Guilherme Mayrink Barandas Dissertacao completa.pdf
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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico
Faculdade de Ciências Médicas
Guilherme Mayrink Barandas
Caracterização de Bacilos Gram-Negativos Não Fermentadores não
usuais em bacteremias pelas técnicas de Matrix-Assisted Laser
Desorption Ionization–Time of Flight Mass Spectrometry,
Sequenciamento de DNA e método fenotípico convencional
Rio de Janeiro
2013
Guilherme Mayrink Barandas
Caracterização de Bacilos Gram-Negativos Não Fermentadores não usuais em
bacteremias pelas técnicas de Matrix-Assisted Laser Desorption Ionization–
Time of Flight Mass Spectrometry, Sequenciamento de DNA e Método
fenotípico convencional
Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-graduação em Microbiologia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Microbiologia Médica Humana.
Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth de Andrade Marques
Rio de Janeiro
2013
CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CB-A
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial
desta dissertação, desde que citada a fonte.
_____________________________________ _____________________
Assinatura Data
B225 Barandas, Guilherme Mayrink. Caracterização de Bacilos Gram-Negativos Não Fermentadores não
usuais em bacteriemias pelas técnicas de Matrix-Assisted Laser Desorption Ionization– Time of Flight Mass Spectrometry, sequenciamento de DNA e método fenotípico convencional / Guilherme Mayrink Barandas. – 2013.
94f. Orientadora: Elizabeth de Andrade Marques. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Faculdade de Ciências Médicas. Pós-graduação em Microbiologia.
1. Infecção hospitalar. 2. Infecções bacterianas gram-negativas. 3.
Complexo Burkholderia cepacia. I. Marques, Elizabeth de Andrade. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Ciências Médicas. III. Título.
CDU 616-022.1
Guilherme Mayrink Barandas
Caracterização de Bacilos Gram-Negativos Não Fermentadores não usuais em
bacteremias pelas técnicas de Matrix-Assisted Laser Desorption Ionization–
Time of Flight Mass Spectrometry, Sequenciamento de DNA e método
fenotípico convencional
Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-graduação em Microbiologia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Microbiologia Médica Humana.
Aprovada em 30 de julho de 2013.
Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth de Andrade Marques
Faculdade de Ciências Médicas - UERJ
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Profa. Dra. Mara Lúcia Penna Queiroz
Faculdade de Ciências Médicas - UERJ
_____________________________________________
Prof. Dr. Robson de Souza Leão
Faculdade de Ciências Médicas - UERJ
_____________________________________________
Profª. Dra. Ana Paula D´Alincourt Carvalho-Assef
Fundação Oswaldo Cruz
_____________________________________________
Profª. Dra. Maria Cristina Maciel Plotkowsi – Suplente
Faculdade de Ciências Médicas - UERJ
Rio de Janeiro
2013
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu sobrinho Felipe e seu irmãozinho ou irmãzinha
que está para chegar. Nada dá maior sensação de renovação e de esperança que a
chegada de uma nova vida. Que vocês façam do mundo um lugar melhor.
AGRADECIMENTOS
À minha família. Palavras jamais refletirão o tamanho do orgulho e gratidão
que tenho pelo convívio, amor e educação. Sou o que sou hoje por que tenho os
melhores exemplos. Em cada passo dado vocês são o Norte, e cada nova conquista
é com vocês, por vocês e para vocês!
À minha orientadora, Profa. Beth, pelo exemplo, pela orientação, pela
liderança, pelo conhecimento transmitido, pelas broncas e por me desafiar com um
projeto ambicioso que, por vezes, pensei ser demais. Obrigado por acreditar em
mim.
À querida companheira diária de laboratório Márcia Jones, que com amor de
mãe me ensinou boa parte do que precisava para desenvolver este trabalho. Muito,
mas muito obrigado mesmo, pelo tempo, disponibilidade, paciência e alto-astral
infinitos. Não “tá” fácil para niguém, mas com você junto facilita muito!
À todos os amigos do Laboratório 2, pela fundamental ajuda e conhecimento
trocado, além do convívio e risadas compartilhadas.
Aos amigos da turma de mestrado de 2011, por tornar a rotina mais
agradável, pelos momentos de descontração e companheirismo, e pelos almoços,
nos quais o que menos importava era a qualidade da comida!
Aos professores do Departamento de Microbiologia, Imunologia e
Parasitologia da UERJ, pelo estímulo à construção do conhecimento tanto quanto
pelo conhecimento passado.
Aos técnicos do Departamento de Microbiologia, pelo importante apoio com
os mais de 3 mil tubos, centenas de placas e tantos outros insumos usados.
Ao Prof. Rodolpho e Denise, do Laboratório de Genômica do Departamento
de Bioquímica do IBRAG/UERJ, pela ajuda com o sequenciamento e por estarem
sempre disponíveis em seu laboratório.
Aos membros LAPIH/FIOCRUZ, em especial à Drª. Ana Paula e a querida
amiga Polyana, pela gentileza na cooperação com o PFGE. Muito obrigado pelo
auxílio!
Ao Pedro Peloso, do Laboratório Richet, pela imensa presteza na colaboração
com o MALDI-TOF MS.
E a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para o
desenvolvimento deste trabalho.
Procure ser uma pessoa de valor antes de procurar ser uma pessoa de sucesso; o
sucesso é consequência do valor.
Albert Einstein
RESUMO
BARANDAS, Guilherme Mayrink. Caracterização de Bacilos Gram-Negativos Não Fermentadores não usuais em bacteremias pelas técnicas de Matrix-Assisted Laser Desorption Ionization–Time of Flight Mass Spectrometry, sequenciamento de DNA e método fenotípico convencional. 2013. 92f. Dissertação (Mestrado em Microbiologia) – Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
Alguns Bastonetes Gram-negativos não fermentadores (BGNNF) costumam ser considerados clinicamente pouco significantes e a sua implicação em infecções é subestimada. Devido à similaridade fenotípica, mudanças taxonômicas, baixa reatividade bioquímica e limitações nos bancos de dados em sistemas comerciais, a identificação de BGNNF é frequentemente equivocada, culminando com a denominação de diferentes micro-organismos apenas como “BGNNF”, por falta de melhor diferenciação. O objetivo desse estudo foi avaliar, por métodos fenotípico convencional, proteômico e molecular, a identificação de BGNNF incomuns isolados em hemoculturas de pacientes atendidos em um hospital universitário no Rio de Janeiro. Foram selecionadas 78 amostras isoladas de hemoculturas caracterizadas no laboratório clinico como BGNNF para a identificação por sequenciamento dos genes 16S RNA e recA, por um conjunto amplo de testes fenotípicos manuais e por MALDI-TOF MS. Os micro-organismos predominantes na amostragem foram genotipados pela técnica de eletroforese em gel de campo pulsado (PFGE). Pelo sequenciamento do gene 16S rRNA, a maioria das amostras (n=31; 40%) foi incluída no gênero Burkholderia, seguido de Pseudomonas stutzeri (10%) e Delftia acidovorans (4%). Os demais isolados foram agrupados em 27 diferentes espécies. O sequencimento do gene recA identificou a maioria das espécies de Burkholderia como Burkholderia contaminans (n=19; 24%). Os testes fenotípicos incluíram as 31 amostras apenas no CBc e para as outras 47 amostras, a concordância com o sequenciamento do gene 16S rRNA em nível de espécie foi de 64% (n=30) e apenas em gênero a concordância foi de 17% (n=8). A análise comparativa geral da identificação por MALDI-TOF MS com o sequenciamento do gene16S rRNA mostrou que 42% (n=33) das 78 amostras foram concordantes em nível de espécie e 45% (n=35) apenas em gênero. Excluindo as amostras do CBc, houve um aumento da concordância em nível de espécie para 60%. As discordâncias parecem ser devido às diferenças nos perfis proteicos das amostras em relação às amostras-referência do banco de dados do equipamento e podem ser aprimorados com a atualização de perfis no sistema. A análise do polimorfismo genético de B. contaminans mostrou a ausência de um clone disseminado causando surto, além da provável origem ambiental das infecções. Os setores de nefrologia e hemodiálise contribuíram com maior número de pacientes com amostras positivas (5 pacientes e 9 amostras). Os grupos clonais BcoD e BcoE foram encontrados em pacientes assistidos no mesmo setor com diferença de quatro meses (BcoD, nefrologia) e 1,5 ano (BcoE, hemodilálise), entre as culturas, respectivamente. As discordâncias entre as técnicas ocorreram principalmente devido a dificuldade de identificação das espécies do CBc. Os BGNNF incomuns são de difícil caracterização independente da metodologia usada e nenhum método por si só foi capaz de identificar todas as amostras.
Palavras-chave: BGNNF. Complexo Burkholderia cepacia. Identificação fenotípica. Sequenciamento. MALDI-TOF MS.
ABSTRACT
Some nonfermenting Gram-negative Bacilli (NFGNB) are considered of low clinical significance, and their implication in infections is usually underestimated. Due to their phenotypic similarities, frequent taxonomic changes and low biochemical reactivity, as well as to limitations of bacterial identification commercial system databases, these NFGNB are frequently misidentified and are collectively referred to as “NFGNB group”, in the lack of a better differentiation. The aim of the present study was to evaluate the performance of the conventional phenotypic method, the proteomic matrix-assisted laser desorption ionization time of flight mass spectometry method (MALDI-TOF MS) and of molecular methods (16S RNA and recA gene sequencing) in the identification of 78 unusual NFGNB isolated from blood cultures of pacients treated at an university hospital in Rio de Janeiro. Clonality of the predominant species identified within these isolates was determined by pulsed-field gel electrophoresis (PFGE). By the 16S rRNA gene sequence analysis, most strains (n = 31; 40%) were included in the Burkholderia spp. followed by Pseudomonas stutzeri (n = 8; 10%), Delftia acidovorans (n = 3; 4%) and Stenotrophomonas maltophilia (n = 3; 4%). The remaining bacterial isolates were included in 27 different species. By the recA gene sequencing technique, most bacteria from the Burkholderia cepacia complex (BCC), samples were classified as Burkholderia contaminans (n=19; 24%). Phenotypic tests provided accurate identification of all 31 isolates included in the BCC by the 16S rRNA gene sequence analysis. For the other 47 samples, agreement of the results obtained with these two techniques in species and genus level identifications occurred in 30 (63,8%) and 17 samples (36,2%), respectively. The results obtained by the MALDI-TOF MS and 16S rRNA gene sequencing methods agreed at species and genus levels in 33 (42%) and 35 isolates (45%), respectively. When bacteria from the BCC were excluded from the analysis, the agreement between the two techniques at species level increased to 60%. Misidentification by the MALDI-TOF MS method may be due to differences in protein spectra between the samples and the reference strains in the equipment database. PFGE analysis of B. contaminans isolates revealed the absence of a disseminate clone causing an outbreak, and the probable environmental source of infections. The nefrology ang dialisis sectors contributed to the greatest number of patients with positive cultures (5 pacients and 9 isolates). Clones BcoD and BcoE were found in blood cultures of pacientes treated in a same sector with differences of 4 months (BcoD, nefrology) and 1.5 year (BcoE, dialisis). The misidentifications occurred mainly due to the hard differentiation of BCC species. Unusual NFGNB are of difficult characterization whatever the methodology used and no method alone was able to identify all the isolates.
Keywords: NFGNB. Burkholderia cepacia Complex. Identification. Sequencing. MALDI-TOF MS.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Aplicação de matriz HCCA em amostras inoculadas em uma placa do sistema MALDI-TOF MS ..............................................
43
Figura 2 – Fluxograma representando o processamento de amostras pelo sistema MALDI-TOF MS.............................................................
44
Figura 3 – Alinhamento de sequências das amostras de CBc com sequências de amostras padrão das 17 espécies do complexo.
50
Figura 4 – Distribuição das espécies do CBc em amostras de BGNNF identificadas por sequenciamento do gene recA........................
51
Figura 5 – Espectros proteicos de 4 amostras gerados pelo sistema
MALDI-TOF-MS: (A) A. xylosoxidans; (B) B. contaminans; (C) D. acidovorans; e (D) P. stutzeri.................................................
57
Figura 6 – Gel representativo dos padrões de PFGE para 13 amostras da espécie B. contaminans .............................................................
64
Figura 7 – Dendrograma considerando 85% de similaridade entre os perfis de PFGE obtidos de amostras de B. contaminans ....................................................................................................
65
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Compilação dos dados de três estudos de vigilância em bacteremias por BGNNF incomuns.............................................
19
Tabela 2 – Estudos de descrição das espécies do Complexo Burkholderia cepacia ………….........................................................................
21
Tabela 3 – Espécies de BGNNF identificadas por sequenciamento do gene codificador do rRNA 16S....................................................
48
Tabela 4 – Análise comparativa da identificação pelo método fenotípico em relação ao método molecular................................................
53
Tabela 5 – Índices de concordância da identificação de 78 amostras de BGNNF obtida no MALDI-TOF MS em relação ao método molecular.....................................................................................
54
Tabela 6 – Índices de concordância da identificação de 47 amostras de BGNNF (exceto CBc) obtida no MALDI-TOF MS em relação ao método molecular........................................................................
55
Tabela 7 – Índices de concordância da identificação das 31 amostras de Burkholderia spp. obtida no MALDI-TOF MS em relação ao método........................................................................................
55
Tabela 8 – Análise comparativa da identificação por MALDI-TOF MS em relação ao método molecular......................................................
58
Tabela 9 – Análise comparativa da identificação pelo método fenotípico e por MALDI-TOF MS em relação ao método molecular...............
61
Tabela 10 – Resultados de identificação incorreta por ambos os métodos fenotípicos em relação ao sequenciamento................................
63
Tabela 11 – Distribuição cronológica dos grupos clonais determinados por PFGE para a espécie B. contaminans encontrada nos pacientes atendidos nos diversos setores do HUPE..................
66
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ARDRA Amplified Ribosomal DNA Restriction Analysis
ATCC American Type Culture Collection
BGNNF Bastonetes Gram-negativos Não Fermentadores
BHI Brain Heart Infusion
BLAST Basic Local Alignment Search Tool
BTS Bacterial Type Standard
CHEF Contour-clamped Homogeneous Electrical Field
CLED Cystine Lactose Electrolyte Deficient
FDA Food and Drug Administration
HUPE Hospital Universitário Pedro Ernesto
ICS Infecção de Corrente Sanguínea
LABAC Laboratório de Bacteriologia
LPSN List of Prokaryotic names with Standing in Nomenclature
MALDI-TOF MS
Matrix Assisted Laser Desorption Ionization-Time of Flight
Mass Spectrometry
PCR Reação em Cadeia da Polimerase
PFGE Pulsed Field Gel Electrophoresis
PYR Pirrolidonil Arilamidase
rRNA Ácido Ribonucleico Ribossomal
SIM Sulfeto-Indol-Mobilidade
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UPGMA Unweighted Pair of Group Method of Arithmetic mean
UTI Unidade de Tratamento Intensivo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13
1 OBJETIVOS .................................................................................................. 30
1.1 Objetivo geral ............................................................................................... 30
1.2 Objetivos específicos .................................................................................. 30
2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................. 31
2.1 Seleção da amostragem ............................................................................ 31
2.2 Identificação fenotípica .............................................................................. 31
2.3 Identificação molecular de BGNNF por sequenciamento dos genes
16S rRNA e recA ..........................................................................................
38
2.3.1 Extração do DNA bacteriano por lise térmica .......................................... 38
2.3.2 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) .................................................. 39
2.3.3 Eletroforese em gel de agarose ................................................................. 39
2.3.4 Purificação do DNA ..................................................................................... 40
2.3.5 Reação de Sequenciamento ....................................................................... 40
2.3.6 Purificação, precipitação do DNA e análise .............................................. 41
2.4
2.5
Espectrometria de massa de proteínas pela metodologia de Ionização
por dessorção a laser assistida por matriz – tempo de voo - MALDI-
TOF- MS.........................................................................................................
Perfil de Fragmentação do DNA Cromossômico por Eletroforese em
Campo Pulsado (PFGE) ..............................................................................
42
45
2.5.1 Suspensão de células ................................................................................. 45
2.5.2 Preparação dos blocos de agarose (plugs) .............................................. 45
2.5.3 Digestão do DNA nos plugs de agarose ................................................... 46
2.5.4 Corrida eletroforética .................................................................................. 46
2.5.5 Coloração do gel de agarose e análise dos resultados do PFGE .......... 47
2.6 Aspectos éticos ........................................................................................... 47
3 RESULTADOS .............................................................................................. 48
3.1 Identificação molecular de BGNNF por sequenciamento dos genes
16S rRNA e recA ..........................................................................................
48
3.2 Identificação fenotípica de BGNNF............................................................. 51
3.3 MALDI-TOF MS ............................................................................................ 54
3.4 Comparação entre os resultados das identificações fornecidas pelas
metodologias fenotípica, molecular e MALDI-TOF-MS.............................
59
3.5 Tipagem das amostras de B. contaminans por PFGE ............................. 63
4 DISCUSSÃO ................................................................................................. 67
4.1 Identificação molecular e identificação fenotípica manual de BGNNF 68
4.2 MALDI-TOF-MS ............................................................................................ 73
4.3 Comparação entre os resultados das identificações fornecidas pelas
metodologias fenotípica, molecular e MALDI-TOF-MS ............................
78
4.4 Tipagem das amostras de B. contaminans por PFGE ............................. 79
5 CONCLUSÃO ............................................................................................... 82
REFERÊNCIAS.............................................................................................. 84
13
INTRODUÇÃO
Bacteremias
A circulação de bactérias no sangue define uma bacteremia. A presença
desses micro-organismos contaminando o tecido sanguíneo pode resultar em uma
infecção de corrente sanguínea (ICS), que pode ser classificada como silenciosa ou
subclínica, quando não há reflexos sintomáticos no paciente, ou ainda como sepse,
caracterizada por ser uma síndrome clinica complexa e potencialmente fatal. Em
casos extremos pode ocorrer o óbito por choque séptico, decorrente de reação
inflamatória sistêmica descontrolada, consequente a grande diminuição da pressão
sanguínea e falência múltipla de órgãos e sistemas. Os sintomas da sepse são
resultado da agressão dos microoganismos e da resposta inflamatória do
hospedeiro, e ocorrem quando a capacidade de remoção dos fagócitos é superada
pela taxa de multiplicação dos patógenos (ANVISA, 2004; ANVISA, 2009; Al Mohajer
& Darouiche, 2012). As bacteremias são geralmente causadas por um único agente
infeccioso, e raramente polimicrobianas. Podem ser transitórias, intermitentes ou
contínuas, de acordo com o mecanismo de entrada da bactéria na corrente
sanguínea. As bacteremias transitórias, com pequena duração, são as mais comuns
e ocorrem após pequeno trauma em tecido colonizado ou manipulação de tecido
infectado, tais como pequenos procedimentos médicos e odontológicos. Já as
intermitentes se manifestam em intervalos de tempo variados e estão geralmente
relacionados a processos infecciosos em outros sítios do corpo, como abscessos e
celulites. Quando resultantes de infecções intravasculares, do endocárdio ou de
dispositivos infectados (como cateteres) são denominadas contínuas (ANVISA,
2004).
As principais fontes de bacteremia são geralmente relacionadas a infecções
como meningites, pneumonias, peritonites e pielonefrites, bem como a entrada direta
de micro-organismos no sangue, via feridas cirúrgicas, acessos venosos, drenos e
outros equipamentos médicos e cirúrgicos contaminados, sendo as infecções
relacionadas a cateteres o exemplo mais notório (ANVISA, 2004; Al Mohajer, 2012).
