EMBALLAGE La patrimonialisation du paysage culturel urbain de Rio de Janeiro face au marketing...

32
Capítulo 10 Emballage/ Embalagem La patrimonialisation du paysage culturel urbain de Rio de Janeiro face au marketing urbain/ A patrimonializaçao da paisagem cultural urbano do Rio de Janeiro em frente ao urban marketing Véronique Zamant Architecte D.P.L.G., urbaniste, Doctorante en aménagement et urbanisme L.A.A. — L.A.V.U.E. (UMR CNRS 7218), Université Paris Ouest — Nanterre La Défense, ([email protected]) Avertissement: Ce texte fait état de réflexions en cours s’intégrant dans le cadre d’une recherche doctorale. Dans le contexte actuel de mon- dialisation, la notion de patri- moine est désormais l’objet de nouveaux enjeux de types identi- taires et territoriaux où ville et cul- ture sont intimement liées. Plus particulièrement, la liste du “ Pa- trimoine Mondial de l’Humanité ”, dressée par l’UNESCO selon des critères décidés à une échelle internationale, confère à un site, à des us et coutumes, une valeur pa- trimoniale symbolique qui trans- cende les échelles d’appréhension et les groupes sociaux. Cette liste apporte ainsi une portée mon- diale à la notion de patrimoine. Lorsque l’on connait les retom- bées économiques, politiques, médiatiques et culturelles que gé- nère habituellement une inscrip- tion sur la liste du Patrimoine Mondial de l’Humanité, on peut alors s’interroger sur les motiva- tions territoriales et culturelles 181 Nota: Esse texto apresenta refle- xões em procedimento, integran- do-se numa pesquisa de doutorado. No contexto atual de mundializa- ção, a noção de património é ago- ra objeto de desafios novos. Desafio com caracteristicas iden- titarias e territoriais onde a cidade e a cultura sao intimidamente li- gadas. Mais particularmente, a lista do “ património mundial da humanidade feita pela UNESCO, segundo critérios deci- didos a uma escala internacional, dá a um sitio, as características desse, um valor patrimonial sim- bólico que vai além das escalas de apreensão e os grupos sociais. Essa lista do património mundial leva um grau mundial à noção de património. Considerando as consequências económicas, políticas, mediáticas e culturais de uma inscrição na lis- ta do património mundial da hu- manidade, a gente pode, então, perguntar-se em quanto as moti- vações territoriais e culturais que

Transcript of EMBALLAGE La patrimonialisation du paysage culturel urbain de Rio de Janeiro face au marketing...

Capítulo 10

Emballage/ EmbalagemLa patrimonialisation du paysage culturel urbain de Rio de Janeiroface au marketing urbain/ A patrimonializaçao da paisagemcultural urbano do Rio de Janeiro em frente ao urban marketing

Véronique ZamantArchitecte D.P.L.G., urbaniste, Doctorante en aménagement et urbanisme L.A.A. —L.A.V.U.E. (UMR CNRS 7218), Université Paris Ouest — Nanterre La Défense,([email protected])

Avertissement: Ce texte fait étatde réflexions en cours s’intégrantdans le cadre d’une recherchedoctorale.Dans le contexte actuel de mon-dialisation, la notion de patri-moine est désormais l’objet denouveaux enjeux de types identi-taires et territoriaux où ville et cul-ture sont intimement liées. Plusparticulièrement, la liste du “ Pa-trimoine Mondial de l’Humanité”, dressée par l’UNESCO selondes critères décidés à une échelleinternationale, confère à un site, àdes us et coutumes, une valeur pa-trimoniale symbolique qui trans-cende les échelles d’appréhensionet les groupes sociaux. Cette listeapporte ainsi une portée mon-diale à la notion de patrimoine.Lorsque l’on connait les retom-bées économiques, politiques,médiatiques et culturelles que gé-nère habituellement une inscrip-tion sur la liste du PatrimoineMondial de l’Humanité, on peutalors s’interroger sur les motiva-tions territoriales et culturelles

181

Nota: Esse texto apresenta refle-xões em procedimento, integran-do-se numa pesquisa dedoutorado.No contexto atual de mundializa-ção, a noção de património é ago-ra objeto de desafios novos.Desafio com caracteristicas iden-titarias e territoriais onde a cidadee a cultura sao intimidamente li-gadas. Mais particularmente, alista do “ património mundial dahumanidade ” feita pelaUNESCO, segundo critérios deci-didos a uma escala internacional,dá a um sitio, as característicasdesse, um valor patrimonial sim-bólico que vai além das escalas deapreensão e os grupos sociais.Essa lista do património mundialleva um grau mundial à noção depatrimónio.Considerando as consequênciaseconómicas, políticas, mediáticase culturais de uma inscrição na lis-ta do património mundial da hu-manidade, a gente pode, então,perguntar-se em quanto as moti-vações territoriais e culturais que

qui sont à l’origine des candidatu-res et de quel corps social ou insti-tutions elles émanent.L’inscription sur la liste du patri-moine mondial peut effective-ment devenir un instrument pourles politiques urbaines et culturel-les de toute ville ayant l’ambitionde se faire (re)connaitre sur lascène internationale.Afin de mesurer l’influence dumarketing urbain sur les procédu-res institutionnelles de patrimo-nialisation nous étudierons le casde la candidature de la ville de Riode Janeiro à l’UNESCO. Cetteétude s’appuie sur les résultatsd’une enquête de terrain menéedepuis 2009 au sein des différentesinstitutions impliquées dans cettecandidature, et réalisée dans lecadre d’une recherche doctoraleintitulée: “ Logiques globales. Pra-tiques locales. Le territoire mul-tiple aux marges de lapatrimonialisation. Cas de la can-didature de Rio de Janeiro à la listedu Patrimoine Mondial del’UNESCO”. L’observation del’historique de cette candidature,nous permet d’interroger ce pro-cessus de patrimonialisation sousl’angle d’un processus industrield’emballage entrainant une uni-formisation et un lissage, une stan-dardisation du produit qu’il traite:le paysage culturel urbain de Riode Janeiro.

Introduction

L’internationalisation des échangeséconomiques et financiers (G20, G8,

182 URBAN CULTURE IN ACTION

estão na origem das candidaturase também desde que tipo de corposocial e instituções elas chegam. Ainscrição na lista do patrimóniomundial pode efetivamente tor-nar-se um instrumento para aspolíticas urbanas e culturais detoda a cidade tendo a ambição deser reconhecida no cenário inter-nacional.A fim de medir a influência domarketing urbano nos processosinstitucionais de patrimonializa-ção, estudaremos o caso da can-didatura da cidade do Rio deJaneiro à UNESCO. Este estudoapoia-se sobre os resultadosduma pesquisa de campo feitadesde 2009 dentro das diferentesinstituições involucradas nessacandidatura, realizada no con-texto de uma pesquisa doutoralnomeada: “ Lógicas globais. Prá-ticas locais. O territorio múltiploà margem da patrimonialização.Caso da candidatura do Rio deJaneiro pela lista do patrimóniomundial da UNESCO. ” A obser-vação do histórico dessa candi-datura, nos permite questionaresse processo de patrimonializa-ção sob o ângulo de um processoindustrial de embalagem, tendocomo consecuencia uma unifor-mização, uma estandardizaçãodo produto do qual se trata: a pa-isagem cul tura l do Rio deJaneiro.

Introdução

A internacionalização dos inter-câmbios econômicos e financeiros

MerCoSul, ONU, crises boursières),mais aussi environnementaux et so-ciaux (MSF, Action contre la faim),culturels et sportifs (les jeux olympi-ques, les expositions universelles)définit les contours de la mondiali-sation1actuelle. Les manifestationsde la mondialisation n’en sont pas àleur début;2 ainsi, l’histoire del’humanité a déjà connu des phasesde rapprochement, d’influences etd’échanges économiques, techni-ques et culturels entre les peuples— autrement appelées “ systèmesmondiaux”3 — impulsés par desphénomènes aussi divers que lesempires, les grandes invasions oules religions. Bien que ce terme demondialisation soit courammentemployé depuis les années 80, c’estaujourd’hui, l’aspect culturel de cephénomène qui représente un nou-vel enjeu. Cette “ Autre Mondialisa-tion ” tel que la nomme DominiqueWolton n’est donc pas seulementpolitique ou économique mais con-cerne aussi la délicate question de lacohabitation culturelle. On devine lafin des distances physiques, on ne mesu-re pas encore l’importance des distancesculturelles.4 Le développement de laculture de masse tend à nous fairecroire le contraire et va dans le sensd’un village global non seulementéconomique et politique mais aussiculturel. Pourtant les revendications

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 183

(G20, G8, Mercosul, ONU, crisesdo mercado de ações), mas tam-bém ambientais e sociais (MSF,Ação contra a Fome), culturais edesportivos (os Jogos Olímpicos,Feiras Mundiais) define os contor-nos da globalização atual. As ma-nifestações da globalização nãoestão em seu início; a história dahumanidade já experimentou fa-ses de aproximação, de reconcilia-ção, de influência e de trocaseconômicas, técnicas e culturaisentre os povos — também conhe-cido como “sistemas mundiais”—dirigido por fenômenos tão diver-sos como os impérios, as invasõesou religiões.

Embora o termo globalizaçãoseja amplamente utilizado desde osanos 80, hoje o aspeto cultural destefenômeno representa um novo de-safio. Esta “globalização alternati-va” (ou “outra globalização), comodefine Dominique Wolton não éapenas política ou econômica, mastambém a delicada questão da con-vivência cultural. ”Nós podemosadivinhar o fim das distâncias físi-cas, não medimos a importância dadistância cultural. “. O desenvolvi-mento da cultura de massa tende afazer-nos crer o contrário e caminhano sentido de uma aldeia global, nãosó econômica e política mas tambémcultural. No entanto, as demandas

1 Définition de la mondialisation selon la 9è édition du Dictionnaire de l’Académiefrançaise

2 Jonathan Friedman, Cultural Identity and Global Process, London, Sage. 19943 Fernand Braudel, Civilisation matérielle, économie et capitalisme, XVe — XVIIIe siècles,

3vol, Paris, Ed. A Colin 1980 (1967)4 Dominique Wolton. L’autre mondialisation. Manchecourt: Flammarion, 2003, 211p, p16

culturelles régionales ne cessent dese multiplier5 (exemple du débatautour de la reconnaissance deslangues régionales en France).Dans ce contexte de mondialisationculturelle, le patrimoine apparaitcomme une construction socialecomplexe qui peut, à la fois, êtreconsidérée comme une valeur, unoutil et une marchandise.

Le processus de formalisationde la candidature de la ville de Rio deJaneiro à l’inscription sur la liste dupatrimoine mondial de l’UNESCO,mis en place depuis 2003 a été finaliséen 2011. Les huit années d’élabora-tion de ce discours représentent unedurée qui semble mieux corres-pondre à un temps court relevantd’une logique de marchandisationqu’à un temps plus long relevant delogiques de conceptualisation de laplace de la mémoire et donc du patri-moine, dans une société.

