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Camila Quintela Pereira 0912507 Tiago de Lima Duarte 1312844 Karla Oliveria Isabel Oliveira O GOLEIRO E A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. Fortaleza Maio/2014

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Camila Quintela Pereira 0912507Tiago de Lima Duarte 1312844

Karla OliveriaIsabel Oliveira

O GOLEIRO E A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.

FortalezaMaio/2014

Camila Quintela PereiraTiago de Lima Duarte

Karla OliveriaIsabel Oliveira

verificar no exemplo se tem os nomes na contracapa

O GOLEIRO E A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.

Caso apresentado nadisciplina de Introduçãode Psicologia Jurídica doCurso de Direito daUniversidade de Fortaleza– UNIFOR como requisitoparcial para aprovação nadisciplina.

Prof(a) Orientador(a): Marcelo Salgado

FortalezaMaio/2014

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

-----------------------------------------------------------

------------------41.1 Descrição Datada

-----------------------------------------------------------

-----------------4

2. VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

-------------------------------------------------103. DISCUSSÃO PSICOLÓGICA

----------------------------------------------------------

154. JURISPRUDÊNCIA------------------------------------------

-----------------------------18

4.1 Materialidade Indireta do crime- art. 158 e 167 do CPP

---------------------------18

4.2 Destruição, subtração e ocultação de cadáver- art. 212

do CP --------------------20

4.3 Violência contra a mulher- lei 11.340/06

-----------------------------------------------20 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

-----------------------------------------------------------

--23

6. REFERÊNCIAS

-----------------------------------------------------------

-----------------26

ANEXO

1 - INTRODUÇÃO:

O caso Eliza Samudio veio à tona em junho de 2010. Em

26 de junho, a Policia Civil de Minas Gerais declarou

suspeito Bruno Fernandes, na época goleiro do flamengo,

pelo desaparecimento de sua ex-amante. De acordo com as

investigações da policia, Eliza estava em um sitio do

jogador em Esmeraldas, no interior de Minas Gerais, onde

sofreu agressões. Posteriormente foi constatado o

desaparecimento de Eliza. No dia 25 de junho, através do

Disque Denuncia, uma pessoa comunica que Eliza Samudio está

morta e o culpado é Bruno. A partir de então, a autoridade

policial inicia o inquérito policial, sendo este enviado à

justiça no dia 6 de julho de 2010. Deste instante até a

chegada do julgamento, uma série de atos é desenrolada,

provas testemunhais e a busca de provas matérias,

culminando assim com a condenação de Bruno. No decorrer do

presente trabalho vamos discorrer sobre os aspectos

jurídicos, penais e processuais penais, relacionados ao

desaparecimento e suposto assassinato daex amante do

jogador. Dessa forma destacamos temas como “Violência

contra a mulher”, “Materialidade Indireta do crime- art.

158 e 167 do CPP” e “Destruição, subtração e ocultação de

cadáver- art. 212 do CP”.

1.1 Descrição Datada

No dia 21/05/2009 Bruno, que ainda era casado,

conheceu Eliza Samudio numa festa de jogadores no Rio de

Janeiro. Ela morava em São Paulo. Os dois tiveram relações

sexuais. A jovem afirmou ter engravidado ali.

No dia 25/08/2009 Eliza procurou um jornal carioca

para informar que estava grávida e que o goleiro Bruno era

o pai da criança. Ao mesmo tempo, entrou na Justiça com uma

ação de reconhecimento de paternidade.

No dia 13/10/2009 a jovem, que passava uma

temporada no Rio, denunciou à polícia ter sido agredida por

Bruno, que teria apontado uma arma para ela e a obrigado a

ingerir abortivos. Apavorada, voltou para São Paulo.

No dia 13/05/2010 o bebê de Eliza já tinha três

meses. Ela procurou o advogado de Bruno, porque queria que

o goleiro fizesse logo o teste de DNA e passasse a lhe

pagar pensão. O advogado rejeitou os termos de sua

proposta.

No dia 04/06/2010 Eliza, que estava hospedada num

flat no Rio, disse à sua advogada que Bruno havia aceitado

fazer o teste de DNA. Avisou que iria a Minas com ele.

No dia 09/06/2010 Eliza fez seu último contato por

celular. Telefonou a uma amiga para dizer que estava tudo

bem, que se encontrava em Minas e que, naquele momento, o

goleiro havia saído para apresentar o bebê à sua família.

No dia 24/06/2010 a delegacia de Contagem (MG)

recebeu denúncia anônima de que Eliza morrera na casa de

Bruno, espancada por ele e dois homens. Dois dias depois,

seu filho foi encontrado numa favela de Belo Horizonte.

No dia 28/06/2010, num carro do goleiro, a policia

encontrou manchas de sangue, um par de sandálias pretas de

salto alto e um par de óculos escuros da

marcaDolce&Gabbana, objetos que uma amiga reconheceu como

pertencentes à jovem desaparecida.

Ato contínuo, o goleiro Bruno Fernandes e sete

suspeitos de envolvimento no desaparecimento e provável

morte de Eliza Samudio, foram indiciados pela polícia pelos

crimes de seqüestro, cárcere privado, formação de

quadrilha, corrupção de menor, homicídio e ocultação de

cadáver.

Além de Bruno e Luiz Henrique Romão, o "Macarrão",

foram indiciados Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques

de Souza, o "Coxinha", Elenilson Vitor da Silva, Sérgio

Rosa Sales, o "Camelo", mulher do goleiro, Dayanne

Rodrigues do Carmo Souza e Fernanda Gomes de Castro, atual

namorada do atleta.

O ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o

"Bola", foi indicado por homicídio qualificado com motivo

torpe, ocultação de cadáver e formação de quadrilha.

O goleiro Bruno Fernandes e outros oito acusados de

participação no desaparecimento e assassinato de Eliza

Samudio tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça

mineira no dia 05/08/2010.

A juíza da Vara do Tribunal do Júri de Contagem,

Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, declarou-se competente para

julgar o caso e recebeu a denúncia do Ministério Público

(MP). Agora os acusados podem ficar presos até o

julgamento.

Bruno Fernandes das Dores de Souza, o amigo dele

Luiz Henrique Romão (conhecido como Macarrão), Dayanne

Souza (mulher do jogador), Elenílson Vítor da Silva

(caseiro do sítio de Bruno), Flávio Caetano de Araújo,

Wemerson Marques, Sérgio Rosa Sales (primo do goleiro) e

Fernanda Gomes responderão por homicídio triplamente

qualificado, seqüestro e cárcere privado na forma

qualificada, ocultação de cadáver e corrupção de menor.

