CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO

' DEPARTAMENTO DE ECONOMIA `

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CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

1 ~ r UMA ANAL|sE DEscR|T|vA DA coRREçAo MoNETAR|A No BRAs|Lz lnício e

Fim (1964-1994).

NELSON PEREIRA SIQUEIRA

FLORIANÓPOLIS - SANTA CATARINA 1999 '

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA\ A CENTRO SÓCIO-ECONOMICO

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA`

CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

uMA ANÁi.|sE DEscR|T|vA DA coRREçAo MoNETÁR|A No BRAs|i_z inicie e Fim (1964-1994).

Monografia submetida ao Departamento de Ciências Econômicas para obtençãoade carga horária na disciplina CNM 5420 - Monografia.

Acadêmico: NELSON PEREIRA SIQUEIRA

Orientador: PROF. Ricardo José Araujo Oliveira

Área de Pesquisa: Economia Brasileira Palavras - Chaves: 1 - Correção Monetária.

_

2 - Indexação. 3 - Inflação.

Florianópolis, Dezembro de 1999.

III

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. CENTRO SÓCIO-ECONOMICO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

A Banca Examinadora resolveu atribuir a nota aluno Nelson Pereira

Siqueira na disciplina CNM 5420 - Monografia, pela apresentação deste trabalho.:

Banca examinadora:

Prof. Preskpente @¿¡U5¬¡¿/4

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Prof. Membro F 49/? fz//M/da 55/1 5/4

Prof. ~O ggfuflldp /,Ill/55 9/E .šmr/7`/M//Â

IV

AGRADECIMENTOS

A Deus, que me acompanha e ilumina meu caminho. Aos meus pais, especialmente a minha mae, pelo amor e orgulho que

sempre demonstrou

A minha esposa Sueli, pelo seu apoio durante todos esses anos.

Meus agradecimentos ao orientador, Professor Ricardo José Araujo Oliveira.

Aos professores do curso que muito contribuíram para minha formação

acadêmica, pelo carinho, incentivo, apoio e principalmente pela disposição em

ajudar, meus sinceros agradecimentos._

À direção e funcionários do Departamento e Coordenadoria do Curso de

Ciências Econômicas.

E por fim, agradeço a todos que de alguma maneira contribuiram para que

aqui eu chegasse, mas que, é impossível citar a todos.

V

su|v|ÁR|o

SUMÁRIO RESUMO LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ___a

CAPÍTULO I

1.

1.1

1.2

1.3

1.4

1.5

IntroduçãoV

Considerações iniciais O problema Objetivos

Metodologia

Organização do estudo

CAPÍTULO II

2.

2.1

2.2

2.3

2.4

2.4.1

2.4.2

2.4.3

2.4.4

2.4.5_

2.4.6.

2.4.7.

2.4.8.

2.4.9.

2.4.10.

2.4.11.

Evolução da inflação sob a perspectiva histórica A origem da inflação A inflação na Idade Antiga, (Grécia e Roma) A inflação na Idade Média e Idade Moderna (453-1789) A inflação na Idade Contemporânea (1789 até hoje) Teoria do valor do ouro '

Teoria da quantidade de moeda Teoria das trocas .

Teoria dos preços internacionais Teoria da renda Teoria Keynesiana Teoria das margens de lucro Teoria das expectativas Teoria da liderança salarial Teoria monetarista 4

Teoria estruturalista

2.4.12.

2.4.13.

2.5.

2.5.1.

2.5.2.

2.6.

2.6.1.

2.6.2.

2.6.3.

2.6.4.

2.7.

2.7.1.

2.7.2.

2.7.3.

2.7.4.

2.8.

VI

Teoria institucionalista

Teoria marxista

Principais causas da inflação Causas microeconômicas da inflação Causas macroeconô icas da inflaçãom Tipos de inflação Inflação de demanda Inflação de custos Inflação de lucros Inflação estrutural

O combate à inflação O monetarismo O keynesianismo O institucionalista O marxista Principais conseqüências da inflação

CAPÍTULO III

3.

3.1.

3.1.2.

3.1.3.

3.2.

3.2.1.

3.2.2

3.2.3.

3.2.3.1

3.2.3.2.

3.2.4.

3.2.5.

3.3.

A inflação brasileira_

A origem da inflação brasileira Ascausas iniciais da inflação brasileira As causas da inflação brasileira atual A dívida externa brasileira A evoluçao histórica O início dos empréstimos externos A divida externa atual As causas da divida externa atual As explicaçoes para a crise da divida externa A crise recente da dívida externa Consideraçoes finais A hiperinflação

3.3.1.

3.3.2.

VII

A interferência externa As conseqüências da hiperinflação

cAPiTuLo Iv 4.

4.1.

4.2.

4.3.

4.4.

4.5.

4.5.1.

4.5.2..

4.5.3.

4.5.4.

4.5.5.

4.5.6..

4.5.7.

4.6.

4.6.1.

4.6.2.

4.6.2.1

4.6.2.2.

4.6.2.3

4.6.2.4

4.6.2.5

A correção monetária na economia brasileira e sua conseqüente indexação (1964-1994)

L ç ç 3

A origem da indexaçãoç

Indexação versus correção monetária .

-

A origem e a evolução do Instituto da Correção Monetária no Brasil O ideólogo da correção monetária no Brasil A correção monetária e os índices de inflação no Brasil O Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (IPC-FGV) O Índice Nacional de Preços ao consumidor do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (INPC do IBGE) O Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC da FIPE-USP) O Índice de Preços por Atacado (IPEA da FGV) O Índice do Custo da Construção (ICC da FGV) O Índice Geral de Preços (IGP da FGV) Os Índices e as pressões políticas A correção monetária na economia brasileira 1964-1986 (do PAEG ao Cruzado)

Evolução dos processos de cálculo da correção monetária -

Obrigações reajustáveis do Tesouro Nacional A difusão da correção monetária na economia A correção monetária nas tarifas dos serviços públicos A correção monetária no mercado de capitais A correção monetária no mercado imobiliário A correção monetária nos saldos devedores e prestações de contratos imobiliários

A correção monetária nos aluguéis de imóveis não residenciais

VIII'

4.6.2.6. A correção monetária nos aluguéis de imóveis residenciais 4.6.2.7. A correção monetária nos débitos trabalhistas 4.6.2.8. A correção monetária nos débitos fiscais e contribuições devidas a

Previdência Social

4.6.2.9. A correção monetária na política salarial 4.6.2.10 A correção monetária na política cambial

4.6.2.11 A correção monetária no balanço das empresas

4.7. As tentativas recentes de desindexar a economia e controlar a

inflaçãoA

4.7.1. Os planos de estabilização 4.7.2. O Plano Cruzado 4.7.2.1. O início do Plano Cruzado 4.7.2.2. As origens do Plano Cruzado 4.7.2.3. Preparação para a implantação do Plano Cruzado 4.7.2.4. A divulgação do Plano Cruzado 4.7.2.5. Conseqüências práticas do Plano Cruzado 4.7.2.6. O pacote complementar ^

4.7.3. O Plano Bresser 4.7.4.` O Plano Verão 4.7.5. O Plano Collor 4.7.6. O Plano Real

CONCLUSAO REFERENc|As B|BL|oGRÁF|cAs

IX

RESUMO

Esta monografia tem dois objetivos: o primeiro é o de procurar fazer uma síntese do processo inflacionário, especialmente o brasileiro, buscando mostrar que a inflação foi “nossa companheira” desde o descobrimento. E cumpriu o seu objetivo, isto é, permitiu que ao longo de quase cinco séculos a acumulação de capital, mas não foi capaz de criar as condições necessárias e suficientes que possibilitassem o desenvolvimento econômico. O segundo objetivo foi mostrar que num processo inflacionário histórico crônico e passando para uma hiperinflação, associado a uma conjuntura política de ditadura militar recém iniciada e .com forte dependência externa, a correção monetária “evitou”, que o país, sofresse as mesmas conseqüências que outros paises já haviam sofrido, no inicio da ditadura militar.

V

Para a plena consecução do estudo foram utilizadas as análises de autores e estudiosos da área econômica, que através de seus estudos, conceituaram e caracterizaram a questão da inflação e da indexação. Para esta fundamentação teórica e interpretação dos dados foram consultadas diversas publicações da área econômica, que abordam questoes referentes à temática aqui estudada. .

A partir dessa pesquisa, conclui-se que a utilização da correção monetária combinada com altas taxas de inflação no Brasil e alto nível de endividamento externo como forma de promover o crescimento econômico foi uma combinação econômica que possibilitou o crescimento econômico brasileiro, mas sem romper a

barreira do subdesenvolvimento.

X

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BTN - BÔNUS DO TESOURO NACIONAL `

BTN FISCAL - BÔNUS DO TESOURO NACIONAL FISCAL IGP - ÍNDICE GERAL DE PREÇOS FGV - FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS `

FIPE - FUNDAÇÃO INSTITUTO PESQUISAS ECONÔMICAS. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. INPC - ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS AO CONSUMIDOR IPCA - INDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR AMPLIADO IPC - ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR IPA - INDICE DE PREÇOS AO ATACADO. ICC - ÍNDICE DO CUSTO DA CONSTRUÇÃO OTN - OBRIGAÇÃO DO TESOURO NACIONAL ORTN - OBRIGAÇÃO REAJUSTÁVEL DO TESOURO NACIONAL UFIR- UNIDADE FISCAL DE REFERÊNCIA. PAEG - PROGRAMA DE AÇÃO ECONÔMICA DO GOVERNO. FMI - FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL. BID - BANCO MUNDIAL OMC - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMERCIO. CEPAL - COMISSÃO ECONOMICA PARA A AMÉRICA LATINA. ONU - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS OEA - ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. SFH - SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO UPC - UNIDADE PADRÃO DE CAPITAL. FGTS - FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO. PIS - PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL. ‹

PASEP - PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA AO SERVIDOR PUBLICO URP - UNIDADE DE REFERENCIA DE PREÇO. Ã

TR - TAXA REFERENCIAL DE JUROS. URV - UNIDADE REAL DE VALOR.

Capitulo I

1. INTRODUÇÃO

1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A inflação é um fenômeno econômico e social muito antigo; Um dos períodos mais remotos de rápido aumento do nível de preços, de que se tem registro,

ocorreu na antiga Grécia-, por volta de 330 a.C., no reinadode Alexandre, o Grande, após a conquista da Pérsia. Esta inflação foi provocada pelo súbito aumento do volume de moeda elevou os preços e salários por todo o Império Helênico. Toynbee apud Moulton (1958, P.9), relata o ocorrido.

“O súbito aumento do volume da moeda provocou a miséria entre os camponeses e os trabalhadores. Os preços se elevaram extraordinariamente e a desordem financeira levou ao pauperismo uma sociedade que até então gozava de relativa segurança”.

Após este primeiro registro, encontram-se relatos ao longo de toda história da humanidade de persistente aumento dos preços. Em Roma no primeiro século da era cristã Wells apud Moulton (1958, p.10) relata:

“A moeda era nova e rebelde na experiência humana. Ninguém podia controla-/a. Flutuava desmesuradamente. Ora era abundante, ora escassa. Os homens traçavam os mais astutos e rudimentares planos para açambarca-/a, amea/há-/a e aumentar os preços, lançando no mercado os metais entesousarados. Pequeno grupo constituido de homens muito sagazes se tornava imensamente rico”.

Em 1526, Nicolau Copérnico apud Clerc (1988, p.1), relatou da seguinte maneira os maiores problemas da Europa de sua época:

“Tão inumeráveis quantos sejam os ~flage/os que geralmente causam a decadência dos reinos, dos principados e das repúblicas, os quatro seguintes são os mais temiveis na minha opinião: a discórdia, a mortalidade, a esterilidade da terra e a depreciação da moeda”.

2

Em 1568, Jean Bodin apud Moulton (1958, p.11), escreveu o seguinte:

“Penso que os altos preços de hoje sao devidos a quatro ou cinco causas. A principal, e quase única (até agora não assinalada por ninguém), é a abundancia de ouro e prata, hoje muito maior neste Reino do que há quatrocentos anos passados. A segunda é devida, em parte aos monopólios. A terceira é a escassez provocada de um lado pela exportação e de outro, pelo desperdício. A quarta, o capricho dos reis e dos grandes senhores, que aumentam o preço dos produtos quando lhes convém. A quinta resulta da abundância de dinheiro, rebaixado de seu antigo padrão. É a abundância de ouro e prata que provoca a depreciação desses metais e a carestia dos bens apreçados...”.

Seguindo a mesma linha de raciocínio de Jean Bodin, Milton Friedman apud Clerc (1988, p.17), afirma que “A inflação é sempre, em qualquer situação, um fenômeno monetário”. '

. A concepção de inflação de Bodin e Friedaman baseia-se no seguinte raciocínio: aumentar a quantidade de notas - ou de moedas - em circulação, sem aumentar na mesma proporção as mercadorias produzidas, só pode provocar a alta dos preços. O que determina a riqueza e o bem estar de um país é o que ele produz, e não a massa de moeda que circula. Se esta aumentar sem que o produto aumente, fatalmente a inflação se seguirá, porque a demanda de bens e serviços aumentará sem que a oferta (a produção) mude

No entanto, este raciocínio só é verdadeiro quando se supõe que a criação monetária não tem qualquer incidência na produção em si mesma. Mas se o aumento do volume de moeda permitir produzir mais, pôr em ação forças de trabalho e equipamentos até então não utilizados. Neste caso, a criação da moeda aumenta ao mesmo tempo, o tamanho do bolo e o número de fatias. Só haverá inflação se o segundo efeito (aumento das despesas) prevalecer sobre o primeiro (aumento da produção).

A análise de Jean Bodin supõe que a moeda seja neutra, isto é,'que o aumento (ou, eventualmente, a diminuição) da quantidade de moeda circulante não tenha efeito sobre a produção.

3

A neutralidade da moeda significa que a economia real e a economia monetária são idênticas, exceto no que se refere ao instrumento: se houver muita ou pouca moeda não muda nada, apenas agrandeza na qual são expressos os preços.

Quanto maior a quantidade de moeda, maior será o preço, eis a única conseqüência de emissão de moeda. Exatamente como se, em vez de medir em metros, se decidisse fazê-lo em decímetros: as grandezas aparentes - que os economistas chamam de nominais - são modificadas, mas o objeto medido tem sempre a mesma medida rela.

Essa concepção da moeda quase não foi discutida até 1930, quando Keynes, o grande economista britânico, a colocou em questão. Foi ele o responsável pela maioria das políticas econômicas dos pós-guerras. O conceito de inflação delas decorrente parecia natural: a alta dos preços é um fenômeno monetário, ligado ao aumento da quantidade de moeda e proporcional a esta.

Posteriormente Friedman-aperfeiçoou a teoria monetarista, acrescentando o raciocínio sobre valores de caixa (representa uma proporção determinada das compras alguém se dispõe normalmente a fazer) e a antecipação racional (os agentes econômicos prevêem as altas dos preços e as antecipam). Desta forma os monetaristas reencontraram suas conclusões sobre a neutralidade da moeda. Pois para eles não se engana o mercado impunemente, pode-se até conseguir em curto prazo fazendo a emissão de moeda ser ativa (isto é, agindo sobre as variáveis reais da economia). Mas em longo prazo, os agentes sociais

compreenderão bem esta aceleração regular do ritmo inflacionário e o incorporarão, antecipando-0 às suas reações. Portanto, em longo prazo, toda emissão de moeda termina por pesar somente sobre os preços, já que o crescimento econômico não depende da política monetária, só a inflação.

U

As teses monetaristas foram aplicadas nos EUA e na Inglaterra, nos Governos de Reagan e Thatcher respectivamente. Nos EUA, a redução da inflação via redução da quantidade de moeda emitida (1981-1983), provocou uma forte redução no ritmo de alta dos preços, mas provocou também forte

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redução no nível da atividade econômica e aumento do desemprego. Vale lembrar também que a forte alta das taxas de juros americanos a partir de 1979 fez com que uma quantidade enorme de capitais afluísse para lá, permitindo a

recuperação da economia americana e financiando o seu gigantesco déficit

público.

.A inflação é, em parte, um fenômeno monetário. A história mostra que a

emissão de moeda termina sempre repercutindo nos preços. Mas ela não tem só esse efeito: a moeda estimula a atividade econômica, de modo que a emissão de moeda provoca, ao mesmo tempo, crescimento e inflação, em proporções variáveis, segundo os períodos e os países considerados. E é isso que dificulta a

análise: uma infinidade de fatores econômicos, mas também políticos, sociais,

sociológicos, históricos, são suscetíveis de influenciar a inflação, explicando que, em determinadas circunstâncias, a criação de moeda terá tido, sobretudo, um efeito sobre a atividade produtiva e, em outras, um efeito sobre os preços.

Assim, toda luta contra a inflação provoca uma redução de atividade, variável segundo os países e as épocas. Em outras palavras, a inflação não pode ser analisada somente como um fenômeno monetário. É também um fenômeno real - ou seja, um fenômeno que encontra sua fonte no próprio seio da produção ou da divisão de rendas - cuja eliminação sempre custa alguma coisa.

Por conseguinte, é preciso optar num dado momento entre um pouco mais de inflação e um pouco menos de crescimento econômico. A inflação não é um mal secundário de que se possa livrar mediante uma operação cirúrgica sem importância, como pretendem os monetaristas. É um fenômeno estreitamente ligado ao crescimento econômico, ao emprego, ao poder de compra: comparável a um tumor, sua extirpação passa pelo corte. de um pedaço de órgão, cirurgia que, obrigatoriamente, deixa o doente enfraquecido. E nunca se tem a certeza de que o tumor não reaparecerá. Por isso, algumas pessoas preferem viver com a doença a suportar terapias de alto risco, com efeitos dolorosos e, talvez,

limitados.H

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1.2. O PROBLEMA

Não há país algum do mundo, nem mesmo os socialistas, que esteja livre da inflação. A inflação está presente um pouco por toda a economia moderna.

Mesmo em pequena dose, a inflação age em profundidade sobre a repartição das riquezas, e por esse meio sobre o comportamento cotidiano dos agentes econômicos. Mas a inflação não se satisfaz com pequenas doses, aumenta espontaneamente até desembocar em situações absurdas.

A inflação traduz-se por uma atividade econômica continuada, mas também or uma re arti ão ca richosa das ri uezas, or um certo deses eroP pelos compromissos tomados ou recebidos, uma certa desconfiança mútua, um espírito de contestação sistemática.

O progresso econômico, tal com se concebe hoje é o crescimento associado ao pleno emprego. O crescimento não se apóia necessariamente na quantidade de bens produzidos e distribuídos; pode consistir em produzir bens de melhor qualidade, ou em produzir os mesmos bens com uma duração de trabalho reduzida. O pleno emprego não se refere necessariamente aos equipamentos, mas sempre aos homens: cada indivíduo disposto a trabalhar deve encontrar trabalho.

Acabar com a inflação sem contrariar o pleno emprego é um objetivo muito difícil de alcançar. Supõe que, em cada setor de atividade, a procura esteja sempre exatamente adaptada à oferta, sem a exceder (porque isso seria a inflação), nem lhe ser inferior (isso seria o subemprego). Para obter esse resultado, os poderes públicos deveriam dispor, com perfeito domínio técnico, de uma informação rápida e objetiva capaz de lhes permitir dosar com precisão os remédios; seria necessário também que as estruturas econômicas fossem suficientemente fluidas para reabsorver os desfazimentos acidentais entre a oferta e a procura, até que os remédios pudessem exercer os seus efeitos.

6

Não estando nunca reunidas (até hoje não se conhecimento da existência real de todas essas pré-condições reunidas num único país em um determinado momento), não é possivel realizar o progresso sem inflação. Tudo o que se pode fazer é aproximar-se deste objetivo, isto é, reduzir a alta dos preços ao mínimo compatível com o pleno emprego.

O Brasil convive com o fenômeno da lnflaçãodesde o seu descobrimento. Para controlar e debelar este fenômeno econômico as autoridades governamentais já fizeram uso todos os instrumentos de política econômica (principalmente os monetaristas) de que se tem conhecimento.

Todas as experiências de estabilização da economia aplicadas no Brasil falharam. A atual experiência em -vigor não apresenta até hoje sinais concretos de que poderá vir a ter sucesso. Também não possui-se conhecimento de nenhum plano econômico nos moldes preconizados pelo Fundo Monetário Internacional, tenha obtido sucesso concreto em longo prazo em qualquer lugar do planeta desde 1950 quando foi aplicado o primeiro plano no Chile. A primeira tentativa de peso para combater a inflação foi a realizada após a Revolução de 1964. A principal preocupação do Governo Castello Branco foi combater a hiperinflação que progredia rapidamente e igualmente, estabelecer um convívio tão pacífico quanto possível do sistema econômico pela ampla adoção do instituto da correção monetária.

O plano de combate à inflação, intitulado PAEG, Programa de Ação Econômica do Governo, baseou sua atuação na contenção da alta de preços no tripé fiscaI-monetário-salarial. -

“É preciso reduzir o déficit, devemos combater a inflação". Com este slogan, a partir de 1985, quando o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial (BID) e a Organização Mundial de Comércio (OMC), passam a exercer maior influência na economia latino americana, temos a deflagração de uma série de programas de ajuste estrutural (PAES). São lançados planos na Argentina, Brasil, Peru, Bolívia, México. Todos com a mesma essência visam basicamente garantir o pagamento da dívida externa. Para atingir estes objetivos foram

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implementados uma série de reformas macroeconômicas que provocam o desmantelamento das instituições do Estado, o rompimento das fronteiras

econômicas e o empobrecimento de milhões de pessoas, conseqüentemente reduzindo a atividade econômica e aumentando o desemprego. O acúmulo de grandes dividas públicas nestes paises e em outros conferiu aos interesses financeiros e bancários não só uma alavancagem politica, mas também o poder de ditar a política social e econômica do governo.

Para controlar a "inflação" passou-se a utilizar as seguintes “recomendações” do Fundo Monetário Internacional: austeridade orçamentária (redução dos gastos governamentais, especialmente em áreas sociais),

desvalorização na moeda (especialmente a maxidesvalorização resulta no imediato e abrupto aumento dos preços, leva a uma sensível compressão dos rendimentos reais, enquanto, ao mesmo tempo, reduz o valor da mão-de-obra, reduz o valor em dólar das despesas do governo), liberalização do comércio (regulamentado pela Organização Mundial de Comércio) e privatização. Este conjunto de medidas permite a liberação de receitas do estado para pagamento da divida externa, cumprindo desta formadas “metas de desempenho” acordadas com Fundo. '

Cumprindo todas essas e outras recomendações do FMI, o pais passa a ter direito a receber novos empréstimos internacionais. Desta forma o circulo vicioso se completa, pois cumprindo o “acordo”, a divida interna e externa aumentam, pois o Brasil é obrigado por um dos pontos do "acordo" a continuar endividando-se externamente' e dar aos recursos um rótulo de social.

A correção monetária surgiu entre, nós como uma necessidade de se “corrigir” as distorções provocadas pelo processo hiperinflacionário e impedir que a hiperinflação provoca-se no Brasil o que já havia acontecido em outros paises. A necessidade política do governo revolucionário que se instalou no país após 1964, criou as condições necessárias e suficientes para adoção desse mecanismo, que só foi institucionalizado amplamente em dois países, Brasil e Israel.

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1.3. OBJETIVOS.

Esta monografia tem dois objetivos: o primeiro é o de procurar fazer uma síntese do processo inflacionário, especialmente o brasileiro, buscando mostrar que a inflação foi “nossa companheira” desde o descobrimento. E cumpriu o seu objetivo, isto é, permitiu que ao longo de quase cinco séculos a acumulação de capital, mas não foi capaz de criar as condições necessárias e suficientes que possibilitassem o desenvolvimento econômico. O segundo objetivo foi mostrar que num processo inflacionário histórico crônico e adentrando a hiperinflação,

associada a uma conjuntura política de ditadura militar recém iniciada e com forte dependência externa, a correção monetária “evitou”, que o país, sofresse as mesmas conseqüências que outros paises já haviam sofrido, no inicio da ditadura militar.

'

Os objetivos específicos visam uma síntese dos seguintes aspectos:

o Analisar a evolução da inflação sob uma perspectiva histórica; o Apresentar uma síntese da inflação na economia brasileira; o Caracterizar a hiperinflação como um fenômeno econômico de

indesejável; `

0 Estabelecer uma relação entre a inflação e a indexação, o Apresentar uma síntese da correção monetária na economia

brasileira entre 1964 a 1994.

1.4. METODOLOGIA.

Para a plena consecução do estudo foram usados dados bibliográficos de fontes secundárias, publicações mensais de revistas especializadas.

9

Para contextualizar a inflação numa perspectiva de história econômica mais geral apresenta-se uma breve retrospectiva sobre a evolução da inflação e em seguida sua atuaçao na economia brasileira.

Para fundamentação teórica e interpretação dos dados foram consultados diversos autores e estudiosos da área econômica, que abordam em seus estudos questões referentes à correção monetária, indexação e inflação.

O tipo de trabalho realizado nesta -monografia refere-se ao que Eco (1985, p.3) chama de tese de copilação, onde se procura levantar e analisar critica e ordenadamente, a literatura a qual tivemos acesso, procurando expô-Ia de modo claro e oferecendo uma visão abrangente sobre o tema nos seus mais diversos aspectos.

1.5. oRGAN|zAçÃo Do EsTuDo

Esta monografia será apresentada em quatro capítulos.

No primeiro capítulo são feitas as considerações iniciais ligadas ao tema da pesquisa. Depois será feita a caracterização do problema. Também são apresentados os objetivos que se pretende alcançar,*a metodologia da pesquisa a ser utilizada, organização do estudo e as limitações da pesquisa;

O segundo capítulo apresenta uma síntese do processo inflacionãrio sob uma perspectiva histórica;

No terceiro capitulo abordada a inflação brasileira sob uma perspectiva histórica, desde o descobrimento até os dias atuais destacando o papel do endividamento externo e da hiperinflação como um fenômeno econômico perigoso para a economia e suas conseqüências;

econom peflodo

trabalho

10

No quarto capitulo apresenta uma síntese do processo de indexação da ia e uma analise da correção na economia na economia brasileira no 1964-1994.

Finalizando, apresenta-se conclusões relevantes da elaboração deste

11

cAPíTui_o ||

2. EvoLuçÃo DA iN|=|_AçÃo soB.A PERsPEcT|vA H|sTÓR|cA

A definição de inflação, praticamente consensual entre todos os

economistas, é a de que este fenômeno consiste em uma elevação persistente e generalizada dos preços, quer seja oriunda de problemas monetários (como

defendem os monetaristas), quer seja devido a problemas estruturais (para os

estruturalistas). A inflação é em qualquer circunstância um imposto que atinge desigualmente os indivíduos e as empresas, provoca a redistribuição da renda,

transferindo recursos do conjunto dasociedade para um grupo privilegiado. Guimarães (1963, p. 7) afirma que “A inflação começa confiscando dos pobres

em proveito dos ricos e acaba confiscando pobres e ricos, em proveito exclusivo dos muito ricos”.

Muitos economistas entendem que a inflação só traz malefícios para a

economia e por conseqüência para o conjunto da sociedade, por isso deve ser

combatida a qualquer custo. Outro grupo entende que a inflação é o preço que

a sociedade deve pagar para manter o progresso econômico contínuo, portanto

qualquer luta contra a inflação supõe um custo (a redução do nível inflacionário aumenta o desemprego, reduz a atividade econômica, etc.). Um terceiro grupo é defensor do processo inflacionário como instrumento de política econômica. Para este grupo a inflação é um mecanismo de defesa da economia, sem ela a

economia entraria num processo de estagnação e crise contínuo, além de ser um excelente instrumento de acumulação permanente de capital, fundamental para financiar o progresso econômico constante. Sob esta ótica a inflação não

é um problema é sim a solução para as crises econômicas (é melhor ter

inflação e ter emprego ou não ter inflação é estar desempregado?, é melhor ou

menos ruim ser “empresário” com inflação ou ser um empresário falido sem inflação?). Portanto não se deve combater a inflação, deve-se apenas procurar

mantê-la sob controle. Por último temos um grupo que defende a tese de que não existe progresso sem inflação. '

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2.1. A ORIGEM DA INFLAÇÃO

Ninguém planejou o surgimento da Inflaçao. Ela' surgiu e se institucionalizou, historicamente porzum processo inteiramente inconsciente,

como surgiram na natureza as espécies vegetais e animais. Para Rangel (1986, p.81),

“...na origem vamos encontrar o acaso, o acidente aristotélico. Assim como a matéria inorgânica, sintetizando-se e analisando- se espontaneamente, milhões de vezes, sob inúmeras formas, nas mais variadas circunstâncias, chegou a formar em alguns casos compostos dotados de certas propriedades inéditas, os quais, sem serem ainda vivos, tão pouco eram não vivos...".

Nas palavras de Hutton (1962, p.12 e 105), São ilustrativas as seguintes afirmações:

Ia inflación surge de forma obvia y automática”. “La inflación, al igual que el sentimiento, es una palabra que puede admitir dos significados' uno matizado y otro sin matizar. Ambos significados hacen referencia a un estado de cosas que el dinero llega a ser más abundante que los bienes en que puede gastar, a /os precios que rigen en los mercados.”

2.2. A |NFLAçÃo NA |DAoE ÀNT|GA (eRÉc|A E RoMA›

A inflaçao nao é um fato novo. Um dos períodos mais remotos de rápido aumento do nível de preços, de que se tem registro, ocorreu na antiga Grécia, por volta de 330 a.C., no reinado de Alexandre, o Grande, após a conquista da Pérsia. Esta inflação foi provocada pelo súbito aumento do volume de moeda em circulação. Segundo alguns historiadores, Alexandre pagava suas legiões com ouro acumulado durante dois séculos, no erário de Arquimedes. Outros entendem que este ouro foi resultado da conquista da Pérsia. Controvérsias à

parte, o fato é que o ouro substituiu a prata como moeda e os preços e salários elevaram-se por todo o Império Helênico. Toynbee apud Moulton (1958, p.9) relata:

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o súbito aumento do volume de moeda provocou a miséria entre os camponeses e os trabalhadores. Os preços se elevaram extraordinariamente e a desordem finanoeira levou ao pauperísmo uma sociedade que até então gozava de relativa segurança”. .

Em Roma, nos duzentos anos que procederam as Guerras Púnicas, a moeda de cobre do Império foi desvalorizada. Nos duzentos anos seguintes, em que foi introduzida a prata, tanto o cobre como a prata foi desvalorizada pela cunhagem de uma proporção crescente de ligas. O ouro foi introduzido pela primeira vez como parte da cunhagem de moedas por Augusto, cerca de 30 a.C. e, desde então até a queda do Império ocorreram diversas

desvalorizações e inflação. A desvalorização mais séria ocorreu no reinado de Galiano (235-268 d.C.), esta desvalorização foi segundo Porteous apud Griffiths (1981, p.16) foi tão intensa quanto à registrada na Alemanha em 1923 e de maior extensão. Mesmo depois deste período, a inflação alastrou-se e foi um dos principais fatores que determinaram a reforma da moeda realizada por Dioclesiano (301 d'.C.). No primeiro século da era cristã Wells apud Moulton (1958, p.10) relata o ocorrido:

“A moeda era nova e rebelde na experiência humana. Ninguém podia controla-Ia. Flutuava desmesuradamente. Ora era abundante, ora escassa. Os homens traçavam os mais astutos e rudimentares planos para açambarca-la, amea/há-la e aumentar os preços, lançando no mercado os metais entesousarados. Pequeno grupo constituído de homens muito sagazes se tornava imensamente rico”.

Outro indicador das diferentes taxas de inflação na Grécia e em Roma consiste nos diversos níveis de juros sobre empréstimos. Na Grécia a taxa de juros caiu cerca de 16% no ano de 550 ,a.C. a 6% no ano de 250 a.C. e, a partir de então, manteve-se virtualmente constante até 50 a.C., ao passo que no império Romano, elevou-se de um nível de 4% ao ano em 50 d.C., para mais de 12% em 250 d.C. Embora as taxa de Juros sofram a influência de muitos fatores que não a inflação, não se pode deixar de sentir o fato de que as taxas estavam em declínio na Grécia, mas em ascensão em Roma.

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A inflação Romana produziu claros efeitos sobre sua sociedade. Seus efeitos perduraram, mas que a sociedade. A inflação romana marcou profundamente muita das comunidades locais, feudais e agrárias, sobre as quais se fundaram mais tarde as nações européias bárbaras. Os efeitos da inflação romana fizeram sucumbir as cidades e o comércio em larga escala e continuaram durante os períodos merovíngio, carolingio e dos capetos na França. Durante o período feudal na Europa ocidental, na Inglaterra dos normandos e dos angevinos e na Itália dos lombardos. As conseqüências dessa inflação ocorrida muito antes do surgimento de uma moeda internacional de reconhecido prestígio foram sentidos durante todo o primeiro período do renascimento até o surgimento das primeiras cidades modernas.

