Estudo dos materiais de carácter votivo provenientes da Sala do Ricardo, na Lapa da Bugalheira...

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UNIVERSIDADE DO ALGARVE Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Departamento de História, Arqueologia e Património Relatório do Seminário do Curso de Licenciatura em Arqueologia Estudo dos materiais de carácter votivo provenientes da Sala do Ricardo, na Lapa da Bugalheira (Torres Novas) Relatório orientado por: Professor Doutor António Faustino Carvalho Relatório de Seminário realizado por: André Nunes nº 37447 Gambelas 2010/2011

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UNIVERSIDADE DO ALGARVE

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

Departamento de História, Arqueologia e Património

Relatório do Seminário do Curso de Licenciatura em Arqueologia

Estudo dos materiais de carácter votivo provenientes da

Sala do Ricardo, na Lapa da Bugalheira (Torres Novas)

Relatório orientado por: Professor Doutor António Faustino Carvalho

Relatório de Seminário realizado por: André Nunes nº 37447

Gambelas

2010/2011

Índice

Pág.

- Resumo/Abstract………………………………………………………………………………………..2

- 1. Introdução

1.1. Enquadramento Geográfico e Arqueológico……………………………………………4

1.2. A Lapa da Bugalheira e os trabalhos de escavação realizados……………………..5

1.3. Metodologias empregues durante a realização do relatório………………………….7

- 2. Materiais Líticos

2.1. Pedra lascada………………………………………………………………………………8

2.1.1. Produtos laminares: Classificação tipológica……………………...........................8

2.1.2. Armaduras Microlíticas: Geométricos………………………………………………..17

2.1.3. Descrição de um punhal em sílex……………………………………………………18

2.2. Pedra polida……………………………………………………………………………….19

2.2.1. Classificação tipológica………………………………………………………………..19

- 3. Materiais cerâmicos

3.1. Inventário e classificação tipológica……………………………………………………25

3.2. Enquadramento cronológico da colecção cerâmica………………………………….28

- 4. Artefactos em osso e concha

4.1. Braceletes…………………………………………………………………………………30

4.2. Objectos de cariz mágico-religioso……………………………………………………..30

- 5. Inserção cronológico-cultural da colecção e conclusões finais……………………………….33

- 6. Referências bibliográficas…………………………………………………………………………41

- Anexos………………………………………………………………………………………………….44

- Figuras

- Tabelas

- Critérios de análise de indústria lítica

Pedra lascada

Pedra polida

1

Resumo

Os objectivos deste trabalho passaram sobretudo por atribuir uma

cronologia aos materiais recolhidos à superfície na Sala do Ricardo, cujo

sítio se localiza naquilo que é geralmente denominado por Maciço de

Calcário Estremenho, e conhecer um pouco melhor os rituais funerários

praticados durante o Neolítico.

Este tipo de grutas-necrópole com possíveis ocupações desde o

Neolítico Antigo, prolongaram-se em muitas delas até à fase final deste

período, que só com as análises dos materiais será possível confirmar para

esta Sala do Ricardo, na Lapa da Bugalheira.

A cultura material de certa forma já desenvolvida, nomeadamente com a

presença de artefactos de cariz mágico-simbólico reflecte que estas

sociedades já possuíam um sistema hierárquico razoavelmente bem

organizado, que iria mais tarde dar origem às sociedades complexas do

Calcolítico. Esta mesma cultura material demonstra ainda que existiam

trocas comerciais de utensílios, ou de matéria-prima entre grupos internos

ou extra-regionais, e que utilizariam as vias fluviais para esse propósito.

2

Abstract

The objectives of this work were especially by assigning a chronology to

materials collected at the surface in the Sala do Ricardo, whose site is

located in what is commonly called by Limestone Massif of Estremadura and

know a little better the funerary rituals practiced during the Neolithic.

This type of caves-necropolis with possible occupations since the

ancient Neolithic went on many of them until the final phase of this period,

that only with the analyses of materials you can commit to this Sala do

Ricardo, in Lapa da Bugalheira.

The material culture somewhat already developed, in particular with the

presence of artifacts of magical nature that reflects the symbolic-these

societies already had a fairly well organized hierarchical system, which would

later give rise to complex societies of the Chalcolithic. This same material

culture demonstrates further that trade existed, utensils or raw material

between internal groups or outside the region, and which would use the

waterways for this purpose.

3

1. Introdução

1.1. Enquadramento Geográfico e Arqueológico

A Lapa da Bugalheira situa-se na freguesia da Zibreira (Figura 1),

concelho de Torres Novas, e está classificado como Imóvel de Interesse

Público.

Este concelho pertence administrativamente ao distrito de Santarém, e

incorpora parte do denominado Maciço Calcário Estremenho. O concelho de

Torres Novas (Figura 2) tem ainda uma área total de 278.92 km2,

correspondendo a cerca de 4.2% do distrito, e está limitado a Norte pelo

concelho de Vila Nova de Ourém, a Oeste por Alcanena e Santarém, a Este

pelos concelhos de Tomar e Entroncamento e a Sul pela Golegã (Carta

Arqueológica do concelho de Torres Novas, p. 3).

O referido maciço “(…) é uma unidade geográfica bem individualizada,

cujos limites se definem por diversas falhas, de entre as quais se salienta a

do «Arrife». Esta última constitui um extenso escarpado de direcção NE-SW

que, contornando a vertente meridional da Serra d’Aire e do Planalto de

Santo António, se estende por cerca de 40 km, entre Vila Nova de Ourém e

Rio Maior” (Zilhão & Carvalho, 1996, p. 659), e que se desenvolve acima dos

200 metros (Figura 3) ao longo de toda a sua extensão (Gonçalves &

Pereira, 1977, p. 50). De referir ainda que o ponto mais alto deste é a mais

de 600 metros de altitude, apresentando ainda, em certos locais, solos

bastante favoráveis à agricultura, que terão sido importantes sobretudo em

épocas pré-históricas (Zilhão & Carvalho, 1996, p. 660). Geologicamente,

4

Fernandes Martins definiu o maciço da seguinte forma: “Tais características

hipsométricas são sublinhadas pela constituição geológica num mosaico de

rochas das mais diversas idades ergue-se bem individualizado um grande

bloco de calcário do Jurássico, nomeadamente do Dogger (…)” (Martins

citado por Gonçalves & Pereira, 1977, p. 52).

Quanto ao sítio em si, a Lapa da Bugalheira (Figura 4) é uma gruta

natural, escavada pela acção das águas nos calcários do Dogger, fazendo

ainda parte da Serra d’Aire (Paço, 1941, p. 276). É formada por uma sala

principal, aberta ao exterior, e por um estreito corredor lateral (de cerca de

30 cm de altura), com um pequeno alargamento no meio, que permite o

acesso a outra sala, mais pequena. Esta é designada por Sala do Ricardo

(Figura 5), em referência ao seu descobridor (S.T.E.A., 1986).

1.2. A Lapa da Bugalheira e os trabalhos de escavação realizados

A Lapa da Bugalheira foi descoberta no ano de 1940, pelo Padre

Eugénio Jalhay e o engenheiro Melo Nogueira, quando estes faziam

explorações na gruta do Almonda, e foram avisados da existência de uma

outra a cerca de um quilómetro de distância (Paço, 1941, p. 275). Contudo,

isto não invalida que a Lapa da Bugalheira já não fosse conhecida pela

população local, nomeadamente, caçadores e pastores (Paço, 1971). Então,

em Novembro desse mesmo ano, Georges Zbyszewski, O. Da Veiga

Ferreira, A. Do Paço, Padre E. Jalhay, engenheiro Melo Nogueira e Maxime

Vaultier visitaram pela primeira vez essa gruta (Paço, 1971).

Os trabalhos de escavação na Lapa da Bugalheira começaram a serem

5

feitos no ano seguinte, em 1941, com o auxílio dos operários da fábrica de

papel «A Renova», que terão sido cedidos pelos seus proprietários, Cerejo e

Couto Tavares (Paço, 1971). Foi então aberta uma primeira trincheira,

disposta entre a entrada e o fundo da gruta (Figura 6 e 7), onde foram

encontrados objectos dos mais variados, e que passo de seguida a citar:

“moedas de bronze do século XIX, um botão pombalino, cerâmica romana,

algumas pontas de seta neolíticas” (Paço, 1971), entre outros. O nível

neolítico só foi atingido após os dois metros de profundidade, e que foi

primeiro identificado pelo aparecimento de ossos humanos (Paço, 1971). De

entre os materiais recolhidos (Figura 8) nesta camada estão por exemplo

lâminas de sílex, micrólitos geométricos, pontas de seta, machados de pedra

polida, cerâmica, fragmentos de placas de xisto, falanges de equídeos

gravadas, entre outros. (Paço, 1941, p. 277)

No que respeita à Sala do Ricardo, este espaço foi apenas objecto de

recolhas de superfície, tendo sido possível reunir assim um pequeno

conjunto de restos ósseos humanos e faunísticos (em curso de estudo por

Olivia Figueiredo) associados a diversos tipos de artefactos (pedra lascada e

polida, cerâmica, adornos pessoais), o que permite concluir tratar-se de um

contexto funerário. A cronologia obtida para a Sala do Ricardo foi de

5090±60 BP (ou seja, 4033-3713 cal BC), para uma amostra de osso

humano, correspondendo assim ao período cronológico denominado por

Neolítico Médio (Zilhão & Carvalho, 1996, p. 665). Este conjunto artefactual

constitui o objecto de estudo do presente trabalho.

