DISTRIBUIÇÃO AUTOMÓVEL E AS REGRAS DE CONCORRENCIA; O TRATAMENTO DIFERENCIADO RELATIVO ÀS VENDAS...

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DISTRIBUIÇÃO AUTOMÓVEL E AS REGRAS DE CONCORRENCIA; O TRATAMENTO DIFERENCIADO RELATIVO ÀS VENDAS DE VEICULOS NOVOS E AOS SERVIÇOS DE PÓS-VENDA. ISABEL FORTUNA DE OLIVEIRA 1 1. Enquadramento geral. A Comissão adoptou em Abril de 2010 um novo “pacote” de regras de concorrência aplicável à distribuição dos veículos automóveis: o Regulamento de Isenção por Categoria 461/2010 (RIC) 2 e respectivas Linhas de Orientação (Guidelines 2010) 3 ; mais recentemente foi publicada uma brochura contendo um conjunto de respostas às questões mais significativas suscitadas pelos variados agentes económicos que assim pretendiam um esclarecimento adicional sobre a aplicação das regras da concorrência aplicáveis ao sector automóvel 4 . Em linhas gerais, o RIC determina dois modelos de regras aplicáveis a dois mercados que tradicionalmente são considerados distintos: a) O mercado de venda de veículos automóveis, o qual manter-se-á submetido às regras previstas no 1 - Professora Auxiliar Convidada, Universidade de Aveiro, Portugal. 2 - Regulamento (UE) nº 461/2010 da Comissão, de 27 de Maio de 2010, relativo à aplicação do artigo 101 nº3 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia a certas categorias de acordos verticais e práticas concertadas no sector dos veículos automóveis- JO L 129 de 28.05.2010. 3 - Orientações complementares relativas às restrições verticais nos acordos de venda e reparação de veículos a motor e de distribuição de peças sobressalentes para veículos a motor- JO C 138 de 28-05-2012. 4 - Perguntas frequentes (FAQ) sobre a aplicação das regras antitrust da UE no sector automóvel, publicadas a 27 de Agosto de 2012.

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DISTRIBUIÇÃO AUTOMÓVEL E AS REGRAS DE

CONCORRENCIA; O TRATAMENTO DIFERENCIADO RELATIVO ÀS VENDAS

DE VEICULOS NOVOS E AOS SERVIÇOS DE PÓS-VENDA.

ISABEL FORTUNA DE OLIVEIRA 1

1. Enquadramento geral.

A Comissão adoptou em Abril de 2010 um novo

“pacote” de regras de concorrência aplicável à distribuição

dos veículos automóveis: o Regulamento de Isenção por

Categoria 461/2010 (RIC)2 e respectivas Linhas de

Orientação (Guidelines 2010)3; mais recentemente foi publicada

uma brochura contendo um conjunto de respostas às questões

mais significativas suscitadas pelos variados agentes

económicos que assim pretendiam um esclarecimento adicional

sobre a aplicação das regras da concorrência aplicáveis ao

sector automóvel4.

Em linhas gerais, o RIC determina dois modelos de

regras aplicáveis a dois mercados que tradicionalmente são

considerados distintos:

a) O mercado de venda de veículos automóveis, o

qual manter-se-á submetido às regras previstas no

1 - Professora Auxiliar Convidada, Universidade de Aveiro, Portugal.2 - Regulamento (UE) nº 461/2010 da Comissão, de 27 de Maio de 2010,relativo à aplicação do artigo 101 nº3 do Tratado sobre o Funcionamentoda União Europeia a certas categorias de acordos verticais e práticasconcertadas no sector dos veículos automóveis- JO L 129 de 28.05.2010.3 - Orientações complementares relativas às restrições verticais nosacordos de venda e reparação de veículos a motor e de distribuição depeças sobressalentes para veículos a motor- JO C 138 de 28-05-2012.4 - Perguntas frequentes (FAQ) sobre a aplicação das regras antitrust daUE no sector automóvel, publicadas a 27 de Agosto de 2012.

Regulamento de Isenção 1400/20205, cujo prazo de vigência

será assim prorrogado até Maio de 2013; a partir de Junho

de 2013 este mercado será abrangido pelo Regulamento

330/20106 aplicável aos acordos verticais, de carácter

genérico.

b) O mercado pós-venda relativo à venda de peças

sobressalentes e reparação de veículos automóveis será não

só abrangido no âmbito de aplicação do Regulamento

330/2010, bem como pelo RIC, o qual contém um conjunto de

regras específicas aplicáveis a este mercado.

A partir de Junho de 2013, somente o mercado de

reparação de veículos e distribuição de peças

sobressalentes (mercado pós-venda) será abrangido pelas

regras mais específicas contidas no RIC- pelo contrário, o

mercado de venda de veículos automóveis será abrangido pelo

regulamento geral de isenção aplicável aos acordos

verticais. Deverá ser assim sublinhado este marco

histórico7 em matéria de direito da concorrência aplicável

aos acordos verticais no sector de distribuição dos

veículos automóveis, o qual deixa de ser tratado como um

5 - Regulamento (CE) 1400/2002 da Comissão, de 31 de Julho de 2002,relativo à aplicação do n3 do artigo 81.o do Tratado a certas categoriasde acordos verticais e práticas concertadas no sector automóvel,publicado no JO L 203 de 1.8.2002, p. 30.

6 - Regulamento (UE) 330/2010 da Comissão, de 20 de Abril de 2010,relativo à aplicação do artigo 101, n.3, do Tratado sobre oFuncionamento da União Europeia (TFUE) a determinadas categorias deacordos verticais e práticas concertadas, publicado no JO L 102 de23/04/2010, p. 0001–0007. A Comissão publicou as Orientações relativasàs restrições verticais a 10.05.2010 - Guidelines gerais (2010).

7 - Relembra-se que desde 1995 os acordos de distribuição de veículosautomóveis encontram-se submetidos a uma regulamentação específica dodireito da concorrência.

[Escreva texto] Página 2

sector de actividade económica cujos distribuidores

requerem uma protecção adicional relativamente aos demais

acordos verticais. Porém, e conforme foi afirmado, este

abandono da protecção adicional é limitado ao mercado de

venda de veículos, pelo que o mercado pós- venda, atendendo

às características particulares deste sector de actividade

económica caracterizado pelo elevado poder de concentração

das marcas dos fabricantes de veículos automóveis, manter-

se-á submetido a regras especificas do direito da

concorrência.

Estes princípios foram progressivamente delineados

pela Comissão a partir de dados constantes em documentos

de reflexão sobre as regras de concorrência aplicáveis ao

sector de distribuição de veículos automóveis,

nomeadamente o Relatório de Avaliação sobre a aplicação

do Regulamento (CE) nº 1400/2002 da Comissão, de 28 de

Maio de 2008, e a Comunicação da Comissão "O futuro quadro

normativo da concorrência aplicável ao sector automóvel", de 22 de

Julho de 2009.

