Daniella Kehrig Barbosa

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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA DANIELLA KEHRIG BARBOSA MODELOS DE INTERVENÇÕES À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA BIGUAÇU 2007

Transcript of Daniella Kehrig Barbosa

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

DANIELLA KEHRIG BARBOSA

MODELOS DE INTERVENÇÕES À CRIANÇA

E AO ADOLESCENTE VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

BIGUAÇU

2007

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DANIELLA KEHRIG BARBOSA

MODELOS DE INTERVENÇÕES À CRIANÇA

E AO ADOLESCENTE VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

Monografia apresentada para a realização de Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí.

BIGUAÇU

2007

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IDENTIFICAÇÃO

ÁREA DE PESQUISA

Psicologia Social

TEMA

Violência infanto-juvenil

TÍTULO DO PROJETO

Modelos de intervenções à criança e ao adolescente vítima de violência

ALUNA

Nome: Daniella Kehrig Barbosa

Código de Matrícula: 0322497

Centro: Educação Biguaçu Curso: Psicologia Semestre: 8º período

ORIENTADORA

Nome: Luciana Saraiva

Categoria Profissional: Psicóloga/Professora

Titulação: Doutora

Curso: Psicologia

Centro: Educação Biguaçu

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Pensamento

A desvalorização da figura da criança,

“[...] É preciso ser grande, ocupar espaço para suscitar estima e consideração”,

Pequeno quer dizer sempre: banal, desprovido de interesse [...] Pequenos negócios [...]

Pequenas tristezas”.

“Nada melhor que o grande para impor: grandes cidades, altas montanhas, árvores majestosas”.

“Nós dizemos: uma grande obra, um grande homem”.

“Uma criança é tão pequena, tão leve, tão pouca coisa.”

(KORCZAK 1981)

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AGREDECIMENTOS

A professora e orientadora Dra. Luciana Martins Saraiva que orientou e

supervisionou meu trabalho do começo ao fim, ao longo de um ano de muita dedicação,

paciência, apoio e incentivo para comigo, na elaboração desta pesquisa, auxiliando e

sugerindo as possibilidades para a realização da mesma, oferecendo sempre seu apoio e

direção. E que foi estimulo e visão de muita sabedoria, desenvolvida pelo seu magnífico

trabalho como professora nas disciplinas em que tive o privilégio de participar.

Ao professor e doutorando Marcelo José de Oliveira que participou num primeiro

momento, compondo a banca examinadora do projeto desta pesquisa, com suas contribuições

enriquecedoras, suas sugestões e “discutindo” com os demais membros da banca, no sentindo

de somente acrescentar mais significado à minha pesquisa. E que, estará novamente neste

segundo momento presente para continuar contribuindo e discutindo sobre a temática da

pesquisa, na defesa de minha monografia. Não podendo deixar de dizer que, como professor

ao longo de todo o curso e principalmente em suas disciplinas ministradas, sempre nos

instigou ao mundo do conhecimento, nos estimulando a realização de pesquisas e, sempre

com muito entusiasmo, contagiando nossas mentes a buscar e querer saber cada vez mais

sobre todos os temas em que abordava.

A professora Ana Paula Ballbueno Karkotli que participou deste projeto de pesquisa

no primeiro momento, compondo a banca examinadora do projeto, com as suas valiosas

contribuições, sugestões e discussões à cerca da temática em questão. Sendo que,

infelizmente não poderá estar presente neste segundo momento de avaliação e participação, da

defesa da monografia, por incompatibilidade de horários. Não podendo deixar de lembrar de

sua brilhante jornada como professora em todo o curso, principalmente pelas disciplinas

ministradas, sempre nos incentivando a ir à prática de campo, conhecer nossos futuros

espaços de trabalhos. E, em seu enorme carisma e paciência por estar sempre presente quando

precisamos, muito dedicada e preocupada com nosso desenvolvimento acadêmico e pessoal.

A professora Maria Suzete Salib, coordenadora do Projeto de Trabalho de

Conclusão de Curso - TCC, por sua atenção, esclarecimentos, disponibilidade e interesse, nos

possibilitando sempre que possível, tirar dúvidas que surgiam no decorrer de todo o processo.

Sempre nos respondendo tão prontamente ou via e-mail, ou pessoalmente, nossas inquietações

decorrentes de muita ansiedade.

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Não podendo deixar de agradecê-la pela sua majestosa atuação como professora empenhada e

sua ampla gama de conhecimentos, possibilitando durante todo o curso, enorme estímulo a

todos nós alunos, ao desenvolvimento cada vez maior em possuirmos um compromisso com

nossas obrigações.

A professora e doutora Ruth Terezinha Kehrig pelo seu incentivo, dedicação e

empenho para comigo na realização desta pesquisa. Como pesquisadora ativa, foi luz de

inspiração para o meu trabalho. Sua ampla gama de conhecimentos na área da saúde pública e

coletiva, pode durante vários momentos participar da pesquisa com suas sugestões e

esclarecimentos para realização da mesma. Tendo a honra de poder contar com sua ilustre

presença e colaboração na participação ativa, como membro da banca examinadora na defesa

de minha monografia.

Ao Programa Sentinela da cidade Florianópolis, SC e principalmente a equipe de

profissionais que me recebeu portas abertas, se disponibilizando a atender quaisquer dúvidas,

curiosidades e necessidades da pesquisadora para a realização de sua pesquisa. Pois este

trabalho só foi possível realizar-se, devido à disponibilidade dos profissionais que puderam

contribuir e muito, com a pesquisa em questão. Em especial a coordenação e a psicologia

deste local, que estiveram sempre disponíveis na realização de todo o processo.

Ao CEVIC – Centro de atendimento à vítima de crime, da cidade de Florianópolis

SC, principalmente ao Sr. Rodrigo Rocha de Moraes, coordenador da instituição e a psicóloga

da mesma. Ambos muitos receptivos e prestativos quando precisei de suas contribuições e

informações para a realização de meu trabalho. Permitindo minha visita à instituição sempre

que eu necessitasse, disponibilizando matérias e local para a realização da pesquisa.

Em especial a minha família que foi testemunha ocular de meu imenso cansaço, pela

eterna paciência, em compreender minhas fraquezas e temores, me apoiando no decorrer de

todo o processo.

E, a uma pessoa muito especial que, sem a sua participação em minha vida, eu não

teria conseguido, meu terapeuta Dr. Eduardo Canteli.

Não tenho como deixar de agradecer a uma força superior a minha que, me concebe a

que possuo. Esta força superior nunca me abandona e sempre está olhando por mim e guiando

meus caminhos, livrando-me do de todo o mal e da inveja, meu Poder Superior que chamo de

“Deus”. Muito obrigada por me fornecer força e coragem sempre, meu “Deus” amoroso.

E por fim a todos os meus colegas de faculdade, que ao longo dessa jornada foram

luz de esperança, apoio, paciência e muito incentivo para a conclusão desta etapa.

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Dedico este trabalho a todas as crianças

E adolescentes que foram vítimas de algum tipo de violência

Em sua história de vida e seus familiares.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................................12

1.1 INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA E FAMÍLIA...................................................................12

1.2 VIOLÊNCIA.......................................................................................................................14

1.3 TIPOS DE VIOLÊNCIA....................................................................................................16

1.3.1 Violência Física..............................................................................................................18

1.3.2 Violência Sexual.............................................................................................................19

1.3.3 Violência Psicológica.....................................................................................................20

1.3.4 A Negligência..................................................................................................................21

1.4 ATENDIMENTO A VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA.............................................................23

2 METODOLOGIA DA PESQUISA....................................................................................29

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................................32

3.1 SITUAÇÃO I – SENTINELA............................................................................................32

3.1.1 Estudo da situação I - Programa Sentinela do Governo Federal..............................32

3.1.2 Análise da situação I......................................................................................................34

3.2 SITUAÇÃO II – CEVIC.....................................................................................................39

3.2.1 Estudo da situação II - CEVIC – Centro de Atendimento à Vítima de Crime........39

3.2.2 Análise da situação II.....................................................................................................42

3.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO.....................................................................44

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................47

4.1 RECOMENDAÇÕES PARA FUTURAS PESQUISAS....................................................49

5 REFERÊNCIAS...................................................................................................................50

APÊNDICES

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RESUMO

Entre as muitas possibilidades de abordar o tema violência infanto-juvenil, optou-se por conhecer quais os modelos de intervenções existentes, em duas instituições de Florianópolis, Programa Sentinela e CEVIC. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que descreve e analisa estes modelos. Elaborou-se uma revisão bibliográfica abrangendo a vulnerabilidade infanto-juvenil à violência, nas diversas formas de expressão e o que vem sendo realizado no atendimento a estas vítimas. O método utilizado foi estudos de caso, configurado como um estudo multi-caso. Os dados foram coletados por entrevistas semi-estruturadas, proporcionando informações-chave na identificação dos modelos vigentes nas duas instituições referidas. Os resultados revelaram facilidades e dificuldades encontradas pelas equipes de intervenções das duas instituições. Aspectos dos níveis de atenção básica à saúde como: prevenções primárias, secundárias e terciárias, foram expostas pelas equipes do Sentinela e o caráter estrutural da violência como fundamental importância à discussão. No CEVIC-Centro de atendimento à vítima de crime, evidenciaram-se aspectos importantes na dialética do ser vítima ou não e a relação entre a multi e interdisciplinaridade, como modelos de intervenção. Conclui-se que existem divergências nos modelos de intervenções operados nas instituições pesquisadas, propondo reflexões aos leitores e apresentando o que a literatura destaca como facilidades e dificuldades no âmbito da atuação dos órgãos encarregados e da rede de apoio, destinada a articular e executar intervenções adequadas às vítimas e suas famílias. O importante potencial de prevenir a violência contra a criança e adolescente, tentando diminuir os danos causados e operando no restabelecimento das vítimas e na promoção da não violência.

Palavras-Chave: violência infanto-juvenil; modelos de intervenções; estudo de caso e psicologia.

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INTRODUÇÃO

A tarefa de pensar a situação da criança e do adolescente vítima de violência se

constitui num desafio de grande complexidade.

Entre as muitas possibilidades de abordar este tema, optou-se por conhecer quais são

os modelos de intervenções existentes, especificamente em duas instituições da cidade de

Florianópolis, o Programa Sentinela - projeto criado pelo governo federal, destinado ao

atendimento psicossocial especializado, às vítimas de violência infanto-juvenis e o CEVIC -

Centro de Atendimento à Vítima de Crime, que se destina a auxiliar vítimas de crime num

geral, ou seja, qualquer vítima de crime, oferecendo suportes psicológico, jurídico e

assistencial. Ambas as instituições tem seus objetivos voltados à finalidade social, de prestar

atendimento às crianças e aos adolescentes vítimas de violência.

O presente trabalho se justifica pela potencialidade que tem um atendimento adequado

à vítima de violência infanto-juvenil, no sentido de conhecer, identificar e contribuir com

reflexões, para a realização de uma intervenção eficaz, que apóia e ampara as vítimas de

violência contra a criança e adolescente, proporcionando um suporte psicológico e social,

tentando diminuir a violência e prevenir a repetição da mesma.

Esta pesquisa se limita a conhecer e identificar como ocorre na realidade de

Florianópolis nas duas instituições acima citadas, como operam os modelos de intervenção à

criança e ao adolescente vítima de violência. Estudos dessa natureza podem se constituir

como um primeiro passo para pensar nas possibilidades de melhorar essa realidade.

Trata-se de uma pesquisa que utiliza o método qualitativo através da metodologia

estudo de caso.

Os resultados deste trabalho permitiram, a partir das práticas identificadas, elaborar

reflexões e apontar novas possibilidades de lidar com a respectiva temática.

Os casos de violência contra crianças e adolescentes provêm de famílias em situação

de vulnerabilidade, que chega a estas instituições na maior parte delas, por encaminhamento

do Conselho Tutelar.

Existe muita resistência por parte dessas famílias e seus membros, para aceitar o

atendimento proporcionado e disponibilizado pelas instituições especializadas no combate à

violência.

Estas instituições especializadas buscam, através de suas intervenções, prevenir riscos

à violência, diminuir os danos e apoiar as famílias, crianças e adolescentes vítimas de

violência.

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Frente a esta problemática, o presente estudo se propôs a responder as seguintes

questões:

- Como se estruturam os modelos de intervenções à criança e aos adolescentes vítimas

de violência, em duas instituições de Florianópolis, o Programa Sentinela e o CEVIC?

- Qual o papel que assumem estas instituições para prevenir a violência, diminuir os

danos causados, e amparar e intervir nas famílias, crianças e nos adolescentes vítimas de

violência?

Esta pesquisa teve por objetivo geral: identificar os modelos de intervenções a criança

e aos adolescentes vítimas de violência, operados pelo Programa Sentinela e CEVIC?

E como objetivos específicos à pesquisa buscou compreender os seguintes pontos:

- Elaborar uma revisão bibliográfica sobre os aspectos da violência, que envolvem o

atendimento à criança e ao adolescente vítima de violência

- Descrever os modelos identificados de intervenção à criança e ao adolescente vítima

de violência, existentes e operados em duas instituições de Florianópolis: no Programa

Sentinela e no CEVIC.

- Analisar os modelos de intervenção existentes nas duas instituições acima citadas, à

luz das recomendações apresentadas na literatura especializada.

- Desenvolver e propor reflexões sobre os modelos de intervenção, identificados e

operados nas instituições, Sentinela e CEVIC, visando prevenir a violência contra a criança e

o adolescente, tentando diminuir os danos causados e, apoiando com intervenções adequadas

às vítimas e suas famílias.

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1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA E FAMÍLIA

A formação de cada pessoa humana passa necessariamente por dois períodos

fundamentais da própria vida – a infância e a adolescência. Falar nessa condição da vida,

segundo Ferrari (2002, p.23), “significa falar em inocência..., alegria..., sorriso...,

curiosidades..., questionamentos..., crises de autoridade..., sonhos..., transformações...,

esperança de um mundo melhor...”.

A autora acima comenta que a infância representa um importante período de

descobertas, no qual “cada momento é singular, único e importante por si mesmo. Transcorre

do nascimento até os doze anos, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (no Brasil,

1990) quando, por volta dessa idade, começam a surgir mudanças hormonais e físicas,

características da fase seguinte, a adolescência” (ibid).

Conforme demonstra Ferrari (2002, p.37), os processos psicológicos são

fundamentais no desenvolvimento saudável da criança:

A criança está desde seu nascimento vivendo um processo transferencial intenso, transferindo para figuras significativas, que desempenham papéis familiares, fantasias inconscientes e esperando dessas uma complementaridade satisfatória. Na medida em que essa complementaridade de papéis ocorre, a capacidade perceptual da criança desenvolve-se gradativamente, permitindo-lhe perceber, começar a ver essas figuras significativas de forma cada vez mais real, sem tantas projeções de fantasias inconscientes.

Desde seu nascimento a criança depende do ambiente ao seu redor para poder

sobreviver. Existe uma relação de dependência familiar e social da criança, com base na qual

se estrutura a sua formação e o seu desenvolvimento. O autor também faz referência nos casos

em que está família, é “substituída” por instituições de acolhimento como abrigos e orfanatos.

A importância da família para a vida da criança coloca a necessidade de discorrer

sobre esse conceito. Ferrari (2002, p.28) define a família como sendo,

a constituição de vários indivíduos que compartilham circunstâncias históricas, culturais, sociais, econômicas e afetivas. Sendo uma unidade social emissora e receptora de influências culturais e de acontecimentos históricos. Possui comunicação própria e determinada dinâmica [...] Família é uma unidade básica de desenvolvimento de experiências, de realização ou de fracasso, de saúde ou de doença.

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Reportando-se à família enquanto construção humana em permanente processo de

modificação e consolidação em cada sociedade, Souza (2002, p.12) define família como uma

construção cultural, representando “um campo enraizado em crenças, hábitos, atitudes e

valores. Trata-se das raízes do ser humano no seu habitat”.

A qualidade dessa primeira acolhida que, geralmente é proporcionada pela família e a

importância do estabelecimento e da consistência dos primeiros vínculos da criança, são

primordiais e indispensáveis, já que a criança depende do outro para crescer e se desenvolver.