6

1.3. Metodologias empregues durante a realização do relatório

Ao realizar este relatório, foram sendo empregues certas metodologias,

de acordo com o tipo de materiais analisados: líticos, cerâmicos, osso e

concha.

A metodologia empregue relativamente aos materiais líticos em pedra

lascada, baseou-se numa análise tipológica, utilizando os critérios de análise

de A. F. Carvalho (2008), fazendo uma selecção daqueles mais relevantes

para este trabalho. Os atributos observados foram inseridos numa tabela de

dupla entrada no Microsoft Office Excel. Para fazer as medidas das peças,

utilizei uma craveira de metal, onde retirei as seguintes medidas:

comprimento máximo; largura máxima; e espessura. Já para os materiais de

pedra polida, o processo foi bastante semelhante: utilizando os critérios

sugeridos por A. C. Valera (1997), foi feita uma análise tipológica destes

mesmos materiais, colocando os resultados numa tabela de dupla entrada, e

que pode ser consultada nos anexos.

Quanto à metodologia utilizada nos materiais cerâmicos, esta assentou

numa inventariação e descrição morfológica dos cacos e na descrição e

medição do vaso completo.

Para a análise dos artefactos em osso e concha, procedeu-se a uma

descrição individualizada de cada um dos objectos, retirando algumas

medidas quando necessário.

7

2. Materiais Líticos

2.1. Pedra lascada

Nesta colecção, para além dos produtos laminares e geométricos

apresentados já de seguida, fazem também parte cinco outras peças em

sílex:

um fragmento de lâmina de secção triangular;

um núcleo de tipo prismático (Figura 9), para lamelas (parcialmente

cortical);

três lascas, onde uma delas apresenta tratamento térmico.

2.1.1. Produtos laminares: Classificação tipológica

O conjunto de produtos laminares (Figura 10 e 11) é composto por 19

peças (Tabela 1), sendo que a totalidade da matéria-prima utilizada, é o

sílex. Porém, este sílex demonstrou ser bastante heterogéneo quanto a

cores, texturas e inclusões, significando que terá vindo de diferentes locais.

A fractura das peças (Gráfico 1) demonstrou-se da seguinte forma:

destas 19 peças, mais de metade (58%), estão inteiras, enquanto que a

restante percentagem está repartida de igual forma, pela fractura proximal e

distal (21% cada). De salientar ainda, que nenhuma apresentou fractura

mesial. O cômputo geral é, pois, o seguinte:

peças inteiras (0): n=11 (58%);

peças proximais (1): n=4 (21%);

peças mesiais (2): n=0 (0);

8

peças distais (3): n=4 (21%).

Das peças fracturadas, os seus tipos de fracturação (Gráfico 2) estão, de

certa forma igualitários, pois não se verifica o predomínio destacado de um

tipo específico. Ainda assim, o tipo de fracturação com maior percentagem é

a fractura por flexão (37%), isto é, apresentando um labiado proeminente na

superfície da fractura, como são os casos das peças 26, 28 e 32.

Duas das peças (nº 8 e 18), foi possível observar, que foram fracturadas

por calcinação, o que corresponde a 25%.

Gráfico 1 - Fractura das peças alongadas. 0 – inteira; 1 – proximal; 2 – mesial; 3 –

distal.

Gráfico 2 - Tipo de fracturação. 0 – inteira; 1 – acidental; 2 – por flexão; 3 – por

percussão; 4 – combinação das duas técnicas; 5 – irreconhecível.

9

58% 21%

0% 21%

Fractura

0 1 2 3

0%

25%

37%

13%

0% 25%

Tipo de Fracturação

0 1 2 3 4 5

Feita a análise métrica – cujos resultados individuais se apresentam na

Tabela 2 –, esta apresentou as seguintes dimensões médias, considerando

a totalidade da colecção:

comprimento (C): 78.4 mm (n=19);

largura (L): 17.9 mm (n=19);

espessura (E): 4.7 mm (n=19).

Estes produtos podem ser distinguidos pelas suas dimensões da

seguinte forma: lâminas, são as peças que apresentam comprimento

superior a 50 mm, e/ou largura superior a 12 mm. Considerando isto,

verifica-se um maior número de lâminas (79%), sobrepondo-se às lamelas

(21%), correspondendo estas a apenas quatro exemplares. Pela observação

do Gráfico 3, percebe-se que esta colecção de materiais parece pertencer

ao primeiro grupo de artefactos, sugerido por Carvalho, para o sítio da

Sobreira de Cima, característico do Neolítico Médio estremenho,

apresentando as seguintes dimensões: comprimento entre os 25 e 100 mm;

e largura entre os 8 e 20 mm (Carvalho, 2011, p. 17). Contudo, existe ainda

um outro grupo de peças mais robustas composto por cinco exemplares, e

que poderão fazer parte de um segundo momento de enterramentos da

gruta, cujo comprimento se situa acima dos 100 mm, e a largura a rondar

entre os 25 e os 30 mm.

10

Gráfico 3 – Distribuição dos produtos laminares, com o cruzamento dos dados de

Comprimento (Eixo dos Y) e Largura (Eixo dos X).

Gráfico 4 - Percentagem de lamelas e lâminas

Em relação à secção das peças (Gráfico 4), este conjunto é formado,

maioritariamente, por peças de secção trapezoidal (63%), seguidas das

peças com secção triangular (26%), e com apenas 11%, de secção irregular:

secção trapezoidal (0): n=12 (63%);

secção triangular (1): n=5 (26%);

secção irregular (2): n=2 (11%).

11

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0 10 20 30 40

Co

mp

rim

en

to (

mm

)

Largura (mm)

Lâminas x15

Lamelas x4

21%

79%

Totalidade de produtos laminares

Lamela Lâmina

Gráfico 5 - Secção dos produtos laminares. 0 – trapezoidal; 1 – triangular; 2 –

irregular.

Ainda dentro da morfologia geral, e tendo em conta que, das 19 peças, 4

não têm talão, pois não apresentam a parte proximal da peça, este

apresenta-se maioritariamente como sendo facetado ou diedro (53%; ver

Gráfico 5), sendo que, nesta categoria morfológica, apenas uma peça tem o

talão diedro. Logo de seguida, o talão predominante é liso (33%), e com uma

percentagem muito menor, estão os talões esmagado e linear ou

punctiforme, com apenas 7% cada. De salientar ainda que não se verificou

nenhum talão cortical. A variação geral é, pois, a seguinte:

cortical (0): n=0 (0);

liso (1): n=5 (33%);

facetado ou punctiforme (2): n=8 (53%);

linear ou punctiforme (3): n=1 (7%);

esmagado (4): n=1 (7%).

12

63%

26%

11%

Secção

0 1 2

Gráfico 6 - Talão nos produtos laminares. 0 – cortical; 1 – liso; 2 – facetado ou diedro;

3 – linear ou punctiforme; 4 – esmagado.

Outro dos critérios utilizados na análise, foi o do perfil das peças (Gráfico

6). Contudo este critério, apenas foi possível utilizar, naqueles produtos que

se encontravam inteiros: e que ao retrocedermos ao Gráfico 1, verificamos

que corresponde a 58%.

Desta forma, o perfil com uma maior percentagem, é o perfil côncavo

(75%), seguido do ultrapassado (17%), e finalmente do direito (8%).

Gráfico 7 - Perfil dos produtos laminares. 0 – direito; 1 – côncavo; 2 – torcido; 3 –

ultrapassado; 4 – reflectido.

Em relação ao retoque das peças (Gráfico 7), não se verificou qualquer

13

0%

33%

53%

7% 7%

Talão

0 1 2 3 4

8%

75%

0% 17%

0%

Perfil das peças

0 1 2 3 4

preponderância entre peças retocadas e peças em bruto, muito pelo

contrário. Assim sendo, 53% das peças estão retocadas, enquanto que a

restante percentagem dos produtos, não sofreu qualquer retoque.

Observou-se ainda que duas das peças, dentro da percentagem dos não

retocados, apresentam o chamado “retoque de utilização”, isto é, marcas de

uso visíveis macroscopicamente (nº 2 e 32).

De referir ainda que três das peças são classificadas de raspadeiras, as

quais estão identificadas com os números 11, 17 e 29. Em termos de

dimensões, estas peças são bastante similares, situando-se dentro das

dimensões médias do conjunto, havendo portanto, uma preferência por

raspadeiras destas dimensões: entre os 52 e os 85 mm de comprimento, e

os 15 e 21 mm de largura.

Gráfico 8 - Retoque dos produtos laminares. 0 – presente; 1 – ausente.

