Avaliação da gestão das águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião DF:...

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1 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Curso de Engenharia Ambiental Avaliação da gestão das águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião DF: Atuação da CAESB e ADASA Autor: Emmanuel Carlos Guimarães Moreira Orientador: Prof. Dra. Ida Claudia Pessoa Brasil BRASÍLIA 2007

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE

BRASÍLIA

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Curso de Engenharia Ambiental

Avaliação da gestão das águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião DF:

Atuação da CAESB e ADASA Autor: Emmanuel Carlos Guimarães Moreira

Orientador: Prof. Dra. Ida Claudia Pessoa Brasil

BRASÍLIA 2007

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EMMANUEL CARLOS GUIMARÃES MOREIRA

Avaliação da gestão das águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião DF:

Atuação da CAESB e ADASA

Monografia apresentada ao curso de Engenharia

Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como

requisito parcial à obtenção do Título de Bacharel em

Engenharia Ambiental.

Orientador: Prof. Dra. Ida Cláudia Pessoa Brasil.

Brasília/DF 2007

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

CURSO: ENGENHARIA AMBIENTAL

Avaliação da gestão das águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião DF:

Atuação da CAESB e ADASA

EMMANUEL CARLOS GUIMARÃES MOREIRA

Monografia defendida e aprovada como requisito parcial para a obtenção do título de

Bacharel em Engenharia Ambiental, em 13 de Junho de 2007, pela banca examinadora

constituída por:

______________________________________

Profª. Drª. Ida Cláudia Pessoa Brasil

(Orientadora)

_____________________________________

Profª. Msc. Elenice dos Santos Costa

(Examinadora )

Brasília UCB

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Todos esses anos, por cada um desses dias, na construção desta carreira fui impulsionado pelo

amor à nossa natureza. Terra Mãe, fruto do amor maior, cuidemos de ti como de nós.

“Tu casa es mi casa”, habitemos em Ti Senhor.

Mãe, Pai, agora sim! Eis seu mérito!

v

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que me conduz entre vales e em Seu tempo me

fortalece o crescimento, quão grande és Tu Senhor. Minha graciosa MÃE, que me orienta pelos

oceanos da vida como a estrela fulgente da alvorada e mesmo pelos mais árduos momentos é

sempre fonte de amor e vida para o meu ser. Meu tão querido PAI, presença constante e

fundamental, caminho de determinação e amor. Muito obrigado pelo que são. Professora Dra.

Ida C. P. Brasil, por sua proximidade e interesse no desenvolvimento deste projeto; aos gestores

de águas subterrâneas Rafael M. Mello e Roberto M. M. dos Santos, que me acompanharam

neste trabalho. E amigos que me apoiaram e se fizeram presentes nesta caminhada.

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RESUMO

Os reservatórios subterrâneos de água são de fundamental importância para os recursos hídricos e representam mais de 90% da água doce no mundo. O sistema de abastecimento por perfurações subterrâneas já é muito antigo, mas atualmente sua demanda de uso atinge um crescimento anual incomparável. Visto sua importância, é fundamental a aplicação de eficientes normas de gestão para maximizar os seus usos, onde estas se encontram definidas na legislação brasileira desde o âmbito municipal, estadual até o nacional, integrando os interesses de usos locais com os de uso da nação. Assim estão inscritos ao amparo das Leis os órgão para as finalidades de gestão e abastecimento e outro com fins de fiscalização e outorga, onde no estudo do caso realizado tratam-se respectivamente da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) e da Agência Reguladora de Água e Saneamento do Distrito Federal (ADASA) Neste estudo foi contemplado o abastecimento urbano da Região Administrativa de São Sebastião, o qual é realizado através de reservas subterrâneas de água, de modo que foi avaliada a atual situação a gestão nesta localidade, bem como a atuação de seus órgãos gestores dentro das definições das Leis. Verifica as práticas de gerenciamento utilizadas, as limitações para a realização do monitoramento e o cumprimento com os termos de outorga. Determina a importância dos instrumentos de gestão para a conservação dos padrões de potabilidade e quantidade da água e seu embasamento legislativo. Argumenta algumas possibilidades de impactos negativos para o meio ambiente, em conseqüência de um mau uso dos recursos hídricos subterrâneos e seus possíveis efeitos a longo prazo. Com o objetivo de chamar a atenção para a importância que esta atividade representa para o ser humano e mais ainda para o desenvolvimento das gerações futuras.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão de águas subterrâneas, Outorga, Aqüíferos e Plano de

Recursos Hídricos.

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ABSTRACT

The underground water reservoirs are of basic importance for the hidro resources, therefore they represent 90% of the water more than candy in the world. The system of supplying for underground perforations already is very old, but currently its demand of use reaches an incomparable annual growth. Because of its importance is basic the application of efficient norms of management to maximize its uses, where these can be find definite in the Brazilian legislation since the municipal scope, state until the national one, integrating the interests of local uses with the ones of use of the nation. Thus an agency for the purposes of management and supplying and another one with fiscalization ends and grant are enrolled in the support of the Laws, where in the study of carried through case Water Agency of and Sanitation of the Federal District are respectively about the Company of Ambient Sanitation of the Federal District (CAESB) and of the Regulating (ADASA). In this study the urban supplying of the Administrative Region of São Sebastião was contemplated, which is carried through through underground water reserves, in way that was evaluated the current situation the management in this locality, as well as the performance of its managing agencies inside of the definitions of the Laws. It verifies the practical ones of management used, the limitations for the accomplishment of the supervision and the fulfilment with the grant terms. It determines the importance of the instruments of management for the conservation of the quality standards and amount of the water in its legislative basement. It argues some possibilities of negative impacts for the environment, in consequence of a bad use of the underground hidro resources and its possible effect in long stated period . With the objective to more still call the attention for the importance that this activity represents it human being and for the development of the future generations.

KEYWORDS: Management underground waters, To approve resources, Water-bearing and Plan of Hidro Resources.

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS........................................................................................................xiii LISTA DE FIGURAS.........................................................................................................xiv LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS................................................xvi 1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................1 1.1 OBJETIVOS.............................................. .................................................................2

1.1.1 Objetivo Geral....................................................................................................2

1.1.2 Objetivos Específicos.........................................................................................3

1.2 JUSTIFICATIVA........................................................................................................3

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................5

2.1 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS.......................................................................................5

2.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO: REGIÃO ADMINISTRATIVA...15

DE SÃO SEBASTIÃO – DF

2.3 COMPANHIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL DO DISTRITO FEDERAL –..23

CAESB

3. BASE LEGAL E REGULAMENTAR..................................................................26

3.1 POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS – LEI Nº 9.433, DE 08.....26

DE JANEIRO DE 1997

3.2 CRIAÇÃO DA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA) LEI Nº 9.984,.........28

DE 17 DE JULHO DE 2000

3.3 INSTITUIÇÃO DA CÂMARA TÉCNICA PERMANENTE DE ÁGUAS.............30

SUBTERRÂNEAS – RESOLUÇÃO Nº 09 DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS

HÍDRICOS (CNRH)

3.4 DIRETRIZES GERAIS PARA A GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS....30

– RESOLUÇÃO Nº 15 DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (CNRH)

ix

3.5 CRITÉRIOS GERAIS PARA OUTORGA DE DIREITO DE USO DOS..............32

RECURSOS HÍDRICOS – RESOLUÇÃO Nº 16 DO CONSELHO NACIONAL DE

RECURSOS HÍDRICOS (CNRH)

3.6 DIRETRIZES PARA INSERÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO............34

INSTRUMENTO DE PLANO DE RECURSOS HÍDRICOS – RESOLUÇÃO Nº 22 DO

CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (CNRH)

3.7 CRIAÇÃO DA AGÊNCIA REGULADORA DE ÁGUAS E SANEAMENTO.....35

DO DISTRITO FEDERAL (ADASA/DF) – LEI Nº 3.365/2004

3.7.1 Outorga de uso dos recursos hídricos em corpos de água no........................37

Distrito Federal – Resolução nº 350/2006

3.7.2 Procedimentos gerais para obturação e lacração de poços escavados...........39

e poços tubulares – Resolução nº 420/ 2006

3.8 POLÍTICA DE RECURSOS HÍDRICOS DO DISTRITO FEDERAL E SEU........41

SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS – LEI Nº 2.725/2001

3.8.1 Outorga do direito de uso de águas subterrâneas no Distrito Federal –........43

Decreto nº 22.358 de 31 de Agosto de 2001

3.9 CRIAÇÃO DA TAXA DE FISCALIZAÇÃO SOBRE SERVIÇOS........................46

PÚBLICOS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO – TFS, E

DA TAXA DE FISCALIZAÇÃO DOS USOS DOS RECURSOS HÍDRICOS – TFU. LEI

COMPLEMENTAR Nº 711, DE 13 DE SETEMBRO DE 2005

4. MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................49

4.1 PESQUISA DOCUMENTAL SOBRE AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS................50

4.2 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA................................................................................51

4.3 PESQUISA DE CAMPO..........................................................................................52

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES..........................................................................56

5.1 DIAGNÓSTICO SOBRE A GESTÃO SUSTENTÁVEL EM.................................56

SÃO SEBASTIÃO

x

5.2 ANÁLISE DA GESTÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS PELA CAESB.............65

EM SÃO SEBASTIÃO – DF: QUANTIDADE, QUALIDADE, COBRANÇA E OUTORGA

5.2.1 Outorga dos poços..........................................................................................68

5.2.2 Cobrança e Tarifação das águas.....................................................................70

5.2.3 Qualidade da água..........................................................................................71

5.2.4 Quantidade de água........................................................................................76

5.3 IMPACTOS NA GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS:...........................79

A VARIAÇÃO DO LENÇOL FREÁTICO

5.3.1 CONSEQUÊNCIA DO USO EXCESSIVO: UM ALERTA.........................81

DA SITUAÇÃO

6. CONCLUSÃO..........................................................................................................83

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................85

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela Conteúdo Página

1 Classificação dos sistemas e subsistemas aqüíferos do domínio...................57

fraturado do Distrito Federal

2 Sistema de Distribuição de água em São Sebastião......................................64

3 Referencial de ligações registradas e respectivas economias........................65

4 Análises Físico-Química e Biológicas dos poços em São Sebastião.............73

no 1º trimestre 2007.

5 Unidades de Tratamento................................................................................74

6 Correções realizadas em amostras analisadas no Sistema.............................75

São Sebastião – Abril de 2007

7 Reserva hídrica de água subterrânea no Sistema Canastra – DF...................76

8 Relação dos volumes explotados dos poços de acordo com sua vazão.........77

total e sua vazão de outorga.

xii

LISTA DE FIGURAS

Figura Conteúdo Página

1 Zonas de Saturação do solo.....................................................................................6

2 Tipos de captação subterrânea................................................................................9

3 Água no Mundo....................................................................................................11

4 Rio São Bartolomeu..............................................................................................16

5 Ribeirão Taboca....................................................................................................16

6 Ribeirão Santo Antonio da Papuda.......................................................................16

7 Administração Regional de São Sebastião...........................................................17

8 Vista da cidade de São Sebastião..........................................................................18

9 Mapa 01 de localização dos poços tubulares da região de São Sebastião............20

10 Mapa 02 de localização dos poços tubulares da região de São Sebastião............21

11 Estação de Tratamento de Esgotos de São Sebastião – DF..................................23

12 Organograma do Sistema Nacional de Gerenciamento de...................................27

Recursos Hídricos (SINGREH)

13 Organograma da Agência Nacional de Águas (ANA)..........................................29

14 Organograma interno da Agência Reguladora de Água e ...................................37

Saneamento do Distrito Federal – ADASA/DF

15 Procedimentos de obturação de poços tubulares..................................................40

16 Taxa de Fiscalização sobre Serviços Públicos de Abastecimento de...................47

Água e Esgotamento Sanitário – TFS

17 Taxa de Fiscalização dos Usos dos Recursos Hídricos – TFU.............................47

18 Questionário sobre gestão de águas subterrâneas em São Sebastião....................53

19 Mapa hidrológico da Região do Distrito Federal e Entorno.................................58

20 Fotografia Poço SJ 1.............................................................................................60

21 Fotografia poço SS 12...........................................................................................60

22 Fotografia poço SS 06...........................................................................................61

23 Fotografia interna poço SS 16...............................................................................61

24 Fotografia externa poço SS 16..............................................................................62

25 Fotografia poço SS 13...........................................................................................62

xiii

26 Fotografia poço SS13............................................................................................63

27 Fotografia do Centro de Reservação SS 02..........................................................64

28 Mapa de favorabilidade à explotação das águas subterrâneas na região..............67

do Distrito Federal e entorno

xiv

LISTA DE SIGLAS, SÍMBOLOS E ABREVIATURAS

ADASA Agência Reguladora de Água e Saneamento do Distrito Federal

ANA Agência Nacional de Águas

AS 8000 Social Accountability 8000

CAESB Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal

CBH Comitês de Bacias Hidrográficas

CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CRH Conselho de Recursos Hídricos dos Estados e do DF

DF Distrito Federal

F Filitos (Geologia)

F/Q/M Filitos/ Quartzitos/ Rochas Metacarbonáticas (Geologia)

ISO 9.000:2.000 International Standardization Organization – gestão da qualidade

por processos

ISO 14.001 International Standardization Organization – diretrizes de gestão

ambiental

NBR Normas Brasileiras de Regulação

ONG Organizações Não Governamentais

OSHAS 18.000 Saúde e Segurança Ocupacional

PDL Planos Diretores Locais

PNRH Política Nacional de Recursos Hídricos

R3Q3 Metarritmitos e Quartzitos (Geologia)

R4 Metarritmitos argilosos (Geologia)

SDT Sólidos Dissolvidos Totais

SINGREH Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

TFS Taxa de Fiscalização sobre Serviços Públicos

TFU Taxa de Fiscalização dos Usos dos Recursos Hídricos

UTM Projeção Universal Transversal de Mercartor

1

1. INTRODUÇÃO

Dentro do ciclo hidrológico os maiores reservatórios de água doce se encontram nos

subterrâneos do subsolo. Esta parcela de água representa uma fonte muito importante de

abastecimento para a população, uma vez que sua disseminação irregular nos subsolos

ocasiona sua ocorrência mesmo em regiões de clima árido, fato que proporciona o

abastecimento mesmo em estações de estiagem.

Além de constituírem a maior parte dos reservatórios, eles também compõem os

níveis dos recursos superficiais, atuando como seu leito sub-superficial e alimentando seu

fluxo mesmo em períodos de estiagem. Tal fato implica na necessidade da gestão integrada

de tais recursos, permitindo realizar o controle de abastecimento segundo as condições da

vazão e da estação do ano, tanto para os recursos hídricos superficiais quanto para os

subterrâneos, atingindo assim seu melhor aproveitamento.

Com tal objetivo este trabalho procura, esclarecer as definições para o uso

sustentável, as limitações no uso das águas subterrâneas e aponta as fundamentais práticas

de gestão e planejamento para seu uso e proteção (ao amparo das leis do Distrito Federal).

Especificamente analisa a atuação dos órgãos gestores de recursos hídricos do DF,

compostos pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) e

Agência Reguladora de Água e Saneamento (ADASA), na Região Administrativa de São

Sebastião - DF.

Em vista das diferentes formas de exploração das águas subterrâneas, os processos

de outorga e de monitoramento constituem-se numa ferramenta extremamente importante,

para regular as possibilidades de uso da água e sua tarifação, assim como fornecer padrões

para a determinação da quantidade e qualidade das águas exploradas, objetivando definir as

vazões de explotação para cada tipo de uso. Tendo em vista alcançar um ideal de manejo

onde a população seja melhor atendida, ao mesmo tempo em que se estabeleça um

planejamento para o uso sustentável do potencial aqüífero.

Entretanto existe uma série de limitações que dificultam este monitoramento como:

a ocultação da fiscalização, por conveniências particulares, do cadastramento das fontes de

extração; a dificuldade de monitoramento periódico necessário para o recolhimento de

dados relativos a qualidade e volume de explotação da água e, o apoio da sociedade, que

2

muitas vezes se torna inimiga da gestão, por não se evidenciar nos processos de outorga da

água buscando evitar cobranças e restrições quanto a sua exploração.

Paralelamente a estas dificuldades tem-se a necessidade do abastecimento

populacional onde, no caso da Região Administrativa de São Sebastião – DF, é realizado

unicamente através de captações subterrâneas, o que gera mais uma limitação com relação

ao volume passível de captação sem, contudo, comprometer o nível do reservatório

permanente, porém atingindo seus fins de abastecimento.

Neste momento entra o papel fundamental da gestão pela CAESB buscando

estabelecer as relações possíveis entre consumo humano, disponibilidade e qualidade do

recurso oferecido. Atuando conjuntamente com o seu órgão regulador e fiscalizador

(ADASA – DF) e interagindo de forma a atender a demanda de abastecimento populacional

e assegurando a implementação dos instrumentos de gestão dos aqüíferos sem prejudicar o

nível de suas reservas.

Surge assim a necessidade de se analisar qual vem sendo a situação da gestão dos

recursos hídricos subterrâneos na Região Administrativa de São Sebastião. Avaliar se os

instrumentos de gestão estão conseguindo garantir o suprimento adequado para a demanda

de abastecimento populacional, identificar os possíveis impactos ao meio ambiente

decorrentes desta gestão. Caracterizar os principais instrumentos da Política de Recursos

Hídricos que vêm sendo utilizados e os resultados alcançados frente aos objetivos

esperados.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Avaliar a execução de Políticas Públicas de Gestão do meio ambiente no que se

refere às águas subterrâneas da Região Administrativa de São Sebastião – Distrito Federal.

3

1.1.2 Objetivos Específicos

a) Analisar a gestão das águas subterrâneas pela CAESB na Região Administrativa de

São Sebastião – DF.

b) Elaborar diagnóstico da gestão de águas subterrâneas na Região Administrativa de

São Sebastião – DF, em relação às Políticas Públicas de Recursos Hídricos.

c) Determinar possíveis impactos da gestão das águas subterrâneas para a Região

Administrativa de São Sebastião – DF.

1.2 JUSTIFICATIVA

O crescimento populacional vem causando aumento na necessidade de

abastecimento de água potável de tal maneira que, com o passar dos tempos, essa procura

começou também a usufruir dos recursos hídricos subterrâneos.

Da mesma forma que é fundamental a utilização racional dos recursos superficiais, é

importante haver um plano de manejo para os recursos subterrâneos. Encontrar um

caminho objetivando um manejo mais otimizado, aumentar a eficiência de uso de tais

recursos, adequar os seus usos múltiplos e assegurar sua sustentabilidade.

Em virtude de seu fácil acesso e à qualidade de suas águas, os recursos hídricos

subterrâneos vêm sofrendo uma exploração extremamente desordenada, fato que, muitas

vezes, está comprometendo a qualidade de suas águas e trazendo, como maiores problemas,

a contaminação e o esgotamento de suas reservas.

A demanda de água para o abastecimento populacional na Região Administrativa de

São Sebastião e a falta de recursos hídricos superficiais existentes naquele local,

desencadeou um sistema de abastecimento público totalmente baseado na captação de

águas subterrâneas. Portanto tornou-se mais viável a utilização de água subterrânea de boa

qualidade e volume para o abastecimento da população, em detrimento do fornecimento

através de águas superficiais que necessitam ser captadas a quilômetros de distância,

demandando um valor muito alto para a implantação da infra-estrutura necessária.

Tais condições comprovam a necessidade de um efetivo monitoramento pelos

órgãos gestores do Distrito Federal (ADASA e CAESB), com o objetivo de organizar um

4

registro eficiente e constante dos dados, formatar um plano de manejo e outorga, para o

atendimento das necessidades de abastecimento dos usuários, bem como normatizar suas

condições de exploração e uso do recurso subterrâneo em questão.

Por isso a importância de se gerar mais conhecimentos científicos - tecnológicos

sobre as situações decorrentes do abastecimento urbano através de águas subterrâneas. Pois

fazem parte de um conjunto de informações que determinam quais ações devem ser

executadas em determinado momento, respeitando o direito ao uso comum da água e os

limites impostos pelo ambiente em questão. Atitudes preventivas evitam possíveis impactos

ao meio ambiente e garantem o seu uso a gerações futuras, papel fundamental no campo da

gestão do meio ambiente por meio de Políticas Públicas.

5

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O presente estudo, que aborda a gestão de águas subterrâneas na Região

Administrativa de São Sebastião – DF, traz relacionados os termos técnicos mais

importantes para a compreensão textual das definições utilizadas.

2.1 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Aqüífero é uma formação geológica que contém água e permite que quantidades

significativas dessa água movimentem-se no seu interior, em condições naturais

(BARROS, 1999).

Água Subterrânea é toda água que está contida nos poros ou fraturas das rochas da

crosta terrestre. Estes espaços vazios têm, em geral, dimensões milimétricas, porém, são em

tão grande número que o subsolo constitui o segundo maior reservatório de água doce do

Globo Terrestre (REBOUÇAS, 198-?).

Segundo Todd (1967), praticamente toda a água subterrânea se origina de água

superficial. As principais fontes de reabastecimento natural incluem a precipitação, cursos

d’água, lagos e reservatórios. Outra contribuição, conhecida como reabastecimento

artificial, ocorre do excesso de irrigação, percolação proveniente de canais e águas

propositadamente fornecidas a fim de aumentar o abastecimento das águas subterrâneas.

A ocorrência de águas subterrâneas no subsolo pode ser dividida em zonas de

saturação e aeração. Na zona de saturação todos os interstícios estão preenchidos com água

sob pressão hidrostática. A zona de aeração consiste de interstícios parcialmente ocupados

por água e parcialmente por ar. Na maioria das massas terrestres, uma única zona de

aeração sobrepõe-se a uma única zona de saturação, que se estende para cima até à

superfície. A zona saturada é limitada no topo, ou por uma superfície limítrofe de

saturação, ou por estratos impermeáveis sobrejacentes, e estende-se para baixo até estratos

impermeáveis subjacentes tais como leitos de argila ou de rocha. Na ausência de estratos

impermeáveis sobrejacentes, a superfície superior da zona de saturação é o nível d’água, ou

superfície freática. Esta é definida como a superfície de pressão atmosférica e seria revelada

pelo nível no qual permanece a água em um poço que penetre o aqüífero (TODD, 1967).