Poder contar com uma referência afetiva estável permite para a criança poder, por intermédio

dela, ir construindo a sua identidade. Esse processo de identificação será conturbado se nesse

ambiente, este contexto que a recebe, não for acolhedor e protetor (FERRARI, 2002).

Conforme destacam Azevedo e Guerra (1993), desde Freud, a família é um conceito

fundamental no campo da psicologia, em razão do seu princípio segundo o qual a estrutura

mental se forma na infância.

Existe uma relação de complementaridade entre a criança e seu grupo familiar, que

quando não ocorre ou não seja satisfatória, gera-se a instauração de problemas de ordem

psicopatológica (FERRARI, 2002). Assim sendo, tanto o período da infância como da

adolescência são diretamente marcados por influências vivenciadas pela criança no seu

ambiente familiar, ou institucional, quando a instituição substituir a família. De acordo com

Silva (2002, p.79), “se a família não consegue prover seus membros de cuidados, cabe então à

sociedade protegê-la”.

Existe um conteúdo pedagógico que é fundamental na relação entre pais e filhos,

criança e família, adolescente e grupo familiar, como também criança / adolescente com sua

instituição de moradia. Uma boa relação entre pais e filhos, com confiança e transparência, se

constrói mediante uma aprendizagem emocional. Moreno (1972 apud FERRARI, 2002, p.29),

“ressalta a importância dos primeiros vínculos, dentro da matriz de identidade (da criança),

procurando, dentro da família, preservar o contato imediato entre o Eu e o Tu – o encontro”.

No movimento histórico de mudanças sociais e ideológicas que ocorreu na sociedade

ocidental, “[...] há estudiosos que divergem da idéia de que sejamos hoje mais respeitosos

com as crianças do que nos séculos passados” (MINAYO, 2002, p.97).

Entretanto, tentar compreender as fases do desenvolvimento de uma criança e de um

adolescente, considerando que sua identidade é ao mesmo tempo individual e social, leva a

reconhecer a importância das crianças e adolescentes nesse período de suas vidas,

participarem e pertencerem a vários grupos sociais, cada um com características e regras de

funcionamento próprias. Essa troca sócio-afetiva derivada da convivência social, com grupos

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significativos, onde a criança esteja inserida, é importantíssimo para a sua sobrevivência,

socialização e conhecimento dos valores da própria cultura (FERRARI, 2002).

Crianças e adolescentes tem de ser tratados como sujeitos e pessoas em condições

especiais no seu processo de crescimento e desenvolvimento, como também, ser reconhecidos

como sujeitos de direito, quer dizer, como portadores de cidadania. A criação do Estatuto da

Criança e do Adolescente (em 1990) teve e tem um papel central no sentido de elevar o lugar

social desse grupo, compreendendo-o como sujeito de direitos e cidadania dentro dos limites

que a maturidade lhe permite (MINAYO, 2002).

1.2 VIOLENCIA

Infelizmente a violência hoje é uma realidade que está em quase toda parte. Basta

acessar a mídia brasileira (televisão, jornais, rádios e etc), que nos deparamos com numerosos

casos e relatos de violência. Todavia, é necessário conceituá-la.

Brasil (apud ASSIS; CONSTANTINO, 2006, p.163) entende violência como

“qualquer ação ou omissão realizadas por indivíduos, grupos, classes, nações, que ocasionam

danos físicos, emocionais, morais e espirituais a si próprios ou aos outros”.

A violência se traduz na realização de determinadas relações de força, que ocorrem

tanto em termos de classes sociais, quanto em termos de inter-relações diretas entre as pessoas

(CHAUÍ apud AZEVEDO, 1989).

O termo violência implica na perda da autonomia, na privação da vontade própria de

uma pessoa que fica dominada ou subjugada por outra, ao desejo e à vontade desta outra

(FERRARI, 2002).

Existe na violência, implícita ou explicitamente, o exercício de “abuso do poder, da

força, seja ela física, psíquica ou moral, em uma relação assimétrica e desigual” (GOMES,

apud CAMPOS, 2002, p.01). O que ocorre na violência extrapola ao simples uso do poder em

uma relação assimétrica, desigual, pois se trata do abuso do poder.

Assim sendo, pode-se também entender a violência como procedimentos que causam

uma desorganização emocional nos sujeitos, derivada de uma relação de domínio, na qual

alguém é tratado como objeto de manipulação e gozo do outro (SOUZA apud RAMOS,

2005).

Segundo Ferrari (2002) a violência deve sempre ser pensada como manifestação de

relações de força, que se expressam enquanto relações de dominação. Quer dizer, trata-se das

diferenças existentes na sociedade sendo convertidas em relações de desigualdade, enquanto

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essa desigualdade passa a ser convertida em relação assimétrica e hierarquizada, segundo as

quais, à vontade de um, torna-se sempre subordinada à vontade do outro. É assim que a ação

se transforma em violência.

Historicamente, no desenvolvimento da civilização, a violência contra a criança e o

adolescente sempre esteve acompanhada do caráter arbitrário atribuído aos pais de decidir

sobre a vida de seus filhos, e também vinculada ao processo educativo. Assim sendo, á

violência “tem sido considerada, em todos os tempos, como um instrumento de socialização e,

portanto, como resposta automática a desobediências e rebeldias” (MONTEIRO; CABRAL;

JODELET, apud MINAYO, 2002, p.96).

A abordagem da violência na sociedade brasileira tem evoluído nas últimas décadas.

Nos anos 70, era o tema do menor institucionalizado que ocupava o centro das atenções. Nos

anos 80 as temáticas referentes à violência se ampliaram bastante, com abordagens muito

mais variadas, acompanhando o agravamento da crise urbana e a importante multiplicação do

debate sobre a situação da infância brasileira. Foi esse contexto que culminou com a

implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990 (MINAYO, apud

ASSIS; CONSTANTINO, 2006).

A violência se constitui de um grave e real problema social que vem se intensificando

a cada dia em nossa sociedade. Este fenômeno “que dia-a-dia assume proporções assustadoras

em todo o mundo, [...] em todos os lugares e em todas as direções, pode-se sentir os reflexos

de sua terrível presença” (CAMPOS, 2002, p.23).

Existem numerosos fatores que contribuem para que a violência aconteça, e muitos

deles estão bem próximos de nós, inclusive muitas vezes acontecendo dentro de nossa própria

casa, ou ainda na casa de um parente, ou de um vizinho, que por vezes, nem nos damos conta

ou, não queremos nos dar. Para Campos, a violência deve ser percebida sob o olhar social

(2002, p.01):

A pobreza é apontada como a primeira violência geradora de novas e sucessivas violências na vida das crianças e dos adolescentes. Em seguida a desagregação familiar, decorrência da pobreza e da rápida mudança de valores, fora àqueles que sofrem violência desde o útero materno, pela subalimentação [...]

.

Na violência está implícita a idéia de injustiça, já que na violência existe um

“rompimento ou tentativa de rompimento de uma ordem natural, social, moral ou jurídica.

Este ato ocorre mediante o uso de uma força à qual se opõe outra força, que atua no sentido da

preservação desta ordem” (CAMPOS, 2002, p.23).

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Velho (1996) entende que a violência na sociedade brasileira é decorrente da

desigualdade social, agravada esta por um esvaziamento de valores ético-culturais.

Entendendo justiça como um conjunto de crenças e valores referidos ao bem-estar individual

e social.

O mesmo autor acrescenta ainda que, a concepção de justiça existente em uma

sociedade, deve ser minimamente compartilhada pelo sistema cultural e ou sistema social.

Nesse sentido não haveria tanto espaço para a impunidade, segundo a qual os maiores

infratores nunca são realmente submetidos ao rigor da lei.

Segundo Arendt (1990 apud ROQUE, 2002), alguns autores diferenciam dois aspectos

centrais para a compreensão da violência – ou seja, aquela que ocorre no contexto social, por

ser decorrente das desigualdades sociais e, aquela causadora de danos físicos de um agressor

sobre o corpo do outro, que lhe impõe uma passividade absoluta, de modo que, sem

alternativa de ação, o sujeito sob violência se anula.

1.3 TIPOS DE VIOLÊNCIA

Quando se falam em violência, as pessoas em geral logo pensam em assaltos, roubos,

crimes e bandidos, pessoas que prejudicam os bens dos outros e ou agridem pessoas. No

entanto, há outros tipos de violência, como por exemplo, a violência contra crianças e

adolescentes (CAMPOS, 2002).

A relação entre um adulto e uma criança é intrinsecamente desigual, trata-se de

pessoas com diferentes condições (físicas, intelectuais, emocionais e sociais) e diferentes

poderes. Nesse contexto, como muito bem afirma Souza (2002, p.15), “a violência contra

crianças é sempre uma covardia. O maltrato, em qualquer forma, é sempre um abuso de poder

do mais forte contra o mais fraco. Afinal, a criança é (sempre mais) frágil, em seu

desenvolvimento, e totalmente dependente [...]”.

As famílias que impõem os limites de comportamento através da violência estão

reafirmando e transmitindo um modelo de violência que tem se perpetuado nas relações em

família. Nessa condição, os filhos aprendem a enfrentar os problemas e a solucionar conflitos

pela força, tendendo a repetir o mesmo modelo, seja nas suas novas relações familiares e ou

afetivas, ou seja, em outras relações interpessoais, na rua, com os amigos e ou no trabalho

(SOUZA, 2002).

A violência contra a criança sempre existiu na sociedade, em diferentes formas,

durante o transcurso da história. Guerra (1996 apud MINAYO, 2002, p.97) lembra que :

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As sociedades praticavam o infanticídio, os espancamentos e os incestos e se muitas delas, no passado, sacrificavam e mutilavam suas crianças para aliviar a culpa dos adultos, em nossa época, tão comentada pela sua racionalidade, continuamos matando, mutilando, submetendo à fome as crianças por meio de nossas atividades sociais, militares e econômicas.

A violência doméstica é uma das várias modalidades de expressão da violência que a

humanidade pratica contra suas crianças e adolescentes, sendo que as raízes desse fenômeno

também estão associadas aos contextos históricos, sociais, culturais e políticos em que se

insere e, não pode ser compreendida somente como uma questão decorrente de conflitos

interpessoais entre pais e filhos. Mesmo este relacionamento interpessoal, a qual configura um

padrão abusivo de interação pai-mãe-filho, foi construído historicamente por pessoas que, ao

fazê-lo, revelam as marcas de sua história pessoal no contexto da história socioeconômica,

política e cultural da sociedade (ROQUE; FERRIANI, 2002).

Para a violência contra as crianças e os adolescentes que ocorre no caso específico do

espaço doméstico, os terapeutas familiares têm constatado que essa violência vem sendo

utilizada pelos adultos como uma forma de tentar lidar com os seus desequilíbrios

emocionais. “Assim, poderíamos dizer que freqüentemente elas servem como o popular ‘saco

de pancada’ para aliviar o estresse dos adultos”. (GUERRA, apud MINAYO, 2002, p.98).

Como se pode observar nas reflexões acima, a violência tem um conteúdo macro, na

sociedade em que ocorre, e outro micro, no âmbito individual ou privado. Considerando os

dois aspectos citados, Azevedo (1989 apud ROCHA, 2002) elabora uma diferenciação entre

os processos de vitimação e vitimização.

A vitimação social, refere-se a crianças e adolescentes vítimas dos problemas sociais,

de caráter estrutural, tais como: pobreza, saúde, fome, moradia, saneamento básico e

educação. Enquanto que, a vitimização ocorre quando a criança ou adolescente sofre abuso

por parte de adultos.

Existem muitas formas e expressões diferentes de violência. Minayo (2002) chama a

atenção para o fato de que os diversos tipos de violência geralmente costumam se expressar

em formas associadas. A autora desenvolve uma importante conceituação para os tipos de

violência estrutural e doméstica.

A violência estrutural repercute sobre a condição de vida das crianças e adolescentes,

mediante decisões políticas, econômicas e sociais, que comprometem o seu crescimento e

desenvolvimento. “Por ter um caráter de perenidade e se apresentar sem a intervenção

imediata dos indivíduos, essa forma de violência aparece ‘naturalizada’, como se não

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houvesse nela a ação de sujeitos” (MINAYO, 2002, p.99). Estas situações de violência

estrutural que são geradas pela sociedade “só incomodam quando as próprias vítimas, por

meio de algum mecanismo de resistência (inclusive a delinqüência), ou algum movimento de

consciência social, as concretizam em forma de denuncia” (ibid).

Na esfera pública Minayo (2002) destaca três formas que se manifestam enquanto

expressão social da violência estrutural: o fenômeno meninos e meninas de rua, a situação dos

meninos e meninas trabalhadores, e a condição de crianças e adolescentes institucionalizados.

Já na esfera privada, a violência doméstica é aquela exercida dentro da dinâmica da

vida privada. O fenômeno da violência doméstica tem atingido enormes proporções na

sociedade atual, sendo a sua ocorrência destaque nos mais diversos meios de comunicação,

destacando-se imensamente, as agressões físicas e os abusos sexuais das diversas naturezas,

praticados por: médicos, padres, babás, mas, principalmente no contexto intrafamiliar

(SOUZA, 2002).

Entende-se por violência intrafamiliar aquela que ocorre dentro da família, envolvendo

“parentes que vivem ou não, sob o mesmo teto, embora a probabilidade de ocorrência seja

maior entre parentes que convivem cotidianamente no mesmo domicílio. A violência

doméstica, por sua vez, não se limita à família. Envolve todas as pessoas que convivem no

mesmo espaço doméstico, vinculado ou não por laços de parentesco” (ARAÚJO, 2002, p.06).

Existe praticamente um consenso entre os autores em classificar a violência doméstica

contra a criança e o adolescente em quatro tipos, conforme suas expressões mais visíveis: a

violência física, violência sexual, violência psicológica e a negligência. Estes tipos de

violência podem aparecer isolados ou em conjunto.

1.3.1 Violência Física

Para Guerra (1998) a violência física possui uma definição complexa que vem

sofrendo transformações ao longo do tempo. No entanto, pode ser conceituada como ação que

causa dor física na criança ou no adolescente. “A violência física ocorre quando alguém

causa ou tenta causar dano por meio de força física, de algum tipo de arma ou instrumento

que possa causar lesões internas, externas ou ambas” (DAY et al., 2003, p.10).

Campos (2002) enfatiza com veemência que, a violência física ocorre em toda e

qualquer ação causadora de dor física numa criança, desde um tapa ou beliscão até as

queimaduras e os espancamentos fatais, todos essas ocorrências representam um ato contínuo

de violência. Entre outras formas de abusos físicos, a autora refere ainda, os castigos

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incompatíveis com a idade e, capacidade de compreensão de cada criança. Sendo que, na

prática da violência física, os atos violentos mais comumente encontrados são: tapas, murros,

agressões com diversos tipos de objetos (cintos, fivelas, fios enrolados, vara, chicote, tábuas,

mordidas, escovas de cabelo, mata moscas, ferros de passar roupa, garfos, facas, frigideiras

quentes e ou líquidos quentes), enfim, o que o adulto ou agressor tiver pela mão. As lesões

derivadas da violência também são das mais diversas formas, desde os vermelhões,

hematomas, até as queimaduras de terceiro grau e fraturas.

1.3.2 Violência sexual

Entende-se por violência sexual todo ato ou jogo sexual, seja heterossexual ou

homossexual, entre adulto(s) e criança(s) ou adolescente(s) que tem como finalidade obter

alguma forma de estimulação sexual. “A violência sexual é toda ação na qual uma pessoa, em

situação de poder, obriga uma outra à realização de práticas sexuais, utilizando-se da força

física, influência psicológica ou uso de armas ou drogas” (DAY et al., 2003, p.10).

O abuso sexual é uma das formas mais graves de maltrato infantil, consistindo na

utilização de um menor, para satisfação dos desejos ou distúrbios sexuais de um adulto,

muitas vezes encarregado dos cuidados da criança que é abusada.