As ICS no ambiente hospitalar geralmente são indicativas de eventos graves,
com letalidade atribuída em torno de 35%, prolongamento da internação hospitalar e
custos adicionais elevados por paciente (Hugonnet et al, 2004; Silva et al, 2006;
14
Leão et al, 2007). As culturas de sangue quando positivas permitem identificar uma
população de alto risco de morte, sendo a probabilidade de óbito durante a
internação 12 vezes maior que em pacientes com hemoculturas negativas (Silva et
al, 2006).
Uma tendência de aumento das ICS tem sido descrita nos últimos tempos,
especialmente pelo aumento do uso de recursos invasivos como cateteres (National
Nosocomial Infections Surveillance System, 1991; Weinstein et al, 1997; Diekema et
al, 2003). Apesar de extensa literatura internacional sobre ICS, sobretudo nas
últimas décadas, os estudos brasileiros ainda são escassos diante da demanda por
informação no assunto (Leão et al, 2007).
Bacteremia é uma das maiores causas de morbidade e mortalidade na
população em geral e em pacientes hospitalizados, representando 15% de todas as
infecções hospitalares. Afeta aproximadamente 1% dos pacientes hospitalizados,
com enorme impacto em seus prognósticos. Em países desenvolvidos, causa de 77
a 92 hospitalizações por 100,000 pessoas por ano, com mortalidades de 13 a 19%
dentro de 30 dias. Sua incidência tem aumentado ao longo dos últimos 15 anos
(Gales et al, 2005), sendo a 11ª maior causa de morte nos Estados Unidos da
América (EUA), atualmente (Heron, 2012). Entretanto, ainda há poucos estudos
sobre sua incidência ou tendências em países em desenvolvimento, embora tais
informações sejam essenciais ao planejamento do uso de recursos de prevenção,
controle e assistência a saúde (Kanoksil et al, 2013).
No Brasil, um país de dimensões continentais, de população heterogênea e
acesso desigual aos serviços de saúde, medidas para diminuir a prevalência de ICS
e a mortalidade associada, guiada por dados confiáveis, deveriam ser incluídas em
qualquer política nacional de saúde (Silva et al, 2004).
Portanto, é notória a importância do monitoramento diário dos laudos de
hemocultura, visto que informações armazenadas em bancos de dados dos
laboratórios clínicos podem ser usadas para gerar estimativas acerca desse tipo de
infecção na população. Porém, ainda são pouco aproveitados para tais fins,
tampouco para alimentar os sistemas de vigilância em saúde (Silva et al, 2006;
Kanoksil et al, 2013).
Micro-organismos associados a ICS
15
De acordo com uma pesquisa de vigilância microbiológica sobre ICS
nosocomiais em 49 hospitais dos EUA, ao longo de 7 anos, foi observada maior
incidência de ICS por bactérias Gram-positivas (65%) que por Gram-negativas (25%)
e fungos (9,5%) (Wisplinghoff et al, 2004) .
Em unidades de cuidado não intensivo, os principais agentes etiológicos
dessas infecções foram: Staphylococcus coagulase-negativo, responsáveis por
26,6% dos casos, seguidos por Staphylococcus aureus (23,7%), Enterococcus spp.
(9%), Candida spp. (7,9%), Escherichia coli (7,6%), Klebsiella spp. (5,5%),
Pseudomonas aeruginosa (3,8%), Enterobacter spp. (3,1%), Serratia spp. (1,3%) e
Acinetobacter baumannii (0,9%). Nas unidades de cuidados intensivos, esse perfil
epidemiológico apresentou pequenas mudanças, especialmente para algumas
bactérias Gram-negativas. Apesar de Staphylococcus coagulase-negativo (35,9%) e
Staphylococcus aureus (16,8%) figurarem como os principais causadores de ICS,
Candida spp. (10,1%) foi mais frequente que Enterococcus spp. (9,8%),
Pseudomonas aeruginosa (4,7%), Enterobacter spp. (4,7%), Klebsiella spp. (4%),
Escherichia coli (3,7%), Serratia spp. (2,1%) e Acinetobacter baumannii (1,6%)
(Wisplinghoff et al, 2004).
No Brasil, um estudo de vigilância conduzido entre os anos 2007 e 2010 em
16 hospitais traçou um perfil epidemiológico das ICS nosocomiais, e apontou que as
ICS foram causadas principalmente por bactérias Gram-negativas, responsáveis por
58,5% dos casos. Bactérias Gram-positivas e fungos incidiram sobre 35,4% e 6,1%
dos pacientes bacteriêmicos (Marra et al, 2011). Nos ambientes de cuidados não
intensivos, os mais frequentes causadores desse tipo de infecções foram
Staphylococcus aureus (17,9%), Klebsiella spp. (14,5%), Staphylococcus coagulase-
negativos (11,2%), Acinetobacter spp. (10%), Pseudomonas aeruginosa (7,9%),
Enterobacter spp. (6,4%), Candida spp. (3,9%), Serratia spp. (3,8%), Enterococcus
spp. (3,6%) e Proteus spp. (1,6%) (Marra et al, 2011). Nas unidades de
tratamento intensivo (UTI), ocorreu perfil microbiológico diferente: Staphylococcus
coagulase-negativos (16,6%), Acinetobacter baumannii (15,2%), Staphylococcus
aureus (12,8%), Klebsiella pneumoniae (11,8%), Pseudomonas aeruginosa (10%),
Candida spp. (7,4%), Enterobacter spp. (5,8%), Enterococcus spp. (5,5%), Serratia
spp. (3,2%) e Proteus spp. (1,8%) (Marra et al, 2011).
16
Nos Estados Unidos, a etiologia de bacteremias apresenta diferente
distribuição, com menores percentuais de enterobactérias de forma geral, com
Escherichia coli (5,6%), Klebsiella spp. (4,8%) Enterobacter spp. (3,9%) e Serratia
spp. (1,7%) figurando entre os mais comuns. Dentre as bactérias do grupo dos
Bastonetes Gram-Negativos Não fermentadores, P. aeruginosa (4,3%) e
Acinetobacter baumannii (1,3%) foram as apareceram em maior percentual
(Wisplinghoff et al, 2004).
A faixa etária dos pacientes também influencia no perfil microbiológico das
bacteremias. Em uma revisão de estudos de cobrindo mais de 4000 hemoculturas,
além dos micorganimos mencionados, foram encontrados Salmonella spp. (8%),
Streptococcus pneumoniae (9%) e Haemophilus influenzae (4%), juntos
responsáveis por 21% dos casos pediátricos de sepse (Downie et al, 2012).
Bacteremias por bastonetes Gram-negativos não fermentadores
Bastonetes Gram-negativos não fermentadores da glicose (BGNNF) são
ubíquos, ocorrendo principalmente na água e no solo, devido a sua capacidade de
metabolizar os mais diversos compostos. São também encontrados, embora mais
raramente, na microbiota humana, o que os torna um grupo de patógenos
vastamente distribuídos nos ambientes comunitário e hospitalar (Enoch & Ludlam,
2007; Yoshino et al, 2011). São considerados patógenos oportunistas e raramente
causam infecções em indivíduos saudáveis (Ladhani & Gransden, 2002; Gales et al,
2005; Özdemir et al, 2011; Hsu et al, 2011). Trata-se de um grupo extenso, que
compreende uma grande quantidade de gêneros como Pseudomonas,
Acinetobacter, Stenotrophomonas, Burkholderia, dentre outros, e mais uma
infinidade de espécies. (Enoch & Ludlam, 2007)
Condizentes com seu caráter oportunista, ameaçam majoritariamente
pacientes hospitalizados e já debilitados. Fatores predisponentes para ICS por
BGNNF são leucopenia, neutropenia, doenças malignas e imunossupressoras,
tratamento quimioterápico, antibioticoterapia de amplo espectro e uso de cateteres
intravasculares (Ladhani & Gransden, 2002; Detrait et al, 2008; Özdemir et al, 2011;
17
Garazi et al, 2012). Os BGNNF constituem um grupo de patógenos especialmente
importantes em indivíduos com Fibrose Cística (FC), doença de ordem
cromossômica responsável por um distúrbio nas secreções de glândulas exócrinas
ou produtoras de muco (Jacquier et al, 2011). Dentre as espécies de BGNNF nesses
pacientes destacam-se a Pseudomonas aeruginosa e o Complexo Burkholderia
cepacia (CBc), por sua associação com alta mortalidade e transmissibilidade.
Entretanto, os quadros são majoritariamente pulmonares e bacteremias são raras
(Zemanick, Sagel & Harris, 2011).
Possíveis fontes para aquisição de BGNNF no ambiente hospitalar incluem a
microbiota ambiental e normal humana, além dos equipamentos intravasculares de
terapia, fluido de diálise, sistemas de água, água destilada, ventiladores mecânicos,
nebulizadores e soluções antissépticas (Holmes, Snell & Lapage, 1977; Shigeta et
al, 1978; Oie et al, 2005). A mortalidade associada a contaminações dessa natureza
pode variar de 0% para produtos como gel de ultrassom e ranitidina até 49% para
nutrição parenteral e 56% para células vermelhas para transfusão, com uma média
de 11% quando considerados produtos sanguíneos, nutrição parenteral, drogas e
substâncias desinfetantes (Vonberg & Gastmeier, 2007).
Bacteremias sem complicações representam a forma clínica mais comum de
infecções por esses organismos, apesar de também serem observados casos
secundários a dispositivos intravasculares, pneumonias, peritonites, nefrites,
endocardites, osteomielites, artrites sépticas, empiema pulmonar, abscessos, dentre
outros. Meningites por BGNNF são mais raras e encontradas principalmente em
crianças (Aisenberg, Rolston & Safdar, 2004; Eom, Cheong & Kim, 2009; Lin et al,
2010).
ICS usualmente se apresentam como quadros de risco de morte, com
significativa morbidade e mortalidade – pelo estado fragilizado de saúde e pela
múltipla resistência a antibióticos comumente prescritos, que complicam a terapia
(Ladhani & Gransden, 2002; Hsu et al, 2011, Jacquier et al, 2011). Desde os anos
1990 é observado um aumento significativo de episódios bacterêmicos por BGNNF,
paralelamente ao aumento de pacientes imunossuprimidos ou em uso crônico de
cateteres intravasculares, o que pode representar um desafio terapêutico e atraso na
administração de terapia antimicrobiana adequada (Ladhani & Gransden, 2002; Lin
et al, 2010; Gales et al, 2005; Fihman et al, 2012).
18
Predominam amplamente na literatura pesquisas sobre ocorrência dos
BGNNF mais comuns, notadamente P. aeruginosa e A. baumannii. Porém, são
escassos os dados sobre a ocorrência de outras espécies de BGNNF em
bacteremia.
Em um trabalho de vigilância em bacteremias por BGNNF incomuns (exceto
P. aeruginosa), realizado na Espanha entre 1991 e 2000 por Vidal e colaboradores,
Pseudomonas putida e o grupo Alcaligenes-Achromobacter foram detectados em
14% das amostras cada um. Por ordem descrescente de frequência, seguiram
Acinetobacter johnsonii e Burkholderia spp. (ambos com 13% cada), Pseudomonas
fluorescens (9%), Pseudomonas stutzeri (8%), Ralstonia pickettii (6%), Comamonas
spp., Pseudomonas oryzihabitans (5% cada) e Sphingomonas paucimobilis (4%).
Outros BGNNF foram isolados dos 9% dos pacientes restantes (Vidal et al, 2002).
Em outro estudo de vigilância conduzido por Gales e colaboradores, com
abrangência latino americana no período de 1997 a 2002, foi observada maior
ocorrência de Burkholderia spp. responsáveis por 44% das bacteremias por BGNNF
incomuns, acompanhado por Achromobacter spp. e Ralstonia picketti (14% cada),
Chryseobacterium spp. (5%), Alcaligenes spp. (3%) e ainda 21% de outros BGNNF
incomuns (Gales et al, 2005). Neste estudo, foram considerados BGNNF incomuns
os não pertencentes às espécies P. aeruginosa, A. baumannii e S. maltophilia.
Mais recentemente, Jacquier e seu grupo publicaram uma pesquisa de
caráter semelhante com amostras de BGNNF (excetuadas A. baumannii e P.
aeruginosa) obtidas de dezembro 2008 a maio de 2009, em nove hospitais na
França. Os autores detectaram um predomínio de Pseudomonas oryzihabitans e
Acinetobacter junii, cada um destes responsáveis por 15% das hemoculturas
positivas estudadas seguido de Acinetobacter lwoffi (12%) e Pseudomonas spp.
(8%). Varios outras espécies foram encontardas em percentuais menores (Jacquier
et al, 2011). Nesta análise também foram desconsideradas as amostras de S.
maltophilia incluídas no estudo.
Na tabela 1 estão compilados todos os dados dos trabalhos supracitados.
19
Tabela 1: Compilação dos dados de três estudos de vigilância em bacteremias por BGNNF incomuns.
Micro-organismo Vidal et al., 2002 Gales et al., 2005 Jacquier et al., 2011
Achromobacter spp. 14%
Alcaligenes-Achromobacter (grupo) 14%
Achromobacter xylosoxidans 4%
Acinetobacter spp. 13%
Acinetobacter johnsonii 4%
Acinetobacter junii 15%
Acinetobacter lwoffii 12%
Acinetobacter radioresistens 4%
Alcaligenes sp. 3% 4%
Brevundimonas diminuta 4%
Burkholderia spp. 13%
Burkholderia cepacia (complexo) 44%
Burkholderia gladioli 4%
Comamonas spp. 5%
Chryseobacterium spp. 5%
Cupriavidus pauculus 4%
Elizabethkingia meningoseptica 4%
Ochrobactrum anthropi 4%
Pseudomonas spp. 8%
Pseudomonas fluorescens 9%
Pseudmonas stutzeri 8% 4%
Pseudomonas luteola 4%
Pseudomonas mossellii 4%
Pseudomonas oryzihabitans 5% 15%
Pseudomonas putida 14% 4%
Ralstonia pickettii 6% 14%
Sphingomonas paucimobilis 4%
Outros 9% 21%
20
Os poucos estudos que relatam casos de bacteremias por BGNNF incomuns
consideram diferentes conjuntos de micro-organismos como “BGNNF incomuns” e
utilizam diferentes metodologias para a identificação, tornando difícil a compilação
de dados em uma forma única e padronizada. De toda forma, existem relatos de
cerca de 10 casos causados por B. vesicularis (Shang et al, 2011), 68 casos por
Chryseobacterium indologenes (Lin et al, 2010b, Chou et al, 2011) e 20 por
Sphingomonas paucimobilis (Ryan & Adley, 2010), geralmente ligados a pacientes
previamente debilitados.
Bacteremia pelo Complexo Burkholderia cepacia (CBc)
O CBc é um grupo de espécies de BGNNF intimamente relacionadas,
tipicamente ambientais, extremamente similares genética e bioquimicamente
(Vandamme et al., 1997). Seu extenso genoma (7,5 - 8,5 Mb) confere características
fenotípicas que dificultam sua classificação em espécies bem definidas(Vandamme
e Dawyndt, 2011).
Burkholderia cepacia foi primeiramente isolada por Walter Burkholder, um
microbiologista e patologista botânico na década de 1940, que reportou, à época,
uma doença em bulbos de cebola, propondo o nome Pseudomonas cepacia para o
agente etiológico (Burkholder, 1950). Somente em 1992, após estudos de homologia
de DNA em espécies do gênero Pseudomonas, algumas espécies foram transferidas
para um novo gênero, Burkholderia, em homenagem ao pesquisador que as
descreveu (Vandamme e Dawyndt, 2011). O gênero compreende atualmente 74
espécies, segundo o List of Prokaryotic names with Standing in Nomenclature
(LPSN)1.
O sequenciamento do gene recA, que codifica uma recombinase essencial
para os sistemas de reparo e recombinação do genoma, é atualmente o método de
referência utilizado para a tipificação das espécies do CBc. O gene codificador do
rRNA 16S, apesar do uso difundido para identificação molecular bacteriana, é
1 Disponível do endereço eletrônico da LPSN: <http://www.bacterio.cict.fr/b/burkholderia.html>, acessado em 10/06/2013.
21
limitado para a identificação em nível de espécie, visto a gigantesca similaridade em
suas sequencias de nucleotídeos. Como alternativa, o gene recA foi escolhido, por
seu alto poder discriminatório na biologia molecular de bactérias tão proximamente
relacionadas (Mahenthiralingam et al., 2000).
Hoje, o CBc é composto por 17 espécies denominadas como demonstradas
na tabela a seguir, de acordo com autor e ano de descrição ou inclusão no CBc.
Tabela 2: Estudos de descrição das espécies do Complexo Burkholderia cepacia.
Espécie do CBc Referência(s)
1 B. cepacia Vandamme et al., 1997
2 B. multivorans Vandamme et al., 1997
3 B. cenocepacia Vandamme et al., 1997
4 B. stabilis Vandamme et al., 1997
5 B. vietnamiensis Vandamme et al., 1997
6 B. dolosa Vermis et al., 2004
7 B. ambifaria Coenye et al., 2001
8 B. anthina Vandamme et al., 2002
9 B. pyrrocinia Vandamme et al., 2002
10 B. ubonensis Yabuuchi et al., 2000; Vanlaere et al., 2008
11 B. latens Vanlaere et al., 2008
12 B. diffusa Vanlaere et al., 2008
13 B. arboris Vanlaere et al., 2008
14 B. seminalis Vanlaere et al., 2008
15 B. metallica Vanlaere et al., 2008
16 B. lata Vanlaere et al., 2009
17 B. contaminans Vanlaere et al., 2009
22
O CBc consiste de um grupo de microrganimos de grande importância
em infecções pulmonares em pacientes com FC e raramente associado a infecção
sistêmica nesse grupo. Todavia, é um grupo de patógenos pouco conhecidos em
populações não portadoras de FC, apesar de terem sido relatados casos de
bacteremias em indivíduos não-fibrocísticos, quase sempre associados a surtos.
Nesse contexto, assim como outros BGNNF, atingem pacientes previamente
debilitados, imunossuprimidos ou ainda em diálise, e estão amplamente distribuídos
no ambiente. Portanto, o isolamento de espécies do CBc em espécimes clínicos
pode sugerir contaminação de origem ambiental (Magalhães et al, 2003; Gómez et
al, 2008; Christiansen, 2011). Vonberg e Gastmeier, em revisão bibliográfica
recente, encontraram 15 relatos na literatura de infecções hospitalares por CBc, com
diferentes origens de contaminação, como toalhas, soluções desinfetantes e líquido
de diálise (Vonberg & Gastmeier, 2007).
Na literatura, também há relatos de surtos em pacientes com e sem FC, nos
quais foi considerada a ocorrência de contaminação cruzada entre pacientes
(Holmes et al,1999; Siddiqui et al,2001; Agodi et al, 2002).
Os fatores de risco mais significantes para o desenvolvimento de bacteremias
por CBc são: dois ou mais procedimentos broncoscópicos, traqueostomia ao início
da infecção por CBc, uso de cateter venoso central, doença renal que requeira
diálise e cirurgia abdominal recente (Bressler et al, 2007).
A gravidade da infecção pelo CBc, em particular quando em ICS, se deve à
sua virulência, à delicada situação do hospedeiro e à sua notória resistência a
múltiplos antimicrobianos e agentes desinfetantes. À vista disso, é crescente a
preocupação com CBc enquanto agentes patogênicos em bacteremias (Saika et al,
2002; Woods et al, 2004; Ibarguren et al, 2011).
Um estudo conduzido em 2006, três hospitais brasileiros localizados no Rio
de Janeiro (um universitário, um particular e um público), encontrou 21 casos de
bacteremias por CBc, dos quais 71% foram confirmados microbiologicamente. O
restante foi interpretado como sepse clínica. A investigação da existência de uma
possível origem comum das bacteremias revelou tratar-se de frascos de bromoprida
contaminados pelo patógeno em questão, contaminação esta comprovada por
cultura laboratorial do contaminante. Após a notificação, a ANVISA retirou o produto
do mercado e o número de casos de bacteremias por CBc reduziu drasticamente
(Martins et al, 2010).