6

Figura 01 – Zonas de Saturação do solo (Fonte: ABAS, 2007)

A água que ocorre na zona de saturação é comumente denominada simplesmente de

água subterrânea. Na zona de aeração, ocorre água suspensa, ou vadosa (rasa). Esta zona

geral pode ser posteriormente dividida na zona de água do solo, zona intermediária e zona

capilar (TODD, 1967).

Zona de umidade do solo, a água encontrada nesta zona existe em um estão inferior

ao da saturação, estende-se da superfície do solo para baixo, através da maior parte da zona

das raízes. Sua espessura varia com o tipo de solo e com a vegetação (TODD, 1967).

Zona Intermediária estende-se da extremidade inferior da zona de água do solo à

extremidade superior da zona de capilaridade. Esta zona pode variar em espessura de zero,

quando as zonas limítrofes emergem com um nível d’água aproximando-se da superfície do

terreno, a várias centenas de pés sob condições de nível d’água profundo (TODD, 1967).

Constituem assim diferentes características aqüíferas onde, segundo Todd (1967), a

maioria dos aqüíferos são de grande extensão em área e podem ser visualizados como

reservatórios subterrâneos de armazenamento. A água entra em um reservatório por meio

7

de reabastecimento natural ou artificial; e sai sob ação da gravidade ou é extraída por

poços. Em geral o volume de água anual removido ou substituído representa apenas uma

pequena fração da capacidade total de armazenamento.

Segundo Barros (1999), aqüíferos, rochas-reservatórios ou simplesmente

reservatórios de água subterrânea são unidades hidrogeológicas caracterizadas por diversos

parâmetros, tais como:

(a) Dimensão: extensão, espessura e geométria, que são definidos pela geologia

estratigráfica e estrutural;

(b) Hidrodinâmica: transmissividade, armazenamento ou porosidade efetiva, que

dependem dos padrões faciológicos; pelas condições de recarga e descarga; e pelas

variáveis de estado que descrevem a situação do aqüífero em cada instante

(superfície piezométrica, importância das reservas, aspectos da qualidade, condições

de exploração, etc.).

Em termos hidrológicos as rochas da litosfera podem ser diferenciadas com base em

dois parâmetros principais: porosidade e permeabilidade. Enquanto o coeficiente de

porosidade indica a proporção de espaços vazios suscetíveis de serem preenchidos pela

água, o coeficiente de permeabilidade ou condutividade hidráulica indica a maior ou menor

facilidade com que esta circula. Em condições naturais, as águas subterrâneas percolam sob

a ação de diferenças de carga ou de potencial hidráulico (REBOUÇAS, 198-?).

Segundo Carmelo (2002), rochas aqüíferas são formações geológicas que

apresentam porosidade para reter a água e possuem comunicação entres os espaços, o que

permite sua circulação da água. De tal maneira que aquiclude é uma formação com

propriedades físicas adequadas para o armazenamento de volumes consideráveis de água,

mas não possui condições para circulação e transmissão dessa água por causa da presença

de camadas ricas em argila. Aquitarde é uma formação ou camada que apresenta diferenças

de permeabilidade no topo e/ou base, o que possibilita infiltração e circulação irregular da

água. E ainda aquífugo é a denominação para o oposto de um aqüífero ideal, onde não há

possibilidade de retenção e circulação da água.

Quando os poros e rachaduras estão ligados uns aos outros e permitem fácil

circulação da água, chamamos a rocha de aqüífera. As condições de ocorrência das águas

subterrâneas podem ser de aqüífero livre, isto é, o nível de saturação encontra-se sob a ação

8

da pressão atmosférica, através de uma zona não saturada; ou confinado, isto é, a camada

aqüífera está encerrada entre camadas de permeabilidade relativamente mais baixa,

estabelecendo-se pressões de confinamento superiores à pressão atmosférica. Segundo as

relações de permeabilidade das camadas adjacentes o aqüífero poderá ter condições

intermediárias de semi-livre ou de semi-confinado (REBOUÇAS,198-?).

Segundo Todd (1967), aqüífero não confinado é aquele em que o nível d’água serve

como superfície superior da zona de saturação. É também conhecido como freático ou não

artesiano. O nível da água apresenta forma ondulada e inclinações variáveis dependendo

das áreas de reabastecimento e descarga, bombeamento de poços e permeabilidade. Os

levantamentos e abaixamento no nível d’água correspondem a variações do volume da água

em armazenamento no aqüífero.

Logo os aqüíferos confinados, também conhecidos como artesianos ou aqüíferos

sob pressão, ocorrem quando o nível d’água está confinado sob pressão maior do que a

atmosférica por estratos sobrejacentes relativamente impermeáveis. Em um poço que

penetre tais aqüíferos, o nível d’água subirá acima do fundo do leito confinante, como

indicado nos poços artesianos e surgentes. A água entra na camada aqüífera confinada em

uma área em que o leito confinante sobe até a superfície ou termina no subsolo e o aqüífero

torna-se não confinado (TODD, 1967).

9

Figura 02 – Tipos de captação subterrânea (Fonte: IGC-USP, 2007)

A propriedade aqüífera é intrínseca do material rochoso, o qual poderá estar

saturado de água sobre toda sua espessura, ou apresentar importante parcela não saturada.

Uma obra de captação de água dentro de um aqüífero saturado nada mais é que uma

cavidade de grandes proporções, destinada a interligar poros e/ou fraturas das rochas e para

dentro da qual a pressão hidrostática obriga a água a fluir, tomando o lugar do volume que

foi retirado pelo equipamento de extração (REBOUÇAS, 198-?).

Nessa conceituação e de acordo com Barros (1999), no Brasil as águas subterrâneas

ocupam três contextos hidrogeológicos diferenciados: (i) as zonas fraturadas do

Embasamento Cristalino, mascaradas por um manto de intemperismo; (ii) as zonas de

rochas ígneas e metamórficas aflorantes a sub-aflorantes; (iii) as bacias geológicas de

rochas sedimentares. Desta diversificação, resultam sistemas aqüíferos que, pelo seu

comportamento podem ser reunidos em:

10

� Granulares porosos:

(a) Aqüíferos Superficiais – geralmente ocorrem em sedimentos clássicos não

consolidados. Alguns aqüíferos possantes são encontrados em depósitos aluviais de

drenagens de grande porte e consistem basicamente de areia e argila, com cascalho

e seixos na base da seqüência. Altas transmissividades e grandes vazões são

características dos aqüíferos arenosos e cascalhosos, sendo que estes últimos variam

muito em termos de continuidade lateral e vertical. As capacidades específicas

variam de 1 a 5 m³/h/m.

(b) Aqüíferos Sedimentares Regionais – encontram-se mais próximos à superfície,

são menos consolidados, menos compactados, mais porosos, mais facilmente

atingidos pelas perfurações e, por fim, com recargas mais rápidas.

� Aqüíferos fraturados: embora esses aqüíferos não apresentem uma produtividade

significativa, têm uma importância social grande, em nível local para abastecimento

doméstico, irrigação de pequeno porte e uso industrial. Os aqüíferos de rochas

fraturadas possuem capacidade de armazenamento restritas as áreas com sistemas de

fraturas interconectadas. As vazões e qualidades das águas destes aqüíferos, em

regiões semi-áridas, são normalmente pobres. O grande desafio dos estudos de

exploração de água subterrânea em regiões de fraturas, nos aqüíferos do

embasamento, constitui distinguir padrões de fraturas com máxima capacidade de

armazenamento. A frequência de ocorrência de fraturas produtivas em rochas

cristalinas decresce com a profundidade, com zonas mais favoráveis em torno de

30m tendo como limite econômico de perfuração 60m.

� Aqüíferos cársticos ou cársticos fissurais: são formados por rochas carbonáticas

com fraturas e outras descontinuidades, submetidas a processos de dissolução.

Apresentam certas peculiaridades, dentre as quais destacam-se: grande rapidez da

infiltração das chuvas e outras águas superficiais; anomalias na direção do fluxo de

água com relação ao gradiente potenciométrico regional; e grande variação espacial

dos valores de permeabilidade e armazenamento no mesmo sistema aqüífero.

Dessa forma tendo em vista que o sistema hidrogeológico da Terra apresenta, 97,5%

de água salgada, restam apenas 2,5% de água doce (SDT menor de 1.000 ppm - CONAMA

01/86). Desse montante, 1,72% estão presos nas calotas polares e nas geleiras; assim, resta

11

um total de 0,74% nas reservas subterrâneas e 0,04% nos rios e lagos, conforme

demonstrado na Figura 03 (ANA, 2007).

Figura 03 – Água no Mundo (Fonte: ANA,2007)

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o índice considerado suficiente

para a vida em comunidade, para o exercício das atividades humanas, sociais e econômicas,

é de 2.500 m³ de água por habitante, por ano. Abaixo de 1.500 m³/hab.ano, a situação é

considerada crítica (ANA, 2007).

Frente a essa realidade surge a necessidade de se proporcionar o aproveitamento

máximo dos recursos hídricos subterrâneos que constituem uma grande parcela dos

reservatórios de água doce do planeta. Assim segundo Todd (1967), deve-se encarar toda a

bacia de águas subterrâneas, como um grande reservatório natural e seu uso por um único

proprietário afeta o abastecimento de todos os outros. Portanto a vazão segura determina a

quantidade de água que pode ser retirada dela anualmente sem produzir resultado

12

inconveniente. O bombeamento que excede à vazão segura é a sobretiragem ou

superexplotação.

Há apenas uma certa quantidade de água que entra em uma bacia subterrânea;

portanto, só esta quantidade pode ser bombeada. Caso contrário, resultados inconvenientes

podem ocorrer. A vazão segura pode ser limitada a uma quantidade menor do que a

quantidade líquida de água fornecida à bacia; assim, a vazão segura pode variar quando as

condições governantes variam (TODD, 1967).

Para efeito dos cálculos (ADASA, 2007a), é considerado o volume conhecido como

reserva permanente, que define o volume permanente necessário para se manter todas as

propriedades fundamentais dos sistemas interligados por este aqüífero; pode ser definida

pela multiplicação da área do domínio fraturado (A), pela sua espessura média (b) e seu

índice de fraturamento (If). Conforme expresso na equação 1:

RP = A*b*If. (Eq. 1)

A partir daí desenvolve-se o conceito de reserva renovável, que corresponde ao

volume de água que retorna aos lençóis freáticos por infiltração e recarrega os aqüíferos.

Esta pode ser definida através da relação existente entre a precipitação anual média e seu

percentual de infiltração, definido como um valor de 10% e multiplicado pela área vezes

0,1. Assim corresponde a equação 2:

RR = A * 0,1 * 1,4 * 0,1 (Eq. 2)

Logo, a reserva explotável é baseada no limite que pode ser extraído do aqüífero

sem comprometer o seu nível com o passar dos tempos. Seu cálculo é definido pela soma

da reserva renovável mais cinco por cento da reserva permanente, conforme equação 3:

RE = RR + 0,05 * RP (Eq. 3)

Logo, existem fatores que contribuem para a escassez hídrica de forma geral no

Brasil, como por exemplo: a combinação entre o crescimento exagerado das demandas

13

localizadas e da degradação da qualidade das águas. Esse quadro é conseqüência dos

desordenados processos de urbanização, industrialização e expansão agrícola. Os quais se

intensificaram exponencialmente desde a Revolução Industrial e pelo modo de produção

capitalista, em meados do século XVIII (SETTI, 2001).

Verificam-se dois tipos básicos de escassez de água: a escassez quantitativa e a

escassez qualitativa. A escassez quantitativa ocorre quando as demandas para utilização da

água pelos diversos setores ultrapassam a disponibilidade hídrica. A escassez qualitativa

ocorre quando a qualidade encontrada não é compatível com o uso pretendido. Hoje, nas

grandes cidades e em bacias hidrográficas muito urbanizadas, é comum verificar-se a

escassez quantitativa e qualitativa das águas. Tanto a disponibilidade não é suficiente para

todos, quanto à qualidade não atende aos usos mais exigentes, como o abastecimento

público (FERREIRA, 2005).

Assim, para se prevenir desta situação, formulou-se o conceito de gestão para as

águas onde, segundo Setti (2001), a gestão de águas como uma atividade analítica e criativa

é voltada à formulação de princípios e diretrizes para o preparo de documentos orientadores

e normativos e à estruturação de sistemas gerenciais e de tomada de decisões, que têm por

objetivo final promover o inventário, uso, controle e proteção dos recursos hídricos.

Segundo este autor fazem parte dessa atividade os seguintes elementos, a seguir definidos:

a Política de Águas, o Plano de Uso, Controle ou Proteção das Águas e o Gerenciamento de

Águas.

· Política de Águas: conjunto consistente de princípios doutrinários que congregam

as aspirações sociais e/ou governamentais, no que concerne à regulamentação ou

modificação nos usos, controle e proteção das águas.

· Plano de Uso, Controle ou Proteção das Águas: qualquer estudo prospectivo que

busque adequar o uso, o controle e o grau de proteção dos recursos hídricos às

aspirações sociais e/ou governamentais expressas, formal ou informalmente, em

uma Política das Águas, através da coordenação, compatibilização, articulação e/ou

projetos de intervenções.

· Gerenciamento de Águas: Conjunto de ações governamentais destinadas a regular

o uso, o controle e a proteção das águas, e avaliar a conformidade da situação

corrente com os princípios doutrinários estabelecidos pela Política de Águas.

14

Nos termos da Agenda 21, Brasília (2003), são estabelecidos metas de manejo

baseadas na identificação dos recursos hídricos de superfície e subterrâneos que possam ser

desenvolvidos para uso numa base sustentável e outros importantes recursos dependentes

de água que se possam aproveitar e, simultaneamente, dar início a programas para a

proteção, conservação e uso racional desses recursos em bases sustentáveis.

Segundo as capacidades e recursos disponíveis de cada Estado, deve-se buscar

implementar atividades de gestão e proteção às águas subterrâneas apoiadas em

procedimentos tais como:

(i) Desenvolvimento de práticas agrícolas que não degradem as águas subterrâneas;[...] (iii) Prevenção da poluição de aqüíferos por meio da regulamentação de substâncias tóxicas que se infiltram no solo e o estabelecimento de zonas de proteção em áreas de filtramento e absorção de águas subterrâneas; (iv) Projetos e ma manejo de aterros sanitários baseados em informações hidrogeológica correta e avaliação de impacto, usando a melhor tecnologia disponível; (v) Promoção de medidas para melhorar a segurança e integridade dos poços e suas áreas circundantes para reduzir a intrusão de agentes patogênicos biológicos e produtos quimicos perigosos nos lençóis freáticos por meio de poços; (vi) Monitoramento, quanto necessário, da qualidade das águas superficiais e subterrâneas potencialmente afetadas por locais de armazenamento de materiais tóxicos e perigosos (Brasília, 2003).

Paralelamente no alcance destes objetivos, segundo Barros (1999), as propostas

metodológicas devem atuar para a gestão conjunta, a fim de se disciplinar e controlar os

usos, mediar conflitos e proteger ambientalmente as águas, buscando-se atingir resultados

provenientes de planejamentos e estudos de gestão dos recursos hídricos, tais como:

a) Maior diversificação das fontes de suprimento e conseqüente aumento de

alternativas de gerenciamento;

b) Possibilidade de utilização das águas já armazenadas nos aqüíferos como um

recurso temporal para um possível escalonamento das inversões no sistema

superficial, adaptando-se às variações da demanda;

15

c) Um melhor aproveitamento dos recursos, pois em anos úmidos podem-se

utilizar as águas superficiais e em anos de estiagem, seriam usadas

preferencialmente as águas subterrâneas. Da mesma maneira, para usos mais nobres

como abastecimento humano, poderiam ser utilizadas prioritariamente as águas

subterrâneas;

d) Possibilidade de utilização do aqüífero como um elemento de distribuição de

águas, em toda a área em que ele ocorra;

e) Mediante a recarga artificial, pode-se utilizar os aqüíferos como elemento de

armazenamento, reduzindo-se custos;

f) Utilização das rochas-reservatórios como elementos de filtração e de mistura de

águas de diferentes padrões de qualidade físico-quimica;

g) Minimização de problemas conseqüentes de excesso de chuvas, inundações,

excedentes de irrigação ou por filtração de canais sem revestimentos.

Conclui-se que, para a gestão das águas subterrâneas, é necessário à gestão conjunta das

águas superficiais, assim como a gestão das águas superficiais não alcança a sua otimização

se não forem considerados os volumes de subsuperfície (BARROS, 1999).

2.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO: REGIÃO ADMINISTRATIVA

DE SÃO SEBASTIÃO – DF

A área de estudo situa-se na porção centro-sul do Distrito Federal, a sudeste de

Brasília. É delimitada pelas coordenadas UTM 8245500 N, 8238500 S e 205500 L, 197000

W, e abrange um total de 59,5 km² (JOKO, 2002).

Localizada na bacia hidrográfica do São Bartolomeu, tem como principais

drenagens o Ribeirão Taboca, localizado ao norte da área, e o Ribeirão Santo Antônio da

Papuda, ao sul da área (JOKO, 2002). Vide figuras 4, 5 e 6.

16

Figura 04 – Rio São Bartolomeu, data: 28/05/2007

Figura 05 – Ribeirão Taboca, Figura 06 – Ribeirão Santo Antonio da Papuda, data: 28/05/2007 data: 28/05/2007

O acesso por via rodoviária pode ser feito, a partir de Brasília, através da DF-001

(EPCT) e, posteriormente, seguindo a DF-135, sentido Unaí (JOKO, 2002).

17

Até 1993 a Agrovila São Sebastião fazia parte da RA VII - Paranoá quando então,

através da Lei n.º 467/93, foi criada a Região Administrativa São Sebastião (DISTRITO

FEDERAL, 2007f).

Figura 07 –Administração Regional de São Sebastião, data: 28/05/2007

A área urbana de São Sebastião é composta pela Agrovila, Setor Residencial Oeste,

Vila Nova e Área Especial. A área rural é constituída pela Colônia Agrícola de Nova

Betânia e pelo Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal - PAD/DF

(DISTRITO FEDERAL, 2007f).

18

Figura 08 - Vista da cidade de São Sebastião, data: 28/05/2007

As terras que hoje constituem a Região Administrativa XIV pertenciam, antes da

mudança da nova capital, às fazendas Taboquinha, Papuda e Cachoeirinha. Com o início

das obras da construção de Brasília, essas fazendas foram desapropriadas e nelas se

instalaram pessoas que exploravam o comércio. No princípio a Agrovila era habitada por

comerciantes de areia, cerâmica e olaria. Com a intensificação da imigração surgiram várias

invasões de áreas públicas que, posteriormente, foram removidas para esta localidade

(DISTRITO FEDERAL, 2007f).

Nos últimos anos, a população da região de São Sebastião vem crescendo de forma

vertiginosa, principalmente após a sua mudança de nominação de “agrovila” para “Região

Administrativa”. Este crescimento não só ocorreu na cidade como também nos

condomínios próximos, evidenciado pelo grande número de casas hoje existentes (JOKO,

2002).

19

O Sistema de Abastecimento de São Sebastião foi concebido, em primeira fase, com

base na utilização de captação de águas subterrâneas, em conformidade com estudos

geofísicos do subsolo da região realizados pela CAESB (CAESB, 2007a).

Esse sistema de captação foi realizado através de poços, com atual disponibilidade

hídrica de 218 l/s e vazão média de água tratada em 2004 de 102 l/s, que representa

aproximadamente 2% da vazão total produzida pela CAESB no ano e abastece cerca de 4%

da população atendida do Distrito Federal (CAESB, 2007a).

O Sistema é constituído por 21 poços tubulares profundos segundo informações da

CAESB, destes um encontrava-se inoperante no primeiro trimestre de 2007 (SS-14) e um é

destinado ao monitoramento piezométrico, entretanto de acordo com a ADASA/DF apenas

18 poços possuem outorga. Distribuídos ao longo da cidade, conforme pode ser visualizado

no mapa de localização dos poços Figura 09 e 10. As duas unidades de tratamento contam

com sistema de cloração, utilizando equipamento de geração de cloro “in loco” e sistema de

fluoretação, utilizando como agente fluoretante o ácido fluossilícico (CAESB, 2007a).

20

Figura 09 – Mapa 01 de localização dos poços tubulares da região de São Sebastião (Fonte: CAESB, 2007b)

21

AQUI VAI UM MAPA DE LOCALIZAÇAO DOS APAGA DEPOIS Q LER..)

Figura 10 – Mapa 02 de localização dos poços tubulares na região de São Sebastião (Fonte: CAESB, 2007b)

22

Inicialmente, foram implantados oito pontos de cloração em 8 dos 19 poços

existentes, para desinfecção provisória de toda a água produzida. Atualmente, parte da água

recalcada é distribuída diretamente na rede e, por essa razão, têm-se verificado problemas

no abastecimento em alguns setores da cidade, tais como pressões baixas e falta de água

(CAESB, 2007a).

Antes dessas ações a agrovila possuía um total de cinco poços tubulares profundos,

que supriam parte da população; a parte restante era abastecida por meio de distribuição por

caminhões pipa. Em 1997, com objetivo de sanar os problemas de abastecimento de água

originados pelo crescimento abrupto da população, foram perfurados vários poços e foram

implantadas redes de adução e distribuição, colocadas em funcionamento em meados de

1998 (DISTRITO FEDERAL, 2007f).

A “Área de Risco de São Sebastião”, localizada ao longo dos córregos Mato Grande

e Santo Antônio da Papuda, por sua peculiaridade causou grande repercussão nos últimos

anos, ao ser delimitada pela Defesa Civil/DF em 1992, diligenciaram-se estudos que

diagnosticaram como área de risco de inundação e desabamento das habitações que ainda

ocupam irregularmente a área. A ocupação irregular dessa área originou sérios problemas

de abastecimento devido ao fato de existir lençol freático aflorado na localidade, com risco

de contaminação dos poços de água que abastecem a cidade pelas fossas existentes

(DISTRITO FEDERAL, 2007f).