Para Campos (2002, p.29) “qualquer tipo de aproximação sexual inadequada que

aconteça entre menores de diferentes etapas evolutivas e ou, uso de algum tipo de correção

(física ou emocional), também se considera abuso ou violência sexual”. Essa forma de abuso

ou violência sexual não distingue classe social, nem nível sócio-cultural, comenta ainda a

autora.

Existe muita dificuldade na quantificação da violência sexual, uma vez que a mesma é

encoberta por tabus culturais, relações de poder nos lares e discriminação das vítimas como

culpadas (MINAYO, 2002).

Ao explicitar os componentes da violência sexual, Azevedo (1995, apud Sousa, 2002,

p.16) afirma:

[...] que a negligência no cuidado de crianças, assim como maus-tratos a elas infligidos, e a exploração sexual que dela (sic) se faz, são fenômenos que o adulto tende a ocultar, seja porque seriam passíveis de punição criminal, seja porque a descoberta do agressor provocaria o desmoronamento de instituições cuja gigantesca força deriva, como no caso da família, de seu caráter sagrado. Dada a sacralidade da instituição familiar, a sociedade marginaliza e estigmatiza aqueles que apontam as suas mazelas

20

Mesmos nos casos onde a criança é abusada por um agressor externo ao seu grupo

familiar, persistem as resistências e dificuldades para chegar à denúncia dos fatos, aos órgãos

de direito, encarregados para a proteção da vítima. “É o silêncio que se estabelece em torno de

um abuso sexual de criança, pois, para o senso comum, a publicação do fato comprometeria a

imagem do adulto que a criança vitimizada virá a ser, condicionando negativamente suas

possibilidades de formar uma nova sagrada família” (SOUSA, 2002, p.16).

Todavia, comenta Gomes (1994, apud MINAYO, 2002) a existência de abuso sexual

no âmbito familiar, na maior parte das vezes tem como o agressor o pai, o padrasto, ou ainda

pessoas conhecidas do relacionamento da vítima.

O abuso sexual infantil representa sempre uma espécie de violência em torno da qual

se manifestam poderes desiguais, coação ou mesmo sedução. Pode existir tanto a

desigualdade de gênero (masculino versus feminino), mas, sobretudo de geração. Este tipo de

abuso pode ser praticado, como ocorre freqüentemente, sem uso de força física e geralmente

acontece sem deixar marcas fisicamente visíveis, tornando-o muito difícil de se chegar à

comprovação, especialmente no caso de crianças pequenas (ARAÚJO, 2002).

Ainda comenta o autor acima citado que, são muitas as formas existentes de abuso

sexual contra a criança e o adolescente, podendo variar desde atos que envolvam o contato

sexual propriamente, como sem penetração e ou outros atos sem contato sexual, a exemplo do

voyeurismo e exibicionismo.

Conforme afirma Souza (2002) as conseqüências do abuso sexual cometido contra a

criança e o adolescente são graves, muitas vezes com repercussões para toda a vida. A criança

e ou adolescente vitimizada, costuma ser passiva, dependente, podendo se mostrar

extremamente revoltada, agressiva e inclusive promíscua na adolescência. Possivelmente terá

problemas ligados a relacionamentos interpessoais, havendo uma grande chance da mesma se

tornar também um futuro abusador.

Cabe referir ainda que, o abuso sexual intrafamiliar se diferencia da exploração sexual

de crianças e adolescentes, pois esta última, se caracteriza por uma situação em que o

comércio está envolvido.

1.3.3 Violência Psicológica

A violência psicológica representa uma espécie de tortura que agride ao

desenvolvimento sadio da criança e do adolescente, causando-lhe sofrimento mental. Nessa

21

situação, a vítima de violência psicológica, é afetada no seu sentimento de auto-aceitação,

perda da auto-estima e conseqüentemente, gerando diversos problemas afetivos para a sua

vida. “A violência psicológica inclui toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano à

auto-estima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa” (DAY et al., 2003, p.10).

Violência psicológica, segundo Minayo (2002, p.105), também pode ser denominada

como tortura psicológica, e “ocorre quando os adultos sistematicamente depreciam as

crianças, bloqueiam seus esforços de auto-estima e realização, ou as ameaçam de abandono e

crueldade”.

Este tipo de violência se caracteriza também pela exposição constante da criança e ou

adolescente a situações de humilhações e constrangimentos, seja através de agressões verbais,

ameaças, cobranças, punições exageradas e ou outras formas de pressão psicológica. Nessa

condição, a vítima é conduzida a sentimentos de rejeição e desvalia, ficando impedida de

estabelecer relações de confiança com os outros. Esta forma de violência é “mais difícil de ser

identificada, porque não deixa marcas evidentes no corpo” (CAMPOS, 2002, p.29).

Neste tipo de violência as conseqüências são extremamente significativas comenta o

autor acima citado que, os prejuízos deixados em conseqüência da violência exercida, sobre

crianças e adolescentes, causando danos na aprendizagem, problemas com figuras de

autoridades, mentiras, fuga de casa, fobias, excessiva submissão frente ao adulto, coerção

sexual dirigida às crianças, queixas somáticas tais como dores de cabeça e abdominais e

delinqüências.

1.3.4 A negligência

Existe uma diferença conceitual entre negligência e abandono (PATELLA et al., 2001,

p.117): “a negligência refere-se à omissão de cuidados básicos como alimentação, vestuário,

dentre outros. Já o abandono (parcial ou total) refere-se à ausência física (emocional e ou

afetiva) do responsável pela criança ou adolescente”.

A negligencia representa a omissão dos responsáveis pela criança ou adolescente nas

suas necessidades físicas e emocionais básicas, quais sejam: a alimentação, higiene, vestuário,

educação emocional, entre outras. “A negligência é a omissão de responsabilidades de um ou

mais membros da família em relação a outro, sobretudo àqueles que precisam de ajuda por

questões de idade ou alguma condição física, permanente ou temporária” (DAY et al., 2003,

p.10).

22

Minayo (2002, p.106) comenta sobre a negligencia afirmando: uma vez que “a

negligência se define pela omissão no trato dos cuidados e necessidades das crianças, a

reconhecida ausência de condições econômicas (adequadas) dessas famílias muitas vezes

dificulta o julgamento mais preciso entre a prática abusiva e impossibilidade de prover

atenção”.

Negligência, de acordo com o Dicionário Aurélio, significa desleixo, descuido,

desatenção, menosprezo, preguiça e indolência.

A negligência que incide sobre crianças e adolescentes trata-se de uma grave omissão

que, coloca em risco o desenvolvimento maturacional das vítimas. No entanto, suas

conseqüências são das mais diversas ordens, pois a negligencia, pode provocar quadros de

desnutrição, e enfermidades freqüentes, tanto as mais graves como as mais comuns, quais

sejam: gripes e ou resfriados, problemas de ouvidos, garganta, tórax, trato gastrintestinal,

disfunções neurológicas, podendo até levar a vítima a óbito prematuro e, a delinqüência

(CAMPOS, 2002).

Sempre existiram conseqüências da violência contra a criança e ou adolescente,

independente desta, ter sido gerada por um, ou outro tipo de violência.

As conseqüências negativas da agressão são numerosas, atingindo a saúde física e

emocional das vítimas, seja imediatamente, ou em longo prazo. Muitas vezes as seqüelas

psicológicas dos abusos, são ainda mais graves que, seus efeitos físicos. A violência contra a

criança e o adolescente, pode afetar todos os aspectos da vida da criança, quais sejam: os

psicológicos, físicos, comportamentais, acadêmicos, sexuais, interpessoais, espirituais,

comprometendo a auto-estima e estimulando a ocorrência de violência subseqüente (DAY et

al, 2003, p.16).

As conseqüências da violência doméstica em crianças são mais freqüentes do que se

pode supor, pois sempre causam “[...] profundos efeitos em suas vítimas. As agressões,

principalmente as físicas, colaboram para o desenvolvimento de patologias psiquiátricas

ligadas às aéreas da socialização, cognição e formação de personalidade” (PATELLA et al.,

2001, p.116).

23

1.4 ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

As intervenções em casos de violência, principalmente contra crianças e adolescentes

vem sofrendo consideráveis modificações nas esferas políticas, econômicas, socias, culturais e

privadas. Historicamente, afirmam Azevedo e Guerra (1993) que, estas mudanças ocorridas,

principalmente a partir da década de 60 – também conhecida como a década do sonho de

liberdade e de justiça social, marcadas por lutas e movimentos sociais. Introduzem os

movimentos criados para a atenção da violência familiar, da mulher e do abuso infantil.

Alguns destes movimentos foram intitulados pela área médica, em que esta, tentava

assumir a hegemonia, na “redescoberta” sobre o fenômeno da síndrome da criança espancada.

Nesta época, a organização de um modelo de entendimento do fenômeno psicopatológico

entra em cena, em que o agressor era visto como portador de sérios distúrbios emocionais,

colocando-o como a causa central do problema, numa perspectiva de doença, que era tratada

do ponto de vista individual. Segundo Azevedo (2001) este tipo de atendimento terapêutico

individualizado aos agressores encontrou alguns obstáculos tais como: o tempo de duração do

atendimento que era longo, a escassez de profissionais especialmente capacitados para esta

demanda que era crescente, os custos destes modelos de atendimentos que também eram altos

e uma considerável resistência por parte das vítimas (as crianças), no processo de re-

paternagem estabelecido pelos profissionais.

Foi neste contexto que se percebeu a necessidade de implementar uma série de

serviços específicos para lidar com a demanda em questão e não somente, com a reabilitação

dos agressores. Culminando assim, para uma intervenção mais eficaz por parte do Estado, em

que este, resolveu privatizar o atendimento às vítimas de violência, contratando oficialmente

instituições especializadas para esta tarefa.

Já a década de 70, esta foi marcada por um novo modelo de entendimento do

fenômeno em questão. Como por exemplo, o resgate e a contribuição de outras áreas do

conhecimento, quais sejam: a Psicologia, o Direito, a Sociologia, a Antropologia, entre outras.

Descentralizando assim, o poder da área médica, iniciada na década anterior.

Esta foi uma importante época tanto na esfera privada, mas, principalmente na esfera

político-social de nossa sociedade que, ao final desta década de 70, a sociedade brasileira

passou por amplas transformações políticas, socias e econômicas. Sendo neste contexto de

mudanças que, foram instaurados novos modelos de atendimentos e ou intervenções

terapêuticas às vítimas de violência, como por exemplo, a criação de modelos preventivos.

24

No decorrer da década de 80, começa uma ampla luta por políticas públicas que

garantissem os direitos da infância e da adolescência. Pela Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988,

É de dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, a alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e comunitária, alem de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão (AZEVEDO; GUERRA 1993, p.277).

Na década de 90 consubstanciou no Brasil, uma legislação à infância e à adolescência

expressa no Estatuto da Criança e do Adolescente – o ECA (lei federal nº 8069/90, de 13 de

julho de 1990). O estatuto reconhece que a criança e o adolescente podem ser vítimas de

violência doméstica e que estas, devem ser protegidas pelo Estado. O estatuto também prevê a

criação dos conselhos tutelares, cuja finalidade principal é a de zelar pelas crianças e

adolescentes, a terem acesso efetivo aos seus direitos, inclusive na aplicação de medidas de

proteção no que diz respeito à família, à saúde e à educação. “Essa lei tornou obrigatória à

notificação de casos suspeitos ou confirmados de maus-tratos contra criança ou adolescente, e

os profissionais de saúde passaram a ter uma razão prática para proceder à notificação: o

dever previsto em lei” (FERREIRA; SCHRAMM, 2000, p.663).

Conselhos se formam, instituições e secretarias se abrem, ongs, oficinas, projetos e

programas governamentais e não governamentais, se organizam e se estruturam, para atender

a demanda existente, tentando prevenir a violência e diminuir os danos causados pela mesma.

Hoje, em pleno século XXI, sentimos a crescente e alarmante desenfreada realidade

violenta em nossa sociedade atual.

O problema dos agravos resultantes da violência impõe uma abordagem articulada

entre os diversos segmentos envolvidos, com um comportamento coerente, visando uma

compreensão sistêmica do fenômeno, uma vez que a violência dos indivíduos e dos pequenos

grupos deve ser relacionada com outras formas de violência presentes na nossa sociedade: a

violência do Estado, dos conflitos sociais e da ordem estabelecida (MINAYO; ASSIS, 1994).

Minayo; Assis (1994) afirmam que já existe atualmente um consenso sobre a

necessidade de organizar as intervenções para superar a violência, através de articulação

multiprofissional, multidisciplinar, intersetorial e principalmente interdisciplinar, inclusive

25

com a participação de organizações da sociedade civil e comunidade, comprometidas com os

direitos de cidadania.

Assim como a violência reflete as relações entre pessoas – homens e mulheres, adultos

e crianças –, expressa também relações entre grupos sociais, profissionais de categorias

distintas e outras. Da mesma forma, as intervenções sobre o problema da violência devem

contemplar essas diversas ordens de sua existência.

O estudo da violência doméstica exige uma atitude de muita tolerância e sensibilidade.

As emoções envolvidas, podem muito bem despertar sentimentos de raiva, pena, rechaço,

tristeza e impotência, nos profissionais. A tendência da identificação com a vítima, torna a

tarefa da equipe de trabalho, uma experiência por vezes, muito dolorosa (DAY et al, 2003).

Por isso a literatura aponta que, os profissionais devem ter suas questões pessoais e

interpessoais, as mais bem resolvidas possíveis, para que não aconteça, de misturar os

conteúdos que lhes são próprios, com os conteúdos da vítima. Entretanto, o olhar sobre a

violência está também relacionado com a história de vida em que cada profissional lida

diariamente com realidade em questão.

Alguns pesquisadores ressaltam que não podemos negar a idéia de que qualquer diversidade cultural, as formas variadas de socialização, a multiplicidade de visões de mundo criam um mundo social amplamente marcado pela heterogeneidade de valores e interesses (ROQUE e FERRIANI, 2002, p.340).

Ao tentar responder a esta demanda, os profissionais da área da saúde envolvidos nesta

temática, tentam e devem enfrentar as implicações morais da intervenção. Ou seja: é

consensual entre os profissionais, encontrar alguma dificuldade ao se confrontar com alguns

procedimentos específicos como, a notificação dos casos ao sistema legal, os deveres de

proteger a criança, de tratá-la clinicamente, de mantê-la junto à família quando possível, de

melhorar suas relações familiares e de notificar os casos às autoridades competentes.

No entanto, alguns autores comentam que “A experiência tem demonstrado que em

cada caso um desses deveres precisa ser cumprido prioritariamente, mas o objetivo é alcançar

o cumprimento de todos eles, numa ordem hierárquica que é individualizada para cada caso”

(FERREIRA; SCHRAMM, 2000, p.664).

Os autores acima citados ainda destacam que, questões com relação à dinâmica do

processo de intervenção às vítimas de violência como por exemplo, a interferência familiar é

essencial, na assistência aos casos de violência doméstica que, nem sempre são aceitas pela

família. Entretanto os profissionais que trabalham com esta temática encontram-se diante de

26

um real e grande desafio que é, “o de evitar as formas traumáticas de intervenção sem

resvalar, contudo, na negligência com que o tema da violência contra crianças e adolescentes

tem sido tratado no Brasil, com raras e honrosas exceções” (ibid, p.660).

Diferentes estratégias e modelos de intervenção às vitimas de violência infanto-

juvenil, podem ser encontradas, porém, a literatura especializada nos diz o que vem sendo

feito e o que vem funcionando na atualidade.

Pode-se afirmar que nenhum dos extremos (deixar tudo por conta da família ou o Estado interferir sem considerar os desejos da família) esteja respeitando os melhores interesses da criança. A experiência ensina que tem sido melhor para a criança e para a sociedade que as crianças aprendam a lidar com o mundo a partir de uma posição de proteção relativa, que permita garantir prima facie seus direitos específicos, sem impedir seu desenvolvimento biopsicossocial, cuja característica principal é o exercício de cidadania, baseado na autonomia com responsabilidade (FERREIRA; SCHRAMM, 2000, p.665). .