Salienta-se que o sequestro e cárcere privado se

refere ao crime cometido contra Bruninho, filho de Eliza.

No entendimento do promotor Gustavo Fantini, responsável

pela denúncia, o seqüestro e cárcere privado de Eliza

acabam suprimidos pelo crime maior, o homicídio.

O ex-policial civil, Marcos Aparecido dos Santos, o

Bola, foi denunciado por homicídio triplamente qualificado

e ocultação de cadáver. Assim como os outros, Bola também

não foi denunciado por formação de quadrilha, pois,

conforme esclarece o 95 promotor Gustavo Fantini: “O crime

de formação de quadrilha exige prova de estabilidade do

grupo, e não há, nesse caso, prova de estabilidade de um

grupo dedicado à prática de vários outros crimes. E, não

havendo prova disso eu não posso denunciar sem provas”.

O promotor está certo de que o crime aconteceu tal

qual foi descrito no inquérito de mais de 1600 páginas

feito pela Polícia Civil de Minas Gerais. Gustavo Fantini

também afirma que o fato do corpo de Eliza Samudio não ter

sido encontrado não isenta nenhum dos envolvidos. Segundo

ele: “nesse caso todas as outras provas vão se unir e

suprimir a necessidade do relatório de necropsia. Aliás, a

maior prova de que encontrar o corpo não é absolutamente

necessário para se ter a certeza da morte é o fato de que

não me consta que até hoje alguém tenha visto o corpo de

Ulisses Guimarães. Também não me consta que alguém duvide

que ele esteja morto”.

Ao justificar o recebimento da denúncia, a juíza

relata que há comprovação indireta da materialidade, por

meio de prova técnica, oral e documental. Ela cita o art.

167 do Código de Processo Penal (CPP) que prevê: “a

materialidade delitiva, nos crimes de homicídio em que não

foi localizado o cadáver, pode ser comprovada

indiretamente”. No que se refere aos indícios de autoria,

“estes se encontram suficientemente evidenciados”, afirmou

a magistrada.

Ao final das investigações do desaparecimento de

Eliza Samúdio, após representação apresentada pelo

Ministério Público, o juiz Elias CharbilAbdouObeil da Vara

da Infância e Juventude de Contagem, entendeu, que o

adolescente de 17 anos, primo do goleiro Bruno, teve

participação no ato infracional análogo ao de homicídio

triplamente qualificado (realizado mediante promessa de

pagamento, com requintes de crueldade e por meio de asfixia

e tortura, o que impossibilitou a defesa da vítima) e no

sequestro e cárcere privado da jovem.

Entendeu, ainda, que, por falta de provas, que o

primo de Bruno só não teve participação na ocultação de

cadáver. Com relação aos outros crimes, Elias Charbil

ponderou que “o adolescente, embora alegue não ter

participado do delito, aderiu ao chamado intento criminoso,

desenvolvendo atividades que possibilitaram seu êxito,

desde sua efetiva participação no sequestro até a execução

da vítima”. De acordo com a sentença do juiz, o menor

deverá cumprir medida sócio-educativa e ficará internadopr

tempo indeterminado no Centro de Internação Provisória do

Horto, na região leste de Belo Horizonte. A cada seis

meses, o magistrado deve reavaliar a manutenção da

internação do adolescente.

Segundo o magistrado, apesar de inexistir nos autos

laudo de exame de corpo de delito ou laudo de necropsia da

vítima, “a prova da materialidade se deu de maneira

indireta, por meio lícito e idôneo, como a confissão do

próprio adolescente”. Existem depoimentos das testemunhas e

relatos minuciosos de como os fatos ocorreram, reforçou o

juiz. Ele acrescentou que, mesmo desaparecidos os vestígios

do crime, outros indícios de autoria e materialidade, como

prova testemunhal, documentos e depoimentos podem ser

admitidos.

No dia 06/10/2010 foi realizada a audiência sobre o

caso envolvendo o desaparecimento de Eliza Samudio. A

audiência começou por volta das 10 horas no Fórum de

Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo

Horizonte. De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas

Gerais (TJ-MG), 21 testemunhas deverão prestar

esclarecimentos sobre o caso. Duas testemunhas são somente

de acusação, três foram arroladas tanto pela acusação

quanto pela defesa e 16 são apenas de defesa.

Quatro pedidos de habeas corpus para acusados de

envolvimento na morte de Eliza Samudio entraram ontem na

pauta da sessão da 4ª Câmara Criminal do Tribunal de

Justiça de Minas Gerais (TJ-MG). Um já foi julgado e

negado. Outros dois foram adiados e podem ser retomados na

próxima sessão da 4ª Câmara Criminal, que será realizada em

13 de outubro.

Em 19 de novembro de 2012, teve início em

Contagem/MG, o julgamento de Bruno Fernandes, Luiz Henrique

Romão, Marcos Aparecido dos Santos, Dayanne Rodrigues do

Carmo Sousa, Fernanda Gomes de Castro, Elenilson Vitor da

Silva e Wemerson Marques de Souza. Marixa Fabiana Lopes

Rodrigues foi a juíza. O caso foi a júri popular. O

promotor do caso foi Henry Wagner Vasconcelos de Castro.

Logo no primeiro dia, houve discordância entre

advogados de defesa de Marcos Aparecido dos Santos e a

juíza. Eles questionaram alguns prazos de defesa

estabelecidos pela mesma e abandonaram o julgamento. O réu

recusou a indicação de um defensor público e acabou – se

por desmembrar o julgamento de Marcos dos Santos. Ércio

Quaresma, um dos advogados de Marcos dos Santos afirmou que

não trabalharia em um julgamento onde a “defesa é

cerceada”.

No dia 20 de novembro de 2012, segundo dia do

julgamento, o goleiro Bruno pediu a destituição de seus

advogados de defesa, Rui Pimenta e Francisco Simim. A juíza

Marixa Fabiane Rodrigues afirmou que viu como “uma manobra

para adiar o julgamento”, visto que o goleiro Bruno já

havia pedido a destituição de Francisco Simim

anteriormente, tendo negado o pedido. Após o fato, o

julgamento prosseguiu com as testemunhas de acusação.

No dia 21 de novembro de 2012, o julgamento do

goleiro Bruno foi desmembrado e adiado para março de 2013,

segundo decisão da juíza responsável pelo caso, a pedido da

defesa de Bruno.

No dia 24.11.2012, Luiz Henrique Ferreira Romão, o

Macarrão é condenado a 15 anos de cadeia, por homicídio

qualificado e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do

goleiro Bruno, foi condenada a 5 anos de prisão por

participação no crime.