A forma das peças (Gráfico 8), apenas possíveis de identificar em

produtos inteiros ou mesiais, revelaram as seguintes percentagens:

bordos paralelos (0): n=4 (27%);

bordos paralelos com talão estreito (1): n=6 (40%);

14

53%

47%

Retoque

0 1

convergente (2): n=2 (13%);

bi-convexa (3): n=0 (0);

divergente (4): n=1 (7%);

irregular (5): n=2 (13%).

Gráfico 9 - Forma dos produtos laminares. 0 – bordos paralelos; 1 – acidental; 2 – por

flexão; 3 – por percussão; 4 – combinação das duas técnicas; 5 – irreconhecível.

Finalmente, observou-se ainda que 89% das peças não tinham córtex

(Gráfico 9), e 11% estavam parcialmente corticais, ou seja, quando este

cobria entre 5 e 90% da peça, sendo que nenhuma peça estava coberta com

90%, ou mais, de córtex.

Tal como as corticais, também as peças calcinadas (Gráfico 10) são

muito poucas, correspondendo a apenas 21% do total.

Relativamente à presença ou não de tratamento térmico (Gráfico 11),

verificou-se que em apenas três (16%) peças está presente.

15

27%

40%

13%

0%

7% 13%

Forma

0 1 2 3 4 5

Gráfico 10 - Presença de córtex nas peças. 0 – sem córtex; 1 – parcialmente cortical; 2

– cortical.

Gráfico 11 - Calcinação nos produtos laminares. 0 – presente; 1 – ausente.

Gráfico 12 - Tratamento térmico nos produtos laminares. 0 – presente; 1 – ausente.

16

89%

11% 0%

Córtex

0 1 2

21%

79%

Calcinação

0 1

16%

84%

Tratamento térmico

0 1

2.1.2. Armaduras Microlíticas: Geométricos

Este conjunto de materiais contou apenas com quatro peças (Figura 12),

e todas em sílex. Contudo esta matéria-prima apresentou duas tonalidades

distintas: uma mais clara, de tom bege (peças nº 19 e 20); e outra negra,

representada pelas peças indicadas na Tabela 3 sem número de

identificação.

Para a análise destes materiais, foram utilizados uma série de critérios, e

que podem ser consultados no anexo dos critérios de análise de materiais

líticos.

O primeiro critério utilizado, foi identificar o tipo de geométrico: verificou-

se que a totalidade do conjunto é composto por trapézios.

Em relação à posição do retoque, apenas o inverso, ou seja, quando é

aplicado a partir da face superior da peça, é que foi observado neste

conjunto de geométricos.

A extensão do retoque, ou seja, analisar se o retoque afectou apenas

uma parte da peça, ou se a afectou quase na totalidade, resultou, tal como

no critério anterior, que apenas uma das possibilidades está presente: o

retoque marginal ou curto. Ou seja, todas as peças apresentam um retoque

que afecta apenas o gume ou a sua periferia.

Relativamente à inclinação do retoque, este ficou dividido pelo retoque

abrupto, e semi-abrupto, com 50 % para cada um. De referir ainda, que

nenhuma das peças apresentou o retoque rasante, ou seja, quando este

forma um ângulo de cerca de 10º com a face da peça a partir do qual foi

aplicado.

17

Observou-se que a secção dos geométricos era trapezoidal ou

triangular, com duas peças para cada. Curiosamente, as peças triangulares

são aquelas que foram fabricadas a partir do sílex de cor negra, enquanto

que as peças de secção trapezoidal, são as do sílex de cores mais claras, o

que provavelmente significa que cada par foi obtido a partir do

seccionamento do mesmo suporte laminar.

Finalmente, foi ainda possível verificar que nenhuma dos geométricos

apresenta tratamento térmico, nem apresentam calcinação.

Feita a análise métrica deste conjunto (Tabela 4), esta apresentou as

seguintes dimensões médias:

comprimento (C): 30.7 mm (n=4);

largura (L): 12.4 mm (n=4);

espessura (E): 2.9 mm (n=4).

Ao olhar para a tabela anterior, percebe-se que todas as quatro peças

têm dimensões muito semelhantes, não havendo assim uma que se

destaque das outras. Ainda assim, a mais robusta é a peça sem número de

identificação (1).

2.1.3. Descrição de um punhal em sílex

O único grande foliáceo de que faz parte nesta colecção, é um punhal

em sílex (Figura 13), apresentando tratamento térmico e ausência de

polimento. Ao longo de toda a peça foi aplicado retoque invasor. O punhal

tem ainda forma triangular com dois entalhes junto à base (provavelmente

18

para permitir o encabamento) que se encontra regularizada por fractura

intencional. As suas dimensões são 76.6 mm de comprimento por 21.3 e 7.2

de largura e espessura, respectivamente.

2.2. Pedra polida

2.2.1. Classificação tipológica

O conjunto de materiais de pedra polida estudados nesta colecção é

composto por trinta exemplares, todos eles em rochas anfibólitas, excepto

um em fibrolite (Figura 14), e cujos resultados da análise vão ser

apresentados de seguida.

Dos materiais estudados com um peso médio de 352 gramas, são os

machados (Figura 15 e 16) que aparecem em maior número, com 16 peças

no total, seguidos das enxós (Figura 17 e 18) com 13 exemplares, e que

correspondem a 43%, enquanto que apenas com um exemplar aparecem as

goivas (Figura 19). Destas peças, 37% apresentam apenas polimento no

gume, enquanto que a restante percentagem dos materiais está polida

parcialmente ou na totalidade. O maior número de machados em relação às

enxós pode não estar relacionado com qualquer tipo de função que cada um

desempenha, pela simples razão que estes materiais fazem parte de um

contexto funerário e não habitacional. Ainda assim verifica-se que esta

situação é contrária em relação a outros espólios de monumentos

megalíticos da segunda metade do IV milénio a. C. (Valera, 1997, p. 122).

Os critérios utilizados para a realização desta análise foram os sugeridos

19

por A. C. Valera (1997), cujos resultados podem ser consultados na Tabela

5.

Os instrumentos deste conjunto revelaram-se na sua maioria como

sendo de secção transversal (Gráfico 13) rectangular ou sub-rectangular

com 40%, a secção longitudinal (Gráfico 14) sinuosa com 46%, e bordos

convergentes no talão representando quase ¾ do total (73%). Relativamente

às restantes peças, estas repartem-se pelas outras características com

percentagens muito mais baixas, e cujo cômputo geral para a secção

transversal é o seguinte:

rectangular ou sub-rectangular (0): n=12 (40%);

quadrangular ou sub-rectangular (1): n=4 (13%);

circular (2): n=2 (7%);

elíptica (3): n=7 (23%);

trapezoidal (4): n=0 (0);

biconvexa (5): n=3 (10%);

convexo-côncava (6): n=2 (7%).

E para a secção longitudinal:

flancos paralelos (0): n=5 (17%);

convergentes no gume (1): n=0 (0);

convergentes no talão (2): n=2 (7%);

biconvexos (3): n=9 (30%);

sinuosos (4): n=14 (46%).

Tais características estão certamente relacionadas com a matéria-prima

utilizada que influenciaria o modo como as peças são trabalhadas e

20

consequentemente a sua secção transversal.

Gráfico 13 – Secção transversal dos instrumentos em pedra polida. 0 – rectangular ou

sub-rectangular; 1 – quadrangular ou sub-quadrangular; 2 – circular; 3 – elíptica; 4 –

trapezoidal; 5 – biconvexa; 6 – convexo-côncava.

Gráfico 14 – Secção longitudinal dos instrumentos em pedra polida. 0 – flancos

paralelos; 1 – convergentes no gume; 2 – convergentes no talão; 3 – biconvexos; 4 –

sinuosos.

Em relação ao gume não se verificou uma predominância de qualquer

um dos biseis (Gráfico 15), nem quanto ao seu estado (Gráfico 16). Ainda

assim, o gume que mais predominou foi o duplo simétrico plano intacto.

21

40%

13% 7%

23%

0% 10% 7%

Secção transversal 0 1 2 3 4 5 6

17% 0%

7%

30%

46%

Secção longitudinal

0 1 2 3 4

Pelos resultados obtidos pode também observar-se que apesar de tudo,

estas peças não foram intensamente utilizadas, o que se pode concluir

através do estado do gume onde com mais de ¾ estas apresentam o gume

intacto ou com ligeiros sinais de uso.

Gráfico 15 – Gume Bisel dos instrumentos em pedra polida. 0 – simples convexo; 1 –

simples plano; 2 – simples côncavo; 3 – duplo simétrico convexo; 4 – duplo simétrico

plano; 5 – duplo dissimétrico convexo; 6 – duplo dissimétrico plano; 7 – duplo

dissimétrico plano-convexo.

Gráfico 16 – Estado do Gume dos instrumentos em pedra polida. 0 – intacto; 1 –

ligeiros sinais de uso; 2 – intensos sinais de uso; 3 – boleado; 4 – partido/lascado; 5 –

desbastado.