Considerando a clareza da exposição, a riqueza de detalhes e atualidade das conseqüências, transcrevemos a seguir as principais causas e efeitos (o estado centralizado, a política de favorecimento e Governo de conveniência) da inflação romana, nas palavras de Hutton (1958, p.14-15),

sobre a situação do Estado as vésperas da queda: L

“El Estado centralizado En primer lugar, el gasto estatal de Imperio //egó a ser intolerarable e ineficazmente gravoso con el aumento de los impuestos. Estos tuvieron que elevarse desmesuradamente, porque la mayor parte del comercio masivo, transporte, defensa leyes, finanzas y administración civil se convirtieron, sin remordimiento alguno de conciencia, en empresas estata/es mono/íticas. Las excepciones que permitieron el comercio privado fueron pocas, y fueron progresivamente reduciéndose y haciéndose más loca/es. El clásico advenedizo, el emancipado Trimalchio en el Satiricón de Petronio estaba “haciéndolo muy bien” con los monopolios imperiales. Los trabajadores urbanos y rurales tenían que “eternizarse” en sus profesiones, que pronto se hicieron hereditarias - otra proyección del feudalismo -. Los mercaderes y comerciantes en la esfera económica, al igual que las legiones en la en la militar, solo podían progresar como funcionarios estata/es y con frecuencia su status se hizo hereditario. Mucho antes de que llegara a ser cierta la afirmación de Plinio de que “los latifundios perdieron a Roma”, alguna causa había originado ya las grandes propiedades, los latifundios, así como una proliferación sorprendentemente rápida de rigideces, controles y supen/isores. Esta causa fue la imposición rápidamente creciente sobre los comerciantes y

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agricultores principalmente, hasta ahora independientes, hombres modestos, para que suportaran el gasto creciente de la veloz expansión dela maquinaria estatal”.

Esta situação conduziu a eliminação da independência dos pequenos fazendeiros e comerciantes. Levou os pequenos agricultores a depender de outros, mediante sua notória fuga da escravidão e vassalagem, por um método de amalgama com agricultores vizinhos, com maior escala de produção e conseqüentemente, mas poderosos. lmpulsionou também os pequenos artesões e comerciantes a similares dependências, bem como escravos urbanos e com maior freqüência os membros de grandes “coletividades” ou “colégios” de profissões, que dizer o protótipo dos grêmios da Idade Média. A cobrança de impostos para financiar a maquina estatal elevou-se a tal ponto, que quase eliminou a capacidade das pessoas de possuírem bens. Nas palavras de Nero, imperador romano, tem-se uma noção clara desta situação “Procuremos quem possua alguma coisa”. Porém, foi Calígula quem levou esta imposiçao a magnitudes ilimitadas, Hutton (1958, p.15):

“No hubo ninguna clase de bienes o de personas sobre los que no estableciera algún impuesto... sobre todos los comestibles vendidos en cualquier parte de la ciudad establecía un gravamen f/jo y definitivo; sobre todas las acciones judicia/es y procesos /egales que tuvieran lugar, se gravaba una cuaita parte de la suma en litígio, imponiendo una sanción a quien se declarara culpable de avenencia o de abandono de una acción; gravaba también, con una octava parte, los salarios diarios de un porteador, sobre /os ingresos de las prostitutas, una suma equivalente a la que recibía cada una por un abrazo; y se añadía una cláusula a este capítulo de la ley por la que aquellas que hubieran sido alguna vez prostitutas o actuado como alcahuetas deberían ser sometidas al impuesto público, y que incluso el matrimonio no debía quedar exento”.

A queda do império romano começou, quando tudo parecia estar muito bem. Quando os pedidos dos trabalhadores eleitores por comida e diversão e os exércitos por maiores salários, elevaram-se acima da arrecadação de impostos. Começou uma espécie de “subcasta holandesa” de votos. Terminou convertendo o exercito no único eleitor dos imperadores e assassino da maioria deles. Converteu-se também em destruidor de cidades e cidadãos.

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A desocupação do campo acompanhou a urbanização dos primeiro tempos do Império. Na medida em que enfraquecia o comércio internacional com a progressiva inflação, e seus reflexos se fizeram sentir nas cidades que agora estavam atrás de muralhasdefensivas. Quando o dinheiro perdeu o valor e se multiplicaram os soldados e os burocratas, convertendo-se em uma classe privilegiada do estado, e as massas urbanas, constituídas por desempregados na sua maioria, tiveram então que ser alimentados pelo Estado benfeitor. A antiga classe governante das cidades (classe senatorial) se retirou para os seus Iatifúndios, cada vez maiores, à medida que cresciam seus poderes estatais no centro e nas cidades. Os imperadores ficaram numa posição de dependência cada vez maior em relação ao apoio do exercito e dos votos dessa plebe ociosa comprada ambas mediante maiores impostos da já

debilitada classe dos contribuintes. V

Nas palavras de Hutton (1958, p.17), temos uma idéia de como ocorreu a queda do império romano e as conseqüências desta queda:

V

“Cuando el unitario territorio económico, defensivo, administrativo y legal Del Imperio comenzó a desintegra-se es civitates feudales autosuficientes, alrededor de las ciudades recién amuralladas, -se desintegro con ello toda una civilización. Se disperso, a partir de/ terrible siglo tercero, en /os ambiguos contornos de las naciones europeas modernas y en nuestras actuales diócesis eclesiásticas de Ia Europa occidental y Oriente Medio. La misma palabra “diócesis” data de aque/la época. Este proceso de dispersión duró Io menos dos sig/os, y hay quien dice que Ilegaran a tres. Este proceso no se detuvo nunca, y se vio acelerado y

'

acompañado por la presión progresiva de Ia imposición -sobre los individuos-, más allá de lo que podían soportar sus 'juicios de valor”, a través de un estado cada vez más centra/izador. A/ Final, el Estado y la civilización se desperdigaron en fragmentos, pero no por /as invasiones bárbaras - /os bárbaros intentaron incluso mantener Ia civilización que admiraban-, sino porque no había quien defendíera su integridad. Esta integridad se vioinflada de ta/ forma que desapareció, siendo de su punto imposible su defensa”.

Em segundo lugar, a política de favorecimento. Atrás da centralização sem consciência de toda a vida econômica e administrativa,

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existia uma causa política antecedente. A política se ocupava em última

instância, do exército, do poder sobre os indivíduos organizados em sociedade e de seu próprio poder. A centralização,administrativa do poder estatal (em quase todos os aspectos da vida) prosseguiu desde os tempos de Augusto até o colapso final, que ocorreu no século V, Nao podia manter se centralizado unicamente mediante um continuo processo de favorecimento fiscal e financeiro ao poder que havia elevado ao trono os imperadores, e os havia mantido, etdepois abandoná-los bruscamente; quer dizer, o exército. Hutton

(1958, p.18) relata as conseqüências desta política:

“Los gravosos impuestos que recaían sobre una minoria de contribuyentes, además de producir el envilecimento de la moneda, ofreció a /as /egiones y a la burocracia una ventaja sobre todas /as demás clases, hasta que hicieron saltar en pedazos el Imperio. Solamente una pequeña clase privilegiada - la senatoria/ - mantuvo sus anteriores ventajes pari passu, desprendiéndose de su tradicional tarea de gobierno y “volviendo a la tierra”. Fue así la antecesora de los señores feudales. La mayoría de /os contribuyentes vivían en las ciudades. Todos ellos constituían una minoria pequeña, pero economicamente importante y productiva. Al .aumentar sus-cargas, los corps d'éIite de los decuriones preferían sencillamente Iaresclavitud, la huida o Ia Ilegada de los bárbaros. Esto asestó un golpe mortal al tráfico, al comercio, al capital y a las ciudades. Fuera de las ciudades, en el campo, los legionarios en sus campamentos y los mayores terratenientes senatoria/es en sus latifundios, quedaban exentos de. impuestos. De esta forma, el progresivo envilecimiento de Ia moneda y la imposición V

penalizadora para asegurar el poder y el apoyo político, terminaron en la degradación y desintegración del estado. Fue una gran paradoja. EI mismo poder, en definitiva, desertó del estado, el centro, y se fue a las pequeñas localidades. Así surgieron los tiempos oscuros de la Edad Media, de sen/idumbre y de clases

A terceira causa foi o governo de conveniência. Para debelar a inflação os governos acabam quase sempre atuando nos sintomas superficiais da inflação em vez de combater o mal pela raiz. O comportamento contraditório é um paradoxo inerente ao processo inflacionário. Este comportamento ocorreu no império romano e em muitos outros governos inflacionistas. Hutton (1958, p. 20), descreve este comportamento:

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que tales gobiernos deshacían con la misma rapidez con su mano izquierda lo que estaban tratando de hacer con la derecha. Tal fue el conocido Edictum de Pretiis, del año 301 de nuestra era, de Diocleciano, que proclamaba como crimen capital elevar los precios en cualquier lugar del Imperio, y nos dejó una sobria normalización de todos los bienes de consumo y de capital, sus calidades y precios, en todo el mundo -

civilizado entonces conocido. No obstante aquel decreto fue abandonado al cabo de dos años, como algo fracasado e inaplicable. No todos los burócratas, soldados y policias bajo de os Augustos y dos Césares, pudieron cortas el número de cabezas que tenían que haber caído. Las /eyes económicas y la naturaleza humana derrotaron incluso a Diocleciano. Hacia el año 365 de nuestra era el emperador Valentiniano I se enfrentó incluso con peores problemas económicos, fiscales y administrativos que los desu gran predecesor Dioclesiano. La carga de los impuestos sobre los decuriones de las ciudades se había hecho tan pesada que civitates completas - es decir, no solo la ciudad amurallada, sino la amplia área suministradora de su alrededor- quedaron rápida y crecientemente sin curiae o gobierno local alguno. La razón fue, naturalmente, que los decuriones de las curiae eran responsables legal y personalmente de recaudar los impuestos. Como es lógico, a medida que crecieron las enormes cargas fiscales des Estado, altamente centralizado, los decuriones “huyeron”. Es decir, ellos realizaron las primeras commendationes reales o sen/icios voluntarios personales de las épocas feudales. Huyeron hacia los ricos terratenientes de las grandes fincas rurales. Llegaron s ser sus colonos o sus esclavos. Huyeron incluso hacia bárbaros; y se formó una fuerte quinta columna -_ como diríamos ahora - con la élite educada de la ciudad, correspondiente a la clase de los decuriones, ya que intrigaron para que entraran los bárbaros en las ciudades occidentales sucesivamente y en sus distritos".

2.3. A |N|=|.AçÃo NA |DADE MÉD|A E |v|ooERNA (453 A 1'/ae).

Em seguida à decadência do Império Romano, provocada em grande parte pela inflação, a Europa desintegrou-se numa série de dominios bárbaros que se invadiam uns aos outros e a prática da pilhagem entre esses dominios era comum. O comércio internacional entrou em declínio e, do século V ao século Xlll, conhecemos muito pouco do comportamento dos salários, preços ou taxa de juros. Hutton (1958, p.13), esclarece a origem da idade média: A

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“Los tiempos oscuros de la Edad Media vinieron .por lo ocurrido entre las épocas de Augusto y Septímio Severo a la anterior sociedad organizada internacionalmente, dependiente en gran parte del comercio internacional, basado a su vez en una moneda-patrón principal, y operado bajo un sistema predominante de ley comercial internacional

V

Neste período, a moeda de certa forma quase desapareceu de circulação e, a não ser no Império Bizantino e em certas partes do oriente, a

cunhagem de moeda foi suspensa. Sendo reintroduzida em 1252 em Florença (florins de ouro) reativando o sistema monetário da Europa.

`

A grande alta dos preços, verificada no século XVI, em quase toda a

Europa, em maior ou menor grau, mesmo onde não havia mais “aviltamento” da moeda, fez ressurgir o interesse pelo problema, de que as variações no nível geral de preços talvez estivessem relacionadas com as variaçoes na quantidade de metais preciosos.

Em 1526, Nicolau Copérnico apud Clerc (1988, p.1), relatou da seguinte maneira os maiores problemas de sua época:

“Tão inumeráveis quantos sejam os flagelos que geralmente causam a decadência dos reinos, dos principados e das repúblicas, os quatro seguintes são os mais temiveis na minha opinião: a discórdia, a mortalidade, a esteri/idade da terra e a depreciação da moeda”

_

Jean Bodin foi o primeiro economista a atribuir em grande parte a revolução dos preços, ocorrida no século XVI ao aumento da quantidade de ouro e prata, vindos do Novo Mundo. Em 1568 escreveu:

“Penso que os altos preços de hoje são devidos a quatro ou cinco causas." A principal, e quase única (até agora não assinalada por ninguém), é a abundancia de ouro e prata, hoje -

muito maior neste Reino do que há quatrocentos anos passados. A segunda é devida, em parte aos monopólios. A terceira é a escassez provocada de um lado pela exportação e de outro, pelo desperdício. A quarta, o capricho dos reis e dos grandes senhores, que aumentam o preço dos produtos quando lhes convém. A quinta resulta da abundância de

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dinheiro, rebaixado de seu antigo padrão. É a abundância de ouro e prata que provoca a depreciação desses metais e a carestia dos bens apreçados...

A explicaçao monetária da inflaçao supoe que ao aumentar a

quantidade de notas (moedas) em circulação, sem aumentar na mesma proporção às mercadorias produzidas, só pode provocar a alta dos preços. O que determina a riqueza e o bem estar de um país é o que ele produz, e não a

massa de moeda que circula. Se esta aumentar sem que o produto aumente, fatalmente a inflação se seguirá, porque a demanda de bens e serviços aumentará sem que a oferta (a produção) mude. SÓ se pode repartir o que se produz: eis um velho preceito da sabedoria popular que se recusa a confundir dinheiro com riqueza.

Mas, no entanto, este raciocínio só é verdadeiro quando se supõe que a

criação monetária não tem qualquer incidência na produção em si mesma. Se o aumento do volume de moeda permitir produzir mais, pôr em ação forças de trabalho e equipamentos até então não utilizados. Neste caso, a criação da moeda aumenta ao mesmo tempo, o tamanho do bolo e o número de fatias. SÓ haverá inflação se o segundo efeito (aumento das despesas) prevalecer sobre o primeiro (aumento da produçao). '

A análise de Jean Bodin supõe que a moeda seja neutra, isto é, que o aumento (ou, eventualmente, a diminuição) da quantidade de moeda circulante não tenha efeito sobre a produção. ~ »

Neutralidade da moeda significa que a economia real e a economia monetária são idênticas, exceto no que se refere ao instrumento: se houver muita ou pouca moeda não muda nada, apenas a grandeza na qual são expressos os preços. Quanto maior as quantidades de moeda, maiores serão os preços, eis a única conseqüência de emissão de moeda. Exatamente como se, em vez de medir em metros, se decidisse fazê-lo em decímetros: as grandezas aparentes - que os economistas chamam de nominais - são modificadas, mas o objeto medido tem sempre a mesma medida real.

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2.4. A INFLAÇAO NA IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até hoje).

Acompanhando a evolução dos sistemas monetários baseados no ouro, a maioria dos economistas dos séculos XVIII e XIX, atribuíram as variações no nível de preços, quase que exclusivamente aos fatores referentes à produçao deste metal precioso. Esta concepção monetarista foi elaborada de modo a

abranger todas as formas de instrumentos monetários e creditícios, constitui parte dos princípios econômicos, até hoje aceitos.

Porém, entre eles, as divergências são grandes quanto ao processo pelo qual as alterações na oferta da moeda provocam alterações correspondentes no preço das mercadorias. Dessas divergências surgiram as seguintes teorias:

2.4.1. Teoria do valor do ouro. Os defensores desta teoria dão ênfase ao valor do ouro como fator determinante dos níveis de preços, partem do principio de que, sob o padrão-ouro, determinado peso de metal é considerado, legalmente como padrão ou medida dos valores em geral. Parecia evidente que os fatores que afetam o valor dos bens, adotado como padrão, afetariam, automaticamente, os .preços dos bens nele expressos. Para, o economista inglês Ricardo, “se o valor do dinheiro diminuisse, os preços das mercadorias subiriam, pois cada comprador estaria disposto a gastar mais dinheiro do que antes em suas compras”. `

2.4.2. Teoria da quantidade de moeda. Uma unidade de ouro não pode ser comprada com uma unidade de trigo, de tecido ou de qualquer outra

mercadoria. O número total de unidades monetárias ou o numerário' em circulação é comparado com o total das unidades de bens oferecidos em troca. Esta concepção baseia-se na função da moeda como meio de troca. lnvés de pensar em moeda como padrão, ou medida de valor. Em sua forma mais simples, a comparação seria apenas entre a quantidade de moeda em circulação e o volume dos bens oferecidos no mercado. Porem verificou-se que a operação de troca compreendia todos os tipos de moeda. Deduziu-se

também, que como o suprimento monetário era, normalmente, utilizado muitas

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vezes, no curso de um ano, a velocidade de circulação também devia ser considerada.

2.4.3. Teoria das trocas. Segundo esta tese, o número de unidades monetárias em circulação é dividido pelo número de unidades de bens correspondentes ao nível de preços. Presume-se, que a oferta de bens e de dinheiro não se encontram, de modo algum, relacionadas, pois são variáveis independentes; Considera-se que a oferta monetária é determinada,

principalmente, pela produção das minas de ouro, ao passo que a oferta de bens depende dos fatores físicos que governam a produçao (trabalho, terra,

capital e organização). Nesta análise está implícita a idéia de que a moeda não esta de modo algum relacionada coma produção, mas aparece unicamente relacionada com o processo de troca.

V

2.4.4. Teoria dos preços Internacionais. As forças determinantes dos preços das mercadorias transcendem os limites do pais. Deduzia-se que a queda no valor do ouro, em conseqüência da descoberta de novas minas ou exploração mais eficiente provocaria alta de preços em todo mundo. Para voltar ao equilibrio, o país onde houve o acréscimo de moeda aumentaria suas importações (em virtude dos preços mais elevados) e diminuiria suas exportaçoes.

2.4.5. Teoria da Renda. O ponto chave desta teoria esta no fluxo de renda monetária dos individuos (salários, juros, lucros e outros proventos). Esse fluxo de renda é desembolsado no pagamento de bens e serviços, passando pelo comércio e produção até ser novamente desembolsado sob a forma de renda monetária. Este fluxo circular é continuo. Outro termo usado em conexão com esta teoria é “procura”, pois, no mercado, a procura efetiva de bens depende da renda monetária global auferida pelos consumidores. A teoria da renda pretende que os preços do mercado sejam afetados, unicamente, pelo próprio fluxo da renda monetária, continuamente auferida ou despendida.

A partir da grande depressão americana ocorrida em 1929, surgem novas teorias para explicar a inflação.

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2.4.6. Teoria keynesiana: baseado na obra de Keynes "How to pay for the war" ("Como pagar pela guerra"), publicado em 1940. Basicamente, o

argumento é que, na medida em que o total da procura por bens e serviços ("demanda agregada") aumenta mais do que as empresas estão capacitadas a

fornecer (isto é, não há ociosidade), estas aumentam seus preços, pela “lei da Oferta e Procura", procurando aproveitar a escassez para concentrar a renda.

Por outro lado, os empregados também reagem e procuram redistribuir a renda a seu favor, forçando a alta dos seus salários. Se todos estiverem empregados ("p eno emprego"), entao conseguirao seu intento (caso contrário, o

empregador despediria os funcionários e contrataria outro, que estavam desempregados, por um salário menor).

2.4.7. Teoria das margens de lucro: os preços crescem devido aos aumentos dos custos e/ou das margens de lucro das empresas cartelizadas.

E

2.4.8. Teoria das expectativas: a inflação cresce devido à previsão ou à

vontade dos empresários e executivos. Esta é segundo alguns autores a

principal causa do aumento dos preços, considerando-o uma extensão do modelo anterior.

2.4.9. Teoria da liderança salarial: a causa seria o aumento dos salários.

2.4.10. Teoria monetarista: desenvolvido a partir da equação de Fisher (MV =

PQ) e da Teoria Neoclássica. Vê a emissão excessiva de moeda (dinheiro fabricado pelo governo) necessária para cobrir os déficits das estatais e do Estado a causa inflacionária. Segundo esta teoria, o combate à inflação se dá pela eliminação das causas da expansão da moeda: Déficit do Governo e das estatais e Excesso de Crédito ao setor privado. A "regra de ouro": Expansão da moeda = Crescimento do PIB (crescimento das vendas). Não deve haver qualquer controle sobre os salários (a lei do salário minimo deve ser abolida),

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sobre os preços (interditados a Politica de Rendas e os cartéis), sobre os juros (devem flutuar livremente) e sobre o câmbio (extinçao do dólar oficial). O combate pode ser intenso e rápido ("tratamento de choque") ou moderado e temporário ("tratamento gradualista"). Em qualquer caso, o resultado será

sempre a recessão, as falências e o desemprego. A livre competição pelos preços é considerada regra geral dos mercados. No fundo, essa teoria se baseia num princípio bastante simples: se as pessoas e as empresas não tiverem dinheiro para gastar, os preços terão necessariamente que baixar. Por isso o remédio é a recessão (asfixia econômica).

2.4.11. Teoria estruturalista: é uma evolução do keynesianismo, tendo sua origem na Comissão Econômica para a_América Latina (CEPAL), Órgão da ONU fundado em 1956. Os estruturalistas, que assumem uma posição oposta aos monetaristas (embora também aceitem o mercado competitivo como válido), explicam a inflação como resultado 1 de fortes resistências ao desenvolvimento econômico, chamadas de "estranguIamentos", que são as seguintes: '

'

.- Latifúndios ("estrangulamento agrário"), onde as .terras são usadas para fins de especulação imobiliária, e não para produzir alimentos

(aumentando sua oferta). A solução é a Reforma Agrária

(desapropriação por interesse público) e a modernização da produção agrícola; .

'

- Déficits permanentes no Balanço de Pagamentos devido à concentração das exportações em poucos produtos (café, soja, minérios etc.);

- Escassez de insumos básicos, tais como petróleo etc.

- Falta .de mão-de-obra qualificada, por carência de escolas de boa qualidade (esta falta eleva os salários dos diplomados).

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Esses problemas são oriundos das arcaicas estruturas vigentes. São estruturais (donde o nome): permanentes e crônicos. Não são conjunturais (passageiros e agudos). Assim, os cepalinos (da CEPAL) se preocupam com a

modernização do país, em primeiro lugar (o que elimina a recessão), pois

acreditam que a inflação desaparecerá algum tempo depois dessas Reformas de Base. Enquanto isso, ela permanecerá.

_

2.4.12. Teoria institucionalista: vê na espiral inflacionária a responsável pelas distribuições e concentrações de renda, a -causa básica da inflação.

2.4.13. Teoria marxista: para o qual a inflação é um problema resultante das crises periódicas do capitalismo.

2.5. PRINCIPAIS CAUSAS DA INFLAÇ_AO

A maioria dos economistas classifica as causas da inflação sob duas óticas diferentes. A primeira, mas ligada ã empresa, onde o trinômio custo- receita-lucro é a origem microeconômica da inflação, enquanto que as causas mais gerais são chamadas de macroeconômicas, pois atingem a economia como um todo. A

.

2.5.1. CAUSAS MICROECONÔMICAS DA INFLAÇÃO.

O objetivo de toda empresa capitalista é a Maximização dos Lucros, quer seja em curto prazo, quer a longo, deverá ter sua administração orientada, em conseqüência, para o aumento máximo de suas receitas, e para a máxima redução de seus custos, concomitantemente. Para atingir estes objetivos deve:

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1. Reduzir os custos diminuindo cada. uma das parcelas de que é composto:

- Mão-de-obra (salários e encargos sociais)

. Matéria-primaH

. Administração geral

. Estoques

. Impostos e taxas

- Distribuição, comissões e propaganda.

. Juros de empréstimos

- Depreciações e manutenção etc.

2. Maximizar as receitas:

- Vendas = preço X quantidade vendida

- Extra-operacionais (open, aplicações etc.).

- Doações do governo (subsídios, transferências etc.).

3. Maximizar os lucros:

a) Do lado dos Custos:

- Mão-de-obra: pagar os salários vigentes no mercado;

- Matéria-prima: pesquisar preços e aproveitar descontos;

- Administração: manter a empresa desburocratizada e sem cabides de emprego (sinecuras); evitar setores dispensáveis;

- Estoques: evitar;

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Impostos e taxas: pagar apenas o que' é devido; há casos em que os fiscais "deixam por menos";

Vendas e propaganda: cada moeda gasta em propaganda deve trazer um aumento nas vendas maior que uma moeda;

Juros de empréstimos: procurar as menores taxas efetivas totais, isto é, incluindo as comissões bancárias, os impostos, as "reciprocidades", os "por fora" etc.

Depreciações e manutenção: atualizar os equipamentos; Iease-back;

reduzir o consumo de energia; substituir combustíveis importados.

b) Do lado das Receitas:

Vendas: pedidos crescentes. Aumentam a produção (Q); aumentando o preço'(P) a receita (P x Q) se mantém maior. Então aumente o preço. Mas cuidado, pois se todos fizerem o mesmo indiscriminadamente, a

inflação fica fora de controle e o caos se instala. E há casos em que a

receita também aumenta com a redução do preço;

Extra-operacionais: escolha as aplicações com as melhores taxas e menores riscos;

Doações do governo: procure conseguir transferências (subsídios, fundo perdido, redução de impostos, etc.) que incentivem o crescimento da empresa e do país;

c) Do lado do Lucro:

Margem de lucro: cada moeda investida na empresa deve trazer um retorno maior que as aplicações em outros negócios. A margem deve ser aumentada para tornar a empresa um negócio compensador.

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A etimologicamente, tanto da palavra "Lucro" como "Logro" tem a mesma origem latina: "Lucru" (Cf. Dicionário Aurélio), que significa não só "proveito, ganho, fortuna, vantagem", mas também "avareza, cobiça, viver à custa dos outros, Iogro". Já o equivalente inglês, "Profit", veio do latim "Proficere", que quer dizer "progredir, desenvolver, ter bom êxito, ser proficiente".

2.5.2.CAUSAS MACROECONÔMICASWDA INFLAÇÃO

Como viu-se, a causa básica da inflação é a maneira pela qual é administrado o trinômio custo-lucro-receita; seu controle seria relativamente

fácil se houvesse apenas umas poucas empresas atuando no mercado. Como o número de empresas não para de crescer, isto obriga a procurar causas mais gerais, que atinja a todas as firmas, já que é impossível atuar em cada uma, individualmente. As causas mais gerais podem ser chamadas de macroeconômicas, pois atingem a economia como um todo. Mattos`(1987,

p.97) realizou uma pesquisa nas obras de 14 autores nacionais e estrangeiros e relacionou as seguintes:

1. Excesso de emissão de moeda;

2. Escassez de capital;

3. Investimentos;

4. Aumento dos impostos;

5. insuficiente captação de poupança;

6. Excesso de crédito às empresas;

7. Correção monetária e realimentação;

8. Inflação passada e expectativa futura;

Falta de planejamento global;

Aumentos salariais acima da produtividade;

Sistema econômico capitalista; '

Baixa produtividade da mão-de-obra;

Estatização da economia;

Guerras, revoluções e gastos militares;

Insuficiência da oferta de produtos básicos;

Quebra de safras agrícolas;

Especulação dos atacadistas;

Exportação de produtos primários;

Importação de produtos industrializados;

Dívida externa;

Dívida interna;

Dependência econômica externa;

Déficit na balança de pagamentos;

Choques do petróleo;H

Desarranjo da ordem econômica mundial;

Poder dos monopólios e dos oligopólios;

Altas taxas de juros;

30

2.6. TIPOS DE INFLAÇÃO

Existem basicamente em uma economia, quatro tipos distintos de inflação. Na verdade, geralmente, um desses tipos é mais preponderante em uma determinada economia, entretanto, dificilmente existirá somente um tipo de inflação na economia. O tipo de inflação também mantém uma certa relação com a estrutura de mercado (oligopolista, monopolista, monopsonista, etc.)

onde esteja ocorrendo. Os tipos de inflação se classificam, portanto em: .

2.6.1. INFLAÇÃO DE DEMANDA.

A inflação de demanda é acarretada basicamente por uma certa

defasagem entre a quantidade ofertada e a quantidade demandada, sendo esta última bem maior do que a primeira, causando dessa forma uma pressão nos preços em função de um certo patamar de demanda reprimida. Dentro deste contexto a inflação da moeda esta estreitamente relacionada com a inflação de demanda, pois quando o governo pratica a emissão de moeda (aumentando a base monetária) cria na população, em curto prazo, a idéia do aumento do poder aquisitivo.

Esse aumento, entretanto é bastante ilusório, pois a própria moeda quando chega na economia, já está com valor menor do que aquele que esta deveria representar. No entanto essa "riqueza" inesperada poderá efetivamente pressionar determinados segmentos de mercado que apresentam baixa

elasticidade (baixa capacidade de abson/er variações na demanda sem repassá-las para os preços dos produtos).

Um outro efeito também negativo associado a essa questão de elasticidade, se refere ao fato do empresário não ter capacidade de repassar

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para o produto um certo aumento de custo (impostos, por exemplo), pois o seu segmento de mercado se apresenta extremamente inelãstico. Neste caso a

tendência no sentido de uma falência, infelizmente, é bastante forte.

2.6.2. INFLAÇÃO DE CUSTOS.

Este tipo de inflação se caracteriza basicamente por uma majoração exógena de determinados componentes do produto, tais como matéria-prima, salários, impostos, combustiveis, etc. Nestes casos o comportamento da demanda não é um fator muito determinante do preço final das mercadorias.

Geralmente a inflação de custos está bastante associada a estruturas de mercado oligopolizadas onde a disputa por segmentos de mercado não é feita através dos preços. Com uma significativa elevação dos custos de produção, os preços finais da mercadoria, conseqüentemente ficarão fixados num patamar mais elevado, independentemente do nivel de demanda no segmento de mercado.

Um Ótimo exemplo deste tipo de inflação pode ser verificado no setor automobilístico, que é fortemente oligopolizado (formado por cartéis). Neste setor mesmo em períodos nos quais as vendas baixem significativamente, os preços não seguirão essa tendência.

O que muitas empresas ou particularmente revendedoras fazem para sobreviver durante determinadas crises é promover certas ofertas ou promoções, entretanto sem baixar os preços, que são conseqüência direta dos custos de fabricação, montagem, distribuição e comercialização. Obviamente, mesmo neste tipo de mercado oligopolizado, a questão da elasticidade deve ser considerada. Todo empresário trabalha com uma certa margem de lucro ou

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como também é denominada "mark-up". Esta margem de lucro pode representar nesses momentos de esfriamento do mercado uma importante "arma estratégica" para se manter no mercado.

Dessa forma a elasticidade do empresário em absorver a crise em seu setor está bastante associada à sua capacidade de reduzir sua margem de lucro sem comprometer sua sobrevivência empresarial. Tanto a determinação do percentual da margem de lucro comofo quanto e quando reduzir, não devem ser arbitrados empiricamente.

2.6.3. INFLAÇAO DE LUCROS (OU ADMINISTRATIVA).

Este tipo de inflação se dá quando os preços são .aumentados não em decorrência do aumento dos custos ou da demanda, mas sim porque os executivos decidiram aumentar a margem de lucro de seus produtos

comercializados e, com isso, aumentar a lucratividade da empresa.

Este tipo de inflação, onde os administradores procuram aumentar a

fatia da empresa na renda nacional, 'é conhecido há muito tempo. Com efeito, já em 301 d.C., o imperador Diocleciano, em seu famoso Édito dos Preços Máximos, afirmava que "Os responsáveis pela inflação são aquelas pessoas de cobiça ilimitada". Através dessa regulamentação foram tabelados os preços das mercadorias comercializadas no Império Romano, bem como os salários e remunerações dos artifices e prestadores de serviços. Foi a primeira vez que se teve nóticia do uso de uma Política de Rendas e Preços para o controle inflacionário.

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2.6.4. INFLAÇÃO ESTRUTURAL.

A inflação estrutural está estreitamente relacionada com a ineficiência de sen/iços fornecidos pela infra-estrutura de uma determinada economia. Essa ineficiência, obviamente eleva desnecessariamente os custos dos sen/iços prestados pelo governo, acarretando dessa maneira uma majoração dos custos de produção e em seguida o aumento dos preços das mercadorias no mercado.

Fica claro perceber que se as estradas de um determinado país estão em péssimo estado de conservação, conseqüentemente os custos de transporte e distribuição ficarão mais elevados. Se os portos são ineficientes, as exportações acabarão ficando mais caras e o produto ficará pouco competitivo no mercado internacional.

