª Completo Fundamental 1 1 28 6ª a 9ª Fundamental 19 0 86 Fundamental Completo 15 1 30 Médio Incompleto 29 1 54 Médio Completo 123 21 185 Superior Incompleto 1 0 3 Superior Completo 2 1 6

TOTAL 193 25 455

Fonte: RAIS, 2016.

“Por que estudar, se o futuro é um tear?”. Este questionamento, ao mesmo

tempo sintomático e, por isso mesmo, inquietante, serve de introdução à um dos

únicos estudos acadêmicos já produzidos sobre a realidade de trabalhadores que

decidem dividir seu tempo entre o chão da fábrica têxtil, durante o dia, e a carteira da

escola, durante a noite, no Seridó Potiguar, mais precisamente em Jardim de Piranhas

(AZEVEDO; TAVARES; MORAIS, 2013).

No entanto, nós podemos elencar as políticas educacionais, sobretudo as

realizadas nos últimos 13 anos, de garantia ao acesso, de combate à evasão escolar

e de expansão do ensino para jovens e adultos na educação básica como um dos

principais motivos para ter ocorrido uma expressiva alteração desse quadro.

Por fim, segundo Brasil (1998, p.4):

Nos anos 70 as empresas, que não chegavam a dez, eram formalizadas e os trabalhadores todos registrados. Com a proliferação das tecelagens, proliferaram também as empresas informais e, consequentemente, os trabalhadores sem carteira. As empresas antigas, que até então cumpriam as suas obrigações trabalhistas, foram forçadas pela concorrência desleal e pela omissão da

200

fiscalização do trabalho a substituir os trabalhadores registrados por outros sem registro.

O referido levantamento apontou os seguintes problemas relacionados à

precariedade laborais: 1) Poluição ambiental, 2) exploração da mão-de-obra infanto-

juvenil e 3) exploração de mão-de-obra adulta

1) Produtos químicos jogados nas ruas, formando esgotos a céu aberto, que

correm até o Rio Piranhas. Causando danos: à saúde da população, ao solo e

ao subsolo e ao Rio Piranhas. Poeira vegetal contamina o ar que a população

respira. A população geral, sobretudo as crianças, sofre de problemas

respiratórios. Ruído emitido pelos teares está acima do nível de decibéis

tolerado pelo ouvido humano. Além de causar danos ao aparelho auditivo,

prejudica o descanso da população. (BRASIL, 1998, p.5)

2) Nas tecelagens e estamparias, em ambientes insalubres. Nas residências,

prestando serviços de acabamento de produtos para as tecelagens (trabalho

domiciliar). (BRASIL, 1998, p.5)

3) Falta de assinatura da CTPS. Falta de EPI. Jornada de trabalho excessiva.

(BRASIL, 1998, p.5)

201

5 FIM DO CICLO OU ACÚMULO SEM FIM? CIRCULAÇÃO, HETEROGENEIDADES

DO CONSUMO E RELAÇOES DE COOPERAÇÃO

A problemática de nossa pesquisa inscreve o nosso objeto no contexto geral

do paradigma contraditório da produção. Este, em nossos dias, torna cada vez mais

espesso o fenômeno da divisão territorial do trabalho, por meio de seu espraiamento,

e do concomitante acúmulo de sobreposições, advindas da soma entre materialidade

pretérita, pulverização de novas atividades produtivas e vetores de modernização.

Este panorama vincula-se, sobremaneira, à estruturação do meio técnico-científico-

informacional.

Depreendemos, dessa maneira, que o entendimento deste paradigma passa

por uma discussão mais ampla, que escapa aos contornos da produção propriamente

dita e carece de um exercício maior de abstração. Ora, as heranças pretéritas se

esmaecem, apesar de não se anularem, para serem incorporadas uma série de

vetores, de ordens distintas e naturezas diversificadas, cujas marcas denotam a

urgência de algo novo. Na realidade, interessa vislumbrar, minimamente, a forma

como o mundo se estrutura na história atual.

Neste sentido, Silveira (2012) discute como a técnica transforma,

incessantemente, o uso do território no período atual da globalização. Cujo

entendimento deve passar por três tendências, que lhe são constitutivas - também

chamadas de unicidades. A autora fundamenta o desenvolvimento de suas ideias em

Santos (2012), para quem a compressão do mundo passa pelo papel do fenômeno

técnico e por suas manifestações atuais, engendradas no processo de constituição de

uma inteligência planetária.

A primeira dessas tendências é a unicidade técnica, isto é, a planetarização de

um sistema técnico que abrange todos os lugares. A segunda trata-se da

convergência dos momentos, ou seja, o conhecimento instantâneo dos eventos que

nos possibilita a percepção de simultaneidade, cuja base material é a técnica da

informação, culminando no que Milton Santos chamou de cognoscibilidade do planeta.

A terceira delas é a unicidade do motor ou a mais-valia tornada mundial, legitimada

por um denso aparato normativo. “Essas três unicidades são a base do fenômeno de

globalização e das transformações contemporâneas do espaço geográfico.”

(SANTOS, 2012, p. 189).

202

Ademais, outro dado extremamente relevante para a compreensão do meio

geográfico atual, apontado pela autora, cuja emergência aflora exatamente da

explicação dos elementos acima elencados, é a assertiva de que a história se tornou

universal. Universal no sentido de ser concreta; fundamentada por uma base material,

organizacional e financeira planetária, diferente de outrora.

Contudo, Silveira (2012) observa um verdadeiro paradoxo na ciência

geográfica: quando é possível falar de uma geografia verdadeiramente geral,

concreta, histórica, num planeta de base material e organizacional comum, a disciplina

se fragmenta em diversas especializações, onde reinam estudos do micro. A partir do

reconhecimento dessa extrema ramificação, a autora conjectura as várias “geografias”

da atualidade e salienta que todas elas têm em comum a incapacidade de formular as

perguntas significativas.

Estas devem partir de uma teoria do ser, que no caso da geografia partem de

uma teoria do espaço com definição precisa e preocupada com a constante revisão

histórica. Dessa maneira, partindo da história atual, quando o fenômeno técnico ganha

espessura, densidade, complexidade e escala, aumenta a importância da abordagem

epistemológica do fenômeno técnico, da compreensão do espaço e seu significado

político.

Este fenômeno está imbricado à consolidação, iniciada no momento pós-

segunda guerra mundial, do meio técnico-científico-informacional. Trata-se da “cara

geográfica da globalização” (SANTOS, 1999, p. 11).

