emergencias espirituais

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ALUBRAT – CAMPINAS e FACULDADES SPEI PÓS GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA TRASPESSOAL TURMA V - 2013-15 MÓDULO 18 EMERGENCIA ESPIRITUAL E PSICOSE

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ALUBRAT – CAMPINAS e FACULDADES SPEI

PÓS GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA TRASPESSOAL

TURMA V - 2013-15

MÓDULO 18

EMERGENCIA ESPIRITUAL E PSICOSE

Cláudio Hideyo Assato

outubro 2014

1. Descreva a diferença entre psicose e emergência

espiritual.

Para caracterizarmos a diferença entre Psicoses e

Emergências Espirituais creio ser importante

contextualizar os fatos e a compreensão das atuais

definições. Assim ao longo da história da humanidade, as

alterações de comportamento receberam diversas abordagens

e tratamentos de acordo com cada época e cada contexto, o

que a caracteriza como fenômeno social interpretado das

formas mais diversas.

A história nos revela que a sociedade já compreendeu

tais altercações de diferentes maneiras. Desde alguém sem

qualquer razão (o louco) ou até o inverso. Então a doença

neste contexto era ligada a forças sobrenaturais do bem e

do mal. Assim, o “louco” foi visto como um possuído pelo

demônio, por espíritos ou simplesmente descartados; desta

forma, o tratamento se deu por meio de exorcismos sob a

responsabilidade da Igreja Católica; somente no século

XIX que a Medicina toma a “loucura” como uma doença e

para dar conta do tratamento desta nova doença, uma nova

especialidade é criada pela Medicina; primeiro a

neurologia e em seguida a psiquiatria, com o intuito de

cuidar das doenças mentais.

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É importante termos esta compreensão para entender

como o enfoque das Emergências Espirituais aparecem no

meio psiquiátrico e diferencia-la das Psicoses; pois há

diferentes psicopatologias descritas no meio

psiquiátrico, ressaltando os sintomas psicóticos que

podem ser esquizofreniformes ou podem apresentar

características psicóticas dentro de outro diagnóstico

(como os quadros depressivos com características

psicóticas, os quadros bipolares com sintomas psicóticos,

as psicoses induzidas) entre outros.

Para melhor critério e classificação cito o CID-10

(referência no Brasil) e também o DSM 5 onde fica claro

os critérios diagnósticos pensando na fenonomenologia das

Psicoses.

A Classificação Internacional de Doenças e Problemas

Relacionados à Saúde (também conhecida como Classificação

Internacional de Doenças – CID-10) é publicada pela

Organização Mundial de Saúde (OMS) e visa padronizar a

codificação de doenças e outros problemas relacionados à

saúde. A CID-10 fornece códigos relativos à classificação

de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas,

aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e

causas externas para ferimentos ou doenças. A cada estado

de saúde é atribuída uma categoria única à qual

corresponde um código CID-10.

O DSM, Manual Diagnóstico e Estatístico de

Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of

Mental Disorders) é um manual para profissionais da área

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da saúde mental que lista diferentes categorias de

transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los, de

acordo com a American Psychiatric Association – APA. É

usado ao redor do mundo por clínicos e pesquisadores bem

como por companhias de seguro, indústria farmacêutica e

parlamentos políticos. Existem cinco revisões para o DSM

desde sua primeira publicação em 1952. A maior revisão

foi a quarta DSM-4 publicada em 1994, apesar de uma

“revisão textual” ter sido produzida em 2000. O DSM-5

(anteriormente conhecido como DSM-V) foi publicado em 18

de maio de 2013 e é a versão atual do manual. Deste modo

será evidente que existe uma linguagem para descrição dos

fenômenos psicóticos. Ha intensa pesquisa na descrição e

tratamento delas , sabe-se a evolução do quadro,

prognósticos e tratamentos.

Por outro lado a questão da Emergência Espiritual

ainda não ha um consenso, pois agrupa alguns conjuntos de

sinais e sintomas que o próprio nome engloba questões

emergências como urgências e questões que emergem do

sujeito naquele momento, recordando o que são as

emergências espirituais segundo Groff , que as definiu

como estágios de crise e de uma transformação psicológica

profunda que envolve todo ser da pessoa, (transformação

esta que toma a forma não comum de consciência e envolvem

emoções internas, alterações sensoriais, pensamentos

incomuns e varias manifestações físicas). Em um conceito

mais comum, a emergência espiritual pode ser entendida

como um amadurecimento de uma pessoa uma maior saúde

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emocional e psicossomática, maior liberdade de escolhas e

uma sensação de ligação profunda com outras pessoas, com

a natureza e o cosmos. Uma parte importante é o despertar

da dimensão espiritual da vida e no esquema universal das

coisas.

Em um segundo momento, para melhor compreensão dos

diagnósticos diferencias, será importante entender, a

priori, alguns conceitos básicos de psicopatologia como

alucinações e ilusões e também deveremos compreender o

que são os delírios e as alterações de pensamento. Desta

forma ficara mais simples de compreender e caracterizar a

s Psicoses e diferencia-las de uma Emergência

Espiritual .

Uma boa anamnese e uma avaliação do estado mental

será possível observar a alucinação que é a percepção

real de um objeto inexistente, ou seja, são percepções

sem um estímulo externo; o individuo ira relatar que a

percepção é real, tendo em vista a convicção inabalável

que a pessoa manifesta em relação ao objeto alucinado,

portanto, será real para a pessoa que está alucinando.

Então sendo a percepção da Alucinação de origem interna,

emancipada de todas variáveis que podem acompanhar os

estímulos ambientais (iluminação, acuidade sensorial,

etc.), um objeto alucinado muitas vezes é percebido mais

nitidamente que os objetos reais de fato. Tudo que pode

ser percebido pode também ser alucinado e isso ocorre,

imaginativamente, com maior liberdade de associações de

formas e objetos. Na Alucinação, por exemplo, um leão

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pode aparecer de asas, ou um caracol que cavalga um

ouriço. O indivíduo que alucina pode ter percebido,

isoladamente, cada umas das formas e, mentalmente,

combinado umas com as outras. As alucinações podem

manifestar-se também através de qualquer um dos cinco

sentidos, sendo as mais freqüentes as auditivas e

visuais. O fenômeno alucinatório se diferencia da ilusão

no que tange à existência de estímulo externo já que na

alucinação não há estímulo e na ilusão o estímulo é

percebido de forma deformada, ou em uma simplificação a

ilusão é um “engano” dos sentidos. 