Quanto ao talão (Gráfico 17) o que se verificou com maior presença

22

4% 10% 0%

23%

30% 10%

0% 23%

Gume Bisel

0 1 2 3 4 5 6 7

43%

37%

3% 0%

17%

0%

Gume Estado

0 1 2 3 4 5

neste conjunto de peças é o redondo (33%), embora com pouca diferença

em relação ao truncado que aparece em segundo lugar, mas também com

uma margem não muito grande em relação aos restantes. De referir ainda

que um dos exemplares não apresentou talão, o que poderá indicar que foi

intensamente utilizado em algumas actividades. A variação geral é pois a

seguinte:

truncado (0): n=8 (27%);

redondo (1): n=10 (33%);

pontiagudo (2): n=6 (20%);

rectilíneo (3): n=5 (17%);

inexistente (4): n=1 (3%);

Gráfico 17 – Talão dos instrumentos em pedra polida. 0 – truncado; 1 – redondo; 2 –

pontiagudo; 3 – rectilíneo; 4 – inexistente.

Feita a análise métrica e cujos resultados se apresentam na Tabela 6,

esta revelou essencialmente dois grupos distintos de peças: um de

instrumentos mais robustos, com um comprimento mais elevado, a partir dos

23

27%

33%

20%

17%

3%

Talão

0 1 2 3 4

130 mm e com uma espessura à volta dos 40 mm; e outro de menores

dimensões, tanto no comprimento entre os 40 e os 120 mm, mas também na

espessura que não passa os 30 mm. Esta análise apresentou as seguintes

dimensões médias:

comprimento máximo (C): 127.2 mm (n=30);

largura do gume (L1): 41.4 mm (n=30);

largura do talão (L2): 23.1 mm (n=30);

espessura (E): 31.9 mm (n=30).

No entanto uma das explicações para a existência de peças de menores

dimensões, especialmente na espessura e comprimento, é o facto de elas

poderem ter sido reaproveitadas ao longo do tempo através de processos de

reavivamento dos gumes por talhe e subsequente polimento (Valera, 1997,

p. 118). Uma segunda possibilidade pode prender-se simplesmente por um

motivo de carácter funcional, ou seja, com o facto de as peças de menores

dimensões terem servido para outro tipo de tarefas (mais ligeiras) como

trabalhos domésticos do quotidiano. Uma última possibilidade, e talvez

aquela menos provável, é o facto de o tamanho das peças em pedra polida

poderem estar relacionadas com a idade/estatuto daquelas pessoas, ou

seja, as oferendas de uma criança ou um adolescente quando sepultado

poderiam incluir este tipo de peças de menores dimensões, ao contrário de

um adulto, que poderia estar acompanhado das peças mais robustas. No

entanto esta possibilidade só poderia vir a ser comprovada se fosse possível

determinar a idade dos restos ósseos humanos encontrados (em curso de

estudo por Olivia Figueiredo) associados a este conjunto de materiais.

24

Os índices de alongamento e robustez calculados (Tabela 7) permitiram

verificar através do Gráfico 18 que parece existir uma tendência para os

machados mais robustos serem por sua vez menos alongados, ao contrário

do grupo das enxós, onde parece não existir qualquer padrão.

Do segundo grupo, já referido anteriormente de menores dimensões,

parecem fazer parte a goiva, um dos machados e algumas enxós com

ambos os índices baixos.

Gráfico 18 – Distribuição dos instrumentos em pedra polida, com o cruzamento dos

dados dos Índices de Alongamento (Eixo dos X) e dos Índices de Robustez (Eixo dos

Y).

3. Materiais cerâmicos

3.1. Inventário e classificação tipológica

Nesta colecção da Sala do Ricardo na Lapa da Bugalheira registam-se

62 fragmentos cerâmicos (Tabela 8), aos quais se junta um recipiente

completamente inteiro. Considerando este vaso completo e o número de

25

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 20 40 60 80

Índ

ice d

e R

ob

uste

z

Índice de Alongamento

Machados x16

Enxós x13

Goivas x1

bordos existentes, foi possível identificar um número mínimo de sete

recipientes. Conseguiu-se obter este número mínimo, através da análise de

aspectos de natureza tecnológica, nomeadamente a cor das pastas, a sua

espessura, e a decoração. De resto, não foi possível fazer qualquer

remontagem.

Deste número total de fragmentos (Figura 20 e 21), foi possível

identificar que a esmagadora maioria, com 90% são bojos, e apenas 10%

corresponde a bordos.

Do número total de bordos (Gráfico 19), quatro deles apresentam

decorações, correspondendo a 67%, e onde um dos quais contém uma asa,

como elemento plástico. Quanto aos bordos lisos, são apenas dois

fragmentos, correspondendo a 33%.

Dos 56 fragmentos de bojos (Gráfico 20), seis são decorados,

correspondendo a 11%, onde dois deles têm asa. A percentagem restante

(89%) corresponde a bojos lisos.

Foram várias as técnicas de decoração utilizadas nestes fragmentos

cerâmicos, a saber: a técnica da incisão, presente através de linhas incisas,

obtidas pela aplicação de um objecto cortante na pasta; a técnica da

impressão a pente, feita através da aplicação de um corpo duro na pasta,

presente em dois fragmentos; um fragmento de bordo (peça nº1) decorado

com cordão liso, disposto na horizontal, e ainda um fragmento com

impressão a concha. Existem duas hipóteses para o aparecimento deste

último fragmento referido: ou é um dos poucos conhecidos com este tipo de

decoração durante o Neolítico Médio; ou então pertencerá a uma outra

26

camada da sala, possivelmente da fase mais antiga do Neolítico. De

qualquer das maneiras, devido aos trabalhos pouco cuidadosos realizados

na Sala do Ricardo (recorde-se que se trata, apenas, de recolhas de

superfície), torna-se difícil optar por qualquer uma das hipóteses.

De referir ainda que um dos fragmentos de bordo aparenta ser de época

romana, pois este apresenta uma pasta muito mais clara e um tipo de

decoração típico deste período, o que não é de todo de estranhar, pois já

Afonso do Paço tinha referido (1971) a existência de cerâmica de outros

períodos mais recentes na sala principal da Lapa da Bugalheira.

Em relação ao recipiente completo (Figura 22, 23, 24, 25 e 26), trata-se

de um vaso fechado de estilo Montbolo com fundo convexo, forma elíptica, e

asas com perfuração vertical. Este recipiente está praticamente todo coberto

com concreções calcárias, devido ao contexto de gruta onde foi achado. De

salientar ainda, a propósito deste vaso, que é visível a aplicação de almagre

por toda a superfície não coberta pelas referidas concreções. Este recipiente

apresenta as seguintes medidas (em mm): diâmetro interno da abertura –

115.3; espessura do bojo – 9.6; espessura do bordo – 8.9; altura total –

149.3.

Gráfico 19 – Percentagem de bordos lisos e decorados

27

33%

67%

Bordos

Lisos Decorados

Gráfico 20 – Percentagem de bojos lisos e decorados

3.2. Enquadramento cronológico da colecção cerâmica

Apesar de relativamente pequeno, este conjunto de materiais revelou-se

bastante rico, permitindo a obtenção de alguns dados importantes. Assim,

este é um conjunto composto por uma grande variedade de pastas e

diversos tipos de decoração, já para não falar do recipiente completamente

inteiro que integra esta colecção.

Dada a pequenez do conjunto, ao analisá-lo preocupei-me sobretudo em

fazer uma inventariação dos fragmentos, e apenas uma descrição mais

pormenorizada do recipiente completo. Ou seja, fiz a contagem do número

de bordos, e bojos, e dentro de cada grupo, os que são lisos, e os que são

decorados (Gráfico 21).

O facto de nesta gruta-necrópole terem sido recolhidos um elevado

número de fragmentos cerâmicos lisos (84%), e as datações radiocarbono

apontarem para 5090±60 BP (ou seja, 4033-3713 cal BC), classifica este

contexto como sendo tipicamente do Neolítico Médio português, tal como se

verifica também noutros casos da Estremadura portuguesa: nomeadamente

no Abrigo da Pena D’Água (Zilhão & Carvalho, 1996, p. 664).

28

89%

11%

Bojos

Lisos Decorados

A presença do vaso completo com as características de estilo Montbolo,

típico da transição Neolítico Antigo-Neolítico Médio (Guilaine, 1976, p. 144)

associado aos restantes materiais analisados, e a datação radiocarbono

reforçam a ideia de que estamos perante um contexto do Neolítico Médio.

Embora com uma percentagem baixa, também os fragmentos cerâmicos

decorados com as técnicas da impressão e incisão estão presentes. Em

relação ao fragmento com impressão a concha não é conhecido qualquer

paralelo, o que poderemos apenas supor as tais duas hipóteses

apresentadas anteriormente. Quanto às técnicas da impressão e incisão,

encontra-se para o mesmo período, paralelos no Abrigo da Pena D’Água,

também associados às cerâmicas lisas (Zilhão & Carvalho, 1996, p. 664).

Para o fragmento decorado com cordão liso disposto na horizontal é

conhecido um paralelo na Gruta da Furninha, Peniche, este datado do

Neolítico Final (Cardoso & Carvalho, 2010, p. 588).