Em 04 de março de 2013 se inicia novo julgamento

do goleiro Bruno. No dia internacional da mulher, 8 de

março de 2013, Bruno é condenado a 17 anos e 6 meses em

regime fechado, por homicídio qualificado por motivo torpe,

asfixia e uso de recurso que dificultou a defesa da

vítima , e outros 3 anos e 3 meses em regime aberto, por

seqüestro e cárcere privado e ainda a mais 1 ano e 6 meses

por ocultação de cadáver.

Na noite de sábado do dia 27 de abril de 2013, o

ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foi

condenado a 22 anos de prisão em regime fechado pelo

homicídio e ocultação de cadáver de Eliza Samúdio, ex-

amante do goleiro Bruno Fernandes de Sousa.

Em sua sentença, a juíza Marixa Fabiane Lopes

classificou Bola como “agressivo e impiedoso”. A magistrada

afirmou que, por ter sido policial, o réu “tinha plena

consciência da gravidade de seu ato, mas, segundo ele “agiu

amparado pela certeza da impunidade.”

Já em Maio de 2014 o Tribunal de Justiça de Minas

Gerais negou recursos a dois condenados pelo seqüestro e

cárcere privado do bebê que o goleiro Bruno Fernandes teve

com a ex-amante Eliza Samudio. O caseiro Elenílson Vitor da

Silva e Wemerson Marques de Souza, o Coxinha, tentavam

reverter as penas de três anos e dois anos e seis meses,

respectivamente, mas não tiveram sucesso. Pelo contrário, a

corte acatou pedido do Ministério Público Estadual (MPE) e

converteu a pena de Elenílson do regime aberto para o

semiaberto por ele não ser réu primário.

No recurso, os réus, que aguardam em liberdade,

pediram a revogação da sentença ou redução das penas. Mas o

desembargador Doorgal Andrada avaliou que a condenação só

poderia ser cassada se fosse “inteiramente dissociada do

contexto probatório, o que não se verificou”. Por outro

lado, ele concordou com o argumento do MPE de que Elenílson

deveria ser condenado a regime semiaberto por ser

reincidente.

Os desembargadores Corrêa Camargo e Amauri Pinto

Ferreira, da 4ª Câmara Criminal do TJMG, concordaram com o

relator. Além de Elenílson, Coxinha e Bruno, também foram

condenados por envolvimento no caso Dayane Rodrigues do

Carmo Souza; Fernanda Gomes de Castro; Luiz Henrique

Ferreira Romão, o Macarrão; o ex-policial civil Marcos

Aparecido dos Santos, o Bola; e Jorge Luiz Rosa, que era

menor à época do crime.

Um primo de Bruno, Sérgio Rosa Sales, também foi acusado,

mas foi assassinado antes de ser julgado e Flávio Caetano

de Araújo foi absolvido no julgamento sumário. Em todas as

suas instâncias, o Judiciário já negou mais 80 recursos do

grupo.

2 -VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

No que concerne o determinado trabalho de pesquisa

sobre o caso que comoveu a sociedade no ano de 2010 e que

muito me instigou em “investigar” sobre como se colocou a

Lei perante o agravante ocorrido com um jogador de futebol

– ex-goleiro do Flamengo, em um escândalo que associa

negativamente questões legais, morais e éticas, que

culminou em um bárbaro crime, ainda com o agravante de não

encontrar o “corpo” da jovem em questão. Existem inúmeros

outros casos no Brasil de jovens mulheres violentadas e

mortas por companheiros ou ex-companheiros. A expressão

“crime passional” é utilizada muitas vezes para

caracterizá-los. Porém, não existe crime passional. O amor,

o ciúme ou a rejeição não são os motivadores desses crimes.

O que há é machismo, sentimento de posse e a violência de

uma sociedade patriarcal. A violência contra a mulher é

real, não é fruto de um relacionamento fracassado. 68,8%

dos agressores de mulheres são ex ou atuais companheiros. O

caso de mulheres, vítimas de violência, não são casos

isolados.

Após os julgamentos ocorridos ano passado, clama a

mãe da jovem, Sônia Moura, pelo “corpo da filha”. De acordo

com a sentença aplicada, em 08 de março de 2013, a Exmª.

Juíza de Direito reafirma que “A gravidade concreta dos

delitos, indicada pelo “modus operandi” com que os crimes

foram perpetrados, como no caso em que, além da violência

praticada contra Elisa Samudio, há ainda, a perversidade

com a qual foi destruído e ocultado o cadáver, impedindo,

inclusive um sepultamento digno para que fosse minimamente

homenageada por seus familiares e amigos”.

A Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, visa

coibir a violência intrafamiliar conta a mulher. No artigo

5º da Lei nº 11.340/06, caracteriza-se como intrafamiliar a

violência perpetrada contra a mulher quando ocorre no

ambiente doméstico, contexto familiar ou em que o agressor

tenha mantido ou mantém relação de afeto com a vítima e

compreende conduta ou omissão originada no gênero e que

tenha como consequência, morte, ofensa à integridade

física, sofrimento psicológico ou sexual, danos

patrimoniais ou morais. A agressão física abrange qualquer

ação que prejudique a integridade corporal da vitima ou

culmine em sua morte, independente da lesão deixar marcas.

Já a violência psicológica se caracteriza por

comportamentos que visam à perturbação psicológica da

vitima, tais como perseguição, humilhação, chantagem,

vigilância constante, insultos, isolamentos e que provoquem

traumas psicológicos, diminuição da autoestima, manipulação

do comportamento da vitima ou que lhe prejudique a

autodeterminação.

A violação sexual caracteriza-se como uma ação

exercida por meio da força, chantagem, suborno, ameaça ou

que submeta a vitima, sem manifestação expressa, a lascívia

de outrem (por meio de estupro, voyeurismo, prostituição ou

trafico sexual), ao casamento forçado, ao aborto, a

gravidez ou a impeça de ingerir contraceptivo. A moral que

devemos questionar é aquela dos que lamentam que o goleiro

“tenha acabado com sua carreira”. Possivelmente, é a mesma

dos inquisidores que queimavam “bruxas”. É a moral de quem

acha natural que homens usem o corpo das mulheres como

objeto em orgias, mas que taxam essas mesmas mulheres de

vagabundas aproveitadoras – como se os homens não tivessem

tirando proveito do corpo delas. A moral de quem se delicia

com a indústria pornográfica, mas coloca as mulheres que

participam dela no rol das vadias aproveitadoras.É também a

moral de quem chama de aproveitadora uma mulher que

engravida em uma “transa” fortuita, mas não chama de

aproveitador o homem que submete uma mulher a transar sem

camisinha. A mesma moral de quem acha absurdo que uma

mulher exija o direito de abortar, mas acha que, se essa

mulher pedir pagamento de pensão, é uma aproveitadora.

