GESTÃO DE MULTIDÃO: METODOS E PROCEDIMENTOS
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GESTÃO DE MULTIDÃO: METODOS E PROCEDIMENTOS
AGUIAR, Eduardo José Slomp Aguiar1
MOTA, Sandro Marcos2
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre asmelhores práticas em gestão de multidão. A partir dolevantamento histórico dos desastres de multidão no Brasil eno mundo irá verificar-se a complexidade que é lidar com essetema. O risco ocorrer um desastre, em especial a asfixia poresmagamento está sempre presente e a forma de lidar com esseproblema deve ser o mais ampla possível. Num país com umacultura ainda em desenvolvimento no que tange a segurança,apresentar boas práticas para a gestão de multidão é umprimeiro passo para tentar implementá-las.
Palavras-chave: Multidão. Gestão de multidão. Controle demultidão. Segurança em grandes eventos. Grandes eventos.
1 Oficial Bombeiro-militar, Bacharel em Direito pela UNIVEL, trabalhou comocolaborador na Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos-MJ para a Copadas Confederações 2013 e a Jornada Mundial da Juventude 2013, Aluno-oficial do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais da Polícia Militar doParaná.
2 Oficial Bombeiro-militar, Tecnólogo da Construção Civil pela UFTPR,especialista em Engenharia de Segurança Contra Incêndios e Pânico pelaPontifícia Universidade Católica do Paraná, Orientador de Conteúdo doCurso de Aperfeiçoamento de Oficiais da Polícia Militar do Paraná.
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GESTÃO DE MULTIDÃO: METODOS E PROCEDIMENTOS
AGUIAR, Eduardo José Slomp Aguiar3
MOTA, Sandro Marcos4
1 INTRODUÇÃO
A reunião de pessoas, uma multidão, apesar de não ser um
evento recente na história humana, tem sido cada vez mais
frequente com o aumento das aglomerações urbanas. Estas
multidões ocorrem normalmente sem grandes incidentes, numa
espécie de auto-organização de movimentos e ocupação no local,
porém um simples erro pode desencadear uma reação em cadeia e
ocasionar ferimentos e mortes. O trabalho tem por objetivo
justamente verificar métodos e procedimentos para evitar estes
3 Oficial Bombeiro-militar, Bacharel em Direito pela UNIVEL, trabalhou comocolaborador na Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos-MJ para a Copadas Confederações 2013 e a Jornada Mundial da Juventude 2013, Aluno-oficial do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais da Polícia Militar doParaná.
4 Oficial Bombeiro-militar, Tecnólogo da Construção Civil pela UFTPR,especialista em Engenharia de Segurança Contra Incêndios e Pânico pelaPontifícia Universidade Católica do Paraná, Orientador de Conteúdo doCurso de Aperfeiçoamento de Oficiais da Polícia Militar do Paraná.
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incidentes, buscando formas de reconhecimento, avaliação e
tratamento aos problemas decorrentes de uma multidão.
A ausência ou falha na aplicação de métodos e
procedimentos para a gestão de multidão pode incidir na
ocorrência ou agravamento de um incidente. No limiar de sediar
grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas; e depois
de erros e falhas na Copa das Confederações e na Jornada
Mundial da Juventude que não foram absorvidos como aprendizado
pelos órgãos de segurança brasileiro, aliado a falta ou
ausência de cultura do país em gestão de multidão, poderá
acarretar numa perda irreparável à imagem do Brasil no mundo.
O prejuízo neste aspecto é incalculável, mas reparável; o
problema maior é a possibilidade de perdas de vidas humanas, a
qual o país não está a salvo, como ficou provado no incêndio
na boate Kiss na cidade de Santa Maria/RS em janeiro deste
ano.
Neste contexto é possível afirmar que a gestão de
multidão vem crescendo no Brasil com o advento dos grandes
eventos, porém já encontra terreno fértil para sua aplicação
em festas populares: Carnaval do Rio e Salvador, Festival
Folclórico de Parintins, Festa Junina de Campo Grande/PB e
Caruaru/PE, Festa do Peão em Barretos/SP; eventos religiosos:
Círio de Nazaré em Belém/PA e a festa da Padroeira do Brasil
em Aparecida/SP; competições esportivas: Campeonato Brasileiro
de Futebol, de Vôlei; e concertos musicais: Rock in Rio e
Festival de Verão de Salvador.
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As situações acima descrevem eventos temporários de
grande concentração de público, mas a aplicação de gestão de
multidão também tem lugar em locais de uso contínuo como
terminais rodoviários e ferroviários, estações de metrô e
aeroportos, ruas e edifícios. Enfim, qualquer local em que se
possa encontrar um número considerável de pessoas é passível
de se utilizar as ferramentas de gestão de multidão.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 GESTÃO DE MULTIDÃO
Gestão é sinônimo de administração e pode ser definida
como a ciência social que estuda e sistematiza as práticas
usadas para administrar negócios, pessoas ou recursos com o
objetivo de alcançar metas desejadas (Oxford, 2012)
A definição de multidão tem se provado problemática para
os pesquisadores com descrições variáveis e até de certa forma
nebulosa. Entretanto, um estudo do governo britânico
comparando todas estas descrições encontrou 06 características
comuns para uma definição completa (UK, 2009, p. 60):
a. Número considerável de pessoas;
b. Reunidos em um mesmo local, num espaço físico comum;
c. Por um período de tempo mensurável;
d. Possuem objetivos e interesses comuns;
e. Demonstram comportamentos similares ou agem como um
grupo único;
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f. Interagem uns com os outros.