O abandono do tratamento protegido ao sector de

distribuição de veículos automóveis, com a consequente

submissão às regras gerais de concorrência aplicáveis ao

sector dos acordos verticais foi genericamente bem aceite

pela doutrina8, considerando que actualmente a

8 - Ver, nomeadamente, VOGEL, Louis, “EU Competition Law Applicable to DistributionAgreements: Review of 2010 and Outlook for 2011”, in Journal of EuropeanCompetition Law and Practice, 2011, Vol. 2, Nº3, p. 249. O autorconsidera que a submissão do sector de distribuição de veículosautomóveis às regras gerais aplicáveis ao sector dos acordos verticaisrepresenta “… the end of an unjustified protection of distributorsthough inefficient protectionist rules”.

[Escreva texto] Página 3

concorrência intermarca dos fabricantes dos veículos

automóveis era sensível, com efeitos ao nível dos preços,

justificando o abandono da protecção concorrencial

específica9.

2. As regras gerais aplicáveis ao sector de

distribuição dos veículos; principais

implicações .

Nos termos do Artigo 3 do RIC, a partir do dia 1

de Junho de 2013 a distribuição de veículos automóveis

ficará submetida às regras gerais previstas no

Regulamento 330/2010. A submissão deste tipo de acordos

às regras de concorrência genéricas aplicáveis aos

acordos verticais, sugere uma referência às principais

implicações.

2.1. Acordos de marca única .

A concorrência verificada no mercado de

distribuição de veículos novos entre as marcas dos

construtores de veículos automóveis foi considerada pela

Comissão como suficiente, pelo que os acordos de marca

única poderão ser celebrados, de acordo com as regras

gerais previstas no Regulamento 330/2010. Assim, e de

acordo com as condições aí previstas, desde que a quota

de mercado do fornecedor e do respectivo distribuidor

9 - Interrogando sobre a necessidade de manutenção de uma protecçãoconcorrencial específica no mercado pós-venda, MARCO COLINO, Sandra,“Recent Changes in the Regulation of Motor Vehicle Distribution in Europe –Questioning theLogic of Sector-Specific Rules for the Car Industry”,in The Competition Law Review,Volume 6 Issue 2, pp 203-224, July 2010. No mesmo sentido, VOGEL, Louise VOGEL Joseph, “Le nouveau droit de distribution automobile”, Revue Lamy Droitdes Affaires, Septembre 2010, nº 52, p. 44.

[Escreva texto] Página 4

não seja superior a 30%, o fabricante de veículos poderá

impor um modelo único de marca, desde que a respectiva

cláusula de não concorrência10 não exceda 5 ano. Desde

que estes limites sejam respeitados, o acordo celebrado

entre o fabricante de veículos e o distribuidor pode

prever a obrigação de aquisição dos veículos

exclusivamente ao fabricante ou às empresas por ele

designadas; os mesmos princípios são aplicáveis aos

acordos celebrados entre os fornecedores e as oficinas

de reparação e os distribuidores de peças

sobressalentes.

Deverá ser sublinhado que o prazo limite de 5 anos

não impede a renovação da cláusula de não concorrência,

mas exige que as partes possam reavaliar a situação, antes

de celebrarem um novo acordo exclusivo11.

De acordo com as regras contidas no Artigo 5 do

Regulamento 330/2010, o qual prevê o princípio de

divisibilidade, a isenção não será concedida à cláusula de

não concorrência que desrespeitar os princípios

mencionados, podendo o restante do acordo ser objecto de10 - A obrigação de não concorrência encontra-se definida na alínea d)do Artigo 1 do Regulamento 330/2010, contemplando: “"… qualquerobrigação directa ou indirecta que impeça o comprador de fabricar,adquirir, vender ou revender bens ou serviços que entrem em concorrênciacom os bens ou serviços contratuais, ou qualquer obrigação directa ouindirecta imposta ao comprador no sentido de adquirir ao fornecedor ou aoutra empresa designada pelo fornecedor mais de 80 % das suas comprastotais dos bens ou serviços contratuais e respectivos substitutos nomercado relevante, calculados com base no valor ou, caso tal correspondaà prática normal do sector, com base no volume das suas compras do anocivil anterior”.11 - Considerando 26 das Guidelines 2010: “A renovação para além dos cincoanos requer a autorização explícita de ambas as partes, não devendoexistir obstáculos que impeçam o distribuidor de pôr efectivamente termoa uma obrigação de não concorrência no final do período de cinco anos”.

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isenção, desde que se enquadre nas regras gerais de

concessão da isenção, atendendo, nomeadamente à quota de

mercado das empresas participantes.

Refira-se que a definição de cláusula de não

concorrência prevista na alínea d) do nº1 do Artigo 1 do

Regulamento 330/2010 contempla dois tipos de obrigações

distintas: a primeira noção é denominada por cláusula de

não concorrência directa, interditando o comprador de

fabricar ou de vender bens concorrentes e constitui uma

obrigação de conteúdo negativo (não fazer); a segunda

noção, denominada por cláusula de não concorrência

indirecta, constitui uma cláusula de obrigação mínima de

compra, constituindo uma obrigação de conteúdo positivo

(fazer). De acordo com esta definição, a obrigação mínima

de compra só será considerada como cláusula de não

concorrência se a obrigação representar mais de 80% das

compras do ano civil anterior do distribuidor. Porém, a

Comissão pondera a possibilidade de reavaliação da

obrigação de compra mínima inferior ao limite de 80% como

cláusula de não concorrência, em situações que na prática

impedissem o distribuidor de vender produtos

concorrentes12.

A possibilidade de criação de um sistema de

distribuição de marca única constitui uma alteração

12 - “ Deste ponto de vista, mesmo uma obrigação mínima de compra fixadaa um nível inferior aos 80 % das suas compras anuais equivaleria a umaobrigação de marca única se obrigar um distribuidor, que deseje venderuma nova marca da sua escolha de um produtor concorrente, a comprartantos veículos a motor da marca que vende actualmente, que torne aactividade do distribuidor economicamente inviável”. Considerando 37,Guidelines 2010.

[Escreva texto] Página 6

significativa da política de concorrência aplicável a

este sector económico; o anterior Regulamento 1400/2002

continha normas mais severas, definindo a noção com maior

rigor, considerando-se como cláusula de não concorrência,

“qualquer obrigação directa ou indirecta que obrigasse o

distribuidor a não adquirir, vender ou revender bens ou

serviços que entrem em concorrência com os bens ou

serviços contratuais, bem como qualquer obrigação directa

ou indirecta imposta ao comprador de adquirir ao

fornecedor ou a outra empresa por este designada mais de

30 % das compras totais do comprador em termos de bens

contratuais”, procurando através deste meio fomentar

sistemas de distribuição de veículos multi-marca13.

Deverá ser sublinhado que este objectivo não foi atingido

tendo sido abandonado pela política de concorrência

comunitária. Na Comunicação da Comissão relativa ao

futuro da distribuição automóvel foi, assim,

constatado:“… o mercado apenas utilizou numa medida muito

limitada a possibilidade de práticas multimarca no mesmo

salão de exposição, não havendo elementos empíricos

sólidos que indiquem que tais modalidades de distribuição

tenham facilitado num grau significativo a entrada de

novos operadores nos mercados da EU”14. 13 - Neste sentido: “El actual Reglamento, acogiendo la posición de losfabricantes y habida cuenta de que las propias condiciones del mercadodificultan la aparición de este tipo de establecimientos cuya creación,por su parte, no ha contribuido a una mejora competitiva sustancial, haoptado por remitir la cuestión a su tratamiento general en el Reglamento330/2010 en el que se contiene una regulación menos estricta”. ORTUÑOBAEZA, Teresa, “Nuevo tratamiento de los acuerdos verticales y prácticas concertadas en elsector de los vehículos de motor”, ADI, TOMO XXXI (2010-2011), p. 563.