Assim como esses exemplos, uma série de outros podem ser dados como forma de explicar, embora não justificar, de que forma a infra-estrutura de uma economia ou mesmo de um segmento de mercado poderá influenciar o nivel de inflação e a estrutura de preços das atividades desse setor.

Geralmente em economias em desenvolvimento como é o caso do Brasil, onde o processo tecnológico ainda é dependente e muitas vezes obsoleto, isso

evidentemente provoca elevação nos custos de produção, distribuição,

comercialização, com conseqüência direta para a formação dos preços de mercado nas diversas instâncias do comércio.

A inflação inercial não é mais um tipo de inflação e sim uma certa conseqüência "natural" de todo processo inflacionário. Esta inércia inflacionária pode ser entendida como se fosse um efeito de manutenção da taxa

inflacionária. Entre todos os agentes de determinado segmento de mercado ou até mesmo da economia como um todo existe um efeito psicológico tendendo

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ao repasse das expectativas de inflação do momento para os preços de seus produtos. Isso provoca a manutenção da taxa de inflação em um determinado patamar ou até mesmo um crescimento acentuado tendendo para a

hiperinflaçao.

2.7. o coMBATE À |N|=|_AçÃo.

Osprincipais procedimentos econômicos que estão à disposição para o combate à inflação refletem quatro Escolas de Pensamento Econômico:

- Monetarista .

- Keynesiano

- Institucionalista

. Marxista -

Os dois primeiros, chamados de ortodoxos ou tradicionais, estão enfrentando sérias dificuldades, pois o "mercado competitivo" (sua viga-mestra) está desaparecendo pela ação dos cartéis e empresas estatais.

O Monetarismo propõe, através da Politica Monetária, a abolição de todos os controles governamentais sobre a economia e o rigoroso controle do déficit público e da moeda em circulação.

O Keynesianismo defende uma ampla intervenção do Estado na economia, além da redução dos gastos públicos e do aumento dos impostos (Política Fiscal).

'35

O Institucionalista propõe combater à inflação através de uma Política de Rendas e Preços consiste basicamente em se conseguir um acordo ou consenso ("Pacto SociaI") entre os sindicatos patronais e dos trabalhadores, consumidores e governo, relativo ao não aumento dos preços e das rendas (salários, juros, aluguéis, lucros ev impostos). Estabelecido o acordo, o governo idôneo zelará pelo seu cumprimento, que terá força de lei. As politicas

monetária e fiscal, como métodos acessórios ou auxiliares, devem fazer parte do acordo, pois têm o poder de realocar rendas. Se, entretanto, não houver entendimento entre as partes para o estabelecimento dos Pactos (gradualismo), um choque heterodoxo deverá ser aplicado, sendo depois abrandado via acordos. As Políticas não-ortodoxas não são recentes. Um dos mais antigos controles sobre os preços e salários que se conhece foi o Édito dos Preços Máximos, do Imperador Diocleciano, promulgado em 301, válido para todo o Império Romano. Outros casos de aplicação foram: o controle imposto pelo primeiro imperador mongol Kublai Khan, no séc. XVIII; o Estatuto dos Trabalhadores, na Inglaterra, em 1357, por ocasião da Peste Negra, que matou metade da população da Europa; o Estatuto dos Aprendizes, na Inglaterra, em 1956; Lei do Máximo, na França, durante a Revolução Francesa, em 1793.

A quarta e última solução, consiste na implantação do socialismo.

2.7.1. O MONETARISMO.

A primeira, e mais antiga forma de combate é o Monetarismo, segundo a qual basta controlar a quantidade de dinheiro em circulação que a inflação desaparece.

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2.7.2. O KEYNESIANISMO.

A segunda, da época do crack de 1929, preconiza a redução dos gastos públicos, o aumento dos impostos e a inter\/ençao do Estado na economia e_ na sociedade, em total oposição ao monetarismo. Entretanto, em rigor, Keynes não chegou a considerar a inflação em seus estudos.

Segundo Galbraith (1981 p. 20): .

. “Keynes preocupava-se com o desemprego e a depressão. Praticamente, ele não se importava com a inflação, a qual, nos anos em que fez sua maior contribuição, não causava nenhum problema. Seu sistema não aborda a inflação. E já que a inflação tem sido o problema central dos países industrializados há uma década ou mais, qualquer análise econômica que não aborde efetivamente essa questão pode com toda justiça será considerada obso/eta. Como primeira tentativa de uma explanação de nossas atuais dificuldades, especialmente nos EUA, pode-se dizer que somos dirigidos por pessoas que adotaram as idéias de Keynes mas que não foram muito além. Por conseguinte, nossos dirigentes não têm um remédio para a inflação. Acho que os sistemas neoclássico e keynesiano devem ser remendados, embora esses remendos não devam ser pequenos. Os livros-texto tradicionais terão que ser postos de lado. E, igualmente, os homens e mulheres acomodados, que acreditam que uma repartição pública ligada à economia pode ser um recanto de paz e descanso, um lugar para conviver com antigas verdades”.

'

Esses dois remédios convencionais para a inflação são, na prática,

implementada através das Políticas Monetária (monetarista) e Fiscal

(keynesiana):

Política Monetária: abolição de todos os controles governamentais, tais como salário mínimo, câmbio oficial e tabelamentos, .tanto dos juros como dos

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preços; não permitir que a moeda em circulação cresça mais que uns 5%, ao ano. O controle da moeda é exercido através de três instrumentos:

. Redescontos bancários, quando o Banco Central empresta sob garantia aos Bancos, a uma dada taxa de juros;

. Depósitos compulsórios (encaixe legal ou recolhimentos obrigatórios), onde os Bancos são obrigados a recolher ao Banco Central 28 a 50% (dependendo do porte do Banco) dos depósitos feitos pelos seus clientes;

- Operações de open-market, quando o governo vende ou compra títulos (papéis) da dívida pública (OTN_e LTN).

\

Política Fiscal: aumento dos impostos para reduzir as vendas e baixar a

produção; redução dos gastos do governo (diminuição ou paralisação das obras públicas, dispensa de funcionários públicos etc.).

V

Essas duas políticas, causadoras derecessão econômica, têm.sido aplicadas no Brasil, em maior ou menor intensidade. Entretanto, não têm surtido qualquer resultado, pelo menos apartir de 1946, quando os dados da FGV começaram a estar disponíveis. A inflação geralmente tem crescido sem parar, começando com 3% ala (IPA-Dl) em 1947 e indo até 85% em 1964; de 19% em 1970 até 230% em 1984, atestando bem a ineficácia dos controles convencionais. No período 65-69, quando ela cedeu em virtude da existência de um consenso entre os empresários, industriais e banqueiros, de tal modo que, tão logo assumissem o poder, 'a redução da inflação seria um dos objetivos fundamentais a ser alcançado.

, _

E exatamente essa idéia de pacto social com credibilidade (que nem sempre precisa se fazer acompanhar da violência) que se constitui a essência do terceiro (e penúltimo) remédio de combate à inflação à nossa disposição.

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Os principais motivos que invalidaram os métodos anteriores de combate à inflação são, a suposição da existência de um Mercado Competitivo, que assume o papel do Grande Regulador da Economia.

Um dos primeiros estudos do problema foi à clássica obra "O Novo Estado lndustrial", de Galbraith (1981, p.16) onde diz:

“Estou também interessado em mostrar como, neste contexto mais amplo de mudança, as forças que conduzem o esforço humano se alteraram. Isto ataca a mais majestosa de todas as presunções econômicas, ou seja, a de que o Homem, em suas atividades econômicas, está sujeito à autoridade do mercado. Em vez dele, temos um sistema econômico que, seja qual for o seu programa ideológico formal, é, em parte substancial, uma economia planejada. A iniciativa da produção não parte do consumidor soberano que, através do mercado, emite as instruções que cun/am o mecanismo produtor à sua vontade suprema. Em vez disso, vem da grande organização da produção, que se estende para controlar os mercados que sepresumia sen/isse e, indo além, para dobrar o consumidor às suas necessidades. Assim procedendo, influencia profundamente os valores e crenças deste último -- nelas incluídas não poucas que serão mobilizadas para resistir a este presente argumento.

Uma das conclusões que se seguem desta análise é que existe uma longa convergência entre os sistemas industriais. Os imperativos da tecnologia e da organização -- e não as imagens da ideologia ~- são o que determinam a forma da sociedade econômica. No todo, isto é afo/tunado, embora não vá necessariamente ser bem recebido por aqueles cujo capital intelectual e fen/or moral estão investidos nas imagens atuais da economia de mercado, como a antítese do planejamento social. Tampouco será' bem recebido pelos seus discípulos que, com um investimento intelectual menor, conduzem as. bandeiras dos mercados livres e da livre empresa e daí, por definiçäo, das nações livres na batalha política, militar ou diplomática. Tampouco será bem acolhida por aqueles que identificam o planejamento exclusivamente com o socialismo”.

Amda segundo o mesmo autor (p.147):

“O consumidor é dirigido pela grande empresa. Isso se tornou uma arte muito requintada, a forma de arte moderna mais estudada. É a finalidade da pesquisa de mercado, da técnica de vendas, propaganda e, nos EUA, é o que financia a nossa indústria de televisão. '

É um 'aspecto integrante do moderno planejamento industrial. Para quem olha para além do mito, é uma das mais claras manifestações da convergência dos sistemas industriais --

convergência não sobre o ' mercado, mas sobre o planejamento. Se a General Motors ou a Ford gastam um_ bilhão de dólares e vários anos projetando o que chamam de um novo automóvel, e passam a produzi-lo, não podem deixar as vendas inteiramente ao acaso. Não podem ser tão insensatos a ponto de permitirem que o consumidor exerça a sua vontade soberana. Isso pode ser permitido nos livros-texto de Economia, mas não no mundo real. Portanto, a empresa precisa estender seu planejamento até o consumidor e assegurar-se de que ele vai querer aquilo que ela produziu

'

1 1 Este e, pois, o motivo pelo qual os remédios clássicos ao mves de l

'fl " b - e |m|nar a |n açao, aca am por aumentá la. Nas palavras de Resnitzky apud Mattos (1987 p.45). _

“A situação configurada caracteriza o estado que, modernamente, os economistas denominaram estagflação. Neste estado, ocorrem simultaneamente a inflação de preços e a estagnação econômica. Trata-se de um fenômeno identificado recentemente nas economias européias. Suas conseqüências fizeram-se sentir a partir da deflagração da crise do petróleo. É um problema novo, como qual as autoridades econômicas estão menos habilitadas a lidar do que com os quadros clássicos da inflação ou da recessão. As dificuldades para se encontrar linha de conduta correta diante do estagflação deve- se ao fato de não ser este estado possivel de interpretação por nenhuma das teorias econômicas conhecidas. Segundo tais teorias, a estagflação é um estado impossível de ocorrer. Seria qualquer coisa como o besouro, que segundo as leis da aerodinãmica não pode voar. Mas voa”.

2 7 3 O INSTITUCIONALISTA.

Outra opçao de combate à inflaçao, é a Política de Rendas e Preços,

implementada através de Pactos Sociais. _

Sua mecânica é explicada por Galbraith (1981, p.107):

“Na prática, os governos começam com uma consulta. Procuram estabelecer um acordo com os principais grupos econômicos, para que estes restrinjam suas exigências de aumentos compativeis com suas rendas -- aumentos que, de um modo geral, sejam coerentes com a estabilização dos preços e com uma eqüidade social geral. Isto significa que os aumentos salariais devem ser mantidos dentro do que se possa conceder sem forçar a alta dos preços. Significa, também, uma política paralela de preços para as grandes empresas, politica essa que não se aproveite das restrições ao salário enquanto permite que aumentos de custos inevitáveis sejam passados adiante.

Esta é uma outra maneira de dizer que os lucros devem ser mantidos em harmonia com a experiência geral anterior. Além disso, deve existir idêntica compreensão e restrição sobre o salário-mínimo, a remuneração do funcionalismo público, os preços de apoio ao setor agricola, pensões, tarifas de transporte e outras rendas e preços controlados pelas autoridades. Um entendimento sobre essas questões deve ser procurado através de negociações e conciliação dirigidas pe/os órgãos governamentais. Todavia, uma vez tendo feito todo o possivel para conseguir o consenso, o governo também deve arrogar-se poder para impor o resultado

Outro autor que também propõe uma Política de Rendas é Lauré apud Mattos(1987, p.73) o criador do ICM (conceito do Imposto sobre o valor

adicionado). Segundo ele:

“Concretamente, trata-se de persuadir os parceiros sociais a fazer uma aposta em que nenhum deles saia perdendo. Por esta aposta, eles se comprometeriam a reduzir o montante dos salários e dos preços na mesma proporção, a favor dos próximos reajustes habituais. Essa operação não pode Iesar nenhum dos parceiros na divisão da renda nacional, pois os salários reais e os preços reais ficarão os mesmos, visto que os salários nominais e os preços nominais diminuirão todos na mesma proporção. É certo que a experiência contemporânea permite duvidar da boa vontade dos parceiros sociais em aceitar, quaisquer que sejam as demonstrações, participar de uma política que começa exigindo uma prova de 'confiança. Mas é preciso pensar que, em nosso país pelo menos (França), as políticas propostas até agora, para combater a inflação, foram políticas de austeridade, conduzidas em nome, de imperativos econômicos abstratos, aceitas pelos governos como uma dura Lei da Natureza, à qual não tinham outro recurso senao se submeter.

_

~

Os dirigentes podem assumir doravante, diretamente e com mais convicção, a responsabilidade das políticas econômicas, pois basta que convençam seus cidadãos de que não perdem nada e têm, ao contrário, tudo a ganhar

Depois de mencionar exemplos bem sucedidos de sua aplicaçao na Alemanha Paises-Baixos, Suécia e Japão, o autor ressalta:

“O único ponto delicado de minha receita é que deve ser necessariamente um tratamento coletivo. Cada um tem que fazer a sua parte, confiando em que os outros façam o mesmo por sua vez. A operação é autofinanciada, pois consiste em respeitar, em média, para cada um, o nível reduzido do poder aquisitivo que se estabeleceu pelo próprio efeito da .reação que constitui a inflação”.

Entre os paises que estão de "Pacto Assinado" (com força de lei) se encontram a Áustria, Suíça, Alemanha Ocidental, Israel e Espanha (Pacto de

" d 30°/ ° Moncloa). No caso desta última, a inflaçao caiu e ‹› ao ano para 5 Á» apos a sua assinatura.

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O terceiro remédio para o combate à inflação, para o caso do país não estar politicamente organizado para o estabelecimento de um Pacto, a solução será então a do Choque, posteriormente abrandado pelo estabelecimento

desses acordos. '

V

2.7.4. O MARXISTA.

O quarto remédio para o combate à inflação, se o terceiro também falhar, só restará, como solução à implantação do socialismo, com a

substituição do modo de produção capitalista por outro que contemple os interesses da maioria da sociedade.

2.8. PR|Nc|PA|s coNsEQüÊNc|As DA INFLAÇÃO.

De modo geral, estas são as principais conseqüências da inflação:

- Sucateamento da indústria privada; falências, devido a utilização de alguns tipos de remédios recessivos empregados para o seu controle;

‹ Especulação financeira desenfreada, com desestímulo ao trabalho

produtivo; altos lucros dos Bancos; _

-

- Manipulação de preços no comércio;

- Perda da credibilidade no governo, onde se instala uma corrupção desenfreada; -

- Degradação da moral, dosbons costumes e dos valores nacionais;

- Redistribuição da renda dos pobres para os ricos, dos velhos para os mais moços, da pequena e média empresa para os monopólios e oligopólios privados e estatais, dos credores para os devedores;

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institucionalização da fraude e do estelionato, que permanecem em grande parte impunes;

l

Substituição da moeda fraca pela moeda forte nas transações, ou mesmo a volta do escambo, como trocar terrenos por carros,

principalmente quando é atingida a hiperinflação;

Perda da capacidade deprevisão e de planejamento por parte dos empresários, transformando o empreendimento em mero jogo de azar. Dificuldade de controle orçamentário e de Caixa, quando o dinheiro sempre acaba faltando, o que gera um permanente sentimento de angústia, frustração e pessimismo;

Possibilidade de revolução ou golpe de Estado.

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cAPiTu|_o |||

3. A INFLAÇÃO BRASILEIRA.

A inflação brasileira é o resultado de um conjunto de condicionantes econômicos, políticos e sociais, que estão presente entre nós desde o descobrimento. Esta inflação crónica transformou-se numa hiperinflação no início da década de 60, associada a uma enormedivida externa, fragilizou de maneira significativa nossa economia, permitindo a ingerência do Fundo Monetário Internacional associado a grandes empresas multinacionais na econômica nacional, foram determinantes para a instituição da correção monetária no Brasil. Na sua fase 'inicial a correção monetária teve .dupla atuação, por um lado procurou estabelecer uma convivência “pacífica” entre a hiperinflação e a economia, evitando que os efeitos do processo hiperinflação, ocorridos em Roma evna Alemanha ocorresse no Brasil. Por outro lado,

seguindo as orientações de Inácio Rangel o governo utilizou a correção monetária para garantir uma acumulação de capital independente da inflação.

Este capitulo dividiu-se em três partes: a primeira parte apresenta uma síntese do processo de colonização do Brasil, que deu origem à inflação e sua evolução histórica. Na segunda parte, traz uma análise daorigem e evolução da divida externa brasileira, suas implicações econômicas e sociais, bem como sua participação no processo inflacionário. A terceira parte apresenta uma síntese sob a perspectiva histórica do processo que resultou na hiperinflação.

3.1. A ORIGEM DA INFLAÇAO BRASILEIRA

Para Inácio Rangel, a inflação brasileira é o resultado de uma insuficiência crônica de demanda, provocada pela má distribuição da renda. Esta afirmação nos remete ao tipo de colonização adotada no país e que se mantém até hoje na sua essência.

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O modelo mercantilista-colonialista que presidiu à formação econômica do Brasil visava apenas o mercado destinado à exportação e complementarmente, dentro da formula do pacto colonial, à importação. Criou as condições necessárias e suficientes que possibilitaram a concentração da renda no Brasil.

A escravidão de negros e -índios permitiu a formação de uma sociedade de trabalhadores sem renda. Paralelamente encontra-se relatos da existência de grandes fortunas nas mãos de certos grupos econômicos ligados a atividades marítimas e comerciais, conforme Buescu (1972 p. 32):

“Assim, Jorge de Albuquerque Coelho, filho de Duarte, tinha, como resultado dos investimentos de seu pai, uma renda anual de dez mil cruzados. E na capitania de Pernambuco há mais de cem homens que têm mi/ até cinco mi/ cruzados de renda, e alguns de oito, dez mi/ cruzados".

Numa economia totalmente voltada para o exterior, tanto em suas vendas, como em suas compras, era normal que os preços se 'comportassem de acordo com as determinações do mercado. Afinal trata-se de mais um reflexo periférico da ação decisiva do centro. Portanto a elevação dos preços externos e a escassez, inclusive de produtos locais, explicam a inflação

permanente do Brasil no período compreendido entre o descobrimento e a proclamação da república (1500-1889).

É ilustrativa a exposição de Buescu (1972 p.67):

“A solução para esse estado de coisas era o refúgio na economia de subsistência, na produção de certos artigos para consumo próprio, a fim de evitar a carestia crescente verificada no mercado. A mesma solução, em caráter subsidiário, pode ter sido adotada pelos próprios donos de engenho ou indivíduos de renda elevada. A prepotência de que gozavam lhes permitia

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obrigar seus agregados a suprirem-nos com bens de consumo, dispensando a procura no mercado. Dessa forma, expandia-se o setor de subsistência, não-monetário e esvaziava-se o mercado, o setor mais dinâmico da economia. Por outro /ado, a queda dos salários reais impediu a constituição de uma classe média que teria também imprimido maior dinamismo e diversificação ao mercado".

Para Inácio Rangel, a origem da má distribuição de renda esta na estrutura agrária baseada no Iatifúndio e no desemprego da mão de obra. Rangel parece não ter percebido que a estrutura agrária baseada no Iatifúndio e o desemprego são produtos da ideologia mercantilista. Buescu (1973, p. 53), afirma que:

“Os fatores de produção concentravam-se no setor destinado à exportação. Assim análise dos preços nos leva ao encontro com uma mentalidade, a ideologia mercantilista, que ia pesar sobre toda a economia colonial, deixando, herança negativa para o Brasil independente (o .qual, por sua vez, incorreu também durante muito tempo, no mesmo pecado)”.

3.1.2. AS CAUSAS INICIAIS DA INFLAÇÃO NO BRASIL:

1. Ideologia mercantilista.

2. Os fatores de produção concentravam-se no setor destinado à

exportação;

3. Desinteresse do governo e dos agentes econômicos pelas atividades produtivas dirigidas para o mercado local

4. Deterioração progressiva dos salários reais;

5. Insuficiência da economia de subsistência;

6. especulação

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Este conjunto de fatores são os responsáveis pela inflação e,

conseqüente má distribuição de renda no Brasil. Isto resulta em uma baixa propensão a consumir. A conseqüência é a -capacidade ociosa em todos os setores da economia. Para defender seus lucros as empresas passam a aumentar seus preços autonomamente, como forma de defender seus lucros da insuficiência de demanda. Temos, portanto um círculo, vicioso que se reproduziu e se reproduz até hoje. Começa com ideologia mercantilista, que provoca a concentração da renda, que prova insuficiência do mercado interno, que provoca inflaçao. `

Buescu (1973, p.67) relata origem da insuficiência do mercado brasileiro assim:

“lnsuficiência do mercado brasileiro teve causas bem mais complexas a começar pela própria extensão territorial, a” “elasticidade territorial”, como chamei, isto é, a possibilidade de' ocupar economicamente novas áreas sem encontrar importante resistência. Resultou o isolamento dos núcleos económicos, o espalhamento dos agentes num imenso espaço vazio, no qual, em decorrência do baixo nível tecnológico, e das proibições e omissões metropolitanas, não se podia criar uma adequada rede de transportes. O engenho organizou-se como uma economia autárcica, e os agentes isolados limitaram-se a produzir de acordo com as próprias necessidades - e com as próprias limitadas capacidades de produção. e

O mercantilismo reinante e o' colonialismo agiram no mesmo sentido negativo - o primeiro através da predisposição de todos a comerciarem com vistas ao mercado externo, o segundo através do desincentivo a qua/quer atividade que pudesse desviar fatores de produção do setor exportador ou que pudesse competir com a produção metropolitana. A própria flutuação dos preços a curto prazo, às vezes muito violenta, sugere um mercado inconsistente, imaturo, em que a demanda e, sobretudo a oferta tem pouca elasticidade em relação a preços. r

Da mesma forma, a inexistência ou fraqueza de uma classe média encontra suas raízes em vários fatores históricos e não apenas na corrosão dos rendimentos pessoais de certas classes pela inflação. Em primeiro lugar, nas proibições e

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omissões metropolitanas, a começar pela falta de um sistema educacional e continuando com a intermediação de vários ofícios até o drástico alvará de 1785 que proibiu todas as industrias. Assim, criou-se outro circulo vicioso pela carência de uma classe média, que devia ampliar as dimensões do mercado e conferir maior independência e espírito inovador às atividades econômicas”.

Temos, portanto uma insuficiência crônica de demanda, que resulta da má distribuição de renda. Esta má distribuição resulta basicamente de dois fatores: em primeiro lugar, da ideologia mercantilista que presidiu nossa economia. Em segundo lugar, da insuficiência crônica do mercado interno. O problema se agrava com o êxodo rural à medida que a agricultura se moderniza. O processo de industrialização desencadeado no Brasil a partir de 1930, ao se basear na substituição de importações, permitiu que a industrialização ocorresse sem prévia mudança da estrutura agrária. Resultou em uma baixa propensão a consumir. Aconseqüência é a capacidade ociosa em todos os setores da economia.

3.1.3. AS CAUSAS INFLAÇAO BRASILEIRA ATUAL.

Na visão de Inácio Rangel, a inflação atual é o resultado de um duplo processo, por um lado as grandes empresas, a começar por aquelas que controlam a comercialização de produtos agrícolas, organizam-se em forma de oligopsônico-oligopólio, e passam a aumentar autonomamente, como forma de defender seus lucros da insuficiência da demanda. Esse processo começa no setor agrícola, mas estende-se para a grande industria e para os serviços públicos. A inflação surge, portanto como um mecanismo de defesa da economia. Sob esta ótica temos uma inflação administrada ou de custo.

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Esta é também a visão do governo, conforme as palavras do ministro Hélio Beltrão, Ministro do Planejamento no governo de Costa e Silva, em 11/10/67, perante a Câmara dos Deputados em Brasília:

“DIRETRIZES DE POLÍTICA ECONÔMICA. Estabeleceu simultaneamente o Governo, _ no mesmo documento, as Diretrizes de Política Econômica que configuram a sua orientação quanta à aceleração do desenvolvimento e à contenção da inflação.

V

A nossa Administração, fundada em diagnostico que fez realizar sobre a inflação brasileira e o comportamento recente da economia nacional, partiu da verificaçäo de que, não obstante o empenho e o esforço do Governo anterior, a política econômica e a forma de controle da inflação ultimamente praticada não haviam logrado alcançar plenamente os resultados desejados, seja quanto à retomada do desenvolvimento, seja quanto à contenção da inflaçao. -

Conseqüentemente, foram estabelecidas novas linhas de ação no campo fiscal, monetário, creditício e salarial, com o objetivo de propiciar a recuperação do setor privado, aliviar os problemas de liquidez e capital de giro, promover o crescimento gradual da procura 'e a utilização da capacidade ociosa existente em vários setores, aumentar a eficiência do setor público e combatera inflação de custos”.

A inflação é a forma pela qual a economia não entra em uma crise maior, apesar da insuficiência de demanda. Dada a baixa propensão a consumir, a demanda agregada é compensada por uma elevada taxa de imobilizaçöes. Para se defender contra a desvalorização da moeda e aproveitar-se de taxas negativas de juros, as empresas e os individuos

imobilizam o mais possível, e assim mantém o nivel da demanda agregada e a taxa de lucros. O governo entra em cena emitindo, para fazer frente aos aumentos administrados de preços e à conseqüente diminuição da quantidade real de moeda, é obvio. Emitindo o governo cobre o seu próprio déficit causado pelos aumentos autônomos de preços e pela sua incapacidade política de aumentar a carga tributária. Por outro lado, ele novamente faz a inflação

funcionar como mecanismo de defesa da economia.

Rangel é um defensor da inflação. Para ele o processo inflacionario deveria ser preservado, pois prestou e prestará ainda muitos serviços ao Brasil conforme suas palavras (1986, p. 82-83).

“Assim como se diz na Bíblia, como referencia à criação, que” “e Deus viu que era boa", assim também o bom senso popular, antecipando-se de muito .aos especialistas da república, os quais quase sempre são pessoas extremamente medrosase reacionárias, o bom senso popular, dizíamos, “viu a inflação é boa”.

_

A opinião política, muito pronta a perceber e a encampar as intuiçöes populares, também começou a sentir que “a inflação era boa".'Surgiram escritores e publicistas (cuja ignorância das coisas de economia e finanças os deixava imunes aos terrores infundados dos especialistas e dos sábios) que logo se puseram a inventar as mais esdrúxulas racionalizações da inflação, cujo paradigma é aquela famosa “teoria” segundo a qual, desde que o produto das emissões seja bem aplicado - na construção de estradas ou de fabricas, na reforma agrária etc., ao gosto de cada qual - as emissões não teria efeito inflacionário. Contra as aspas deste absurdo moinho de vento, devemos aos "ortodoxos", a começar pelo Prof. Eugênio Gudin, o sen/iço de haverem quebrado muita lança, embora o_moinho continue a girar, ainda hoje. -

No fundo, era a intuição popular que sentia a coisa, embora não a compreendesse. Toda vez que alguém tentava meter uma trave entre os raios da roda da inflação (como agora estão tentando fazer Celso Furtado, Roberto Campos, Santiago Dantas, sob pressão dos Estados Unidos e do Fundo Monetário Internacional, que nada sabem de nossa vida e há quem pouco importa que sejamos uma nação próspera ou decadente, com a condição de que votemos com os norte-americanos na ONU e na OEA, pela invasão de Cuba e coisas assim), toda vez que alguém tenta entravar a inflação, o povo - desde os trabalhadores aos homens de negócio - sentia em sua carne as conseqüências, e reagia.

Mas isto tudo é apenas a superfície dos fatos, porque a verdade é que '“a inflação é boa”, no sentido de que condicionava o desenvolvimento, que é o pão para o trabalhadores e lucro para os capitalistas, por motivos agora já podemos indicar, mas não naquele tempo. Seria boa, de futuro, na medida em que persistissem as condições especiais a que nos referimos e, na ausência de uma demonstração, que ninguém - nem Furtado, nem Campos, nem Gudin -, fez, de que tais condições especiais não mais existem, devemos acreditar que continua a ser boa.

A

51

Pois se eles nem ao menos sabem porque foi boa a infiação até agora, e até duvidam disso, como podemos esperar que nos digam quando deixará de sê-/o? -

A inflação também nos preocupa, mas por outro motivo, por um motivo pragmático: porque por muito eficaz que seja esse instrumento, por muitos que sejam os serviços que já nos '

prestou e os que nos prestará ainda, ele tem limitações e, precisamente porque é útil, não devemos abusar dele, para '

não destruí-Io (o grifo é meu). Com efeito, a inflação tem o poder de converter, em certa medida, aquilo que poderia ser um declínio da atividade do sistema econômico, num movimento relativamente inócuo, de alta dos preços. Mas, notemos bem, em certa medida. Para além, teremos, simultaneamente a inflação galopante, que destrói a o próprio instrumento, e a depressão econômica. Isso que dizer que abusamos do mecanismo de defesa historicamente criado, o qual como tudo, no mundo tem sua limitações”.

Asprincipais proposta de Inácio Rangel para reequilibrar a demanda em crise e controlar a inflação foram:

1. Reabrir o redesconto, aumentando a quantidade de moeda;

2. Concomitantemente aumentar os salários reais;

3. Controlar os preços dos oligopólios;

4. O Estado deveria intervir diretamente na economia para montar um capitalismo financeiro que garantisse a acumulação de capital independente da inflação. Esse sistema financeiro teria como principal investidor e administrador o próprio Estado, mas um importante papel deveria ser resen/ado ao setor privado, sob o comando do setor financeiro. _

Os economistasque dirigiram a economia brasileira especialmente entre 1964 e 1984, adotaram as seguintes medidas propostas por Rangel:

_

4

52

. Antonio Delfin Netto, assim que assumiu o Ministério da Fazenda, a primeira coisa que fez foi diagnosticar a inflação brasileira como de custos, afrouxou os controles sobre o crédito, permitiu aumento moderado dos salários e passou 'a controlar os preços através do CIP;

. Também foi montado um sistema financeiro sob o controle do Estado, que garantiu o processo de acumulação de capital independente da inflação; -

. Instituição da correção monetária;

. Criação e canalização de poupança forcada para o BNDE.

3.2. A DIVIDA EXTERNA BRASILEIRA.

O papel. da divida externa, no contexto inflacionário brasileiro merece destaque por sua dimensão e implicações. A crise da divida externa brasileira começou antes da independência, consolidou-se com a mesma e nunca mais parou de crescer.

3.2.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A Revolução Industrial promoveu o recrudescimento da secular disputa hegemônica entre França e Inglaterra, agora marcada pela disputa de mercados consumidores. No inicio do século XIX a guerra entre as duas potências era inevitável. A Inglaterra procurava se firmar como nação industrial e a França governada por Napoleão Bonaparte, que pretendia a hegemonia no continente europeu, passou a desenvolver sua indústria e a dominar os mercados consumidores da Europa. Como não conseguiu derrotar a Inglaterra militarmente, Napoleão decretou em 1806 o Bloqueio continental. Esta medida forçou as nações européias a definir-se por um pais ou por outro. Portugal, tradicionalmente dependente do capital e comércio inglês, não podia bloquear

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seus portos aos navios ingleses, sob pena de ruína total. Por outro lado,

desobedecer às determinações de Napoleão Bonaparte era muito arriscado, pois podia significar a invasão do país pelas tropas napoleônicas. Pressionado por Napoleão e pela Inglaterra, D. João procurou ganhar tempo, até que outubro de 1807 foi forcado assinar uma convenção secreta com a Inglaterra. Esse acordo previa:

o Proteção da marinha inglesa para a família real e os altos funcionários da Corte na sua fuga para o Brasil, caso, os exércitos napoleônicos invadissem Portugal;

o Direito inglês de ocupar a Ilha da Madeira, ali instalando bases militares; o Direito de utilização de portos livres no sul do Brasil para facilitar o

comércio inglês com a região do Prata.

Ao tomar conhecimento do acordo luso-inglês, Napoleão assinou o Tratado de Fontainebleau que determinava:

o» A invasão e desmembramento de Portugal; o A divisão das colônias portuguesas entre França e Espanha; o A extinção da dinastia de Bragança.