Em termos de gestão de multidão existem vários aspectos
que podem ser abortados como eficiência, economicidade,
desempenho, mas, apesar de serem abordados alguns destes no
artigo, trataremos essencialmente da gestão de segurança, no
sentido amplo que a palavra tem em português e em inglês
costuma ser entendida como safety & security.
Safety é o estado de estar a salvo, fora de perigo e
security pode ser entendida como as atividades envolvidas na
proteção de pessoas, bens e de um país contra um ataque
(Oxford, 2012). A definição etimológica pode não ajudar muito,
pois as palavras são sinônimas, mas seu emprego é diferenciado
nos países de língua inglesa, usando-se safety para aspectos de
proteção contra emergências médicas e de bombeiro e security para
emergências policiais.
2.2 TIPOS DE MULTIDÃO
A multidão como um fenômeno social só passou a ser mais
estudada a partir do fim do século XIX quando a população
urbana passou a ser maior do que a rural na Europa. Estudada
como um ramo da psicologia social, suas definições e
classificação estão mais associadas a este campo do que da
segurança. Cientistas sociais que teorizaram sobre este
elemento foram Gustave Le Bon, Gabriel Tarde, Sigmund Freud e
Steve Reicher.
Teorias como a desindividualização do ser em uma multidão
começaram a surgir, teoria esta em que o individuo perde parte
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de sua própria identidade e por pressão do grupo passa a
aceitar algo ou até mesmo por estar anônimo passa a agir de
forma diferente (SPEARS, 1995).
Assim como a própria definição de multidão tem sido
controversa, uma classificação de tipos de multidão não
encontra consenso nos meios acadêmicos e os mais citados
ainda são Momboise (1967) e Berlonghi (1995). Momboise dividiu
a sua classificação em 04 tipos: casual, convencional,
expressiva e agressiva. Já Berlonghi preencheu sua
classificação em 11 tipos que se demonstra no quadro abaixo:
Tabela 1 – Tipos de multidões segundo Berlonghi.
Tipo de Multidão Descrição
Ambulatória Pessoas caminhando, geralmente calmas.
Limitada As pessoas têm seus movimentos limitados.
Espectadora Assistindo uma atividade específica.
ExpressivaContêm um fator emocional associado como
um funeral.
ParticipativaAs pessoas participam do evento como
protestos
Agressiva/HostilInicialmente verba, podendo conduzir a
crimes.
Demonstrativa Organizada de certa forma como uma marcha.
Densa/SufocanteDensidade elevada podendo ocorrer desmaios
e morte.
Em fuga/ApressadaOcorrência de uma emergência real ou
imaginária.
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Saqueando/PilhandoPessoas cometendo crimes de saques e
danos.
Violenta Atacando ou aterrorizando.
Mais importante que procurar uma classificação no meio
acadêmico é o responsável por esta multidão, seja um ente
privado ou público, conhecer previamente o público com que
esta lidando e ter a capacidade de enfrentar os problemas
decorrentes caso uma multidão espectadora mude de
comportamento e passe a ser agressiva ou em fuga, por exemplo.
Tentar classificar uma multidão pode ser tarefa difícil,
em especial em ambientes de grande diversidade como um evento
esportivo em que se encontram pessoas de todas as idades,
gêneros, credos e objetivos específicos.
2.3 ASFIXIA POR ESMAGAMENTO
Tratando da gestão de multidão no aspecto segurança há que
se fazer uma referência pela principal causa de mortes e
feridos. Apesar de a probabilidade de sua ocorrência não ser
elevada quando ocorre costuma ter consequências devastadoras
como será demonstrado abaixo no item sobre os históricos de
incidentes.
Ao contrário do imaginário popular em que as pessoas
morreriam por estarem sendo pisoteadas, o mecanismo de trauma
da asfixia por esmagamento ocorre em sua maioria de pé. Um
estudo de caso conduzido por Gill e Landi (2004) demonstrou de
forma contundente a mecânica da asfixia por compressão
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torácica ao analisar as autópsias das 09 pessoas mortas num
incidente na cidade de Nova Iorque em 28 de dezembro de 1991
durante um jogo de basquete para caridade.
Quando ocorre um tumulto em uma multidão há um aumento na
densidade e as pessoas são esmagadas umas pelas outras; elas
se deslocam com a multidão, muitas vezes sem estarem com o pé
no chão. Neste momento a pressão é tão grande que não permite
o tórax se expandir e o diafragma se movimentar, ocorrendo a
asfixia. Elas se sufocam de pé, vindo a cair somente quando a
multidão se dissolve.
2.4 HISTÓRICO DE DESASTRES EM MULTIDÃO NO BRASIL
A percepção de risco do brasileiro certamente é menor do
em outros países. Fatores sociais, culturais e econômicos
influenciam neste sentido, mas também a ausência de grandes
desastres naturais como terremotos, maremotos, furacões,
vulcões. Um país abençoado por Deus como no dito popular.
Porém o que se enxerga é uma falta de memória que
conduzem a esta pouca ou ausente percepção de risco. O
incêndio na boate Kiss ocorrido em janeiro de 2013 com 242
mortes já encobriu o desastre na Serra Fluminense em janeiro
de 2011 que matou mais de 900 pessoas.