14 - Considerando 19 da Comunicação da Comissão relativa ao futuro quadronormativo da concorrência aplicável ao sector automóvel COM (99) 388.

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2.2- Acordos de distribuição selectiva.

Conforme foi constatado pela Comissão, a

distribuição selectiva constitui a forma predominante de

distribuição neste sector.

Do ponto de vista do direito da concorrência

aplicável aos acordos verticais, a distribuição

selectiva é apreciada de forma diferenciada conforme os

critérios utilizados sejam de natureza qualitativa ou

quantitativa.

Com efeito, desde o acórdão Metro c. Comissão

(1977)15 o TJUE considerou que os sistemas de

distribuição selectiva puramente qualitativos poderiam,

em determinados enquadramentos, constituir um elemento

da pró-concorrência- e não uma infracção ao nº1 do

Artigo 101 do TFUE - dependendo da verificação de alguns

requisitos. Assim, a licitude do contrato, face ao direito

Neste contexto, a Comissão considerou ainda: “As práticas multimarca nummesmo salão de exposição pode contribuir para diluir a imagem de marca,levando os fabricantes a tomarem medidas para preservarem a suaidentidade, através do ajustamento das normas aplicáveis aosconcessionários. Além disso, podem limitar os investimentos nos seusacordos de concessão, por exemplo em formação, no sentido de evitaremriscos de parasitagem. Na prática, estes factores provocaram um aumentogeral dos custos de distribuição suportados pelos concessionários”.Regista-se que apenas 1% do sector de distribuição dos veículosautomóveis é abrangido pelo sistema multi-marcas”. Neste sentido:“Indeed, on the one hand, the multi-branding model covers less than 1per cent of the distribution and, on the other hand, brand exclusivitygenerates efficiencies such as the incentive for the distributor to sellthe products of the brand, promotion of know-how, a reduction in therisks of free-riding, or a reduction of transaction costs”. VOGEL,Louis, “EU Competition Law …, p. 250.15 - Acórdão do TJUE de 25 de Outubro de 1977- Metro SB-Grossmaerkte & CO KGcontra Comissão das Comunidades Europeias- Processo 26/76, Colectânea daJurisprudência 1977, p. 01875

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da concorrência, dependia da verificação de várias

condições, dependendo:

a ) Das características dos produtos em causa-

permitindo aferir a necessidade (ou não) de requerer um

sistema de distribuição selectivo.

b) Da natureza dos critérios de selecção- que teriam

de ser de natureza qualitativa, aplicados de forma

uniforme e não discriminatória.

c) Da razoabilidade dos critérios de selecção- os

critérios impostos não poderiam ultrapassar o que é

necessário para se atingir o resultado pretendido visando

a correcta distribuição do produto em causa.16

De acordo com estas regras, os candidatos a

distribuidores de uma determinada marca só poderão ser

excluídos com base na falta de algum ou alguns dos

critérios de natureza qualitativa impostos pelo titular; o

critério quantitativo, enquanto causa justificativa de

exclusão, não poderia ser aceite17. O carácter qualitativo

16 - Neste sentido, e sintetizando a prática da política comunitária deconcorrência em matéria de acordos de distribuição selectiva: “Estossistemas de distribución selectiva no incurren, en general, en laprohibición del Art. 85,1 TCEE cuando los criterios de selección de losdistribuidores sean objetivos y de naturaleza cualitativa…De todas formas, siemprees necesario examinar la naturaleza del producto de que se trate. Hayproductos que, por sus características técnicas, renombre o altacalidad, necesitan, más que otros, un sistema de distribución selectivapara preservar su calidad y garantizar su buen uso; por ej.: artículosde perfumería de prestigio, automóviles o relojes de precisión y famamundial. En definitiva, mantener una imagen de marca de prestigio”,TOBIO RIVAS, Ana, “Libro verde de la Comisión sobre las restricciones verticales en la políticade competencia comunitaria: Bases para un cambio?” ADI, TOMO XVIII (1997), p.1071.17 - O TJUE -desde o acórdão Metro c. Saba- determinou que a selecção dedistribuidores submetida a critérios quantitativos constituía umainfracção do art. 85/1. No acórdão Hasselblad (Acórdão do Tribunal deJustiça de 21 de Fevereiro de 1984, Hasselblad (GB) Limited contra Comissão das

[Escreva texto] Página 9

da selecção anulava a possibilidade da presença de uma

cláusula de exclusividade ligada a um critério de conexão

territorial: desde que o candidato a distribuidor

respondesse de forma positiva aos requisitos

identificados pelo titular da marca/fabricante, teria de

ser aceite como distribuidor, independentemente de a sua

actividade decorrer ou não no mesmo território atribuído

a outros distribuidores.

Com a adopção da nova política de concorrência

aplicável aos acordos verticais, as regras previstas no

revogado Regulamento 2790/99 permitiam a inclusão de

critérios quantitativos, desde que quota de mercado

estivesse circunscrita à zona de segurança (30%). O

Regulamento 330/2010 prosseguiu com as mesmas

exigências.

Não obstante a abertura manifestada com a entrada

em vigor das novas regras, o direito da concorrência

Comunidades Europeias, Processo 86/82, Recueil de Jurisprudence 1984) oTribunal classificou como uma infracção ao art. 85/1: “… o caso quando aempresa que pratica um tal sistema reserva o direito de não seleccionarum novo revendedor qualificado se, na região limitada, já existe umgrande número de revendedores”. Esta jurisprudência é de resto idênticaà verificada, nomeadamente nos acórdãos Lancôme (Acórdão do Tribunal deJustiça de 10 de Julho de 1980, SA Lancôme e Cosparfrance Nederland BV contra EtosBV e Albert Heyn Supermart BV, Processo nº 99/79, Colectânea de Jurisprudência1980, página 2511), L’Óreal (Acórdão do Tribunal de Justiça de 11 deDezembro de 1980, NV L’Oreal, Bruxelles e SA L’Oreal Paris contra PVBA, Processo 31/80,Colectânea da Jurisprudência 1980 página 03775), e no acórdão AEGTelefunken (Acórdão do Tribunal de Justiça de 25 de Outubro de 1983, AEGTelefunken contra Comissão das Comunidades Europeias, Processo 107/82, Colectâneade Jurisprudência,1983, p.3151). Assim, no acórdão L’Óreal o Tribunalreafirma, no considerando 17, que : “Lorsque l’accès à un réseau dedistribution sélective est subordonné a des conditions allant au-delàd’une simple sélection objective de caractère qualitatif, en particulierlorsqu’il est fonde sur des critères quantitatifs, le système dedistribution tombe en principe sou l’interdiction de l’article 85/1...”.

