DANIELE DOS SANTOS FERREIRA DIAS MOBILE ... - UFRN
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE
DANIELE DOS SANTOS FERREIRA DIAS
MOBILE LEARNING NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:
ADOÇÃO DE DISPOSITIVOS MÓVEIS NA ATIVIDADE DOCENTE
Natal/RN
2021
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DANIELE DOS SANTOS FERREIRA DIAS
MOBILE LEARNING NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:
ADOÇÃO DE DISPOSITIVOS MÓVEIS NA ATIVIDADE DOCENTE
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Doutora em Educação.
Orientadora: Dra. Betânia Leite Ramalho
Coorientador: Dr. Timothy Denis Ireland
Natal/RN
2021
Dias, Daniele dos Santos Ferreira. Mobile Learning na Educação de Jovens e Adultos: adoção dedispositivos móveis na atividade docente / Daniele dos SantosFerreira Dias. - Natal, 2021. 253 f.: il.
Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande doNorte, Centro de Educação, Programa de Pós-Graduação emEducação. Orientadora: Profa. Dra. Betânia Leite Ramalho. Coorientador: Prof. Dr. Timothy Denis Ireland.
1. Mobile learning - Tese. 2. Formação de professores - Tese.3. Aprendizagem expansiva - Tese. 4. Educação de jovens eadultos - Tese. I. Ramalho, Betânia Leite. II. Ireland, TimothyDenis. III. Título.
RN/UF/BS/CE CDU 374.7
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE
Elaborado por Rita de Cássia Pereira de Araújo - CRB-804/15
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DANIELE DOS SANTOS FERREIRA DIAS
MOBILE LEARNING NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:
ADOÇÃO DE DISPOSITIVOS MÓVEIS NA ATIVIDADE DOCENTE
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Doutora em Educação.
Natal, 25 de fevereiro de 2021
BANCA EXAMINADORA
Profa Dra. BETÂNIA LEITE RAMALHO Orientador(a)/Presidente da banca
Prof. Dr. Timothy Denis Ireland Coorientador - UFPB
Prof. Dr. JOAQUIM LUÍS MEDEIROS ALCOFORADO
Titular Externo(a) – UC
Prof. Dr. ISAURO BELTRAN NUNEZ Titular Interno(a) – UFRN
Profa. Dra. ADRIANA VALÉRIA SANTOS DINIZ
Titular Externo(a) – UFPB
Profa Dra. ELDA SILVA DO NASCIMENTO MELO
Titular Interno(a) – UFRN
Prof. Dr. JOAO RICARDO FREIRE DE MELO
Suplente Externo (a) – IFPB
Prof. Dr. FREDY ENRIQUE GONZALEZ
Suplente Interno(a) – UFRN
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DEDICATÓRIA
Dedico esta pesquisa à minha família e amigos que sempre estiveram presentes, direta ou indiretamente, em todos os momentos de minha formação. Dedico aos professores da Educação de Jovens e Adultos de nosso país, que lutam dia após dia para que seus alunos possam ser beneficiados a partir do acesso à uma Educação Libertadora, alinhada com as demandas sociais.
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AGRADECIMENTOS
Tornar-se Doutora, no Brasil dos dias atuais, é um grande desafio.
Principalmente quando se trata de uma mulher negra, oriunda de classe popular.
Por isso, sem querer ser piegas, tenho a plena consciência de que essa vitória
não é só minha. Recebi durante toda a minha vida muito apoio e auxílio para
conseguir este feito. Sou privilegiada! Assim, nesta oportunidade, não posso
deixar de agradecer aos que estiveram ao meu lado nesse trajeto de sucesso.
Inicialmente a Deus, meu Pai Oxalá, que me deu equilíbrio, foco e saúde
para seguir transformando sonhos em metas. Ao meu São Jorge, minha Mãe
Iemanjá, aos Eres, aos Pretos Velhos, e todos os Orixás e irmãos de luz,
protetores que me auxiliaram.
À minha mãe, Professora Ms. Juçara Santos, que apoiou a minha decisão
tão juvenil, quando enveredei pelo campo da Educação. A ela que, além de uma
supermãe, foi capaz de ouvir e compreender aquilo que eu não sabia explicar
muito bem, sendo, então, responsável pelas minhas primeiras inquietações e
trocas a respeito da Teoria da Atividade. Sem dúvidas, ela é a minha maior
inspiração em busca por realizações me ensinando a trilhar sem esmorecer e
tendo como inexistente a opção da desistência.
À minha irmã, Professora Ms. Priscila Dias, companheira de todos os
momentos. Todos mesmos! Durante todo o meu trajeto de estudos, neste curso,
seguiu encaminhando-me palavras de estímulo, abdicando de seu descanso, por
inúmeras vezes, para me conduzir em viagens de “indas e vindas” incansáveis,
e me cedeu vários de seus livros para que eu pudesse melhorar os textos desta
pesquisa. Faz-me vivenciar a irmandade no sentido mais amplo e verdadeiro de
amor e fraternidade. Obrigada por tudo!
Ao meu amado esposo, Carlos Djalma, amigo, paciente e compreensivo,
que me estimulou diariamente, chamando-me à atenção para o autocuidado,
alertando-me para a necessidade dos minutinhos de descanso entre uma leitura
e outra, acompanhando-me de perto nas angústias das noites mal dormidas e
compartilhando os risos nas vitórias e nos avanços. Como é mesmo aquela
palavra? Obrigada, amor meu!
Ao meu pai, Dr. Daniel Ferreira Dias pela força animadora e por acreditar,
desde sempre, no meu sucesso. Sua vitória contra a COVID-19 me fez ter ainda
7
mais garra para conquistar o doutoramento e lhe dar mais uma alegria.
Aos meus avós Nayr e Jorge, in memorian. Mãe, Vô. . . estão daí vendo
onde chegamos?!
À minha querida avó Deny.
Aos meus cunhados Silvia, Carla, Luciana e Fernando. Pessoas muito
especiais em minha vida. Obrigada!
À amiga Milene, in memorian, que certamente se alegra com esse
momento de conquista.
Aos amigos da Pós-Graduação e do Grupo de Pesquisa, em especial à
Karine, Rozi e Andréa.
A todos os amigos queridos que sempre acreditaram que esse título
chegaria.
Aos professores que participaram do Curso Mobile Learning na EJA e
toparam navegar por mares desconhecidos, possibilitando o nascimento dos
Ciclos de Livre Aprender.
Aos Professores Ms. Agda Aquino, Dr. José Barbosa Ramos da Silva, Ms.
Gabriela Muniz, Dra. Juciane Araldi, Dra. Josélia Ramalho.
À amiga superespecial Professora Dra. Petruska Machado por
apresentar-me as ferramentas tecnológicas de auxílio ao pesquisador em
direção a uma coerente construção metodológica;
À Equipe de Educação da GEEJA do Estado da Paraíba;
À Cátedra UNESCO de EJA na figura do meu querido amigo, parceiro de
trabalhos e superorientador, o gigante professor Dr. Timothy Ireland, que me
ensinou a amar a EJA e me ajuda cotidianamente a ser uma profissional melhor.
À minha orientadora Professora Dra. Betânia Leite Ramalho por, além de
uma exímia profissional, ser uma pessoa tranquila, sensível e carregada de
empatia. Desde o primeiro momento, sempre foi solícita, abrindo portas e janelas
para minhas novas aprendizagens. Gratidão infinita!
Ao Professor Dr. Isauro Nuñes, que me apresentou à Teoria Histórico-
Cultural, iluminando o meu caminho teórico de investigação, com quem eu
sempre aprendo muito. A sua defesa, em aulas, não pela melhoria da escola,
mas por sua mudança radical, me levou a conhecer a teoria da Aprendizagem
Expansiva e acreditar em uma possível mudança de atividade de ensino.
Ao professor Dr. Claudio André, que contribuiu com a minha trajetória
8
desde os meus primeiros passos na área de Tecnologia Educacional e
despertou-me o interesse por pesquisar Mobile Learning. Certamente você se vê
neste trabalho. Muito obrigada!
À minha amiga Íris Portella (Preta), que me acolheu como irmã tantas e
tantas vezes no hostel. E ao Sr. Carlos, o melhor motorista de Natal, sempre
socorrendo minha desorientação espacial.
Aos meus alunos. Afinal, eles balizaram os meus fazeres possibilitando
afinação de meus olhares até aqui.
À amiga Professora Dra. Adriana Diniz, Diretora do Centro de Educação
da Universidade Federal da Paraíba, pelo incentivo constante. Estendo esse
agradecimento aos demais colegas desse Centro, onde estudei e atuo como
docente.
Ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN e todos os
professores e funcionários.
Meu muito obrigada!
9
Epígrafe
O movimento da história só é possível com a transmissão, às novas gerações, das aquisições da cultura humana, isto é, com educação. (LEONTIEV, 1978, p. 267)
10
RESUMO A Modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), ao longo de sua história, tem configurado grandes desafios para os professores. Afinal, as mudanças so-ciais oriundas da Sociedade em Rede (CASTELLS, 1999) exigem práticas de adoção de outras culturas, as quais possibilitem ao sujeito aprender em qualquer tempo e espaço. Nesse sentido, foi desenvolvida a pesquisa a qual teve como objetivo geral desenvolver uma proposta de intervenção formativa para reconfi-gurar a prática pedagógica do docente da EJA, de modo a viabilizar a potencia-lização de Aprendizagens Móveis e Expansivas no espaço de ensino e aprendi-zagem. Mas, perguntamos: como reconfigurar a prática pedagógica de ensino na EJA, de modo a viabilizar a potencialização de Aprendizagens Expansivas, a partir da exploração da Cultura da Mobilidade, no espaço de ensino e aprendi-zagem? Foi defendida a tese de que o uso de Mobile Learning na formação do-cente pode favorecer a aprendizagem de professores que atuam na EJA, possi-bilitando aprendizagens potencialmente expansivas e encaminhando-os para práticas de ensino que atendam às exigências da Cultura da Mobilidade. Como Pesquisa de Desenvolvimento do Trabalho, usou metodologia participante, apli-cada e descritiva e realizou uma intervenção formativa transformativa, explo-rando o Laboratório de Mudanças - LM (VIRKKUNEN & NEWNHAM, 2015), o qual deu-se no contexto do Curso Mobile Learning na EJA, na Cátedra UNESCO EJA/UFPB. Foram realizadas 15 sessões no LM, desterritorializadas (DELEUZE & GUATTARI,1997), envolvendo educadores atuantes em Redes Públicas no Estado da Paraíba. O Curso mencionado abordou a aprendizagem do adulto, mobile learning e novos multiletramentos (ROJO, 2012), com oficinas de música, vídeo e fotografia. O LMS Moodle foi utilizado como ambiente virtual de aprendi-zagem. As principais dificuldades estiveram impressas na superação das con-tradições históricas que surgiram ao longo do Ciclo Expansivo. Para comprova-ção ou refutação da tese, tivemos como fundamentos epistemológicos a Teoria da Atividade (VYGOTSKY, 1978; LEONTIEV, 1978; ENGESTROM,1999, 2014), a Cultura da Mobilidade (LEMOS, 2009), Aprendizagem Expansiva (ENGES-TROM, 2016) e Mobile Learning (DAVIS, 1989; LAVE 1992; PRESKY, 2001; TRAXLER, 2008; SHARPLES, 2009). Além destes, abordamos no referencial teórico a Formação de Professores (RAMALHO & NUÑES, 2003; FREIRE, 1967, 1978, 1979, 1981, 1987, 1989,1996) e a Educação de Jovens e Adultos (UNESCO 2000, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2017; IRELAND, 2009, 2012, 2014, 2018). Foi feita análise fenomenológica do LM. A pesquisa originou um novo Sistema de Atividade para o Ensino na EJA, o qual teve os Ciclos de Livre Aprender como resultado. Consideramos a tese inicial confirmada e seus objetivos atendidos. Os Ciclos de Livre Aprender são contínuos, sem fronteiras, mediatizados, expansivos, carregam a Cultura da Mobilidade e estimulam o re-mix pós-massa. Eles podem atuar como farol em caminhos a serem trilhados em comunhão entre alunos e professores, na busca por conquistar processos edu-cativos que se propaguem para toda a vida de qualquer sujeito adulto que se reconheça como aprendente, com alcance de conhecimentos ilimitados.
Palavras-chave: Mobile learning, Formação de professores, Aprendizagem ex-pansiva, Educação de jovens e adultos.
11
ABSTRACT
The modality of Youth and Adult Education (YAE) has presented huge challenges to educators throughout its history. Social changes produced by the Network Society (CASTELLS, 1999) require the adoption of new cultural practices, which make it possible for the subject to learn in any place and at any time. In this sense, the objective of the research undertaken was to develop a proposal for formative intervention to reorganise the pedagogical practice of AYE educators in order to make viable the potential of Mobile and Expansive Learnings, in the teaching-learning process. Based on this, we asked, how to reorganise a pedagogical practice of AYE, in such a way as to make viable the potential of Expansive Learning by means of the Culture of Mobility, in the teaching-learning process? We defend the thesis that the use of Mobile Learning in teacher training can favour the learning of educators of AYE, making possible potentially expansive learning and directing it towards teaching practices which satisfy the demands of the Culture of Mobility. We adopted applied and descriptive participant research as the research methodology of this project allied to a formative transformative intervention exploring the Laboratory of Changes – LM (VIRKKUNEN & NEWNHAM, 2015), which took place in the context of the Mobile Learning Course in YAE, promoted by the UNESCO Chair in AYE/UFPB. Fifteen sessions of LM were held (VIRKKUNEN & NEWNHAM, 2015), freely exchanging information (DELEUZE & GUATTARI,1997), involving teachers working in the State of Paraiba public school network. The course dealt with adult learning, mobile learning and new forms of Multi-literacy (ROJO, 212) with music, video and photography workshops. The LMS Moodle platform was used as the virtual learning environment. The principal difficulties were implicit in the overcoming of historical contradictions, which arose throughout the Expansive Cycle. We adopted the Theory of Activity as the epistemological foundation of the process (VYGOTSKY, 1978; LEONTIEV, 1978; ENGESTROM, 1999, 2014), the Culture of Mobility (LEMOS, 2009), Expansive Learning (ENGESTROM, 2016) and Mobile Learning (DAVIS, 1989; LAVE 1992; PRESKY, 2001; TRAXLER, 2008; SHARPLES, 2009). We also used the Training of Teachers (RAMALHO & NUÑES, 2003; FREIRE, 1967, 1978, 1979, 1981, 1987, 1989, 1996) and Youth and Adult Education (UNESCO 2000, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2017; IRELAND, 2009, 2012, 2014, 2018) as part of the theoretical framework. We carried out a phenomenological analysis of the LM. The research resulted in the creation of a new System of Activity for AYE Teaching made up of the Cycles of Free Learning. We conclude, then, that the thesis confirms its objectives since the Cycles of Free Learning are continuous, without borders, mediated and expansive. They are imbued with the Culture of Mobility and stimulate the free exchange of information and contents, with the capacity to act as a guiding light to be followed by students and educators together, who desire to achieve educational processes which last for the whole life of an adult who recognises him/herself as a learner, with an unlimited capacity for learning. Key words: Mobile Learning, Teacher training, Expansive learning, Youth and Adult Education.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 – Pesquisadora no ano 2000, estudante de Pedagogia e Bolsista Tutora do Curso de Extensão TV na Escola e os Desafios de Hoje ................................................................................................................
20 Figura 02 – Equipe de Professores Mediadores de Tecnologias (PMTs) do Município de Bayeux / Ano 2004 ............................................................
21
Figura 03 – Pesquisadora Ministrando Formação de Professores na UFPBVirtual / Ano: 2009 ...............................................................................
22
Figura 04 – Pesquisadora em Formação de Professores de Adultos na Guatemala / Comitê Nacional de Alfabetização de Adultos (CONALFA) – Cooperação Técnica entre países em desenvolvimento / Ano: 2016 .......
23 Figura 05 – Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parceiras .................... 25 Figura 06 – Infográfico Avanço dos GRALE ................................................ 64 Figura 07 – Perspectiva de Engestrom das três gerações da TA ............ 79 Figura 08 – Modelo do ato mediado .............................................................. 81 Figura 09 – Reformulação usual do modelo de Vygotsky da ação mediada ..........................................................................................................
81
Figura 10 – Relação entre signos e ferramentas ......................................... 82 Figura 11 – Mapa conceitual da Teoria da Atividade ................................... 86 Figura 12 – A estrutura da atividade humana proposta por Engestrom ... 88 Figura 13 – Internalização e externalização no ciclo expansivo .............. 93 Figura 14 – Sistema de Atividade proposto por Engestrom ....................... 93 Figura 15 – Sequência ideal típica de Davidov ............................................ 97 Figura 16 – Sequência de ações de aprendizado em um ciclo de aprendizagem expansiva ..............................................................................
100
Figura 17 – Sistema de Atividades Formação de Professores x Atividade Pedagógica ....................................................................................................
105
Figura 18 – Quatro tipos de intervenção e métodos de intervenção ....... 114 Figura 19 – Desafios enfrentados por professores para uso de TDIC .... 117 Figura 20 – Atividade de Ensino na tendência crítico-social dos conteúdos ......................................................................................................
118
Figura 21 – Smartphone com ícones expostos ........................................... 125 Figura 22 – Mapa Conceitual - Cultura da Mobilidade ............................... 133 Figura 23 – Uma estrutura para analisar Mobile Learning ........................ 135 Figura 24 – Inexistência de resultados para busca na Web Of Science com inclusão de todas as palavras-chave da pesquisa .............................
149
Figura 25 – Rede de Pesquisadores mais influentes na área Mobile Learning .........................................................................................................
153
Figura 26 – Diagrama de fluxo de trabalhos incluídos nas análises, a partir da Web Of Science ..............................................................................
157
Figura 27 – Pesquisas resultantes da busca com string “Mobile Learning” no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES ....................
157
Figura 28 – As fases de um processo do Laboratório de Mudanças ......... 162 Figura 29 – Página do Curso Mobile Learning na EJA ................................ 163 Figura 30 – LMS do Curso ............................................................................. 164 Figura 31 – Fotografia da Mesa de Abertura da Aula inaugural .................. 172 Figura 32 – Fotografia da 3ª Sessão ............................................................. 179 Figura 33 – Fotografias da 5ª sessão ............................................................ 181 Figura 34 – Sistema atual da Atividade de Ensino na EJA .......................... 187 Figura 35 – Roteiro da atividade na Mídia Social Facebook ....................... 188 Figura 36 – Atividade na Mídia Social Facebook ......................................... 189 Figura 37 – Interface do Aulapp .................................................................... 191 Figura 38 – Fotografias das 9ª e 10ª sessões – Oficina de Musicalização 195
13
Figura 39 – Página da ferramenta ExeLearning ........................................... 197 Figura 40 – Capturas de telas do App Eclipse de Física ............................. 199 Figura 41 – Fotografia da Aplicação do Novo Modelo de Atividade em aula de Física (Ciclo 5 da EJA) com uso do App Eclipse ...........................
199
Figura 42 – Fotografia da Aplicação do Novo Modelo de Atividade (Ciclos 1 e 2 da EJA) em Escola Municipal de João Pessoa/Bancários ...
200
Figura 43 – Fotografia da Aplicação do Novo Modelo de Atividade (Ciclos 1 e 2 da EJA) em Escola Municipal de João Pessoa/Penha ..........
200
Figura 44 – Fotografias da Aplicação do Novo Modelo de Atividade de Atividade em Turma de Alfabetização em Escola Municipal do Conde/Jacumã ...............................................................................................
201 Figura 45 – Fotografia da Aplicação do Novo Modelo de Atividade de Atividade na Gerência de Educação de EJA da PB ...................................
201
Figura 46 – Fotografia da Difusão e Consolidação de Novo Modelo de Atividade – Professor de Física da EJA de Escola Estadual da PB ...........
203
Figura 47 – Difusão e Consolidação de Novo Modelo de Atividade - Secretaria de Educação do Estado da Paraíba – GEEJA ............................
204
Figura 48 – Início de um novo Ciclo Expansivo – Escola Estadual da PB 206 Figura 49 - 1º Seminário Estadual de EJA Semipresencial – GEEJA ......... 206 Figura 50 - Sistema modificado da Atividade de Ensino na EJA ................ 211
14
LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 – Projeção da População do Brasil atualizado em 2018 - IBGE 54 Gráfico 02 – Crescimento das pesquisas - no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES - com uso da string “Mobile Learning .................
158
Gráfico 03 – Perfil dos inscritos em relação a EJA ...................................... 167
15
LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Resultado da busca com script de string 1 na Web Of Science ...........................................................................................................
151
Tabela 02 – Resultado da com script de string 1 na Scopus .................... 152 Tabela 03 - Resultado após extração de publicações duplicadas na Scopus e Web Of Science sobre Mobile Learning e Formação de Professores ....................................................................................................
153 Tabela 04 - Planejamento do mapeamento - 1ª e 2ª sessões ...................... 171 Tabela 05 - Planejamento da Análise da Situação ....................................... 178 Tabela 06 - Planejamento da Criação de um novo modelo ......................... 188 Tabela 07 - Planejamento da Concretização e teste de um novo modelo 192 Tabela 08 – Planejamento da Aplicação do novo modelo de atividade ... 197 Tabela 09 – Planejamento da Difusão e consolidação no modelo constituído .....................................................................................................
202
16
LISTA DE QUADROS Quadro 01 – Estrutura Hierárquica da Atividade ......................................... 84 Quadro 02 - Elementos do Sistema de Atividade ........................................ 89 Quadro 03 - Raízes fundamentais da Aprendizagem Expansiva ............... 95 Quadro 04 - Síntese das categorias existentes sobre saberes docentes 111 Quadro 05 – Definições de Mobile Learning ................................................ 137 Quadro 06 - Percurso metodológico da pesquisa ..................................... 148 Quadro 07 - Comparativo do resultado das buscas .................................... 150 Quadro 08 - Escolha da Base de Dados ....................................................... 156 Quadro 09 – Cronograma do Curso Mobile Learning na EJA ..................... 161 Quadro 10 - Design do Ciclo de Desenvolvimento Expansivo proposto.. 166 Quadro 11 - Os formadores e seus temas ................................................... 169
17
SUMÁRIO
PREÂMBULO ......................................................................................... 20
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 24 1.1 Problema de Pesquisa .................................................................... 30 1.2 Objetivo Geral .................................................................................. 30 1.3 Objeto de Estudo ............................................................................ 30 1.4 Os Objetivos Específicos ............................................................... 31 1.5 A Tese Proposta .............................................................................. 32 1.6 Antecedentes ................................................................................... 34 1.7 Apresentação da Estrutura da Tese .............................................. 38 2 DA ESCOLARIZAÇÃO À APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO AO LONGO DA VIDA ...................................................................................
40
2.1 Contexto Histórico da EJA no Brasil ............................................ 40 2.2 Os estudantes da Modalidade Educação de Jovens e Adultos . 48 2.2.1 Os adolescentes ............................................................................ 49 2.2.2 Os jovens ....................................................................................... 51 2.2.3 Os adultos ...................................................................................... 52 2.2.4 Os idosos ....................................................................................... 54 2.3 Um olhar em direção a Aprendizagem e Educação ao Longo da Vida ...................................................................................................
58
2.3.1 As CONFINTEAs e a Aprendizagem e Educação ao Longo da Vida .........................................................................................................
60
3 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL ................ 70 3.1 Aprendizagem como atividade e prática social na educação de jovens e adultos ....................................................................................
74
3.2 Aprendizagem como Atividade: cognição e metacognição ....... 76 3.3 Aprendizagem do professor da Educação de Jovens e Adultos 77 3.4 A Teoria da Aprendizagem Expansiva .......................................... 79 3.4.1 A primeira geração da TA .............................................................. 79 3.4.2 A segunda geração da TA ............................................................. 82 3.4.3 A terceira geração da TA ............................................................... 87 3.5 A expansão da aprendizagem ........................................................ 94 4 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EJA VOLTADA À APRENDIZAGEM EXPANSIVA PARA ACOÇÃO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS .................................................................................................
102
4.1 As tensões da atividade pedagógica do docente da EJA ........... 103 4.2 Profissionalidade docente para prática consciente .................... 109 4.3 Formação contínua de professores: aprendizagem em trabalho rumo à aprendizagem expansiva .........................................
114
5 MOBILE LEARNING NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS .... 120 5.1 Cultura Digital na Sociedade em Rede ......................................... 120 5.2 Cultura da Mobilidade, Cibercultura e Mobile Learning .............. 128 5.2.1 De qual leitura estamos falando? ................................................... 140
18
6 METODOLOGIA DA PESQUISA: delineando caminhos ................. 146 6.1 O paradigma socio-crítico na investigação e o percurso metodológico .........................................................................................
146
6.2 Mapeamento da literatura ............................................................... 148 6.2.1 Mapeamento Global: boleano and ................................................. 149 6.2.2 Mapeamento: achados Mobile Learning e Formação de Professores .............................................................................................
150
6.2.3 Rede de Pesquisadores do campo de conhecimento Mobile Learning ..................................................................................................
155
6.2.4 Mapeamento no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES ... 157 6.3 A intervenção formativa e os instrumentos da pesquisa ................... 159 6.3.1 Contexto e sujeitos da pesquisa de intervenção formativa transformativa .........................................................................................
163
6.3.2 Instrumentos da pesquisa .............................................................. 167 7 INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS: O Curso Mobile Learning na EJA como Laboratório de Mudança ..............................
168
7.1 O mapeamento da situação (1ª e 2ª sessões) .............................. 170 7.1.1 A 1ª sessão .................................................................................... 170 7.1.2 A 2ª sessão .................................................................................... 175 7.2 Análise da situação (3ª, 4ª e 5ª sessões) ...................................... 178 7.2.1 A 3ª sessão .................................................................................... 178 7.2.2 A 4ª sessão .................................................................................... 179 7.2.3 A 5ª sessão .................................................................................... 180 7.3 Criação de um novo modelo (6ª, 7ª e 8ª sessões) ....................... 187 7.3.1 A 6ª sessão .................................................................................... 188 7.3.2 As 7ª e 8ª sessões ......................................................................... 190 7.4 Concretização e teste do novo modelo ........................................ 192 7.4.1 As 9ª e 10 sessões ........................................................................ 193 7.5 Aplicação do novo modelo de atividade ...................................... 196 7.5.1 As 11ª e 12ª sessões ..................................................................... 197 7.5.2 As 13ª e 14ª sessões .................................................................... 198 7.6 Difusão e consolidação do modelo constituído: 15ª sessão ...... 202 7.7 Avaliação da Intervenção e Resultados ......................................... 205 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 212 REFERÊNCIAS ...................................................................................... 215 APÊNDICES ........................................................................................... 228 APÊNDICE A - Matriz de Planejamento - Voluntário 1 ....................... 229 APÊNDICE B – Matriz de Planejamento - Voluntário 2 ...................... 236 APÊNDICE C – Matriz de Planejamento - Voluntário 3 ...................... 241 APÊNDICE D – Instrumento Questionário: Perfil do participante em relação a EJA ..................................................................................
246
19
ANEXOS ................................................................................................. 249 ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE . 250 ANEXO B – Termo de autorização para uso de imagens (fotos e vídeos) ....................................................................................................
252
ANEXO C – Termo de autorização para gravação de voz ................. 253
20
PREÂMBULO
Ousamos iniciar, com um pleonasmo útil: “Começaremos pelo começo”.
Afinal, todos os caminhos teóricos percorridos originaram-se em vivências e
inquietações de uma vida de trabalho em imersão no campo das Tecnologias na
Educação. Com o breve memorial da pesquisadora, temos o intuito de
contextualizar o seu percurso profissional esclarecendo as escolhas feitas
durante a investigação na pesquisa doutoral que se apresenta.
Aperte o play!
Nascida no Rio de Janeiro, optei pelo caminho da Educação por
compreender que poderia contribuir, significativamente com a sociedade, em
uma jornada de aprendizagens constantes. Assim, no Ensino Médio, fui
normalista do Instituto de Educação Clélia Nanci.
Ao mudar-me para o Nordeste brasileiro, torei-me professora da Rede
Pública de Ensino e cursei Pedagogia, na Universidade Federal da Paraíba.
Figura 01 – Pesquisadora no ano 2000, estudante de Pedagogia e Bolsista Tutora do Curso de Extensão TV na Escola e os Desafios de Hoje.
Fonte: Acervo pessoal
A temática abordada se enuncia a partir das inquietações que tive no
campo de Tecnologias na Educação, quando – desde a Graduação – estive
preocupada com as questões relacionadas a conquista de aprendizagens de
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professores em trabalho, para que pudessem modificar e/ou melhorar os
processos de ensino e favorecer o crescimento cognitivo e social dos estudantes
da escola pública. Nesse sentido, deu-se a minha atuação como Tutora no Curso
a Distância TV na Escola e os Desafios de Hoje, oferecido pela Universidade
Federal da Paraíba a professores atuantes nas Redes Públicas dos Estados e
Municípios da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
A experiência na Escola Pública Municipal de Bayeux/PB me direcionou
para a implementação dos Laboratórios do PROINFO e à coordenação de
Tecnologias na Educação da localidade, lócus de minha pesquisa na produção
do Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia.
Figura 02 – Equipe de Professores Mediadores de Tecnologias (PMTs) do
Município de Bayeux / Ano 2004.
Fonte: Acervo pessoal
Como Pedagoga, transitei em espaço de gestão pública, atuando como
Diretora de Informática Educativa, no Município de João Pessoa/PB. Por meio
desta atuação, implementei 90 (noventa) Laboratórios de Informática e ministrei
inúmeros cursos para professores abordando metodologias diferenciadas para
os processos de ensino e aprendizagem, como por exemplo, o uso da Robótica
Educativa.
Atuei como Tutora, Professora Formadora, Designer Instrucional e
Coordenadora de Produção de Conteúdos Digitais no Curso de Licenciatura
Plena em Pedagoga a Distância da UAB/UFPB Virtual, encaminhando a minha
carreira para docência no Ensino Superior. Em paralelo, vivenciei o meu
Mestrado com pesquisa sobre Sistemas Inteligentes na Educação alertando para
22
a necessidade da atuação de Pedagogos nas investigações da área de
Tecnologias na Educação.
Tive a oportunidade de participar de diversos projetos de formação de
professores para uso de tecnologias digitais voltadas ao ensino e aprendizagem,
sendo um deles o Projeto Um Computador por Aluno – UCA/UFPB Virtual.
Figura 03 – Pesquisadora Ministrando Formação de Professores na UFPB Virtual / Ano: 2009
Fonte: Acervo pessoal
Como professora da Rede Ensino Superior Pública Federal, vinculada ao
Departamento de Metodologias da Educação, do Centro de Educação da UFPB,
atuo em Formação de Professores das diversas licenciaturas presenciais e a
distância. E sou, também, Avaliadora de Tecnologias Educacionais do Ministério
da Educação, onde contribuo para aprovação do Guia de Tecnologias e integro
o Banco de Avaliadores (BASis) do Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior.
Em atividades de pesquisa, faço parte do Grupo de Estudos sobre
Aprendizagem e Educação ao Longo da Vida, no contexto inter/nacional - CNPQ,
no âmbito da Cátedra UNESCO de Educação de Jovens e Adultos onde a partir
das reflexões geradas pela colaboração em projetos de extensão (nacionais e
internacionais) e investigações a respeito do uso de dispositivos móveis para
alfabetização de trabalhadores da construção civil, no Programa Escola Zé
Peão, tive minha principal motivação para o desenvolvimento desta pesquisa.
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Figura 04 – Pesquisadora em Formação de Professores de Adultos na Guatemala / Comitê Nacional de Alfabetização de Adultos (CONALFA) –
Cooperação Técnica entre países em desenvolvimento / Ano: 2016
Fonte: Acervo pessoal
Em reconhecimento a minha incompletude, vinculei-me ao Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
desenvolvendo estudos doutorais na Linha de Pesquisa “Educação, Formação
e Profissionalização Docente”. Nesta linha tive a oportunidade de ampliar meus
horizontes teóricos e metodológicos, debruçando-me sobre as principais teorias
que fundamentam a presente pesquisa.
O percurso vivenciado em processos de Educação e Aprendizagem ao
longo de minha trajetória de vida levou-me a acreditar que se pode aprender em
qualquer lugar e tempo, e, ainda, que as tecnologias digitais favorecem a
formação de professores para conquista de aprendizagens em trabalho.
Seria incoerente apresentar essa pesquisa sem mencionar este
preâmbulo, com um breve memorial profissional, evidenciando o envolvimento
na área de estudo em um trajeto de inquietações e buscas.
24
1 INTRODUÇÃO
Esta seção apresenta a contextualização deste trabalho, apontando os
problemas e suas justificativas, o lócus da pesquisa, seus fundamentos
epistemológicos e seu percurso teórico. Além de identificar os objetivos,
antecedentes e a trajetória de construção desta Tese.
Nos últimos tempos muito se tem ouvido a respeito de as novas formas
de relações oriundas da Sociedade em Rede. A Escola é um dos espaços sociais
que mais tem sido influenciado por características desta nova conjuntura de
organização, marcando e reconfigurando a Cultura. Afinal, os processos
educativos estão imersos em constantes mudanças as quais se adéquam a
realidade dos tempos em que ocorrem, sendo marcados por tendências. Além
disso, a escola é a instituição central socialmente organizada que proclama a
aprendizagem humana como seu objetivo.
As Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN (BRASIL, 2013) e a Base
Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2017) preconizam a importância
de incluir nos currículos da Educação Básica, dentre esses, o da Educação de
Jovens e Adultos (EJA), a Formação Humana Integral e a Educação como Direito
de Todos. Essa ideia é, também, instituída pela Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – LDBEN nº 9.394 (BRASIL, 1996).
São vários os desafios que se enunciam, na atualidade, o que exige dos
cidadãos o desenvolvimento de habilidades e competências de modo que
possam mobilizar os conhecimentos apropriados ao longo da vida para resolver
situações emblemáticas em diferentes contextos (SACRISTÁN, 2013), de
maneira individual, coletiva e produtiva. Pensar na EJA nos remete, também, a
outros documentos oficiais, como por exemplo, a DCN (BRASIL, 2013) e a
LDBEN nº 9.394 (BRASIL, 1996) em relação a um de seus princípios: o trabalho
como princípio educativo. Não apenas educativo, mas também como atividade
intelectual, ou seja, a atividade realizada com consciência na perspectiva de
Leontiev (1983).
Refletir nesta direção é considerar esses conhecimentos, como parte
inerente do conhecimento profissional de professores que atuam, tanto no
contexto da EJA, como em qualquer outra modalidade de ensino. Ao considerar
25
esses conhecimentos constitutivos da docência nessa esfera da Educação
Básica, é relevante o olhar para os desafios enfrentados por esses profissionais,
principalmente, no contexto atual. Para esse fim, é cada vez mais urgente que
sejam feitos investimentos na sua profissionalização (profissionalidade e
profissionalismo), como defendem Ramalho et. al. (2014), com foco na tríade,
preconizada por eles – formação, aprendizagem e desenvolvimento profissional
da docência.
Os professores atuantes na Educação de Jovens e Adultos enfrentam
inúmeros desafios, na tentativa de imprimir fazeres capazes de estimular a
frequência, permanência e aprendizagens de seus alunos, em defesa do direito
à Educação enquanto direito universal, em busca de proposições mais coerentes
a atual sociedade. Em conformidade com a Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2015), essas proposições devem
reconhecer a necessidade de cuidar das pessoas, do planeta, da prosperidade,
da paz, reconhecendo ainda que as parcerias são essenciais para o
desenvolvimento não apenas da comunidade local, mas também para o
desenvolvimento global, no qual pode-se observar as experiências de outros
(sujeitos, grupos ou nações) e a partir dos resultados já conhecidos, agir e traçar
metas.
Figura 05 – Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parceiras
Fonte: https://sc.movimentoods.org.br/
26
O Brasil foi um dos países que se comprometeu com a Agenda 2030 para
atender os 17 (dezessete) Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)
preconizados, os quais respaldam que a educação deve ser inclusiva e de
qualidade, bem como fazem referência a importância do investimento no
trabalho docente articulando-se a inovação para enfrentamento de diferentes
desafios na esfera global. A isto, dizem respeito os ODS 4, 8, 9; 10 e 11:
4. Educação de qualidade – Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos; 8. Trabalho decente e crescimento econômico – Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos; 9. Indústria, inovação e infraestrutura – Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação; 10. Redução das desigualdades – Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles; 11. Cidades e comunidades sustentáveis – Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. (UNESCO, 2017, p. 9).
Compreende-se nessa pesquisa a importância de se olhar para EJA como
essencial para o estabelecimento de um Território Inteligente e Sustentável no
âmbito educativo, com potencialidades que podem ser utilizadas para o
enfrentamento de os desafios sociais. Entretanto, para esse fim, se faz
necessária a implantação e implementação de políticas públicas com condições
para sua materialização. Além do investimento na formação dos docentes que
atuam nessa modalidade de ensino para o enfrentamento das diferentes
situações emblemáticas impostas pela sociedade e expressam nas salas de
aula, acreditamos que são imprescindíveis haver transformações na maneira
como refletimos e atuamos em relação “ao papel da educação no
desenvolvimento global, porque elas têm um efeito catalizador sobre o bem-estar
das pessoas e para o futuro do nosso planeta.” (UNESCO, 2017, p. 9). Ou seja,
é necessário desenvolvermos a consciência, de modo a tornar material a
denúncia das situações identificadas no campo educacional, político, econômico,
social, científico dentre outros. Como expressa Freire (1979), é imprescindível
desenvolver atitudes responsivas em relação aos problemas encontrados nas
esferas individual, coletiva e produtiva.
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A presença das tecnologias digitais na vida cotidiana tem feito emergir
necessidades formativas para os professores e estudantes. O que exige da
docência, crítica da práxis e competência técnica para pensar no uso de
ferramentas que possam fortalecer sua prática pedagógica, de modo a propiciar
um ambiente de aprendizagens que os estudantes se apropriem de novos
conhecimentos. Para os estudantes, é necessário, além do conhecimento acerca
da utilização dessas ferramentas, ter um acesso ao potencial de uso informativo
que elas permitem. Neste sentido, e em especial para a EJA, é urgente repensar
as metodologias de ensino com base na reflexão de como os adultos aprendem.
Tanto a enculturação científica como a presença da Cultura Digital na
escola formal facilitam a implementação da perspectiva de valorização da
Educação e Aprendizagem, ao longo do trajeto de vida dos sujeitos, no tocante
às práticas estabelecidas para a apropriação do conhecimento de modo a serem
estimuladas novas formas de pensar e agir. Nesse cenário, o local dos saberes
não se resume ao campo físico escolar.
Os artefatos digitais, em especial, os “Dispositivos Móveis”, têm feito parte
da vida das pessoas, tornando-se poderosos instrumentos de disseminação de
informação e comunicação. Essa presença, não pode deixar de ser considerada
pela escola na busca de converter informações em conhecimentos para
professores e estudantes. Em decorrência da quantidade de informações
disponíveis, atualmente, torna-se urgente, saber filtrar e processar a informação
para assim utilizá-la satisfatória e criticamente no contexto real.
Nos tempos pós-modernos, o caminho para tratar os espaços educativos
perpassa por considerar o espaço virtual compreendido como ambiente de
aprendizagens, valorizando, assim, o processo comunicativo humano e o avanço
das tecnologias digitais. A comunicação dinamiza-se a partir de aparatos que
aproximam extremidades territoriais e facilitam a efetivação de ações coletivas
voltadas ao crescimento e desenvolvimento social. Esse crescimento permite
reflexões a respeito do uso que vem se fazendo de tal dispositivo nos mais
diversos espaços. É fato, que a utilização de dispositivos móveis ocupa lugar em
todas as esferas sociais, envolvendo desde os mais abastados aos menos
favorecidos. No entanto, há necessidade de estabelecer estratégias que
propiciem a inclusão digital reflexiva e participativa, tendo por base a constituição
28
de redes de saberes. Campos et. al. (2003, p. 26) consideram essa
aprendizagem como:
uma proposta pedagógica na qual estudantes ajudam-se no processo de aprendizagem, atuando como parceiros entre si e com o professor, com o objetivo de adquirir conhecimento sobre um dado objeto.
Quando se trata da EJA, deve-se considerar peculiaridades deste público,
permitindo-lhes que acessem as informações que são significativamente
importantes para as suas vidas a partir de motivos e objetivos claros. Ao refletir
sobre o universo da leitura – em especial de jovens e adultos – é importante
deixar claro que nos apoiamos nas ideias de Freire (1981). Esse estudioso
defende que o ato de ler está pautado em princípios que vão além da
memorização mecânica ou que considere o alfabetizando um indivíduo com a
“cabeça supostamente vazia” na qual serão depositados dos “ba-be-bi-bo-bu”
aos “la-le-li-lo-lu” alfabetizador. Seguimos a linha de crenças do teórico, para
quem a leitura de mundo antecede a leitura da palavra. É importante ainda
considerar que os sujeitos da EJA fazem suas leituras de mundo conforme suas
concepções da realidade objetiva. Nesse aspecto, eles leem de formas
particularizadas as informações das áreas de conhecimentos, muitas vezes
dissociadas das maneiras apresentadas pela escola formal e interagem com o
mundo a partir dessas leituras mesmo que possam ser consideradas restritas
aos olhos da academia. Assim também ocorrem as leituras de esfera digital
devido a estarem imbricadas nas demais, com o diferencial de exigirem a
interpretação de informações multimodais, sendo-lhes apresentadas a
necessidade de leitura de imagens fotográficas, ícones, símbolos matemáticos,
filmes e outros.
Na escola, a multimodalidade informacional pode ser explorada em
diversas situações de aprendizagens para que se desenvolva o olhar, a
sensibilidade e, o mais importante, a comunicação crítica em uma sociedade
amplamente digital e móvel. O uso de múltiplos recursos, instrumentos e
estratégias didáticas, estimula a interlocução dos sujeitos entre si, além de
possibilitar o acesso à nova realidade do mundo dos objetos, exercitando a
prática social com aquisição prazerosa do conhecimento. O exercício crítico da
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leitura de mundo segue junto e após o processo de alfabetização, sendo tão
imprescindível quanto a leitura crítica dos textos redigidos com palavras.
Daí reside a relevância de a utilização pedagógica de dispositivos móveis
desenhados em recursos como os smartphones; por esses explorarem a
multimodalidade informacional permitindo que o sujeito faça novas leituras,
considerando a sua presença e ação em um mundo globalizado e tecnológico.
Entretanto, os novos fazeres a serem desenvolvidos com os estudantes
da Educação de Jovens e Adultos, em busca pela autonomia, criticidade e
inclusão social – a partir do domínio de recursos digitais capazes de ampliar sua
interação com o território –, precisam em larga escala, serem trabalhados com
os docentes, exigindo o reconhecimento da necessidade de investimentos na
formação de professores para uso de tais recursos. Consideramos que aos
professores, é essencial o experimento de sua própria aprendizagem didática
associada ao seu lócus de atuação profissional a procura de a ressignificação
das suas formas de trabalho, contextualizando seus fazeres e fortalecendo suas
práticas e reflexões em um movimento de Aprendizagem Expansiva. O
experimento transformativo expansivo, tratado aqui como uma intervenção
formativa, viabiliza-se quando “observamos, analisamos e interpretamos a vida
social, também a influenciamos, queiramos ou não.” (VIRKKUNEN &
NEWNHAM, 2015, p. 21).
Assim, nesta pesquisa, voltamo-nos à formação de professores com foco
no mais amplo sentido de leitura – a leitura de mundo –, procurando a interação
por meio da troca de experiências educativas, explorando a multimodalidade e
permitindo que a mobilidade seja um princípio norteador para a aprendizagem.
O uso de dispositivos móveis cresceu de forma rápida na Sociedade por
carregarem a possibilidade de pessoalidade, por seu forte caráter portátil e
principalmente por suas multifuncionalidades indo além da comunicação. Por
isso, quando se trata de mobilidade informacional e comunicacional voltadas às
potencialidades pedagógicas, esses recursos podem favorecer interações e
permitir dinâmicas diversificadas nos processos de ensino-aprendizagem.
Segundo Castells et. al. (2009):
A vida cotidiana representa o campo das práticas sociais recorrentes e rotineiras nas experiências dos indivíduos. Essas práticas sociais quotidianas incluem o trabalho, a sociabilidade,
30
o consumo, a saúde, os serviços sociais, a segurança, o entretenimento, e a construção de sentido através das
percepções do meio sociocultural.
É fato que o uso feito de dispositivos móveis em nosso país, tem se
alargado de forma inquestionável. E essa presença e crescimento não podem
ser vistos de maneira a minimizar a sua força enquanto instrumento cultural. A
Cultura da Mobilidade, com adoção de dispositivos móveis nos processos
educativos, pauta-se como uma proposta que aglutina valores sociais aos
pessoais, aumenta os saberes e auxilia a percepção de mundo e sua leitura, e,
também, permitindo aos sujeitos se inteirar de fatos, e ao mesmo tempo, serem
expostos a diferentes situações. Diante desse cenário, enuncia-se o problema
dessa pesquisa.
1.1 Problema de Pesquisa
Como reconfigurar a prática pedagógica de ensino na EJA, de modo a
viabilizar a potencialização de Aprendizagens Expansivas, pela exploração da
Cultura da Mobilidade, no espaço de ensino e aprendizagem?
1.2 Objetivo Geral
Desenvolver uma proposta de intervenção formativa para reconfiguração
da prática docente de professores da Educação de Jovens e Adultos na
perspectiva de aprendizagem móvel potencialmente expansiva.
1. 3 Objeto de Estudo
Uma proposta de intervenção formativa para reconfigurar a prática
pedagógica do docente da EJA, de modo a viabilizar a potencialização de
Aprendizagens Móveis e Expansivas, no espaço de ensino e aprendizagem.
31
1.4 Os Objetivos Específicos
• Identificar necessidades formativas de docentes da EJA para uso da
TDIC na atividade pedagógica;
• Realizar intervenção formativa a partir do Laboratório de Mudança
para o desenvolvimento de atividades que potencializem a
apropriação de aprendizagens expansivas com o uso de mobile
learning;
• Desenvolver um novo modelo de atividade voltado para adoção do
Mobile Learning na Educação de Jovens e Adultos;
• Avaliar o alcance, as limitações e as perspectivas da implementação
da proposta de intervenção formativa sobre o uso de mobile learning
no espaço da Educação de Jovens e adultos.
Neste estudo, defende-se que além do domínio do conteúdo e um aparato
de conhecimentos e habilidades necessários aos fazeres docentes, o professor
de EJA precisa se apropriar de estratégias de implementação de tecnologias
digitais em sala de aula. Ou seja, o docente de EJA precisa incluir como
conhecimento profissional inerente à docência (em seu exercício docente)
estratégias didático-pedagógicas, recursos, técnicas e ferramentas capazes de
potencializar seus fazeres, a partir de práticas que motivem os estudantes, de
modo que eles desenvolvam o interesse pela aprendizagem. Sendo assim, não
há como vislumbrar uma proposta metodológica que não perpasse por
reconhecimento do professor como e enquanto sujeito com uma história própria
e percepções contraditórias em relação a sua atividade docente,
compreendendo a importância da formação, a aprendizagem e o
desenvolvimento profissional como uma tríade e unidade que tributa para a
profissionalização docente, como enunciam Ramalho et. al. (2003).
32
1.5 A Tese Proposta
O uso de Mobile Learning na formação contínua favorece a
aprendizagem de professores que atuam na EJA, possibilitando
aprendizagens potencialmente expansivas e encaminhando-os para
práticas de ensino que atendam às exigências da Cultura da Mobilidade
impressa na sociedade atual.
Nessa ótica, o ponto de partida para o professor que atua na EJA é
reconhecer as peculiaridades socioculturais da modalidade e desse público,
implementando em sua prática uma cultura que viabiliza a aprendizagem ao
longo da vida e explorando a cultura da mobilidade presente na sociedade
contemporânea. De acordo com Gracindo (2011, p. 138):
(…) as frágeis políticas públicas de educação adotadas historicamente no Brasil, acopladas à enorme desigualdade econômica e social estrutural que sempre marcou o país, geraram grande contingente de analfabetos e de pessoas que, mesmo havendo passado pela escola, não lograram completar a educação básica. Esse grupo social, excluído dos bens culturais e econômicos da sociedade, necessita receber atendimento educacional próprio (...) para que possa, finalmente, tornar-se cidadão pleno de direitos. Esse tipo de atendimento educacional é denominado educação de jovens e adultos.
Além dos fundamentos da Teoria Histórico-Cultural, os pressupostos que
orientam essa tese perpassam pelas seguintes categorias: Educação e
Aprendizagem de Pessoas Jovens, Adultas e Idosas, Cultura da
Mobilidade, Formação de Professores, Aprendizagem Expansiva.
A Educação e Aprendizagem de Jovens e Adultos está presente nas
discussões mundiais, estimuladas pela UNESCO, com a defesa de que sem
ações focadas nela, as nações enfrentam dificuldades ainda maiores para
alcançar seus objetivos de desenvolvimento, cidadania de seu povo e
adequação à sociedade atual que carrega a cultura da mobilidade como uma de
suas principais características
A Formação de Professores é um dos caminhos a ser trilhado em favor
do atendimento ao Direito à Educação. Essa formação precisa estar alinhada
com as necessidades sociais. E, sobretudo, levar o professor à reflexões sobre
sua prática, compreendendo quando há necessidade de modificações em sua
33
atividade e orientando-o – a partir da oferta de espaços diversificados de
diálogos e experimentações –, como viabilizar as mudanças. Tais espaços
incluem o ciberespaço que amplia a inteligência coletiva em constituição de
redes móveis de saberes. Esse espaço explora a Cultura da Mobilidade
(LEMOS, 2009) em suas variadas dimensões.
A Educação, enquanto integrante da cultura, não está fora do contexto da
mobilidade – própria da natureza humana –, tão pouco o está a Educação de
Jovens e Adultos. Por esse motivo, faz-se necessário incluir a perspectiva da
mobilidade na atividade do docente da EJA, compreendendo que o papel deste
profissional perpassa por utilizar e oferecer aos seus alunos possibilidades de
acesso a conteúdo variado, explorando diversas leituras de mundo, abordando
diferentes letramentos e estimulando estratégias de educação capazes de
perdurar ao longo da trajetória de vida das pessoas. Segundo Núnez (2009, p.
64), atividade “é o modo, especificamente humano pelo qual o homem se
relaciona com o mundo”. Neste momento, é fundamental ressaltar que o trabalho
docente se dá a partir de atividades distintas, sendo uma delas a atividade
pedagógica voltada para o ensino como a sua ação focal.