Para atender a demanda da população e proteger os mananciais subterrâneos, fonte

de abastecimento da cidade, foi inaugurada sua Estação de Tratamento de Esgotos em 20 de

Outubro de 1998. Foi projetada para atender uma população de aproximadamente 77.000

habitantes e tem capacidade média de projeto de 226l/s. Conforme ilustra a Figura 11

(CAESB, 2007).

23

Figura 11 – Estação de Tratamento de Esgotos de São Sebastião – DF (Fonte: CAESB, 2007a)

Devido a sua topografia a cidade tem seus esgotos coletados por gravidade e passam

por quatro fases de tratamento ate serem dispostos no Ribeirão Santo Antônio da Papuda. A

ETE São Sebastião atende aproximadamente 66,25% da população, que era estimada em

Dezembro de 2005 em cerca de 72.300 habitantes (CAESB, 2007a).

2.3 COMPANHIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL DO DISTRITO FEDERAL –

CAESB

A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal - CAESB é uma

empresa pública de direito privado, regida pela Lei das Sociedades Anônimas. Seu

atendimento alcança a marca de 99% em do abastecimento de água (correspondente a 2,17

milhões de pessoas) e 93% no atendimento de esgotamento sanitário (correspondentes a

2,03 milhões de pessoas), sendo que todo esgoto coletado é 100% tratado(CAESB, 2007a).

24

Sua área de atuação possibilita controlar as ações poluidoras das águas visto que,

em determinadas situações abrange até mesmo além dos limites de sua concessão. A

CAESB atua nas diversas etapas dos processos de captação de águas e no tratamento de

esgotos sanitários. Para tanto, a Companhia planeja, projeta e executa as atividades

necessárias ao gerenciamento do saneamento ambiental do Distrito Federal e exerce a

manutenção dos sistemas de esgotos sanitários e captação de águas. Sua competência

abrange ações rigorosas como a desapropriação e o isolamento de áreas, para recuperar e

conservar os mananciais (CAESB, 2007a).

A Companhia desenvolve ações locais que possibilitam sua melhor atuação, com

participação ativa na realização dos Planos Diretores Locais – PDLs. Quando uma região

administrativa define seu PDL, a CAESB é consultada sobre as condições de cada região,

referentes ao abastecimento de água e ao esgotamento sanitário, determinando a melhor

forma para um ordenamento territorial eficiente. Este instrumento vem se demonstrando

muito importante para um desenvolvimento sustentável aplicado ao crescimento e expansão

da população com uma característica muito interessante sua ação democrática, uma vez que

a população possui participação ativa (CAESB, 2007a).

Assim ao somarmos a integração da Companhia com a participação ativa da

comunidade, espera-se excelência nos serviços prestados e o alcance de um melhor

desempenho ambiental. Para tanto, tais serviços são baseados em diretrizes que introduzem

uma nova visão empresarial, proporcionando um melhor desempenho na interação com o

mercado (CAESB, 2007a).

Para alcançar este potencial a CAESB adotou três modelos básicos para a gestão da

Companhia; são eles: gestão ambiental; gestão para a qualidade; e gestão da

responsabilidade social corporativa (CAESB, 2007a).

O Sistema de Gestão Ambiental vincula-se à nova postura adotada pela Companhia

a partir de 2005, quando houve a mudança de seu nome para Companhia de Saneamento

Ambiental do Distrito Federal. A partir de então, as questões ambientais passaram a nortear

as ações da empresa, que incorporou conceitos relativos à sustentabilidade ambiental dentro

de suas decisões, com a educação ambiental num enfoque contínuo de melhoria (CAESB,

2007a).

25

O Sistema de Gestão para a Qualidade realiza suas práticas gerenciais utilizando

normas internacionais de certificação, como o ISO 9000:2000 normas de qualidade; o ISO

14.001 referente à qualidade para o meio ambiente; o AS 8000, que enfoca a

responsabilidade social e o OSHAS 18.000 relativo à segurança do trabalho. Incentiva a

adoção de novas práticas de gestão, otimizando e melhorando continuamente a qualidade

dos serviços (CAESB, 2007a).

Finalmente o Sistema de Gestão da Responsabilidade Social Corporativa trabalha

em parceria com as ONGs (Organizações Não-Governamentais), buscando a inclusão

social e a redução das desigualdades. Para isso introduz conceitos de cidadania empresarial

e executa projetos de educação, emprego, saúde e meio ambiente voltado para as camadas

mais carentes da sociedade (CAESB, 2007a).

26

3. BASE LEGAL E REGULAMENTAR

O presente estudo realiza um levantamento das legislações ambientais concernentes

a este assunto, tanto em âmbito nacional como regional e destaca os principais instrumentos

legislativos, onde estão baseadas as diretrizes para o desenvolvimento da gestão de águas

subterrâneas.

3.1 POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS – LEI Nº 9433, DE 08 DE

JANEIRO 1997

De acordo com o artigo 1º da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9433/97),

a água é um recurso limitado incorporado de valor econômico. Visto os seus usos múltiplos

e diversas vertentes de interesse, sua gestão deve priorizar o consumo humano e satisfazer,

ao mesmo tempo e se possível, outros usos consuntivos da água. Daí a importância de seu

monitoramento e estudo para garantir sua vitalidade e assegurar sua disponibilidade às

gerações futuras.

Seguindo os fundamentos e objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos

(PNRH), articulam-se os interesses regionais, estaduais e nacionais, de forma a propor o

Plano de Recursos Hídricos. Apoiado nesta mesma Lei para outorgar, cobrar e gerir o

sistema de informações, orientar sua implementação e elaborar assim planos por

Bacia Hidrográfica, agindo em cada região, para o interesse comum da União.

Assim, o exercício dos direitos de acesso à água são previstos nos artigos 11 e 12 da

Lei 9.433/97, que delibera também sobre a extração de água de aqüífero subterrâneo, seja

para consumo final ou insumo de processo produtivo onde para tal ação, ficam sujeitos os

direitos ao Poder Público. Adota o regime de outorga para assegurar o controle quantitativo

e qualitativo de seus usos, respeitando a classe em que o corpo de água se enquadra

(segundo a legislação ambiental), bem como preservando os usos múltiplos destes recursos.

Fica caracterizado que, por necessidade de requerimento da União com vistas a

atender situações específicas de urgência, a ausência de uso por três anos consecutivos ou

ainda o não cumprimento dos termos da outorga, ensejará a suspensão dos direitos de uso,

de forma parcial ou total, em definitivo ou por prazo determinado. Tal realidade que

27

possibilita a supremacia do interesse da União e garante a satisfação dos termos constantes

do artigo 15 desta mesma Lei.

Complementando os instrumentos de outorga, tem-se a cobrança do uso dos

recursos hídricos (que é definido no artigo 19 desta Lei) e visa demonstrar ao usuário a

reconhecer a água como bem econômico gerando desta forma uma maior racionalidade no

momento de seu uso, principalmente tendo-se em vista que a cobrança observa o volume

retirado, onde, com os valores arrecadados, ocorre o financiamento de programas, estudos e

obras que visem alterar de modo benéfico os usos múltiplos dos recursos hídricos.

Contudo para que os instrumentos previstos nesta lei alcancem seus objetivos e

fundamentos, através da ação do Poder Público foi implementado o Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos. Assim, compete ao Poder Executivo Estadual e do

Distrito Federal em conjunto com o Poder Executivo Federal, atuar nos instrumentos de

outorga, fiscalização, integração e de informações sobre os recursos hídricos, atuando cada

um em sua esfera de competência (capítulo VI desta Lei).

Portanto como composição deste Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

Hídricos, apresentam-se diversas categorias diferentes onde cada qual apresenta suas

funções correspondentes, como pode ser visto na Figura 12. Alcança, dessa forma, um

maior número específico de situações, democratizando as decisões e organizando as

atuações de cada categoria, como se discorre no Título II desta Lei.

Figura 12 – Organograma do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), data: 20/05/2007.

SINGREH

CNRH CRH Estadual/Distrital

CBH Órgãos dos Poderes Públicos

Agências de Águas

ANA

28

Participam como componentes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

Hídricos, já em uma categoria mais específica, os Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH).

Órgãos que possuem sua área de atuação limitada a uma Bacia Hidrográfica ou a um grupo

de Bacias ou Sub-Bacias-Hidrográficas contíguas e seus tributários. Conjuntamente, existe

a atuação das Agências de Águas que desempenham a função de Secretaria Executiva do

respectivo Comitê de Bacia, os respectivos órgãos dos poderes públicos federal, estadual e

do Distrito Federal e o Conselho de Recursos Hídricos Estadual/ Distrital (CRH).

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos atua em dimensão nacional, também

compete arbitrar sobre conflitos interestaduais acima dos Conselhos Estaduais de Recursos

Hídricos, e deliberar sobre o melhor projeto de aproveitamento em situações trans-

estaduais. Enfim, articular o planejamento dos recursos hídricos desde a escala estadual a

regional, até a nacional, sendo, desta forma, amparado em suas decisões pelos Conselhos

Estaduais de Recursos Hídricos e do Distrito Federal, compondo dados para a articulação

dos interesses em âmbito nacional.

Na situação de infração aos dispositivos previstos nesta lei e como penalidade para a

desobediência às normas instruídas, o infrator pode ser submetido à advertência, multa e

embargo provisório para a correção das irregularidades ocorridas, ou ainda, embargo

definitivo e revogação da outorga no caso de não se repor, incontinenti, o antigo estado dos

recursos hídricos.

3.2 CRIAÇÃO DA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA) LEI Nº 9.984, DE 17

DE JULHO DE 2000

Posteriormente a Lei 9433/97, a fim de implementar esta Política Nacional de

Recursos Hídricos (PNRH) e coordenar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

Hídricos, houve a criação da Agência Nacional de Águas (ANA), vinculada ao Ministério

do Meio Ambiente, com autonomia administrativa, financeira e poder de articulação com

órgãos e entidades públicas e privadas integrantes do SINGREH (conforme se trata na lei

998/2000). Cabe-lhe principalmente, entre outros, a fiscalizar os corpos d’água de domínio

da União, outorgar os direitos de usos dos recursos hídricos, disciplinar a operacionalização

29

dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, gerir e implantar o Sistema

Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.

No âmbito de suas fiscalizações, penalidades e outorgas, as receitas geradas são

enquadradas pela ANA no artigo 22 da Lei 9433/97, com o objetivo de cumprir o

estabelecido, de correlacionar os registros de infração em sua respectiva bacia hidrográfica,

(artigo 21§ 1º da Lei 9.433/97).

A Figura 13 demonstra a organização interna da Agência Nacional de Águas.

Figura 13 – Organograma da Agência Nacional de Águas (Fonte: ANA, 2007)

Para o desenvolvimento de suas tarefas, esta Agência é composta pelas principais

áreas de atuação, as quais são divididas em Superintendências, para a finalidade da

organização de suas funções e seu melhor desempenho.

30

3.3 INSTITUIÇÃO DA CÂMARA TÉCNICA PERMANENTE DE ÁGUAS

SUBTERRÂNEAS - RESOLUÇÃO Nº 09 DO CONSELHO NACIONAL DE

RECURSOS HÍDRICOS (CNRH).

Com a criação da Lei 9433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos

Hídricos, criou-se o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Dentre outros já mencionados,

dele fazem parte o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), ao qual compete a

função de criação das Câmaras Técnicas. De acordo com critérios estabelecidos no seu

regimento interno, o CNRH em sua Resolução nº 09 instituiu, a Câmara Técnica

Permanente de Águas Subterrâneas, para que assim seja inserida a gestão das águas

subterrâneas na PNRH, para solucionar eventuais conflitos, integrar a gestão entre águas

subterrâneas e superficiais, realizar a sua proteção e seu gerenciamento.

3.4 DIRETRIZES GERAIS PARA A GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS –

RESOLUÇÃO Nº 15 DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

(CNRH)

O artigo 35 da Lei 9433/97 determina ao CNRH o estabelecimento de diretrizes

para realizar sua implementação. Para que a aplicação dos instrumentos do Sistema

Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos coordene a gestão integrada das águas,

leva-se em conta a competência de cada município para o disciplinamento do uso e

ocupação do solo, sabendo que os aqüíferos possuem zona de descarga e de recarga que

devem ser preservadas e, que no caso de um mau planejamento e/ou uma exploração

inadequada das águas subterrâneas, o resultado pode ser uma alteração indesejável de sua

quantidade e qualidade (Resolução nº 15 do CNRH).

Para efeito dessas atribuições tem-se conceituado na Resolução nº 15, de 11 de

Janeiro de 2001, em seu artigo 1º que:

I – Águas Subterrâneas: as águas que ocorrem natural ou artificialmente no subsolo; II – Águas Meteóricas: as águas encontradas na atmosfera em quaisquer de seus estados físicos; III – Aqüífero: corpo hidrogeológico com capacidade de acumular e transmitir água através dos seus poros, fissuras ou espaços resultantes da dissolução e carreamento de materiais rochosos;

31

IV – Corpo Hídrico: volume de água armazenado no solo (BRASIL, 2004d).

Com isso preceitua-se na PNRH a interdependência entre as águas subterrâneas,

superficiais e meteóricas, fato que implica na implementação de suas diretrizes. Portanto as

medidas que assegurem a realização da gestão integrada dessas águas serão incorporadas

segundo as características hidrogeológicas dos aqüíferos e seus respectivos usos

preponderantes. Propõe práticas que influenciem no aumento das disponibilidades hídricas,

obedecendo às outorgas de direito de uso baseadas em sua gestão integrada e nos critérios

estabelecidos para a correspondente tarifação pelo uso dos recursos hídricos. Estes dados

deverão ser organizados e disponibilizados pelo Sistema de Informações de Recursos

Hídricos no âmbito federal, estadual e do DF, conforme previsto no artigo 3º da Resolução

da nº 15 do CNRH.

Logo, consta como dever dos estados e do DF, orientar os municípios sobre as

diretrizes de gestão integrada das águas subterrâneas, propondo mecanismos de proteção

das áreas de recarga e descarga dos aqüíferos, e de práticas de reuso e recarga artificiais,

sempre embasadas em estudos hidrogeológicos; assim, qualquer tipo de interferência que

venha a sofrer o aqüífero em questão, pode ser facilmente identificada para se avaliar

possíveis impactos decorrentes (conforme Resolução nº 15, artigos 6º, 7º e 8º).

Para se manter as práticas de usos racionais e de conservação dos recursos hídricos

subterrâneos, também são necessários cuidados referentes aos poços de perfuração, pois

estes precisam de informações técnicas e monitoramento. Assim, quando forem jorrantes é

preciso controle de desperdício com os dispositivos adequados e ainda, no caso de serem

desativados, deverão ser adequadamente tamponados por seus responsáveis para evitar a

poluição dos aqüíferos, ficando passíveis de sanções os responsáveis que não adotarem as

providências de acordo com as normas propostas de fiscalização e controle desses recursos

(Resolução nº 15 artigos 6 a 11).

32

3.5 CRITÉRIOS GERAIS PARA OUTORGA DE DIREITO DE USO DOS

RECURSOS HÍDRICOS – RESOLUÇÃO Nº 16 DO CONSELHO NACIONAL DE

RECURSOS HÍDRICOS (CNRH)

A execução da Política Nacional de Recursos Hídricos e a atuação integrada do

Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, a Resolução nº 16 do CNRH

define os critérios gerais para a outorga do direito de uso dos recursos hídricos. Assim,

considera a viabilidade de seu uso por intermédio de um ato administrativo frente às

legislações específicas vigentes, concedendo o direito de uso para o outorgado por prazo

determinado enquadrado nas respectivas condições expressas neste ato.

Condições tais que não implicam na alienação total ou parcial das águas ou na

relação de interdependência entre os corpos d’água, e condicionam o regime de

racionamento e disponibilidade hídrica, o que poderá ocasionar a suspensão da outorga. O

outorgado é sempre obrigado a respeitar o direito de terceiros. Ressaltando ainda no

contexto deste trabalho que, para o consumo final ou insumo de processo produtivo, a

extração de água de aqüífero subterrâneo está sujeita a outorga (Resolução nº 15 artigo 4º).

Estabelece que para requerimentos de outorga de uso dos recursos hídricos, será

necessário à autoridade competente no mínimo as seguintes informações previstas no artigo

16 desta resolução:

I – em todos os casos: a) identificação do requerente; b) localização geográfica do(s) ponto(s) característico(s) objeto do pleito de outorga, incluindo nome do corpo de água e da bacia hidrográfica principal; c) especificação da finalidade do uso da água; II – quando se tratar de derivação ou captação de água oriunda de corpo de água superficial ou subterrâneo: a) vazão máxima instantânea e volume diário que se pretenda derivar; b) regime de variação, em termos de número de dias de captação, em cada mês, e de número de horas de captação, em cada dia [...](BRASIL, 2004e).

De qualquer maneira ainda é necessária a satisfação das exigências técnicas legais

ou de interesse público, antes que o pedido seja deferido. O artigo 20 da

Resolução nº 15 relaciona as mínimas informações que devem constar do ato

administrativo da outorga, a saber:

33

I – identificação do outorgado; II – localização geográfica e hidrográfica, quantidade e finalidade a que se destinem as águas;

III – prazo de vigência; IV – obrigação, nos termos da legislação, de recolher os valores da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, quando exigível, que será definida mediante regulamento específico; V – condição em que a outorga poderá cessar seus efeitos legais, observada a legislação pertinente; e VI – situações ou circunstâncias em que poderá ocorrer a suspensão da outorga em observância ao art. 15 da Lei 9433/97 e do art. 24 desta Resolução. Art. 21. A autoridade outorgante manterá cadastro dos usuários de recursos hídricos contendo, para cada corpo de água, no mínimo: I – registro das outorgas emitidas e dos usos que independem de outorga; II – vazão máxima instantânea e volume diário outorgado no corpo de água e nos corpos de água localizados a montante e a jusante, para atendimento aos usos que independem de outorga, e III – vazão mínima do corpo de água necessária à prevenção da degradação ambiental, à manutenção dos ecossistemas aquáticos e à manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário, quando couber entre outros usos (BRASIL, 2004e).

Este conjunto de informações possibilita ao órgão gestor realizar um monitoramento

e controle do aqüífero, situado no espaço e no tempo, para avaliar informações acerca de

todos os usos por meio das concessões e suspensões das outorgas registradas, regulando

assim o aumento ou diminuição da vazão, obtendo o volume real explorado e compondo

um quadro com as informações que integrarão o Sistema Nacional de Informações sobre

Recursos Hídricos. Entretanto existem situações em que a outorga poderá ser suspensa,

como citado no artigo 24 da Resolução nº 16 do CNRH, de maneira parcial ou total, em

definitivo ou por prazo determinado, sem qualquer direito de indenização ao usuário, nas

seguintes circunstâncias:

I – não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga; II – ausência de uso por três anos consecutivos;

III – necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as decorrentes de condições climáticas adversas; IV – necessidade premente de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental; V – necessidade de se atender a usos prioritários de interesse coletivo para os quais não se disponha de fontes alternativas;

34

VI – necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo de água, e

VII – indeferimento ou cassação da licença ambiental (BRASIL, 2004e).

Para avaliar os recursos hídricos subterrâneos, a Unidade da Federação que emitiu a

outorga deverá manter os seus serviços indispensáveis para o controle da qualidade,

quantidade e seu comportamento hidrológico. Contudo cabe ao outorgado manter e

encaminhar à autoridade os dados do monitoramento da vazão na forma preconizada no ato

da outorga. Compete ao CNRH arbitrar sobre eventuais conflitos relacionados aos usos das

águas subterrâneas que se estendam por mais de uma Unidade da Federação. O não

cumprimento acarretará pena dos infratores, segundo previsto na lei 9433/97 e legislação

pertinente (Resolução nº 16, arts. 27,28 e 31).

3.6 DIRETRIZES PARA A INSERÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO

INSTRUMENTO DE PLANOS DE RECURSOS HÍDRICOS – RESOLUÇÃO Nº 22

DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (CNRH)

A gestão integrada de águas subterrâneas requer dados básicos necessários à sua

gestão sistêmica, os quais são fornecidos pelos Planos de Recursos Hídricos, elaborados

contemplando a Bacia Hidrográfica por estado e para o país e em observância à Política

Nacional de Recursos Hídricos e, portanto, devem promover o desenvolvimento social e

ambientalmente sustentável considerando os usos múltiplos e funções peculiares de cada

aqüífero. Também é importante definir sua caracterização e inter-relações com os demais

corpos hídricos, para alcançar uma visão sistêmica e participativa das águas (Resolução n

º22, arts. 1º e 2º).

As informações hidrogeológicas mínimas sobre dados das águas subterrâneas que

devem constar nos Planos de Recursos Hídricos, conforme o art. 3º desta Resolução são:

I – a caracterização espacial; II – o cômputo das águas subterrâneas no balanço hídrico; III – a estimativa das recargas e descargas, tanto naturais quanto

artificiais; IV – a estimativa das reservas permanentes explotáveis dos aqüíferos; V – caracterização físico, química e biológica das águas dos aqüíferos;

35

VI – as devidas medidas de uso e proteção dos aqüíferos (BRASIL,

2004f).

Assim, conforme o artigo 4º desta Resolução, os Planos de Recursos Hídricos

elaborados por bacia devem contemplar o monitoramento da quantidade e qualidade dos

recursos dos aqüíferos:

I – rede de monitoramento dos níveis d’água dos aqüíferos e sua qualidade; II – densidade dos pontos de monitoramento; e III – frequência de monitoramento dos parâmetros. Artigo 5º As ações potencialmente impactantes nas águas subterrâneas, bem como as ações de proteção e mitigação a serem empreendidas devem ser diagnosticadas e previstas nos Planos de Recursos Hídricos, incluindo-se medidas emergenciais a serem adotadas em casos de contaminação e poluição acidental. Onde este diagnóstico deve incluir: I – descrição e previsão da estimativa de pressões sócio-econômicas e ambientais sobre as disponibilidades; II – estimativa das fontes pontuais e difusas de poluição; III – avaliação das características e usos do solo; e IV – análise de outros impactos da atividade humana relacionadas às águas subterrâneas (BRASIL, 2004f).