Para este autor, o período em que vivemos se diferencia dos demais pela

vicissitude de um casamento perfeito entre técnica e ciência, ungidos pela égide do

mercado, tornado global, graças a condições propiciadas por essa união. Nesta lógica,

a informação triunfa como o “nexo fundamental”, uma vez que, ela não só está

presente no espaço, nos objetos e nas coisas que o constituem, como as realizações

das ações que nele se desenvolvem lhes são tributárias; todo o território tende a ser

equipado em favor da livre circulação desses nexos.

A implicação direta desse processo é a tendência à requalificação abrupta dos

subespaços (SILVEIRA 2010b), reformulando os seus atributos, intentando amparar

as demandas dos atores hegemônicos da economia, da política e da cultura, em

detrimento dos demais (SANTOS, 2012; SANTOS, 1999).

Desse modo, “Ao mesmo tempo em que aumenta a importância dos capitais

fixos [...] e dos capitais constantes [...], aumenta também a necessidade de

203

movimento, crescendo o número e a importância dos fluxos [...]” (SANTOS, 1999,

p.11). Nesta perspectiva, o capitalismo está sempre movido pelo ímpeto de acelerar

o tempo de giro do capital, apressar o ritmo de circulação e, em consequência, de

revolucionar os horizontes temporais do desenvolvimento, conforme explicita Harvey

(2009). Ou seja, “[...] não basta produzir, mas pôr a produção em movimento,

sobretudo porque não é mais a produção que preside à circulação, mas esta é que

conforma a produção” (SANTOS, 2012, p. 275).

Observa-se, neste sentido, uma verdadeira irrupção no paradigma da

produção, pois, “[...] diminui a arena da produção, enquanto a respectiva área se

amplia. Restringe-se o espaço das outras instâncias da produção, circulação,

distribuição e consumo” (Idem). Em outros termos, temos no período atual uma divisão

territorial do trabalho mais esparsa, estendida e complexa; não obstante aos avanços

técnicos que possibilitaram à concretização da previsão de Marx – assinalada pelo

autor – relativa à redução da área e do tempo necessários à produção das mesmas

quantidades.

Outra contradição aparente é observada por Silveira (2010b), para quem este

“centrifuguismo” é paralelo ao “centripetismo” de nexos extrovertidos emanados das

metrópoles; onde, em geral, são realizadas “as principais tarefas de concepção

técnica, informacional, mercadológica e a transformação dos instrumentos financeiros

em outros” (SILVEIRA, 2010b, p. 78). Daí Santos (2005a) falar em uma onipresença

da metrópole.

É necessário frisar, ainda, conforme aponta a autora, que não se trata apenas

de uma simples ampliação dos contextos, onde todos os lugares são convidados a

produzir ativamente. Há, na realidade, uma pluralidade e coexistência de divisões do

trabalho, sobrepondo-se no uso do território; tendo como condição e resultado as

infraestruturas, os movimentos de população, as dinâmicas agrícolas, industriais e de

serviços, a estrutura normativa e a extensão da cidadania.

Neste sentido, podemos afirmar com Santos (2004a) que o espaço é uma

acumulação desigual de tempos; cada lugar abrigando, ao mesmo tempo,

temporalidades distintas. Seguindo este raciocínio, temos de concordar com Silveira

(2010b, p.74) que o espaço geográfico é “um rendilhado de divisões territoriais, um

sinônimo de território usado”. Ou mesmo que o espaço é “a soma dos resultados da

intervenção humana sobre a terra” (SANTOS, 2004a, p. 29).

204

Sempre segundo Santos (2012), os novos subespaços, inseridos nessa lógica,

não detêm capacidade uniforme de rentabilizar determinada produção, pois, cada

combinação possui sua respectiva lógica, autorizando formas de ação e agentes

econômicos específicos para cada situação. Dessa maneira, os lugares seriam

diferenciados pela sua capacidade particular, maior ou menor, de rentabilizar

investimentos, a depender das condições locais de ordem técnica e organizacional.

Esta “rentabilidade” não é, para o autor, um dado absoluto do lugar. A eficácia

mercantil estaria, na realidade, ligada ao produto, mais precisamente à um produto

específico, isto é, à uma atividade predominante específica – por isso o enfoque em

um determinado ramo, no caso, têxtil, ou mais precisamente numa atividade,

fabricação de artefatos têxteis para uso doméstico. Isso abre margem para que os

lugares se especializem, adrede, em determinado(s) ramo(s), em que pese as

virtualidades naturais, a capacidade técnica e organizacional e as vantagens de cunho

social.

Segundo Moraes (1984) esta espacialidade contemporânea traz consigo a

tônica das especializações dos lugares. Sintomaticamente, ela homogeneíza

diferenciando, imersa no movimento do desigual e combinado. Aflora, entrementes,

uma extrema competitividade entre os lugares e suas forças, repercutindo:

[...] os embates entre os diversos atores e o território como um todo revela os movimentos de fundo da sociedade. A globalização, com a proeminência dos sistemas técnicos e da informação, subverte o antigo jogo da evolução territorial e impõe novas lógicas (SANTOS, 2004b, p. 79).

Depreende-se disso um agravamento galopante da necessidade de

acumulação, engendrada pelo parâmetro atual da produção, que dá especial relevo

ao movimento, implicando à circulação um ritmo frenético. Isto requer dos subespaços

um denso aparato técnico, organizacional e normativo viabilizando essa mobilidade.

É evidente que não há uma uniformidade de resposta aos reclamos acima

citados, implicando numa segmentação do mercado. Segundo Arroyo (2008), isso

acontece pelo fato de existirem diferentes formas de produzir que, por sua vez,

correspondem a diferentes formas de consumir, autorizando a convivência de uma

ampla variedade de formas de realização econômica, que trabalham segundo

diversas taxas de lucro, produtividade, rendimentos e salários.

205

Em suma, o mundo encontra-se organizado em subespaços articulados em

uma lógica global, cada lugar sendo resultado de uma ordem global e de uma ordem

local, convivendo dialeticamente. Como decorrência dos inúmeros fluxos de todos os

tipos, intensidades e direções, rompem-se os equilíbrios precedentes. O desenlace

deste processo modifica a estrutura da produção; cujas etapas estão atualmente

organizadas na forma de circuitos espaciais produtivos (SANTOS, 2008b).

Moraes (1984) acrescenta ao conceito de circuitos espaciais produtivos a

noção de círculos de cooperação no espaço, como forma de melhor englobar esses

fluxos e nexos entre os mais variados agentes que se articulam em torno dos

processos de produção. O autor observa que nessa trama se estabelecem círculos de

cooperação no espaço, integrando os lugares e, por conseguinte, dando coesão à

circularidade de mercadorias e capitais. “Estes círculos desenham hierarquias,

especializações, fluxos. Suas sobreposições delineiam a divisão territorial do trabalho”

(MORAES, 1984, p. 25).