23
A investigação de 33 casos de ICS por CBc em um hospital universitário na
Espanha, nos anos de 1993 a 2009, mostrou a ocorrência de dois diferentes surtos:
um de 9 casos, em 1994 e outro de 12 casos, em 2006. Foram investigados também
casos esporádicos de ICS por CBc. Todos os pacientes envolvidos nos surtos
fizeram uso de antibiótico no mês prévio à ocorrência de bacteremia ou durante
mesma, enquanto 67% dos casos esporádicos fizeram uso de antimicrobianos no
mês anterior ao registro de bacteremia. Outros dados mostraram que 67% dos
pacientes dos surtos e 92% dos casos esporádicos apresentavam comorbidades
como diabetes mellitus, neoplasias, transplantes e cirrose hepática, indicando a
importância desses patógenos quando acometem pacientes com doenças de base.
Nesse estudo, as maiores fontes de bacteremia, dentro dos surtos ou nos casos
esporádicos, foram cateteres, secreções respiratórias e infecção aguda de ferida.
Todavia, só houve mortalidades durante os surtos – 14% (Ibarguren et al, 2011).
As constantes mudanças taxonômicas no CBc e a descrição de novas
espécies ,tão intimamente relacionadas, podem dificultar a construção de um perfil
epidemiológico adequado sobre a ocorrência de infecções por esse grupo de
bactérias. Há apenas cinco anos, foram descritas sete novas espécies do CBc, as
últimas apenas em 2009, nomeadamente Burkholderia lata e Burkholderia
contaminans, antes pertencentes a um grupo denominado Taxon K (Vanlaere et al,
2009).
De toda forma, bactérias desse grupo tem sido isoladas de espécimes
clínicos, como escarro de pacientes com FC e amostras ambientais, como água,
solo, raízes, de animais e produtos de uso doméstico ou de cuidados pessoais
(Miñán et al, 2009, Martina et al, 2013). Recentemente, foi reportado um surto de
ICS por B. contaminans originado por toalhas contaminadas, que resultou, em 4
pacientes, na evolução para sepse (Martin et al, 2011). Na literatura aparece,
também, a descrição de um caso de sepse biliar por B. contaminans após a
realização de colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (Ohji et al, 2013).
Na prática laboratorial, e até mesmo em muitas publicações cientificas, as
espécies do CBc são tratadas de maneira unificada,como um grupo, apesar de
estudos taxonômicos moleculares revelarem características epidemiológicas e
potencial patogênico distintos entre as espécies (Coenye et al, 2001).
24
Identificação de BGNNF
A caracterização laboratorial de ICS é feita a partir da realização da cultura de
amostras de sangue (hemocultura). Para obtenção e teste destas amostras, são
utilizadas técnicas e metodologias especiais, que possibilitam uma detecção precisa,
tomando todas as precauções para minimizar o número de hemocultivos
contaminados (Silva et al, 2006).
Recomenda-se coletar, por punção venosa, duas ou três amostras por
episódio bacterêmico, de forma a se facilitar o isolamento de um possível agente
etiológico do quadro infeccioso ou detecção de um contaminante em até 95% dos
casos. As amostras podem ser processadas por metodologias manuais ou
automatizadas, sendo estas últimas, atualmente, plenamente difundidas pelos
hospitais brasileiros, embora com maior custo por apresentarem melhores resultados
em menor tempo e com menor risco de contaminação (ANVISA, 2004).
O sangue é um material nobre em que qualquer crescimento microbiano deve
ser valorizado. Há então a possibilidade de um contaminante externo à corrente
sanguínea do paciente gerar uma falsa positividade para ICS. Esse fenômeno é
denominado pseudobacteremia. Suspeita-se de pseudobacteremia quando um
conjunto de hemoculturas positivas ocorre com um micro-organismo incomum ou
quando as características microbiológicas não são consistentes com os sinais
clínicos. Possíveis causas incluem má assepsia na coleta de sangue do paciente;
contaminação nos fracos de hemocultura, insumos e meios de cultura
microbiológicos; erros na execução das técnicas de preparo e processamento das
amostras no laboratório clínico. Dados confiáveis sobre esses episódios são muito
difíceis de serem encontrados, mas especula-se que contaminantes possam ser
responsáveis por até 50% das hemoculturas positivas e 11% de surtos falsos. Os
BGNNF são um grupo particularmente frequente em pseudobacteremias, por se
tratar de organismos amplamente distribuídos no ambiente (Jumaa &
Chattopadhyay, 1994; Noskin et al, 2001; Eom, Cheong & Kim, 2009).
A rotina de hemocultura na maioria dos laboratórios clínicos atualmente
emprega equipamentos automatizados, como os sistemas Bactec (Beckton
Dickinson), BacT/Alert e Vital (bioMerieux), baseadas em métodos colorimétricos,
25
fluorescentes ou de pressão (ANVISA, 2004). A identificação de agentes etiológicos
de bacteremias é mais comumente realizada por métodos fenotípicos,
automatizados ou não. Alguns dos exemplos mais conhecidos para BGNNF incluem
metodologias manuais, como a semeadura em uma série de meios escolhidos de
acordo com a estrutura ou necessidade do laboratório, ou em kits comerciais
contendo uma miniaturização de um conjunto de provas específicas, como o API 20
NE (bioMerieux), BBL Crystal (Bekcton Dickinson), EPM-MILI-CITRATO (NewProv) e
Kit NF (Probac). Dentre os sistemas automatizados e disponíveis comercialmente no
Brasil, temos os sistemas Vitek-2 (bioMerieux), Phoenix (Beckton Dickinson) e
MicroScan (Siemens) que testam uma série de substratos pré estabelecidos em
escala reduzida e em menor tempo (O’Hara, Weinstein & Miller, 2003; Jacquier et al,
2011).
As características microbiológicas e epidemiológicas de P. aeruginosa e de A.
baumannii estão vastamente descritas, tornando sua identificação facilitada.
Todavia, pouca informação ainda está disponível sobre os outros BGNNF, por vezes
considerado clinicamente pouco significante. Dessa forma, sua implicação em
infecções hospitalares pode ser subestimada pelos frequentes erros na identificação
por métodos fenotípicos empregados em laboratórios clínicos. De fato, devido à
similaridade fenotípica, muitas mudanças taxonômicas, sua baixa reatividade
bioquímica e limitados bancos de dados em kits comerciais e sistemas
automatizados, a identificação de BGNNF incomuns é complexa, pouco confiável e
por vezes equivocada. Por representar um desafio na microbiologia clinica, com
frequência diferentes micro-organismos com características epidemiológicas e de
resistência a antimicrobianos são referidos apenas como BGNNF, por falta de
melhor diferenciação (Bosshard et al 2006; Zbinden et al, 2007; Ryan & Adley, 2010;
Fihman et al, 2012).
Para sobrepor as limitações supracitadas, foram desenvolvidas metodologias
baseadas no genótipo microbiano, como o sequenciamento dos genes 16S rRNA,
considerado atualmente como padrão ouro na identificação da maioria dos micro-
organismos, e recA, considerado referência na identificação de espécies do CBc.
Esses métodos podem atingir índices de precisão de até 89-92%, comparados a 53-
87% e 54-75% dos sistemas de identificação fenotípica Vitek-2 e API 20NE,
respectivamente. No entanto, técnicas moleculares ainda são pouco acessíveis, e
por serem onerosas, não são utilizadas na rotina da maioria dos laboratórios
26
clínicos. Cabe, no entanto, ressaltar que alguns já utilizam métodos moleculares, em
geral para sequencimento de trechos do gene do 16S rRNA. (Bosshard et al 2006;
Zbinden et al, 2007; Jacquier et al, 2011)
Outras técnicas moleculares representam avanços na identificação de
BGNNF. A reação em cadeia da polimerase (PCR) é um método rápido, sensível e
eficaz quando direcionada para sítios genômicos intrínsecos a determinadas
espécies bacterianas, como blaOXA-114-like de Achromobacter xylosoxidans, blaOXA-
258-like de Achromobacter ruhlandii e blaOXA-51-like de A. baumannii. Porém, ainda
não é uma metodologia amplamente difundida nos laboratórios clínicos por seu
custo elevado frente ao das técnicas tradicionais (Turton et al, 2006; Turton et al,
2011; Papalia et al 2013).
A análise de restrição do DNA ribossomal amplificado (amplified ribosomal
DNA restriction analysis - ARDRA) é mais uma alternativa ao sequenciamento.
Nesta, se amplifica o gene 16S rRNA e posteriormente realiza-se a digestão com
enzimas de restrição. Tem sido utilizada na identificação de Inquilinus spp.,
Pandoraea spp., Acinetobacter spp., S. maltophilia e outros BGN-NF (Vaneechoutte
et al., 1995; Segonds et al., 1999; Ribbeck-Busch et al., 2005).
Apesar da vasta aplicação de métodos moleculares nos últimos tempos, a
identificação fenotípica dependente de culturas permaneceu na rotina laboratorial
até mesmo nos laboratórios mais modernos. Por sua simplicidade, é improvável que
métodos baseados no fenótipo do organismo desapareçam da prática clínica num
futuro próximo. Recentemente, um novo método baseado em proteômica tem se
mostrado promissor nesse cenário: a espectrometria de massa pelo tempo de voo e
dessorção/ionização a laser assistida por matriz – MALDI-TOF MS. (Patel, 2013)
O conceito do uso de espectrometria de massa para identificar bactérias foi
proposto nos anos 1970. Com a invenção do MALDI-TOF-MS apenas nos anos
1980, feito premiado com o prêmio Nobel, a identificação proteômica de organismos
passou a ser possível. Apenas nos anos 1990 foi possível o desenvolvimento das
bases de dados de espectros proteicos de referência, e apenas nos últimos anos a
tecnologia ficou disponível para comercialização (Melmann et al, 2008; Seng et al,
2009; Patel, 2013).
O MALDI-TOF MS, método automatizado e capaz de processar grandes
volumes de amostras, consegue identificar bactérias e fungos, a partir de apenas 1
colônia, com precisão estimada superior a 90%. Oferece um grande potencial para a
27
identificação rotineira de bactérias de forma mais rápida (6-8,5 min. / amostra) e
precisa, com menores custos comparado as metodologias fenotípicas hoje
empregadas – cerca de 20% do custo em relação ao sistema Vitek-2 e 23% quando
comparado ao sistema API, por exemplo (Degand et al, 2008; Seng et al, 2009;
Bizzini et al, 2010; Jacquier et al, 2011; Marko et al, 2012).
Os protocolos mais simples envolvendo essa metodologia consistem na
aplicação de um esfregaço a partir de uma colônia microbiana em um dos espaços
de uma placa-alvo de MALDI-TOF MS, seguido ou não de uma etapa de extração de
proteínas com ácido fórmico. Os esfregaços são, então, cobertos por uma matriz,
que tem como função auxiliar na dessorção e ionização das proteínas, quando
energizadas por um laser de gás nitrogênio. As proteínas ionizadas são então
medidas quanto a sua massa pelo tempo que levam para atravessar um tubo
vacuolizado – as menores o fazem antes das maiores – atingindo um detector de
íons, que registra o perfil de proteínas de cada amostra, gerando um espectro
proteico. Cada espectro proteico é confrontado, pelo software do aparelho, com
diversos espectros de referência das mais variadas espécies e cepas microbianas,
que estão cadastrados em sua base de dados. Feita essa análise, o sistema aponta
as identificações mais prováveis, baseadas na similaridade desses perfis proteicos,
juntos de suas porcentagens ou índices de confiabilidade (Patel, 2013).
O estudo do perfil de proteínas celulares gerado por MALDI-TOF MS tem
mostrado resultados sólidos para identificação espécie-específica de amostras
clínicas, incluindo os BGNNF incomuns. Uma pesquisa sobre a eficácia de MALDI-
TOF-MS na identificação de 187 BGNNF incomuns apresentou resultados de 100%
de precisão em nível de espécie para Acrhomobacter xylosoxidans (n=24),
Pseudomonas stutzeri (n=4) e S. maltophilia (n=72), a despeito de 0% para
Psychrobacter phenypiruvicus (n=1), Roseomonas mucosa (n=1) e Shewanella
algae (n=1). Para a identificação de amostras do CBc, a precisão foi de 78%,
utilizando uma sub-base de dados específica de espectros proteicos de referência
para aprimorar a eficácia (distribuição BGNNF). Em outro estudo similar, sobre a
sensibilidade do método para identificação de diferentes espécies do CBc –
Burkholderia cepacia (n=12), Burkholderia cenocepacia (n=29), Burkholderia stabilis
(n=12) e Burkholderia vietnamiensis (n=5) – houve identificação correta em nível de
espécie em todos as amostras analisados (Lambiase et al, 2012).
28
A implementação de algumas modificações nas fases pré e pós analíticas é
capaz de aprimorar o desempenho global desta metodologia. Esfregaços mais
densos e cobertos por ácido fórmico mostraram resultados equivalentes ou
superiores a outras condições de aplicação das amostras. Além disso, a otimização
dos pontos de corte nos índices de confiabilidade dos resultados aumentou a
precisão da identificação em 7% para enterobactérias e em 4% para BGNNF,
quando comparados aos pontos de corte sugeridos pelo fabricante do sistema (Ford
& Burnham, 2012).
O principal fator limitante à identificação microbiana por MALDI-TOF-
MS é a possível ausência do espectro proteico da bactéria correspondente em sua
base de dados. Contudo, é possível aprimorar a sensibilidade do método com o
cadastramento de novos perfis proteicos pelos operadores do sistema, elevando sua
eficácia. Melmann e colaboradores, ao utilizarem uma base de dados com 248
espectros proteicos de cepas de referência, abrangendo 37 gêneros, avaliaram com
sucesso 80 amostras clínicas relevantes. Os autores demonstraram a ótima
reprodutibilidade do método, mesmo com o uso de diferentes meios de cultura e
equipamentos (Melmann et al, 2008; Melmann et al, 2009).
Outras limitações do MALDI-TOF MS passam pelo alto custo do instrumento,
a incapacidade de prover informações sobre a suscetibilidade a antimicrobianos, a
necessidade de disponibilidade de colônias microbianas isoladas para o teste, a
ocasional necessidade de repetição de testes, variação das bases de dados e não
diferenciação de organismos intimamente relacionados. Além disso, os órgãos
regulatórios de vigilância sanitária, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) e o United States Food and Drug Administration (FDA) ainda não
validaram seu uso em laboratórios clinicos (Patel, 2013).
Apesar dessas limitações, o MALDI-TOF MS tem o potencial para substituir
técnicas de identificação microbiana convencionais para a maioria dos
microrganismos isolados em laboratório de microbiologia clínica, por ser uma técnica
de simples execução, rápida e confiável. O custo das análises diminuirá com o
avanço da tecnologia e aumento no consumo de reagentes. Há também a
possibilidade futura de identificação em nível de cepa ou sorotipo e determinação de
perfis de resistência antimicrobiana em minutos. Todas essas características, aliadas
a aprimoramentos adicionais na preparação da amostra e disponibilidade de bases
de dados específicas para a identificação de microrganimos de relevância clínica
29
contextualizadas epidemiologicamente, deverão tornar esta metodologia uma
referência em laboratórios clínicos nos próximos anos (Seng et al, 2009; Bizzini et al,
2010).
A grande dificuldade da identificação de BGNNF incomuns é de importância
notória na Microbiologia Clínica, quaisquer sejam as metodologias empregadas.
Visto que pouco ainda se conhece sobre esse assunto, esse estudo objetivou
contribuir para o conhecimento existente sobre a identificação desses micro-
organismos sob as metodologias de sequenciamento de 16S rRNA e recA,
identificação fenotípica manual e MALDI-TOF-MS.
30
1 OBJETIVOS
1.1 Objetivo geral
Avaliar diferentes metodologias para a identificação de BGNNF incomuns em
hemoculturas de pacientes atendidos no Hospital Universitário Pedro Ernesto, da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
1.2 Objetivos específicos
Identificar as espécies de BGNNF por sequenciamento dos genes rRNA 16S
e recA;
Identificar as espécies de BGNNF por método fenotípico convencional;
Identificar as espécies de BGNNF pelo método MALDI-TOF-MS;
Comparar o desempenho das três metodologias usadas para a identificação;
Analisar as relações de clonalidade das amostras de BGNNF com maior
ocorrência dentre a amostragem.
31
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Seleção da amostragem
Foram selecionados 78 amostras de BGNNF da coleção de culturas do
Laboratório 2 da Disciplina de Microbiologia e Imunologia – UERJ, provenientes de
hemoculturas de pacientes atendidos no Hospital Universitário Pedro Ernesto –
UERJ (HUPE) entre janeiro de 2008 a dezembro de 2011, previamente identificadas
pelo Laboratório de Bacteriologia do HUPE (LABAC) apenas em nível de grupo
como BGNNF. A partir dos registros do LABAC, foram coletados dados
referentes às amostras selecionadas, tais como data do exame, nome e matrícula do
paciente e setor onde esteve hospitalizado.
As amostras bacterianas foram estocadas em solução de leite desnatado a
10% (Skim Milk; Difco Laboratories, Detroit, Michigan, EUA) contendo glicerol a 20%
e mantidas a -70oC até a realização dos testes.
2.2 Identificação fenotípica
Uma alíquota das amostras em estoque foi reativada em caldo Luria-Bertani
(DIFCO, Hants, Inglaterra) sob agitação para facilitar a aeração, por 18 a 20 horas, a
352ºC. Seguiu-se o cultivo em agar Columbia (OXOID, Hampshire, UK), acrescido
de 5% de sangue de carneiro e em agar cisteína lactose eletrólito deficiente – CLED
(DIFCO) por 18-24 horas a 352ºC. Quando necessário, para avaliação quanto à
pureza e características das colônias bacterianas, as placas foram reincubadas por
mais 18-24 horas.
Após essa etapa, as amostras foram enriquecidas em agar Columbia
acrescido de 5% de sangue de carneiro e incubadas por mais 18-24 horas para
serem submetidas a um amplo conjunto de provas fenotípicas (Schreckenberger,
2007). Os testes se deram, em maioria, com incubação a 352ºC em aerobiose. As
exceções estão descritas de forma diferenciada nos testes relacionados abaixo.
32
Após 24h de incubação nessas condições, as seguintes provas foram
avaliadas:
Características morfo-tintoriais após coloração pelo método de Gram;
Detecção da produção de oxidase: uma alçada da amostra foi colocada
sobre papel filtro e então expostos ao reagente tetrametil-p-fenileno
diamina (INLAB, São Paulo, Brasil) solubilizado em água. A mudança
de cor da massa bacteriana para púrpura de 10 a 30 segundos após a
exposição ao reagente indicou produção de oxidase. Como controle
positivo foi usada a cepa P. aeruginosa ATCC 27853 e como controle
negativo A. baumannii ATCC 19606.
Produção de pirrolidonil arilamidase – teste PYR (Bombicino et al.,
2007): colônias foram colocadas sobre discos de papel filtro
impregnados com L-pirrolidonil-β-naftilamida previamente embebidos
em água. Após incubação à temperatura ambiente por 2 minutos,
adicionou-se uma gota do reagente p-dimetilamino-cinamaldeído
(PROBAC, São Paulo, Brasil). Resultados positivos apresentaram
mudança da cor do disco para um avermelhado, fruto da combinação
de p-dimetilamino-cinamaldeído com beta-naftilamida liberada pela
hidrólise do substrato contido no disco. Como controles positivo e
negativo, foram usadas as cepas Ralstonia picketti ATCC 27511 e
Burkholderia cepacia ATCC 17759, respectivamente.