Estes tipos de medidas visam garantir a prevenção, proteção, conservação e

recuperação dos aqüíferos, precisam ser atualizadas e podem contar com áreas de uso

restritivo para alcance dos objetivos propostos e certificar a boa função do aqüífero

(Resolução nº 22, artigo 6º).

3.7 CRIAÇÃO DA AGÊNCIA REGULADORA DE ÁGUAS E SANEAMENTO DO

DISTRITO FEDERAL (ADASA) – LEI Nº 3.365/2004

A ADASA é uma autarquia criada pela Lei nº 3.365/2004, que possui personalidade

jurídica de direito público e encontra-se vinculada à Secretaria de Estado de Meio

Ambiente e Recursos Hídricos. Basicamente possui a finalidade de regular, controlar e

fiscalizar, com poder de polícia, a qualidade e quantidade dos corpos de água de domínio

distrital ou delegado pela União e Estados. Sua atuação é baseada nos preceitos estipulados

na Política Nacional de Recursos Hídricos e na Política de Recursos Hídricos do Distrito

36

Federal, articulada com diversos órgãos integrantes do seu Sistema de Gerenciamento de

Recursos Hídricos.

Na esfera de sua competência, exerce o controle das atividades decorrentes, em

cumprimento às legislações pertinentes de recursos hídricos e meio ambiente. A partir daí,

promove a regulação, disciplinamento e fiscalização do abastecimento de água, assim como

suas respectivas tarifações, estas baseadas em estudos técnicos para subsidiar sua definição.

Adicionalmente compete-lhe outorgar o direito de uso de recursos hídricos do Distrito

Federal e prestar apoio à elaboração dos planos de recursos hídricos das bacias do DF.

No âmbito dos serviços de abastecimento de água a regulação, pela ADASA, visa o

bem estar da população. Ao zelar pela qualidade de seus serviços, faz cumprir as normas

legais e regulamentares e previne condutas violadoras de normas. Essas atividades de

regulação compreendem-se da normalização, a qual propõe normas legais; a fiscalização,

que realiza a verificação continua dos serviços outrora regulados e o controle, que abrange

medidas e ações de forma a assegurar a prestação adequada dos serviços.

Conclui-se que dessa forma o prestador de serviços de abastecimento de água deve

se submeter ao poder regulador da ADASA/DF, facilitando sua ação e cumprindo suas

determinações. Deve ainda atender aos usuários com eficiência, prestar as informações

solicitadas e cumprir todas as normas regulamentares.

A ADASA/DF compete zelar pelo cumprimento das normas legais e

regulamentadoras, com atenção aos contratos de concessão e permissão, que são alvo de

maior enfoque no presente trabalho. Compete-lhe ainda fiscalizar aspectos técnicos e

aplicar as devidas sanções e penalidades quando devido e realizar estudos para maximizar a

qualidade e eficiência dos serviços prestados, assim como coletar e interpretar os dados

obtidos nas diligências.

Ao usuário cumpre como dever básico, a utilização adequada dos recursos hídricos,

controlando desperdícios e promovendo sua conservação para as gerações futuras.

37

Na Figura 14 é demonstrado a organização interna da ADASA/DF.

Figura 14 – Organograma interno da Agência Reguladora de Água e Saneamento do

Distrito Federal – ADASA/DF (Fonte: DISTRITO FEDERAL, 2007a).

Organograma referente ao funcionamento interno da ADASA/DF. Que para

viabilizar suas metas possui uma diretoria colegiada composta pelos diretores, de onde

emergem as decisões que serão executadas pelos setores responsáveis pelas atividades

específicas, conforme demonstra a figura 14.

3.7.1 Outorga de uso dos recursos hídricos em corpos de água no Distrito Federal –

Resolução Nº 350/2006

A Resolução nº 350/2006 da ADASA/DF trata dos princípios de outorga e de

concessão de autorização de uso dos recursos hídricos. Destaca-se que a outorga prévia e a

outorga de direito de uso têm competência delegada pela União ou pelos Estados. Para a

definição de tais ações consideram-se:

38

[...]III – captação e/ou exploração de aqüífero: ato de retirar água contida no aqüífero, através de poços tubulares ou poços manuais, ou outro tipo de obra, sendo extraída manualmente, de forma jorrante ou por bombeamento;[...] VIII – disponibilidade hídrica: parcela da potencialidade da água superficial ou subterrânea que pode ser utilizada para diferentes finalidades;[...] X – outorga de direito de uso de recursos hídricos: ato administrativo, mediante o qual a ADASA/DF faculta ao outorgado o direito de uso de recursos hídricos, por prazo determinado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato; XI – outorgado: titular do direito de uso de recursos hídricos com direitos e obrigações decorrentes do ato de outorga; XII – poço manual, perfuração manual no solo ou rocha, incluindo poço amazonas/cisterna/poço escavado/cacimba, revestido com tijolo ou tubo de concreto, ou sem revestimento; XIII – poço tubular: perfuração a partir de equipamento motorizado, de diâmetro reduzido, total ou parcialmente revestido com tubos de metal ou PVC. Se a água se eleva espontaneamente acima da superfície do solo, o poço é denominado de poço artesiano;[...] XV – renovação de outorga: ato administrativo, mediante o qual a ADASA/DF, renovará o direito de uso de recursos hídricos, observadas as normas, critérios e prioridades de uso de recursos hídricos;[...] XVIII – revogação de outorga: ato administrativo, mediante o qual a ADASA/DF, invalidará a outorga por motivo de interesse público ou pelo cometimento de infração pelo outorgado; XIX – suspensão de outorga: ato administrativo pelo qual, a critério da ADASA/DF ou por solicitação do outorgado, fará cessar por tempo determinado os efeitos da outorga;[...] XXI – transferência de outorga: Ato administrativo mediante o qual a ADASA/DF autoriza previamente a transferência dos direitos da outorga ao novo usuário (DISTRITO FEDERAL, 2007b).

Assim, nos princípios da outorga consta a necessidade do gerenciamento da bacia

hidrogeológica, consoante as normas do Plano de Recursos Hídricos, preservando o uso

múltiplo das águas. Logo, como definido na Seção II desta Resolução, para o uso dos

recursos hídricos subterrâneos é obrigatório à outorga do direito de uso para a extração de

sua água por meio de poços e para finalidade de consumo ou insumo de processo produtivo,

sendo preciso ser apresentado o teste de vazão e o certificado de qualidade de água, além

do atendimento aos condicionantes da outorga prévia para que se obtenha a outorga de

direito de uso.

No caso do uso de águas subterrâneas considerado como insignificante, com sua

vazão inferior a 5m³/dia ou para fins de estudo, é necessário o seu registro. Para projetos de

39

bombeamento considerados significantes, a construção do poço e seu ensaio de

bombeamento para a captação de água subterrânea devem seguir as normas da ABNT

(NBR 12212 e NBR 12244). Ainda por via de regra, independentemente da vazão

explorada, estipula-se que projetos de captação de água em condomínios horizontais são

exclusivos para atendimento coletivo e também precisam ter seu registro junto a

ADASA/DF.

3.7.2 Procedimentos gerais para obturação e lacração de poços escavados e poços

tubulares. Resolução nº 420/2006

De acordo com a lei n. 3.365/2004, compete à ADASA/DF regular, disciplinar e

fiscalizar os usos dos recursos hídricos subterrâneos; para tanto cumpre-lhe padronizar os

procedimentos para a obturação e lacração de poços, com vistas a minimizar os riscos de

contaminação de suas águas, assim como acidentes, garantindo ainda o bem estar da

população e a boa conservação dos recursos subterrâneos.

Para estabelecer os procedimentos para a obturação e lacração de poços no território

do Distrito Federal, em termos de conceituação considera-se:

[...]VI – poço abandonado: poço fora de operação, comumente localizado em área de livre acesso e que não tem conservação; VII – poço desativado: poço fora de operação, temporária ou definitivamente, lacrado ou não, que tem responsável por sua conservação; VIII – poço escavado: também conhecido como poço manual, poço perfurado manualmente no solo ou rocha, incluindo poço amazonas/cisterna/cacimba, revestido com tijolo ou tubo de concreto, ou sem revestimento;[...] X – poço obturado: poço cujo orifício foi restaurado, muito próximo ao seu estado natural, de forma a não haver reversibilidade no processo de captação de água; XI – poço seco: perfuração para captação de água subterrânea sem sucesso, sem água; XII – poço tubular: poço perfurado a partir de equipamento motorizado, de diâmetro reduzido, total ou parcialmente revestido com tubos de metal ou PVC. Se a água se eleva espontaneamente acima da superfície do solo, o poço é denominado de poço artesiano [...] (DISTRITO FEDERAL, 2007c).

40

No caso da obturação de poços a responsabilidade será do usuário, o qual terá que

responder a uma série de normas específicas para cada caso. Em conseqüência ao abandono

do poço, ele terá a revogação da sua outorga ou o embargo definitivo. Para o procedimento

de lacração dos poços é utilizado um dispositivo de lacre (selo, fita, corrente, etc.), com o

objetivo de impedir temporariamente a captação de água do poço, e será acompanhado da

aplicação de um embargo provisório ou suspensão temporária de uso, que poderão ser

aplicados em caso de alguma situação mais emergencial.

A responsabilidade de obturação dos poços consiste de algumas atividades básicas

para mantê-lo em situação próxima ao seu estado natural e no intuito de impedir a

reversibilidade do processo de captação, portanto consiste de procedimentos tais como a

retirada da bomba e das instalações hidráulicas e elétricas, desinfecção do poço, uso de

brita ou cascalho para alcançar o nível do terreno e por fim lançar calda de cimento na boca

do poço e fazer seu acabamento, conforme ilustrado na Figura 15.

Fundo do Poço

Lamina d’água

Nível da Água

Profundidade do

Poço

Boca do Poço POÇO EM OPERAÇÃO POÇO OBTURADO

Nível do Terreno

CCAAMMAADDAA 30 m de

Fundo do Poço

CCAAMMAADDAA Brita ou Cascalh

Boca do Poço

Figura 15 – Procedimentos de obturação de poços tubulares (Fonte: ADASA/DF, 2007c)

41

3.8 POLÍTICA DE RECURSOS HÍDRICOS DO DISTRITO FEDERAL E SEU

SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS – LEI Nº 2725/2001

Para efeito desta lei considera-se a água como um bem natural público de domínio

do Distrito Federal, constituinte do ciclo hidrológico onde sua unidade básica de

intervenção é a bacia hidrográfica, a qual compreende também sua fase subterrânea para

definição de sua gestão. Assim os recursos hídricos subterrâneos compõem uma função

social de valor econômico, onde as ações de seu gerenciamento utilizam-se de

conhecimentos científicos e tecnológicos, com o objetivo de assegurar seu uso sustentável.

Somado a essas ações passa a entrar o papel da sociedade, que deve ser alvo de instrução e

conscientização através da ferramenta de educação ambiental, efetivando os objetivos

propostos.

O uso sustentável visa assegurar a disponibilidade de água em quantidade e

qualidade às gerações futuras e maximizar a disponibilidade de recursos hídricos através de

seu uso racional e integrado. Tais objetivos são baseados na adequação da gestão com os

diversos fatores bióticos, físicos, demográficos, econômicos, sociais e culturais no Distrito

Federal, juntamente com sua integração na política ambiental, a fim de orientar e

complementar os estudos hidrogeológicos, definir parâmetros regionais, sub-regionais e

locais de ação, e efetivar o aproveitamento múltiplo ou específico desses recursos.

A partir dos regulamentos previstos na Política Nacional de Recursos Hídricos,

realizar programas e projetos específicos de explotação e aproveitamento de recursos

hídricos subterrâneos, utilizando-se de recursos disponíveis no Fundo de Recursos Hídricos

do Distrito Federal, que congrega em seu orçamento as cobranças e outorgas de usuários,

multas e aplicações de outras penalidades a infratores. Encontram-se sujeitos à outorga pelo

Poder Público, segundo artigo 12 desta Lei, o uso da extração de água de aqüífero

subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo, que tem por objetivos

básicos assegurar o controle e o exercício dos direitos de acesso à água. Maiores detalhes

serão esclarecidos ao abordarmos o Decreto 22.358/2001 que dispõe sobre a outorga de

água subterrânea no Distrito Federal.

Logo, para fundamentar os instrumentos de outorga, as informações referentes à

gestão têm seus dados coletados, armazenados e tratados pelo Sistema de Informações

42

sobre Recursos Hídricos do DF. Este é o responsável pela difusão das informações sobre o

uso racional da água cabendo-lhe reuni-las e dar-lhes consistência para a divulgação sobre a

situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos no DF.

Conforme título II desta Lei, fica instituído o Sistema de Gerenciamento de

Recursos Hídricos, ao qual cabe coordenar a gestão integrada das águas, promover a

cobrança de uso e arbitrar administrativamente nos conflitos pelo uso dos recursos hídricos.

Para tanto conta com a participação de componentes como o Conselho de Recursos

Hídricos, os Comitês de Bacia Hidrográfica e as Agências de Bacia, para a realização das

atividades de suas respectivas competências, onde cada um é composto por representantes

das secretarias do governo do Distrito Federal e de outros órgãos do poder público, usuário

das águas e de representantes da organização civil.

São de competência do Conselho de Recursos Hídricos do DF as atividades de gestão

como, articulação do planejamento de recursos hídricos, propostas de alteração da

legislação pertinente, estabelecimento de diretrizes complementares e seus instrumentos,

critérios gerais para outorga e cobrança pelo uso dos recursos hídricos e demais

providências necessárias ao cumprimento dos Planos de Recursos Hídricos.

Os Comitês de Bacia atuam na área de uma bacia hidrográfica ou em bacias contíguas

e competem-lhes atividades como: estabelecer valores sugeridos de cobrança, aprovar o

plano de recursos hídricos para determinada bacia e arbitrar em conflitos relacionados aos

recursos hídricos. Logo, as Agências de Bacia exercem a função de Secretaria Executiva do

respectivo Comitê de Bacia e por isso possuem sua mesma área de atuação; são

responsáveis por atividades importantes como: manter o cadastro de usuários de recursos

hídricos, assim como o balanço da disponibilidade hídrica em sua área de atuação,

implementar e gerir o Sistema de Informações de Recursos Hídricos e analisar e emitir

pareceres sobre projetos e obras a serem financiados com recursos da cobrança pelo seu

uso.

Constituem o Fundo de Recursos para Águas Subterrâneas do Distrito Federal as

verbas arrecadadas por infrações das normas de utilização dos recursos hídricos

subterrâneos, conforme especificado no artigo 46 desta lei:

I – derivar ou utilizar recursos hídricos para qualquer finalidade, sem a respectiva outorga de direito de uso;

43

II – iniciar a implantação ou implantar empreendimento que exija derivação ou a utilização de recursos hídricos, superficiais ou subterrâneos, que implique alterações no regime, quantidade ou qualidade dos mesmos, sem autorização dos órgãos ou entidades competentes; III – utilizar-se dos recursos hídricos ou executar obras ou serviços relacionados com os mesmos em desacordo com as condições estabelecidas na outorga; IV – perfurar poços para extração de água subterrânea ou operá-los sem a devida autorização; V – fraudar as medições dos volumes de água utilizados ou declarar valores diferentes dos medidos; VI – infringir normas estabelecidas no regulamento desta Lei e nos regulamentos administrativos, compreendendo instruções e procedimentos fixados pelos órgãos ou entidades competentes; VII – obstar ou dificultar a ação fiscalizadora das autoridades competentes no exercício de suas funções (DISTRITO FEDERAL, 2007d).

3.8.1 Outorga do direito de uso de águas subterrâneas no Distrito Federal – Decreto nº

22.358 de 31 de Agosto de 2001

Conforme o artigo 1º deste Decreto, fica estipulado a outorga de direito de uso de

água subterrânea no território do Distrito Federal, conforme previsto no artigo 12 da Lei

2.725/2001 já mencionada. Dispõe-se ainda neste mesmo capítulo que as águas

subterrâneas estão localizadas no subsolo e não serão consideradas no caso de constituir

drenagem ou acúmulo superficial e espécie similar e que, para tais fins, consideram-se as

definições já destacadas na Resolução nº 350/2006 da ADASA, na Resolução nº 15 do

CNRH acrescentando-se:

I – água subterrânea – água que se localiza no subsolo preenchendo os poros das rochas granulares, cavernas de rochas solúveis, fraturas, fissuras ou fendas das rochas cristalinas; II – aqüífero: no meio sedimentar denomina-se intersticial e, no meio cristalino, aqüífero fissural fraturado;[...] VI – recarga – condição de alimentação do aqüífero a partir da superfície, podendo se dar através da infiltração da água da chuva ou de rios e lagos – recarga natural, ou através da infiltração por barramento superficial, injeção através de poços, ou qualquer obra que induza à infiltração – recarga artificial; VII – usuário de água subterrânea – toda pessoa física ou jurídica, de direito publico ou privado, que faça uso de recursos hídricos subterrâneos, por meio de poço tubular e que dependa da outorga;

44

VIII – conservação – utilização racional de um recurso natural, de modo a otimizar o seu rendimento, garantindo a sua renovação ou auto-sustentação do aqüífero; IX – proteção – ação destinada a resguardar o recurso natural utilizado ou não; X – preservação – ação de preservar contra a destruição e qualquer forma de dano ou degradação de um recurso natural; XI – administração ou gestão – conjunto de ações, definidas em normas, destinadas ao controle do uso da água subterrânea, relacionadas a: a- avaliação dos recursos hídricos subterrâneos e planejamento do seu aproveitamento racional; b- outorga, monitoramento e fiscalização do uso dessas águas; c- aplicação de medidas relativas à conservação, proteção e à preservação quantitativa e qualitativa da água subterrânea.[...] XIII – poluente – toda e qualquer forma de matéria ou energia que, direta ou indiretamente, cause alteração gradativa da água subterrânea; XIV – poluição – ato ou efeito de poluir; qualquer alterações das propriedades físicas, químicas ou biológicas da água subterrânea, que possa ocasionar prejuízo à saúde, à segurança e ao bem estar das populações, comprometer seu uso para fins de consumo humano, de atividades agropecuárias, industriais, comerciais e recreativas, e causar qualquer dano à flora e à fauna; XV – potencialidade – volume de água subterrânea armazenada no aqüífero, suscetível de ser utilizado;[...] XVII – vazão explotável – é o volume de água extraída por tempo determinado, sendo expresso em m³/h (metros cúbicos por hora), em l/h (litros por hora) ou ainda em l/s (litros por segundo); XVIII – domínio poroso – aqüíferos caracterizados por reservatórios onde a água ocupa os espaços entre os minerais constituintes do corpo rochoso; XIX – domínio fraturado – aqüíferos caracterizados pelos meios rochosos, onde os espaços ocupados pela água são representados por planos de fraturas, microfraturas, diáclases, juntas ou zonas de cisalhamento e falhas geológicas [...](DISTRITO FEDERAL, 2007e).

Constam ainda, de forma complementar à Resolução nº 16 do CNRH e Resolução

nº 350 da ADASA, as definições encontradas na seção II, do capítulo III deste Decreto,

referentes aos tipos de uso outorgáveis.

Estabelece que onde houver rede pública de abastecimento, fica proibido o uso da

água subterrânea, salvo em situações de usos industriais, comerciais ou de irrigação, em

áreas com superfície superior a 5.000m² (cinco mil metros quadrados) ou ainda em

situações precárias de abastecimento de água pela rede pública, constituindo-se assim

apenas como uma solução provisória.

No caso de concessão da outorga, é dever do outorgado comprovar, por meio de

atestado da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, que seu sistema atende às normas

45

sanitárias vigentes, permitindo sua autorização de funcionamento junto aos órgãos

competentes. Cabe-lhe ainda as obrigações previstas no artigo 13 deste Decreto, quais

sejam:

I – cumprir as exigências formuladas pela autoridade outorgante; II – atender à fiscalização, permitindo o livre acesso aos locais de captação, planos, projetos, contratos, relatórios, registros e quaisquer documentos referentes à concessão ou à autorização; III – construir e manter, quando e onde for determinada pela autoridade outorgante, a instalação necessária às observações hidrométricas das águas extraídas; IV – manter em perfeito estado de conservação e funcionamento os bens e as instalações vinculadas à outorga; V – não ceder a água captada a terceiros, com ou sem ônus, sem prévia anuência da autoridade outorgante; VI – permitir a realização de testes e análises de interesse hidrogeológico, por técnicos credenciados pela autoridade outorgante (DISTRITO FEDERAL, 2007e).

Considera-se que, para o correto funcionamento do poço, este deve assegurar as

condições naturais do aqüífero identificando eventuais mudanças físicas, químicas ou

bacteriológicas e será exigida a utilização do medidor de vazão assim como seu livre acesso

para a realização do controle de uso, onde a não conformidade acarreta a interdição do

poço.

Portanto são definidas medidas de proteção sanitária e de conservação que visam

oferecer os pré-requisitos mínimos para a gestão dos aqüíferos. Com isso é estabelecido um

perímetro imediato de proteção sanitária que objetiva resguardar o seu interior da entrada

de animais e poluentes, protegendo o poço tubular com armações de concreto armado

impedindo assim a penetração de poluição por escoamento superficial onde, a partir do

ponto de captação, é delimitado um raio de 30m para a realização desta proteção.

Todavia, os perímetros de proteção não implicam em desapropriação de terra e sim

em possíveis restrições para a segurança do poço perfurado, garantindo que não haverá a

redução de sua potencialidade e qualidade. Visa oferecer uma boa condição para a

efetivação do monitoramento, o qual utiliza esses benefícios para integrar o Sistema de

Informação de Recursos Hídricos do Distrito Federal e implementar efetivamente o

cadastro georreferenciado dos poços tubulares para a realização de uma boa manutenção.