O termo “cooperação” aparece concatenado à ideia de acontecer simultâneo

(SANTOS, 2005c), ou seja, à coabitação dos agentes no território. O autor elucida que

esta articulação (de fluxos, de especializações...) promove, com efeito, novas

solidariedades17, expressas atualmente sob três formas: acontecer homólogo,

acontecer complementar e acontecer hierárquico. Isto evidencia que, de maneira

análoga aos circuitos espaciais produtivos, o entendimento dos círculos de

cooperação passa necessariamente pelo uso do território.

Se tratando mais especificamente do consumo, vale frisar, que não devemos

interpretá-lo enquanto “fim” do último encadeamento produtivo. Pelo contrário, é esta

a instância que retroalimenta o circuito espacial de produção, não se tratando, pois,

de um ciclo, mas de um espiral, de um acúmulo. “Cada lugar abriga, ao mesmo tempo,

diferentes etapas de diversos circuitos espaciais produtivos” (CASTILLO;

FREDERICO; 2010; p. 466). Dessa forma, o processo produtivo não comporta uma

sucessão engessada entre produção-circulação-distribuição-consumo, mas uma

justaposição dialética, no espaço, destas “etapas”. Vale reforçar, pois, que se trata de

17 [...] A noção, aqui, de solidariedade, é aquela encontrada em Durkheim e não tem conotação moral, chamando a atenção para a realização compulsória de tarefas comuns, mesmo que o projeto não seja comum. (SANTOS, 2012, p. 166)

206

uma abstração, haja vista que nas próprias etapas de produção propriamente dita,

circulação e distribuição há consumo18.

Acreditamos que a diferenciação realizada por Santos (2005a), em dois de tipos

de consumo, nos sirva como um meio de dirimir o problema. Segundo o autor, ao lado

da ampliação, na atualidade, do consumo consuntivo, se dá a ampliação de um

consumo de natureza produtiva. Ambas as formas compreendem um consumo tanto

da ordem de bens materiais, quanto da ordem de serviços ofertados.

O consumo consuntivo esgota-se nele mesmo, e sua demanda está

relacionada à heterogeneidade dos estratos de renda; compreende, sobretudo, os

gastos relativos à saúde, educação, lazer etc., e bens conspícuos, duráveis ou não.

Já o consumo produtivo possui uma demanda relacionada à heterogeneidade dos

subespaços e compreende, sobretudo, os gastos com equipamentos, com a força-

trabalho, em massa e especializada, com matéria-prima e com insumos produtivos

em geral.

5.1 Circulação e consumo produtivo: os espaços da circulação dos bens de

produção

Discutíamos anteriormente sobre as características intrínsecas dos fixos, das

quais uma delas é gerar fluxos. A necessidade galopante de capitais fixos e

constantes geram constante movimento. Os fluxos empreendidos nessa trama, ou

seja, a circulação de bens de produção, revelam o sentido da divisão territorial do

trabalho (Mapa 06).

Vislumbrando mapear os fluxos gerados pelo consumo produtivo de matérias-

primas, coletamos em pesquisa de campo informações relativas as principais matérias

utilizadas na produção, seus respectivos locais de origem e formas de

transporte/deslocamento, conforme apresentado no Quadro 12. As questões

permitiam múltipla escolha, o que levou as combinações particulares de respostas

para cada indagação. A maneira mais adequada que encontramos de mensurar essas

informações foi a partir da frequência de ocorrências para cada alternativa.

18 Desta forma, por razões metodológicas, utilizaremos a distinção utilizada por Santos (2005a) que subdivide o consumo em duas formas: consumo produtivo e consumo consuntivo. Aprofundaremos a questão no final deste tópico.

207

Mapa 06: Origem dos equipamentos e da matéria-prima.

Fonte: Regionalização do IBGE, 2017. Elaboração cartográfica: Igor Rasec Azevedo, Luiz Eduardo Perônico e Cleanto Carlos da Silva.

208

Quadro 12: Principais matérias-primas utilizadas na produção, locais de origem e

formas de transporte/deslocamento utilizadas.

PRODUTO

Alternativas Freq.

A Fio de algodão 36 B Outro* 5 Poliéster 2

Tecido de malha 1

Tecido Oxford 1

Tecido de algodão 1

C Apenas comercializa 1

TOTAL 72

PRINCIPAIS LOCAIS DE ORIGEM (Citação livre)

Locais Freq.

CE CEARÁ 23 Fortaleza 20

Jaguaruana 2

Acopiara 1

RN RIO GRANDE DO NORTE 9 Jardim de Piranhas 8

Caicó 1

Natal 1

PB PARAÍBA 6 João Pessoa 4

São Bento 2

SE SERGIPE 3 Itabaiana 1

SP SÃO PAULO 3 São Paulo 3

SC SANTA CATARINA 3 Florianópolis 1

PE PERNAMBUCO 2 Santa Cruz do Capibaribe 1

Recife 1

CHINA 2 BA BAHIA 1 RS RIO GRANDE DO SUL 1 Gravataí 1

ESTADOS* 53

TOTAL 10

MUNICÍPIOS 47

TOTAL 14

209

FORMAS DE TRANSPORTE

Alternativas Freq.

A Veículo da própria empresa (compradora) 3 B Veículo da empresa vendedora 7 C Frete contratado pela própria empresa (compradora) 24 D Frete contratado pela empresa vendedora 21 NDA 1 TOTAL 56

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Entre as principais matérias-primas utilizadas na produção, o fio de algodão foi

a mais expressiva, presente em 88% dos casos. O evidente predomínio deste tipo de

material se dá, como já discutimos anteriormente, coadunado ao predomínio, entre os

demais artefatos têxteis fabricados no Seridó Potiguar, da produção de artefatos

domésticos. Foi possível averiguar através da pesquisa exploratória e dos dados

coletados por meio das entrevistas que, em geral, os fios utilizados são relativamente

pouco exigentes e de baixa qualidade.

Os outros tipos de matéria-prima contabilizaram 12%. Foram citados em

detalhamento os seguintes materiais: poliéster e tecidos de malha, Oxford e de

algodão. O poliéster é a principal matéria-prima utilizada na produção de substratos

têxteis a base de fibras sintéticas. Por seu turno, os tecidos propriamente ditos citados

acima são utilizados por firmas cuja produção concentra-se na confecção dos

artefatos a partir apenas de operações de acabamento e/ou serigrafia.

Esses produtos são oriundos principalmente da região Nordeste, cujo

percentual atinge 82% dos casos. Os locais de maior relevo são o Ceará, o qual

obteve mais da metade das referências feitas em relação a região (43%), e sua capital,

com o maior número de citações por município. A Beatriz Têxtil S/A, firma do ramo de

fiação localizada em Fortaleza, é em grande medida responsável por esse destaque,

uma vez que monopoliza a maior parte do fornecimento de fios de algodão para

produção de artefatos domésticos no Seridó Potiguar.