Como a invasão do país era eminente, só restava à corte portuguesa fugir para o Brasil sob a proteção inglesa.

'

Em Janeiro de 1808, a família real chegou ao Brasil. Aqui chegando, a primeira medida tomada por Dom João VI (carta régia de 28/O1/1808), foi

decretar “em caráter provisório” a abertura dos portos brasileiros às nações amigas, cumprindo desta forma a convenção secreta, que foi obrigado a assinar em 1807. E

Em 1810 é consolidada a dependência econômica da futura nação brasileira em relação à Inglaterra, com a assinatura do Tratado de Comércio e

54

Navegação e o Tratado de Aliança e Amizade, ambos firmados em 1810. Em seus principais artigos os tratados estipulavam:

o Mútua concessão de privilégios entre os dois paises; o Renovação dos direitos ingleses sobre a Ilha da Madeira; o Direito inglês a um porto neutro na Ilha-de Santa Catarina; ›

o Direito aos súditos de cada uma das Coroas de comerciar ou mesmo residir em território da outra;

B

o Direito inglês de manter uma esquadra de guerra no litoral brasileiro; ø Garantia de liberdade religiosa aos ingleses; ø Assegurar o compromisso de .D. João em abolir lentamente o tráfico

negreiro para o Brasil;H

o Concessão aos ingleses de elegerem seus próprios juizes

conservadores, aos quais competia julgar os súditos da Inglaterra no Brasil; .

o Criação de tarifas alfandegárias preferenciais para a Inglaterra; por esse artigo mercadorias inglesas pagariam apenas 15% de taxas ad valorem nas alfândegas brasileiras, enquanto as mercadorias portuguesas pagariam 16% e a dos demais países, 24%. '

Este tratado reflete a situação que chegou o rei de um país subjugado, que não é diferente do Brasil e das atuais nações subdesenvolvidas, em relação aos credores internacionais.

`

A franquia dos portos e a transformação dos hábitos que resulta dos novos contactos com o estrangeiro e do exemplo de uma corte que embora longe de faustosa, aberrava, contudo inteiramente de quanto à colônia

conhecera até então, estimulam largamente as necessidades e o consumo do país. A súbita transformação dos hábitos, a introdução de um conforto e luxo desconhecidos ainda na colônia trazidos por estrangeiros e seus costumes bem como pelo exemplo de uma corte e seus fidalgos que todo mundo queria naturalmente imitar, desequilibrarão as finanças de certas classes da população que conformadas até então com a vida colonial, tomam-se subitamente de aspirações e sentem necessidades antes ignoradas, embora

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estivessem muitas vezes mal preparadas para isso (mesmo pessoas de condições sociais menos abastadas passaram a buscar prestígio através do uso de produtos importados).

A família real portuguesa trouxe para o Brasil uma corte parasitária

composta de aproximadamente 15.000 pessoas prepotentes e exigentes, que exibiam seus bens móveis, jóias, pratarias, sedas, etc. Eram milhares de pessoas que ostentavam um comportamento estranho para aquelesque habitavam a acanhada cidade do Rio de Janeiro, transformada em capital do reino português. A vaidade, sobrepondo-se a quaisquer outras considerações contara como um fator econômico de primeira ordem. Não serão poucos aqueles que se arruinarão na ânsia de se aproximarem da corte e nela figurarem, alcançarem títulos, condecoraçöes e honrarias, situação que o rei,

sempre em dificuldades financeiras, não deixara de explorar largamente. Elementos dia aristocracia rural e das classes médias endinheiradas, havidas por mostrar importância e status, passaram a morar no Rio de Janeiro. O luxo e a ostentação começaram a caracterizar o comportamento das camadasricas, que passaram a se vestir de acordo com os modelos europeus, habitar ricos palacetes e a se cobrir de jóias importadas. A tabela abaixo mostra os efeitos deste estilo de vida.

.

Ano Exportação Importação '

1812 1.233.000 77.000 1816

I

2.330.000 2.500.000 1822

I

4.030.000 4.590.000 Fonte: Prado (1972, p.132).Obs: Valores expressos em libras esterlinas-ouro.

Os hábitos e os costumes se alteraram. O Rio de Janeiro se modificou com a instalação da corte. Modernizou-se e transformou-se num centro social, políticoe econômico, que atraia pessoas de diferentes camadas sociais. A população do Rio de Janeiro aumentou de 50 mil para -110 mil pessoas em 10 anos. lsto muito mais ativa e rapidamente que sua capacidade produtiva, cujo progresso dependia de fatores mais complexos que operariam lentamente.

Deriva daí, como conseqüência imediata que se faria profundamente sentir, o

,56

desequilíbrio da vida financeira do país. O comércio internacional do Brasil se torna quase sempre deficitário. O déficit era saldado pelo afluxode capitais estrangeiros, sobretudo empréstimos públicos, que efetivamente começaram a encaminhar-se para o Brasil desde que o país é franqueado ao exterior. A economia brasileira ficara na dependência de um afluxo regular e crescente daqueles capitais estrangeiros de que não poderá mais passar sem as graves perturbações; e estas se verificarão cada vez que por um ou outro motivo tal afluxo é 'interrompido ou diminui seu ritmo. Deriva dai, como conseqüência imediata que se faria profundamente sentir, o desequilíbrio da vida financeira do país. Mas este mesmo afluxo não impedirá a drenagem de todo o ouro existente e daquele que continuava a ser produzido.

Mesmo após a edição do Alvará de Liberdade Industrial, assinado em 01/04/1808, que revogava o decreto de 1785, que proibia a criação e instalação de indústrias no Brasil, nada mudou, pois o país não possuía capital, mão-de- obra especializada e tecnologia necessária à montagem de industriais. Mesmo, se houvesse indústrias no Brasil, elas não teriam suportado a concorrência dos produtos ingleses mais baratos e de melhor qualidade. O Brasil tinha de ser mercado consumidor de produtos industrializados ingleses e não mercado produtor concorrente. A Inglaterra além de impor a concessão de privilégios alfandegários, dificultava ao máximo a importação de maquinas para o Brasil. Portanto para a economia brasileira os Tratados de 1810, se de um lado provocaram a queda dos preços dos produtos importados como tecidos de lã, algodão, linho, loucas, jóias, calçados, vestimentas, móveis, utensílios

domésticos, armas, perfumes, vidros, azeite, vinho, cerveja, bacalhau, e outros, por outro limitaram drasticamente as possibilidades de crescimento industrial no Brasil. Fora à produção de gêneros destinados à exportação, a economia brasileira não poderá concorrer com as mercadorias importadas do estrangeiro.

A estrutura econômica fundamentalmente agrária e escravista não possibilitou à formação e desenvolvimento de uma burguesia detipo europeu. O setor mais importante da burguesia constituído por comerciantes, na sua maioria portugueses, e funcionários da Coroa, estava visivelmente mais interessados na preservação do sistema colonial e dos privilégios. As camadas

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senhoriais, por sua vez davam-se ares de fidalguia e aceitavam com prazer os títulos que a corroa lhe distribuíam à larga. A convivência com a corte se prolongará por 13 anos (1808-1821), neste período muitos interesses de boa parte de sua larga comitiva de fidalgos e funcionários estarão de tal forma ligada aolBrasil, que se formará entre eles um forte partido oposto ao retorno. Muitas daqueles personagens adquiriram propriedades no Brasil, outros,

casarão nas mais ricas familias da colônia orgulhosas de se ligarem a grandes nomes da nobreza e da administração, boa parte organizara definitivamente sua vida aqui. O rei só retornou, quando a revolução portuguesa vitoriosa, pôs em risco a coroa. _

3.2.2. o |Nic|o Dos EMPRÉsT|Mos ExTERNos

O Estado brasileiro criado em 1822 foi montado sobre a velha estrutura conservadora, agroexportadora, escravista e dependente dos mercados e do capital internacional. Formou-se um império escravista, bem a gosto da aristocracia. Para consolidar a independência, o Brasil fez seu primeiro

empréstimo junto à Inglaterra em 1825, de cinco milhões de libras esterlina, sendo que dois milhões foram para D. João Vl reconhecer a independência e três milhões para despesas da coroa (boa parte foi para comissões de intermediários, agenciadores e banqueiros) e financiamento da luta contra os revoltosos. Outros empréstimos virão a jato, conforme tabela abaixo:

Ano Valor do Valor 0 Taxa % Fim a que se destina Empréstimo Recebido `

1929 400.000 208.000 52 % Cobrir déficits, divida flutuante,

juros e amortizações. 1939 312.000 5 a 10%- ,idem 1843 732.000 idem idem 1852 1.040.600 Idem idem Fonte: Prado (1972, p.138).

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Em meados do século, o serviço da dívida já abson/ia quase 40% do total da receita. Nestas condições,.o Brasil viverá em déficit orçamentário permanente. A invasão de produtos importados, sobretudo ingleses, fizeram crescer o volume de importações, contrasta com o decréscimo das exportações de produtos nacionais, em plena retração dos mercados. O Estado, para fazer frente às despesas, já que os impostos não eram suficiente em virtude da pobreza do mercado interno, vê-se obrigado a contrair dívidas no exterior, através de empréstimos da inglaterra (especialmente da casa Rothschild), a juros extorsivos. Empréstimos que eram sucessivamente prorrogados, acrescidos de novos juros, prolongaram seus efeitos, agravando ininterruptamente a situação financeira do país.

3.2.3. DÍVIDA EXTERNA ATUAL

Quando uma típica família americana compra uma casa, pede emprestado a uma instituição financeira a maior parte do dinheiro, ficando a casa como garantia de hipoteca. A partir de 1979 muitas famílias obtiveram hipotecas a taxa de juro ajustável, nas quais a taxa de juro e pagamento mensal flutuavam periodicamente em conexão com um índice do mercado de dinheiro. Inicialmente as taxas de juros flutuantes eram menores que as fixas. Porém quando as taxas de juros subiram entre 1979-1981 e em 1983-1984, os compradores sofreram o choque das prestações, e muitos dele negligenciaram os empréstimos hipotecários, tendo como conseqüência à perda das casas.

De 1973 a 1982, o México, o Brasil e a Argentina fizeram a mesma coisa que fizeram os compradores da casa própria entre 1979 a 1983, tomaram muito dinheiro emprestado a taxas de juros flutuantes. E da mesma forma que muitos adquirentes da casa própria, viram-se virtualmente insolvente em princípios da década de 80, quando as taxas de juros subiram a níveis

historicamente altissimos e a economia saia cambaleante de uma recessão mundial.

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Quando o México anunciou em 12/08/1982, que não podia efetuar os pagamentos regulares de sua dívida, a crise tomou dimensões mundiais. Por que o dramatiza personae, ao contrario da família americana, são agora gigantescas entidades de governo. Os credores, os grandes bancos, são entidades semi-soberanas. Eles não apenas controlam enormes quantidades de dinheiro como sua saúde financeira é tida como fundamental importância para a estabilidade econômica dos Estados Unidos e para a comunidade econômica mundial.

3.2.3.1. AS CAUSAS DÍVIDA EXTERNA ATUAL

1. O déficit fiscal 'norte americano durante a guerra do Vietnam foi ' nometizado; 2. Fim do sistema de Bretton-Woods, (1971) iniciado em 1944 (perda de

um referencial ou ancora para o sistema; Criação do G-7 em substituição a Bretton-Woods;).

3. Fim da conversibilidade do dólar (1971); 4. Os sucessivos choques do petróleo (1973 e 1979); 5. Alteração nos padrões de concorrência internacional; 6. Aceleração do novo ciclo de inovações tecnológicas

_

7. Crise Hersttat (instabilidade e retração do mercado bancário internacional após a falência dos bancos Hersttat e Franklin National em 1974);

V H

8. Colapso financeiro de empresas -industriais e instituições financeiras

(AEG-Telefunquen, Banco Ambrosiano, Wiener-wald, Braniff,

International Harvester, Done petroleum, Penn Suare Oklahoma, Drysdale Corporation);

9. Grande disponibilidade financeira internacional a partir de 1973 10. Política econômica americana após outubro de 1979 (o FED aumentou a

taxa de juros; dólar excepcionalmente valorizado). .11.A drástica elevação das taxa de juros internacionais, 12. Juros flutuantes;

`

13. Crise no-sistema bancário internacional (1981-1982).

60

14. Redução da demanda e do comércio mundial.

Este conjunto de eventos (estão citados de foram dispersa nas obras de Batista Junior, Carlos Cavalcanti, Eskridge Junior, Bresser Pereira, Nali Souza, Jacob Dolinber entre outros) foram' em síntese os grandes responsáveis pela eclosão da crise da dívida externa em diversos países.

3.2.3.2. AS EXPLICAÇÕES PARA A CRISE DA DÍVIDA EXTERNA:

1. Explicação do Banco Mundial (BID) apud Eskridge (1990, p.20):

A crise da divida foi, o resultado de um misto inesperado de circunstâncias (aumentos dos preços do petróleo induzidos pela OPEP, em 1973, e em 1978-79; prolongada recessão nos países industriais; dólar

excessivamente forte; e altas taxa de juros reais). Este é' a explicação do banco mundial.

O professor Rabah Benakouche (1981, p.179), afirma que: a alta dos preços do petróleo não é de 1 forma alguma, responsável pela labareda inflacionista que atravessa o mundo capitalista “desenvolvido”; e menos ainda pela crise atual”.

Jacques Chirac apud Benakouche (1981, p.179) diz:

“Considero muito chocante imputarem-se todos os nossos males ao aumento do preço do petróleo”.

O preço do petróleo estava muito baixo (foi decrescente entre 1951-

1973), por isso os países da OPEP, desejavam valorizar esta riqueza visando garantir meios para seu desenvolvimento. O aumento de 1973 assegurou um ganho no poder de compra dos países produtores, mas não fez cessar o a baixa dos preços. Na verdade o preço do petróleo baixou de 1974 a 1979. O exemplo da França é ilustrativo: `

61

Evolução da fatura petrolífera Em milhões de 1974 1978 1979 Francos Correntes 45 48 66-69 Francos constantes (1970) 34 25 31-32 Francos constantes (1974) 45 3,3 41-43

Fonte: Benakouche (1981, p.180).

A tabela revela uma redução de mais de um quarto na conta petróleo (valor de 1970), ou seja, uma redução de 26,5%.

_

Se a OPEP não foi a principal ganhadora com os aumentos do preço do petróleo, então quem ganhou. Benakouche (1981, p.180) responde: os que lucraram com esta situação são, sobretudo, as FMN petroleiras". O gráfico abaixo ilustra esta afirmação:

A

Empresa Lucro Líquido no 3° quadrimestre - milhões 1978 1979 Crescimento %

EXXON (US$) 525 1.145 118% BP (£) 86 562 556% eu|_|= (uss) 211 1 416 97% MOBIL (US$) 258 595 131% SHELL (£) 272 ' 720 165% STANDART OIL (US$) 274

_ 576 110%

TEXACO 197 509 158% Fonte: Benakouche (1981, p.181).

2. Explicação do Vice-presidente do Federal Reserve Bank, Roger Kubaych, apud Eskridge (1990, p.21:

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Roger sustenta que existiram seis motivos pelos quais os países subdesenvolvidos, que tomaram muito dinheiro emprestado nos anos 70 tornarem-se vulneráveis aos choques externos de 1979-82. Os cinco primeiros são de natureza interna e o último externo:

o Foram demasiado otimistas quanto às perspectivas de crescimento contínuo na incerta economia mundial dos anos 70 e não consideraram adequadamente a possibilidade de recessão quando tomaram tanto dinheiro emprestado nesse período;

o Financiaram suas necessidade de desenvolvimento nos anos 70 principalmente através de empréstimos bancários a taxas de juros

flutuantes, deixando de obedecer a um plano mais equilibrado em favor de maior captação de suas carências de capital mediante empréstimos oficiais a taxas de juros mais fixas e investimento externo direto;

0 Seguiram políticas econômicas internas mal orientadas; ø Toleraram incontroláveis déficits orçamentários em seus setores

públicos;

o Estes países foram vitimas de fraude, corrupção interna e fuga em massa de capitais, que drenaram os recursos antes que fossem aplicados em uso produtivo; _ _

ø Os governos dos paises industrializados durante a década de 70 estimularam com muito empenho os bancos privados a emprestarem dinheiro a um número sem precedente de países subdesenvolvidos.

3. Explicação é de Louis Schirano (Banqueiro) apud Eskridge (1990, p.21:

o Os bancos estavam com enormes depósitos provenientes dos lucros da OPEP nos anos 70, e ante a escassez de oportunidades de empréstimos, eles emprestaram dinheiro a paises subdesenvolvidos que, por sua vez, já se viam pagando o alto preço do petróleo da OPEP.

0 A organização bancaria internacional é altamente competitiva e entrelaçada;

63

o Os bancos não prestaram atenção nem aos riscos históricos de se emprestar dinheiro a paises subdesenvolvidos nem aos níveis que se tornaram alarmantes.

3.2.4. A CRISE RECENTE DIVIDA EXTERNA.

A partir do governo de Juscelino (1956-1960) nota-se uma clara

evolução da dívida externa brasileira. Para financiar o novo padrão de desenvolvimento industrial, governo optou porendividar-se externamente, pois nao possuíamos poupança interna suficiente para financia-la na velocidade que o governo queria.. (O lema de campanha do presidente era fazer o Brasil

crescer em cinco anos o que nao havia conseguido em cinqüenta).

Esta ideologia de expansão desenvolvimentista impeliu o governo a buscar quantias cada vez maiores de capital estrangeiro para sustentar o rápido crescimento, considerado necessário para justificar a legitimidade do governo e para evitar sacrifícios econômicos de qualquer um dos poderosos segmentos corporativistas cujo apoio era imprescindível à sobrevivência do governo. '

Os bancos levados pelo instinto gregário e de lucratividade emprestaram enormes somas em dinheiro, porque os empréstimos ofereciam bons lucros em curto prazo.

A

O rápido crescimento industrial do Brasil teve como características

principais um grande incentivo à produção de bens de consumo duráveis e grandes projetos de impacto a nivel governamental. Este modelo de crescimento criou uma enorme dependência em relação ao petróleo

importado.

Esta dependência se concretizou em diferentes níveis:

64

1. O setor industrial instalou tecnologia cuja principal fonte de energia é o Óleo combustível;

2. Estimulou-se a substituição do transporte ferroviário pelo rodoviário,

tanto de passageiros quanto de carga; 3. No transporte ferroviário substitui-se energia elétrica por Óleo diesel; 4. Aumento do número de estradas asfaltadas para escoar a produção; 5. Estimulou-se o uso do automóvel em detrimento do transporte coletivo; 6. Grandes obras de infra-estrutura cuja conservação depende do petróleo;

Os grandes projetos governamentais exigiram enormes volumes de investimentos que somente puderam ser concretizados através do rápido

crescimento da dívida externa. O quadro abaixo mostra a evolução da dívida externa brasileira:

Período Dívida total (bilhões de US$) 1929-1939

V

1940-1945 1.190

0,855 1946-1950 0,600 1951-1955 1.227

1956-1960 2.201

1961-1964 3.545 1965-1969 3.755

Fonte: Cardoso e Dornbusch (1989, p.179), IN: PEREIRA, Luiz C. Bresser. Divida Externa.

Os dados acima revelam uma redução da dívida externa no período da ll

guerra Mundial, voltando a crescer em seguida. No governo Juscelino, a dívida duplica em relação ao período anterior. No final de 1961, período de agitação política, o país estava pronto para mais uma crise externa- Com a deteriorização da situação econômica, os influxos de capital virtualmente

pararam. O Banco Mundial, antes uma importante fonte de recursos oficiais para o Brasil, não autorizou um único empréstimo entre 1960-1964. A reprogramação da dívida e novos créditos tornaram-se disponíveis após o golpe militar de 1964. Depois disso, o governo iniciou deliberadamente uma

65

politica de exploração dos mercados de capital privado para garantir a rápida expansão.

3.2.5. CONSIDERAÇOES FINAIS.

“Os problemas da divida externa brasileira tem sido um incômodo aos mercados mundiais de c_apital há mais de 150 anos?

É difícil compreender o que os professores doutores Eliana A. Cardoso e Rudiger Dornbusch (1989, p.179), querem dizer com esta afirmativa. Porque os bancos internacionais, que tem como único objetivo o lucro, de preferência imediato, emprestariam dinheiro a um devedor por mais de um século e meio. Porque o Fundo Monetário lnternacionalexigiria em uma das cláusulas do “acordo” de reestruturação da dívida externa assinado pelo Presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, e seu atual Ministro da Fazenda Sr. Pedro Malan (funcionário de carreira (consultor e ex-diretor executivo) do Banco Mundial) em 1974 que obrigava o país a continuar endividando-se.

A dívida externa é um incômodo sim, mas para a maioria da população brasileira (pois é a única que no-limite paga a conta sem poder transferir), há mais de 150 anos. Ela é muito boa para uma minoria privilegiada e para o próprio governo que sempre estevea favor dos interesses desta minoria, que controla o próprio governo. Também é excelente para os credores internacionais senão eles já teriam parado de emprestar a muito tempo.

3.3. A HIPERINFLAÇÃO

O processo atual de dominação das atuais economias latino americanas

66

começou logo após o final da ll Guerra Mundial. O primeiro pais subdesenvolvido a experimentar o remédio do Fundo Monetário Internacional, foi o Chile em 1950, quando uma missão chefiada pelo prof. Bernstein, depois de estudar as condições da economia chilena, concluiu que o processo inflacionário iniciou-se no instante em que a renda monetária dos assalariados elevou-se, havendo, portanto um excesso de demanda sobre a oferta de produtos. Prescreveu a adoção da milagrosa formula “contenção salarial” e outros remédios ortodoxos. Não foi por acaso que foi do Chile que partiu o primeiro grito de rebeldia contra os "ortodoxos", através da teoria estruturalista.

3.3.1. A INTERFERÊNCIA EXTERNA.

A influência do Fundo Monetário Internacional logo se fez sentir no Brasil e nunca mais cessou, conforme se observa no discurso proferido no dia 1/10/1953, pelo Ministro da Fazenda, senhor Osvaldo Aranha apud Guimarães (1963 p. 65):

“A exata compreensão do fenômeno inflacionário no Brasil tem contado com a colaboração de eminentes técnicos estrangeiros, dentre os quais é justo destacar-se o Sr. E. M. Bernstein, cujo trabalho confidencial sobre ”InfIation in Brazil, 1940-1950”, do qual não sei existe exemplar oficial, mas cujo volume a mim oferecido pessoa/mente, quando de minha viagem aos Estados Unidos tenho o maior prazer em entregar a V. Excia” (...) “Nele me inspirei por vezes e espero a ele recorrer nas dúvidas que me assaltarem no desempenho de minhas funções e na execução do programa que, assentado por técnicos brasileiros que me assistem, tracei para minha açao ministerial”. -

Em seguida foi assinada a famosa Instrução 70, que marcou o início da catastrófica série de desvalorizações cambiais dos últimos tempos. A taxa de cambio é o mais importante instrumento de reforma macroeconômica. A desvalorização da moeda, com a unificação da taxa de câmbio e a eliminação dos controles cambiais, afeta a relações fundamentais entre oferta e procura

67

na economia nacional. A taxa de câmbio regula os preços reais pagos aos produtores diretos, bem como o valor real dos salários. Para o Fundo Monetário Internacional, ela está invariavelmente “sobrevalorizada". A desvalorização da moeda é freqüentemente exigida. A desestabilização da moeda é objetivo-chave do Fundo Monetário Internacional. A maxidesvalorização resulta no imediato aumento dos preços, leva também a uma sensível compressão dos salários reais, enquanto, ao mesmo tempo, reduz o valor do custo da mão-de-obra expresso em moeda forte. A desvalorização da moeda reduz também o valor em dólar das despesas do governo, facilitando desse modo à liberação de receitas do estado para o serviço da dívida externa.

O impacto social da desvalorização da moeda é brutal e imediato. Os preços domésticos de artigos de primeira necessidade, insumos agrícolas, equipamentos, medicamentos essenciais, combustiveis e serviços públicos aumentam. A desvalorização da moeda deflagra invariavelmente a inflação e a

dolarização dos preços domésticos. Em alguns casos, a desvalorização da moeda sen/iu de base para uma reativação em curto prazo da agricultura comercial destinada ao mercado exportação. Todavia, com maior freqüência, os benefícios subjacentes ficaram para as grandes plantações comerciais e para os exportadores industriais.

O impacto da desvalorização da moeda provoca variações: o No nível dos preços domésticos (P);

o Nos salários nominais (S), nos salários reais(S/P);

ø Despesas nominais do governo (G), despesas reais do governo(G/P);

o Na base monetária nominal (M), na base monetária real (M/P);

A dolarização dos preços domésticos origina a diminuição:

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o Dos salários reais (S/P);

o Dos gastos do governo (G/P);

ø A base monetária nominal (M) pode aumentar, mas 0 valor real da base monetária (M/P) declina fortemente.

Tudo isso resultou no Programa de Estabilização Monetária do Presidente Juscelino Kubitschek e do ministro da fazenda o Sr. Lucas Lopes. O resultado da adoção deste plano pode ser visualizado no gráfico abaixo:

PERÍODO |N|=|_AçÃo % 1953 20ƒ796

1954 253'%

1955 121596

1956 24fi396

1957 791%

1958 24,196

1959 39Af%

196 3Q6'%

1961 47j796

1962 5L4'%

1963 811 96

1964 9L9'

Fonte: Revista Conjunta Econômica. .

9

A reestruturação econômica dos países latino-americanos sob o controle do Fundo Monetário Internacional contribui para o enfraquecimento do Estado. As industrias que produzem para o mercado interno são solapadas e as empresas nacionais, são levadas à falência. A compressão do consumo interno resultante da reestruturação econômica implica uma redução correspondente nos custos de mão-de-obra, transforma países em territórios abertos e economias nacionais em resen/as de mão-de-obra barata e de recursos

naturais, servem também de base para transferência da atividade econômica dos paises ricos.

69

A definição que o presidente norte americano John F. Kennedy (apud Mattos, 1987, p. 112), faz do papel do Fundo Monetário Internacional, refletem a sua atuação.

“Os EUA, hoje a imais rica e poderosa nação da Terra, líder do mundo livre, não teriam chegado a esse ponto se, no século passado, tivessem submetido sua economia em crescimento às ortodoxas orientações do Fundo Monetário Internacional”. .

No dia 1/7/1953, no discurso que fez ~a Comissão de Deputados e Senadores, no Senado Federal, constituída para estudar o projeto de lei de Remessa de Lucros Ministro da Fazenda, Sr. Osvaldo Aranha apud Guimarães (1963, p.101) disse:

“Uma grande companhia americana ou inglesa, instalado no Brasil, para montagem de automóveis recebe, pela taxa oficial, dó/ares para importar vinte mi/ automóveis. Ela se insta/ara com capital inicia/ não superior a duzentos mil

A dó/ares. Possui hoje poderosa e extensa organização. Tendo importado vinte mi/ automóveis recebeu, provavelmente pela taxa oficial, quarenta milhões de dó/ares para traze-los à razão de dois mi/ dólares por unidade. Uma vez aqui chegado, montou os veículos, aproveitou alguns elementos brasileiros na montagem, pintou-os e vendeu-os aos nossos consumidores por preço que lhe permitiu usufruir lucros anuais que somam pouco menos 'de quinhentos milhões de cruzeiros. Agora faz pressão no cambio livre, para esse total ser repatriado ao país de origem. Desse gênero, há muitas inversões no Brasil. Igualmente prejudiciais são as inversões feitas inicia/mente com capital brasileiro, por empresas que para aqui vieram apenas com créditos concedidos pe/os nossos bancos”.

Guimarães (1963, p.100), traz outras informações sobre esta mina de ouro: '

70

“De fato aqui estao quatro companhias com taxas de lucros na América latina superiores ao dobro das auferidas de 1939 a 1950 em seus paises": '

Empresas Nos EE.UU. Na América '

Latina Standart Oil. Co. (N. Jersey). 11% 33% General Motors Co .......... .. 25% 80% Anaconda Copper Co. ...... .. 5% 13% Firestone Rubber ............ ._ 7% 26%

“Afirmações mais recente confirmas a regra das taxas altas. A missão americana de homens de negócios que visitou o Brasil em 1960, em relatório publicado, salientou textualmente.'” Os lucros no Brasil são normalmente em bases muito mais altas que nos Estados Unidos. Não é raro que uma fabrica se pague em ou dois anos “Uma fábrica pagar-se em um ano significa obter lucro igual ao-investimento feito, isto é, ao capital. Significa auferir lucros de 100%. Se consegue pagar-se em dois anos é porque obtém lucros à taxa de 50% sobre o capital".

Este é o grupo econômico que mais ganha com a inflação e com esse comportamento desequilibra toda economia, criando as condições para o surgimento da hiperinflação. Temos, portanto uma inflação de lucros (ou

administrativa), os preços sao aumentados nao em decorrência do aumento dos custos ou da demanda, mas sim porque os executivos decidiram aumentar a margem de lucro de seus produtos comercializados e, com isso, aumentar a lucratividade da empresa. Quando este comportamento se difunde entre os empresários inicia-se um processo hiperinflacionário, pois cada um quer aumentar seus preços sempre mais para garantir seus lucros. Neste tipo de inflação, onde os administradores procuram aumentar a fatia da empresa na renda nacional, é conhecido há muito tempo. Com efeito, já em 301 d.C., o imperador Diocleciano, em seu famoso Édito dos Preços Máximos, afirmava que "Os responsáveis pela inflação são aquelas pessoas de cobiça ilimitada".

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Através dessa regulamentação foram tabelados os preços das mercadorias comercializadas no Império Romano, bem como os salários e remunerações dos artífices e prestadores de sen/iços. Foi a primeira vez que se teve notícia do uso de uma Política de Rendas e Preços para ocontroie inflacionãrio.

3.3.2. As coNsEQüÊNc|As DA H|PER|N|=|_AçÃo.

O fato de uma empresa aproveitar as oportunidades para aumentar os seus lucros elevando seus preços faz parte das regras do jogo do mundo dos negócios. O problema, entretanto, é que se os aumentos não forem apenas esporádicos e pequenos, esse processo pode ficar fora de controle,

desaguando fatalmente em uma inflação galopante ou numa hiperinflação, de conseqüências imprevisíveis e geralmente prejudiciais às próprias empresas (mas não para todas). É a situação do "salve-se quem puder". Esse fenômeno ocorre quando o governo, a quem compete coordenar a economia, perde a credibilidade e a liderança, como ocorreu no Brasil em 1964. '

Podemos imaginar de que são capazes os poderosos grupos econômicos internacionais quando querem embolsar lucros superiores. F. J. Dunning apud Guimarães (1963, p.103) diz:

“O capital foge dos tumu/tos e das lutas, pois é tlmido por natureza. Isso é muito certo, mas não totalmente verdadeiro. O capital tem horror à falta de lucros ou aos pequenos lucros, como a natureza tem horror ao vácuo. Por um lucro razoável, o capital torna-se corajoso. Pode empregar-se em qualquer parte, se lhe for assegurado um lucro de 10 por cento. Para ter 20 por cento, inflama-se. Aos 50 por cento chega a ser louca temeridade. Aos 100 por cento despreza todas as leis humanas. E quando alcança os 300 por cento, não há crime que não se atreva a cometer, ainda que se arrisque ao cadafalso. Se a desordem e a discórdia produzem lucros não hesita em fomentá-los”.

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A hiperinflação de 1790 na França espelha bem a situação a que pode ser levado um pais, conforme relato de Bresciani-Turroni, apud Griffiths (1981, p.136-137):

“Além da inflação de preços, surgiu uma classe especulativa. E ante a completa incerteza quanto ao futuro, todos os negócios se tornaram um jogo de oportunidades, e todos os empresários, jogadores. Nos centros metropolitanos surgiam rapidamente corretores de títulos e especuladores. Estes instituíram um feitio aviltante de negócios, que se propagou até as regiões mais remotas do país. Ao invés da satisfação com lucros legítimos, sobreveio a paixão por ganhos irregulares.

A partir de então, como os valores se tornaram mais e mais incertos, não houve também mais nenhum motivo para cuidado ou economia, mas tudo justificava despesas imediatas e desfrute no presente. Abateram-se, assim, sobre a nação, práticas que levaram à obliteração da parcimônia. Na mania de se auferir rendimentos para desfrute no presente ao invés de se prover para o conforto futuro, é que se encontraram as sementes de novas '

desgraças: desenvolveu-se a intemperança, insensata e extravagante, e também propagou-se como forma de ação. Para alimentá-la, surgiram as trapaças em toda a nação e a corrupção por parte de autoridades e pessoas ocupantes de postos de confiança. Enquanto os homens adotavam esses comportamentos nos negócios privados e oficiais, as mulheres estabeleciam padrões extravagantes de vestuário er de forma de vida, que se somavam aos incentivos à corrupção. A fé em considerações de ordem moral, ou mesmo em bons impulsos, caiu no descrédito geral. O sentimento de honra nacional foi considerada ficção alimentada somente por hipócritas. O patriotismo foi destruído pelo cinismo”.