Parece ser até mesmo uma mania do brasileiro ou uma
autoproteção deixar o desastre cair no esquecimento. O
incêndio no Gran Circus Norte Americano no ano de 1961 que
vitimou 503 pessoas, na sua maioria crianças, como que foi
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deixado de lado pela população niteroiense na ânsia de apagar
esta tristeza (VENTURA, 2011).
Para evitar este apagão histórico, listaram-se abaixo
alguns dos principais incidentes com multidão na história do
país:
1961 - Gran Circus Norte Americano – Niterói/RJ - 503 mortos –
a lona do circo incendiou-se e caiu sobre cerca de 3.000
espectadores.
1973 - Estádio Albertão – Teresina/PI - 07 mortos – 70 feridos
– na partida de inauguração do estádio entre Fluminense e
Tiradentes a grade de segurança rompeu.
1985 – Cortejo de Tancredo Neves – Belo Horizonte/MG – 07
mortos – o cortejo que reuniu mais de um milhão de pessoas
acabou em tumulto em frente ao Palácio Liberdade.
1985 – Show dos Menudos - Rio de Janeiro/RJ – 02 mortes – com
superlotação no estádio São Januário 02 meninas morreram
asfixiadas. O local ainda seria palco de outra tragédia quando
175 pessoas se feriram na final do brasileiro em 2000.
1992 – Estádio Maracanã – Rio de Janeiro/RJ – 04 mortos – 90
feridos – final do campeonato brasileiro entre Botafogo e
Flamengo, a grade do segundo anel rompeu e as pessoas caíram
sobre as que estavam abaixo.
2003 – Jóquei Clube do Paraná – Curitiba/PR - 03 mortos -
Problemas no acesso do show “Unidos pela Paz” acabaram em
tumulto ocasionando o esmagamento dos adolescentes.
2006 – Shopping Fiesta – São Paulo/SP – 03 mortos – um show
do grupo mexicano Rebeldes acaba em tumulto quando a grade em
frente ao palco caiu.
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2007 – Estádio Fonte Nova - Salvador/BA – 07 mortos – parte da
estrutura do anel superior do estádio cedeu e as pessoas
despencaram de cerca de 30 metros de altura.
Fig. 1 – Queda da grade do Maracanã. Fig. 2 –
buraco na fonte nova.
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2.5 HISTÓRICO DE DESASTRES EM MULTIDÃO NO MUNDO
Para aumentar a perspectiva dos desastres com multidão se
faz necessário conhecer alguns dos principais incidentes pelo
mundo:
1964 – Estádio Nacional - Lima/Peru – 318 mortos – tumulto
gerado pela anulação de um gol peruano e agravado quando a
polícia lançou os cães sobre o público.
1968 – Tragédia do Portão 12 – Buenos Aires/Argentina – 71
mortos – nunca foi apurada a causa oficialmente, mas todas as
vítimas foram encontradas perto do portão 12 que estava
fechado.
1971 – Estádio Ibrox Park - Glasgow/Escócia – 66 mortos – um
tropeço teria desencadeado o esmagamento durante a saída do
estádio. O Green Guide foi publicado em 1973 após este
incidente.
1979 – Concerto do The Who – Cincinatti/EUA – 11 mortos – a
passagem do som antes do horário agitou os ânimos do pessoal
do lado de fora do coliseu.
1985 – Estádio de Bradford – Bradford/Inglaterra – 56 mortos –
um incêndio na cobertura do estádio feita de madeira e
impermeabilizada com asfalto propagou-se rapidamente não dando
chance ao público.
1985 – Estádio Heysel – Bruxelas/Bélgica – 39 mortos – um
ataque da torcida do Liverpool sobre a torcida do Juventus
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ocasionou uma avalanche humana que acabou por desabar um dos
muros do estádio. Após o ocorrido as equipes inglesas fora
punidas por 5 anos sem disputar campeonatos europeus.
Fig. 3 – queda do muro em Heysel. Fig. 4 – pessoas
esmagadas em Hillsborough.
1988 – Estádio de Kathmandu - Kathmandu/Nepal – 93 mortos –
quando uma tormenta atingiu o estádio várias pessoas tentaram
se proteger no único setor que tinha cobertura, o setor oeste
e iniciaram um tumulto.
1989 – Estádio de Hillsborough - Sheffield/Inglaterra – 96
mortos – assustados com a agressividade da torcida do
Liverpool, a polícia acabou liberando os portões para sua
entrada, ocasionando um esmagamento nas grades internas. No
ano de 2012, o primeiro ministro inglês, Dave Cameron, pediu
desculpas pelas falhas no controle da multidão e na
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investigação policial que produziu atestados de alcoolemia
falsos para as vítimas.
Fig. 5 - Desastre em dois momentos: a abertura do portão C pela
polícia e a superlotação dos setores 3 e 4.
1996 – Estádio Nacional Mateo Flores – Guatemala – 83 mortos –
a venda de ingressos falsos acabou gerando a superlotação do
estádio.
2001 – Estádio Accra Sports - Accra/Gana – 26 mortos – a
tentativa da polícia de conter um conflito com gás
lacrimogêneo acabou em tragédia quando as pessoas começaram a
se esmagar.
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2010 – Love Parade - Duisburg/Alemanha – 21 mortos – Falta de
planejamento na para gay alemã fizeram com que um grande
número de pessoas fluísse pelo mesmo túnel em sentidos
contrários.