Nós podemos inferir a materialização desse monopólio, outrossim, através da

forma pela qual o Rio Grande do Norte se insere nessa parcela da divisão territorial

do trabalho. Dos 39% restantes em relação à região Nordeste, 17%

(aproximadamente um ¼ do total) são adquiridos no próprio estado, cuja cidade de

Jardim de Piranhas obtém destaque. O monopólio de fornecimento de matéria-prima

210

é objeto de relações de poder e se dá por meio das interações espaciais entre Ceará

e Rio Grande do Norte. A saber, a firma supracitada, localizada em Fortaleza, possui

filial em Jardim de Piranhas e é representante por uma das oligarquias políticas locais.

Os demais estados da região Nordeste citados foram, de maneira decrescente

de acordo com os respectivos percentuais: Paraíba (11%), Sergipe (5%), Pernambuco

(4%) e Bahia (2%). Em que pese a parcela desses estados ser mais residual, entre os

quatro, a Paraíba, que assim como o Ceará é contígua ao Rio Grande do Norte,

apresenta maior expressão, onde João Pessoa é a cidade com o maior número de

referências.

Em seguida, outros 14% das menções vem da região concentrada, sendo 6%

de São Paulo e de Santa Catarina, cada, e 2% do Rio Grande do Sul. Aqui, há a

proeminência da atuação e importadoras localizadas na região, as quais, além de

deter um maior poder de liquidez, contam territorialmente com um potencial logístico

que permite a interlocução de fluxos internacionais mais constantes em comparação

com as demais áreas do país. A presença da China (2%), único lugar situado fora do

Brasil entre as menções, endossa essa perspectiva. Depreendemos, desse modo, que

esse agrupamento espacial corresponde ao fluxos das matérias-primas sintéticas,

cuja produção internacional é mais intensiva.

As formas utilizadas para transporte dos bens intermediários dos locais de

aquisição até o Seridó Potiguar são principalmente a partir da contração de frete, em

equilíbrio quanto aos contratantes (Gráfico 47): 43% dos casos contratados pela

própria empresa (compradora), e em 38% dos casos contratados pela empresa

vendedora. Em menor número, estão os deslocamentos por meio de veículos

próprios: em 12% dos casos a empresa vendedora se responsabiliza pelo transporte

e em 5% as próprias empresas compradoras realizam o deslocamento. Com uma

frequência de apenas 2%, estão os casos que não se encaixam em nenhuma das

alternativas anteriores.

211

Gráfico 47: Principais formas de transporte da matéria-prima utilizadas.

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Um panorama completamente distinto da aquisição de bens intermediários foi

observado quanto ao consumo produtivo de máquinas e equipamentos. Para esse

conjunto de dados, coletamos informações relativas aos principais locais de origem

dos bens de produção e de realização de manutenção dos mesmos (Quadro 13). De

maneira análoga ao caso acima, cada questão possui uma combinação particular de

respostas

Quadro 13: Principais locais de origem/aquisição de máquinas e equipamentos, e

suas respectivas formas de manutenção.

PRINCIPAIS LOCAIS DE ORIGEM DAS MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS (Citação livre)

Locais Freq.

SP SÃO PAULO 22 Americana 22

São Paulo 2

RN RIO GRANDE DO NORTE 15 Jardim de Piranhas 15

SC SANTA CATARINA 2 Brusque 2

PR PARANÁ 1 Apucarana 1

ESTADOS 40

TOTAL 4

MUNICÍPIOS 42

TOTAL 5

5%

12%

43%

38%

2%Veículo da própria empresa(compradora)

Veículo da empresavendedora

Frete contratado pelaprópria empresa(compradora)

Frete contratado pelaempresa vendedora

NDA

212

MANUTENÇÃO

Alternativas Freq.

A Realizada na própria cidade, por profissionais locais 38

B Realizada na própria cidade, por profissionais de outras localidades

4

C Realizada em outra cidade do RN 0 D Realizada fora do estado 0 NDA 2 TOTAL 44

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Neste caso, excetuando-se o Rio Grande do Norte, com 38% das citações, os

fluxos são oriundos exclusivamente da região concentrada, com 62% do total. O

estado que se destaca na emissão dos equipamentos é São Paulo, como podemos

observar no Mapa 06, com 55%, seguido por Santa Catarina (5%) e Paraná (2%),

como coadjuvantes. Por seu turno, a manutenção se realiza majoritariamente nos

próprios municípios, com um consumo produtivo residual dos serviços de profissionais

de outras localidades.

5.2 Circulação e consumo consuntivo

Os espaços da troca e da distribuição

Para conjecturar os fluxos gerados pelo consumo consuntivo, adotamos

técnicas de pesquisas análogas as utilizadas em relação ao consumo produtivo. Os

dados primários (entrevistas e formulários) mensuram as formas de comercialização

e distribuição das mercadorias (Quadro 14), assim como as maneiras de transportes

utilizadas para os deslocamentos (Quadro 15). No tocante às coletadas em fontes

secundárias, lançamos mão das informações produzidas por SEBRAE/RN (2008)

sobre vendas, publicidade e formas de pagamento, e IPEA (2016) sobre distâncias

relativas e custos médios de transporte.

213

Quadro 14: Formas de comercialização/distribuição dos artigos.

COMERCIALIZAÇÃO

Formas Freq.

A Através de atravessadores 25 B Em feiras 7 C De maneira ambulante 5

D Em loja própria 17

E Sob demanda, para o comércio atacadista 36

F Sob demanda, para o comércio varejista 36 TOTAL 127

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

Com base nas informações do Quadro 14, nós podemos inferir que o circuito

espacial de produção de artefatos domésticos do Seridó Potiguar atinge de maneira

mais ou menos uniforme os dois setores do comércio, a saber atacadista (29%) e

varejista (29%). Essa soma (58%) também revela que boa parte da produção é

realizada sob demanda, reforçando a interdependência das instâncias e o papel

central da troca, que, por seu turno, presume circulação.

É possível auferir, outrossim, a atuação de atravessadores (20%) como salutar

para circulação e distribuição das mercadorias produzidas na região. Estes agentes

desempenham uma intermediação entre produção propriamente dita e consumo

consultivo, diminuindo as margens de lucro das firmas. Eles atuam em diversas

modalidades, as quais podem ser resumidas, entre infinitas situações intermediárias,

em dois níveis de capitalização, seguindo a classificação dos circuitos da economia

urbana dos países subdesenvolvidos (SANTOS, 2008d).