Essa desagregação da sociedade, em plena Revolução Francesa, resultou no golpe de Estado de 18 Brumário, que levou Napoleão Bonaparte ao poder

Um outro exemplo bastante elucidativo dos malefícios da hiperinflação se encontra-se no relato de Thomas Mann da Alemanha pré-nazista de 1923 (Mann apud Grifffihâ, p.131-133);

V

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“Você pode dar um pulo na tabacaria para comprar um charuto. Alarmado com o preço pedido, você corre para um concorrente, acha seu preço mais alto ainda, e volta à primeira tabacaria, que já dobrou ou triplícou o preço nesse ínterim. Não há outro remédio senão você procurar sua carteira e tirar um volumoso pacote de milhões, ou mesmo bilhões de marcos, dependendo do tempo decorrido. . .

Nas tardes de sexta-feira você pode ver trabalhadores saindo das fábricas com cestas, sacolas e malas cheias de dinheiro. Isto não

_

os beneficiava muito, pois os comerciantes, assustados e ambiciosos, sempre elevam os preços mais do que proporcionalmente à depreciação da moeda. Tornou-se necessário pagar salários diariamente e, por último, entre outras, a empresa Krupp começou a imprimir suas próprias cédulas bancárias. Os municípios, mesmo, o menor deles, também procederam à impressão de cédulas; cabia a algum alto funcionário decidir o montante.da emissão. É ocioso dizer que àquela época cessaram as falsificações como meio de vida. Os que desejavam ganhar dinheiro sem trabalhar nunca encontraram condições tão favoráveis como na Alemanha de 1922 a 1924. Era necessário apenas um certo grau de habilidade e falta de escrúpulos. O trabalho honesto, embora especializado, levava a nada. Assim, mesmo às pessoas geralmente honestas, eram atingidas pela febre da especulação. Os agricultores enchiam suas casas com máquinas de costura, pianos e tapetes persas, recusando-se a se desfazer de sua produção de ovos e leite, a não ser em troca de artigos de valor permanente. Os estudantes de medicina tornaram-se corretores de titulos. Os professores discutiam em aula tópicos como o da conversão de pouco dinheiro em muito dinheiro. A resposta a que se chegava era: comprar moeda estrangeira mantê-la em resen/a por algum tempo e, depois, revendê-la. Dessa forma, um milhão poderia transformar-se em cinco milhões e, no final das contas, em um bilhão”.

No Brasil, a partir do final da década de 50, a situação econômica agravou-se profundamente, caracterizando-se como um processo hiperinflacionário. Com repercussões não só econômicas, mas também sociais e políticas, que culminaram no golpe de 1964. É neste ambiente conturbado que é instituída a correção monetária no Brasil.

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As principais distorções que a hiperinflação causava, antes da adoção da correção monetária, são apontadas por Simonsen:

- A instabilidade e a desordem salarial, pela heterogeneidade das taxas de reajuste;

- O desinteresse nos investimentos em serviços de utilidade pública, os quais costumam ser remunerador a partir dos custos históricos de instalação;

- O desincentivo às exportações e o déficit no balanço de pagamentos, como resultado do atraso sistemático das taxas de câmbio em relação aos preços internos; '

- O desinteresse do público pelos títulos de renda fixa, em geral, e pelos do governo, em particular, dada à insuficiência da taxa de juros diante da perda do poder aquisitivo da moeda;

- O desinteresse pela aquisição de imóveis para aluguéis, sujeitos a congelamentos;

- A atrofia da oferta de crédito em longo prazo, em geral, e de hipotecas, em particular, como conseqüência de uma taxa real negativa de juros;

- A ilusão do lucro nas empresas, devido ao cálculo das depreciações pelos custos históricos, e devido à absorção de ganhos nominais na reposição do capital de giro; -

- A injustiça do sistema tributário, que passa a tributar ganhos ilusórios;

~ O prêmio aos maus contribuintes, que se atrasam nos impostos para pagá-los em moeda desvalorizada. A

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cAPíTuLo iv

4. A coRREçÃo |v|oNETÁR|A NA EcoNo|v||A BRAs||.E|RA E suA coNsEQüENTE |NDExAçÃo (1964-1994). 1

4.1. A ORIGEM DA INDEXAÇAO.

A idéia de reajustar valores contratos na proporção de algum índice previamente estabelecido parece sertão antiga quanto às discussões sobre a moeda e a inflação, podendo ser encontradas- no Direito Romano, como a cláusula “Rebus sic Standibus", pela qual se procurava manter o valor real dos contratos firmados.

Um dos primeiros exemplos de utilização de correção monetária, para fazer frente à perda do poder aquisitivo da moeda, ocorreu em 1707, na Inglaterra. O bispo Willian Fleetwood procurou estimar as variações nos preços a fim de reajustar os salários dos professores da Universidade de Cambridge. Em 1742, nos Estados Unidos, foi' promulgada uma Lei no Estado de Massachusetts que permitia o reajuste com base na inflação do período anterior dos montantes a serem pagos sobre os títulos de crédito. Em 1780, reajustou os soldos dos soldados americanos devido à inflação ocorrida

durante a Guerra da Independência. Em 1795, na Inglaterra, foi proposta a indexação dos salários dos trabalhadores agrícolas aos preços dos cereais. John Wheatly, escritor inglês sobre assuntos econômicos defendeu explicitamente a indexação. Em 1822, o economista Joseph Lowe sugeriu a adoção da correção monetária no seu estudo intitulado “The present state of England in regard to agriculture, trade, and finance, with a comparison of prospects of England and France". Sua proposta era construir uma tabela que exibisse ano a ano o poder aquisitivo da moeda, possibilitando a adoção de um índice de preços a fim de reajustar uma série de contratos, com a finalidade de reduzir a incerteza causada pela inflação em torno do seu valor real. Em 1833, G. Poulett Scrope e G.R. Porter, também apresentaram estudos sobre a adoção da correção monetária como meio de contornar as flutuações no poder aquisitivo da moeda.

á

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O estudo da correção monetária foi retomado por W. Stanley Jevons em 1875, no seu livro “Money and mechanisms of exchange", ele mostra a inadequação do uso do ouro como unidade de valor nos contratos de longo prazo em virtude das flutuações em seu valor e cita o exemplo bem sucedido dos colégios de Oxford, Cambridge e Eton, que arrendavam suas terras por rendimentos fixados em trigo. Com base nessa experiência, Jevons questiona o progresso da ciência econômica e da estatística que não permitiu imaginar um padrão de valor mais satisfatório, já que as propostas apresentadas por Lowe, Poulett Scrope e Porter, na primeira metade do século XIX, baseavam- se todas elas na construção de índices de preços compostos dos principais artigos de consumo doméstico. Além de acreditar na factibilidade da adoção da correção monetária, Jevons defendia-a, porque via as seguintes vantagens:

`

1- Estabilidade nas relações sociais; 2- Garantia de rendimentos fixos aos indivíduos e às instituições públicas

contra as depreciações da moeda legal;_

3- Desencorajamento da especulação formada em função das freqüentes oscilações de preços.

Walter Bagehot criticou a proposta de Jevons, dizendo que:

1- A adoção da correção monetária seria totalmente inadequada para um país com comércio externo, já que o desencorajaria em virtude do aumento de incerteza na troca de ouro por moeda, e Londres que se desenvolvera como centro financeiro, graças à estabilidade de seu padrão monetário, sofreria um retrocesso;

2- Em segundo lugar, faria com que as operações bancárias se tornassem impossíveis, na medida em que um banqueiro nunca saberia o que devia, pois cada débito, sendo contraído em épocas diferentes, teria um valor incerto na data do vencimento;

3- Em terceiro lugar, apontou sérias dificuldades no cálculo do índice de preços, especialmente na manutenção de uma qualidade constante para os artigos incluídos em seu cálculo. Por último, Bagehot, diz que numa

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boa moeda, o meio de pagamento deve ser idêntico ou prontamente intercambiável, com uma quantidade definida de padrão de valor.

Em 1886, a correção monetária ganhou mais um adepto em Alfred Marsall, através de seu artigo intitulado “Replay to the Royal Comission on the Depression of Trade and Industry”, onde propõe que o governo, para auxiliar o comércio, “deveria publicar tabelas que mostrassem, tão exatamente quanto possível, a .mudança no poder de compra do ouro, e deveria facilitar os contratos para pagamentos a serem feitos em termos de unidade de poder de compra fixado”. Marshall reconhecia, entretanto que “uma medida perfeita do poder de compra é não somente inatingível, mas impensável”, para ele

“simplicidade e exatidão eram mais importante que a acurácia teórica". Em 1887, no artigo intitulado “Remedies for fluctuations of general prices”, reafirma sua posição. Neste estudo relembra as funções da moeda e enfatiza a importância da estabilidade do valor da moeda em seu papel padrão de valor para pagamento. Como a moeda, não cumpria essa função de maneira satisfatória nos contratos de longo prazo, sugere a adoção de um padrão de valor, independente do ouro e da prata, e que fosse calculado com base em índices de preços.

Na mesma linha de raciocínio, Aneurin Williams (1892), sugeriu a criação de um padrão de “valor fixado em metais preciosos”, que basicamente, consistia na emissão de papel em que o governo se comprometia a pagar uma quantidade de metais preciosos. Em seguida, analisa os prováveis efeitos

desse novo padrão sobre o comércio interno e externo da Inglaterra,

concluindo que esses efeitos seriam benéficos.

Robert Giffen, no seu artigo publicado no mesmo ano intitulado “Fancy monetary standarts", relembra as críticas feitas por Bagehot a Jevons, e acrescenta suas próprias contraposições:

1- Para ele qualquer mudança no padrão de valor provocaria injustiça; 2- Em segundo lugar, a factibilidade da proposta somente seria obtida

através da emissão de papel inconversível e administrado;u

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3- Em terceiro lugar, relembra os problemas de construir um índice de preços e as próprias dificuldades no mercado de trabalho, quando se ajustassem os salários, em períodos curtos, às variações do índice de preços.

Em linhas gerais, este foi, o desenvolvimento da idéia de se indexarem contratos, que se manteve até o inicio do Século XX. Entretanto é importante destacar que no início do século a Rand Kardex Company, por sugestão de lr\/ing Fischer, fracassou na tentativa de emitir titulos de trinta anos, indexando o principal e os juros ao índice de preços por atacado. Outra tentativa foi- feita pela Royal Comission National Debt and Taxation, em 1927, por sugestão de John Maynard Keynes, para que o governo emitisse titulos públicos indexados. A proposta de Keynes não foi aceita pelo superintendente do tesouro do Reino Unido Otto Niemeyer, com a argumentação de que não se esperavam grandes variações no valor da moeda, e, portanto não se justlflcavam tais emissões.

As considerações feitas pelos autores acima referidos sobre a correção monetária, baseiam-se na concepção de criação de uma referência para pagamentos diferidos, de modo a evitar prejuízos que eventualmente possam ocorrer entre os contratantes, face às variações do poder aquisitivo da moeda legal. __

As discussões até agora apresentadas se travaram em torno dessa idéia, podem ser divididas em duas linhas. De um lado, os economistas (Lowe e Jevons) que advogam a adoção na correção monetária, levantando argumentos favorecendo a questão da eqüidade nas relações entre devedores e credores. O outro grupo de economistas (Bagehot e Giffen), contrários à

adoção da correção monetária, argumentam contra viabilidade prática de sua adoção, especialmente quanto ao cálculo de índices de preços adequados.

A indexação, especialmente a salarial, foi adotada no início do século nos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, que adotaram alguns métodos de reajuste de salário que levava em conta, a evolução dos preços dos produtos e o poder de compra dos salários. Estes métodos consistiam em reajustes dos

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salários com base nos preços dos produtos da empresa e/ou concessão de um bônus devido aos aumentos dos preços registrados durante o ano. Estes expedientes deram origem às cláusulas de indexação salarial. Os primeiros a sugerirem a introdução de cláusulas de indexação salarial, reajustando os salários nominais com base no custo de vida na Europa no século XX, foram os estatísticos suíços Chatêlenat e ~o economista alemão Adolf. Braun. Contudo, somente a partir da l Guerra Mundial é que começaram a ser adotados e implementados os primeiros sistemas de indexação salarial. Isto se deveu, em grande parte, ao fato de que os índices de preços passaram a ser produzidos por um Órgão oficial de estatistica, que os divulgava com uma periodicidade determinada, além de serem confiáveis e aceitos tanto pelos trabalhadores e sindicatos como pelos empresários. Neste periodo, as cláusulas de indexação salarial foram adotadas na Austrália (1913), Inglaterra (1915), Estados Unidos (1917), Dinamarca (1918), Bélgica (1920), Itália (1920), Noruega (1920), Islândia (1920), Polônia (1920), Áustria (1921), Alemanha (1922) e Hungria (1923).

Após a ll Guerra Mundial, o interesse pela utilização de um padrão de valor para pagamentos diferidos cresceu, em virtude dos problemas financeiros causados pela guerra. Em 1945 a Finlândia emitiu títulos públicos com prazo de vencimento de dez anos, corrigidos todas as vezes que o índice de preços por atacado, aumentasse 10% acima do índice base (esta é a idéia do gatilho salarial adotado no Brasil). Os prêmios de seguro passaram a ser corrigidos a partir de 1948 e os depósitos a prazo começaram a ser indexados, a partir de 1955, com base no índice do custo de vida. Em Israel, a adoção da correção monetária foi adota a partir de 1948 e, na França desde 1952. Quanto aos países latino-americanos, a adoção é mais recente. O Chile indexou o seu sistema de poupança e empréstimo em 1963, e o Brasil oficialmente utilizou a correção monetária entre 1964 a 1994 em todos setores da economia. Para alguns estudiosos do assunto só dois países adotaram efetivamente em todos os setores da economia (por um período de tempo considerável) a correção monetária: Israel e Brasil. 1

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Em 1956 David Finch escreveu um artigo intitulado “Purchasing power guarantees for deferred paymentes”. Suas propostas baseiam-se na suposição de que existe incerteza sobre o curso futuro dos movimentos gerais de preços. Assim, no âmbito dos débitos privados, o risco adicional associado a esse elemento de incerteza, independente da capacidade empresarial, pode reduzir a eficiência de um sistema de empresa privada. Nesse sentido, a adoção de contratos, em termos de um poder de compra estável, removeria as obstruções ao investimento, além de melhorar a relação entre os prestamistas, já que seria evitado o estigma da usura. No caso de débitos governamentais, por outro lado, a emissão de títulos públicos, com a cláusula de poder de compra estável, traria como vantagens à garantia de um aumento no fluxo de recursos para financiar a dívida e recuperaria o prestígio desses títulos. A proposição de que a adoção da correção monetária traria como uma das principais vantagens o controle da própria inflação, é colocada com cautela pelo autor, tendo em vista que essa proposição esta fundamentada no aumento da poupança voluntária. Finch argumenta que, embora essa condição -seja necessariamente um fator redutor do hiato inflacionário, não se pode esquecer que existe uma contrapartida em investimento e o efeito líquido sobre a inflação pode não se anular. Por outro lado chama a atenção para o fato de que, no caso do governo, a emissão de títulos públicos com correção monetária pode levar ao problema do financiamento do serviço da dívida em anos futuros, o que poderia acentuar as pressões inflacionárias nessa época. Para o autor a discussão do efeito da cláusula do poder de compra sobre o controle da inflação deve ser estudado individualmente, para evitar generalizações e impropriedades.

'

Ao apontar as desvantagens práticas de adoção da correção monetária, Finch relembra que no século XIX, a oposição à utilização desse mecanismo era devida, em grande parte à apreensão quanto a factibilidade de usar um número índice para medir as mudanças nas obrigações, além' do conservadorismo inato nos círculos bancários. Os problemas práticos mais importantes decorreriam, sobretudo do padrão de valor duplo que é indicado pela proposta. Esses problemas seriam de três tipos:

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1- O problema de se estabelecer uma linha divisória além da qual a cláusula de poder de compra não poderia ser usada;

2- Os problemas que surgem da dificuldade puramente contábil de converter as cláusulas de poder de compra em termos de moeda, para fins de pagamento e para os balanços;

3- O problema para os bancos e, em alguma medida", para outras

empresas, de obter um balanço de ativos e passivos nessa nova forma para evitar a especulação sobre o futuro valor da moeda. -

Apesar das dificuldades, Finch observa que a adoção da correção monetária mais do compensa essas desvantagens, embora possa surgir o problema da credibilidade no índice de preços (o caso brasileiro mostra que ele tinha razão) que será usado para calcular as flutuações do poder aquisitivo da moeda.

Após a publicação do estudo de Finch, em 1956, foram poucos os estudos que trataram do tema da correção monetária, ao menos até o início da década de 1970. Esse desinteresse pelo assunto, talvez possa ser explicado como decorrência de um periodo em que a maioria dos paises desenvolvidos experimentou uma época de relativa estabilidade de suas moedas. Esse quadro foi alterado no início da década, especialmente a partir do “primeiro choque do petróleo". É justamente a partir dessaépoca que o interesse pela correção monetária toma vulto, principalmente após a publicação de um artigo de Friedman (1974). Esse repentino interesse foi motivado em grande parte pela aceleração da inflação nos principais países desenvolvidos no início dos anos 70 e as implicações que poderiam ter num programa de estabilização macroeconomia, bem como os efeitos resultantes de sua adoçao e implementação. .

No seu artigo intitulado “using escalators to help fight inflation”,

Friedman, recomendou a indexação como meio de facilitar o combate à inflação. Sua linha de raciocínio baseava-se em dois argumentos: no primeiro,

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recomendava a indexação dos títulos da dívida pública, das faixas de imposto de renda progressivo e de depósitos. Esta indexação certamente reduziria o ganho fiscalque o governo tem com a inflação, isto posto, concluiu que a propensão do governo em utilizar a inflação para financiar seus gastos também seria reduzida. Portanto a indexação generalizada aumentaria a predisposição do governo em combater à inflação. No segundo, argumenta que o combate à inflação em uma economia indexada é mais fácil. Isto porque evita os problemas causados pela defasagem (trade off) das expectativas. A indexação eliminaria a inter\/eniência das expectativas inflacionárias e, portanto, não faria com que os custos reais dos fatores de produção, cujo fornecimento realmente envolve contratos a preços predeterminados, acompanhassem as flutuações dos preços dos produtos. Assim, seria evitada a crise transitória de estabilização, que normalmente acompanha os combates inflacionários.

A principal crítica feita à proposta de indexação de Friedman, esta no fato de desconsiderar a possibilidade da economia ser submetida a um choque de oferta. A indexação neste caso faz o sistema de preços perder algumas dimensões, não havendo garantias da existência de um equilíbrio onde o valor de todos os excessos de ofertas são nulos. A economia pode ficar incapacitada de se ajustar às novas condições, devido ã perda de flexibilidade dos preços relativos. Quando a economia é submetida a um choque de oferta desfavorável o desemprego e os preços aumentam e o balanço de pagamento se desequilibra. O próprio Friedman reconheceu mais tarde, caso a economia fosse submetida a um choque de oferta, realmente seria preferível que não houvesse uma indexação perfeita.

Na mesma época em que foi publicado o estudo de Friedman, Kul A. Bhatia publicou um estudo intitulado “Idex-linking of financial contractts; a sun/ey of de state of de arts”, nele resume os aspectos práticos e teóricos da experiência internacional da adoção de indexação em contratos financeiros, com base na sistemática de correção monetária adotada na Finlândia, Israel,

França e Brasil. O autor conclui que a indexação generalizada desses contratos aumenta o volume de poupança financeira, ao mesmo tempo em que, dada à redução do risco associado às flutuações incertas no nivel de

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preços, possibilita uma estrutura de maturação mais longa na poupança e no investimento financeiro do que seria possível através de outros meios. No que tange aos efeitos da correção monetária sobre a poupança agregada, eficiência na alocação de investimentos, operação entre intermediários financeiros e a expectativa inflacionária, afirmava não possuir estudos suficientes para chegar a uma conclusão.

Atualmente os principais economistas que se dedicam ao estudo da correção monetária (indexação) são: Stanley Fischer, Jô Anna Gray, Robert Barro, David Levari, Nissan Leviatan. Entre os brasileiros merecem destaque: Daniel Valente Dantas; Carlos A. R. Queiros e Fernando de Holanda Barbosa.

4.2. INDEXAÇÃO VERSUS CORREÇÃO MONETÁRIA.

Muitos autores utilizaram a expressão indexação (indexed) como sinônimo de correção monetária (monetary correction). Esta utilização não é a ideal, visto que, pode-se ter presente na economia um indexador e não estar- se usando o expediente da correção monetária. Como exemplo podemos citar o Brasil, que-atualmente utiliza um indexador denominado UFIR (Unidade Fiscal de Referência).

A correção monetária expressa um fenômeno econômico mais amplo, que atinge quase todas ou todas as atividades econômicas, com evidentes reflexos sociais, enquanto a indexação, pode ou não refletir este quadro.

Do ponto de vista estritamente econômico também existe diferença. Indexação é uma forma de reajuste baseado num índice de preços. A correção monetária é o reajuste baseado em algum indicador de liquidez (lndexed Federal Bonds).

84

~ 4.3. A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DO INSTITUTO DA CORREÇAO MONETÁRIA NO BRASIL. '

Antes de 1964 a legislação sobrea utilização correção monetária referia- se quase exclusivamente ao campo contábil. Permitindo que as empresas atualizassem seus balanços com o objetivo de retirar deles o efeito

inflacionário. Isto estava previsto desde os primórdios da legislação brasileira do imposto de renda (IR) no Decreto-lei n° 17.390 de 1926. Posteriormente houve uma evolução constante da legislação visando acompanhas as alterações do processo inflacionário brasileiro. Também foram editadas algumas leis sobre a atualização dos alugueis residenciais, mas os reajustes permitidos eram inferiores a inflação. -

As Principais normas existentes antes de 1964 foram:

Decreto-lei n° 7.377, de 13 de março de 1945 - Dispõe sobre o ativo das sociedades mútuas de seguros, autorizando-as a atualizar os registros de seus ativos até, os valores venais. Primeira norma a tratar sobre o assunto;

Decreto-lei n° 9.407, de 27 de junho de 1946) - Esse diploma legal, deu o primeiro passo para a implantação da correção monetária do ativo

imobilizado. Porém, com preocupação nitidamente fiscal, determinava que entre os rendimentos da Cédula "F" fossem incluidos “o valor das ações nominativas, ou os interesses superiores aos lucros e dividendos, nos casos de valorizaçao do ativo”.

Lei n ° 154, de 25 de novembro de 1947 - Instituiu a tributação na pessoa juridica que valorizasse seu ativo, pelas taxas nominais, mantendo a tributação na pessoa física. Permitia que o valor da correção permanecesse em conta do Passivo näo Exigível, por quatro anos, sendo, após este período, lançada nolucro real. Essa lei sustenta a idéia de que a correção monetária do ativo imobilizado é um lucro que a empresa obtém ao calculá-la.

85

Lei n° 1.474, de 26 de novembro de 1951 - Foi um aperfeiçoamento da sistemática até então em vigor, sendo a correção monetária facultativa e tributável à alíquota de 10%. Diz a_ lei que “o aumento de capital das sociedades de qualquer tipo, mediante reavaliação do ativo imobilizado adquirido até 31 de dezembro de 1946, realizados até 31 de dezembro de 1952, sofrerão, excepcionalmente, apenas, a tributação de 10% recolhidos da fonte pela pessoa jurídica, sem outro ônus para os respectivos sócios".

Lei n° 2.862, de 04 de setembro de 1956 - impôs o pagamento do imposto de renda, às taxas normais, às empresas que vendessem qualquer bem reavaliado dentro do prazo de cinco anos contados da data da reavaliação. É a primeira lei a autorizar as firmas individuais a corrigir o ativo imobilizado.

A

Lei n° 3.470, de 28 de novembro de 1958 - Sistematizou a correção monetária do ativo imobilizado, no Brasil. introduziu diversas modificações, tais como: i

a) eliminou a proibição de atualizar os bens adquiridos nos seis anos anteriores à realização reduzindo este prazo para dois anos;

b) os índices de correção passaram a ser fixados pelo então Conselho Nacional de Economia, publicados bienalmente;

c) permitiu às empresas que não tivessem o capital integralizado

efetuar a correção; .

d) determinação da variação do bem mediante a apuração da diferença resultante da aplicação dos coeficientes sobre o valor dos bens e das depreciaçöes contabilizadas até a data da correção. `

4.4. o iDEÓLoGo DA coRREçÃo MoNETÁRiA No BRAsiL.

O ideólogo da implantação da correção monetária no Brasil foi lnácio

Rangel. No seu livro “A inflação brasileira", publicado pela primeira vez em 1963, ele defende a criação de um sistema financeiro sob o controle do Estado que garantisse o processo de acumulação de capital independente da inflação,

A

86

que possibilitasse o financiamento do desenvolvimento. Após a Revolução de 31/03/1964, o governo legalizou e difundiu o instituto da correção monetária, com o objetivo de “estabelecer um convívio tão pacífico-quanto possível do sistema econômico com a inflação pela ampla adoção da correção do instituto da correção monetária” (Simonsen 1970, p. 183). `

Visando o combate ao processo inflacionário, o Governo vem, desde os anos 50, adotando como meta básica de seus planos de ação programas desinflacionários. Tais programas (programa de Estabilização Econômica - PEC - 1957; Programa de Ação Econômica do Governo - 1964 - PAEG; Plano Cruzado -1986; Plano Collor 1990; Plano Real -1994, entre outros) envolvem diversos mecanismos que, durante os últimos 50 anos, vêm sofrendo alterações em busca de melhor adaptação às demandas instrumentais. das distorções provocadas pela inflação.

P

Em 1964 em complementação às políticas monetárias, creditícias e fiscais, ao controle salarial e ao de preços, bem como àquelas que visavam a estimular a produtividade e a poupança, o controle inflacionário foi baseado em dois instrumentos fundamentais: a taxa de câmbio flexível e a correção monetária. A taxa de câmbio flexível consiste em ajustes sucessivos e freqüentes da taxa de câmbio, mantendo o cruzeiro em níveis consistentes com as moedas dos principais países que mantêm relações comerciais com o Brasil.'A correção monetária foi adotada como uma opção a favor do gradualismo. Consiste, em sua essência, no estabelecimento de índices para todos os indicadores econômicos relevantes. Assim, os valores monetários são periodicamente corrigidos de forma que se contrabalancem os efeitos da inflação.

A correção monetária pode ser efetivada “a priori” ou “a posteriori”. A “priori”, é realizada para previsão da taxa de inflação e correção do valor nominal das taxas de juros nasaplicações em curto prazo. A “posteriori”, é calculada com base na evolução dos preços e é aplicada no reajuste do capital aplicado a longo prazo. *

87

A legislação de 1964 estabeleceu a indexação “expost.” Isto favorecia a eqüidade dos contratos e operações em longo prazo, mas não era apropriado para as operações em curto prazo. A partir de 1965, a legislação introduziu o conceito de correção “ex-ante” estabelecida respeitando principalmente as expectativas de inflação do mercado. Em 1970, o Tesouro Nacional começou a emitir títulos de curto prazo (Letras do Tesouro Nacional) com correção “ex- ante”, destinados às operações de mercado aberto. V

4.5. A coRREçÃo MoNETÁR|A E os. iNorcEs DE |NFLAçÃo No BRAs|L.

Numa economia. totalmente indexada como a brasileira os índices de inflação tem papel fundamental na definição das políticas governamentais. Os índices de preços mais antigos que se conhece surgiram na Europa, na época dos Grandes Descobrimentos Marítimos, no Brasil somente por volta de _1920 se iniciou o cálculo sistemático de indices de inflação.

Existem, no entanto, maneiras indiretas, baseadas em registros

históricos, de se estimar os indices para os anos anteriores a 1920. Mircea Buescu, no seu livro intitulado “300 anos de inflação”, por exemplo, fez um levantamento dos indices brasileiros de 1560 até 1889. Neste livro (p.38) a autora faz a seguinte classificação da tendência inflacionária adotando ritmos musicais para ilustrar seu comportamento:

1. Andante - durante o ciclo do açúcar (1560-1640);

2. Largo - do fim do ciclo do açúcar até o da mineração (1640 - 1693);

3.' Presto - durante o ciclo da mineração (1693 - 1760);H

4. Adãgio - do fim do ciclo da mineração até a Independência (1760 - 1822);

88

5. Andante-Alegre-Lento - da Independência até a República (1822 - 1889).

'

Os índices que começaram a ser calculados em 1920, com retroação até 1912, eram divulgados pela Fazenda Nacional e vigoraram até 1939. Tratava- se, na realidade, da indexação dos gastos com a manutenção da família de Leo Affonseca Jr., pertencente à alta classe média, que era o responsável pelo seu cálculo e envio ao governo, para publicação.

.

,

4.5.1. O ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (IPC-FGV)

Com a criação da Lei do Salário Mínimo, em 14 de janeiro de 1936, o índice do Sr. Leo sofreu várias reformulaçoes, passando a ser calculado pela FGV, sob a denominação de Índice de Custo de Vida (ICV).

Em junho de 1966 foi realizada uma pesquisa de orçamentos domésticos, com vistas a modernizar o ICV. Souza (1981, p.98) descreve como foi realizada a pesquisa:

foram preenchidas, pelos funcionários da própria FGV e por operários do Arsenal de Marinha, cadernetas domiciliares, onde se registrava, dia a dia, a natureza e o valor do consumo dos diferentes itens de despesa. Dessas cadernetas, foram selecionadas, por amostragem, 36 referentes a famílias de operários do Arsenal de Marinha e 27 da própria FG V, todas com salários inferiores a Cr$ 15.000. O índice derivado dessa pesquisa foi publicado a partir de março de 1958 e já abrangia 85 itens de despesas”.

Vários aperfeiçoamentos daí se seguiram, sendo que a última alteração de certa monta foi ã inclusão na fórmula de cálculo do "Efeito Substituição" em

^I

89

1977. Assim, a fórmula hoje utilizada para o IPC (ex-ICV) é mista: média geométrica para produtos alimentares e fórmula de Laspeyres para outras despesas. ~

.

4.5.2. O ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS AO CONSUMIDOR DO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (INPC DO IBGE). '

A exposição de motivos que justifica o Decreto-Lei n9 399 de 30/4/38,

que regulamenta a Lei do Salário Mínimo, esclarece:

“O salário mínimo estabelecido -pela Lei deve corresponder às necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário e transporte do trabalhador adulto, excluído, portanto, a idéia do

'

salário profissional e afastada a do salário familiar".

Esse mesmo Decreto-Lei determina as rações-tipo essenciais mínimas para as diferentes regiões do país, Souza (1981 p.96-97): -

“Baseado nessas rações mínimas de subsistência, tornadas legais em 1938, já em 1935 o Sen/iço de Estatística da Previdência do Trabalho começou a calcular índices de custo de alimentação nos municípios das capitais. Esses índices foram calculados até 1949, quando o Ministério do Trabalho instituiu o“ primeiro sistema de índices de custo de vida para todo o País, com ponderações baseadas em uma pesquisa de orçamentos familiares realizada em 1948_e incluindo itens de despesas de alimentação, habitação, vestuário, higiene, transporte, luz e combustível. Esse índice teve suas ponderações e metodologias revistas em 1967 e em 1977, e acabou sendo absorvido pelo IBGE, sen/indo de embrião para o estabelecimento do índice nacional de preços ao consumidor (INPC)

90

O INPC deu origem ao Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA-IBGE) e, posteriormente, ao Índice de Preços ao Consumidor do IBGE (IPC-IBGE).

4.5.3. O ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR DA FUNDAÇAO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS ( IPC DA FIPE-USP).

A Lei que instituiu o salário mínimo determinava a regionalização dos reajustes salariais e indicava, como referência, os menores salários pagos por empresas e outras entidades, inclusive serviço público, em cada região. Dentro desse espírito, foi instituído o primeiro índice regional de custo de vida no Brasil em 1936, pela Subdivisão de Documentação Social e Estatística da Prefeitura de São Paulo. Este indice refletia o padrão de consumo dos garis de limpeza urbana do município de São Paulo. Em 1970, o Instituto de Pesquisas Econômicas da USP passou a calcular esse índice, que foi então estendido, para abranger a "classe modaI"b(i.é, mais freqüente) da população da Grande Sao Paulo.