Gráfico 21 – Percentagem de fragmentos lisos e decorados

29

84%

16%

Total de fragmentos

Lisos Decorados

4. Artefactos em osso e concha

4.1. Braceletes

São duas as braceletes em concha de Glycymeris glycymeris

encontradas (Figura 27), das quais, apenas uma delas se encontra inteira. A

bracelete inteira, a mais pequena, pertenceria possivelmente, a um indivíduo

de pequena estatura: a uma criança, ou até, a uma mulher. A peça

fragmentada, e também a maior, pertenceria muito provavelmente a um

indivíduo adulto.

São muitos os paralelos na Estremadura portuguesa, e todos eles de

carácter funerário, tal como a Lapa da Bugalheira: entre eles, a Gruta do

Lugar do Canto ou a Gruta dos Carrascos (Cardoso & Carvalho, 2008, p.

277).

Segundo os autores citados, a cronologia dada para este tipo de

artefactos, é o terceiro quartel do IV milénio a. C. (Cardoso & Carvalho,

2008, p. 277).

4.2. Objectos de cariz mágico-religioso

Neste conjunto de objectos (Figura 28) compreendem-se todos aqueles

artefactos que têm, como matéria-prima, o osso. Estes objectos teriam

essencialmente funções de adorno pessoal, e caracterizam-se por serem

encontrados sobretudo em locais de enterramento. Além disso, estão

também ligados à evolução hierárquica que foi ocorrendo durante a Pré-

História recente (Žorž, 2008, p. 34), atingindo o seu ponto fulcral no

30

Calcolítico. Poderiam também servir como ferramentas de comunicação no

seio das comunidades agro-pastoris pré-históricas, indicando assim o seu

significado em vários processos sociais (Žorž, 2008, p. 44). Ou seja, a

população utilizadora de estes artefactos poderiam ser “guiadas” e moldadas

de certa forma, em função destes objectos, e de quem os possuía. A sua

presença poderá indicar, deste modo, que a prática da agricultura teria um

papel preponderante no território envolvente da gruta, e consequentemente

na sua sociedade.

Esta colecção é então constituída por quatro artefactos, e que vão ser

apresentados individualmente de seguida.

O primeiro é uma figura zoomorfa, de pequenas dimensões,

completamente inteira, representando um lagomorfo. A sua função seria

exclusivamente como objecto de adorno pessoal. Observou-se ainda que,

para o fabrico do mesmo, foi utilizada a técnica de polimento. Esta mesma

técnica é bastante comum neste tipo de artefactos, tal como mencionou M.

C. Salvado (2004, p. 67). Em relação à cronologia, segundo J.L. Cardoso,

estes objectos são característicos do Neolítico Final, representando

amuletos de fertilidade (Cardoso, 2002, p. 182).

Neste conjunto está ainda presente uma peça fragmentada e afeiçoada

por polimento na sua parte superior, usualmente classificada como “ídolo

almeriense”, frequentemente interpretados como Deuses masculinos

(Gonçalves, 1995, Aberg, 1921 segundo Žorž, 2008, p. 46).

Cronologicamente, tem sido muito difícil atribuir um período exacto para este

tipo de artefactos. No entanto, são vários os investigadores que mais se têm

31

debruçado sobre este assunto, como por exemplo, V. S. Gonçalves: “Sobre

a Deusa ou Deusas cujas imagens conhecemos nos 4º e 3º milénios pouco

sabemos, e menos ainda sobre os seus possíveis parceiros masculinos.

Existiriam já no Neolítico ou as figurinhas masculinas que foram recolhidas

em vários monumentos e sítios calcolíticos traduzem a chegada dos novos

Deuses, partilhando o espaço do Jovem Deus?” (Gonçalves, 1995, pp. 233 e

236).

Faz parte também desta colecção um alfinete de cabelo (Figura 29)

completamente inteiro de secção circular, e com acabamento de polimento.

Da sua cabeça parece ter sido aproveitado o canal medular para servir de

perfuração, sendo que aparenta ser de um osso bastante maciço, ou talvez

de uma haste de um animal. Segundo M. C. Salvado, este tipo de materiais

poderiam ter as seguintes funções: prisão do cabelo, ou ainda, possível

decoração de roupa (Salvado, 2004, p. 82). O comprimento máximo da

peça, e o diâmetro da cabeça, são os seguintes: 161.9 mm e 14.3 mm,

respectivamente. Tendo em conta paralelos encontrados no sítio da Praia

das Maçãs (Sintra), pode ser atribuída uma cronologia do Neolítico Final a

este alfinete, embora algumas peças tenham sido também datadas do início

do Calcolítico (Cardoso, 2002, pp. 289-290)

O quarto e último objecto em osso é uma peça, para a qual não existe

nenhum paralelo conhecido, sendo por isso, impossível tirar qualquer

conclusão acerca da sua cronologia. Ainda assim, há algumas observações

que é possível retirar. Este é um artefacto polido de relativa pequena

dimensão, e a sua forma faz lembrar a de um garfo, ou um tridente (objecto

32

associado à mitologia grega). De referir ainda, que pelo facto de estar

fragmentado, é impossível saber o seu comprimento total. Em relação às

possíveis funções que poderia exercer, são também elas meramente

especulativas: alimentação, ou simplesmente como um amuleto.

5. Inserção cronológico-cultural da colecção e conclusões finais

Apesar de há largos anos serem conhecidos (mas não publicamente) os

materiais arqueológicos da Sala do Ricardo na Lapa da Bugalheira (Torres

Novas), estes nunca foram realmente estudados, estando por isso inéditos

até ao início deste Trabalho de Seminário.

Este trabalho procurou então fazer uma análise do espólio funerário

pertencente àquela sala, para assim ser possível atribuir uma cronologia, e

tentar perceber se houve mais do que um momento em que a gruta tivesse

sido usada como necrópole. Na Lapa da Bugalheira já haviam sido feitos

trabalhos, onde escavações precoces e trabalhos com pouco rigor por

Afonso do Paço estão na origem deste problema inicial de atribuir uma

cronologia exacta, sendo que este investigador identificou apenas duas

camadas na gruta: uma moderna com diversos tipos de materiais e uma a

que ele chamou de Neolítico (Paço et al., 1971).

O Neolítico Médio, convencionalmente datado entre cerca de 4500 e

3750 a.C. (Cardoso, 2007, p. 240), na região do Maciço Calcário

Estremenho está apresentado quase exclusivamente por grutas-necrópole,

com os povoados em muito menor número, resumindo-se ao Abrigo da Pena

d’Água (Zilhão & Carvalho, 1996, p. 665), e aos povoados de ar livre do

33

Cerradinho do Ginete e Costa do Pereiro, ainda não estudados e publicados

(Carvalho, 2008), todos no concelho de Torres Novas, tal como a Lapa da

Bugalheira.

A análise dos materiais permitiu de facto definir realmente dois grupos,

ambos do Neolítico: um primeiro com materiais tipicamente do Neolítico

Médio; e um segundo grupo de materiais cronologicamente atribuídos ao

Neolítico Final.

O primeiro grupo atribuído ao Neolítico Médio está marcado

essencialmente pela cerâmica e pelos materiais líticos em sílex, onde se

verificou um baixo número de micrólitos geométricos (quatro exemplares) em

relação à fase anterior do Neolítico, e por um conjunto de produtos laminares

mais robustos (Zilhão & Carvalho, 1996, p. 665).

A presença exclusiva do sílex nos produtos laminares nesta colecção

poderá estar relacionada com duas hipóteses: o sílex ser a única matéria-

prima disponível na região que permitisse o fabrico de tais artefactos; ou

simplesmente por a própria matéria-prima ter por si só um simbolismo a ela

associado (Žorž, 2008, p. 39), e daí matérias-primas como o quartzo ou o

quartzito não estarem incluídos nesta colecção. Ou seja, isto não significará

que não fossem utilizadas; apenas que os artefactos fabricados em quartzo,

quartzito, ou outra matéria-prima ficariam restringidos a tarefas do

quotidiano, e por isso não encontrados em contexto funerário. Não parece

contudo, ter havido uma oficina de talhe nesta zona do maciço, pois a

colecção apresentou muita heterogeneidade tanto no tipo de sílex utilizado,

como nos aspectos formais da peça. Significando desta forma que poderiam

34

já existir circuitos de trocas comerciais na região e no período em questão.

Em relação aos materiais cerâmicos, apesar de relativamente pequeno,

este conjunto revelou-se bastante interessante, pois para além de conter um

fragmento decorado com impressão a concha (não muito comum no

Neolítico Médio), estava também incluído um recipiente cerâmico de estilo

Montbolo completamente inteiro. Recipiente esse característico da transição

do Neolítico Antigo-Neolítico Médio (Guilaine, 1976, p. 144), associado a um

número elevado de fragmentos lisos (84%).

A datação pelo método do radiocarbono a apontar para 5090±60 BP (ou

seja, 4033-3713 cal BC) sob os restos ósseos humanos reforça ainda mais a

ideia de que se trata de um contexto do Neolítico Médio.

Para o fragmento com impressão a concha não é conhecido qualquer

paralelo, o que se supõe pertencer a um nível mais antigo da gruta ainda

não escavado, ou ser um dos poucos casos do Neolítico Médio em que a

cerâmica é decorada.