O fenômeno alucinatório tem conotação muito mais

mórbida que a ilusão, sendo normalmente associado ao

estado Psicótico que ultrapassam a simplicidade de um

engano dos sentidos; o que na Emergência Espiritual tem

outras descrições e características. Na alucinação o

envolvimento psíquico é muito mais contundente que nos

estados necessários à ilusão, todavia nem todas as

convicções falsas podem ser consideradas delírios. Se

estiver relacionada, por exemplo, com falta de cultura ou

conhecimentos podemos falar em ignorância. As convicções

filosóficas ou religiosas também não podem ser

consideradas delírios, ainda que algumas pessoas elas

sejam erradas. Neste caso nos casos das Emergências

Espirituais será considerado todo o antecedente e

histórico prévio do individuo , suas crenças e valores,

os quais poderão estar envolvidos diretamente na crise da

Emergência espiritual.

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O pensamento constitui a base da nossa atividade

psicológica, que orienta e integra as representações

(imagens) e os outros dados elaborados pelo conhecimento

(idéias) em juízos e conceitos, os quais podem ser

concretos ou abstratos.

No delírio, os mecanismos associativos do indivíduo

fogem da realidade e da lógica, podendo levar o mesmo a

formar juízos e raciocínios anormais e originando

porventura alucinações, percepções delirantes ou ideias

delirantes. Apresentam-se como características gerais dos

delírios a sua resistência e irredutibilidade perante a

lógica e a experiência; a sua tendência crescente e

difusão por toda a consciência, tornando-se o centro de

toda a vivência do indivíduo; a falta de auto-consciência

do doente relativamente à perturbação. Assim, a idéia ou

tema delirante é a realidade privada do doente e que o

separa da comunidade onde a realidade dos indivíduos sãos

é a sua percepção sociocultural e situacional dos pontos

comuns e em acordo.

A partir do entendimento das alucinações poderemos

pensar do que se trata as psicoses, que são distúrbios

psiquiátricos graves onde a pessoa perde contato com a

realidade, emite juízos falsos (delírios), podendo também

apresentar alucinações (ter percepções irreais quanto a

audição, visão, tato), distúrbios de conduta levando à

impossibilidade de convívio social, além de outras formas

bizarras de comportamento.

O termo Psicose é empregado para se referir à perda

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do juízo da realidade e a um comprometimento do

funcionamento mental, social e pessoal, normalmente

levando a um prejuízo no desempenho das tarefas e papéis

habituais.

As Psicoses podem ter várias origens, como:

lesões cerebrais,

tumores cerebrais,

esquizofrenia,

SPAs (substancias psicoativas),

infecções,

distúrbios metabólicos,

entre outras comorbidades.

Na CID-10 os Transtornos Psicóticos são

classificados como (F20-F29). Este agrupamento reúne a

esquizofrenia, a categoria mais importante deste grupo de

transtornos, o transtorno esquizotípico e os transtornos

delirantes persistentes e um grupo maior de transtornos

psicóticos agudos e transitórios.

Os transtornos esquizoafetivos foram mantidos nesta

seção, ainda que sua natureza permaneça controversa.

Historicamente o termo "esquizofrenia" foi criado em 1911

pelo psiquiatra suíço Eugem Bleuler com o significado de

mente dividida. Ao propor esse termo, Bleuler quis

ressaltar a dissociação que às vezes o paciente percebia

entre si mesmo e a pessoa que ocupa seu corpo.

As esquizofrenias podem ser classificadas em:

Esquizofrenia paranóide

Esquizofrenia Hebefrenica

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Esquizofrenia Catatonica

Esquizofrenia Simples e

Esquizofrenia residual

Esquizofrenia Paranóide: Este tipo de é o mais comum

e também o que responde melhor ao tratamento. Diz-se, por

causa disso, que tem prognóstico melhor. O paciente que

sofre esta condição pode pensar que o mundo inteiro o

persegue, que as pessoas falam mal dele, têm inveja,

ridicularizam-no, pensam mal dele, elas têm intenções de

fazer-lhe mal, de prejudicá-lo, de matá-lo, etc. Trata-se

dos delírios de perseguição. Não é raro que este tipo de

paciente tenha também delírios de grandeza, idéias além

de suas possibilidades: "Eu sou o melhor cantor do mundo.

Nada me supera. Nem Frank Sinatra é melhor". Esses

pensamentos podem vir acompanhados de alucinações,

aparição de pessoas mortas, diabos, deuses, alienígenas e

outros elementos sobrenaturais. Algumas vezes esses

pacientes chegam a ter idéias religiosas e/o políticas,

proclamando-se salvadores da terra ou da raça humana.

A esquizofrenia hebefrênica: Neste grupo se incluem

os pacientes que têm problemas de concentração, pouca

coerência de pensamento, pobreza do raciocínio, discurso

infantil. Às vezes, fazem comentários fora do contexto e

se desviam totalmente do tema da conversação. Expressam

uma falta de emoção ou emoções pouco apropriadas, rindo-

se a gargalhadas em ocasiões solenes, rompendo a chorar

por nenhuma razão em particular, etc. Neste grupo também

é freqüente a aparição de delírios (crenças falsas), por

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exemplo que o vento move na direção que eles querem, que

se comunicam com outras pessoas por telepatia, etc.

A esquizofrenia catatônica: É o tipo menos freqüente

de esquizofrenia. Apresenta como característica

transtornos psicomotores, tornando difícil ou impossível

ao paciente mover-se. Talvez passe horas sentado na mesma

posição. A falta da fala também é freqüente neste grupo,

assim como alguma atividade física sem propósito.

A esquizofrenia simples: Também é pouco freqüente.

Aparece lentamente, normalmente começa na adolescência

com emoções irregulares ou pouco apropriadas, pode ser

seguida de um paulatino isolamento social, perda de

amigos, poucas relações reais com a família e mudança de

caráter, passando de sociável a anti-social e terminando

em depressão. Nesta forma da esquizofrenia não se

observam muitos surtos agudos.

A esquizofrenia residual: Este termo é usado para se

referir a uma esquizofrenia que já tem muitos anos e com

muitas seqüelas. O prejuízo que existe na personalidade

desses pacientes já não depende mais dos surtos agudos.

Na Esquizofrenia assim cronificada podem predominar

sintomas como o isolamento social, o comportamento

excêntrico, emoções pouco apropriadas e pensamentos

ilógicos.

Apesar desta classificação, é bom destacar que os

pacientes esquizofrênicos nem sempre se encaixam

perfeitamente numa de estas categorias. Também existem

pacientes que não se podem classificar em nenhum de os

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grupos mencionados.

A estes pacientes se pode dar o diagnóstico de

Esquizofrenia Indiferenciada.