Produção de β-galactosidase: colônias das amostras-teste foram
inoculadas em tubos contendo 1mL de água peptonada a 1% (ISOFAR,
Rio de Janeiro, Brasil) suplementado de o-nitrofenil-β-D-
galactopiranosídeo (Sigma-Aldrich, St. Louis, EUA), um análogo da
lactose que a enzima é capaz de quebrar, liberando como produto final
o-nitrofenol, de coloração amarela. Como controles foram usadas as
33
amostras B. cepacia ATCC 17759 (positivo) e P. aeruginosa ATCC
27853 (negativo).
Crescimento nos meios agar MacConkey e Salmonella-Shigella
(DIFCO) após semeadura e 24h de incubação a 352ºC. Foram
utilizadas as cepas P. aeruginosa ATCC 27853 e B. cepacia ATCC
17759 como controles positivo e negativo, respectivamente.
Após 48h de incubação nas mesmas condições também ocorreu a avaliação
das provas de:
Metabolismo Oxidativo/Fermentativo: as colônias-teste foram
incoculadas em profundidade em dois tubos contendo meio semisólido
OF segundo Hugh Leifson (Beckton Dickinson, Maryland, EUA)
acrescido de 1% de glicose (Sigma-Aldrich). A um dos tubos foi
acrescentado óleo mineral, para incubação em anaerobiose. Bactérias
não fermentadoras da glicose foram incapazes de utilizar a glicose no
tubo contendo óleo mineral (de fermentação), acidificando somente o
meio exposto ao ar, assim comprovando seu metabolismo oxidativo.
Resultados somente foram considerados negativos quando não houve
mudança no aspecto do meio após o período de incubação
supracitado. Como controle positivo do teste foi utilizado a cepa P.
aeruginosa ATCC 27853 e como controle negativo, a cepa S.
maltophilia ATCC 13637.
Utilização dos carboidratos lactose, manitol, maltose, sacarose e xilose
(Sigma-Aldrich): as amostras foram inoculadas de forma semelhante
ao teste supracitado em meio semisólido OF segundo Hugh Leifson
suplementado de 1% dos açúcares mencionados (exceto lactose,
usado em concentração de 10%). A utilização dos carboidratos pelos
micro-organismos resulta na acidificação do meio, mudando sua cor de
verde para amarelo. Caso contrário, este teste foi reavaliado a cada 24
34
horas por até 7 dias de incubação, quando foi confirmado o resultado
negativo.
Descarboxilação dos aminoácidos L-lisina, L-arginina e L-ornitina
(Sigma-Aldrich): uma alçada com inóculo denso de cada amostra foi
inoculada em tubos contendo meio de Moeller (Moeller’s
Decarboxylase Medium, DIFCO) suplementado de 1% de cada um dos
aminoácidos, além de um tubo sem aminoácido. A descarboxilação de
um aminoácido resultou na alcalinização do meio-base, com
mudandança de sua cor quando comparado ao tubo sem aminoácidos.
Os controles positivo e negativo para L-arginina foram P. aeruginosa
ATCC 27853 e B. cepacia ATCC 17759, respectivamente. Para L-
lisina, foram empregados os mesmos controles, porém de forma
inversa. Para L-ornitina, foram usados os controles Enterobacter
cloacae ATCC 13047 (positivo) e P. aeruginosa ATCC 27853
(negativo).
Redução de nitrato e produção de gás a partir do nitrato: um inóculo
denso de cada amostra foi semeado em caldo nitrato (Beckton
Dickinson) contendo um tubo de Durham invertido. A visualização de
bolhas dentro do tubo de Durham determina que a amostra foi capaz
de produzir gás a partir do nitrato do meio. Para avaliação de redução
do nitrato, adicionou-se os reagentes A (solução de ácido sulfanílico
em ácido acético) e B (solução de dimetilnaftilamina em ácido acético).
A mudança da cor do segundo reagente de negro para a cor cereja
indicou positividade para o teste. A cepa controle positivo destas
provas foi P. aeruginosa ATCC 27853, e como controle negativo foi
usado B. cepacia ATCC 17759.
Hidrólise de gelatina: um inóculo denso das amostras foi feito em
solução salina 0,9%. Seguiu-se a colocação de uma fita de filme de
radiografia (KODAK, São Paulo, Brasil). A hidrólise da gelatina foi
caracterizada quando da mudança da aparência da fita de verde opaco
35
a translúcido. O controle deste teste foi realizado com a cepa P.
aeruginosa ATCC 27853 (positivo) e B. cepacia ATCC 17759
(negativo).
Produção de catalase: as amostras foram semeadas em caldo infuso
de cérebro e coração – BHI (DIFCO). Após 48 horas de incubação,
como previamente descrito, foram expostas a peróxido de hidrogênio.
Nas culturas de amostras produtoras de catalase, imediatamente
apareceram bolhas de gás no meio. Como cepa controle, foi utilizada a
cepa A. xylosoxidans ATCC 27061, positivo para a prova.
Produção de urease: uma alçada de cada amostra foi semeadas em
caldo ureia de Chistensen (DIFCO) e incubadas como já descrito.
Seguiu-se a pesquisa de mudança de pH decorrente da hidrólise de
ureia, responsável pela muda da cor do indicador vermelho de fenol
para um forte tom de rosa, em caso de positividade. Como controles,
foram utilizadas as cepas Roseomonas mucosa ATCC BAA-692
(positivo) e A. xylosoxidans ATCC 27061 (negativo).
Utilização de citrato: as amostras foram inoculadas, com uma estria
simples, em meio de Simmons (HIMEDIA, Paraná, Brasil) inclinado em
tubo, meio este que contém apenas citrato de sódio como fonte de
carbono. Quando utilizado, os produtos do metabolismo dessa
substância alcalinizam o meio, virando o indicador de pH azul de
bromotimol de verde para azul. Foram utilizadas as cepas Klebsiella
pneumoniae ATCC 13883 e Escherichia coli ATCC 25922 como
controle positivo e negativo, respectivamente.
Avaliação da tolerância a NaCl: um pequeno inóculo de cada amostra
foi semeado em dois diferentes tudos de caldo BHI, um livre de NaCl e
o outro contendo 6% de NaCl. Seguiu-se a incubação por tempo e em
condições previamente descritas. Micro-organismos tolerantes a 6% de
36
NaCl cresceram em ambos os tubos, enquanto aqueles intolerantes
não cresceram no tubo contendo NaCl. Os controles utilizados foram
as cepas Pseudomonas putida ATCC 12633 (positivo) e S. maltophilia
ATCC 13637.
Produção de indol pelo método de Erlich: as amostras foram
inoculadas, com o auxílio de uma agulha, em tubos contendo meio
semisólido sulfeto-indol-mobilidade – SIM (DIFCO) e incubadas
juntamente a uma fita impregnada com o reagente de Erlich (p-
dimetilaminobenzoaldeído). O indol, se produzido, interagiu com o
reagente de Erlich, ocasionando mudança na cor da fita com reagente,
que assumiu coloração rosa ou roxa. Como controle positivo foi
utilizada a cepa E. coli ATCC 25922 e como controle negativo a cepa
P. aeruginosa ATCC 27853.
Utilização de acetamida: teste similar ao da utilização do citrato, porém
executado com acetamida como fonte essencial de carbono em meio
agar acetato (VETEC, Rio de Janeiro, Brasil). Os controles utilizados
para esse teste foram P. aeruginosa ATCC 27853 (positivo) e S.
maltophilia ATCC 13637.
Produção de pigmentos (King, Ward & Raney, 1954): cada amostra foi
semeada, com o auxílio de alça bacteriológica, em dois tubos com os
meios King A e King B (DIFCO, Hants, Inlaterra) inclinados. O primeiro
meio evidenciaria a produção de piocianina e piorrubina, enquanto o
segundo facilitaria a detecção de pioverdina. As cepas P. aeruginosa
ATCC 27853 e B. cepacia ATCC 25416 foram utilizadas como controle
positivo e negativo, respectivamente.
Após até 72h, nas mesmas condições de incubação descritas no início desta
seção, foram observadas:
37
Hemólise em agar Columbia suplementado de 5% de sangue de
carneiro;
Mobilidade pelo meio Motility (Beckton Dickinson) suplementado de
0,01% cloreto de 2,3,5-trifeniltetrazólio (TTC, Merck, Darmstadt,
Alemanha): com o auxílio de uma agulha, inoculou-se cada amostra
com uma picada até ¾ da profundidade do meio. O crescimento
bacteriano através do meio semi-sólido é destacado pela viragem do
TTC, que adquire tom avermelhado, evidenciando possível padrão de
crescimento e mobilidade do micro-organismo. P. aeruginosa ATCC
27853 e A. baumanii ATCC 19606 foram respectivamente, os
controles positivo e negativo para esta prova.
Hidrólise de esculina (Merck, Darmstadt, Alemanha): cada amostra foi
inoculada com alça microbiológica em tubo contendo ágar esculina
inclinado. Amostras produtoras de esculinase hidrolisaram a esculina
produzindo esculetina e glicose. A produção de esculetina foi
observada quando, ao reagir com o citrato férrico presente no meio,
houve a formação um complexo marrom escuro ou negro. Os
controles utilizados foram S. maltophilia ATCC 13637 (positivo) e
P.aeruginosa ATCC 27853 (negativo).
Produção de DNase: as amostras foram semeadas em spot numa
placa de ágar DNase (Beckton Dickinson, Maryland, EUA) com alça
microbiológica. Após incubação, a superfície do meio foi coberta com
ácido clorídrico 1N que provocou a precipitação do DNA da fórmula,
tornando o meio opaco. Os organismos produtores de DNase
despolimerizaram o DNA molecular da fórmula, produzindo uma zona
transparente em volta da área de crescimento. Foram utilizadas as
cepas S. maltophilia ATCC 13637 e B. cepacia ATCC 25416 como
controles positivo e negativo,respectivamente.
38
Produção de H2S, detectadas em tiras de papel filtro impregnadas de
acetato de chumbo, que enegreceram ao reagirem com o gás
produzido após a incubação em meio SIM. Cada amostra foi inoculada
em profundidade com agulha microbiológica. Foram utlizadas como
controles as cepas Proteus mirabilis ATCC 12453 (positivo) e E. coli
ATCC 25922 (negativo).
2.3 Identificação molecular por técnica de sequenciamento dos genes 16S
rRNA e recA
2.3.1 Extração do DNA bacteriano por lise térmica
As amostras bacterianas foram semeados em agar Columbia (OXOID),
acrescido de 5% de sangue de carneiro e incubadas a 35±2oC por 18-24h. Ao
término deste período, uma colônia isolada foi semeada em 3mL de caldo BHI. Após
incubação a 35±2oC por 18-24h sob agitação, 200μL do crescimento bacteriano
foram adicionados a 2mL de água destilada (1:10) para a leitura da densidade ótica
(D.O.) em espectrofotômetro (B295 II Micronal, SP, Brasil) (λ= 580nm). A partir desta
leitura foi determinado o volume da cultura necessário para se obter a D.O. 580nm de
0,5.
As amostras foram distribuídas em tubos tipo eppendorf nos volumes
especificados pela D.O. e, a seguir, centrifugadas por 2 min. a 14.000 rpm (Hermle,
Z 233M-2). Após a centrifugação, o sobrenadante foi desprezado completamente e o
sedimento foi ressuspenso em 600μL de água deionizada estéril. O DNA foi obtido
após aquecimento destas suspensões à 100ºC por 10 min e subseqüente
centrifugação por 10s a 14.000 rpm. Uma vez extraído, o DNA permaneceu em
banho de gelo durante a preparação da mistura de reação.
39
2.3.2 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)
O PCR foi realizado para a amplificação dos marcadores genéticos 16S
rRNA, para todos os BGNNF, ou do gene recA, para micro-organismos pertencentes
ao gênero Burkholderia. Os iniciadores utilizados para a amplificação foram: BCR1,
5’-TGA CCG CCG AGA AGA GCA A-3’ e BCR2, 5’-CTC TTC TTC GTC CAT CGC
CTC-3’, para amplificação recA (Mahenthiralingam et al, 2000). Para a amplificação
do gene 16S rRNA foram utilizados os iniciadores 27, 5’-AGA GTT TGA TCA TGG
CTC AG-3’ e 1492, 5’-GTT TAC CTT GTT ACG ACT T-3’ (Hirashi, 1992). Os
amplicons das duas reações apresentam aproximadamente 1.043 bp e 1.500 bp, em
ordem.
Nesta etapa, 2μL do DNA bacteriano de cada amostra foram adicionados a
tubos tipo eppendorf contendo 48μL da mistura de reação, composta de: 20 pmol de
cada iniciador que compõe o par corresponde aos genes 16S rDNA e recA, 250 M
de cada dNTP (Invitrogen, Brasil) , 1 U de Taq polimerase Platinum (Invitrogen,
Brasil), tampão PCR 1X (200 mM de Tris-HCl, pH 8,0 e 500mM de KCl), 1,5 M de
MgCl2.
As condições da reação para amplificação de 16S rRNA foram adaptadas a
partir da descrição de Hirashi, 1992: desnaturação inicial a 95˚C por 5 min, seguida
de 35 ciclos a 95˚C por 1 min e 30 seg, 1 min e 30 seg à temperatura de anelamento
específica (52˚C), 2 min a 72˚C e extensão final a 72˚C por 15 min. Para a
amplificação de recA, após a mesma desnaturação inicial, a reação seguiu com 35
ciclos de 95˚C por 45 seg., anelamento em 58˚C por 45 seg., 72˚C por 1,5 min. e
extensão final por 10 min. a 72˚C em termociclador (GeneAmp PCR System 9700 –
Applied Biosystems, Foster City, EUA).
2.3.3 Eletroforese em gel de agarose
Os produtos da amplificação foram submetidos à eletroforese a 100V, durante
aproximadamente 30 min em gel de agarose (Invitrogen, Brasil) a 1,2%, com
solução 1X de tampão TBE (Tris-Base, Ácido bórico, EDTA 0,5M, pH 8,0) e 0,01%
de SYBR Safe. Em seguida, foram visualizados em transiluminador de luz ultra-
40
violeta (Cole Parmer 96W Instrument Co. Vernen Hills, Illinois, EUA) e fotografado
(Kodak Digital Sciense, Electrophoresis Documentation and Analysis System 120).
2.3.4 Purificação do DNA
Os produtos de amplificação foram submetidos à purificação através do kit de
purificação Ilustra GFX PCR e Gel Band Purification Kit (GE Healthcare Life
Sciences). As suspensões contendo os produtos de amplificação foram misturadas a
500 μL do tampão de captura em um sistema composto pelos tubos coletores e
colunas GFX, onde o DNA fica retido, e em seguida centrifugadas a 14.000 rpm por
30 seg. Seguiu-se o descarte do tampão, a adição de 500 μL do tampão de
lavagem, e nova centrifugação a 14.000 rpm por 30 seg. Os tubos coletores foram
descartados e a coluna GFX foi transferida para tubos tipo eppendorfs, sendo
adicionados 40 μL do tampão de eluição, que retira o DNA retido na coluna GFX.
Após incubação por 1 min e novamente centrifugado a 14.000 rpm por 1 min, o DNA
purificado foi submetido à eletroforese, a 100V, por cerca de 30 min em gel de
agarose (Invitrogen, Brasil) a 1,2%, com solução 1X de tampão TBE. A visualização
do DNA foi feita em transiluminador de luz ultra-violeta, para confirmação da pureza,
manutenção e qualidade do DNA purificado. Este foi, então, conservado congelado
(-20°C) até a realização da reação de sequenciamento.
2.3.5 Reação de Sequenciamento
O sequenciamento dos gene codificador do rRNA 16S foi realizado pelo
método de terminação com dideoxinucleotídeos (Sanger, Nicklen & Coulson, 1977)
utilizando-se os iniciadores 27, 5’-AGA GTT TGA TCA TGG CTC AG-3’; 532, 5’-CGT
GCC AGC AGC CGC GGT AA-3’; 907, 5’-CCG TCA ATT CTT TGA GTT T-3’ e 1492,
5’-GTT TAC CTT GTT ACG ACT T-3’ e o kit BigDye Terminator v3.1 Cycle
Sequencing kit (Applied Biosystems). A reação continha 3µL de DNA (180ng/µL),
4µL de água ultrapura, 2µL do mix de terminação (Applied Biosystems, Foster City,
EUA) e 2,5pmoles/µL do iniciador em cada poço de microplaca de PCR (96 poços,
41
saia elevada, Axygen). Após uma centrifugação rápida, a placa foi submetida à
reação de sequenciamento. Os sequenciamentos foram realizados em triplicata. A
reação consistiu de 1 minuto de desnaturação inicial a 96ºC, seguidos de 35 ciclos
de 15 segundos a 96ºC, 15 segundos a 50ºC e 2 minutos a 60ºC. (Veriti 96 Well
Thermal Cycler – Applied Biosystems). Não foi aplicada extensão final. Seguindo as
orientações do fabricante, a rampa de temperatura foi ajustada, no intuito de impedir
mudança brusca de temperatura (>1°C/seg), evitando, assim, a geração de ruídos
na leitura dos nucleotídeos.
O mesmo protocolo foi usado no sequenciamento do gene recA, com a
ressalva dos diferentes iniciadores usados: BCR1 e BCR2, previamente descritos,
BCR3 (5´-GTCGCAGGCGCTGCGCAA-3´) e BCR4 (5´-
GCGCAGCGCCTGCGACAT-3´).
2.3.6 Purificação, precipitação do DNA e análise
Em seguida, o DNA marcado (volume de 10 µL) foi purificado, utilizando o
seguinte protocolo: 40 µL de isopropanol 75% foram adicionados, seguido de
homogeneização, incubação em temperatura ambiente por 20 minutos e
centrifugação a 13000 rpm por 20 minutos. O isopropanol foi removido e adicionados
200 µL de etanol 70%. Seguiu-se de centrifugação a 13000 rpm por 5 minutos. Após
remoção do etanol, as amostras secaram em temperatura ambiente e a elas foram
adicionados 10 µL de formamida para posterior leitura no sequenciador Genetic
Analyzer 3500 (Applied Biosystems), onde os eletroferogramas foram obtidos na
medida em que as amostras passavam por capilares contendo o Polímero de
Performance Otimizada (POP7 – Applied Biosystems).
A análise das sequências do gene 16S rRNA foi realizada a partir de
comparações com dados do GenBank, por intermédio da ferramenta BLAST,
constante na base de dados do NCBI (http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/Blast.cgi),
considerando-se a identificação em nível de espécie confiável a partir de percentuais
iguais ou superiores a 97% de similaridade entre as amostras estudadas e as
constantes na base de dados.
42
Após obtenção das sequências do gene recA, estas foram alinhadas com o
auxílio dos softwares MEGA5.05 e CLUSTAL W. Árvores filogenéticas foram
desenhadas com o auxílio do software MEGA5.05, de acordo com os alinhamentos
obtidos e as sequências do gene recA representativas do CBc disponíveis no
GenBank.
2. 4 Espectrometria de massa de proteínas pela metodologia de MALDI-TOF-
MS
A identificação das amostras de BGNNF por espectrometria de massa de
proteínas foi feita no equipamento MALDI Biotyper microflex LT (Bruker Daltonics,
Bremen, Alemanha) de acordo com as especificações do fabricante. As amostras
foram recuperadas a partir do estoque e semeadas em agar Columbia, acrescido de
5% de sangue de carneiro e incubadas a 35±2oC por 18-24h, ou ainda por mais um
período de 18-24h, quando a bactéria apresentava crescimento lento.