46

De acordo com o artigo 2º da Lei 2.2725/2001, com relação à utilização dos

recursos hídricos subterrâneos em situações de escassez, a prioridade é para o consumo

humano e a dessedentação de animais; nestas circunstâncias e em prol da manutenção do

equilíbrio natural das águas subterrâneas, compete à Secretaria de Meio Ambiente e

Recursos Hídricos adotar as seguintes providências, segundo artigo 25 do Decreto

22.358/2001 :

I – determinar a suspensão da outorga de direito de uso, até que o aqüífero se recupere, ou seja, superada a situação que determinou a carência de água; II – determinar a restrição ao regime de operação outorgado; III – revogar a concessão ou a autorização para uso de água subterrânea; IV – restringir as vazões captadas por poços em toda a região ou em áreas localizadas; V – estabelecer distâncias mínimas entre as captações a serem executadas; VI – estabelecer áreas de proteção, restrição, controle e recarga de aqüíferos; VII – estabelecer perímetro de proteção sanitária (DISTRITO FEDERAL, 2007e).

Tendo em vista que este é um objetivo de interesse comum à sociedade consta que,

apesar de o outorgado ter o direito de entrar com recurso no Conselho Nacional de

Recursos Hídricos do Distrito Federal em razão de seu direito de outorga, o mesmo não terá

qualquer direito a indenização quando se tornarem necessárias a adoção de tais medidas.

3.9 CRIAÇÃO DA TAXA DE FISCALIZAÇÃO SOBRE SERVIÇOS PÚBLICOS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO – TFS E DA TAXA DE FISCALIZAÇÃO DOS USOS DOS RECURSOS HÍDRICOS – TFU. LEI COMPLEMENTAR Nº 711, DE 13 DE SETEMBRO DE 2005.

Na composição dos termos da Lei Distrital nº 3.365/2004, fica criada através desta

Lei as taxas referentes aos serviços públicos de abastecimento de água e esgotamento

sanitário (TFS) e sobre a fiscalização dos usos dos recursos hídricos (TFU), receitas estas

cobradas pela Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal –

ADASA/DF. Referidas taxas compõem o seu patrimônio.

A taxa de Fiscalização sobre Serviços Públicos de Abastecimento de Água e

Esgotamento Sanitário – TFS, é cobrada anualmente dos prestadores de serviços públicos

47

no Distrito Federal. Corresponde a 1% (um por cento) do valor do benefício econômico do

saneamento sanitário prestado, calculado com base no volume faturado de água e esgotos

levando-se em consideração, para efeito de cálculo, os valores da fatura de água e esgoto

para as respectivas áreas de atuação.

���� Bes = Vf * Tm

���� TFS = 0,01 * Bes Onde:

Bes é igual ao benefício econômico de saneamento, calculado com base no volume faturado de água e esgotos e na tarifa média praticada, levando-se em conta os dados de cada mês; Vf é igual ao somatório dos volumes faturados de água e de esgotos, expressos em metros cúbicos; Tm é a tarifa média, expressa em reais, obtida pela divisão da Receita Operacional Direta (ROD), que é a receita obtida com o faturamento mensal de água e esgoto, pelo volume total de água e esgoto faturado no mesmo mês.

Figura 16 – Taxa de Fiscalização sobre Serviços Públicos de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário – TFS (Data: 20/05/2007)

A Taxa de Fiscalização dos Usos dos Recursos Hídricos – TFU, também é cobrada

anualmente dos usuários de recursos hídricos do Distrito Federal. Seu valor é equivalente a

5% (cinco por cento) do valor do benefício econômico de uso auferido pelo usuário de

recursos hídricos. Entende-se por benefício econômico do uso, o volume de água captada e

de efluente lançado, através do qual é realizado o seu cálculo.

���� TFU = 0,05 x Beu(a)

����Beu(a) = Vp x Tm

Onde:

Beu(a) é o benefício econômico de uso auferido pelos prestadores de serviços públicos, calculado pela multiplicação do somatório dos volumes produzidos de água e de coleta de esgoto sanitário, pela tarifa média praticada, levando-se em consideração os dados de cada mês; Vp é igual ao somatório dos volumes produzidos de água e de coleta de esgotos sanitários, expressos em metros cúbicos; e, Tm é a tarifa média, expressa em reais, obtida na forma prevista no § 2º, art. 2º, desta Lei.

���� TFU = 0,05 x Beu(b)x Ka x Kb

���� Beu(b)=Vp x Tm

Onde:

Beu(b) é o benefício econômico do uso, calculado sobre o volume de água captada e de efluente lançado, por não-prestadores de serviços públicos, multiplicado pela tarifa média; Ka é igual ao fator de ponderação variável, em razão da destinação da captação da água para fins residenciais, industriais, comerciais, rurais e outros, a ser definido pela ADASA/DF; Kb é igual ao fator de ponderação variável, em razão dos efluentes lançados e o grau de poluição causado no corpo hídrico, a ser definido pela ADASA/DF. Vp é igual ao somatório dos volumes produzidos de água e de lançamento de efluentes, expressos em metros cúbicos;

48

Tm é a tarifa média, expressa em reais, obtida na forma prevista no § 2º, art. 2º, desta Lei.

���� TFU=0,05 x Beu(c)

Onde: Beu(c) é igual à receita auferida pelo uso dos recursos hídricos, expressa em reais.

Figura 17 – Taxa de Fiscalização dos Usos dos Recursos Hídricos – TFU (Data: 20/05/2007)

Caso não haja outorga de uso do recurso hídrico em questão, quer seja pelo

prestador de serviço quer seja pelo usuário, este estará sujeito da mesma forma ao

recolhimento das taxas de fiscalização. O não pagamento mensal destas taxas implica na

aplicação de multa e juros de mora, além de que os valores não recolhidos serão inscritos

na dívida ativa da ADASA/DF, para efeito de cobrança judicial (segundo art.8º desta Lei).

Para a realização do cadastro dos usuários dos recursos hídricos do DF e dos

prestadores de serviços públicos, devem ser informados os dados relativos às extrações de

água, sua captação e lançamentos de afluentes. Na falta destes dados, a ADASA/DF poderá

realizar os cálculos utilizando o princípio da razoabilidade e utilizar parâmetros

equivalentes de atividades de mesma natureza, efetivando o recolhimento das receitas. Este

fato poderá ocasionar, ainda, a aplicação de penalidades conforme previsto na Lei

2.725/2001, devido à ausência de tais dados.

49

4. MATERIAIS E MÉTODOS

O espírito humano deve empregar investigação para a demonstração da verdade,

ordem para se impor aos diferentes processos necessários para se atingir um fim dado ou

um resultado desejado. O conjunto desses processos expressa o sentido geral da definição

de método (CERVO; BERVIAN, 2002).

Devem-se selecionar os meios e processos mais adequados para os objetivos

selecionados. Os investigadores que obtiveram êxito tiveram o cuidado de anotar os passos

percorridos e os meios que levaram aos resultados (CERVO; BERVIAN, 2002).

O método científico não possui virtudes milagrosas. O método não é um modelo,

fórmula ou receita que uma vez aplicada colhe, sem margem de erro, os resultados

previstos ou desejados. O método é apenas um conjunto ordenado de procedimentos que se

mostraram eficientes ao longo da História, na busca do saber. O método científico é, pois,

um instrumento de trabalho. O resultado depende de seu usuário. Assim, o bom método

torna-se fator de segurança e economia (CERVO; BERVIAN, 2002).

Alguns autores identificam a ciência como um método sistemático de explicar um

grande número de ocorrências semelhantes. O método científico quer descobrir a realidade

dos fatos e esses, ao serem descobertos, devem, por sua vez, guiar o uso do método

(CERVO; BERVIAN, 2002).

Com base na metodologia científica, o presente estudo contempla a análise

sistemática da Política Nacional de Recursos Hídricos e a Política Distrital de Recursos

Hídricos como instrumentos de gestão ambiental por parte do Poder Público. Essa

legislação específica é executada pelos órgãos gestores de água no Distrito Federal: a

Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal – ADASA e a Companhia

de Saneamento Ambiental do Distrito Federal – CAESB, responsáveis pela regulamentação

e aplicação dos instrumentos previstos nas respectivas legislações em vigor.

A dinâmica das águas subterrâneas implica em variações que precisam ser previstas,

para se adequar o seu gerenciamento a determinadas condições ocasionadas devido ao seu

uso. Neste momento são definidos os termos de uso e exploração das águas subterrâneas,

utilizando-se um monitoramento para a avaliação dos parâmetros necessários, os quais são

fiscalizados para o cumprimento das diretrizes pré-estabelecidas, obtendo-se assim a

50

outorga. Esta por sua vez assegura ao outorgado o direito de uso, se enquadrando no seu

respectivo dever; na outorga também se definem as condições de sua suspensão ou

revogação do direito.

4.1 PESQUISA DOCUMENTAL SOBRE AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

A pesquisa documental é um procedimento racional e sistemático que tem como

objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. É requerida quando não

se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a

informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser

adequadamente relacionada ao problema (GIL, 2002).

Utiliza-se cuidadosamente de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos e

desenvolve-se ao longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada

formulação do problema até a satisfatória apresentação dos fatos (GIL, 2002).

É utilizada a aplicação de métodos científicos buscando alcançar respostas para

questões levantadas, a fim de compor as finalidades da pesquisa. Entretanto,

ocasionalmente não acontece à justa veracidade nas respostas; contudo, esses métodos

constituem a melhor maneira de se encontrar resultados satisfatórios ou de completo

sucesso (NEVES, 2006).

Muitas razões determinam a realização de uma pesquisa, estas podem ser

classificadas em dois grandes grupos (GIL, 2002):

-Razões de ordem intelectual (puras): decorrem do desejo de conhecer pela própria

satisfação de conhecer.

-Razões de ordem prática (aplicadas): decorrem do desejo de conhecer com vistas a

fazer algo de maneira mais eficiente.

Estes dois tipos de pesquisa não podem ser tratados como se fossem mutuamente

exclusivas, pois uma pesquisa sobre problemas práticos pode conduzir à descoberta de

princípios científicos. Da mesma forma, uma pesquisa pura pode fornecer conhecimentos

passíveis de aplicação prática imediata (GIL, 2002).

Qualquer empreendimento de pesquisa para ser bem-sucedido, deve levar em

consideração a disponibilidade de recursos disponíveis. O pesquisador deve ter a noção de

51

tempo a ser utilizado na pesquisa e valorizá-lo. Deve prover-se de equipamentos e materiais

necessários ao desenvolvimento da pesquisa e estar atento aos gastos decorrentes da

remuneração dos serviços prestados por outras pessoas (GIL, 2002).

Nesta investigação foram contemplados estudos comparativos das legislações

brasileiras relacionadas aos recursos hídricos e, mais detalhadamente, a sua ocorrência na

forma subterrânea. Primeiramente foi comentada a Lei 9.433/97, que trata da Política

Nacional de Recursos Hídricos, onde constam as diretrizes que devem ser respeitadas para

se realizar a gestão sustentável, assim como sua defesa no âmbito legislativo e em seguida a

Política de Recursos Hídricos do Distrito Federal e as respectivas resoluções e decretos

afins.

O estudo também foi realizado com a legislação referente aos recursos hídricos

subterrâneos do Distrito Federal e sua administração pelos órgãos gestores, principalmente,

A ADASA, que possui autonomia para legislar, e a CAESB, enfocada em sua área de

trabalho e suas condições de atuação. Foram analisados os instrumentos para possibilitar a

verificação da situação da gestão e possíveis impactos decorrentes da utilização das águas

subterrâneas para abastecimento da população. Trata-se da elaboração de um diagnóstico

preliminar, cuja observação permite registrar inconformidades segundo suas próprias

diretrizes, que visam garantir o abastecimento populacional ao mesmo tempo em que

assegura a integridade do recurso explorado.

Portanto pretendeu-se alcançar o registro de melhores práticas de gestão, para que

assim seja possível incorporar, ocasionalmente, dentro da legislação, subitens referentes a

alguma nova situação empírica da realidade ou a alguma nova situação de gestão.

4.2 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Qualquer espécie de pesquisa, em qualquer área, pressupõe e exige uma pesquisa

bibliográfica prévia, quer para o levantamento da situação da questão, quer para a

fundamentação teórica ou ainda para justificar os limites e contribuições da pesquisa

(CERVO; BERVIAN, 1983).

A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências

teóricas publicadas em documentos. É realizada com o intuito de recolher informações e

52

conhecimentos prévios acerca de um problema para o qual se procura resposta ou sobre

uma hipótese que se quer experimentar (CERVO; BERVIAN, 1983).

De forma a complementar as informações legislativas, foi realizada uma pesquisa

bibliográfica em busca das conceituações já definidas para as águas subterrâneas e outros

estudos de dissertações realizados na região de São Sebastião. Entretanto a própria criação

da Região Administrativa de São Sebastião é um fato relativamente novo,

conseqüentemente, a chegada da infra-estrutura urbana na região ainda está por acontecer.

Todavia foram poucos autores que relataram as condições ambientais e de gestão dos

recursos hídricos nesta região.

Foi relatado também um breve histórico da situação em estudo, com uma descrição

da área e das condições que regem a localidade. Descrevemos a explosão populaçional e

sua necessidade de abastecimento. Identificamos os fatores importantes para a avaliação de

algum possível impacto ao meio ambiente e apresentamos a maneira como ocorre a gestão

de águas subterrâneas na região.

4.3 PESQUISA DE CAMPO

No planejamento de toda pesquisa é envolvida a tarefa de coleta de dados, uma fase

intermediária que ocorre após a escolha e delimitação do assunto, a revisão bibliográfica, a

definição dos objetivos, a formulação do problema e das hipóteses e a identificação das

variáveis. Há diversas formas de coleta de dados, todas com suas vantagens e desvantagens.

Os instrumentos de largo uso são a entrevista, o formulário e o questionário (CERVO;

BERVIAN, 1983).

Para a realização deste estudo foi utilizado o método questionário, considerando a

melhor viabilidade e suas vantagens oferecidas. Este método possibilita medir com melhor

exatidão o que se deseja dentro do contexto da pesquisa; deve apresentar natureza

impessoal para assegurar uniformidade na avaliação de uma situação ou outra. Para isso, é

composta por um conjunto de questões, todas logicamente relacionadas com o problema

central, onde é estabelecida com critério as questões mais importantes a serem propostas e

que interessam ser conhecidas, de acordo com os objetivos (CERVO; BERVIAN, 1983).

53

Para melhor administrar o tempo da entrevista, as perguntas foram elaboradas de

maneira clara e precisa, abordando diretamente os objetivos específicos determinados e

propostas de maneira que retornassem respostas objetivas de forma a não insinuarem outras

colocações.

Como parte deste estudo foi aplicado um questionário referente à situação da gestão

das águas subterrâneas na região de São Sebastião e os possíveis impactos advindos do

abastecimento de água para a população. Estes foram aplicados para os gestores

representantes da ADASA e da CAESB e também para o administrador regional de São

Sebastião. Todos os três questionários foram aplicados com as mesmas questões, na

intenção de uma possível comparação as entre respostas obtidas. Entretanto o administrador

regional de São Sebastião preferiu encaminhar as questões a CAESB que é a companhia

responsável pela execução desta gestão, reduzindo assim o número de questionários para

dois.

Estão apresentadas na Figura 18 as respostas obtidas pelo entrevistado Rafael

Machado Mello, biólogo gestor de recursos hídricos da ADASA/DF. Seguidamente pelas

respostas do entrevistado Roberto Márcio Macedo dos Santos, geólogo coordenador de

águas subterrâneas da CAESB/DF.

Nº/

entrevistado

Perguntas/ Respostas

01) Qual a situação da gestão de águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião – DF?

CAESB

“O sistema público de abastecimento de água da cidade de São Sebastião foi inaugurado no ano de 1997, e é composto de 21 poços em operação e um poço para monitoramento piezométrico. Desde então a CAESB vem realizando gestões no sentido de garantir a sustentabilidade do sistema e do uso dos aqüíferos. Destacam-se neste item a construção de centros de reservação e tratamento de água, implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgotos, licenciamento ambiental de todo sistema e outorga de direito de uso de todos os poços, além da implantação de uma rotina de monitoramento quantitativo e qualitativo.”

ADASA/DF

“Atualmente a rede de abastecimento de água de São Sebastião é composta por uma bateria de poços tubulares, dos quais 18 estão outorgados pela ADASA com a finalidade de abastecimento humano e 1 registrado, com finalidade de monitoramento. Com base em estudos

54

hidrogeológicos, o DF foi dividido em subsistemas cujas reservas de água foram estimadas, possibilitando avaliar a disponibilidade hídrica da água subterrânea. Constatou-se que somente as captações da CAESB, na região de São Sebastião, já representam 65% da reserva explotável do Subsistema F/Q/M, o qual se inserem as captações da CAESB”. Ao atingir 90% da reserva explotável será avaliado pela ADASA/DF, podendo ser revisto os valores e horas de uso outorgados, considerando as prioridades de uso e se porventura surjam conflitos entre poços como: impactos ambientais, rebaixamento do nível, diminuição da vazão, serão analisados na operação e revista a outorga se necessário. Resoluções serão emitidas com regulação especifica para áreas onde estejam ocorrendo superexplotação do aqüífero. A CAESB vem incrementando ao longo dos últimos anos, a utilização de águas subterrâneas captadas através de poços tubulares profundos destinados ao abastecimento público. A descoberta de aqüíferos de alta produtividade, a crescente necessidade do atendimento à novas demandas em áreas urbanas ou isoladas, além da saturação da oferta das captações superficiais, gerou na Companhia uma nova concepção com relação aos mananciais subterrâneos. Aliado a este crescimento, a legislação ambiental tem sido mais rigorosa, seja nos padrões de qualidade da água, seja na exigência de melhores estruturas de monitoramento e proteção das águas subterrâneas. Visando atender a estas as necessidades, assim como proporcionar melhores instrumentos de gestão de águas subterrâneas para a Companhia, a CAESB implementou um sistema de monitoramento sistemático, qualitativo e quantitativo, de águas subterrâneas. O banco de dados a ser gerado servirá de base técnica para a definição das vazões explotáveis de segurança, a serem adotadas em sintonia com as restrições ambientais dos órgãos fiscalizadores, além de fornecer instrumentos para a reavaliação permanente das condições operacionais, com vistas à sua otimização.”

02) Quais os motivos das dificuldades para a gestão de águas na Região Administrativa de São Sebastião-DF?

CAESB

“No caso da cidade de São Sebastião, considera-se que a gestão do sistema vem sendo feita de forma bastante eficiente, conciliando o atendimento à população com água de qualidade com a explotação sustentável dos aqüíferos. Neste segundo caso, destaca-se como eficiente instrumento de gestão o monitoramento sistemático da qualidade da água bruta, além do acompanhamento da resposta do aqüífero frente ao regime de explotação adotado, através do monitoramento de níveis.”

ADASA/DF

“O comprometimento da população (usuário) da região, com a regularização de suas captações subterrâneas. Como em todo DF, a falta da conscientização por parte da sociedade em seguir os tramites legais para a perfuração dos poços, como a regularização daquela já existente e ainda o cumprimento das exigências dos atos normativos de Outorga (Resolução /Despacho). O correto é que a ADASA tenha sua própria rede

55

de poços piezométricos e que faça monitoramento diário, aferindo nível da água e qualidade da água.”

03) Quais os possíveis impactos negativos decorrentes da gestão das águas subterrâneas para a região de São Sebastião-DF?

CAESB

“As principais conseqüências negativas de uma gestão ineficiente, seja pela ausência de ferramentas de gestão, seja pela ausência de um enfoque baseado na sustentabilidade, podem ser a exaustão de um aqüífero ou a sua contaminação, situações de difícil correção posterior. Desta forma, ciente de sua responsabilidade, a CAESB não vem medindo esforços no sentido de se capacitar, técnica e estruturalmente, para utilizar de forma sustentável os aqüíferos do Distrito Federal.”

ADASA/DF

� “Superexplotação do aqüífero; � Contaminação do lençol freático (poluição); � Desperdício; � Estresse hídrico; � Usos múltiplos da água sem devido planejamento, não respeitando

finalidades mais nobres como abastecimento humano.”

Figura 18 - Questionário sobre gestão de águas subterrâneas em São Sebastião (Data: 15/05/2007)

56

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O presente estudo aborda a gestão das águas subterrâneas em São Sebastião – DF e

verifica a atuação dos seus órgãos gestores (ADASA/DF e CAESB). Para isso foram

estudados os vinte poços da região utilizados pela CAESB para o abastecimento geral da

população, contemplando os procedimentos de outorga, instrumentos de cobrança, estudos

da qualidade e quantidade da água utilizada.

5.1 DIAGNÓSTICO SOBRE A GESTÃO SUSTENTÁVEL EM SÃO SEBASTIÃO

A região está situada em zonas com altas cotas topográficas, divisoras de grandes

bacias; conseqüentemente, suas drenagens superficiais não apresentam grandes vazões.

Com isso, a importância das reservas hidrogeológicas consideradas estratégicas é cada vez

maior (JOKO, 2002).

São Sebastião é a única cidade do Distrito Federal que tem o seu sistema de

abastecimento público de água totalmente baseado na captação por poços tubulares

profundos. A garantia do abastecimento sustentável de água dessa cidade é diretamente

dependente de estudos hidrogeológicos pois, por meio destas informações, pode-se

recomendar e coordenar ações para o manejo adequado dos seus aqüíferos e garantir a

sustentabilidade do abastecimento de água potável (JOKO, 2002).

Se comparadas com as águas de origem superficial, a captação de água subterrânea

demanda menor custo, uma vez que os pontos de captação podem ser localizados próximos

dos centros de consumo, não sendo necessários à construção de grandes redes de

distribuição. Além disso, graças ao reservatório subterrâneo natural, não são necessárias

grandes obras para reservar e coletar a água. Essas características aliadas com a garantia de

na maior parte das vezes, a água captada ser de excelente qualidade, poupando o seu

tratamento, fazem com que o abastecimento populacional tendo como fonte a água

subterrânea seja cada vez mais viável e utilizado (JOKO, 2002).