Pesquisas feitas direcionam o fator psicológico da

vitima. A mãe de Eliza a abandonou com apenas três anos de

idade para fugir das agressões do marido. Depois foi

descoberto que o pai de Eliza foi condenado por estuprar

uma criança de 10 anos de idade (segundo as notícias, filha

dele com uma ex-cunhada). Só aí temos dois exemplos fortes

de submissão do corpo feminino que devem ter marcado a vida

de Eliza.Além disso, ficamos sabendo que ela participava de

orgias organizadas para jogadores de futebol e que

trabalhou em filmes pornôs.Eliza ousou desafiá-lo e Bruno

se viu no direito de “sair na mão com ela”. Fez ameaças,

tentou dominar mais uma vez seu corpo ao obrigá-la a

realizar um aborto. Não conseguindo, optou por dar fim à

vida de Eliza, mostrando, mais uma vez, o quanto o corpo

pode ser espaço de exercício do poder.

Dessa forma, o caso de Eliza configura-se na lista

de feminicídios, ou seja, um crime que é subproduto de uma

sociedade patriarcal, na qual valores e atitudes conferem

aos homens posição de poder e controle do corpo e dos

desejos femininos. Nessa posição, muitos homens acreditam

possuir o direito de punir as mulheres que se oponham ao

controle dos seus corpos. Ao invés de assistirmos

passivamente a essa trágica história, pensamos sobre a

nossa parcela de responsabilidade na violência contra as

mulheres.

Ainda hoje em dia, segundo pesquisas nacionais,

apontam a mulher como a principal vitima da violência no

âmbito familiar. Uma media de 57,7% das mulheres

brasileiras sofrem com a violência domestica colocando o

Brasil numa incomoda posição entre os países de maior

numero de incidência desse tipo de violência. Continuam,

nesse tocante, magistrados de vários tribunais a afastarem

a aplicação da Lei Maria da Penha, ou a aplicam em parte.

Alguns tribunais alegam a inconstitucionalidade da

Lei Maria da Penha em face do principio da isonomia. O

principio da isonomia não se trata meramente de afirmar a

igualdade entre as pessoas perante a lei, mas em garantir a

igualdade plena na sociedade no qual concerne a igualdade

de gêneros ao ambiente familiar. De fato, as mulheres são

as maiores vitimas da violência domestica porque o ambiente

familiar ainda contém uma hierarquia de gêneros em que há

supremacia masculina, o que as tornam vulneráveis a

violência domestica. Informam de antemão que aplicam a

referida Lei para proteção de mulheres que sofrerem

violência por parte de namorados com os quais mantiveram

relacionamentos efêmeros, por não entenderem que estes se

configuram como relações intimas de afeto.

Foi uma decisão calcada nesse entendimento que

negou a proteção da Lei Maria da Penha a Eliza Samúdio,

cujo desaparecimento, oito meses depois após a publicação

da decisão, teve grande destaque e repercussão na mídia e

na sociedade. Segundo consta, Eliza Samúdio teria sido

agredida, mantida em cárcere privado e obrigada a praticar

um aborto pelo homem com quem mantinha um relacionamento.

Em função dessas alegações, a delegacia havia pleiteado em

juízo que o agressor fosse mantido longe da vitima, porém,

a concessão da medida protetiva foi negada pelo juizado de

violência domestica sob argumento de que o intuito da Lei

era proteger a família e não relacionamentos sexuais

eventuais, de forma que Samúdio não poderia ser beneficiada

ou tentar punir o agressor sob pena de banalizar a Lei nº

11.340/06. Em novembro de 2009, quando ainda estava

grávida, a estudante Eliza Samúdio pediu proteção à Justiça

após ser sequestrada por Bruno e seu amigo Luiz Henrique

Romão. A vítima relatou que foi espancada, ameaçada de

morte e obrigada a ingerir abortivos. Ela realizou exames

de corpo de delito e sangue para saber se havia traços de

substâncias abortivas. A Justiça do Rio de Janeiro negou o

pedido de proteção a Eliza e os testes só foram concluídos

após o caso ganhar notoriedade na mídia – comprovando a

presença de abortivos. A juíza Ana Paula Delduque Migueis

Laviola de Freitas, do 3º Juizado de Violência Doméstica,

afirmou que a vítima “apenas ficou com o agressor e não

mantinha qualquer tipo de relação afetiva, familiar ou

doméstica”. E completou que se atendesse ao pedido de

proteção, estaria “sob a pena de banalizar a finalidade da

Lei Maria da Penha”. Muitas vezes, a abordagem de casos

como esse, é levada para o plano do desvio psicológico.

Essa análise é de que “isso acaba sendo um reflexo de como

a sociedade é organizada e que a violência é um instrumento

para perpetuar essa ordem”.

A violência contra as mulheres continua presente e

disseminada por toda a sociedade. Apesar dos avanços dos

direitos femininos, de programas e políticas publicas

voltada para a proteção das mulheres e do reconhecimento

jurídico da igualdade entre mulheres e homens, a realidade

demonstra que o costume e o cotidiano ainda continuam

resistentes a efetivação de uma nova relação entre mulheres

e homens. Ela é fruto de uma sociedade patriarcal que

naturaliza a submissão do corpo feminino e que reproduz

cotidianamente discursos e práticas machistas que perpetuam

essa situação. Assim, foram violentos os assassinos de

Eliza, mas também foi violento o Estado que lhe negou

proteção, a mídia que transformou sua morte em espetáculo e

todos e todas que passivamente assistem ao desenrolar da

história se achando no direito de condená-la por ser

mulher.

Na madrugada do dia 8 de março, foi feita a leitura

da sentença de Bruno Fernandes das Dores de Souza. Este foi

condenado a vinte e dois anos e três meses pela prática de

homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, com

emprego de métodos que dificultou a defesa da vitima e com

a utilização de meio cruel) de Eliza Samúdio, pela

ocultação de cadáver e pelo sequestro de seu filho

Bruninho.

Nota pública de representante da ONU Mulheres no

Brasil, Rebecca Tavares, sobre o caso Eliza Samúdio:

“A condenação do goleiro Bruno, por

este crime brutal, foi fundamental para que o

sistema de justiça brasileiro confirme seu

comprometimento com o fim da violência contra a

mulher. Ainda assim, acreditamos que a pena

imposta foi menor do que o esperado: como já

cumpriu quase dois anos e nove meses de pena

(que no total soma 22 anos e 3 meses), Bruno

pode requerer o regime semiaberto em pouco mais

de quatro anos.