Reconhecendo a importância de uma perspectiva que considere a cultura
enquanto constructo histórico e social, os estudos fundamentados na Teoria da
Atividade (TA) postulados por Vygotsky e Leontiev, nos remetem para a
realidade de ser o trabalho o motivo principal para as ações do adulto. E ainda,
tendo que o trabalho é o motivador da atividade pedagógica, consideramos que
as Aprendizagens Expansivas são indispensáveis ao docente por ter a sua base
na construção de uma nova atividade de trabalho. Ou seja, na concepção de
uma atividade de ensino que se aproveite do uso da mobilidade para
reconfigurar-se.
Contudo, para viabilização, desta nova atividade, é essencial que a
formação de professores, em sua forma continuada, envolva ações reflexivas e
coletivas, que estimulem a consciência para a concretização e o
desenvolvimento de metodologias diferenciadas a partir da análise de atividades
outrora estabelecidas.
34
1.6 Antecedentes
A Cultura da Mobilidade na Educação focada em Mobile Learning é um
tema relativamente novo. Seus estudos primeiros entre o final do século XX e
início do Século XXI, sendo vinculados ao uso de computadores portáveis por
crianças (PAPERT; NEGROPONTE, 1995) e, em grande parte, a Educação a
Distância feita por meio de internet (VAVOULA; PACHER; KUKULSKA-HULME,
2009). Mas, conforme defende Valentin (2009, p. 5) “o que confere pertinência
ao mobile learning e o separa do e-learning como campo de estudo não são as
tecnologias por si, mas sim a característica de sua emergente portabilidade”. E,
para além do potencial de portabilidade, sem dúvidas, o avanço das redes de
comunicação promoveu a ampliação do Mobile Learning. Atualmente, com mais
de dois mil satélites de comunicação espalhados na órbita do planeta, a
comunicação sem fio une forças aos cabos de fibra óptica e possibilitam que –
em grande parte do mundo – as pessoas possam estar conectadas ao
ciberespaço (infelizmente, algumas vezes, sendo reconhecidas como números,
por não terem acesso ao uso de tal rede para favorecer processos de
comunicação e aprendizagens).
Tratando-se de aprendizagem, sabemos, ainda, que, ao longo da história
da Educação e da Psicologia, foram muitos os estudiosos que trataram as teorias
do comportamento e da aprendizagem, entre eles podemos citar Pavlov,
Watson, Skinner, Piaget, Vygotsky, Bandura e, também, incluir teóricos de
aprendizagem contemporâneos como Illeris, Gardner, Kegan, Bruner e Heron.
Até o final do século XIX, nenhuma das Teorias formuladas considerou a
aprendizagem a partir do potencial de mobilidade do sujeito aprendiz e dos
aparatos utilizados como mediadores nesse processo, quiçá instrumentos
digitais – o que é evidente em virtude do contexto de desenvolvimento social e
tecnológico das épocas. Contudo, esses teóricos – em especial, Vygotsky e seus
seguidores fundados na Teoria Histórico-Cultural – foram fundamentais para
que, na primeira década do século XXI, os precursores do Mobile Learning no
Ocidente – Traxler, Kukulska-Hulme, Mike Sharples, Josie Taylor e Giasemi
Vavoula – pudessem transitar em direção a uma Teoria que considere a
mobilidade como categoria fundante.
35
As primeiras pesquisas desenvolvidas, no Brasil, sobre a temática Mobile
Learning, de acordo com dados do Portal de Teses e Dissertações da Capes,
foram publicadas a partir de 2006. Duas publicações (FERREIRA, 2006 e
SCOPEL, 2006) – ambas da Área de Ciências da Computação. Localizamos
ainda uma publicação, também, da área de Ciências da Computação, com a
expressão traduzida (Aprendizagem Móvel) no ano de 2007 (LEVIS, 2007).
Quando vislumbradas as pesquisas incluídas na Área de Conhecimento
Educação, no Portal de Teses e Dissertações da Capes, aparecem os primeiros
registros de publicação em 2016 (NECKEL, 2016; RAPAPORT, 2016;
MONTEIRO, 2016; LAZZAROTTO, 2016; CAMARGO, 2016), ocorrendo um
movimento crescente até o ano 2020. Existe uma lacuna quando são realizadas
buscas com combinações de palavras-chave deste estudo. Esta situação
demonstra, sobretudo, o quão é desafiadora esta pesquisa.
As pistas deixadas pelos estudos da Teoria Histórico-Cultural remetem a
uma aprendizagem mediada, levando a considerar, no contexto atual, a
mediação da aprendizagem efetivada por aparatos tecnológicos digitais e
móveis em um movimento direcionado a constituição de novas atividades. Neste
sentido, estudos realizados por Behar e Passerino (2010); Costa et. al. (2019),
Sharpes et. al. (2005), Wayocott (2005), Uden (2007), Liaw et. al. (2010) e Sousa
(2016) apontam à Teoria da Atividade de Leontiev, como aporte teórico para a
compreensão do Mobile Learning.
A Teoria da Aprendizagem Móvel baseia-se na Teoria da Atividade, com foco na relação dialética entre tecnologia e aprendizagem, criando para cada princípio da Teoria da Atividade, duas camadas passíveis de análise: a semiótica e a tecnológica. A semiótica trata das ações de quem aprende, orientadas ao objeto que se aprende. A tecnológica trata a aprendizagem enquanto um engajamento do aprendiz com a tecnologia, em que esta última funciona como um agente interativo do processo de conhecimento, de reflexão, de mediação entre pares. (SOUSA, 2016, p. 29).
O campo da Educação de Jovens e Adultos é uma preocupação global,
principalmente, pelo fato de compreender-se que este público tem grande
responsabilidade para o desenvolvimento das nações, por serem indivíduos que,
em sua maioria, atuam nas sociedades de forma ativa. A situação da Educação
36
de Jovens e Adultos, no Brasil e na América Latina, é peculiar, especialmente
pelo histórico de exploração oriundo dos processos de colonização.
A partir de 2011, a UNESCO passou a promover, todos os anos, a
“Semana de Mobile Learning” com intuito de “facilitar as discussões, a
descoberta e o intercâmbio de ideias criativas sobre como usar tecnologias
móveis para transformar processos e resultados educacionais”. Em 2012, a
UNESCO publicou uma coletânea apresentando experiências de Mobile
Learning em diversas partes do mundo, inclusive vivências com jovens e adultos.
Nesta coletânea, encontram-se, ainda, publicações voltadas ao potencial das
tecnologias móveis para apoiar professores e melhorar as suas práticas. A partir
da publicação de Policy guidelines for mobile learning (2013), a UNESCO aponta
diretrizes para inclusão de Mobile Learning na política de Educação dos países,
como estratégia para desenvolvimento de habilidades para um mundo
conectado.
O crescimento e relevância do Mobile Learning, o direciona para a sua
inclusão, na Formação de Professores, em todas as modalidades de ensino. No
entanto, na EJA, essa adoção é ainda mais necessária, visto ser o seu público
composto por sujeitos com condições de melhor explorar o potencial destes
devices, por suas características cotidianas, em especial, trabalhar – muitas
vezes fora de sua casa – e em paralelo precisar estudar.
No Brasil, a formação de professores para uso de tecnologias digitais
móveis tem seu histórico ampliado com o “Programa UCA – Um computador por
aluno”, instituído na Lei nº 12.249, de 14 de junho de 2010. O Programa brasileiro
recebeu como inspiração o Projeto One Laptop per Child (OLPC), desenvolvido
no MediaLab do Massachusetts Institute of Technology (MIT/USA) e financiado
por inúmeras organizações, tendo como seus responsáveis os professores
pesquisadores Nicholas Negroponte e Seymour Papert. Nesse projeto
estabelece-se como prioridade a produção de equipamentos de “baixo custo” e
“baixo consumo de energia” para transformar a Educação de crianças de todo o
mundo. O projeto em Massachusetts durou até o ano de 2014.
Em nosso país a ideia inicial recebeu adequações para uma
implementação contextualizada, sendo desenvolvidas, entre os anos de 2013 e
37
2016, 154 (cento e cinquenta e quatro) pesquisas, abordando o ProUCA, como
exemplo podemos citar a de Santos (2014) que, apesar de tratar da formação de
professores para um programa de uso de dispositivos móveis, não menciona
uma perspectiva ampla de Mobile Learning, enfatizando, principalmente, a
tecnologia. O Ministério da Educação do Brasil, na elaboração do ProUCA, não
tratou de especificidades para a Educação de Jovens e Adultos. Essas foram
observadas pelos professores que, nas escolas, trabalhavam com este público
e fizeram adequações a proposta pedagógica para inserção do laptop em suas
aulas.
O Programa UCA, no Brasil, teve inúmeros desafios, enfrentando
dificuldades para além da formação de professores como a falta de infraestrutura
das escolas públicas, a violência e furtos, a questão dos softwares e
conectividade e, sobretudo, questões relacionadas as políticas nacionais e
locais. A experiência deixou saberes que podem ser utilizados a favor da
perspectiva de Mobile Learning. Apesar do fracasso do Programa UCA, em
2014, o Movimento BYOD1 apresenta-se na Educação (inicialmente nas
instituições privadas) como uma possibilidade para que cada um possa utilizar o
seu próprio equipamento em propostas sistematizadas de ensino e
aprendizagem. Ao mesmo tempo, temos até os dias atuais, alguns
descompassos para a aceitação da tecnologia móvel como favorável ao
processo educativo em que Estados, Municípios e Escolas proíbem o seu uso
em ambiente de ensino.
A Formação de Professores precisa trazer à tona tal discussão, no intuito
de apresentar um sentido amplo para a aprendizagem, e, por sua vez, libertando-
a da ideia de ligação indissociável com o espaço físico da escola, atribuindo
sentido para uma aprendizagem em qualquer tempo ou espaço, construída ao
longo da trajetória de vida com uso de diversos recursos dentre eles o
smartphone. A amplitude desta discussão remete-nos a Aprendizagem
Expansiva dos professores, que tem oportunidades em serviço de coletivamente,
1 O movimento BYOD caracteriza-se pelo uso do equipamento pessoal para realização de atividades de trabalho e/ou estudo, as quais anteriormente seriam desenvolvidas em equipamentos das instituições.
38
ressignificando suas práticas e abraçando novas metodologias a partir da
consciência de suas ações.
1.7 Apresentação da Estrutura da Tese
A tese está estruturada em 8 (oito) seções. A primeira refere-se à
introdução, que se dedica a apresentação do problema de pesquisa, os
objetivos, identificação do objeto de estudo, a proposta da tese e os
antecedentes.
A segunda seção, aborda a Educação de Jovens e Adultos, perpassando
dos processos de escolarização à aprendizagem ao longo da vida. Nessa seção
são apresentados os estudantes da Modalidade EJA e o percurso das
CONFINTEAs rumo a amplitude compreensiva a respeito da educação de
adolescentes, jovens, adultos e idosos para além da escola. Busca-se, ainda,
ressaltar a importância de o professor ter para si a filosofia da aprendizagem ao
longo da vida e, assim, atuar como exemplo positivo aos olhos críticos de seus
alunos.
Compreendendo a conquista da aprendizagem expansiva, como uma das
buscas a serem efetivadas durante a formação de professores, a terceira seção
volta-se a contextualização sócio-histórico do tema e seu delineamento
epistemológico. Essa intenção complementa-se, na quarta seção, a qual aborda
as contradições da formação do professor da EJA e a sua profissionalidade para
prática consciente. O fechamento deste momento se dá com reflexões no que
concerne a formação contínua de professores e aprendizagens em trabalho.
A quinta seção aborda a Cultura Digital na Sociedade em Rede, Cultura
da Mobilidade, Cibercultura, Mobile Learning e Multiletramentos, com o objetivo
de esmiuçar e fortalecer a defesa pelo uso das tecnologias digitais móveis para
o ensino.
A sexta seção delineia os caminhos percorridos metodologicamente para
o desenvolvimento da pesquisa, trazendo reflexões sobre o paradigma sócio
crítico. Essa seção aborda a construção do mapeamento da literatura e
apresenta a intervenção formativa, seu contexto, sujeitos e instrumentos. O
39
mapeamento da literatura foi realizado em etapas complementares. Primeiro,
buscamos comprovar o ineditismo da pesquisa; em seguida, foram realizadas
buscas para a identificação dos pesquisadores da área pela composição de uma
Rede de Citações e construção de base de dados com publicação na Scopus e
Web Of Science.
A sétima seção apresenta a interpretação e discussão dos dados a partir
do Curso Mobile Learning na EJA com uso da Metodologia do Laboratório de
Mudança, esmiuçando todas as vivências da intervenção formativa e realizando
a análise das falas dos participantes.
A oitava seção traz a avaliação da intervenção e seus resultados,
indicando como as práticas, a partir da adoção de Mobile Learning, podem ser
favoráveis aos processos de ensino e aprendizagens, as limitações e
perspectivas de implementação da proposta de intervenção formativa sobre o
uso de mobile learning no espaço da Educação de Jovens e adultos. E após, as
considerações finais.
40
2 DA ESCOLARIZAÇÃO À APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO AO LONGO DA
VIDA
Para compreender as necessidades de formação do docente da EJA
buscamos abranger o seu campo de atuação a partir de seu contexto sócio-
histórico para alicerçar reflexões que remetam às suas necessidades formativas.
Com o objetivo de exibir o campo de atuação do docente da EJA, partimos da
historização brasileira pautada na escolarização de pessoas adolescentes,
jovens, adultas e idosas, seguindo para a Educação ao Longo da Vida a procura
de dialogar acerca das concepções de educação desses sujeitos em uma
dimensão global.
2.1 Contexto Histórico da EJA no Brasil
A Educação de Adultos, no Brasil, teve seu início no período de
colonização, quando os Jesuítas, ao acreditarem em seu papel catequizador,
transmitiam informações doutrinárias para os indígenas crianças e adultos, e,
posteriormente aos escravos, a fim de disseminar a fé católica. Porém, no século
XVIII, ocorre um declínio deste processo em virtude da chegada da família real
ao Brasil. Com a primeira Constituição brasileira, em 1824, a Educação torna-se
de responsabilidade do Estado, e, assim, a instrução primária deve ser garantida
para todos os cidadãos, inclusive os adultos. Porém, a Educação de Adultos não
era tida como prioridade, pois vários fatores agravavam o distanciamento do
adulto dos processos formais de Educação. Como declaram Haddad e Pierro
(2000, p.109):
Em primeiro lugar, porque no período do Império só possuía cidadania uma pequena parcela da população pertencente à elite econômica à qual se admitia administração a educação primária como direito, do qual ficavam excluídos negros, indígenas e grande parte das mulheres. Em segundo, porque o ato adicional de 1834, ao delegar a responsabilidade por essa educação básica às Províncias, reservou ao governo imperial os direitos sobre a educação das elites, praticamente delegando à instância administrativa com menores recursos o papel de
educar a maioria mais carente.
Na Primeira República, com a Constituição de 1891, a Educação foi
descentralizada para províncias e municípios. Assim, a União dedicou-se ao
ensino secundário e ao Ensino Superior, ficando a maior parte da população sem
41
atendimento e seguindo iletrada. Ademais, é necessário destacar que a nova
Constituição republicana retirava dos adultos analfabetos o direito ao voto. Em
1920, a realidade do Brasil apontava para um percentual de 72% da população
acima de 5 anos de idade não alfabetizada. Realidade esta que fez emergir
movimentos da população e de educadores renovadores em busca da melhoria
da oferta de educação no país. Essa realidade vinculada ao início da
industrialização e a crescente urbanização tornou-se preocupação também das
autoridades brasileiras.
Apenas nos anos 1930 a conhecida Educação de Adultos surge no
cenário nacional. No período Vargas, ela recebeu políticas específicas, com
intuito de favorecer o crescimento econômico do país e combater os altos índices
de analfabetismo. O Plano Nacional de Educação, instituído com Constituição
de 1934, reafirmou a Educação como papel do Estado e pela primeira vez a
Educação de Jovens e Adultos recebia atenção especial. Em 1942, com o
surgimento do INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos) foi instituído o
Fundo Nacional do Ensino Primário a fim de ampliar a educação primária e o
ensino supletivo para adolescentes e adultos.
Envolvido por uma preocupação mundial, instaurada a partir das
discussões junto aos países membros da UNESCO, em 1947, o Ministério da
Educação e Saúde instalou o SEA – Serviço de Educação de Adultos – que
“tinha por finalidade a reorientação e coordenação geral dos trabalhos dos
planos anuais do ensino supletivo para adolescentes e adultos analfabetos”
(HADDAD e PIERRO, 2000, p.111). Este serviço estendeu-se até os anos 1950,
com a denominação de CEAA – Campanha de Educação de Adolescentes e
Adultos. Em 1952, aconteceu a Campanha Nacional de Educação Rural e, em
1958, a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo. No ano de 1960,
os índices de analfabetismo das pessoas acima de cinco anos passaram para
46,7%. Embora, esses índices constituírem-se melhores, se comparados aos
índices internacionais, ainda, eram alarmantes.
Quanto ao perfil docente, os educadores, que atuavam com Jovens e
Adultos, tinham suas práticas alicerçadas nas atividades destinadas às crianças,
e, assim, os estudantes adultos tinham seus processos de aprendizagem
infantilizados e ampliava-se o preconceito sob o analfabetismo, por serem estas
42
pessoas consideradas ignorantes e sem conhecimentos. Esta situação causou,
naquele período, uma inquietação em Educadores, como Paulo Freire, que no
final dos anos 1950, discutem no Congresso Nacional de Educação de Adultos,
no Rio de Janeiro/RJ, perspectivas que se voltavam para uma renovação
pedagógica na EJA.
O momento histórico, então, vivenciado, no Brasil, desde 1959, consagra-
se como um marco para o fortalecimento da EJA, já que são – até o ano de 1964
– efetivadas ações de mobilizações político-sociais pelas quais os trabalhos para
a EJA passam a ganhar importância diferenciada e visibilidade. Por conseguinte,
começa-se a discutir uma Educação de Jovens e Adultos para a participação
política e nasce, assim, uma nova forma de se ver esse público. Conforme
Haddad e Pierro (2000, p.113):
Elevada agora à condição de educação política, através da prática educativa de refletir o social, a educação de adultos ia além das preocupações existentes com os aspectos pedagógicos do processo ensino-aprendizagem.
A EJA torna-se, dessa maneira, espaço de busca e valorização da cultura
popular, ou seja, um espaço pelo qual seus partícipes têm como palavra-chave:
a consciência. Uma vez que esses estão envolvidos por ideias estimuladas nos
pensamentos de renovação cristã e do Partido Comunista.
O educador brasileiro Paulo Freire e sua equipe constituíram um
importante grupo em favor da Educação Popular, com movimento iniciado no
nordeste brasileiro e com olhos voltados aos mais pobres, socialmente
desfavorecidos e não alfabetizados. Esse educador implementou em 1963 –
enquanto diretor do Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife – o
seu método de Alfabetização de Adultos, que significou:
uma alternativa emancipatória e progressista face aos programas extraescolares predominantes na época, patrocinados por agências norte-americanas e de outros países com programas de extensão rural, desenvolvimento de comunidade etc. (...) Freire postula uma educação libertadora e conscientizadora, voltada para a geração de um processo de mudança na consciência dos indivíduos, orientada para a transformação deles próprios e do meio social onde vivem. (GOHN, 2013, p. 34)
43
Na perspectiva de Freire, a Educação de Jovens e Adultos é um processo
que precisa obrigatoriamente relacionar-se com a realidade dos envolvidos,
buscando construir reflexões e diálogos que possibilitem aos sujeitos da classe
popular compreenderem sua posição de opressão, procurando libertação, sem
tornarem-se opressores. O estudioso defende que a conscientização não é um
ato mecânico ou instantâneo, mas evolui por meio de um processo construído
desde o nível espontâneo e ingênuo em direção a tomada de consciência,
relacionada à práxis. Pois, segundo Freire (1978, p.14), “a consciência não se
muda através de discursos e de cursos ou por meio de sermões eloquentes,
mas, unicamente, por meio da ação dos homens no mundo”.
Com o golpe militar, em 1 de abril de 1964, ocorre uma ruptura na qual os
movimentos populares foram reprimidos. A resistência dos movimentos sociais
potencializa a Educação Popular, com a finalidade de reafirmar interesses
populares em contraversão aos ideários do então governo, que tentava
enfraquecer tal resistência implementando programas de caráter conservador,
como por exemplo a Cruzada ABC, dirigida por evangélicos norte-americanos
com posicionamento assistencialista ao governo militar. Nessa época, o
educador Paulo Freire sai do Brasil exilado após 70 dias de prisão e mais de 83
horas de interrogatório, em setembro de 1964. Contudo, seus posicionamentos
libertários seguiram em crescimento na América Latina e no mundo.
No período militar, o governo reconhecia a importância da Educação de
Jovens e Adultos para o país. Mas, evidentemente, não com os princípios da
Educação Popular de outrora. Neste sentido, buscando enraizar um modelo não
questionador e estabilizar a relação com as camadas populares, foram
instituídos programas como o MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização
– em 1967, e, em 1971, o Ensino Supletivo, organizado em quatro funções:
Suplência, Suprimento, Aprendizagem e Qualificação.
Sabemos que o paradigma predominante da Educação Popular nos anos 70/80 do século passado foi um conjunto de ideias políticas, filosóficas e pedagógicas que nasceram com os Movimentos de Educação de Base e Cultura Popular no final dos anos de 1950 e início de 1960 e que cresceram no interior da resistência popular dos anos de 1970 e 1980. (GOHN, 2013, p. 33).
44
Enquanto Paulo Freire atuava como consultor educacional em países
pobres – principalmente no continente africano –, contribuindo com o propósito
de independência daquelas nações, a propositura militar, no Brasil, era de uma
escolarização neutra, que atenderia a todos, e, por outro lado, não poderia se
debruçar em questões como a exclusão do sistema escolar de grande parte da
sociedade, porque essa seria uma questão política e não pedagógica. Porém,
não há educação neutra.
Para que a educação fosse neutra era preciso que não houvesse discordância nenhuma entre as pessoas com relação aos modos de vida individual e social, com relação ao estilo político a ser posto em prática, aos valores a serem encarnados. Era preciso que não houvesse, em nosso caso, por exemplo, nenhuma divergência em face da fome e da miséria no Brasil e no mundo; era necessário que toda a população nacional aceitasse mesmo que elas, miséria e fome, aqui e fora daqui, são uma fatalidade do fim do século. Era preciso também que houvesse unanimidade na forma de enfrentá-las para superá-las. Para que a educação não fosse uma forma política de intervenção no mundo era indispensável que o mundo em que ela se desse não fosse humano. Há uma incompatibilidade total entre o mundo humano da fala, da percepção, da inteligibilidade, da comunicabilidade, da ação, da observação, da comparação, da verificação, da busca, da escolha, da decisão, da ruptura, da ética e da possibilidade de sua transgressão e a neutralidade não importa de quê. (FREIRE, 1996, p. 57).
Naquele momento, o sucesso no processo de escolarização era, portanto,
defendido como meritocrático, isto é, definido pela condição genética e esforço
pessoal. Em relação aos professores que atuavam no Ensino Supletivo, eles
precisavam participar de formação específica para atuação com este público.
A Educação de Jovens e Adultos era, ainda, voltada prioritariamente para
a formação profissional e, nesse momento histórico, emerge a presença do
ensino com a utilização de mídias digitais, em especial, por intermédio de rádio
e televisão, os quais imprimiam um caráter técnico e conteudista ao ensino,
voltando-se às massas, em um modelo no qual evidenciava-se o mínimo de
interação interpessoal e um máximo de conteúdos a serem transmitidos e
absorvidos. Daí, surge o principal ponto de resistência dos educadores que
carregavam premissas da Educação Popular voltada para a tomada de
consciência: de um lado tinha-se um potencial questionador e a valorização do
necessário e indispensável diálogo reflexivo e crítico; e de outro, recursos
45
tecnológicos alienantes e massificantes que disseminavam informações a serem
assimiladas e reproduzidas, em um movimento de “consumo de informações”.
Durante o período de Regime Militar no Brasil, que perdurou até o ano de
1985, desenhou-se um retrato no qual os Estados ocupavam-se de intervenções
que raramente voltavam-se à alfabetização de adultos, em contrapartida, aos
municípios que, mantinham convênios com o MOBRAL para programas de
alfabetização e, algumas vezes, atendiam de 5ª a 8ª séries do 1º grau e o 2º
grau. A ruptura entre a EJA e o período militar, deu-se principalmente com o fim
do MOBRAL – por ter sua imagem vinculada com as ideias do regime autoritário
de outrora – e a implementação da Fundação Nacional para Educação de Jovens
e Adultos (Educar), a qual “tinha como funções, entre outras, fomentar o
atendimento às séries iniciais do 1º grau, a produção de material e a avaliação
de atividades” (BRASIL, 2002, p. 16).
Após 1985, com a redemocratização da sociedade brasileira, o direito das
pessoas jovens e adultas teve reconhecimento social quanto a educação
fundamental, sendo o Estado responsável por uma oferta pública, gratuita e
universal. Foi iniciado um processo de revitalização dos pensamentos e práticas
que haviam se desenvolvido quase de forma oculta, nos espaços de educação
popular, principalmente, nas organizações civis ou pastorais, e esse movimento
teve reflexos na Assembleia Nacional Constituinte.
Além de ter-se uma Constituição Federal – a de 1988 – que garantia o
direito a Educação. A Carta Magna definiu prazo de dez anos para que o país
voltasse esforços – tanto governamentais quanto sociais – para a erradicação
do analfabetismo, assim como para a ampliação de acesso ao Ensino
Fundamental. Esse intuito foi fortalecido pela descentralização das receitas
tributárias nos Estados e Municípios e unidos a fatores essenciais para o
crescimento e a melhoria de o atendimento escolar ao público de jovens e
adultos.
Em 1990, no governo do Presidente Collor de Mello, foi extinta a
Fundação Educar sendo transferidos os recursos públicos federais destinados a
EJA aos Estados e Municípios. Esses ficaram responsáveis pela demanda
existente. Os municípios tenderam a assumir as séries iniciais do Ensino
46
Fundamental e os Estados as séries finais do Ensino Fundamental e Ensino
Médio.
No tangente a legislação brasileira, apenas no governo de Fernando
Henrique Cardoso, com a nova Lei de Diretrizes e Bases, Lei Nº 9.394,
ocorreram algumas mudanças no que concerne ao acesso a EJA formalizada
estabelecendo-se o rebaixamento da idade mínima para 15 anos (no ensino
fundamental) e para 18 anos (no ensino médio). Contudo, o maior avanço dessa
lei foi a integração da EJA ao ensino básico comum.
Em 1996, com a instituição do FUNDEF – Fundo Nacional de
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério – as
matrículas realizadas (por Estados e Municípios) na Educação de Jovens e
Adultos não eram contabilizadas para cálculos de tal Fundo. Isso ocasionou certo
desestímulo do setor público, em todo o país, para expansão do atendimento à
EJA.
As discussões oriundas do PNE – Plano Nacional de Educação – criado,
em 1998, deram origem ao “II Congresso Nacional de Educação”. E, em 1999,
foi emitido um parecer concebendo a EJA em contexto contínuo e
(…) entendida como direito de cidadania, motor de desenvolvimento econômico e social e instrumento de combate à pobreza. Desde esse ponto de vista, os desafios relativos à educação de jovens e adultos seriam três: resgatar a dívida social representada pelo analfabetismo, erradicando-o; treinar o imenso contingente de jovens e adultos para a inserção no mercado de trabalho; e criar oportunidades de educação permanente. (HADDAD; PIERRO, 2000, p.122).
Apesar de reconhecida a necessidade de atenção à EJA, as políticas
públicas direcionadas a essa foram enfatizadas apenas, em 2003, no governo
de Luís Inácio Lula da Silva. Nessa gestão, inicialmente, a alfabetização de
jovens e adultos foi priorizada por ser reconhecida como uma dívida social.
Assim, a partir das diretrizes do programa Fome Zero – que carregou o objetivo
principal de combate à pobreza – o Ministério da Educação lançou o “Programa
Brasil Alfabetizado”. A criação da SECAD – Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade –, mais tarde, com acréscimo do I (de inclusão
agregado ao final da sigla), impulsionou a ação dos Fóruns de EJA e foi ampliada
a perspectiva de atuação para além da alfabetização. Além da SECADI, também,
47
agregavam esforços voltados à EJA, o PRONERA – e Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária – vinculado ao INCRA – Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária – e a Secretaria Nacional de Juventude, que
criou o “Projovem Urbano” passando-o, posteriormente, ao MEC.
Em 2006, foi criado o Proeja – Programa Nacional de Integração da
Educação Básica com a Educação Profissional na Modalidade de Educação de
Jovens e Adultos – com foco na elevação da escolaridade e formação
profissional na rede federal de educação profissional e tecnológica. A partir do
segundo mandato do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o Plano de
Desenvolvimento da Educação – PDE –, a EJA foi incluída dentro das políticas
de educação básica, entretanto, não nos sistemas de monitoramento do
desenvolvimento da Educação Básica. Em 2009, o ENEM –Exame Nacional do
Ensino Médio – passou a ser um certificador para este público, além do
ENCCEJA que voltará a ser realizado como sistema de certificação a partir de
2005.
Em 2007, a EJA foi inserida, no FUNDEB, e apesar das limitações, a
modalidade contava com alguns recursos a mais, sendo absorvida por
programas federais.
Em 2009, tornava-se obrigatória a Educação Básica, desde a Pré-escola
ao Ensino Médio. E, em 2011, já no Governo da Presidente Dilma Rousseff, a
partir de ações conjuntas do MEC e Ministério da Justiça e, também, com reforço
da Lei de Execução Penal, que possibilitou remição de pena pelo estudo, a EJA
faz-se presente no Sistema Prisional.
A partir da atuação do presidente eleito, em 2018, já no dia 2º de seu
exercício em janeiro de 2019, a SECADI – Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão – foi extinta. Sendo, a EJA alocada na
Secretaria de Educação Básica (SEB) do MEC, não há – até os dias atuais –
uma coordenação específica responsável pelas suas demandas; assim como
não foram instituídos programas ou políticas públicas para EJA, tampouco
diretrizes para os programas existentes.
Pensar a Educação de Jovens e Adultos, no Brasil atual, é seguir
superando desafios na certeza de que as contribuições da pesquisa podem
48
favorecer àqueles que socialmente são postos em locais de exclusão, em
especial, quando pensamos que as tecnologias digitais de informação e
comunicação rompem fronteiras se conectadas à Web e estão no cotidiano de
grande parte das pessoas. A EJA é, então, um campo da Educação que precisa
ser pensado cautelosamente, pois o seu público é bastante amplo e peculiar.
2.2 Os estudantes da Modalidade Educação de Jovens e Adultos
Para a Legislação Brasileira, a Educação de Jovens e Adultos, é a
Modalidade de Ensino que atende pessoas com idade mínima de 15 anos, as
quais não tiveram oportunidade de frequentar a escola formal, perpassando do
Ensino Fundamental ao Médio. De acordo com a LDB (BRASIL, 1996), com
Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018:
A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade própria e constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da vida.
Enquanto modalidade reparadora, qualificadora e equalizadora, na
prática, ela não tem poder de reparar os prejuízos gerados aos indivíduos pela
falta de acesso à escola em tempos anteriores. Nessa perspectiva, vale um
adendo para o fato de o sentido de reparação soar desconfortável, quando
sabemos que o tempo vivenciado sem acesso aos conhecimentos científicos
próprios da escola, não voltam. Ou seja, ainda, que frequente a Educação de
Jovens e Adultos, os estudantes seguem fazendo parte de um grupo socialmente
excluído de possibilidades de uso amplo da cultura, é uma inclusão excludente,
como defende Kuezer (2005) no artigo “Exclusão includente e inclusão
excludente: a nova forma de dualidade estrutural que objetiva as novas relações
entre educação e trabalho”.
Os estudantes da Educação de Jovens e Adultos são pessoas inseridas
no mundo do trabalho remunerado e quando não o estão, buscam os processos
formais de Educação a fim de adequarem-se às exigências do mercado a
procura de certificações com foco no atendimento das demandas que
possibilitam a sobrevivência. Ao mesmo tempo, carregam uma gama de saberes
muitas vezes desprezados pela escola, e sentem-se desmotivados se as
49
aprendizagens exigidas não se relacionam com as suas necessidades
concretas.
Quando discutimos a Modalidade de Educação de Jovens e Adultos é
salutar compreendemos que – ainda que haja uma nomenclatura jurídica desta
modalidade que a resuma – ela atende a um público de perfil misto, com
adolescentes, jovens, adultos e idosos. Além disso, vale considerar que a
Educação não ocorre com respeito a tal fragmentação, ou seja, as
aprendizagens formais, não-formais e informais se mesclam durante a vida. E,
ainda, apesar de ocorrer – em alguns momentos – certo imbricamento nestas
categorias etárias, as suas características culturais, sociais, históricas e
psicológicas são distintas e recebem, ao longo do tempo, análises que evoluem.
Uma demonstração dessa realidade evolutiva é apresentada por Ariès (1981, p.
33-35) que afirma:
(…) as idades da vida ocupam um lugar importante nos tratados pseudocientíficos da Idade Média. Seus autores empregam uma terminologia que nos parece puramente verbal: infância e puerilidade, juventude e adolescência, velhice e senilidade – cada uma dessas palavras designando um período diferente da vida. (...) A idade do homem era uma categoria científica da mesma ordem que o peso e a velocidade o são para nossos contemporâneos. (...) As idades da vida eram uma das formas
comuns de conceber a biologia humana.
Sobre os dados da PNAD Educação 2019, a Agência de Notícias do IBGE
– Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – comprova que
Das 50 milhões de pessoas de 14 a 29 anos do país, 20,2% (ou 10,1 milhões) não completaram alguma das etapas da educação básica, seja por terem abandonado a escola, seja por nunca a
terem frequentado.
Essa realidade, nos apresenta a emergência da EJA em todo país,
principalmente, no Nordeste onde há os piores índices relacionados a
escolarização.
2.2.1 Os adolescentes
Em conformidade com a Resolução do CNE/CEB nº 1, de julho de 2000,
que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens
e Adultos, podem participar da EJA os adolescentes com 15 anos completos, e
50
para esta modalidade são levados por motivos vastamente conhecidos. Como
aponta Brunel (2004), tem-se aqueles que sofreram múltiplas repetências e por
estarem em distorção entre idade e série são matriculados nessa modalidade
em turmas de faixa etária mais elevada; aqueles que, por motivos de trabalho,
não têm condições de frequentar a escola em horário diurno sendo a maior parte
das turmas de EJA com funcionamento a noite; outros por motivos familiares
como necessidade de cuidados voltados para filhos e/ou irmãos, ou ainda, dar
assistência para um idoso; e por desistência oriunda da desmotivação em
passagem anterior na escola e, evidentemente, por questões de vulnerabilidade
social que os levam às desistências e retomadas posteriores a escola na EJA.
Essa fase da vida, compreendida como uma fase de muitas mudanças,
pode ser vista como um “rito de passagem” para a juventude, na qual as
necessidades da infância são substituídas dando lugar para novos interesses
por meio de um processo longo, sensível e doloroso marcado por novas
maneiras de pensar.
A caracterização da adolescência indica o fim da infância aos 12 anos e
início da puberdade. Para alguns, a adolescência é estendida até os 18 anos
(idade que finda a adolescência de acordo com a Lei 8.069/90 do Estatuto da
Criança e do Adolescente – ECA), para outros apesar de não terem atingido tal
idade, a adolescência mistura-se com a juventude ou expressa um salto para a
fase adulta conforme as realidades da vida. Vygotsky (1996) aponta um equívoco
nas concepções biologizantes em razão dessas considerarem a adolescência
como simplesmente uma nova fase biológica e natural; concepção esta que é,
usualmente, exposta quando se trata dela. Conforme asseveram Anjos e Duarte
(2016, p.196):
A psicologia histórico-cultural considera que a adolescência, como fase do desenvolvimento psicológico e fenômeno cultural, tem sua origem na história das transformações pelas quais passaram as sociedades, ou seja, as transformações dos modos de produção. Um primeiro ponto a ser considerado é o de que a adolescência surgiu em consequência de um determinado grau, historicamente alcançado, de complexidade da vida social.
51
2.2.2 Os jovens
A juventude, enquanto conceito amplo, também não pode ser marcada,
tendo seu início e fim delimitados simplesmente pela idade biológica. Mas, deve-
se considerar, sobretudo, o contexto existencial do sujeito e seus processos de
vida. As definições de tempo, duração, conteúdos e significados sociais desses
processos, em consonância Fernandes (2015, p. 233) “se modificam de acordo
com a sociedade em questão e, na mesma sociedade, ao longo do tempo e
através de suas divisões internas”. Para essa autora, a juventude “é uma forma
de identidade social, pois os fatos que surgem ao longo da vida do indivíduo
trazem repercussões psicológicas que influenciam sua formação identitária.”
(FERNANDES, 2015, p. 233)
As pesquisas sobre juventudes são crescentes e, no Brasil, percorrem
perspectivas apontadas por Schwertner e Fischer (2012, p. 397): a primeira,
pautada no entendimento de que a juventude se configura como uma extensão
etária marcando a redução da infância e a entrada precoce no mundo adulto; ao
mesmo tempo, voltam-se para uma recriação geracional pela inserção de novas
categorias como pré-adolescente (crianças entre nove e onze anos),
“adultescentes” ou “criadultos”. Nesta mesma perspectiva, tem-se o fenômeno
da juvenilização da sociedade, considerando a juventude como um ponto de
chegada, marcando um determinado tempo da vida; uma segunda perspectiva,
foca-se na forma de compreender a juventude a partir da sua relação com a
cultura, em específico com a cultura digital e midiática, com ênfase nas relações
de consumo e produção. Em uma terceira perspectiva, trata-se o jovem enquanto
protagonista, tendo-o como sujeito capaz de escrever sua própria história por
meio de uma atuação social ativa, nos movimentos sociais, na escola e nos
diversos espaços por onde vive, carregando a ideia da autonomia, cidadania e
responsabilidade social. Em uma quarta e última perspectiva, tem-se o jovem no
“front da Globalização” apresentando-o enquanto partícipe das mudanças
econômicas, sociais e tecnológicas dos tempos atuais.
Para qualquer uma dessas quatro perspectivas, o jovem é posto em um
local de movimento, ou seja, alguém que, embora não seja considerado
socialmente “pronto para a vida de adulto”, tem condições de intervir na
sociedade em uma relação que apresenta várias facetas, e por isso mesmo,
52
pode ser considerado a partir de diversificadas visões de juventude. Isto é, são
questões identitárias formatando juventudes em um posicionamento plural.
Por exemplo não há como dizer que o jovem que vive em uma
comunidade periférica trabalhando desde infância para auxiliar no sustento da
família, e que por questões de sobrevivência afastou-se da escola, tem as
mesmas características psicológicas e sociais do jovem que, com apoio familiar,
conseguiu prosseguir com os estudos na idade considerada ideal. Assim como
não há como incluir esses jovens em um grupo no qual estão os jovens em
situação de conflitos com a justiça ou privados de liberdade. Tampouco, pode-
se colocar em um mesmo bojo, jovens mulheres que se esforçam para superar
uma pesada jornada de trabalho e levam seus bebês para as salas de aula de
Educação de Jovens de Adultos.
Essas considerações fortalecem a premissa de serem a adolescência, a
juventude e a adultez construções socialmente arquitetadas que não devem ser
analisadas isoladamente, tão pouco por apenas uma visão biológica, sem
considerar a multiculturalidade e diversidade nas formas de ser e estar
adolescente, jovem ou adulto.
2.2.3 Os adultos
Quando tratamos da fase adulta é natural conceber-se que esta, de
acordo com Anjos e Duarte (2016, p. 200), “é tida como a fase de muitas
responsabilidades, a fase do trabalho, na qual é vedada a diversão e a alegria,
a fase que caminha para o envelhecimento”. Nesse sentido, essa fase é
considerada – para muitos jovens – como a entrada em termos desagradáveis.
Mas o que exatamente é um “adulto”? Fatores culturais e sociais têm impacto significativo sobre a divisão do curso da vida humana em etapas e fases relacionadas à idade. Essas fases variam muito ao longo do tempo e do espaço. Além disso, não há uma correlação inevitável ou automática entre a idade e as necessidades ou preferências de aprendizagem, além dos limites da infância e início da adolescência. Os parâmetros variam de acordo com as circunstâncias pessoais e sociais, como tem sido sempre o caso. As fronteiras entre a juventude e idade adulta, e entre a idade adulta e a velhice, são muito mais fluidas do que as convenções sociais e culturais implicam. Especialmente no âmbito de um paradigma de aprendizagem ao
53
longo da vida, é cada vez menos útil fazer distinções rígidas entre “educação de jovens” e “educação de adultos”. (UNESCO,
2010, p.14).
A passagem para a vida adulta, como argumenta Andrade (2010, p. 255,
grifo nosso), é um tempo “sustentado pelo alcance de uma posição social
decorrente do desempenho de papéis profissionais e familiares, que
simultaneamente assinalam o final da juventude e caracterizam a idade adulta”.
Como ponderado pela autora, se pode interpretar, portanto, que é na fase adulta
que o sujeito ganha a sua independência social e financeira. Nessa fase, o
sujeito está preparado para responsabilizar-se pela sobrevivência e bem-estar
de si mesmo e de sua família, atuando produtivamente no mercado de trabalho.
Porém, não diferente do que é tratado ao falarmos de juventudes, quando
falamos de fase adulta, no Brasil, considerando a realidade de uma sociedade
capitalista em desequilíbrio social, econômico e financeiro, a definição não traz
uma ideia de um período fixo, apontando-nos para o fato de que a percepção
sobre o adulto se modificar ao longo do tempo em conformidade com o contexto
social. Como realidade, inúmeros sujeitos considerados adultos (por observância
apenas de faixa etária) não apresentam essa independência social e financeira
apontada. Esse fato dificulta uma precisa definição identitária.
Enquanto membros de classe popular, marcados pelo estigma do
fracasso escolar, os adultos da EJA são pessoas que trabalham, mas nem
sempre estão inseridas no mercado formal. Nesse sentido, em larga escala,
desempenham papéis subalternos em atividades precárias que exigem
demasiado esforço físico e/ou grande demanda de trabalho para obtenção de
baixos rendimentos financeiros, seguem em um “viver provisório” (ARROYO,
2017) buscando fugir das incertezas que assombram o futuro. Esses adultos são
donas de casa, cozinheiros, auxiliares de serviços gerais, trabalhadores/peões
da construção civil, frentistas, vendedores ambulantes, garis, catadores de
materiais recicláveis, fazedores de bicos e tantos outros trabalhadores que têm
na educação uma esperança para a melhoria de suas vidas, tornando-as mais
justas com a participação em um importante espaço social: a escola.
54
2.2.4 Os idosos
Além dos adolescentes, jovens e adultos já mencionados, os idosos estão
presentes na EJA como um público que também carrega suas peculiaridades.
Para a Organização Mundial de Saúde – OMS –, nos países em
desenvolvimento, é considerada idosa a pessoa que completou 60 anos de vida
e 65 anos para os países desenvolvidos.
Gráfico 01: Projeção da População do Brasil atualizada em 2018 - IBGE
Fonte: https://censo2021.ibge.gov.br/
Como pode ser visto no gráfico 01, tratando-se de uma população
mundialmente crescente, a OMS (2005, p. 8) afirma:
O envelhecimento da população é um dos maiores triunfos da humanidade e também um dos nossos grandes desafios. Ao entrarmos no século XXI, o envelhecimento global causará um aumento das demandas sociais e econômicas em todo o mundo. No entanto, as pessoas da 3ª idade são, geralmente, ignoradas como recurso quando, na verdade, constituem recurso importante para a estrutura das nossas sociedades.
Entende-se que o envelhecimento é um desafio devido a vivermos em
uma Sociedade, que, ainda, não tem desenvolvidas as suas percepções para o
fato do idoso poder ser ativo, contribuindo para o desenvolvimento e avanço
social. São importantes não apenas por seguirem produzindo e consumindo,
mas pelo fato de poderem conquistar novas aprendizagens e terem como maior
55
riqueza suas vivências, experiências de vida e o amadurecimento que pode
orientar caminhos dos mais jovens.
Conforme a Agência de Notícias do IBGE, tratando dos dados da PNAD
Educação de 2019, “quanto mais velho o grupo populacional, maior a proporção
de analfabetos. No grupo etário de 60 anos ou mais, a taxa foi de 18,0%, o que
corresponde a quase 6 milhões de pessoas”. A PNAD 2019, também, nos mostra
que cerca de 30% dos brasileiros não alfabetizados são idosos. Essa situação é
preocupante, principalmente, quando se sabe que, com o crescimento
demográfico brasileiro e uma população longeva, as políticas públicas de
Educação devem voltar atenção especial para a realidade social do idoso e seus
direitos. Nesse aspecto, Medeiros e Azeredo (2020, p. 358, grifo nosso) afirmam
que:
Tendo em vista as mudanças das leis de aposentadoria e as novas configurações que a longevidade vem proporcionando à
sociedade, sabe‐se que muitos idosos continuam ativos e participativos. Essa característica é o que preconiza as teorias atuais sobre envelhecimento bem‐sucedido e as políticas públicas que garantem direitos a essa população. Dentro disso, os idosos possuem direito ao acesso educacional, bem como o respeito às suas peculiaridades e com isso estratégias para tornar sua aprendizagem de qualidade.
Essa colocação dos autores, nos remete a sujeitos maduros que
continuam contribuindo socialmente, com atuações fundamentais para o
dinamismo da sociedade que possuem necessidades educativas para além da
alfabetização. A presença dos idosos na EJA deve ser concebida conjuntamente
com a ideia de a valorização da Educação ao Longo de toda a trajetória da Vida,
perpassando por processos de potencialização da participação e integração
social. Afinal, esses são sujeitos que estão atendidos pela Constituição brasileira
que prevê o Direito à Educação, sem definir idade limite para tal. Os idosos
brasileiros são tão cidadãos quanto os mais jovens, e para exercício pleno de
sua cidadania, em espaço democrático, precisam ter acesso a oportunidades e
possibilidades para uma melhor interação com o mundo a sua volta. Como bem
coloca Paiva (2005, p.03):
Mais do que alfabetização, o direito constitucional de ensino fundamental para todos sintetizou o mínimo a que se chegara, o de aprender a ler e a escrever com autonomia. Isto significa ter
56
domínio suficiente para, em processo de aprendizado continuado, manter-se em condições de acompanhar a velocidade e a complexidade do mundo contemporâneo, que exige aprender continuadamente, por toda a vida, ante os avanços do conhecimento e a permanente criação de códigos, linguagens, símbolos e de sua recriação diária. Exige não só o domínio da linguagem escrita, mas também competência como leitor e escritor de seu próprio texto, de sua história, de sua passagem pelo mundo. Exige reinventar os modos de sobreviver, transformando o mundo.
Tratar do adolescente, jovem, adulto ou idoso da EJA remete-nos a
complexidade social na qual estão imersos, assim como traz à tona suas
multifacetárias identidades, exigindo, assim, uma cuidadosa atuação docente
pautada na compreensão da diversidade desse público, levando em conta
principalmente a relação intergeracional vivenciada nas salas de aulas. Nessa
perspectiva, deve-se também considerar que o professor da EJA é um adulto em
construção permanente de aprendizagens, que precisa desenvolver um olhar de
compreensão ao contexto sócio-histórico de sua realidade para que possa atuar
com consciência.
A perspectiva teórica utilizada, nesta pesquisa, para compreensão das
categorias etárias, nos remete a uma construção variável dos indivíduos, em
relação, sobretudo, às questões históricas e sociais, porém, sem negar as
questões biológicas. Indivíduos estes que, se pobres e sem acesso aos espaços
de educação formal, na “idade própria”, são indicados ao espaço escolar, e, por
sua vez, à Educação de Jovens e Adultos.
Além das observâncias relacionadas ao público da EJA, deve-se ressaltar
o fato de a realidade brasileira indicar a necessidade de implementação de
políticas públicas capazes de combater o analfabetismo funcional. Como pode
ser visto na análise da Meta 9 do Plano Nacional de Educação – PNE:
Foi possível observar que a taxa de analfabetismo funcional diminuiu em 10 pontos percentuais desde 2002, mas que de 2009 a 2015 estagnou em 27% e em 2018 cresceu 2 pontos percentuais, totalizando, agora, 29% de brasileiros analfabetos funcionais. Se o ritmo voltar a ser como o apresentado de 2002 a 2009, possivelmente a meta será cumprida até 2024. (OBSERVATÓRIO DO PNE, s.d.)
Esse é o retrato de um processo de exclusão e aponta para a necessidade
do estabelecimento de um olhar atento para a Educação de Jovens e Adultos.
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Retrato esse que vem assolando durante décadas a qualidade de vida das
pessoas, assim como sua interação no e com o mundo.
Os baixos índices mundiais de alfabetização atingem 758 milhões de
adultos, desses 115 milhões têm entre 15 e 24 anos. E o analfabetismo funcional,
a Educação de Jovens e Adultos e sua aptidão para a vida social ativa é uma
preocupação Global.
Esse é um processo que não inicia na EJA, mas retrata a sua emergência,
desenhada por um presente em que 30% dos adolescentes que estão no final
do Ensino Fundamental – em escolas públicas brasileiras – não têm aprendizado
adequado de leitura, escrita, interpretação e matemática. Por desestímulo ou
necessidades, esses adolescentes acabam saindo da escola, retomando os
estudos formais em momentos mais avançados de suas vidas, em que o
mercado de trabalho o exigirá certificação, conhecimentos e habilidades não
aprendidos até então. Eis um dos perfis de educandos da EJA, dentre os tantos
que, por inúmeros motivos, não tiveram oportunidade de frequentar o espaço
escolar em momentos anteriores a fase jovem, adulta ou idosa. De acordo com
Arroyo (2006, p. 221):
A educação de jovens e adultos – EJA tem sua história muito mais tensa do que a história da educação básica. Nela se cruzaram e cruzam interesses menos consensuais do que na educação da infância e da adolescência, sobretudo quando os jovens e adultos são trabalhadores, pobres, negros, subempregados, oprimidos, excluídos.
A falta de acesso à Educação imprime estagnação à Sociedade, na qual
a ausência de reflexão e de criticidade afasta os seres humanos de suas
possibilidades de crescimento pessoal e social. Para acessar informações e
buscar a utilização de seus direitos os indivíduos precisam munir-se de
conhecimentos.