O segundo grupo de materiais atribuído ao Neolítico Final, ou seja,

correspondente aos últimos três quartéis do IV milénio a.C. e inícios do

milénio seguinte (Cardoso, 2006, p. 16), este parece estar presente tanto

pelas braceletes em concha de Glycymeris glycymeris (Zilhão & Carvalho,

1996, p. 666), como pelos artefactos fabricados em osso: nomeadamente o

alfinete em osso que segundo V. S. Gonçalves surge em contextos de

necrópole desde o Neolítico Final até ao Calcolítico (Gonçalves, 2003, p.

162); figura zoomórfica de um lagomorfo e pelo artefacto que faz lembrar um

“garfo”. No entanto este tipo de espólio nas grutas-necrópole, à falta de

35

datações, têm sido considerados como sendo mais antigos, visto denotar-se

da ausência de pontas de seta e das cerâmicas carenadas (Zilhão &

Carvalho, 1996, p. 666), podendo o conjunto de materiais em questão, fazer

parte de um período transitório entre as fases Média e Final do Neolítico.

Outro dos indícios que poderemos estar perante uma fase mais tardia do

Neolítico, é o facto de existir uma percentagem (37%) dos materiais em

pedra polida em que estão apenas polidos no gume e de as secções

apresentadas serem na sua maioria quadrangulares ou rectangulares (53%),

que segundo Senna-Martinez podem representar uma alteração significativa

na segunda metade do IV milénio a.C. no fabrico destes instrumentos

(Senna-Martinez, 1989, p. 599, segundo Valera, 1997, p. 123). Contudo pelo

facto de ser muito difícil de atribuir uma cronologia exacta só pela análise

destes materiais estes não foram associados a qualquer um dos grupos.

Outra das conclusões que se pode retirar acerca destes últimos

materiais, é tentar perceber qual a sua proveniência, pelo simples facto que

na zona de Torres Novas não se encontra disponível a matéria-prima

(rochas anfibólitas) necessária para o seu fabrico, significando assim que

estas populações realizavam dezenas ou mesmo centenas de quilómetros

para conseguir obter este recurso (Cardoso, 2002, p. 223). De toda a área

com estas rochas disponíveis existem duas regiões mais prováveis de onde

poderão ser originárias as rochas anfibólitas (Figura 30):

- uma primeira região mais próxima da Lapa da Bugalheira, em

Abrantes, perto do rio Tejo (Cardoso & Carvalhosa, 1995, p. 145), que seria

com certeza uma importante via de comunicação;

36

- e uma segunda região a sudeste, em Ponte de Sôr (Cardoso &

Carvalhosa, 1995, p. 145).

Em relação aos artefactos em osso, estes demonstram que ao longo do

Neolítico a Península Ibérica passou por um processo de evolução

hierárquica das sociedades (Žorž, 2008, p. 34), que estão muito bem

representados pelo tipo de artefactos que se fabricaram, nomeadamente os

de cariz mágico-religioso, como é o caso da figura zoomórfica, do alfinete,

do “garfo”, o ídolo almeriense, e das braceletes em concha. Este tipo de

artefactos denotam já uma pequena diferenciação dentro da sociedade, e

que se reflectia também durante os rituais funerários, demonstrando também

assim as suas personalidades (Tilley, 2004, segundo Žorž, 2008, p. 36),

estando portanto excluídas actividades económicas diárias ligadas a este

tipo de artefactos (Bicho, 2006, p. 419). Além disso este tipo de artefactos

possui só por si um conteúdo religioso, sendo no entanto actualmente de

difícil interpretação (Leroi-Gourhan, 2007, p. 23), pois não conhecemos

verdadeiramente as suas práticas e as suas mentes.

Para o ídolo almeriense conhecem-se diversos paralelos ao longo de

toda a Estremadura, estando associados a contextos do Neolítico Final, e

por vezes acompanhados por símbolos de fertilidade (Cardoso, 2002, p.

236), tal como na Sala do Ricardo que surge juntamente com um pequeno

lagomorfo em osso. A existência destas figuras zoomórficas é justificada

pela dependência da domesticação de espécies de animais e vegetais, que

conduziria “(…) à adopção de práticas mágico-religiosas que privilegiariam

essa relação através da valorização de uma das suas componentes

37

essenciais: a fertilidade das terras e dos animais, da qual (…) passou a

depender a própria viabilidade dos grupos humanos (Cardoso, 2007, pp.

235-236).

Já o alfinete de cabelo, segundo V. S. Gonçalves, este parece ter

aparecido ao longo da segunda metade do IV milénio a.C., ou seja, durante

o Neolítico Final, como está documentado o exemplo da Cova das Lapas

(Gonçalves, 2003, p. 255). Para tais artefactos como os alfinetes em osso,

conhecem-se paralelos na Gruta 2 de Alapraia e na Gruta de S. Pedro do

Estoril, em contextos Calcolíticos (Gonçalves, 2003, p. 130).

Quanto à peça que tem uma forma que faz lembrar um garfo, não se

conhece qualquer paralelo, podendo no entanto, devido à sua complexidade,

inserir-se possivelmente na fase mais tardia do Neolítico, ou mesmo da fase

inicial do Calcolítico.

Parece portanto existir durante o Neolítico Médio e na passagem para o

Final uma estabilidade dos espaços sepulcrais, que S. O. Jorge descreve

como tendo um “(…) propósito de controle de memória colectiva, que é vital

para a consolidação das estruturas sociais das primeiras comunidades agro-

pastoris” (Jorge, 1999, p. 71). Tais espaços seriam alvo de cerimónias

funerárias, que embora não documentados aquando dos trabalhos de

escavação por Afonso do Paço e a sua equipa, estas eram acompanhadas

por rituais de fogo e ocre vermelho, sendo interpretados por J. L. Cardoso

como ritos de purificação (Cardoso, 2002, p. 199).

A Lapa da Bugalheira embora já conhecida há largas décadas, só a

partir dos anos 80 do século passado é que se passou a conhecer a Sala do

38

Ricardo. O seu pequeno mas rico espólio, com algumas peças raras ou

mesmo únicas, e os restos ósseos humanos (em curso de estudo por Olivia

Figueiredo) faz deste sítio arqueológico, a par de outros na região

envolvente muito importante para a contribuição dos conhecimentos relativos

às práticas funerárias neolíticas no território português. Este sítio está então

incluído naquilo que V. S. Gonçalves designou por “megalitismo de grutas”, e

que poderá ter tido mesmo origem no Neolítico Antigo (Cardoso, 2002, p.

218; Cardoso, 2007, p. 239). A integração de uma grande variedade de

utensílios e artefactos dentro deste espólio funerário demonstram

claramente a elevada importância que estes teriam no seio da comunidade,

reflectindo uma grande capacidade económica, social, e no caso dos

artefactos de cariz mágico-religioso, capacidades cognitivas e psíquicas.

Este espólio reflecte ainda uma intensa actividade económica,

principalmente ao nível agrícola observada pela presença de um elevado

número de materiais em pedra polida, e uma população que aproveitou as

cavidades naturais da serra junto às suas casas, para aí depositar os seus

familiares, e com eles os seus objectos pessoais usados no dia-a-dia.

Devido a existirem poucos testemunhos habitacionais do Neolítico Médio

a norte do rio Tejo (Cardoso, 2007, p. 229), torna-se imperativo para os

investigadores centrarem os seus estudos nos contextos sepulcrais deste

período para conseguir uma melhor percepção do modo de vida destas

comunidades. No entanto persiste a dúvida: não será demasiado estranho

conhecerem-se tão poucos povoados nesta fase do Neolítico?! Talvez isso

se possa explicar por escavações mal conduzidas e/ou dados arqueológicos

39

mal interpretados, e que só futuramente com novos trabalhos, onde se

incluirá a minha própria investigação que abordarei aprofundadamente em

mestrado, se possam responder a algumas questões.

40

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PAÇO, A.; ZBYSZEWSKI, G. & FERREIRA, O. V. (1971) – “Resultados das escavações na

Lapa da Bugalheira (Torres Novas). In Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal.

Lisboa.

S.T.E.A. [Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia] (1986) Neolítico na Sala do

Ricardo. Almondinha. 1, p. 14-18.

SALVADO, M. C. (2004) – Apontamentos sobre a utilização do osso no Neolítico e

Calcolítico da Península de Lisboa. As colecções do Museu Nacional de Arqueologia.

Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia.

SENNA-MARTINEZ, J. C. (1989) – Pré-História Recente da Bacia do Médio e Alto

Mondego: algumas contribuições para um modelo sociocultural. Tese de Doutoramento em

Pré-História e Arqueologia. Faculdade de Letras de Lisboa.

TILLEY, C. (2004) – The Materiality of Stone: Explorations in Landscape Phenomenology.

Oxford: Berg.

VALERA, A. C. (1997) – O Castro de Santiago (Fornos de Algodres, Guarda): aspectos da

calcolitização da Bacia do Alto Mondego. Lisboa: Colibri.

42

ZILHÃO, J. & CARVALHO, A. F. (1996) – O Neolítico do Maciço Calcário Estremenho:

crono-estratigrafia e povoamento. I Congrés del Neolític a la Península Ibérica, 2. Gavá:

Museo de Gavá (Rubricatum; 1), p. 659-672.