2010 – Festival D’Água - Phnom Penh/Camboja– 353 mortos – o
esmagamento ocorreu quando grupos de ambos os lados da ponte
convergiram para assistir a passagem dos barcos no rio Tonlé
Sap.
Fig. 6 – Esmagamento em Phnom Pen. Fig. 7 – Calçados sobre a
ponte Tonlé Sap.
2012 – Estádio Port Said – Egito – 79 mortes – uma suposta
vingança da polícia contra os torcedores do Al-Ahly teria
ocasionado o desastre que transformou o estádio num campo de
batalha.
2013 – Maratona de Boston - Boston/EUA – 03 mortes – 02 bombas
numa multidão que assistia a prova ocasionaram as mortes e 264
feridos.
A quantidade de desastres com multidões tornam a
peregrinação à Meca na Arábia Saudita um caso único no mundo
de mortes por esmagamento. Somente após 2006 quando foram
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tomadas medidas de gestão e controle da multidão é que parece
que a rotina de óbitos desapareceu.
1990 - estouro da multidão em um túnel – 1.426 mortos.
1994 - ritual de apedrejamento do Diabo – 270 mortos.
1998 - esmagamento na ponte Jamarat – 118 mortos.
2001 - ritual de apedrejamento do Diabo – 35 mortos.
2003 - ritual de apedrejamento do Diabo – 14 mortos.
2004 - ritual de apedrejamento em Mina – 251 morto.
2006 - esmagamento na ponte Jamarat – 346 mortos.
3 COMPORTAMENTO DA MULTIDÃO
3.1 TAMANHO E DENSIDADE
Definições de tamanho e densidade são tão importantes
para uma boa gestão de multidão que seu cálculo deveria ser
acompanhado por um colegiado. Superestimar ou subestimar o
público reunido em grandes eventos conforme os interesses
prejudicam a aplicação de boas práticas de segurança.
É comum, principalmente em protestos, haver uma
discrepância nos números em alguns milhares. De um lado a
polícia ou o estado procura diminuir a importância das
manifestações atribuindo um número baixo, do outro lado os
organizadores aumentam a quantidade para impressionar e
relativizar o prestígio que possuem em convocar as massas.
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Vejamos um caso recente no maior evento de multidões já
realizado no país, a Jornada Mundial da Juventude.
Provavelmente querendo engrandecer o evento, o prefeito da
cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, divulgou que a
cerimônia final, Vigília, levou à praia de Copacabana mais de
3,5 milhões de pessoas.
Fazendo um cálculo simples sem atentar para as manchas de
pessoas, utilizando uma referência alta para a densidade média
(3 pessoas por m²) encontrada e a área ocupada pelos
peregrinos (374.364 m²), chega-se a um público de 1.123.092.
Fig. 8 – foto da praia de Copacabana durante a JMJ 2013 (arquivo do
autor).
A superestimação ou subestimação atendem normalmente a
interesses políticos e devem ser evitados para quem vai
realizar a segurança do evento. Um cálculo correto garante
quantidade certa de saídas de emergências, postos de
atendimento médico, transporte público, banheiros, entre
outros.
Para entender como são realizados estes cálculos alguns
conceitos devem restar claro. Densidade nada mais é do que a
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massa volumétrica de um corpo. No caso da gestão de multidão
interessa saber o volume ocupado por uma pessoa mediana, não
só como indivíduo único, mas também o seu comportamento quando
em um grupo de pessoas.
Uma pesquisa realizada com populações de diversas partes
do globo encontrou as seguintes medidas (Taylor e Francis.
1998): Tabela 2 – Largura, profundidade e área de ocupação do homem médio.
Largura (cm)Profundidade
(cm)Área (m²)
Média máxima 51,00 32,50 0,26Media mundial 48,05 28,20 0,20
Fig. 9 – Densidade do homem.
Para esta pesquisa a área de ocupação de um ser humano
foi acrescentada de 3,81 cm para cada lado considerando o uso
de roupas pesadas. Na somatória da área real com esta
imaginária chega-se ao resultado da área pretendida.
A densidade certamente é um item a ser observado para
definir uma multidão, enquanto 100 pessoas distribuídas em um
campo não configuram uma multidão. Estas mesmas 100 pessoas em
uma sala de 12 m² já seriam uma multidão sufocante.
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Regulamentos de prevenção de incêndio costumam
referenciar a densidade para cálculo da população como a NBR
9077:2001 – Saídas de Emergência que aplica um valor máximo de
2 pessoas por m². É fácil de observar nas figuras abaixo que o
índice proposto não é real quando se pensa no máximo, pois
sobram espaços a serem preenchidos.
Normas internacionais que regulam eventos à céu aberto
estimam a densidade entre 3 e 4 pessoas por m². Qualquer
pessoa que já foi a um concerto de música, ou melhor, já andou
de ônibus ou metrô no horário de pico sabe que a lotação não
se parece nada com a espaçosa figura 11.
Na realidade as empresas de ônibus e metrô parecem
aproveitar melhor os espaços e fazem jus ao apelido de
latinhas de sardinhas humanas ao usarem índices de 5 a 6
pessoas por m².
Fig. 10 – 2 pessoas/m². Fig. 11 – 4 pessoas/m². Fig. 12
– 8,4 pessoas/m².
Uma multidão que chegue a preencher todos os espaços a
seu redor atingindo um índice de 8,4 pessoas por m² estará em
um ambiente inseguro com provável ocorrência de asfixia por
esmagamento.