[Escreva texto] Página 10

encara de forma algo diversa o sistema puramente

qualitativo do sistema quantitativo. Assim, nas Guidelines

gerais (2010)18 conclui-se que: “Em geral, considera-se

que a distribuição selectiva puramente qualitativa não

está abrangida pelo artigo 101, nº 1, do Tratado por

falta de efeitos anticoncorrenciais, desde que estejam

satisfeitas três condições. Em primeiro lugar, a

natureza do produto em questão deve carecer do recurso à

distribuição selectiva, na medida em que um sistema

desse tipo constitua uma necessidade legítima, tendo em

conta a natureza do produto em causa, a fim de preservar

a sua qualidade e garantir o seu uso adequado. Em

segundo lugar, os revendedores devem ser escolhidos com

base em critérios objectivos de natureza qualitativa, os

quais são estabelecidos uniformemente para todos os

potenciais revendedores e não são objecto de uma

aplicação discriminatória. Em terceiro lugar, os

critérios estabelecidos não devem ir além do

necessário”. Pelo contrário, os sistemas de distribuição

quantitativos não são analisados de forma tão

benevolente; no considerando 44 das Guidelines gerais (2010)

é explícita esta desconfiança: “Enquanto a distribuição

selectiva qualitativa implica a selecção de

distribuidores ou oficinas de reparação apenas com base

em critérios objectivos determinados pela natureza do

produto ou serviço, a selecção quantitativa acrescenta

critérios de selecção adicionais que limitam de forma

mais directa o número potencial de distribuidores ou18 - Considerando 43 das Guidelines gerais (2010).

[Escreva texto] Página 11

oficinas de reparação, quer pela fixação directa de um

número limitado de distribuidores ou oficinas de

reparação, quer, por exemplo, exigindo um nível mínimo

de vendas. Em geral, considera-se que as redes baseadas

em critérios quantitativos são mais restritivas do que

as redes baseadas apenas na selecção qualitativa e, por

conseguinte, é mais provável que sejam abrangidas pelo

artigo 101 nº 1, do Tratado”.19 Em todo o caso, regista-

se que no considerando 46 das Guidelines (2010) a Comissão

relembra: “Os regulamentos de isenção por categoria

isentam os acordos de distribuição selectiva,

independentemente de serem utilizados critérios de

selecção quantitativos ou puramente qualitativos, desde

que as quotas de mercado das partes não ultrapassem 30

%”.

Relativamente a esta questão, os construtores de

veículos automóveis encontravam maior abertura no

anterior Regulamento 144/2002 uma vez que a que a

distribuição selectiva neste sector era geralmente

admitida desde que a zona de segurança do construtor em19 - A exigência relativa à natureza do produto, imposta pela anterior

política de concorrência parece ressurgir, pelo menos na opinião daComissão. Com efeito, nas Guidelines gerais (2010) é considerado que: “ ORegulamento de Isenção por Categoria isenta a distribuição selectiva,independentemente da natureza do produto em causa e da natureza doscritérios de selecção. Contudo, no caso de as características do produtonão exigirem a distribuição selectiva ou não exigir os critériosaplicados, como, por exemplo, a exigência imposta aos distribuidores depossuírem um ou vários estabelecimentos tradicionais, tal sistema dedistribuição não cria, em geral, efeitos de reforço dos ganhos deeficiência suficientes para compensar uma redução significativa daconcorrência intramarcas. Se ocorrerem efeitos anticoncorrenciaisimportantes, o benefício do Regulamento de Isenção por Categoria ésusceptível de ser retirado”. Extracto do Considerando 176 das GuidelinesGerais (2010).

[Escreva texto] Página 12

causa não fosse superior 40 % quando fosse utilizada a

distribuição selectiva quantitativa, não existindo

limiares máximos para os sistemas de distribuição

qualitativo.

Não obstante este entendimento diferenciado

relativamente aos dois tipos de distribuição selectiva,

(aparentemente) penalizando o sistema quantitativo, o

controlo dos critérios utilizados será mais facilitado

neste ultimo caso. Assim, segundo o entendimento

realizado pelo TJUE no acórdão Auto 24 (2012)20, enquanto

que os critérios de selecção qualitativos utilizados

pelo construtor deverão pautar-se pela natureza dos bens

ou serviços contratuais, de aplicação uniforme, não

discriminatória e proporcional, pelo contrário, os

critérios quantitativos apenas deverão ser

“especificados”, bastando para tal que o respectivo

conteúdo específico possa ser verificado. O TJUE conclui

que: “Para beneficiar da isenção prevista no referido

regulamento, não é necessário que esse sistema se baseie

em critérios objectivamente justificados e aplicados de

modo uniforme e indiferenciado a todos os candidatos à

aprovação”.

20 - Acórdão do TJUE de 14 de Junho de 2012, Processo C- 158/11, Auto 24SARL contra Jaguar Land Rover France SAS. O Tribunal no considerando 32,constatou: “Por outro lado, não decorre da definição do conceito de«sistema de distribuição selectiva quantitativa», constante do artigo 1nº1, alínea g), do regulamento, que este conceito deva ser interpretadono sentido de que implica a exigência de que os critérios aplicados pelofornecedor para seleccionar os distribuidores não só sejam «definidos»,mas, além disso, sejam objectivamente justificados e aplicados de modouniforme e indiferenciado a todos os candidatos à aprovação”.

[Escreva texto] Página 13

Obviamente que de acordo com as regras gerais, o

sistema de distribuição selectivo (qualitativo ou

quantitativo) não poderá conter nenhuma das restrições

graves previstas nas alíneas b) c) e d) do Artigo 4 do

Regulamento 330/2010.

2.3. As restrições graves.

A alínea c) do Artigo 4) do Regulamento 330/2010,

aplicável aos sistemas de distribuição selectiva,

qualifica como restrição grave da concorrência a

interdição às vendas activas e passivas a utilizadores

finais. Tal significa que este tipo de acordos para

poderem beneficiar da isenção automática, não podem

restringir a actividade comercial dos distribuidores

retalhistas, os quais são livres de venderem para

qualquer território, mesmo que atribuído a outro

distribuidor, e de aí poderem realizar o tipo de

actividade comercial pró-activa, visando a angariação de

clientela. Se bem que o sistema de distribuição

selectiva pode ser combinado com a distribuição

exclusiva, esta exigência atenua os efeitos

potencialmente conferidos com a atribuição de uma

exclusividade territorial, uma vez que ao distribuidor

selectivo pode concorrer activamente no território

afecto a outro distribuidor da rede. Assim, ao

distribuidor selectivo não poderão ser-lhe impostas

restrições contratuais visando-o impedir de activamente

captar os utilizadores finais21que se localizem nesses21 - Os utilizadores finais são os consumidores finais ou osutilizadores finais profissionais - desde que os produtos vendidos não

[Escreva texto] Página 14

territórios, bem como responder a solicitações da

iniciativa destes. Tais medidas poderão incluir,

naturalmente, a utilização da Internet, pelo que não

poderá ser interdito ao distribuidor dirigir correio

electrónico não solicitado aos clientes finais que se

localizem num outro território. Poderá assim afirmar-se

que nos sistemas de distribuição selectivo, a protecção

concorrencial que o fornecedor pode conceder ao

território atribuído a um distribuidor é forçosamente

mais atenuada do que em outros sistemas de distribuição,

nomeadamente o exclusivo. Esta diferença de tratamento

visa compensar os efeitos particularmente visíveis que o

sistema de distribuição selectivo provoca relativo à

rigidez sobre os preços22.