As melhores caracterizações dos aqüíferos do Distrito Federal foram realizadas por

Barros (1999) e, posteriormente, por Campos e Freitas (1998). Basicamente estes estudos

classificaram no Distrito Federal dois domínios principais de aqüíferos, característicos de

57

regiões que contém rochas metamórficas com coberturas de solos; o primeiro foi

denominado Domínio Aqüífero Poroso e o segundo Domínio Aqüífero Fraturado (JOKO,

2002).

O Sistema Aqüífero Fissural foi denominado Domínio de Águas Subterrâneas

Profundas (BARROS, 1999). São pertencentes à zona de saturação, distribuem-se e se

armazenam irregularmente nas rochas metamórficas impermeáveis e pouco porosas através

do sistema de fraturas/falhas, cavidades de dissolução e em menor parte, em outros tipos de

porosidade secundária.

Esse domínio apresenta aqüíferos com variadas configurações: livres ou confinados,

com extensão lateral variável, anisotrópicos e heterogêneos. Campos e Freitas-Silva (1998),

classificaram esse domínio em quatro sistemas aqüíferos denominados de sistemas

aqüíferos Paranoá, Canastra, Araxá e Bambuí. De acordo com a litologia predominante o

Sistema Paranoá foi subdividido em cinco subsistemas: S/A, A, R3Q3, R4 e PPC; já o

Sistema Canastra foi subdividido nos subsistemas F e F/Q/M. A Tabela 01 apresenta as

relações de classificação dos aqüíferos (CAMPOS; FREITAS apud JOKO, 2002).

Tabela 01 – Classificação dos sistemas e subsistemas aqüíferos do domínio fraturado do Distrito Federal (JOKO, 2002). Sistema Subsistema Vazão Média (L/h)

S/A 12.700

A 4.390

R3/Q3 12.200

R4 6.150

Paranoá

PPC 9.100

F 7.500 Canastra

F/Q/M 33.000

Bambuí - 5.210

Araxá - 3.150

Já o Domínio Fraturado, devido a suas características observadas, pode ser melhor

denominado como Domínio Fraturado/Dissolução e pode ser dividido em sistemas Paranoá

e Canastra, todos subdivididos em subsistemas, de acordo com sua geologia e seu

58

comportamento hidrogeológico. O Sistema Paranoá, presente na área estudada é

subdividido em subsistemas R3/Q3 e R4 e o Sistema Canastra é subdividido em

subsistemas F e F/Q/M, como pode ser visualizado na Figura 19 (JOKO, 2002).

A mineralogia das rochas exerce fundamental importância hidrogeológica na região.

A mineralogia carbonática das rochas do subsistema F/Q/M favorece sua dissolução ao

longo das fissuras, aumentando as suas aberturas e ampliando os seus parâmetros

hidrogeológicos. Em função da ação conjunta de processos químicos e físicos é possível

denominar o sistema de físsuro-cárstico. O comportamento hidrogeológico das rochas

também está relacionado diretamente com a mineralogia (JOKO, 2002).

59

O subsistema F/Q/M foi desenvolvido sobre rochas metacarbonáticas (M), além dos

filitos (F) e quartzitos (Q), nas quais ocorreram processos químicos que causaram

dissoluções ampliando as descontinuidades, aumentando o volume de água armazenada e

incrementando seus parâmetros hidrodinâmicos. Por essas particularidades, os poços

tubulares profundos na cidade de São Sebastião apresentam altas vazões, possibilitando o

abastecimento público exclusivo por águas subterrâneas para grande densidade

populacional - aproximadamente 80.000 habitantes (JOKO, 2002).

Na área estudada esses aqüíferos apresentam importância elevada por serem

responsáveis pelo abastecimento da população da cidade de São Sebastião. Este fator é

diretamente relacionado ao Subsistema F/Q/M, uma vez que este é o responsável pelo

abastecimento hídrico da cidade de São Sebastião, com a maior densidade populacional da

região.

Para realização deste abastecimento a CAESB conta com a extração em 20 pontos

de captação espalhados pela cidade, sendo que um destes não realiza explotação e serve

apenas para realizações de testes de piezometria. A condição encontrada na região destes

poços está de acordo com as normas de gestão regulamentares, encontram-se praticamente

todos em boas condições de limpeza e cercados, entretanto ocorrem falhas quanto aos

sistemas de alvenaria de proteção às perfurações subterrâneas.

O registro realizado de algumas situações encontradas ilustra as condições atuais

destes poços, conforme apresentado nas figuras seguintes.

60

Figura 20 – Fotografia Poço SJ 1, data: 19/05/2007

Figura 21 – Fotografia poço SS 12, data: 19/05/2007

61

Figura 22 – Fotografia poço SS 06, data: 19/05/2007

Figura 23 – Fotografia interna poço SS 16, data: 19/05/2007

62

Figura 24 – Fotografia externa poço SS 16, data: 19/05/2007

Figura 25 – Fotografia poço SS 13, data: 19/05/2007

63

Figura 26 – Fotografia poço SS13, data: 19/05/2007

Possui ainda dois pontos de reservatórios para a água extraída dos poços, Figura 27,

estes reservatórios situam-se na porção leste e oeste da cidade em topografias mais

elevadas, de modo a realizar a distribuição da água por gravidade. Independente do

tratamento realizado diretamente na saída de alguns poços, toda a água recebida nestes dois

centros de reservação passa pelos procedimentos de cloração e fluoretação.

64

Figura 27 – Fotografia do Centro de Reservação SS 02, data: 19/05/2007

Os dois Centros de Reservação possuem a mesma infra-estrutura, que se constituem

de dois tanques reservatórios e um centro de monitoramento para realização dos testes com

as amostras recolhidas. Como pode ser visto nesta figura a estrutura à direita da fotografia,

corresponde ao centro de monitoramento.

Essa forma de captação urbana é única no Distrito Federal, tendo em vista que as

demais cidades são abastecidas principalmente por águas superficiais. Estudos técnico-

econômicos de alternativas para esta região foram realizados pela CAESB e demonstraram

que a alternativa mais viável é por meio das captações subterrâneas.

Tabela 02 – Sistema de Distribuição de água em São Sebastião ATENDIMENTO / CONSUMO

População Consumo

Setor Total

(habitantes) Abastecida (habitantes)

% de Atendimento

Volume Distribuído (m³/mês)

Volume Utilizado (m³/mês)

% Perdas

São Sebastião

67.292 55.618 82,65 267.912 166.077 38,00

(DISTRITO FEDERAL, 2007f)

65

Os dados da Tabela 02 demonstram que a distribuição de água em São Sebastião já

atende um bom percentual da população, porém com excesso de volume distribuído por

mês. Com o aprimoramento das técnicas de gestão e a implementação de mais infra-

estrutura para as atividades de abastecimento da população, este quadro poderá ser

revertido pela a distribuição desta perda no volume mensal distribuído para o restante da

população que ainda não está sendo atendida.

A Tabela 03 faz referência às ligações existentes em São Sebastião.

Tabela 03 – Referencial de ligações registradas e respectivas economias Nº de Ligações Reais Nº de Ligações Ativas

Tipo Sem Hidrôm.

Com Hidrôm.

Total Sem

Hidrôm. Com

Hidrôm. Total

Nº de Economias

Domiciliar 17 13.343 13.510 17 12.391 12.408 14.792 Comercial 2 656 658 2 476 478 478 Industrial 0 6 6 0 4 4 4 Pública 0 30 30 0 28 28 28 Total Instalado

19 14.185 14.204 19 12.899 12.918 15.302

(DISTRITO FEDERAL, 2007f)

Conclui-se que as ligações ativas correspondem a menor número do que as reais em

virtude das situações em que estas foram desativadas de uso. Dessa forma pelos valores

apresentados se torna possível realizar uma boa estimativa dos volumes mensais utilizados,

para propor um planejamento do volume mensal distribuído em proporção ao uso realizado,

para se evitar as perdas ocasionadas.

5.2 ANÁLISE DA GESTÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS PELA CAESB EM SÃO

SEBASTIÃO – DF: OUTORGA, COBRANÇA, QUALIDADE E QUANTIDADE

Com base em estudos hidrogeológicos realizados para os sistemas aqüíferos do

Distrito Federal foi determinado, por volta do ano de 1997, que a região de São Sebastião

teria seu abastecimento de água diferenciado das outras Regiões Administrativas, haja vista

sua localização situar-se na superfície de uma geologia local muito rica em reservatórios de

água subterrânea.

A instalação de uma estação para tratamento de esgotos precedeu o início de

perfuração dos poços e a necessidade de manter a qualidade das águas subterrâneas

impulsionou ainda mais este processo. Fundamentalmente, baseado na conservação dos

66

aqüíferos, era necessário contar com a presença de uma rede de esgotos antes que a

população crescesse, com isso aumenta as chances de contaminação do lençol freático.

Posteriormente, os poços foram perfurados em conformidade com as diretrizes para

a preservação e manutenção de suas qualidades de potabilidade. As práticas fundamentais

foram apuradas e realizadas; entretanto, em virtude de adversidades, atualmente a CAESB

sofreu algumas avarias em seus equipamentos que passam por manutenção, conforme será

detalhado no item 5.2.4 que trata das referências de quantidade da água.

Pelos estudos realizados em parceria com a CAESB, foram calculadas as estimativas

do volume de água existente em cada subsistema hidrogeológico da região do Distrito

Federal. Concluindo-se que as vazões dos Ribeirões Taboca e Santo Antônio da Papuda da

Bacia Hidrográfica do Rio São Bartolomeu, são insuficientes para abastecer toda a

população. Somado aos resultados dos estudos, foi determinado a favorabilidade da

exploração de captações subterrâneas de água para a região de São Sebastião. A Figura 28

mostra a favorabilidade das regiões do Distrito Federal.

67

68

Concomitantemente à gestão da qualidade e quantidade das águas subterrâneas, são

aplicados instrumentos de cobrança pelos serviços e usos dos recursos hídricos, previstos

na Lei 9.433/1997 e na Lei 2.725/2001. A cidade de São Sebastião, obviamente é passível

desta cobrança; todavia, em virtude da recente transformação de sua situação de “Agrovila”

para “Região Administrativa”, e ainda mais com a recém criada Agência Reguladora de

Águas e Saneamento do Distrito Federal (ADASA/DF), algumas resoluções ainda não

foram implementadas e a implantação de algumas infra-estruturas ainda estão sendo

processadas. Por isso a situação de cobrança pelo uso dos recursos hídricos naquela região

ainda está sendo realizada de maneira precária, apenas pelas tarifações da CAESB.

Os procedimentos básicos necessários para a realização do abastecimento urbano de

água enfocados neste trabalho, constam do sistema de qualidade, da avaliação da

quantidade de uso, da cobrança por este bem de domínio da união e seus serviços correlatos

e dos instrumentos de outorga. Portanto, no ato da aprovação de cada um destes

procedimentos é facultado ao órgão gestor (ADASA/DF) definir as ações requeridas, seu

correto cumprimento e ensejar sua aprovação.

A outorga é definida para cada situação através de resoluções específicas. Quando

se baseia apenas em alguma resolução geral é comum que ocorram inconformidades com a

especificidade local, provocando o descumprimento de alguma norma. Como foi criada no

ano de 2004, muita burocracia interna da ADASA/DF ainda está sendo resolvida. A

mudança de sua sede no final do ano de 2006 para melhorar sua infra-estrutura, muito

contribuiu para o atraso no andamento dos vários processos existentes.

A finalidade deste órgão é controlar todos os cadastros de outorga do Distrito

Federal; portanto, sabe-se que cada vez a sua atuação será mais efetiva, principalmente

referente às concessões de outorga, suas fiscalizações e cobranças.

5.2.1 Outorga dos Poços

Na cidade de São Sebastião todos os poços para abastecimento de água da

população, exceto alguns poços de condomínios e das áreas rurais, são outorgados pela

ADASA/DF para o uso da CAESB. Isto corresponde a 20 poços, sendo que 19 deles estão

em operação e 01 é para realização de medições de nível, funcionando como piezômetro.

69

Portanto fica entendido que estes poços satisfazem todos os parâmetros pré-definidos para a

obtenção da outorga.

Até o cumprimento das exigências para outorgar o aproveitamento das águas

subterrâneas é expedida uma outorga prévia, com duração de até um ano, a qual não

concede o direito de uso do recurso hídrico. Nesse tempo o outorgado deve procurar

satisfazer os parâmetros ainda não atendidos pelos termos da outorga; caso contrário este

será suspenso e será impedido o uso do recurso hídrico subterrâneo.

Nesse estudo constatou-se que as outorgas concedidas para a CAESB vêm

obedecendo aos volumes máximos diários de extração do aqüífero; no caso de São

Sebastião as captações subterrâneas para abastecimento humano são permitidas pelo artigo

11 da Lei 22.358/2001, pois a cidade não possuía rede pública de abastecimento.

No caso estudado, o instrumento de outorga trata diretamente com a Companhia de

Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB), responsável pela gestão de

saneamento ambiental da região; portanto fica ela encarregada de:

a) Satisfazer os termos de gestão após a concessão da outorga;

b) Realizar testes e análises hidrogeológicas, análises físico-químicas e bacteriológicas

da água, enviadas anualmente a ADASA/DF com seus respectivos laudos;

c) Obedecer ao tempo previsto de 20hs para o funcionamento diário da bomba de

explotação.

A ADASA/DF vem eventualmente notificando alguns poços para que seja

finalizada a obra de instalação da sua proteção, que consiste numa laje protetora de

alvenaria ao redor da perfuração para evitar que o escoamento superficial venha a

contaminar as águas subterrâneas. Uma laje de concreto envolvendo o tubo de revestimento

da perfuração, com sua declividade orientada do centro para a borda também é necessária,

com o mesmo objetivo de se evitar a contaminação e proteger a entrada do poço.

Para manter a boa qualidade das águas subterrâneas todos os poços no ato de

concessão da outorga, devem obedecer a um raio de proteção de 30 metros delimitados,

cercados e limpos. Entretanto, pesquisas de campo revelaram que muitos dos poços não

atingem os 30 metros de raio definidos, até mesmo porque muitos se situam na área urbana,

sem muito espaço livre. Entrevistas informais realizadas na ADASA/DF, esclareceram que

o raio de 30 metros na maioria das vezes se torna impraticável; assim, cada situação é

70

analisada por um técnico deste órgão, responsável pela definição da área a ser protegida e

cercada.

Nos outros quesitos de limpeza e proteção, todos os poços apresentam boas

condições, exceto aqueles com alguma obra de manutenção, com este propósito também

foram implantados os sistemas de coleta e tratamento de esgotos na região de São

Sebastião, visando a evitar a contaminação do aqüífero, conforme relatado no item 5.2.3.

Outro problema que vem acontecendo com os poços estudados para o abastecimento

urbano de São Sebastião é referente à instalação, operação e manutenção dos hidrômetros.

Estes equipamentos são utilizados para se medir o volume e a taxa de vazão dos poços;

como estas taxas apresentam pressões muito altas, os hidrômetros vêm sendo danificados.

Uma solução provisória adotada foi a substituição dos aparelhos danificados por

outros, conhecidos como horímetros; estes não são prejudicados pela pressão da vazão de

saída, pois trabalham apenas com a medição do tempo de funcionamento da bomba. É

importante frisar que esta é uma solução prévia e que estão sendo pesquisados novos

equipamentos que suportem o trabalho.

5.2.2 Cobrança e tarifação das águas

O sistema de abastecimento urbano de água é composto por vários processos, os

quais se baseiam na captação, tratamento, transporte, destinação final e reciclagem da água,

em virtude disto é estipulado um valor a ser cobrado da população para custear estes

processos, sendo que este valor leva em consideração o uso quantitativo e qualitativo do

recurso hídrico para definir sua valoração.

A cobrança pelo recurso hídrico é calculada em função da modalidade do uso e se

torna proporcional ao porte das intervenções e aos volumes captados. Outra utilidade

encontrada neste instrumento de cobrança é o desenvolvimento de uma gestão racional na

medida em que as pessoas evitam o desperdício, tendo em vista o valor cobrado pelo

consumo.

Consta na Lei 9.433/97, que a água é um bem de domínio público e por isso

passível de cobrança através da Política de Recursos Hídricos, a qual define as diretrizes e

critérios de cobrança pelos seus Planos de Recursos Hídricos, que compõem o Sistema de

71

Gerenciamento de Recursos Hídricos, onde se podem encontrar os critérios gerais para a

outorga de direitos de cobrança, definidos pelo Conselho de Recursos Hídricos do Distrito

Federal.

Os mecanismos de cobrança pelo uso dos recursos hídricos são estabelecidos pelos

Comitês de Bacia Hidrográfica, que ainda sugerem valores a serem cobrados. Contudo,

para se definir estes valores são realizados estudos técnicos da situação de cada região pelo

órgão regulador de águas do Distrito Federal (ADASA/DF), que define os valores a serem

cobrados com base nos mecanismos sugeridos pelo Comitê de Bacia Hidrográfica e de

acordo com o Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal.

Entretanto, na região de São Sebastião estes estudos ainda não foram realizados e

com isso não foi definida a tarifação para o uso dos serviços e da água na região. A única

forma de cobrança realizada nesta área vem sendo através da Taxa de Fiscalização sobre

Serviços Públicos de Abastecimento de Água (TFS) e pela Taxa de Fiscalização dos Usos

dos Recursos Hídricos (TFU), as quais entraram em vigor recentemente, no ano de 2005,

contudo apenas o pagamento da TFU consta nas obrigações dos termos de outorga dos

poços e deve ser paga pela CAESB para a ADASA/DF.

Portanto os moradores da região ainda não pagam pelos valores referentes a estas

taxas; apenas recebem a conta normal de água que cobra pelos serviços de tratamento,

funcionários, bombeamento e outros serviços básicos normalmente pagos por todas as

regiões.

5.2.3 Qualidade da água

A qualidade da água precisa ser compatível com a sua destinação de uso; uma

melhor qualidade para um uso mais exigente possibilita uma maior economia com

processos de tratamento, além de assegurar a perenidade qualitativa do recurso hídrico.

Para realizar o enquadramento das águas em classe, cabe ao Poder Executivo definir

os padrões e referenciais qualitativos para os recursos hídricos, os quais são determinados

pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) em sua Resolução nº 357/2005,

destacando ainda que, apesar desta classificação ser utilizada ela não apresenta valores

específicos para corpos d’água subterrâneos. O abastecimento populacional é enquadrado

72

na classe 01 de qualidade, categoria que define os parâmetros de análise físico-química e

bacteriológica dentro dos Valores Máximos Permissíveis (VMP) para as atividades

humanas de contato primário com a água.

Os procedimentos de controle da qualidade da água para consumo humano e seu

padrão de potabilidade são determinados pela Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde,

que define os valores adequados dos parâmetros de análise para a potabilidade das águas

subterrâneas (vide Tabela 04).

Cumpre à ADASA/DF, propor ao Conselho de Recursos Hídricos do Distrito

Federal incentivos destinados à conservação da qualidade da água no Distrito Federal, com

o objetivo de regular e controlar a qualidade dos corpos de água subterrânea. Neste

momento ocorre a participação da regulação técnica, responsável pela análise e controle

dos padrões de qualidade, com a verificação do cumprimento das normas legais.

A CAESB desenvolve trimestralmente a análise das características físico-químicas e

biológicas das águas subterrâneas de cada poço, para o abastecimento da região de São

Sebastião. onde são analisados não só os parâmetros essenciais previstos na Resolução

350/2006 da ADASA/DF, como também são analisadas as taxas de Alcalinidade (mg/l),

Demanda Química de Oxigênio (DQO – mg/l), Dureza (mg/l), Ferro total (mg/l),

Nitrogênio Amoniacal (mg de N/l) e Nitrato (mg de N/l) (Vide Tabela 04).

73

Tabela 04 – Análises Físico-Químicas e Biológicas dos poços em São Sebastião no 1º trimestre 2007.

Fonte: CAESB, 2007a

O poço SS – 09 não possui resultados destas análises visto que este é um poço

apenas de monitoramento do nível da água e o poço SS – 14 não possui os dados, pois se

encontrava inoperante no período de realização dos testes. A análise destes poços revela

bons padrões de potabilidade para uma água de origem bruta. Mesmo assim para realizar o

abastecimento urbano, as águas destes poços passam por unidades de cloração implantadas

para determinados poços conforme Tabela 05 e todo volume também realiza o tratamento

básico de cloração e fluoretação nos Centros de Reservação Oeste e Leste.

Sist. Param. Unid.

pH Turbid. UT

Condutiv. µµµµS/cm

SDT mg/l

Alcalin. mg/l

DQO mg/l

Dureza mg/l

Fe total mg/l

Manga. mg/l

Cloreto mg/l

N Amonia mg de

N/l

Nitrato mg de

N/l

Coli Total

NPM/100 ml

E. Coli NPM/10

0 ml

SS-1 7,50 4,50 201,0 136,7 97,9 1,10 107,25 0,119 0,02 0,98 0,12 0,201 aus. aus.

SS-2 7,90 0,60 211,0 143,5 98,8 0,10 109,10 <0,005 <0,025 0,80 <0,02 <0,031 3 aus.

SS-5 7,90 0,50 223,0 151,6 102,1 0,10 109,80 <0,005 <0,025 1,60 <0,02 0,082 aus. aus.

SS-6 8,00 0,60 229,0 155,7 109,7 0,20 116,50 0,039 <0,025 0,90 0,04 0,049 1 aus.

SS-7 8,00 0,40 206,0 140,1 99,1 0,60 103,40 0,022 0,04 1,80 <0,02 <0,031 4,1 aus.

SS-8 8,00 0,50 218,0 148,2 105,1 0,50 110,60 0,019 <0,025 1,50 <0,02 0,376 aus. aus.