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Para estimar o público de um evento também se devem
considerar as manchas de concentração. Se um local é mais
aberto, tenderá a ter espaços desocupados. Se existe uma área
de interesse como um palco ou telão, é provável que a
densidade diminua conforme distanciamos deste ponto.
3.2 MOVIMENTO NA NORMALIDADE
O movimento de uma multidão é realmente algo desafiador
de se compreender, pode-se dizer que o seu fluxo é em parte
fluído, em parte granular, e em parte reação psicológica do
grupo. Alguns aspectos que devem ser considerados para avaliar
o fluxo de uma multidão:
a. Velocidade livre (correr, andar)
b. Mínimo esforço (caminho mais curto e velocidade
regular)
c. Espaço pessoal (evitar contato físico)
d. Densidade (menor espaço para locomoção)
e. Participação em um grupo.
f. Obstáculos
A velocidade normal de um ser humano e na qual ele sente-
se mais confortável é de 1,3 metros por segundo (4,7 km/h). A
lei do menor esforço determina que as pessoas sempre vão
procurar o caminho mais curto de A a B deste que não hajam
barreiras físicas ou psicológicas. Para certas culturas um
gramado pode ser uma barreira psicológica. Outro exemplo é o
cruzamento de pedestres em uma intersecção em que dependendo
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da possibilidade (todos os sinais fecharem), o pedestre
cruzará diretamente do ponto A a C sem passar pelo ponto B.
A relação entre a velocidade do público e sua densidade
também é um item importantíssimo e foi estudada para basear
serviços destinados para pedestres (FRUIN, 1997). E desta
forma é conhecido como níveis de serviço de Fruin, que
classifica em 06 níveis a relação de pessoas que passam por
uma abertura de 1 (um) metro em 1 (um) minuto:
Fig. 13 - Níveis de serviço de Fruin.
Além de características como densidade e velocidade, a
multidão parece se auto-organizar conforme os seus objetivos.
Um dos fenômenos mais característicos de uma multidão é a
formação de filas, as pessoas tendem a formar filas em
situações de multidão como forma de progressão.
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Problemas começam a aparecer se a fila é longa e não há
progresso visível, as pessoas começam a reduzir a distância
entre si e há a impressão de progresso. Esta impressão de
progresso começa a pressionar a multidão da frente e se não há
informação elas começam a empurrar pensando que podem
“acelerar” o processo e se existe um afunilamento, as pessoas
ficam “presas” a essa situação podendo ocorrer um
esmagamento..
Outra forma de auto-organização são as filas de fluxo e
contrafluxo. Para evitar o choque constante com pessoas que
venham na direção contrária os pedestres costumam posicionar-
se atrás de outro que esteja caminhando na mesma direção
aumentando a velocidade. Agindo desta a forma as pessoas
conseguem se movimentar mesmo em multidões sufocantes.
Fig. 14 – efeito fila e contrafluxo.
Outro fator curioso é o comportamento de um grupo de
pessoas com identidade forte entre si no meio de uma multidão.
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Uma família, um grupo da mesma escola, mesma igreja, tenderão
a movimentar-se de forma coesa e interpendentes um do outro.
Fig. 15 – Grupo de peregrinos andando de mãos dadas durante a JMJ
2013.
O acesso ao um local e a saída gera certo desconforto em
uma multidão. Se este acesso e saída forme únicos, com pessoas
entrando e saindo pela mesma abertura o desconforto será maior
ainda. Neste exemplo apresenta-se ainda maior a capacidade da
multidão se auto-organizar com um movimento oscilatório de
entrada e saída de pessoas.
Fig. 16 – movimento oscilatório de entrada e saída de pessoas.
Um dos comportamentos mais curiosos de uma multidão é o
encontro em uma intersecção. Para evitar a colisão com pessoas
vindo em todas as direções e possibilitar a continuidade do
caminho desejado, forma-se um fluxo parecido com uma rótula no
meio interseção (HELBING, 2001).
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Fig. 17 – Encontro em intersecção.
3.3 MOVIMENTO EM EMERGÊNCIA – EVACUAÇÃO
Na ocorrência de uma emergência, real ou imaginária, o
fator tempo torna-se preponderante e cria-se uma multidão
competitiva. Teorias tão contraditórias como pânico em massa
(SIME, 1980) e perfilhação (MAWSON, 2005) encontram resonância
no mundo acadêmico.
Na teoria do pânico em massa as pessoas se comportam de
forma irracional diante um perigo, tendendo a aumentar a sua
velocidade, aumentar o contato físico com movimentos
descoordenados em especial em locais afunilados. Com a
dificuldade para sair o desespero toma conta e as pessoas
começam a se exaltar empurrando uma as outras, o fluxo diminui
com a queda de alguns e eles começam a ser pisoteados. Este
padrão parece ter sido o encontrado no incêndio da boate Kiss.
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Fig. 18 – Afunilamento. Fig. 19 –
Redução em curva.
A teoria da perfilhação ou afiliação teoriza que as
pessoas tendem em situações emergenciais a buscar caminhos
familiares bem como a unir-se ao grupo em que está inserido.
Neste modelo as pessoas continuam a se comportam conforme as
normas sociais anteriores a emergência, como aquela em que
homens oferecem o lugar a mulheres e crianças.
Dos vários incidentes observados verifica-se que a
situação de pânico é muito rara e quando ocorre é por um curto
período de tempo. Os membros de uma multidão tendem a seguir
caminhos familiares com pessoas também familiares, mesmo em
uma situação emergencial e isto pode atrasar a evacuação.