A alínea b) do Artigo 4 do Regulamento 330/2010

prevê a admissibilidade da interdição “… efectuada pelos

se destinem a revenda, dado que constitui uma característica do própriosistema de distribuição selectivo que os distribuidores só podem vendera distribuidores seleccionados e não a comerciantes não agregados à redede distribuição.

22 - Com efeito, desde o célebre acórdão Metro c. Saba, Processo 26/76, 1977,já mencionado, o TJUE constatou que os sistemas de distribuiçãoselectiva provocavam uma rigidez nos preços praticados. Neste acórdão arequerente (Metro) contestava a legalidade deste tipo de acordos dedistribuição face ao Art. 101 do Tratado, considerando que constituíamuma barreira à concorrência ao nível dos preços, sendo, por isso, contráriosaos interesses dos próprios consumidores que, obviamente, pretendemadquirir o mesmo produto a um menor preço. O Tribunal rejeitou estaobjecção determinado que se bem sendo exacta a constatação de quenestes sistemas de distribuição “o acento não é geralmente feito deforma exclusiva nem mesmo principal na concorrência sobre os preços”-reconhecendo implicitamente que os sistemas de distribuição selectivacontribuem para uma redução da concorrência ao nível dos preços- concluique: “a concorrência sobre os preços, por importante que esta seja detal forma que jamais poderá ser eliminadas não constitui a única formaeficaz de concorrência nem aquela a que deve ser prestada, em todas ascircunstância, uma prioridade absoluta”.

[Escreva texto] Página 15

membros de um sistema de distribuição selectiva, a distribuidores não

autorizados no território reservado pelo fornecedor para o funcionamento

de tal sistema”.

A redacção mencionada constitui uma alteração na

redacção relativamente ao anterior Regulamento 2790/99, o

qual admitia as restrições às vendas a distribuidores não

autorizados pelos membros de um sistema de distribuição

selectiva. Esta aceitação expressava o entendimento do

TJUE, o qual tinha considerado em diversos casos, que a

clausula contratual imposta aos distribuidores

seleccionados de somente venderem aos outros revendedores

-ou a clientes finais- seria aceite, sob pena do próprio

sistema de selectividade ser manifestamente posto em

causa23. E desta forma, a obrigação dos distribuidores

seleccionados não venderem a outros revendedores que não

façam parte da “rede” de distribuição era normalmente

aceite pelo direito da concorrência comunitário.24

De acordo com a actual redacção, a interdição

admitida ficou submetida a um limite: os distribuidores

selectivos poderão ser restringidos de venderem a

23 - No considerando 27 é expressamente determinado que: “todo o sistemade comercialização baseado numa selecção dos pontos de distribuiçãoimplica, necessariamente, sob pena de não ter nenhum sentido, aobrigação para os grossistas que fazem parte da rede de fornecer somenteaos revendedores agregados e a possibilidade para o produtor interessadode controlar a observação desta obrigação”.24 - Neste sentido : “En effet, un système de distribution sélectiven’aurait aucun sens si les revendeurs ne remplissent pas les critères desélection et n’ayant pas à supporter les charges qui résultent desobligations imposes par le producteur pour garantir une vente desproduits dans de bonnes conditions, pouvaient eux aussi vendre leproduit contractuel”. RIEBEN, Laurent, “ La validité des contrats de distributionsélective et exclusive en droit communautaire, américain et suisse de la concurrence »,Librairie Droz, Genève, 2000, p. 124.

[Escreva texto] Página 16

distribuidores não autorizados, desde que esse

distribuidor esteja localizado num território no qual

esteja a ser aplicado o sistema de distribuição (ou seja,

num território afecto a outro distribuidor selectivo, e

neste caso podermos considerar que a restrição imposta ao

distribuidor destina-se a reforçar a exclusividade

conferida), ou o território estará “reservado” pelo

fornecedor- entendido no considerando 55 das Guidelines gerais

(2010) como o território onde o fornecedor “não vende ainda os

produtos contratuais”25.

A alínea d) do Artigo 4 determina que não será

concedida a isenção automática perante uma restrição dos

fornecimentos cruzados entre distribuidores no âmbito de

um sistema de distribuição selectiva, incluindo os

distribuidores que operam em diferentes estádios da

actividade comercial.

Este princípio procura responder ao efeito de

rigidez ao nível dos preços demonstrado pela prática dos

sistemas de distribuição selectiva. Assim, e por forma a

contrariar este efeito, a Comissão desde sempre exigiu,

enquanto condição de aceitação, a possibilidade de vendas

internas entre os diferentes membros do sistema, permitindo

que os distribuidores selectivos aproveitassem das

diferenças de preços praticadas entre os diferentes

Estados Membros.

25 - A propósito da nova redacção, o Autor considera que “the newregulation undermines and restricts selective distribution systems”,VELEZ, Mario, “Recent developments in selective distribution”, in EuropeanCompetition Law Review (2011) Issue 3, p. 243.

[Escreva texto] Página 17

Os exemplos da implementação desta política são

numerosos26.

A possibilidade de aquisição dos produtos no

interior da rede de distribuidores confere, assim, a dose

de concorrência necessária à concessão da isenção, dado

assegurar um nível de concorrência mínimo no interior da

própria marca.

Regista-se que a concretização do direito de compras

no interior da rede de distribuidores depende da

verificação de alguns pressupostos. Com efeito, é comum,

neste tipo de contratos a presença da cláusula que impõe

ao distribuidor selectivo a obrigatoriedade de aquisição

de um volume mínimo de produtos.

Atendendo, ainda, ao mercado de distribuição de

veículos automóveis, a Comissão reforça de forma

particular o objectivo geral de concretização do mercado

interno, prevendo a possibilidade dos consumidores poderem

adquirir o veículo automóvel num outro Estado-Membro da

UE, tirando partido das diferenças de preço praticadas nos

diversos Estado. Neste sentido, as Guidelines (2010) sublinham

que “A possibilidade de um consumidor adquirir bens noutro

Estado-Membro reveste-se de especial importância no caso

dos veículos a motor, dado o elevado valor do bem e os

benefícios directos sob a forma de preços mais baixos que

daí resultam para os consumidores que compram veículos a

26 - Ver, nomeadamente: Acórdão do TJUE de 12 de Julho 1979, BMW BelgiumSA e outros c. Comissão das Comunidades Europeias, Processos apensos 32/78, 36/78 a82/78, bem como o Acórdão do Tribunal de Justiça de 21 de Fevereiro de1984, Hasselblad (GB) Limited contra Comissão das Comunidades Europeias, Processo86/82.

[Escreva texto] Página 18

motor noutro país da União. A Comissão está, portanto,

empenhada em que os acordos de distribuição não restrinjam

o comércio paralelo, visto não ser de esperar que este

tipo de comércio satisfaça as condições estabelecidas no

artigo 101.o, nº3, do Tratado”27.