Outra patologia a ser diferenciada são os quadros de

alterações do humor e podem ser caracterizados como

Transtorno Afetivo Bipolar que leva este nome por causa

da alternância de dois estados emocionais básicos: a

alegria e a tristeza.

Assim como acontece nas doenças físicas, que muitas

vezes representam excesso ou falta de algum elemento

normalmente presente no corpo, muitas doenças da mente

também representam alterações para mais ou para menos de

aspectos emocionais comuns. O equivalente doentio da

alegria recebe o nome de mania e o da tristeza,

depressão.

Estes equivalentes doentios dos aspectos emocionais

constituem o que se denomina polos. Como são dois,

entende-se o termo bipolar. O estado de bipolaridade é

característico do chamado transtorno afetivo bipolar, e é

caracterizado pela alternância de fases de tristeza e

alegria doentias, conhecidas respectivamente como

depressão e mania, de onde vem o antigo nome de Psicose

Maníaco Depressiva. 

Diferente do que ocorre nas situações normais,

estas alternâncias não acontecem em resposta a estímulos

externos que explicariam os estados emocionais. Em alguns

casos, essas alternâncias podem ocorrer no mesmo dia ou

na mesma hora.

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As conseqüências decorrem em grande parte da

inconstância emocional. Mesmo quando o quadro clínico não

é dos mais graves, torna-se difícil para a pessoa ter

segurança de que, dentro de algum tempo estará bem para

cumprir um compromisso assumido. Uma situação não rara

relacionada à perda da crítica ou capacidade de

julgamento é uma tendência aos gastos exagerados (que

podem levar o patrimônio de uma família ou empresa à

ruína). Outro aspecto que pode dificultar o

relacionamento com uma pessoa no estado positivo ou de

euforia é a tendência da pessoa apresentar sentimentos de

grandiosidade e a incapacidade de aceitar limites. Ou se

achar com poderes espirituais ou dons sobrenaturais.

No polo oposto, da depressão, a tendência é a visão

negativa do rotineiro, a auto recriminação, a autoestima

rebaixada, levando até mesmo a ideias de auto eliminação

(suicídio).

Algumas pessoas com transtorno bipolar apresentam

hipomania. Durante os episódios de hipomania, a pessoa

pode apresentar um aumento de energia e níveis de

atividade que não são tão intensos como na mania ou ele

ou ela podem apresentar episódios que duram menos de uma

semana e não necessitam atenção em unidades de urgência.

Uma pessoa durante um episódio hipomaníaco pode se sentir

muito bem, ser altamente produtiva e funcionar bem. Esta

pessoa pode não sentir que há algo errado mesmo quando

sua família e amigos notam que estas mudanças de humor

podem ser um transtorno bipolar. Sem o tratamento

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adequado, entretanto, pessoas com hipomania podem

desenvolver quadros graves de mania e depressão.

Durante um episódio ou estado misto, os sintomas

frequentemente incluem agitação, sono perturbado, grandes

mudanças no apetite e pensamentos suicidas. Pessoas em

estado misto podem sentir-se muito tristes ou sem

esperança e ao mesmo tempo extremamente energizadas.

Algumas vezes, uma pessoa com episódios graves de

mania ou depressão apresenta sintomas psicóticos também,

como alucinações e delírios. Os sintomas psicóticos

tendem a refletir o estado extreme de humor da pessoa.

Por exemplo, sintomas psicóticos em uma pessoa durante o

episódio maníaco podem incluir a crença de que ele ou ela

é uma pessoa famosa, tem muito dinheiro ou poderes

especiais. Da mesma maneira, alguém durante um episódio

depressivo grave pode acreditar que está falida ou que

cometeu um crime muito grave.

Como resultado, portadores de transtorno bipolar com

sintomas psicóticos podem ser erroneamente diagnosticados

como tendo esquizofrenia, outro transtorno mental grave

ligado a delírios e alucinações. E neste caso estamos

ressaltando a importância do diagnostico para compreensão

de uma emergência espiritual.

Outro diagnostico diferencia importante seria o

Transtorno do Humor Induzido por Substância que é uma perturbação

proeminente e persistente do humor, considerada como

devido aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância

psicoativa SPA (droga de abuso, medicamento, outros

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tratamentos somáticos). Dependendo da natureza da

substância e do contexto no qual os sintomas ocorrem a

perturbação pode envolver humor depressivo ou acentuada

diminuição do interesse ou prazer, ou humor elevado,

expansivo ou irritável; podem apresentar características

esquizofreniformes ou não.

Embora a apresentação clínica da perturbação do

humor possa lembrar a de um Episódio Depressivo Maior,

Episódio Maníaco, Misto ou Hipomaníaco, não são

satisfeitos todos os critérios para um desses episódios.

Os sintomas devem causar sofrimento clinicamente

significativo ou prejuízo no funcionamento social ou

ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do

indivíduo. Em alguns casos, o indivíduo pode ainda ser

capaz de funcionar, mas apenas com um esforço

acentuadamente aumentado.

Portanto, os quadros psicóticos são bem descritos e

estruturados do ponto de vista de classificações e

sintomas, além de varias pesquisas em termo de sua

fisopatogenia. Por outro lado as Emergências Espirituais

ha uma descrição do ponto de vista do fenômeno. Alguns

autores descrevem a partir de suas próprias experiências

e associam a explicações associadas ao percurso

individual, a um processo de expansão de consciência e o

melhor prognostico apos a experiência do fenômeno. Assim

algumas descrições podem ser agrupadas e descritas como

já vimos ser um estado que pode ser assustador e

extremamente difícil, mas possui um imenso potencial de

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cura e transformação. A evolução pode ser dolorida,

exige muita energia, força, e coragem para seguir

adiante, resistindo as forças do ego que deseja manter a

aparente paz e tranqüilidade das coisas. Não ha

descrições fisiopatológicas portanto a pessoa que está

passando por este momento evolutivo necessita de

orientação e cuidados especializados de um profissional

preparado para lidar com a situação, que possa a auxiliar

a passar por um processo de forma que gere o máximo de

crescimento possível. E para tal é muito importante

conhecer quais os possíveis fatores que podem ter

desencadeado a emergência espiritual:

- Causa física: Uma doença, acidente, operação,

esforço físico extremo ou insônia prolongada. Também

devido a uma experiência sexual de muita intensidade;

Mulheres podem ser após o parto, um aborto espontâneo ou

provocado; ou algum evento estressante para ela.

- Causa Emocional: Perda de um filho ou parente

próximo, fim de um relacionamento amoroso ou divórcio,

assim como uma sucessão de fracassos, como demissão e

perda de propriedade entre outros.