Na experiência da clínica psicanalítica da violência, por exemplo, revela-se que o

trabalho psicanalítico realizado “flui com melhores resultados quando as mães ou

responsáveis não abusivos iniciam sua própria análise paralelamente a da criança, [...]

fortalece tanto a vítima (a criança ou adolescente), quanto à mãe para suportar tais pressões”

(AZEVEDO, 2001, p.68). Este fato se confirma pela a quebra do silêncio que é vivenciado

por ambas as partes (vítima e familiares não abusivos). Evitando assim, que o pai nos casos

em que o incesto ou a agressão ocorra por parte deste, tente distorcer os fatos rotulando a mãe

de mentirosa ou responsabilizando a criança pelo abuso ocorrido.

A autora ainda afirma que, é muito comum à criança ou o adolescente ter medo de

revelar o abuso, por temer a desintegração da família e ou o abandono por parte desta. Em

geral, também é muito comum, a criança ficar dividida entre o amor e o ódio que ela sente

pelo o abusador, quando o mesmo faz parte das relações familiares que, são fortes vínculos

afetivos para a criança e ou adolescente.

Há situações em que a criança relativiza o valor da agressão de que foi vítima no lar.

Todavia, ela deseja a interrupção do abuso, mas, não deseja a punição do abusador. Esta é

uma situação que pode ser exemplificada a partir de um caso, de uma criança de sete anos

que, foi manipulada em sua genitália pelo avô paterno.

27

A partir da denúncia da mãe à delegacia de polícia, o avô mudou-se para outro Estado e a criança passou a sofrer pressões da família, que levaram a mãe a retirar a queixa meses depois. A criança se sentia responsável por toda a mudança que decorreu da sua revelação e não queria que o avô fosse preso porque sabia que ele iria sofrer na prisão (FERREIRA; SCHRAMM, 2000, p.661).

Infelizmente esta é uma situação “comum” que freqüentemente acontece, sendo

complexa de intervir, principalmente quando o abusador for um membro da família, visto que

a sociedade tem interesse em ver o abusador identificado e punido e a criança tem o interesse

de ser reconhecida na sua condição de vítima e onde ambos têm o interesse de que o abuso

cesse. Entretanto, cria-se um dilema devido à solução do problema, em que a punição do

abusador poderá trazer sofrimento à criança (separação do abusador e da criança).

[...] a possibilidade da cooperação e da busca de um consenso entre a família e as agências (órgãos) de proteção à criança para que tudo se resolva da forma menos traumática para a criança, evitando que ao dano do abuso se adicionem outros danos, isto é, evitando as conseqüências negativas resultantes do duplo efeito (FERREIRA; SCHRAMM, 2000, p.661).

Evitando também, possíveis abusos futuros e o tratamento de ambas as partes (vítima e

agressor).

De outra forma, a literatura comenta sobre a importância do viés da intervenção

judiciária que, também possui em sua instância, uma consistente contribuição na tentativa de

solucionar os abusos e as agressões ocorridas. Logo, o poder judiciário reúne condições para

cessar a violência, por intermédio de algumas medidas como, a destituição do pátrio poder,

determinação de tratamento para os agressores da família abusiva, interdição de permanência

e do contato do agressor com a vítima, sempre que necessário, através por exemplo, da prisão

do (a) agressor (a) (ROQUE e FERRIANI, 2002).

Alguns autores apresentam tipos de modelos esquemáticos na atenção à violência

familiar como diretrizes, com o intuito de esclarecer e ou facilitar as articulações e

intervenções a serem realizadas por profissionais especializados, permitindo o conhecimento

necessário para que estes, executem o melhor que puderem, suas ações de intervenção.

As estratégias de ação sanitária no âmbito da violência familiar podem ser encadeadas em três etapas distintas. A de prevenção primária envolve, por exemplo, a incorporação de atividades de educação em saúde às rotinas dos serviços; as atitudes e comportamentos frente aos conflitos familiares; a importância de a

28

violência familiar tornar-se pública; as possíveis apresentações da violência e suas principais características; as informações sobre locais de atendimento a vítimas de violência familiar; e a importância da notificação são alguns pontos que poderiam ser trabalhados (REICHENHEIM et al, 1999, p.117).

Os autores acima, destacam a observável e real dificuldade no trabalho em conjunto,

entre as organizações do setor judiciário, conselhos tutelares, organizações governamentais -

como projetos criados por secretarias do desenvolvimento social da criança e do adolescente,

organizações não-governamentais – ongs, conselhos municipais de defesa do direito da

criança e do adolescente entre outras instituições que compõem a rede de apoio.

Bem como, a interlocução, a divulgação, a comunicação e a integração das atividades

realizadas nas e pelas redes de apoio. Como, por exemplo, o retorno das informações sobre os

andamentos dos casos, a especificação das ações, evitando assim, a sobreposição de serviços e

a insuficiência de programas de avaliação e intervenção dos processos implementados,

alicerce fundamental para o aumento da efetividade das ações realizadas.

As redes de apoio e suas dificuldades, são tão importantes quanto as questões de

ordem sociais. Porque estas redes, envolvem tanto um comprometimento direto, quanto

indireto, com relação às ações que estão interligadas as políticas públicas. Englobando os

micros e macros sistemas, ou seja, as redes perpassam pelas esferas públicas e privadas.

Para concluir, a luz da literatura especializada, não dá para deixar de abordar a questão

social da violência de forma exaustiva. Expressa através de numerosas manifestações de

violência, tanto nos campos intra e extrafamiliar, como num todo, nas suas mais diversas

formas de expressões, que se pode observar hoje em nossa sociedade. Ninguém pode ignorar

o papel importante e muito preocupante que a violência vem desempenhando atualmente nas

atividades humanas e sociais.

29

2 METODOLOGIA

Utilizando-se do método qualitativo para a realização desta pesquisa, a opção por esta

abordagem baseia-se no interesse em compreender a complexidade de um fenômeno que

decididamente não se limita a dados estatísticos, “[...] onde a metodologia dá ênfase ao

homem, enquanto autor e ator de sua própria história, capaz de retratar e refratar a realidade”

(ROQUE e FERRIANI, 2002, p.01).

Este método de pesquisa, apoiado no pressuposto de uma maior relevância sobre os

aspectos subjetivos da ação social, tenta fornecer uma razoável compreensão sobre alguns

fenômenos sociais (HAGUETTE, 1999). Dedicando-se a analisar a origem dos fenômenos

sociais, o significado que os indivíduos dão a suas ações, de acordo com suas relações e com

o contexto social onde vivem (CHIZZOTTI, 1991).

Este é um método de pesquisa pode ser utilizada em situações que se faz necessário a

descoberta de dados psicológicos reprimidos e ou não demonstráveis, principalmente em

circunstâncias que, as observações qualitativas possam indicar o funcionamento de estruturas

e ou organizações complexas e de difícil observação direta (HAGUETTE, 1999). Fazendo-se

necessário a observação das situações, além das manifestações imediatas.

Entretanto, é importante ultrapassar as aparências e alcançar a verdadeira essência dos

fenômenos. Neste contexto, o pesquisador deve tentar ser uma peça ativa em todo o processo

de investigação, na busca de descobrir o significado das ações (observáveis e não-

observáveis) e das relações que se ocultam nas estruturas sociais (CHIZZOTTI, 1991).

Tal estudo tem perspectiva empírica, ou seja:

[...] designada a prover um conhecimento verificável sobre a vida humana em grupo e sobre a conduta humana [...] esta postura se aproxima e aceita um dos postulados idealistas de que ‘o mundo da realidade’ existe somente na experiência humana e que ele aparece somente sob a forma de como os seres humanos ‘vêem’ este mundo (HAGUETTE, 1999, p. 40).

Sendo assim, esta pesquisa de cunho qualitativo, busca ser capaz de incorporar as

questões do significado e da intencionalidade, como sendo inerentes aos atos, às estruturas

sociais e às relações, onde estas são tomadas tanto no seu advento, quanto na sua

transformação como construção humana significativa.

30

Os sujeitos da pesquisa foram constituídos por profissionais que atuam nas instituições

especializadas (o Programa Sentinela e CEVIC), no atendimento a vítimas de violência

infanto-juvenis.

Foram entrevistados 02 (dois) profissionais por instituição: o profissional responsável

pela equipe e o psicólogo da mesma equipe, totalizando assim quatro (04) entrevistados.

Os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas (roteiro em

Apêndice 1), realizadas no próprio local da pesquisa, ou seja, nas duas instituições destinadas

a realizar-se a pesquisa, quais sejam:

- Programa Sentinela - projeto criado pelo governo federal, (destinado ao atendimento

psicossocial especializado, à vítima de violência infanto-juvenil); e

- CEVIC - Centro de Atendimento à Vítima do Crime, (destinado a auxiliar às vítimas

de crime em geral, oferecendo um suporte psicossociojurídico).

Os profissionais foram contatados para as entrevistas com agendamento telefônico

prévio. E Inicialmente foi entregue uma carta de apresentação (ofício) com as informações

necessárias sobre a pesquisa, para resguardar os diretores das respectivas instituições (ver em

Apêndice 2).

As informações coletadas durante as entrevistas foram transcritas de forma dialogada

pela própria pesquisadora.

Os dados desta pesquisa foram analisados segundo o método, estudo de caso, uma

modalidade de pesquisa qualitativa. Pela definição de Gil (1996, p.58): "O estudo de caso é

caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que

permita seu amplo e detalhado conhecimento [...]". As vantagens para escolha deste método

se mostram justamente por permitir uma descrição em totalidade dos fenômenos ocorridos

dentro de determinado contexto. Existe uma flexibilidade metodológica e amplitude de

relações que podem ser alcançadas a partir da unidade-caso que pode ser uma família, um

único sujeito, uma instituição etc.

Nesta pesquisa realizou-se um estudo multi-caso, composto por dois casos: o Caso I -

do Programa Sentinela e o Caso II - do CEVIC.

Segundo o mesmo autor acima, dentro do estudo de caso a coleta de dados pode

abranger vários procedimentos e os mais comuns são a observação, a análise de documentos,

as entrevistas, relatos e história de vida.

Após a coleta dos dados obtidos nas entrevista semi-estruturadas, os mesmos foram

analisados de forma interpretativa, ocasião em que foi investigada a relação entre a teoria e as

considerações que foram delineadas com o estudo.

31

Esta análise e as possíveis considerações elaboradas foram realizadas, a partir do

referencial teórico desenvolvido, bem como por posterior revisão de artigos adicionais

publicados sobre o tema explorado e as novas áreas que emergiram empiricamente e

contribuíram mais especificamente com a discussão dos casos.

Considerando que os dados coletados se tratam de dados verbais, alguma forma de

análise do seu conteúdo foi realizada, tendo como objetivo, “[...] compreender criticamente o

sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou

ocultas” (CHIZZOTTI, 1991, p.81).

No caso desta pesquisa foram analisados os dados obtidos sobre os modelos de

intervenção existentes às crianças e aos adolescentes vítimas de violência, operados no

Programa Sentinela e no CEVIC.

E quanto aos aspectos éticos desta pesquisa foi fundamentado na resolução Nº 196 do

Conselho Nacional de Saúde, de 10 de outubro de 1996. O comprometimento assumido pelos

pesquisadores envolvidos na pesquisa foi oficializado através do Termo de Consentimento

Livre Esclarecido (em Apêndice 3 e 4). As pesquisadoras, atendendo aos princípios éticos da

pesquisa que envolve seres humanos, se comprometem com o sigilo das informações junto

aos participantes, que serão oficializados através do Termo de Compromisso de utilização dos

dados (em Apêndice 5), tratando os participantes da pesquisa com dignidade, respeitando sua

autonomia e também com a devolutiva dos resultados para os enviados.

32

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 SITUAÇÃO I - SENTINELA

3.1.1 Estudo da situação I – Programa Sentinela do Governo Federal

O Estudo de Caso do Programa Sentinela do Governo Federal, foi elaborado a partir

de entrevistas semi-estruturadas, realizadas com 01 (uma) assistente social e 01 (uma)

psicóloga do programa, com o objetivo de compreender o modelo de intervenção às vítimas

de violência infanto-juvenis desta instituição.

O modelo de intervenção do Programa Sentinela do Governo Federal da Cidade de

Florianópolis, SC, atualmente atende somente as vítimas de violência sexual intrafamiliar ou

exploração infantil sexual (terceiros) e violência física, ficando a cargo do Programa de

Orientação e de Apoio Sócio Familiar – o POASF as demandas de violência psicológica e

negligência.

A estrutura de atendimento do Programa Sentinela às vítimas de violência sexual e

violência física infanto-juvenis são compostas por três equipes que, atuam de forma multi e

interdisciplinar. São elas:

A Equipe de Prevenção, a Equipe de Diagnóstico e a Equipe de Acompanhamento.

A Equipe de Prevenção é composta por 01 (uma) assistente social, 01 (uma) pedagoga

e 01 (uma) arte educacional, esta última, desenvolve trabalhos de artes com as crianças. Todos

estes profissionais, atuam na prevenção primária, secundária e terciária. A Equipe de

Prevenção realiza palestras em escolas sobre violência, elabora cartilhas informativas sobre a

questão da violência e com isto, tenta prevenir e orientar a população sobre o problema da

violência infanto-juvenil.

A Equipe de Diagnóstico é composta por 04 (quatro) psicólogos (as) e 08 (oito)

assistentes sociais. Esta Equipe, tem como objetivo investigar e se certificar da existência ou

não, da violência. A Equipe realiza em conjunto com as psicólogas e assistentes sociais o

diagnóstico da vida da criança e sua dinâmica familiar. Através de visitas domiciliares que são

realizadas pela Equipe, se deslocando à casa das crianças que possuem a suspeita de

violência, a fim de confirmar à violência acometida, obtendo assim, mais dados para a

construção das entrevistas diagnósticas.

33

Esta etapa do processo dura em média, de três a quatro encontros. Uma vez certificada

a ocorrência da violência pela Equipe, é elaborado um relatório psicossocial que será entregue

ao Conselho Tutelar, com indicações, encaminhamentos e sugestões.

A Equipe de acompanhamento é composta por 05 (cinco) psicólogos (as), 08 (oito)

assistentes sociais e 01 (uma) pedagoga. Esta Equipe vai atuar proporcionando um

acompanhamento integral à vítima e sua família, fazendo desde a psicoterapia individual e ou

familiar, até o acompanhamento social, ou seja, o acompanhamento de um trabalho em rede,

através de postos de saúde, IML, INSS, CAPS, escolas, Conselhos Tutelares e juizados.

Esta intervenção deve acontecer através de uma rede de apoio multi e interdisciplinar

e, que tem como objetivo central, um trabalho em conjunto na troca de informações e tarefas,

para conseguirem alcançar e atender á todas as necessidades das vítimas, que chega ao

Programa Sentinela, necessitando de uma intervenção, desde a concessão de recursos como,

passes de ônibus, solicitação de medicação, psicoterapia, entre outros.

Neste processo da intervenção que é realizado pela Equipe de Acompanhamento, o

agressor, vítima e família são atendidos em psicoterapia, por período indeterminado, ou seja,

sua durabilidade é de acordo com a necessidade de cada situação.

O Programa Sentinela trabalha com a perspectiva de que o agressor é um doente, por

tanto, precisa de tratamento também, mas, isto não quer dizer que ele não irá responder pelos

seus atos, ou seja, ele não ficará livre de punição, se assim o necessitar.

As denúncias feitas ao Programa Sentinela chegam através do telefone 0800, por rede,

ou ainda por denúncias feitas no próprio Conselho Tutelar. Este por sua vez, encaminhará os

casos ao Programa Sentinela / Equipe de Diagnóstico. Havendo o indicativo de atendimento

psicológico às vítimas, crianças, adolescentes e familiares, iniciam o processo de intervenção

realizado pela Equipe de acompanhamento.

Foi a partir de 2005 que o modelo de intervenção às vítimas de violência infanto-

juvenil do Programa Sentinela, sofreu algumas modificações e desde então, psicólogos (as) e

assistentes social, vão juntas à casa da vítima, com o objetivo de confirmar a violência,

realizar diagnóstico da situação e posteriormente elaborar um relatório psicossocial que será

entregue ao Conselho Tutelar, pois tudo deve ser comunicado a eles. E é este, o órgão que

busca garantir as medidas e os direitos da criança e do adolescente a serem cumpridos.