Conjugando este objectivo de índole geral com a

noção de “utilizadores finais” prevista no na alínea c) do

artigo 4 do Regulamento 330/2010 (já mencionado), as

Guidelines (2010) esclarecem que esta noção inclui as

sociedades de locação financeira. Assim, e de acordo com

as regras estabelecidas, um construtor não poderá

restringir a possibilidade dos distribuidores venderem os

seus veículos a este tipo de sociedades independentemente

do território de venda- a menos que “exista um risco

verificável que a essas sociedades revendam o veículo

ainda em estado novo”. Tal exigência permitirá: “um

fornecedor exigir que o seu concessionário verifique as

condições gerais de locação aplicadas, a fim de controlar

se a sociedade em questão é de facto uma sociedade de

locação financeira ou um revendedor não autorizado”.

A noção de “utilizadores finais” inclui, ainda, a

aquisição de um veículo novo realizado não pelo consumidor

27 - No Acórdão do TJUE de 6 de Abril de 2006, Processo C-551/03 P,General Motors, a supressão de bónus para as exportações realizadas pelosconcessionários foi considerada como susceptível de constituir umentrave às exportações, constituindo uma infracção grave às regras daconcorrencial. No Acórdão do TJUE de 18 de Setembro de 2003, Processo C-338/00 P, Volkswagen AG, a empresa foi condenada por celebrar acordosvisando impedir os concessionários italianos da sua rede dedistribuição, de realizarem qualquer venda a utilizadores finais deoutros Estados-Membros - quer estes encomendassem pessoalmente ouutilizassem os serviços de um intermediário mandatado - bem como aoutros concessionários da rede noutro Estado-Membro.

[Escreva texto] Página 19

final mas por um intermediário deste. Na noção dada pelas

Guidelines (2010): “Um intermediário é uma pessoa ou uma

empresa que adquire um veículo a motor novo em nome de um

determinado consumidor sem pertencer a uma rede de

distribuição... Como regra, o elemento de prova do

estatuto de intermediário consiste num mandato válido que

inclua o nome e o endereço do consumidor obtido antes da

operação”.

3.Regras específicas aplicáveis ao mercado das

peças sobressalentes e serviços de reparação.

Conforme foi referido, os acordos relativos à

compra e venda de peças sobressalentes e de serviços de

reparação estarão submetidos a dois regulamentos de

isenção: ao Regulamento 330/2010 e às regras mais

específicas contidas no RIC. Desta forma, a isenção

automática para este tipo de acordos verticais neste

mercado específico requer o respeito das condições

gerais de isenção previstas no Regulamento nº 330/2010 e

não poderão conter quaisquer restrições graves previstas

no Artigo 5 do RIC.28

Neste mercado a presença das marcas dos

construtores é muito forte, sendo de salientar a menor

concorrência intramarca. O fomento da concorrência neste

mercado é prosseguido através de dois eixos de actuação:

A) Fomentar a concorrência relativamente ao

acesso e distribuição das peças sobressalentes,

28 - Ver artigo 4 do RIC.[Escreva texto] Página 20

valorizando as diferenças de preços praticadas pelas

peças alternativas, influenciando, desta forma, o preço

total dos serviços de reparação.

B) Fomentar a concorrência entre oficinas

de reparação independentes e as autorizadas pelo

construtor de veículos.

Regista-se a interligação dos eixos mencionados:

as oficinas de reparação independentes só poderão

concorrer efectivamente se tiverem acesso quer à

informação técnica quer às peças sobressalentes, pelo

que as medidas de protecção concorrencial previstas

acompanham ambos os vectores de actuação29.

Sublinhe-se que neste mercado, as peças

portadoras da marca do construtor dos veículos

automóveis (peças do fabricante de equipamento de origem) estão

submetidas a pressão concorrencial promovidas por fontes

alternativas, normalmente de preço inferior:

a) Peças sobressalentes produzidas e

distribuídas pelos fornecedores de equipamento de origem

(FEO) e, ainda a

b) Peças sobressalentes com qualidade

equivalente às componentes de origem.

Por forma a garantir a concorrência neste sector,

considera-se fundamental proteger os canais de

fornecimento destas peças sobressalentes, normalmente

29 - Numa breve análise do mercado actual dos serviços pós-venda,classificado como regressivo, a quota de mercado das oficinasindependentes em países como a França, Inglaterra e Alemanha seria jádominante ver, VOGEL, Louis e VOGEL Joseph, “Le nouveau droit de distribution…”,p. 45.

[Escreva texto] Página 21

mais baratas do que as portadoras da marca do

construtor. Assim, os construtores não poderão impedir

que as oficinas de reparação (independentes e as

autorizadas pelo fabricante) tenham acesso às peças

sobressalentes alternativas.

Este objectivo é alvo de uma protecção reforçada,

prevista no Regulamento 330/2010 e no RIC.

Assim, no artigo 4 alínea e) do Regulamento nº

330/2010 encontra-se incluída no elenco das restrições

graves: “ A restrição, acordada entre um fornecedor de

componentes e um comprador que incorpora tais

componentes, da capacidade do fornecedor para vender

estes componentes como peças sobressalentes a

utilizadores finais ou a estabelecimentos de reparação

ou a outros prestadores de serviços de assistência não

designados pelo comprador para a reparação ou manutenção

dos seus bens.”

Por sua vez, os fornecimentos de peças

sobressalentes são enquadradas e particularmente

protegidas no RIC, o qual prevê três restrições graves

previstas nas alíneas a), b) e c) do Artigo 5:

a) A restrição das vendas de peças

sobressalentes para veículos a motor por membros de

um sistema de distribuição selectiva a oficinas de

reparação independentes que utilizem estas peças para

a reparação e manutenção de um veículo a motor;

b) A restrição acordada entre um

fornecedor de peças sobressalentes, ferramentas de

[Escreva texto] Página 22

reparação ou equipamento de diagnóstico ou outros e

um construtor de veículos a motor, que limite a

possibilidade de o fornecedor vender estes bens ou

serviços a distribuidores autorizados ou

independentes, a oficinas de reparação autorizadas ou

independentes ou a utilizadores finais;

c) A restrição acordada entre um

construtor de veículos a motor, que utiliza

componentes para a montagem inicial de veículos a

motor, e o fornecedor desses componentes, que limite

a possibilidade de este último colocar a sua marca ou

logótipo efectivamente e de forma facilmente visível

nos componentes fornecidos ou nas peças

sobressalentes.

Assim, na alínea a) prevê que os distribuidores

selectivos, vulgarmente denominados concessionários das

marcas dos construtores, não poderão ser impedidos de

fornecer as peças sobressalentes a oficinas de reparação

independentes. Conforme é explicitado no considerando 22

das Guidelines (2010): “Esta disposição reveste-se de

especial relevância para uma categoria de peças

específica, por vezes designadas por peças cativas, que

apenas podem ser obtidas junto do construtor de veículos

a motor ou de membros das suas redes autorizadas. Se um

fornecedor e um distribuidor acordarem que tais peças

não podem ser fornecidas a oficinas de reparação

independentes, esse acordo irá provavelmente excluir

essas oficinas de reparação do mercado de serviços de

[Escreva texto] Página 23

reparação e manutenção, colidindo com o artigo 101.o do

Tratado”.