- Em pessoas predispostas o desencadeador pode ser

uma experiência com substâncias psicoativas ou uma sessão

de psicoterapia experimental.

- Práticas Espirituais: Este parece ser um dos

principais fatores desencadeantes da emergência

espiritual, como a meditação, ativação de experiências

espirituais, prática do zen, meditação budista Vipassana,

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ioga Kundalini, exercícios sufis, ou através da oração e

contemplação cristã. Estes eventos estão diretamente

relacionado aos valores, a cultura e na crença da pessoa.

As emergências espirituais se manifestam de formas

distintas em cada indivíduo, mas é possível definir

certas formas principais de emergência espiritual

descrita por autores e pesquisadores do tema, pois estas

são dotadas de características específicas que as

distinguem umas das outras. É comum a sobreposição e

combinação de diferentes tipos de emergência espiritual.

As formas mais importantes de "emergência

espiritual" são:

A Crise Xamânica

O xamanismo é a mais antiga religião e arte curativa

da humanidade. A Crise Xamânica geralmente está associada

com o surgimento de doenças desconhecidas (geralmente de

cunho neurológico ou psiquiátrico), que levam a uma total

inconsciência (estado de coma) ou a sofrimentos físicos e

psicológicos intensos. Nesse estado surgem sonhos

repletos de mensagens, premonições, visões de morte,

jornadas ao mundo inferior, experiências de morte e

renascimento, aniquilação pessoal que envolve um encontro

de forças de decadência e destruição que por fim levam a

reconstituição física. Então, de forma inexplicável, se

desperta curado. A doença torna-se, assim, um veículo

para um plano mais elevado de consciência, em que o xamã

percebe que a energia dele é muito maior do que ele

próprio percebia e, aliando sua experiência ao

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conhecimento sagrado recém-adquirido, passa a realizar

curas e mudanças no mundo físico. A crise xamânica

reflete o mais alto chamado para as culturas nativas e

nela está sua natureza curadora e benevolente.

Vimos exemplos em que americanos, europeus,

australianos e asiáticos de hoje passaram por episódios

bastante semelhantes a uma crise xamânica. Além dos

elementos de tortura física e emocional, de morte e de

renascimento, esses estados envolvem experiências de

ligação com animais, plantas e forças elementais da

natureza. As pessoas que passaram por essas crises também

manifestam tendências espontâneas de criação de rituais

idênticos aos praticados por xamãs de várias culturas.

O Despertar da Kundalini

A kundaliní (termo sânscrito que pode ser traduzido

como serpentine ou enrroscada) é uma forma de energia

cósmica latente no corpo humano, concentrada na base da

coluna vertebral, na região dos órgãos genitais. As

manifestações dessa forma de crise são encontradas na

literatura védica hindu. Pode ser ativada pela meditação,

por exercícios específicos, pela intervenção de um mestre

espiritual que tenha a sua kundaliní desperta e,

raramente, por razões desconhecidas.

Quando despertada, a Kundalini é conduzida pelo

sistema nervoso central até ao cérebro, despertando e

ativando os canais do "corpo sutil" (ou centros de

energia). A medida que sobe, ela abre os centros de

energia psíquica, os chakras. A abertura dos chakras é um

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importante evento pois há mudanças na consciência e na

mente. Com o despertar da kundaliní ocorre também o

desenvolvimento da inteligência criativa, maior

expressividade, estados espandidos de consciência e

aprimoramento das faculdades supramentais. Uma

reorganização das nossas prioridades e afetos assim como

a percepção qualitativa das nossas experiências se

modifica com o despertar da Kundalini.

Os indícios mais extremos do despertar da Kundalini

são manifestações físicas e psicológicas chamadas kriyas.

As principais manifestações do despertar da Kundalini

são:

(1) Sensações poderosas de calor e energia subindo ao

longo da espinha, associadas com tremores violentos,

espasmos e movimentos serpeantes;

(2) Fortes ondas de emoções aparentemente imotivadas,

tais como, ansiedade, raiva, tristeza, enlevo jubiloso ou

extático, riso ou choro involuntários, sensações

orgásticas, estados de indescritível paz e tranqüilidade,

depressão, ansiedade e agitação relacionada com sensação

de insanidade ou morte;

(3) Comportamentos involuntários e freqüentemente

incontroláveis. O indivíduo pode assumir espontaneamente

posições de Yôga (ásanas) e gestos com as mãos (mudrás).

Vocalizações de mantras (cânticos) ou canções, falar em

línguas estranhas ou emitir sons vocais desconhecidos ou

animalescos;

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(4) Visões de símbolos geométricos, de luzes brilhantes e

radiantes, complexas visões de seres arquétipos, tais

como santos, divindades, demônios e seres mitológicos

(5) Percepção de fenômenos acústicos que parecem vir do

interior e que incluem uma variedade de sons;

(6) Experiências que remetem lembranças de vidas

passadas.

Episódios de Consciência Unitiva ("Experiências

Culminantes")

Nos estados pertinentes a esse grupo, ocorre a

dissolução das estruturas egóicas fronteiras pessoais,

surgindo a sensação de unidade com o outro, com a

natureza ou com todo o universo. As propriedades de tempo

e de espaço são transcendidas e a pessoa pode vivenciar a

natureza do infinito ou da eternidade. As emoções

associadas com esses estados variam de sensação de

felicidade, grande prazer, paz e serenidade.

Abraham Maslow, que estudou essas experiências em

centenas de pessoas, deu-lhes o nome de "experiências

culminantes". As experiências culminantes geralmente

trazem um refinamento da consciência mediante o mundo e a

expressão plena espontânea de habilidades e potenciais

(auto-realização).

Renovação Psicológica por meio do Retorno ao Centro

A experiência de quem passa por um processo de

retorno ao centro são tão anormais que facilmente se

diagnostica como sendo uma séria enfermidade que afeta o

funcionalidade do cérebro.

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A psique dessas pessoas parece um colossal campo de

batalha, onde é travado um combate entre forças duais;

forças do bem e as forças do mal, ou entre as forças da

Luz e as das Trevas. Temas de morte - o assassinato, o

ritual, o sacrifício, o martírio e o pós-vida.

Recriam eventos fantásticos com magnitudes cósmicas.

Seus estados visionários tendem a levá-las ao passado,

reconstruindo a sua própria história e a história da

humanidade, dirigindo-se para a criação do mundo e para o

estado paradisíaco ideal original, lutando por perfeição

e tentando corrigir as coisas erradas do passado.