No Brasil, a Educação de Jovens e Adultos possui vertentes variadas;
muitas vezes, essa é direcionada apenas ao processo de alfabetização, e outras,
conforme defende Fávero (2013, p. 49) pode ser considerada como:
uma forma específica de fazer educação inicial, o mais das vezes não escolar, numa pedagogia dialógica com os grupos populares, e assumindo, expressa ou subsumidamente, uma
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perspectiva política de crítica e transformação da realidade, própria da educação popular.
A formação escolar institucionalizada pela Educação de Jovens e Adultos
estimula uma discussão, que vem de longas datas, anteriores ao Marco de
Referência da Educação Popular para Políticas Públicas (Brasil, 2014) o qual
apresentou “posicionamento divergente sobre essa aproximação” (VIEIRA,
2019, p. 151) e encontra-se em um campo que transita entre o formal e a
Educação Popular em um contexto de informalidade. Essa realidade pode ser
compreendida se colocarmos os olhares para além do nosso país,
compreendendo que essa discussão extrapola fronteiras territoriais, a EJA
enquanto tema globalizado, leva-nos a uma ampla observância dos diálogos
mundiais e percepção de seus vários sujeitos. Sobretudo, quando se
compreende que os estudantes da EJA são também um público invisibilizado
socialmente abrangendo as pessoas privadas de liberdade, os refugiados,
adolescentes sob a guarda do Estado, em medidas protetivas, e tantos outros
que surgem como números nas estatísticas e tem o seu direito a Educação
roubado. Por tais características, esses estudantes são um público que precisa
de atenção.
2.3 Um olhar em direção a Aprendizagem e Educação ao Longo da Vida
As reflexões sobre a histórica da Educação de Jovens e Adultos no Brasil,
e o conhecimento de seu atual público exige que seja estabelecido um olhar
holístico, já que vivermos em um mundo globalizado, no qual os processos
encontram-se em movimento, comunicação e diálogo. Nessa direção, é
fundamental percebermos que a Modalidade de Educação de Jovens e Adultos
é apenas uma parte integrativa do escopo de formação dos sujeitos, estando
esses inseridos, inevitavelmente, em situações que o formam ao longo de toda
a trajetória de suas vidas.
Como anteriormente apontado, a EJA está para além da sala de aula
formal e para além da escola, pois, faz parte do arcabouço de Direitos Humanos
que fortalecem o Desenvolvimento Global. Ela possibilita que as pessoas reflitam
sobre suas realidades problematizando-as e tenham condições de melhor cuidar
de sua saúde e bem-estar, como também melhor relacionarem-se com o mundo
59
compreendendo o necessário cuidado que se deve ter com o planeta enquanto
nossa casa e, sobretudo, compreendendo-se enquanto seres humanos
inacabados. Em conformidade com o que defende Freire (1987, p. 47):
A concepção e prática “bancárias”, “imobilistas”, “fixistas”, terminam por desconhecer os homens como seres históricos, enquanto a problematizadora parte exatamente do caráter histórico e da historicidade dos homens. Por isto mesmo é que os reconhece como seres que estão sendo, como seres inacabados, inconclusos, em e com uma realidade, que sendo histórica também é, igualmente inacabada.
O crescimento internacional de debates a respeito das questões
envolvendo a Aprendizagem e Educação ao Longo da Vida – termo que evoluiu
ao longo das discussões internacionais –, se deu, especialmente, por meio da
motivação da UNESCO, após a Segunda Guerra Mundial, que tornou a
Educação uma preocupação global.
Em 1945, a Organização das Nações Unidas – ONU – para a Educação,
Ciência e Cultura nasce denunciando as imensuráveis desigualdades entre os
países e alertando os seus 37 países envolvidos sobre a importância da
Educação para diminuição de tais desigualdades. Desse modo, essa
organização aponta para a importância da Educação para o desenvolvimento
das nações consideradas atrasadas tendo a redução do analfabetismo no
mundo como objeto da Educação para Todos e para conquista da paz. Assim
em seu documento de constituição, diz que criam a:
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, com o propósito de fazer avançar, através das relações educacionais, científicas e culturais entre os povos do mundo, os objetivos da paz internacional, e do bem-estar comum da humanidade, para os quais foi estabelecida a Organização das Nações Unidas.
Assim, em 1948, a Declaração Universal do Direitos Humanos foi
proclamada em Assembleia Geral das Nações Unidas, defendendo o direito à
Educação para Todos, como apresenta em seu artigo XXVI:
Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução
superior, esta baseada no mérito.
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Ainda de forma um tanto tímida, a UNESCO entende a Educação de
Adultos como “uma forma de fechar as brechas humanitárias, políticas e sociais”
presentes nas nações (KNOLL, 2007, p. 24). E com esse intuito foi a promotora
da Conferência Internacional de Educação de Adultos (CONFINTEA).
Afinal, é inquestionável a contribuição da UNESCO no sentido do
fortalecimento e direcionamento dos debates a respeito da Educação de Adultos
tanto para o Brasil, quanto para o mundo, tendo as CONFINTEAs um papel muito
importante nesse processo.
2.3.1 As CONFINTEAs e a Aprendizagem e Educação ao Longo da Vida
As CONFINTEAs são processos que buscam reflexões, diálogos,
soluções e planejamentos para a Aprendizagem e Educação de Adultos, com
culminância em reuniões que ocorrem em países membros variados que se
candidatam para recepção. Além disso, buscam avaliar os avanços e questões
que precisam de dedicação de políticas públicas para garantia do Direito
Humano à Educação. Enquanto propulsoras de atividades intergovernamentais,
as CONFINTEAs envolvem diversos setores sociais fazendo da Educação um
eixo estimulador.
A I CONFINTEA, convocada pela UNESCO, ocorreu em 1949 em
Elsinore/Dinamarca e “los delegados procedían principalmente de países
occidentales, de Europa y América del Norte.” (HELY, 1962, p. 24). Acreditamos
que o ponto mais relevante deste encontro foi o acordo de continuidade do
movimento de CONFINTEA para que se pudesse encaminhar a Educação de
Adultos em termos mundiais, estabelecendo diálogo entre os países. A II
CONFINTEA, ocorreu em 1960 em Montreal/Canadá, intitulada “A Educação de
Adultos em um Mundo Mutável”, tendo como foco em examinar grandes
problemas:
a) los de los países en vías de desarrollo, que necesitan la ayuda de los pueblos mejor dotados; b) los de los países donde se producen cambios considerables en el modo de vida, por ejemplo aquéllos donde se acentúa la concentración industrial y urbana; c) el destino de las mujeres cuya condición social ha sido a menudo bruscamente transformada; d) la juventud que se plantea los problemas de su porvenir y que, paradójicamente,
61
por una parte está más desorientada y, por otra, tiene mayor conciencia de la realidad.” (UNESCO, 1960, p.5).
Essa recebeu menos críticas em relação a primeira, pois a participação
de países representados aumentou em 50%, sendo assim mais respeitada por
incluir melhor representatividade mundial. Conforme Knoll (2012, p. 19):
Em Montreal foram focalizados temas que pensamos ainda serem atuais: A mudança tecnológica e a educação profissional de adultos; A liberalização da educação técnico-vocacional e profissional; A desunião moral no mundo; A deseuropeização do mundo; A obsolescência da guerra.
A III CONFINTEA ocorreu, em 1972, em Tóquio, com o título “A Educação
de Adultos no contexto da educação ao longo da vida”. Essa conferência teve
maior formalidade na efetivação das votações e tomadas de decisão. O ponto
mais relevante, dessa conferência, foi o encaminhamento de um “projeto para
sistematização de uma declaração sobre a situação e o futuro da educação de
adultos.” (Ibidem, 2012, p. 22). Foi, na III CONFINTEA, que, pela primeira vez,
utilizou-se a expressão “Educação ao Longo da Vida” que, no Brasil, cunhou-se
como “Educação Permanente”. É importante colocar que o relatório final do
evento esclarece que a expressão ao longo da vida não quer dizer que:
(…) as pessoas devem participar de aprendizagem organizada do útero ao túmulo, mas na idade de dois ou três anos até o final da vida, devem ter acesso a oportunidades de aprendizagem. Continua afirmando que a palavra-chave é aprendizagem, que se distingue claramente da palavra educação na sua concepção
tradicional. (IRELAND, 2012, p. 39).
Em 1985, a IV CONFINTEA aconteceu em Paris. Essa última com a
temática “O Desenvolvimento da EA: Aspectos e Tendências”. Ela teve como
uma de suas questões: o papel da educação de adultos em relação ao
desenvolvimento tecnológico. Uma característica marcante desse evento
consiste na redescoberta do analfabetismo nas sociedades industrializadas, o
que surgira como um novo desafio para os educadores (Ibidem, p. 44).
A V CONFINTEA aconteceu em Hamburgo, na Alemanha, em 1987, tendo
como ponto mais relevante a criação da Declaração de Hamburgo – como
documento síntese – e da Agenda para o Futuro. Segundo Júnior e Araújo (2013,
p.121), nessa conferência foram abordados temas como, por exemplo:
a contribuição da educação de adultos, na perspectiva da aprendizagem ao longo da vida, para democracia, para as relações de gênero, para com as transformações do mundo do
62
trabalho, em relação ao meio ambiente, à saúde e à população, para a cultura, para os meios de comunicação e para as novas tecnologias da informação, para os direitos e aspirações dos diferentes grupos (pessoas idosas, imigrantes, ciganos, nômades, refugiados, deficientes, privados de liberdade, entre outros) e para a promoção da solidariedade internacional.
Nessa pauta, portanto, sobrepuja a Alfabetização de Adultos e a imerge
em um campo mais amplo, direcionado a pensar a aprendizagem do adulto,
como norteadora para a conquista da cidadania e de direitos. Como declara
Ireland (2012, p. 60):
O direito ao desenvolvimento e à educação, tema central em Jomtien, atravessou a década e foi fundamental na Declaração de Hamburgo, que colocou homens e mulheres no centro de um processo de desenvolvimento baseado na aprendizagem. O direito de todos à Educação foi incluído no conceito de aprendizagem ao longo da vida.
Já, em 1990, aconteceu a “Conferência Mundial sobre Educação para
Todos”, realizada em Jomtien/Tailândia, a qual “adotou o conceito de ‘educação
básica’, propondo uma visão ampliada não restrita à educação escolar”.
(IRELAND, 2009, p. 47).
Em 2000, em Dakar, a Cúpula Mundial de Educação reuniu-se em
tratamento do tema “Educação para Todos” – para cada cidadão e cada
sociedade – enquanto compromisso coletivo, indicando aos governos a
obrigatoriedade de assegurar que os objetivos almejados fossem atingidos. A
Declaração de Dakar aponta em seu quinto tópico a não aceitação do
quantitativo de adultos não alfabetizados no mundo, assim como a falta de
acesso de jovens e adultos às “habilidades e conhecimentos necessários para
um emprego proveitoso e para participarem plenamente em suas sociedades”.
(DAKAR, 2000, p. 01).
Nesse encontro foram traçados seis objetivos pelos quais os países
membros se comprometeram na busca por alcançá-los. Esses objetivos foram
voltados para a expansão e melhoria do cuidado e educação da criança
pequena, em especial, às vulneráveis, para assegurar que todas as crianças,
principalmente, as meninas, tivessem acesso à educação equitativa aos
meninos, para o alcance da melhoria dos níveis de alfabetização e para a
melhoria de todos os aspectos da qualidade da educação garantindo resultados
mensuráveis; e um deles focado, especialmente, nos Jovens e Adultos. Para
63
tanto, as nações se comprometeram em assegurar atendimento as
necessidades de aprendizagem apropriada e equitativa, além de possibilitarem
acesso a programas de formação e voltados à cidadania. (UNESCO, 2000).
No ínterim dos anos da década de 90 ocorreram 12 conferências, nas
quais discutiram-se questões que os governos participantes se comprometeram
a tratar com urgência. Todas as temáticas abordadas estiveram relacionadas a
Paz, a Segurança e o Desenvolvimento Humano.
O fato é que a Educação, e, sobretudo, a Educação de Jovens e Adultos,
esteve sempre associada aos desejos de desenvolvimento das nações, em uma
compreensão que esse é, substancialmente, viabilizado se os povos têm
garantias de acesso aos processos educativos. E, nesse sentido, o
entendimento sobre a Educação de Jovens e Adultos faz parte de um campo
mais abrangente para além da escola.
Até a década de 1990, os relatórios emitidos ao final das CONFINTEAS, (...) destacavam a necessidade de compreender a educação de adultos no mundo em transformação, situando a escolarização de jovens e adultos como fundamental, mas para além dessa escolarização a necessidade da educação permanente desses indivíduos para a reforma da democracia; além dos processos de alfabetização e pós-alfabetização de adultos; educação rural; educação para a sustentabilidade ambiental, entre outras. (JÚNIOR; ARAÚJO, 2013, p. 119).
Apesar das resistências internacionais para aceitação do país como
anfitrião, a VI CONFINTEA ocorreu, no Brasil, em 2009, em Belém do Pará, e
culminou com o Marco da Ação de Belém. Essa ação teve como principal
característica a “urgência de elaborar indicadores capazes de monitorar as
recomendações aprovadas pela Conferência”, tema esse outrora objetivado
também em Dakar. Para que essa Conferência ocorresse houve um processo
preparatório amplo. Conforme Ireland (2014, p. 31):
O processo preparatório foi estruturado com base em três componentes fundamentais: relatórios nacionais e regionais, Conferências Regionais e o Relatório Global junto com um Marco de Ação a serem apresentados e aprovados na Conferência.
Essa conferência carregou o lema “Aproveitando o poder e o potencial da
aprendizagem e educação de adultos para um futuro viável” e permitiu o enlace
entre diretrizes nacionais e internacionais.
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A VI CONFINTEA trouxe o lançamento do GRALE – Relatório Global
sobre Educação e Aprendizagem de Adultos – como um documento estruturado
previamente ao evento, servindo como espaço reflexo de observatório,
subsidiando os debates.
Os GRALE são publicados trienalmente. Além de sua primeira publicação,
em 2010, foram organizados os relatórios 2, 3 e 4 publicados, respectivamente,
nos anos de 2013, 2016 e 2019. “Esses relatórios foram baseados em um
modelo projetado pelo UIL, em cooperação com o UIS, para permitir a
comparação entre a situação atual e sucessivos ciclos de relatórios.” (UNESCO,
2014, p.15). Em sua primeira publicação, o GRALE traz conceitos de educação
de adultos e conceitos relacionados a educação, assim como argumentos em
defesa da aprendizagem e educação de adultos.
Figura 06 - Infográfico Avanço dos GRALE
Fonte: https://uil.unesco.org/adult-education/confintea/sixth-international-conference-
adult-education-2009-confintea-vi
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Quando tratamos de educação de pessoas jovens e adultas (EPJA), é
necessário esclarecer que as conceituações e entendimento de terminologias
utilizadas para tratamento desse público são variáveis nas diversas partes do
mundo e em diversos tempos. Inclusive o termo “EPJA” tivera seu uso global a
partir dos diálogos presentes nessa última CONFINTEA. Em nossa pesquisa,
compreendemos como necessário a inclusão de pessoas idosas neste acrônimo,
o transmutando para “EPJAI” (Educação de pessoas jovens, adultas e idosas).
Em conformidade com o Relatório de Síntese Regional da VI CONFINTEA
referente à América Latina e Caribe:
A definição da UNESCO de educação de adultos, conforme for-necida pela International Standard Classification da Educação que inclui todos os níveis de educação formal, incluindo o ensino superior – não reflete os entendimentos e realidades comuns do termo usado nesta região. Na maioria dos países latino-ameri-canos, a educação de adultos está associada com os pobres e com as necessidades básicas de aprendizagem. Alfabetização, educação primária e/ou básica, educação vocacional e progra-mas de educação não formal dominam o cenário. Em alguns pa-íses (incluindo alguns pequenos, como a Bolívia), a educação de adultos está sendo expandida para cobrir não apenas a edu-cação primária, mas também a secundária. Apenas em Cuba, Venezuela nos últimos anos, e alguns países caribenhos de lín-gua inglesa é estendido até a Educação de Ensino Superior. Neste último, alguns países – por exemplo, Anguila e Jamaica – incluem também formação de professores e formação do setor público na educação de adultos. Por outro lado, AEA (aprendi-zagem e educação de adultos) - termo proposto pelo UIL para a elaboração de relatórios nacionais da CONFINTEA VI – não é familiar nesta região. Na maioria dos países caribenhos de lín-gua inglesa, o termo usado é Educação Continuada e de Adultos (ACE). O termo mais comum utilizado na América Latina é EPJA – Educação de Pessoas Jovens e Adultas.
As nomenclaturas utilizadas carregam diferentes entendimentos da área,
os quais são influenciados por três características principais: a idade dos sujeitos
atendidos, os níveis de ensino e a inclusão ou não de treinamentos. Além disso,
as questões relacionadas às traduções também interferem nas interpretações
feitas e seu entendimento. Em contraponto à Educação ao Longo da Vida, o uso
da expressão Aprendizagem e Educação ao Longo da Vida (utilizada,
inicialmente, em Nairóbi, na Conferência Geral da UNESCO, no ano 1976) busca
dar maior destaque ao protagonismo dos indivíduos, tendo-os no centro da
aprendizagem, dedicando-se o termo Educação às instituições.
66
No Brasil, a expressão Educação de Jovens e Adultos está culturalmente
associada de um lado à Modalidade de Educação formal, de outro é a Educação
Popular quando se dá de maneira informal ou não-formal sob responsabilidade
de ONGs, associações, igrejas etc. Vale alertar que vincular a expressão
“Educação de Jovens e Adultos” aos processos de alfabetização é um
reducionismo. A partir dos temas debatidos nas CONFINTEAs, as ideias se
encaminham para uma visão mais globalizada da Educação de Jovens e
Adultos, sem desconsiderar a necessidade da Alfabetização como porta de
acesso à aprendizagem ao longo da vida e respeitando, evidentemente as
características culturais de cada povo.
A compreensão do papel da educação de adultos tem mudado e evoluído ao longo do tempo. Desde quando era considerada como um fator de promoção da compreensão internacional, em 1949, a educação de adultos passou a ser vista como fundamental na transformação econômica, política e cultural de indivíduos, comunidades e sociedades no século XXI. Embora a UNESCO tenha estabelecido uma definição de educação de adultos na Recomendação de Nairóbi, o que é considerado como educação de adultos ainda é objeto de uma vasta gama de interpretações. A mudança da educação para a aprendizagem também constitui uma importante mudança na conceitualização do campo. (UNESCO, 2010, p. 12).
Em nosso país, algumas discussões a respeito do papel da EPJAI a
remetem para uma Modalidade de Educação Popular (EP), dando-se não
apenas nos espaços informais de Educação, mas inclusive na Escola Pública
(VALE, 2001; GADOTTI, 2003 e 2010; SAUL, 2012; ANDRADE, s.d.) visto ser
ela um “Aparelho Ideológico do Estado” (ALTHUSSER, 1971) que tende a
reproduzir a que há na sociedade. No sentido da EP, tem-se foco na conquista
de uma Educação Cidadã, como emancipatória do oprimido (FREIRE, 1979),
pensada a partir de uma dimensão política. Essa perspectiva de compreensão
da EPJAI, fortalece-se a partir da proposta de escola vislumbrada por Freire,
olhando para o período, quando atuou, na Educação Pública de São Paulo, com
a intenção de uma escola “pública, popular e democrática”.
No entendimento global, a defesa da aprendizagem de adultos ao longo da vida passa, a não se reduzir a um conceito teórico ou a um campo semântico. Ela assume a condição de evidenciar a EPJA como protagonista de um campo educacional complexo e altamente ligado ao desenvolvimento das sociedades.
(JÚNIOR; ARAÚJO, 2013, p. 122).
67
A expressão “Aprendizagem e Educação ao Longo da Vida” é concebida
pela UNESCO, enquanto filosofia, abarcando, assim, as diversas formas de
educação. Esse é um caminho para conquista de uma Educação para Todos.
Na publicação do primeiro GRALE, pode-se ler que:
O papel da aprendizagem ao longo da vida é fundamental para resolver questões globais e desafios educacionais. Aprendizagem ao longo da vida, “do berço ao túmulo”, é uma filosofia, um marco conceitual e um princípio organizador de todas as formas de educação, baseada em valores inclusivos, emancipatórios, humanistas e democráticos, sendo abrangente e parte integrante da visão de uma sociedade do conhecimento. (UNESCO, 2010, p. 6, grifo nosso).
O GRALE 2, intitulado “Repensando a Alfabetização”, sintetiza relatórios
de 141 países e, diferenciando-se do primeiro GRALE, sendo feito como um
documento de referência para a CONFINTEA VI. “A UNESCO incentivou os
Estados-membros a tratar esse processo de elaboração de relatórios como uma
oportunidade para consultas em âmbito nacional entre todas as partes
envolvidas na educação de adultos.” (UNESCO, 2014, p. 16). E, nesse sentido,
puderam construir um documento que retratasse – com ressalvas as limitações
– os diversos atores sociais.
O GRALE 3, lançado em 2016, analisa cada uma das 5 áreas do Marco
da Ação de Belém (políticas, governança, participação, financiamento e
qualidade) e trouxe como preocupação: o Impacto da Aprendizagem e Educação
de Adultos na Saúde e Bem-estar; Emprego e Mercado de Trabalho; e a Vida
Social, Cívica e Comunitária. Esse documento registra um momento importante,
visto estarem as nações direcionadas à Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável. O relatório apresenta como principais mensagens: o progresso em
todas as áreas do Marco de Ação de Belém de 2009; a Aprendizagem e a
Educação de Adultos são componentes chaves da Aprendizagem ao Longo da
Vida, contribuindo de forma importante para a agenda 2030 para o
desenvolvimento sustentável; os níveis de alfabetização de adultos permanecem
alarmantemente baixos; a desigualdade de gênero continua a ser uma
preocupação; apesar dos progressos notáveis no monitoramento e na avaliação
desde 2009, dados básicos sobre a Aprendizagem e a Educação de Adultos
continuavam a ser inadequados, e assim, seus verdadeiros efeitos foram pouco
68
compreendidos. Assim sendo, direcionar o foco para a Agenda 2030 é,
primordial, para a reflexão acerca de como a aprendizagem e a educação de
adultos pode capacitar as pessoas para atender às demandas do futuro.
(UNESCO, 2016, p. 5-7).
O GRALE 4, lançado em 2019, com foco na participação e aprendizagem
de adultos, foi um importante instrumentos de mediação e acompanhamento dos
indicadores relacionados à realidade da Educação de Adultos no mundo.
Segundo Ireland e Dias (2018, p. 08):
No campo das agendas globais, a iniciativa da Educação para Todos – EPT foi substituída pela Agenda 2030 de Educação, detalhada na Declaração de Incheon e o Marco de Ação da Educação, e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável tomaram o lugar dos ODMs. Na esfera específica da EJA/Aprendizagem e educação ao longo da vida, a Recomendação sobre o Desenvolvimento da Educação de Adultos (Recomendação de Nairóbi, 1976) foi finalmente atualizada e aprovada pela Assembleia Geral da UNESCO (2015) com o novo título de Recomendação sobre a
Aprendizagem e Educação de Adultos.
Apesar de não existir um processo de avaliação rigorosa a respeito do
impacto das CONFINTEAs, na gestão de Educação de Adultos, em países, elas
têm se configurado como partes fundamentais de um processo muito importante
para diálogos sobre a temática, principalmente, por compreender-se que, em
qualquer parte do mundo, a Educação de pessoas jovens, adultas e idosas
precisa de atenção às suas características e, sobretudo, estar alinhada
mundialmente, tendo em vista o processo global de desenvolvimento. Em
prossecução ao fluxo de conferências, prevê-se que a CONFINTEA VII
aconteça, em 2022, em Marrocos.
É oportuno mencionar que o olhar amplo para a Educação de pessoas
jovens, adultas e idosas nos obriga a situar o Brasil, como um país que, em um
território de extensão continental, apresenta um ciclo político composto por
avanços e recuos da área, com perspectivas diferenciadas quanto à
necessidade de educação deste público para a conquista do desejado
desenvolvimento do país. Inclusive em tempos sombrios para a Educação (como
os de agora), faz-se urgente conhecer e refletir sobre o processo histórico e
cultural brasileiro, para tornar pessoal o vislumbre de estratégias inteligentes
69
voltadas ao atendimento de uma necessidade global – cuidar das pessoas e
cuidar do planeta.
Pensar a aprendizagem e educação de pessoas jovens, adultas e idosas,
é fazer parte, é envolver-se socialmente, contribuindo, como agente
transformador e conscientizador, em movimentos que favoreçam a conquista e
o exercício da cidadania e possam fazer germinar a esperança por dias
melhores. Esse movimento pautado, na consciência de um papel social, pode
ser estabelecido com apoio dos professores a partir de sua busca pela
aprendizagem ao longo da vida, no intuito de avançarem com as trocas de
experiências e aquisição de conhecimentos e habilidades que lhe permitam
melhor/mudar sua atuação no ensino, privilegiando a inclusão dos menos
favorecidos, como se fadados a um destino irrevogável. Freire (1996, p. 28)
afirma que o “destino não é um dado, mas algo que precisa ser feito e de cuja
responsabilidade não posso me eximir”.
Quando os professores carregam a filosofia da Aprendizagem ao Longo
da Vida, empregando em suas práticas o sentido do constante crescimento para
si e o seu grupo, os saberes conquistados – individuais e coletivos – são
valorizados por seus alunos, o que é motivador. Essa filosofia, imprime a “virtude
da coerência” e a “corporeificação das palavras pelo exemplo” (FREIRE, 1996,
p. 56) entre discurso e prática, ressaltando a necessidade de aprender sempre
e buscar possibilidades para tal, seja em situações formais, seja em não formais
ou informais. Não há como ensinar o que não se vive, o que não se sabe. Como
pode-se encaminhar os estudantes da EJA em direção ao reconhecimento da
importância de uma educação contínua, em qualquer tempo e lugar, se não há
em si tal reconhecimento?
Ao longo da história, as orientações da UNESCO vêm indicando caminhos
para que a formação de professores possa ocorrer de forma crítica e qualificada,
e incentiva o uso de dispositivos móveis em atendimento, especialmente, aos
mais carentes, compreendendo que o professor tem papel central nos processos
de ensino e aprendizagem.
Si bien los recursos digitales constituyen un componente importante del aprendizaje móvil, no bastan por sí mismos; para ser eficaces, con los programas también se deben diseñar estrategias pedagógicas en las que se puedan aplicar esos
70
recursos. Más allá de las tecnologías que se utilicen, la mayor parte del aprendizaje que ocurre en un contexto escolar es facilitado por el docente. El profesor no es simplemente alguien que proporciona recursos a los estudiantes y los guía en una secuencia predeterminada de actividades. Los profesores y maestros están constantemente modificando y acomodando las actividades de aprendizaje para satisfacer las necesidades individuales de los alumnos. Aprovechan su conocimiento de los antecedentes e intereses de los estudiantes para hacer que sus clases los motiven; los evalúan de forma continua, formal e informalmente, para determinar lo que ya saben los alumnos y cuáles competencias y conocimiento deben desarrollar; se anticipan a los tipos de errores y dificultades que sus alumnos encaran habitualmente, y escogen la mejor forma de abordarlas; utilizan la retroalimentación para decidir qué preguntas deben plantear durante una lección para profundizar la comprensión de los estudiantes; y evalúan el progreso y el aprendizaje de los estudiantes a nivel individual y de clase. En resumen, el docente es clave en el proceso de aprendizaje. La importancia del rol del profesor o maestro muchas veces es subestimada por los encargados de diseñar proyectos de aprendizaje móvil, ya que tal vez se centran más en la tecnología que en el aprendizaje de
los alunos. (UNESCO, 2012, p.15).
Com base no exposto, consideramos como essencial que cada professor
tenha para si a filosofia da Aprendizagem ao Longo da Vida em uma percepção
social e histórica da realidade e da necessidade dessa postura.
Com foco na atuação do professor de EJA, as contribuições da Teoria
Histórico-Cultural serão abordadas no sentido de aproximar-se da aprendizagem
do professor que atua nesse campo.
3 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL
A Teoria Histórico-Cultural, também denominada Teoria do
Desenvolvimento Histórico-Social da Psiquê Humana, segundo Hurtado (2005),
se constituiu como o primeiro escopo de reestruturar a psicologia sobre a base
de uma concepção marxista da psiquê e constituiu o quadro mais organizado de
sua época acerca da teoria psicológica com enfoque no materialismo dialético-
histórico. Como elaborador dessa teoria, temos Lev Semiónovich Vygotsky
(1896-1934), cujas pesquisas e publicações ocorreram entre 1924-1934,
enfocando os múltiplos problemas das diferentes esferas do conhecimento
psicológico. Ademais, os trabalhos desse estudioso não se centram apenas nos
aspectos históricos, mas também nas esferas teóricas e metodológicas.
71
De acordo com os escritos de Hurtado (2005: PRÓLOGO):
La vigência y actualidad del pensamiento vigotskiano va más allá de los limites del país en que se originó y de todo lo que sus continuadores le desarrollaron (antiguos países socialistas). Cada vez más se ecuentran nuevos grupos de investigadores que continúan el desarrollo de las ideas de de Vigotsky y las aplican en distintos campos, fundamentalmente en la educación, sobre todo en países como España y Estados Unidos.
Na atualidade continuam a ocorrer pesquisas que têm como base a teoria
vigotskyana, como por exemplo, os estudos aqui apresentados, por
compreender a importância dessas ideias na formação do professor da
Educação de Jovens e Adultos.
Dentre os colaboradores de Vygotsky, aqueles com maior destaque foram
Alexander R. Luria (1902-1977) e Alexei N. Leontiev (1903-1979). Esses
pesquisadores, juntamente com Vygotsky, tinham como um de seus objetivos
superar as concepções mecanicistas da reflexologia2 (Pavlov: 1849-1936) e a
reatologia3 (Kornílov: 1879-1957)
A base epistêmica da teoria vigotskyana tem sua égide na lógica dialética:
cada problema, conceito e método relaciona-se a um diferente domínio de
fenômenos psíquicos que o autor se propõe a estudar (TOASSA, 2004). Ou seja,
essa teoria apresenta como base epistemológica as funções psicológicas do
indivíduo, as quais são consideradas em duas perspectivas: uma dimensão
biológica como um processo elementar; e outra, a dimensão cultural como
processo superior. As funções psicológicas elementares são caracterizadas
pelas ações involuntárias, por reações automáticas, sofrendo controle do
ambiente externo, tendo por eixo as funções biológicas. Elas são naturais não
só em seres humanos, mas também em animais chamados irracionais. Já as
funções psicológicas superiores advêm do social e são marcadas pela
intencionalidade das ações, sendo, portanto, viáveis em virtude da atividade
2 A Reflexologia é o estudo dos reflexos e corresponde à escola de fisiologia objetiva de
origem russa que teve, como seus colaboradores Ivan Sechenov (1829-1905), Vladimir Bekhterev (1857-1927) e Ivan Pavlov (1849-1936). Foi uma escola que exerceu um profundo efeito sobre a psicologia behaviorista[1] e as teorias da aprendizagem. 3 A Reatologia é uma eclética forma de entender a Psicologia, cuja influência se estendeu nos
anos 20 na esfera da Psicologia Soviética. Tem como ícone Konstantin Nicolayevich Kornílov (1879-1957). Ele propôs a Reatologia como uma investigação das reações humanas antes de os estímulos e as demandas em torno da espécie humana.
72
cerebral. Em outros termos, elas resultam da interação entre o biológico e o
sociocultural. Apoiado em Vygotsky, Oliveira (1997, p. 26) manifesta que:
O ser humano tem a possibilidade de pensar em objetos ausentes, imaginar eventos nunca vividos, planejar ações a serem realizadas em momentos posteriores. Esse tipo de atividade psicológica é considerado “superior”, na medida em que se diferencia de mecanismos mais elementares, tais como ações reflexas (a sucção do seio materno pelo bebê, por exemplo), reações automatizadas (o movimento da cabeça na direção de um som forte repentino, por exemplo) ou processos de associação simples entre eventos (o ato de evitar o contato da mão com a chama de uma vela, por exemplo).
As funções psicológicas são interiorizadas pelo ser humano e marcam seu
desenvolvimento mental, que é particularizado. O ser humano interioriza as
formas históricas e culturais de processamento das informações que são
recebidas por meio da mediação da linguagem (principal mediador para
formação das funções psicológicas superiores), constituindo-se em um ser
cultural. Assim, a mediação caracterizada pela intervenção de um elemento
intermediário favorece a construção sócio-histórica dos estudantes e
professores/as, sendo a premissa essencial e uma base teórica importante para
a EJA.
É preciso ressaltar que, de acordo com Vygotsky (1978), a aprendizagem
antecede o desenvolvimento, assim como antecede as vivências escolares. No
contexto das funções psicológicas superiores, o papel desempenhado pela
aprendizagem é de agente propulsor do desenvolvimento.
A concepção de Vygotsky sobre a psiquê humana a apresenta como um
processo histórico e culturalmente condicionado; em cada fenômeno o processo
só pode ser compreendido analisando o seu desenvolvimento, no contexto
histórico no qual ocorre e as condições culturais em que se produz.
Portanto, tomando essa teoria como perspectiva e abordagem,
compreendemos que possa contribuir com o processo de ensino-aprendizagem
na EJA, se considerarmos a internalização de novos conhecimentos pelos
sujeitos, ocorrendo com o outro e respeitando suas zonas de desenvolvimento
atual e próximo (ZDA; ZDP); e, principalmente, o contexto de vivência no qual
esses sujeitos estão incluídos. Pois, para analisar estes processos é necessário
considerar que devemos lançar mão, também, das condições socioculturais de
73
vida que os condicionam. Não se pode pretender que um sujeito que está no
contexto de ensino e aprendizagem da EJA, viva nas mesmas condições
escolares de outrem que esteja por exemplo, no Ensino Médio Regular. Isso não
implica que não possam ser semelhantes em suas aprendizagens, mas que cada
uma dessas esferas possui suas particularidades.
A EJA pode ser lócus da aprendizagem e desenvolvimento dos
estudantes como atividade social – atividade como sendo uma unidade molar
prática, psíquica e valorativa que orienta os sujeitos em direção a objetivo (s)
(LEONTIEV, 2001) – a partir das atividades realizadas pelos educandos,
professores e comunidade escolar. Entretanto, conceber o processo de
internalização de conhecimentos por intermédio de uma visão sociocultural exige
dos professores perspectivas diferenciadas para o desenvolvimento da prática
didático-pedagógica, que não somente os afaste de um posicionamento
marcado por fundamentos behavioristas, mas que, sobretudo, se tenha clareza
de o quê ensinar, por quê ensinar, para quê ensinar e como ensinar. Ou seja,
quais metodologias, estratégias e ferramentas podem ser endossadas nestes
processos. Nessa modalidade de ensino, é salutar considerar – nos sujeitos
desse cenário – a sua formação, as esferas pessoal, coletiva e produtiva, como
escopo para orientar e acompanhar suas aprendizagens e desenvolvimento.
Como assinala Vigotsky (2005) ao conceber o desenvolvimento pessoal
como um processo de formação, no qual o ensino e aprendizagem se
transformam em um fator essencial, se evidencia como uma força extraordinária
no papel das condições socioculturais em que esses sujeitos vivem e das quais
se apropria mediante sua atividade (é por meio desta, que estabelece relação
com a realidade objetiva) e no processo de comunicação e interlocução com os
demais, e, também, por meio dos seus pares (família, amigos, professores).
Dessa forma, ter a EJA enquanto espaço de ensino e aprendizagem é
favorecer as aprendizagens ao longo de toda a vida, de modo que o percurso de
estudos tenha sentido e significado (se torne importante) para quem o vivencia.
Isto é, que os conhecimentos interiorizados possam ser mobilizados para
resolver situações emblemáticas em diferentes contextos de sua vida nas
esferas pessoal, coletiva e produtiva. Afinal,
74
Como defende Perrenoud (2003, p. 20) “o conhecimento não está
dissociado de uma relação com o mundo, consigo próprio e com os outros”.
Sendo assim,
La estructura de la psiquis y su desarrollo puedem entenderse sólo em relación com el análisis del médio social. Las formas de las funciones psíquicas – estrutucturas, mecanismos, relaciones genéticas – no son constantes e invariables. Elas cambian en los distintos períodos de la historia de la sociedad. En el hombre, las funciones psíquicas naturales sufren um proceso de transformación como resultado de la apropriación de formas de conducta creadas em el curso del desarrollo histórico.
(HURTADO, 2005: VIII)
Esse processo de interlocução e transformação dos sujeitos em relação à
realidade objetiva se dá mediante a mediação por meio dos símbolos e signos e
a mediatização que ocorre entre os sujeitos. Portanto, professores, bem como
outros ensinantes, são os mediatizadores do processo de ensino e
aprendizagem dos aprendizes. Vygotsky (2005) enuncia que o processo de
transformação é produzido como resultado do processo de mediatização.
Durante a realização das atividades na EJA, por exemplo, essa acontece
diretamente através da utilização de instrumentos e pessoas, que conduzem a
transformação consciente da realidade com ações psíquicas e materiais.
Dessa maneira, como advoga Núñez (2009) é concebida como uma
atividade especificamente humana orientada para objetivo(s), considerando-se
o seu caráter social, a atividade e a mediação, bem como a “mediatização”
(VIGOTSKY, 2005). Esse caráter social respalda o caráter interpsicológico da
aprendizagem.
3.1 Aprendizagem como atividade e prática social na educação de jovens e
adultos
Este estudo considera que na sua relação com o meio físico e social, a
partir da mediação com instrumentos e signos o ser humano tem o seu
desenvolvido cognitivo. Logo, aprender é uma atividade psíquica e prática social
que desenvolve por toda a vida, visto ser um sujeito social, pois, a aprendizagem
ocorre entre sujeitos e desses, com o mundo dos objetos. Portanto, nessa
pesquisa, aprendizagem é compreendida como atividade e prática social que
possibilita aos sujeitos seu desenvolvimento em sua multidimensionalidade.
75
A proposição desta pesquisa considera que, em sua fase adulta, o sujeito
tem o trabalho, como atividade principal para viver em uma sociedade de
classes, porque é por meio dela que os seres humanos estabelecem relação
com a realidade, transformando-a e se transformando mediante ela. Afinal, “o
trabalho é atividade vital humana e o desenvolvimento humano é sempre e
necessariamente orientado pela atividade principal” (LEONTIEV, 1988, p. 63). E
considera, também, que, outra atividade essencial que está impressa no
desenvolvimento do adulto é a Atividade de Aprendizagem. Ou seja,
aprendizagem como atividade.
O psicólogo Leontiev – colaborador e defensor das ideias de Vygotsky –
é o elaborador da Teoria da Atividade. Leontiev (1988; 2001) analisa de forma
crítica a Teoria Histórico-Cultural, enunciando que é a atividade real que permite
aos sujeitos se relacionarem com o mundo dos objetos, de tal forma que
determina o desenvolvimento da consciência. Pois, para esse, essas relações
são mais relevantes do que os processos de comunicação, como assinala Núñez
(2009), visto que a comunicação se estabelece na atividade, sendo assim, a
comunicação também se constitui como atividade.
Segundo Leontiev (1989) a interlocução entre os sujeitos e a realidade
ocorre dialeticamente, já que a transformação desses, acontece da mesma
forma que a realidade é transformada. Nesse contexto, Leontiev (1989, p. 266)
escreve:
A atividade é uma unidade molar não aditiva da vida do sujeito corporal e material. Num sentido mais estreito, ou seja, ao nível psicológico, esta unidade da vida é mediada pelo reflexo psíquico, cuja função real consiste em que este orienta o sujeito no mundo dos objetos.
Pensar nessa teoria no contexto da EJA é reconhecer a importância da
atividade como prática social que considera os processos de interação dos
sujeitos aprendizes nessa modalidade, compreendendo esses processos
essenciais para a apropriação da cultura. E, essa apropriação mediante a
atividade prática e psíquica é valorativa, consciente, cognitiva e metacognitiva.
Tendo a metacognição compreendida pela perspectiva de Ramalho et al. (2004),
quando explicitam que a Metacognição implica a autorregulação da atividade de
aprender, quer dizer, a conscientização dos processos que utilizamos para
76
conhecer os erros e os sucessos, para aprender como aprendemos,
responsabilizando-nos pela própria aprendizagem.
Por ter esse caráter, compreendemos que essa teoria pode se constituir
como conhecimento profissional de professores que lecionam na EJA,
sobretudo, por considerar que a atividade consciente deva fazer parte das ações
discentes e docentes permitindo a esses sujeitos o desenvolvimento da
criticidade e da autonomia.
3.2 Aprendizagem como Atividade: cognição e metacognição
Pensar na aprendizagem na EJA, seja com foco em seus alunos ou em
seus professores, é considerá-la como atividade na perspectiva de Leontiev
(1988; 2001) porque orienta os sujeitos a mobilizar recursos cognitivos para
resolução de diferentes situações de aprendizagem disponibilizadas
estimulando-os para o desenvolvimento de estratégias metacognitivas. Leontiev
(1985) explicita que no processo de aprendizagem, sua esfera de motivos,
necessidades, interesses, nível de desenvolvimento de suas estratégias de
aprendizagem, bem como as habilidades a serem formadas ou desenvolvidas,
se constituem como elementos basilares para que os sujeitos se apropriem da
realidade. Mas, para isso se faz necessário considerar a estrutura da atividade:
objeto de conhecimento, objetivos, motivos, ferramentas, ações, operações e
produto, como uma unidade pensada de forma consciente.
Os estudantes da EJA são indivíduos que têm como base as relações
sociais que estabelecem com outros sujeitos dentro e fora do espaço escolar,
porém com peculiaridades que devem ser observadas, pois, em sua maioria, são
estudantes trabalhadores. E isso deve ser considerado substancialmente tendo
em vista que esses estabelecem relação com os conhecimentos escolares de
maneira diferente. Portanto, é imprescindível considerar suas características e
contextos para seus processos cognitivos e metacognitivos serem estimulados
e materializados.
Por considerar relevantes essas premissas, entendemos aprendizagem
na perspectiva da teoria histórico-cultural, cuja definição consiste no resultado
da apropriação de novos conhecimentos (conceitos, habilidades e atitudes) e
valores, ou o aperfeiçoamento desses, por aqueles que já os possuem
(GALPERIN, 1979). Nessa direção, é fundamental compreender que os
77
estudantes da EJA trazem consigo inúmeras experiências, vivências,
conhecimentos e valores. E ao se depararem com o novo, seus conhecimentos
são estendidos por meio de um movimento dialético, no qual se apropriam de
novos saberes com auxílio da orientação dos professores e mediante as
vivências das estratégias didático-pedagógicas que os possibilitam aprender e
se desenvolver, exercendo a cidadania, e, assim, sendo sujeitos coparticipes das
situações do planeta.
3.3 Aprendizagem do professor da Educação de Jovens e Adultos
O conceito de aprendizagem tem sido discutido inesgotavelmente não
apenas por psicólogos e educadores. Atualmente, compreender melhor como
ocorrem os processos de aprendizagem, tornou-se fundamental para a
Sociedade em Rede. Nesse caminho estão discussões sobre a aprendizagem
do professor e as suas construções de saberes.
A Educação formal tem sua origem com a educação de adultos e as
investigações sobre como os adultos aprendem que foram iniciadas no que se
denomina por período pré-científico, marcado no início dos anos 1800 com foco
no envelhecimento. Ao abordar de uma breve história da pesquisa e teoria sobre
aprendizagem e cognição de adultos. Thompson (2009, p. 463) afirma que:
Dizem que o estudo científico do envelhecimento começou com Adolphe Quelet (1796-1874), mas havia muito trabalho em andamento naquela época. Frederick Zeman (1979) lista literalmente centenas de referências dedicadas ao estudo do envelhecimento publicado antes de Quelet. A maioria desses relatos iniciais foi feita por médicos interessados no estudo da longevidade extrema. No entanto, parte desse trabalho inicial realizado por médicos examinou a mudança cognitiva na velhice
e o bem-estar físico.
A partir da Revolução Industrial, a aprendizagem do adulto fora vinculada
às demandas mercadológicas, ao conceito de educação profissional e ao
fortalecimento do capitalismo em um elo entre educação e produção, com o
estímulo de competições que congelam o sujeito em lugar de consumidor e
focam no fato de serem desejados, enquanto trabalhadores que produzam cada
vez mais e melhor, e que, quando, explorados precisam dominar estratégias que
possibilitem a ampliação de conhecimentos das instituições.
A aprendizagem dos adultos não pode ser minimizada aos processos
capitalistas com foco no trabalho remunerado, tampouco na educação formal da
78
escola/universidade. Para além do mercado, ela favorece o desenvolvimento
social no âmbito pessoal e no coletivo, favorece a preservação da saúde, o
equilíbrio no bem-estar, o estímulo a valorização da vida e mantém as pessoas
em constantes renovações em busca por crescimentos que lhe deem prazeres
e satisfaçam as suas necessidades.
A Educação formal, pode ser uma ponte para a compreensão da
importância da aprendizagem na e para a vida, e, sobretudo, para a
aprendizagem durante a trajetória de vida. Afinal, os motivos da busca pela
aprendizagem formal não são resumidos ao campo econômico. Nessa ótica,
muitas vezes temos estudantes na EJA que não têm o trabalho remunerado
como atividade principal, e mesmo assim, participam das aulas, porque têm
prazer em aprender, realizar sonhos, socializar-se e libertar-se do estigma da
inferioridade impressa socialmente àqueles que não possuem
comprovação/participação na educação escolar.
Os motivos do trabalho são muitos e derivam das condições sociais objetivas em que ele transcorre. Mas considerando que o trabalho é a lei básica da humanidade, que é a partir dele que se produz e reproduz o gênero humano, o esperado é que os motivos e interesses individuais que o guiam encontrem-se, em alguma medida, vinculados aos interesses sociais. O trabalho representa a satisfação da necessidade mais peremptória do ser humano: a manifestação de si mesmo pela atividade, a transformação da intenção em feito. (RIOS; ROSSLER, 2017, p. 568).
Ter uma conceituação de aprendizagem precisa é uma tarefa ampla e
complexa, principalmente para uma Sociedade em Rede, pelo seu aspecto
“universal sem totalidade” (LÉVY, 1999, p. 111), ainda, que se tenha como base
o reflexo daquilo que é defendido, em sua gênese, pelas escolas tradicionais de
psicologia. Muitas vezes estas definições são singulares ou apresentam pontos
em comum. Illeris (2013, p. 06) defende que:
Embora a aprendizagem seja tradicionalmente compreendida como a aquisição de conhecimentos e habilidades, atualmente, o conceito cobre um campo muito maior, o qual inclui dimensões emocionais, sociais e da sociedade.
Visando traçar reflexões que possam endossar a escolha pela perspectiva
da aprendizagem adotada, neste trabalho, é preciso considerar que as
abordagens de aprendizagem historicamente desenhadas não foram
desvalorizadas e/ou descartadas. Consideramos apenas que são insuficientes
79
para compreensão da aprendizagem do adulto – em especial do professor,
levando em conta que – enquanto sujeito do conhecimento – ele tem um
comportamento ativo mediante o meio externo. Ou seja, a aprendizagem faz
parte do seu desenvolvimento e para o ser humano é intrínseca a um processo
de interações que privilegiam o desenvolver das funções psicológicas
superiores, as quais envolvem motivos e são culturalmente organizadas.
Nesse sentido, mediante o caminho escolhido, na busca por olhar a
aprendizagem à luz da Teoria Histórico-Cultural, identificamos a Teoria da
Aprendizagem Expansiva como capaz de fundamentalmente atender a demanda
de um novo desenho para a atividade docente com a adoção de dispositivos
móveis em sua prática, de modo que os aprendizes sejam envolvidos na
construção e no desenvolvimento de um objeto para sua atividade.
A Teoria da Aprendizagem Expansiva volta-se, então, para a
aprendizagem enquanto uma atividade em trabalho, situado nessa pesquisa
como o trabalho docente.
3.4 A Teoria da Aprendizagem Expansiva
A Teoria da Aprendizagem Expansiva (TAE) tem seus principais registros
a partir de 1987, tendo como expoente Irjo Engeström – importante pesquisador
da perspectiva Histórico-Cultural, fundador e líder do Center for Activity and
Developmental Work Research da Universidade de Helsinque/Finlândia. Na
perspectiva de Engeström, essa teoria encaminha-se para uma reconfiguração
da Teoria da Atividade, sendo defendida como uma proposta para a terceira
geração de pesquisas, nesse caso, a primeira formulada por Vygotsky (1978) e
a segunda por Leontiev (1979).
Figura 07 – Perspectiva de Engestrom das três gerações da TA
Fonte: A autora
80
3.4.1 A primeira geração da TA
Para Engström (2016), a primeira geração da Teoria da Atividade é
ancorada nos pensamentos de Vygotsky, que teve seu percurso enquanto
importante pesquisador do Comportamento Humano transformado a partir da
sua participação, no II Congresso Russo de Psiconeurologia, ocorrido em janeiro
de 1924. Com as interações desse evento, Vygotsky foi indicado por Luria para
trabalhar, no Instituto de Psicologia de Moscou, onde fez parte de uma equipe
de jovens cientistas que objetivaram formular e implementar uma teoria da
psicologia comportamental e marxista, a qual teve Leontiev e Romanovich como
seus colaboradores – e formaram o apelidado grupo “troika”. As proposituras de
Vygotsky eram divergentes daquelas defendidas naquela época, visto que
apontavam que “nenhuma das escolas de psicologia existentes fornecia as
bases firmes necessárias para o estabelecimento de uma teoria unificada dos
processos psicológicos humanos.” (SCRIBNER, 1985, p. 5).
A partir de as problematizações tendo a consciência humana enquanto
objeto de estudo da psicologia – contrariando, assim, as ideais defendidas pelas
teorias da psicologia da época –, os troika buscaram criar uma abordagem sobre
os processos psíquicos. Vygostky introduziu postulados acerca da natureza
social da psique do homem com o trabalho “Consciência como um problema na
psicologia do comportamento”, apresentado ao público em uma palestra
realizada em 1925. Ele defendia que a consciência era um fenômeno
histórico e social, influenciada pelas relações existentes; um entrelaçamento
de sistemas reflexos. Para Vygotsky (1925), “o homem não é de todo um saco
de pele cheio de reflexos e o cérebro não é um hotel para reflexos condicionais
que por acaso passam", e por isso, é necessário estudar o comportamento,
considerando a consciência como um problema da estrutura do comportamento.