La notion de patrimoine et sesimplications (la sélection, la classifi-cation, la valorisation, la gestion, lapréservation du patrimoine) se re-trouvent instrumentalisées par desenjeux économiques, sociaux et poli-tiques, entre pratiques culturelles etmarketing urbain. L’hypothèseavancée ici est donc celle d’un patri-moine appréhendé selon les conceptsdu marketing urbain, comme unemarchandise qui aurait suivi pen-dant ces huit années un processusd’élaboration industriel pour unemise sur le marché dans un

184 URBAN CULTURE IN ACTION

culturais regionais continuam a semultiplicar (por exemplo, o debateem torno do reconhecimento daslínguas regionais em França). Nestecontexto de globalização cultural, opatrimônio aparece como umaconstrução social complexa quepode ser considerada como um va-lor , uma ferramenta e umamercadoria.

O processo de formalizaçãoda candidatura da cidade do Rio deJaneiro para a inscrição na Lista doPatrimónio Mundial da UNESCO,estabelecido desde 2003, foi conclu-ído em 2011. Os oito anos de desen-volvimento deste discursorepresentam um período que pare-ce mais consistente com um curtoperíodo de tempo dentro de umalógica de mercantilização como umlongo tempo sob lógicas de concei-tuação do papel da memória e dopatrimônio, portanto, em umasociedade.

O conceito de patrimônio e assuas implicações (seleção, classifi-cação, avaliação, gestão, preserva-ção do patrimônio) se encontrammanipulados por forças econômi-cas, sociais e políticas, entre as prá-ticas culturais e o marketingurbano. O pressuposto é, portanto,o de uma herança apreendida se-guindo os conceitos do marketingurbano, como uma mercadoria queteria seguido por oito anos umprocesso industrial para a coloca-ção no mercado numa embalagem

5 Jonathan Friedman, Culture et politique de la culture: une dynamique durkheimienne,in Anthropologie et Sociétés, vol28, n°1, 2004, p23-43

emballage standardisé. Le termed’emballage, permet d’insister surles aspects artificiels et contraignantsdu montage et de la présentation dudossier de candidature.

La communication que je pré-sente propose d’expliciter comments’est construit un discours collectif àtravers l’interprétation de la notionde patrimoine, entre pratiques cultu-relles ordinaires et politiques inter-nationales, pour produire desarguments convaincants en vued’une candidature à l’UNESCO.Cette communication s’appuie surdes entretiens semi directifs menésauprès des acteurs de la constitutionde la candidature et sur une analysede certains documents cartographi-ques du dossier.

Comment se construit un dis-cours collectif sur le patrimoine ?Comment se constitue un imaginai-re fondé sur les pratiques ordinai-res auxquelles se mêlent des règlesdu jeu induites par des impératifsinternationaux relevant du marke-ting urbain? Quelles sont les logi-ques qui prédominent dansl’élaboration de cette candidature?Comment s’est opéré, le lissage, lamise aux normes, l’emballage dupaysage culturel carioca ?

Après une première partiethéorique portant sur l’ambiguïté del’instrumentalisation du patrimoinedans le contexte de mondialisation,nous nous pencherons sur le cas de lacandidature de Rio à la liste du Patri-moine Mondial de l’UNESCO. Cetteseconde partie s’attardera sur lecontexte de marchandisation de Riodans lequel s’ inscrit cette

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 185

padronizada. A palavra “ embala-gem ” permite enfatizar os aspectosartificiais e restritivos de edição eapresentação do pedido.

A comunicação que apresentopropõe explicar como foi construí-do um discurso coletivo através dainterpretação da noção de patrimô-nio, entre práticas culturais ordiná-rias e políticas internacionais, paraproduzir argumentos convincentespara uma candidatura para aUNESCO. Este artigo é baseado ementrevistas semi-estruturadas reali-zadas com os atores ?da constitui-ção da candidatura e na análise dealguns dos documentos cartográfi-cos desta aplicação.

Como se constrói um discur-so coletivo sobre o patrimônio?Como se constitui um imagináriobaseado nas práticas comuns comas quais se misturam as regras in-duzidas por imperativos interna-cionais que relevam do marketingurbano? Quais são as lógicas quepredominam no desenvolvimentodesta candidatura? Como se ope-rou a embalagem da paisagem cul-tural carioca?

Depois de uma primeira parteteórica sobre a ambigüidade da ins-trumentalização do patrimônio nocontexto da globalização, vou apre-sentar o caso da candidatura do Rioà UNESCO. Esta segunda parte seconcentrará no contexto da mercan-tilização do Rio em que esta nomea-ção se integra para depois olharpara a candidatura, em si, como umobjeto fabricado.

candidature pour ensuite s’intéresserau dossier de candidature, en soi,comme un objet manufacturé.

La patrimonialisation al’epreuve de lamondialisation

La différence et l’opposition entremonument et monument historique(définis pour la première fois en 1903par l’historien de l’art Aloïs Riegldans l’introduction du “ Projet de lé-gislation des monuments histori-ques”6 ), va progressivements’amenuiser pour être définitivementsupprimée en 1972 avec l’élaborationpar l’UNESCO de la “ Conventionpour la protection du patrimoinemondial, culturel et naturel”.7 Cetteconvention entérine la notion de pa-trimoine qui, à partir des années 60,s’était peu à peu substituée à celle demonuments historiques.

De cette différenciation, nousretiendrons surtout que la notion demonument apparaissait comme ununiversel culturel quand celle demonument historique était profondé-ment attachée à la culture de l’Europeoccidentale (origine ethnique etspécificité sémantique de la notion demonument historique). Différencedésormais occultée par l’image d’unpatrimoine mondial à valeur univer-selle promue par l’UNESCO.

186 URBAN CULTURE IN ACTION

A patrimonialização face àglobalização

A diferença e a oposição entre mo-numento e monumento histórico(definidos pela primeira vez em1903 pelo historiador de arte AloisRiegl, na introdução do “Projetode legislação sobre os monumen-tos históricos”), vai se atenuar deforma progressiva até ser perma-nentemente suprimida em 1972com a proposta da UNESCO da“Convenção para a proteção dopatrimônio mundial, cultural enatural”. Esta convenção aprova oconceito de Patrimônio, que a par-tir da década de sessenta, tinhapouco a pouco substituído a demonumentos históricos. Dessa di-ferenciação, é necessário lembrarque o conceito de monumentoaparecia como de cultura univer-sal, enquanto o de monumentohistórico era profundamente liga-do à cultura da Europa ocidental(origem étnica e especificidade se-mântica do conceito de monumen-to histórico). Diferença esta,absorvida pela imagem de um pa-trimônio mundial e de valor uni-versal promovido pela UNESCO.

6 Aloïs Riegl, introduction au “ Projet de législation des monuments historiques ” traduitsous le titre “Le Culte moderne du monument. Son essence et sa genèse ”, par D. Wieckzorek,Paris, Le Seuil, 1984

7 UNESCO, “ Convention pour la protection du patrimoine mondial, culturel et naturel ”, 1972,http://portal.unesco.org/fr/ev.Php-URL_ID=13055&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201. html, consulté le 15 avril 2012

Le patrimoine comme outil _ lavaleur économique dupatrimoine

C’est donc à partir des valeurs véhi-culées par un groupe social à un ins-tant donné qu’ont été créées uneinstitution internationale, puis desconventions, afin de définir les ca-dres juridiques internationaux quirégissent aujourd’hui encore la sau-vegarde et la protection du patri-moine, et les critères d’élection auxlistes de l’UNESCO. Ainsi, les noti-ons d’authenticité et de “valeur uni-verselle exceptionnelle”8 sont descritères incontournables pour leclassement sur la liste du patrimoi-ne mondial alors qu’ils peuventn’avoir aucune signification dansd’autres cultures. Ces critères cons-tituent un cadre commun, qui peutentrainer une uniformisation dupatrimoine au détriment des cultu-res dont la singularité ne leur per-met pas de s’y conformer.

Cependant, l’échelle interna-tionale à laquelle sont décidés cescritères donne une visibilité mondi-ale de la notion de patrimoine et luiconfère ainsi une valeur médiatisa-ble. Le statut de patrimoine del’UNESCO permet al.ors à l’objetpatrimonialisé d’exister et de pren-dre une valeur qui transcende les

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 187

Patrimônio como ferramenta _ ovalor econômico do patrimônio.

Assim, a partir dos valores veicula-dos por um grupo social num deter-minado momento foram criadasuma instituição internacional e de-pois convenções a fim de definir osquadros jurídicos internacionaisque governam até hoje a salvaguar-da e a proteção do patrimônio e oscritérios elegibilidade às listas daUNESCO. Assim, as noções de au-tenticidade e de “valor universalexcepcional” são critérios essencia-is para a classificação na Lista doPatrimônio Mundial, mesmo po-dendo não ter nenhum significadoem outras culturas. Estes critériosfornecem um quadro comum quepromove a uniformização do patri-mônio, em detrimento das culturascuja singularidade não permite oenquadramento.

Entretanto, o nível internaci-onal no qual se determinaram es-tes critérios dá uma exposiçãomundial ao conceito de patrimô-nio e também um valor mediático.O título de Patrimônio da Huma-nidade conferido pela UNESCOpermite então ao objeto patrimo-nializado, existir e ter um valorque transcende as dimensõesapreendidas e os grupos sociais;

8 “ La valeur universelle exceptionnelle signifie une importance culturelle et/ou naturelletellement exceptionnelle qu’elle transcende les frontières nationales et qu’elle présente lemême caractère inestimable pour les générations actuelles et futures de l’ensemble del’humanité. A ce titre, la protection permanente de ce patrimoine est de la plus haute im-portance pour la communauté internationale toute entière. Le Comité définit les critèrespour l’inscription des biens sur la Liste du patrimoine mondial. ” in Orientations devantguider la mise en œuvre de la Convention du patrimoine mondial, WHC. 05/2, UNESCO,2005, p15

échelles d’appréhension et lesgroupes sociaux. Il devient un outilpermettant à toute culture des’exprimer et de se faire reconnaîtresur la scène internationale. Le labeldu patrimoine mondial a ainsi for-tement contribué à la médiatisationpuis à la marchandisation du patri-moine (l’UNESCO a reçu en 2008 leprix du tourisme mondial9). Notonstout de même que cette approchemercantile du patrimoine n’est pasexclusive à l’UNESCO. Ainsi, la loifrançaise 2000-5 du 4/01/02 confèreaux musées nationaux français lestatut d’ “ établissements à caract-ère industriel et commercial ”, plustôt, en 1986, le ministre français dutourisme préconise “ d’exploiter [lepatrimoine] comme les parcsd’attractions.”10

Par l’acte de muséification quesuppose une patrimonialisation,l’élément patrimonialisé prend unevaleur foncière et peut devenir unfrein ou à l’inverse, un moteur desdéveloppements urbains (l’exempledu retrait, de la liste du patrimoinemondial, de la vallée de l’Elbe à Dres-de (Allemagne) en 2009, suite à laconstruction d’un pont à quatre voiesau cœur de ce paysage culturel oubien l’exemple du renouvellementurbain du vieux centre ville de Lyon(France) impulsé suite à sa reconnais-sance en tant que secteur sauvegar-dé, en 1964 puis son inscription sur la

188 URBAN CULTURE IN ACTION

torna-se uma ferramenta de todasas culturas para se expressar e serreconhecida internacionalmente.