4.5.4. O ÍNDICE DE PREÇOS POR ATACADO (IPA DA FGV).

O índice de preços por atacado, publicado no primeiro número da Revista Conjuntura Econômica (novembro de- 1947), era uma média ponderada de preços dos 25 produtos mais importantes comercializados no País. A série dos índices foi revista no início de 1955, ampliando-se o número de produtos para 90. As ponderações foram estabelecidas a partir dos dados do Censo, acrescidas de informações sobre importações. Na série revista, os indices calculados para o período 1944-47 foram ponderados pelos dados do Censo de 1940 e, a partir de 1958, aplicaram-se dados relativos ao Censo de

_91

1950. A ponderação era calculada (como ainda hoje) com base no "valor adicionado" (produto final menos matéria-prima), ou, quando não possível, no valor de transformação industrial, para se evitar efeitos, no movimento dos índices, decorrentes de duplas contagens.

As ponderações e metodologia introduzidas em 1955 foram usadas até 1969. No segundo semestre de 1969 foi realizada modificação substancial, tanto de metodologia, quanto de ponderações. Essas modificações foram feitas conforme Mattos (1981, p. 99) visando a: '

- Seleção de novos produtos: o índice que anteriormente incluía 90 produtos passou a ter 243 itens, com cerca de mil especificações diferentes;

- Adequar as ponderações à estrutura produtiva do País: o País tinha passado, sobretudo na segunda metade da década dos anos 50 e primeira da década dos anos 60, por modificação substancial decorrente da política de industrialização e substituição de importações. Esse fato não era refletido no índice anterior, baseado em dados de 1949, mas se refletia integralmente no novo índice, cujas ponderaçoes se referiam à estrutura produtiva de 1965-66;

- Permitir que o sistema de ponderações acompanhasse pari passu as rápidas modificações que ocorriam na economia do Pais, introduzindo- se o sistema de médias móveis tri-anuais; ' '

i

- Aumentar a área de coleta: a coleta foi estendida paulatinamente, até incluir os estados do Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul;

92

- Adaptar os índices às novas necessidades criadas pela institucionalização da correção monetária no País: os conceitos de "Total" e "E×cIusive café" evoluíram para "oferta global" e "disponibilidade interna". ~

4.5.5. O ÍNDICE DO CUSTO DA CONSTRUÇÃO (ICC DA FGV).

O primeiro índice de custo daconstrução calculado pela FGV a partir de 1950, para a cidade do Rio de Janeiro, se referia aos custos de um edifício de três andares, sem elevador, padrão esse que constituía o mais usual na época.

'A modificação dos padrões de construção levou a que, em 1972, se revisse o sistema de ponderações, que passou a refletir uma média de padrões definidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, ponderadas pela área de licença de Habite-se em 1969 e 1970.-

Posteriormente, em 1975, foram fornecidas a FGV, pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção; estruturas analíticas de custos para diferentes padrões de construção, o que permitiu criar um sistema de cinco índices, com ponderações bem detalhadas (83 itens). lšsses cinco índices se referem ao índice médio (encadeado ao anterior) e construções habitacionais com 1, 4, 8 e 12 pavimentos.

93

4.5.6. o íND|cE GERAL DE PREços ‹|GP DA Fev)

O indice geral de preços começou a ser calculado conjuntamente com os primeiros índices divulgados pela Revista Conjuntura Econômica. Até 1949, era calculado como média do índice de preços por atacado e índice de custo de vida no Rio de Janeiro. A partir de 1950, passou a contar com mais um componente: o índice de custo da construção no Rio de Janeiro.

Esse índice foi calculado, inicialmente, com finalidade bem especifica: deflacionar o índice mensal da evolução dos negócios, que era um indicador obtido a partir da arrecadação do' imposto sobre vendas e consignações (atual ICMS) e da compensação de cheques.

Quando se introduziu a correção monetária no Brasil esse índice passou a ser usado para correção de um conjunto bastante grande de operações, sobretudo correção de valores de contratos de obras públicas. Por essa razão, mesmo quando a FGV decidiu descontinuar o cálculo do índice da evolução dos negócios, não pôde descontinuar a publicação do índice geral de preços. Nas várias modificações de diagramação da "Conjuntura", a FGV viu-se obrigada a manter inclusive esse índice situado na mesma posição nas tabelas de apresentação, pois o uso do índice se tornou de tal forma difundida e popularizada, que a maioria dos contratos e portarias passou a se referir

apenas à coluna em que era (e ainda é) publicado na coluna dois, sem mencionar sequer seu nome (IGP-DI).

A escolha dos três componentes da "coluna 2" se deve ao fato dessas três atividades (operações em geral, preços de varejo e construção civil)

representarem o conjunto de operações realizadas no Pais. A ponderação representa a importância relativa de cada tipo de operação na formação da despesa interna bruta: produção, transporte e comercialização do grosso dos

94

bens de consumo e de produção (representados pelo IPA): 60%; valor

adicionado pelo setor varejista e pelos serviços de consumo (representados pelo índice do custo de vida): 30%; e valor adicionado pela indústria da construção civil: 10%.

4.5.7. OS ÍNDICES DE INFLAÇÃO E AS PRESSÕES POLÍTICAS

Após 1964, os índices da FGV, uma das ideólogas do movimento desse ano (1966), passaram a ter um caráter oficial, sendo seu uso explicitamente definido em vários decretos e regulamentações. A própria ORTN, criada nesse ano, era definida com base nos índices da FGV.

Em 1970, entretanto, aconteceu a tão temida reversão das expectativas inflacionárias: a curva deixou de ir baixando e começou a subir. O grande receio era que, se começasse a subir, poderia nao parar mais, ficando fora de controle, como, aliás, ocorreu mesmo.

Em 1971-1972 uma série de medidas ecléticas foram tomadas e a inflação "não deu a mínima": Continuou subindo. Desesperado o governo de exceção então reinante resolveu usar um outro método diferente: em lugar de apagar o incêndio, decidiu desligar o alarme que estava tocando. As medidas, que fariam inveja a Goebbels, Ministro de Propaganda de Hitler, foram as seguintes:

- Proibir a divulgação de qualquer informação que não a oficial;

- Pressionar a FGV para manipular os índices, abaixando-os;

- Colocar em dúvida os critérios utilizados pela FGV;

95

- Transferir o cálculo dos índices .para -um Órgão do governo, onde pudesse ser exercido um controle total (a FGV é um Órgão privado); __

- Críticas comentários e editoriais desfavoráveis à situação econômico- financeira do país: Proibidos;

. Comentário, transcrição, entrevista, comparações e outras matérias relativas à recessão econômica: lnterditados.

Esse elenco de medidas fazia parte do que Marconi (1980, p. 249),

chamou de "Plano Secreto para coibir a lnflação", entregue pelo Ministro da Fazenda ao Presidente da República, cuja divulgação foi proibida através do Comunicado n° 5 de 18 de janeiro de 1973 do Departamento de Censura da Polícia Federal, distribuído sigilosamente aos meios de comunicação do país.

Os efeitos logo se fizeram sentir. As notícias publicadas pelos principais jornais da época dão uma dimensão do problema.

O jornal Estado de S. Paulo, de 11/11/73, na página 37 publicou: "Canto Quarto, de Luís de Camões", significando haver um artigo cortado pela Censura Federal. Na página seguinte, lia-se: -

“Uma tentativa de se chegar a um número aproximado do custo de vida, partindo de dados divulgados em algumas capitais, indicou a ocorrência de uma elevação de preços da ordem de 16,8%, nos doze meses de 1973. A iniciativa, como em outros anos, esbarrou na escassez de dados estatísticos objetivos e fidedignos, bem como na diferença de critérios utilizados pe/os vários Órgãos. Mas, no presente ano, a essas dificuldades, somou-se outra: o emudecimento de muitas fontes de informação, antes de presença atuante”.

96

Em São Paulo, o Departamento Sindical de Estatística e Estudos Sócio- Econômicos (DIEESE) deixou de divulgar oselementos que colhe a respeito do custo de vida, alegando "motivos de ordem econômica". O Instituto de Economia Gastao Vidigal, da Associaçao Comercial de Sao Paulo, considerou os seus trabalhos a respeito do assunto meros "exercícios estatísticos" e os reserva para informação interna dos associados da. entidade.

_

O emudecimento das fontes de informação outrora atuantes não é,

porém, ocorrência registrada apenas.em São Paulo. Em Belém, o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do Pará (IDESP) vinha fornecendo o índice mensal do custo de vida no Estado, apesar do atraso que caracteriza o seu trabalho. A partir de abril, esse índice passou a ter a sua distribuição à imprensa proibida. `

Na mesma página lê-se outra notícia: "Nos cá/cu/os do governo, a alta da carne não entra", enquanto que na página 39 verifica-se o ataque aos índices que, úteis desde 1946, de repente não serviam mais:

“Para a inflação, outros índices”:

O aumento do custo de vida não é o elemento principal de que se vale o governo para medira inflação (...) Roberto, da FGV, afirma que somente de uma forma bastante grosseira se pode apresentar o índice do custo de vida como medidor da inflação. "É a mesma coisa que trabalhar com uma régua em que estão faltando alguns traços".

Delfim Netto, no mesmo artigo, chegou a declarar:

“As diferenças nesses índices entre as grandes capitais significam realmente muito pouco; a inflação global está decrescendo, lenta e seguramente, como já afirmei”.

97

O jornal, Estado de São Paulo do dia 06/10/74, página 36, publicou:

“IBGE ca/culará os índices de preços a partir de 76”.'

Este fato, anunciado pelo Presidente do IBGE e desmentido por assessores do Ministro da Fazenda, já se encontram de fato definido desde maio deste ano, quando o Presidente da República aprovou o plano”.

Segue-se, depois, no mesmo artigo, uma série de argumentos, para mostrar que é melhor calcular os índices pelo IBGE e não pela FGV, estando- se assim "acompanhando uma tendência aceita pelos países desenvolvidos do Ocidente". Nascia, desse modo, o índice mais manipulado do Brasil: o INPC.

Mas a inflação "não deu bola" para tudo isso e continuou subindo sem parar, a ponto de nao mais ser possível "tapar o sol com a peneira".

O caso só veio realmente a público quando o jornal Folha de São Paulo publicou em 31/07/1977, já em pleno governo Geisel, o "Relatório Secreto do BIRD sobre a Economia Brasileira", que afirmava, textualmente:

“A figure of 22.5% for the rate of inflation in 1973 has been used instead of the official figure of 12,6% (Um valor de 22,5% para a taxa de inflação em 1973 foi utilizadoem lugar do valor oficial de 12, 6%)

Essa descoberta provocou um grande impacto, causando um enorme prejuízo moral e uma crise de credibilidade tanto para o governo quanto para a

FGV.

Na época era Ministro M. H. Simonsen, da FGV que, em vista do escândalo, procurou aconselhar o governo sobre como proceder. Em seu

98

relatório "O problema inflacionário em 1974" publicado pelo Jornal Gazeta Mercantil de 10/O8/77, ele abriu o jogo, mostrando que o critério de manipulação tinha sido: usar os preços tabelados pelo governo, ao invés dos preços de mercado (isto é, realmente pagos pelas donas-de-casa). Disse também que, embora o IPC oficial tivesse sido de 13,7% em 1973, seu valor correto era 26,6%; o item "alimentação", que era de 16,4%, devia ser elevado para 41,4%. Terminava seu "paper" sugerindo quatro possibilidades para consertar a situaçao:

- Manutenção dos critérios atuais de cálculo;

- Translação para nova origem (ou seja, passar a calcular com base nos preços de mercado, deixando o resto como está);

- Publicar a série dos índices não manipulados, ao lado dos oficiais;

- Corrigir todos os índices passados e eliminar os adulterados.

Dessas quatro alternativas, Simonsen condenou as duas primeiras, sugeriu usar a terceira e considerou a quarta aceitável. Verificou-se, posteriormente, que passou a vigorar a segunda opção.

Desse modo, a FGV restabeleceu a verdade e a sua credibilidade perante a Nação, pois não tinha agido de má-fé. Teve, isto sim, que se submeter às enormes pressões do governo, já que parte de seu orçamento vem de dotaçoes federais.

_

Infelizmente, não houve aí um "happy end", mas tão somente um "intermezzo", como veremos. '

99

A partir de 1974, embora os índices da FGV tenham voltado a ser calculados corretamente, foi a vez da ORTN, que começou a ser corrigida para baixo (até 1973 sua correção vinha acompanhando a inflação).

O quadro abaixo reflete a desindexação havida na economia brasileira, especialmente nos anos de 1979, 80 e 83.

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Fonte: Mattos, (1987, p.147)

Perdas% = (lGP% - ORTN%) /1 + ORTN%/100

A redução dos índices de inflação para quase a metade de seu valor real, em 1973, fez com que os trabalhadores acabassem por ter seus acréscimos salariais divididos por dois, já que a correção se dá com base nesses indices. Mas não somente os assalariados têm saído perdendo. Quem tinha dinheiro depositado na caderneta de poupança, ou depende das ORTNs para algum reajuste, como aluguéis, por exemplo, também ficou prejudicado, não só em 1973, mas também em 79, 80 e 83, como se depreende do quadro das ORTNs versus IGP.

Em 1979, com o segundo choque do petróleo (o primeiro foi em 1973), este e seus derivados foram praticamente excluídos do indice de Preços por Atacado, não mais influindo direta e imediatamente no cálculo da inflação. Com a inflação disparada desde 1970, um novo ataque de desespero acontece em 1983, quando se repetem os episódios de 1973. Desta vez, todavia, não foi possível repetir as façanhas de 1973, pois a liberdade de imprensa já havia sido reconquistada. Aliás, quanto a este aspecto, em que o jornal O Estado de S. Paulo teve um notável desempenho, à altura de suas tradições, vem bem a

100

calhar um pensamento do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Aliomar Baleeiro:

“A Liberdade não se recebe por mercê ou tolerância dos opressores. Há que merecê-la ou disputá-/a. Sempre que houver almas de escravos, existirão vocações de senhores”.

,

. As noticias publicadas pelos principais jornais e revistas da época, que a duras penas publicaram informações sobre as tentativas de manipulação dos índices, nos permitem verificar a pressão que os órgãos que calculavam a

inflação receberam para apresentar índices favoráveis ao governo. Esta

atuação do governo através de seus respeitáveis ministros, só serviu para reforçar famosa frase atribuida a De Gaulle: "Ce n'est pas un pays sérieux”.

4.6. A CORREÇÃO MONETÁRIA NA ECONOMIA BRASILEIRA - 1964 - 1986 (DO PAEG AO CRUZADO) `

O primeiro diploma legal de importância sobre correção monetária, após a Revolução, foi a Lei 4.357, de 16 julho de 1964. As principais disposições do texto sobre a matéria foram as seguintes:

a) Instituíram-se as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN). Um dos mais notórios efeitos da inflação sobre o mercado de capitais fôra, até então, a atrofia da procura pelos títulos da dívida pública federal. Estes dificilmente encontravam outros subscritos que não os mutantes compulsórios de adicionais de imposto de renda, ou os bancos que os adquiriram como alternativa aos recolhimentos à ordem das Autoridades Monetárias. As ORTN restauraram o prestígio da divida pública federal e iriam desempenhar importante papel no financiamento do déficit da União nos anos subseqüentes;

101

Foi criada a correção monetária dos débitos fiscais em atraso. isso corrigiu uma das mais esdrúxulas distorções da inflação sobre a eqüidade tributária, a de incentivar os contribuintes a se atrasarem nos seus pagamentos ao Governo, procrastinando-os o quanto possível, inclusive

pela multiplicação dos recursos judiciais;

A correção monetária do ativo imobilizado foi tornada compulsória, reduzindo-se o imposto de 10 para 5%, e criada a opção para subscrever o dobro em ORTN de prazo não inferior a cinco anos.

Permitiu-se que a correção monetária do ativo imobilizado fosse levada em conta no cálculo das depreciaçöes. ~

'

Criou-se o conceito da “manutenção do capital de giro”, correspondente ao lucro ilusório na reposição do ativo circulante líquido. Preocupada com o impacto sobre a arrecadação, a lei só permitiu que a manutenção do capital de giro fosse deduzida do lucro para efeito do cálculo do imposto sobre lucros extraordinários, mas não do imposto de renda normal;

instituiu-se a correção monetária do custo dos imóveis para efeitos da apuração do chamado “lucro imobiIiário" das pessoas fiscais, sujeito ao desconto do imposto de renda na fonte. Esse imposto, então incidente sobre uma diferença nominal de valores defasados no tempo, além de flagrantemente injusto, generalizava a prática do subfaturamento nas transações com imóveis. (Por volta de 1963, bom número dessas transações era escriturado pela terça ou quarta parte do valor real da venda)

102

4.6.1. EvoLuÇÃo Dos PRocEssos DE cÁLcuLo coRREçÃo MoNETÁR|A - oBR|GAçÕEs REA.|usTÁvE|s Do TEsouRo NAc|oNAL

As obrigações reajustáveis do Tesouro Nacional foram instituídas pelo Artigo 1° da Lei n° 4.357, posteriormente regulamentada pelo Decreto n°

54.252 de 3 de setembro de 1964 apresentava as seguintes características:

a) Fixação do valor nominal de referência de cada ORTN em Cr$ 10 (dez cruzeiros), com o poder aquisitivo do segundo trimestre civil de 1964;

b) Atualização do valor nominal de referência em cada trimestre civil, em função das variações no poder aquisitivo da moeda nacional;

c) Vencimento entre três e vinte anos com juros de 6% ao ano, calculados sobreovalor nominal atualizado, de acordo com o índice calculado pelo Conselho Nacional de Economia. Posteriormente esta atribuição passou para a Secretaria de Planejamento da Presidência da República. Até setembro de 1965, às O.R.T.N. eram emitidas com valor para o primeiro mês de cada trimestre civil. A partir daí, seusvalores são corrigidos mensalmente.

Quando foi criada a sistemática de cálculo da correção monetária, definida em linhas gerais pela Lei n° 4.357 de 16.7.64, foi estabelecido um critério de correção trimestral defasadode cerca de dois trimestres. Essa defasagem média entre os meses de referência para cálculo da correção serviu de freio' para a expansão inflacionária. Naquele momento, a tendência da inflação era de aceleração acentuada. Entretanto, já a partir do início de 1965, quando as taxas de inflação tornaram-se continuamente decrescentes, inverteu-se o efeito da defasagem, que passou a funcionar quase que continuamente, como acelerador do processo, até a retomada do novo ritmo ascendente em 1974.

A criação das ORTN com correção mensal e, posteriormente, a extinção das Obrigações com correção trimestral provocou a redução e unificação do

103

prazo médio entre o mês a ser corrigido e os meses de referência para cálculo da correção monetária. Assim, em vez de variações médias entre trimestres, o cálculo passou a ser feito como média móvel de 3 termos. Embora o mês inicial do período considerado para a correção permanecesse defasado em quatro meses, o prazo médio reduziu-se. Essa redução de prazo diminuiu ligeiramente o efeito realimentador acelerativo do processo inflacionário, enquanto permaneceu a tendência declinante do ritmo inflacionário.

Nova modificação, visando aperfeiçoar a correção monetária, foi

introduzida em julho de 1969. O índice usado até então - índice geral de preços por atacado - incorporava as variações de preços verificadas em operações internas e de exportação. A variação dos preços externos de produtos de exportação (sobretudo do café, com alto peso nos índices), era refletida

diretamente sobre a correção monetária, mesmo que o preço interno se mantivesse constante. Foi necessário criar um novo conceito de índices de preços por atacado, que incorporasse apenas os efeitos internos da inflação. Assim, ao lado do índice de preços por atacado, em seu antigo conceito de oferta global (produção + importação), a Revista Conjuntura Econômica passou a publicar um índice de disponibilidade interna (produção + importação -

exportação), índice esse usado no cálculo dos coeficientes de correção monetária.

`

.

Partindo do pressuposto de que a tendência da inflação era de se manter declinante e reconhecendo os efeitos adversos de uma correção monetária defasada e continuamente superior à taxa de inflação, foi

introduzida, em dezembro de 1972 uma modificação considerável no processo de cálculo da correção monetária. Em vez de considerar exclusivamente periodos passados, a correção passou a ser calculada como média entre a inflação. passada e o resíduo inflacionário previsto pelo Governo para os próximos 12 meses, resíduo este previsto em 12% 'ao ano ou 0,949% ao mês.

Procurava-se igualar o coeficiente de correção monetária para cada mês à taxa inflacionária efetiva daquele período, ao se tirar à média entre o ritmo passado e futuro da inflação e, assim, tornar neutro o papel da correção no

104

processo inflacionário. A subestimativa de resíduo inflacionária e a retomada do ritmo ascendente de inflação a partir de 1974 fez com que o Governo abandonasse, a partir do primeiro trimestre daquele ano, essa fórmula,

retornando ao método anterior.

Outra tentativa de reduzir os efeitos de realimentação do processo inflacionário, via correção monetária, foi feita em 1967, quando se estabeleceram as normas para reajustamento de preços em contratos de obras e serviços a cargo do governo federal (Decreto-lei n.O 185, de 23.02.1967):

O coeficiente de 0,9 aplicado ao reajustamento, em uma época em que a tendência vislumbrada era de elevação de ritmo na variação dos índices de custo de obras, face aos programas de Governo no setor de obras públicas e construções habitacionais, significava uma tentativa de amortecer os efeitos inflacionários dessa aceleração, uma vez que os empreiteiros seriam ressarcidos em apenas 90%, pelos seus aumentos de custos.

No que diz respeito ainda à correção de custos de produção no ano, o Ministro da Fazenda anunciou que o princípio acima esboçado seria expandido para todos os setores industriais controlados pelo CIP, de forma bastante aperfeiçoada e sofisticada. No cálculo dos reajustamentos, seria deduzida parcela correspondente aos acréscimos de produtividade, de acordo com coeficientes setoriais calculados anualmente. Esse processo, além de atenuar os efeitos inflacionários da correção, ainda sen/iria como incentivo a que as empresas aumentassem sua produtividade: aquelas que melhorassem seus níveis acima da média fixada teriam acréscimo em sua margem de lucro;

aquelas que não alcançassem esse nível reduziriam sua margem. Esse processo, porém, não chegou a ser implantado.

Retornando aos coeficientes mais genéricos de correção monetária

(ORTN), em agosto de 1975 foi introduzida modificação que, embora de efeito reduzido em seus resultados, apresentou evolução de sistemática apreciável: a criação de um índice específico para a correção monetária, índice esse que se aproxima ao máximo da tendência inflacionária pura, isto é, isenta de variações

105

acidentais e do efeito de fatores não monetários (política internacional, por exemplo). Com a criação desse índice, eliminaram-se as flutuações bruscas, para baixo ou para cima, nos coeficientes de correção monetária e reduziram- se os efeitos realimentadores provocados por "picos" dos indices de preços, causados por fenômenos fortuitos, tais como enchentes, geados, etc. No longo prazo, a variação desse índice se aproxima bastante do indice não expurgado dessas variações, mas, em termos de variação mensal, seu ritmo é bem mais homogêneo.

Em maio de 1976 foi introduzida mais uma modificação, para vigorar na avaliação da correção monetária de julho, modificou substancialmente o cálculo dos coeficientes. Em primeiro lugar, com a nova fórmula, reduz-se de dois meses o prazo verificado entre o período a ser corrigido e os meses de referência para cálculo dos coeficientes de correção. Em termos de sistemática, essa redução contribuiu, de duas formas, para o aperfeiçoamento do sistema. Primeiramente, a correção tornar-se-á mais real e os coeficientes refletirão com maior aproximação à inflação presente, minimizando assim os efeitos de aceleração nos períodos de ritmo declinante de inflação e de freio durante as fases de inflação acelerada. A redução da defasagem também não permitirá que se calcule com antecipação, como antes, os valores da ORTN. Como o índice de preços por atacado é calculado por volta do dia 10 de cada mês, será possível conhecer o valor dos coeficientes de correção monetária com cerca de 20 dias de antecedência. Da forma que era calculada antes, a correção podia ser conhecida com cerca de três meses de antecedência. Como os operadores sabiam fazer esse cálculo e o público em geral não conhecia seu mecanismo, ocorreu grande distorçao no mercado. Papéis de longo prazo e com valores e rendimentos reais fixos (ORTN, por exemplo) passaram a ser negociados como papéis de especulação de curto prazo, concorrendo com outros papéis realmente de curto prazo ou com papéis de risco e constituindo- se, eles próprios, face aos elevados ágios alcançados em meses de aumentos grandes nos índices de preços por atacado, em papéis de risco e especulação.

Os efeitos de curtíssimo prazo, decorrentes exclusivamente da redução de prazo, serão neutros se a taxa de crescimento do IPA se mantiver no

106

mesmo nível que no período fevereiro a abril (entre 3,5 e 3,7% ao mês). Se, entretanto, o ritmo da inflação cair, como prevê o Governo, haverá redução de ganho no periodo julho a outubro que, pelo antigo sistema, ainda sofreria influência das elevadas taxas de fevereiro, março, e/ou abril. Como exemplo elucidativo, vamos admitir que a taxa de inflação, medida pelo índice de preços por atacado, caia para 2,5% ao mês a partir de maio e se mantenha nesse ritmo até o fim do ano (neste exercício, não está considerado o efeito da segunda parcela contida na nova fórmu a e que será examinado a seguir):

Coeficiente de Correção Monetária Taxa de Inflação (%) .

Meses (%) Defasagem de 4 Defasagem de 2

meses meses Julho 2,250 3,364 3,217 Agosto 2,50 3,622 2,826 Setembro 2,50 V 3,217 2,500 Outubro 2,250 2,826 2,500 Novembro 2,50 2,500 2,500 Julho a Novembro 13,141 16,520 14,295 Fonte: Conjuntura Econômica.

Vê-se, nessa hipótese, que a correção monetária, calculada com defasagem do termo inicial de quatro meses, teria' um acréscimo de 16,5%. Reduzindo-se essa defasagem, a correção acumulada cai para 14,3%, ainda superior á inflação real, uma vez que a defasagem foi diminuída, mas continua a existir. Se admitirmos a hipótese contrária, isto é, de uma inflação maior nos próximos meses, a redução da defasagem fará com que a correção monetária seja maior com a nova fórmula.

A segunda inovação introduzida na metodologia de cálculo dá correção monetária se aproxima bastante daquela adotada em 1973 (e posteriormente abandonada). Em vez de se calcular o coeficiente de correção com base exclusivamente na inflação passada, tira-se uma média entre astaxas passadas e as taxas esperadas ou desejadas para os meses futuros.

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Entretanto, algumas modificações foram introduzidas em relação à antiga

fórmula. Por exemplo, o peso relativo das taxa passadas de inflação era o mesmo das taxas esperadas ou projetadas. No novo cálculo, as taxas efetivamente constatadas nos meses anteriores têm peso substancialmente maior (80%) que o da taxa prefixada (20%). A segunda diferença reside no fato de que a taxa prefixada, usada durante 1973, era estimada como "o resíduo inflacionário previsto para os próximos doze meses", podendo variar em função das mudanças de expectativa por parte do Governo. Na nova metodologia, admitiu-se uma taxa fixa de 1,1715% ao mês que acumulada para um período de 12 meses, representa uma inflação de 15%.

Em períodos de inflação superior a 15% ao ano, a nova parcela

adicionada à fórmula de cálculo dos coeficientes de correção monetária funciona como um coeficiente de amortecimento, reduzindo os efeitos de realimentação inflacionária. Se a inflação for de 15%, seu efeito é neutro. No caso de taxas inflacionárias menores de 15% ao ano, a nova parcela funciona como um acelerador da inflação e, em termos de correção monetária, como um "coeficiente de garantia", pois, mesmo no caso de uma inflação nula, a

correção anual será de 3%. A seguir, estão apresentados, para diferentes taxas anuais de inflação, os valores dos coeficientes de correção monetária, com a nova parcela adicionada à fórmula.

No período (agosto de 1979 a dezembro de 1980), o Governo adotou estratégia de fixar os juros e correção monetária como meio de influir nas expectativas com relação à inflação. Foi fixada como meta, para 1980, uma correção monetária de 45%. Posteriormente, o -percentual foi alterado para 50% a ser aplicado durante o período compreendido entre o segundo semestre de 1980 -e o final do primeiro semestre de 1981. Mas na realidade, o crescimento verificado da correção monetária foi de 52,5% o da inflação

medida pelo IGP-Dl foi de 110,2% e pelo IPA-Dl foi de 121,3%, no período jan.- dez.80.

Entre janeiro de 1981 a 10 de março de 1983, devido ao estrangulamento do setor externo, a difícil captação de empréstimos em moeda

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estrangeira levou o Governo a liberar as taxas de juros e vincular novamente a correção monetária ao nível dos preços, de modo a garantir um custo interno dos empréstimos mais elevado, facilitando assim a entrada de recursos

externos ao tempo em que se incentivava a poupança interna. Veiculou-se a notícia de que o INPC passaria a se constituir no termo de referência para cálculo da correção monetária. Todavia ninguém conseguiu descobrir a relação exata entre os coeficientes da correção monetária e a evolução do INPC. Enquanto, em 1981, a correção monetária cresceu 95,6% o INPC cresceu 91,2%; o IGP-Dl 95,1% e o IPA-Dl 94,3%, o que traduz um quadro inverso ao ocorrido no ano anterior. Em 1980 a captação de recursos através do mercado financeiro revelou sensível queda, tendo a relação haveres financeiros/PIB regredido a níveis de 10 anos atrás. Observe-se que neste período registraram- se as maiores quedas na correção monetária relativamente à evolução do 'nível de preços. Já nos anos seguintes a situação foi exatamente inversa, a correção monetária ultrapassou o nível de preços e o saldo de haveres evoluiu a um ritmo acentuado. Em 1982 a correção monetária cresceu. 97,8% contra 99,7% do IGP-Dl e 97,9% do INPC.

Através da Resolução n° 802, de 10.3.83, ficou determinado que a variação no quadrimestre de março-junho de 1983 seria igual à variação acumulada no IGP-Dl no mesmo período, e que, a partir de jul. 83; a variação da correção monetária seria igual à variação do IGP-Dl acumulado em cada trimestre. No dia 28 de junho do mesmo ano foi emitida a Resolução n° 841 atrelando a variação da correção monetária no quadrimestre de mar. jun. 83 à

variação acumulada do IGP-Dl ajustado. A partir de jul. 83 a variação da correção monetária seria igual à variação do IGP-Dl ajustado, acumulado em cada trimestre.

Na realidade, no período agosto de 1979 a novembro de 1983; não houve clareza quanto às regras de correção monetária. Neste período a correção foi arbitrada, não coincidindo nem com a evolução dos preçosnem com o que determinava as resoluções ou declarações junto à imprensa.

l

109

Entre novembro de 1983 ate abril de 1985 a correção monetária passou a ser objeto de acordo com o Fundo Monetário, e nas diversas cartas de intenção ficou determinado que “o coeficiente de correção monetária que é utilizado para ajustar o valor das obrigações financeiras continuará a ser determinado ao final de cada mês em nível não inferior ao da taxa de inflação (medido pelo índice geral de preços, disponibilidade interna) correspondente ao mesmo mês”. Portanto o crescimento do IGP-Dl de qualquer mês determina a correção monetária do mês seguinte. Como o-valor da ORTN altera a cada dia 1° do mês, equivale dizer que a correção monetária e a variação do IGP-Dl são idênticos, sem defasagem no tempo. Com isto, era imprevisível, a cada data mês, a variação da correção monetária, que na realidade era conhecida “ex- post” tal qual a evolução dos preços.

A partir de maio de 1985. A última fórmula, que determinava de forma clara e inequívoca o valor da ORTN foi a de jul. 76, e que prevaleceu até ago.79. Através da Resolução n° 1.001 de 21.3.85, na primeira semana após a mudança de Governo e de Regime.

Não se podeáafirmar que houve mudanças radicais na sistemática de correção monetária, as alterações introduzidas vieram na medida para corrigir certas distorções no mercado financeiro, particularmente nas operações do mercado de financiamentos de títulos.

4.6.2. A D|FusÃo DA coRREçÃo MoNETÁR|A NA EcoNoM|A

4.6.2.1. A coRREçÃo |v|oNETÁR|A NAS TAR||=As Dos sERv|ços Púsucos

Uma das maiores distorções causadas pela inflação brasileira nos decênios de 1940 e 1950 havia sido o desestímulo às inversões privadas na área dos serviços de utilidade pública e o enfraquecimento da capacidade de reinversão das concessionárias. Isso, devidovao critério de remuneração dos

110

capitais investidos nesses serviços, limitada a 10% ao ano sobre o seu valor histórico nominal. Naturalmente, com a inflação crônica, as tarifas foram objeto de sucessivas revisões. Estes, no entanto, só cobriam o aumento dos gastos operacionais na produção dos serviços, não contemplando qualquer reajuste na remuneração nem na depreciação do investimento das concessionárias.