Temos esperança de que a Promotoria consiga

reverter isso no Tribunal de Justiça no

julgamento da apelação. Pois não basta

conscientizar as mulheres de seus direitos se

elas não se sentem protegidas pelo Estado.

Precisamos pensar tanto na conscientização das

mulheres como na capacitação dos operadores de

direito, que aplicam a lei. Elas precisam dizer

não à violência e denunciar, mas com a

confiança de que serão atendidas e que a lei

será cumprida.

Também não basta conscientizar os homens

agressores caso não haja punições severas para

estes crimes. Não podemos afirmar que o a

condenação se tornaria um marco, mas com

certeza seria uma importante vitória não só

para a vítima e sua família, mas para todas as

mulheres brasileiras.É compromisso da justiça

assegurar julgamentos baseados em provas

incontestáveis de condenação ou inocência,

assim como evitar a banalização da violência e

o sucessivo descumprimento aos direitos das

mulheres”.

3 -DISCUSSÃO PSICOLÓGICA

O quadro psicológico do goleiro Bruno Fernandes,

acusado de tramar o sequestro e a morte da jovem Eliza

Samudio, desde o início foi um preocupação as autoridades

da Justiça e da Secretaria de Estado de Defesa Social de

Minas Gerais. Uma das primeiras providências tomadas pelo

governo de Minas, ao receber o réu e seu amigo Luiz

Henrique Ferreira Romão, o Macarrão foi providenciar uma

avaliação psicológica e, se necessário, tratamento para o

jogador. Durante os 27 dias em que os dois ficaram em um

presídio no Rio de Janeiro, Macarrão chegou a afirmar que o

amigo teria tentado suicídio e estaria desesperado com o

fato de estar preso e pressionado por uma série de

acusações.

Na entrada do IML, de cabeça erguida e sem demonstrar

abatimento, Bruno foi irônico ao responder sobre a

possibilidade de dar declarações à polícia em sua volta a

Minas Gerais. "Pergunte ao Edson Moreira, já que foi ele

que afirmou”, disse, referindo-se ao chefe do Departamento

de Investigações da Polícia Mineira.

Ainda segundo a secretaria, apenas o goleiro

permanecerá em uma cela individual, no setor de triagem da

prisão. A medida foi tomada devido às declarações prestadas

por Macarrão de que Bruno estaria deprimido e tentou se

matar por três vezes no presídio do Rio. Macarrão ficará em

uma cela coletiva.

Sobre o perfil de Bruno podemos avaliar que sua origem

é humilde. No Brasil é comum que atletas e celebridades em

geral tenham origem humilde e acabem enfrentando

dificuldades para se adaptar a uma mudança brusca de status

social e econômico. Muitos acabam com a impressão de que

não precisam seguir as mesmas regras aplicadas ao resto da

sociedade.

Em Setembro de 2013, o irmão do ex goleiro Bruno,

Rodrigo Fernandes das Dores de Souza, foi acusado de

estupro, pela segunda vez. O que nos leva a levantar

interrogações sobre a criação dos irmãos. Bruno foi criado

pela Avó. Capitão de um dos maiores clubes de futebol do

Brasil, ídolo de milhões de torcedores, teve uma infância

pobre, cresceu na vida com o talento e ganhou notoriedade e

dinheiro repentinamente. 

O jogador tem a personalidade fria, apesar de Macarrão

ter relatados que ele tentou suicídio, Bruno não demonstra

está abatido, arrependido, o que pode caracterizar duas

possibilidades: imaturidade ou psicopatia. Um psicopata tem

como principais características a frieza, falta de

solidariedade, ausência de remoço. Ele deu uma entrevista

dizendo que queria que ela aparecesse logo, que torcia para

que ela estivesse viva, mesmo sabendo que ela estava morta.

Na delegacia, preso, ele conseguiu pensar na convocação

para a Copa de 2014. Em relação a imaturidade, levado pela

falta de limite já citado anteriomente pode ter se deixado

levar pelo que os outros diziam, ou pelo o que achou como

caminho mais rápido.

Já em relação ao filho de Bruno e Eliza Samudio,

segundo advogada, atual defensora, Bruninho (hoje com

quatro anos) tem demonstrado que “possivelmente esteve

presente em todos os momentos da cena do crime”. Ao júri, a

defensora disse que iria mostrar um laudo assinado por um

psicólogo que atestaria o grau de agressividade e possíveis

traumas sofridos pela criança. Segundo Maria Lúcia,

desenhos e depoimentos de Sônia Moura, avó materna que

ganhou a guarda de Bruninho, foram utilizados durante a

avaliação psicológica. No entanto, ela disse que não irá

requerer a oitiva do psicólogo. “O documento é uma pré-

avaliação e será arquivado ao processo.”

Para a defensora, o laudo esclarece que Bruninho

esteve no colo da mãe em todos os momentos que antecederam

o crime. “Só saiu (dos braços da mãe) para ela morrer. Essa

criança é um milagre”, disse Maria Lúcia enfatizando que o

então bebê de quatro meses também seria executado por

Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. A advogada citou ainda

que o garoto, hoje com quatro anos, reagiu de forma

explosiva contra carteiros e motoqueiros inúmeras vezes.

“Quando vê, ele logo começa a gritar ‘homem mau’ e

chora muito. Ele não pode ver um homem com capacete. Fica

incontrolável.” Segundo a denúncia, Eliza com Bruninho no

colo foi levada por Macarrão e Jorge para a casa de Bola,

em Vespasiano (MG). No meio do caminho, Bola em sua moto e

com um capacete foi seguido pelo carro de Macarrão.

Dona Sônia, que atualmente vive com Bruninho em

Anhanduí, distrito de Campo Grande (MS), passou a evitar a

imprensa desde quando recebeu o atestado de óbito de

Eliza . “Como nunca encontramos o corpo, ela nunca escondeu

a esperança de encontrar a filha com vida. Receber o

documento foi um choque. Teve uma crise de choro e entrou

em depressão”, disse Maria Lucia.

Freqüentando sessões de terapias e tomando

antidepressivos, Sônia teria dito à advogada que

“encontrará forças” para participar da nova fase do

julgamento. “Morreu? Nós queremos ver o corpo. É assim que

ela tem falado. Hoje ela só pede a Deus para que algum

deles(réus) possa abrir a boca e confessar.”