O rótulo de Patrimônio Mun-dial contribuiu muito para a media-tização e a mercantilização dopatrimônio (a UNESCO recebeu em2008 o prêmio do turismo mundi-al). Notemos, contudo, que essaabordagem de mercantilização dopatrimônio não é exclusiva daUNESCO. Assim, a legislação fran-cesa 2000-5 de 01/04/02 dá aos mu-seus nacionais franceses o estatutode “estabelecimento com caráter in-dustrial e comercial”, no início de1986, o ministro francês do turismopreconiza “explorar [o patrimônio]como parques de diversões ”

Pelo ato de museificação im-plícito pela patrimonialização, oelemento patrimonializado ganhaum valor de terreno e pode se tor-nar um obstáculo ou, inversamente,um motor do desenvolvimento ur-bano (vejam-se os exemplos da reti-rada da Lista do PatrimônioMundial da vale do Elba, em Dres-den (Alemanha) em 2009, após aconstrução de uma ponte de quatropistas, no coração da paisagem cul-tural, ou o da renovação urbana docentro da cidade velha de Lyon(França) impulsionado pelo seu re-conhecimento como área protegidaem 1964 e sua inscrição na Lista doPatrimônio Mundial em 1988).

9 Le Prix du tourisme mondial est co-sponsorisé par les Hotels Corinthia, AmericanExpress, The International Herald Tribune et Reed Travel exhibitions et est attribué tousles ans au cours du Salon mondial du voyage à Londres

10 J. Rigaud, “ Patrimoine, évolution culturelle ”, in Monuments historiques, septembre1986.

liste du patrimoine mondial en 1988).Le patrimoine est alors un outil decontrôle de l’évolution du territoireconcerné et satisfait des volontés ter-ritoriales telles que l’obtention de fi-nancements, la gestion de l’espacepour le développement économiqueou la construction de nouveaux espa-ces attractifs. Au vu de sa valeur éco-nomique et considérant la définitiondu marketing urbain donnée par No-isette et Vallérugo:11 “ l’ensembledes analyses, stratégies, actions etcontrôles conçus et mis en œuvre(…) dans le but, d’une part, de mie-ux répondre aux attentes des per-sonnes et des activités de sonterritoire, d’autre part, d’améliorerla qualité et la compétitivité de laville dans son environnement con-currentiel”, le patrimoine peut êtreconsidéré comme un outil pour lesstratégies de marketing urbain.

Le patrimoine comme parade _la valeur identitaire et temporel-le du patrimoine

“Il n’y aurait pas de culture s’il n’yavait pas de loisirs ” affirme AndréMalraux lors de son intervention ausénat le 9 novembre 1963. Le termeculture est ici entendu comme es-sentiellement lié à l’idée de loisir etnon plus à la notion de civilisation.La culture est ici envisagée commeun objet de consommation permet-tant de satisfaire l’industrie duloisir.12

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 189

Patrimônio é, portanto, umaferramenta para o acompanhamen-to da evolução da zona em questãoe atende aos desejos territoriais, taiscomo obtenção de financiamento,gestão do espaço para o desenvolvi-mento econômico ou a construçãode novos espaços atrativos. Tendoem conta o seu valor econômico, econsiderando a definição do mar-keting urbano dada por Noisette eVallerugo “o conjunto das análises,estratégias, ações e controles proje-tados e implementados (…) para,em primeiro lugar, melhor atenderàs expectativas das pessoas e dasatividades no seu território, por ou-tro lado, para melhorar a qualidadee a competitividade da cidade emseu ambiente competitivo. ” o patri-mônio pode ser visto como uma fer-ramenta para estratégias demarketing urbano.

O patrimônio como escudo _ ovalor identitário e temporal dopatrimônio.

“Não haveria nenhuma cultura senão houvesse entretenimento”,diz André Malraux, durante seudiscurso no Senado em 9 de no-vembro de 1963. O termo cultura éaqui entendido como essencial-mente ligado à idéia de lazer e nãoà noção de civilização. A cultura éaqui vista como um objeto de con-sumo para satisfazer a indústriado lazer.

11 Noisette P. et Vallérugo F. (1996), Le marketing des villes, Un défi pour le développementstratégique, Les éditions d’organisation, 1996, p167.

12 Hannah Arendt, La crise de la culture, Gallimard, 1989, 384p, p270-271.

Cette nouvelle culture demasse promeut “ l’image d’unmonde où nous serions tous en tra-in de désirer, consommer et cons-truire les mêmes objets”1 3 , semettent en place des discours sur levillage planétaire14 “ où le contextene serait plus le local maisl’absolument planétaire ” (Augé,2006).15 Cette culture de masse véhi-cule l’idée d’une identité globale denotre planète pour laquelle le con-texte local n’a plus aucun poids etoù l’individu est désormais consi-déré comme un récepteur. Une ap-proche qui occulte la sensibilité etl’esthétique de l’individu, issues desa propre culture; ce qui peut entra-iner une perte de sens. L’objectif del’industrie culturelle est alors de re-créer chez chacun un attrait pourcette culture de masse, vidée desens par rapport au contexte local.Les évènements internationaux telsque les expositions universellesparticipent de cette logique de dif-fusion d’un modèle culturel allié àun modèle de gestion du territoire.On assiste alors à une disneylandi-sat ion des espaces urbainss’apprêtant à accueillir ces grandsévènements . I l s ’agit là del’avènement à l’échelle mondialed’une révolution culturelle sous laforme, entre autre, d’un processus

190 URBAN CULTURE IN ACTION

Esta nova cultura de massapromove “a imagem de um mundoem que as pessoas estariam dese-jando, consumindo e construindoos mesmos objetos, ” aparecendodiscursos sobre a aldeia global“onde o contexto não é mais o localmas o absolutamente planetario”(Augé, 2006). Esta cultura de massatransmite a idéia de uma identida-de global do nosso planeta para aqual o contexto local não tem maispeso e onde o indivíduo é agoraconsiderado um receptor.

Uma abordagem que escondea sensibilidade e a estética do indi-víduo, oriundo de sua própria cul-tura, o que pode causar uma perdade sentido. O objetivo da indústriacultural é, então, recriar umaatração para todos nesta cultura demassa, desprovida de significadoem relação ao contexto local.Eventos internacionais, como fei-ras universais são parte da lógicada difusão de um modelo culturalcombinado com um modelo degestão do território. Há então uma“disneylandisation” das áreas ur-banas se preparando para sediaresses grandes eventos. Este é oadvento numa escala mundial deuma revolução cultural na forma,entre outras coisas, de um processode homogeneização que conduz

13 L. A. A., Architectures et villes face à la mondialisation, axe de recherche n°01 du Labora-toire Architecture Anthropologie, http: //www. laa. archi. fr/spip. php?article1, consultéle 15 avril 2012.

14 Traduction de “ Global Village ”, expression de Marshall McLuhan, The Medium is theMessage, 1967.

15 Marc Augé, “ La planète comme territoire. Un défi pour les architectes ”, in “ Chez nous ”territoires et identités dans les mondes contemporains, Alessia DE BIASE et Cristina Ros-si (sous la dir. de), 2006

d’homogénéisation entrainant laperte des spécificités culturelles.

Autre conséquence de la mon-dialisation: l’évolution du rapportau temps. Les progrès techniquesont favorisé un développement desmoyens de communication qui ten-dent vers toujours plusd’immédiateté. Le temps long de lamémoire est délaissé au profit del’instantané. L’horizon temporel seréduit “ au seul présent instantanécomme valeur absolue du pré-sent”.16 Les différents projets urba-ins, les interventions architectura-les éphémères, les transformationsdu territoire agissent comme des ré-vélateurs de cette évolution du rap-port au temps, vers uneaccélération de celui-ci.

La mondialisation entraineainsi des évolutions culturelles ettechniques qui peuvent provoquerla perte de repères identitaires ettemporels spécifiques à chaque cul-ture. Face à ce risque d’une homo-généisation culturelle et auxchangements quant à notre rapportau temps, se développent une re-vendication des identités distincteset un attachement à des lieux cons-truits historiquement représentantdes repères dans l’histoire d’un pe-uple. Que ce soit en tant que sup-port de transmission ou demémoire, ou par la valorisationd’une identité en relation à un terri-toire; la patrimonialisation apparaîtcomme un processus permettant de

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 191

à perda das espec i f ic idadesculturais.

Outra conseqüência da globa-lização: a mudança da relação comtempo. Os avanços tecnológicostêm estimulado o desenvolvimentodos meios de comunicação, se tor-nando cada vez mais rápidos. Amemória a longo prazo é negligen-ciada em favor do instantâneo.O horizonte de tempo é reduzido“apenas a este presente instantâneocomo um valor absoluto do presen-te. ” Os vários projetos urbanos, asintervenções efêmeras de arquite-tura, as transformações do territó-rio atuam como um indicativodesta mudança na relação com otempo, para uma aceleração domesmo.

Assim, a globalização temcomo conseqüências evoluçõesculturais e técnicas que pode cau-sar a perda de marcadores identi-tários e temporais específicos decada cultura. Dado este risco dehomogeneização cultural e as mu-danças na nossa relação com otempo, se desenvolvem uma rei-vindicação de identidades distin-tas e um apego aos lugaresconstruídos historicamente repre-sentando marcos na história deum povo. Seja como meio de trans-missão ou de memória, ou pelavalorização de uma identidade re-lacionada com um território, a pa-trimonialização aparece como umprocesso que permite defender as

16 L. A. A., Le travail du temps dans la ville contemporaine, axe de recherche n°02 du Labo-ratoire Architecture Anthropologie, http://www.laa.archi.fr/spip. php?article38, consul-té le 15 avril 2012.

revendiquer des spécificités cultu-relles propres et de satisfaire desréactions parfois passéistes etnostalgiques.

Le patrimoine se présente dèslors comme une parade à certains ef-fets de la mondialisation: il permet-trait l’affirmation des identités et desterritoires et la conservation d’unrapport au temps long. Le patrimoi-ne serait-il alors, une solution pourun “ envers de la mondialisation fo-calisé davantage sur le local?”17

L’ambiguite du patrimoine

Concept européen érigé en un uni-versel culturel par l’UNESCO, lepatrimoine est peu à peu devenu unoutil de marketing urbain en mêmetemps qu’un instrument de reven-dications des spécificités identitai-res et territoriales.

Désormais située entre cons-truction médiatique, négociationpolitique et pratiques quotidien-nes, la notion de patrimoine peutentrainer une homogénéisation desrelations entre identité et territoirealors qu’elle est supposée en reven-diquer les particularités.

Cette ambiguïté reflète aussi lasituation ambivalente des grandesvilles d’aujourd’hui qui sont tirail-lées entre d’une part, le discours surla ville globale, et d’autre part, lecontexte local et ses particularitésculturelles indispensables au main-tien de repères identitaires.

192 URBAN CULTURE IN ACTION

especificidades culturais e satisfa-zer as reações por vezes vezes re-trógradas e nostálgicas.