Depois deste período de caótica perturbação, as

experiências vão se tornando cada vez mais agradáveis,

dirigindo-se para uma resolução. O processo costuma

culminar na experiência do "casamento sagrado", seja com

um parceiro arquetípico imaginário ou projetado numa

pessoa real idealizada (aspectos masculinos e femininos

entrendo em equilíbrio).

Nos estados visionários, o Self manifesta-se como uma

fonte de luz de beleza sobrenatural, como pedras

preciosas, pérolas, jóias radiantes e outras variações

simbólicas semelhantes.

Quase sempre existe uma construção que eleva a

pessoa a uma exaltada condição humana, ou a um estado

superior à condição humana... um grande líder, um

salvador do mundo ou até mesmo o Senhor do Universo. Isso

costuma estar ligado a profundo renascimento espiritual e

a morte da morte.

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Quando da complementação e da integração, o

indivíduo em geral concebe um futuro ideal; um novo mundo

governado eticamente, com justiça e amor. Com a redução

da intensidade do processo, a pessoa percebe que todo o

drama era uma transformação psicológica limitada

basicamente ao mundo interior do protagonista principal.

O resultado positivo desses episódios e os seus

ricos vínculos com símbolos arquetípicos da história

antiga o tornam livre de uma caótica disfunção cerebral.

A Crise de Abertura Psíquica

No decorrer de emergências espirituais de todos os

tipos, é comum o aguçamento das capacidades intuitivas e

a presença de fenômenos "paranormais". Porém, em alguns

casos, a precognição, a telepatia ou a clarividência

ficam intensos e perturbadores que domina o quadro e

constitui um grande problema para quem vive a emergência

espiritual e para os demais que convivem com o indivíduo.

Na abertura psíquica, são freqüentes as experiências

de saída do corpo (consciência desloca-se do corpo) A

pessoa pode relatar que se observou a certa distância ou

testemunhar o que está acontecendo a quilômetros de

distância. A viagem fora do corpo é comum em situações de

proximidade da morte.

Capacidades telepáticas podem ocorrer por

apresentarem maior sensibilidade aos processos dos outros

durante a emergência espiritual. A précognição correta de

situações futuras e a clarividência de eventos remotos

podem ocorrer.

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Em experiências consideradas "mediúnicas", tem-se a

sensação de perda da identidade e consecutiva adoção de

outra identidade, traduzida por mudanças na linguagem

corporal, dos sentimentos e até dos processos mentais. O

súbito aparecimento de uma nova identidade pode ser

assustador.

Sincronicidades (“coincidências” entre o mundo

interior e fenômenos do mundo exterior) são

particularmente comuns nessas crises.

Experiências com vidas passadas

Dentre o mais dramático e coloridos episódios que

ocorrem em estados de consciência incomuns estão as

experiências com vidas passadas. Nessas experiências as

emoções e sensações físicas são extremamente intensas e,

retratam com ricos detalhes pessoas, circunstâncias e

ambientes históricos. Seu aspecto mais notável é um

sentido de lembrança pessoal e de revivescência de algo

que já se viveu antes. Essa experiência é compreendida

como uma situação vivida anteriormente, de outra vida,

que necessita ser completado (carma=ação incompleta).

Existem várias formas de lidar com esses conteúdos

que emergem a consciência, basicamente eles precisam ser

compreendidos, expressarem sentido de explicação e serem

incluídos ou conciliados com as nossas crenças e valores

da vida atual.

Pode ser uma experiência que oferece, por si, muitas

explicações como dificuldades de relacionamento, medos

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irreais, aversões e atrações, problemas psicossomáticos

obscuros, surgimento súbito de sensações corporais,

visões intensas ou emoções sem sabermos o significado,

pois essas experiências não estão totalmente conscientes

para se tornarem manifesta, por isso elas percebem, mas

desconhecem o significado ou a causa.

Esses padrões de comportamentos precisam ser

compreendidos e completados, como que se a partir da

experiência, a pessoa não precisasse mais ter esse

padrão, ele não vale mais para essa vida (completando o

carma).

Obtidas as explicações, compreendidas nas suas

funções do aqui agora é momento de conciliá-las com

crenças e valores tradicionais da civilização ocidental.

Trabalho considerado desafiador.

O autor observa que quando o indivíduo passa por

essa poderosa experiência, há um alívio ou eliminação

completa de dores psicossomáticas agudas, depressão,

fobias, asma psicogênica, enxaqueca entre outros.

Comunicações com espíritos-guia e "canalização"

Podemos ter como experiência, uma relação pessoal

com um “ser” dito desencarnado, dotado de extraordinária

sabedoria, que assume a posição de mestre, de guia, de

protetor. Esse “ser” pode se manifestar através da forma

humana, ou uma fonte radiante de luz ou deixar sentir sua

presença. Sua comunicação direta é através do pensamento,

23

há casos em que essa comunicação é feita de forma verbal

ou através de outro processo extrasensorial.

A principal razão, por que essas experiências podem

desencadear uma séria crise é a natureza e a qualidade

confiável dessa canalização de assuntos que o receptor

jamais esteve exposto. Neste caso, é uma prova inegável

da existência de realidades espirituais que pode levar a

uma confusão filosófica que tinham uma visão científica

convencional.

Outra fonte de problema desta relação é o indivíduo

acreditar que, por haver essa comunicação com seres de

elevada sabedoria, acreditar que foi escolhido para

desempenhar uma especial missão e se identificar,

ocorrendo a inflação do seu ego.

Experiências de proximidade da morte

Nas experiências de proximidade da morte, pessoas

que foram consideradas clinicamente mortas, mas que

recuperaram a consciência, contaram suas histórias para

Raymond Moody que colheu 150 relatos de pessoas que

viveram essa mesma experiência.

Dentre os relatos, Moody observou que havia uma

semelhança das situações vividas, muitos descreveram ter

visto seu próprio corpo, como se a sua consciência

flutuasse livremente sobre a cena, de poder ter uma

revisão de toda a vida de forma vívida e condensada que

dura alguns segundos. Outros descreveram a visualização

de um túnel de luz e, de um encontro com um ser de imenso

amor, onde receberam uma lição sobre a existência e as

24

leis universais tendo a oportunidade de examinar seu

próprio passado, podendo ter uma nova chance para viver

uma vida mais congruente e determinada compatível com os

princípios que aprendeu.

Essas experiências com a morte podem levar a

experiência de emergência, por causar alterações nas

crenças sobre a realidade, levando a pessoa a viver uma

aventura visionária que despedaça a realidade conhecida.