No pensar desse estudioso não é possível compreender o comportamento
humano sem considerar a consciência.
De acordo com Vygotsky “o conceito de atividade pode fornecer um
sistema explanatório, no qual a consciência aparece como seu produto” (Apud.
KOZULIN, 1984, p. 206), ou seja, a atividade é quem gera a consciência
humana.
81
A proposta de Vygotsky era conservar o conceito de consciência da psicologia, convencido da necessidade de estudá-la como processo objetivo. E para superar a dicotomia entre objetivo e subjetivo, introduziu dois novos conceitos importantes, quais sejam, de mediação e de internalização. Examinou que, ao contrário dos animais, as relações entre o homem e os objetos de seu ambiente (mundo circundante) não podem ser resumidas pela fórmula S-R, quer dizer, uma resposta imediata aos estímulos exteriores. (NEVES; SALIM; VAILLANT, 2018, p.44).
Considerou, portanto, um modelo mediado em que, entre estímulo e
resposta (figura 08), fossem acrescentados os signos e instrumentos
mediadores psicológicos, de modo que a mediação tivesse foco na tríade sujeito
– objeto – artefato mediador (figura 09), buscando endossar a mediação
dialética, com os signos e os elos intermediários, que funcionam como estímulo
de segunda ordem e têm uma função especial.
Figura 08 – Modelo do ato mediado
Fonte: Vygotsky, 1978, p. 40.
Figura 09 – Reformulação usual do modelo de Vygotsky da ação mediada
Fonte: Vygotsky, 1978, p. 40.
82
Assim, vale reforçar que Vygotsky difere dois tipos de instrumentos
mediadores que se relacionam: as ferramentas e os signos. Uma vez que ele
colocou os signos em uma categoria mais ampla de ferramentas psicológicas.
Essa relação entre signos e ferramentas é expressa pelo teórico em consonância
com a imagem a seguir (figura 10):
Figura 10 – Relação entre signos e ferramentas
Fonte: Vygotsky, 1995, p. 93.
A mediação é, portanto, um conceito chave para a Teoria Histórico-
Cultural. Pode ser considerada como o processo que caracteriza a relação do
homem com o mundo e com os outros homens. É neste processo que as funções
psicológicas superiores se desenvolvem a partir de as ações intencionais. “Nas
formas superiores do comportamento humano, o indivíduo modifica ativamente
a situação estimuladora como uma parte do processo de resposta a ela.” (COLE;
SCRIBNER, 1991, p. 15).
“A mediação é um processo histórico-cultural, pois as ferramentas
semióticas são criadas no curso do desenvolvimento da cultura humana”
(NEVES; SALIM; VAILLANT, 2018, p. 45). A internalização das ferramentas
ocorre por meio de um processo gradual e interpsicológico – compreendendo
funções externas, divididas em interação entre um sujeito e outras pessoas –, a
partir da comunicação com outros seres humanos direcionando-se para um
processo intrapsicológico.
O conceito “pedra angular da TA” é, então, elaborado como a ação de um
sujeito mediada por artefatos e destinada a um objeto.
83
3.4.2 A segunda geração da TA
Na concepção de trabalho adotada pela Teoria Histórico-Cultural,
ancorada no pensamento filosófico do materialismo histórico-dialético de Marx,
“o processo de trabalho é atividade orientada a um fim para produzir valores de
uso, apropriação do natural para satisfazer as necessidades humanas.” (MARX,
1985, p. 153).
Em direção a segunda geração é preciso colocar que Leontiev, assim
como Vygotsky, fundamentou-se nos escritos de Marx em O Capital, o qual
defende o trabalho como um ato que se passa entre o homem e a natureza, no
sentido de dar uma forma útil à sua vida evidenciando duas importantes
características. A primeira voltada ao trabalho enquanto fabrico de instrumentos;
e, a segunda focada no trabalho enquanto atividade comum coletiva. Por isso,
Leontiev (1978, p. 265) afirma que o trabalho é “mediatizado simultaneamente
pelo instrumento e pela sociedade”.
A atividade humana possibilita que os homens se adaptem a natureza e
criem meios de produção e instrumentos que são aperfeiçoados ao longo dos
anos. Para Leontiev (1978, p. 265):
O instrumento é o produto da cultura material que leva em si, da maneira mais evidente e mais material, os traços característicos da criação humana. Não é apenas um objeto de uma forma determinada, possuindo dadas propriedades. O instrumento é ao mesmo tempo um objeto social no qual estão incorporadas e fixadas as operações de trabalho historicamente elaboradas.
O autor defende que apesar de ser conhecida a importância do contato
com os objetos e fenômenos criados pelo ser humano, esses não são suficientes
para o seu desenvolvimento, por ser sua relação com o mundo mediatizada, por
meio da linguagem, “condição necessária e específica da vida do ser humano
em sociedade” (Ibidem.). Para esse estudioso, a atividade objetiva constitui o
meio de investigação da consciência, sendo o estudo dessa última o fator mais
importante para a psicologia humana.
Leontiev avança ao trazer a coletividade para compreender a atividade humana: ao abordar a mediação, o faz sempre em relação ao coletivo, enquanto Vygotsky se centra na mediação entre pares – sujeito mediador e aprendiz, por exemplo: mãe e filho, professor e aluno. (CENCI; DAMIANI, 2018, p. 919).
84
A segunda geração apresenta uma análise voltada ao coletivo. A
atividade, na análise do teórico, é marcada por uma estrutura complexa que
sofreu, ao longo do tempo, mudanças decorrentes da necessidade da divisão
técnica do trabalho. Assim sendo, a atividade coletiva pode ser fragmentada em
ações individuais com objeto diferente daquele que é motivo da atividade
coletiva.
A miúde Leontiev considera a mediação por seres humanos diversos e as
relações sociais que estabelecem entre si. Defende que “nós podemos falar de
atividade do indivíduo, mas nunca de atividade individual; apenas ações são
individuais.” (ENGESTRÖM, 2016, p. 94).
A atividade é um molar, não uma unidade aditiva da vida do sujeito físico e material. Num sentido mais restrito, ou seja, no nível psicológico, é uma unidade da vida, mediada pela reflexão psíquica, cuja função real é orientar o sujeito no mundo objetivo. Em outras palavras, a atividade não é uma reação e não é uma totalidade de reações, mas um sistema que possui estrutura, suas próprias transições e transformações internas, seu próprio desenvolvimento. (LEONTIEV, 1983, p. 66).
Leontiev estrutura a atividade humana por meio de três categorias
básicas: atividade, ação e operação. A miúde, uma necessidade gera a
atividade humana, a qual pode ser biológica ou cultural. Esta atividade é
satisfeita quando encontra um objeto material ou ideal proveniente apenas da
imaginação ou da percepção concreta e, se organiza, por ações orientadas por
objetivos conscientes. As ações são possíveis através de operações com
esforço consciente, assim são internalizadas em certas condições configurando-
se em comportamentos rotineiros automatizados. Logo, ações são processos
com objeto e motivo que não coincidem um com o outro.
Segundo Leontiev, a estrutura hierárquica da atividade pode ser
esquematizada da seguinte forma:
85
Quadro 01 - Estrutura Hierárquica da Atividade
NÍVEL ORIENTADA PARA REALIZADA PELA
Atividade
Objeto/Motivo
Comunidade
Ação
Objetivo consciente Indivíduo ou grupo
Operação
Condições
Rotineira/Homem ou Máquina
Fonte: Center for Research on Activity, Development and Learning – CRADLE
A atividade humana está ligada diretamente aos seus motivos. Quando
ela perde o motivo, transforma-se em ação; ao mesmo passo, as ações com
motivos convertem-se em atividade. Leontiev assevera que todas as ações têm
motivos, mesmo que ocultos. Para o teórico “[…] la actividad ‘no motivada’ no
entraña una actividad privada de motivo, sino una actividad con un motivo
subjetiva y objetivamente oculto.” (LEONTIEV, 1983, p. 83).
Os motivos só compreensíveis, não coincidem com o objeto, ao contrário
de quando são realmente eficazes. Nessa perspectiva, vale exemplificar os
motivos eficazes com a atividade docente: quando um professor atua na função
docente por necessidade de recebimento de seu salário, o seu motivo é o salário
e não a atividade de ensino. Portanto, ele direcionou seu trabalho com foco
diferente do motivo real reconhecido socialmente para a atividade, ainda que
conceba a importância do ensino. Nesse exemplo, para o professor o motivo do
ensino-aprendizagem (em um processo dialético) é compreensível, entretanto, o
que realmente é o motivo eficaz, é o recebimento de seu salário. Isto traz uma
contradição entre significado e sentido. Para Leontiev (1978), esta contradição
origina a alienação ou a tomada da consciência.
O mapa conceitual a seguir apresenta as relações existentes entre os
principais conceitos da Teoria da Atividade.
87
Pode-se dizer que a atividade é estruturada por uma ou um conjunto de
ações sistematizadas em operações e dirigidas por objetivos pontuais. A
realização das operações depende das condições para que sejam apropriadas
pelo sujeito e tornem-se processos automatizados, internalizados. Vale ressaltar
que, o processo que Vygotsky (1995) chamou de internalização, Leontiev
(1978) denominou de apropriação.
Ambos compartilham o princípio de que o ser humano, à diferença dos outros animais, cria – e internaliza, segundo o primeiro teórico, ou apropria-se de, segundo o último – instrumentos físicos e simbólicos que alteram a sua relação com o mundo e consigo mesmo (sua própria consciência). Na relação com os objetos, o indivíduo incorpora a atividade mental e física neles presente. Esse movimento de apropriação implica reorganização das funções psíquicas e motoras para se adequar
ao objeto em questão. (CENCI; DAMIANI, 2018, p. 930).
A terceira geração, propõe um modelo que se estenda ao campo cultural,
buscando percepções a respeito do papel de coletivos humanos em atividade.
3.4.3 A terceira geração da TA
Engestrom (2013) critica as gerações anteriores da TA dizendo que, na
perspectiva da primeira geração, a unidade de análise permanecia centrada no
indivíduo, o que foi superado pela segunda geração. Porém, Leontiev não propôs
um modelo graficamente expandido. Com a internacionalização da TA, “as
questões ligadas a diversidade e ao diálogo entre diferentes tradições ou
perspectivas se tornaram desafios cada vez mais sérios” (ILLERIS, 2013, p. 71).
Desafios estes considerados na terceira geração.
Na terceira geração, a partir da proposta de Leontiev, é introduzido o
conceito de Sistema de Atividade, com inserção de novos elementos. Para
Engestrom (2010), o trabalho humano é cooperativo desde o princípio não
existindo atividades individuais. Essas atividades fazem parte de um sistema de
relações bastante ampliado, apenas ações são individuais. Engestrom (2002, p.
36), propõem um novo sentido para o modelo da atividade que foi inicialmente
estruturado da seguinte forma:
88
Figura 12 – A estrutura da atividade humana proposta por Engestrom
Fonte: Engestrom, 2016, p. 105.
Na estrutura apresentada, os instrumentos são ferramentas e signos
utilizados pelo sujeito (ou sujeitos) que mantém uma relação direta com as
regras, normas e padrões sociais e a comunidade na qual está sendo
desenvolvida a atividade em que todos compartilham o seu objeto, com foco em
um resultado enquanto produto. Quando se trata da divisão do trabalho, exibem-
se as funções dos indivíduos na atividade. Essas funções podem ser distribuídas
de forma horizontal, natural ou hierárquica. Os raios simbolizam as contradições
entre os componentes centrais do sistema de atividades; entre objeto e divisão
do trabalho e entre objeto e artefatos mediadores/instrumentos. A tabela a seguir
detalha os elementos de forma clara e objetiva:
89
Quadro 02 - Elementos do Sistema de Atividade
ELEMENTO DEFINIÇÃO
Artefatos mediadores
Faz a mediação entre o sujeito e o objeto em uma atividade.
Pode ser qualquer coisa usada pelo sujeito no processo de
transformar o objeto em resultado – pode ser algo físico como
uma caneta ou um computador, ou mesmo psicológico como a
linguagem.
Sujeito Indivíduo ou grupo que é escolhido sob o ponto de vista da análise.
Objeto
Refere-se à matéria-prima ou espaço do problema em que a atividade é dirigida e que é moldada e transformada em resultados, com a ajuda dos artefatos mediadores. O objeto representa a natureza objetiva da atividade humana e permite que os indivíduos controlem seus próprios motivos e comportamento ao realizar a atividade. A atividade humana é direcionada à satisfação de determinados objetivos. Em razão disso, o termo objetivo pode ser entendido no lugar de objeto para enfatizar a natureza da atividade humana.
Comunidade
Indivíduos e/ou grupos que compartilhem o mesmo objeto do sujeito. A comunidade situa a atividade em estudo dentro do contexto sociocultural daqueles sujeitos que compartilham o mesmo objeto da atividade. O relacionamento entre os sujeitos e a comunidade é mediado por regras e divisão do trabalho.
Divisão do trabalho Refere-se tanto a divisão horizontal de tarefas entre os membros da comunidade quando na divisão vertical de poder e status.
Regras Se referem aos regulamentos explícitos e implícitos, normas e convenções que restringem as ações e interações dentro do sistema da atividade.
Fonte: Francisco (2015, p.11) adaptado de Engestrom (1987).
Engestrom pondera sobre a limitação da perspectiva de Leontiev e propõe
a expansão desse modelo, considerando que sendo a atividade um conceito
social é inevitável conceber que existe uma relação entre diferentes atividades,
em um relacionamento que configura um Sistemas de Atividades.
A partir do que é considerado por Davydov (1990) como monismo, foi
possível desenvolver toda uma nova teoria de maneira consistente tendo por
base uma ideia ou célula inicial; assim foi desenvolvida a Teoria da
Aprendizagem Expansiva tendo como célula inicial a estrutura proposta por
Leontiev.
Avançar proposituras para a Teoria da Atividade permite concebê-la como
espelho da atividade humana, ou seja, “multifacetada, móvel e rica em variações
de conteúdo e forma” (ENGESTROM, 1999, Tradução nossa). É preciso não a
90
minimizar em indivíduos, mas expandi-la para o contexto das diversas atividades
que se comunicam socialmente, formando uma teia de interconexões. Vale ainda
salientar que um mesmo indivíduo pode estar envolvido em diferentes sistemas
de atividades com motivos a fins, o que nos obriga a perceber a Atividade
Humana enquanto sistema inclusive para o próprio sujeito.
Para auxiliar a restringir e definir as principais dimensões da própria ideia
de Atividade em um movimento dialético, no livro “Perspectivas da Teoria da
Atividade” Engestrom (1999, p. 03) propõe seis temas, apresentando pontos de
vistas opostos que acaloram discussões a respeito da TA e dicotomias.
Como um dos importantes pontos de discussão aparece a questão da
tradução. Engestrom (1999) reconhece e respeita pesquisadores como Schurig
(1988) reclamantes de que a tradução do termo original alemão Tdtigkeit para o
inglês – apresentado como atividade ou ativação – não é capaz de explicar o
seu real significado. Nesse quesito, Prestes (2010) aponta concordância em sua
tese “Quando não é a mesma coisa: análise de traduções de Lev Semionovitch
Vigotski no Brasil, repercussões no campo educacional traduções equivocadas”.
Em análise linguística essa estudiosa afirma que fala virou linguagem e instrução
virou aprendizagem. Prestes (2010, p.184) diz que:
(…) as traduções de Vigotski em diferentes línguas tratam ora de “ensino”, ora de “aprendizagem”, ou dos dois termos juntos, quando na realidade o autor está se referindo ao processo simultâneo de “instrução”, “estudo” e “aprender por si mesmo”. Não são raros os momentos nos quais os tradutores pecam, alterando o texto original e tendo pouco cuidado com o sentido daquilo que Vigotski diz com muita clareza no russo.
Mas, indo além disto, Engestrom (1999) considera que a insistência em
um termo não poderia evitar uma indefinição conceitual, e valoriza uma
consciência quase generalizada da diferença entre os termos traduzidos
atividade ou ativação.
Retomando as dicotomias apontadas por Engestrom (1999), elas foram
organizadas em seis:
A primeira delas apresentada por Engestrom, volta-se ao Processo
psíquico versus Atividade relacionada a objetos. Nesse sentido, apoia-se em
Brushlinsky (1987; 1990 apud Engestrom, 1999) que argumenta que “a psique
91
age objetivamente antes de tudo como um processo, sempre ininterrupto, ao
vivo, extremamente plástico e flexível, nunca totalmente predeterminado.” O
teórico segue a reflexão afirmando que:
A atividade relacionada ao objeto do sujeito é descontínua, enquanto o processo psíquico não é, o que torna apenas este último um processo no sentido restrito. A implicação é que ações e atividades relacionadas a objetos são formações secundárias que emergem como produtos ou resultados do processo psíquico contínuo. O problema aqui é que a origem da atividade parece ser reduzida a uma fonte psíquica individual e interna. Isso eliminaria a natureza fundamental e cultural e social da atividade, tão enfaticamente colocada pelo princípio da relação com os objetos da atividade. (ibdem, tradução nossa)
A segunda dicotomia trata da Ação direcionada a objetivos versus
Atividade relacionada a objetos pela qual a ação individual é considerada a
unidade de análise e a chave para a compreensão do funcionamento humano,
com dificuldades para explicar os aspectos socialmente distribuídos ou coletivos,
bem como os aspectos culturais ou mediados por artefatos do comportamento
humano intencional.
A terceira dicotomia trata da Produção mediada por ferramentas
instrumentais versus expressiva comunicação mediada por sinais, na qual
teóricos como Kozulin (1984) e Valsiner (1988) tratam o trabalho de Leontiev
como uma supressão da ideia original vygotskiana de mediação semiótica.
“Dizem que a comunicação e a mediação por sinais são negligenciadas ou
suprimidas nesta versão da teoria da atividade.” (ENGESTROM, 1999, p. 24).
Por outro lado, outros teóricos defendem os modos como Leontiev analisa a
atividade, clarificando questões como distinção entre atividade e ação.
A quarta dicotomia diz respeito ao Relativismo versos Historicidade.
Apesar de ter a Teoria da Atividade suas origens na Psicologia Histórico-Cultural,
a abordagem da historicidade é pouco discutida, tendo como contribuinte notável
nesta seara Sylvia Scribner (1985). Isto é decorrente de interpretações duras da
visão marxista-leninista da história, nas quais podem envolver questões
“suspeitas” do que é primitivo ou avançado. Essa interpretação é apontada ao
afirmar que:
92
As diferenças de cognição entre culturas, grupos sociais e domínios de prática são comumente explicadas sem analisar seriamente o desenvolvimento histórico que levou a essas diferenças. (ENGESTROM,1999, p. 25, tradução nossa).
A quinta dicotomia, apontada foi: Internalização versus Criação e
Externalização. Grosso modo, o paradigma da internalização tem sido
considerado o principal mecanismo psicológico descoberto pela escola histórico-
cultural ao passo que são poucos os exames de como são criados os artefatos
para o sujeito facilitar seu próprio desempenho. Os trabalhos de Vera John-
Steiner (1985) sobre criatividade podem ser considerados pioneiros nessa
direção.
A sexta e última dicotomia aborda acerca do Princípio da Explicação
versus Objeto de estudo. Defendendo que “quando a atividade é tomada apenas
como um princípio de explicação, parece que o resultado geralmente é um
exercício conceitual sem fim, com escasso embasamento empírico.”
(ENGESTROM,1999, p. 26).
Outra questão importante a ser considerada quando se trata da ideia de
Engeström a respeito da Teoria da Atividade é que a internalização e
externalização ganham nova leitura, considerando que um ciclo expansivo os
envolve. Uma nova estrutura da atividade exige que se reconheça o que se
deseja transcender, em uma análise é preciso uma apropriação reflexiva dos
modelos e ferramentas culturalmente avançados existentes, os quais
desviam as contradições internas. Porém, isto não é suficiente para a
constituição de nova estratégia. Conforme o ciclo avança, o design e a
implementação de um novo modelo de atividade se potencializam; é quando a
externalização começa a dominar. (Ibidem., p. 34)
93
Figura 13 – Internalização e externalização no ciclo expansivo
Fonte: Engestrom, 1999, p. 30.
o sistema do ciclo expansivo de uma atividade, começa com uma ênfase quase exclusiva na internalização, na socialização e no treinamento dos novatos para se tornarem membros competentes da atividade, como é rotineiramente realizada. A externalização criativa ocorre rapidamente na forma de inovações individuais discretas. Como as perturbações e contradições da atividade se torna mais exigente, a internalização assume cada vez mais a forma de auto-reflexão crítica – e a externalização, uma busca por solução, aumenta. A externalização atinge seu auge quando um novo modelo para a atividade é projetado e implementado. (ENGESTROM, 1999, p. 34)
Para explicar o design da atividade baseada no Sistema de Atividade
proposto, o teórico citado apresenta a figura a seguir (figura 14), na qual os
objetos da atividade se interseccionam dando origem a um novo objeto.
Figura 14 – Sistema de Atividade proposto por Engestrom
Fonte: Engestrom, 1999.
94
De acordo com Engestrom, (1999, p. 36):
pode ser útil tentar olhar para a sociedade mais como uma rede multicamada de sistemas de atividades interconectados e menos como uma pirâmide de estruturas rígidas dependentes de um
único centro de potência.
3.5 A expansão da atividade aprendizagem
A Teoria da aprendizagem expansiva (TAE) pode ser situada com base
em três questões apontadas por Engestrom (2016, p. 369):
A aprendizagem é principalmente um processo que transmite e preserva cultura ou um processo que transforma e cria cultura? A aprendizagem é principalmente um processo de desenvolvimento vertical junto com algumas escalas uniformes de competência ou um movimento horizontal, de troca e hibridização entre diferentes contextos culturais e padrões de competência? A aprendizagem é principalmente um processo de aquisição e criação de conhecimento e conceitos empíricos ou um processo que conduz à formação de conhecimentos e
conceitos teóricos?
Em síntese, leva-nos a compreender a aprendizagem expansiva como um
processo de criação de cultura dando preferência a comunidades aprendizes,
enquanto movimento horizontal de trocas e hibridização de diversos contextos
culturais e padrões de competência, em um processo que conduz o sujeito para
a formação de conhecimentos e conceitos teóricos.
A teoria do aprendizado expansivo deve se apoiar em sua própria metáfora: expansão. A ideia central é qualitativamente diferente de aquisição e participação. No aprendizado expansivo, os alunos aprendem algo que ainda não existe. Em outras palavras, os alunos constroem um novo objeto e conceito para sua atividade coletiva e implementam esse novo objeto e conceito na prática. (ENGESTROM; SANNINO, 2010, p. 2, tradução nossa).
O teórico aborda que a teoria da Aprendizagem Expansiva tem raízes
fundamentais, como aponta o quadro 03, as quais serão tratadas uma a uma, a
seguir:
95
Quadro 03 - Raízes fundamentais da Aprendizagem Expansiva
1ª Ação separada de atividade (Leontiev)
2ª Zona de Desenvolvimento Próximo (Vygotsky)
3ª Teoria Orientada para o objeto
4ª Teoria dialética e o significado de contradição
5ª Ascensão do abstrato ao concreto (Davidov)
6ª Dupla estimulação (Vygotsky)
7ª Níveis de aprendizagem (Batson)
8ª Multivocalidade (Bakhtin)
Fonte: A autora
A primeira raiz situa-se nos estudos de Leontiev (1981) quando apresenta
a separação da ação e da atividade. Essa ideia é explicada a partir de uma
caça tribal, na qual os sujeitos desenvolvem ações diferentes na atividade
coletiva. A aprendizagem expansiva é o movimento de ações voltadas para a
atividade.
A segunda raiz, pauta-se no conceito de zona de desenvolvimento
“proximal” enquanto:
(…) a distância entre o nível real de desenvolvimento conforme determinado pela solução independente de problema e o nível de desenvolvimento potencial conforme determinado por meio da solução de problema sob orientação de adulto ou
colaboração de pares mais capazes. (Engestrom, 2016, p. 375)
Na Teoria da Aprendizagem Expansiva este conceito foi remodelado,
como o espaço para a transição expansiva de ações para a atividade
(ENGESTROM, 2000).
A terceira raiz está no fato de a aprendizagem expansiva ser
fundamentalmente uma teoria orientada para o objeto, com motivos e motivação
procurados primeiramente no objeto a ser transformado e expandido.
A quarta raiz, está em a teoria da aprendizagem expansiva ser uma teoria
dialética, tendo o conceito de contradição como uma parte muito importante
tendo em vista ser uma força propulsora da transformação.
Para Engestrom (2014), as contradições são necessárias, mas não são
suficientes para mover a aprendizagem expansiva em um sistema de atividade.
Tais contradições podem ser primárias ocorrendo dentro de qualquer um dos
nós do sistema de atividade; podem ser secundárias, entre dois ou mais nós;
terciárias, surgindo entre um recém-estabelecido modo de atividade e entre os
96
remanescentes do modo de atividade anterior; ou ainda, quaternárias, entre a
recém-reorganizada atividade e seus sistemas de atividade vizinhos. Para o
teórico, “conflitos, dilemas, perturbações e inovações locais podem ser
analisados como manifestações das contradições” (Ibidem).
A quinta raiz está na teoria da atividade de aprendizagem baseada no
método dialético de ascensão do abstrato ao concreto de Davidov (1990), no
qual a atividade de aprendizagem leva à formação de conceitos teóricos.
Ressalta-se que Davidov, enquanto um dos principais fomentadores da Teoria
da Atividade de Aprendizagem concentra suas reflexões considerando apenas
as crianças do ensino primário. Para esse estudioso, a atividade de
aprendizagem segue uma sequência ideal típica, como apresentado na imagem
a seguir:
97
Figura 15 – Sequência ideal típica de Davidov
Fonte: Engestrom (2016, p.378) adaptado pela autora.
98
Na TAE o conceito de atividade de aprendizagem cunhado por Davidov
amplia-se para que os desafios – externos a escola e a sala de aula – possam
ser enfrentados.
A atividade de aprendizagem, considerando Leontiev (1981, p. 402), pode
se apresentar sistematicamente em quatro passos. Inicialmente é necessário
existir um motivo que seja valorizado culturalmente para uma atividade
avançada, simultaneamente, com a atividade dominante do sujeito. Na
consciência do sujeito, a primeira atividade (não a sua dominante) existe apenas
como um motivo compreensível. No segundo passo, os representantes de
determinada cultura induzem o sujeito a se engajar em ações da atividade mais
avançada. No terceiro passo, o motivo “compreensível” da atividade mais
avançada passa a ser “eficaz” em conformidade com ações que excedem os
motivos dos limites da atividade principal. Por fim, no quarto passo, o novo
motivo e atividade assumem o papel principal.
Contudo, Engestrom (2014, p. 157) critica afirmando que:
Leontiev busca o mecanismo do surgimento de novas atividades na contradição entre o motivo da atividade anterior e o motivo da atividade nova e mais avançada. O problema e o caráter externo dessa contradição. Parece que a semente do conflito, o novo motivo, foi ‘transplantada’ de fora pelos sábios homens da cultura. Neste quesito, Leontiev falha ao penetrar na contradição interna dentro da atividade anterior.
Para Engestrom, o surgimento ontogenético da atividade de
aprendizagem nas sociedades capitalistas possui maior probabilidade de ocorrer
na adolescência, ou até mesmo, na fase adulta, uma vez que o sujeito se depara
com as contradições históricas ou mesmo as individuais dentro de sua atividade
principal.
A sexta raiz fundamental da aprendizagem expansiva está pousada no
sentido de dupla estimulação de Vygotsky, no qual o sujeito recebe em um
primeiro estímulo uma tarefa difícil, e, como segundo estímulo um artefato
externo que pode levá-lo a remodelar a tarefa. “A aprendizagem expansiva exige
tipicamente intervenções formativas baseadas no princípio da dupla
estimulação”.
99
A sétima e penúltima raiz, está fundamentada no pensamento do
antropólogo Batson (1972), conceituando os níveis de aprendizagem:
a aprendizagem é um processo comunicacional e que não pode ser desvinculado do seu contexto, existindo em três níveis de aprendizagem: (i) Aprendizagem I, como o processo que se refere basicamente ao condicionamento do comportamento; (ii) Aprendizagem II, que se refere à aquisição de regras fundamentais e padrões de comportamento; e, (iii) Aprendizagem III, a partir do qual o indivíduo inicia a questionar radicalmente o sentido e o significado a fim de amplia-lo por meio de um esforço coletivo. Assim, a aprendizagem de terceiro nível consiste em modificar as premissas nas quais as aprendizagens de nível I e II estão alicerçadas. Os indivíduos atingem a aprendizagem de nível III quando contradições, inadequações, bloqueios ocorrem no nível imediatamente inferior, conduzindo à necessidade de reformular os preceitos que regem os modelos de comportamento. É importante lembrar que contradições, tensões e inadequações continuam surgindo a todo o momento, visto que são inerentes à atividade humana. Contudo, o nível III trata-se de aprender a aprender, ou seja, analisar, continuamente, de forma reflexiva, crítica e sistemática, a
atividade presente e suas contradições e tensões. (BATSON, 1972, apud. CAMPOS; PALMAS, 2017, p. 13)
O nível III de aprendizagem de Batson é o mesmo que atividade de
aprendizagem expansiva.
Dentro da teoria da aprendizagem expansiva, a noção de Batson de vínculo por oposição pode ser interpretada como um dilema social, socialmente essencial que não pode ser resolvido só por ações individuais separadas – mas nas quais as ações cooperativas conjuntas podem impulsionar para o surgimento de uma forma historicamente nova de atividade. (ENGESTROM,
1987, p. 165)
A oitava e última raiz está na ideia de multivocalidade postulada por
Bakhtin (1982), que além de considerar o sujeito um ser social defende que esse
interage por meio da linguagem, sendo o discurso visto como a linguagem em
uso e carregado de ideologia. Em resumo, a perspectiva da multivocalidade,
volta-se a interação do sujeito com o meio social.
Ao tratar de discurso, o filósofo Bakhtin (1997, p. 181) concebe:
a língua em sua integridade concreta e viva e não a língua como objeto específico da linguística, obtido por meio de uma abstração absolutamente legítima e necessária de alguns aspectos da vida concreta do discurso.
100
A multivocalidade considera as múltiplas vozes sociais possíveis sendo
essas responsáveis pela constituição de linguagens sociais, e, também, pela
composição de grupos nos quais os sujeitos constroem uma consciência acerca
de contextos formando comunidades de linguagem, com uma identidade própria.
Aplicar esse conceito em aprendizagem expansiva, conforme Engestron (2014,
p. 379), significa considerar que “todas as vozes conflitantes e complementares
de vários grupos e estratos no sistema de atividade em análise serão envolvidos
e utilizadas”.
O entrelaçamento das oito raízes ora mencionadas, leva a aprendizagem
expansiva, com a formação de um objeto novo, expandido e de padrão de
atividade orientado ao objeto. A atividade de aprendizagem expansiva, portanto,
consiste em um triplo alicerce: modelo expandido de atividade, conceito teórico
correspondente e novo tipo de organização.
Na aprendizagem expansiva, aprender envolve a formação e utilização de diferentes tipos de artefatos culturais, tais como modelos, conceitos e teorias que ajudam a compreender o assunto e a construir o sistema teoricamente na prática. (LEMOS; QUEROL; PEREIRA; ALMEIDA, 2014, p. 410).
Na atividade de aprendizagem expansiva, as ações do abstrato para o
concreto se dão por meio de ações epistêmicas (puramente cognitivas), que
formam um ciclo expansivo ou espiral.
Figura 16 – Sequência de ações de aprendizado em um ciclo de aprendizagem expansiva
Fonte: Engestrom (1999, p. 384)
101
Os ciclos em larga escala são sistematizados a partir de inúmeros ciclos
menores de ações de aprendizagem. Esses ciclos menores são chamados de
ciclos em miniatura e caracterizados pelo teórico como potencialmente
expansivos. Um clico expansivo completamente desenvolvido é raro e requer
esforço concentrado e intervenções deliberadas. Assim, mensurar uma
aprendizagem expansiva não é tarefa simples e pode levar muitos anos.
Na teoria de aprendizagem expansiva, os critérios e medidas de aprendizado são construídos por meio de análise histórica. Tal análise visa a identificar as contradições que precisam ser resolvidas e mapear a zona de desenvolvimento proximal que precisa ser atravessada a fim de se mover para além das contradições existentes. Isso exige formas eficazes de articular e delinear a zona historicamente possível de desenvolvimento proximal. (ENGESTROM, 2014, p. 389).
A sequência esquematizada é um ciclo que supera contradições e
problemas, que de acordo com Lemos et. al. (2014, p. 410) “são tensões entre
elementos de um sistema de atividade, assim como entre sistemas de atividade,
os quais surgem em momentos diferentes”. As primeiras contradições que
surgem são reconhecidas como contradições primárias e apontam para um
estado de necessidade. Logo, no início do ciclo, essas contradições emergem
na identificação do problema a ser solucionado e na necessidade de mudança
na atividade. Em um segundo momento, no qual o agravamento do problema
ocorre, em razão das pessoas reconhecerem o problema, mas não saber como
solucioná-lo, alguns distúrbios começam a ameaçar a obtenção dos resultados
e, deste modo, tem-se a fase de “vínculo duplo” com as contradições
secundárias. As contradições terciárias surgem quando, a partir do desenho de
uma nova atividade e de sua implementação, são enfrentadas tensões. Apenas
após solucionadas as contradições quaternárias, geradas pela colisão entre as
ações da nova atividade e resquícios da atividade anterior, a atividade seguirá
para sua consolidação.
As crescentes experiências com essa teoria têm sido abordadas em
estudos empíricos e intervencionistas, como este.
102
4 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EJA VOLTADA À APRENDIZAGEM EXPANSIVA PARA ADOÇÃO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS Estando a EJA incluída na Educação Básica, a LDB em seu Artigo 4º,
define, em relação a educação escolar pública, que é um dos deveres do Estado
garantir a:
oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola (BRASIL, 1996, grifo nosso).
Nessa visão, entende-se que a formação dos professores para atuação
na Educação Básica deve tratar das características e necessidades dos sujeitos
da modalidade EJA com a mesma atenção destinada aos demais sujeitos. No
entanto, a formação de professores para atuação na EJA, desde as licenciaturas,
é tão complexa quanto a modalidade a que se destina, assim consideram
Ventura e Bonfim (2015, p. 214) ao mencionarem “o silêncio existente nos cursos
de licenciatura em relação à EJA”. E, da mesma forma que a modalidade, a
formação de professores para EJA segue em local de exclusão, num
afastamento entre a realidade e o que está apregoado em Lei. Para Soares
(2005, p. 274):
Ainda que não seja uma questão propriamente nova, é somente nas últimas décadas que o problema da formação de educadores para a EJA ganha uma dimensão mais ampla. Esse novo patamar em que a discussão se coloca relaciona-se à própria configuração do campo da Educação de Jovens e Adultos. Nesse sentido, a formação dos educadores tem inserido na problemática mais ampla da instituição da EJA como um campo pedagógico específico que, desse modo, requer a profissionalização dos seus agentes.
As discussões sobre profissionalização docente são atualmente bastante
amplas, perpassando algumas das questões que serão aqui destacadas a fim
de identificarmos caminhos para profissionalização do professor da EJA.
Entretanto, o reconhecimento desta profissionalização nos exige reflexões
iniciais acerca de as tensões da atividade pedagógica do docente da EJA.
Logo, esta seção tem o objetivo caracterizar as tensões da atividade
pedagógica do docente de EJA refletindo sobre a profissionalidade docente para
a sua prática.
103
4.1 As tensões da atividade pedagógica do docente da EJA
Desde o I Congresso Nacional de Educação de Adultos, ocorrido em
1947, no Rio de Janeiro, “já se ressaltavam as especificidades das ações
educativas em diferentes níveis e se recomendava uma preparação adequada
para se trabalhar com adultos” (SOARES, 2008, p. 02). Necessidades estas que
são ressaltadas 10 anos depois no II Congresso Nacional de Educação de
Adultos, no qual houve críticas em relação a falta de métodos e conteúdos
pensados especificamente para este público.
Como reconhecido historicamente, oriunda dos Movimentos Populares
em processos informais, a formação de professores para a Educação de Jovens
e Adultos teve sua oficialização, no Brasil, no final da década de 80, período de
buscas em prol da redemocratização e do fortalecimento dos direitos sendo um
deles a Educação.
Em 1997, com reflexões iniciadas em 1995/1996, é criado o Grupo de
Trabalho (GT) de Educação de Pessoas Jovens e Adultas, na ANPED –
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação –, a partir do
diálogo entre os participantes do GT de Educação Popular e Movimentos Sociais
em que foi identificada a necessidade de lócus próprio para debates referentes
a essa área. Anos depois, em 2005, o “Conselho Nacional (CNE) orientou e
estimulou cursos em todo o país a reverem suas ofertas, tendo como
fundamentos, concepções e princípios, orientadores do documento legal”
(PAIVA, 2016, p. 25). Nesse ano, os dados do INEP mostraram que apenas
1,59% dos cursos de Pedagogia do país ofereciam Habilitação em EJA. Mesmo
após coletivos das instituições públicas de ensino superior colocarem-se a refletir
em debates sobre a habilitação do pedagogo e sua atuação.
A inclusão da EJA nas habilitações dos cursos de Pedagogia e sua
presença nas demais licenciaturas, até os dias atuais, se dá de forma muito
tímida, o que é agravado devido à ausência de políticas públicas específicas
para esta modalidade. Fato esse que não minimiza o seu legado, enquanto
Educação Popular pautada em princípios da conscientização de uma realidade
social capitalista e opressora para os menos favorecidos. Como defende Arroyo
(2008, p. 223), de forma tão cabível para o momento atual:
A educação popular, a EJA e os princípios e concepções que as inspiraram na década de sessenta continuam tão atuais em
104
tempos de exclusão, miséria, desemprego, luta pela terra, pelo teto, pelo trabalho, pela vida. Tão atuais que não perderam sua radicalidade, porque a realidade vivida pelos jovens e adultos populares continua radicalmente excludente.
Reconhecer a sua radicalidade, faz-nos pensar na urgência gritante da
formação de professores de EJA, no sentido de compreendermos que ser
diplomado em uma licenciatura não é o suficiente para o desenvolvimento da
consciência quanto ao papel da Educação para os sujeitos desta Modalidade de
Ensino. Tendo essa consciência, como uma construção social em que o
professor só é capaz de desenvolver a sua formação a partir de um continuum
que envolve a relação com os estudantes e as suas aprendizagens, a reflexão
para a prática e atividade pedagógica, e a ação intencional destinada a esses
sujeitos. Como defende Moreira et. al. (2011, p. 18):
A consciência é resultado de uma atividade intencionada a um objeto. A atividade do ser humano sobre o mundo é constituinte da consciência e é inerentemente coletiva, o que implica a
origem social da consciência.
Logo, a Formação inicial de Professores da EJA tem como objeto a
Atividade Pedagógica considerada a partir de uma unidade entre atividade de
ensino e atividade de aprendizagem, apesar de adotarmos que são
representadas de formas distintas por sujeitos diferentes – sendo ora o
professor, ora o aluno o sujeito envolvido –, mas incontestavelmente são
atividades complementares no âmbito escolar. De acordo com Nascimento e
Moura (2018, p. 58):
A atividade pedagógica é uma atividade porque ela representa uma síntese de um projeto coletivo e de uma necessidade coletiva, dados pela finalidade do trabalho escolar; possui um plano de ação coordenado no qual faz coincidir o motivo dos sujeitos com os objetos da atividade; e constitui-se em uma atividade dos sujeitos que dela participam, professores e estudantes.
Nesse sentido, Formação de Professores e a Atividade Pedagógica fazem
parte de um mesmo Sistema de Atividades (figura 17) configurado de forma
dialógica e, sobretudo, possibilitando o estabelecimento de um novo objeto. Os
instrumentos que fazem parte da Atividade de formação de professores são os
fundamentos teóricos, históricos e metodológicos, que devem ser internalizados
para viabilização do ensino enquanto resultado e externalizados pela própria
atividade pedagógica.
105
Figura 17 – Sistema de Atividades Formação de Professores x Atividade Pedagógica
Fonte: A autora
106
Tratar da atividade pedagógica, na modalidade EJA, nos encaminha às
dimensões que a envolvem, em busca de compreensão de sua historicidade e
suas tensões, pautadas na cultura em que está imersa interligando seus
instrumentos, regras, sujeitos e objeto.
Nessa direção apontamos à primeira grande tensão da Atividade do
Docente da EJA: uma formação inicial concebida em licenciaturas que, por sua
natureza de formação inicial, traçada em fundamentos teóricos e práticos da
Educação, necessita ser ampliada rumo a prática consciente com tal público.
Afinal, como defende Freire (1996, p. 26) “o inacabamento do ser ou sua
inconclusão é próprio da experiência vital”.
É oportuno colocar que a maioria dos docentes que atuam na EJA, não
iniciaram seu percurso de carreira neste campo e, assim, carregam premissas
próprias da Educação voltada para crianças na idade escolar considerada ideal.
Entretanto, sua formação inicial é conduzida em boa parte do currículo por
estudos direcionados para a Educação de crianças. Portanto, mesmo no início
da carreira, os docentes da EJA precisam constituir novas formas de atividade
para atendimento da escolarização das pessoas jovens, adultas e idosas. Muitas
vezes, necessitam apreender atividades baseadas em conceitos e instrumentos
completamente novos para eles.
Essa tensão se dá inicialmente por serem as licenciaturas muito amplas
em seus campos de atuação, em especial a Pedagogia, compreendendo a
Educação de Jovens e Adultos como uma área de aprofundamento ou
especialização (de acordo com dados do INEP 2019, não temos, no Brasil, uma
licenciatura voltada para a Educação de Jovens e Adultos). E, secundariamente,
por termos uma sociedade que exige do profissional licenciado em Educação um
perfil ampliado, capacitando para a atuar em várias frentes da Educação Básica
sendo inovador e constantemente atualizado, o que traz à tona a realidade do
professor ser como argumenta Moura (2002, p. 153): “uma pessoa que sofre as
consequências de uma sociedade em profundas e constantes mudanças”.
Todavia, é importante ressaltar que delimitar o perfil docente para atuação
junto a Educação de Jovens e Adultos pode causar inúmeros descompassos,
uma vez que as licenciaturas não têm obrigatoriamente um Projeto Político
Pedagógico (PPP) que abarque as questões da Educação de cunho Popular,
107
com a identificação do que é mais ou menos valoroso no processo de ensino
para a conquista da consciência e reconhecimento da importância social da EJA.
A significação social da atividade pedagógica do educador é justamente proporcionar condições para que os alunos aprendam, ou melhor, engajem-se em atividades de aprendizagem. (ASBAHR, 2005, p.113).
Porém, reconhecer quais são as aprendizagens almejadas e definir o quê
e como se deve ensinar aos estudantes da EJA extrapola as limitações do
currículo formal, pois exige que o professor compreenda a realidade desses
estudantes em direção a sua transformação, e, também, possa estabelecer
metodologias que se adéquem a essa necessidade. Desse modo, é
encaminhada a segunda tensão indicando outro fator que merece atenção
quando falamos na atuação do professor da EJA: a identificação do que se
espera do processo educacional para este público, ou seja, o que cabe ao
currículo escolar, pautado nas habilidades e competências almejadas e nas
diretrizes nacionais que a orientam. Afinal, quando observadas as necessidades
de vida dos estudantes, uma Educação conteudista não é o bastante para uma
formação cidadã voltada para a aprendizagem ao longo da vida. Nesse sentido,
o currículo da EJA deve ser pensado de forma singular e dinâmica superando
uma vertente tradicional.
(…) historicamente, a mais tradicional e utilizada forma de se compreender um currículo é aquela que o percebe como o conjunto dos conteúdos programáticos estabelecidos para as disciplinas e séries escolares, ideias já incorporadas ao senso comum e repetidas como base do trabalho pedagógico e, inúmeras situações. Essa visão (...) é precária do ponto de vista do que chamamos de práticas curriculares, pois deixa de considerar as práticas concretas daqueles que transmitem esses conteúdos cotidianamente, bem como o caráter dinâmico e singular dos currículos efetivamente desenvolvidos. (OLIVEIRA, 2008, p. 231).
Na busca por atender essa singularidade curricular para EJA, as Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN) para a Educação de Jovens e Adultos – Parecer
11/2000, resultante de audiências públicas e teleconferências com
representantes dos órgãos normativos e consultivos dos sistemas – são
regulamentadoras para aqueles que oferecem tal modalidade de forma
presencial ou semipresencial orientando os projetos pedagógicos em todo o
país, focados na conclusão das etapas da Educação Básica e sua certificação.
108
Esse documento foi necessário para acolher “a imensa demanda por respostas
e esclarecimentos de instituições municipais, estaduais e federais sobre as
diferenças decorrentes das especificidades desse espaço” (MAURÍCIO, 2020, p.
46) em relação aos demais espaços da Educação Básica, visto que as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio não a atendia.
A Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de
Educação (CNE) teve aprovados o Parecer CEB nº 4 em 29 de janeiro de 1998 e o Parecer CEB nº 15 de 1º de junho de 1998 e de cujas homologações, pelo Sr. Ministro de Estado da Educação, resultaram também as respectivas Resoluções CEB nº 2 de 15/4 e CEB nº 3 de 23/6, ambas de 1998. O primeiro conjunto versa sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e o segundo sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. (BRASIL, 2000, pp. 01-02)
A DCN para a EJA é um documento que direciona caminhos para
superação dos desafios enfrentados na busca por uma reparação da dívida
social com tal público enfatizando as suas funções reparadora, equalizadora e
qualificadora, destacando uma educação para uma classe trabalhadora em uma
sociedade grafocêntrica. Contudo, as aprendizagens essenciais não são
abordadas, o que também não ocorre com a Base Nacional Comum Curricular
seja ela para o Ensino Fundamental ou para o Ensino Médio. Afinal, um currículo
para a EJA deve pautar-se em uma práxis crítica, que envolva socialmente os
seus partícipes, para além da sala de aula.
Se caminharmos no sentido de que se reconheçam as especificidades da educação de jovens e adultos, aí sim teremos de ter um perfil específico do educador da EJA e, consequentemente, uma política específica para a formação desses educadores. (ARROYO, 2006, pág. 21).
Na Educação de Jovens e Adultos, as especificidades e a
multiculturalidade, em princípio, oriundas da relação intergeracional apontam
para outro fator e uma terceira tensão. Tem-se na organização formal das
classes escolares uma junção intergeracional, o que pode favorecer a
construção do respeito e valorização de saberes constituídos nas trajetórias de
vida. Essa pode ser considerada uma vantagem ao processo de
desenvolvimento social, entretanto, para inúmeros professores, na prática,
configura-se como um fator problemático para a ação de ensino, pelo fato de os
estudantes não carregarem a consciência (ruptura entre significação social e
109
sentido pessoal) quanto a finalidade e importância de tal relação intergeracional
e multicultural. A relação entre os sujeitos precisa configurar-se como um dos
motivos propulsores da participação escolar focada no resultado de
aprendizagem, de modo que vivenciar as relações sociais ganhe um sentido
pessoal para os estudantes. Conforme defende Asbahr (2005, p. 111):
Sentido pessoal e motivo são intimamente relacionados, e para que possamos encontrar sentido devemos descobrir seu motivo correspondente. O sentido pessoal indica, portanto, a relação do
sujeito com os fenômenos objetivos conscientizados.
As ponderações a respeito dessas três tensões nos remetem a olhar a
Formação de Professores atuantes na EJA como espaço sem determinações
precisas, mas que exigem aproximação e reflexões.
As três tensões que foram traçadas – o desenvolvimento da consciência,
durante a formação, em relação ao papel social da EJA, as peculiaridades do
currículo e a multiculturalidade geracional – são, nesse aspecto, consideradas
as principais a serem apontadas no tocante a formação de professores para a
EJA. Essas nos alertam para a necessidade de utilização das tecnologias de
informação e comunicação no processo de ensino para viabilizar o exercício da
cidadania nos diversos espaços sociais, explorando-se estratégias e
metodologias favoráveis para a aprendizagem focada nos sujeitos a partir da
valorização e do respeito aos seus conhecimentos adquiridos fora da sala de
aula.
Entretanto, sabe-se que o professor se constrói durante seu percurso
profissional e que pelo fato de a EJA voltar-se a um campo bastante amplo e
complexo (a Educação), dele são exigidas habilidades e competências
adequadas aos contextos em que se inserem, ou seja, fazendo parte de uma
formação direcionada à profissionalização que se dá durante toda a sua carreira.
4.2 Profissionalidade docente para prática consciente
A formação de professores na perspectiva da profissionalização, pensada
para além dos saberes acadêmicos e disciplinares, centra-se nas aprendizagens
e competências profissionais. Segundo Ramalho e Nuñes (2004, p. 06):
a profissionalização do ensino implica dois ingredientes fundamentais: a profissionalidade e profissionalismo. A primeira diz respeito aos saberes, competências, atitudes, etc. do agir
110
profissional, e a segunda volta-se para a busca de
reconhecimento social, de um maior status do grupo etc.
No sentido da profissionalidade, os teóricos defendem a formação
docente fora de um modelo formativo hegemônico (dominante), no qual
conteúdos direcionem o professor para o consumo de conhecimentos e o faça
um reprodutor de tarefas e/ou aproxime-se de características como foco no
treinamento de habilidades, presença de conteúdos descontextualizados da
realidade profissional e distanciamento entre a prática e a teoria. Esses
estudiosos acreditam em uma formação ancorada em um modelo emergente
baseado na tríade reflexão, pesquisa e crítica. Concordamos com essas
premissas quando abordamos a formação de professores para adoção de
tecnologias digitais nas ações de ensino, abraçando essa direção de análise
nesta pesquisa.
As práticas desenvolvidas pelos professores durante o ensino retratam
suas crenças e valores, o que não é diferente para o uso das tecnologias digitais.
O uso de tecnologias móveis na educação deve ser encarado a partir da adoção
de uma nova cultura, pautada na mobilidade da aprendizagem e do ensino. Os
princípios didáticos estabelecidos, não são norteados apenas por tendências
pedagógicas caracterizadas como modismos, mas por afinidades, saberes e,
sobretudo, por uma consciência motivadora, capaz de orientar a reflexão acerca
dos fazeres levando a adotar ou não uma determinada metodologia e/ou
estratégia específica nas ações do ensino.