O patrimônio é apresentadocomo um escudo face a alguns efei-tos da globalização: ele permitiria aafirmação das identidades dos ter-ritórios e a conservação de um rela-cionamento com o tempo longo. Opatrimônio seria então, uma solu-ção para um “outro lado da moedada globalização concentrado nolocal”?

A ambiguidade do patrimônio

Conceito europeu estabelecido comocultura universal pela UNESCO, opatrimônio se tornou pouco a poucouma ferramenta de marketing da ci-dade, bem como um instrumento dereivindicação das especificidadesidentitárias territoriais.

Doravante situada entreconstrução mediática, negociaçãopolítica e práticas cotidianas, a no-ção de patrimônio pode conduzira uma homogeneização das rela-ções entre identidade e território,quando deveria reivindicar asespecificidades.

Essa ambigüidade tambémreflete a situação ambivalente dasgrandes cidades de hoje que são divi-didas entre, por um lado, o discursosobre a cidade global, por outro lado,o contexto local e as particularidadesculturais indispensáveis à manuten-ção dos marcadores identitários.

17 L. A. A., Architectures et villes face à la mondialisation, axe de recherche n°01 du Labora-toire Architecture Anthropologie, http: //www. laa. archi. fr/spip. php?article1, consultéle consulté le 15 avril 2012

Les phénomènes de patrimo-nialisation, désormais pris dansune temporalité accélérée par lamondialisation, se forment dans laconfrontation entre spécificités cul-turelles et marketing urbain.

Le processus de patrimoniali-sation des territoires de la ville deRio de Janeiro et son inscription surla liste du patrimoine mondial del’UNESCO en tant que paysagesculturels, en cours depuis le débutdes années 2000, est l’occasiond’observer plus en détail commentle marketing urbain vient concur-rencer les spécificités locales cultu-relles au moment de l’élaborationd’une candidature.

La mise en conformite d’unecandidature cariocaa l’UNESCO

Politique patrimonialebresilienne

C’est en 1937 avec la création del’IPHAN18 que le Brésil a initié sapolitique nationale de préservationdu patrimoine. Cette politique peutêtre divisée en deux grandes pério-des: la période fondatrice de 1930 à1940, qui voit s’appliquer une visi-on moderniste de l’expressionartistique, favorise le regard ethno-graphique porté sur les monumentset les œuvres d’art produites par lepassé; la seconde période, baptiséerénovatrice, qui court sur la décen-nie des années 70 à 80, où l’idée de

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 193

Os fenômenos de patrimonia-lizaçao, agora tomados numa tem-poral idade acelerada daglobalização, são formados no con-fronto entre marketing urbano e es-pecificidades culturais.

O processo de patrimoniali-zação dos territórios da cidade doRio de Janeiro e sua inscrição naLista do Patrimônio Mundial daUNESCO como paisagem cultu-ral, em curso desde o início de2000, é uma oportunidade de ob-servar mais em detalhe como omarketing urbano vem competircom características culturais loca-is no momento da elaboração dacandidatura.

A conformidade de umpedido carioca paraa UNESCO

Política brasileirado patrimônio

Em 1937, com a criação do IPHAN,o Brasil lançou sua política de pre-servação do patrimônio nacional.Esta política pode ser dividida emdois grandes períodos: o períodode fundação de 1930 a 1940, quetem uma visão da expressão artís-tica (modernista), promove oolhar etnográfico focado em mo-numentos e obras de arte pro-duzidas no passado; o segundoperíodo, chamado de restauração,que corre ao longo da década de 70a 80, onde a idéia de patrimônio

18 Institut de Patrimoine Historique et Artistique National.

patrimoine historique (avec les no-tions classiques d’histoire et d’art)fut élargie à la notion de “ bien cul-turel ” elle même incluse dans unconcept plus vaste de “mémoire so-ciale ”. Durant cette période, c’estun regard anthropologique quis’est attaché à valoriser des biensmatériels et immatériels prenant encompte l’implication des populati-ons dans le processus patrimonial.

L’évolution de cette politiquepatrimoniale a, dès ses origines, étéconfrontée à l’histoire du pays qui aengendré un patrimoine nationalriche de diversités. Ainsi, la politi-que a toujours oscillé entre, une vi-sion sélective, idéalisant unephysionomie nationale à partir decertains éléments et, une vision lar-ge, valorisant le poids de la produc-tion populaire dans la constitutionde l’identité culturelle.

Un exemple notable concernela manière dont la question du pay-sage a été appréhendée à partir desannées 1980 pour aboutir en 2009 àla rédaction d’un texte officiel por-tant sur le paysage culturel brésili-en.19 Ce texte institutionnalise unenouvelle approche du patrimoinebrésilien qui permet de reconnaîtreentre autre l’imbrication entre natu-re et urbanité.20 Cette réflexion s’estintensifiée à partir des années 2000à l’occasion, notamment, du rejet de

194 URBAN CULTURE IN ACTION

histórico (com as noções tradi-cionais de história e arte) foi esten-dido para a noção de “bensculturais” ainda que incluídos emum conceito mais amplo de “me-mória social”.

Durante este período, foi umaabordagem antropológica que se fi-xou na promoção dos bens materia-is e imateriais, tendo em conta oenvolvimento das pessoas no pro-cesso patrimonial.

A evolução desta política depatrimônio tem sido confrontada,desde as suas origens, com a histó-ria do país que gerou um patrimô-nio nacional rico de diversidade.Assim, a política sempre oscilou en-tre uma visão seletiva, idealizandouma fisionomia nacional a partir decertos elementos, e uma visão am-pla, valorizando o peso da produ-ção popular na formação daidentidade cultural.

Um exemplo notável é a for-ma como a questão da paisagemfoi apreendida a partir da décadade 1980, levando em 2009 a reda-ção de uma declaração oficial so-bre a paisagem cultural do Brasil.Este texto institucionaliza umanova abordagem do patrimôniobrasileiro e reconhece a sobreposi-ção entre natureza e urbanidade.Esta reflexão se intensificou a par-tir da década de 2000 na ocasião,

19 Winter RibeirO Rafael, Paisagem cultural e patrimônio, Rio de Janeiro, IPHAN, 2007.20 “ Le paysage culturel brésilien est une partie spécifique du territoire nationale représen-

tative du processus d’interaction de l’homme avec le milieu naturel, sur laquelle la vie etles sciences humaines ont imprimé des marques ou ont attribué des valeurs” source:IPHAN, http: //portal. iphan. gov. br/portal/baixaFcdAnexo. do?id=1070, consulté le 15avril 2012, traduction par l’auteur de l’article.

l’UNESCO, en 2003, des dossiers del’UNESCO, en 2003, des dossiers decandidature de Paraty et de Rio deJaneiro en tant que sites mixtes à laliste du patrimoine mondial.

La catégorie paysage cultureltelle que conçue par l’IPHAN pré-sente une approche très large de lanotion, permettant ainsi d’intégrerdes candidatures variées allant jus-qu’à des candidatures de paysagesculturels intégrant de l’urbain. Ce-pendant cette approche se retrouveconfrontée à une définition plus as-treignante donnée par l’UNESCO,en 1992, dans la Convention du pa-trimoine mondial.21 Qui ne permetpas la reconnaissance d’un paysageculturel comportant de l’urbain enson sein.

Cette différence d’interpréta-tion a nécessité un habile travail derapprochement et de compositionqui permette d’aboutir à un dossierrépondant aux critères imposés parl’UNESCO tout en conservant lesperceptions brésiliennes, individuel-les et collectives, des aspects symbo-liques du territoire carioca.

Cette tâche délicate révèle tou-te la difficulté de l’interprétation dela notion de patrimoine entre échellelocale et échelle globale d’une part etentre pratiques culturelles et politi-ques culturelles d’autre part.

Nous allons donc voir com-ment ce travail a été effectué depuis

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 195

notadamente, da re jeição daUNESCO, em 2003, do dossiê decandidatura de Paraty e do Rio deJaneiro como sítios mistos na Listado Patrimônio Mundial.

A categoria paisagem cultu-ral , tal como concebida peloIPHAN, tem uma abordagem mui-to ampla do conceito, permitindocom isto a integração de uma varie-dade de candidaturas, abrangendomesmo as candidaturas de paisa-gens culturais incorporando a cida-de. No entanto, esta abordagem éconfrontada a uma definição maisexigente dada pela UNESCO em1992, na Convenção do PatrimônioMundial, que não permite o reco-nhecimento de uma paisagem cul-tural comportando a cidade em seuinterior.

Esta diferença de interpre-tação necessitou um trabalho ha-bilidoso de reconciliação e decomposição que permite alcançarum dossiê satisfazendo os critériosdefinidos pela UNESCO, manten-do as percepções brasileiras, indi-viduais e coletivas dos aspectossimbólicos do território carioca.

Esta delicada tarefa revela adificuldade de interpretação doconceito de patrimônio entre a esfe-ra local e a global, por um lado, eentre práticas culturais e políticasculturais, por outro.

21 “ Les paysages culturels représentent les ”ouvrages combinés de la nature et del’homme" désignés à l’Article 1 de la Convention. Ils illustrent l’évolution de la société etdes établissements humains au cours des âges, sous l’influence de contraintes et/ou desatouts présentés par leur environnement naturel et les forces sociales, économiques etculturelles successives, internes et externes. “Source: UNESCO, http: //whc. unesco.org/fr/activites/477/#1, consulté le 15 avril 2012.

la première tentative en 2001 jus-qu’à la dernière en 2011; et en quoices choix ont pu être influencés parun contexte de marketing urbain,plus général.

Historique des candidatures

Dès le début de son élaboration, en2001, la candidature de Rio de Jane-iro à la liste du patrimoine mondialde l’UNESCO est l’occasion de dis-cussions sur les orientations quidoivent être prises: entre site cultu-rel (section paysage culturel) ou sitemixte. L’équipe chargée de cettecandidature, alors composée depersonnes de la municipalité, dugouvernement fédéral et du minist-ère de l’environnement, prend rapi-dement conscience de la spécificitéde la ville de Rio de Janeiro fruitd’une imbrication entre urbanité etnature. Aucun site, alors inscrit surla liste du patrimoine mondial dansla catégorie site culturel en tant quepaysage culturel, ne présente cettecaractéristique. Les critères sem-blent alors ne prendre en compteque des paysages modifiés parl’homme soit pour des raisons éco-nomiques (ex des paysages vitico-les de la Juridiction de SaintEmilion / France ou La vallée Que-brada de Humahuaca / Argentine),soit pour des raisons religieuses (exdu mont Wutai, l’une des quatremontagnes sacrées du bouddhisme/ Chine) mais jamais il n’est questi-on d’une urbanité prenant place ausein de la nature.

La candidature de Rio de Jane-iro est finalement présentée dans la

196 URBAN CULTURE IN ACTION

Vejamos, então, como esse tra-balho foi realizado, desde a primei-ra tentativa em 2001 até a última em2011, e como essas escolhas foraminfluenciadas pelo contexto de mar-keting urbano, de um modo geral.