ŽORŽ, A. (2008) – Neolithic Idols in Megalithic structures in the Iberian Peninsula: A

symbolic review regarding shape, ornament and raw material. In Arkeos. 24, pp. 31-72.

Outros documentos:

Carta Arqueológica do Concelho de Torres Novas. Câmara Municipal de Torres Novas.

43

ANEXOS

Figuras

Figura 1 – Localização da freguesia da Zibreira na Península Ibérica (adaptado de: Google

Earth).

Figura 2 – Localização do concelho de Torres Novas no território português.

Figura 3 – Perfil do Maciço Calcário Estremenho (Gonçalves & Pereira, 1977, p. 52).

Figura 4 – Localização da Lapa da Bugalheira com a indicação da altimetria (adaptado de:

Cardoso & Carvalho, 2008, p. 283).

Figura 5 – Desenho esquemático da Lapa da Bugalheira e Sala do Ricardo, aquando da sua

descoberta (S.T.E.A., 1986).

Figura 6 – Planta da Lapa da Bugalheira com a indicação dos trabalhos ali efectuados (Paço et

al.,1971).

Figura 7 – Corte da Lapa da Bugalheira com a indicação dos trabalhos ali efectuados (Paço et

al., 1971).

Figura 8 – Planta da gruta com a indicação do local e achados (Paço et al., 1971).

Figura 9 – Núcleo de tipo prismático (Fotografia de A. F. Carvalho).

Figura 10 – Conjunto de lâminas em sílex (Fotografia de A. F. Carvalho).

Figura 11 – Conjunto de lamelas em sílex (Fotografia de A. F. Carvalho).

Figura 12 – Conjunto de quatro micrólitos geométricos em sílex (Fotografia de A. F. Carvalho).

Figura 13 – Punhal em sílex, com presença de tratamento térmico (Fotografia A. F. Carvalho).

Figura 14 – Pequeno machado polido em fibrolite (Fotografia de A. F. Carvalho).

Figura 15 – Pequeno machado polido em rocha anfibólita (Fotografia de A. F. Carvalho).

Figura 16 – Conjunto de dois machados polidos em rochas anfibólitas (Fotografia de A. F.

Carvalho).

Figura 17 e 18 – Duas perspectivas diferentes de um conjunto de duas enxós polidas em

rochas anfibólitas (Fotografias de A. F. Carvalho).

Figura 19 – Goiva polida em rocha anfibólita (Fotografia de A. F. Carvalho).

Figura 20 e 21 – Fragmentos cerâmicos de bordos (o primeiro com asa) decorados

(Fotografias de A. F. Carvalho).

Figura 22 – Vista completa do recipiente cerâmico de tipo Montbolo (Fotografia de A. F.

Carvalho).

Figura 23 – Vista superior do recipiente cerâmico (Fotografia de A. F. Carvalho).

Figura 24 – Pormenor do recipiente cerâmico onde se observa a aplicação de almagre

(Fotografia de A. F. Carvalho).

Figura 25 e 26 – Duas perspectivas do recipiente cerâmico onde se observa a pega com

perfuração (Fotografias de A. F. Carvalho).

Figura 27 – Duas braceletes em concha de Glycymeris glycymeris (Fotografia de A. F.

Carvalho).

Figura 28 – Objectos de cariz mágico-religioso. Da esquerda para a direita: ídolo almeriense; o

“garfo”; figura zoomórfica representando um lagomorfo (Fotografia de A. F. Carvalho).

Figura 29 – Alfinete de cabelo em osso (Fotografia de A. F. Carvalho).

Figura 30 – Origens mais prováveis das rochas anfibólitas utilizadas nos utensílios em pedra

polida (adaptado de: Cardoso, 2002, p. 222).

Tabelas

Produto de debitagem Peça F Cx T Tt C R S P Fm Tf

Lâmina 5 0 0 1 1 1 0 0 1 2 -

Lâmina 17 0 0 2.1 1 1 0 1 1 1 -

Lâmina 31 0 0 1 1 1 0 1 1 5 -

Lâmina 30 0 0 2.1 1 1 1 0 1 0 -

Lâmina 29 3 0 - 0 1 0 0 - - 3

Lamela 16 0 0 2.1 0 1 0 0 1 0 -

Lâmina 32 1 0 2.1 0 1 1 0 0 1 2

Lâmina 8 1 0 1 1 0 1 0 - 1 5

Lâmina 4 0 0 2.1 1 1 1 0 3 1 -

Lâmina 3 0 0 2.2 1 1 0 0 3 0 -

Lâmina 18 3 0 - 1 0 0 0 - - 5

Lâmina 11 0 0 3.2 1 0? 0 2 1 4 -

Lamela 1 0 0 4 1 1 1 0 1 2 -

Lâmina 10 0 1 2.1 1 0 1 1 1 0 -

Lâmina 2 0 0 1 1 1 1 2 1 1 -

Lâmina 28 3 0 - 1 1 1 0 - - 2

Lâmina 27 1 0 2.1 1 1 0 1 - 5 1

Lâmina 26 1 0 1 1 1 1 1 - 1 2

Lâmina 7 3 1 - 1 1 0 0 - - 1

Total 19

Tabela 1 – Resultados da análise dos produtos laminares (consultar anexo relativo aos critérios

de análise lítica: produtos de debitagem).

Peça C L E

1 39,2 10,8 2.8

2 116,4 27,8 7.9

3 155,7 22,9 6.9

4 124,7 28,6 5.7

5 109,4 12,4 3.5

7 79,8 22,1 4.6

8 82,4 17,8 3.7

10 122,5 26,5 7.8

11 77,9 21,3 4.4

16 60,9 11,4 4.5

17 85,4 17,8 6.3

18 71,3 23,9 4.5

26 35,8 14,2 3.0

27 38,1 14,9 2.9

28 45,4 9,4 2.9

29 52,9 15,5 4.2

30 60,4 14 6.0

31 67,6 17 4.6

32 63,2 12,2 3.4

Tabela 2 – Dimensões dos produtos laminares (em mm). C – comprimento; L – largura; E –

espessura.

Peça T Rp Re Ri S Tt C

19 2 1 0 1 0 1 1

20 2 1 0 1 0 1 1

sn1 2 1 0 0 1 1 1

sn2 2 1 0 0 1 1 1

Tabela 3 – Resultados da análise dos micrólitos geométricos (consultar anexo relativo aos

critérios de análise lítica: armaduras microlíticas). sn – sem número de identificação.

Peça C L E

19 29.0 12.8 2.2

20 33.2 12.0 3.1

sn1 30.2 12.9 4.1

sn2 30.3 12.0 2.3

Tabela 4 – Dimensões dos micrólitos geométricos (em mm). C – comprimento máximo; L –

largura máxima; E – espessura. sn – sem número de identificação.

Peça Peso (g) MP St Sl P GB GE T

6 762 0 3 0 2 4 4 1

42 192 0 3 0 2 3 0 1

7 359 0 2 4 1 7 4 3

36 532 0 3 3 2 4 1 2

41 355 0 1 3 1 4 1 0

34 308 0 0 4 2 1 0 1

43 349 0 1 4 0 4 0 0

40 297 0 0 4 1 3 0 3

2 291 0 0 3 2 3 1 1

44 343 0 0 4 1 4 1 1

5 183 0 3 4 1 5 4 0

33 848 0 6 4 1 5 2 2

35 643 0 6 3 1 7 1 2

11 391 0 3 2 0 4 1 1

1 566 0 5 4 0 7 0 1

13 359 0 5 3 0 5 4 2

16 740 0 1 3 1 3 0 0

3 451 0 0 0 1 4 0 0

39 304 0 0 4 1 7 1 3

4 354 0 1 4 0 4 4 2

14 475 0 5 4 0 3 0 3

9 615 0 0 4 0 3 0 0

10 281 0 3 0 0 4 1 0

12 123 0 0 4 0 7 0 4

8 107 0 0 4 0 7 0 3

15 87 0 2 2 2 7 0 1

17 101 0 0 0 0 1 1 2

45 70 0 0 3 2 1 1 1

38 53 0 3 3 2 0 1 0

47 21 1 0 3 2 3 0 1 Tabela 5 – Resultados da análise dos materiais em pedra polida (consultar anexo relativo aos

critérios de análise lítica: utensílios em pedra polida).