Uma das questões específicas suscitadas à Comissão

incide sobre a legitimidade de uma oficina autorizada

recusar unilateralmente vender peças cativas a oficinas

independentes. A Comissão considera que atendendo a que

normalmente as oficinas têm interesse em vender tais peças

a oficinas independentes, sendo considerado uma operação

que poderá gerar lucro, uma decisão unilateral de venda

não seria considerada abrangida pelo Art. 101 do TFUE

devido à na ausência de algum elemento de acordo- ou de

concertação- que limite a capacidade de decisão por parte

da oficial. Assim, a existência de um acordo celebrado

entre o construtor e oficinas ou distribuidores

autorizados contendo restrições às vendas de peças cativas

às oficinas independentes constituiria uma restrição grave

à concorrência. Neste caso, as oficinas independentes são

consideradas como utilizadores gerais, pelo que não lhes

poderá ser aposta restrições de venda- a menos que estes

pretendam revender tais peças, pois perante esta situação,

será legítima a restrição aos membros de um sistema de

distribuição selectiva de venderem os produtos a

distribuidores não autorizados.

Pelo contrário, o construtor será obrigado a

fornecer directamente as peças cativas às oficinas

independentes, no caso de estrangulamento ou dificuldade

de acesso a estas peças sobressalentes nos postos de

distribuição normais.

[Escreva texto] Página 24

A restrição prevista na alínea b) prevê as

restrições acordadas com o fornecedor de peças

sobressalentes, ferramentas de reparação ou equipamento

de diagnóstico30 que restrinjam a possibilidade de este

vender às oficinas de reparação autorizadas ou

independentes.

O acesso à informação técnica necessária à

concretização dos serviços de reparação e assistência

terá, assim, de ser permitido aos operadores

independentes31. Assim, a informação técnica necessária à

realização dos serviços que for disponibilizada aos

membros da rede autorizada terá também de ser

disponibilizada aos operadores independentes, numa base

não discriminatória32. De acordo com o entendimento da

Comissão, as informações/registos do historial de

manutenção do veículo integram a noção de informação

técnica cujo conteúdo deve ser tornado acessível e

disponibilizado à oficina independente, permitindo que

esta realize a operação solicitada. Na resposta à questão

colocada, a Comissão considerou que: “Qualquer recusa de

conceder acesso ao registo do historial de manutenção30 - Segundo a Comissão: “Existem duas categorias de ferramentas

electrónicas de diagnóstico e de reparação no mercado: as ferramentasespecíficas a uma marca, fabricadas por terceiros mas comercializadaspelo fornecedor de veículos, e outras ferramentas que se destinam àreparação de várias marcas de veículos”- Perguntas frequentes (FAQ),ponto relativo às questões relacionadas com as Ferramentas Electrónicas.

31 - Considerando que no Mercado pós-venda: “the Commission is tooprotective of ‘autonomous’ repairers”, o Autor considera: “Theguidelines provides, in particular, for a right to technical data forindependent repairers but there is nothing to assert that theserepairers will make any efforts to pay for the price requested to haveaccess to such data.”, VOGEL, Louis, “EU Competition Law Applicable …”p. 252 .32 - Ver considerando 65, 66 e 67 das Guidelines (2010).

[Escreva texto] Página 25

seria susceptível de fazer com que os acordos entre o

fornecedor de veículos e as suas oficinas de reparação

autorizadas constituíssem uma infracção às regras de

concorrência da EU”.

As ferramentas electrónicas de diagnóstico e de

reparação foram igualmente alvo de questão. Atendendo a

que: “Existem duas categorias de ferramentas electrónicas

de diagnóstico e de reparação no mercado: as ferramentas

específicas a uma marca, fabricadas por terceiros mas

comercializadas pelo fornecedor de veículos, e outras

ferramentas que se destinam à reparação de várias marcas

de veículos”, poderá ser legitimo a um construtor exigir à

sua rede de distribuidores e oficinas autorizadas a

utilização de uma determinada marca de ferramenta

electrónica, podendo gerar economias de escala33.

A questão das garantias constitui uma matéria

sensível, tendo sido alvo de questões específicas

suscitadas à Comissão34.

O princípio adoptado é que a garantia oferecida

pelo construtor não pode ser condicionada ao comprador

de este realizar os trabalhos de reparação e manutenção

(não cobertos pela garantia) nas redes de reparação

33 - A Comissão considerou: “Podem ser geradas economias de escala se umfabricante de veículos acordar com um fabricante de ferramentas que oconjunto da sua rede de oficinas de reparação autorizadas deve utilizaruma mesma ferramenta ou ferramentas. A utilização de uma ferramentacomum pode também permitir encontrar mais facilmente soluções paraproblemas técnicos. Além disso, a formação pode ser facilitada se todosos técnicos utilizarem um instrumento comum. Por conseguinte, na maiorparte dos casos, o facto de especificar que uma oficina de reparaçãoautorizada deve ter acesso a uma ferramenta específica, pode constituirum critério qualitativo aceitável”. Documento Perguntas Frequentes (FAQ)34 - Ver o documento Perguntas Frequentes (FAQ).

[Escreva texto] Página 26

autorizadas nem à exigência da utilização de peças

sobressalentes da marca do construtor. Ou seja, a

garantia oferecida pelo construtor terá de ser aplicada

às reparações realizadas nas redes de reparação

independentes e ser extensível à utilização das peças

sobressalentes alternativas. A apreciação das restrições

ao âmbito de aplicação da garantia do construtor abrange

não só a garantia inicial fornecida bem como a garantia

alargada, concedida pela rede de distribuidores, no

momento de aquisição do veículo35.

Por outro lado, as garantias concedidas pelo

construtor deverão abranger o veículo que foi adquirido

pelo utilizador num concessionário localizado num outro

Estado Membro da UE. O mesmo princípio é aplicável aos

serviços de manutenção e de reparação gratuitos; ou

seja, o utilizador que adquiriu o veículo num

concessionário autorizado num outro EM não poderá ser

objecto de um tratamento discriminatório36.

A restrição prevista na alínea c) prevê a

restrição que limita a possibilidade do fornecedor de35 - Porém, a garantia poderá legitimamente ser recusada no caso daorigem do pedido ter sido provocada por uma manutenção incorrectamenterealizada na oficina de reparação ou por uma peça sobressalentealternativa que comportava um defeito (de má qualidade). Verconsiderando 69 das Guidelines (2010) e FAQ.36 - No acórdão Swatch (1985), a questão prejudicial incidia sobre se ofabricante poderia limitar a garantia que oferece sobre os seus produtosàs vendas realizadas pela sua rede de concessionários. Neste caso, asociedade Suíça ETA Fabrique d’Ebauches (titular da marca e relógiosSwatch), oferecia a sua garantia aos relógios portadores da sua marca,desde que estes tivessem sido adquiridos na sua rede de distribuidoresexclusivos- excluindo da garantia os relógios Swatch que tivessem sidoadquiridos através de um importador paralelo. A limitação da garantiafoi condenada pelo TJUE. (Acórdão do TJUE de 10 e Dezembro de 1985, EtaFabrique d’Ebauches, Processo 31/85).