Histórico das candidaturas

Desde o início de sua elaboração em2001, a candidatura do Rio de Janei-ro à Lista do Patrimônio Mundialda UNESCO é uma oportunidadepara discussões sobre as diretrizesque devem ser seguidas: entre sítiocultural (seção paisagem cultural)ou sítio misto. A equipe responsá-vel pela nomeação, então compostade pessoas do município, do gover-no federal e do Ministério do MeioAmbiente, tomou rapidamenteconsciência da singularidade da ci-dade do Rio de Janeiro, resultadode uma sobreposição entre a urba-nidade e a natureza. Nenhum sítio,até então registrado na lista do Pa-trimônio Mundial da Cultura, nacategoria de paisagem cultural, temesta característica. Os critérios pa-recem considerar somente as paisa-gens modificadas pelo homem oupor razões econômicas (Por exem-plo paisagem vinícola da Jurisdiçãode Saint Emilion / França ou a Que-brada de Humahuaca / Argentina),ou por motivos religiosos (Porexemplo, o Monte Wutai, uma dasquatro montanhas sagradas do bu-dismo / China), mas nunca foi ques-tão de urbanidade no seio danatureza.

A candidatura do Rio de Ja-neiro é finalmente apresentada na

catégorie site mixte. Elle inclue unezone composée d’éléments naturels(une partie du parc national de la Ti-juca avec notamment la statue duChrist rédempteur, et le Pain de su-cre) et s’articule autour d’un dis-cours orienté sur la notion depaysage culturel. Elle souffre doncd’un manque de cohérence entre lesidées présentées et la zone proposée.

De plus, les problèmes envi-ronnementaux (pollution de la La-goa Rodrigo de Freitas ou de la Baiede Guanabara) et sociaux (violenceurbaine, favelas non pacifiées situ-ées sur les versants du parc) exis-tants excluent de fait certaineszones sous peine de fragiliser consi-dérablement le dossier de candida-ture. Ces exclusions brisent l’uniténécessaire à la compréhension dupaysage culturel carioca.

En outre, la candidature élabo-rée par le ministère de l’environne-ment, est transmise par le ministèrede la culture. Ce qui ajoute à la confu-sion du dossier, des problèmes admi-nistratifs de tout ordre.

L’ensemble de ces aspectsdommageables entrainent un rejetde la part de l’IUCN22 (chargé del’expertise de la partie naturelle descandidatures) ainsi qu’un différé dela part de l’ICOMOS23 (chargé del’expertise de la partie culturelle descandidatures).

En 2004, dès réception descritiques et remarques de l’IUCNet de l’ICOMOS, une seconde

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 197

categoria sítio misto. Ela inclui umaárea composta de elementos natu-rais (parte do Parque Nacional daTijuca, incluindo a estátua do CristoRedentor, e o Pão de Açúcar) e se ar-ticula em torno de um discurso ori-entado para o conceito de paisagemcultural. Por isso, sofre com a faltade coerência entre as idéias apre-sentadas e a área proposta.

Além disso, os problemasexistentes ao nível ambiental (po-luição da Lagoa Rodrigo de Frei-tas e da Baía de Guanabara) esocial (violência urbana, favelasnão pacificadas localizadas nasencostas do parque) excluem, en-tão, algumas áreas existentes, sobpena de enfraquecer significativa-mente o dossiê de candidatura.Essas exclusões quebram a unida-de necessária para compreender apaisagem cultural carioca.

Além disso, a candidatura de-senvolvida pelo Ministério do MeioAmbiente, é transmitida pelo Mi-nistério da Cultura, o que adicionaà confusão da candidatura, proble-mas administrativos de todaespécie.

Todos estes aspectos prejudi-ciais levam a uma rejeição pelaIUCN (responsáveis ??pela períciada parte natural) e um atraso porparte do ICOMOS (responsávelpela perícia da parte cultural dacandidatura).

Em 2004, após o recebimentodas críticas e opiniões da IUCN e

22 International Union for Conservation of Nature.23 International Council on Monuments and Sites.

candidature est élaborée par desfonctionnaires de l’IPHAN sous ladirection du ministère de la cultu-re. Mais le travail se limite à unesimple re-délimitation de la zonegéographique proposée sans re-penser la philosophie de la candi-dature. De plus, de profondesdivergences politiques entre lamairie, l’Etat et le gouvernementfédéral entrainent à nouveau unmanque de cohérence politiquequi empêche la finalisation de cet-te seconde candidature.

Sous l’impulsion de person-nalités institutionnelles convaincu-es du potentiel de la “CidadeMaravilhosa”24 à intégrer la liste dupatrimoine mondial, une toute der-nière équipe, est constituée fin 2008,et chargée d’établir un nouveaudossier de candidature pour postu-ler dans la catégorie site culturel entant que paysage culturel.

Contexte de la nouvellecandidature

Capitale du Brésil depuis la procla-mation de l ’ indépendance(07/09/1922), Rio de Janeiro se voitdépossédée de son statut politiqueau profit de Brasilia, le 20 avril 1960.Au lendemain de cette journée siparticulière, l’incertitude qui pèsesur la ville de Rio de Janeiro contri-bue à mettre à nu son identité; laperte du rôle de capitale entraine laperte d’un repère autour duquell’identité carioca s’est forgée mais

198 URBAN CULTURE IN ACTION

da ICOMOS, uma segunda candi-datura é elaborada por funcionári-os do IPHAN, sob a liderança doMinistério da Cultura. Mas o tra-balho está limitado a uma simplesre-demarcação da área geográficaproposta sem repensar a filosofiada proposição. Além disso, pro-fundas diferenças políticas entre aPrefeitura, o Estado e o GovernoFederal conduzem novamente auma falta de coerência políticaque impede a conclusão desta se-gunda candidatura.

Estimulado por personalida-des institucionais convencidas dopotencial da “Cidade Maravilhosa”para integrar a Lista do PatrimônioMundial, uma última equipe éconstituída no final de 2008 e encar-regada de estabelecer uma novacandidatura para postular na cate-goria sítio cultural como paisagemcultural.

Contexto da nova candidatura

Ca pi ta l do Bras i l desde adeclaração da independência(07/09/1822), Rio de Janeiro se vêdestituído do seu estatuto políticoem benefício de Brasília, em 20 deabril de 1960. No dia seguinte, aincerteza que ronda sobre a cidadedo Rio de Janeiro contribuiu paraexpor sua identidade, a perda dopapel de capital leva à perda deum marco em torno do qual a iden-tidade carioca foi forjada, masparadoxalmente, impulsiona a

24 La ville de toutes les merveilles

paradoxalement, elle impulse laréaffirmation d’une identité cariocaet la reconstruction d’une “ géo-graphie intime carioca ”25. Malgré laperte de ce rôle historique, Rio meten valeur ses atouts culturels et con-serve ainsi son rayonnement.

Après 50 ans d’éloignement, legouvernement fédéral se réinvestitdans les projets de “ A Cidade Mara-vilhosa ”, afin que cette ville devien-ne une capitale culturelleinternationale et attire à nouveau lesregards. Parmi tous les grands chan-tiers lancés, nous pouvons citer desévènements culturels de grande am-pleur tel “ Rock in Rio26 ”, “FashionRio27 ” ou le film “ Rio28 ” ainsi quedes évènements sportifs internatio-naux tels que la coupe du monde defootball en 2014, les jeux olympiquesd’été en 2016 ou plus récemment lesjeux olympiques militaires en 2011.Un panel d’évènements culturels etsportifs qui s’accompagned’importants projets urbains, socia-ux ou environnementaux comme leprogramme “ choque de ordem”,29

“Porto Rio”30 ou la dépollution deLagoa, de la baie de Guanabara et au-tres affluents, rivières…etc.

Rio de Janeiro bénéficie ausside la courbe ascendante du Brésil,qui se positionne désormais commeune nation émergente participant

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 199

reafirmação de uma identidadecarioca e reconstrução de uma“geografia carioca íntima. ” Ape-sar da perda de seu papel históri-co, Rio valoriza seus valoresculturais e mantém sua influência.

Após 50 anos de afastamento,o governo federal reinvestiu nosprojetos de “A Cidade Maravilho-sa”, de modo a que a cidade se tor-nasse uma capital culturalinternacional e mais uma vez estachama a atenção. De todos os gran-des projetos lançados, podemos ci-tar os eventos culturais de grandeimpacto, como “Rock in Rio”, “Fas-hion Rio” ou o filme “Rio”, bemcomo eventos desportivos interna-cionais, como Copa do Mundo defutebol em 2014, Jogos Olímpicosde Verão em 2016 e, mais recente-mente, os Jogos Olímpicos militaresem 2011.

Um painel de eventos cultu-rais e desportivos acompanhadosde grandes projetos urbanos, so-ciais ou ambientais, tais como o“choque de Ordem”, “Porto Rio”ou a despoluição da Lagoa, daBaía de Guanabara e outros aflu-entes, os rios etc.

Rio de Janeiro também bene-ficia da curva ascendente do Bra-sil, que está agora posicionada

25 VIDAL Laurent, Les larmes de Rio, Paris, Flammarion, 2009, p188.26 Festival international de musique, originaire de Rio, ayant lieu depuis 1985.27 Evènement annuel de mode organisé par Paulo Borges.28 Film d’animation réalisé par Carlos Saldanha en 2011.29 ” Choc de l’ordre “ est un programme qui cherche à réaffirmer l’autorité publique dans

tous les domaines. Il travaille notamment à la pacification des favelas.30 Projet de rénovation de la zone portuaire de la ville pour accueillir entre autre une partie

des équipements des J. O. de 2016.

aux grandes décisions planétaires.Par ailleurs, la réflexion menée

par les milieux intellectuels, depuisles années 2000 sur la question dupaysage culturel se médiatise. Ainsi,diverses revues qui traitent des ques-tions de paysage paraissent comme “Gerais do Rio”,31 des associations quiproposent des parcours de découver-te du paysage carioca comme Rotei-ros Geograficos32 voient le jour. Lesimages télévisées et les différentssupports publicitaires ne cessent dese référer au paysage de Rio. Uneomniprésence de la marque Rio deJaneiro s’impose à tous les brésilienspouvant laisser croire qu’être brésili-en se résume au fait d’être carioca.

Tous ces aspects contribuent àla création d’un imaginaire qui devi-ent le support des nouvelles stratégi-es politiques et urbaines; il s’agit d’uncontexte de marketing urbain.

Comme nous l’avons vu précé-demment, les deux premières candi-datures avaient été élaborées dans uncontexte politique chaotique, à uneépoque où la ville souffraitd’importants problèmes environne-mentaux et sociaux. Aujourd’hui,nanti de ces grands projets portés parl’essor économique, culturel et politi-que du pays, la candidature de la vil-le de Rio de Janeiro au patrimoinemondial de l’UNESCO, s’inscrit dansune politique plus ambitieuse; unepolitique qui relève de la volonté de

200 URBAN CULTURE IN ACTION

como uma nação emergente parti-cipando das decisões importantesglobais.