SS-9 - - - - - - - - - - - - - -

SS-10 7,70 0,30 269,0 182,9 116,2 1,20 130,00 <0,005 <0,025 5,40 <0,02 1,986 1 aus.

SS-11 8,00 0,40 193,1 131,3 87,5 0,40 86,10 <0,005 <0,025 1,60 <0,02 0,628 1 aus.

SS-12 7,80 1,20 206,0 140,1 93,9 2,00 101,80 0,050 0,05 0,50 <0,02 <0,031 161,6 34,1

SS-13 7,70 0,10 210,0 142,8 113,1 0,50 110,80 <0,005 <0,025 0,40 <0,02 <0,031 aus. aus.

SS-14 Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø

SS-15 8,00 0,60 202,0 137,4 103,7 3,20 105,00 0,122 <0,025 0,50 <0,02 <0,031 aus. aus.

SS-16 7,90 0,60 216,0 146,9 105,7 0,70 110,60 <0,005 <0,025 0,80 <0,02 <0,031 1 aus.

SS-17 7,80 1,70 213,0 144,8 101,1 0,20 106,80 0,018 <0,025 0,60 <0,02 <0,031 >2419,6 143

SS-18 7,40 0,80 229,0 155,7 107,8 0,30 116,10 0,063 <0,025 0,90 <0,02 0,107 10,9 aus.

SS-19 5,80 1,40 5,7 3,9 2,2 0,10 2,90 0,042 <0,025 0,40 <0,02 <0,031 aus. aus.

VN-1 6,60 0,50 70,9 48,2 9,0 0,40 17,90 0,047 <0,025 2,50 <0,02 4,640 178,9 aus.

SJ-1 7,10 0,50 144,7 98,4 43,2 2,60 60,90 <0,005 <0,025 2,70 <0,02 3,760 1 aus.

SJ-2 5,80 0,30 77,5 52,7 10,1 1,50 21,10 <0,005 <0,025 6,10 <0,02 3,950 aus. aus.

SJ-3 7,80 0,40 173,3 117,8 82,3 1,70 85,30 0,013 <0,025 0,80 <0,02 0,088 aus. aus.

São

Seba

stiã

o

SS-20 8,00 0,70 167,6 114,0 73,3 2,30 102,92 0,020 <0,025 0,36 0,08 <0,031 aus. aus.

74

Tabela 05 – Unidades de Tratamento

Identificação Equipamentos Produçao – Vol. Tratado (l/s)

Setor Oeste / UTS-SS01

Tratamento de água proveniente dos poços na saída do Centro de Reservação Oeste.

-

Setor Leste / UTS-SS02

Tratamento de água proveniente dos poços na saída do Centro de Reservação Leste

-

São Sebastião / UCP-SS01

Unidade de cloração de poço

19.215

São Sebastião / UCP-SS02

Unidade de cloração de poço

13.960

São Sebastião / UCP-SS06

Unidade de cloração de poço

26.437

São Sebastião / UCP-SS08

Unidade de cloração de poço

8.486

São Sebastião / UCP-SS12

Unidade de cloração de poço

41.250

São Sebastião / UCP-SS13

Unidade de cloração de poço

8.988

São José / UCP-SJ01

Unidade de cloração de poço

8.183

São José / UCP-SJ03

Unidade de cloração de poço

24.108

TOTAL

150.357

Fonte: CAESB, 2007a

Em alguns dos poços analisados existe a ocorrência de inconformidades com as

normas da Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde. No padrão de potabilidade

microbiológica, que trata principalmente de Coliformes Totais e Coliformes

Termotolerantes (Escherichia coli), onze poços acusaram a presença destes

microorganismos enquanto a norma determina sua ausência, mas não representam nenhum

problema grave, haja vista que são eliminados pelo tratamento de cloração.

Possivelmente as alterações desses parâmetros podem estar ligadas aos problemas

existentes em algumas infra-estruturas dos poços. Por exemplo, a falta da estrutura de

alvenaria na superfície, que reveste os tubos das canalizações, pode ser a responsável pela

75

contaminação por presença de Coliformes totais e Coliformes termotolerantes (Escherichia

coli) nas águas captadas, haja vista a vulnerabilidade de contaminação pelo escoamento

superficial estar aumentada pela falta desta estrutura, que objetiva justamente a prevenção

superficial.

Conforme esta mesma Portaria, a unidade de turbidez apresentada pós-filtração ou

tratamento de desinfecção para águas subterrâneas, deveria ser de até 01 UT (Unidade de

Turbidez); entretanto, 04 poços excederam este valor. Mesmo assim também não

representam nenhum problema, visto que estes valores estão entre os 5% dos valores

permitidos de turbidez superiores aos VMP (Valores Máximos Permitidos) e ocorrem

dentro do limite máximo de 5,0 UT (Unidade de Turbidez) para qualquer amostra pontual.

Assim foram realizadas novas amostras depois de efetuado o devido tratamento para

correção dos parâmetros que apresentavam valores irregulares, conforme demonstrado na

Tabela 06.

Tabela 06 – Correções realizadas em amostras analisadas no Sistema São Sebastião – Abril de 2007

Parâmetro pH Cor Turb. Cloro Fluor Coli

Totais

Coli

Term.

Limites estabelecidos Portaria 518/2004 – MS 6,0 a 9,5 _< 15 _< 5 0,2 a 2,0 0,6 a 1,0 > 95% 100%

Nº de amostras exigidas 9 9 9 76 7 76 -

Nº de amostras coletadas 114 114 114 114 114 114 114

Nº de amostras que atendem à Legislação 80 114 114 107 6 * 109 112

* em fase de implantação do sistema de fluoretação

Fonte: CAESB, 2007a

Em relação aos demais parâmetros analisados como Ferro, Manganês, Cloreto e

Dureza, todos também estão em conformidade com os parâmetros definidos pela Portaria

518/2004, com exceção do pH, que em 02 casos ficaram abaixo dos valores recomendados

de 6,0 a 9,5. Porém, como devem apresentar essa concordância apenas no sistema de

distribuição, neste momento já terá ocorrido a homogeneização no reservatório junto aos

volumes de águas provenientes dos outros 17 poços, haja vista a pequena alteração

constatada no valor deste pH.

76

5.2.4 Quantidade de água

Em vista da cidade de São Sebastião ter seu abastecimento urbano de água realizado

somente através de captação subterrânea, tem-se a justificativa para suas altas taxas de

vazão explotadas. Esta realidade vem tomando uma dimensão cada vez maior,

proporcionalmente à taxa de crescimento da população, que implica em um aumento no

volume de água necessário para atender à demanda populacional.

Essas captações apesar de ainda relativamente recentes, constituirão os primeiros

dados de monitoramento de águas subterrâneas do DF, haja vista que em demais regiões a

exploração subterrânea de águas é realizada por condomínios residenciais, dos quais uma

parcela muito pequena possui outorga e tem o monitoramento de seus dados, assim não

constituirão dados futuros representativos. Por isso e por esta área hidrogeológica ser

relativamente nova e de extrema importância de demanda para decisões futuras sobre

qualidade e quantidade, é que se deve valorizar melhor a significância de tais dados e não

somente encarar como uma lacuna de curto período de ausência de dados.

Com base na análise dos dados fornecidos pela ADASA/DF, constata-se pela

Tabela 07 que seu percentual de explotação já atinge a marca dos 65%, que corresponde a

um volume bastante aproximado do limite de 90% determinado por este mesmo órgão.

Momento no qual devem ser estipulados determinados racionamentos preventivos e a

utilização de alternativas paralelas para o fornecimento de água à população, pois serão

revistos os termos de concessão de outorga no ano de 2011, quando irá acontecer o

vencimento do prazo de 5 anos outorgados para o uso destes poços.

Na Tabela 07 encontram-se os valores das reservas definidas para o Subsistema

F/Q/M do Domínio Fraturado.

Tabela 07 – Reserva hídrica de água subterrânea no Sistema Canastra – DF

Domínio Fraturado Área (m²) Espessura

(m)

Índice de Fraturamento

(%)

Reserva Permanente – RP (m³/ano)

Reserva Renovável – RR (m³/ano)

Reserva Explotável – RE (m³/ano)

F 913502000 100,0 0,005 456751000,0 12789028,0 35626578,0 Sistema Canastra F/Q/M 46122000 100,0 0,035 161427000,0 645708,0 8717058,0

Fonte: ADASA/DF, 2007

Em obediência aos termos previstos no artigo 2º da Lei 2.725/2001, que diz: ”[...]

em situação de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a

77

dessedentação de animais. [...]” é necessária a implantação de um regime de racionamento

preventivo para aplicação de medidas que assegurem seus usos prioritários e evitem uma

situação de maior criticidade.

Para administrar o agravo desta situação, estão definidas no artigo 25 do Decreto

22.358/2001, as providências que garantem a preservação e a manutenção do equilíbrio

natural das águas subterrâneas, variando desde restrições das vazões captadas nos poços até

situações de suspensão ou revogação da outorga de direito de uso.

São realizadas medições de vazão para cada um dos poços responsáveis pelo

abastecimento urbano de São Sebastião, para controlar sua exploração conforme os valores

outorgados em suas resoluções. A Tabela 08 apresenta as respectivas vazões de outorga e

de teste; considera-se vazão de teste, o volume da capacidade de produção total do poço e,

por vazão de outorga, aquela regulada pela legislação vigente (75% da vazão de teste).

Tabela 08 – Relação dos volumes explotados dos poços de acordo com sua vazão total e sua vazão de outorga (ADASA/DF, 2007) Dados Gerais Q. outorga (75%) – 20h/dia Q. teste (100%) – 24h/dia

Poços Q. outorga

(l/h) Q. máx. (m³/dia)

Q. máx. (m³/ano)

Q. teste (l/h)

Q. teste (m³/dia)

Q. teste (m³/ano)

EPO-SS01 84.000 1.680,00 613200 112.000 2.688 981120 EPO-SS02 84.750 1.695,00 618675 113.000 2.712 989880 EPO-SS05 9.999 199,98 72992,7 13.333 319 116797,08 EPO-SS06 39.600 792,00 289080 52.800 12.672 462528 EPO-SS07 25.825 516,50 188522,5 34.434 826 301641,84 EPO-SS08 53.250 1.065,00 388725 71.000 1.704 621960 EPO-SS09 - - - - - - EPO-SS10 31.500 630,00 229950 42.000 1.008 367920

EPO-SS11 24.750 495,00 180675 33.000 792 289080

EPO-SS12 99.000 1.980,00 722700 132.000 3.168 1156320 EPO-SS13 22.980 459,60 167754 30.641 735 268415,16 EPO-SS14 6.600 132,00 48180 8.801 211 77096,76 EPO-SS15 29.700 594,00 216810 39.600 950 346896 EPO-SS16 139.500 2.790,00 1018350 186.000 4.464 1629360 EPO-SS17 37.125 742,50 271012,5 49.500 1.188 433620 EPO-SS18 7.713 154,26 56304,9 10.285 246 90096,6 EPO-VN01 24.750 495,00 180675 33.000 792 289080 EPO-SJ01 16.875 337,50 123187,5 22.500 540 197100 EPO-SJ02 5.400 108,00 39420 7.200 172 63072 EPO-SJ03 43.615 872,30 318389,5 58.154 1.395 509429,04 TOTAL 786.932

15.738,64 5744603,6 1.049.248

25181,952

9191412,48

Fonte: ADASA/DF, 2007

78

Com base nos resultados é possível encontrar um percentual de 65,9%,

correspondente ao somatório do volume das vazões outorgadas, relativo ao volume definido

pela reserva explotável somado à reserva renovável, como visto na Tabela 07 o que denota

uma sobra de aproximadamente 34% do total explotável das reservas subterrâneas

utilizadas. De acordo com a legislação vigente, este percentual pode alcançar até um limite

máximo de 90% de seu potencial; a partir daí, são reavaliadas as condições da outorga em

prol da manutenção e conservação dos recursos hídricos subterrâneos.

Dessa forma os valores explorados, apesar de serem altos, ainda não estão

comprometendo muito o nível do lençol freático. Na situação atual ainda sobra um volume

aproximado de 2.972.455,4 m³ de água por ano, de um total passível de ser utilizado de

8.717.058,0 m³/ano, correspondente à Reserva Explotável somada à Reserva Renovável.

Este valor explotado não pode ultrapassar a marca dos 90% determinados na legislação

pois, neste caso, a reserva passará a contar com um volume inferior a um milhão de m³ por

ano para realizar o equilíbrio de seu sistema.

É interessante ressaltar que o saldo positivo do balanço entre o volume que entra no

aqüífero e o volume consumido é resultado da reserva renovável somado aos 5% da reserva

permanente (vide item 2.1 pág. 12). Como o volume da reserva permanente é muitas vezes

maior que o volume da reserva renovável, este balanço só é positivo por sofrer o déficit no

coeficiente percentual da reserva permanente utilizado para o cálculo. Conclui-se que

apesar de um balanço positivo na teoria, certamente o lençol freático vem rebaixando

lentamente o seu nível prático na reserva permanente, em função desta demanda de

abastecimento.

O volume total passível de explotação consiste em 8.717.958 m³/ano e como já dito,

este valor compõe em 5,4% a reserva permanente do Subsistema Canastra F/Q/M de onde é

subtraído o valor da vazão total outorgada para captação e abastecimento da população, que

corresponde a 5.744.058 m³/ano; a diferença resulta num valor de sobra de 2.973.000

m³/ano. Em termos percentuais a vazão total outorgada é igual a 3,5% da reserva

permanente, o que deixa sobrar um valor de apenas 1,9% da reserva explotável a ser

explorada.

Como a utilização destes recursos subterrâneos é de aproximadamente 10 anos, se

for feita uma progressão temporal é possível estimar que daqui a mais 20 anos será

79

explotado uma vazão acumulada de 172.321.140 m³/ano, tendo como valor acumulado para

a reserva explotável 261.511.740 m³/ano; assim, encontraremos uma diferença de sobra

igual a 89.190.000 m³/ano. Percentualmente esta diferença representa atualmente mais da

metade da reserva permanente existente, de onde se pode entender que num prazo de vinte

anos, a reserva permanente que hoje tem 5% por ano de seu total utilizadas como reserva

explotável, terá uma redução de mais de 50% em seu nível freático, ou seja, são 5,4%

disponíveis para uso anualmente, de onde 3,5% são utilizados e corresponderão a metade

da reserva permanente. Por isso entende-se que este déficit no volume explotável utilizado

ocorre diretamente na reserva permanente.

É importante ressaltar que devido ao fato deste subsistema aqüífero ser de fraturas é

possível ocorrer rebaixamentos temporários em algum poço que possua menor Índice de

Fraturas, significando menor capacidade de armazenamento se sua vazão de explotação

estiver muito elevada e se prolongar próxima ao seu tempo limite de captação. Em

decorrência é comum haver entrada de ar no sistema de bombeamento devido ao

rebaixamento do nível do lençol freático e conseqüente curto-circuito da bomba.

O crescimento populacional e a necessidade de abastecimento doméstico e rural são

fatores que contribuem ininterruptamente para o aumento da demanda do volume

explotado. Tal fato gera a necessidade de mais conhecimentos para a previsão de uma

possível situação de escassez e para implementar alternativas mitigadoras viáveis de

aplicação, evitando maiores impactos negativos ao meio ambiente.

5.3 IMPACTO NA GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS: A VARIAÇÃO DO

LENÇOL FREÁTICO.

A eficiência de uso dos recursos hídricos subterrâneos depende de um bom

planejamento para condicionar as melhores práticas de gestão e maximizar o

aproveitamento de suas águas. Para isso é importante realizar um Estudo de Impacto

Ambiental (EIA) que contemple as características da região a ser trabalhada.

Na região objeto do estudo, o abastecimento da população da cidade é realizado

basicamente através de captações subterrâneas; isso implica numa maior vazão de

explotação para atender à demanda. O volume retirado das reservas subterrâneas provoca

80

uma série de impactos, os quais inicialmente não são graves, mas podem ser

comprometedores na medida que se intensifica a sua retirada ou se prolongue a utilização

do aqüífero.

Como foi demonstrada no item 5.2.4, a região de São Sebastião já apresenta indícios

de uma superexplotação de seus aqüíferos, pois o abastecimento realizado através das

reservas subterrâneas tende a causar um rebaixamento de seus níveis no transcorrer dos

anos.

Num sistema aqüífero o volume de água que entra anualmente é o mesmo que pode

ser explorado sem que cause algum tipo de impacto, pois o reabastecimento é geralmente

menor que o volume da reserva permanente e esta, se for afetada, é quem causará os

desequilíbrios impactantes.

Por isso torna-se importante conhecer o tempo médio de reabastecimento do

aqüífero e as estações do ano, bem como presumir a velocidade com que a água se move da

área de recarga para a área de retirada, mais intensificada durante a estação das chuvas.

A variação do lençol freático traz inúmeras conseqüências. Pode-se citar questões

de ordem social como, sendo responsáveis por conflitos de uso da água, haja vista que tal

variação pode ocasionar o esgotamento de determinados poços, causando polêmicas sobre

determinados usos localizados. Por exemplo, o volume gasto por moradias geralmente está

muito abaixo do volume gasto por postos de gasolina e lava jatos dentre outros

consumidores, situação potencialmente geradora de tais conflitos.

O rebaixamento do nível do aqüífero pode ocasionar o bombeamento de águas de

menor qualidade provenientes de aqüíferos adjacentes. Tal fato pode variar desde uma

pequena mudança natural no pH da água até o caso de contaminação por Coliformes Totais

e/ou Termotolerantes (Escherichia coli) presentes, por exemplo, numa criação de animais a

alguns quilômetros de distância.

Outro caso encontrado corresponde à queima da bomba do poço devido ao

rebaixamento do nível do lençol freático, isto ocorre possivelmente por um erro de

planejamento da explotação cabível, por uma variação sazonal do poço ou ainda pela

superexplotação dos aqüíferos. Em todos os casos a queima da bomba provoca um prejuízo

econômico; tratando-se uma superexplotação, outros impactos poderão acontecer a longo

81

prazo, como conflitos sociais e perdas na qualidade das águas, em decorrência de uma falha

na gestão.

A reserva subterrânea de água influi diretamente no nível dos recursos hídricos

superficiais e na situação de seu rebaixamento. A alimentação subterrânea dos Ribeirões

Taboca e Santo Antônio da Papuda e o Rio São Bartolomeu, poderá ser comprometida e

com isso é provável também que haja redução de nível em alguns pontos do seu leito. O

afastamento das águas de sua margem irá impactar em toda biota local, podendo gerar

possíveis impactos negativos para a toda região. Dessa forma, fica caracterizada a

importância da integração dos recursos hídricos para melhorar sua eficiência de uso,

principalmente, neste caso de abastecimento populacional.

A região de São Sebastião, por estar localizada sobre aqüíferos fraturados e

caracterizados por rochas mais consolidadas, não precisa se preocupar com um problema

bastante comum que é o afundamento da superfície em virtude da ausência do material

líquido no interior das reservas subterrâneas, visto que esse problema acontece em

hidrogeologias de características mais porosas.

O bombeamento excessivo na região ainda pode acarretar problemas econômicos,

pois os investimentos em infra-estrutura para este tipo de abastecimento por vias

subterrâneas podem ser perdidos assim que o órgão regulador (ADASA/DF) determinar

que os níveis dos aqüíferos estão se aproximando do limite máximo estabelecido pela

legislação e por isso determinar a lacração dos poços. Os custos ainda devem aumentar

associados ao rebaixamento dos níveis das águas subterrâneas que implicarão na

necessidade de aprofundamento dos poços para se continuar a captação e por necessidade

do abaixamento da caixa da bomba ou instalação de bombas maiores.

5.3.1 Conseqüências do uso excessivo: um alerta da situação

O abastecimento da região de São Sebastião explora altas vazões para atender a

demanda populacional, nos dias de hoje ainda não são evidentes as alterações que estão

ocorrendo. Mesmo assim a explotação acontece de forma cotidiana a retirar um

determinado volume diário; a longo prazo efeitos colaterais, muita vezes imprevisíveis,

podem vir a ocorrer. Nesta situação é importante que os órgãos gestores estejam preparados

82

para contornar as dificuldades ocorridas, para se evitar maiores danos ao meio ambiente e

reduzir os transtornos populacionais.

A realização de estudos e a captação de fundos para a efetivação de medidas

alternativas para o abastecimento populacional é fundamental frente à dimensão do

problema. No momento em que for constatada a necessidade de mudança dos métodos

utilizados para o abastecimento populacional é oportuno que a realização das obras

alternativas auxiliares já estejam em andamento, visto que o volume disponível para

satisfação das demandas de consumo já estará comprometido.

Somado ao fato que quanto maior o esgotamento das reservas subterrâneas, maiores

serão os impactos causados ao meio ambiente e mais difícil serão as condições para a

reversibilidade da situação.

83

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Diante do desafio inicial deste estudo, de avaliar a maneira como é praticada a

gestão de águas subterrâneas pela CAESB em São Sebastião, foi verificada a hipótese de

que esta região é abastecida unicamente através de captações de águas subterrâneas. As

pesquisas realizadas confirmaram tal situação, devido à baixa vazão de seus recursos

superficiais e a favorabilidade de exploração das águas subterrâneas.

A gestão regulamentar aplicada apresenta algumas falhas, em geral decorrentes da

ausência ou avaria de alguma infra-estrutura nos pontos de captação. As diretrizes para a

instalação, operação e manutenção dos poços são claras, bem definidas e necessariamente

devem ser seguidas, com o objetivo de se proporcionar os seus melhores usos; todavia, as

situações de alguns poços em São Sebastião ainda deixam a desejar.

Por se tratar de uma área que apenas atualmente vem recebendo a devida atenção e

apoio tecnológico necessário, os procedimentos para sua gestão vêm se aprimorando e

recuperando um tempo em que ficaram estagnados. As especificidades para a

regulamentação de todas as diretrizes a serem seguidas pelo empreendimento também

causam contravenções, as quais muitas vezes estão em conformidade com a realidade local,

mas, se desenquadram dos parâmetros da norma regulamentar e se tornam irregulares. Uma

incoerência passível de se ocorrer entre a teoria e a prática.