Em menor número, estão os agentes do sistema superior. Esse grupo é

composto por atacadistas que realizam distribuição em escala nacional, os quais

geralmente adquirem volumes consideráveis de mercadorias no Seridó Potiguar, a

preços bem abaixo da média do mercado, e as revendem para agentes do comércio,

os quais, por seu turno, as disponibilizarão ao consumidor final. Dessa maneira, o

valor ulterior do produto torna-se extremamente fragmentando, sobretudo tendo em

vista que esses agentes atuam de maneira indireta e, em geral, delegam o transporte

a terceiros, ajudando a explicar os percentuais de deslocamento através de frete

(Quadro 15) de 61%, contratados em 20% pelas empresas vendedoras e 41% pelos

atravessadores.

214

Quadro 15: Formas de transporte utilizadas na distribuição dos artigos.

DESLOCAMENTO

Alternativas Freq.

A Veículo próprio 19 B Veículo da empresa compradora 7 C Frete contratado pela própria empresa 13 D Frete contratado pela empresa compradora 27 NDA 1 TOTAL 67

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

No nível inferior, composto por uma capilaridade bem mais expressiva,

observamos um quadro distinto de agentes, conforme descreveram os entrevistados:

“Eles compravam essas mercadoria [sic], botavam em um carro e iam... Saiam com

15-20 pessoas num carro para vender [...]” (PANOS DE CHÃO, 2016, p.5).

E tem os que... O pessoal, principalmente, compra e sai vendendo de porta em porta. Aquele que os caminhões vão com os vendedores, os corretor [sic]. Que a gente vê lá em Natal, na praia. Eles pegam a mercadoria e sai vendendo em todo o Brasil. (MANTAS, 2016, p. 4)

Essa forma de distribuição persiste desde os primórdios da produção têxtil no

Seridó Potiguar, onde comumente proprietários de caminhões de pequeno porte

adquirem mercadorias nas tecelagens locais e recrutam um número considerável de

indivíduos para percorrer várias cidades, sobretudo capitais, do Nordeste e do Brasil

como um todo. Os chamados “corretores” realizam a comercialização de forma

ambulante em locais de grande circulação de pessoas, tais como destinos turísticos,

bairros populares etc. Além da distribuição em coletividade, ainda há uma gama

variada de agentes individuais, popularmente conhecidos por “sacoleiros”, que

adquirem produtos na região, notadamente para realizar a venda do tipo de porta em

porta.

A influências dos agentes supracitados é tão expressiva, que o canal de

troca/distribuição por meio de loja própria é extremamente baixo, 13% do total da

frequência de alternativas. Segundo o SEBRAE/RN (2008), esse percentual é menos

significativo ainda, apenas 6% das unidades produtivas de Jardim de Piranhas

possuem departamento de vendas, evidenciando um uso do território marcadamente

circunscrito à produção propriamente dita.

215

Como prova desse baixo percentual, temos um número insignificante de firmas

que realizam publicidade para promover suas mercadorias. Segundo o mesmo

levantamento, 88% das unidades produtivas não realiza nenhuma forma de

divulgação de seus produtos. Entre as 12% que lançam mão de algum instrumento

publicitário, 8% realizam divulgação através da internet, 3% por meio de panfletos e

apenas 1% utilizam o rádio (Gráfico 48).

Gráfico 48: Formas de divulgação das unidades produtivas de Jardim de Piranhas-

RN aos seus clientes.

Fonte: Adaptado de SEBRAE/RN, 2008.

Uma das formas mais residuais de circulação das mercadorias apresentada foi

a troca/distribuição a partir de feiras (5%), revelando que de fato a união vertical dos

lugares tende a prevalecer, sobretudo se pensando os nexos horizontais

preexistentes. Neste sentido a Feira da Pedra (Fotografia 38), localizada no município

de São Bento-PB, é localmente relevante.

88%

8%

3% 1%

Não Realiza Internet Panfletos Rádio

216

Fotografia 38: Aspecto geral da Feira da Pedra em São Bento (PB), 2010.

Fonte: José Erimar dos Santos, 2010.

Segundo Santos (2010, p. 133), que a estudou sob a perspectiva dos circuitos da

economia urbana:

Trata-se de um espaço físico localizado mais especificamente às margens da feira livre de São Bento, tradicionalmente realizada, periodicamente, a cada semana, reservada exclusivamente para a comercialização de redes de dormir, panos de pratos, tapetes, bolsas, colchas de cama, conjuntos para cozinha e banheiro, mantas, dentre outros produtos, fabricados pela indústria têxtil local e regional.

Inferimos, dessa maneira, que esse é um dos espaços de troca cuja atração de

pessoas oriundas de outras localidades, com o intuito de consumir ou comercializar

produtos têxteis nas proximidades ainda é significativa. Podemos auferir, no entanto,

que os espaços não contíguos a região são preponderantes na esfera do consumo

consuntivo.

Os espaços do consumo final

No ato da coleta, inquirimos os entrevistados, por meio de citação livres, em

relação aos principais locais de destino das mercadorias (Quadro 16). Devido à forte

presença da figura do atravessador, muitas vezes o representante das unidades

produtivas não conseguiam nos precisar quanto a realização do consumo final.

Nesses casos, nós sugeríamos que fosse citado os locais de origem dos agentes que

realizam essa transição, ou locais de comercialização tais como feiras.

217

Quadro 16: Principais locais de destino das mercadorias.

PRINCIPAIS LOCAIS DE DESTINO (Citação livre)

Locais Freq.

RN RIO GRANDE DO NORTE 19 Natal 7

Jardim de Piranhas 7

Caicó 6

Serra Negra do Norte 2

Tenente Ananias 1

São João do Sabugi 1

São Fernando 1

São José do Seridó 1

Currais Novos 1

PB PARAÍBA 12 São Bento 10

Catolé do Rocha 2

Vista Serrana 1

Brejo do Cruz 1

Paulista 1

Aparecida 1

CE CEARÁ 7 Fortaleza 6

PE PERNAMBUCO 6 Recife 5

Caruaru 1

SP SÃO PAULO 5 São Paulo 3 Osasco 1 Diadema 1

MA MARANHÃO 4 São Luiz 1

PA PARÁ 4 Castanhal 2

MG MINAS GERAIS 3 Belo Horizonte 3

AP AMAPÁ 2 Macapá 2

BA BAHIA 2 Feira de Santana 1

GO GOIÁS 1 PI PIAUÍ 1 TO TOCANTINS 1 Araguaína 1

ESTADOS 67

TOTAL 13

MUNICÍPIOS 71

TOTAL 28

Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

218

Segundo o SEBRAE/RN (2008, p. 59), a produção de artefatos domésticos do

município de Jardim de Piranhas integra-se, na esfera do consumo, a todo o Brasil. O

levantamento ainda destaca que em relação as unidades produtivas do município:

37% comercializam seus produtos na própria cidade; 33% produzem para outros

municípios do Rio Grande do Norte; 58% produzem para outros estados da região

Nordeste; 45% produzem para outras regiões do Brasil; e 2% exportam suas

mercadorias para fora do país.