Experiências de contatos próximos com OVNIs

Carl Gustav Jung dedicou um estudo especial ao

problema dos “discos voadores”, referindo que esses

fenômenos poderiam ser produto de visões arquetípicas do

inconsciente coletivo da humanidade.

Há relatos de visões de luzes de natureza estranha,

raptos que incluem exames físicos e experiências

científicas, considerados torturas inimagináveis.

A emergência ocorre, pois essas pessoas acreditam

que possam ter atraído o interesse de seres superiores e

muito mais evoluídos que a humanidade por que, devem

possuir algum dote especial. Como ocorre na canalização e

comunicação com espíritos guias há uma inflação do ego.

Estados de possessão

As pessoas que passam por essa experiência sentem

que sua psique e seu corpo foram invadidos por algo de

fora de sua personalidade, algo perturbador, demoníaco e

hostil. O problema pode se manifestar como uma séria

psicopatologia, envolvendo um comportamento anti-social e

até criminoso (depressão suicida; a agressão assassina;

25

autodestruição; impulsos sexuais promíscuos ou

desviantes; uso excessivo de álcool e drogas).

É possível identificar na psicoterapia quando há uma

possessão, quando o indivíduo apresenta algumas

características como: rosto contraído, olhos com

expressão selvagem, mãos e o corpo produzem estranhas

contorções, a voz pode alterar-se. Para esse estado, é

feito um trabalho como o exorcismo na sessão, com um

terapeuta apto para dominar tal situação e para que seja

realizado com benefício para o indivíduo.

A emergência espiritual é um estado relatado que

pode ser assustador e extremamente difícil, por outro

lado possui um imenso potencial de cura e transformação;

a evolução é dolorida, exige muita energia, força, e

coragem para seguir adiante, resistindo as forças do ego

que deseja manter a aparente paz e tranqüilidade.

2. Tendo em vista o texto “Psicose”, o que Saldanha nos

diz a respeito de psicose, êxtase místico e

emergência espiritual ?

Segundo Saldanha, do livro “ A psicoterapia

Transpessoal” refere a Psicose como um estado de

consciência, a qual possui sua própria linguagem e que

devemos percebe-la numa extensão mais ampla. Relata

também que o nível de sensibilidade do individuo

psicótico será intenso e que muitas vezes este incorpora

patologias de outros membros da família ou ate da

sociedade em que ele vive. ( acaba expressando sintomas e

26

emoções que não são deles). Descreve também que nestes

casos ha possibilidades de percepções paranormais e ou

extra-sensoriais. Neste caso estes indivíduos seriam

chamados de místicos, iluminados ( no oriente), santos,

médiuns ou mestre ( no ocidente) em diferentes tradições.

Relata também algumas diferenças sutis descrevendo que,

muitas vezes, este individuo considerado iluminado como

manifestação da consciência cósmica, será vivenciado de

forma temerosa sendo acompanhado por sentimentos de

persecutoriedade e medos avassaladores (ego frágil lê

desestruturado do psicótico). O psicótico não permite

delinear o eu do outro, seu mundo interno e o externo.

Na questão do Êxtase Místico descreve o individuo que

tem plena consciência de estar vivenciando o seu

sofrimento, suas angustias pessoais, ou estar vivenciando

a angustia do outro, o flagelo da humanidade. Ha um

discernimento e ao mesmo tempo um sentimento de

beatitude, sentido do sagrado incorporado em suas

experiências, sem busca de ganho ou aprovação pessoal.

(no caso do psicótico, este será extremamente dependente

de aprovação e reconhecimento do outro, e ao mesmo tempo

desconfiado deste reconhecimento).

Os individuais que relatam vivencias de experiência

cósmica, usualmente conseguem delimitar bem o eu e o

outro, seu mundo interno e o externo. Trasmutam a energia

do medo, na forca da coragem e no poder do amor,

desenvolvem um ego forte ou estruturado, mas também abrem

mão deste ego, vivenciando níveis de expansão de

27

consciência que são experiências de dissolução do ego,

será a vivencia da unidade cósmica. Eles tem o ego mas

perdem-no circunstancialmente . (o psicótico vive a perda

de algo que não chegou a existir para ele e entra em

profundo estado confusional).

J. campbell, afirmou que místico e psicótico seriam

como se estivessem no mar infinito da mente humana,

contudo o místico sabe nadar, o psicótico não. A

Emergência espiritual o individuo sabe o que será

possível nadar , mas ainda esta aprendendo e por isso

sente grande medo as vezes.

Na plena consciência, sombra e luz fazem parte de um

continum.; as polaridades são integradas em perfeita

sinergia. Ha então a emergência de uma grande forca e bem

aventurança.

Na Emergência Espiritual fica evidenciado as angustias

existenciais do individuo, onde apresenta sintomas

similares ao quadro psicótico, mas que são vivenciados de

transição entre a psique materialista, reducionista e o

despertar da própria natureza transpessoal do individuo.

Ha um alento, uma perspectiva melhor em relação a

psicose.

3. Resenhar a oficina transcrita de David Lukoff:

“Emergência espiritual e problemas espirituais”

Na oficina “Emergencia Espiritual e problemas

espirituais” David Lukoff lembrou que Freud dizia ser a

religião um sistema de ilusões, desejos, juntamente com

28

uma negação da realidade, como dificilmente se vê em

outro contexto, mas que também traz uma sensação imensa

de bem estar, bem-aventurança.

Citou Skinner dizendo que em seus seiscentos artigos e

quinze livros, nunca pronunciou sobre religião, mas em

seu romance "Walden II", há um personagem que diz que

religião é uma ficção explicativa e que oração é um

comportamento supersticioso reforçado por um reforço

intermitente; ou seja, há a possibilidade de um pedido

feito durante uma prece ser aleatoriamente respondido e

que dentro de uma abordagem cognitiva-comportamental,

pode-se dizer que o que existem são metas, objetivos e

intenções mas jamais a existência de figuras de devoção

ou crenças como Santa Klaus, fadas e outros. Citou que no

"New England Journal of Medicine" de junho/2002, foi

publicado um artigo intitulado "Religious Activities?" o

qual trazia a preocupação com as amplas generalizações

que vem sendo feitas sobre bases limitadas a respeito das

questões referentes à religiosidade das pessoas. Em

função disso questiona-se se os médicos devem discutir

com seus pacientes sobre suas preocupações espirituais.

Lembrou que S. Peck diz que a negligência sobre as

questões da espiritualidade gerou cinco amplas falhas:

1) Erros de diagnóstico ;

2) Erros de tratamento ;

3) Aumento da má reputação dos psiquiatras ;

4) Pesquisas e teorias inadequadas ;

5) Limitação no próprio desenvolvimento pessoal dos

29

psiquiatras .