A profissionalidade, retratada nos saberes docentes, está presente em
inúmeras pesquisas sobre Educação. Como aponta Tardif (2010, p. 10),
A partir de 1980, a questão do saber dos professores fez surgir milhares de pesquisas no mundo anglo-saxão e, mais recentemente, na Europa. Ora, essas pesquisas empregam teorias e métodos bastante variados e propõem as mais diversas concepções a respeito do saber dos professores.
Alinhado ao saber pedagógico, o uso de tecnologias digitais no ensino
exige do docente mais do que o domínio da técnica e dos recursos digitais. É
preciso fundar-se em pesquisas que fortaleçam os seus fazeres, a partir do olhar
crítico para o seu lócus, condições, público e peculiaridades e, principalmente,
para o contexto sócio-histórico que envolve um olhar amadurecido pela
experiência e sela uma base muito importante para a aprendizagem em trabalho
de professores atuantes na EJA.
111
O quadro síntese, apresentado a seguir, endossa as principais tipologias
de saberes necessários à docência. Entretanto, é importante considerar que
essas tipologias não são conclusivas apesar de abordarem com clareza os
saberes tratados nas pesquisas.
Quadro 04 - Síntese das categorias existentes sobre saberes docentes
Autores Tipologias
Tardif, Lessard e Lahaye (1991) Saberes da formação profissional; saberes disciplinares; saberes curriculares; saberes da experiência.
Gauthier (1998) Saberes disciplinares; saberes curriculares; saberes das Ciências da Educação; saberes da tradição pedagógica; saberes experienciais; saberes da ação pedagógica.
Shulman (1986) Conhecimento do conteúdo da matéria ensinada; conhecimento pedagógico da matéria; conhecimento curricular.
Saviani (1996) Saber atitudinal; saber crítico-contextual; saber específico; saber pedagógico; saber didático-curricular.
Pimenta (1999) Saberes do conhecimento; saberes pedagógicos; saberes da experiência.
Fonte: Farias et. al. (2011, p.75).
O fato de serem inúmeros os saberes pontuados como necessários ao
professor, leva-nos a reconhecer que os cursos de licenciatura não são capazes
de formar o professor em sua integralidade (e nem deveriam), mas oferecem o
inicial reconhecimento social, enquanto profissional, abrindo perspectivas aos
futuros professores para a atuação no mundo da Educação. No fundo, essa
integralidade formativa é utópica diante da perspectiva histórico-cultural por
causa da dinamicidade da sociedade. Logo, a formação inicial não deve ser tida,
em nenhuma hipótese, como ponto finalizador da formação docente,
principalmente quando são abordados os saberes pedagógicos, metodológicos
e tecnológicos. Afinal, como bem defende Sales et. al. (2011, p.68) “a formação
configura-se como atividade humana inteligente, de caráter dinâmico que
reclama ações complexas e não lineares”. A formação do docente atuante na
EJA não está fora dessa realidade.
Em virtude do campo social que ocupa a formação docente para a EJA,
ela está imersa em uma ideologia ancorada na Educação, enquanto meio para
a libertação, no intuito de afastar os estudantes do lugar de exclusão mediante
sua participação social e atuação consciente. Portanto, ao professor da EJA,
112
além de todos os saberes mencionados no quadro 04, deve ser incluída –
inevitavelmente – a tipologia consciência impressa na intencionalidade da
atividade de ensino focada na mencionada libertação.
Assim, a profissionalização do docente da EJA deve ter alicerces
como a conscientização, a observação, a reflexão e a análise. Por isso, é tão
coerente a utilização do Ciclo de Aprendizagem Expansiva, por nele se
considerar a reflexão e a análise características primárias como start para a
aprendizagem do adulto.
A EJA exige a consciência como suporte, em busca da constituição do
“homem-sujeito”, em ruptura da alienação e da acomodação. Paulo Freire (1967,
p. 43) defende que a “conscientização é uma das fundamentais tarefas de uma
educação realmente liberadora e por isto respeitadora do homem como pessoa”.
Esta consciência almejada, critica a posição que o estudante de EJA foi colocado
enquanto massa manipulada que, de um lado é tolhido das benesses de seu
trabalho e de outro é o grande responsável pela produção de bens das classes
mais favorecidas. A consciência do professor tem papel fundamental neste
processo, pois, ele pode fundamentar sua prática em correntes filosóficas que
fortaleçam ou minimizem o processo de alienação e exclusão social vivenciado
por esses estudantes.
A grande questão é que a historicidade nos tem apresentado uma luta
intensa de transformação do status quo dos menos favorecidos socialmente;
uma luta de classes, que em alguns momentos avança e noutros enfrenta
retrocessos. Uma luta que se volta aos direitos, a igualdade, a equidade e ao
respeito; voltada ao acesso aos bens de consumo, ao alimento de qualidade, ao
acesso às tecnologias, à informação e principalmente, ao conhecimento para
que, por meio dele, seja capaz de migrar do local de apenas consumidor para o
de também produtor, constituindo-se enquanto sujeito consumidor/produtor
consciente com a vida e com o desenvolvimento, sobretudo, sustentável.
A escolarização do público da EJA é uma das responsáveis pelo trânsito
do trabalho manual (largamente desmerecido nas sociedades pós-modernas)
para o trabalho intelectual, e retomada do trabalho manual reconhecido. É
responsável pelo entendimento de que a aprendizagem pode ser prazerosa,
gerando bem-estar, saltando o campo da obrigatoriedade, quando são
identificados os seus objetivos pessoais, por reconhecer que a atividade de
113
aprendizagem está em toda a vida e não somente voltada aos fazeres
capitalistas.
Infelizmente, a principal marca da escola institucionalizada está no valor
social da certificação, como instrumento respeitado de reconhecimento de
saberes. Porém, um grande desafio ao professor da EJA está em possibilitar que
a escola institucionalizada ocupe o lugar de reflexão e mudanças, se constituindo
enquanto espaço de atuação de uma Educação Popular e Científica, que não se
finde na certificação.
Nessa ótica, a observação analítica do docente deve ser aguçada, de
modo que a Educação escolar funcione como um trampolim para a
conscientização. Com intuito de, ao lado de seus alunos, reconhecerem
caminhos para a conquista da liberdade. Não há como dissociar a ação da escola
das vivências sociais. Bem como alegam Ramalho et. al. (2014, p.39):
(…) a atividade docente é uma prática social historicamente construída. Desse modo, precisa ser compreendida de forma articulada com os demais processos de organização da
sociedade, pois, a rigor, ela é um desses processos.
O processo de profissionalidade do professor da EJA é carregado pela
dialogicidade em que o seu papel de escuta atenda seja o melhor exercício para
compreensão dos limites e avanços de seus alunos, estabelecendo estratégias
para a redução da Zona de Desenvolvimento Próximo na aprendizagem de
saberes científicos. É primordial frisar que, embora, reconhecido o papel
conscientizador necessário ao professor da EJA, a esse são inevitáveis os
demais saberes ora mencionados, para que não seja considerado apenas
ativista político, pois, não o é. O sujeito docente precisa atender as tipologias
teoricamente já apontadas, especialmente, deve desenvolver seu conhecimento
científico para atuar no processo de ensino e ter na sua atividade pedagógica a
sua própria transformação. Como asseveram Rigon et. al. (2016, p.28):
O objeto da atividade pedagógica é a transformação dos indivíduos no processo de apropriação dos conhecimentos e saberes; por meio da atividade – teórica e prática –, é que se materializa a necessidade humana de se apropriar dos bens culturais como forma de constituição humana.
Transformação essa, que orienta mudanças necessárias durante toda a
carreira. Com foco num ciclo de mudanças (especialmente expansivas),
abordaremos a formação dos professores para aprendizagem em trabalho.
114
4.3 Formação contínua de professores: aprendizagem em trabalho rumo
à aprendizagem expansiva
Como esmiuçado no tratamento da primeira tensão, a continuidade da
formação docente, após formação inicial, configura-se como uma necessidade
para sua atuação. Tal premissa é, também, defendida pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 (BRASIL, 1996). Essa formação
continuada pode dar-se por meio da educação intencional ou não intencional
(LIBÂNEO, 1994). Quando formalizadas intencionalmente, configuram-se a
partir da realização de intervenções na atividade de ensino estabelecida pelo
docente em trabalho (exceto no caso de atualizações, nas quais os profissionais
não estejam atuando na função docente). Quatro diferentes tipos de intervenção
em trabalho e seus métodos podem ser caracterizados, como apresentados na
figura 18.
Figura 18 – Quatro tipos de intervenção e métodos de intervenção
Fonte: Virkkunem e Newnham (2015, p. 49)
Os quadrantes A e C voltam-se a dois tipos diferentes de intervenção, o
primeiro de melhorias para uma solução existente e o outro C voltado para
intervenções para soluções de problemas com criação de novas soluções. O
quadrante B trata da intervenção de mudanças orientada por conceitos e
normalmente envolve a todos de uma organização, e o quadrante D é o referente
a intervenção formativa, para criação de novos conceitos colaborativamente.
Nesse sentido, defendemos as intervenções formativas para docentes da
EJA, como atividades continuadas que possam relacionar teoria e prática,
115
buscando aprendizagens propiciadoras de transformações, melhorias das
práticas de ensino e a construção de argumentos que respondam a sua visão de
mundo. Não apenas no sentido de ensinar a fazer, mas também em direção às
reflexões e ao diálogo a respeito das necessidades, dificuldades e superações
em processos coletivos, considerando todos os saberes prévios concebidos
durante a carreira. Como afirmam Nóvoa e Finger (1988, p. 128), quando tratam
sobre o adulto em situação de formação:
Mais importante do que pensar em formar esse adulto é refletir sobre o modo como ele próprio se forma, isto é, o modo como ele se apropria do seu patrimônio vivencial através de uma
dinâmica de compreensão retrospectiva.
A formação contínua, enquanto aprendizagem em trabalho, que enfatiza
a crença de os problemas poderem ser resolvidos a partir de aplicação de
conhecimentos científicos ou técnicas deles derivadas é inaceitável, pois,
“ocultam uma prática social de intervenção mais abrangente, para o alcance de
outros espaços da vida da sociedade.” (MAGALHÃES; AZEVEDO, 2015, p. 27).
A necessidade do desenvolvimento de novos saberes, precisa ser carregada
pelo professor no sentido de adotar processos sistematizados de aprendizagem
ao longo da vida por motivos que o inquietem, ou seja, em uma proposta de
compreensão das suas limitações e necessidades. O desfoque destes motivos
pode ser considerado uma das justificativas do insucesso dos inúmeros
processos formativos direcionados para o desenvolvimento de habilidades que
tratam o professor como a “máquina de dar aulas”, tendo o ensino como um
produto e não como processo complexo que depende de fatores variados para
ser bem-sucedido.
Essa ideia infelizmente está muito presente nos processos formativos
brasileiros quando tratamos o uso de recursos tecnológicos digitais na
Educação. Vê-se em larga escala, ações de ensino em formações em trabalho
– inclusive dentre as já ofertadas pelo Ministério da Educação – que enfatizaram
as técnicas e as tecnologias de forma instrucionista (PAPERT, 2008, p. 133),
sem o prévio reconhecimento dos motivos pessoais e sociais para tal uso,
conservando o participante como “objeto da sucata do conhecimento” (DEMO,
2006, p.49). Evidente que essa crítica traz consigo o entendimento da necessária
inclusão digital de professores, buscando oferecer-lhes informações de domínio
116
básico, para que a partir daí sejam traçadas rotas para construção de novos
caminhos de aprendizagem, em um movimento de busca e crescimento. Porém,
quando não há mediatização adequada e os motivos sociais não se encaminham
para o conhecimento dos sentidos pessoais, as informações tratadas, muitas
vezes, mediante sequências de ações a serem reproduzidas, ficam em desuso
e caem no esquecimento, e, por consequência, tornar-se-ão barreiras para o uso
de metodologias que adotem as TDIC durante o processo de ensino. Como
afirma Freire (1996, p. 35):
A memorização mecânica do perfil do objeto não é aprendizado verdadeiro do objeto ou do conteúdo. Neste caso, o aprendiz funciona muito mais como paciente da transferência do objeto ou do conteúdo do que como sujeito crítico, epistemologicamente curioso, que constrói o conhecimento do
objeto ou participa de sua construção.
Vale colocar que não responsabilizamos apenas os professores da
Educação Básica, em especial, os da EJA, pelo não uso (ou uso minimizado) de
TDIC para o ensino, pois é evidente que as inúmeras questões políticas, tensões
sociais e contradições históricas devem ser consideradas.
Pensamos que a formação continuada pode transitar a favor da intenção
de adoção de TDIC, se o espaço formativo for concebido como oportuno para
reconhecimento de motivos embasados na aprendizagem em trabalho, visto que
os motivos surgem de uma necessidade. Ou seja, eles são o porquê de tal
necessidade, que inicialmente são sociais, mas, posteriormente, ganham
sentidos pessoais, como “motivos formadores de sentido” segundo afirma
Leontiev (1978, p. 20).
Lembremos pesquisa realizada, em 2017, pelo Programa Todos pela
Educação, envolvendo quatro mil professores, sendo esses docentes vinculados
ao Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos. Essa
pesquisa apontou alguns dos desafios enfrentados por professores para uso de
TDIC, como demonstra a figura 19:
117
Figura 19 – Desafios enfrentados por professores para uso de TDIC
Fonte: Todos pela Educação
Como dito e pode ser observado na figura apresentada, tais desafios não
são de domínio apenas dos professores. Mas a questão da formação é
reconhecida como deficitária, podendo ser minimizada somente através de
processos de formação continuada quando voltados a aprendizagem em
trabalho. Como asseguram Nuñez e Ramalho (2014, p. 401) “as escolas mudam
quando têm professores com excelente preparação, com a convicção e o
convencimento de que a escola pode garantir aos estudantes o direito de
aprender ciências.” Afirmação essa que extrapola a aprendizagem das ciências,
podendo ser considera para as demais aprendizagens escolares.
De acordo com o QEdu e dados da Prova Brasil de 2015, em respostas
de professores de 5º ao 9º ano de escolas do ensino fundamental, 67% dos
professores declaram necessidade moderada ou alta de aperfeiçoamento
profissional em “uso pedagógico de tecnologias digitais de informação e
comunicação”, sendo essa a principal necessidade de formação percebida pelos
professores. Se perguntados, certamente, eles apontarão os avanços sociais e
a forte presença das tecnologias digitais no cotidiano, como motivos para a
necessidade de sua inclusão na formação de professores. Mas, esses podem
ser considerados motivos dos estudantes utilizarem as TDICs para
aprendizagem, entretanto, não pode ser caracterizado como motivo do professor
para o ensino. Apesar de ensino e aprendizagem estarem intimamente
118
relacionados (como apresentado na figura 20) em uma Tendência Crítico-Social
(LIBÂNEO, 1995), o ensino tem por objeto a aprendizagem do estudante na qual
o professor é o sujeito. Assim, a atividade do professor deve gerar a atividade de
aprendizagem do estudante.
A Tendência Crítico-Social dos Conteúdos está a favor de uma Pedagogia
Progressista, e tem o papel da escola relacionado a difusão de conteúdos
científicos indissociáveis da realidade social. Nesta perspectiva, a atividade de
ensino volta-se a métodos que privilegiem a aquisição do saber. De acordo com
Libâneo (2008, p. 32):
(…) uma aula começa pela constatação da prática real, havendo, em seguida, a consciência dessa prática no sentido de referi-la aos termos do conteúdo proposto, na forma de um confronto entre a experiência e a explicação do professor. Vale dizer: vai-se da ação à compreensão e da compreensão à ação, até a síntese, o que não é outra coisa senão a unidade entre a teoria e a prática.
A atividade de ensino tem, portanto como resultado o sujeito autônomo,
crítico e consciente. Capaz de utilizar os conhecimentos adquiridos para sua
libertação, sendo a escola espaço de agir em direção a transformação da
sociedade.
Figura 20 – Atividade de Ensino na tendência crítico-social dos conteúdos
Fonte: A autora
A formação continuada do docente da EJA para uma Pedagogia Crítico-
Social precisa incorporar as TDIC em virtude das múltiplas linguagens
119
necessárias à compreensão das relações existentes na sociedade,
principalmente as relações econômicas, visto vivermos em sociedade capitalista,
assim como para ampliação de espaços de diálogos e de possibilidades para a
aprendizagem ao longo das trajetórias de vida.
A aprendizagem em trabalho do docente, além de relacionar-se com a sua
prática, caminha afinada com as expectativas de aprendizagem dos estudantes
para o desenvolvimento de sua autonomia, participação crítica e consciente.
O trabalho docente é parte integrante do processo educativo mais global pelo qual os membros da sociedade são preparados para a participação na vida social. A educação – ou seja, a prática educativa – é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades. Cada sociedade precisa cuidar da formação dos indivíduos, auxiliar no desenvolvimento de suas capacidades físicas e espirituais, prepará-los para a participação ativa e transformadora nas várias instâncias da vida em sociedade, mas também o processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e a transformá-lo em função de necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade. (LIBÂNEO, 1994, p.16-17).
Para viabilizar uma escola que inclua as TDICs em suas práticas de
ensino e produção, a aprendizagem em trabalho deve orientar a formação de
professores de EJA à aprendizagem expansiva. Porque uma transformação na
atividade de ensino da EJA demanda “uma aprendizagem que amplie os
horizontes e o domínio prático dos indivíduos, alcançando o nível da atividade
como um todo e de sua transformação histórica” (ENGESTROM; SANNINO,
2010, p. 03). Um ampliado trabalho docente, se desenvolvido coletiva e,
colaborativamente, tem o potencial de transformação histórica da atividade de
ensino, mas, como dito a respeito da aprendizagem expansiva, em uma
transformação que pode levar anos, sendo, ainda assim positiva, devido a
tomada de consciência dos sujeitos para uma participação ativa na vida social e
contribuição na formação inclusiva dos estudantes da EJA.
120
5 MOBILE LEARNING NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Com o objetivo de situarmos a Formação de Professores no campo do
Mobile Learning, nesta seção, partiremos de reflexões a respeito da Cultura
Digital na Sociedade em Rede, na qual a Cultura da Mobilidade está em foco,
fortalecendo a Cibercultura – própria do ciberespaço – a partir de múltiplas
linguagens, a serem utilizadas para se aprender e ensinar favorecendo
aprendizagens expansivas. Concluiremos a seção com uma breve revisão da
literatura situando a temática em estudos nacionais e internacionais.
5.1 Cultura Digital na Sociedade em Rede
Uma das características da Sociedade em Rede é o paradigma da
Tecnologia da Informação que propicia uma interação entre o econômico e o
tecnológico, agrupando inovações técnicas, organizacionais e administrativas.
Castells (1999) apresenta as principais características da base material
paradigmática da Sociedade da Informação:
A primeira característica, é que a informação é a sua matéria-prima, ou seja, são tecnologias para agir sobre a informação, não apenas informação para agir sobre a tecnologia, como foi o caso das revoluções tecnológicas anteriores. O segundo aspecto refere-se à penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias. Como a informação é uma parte integral de toda atividade humana, todos os processos de nossa existência individual e coletiva são diretamente moldados (embora, com certeza, não determinados) pelo meio tecnológico. A terceira característica refere-se à lógica de redes em qualquer sistema ou conjunto de relações, usando essas novas tecnologias de informação. A morfologia da rede parece estar bem adaptada à crescente complexidade de interação e aos modelos imprevisíveis do desenvolvimento derivado do poder criativo dessa interação. Em quarto lugar, o sistema de redes, mas sendo um aspecto claramente distinto, o paradigma da tecnologia da informação é baseado na flexibilidade. Não apenas os processos são reversíveis, mas organizações e instituições podem ser modificadas. (...) Então, uma quinta característica é a crescente convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado, no qual trajetórias tecnológicas antigas ficam literalmente impossíveis de se distinguir em separado. (Ibidem., p.108-109).
Essas características nos levam a considerar que a Sociedade em Rede
é resultante de uma Revolução da Informação e Comunicação, a qual remodela
121
a construção do conhecimento das pessoas, instituições e cidades, exigindo um
comportamento de valorização e de cuidados com a mediação e com as formas
de interações implementadas. Assim, a Sociedade da Informação caracteriza-se
como Sociedade em Rede, promotora de uma Cultura Digital.
Com o intuito de estabelecer uma trilha favorecedora de reflexões acerca
da presença da Cultura Digital na Educação da Sociedade atual, foi
imprescindível pensarmos a Cultura, a sua relação com o conhecimento e como
ela se constitui na humanidade.
Tendo este trabalho a perspectiva Histórico-Cultural, faz-se necessário
resgatarmos o pensamento de Vygotsky, para quem o desenvolvimento psíquico
do homem tem natureza Cultural. Ou seja, a Cultura é o alicerce do
desenvolvimento de funções psicológicas superiores. Pautamo-nos no
rompimento com interpretações biologizantes do comportamento humano,
considerando que o ser humano é diferente dos animais, em especial, por
desenvolver tais funções psicológicas superiores.
A cultura se torna parte da natureza humana, num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem.
(OLIVEIRA, 1992, p.24).
Na compreensão de Leontiev, os estudos e crenças a respeito da
evolução humana – de formação do ser social – perpassaram por três estágios.
O primeiro é a preparação biológica, no qual o ser social foi nomeado como
australopitecos, os quais exploravam a feitura de instrumentos rudimentares e
utilizam meios primitivos para a efetivação da comunicação em grupo. O
segundo estágio, chamado por Leontiev como passagem ao homem, é marcado
pelo início da fabricação de instrumentos e pelas primeiras formas de trabalho e
sociedade, na qual:
(…) começavam a produzir-se, sob a influência do desenvolvimento do trabalho e da comunicação pela linguagem que ele suscitava, modificações da constituição anatômica do homem, do seu cérebro, dos seus órgãos dos sentidos, da sua mão e dos órgãos da linguagem; em resumo, o seu desenvolvimento biológico tornava-se dependente do desenvolvimento da produção. Mas a produção é desde o início um processo social que se desenvolve segundo as suas leis objetivas próprias, leis sócio-históricas. A biologia pôs-se, portanto, a “inscrever” na estrutura anatômica do homem a “história” nascente da sociedade humana. (LEONTIEV, 1978, p.261).
122
No terceiro estágio, apontado pelo autor como a viragem, a evolução da
humanidade se desvincula das mudanças biológicas que ocorrem, lentamente,
e são transmitidas por hereditariedade, sendo o homem caracterizado como
próximo ao homem atual, em que se tem em vista que ele já possui as
propriedades biológicas necessárias ao seu desenvolvimento sócio-histórico
ilimitado; e, assim, são abandonadas interpretações biologizantes do
comportamento humano. Compreender o caráter social e material dos
fenômenos psíquicos é saber que as características, inerentemente, humanas
não são biológicas ou inatas, mas são “produtos do desenvolvimento cultural do
comportamento.” (ASBAHR, 2011, p. 26).
O processo de hominização avança a partir do uso dos seus primeiros
instrumentos, seus modos de comunicação e sobrevivência. E, sobretudo, a
partir da forma como são transmitidos seus conhecimentos, hábitos e crenças,
partindo dos mais para os menos experientes. De acordo com Leontiev (1978,
p.76) “o aparecimento e o desenvolvimento do trabalho (...) acarretam a
transformação e a hominização do cérebro, dos órgãos de atividade externa e
os órgãos dos sentidos”.
Nesse evoluir, podemos afirmar que o ser humano é capaz de organizar-
se por meio das aprendizagens pautadas na história previamente construída por
seus antecessores, tendo em vista que o homem transforma – de forma
consciente – a natureza ao longo de sua existência, modificando as suas
relações com o meio através do trabalho (atividade humana fundamental).
Podemos dizer que os instrumentos tecnológicos digitais de informação e
comunicação (em especial o smartphone por ser foco neste trabalho) são
resultantes de aperfeiçoamentos de instrumentos anteriormente criados pelo
homem. Afinal, através deles desenvolve-se uma atividade que reproduz traços
essenciais da atividade encarnada – o uso do computador, em um sentido de
acumulação cultural, criando no homem aptidões novas, ou seja, desenvolvendo
seu psiquismo. É salutar considerar que os instrumentos tecnológicos digitais
são instrumentos culturais materiais e a linguagem (neste contexto, a linguagem
digital) instrumentos psicológicos, sistematizada enquanto signo.
O uso de signos conduz os seres humanos a uma estrutura específica de comportamento que se destaca do desenvolvimento biológico e cria formas de processos
123
psicológicos enraizados na cultura. (COLE; SCRIBNER, 1991,
p. 15).
A linguagem digital, enquanto partícipe cultural, carrega em si
características próprias de seu meio, e muitas vezes, extrapolando o
pensamento de ser “o idioma o principal meio de comunicação verbal das
pessoas” (LEONTIEV, 1978, p. 276). Essa linguagem explora quase em
igualdade a comunicação visual e sonora, mescla idiomas e possibilita a criação
de verbetes e de expressões próprias do mundo digital (como netiqueta ou
ícones de emotions, por exemplo), que transitam pelo mundo em todos os
continentes modelando reações.
Na atualidade o domínio da linguagem digital, pode acarretar um
diferenciado desenvolvimento social, possibilitando novas mediações, formas de
expressão e de aprendizagens, e, também, modificando a cultura e as novas
formas de leitura.
Nessa perspectiva, a linguagem tem função central nas relações sociais,
tendo o signo linguístico, como essencial para a interação, com o conhecimento
social. Os signos estão, diretamente, relacionados às ferramentas, podendo ser
incluídos em uma mesma categoria, mas é necessário cuidado para que não se
singularizem.
Embora reconheçamos a expansão da linguagem para considerar o
espaço digital e virtual, essa contínua sendo o principal meio de viabilizar a
comunicação humana. Afinal, apesar de as pessoas também utilizarem “la
mímica y los gestos, pero, sin embargo, éstos son unicamente médios auxiliares
del linguaje que, aparecen sobre la base del idioma oral e tienem um papel muy
limitado em las relaciones humanas” (LEONTIEV, 1978, p. 276).
Considerando as tecnologias digitais móveis smartphones, interpretamos
que esses são ferramentas que propiciam a atividade mediadora no
entendimento da linguagem digital. E, para isso, exploram signos próprios desse
meio – “signos flutuantes” (LÉVY, 1999, p.159) –, com valores social e cultural
próprios.
A diferença mais essencial entre signo e instrumento, e a base da divergência real entre as duas linhas, consiste nas diferentes maneiras com que eles orientam o comportamento humano. A função do instrumento é servir como um condutor da influência humana sobre o objeto da atividade; ele é orientado externamente; deve necessariamente levar a mudanças nos
124
objetos. Constitui um meio pelo qual a atividade humana externa é dirigida para o controle e domínio da natureza. O signo, por outro lado, não modifica em nada o objeto da operação psicológica. Constitui um meio da atividade interna dirigido para o controle do próprio indivíduo; o signo é orientado internamente. Essas atividades são tão diferentes uma da outra, que a natureza dos meios por elas utilizados não pode ser a mesma. (VYGOTSKY, 1984, p. 62).
Os aparatos smartphones fazem parte da Cultura da humanidade,
relacionando-se, diretamente, com a construção do conhecimento pós-moderno.
Portanto, compreende-se Cultura como uma construção social que está no
centro do desenvolvimento humano, sendo “o trabalho o mediador do processo
dialético de transformação da natureza em cultura social.” (MARTINS;
RABATINI, 2011, p. 349).
O termo “Cultura” traz em si diversas perspectivas de entendimento.
Cuche (2002) esclarece sua conceituação a partir das Ciências Sociais,
afirmando-a como tudo aquilo que não é natureza. Ou seja, como produtos da
inteligência humana – concordando com a perspectiva de Vygotsky.
Podemos considerar que são diversas as Culturas da Humanidade, as
quais mantém movimento de interconexões e disputas. Sob um olhar
aproximado, vivemos imersos em contextos sociais multiculturais,
caracterizados pela coexistência de diversas culturas em um mesmo espaço,
sendo um deles o espaço virtual. Para Zanin e Lemke (2017, p. 02):
o multiculturalismo pode ser considerado um conceito polissêmico que encerra diversos modelos que expressam e discutem a questão da pluralidade cultural, e que vão desde perspectivas mais conservadoras e pouco problematizadoras da realidade, que apenas constatam a existência da diversidade, afirmando a hegemonia cultural já existente, até perspectivas mais críticas, que questionam os discursos que constroem a identidade e a diferença, e em que a relação entre cultura e poder é trazida à tona.
Por seu lado, Amadeu (2009) coloca a Cultura Digital, enquanto viés da
Cibercultura defendendo que ela:
é a cultura que nasce no interior, e a partir da expansão das redes digitais, que faz uma recombinação muito importante, muito interessante da ciência com as artes e tudo o que permite
que exista no meio desse processo. (Ibidem., p. 69, grifo nosso)
125
Em sua origem, a expressão Cibercultura é “o conjunto de técnicas
(materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e
de valores que se desenvolvem, juntamente, com o crescimento do ciberespaço”
(LÉVY, 1999, p. 17), sendo esse seu principal lócus, tido a partir de uma
linguagem que utiliza signos específicos, como, por exemplo, os ícones.
Figura 21 – Smartphone com ícones expostos
Fonte: https://live.staticflickr.com/4291/36212534755_792cbe4ca1_b.jpg
Essa compreensão se vale da Cultura Digital para além do aparato
tecnológico meramente físico, permitindo reflexões a respeito das possibilidades
desse recurso, quando conectado em rede, em exploração da tecnologia rede
internet e nascimento de novas espaços de interação – o ciberespaço. Nesse
tocante, o instrumento ultrapassa seu sentido de instrumento enquanto:
objeto de forma particular, de propriedades físicas determinadas; é também um objeto social, isto é, tendo um certo modo de emprego, elaborado socialmente no decurso do trabalho coletivo e atribuído a ele. (LEONTIEV, 1978, p. 88).
A Cultura – que é desenvolvida socialmente – tem como um dos seus
lócus o espaço virtual, o ciberespaço. Pode-se dizer que o ciberespaço é
constituído a partir de um sistema caótico de sistemas, com crescimento
incontido através do desenho e redesenho de um labirinto móvel, em constante
crescimento, universal sem totalidade, o que significa estar em todos os lugares
– ubíquo, e, ao mesmo tempo, não ser fixada em lugar algum. Esse paradoxo
constitui a essência da Cibercultura.
O “universal sem totalidade” é assim o dito pela impossibilidade de fixação
de um significado humano para uma galáxia técnica em constante
126
transformação, com implicações sociais e culturais, que se diferenciam a cada
nova interface tendo sua evolução paradoxal, na qual apenas no plano da
infraestrutura técnica os produtores de linguagens, sistemas operacionais e
aplicativos esperam seus produtos se tornem padrões. Lévy (1999) defende que
quanto mais o digital se afirma como um suporte privilegiado de comunicação e
colaboração, mais essa tendência de universalização marca a história.
A Cultura Digital é construída de forma mutante no transcorrer da história
e de os usos que são feitos dela. As mudanças ocorridas nas sociedades
urbanas estão imbricadas em um mundo digital, onde o virtual e o presencial se
alternam e mesclam-se em velocidade inimaginável. De acordo com Kenski
(2007, p.21):
A evolução tecnológica não se restringe apenas aos novos usos de determinados equipamentos e produtos. Ela altera comportamentos. A ampliação e banalização do uso de determinada tecnologia, impõem–se à cultura existente e transformam não apenas o comportamento individual, mas o de todo o grupo social.
A transformação da Cultura, impressa nas palavras de Kenski, nos remete
a reflexões acerca de como temos possibilitado que as informações possam ser
refletidas e transformadas em saberes. Esse é um dos desafios a serem
enfrentados pela Educação com a presença da Internet.
A Internet criada, inicialmente, a partir da web 2.0, com base na
linearidade, converteu a interação humana em movimentos rizomáticos (de
todos para todos, em todos os lugares), o que facilitou a constituição de redes,
modificando a relação entre usuários e as formas de construção das mensagens.
O fixo e imutável oriundo da cultura impressa e palpável de Gutenberg tornou-
se mutável e aberto. A constituição de grupos de interesses vem fortalecendo a
perpetuação de identidades, que se remodelam a todo instante, reconstruindo
identidades culturais (HALL, 2011) para uma Sociedade em Rede, que é, acima
de tudo, móvel, na qual a convergência é uma das palavras de ordem.
Portanto, para contextualizar a atualidade social humana, faz-se
necessário reconhecer todo esse complexo de características que fazem as
pessoas constituírem relações incomuns para o século passado. Neste trabalho,
é utilizado o termo “Sociedade em Rede”, pois, concordamos com o que defende
Castells (1999), ao tratar da Revolução da Tecnologia da Informação, enquanto
momento histórico de rupturas e diferenciadas demandas.
127
A Cultura Digital faz emergir novas culturas como a Cultura da Mobilidade
e a Cultura da Convergência. Essa última oferece um novo paradigma para
compreender-se a transformação midiática, “onde mídia corporativa e mídia
alternativa se cruzam, onde o poder do produtor de mídia e o poder do
consumidor interagem de maneiras imprevisíveis” (JENKINS, 2009, p. 29), e,
também, há uma emergência no tratamento das informações pelas pessoas, a
fim de convertê-las a favor de novos conhecimentos, explorando-as por múltiplos
espaços e meios. A convergência da qual tratamos é condizente com a
defendida por Jenkins (2009, p. 30), ocorrendo “dentro do cérebro das pessoas
e não por meio de aparelhos”, por mais sofisticados que venham a ser.
A partir desse olhar, está claro que não é suficiente reconhecer que as
mídias digitais móveis estão na realidade da escola, sendo carregadas como
extensões do corpo humano; assim, o caminho de percepções deve considerar
o uso de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação na Educação crítica
a partir de uma nova perspectiva de compreensão de cultura, não somente
relacionada aos fazeres dos professores, mas voltada para as instituições de
ensino e, sobretudo, para políticas públicas de Educação. A Cultura Digital vem,
além de fornecer novas formas de interação e compreensão do mundo, instigar
que sejam repensadas as construções de saberes, as práticas sociais e políticas
presentes. De acordo com Freire (1984, p.6):
O problema é saber a serviço de quem eles (os computadores) entram na escola. Será que vai se continuar dizendo aos educandos que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil? Que a revolução de 64 salvou o país? Salvou de que, contra que, contra quem? Estas coisas é que acho que são fundamentais.
E, no contexto atual, Freire continua correto se focarmos no uso dos
dispositivos móveis. Em tempos de interseção entre múltiplas culturas, não cabe
informação sem reflexão e participação crítica.
O verdadeiro problema não está, portanto, na aptidão ou inaptidão das pessoas para se tornarem senhores das aquisições da cultura humana, fazer delas aquisições da sua personalidade e dar-lhe a sua contribuição. O fundo do problema é que cada homem, cada povo tenha a possibilidade prática de tomar o caminho de um desenvolvimento que nada entrave. Tal é o fim para o qual deve tender agora a humanidade virada para
o progresso. (LEONTIEV, p. 284, 1978).
É necessário o fomento de estratégias diferenciadas para a construção
dos novos conhecimentos necessários a uma sociedade de hibridismo
128
tecnológico e composição de identidades também híbridas. De forma prática, é
urgente romper definitivamente com atitudes que afastam a Educação da Cultura
Digital e desconsideram o contexto histórico e social dos seus partícipes,
privando-os de utilizá-la, como propulsora da valorização da Educação, ao longo
da trajetória de vida, com respeito às peculiaridades identitárias de seus grupos.
Hoje, a vida torna-se digital, e “soluções antes impossíveis tornam-se viáveis.”
(NEGROPONTE, 1995, p.217).
No sentido de evolução da humanidade, pode-se dizer que essa é uma
nova cultura. Mas, pensando na história de vida dos sujeitos da atualidade, a
Cultura Digital faz-se presente no seu cotidiano, exigindo adaptações cognitivas
velozes e constantes reconstruções de redes. Para os adultos (em especial das
classes menos favorecidas), esse é um grande desafio, visto muitos terem seus
conceitos de mundo pautados em práticas analógicas e desconectadas. Como
defende Castells (1999, p.62):
Entramos em um mundo realmente multicultural e
interdependente, que só poderá ser entendido e transformado a
partir de uma perspectiva múltipla que reúna identidade cultural,
sistemas de redes globais e políticas multidimensionais.
Ao levar em consideração esta realidade, a Educação de Jovens e Adultos
pode se fortalecer e, também, ganhar, nas escolas formais, o seu devido espaço
de conscientização e buscas por melhorias sociais na vida de cada estudante ou
professor dessa modalidade. Porém, além de compreender o contexto cultural
que envolve a EJA, reconhecendo que não há isolamento em relação a realidade
do mundo, é imprescindível refletir sobre a aprendizagem que se deseja
alcançar.
A formação em trabalho docente deve posicionar o professor como
nômade digital, porque o migrante não sabe onde deseja chegar, sendo o ensino
a sua “máquina de guerra” (DELEUZE; GUATARI, 1997), a qual chamaremos -
a partir de uma releitura - de “máquina de paz”, por acreditarmos ter a Educação
um papel fundamental nessa conquista.
5.2 Cultura da Mobilidade, Cibercultura e Mobile Learning
Os povos nômades, em diversas partes do mundo, buscam a
sobrevivência da espécie, e alguns fixaram-se, territorialmente, a partir da
129
tecnologia da agricultura. Mas isso não os impediu, ao longo da história humana,
de seguirem instintos do nomadismo e ampliarem tecnologicamente seus
espaços de vida física e social, tornando-se e misturando-se com migrantes, e
traçando rotas diferenciadas do cotidiano para novas explorações e conquistas.
Deleuze e Guattari (1997), em “Platô – Tratado de Nomadologia: a
Máquina de Guerra”, caracterizam o nômade como uma tribo errante, composta
por pessoas sem morada permanente e em busca constante por pastagens para
os seus animais, sem caminho sedentário, em um espaço liso, marcado apenas
por traços que se apagam e se deslocam com o trajeto. Esses autores diferem
o nômade do migrante, pelo fato desse segundo não conhecer o trajeto, tão
pouco o ponto de chegada, transitando entre pontos incertos e imprevistos. Para
os estudiosos, os nômades e migrantes podem se misturar e formar novos
grupos.
Em analogia, consideremos os estudantes da EJA como migrantes, que
aprendem junto aos professores (e podem se tornar nômades), mas transitam
conhecendo direções diferentes daquelas que habitualmente percorrem. Os
professores da EJA, portanto, os nômades (jamais sedentários) que
encaminham os trajetos a partir de planejamentos que necessitam de análise
dos pontos de partida e chegada, buscando o que está entre eles, em uma vida
intermezzo (GUATTARI; DELEUZE, 1997, p. 42) e utilizando como “máquina de
guerra”, para nós “máquina de paz” – o ensino – enquanto instrumento de
transformação social exterior ao aparelho de Estado, apesar de aliada a ele.
Assim, “a mobilidade deve ser politizada” (LEMOS, 2009, p. 29). As tecnologias
digitais móveis podem ser consideradas ferramentas da máquina de paz em uso
pelos professores. “A máquina de guerra é um modo de resistência dos nômades
primitivos para não se deixar capturar pelo Estado e todos os seus códigos
sociais” (BRITO; COSTA, 2018, p. 74).
A partir do crescimento e avanço das tecnologias móveis, nômades e
migrantes se misturam e fazem valer a cultura da mobilidade. Nesse sentido,
concordamos com Lemos (2009, p. 28) que “a Cultura da Mobilidade não nasceu
com os dispositivos portáteis digitais e as redes sem fio da sociedade da
130
informação”, ela faz parte da natureza humana e do seu alto nível de
adaptabilidade. Lemos (2011, p. 16) diz que:
podemos pensar em três dimensões fundamentais da mobilidade: a do pensamento (...), a física (corpos, objetos, commodities); a informacional-virtual (informação). (...) Um tipo de mobilidade tem sempre impacto sobre outro.
A mobilidade do pensamento assemelha-se com o que Deleuze e Guatari
(1997, p. 44) denominam de “desterritorialização por excelência”; o nômade tem
todos os territórios por onde transita e ao mesmo tempo não tem nenhum, visto
que não se fixar. Levando ao campo cognitivo, pode-se considerar quando
aprende-se algo novo, modifica-se a compreensão em relação uma determinada
informação, mas tal modificação não torna o sujeito sedentário com uma ideia
imutável. A mobilidade física se dá tendo em vista que a aprendizagem pode
acontecer em qualquer espaço físico (ou mesmo que o sujeito se encontre em
deslocamento); seja dentro da escola, em uma sala de aula ou não. E a
mobilidade informacional-virtual, apresenta-se quando são utilizados os TIMS
(tecnologias de informação móveis e sem fio). Ou seja, meios digitais móveis
associados a rede web para ofertar informações, que para o ensino são
conteúdos que podem ser utilizados pelo sujeito aprendiz em seus vários
espaços de atuação favorecendo, portanto, a aprendizagem ubíqua.
A mobilidade física não é um empecilho para a mobilidade informacional, muito pelo contrário. A segunda se alimenta da primeira. Com a atual fase dos computadores ubíquos, portáteis e móveis, estamos em meio a uma “mobilidade ampliada” que potencializa as dimensões física e informacional. (LEMOS,
2009, p. 29)
A Cultura da Mobilidade, enquanto social, modifica-se com o tempo,
incorporando características dos períodos históricos, fazendo parte da cultura da
humanidade como um todo e engendrando formas relacionais específicas para
cada lugar. A mobilidade globalizada e virtualizada possibilita a movimentação
pelas informações, nas diversas mídias com a produção de novos espaços, em
uma analogia ao que Guattari e Deleuze (1997) consideram territórios. Esses
espaços incluem o ciberespaço como novo espaço de conhecimentos. De
acordo com Levy (1999, p.158):
(…) devemos construir novos modelos do espaço dos conhecimentos. No lugar de uma representação em escalas lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas em “níveis”,
131
organizadas pela noção de pré-requisitos e convergindo para saberes “superiores”, a partir de agora devemos preferir a imagem de espaços de conhecimento emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se organizando de acordo com os objetivos ou contextos, nos quais cada um ocupa uma
posição singular evolutiva.
A Cultura da Mobilidade possibilita construir uma nova “sala de aula” para
a EJA (talvez nem devêssemos chamar de sala de aula, sendo mais coerente
tratá-la como um novo espaço, que ainda não existe), na qual a aprendizagem
não sofra as limitações físicas da escola. Mas possa ocorrer de forma móvel,
como a natureza humana, favorável aos processos de Aprendizagem ao Longo
da Vida, e, ao mesmo tempo, possa estar na escola, ou seja, uma Aprendizagem
Móvel. Quando a Cultura da Mobilidade é abordada a partir da compreensão de
desenvolvimento dos processos cognitivos superiores, caracteriza-se Mobile
Learning. Conforme Saccol et. al. (2011, p. 16):
Aprender com mobilidade (enquanto se está em movimento) ou de forma ubíqua (em qualquer lugar, a qualquer momento, com recursos sensíveis ao contexto do usuário) não representa algo propriamente inovador. Essas possibilidades de aprendizagem sempre foram buscadas e potencializadas com tecnologia (ainda que ‘rudimentares’) como livros, cadernos e outros instrumentos móveis (portáteis) há muito tempo existentes, além de ser comum aproveitarmos diversos contextos e horários para desenvolver atividades que envolvam aprendizagem. De uma maneira ou de outra, enquanto vivemos e trabalhamos, estamos sempre aprendendo, seja de maneira formal ou informal.
Assim, Mobile Learning funda-se nas concepções da Cultura da
Mobilidade, que vem imbuída na Cibercultura (neste texto já mencionada) ao
utilizar artefatos comunicacionais para sua potencialização, estando presente na
trilha dos nômades que buscam por novos territórios – os informacionais.
Entretanto, não há um oásis! Esses caminhos apresentam “vegetações
rizomáticas, temporárias e móveis em função de chuvas locais, e que
determinam mudanças de orientação dos percursos” (GUATTARI; DELEUZE,
1997, p. 45). Contudo, mesmo que não haja limites físicos e, tampouco, existam
territórios fixos para a Cultura da Mobilidade, o sentido de lugar não é diluído,
uma vez que “as mobilidades físicas e informacional aumentam as ações sobre
o espaço” (LEMOS, 2009, p. 31).
A miúde, a Cibercultura permite a exploração de novas possibilidades
informacionais no ciberespaço, mas essas podem modificar-se a qualquer
132
momento, como uma página web que “cai” ou que, ainda que esteja sendo visita,
pode sofrer modificações por seus mantenedores ou por invasores. Contudo, os
sujeitos, ao acessarem (ou tentarem acessar) essas informações, o fazem de
um lugar, um território que, apesar de móvel, guarda as suas relações com as
experiências. E, segundo Lemos (2009, p. 31),
(…) toda a nossa experiência é fundada em lugares e por mais que as novas tecnologias sejam sofisticadas e permitam ações à distância, nossa experiência é sempre locativa. As mídias produzem sentidos de lugar.
No caso, um lugar dinâmico e turbulento – e por isso as comunicações
eletrônicas não substituem os contatos face-to-face. Como defende Lèvy (1999),
o virtual não é contrário ao real.
É virtual toda entidade ‘desterritorializada’, capaz de gerar de diversas manifestações concretas em diferentes momentos e locais determinados sem, contudo, estar ela mesma presa a um lugar ou tempo particular. (Ibidem, p. 47).
Lemos (2009, p. 38) caracteriza a Cibercultura a partir de um “território
recombinante” e, ainda, defende a criação de territórios informacionais para o
fomento de novas práticas recombinatórias. Nessa ótica, ele aborda três
princípios básicos da sociedade: a “Cibercultura Remix”, a qual pauta-se na
natural hibridização de culturas, em uma recombinação veloz e de alcance global
que se expressa pela cultura pós-massiva das redes; os princípios da Sociedade
da Informação ou Sociedade em Rede; e a noção de território, originária dos
estudos de Deleuze e Guatarri (1997), não como estanque ou determinado, “já
que as bordas ou os limites são limiares a partir dos quais uma coisa começa a
existir” (LEMOS, 2009, p.32).
Para o teórico existem leis ou princípios que norteiam a noção de
movimento da recombinação cultural em um território eletrônico em crescimento
planetário.
há três leis que estão na base do processo cultural atual da cibercultura, a saber: a liberação do polo da emissão, o princípio de conexão em rede e a consequente reconfiguração sociocultural a partir de novas práticas produtivas e
recombinatórias. (Ibidem).
Na primeira – a liberação do polo de emissão – os sujeitos que outrora
atuavam como receptores na cultura de massa, agora podem produzir e publicar
informações, quase instantaneamente, utilizando-se da multimodalidade e
133
apresentando o seu produto ao mundo. Esses produtos fazem parte da
Cibercultura a partir da conexão, já que não é possível emitir sem conectar. A
conexão enquanto a segunda lei que está na base do processo cultural, volta-se
ao uso das redes e suas configurações “para a criação de vínculos sociais locais,
comunitários e mesmo planetários” (Ibidem). A terceira e última lei trata da
reconfiguração de práticas e instituições, que é uma consequência das duas
anteriores alternando-se “processos massivos e pós-massivos, na rede ou fora
dela”. (Ibidem)
As relações, entre a Cultura da Mobilidade, Mobile Learning e Cibercultura
focadas em novas práticas produtivas e recombinatórias resultando em
Aprendizagem Expansiva, estão apresentadas no Mapa Conceitual (figura 22):
Figura 22 – Mapa Conceitual - Cultura da Mobilidade
Fonte: A autora
A partir do Remix pós-massa, próprio da Cibercultura, a escola deve
estabelecer novas práticas produtivas. Porque a Sociedade em Rede explora
134
nesse remix, as possibilidades de colaboração, produção e compartilhamento
com livre polo de emissão (todos para todos), e assim os sujeitos – para exercício
da cidadania em seus territórios – precisam abarcar uma comunicação
multimodal. Mobile Learning, como visto no mapa conceitual apresentado,
possibilita que o uso das tecnologias digitais e dispositivos móveis atenda a
necessidade dessa comunicação pós-massa. Todavia, para viabilizar essa
comunicação, o papel consciente do professor é primordial e o uso de sua
“máquina de paz” deve estar alinhado às necessidades dos alunos, aos seus
motivos sociais e pessoais.
Atualmente, o tema Mobile Learning está em voga, mas vem sendo
estudado desde o final do Século XX, em pesquisas que trazem diferentes
definições e formas de utilização. Retomemos os pensamentos dos teóricos
mais citados nas pesquisas científicas na área.
Presky (2001) defende a perspectiva de uso do dispositivo móvel na
escola, tendo em vista a presença dos nativos e imigrantes digitais, em uma
relação comparada entre usuários. Essa perspectiva tem levado alguns
pesquisadores a defenderem que a utilização dos dispositivos móveis é própria
dos mais jovens – crianças e adolescentes. No entanto, com a mineração da
base de dados desta pesquisa, percebemos um grande número de trabalhos
utilizarem Mobile Learning para Educação de Adultos, acima de tudo, em nível
superior e em trabalho. Como nos casos de Albers et. al. (2017), Mulbert (2017),
Lee et. al. (2016), Vavoula (2005), entre outros.
Acreditamos que pensar Mobile Learning tendo a perspectiva geracional
como justificativa, é um grande equívoco. Afinal, a aprendizagem ocorre por toda
a vida e as habilidades e competências para uso de tecnologias digitais podem
ser conquistadas desde que incorporadas no cotidiano como parte da cultura
pessoal.
Sharples et. al. (2009) apoiam-se na Teoria da Atividade e defendem uma
teoria para era móvel, afirmando que nenhuma das teorias de aprendizagens,
até então apresentadas, colocou o seu foco de investigação na mobilidade dos
alunos. Consideram a aprendizagem como uma atividade instável e por isso
móvel, e tem esse termo vinculado a vários aspectos: o espaço físico, o
conceitual – ocorrendo uma concorrência entre temas e tópicos de
aprendizagem, fazendo com a atenção mude de foco –, o social (na atuação em
135
diferentes grupos), o aspecto do tempo, em uma concepção aproximada a de
aprendizagem ao longo da vida e no aspecto tecnológico (recursos digitais
móveis). Tratam o conceito como fluídico para além da sala de aula e a
aprendizagem ubíqua (com recursos sensíveis ao contexto do usuário).
Os estudiosos sugerem uma estrutura para analisar Mobile Learning,
como apresenta a figura 23:
Figura 23 – Uma estrutura para analisar Mobile Learning
Fonte: Sharples, Vavoula e Taylor (2006, p. 12).