Notemos, também, que as re-flexões desenvolvidas nos meios in-telectuais, a partir da década de2000, sobre a questão da paisagemcultural são mediatizadas. Assim,várias revistas que tratam de ques-tões de paisagem aparecem como“Gerais do Rio”, associações queoferecem passeios de descoberta dapaisagem carioca como Roteiros ge-ográficos, emergem. Imagens de te-levisão e os diversos meios depublicidade continuam a se referirà paisagem do Rio de Janeiro. Oni-presença da marca Rio de Janeiroque se impõe a todos os brasileirossugerindo que ser brasileiro se re-sume a ser carioca.

Todos estes aspetos contribu-em para a criação de um imaginárioque torna-se o suporte para novasestratégias políticas; trata-se de umcontexto de marketing urbano.

Como vimos, as duas primei-ras candidaturas foram desenvol-vidas em um caos político nomomento em que a cidade sofriasérios problemas ambientais e so-ciais. Hoje, enriquecida por essesgrandes projetos apoiados pelodesenvolvimento econômico, cul-tural e político do país, a candida-tura da cidade do Rio de Janeiro aoPatrimônio Mundial da UNESCO,

31 Gerais do Rio, revue trimestrielle mis en place depuis début 2011 par la journaliste FafateCosta

32 Roteiros Geograficos est un projet de l’université de l’état de Rio de Janeiro proposant desvisites gratuites de la ville à pied, guidées par un enseignant en géographie (voir le lien:http: //roteirosgeorio. wordpress. com/)

marchandisation de Rio de Janeiroaussi bien à l’échelle nationalequ’internationale.

Ce nouveau contexte dans le-quel s’inscrit la dernière candidaturevient constituer un ensemble cohé-rent, homogène qui accentue le poidsde chacun des éléments le compo-sant. La candidature, comme ingré-dient indispensable de cettepolitique de marchandisation, n’enest que plus solide et évidente. Elleprend désormais une dimension quidépasse la simple volonté de recon-naissance des spécificités culturelles.

Dans cette politique de mar-chandisation de la ville de Rio,l’obtention du label UNESCO seraità la fois une reconnaissance inter-nationale des spécificités culturel-les cariocas mais aussi la possibilitéd’assurer une gestion respectueusede la ville face aux bouleversementsurbains qu’entrainent des évène-ments comme la coupe du mondede football ou les jeux olympiques.

La candidature présente doncce double aspect d’être à la fois uneparade éventuelle aux effets de lamondialisation (en permettant uncontrôle des conséquences urbai-nes de l’accueil d’évènements inter-nationaux) ainsi qu’un outil pourcette mondialisation (reconnaissan-ce à l’échelle internationale).

Après avoir constaté de quellemanière la candidature de Rio deJaneiro s’inscrit dans une logiquede marketing urbain, nous allonsvoir comment le processusd’élaboration de la candidaturerelève, également de règles du jeuédictées par le marketing urbain.

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 201

faz parte de uma política mais am-biciosa; política que vem do desejode mercantilização do Rio de Jane-iro tanto no âmbito nacional comointernacional.

Este novo contexto no qual a úl-tima candidatura está inscrita formaum tudo coerente, homogêneo queaumenta o peso de cada um dos ele-mentos componentes. A candidatu-ra, como ingrediente indispensáveldesta política de comercialização, éainda mais sólida e clara. Ela agoratoma uma dimensão que vai além dodesejo de reconhecimento das espe-cificidades culturais.

Nesta política de mercantili-zação da cidade do Rio, a obtençãodo título da UNESCO seria, ao mes-mo tempo, um reconhecimento in-ternacional das especificidadesculturais cariocas, mas também aoportunidade de garantir uma ges-tão sã da cidade, face a transfigura-ções urbanas causadas por eventoscomo a Copa do Mundo de futebolou os Jogos Olímpicos.

A candidatura, portanto, temo duplo aspeto de ser tanto um es-cudo possível aos efeitos da globali-zação (permitindo o controle dasconseqüências urbanas de sediareventos internacionais) e uma fer-ramenta para esta globalização (re-conhecimento internacional).

Depois de constatar a formacomo a candidatura do Rio de Janei-ro está inscrita numa lógica de mar-keting urbano, veremos como oprocesso de elaboração da candida-tura também está inscrito nas re-gras estabelecidas pelo marketingdo urbano.

Emballage _ ou comment cons-truire un discours collectif

Les acteurs de cette nouvelle candi-dature relèvent d’institutions -allantde l’IPHAN au PARNA33 en passantpar différents services de la mairie(urbanisme, tourisme…) — et sontrépartis entre un comité institution-nel, un comité exécutif, un comitétechnique et une équipe technique.Cette dernière est constituéed’architectes, de géographes,d’anthropologues et de paysagistesqui sont en charge de l’élaborationmême du dossier.

Le premier travail consistedans la reformulation de la philo-sophie de la candidature, pour le-quel, sans faire table rase, l’équipecommence par reprendre les précé-dents dossiers; le second travails’attache à la constitution formelledu dossier de cette candidature.

Avec l’objectif très claird’intégrer la liste du patrimoinemondial de l’UNESCO et conscientedu temps très court dont elle dispose,l’équipe opte pour la formalisationd’un dossier se basant exclusivementsur les critères donnés parl’UNESCO.34 Pour préparer cette tâ-che, elle consulte des candidaturesprésentées par d’autres pays, auxproblématiques proches de celles deRio de Janeiro. L’idée étant de com-prendre comment d’autres dossierssont parvenus à s’intégrer dans la vi-sion qu’a l’UNESCO de ses propres

202 URBAN CULTURE IN ACTION

Embalagem ou como construirum discurso coletivo

Os atores desta nova candidaturasão oriundos de instituições — quevão desde o PARNA até o IPHANatravés de vários departamentos domunicípio (planejamento urbano,turismo…) — e estão divididos en-tre um comitê institucional, umacomissão executiva, uma comissãotécnica e uma equipe técnica. Esteúltimo é composto por arquitetos,geógrafos, antropólogos e paisagis-tas que são responsáveis pela elabo-ração do dossiê.

O primeiro trabalho consistena reformulação da filosofia dacandidatura, para o qual, sem par-tir do zero, a equipe começa reto-mando os dossiês anteriores, osegundo trabalho concerne a cons-tituição formal do dossiê dessacandidatura.

Com o claro objetivo de inte-grar a Lista do Patrimônio Mundialda UNESCO e consciente do poucotempo do qual dispõe, a equipe op-tou pela formalização dum dossiêcom base unicamente nos critériosdados pela UNESCO. Para prepa-rar esta tarefa, ela consulta as candi-daturas apresentadas por outrospaíses, com questões semelhantesàs do Rio de Janeiro.

Aidéia é entender como as ou-tras candidaturas foram capazes dese encaixar na visão que a UNESCOtem dos seus próprios conceitos e,

33 Parc National de La Tijuca34 UNESCO, http: //whc. unesco. org/fr/criteres, consulté le 15 avril 2012

concepts et, avant tout celui de pay-sage culturel. Un concept subtil dontles interprétations varient selon lespersonnes, les pays ou lesinstitutions.

Le concept de paysage cultu-rel est donc l’idée maitresse qui apermis l’élaboration du dossier decandidature; et, bien qu’au Brésil,depuis les années 2000 une réflexi-on se soit engagée pour préciser cequ’est un paysage culturel, c’est lavision de l’UNESCO qui prédomi-ne. Commence alors un délicat tra-vail de sélection qui doit répondre àla fois aux exigences de l’UNESCOet aux impératifs d’un marketingurbain, tout en respectant ce qui ca-ractérise l’identité même de la villede Rio pour ses habitants.

Pour l’équipe technique, la dif-ficulté va résider dans ce va et viententre, d’une part des critères interna-tionaux stricts et, d’autre part unephilosophie de candidature particu-lière inspirée des spécificitéscariocas.

Quelle est la singularité de Rioqui lui permet d’être universelle-ment reconnue? Comment délimi-ter la zone qui sera proposée àl’inscription sur la liste du patrimo-ine mondiale de l’UNESCO Unedélimitation qui pose également laquestion de ce qui est exclu.

Le premier “ recorte”35 a été faitpar l’équipe technique (avec validati-on des membres du comité techni-que) dans l’esprit de la relation entrepaysage et culture. Le second a été

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 203

acima de tudo, o de paisagem cultu-ral. Um conceito sutil cujas inter-pretações variam entre indivíduos,países ou instituições.

O conceito de paisagem cultu-ral é a idéia-chave que permitiu a ela-boração da candidatura e, embora noBrasil, desde a década de 2000 se te-nha iniciado uma reflexão para defi-nir o que é uma paisagem cultural, é avisão da UNESCO que predomina.Assim começa um delicado trabalhode seleção que deve atender tanto asexigências da UNESCO como as exi-gências de um marketing urbano,respeitando o que caracteriza a iden-tidade da cidade do Rio para seushabitantes.

Para a equipe técnica, o desa-fio consistirá nesse vai-e-vem entrede um lado os rigorosos critérios in-ternacionais e, do outro lado, a filo-sofia de candidatura inspirada nasespecificidades cariocas.

Qual é a singularidade doRio que lhe permite ser universal-mente reconhecido? Como definira área a ser proposta para inscri-ção na Lista do Património Mun-d i a l da UNESCO? Umadelimitação que questiona igual-mente sobre aquilo que é excluído.

O primeiro recorte foi feitopela equipe técnica (com a valida-ção dos membros da comissão téc-nica) no espírito da relação entrepaisagem e cultura. O segundo foifeito em colaboração com consul-tores estrangeiros especialistasmandatados pela UNESCO.

35 ” Découpe “ en portugais

fait en collaboration avec des consul-tants spécialistes étrangers mandatéspar l’UNESCO.

Les cartes extraites des dossi-ers de candidature précédentsmontrent l’évolution des territoiresinclus puis exclus. Ainsi certains li-eux ont systématiquement été ex-clus des candidatures successives(stade de Maracana, quartier de La-goa, quartier de la Lapa) tandis qued’autres sont des choix permanents(Pain de sucre, parc national de laTijuca, Jardin Botanique).

Concernant le dernier dossierde candidature, et suite au premier “recorte ”, la zone incluait la qua-si-totalité de la ville ainsi que les élé-ments naturels autour desquels elles’est développée. Cependant, devantl’évidence qu’une telle délimitationne répondrait pas aux critères del’UNESCO; un travail de négociationa commencé avec l’aide de consul-tants au cours d’une réunion en 2009.L’objectif de ce travail fût de réduirela zone présentée à l’UNESCO touten conservant l’essence même del’identité urbaine de la ville. Ce trava-il a été l’occasion de longs débats surla notion de patrimoine; débats quicherchaient essentiellement à définirla notion de paysage culturel enquestionnant la possibilité d’y inclu-re du tissu urbain. S’est posé, parexemple, la question des favelas: si-tuées sur les versants du parc natio-nal de La Tijuca ou sur le mont deBabilonia, elles pouvaient fortementcompromettre le succès de la candi-dature en tant qu’urbanisation nonofficielle. Alors même qu’elles repré-sentent un élément indéniable du

204 URBAN CULTURE IN ACTION

Os mapas extraídos dos dos-siês de candidatura acima mostrama evolução dos territórios incluídose depois excluídos. Assim, algunslugares foram sistematicamente ex-cluídos das candidaturas sucessi-vas (estádio do Maracanã, bairro daLagoa, bairro da Lapa), enquantooutros são uma escolha permanen-te (Pão de Açúcar, Parque Nacionalda Tijuca, Jardim Botânico).