Nesse caso, como sendo uma fatalidade midiática, é

mais fácil encontrar fatores que levam a uma necessidade de

um acompanhamento psicológico. Porém existem vários Brunos,

Sônias e Bruninhos por ai, e o mais importante a ser

ressaltado é que uma criança sempre tem que ser preservada,

sua imagem e seu desenvolvimento. Possíveis traumas levam

sim, pessoas a cometerem atos ilícitos e fatais, por isso

nesse caso, os três, e principalmente a criança, tem que

ser acompanhados por um profissional.

4 -  JURISPRUDÊNCIA

4.1 Materialidade Indireta Do Crime - ART. 158 E

167 DO CPP

O caso Eliza Samudio atraiu bastante à atenção da

mídia, por envolver o famoso Bruno, goleiro do flamengo, e

por se tratar um caso polêmico, pois, se houve um

homicídio, onde está a prova material? Onde está o corpo de

Eliza? É possível homicídio sem cadáver? Mesmo sem o corpo

de Eliza Samudio ter sido encontrado, como foi possível o

indiciamento dos suspeitos e, posteriormente, a condenação

dos réus?

Para responder a essas perguntas vamos inicialmente

entender as definições de Corpo de delito, exame de corpo

de delito, prova direta e indireta e indícios e as relações

designadas pelo Código de Processo Penal.

“Corpo de delito é o conjunto de vestígios materiais

deixados pela infração penal, seus elementos sensíveis, a

própria materialidade, em suma, aquilo que pode ser

examinado através dos sentidos.”(TÁVORA e ALENCAR,2011, p.

389)

“Exame de corpo de delito direto é aquele em que os

peritos dispõem do próprio corpo de delito para analisar”

(TÁVORA e ALENCAR,2011, p. 389)

Já o Código de Processo Penal em seu artigo 158

preceitua “Se a infração deixa vestígios, impõe-se a

realização do exame de corpo de delito, seja ela direto ou

indireto”.

O homicídio, tipificado no artigo 121 do Código Penal,

é um crime de natureza material, portanto, a sua consumação

exige um resultado naturalístico, qual seja a morte da

vítima.

Em regra, há uma necessidade de exame de corpo de

delito para comprovar a materialidade de um crime que deixa

vestígios, mas segundo preceitua o art 167,CPP “Em não

sendo possível a realização do exame , seja direto ou

indireto, podemos nos valer da prova testemunhal para

atestar a materialidade deletiva”. Ou seja, havendo a

impossibilidade de realização do exame de corpo de delito

devido ao desaparecimento dos vestígios, o juiz poderá

recorrer à prova testemunhal.

Conforme Capez(2009), em se tratando na hipótese do

artigo 167,CPP “não determina que o juiz tome a prova

testemunhal como substituta do exame de corpo de delito

direto, mas que os peritos elaborem um laudo indireto, a

partir de informações prestadas pelas testemunhas”

Em situações em que por não ter o corpo da vítima, o

homicídio pode ter sua materialidade atestada por indícios?

Conforme o art. 239,CPP "Considera-se indício a

circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o

fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de

outra ou outras circunstâncias”

Quanto à valoração dos indícios, cabe ressaltar que há

uma grande divergência doutrinária acerca da aceitação destes

como fonte de prova, preponderando o entendimento de que,

quando em conjunto e coerência com as demais provas obtidas

no processo, a prova indiciária é legítima (MORAES, 2012).

Preceitua Nucci(2009, p.552)

[...] há autorização legal para a sua utilização

e não se pode descurar que há muito preconceito contra

essa espécie de prova, embora seja imprescindível ao

juiz utilizá-la. Nem tudo se prova diretamente, pois

há crimes camuflados – a grande maioria – que exigem a

captação de indícios para a busca da verdade real.

Em relação ao caso Eliza Samudio o MP de Minas Gerais

ofereceu a denúncia mesmo sem ter o corpo da vítima, pois

entendeu que o conjunto de provas obtidas apontam para

materialidade indireta do crime. Os depoimentos e várias

evidências colhidas no local do crime incriminam Bruno

Fernandes. Dentre outras (LEITÃO, 2012).

1. Exames de DNA comprovaram ser de Eliza Samudio o sangue encontrado no Range

Rover do goleiro. O carro, segundo concluiu o inquérito policial, foi usado para levar Eliza do

Rio de Janeiro ao sítio do goleiro em Esmeraldas, passando por um motel em Contagem. As

marcas de sangue são o resultado de uma briga entre Eliza e Jorge Luiz Lisboa Rosa, primo do

goleiro, que na época era menor de idade. Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, assim que

entrou no carro, com o menino Bruninho, Eliza levou uma coronhada aplicada pelo

adolescente. O veículo foi apreendido quando o adolescente o levava para ser lavado, no dia 8

de julho - dois dias antes do assassinato. Para a acusação, isso mostra uma tentativa

premeditada de apagar vestígios

2. O roteiro de Macarrão, conduzindo o grupo que foi com Eliza do Rio a Minas Gerais,

ficou registrado pelas antenas de celulares instaladas ao longo do caminho. As ligações

também não deixam dúvida de que todos agiam de forma coordenada. O uso de antenas de

celular para comprovar a posição de um suspeito em um determinado horário passou a ser

uma técnica amplamente usada em investigações policiais. Pela triangulação do sinal, é

possível estabelecer com precisão endereços e horários por onde passou cada aparelho de

telefone – e, obviamente, seu portador. As antenas revelaram que Macarrão e Jorge

encontraram Bruno no Hotel Windsor, na Barra da Tijuca, minutos antes de buscarem Eliza e

darem inicio ao sequestro. Já em Minas Gerais, foram feitos 17 contatos entre Bruno e

Macarrao, dentro do Motel Palace. Mostram também os contatos entre Bola e Macarrao. Só no

dia 10, quando ocorreu o assassinato, foram feitos cinco telefonemas entre os dois. As antenas

entregaram também o encontro de Bola e Macarrão na Pampulha, antes do transporte de Eliza

para Vespasiano.

3. A tese de defesa de Bruno é a seguinte: Eliza teria deixado o filho Bruninho para ser

cuidado pelo pai e viajado, com 30 mil reais dados pelo jogador. Como explicar, então, que

objetos de Eliza, uma mala e fotografias dela com a criança foram encontrados parcialmente

queimados nos fundos do sítio do goleiro, em Esmeraldas? O local é o mesmo onde Eliza,

segundo as investigações, foi mantida em cativeiro, antes de ser levada para a morte na casa

do ex-policial Bola, em Vespasiano.