O artigo 57 da Lei 3.470, promulgada em novembro de 1958, encaminhou a solução para o problema. De acordo com suas disposições, a correção monetária do ativo imobilizado, tornada automática pelos coeficientes do Conselho Nacional de Economia, valeria para “todos os efeitos legais".

Estranhamente, entre 1959 e 1964 essa correção, no caso das concessionárias de serviços de utilidade pública, foi aplicada por um critério bastante assimétrico: foi levada em consideração no cálculo das tarifas portuárias, mas não nas de energia elétrica. Essa assimetria provavelmente se deveu à tendência nacionalista da época: por volta de 1959, as principais

concessionárias de energia elétrica do País (embora não as de portos) eram controladas por capitais estrangeiros.

A permissão para que as concessionárias de energia levassem em conta a correção monetária do seu ativo imobilizado no cálculo das tarifas veio

finalmente a se efetivar em novembro de 1964, com a promulgação dos Decretos 54.936/54.938, os quais restabeleceram a interpretação natural do artigo 57 da Lei 3.470. Essa medida foi rapidamente reproduzida na maioria dos serviços de utilidade pública de concessão estadual, como os telefones.

4.6.2.2. A CORREÇÃO MONETÁRIA NO MERCADO DE CAPITAIS

Outra área de ampla aplicação do instituto da correção monetária foi o mercado de capitais. As Leis 4.357 e 4,380 haviam estabelecido, em 1964, os dois primeiros casos de correção monetária em títulos de crédito - a das Obrigações Reajustávels do tesouro Nacional e a das 'Letras Imobiliárias. Em

111

julho de 1965, a lei do mercado de capitais (Lei 4.728) iria estender a indexação a uma longa série de outros títulos e aplicações mobiliáriasz letras de câmbio, debêntures, debêntures conversíveis em ações, depósitos a prazo e certificados de depósito. Inicialmente a lei previa que a correção seria

reservada aos títulos com prazo superior a um ano (em alguns casos, até,

superior a dezoito meses, como dos certificados de depósito). A insistência do mercado em operar a prazos mais curtos, e o virtual afastamento dos bancos comerciais dos descontos a mais de 120 dias, obrigou o Governo a reduzir o prazo mínimo da correção para seis meses. Também a prática consagrou, na maioria das operações de 6 a 24 meses, a correção prefixada, ao invés da verificada a posteriori, desejada pelo Governo. .

4.6.2.3. A coRREçÃo |v|oNETÁR|A No MERCADO |MoB|i_|ÁR|o.

A inflação havia reduzido à atividade da construção civil (apesar da famosa especulação por volta de 1950, e apesar do desinteressedas poupanças privadas pelo mercado de capitais) em virtude da atrofia do mercado de hipotecas (a pequena oferta disponível, de entidades governamentais, era arduamente disputada pelos pistolões politicos) e do semicongelamento dos aluguéis pelas sucessivas leis do inquilinato. A legislação posterior a 1964 procurou reativar a construção de imóveis instituindo a correção monetária dos aluguéis, e das prestações e saldos devedores dos financiamentos imobiliários. As principais medidas, nesse sentido, foram as seguintes:

a) A Lei 4.380/64 criou o Banco Nacional de Habilitação, as Sociedades de Crédito Imobiliário, as letras imobiliárias, e generalizou o princípio da correçao monetária nos empréstimos concedidos pelo sistema; tal

correção, das prestações e saldos devedores, seria sempre efetuados dois meses após as modificações do salário-mínimo;

b) A Lei 4.494/64 instituiu a correção monetária dos aluguéis, com normas

112

diferentes para os aluguéis antigos (contratados antes da lei) e para os novos (contratados a partir de novembro de 1964). Estes últimos, uma vez expirados os respectivos contratos, seriam reajustados sempre que houvesse aumento de salário-minimo (o reajuste entrando em vigor com dois meses de defasagem). Para a correção dos aluguéis antigos, _a lei

estabeleceu um mecanismo razoavelmente complicado, o qual somava duas componentes, uma levando

` em conta a inflação posterior a novembro de 1964, outra destinada a eliminar o congelamento passado. Este último seria absorvido gradualmente de modo a que, em 1974, os aluguéis chegassem ao nível real de sua contratação inicial, deduzida apenas uma parcela correspondente à depreciação do imóvel; ~

c) A Lei 4.728/65 permitiu que os financiamentos e letras imobiliárias fossem corrigidos trimestralmente, nos mesmos termos das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional;

d) A Lei 4.864/65 liberou de quaisquer restrições quanto à lei do inquilinato e quanto às cláusulas de correção monetária os aluguéis não residenciais e os aluguéis de residências com “habite-se” posterior à data da lei;

e) A Lei 5.107/66 instituiu o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço,

formado por contribuições das- empresas equivalentes a 8% da folha de salários, que foi destinado aos trabalhadores em substituição ao antigo sistema de estabilidade e indenização trabalhistas. Os recursos desse Fundo, que são sujeitos á correção monetária, são aplicados em financiamentos imobiliários pelo Banco Nacional de Habitação.

Também a partir de 1968 começaram a avolumar-se as críticas à correção monetária dos financiamentos do Plano Nacional de Habitação, em parte porque alguns salários não acompanhavam, pelo menos em curto prazo, a evolução das Qbrigações Reajustáveis, em parte porque vários mutuários se haviam endividado além de suas possibilidades. Uma objeção freqüentemente levantada na época, e que resultava de uma incompreensão aritmética, era a de que, após o pagamento das primeiras prestações, o saldo devedor excedia,

113

em valor nominal, o financiamento contratado. Essas críticas, não abalaram o principio da correçao monetária nos financiamentos de imóveis. O Banco Nacional de Habitação conseguiu contorna-las criando diferentes planos atuariais, inclusive o chamado Plano de Equivalência Salarial, que reajusta prestações e saldos devedores na proporção dos aumentos do salário mínimo.

4.6.2.4. A CORREÇAO MONETÁRIA NOS SALDOS DEVEDORES E PRESTAÇOES DE CONTRATOS IMOBILIÁRIOS.

A introdução, na legislação brasileira, da correção monetária nos contratos de venda ou construção de imóveis residenciais para pagamento a prazo foi realizada pela Lei n° 4.380, de 21-8-64, que previa reajustamentos das prestações mensais e conseqüentes correção do valor da divida, sempre que ocorresse alteração nos valores dosalário-mínimo.

Os reajustamentos anuais permitidos pela Lei n° 4.380 baseiam-se na fórmula que se segue, entrando em vigor 60 dias após a alteração do salário- mínimo da região onde se acha situado o imóvel.

Cabe salientar que essa lei criou e deu estrutura ao sistema financeiro

da habitação (S.F.H.). introduziu, também, o conceito de unidade padrão de capital (U.P.C.) do Banco Nacional da Habitação, correspondendo a Cr$ 10 antigos, de acordo com o poder aquisitivo da moeda brasileira em fevereiro de 1964, reajustável toda vez que o salário-minimo fosse alterado, com base nos indices anteriormente citados.

O cálculo da U.P.C. foi alterado pela Lei n° 4.864, de 29-11-65, que prevê reajustes semestrais nos seus valores. De acordo com essa lei, permite- se também a correção monetária, por periodos não inferiores a seis meses, do saldo devedor e das prestações dos contratos imobiliários, com base em índices calculados pelo extinto Conselho Nacional de Economia ou pela

Fundação Getúlio Vargas. Esse reajustamento é realizado 60 dias após o término do mês da correção e tem como base, para as correções semestrais.

114

4.6.2.5. 'A CORREÇÃO MONETÁRIA NOS ALUGUÉIS DE IMÓVEIS NÃO RESIDENCIAIS

Mediante o Decreto-lei n° 4, de 7-2-66, às locações para fins não- residenciais admitiu-se a correção monetária dos aluguéis, com base nos indices fixados em contrato. Para efeito dessa correção, são calculados índices mensais, expressando a variação do valor mensal das O.R.T.N.

~ 1 ~ r 1 -

4.6.2.6. A CORREÇAO MONETARIA NOS ALUGUEIS DE IMOVEIS RESIDENCIAIS

A correção monetária do valor dos aluguéis de imóveis para fins

residenciais foi autorizada pela Lei n° 4.494, de 25-11-64, que regula a locação de prédios urbanos. Esse reajustamento foi previsto para sempre que ocorresse elevação do salário-mínimo legal e baseado em índice mensal calculado pela Seplan de modo que refletisse as variações no poder aquisitivo da moeda brasileira, adotando-se duas metodologias distintas.

Para efeito de cálculo do novo aluguel das locações posteriores a Lei n°

4.494, efetuava-se o reajustamento na mesma proporção ou em proporção inferior à da variação do referido indice de correção, tomando-se como base:

a) o período compreendido entre o mês da data da assinatura do contrato e o da entrada em vigor do novo salário-mínimo, para o caso de primeiro reajustamento;

b) para os reajustamentos subseqüentes, o período entre os meses de duas alterações sucessivas do salário-minimo.

115

A referida lei autorizava também as partes contratantes a estipular

outras fórmulas de reajuste, desde que não ultrapassassem aqueles valores.

Já o reajuste dos aluguéis cujas locações haviam sido contratadas anteriormente à data da Lei n° 4.494 teve seu cálculo instituído por metodologia mais complexa que a anterior. `

Em primeiro lugar, há três conceitos criados nesse instrumento legal:

aluguel corrigido, aluguel corrigido e atualizado e aluguel atualizado.

O aluguel corrigido era calculado mediante a aplicação de coeficientes de correção monetária e de depreciação, ,conforme discriminação abaixo, aos aluguéis já contratados.

a) coeficiente de correção monetária - relação entre o índice fixadopelo Conselho Nacional de Economia - CNE, correspondente a novembro de 1964 e o mesmo indice correspondente ao primeiro mês dos contratos vencidos; para o caso dos contratos por vencer, relacionavam-se os indices relativos ao mês do término e do início do contrato, respectivamente;

b) coeficientes de depreciação - apresentados em tabela anexa à Lei n° 4.494, calculados em função -da quantidade de meses existentes do inicio do contrato a novembro de 1964, para os contratos vencidos, e, para os não vencidos, do inicio ao término dos contratos.

Considerava-se aluguel corrigido e atualizado, na data de cada reajustamento, o valor obtido pela aplicação ao aluguel corrigido dos seguintes coeficientes;

a) coeficiente de correção monetária - relação entre o índice fixado pela

Seplan, correspondente ao mês da entrada em vigor do novo salário-

mínimo e o mesmo índice em novembro de 1964, para os contratos

vencidos, ou no término do contrato para os não vencidos;

U6

b) coeficiente de depreciação - em função, também, da contagem dos meses decorridos entre novembro de 1964, para os contratos vencidos, ou entre o mês do término do contrato, para os não vencidos, e omês da entrada em vigor do novo salário-mínimo.'

Finalmente, aluguel atualizado era calculado com base na correção monetária do aluguel por meio dos índices publicados pela Seplan, considerando-se os seguintes períodos: ~

a) desde o mês da data da expiração do prazo contratual ou de novembro de 1964 até o mês da entrada em vigordo novo salário-mínimo;

b) entre os meses de duas alterações sucessivas ao nível do salário-minimo, nos reajustes subseqüentes.

Compreendidos esses novos conceitos, o ajuste do aluguel de locações já contratadas quando da publicação Lei n° 4.494 pode-se dar nos seguintes CHSOSÇ '

a) quando os aluguéis correspondessem a valores inferiores a 1/3 do aluguel corrigido, seriam corrigidos até esse nível, a partir de 28-2-65, ou a partir da data do vencimento do contrato, se ocorresse até 25-11-74;

b) quando o locador fosse entidade beneficente reconhecida de utilidade

pública, o limite de 1/3 do item anterior foi elevado para 1/2;

c) para os aluguéis que ultrapassaram os limites dos itens anteriores, foram reajustados sempre que ocorresse alteração do salário-mínimo, tendo início 60 dias após a entrada em vigor de cada nível de salário-mínimo.

No início do Governo Costa e Silva o Decreto-lei 322 procurou suavizar os reajustes de aluguéis antigos, a fim de atenuar a componente corretiva da inflação que vinha incomodando os índices do custo de vida. Em

117

compensação, as locações contratadas a partir do decreto ficaram isentas de quaisquer restrições da lei do inquilinato, quer se tratasse de prédios antigos ou novos. '

4.6.2.7. A CORREÇÃO MONETÁRIA NOS DÉBITOS TRABALHISTAS.

A correção monetária dos débitos de salários, das indenizações e de outras quantias devidas pelas empresas abrangidas pela Consolidação das Leis do Trabalho (C.L.T.) e pelo Estatuto do Trabalhador Rural aos seus empregados, quando não liquidados no prazo de 90 dias, é aplicável de acordo com o Decreto-lei n° 75, de 21-11-66, regulamentado pelo Decreto n° 61.032, de 17-7- 67. São índices publicados no segundo mês de cada trimestre civil entrando em vigor no trimestre seguinte.

4.6.2.8. A coRREçÃo |v|oNETÁR|A Nos DÉB|Tos F|scA|s E coNTR|Bu|çõEs DEv|DAs À PREv|DÊNc|A soc|A|_.

Os débitos fiscais e contribuições devidas à Previdência Social,

referentes a tributos, contribuições ou penalidades que não foram efetivamente liquidadas no trimestre civil em que deveriam' ter sido pagos, têm o seu valor corrigido monetariamente, de acordo com os artigos 7° e 8° da referida Lei n° 4.357. São indices também trimestrais e publicados no segundo mês de cada trimestre civil, com vigência para o trimestre seguinte.

~ r 1 4.6.2.9. A CORREÇAO MONETARIA NA POLITICA SALARIAL

A aplicação do princípio da correção à política salarial baseou-se numa mistura sofisticada de inflação projetada. Logo após a Revolução de 1964 o governo decidiu que por conveniência administrativa e para maior eficácia do programa antiinflacionário, os salários de cada categoria sindical deveriam ser

118

reajustados apenas de doze meses. A recomposiçao do salário pelo simples coeficiente de correção monetária encerraria um inconveniente teórico

facilmente compreensível. Se o mesmo salário nominal permanecesse inalterado por um período de doze meses, o parâmetro básico deveria ser o seu poder aquisitivo médio e não o seu poder aquisitivo no momento do reajustamento. A aplicação direta da correção monetária provocaria um aumento do poder aquisitivo médio num período de inflação cadente e ou uma queda desse poder aquisitivo numa fase de inflação descendente. Além do mais, os aumentos de salários deveriam incorporar a melhoria da produtividade do trabalho, o que não se conseguiria com uma simples formula de correção monetária.

O Programa de Ação Econômica do Governo Castello Branco reconhecia que, numa inflação crônica, os salários reais oscilam fortemente entre picos e vales, devido à conjugação de altas salariais descontínuas com altas contínuas de preços, e que a meta a ser estabelecida deveria ser a estabilização pela média (mais aumentos vegetativos de produtividade) e não pelos picos. Isso exige o abandono do critério tradicional de reajustar salários proporcionalmente ao aumento do custo de vida desde a última revisão - critério que implicava simplesmente na recomposição do pico prévio de 'poder aquisitivo. Em seu lugar, estabeleceu-se uma fórmula que calculava os reajustamentos salariais de modo a que, no período de 12 meses em que vigorasse a nova remuneração nominal, o salário real médio fosse igual à média verificada nos 24 meses anteriores, acrescida de uma pequena percentagem representativa do aumento de produtividade. A fórmula já levaria em conta uma certa previsão de inflação para os próximos doze meses, o chamado resíduo inflacionário: para tanto, ao reajuste salarial somava-se metade dessa percentagem de inflação prevista.

O gráfico abaixo esclarece a concepção da citada formula. Até o instante to num periodo retroativo de 24 meses, o salário real de uma determinada categoria profissional teria oscilado entre AB dos picos e a linha CD dos vales. A media do salário real nesse período correspondia a EF. Para o período de doze meses seguinte, dever-se-ia ter um salário real médio correspondente a

119

linha GH, a qual equivaleria à media do biênio anterior acrescida da percentagem do aumento de produtividade.

sALÁR1os Picos

60 C VALES D 50

40

30

20

10

A B 10

''''''''''''''''''''''''''''''''''''''' -ix/|'ëäía'ñ1`ã¡'s`ãGHë5t'6 Eië_E›F6ãüt`¡v¡E|_ade

90 _

G '''''''''''''''''''''''' " H so-É-" - - - - - - - - - - --*F ------------------------- ------ --

70V

0 H

t TEMPO

o Fonte: Simonsem (1970, p.27)

A lei 4.725 e os Decretos-Lei 15 e 17 de 1966 determinaram que os aumentos salariais em dissídios e acordos coletivos fossem determinados pela aplicação da referida fórmula. O sistema revelou pelo menos duas vantagens excepcionais: a) pacificou as negociações salariais coletivas, resolvendo pela aritmética o que muitos países tentam solucionar pelas greves e pressões políticas; b) favoreceu consideravelmente o combate à inflação do lado dos custos.

O defeito técnico da fórmula estava em provocar um declínio dos salários reais sempre que se verificasse uma forte subestimativa do resíduo inflacionário. Isso certamente ocorreu até 1967, particularmente em 1966, quando a inflação prevista se situava em 10% anuais e a efetiva em perto de 40%. A partir de 1968, diante dessas criticas, o Governo modificou a fórmula da política salarial, estabelecendo que, quando o resíduo inflacionário tivesse sido

120

subestimado nos últimos dozes meses, a devida correção seria levada em conta para o cálculo dos novos reajustes salariais: os salários dos doze últimos seriam computados não pelo seu nível efetivo, mas pelo que teria prevalecido caso o resíduo inflacionário tivesse correspondido à alta efetiva do custo de vida.

A nova fórmula, embora não necessariamente assegurasse uma sucessão ascendente de salários reais de acordo com os aumentos de produtividade, funcionou a contento_entre 1968 e 1973 - basicamente porque a inflação nela não excedeu de muito a estimada. Contudo, em 1974, o recrudescimento da inflação associado à crise do petróleo, pôs à mostra as imperfeições teóricas ainda existentes no cálculo dos reajustes salariais: a correção da subestimativa do resíduo inflacionário efetuava-se para os doze últimos meses usados na fórmula, mas não para os doze meses anteriores; o coeficiente de aumento de produtividade era expresso em termos anuais, enquanto que o período médio entre a base de cálculo e a vigência do novo salário era de dezoito meses; por último, as percentagens de aumento de produtividade e de metade do resíduo inflacionário eram somadas aritmeticamente, ao invés de se comporem geometricamente.

Essas observações levaram o Governo à nova fórmula de política

salarial da Lei 6.147 de 1974. O novo salário é calculado de modo a corresponder, em moedatdo mês do reajustamento, ao salário médio real dos doze últimos meses, multiplicado por três coeficientes: 1- O relativo à metade do resíduo inflacionário previsto; 2- O correspondente ao aumento de produtividade; 3- O relativo a subestimativa da metade do resíduo inflacionário nos últimos

doze meses. Dentro de um princípio de anualidade de reajuste, a fórmula

provavelmente representa a melhor adaptação possível da correção monetária à política salarial. Num ano deforte subestimativas do resíduo inflacionário, como foi 1974, os salários reais poderão cair significativamente. Contudo, a recuperação se torna automática no ano seguinte (como esta sendo em 1975). Uma solução de transição, tanto para compensar os prejudicados no primeiro

12]

semestre de 1974 quanto para amenizar as pressões inflacionarias em 1975, foi o abono de emergência de 10% concedido em dezembro de I974.

_. 1 1 4.6.2.5.10. A CORREÇAO MONETARIA NA POLITICA CAMBIAL.

No campo cambial, não caberia propriamente a adoção da correção monetária, já que a surpresa _é ingrediente essencial em qualquer desvalorização. O sistemaadotado entre nós a partir de agosto de 1968 foi das minidesvalorizações. As desvalorizações processaram-se por degraus, mas em percentagens e intervalos bastantepequenos. O sistema foi bem sucedido em termos de estabilizar a renda real dos exportadores, de evitar a especulação, e de desestimular 'os movimentos' de “hot-money”. Como regra geral, a desvalorização externa do cruzeiro corresponde à inflação interna menos a externa, mas essa regra sujeita-se a pequenos desvios em função da posição do balanço de pagamentos e das relações de trocas com o exterior. O espírito da política é o da correção monetária, mas a mecânica encerra uma diferença essencial: a imprevisibilidade das datas e das taxas dos reajustes.

A indexação da taxa de cambio no Brasil “segue, em linhas gerais, a Teoria Da Paridade do Poder de Compra que, por sua vez, tem inspiração nos ensinamentos da Teoria Quantitativa da Moeda”. A idéia central dessa medida esta no postulado clássico da homogeneidade. A indexação cambial neutraliza as conseqüências desfavoráveis da inflaçao domestica sobre o balanço de transações correntes com base no critério de desvalorização cambial dado por:

TEi=Pt + qt

onde:

nt = é a taxa de desvalorização cambial; pt = a taxa de inflação doméstica;

122

qt = a taxa de inflação externa nas hipóteses de constância da relação de troca do país e do inicio da política de indexação cambial, a partir do nível de cambio de equilíbrio.

`

'

Uma analise das conseqüências da indexação da taxa cambial feita

utilizando o modelo de equilibrio geral de economia aberta, revelou que o critério de indexação da taxa de cambio em que mantêm inalterado o preço relativo entre o bem domestico e o bem comerciável, mostra que a economia domestica fica imunizada contra os distúrbios monetários oriundos do resto do mundo e traduzidos em variações na taxa mundial de inflação. Mostra,

também, que, diante do distúrbio de natureza real, a presença da indexação cambial pode conduzir a um impasse na politica econômica, sem possibilidade de solução com o uso de instrumentos monetários, em virtude da rigidez de preços relativos gerados pela indexação da taxa cambial.

Recentemente um estudo sobre a transmissão de distúrbios externos para a economia domestica num contexto de indexação ótima e considerando quatro regimes alternativos de taxa cambial:

1- taxas cambiais uniformes flexíveis (FLEX); 2- taxas cambiais uniformes fixas (FlX); 3- taxa cambial dupla (TT), na qual a taxa de cambio comercial (conta-corrente)

é fixa e a taxa de cambio financeira (conta de capital) é flexível; 4- taxa de cambio dupla com taxas flutuantes para transações correntes e para

conta de capital (TTF).

As principais conclusões deste estudo feito com base num modelo que incorpora a hipótese de expectativas racionais, podem ser resumidas nos seguintes pontos:

1- Os regimes de taxas cambiais FIX e TT provem completo isolamento da economia.domestica em face dos distúrbios externos, enquanto o regime TTF provê pleno isolamento somente quando a posição liquida de ativos externos for igual a zero, e o regime FLEX provê pleno isolamento;

123

2- mesmo que os regimes FIX e TT isolem completamente a economia domestica de distúrbios externos, quando a indexação é Ótima, a perda sob esses dois regimes, em termos de bem-estar, é maior do que sob os regimes FLEX e TTF.

Robert A. Mundei, ganhou o Prêmio Nobel de economia deste ano (1999), por suas análises das políticas monetária e fiscal sob diferentes

sistemas cambiais

4.6.2.11. A CORREÇÃO MONETÁRIA NO BALANÇO DAS EMPRESAS (ATIVO IMOBILIZADO, CAPITAL DE GIRO E OUTROS).

Lei n° 4.357, de 16 de julho de 1964 - Esta lei prescreveu sobre correção monetária em seu artigo 3°, parágrafos l° a 23. Tornou obrigatória a correção monetária do ativo imobilizado das pessoas jurídicas, inclusive filiais, sucursais, agências ou representações de sociedades estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil, 'prevista no artigo 57 da Lei n° 3.470, de 28 de novembro de 1958, através da aplicação de coeficientes fixados anualmente pelo antigo Conselho Nacional de Economia. Estavam desobrigadas da correção monetária as pessoas jurídicas cujo capital social realizado n_ão excedesse 50 (cinqüenta) vezes o salário mínimo fiscal. Ficaram dispensadas da obrigatoriedade de correção monetária,.as sociedades de economia mista, nas quais, pelo menos, 51% (cinqüenta e um por cento) das ações de voto pertencessem à União, aos estados ou aos Municípios, empresas concessionárias de serviços públicos, cujos lucros não excedessem de 12% (doze por cento) do capital, as pessoas jurídicas civis, organizadas exclusivamente para prestação de serviços profissionais de médico, engenheiro, advogado, contador, escultor e de outros que se assemelham, as firmas individuais e as sociedades que se encontrassem em concordada, falência, liquidação promovidas por autoridades administrativas ou judiciais.

Como inovações pode-se ressaltar:

124

a) a obrigatoriedade de realização da correção monetária em cada ano, cujo resultado seria registrado, no Passivo não Exigível, a crédito de conta com titulação própria, nela permanecendo até sua incorporação ao capital, através de alteração contratual ou estatutária;

H

b) a redução do imposto de renda, na fonte, de 10% (dez por cento) para 5% (cinco por cento), sobre os aumentos de capital correspondentes ao aumento líquido do ativo, conforme parágrafo 7°, artigo 57 da Lei n° 3.470/58;

c). a dispensa do imposto de renda ao contribuinte que adquirisse Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN), com vencimento em prazo não inferior a 5 (cinco) anos contados da data do balanço, em valor nominal igual ao dobro do imposto devido;

d) a possibilidade de depreciar o bem corrigido, inicialmente em 50% (cinqüenta por cento) e 70% (setenta por cento), da depreciação normal para os anos de 1965 e 1966, respectivamente.

Lei n° 6.404, de 15 de dezembro de 1976 - Esta lei tornou obrigatória à correção monetária do ativo permanente'(investimentos, imobilizado, diferido, as respectivas depreciações, amortizaçöes e exaustões e as provisões para perdas), bem como do patrimônio liquido (capital, reservas, prejuízos e ações em tesouraria). As variações nas contas do patrimônio liquido, decorrentes de correção, seriam acrescidas aos respectivos saldos, com exceção da correção do capital realizado, que constituiria reserva de capital até que fosse efetivamente incorporado. As contrapartidas dos ajustes seriam registradas em conta cujo saldo seria computado no resultado do período. Quando o ativo permanente fosse superior ao patrimônio líquido, as respectivas atualizações monetárias seriam favoráveis (saldo credor) ao resultado; na situação inversa, seriam desfavoráveis (saldo devedor). Desapareceram as contas de reservas de correção monetária do ativo imobilizado e de manutenção de capital de giro próprio, utilizadas na sistemática anterior. Esta lei será tratada em capitulo à parte por ter sido uma mudança importante na história da correção monetária.

Decreto-lei n° 1.598, de 26 de dezembro de 1977 - Adaptou a legislação fiscal à Lei das Sociedades Anônimas. Seu artigo 39 insistiu no mecanismo geral de correção monetária preconizado na lei n° 6.404/76

125

(correção do ativo permanente e patrimônio líquido) e na dedução saldo líquido como encargo (perda) do exercício ou de seu acréscimo (se credor) ao lucro real. A correção monetária deveria ser preconizada com base no aumento nominal de uma ORTN. O artigo 55 preconizou obrigou as pessoas jurídicas a corrigir monetariamente, nos termos deste Decreto-lei, as demonstrações financeiras, deveriam proceder, no balanço de abertura do exercício social de 1978, a correção especial do ativo imobilizado. Referida correção especial substituía a correção do ativo imobilizado prevista na legislação em vigor na data da publicaçãofdo Decreto-lei n° 1.598/77. Finalmente, o artigo 57,

parágrafo único, estabeleceu que a empresa deveria transferir para as contas que registravam o valor original dos bens do ativo imobilizado e respectiva depreciação, amortização e exaustão, os saldos das contas de correção monetária a elas referentes. As contas de reservas de correção monetária de ativo imobilizado e_de capital de giro próprio, formadas de conformidade com a

legislação anterior, fossem registrados como reserva de capital.

4.7. AS TENTATIVAS RECENTES DE DESINDEXAR A ECONOMIA E CONTROLAR A INFLAÇÃO (1986-1994)

4.7.1. OS PLANOS DE ESTABILIZAÇÃO

No período de transição que se seguiu às eleições indiretas

presidenciais de 1984, as tentativas de mudança de regime concentraram-se na elaboração de um novo aparato institucional, ultimado com a Constituição de 1988 e com a realização de eleições diretas para Presidente em 1989. Durante esse período a política de estabilização fez-se através de choques sucessivos: Plano Cruzado (fevereiro de 1986), Plano Bresser (junho de 1987), Plano Verão (janeiro de 1989), Plano Collor (março de 1990) e Plano Real (junho de 1994). A fundamentação para a aplicação desses programas era de que a inflação tinha caráter inercialz a indexação trazia para o presente a

inflação passada. Era preciso recuperar a confiança publica na moeda

126

nacional, quando então não seria mais necessária a cláusula de indexação nos contratos porque a inflação estaria sob controle.

'

O Plano Cruzado foi o primeiro desta nova série de Planos, suas medidas atingiram praticamente todos os setores da economia. `

90 Ú Collor

80 _- J 70 __

60 __

50 __

._ 40 H Verão

Taxas

de

nflação

Bresser 3 O " Cruzado 20 -¬

10 '__

o- ›

,

10 M .O M A J J N A S F J D _ 1986 1937 19889 1989 1990

./Ieses

A necessidade de quatro Planos num período de tempo relativamente curto revela o fracasso de todos eles na luta contra a inflação. O gráfico acima demonstra as variações das taxas de inflação, mês a mês, no período 1986- 1990.

Às medidas centrais que em cada Plano foram adotadas subjaz uma determinada avaliação das causas da inflação. É em função do diagnóstico do processo inflacionário que as medidas centrais de cada Plano agiam mais sobre a demanda agregada, sobre a indexação, sobre os níveis salariais, sobre o déficit público, sobre a política fiscal e monetária e sobre o câmbio.

Antes da análise mais aprofundada de cada Plano especificamente, o quadro abaixo possibilita ter uma visão de conjunto sobre os Planos implementados, destacando as semelhanças e as diferenças. Diversos

127

elementos foram parte integrante dos quatro Planos. Buscava-se, em cada Plano, sanar os aspectos que nos anteriores não haviam produzido o efeito esperado.

PLANOS DE EsTAB1LizAÇÃo UM QUADRO H1sToRIco MEDIDAS

CRUZADO BRES SER 28.02.86 01.06.87

VERAO 15.01.89

COLLOR 1

16.03.90 ESTRATÉGIA POLITICA

Pacote Surpresa

Pacote Surpresa

Pacote Surpresa

Pacote Surpresa

PREÇOS Congelamento Congelamento Congelamento Congelamento SALARIOS Média dos últimos

6 meses + 8% Congelamento por 3 meses

URP de Jan/89 + c gelamento pela média últimos 12 meses

Congelamento

NovA 1>oLmcA SALARIAL

Gatilho com 20% de inflação, repo- sição de 60% na data-base.

Resíduo do gatilho6 parcelado em 11'16-

ses. -Congelamento por 3 meses. Reajuste trim pela URP.

estral

Congelamento (Reindexação a partir de Junho)

Pré-fixação todo dia 15 (livre nego- ciação; média real entre as datas-base com correção 2 vezes por ano

MOEDA Corte de 3 zeros Cruzado

Cruzado Corte de 3 zeros Cruzado Novo

Cruzeiro Confisco de 70% da riqueza

O

financeira. .INDEXAÇÁO Desindexação

Tablita Indexação Tablita

Desindexação Tablita

Desindexação i

Tablita _

Na seqüência serárealizada uma análise mais detalhada de cada um dos quatro Planos de Estabilização. Além das características gerais,

apresentadas no quadro acima é importante ressaltar que à estratégia “pacote surpresa” subjaz uma ausência de debate entre o poder executivo, legislativo e Órgãos representativos da sociedade civil. A expectativa que se criava em torno da ação do governo, principalmente a partir do segundo Plano, em muito contribuía para a aceleração inflacionária no período imediatamente anterior aos Planos, pois havia receios de congelamento e com isto ocorrer um desajuste de preços relativos de um determinado agente ou setor econômico.

4.7.2. PLANO CRUZADO

A 'implementação da medida anti-inflacionária propugnada pelos

economistas institucionalistas, qual seja, o Controle das Rendas e dos Preços

128

("Politica de Rendas"), pode ser conseguida através de duas maneiras diferentes:

- Gradualista, via Pactos Sociais, estabelecidos em comum acordo entre os produtores, consumidores e trabalhadores, sob a coordenação do Governo; seu resultado prático é o tabelamento dos preços e das rendas;

- Tratamento de choque, com o congelamento dos preços e das rendas (aluguéis, juros, impostos, salários e lucros), imposto autoritariamente pelo Governo. '

O governo da Nova República desde cedo constatou que o gradualismo não tinha condições de ser implementado com sucesso pois havia resistência tanto de setores patronais como dos trabalhadores. Não restava, assim, outra alternativa senão a do choque.