No que concerne à última can-didatura e após o primeiro “Recor-te”, a área incluía quase toda acidade e os elementos naturais emtorno do qual ela se desenvolveu.No entanto, dada a evidência deque tal definição não satisfaz os cri-térios da UNESCO, um trabalho denegociações se iniciou com a assis-tência dos consultores durante umareunião em 2009. O objetivo destetrabalho foi reduzir a área apresen-tada na UNESCO, mantendo a es-sência da identidade urbana dacidade. Este trabalho foi a ocasiãode um longo debate sobre o concei-to de patrimônio, debates que bus-cavam principalmente definir oconceito de paisagem cultural,questionando a possibilidade de in-cluir o tecido urbano.

Surgiu, por exemplo, a ques-tão das favelas: situada nas encos-tas do Parque Nacional da Tijucaou no Monte Babilônia, poderiamafetar grandemente o sucesso daproposta como urbanização nãooficial. Mesmo se elas representamum elemento inegável da paisa-gem cultural carioca. Podemostambém citar o bairro da Urca, lo-calizado aos pés do Pão de Açúcar

paysage culturel carioca. Nous pou-vons également citer le quartier de laUrca, implanté au pied du Pain desucre et faisant déjà parti du patrimo-ine national en tant qu’ensemble ur-bain et architectural représentatifd’une période d’expansion de la villesur la mer.

Depuis ses origines, la naturefait partie intégrante de la ville. Pourles cariocas, ce n’est pas la nature oula ville qui est à patrimonialiser maisbien la relation qui les lie. Une relati-on qui s’est instaurée depuis l’arrivéedes premiers européens (culture ducafé, reforestation de la forêt de la Ti-juca, création de Copacabana, duparc Flamengo) et qui est devenueune grande source d’inspirationdans la musique et la littérature.

Bien que les professionnelschargés de l’élaboration de la candi-dature soient intimement convain-cus que ce qui fait patrimoine à Rione se réduit donc pas à ses monts etson pain de sucre mais résulte réelle-ment de l’interaction de cette natureavec la vie urbaine, ils ne purent dé-roger au critère d’une nature exemp-te d’urbanisation. C’est ainsi quesuite à la réunion avec les consultantsinternationaux, la zone a été considé-rablement réduite aux parties de laville ne présentant pas de constructi-ons. Ces territoires de la ville ont étéexclues du périmètre non parcequ’ils n’avaient aucune valeur patri-moniale au regard des brésiliensmais parce que les critères del’UNESCO ne permettaient pas deles prendre en compte.

Depuis 2001, date de la premiè-re candidature, Rio de Janeiro est

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 205

e que já faz parte do patrimônio na-cional como conjunto urbano e ar-quitetônico, representativo de umperíodo de expansão da cidade so-bre o mar.

Desde suas origens, a nature-za é parte integrante da cidade.Para os cariocas, não é a natureza oua cidade que tem que ser patrimô-nio mas a relação entre elas. Umarelação que se desenvolveu desde achegada dos europeus (o cultivo docafé, reflorestamento da Tijuca, acriação de Copacabana, Parque doFlamengo) e tornou-se uma grandefonte de inspiração na música eliteratura.

Embora os profissionais res-ponsáveis pela elaboração da can-didatura estejam firmementeconvencidos de que o que faz o pa-trimônio do Rio não se reduz àssuas montanhas e seu pão de açú-car, mas na verdade resulta da inte-ração dessa natureza com a vidaurbana, eles não poderiam escapara exigência duma natureza livre deurbanização.

Assim, após a reunião comconsultores internacionais, a áreafoi significativamente reduzida àspartes da cidade sem edifícios.Essas áreas da cidade foram excluí-das do âmbito da candidatura nãoporque não tinham valor patrimo-nial para os brasileiros, mas porqueos critérios da UNESCO não permi-tia levá-los em conta.

Desde 2001, data da primeiracandidatura, o Rio de Janeiro man-teve-se sempre o mesmo, com umapaisagem cultural praticamenteinalterada. No entanto, o contexto

toujours restée la même, avec unpaysage culturel quasiment inchan-gé. En revanche, le contexte aussibien locale que national et internatio-nal a considérablement évolué et leregard porté par l’UNESCO etd’autres professionnels du patrimoi-ne sur ce paysage culturel également.Par exemple, le cas du PARNA, pré-sent dès la première candidature en2001, a vu sa gestion largement évo-luer en 10 ans et il a été présentéd’une façon différente en 2011 de ma-nière à mettre en valeur l’aspect cul-turel du parc dans sa relation avecl’homme et la ville.

C’est la raison pour laquelle jeparle d’ “ emballage ”; emballagedans le sens d’une standardisationdu produit (obtenue par une redé-coupe) et du discours, pour répon-dre à des cri tères d’échel leinternationale. Le produit reste lemême, bien qu’il doive se contrain-dre à un conditionnement.

Persistance de l’ame carioca

L’identité brésilienne est riche d’unetrès grande diversité, fruit de sa cons-titution spatio-temporelle depuis lacolonisation portugaise. Cette histoi-re a généré un patrimoine d’une trèsgrande variété et les politiques patri-moniales brésiliennes doivent acqué-rir une souplesse, qui puisse enassurer la reconnaissance. Le texte del’IPHAN portant sur le paysage cul-turel en est le dernier exemple. Ce-pendant, l’interprétation que fontl’IPHAN et l’UNESCO de cette noti-on, diffère. Nous sommes en présen-ce de deux interprétations bien

206 URBAN CULTURE IN ACTION

local, nacional e internacional mu-dou consideravelmente e o olhar daUNESCO e de outros profissionaisdo patrimônio sobre essa paisagemcultural também. Por exemplo, oPARNA, presente desde a primeiracandidatura em 2001, viu sua ges-tão mudar muito em 10 anos e foiapresentado de uma maneira dife-rente em 2011, de modo a melhoraro aspecto cultural do parque, emsua relação com o homem e acidade.

É por isso que eu falo de “em-balagem” no sentido da padroni-zação do produto (obtido porcortes) e do discurso, para cum-prir os critérios internacionais. Oproduto permanece o mesmo, em-bora deva ser forçado a um condi-cio- namento.

Persistência da alma carioca

A identidade brasileira é rica deuma grande diversidade, resultadoda sua constituição no espaço e notempo desde a colonização portu-guesa. Esta história tem geradouma grande variedade no patrimô-nio e as políticas patrimoniais brasi-leiras precisam desenvolver umaflexibilidade, para poder asseguraro seu reconhecimento. O texto doIPHAN sobre a paisagem cultural éo mais recente exemplo. No entan-to, a interpretação pelo IPHAN epela UNESCO diferem. Nós temosduas interpretações distintas emiti-das pelos dois continentes (Améri-ca e Europa), cujas herançasculturais específicas influenciam napercepção do patrimônio.

distinctes émises par deux continents(l’Amérique latine et l’Europe) dontles héritages culturels particuliers in-fluent sur la façon d’envisager le con-cept de patrimoine.

Notons que, l’UNESCO aadopté récemment (novembre 2011)une nouvelle recommandation per-mettant l’élargissement de son inter-prétation du concept de paysageculturel. Néanmoins le débat fût longquant à l’orientation que devait pren-dre cette ouverture du concept entredes valeurs dites européennes et desvaleurs relevant d’autres continents.Nous percevons toute la difficultépour une institution internationalequi souhaite être l’ambassadrice detoutes les cultures d’en intégrer lesspécificités alors que ses conceptssont issus d’une culture localisée.

Ces incompréhensions ont en-trainé le rejet de la candidature en2003 puis l’avortement de celle de2004. Loin de s’avouer vaincu, leBrésil et plus particulièrement Riode Janeiro a pris conscience de saréelle spécificité à partir de laquelleil a monté une nouvelle réflexion.Influencée par un contexte politi-que, économique et culturel dyna-mique, cette réflexion a abouti à lamise en place de la dernière candi-dature de 2011 qui s’inscrit pleine-ment dans les nouvel lesorientations de marchandisation deRio.

Bien que cette logique de mar-chandisation urbaine à l’échelle in-ternationale impose une forme destandardisation, les cariocas sontconscients de ce qui constituel’originalité de leur patrimoine.

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 207

Notemos que a UNESCOestá trabalhando em uma nova re-comendação para a expansão dasua interpretação do conceito depaisagem cultural. No entanto, odebate ainda não está fechadoquanto à direção a ser tomada nes-sa abertura do conceito entre valo-res chamados europeus e valorespertencentes a outros continentes.Vemos a dificuldade desta institu-ição internacional, que pretendeser um embaixador de todas asculturas, para integrar as especifi-cidades, quanto seus conceitos sãoo r i g inár ios de uma cul turalocalizada.

Esses desentendimentos le-varam à rejeição da proposta de2003 e ao aborto da de 2004. Longede admitir a derrota, o Brasil e, es-pecialmente, o Rio de Janeiro tor-nou-se consc iente da suaespecificidade real, a partir da qualele desencadeou uma nova refle-xão. Influenciado por um contextopolítico, econômico e cultural di-nâmico, essa nova reflexão propor-cionou a elaboração de uma novacandidatura em 2011, que se inte-gra totalmente nos novos rumos demercantilização do Rio.

Embora a lógica da mercanti-lização urbana internacional im-põe uma forma de padronização,os cariocas estão conscientes doque constitui a originalidade doseu patrimônio. Assim, uma outracandidatura da cidade do Riocomo paisagem cultural, mas des-ta vez a nível nacional, está em an-damento. Uma candidatura para aqual a paisagem cultural do Rio

Ainsi, une autre candidature de laville de Rio en tant que paysage cul-turel, mais cette fois-ci à l’échelle na-tionale, est en cours. Unecandidature pour laquelle, le paysa-ge culturel de Rio ne sera pas tributa-ire d’une rationalisationinternationale.

Quant à l’admission de la villede Rio sur la liste du patrimonialmondial de l’UNESCO en tant quepaysage culturel, elle serait un précé-dent pour les territoires similaires enactant la reconnaissance d’une nou-velle forme de paysage culturel, pro-duit de la symbiose entre ville, natureet usagé.

Conclusion

Le processus de formalisation dudossier de candidature de la ville deRio de Janeiro au patrimoine mon-dial de l’UNESCO et plus particu-lièrement le travail de délimitationde la zone géographique à incluredans cette candidature révèle toutel’ambiguïté de la notion de patrimo-ine entre valeurs locales et interna-t ionales , entre défense desspécificités et homogénéisation.

Une fois entrées dans le jeu dela marchandisation des territoires,les politiques de patrimonialisations’emparent de la question de la vale-ur des espaces urbains. Elles les réin-terprètent, les façonnent, lesemballent afin de les rendre attractifsselon les principes du marketing ur-bain. Un processus qui exclue les po-pulations locales à l’origine de laspécificité de ces territoires patrimo-nialisés et incline vers

208 URBAN CULTURE IN ACTION

não está sujeita a uma racionaliza-ção internacional.