4. Jorge Luiz, que era menor de idade na época do crime, foi quem apresentou o relato mais

contundente sobre o assassinato de Eliza. O jovem levou a polícia até a casa do ex-policial Bola

e, antes de chegar ao local, fez uma descrição minuciosa da casa, dos cômodos e do que havia

na cena do crime. Jorge participou do transporte de Eliza até a casa e esteve frente a frente

com o assassino, Bola, quando ele asfixiou a jovem. Posteriormente, Jorge Luiz atenuou sua

versão dos fatos, aliviando a responsabilidade do goleiro Bruno sobre a tortura e o assassinato

da jovem. A tese da defesa de Bruno é de que Jorge Luiz sofreu intimidação para prestar seu

primeiro depoimento. O Ministério Público, no entanto, recorrerá a uma assistente social que

acompanhou o rapaz, e que dirá que ele em momento algum foi coagido em seus

interrogatórios. Também será levada aos jurados a gravação da reconstituição do crime, feira

com auxílio de Sérgio Rosa Sales (primo do goleiro Bruno, assassinado em agosto deste ano) e

de Cleiton da Silva Gonçalves. Cleiton fez o seguinte relato: ao encontrar com integrantes do

time de Bruno - o 100 por Cento - em Ribeirão das Neves, ouviu dos dois primos de Bruno que

"aquela mulher já era. Não vai mais incomodar".

Em face à condenação de Bruno Fernandes na qualidade

de mandante de execução da vítima não foi obstada pela

ocultação do cadáver,pois os indícios colhidos tiveram a

força para tal, haja vista que a prova indiciária, ainda

que indireta, possui força probante equivalente a qualquer

outro meio de prova direto.

4.2 Destruição, Subtração E Ocultação De Cadáver

- ART. 212 do CP

Além da demonstração de absoluta impiedade na morte de

Eliza, um outro fato chama a atenção, que é o

desaparecimento do corpo da vítima com a finalidade de

dificultar as investigações.

Segundo o depoimento de Jorge Luiz Rosa, o corpo da

vítima foi esquartejado e jogado para os cachorros. Na

sentença condenatória de Bruno, a Juíza Marixe Fabiane

Lopes Rodrigues reconhece que “no tocante ao crime do

art.211 do CP, já analisadas as circunstâncias judiciais,

na sua maioria desfavoráveis”

De acordo com o art.211,CP “Destruir,subtrair ou

ocultar cadáver ou parte dele”

4.3 Violência contra a mulher - LEI 11.340/06

Em outubro de 2009, Eliza Samudio procurou a Delegacia

de Atendimento à Mulher em Jacarepaguá(Deam) relatando

agressões por parte do seu ex amante, Bruno Fernandes. Esse

evento ganhou bastante notoriedade na mídia, pois, a Juíza

Ana Paula Delduque M. L. de Freitas (3º Juizado de

Violência Doméstica, de Jacarepaguá) negou a aplicação da

Lei 11.340/06, Lei Maria da Penha, a esse caso. A Juíza

observou que a referida lei não tem cabimento em

relacionamentos fugazes.

Preceitua a Lei 11.340/06:

Art. 5o  Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher

qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,

sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio

permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos

que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por

vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido

com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único.  As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de

orientação sexual.

Entretanto, na aplicação da Lei Maria da Penha nesse

caso, o Magistrado examinou o caso sob a ótica técnica, na

referida decisão afirmou (JUSBRASIL, 2011).(...) Considerando que a vítima informa que

apenas ficou com o agressor, com ele não mantendo

qualquer tipo de relação afetiva, familiar ou

doméstica, não pode a virago, sob pena de banalizar

a finalidade daLei Maria da Penhaa, socorrer-se das

medidas protetivas e tentar punir o agressor com o

agravamento da pena (...)

O STJ se pronunciando sobre o caso declara.CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. EX-NAMORADOS.

NÃO APLICAÇÃO DA LEI 11.340/2006. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL.

1. Apesar de ser desnecessária à configuração da relação íntima de afeto a coabitação

entre agente e vítima, verifica-se que a intenção do legislador, ao editar a Lei Maria da Penha,

foi de dar proteção à mulher que tenha sofrido agressão decorrente de relacionamento

amoroso, e não de ligações transitórias, passageiras.

2. In casu, a conduta descrita no Termo Circunstanciado de Ocorrência não se subsume

ao conceito de violência doméstica previsto no art. 5º, inciso III, da Lei 11.340/2006, pois apesar

de constar nos autos informação acerca da duração do namoro (onze meses), dessume-se das

declarações da genitora da vítima e do suposto autor do fato que este teria apenas efetuado

ligações telefônicas para a ex-namorada, bem como ido à sua casa, à noite, algumas vezes,

para encontrá-la, inexistindo relato de ofensa ou outro tipo de stconstrangimento contra

aquela.

3. Conflito conhecido para declarar-se competente o Juízo de Direito do Juizado Especial

Criminal de Conselheiro Lafaiete/MG, o suscitado.

(CC 95.057/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 29/10/2008, DJe

13/03/2009)

No referido caso, o Magistrado interpretou a lei

11.340/06 como sendo restrita a relacionamentos com modelos

mais tradicionais, não se estendendo a envolvimentos mais -

efêmeros como “ficar”, “pegar” e “namoro virtual”. Essa

interpretação gerou uma comoção por parte de alguns grupos

ligados aos direitos humanos e a defesa da mulher.

Entretanto, não podemos deixar de notar que, mesmo não

sendo aplicado os rigores da referida lei, a sentença

trouxe o art.148,§ 2º,CP,pois a vítima, além de ter sua

liberdade privada, foi submetida a intenso sofrimento

moral, o art. 146,§ 1º,CP, já que a vítima foi obrigada a

ingerir remédios, e o art. 129, § 9º,CP,pois, ficou

comprovado que a vítima sofreu lesões corporais por parte

de Bruno, este valendo se de relações de convívio que com

Eliza Samudio. As agressões e ameaças sofridas por Eliza

não foram suficientes para afastá-la dos seus algozes, de

acordo com o desencadear dos fatos, fica claro a

concorrência da vítima para o seu trágico fim, de tal forma

que, possivelmente, os rigores da Lei Maria da Penha não

fossem capazes de evitar tal fatalidade.

4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base em todos os aspectos versados no presente

trabalho, chega-se à ilação de que se deve revestir de

cuidados especiais a análise do conjunto probatório nos

casos criminais que suscitam polêmicas, como o é o caso

apresentado nesse trabalho.