Anterior a esta data, o modelo de intervenção intitulado, à vítima de violência infanto-

juvenil era um pouco diferente, seu objetivo era o atendimento psicológico às crianças e aos

adolescentes vítimas de todos os tipos de violências, quais sejam: violências físicas,

psicológicas, sexuais e negligências. Não se investigava a existência da violência ou a falta da

34

mesma e a realização de um diagnóstico. Estas demandas ficavam sob a responsabilidade do

Conselho Tutelar, as psicólogas eram responsáveis somente pelos atendimentos psicológicos e

pela realização da avaliação emocional da criança e ou do adolescente, que tenha sofrido

algum tipo de violência.

As Equipes de intervenções do Programa Sentinela identificam como dificuldades na

solução da problemática da violência as seguintes questões:

A violência deve ser percebida como um problema social e a agravante dessa violência

diz respeito às dificuldades que são de cunho estruturais e morais das vítimas, uma vez que, a

falta das necessidades básicas tais como: moradia, vestuário, alimentação e educação,

prejudicam o desenvolvimento saudável da criança e ou adolescente, podendo contribuir e ou

proporcionar a ocorrência de novas violências.

Uma outra dificuldade que as Equipes enfrentam, são as mudanças partidárias, ou seja,

a cada mudança de governo, muda-se quase todos os membros das Equipes de intervenções e

muitas vezes se contrata pessoas que nunca tiveram experiência com esta temática, “leigas no

assunto”.

Ainda como dificuldade apontada pela Equipe, é a necessidade de se ter o mesmo

número de profissionais atuando no Programa em todas as Equipes, ou seja, hoje é visível o

déficit de profissionais que o Programa Sentinela possui. Ou seja, o número de psicólogos (as)

atuando nas Equipes é inferior ao número de assistentes sociais, sendo que, este fato atrapalha

o andamento e a rapidez em que os processos são realizados.

Por fim, é questionado pela equipe: Quem é o órgão responsável por cadastrar as

violências infanto-juvenis no município de Florianópolis? De quem é o dever de fiscalizar e

cobrar dos órgãos que trabalham com esta temática, uma maior e melhor articulação na

comunicação entre eles? “Conselho Municipal do Direito da Criança e do Adolescente” que,

destina-se a cadastra todas as violências ocorridas no município cobrando e fiscalizando dos

órgãos, suas devidas atuações e comunicações

3.1.2 Análise da Situação I – Programa Sentinela do Governo Federal

No modelo de intervenção à criança e ao adolescente vítima de violência, realizado

pelo Programa Sentinela do Governo Federal, falando especificamente do Programa Sentinela

da cidade de Florianópolis – SC, chama atenção, à “forma bem estruturada” em que as

Equipes de intervenção atuam.

35

Sua estrutura de funcionamento ocorre em três dimensões, quais sejam: a Equipe de

Prevenção, a Equipe de Diagnóstico e a Equipe de Acompanhamento.

Segundo a apreensão empírica, a Equipe de Prevenção, esta atua em três níveis:

prevenção primária, secundária e terciária. Esses três níveis de prevenção são derivados das

formas de intervir sobre a história natural da doença, que gerou a clássica estruturação da

atenção à saúde prestada à população, originalmente formulada como níveis de prevenção dos

agravos à saúde (LEAVEL & CLARK, 1976, apud KEHRIG, 2001). É pertinente aplicar esta

classificação também nas intervenções sobre a violência, por essa ser considerada um

importante problema de saúde pública.

Segundo Kehrig (2001) nos dias atuais pode-se fazer um paralelo entre os clássicos

níveis de prevenção – primária, secundária e terciária –, com os três níveis de atenção à saúde

genericamente conhecidos em termos de promoção à saúde, prevenção dos riscos de agravos à

saúde e atenção curativa, respectivamente.

Conceitualmente, a prevenção primária possui atributos próprios desse nível de

intervenção, tais como: executar trabalhos em redes de apoio social, com ações no âmbito

coletivo de melhorias nas condições de vida que, sejam promotoras da não violência, como

educação, lazer, esporte, cultura, trabalho, renda, etc.

No trabalho realizado pela Equipe de Prevenção do Programa Sentinela, observa-se

que “algumas” das ações elaboradas estão claramente inseridas num nível de prevenção

primária, tais como: arte educacional, oportunidades ocupacionais, palestras em escolas,

elaboração de cartilhas com o objetivo de fornecer informações e orientar à população sobre a

temática da não violência.

Na prevenção primária, além de necessária intervenção sobre as causas sociais e

estruturais da violência na sociedade, típicas da promoção da saúde, se destacam alguns

pontos que poderiam ser trabalhados na intervenção específica (REICHENHEIM,

HASSELMANN, MORAES, 1999, p.120):

[...] atividades de educação em saúde nas rotinas dos serviços; as atitudes e comportamentos frente aos conflitos familiares; a importância de a violência familiar tornar-se pública; as possíveis apresentações da violência e suas principais características; as informações sobre locais de atendimento a vítimas de violência familiar; e a importância da notificação.

No que diz respeito à prevenção do nível secundário, esta, implica em atuar sobre

riscos específicos da situação de vida da criança e do adolescente. A intervenção neste nível

36

compreende a prevenção dos riscos à saúde aos quais estão expostas as crianças e os

adolescentes. Há que se detectar precocemente o risco de sofrer a violência, característica

importante da Prevenção secundária.

O Programa Sentinela refere suas atuações e ou intervenções quanto ao nível de

prevenção secundária, fazendo um paralelo com as ações realizadas pela Equipe de

Diagnóstico. Ou seja, esta equipe ao avaliar o caso de “violência” solicitado pelo conselho

tutelar, realiza um diagnóstico comprovatório da existência (ou não) da violência, contra a

criança e o adolescente, mediante visita domiciliar e entrevistas diagnósticas, para envio

posterior de um relatório psicossocial ao Conselho Tutelar. Neste momento, abre-se uma

oportunidade ímpar de proceder à intervenção em nível secundário, como por exemplo, nos

casos em que não se confirma a violência efetivada, mas, se identificam os riscos, haveria que

se encaminhar ações de prevenção dos riscos da possível ocorrência “posterior” da violência

e, nos casos da violência efetivada, cabe à equipe agilizar um diagnóstico e fazer os devidos

encaminhamentos com rapidez e confiabilidade, realizando as intervenções necessárias o mais

precocemente possível, visando diminuir os danos decorrentes.

A prevenção terciária incide na redução de danos sobre situações de violência já

ocorridas. Deve acontecer pelo acompanhamento de uma equipe multiprofissional e com uma

atuação interdisciplinar, proporcionando intervenções integrais às vítimas, familiares e

agressores, tentando dessa forma, evitar uma revitimização (GUERRA, 2006).

No âmbito das ações realizadas pelo Programa Sentinela, com relação à prevenção

terciária, esta fica a cargo mais propriamente da Equipe de Acompanhamento. A referida

equipe atua desde a psicoterapia individual e ou familiar, até o acompanhamento social. Ou

seja, o acompanhamento de um trabalho que deve ser realizado através de uma rede de apoio

no combate e suporte à violência, tais como, postos de saúde, IML, INSS, CAPS, escolas,

Conselhos Tutelares e juizados.

Um outro dado analisado de relevância ao modelo de intervenção à criança e ao

adolescente vítima de violência e que, as equipes do Programa Sentinela destacam como

dificuldade na sua atuação, é o fato de se compreender a violência, como sendo um problema

social, de saúde coletiva, de cunho estrutural e moral que, necessita de um apoio no macro

sistema, no âmbito da saúde pública.

Segundo os profissionais do Programa este é o principal agravante no

desencadeamento da violência e gerador de mais violência (prevenção primária).

37

Sabe-se que, a falta das necessidades básicas tais como: moradia, vestuário,

alimentação e educação, esporte, lazer, prejudicam o desenvolvimento saudável da criança e

do adolescente, contribuindo e propiciando assim, a ocorrência de novas violências.

A violência pode ser considerada em decorrência da desigualdade social, podendo ser visualizada nas estruturas sociais e reconhecida como conceito multifacetário. Ela tem um caráter instrumental, ou seja, é um meio que necessita de orientação e justificação dos fins que persegue (ROQUE ; FERRIANI, 2002 p.341)

Na representação da violência e sua percepção social, não se pode esquecer do quase

selvagem regime capitalista que, atualmente impera nas relações sociais no Brasil. O

desemprego e as famílias em situação de vulnerabilidade se tornam alvos certeiros à

violência. Abrindo um espaço para grupos que produzem ou reproduzem algum tipo de

violência, seja, o tráfico, o álcool, as drogas, os atos agressivos, os roubos, os assaltos, entre

tantos outros e que, na visão da sociedade, dá ênfase para essa ´tipagem` de violência.

Limitando-a e, deixando nas sombras, outros espaços violentos tais como, hospitais, polícia,

escolas, política e principalmente o espaço doméstico, onde residem às famílias (sujeitos

construídos por relações sociais), local este, onde se deveria encontrar proteção, harmonia,

paz, coragem, auto-estima, respeito, garra, carinho, amor, aconchego e etc.

Ainda comentam os autores acima que:

A violência pode ser pensada em dois planos. Num primeiro, mais genérico, ela seria decorrente da desigualdade social, podendo ser visualizada nas estruturas sociais. Dessa maneira, a forma de acesso e a má qualidade dos serviços públicos podem ser consideradas como violência estrutural ou institucional. Num segundo plano, mais explícito, existe a violência que provoca dano físico, que ataca o corpo do outro, que o coloca numa situação de passividade absoluta e falta de alternativa de ação. Nessa forma, um dos sujeitos foi anulado, não tem escolha, não existe a relação (ROQUE; FERRIANI 2002, p. 341)

No que se refere à responsabilidade do Estado, este por sua vez, tem o dever de

garantir a proteção dos direitos da criança e do adolescente e, dispor de funções básicas e

intransferíveis como: a arrecadação de impostos, para a prestação da justiça e da ordem, com

interferência no âmbito social e principalmente na área da saúde e da educação.

Pela lei n° 8.069/90 esta, dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, o

direito sobre a proteção integral.

38

Cabe ao Estado organizar uma política coerente para a questão, ao lado da defesa dos direitos sociais, inclusive a parceria com organizações da sociedade para efetividade desses direitos. O futuro da pátria depende do futuro das pessoas, das crianças, e todo desenvolvimento só tem sentido se for um desenvolvimento humano, emancipatório da própria humanidade. (CECRIA 1997, p.8)

Para tanto, se percebe a importância, à necessidade do cumprimento com relação aos

atributos que possuem uma rede de apoio e que, tem como o principal objetivo estabelecer

sempre uma boa articulação e comunicação entre os órgãos que compõem esta rede. Porque

sem esta troca, fica difícil uma intervenção eficaz e coerente às vítimas de violência infanto-

juvenil.

As redes de apoio social têm como objetivos, compartilhar idéias, obter espírito de

grupo, ter tolerância e respeito com os colegas de trabalho e ter a responsabilidade de efetuar

seu papel de forma clara, objetiva, articulada e ética por aqueles a quem os integra.

Comenta Shlithle (2004) que, as redes devem atuar de maneira sistêmica e sinérgica.

Elas também funcionam para romper com o isolamento das pessoas e das organizações que as

compõem, tentando evitar a duplicação de ações, informações e viabilizar atividades

integradas e construídas em cooperação uns com os outros.

Uma rede de combate à violência doméstica dirigida a crianças e adolescentes, deverá contribuir para a redução do problema, intervir precocemente nas situações geradoras de violência, interromper o ciclo de repetição do fenômeno e seu conseqüente agravamento, oferecer atendimento necessário a vítimas, agressores, familiares, produzir informações e indicadores que permitam conhecer o problema, construir propostas e projetos voltados à prevenção deste tipo de violência em cada município onde se instaure. O trabalho integrado que articula diferentes organizações e diferentes equipes trará como conseqüência a produção de melhores resultados que, em última instância, protegerão ainda mais os direitos das crianças e dos adolescentes (GUERRA 2006, p.07).

Uma rede eficiente, prima pelos seus preceitos, possui princípios norteadores de

horizontalidade, intercomunicação, autonomia e diversidade, participação clara e ativa de

todos os seus integrantes e um processo decisório democrático.

Para concluir estas reflexões alguns autores afirmam:

39

Em uma rede de apoio é necessário que todos saibam de tudo, todos recebam as mesmas informações que circulam na rede. E todos tenham igual responsabilidade de fazer o que acham que devem fazer frente a determinadas informações que lhes chegam. A desconcentração do poder é condição de verdadeira democracia. O livre fluxo de informações é condição para se assegurar a transparência (WHITAKER, 2001, apud GUERRA, 2006, p.09)

Se cumpridas as “exigências” acima, é muito pouco provável que, as obtenções de

melhores resultados apareceram ao alcance de objetivos finais mais positivos com relação às

intervenções e com isto, todos se beneficiam vítimas, familiares, agressores e as equipes que

lidam com a temática.

3.2 SITUAÇAO II - CEVIC

3.2.1 Estudo da Situação II - CEVIC - Centro de Atendimento à Vítima de Crime

O Estudo de Caso do CEVIC – Centro de Atendimento à Vítima de Crime, foi

elaborado a partir de entrevistas semi-estruturadas, realizadas com: 01 (uma) psicóloga e 01

(um) advogado da instituição, com o objetivo de identificar e conhecer o modelo vigente de

intervenção à vítima e crime nesta instituição.

O CEVIC desenvolve e exerce um modelo de atendimento às vítimas de crime,

baseado num modelo de intervenção multi e interdisciplinar.

Multidisciplinar por possuir no seu quadro de funcionários ativos, profissionais de

áreas distintas como: o Serviço Social, o Direito e a Psicologia, proporcionando um

atendimento psicossociojurídico às vítimas de crime.

E interdisciplinar por proporcionar uma troca entre os saberes distintos como: a

psicologia, o direito e a assistência social, em que, nesta proposta de modelo, as disciplinas

debatem e interagem entre si, com o objetivo de ouvir e aprender uns com os outros, buscando

por estratégias eficientes em equipe e uma boa maior compreensão a cerca do problema.

A Equipe de intervenção do CEVIC é composta por 04 (quatro) profissionais, são eles:

02 (dois) advogados, sendo que, 01 (um) deles responsável pela equipe, e o outro,

responsável pelos processos das vítimas, 01 (uma) psicóloga que é responsável pelo processo

da psicoterapia com a vítima e família e 01 (uma) assistente social, profissional responsável

pela triagem e o acolhimento inicial da vítima. A instituição ainda conta com o auxílio de

mais 02 (duas) estagiárias de psicologia,

40

O CEVIC - Centro de Atendimento à Vítima de Crime, é uma instituição criada com a

finalidade única e exclusiva de atender e amparar as vítimas de violência de crime. Esta

instituição faz parte de um programa da Secretaria dos Direitos Humanos da cidade de

Florianópolis – SC.

Os atendimentos às vítimas de crime desta instituição são geralmente encaminhados

pelas delegacias de proteção ao menor e a mulher e por algumas outras formas de

encaminhamentos que surgem. Estes atendimentos passam por três etapas, quais sejam:

A primeira etapa do processo é o agendamento do atendimento, que é realizado

somente pessoalmente no local da instituição, o CEVIC.

A segunda etapa do processo é o acolhimento inicial e a pré - triagem da vítima, que é

realizado pela assistente social. Esta profissional realiza uma anamnese da vítima, ou seja,

investiga o funcionamento da dinâmica familiar, em que a vítima esta inserida e,quando

necessário, em parceria com um outro profissional da Equipe, se deslocam à residência da

vítima, para a realização de uma visita domiciliar.

A terceira etapa desse processo é a verificação das necessidades de um se obter um

atendimento com o auxílio da parte jurídica da instituição. Se este for o caso, a vítima passa

para o advogado do CEVIC e este, irá desenvolver todos os procedimentos necessários ao

processo.

Ao final dessas três etapas, estes profissionais, em cooperação uns com os outros, irão

decidir juntos se, a vítima e ou sua família iniciam o acompanhamento psicológico ou não.