Os dados obtidos por nós em campo apontam mais ou menos na mesma

direção. O consumo consuntivo das mercadorias produzidas pelo circuito espacial da

produção de artefatos têxteis para uso doméstico no Seridó Potiguar mostra-se

notoriamente pulverizado, não atingindo apenas a região Sul (Mapa 07). Em que pese

essa região integrar a sua dinâmica no que se refere aos fluxos de bens de produção.

Isso nos autoriza asseverar que o consumo consuntivo é bem mais espraiado

territorialmente se comparado ao de natureza produtiva, mais seletivo.

De acordo com o nosso trabalho de campo, onde o consumo consuntivo possui

mais capilaridade no Nordeste, 76% do total. O Rio Grande do Norte abriga o maior

percentual (28%), seguido por seus vizinhos Paraíba (18%) e Ceará (10%). Com

exceção de Sergipe e Alagoas, todos os demais estados da região integram o circuito:

Pernambuco (9%), Maranhão (6%), Bahia (3%) e Piauí (2%).

Em seguida, destacam-se as regiões Norte e Sudeste, ambas com 11% do

montante das citações. No Norte, o destino das mercadorias mais frequente é o Pará,

com 6%, seguido pelo Amapá (3%) e por Tocantins (2%). No Sudeste, são verificados

São Paulo, o estado fora do Nordeste com maior expressão (7%), e Minas Gerais

(4%). Goiás (1%) foi o único a ser lembrado da região Centro-Oeste.

219

Mapa 07: Destino da produção.

Fonte: Regionalização do IBGE, 2017. Elaboração cartográfica: Igor Rasec Azevedo, Luiz Eduardo Perônico e Cleanto Carlos da Silva.

220

5.3 Cooperações, conflitos e agentes da circulação

Ao tratar do nosso conceito-chave, isto é, o território à luz da noção de território

usado, mencionamos as horizontalidades e verticalidades. Gostaríamos,

entrementes, de aqui ratifica-las sucintamente, por ora as utilizando para a

estruturação de nossa abordagem, enquanto categorias analíticas.

A noção de norma está estreitamente relacionada a dois vetores que resultam,

respectivamente, de uma ordem local e de uma ordem global. O embate entre ambas

é característico, atualmente, de uma tendência à união vertical dos lugares. Santos

(2012), explica que nessa união dos vetores de cunho vertical são sempre geradores

de desordem, isto é, entrópicos. Ao atingirem os subespaços, esses vetores de

modernização, criam uma ordem que lhes é favorável.

Todavia, as horizontalidades constituem, exatamente, as respostas locais aos

processos incidentes, de origem vertical. Existe a possibilidade dos lugares se

(re)fortalecerem horizontalmente, reconstruindo, a partir das ações localmente

constituídas, uma base que dê suporte à ampliação da coesão entre a sociedade civil,

em serviço do interesse coletivo.

Estes elementos estão intimamente relacionados às formas do acontecer

solidário, objeto da explicação de Santos (2005). Para o autor, trata-se, no período

atual, de um acontecer homólogo e complementar (relacionados à horizontalidade) e

um acontecer hierárquico (relacionado à verticalidade).

No caso do homólogo e do complementar o cotidiano é compartilhado através

de regras, sobretudo, consuetudinárias, criadas e reformuladas localmente. Já se

tratando do hierárquico o cotidiano é imposto de fora. Em todos os casos, há sempre

o embate entre forças de natureza centrípetas e centrífugas.

As instituições, relacionadas aos demais agentes, possuem um papel

determinante na composição dos círculos de cooperação no espaço. As instituições

públicas de cunho jurídico-político – tais como cartórios, órgãos de licenciamento

ambiental etc. – são crucias para se pensar como que em cada situação se configura

o papel das normas e o caráter interventor e regulador do Estado, por exemplo.

Além dos agentes da circulação das mercadorias, destacam-se nessa esfera

os agentes da circulação do dinheiro, das ideias e das informações. Na circulação do

dinheiro, desse modo, no que tange as finanças, o papel dos Bancos para a produção

221

de artefatos têxteis realizada no Seridó Potiguar é salutar, sobretudo pensando-se a

presença de agências do Bando do Brasil, Caixa Econômica, Banco do Nordeste e

Bradesco na região.

A abertura de crédito é um fator preponderante para os pequenos produtores,

devido, conforme observou Santos (1978), a necessidade de liquidez do circuito

inferior pela questão dos constantes reinvestimentos. Afinal de contas, é

extremamente necessário a aquisição de bens de serviços, tanto de ordem material,

maquinário, peças, transporte, infraestrutura etc., como da ordem imaterial, serviços

técnicos, consertos etc, no sentido de manter constante a produção e assegurar o

grau, maior ou menor, de competitividade das empresas, imersas em um mercado

voraz.

Os entrevistados enfatizaram algumas facilidades relativas ao acesso ao

crédito e às formas de financiamento, possibilitadas por políticas recentes: “[...] é uma

taxa de juros atraente e fácil de ser feita: [...] você compra qualquer coisa com o cartão

BNDES, como você compra uma camiseta. [...]” (PANOS DE PRATO, 2016). No

entanto, a conta jurídica da empresa deve mostrar algumas garantias: “[...] A empresa

tem que ter nome, a empresa tem que ter licenciamento. Ela não chega na minha

porta: ei, eu vim deixar um cartão aqui pra você! [...]” (PANOS DE PRATO, 2016).

Todavia, a questão da inadimplência é um dos entraves apresentados: “[...]

Hoje, devido à inadimplência, a gente está com dificuldade de angariar esses recursos

[...]” (TAPETES, 2016). Este fator tem diminuído a perenidade do fomento, uma vez

que, além do gerenciamento precário dos recursos por parte dos proprietários das

empresas, não se apresenta uma regularidade na procura, haja vista as oscilações e

flutuações do mercado afetarem, de imediato, a base da pirâmide produtiva, isto é, os

pequenos agentes.

Do ponto de vista técnico-científico-informacional, os Institutos Federais de

Educação Tecnológica, bem como instituições de ensino profissionalizante ou apoio

técnico do sistema S – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

(SEBRAE), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço Social da

Indústria (SESI) e corporações associadas – também se correlacionam ao circuito

espacial da produção têxtil.