Para saber se é possível haver condenação nos casos em

que desapareceram os vestígios da infração, que são os

atestadores da materialidade do delito, é questão que deve

ser enfrentada à luz dos diversos meios de interpretação

das provas penais.

Assim, somente após a análise da valoração dos meios de

prova empregados no âmbito do Direito Processual Penal, do

crime de homicídio e suas peculiaridades e da prova da

materialidade nestes delitos, sobretudo a que diz respeito

à admissão do exame de ADN, é possível afirmar-se pela

possibilidade de condenação nos casos de homicídio em que

não foi encontrado o corpo da vítima.

A verificação dos casos reais apresentados no

desenvolvimento deste trabalho, certamente, permite a

compreensão das questões acima citadas, justamente pela

discussão doutrinária que suscitam.

Por ser o homicídio crime de tamanha gravidade, sujeito

a pena tão severa, exige-se para sua punição a certeza da

morte de alguém, a qual se dá, via de regra, pela presença

do cadáver. Em sua ausência, contudo, havendo elementos

suficientes de certeza para substituí-lo é possível seu

reconhecimento, desde que se proceda com a devida prudência

na interpretação desses dados, não podendo, como é sabido,

revestir-se de incerteza uma condenação penal.

Salienta-se, por oportuno, que, atualmente, a

investigação criminal tem empregado, além da prova

testemunhal, meios periciais de alta eficiência, devido à

existência de uma tecnologia moderna capaz de auxiliar na

solução de crimes. No caso de Eliza Samudio, observa-se a

utilização de luzes e reagentes (luminol) que são capazes

de detectar manchas de sangue não visíveis e o uso de luzes

forenses para a descoberta de pelos, cabelos, fibras de

roupas, impressões digitais, além do exame de DNA.

Para tal mister, contudo, é preciso não descurar-se do

princípio do contraditório e do princípio do livre

convencimento motivado, orientadores do processo penal e da

produção da prova judicial.

Posto que, o primeiro, visa assegurar o direito de

defesa, propiciando às partes oportunidade de se pronunciar

sobre o pedido ou argumento oposto pela outra parte, não se

decidindo antes de tal oportunidade e impondo a conduta

dialética do processo, pois, às partes deve ser assegurado

o direito de participar, em igualdade de condições, na

produção de alegações e provas.

Já o segundo, qual seja, o princípio do livre

convencimento motivado, esclarece haver inexistência de

hierarquia entre as provas, podendo o julgador decidir com

base em todas as provas carreadas aos autos, valorando-as.

Têm direito as partes à valoração das provas produzidas,

não vigorando, conforme visto, o sistema das provas legais,

sendo, pois, o julgador livre para fazê-la, limitado apenas

às circunstâncias e fatos constantes do processo.

Analisando o caso do goleiro Bruno, com todas as suas

peculiaridades, verifica-se que não há possibilidade da

produção da prova direta do delito, haja vista que o corpo

da vítima desapareceu e, por isso, a Justiça deve lançar

mão da prova indireta para realizar a prova da

materialidade do delito por outros meios de convicção. É

certo que a prova indireta deverá se basear em um fato

certo, não podendo apoiar-se em dado meramente provável.

Diante disso, observa-se que existe um fato certo,

corroborado por uma testemunha e pela perícia, inclusive

através de exame de DNA, de que Eliza Samúdio esteve no

sítio de Bruno antes de desaparecer, deixando para trás seu

filho de quatro meses de idade, e foi levada desse sítio

para outro local para se encontrar com seu provável algoz,

tendo em vista que não há nos autos prova de que esteja

viva. Dessa forma, é possível haver condenação, pois, a

partir dos referidos indícios, o julgador tem possibilidade

de chegar à certeza moral sobre a evidência da morte e

desaparecimento do corpo de Eliza Samúdio, pois uma

testemunha afirmou, em seu primeiro depoimento, que ela

teria sido morta e o seu corpo dado aos cães existentes em

tal local.

Por todo exposto, verifica-se que, em regra, por

inteligência da própria lei penal, não é possível haver

condenação pelo crime de homicídio sem o corpo da vítima,

mas, excepcionalmente, sim. Dessa forma, quando as provas

indiretas forem capazes de convencer sobre a existência de

um crime de homicídio, haverá a possibilidade de

condenação.

No âmbito penal se busca a verdade real que é

incompatível com a limitação dos meios de prova, devendo

ser observada, apenas, a vedação constitucional. Portanto,

é necessário que haja uma reforma do Código Penal e do

Código de Processo Penal, para que os tornem mais célere e

menos burocrático, a fim de diminuir a incidência de

impunidades. Desse modo, levando-se em conta que a história

da humanidade se confunde com a história do Direito Penal,

este deve acompanhar a evolução da humanidade.

5 - REFERÊNCIAS

Brasil. Lei maria da penha. Lei 11.340, de 7 de agosto

de 2006. Presidência da República, casa civil, subchefia

para assuntos jurídicos. Disponível em:

Http://www.planalto.gov.br/ccivil/_ato2004-2006/2006/lei/l1

1340.htm

___. Decreto n° 5.154, de 23 de julho de 2004.

Presidência da república, casa civil, Subchefia para

assuntos jurídicos. Disponível em:

Http://www.portal.mec.gov.br/setec/arquivos.pdf1/proejadecr

eto5154.pdf

Gazeta O Povo, 17 de Setembro de 2010. Secretaria diz queBruno não tentou se matar em prisão do Rio. Disponível em:http://www.gazetadopovo.com.br/m/conteudo.phtml?id=1047696&tit=Secretaria-diz-que-Bruno-nao-tentou-se-matar-em-prisao-do-Rio

ESTADÃO, 09 de Junho de 2010. Para psicólogos, caso Bruno

ilustra falta de limites comum em celebridades do esporte.

Disponível em:

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,para-

psicologos-caso-bruno-ilustra-falta-de-limites-comum-em-

celebridades-do-esporte,578999,0.htm

TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 6. ed. Salvador: jusPODIVM, 2011.

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

MORAES, Juliana. O índicio como meio de prova no crime dehomicídio: o caso Bruno/Eliza Samúdio. Disponível em: <http://atualidadesdodireito.com.br/ivanluismarques/2012/06/07/o-indicio-como-meio-de-prova-no-crime-de-homicidio-o-caso-brunoeliza-samudio/>. Acesso em: 09 mai2014.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 9. ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Revista dosTribunais, 2009.

LEITÃO, Leslie. As cinco provas que a defesa de Bruno tentaráderrubar. Disponível em:< http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/as-cinco-provas-que-a-defesa-de-bruno-tentara-derrubar >.Acesso em: 10 mai 2014.

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