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Quando acometidas por uma emergência uma multidão física
pode transformar-se uma multidão psicológica, compartilhando
um forte senso de identidade com pessoas se auxiliando
mutuamente. Foi o que ocorreu no ataque às Torres Gêmeas no 11
de setembro, por exemplo.
3.4 MOVIMENTO EM DESORDEM PÚBLICA – TURBA OU TUMULTO
A revolta das massas não é um fenômeno recente. Uma
multidão de descontentes é capaz de tudo, inclusive de mudar o
mundo como ficou provado com a Revolução Francesa em 1789.
José Ortega y Gasset, escrito espanhol, autor do livro A
Rebelião das Massas (1930) interpretou e compreendeu muito bem
o poder de uma massa, em especial numa época em que
fervilhavam ideias comunistas e fascistas. Num capítulo sobre
o uso da violência pela massa verbalizou desta forma: “a massa
não se importa em dar justificativas ou em estar certa, ela quer intervir em tudo e o
fará de forma violenta, pois ela o quer agora”.
Um sentimento de coesão e pertencer a algo afloram e o
indivíduo não passa mais a ser ele mesmo, mas só um integrante
da multidão. É fácil perceber esta reação em um estádio de
futebol ou em um espetáculo onde todos cantam e aplaudem
juntos. É a teoria da desindividualização do ser (SPEARS,
1995).
Outro sentimento que também aparece é o de se sentir
anônimo trazendo como decorrência um comportamento
antissocial, pois não se está sendo julgado mais João e Maria,
mas a multidão como um todo (MULLEN, 1986).
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A composição do grupo influenciará diretamente no
comportamento agressivo da multidão. Um grupo formado em sua
maioria por homens e por jovens certamente demonstrará mais
agressividade (WEBB, 1995)
Outro fator importante é a atitude da polícia em relação
à multidão, se esta se sentir que a polícia está agindo de
forma ilegitimada e indiscriminada é possível que a massa
torne-se mais unida, não distinguindo os pacíficos, dos
arruaceiros e atue contra a força policial (STOTT e DRURY,
1998)
Diversos fatores podem levar uma multidão a princípio
pacífica a ter um comportamento agressivo entre eles:
paralisação do transporte público, cancelamento de um
concerto, desastres levando a saques, tensões sociais.
Os últimos protestos no Brasil tem sido um desafio para
os cientistas sociais e políticos interpretarem. Imagine-se
então para a polícia que tem sido acuada pela multidão e pela
mídia como truculenta e autoritária. Novas formas de abordagem
a este público se fazem necessária e uma forma inteligente de
aproximação.
Um direcionamento maior para a gestão de multidão
(compreensão) do que para o controle de multidão
(enfrentamento) parece ser uma solução mais segura e com
menores consequências.
4. METODOS E PROCEDIMENTOS
27
Como visto a complexidade para lidar-se com uma multidão
é enorme e os riscos existem, mas podem ser evitados. Segundo
Dickie (1995) são 04 os principais fatores que levam a um
desastre com multidão:
a. Planejamento inadequado
b. Multidão excitada;
c. Ausência de gestão de multidão e controle;
d. Falha ou risco no ambiente
Visto desta forma é imprescindível que a gestão da
multidão seja feita de forma ampla, abrangente e verifique
todos os pontos em que possa ocorrer uma falha.
Apontar um método único que seja eficaz e seguro nesta
ceara é uma missão impossível. A melhor receita é a aplicação
de um sistema abrangente que leja as melhores práticas na
gestão de multidão.
4.1 UM SISTEMA ABRANGENTE DE GESTÃO DE MULTIDÃO
Analisando os casos de desastre, a psicologia das
multidões, a tecnologia presente, propôs-se um sistema amplo
em que se abrange diversos aspectos para prevenir incidentes
com a multidão (Challenger, Clegg & Robinson, 2009).
O diagrama abaixo demonstra os 06 pontos que os
pesquisadores apontaram como imperativos de verificação.
Interessante de observar de que o item que mais influencia os
outros é justamente o mais difícil de modificar: a cultura.
28
Fig. 20 – Diagrama do sistema abrangente para gestão de multidão
(Challenger, Clegg & Robinson, 2009)
O uso do diagrama fica mais bem demonstrado quando se
apontam os possíveis erros e falhas que possam ocorrer num
evento como a falha nas comunicações, ausência de barreiras de
contenção, treinamento insuficiente da equipe de segurança,
entre outros.
Fig. 20 – Diagrama do sistema abrangente apontando erros e falhas.
4.2 GERENCIAMENTO DE RISCOS
Gerenciamento de riscos é a identificação, avaliação e
priorização dos riscos seguidos de uma aplicação coordenada e
econômica de recursos para mitigar, monitorar e controlar a
probabilidade e/ou impacto de um evento catastrófico (ISSO
31000).
Falha em aprendizado com eventos anteriores
Relações ruins entre agências
ACEITAR OS RISCOS?
TRATAR OS RISCOS
ANALISAR RISCOS
INDENTIFICAR RISCOS
ESTABELECER CONTEXTO Monitorar e revisarComunicar e consultar
SIM
NÃO
29
O gerenciamento de riscos não consiste, nem se acaba com
a elaboração de um documento para estruturar a resposta a um
incidente, do plano propriamente dito. O planejamento de
emergência é dito como algo cíclico na qual a etapa final, a
revisão, normalmente ensejará numa nova avaliação, reiniciando
o processo. O fluxograma da ISO 31000 para gerenciamento dos
riscos representa bem as etapas deste processo.