Sendo positiva esta necessidade, a vítima chega a quarta e última etapa do processo de

intervenção, que é, o atendimento psicológico.

Uma vez iniciado o processo de intervenção psicológica, a vítima receberá o apoio

psicológico que, ocorre através de uma psicoterapia breve. Este processo terapêutico tem uma

durabilidade de aproximadamente 16 (dezesseis) a 20 (vinte) sessões terapêuticas, que

poderão ser realizadas individualmente ou em grupo.

O CEVIC identifica como uma dificuldade de intervenção à vítima, situações em que

esta possui grande dificuldade em buscar seus direitos e deveres, com relação à violência

ocorrida, ou seja, a vítima teme o reconhecimento da agressão e conseqüentemente o seu

papel de vítima.

A Equipe entende que este fato ocorre devido à culpa que na maioria das vezes, a

vítima sente com relação à ocorrência da agressão. Como se de alguma forma, ela tivesse

contribuído ou merecido a violência ocorrida.

41

Uma outra dificuldade que a Equipe aponta, diz respeito à forma limitada que a

sociedade e os órgãos encarregados lidam com esta problemática. Ou seja, se a violência deve

ser percebida como um problema social, uma vez que, as necessidades básicas de moradia,

alimentação e vestuário não são atendidos.

Compreende-se então que, há um problema de saúde pública, havendo a necessidade

de uma rede de apoio eficiente e que, seja capaz de resolver a situação.

E para concluir, a última dificuldade compreendida pela Equipe é o fato do CEVIC

ainda não possuir uma estratégia de inclusão do agressor no processo de intervenção. A

instituição tem dificuldade em enxergar esta demanda como necessária para um resultado

ainda mais positivo, no processo de intervenção à vítima.

No que se refere aos resultados alcançados nas intervenções ocorridas, o CEVIC

avalia seu trabalho através de uma tabela de gerenciamento de casos, na qual apresenta dados

quantitativos e estatísticos sobre o perfil de seus usuários. O método apresenta uma amostra

de produtividade e efetividade dos trabalhos realizados.

Quando os profissionais do CEVIC comentam sobre melhorias e ou sugestões a serem

realizadas, indicam mudanças necessárias tais como: a implementação de uma avaliação

qualitativa na obtenção dos resultados por exemplo: do tipo questionário, ao final de cada

intervenção.

Uma outra melhoria seria um plano de ação que viabilize uma intervenção em

conjunto, vítima e agressor, uma vez que, este tipo de intervenção, é extremamente positivo

ao tentar evitar uma reincidência da agressão, ou seja, uma revitimização.

Ainda como sugestões ou melhorias, a Equipe do CEVIC sugere a realização de

visitas domiciliares, como sendo um dos métodos de praxes nas intervenções às vítimas.

Desta forma, possibilitasse uma visão mais sistêmica e sinérgica na compreensão da situação,

quando se conhece o ambiente em que a vítima está inserida.

Os profissionais da Equipe compreendem ainda, que a prevenção da violência é de

grande importância. Segundo eles, uma ação realizada através da confecção de cartilhas,

promoções de palestras e ou seminários, ajudaria muito a desenvolver uma melhor abstração

coletiva do problema da violência.

Segundo a Equipe a realização de pesquisas como, por exemplo, identificar o perfil do

agressor, investigando se o agressor possui algum tipo de transtorno psiquiátrico, pode ser

benéfico para o processo de intervenção.

Um outro exemplo seria o de elaborar uma análise das regiões geográficas que possui

um maior índice de violência, segundo dados oficiais de Segurança Pública.

42

Comenta ainda um profissional: Porque algumas regiões possuem uma maior

incidência de casos de violência e outras não? O que tem por de trás desses fatos ocorridos?

Realizando assim, um diagnóstico geográfico por regiões.

Por fim, outro ponto a ser investigado seria a relação de retro-violência, no caso

específico da mulher. Ou seja, toda mulher é a vítima, numa situação de violência?

3.2.2 Análise da Situação II – CEVIC – Centro de Atendimento à Vítima de violência

No modelo de intervenção à vítima de crime do CEVIC, sua análise se deu através dos

dados empíricos coletados pelas entrevistas semi – estruturadas, elaboradas com os 02 (dois)

profissionais da Equipe, conforme citado anteriormente na metodologia da pesquisa e por esta

análise de Estudo de Caso. Um deles é o responsável pela a Equipe, o advogado e outro, é a

psicóloga da Equipe, responsável pela intervenção terapêutica da vítima e sua família.

O modelo vigente de intervenção do CEVIC, chama a atenção, pelo o lugar em que a

vítima “deve ocupar”, numa Equipe multiprofissional / multidisciplinar e que, busca por atuar

como uma equipe interdisciplinar.

Equipe multidisciplinar porque, os profissionais que atuam nela possuem formações

diferenciadas, reunindo no seu conjunto de profissionais, áreas distintas como, da saúde

humana e social aplicada.

Este tipo de equipe multiprofissional e ou multidisciplinar tem como objetivo

principal, atender a mesma demanda em conjunto, porém, cada profissional atua e atende à

demanda, com um olhar diferenciado e uma postura profissional que lhe é própria.

Para Osório (2003), a multidisciplinaridade veio em decorrência do progresso

científico e do desenvolvimento tecnológico que, como conseqüência destes avanços, se deu

pela necessidade de estabelecer nas interfaces dos diversos saberes, o compartilhamento de

idéias e conhecimentos sobre o mesmo fenômeno.

No entanto, somente a participação de contribuições individuais e não coletiva que,

cada profissional possui sobre o seu saber específico, à cerca de um determinado assunto, e o

agrupamento destas diferentes disciplinas, não é o suficiente para uma intervenção adequada.

O autor acima comenta que, a multidisciplinaridade isolada, propicia uma prática

fragmentada. Faz-se necessário, avançar para o exercício de uma prática interdisciplinar.

Compreendida pela o autor com:

43

[...] do aprendizado da interação, da utilização dos feedbacks proporcionados pelas trocas “desierarquizadas” (sic) entre os diferentes saberes [...]. A interdisciplinaridade apóia-se no elemento “conexão” entre as disciplinas e seus postulantes e é, portanto, intrinsecamente uma prática grupal (OSÓRIO, 2003, p.83)

Ainda segundo o autor, a interdisciplinaridade é entendida como o intercambio entre

os profissionais de áreas distintas umas das outras, a possibilidade de trocar informações entre

estas áreas, a necessidade de possuir uma comunicação clara entre as partes envolvidas e um

respeito mútuo sobre as diferentes opiniões, idéias, conceitos e pensamentos.

[...] uma atitude interdisciplinar interna, ou seja, da disponibilidade de pensar-se “em leque” e não “em funil”, de predispor-se a ser fertilizado pelas idéias e posturas alheias, de mediar, em seu próprio aparelho mental, conflitos entre o conhecimento adquirido e o que não se possui, mas que insiste em fazer presente através dos saberes contíguos (OSÓRIO, 2003, p.83 ; 84).

De acordo com as concepções acima, às práticas profissionais exercidas pela Equipe

do CEVIC compreendem e englobam uma intervenção multi e interdisciplinar. Entretanto,

pode-se enriquecê-las ainda um pouco mais, com a sua perspectiva interdisciplinar.

Uma característica percebida que diz respeito a multidisciplinaridade da atuação da

Equipe, foi identificada na aparente tendência, que cada profissional possui, sob um olhar que

lhe é próprio e particular da sua formação com relação ao papel da vítima. Ou seja, fica

evidenciada a particularidade através das diferentes visões e ou concepções, que os

profissionais possuem, a cerca do lugar em que a vítima “pode” ou “deve” ocupar neste

contexto.

Nesse sentido, enquanto no olhar da psicologia busca-se evitar a vitimização, para que

a vítima supere o quanto antes o seu lugar de vítima, já na vertente do direito, o papel da

vítima é reforçado, com o intuito desta elaborar uma melhor compreensão e aceitação para a

defesa dos seus direitos.

Pereira (2001) “[...] o acesso à justiça significa para essas pessoas (as vítimas) o

restabelecimento da ordem social individual e familiar, o que implica, em última instância, o

controle da violência, o exercício da cidadania e o resgate dos direitos humanos”.

Compreender a dialética entre o ser vítima ou não, é importantíssimo tanto para o os

profissionais que lidam com esta temática, quanto para as vítimas que necessitam do seu

restabelecimento integral o mais rápido possível.

44

Segundo as autoras Roque e Ferriani (2002):

O olhar sobre a violência está relacionado também com a história de vida do profissional que lida cotidianamente com essa questão. Alguns pesquisadores ressaltam que “não podemos negar a idéia de que qualquer diversidade cultural, as formas variadas de socialização, a multiplicidade de visões de mundo criam um mundo social amplamente marcado pela heterogeneidade de valores e interesses (p.340)”.

Para finalizar esta analise, citamos um outro ponto identificado que é, o fato das

intervenções ocorrerem somente para as vítimas, sendo que, os agressores não entram nesta

dinâmica. Para esta organização compõem se vítima toda e qualquer pessoa que:

[...] individual ou coletivamente, tenha sofrido danos, inclusive lesões físicas ou mentais, sofrimento emocional, perda financeira ou diminuição substancial de seus direitos fundamentais, como conseqüência de ações ou omissões que violem a legislação penal vigente nos Estados Membros, incluídas as que prescrevem o abuso criminal de poder.

A referida instituição é realmente destinada a atender somente às vítimas de crime e

não é destinada a atender o agressor. No entanto, a literatura especializada sobre esta temática

aponta que, quando a intervenção se destina às ambas às partes envolvidas, vítima e agressor,

todos se beneficiam. Pois o objetivo central desse tipo de intervenção é a tentativa da não

revitimização e intervenções que propicie um apoio psicológico integral à vítima, a família e

ao agressor (HABIGZANG; KOLLER e MACHADO, 2006).

3.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO

Em síntese, foi a partir dos 02 (dois) Estudos Casos acima descritos que, pode-se

identificar, conhecer, discutir, avaliar e analisar, os tipos de modelos de intervenções as

vítimas de violência infanto-juvenil, existentes nas duas instituições de Florianópolis, SC :

Programa Sentinela do Governo federal – (específico ao atendimento às crianças e aos

adolescentes vítimas de violência); e o CEVIC – (Centro de atendimento à vítima de Crime).

Pode-se compreender que, em primeiro lugar, falar de violência contra a criança e o

adolescente, é falar de um universo fragmentado, retalhado e disparatado, onde a

45

complexidade de tal fenômeno e sua pulverização afeta diretamente a vida privada e pública

do cidadão e da sociedade como um todo.

Intrigando assim, alguns pesquisadores dedicados a estudar, contribuir e tentar

entender, se é que é possível a enorme e delicada dimensão do fenômeno “violência”.

Surgiu a idéia e a necessidade da elaboração desta análise. A final, muito se fala,

discute, debate, mas, pouco se faz e menos ainda, pouco se sabe, sobre o que vem sendo feito

na integra, na prática, para prevenir, atender e tentar dar conta dessa demanda que a cada dia

cresce cada vez mais e mais em nossa sociedade. No caso deste estudo nos centramos e

tivemos a intenção de conhecer e apresentar as intervenções que vem sendo realizadas na vida

das vítimas de violência infanto-juvenil.

Não há como falar de práticas, sem falar de causas, entretanto, não há como falar de

conflitos sem falar da “ordem” ou “desordem” e não há como falar de violência de indivíduos

e grupos, sem falar de micros e macros sistemas, como a família e o Estado, já afirmava

DOMENACH (1981).

A alarmante realidade social pública e privada violenta atual em que vivemos é

cercada por uma sociedade de “controle” e cada vez mais produtora e reprodutora de

indivíduos violentos que, esta sendo marcada cada vez mais pelo fenômeno da violência, onde

o Estado e seus órgãos responsáveis, já não dão mais conta de tamanha a demanda.

No que se refere às instituições que se destinam a investigar, prevenir, atender, intervir

e apoiar as vítimas de violência constatasse uma crescente desordem em meio, a busca pela

ordem, em tentar encontrar caminhos e meios e ou “condições mais adequadas” para suprir

esta problemática, a violência.

As iniciativas, tentativas, disposição e conhecimentos que as instituições, Programa

Sentinela do governo federal de Florianópolis – SC e CEVIC – Centro de Atendimento à

Vítima de Crime, possuem em viabilizar uma melhora nos modelos de intervenção as vítimas

de violência infanto-juvenil e vítimas de crime num geral, em que os indivíduos perpassam, é

louvável. Contudo, uma ação isolada de uma prática isolada, não irá repercuti tão bons

resultados nas mudanças individuais e ou estruturais dos mesmos.

Ou seja, é preciso mais do que isto, é preciso mais do que se ter uma equipe

multidisciplinar. É necessário possuir uma Equipe que seja e atue como Equipe

interdisciplinar, onde a troca de experiências e diferentes saberes, se integram e compartilham

melhor de idéias e pontos de vistas e principalmente, as possíveis intervenções e atuações a se

realizarem. A partir deste conceito e destas atuações, com certeza se disponha de resultados

mais positivos em suas práticas.

46

Segundo alguns autores o exercício de um trabalho interdisciplinar pode ser

compreendido como:

[...] o trabalho interdisciplinar é fundamental. Quando a intervenção legal desconhece os aspectos psicológicos da violência sexual e as necessidades terapêuticas da criança e das famílias disfuncionais, pode produzir um dano psicológico adicional à vítima. Por outro lado, os profissionais da saúde mental, negligenciando os aspectos legais da violência (proteção à criança e prevenção adicional do crime), também contribuem para um aumento do dano psicológico sofrido pela vítima (AMAZARRAY ; KOLLER 1998 apud HABIGZANG ; AZEVEDO ; KOLLER ; MACHADO, 2006, P. 385).

Para finalizar esta análise, foram identificadas ainda, algumas necessidades existentes

quanto às atuações dos órgãos e ou instituições, destinadas a atender este tipo de demanda.

Uma destas dificuldades seria a necessidade de se obter uma capacitação e ou exigências

ainda maiores e melhores nas contratações e ou escolhas dos profissionais que trabalham ou

pretendem trabalhar com a temática da violência.

A literatura especializada aponta que, não basta focar somente em um ou dois aspectos

que contribuem para a ocorrência de violência, precisa – se entender o fenômeno “violência”,

como sendo, multifacetário e quanto mais conhecimento e domínio do assunto os

profissionais envolvidos nesta temática tiverem, melhor e mais eficientes serão suas atuações.

É preciso atrelar pesquisa e intervenção para nortear políticas publicas. Sem contextualização e aspectos operacionais, idéias não conseguem chegar ao plano da ação. Há necessidade de manter a constante busca de ações direcionadas para a construção de uma realidade social mais justa e de uma ciência psicológica mais embasada em rigor metodológico. É preciso tomar o lugar de pesquisadores ativos e engajados em produção de conhecimento e transformação (PETERSEN e KOLLER 2006, P.63).

E, ao Estado cabe, “querer perceber” e desejar priorizar cada vez mais, atender as

necessidades da população e principalmente das vítimas de violência, sejam elas: crianças,

adolescente, adultos, idosos ou portadores de alguma deficiência, de acordo com níveis de

atenção básica de saúde e de educação pelo menos.

47

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, realizado pela acadêmica

Daniella Kehrig Barbosa, sob a orientação da professora doutora Luciana Martins Saraiva,

ambas vinculadas ao Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí / Centro de

Educação Biguaçu / SC, apresentou um estudo de revisão da literatura e de uma pesquisa

empírica, sobre o tema “violência” e algumas de suas múltiplas formas de expressões.

Entretanto, o referido estudo, se deteve mais propriamente, à violência voltada à

criança e ao adolescente que, cuja existência vem desde os primórdios da raça humana, sendo

somente a partir do século XX, começa algum esboço sobre a preocupação com a criança e o

adolescente (ARIES, 1981).

A referida pesquisa realizou uma breve recapitulação sobre os diversos tipos de

violências acometidas contra a vida das crianças e dos adolescentes em nossa sociedade, a

partir de conceituações extraídas de estudos e pesquisas realizadas sobre as vítimas de

violência infanto-juvenil.