Peça C L1 L2 E E1 E2

1 137.5 52.9 28.9 40.8 19.9 20.3

2 113.9 43.3 17.5 34.1 17.9 21.2

3 132.3 41.8 15.4 44.2 20.7 21.6

4 119.9 39.1 16.1 41.7 15.6 20.8

5 100.3 26.4 26.4 27.1 12.1 15.5

6 184.3 44.8 28.2 45.0 28.7 21.3

7 113.9 50.3 29.8 35.9 20.6 19.7

8 106.3 34.0 17.4 16.9 6.6 7.3

9 136.6 43.9 41.2 48.1 23.4 35.1

10 115.1 43.7 23.6 29.2 13.7 23.1

11 114.0 51.5 26.8 40.9 19.1 17.7

12 104.7 41.2 27.9 14.2 8.0 6.8

13 141.7 36.4 21.4 40.8 17.5 16.1

14 147.2 47.2 17.1 39.6 14.6 28.3

15 114.7 14.4 12.2 20.1 10.2 9.7

16 236.8 31.1 27.3 45.4 23.0 21.9

17 125.5 33.8 22.0 11.5 6.4 4.8

33 216.6 43.3 23.6 50.9 25.6 8.5

34 144.7 48.8 21.6 20.0 11.3 16.4

35 194.0 48.7 25.5 43.9 18.4 13.4

36 140.9 56.6 26.6 42.2 23.1 18.3

38 64.2 40.3 16.9 13.4 6.7 6.1

39 99.6 49.4 22.0 34.4 13.9 23.3

40 128.2 43.1 28.6 25.7 15.9 19.4

41 132.9 43.9 21.3 39.7 17.1 15.1

42 109.7 48.1 27.4 19.6 8.1 11.3

43 128.8 30.8 20.5 30.9 18.9 31.4

44 101.4 44.1 31.3 34.1 17.1 25.9

45 68.3 39.4 15.6 16.1 6.8 6.9

47 41.9 29.7 14.2 9.2 3.4 3.6 Tabela 6 – Dimensões dos materiais em pedra polida (em mm). C – comprimento máximo; L1 –

largura do gume; L2 – largura do talão; E – espessura; E1 – espessura do gume; E2 –

espessura do talão. As 17 primeiras peças foram numeradas em laboratório, pois estas não se

encontravam devidamente identificadas.

Peça Alongamento Robustez

1 38,5 29,7 Enxó

2 38 29,9 Machado

3 31,6 33,4 Machado

4 32,6 34,8 Machado

5 26,3 27 Enxó

6 24,3 24,4 Machado

7 44,2 31,5 Enxó

8 32 15,9 Enxó

9 32,1 35,2 Machado

10 38 25,4 Machado

11 45,2 35,9 Machado

12 39,4 13,6 Enxó

13 25,7 28,8 Enxó

14 32,1 26 Machado

15 12,6 17,5 Goiva

16 13,1 19,2 Machado

17 26,9 9,2 Enxó

33 20 23,5 Enxó

34 33,7 13,8 Enxó

35 25,1 22,6 Enxó

36 40,2 29,9 Machado

38 62,8 20,9 Enxó

39 49,6 34,5 Enxó

40 33,6 20 Machado

41 33 29,9 Machado

42 43,8 17,9 Machado

43 23,9 24 Machado

44 43,5 33,6 Machado

45 57,9 23,6 Enxó

47 70,9 22 Machado

Tabela 7 – Índices de Alongamento e Robustez dos materiais em pedra polida.

Peça nº Bordos Bordos Bojos Bojos Elementos Plásticos

lisos decorados lisos decorados mamilos asas cordões

62 1

s.n. 48 3* 2

76 1*

3 1

2 1

6 1

5 1

4 1

1 1

61 1

77 1* 1

82 1

Total 2 4 50 6 3 Tabela 8 – Inventário dos materiais cerâmicos. sn – sem número de identificação.

Medidas (mm) Sn (inteira) Sn (fragmentada)

Diâmetro externo 57.3 89.2

Diâmetro interno 45.1 80.7

Espessura 5.3 4.5

Tabela 9 – Dimensões das braceletes em concha de Glycymeris glycymeris (em mm). sn –

sem número de identificação.

Critérios de análise de indústria lítica

1. Produtos de debitagem: Lâminas e Lamelas

(Critérios segundo Carvalho, 2008)

F Fractura (aplicada apenas no caso dos produtos alongados)

0. inteira (peça intacta ou com danos que não impedem a recolhidas dos atributos

necessários.

1. proximal (peça fracturada preservando a extremidade apresentando o talão)

2. mesial (peça fracturada não preservando nenhuma das suas extremidades)

3. distal (peça fracturada preservando apenas a extremidade oposta ao talão)

Cx Córtex

0. sem córtex (quando o córtex cobre 5% ou menos do anverso da peça)

1. parcialmente cortical (quando o córtex cobre entre 5 e 90% do anverso da peça)

2. cortical (quando o córtex cobre 90% ou mais do anverso da peça)

T Talão

0. cortical (superfície natural do bloco de onde foi extraída a peça)

1. liso (superfície do bloco descorticada)

2. facetado ou diedro (talão apresentando apenas uma ou várias nervuras,

respectivamente):

2.1. facetado

2.2. diedro

3. linear ou punctiforme (talão resumido a uma linha ou ponto, respectivamente):

3.1. linear

3.2. punctiforme

4. esmagado (talão inexistente por esquirolamento)

Tt Tratamento térmico

0. presente

1. ausente

C Calcinação

0. presente

1. ausente

R Retoque

0. presente

1. ausente

S Secção (apenas no caso dos produtos alongados)

0. trapezoidal

1. triangular

2. irregular

P Perfil (apenas no caso dos produtos alongados inteiros)

0. direito

1. côncavo

2. torcido

3. ultrapassado

Fm Forma (apenas no caso de produtos alongados inteiros e mesiais)

0. bordos paralelos (peça com larguras proximal, mesial e distal idênticas)

1. bordos paralelos com talão estreito (idem, mas de talão com menor largura)

2. convergente (peça com largura máxima proximal)

3. bi-convexa (peça com largura máxima mesial)

4. divergente (peça com largura máxima distal)

5. irregular (peça não correspondendo a alguma das categorias supracitadas)

Tf Tipo de fracturação (apenas no caso de produtos alongados fracturados)

0. inteira (peça sem qualquer tipo de fracturação

1. acidental (peça com fracturação resultante de acidentes de talhe ou processos pós-

deposicionais)

2. por flexão (peça apresentando um labiado proeminente na superfície da fractura)

3. por percussão (peça apresentando um ponto de impacto e eventuais ondas de

choque na superfície da fractura)

4. combinação das duas técnicas (peça mesial apresentando marcas de flexão num

topo e percussão noutro)

5. irreconhecível (peça onde não é possível identificar o modo de fracturação existente)

2. Armaduras Microlíticas: Geométricos

(Critérios segundo Carvalho, 2008)

T Tipos

0. triângulo

1. segmento

2. trapézio

3. lamela de dorso

4. outros

Rp Retoque – posição

0.directo (retoque aplicado a partir da face inferior da peça)

1. inverso (retoque aplicado a partir da face superior da peça)

2. alterno (retoque partindo de uma superfície da peça num bordo e da superfície

inversa no bordo oposto)

3. alternante (retoque partindo alternativamente de uma e de outra superfície da peça

ao longo do mesmo bordo)

4. bifacial (retoque aplicado no mesmo bordo de uma peça afectando tanto ambas

superfícies)

5. cruzado (retoque aplicado no mesmo bordo a partir de ambas as superfícies de

forma não alternante)

Re Retoque – extensão

0. curto ou marginal (retoque afectando apenas o gume da peça ou a sua periferia)

1. invasor (retoque afectando a maior parte da peça, com excepção da área central

da/s superfície/s)

2. cobridor (retoque afectando a totalidade da/s superfície/s da peça)

Ri Retoque – inclinação (ângulo)

0. abrupto (retoque formando um ângulo de cerca de 90º com a face da peça a partir

da qual foi aplicado)

1. semi-abrupto (retoque formando um ângulo de cerca de 45º com a face da peça a

partir da qual foi aplicado)

2. rasante (retoque formando um ângulo de cerca de 10º com a face da peça a partir da

qual foi aplicado)

S Secção

0. trapezoidal

1. triangular

2. irregular

Tt Tratamento térmico

0. presente

1. ausente

C Calcinação

0. presente

1. ausente

3. Utensílios de pedra polida

(Critérios adaptados segundo Valera, 1997)

MP Matéria-prima

0. rochas anfibólitas

1. fibrolite

D Dimensões

C. comprimento máximo

L1. largura do gume

L2. largura do talão

E. espessura

E1. espessura do gume

E2. espessura do talão

Í Índices

IA. alongamento (IA=L1/C x 100)

IR. robustez (IR=E/C x 100)

St Secção transversal

0. rectangular ou sub-rectangular

1. quadrangular ou sub-quadrangular

2. circular

3. elíptica

4. trapezoidal

5. bi-convexa

6. convexo-côncavo

Sl Secção longitudinal

0. flancos paralelos

1. convergentes no gume

2. convergentes no talão

3. bi-convexos

4. sinuosos

P Polimento

0. só gume

1. polimento parcial do corpo

2. total

B Bordos

0. paralelos

1. convergente no gume

2. convergentes no talão

3. sinuosos

GB Gume Bisel

0. simples convexo

1. simples plano

2. simples côncavo

3. duplo simétrico convexo

4. duplo simétrico plano

5. duplo dissimétrico convexo

6. duplo dissimétrico plano

7. duplo dissimétrico plano-convexo

GE Gume Estado

0. intacto

1. ligeiros sinais de uso

2. intensos sinais de uso

3. boleado

4. partido/lascado

5. desbastado

T Talão

0. truncado

1. redondo

2. pontiagudo

3. rectilíneo

4. inexistente