Em 1990 David Lukoff começou a trabalhar também na

mudança dessa mentalidade, a abrir o campo da saúde

mental para as questões da espiritualidade.

Desse trabalho surge no DSM IV (Manual Diagnóstico e

Estatístico de Transtornos Mentais – 4ª edição , da

Associação Psiquiátrica Americana) a categoria

diagnóstica Problema Espiritual ou Religioso (Emergência

Espiritual).

De acordo com o DSM-IV, a categoria Z71.8 Problema

Religioso ou Espiritual [V62.89] deve ser usada quando o

foco de atenção é um problema religioso ou espiritual.

Exemplos incluem: experiências negativas que implicam

perda ou questionamento da fé, problemas associados com

conversão a uma nova religião, questionamento acerca dos

valores espirituais que podem não estar necessariamente

relacionados com uma igreja organizada ou instituição

religiosa (American Psychiatric Association, 1996).

A definição de «problemas espirituais» no DSM-IV inclui

o questionamento de valores espirituais, não

necessariamente relacionados com uma igreja organizada ou

instituição religiosa, bem como o inesperado e estranheza

da própria experiência (e.g., experiências místicas,

experiências de quase-morte, experiências meditativas,

etc.). Para algumas pessoas, pode envolver o

questionamento do seu inteiro modo de vida, o propósito

de viver e a fonte de desígnio.

Há pequenas variáveis entre os problemas considerados

30

religiosos e os problemas espirituais. Os problemas

religiosos que se enquadram na categoria acima citada do

DSM-IV são:

Problemas Religiosos :

1) Perda ou questionamento da fé;

2) Mudança de filiação e de práticas religiosas

(incluindo conversão);

3) Associação a novos cultos e movimentos religiosos;

4) Problemas espirituais (que serão melhor esclarecidos

a seguir);

5) Em casos de doença ou grandes perdas, as pessoas

perdem sua fé ou ao contrário, acabam por tê-la

fortalecida.

A presença de um ou mais dos problemas acima geraria um

diagnóstico de Depressão dentro de uma abordagem

psiquiátrica clássica, porém hoje, o diagnóstico deveria

ser de "Perda de Fé" e sua terapia deveria incidir sobre

este ponto: a perda da fé. Entao comentou que nos EUA há

muitas religiões e que aquelas que são pequenas quanto ao

número de seguidores, em geral, acabam por isolar muito

seus fiéis, facilitando certos tipos de problemas

psíquicos e religiosos. Portanto, este é um tipo de

problema cada vez mais comum e ao qual precisamos estar

atentos.

Listou quais são os tipos de problemas espirituais:

Tipos de Problemas Espirituais :

1) Perda, questionamento ou mudança de valores

espirituais;

31

2) Experiências místicas/aberturas psíquicas;

3) Despertar da Kundalini;

4) Experiências de possessão;

5) Crises xamânicas/Abduções por OVNIs (UFOs);

6) Experiências de EQM (Experiências de Quase Morte);

7) Experiência "visionária" – considerar como

experiência momentânea de visão e que é positiva para a

pessoa;

8) Doenças graves ou terminais.

Ressaltou que 80% das religiões do planeta crê em

possessões, que 1% da população norte-americana relata

ter sido vítima de abdução e 15% relata ter visto OVNIs.

Citou Barkley ao comparar escritos de místicos e

esquizofrênicos :

1) Sensação de ser transportado de uma realidade normal

para uma nova realidade;

2) Comunhão com o Divino;

3) Perda do Self-object que é a sensação de não estar

limitado ao seu corpo;

4) Sensação noética – nova percepção da realidade;

5) Sensação distorcida do tempo;

6) Mudanças perceptuais;

7) Alucinações;

8) Ampliação de Consciência. Como se vê é difícil

diferenciar entre ambos, místicos e esquizofrênicos.

A fim de ilustrar, usou frase de Ed Podvoll sobre

doença mental e experiência religiosa: "Há concordância geral entre os que a tiveram (experiência religiosa) que as

verdades religiosas são compreendidas, as verdades religiosas que são as dos padres dos

32

desertos e dos mestres".

E ainda mais outra frase de um capelão de um hospital

psiquiátrico sobre a genuína experiência espiritual: "Eu achei suas histórias tão genuínas, bem acreditáveis. Suas experiências do Divino e do

espiritual são saudáveis e trazem vida ".

Citou porcentagens conforme mostrou Gallup Poll, a

experiência das pessoas com alguma "presença" (no sentido

de Ser espiritual) ou com Deus, vem aumentando ao longo

do tempo:

1973 – 27% de relatos;

1986 – 42% de relatos;

1994 – 54% de relatos.

4. Descreva um caso real ou hipotético e apresente

conduta para inicio de acompanhamento na AIT.

Apresentar e justificar os recursos da AIT indicados

para o caso e apresente encaminhamentos se houver

necessidade.

Segue um relato parcial de um paciente (descreverei

somente os sintomas pertinentes a esta questão, nao

enfocarei a anamnese, nem o exame psíquico e tao pouco o

história pregressa da questão atual).

Jovem de 25 anos com quadro de alteração de humor, que passou a

questionar a sua vida e existência, sua família e hábitos. Deixou o emprego e

a faculdade. Mudou os seus hábitos rotineiros e em seguida passou a

acreditar em sentir espíritos na sua casa , os quais os guiavam em sua rotina,

justificando as alterações de comportamento.

33

Este foi o motivo central que fez com que o paciente

fosse levado por familiares a uma avaliação. As

alterações de humor ou mudanças de comportamento são

sintomas relativamente comuns que fazem com que as

pessoas procurarem ajuda. E neste caso, será importante

um olhar atento para questões psicopatológicas e as

questões intrínsecas do ser. Sabe-se há séculos que

muitos episódios dramáticos e difíceis podem ocorrer

durante a prática "espiritual" e que o caminho para a

"iluminação" pode ser doloroso e tempestuoso (S. Grof &

C. Grof, 1995).

Esta "loucura santa" ou "loucura divina", é conhecida e

apreciada por várias tradições espirituais, pois é vista

como uma forma de intoxicação pelo divino que proporciona

habilidades extraordinárias e instrução espiritual. No

sofrimento do paciente havia um discurso , místico –

religioso associado. Estas "emergências espirituais"

podem ser definidas como estágios críticos e

experimentalmente difíceis de uma transformação

psicológica profunda, que envolve todo o ser da pessoa.

Tomam a forma de estados incomuns de consciência e

envolvem emoções intensas, visões e outras alterações

sensoriais, pensamentos incomuns, assim como várias

manifestações físicas (C. Grof & S. Grof, 1994).