Inicialmente procedeu-se à preparação das placas de ensaio (target) com 96
espaços, previamente calibradas com uma cepa padrão de teste bacteriano (BTS –
Bruker Daltonics), uma solução composta de uma cepa controle de Escherichia coli
DH5α suplementada de outras proteínas, cedida pelo fabricante e de conhecido
espectro proteico. Uma alíquota de 1µL de BTS foi colocado em um dos espaços
disponíveis na placa, seco em ar ambiente e coberto de matriz HCCA (solução
saturada de ácido α-ciano-4-hidroxi-cinâmico em solução de acetonitrila a 50% e de
ácido tri-fluor-acético a 2.5%; Bruker Daltonics), seguido de nova secagem em ar
ambiente. A target foi inserida no equipamento e operada através do software de
controle flexControl (versão 3.3 – Bruker Daltonics) para calibração. Uma vez que o
espectro de proteínas do BTS é testado e compatível com o esperado do controle, a
target é validada para teste de amostras.
Com agulhas microbiológicas, colônias das amostras a serem testadas foram
tocadas e transferidas em esfregaços para um dos espaços da target. Após a
secagem dos esfregaços em ar, estes foram cobertos com 1µL de matriz HCCA,
seguido de nova etapa de secagem. Todos as amostras foram testadas em duplicata
(figura 1).
43
Figura 1: Aplicação de matriz HCCA em amostras inoculadas em uma placa do
sistema MALDI-TOF MS
A target contendo as amostras foram então inseridas no equipamento de
análise e comandados pelo software de controle flexAnalysis (versão 3.3 – Bruker
Daltonics, Bremen, Alemanha) para identificação das amostras. O sistema então
procedeu com a geração de espectros da relação massa/carga das proteínas
através da medição do tempo de voo das mesmas quando ionizadas após 240 tiros
de laser e os confronta com seu banco de dados (Maldi Biotyper OC 3.1 – Bruker
Daltonics, Bremen, Alemanha), apontando os 2 micro-organismos mais prováveis e
seus respectivos índices de precisão (scores).
Os resultados gerados foram classificados de acordo com as seguintes
recomendações do fabricante:
a) score acima de 2300: alta probabilidade de identificação em espécie;
b) score de 2000 a 2299: identificação segura em nível de gênero e provável
identificação em espécie;
c) score de 1700 a 1999: provável identificação em nível de gênero;
d) score 0000 a 1699: identificação inadequada.
44
A figura 2 ilustra o processamento de amostras no sistema MALDI-TOF-MS
Figura 2: Fluxograma representando o processamento de amostras pelo sistema
MALDI-TOF MS (Fonte: Patel, 2013)
45
2.5 Perfil de Fragmentação do DNA Cromossômico por Eletroforese em Campo
Pulsado (PFGE)
Para a espécie de BGNNF mais prevalente na amostragem testada foi feita a
a análise dos perfis de fragmentação do DNA cromossômico conforme descrito por
Ribot e colaboradores (2006), disponível no site do CDC/Fort Collins – Colorado –
USA2. No entanto, algumas modificações foram realizadas nas diferentes etapas do
procedimento.
2.5.1 Suspensão de células
As amostras foram inoculadas em tubos contendo agar nutriente (OXOID)
inclinado. O crescimento foi recolhido e transferido para 1 mL de tampão de
suspensão de células (BSC; Tris 100 mM, EDTA 100 mM, pH 8,0), até obtenção de
turvação correspondente ao padrão 3 de McFarland. Uma alíquota de 200 µL foi
transferida para um microtubo contendo 5 µL de solução de proteinase K 50 mg/mL
(Sigma-Aldrich), sendo este invertido de 5 a 6 vezes para homogeneização.
2.5.2 Preparação dos blocos de agarose (plugs)
Os blocos de agarose foram preparados com agarose Seakem Gold a 1%
(Lonza, Atlanta, EUA) em tampão TE (Tris 10 mM, EDTA 1mM, pH 8,0),
suplementados de 5% de solução de dodecil sulfato de sódio (Sigma-Aldrich, St.
Louis, EUA). Em seguida, 200 µL da mistura de agarose foram adicionadas à
suspensão bacteriana e homogeneizadas gentilmente, antes de serem
imediatamente dispensadas dentro dos moldes para blocos de PFGE. Os blocos
2 Endereço eletrônico do PulseNet: < www.cdc.gov/pulsenet>, acessado em 03/01/2013.
46
permaneceram em temperatura ambiente por 10 minutos até solidificarem e foram
removidos dos moldes diretamente para um tubo cônico de polipropileno de 15 mL,
contendo 2 mL de solução de lise TE com 1% de sarcosil (Sigma-Aldrich, St. Louis,
EUA), além de 5 µL de proteinase K (Sigma-Aldrich, St. Louis, EUA) 50 mg/mL. As
amostras foram incubadas em banho-maria a 50ºC por 2 horas.
Os tubos foram removidos do banho-maria e a solução de lise foi
descartada. Essa etapa foi seguida de três lavagens com 10 mL de água reagente
tipo I estéril. A cada etapa de lavagem o tubo permaneceu em banho-maria a 50ºC
por 10 minutos. Após as lavagens com água, foi realizada lavagem com tampão TE
estéril. Após a remoção do tampão TE, 2 mL do mesmo tampão foram adicionados
aos tubos para servirem de meio de estoque para os blocos de agarose. Os blocos
foram estocados a 4ºC até o momento de sua utilização.
2.5.3 Digestão do DNA nos plugs de agarose
Cortes de aproximadamente um centímetro foram realizados com o auxílio de
um bisturi e colocados em um microtubo contendo 50 µL do tampão 1X da enzima
SpeI (Fermentas). Após 30 minutos a 4ºC, a solução foi removida e substituída por
solução contendo 20U da enzima SpeI (Fermentas) em cada microtubo. A incubação
foi realizada por 3 horas a 37ºC.
2.5.4 Corrida eletroforética
O gel para a corrida eletroforética foi preparado com agarose Seakem
Gold a 1,1% em tampão TBE (Tris 89 mM, Ácido Bórico 89 mM e EDTA 2,5 mM, pH
8,3) 0,4X. Na primeira e última posições foram adicionadas fatias de agarose
contendo padrão de peso molecular para PFGE (Pulse MarkerTM 50-1.000 kb –
Sigma-Aldrich). Nas demais posições foram adicionadas as amostras. As condições
eletroforéticas utilizando o sistema CHEF DR III (Bio-Rad, Berkeley, EUA) foram as
47
seguintes: pulso inicial de 5 segundos e pulso final de 35 segundos. A
miliamperagem utilizada para as corridas foi de 6.0V/cm. O tempo de corrida foi de
17 horas em tampão TBE 0,4X, mantendo-se temperatura controlada de 14ºC.
2.5.5 Coloração do gel de agarose e análise dos resultados do PFGE
Após corrida, os géis foram corados com brometo de etídeo (1 mg/mL)
e as imagens foram capturadas sob iluminação UV usando o fotodocumentador L-
Pix EX (Loccus Biotecnologia) e o software de captura de imagem L-Pix Image
(Loccus Biotecnologia). Os resultados obtidos foram analisados em forma de
dendrograma gerado através do programa Bionumerics, versão 6.6, desenvolvido
pela Applied-Maths. O grau de homologia entre as amostras tipadas pela técnica de
PFGE foi determinado pelo coeficiente de Dice (Dice, 1945) e a correlação para
agrupamento foi calculada por UPGMA (Unweighted Pair Group Method with
Arithmetic Mean), com otimização de 1,5% e tolerância de 1,5%. Foram
considerados clones idênticos aqueles com percentuais de similaridades iguais ou
superiores a 85%.
2.6 Aspectos éticos
As amostras bacterianas incluídas neste estudo foram obtidas a partir de um
banco de amostras provenientes de espécimes clínicos encaminhados para culturas
de rotina no Laboratório de Bacteriologia do HUPE e para o Laboratório 2 da
Disciplina de Microbiologia da UERJ. Assim, os exames bacteriológicos foram
executados independentes deste estudo. Em nenhum momento foi solicitado dos
pacientes algum exame extra. Os dados foram divulgados através de códigos que
não identificaram os indivíduos. Deste modo, não foram necessários o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido e o registro do Comitê de Ética da Instituição.
48
3 RESULTADOS
3.1 Identificação molecular de BGNNF por sequenciamento dos genes 16S
rRNA e recA
Após as reações de biologia molecular e alinhamentos das sequencias de
nucleotídeos dos marcadores genéticos para o gene rRNA 16S com sequencias
depositadas no GenBank pelo BLAST, foi possível determinar os gêneros/espécie
de BGNNF na amostragem estudada. Do total de 78 amostras, a maioria
(n=31;40%) foi incluída no gênero Burkholderia, seguido de Pseudmonas stutzeri
(10%), Delftia acidovorans (4%) e Stenotrophomonas maltophilia (4%). As demais
amostras foram distribuídas em 27 diferentes espécies correspondendo a uma, duas
ou três amostras por espécie (tabela 3).
Tabela 3: Espécies de 78 amostras de BGNNF identificadas por sequenciamento do
gene codificador do rRNA 16S.
Microrganismos n %
Burkholderia spp 31 40
Pseudomonas stutzeri 8 10
Delftia acidovorans 3 4
Stenotrophomonas maltophilia 3 4
Achromobacter xylosoxidans 2 3
Acinetobacter baumannii 2 3
Acinetobacter ursingii 2 3
Alcaligenes faecalis 2 3
Bordetella holmesii 2 3
Chryseobacterium indologenes 2 3
Elizabethkingia meningoseptica 2 3
Pseudomonas oryzihabitans 2 3
Pseudomonas putida 2 3
Wautersiella falsenii 2 3
Acinetobacter calcoaceticus 1 1
Acinetobacter lwoffii 1 1
Brevundimonas diminuta 1 1
Brevundimonas vesicularis 1 1
Chryseobacterium haifense 1 1
Moraxella catarrhalis 1 1
Moraxella osloensis 1 1
Paenibacillus amylolyticus 1 1
Pannonibacter phragmitetus 1 1
Pseudomonas aeruginosa 1 1
Pseudomonas mendocina 1 1
Pseudomonas mosselii 1 1
Rhizobium radiobacter 1 1
49
As 31 amostras pertencentes ao gênero Burkholderia tiveram o operon recA
amplificado e sequenciado, e seus nucleotídeos comparados às sequencias de
cepas representativas das 17 espécies do CBc (Figura 3). Assim, foi possível
identificar as espécies: a maioria foi identificada como Burkholderia contaminans
(n=19;24%) seguido de Burkholderia cenocepacia (n=9,12%). Na figura 4 está
representada a distribuição de todas as espécies identificadas.
50
Figura 3: Alinhamento de sequências das amostras de CBc com sequências de
amostras padrão das 17 espécies do complexo.
AM922301_Burkholderia_contaminans_XVI
8308
7324
7319
9503
8303
AM905036_Burkholderia_contaminans_XVI
9987
10385
9504
8234
8185
10317
8233
9742
8199
AF143781_Burkholderia_cenocepacia_IIIA
10016
8200
8198
AF143782_Burkholderia_cenocepacia_IIIA
8169
8168
AF143779_Burkholderia_cenocepacia_IIIA
AF143780_Burkholderia_cenocepacia_IIIA
AM922303_Burkholderia_contaminans_XVI
AM922302_Burkholderia_contaminans_XVI
7174
7168
7454
7394
AM905033_Burkholderia_lata_XVII
AM905032_Burkholderia_lata_XVII
AM748095_Burkholderia_arboris_XIII
AM748100_Burkholderia_arboris_XIII
AM748104_Burkholderia_arboris_XIII
AM748094_Burkholderia_metallica_XV
AF456007_Bambifaria_VII
AF456006_Bambifaria_VII
AF323985_Bambifaria_VII
AM748103_Burkholderia_diffusa_XII
AM748099_Burkholderia_latens_XI
AY619683_Burkholderia_ubonensis__X
AM922300_Burkholderia_latens_XI
AM748096_Burkholderia_seminalis_XIV
AM748102_Burkholderia_seminalis_XIV
AM748098_Burkholderia_seminalis_XIV
AM748097_Burkholderia_seminalis_XIV
AJ544692_Banthina_VIII
AF456060_Banthina_VIII
7204
7177
AF143787_Burkholderia_cepacia
AF143788_Burkholderia_cepacia
AF143786_Burkholderia_cepacia
AF143783_Burkholderia_cenocepacia_IIIB
AF143785__Burkholderia_cenocepacia_IIIB
10312
10137
AF143784__Burkholderia_cenocepacia_IIIB
AF143789_Burkholderia_stabilis
AF143790_Burkholderia_stabilis
AF143794_Bpyrrocinia_XIX
AY392090_Bpyrrocinia_XIX
AF456032_Bpyrrocinia_XIX
AF456033_Bdolosa_VI
AF323971_Bdolosa_VI
AY324808_Bdolosa_VI
AY780511_Burkholderia_ubonensis_X
AF143776_Burkholderia_multivorans
AF143777_Burkholderia_multivorans
AF143775_Burkholderia_multivorans
AF143774_Burkholderia_multivorans
AF143778_Burkholderia_multivorans
AF143791_Burkholderia_vietnamiensis
8532
AF143793_Burkholderia_vietnamiensis
AF143792_Burkholderia_vietnamiensis
10318
99
99
99
96
94
88
88
80
79
97
69
99
68
66
66
64
99
64
62
61
93
89
59
45
45
46
50
99
44
99
46
37
37
69
99
36
98
30
28
44
46
26
41
28
25
17
16
14
31
48
48
31
10
9
20
9
8
8
7
6
6
6
4
3
2
4
13
99
9
2
59
30
90
0
0
1
51
Figura 4: Distribuição das espécies do CBc em amostras de BGNNF identificadas
por sequenciamento do gene recA.
3.2 Identificação fenotípica de BGNNF
O perfil fenotípico obtido pela submissão dos 78 micro-organismos a um
amplo painel de provas fenotípicas foi avaliado comparativamente frente à
identificação obtida no sequenciamento do gene 16S rRNA (tabela 4). As 31
amostras das diferentes espécies do CBc foram caracterizadas fenotipicamente
como pertencentes ao gênero Burkholderia. Para a análise comparativa da
identificação obtida nas duas metodologias, excluímos essas amostras, devido à
impossibilidade de identificação ao nível de espécie por método fenotípico.
A concordância da identificação fenotípica das 47 amostras de BGNNF em
nível de espécie em relação ao sequenciamento foi de 64% (n=30). Apenas em
relação ao gênero a concordância foi de 17% (n=8). Foi observada completa
discordância de resultados em 19% (n=9) das amostras.
Todas as amostras de A. baumannii (n=2), Achromobacter xylosoxidans
(n=2), Brevundimonas vesicularis (n=1), Delftia acidovorans (n=3), Elizabethkingia
meningoseptica (n=2), Moraxella catarrhalis (n=1), Moraxella osloensis(n=1),
Pseudomonas oryzihabitans(n=2), Pseudomonas aeruginosa (n=1), Rhizobium
radiobacter (n=1) e S. maltophilia(n=3) foram identificadas corretamente pela
52
metodologia fenotípica manual. Resultados de concordância variáveis foram
observados para amostras de uma mesma espécie em algumas ocasiões. Por
exemplo, das oito amostras de Pseudomonas stutzeri, seis foram identificadas
corretamente ao nível de espécie, uma foi identificada em gênero e outra identificada
incorretamente como Achromobacter xylosoxidans pela metodologia manual. As
amostras de Acinetobacter lwoffii (n=1), Acinetobacter ursingii (n=2), Brevundimonas
diminuta (n=1), Pseudomonas mosselii (n=1) e Pseudomonas mendocina (n=1)
foram corretamente caracterizadas até gênero.
53
Tabela 4: Análise comparativa da identificação pelo método fenotípico em relação ao
sequenciamento de 16S rRNA.
Micro-organismo identificado por sequenciamento (n)
Identificação Fenotípica (n) Concordância
em espécie
Concordância apenas em
gênero Discordância
Pseudomonas stuzeri (8)
Pseudomonas stutzeri (6)
75% 12,5% 12,5% Pseudomonas aeruginosa (1)
Achromobacter xylosoxidans (1)
Delftia acidovorans (3) Delftia acidovorans (3)
100% 0% 0%
Stenotrophomonas maltophilia (3) Stenotrophomonas maltophilia (3)
100% 0% 0%
Acinetobacter baumannii (2) Acinetobacter baumannii (2)
100% 0% 0%
Achromobacter xylosoxidans (2) Achromobacter xylosoxidans (2)
100% 0% 0%
Acinetobacter ursingii (2) Acinetobacter spp. (2) 0% 100% 0%
Alcaligenes faecalis (2) Alcaligenes faecalis (1)
50% 0% 50% Pseudomonas spp. (1)
Chryseobacterium indologenes (2)
Chryseobacterium indologenes (1) 50% 0% 50% Myroides odoratus (1)
Elizabethkingia meningoseptica (2) Elizabethkingia meningoseptica (2)
100% 0% 0%
Pseudomonas oryzihabitans (2) Pseudomonas oryzihabitans (2) 100% 0% 0%
Pseudomonas putida (2) Pseudomonas putida (1)
50% 0% 50% Alcaligenes faecalis (1)
Wautersiella falsenii (2) Wautersiella falsenii (1)
50% 0% 50% Moraxella spp. (1)
Acinetobacter calcoaceticus (1) Sphingomonas spp. (1) 0% 0% 100%
Acinetobacter lwoffii (1) Acinetobacter spp. (1) 0% 100% 0%
Bordetella holmesii (2) Bordetella holmesii (1)
50% 50% 0%
Bordetella spp. (1) 0%
Brevundimonas diminuta (1) Brevundimonas vesicularis (1) 0% 100% 0%
Brevundimonas vesicularis (1) Brevundimonas vesicularis (1) 100% 0% 0%
Chryseobacterium haifense (1) Brevundimonas sp. (1) 0% 0% 100%
Moraxella catarrhalis (1) Moraxella catarrhalis (1) 100% 0% 0%
Moraxella osloensis (1) Moraxella osloensis (1) 100% 0% 0%
Paenibacillus amylolyticus (1) Sphingomonas spp. (1) 0% 0% 100%
Pannonibacter phragmitetus (1) Achromobacter xylosoxidans(1) 0% 0% 100%
Pseudomonas aeruginosa (1) Pseudomonas aeruginosa (1) 100% 0% 0%
Pseudomonas mosselii (1) Pseudomonas putida (1) 0% 100% 0%
Pseudomonas mendocina (1) Pseudomonas aeruginosa (1) 0% 100% 0%
Rhizobium radiobacter (1) Rhizobium radiobacter (1) 100% 0% 0%
54
3.3 MALDI-TOF MS
A identificação oriunda dos resultados da análise dos espectros proteicos das
amostras submetidas ao sistema MALDI-TOF MS também foi confrontada com a
técnica de referência (sequenciamento).