Existem, ainda, variadas formas de organização política coletiva – por exemplo,

entre firmas ou produtores individuais, como é o caso das Associações e

Cooperativas, ou entre trabalhadores-operários, como a Associação dos Tecelões de

222

Jardim de Piranhas – ASISTEX. Essas agremiações, em geral, buscam aglutinar

coesão não só produtiva, mas também social, acotovelando-se, na maioria das vezes

sem muito sucesso, com as formas e as práticas políticas e econômicas engessadas

no lugar.

223

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ramo têxtil se distribui de maneira heterogênea no espaço geográfico do Rio

Grande do Norte, materializando-se por meio de um uso produtivo relativamente

abrangente, expressando que a atividade é uma das mais significativas para o

conjunto da Indústria no estado. Esse fenômeno é tributário de manifestações

estruturais, mas também apresenta particularidades funcionais e espaciais em sua

distribuição concreta.

A confecção do vestuário representa aproximadamente 75% do ramo têxtil

global e se distribui no território potiguar de maneira dispersa. Em contraposição, a

produção de artefatos têxteis é mais circunscrita funcional e territorialmente,

concentrando-se sobretudo no Seridó Potiguar e na Região Metropolitana de Natal.

Por meio da autocorrelação espacial, utilizando técnicas de estatística descritiva, e

refletindo sobre esses padrões de distribuição, identificamos a presença de 6

tipificações de ramos referentes ao circuito espacial da produção têxtil no Rio Grande

do Norte

1) As grandes marcas do vestuário, onde se destacam os municípios de Natal e

Parnamirim.

2) A produção de bonés, onde se destacam os municípios de Caicó e Serra Negra

do Norte, localizados na porção ocidental do Seridó.

3) A produção de artefatos domésticos, com destaque para o município de Jardim

de Piranhas, também localizado na porção ocidental do Seridó.

4) A produção de uniformes para a cadeia do petróleo, como desdobramento

direto da atividade extrativa petrolífera, cujo município de Mossoró

desempenha um papel de centralidade.

5) As facções do vestuário, onde se destacam os municípios de Jardim do Seridó,

São José do Seridó, Acari, Parelhas, Cerro Corá e Cruzeta, localizados na

porção oriental do Seridó do Potiguar; além dos municípios de Santa Cruz

(localizado na microrregião Borborema Potiguar), Ceará Mirim e São José de

Mipibu (localizados na microrregião de Macaíba), Vera Cruz (no Agreste

Potiguar) e São Francisco do Oeste (localizado na microrregião de Pau dos

Ferros).

224

6) A produção corporativa de artefatos domésticos e insumos têxteis, onde se

destacam os municípios de São Gonçalo do Amarante e Macaíba, localizados

na grande Natal.

As tipologias 1 e 6 (Grandes marcas do vestuário e Multinacionais da produção

de artefatos têxteis) são a expressão direta da inserção do Rio Grande do Norte no

circuito internacional da produção têxtil.

As corporações do ramo de artefatos domésticos e insumos têxteis atuam como

fornecedoras, ao mercado externo, de bens intermediários, e no mercado interno

distribuem artigos de cama, mesa e banho, voltados aos estratos de renda médio e

alto. Analogamente, o setor têxtil do vestuário de uso corporativo direto engloba

grandes marcas nacionais, tais como Hering e Riachuelo, as quais atuam nas escalas

nacional e internacional a partir da comercialização de bens de consumo.

O uso corporativo indireto, por seu turno, contempla a tipologia das facções do

vestuário, as quais dependem quase que exclusivamente da demanda de seus

serviços pelas Multinacionais, que por razões estratégicas terceirizam a maior parte

de sua produção propriamente dita, objetivando preocupar-se com a concepção, com

as informações, design etc. Portanto, o uso do território pelas facções é um uso

alienado, enquanto o das multinacionais é alienígena, isto é, controlado de fora a partir

de aspirações estranhas ao lugar.

O que agrupa estas tipologias, somando-se à da fabricação de fardamento para

a cadeia do petróleo, são as solidariedades organizacionais. É o uso produtivo do

território gerido e gestado pelas grandes corporações, as quais fazem do Rio Grande

do Norte, nesse sentido, um território nacional da economia internacional.

Em uma direção quase que contrária, estão as Bonelarias e a produção de

artefatos domésticos, as quais têm em comum a vinculação, sobretudo em sua

evolução pretérita, por solidariedades orgânicas, no sentido da coabitação, das

contiguidades do território e dos acúmulos desiguais do tempo.

No âmbito do circuito espacial da produção de artefatos têxteis, percebemos

que o uso do território do Seridó Potiguar está circunscrito sobremaneira a esfera da

produção propriamente dita, cuja inserção ao meio geográfico atual é periférica, tanto

do ponto de vista da produção quanto do consumo. Isso ocorre devido a ação dos

agentes hegemônicos sobre os circuitos espaciais produtivos, os quais “escolhem” as

atividades produtivas e as áreas mais rentáveis para atuar, exercendo o controle,

225

sobretudo financeiro, da produção e do espaço geográfico. Por outro lado, o

“desinteresse” possibilita a coexistência periférica dos demais circuitos.

Do ponto de vista da produção propriamente dita, o uso do território pelo circuito

espacial da produção de artefatos têxteis no Seridó Potiguar é pautado em índices

baixos de capitalização tecnológica, utilizando-se de máquinas com produtividade

expressivamente menor, se comparadas ao sistema técnico nacional e internacional,

exigindo, por seu turno, um uso intensivo de mão da obra barata e pouco qualificada,

abundante nos municípios estudados, em jornadas extenuantes de trabalho.

Conforme elucidou Marx (2013), assim como uma determinada produção

conforma seu respectivo consumo, as formas determinadas de consumo conformam

as respectivas produções. Diante disso, a referida atividade também torna-se viável

por corresponder a formas periféricas de consumo, haja vista que busca atender a

uma determinada classe da sociedade que, por seu turno, também é periférica. A

circulação, enquanto processo, constitui o movimento empreendido entre as

instâncias da produção e pode ser compreendida a partir dos fluxos gerados pelas

esferas do consumo, a saber produtiva e consuntiva.

Os fluxos de matéria-prima são originários principalmente da região Nordeste,

cujo percentual atinge 82% dos casos, levando-nos a inferir a materialização de um

monopólio no fornecimento desses bens, circunscrito sobretudo entre a região do

Seridó Potiguar e o Ceará. Essa forma de controle do uso produtivo do território é

nutrida e gestada por relações clientelísticas que se perpetuam através de uma

simbiose entre o poder econômico e o poder político na escala local, por meio da qual

determinados agentes se apropriam de uma parcela expressiva da produção

objetivando comanda-la a seu talante, tolhendo a autonomia e cerceando os

horizontes dos indivíduos e das firmas que deles são dependentes ou tributários.