Quanto à admissão da cidadede Rio na lista de patrimônio mun-dial da UNESCO como paisagemcultural, seria um precedente paraos territórios similares ao proporci-onar o reconhecimento de umanova forma de paisagem cultural,produto da simbiose entre a cidade,a natureza e os usuários.

Conclusão

O processo de formalização dacandidatura da cidade do Rio deJaneiro ao Patrimônio Mundial daUNESCO e, em particular, o traba-lho de demarcação da área geográ-f i c a a ser inc lu ído nes tacandidatura revela a ambigüida-de da noção de patrimônio entrevalores locais e internacionais, en-tre defesa das especificidades ehomogeneização.

Uma vez inseridas no jogo damercantilização dos territórios, aspolíticas territoriais de patrimoni-alização se apropriam da questãodo valor dos espaços urbanos, re-interpretando, formatando e em-balando para torná-los atraentesde acordo com os princípios domarketing urbano. Um processoque exclui as populações locais,origem das especificidades dosterritórios patrimonializados, evoltado para a padronização daspráticas culturais em detrimentode suas diferenças. A integraçãor e s pe i tosa des tas cu l turasnão-ocidentais na paisagem cultu-ral mundial parece difícil aos

l’uniformisation des pratiques cultu-relles aux détriments de leurs diffé-rences. Une intégration respectueusedans le paysage culturel mondial deces cultures non occidentalisées sem-ble délicate au regard de conceptsculturels internationaux dont la rigi-dité des cadres rend difficile uneadaptation à des modalités différen-tes d’organisation spatiale ettemporelle.

Se pose alors la question du de-venir des pratiques sociospatiales etculturelles exclues de l’emballage etrepoussées aux marges d’une patri-monialisation désormais conçuecomme un produit de marketing ur-bain et s’appuyant sur des valeurseuropéennes. Car comme l’écrit Cla-ude Lévi-Strauss: “ La civilisationmondiale ne saurait être autre choseque la coalition, à l’échelle mondiale,de cultures préservant chacune sonoriginalité.”36

A l’ opposé d’un combat contrecette culture de masse, il serait plusbénéfique de privilégier un combatpour la reconnaissance de ces cultu-res autres37. Je terminerai donc en ci-tant quelques travaux illustrant cetteidée d’un combat pour une préserva-tion active des spécificités culturelles;un combat pour une reconnaissancedes spécificités culturelles; un com-bat pour le respect de ces culturesproduites par chacun des habitants.

Ainsi, Marcus Vinicius Fausti-ni (directeur de théâtre, cinéaste etactuel secrétaire de la culture de

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 209

olhos dos conceitos culturais in-ternacionais, cuja rigidez das es-truturas torna complicada aadaptação às diferentes regras deorganização espacial e temporal.

Isso levanta a questão do futu-ro das práticas sócio-espaciais e cul-turais excluídas do pacote eempurradas para as margens deuma patrimonialização, agora vistacomo um produto de marketing ur-bano e concebido a partir de valoreseuropeus. Pois, como escreve Clau-de Levi-Strauss: “A civilizaçãomundial não pode ser outra coisasenão a coalizão, global, das cultu-ras, cada uma preservando suaoriginalidade”.

Em oposição à luta contra acultura de massa, seria mais pro-dutivo se concentrar em uma lutapara o reconhecimento de outrasculturas. Termino, citando algunstrabalhos que ilustram a idéia deuma luta ativa para a preservaçãodas especificidades culturais; umaluta para o reconhecimento das es-pecificidades culturais, uma lutapelo respeito destas culturas pro-d u z idas por cada um doshabitantes.

Assim, Marcus Vinicius Fa-ustini (diretor teatral, cineasta eatual secretário da cultura deNova Iguaçu) defende a idéia deuma cultura onde as pessoas nãosejam apenas receptores mas,acima de tudo, operadores; ondea cultura é o resultado dos

36 Claude LEVI-STRAUSS, Race et histoire. Saint Amand: DENOEL, 1987, p77.37 Françoise CHOAY, Le patrimoine en questions, anthologie pour un combat, pXLIX.

Nova Iguaçu) défend l’idée d’uneculture où les habitants ne seraientpas que des récepteurs mais avanttout, des opérateurs; où la cultureest bien le fruit des individus et nonpas le résultat d’un flux hiérarchi-que vertical du haut vers le bas.38

Idées qu’il développe dans diversprojets comme l’école libre de théâ-tre de Santa Cruz, l’école libre de ci-néma de Nova Iguaçu ou le projetReperiferia.

Le laboratoire de cartographies in-surgées39 est un évènement qui a re-groupé des chercheurs, artistes, etmouvements sociaux début septem-bre 2011 à Rio, pour imaginer et pro-duire des cartes critiques et affectivesde la ville face à l’émergence d’unenouvelle gouvernance globale desvilles et aux conséquences urbainesde l’accueil de méga évènements.

Le travail de photographie réa-lisé par l’artiste Christina Ribas40

cherche à retrouver des traces des ex-pressions graphiques auparavantprésentes sur les murs des favelas etaujourd’hui effacées dans le cadred’une régularisation des ces urbani-sations informelles. Elle a égalementmis en place un site internet (http://desarquivo. org/) dont l’objectif estde créer une plateforme en lignepour accueillir et diffuser tout docu-ment portant sur la production artis-tique au Brésil.

Ces quelques exemples de tra-vaux de recherche menés dans le

210 URBAN CULTURE IN ACTION

indivíduos e não o resultado dumfluxo hierárquico vertical, de cimapara baixo. Idéias que ele desen-volveu em vários projetos taiscomo a escola livre de teatro emSanta Cruz, a escola livre de cine-ma de Nova Iguaçu ou o projetoReperiferia.

O “Laboratório de Cartogra-fias Insurgentes” é um evento quereuniu pesquisadores, artistas emovimentos sociais no início desetembro de 2011, no Rio, paraprojetar e produzir mapas críticase emocionais da cidade, face aosurgimento de uma nova gover-nança mundial das cidades e asconseqüências urbanas de sediarmegaeventos.

O trabalho de fotografia daartista Christina Ribas procura en-contrar traços das expressões grá-ficas antes presentes nas paredesdas favelas e agora apagadascomo parte de uma regularizaçãoda urbanização informal. Ela tam-bém criou um site (http: //desar-quivo. org/) cujo objetivo é criaruma plataforma on-line para rece-ber e divulgar qualquer documen-to sobre a produção artística noBrasil.

Esses poucos exemplos depesquisas realizadas no campo daprodução artística e cultural noRio refletem o dinamismo daspráticas culturais enraizadas numcontexto local e ligadas a um

38 Le travail qu’il effectue avec des jeunes est consultable sur les sites internet: www. agen-ciarj. com. br ou http: //apalpe. wordpress. com/

39 http: //cartografiasinsurgentes. wordpress. com/40 http: //azulejista. wordpress. com/

domaine de la production artistiqueet culturelle à Rio témoignent dudynamisme de pratiques culturellesancrées dans un contexte local et atta-chées à une reconnaissance de leursspécificités.

Au-delà des pratiques patri-moniales actuelles, quelles sont lesperspectives d’évolutions du foncti-onnement de l’ensemble des institu-tions, de leurs choix, de leurscritères, de leurs normes, avec lamontée en puissance des pays émer-gents, dont le poids croissant va in-fluer et réorienter leur habitus, leursmodes d’action et de décision. Noussommes à une époque charnière oul’arrivé de nouveaux systèmes devaleurs et de pensés peuvent per-mettre une réévaluation ainsiqu’une évolution des pratiquespatrimoniales.

Bibliographie / Referências bibliográficas

Berenstein Jacques Paola e Dultra Britto Fabiana (org.) (2010), Corpocidade_Debates, Açoes e Articulaçoes, Salvador, editora da universidad federal daBahia, p. 393.

Berenstein Jacques Paola, Varella Drauzio, Bertazzo Ivaldo, Seiblitz Pedro (2002),Maré _ Vida na Favela, Rio de Janeiro, Casa da Palavra, p. 128.

Choay Françoise (1999), L’allégorie du Patrimoine, éditions Seuil, p. 270.Choay, Françoise (2009), Le Patrimoine en Question: Anthologie Pour un Combat, Seuil.De Almeida Abreu Mauricio (2010), Evoluçao Urbana do Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro, Instituto Pereira Passos, p. 155.De Biase Alessia et Rossi Cristina (sous la direction de.) (2006), Chez

Nous_Territoires et Identités dans les Mondes Contemporains, Aux éditions de LaVillette (études et recherches), Paris, p. 319.

Droulers Martine (2001), Brésil. Une Géohistoire, Paris, Presses Universitaires deFrance, p. 306.

Frideman Jonathan (2004), “Culture et politique de la culture: une dynamiquedurkheimienne”, in Anthropologie et Sociétés, vol28, n.°1, pp. 23-43.

Hartog François (2003), Régimes D’historicité. Présentisme et Experiences du Temps.,Seuil, p. 57.

EMBALLAGE/ EMBALAGEM 211

r e c o nhec imento das suasespecificidades.

Além das práticas patrimo-niais atuais, quais são as pers-pect ivas de mudanças nofuncionamento de todas as institui-ções, das suas escolhas, seus critéri-os, suas normas, com a ascensãodas economias emergentes, cujopeso crescente vai influenciar e reo-rientar os seus hábitos, seus modosde ação e decisão. Estamos numponto de ruptura onde a chegadade novos sistemas de valores e depensamento pode permitir uma re-avaliação e uma mudança nas práti-cas patrimoniais.

Levi-Strauss Claude (1987), Race et Histoire, Saint Amand, DENOEL, p. 127.Le monde, hors série (2010), Brésil. Un Géant S’impose, sept-oct.Winter Ribeiro Rafael (2007), Paisagem Cultural e Patrimônio, Rio de Janeiro, IPHAN,

p. 151.Fonseca Maria Cecilia Londres (2009), O Patrimônio em Processo _ Trajetoria da

Politica Federal de Preservaçao no Brasil, Rio de Janeiro, editora UFRJ, p. 293.UNESCO (2010), Centre du Patrimoine Mondial, numéro special, Patrimoine

Mondial au Brésil, n°57, Juillet, p. 89.Vidal Laurent (2009), Les larmes de Rio, Paris, Flammarion, p. 254.Vinicius Faustini Marcus (2009), Guia Afetivo da Periferia, Rio de Janeiro, Aeroplano

editora, p. 183.Wolton Dominique (2003), L’autre Mondialisation, Manchecourt, Flammarion,

p. 211.Zambelli André (coord.), Cabral Carla, Lodi Cristina et aizen Màrio (2008), Da

Destruiçao à Preservaçao. Construçao da Paisagem da Cidade do Rio de Janeiro,Prefeitura do Rio, Revista do patrimonio cultural do Rio de Janeiro, Rio deJaneiro, ano 1-n°01, dezembro, pp. 25-45.

212 URBAN CULTURE IN ACTION