[Escreva texto] Página 27

peças sobressalentes de colocar a sua marca ou logotipo

de forma visível nos produtos ou peças sobressalentes. A

visibilidade das marcas concorrentes das peças

sobressalentes, permite que as oficinas de reparação e

os consumidores tenham conhecimento da sua existência e

aumentará as escolhas neste sector.

Ainda o problema da distribuição selectiva quantitativa no sector pós-

venda (oficinas de reparação).

Neste mercado específico, a Comissão considera

que deverão ser mantidas as regras que fomentem não

só a concorrência entre as oficinas de reparação

autorizadas e independentes, mas ainda a concorrência

entre as oficinas de reparação autorizadas. A

concretização deste objectivo é facilitada quando os

critérios de selecção, determinados pelo construtor,

são puramente qualitativos, admitindo como oficinas

de reparação autorizadas todas aquelas que satisfaçam

os critérios qualitativos exigidos. Porem, mesmo no

mercado pós-venda, a selecção pode ser obedecer a

critérios quantitativos, desde que a quota de mercado

não exceda a zona de conforto correspondendo a 30% da

quota de mercado37.

No caso da quota de mercado exceder a zona de

conforto, o processo de selecção quantitativo fará,

provavelmente, com que o acordo seja abrangido pelo artigo

101 nº1 do Tratado38. Na opinião da Comissão, “ fora da37 - Ver considerando 46 das Guidelines (2010).38 - No sentido de considerar que a Comissão : “ défend de façon trèsclaire le recours à la distribution sélective purement qualitative en

[Escreva texto] Página 28

zona de admissibilidade automática criada pelo Regulamento

de isenção por categoria do sector automóvel, as redes de

oficinas de reparação autorizadas devem, em geral, ser

abertas a todas as empresas que satisfaçam os critérios

qualitativos relevantes”.

A natureza dos critérios exigidos pelo construtor-

quantitativo ou qualitativo- pode suscitar dúvidas. Em

nossa opinião, o critério quantitativo funciona como um

limite numérico de agentes económicos admitidos na rede de

concessionários (numerus clausus), tendo por objectivo

permitir uma gestão económica e comercial mais

racionalizada. Pelo contrário, o critério de natureza

qualitativa tem por objectivo determinar as

características da rede de concessionários (o seu perfil),

pelo que qualquer agente que satisfaça esse requisito será

admitido. Assim, o critério que exige um número mínimo de

vendas constitui, em nossa opinião, um critério

qualitativo revelador da capacidade de captação de

clientela por parte do agente económico, tendo como

resultado que desde que este demonstre ter capacidade para

o cumprir é aceite como elemento da rede de

concessionário39. Pelo contrário, a Comissão considera que

este critério detém natureza quantitativa, poismatière d’après-vente, pour la très grande majorité des véhiculespuisqu’elle estime que sauf exceptions limitées, la vente et l’après-vente constituent des marchés séparés et que chaque constructeur détientavec son réseau plus de 30% du marché de l’après-vente”, VOGEL, Louis eVOGEL Joseph, “Le nouveau droit de… ».p. 46.39 - Em sentido contrario: “… la selección cuantitativa añade otroscriterios que limitan más directamente el número potencial dedistribuidores o talleres de reparación, bien fijando directamente sunúmero, bien exigiendo, por ejemplo, un nivel mínimo de ventas”, ORTUÑOBAEZA, Teresa, “Nuevo tratamiento de los acuerdos verticales …”, p. 564.

[Escreva texto] Página 29

“acrescenta elementos adicionais que limitam de forma mais

directa o número potencial de distribuidores ou de

oficinas de reparação”40.

Uma questão diferente consistirá em averiguar se os

critérios de natureza qualitativa satisfazem os requisitos

exigidos na admissibilidade dos sistemas de distribuição

selectivos, nomeadamente o da proporcionalidade atendendo

aos objectivos prosseguidos pelo construtor. A recusa do

construtor de aceitar como membro da sua rede uma

determinada oficina, com o argumento de que um dos

critérios exigidos é que a oficina não seja autorizada

para reparar veículos de marca concorrente, pode em

principio constituir uma violação do Artigo 101 nº1 do

TFUE, atendendo à ausência de relação entre qualidade dos

serviços prestados de reparação e veículos automóveis e a

exclusividade de afectação à marca do construtor.41

A restrição que preveja a obrigação das oficinas de

reparação autorizadas de vender veículos novos era

considerada uma restrição grave no anterior Regulamento

1400/2020, mas não se encontra prevista no RIC. Porém, as

Guidelines (2010) consideram que esta restrição é

susceptível de ser contrária ao Art nº 101 do TFUE, dado

que “a obrigação em causa não é necessária por força da

natureza dos serviços contratuais”.42 No entendimento da

Comissão, a obrigação da oficina de reparação vender40 - Ver considerando 44 das Guidelines (2010).41 - Pelo contrário, a Comissão considera que “uma obrigação deste tipoequivale a um critério não qualitativo, susceptível de restringir aconcorrência no mercado em causa”. Ver o documento Perguntas Frequentes(FAQ).42 - Ver considerando 71 das Guidelines (2010).

[Escreva texto] Página 30

veículos novos afastaria potenciais interessados,

constituindo restrições inadequadas ao acesso à rede de

oficinas de reparadores autorizados, restringindo a

concorrência. Porém, poderá excepcionalmente ser admitida

esta obrigação conjunta quando o construtor pretenda

lançar a marca num determinado mercado geográfico,

anulando a possibilidade de “free-rider” de oficinas de

reparação aproveitarem-se do investimento inicial

necessário para a venda dos veículos realizado por um

distribuidor: “Nestas circunstâncias, a associação

contratual das duas actividades por um período de tempo

limitado teria um efeito pró-concorrencial no mercado da

venda de veículos a motor43”

As novas regras aplicáveis ao sector de

distribuição de veículos automóveis foram objecto de

congratulação pela parte do Comissário Europeu da

Concorrência, Joaquin Almunia, tendo afirmado: "Acredito

fortemente que a nova estrutura trará vantagens tangíveis

para os consumidores, ao reduzir os custos de reparação e

manutenção e reduzirá também o custo de distribuição, ao

abolir regras excessivamente restritivas."

Partindo da constatação de que o mercado de

distribuição dos veículos novos já atingiu um grau de

concorrência intermarca intenso, as preocupações centram-

se no mercado pós-venda, cujo custo das reparações

representam cerca de 40% do custo total do veículo para o

seu proprietário. O custo tem vindo progressivamente a

agravar-se com a presente crise a qual incentiva o43 - Ver considerando 71 das Guidelines (2010).

[Escreva texto] Página 31

consumidor a manter o veículo antigo implicando uma

manutenção mais frequente.

A dúvida, contudo, persiste: a estipulação de

regras de concorrência mais rígidas constitui o meio mais

adequado de promoção da concorrência no mercado?

[Escreva texto] Página 32