Fluxograma 1 – Gerenciamento de riscos (ISO 31000).
A identificação dos riscos é realizada listando-se
todas as possíveis emergências que possam ocorrer. Isto
envolve uma coleta de informações de todas as fontes e
recursos possíveis. Ouvindo empregados, especialistas,
30
verifique histórico de incidentes no local e em outros
similares. Nesta etapa não se dispensa nenhuma ideia.
Após listar todas as emergências, deve-se proceder a uma
análise da probabilidade de sua ocorrência versus a
consequência do evento danoso. O resultado é a classificação
dos riscos para a equipe que realiza o planejamento possa
priorizar suas ações. Para auxiliá-lo nesta classificação o
quadro de análise de risco abaixo é uma ferramenta importante.
Tabela 3 – Análise de risco (VICTORIA GOV. – CROWD CONTROL).QUADRO DE ANÁLISE DE RISCO
CONSEQUÊNCIA
PROBABILIDADE
Insignificante Pequena Moderada Crítica Catastrófi
ca
Quase Certo A A E E E
Provável M A A E E
Possível B M M E E
Improvável B B M A E
Raro B B B A A
B = Risco Baixo M = Risco Médio A = Risco Alto E =Risco Extremo
Finalizada a análise de riscos a equipe de planejamento
deve decidir se os riscos são aceitáveis ou se é possível o
seu tratamento. Pode parecer estranho, mas nem todos os riscos
são passíveis de tratamento. Por exemplo, não há nenhuma
medida possível, ainda, de evitar a queda de um meteoro e,
claro, a probabilidade de sua ocorrência também é rara.
Tabela 4 – Tratamento de riscos (VICTORIA GOV. – CROWDCONTROL)
HIERARQUIA DO TRATAMENTO DOS RISCOS
Mais efetivo ELIMINAR Eliminar o risco se possível
31
SUBSTITUIR Substituir o risco por outro mais baixo
MINIMIZAR Minimizar a exposição ao risco
CONTROLE DE ENGENHARIA Desenvolver uma solução de engenharia
CONTROLE DE PROCEDIMENTO Desenvolver um procedimento
TREINAR/SUPERVISIONAR Treinar e supervisionar a equipe
Menos efetivo EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO Instalar equipamentos de
proteção
4.3 TREINAMENTO E SIMULADOS
Uma gama de peritos no assunto aponta como altamente
recomendável o treinamento do pessoal e a simulação de
incidentes para provar a segurança de um evento. Simular desde
pequenos problemas como acúmulo de pessoas no ingresso do
evento a uma ameaça de bomba fornecem os elementos vão levar
ao aperfeiçoamento do seu plano de emergência.
Os treinamentos devem ser conduzidos por especialistas da
área de segurança e gestão de multidão. Simular de forma real
alguns incidentes aumenta a consciência situacional da sua
equipe, ou seja, a capacidade de reagir frente a uma
emergência conforme o protocolo.
Para níveis gerenciais um simulado de mesa pode apontar
erros ou falhas na própria compreensão do atendimento
emergencial em caso de incidente.
4.4 ACESSO
32
Antes mesmo de chegar ao local do evento algumas medidas
podem ser necessárias como o controle do trânsito e do
estacionamento.
O acesso deve ser controlado e possuir entradas
suficientes para dar vazão ao público em horário de pico.
Sistemas de segurança como MAG & BAG (magnéticos e bolsas) são
demorados e devem possuir estações suficientes.
A cobrança de ingresso, mesmo em eventos gratuitos, deve
ser obrigatória. Eventos abertos ao público sem controle de
entrada podem acabar em superlotação e um consequente
desastre.
No acesso também deve ser feito o controle de itens
proibidos como armas de fogo e objetos que possam ser usados
em agressão como pilhas, mastros de bandeiras ou que possam
incitar a violência como faixas preconceituosas.
4.5 SAÍDAS DE EMERGÊNCIA
Possuir uma quantidade adequada de saídas de emergências
pode parecer algo óbvio, mas a história demonstra que nem
sempre é respeitado. Manter todas as saídas destrancadas e com
stewards apontando a saída é uma boa prática.
Estádios e arenas possuem uma área enorme e grande parte
do público presente. Por familiaridade e instinto as pessoas
procurarão a saída por onde entraram. As normas brasileiras
estão tendendo a adotar que 2/3 das saídas de emergências
estejam localizados na mesma face da entrada principal por
este motivo.
33
Sinalização e iluminação de emergência complementam a
orientação do público para tomar uma saída de emergência.
4.6 SERVIÇOS DE SEGURANÇA – SECURITY
Uma grande concentração de público irá trazer pessoas com
diversos objetivos, inclusive de furtar, brigar e algumas
vezes até matar. Possuir um pessoal capacitado para lidar com
situações de controle de multidão é requisito primordial para
uma efetiva gestão de multidão.
Uma proporção adequada entre a quantidade de seguranças e
a de público preserva o ambiente e demonstra força para
aqueles que estejam propensos a cometer desvios.
A equipe de segurança não deve estar preparada somente
para verificar situações de security, mas também de safety. Conhecer
a localização das saídas de emergência, equipamento de combate
a incêndio, como agir em uma emergência médica e como
identificar os avisos de que pode haver um esmagamento é
essencial.