A análise geral da concordância (sem levar em consideração os parâmetros
estabelecidos para a aceitação da identificação pelo sistema MALDI-TOF MS)
mostrou que 42% (n=33) das 78 amostras foram identificadas corretamente ao nível
de espécie e 45% (n=35) apenas em gênero. Para o restante das amostras (13%;
n=10) os resultados foram discordantes (tabela 5)
Foi observado que das 78 amostras, 35 (45%) foram identificadas com scores
iguais ou maiores a 2,300, sendo 10 (13%) concordantes em nível de espécie, e 22
(28%) apenas em nível de gênero, comparativamente ao resultado do
sequenciamento. Não houve concordância na identificação em três amostras. Trinta
e seis amostras (45%) foram identificadas com scores de 2000 a 2299, sendo nesse
caso 23 concordantes em nível de espécie (29%), 6 (8%) em nível de gênero e 7
discordantes (9%). Sete amostras (9%) foram identificados com scores de 1,700 a
1,999 e concordantes em nível de gênero com a metodologia molecular de
sequenciamento de 16S rRNA e recA (tabela 5)
Tabela 5: Índices de concordância da identificação de 78 amostras de BGNNF
obtida no MALDI-TOF MS em relação ao sequenciamento 16S rRNA e recA
Score concordância em espécie (n) concordância apenas em
gênero (n) discordância (n) n
≥2300 13% (10) 28% (22) 4% (3) 35
2000-2299 29% (23) 8% (6) 9% (7) 36
1700-1999 0 9% (7) 0 7
TOTAL 42% (33) 45% (35) 13% (10) 78
A mesma analise foi feita excluindo as espécies do CBc. Nesse caso, houve
um aumento importante da concordância em nível de espécie para 60%,
acompanhado de uma redução da concordância apenas em nível de gênero para
55
19% e um aumento da discordância para 21%, ainda que em números absolutos
essa última categoria tenha permanecido inalterada. A maioria das amostras (n= 30
;64%) foi identificada com scores entre 2,000 e 2,299, sendo 47% concordantes em
nível de espécie, 2% concordantes em gênero e 15% discordantes. Das 10 amostras
(21%) identificadas na faixa superior de scores (≥2300), 13% foram concordantes
em nível de espécie, 2% em gênero e 6% discordantes. As sete amostras restantes
(15%) mostraram scores entre 1,700 e 1,999 e foram concordantes em nível de
gênero com a identificação molecular por sequenciamento de 16S rRNA (tabela 6).
Tabela 6: Índices de concordância da identificação de 47 amostras de BGNNF
(exceto CBc) obtida no MALDI-TOF MS em relação ao sequenciamento 16S rRNA
Score concordância em espécie (n) concordância apenas em
gênero (n) discordância (n) n
≥2300 13% (6) 2% (1) 6% (3) 10
2000-2299 47% (22) 2% (1) 15% (7) 30
1700-1999 0 15% (7) 0 7
TOTAL 60% (28) 19% (9) 21% (10) 47
Analisando somente as amostras de CBc, todas foram identificadas
corretamente no gênero. Entretanto apenas 16% das amostras foram especiadas.
Cabe ressaltar que embora para a maioria das amostras (n=25) os scores tenham
sido superiores a 2300, critério definido como de alta probabilidade de identificação
em espécie, a maioria (68%) foi caracterizada apenas em nível de gênero (tabela 7).
Tabela 7: Índices de concordância da identificação de 31 amostras de Burkholderia
spp. obtida no MALDI-TOF MS em relação ao sequenciamento de recA
Score concordância em espécie (n) concordância apenas em
gênero (n) discordância (n) n
≥2300 13% (4) 68% (21) 0 25
2000-2299 3% (1) 16% (5) 0 6
1700-1999 0 0 0 0
TOTAL 16% (5) 84% (26) 0 31
56
Na tabela 8 estão discriminadas as espécies identificadas nas duas
metodologias. Houve total concordância para as amostras de Achromobacter
xylosoxidans (n=2), Acinetobacter baumannii (n=2), Acinetobacter ursingii (n=2),
Chryseobacterium indologenes (n=2), Elizabethkingia meningoseptica (n=2),
Moraxella catarrhalis (n=1), Paenibabillus amylolyticus (n=1), Pannonobacter.
phragmitetus (n=1), Pseudomonas mendocina (n=1), Pseudmonas mosselii (n=1),
Rhizobium radiobacter (n=1) e Stenotrophomonas. maltophilia (n=3). Por outro lado,
discordância total foi observada em Bordetella holmesii (n=2), Brevundimonas
vesicularis (n=1), Moraxella osloensis (n=1) e Pseudmonas putida (n=2).
A identificação correta exclusivamente em nível de gênero ocorreu em 100%
das amostras de Acinetobacter calcoaceticus (n=1), Acinetobacter lwoffii (n=1),
Brevundimonas diminuta (n=1), Chryseobacterium haifense (n=1), Delftia
acidovorans (n=3) e Pseudomonas aeruginosa (n=1). Chryseobacterium joostei
(n=1). Setenta e cinco por cento das amostras de P. stutzeri e metade de
Alcaligenes faecalis, Pseudomonas oryzihabitans e Wautersiella falsenii foram
concordantes em nível de espécie.
Os maiores percentuais de discordância entre as duas metodologias
ocorreram dentro das amostras do CBc. Das 19 amostras identificadas pelo
sequenciamento do gene recA como Burkholderia contaminans, oito foram
identificadas como Burkholderia cepacia, quatro como Burkholderia cenocepacia e
uma como Burkholderia pyrrocinia. Em seis amostras o resultado do MALDI-TOF MS
não discriminou entre duas espécies. No caso das nove amostras de Burkholderia
cenocepacia, 56% (n=5) foram identificadas corretamente pelo MALDI-TOF-MS e
em três, a espécie correta estava entre as duas opções fornecidas pelo
equipamento. As duas espécies de Burkholderia cepacia e uma de Burkholderia
vietnamiensis não foram identificadas e a espécie correta não estava entre as
opções de identificação fornecidas pelo aparelho.
A figura 5 ilustra o espectro proteico de quatro amostras, como apresentadas
pelo sistema MALDI-TOF MS.
57
Figura 5: Espectro proteico de 4 amostras gerado pelo sistema MALDI-TOF-MS: (A)
Achromobacter xylosoxidans; (B) Burkholderia contaminans; (C) Delftia acidovorans;
e (D) Pseudmonas stutzeri.
58
Tabela 8: Análise comparativa da identificação por MALDI-TOF MS em relação ao
sequenciamento de 16S rRNA e recA
Micro-organismo Sequenciado (n)
MALDI-TOF (n) Concordância
em espécie
Concordância apenas em
gênero Discordância
* Burkholderia contaminans (19)
Burkholderia cepacia (8)
0% 100% 0%
Burkholderia cenocepacia (4)
B. cepacia / B. cenocepacia (5)
B. cenocepacia / B. pyrrocina (1)
Burkholderia pyrrocina (1)
* Burkholderia cenocepacia (9)
Burkholderia cenocepacia (5)
56% 44% 0%
Burkholderia cepacia (1)
B. cepacia / B. cenocepacia (1)
B. cenocepacia / B. metallica (1)
B. cenocepacia / B. pyrrocina (1)
* Burkholderia cepacia (2) Burkholderia pyrrocina (1)
0% 100% 0% B. cenocepacia / B. pyrrocina (1)
* Burkholderia vietnamiensis (1)
B. cepacia / B. cenocepacia (1) 0% 100% 0%
Pseudomonas stuzeri (8)
Pseudomonas stutzeri (6)
75% 12.5% 12,50% Pseudomonas sp. (1)
Alcaligenes faecalis (1)
Delftia acidovorans (3) Delftia sp. (3) 0% 100% 0%
Stenotrophomonas maltophilia (3)
Stenotrophomonas maltophilia (3)
100% 0% 0%
Acinetobacter baumannii (2)
Acinetobacter baumannii (2) 100% 0% 0%
Achromobacter xylosoxidans (2)
Achromobacter xylosoxidans (2) 100% 0% 0%
Acinetobacter ursingii (2) Acinetobacter ursingii (2) 100% 0% 0%
Alcaligenes faecalis (2) Alcaligenes faecalis (1)
50% 0% 50% Pseudomonas monteilii (1)
Chryseobacterium indologenes (2)
Chryseobacterium indologenes (2)
100% 0% 0%
Elizabethkingia meningoseptica (2)
Elizabethkingia meningoseptica (2)
100% 0% 0%
Pseudomonas oryzihabitans (2)
Stenotrophomonas maltophilia(1)
50% 0% 50% Pseudomonas oryzihabitans (1)
Pseudomonas putida (2) Alcaligenes faecalis (1)
0% 0% 100% Stenotrophomnas maltophilia (1)
Wautersiella falsenii (2) Wautersiella falsenii (1)
50% 0% 50% Acinetobacter baumannii (1)
59
Tabela 8: Análise comparativa da identificação por MALDI-TOF MS em relação ao
sequenciamento de 16S rRNA e recA (continuação).
Micro-organismo Sequenciado (n)
MALDI-TOF (n) Concordância em
espécie Concordância
apenas em gênero Discordância
Acinetobacter calcoaceticus (1)
Acinetobacter genomospecies 3 (1)
0% 100% 0%
Acinetobacter lwoffii (1) Acinetobacter sp. (1) 0% 100% 0%
Bordetella holmesii (2) Alcaligenes faecalis (2) 0% 0% 100%
Brevundimonas diminuta (1) Brevundimonas sp. (1) 0% 100% 0%
Brevundimonas vesicularis (1) Stenotrophomonas maltophilia (1)
0% 0% 100%
Chryseobacterium haifense (1) Chryseobacterium joostei (1) 0% 100% 0%
Moraxella catarrhalis (1) Moraxella catarrhalis (1) 100% 0% 0%
Moraxella osloensis (1) Acinetobacter pittii (1) 0% 0% 100%
Paenibacillus amylolyticus (1) Paenibacillus amylolyticus (1) 100% 0% 0%
Pannonnibacter phragmitetus (1)
Pannonnibacter. phragmitetus (1)
100% 0% 0%
Pseudomonas aeruginosa (1) Pseudomonas nitroreducens (1)
0% 100% 0%
Pseudomonas mosselii (1) Pseudmonas mosselii (1) 100% 0% 0%
Pseudmonas mendocina (1) Pseudomonas mendocina (1) 100% 0% 0%
Rhizobium radiobacter (1) Rhizobium. radiobacter (1) 100% 0% 0%
* organismo identificado por sequenciamento de recA
3.4 Comparação entre os resultados das identificações fornecidas pelas
metodologias fenotípica, molecular e MALDI-TOF-MS
Considerando os resultados obtidos na metodologia molecular como padrão,
os mesmos resultados para a identificação das espécies nos três métodos foram
observados em 21 amostras das 47 de BGNNF analisadas (excluídas as amostras
do CBc), assim distribuídos: Acientobacter baumannii (n=2/2), Achromobacter
xylosoxidans (n=2/2), Elizabethkingia meningoseptica (n=2/2), Moraxella catarrhalis
(n=1/1), Rhizobium radiobacter (n=1/1), Stenotrophomonas maltophilia (n=3/3),
Pseudomonas stutzeri (n=6/8), Alcaligenes faecalis (n=1/2), Chryseobacterium
60
indologenes (n=1/2), Pseudomonas oryzihabitans (n=1/2) e Wautersiella falsenii
(n=1/2).
Concordância de identificação apenas em gênero entre as três técnicas foram
observadas em 11 amostras: Acinetobacter spp. (n=3), Brevundimonas spp. (n=1)
Delftia (n=3) e Pseudomonas spp. (n=4) (tabela 9).
61
Tabela 9: Análise comparativa da identificação pelo método fenotípico e por MALDI-
TOF MS em relação ao sequenciamento de 16S rRNA.
Micro-organismo Sequenciado (n)
MALDI-TOF (n) Identificação
Bioquímica (n) Concordantes em espécie (n)
Concordantes em gênero (n)
Discordantes (n)
Pseudomonas stuzeri (8)
Pseudomonas stutzeri (6)
Pseudomonas stutzeri (6)
6 1 1 Pseudomonas sp. (1) Pseudomonas aeruginosa (1)
Alcaligenes faecalis (1)
Achromobacter xylosoxidans (1)
Delftia acidovorans (3)
Delftia sp. (3) Delftia acidovorans (3)
0 3 0
Stenotrophomonas maltophilia (3)
Stenotrophomonas maltophilia (3)
Stenotrophomonas maltophilia (3)
3 0 0
Acinetobacter baumannii (2)
Acinetobacter baumannii (2)
Acinetobacter baumannii (2)
2 0 0
Achromobacter xylosoxidans (2)
Achromobacter xylosoxidans (2)
Achromobacter xylosoxidans (2)
2 0 0
Acinetobacter ursingii (2)
Acinetobacter ursingii (2)
Acinetobacter spp. (2)
0 2 0
Alcaligenes faecalis (2)
Alcaligenes faecalis (1)
Alcaligenes faecalis (1)
1 0 1
Pseudomonas monteilii (1)
Pseudomonas spp. (1)
Chryseobacterium indologenes (2)
Chryseobacterium indologenes (2)
Chryseobacterium indologenes (1)
1 0 1
Myroides odoratus (1)
Elizabethkingia meningoseptica (2)
Elizabethkingia meningoseptica (2)
Elizabethkingia meningoseptica (2)
2 0 0
Pseudomonas oryzihabitans (2)
Stenotrophomonas maltophilia (1) Pseudomonas
oryzihabitans (2)
1 0 1
Pseudomonas oryzihabitans (1)
Pseudomonas putida (2)
Alcaligenes faecalis (1)
Pseudomonas putida (1)
0 0 2
Stenotrophomonas maltophilia (1)
Alcaligenes faecalis (1)
Wautersiella falsenii (2)
Wautersiella falsenii (1)
Wautersiella falsenii (1)
1 0 1
Acinetobacter baumannii (1)
Moraxella spp. (1)
62
Tabela 9: Análise comparativa da identificação pelo método fenotípico e por MALDI-
TOF MS em relação ao sequenciamento 16S rRNA (continuação).
Micro-organismo Sequenciado (n)
MALDI-TOF (n) Identificação
Bioquímica (n) Concordantes em
espécie (n) Concordantes em gênero (n)
Discordantes (n)
Bordetella holmesii (2)
Alcaligenes faecalis (2)
Bordetella holmesii (1)
0 0 2
Bordetella spp. (1)
Acinetobacter calcoaceticus (1)
Acinetobacter genomospecies 3 (1)
Sphingomonas spp. (1) 0 0 1
Acinetobacter lwoffii (1)
Acinetobacter sp. (1) Acinetobacter spp. (1)
Brevundimonas diminuta (1)
Brevundimonas sp. (1)
Brevundimonas vesicularis (1) 0 1 0
Brevundimonas vesicularis (1)
Stenotrophomonas maltophilia (1)
Brevundimonas vesicularis (1) 0 0 1
Chryseobacterium haifense (1)
Chryseobacterium sp. (1)
Brevundimonas sp. (1) 0 0 1
Moraxella catarrhalis (1)
Moraxella catarrhalis (1)
Moraxella catarrhalis (1) 1 0 0
Moraxella osloensis (1)
Acinetobacter pittii (1)
Moraxella osloensis (1) 0 0 1
Paenibacillus amylolyticus (1)
Paenibacillus amylolyticus (1)
Sphingomonas spp. (1) 0 0 1
Pannonibacter phragmitetus (1)
Pannonibacter phragmitetus (1)
Achromobacter xylosoxidans(1) 0 0 1
Pseudomonas aeruginosa (1)
Pseudomonas nitroreducens (1)
Pseudomonas aeruginosa (1) 0 1 0
Pseudomonas mosselii (1)
Pseudomonas mosselii (1)
Pseudomonas putida (1) 0 1 0
Pseudomonas mendocina (1)
Pseudomonas mendocina (1)
Pseudomonas aeruginosa (1) 0 1 0
Rhizobium radiobacter (1)
Rhizobium radiobacter (1)
Rhizobium radiobacter (1) 1 0 0
63
Em 15 amostras, o resultado da identificação de pelo menos uma das
técnicas fenotípicas não apontou corretamente a espécie identificada pelo método
de referência (sequenciamento). Em três dessas amostras, houve total incoerência
de resultados em todos os métodos testados, como relacionados na tabela 10.
Tabela 10: Resultados de identificação incorreta por ambos os métodos fenotípicos
em relação ao sequenciamento de 16S rRNA.
Micro-organismo Sequenciado MALDI-TOF Score Identificação Bioquímica
Pseudomonas stuzeri Alcaligenes faecalis 2,285 Achromobacter xylosoxidans
Pseudomonas putida Stenotrophomonas maltophilia 2,033 Alcaligenes faecalis
Wautersiella falsenii Acinetobacter baumannii 2,46 Moraxella spp.
3.5 Tipagem das amostras de Burkholderia contaminans por PFGE
Por serem os micro-organismos mais prevalentes nesse estudo, as 19
amostras de Burkholderia contaminans obtidas de 11 pacientes da mesma
instituição hospitalar foram avaliadas quanto à possível existência de relação de
clonalidade. Para essa analise, quando os pacientes apresentavam 2 resultados
positivos para o mesmo micro-organismo, em hemoculturas realizadas no mesmo
dia, optamos por incluir as 2 amostras bacterianas de cada paciente. Assim, em seis
pacientes foram tipadas as duas amostras de Burkholderia contaminans isoladas na
mesma data.
Um dos géis utilizados para a corrida eletroforética de campo pulsado está
representado na figura 6. A figura 7 contém o dendrograma construído de acordo
com os perfis de PFGE gerados para essa espécie. Para uma das amostras (8199),
não foi possível determinar o grupo clonal, uma vez que não houve formação de
bandas após a corrida eletroforética. Assim a análise dos dados foi realizada com 18
amostras.
64
O dendrograma construído para a espécie Burkholderia contaminans,
considerando 85% de similaridade entre os perfis de PFGE formados, evidenciaram
a presença de dez grupos clonais distintos na população estudada (BcoA a BcoK,
exceto BcoG). O grupo clonal BcoF foi observado em três amostras. Os grupos
clonais BcoC, BcoD, BcoE, BcoH, BcoI e BcoJ foram detectados duas vezes e os
clones BcoA, BcoB e BcoK foram únicos.
Figura 6: Gel representativo dos padrões de PFGE para 13 amostras da espécie
Burkholderia contaminans. 1 e 14 – λ ; 2 – 7168; 3 – 7174; 4 – 7177 (posteriormente
excluída do estudo); 5 – 7319; 6 – 7324; 7 – 7394; 8 – 7454; 9 – 8185; 10 – 8233; 11
– 8234; 12 – 8303; 13 – 8308.
65
Figura 7: Dendrograma considerando 85% de similaridade entre os perfis de PFGE
obtidos de amostras de Burkholderia contaminans.
Foi observado que apenas em dois (33%) dos seis pacientes que tiveram 2
hemoculturas colhidas no mesmo dia positivas para Burkholderia contaminans, as
duas amostras de Burkholderia contaminans eram do mesmo grupo clonal. As
demais amostras do mesmo paciente não tinham relação de clonalidade (tabela 11).
A análise da distribuição dos grupos clonais de Burkholderia contaminans em
relação aos setores de origem dos pacientes mostrou que nefrologia e hemodiálise
foram os que contribuíram com maior número de pacientes com amostras positivas
(5 pacientes e 9 amostras). Os grupos clonais BcoD e BcoE foram encontrados em
pacientes distintos assistidos no mesmo setor com diferença de quatro meses
(BcoD, nefrologia) e 1,5 ano (BcoE, hemodilálise), entre as
culturas,respectivamente.
Apenas dois grupos clonais foram encontrados em pacientes distintos de
diferentes unidades em períodos próximos: BcoJ (um paciente da nefrologia e um da
UTI neonatal com intervalo de dois meses entre as culturas) e BcoF (um paciente da
unidade coronariana e um paciente atendido primeiramente na nefrologia e depois
na hemodiálise , com intervalo de nove meses entre as culturas (tabela 11).
66
Tabela 11: Distribuição cronológica dos grupos clonais determinados por PFGE para
a espécie Burkholderia contaminans encontrada nos pacientes atendidos nos
diversos setores do HUPE.