Sharples et. al. (2006, p. 12) apresentam que o Sujeito da atividade é
usuário da tecnologia. O Objeto, são as tecnologias (acesso a informação), e o
semiótico (conhecimentos e habilidades). A mudança no objeto como resultado
vislumbrado são os conhecimentos e habilidades revisados. Os instrumentos
são as tecnologias de aprendizagem móvel e as pesquisas em aprendizagem.
As regras, renomeadas para controle, trazem a interação homem-máquina e
regras sociais. Na estrutura sugerida, tem-se o contexto colocado no sistema da
atividade como psicológico e o semiótico. Comunicação tecnológica (canais de
comunicação e protocolos) e semiótica (diálogo e divisão do trabalho). Suas
pesquisas dialogam com Davis (1989, 2001).
Engestrom analisa a atividade coletiva por meio de uma estru-tura expandida que mostra as interações entre a atividade medi-ada por ferramentas e as Regras culturais, Comunidade e Divi-são de Trabalho. Como adaptamos a estrutura de Engestrom para mostrar a relação dialética entre tecnologia e semiótica, en-tão tomamos a liberdade de renomear os fatores culturais com
136
termos – Controle, Contexto e Comunicação – que poderia ser adotada por teóricos da aprendizagem ou pela tecnologia desig-ners. (SHARPLES; VAVOULA; TAYLOR, 2006, p. 12)
Davis (1989) aborda Mobile Learning por meio de uma perspectiva
emergente trabalhando com a Metodologia de Estudo de Casos no ensino e
defende que:
O aprendizado baseado em casos oferece oportunidades para uma exploração mais rica e profunda de conceitos e ideias. Os alunos ganham experiência com a análise de ideias e aplicação de conceitos para resolver problemas ou atingir objetivos, em vez de adquirir conhecimento abstrato. A Aprendizagem Baseada em Casos requer preparação cuidadosa e facilitação qualificada por parte dos professores. Também requer que os alunos se envolvam uns com os outros e com seu ambiente e melhorem uma ampla gama de habilidades sociais e cognitivas. Avaliar a aprendizagem do aluno e avaliar o desempenho exige muito mais do que os tradicionais testes de múltipla escolha ou de resposta curta, mas objetivos de aprendizagem claros, padrões de desempenho e critérios relevantes podem permitir que os professores usem uma abordagem mais holística e melhor adaptem as atividades aos alunos necessidades. (DAVIS, 2010, p.180)
Traxler et. al. (2008) questiona até que ponto e-learning e mobile learning
se afastam, e defende o uso da tecnologia digital móvel como a principal
característica Mobile Learning. Ele afirma que ML pode ser considerada como
qualquer oferta educacional em que a única ou dominante tecnologia são os
dispositivos móveis.
O aprendizado móvel é novo. Atualmente é difícil definir, conceituar e discutir. Pode ser um formato educacional totalmente novo e distinto, precisando definir seus próprios padrões e expectativas, ou pode ser uma variedade de e-learning, herdando o discurso e as limitações desta disciplina um pouco mais madura. (TRAXLER, 2005, p. 261).
Após conhecer as diferentes ênfases dos principais pesquisadores da
área, fica-nos a questão: Mas, o que é Mobile Learning, afinal?
Saccol et. al. (2011), ao definirem Mobile Learning, consideram a
mobilidade dos sujeitos. E por isso, buscam apoio em conceito de aprendizagem
ubíqua com associação a Inteligência Artificial para expressar um avanço de
mobilidade para a aprendizagem, de modo que se configure uma possibilidade
de:
(…) a informação poder ser acessada em diferentes objetos com recursos computacionais, disponíveis ao sujeito sem a
137
necessidade de que ele ‘carregue’ fisicamente um dispositivo tecnológico que lhe permita acessá-la. O diferencial está no fato de que esses objetos contêm sensores ou mecanismos capazes de identificar a localização do sujeito e, a partir daí, fornecer informações que sejam mais adequadas às suas necessidades naquele momento e às condições em que ele se encontra. (SACCOL;SCHLEMMER; BARBOSA, 2011, p. 16).
Em busca de conhecer outras das diversas definições, apresentamos o
quadro 05:
Quadro 05 - Definições de Mobile Learning
DEFINIÇÃO FONTE
O uso integrador de dispositivos móveis no currículo de forma a facilitar a aprendizagem activa e criadora de significado através da geração de espaços de aprendizagem estendendo-se além das limitações físicas e temporais da sala de aula tradicional. Estes espaços de aprendizagem (espaços de aprendizagem móvel) são caracteristicamente dinâmicos, colaborativos e focados nas necessidades individuais do aprendente no contexto corrente.
Geraldine Tossisi-Steele, 2009, p.3041
Os processos (tanto pessoais como públicos) de chegar a conhecer através da exploração e conversão entre múltiplos contextos entre pessoas e tecnologias interactivas pessoais.
M. Sharples,
et. al., 2008
Qualquer actividade que permita aos indivíduos serem mais produtivos quando consumindo, interagindo com, ou criando informação, mediada através de um dispositivo compacto digital portátil que o indivíduo traz consigo numa base regular, tem conectividade fiável, e cabe num bolso ou bolsa.
Wexler, Brown, Metcalf,
Rogers e Wagner,
2008, p. 7
Mlearning combina as tecnologias das comunicações com o “eLearning”, que podemos definir como qualquer forma de material distribuído electronicamente com uma ênfase nas tecnologias baseadas na Internet. Permite-lhe ter acesso conectivo, em linha mesmo quando está em deslocação num ambiente móvel (...) a propósito do mlearning é desenvolver conteúdo de aprendizagem que se integre com aplicações móveis e forneça aprendizagem e performance numa dinâmica just-in-time, just-in-place.
Metcalf, 2006, p. 2
Qualquer tipo de aprendizagem que sucede quando o aprendente não está numa localização fixa, predeterminada, ou aprendizagem que sucede quando o aprendente aproveita a oportunidade de aprendizagem oferecida pelas tecnologias móveis.
O’Malley, Vavoula, Lefrere,
Sharples e Taylor,
2004, p. 6
Mlearning é a aquisição de qualquer conhecimento ou perícia através do uso da tecnologia móvel, em qualquer local, em qualquer altura, que resulta numa alteração de comportamento.
Geddes, 2004
O termo cobre o uso personalizado, conectado, e interactivo de computadores de mão nas salas de aula, na aprendizagem colaborativa, no trabalho de campo, e no aconselhamento e orientação.
Traxler, 2007
M-learning é a interseção da computação móvel como eLearning: recursos acessíveis onde quer que esteja, fortes capacidades de pesquisa, interação rica, apoio poderoso à aprendizagem efectiva, e
Quinn, 2000
138
avaliação baseada na performance, eLearning independente da localização no tempo e no espaço.
A aprendizagem móvel ou learning é a possibilidade de aprender em qualquer lugar a qualquer hora através de dispositivos móveis, como afirma Quinn (2000), “It,s elearning through mobile computational devices: Palms, Windows CE machines, even your digital cell phone”.
Moura e Carvalho,
2007
O estudo de como a mobilidade dos aprendentes, aumentada pela tecnologia pública e pessoal, pode atribuir para o processo de aquisição de novo conhecimento, habilidades e experiência.
Kukulska-Hulme, et. al., 2009
Refere-se às modalidades de ensino e aprendizagem que se valem do uso de dispositivos móveis (computadores portáteis, agendas eletrônicas, telefones móveis, tablets PCs, i-Pods, Pocket PCs etc...) e da conectividade sem fios para estabelecer comunicações entre os distintos agentes educativos com uma finalidade instrutiva.
Coll e Monereo, 2008, p.49
Aprendizagem emergente no processo da comunicação móvel pessoa-a-pessoa.
Nýiri, 2002
Fonte: Valentin (2009, p. 132).
É perceptível um grande consenso nas definições apresentadas, e,
também, a sua vinculação às tecnologias digitais móveis. Portanto, ousamos
uma reflexão endereçada a definir Mobile Learning, baseando-nos nos
fundamentos epistemológicos desta pesquisa.
Para nós, o uso de tecnologia digital não a define, mas caracteriza uma
de suas possibilidades. Considerando a aprendizagem a partir da construção
social, os homens das cavernas, ao realizarem registros nas pedras, utilizaram-
se dos princípios da Cultura da Mobilidade para que, em qualquer tempo, se
pudesse acessar as informações cunhadas visto serem as informações a base
do conhecimento. Assim como na invenção da prensa de Gutenberg, já se tinha
desejo de adquirir aprendizagens mediante o uso dos livros impressos, por
exemplo. Poderíamos ainda considerar inúmeras possibilidades de presença da
Cultura da Mobilidade em tempos diversos e com uso de tecnologias analógicas.
Então, além de reconhecermos a importância das tecnologias
(concordando com os demais pesquisadores), e a possível mobilidade dos
conceitos, escolhemos dizer que Mobile Learning é aprendizagem socialmente
construída – com ou sem finalidade educacional – que origina nova
atividade, explora territorializações diversas e pode ser potencializada a
partir da conectividade tecnológica, composição de redes informacionais
e uso das ferramentas digitais móveis.
Sem ingenuidade, tampouco mergulhados no romantismo da crença de
que a tecnologia digital é a panaceia para a Educação, quando falamos de
Mobile Learning e uso de dispositivos móveis, em especial, para a Educação de
139
Jovens e Adultos, precisamos refletir de forma dialética, atentos ao que assevera
Santaella (2011, p. 133, grifos nossos):
O extenso campo de operações de tecnologias móveis e locativas funciona como uma espécie de mapa vivo das contradições e paradoxos que assolam as sociedades do turbo capitalismo. Num extremo, elas são tecnologias utilizadas para o rastreamento e o controle militar e governamental, abrindo as portas para uma era de monitoramento e vigilância ubíqua e discretíssima, visto que invisíveis. Por isso, guardam em si uma latência para o malefício e para usos até mesmo sinistros. No outro extremo, essas mesmas tecnologias da mobilidade estão sendo apropriadas por práticas artísticas dos mais diversos tipos, algumas chamadas de mídias locativas, que vão a contrapelo de quaisquer tendencias maléficas, batendo nas teclas da liberdade participativa, do lúdico, da alegria e do prazer compartilhado, com aspirações inalienáveis da condição humana.
Essa realidade deve ser considera como uma contradição histórica, e por
isso, a necessidade das reflexões críticas, questionamentos e análises no que
se refere as tecnologias digitais, o que deve estar presente no uso de Mobile
Learning. Quando falamos de sistemas informacionais, o paradoxo entre o bem
e o mal são constantes. Mas, o certo e o errado só existem quando vinculados a
historicidade do analista. Desse modo, para os professores, além de atenção
aos interesses políticos, sociais e econômicos concorrentes, ao analisar os lados
– de um lado busca-se congelar a Sociedade como ela é, mesmo que desigual,
e noutro lutar-se pela igualdade social dos sujeitos – devem considerar que:
Apesar de todas as suspeitas que possam ser legitimamente nutridas, um fato permanece: um grupo ou indivíduo qualquer, sejam quais forem suas origens geográficas e sociais, mesmo que não tenha quase nenhum poder econômico, contanto que lance mão de um mínimo de competências técnicas, pode investir no ciberespaço por conta própria e adquirir dados, entrar em contato com outros grupos ou pessoas, participar de comunidades virtuais ou difundir para um público vasto informações de todos os tipos que ele julgar dignas de interesse. Essas novas práticas de comunicação persistem – e até mesmo aprofundam-se – na medida em que o ciberespaço se estende. Podemos prever sem muito risco de engano que elas continuarão a desenvolver-se no futuro. (LÉVY, 1999, p. 223)
A alimentação da “máquina de paz” na EJA está justamente aí. Não
defendendo que apenas o esforço individual globalizado será capaz de modificar
o status quo desumano e excludente que carregamos na sociedade capitalista,
tampouco atuando na crença de que as soluções de conectividade serão
140
suficientes para a redução das desigualdades. Mas sim atuando para que, a
partir da disponibilidade de acesso ao ciberespaço, convertam-se informações
em conhecimentos e se possa tirar proveitos coletivos da cibercultura em favor
da melhoria de condições de vida.
O capitalismo pressupõe desigualdades e exploração, porém, os
professores podem atuar como “intelectuais transformadores” (GIROUX, 1997)
dentro da Cibercultura, valorizando os fazeres coletivos, o conhecimento
científico e a construção permanente de saberes que impulsionem as
comunidades em direção aos direitos de participação e atuação cidadã. Essas
mudanças nômades (em que não existem respostas conhecidas) só são viáveis
a partir de novas práticas digitais, educativas e educacionais conscientes,
abordando informações multimodais.
Para novas práticas de ensino e aprendizagem na Cibercultura, não
existem receitas pré-definidas. As vislumbradas novas atividades não estão
desenhadas em sistemas conhecidos, uma vez que elas ainda não existem. Com
base nos estudos científicos realizados, sabe-se que se utilizam de sistemas
ligados a sistemas. Talvez, jamais sejam desenhadas de forma a caberem em
todas as situações de ensino e, inclusive, essa deve ser uma notícia positiva
visto respeitarmos a espontaneidade humana e dinamicidade dos grupos
sociais.
Nesse sentido, caminhamos em direção ao que afirma Freire (2005, p.
78), quando defende que “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo,
os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. Com o uso de Mobile
Learning no contexto escolar, vislumbramos um caminhar em que professores e
alunos, mergulhados em atividades expansivas, se educam em comunhão e
utilizam as possibilidades do mundo (considerando sua virtualidade) para o seu
desenvolvimento e aprendizagens.
5.2.1 De qual leitura estamos falando?
Pautados nos dados nacionais referentes a Educação de Jovens e
Adultos, recebemos críticas de que a escola de EJA não tem dado conta de
atender as necessidades de seu público, porque a evasão e os baixos índices
de rendimento são gritantes.
141
Apesar de não concordarmos com a frieza analítica e descontextualização
da EJA, as críticas fazem-nos refletir acerca dessas necessidades e nos
remetem a urgência de repensar práticas de ensino que possam minimizar o
afastamento deste público dos processos educacionais. Reafirmamos que esse
não é um retrato existente apenas em virtude das práticas docentes e suas
metodologias de ensino.
Porém, o professor consciente, defendido nesta pesquisa, é
estigmatizado por tal análise negativa. Todavia, é necessário relembrar que o
papel da escola é a Educação Formal, e, até mesmo, poderíamos ter resultados
diferentes com mais e melhores políticas públicas direcionadas à educação.
Porém os processos educativos, não ocorrem apenas na escola e, nesse
sentido, pode-se disseminar uma Cultura que atue direcionando informações
educacionais aos estudantes estando eles ou não no espaço físico da escola
(movimentos educativos desterritorializantes) sem deixar ninguém para trás.
Que fique claro que não falamos de Educação a Distância (EaD) – pois
acreditamos que a EaD não é inclusiva, tratando-se da EJA – mas reforçamos a
necessidade da criação de um Sistema de Atividade de Ensino, que ainda não
existe e possa responder essa demanda. Então, pautados na Cultura da
Mobilidade, temos Mobile Learning como uma porta possível à reaproximação
dos sujeitos estudantes dessa modalidade e que, ainda, possam buscar espaços
para vivências da aprendizagem ao longo da vida.
Mas, a questão não é tão simples o quanto parece. Supomos um diálogo
entre professor da EJA e pesquisadores de Mobile Learning em um exercício de
relativização do olhar a procura por soluções práticas.
Professor da EJA: Os estudantes não têm internet de alta velocidade e seus pacotes de dados são bastante limitados quando têm dispositivos móveis conectados. Pesquisadores de Mobile Learning: Temos Mobile Learning como uma porta possível, com o uso de espaços públicos como bibliotecas e laboratórios de informática. Professor da EJA: Mas, como fazer se não há conectividade nos espaços públicos? Pesquisadores de Mobile Learning: Temos Mobile Learning como uma porta possível! Pode-se oferecer informações a partir de tecnologias analógicas e compor redes desterritorializadas de saberes entre as pessoas. Professor da EJA: Mas os estudantes não têm domínio da leitura e da escrita! E essa é uma das principais funções da EJA:
é incluir os estudantes no mundo da leitura.
142
A partir desse hipotético e simulado diálogo, queremos afirmar que Mobile
Learning está a ser empregada nos arranjos metodológicos diversificados, que
o professor, a partir de seus saberes, pode fazer para “alimentar sua máquina
de paz”. Concordamos que “as escolas precisam de professores com visão de
futuro que sejam tanto teóricos como praticantes, que possam combinar teoria,
imaginação e técnicas.” (GIROUX, 1997, p. 40).
Freire (1989) aborda a alfabetização de oprimidos e defende que a
aprendizagem da leitura da palavra deve estar associada a leitura de mundo,
com observância da realidade social dos sujeitos que aprendem, em uma
configuração na qual os professores se despem da arrogância do domínio do
saber, colocando-se na posição de aprender junto, porque “ninguém ignora tudo.
Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos
alguma coisa.” (FREIRE, 1989, p. 39), valorizando assim os saberes que os
estudantes trazem consigo a partir de suas experiências de vida.
Quando tratamos do ciberespaço, podemos utilizar tais fundamentos.
Afinal, por menores que sejam as habilidades digitais dos sujeitos, existem
informações a respeito do mundo virtual que circulam oralmente, informações
essas que estão presentes nas músicas, nas propagandas, nos diálogos de rádio
e TV dentre outros, ou seja, impressas no cotidiano. Assim, ao ser dita a palavra
e-mail, por exemplo, e intencionalmente utilizada uma expressão de outro
idioma, os estudantes, mesmo que não o tenham, sabem – em sua maioria –
que por meio do e-mail são enviadas e recebidas mensagens.
Porém, na prática docente de ensino, as estratégias precisam ultrapassar
as questões técnicas e propiciar reflexões a respeito de sua própria realidade.
Pode-se criar, por exemplo na prática de ensino, uma Base de Orientação
estruturada para realização de Ações (BOA) que aborde o conceito cotidiano de
e-mail. De forma um tanto simplória, imaginemos duas propostas orientadoras:
em uma primeira, solicita-se o envio de um e-mail para o professor, com o seu
número de telefone e nome completo. Na segunda, solicita-se o envio de um e-
mail, para um dos vereadores de sua cidade, endereçando-lhe uma pergunta a
respeito de sua atuação na Câmara Municipal tratando um problema ambiental
da comunidade e identificando-se no final.
143
A segunda proposta, além do tratamento do conceito de e-mail,
abordando o que é e-mail, a sua criação, como funcionam as tecnologias nas
trocas de mensagens, quem os controla etc., pode, também, direcionar os
estudantes ao campo reflexivo por vários caminhos, sobre os problemas da
comunidade e o meio ambiente, da organização social, de seus direitos enquanto
cidadãos, das obrigatoriedades que carrega um vereador, seu perfil de trabalho,
limites e possibilidades de sua atuação em favor da população. Esse diálogo
pode ser continuado a partir da troca de áudios com uso de aplicativos, transitar
pela busca, produção e análise de fotografias vinculadas aos fatos sociais do
momento na região e findar com a produção de um vídeo compartilhado via
bluetooth que, editado pelo professor, terá seu upload realizado em mídias
digitais (que informam) e sociais (que possibilitam a composição de grupos de
diálogo).
Costa e Camargo (2018) apresentam uma pesquisa com uso de Mobile
Learning, em ambiente escolar, que é consoante com a segunda proposta.
As atividades foram desenvolvidas com 112 estudantes do curso de Formação de Docentes Integrado (FDI) nível do Ensino Médio em uma escola pública e o objetivo foi ensinar o conteúdo de funções (crescente, decrescente e constante) a partir da análise da conta de água além de desenvolver uma prática experimental do conceito de banho rápido. Os resultados da intervenção didática e as análises das novas cobranças no consumo de água no estado do Paraná, da utilização o app Banho Rápido para desenvolver conceito de banho rápido, foram aplicados em um dos períodos em que foi lecionada a disciplina de Matemática,
no ano de 2017. (Ibidem., p. 03).
Na primeira proposta, o professor poderia resolver o problema da falta de
contatos telefônicos de forma bem mais rápida, com uso de tecnologias
analógicas como uma folha de papel e um lápis. Por outro lado, perderia a
oportunidade de transformar o conteúdo científico por meio da sequência
didática em projeto de aprendizagem.
Esse é um movimento necessário a ser discutido e vivenciado na
formação de professores em trabalho, tocando a sua profissionalidade não como
um treinamento no qual os professores serão multiplicadores de tarefas,
reproduzindo o passo a passo do que vivenciou, mas como momento de reflexão
144
crítica para a mudança da e sobre a prática, beneficiando-se do poder
comunicativo das mídias digitais. Como defende Giroux (1997, p. 21):
Os professores são treinados para usarem quarenta e sete modelos diferentes de ensino, administração ou avaliação. Contudo, eles não são ensinados a serem críticos destes modelos. Em resumo, ensina-se a eles uma forma de analfabetismo conceptual e político.
É fato que o ciclo de produção mencionado, na segunda proposta, o qual
se dá dentro e fora do espaço físico da escola, de modo intermitente, exige que
professores e estudantes desenvolvam habilidades tecnológicas e digitais. Mas,
exige também que desenvolvam aprendizagens relacionadas a leituras de
informações de caráter multimodais (diversas culturas + diversas linguagens) e
sua feitura em formatos múltiplos (vídeos, textos, áudios, fotografias, etc),
comunicando-se com a Cibercultura. Nesse aspecto, os novos multiletramentos
devem compor as práticas de ensino na EJA. Para Rojo (2019, p.19, grifo nosso):
Multiletramentos é um conceito bifronte: aponta, a um só tempo, para a diversidade cultural das populações em ôxodo e para a diversidade de linguagens dos textos contemporâneos, o que vai implicar, é claro, uma explosão multiplicativa dos letramentos, que se tornam multiletramentos, isto é, letramentos em múltiplas culturas e em múltiplas linguagens (imagens estativas e em movimento, música, dança e gesto, linguagem verbal oral e escrita etc.).
De acordo com essa autora, os novos multiletramentos voltam-se as
mídias digitais presentes na atual sociedade, e carregam características como a
interatividade, transgressão das relações de poder – que pode ser relacionado
aqui ao livre polo de emissão – e transgressão de “propriedade (das máquinas,
das ferramentas, das ideias, dos textos [verbais ou não]); são híbridos,
fronteiriços, mestiços (de linguagens, modos, mídias e culturas)”. (Ibidem.).
Trabalhar novos multiletramentos é incluir no Currículo da EJA, práticas
de ensino que utilizem Realidade Aumentada, Realidade Virtual, Inteligência
Artificial, Robótica, Edição de textos, imagens e vídeos, Cinema, Artes Plásticas,
GPS, dentre outras; é, principalmente, adotar práticas que derrubem os limites
das interações com o mundo, presencial ou virtual, desfazendo o caráter fixo da
escola com professores que atuem mediatizando espaços de acesso ao
conhecimento disponível no planeta.
145
Portanto, a leitura a ser vislumbrada, na EJA, não se finda com a leitura e
escrita das palavras, como no ba-be-bi-bo-bu mencionado por Freire, mas deve
permitir aos sujeitos a leitura de mundo(s) e o trânsito entre diversos territórios
de aprendizagens, inclusive expansivas e inimagináveis, posicionados para além
da escola, de modo que o espaço territorializado da Educação formal funcione
como uma ponte para descobertas de motivos pessoais que mobilize estudantes
e professores em direção aos incógnitos conhecimentos; e, consequentemente,
os encaminhe para a sua libertação a partir dos novos saberes e do exercício
crítico de sua existência em uma sociedade capitalista e globalmente desigual.
Isso é o que pode propiciar a adoção de Mobile Learning na EJA, e como
caracteriza-se a diferença entre as práticas exercidas nessa modalidade e a
proposta aqui ora apresentada, na qual professores e estudantes, nômades,
desterritorializados, reconfiguram suas atividades atuando em comunhão em
prol do bem comum – a libertação, explorando múltiplas linguagens e culturas.
Seria o fim da escola? Não... Mas uma nova forma de sua existência, talvez até
com outro nome.
Apertemos o reset!
146
6 METODOLOGIA DA PESQUISA: delineando caminhos
Nesta seção delinearemos os caminhos trilhados na pesquisa,
considerando as bases epistêmico-metodológicas do estudo; o contexto e os
sujeitos da investigação; os procedimentos e o percurso metodológicos da
pesquisa e o tratamento dos dados (organização e análise). Para embasar nosso
estudo teórico-metodológico, adotamos como principais autores: Engestrom
(2001), e Virkkunen & Newnham (2015) que trabalham com a “Teoria da
Aprendizagem Expansiva” e a “Metodologia de intervenção formativa Laboratório
de Mudança”, enquanto ferramenta de desenvolvimento colaborativo para o
trabalho e a educação, respectivamente.
Quanto à abordagem, esta pesquisa é quantitativo-qualitativa; já, em
relação à natureza, é aplicada; no que se refere aos objetivos, é um estudo
descritivo; trata-se de uma pesquisa participante, com vistas na realização de
uma intervenção formativa para reconfiguração da prática docente de
professores da EJA em relação ao uso de dispositivos móveis como
conhecimento profissional da docência nessa modalidade de ensino. Mediante
esse caminho, buscar-se-á responder ao problema de pesquisa e seus objetivos
(geral e específicos) a partir de um paradigma sócio-crítico de investigação.
6.1 O paradigma socio-crítico na investigação e o percurso metodológico
O paradigma socio-crítico se expressou como inquietação oriunda das
desigualdades sociais geradas pelo sistema capitalista, aos olhos daqueles que
não defendiam a sua lógica. É fruto da Escola de Frankfurt e volta-se aos
processos de reflexão da realidade para tomadas de decisões focadas na
transformação do contexto analisado. Pauta-se nas ideias do materialismo
histórico-dialético de Marx (1818-1883) e Engels (1820-1895), enquanto Teoria
Crítica, em que seus investigadores defendem que tudo está determinado por
questões sociais – pela sociedade onde ocorre –, não sendo possível conhecer
objetivamente a realidade.
Engels (1976) afirma que os conceitos da dialética se aplicam aos
fenômenos naturais. Kosik (1976) explicita que são as relações estabelecidas
pelas pessoas com o meio material que concebem o real, portanto, a dialética
147
torna fatível a revolução do status quo, pelo fato de viabilizar cognoscível de que
a realidade será sempre resultado da práxis humana.
Nesse contexto, compreende-se, neste trabalho, que essa perspectiva
pode nos aproximar da essência do objeto de estudo, expressando-a mediante
a descrição do fenômeno.
Sobre isso escreve Kosik (1976, p. 19):
O mundo real não é, portanto, um mundo de objetos 'reais' fixa-dos, que sob o seu aspecto fetichizado levem uma existência transcendente como uma variante naturalisticamente entendida das ideias platônicas; ao invés, é um mundo em que as coisas, as relações e os significados são considerados como produtos do homem social, e o próprio homem se revela como sujeito real do mundo social. (...) Ao contrário do mundo da pseudoconcre-ticidade, o mundo da realidade é o mundo da realização da ver-dade, é o mundo em que a verdade não é dada e predestinada, não está pronta e acabada, impressa de forma imutável na cons-ciência humana: é o mundo em que a verdade devém. Por esta razão a história humana pode ser o processo da verdade e a história da verdade. A destruição da pseudoconcreticidade sig-nifica que a verdade não é nem inatingível, nem alcançável de uma vez para sempre, mas que ela se faz; logo, se desenvolve e se realiza.
Essa corrente filosófica defende a Teoria Crítica enquanto Ciência Social,
nem puramente empírica, nem apenas interpretativa. São largamente utilizadas
em pesquisas participantes, na busca por solucionar problemas específicos das
comunidades envolvendo a participação de seus membros e estimulando que
todos possam estabelecer sentidos de conscientização, no tangente aos seus
papéis em um determinado grupo social.
Adotando esse paradigma, os procedimentos para a realização desta
pesquisa podem ser apresentados em um percurso metodológico organizado em
quatro em etapas, de acordo com o quadro:
148
Quadro 06 - Percurso metodológico da pesquisa
ETAPAS METAS / OBJETIVOS
Primeira etapa
Identificação do Problema de pesquisa
e delimitação dos objetivos
Identificar o problema de pesquisa e seus objetivos
Segunda etapa
Produção do corpo teórico
Realizar a revisão de literatura
Terceira etapa
Intervenção formativa
Identificar os sujeitos, o contexto da pesquisa e os instrumentos a serem utilizados na intervenção formativa
Identificar necessidades formativas de docentes da EJA para uso das TDIC na atividade pedagógica
Desenvolver um novo modelo de atividade voltado para adoção de uso de mobile learning na Educação de Jovens e adultos
Potencializar a apropriação de aprendizagens expansivas com o uso de mobile learning
Quarta etapa Avaliação da intervenção e
resultados
Avaliar o alcance, as limitações e as perspectivas de implementação da proposta de intervenção formativa sobre o uso de mobile learning no espaço da Educação de Jovens e adultos
Fonte: Elaborado pela autora
6.2 Mapeamento da literatura
Estando a primeira etapa apresentada na introdução, desta pesquisa, é
dado seguimento para a exposição metodológica de sua segunda etapa.
Com o intuito de responder como estabelecer uma proposta de
intervenção formativa para reconfigurar a prática docente na EJA, de modo
a viabilizar a potencialização de Aprendizagens Móveis e Expansivas no
espaço de ensino e aprendizagem, buscou-se construir o corpo teórico e,
neste sentido, foram identificadas as palavras-chave: Mobile Learning;
Formação de Professores; Aprendizagem Expansiva; Educação de Jovens e
Adultos.
A produção do corpo teórico se alinhou a Teoria Histórico-Cultural,
expressa na busca pela Aprendizagem Expansiva, visto os pesquisadores
acreditarem que os processos educativos não são isolados e passam por
constantes influências sociais e históricas, com sujeitos que atuam em sistemas
que interagem. Deu-se, assim, o estudo acerca da aprendizagem móvel do
adulto, em trabalho, sendo esse adulto o professor da EJA, a qual nos direcionou
para uma metodologia formativa intervencionista – o Laboratório de Mudança.
Segundo Campanário e Santos (2011, p. 253), “o mapeamento da
literatura de um determinado campo de conhecimento científico é tão relevante
149
quanto a investigação que lhe dá origem”. Nessa perspectiva, o mapeamento
inicial teve por objetivo conhecer o status atual da área da pesquisa a partir da
busca por suas palavras-chave: “aprendizagem móvel”, “formação de
professores”, “educação de jovens e adultos”, e “aprendizagem expansiva”
(também foram utilizadas as traduções para o inglês).
6.2.1 Mapeamento Global: boelano and
Chamamos por mapeamento global a busca realizada com uso das
palavras-chaves da pesquisa, em combinação com boleano and. Inicialmente
foram escolhidas as bases Scopus e Web Of Science para realização da busca,
não retornando resultado (Figura 24), o que sinaliza o ineditismo da pesquisa
nessas bases de dados.
Figura 24 – Inexistência de resultados para busca na Web Of Science com
inclusão de todas as palavras-chave da pesquisa
Fonte: Web Os Science
Assim, o primeiro String explorado foi: ("teacher training" OR "formação
de professores") AND ("mobile learning" OR "aprendizagem móvel") AND ("youth
and adult education" OR "educação de jovens e adultos") AND ("expansive
learning" OR "aprendizagem expansiva").
Reconhecemos que a expressão “Educação de Jovens e Adultos” é
peculiarmente utilizada no Brasil. Nesse sentido, mantê-la no string foi
intencional.
150
6.2.2 Mapeamento: achados Mobile Learning e Formação de Professores
Para pesquisa da temática, foi construído string com inclusão da
expressão “educação de adultos”, por esse termo ser o mais utilizado
mundialmente quando se trata do público da EJA. A partir do uso da grande área
da pesquisa (Mobile Learning) seguimos às buscas com a combinação dos
operadores booleanos “and” e “or”, como mostra o quadro 07:
Quadro 07 - Comparativo do resultado das buscas
SCRIPT WEB OF SCIENCE SCOPUS
String 1 ("mobile learning" OR "aprendizagem móvel") AND ("teacher
training" OR "formação de professores")
Publicações 70 69
Área Educação e Pesquisa em
Educação: 56
Ciências Sociais: 37
Período 2016-2019 35 17
Acesso livre 13 7
String 2a ("mobile learning" OR "aprendizagem móvel") AND ("youth and
adult education" OR "educação de jovens e adultos")
Publicações 0 0
Área 0 0
Período 2016-2019 0 0
Acesso livre 0 0
String 2b ("mobile learning" OR "aprendizagem móvel") AND ("adult
education" OR "educação de adultos")
Publicações 11 11
Área Educação e Pesquisa em
Educação: 7
Ciências Sociais: 5
Período 2016-2019 2 2
Acesso livre 0 0
String 3 ("mobile learning" OR "aprendizagem móvel") AND ("expansive
learning" OR "aprendizagem expansiva")
Publicações 2 0
Área Educação e Pesquisa em
Educação: 1
0
Período 2016-2019 1 0
Acesso livre 0 0
Fonte: A autora
A seguir, tem-se as tabelas com os resultados encontrados, sendo a
tabela 01 referente aos 13 artigos localizados na Web Of Science com acesso
livre; a tabela 02 referentes aos 7 artigos localizados na Scopus com acesso
livre, totalizando 20 achados. A tabela 03 apresenta o resultado de união das
duas bases, com exclusão da interseção, ou seja, dos 5 materiais duplicados.
151
Tabela 01 - Resultado da busca com script de string 1 na Web Of Science
TÍTULO AUTOR PERIÓDICO ANO
1- The students' academic writ-ing skill after implementing
blended learning using face-book
Sulisworo, Dwi and Ra-hayu, Triwati and Akhsan,
Rifai Nur
INFORMATION TECHNOLO-
GIES AND LEARNING
TOOLS
2016
2-Ubiquitous learning: a learn-ing process in Physical Educa-tion in the Natural Environment
Gallego-Lema, Vanesa and Alberto Munoz-Cristobal, Juan and Francisco Arri-bas-Cubero, Higinio and
Rubia-Avi, Bartolome
REVISTA LATI-NOAMERI-
CANA DE TEC-NOLOGIA EDU-CATIVA-RELA-
TEC
2016
3-Developing mobile learning practices through teacher edu-
cation Outcomes of the MLEARN pilot
Passey, Don and Zozimo, Joana
INTERACTIVE TECHNOLOGY
AND SMART EDUCATION
2016
4-Using the mTSES to Evaluate and Optimize mLearning Pro-
fessional Development
Power, Robert and Cristol, Dean and Gimbert, Belinda and Bartoletti, Robin and
Kilgore, Whitney
INTERNA-TIONAL RE-
VIEW OF RE-SEARCH IN OPEN AND
DISTRIBUTED LEARNING
2016
5-Blended learning, e-learning and mobile learning in mathe-
matics education
Borba, Marcelo C. and Askar, Petek and Engel-
brecht, Johann and Gada-nidis, George and Llinares,
Salvador and Sanchez Aguilar, Mario
ZDM-MATHE-MATICS EDU-
CATION 2016
6-Implementation of SMART Teaching 3.0: Mobile-Based
Self-Directed EFL Teacher Pro-fessional Development
Lee, Jin-Hwa and Kim, Heyoung
JOURNAL OF ASIA TEFL
2016
7-Design of Mobile Learning strategies through blended
learning enviroment
Boude Figueredo, Oscar Rafael and Barrero, Iris
SOPHIA-EDU-CACION
2017
8-The flipped learning approach in teaching degrees: students'
perceptions
Deborah Martin, R. and Touron, Javier
RIED-REVISTA IBEROAMERI-
CANA DE EDU-CACION A DIS-
TANCIA
2017
9-Organized Hypocrisy in EFL Teacher Training Programs
Karim, Abdul and Mo-hamed, Abdul Rashid and Ismail, Shaik Abdul Malik Mohamed and Rahman,
Mohammad Mosiur
INTERNATIO-NAL JOURNAL OF INSTRUC-
TION
2018
152
TÍTULO AUTOR PERIÓDICO ANO
10-Teacher Training in the Mo-bility Era: methodologies and
apps to engage students using their mobile devices
Carvalho, Ana Amelia A.
REVISTA TEM-POS E ESPA-COS EDUCA-
CAO
2018
11-The Effectiveness of Physics Mobile Learning (PML) with
HomboBatu theme to Improve the Ability of Diagram Repre-
sentation and Critical Thinking of Senior High School Students
Saputra, M. Reza Dwi and Kuswanto, Heru
INTERNATIO-NAL JOURNAL OF INSTRUC-
TION
2019
12-The social representations of future teachers of Quebec on the role of mobile learning as
students
Pontes, Renata Lopes Ja-guaribe and Karsenti, Thi-
erry
EDUCACAO \& FORMACAO
2019
13-Teacher Readiness to Adopt Game-based Mobile Learning
With Augmented Reality
Marques, Margarida M. and Pombo, Lucia
INTERACTION DESIGN AND
ARCHITECTU-RES
2019
Fonte: a autora
Tabela 02 - Resultado da busca com script de string 1 na Scopus
TÍTULO AUTOR PERIÓDICO ANO
1 -Using the mTSES to evaluate and optimize mlearning profes-
sional development (DUPLICADO)
Power, R. and Cristol, D. and Gimbert, B. and Bar-toletti, R. and Kilgore, W.
International Review of Re-search in Open and Distance
Learning
2016
2-Developing mobile learning practices through teacher educa-tion: Outcomes of the MLEARN
pilot (DUPLICADO)
Passey, D. and Zozimo, J.
Interactive Technology and Smart Educa-
tion
2016
3-Blended learning, e-learning and mobile learning in mathemat-
ics education (DUPLICADO)
Borba, M.C. and Askar, P. and Engelbrecht, J. and Gadanidis, G. and
Llinares, S. and Aguilar, M.S.
ZDM - Mathe-matics Educa-
tion 2016
4-Implementation of SMART teaching 3.0: Mobile-based self-
directed EFL teacher professional development
(DUPLICADO)
Lee, J.-H. and Kim, H. Journal of Asia
TEFL 2016
5-Choosing and adapting a mo-bile learning model for teacher
education
Ireri, B.N. and Wario, R.D. and Mwingirwa, I.M.
Handbook of Research on
Digital Content, 2017
153
Mobile Learn-ing, and Tech-nology Integra-tion Models in
Teacher Educa-tion
6-Organized hypocrisy in EFL teacher training programs
(DUPLICADO)
Karim, A. and Mohamed, A.R. and Ismail, S.A.M.M.
and Rahman, M.M.
International Journal of Ins-
truction 2018
7-Multivariate analysis of ele-ments related to mobile learning in higher education in Colombia
[Análisis multivariado a los facto-res relacionados con el aprendi-zaje móvil en la educación supe-
rior en Colombia]
Estrada-Villa, E.J. and Boude-Figueredo, O.R.
Revista Electro-nica Educare
2018
Fonte: a autora
Após extração de publicações duplicadas nas bases Web Of Science e
Scopus, para a busca da combinação das palavras-chave “aprendizagem móvel”
e “formação de professores”, ficaram 15 publicações, as quais podem ser vistas
na tabela 03.
Figura 25 – Representação gráfica do resultado de busca
Fonte: A autora
Tabela 03 - Resultado após extração de publicações duplicadas na Scopus e
Web Of Science sobre Mobile Learning e Formação de Professores
TÍTULO AUTOR PERIÓDICO ANO
1-Blended learning, e-learning and mobile learning in mathematics ed-
ucation
Borba, Marcelo C. and Askar, Petek and Engel-
brecht, Johann and Gada-nidis, George and Llinares,
Salvador and Sanchez Aguilar, Mario
ZDM-MATHE-MATICS EDU-
CATION 2016
2-Choosing and adapting a mobile Ireri, B.N. and Wario, R.D.
and Mwingirwa, I.M. Handbook of Re-search on Digital
2017
Web Of Science
8
Scopus
2 5
Duplicados
154
learning model for teacher educa-tion
Content, Mobile Learning, and
Technology Inte-gration Models in Teacher Educa-
tion
3-Design of Mobile Learning strat-egies through blended learning en-
viroment
Boude Figueredo, Oscar Rafael and Barrero, Iris
SOPHIA-EDU-CACION
2017
4-Developing mobile learning prac-tices through teacher education Outcomes of the MLEARN pilot
Passey, Don and Zozimo, Joana
INTERACTIVE TECHNOLOGY
AND SMART EDUCATION
2016
5-Implementation of SMART Teaching 3.0: Mobile-Based Self-
Directed EFL Teacher Professional Development
Lee, Jin-Hwa and Kim, Heyoung
JOURNAL OF ASIA TEFL
2016
6-Multivariate analysis of elements related to mobile learning in higher
education in Colombia [Análisis multivariado a los factores relacio-nados con el aprendizaje móvil en la educación superior en Colom-
bia]
Estrada-Villa, E.J. and Boude-Figueredo, O.R.
Revista Elec-tronica Educare
2018
7-Organized Hypocrisy in EFL Teacher Training Programs
Karim, Abdul and Mo-hamed, Abdul Rashid and Ismail, Shaik Abdul Malik Mohamed and Rahman,
Mohammad Mosiur
INTERNA-TIONAL JOUR-
NAL OF IN-STRUCTION
2018
8-Teacher Readiness to Adopt Game-based Mobile Learning With
Augmented Reality
Marques, Margarida M. and Pombo, Lucia
INTERACTION DESIGN AND ARCHITEC-
TURES
2019
9-Teacher Training in the Mobility Era: methodologies and apps to
engage students using their mobile devices
Carvalho, Ana Amelia A.
REVISTA TEM-POS E ESPA-COS EDUCA-
CAO
2018
10-The Effectiveness of Physics Mobile Learning (PML) with Hom-boBatu theme to Improve the Abil-ity of Diagram Representation and
Critical Thinking of Senior High School Students
Saputra, M. Reza Dwi and Kuswanto, Heru
INTERNA-TIONAL JOUR-
NAL OF IN-STRUCTION
2019
11-The flipped learning approach in teaching degrees: students' per-
ceptions
Deborah Martin, R. and Touron, Javier
RIED-REVISTA IBEROAMERI-
CANA DE EDU-CACION A DIS-
TANCIA
2017
12-The social representations of future teachers of Quebec on the
role of mobile learning as students
Pontes, Renata Lopes Jaguaribe and Karsenti,
Thierry
EDUCACAO \& FORMACAO
2019
13-The students' academic writing skill after implementing blended
learning using facebook
Sulisworo, Dwi and Ra-hayu, Triwati and Akhsan,
Rifai Nur
INFORMATION TECHNOLO-
GIES AND LEARNING
TOOLS
2016
14-Ubiquitous learning: a learning process in Physical Education in
the Natural Environment
Gallego-Lema, Vanesa and Alberto Munoz-Cristo-bal, Juan and Francisco
REVISTA LATI-NOAMERICANA
2016
155
Arribas-Cubero, Higinio and Rubia-Avi, Bartolome
DE TECNOLO-GIA EDUCA-
TIVA-RELATEC
15-Using the mTSES to evaluate and optimize mlearning profes-
sional development
Power, R. and Cristol, D. and Gimbert, B. and Barto-
letti, R. and Kilgore, W.
International Re-view of Research in Open and Dis-tance Learning
2016
Fonte: A autora
A análise dos 15 trabalhos foi iniciada com a leitura dos títulos e resumos,
sendo utilizados os critérios de inclusão: estudos primários e secundários no
scopo da pesquisa, área de Ciências Sociais e/ou Educação e/ou Pesquisa em
Educação, período de 2016/2019, acesso livre. O critério de exclusão foi: línguas
diferentes do inglês, espanhol ou português.
Além dos materiais localizados nas bases de dados, outros materiais
foram introduzidos, manualmente, em consonância com os princípios
epistemológicos, desta pesquisa, como o reconhecimento acadêmico dos
autores no campo em estudo.
6.2.3 Rede de Pesquisadores do campo de conhecimento Mobile Learning
Neste tópico, buscamos conhecer o quadro teórico de Mobile Learning no
Brasil e no Mundo a partir da visualização da rede de pesquisadores.
Na base Scopus, foram identificados 7.797 resultados para documentos.
Porém, apenas 1.021 de acesso livre. A maior parte das publicações está
concentrada na área de Ciências Sociais (518 publicações), seguidas pelas
áreas de Ciência da Computação e de Engenharia. Após área, foi filtrado período
2016-2019 no qual foram localizados 261 documentos.
Na base Web Of Science, na busca pela palavra-chave Mobile Learning,
foram identificados 4.869 resultados, desses 1.062 de acesso livre. A maior parte
das publicações está concentrada na área de Educação e Pesquisa em
Educação (639 publicações). Assim, após refinamento por área, o último
refinamento da busca foi para o período 2016-2019 resultando em 302
publicações.
Esse resultado nos fez decidir pelo uso da Web Of Science como principal
base de dados a ser explorada para construção de nosso referencial teórico.
Afinal, a área está melhor caracterizada e o resultado quantitativo de achados é
mais abrangente.
156
Quadro 08 - Escolha da Base de Dados
Busca pelo string “mobile
learning”
Acesso livre
Área Período
2016-2019
Scopus 7797 1021 Ciências Sociais
518 261
Web Of Science 4869 1062 Educação e Pesquisa em
Educação 639
302
Fonte: a autora
Após composição da base de dados da pesquisa, foi utilizada a
ferramenta “CitNetExplorer”, que auxilia a análise de padrões de citações na
literatura científica, indicando publicações relevantes e de excelência
acadêmica. A partir dessa rede de citações, foram identificadas as principais
obras dos autores pesquisados, mais ativos, reconhecidos e citados no campo
científico, e a partir daí o corpo teórico fora produzido, em diálogo com
pesquisadores de referência nacional dentro da área de Tecnologias na
Educação. Foi incluída na rede de citações as principais referências citadas dos
artigos da busca, ampliando a rede para 327 publicações.
Figura 25 – Rede de Pesquisadores mais influentes na área Mobile Learning
Fonte: CitNetExplorer
Na rede constituída, pode-se observar citações a trabalhos de Vygotsky
(1978) como o mais antigo trabalho citado pelos pesquisadores, reforçando o
157
caminho teórico abordado nesta pesquisa no tangente a Teoria Histórico-
Cultural.
Além desse, foram identificados Davis (1989), Lave (1992), Presky (2001),
Traxler (2008), Sharples (2009) como teóricos precursores mais citados por
pesquisadores que investigam o campo de Mobile Learning.
Identificamos, ainda, que a maioria dos estudos são realizados em países
orientais e estão relacionados a área de tecnologia e/ou saúde. O
AUSTRALASIAN JOURNAL OF EDUCATIONAL TECHNOLOGY é o periódico
com maior número de publicações da área.
O diagrama que segue apresenta o script de busca realizado para
composição da rede de citações.
Figura 26 – Diagrama de fluxo de trabalhos incluídos nas análises, a partir da
Web Of Science
Fonte: A autora
6.2.4 Mapeamento no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES
Para o reconhecimento das pesquisas realizadas, no Brasil, sobre Mobile
Learning, utilizamos busca no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES.
Figura 27: Pesquisas resultantes da busca com string “Mobile Learning” no
Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES
Fonte: https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/
4869 String
“mobilie learning”
1062 Filtro:
Acesso livre
639 Filtro: área Educação e
Pesquisa em Educação
302 Filtro:
período 2016-2019
327 Inclusão das
principais referências
158
As pesquisas sobre Mobile Learning são crescentes, percebe-se a
presença de 162 estudos que abordam Mobile Learning, publicados no período
de 2006 até 2019, como pode ser visto no Gráfico 02.
Gráfico 02: Crescimento das pesquisas - no Catálogo de Teses e Dissertações
da CAPES - com uso da string “Mobile Learning”
Fonte: A autora
Porém, após mineração de textos feita com uso dos títulos, dos 162
estudos localizados viu-se que apenas 8 (NECKEL, 2016; RAPAPORT, 2016;
BARROS, 2014; PINHEIRO, 2017; BERNARDO, 2015; LAZZAROTTO, 2016;
VERIDIANO, 2019; JACON, 2014) abordaram a formação de professores e nem
um dentre estes 8 aborda a EJA.
O resultado do mapeamento é uma evidência para a necessidade do
investimento em pesquisas sobre a temática, sendo essa uma área em
ascensão.
Na composição da base da pesquisa utilizamos as publicações
localizadas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES e os artigos da Web
Of Science e Scopus. Além desses, a exploração da Rede de Citações foi
essencial para identificar os pesquisadores e a sua respeitabilidade como
referências da área.
No próximo tópico, será apresentado o detalhamento do método utilizado
na intervenção formativa e os instrumentos utilizados nesta pesquisa.
159
6.3 A intervenção formativa e os instrumentos da pesquisa
As intervenções têm sido vastamente utilizadas em estudos
fundamentados na Teoria Histórico-Cultural. Como bem menciona Cassandre
(2013, p. 12), “é extensa a publicação em eventos e periódicos de todo o mundo
apoiadas pela Teoria da Atividade e nas metodologias intervencionistas”.
Entretanto, as intervenções quando pautadas em outras teorias, sofrem críticas,
sendo o termo intervenção problemático no campo educacional, principalmente
para uma perspectiva crítica.
As discussões se dão inicialmente por consideração a essência da
palavra, visto ser, por si só, carregada de sentidos. A palavra intervenção sugere
– de acordo com o dicionário Aurélio – interferência, o que pode remeter ao
autoritarismo e cerceamento. De outro modo, estudiosos como Becker (1993)
consideram esse termo “pouco democrático”, visto apresentar ligação com o
comportamentalismo, o qual controla o comportamento por agentes externos.
Conforme nos apresenta Daminani et. al. (2013), outra crítica que o termo
recebe, está impressa na “dificuldade no contexto da Educação, em conceder
status de pesquisa às intervenções, por confundi-las com projetos de ensino”.
Em defesa das pesquisas que utilizam essa metodologia, os pesquisadores
apontam que:
a importância da pesquisa aplicada já era apontada por Vygotsky (1927; 1997), no início do século XX. O autor argumentava que “[a] prática estabelece tarefas e serve como juiz supremo da
teoria, como seu critério de verdade.” (Ibidem., p. 57).
Essas questões foram resolvidas, neste trabalho, tendo a intervenção e a
sua avaliação apresentadas, em composição exigida para a amplitude de uma
pesquisa aplicada (contribuindo para a solução um problema prático), e,
sobretudo, pelo uso de um Método de Pesquisa de Desenvolvimento do
Trabalho, claramente, explorado – o Laboratório de Mudanças (LM), o qual exige
a participação dos sujeitos e anula por completo a ideia de interferência
meramente externa por serem esses próprios sujeitos responsáveis pelas
mudanças almejadas, pela mudança na atividade. Concordamos com Daminani
et. al. (2013, p. 57), ao tratar a metodologia de intervenção, quando afirmam que:
ela não visa a estabelecer relações de causa e efeito, fazer generalizações ou predições exatas a partir dos seus achados. Nas intervenções, a intenção é descrever detalhadamente os
160
procedimentos realizados, avaliando-os e produzindo explicações plausíveis, sobre seus efeitos, fundamentadas nos dados e em teorias pertinentes.