4.7 SERVIÇOS MEDICOS
A manutenção de serviços médicos por um organizador de
evento com multidão tem se consolidado. Legislações passaram a
exigir um número determinado de postos médicos, ambulâncias e
até desfibriladores.
Quanto maior o evento maior a quantidade e também a
complexidade do serviço médico oferecido.
34
4.8 SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO
Dentro de qualquer análise de risco para um evento o
incêndio sempre aparecerá como uma emergência prioritária de
ser tratada mesmo sendo de probabilidade baixa, suas
consequências são devastadoras.
Organizadores de eventos à céu aberto e em estádios
tendem a negligenciar a segurança contra incêndio com a
desculpa de que se não edifícios não há o que queimar e
estruturas de concreto não pegam fogo respectivamente.
Porém simples equipamentos como geradores podem incendiar
e provocar um grande volume de fumaça intoxicando as pessoas
próximas e gerando pânico.
4.9 SERVIÇOS BÁSICOS – ALIMENTAÇÃO E BANHEIROS
A temporalidade de um evento com multidão pode ser de
poucas horas ou as vezes de dias. Neste meio tempo as pessoas
irão procurar atender suas necessidades fisiológicas. Não
oferecer ou oferecer pouca quantidade de serviços sanitários e
de alimentação podem gerar problemas. Deste uma briga na fila
do banheiro até desmaios por falta de alimentação e
hidratação.
4.10 CONTROLE DO FLUXO – BARREIRAS
35
As barreiras estão para a gestão de multidão assim como
os extintores estão para a segurança contra incêndio. Limitam
e conduzem o fluxo da multidão, mas mais importante, evitam o
esmagamento.
Fig. 21 – barreiras antiesmagamento.
4.11 SIMULADORES DE MULTIDÃO
Simuladores de multidão são softwares em que são inseridos
dados sobre determinado evento como a planta de situação, tipo
de público e são capazes de prever o comportamento do público
na normalidade e em caso de uma emergência.
4.12 VIDEOMONITORAMENTO
O videomonitoramento hoje é uma realidade nos locais de
grande eventos. Manter a capacidade de monitorar a
movimentação do público a parir de um ponto fixo traz suas
vantagens, mas um acompanhamento in loco não deve ser
negligenciado pela existência do sistema.
36
Com o videomonitoramento é possível acompanhar uma pessoa
suspeita, verificar uma densidade maior de pessoas, enfim,
juntar informações para que possa tratar-se algo antes que se
torne um incidente.
4.13 COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO
Falhas na comunicação são um dos maiores problemas em
desastres. Não conseguir transmitir um alerta ou repassar
informações sobre um incidente podem agravá-lo ainda mais. Um
sistema de rádio garante uma comunicação eficiente e
relativamente para operar a segurança do evento.
Comunicar e informar o público deve ser uma constante
seja na normalidade ou na ocorrência de uma emergência. Placas
devem orientar as saídas, bem como o sistema de alto-falante.
4.14 SISTEMA DE COMANDO E CONTROLE
O sistema de comando e controle na gestão de multidão
funciona como um cérebro com todas as outras ferramentas
auxiliando na tomada de decisão e na sua execução. Fica fácil
compreender ao relacionar com o corpo humano as funções de
cada um; o videomonitoramento seriam os olhos, a comunicação,
os ouvidos, a informação, a boca e os serviços de segurança e
saúde os braços e pernas da gestão de multidão.
Para que o sistema de comando e controle funcione
realmente como um cérebro é preciso que tenha este poder de
decisão, que estejam presentes nele as pessoas das agências
37
(polícia, bombeiro e serviço médico) que possam decidir e que
estejam integrados como se fosse uma rede de neurônios em que
a mensagem é transmitida.
Fig. 22 – Sistema de comando e controle para a JMJ 2013.
CONCLUSÃO
Compreender e entender uma multidão ainda é uma missão
desafiadora. A complexidade de seus movimentos,
comportamentos, riscos tornam uma tarefa das mais difíceis que
exigem do poder público e das entidades privadas uma
ferramenta abrangente e que envolva diversos especialistas e
instituições.
Tratar um evento que envolva uma multidão somente pelo
aspecto policial ou da segurança contra incêndio ou como um
ganho comercial é um caminho certo para encontrar um desastre.
38
Nota-se no Brasil uma ausência ou falha de preparação
para lidar com a gestão de multidão. Mesmo após ter recebido
dois eventos de cunho mundial como a Copa das Confederações
2013 e a Jornada Mundial da Juventude 2013, além é claro do
triste incêndio na boate Kiss no município de Santa Maria-RS,
o país parece não aprender ou aprender pouco com seus próprios
erros.
A cultura certamente é o item principal para uma maior
percepção de risco e afeta todos os outros campos, como
normas, procedimentos e até o comportamento das pessoas em
situação de emergência. Modificar esta cultura leva tempo, mas
com certeza segue-se o caminho certo, devagar, mas certo.
ABSTRACT
This paper aims to discuss the best practices in crowd management. From thehistorical survey of crowd disasters in Brazil and the world we will see how complex itis to deal with this issue. The risk that a disaster occurs, particularly traumaticasphyxiation is always there and how to deal with this problem should be the widestpossible. In a country with a culture still developing when it comes to safety,presenting best practices for crowd management is a first step to try to implementthem.
Keywords: Crowd. Crowd management. Crowd Control. Security at Large Events.
Large events.
40
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