Amostra Paciente Data de cultura Setor
Grupo Clonal
7174 P1 29/02/2008 Unidade Coronariana BcoA
7168 P1 29/02/2008 Unidade Coronariana BcoF
7454 P2 14/03/2008 Infectologia BcoC
7394 P2 14/03/2008 Infectologia BcoC
7324 P3 29/04/2008 Pediatria BcoH
7319 P3 29/04/2008 Pediatria BcoH
8185 P4 28/11/2008 Nefrologia BcoF
8233 P4 08/12/2008 Hemodiálise BcoE
8234 P4 08/12/2008 Hemodiálise BcoF
8303 P5 05/01/2009 Nefrologia BcoI
8308 P5 05/01/2009 Nefrologia BcoK
8532 P6 11/02/2009 Unidade Intermediária Clínica BcoI
9504 P7 09/10/2009 Nefrologia BcoD
9503 P7 09/10/2009 Nefrologia BcoJ
9742 P8 09/12/2009 UTI neonatal BcoJ
9987 P9 04/03/2010 CTI geral BcoB
10317 P10 15/05/2010 Hemodiálise BcoE
10385 P11 08/06/2010 Nefrologia BcoD
67
4 DISCUSSÃO
BGNNF são micro-organismos dotados de notável versatilidade metabólica,
capazes de colonizar os mais diversos nichos do ambiente comunitário e hospitalar,
tornando-se fontes ubíquas para infecção em humanos. Assim, instalam-se nos mais
diversos tecidos, especialmente fluidos nobres como o sangue, onde podem causar
graves enfermidades sistêmicas de difícil tratamento, por serem resistentes a muitos
dos antimicrobianos usados na prática clínica. Todavia, somente as espécies mais
frequentes deste grupo são estudadas com maior atenção – as espécies menos
comuns são subestimadas quanto à sua importância, apesar do seu grande
potencial nocivo à saúde humana. Ademais, podem desempenhar certa função no
microbioma hospitalar e do hospedeiro, ao atuar como reservatórios e vetores de
mecanismos de resistência antimicrobiana e de fatores de virulência, impactando
também na saúde pública (Higgins et al, 2001; Woods et al, 2004; Gaynes &
Edwards, 2005; Enoch & Ludlam, 2007; Yoshino et al, 2011).
Esses microoganismos possuem características metabólicas que tornam
difícil sua identificação de forma precisa e distintiva pelos métodos fenotípicos
empregados rotineiramente. Além disso, os métodos moleculares como
sequenciamento, além de serem onerosos, nem sempre conseguem distinguir com
eficácia grupos de BGNNF intimamente relacionados geneticamente, exigindo
adaptações na metodologia a fim de maximizar sua sensibilidade e requerendo
maior disponibilidade de recursos físicos e humanos (Bosshard et al, 2006; Zbinden
et al, 2007; Jacquier et al, 2011). Portanto, a identificação laboratorial de espécies
de BGNNF, e em especial os menos frequentes, tem se mostrado um grande
desafio na microbiologia clínica. O presente estudo avaliou a identificação de
BGNNF isolados em hemoculturas utilizando três diferentes metodologias: a
fenotípica convencional, a metodologia mais recente MALDI-TOF-MS e o
sequenciamento dos genes 16 S rRNA e recA.
68
4.1 Identificação molecular e identificação fenotípica manual de BGNNF
De um modo geral, as técnicas moleculares são consideradas de referência.
Dentre elas, o sequenciamento do gene 16rRNA tem vantagens em relação a
procedimentos de identificação tradicionais: (i) não é restrito a um grupo específico
de bactérias, visto que bases de dados públicas, tais como GenBank, cobrem
praticamente todo o espectro da diversidade filogenética; (ii) espécies ainda não
descritas podem ser atribuídas a um grupo de bactérias afins, (iii) os resultados são,
em geral, não ambíguos e não dependem de interpretação individual (Bosshard et
al, 2006). Porém, pode apresentar algumas limitações. É, em certos casos,
comprometido por um baixo poder de distinção filogenética nos níveis de espécie ou
subespécie (Stackebrandt et al, 1994). Isso é particularmente verdadeiro para os
membros do CBc, no qual o sequenciamento do gene recA é mais apropriado para o
reconhecimento das diferentes espécies (Mahenthiralingam et al, 2000).
A qualidade dos bancos de dados públicos, como o GenBank, é crítica. As
sequencias são depositadas independentemente de sua qualidade, por exemplo,
quanto ao seu tamanho, número de nucleotídeos ambíguos, possíveis mudanças
taxonômicas ou mesmo se o organismo associado já foi anteriormente publicado de
forma válida ou não. A interpretação correta de dados gerados por este método
também requer experiência com taxonomia (Bosshard et al, 2006).
Apesar dessas pequenas limitações, o sequenciamento do gene 16S rRNA
teoricamente não leva a falsa identificação, salvo nos casos em que sequências
erradas tiverem sido depositadas no GenBank. Então, com análise crítica dos
resultados e algum conhecimento sobre a taxonomia, a seqüência pode ser quase
que inequivocamente atribuída a uma espécie e o micro-organismo em questão
corretamente identificado. Este método é considerado atualmente o padrão-ouro
para a identificação de bactérias na microbiologia clínica (Clarridge et al, 2004).
Vários estudos comprovam a confiabilidade desta técnica para a identificação de
BGNNF quando comparados a outros métodos de identificação fenotípicos e
moleculares (Ferroni et al, 2002; Bosshard et al, 2006; Cloud et al, 2010).
Todos as 78 amostras de BGNNF incluídas neste estudo foram identificados
por sequenciamento dos genes 16S rRNA e recA. Foram encontrados 16 gêneros e
30 espécies, com grande predominância de espécies do CBc (40%), particularmente
Burkholderia contaminans (24%), Burkholderia cenocepacia (12%) e Pseudomonas
69
stutzeri (10%). É importante salientar que pelo sequenciamento de 16S rRNA,
amostras de CBc foram identificadas somente até o nível do gênero Bukholderia. Só
foi possível identificar as espécies através do sequenciamento de recA, indicando a
importância da adoção de estratégias de sequenciamento adequadas para a
identificação de grupos mais intimamente relacionados.
Existem muitas limitações para analises comparativas em relação a
epidemiologia de BGNNF em bacteremias: o pequeno número de publicações sobre
organismos que não P. aeruginosa, A. baumannii e S. maltophilia, dificultam a
obtenção de dados em volume significativo para comparações; a utilização de
diferentes metodologias de identificação, as constantes mudanças taxonômicas
desse grupo, a origem e período da amostragem, dentre outros.
Entre 1997 e 2002, em um estudo contemplando 176 BGNNF encontrados
em hospitais da América Latina, Gales e colaboradores (2005) também encontraram
predominância de Burkholderia spp., em percentual semelhante ao deste estudo
(44%). Entretanto, para os demais BGNNF, houve diferenças: enquanto em nosso
estudo o segundo mais frequente foi Pseudomonas stutzeri (10%), no de Gales e
colaboradores foi Achromobacter spp. (14%), Também foram encontradas espécies
não identificadas neste estudo, como Ralstonia picketti, além de uma quantidade
considerável de outros BGNNF em que a identificação não foi alcançada
possivelmente porque a metodologia usada para identificação das amostras foi a
fenotípica. Vidal e colaboradores (2002) observaram predominância entre 101
BGNNF também achados neste estudo, mas em diferentes percentuais:
Pseudomonas putida (14% contra 3%) e grupo Alcaligenes-Achromobacter – 14%
contra 6% somatório de Alcaligenes faecalis e Achromobacter xylosoxidans, as duas
espécies do mesmo grupo encontradas. Outros achados incluem Burkholderia spp.
(13% contra 40%), além de quantidades próximas de Pseudomonas stutzeri (8%
contra 10%) e Pseudomonas oryzihabitans (5% contra 3%). Porém, foram também
identificadas espécies não encontradas no presente trabalho: Acinetobacter
johnsonii, Pseudomonas fluorescens, Ralstonia pickettii, Comamonas spp. e
Sphingomonas paucimobilis (Vidal et al, 2002).
Outro trabalho, conduzido por Jacquier e colaboradores (2011) com
188 amostras de BGNNF de nove hospitais franceses e mais amplo em número de
espécies, mostrou uma distribuição de BGNNF de bacteremias (n=36) diferente
deste estudo. Com o uso de sequenciamento de 16S rRNA e métodos fenotípicos
70
(API 20NE e Vitek-2), montaram um perfil epidemiológico das amostras. Nenhuma
amostra de CBc, o principal organismo achado em nossa amostragem, foi
encontrada dentre as amostras de hemoculturas, talvez porque as três técnicas
utilizadas sejam pouco precisas na identificação desses organismos. Por outro lado,
houve predomínio de Pseudomonas oryzihabitans, em quantidade muito superior a
por nós encontrada: 15% contra 3%. Acinetobacter junii também ocorreu em igual
quantidade, mas não incidiu em nosso levantamento. Outro organismo prevalente foi
Acinetobacter lwoffii (12%), que achamos em menor prevalência (1%). Em nossa
amostragem, Pseudomonas stutzeri foi mais frequente (8% contra 4%), enquanto
Achromobacter xylosoxidans, Alcaligenes spp., Pseudomonas putida, Pseudomonas
mossellii, Brevundimonas diminuta e Elizabethkingia meningoseptica foram
observados em ambos os estudos, em quantidades menores e semelhantes. Esta
pesquisa não achou Pseudomonas luteola, Acinetobacter johnsonii, Acinetobacter
radioresistens, Burkholderia gladioli, Cupriavidus pauculus e Ochrobactrum anthropi,
encontrados no trabalho citado. (Jacquier et al, 2011). As diferenças em relação aos
resultados entre os trabalhos podem ser reflexo de vários fatores como
anteriormente citado, mas as diferenças nas metodologias usadas para a
identificação dos BGNNF contribuem de forma importante.
A identificação fenotípica convencional através da avaliação do metabolismo
bacteriano é ainda o método amplamente usado nos laboratórios clínicos, por se
basear em conhecimentos bem disseminados e ser empregado com relativa
facilidade e baixo custo, apesar de ser relativamente demorado. Diante dessa
desvantagem, muitos laboratórios utilizam métodos miniaturizados ou mesmo
automatizados. Quando se trata de BGNNF, não é diferente, mas há maior
dificuldade devido à baixa atividade metabólica e variabilidade morfológica e
bioquímica das amostras.
A presente pesquisa avaliou a identificação por este método, com a utilização
de um conjunto de testes manuais bem mais amplo que o utilizado nos laboratórios
de rotina e comparou com a identificação obtida pela técnica padrão-ouro – o
sequenciamento. Todas as amostras pertencentes ao CBc foram corretamente
classificadas no gênero Burkholderia spp., mas pela impossibilidade de identificação
ao nível de espécies usando este método não puderam ser comparadas com a
identificação obtida pelo sequenciamento do gene recA, que permite diferenciação
de espécies. Ainda assim, é possível afirmar que a identificação de organismos do
71
CBc é facilitada, quando comparado aos outros BGNNF menos comuns, pelo
pequeno conjunto de provas: além do conjunto básico para identificação inicial de
BGNNF (OF-glicose, mobilidade, oxidase), o teste da lisina, quando positivo, é um
marcador importante. Como a maioria das espécies dentro do CBc é positiva para
esse teste, existe alta probabilidade de uma amostra ser incluída no CBc.
Com esse método, foi observado concordância de 64% de identificação em
nível de espécie e 17% em relação a identificação apenas em nível de gênero. Foi
observada completa discordância de resultados em 19% das amostras, pertencentes
aos gêneros Acinetobacter, Alcaligenes, Chryseobacterium, Paenibacillus,
Pannonibacter, Pseudomonas e Wautersiella.
A identificação fenotípica de BGNNF é, por vezes, controversa. Os índices de
precisão na identificação em nível de espécie, quando comparados à metodologia
genotípica, variam entre 53-87% e 54-75% para os sistemas de identificação
fenotípica Vitek-2 e API 20NE, respectivamente. Tal variância se dá em função de
uma série de fatores: da origem da amostra (rotina ou coleção ou material de origem
– sangue, secreção respiratória, etc.), diferentes métodos de referência, inclusão de
diferentes espécies na classificação e variação no grau de aceitabilidade de
resultados (Zbinden et al, 2007; Bosshard et al, 2006; Jacquier et al, 2011).
Bosshard e colaboradores (2006) compararam os sistemas API 20NE e Vitek-
2 frente ao sequenciamento de 16S rRNA. De uma forma global, atingiram taxas de
concordância entre os métodos menores que as deste estudo: respectivamente, a
concordância em nível de espécie foi de 54%/53%. Em relação somente ao gênero a
concordância foi de 7%/1%. Foi observada completa discordância de resultados em
39% e 46% das amostras. Ainda, 15%/43% das amostras corresponderam a
espécies não incluídas nos bancos de dados dos dois sistemas. Cabe ressaltar que
os autores incluíram na amostragem todas as amostras de BGNNF, exceto P.
aeruginosa (Bosshard et al, 2006).
Zbinden e colaboradores (2007) também avaliaram a precisão da
identificação fenotípica de BGNNF isolados de materiais clínicos diversos, através
do sistema Vitek-2, diante do sequenciamento de 16S rRNA, apontando resultados
também inferiores aos deste estudo: concordância em nível de espécie em 59% das
amostras e 10% de concordância apenas em nível de gênero e 31% de amostras
completamente discordantes na identificação ou não identificados por não
constarem no banco de dados do sistema. Uma vez que os resultados discordantes
72
foram devido à identificação de BGNNF incomuns, os autores sugeriram a utilização
do sequenciamento de 16S rRNA para identificação precisa de BGNNF que não
Achromobacter xylosoxidans, Acinetobacter sp., CBc, P. aeruginosa e S. maltophilia,
quando assim identificados pelo sistema Vitek-2 (Zbinden et al, 2007).
Jacquier e colaboradores (2011) realizaram avaliação semelhante a deste
estudo com BGNNF incomuns, excluindo P. aeruginosa, A. baumannii e S.
maltophilia, com os métodos API 20NE e sistema Vitek-2 comparados com
sequenciamento de 16S rRNA. Concordância em nível de espécie foi possível em
57%/71% das amostras, enquanto concordância apenas em gênero foi achada em
19%/10% das amostras, respectivamente. Discordância absoluta foi observada em
4%/6% das amostras. Além disso, 20%/13% não foram identificadas por não
constarem nos bancos de dados dos sistemas de identificação mencionados
(Jacquier et al, 2011).
De um modo geral, os sistemas automatizados são inferiores aos manuais
miniaturizados na identificação de BGNNF menos comuns. Uma das possíveis
causas é que nos sistemas automatizados as leituras das provas são realizadas em
um único tempo de incubação e não permitem a reincubação das cartelas, como no
caso dos testes manuais. Além disso, a ausência de microrganismos raros nos
bancos de dados dos sistemas é outro fator que contribui para identificações
incorretas ou não alcançadas. O índice de concordância superior obtido no presente
estudo quando comparado aos obtidos na literatura com a utilização de metodologia
fenotípica provavelmente se deve ao extensivo número de provas utilizadas na
técnica fenotípica manual, aliado a possibilidade de se fazer leituras prolongadas
(por até 7 dias) de algumas provas. Entretanto, uma desvantagem dessa
metodologia é exatamente o tempo elevado de geração de resultados, o que em um
laboratório clínico não é desejável, diante da necessidade de rapidamente resolver o
quadro de enfermidade dos pacientes. Assim, opta-se pela liberação dos resultados
como “grupo BGNNF” apenas. Nesses casos, as implicações no tratamento (se
guiadas pelo teste de suscetibilidade a antimicrobianos) são pequenas, uma vez que
não há padronização para os antimicrobianos empregados contra BGNNF pelo teste
de difusão em agar (amplamente utilizado em laboratórios clínicos), excetuando-se
Acinetobacter spp, P. aeruginosa, S. maltoplilia e Burkholderia cepacia. Para os
demais BGNNF a metodologia recomendada é a determinação da concentração
73
inibitória mínima por microdiluição e macrodiluição e a interpretação é generalizada
para “outras não-enterobactérias”. Em tais casos, o tratamento é empírico.
4.2 MALDI-TOF-MS
Metodologias baseadas em espectrometria de massa, em especial o MALDI-
TOF-MS foram recentemente introduzidas em laboratórios clínicos e têm causado
uma grande revolução, devido à possibilidade de ser um método diagnóstico
confiável e rápido. As aplicações mais simples do MALDI-TOF MS envolvem
identificar colônias de bactérias, sem preparação elaborada e usando o mínimo de
consumíveis, proporcionando identificação rápida e de baixo custo. Em comparação
com métodos convencionais, MALDI-TOF MS melhora o tempo de identificação de
micro-organismos a uma média de 1,5 dia. Além disso, uma vez que apenas uma
pequena quantidade do micro-organismo é necessária, o teste pode ser realizado
diretamente a partir de colônias isoladas em placas de cultura primária, enquanto
que outros métodos podem requerer subcultivos (Patel, 2013).
Os custos de reagentes são de aproximadamente US$ 0.35/teste e a sua
implementação reduz os custos de reagentes e de trabalho para a identificação em
57% dentro de 1 ano. Estima-se que 87% das amostras são identificadas no
primeiro dia (em comparação com 9% com técnicas convencionais), com um dia de
vantagem na identificação final para a maioria dos organismos e vários dias mais
cedo para organismos bioquimicamente inertes, fastidiosos, ou de crescimento lento
(Tan et al, 2012).
Com a utilização do MALDI-TOF MS, despesas com sequenciamento de DNA
são evitadas para a maioria dos organismos, a eliminação de resíduos é reduzida, e
o controle de qualidade e treinamento de profissionais para o trabalho com os testes
substituídos ou descontinuados são eliminados ou pelo menos diminuídos (Gaillot et
al, 2011).
Além da identificação direta da colônia, a identificação rápida de micro-
organismos que crescem em frascos de hemocultura é promissora e podem reduzir
o tempo de identificação em um dia ou mais, mas requer processamento prévio das
amostras por garrafas de cultura de sangue conter macromoléculas do sangue e
meios de crescimento. O processamento é realizado com centrifugação diferencial e
74
lavagens, a lise seletiva de células de sangue, gel de separação, filtração, e assim
por diante. Para agilizar essa etapa, há no mercado garrafas de sangue com
separação facilitada, como o Sepsityper (Bruker Daltonics) (Buchan et al, 2012;
Loonen et al, 2012; Saffert et al, 2012), porém seu rendimento não é tão bom como
testes em colônias (Buchan et al, 2012) e culturas polimicrobianas não pode ser
completamente caracterizadas (embora estratégias estejam sendo desenvolvidas).
MALDI-TOF MS tem limitações: (i) Ao contrário dos bancos de dados de
sequenciamentos publicamente disponíveis, tais como GenBank, o banco de dados
de MALDI-TOF MS são privados; (ii) por causa de baixos scores, repetições são
necessárias para aproximadamente 10% das amostras (Tan et al, 2012); (iii) são
necessários critérios refinados para distinguir espécies estreitamente relacionadas e
diferenciá-las taxonomicamente (De Bel et al, 2011). Para certas espécies de
organismos, pontos de corte específicos de score (reduzidos) podem ser mais
apropriados (Ford & Durnham, 2013); e (iv) há também uma curva de aprendizado
para a inoculação da quantidade ideal de massa bacteriana nas placas-alvo (Harris
et al, 2012). Os meios de cultura também podem influenciar nos resultados e
estarem associados com baixos scores, em especial meios contendo
antimicrobianos Também as características morfológicas podem influenciar:
microrganimos que apresentam colônias mucoides tendem a ser identificados
incorretamente ou não identificados (Anderson et al, 2012; Harris et al, 2012; Xiao
et al, 2012). MALDI-TOF MS pode produzir resultados diferentes de identificação
(geralmente mais precisos) quando comparados os sistemas fenotípicos atuais
(Saffert et al, 2011).
A identificação obtida pelos resultados do MALDI-TOF-MS também foi
confrontada com a técnica de referência (sequenciamento). Os percentuais de
concordâncias gerais foram de 42% em nível de espécie e de 45% somente em
nível de gênero. Identificação discordante aconteceu em 13% das amostras. De
todas as amostras incluídas neste estudo, apenas duas das espécies encontradas
não constavam no banco de dados do sistema MALDI-TOF-MS: Chryseobacterium
haifense e Burkholderia contaminans, justamente a mais frequente neste
levantamento.