É importante que seja descortinada qualquer premissa que nos afaste dos
preceitos fundadores, deste trabalho, clarificando o que consideramos como
princípio básico – a reflexão dos sujeitos em relação a sua atividade. Os
conceitos fundantes são: a Teoria de Ação Mediada, na qual os meios culturais
estão presentes como artefatos (sinais e ferramentas) na relação entre sujeito e
objeto e o Método de Estimulação Dupla, quando indivíduos se deparam com
“situações problemáticas que não podem resolver com as ferramentas e
conhecimento que possuem, buscam novas ferramentas psicológicas e práticas
que os permitam resolvê-las”. (CASSANDRE, 2013, p.15)
Uma Intervenção Formativa Transformativa em atividade de trabalho com
uso do método Laboratório de Mudanças, tem como objeto um sistema de
atividade colaborativa que se desenvolve historicamente. Nesse sentido, seu
ponto de partida são as contradições que os participantes encontram no
cotidiano de sua atividade. O processo se dá de modo que os sujeitos agem para
obter o controle da atividade em busca da construção de novos conceitos. O
papel do pesquisador volta-se a provocação de uma transformação expansiva.
(VIRKKUNEN; NEWHAM, 2015).
Como pode ser notado, o Laboratório de Mudanças é baseado na
Aprendizagem Expansiva e envolve dois mundos: o mundo da pesquisa e o
mundo dos profissionais, em constante diálogo. Engeström (2015, p. XXI) afirma
que essa metodologia é viável por três razões: quando a vida social é observada,
analisada e interpretada a influenciamos, inevitavelmente; a realidade não pode
ser contaminada pelas pesquisas, visto sofrer constantes intervenções
deliberadas ou acidentais; as intervenções metodologicamente estruturadas
geram conhecimentos acerca do que é possível.
Em concomitante ao LM ofereceu-se o Curso Mobile Learning na EJA,
apresentado a seguir, não para impor uma solução, mas sim para oferecer
recursos possibilitando que os próprios sujeitos conquistassem as
transformações almejadas.
161
O LM desenvolvido, nesta pesquisa, deu-se em 15 sessões. As vivências
da intervenção ocorreram em um intervalo de cinco meses, aproximadamente.
Portanto, as fases foram trabalhadas em mais de uma sessão, com foco nos
objetivos preestabelecidos, os quais serão expostos durante o tratamento de
cada sessão. A seguir tem-se o cronograma apresentando as datas, horários e
conteúdos abordados em cada uma das sessões.
Quadro 09 – Cronograma do Curso Mobile Learning na EJA
DATA DIA HORÁRIO CONTEÚDO SESSÃO
12 de abril sexta-feira 17h00 às 20h00 Abertura
Aula Inaugural 1ª sessão
03 de maio sexta-feira 15h00 às 18h00 Oficina de Fotografia 2ª sessão
04 de maio sábado 08h00 às 12h00 Oficina de Fotografia 3ª sessão
17 de maio sexta-feira 18h00 às 22h00 Oficina de Vídeo 4ª sessão
18 de maio sábado 08h00 às 12h00 Oficina de Vídeo 5ª sessão
24 de maio sexta-feira 18h00 às 21h00 Atividade síncrona - On-
line 6ª sessão
25 de maio sábado 09h00 às 12h00 Oficina produção de
App - Aulapp 7ª sessão
31 de maio sexta-feira 15h00 às 20h00 Oficina produção de
App - Aulapp 8ª sessão
14 de junho sexta-feira 18h00 às 22h00 Oficina de Música 9ª sessão
15 de junho sábado 08h00 às 12h00 Oficina de Música 10ª sessão
05 de julho sexta-feira 15h00 às 20h00 O planejamento na EJA 11ª sessão
06 de julho sábado 09h00 às 12h00
Atividade síncrona - On-
line
O planejamento de
ensino na EJA
12ª sessão
19 de julho sexta 15h00 às 20h00 Oficina de App
(com Exelearning) 13ª sessão
20 de julho sábado 09h00 às 12h00 Oficina de App
(com Exelearning) 14ª sessão
30 de agosto sexta 19h00 às 21h30 Encerramento 15ª sessão
Fonte: A Autora.
O método Laboratório de Mudanças é estruturado com base no Ciclo de
Aprendizagem Expansiva o qual estabelece seis fases, são elas: mapeamento
da situação; análise da situação; criação de um novo modelo;
162
concretização e teste do novo modelo; aplicação do novo modelo de
atividade; difusão e consolidação no modelo constituído. Tratando do LM:
As sucessivas sessões de intervenção se efetuam conforme um cronograma suficientemente breve, de modo a assegurar que a discussão continue e as ideias se acumulem de uma sessão para outra. Isso também é propiciado visualizando e documentando o pensamento coletivo que transcorre durante as discussões das sessões do Laboratório de Mudanças. (VIRKKUNEN; NEWHAM, 2015, p. 58)
Figura 28 –As fases de um processo do Laboratório de Mudanças
Fonte: Virkkunen & Newham (2015, p.66) adaptado de Engestrom et al., 1996, p.11.
Cada uma das fases apresentadas tem por intuito identificar respostas
para questões específicas, que são próprias dos momentos de análise, design –
criação de um novo modelo – e implementação. Apesar de fases com objetivos
bem determinados, como defende Engestrom (2015, p.xxii):
O Laboratório de Mudança é uma caixa de ferramentas vivente que não se pode reproduzir mecanicamente. Cada implementação é um esforço criativo que requer uma compreensão das circunstâncias locais e dos potenciais específicos dos sistemas de atividade envolvidos. Cada implementação produz intuições e descobertas que não apenas podem enriquecer e desenvolver ainda mais o próprio método,
bem como a teoria que o anima.
Na próxima subseção serão identificados o contexto e os participantes da
pesquisa, enquanto sujeitos ativos, na intervenção formativa, com uso do Labo-
ratório de Mudança.
163
6.3.1 Contexto e sujeitos da pesquisa de intervenção formativa
transformativa
A pesquisa deu-se junto a Cátedra UNESCO de EJA, situada na
Universidade Federal da Paraíba – UFPB, a qual tem como objetivo geral
“Promover e incentivar cursos, seminários, eventos científicos e atividades de
pesquisa, ensino-aprendizagem, documentação e disseminação de informações
na área da educação de jovens e adultos” (CÁTEDRA UNESCO DE EJA, s. d.).
E, nesse sentido, a intervenção deu-se no contexto do Curso Semipresencial
Mobile Learning na EJA.
O curso foi divulgado por meio das mídias sociais e e-mail, de modo que
puderam participar os interessados nas temáticas da EJA. A inscrição foi aberta
ao público, buscando respeitar a premissa da motivação dos sujeitos para a
mudança, o que viabilizou a implementação da metodologia.
Para envio da divulgação foi utilizado o banco de contatos da Cátedra,
com aproximadamente 200 pessoas. As inscrições acontecerem somente
digitalmente, por meio da página criada para o curso (figura 29):
Figura 29 – Página do Curso Mobile Learning na EJA
Fonte: https://www.aprendizagemexpansiva.com.br/
Viabilizando espaço para disponibilização e trocas de informações
relacionados ao processo de estudos no curso, foi instalado, customizado e
164
implementado o LMS (Learning Management System) Moodle (figura 30),
utilizando um servidor contratado do tipo VPS (Servidor Virtual Privado).
Figura 30 – LMS do Curso
Fonte: www.aprendizagemexpansiva.com.br/ava
O Design Instrucional (DI) do Ambiente Virtual de Aprendizagem foi
caracterizado como Aberto, que segundo Filatro (2008, p. 20) é:
(…) também chamado de bricolage ou design on-the-fly, envolve um processo mais artesanal e orgânico, no qual o design privilegia mais os processos de aprendizagem do que os produtos. Em geral, os artefatos são criados, refinados ou modificados durante a execução da ação educacional.
O uso da expressão “Design Instrucional” aqui impressa não coaduna com
a ideia de sua tradução literal, tendo o desenho instrucional como um processo
simplório de desenho de instruções. Mas, considera o desenho do curso como o
plano de trabalho feito a partir dos interesses de constituição de uma
comunidade colaborativa de aprendizagens.
Desta forma, o ambiente pode ser mais flexível e acompanhar a dinâmica
das aprendizagens durante as ações de estudo. No DI foi definida uma Trilha de
Aprendizagem modular e não linear. Os módulos foram definidos da seguinte
forma:
165
• Módulo Introdutório;
• Módulo 1 - Aprendizagem do Adulto;
• Módulo 2 - Mobile Learning na atividade docente;
• Módulo 3 - Laboratório de Mudanças;
• Módulo 4 - Mobile Learning para Aprender-ensinar-aprender;
• Módulo Certificação.
O módulo introdutório teve como objetivo principal apresentar o curso e
realizar o mapeamento a situação problemática, no tangente ao uso de
dispositivos móveis na EJA. O primeiro módulo trouxe reflexões a respeito da
aprendizagem do adulto, defendendo a busca pela aprendizagem expansiva na
EJA. Nesse momento, deu-se continuidade da análise da situação de uso de
dispositivos móveis no contexto de atividade dos participantes. O segundo
módulo tratou da importância da Cultura da Mobilidade na Sociedade atual e na
atividade docente, a partir da exploração de multiletramentos. Foram vivenciadas
experiências com ênfase no uso da fotografia, da música, dos vídeos e da
produção de Apps enquanto objetos de aprendizagem para exploração de textos
e exploração de materiais multimodais. Buscou-se a construção do novo modelo,
sua concretização e seu teste. O terceiro módulo tratou sobre o planejamento
de ensino, em direção a construção de uma sequência didática abordando um
ciclo expansivo em miniatura, potencialmente expansivo, a ser desenvolvido no
contexto de trabalho, na intenção de aplicação do novo modelo. No quarto
módulo, deu-se o compartilhamento de aprendizagens com a apresentação das
experiências desenvolvidas. Nesse configurou-se a difusão e consolidação da
atividade de aprendizagem expansiva. Já o Módulo Certificação deu-se apenas
para os participantes que efetivaram ações em seu lócus de atuação.
166
Quadro 10 - Design do Ciclo de Desenvolvimento Expansivo proposto
SESSÃO Etapa do Ciclo Expansivo MÓDULOS DO CURSO
1ª sessão Mapeamento da situação Módulo Introdutório
ESTUDAR
E VIVENCIAR
2ª sessão
3ª sessão
Análise da situação Módulo 1:
Aprendizagem do Adulto
4ª sessão
5ª sessão
6ª sessão
Construção do novo modelo Módulo 2:
Mobile Learning na atividade docente
7ª sessão
8ª sessão
9ª sessão Concretização e teste do novo modelo 10ª sessão
11ª sessão
Aplicação do novo modelo Módulo 3:
Laboratório de Mudanças
PLANEJAR
E APLICAR
12ª sessão
13ª sessão
14ª sessão
15ª sessão Difusão e consolidação da atividade de aprendizagem
expansiva
Módulo 4:
Mobile Learning para
Aprender-ensinar-
aprender
COMPARTILHAR
Módulo Certificação
Fonte: A autora
Para participação do curso as inscrições ocorreram, no período de 01 até
10 de abril de 2019. Dentre os inscritos tivemos professores da rede pública
estadual e/ou municipal, estudantes de licenciaturas, gestores, coordenadores
pedagógicos, os quais foram selecionados para preenchimento de 30 vagas. Os
perfis dos inscritos estão expressos no gráfico 03.
167
Gráfico 03 – Perfil dos inscritos em relação a EJA
Fonte: A autora
Como o número de inscrições foi superior ao número de vagas, fez-se
necessária a seleção. A escolha dos sujeitos participantes deu-se a partir dos
seguintes critérios:
a Vínculo com a EJA – esperava-se que os participantes tivessem algum
vínculo formal com a EJA.
b Atuação profissional no Estado da Paraíba, nos municípios de João
Pessoa e grande João Pessoa, com acesso às tecnologias e
disponibilidade de carga horária.
6.3.2 Instrumentos da pesquisa
Os instrumentos utilizados para obtenção das informações durante a
pesquisa de intervenção formativa transformativa foram questionários
(impressos e on-line) e entrevistas semiestruturadas, agregados a técnica de
observação participante. Instrumentos esses validados por pesquisador
especialista, externo a pesquisa.
As observações ocorreram durante as sessões do LM. Os registros foram
realizados por meio de gravação de vídeo e/ou áudio, e o diário de campo. As
falas foram analisadas qualitativamente após transcrição (aproximadamente 9
horas em áudio), com uso de Metodologia de Análise Fenomenológica.
168
7 INTERPRETAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS: O Curso Mobile Learning
na EJA como Laboratório de Mudança
Nesse espaço apresentaremos os resultados da pesquisa, nos quais as
falas foram analisadas qualitativamente e discutidas à luz de uma análise
fenomenológica em articulação com uma Metodologia de Pesquisa de
Desenvolvimento do Trabalho – o Laboratório de Mudanças – tendo suas fases
apresentadas enquanto categorias de análise, e como fenômeno o Ensino na
EJA. Macêdo (1999, p. 37), ao tratar de análise fenomenológica de depoimentos,
afirma que:
A pesquisa fenomenológica está voltada para significados, para o vivido. Para ser sistemática e coerente com seu objeto de pesquisa, ela deve respeitar certos parâmetros, que lhe
forneçam validade científica.
Nesse sentido, a interpretação voltou-se às vivências dos professores de
EJA, configuradas nas sessões do LM e respeita o que propõe Peterson (1994,
apud. MACÊDO, 1999, p.37):
(…) pesquisador fenomenológico utiliza vários critérios de pesquisa, alguns dos quais julgamos relevantes para serem destacados aqui: a) ser metodologicamente criativo e seguir a pesquisa criticamente; b) considerar sua subjetividade como podendo ser desenvolvida e articulada para prover as muitas formas de acesso aos resultados; c) estar consciente da não possibilidade de permissão destes resultados refletirem seus interesses e pressuposições, já que o estágio inicial de uma boa pesquisa fenomenológica envolve a imersão e o engajamento do pesquisador com o fenômeno de interesse; d) realizar um nível de análise diferente da análise das ciências naturais, suspendendo os pressupostos sobre a natureza do fenômeno a ser estudado; e) não apenas catalogar temas ou ideias, mas possibilitar uma visão e uma articulação da experiência estudada como constitutivas de significados, desenvolvendo uma clara avaliação de como o fenômeno se desdobra, e procurando ilustrar passo-a-passo os vários estágios de suas
reflexões.
As sessões do Laboratório de Mudança foram realizadas no período de
abril a agosto de 2019. O LM, como defendem Virkkunen e Newham (2015),
inicia antes da intervenção propriamente dita. Nesta pesquisa, isso deu-se
principalmente pela necessidade de os pesquisadores planejarem as sessões e
identificarem os motivos que moviam os participantes do curso e seus perfis de
atuação. Para tal, foi desenvolvido um primeiro instrumento, do tipo questionário
com perguntas fechadas.
169
Com apoio do estudo teórico realizado, foram mapeadas as necessidades
formativas dos professores da EJA. Identificamos que há necessidade de
compreensão e auto-incorporação da filosofia da aprendizagem ao longo da
vida, e, nesse sentido, utilizar a aprendizagem móvel para seu favorecimento.
Na atividade de ensino, isso está atrelado ao desenvolvimento de habilidades do
professor, para produção de conhecimentos em formatos diversificados,
enfatizando a necessidade de multiletramentos de seus alunos, com foco no
atendimento de seus direitos, conquista da autonomia e cidadania.
Foi determinado o objetivo geral da intervenção formativa: Promover a
inserção de dispositivos móveis na atividade docente, em uma perspectiva
histórico-cultural em busca da conquista de aprendizagens expansivas.
A preparação técnico-pedagógica para implementação da proposta de
intervenção formativa foi efetivada de forma coletiva. Os professores
formadores, após aceite de convite, participaram de reuniões para conhecimento
do objetivo da intervenção formativa denominada “Curso Mobile Learning na
EJA”. Foram planejadas as aulas com apoio pedagógico da pesquisadora. A
escolha pelos profissionais formadores, deu-se a partir do vínculo institucional
com a Universidade Federa da Paraíba, da análise curricular e interesse em
participação.
Quadro 11 - Os formadores e seus temas
FORMADOR(A) TEMAS MINISTRADOS FORMAÇÃO
Timothy Ireland As tecnologias na Educação de
Jovens e Adultos
Dr. em Educação de Adultos
Daniele Dias Multiletramentos e
Aprendizagem do adulto na pers-pectiva Expansiva
Ms. em Educação
Agda Aquino Mobile learning: A Fotografia na
EJA Ms. em Estudos da Mídia Doutoranda em Educação
Juciane Araldi Mobile learning: A Música na EJA Dra. em Música
Josélia Ramalho Mobile learning: A Música na EJA Dra. em Música
José Barbosa Ramos da Silva
Mobile learning: Vídeos na EJA Dr. em Educação
Gabriela Muniz Mobile learning: Vídeos na EJA Ms. em Comunicação
Daniele Dias Aprendizagem Móvel
Produção de Apps para EJA Ms. em Educação
Fonte: A autora
170
Nos próximos tópicos serão discutidos os dados coletados a partir da
exploração do método de Pesquisa de Desenvolvimento do Trabalho –
Laboratório de Mudanças, ora utilizado.
7.1 O mapeamento da situação (1ª e 2ª sessões)
O propósito principal, dessa etapa, foi reconhecer a situação de uso de
Mobile Learning na EJA e a necessidade de mudança na atividade de
ensino de professores da Educação de Jovens e Adultos.
7.1.1 A 1ª sessão:
Considerando que a intervenção do LM “não é apenas para criação de
uma mudança na atividade, mas busca o aprofundamento da compreensão
referente a natureza e a causa de seus problemas” (VIRKKUNEN; NEWHAM,
2015, p. 59), foi estabelecido que o momento inicial deveria possibilitar uma
reflexão histórica sobre a presença das tecnologias digitais na EJA. Nesse
aspecto, além da apresentação do curso e saudação inicial dos professores
formadores, foi realizada a primeira sessão, tratando das Tecnologias na
Educação de Jovens e Adultos, sob maestria do Prof. Dr. Timothy Denis Ireland,
e do Exercício do Olhar, sob maestria da Profa. Ms. Agda Aquino.
Estiveram presentes 42 (quarenta e dois) profissionais, sendo estudantes
de licenciaturas e profissionais atuantes no Estado da Paraíba vínculados a EJA,
em funções de gestão e docência, em escolas públicas municipais, estaduais e
federal, como já detalhado no perfil dos inscritos.
Conforme Engestrom (2016, p. 338), ao tratar do momento inicial do ciclo
metodológico de investigação do desenvolvimento expansivo, assevera que:
O primeiro passo da pesquisa de desenvolvimento expansivo consiste em ganhar um entendimento fenomenológico preliminar sobre a natureza de seu discurso e seus problemas como vivenciados por aqueles envolvidos na atividade e na delimitação do sistema de atividade sob investigação.
171
Nessa perspectiva, o primeiro momento tratou o fenômeno do limitado uso
de dispositivos móveis na EJA, buscando identificar os problemas, na
perspectiva dos participantes, a partir de suas falas.
A 1ª sessão utilizou como espaço físico o Auditório do Programa de Pós-
Graduação do Centro de Educação da UFPB, ocorreu, no dia 12 de abril de 2019
(sexta-feira). A 2ª sessão ocorreu, em 03 de maio de 2019, no espaço Sala de
Reunião do Centro de Educação da mesma instituição (sexta-feira).
Tabela 04 - Planejamento do mapeamento - 1ª e 2ª sessões
OBJETIVO GERAL
Reconhecer, na abertura do curso, a situação de uso de Mobile Learning na EJA e as necessidades de mudança na atividade de ensino dos professores envolvidos.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Conhecer o curso e sua a metodologia.
Refletir sobre as Tecnologias na Educação de Jovens e Adultos, a partir de um resgate histórico;
Dialogar a respeito da presença e interpretações das imagens fotográficas no cotidiano.
Dialogar sobre a situação de uso de Mobile Learning nos variados contextos de trabalho na EJA.
Apontar mudanças que possam ser implementadas na atividade de ensino, com a inserção dos dispositivos móveis.
METODOLOGIA Apresentações dialogadas com uso de vídeo e projeção de slides estruturados.
RECURSOS AVA, Computador, Projetor e caixas de som. TAREFA DOS PARTICIPANTES PARA NOVA SESSÃO
Participar do fórum no AVA.
PROFESSORES FORMADORES
Dr. Timothy Ireland; Ms. Daniele Dias; Ms. Agda Aquino; Dra. Josélia Ramalho; Dr. José Barbosa.
Fonte: A autora
Na 1ª sessão, em busca de fortalecer o comprometimento dos
participantes com o curso, foi feito o levantamento de disponibilidade, em relação
aos horários e dias planejados para as atividades. Além disso, assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando – em caráter
da Pesquisa Doutoral – uso de informações emitidas em áudios, imagens, vídeos
e materiais produzidos durante as sessões do LM.
No primeiro momento da atividade, os participantes foram estimulados a
refletir sobre a importância e limitações do uso de dispositivos móveis no ensino,
assim como suas contradições históricas.
172
A exposição do professor formador Dr. Timothy Ireland remeteu-se a
relação entre EJA e TICs, enquanto marcada por resistências, apontando que
apenas, na CONFINTEA de Hamburgo, dá-se atenção às tecnologias. No
entanto, na atualidade, as discussões são mais robustas e a UNESCO apresenta
uma série de orientações para implementação de tecnologias na educação de
pessoas jovens, adultas e idosas direcionadas a aprendizagem ao longo da vida.
O professor tratou, também, da importância desta aprendizagem e relatou como
exemplo de sucesso de uso de tecnologias digitais na EJA, o Projeto de
Extensão AMCO (Aprendizagem Móvel no Canteiro de Obras) desenvolvido no
âmbito do Programa Escola Zé Peão.
Figura 31 – Fotografia da Mesa de Abertura da Aula inaugural
Fonte: Acervo pessoal – Registros da pesquisa
Em continuidade, em um segundo momento, a professora formadora Ms.
Adga Aquino realizou uma atividade interativa, com a efetivação de um Exercício
do Olhar, objetivando sensibilizar os participantes para o fato de as imagens
terem várias interpretações e a sua produção, quando realizada de forma
consciente e reflexiva, carrega uma intencionalidade da comunicação. Nesse
sentido, foram expostos exemplos de imagens e mencionadas técnicas
utilizadas para fortalecimento das mensagens desejadas. Os participantes
observaram as imagens expostas via projetor e foram, dialogando sobre as
informações transmitidas nas imagens.
Em um terceiro momento, os participantes apresentarem-se e falaram de
suas expectativas em relação ao curso. Foi mencionada a busca pelo curso para
173
buscar aprendizagens em direção a redução da evasão, a ampliação da
permanência, participação e ânimo dos estudantes. O favorecimento da
cidadania foi, também, mencionado pelos participantes. Logo, em seguida, foram
levados a refletir, a partir das questões ora levantadas, a respeito dos problemas
enfrentados para utilização de dispositivos móveis no processo de ensino e
instigados. A pesquisadora fez a pergunta que segue levando-os a responder o
primeiro estímulo:
• Como podemos efetivar a inserção de dispositivos móveis, na
sala de aula de EJA?
À procura de reconhecer a situação de uso de Mobile Learning na EJA,
os participantes pontuaram questões de preocupação, e, ainda, de impedimento
para efetivação desse uso. As ponderações apontaram para problemas
comumente encontrados, como a falta de internet, a falta de segurança, a
ausência de dispositivos móveis ou equipamentos muito diferentes uns dos
outros, a ausência de plataformas com conteúdos educativos específicos para
EJA, a formação de professores dissociada da realidade e, ainda, apontam como
problema os alunos que não são alfabetizados. Eles apontaram, sobretudo, a
proibição feita em vários municípios e pelo Governo Estadual da Paraíba em
relação ao uso de dispositivos móveis no ambiente escolar. E, também, sobre a
desmotivação dos estudantes, levando-os a desistência e alta evasão.
Todos as razões mencionadas direcionam o não uso para fatores
externos. O que nos leva a compreender o não reconhecimento pessoal a
respeito da situação-problema. Foram apresentadas contradições de primeira
ordem, que “surgem no âmbito dos elementos do sistema de atividade”
(VIRKKUNEN e NEWNHAM, 2015, p. 116). A pesquisadora intervencionista fez,
então, uma segunda pergunta:
• O que cada um de nós pode fazer para efetivar a inserção de
dispositivos móveis, na sala de aula de EJA?
Foi reconhecida pelo grupo a necessidade de realizar o mapeamento da
situação dos estudantes e, a partir daí, elaborar um projeto didático, como
retratado na fala:
174
Isso não é um processo lento. Exige um convencimento do professor; muitas vezes a direção tem resistências, tem a questão de não ter rede. As dificuldades são grandes. Mas primeiro é preciso ver a formação do professor, o que o professor sabe, fazer um mapeamento e elaborar um projeto.
Acho que sem projeto é impossível.
A fala alerta para a impreterível ação do planejamento docente e o
mapeamento de possibilidades, para que se possa desenhar uma proposta de
projeto de ação capaz de atender às demandas dos estudantes e do ensino para
a aprendizagem. No entanto, para esse atendimento, deve-se considerar o
planejamento docente na perspectiva defendida por Farias et. al. (2011, p.111),
como “ação reflexiva”. Fora da reflexão e da consciência, o sentido do
planejamento para uso de tecnologias digitais torna-se meramente tecnicista,
sendo pautado na inclusão da tecnologia por ela mesma e, também,
desconsiderando o quanto podem ser favoráveis para a sistematização dos
processos de ensino.
O fechamento do encontro presencial ocorreu com o reconhecimento dos
desafios e problemas da atividade atual, bem como a troca de ideias,
vislumbrando propostas de soluções para os problemas identificados.
Na busca, seguiu-se reflexões, em relação à questão proposta, que foram
orientados a continuar o diálogo no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). E,
no fórum, um professor escreve:
Sabemos que as TIC estão cada vez mais presentes no cotidi-
ano das empresas, do comércio, das indústrias e da sociedade.
As TIC também estão promovendo mudanças de hábitos cultu-
rais, de consumo e até mesmo de novas formas de artes. Além
de ampliar as possibilidades de adquirir informação, conheci-
mento e cultura. Por isso é importante inserção de TIC na sala
de aula, mas existem alguns problemas infraestruturais que difi-
cultam a utilização das TIC na escola, desde a falta de equipa-
mentos e de redes de internet sem fio, estáveis e com velocida-
des compatíveis, até a falta de formações específicas para os
professores se apropriarem das TIC como meio para utilizar nos
processos de ensino e aprendizagem dos alunos.
Na Educação de Jovens e Adultos, além dos problemas citados,
também teremos outras dificuldades referente a migração digital,
pois muitos não utilizam e não tem acesso as TIC, principal-
mente às tecnologias Mobile.
Para os alunos de EJA, a escola poderá ser o local em que terão
os primeiros contatos com tecnologias Mobile.
175
Desta forma, para efetivar a inserção das tecnologias Mobile na
sala de aula de EJA, é necessário investimentos em infraestru-
tura, equipamentos e formações para professores e gestores.
Porém, podem serem realizados alguns trabalhos em turmas de
EJA, a partir de realizações de pesquisas temáticas, utilizando
vídeos e até mesmo as redes sociais, para promover a comuni-
cação e o debate dos temas.
Em construção dialógica, recebe a seguinte resposta, postada por uma
professora:
Olá. Concordo com o relato dos colegas. São três fatores que aumentam a dificuldade no uso das TICs, em especial o celular: a) falta de infraestrutura na escola (rede, computadores); b) segurança (alunos tem receio de trazer o celular diante das ocorrências de assalto); c) perfil diversificado de alunos (alguns tem muita dificuldade no uso do celular). É preciso construir uma estratégia de uso baseado no compartilhamento (celular de um parente ou filho) e no uso doméstico (já que o uso na escola é dificultado).
É reforçada a identificação da crise, mas vislumbra-se soluções que
possam ser adotadas. Em continuidade ao diálogo, os professores iniciaram o
levantamento de soluções possíveis, apontando mudanças viáveis na/para a
atividade de ensino. Uma das inserções, no fórum, diz:
Creio que essa é a grande "sacada": colocar à disposição dos alunos, as aulas dadas em diferentes formatos, para aqueles que precisam sempre estar faltando por diversos motivos (doença de filho, hora-extra no trabalho, serviço extra em outra cidade etc.)
Além dessas questões levantadas, foi, também, comentado sobre os
diversos perfis e necessidades de aprendizagens dos alunos, trazendo à tona
reflexões no que concerne ao atendimento das pessoas com necessidades
especiais.
7.1.2 A 2ª sessão
Na 2ª sessão do LM, a professora Ms. Agda Aquino apresentou conteúdo
referente às questões técnicas da fotografia com smartphone relacionando-as
ao seu conteúdo teórico. Foram abordadas questões relacionadas à ética na
fotografia, o desenvolvimento de habilidades sócio emocionais, as questões
legais de feitura e exposição da imagem de terceiros, a banalização da violência
expressa por meio de fotografias digitais, a inteligência artificial localizando
176
imagens na internet, formatos de arquivos e resolução, e, também, apresentou
a imagem como uma forma de texto. Durante a apresentação uma professora
pondera:
Não adianta você ter os aparelhos e não orientar os alunos. É muito da questão da metodologia, de como você vai fazer. Se não, não vai servir muito.
A formadora reforça a sua fala em gesto afirmativo.
A pesquisadora intervém ressaltando a relação multidisciplinar, colocando
da importância de os educadores ouvirem e aprenderem com profissionais de
outras áreas.
Encaminhando o desenho do novo modelo, fez, então, a seguinte
pergunta:
• Como trabalhávamos no passado e o que podemos pensar
para o futuro, depois de assistir essa aula? O que pode ser
proposto? O que pode ser feito de diferente, compreendo as
condições técnicas, mas pensando que trabalhar a imagem é
importante para uma nova leitura, para ampliação das leituras
que já são feitas.
Uma participante menciona que:
No contexto atual que estamos vivendo, a estética não está associada a ética. Então, educar esse olhar, por meio da análise do autorretrato de si e da sua trajetória escolar, ressignificar isso, só vai ser modificado se eu mudar o meu olhar, o olhar para a escola, para a relação com o professor. O desafio está em como trabalhar, por exemplo, um projeto de arte-educação que tenha fotografia, mas ligado a essa estética e essa ética, sendo o professor mediador. É um outro lugar; outro olhar para o ensino-aprendizagem. Se a gente for usar essa educação do olhar para a imagem, mas educar também o olhar, no sentido mais amplo e filosófico, exige essas mudanças. Que esse exercício da fotografia e do olhar, ele possibilita. Eu posso ter vários olhares. Eu achei isso legal. Se você quer algo diferente você vai ter que sair desse lugar. Do centramento, do enquadramento único. A gente pode usar todas essas metáforas para o próprio processo de ensino-aprendizagem.
Essa fala nos remete para o fato de a imagem fotográfica poder ser
utilizada, como ponto de partida para discussões mais amplas por abordar
metáforas que funcionem como estímulo para processos de ensino mais
177
abrangentes, nos quais, por exemplo, pode-se tratar dos vários olhares dos
sujeitos para as situações sociais. Pode ser ponto de partida para o trabalho de
autoaceitação, tão necessário na EJA. Outra participante menciona que:
Acho que a gente vai descobrir isso na prática. A prática que vai fazer com que a gente descubra o que pode fazer. Com as informações de hoje, você vai percebendo que é possível. Você teve o entendimento que existe uma possibilidade. A prática vai nos levar exatamente ao que podemos, como iremos fazer, o que podemos fazer. Amanhã, será mais um suporte. E na prática, vamos, ter uma noção de pelo menos por onde começar.
Apresentando, ainda, a dúvida do que pode ser realizado, na prática de
ensino, para mudança da atividade.
Complementando o diálogo, um outro professor coloca:
É tão importante compartilhar momentos assim de aprendizagem, que talvez a gente tivesse vindo para cá hoje, com a ideia do uso da imagem. Mas, estou saindo daqui para além disso. Quando você começou a falar da fotografia, a gente vai percebendo que a foto é o fim. Como o pescador que vai pescar o peixe, a finalidade é pescar o peixe, mas ali tem tudo um rito de botar o anzol, jogar, esperar... Eu vou para um lugar para tirar uma foto, mas com a dinâmica que a gente tem de vida hoje, não é uma self. Não é uma coisa instantânea. É ter a possibilidade de olhar para o ambiente, para um espaço e esperar a oportunidade e registrar. No mundo de hoje é muito difícil. E nesse momento, eu fico refletindo sobre minha própria vida.
Os professores seguem o diálogo e vislumbraram várias possibilidades de
uso pedagógico da fotografia, todos abordando projetos colaborativos
perpassados por reflexão, análise e compartilhamento. Afinal, como argumenta
Freire (1996, p. 21):
(…) na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se
confunda com a prática.
Foi feito o encerramento pela pesquisadora, lembrando da necessidade
de acesso ao AVA. Um dos professores mencionou estar com problemas para
acessar a plataforma e gostaria que a senha fosse novamente refeita.
Foram disponibilizados materiais de estudo no Moodle. A atividade fórum,
no AVA Moodle, continuou aberta e disponível para inclusão de novas respostas.
178
7.2 Análise da situação (3ª, 4ª e 5ª sessões)
Quanto a transformação expansiva, essa fase teve como objetivo
identificar como a atividade de ensino na Educação de Jovens e Adultos é
realizada. Assim como, direcionar os participantes para estabelecerem
compromisso com o processo de mudança vislumbrado.
A análise da situação se deu nas sessões 3, 4 e 5 do LM. O tema
norteador das sessões foi Aprendizagem do Adulto, na perspectiva da
aprendizagem expansiva.
Tabela 05 - Planejamento da Análise da Situação
OBJETIVO GERAL
Identificar como a atividade de ensino na Educação de Jovens e Adultos é realizada.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Ter noções sobre a Teoria da Atividade e a Teoria da Aprendizagem Expansiva, para que seja feito o desenho da atividade atual.
Dialogar sobre a situação de uso de Mobile Learning nos contextos de trabalho na EJA identificando problemas e contradições na atividade de ensino atual.
Dialogar a respeito da presença e interpretações das imagens digitais (em especial fotografias e vídeos) no cotidiano educativo da EJA com vistas na conquista da aprendizagem expansiva pelos alunos.
Experenciar vivências de produção fotográfica e fílmica, relacionando teoria e prática.
METODOLOGIA
3ª sessão – Com base nas informações da sessão anterior, será vivenciada prática de produção fotográfica no Jardim Botânico Benjamin Maranhão, em João Pessoa. Após sessão fotográfica, será realizado diálogo para desenho da atividade atual. 4ª sessão – Serão apresentados conteúdos referentes às questões técnicas de produção de vídeo, relacionadas ao ensino na EJA. 5ª sessão – Com base nas informações da sessão anterior, serão vivenciadas práticas de produção fílmica no Centro de Vivências da UFPB. Após produção, será realizado diálogo para conclusão do desenho da atividade atual, identificando como trabalhavam “no passado”.
TAREFA DOS PARTICIPANTES PARA NOVA SESSÃO
Responder ao fórum no AVA Moodle.
RECURSOS AVA, Computador, Projetor, caixas de som, smartphones e/ou câmera digital.
PROFESSORES FORMADORES
Ms. Daniele Dias; Ms. Agda Aquino; Dr. José Barbosa.
Fonte: A autora
7.2.1 A 3ª sessão
No dia 04 de maio, no Jardim Botânico, às 8h00, os participantes
receberam as orientações para realização da prática fotográfica. Para
atendimento das solicitações da professora Ms. Agda Aquino, utilizaram os
179
dispositivos móveis e/ou câmera digital. Durante a produção, a professora
formadora seguiu realizando observações e revisitando informações teóricas
trabalhadas na sessão anterior.
Figura 32 – Fotografia da 3ª Sessão
Fonte: Acervo pessoal
Após a sessão de fotos, foi realizado um diálogo para fechamento da
questão apresentada no AVA Moodle e modelagem do sistema atual da
atividade.
O encerramento da 3ª sessão ocorreu com um piquenique, no qual os
lanches levados pelos professores foram compartilhados.
Os participantes foram orientados a realizarem acesso no AVA Moodle
para leitura dos materiais e compartilhamento de produções fotográficas
realizadas.
7.2.2 A 4ªSessão
No dia 17 de maio de 2019, foram apresentados conteúdos referentes às
questões técnicas de produção de vídeo, relacionando-as ao ensino na EJA.
No tangente ao LM, os participantes – estimulados pela pesquisadora –
seguiram reflexões sobre as questões outrora apresentadas, remetendo-os a
análise da situação e encaminhando-os para a criação de um novo modelo.
180
A atividade teve início com resgate dos diálogos anteriores. Nesse
momento, seguiram sendo tratadas as contradições, muitas já mencionadas em
sessão anterior. Deu-se no ínterim do diálogo:
Participante 1 – Vocês viram, essa semana saiu um documento
proibindo os celulares nas salas de aula...
Participante 2 – Me permita uma interrupção sobre isso?
Formador – Por favor...
Participante 2 – Lá na escola tem em tudo que é lugar duas leis, diz respeito ao servidor público, que não é permitido e tal, e também sobre o uso do celular. Só que nós temos um PPP, que nós construímos. E nesse PPP, diz que tipo de sociedade e que tipo de sociedade a gente quer formar e entra esse tipo de coisa. Então, eu fui uma das primeiras professoras que disse: quem me ver com uso de celular na sala de aula, está sob minha orientação pedagógica. Porque eu tenho autoridade perante a sala para saber que tipo de coisa está sendo usada ou não. Eu uso pouco o celular na sala. Eu uso bem mais a distância do que aqui, né. Porque eu tenho 17 que ficam se comunicando. Mas quando eu preciso usar na sala que tem um aplicativo muito interessante, que às vezes a gente baixa, de matemática e tudo, e eles gostaram de fazer, ninguém reclama não. Porque como é que a gente construir um PPP, que tá dizendo ali o que é que a gente quer desenvolver no aluno, e não poder utilizar isso, é meio contraditório, né?
Após fechamento das falas, o formador falou sobre a composição da
imagem, comparando com a produção de um texto escrito. Dentre outros
assuntos, abordou sobre o uso e ausência do som, dos padrões de beleza
apresentados pela mídia comercial, planos das imagens. Foi realizada a análise
coletiva de um pequeno vídeo para abordar a intencionalidade da produção.
O encontro foi encerrado às 21h30.
7.2.3 A 5ª sessão
O encontro aconteceu, no dia 18 de maio, com início às 8h00, no Centro
de Vivências da UFPB.
Após saudação inicial, o formador solicitou a efetivação de uma produção
coletiva, seguindo os critérios por ele preestabelecidos.
181
Os participantes interagiram e utilizaram seus smartphones para
efetivação da tarefa solicitada. Ao término das produções, elas foram
compartilhadas via Grupo de WhatsApp ou bluetooth e assim o participante pode
ver as produções dos demais grupos além daquele no qual participou.
Figura 33 – Fotografias da 5ª sessão
Fonte: A autora
Tendo em vista a necessidade de conexão com a internet, para baixar
aplicativos, realizar a busca de imagens e áudios a serem utilizados para
composição do vídeo, e, ainda, para realizar compartilhamento dos materiais, foi
disponibilizado sinal via modem contratado pela pesquisadora para as atividades
do Curso.
Após a produção, os participantes dialogaram e refletiram sobre a
vivência, relacionando-a com o ensino na EJA:
Participante 1 – Dando valor a potencialidade da ferramenta, por
mais que a gente não tenha conseguido fazer tudo ou editar, ou
fazer a melhor imagem, tirar o barulho etc, mas você sabe que
aquilo ali potencialmente é muito bom e se você quiser ampliar
você se aprofunda tem uns tutoriais, tem os vídeos e vai
tentando fazer, faz um, faz outro, faz outro, eu acho que o
principal foram as dicas de ontem para gente saber como iniciar
ter o nosso roteiro bem estruturado e exercitar. Talvez não fique
bom na primeira vez, na segunda, nem na terceira ou
necessariamente não precise ficar tão bom. Porque o propósito
(...) se a minha intenção é no período de tempo limitado numa
aula de 1 hora e 30, eu quero perceber o quê? Qual é o meu
objetivo? É ver a criatividade, o potencial do meu estudante, se
ele consegue fazer, se ele consegue realizar, se ele pensa, se
ele tem uma visão crítica ou não, ampliar a possibilidade para
182
discutir outras coisas o vídeo é o veículo, e aí, a qualidade ela
vai ficar em segundo plano porque o meu objetivo é outro, agora
o que mobiliza realmente e vai movimentar isso aí é indiscutível.
Participante 2 – Eu fico imaginando assim o clímax que se vai existir na sala entre os alunos nossa isso, isso e aquilo porque isso é novidade, então vai criar assim com certeza o ambiente propício a aprendizagem isso aí para mim é uma achado assim porquê se a gente, por exemplo, tá numa metodologia comum, digamos assim, e aquilo não tá trazendo um ambiente de aprendizagem, o aluno tá um saco, o aluno não quer pegar e copiar as mesmas coisas, aí a gente traz uma coisa que tá presente, mas que não é bem utilizado, né... Porque na sala de aula você vê os alunos com no zap com aparelho e termina não promovendo esse ambiente de aprendizagem, e aí a gente tá pegando essa mesma coisa tá colocando como uma ferramenta de que vai propiciar essa questão de um ambiente de aprendizagem e quando se quer aprender, quando se está interessado, quando se consegue estabelecer esse clima, isso assim, é digamos, um grande avanço as questões técnicas. Assim você vai e termina aprimorando depois, mas quando você consegue fazer com que todos os alunos estejam envolvidos nesse ambiente de aprendizagem... - Eita eu quero aprender, olha que interessante isso... Aí chega um, chega outro... -Olha o que eu fiz fulano, aqui...olha... (risos)... Ou seja você cria um ambiente de aprendizagem.
Participante 3 – E ele deixa de ser consumidor de informação pra ser produtor da informação.
Participante 2 – E tá vivenciando plenamente isso né.
Na fala do professor 1, fica registrado o compartilhamento da consciência
da busca pela continuação do processo de aprendizagem após a oficina,
visitando outros materiais que possam oferecer orientações técnicas para
utilização das ferramentas. A partir dessa fala, podemos considerar como
reconhecido um dos potenciais de Mobile Learning para Aprendizagem ao Longo
da Vida. Ou seja, aprender em qualquer tempo, preferencialmente em seu tempo
de necessidade, no qual o ato de buscar informações para aprender, é motivado
por suas necessidades de ensino. E quando há consciência da importância de
uso da mobilidade para aprendizagem dos alunos, essa busca torna-se prática.
Nesse sentido, a aprendizagem ganha constância durante o planejamento ou
desenho didático. Outra questão importante a ser observada é que, nessa fala,
tem-se o vídeo como instrumento para favorecer a construção da consciência
dos estudantes. Ainda não tendo ficado expresso que ao falar-se consciência,
183
em virtude de uma Cultura do professor de EJA, entende-se que essa está
voltada para a consciência de classes, que o situa em uma posição de oprimido.
O professor 2 aponta para o fato do uso das ferramentas exploradas, na
oficina, serem capazes de favorecer ambiente propício para a aprendizagem dos
estudantes, se modificada a metodologia de ensino. Alerta para a abordagem de
um instrumento, que já faça parte do cotidiano dos alunos podendo ser usada
para o ensino e aprendizagem e tornando a atividade de ensino mais atrativa e
envolvente. Em complemento, o professor 3 traz a observação sobre a mudança
de relação do aluno com a tecnologia, de modo que a atividade de ensino possa
favorecer a mudança de paradigma de uso; mudando do papel de apenas
consumidor e passando ao papel de também produtor. Como retoma o professor
2 de forma plena.
Em continuidade do diálogo, um outro professor resgata conteúdo
apresentado no AVA Moodle e diz que:
(...) eu acho que o grande desafio é exatamente direcionar o que eles já sabem, entendeu? Para algo da sala de aula, porque talvez eles já saibam manusear até mais do que nós aqui, né... Com certeza... Só que eles direcionam pra outras coisas... Aí eu lembrei que estávamos falando exatamente isso, quando tinha até uma questão lá, né... Como efetivar... Eu até falei, acho que é como iniciar (...) esse direcionamento. (...) que a gente faça disso uma motivação.
Nessa última fala, o professor, ao dizer “direcionam para outras coisas”,
apresenta a realidade das abordagens de materiais digitais feitas fora da sala de
aula não dialogarem com os conteúdos abordados para a aprendizagem escolar.
Em continuidade e refletindo sobre a vivência da sessão 5, uma professora
coloca que:
É a vivência, esse é o momento que a proposta inicial do curso da gente experimentar, né... Não só falar como é aprender. A gente tem aprendizagem ao longo da vida, a gente tá aprendendo. Então, eu não sabia, nunca tinha usado esse aplicativo e é muito interessante. Eu acho que a pedagogia do cinema ela diz muito, muito mesmo. Por exemplo, tivemos algumas divergências no grupo de pode não pode, fomos tentando debater, dialogar e a importância do roteiro, como é que a gente imagina, cria o roteiro, distribui as tarefas das atividades a partir das habilidades, e quando você vai executar, né... Muito interessante, quando você vai executar. E aí é, que o aplicativo, e aí eu quero dizer assim, numa hipótese, a partir de uma experiência do curso de extensão que estamos fazendo
184
aqui, não quer dizer, que ele saiba usar o aplicativo, porque tem muitos aplicativos. Já foi feita uma pesquisa que às vezes a pessoa não saiba usar o potencial de cada aplicativo, então assim, eles usam o celular e pode ter uma agilidade mais rápida. Mas a proposta que eu vivi aqui, da gente experimentar, da gente saber quais são os mecanismos que me levam a aprender, a desaprender, né... As dicas que ela me deu... - Olha tá tremido, tá acelerando, veja isso. Então, a partir da interação da mediação que ela teve no grupo, a gente já conseguiu fazer de uma outra... tecnicamente melhor, como é gostoso aprender. Dá uma agonia assim, será que eu não vou aprender, será que eu não tenho habilidade pra isso? E isso constantemente... Na educação de adultos ele ou ela, é estigmatizada com a incapacidade. Trazer o elemento da criatividade para sala de aula como uma potencialidade do aprender é muito bom e eu vivi isso aqui, né... Desaprendendo, não sabendo, e vai as dicas de estimular a criatividade, de resolver a situação do som e a gente fez, concluímos, mas foi muito bom mesmo esses meses aqui.
O professor formador, com sua assistente, após sanar as dúvidas
técnicas, fez algumas considerações resgatando as falas conclusivas e
abordando as questões da EJA, enquanto espaço de aprendizagem. Ele tratou,
ainda, da importância da pauta e do tempo de trabalho a ser utilizado em sala de
aula, alertando para o planejamento. A pesquisadora interveio reforçando o
cuidado que se deve ter com os dispositivos que os alunos possuem, e, também,
ter clareza de quais são as possibilidades diante dos recursos disponíveis. Ao
término do encontro uma professora relata:
O engraçado é assim, que minha cabeça não para de funcionar aqui, o tempo todinho. O ano passado eu ficava xingando porque eu baixava uns vídeos para os meus alunos sobre corpo humano, sobre o sistema solar, eu dizia: - Meu Deus quem faz essas coisas? Se eu soubesse fazer isso, eu ia dar um show. Porque você fica imaginando... Eu digo: isso não é professor que faz! O professor sabe a necessidade do que o aluno precisa ver. Eu disse até assim: - Isso é uma bobagem se eu mostrar isso aos meus alunos, eles vão ficar rindo de mim. Em quatro minutos eles não vão aprender nada com isso. Eu conversei até com meu cunhado, né... Que ele mexe muito. Eu disse: - Sabe fazer uns vídeos aí para mim legal, não? Para eu botar pros meus alunos... Ele começou a rir. Desse jeito não. Eu fiquei pensando agora. Meu Deus, eu mesma quem vou fazer os vídeos para os meus alunos, com a aula que eu quiser, do jeito que eu quiser, no dia que eu aprender bem legal, para eu fazer bem massa. Então a cabeça não para de pensar.
Essa fala da professora apresenta a descoberta de sua autonomia para a
produção de seus materiais didáticos. Com a vivência, a própria professora deixa
185
de ser consumidora, e visualiza-se para, em um futuro próximo, ser produtora de
informações. Ou seja, o processo desejado para os alunos de EJA.
A sessão teve encerramento às 12h30. Os participantes solicitaram
agendamento de um momento presencial para sanarem suas dúvidas em
relação às questões teóricas apresentadas, no AVA Moodle, sobre a
Multiletramentos e Aprendizagem Expansiva. Esse momento aconteceu, no dia
22 de maio, das 16h00 às 19h00.
No AVA Moodle, os educadores foram solicitados a responder a seguinte
questão: Faça o mapeamento da situação de uso dos dispositivos móveis
na sala de aula de EJA em seu contexto de trabalho. E ao responder
relataram:
Participante 1 – Raras são as vezes que os dispositivos móveis são utilizados nas aulas de EJA, na escola em que leciono. Ou seja, somente esporadicamente usa-se dispositivos móveis, no caso da nossa realidade, o celular, como recurso didático pedagógico. Participante 2 – O uso de dispositivos móveis é bem restrito. Menos de 10% do total de alunos tem acesso ao dispositivo móvel em sala de aula. Participante 3 – No presente momento, nossos alunos não têm utilizado os dispositivos móveis de uma forma produtiva em sala de aula. A grande e esmagadora maria dos alunos, tem apresentado dispersões advindas do acesso as redes sociais e vídeos online que estão totalmente deslocados das atividades propostas na aula. Geralmente os discentes mais velhos não utilizam seus dispositivos, já os mais novos, utilizam para acessar conteúdos que não estão ligados as práticas promovidas na sala de aula. Participante 4 – Na escola que trabalho costumam usar alguns recursos tecnológicos como aliados para suas aulas, mas o uso dos dispositivos móveis digitais são poucos usados no cotidiano escolar. Participante 5 – Não há muito o que se relatar, pois infelizmente não percebemos a presença do uso de dispositivos móveis, como um dispositivo cotidiano das práticas pedagógicas no cotidiano escolar.