Um panorama completamente distinto foi observado quanto ao consumo

produtivo de máquinas e equipamentos. Nesse caso, os fluxos são oriundos

exclusivamente da região concentrada, com 62% do total, com destaque para o

município de Americana em São Paulo, um dos principais produtores do país,

emanando sempre os capitais fixos descartados pela evolução técnica de suas firmas.

A região também possui proeminência na emissão de bens intermediários,

principalmente tecidos de fibra sintética, adquiridos por importadoras, que, além de

deterem um maior poder de liquidez, dispõem territorialmente de um potencial

226

logístico relativamente maior, por meio do qual a interlocução de fluxos internacionais

se faz mais constante em comparação com as demais áreas do país.

Em contraposição, o consumo consuntivo das mercadorias produzidas pelo

circuito espacial da produção de artefatos têxteis para uso doméstico no Seridó

Potiguar é notoriamente pulverizado, sobretudo no Nordeste, e, com menor

expressão, nas regiões Norte e Sudeste, não atingindo apenas a região Sul. Não

obstante essa região integrar a sua dinâmica no que se refere aos fluxos de bens de

produção. Isso nos autoriza asseverar que o consumo consuntivo é bem mais

espraiado territorialmente se comparado ao de natureza produtiva, o qual se

apresenta mais seletivo.

Em face do caráter extremamente desigual da sociedade brasileira, o território

serve de abrigo para uma gama diversificada de consumos, os quais buscam

satisfazer as necessidades, isto é, as demandas, reais ou criadas, dos indivíduos que

a compõem. Dessa maneira, a classe social com menor poder aquisitivo torna-se

menos exigente quanto a qualidade e mais preocupada com o acesso às mercadorias,

satisfeitos por meio de preços relativamente mais baixos dos bens com menor valor

agregado, como nos casos daqueles produzidos no Seridó Potiguar. Ademais, a

demanda pelo segmento doméstico é bastante perene devido sua capilaridade e

popularidade.

Podemos depreender, outrossim, que o processo de circulação inerente ao

circuito espacial da produção de artefatos domésticos no Seridó Potiguar é

completamente alienada. As firmas locais detêm uma capacidade relativa de

produção, todavia, por ocuparem posições subalternas no território, não detêm poder

de mercado suficiente para realizar o controle da circulação das mercadorias.

Esta ação, portanto, possui um caráter extremamente vertical uma vez que está

a cargo de atravessadores, os quais desempenham uma intermediação entre a

produção propriamente dita e o consumo final, diminuindo a margens de lucro das

firmas locais. Esses agentes realizam, em geral, a distribuição das mercadorias de

forma ambulante, sobretudo nas grandes cidades, em lugares de grande circulação

de pessoas, tais como espaços de consumo das metrópoles regionais (comércios de

rua e praia, mercados públicos, feiras diversas etc), destinos turísticos, bairros

periféricos entre outros.

A união vertical dos lugares na esfera da circulação, desse modo, se sobrepõe

em grande medida aos nexos horizontais coadunados ao uso produtivo do território.

227

É possível inferir que os agentes da produção propriamente dita ainda não

assimilaram as transformações correntes no circuito espacial da produção de artefatos

têxteis no Seridó Potiguar. A interlocução entre as unidades produtivas das diferentes

tipologias do circuito têxtil global presentes na região é praticamente inexistente. A

percepção do vestuário como potencial consumidor dos substratos têxteis fabricados

na vizinhança, por exemplo, é sobremaneira tímida.

Consideramos que a baixa coesão social e produtiva existente entre os agentes

do ramo têxtil global no Seridó Potiguar se dá sobretudo pela ausência, em certa

medida proposital, do Estado, enquanto promotor de políticas públicas, e em

detrimento do desenvolvimento da própria atividade na região. As iniciativas dos

poderes públicos insistem em pensar os ramos isoladamente, e não o território usado

como um todo, legando muitas vezes seus papeis aos interesses corporativos.

O caso do vestuário é sintomático. Em face das materialidades e virtualidades

acumuladas na região pelo circuito espacial da produção têxtil, as facções de costura

logram atualmente um crescimento considerável, sobretudo amparado por uma

estratégia territorial de desindustrialização e terceirização de atividades, denominada

Pró-Sertão. Trata-se de uma espécie de política de empresa, travestida de política de

Estado, cujo discurso aventa a interiorização do uso produtivo do território potiguar

como projeto de desenvolvimento a partir da geração de emprego e renda na região

do Seridó Potiguar. Ao contrário do que se têm propalado, compreendemos que a

mesma consiste na apropriação alienígena dos instrumentos estatais (sobretudo

fiscais) para captação dos recursos do território por meio da exploração de seus

agentes, que nele encontram abrigo.

Nesta perspectiva, ações pontuais, pensando parcelas do território

isoladamente, podem atenuar os entraves sociais mas não o superarão em definitivo

enquanto perdurar o paradigma produtivo atual, de dimensão planetária. Inexiste outro

caminho possível se não o da superação definitiva da atual insubordinação do modelo

econômico, em detrimento do modelo cívico, cuja centralidade é o cidadão, isto é, a

garantia da cidadania.

Vale salientar, todavia, que, mormente ao seu caráter paliativo, as políticas

realizadas nos últimos 13 anos no âmbito do governo federal – tais como o incentivo

ao crédito, as políticas de transferência de renda, a expansão da concessão de capital

de giro às micro e pequenas empresas, as políticas de expansão, quantitativa e

qualitativa, da educação tecnológica e profissionalizante, ambas conjecturando

228

agentes historicamente marginalizados – trouxeram consigo avanços substanciais, os

quais não se restringem ao progresso técnico mas vislumbram a cidadania como um

todo.

Esperamos, enfim, com o presente trabalho, ter contribuído com a produção do

conhecimento teórico-metodológico e empírico sobre os circuitos espaciais

produtivos, de maneira específica, vislumbrando a compreensão acerca da dinâmica

socioambiental e da reestruturação do território, de modo geral. Aspiramos,

igualmente, ter colaborado, através do nosso modo particular de análise, com o

entendimento do uso produtivo do território do Seridó Potiguar, em especial dos

municípios de Caicó, Currais Novos e Jardim e Piranhas.

229

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237

APÊNDICES

238

APÊNDICE I – ÓFICIO ENVIANDO AOS AGENTES ENTREVITADOS

239

APÊNDICE II – MODELO DO FORMULÁRIO

240

241

APÊNDICE III – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA APLICADA COM O

PRIMEIRO BLOCO DE AGENTES

242

243

APÊNDICE IV – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA APLICADA COM O

SEGUNDO BLOCO DE AGENTES