Portanto, concordância ao menos em nível de gênero foi alcançada em 87%
das amostras, dado promissor no que diz respeito à possibilidade do emprego de
MALDI-TOF MS na identificação de BGNNF incomuns.
75
A comparação destes dados é difícil diante da vaga literatura ainda disponível
sobre uma técnica tão recente e também, assim como para os outros métodos
fenotípicos de identificação, diante das diferenças metodológicas entre os estudos,
como tamanho do universo amostral, materiais de origem das amostras, dentre
outros, que podem resultar em eventuais diferenças de resultados. Os trabalhos
encontrados na literatura lidam com materiais diversos de interesse clínico ou se
concentram em amostras de secreções respiratórias de pacientes com FC, onde
encontramos a maior diversidade de BGNNF quando comparadas a qualquer outro
grupo de pacientes.
Nossos dados não estão distantes dos descritos por Melmann e
colaboradores (2009) que, ao testarem 559 amostras de BGNNF frente a um banco
de dados próprio contendo 87 cepas de referência, encontraram índices de
concordância em nível de espécie de 50%, somente em nível de gênero de 43% e
discordância de 7%, dados que sugerem que suas identificações foram ligeiramente
melhor sucedidas. Quando comparados aos nossos números, apresentaram maior
concordância em nível de espécie, majorada em 8%, índice esse distribuído entre
amostras discordantes e concordantes apenas em nível de gênero. Porém, somente
utilizaram a identificação por métodos moleculares quando ocorreu incoerências
entre as identificações obtidas por MALDI-TOF MS e aquelas feitas por métodos
fenotípicos. Em nossa amostragem, todas as amostras passaram por
sequenciamento de 16S rRNA ou de recA (Melmann et al, 2008).
Bizzini e colaboradores (2010), com uma amostragem reduzida (n=22),
chegaram a números de identificação correta em nível de espécie de 86% e em
nível de gênero de 14%, sem resultados discordantes em relação ao método
fenotípico convencional, realizado com os sistemas API e Vitek-2. O estudo, além de
não ter empregado métodos mais precisos como referência (sequenciamentos, por
exemplo), contemplou uma gama ampla de bactérias e fungos, com poucas
amostras de BGNNF, possivelmente gerando um viés estatístico para identificações
mais bem sucedidas em relação a um perfil de amostragem mais semelhante ao
nosso (Bizzini et al, 2010).
Em trabalho com amostras de BGNNF provenientes de secreção respiratória
de pacientes com FC, Marko e colaboradores (2012) observaram índices menores
de sensibilidade para MALDI-TOF MS. Concordância em nível de espécie foi de
27%, enquanto concordância somente em nível de gênero foi de 62% e discordância
76
de 11%, em relação a técnicas de identificação fenotípicas (manuais, miniaturizadas
e automatizados) e genotípicas (PCR e sequencimento de 16S rRNA e recA), porém
grupos amostrais distintos foram identificados por técnicas distintas, impossibilitando
uma comparação uniformizada do MALDI-TOF MS frente a uma técnica de
referência. Esses dados podem indicar uma maior dificuldade de identificação de
BGNNF em secreção respiratória de FC por MALDI-TOF MS em relação às outras
amostras clínicas, até porque a diversidade e similaridade microbiana é maior neste
material. Logo, as dificuldades de identificação para BGNNF de pacientes com FC
possivelmente serão as mesmas independentemente das técnicas empregadas
(Marko et al, 2012).
Com desenho metodológico semelhante ao do presente estudo, mas com um
número de amostras maior (n=86) e com maior diversidade espécies de BGNNF,
Jacquier e colaboradores (2011) atingiram índices globais de concordância em nível
de espécie e apenas em nível de gênero de 78% e 12%, respectivamente. Houve
discordância completa em 3% das amostras e outros 7% não puderam ser
identificadas.
Uma outra abordagem dos nossos resultados foi a analise dos resultados com
a exclusão das espécies do CBc. Assim, houve um significativo aumento da precisão
de MALDI-TOF MS: 60% de concordância em nível de espécie, acompanhado de
uma redução da concordância somente em nível de gênero para 19% e um aumento
da discordância para 21%, categoria essa inalterada em números absolutos. Na
literatura previamente descrita, ao se analisar os dados de forma semelhante
(excluindo CBc da amostragem), também notou-se um desvio das concordâncias em
nível de gênero para concordâncias em nível de espécie, porém bem menos
acentuados, uma vez que não eram predominantes na amostragem: 1% e 4% no
estudo de Melmann e colaboradores (2008) e no de Bizzini e colaboradores (2010),
respectivamente. No trabalho de Jacquier e colaboradores (2011), essa tendência
não foi notada, uma vez que, sob tal análise, houve uma diminuição da concordância
em nível de espécie de 1%, com o aumento de mesma proporção para a categoria
de concordância apenas em nível de gênero. Marko e colaboradores (2012) teriam
notado uma diminuição de ambas as categorias de concordância de 2% cada, sendo
este montante (4%) acrescido na categoria de discordância completa. Em outro
estudo com 52 amostras de CBc analisados com o sistema MALDI-TOF MS, Degand
77
e colaboradores (2008) relataram maior concordância de nível de espécie (83%) do
que o atual estudo.
Todas as amostras de CBc foram corretamente identificadas em gênero,
enquanto apenas 16% delas foram corretamente identificadas até o nível de
espécie. Além disso, as maiores taxas de discordância também incidiram sobre esse
grupo. Cabe ressaltar que embora para a maioria das amostras os scores tenham
sido superiores a 2300, critério definido como de alta probabilidade de identificação
em espécie, a maior parte delas (68%) foi caracterizada apenas em nível de gênero,
ou seja, identificação de CBc mesmo com scores acima de 2,300 não foram precisos
em espécie.
Em estudo anterior realizado por nosso grupo em colaboração com o grupo
de Gales e colaboradores, avaliou-se a identificação de 91 amostras de CBc de
hospitais de São Paulo e Rio de Janeiro, majoritariamente oriundas de secreção
respiratória e sangue, por MALDI-TOF MS comparativamente à identificação por
sequenciamento de recA. Todas as amostras foram identificadas corretamente em
nível de gênero, e 77% em nível de espécie. Os erros mais frequentes de
identificação aconteceram com amostras de Burkholderia contaminans (n=6), todas
discordantes da técnica de referência, e Burkholderia cepacia, com resultados
discordantes em 1/3 das amostras (Fehlberg et al, 2013). A diferença de
sensibilidade deste estudo em relação ao anteriormente citado pode estar na maior
quantidade de espectros proteicos de referência de CBc nos bancos de dados do
sistema, por exemplo. Em relação ao nosso estudo, essa diferença também pode
estar no fato de que nossas amostras de CBc são predominantemente Burkholderia
contaminans, espécie descrita recentemente, pouco comum e portanto ainda pouco
estudada.
Por ser um método recente, MALDI-TOF MS ainda pode ser aprimorado nas
variáveis envolvidas na técnica, como condições de crescimento microbiano,
extração proteica com ácido fórmico ou inoculação direta da colônia in natura e
mudanças nos pontos de corte das categorias de confiabilidade da identificação. Um
estudo conduzido por Ford & Burnham (2013) aponta como o melhor procedimento
para BGNNF o inóculo denso e ligeira redução dos pontos de corte do sistema em
relação aos indicados pelo fabricante (para BGNNF não fastidiosos), sem grande
diferença para tratamento com ácido fórmico. A temperatura do cultivo também
pareceu influenciar no resultado final, com temperaturas ótimas em torno de 35ºC.
78
O principal território a ser explorado na melhora da sensibilidade de MALDI-
TOF MS é tão simples quanto animador: com um mínimo cuidado na curadoria da
biblioteca de espectros proteicos de referência é possível incrementar
consideravelmente a identificação de novas amostras (Melmann et al, 2008;
Melmann et al, 2009; Degand et al, 2008). Isso é particularmente importante em um
grupo de organismos de relação mais íntima como o CBc, no qual a utilização dessa
estratégia mostrou bons resultados (Miñán et al, 2009; Jacquier et al, 2011). Ao se
aprimorarem os bancos de dados do sistema, e com o cadastro de novos perfis
proteicos que cubram a epidemiologia local e os principais micro-organismos
circulantes em cada laboratório, há a tendência em fazer do MALDI-TOF MS uma
técnica de identificação fácil, econômica, rápida e precisa, de grande potencial como
método de escolha na microbiologia clínica.
4.3 Comparação entre os resultados das identificações fornecidas pelas
metodologias fenotípica, molecular e MALDI-TOF-MS
A contribuição de BGNNF em doenças infecciosas e particularmente em
bacteremias não pode ser negligenciada, requerendo meios de identificação rápida e
precisa. Analisando os resultados obtidos na metodologia molecular como padrão e
comparando com os dois métodos fenotípicos, os mesmos resultados para a
identificação das espécies nos três métodos foram observados em 21 das 47
amostras de BGNNF analisadas (excluídas as amostras do CBc). Concordância de
identificação apenas em gênero entre as três técnicas foram observadas em 11
amostras. Uma analise mais detalhada dos casos em que nenhuma técnica
fenotípica acertou na identificação quanto comparada ao sequenciamento (três
casos) parece apontar como possíveis causas a similaridade fenotípica e genotípica
entre as amostras, o que por si só torna a identificação fenotípica convencional
extremamente difícil.
Especificamente em relação ao MALDI-TOF MS nesses casos, podemos
inferir que: (i) valores elevados de score deste sistema não garantem a identificação
mais precisa, uma vez que até amostras com os mais altos valores de score
79
(≥2,300) foram discordantes em relação à identificação genotípica; (ii) valores de
score relatados na literatura como altamente confiáveis para a identificação em nível
de espécie (≥2,000) também não parecem ser adequados para todas as amostras, e
o próprio fabricante do sistema sugere apenas o termo “alta probabilidade”, portanto
não excluindo a possibilidade de identificação discordante; e (iii) a sensibilidade da
identificação em nível de gênero entre os dois métodos fenotípicos parece ser
equivalente.
A identificação de micro-organismos de maior dificuldade, como os BGNNF
pelo uso de técnicas fenotípicas manuais está bem estabelecida, porém é
demorada, assim como a metodologia genotípica de sequenciamento, que é
altamente precisa, mas onerosa. MALDI-TOF MS é um método muito recente,
rápido, econômico e preciso, porém precisa ainda de estudos para melhorar o seu
desempenho porem é promissor na microbiologia cínica e promete revolucionar a
rotina laboratorial.
4.4 Tipagem das amostras de B. contaminans por PFGE
O CBc é particularmente importante em pacientes com FC, sendo encontrado
em frequência variável. Em média, 2,5% dos pacientes com FC (CFF) apresentam o
CBc nas culturas de secreções respiratórias, podendo trazer consequências graves
para esses pacientes. A identificação em nível de espécie é útil para a adoção de
medidas de prevenção da transmissão de cepas epidêmicas de Burkholderia
cenocepacia e Burkholderia multivorans, associadas à 80% dos pacientes e
relacionadas com o declínio respiratório agudo de "síndrome cepacia” (LiPuma,
2010; LiPuma et al, 2011). A bacteremia é um evento raro nesse grupo de pacientes
e ocorre nos casos de síndrome cepacia. A importância de cada espécie do CBc em
bacteremias em pacientes sem FC ainda não está muito bem descrita. Em geral,
nesses casos estão associados a surtos ocasionados por contaminação ambiental,
produtos e equipamentos de uso hospitalar.
Em nossa amostragem as espécies do CBc contribuíram com os maiores
percentuais de isolamento em bacteremia, sendo Burkholderia contaminans a
80
espécie mais frequente (24%). Esses dados de certa forma foram surpreendentes,
pois, juntamente com Burkholderia lata, é uma das espécies mais recentemente
descritas no CBc (2009). Nos últimos anos, porém, B. contaminans vem ganhando
importância. Sua associação com infecção do trato biliar foi descrita em um paciente
que desenvolveu sepse após um procedimento invasivo (colangiopancreatografia
retrógrada endoscópica – CPRE) (Ohji et al, 2013). Outro relato descreve um surto
de B. contaminans cuja fonte foi de origem ambiental (toalhas umedecidas
industrializadas) abrangendo diversos setores de um hospital alemão acometendo
pacientes com pneumonia associada à ventilação, ferida cirúrgica e casos de
septicemia (Martin et al, 2011). Em ambos os casos, as hemoculturas dos pacientes
foram testadas fenotipicamente com métodos automatizados e miniaturizados, que
identificaram o agente etiológico apenas em nível de complexo. A identificação
correta do patógeno em nível de espécie só foi possível através da análise do
sequenciamento de recA.
Em trabalho recente com 91 amostras de CBc isoladas de pacientes
hospitalizados em hospitais terciários no RJ (n=57) e São Paulo (n=34) de diferentes
espécimes clínicos, Burkholderia contaminans foi encontrada em 12 amostras
(13%), sendo a principal espécie isolada de hemocultura (83%) (Fehlberg et al,
2013).
Burkholderia contaminans também foi recentemente reportada como a mais
frequente (58%) dentre 66 pacientes com FC de dois centros de referência na
Argentina (Martina et al, 2013). Nosso grupo também encontrou pela primeira vez B.
contaminans em 3% das 100 amostras de CBc isoladas de secreções respiratórias
de pacientes com FC assistidos em um centro pediátrico no Rio de janeiro (Neto,
2013).
No presente estudo, a análise dos perfis de restrição gerada por PFGE das
amostras de Burkholderia contaminans do presente trabalho não apresenta um
clone disseminado causando surto. A análise da distribuição dos grupos clonais de
B. contaminans em relação aos setores de origem dos pacientes mostrou que dois
setores (nefrologia e hemodiálise) contribuíram com cinco pacientes e nove
amostras positivas em períodos de até 1,5 anos. Dois grupos clonais foram
encontrados em pacientes distintos em cada um desses setores, sugerindo
aquisição ambiental. Embora não possamos afirmar, é possível sugerir que
equipamentos e soluções de diálise empregados em nefrologia hospitalar sejam as
81
fontes potencialmente importantes de aquisição desse micro-organismo, como já
descrito na literatura (Magalhães et al, 2003; Gómez et al, 2008). Foi observado
também que, na maioria dos pacientes, grupos clonais diferentes foram encontrados
no mesmo paciente em amostras coletadas na mesma data, sugerindo uma possível
ocorrência de pseudobacteremia. Em conjunto esses dados reforçam o meio
ambiente como a possível fonte de aquisição desses microrganismos.
Intrigante é o fato da maior predominância de Burkholderia contaminans em
relação a outras espécies do gênero. Hipoteticamente, esse achado pode ser devido
a características intrínsecas à espécie, que permitiriam a sua manutenção no
ambiente; ou ainda por se tratar de uma espécie descrita somente em 2009,
anteriormente já causava infecções e era identificada pelos laboratórios como outro
táxon relacionado. Uma vez que as espécies do CBc são extremamente
semelhantes entre si, B. contaminans poderia estar sendo classificada como
Burkholderia cepacia, espécie antes referida como a mais frequente em surtos.
O conhecimento sobre metodologias para a identificação de espécies de
BGNNF incomuns deve ser aprofundado, aprimorado e discutido para a construção
de um perfil epidemiológico mais fidedigno. O conceito de microrganismos “raros” ou
“incomuns” muitas vezes esbarra na falta de ferramentas suficientes para o seu
conhecimento, assim patógenos ditos “raros” podem ser subestimados quanto ao
seu verdadeiro papel como patógeno e consequentemente com pouco incentivo
sobre estudos de virulência e patogênese. Aliado a isso, esses microrganismos são
resistentes naturalmente a muitos antimicrobianos usados na prática clínica e o
laboratório não dispõem de recursos padronizados para a determinação do seu perfil
de sensibilidade aos antimicrobianos. Assim é importante conhecer melhor não só
sobre metodologias para a identificação como também sobre os mecanismos de
resistência destes micro-organismos para o estabelecendo de estratégias
terapêuticas adequadas.
82
5 CONCLUSÃO
A identificação molecular das amostras de BGNNF incomuns em bacteremias
foi possível pela associação do sequenciamento de dois genes alvo: 16S rRNA e
recA ,que caracterizou dentre as 78 amostras de BGNNF 16 gêneros e 30 espécies,
com maior ocorrência de Burkholderia contaminans (24%), Burkholderia
cenocepacia (12%) e Pseudomonas stutzeri (10%).
As amostras de CBc somente puderam ser identificadas em nível de espécie
através do sequenciamento de recA, indicando a importância da adoção de
estratégias adequadas para a identificação de grupos mais intimamente
relacionados.
A comparação dos resultados da identificação obtida nos método fenotípico
manual com o sequenciamento mostrou resultados concordantes em 54% das
amostras em nível de espécie e 17% em gênero. Todas as amostras pertencentes
ao CBc foram corretamente classificadas pelo método fenotipico apenas em gênero
Burkholderia spp.
A identificação das espécies do gênero Burlkolderia, incluindo aquelas
bactérias do CBc, é dificill por métodos fenotípicos, mas pode ser facilitada, quando
comparado aos outros BGNNF menos comuns, pela utilização do teste da lisina, que
quando positivo, é um marcador importante. Como a maioria das espécies dentro do
CBc é positiva para esse teste, existe alta probabilidade de uma amostra ser incluída
nesse grupo.
A comparação dos resultados obtidos no MALDI-TOF MS frente ao
sequenciamento do genes 16S e recA mostrou concordância de 42% e 45% em
nível de espécie e somente em nível de gênero, respectivamente, das 78 amostras
de BGNNF. A causa principal das discordâncias entre os dois métodos deveu-se as
amostras do gênero Burkholderia e, em especial, pelo maior número de amostras de
B. contaminans, espécie que não constava do banco de dados do equipamento.
Com a exclusão dessas amostras da analise, os percentuais em nível de espécie
atingiram 60%.
A comparação combinada dos métodos fenotípico e proteomico, frente aos
métodos moleculares, mostrou concordância de identificação em percentuais
semelhantes, ao menos em nível de gênero, para a maioria das amostras. As
83
discordâncias entre as técnicas ocorreram principalmente devido a dificuldade de
identificação das espécies do CBc.
A análise dos casos de discordância dos métodos fenotipicos sugrem como
possíveis causas a similaridade fenotípica das amostras de BGNNF, que dificulta
significativamente a identificação por esses métodos. Essa similaridade se estende
também aos perfis proteicos que consequentemente impactam na identificação pelo
MALDI-TOF, além da ausência desses perfis no banco de dados do equipamento.
Nenhum dos três métodos utilizados foi capaz de, exclusivamente,
identificar todos os BGNNF estudados, apontando para a necessidade da utilização
de estratégias metodológicas combinadas para a identificação em nível de espécie.
Considerando a aplicação dessas metodologias em laboratório clinico, cuja
resposta deve ser a mais rápida possível, a identificação pelo método MALDI-TOF
MS é promissora, uma vez que poderá identificar esses BGNNF incomuns, com
segurança em nível de gênero, podendo ser aprimorado com a atualização
constante do banco de dados com novos perfis proteicos e com baixo custo de
insumos e rapidez maior que as outras técnicas disponiveis. .
O predomínio de Burkholderia contaminans (24%) em hemoculturas de
pacientes de uma mesma instiuição, foi surpreendente por ser uma das espécies do
CBc mais recentemente descritas dentro do CBc. O estudo dos perfis de restrição
enzimática após PFGE dessas amostras não apresentou um clone disseminado
causando surto. Além disso, a maioria das amostras isoladas de coletas múltiplas de
sangue no mesmo paciente, não mostrou relação de clonalidade entre elas. Estes
dados em conjunto reforçam o ambiente como a possível fonte de aquisição dessa
espécie.
84
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