4.7.2.1. O início do Plano Cruzado.

O Plano começou a ser detalhado com a posse do Ministro da Fazenda Dilson Funaro, um engenheiro e empresário das indústrias Trol (setor

plásticos). Seu antecessor, Francisco Dornelles, advogado e burocrata de carreira do governo (sobrinho de Tancredo Neves), por ser monetarista, era partidário dos remédios tradicionais, já tentados no Brasil há mais de 20 anos, sem sucesso. Outro grande defensor das medidas institucionalistas foi o Ministro do Planejamento João Sayad, doutor em Economia e ligado à

Universidade. Na disputa com asidéias de Dornelles, acabou por sair vitorioso. Esta se constituiu o primeiro round para a implementação do Plano. En passant, nota-se o acerto na composição dos dois pólos da área econômica pelo Presidente Sarney: na linha de frente (executiva), colocou um experiente industrial, habituado a falar a linguagem dos empresários (responsáveis pela administração dos preços); na retaguarda (planejamento), um intelectual com boa formação econômica, capacitado a gerar idéias e soluções teoricamente coerentes. Esta é a mesma estrutura das-empresas bem organizadas: o

129

intelectual concebe e o executivo adapta e implementa. Além do mais, os interesses dos trabalhadores também se fizeram representar através do Ministro do Trabalho, Almir Pazzianoto, um experiente advogado sindical, com livre transito nessas áreas. Foi, sem dúvida, um time bem montado para impor um Pacto de cima para baixo.

4.7.2.2. As origens do Plano do Plano Cruzado.

As origens remotas do Plano vêm dos trabalhos de Galbraith e demais economistas não-ortodoxos, que defendem a Política de Rendas como a

solução anti-inflacionária por excelência, para o mundo cartelizado de hoje. No Brasil, esta linha de raciocínio é defendida pelo Prof. Luiz Carlos Bresser Pereira .

-

'

A origem recente, no entanto, foi a publicação, em 84-85, de alguns trabalhos puramente acadêmicos, isto é, resultado de pesquisas desenvolvidas em Universidades, pelos economistas André Lara Resende e Pérsio Arida (Relatório Larida, de Lara + Arida). Após ter sofrido alterações e adaptações (o relatório Larida original propunha que a ORTN fosse totalmente indexada como moeda, além de considerar que o congelamento traria uma série de obstáculos difíceis de serem contornados. O plano acabou sendo decretado com congelamento de preços e com a .moeda totalmente desindexada. O principio do relatório foi integralmente aplicado no Plano Real, primeiro criou uma moeda indexada e não aplicou o congelamento), transformando-se no esqueleto do Plano Final, foi levado a Sarney, que autorizou o prosseguimento dos estudos, não sem antes impor rigoroso sigilo. Embora no início apenas Sarney, Funaro e Sayad tivessem conhecimento do remédio a ser aplicado, a equipe foi paulatinamente recebendo novos participantes, responsáveis pelo aprimoramento prático do Plano, podendo entre eles ser citados: Luiz Gonzaga Belluzo (advogado e economista), João Manuel Cardoso de Mello (idem),

André Lara Resende (Ph.D. em economia pelo MIT), Pérsio Arida (idem), Luiz Carlos Mendonça de Barros (engenheiro), Andréa Calábi (economista), Edmar Bacha (PhD em economia por Yale), Francisco Lopes (idem, por Harvard), Eduardo Modiano (engenheiro, PhD em Pesquisa Operacional pelo MIT), Maria

130

da Conceição Tavares (doutora em economia pela UFRJ) e João Sayad (PhD em economia por Yale). A operacionalização do Plano foi realizada por Resende, Arida, Lopes, Modiano e Sayad. Como se observa, trata-se da elite de uma nova geração de economistas institucionalistas, afastados das grandes decisões nacionais por mais de 20 anos.

4.7.2.3. Preparação para a implantação do plano Cruzado.

O choque foi antecedido por uma série de medidas preparatórias,

habilmente implementadas, de cunho monetarista e keynesiano:C

(a) Aumento dos impostos (dez-85), penalizando as classes de maior renda e poupando os menos favorecidos (redistribuição de renda e redução do déficit público);

(b) Restrição de créditos aos estados, municípios e consumidores (recessiva, redutora de demanda);

(c) Eliminação da "Conta Movimento" do Banco do Brasil, que tinha o poder, como Autoridade Monetária, de emitir moeda indiscriminadamente, em paralelo ao Banco Central (medida monetarista saneadora); .

(d) Criação da Secretaria do Tesouro, como forma de melhor administrar os orçamentos monetário, fiscal e das estatais, antes dispersos e incontroláveis (controle do déficit público);

(e) Retenção pelo Banco Central de 40% dos depósitos das Cadernetas de Poupança, até atingir 25% do saldo total (redução do déficit público). ~

As medidas keynesiana (a) e monetaristas (b) até (e) tiveram também o mérito de dar a impressão de que o governo estava tentando controlar a

inflação via medidas tradicionais (ortodoxas), o que ajudava a despistar a real orientação heterodoxa que seria dada a público em fins de fevereiro.

131

4.7.2.4. A divulgação do plano Cruzado.

No dia 28 de Fevereiro de 1986, uma 63 feira, foi decretado feriado bancário (para evitar corrida aos Bancos, o que os levaria à falência) e o Choque aplicado. O "Plano Inflação Zero", -como foi chamado, teve como medidas principais as seguintes (Dec-Lei n° 2.283 de 28-2-86, logo depois aperfeiçoado pelo Dec-Lei n° 2.284 de 10-3-86):

- Extinção do Cruzeiro e Criação do Cruzado (Cz$);

- Conversão do cruzeiro para cruzado à base de 1 para 1.000 até 3-3-86, e através de uma Tabela para os demais dias. Para os impostos, a conversão foi de 12.1000, sem o uso da Tabela;

- Desindexação total da economia, com a eliminação da correção monetária;

`

_

- Congelamento de todos os preços à vista, vigentes em 28-2-86,

definidos em Tabelas de Preços Oficiais;

- Congelamento de todos os salários, reajustados em 1-3-86 pela média dos últimos 6 meses, descontadas. as antecipações, mais um abono de 8%;

- Congelamento da taxa de câmbio do dólar americano fixada em Cz$ 13,77 para a compra e em Cz$ 13,84 para a venda;

- Fixação do salário mínimo em Cz$ 804,00;

- Criação da Escala Móvel de Salários, com reajuste automático toda vez que a taxa de inflação acumulada, medida pelo IPC-IBGE, atingir 20%, a partir do último reajuste;

- Criação 'do Seguro-Desemprego (por 4 meses em cada 18 meses) para os dispensados sem justa causa ou por falência da empresa, de no máximo 1,5 salários mínimos;

132

Criação do índice de Preços ao Consumidor (IPC), calculado

mensalmente pelo IBGE, passando a ser a medida oficial da inflação brasileira;

Correção monetária trimestral, de acordo com a variação do IPC,

apenas dos depósitos em Cadernetas de. Poupança, FGTS e PIS/PASEP (eufemisticamente denominada de "Seguro contra a infIação");

Reajuste automático dos salários em 60% da inflação na data-base: os 40% restantes sendo negociados com o empregador, que não poderá, entretanto, repassar esses aumentos para os preços (e para o consumidor);

O valor das Obrigações do Tesouro Nacional (OTN títulos da dívida pública) fica fixado em Cz$ 106,40 até 1-3-87, quando, será corrigido monetariamente de acordo com a variação do IPC nesse período;

Congelamento dos aIuguéis,_ prestações do BNH e mensalidades escolares pela média dos últimos meses;

A fiscalização dos preços congelados será exercida por toda a

população ("Fiscais de Sarney") e a punição dos infratores ficará a cargo da SUNAB, do CADE e da Polícia. '

4 7 2 5. Conseqüências Práticas do Plano Cruzado.

O Plano acima descrito produziu profundas alterações, não apenas na economia da Naçao, mas também, e principalmente, na própria mentalidade das pessoas. `

Suas principais conseqüências foram:

Término da "Ciranda Financeira", quando era mais rentável aplicar

recursos em atividades especulativas tais como Open, Over, CDB, dólares, ouro etc., que rendiam mais de 15% a/a (líquido, após o I.R.),

133

ao invés de investir em atividades produtivas, geradoras de empregos e de desenvolvimento, como indústrias, comércio, prestadoras de serviços etc. Como resultado, indústrias que haviam parado, para investir em papéis, reabrem suas portas, como as Ind. Reunidas São Jorge S/A, de S. Paulo;

_

Apoio popular amplo e imediato, na medida em que o congelamento aboliu a remarcação dos preços, autêntico furto diário ao bolso do consumidor (o envolvimento dos "Fiscais de Sarney" foi indispensável para o sucesso do Plano);

Seguro contra a inflação (correção monetária) para as poupanças populares, além do FGTS.e PIS/PASEP (embora 20% dos depositantes detenham 80% do saldo total); ' '

Estabelecimento de medidas anti-recessivas: salário-móvel; reajuste

automático de salários; seguro-desemprego; congelamento do câmbio; abono de 8%; possibilidade de tabelamento dos juros, caso não baixem para uns 15% ala (estavam em torno de 50% ala, em abril-86);

possibilidade de redução dos impostos; resistência, por parte do governo, à dispensa em massa de funcionários estatais ociosos, para a

redução do déficit público, como solicitado por contribuintes; etc.

A melhor forma de ganhar dinheiro volta a ser o trabalho, e não mais "viver de juros";

A lucratividade das empresas vem depender novamente do aumento das vendas, redução dos custos, melhoria da tecnologia, da produtividade e da qualidade, e não mais dos fáceis aumentos de preços e das aplicações em papéis;

Eliminação da realimentação inflacionária, onde a inflação de amanhã subia mais que a de hoje, porque ontem também subira. Isso era

possível em parte, devido a ação da correção monetária, que passou dupla: permitir a convivência com a inflação e a realimentá-la;

134

Mostrou ser possível eliminar a inflação sem destruir a economia do país, ao contrário do que ocorreu no Chile, com o receituário ortodoxo do FMI;

`

Í

Penaiizou os Bancos e Instituições Financeiras, os grandes beneficiários dos últimos 20 anos, e incentivou as indústrias e demais empresas, reais responsáveis pelo desenvolvimento econômico. Em resposta, os Bancos, acostumados com absurdas taxas de lucratividade, demitem mais de 100.000 funcionários e passam a cobrar taxas pelos seus serviços, para reduzir os custos. No entanto, suas taxas de juros permanecem em torno de 50% ala, enquanto que os Bancos internacionais têm se contentado com 8% ala, ou até menos (Prime Rate e Libor);

Deslocamento dos recursos especulativos para os imóveis e bolsas de valores, que sofrem grandes altas;

Criaçao de uma nova mentalidade de defesa dos direitos do consumidor (já_prevista na Lei Delegada n° 4, de 1962), como existe nos países desenvolvidos;

Melhoria do status dos executivos de produçao, recursos humanos e planejamento, em detrimento dos executivos financeiros, que tiveram suas atividades predominantemente especulativas (por uma questao de conjuntura) reduzidas;

A especulaçao com estoques deixou de ser interessante, sendo mesmo gravosa, no caso de deflação, como em março de 1986;

Os Balanços Financeiros passam a refletir a real situação das empresas, sem o mascaramento provocado pela inflaçao, onde um prejuízo efetivo poderia se apresentar como lucro;

_

As empresas e os consumidores podem planejar com mais segurança suas vidas financeiras (antes só podia ser feito para a próxima semana, se tanto);

135

O reinvestimento do lucro naprópria empresa ficou mais interessante que a aplicação em papéis; cresce bastante a abertura de novas firmas;

A pressa de comprar diminui, pois os preços de amanhã serão iguais aos de hoje;

Reduz-se o interesse pelos Cartões de Crédito, já que o pagamento em 30 dias fica equivalente a um desconto de 0,5% (taxa da poupança), enquanto que antes representava 1-5%; V

`

Durante a fase de ajustamento às novas medidas, os conflitos entre fornecedores e compradores aumenta, em 'função do ajuste de preços na cadeia produtiva, pois as remarcaçöes não podem mais ser passadas para a frente, desaguando no consumidor final, cujos preços estão congelados. Estes ajustes provocam falta temporária de produtos no mercado, quando o fornecedor, não concordando em reduzir seu preço (através de descontos), resolve reter seus estoques;

A ênfase da propaganda se dirige para a qualidade e vantagens competitivas, e não mais para o preço;

Os rentistas e aposentados, que viviam dos juros (aparentes) de›15% a/m, sentem o impacto da redução de suas "rendas" para 0,5% a/m (juros reais, nao mais aparentes), manifestando descontentamento. Em verdade, não sabiam que, ao sacar 15% de "juros", estavam se descapitalizando (isto é, "comendo o seu patrimônio"), o que não ocorre agora, ao retirar 0,5%;

Os agitadores profissionais, que viviam da inflação ("quanto' pior,

melhor"), perdem prestígio e se colocam em trégua, esperando que o Cruzado não dê certo.

Os resultados práticos acima mencionados foram bem recebidos -pela

sociedade, como mostra o resultado de uma pesquisa realizada em junho-86 publicada em todos os meios de comunicaçao :

Os otimistas passaram de 86% no 2° semestre de 1985 para 93%;H

136

- Sarney, considerado excelente e bom por 50% dos entrevistados, em jul-85, teve sua porcentagem aumentada para 82%, a mais alta já

conseguida por um Presidente;

- Funaro, de 58% de excelente e bom em janeiro de 1986, foi para 94%;

- Sayad, de 31% para 73%.

Nem tudo, entretanto, foi um mar de rosas. Com o passar dos meses, alguns problemas também começaram a surgir:

z Houve um crescimento inesperado das vendas, graças aoaumento do poder de compra da populaçao. De março a maio de 86, as vendas do comércio aumentaram em 33%, superando a capacidade de produção das indústrias, que vinham de um período de recessão, e criando sérios

_

problemas de abastecimento. Segundo Matias Machline, do Grupo Sharp, "Há uma mudança na atitude das grandes redes de lojas. Estão aceitando fazer programaçoes de longo prazo, o que permite à indústria atender seus pedidos sem atropelos. Isso fez com que as indústrias do grupo fechassem seus pedidos para dezembro já no mês de julho. O atendimento do mercado com maior serenidade só será possível no próximo ano, quando a indústria ganhará fôlego para alcançar o

consumidor nessa corrida iniciada em março" ;

- O crescimento dos lucros daí resultante gerou inúmeros movimentos grevistas (seu número aumentou após o Plano Cruzado), pois os empregados também queriam participar desse aumento de rendas, por um lado, e recuperar o arrocho sofrido nos últimos anos, por outro.

Grande parte desses movimentos foi liderada pela CUT-PT que, junto com o PDT de Brizola, faziam oposição ao Cruzado;

- Os grupos econômicos que estavam acostumados com a especülaçao e a inflação -- caso dos produtores de carne -- começam tentando

desestabilizar o Plano, forçando aumentos, escondendo o produto e propondo o descongelamento dos preços (no caso da carne, o governo optou pela importação);

137

Por ocasião do congelamento, com base nos preços vigentes em fev-86, aqueles cujo aumento havia sido recentemente autorizado pelo governo, beneficiaram os produtores, em detrimento de outros (caso da Bom Bril). Isto obrigou o governo a rever a tabela, aumentando o preço de 14 produtos e diminuindo o de outros 16;

Como o congelamento se deu no varejo, os atacadistas e produtores, com preços livres, começam a forçar o aumento inflacionário, colocando o comerciante -- fim da linha -- em apuros, levando-o a não vender o produto, tirando-o da prateleira. Por exemplo, "Antes do Plano Cruzado, um quilo de mussarela custava Cz-$ 25,00 para os atacadistas, que o revendiam a Cz$ 28,00 para o varejista, que cobrava cerca de Cz$ 40,00 ao consumidor. Na tabela da SUNAB, a mussarela foi fixada em Cz$ 43,00 no varejo, mas as indústrias 'já estão cobrando até Cz$ 40,00 pelo produto, não permitindo qualquer margem de ganho para o atacadista e varejista" (de um manifesto dos atacadistas de frios e laticínios da Grande São Paulo, onde propunham a criação de três tabelas pelo governo: para a indústria, o atacadista e o varejista). Mas as indústrias também sofrem pressoes inflacionárias em seus custos. Laerte Setúbal Filho, da Duratex, citou os aumentos que atingiram sua empresa após o Plano Cruzado: 20% na madeira; 8% sobre a sucata e alumínio; 18% sobre o latão usinado; 17% sobre a argila; 10% sobre a

mão-de-obra; 15% sobre a assistência médica privada; 20% sobre a energia elétrica industrial; além dos aumentos decorrentes do empréstimo compulsório sobre combustíveis. Segundo Zilda Zipperer, da Ziprinho (móveis, SC), seus custos aumentaram em: 40% nas ferragens, 20% a 60% nas madeiras e 40% nas embalagens. "O

governo deveria, mais do que no varejo, controlar os preços no atacado, aqueles praticados pelos fornecedores, que, com o Plano Cruzado, perderam a oportunidade de ganhar no giro financeiro e agora querem recuperar essas perdas aumentando os preços" .

Decorridos cinco meses da decretação do Plano, o governo não reduziu seus próprios gastos nem dispensou os inúmeros funcionários que ganham sem trabalhar (falava.-se em 400.000 ociosos e dispensáveis),

138

provocando justa indignação nos contribuintes que, além de- não gostarem de ver o suor de seu rosto ir sustentar o ócio remunerado, estavam colocando suas finanças em ordem e esperavam do governo idêntica atitude (esta é a crítica ao Déficit Público);

n

Com o fito de burlar o congelamento, os produtores iniciam a "Operaçao Maquilagem", que consiste em mudar a embalagem e/ou o nome da mesma mercadoria, lançando-a como "produto novo" a um preço evidentemente maior (o não maquilado é retirado de circulação);

Vários setores começam a cobrar ágios pelos seus produtos (leite,

carne, batata, carros etc.), como resultado da explosão do consumo e de movimentos especulativos. As contra-medidas do governo foram as importaçoes (carne, leite), neutralizando a especulaçao e aumentando a

oferta, e a contenção da demanda (Pacote complementar de julho-86);

O peso das mercadorias é diminuído ou sua qualidade é reduzida, sem alteração no preço (inflação oculta); _

A cotaçao do dólar no paralelo dispara, como resultado das remessas ilegais para o exterior e pela ativação do contrabando, principalmente de material eletrônico (devido à Reserva de Mercado da Informática),

levando o governo a inten/ir policialmente nesse mercado especulativo e ilegal (ago-86);

A atividade especulativa também se dirige para a Bolsa de Telefones, fazendo seu preço disparar de Cz$ 30.000 (antes do Plano) para até Cz$ _.150.000 (o preço oficial da Telesp é de Cz$ 13.000). O governo proibiu as transferências em ago-86.

4 7 2 6. O Pacote Complementar.

Como o Plano Cruzado previu a eliminação da inflação com crescimento economico e social, tornou-se necessário fomentar os investimentos públicos e privados. Os recursos adicionais para tanto foram obtidos através da

139

decretaçao de um novo Pacote Econômico, em julho-86, onde foram tomadas as seguintes medidas: A

.

. Aumento de 28% no preço do álcool e da gasolina (empréstimo

compulsório);

- Aumento de até 30% nos preços dos carros novos e usados (até 4 anos) (empréstimo compulsório); -

- Aumento de 25 % no preço das passagens aéreas internacionais e dos US$ 1.000 que o viajante poderá comprar no câmbio oficial (imposto);

- Aumento de 45% para 65% o imposto de renda na fonte sobre as aplicaçoes em papéis privados (CDB, letras de câmbio etc.) com menos de 60 dias de vencimentoie redução de 35% para 20% nas aplicações com mais de 60 dias; _

- Autorização para compra de ações na Bolsa por investidores

estrangeiros.

Essas medidas, serviram para gerar recursos da ordem de Cz$ 50 bilhoes até 1989, a serem aplicados em um Fundo Nacional de Desenvolvimento (FND), também serviram para conter a explosão de consumo verificada.

4.7.3. O PLANO BRESSER

Em junho de 1987 o processo inflacionário já havia retornado com todo o

ímpeto e muitas das medidas do Plano Cruzado, principalmente

comp ementares, já nao surtiam qualquer efeito. O processo de indexaçao, como mecanismo de proteção contra os efeitos da inflação, era outra vez

generalizado.

Elaborou-se e implantou-se um novo Plano de Estabilização,

denominado Plano Bresser, visto que a conduçao do Plano estava

basicamente a cargo do ministro Luiz Carlos Bresser Pereira. O objetivo central

140

do Plano Bresser era novamente acabar com a inflação. A medida central consistiu no congelamento de preços e salários, mas desta vez realizado de modo um pouco diferente do que no Plano Cruzado. Houve praticamente um anúncio antecipado do congelamento e o prazo de duração foi previamente definido em 90 dias. Diversamente do Cruzado, o governo efetivou um reajuste de preços das tarifas públicas antes do congelamento.

Junto com o congelamento de preços e salários, extinguiu-se a correção monetária, mantida somente para correção da poupança, FGTS e PIS/PASEP. Foi alterado o sistema de cálculo da inflação, sendo expurgada inflação da primeira quinzena de junho. Foi decretado o fim do subsídio aoçtrigo e medidas de contenção dos gastos públicos. Buscava-se limitar o déficit

público em 3,5% do PIB e conseguir um superávit da balança comercial de oito bilhoes de dólares.

Criou-se um novo índice, a Unidade de Referência de Preço (URP), calculado sobre a média mensal da inflação dos últimos três meses e aplicado no trimestre seguinte. Os salários e preços seriam reajustados pela URP e o resíduo do disparo do último gatilho (escala móvel de 20%), resquício do Plano Cruzado, seria pago após os 90 dias de congelamento, parcelado em seis vezes. Proibiu-se o repasse aos preços de quaisquer aumentos salariais que as empresas concedessem. Eventuais concessões salariais deveriam ser feitas a título de antecipaçao. A inflaçao apurada na primeira metade do mês de junho/87, antes do Plano, foi excluída de qualquer reajuste salarial.

4.7.4. PLANO VERÃO

A duraçao efêmera do Plano Bresser possibilitou um rápido retorno do processo inflacionário à economia brasileira. Se, por um lado, em inícios de 1989, tornava-se urgente alguma medida de estabilização econômica, por outro lado, o fracasso dos Planos anteriores inspirava apreensão a diversos

segmentos sociais, especialmente na área trabalhista.

141

O governo Sarney, agora na atuação do ministro Maílson da Nóbrega; resolveu implantar outro Plano de Estabilização, denominado Verao, em funçao da época do ano em que foi decretado, ou seja, mês de janeiro de 1989. O objetivo central do Plano já não consistia tanto em liquidar o processo inflacionário, mas mantê-Io em patamares estáveis, possibilitando que a

economia brasileira chegasse ao ano seguinte, ocasião em que assumiria um novo presidente da República.

Entre as diversas medidas do Plano, extinguiram-se novamente a correção monetária com o fim da Obrigação do Tesouro Nacional (OTN). O índice de preços ao consumidor (IPC) foi adotado como índice oficial de inflação. O Cruzado foi desvalorizado em 1.000% e a moeda nacional passou a ser denominada Cruzado Novo (Ncz$). Realizou-se uma desvalorização de 17% do Cruzado Novo em relação ao dólar, seguida de congelamento do câmbio. O principal objetivo desta desvalorização cambial foi o aumento do superávit comercial. Buscou-se o ataque ao déficit público através do corte linear de despesas e da elevação dos preços das tarifas públicas antes do congelamento.

Para conter eventual aumento de demanda, «o crédito direto ao consumidor foi reduzido e limitado em- três meses. Manteve-se a política de juros altos para conter a demanda e estimular a poupança financeira.

Os salários foram convertidos pela média mensal dos últimos 12 meses. Sobre esta média acrescentou-se a URP de Janeiro/89 (26,05%). Aos aluguéis foi dispensado o mesmo tratamento que receberam os salários.

A extinção da OTN e congelamento de salários e preços deixou a

economia sem referencial para poder contratar sob condições de altas taxas inflacionárias. A economia rapidamente se desorganizou forçando à criação de um substituto para a OTN já em maio: o BTN - Bônus do Tesouro Nacional. A politica paraevitar a hiperinflação aberta foi, a exemplo do período Figueiredo, a aplicação de elevadíssimas taxas de juros que resultassem em altos

142

rendimentos para ativos em moeda nacional. A aceleraçao da inflaçao revertia à direção do imposto inflacionário, que passoua ser arcado pelo governo. O Estado se mostra incapaz de. administrar as pressões por financiamentos dos agentes econômicos - inclusive 'do próprio setor público; a moeda se

enfraquecia, exigindo novas intervenções: esgotava-se sua capacidade em manter a confiança no padrao monetário tantas vezes alterado.

4.7.5. O PLANO COLLOR

Com o fracasso do Plano Verão, que durou em torno de quatro meses, a

inflação. em inícios de 1990, em termos mensais, chegou aos 70%. Isto

configurava uma clara' situação de hiperinflaçäo. Adesorganização da economia brasileira nao foi generalizada em funçao da indexaçao que foi

retomada logo após o Plano Verão. Em março de 1990 assumiu 'o poder executivo um presidente eleito diretamente pelo voto popular. Criou-se ampla expectativa em torno_da ação do novo governo, inclusive no sentido de processar-se um reordenamento total da economia brasileira, principalmente

em vista da retomada do crescimento econômico.

O ano de 1990 marcou um novo momento de choque para a economia brasileira. Oprograma de estabilizaçao de 17 de marco de 1990, intitulado

Plano Brasil Novo (Collor I), foi divulgado imediatamente após a posse do primeiro presidente eleito pelo voto direto desde`1960. O Plano consistiu, sem duvida, no mais drástico dos choques domésticos. Optou pelo ajuste interno com moratória externa, na expectativa de que o primeiro seria fulminante e

definitivo graças às reformas estruturais decretadas em quatro campos: fiscal, monetário (volta ao cruzeiro), patrimonial e administrativo. Todas as reformas foram voltadas a reduzir o tamanho e a intervençao do Estado, devolvendo ao mercado as decisões para formar preços (inclusive a taxa de câmbio). Essas políticas, de cunho liberalizante, foram acompanhadas por uma política de rendas - e, portanto, de intervenção direta - na qual os preços e salários foram congelados e os contratos foram desindexados, passando a ser regidos pro novas regras, temporárias, para dar tempo a que os agentes se adaptassem a

143

uma economia não inflacionária e pudessem vir a negociar livremente os contratos após os 100 dias de trégua propostos pelo Plano.,

A reforma monetária foi radical ao mudar a moeda e retirar 4/5 dos ativos financeiros do mercado, incluindo liquidez na forma de depósitos à vista e de overnight. O programa não apenas alterou as regras de. indexação,

tributárias,administrativas, cambiais, de rendas, como também rompeu com o sistema de coordenaçao existente desde (1964 ao implodir a base de sustentação da confiança no Sistema Financeiro Nacional, intervindo nos depósitos à vista e de poupança. A inflação, entretanto, resistiu, e aos primeiros sinais de elevação da taxa mensal acima de 10% foi decretado o Plano Collor ll (31/1/1991), que impôs novo congelamento de preços com desindexação total. Na nova tentativa de desindexação total, foi extinto o BTN - Bônus do Tesouro Nacional. Para orientar a remuneração do mercado financeiro foi criada a TR - Taxa Referencial de' Juros, média das taxas oferecidas pelos CDBs dos maiores bancos e que, ao inicio de cada mês, indicaria a inflação futura prevista para o mesmo mês.

A semelhança do Plano Cruzado, o novo governo veio a lançar o seu programa de desenvolvimento (Nova Política Industrial e de Comércio Exterior) em julho de 1990, uma proposta de inserçao mais aberta em relaçao à

economia internacional, em meio a sinais de fracasso do programa de combate à inflação. Lançou, depois, seu Plano de Reconstrução Nacional - proposta de discussão (entendimento) baseada em diagnóstico, segundo o qual nenhum programa de estabilização teria sucesso sem que houvesse profundas

reformas na Constituição - logo após a posse dos novos governadores e congressistas '- entretanto, em meio ao descrédito trazido pela aplicação do Plano Collor ll. '

~

A substituição de Collor por Itamar Franco possibilitou a implantação do atual plano em vigor na sua fase inicial (junho de 1993).» A criação de uma moeda indexada (URV) como forma de restabelecer a estrutura de preços relativos da economia, no intuito de prepará-la para a reforma monetária, -sem congelamento e eliminar a inércia inflacionária.

`

.

14_4J

V

O. fracasso da política de estabilização de 1990/91 chama à análise a

questão desíndexação com recessão como instrumento dequebra dos padrões inflacionários, 'contrariando a direção dos planos anteriores, que buscavam uma maneira indolor de detera inflação, através de desindexaçäo com crescimento.

'

'f

4.7.6. O PLANO REAL

O Plano Real editado em 30 de junho de 1994, decretou o fim da correçao monetária e desindexou completamente a economia, mantendo atualmente somente um indexador, a UFIR, para pagamento de impostos governamentais.

_

A inflação, no entanto, resistiu a todos os planos, e os custos podem ser avaliados através do aumento do' desemprego, queda do PIB, aumento da dependência externa, “congelamento disfarçado” dos salários do setor público, privatização dofiilé mignon do setor público, sem melhora da qualidade dos serviços e com aumentos constantesdos preços, internacionalização do sistema bancário, deteriorizaçao total dos serviços essenciais prestados pelo Estado, redução dos salários reais via desvalorização cambial, entre outros.

146

coNcLusÃo

A utilização da correção monetária, combinada com altas taxas de inflação no Brasil e alto nivel de _endividamento externo como forma de promover o crescimento econômico, é uma combinação econômica extremamente difícil de administrar. A experiência brasileira parece mostrar que à inflação associada à correção monetária pode ser utilizada como instrumento de politica econômica para alavancar o crescimento econômico. Na medida que permite uma concentração rápida da renda em favor do governo e de algumas empresas. O endividamento externo completa a necessidade histórica de poupança que o Brasil possui. Estes três fatores

combinados marcaram profundamente a economia brasileira no Periodo estudado.

A inflação depois que se instala em uma economia, tende, ao longo do tempo, a ampliar-se. A correção monetária também tem seu efeito positivo sobre a economia durante um determinado limite de tempo. A partir daí

combina efeitos positivos com negativos, na medida em que passa a ser um importante realimentador do processo inflacionário.

A

A correção monetária foi utilizada no Brasil com dois objetivos: o primeiro defendido Inácio Rangel, que pretendia utilizar a inflação como instrumento de política econômica para promover o crescimento econômico. A correção monetária seria utilizada para defender a poupança forçada oriunda da inflação dos efeitos da própria inflação. O segundo veio com o regime de exceção (ditadura militar), que ao tomar o poder, com economia em estado hiperinflacionário, utilizou a correção monetária como meio de estabelecer uma “convivência” -entre altas taxas. de inflação e o desejo dos militares de transformar o Brasil numa potência econômica e provavelmente também militar, sem sofrer diretamente as conseqüências de uma hiperinflação.

A adoção da correção monetária contribuiu em muito para a criação de uma espécie de “colchão” de proteção da economia, impedindo sua

147

desarticulação, mesmo com as graves disparidades existentes. Possibilitou

também, como queria lnácio Rangel, a criação e manutenção de uma poupança forçada, que financiou o crescimento econômico durante trinta anos, transformando o Brasil na oitava economia do mundo.

Este instrumento de política econômica pouco utilizado na economia pelas dificuldades apontadas no estudo, contribuiu para manter e incrementar economia brasileira durante o seu período de vigência (1964-1994). Mesmo quando a Correção monetária tornou-se também um realimentador do processo inflacionário, ela manteve o seu papel de mediador da economia.

É evidente que tudo isto teve um custo (talvez demasiado elevado) para alguns segmentos da sociedade. O aumento da dependência externa em virtude do enorme endividamento colocou o Brasil numa posição extremamente delicada. Este aspecto demonstra a fragilidade da condução do projeto de desenvolvimento brasileiro. A divida externa deveria ter recebido um tratamento mais efetivo dos economistas que dirigiram o Brasil. Mas como em economia os números falam muito, não e possível negar que o “bolo cresceu". Talvez esteja na hora de melhorar a divisão deste bolo.

Entende-se que a partir do Governo Collor (eleito diretamente), quando se fez a abertura da economia sem 'qualquer planejamento e por decreto (tal qual fez D. João Vl em 1808), criou-se a condição necessária para mais duzentos anos de dependência e endividamento externo. O comportamento da sociedade em 1808, guardada as devidas proporções foi o mesmo que ocorreu entre nós a partir de 1990. Os atos do governo eleito e o comportamento da população demonstram claramente a persistência da mentalidade 1 que herdamos do nosso passado colonial.

Romper a barreira do subdesenvolvimento, é uma tarefa que quinhentos anos de inflação não conseguiram concretizar.

148

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