Em casos comuns, os conflitos ocorrem entre os impulsos

"normais", entre estes e o "eu" consciente, ou entre a

pessoa e o mundo exterior (em particular com as pessoas

próximas, como os pais, o parceiro ou os filhos).

34

Contudo, os conflitos podem ocorrer também entre algum

aspecto da personalidade e as tendências e aspirações

progressivas e emergentes de caráter moral, religioso,

humanitário ou espiritual. E, não é difícil determinar a

sua presença uma vez que se reconheçam a sua validade e a

sua realidade, em vez de descartá-las como meras

fantasias ou sublimações (Assagioli, 1997).

Diante desta situação, os diagnósticos diferenciais e a

avaliação das queixas e sintomas serão importantes, visto

que os componentes mais problemáticos e alarmantes

comumente enfrentados pelas pessoas em emergência

espiritual são:

sentimentos de medo,

sensação de solidão,

experiências de loucura e

preocupação com a morte.

Esses episódios giram em torno de assuntos

espirituais, incluem: sequências de morte e renascimento

psicológico,

experiências que parecem memórias de vidas

passadas,

sensações de união com o universo,

encontro com diversos seres mitológicos e

outros temas semelhantes.

A estranha qualidade desses conceitos e a intensidade

com que uma pessoa os apresenta pode induzir colegas,

amigos e membros da família a afastarem-se, e a sensação

de solidão, já presente, aumenta. Os seus interesses e

35

valores podem mudar, e a pessoa talvez não queira mais

participar de certas atividades. O súbito interesse por

orar, cantar, meditar ou por qualquer sistema esotérico

(por exemplo a Astrologia ou a Alquimia) parecerá

estranho à família e aos amigos, podendo aumentar a sua

necessidade de afastamento (C. Grof & S. Grof, 1994).

Em suma, o desenvolvimento espiritual é uma longa e

árdua jornada, uma aventura por estranhas terras plenas

de surpresas, de alegrias e de beleza, de dificuldades e

até de perigos. Envolve o despertar de potencialidades

até então adormecidas, a elevação da consciência a novos

domínios, uma drástica transmutação dos elementos

"normais" da personalidade e um funcionamento no âmbito

de uma nova dimensão interior. De uma maneira geral, a

emergência de tendências espirituais pode ser considerada

o resultado de pontos decisivos do desenvolvimento, do

"crescimento" da pessoa (Assagioli, 1997).

Diante destas características num acompanhamento na AIT

será importante reconhecer o cenário para caracterizarmos

o eixo experiencial da pessoal e melhor prognostico num

eixo evolutivo. Aplicando as sete etapas sera possível,

neste caso investigar o que entendemos por "emergência

espiritual" que é, obviamente, um jogo de palavras,

referindo-se à crise ou "emergência", que se pode unir à

transformação e à ideia de "emersão", e sugerindo a

grande oportunidade que essas experiências podem oferecer

para o crescimento pessoal e para o desenvolvimento de

novos níveis de consciência (C. Grof & S. Grof, 1994).

36

Entao ha critérios de distinção entre uma perturbação

mental e uma emergência espiritual. Polónio (1997)

destaca que: "o diagnóstico das doenças psiquiátricas

está ainda sobrecarregado de preconceitos que levam a

reações emocionais prejudiciais aos doentes, à família e

à sociedade".

De acordo com Crombach (citado por Simões, 1992), seriam

somente patológicos os estados modificados de

consciência, que ocorressem sem ser desejados

(espontâneos) e quando:

1. Surgem como forma vivencial dominante, na vida

quotidiana;

2. Se evitam soluções adequadas à vida quotidiana;

3. Na situação da sua vivência, não há ou existem poucas

subestruturas cognitivas ou sociais para lidar com o

evento.

Lukoff et al. (1996), sugeriram usar bons indicadores de

prognóstico para ajudar a distinguir entre uma

psicopatologia e experiências espirituais autênticas. Os

critérios que foram usados para identificar os indivíduos

que estavam a atravessar uma emergência espiritual que

tinha traços psicóticos incluem:

1. Bom funcionamento antes do episódio psicótico;

2. Início agudo de sintomas durante um período de 3 meses

ou menos;

3. Houve estressores precipitantes do episódio psicótico;

4. Existe uma atitude exploratória positiva em relação à

experiência.

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Os indivíduos que se encontram nestes critérios para

uma emergência espiritual devem ser tratados com

psicoterapia transpessoal, a hospitalização deve ser

evitada e a medicação deve ser reduzida ao mínimo (Lukoff

et al., 1996).

Esta posição alternativa a uma psicopatologia

taxonômica clássica, encontra-se ainda em estádio

rudimentar e o seu desenvolvimento está dependente de

fatores sociais (moda, aceitação geral, etc.) e

transculturais, ou seja, a difusão de estados modificados

de consciência na cultura ocidental, de valores e

experiências já aceites por outras sociedades (Simões,

1996).

Em suma, os estados modificados de consciência não

são patológicos em si mesmos, isto é, decorrem de um

contexto, freqüentemente mágico, religioso ou curativo,

sendo integrados na cultura que os propicia (Simões,

1997).

De qualquer modo sera importante avaliar e

caracterizar tais mudanças de comportamento para melhor

entendimento e contextualização do quadro.

Além disso, os estados modificados de consciência

têm geralmente a duração de minutos ou horas, o que os

diferencia da maioria das doenças psiquiátricas (Simões,

1996).

Contudo, os estados visionários perderam o seu

caráter de valioso complemento dos estados de consciência

comuns, sendo tomados por distorções patológicas da

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atividade mental (S. Grof & C. Grof, 1995).

Cada caso deve ser estudado com um olhar crítico e

abertura de espírito, tendo na devida consideração todas

as alternativas.

Portanto, mesmo com a proposital breve descrição do

caso quis ressaltar a inicial conduta na AIT que seria a

escuta, o reconhecimento da dor e questionamentos do

paciente. Ouvir a família e suas considerações. Verificar

possíveis psicopatologias e fazer seus respectivos

diagnósticos diferenciais. Então validando as observações

e dando continência as experiências e visão do paciente

aplicar as sete etapas da AIT para um melhor prognostico

visto todas as discussões salientadas .

PROTOCOLO DE ENTREGA DE TRABALHO

TURMA V 2013-15

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TRABALHO DO MÓDULO 18

EMERGENCIA ESPIRITUAL E PSICOSE

Aluno: Claudio Hideyo Assato

Recebido por:_______________________________em

_________

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