É alarmante e assustador seu crescimento e com ele, o acúmulo de numerosas

demandas que chegam aos órgãos e instituições governamentais e não-governamentais,

encarregados a atender esta problemática.

A questão da violência no Brasil vem demandando à sociedade uma urgência da

necessidade de debates públicos com os setores que são responsáveis pela saúde, educação,

justiça, e segurança de toda a população.

Segundo Minayo (2003) o conhecimento acerca das causas da violência, ainda não é

demanda direta da sociedade, como por exemplo, são expressas sobre as medidas de

segurança no País. Esta preocupação com a violência, seu crescimento desenfreado e suas

respectivas causas, ficam centralizados nos meios acadêmicos e nas entidades de defesa dos

direitos da criança, do adolescente, da mulher e do idoso, grupos ainda muito vulneráveis.

Esta pesquisa teve como objetivo principal identificar os modelos de intervenções à

criança e ao adolescente vítimas de violência, nas duas instituições já mencionadas

anteriormente – o Programa Sentinela e o CEVIC. Assim como o objetivo geral, também os

seus objetivos específicos foram alcançados: foi elaborada uma revisão bibliográfica sobre os

aspectos que envolvem o atendimento à criança e ao adolescente vítima de violência; foram

descritos os modelos de intervenções às crianças e aos adolescentes vítimas de violência

existentes e operados nas instituições acima citadas; foram analisados estes modelos de

intervenção, à luz das recomendações apresentadas na literatura especializada; foram

48

desenvolvidas e propostas reflexões sobre os modelos de intervenções identificados e

operados no Sentinela e no CEVIC, visando prevenir a violência contra a criança e o

adolescente, e buscando diminuir os danos causados pela mesma, como resultado das

intervenções adequadas às vítimas e suas famílias.

Os dados obtidos no decorrer deste trabalho foram discutidos à luz de estudos e

pesquisas na literatura especializada desta temática, o que permitiu efetivar uma análise das

informações apreendidas mediante a realização de entrevistas semi-estruturadas, com

profissionais das áreas da psicologia, do direito e da assistência social. Sua participação

configurou-se como uma importante contribuição e enriquecedora, da análise das situações

identificadas, pelo método proposto pelas pesquisadoras, estudo de caso, configurado como

multi-caso.

Ao final desta pesquisa foi possível identificar alguns pontos relevantes a se destacar

como dificuldades existentes, nos atendimentos propostos pelas duas instituições estudadas –

o Programa Sentinela e o CEVIC, através de seus modelos de intervenção às vítimas de

violência infanto-juvenis, quais sejam: dificuldades em possuir um atendimento integral às

vítimas, através dos três níveis de atenção na saúde coletiva: as prevenções primárias,

secundárias e terciárias; o que permite fazer um paralelo mais realista com a promoção da

saúde junto à população geral, a prevenção dos riscos e agravos à saúde e a atenção curativa

às vítimas da violência.

O caráter estrutural da violência foi um outro fator importante entendido e exposto

pelos profissionais das instituições, como um real e decisivo agravo da produção e reprodução

da violência, contra as crianças e adolescentes, demandando novas formas de intervenção, que

sejam mais voltadas para a promoção da não violência. Segundo Minayo (2003) não há como

estudar a violência fora do contexto social, onde esta se insere e também é gerado pela

mesma, nutrindo-se de fortes fatores políticos, econômicos e culturais, onde se traduzem as

relações micro e macrossociais.

Uma outra questão identificada, diz respeito às dificuldades dos profissionais

encontradas para trabalhar com esta problemática. Os mesmos possuem uma proposta de

intervenção pautada pela multidisciplinaridade, que é composta por diversas áreas distintas e

saberes diferenciados. Eles divergem muito uns dos outros, em importantes conceituações a

cerca da violência por exemplo, seus motivos e causas.

Estes profissionais possuem interferência direta na vida das vítimas, intervindo e

influenciando sobre o papel que esta deve ocupar. Ocorrendo alguma contradição entre eles,

ou seja, ora esta vítima dever ser compreendida e atuar como vítima, para se apossar de seus

49

direitos e deveres, e ora ela deve sair da postura ou do papel de vítima em que se encontra,

para aderir a uma intervenção geradora de mudanças.

Com relação à questão acima ilustrada, fica evidenciado que, em decorrência desta

dialética existente entre, o ser vítima ou não, a interdisciplinaridade exercida pelos

profissionais das equipes, incide em uma maior sintonia e sinergia com relação às visões

sobre o aspecto do ser vítima ou não, suas posturas e possíveis intervenções a se realizarem.

Para finalizar as considerações deste trabalho, sobre os pontos que foram destacados

como relevantes nas intervenções existentes e exercidas sobre as vítimas de violência infanto-

juvenil, um forte e importante papel possuem as redes de apoio desta população. Estas redes

devem acima de tudo, trabalhar dentro de uma proposta de interdisciplinaridade articulando,

repassando, discutindo em conjunto as necessidades dos órgãos, circulando as informações,

comunicando-se de forma clara, objetiva e efetiva com os demais órgãos que compõem a

rede, cobrando e fiscalizando dos órgãos envolvidos, os que possuem este papel e, assim

intervindo de forma adequada nas demandas existentes da rede.

4.1 RECOMENDAÇÕES PARA FUTURAS PESQUISAS

A partir da realização deste trabalho foi possível refletir sobre alguns pontos que

sugerem outros potenciais estudos, para a realização de futuras pesquisas quais sejam:

- Sugere-se identificar como ocorre à articulação, comunicação e a circulação de

informações no processo de atuação da rede de apoio às vítimas de violência infanto-juvenil

em Florianópolis, SC.

Como estas demandas são articuladas e priorizadas nesta rede de apoio?

- E, sugere-se um estudo que identifiquem e discutam quais os conceitos / definições e

exigências das capacitações inerentes e necessárias dos profissionais que trabalham ou

pretendem trabalhar com esta temática possuem e ou devem possuir, para lidar com esta

problemática tão delicada e de importante intervenção em nossa sociedade atual, que é a

violência contra a criança e o adolescente.

Qual o papel que os profissionais que trabalham com a temática da violência contra a

criança e o adolescente têm e ou buscam ter, nas suas atuações e intervenções desta prática?

50

5 REFERÊNCIAS

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Síndrome do Pequeno Poder. São Paulo, Iglu, 1989.

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Fronteiras do Conhecimento. São Paulo: Cortez, 1993.

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v.7, n.2. Maringá, julho/dezembro 2002.

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grande investimento da comunidade acadêmica na década de 90. In: MINAYO, Maria C. de

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contemporaneidade brasileira. 1ª reimpressão. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2006. (pp:163-198).

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para o futuro. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 10 (1): 126-134, 1994.

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CHIZZOTTI, A. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo, Cortez, 1991.

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51

manifestações. Revista de Psiquiatria. Rio Grande Sul, v.25, supl.1, Porto Alegre,

abril 2003. (pp: 09-21).

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HAGUETTE, T. M. F. Metodologias Qualitativas na Sociologia. 6ed. Petrópolis: Vozes,

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52

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53

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VELHO, G. Violência, Reciprocidade e Desigualdade: Uma Perspectiva Antropológica. In:

Cidadania e Violência. Rio de Janeiro: UFRJ/FGV, 1996.

54

APÊNDICES

55

APÊNDICE 1

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI - ESTRUTURADA

I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

1. Formação_____________________________________

2. Idade ________________________________________

3. Sexo_________________________________________

4. Tempo na instituição____________________________

5. Tempo que trabalha com esta temática______________

II - QUESTÕES DA ENTREVISTA

1- Como se estrutura o modelo de intervenção às vítimas de violência infanto-juvenis

nesta instituição?

2- Você conhece algum outro modelo de intervenção às vítimas de violência infanto-

juvenis?

3- Por quantos profissionais é composta a equipe e quais são suas formações?

4- Quais são exatamente os objetivos e propostas que esta instituição visa?

56

5- Como são realizadas as intervenções às vítimas e suas famílias?

6- Como vocês lidam com o agressor, a família e a vítima neste processo?

7- Quais as dificuldades encontradas no processo de intervenção às vítimas e suas

famílias?

8- Quais as facilidades encontradas neste processo de intervenção?

9- Quais as sugestões para este trabalho?

10- Como são avaliados os resultados das respectivas intervenções?

11- Quais sugestões para futuras pesquisas nesta área?

57

APÊNDICE 2

CARTA DE APRESENTAÇÃO

Florianópolis, dezembro de 2006.

Prezado Sr.(a) Fulano(a) de tal

Diretor Geral

SENTINELA e CEVIC

Florianópolis - SC

Eu, Daniella Kehrig Barbosa, aluno (a) do Curso de Psicologia da UNIVALI – CE

Biguaçu, sob a orientação da professora doutora Luciana Martins Saraiva, venho por meio

deste, encaminhar o meu projeto de Trabalho de Conclusão de Curso para sua análise e

parecer a respeito da viabilidade do mesmo ser desenvolvido nesta instituição.

A pesquisa tem como título “Modelos de intervenções à criança e ao adolescente

vítimas de violência” e tem como objetivo: Identificar os modelos de intervenções à criança

e ao adolescente vítimas de violência, operados pelo Programa Sentinela e CEVIC.

A referida pesquisa teve seu projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

UNIVALI. Conforme os preceitos éticos em pesquisa, informo que os dados coletados

durante o estudo serão utilizados exclusivamente para fins de pesquisa, sendo mantido sigilo

sobre a identidade dos profissionais participantes.

Comprometemos-nos também em fornecer a esta Instituição uma cópia do relatório

final do estudo, a fim de que possam ser divulgados os resultados junto aos profissionais

interessados.

Portanto, sua aprovação será de fundamental importância para esse estudo.

Atenciosamente,

_______________________________ _______________________________

Daniella Kehrig Barbosa Luciana Martins Saraiva, Dra.

(Aluna Pesquisadora) (Professora Orientadora)

58

APÊNDICE 3

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

Vimos através deste Termo de Compromisso, formalizar os pressupostos éticos

segundo o qual, este projeto de pesquisa, “Modelos de intervenções à criança e ao

adolescente vítimas de violência”, está sendo realizado pela acadêmica Daniella Kehrig

Barbosa com a supervisão da professora doutora Luciana Martins Saraiva, ambas vinculadas

ao Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí / Centro de Educação Biguaçu / SC.

O presente projeto tem como objetivo geral: Identificar os modelos de intervenções à

criança e ao adolescente vítimas de violência. E como objetivos específicos: a) elaborar uma

revisão bibliográfica sobre os aspectos que envolvem o atendimento à criança e ao

adolescente vítima de violência; b) descrever os modelos de intervenções às crianças e aos

adolescentes vítimas de violência existentes e operados em duas instituições de Florianópolis:

o Programa Sentinela o CEVIC; c) analisar os modelos de intervenções existentes nas duas

instituições acima citadas, à luz das recomendações apresentadas na literatura especializada;

d) desenvolver e propor reflexões sobre os modelos de intervenções identificados e operados

nas instituições, Sentinela e CEVIC, visando prevenir a violência contra a criança e o

adolescente, tentando diminuir os danos causados e, apoiando com intervenções adequadas às

vítimas e suas famílias.

A presente pesquisa será realizada segundo os princípios éticos de pesquisa com seres

humanos e utilizando como base à resolução normativa número 01/1997 e número

001/CEP/UNIVALI/2002. E os sujeitos envolvidos nesta pesquisa serão mantidos em

anonimato.

Para a realização da pesquisa serão realizados os seguintes procedimentos: 1) contato

com o local através de uma carta de apresentação - ofício (em Apêndice 2), esclarecendo seus

objetivos e metodologia; 2) realização de entrevista semi-estruturada com um (01)

profissional responsável pela equipe e o psicólogo da mesma; 3) reflexões sobre os dados

coletados na respectiva entrevista, através do método de pesquisa, estudo de caso, à cerca dos

“Modelos de intervenções à criança e ao adolescente vítimas de violência”, a luz da teoria

existente sobre o tema em questão; 4) apresentação dos resultados ao local de realização da

59

pesquisa, através de documento em formato de Trabalho de Conclusão de Curso em

Psicologia, para esclarecimentos e discussões.

Não estão previstos riscos e desconfortos durante a realização da entrevista. Os

pesquisadores estarão disponíveis para qualquer informação e esclarecimento que houver

necessidade, antes e durante a realização da pesquisa. Cabe mencionar que pelo fato desta

pesquisa ter única e exclusivamente interesse científico, a mesma foi aceita espontaneamente

pelo senhor (a) e que, no entanto poderá desistir a qualquer momento da mesma, inclusive

sem nenhum motivo, bastando para isso, informar da maneira que achar mais conveniente, a

sua desistência. Por ser voluntária e sem interesse financeiro, o senhor (a) não terá direito a

nenhuma remuneração. Os dados referentes ao senhor (a) serão sigilosos e privados, e a

divulgação do resultado visará apenas mostrar os possíveis benefícios obtidos pela pesquisa

em questão, sendo que o senhor (a) poderá solicitar informações durante todas as fases desta

pesquisa, inclusive após a publicação da mesma.

Contatos com as pesquisadoras poderão ser feitos no Curso de Psicologia da

UNIVALI pelo telefone (048) 279-9714.

Eu, __________________________________________________, consinto em

participar voluntariamente neste projeto de pesquisa. Florianópolis, _______ /_______

/________.

60

APÊNDICE 4

TERMO DE COMPROMISSO DA PESQUISADORA

Nós abaixo assinados, Daniella Kehrig Barbosa, aluna do Curso de Psicologia da

UNIVALI – CE Biguaçu, sob a orientação da professora doutora Luciana Martins Saraiva,

nos comprometemos em realizar a pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso “Modelos de

intervenções à criança e ao adolescente vítimas de violência”, desenvolvendo todas as

atividades relacionadas à sua concretização.

_______________________________ _______________________________

Daniella Kehrig Barbosa Luciana Martins Saraiva, Dra. (Aluna Pesquisadora) (Professora Orientadora)

Biguaçu, _______ /_______ /________.

61

APÊNDICE 5

TERMO DE COMPROMISSO DE UTILIZAÇÃO DE DADOS

Nós, abaixo assinado, pelo presente “Termo de Compromisso de Utilização de

Dados”, em conformidade com a Instrução Normativa no 004/2002, autoras do projeto

intitulado: “Modelos de intervenções à criança e ao adolescente vítimas de violência”, a

ser desenvolvido no período de março a junho de 2007, a partir das entrevistas realizadas no

(SENTINELA e CEVIC), localizados (as) na cidade de Florianópolis, SC. Nos

comprometemos em utilizar os dados coletados junto aos profissionais destas instituições,

somente para fins deste projeto e divulgação científica. Informo também que a instituição foi

previamente consultada, concordando e propiciando as condições necessárias para a obtenção

dos dados. Outrossim, comprometemo-nos em retornar os resultados da pesquisa às

instituições, apresentando-os aos seus representantes legais.

_______________________________ _______________________________

Daniella Kehrig Barbosa Luciana Martins Saraiva, Dra. (Aluna Pesquisadora) (Professora Orientadora)

Biguaçu, _______ /_______ /________.

62

APÊNDICE 6

ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURA REALIZADA NO PROGRAMA SENTINELA –

Programa de atendimento às vítimas de violência infanto-juvenil, do governo federal.

Observação: As entrevistas foram realizadas por duas profissionais, quais sejam: 01 (uma)

Assistente Social, responsável por coordenar as Equipes do Programa Sentinela e por 01

(uma) das Psicólogas do Programa. No entanto, o relato foi condensado numa descrição

apenas, pelas respostas quase não divergirem.

I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DOS (AS) PROFISSIONAIS:

1. Formação: 1 (uma) Assistente Social e 1 (uma) psicóloga

2. Idade: 39 - 45

3. Sexo: Feminino as 02 (duas)

4. Tempo na instituição: 11 (Onze) anos as duas profissionais

5. Tempo que trabalha com esta temática: 11 (Onze) anos (idem)

II - QUESTÕES DA ENTREVISTA

6. Como se estrutura o modelo de intervenção às vítimas de violência infanto-juvenis

nesta instituição?