186
Os demais participantes fizeram relatos semelhantes, de pouco ou
nenhum uso dos dispositivos móveis em atividade de ensino. Relataram, ainda,
os problemas enfrentados.
Também, no AVA Moodle, os participantes foram solicitados a
discorrerem sobre seu compromisso e metas em relação a inserção de
dispositivos móveis em suas aulas. E, mencionam como compromisso:
Participante 1 – mudanças na perspectiva do planejamento. A inserção de ações interdisciplinares e a visualização da comunidade como parceira e não apenas os discentes, considerando-se a ampliação do espaço da sala de aula que abranja outros espaços.
Participante 2 – Tornar as aulas mais atrativas e condizente com a realidade e necessidade social, cotidiana e do mercado de trabalho. Ou seja, aulas que mais interligadas com as exigências inerentes ao século XXI.
Participante 3 – Fazer uma votação com os alunos para verificar a aceitação desse recurso na sala de aula como um recurso pe-dagógico; A princípio, foi sugerido para cada turma que criasse um grupo de WhatsApp; Durante os planejamentos e encontros pedagógicos vamos socializar práticas educativos com o uso de dispositivo móvel; Conhecer e aprender sobre alguns aplicativos educativos que podem ser utilizados pelos professores e alunos; Periodicamente ter um feedback sobre as propostas sugeridas, questão de aceitação e qualidade de ensino. Participante 4 – Reconhecendo as limitações impostas e as pos-sibilidades que se apresentam, a intenção é produzir possibilida-des de aprendizagem, para atender os estudantes da EJA semi-presencial, principalmente nos momentos de seus estudos longe da escola. Sabemos que muitos estudantes ficam presos ainda a velhas práticas por falta de autonomia e de opção. Mostrar ou-tras possibilidades podem ajudar a modificar as práticas cotidia-nas dos cursos semipresenciais da EJA e apresentar-lhes agora, não como cursos antiquados e presos num passado distante, mas como um modelo de educação que guarda elementos im-portantes em suas tradições, que atraem muitos estudantes de-vidos as suas características, mas que podem avançar para pro-mover uma educação com novas possibilidades de aprendiza-gem, a partir da utilização do equipamento que está conosco grande parte de nosso dia e que podemos utilizar para estudar e aprender, a partir de orientações e auxílio do professor.
A partir dos posicionamentos apresentados, percebe-se que, naquele
momento, os professores começaram a ter maior clareza de como modificar a
sua prática para atendimento da meta de inserção de dispositivos móveis e
187
adequação de metodologias condizentes com a Cultura da Mobilidade.
Compreendem o planejamento como o instrumento mais importante da
atividade, e que o aluno precisa ser retirado do lugar de audiente para um papel
ativo na construção de seu conhecimento. Assim, com o término da Análise da
Situação, o sistema da atividade pode ser modelado.
Figura 34 – Sistema atual da Atividade de Ensino na EJA
Fonte: A autora.
Conforme a modelagem do inicial Sistema de Atividade de Ensino na EJA,
são os sujeitos, os professores; os instrumentos, o planejamento e princípios da
EJA; o objeto, a EJA, em especial no Estado da Paraíba; as regras, o regimento
escolar e determinações municipais e estaduais, assim como a legislação
nacional relacionada a EJA; a comunidade, são os membros da escola; e a
divisão do trabalho se dá entre professor e aluno.
7.3 Criação de um novo modelo (6ª, 7ª e 8ª sessões)
Essa fase teve como objetivo o desenho de um novo modelo de atividade
com a inclusão de dispositivos móveis na atividade de ensino dos professores
da EJA. O tema de estudo no AVA Moodle, em paralelo, as sessões, foi Mobile
Learning na Atividade Docente.
Nesse sentido, os participantes foram orientados para realização do
planejamento de projeto pedagógico, inspirando-se no Ciclo de Aprendizagem
Expansiva.
188
Tabela 06 - Planejamento da Criação de um novo modelo
OBJETIVO GERAL Desenhar um novo modelo de atividade com uso Mobile Learning e adoção de dispositivos móveis.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Planejar atividade a ser desenvolvida com os alunos, a partir de um planejamento inspirado no ciclo de aprendizagem expansiva.
Produzir aplicativos enquanto objetos digitais de aprendizagem.
METODOLOGIA
6ª sessão – Dialogar a respeito do planejamento de ensino abordando multiletramentos, a partir do ciclo de aprendizagem expansiva. 7ª e 8ª sessões – Utilizar a ferramenta AulApp para produção de app enquanto objeto de aprendizagem.
TAREFA DOS PARTICIPANTES PARA NOVA SESSÃO
Responder ao fórum no AVA Moodle.
RECURSOS AVA, Computador, Projetor, caixas de som, smartphones e/ou câmera digital.
PROFESSORES FORMADORES
Ms. Daniele Dias
Fonte: A autora
7.3.1 A 6ª sessão
Os envolvidos tiveram a oportunidade de participar de um momento On-
line, síncrono, via Mídia Social Facebook, no qual foi revisitado o conteúdo
teórico (Multiletramentos, Aprendizagem Expansiva e Mobile Learning) e
abordado o desenvolvimento do Planejamento na EJA para Mobile Learning. E
uma das intenções expostas foi apresentar a live no Facebook, como uma
possibilidade de atividade a ser realizada com os alunos.
Inicialmente foi apresentado o roteiro, no chat, de acordo com a figura 35:
Figura 35 – Roteiro da atividade na Mídia Social Facebook
Fonte: A autora
189
Em seguida, foram expostas as questões técnicas, de como fazer uma
live no Facebook, ressaltando a produção prévia do roteiro, iluminação
adequada, cenário, acompanhamento por mais de um dispositivo e outras
questões relacionais ao uso do Facebook.
Figura 36 – Atividade na Mídia Social Facebook
Fonte: A autora
Os participantes interagiram no chat. Por eles, foram colocadas questões
relacionadas a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e perguntas referentes
a apresentação. A atividade teve duração de 02 horas e 12 minutos.
Em momento assíncrono, os participantes realizaram a atividade, no AVA
Moodle, a qual solicitava reflexão sobre como devem ser organizados os
planos de aula na EJA, na busca por reconhecer como acontecem os
planejamentos de ensino. Ao responder à questão solicitada afirmaram que:
Participante 1 – Agora que tenho outros conhecimentos sobre a aprendizagem, desenvolvimento e permanência dos alunos na escola; verifico a importância de um planejamento coletivo, participativo e baseado nas experiências e interesses dos alunos. Escolas não são ilhas, as aulas ficam mais significativas quando os alunos participam mostrando suas vivências e conhecimentos.
Participante 2 – Não sei se por ser professora de Arte, mas não consigo conceber o planejamento de minhas aulas sem fazer a contextualização teórica histórica, entrelaçando a disciplina de forma interdisciplinar com o interesse dos educandos.
A partir das respostas destes e dos outros participantes, pode-se perceber
190
que os professores reconhecem a importância do planejamento para a atividade
de ensino na EJA, sendo esse de forma coletiva e com foco na aprendizagem
dos sujeitos. No curso, a perspectiva de planejamento defendida, corrobora com
o que defende Libâneo (1999, p. 222):
O planejamento é um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social. A escola, os professores e os alunos são integrantes da dinâmica das relações sociais; tudo o que acontece no meio escolar está atravessado por influências econômicas, políticas e culturais que caracterizam a sociedade de classes. Isso significa que os elementos do planejamento escolar – objetivos, conteúdos – métodos – estão recheados de implicações sociais, têm um significado genuinamente político. Por essa razão o planejamento é uma atividade de reflexão acerca das nossas opções e ações. (...) A ação de planejar, portanto, não se reduz ao simples preenchimento de formulários para controle administrativo; é, antes, a atividade consciente de previsão das ações docentes, fundamentadas em opções político-pedagógicas, e tendo como referência permanente as situações didáticas concretas.
Os professores, seguindo as normativas das escolas, realizam a atividade
de planejamento escolar mensalmente, em diálogo com demais professores.
Mas, compreendem que o planejamento da aula é um momento de reflexão
individual, no qual podem pensar as atividades de forma mais prática, com foco
na realidade de seus alunos.
Durante as vivências, no Curso Mobile Learning, na EJA, tiveram a
oportunidade de realizar o planejamento da atividade de ensino, com atenção
voltada à aula, relacionando teoria e prática, buscando, assim, utilizar os
conhecimentos adquiridos a partir dos estudos do curso e, por sua vez, construir
o documento de planejamento sistematizando o que deveria ocorrer em sala.
7.3.2 As 7ª e 8ª sessões
Essas sessões estão sendo apresentadas juntas pois, para os dois
momentos, o seu objetivo foi a utilização da Ferramenta AulApp para produção
de app enquanto objeto digital de aprendizagem e configuração de um novo
modelo de atividade.
A atividade aconteceu no Laboratório de Informática da Graduação – LIG,
do Centro de Educação da UFPB, nos dias 25 e 31 de maio de 2019.
191
Os participantes receberão orientações técnicas para o uso da
ferramenta, tiraram dúvidas a respeito do planejamento e começaram a
construir, em grupos, seus primeiros objetos digitais de aprendizagem (ODA).
Testaram as produções em seus dispositivos móveis.
Figura 37 – Interface do Aulapp
Fonte: https://www.aulapp.com.br/
A ferramenta Aulapp é uma plataforma de uso privado para produção de
conteúdos educativos, produzida pela IES2, empresa a qual cedeu as licenças
de forma gratuita para os participantes do curso (e seus alunos), em decorrência
de sua parceria com a Cátedra UNESCO de EJA.
Os objetos digitais de aprendizagem, de acordo com Wiley (2000) são
“qualquer recurso digital que possa ser reutilizado para apoiar a aprendizagem”.
Nesta pesquisa, concordamos com esse estudioso, mas a partir de um olhar
histórico-cultural, consideramos, ainda, que os ODAs são artefatos capazes de
articular linguagens diversas (som, texto e imagem) exercendo papel de
mediadores do conhecimento, quando são estruturados para fins educativos.
A composição de um ODA não apresenta regra predeterminada, porém
algumas características pedagógicas podem ser observadas. Conforme estudo
realizado por Galafassi et. al. (2014), são importantes aspectos pedagógicos: “a
interatividade, autonomia, cooperação e cognição e afetividade”. Além das
questões pedagógicas, as questões técnicas dos objetos digitais de
aprendizagem carregam outros fatores os quais devem ser considerados em sua
192
produção. São eles: disponibilidade, acessibilidade, confiabilidade,
portabilidade, facilidade de instalação, usabilidade, manutenibilidade,
granularidade, agregação, durabilidade e reusabilidade.
Vale ressaltar que o modelo de atividade vislumbrado não se resume a
construção de Objetos Digitais de Aprendizagem. Mas, utiliza-os como
mediadores que possam ser acessados, em qualquer lugar e tempo, conforme
interesse e disponibilidade dos usuários.
Tendo em vista que essa fase teve como objetivo principal a criação de
um novo modelo de atividade, assim sendo os professores coletivamente
sistematizaram as fases do planejamento com inspiração no ciclo de
aprendizagem expansiva, concebendo ciclos em miniaturas, potencialmente
expansivos. Para isso, foi utilizada uma matriz (Apêndice A, Apêndice B,
Apêndice C).
7.4 Concretização e teste do novo modelo
Essa fase teve como objetivo responder, quais as mudanças que
queremos tentar no próximo mês/ano? A partir do planejamento produzido, os
professores responderam à questão.
Tabela 07 – Planejamento da Concretização e teste de um novo modelo
OBJETIVO GERAL
Concretizar e testar o planejamento, a partir do novo modelo de atividade produzido, com adoção da perspectiva de Mobile Learning e uso de dispositivos móveis.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Testar, com os alunos, os apps produzidos.
Refletir sobre o uso da música nas aulas da EJA, buscando possibilidades para
inserção em sua atividade de ensino.
METODOLOGIA 9ª e 10 sessões – Oficina de Música
Atividades nas salas de EJA
TAREFA DOS PARTICIPANTES PARA NOVA SESSÃO
Responder atividade proposta no AVA Moodle.
RECURSOS AVA, Computador, Projetor, caixas de som, smartphones e/ou câmera digital. PROFESSORES FORMADORES
Ms. Daniele Dias
Fonte: A autora
193
7.4.1 As 9ª e 10ª sessões
As atividades aconteceram nos dias 14 e 15 de junho de 2019. As sessões
ocorreram, no Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA) da UFPB, no
PianoLab (Laboratório de Piano), em virtude de as duas professoras formadoras
serem vinculadas a esse Centro e os ambientes apresentarem-se equipados
com instrumentos musicais e demais recursos necessários para a execução das
atividades.
No primeiro dia, foram realizados exercícios de educação musical, e
tratada a importância da música para o público da EJA. Questões teóricas
relacionadas a Educação Musical foram abordadas. Às 21h00 a atividade foi
encerrada. Foram disponibilizados materiais para inserção no AVA para acesso
dos participantes.
No segundo dia, foram feitos exercícios com diversos instrumentos, para
percepção sonora, que podem ser utilizados para ativação de atenção e
memória, por exemplo. Além disso, as professoras apresentaram ferramentas
virtuais pelas quais pode ser trabalhada uma composição de música digital.
A experiência foi desenvolvida com descontração e envolvimento. Após
as atividades de prática-teoria musical, foi aberto espaço para diálogo. Uma das
questões colocadas como inquietação para os professores, foi a falta de
integração entre os professores da EJA e os profissionais de outras áreas que,
segundo eles, poderiam colaborar mais, como no caso da música.
Outra questão colocada foi que a realidade que leva ao desconhecimento
de como trabalhar a música, em sala de aula, está impressa desde a formação
inicial, que – para a maioria deles – não abordou possibilidades de uso da
musicalização para aprendizagem. Os professores remetem-se a banda escolar
como um projeto que poderia ser mais aberto para os estudantes, o que facilitaria
a relação desses sujeitos com a música. A formadora pondera defendendo que
muitos dos estudantes da EJA já têm alguma relação com a música, a qual não
é explorada pela escola; por exemplo, alguns alunos tocam instrumentos
musicais de ouvido, outros fazem canções. Mas, raramente essas experiências
são aproveitadas pela escola. Normalmente veem-se os alunos atuando com a
música, na escola, em ocasião das festividades juninas. Os professores
194
ponderam ainda sobre a sobrecarga de trabalho que precisam dar conta, e isso
afasta possibilidades de inserção de novas possibilidades e projetos. Segue o
diálogo:
Participante – (...) Às vezes, a coordenação pedagógica, ela não tá preparada pro perfil. Em muitas escolas não tem uma coordenação pedagógica. Acho que temos um levantamento para acontecer e também ele precisa desses funcionários. A gente tá lutando. E aí como diz o governo: a gente tá em disputa para que a gente consiga isso.
E uma outra contradição, é apresentada para implementação de Mobile
Learning: a precariedade de equipes nas escolas. As contradições já pontuadas
foram retomadas. A concepção do professor em relação a percepção da escola
foi também mencionada, alertando para o fato da necessária mudança de
postura em relação ao aluno, tendo-o como alguém em constante mudança, que
pode trilhar outras rotas, podendo a escola direcioná-lo e retirá-lo de um espaço
de exclusão e julgamentos.
Participante – Eu tenho pensado muito sobre é essas questões nas escolas em relação com a violência (...) Algo assim que ficou muito evidente na relação com os professores e com as pessoas das escolas. Que, assim, a ação eminente dessas pessoas era dizer o que a escola é... A escola é violenta, a escola é isso, isso é ruim, o aluno é isso... E eu comecei a refletir pensando da seguinte maneira: sabe essa ação que, às vezes, parece até involuntário? Tá tão intrínseca, né? Que é o primeiro movimento que as pessoas fazem de dizer que isso é, que essa escola é isso, é aquilo outro, e eu fiquei pensando: qual é a maneira que a gente pode assumir que possa modificar isso? Eu não vi as pessoas assumindo a postura de dizer o que a escola pode ser, que escola eu quero. Então eu acho que a mudança passa por essa questão que é muito ordinária, no sentido de ser primeiro da pessoa que tá dentro da escola. Porque eu posso, por exemplo, olhar um aluno e dizer assim: a escola não é isso! E aí não tô dando chance de mais nada, porque para mim eu já disse que ele é isso, e as pessoas estão em eterna mudança o processo é continuo. Agora se a gente assumir essa condição de dizer o que é que ele pode ser. Eu acho que isso tem uma força transformadora, sabe? E quando a gente não entende, não assumi essa postura, a gente começa a ter posse das coisas.
195
Figura 38 – Fotografias da 9ª e 10ª sessões – Oficina de Musicalização
Fonte: A autora.
A pesquisadora interveio solicitando que as vivências fossem
relacionadas com a prática, pensando em atividades aplicáveis. Os participantes
compartilharam sugestões de atividades que possam ser realizadas com uso a
música na EJA.
Participante – A gente pode, a partir daí, trabalhar também esses outros contextos, tá entendendo? Por que desenvolve a criatividade, desenvolve a questão lógica matemática, né? Porque você tem uma repetição de coisas, você tem uma música, como ela diz, é matemática pura, que trabalha com
dança, que trabalha com passo, que trabalha com isso.
A respeito da testagem, junto aos alunos de EJA, em relação aos apps
produzidos, os participantes relataram os problemas enfrentados, sendo o
principal deles: a falta de acesso à internet dos alunos que impossibilita o uso
dos objetos digitais de aprendizagem no AulApp. Apesar de ter Internet em
algumas escolas, a velocidade não é suficiente para o trabalho. Além disso, a
ferramenta exige o cadastro por meio de e-mail e a maioria dos estudantes da
EJA não tem e-mail, exigindo-se mais tempo para a realização do projeto a fim
de viabilizar a criação dos e-mails de todos, e, posteriormente, o uso dos ODAs.
Assim, esse uso seria possível para alguns estudantes e para outros não, o que
seria excludente diante do tempo disponível para o trabalho. Em virtude disso, o
Aulapp não foi aprovado para o desejado desenvolvimento das atividades
previstas nas matrizes de ensino, ficando acordado que outra ferramenta seria
explorada para produção de Apps.
No AVA Moodle, foram solicitados a responder: Como gostaria de
trabalhar no futuro?
196
Participante 1 – Uma forma de buscar que uma sala de aula que é desejada se concretize com exploração de mobilidade é ajudando professores e professoras, gestores e gestoras, educandos e educandas, etc., a compreender o que é essa mobilidade, do que se trata de forma ampla e como ela pode ajudar no processo de aprendizagem de leitura e escrita e aquisição de outras informações e conhecimentos e se valer de suas características, exemplo, flexibilidade (tempo, espaço, fronteiras, locais), troca de informações em contextos e épocas diferentes. Gostaria de trabalhar no futuro com a compreensão de alunos e alunas sobre as questões acima, de forma que conheçam de modo mais profundo sobre a mobilidade, em vez de só executar ações que foram ditas pelo professor ou pela professora de forma mecânica, sem compreender o que está sendo feito.
O posicionamento do participante envolvido com a Gestão de EJA,
condensa os demais posicionamentos, voltando-se para o futuro com a
disseminação da Cultura da Mobilidade, possibilitando que sejam conhecidas
estratégias para a educação ao longo da vida e ultrapassando fronteiras e
limitações da sala de aula física.
Os participantes concordam, então, que a mudança na atividade, com
foco no futuro, exigirá não apenas conhecimentos técnicos voltados para uso de
tecnologias digitais, mas, sobretudo, que devem ser levados em consideração
diferentes compreensões da prática, considerando outros espaços sociais como
espaços de aprendizagens úteis para desenvolver os conhecimentos escolares.
As vivências com a produção de vídeos, fotografias e músicas possibilitou
a percepção da força que a comunhão entre as diferentes linguagens pode ter
no processo de ensino. Em seguida, o momento de aplicação, permitiu que tais
linguagens pudessem ser unidas em formato de objetos digitais de
aprendizagem.
A sessão foi concluída às 12h00.
7.5 Aplicação do novo modelo de atividade
Nesse momento do LM, os professores tiveram como objetivo principal
colocar em prática os primeiros passos e implementar as próximas etapas da
atividade; desse modo, eles vivenciaram quatro sessões do LM. Nos dias 05 e
06 de julho, abordando o planejamento de ensino na EJA, e outras duas nos dias
197
19 e 20 de julho de 2019, com abordagem da ferramenta Exelearning para
produção dos apps, em substituição a AulApp.
A pesquisadora realizou visitas nos locais de atuação dos participantes
para acompanhamento das aplicações.
Tabela 08 – Planejamento da Aplicação do novo modelo de atividade
OBJETIVO GERAL
Colocar em prática os primeiros passos e implementar as próximas etapas da atividade.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Testar, com os alunos, os apps produzidos.
Refletir sobre o uso da música nas aulas da EJA, buscando possibilidades para
inserção em sua atividade de ensino.
METODOLOGIA
11ª e 12 sessões – Concluir o Planejamento de Ensino (Aula/Projeto)
13ª e 14ª sessões – Oficina de Produção de App
Atividades nas salas de EJA
TAREFA DOS PARTICIPANTES PARA NOVA SESSÃO
Responder atividade proposta no AVA Moodle.
RECURSOS AVA, Computador, Projetor, caixas de som, smartphones e/ou câmera digital. PROFESSORES FORMADORES
Ms. Daniele Dias
Fonte: A autora
7.5.1 As 11ª e 12ª sessões
O ExeLearning é um software livre, sob a responsabilidade do Instituto de
Tecnologias Educativas do Ministério de Educação do Governo da Espanha,
desenvolvido com colaboração de diferentes agências governamentais e
empresas de vários países. A participação da pesquisadora na equipe de
desenvolvimento dessa ferramenta está atrelada aos testes e a tradução para o
Português do Brasil.
Figura 39 – Página da ferramenta ExeLearning
Fonte: https://exelearning.net
198
Apesar de não ser possível gerar um arquivo do tipo .apk, diretamente,
pelo ExeLearning, seu produto é facilmente convertido em aplicativo, se aliado a
outras ferramentas disponíveis na Web. No curso, para esse fim foi utilizada a
Apps Geyser, que pode ser acessada em https://appsgeyser.com/. A conversão
em .apk teve como objetivo solucionar o problema da falta de conectividade dos
alunos, possibilitando, assim, o compartilhamento via bluetooth.
O momento de criação ocorreu no Laboratório de Informática da
Graduação – LIG, no Centro de Educação da UFPB, nos dias 05 e 06 de julho
de 2019. Durante finalização do planejamento, os professores trabalharam de
forma individual. Alguns dos professores tiveram dificuldades para definir e
redigir a atividade de ensino do professor, confundindo-a com a atividade do
estudante. Desse modo, foi necessário esclarecer, esmiuçando as ações do
professor e ações dos alunos, sistematizando-as a partir de ações enquanto
objetivos (LEONTIEV, 1978) e operações.
Os participantes foram orientados que, ao término da produção, deveriam
a disponibilizar no AVA Moodle.
7.5.2 As 13ª e 14ª sessões
As sessões 13ª e 14ª ocorreram nos dias 19 e 20 de julho,
respectivamente. Ambas, no Laboratório de Informática da Graduação – LIG, no
Centro de Educação da UFPB.
Os participantes receberam orientações técnicas para produção de App
utilizando as ferramentas ExeLearning e Apps Geyser e, individualmente, foram
preparando os ODAs, em conformidade com o Planejamento feito com uso da
Matriz. Foram desenvolvidos Apps para o trabalho nos segmentos: EJA
presencial, EJA semipresencial. Contudo, a proposta de utilização do .apk é
favorável, ainda, para o uso no segmento prisional.
Um dos Apps criados foi sobre Eclipse, para uso no Componente
Curricular Física, com Ciclo V da EJA (Figura 40).
199
Figura 40 – Capturas de telas do App Eclipse de Física
Fonte: https://play.google.com/store/apps/details?id=com.wFisicaConectada_9452262
A aplicação teve seus momentos configurados a partir dos perfis dos
participantes. Assim, uns a realizaram com estudantes da EJA, outros com
gestores e/ou coordenadores pedagógicos que atuam na EJA.
Figura 41 – Fotografia da Aplicação do Novo Modelo de Atividade em aula de Física (Ciclo 5 da EJA) com uso do App Eclipse
Fonte: A autora
Os equipamentos utilizados foram parte dos alunos – seguindo uma
proposta BYOD – e parte disponibilizados pela Cátedra UNESCO de EJA, por
meio do empréstimo de tablets da marca Samsung, realizado pela IES2. As
imagens a seguir apresentam momentos de aplicação nas salas de aula.
200
Figura 42 – Fotografia da Aplicação do Novo Modelo de Atividade (Ciclos 1 e 2
da EJA) em Escola Municipal de João Pessoa/Bancários
Fonte: A autora
Na figura 43, tem-se uma das etapas da atividade acontecendo no
Laboratório de Informática da Escola. O app foi disponibilizado para os alunos
acessarem os conteúdos em estudo também fora do ambiente escolar.
Figura 43 – Fotografia da Aplicação do Novo Modelo de Atividade (Ciclos 1 e 2 da EJA) em Escola Municipal de João Pessoa/Penha
Fonte: A autora
Com turma de Alfabetização, como apresentado, na Figura 44, os alunos
tiveram a oportunidade de utilização do tablet em vários espaços da escola e
tiveram os materiais produzidos compartilhados em dispositivos móveis
pessoais.
201
Figura 44 – Fotografias da Aplicação do Novo Modelo de Atividade de Atividade
em Turma de Alfabetização em Escola Municipal do Conde/Jacumã
Fonte: A autora
A equipe da Gestão de Educação de EJA do Estado da Paraíba –
participante do curso – desenvolveu a sua aplicação junto aos Coordenadores e
Gestores de EJA (Figura 45), tendo um dos objetivos apresentar a proposta de
uso de Mobile Learning para implementação na Rede Estadual.
Figura 45 – Fotografia da Aplicação do Novo Modelo de Atividade de Atividade
na Gerência de Educação de EJA da PB
Fonte: A autora
O momento de aplicação trouxe contradições terciárias, sendo a principal
delas a resistência dos Gestores, pautados nas contradições, também,
apontadas, no início do processo, pelos participantes do curso. Porém, os
202
participantes do curso, com o desenvolvimento dos estudos, perceberam que
dificilmente as escolas terão as condições perfeitas para implementação de uma
proposta de Mobile Learning. Mas, que faz parte de uma nova atividade de
ensino, superar as contradições e problemas para viabilizar as ações. Como foi
defendido no curso, a perspectiva de Mobile Learning foi explorada não somente,
enquanto uso dos dispositivos móveis com possibilidade de acesso aos
materiais durante a aula e em momentos futuros. Mas também foram explorados
espaços físicos variados, disponibilizadas compreensões diferentes de um
mesmo tema e informações em formatos diversos, entre outras.
Os momentos de aplicações foram favoráveis e deram abertura para
pensar-se as próximas etapas de implementação de a nova atividade que estava
sendo desenhada.
7.6 Difusão e consolidação no modelo constituído: 15ª sessão
A 15ª sessão teve como objetivo ensinar o aprendido e codificar novas
regras para consolidação do novo modelo de atividade.
A sessão de encerramento do curso foi organizada com a apresentação
dos participantes que se voluntariaram para expor o ciclo em miniatura,
potencialmente, expansivo, planejado e realizado com seus alunos. A partir do
compartilhamento de experiências, os participantes puderam ensinar o
aprendido com o novo modelo de atividade.
Nesse sentido, o design do curso permitiu que, a partir da fase de criação
do novo modelo, cada professor caminhasse a seu tempo no avanço do ciclo. E,
assim, o compartilhamento pode ficar mais intensificado, pois os professores que
já tinham atendido aos objetivos das fases do ciclo foram auxiliando aqueles que
ainda não o tinham, assim o sistema esteve em constante movimento.
Tabela 09 – Planejamento da Difusão e consolidação no modelo constituído
OBJETIVO GERAL
Difundir a nova atividade, ensinando para outros e codificando novas regras.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Ensinar para outras pessoas o como foi desenvolvida a nova aprendizagem.
Codificar novas regras para a nova atividade.
METODOLOGIA 15ª sessão – Apresentação da atividade realizada a partir de um novo modelo
de atividade.
203
Atividades nas salas de EJA.
TAREFA DOS PARTICIPANTES PARA NOVA SESSÃO
Ensinar para outras pessoas o que fora aprendido para realização de um novo modelo de atividade. Responder atividade proposta no AVA Moodle.
RECURSOS AVA, Computador, Projetor, caixas de som, smartphones e/ou câmera digital.
PROFESSORES FORMADORES
Dr. Timothy Ireland Ms. Daniele Dias Ms. Agda Aquino Dr. José Barbosa Dra. Josélia Ramalho Dra. Juciane Arald
Fonte: A autora
A imagem apresentada a seguir evidencia a difusão do Novo Modelo de
Atividade no qual um participante ensina para aos demais aquilo que foi
aprendido. Expõe, no momento da foto, como sistematizou a miniatura de ciclo
potencialmente expansivo (inspirado no LM) utilizado com seus alunos.
Figura 46 – Fotografia da Difusão e Consolidação de Novo Modelo de Atividade –
Professor de Física da EJA de Escola Estadual da PB
Fonte: A autora
A equipe da GEEJA, buscou ensinar o aprendido na nova atividade,
envolvendo os membros da equipe não participantes do Curso, como pode ser
observado na imagem 47.
204
No encontro, tratou-se da importância da Cultura da Mobilidade e
possibilidades técnico-pedagógicas para implementação de Mobile Learning na
Rede Estadual de Ensino.
Figura 47 – Difusão e Consolidação de Novo Modelo de Atividade - Secretaria de Educação do Estado da Paraíba – GEEJA
Fonte: A autora
Para os professores atuantes, em sala de aula, a nova atividade pode dar
início a uma outra miniatura de ciclo expansivo. Para os professores atuantes
em espaço de gestão ou coordenação pedagógica, pode-se vislumbrar um Ciclo
Expansivo completo a partir do reconhecimento de problemas e contradições
primárias existentes.
O novo modelo de atividade teve com instrumento o planejamento para a
Aprendizagem Expansiva com uso da Metodologia do Laboratório de Mudanças.
E, assim, o resultado da ação dos sujeitos sob o objeto resulta na adoção do
Mobile Learning e adesão da Cultura da Mobilidade na escola, configurando
Ciclos de Livre Aprender.
Os Ciclos de Livre Aprender configuram-se como um diferencial
metodológico no contexto da Educação de pessoas Jovens, Adultos e Idosos.
Afinal, possibilitam acesso aos espaços formais de ensino, mas respeitam as
particularidades de seu público que, em maioria, exerce atividades de labor
durante horários opostos ao horário de estudo.
205
7.7 Avaliação da intervenção e resultados
No momento de avaliação, é importante retomar o objetivo desta
pesquisa, a qual se propôs a desenvolver uma proposta de intervenção formativa
para reconfigurar a prática pedagógica do docente da EJA, viabilizando a
potencialização de Aprendizagens Móveis e Expansivas no espaço de ensino e
aprendizagem.
Nas aprendizagens, ao longo das trajetórias de vida dos professores da
EJA, três sistemas de atividade se comunicam: o de formação inicial, o de
formação continuada alicerçado na aprendizagem em trabalho e o de atividade
pedagógica (pautando-se no ensino). Nesta pesquisa, o foco voltou-se para
esses dois últimos sistemas. E para dar conta desta relação, foi adotada uma
base teórica Histórico-Cultural, com o uso do Laboratório de Mudanças,
enquanto Metodologia de Pesquisa de Desenvolvimento do Trabalho baseado
na Teoria da Atividade.
A teoria da atividade pode contribuir para se pensar a aprendizagem vinculada com o desenvolvimento e não dicotomicamente e, para que isso aconteça, sugere-se uma metodologia intervencionista capaz de oferecer ferramentas para inovação a partir do próprio processo de pesquisa. (QUEROL et. al., 2014, p. 415).
Nessa dimensão, a inovação emprega-se na mudança, no diferente fazer
da prática de ensino, adotando-se a perspectiva da Cultura da Mobilidade;
adoção essa que outrora não existia. Entendendo que a proposta do LM é criar
uma atividade, ainda, não existente, e que, no início de seu desenvolvimento,
não se sabe como será tal desenho; nesse momento, podemos considerar que
foi estabelecido um novo design para a atividade de ensino na EJA para os
participantes do “Curso Mobile Learning na EJA”. Porém, é importante ressaltar
que, como defende Virkkunen e Newham (2015, p. 58):
O método do Laboratório de Mudança não visa a produzir apenas uma solução intelectual ou uma alteração em práticas, mas também a amplificar a agência transformadora colaborativa e a motivação dos profissionais, com base em uma nova compreensão acerca da ideia da atividade e em uma nova
perspectiva com relação ao seu desenvolvimento futuro.
A agência transformadora colaborativa ficou impressa, principalmente,
pelas parcerias, sendo uma delas entre a Cátedra UNESCO de EJA e a
206
Secretaria de Educação do Estado, nas quais existem grandes interesses de
início de desenvolvimento de um novo Ciclo Expansivo envolvendo outros
docentes. O que, de certo modo, já teve início com ações em escolas do Estado
(Figura 48) e abordagem da Cultura de Mobilidade em Seminário Estadual
(Figura 49). Afinal, de acordo com Engestrom (2016, p. 21), o “Ciclo Expansivo
é iniciado quando sujeitos individuais começam a questionar a prática aceita”.
Figura 48 - Início de um novo Ciclo Expansivo – Escola Estadual da PB
Fonte: A autora
Figura 49 - 1º Seminário Estadual de EJA Semipresencial – GEEJA
Fonte: A autora
Quanto a participação no curso, dentre os 30 inscritos, 13 nunca
compareceram, logo, 56% dos inscritos vivenciaram o Ciclo Expansivo, e desses
03 se voluntariaram para a apresentação da atividade desenvolvida com os seus
alunos.
207
Os resultados de uma intervenção do Laboratório de Mudanças, a princípio, são locais, embora tenham potencial para se tornar gerais. Por conseguinte, sua difusão e disseminação, no mais das vezes, ocorrem na forma de desenvolvimento e enriquecimento subsequentes, e não como transferência direta e cópia das soluções criadas. Os novos conceitos e métodos criados que se usam para os produzir podem ser empregados como recursos, em outras unidades, como o propósito de analisar problemas locais e criar uma solução localmente
apropriada. (VIRKKUNEM; NEWNHAM, 2015, p. 60)
Nessa pesquisa, durante o LM foram identificados problemas
relacionados ao Planejamento de Ensino na EJA. O principal deles é oriundo do
fato de que os professores – em virtude das contradições primárias – não
avançavam nas mudanças metodológicas, culpabilizando todo o sistema de
ensino em virtude de as aulas não ocorrem como gostariam. Ainda que
reconheçamos que o processo de sucesso do ensino não está sob a
responsabilidade única do professor, e, também, por estarem envolvidos em
questões mais amplas sócio-históricas, é necessário considerar que este
profissional tem forte poder para transformar a sala de aula em espaço de
aprendizagens expansivas.
Nesse sentido, foi realizado o desenvolvimento do planejamento pela
Matriz apresentada. Isto permitiu que os procedimentos de ensino fossem
direcionados pelas questões norteadores de um LM. Assim, ao perguntarem
“Como será feito o mapeamento da situação?”, os professores levantaram as
inquietações da turma para tratar o assunto desejado, partindo, assim, para uma
abordagem com início no interesse dos alunos. A questão “Como será feita a
análise da situação?” solicitou que os professores identificassem os
conhecimentos que os estudantes já possuíam sobre o conteúdo a ser abordado.
Assim sendo, reconhecer “o que temos hoje” é identificar a zona de
desenvolvimento próximo, com olhos no potencial de desenvolvimento dos
estudantes.
Para a criação de um novo modelo, os professores fizeram a intervenção
buscando identificar atitudes e comportamentos cotidianos que poderiam ser
modificados a partir da conquista do novo conhecimento. Dessa maneira, para
se concretizar um novo modelo de atividade, os conhecimentos adquiridos foram
fazendo parte do cotidiano dos alunos, de modo que seguiram para a
208
consolidação da atividade, tendo a divulgação como cume dos processos de
ensino e aprendizagem, aproximando-os da aprendizagem expansiva.
Tendo em vista que a avaliação da aprendizagem “é uma tarefa complexa
que não se resume à realização de provas e atribuição de notas” (LIBÂNEO,
1994, p. 195), a rubrica foi proposta, pois, permite que o acompanhamento das
ações seja feito não apenas pelo professor. Mas, conjuntamente, pelos alunos,
de modo que tenham a avaliação como uma bússola, apontando para o que
precisa ser realizado e aprendido. A rubrica é um instrumento que pode, ainda,
ser um orientador para desenvolver a atividade de ensino, quando o professor,
a partir dos resultados dos estudantes, pode autoavaliar seu trabalho, remodelar
suas ações e reconfigurar as aulas.
Uma das questões problemáticas da prática de ensino sem uso de Mobile
Learning foi um certo afastamento entre conteúdo a ser trabalhado, a
metodologia e suas estratégias. Ou seja, tendo em vista que os encontros
presenciais na EJA têm horários muitas vezes reduzidos em virtude das próprias
características de seu público, os professores apresentavam desconfortos em
sua prática de ensino, para sistematizar o tempo de efetivação das ações,
considerando o tempo de encontro presencial com os alunos o único tempo de
estudo. Isso retratou a dificuldade para reconhecimento de as habilidades dos
estudantes, assim como para a definição de complexidade dos conteúdos
trabalhados. E demonstrou a necessidade de identificação da zona de
desenvolvimento próximo, compreendendo o desenvolvimento atual e o
potencial dos estudantes, de modo que as atividades propostas não exigissem
mais do que os estudantes seriam capazes de realizar naquelas condições,
causando desestímulo com desafios impossíveis de serem atingidos no tempo
determinado.
Esse reconhecimento, foi solucionado pelas fases do mapeamento e da
análise no ciclo em miniatura proposto durante o planejamento. Ao
desenvolverem o planejamento com base na Matriz, a questão tempo foi
abordada. Assim, os participantes puderam refletir a respeito do que os
estudantes teriam condições de fazer, presencialmente, e o que poderia ser feito
fora do espaço físico da sala de aula.
209
Para os pesquisadores-interventores, os resultados imediatos dos processos do Laboratório de Mudanças são novas intuições, novas ideias e novos problemas desafiadores referentes à teoria e ao método. (VIRKKUNEM; NEWNHAM, 2015, p. 62).
Uma das grandes conquistas da pesquisa foi ter-se, a partir das reflexões
motivadas pelas vivências no LM, a discussão sobre a Cultura da Mobilidade,
instaurada tanto na Secretaria de Educação do Estado na qual sua equipe fora
envolvida, assim como na prática dos demais professores participantes, os quais
podem expandir o modelo de atividade para outros membros de suas escolas.
As limitações geradas pelas questões tecnológicas, largamente
conhecidas nos diálogos relacionados ao uso de tecnologias na educação, foram
superadas a partir de alternativas como a parceria com instituição privada, e,
essencialmente, por meio de baixo investimento financeiro; soluções essas
altamente viáveis a nível governamental.
As aprendizagens móveis foram confirmadas a partir da comparação
entre o início e término do LM. Ao início, os participantes do projeto
apresentaram uma série de impeditivos para uso de Mobile Learning, em
especial de dispositivos móveis, não acreditando ser possível tal atividade; e, ao
término do LM, perceberem as possibilidades de criação e desenvolveram
atividades de sucesso em seus contextos de ensino e aprendizagem.
A conquista de uma Aprendizagem Expansiva, como mencionado outrora,
pode levar anos. Por isso, a pesquisa buscou aprendizagens potencialmente
expansivas. Podemos considerar que essas foram atingidas, pelos professores
envolvidos, visto terem superado as contradições surgidas e estarem aptos para
o início de novas miniaturas de ciclos expansivos em processos de ensino e
aprendizagem.
Durante a pesquisa, como ponto positivo, tivemos diversos sistemas de
atividade em diálogo, visto estarem participando professores de diversas redes
de ensino, sendo a EJA o ponto comum para todos, o que nos permitiu colocar
em prática a perspectiva de constituição de Redes utilizando a visão de
Engestrom sobre a TA. Nesse aspecto, consolidamos o Modelo de Atividade de
Ensino de EJA por meio de sistemas interconectados e interagentes.
210
A nossa contribuição pauta-se na confirmação da Tese proposta
defendendo que o uso de Mobile Learning na formação docente favorece a
aprendizagem de professores que atuam na EJA, possibilitando aprendizagens
potencialmente expansivas e encaminhando-os para práticas de ensino que
atendam às exigências da cultura da mobilidade impressa na sociedade atual.
O período pandêmico, causado pela disseminação rápida do COVID-19,
exigiu o afastamento físico, suspensão de aulas presenciais nas escolas e,
consequentemente, modificação das práticas de ensino, tentando-se atender de
forma remota aos estudantes, inclusive da EJA. Diante dessa realidade, a
mudança na atividade favoreceu ao processo de oferta de informações e
contatos com alunos. No entanto, o afastamento escolar da maioria dos
estudantes foi inevitável, por questões que ultrapassaram as possibilidades
pedagógicas. A situação atípica vivenciada, no período letivo de 2020,
demonstra que a implementação de uma nova cultura de ensino não é uma
demanda meramente pedagógica. Mas sim uma necessidade que se associa às
questões políticas, econômicas, sociais e históricas.
Nesse sentido, percebemos que apesar de os envolvidos compreenderem
a importância e a presença da Cultura da Mobilidade, explorando-a em
processos de ensino e de aprendizagem – inclusive em virtude da pandemia –,
isso não é suficiente para garantir acesso e permanência do vínculo escolar na
EJA quando os alunos ainda não têm tal cultura impressa/amadurecida em suas
práticas. Assim, vê-se a necessidade de compreensão dessa cultura para
processos educativos direcionados para além da escola aliando-se a urgência
da aprendizagem ao longo da vida em espaços desterritorializados de educação.
Ter uma “nova cultura” no planejamento é vê-la presente na escola de
forma endógena. Nesse sentido, a instauração de uma Cultura da Mobilidade no
ensino apresenta desafios e caminhos, principalmente, tendo que uma mudança
de Cultura exige uma reconfiguração não apenas pedagógica, mas sim no
desenho e nas relações existentes em todo o Sistema de Ensino.
Reforço que um movimento expansivo que pode levar anos para sua
consolidação. Mas, sem dúvidas, está iniciado, e, certamente, estimula
mudanças na escola de EJA. Colaboramos com a proposta de um novo Sistema
211
de Atividade de Ensino que pode ser implementado metodologicamente, como
pode ser visto na figura 50:
Figura 50 - Sistema modificado da Atividade de Ensino na EJA
Fonte: A autora.
Nesse novo sistema, os seus sujeitos seguem sendo os professores e sua
atividade de ensino volta-se para a aprendizagem de pessoas jovens, adultas e
idosas, vinculadas ou não a escola. As regras são o Regimento escolar, o
Municipal e Estadual, assim como a Legislação brasileira. A comunidade inicia
nos membros da escola, mas abrange os sujeitos da Sociedade de forma
planetária, visto que utiliza a Cibercultura para romper com o sentido territorial
geográfico. A divisão do trabalho fora modificada, pois, o aluno sai do papel de
audiente e passa ao lugar ativo, em vivências críticas e sociais, para a sua
aquisição de conhecimentos. O professor é o sistematizador crítico do processo
de ensino, o qual precisará atuar como produtor de objetos digitais de
aprendizagem que podem ser utilizados em espaços e tempos variados.
Chamados de Ciclos de Livre Aprender, os resultados traduzem
perfeitamente a intencionalidade das ações na atividade e toda a teoria que o
fundamenta. Os Ciclos de Livre Aprender são contínuos, sem fronteiras,
mediatizados, expansivos, carregam a Cultura da Mobilidade e estimulam o
remix pós-massa.
212
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cotidianamente ouvimos a expressão: a escola precisa se reinventar. O
fato é que, no fundo, acreditamos que a escola precisa passar por uma grande
revolução capaz de modificar a sua essência e interferir em sua constituição
cultural. Assim, concordamos com Sacristán (2013, p. 22):
Não haverá mudanças significativa de cultura na escolarização se não forem alterados os mecanismos que produzem a intermediação didática, ou, em outras palavras: toda proposta cultural sempre será mediada por esses mecanismos.
Na presente pesquisa, nos limitamos a EJA por essa ser uma Modalidade
de Ensino que precisa de atenção especial no tangente a formação de seus
sujeitos e, em especial, de seus professores, quando no Brasil esse processo
faz-se fragilizado por ausência de políticas públicas que o abordem focadas na
escola formal, numa perspectiva de conscientização e libertação.
No entanto, a formação de professores que atuam nesse contexto, exige
um novo paradigma de compreensão do papel da Educação na EJA e sobretudo
a percepção da necessidade de ampliação dos tempos e espaços de ensino-
aprendizagem, abraçando-se assim a Cultura da Mobilidade.
Nessa proposta de “reconfiguração” da atividade de ensino na Modalidade
de Educação de Jovens e Adultos, a instituição escolar considera a Cultura da
Mobilidade como um alicerce para os seus fazeres. Um processo que inicia – ao
nosso ver – pelas práticas docentes pautadas em ciclos de aprendizagens
expansivas, e que decretam a formação de professores em trabalho.
Os processos não formais e informais da Educação de Jovens e Adultos
podem ser estimulados pela vivência escolar, enquanto espaço social, se seus
partícipes ampliarem suas concepções de aprendizagem, uma vez que a
construção do conhecimento pode acontecer em qualquer lugar e tempo.
A formação defendida, não deve ocorrer no sentido da reprodução de
fazeres e técnicas que abordem tecnologias digitais. Mas, vai além disso...
Possibilita que as vivências de formação se iniciem na reflexão e compreensão
da necessidade de mudanças, assim como é estimulada por diálogos a respeito
das contradições sociais e históricas enfrentadas na atividade docente. A
formação defendida, enfatiza a importância das redes e sistemas diversificados
nos quais os professores estão envolvidos, e suas possibilidades de
213
transformação, tem foco na criação de novas formas de fazer, ou seja, novas
metodologias.
A proposta defende, a desterritorialização da escola e incorporação do
espaço planetário, como lócus de vivências (para professores e estudantes),
espaço esse que pode ser também acessado através do ciberespaço.
Os resultados da pesquisa nos levaram a uma nova atividade que
possibilita a atuação docente em âmbito da Cibercultura, com implementação de
Mobile Learning. Mas, a sua grande relevância está no reconhecimento sócio-
histórico dos sujeitos e da conjuntura tecnológica na qual estamos imersos e não
há como esquivar-se.
Na busca por atender as necessidades do seu público, os Ciclos de Livre
Aprender carregam a perspectiva de ampliação de acesso ao conhecimento,
visto estes possibilitarem que se pode, em qualquer lugar e tempo, participar de
atividades com foco nas aprendizagens. Contudo, pautada em processos que
tenham início no reconhecimento das contradições e motivações dos sujeitos.
É importante alertar para o fato de os Ciclos de Livre Aprender
constituírem-se como caminhos, pois é utópico acreditar e defender soluções
prontas cabíveis a todos os contextos de Educação. Inclusive seria inoportuno
para a perspectiva teórica dessa pesquisa. Logo, a busca principal é por
conquistar processos educativos que se propaguem para toda a vida, para
qualquer sujeito que se coloque enquanto aprendente. Acreditamos que os
Ciclos de Livre Aprender são faróis que podem iluminar tais caminhos. Ciclos
contínuos que se configuram pelos próprios sujeitos envolvidos.
No entanto, para sua viabilidade, há necessidade de tais envolvidos
estabelecerem uma percepção cultural diferenciada, concebendo as
informações em formatos diversos. Assim, tem-se consequentemente a
necessidade de o desenho do ensino não ser limitante e permitir que a
abordagem dos conteúdos ocorra a partir do pensamento crítico e da conversão
dos partícipes seguindo rumo ao papel de produtores de informações
multimodais.
Certamente os Ciclos de Livre Aprender carregam limitações. Afinal, não
é possível, por exemplo, para pessoas que estão privadas de liberdade,
exploração livre do ciberespaço. Nesse sentido, as vivências precisam ser
adaptadas para cada realidade, e assim fica fortalecida a premissa de iniciar-se
214
um Ciclo de Livre Aprender a partir do indicado pelo LM em um Ciclo Expansivo.
Uma outra limitação que não pode deixar de ser ponderada, vincula-se ao
acesso a internet. Apesar de reconhecida e trabalhada a proposta da produção
de objetos de aprendizagem leves, que possam ser transferidos por Bluetooth,
em inúmeras situações a falta de conectividade limita o uso dos equipamentos
móveis, reduzindo o potencial de mobilidade da informação. Durante a pesquisa,
essa realidade exigiu o estabelecimento de investigação a respeito dos possíveis
serviços com oferta plausível de custo/benefício, e nesse sentido, fora adquirido
modem e realizada contratação de serviço a fim de ter-se sinal para web.
Entretanto, entende-se que esse deve ser um custo para as instituições/cidades
responsáveis pela oferta da Educação e não custo destinado aos professores.
Na perspectiva dos territórios inteligentes, uma de suas premissas é a
conexão web aberta para todos. E nesse sentido, caminha a necessidade de
planejamentos amplos para a Educação, em níveis locais e nacionais, que
abarquem as necessidades do ensino de forma séria e comprometida, sendo
uma dessas necessidades a possibilidade de uso de internet com boa qualidade
e que permita um real trânsito informacional.
Apesar de vivermos em uma Sociedade em Rede a falta de conectividade
tem se configurado como um dos maiores entraves para inserção da cultura
digital na Educação, o que não favorece a perspectiva da mobilidade. Tão pouco
tem favorecido as classes menos privilegiadas. E nesse sentido, a
implementação de Ciclos de Livre Aprender pode ampliar o acesso à Educação,
num movimento de inclusão social, visto que o espaço da escola será
modificado.
Focados na reinvenção da escola, para a mudança radical, os nossos
olhares voltam-se para as pessoas que a fazem. E assim, concluímos que o
único caminho para tal, é a mudança de atividades dos sujeitos, numa outra
proposta cultural. E esse deve ser um movimento contínuo, inclusive na
formação de professores. Para tanto, sugerimos que trabalhos futuros
desenvolvam os Ciclos de Livre Aprender em outros contextos da Educação de
Pessoas Jovens, Adultas e Idosas, para que se implemente novas culturas e
sejam estabelecidas novas atividades.
Restart! Inicou-se um novo ciclo.
215
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