R: O modelo de intervenção do Programa Sentinela do Governo Federal da cidade de

Florianópolis se estrutura da seguinte forma:

- Hoje o programa desta cidade atende somente vítimas de violência sexual intrafamiliar ou

exploração infantil sexual (terceiros) e violência física;

63

- Nossa estrutura de atendimento as vítimas de violência sexual e violência física infanto-

juvenil são compostas por três equipes, que atuam de forma multi e interdisciplinares: Equipe

de Prevenção, Equipe de Diagnóstico e Equipe de Acompanhamento.

- Equipe de Prevenção: Atua na prevenção primária, secundária e terciária;

- Equipe de Diagnóstico: Realiza o diagnóstico da situação de violência ocorrida, que dura em

média de três a quatro sessões (entrevistas realizadas por Psicólogos (as) e ou Assistentes

Sociais), com visitas domiciliares também;

- Equipe de Acompanhamento: É a equipe que da o acompanhamento integral a vítima e sua

família, fazendo tanto à parte da psicoterapia individual ou com a família toda, como a parte

“social”, por exemplo: trabalho em rede, com postos de saúde, escolas, caps, conselho tutelar,

juizados, entre outros.

7. Você conhece algum outro modelo de intervenção às vítimas de violência infanto-

juvenis?

R: Antigamente quando entrei aqui (psicóloga) os atendimentos e intervenções eram um

pouco diferentes, tínhamos quatro psicólogas com quatro tipos diferentes de abordagens,

Gestalten terapia, Psicodrama, Sistêmica e Psicanálise; e o objetivo do Programa era o

atendimento psicológico para as crianças e adolescentes vítimas de violência, conhecido

como, S.O. S. , não se investigava se houve ou não á violência, a psicóloga dava o

atendimento voltado para a avaliação emocional da criança. A partir do ano de 2005 Psicóloga

e Assistente Social vão juntas à casa da Vítima a fim de realizarem o diagnóstico da

ocorrência da violência e posteriormente um relatório, construído e debatido através de um

estudo de caso (Relatório Psicossocial), que será entregue ao Conselho tutelar.

Este programa anteriormente atendia demandas de crianças e adolescentes vítimas de

violência física, sexual, psicologia e negligência. Hoje quem atende as demandas de violência

psicológica e negligência é o POASF – Programa de Orientação e de Apoio Sócio Familiar,

64

programa este, que também realiza diagnóstico e acompanhamento às vítimas de violência

infanto-juvenil.

8. Por quantos profissionais é composta a equipe e quais são suas formações?

R: - Na equipe do Acompanhamento contamos com: cinco (5) Psicólogos (as), oito (8)

Assistentes Sociais e uma (1) Pedagoga;

- Na equipe do Diagnóstico contamos com: quatro (4) Psicólogos (as) e oito (8) Assistentes

Sociais;

- Na equipe de Prevenção contamos com: uma (1) Assistente Social, uma (1) Pedagoga e uma

(1) Arte Educacional.

Obs: Cada técnico fica responsável pelo atendimento de em média por vinte (20) a trinta (25)

famílias.

9. Quais são exatamente os objetivos e propostas que esta instituição visa?

R: Visamos integridade, proteção e defesa da criança e do adolescente que é vítima de

violência, proporcionando um atendimento adequado que acolha e intervenha de todas as

formas possíveis a fim de assegurar a esta criança e adolescente que é vítima de violência seus

direitos de dignidade e bem estar físico e emocional.

10. Como são realizadas as intervenções às vítimas e suas famílias?

R: A denúncia chega pelo telefone 0800, ou por rede, ou ainda denúncia no próprio Conselho

Tutelar, este encaminha para o Programa Sentinela - equipe de Diagnóstico. A equipe faz o

Diagnóstico num processo interdisciplinar, Assistente Social e Psicologia, juntas realizam um

relatório psicossocial, com indicações, encaminhamentos necessários e sugestões. O é

encaminhado ao Conselho Tutelar, pois “tudo deve ser comunicado a eles e eles vão garantir

que as medidas e os direitos da criança e do adolescente sejam cumpridos”. Havendo o

indicativo de atendimento à vítima (criança e ou adolescente) e família, inicia-se o processo

de acompanhamento que é realizado por esta equipe, destinada a atender todas as demandas e

65

intervenções necessárias, desde psicoterapia a intervenções sócias, como articular recursos

que assim se fizerem necessárias.

11. Como vocês lidam com o agressor, a família e a vítima neste processo?

R: O agressor aqui é ouvido e tratado também, trabalhamos com a perspectiva de que ele (o

agressor) é um doente e que por isso precisa de tratamento. “Isto não quer dizer que ele não

irá responder pelos seus atos, ele não ficará livre de punição se assim o necessitar”. Todavia o

atendimento será disponibilizado não somente a vítima (criança e ou adolescente), mas, como

a família toda, incluindo agressor.

12. Quais as dificuldades encontradas no processo de intervenção às vítimas e suas

famílias?

R: Penso que as existem muitas dificuldades de cunho estrutural e moral. Como a falta das

necessidades básicas de sobrevivência para qualquer criança e adolescente, como: moradia,

vestuário, alimentação e educação. Uma outra dificuldade que enfrentamos são as mudanças

partidárias, ou seja, a cada mudança de governo partidária muda quase toda a equipe e muitas

vezes encontramos dificuldade em ter que repassar tudo novamente para pessoas novas e que

algumas vezes nunca tiveram experiência com estas temáticas “leigas no assunto”. Ainda

possui um outro fator que também é percebido como dificuldade, é termos um o número

inferior hoje de Psicólogos (as) do que Assistente Social. “Penso que deveríamos ter pelo

menos o mesmo número de profissionais, mas, não somos nós quem contrata”.

13. Quais as facilidades encontradas neste processo de intervenção?

- Sem resposta;

14. Quais as sugestões para este trabalho?

R: Quem é o órgão responsável pelos órgãos que trabalham com esta problemática da

violência infanto-juvenil? “Conselho Municipal do Direito da Criança e do Adolescente, que

cadastra todas as violências ocorridas no município”. Este órgão deveria fiscalizar e cobra

66

uma melhor articulação entre todos os órgãos que se destinam a atender e trabalhar com esta

problemática.

15. Como são avaliados os resultados das respectivas intervenções?

- Sem resposta;

16. Quais sugestões para futuras pesquisas nesta área?

- Sem resposta;

67

APÊNDICE 7

ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURA REALIZADA NO CEVIC – Centro de Atendimento à

Vítima de Crime.

I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PROFISSIONAL

1. Formação: Advogado (profissional responsável pela equipe)

2. Idade: 32

3. Sexo: Masculino

4. Tempo na instituição: Um ano e meio

5. Tempo que trabalha com esta temática: Cinco anos - Desde 2002 (Sistema Nacional à

vítimas e testemunhas).

II - QUESTÕES DA ENTREVISTA

6. Como se estrutura o modelo de intervenção às vítimas de violência infanto-

juvenis nesta instituição?

R: Há aproximadamente um ano e meio, esta instituição vem desenvolvendo e exercendo

um modelo de atendimento as vítimas de crime, de forma interdisciplinar: Serviço Social,

Direito e Psicologia. Primeiramente a vítima é encaminhada à Assistente Social do

respectivo órgão - CEVIC, está realiza uma anamnese da vítima, infere na dinâmica

familiar e quando necessário em parceria com outro profissional da equipe, deslocam-se à

residência da vítima, para a realização de uma visita domiciliar. Logo em seguida, se for o

caso de atendimento e auxílio com o jurídico, a vítima é encaminhada para o advogado.

Este irá tramitar todos os procedimentos que se fizerem necessários. Posteriormente a

vítima é redirecionada ao atendimento psicológico. O psicólogo vai fornecer o apoio

68

terapêutico de uma psicoterapia breve na abordagem comportamental, que tem uma

durabilidade de aproximadamente 16 (dezeseis) a 20 (vinte) sessões terapêuticas. Este

profissional também auxilia o restante da equipe, instruindo e orientando as possíveis

intervenções a se realizarem.

7. Você conhece algum outro modelo de intervenção às vítimas de violência infanto-

juvenis?

R: O CEVIC – Lages e o CEVIC - Joinvile, têm o mesmo modelo do CEVIC de

Florianópolis, uma proposta de modelo interdisciplinar, no atendimento a vítima de crime

no geral. Já o CEVIC de São Paulo - CRAVI (atende somente crimes contra a vida), o

CEVIC de Alagoas - Ceav (atende vítimas de violência doméstica) e o CEVIC de Minas -

Navc (atende crimes graves). Existe também os Caps e o Programa Sentinela do Governo

Federal na área da saúde coletiva.

8. Por quantos profissionais é composta a equipe e quais são suas formações?

R: Por 04 (quatro) profissionais: 01 (um) advogado, 01 (uma) psicóloga, 01 (uma)

assistente social e 01 (um) coordenador.

9. Quais são exatamente os objetivos e propostas que esta instituição visa?

R: Atendimento específico às vítimas de crime, dentro de uma proposta psicossocial

jurídica.

10. Como são realizadas as intervenções às vítimas e suas famílias?

R: O atendimento é agendado pessoalmente, o acolhimento e uma pré - triagem é

realizada com a assistente social e em seguida, a vítima é encaminhada ao advogado para

possíveis processos jurídicos. Posteriormente a vítima passa para o atendimento

psicológico, na qual, em cooperação com as outras duas áreas afins, vai determinar se, a

vítima e sua família iniciam acompanhamento psicológico (ou não). Por fim, dispomos

dos serviços de visitas domiciliares, quando se faz necessário.

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11. Como vocês lidam com o agressor, a família e a vítima neste processo?

R: Esta instituição não foi criada com a finalidade de para amparar o agressor, ela se

destina única e exclusivamente a atender e amparar as vítimas de violência de crime.

Contudo, julga-se necessário um plano “B”, quer diz: “futuramente elaborar um plano de

ação com uma intervenção em conjunto, vítima e agressor”.

12. Quais as dificuldades encontradas no processo de intervenção às vítimas e suas

famílias?

R: Todo o processo é dificultoso, principalmente para a vítima, que muitas vezes é

ameaçada, caso resolva ir buscar os seus direitos e deveres. Isto também ocorre devido à

dificuldade que elas possuem muitas vezes de se enxergarem como vítimas. Porém,

quando ela (a vítima) chega até aqui, provavelmente ela vai até o fim. Um outro ponto a

ser colocado, ao meu ver como dificuldade, é sobre entender a questão da justiça e

enxergar a violência seja ela contra criança, adolescente ou mulher, como um problema de

saúde pública mental, com respectivas alternativas de viabilizar a todo cidadão que

necessite, proteção, orientação e direitos de bem-estar.

13. Quais as facilidades encontradas neste processo de intervenção?

R: A confiança que a população já possui no órgão - instituição de apoio a estas vítimas, o

CEVIC. E a prática de exercer um modelo de intervenção interdisciplinar no atendimento

às vítimas de violência de crime.

14. Como são avaliados os resultados das respectivas intervenções?

R: É utilizada uma tabela de gerenciamento de casos, que apresenta dados quantitativos

estatísticos do perfil dos usuários e situação problema. Este método nos dá uma boa

amostra de produtividade e efetividade dos trabalhos realizados. Todavia, queremos

implementar também, um outro método de análise, qualitativo.

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15. Quais as sugestões para este trabalho?

R: Que os órgãos e ou programas destinados a trabalhar com esta temática, se utilizem de

um modelo de intervenção interdisciplinar e não multidisciplinar. E que as intervenções

sejam realizadas com rapidez e efetividade.

16. Quais sugestões para futuras pesquisas nesta área?

R: Elaboração de uma análise das regiões geográficas que possui maior índice de

violência, segundo dados oficiais de Segurança Pública. Por que algumas regiões possuem

uma maior incidência de casos de violência e outras não? O que tem por trás desses fatos

ocorridos? Realizando-se assim, um diagnóstico geográfico por regiões. Um outro ponto a

ser investigado seria a relação de retro-violência, no caso específico da mulher, ou seja,

toda mulher é a vítima numa situação de violência?

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APÊNDICE 8

ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURA REALIZADA NO CEVIC – Centro de Atendimento

à Vítima de Crime

I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PROFISSIONAL

1. Formação: Psicóloga

2. Idade: 40

3. Sexo: Feminino

4. Tempo na instituição: 01 (Uma) semana

5. Tempo que trabalha com esta temática: Dois anos (Serte – Sociedade Espírita – de

recuperação, trabalho e educação).

II - QUESTÕES DA ENTREVISTA

6. Como se estrutura o modelo de intervenção às vítimas de violência infanto-

juvenis nesta instituição?

R: Acolhimento, evitando a vitimização, tentando assim, que a vítima não se mantenha no

lugar de vítima. A Assistente Social acolhe a vítima e encaminha para o atendimento

psicológico de psicoterapia breve, através da abordagem da psicologia comportamental,

que pode ser feito individualmente ou em grupo. Posteriormente a vitima é encaminhada

ao setor jurídico da instituição, caso necessite de alguma intervenção no âmbito jurídico.

7. Você conhece algum outro modelo de intervenção às vítimas de violência infanto-

juvenis?

R: Conheço o modelo da Serte, que foi a gestora do CEVIC e foi onde eu trabalhei por

dois anos, com esta mesma temática. Lá nós tínhamos também uma proposta de modelo

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multi e interdisciplinar, visando os aspectos físicos – enfermagem, terapias

complementares como: reich, florais de Bach, acupuntura, cromoterapia. Este quadro de

atividades era executado e formado por uma equipe técnica de profissionais: Psicólogo,

Assistente Social, Enfermagem e as ‘cuidadoras’ (chamadas mães), eram do tipo

voluntárias.

8. Por quantos profissionais é composta a equipe e quais são suas formações?

R: Por 04 quatro profissionais: 01 (um) advogado, 01 (um) psicólogo, 01 (uma) assistente

social e 01 (um) coordenador. Também contamos com o auxílio de estagiários (as) das e

voluntários (as) da área do Direito e da Psicologia.

9. Quais são exatamente os objetivos e propostas que esta instituição visa?

R: “Nunca deixar que a vítima volte para casa sem atendimento”.

10. Como são realizadas as intervenções às vítimas e suas famílias?

R: É muito comum a criança tentar negar a violência ocorrida. Com isto tentamos

trabalhar o lúdico com elas, para que este “segredo” venha de alguma forma à tona e a

intervenção aconteça.

11. Como vocês lidam com o agressor, a família e a vítima neste processo?

R: Esta instituição não foi criada com a finalidade de amparar o agressor, ela se destina

única e exclusivamente a atender e amparar as vítimas de violência de crime. Contudo, eu

também penso que se julga necessário elaborar um plano de ação com uma intervenção

em conjunto, vítima e agressor.

12. Quais as dificuldades encontradas no processo de intervenção às vítimas e suas

famílias?

R: O medo, seja ele pelo abandono que a vítima tem, ou seja por ser punida pelo agressor,

passar por represarias, ameaças e maus-tratos, quando este souber da denuncia e do pedido

de ajuda, é muito freqüente.

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13 Quais as facilidades encontradas neste processo de intervenção?

R: “Quando eles (as vítimas) vêem no grupo que é elaborado na intervenção, a ajuda que a

experiência de um trás na troca com a experiência do outro, é fundamental e

enriquecedora”.

14. Como são avaliados os resultados das respectivas intervenções?

R: É utilizada uma tabela de gerenciamento de casos, que apresenta dados quantitativos

estatísticos do perfil dos usuários e situação problema. Mas, penso que uma avaliação

qualitativa, do tipo questionário, ao final de cada intervenção, seria muito produtivo.

15. Quais as sugestões para este trabalho?

R: Visita domiciliar como um dos métodos de praxe do modelo de intervenção. Porque

acredito que este método nos dá uma visão mais sistêmica da situação, conhecendo o

ambiente onde a vítima está inserida.

16. Quais sugestões para futuras pesquisas nesta área?

R: Traçar o perfil do agressor. “Será que a violência do agressor contra a vítima é

decorrente de algum tipo de transtorno psiquiátrico, por exemplo?”.