A gestão das águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião vem

sendo bem desenvolvida, entretanto ainda precisa melhorar algumas de suas atividades para

se enquadrarem perfeitamente dentro das Políticas Públicas de Recursos Hídricos. Frente à

dimensão desta realidade, o abastecimento hídrico populacional consiste em um processo

muito complexo que precisa ser atualizado constantemente para alcançar sua melhor

eficiência, sobretudo em decorrência da baixa disponibilidade de estudos nesta área de

reservatórios subterrâneos no Distrito Federal.

A atuação da CAESB precisa ser cuidadosamente criticada, pois esta companhia

desenvolve a atividade de abastecimento populacional de água e saneamento básico com

ótimos rendimentos de suas atividades, atingindo uma produção bastante eficiente

principalmente em virtude da sensibilidade necessária às suas ações. No caso de São

Sebastião, a demanda populacional atendida pelo seu abastecimento de água é bastante

84

satisfatória, especialmente em virtude do pouco tempo existente de sua implantação,

contudo é necessário atentar para algumas falhas na implantação da infra-estrutura, para

não comprometer a potabilidade futura das águas explotadas.

A utilização do abastecimento populacional de água por meio de captações

subterrâneas merece um cuidado especial para a realização de seu monitoramento, tanto

para a qualidade quanto para a quantidade da água explorada, visando à diminuir a origem

de possíveis impactos negativos. Neste presente estudo foram constatados os impactos que

possuem as maiores possibilidades de ocorrência, devido a implicações em sua infra-

estrutura e bem como as possíveis conseqüências decorrentes. Todavia a ação fiscalizadora

da ADASA/DF vem acelerando o desenvolvimento de ações concretas por parte da CAESB

para mitigar essas eventuais falhas.

Concluindo ficam as recomendações de clara importância para atividades

posteriores:

a) A criação do Comitê de Bacias Hidrográficas para o Distrito Federal e a

efetivação dos Planos de Recursos Hídricos para orientar a implementação das

Políticas Nacionais e Distritais de Recursos Hídricos.

b) O desenvolvimento de estudos de disponibilidade e captação de águas

subterrâneas em regiões com stress hídrico;

c) A elaboração de medidas que visem à criação de áreas de uso restritivo de águas

subterrâneas, especialmente em áreas de recarga;

d) A realização de estudos de recarga artificial com água de enchente, excedentes

periódicos de Estações de Tratamento de Água (ETA), águas pluviais coletadas por

coberturas de edifícios, pistas de pouso e outros implúvios, para aumentar as

disponibilidades de água e atenuação de eventos críticos;

e) Por fim, a promoção do desenvolvimento metodológico para estabelecimento de

perímetros de proteção de captações e controle de uso de aqüíferos.

85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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86

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87

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TODD, D. K. Hidrologia de águas subterrâneas. Rio de Janeiro: Edgard Blücher. 1967.

88

ANEXOS

89

ANEXO A

Autorização de Publicação ADASA/DF

90

ANEXO B

Autorização de Publicação CAESB

91

ANEXO C

Artigo Científico

RESUMO

Os reservatórios subterrâneos de água são de fundamental importância para os recursos hídricos, pois representam mais de 90% da água doce no mundo. O sistema de abastecimento por perfurações subterrâneas já é muito antigo, mas atualmente sua demanda de uso atinge um crescimento anual incomparável. Assim estão inscritos no amparo das Leis um órgão para as finalidades de gestão e abastecimento e outro com fins de fiscalização e outorga, onde no estudo de caso realizado tratam-se respectivamente da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) e da Agência Reguladora de Água e Saneamento do Distrito Federal (ADASA). Neste estudo foi contemplado o abastecimento urbano da Região Administrativa de São Sebastião, o qual é realizado através de reservas subterrâneas de água, de modo que foi avaliada a atual situação a gestão nesta localidade, bem como a atuação de seus órgãos gestores dentro das definições das Leis. Verifica as práticas de gerenciamento utilizadas, as limitações para a realização do monitoramento e o cumprimento com os termos de outorga. Determina a importância dos instrumentos de gestão para a conservação dos padrões de potabilidade e quantidade da água e seu embasamento legislativo. Argumenta algumas possibilidades de impactos negativos para o meio ambiente, em conseqüência de um mau uso dos recursos hídricos subterrâneos e seus possíveis efeitos a longo prazo. Com o objetivo de chamar a atenção para a importância que esta atividade representa para o ser humano e mais ainda para o desenvolvimento das gerações futuras. INTRODUÇÃO Dentro do ciclo hidrológico os maiores reservatórios de água doce se encontram nos subterrâneos do subsolo. Além de constituírem a maior parte dos reservatórios, eles também compõem os níveis dos recursos superficiais atuando como seu leito sub-superficial e alimentando seu fluxo mesmo em períodos de estiagem. Tal fato implica na necessidade da gestão integrada de tais recursos, permitindo realizar o controle de abastecimento segundo as condições da vazão e da estação do ano, tanto para os recursos hídricos superficiais quanto para os subterrâneos, atingindo assim seu melhor aproveitamento. Este trabalho procura esclarecer as definições para o uso sustentável e as limitações no uso das águas subterrâneas e aponta as fundamentais práticas de gestão e planejamento para seu uso e proteção, ao amparo leis do Distrito Federal. Especificamente, analisa a atuação dos órgãos gestores de recursos hídricos do DF, compostos pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) e Agência Reguladora de Água e Saneamento (ADASA), na Região Administrativa de São Sebastião - DF. os processos de outorga e de monitoramento constituem-se numa ferramenta extremamente importante, para regular as possibilidades de uso da água e sua tarifação, assim como fornecer padrões para a determinação da quantidade e qualidade das águas exploradas, objetivando definir as vazões de explotação para cada tipo de uso, com vistas a alcançar um ideal de manejo onde a população seja mais bem atendida, ao mesmo tempo em que se estabeleça um planejamento para o uso sustentável do potencial aqüífero. Entretanto existe uma série de limitações que dificultam este monitoramento, como o cadastramento das fontes de extração, por conveniências particulares, muitas vezes se ocultam da fiscalização; o monitoramento periódico necessário para o recolhimento de dados relativos a qualidade e volume de explotação da água e o apoio da sociedade, a qual muitas vezes se torna inimiga da gestão, por

92

não se evidenciar nos processos de outorga da água buscando evitar cobranças e restrições quanto a sua exploração. Paralelamente a estas dificuldades tem-se a necessidade do abastecimento populacional onde, no caso da Região Administrativa de São Sebastião – DF, é realizado unicamente através de captações subterrâneas, o que gera mais uma limitação com relação ao volume passível de captação sem, contudo comprometer o nível do reservatório permanente, porém atingindo seus fins de abastecimento. Neste momento entra o papel fundamental da gestão pela CAESB, buscando estabelecer as relações possíveis entre consumo humano, disponibilidade e qualidade do recurso oferecido, atuando conjuntamente com o seu órgão regulador e fiscalizador (ADASA – DF) e interagindo de forma a atender a demanda de abastecimento populacional e assegurar a implementação dos instrumentos de gestão dos aqüíferos sem prejudicar o nível de suas reservas. OBJETIVO Avaliar a execução de Políticas Públicas de Gestão do meio ambiente no que se refere às águas subterrâneas da Região Administrativa de São Sebastião – Distrito Federal.

JUSTIFICATIVA

O aumento do crescimento populacional vem causando aumento na necessidade de abastecimento de água potável de tal maneira que, com o passar dos tempos, essa procura começou também a usufruir dos recursos hídricos subterrâneos. Da mesma forma que é fundamental a utilização racional dos recursos superficiais, é importante haver um plano de manejo para os recursos subterrâneos. Encontrar um caminho objetivando um manejo mais otimizado, aumentar a eficiência de uso de tais recursos, adequar os seus usos múltiplos e assegurar sua sustentabilidade. Em virtude de seu fácil acesso e à qualidade de suas águas, os recursos hídricos subterrâneos vêm sofrendo uma exploração extremamente desordenada, fato que, muitas vezes, está comprometendo a qualidade de suas águas e trazendo, como maiores problemas, a contaminação e o esgotamento de suas reservas. A demanda de água para o abastecimento populacional na Região Administrativa de São Sebastião e a falta de recursos hídricos superficiais existentes naquele local, desencadeou um sistema de abastecimento público totalmente baseado na captação de águas subterrâneas. Portanto tornou-se mais viável a utilização de água subterrânea de boa qualidade e volume para o abastecimento da população, em detrimento do fornecimento através de águas superficiais que necessitam ser captada a quilômetros de distância, demandando um valor muito alto para a implantação da infra-estrutura necessária. Tais condições comprovam a necessidade de um efetivo monitoramento pelos órgãos gestores do Distrito Federal (ADASA e CAESB). No objetivo de organizar um registro eficiente e constante dos dados e formatar um plano de manejo e outorga. Para o atendimento das necessidades de abastecimento dos usuários, bem como normatizar suas condições de exploração e uso do recurso subterrâneo em questão. Por isso a importância de se gerar mais conhecimentos científicos - tecnológicos sobre as situações decorrentes do abastecimento urbano através de águas subterrâneas. Pois fazem parte de um conjunto de informações que determinam quais ações devem ser executadas em determinado momento, respeitando o direito ao uso comum da água e os limites impostos pelo ambiente em questão. Atitudes preventivas evitam possíveis impactos ao meio ambiente e garante o seu uso a gerações futuras, papel fundamental no campo da gestão do meio ambiente por meio de Políticas Públicas.

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MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa trata-se de um procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. É requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema (GIL, 2002). Utiliza-se cuidadosamente de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos e desenvolve-se ao longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até a satisfatória apresentação dos fatos (GIL, 2002). É utilizada a aplicação de métodos científicos em busca do alcance de respostas para questões levantadas, para compor as finalidades da pesquisa. Entretanto, ocasionalmente não acontece à justa veracidade nas respostas, contudo esses métodos constituem a melhor maneira de se encontrar resultados satisfatórios ou de completo sucesso (NEVES, 2006). Qualquer empreendimento de pesquisa, para ser bem-sucedido, deverá levar em consideração o problema dos recursos disponíveis. O pesquisador deve ter a noção de tempo a ser utilizado na pesquisa e valorizá-lo. Deve prover-se de equipamentos e materiais necessários ao desenvolvimento da pesquisa e estar atento aos gastos decorrentes da remuneração dos serviços prestados por outras pessoas (GIL, 2002). Nesta investigação foram contemplados estudos comparativos das legislações brasileiras relacionadas aos recursos hídricos e mais detalhadamente, a sua ocorrência na forma subterrânea. Dessa forma, foi observada primeiramente a Lei 9.433/97, que trata da Política Nacional de Recursos Hídricos, onde constam as diretrizes que devem ser respeitadas para se realizar a gestão sustentável, assim como sua defesa no amparo legislativo e em seguida a Política de Recursos Hídricos do Distrito Federal. O estudo também foi realizado com a legislação referente aos recursos hídricos subterrâneos pelos órgãos gestores do Distrito Federal, principalmente. A ADASA, que possui autonomia para legislar, enquanto a CAESB, foi enfocada em sua área de trabalho e suas condições de atuação, para possibilitar a verificação da situação da gestão e possíveis impactos decorrentes da utilização das águas subterrâneas para abastecimento da população. Trata-se da elaboração de um diagnóstico preliminar, cuja observação permite registrar inconformidades segundo suas próprias diretrizes, que visam a garantir o abastecimento populacional ao mesmo tempo em que assegurem a integridade do recurso explorado. A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos. É realizada com o intuito de recolher informações e conhecimentos prévios acerca de um problema para o qual se procura resposta ou sobre uma hipótese que se quer experimentar (CERVO; BERVIAN, 1983). Contudo de forma complementar as informações legislativas, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, em busca das conceituações já definidas para as águas subterrâneas e outros estudos de dissertações realizados na região de São Sebastião. Entretanto a própria criação da Região Administrativa de São Sebastião é um fato relativamente novo, conseqüentemente, a chegada da infra-estrutura urbana na região ainda está por acontecer. Todavia foram poucos autores que relataram as condições ambientais e de gestão dos recursos hídricos nesta região. Realizado um breve histórico da situação em estudo, uma descrição da área e as condições que regem esta localidade. Descrevendo rapidamente a população e sua necessidade de abastecimento. Identificando assim os fatores importantes para avaliação de algum possível impacto ao meio ambiente e caracterizando a maneira como ocorre a gestão de águas subterrâneas na região. No planejamento de toda pesquisa é envolvida a tarefa de coleta de dados, uma fase intermediária, que ocorre após a escolha e delimitação do assunto, a revisão bibliográfica, a definição dos objetivos, a formulação do problema e das hipóteses e a identificação das variáveis. Há diversas

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formas de coleta de dados, todas com suas vantagens e desvantagens. Os instrumentos de largo uso são a entrevista, o formulário e o questionário (CERVO; BERVIAN, 1983). Para a realização deste estudo foi utilizado o método questionário, considerando a melhor viabilidade e suas vantagens oferecidas. Portanto, com vistas ao melhor aproveitamento do tempo, as perguntas foram elaboradas de maneira clara e precisa, abordando diretamente os objetivos específicos determinados. Propostas de maneira que conduzissem facilmente às respostas de forma a não insinuarem outras colocações. Como parte deste estudo foi realizado à aplicação de um questionário, referente à situação da gestão das águas subterrâneas na região de São Sebastião e os possíveis impactos advindos do abastecimento de água para a população. Estes foram aplicados para os gestores representantes da ADASA e da CAESB e também para o administrador regional de São Sebastião. Todos os três questionários foram aplicados com as mesmas questões, na intenção de uma possível comparação as entre respostas obtidas. Entretanto o administrador regional de São Sebastião preferiu encaminhar as questões a CAESB que é a companhia responsável pela execução desta gestão, reduzindo assim o número de questionários para dois. RESULTADOS E DISCUSSÕES O presente estudo aborda a gestão das águas subterrâneas em São Sebastião – DF e verifica a atuação dos seus órgãos gestores (ADASA/Df e CAESB). Para isso foram estudados os vinte poços da região utilizados pela CAESB para o abastecimento geral da população, contemplando os procedimentos de outorga, instrumentos de cobrança, estudos da qualidade e quantidade da água utilizada. São Sebastião é a única cidade do Distrito Federal que tem o seu sistema de abastecimento público de água totalmente baseado na captação por poços tubulares profundos. A garantia do abastecimento sustentável de água dessa cidade é diretamente dependente de estudos hidrogeológicos, pois por meio destas informações pode se recomendar e coordenar ações para o manejo adequado dos seus aqüíferos e garantir a sustentabilidade do abastecimento de água potável (JOKO, 2002). Se comparadas com as águas de origem superficial, a captação de água subterrânea demanda menor custo, uma vez que os pontos de captação podem ser localizados próximos dos centros de consumo, não sendo necessários à construção de grandes redes de distribuição. Além disso, graças ao reservatório subterrâneo natural, não são necessárias grandes obras para reservar e coletar a água. Essas características aliadas com a garantia de na maior parte das vezes, a água captada ser de excelente qualidade, poupando o seu tratamento, fazem com que o abastecimento populacional tendo como fonte a água subterrânea seja cada vez mais viável e utilizado (JOKO, 2002). Para realização deste abastecimento a CAESB conta com a extração em 20 pontos de captação espalhados pela cidade, sendo que um destes não realiza explotação e serve apenas para realizações de testes de piezometria. A condição encontrada na região destes poços está de acordo com as normas de gestão regulamentares, encontram-se praticamente todos em boas condições de limpeza e cercados, entretanto ocorrem falhas quanto aos sistemas de alvenaria de proteção às perfurações subterrâneas. Os dois Centros de Reservação possuem a mesma infra-estrutura, que se constituem de dois tanques reservatórios e um centro de monitoramento para realização dos testes com as amostras recolhidas. Como pode ser visto nesta figura a estrutura à direita da fotografia, corresponde ao centro de monitoramento. Na cidade de São Sebastião todos os poços para abastecimento de água da população, exceto alguns dos poços de condomínios e das áreas rurais, são outorgados pela ADASA/DF para o uso da CAESB. O que corresponde a 20 poços, sendo que destes, 19 estão em operação e um é para realização de medições de nível, funcionando como piezômetro. Portanto fica entendido que estes poços satisfazem todos os parâmetros pré-definidos para a obtenção da outorga.

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Para manter a boa qualidade das águas subterrâneas todos os poços tiveram no ato de concessão de outorga, o requerimento de um perímetro de proteção com raio de 30 metros delimitados, cercados e limpos. Entretanto pesquisas de campo revelaram que muitos dos poços não atingem os 30 metros de raio definidos, até porque muitos se situam em meio à área urbana, o que faz com que se dificulte o espaço livre. Todavia em entrevista informal realizada na ADASA/DF, foi esclarecido que o raio de 30 metros na maioria das vezes se torna impraticável, assim cada situação é analisada por um técnico deste órgão, que será quem irá definir a área a ser protegida e cercada. O sistema de abastecimento urbano de água é composto por vários processos, os quais basicamente se baseiam em sua captação, tratamento, transporte, destinação final e reciclagem da água, em virtude disto é estipulado um valor a ser cobrado da população para custear estes processos. Sendo que este valor leva em consideração o uso quantitativo e qualitativo do recurso hídrico para definir sua valoração. De tal forma que a cobrança pelo recurso hídrico é calculada em função da modalidade do uso e se torna proporcional ao porte das intervenções e aos volumes captados. Outra utilidade encontrada neste instrumento de cobrança é o desenvolvimento de uma gestão racional, à medida que as pessoas evitam o desperdício tendo em vista um valor que será pago. Logo como consta na Lei 9.433/97, a água é um bem de domínio público e por isso passível de cobrança através da Política de Recursos Hídricos. A qual tem definido as diretrizes e critérios de cobrança pelos seus Planos de Recursos Hídricos, que compõem o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Onde se podem encontrar os critérios gerais para a outorga de direitos de cobrança, que são definidos pelo Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal. Em seguida são estabelecidos os mecanismos de cobrança pelo uso do recurso hídrico através dos Comitês de Bacia Hidrográfica, que ainda sugerem valores a serem cobrados. Contudo para se definir estes valores são realizados estudos técnicos da situação de cada região pelo órgão regulador de águas do Distrito Federal (ADASA/DF), que realiza a definição dos valores a serem cobrados com base nos mecanismos sugeridos pelo Comitê de Bacia Hidrográfica e de acordo com o Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal. A qualidade da água precisa ser compatível com a sua destinação de uso, uma melhor qualidade para um uso mais exigente, assim é possível uma maior economia com processos de tratamento, além de assegurar a perenidade qualitativa do recurso hídrico. Existe a ocorrência de inconformidades, em alguns destes poços analisados, com as normas da Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde. No padrão de potabilidade microbiológica, que trata principalmente de Coliformes totais e Coliformes Termotolerantes (Escherichia coli), onze poços apresentaram presença destes microorganismos, enquanto a norma determina sua ausência, mas não representam nenhum problema grave, haja vista que são eliminados pelo tratamento de cloração. Possivelmente as alterações desses parâmetros podem estar ligadas aos problemas existentes em algumas infra-estruturas dos poços. Por exemplo, a falta da estrutura de alvenaria na superfície, que reveste os tubos das canalizações, pode ser a responsável pela contaminação por presença de Coliformes totais e Coliformes termotolerantes (Escherichia coli) nas águas captadas, haja vista, a vulnerabilidade de contaminação pelo escoamento superficial estar aumentada pela falta desta estrutura, que executa justamente esta prevenção superficial. Em relação aos demais parâmetros analisados como, Ferro, Manganês, Cloreto e Dureza, todos também estão em conformidade com os parâmetros definidos pela Portaria 518/2004, com exceção do pH, que em dois casos se demonstram abaixo dos valores recomendados de 6,0 a 9,5. Porém como devem apresentar essa concordância apenas no sistema de distribuição, neste momento já terá ocorrido à homogeneização no reservatório junto aos volumes de águas provenientes dos outros 17 poços, haja vista a pequena alteração constatada no valor deste pH. Em vista da cidade de São Sebastião ter seu abastecimento urbano de água realizado somente através de captação subterrânea, tem-se a justificativa para suas altas taxas de vazão explotadas. Esta realidade vem tomando uma dimensão cada vez maior, proporcionalmente à taxa de

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crescimento da população, que implica em um aumento no volume de água necessário para atender a demanda populacional. Dessa forma os valores explorados apesar de serem altos, ainda não estão comprometendo muito o nível do lençol freático. Na situação atual ainda sobra um volume aproximado de 2.972.455,4 m³ de água por ano, de um total, passível de ser utilizado de 8.717.058,0 m³/ano, correspondente à sua Reserva Explotável somada a Reserva Renovável. Contudo este valor explotado não pode ultrapassar a marca dos 90% (noventa por cento) determinados na legislação, pois neste caso a reserva passará a contar com um volume inferior a um milhão de m³ por ano para realizar o equilíbrio de seu sistema. É interessante ressaltar que, o saldo positivo do balanço entre o volume que entra no aqüífero e o volume consumido é resultado da reserva renovável somado aos 5% (cinco por cento) da reserva permanente. Como o volume da reserva permanente é muitas vezes maior que o volume da reserva renovável, este balanço só se da como positivo por sofrer o déficit no coeficiente percentual da reserva permanente utilizado para o cálculo. Ou seja, apesar de um balanço positivo na teoria, certamente, o lençol freático vem rebaixando lentamente o seu nível prático na reserva permanente, em função desta demanda de abastecimento. É importante ressaltar que devido ao fato deste Subsistema aqüífero ser de fraturas é possível ocorrer rebaixamentos temporários em algum poço que possua menor Índice de Fraturas, ou seja, menor capacidade de armazenamento, se sua vazão de explotação estiver muito elevada e se prolongar próxima ao seu tempo limite de captação. Em decorrência é comum haver entrada de ar no sistema de bombeamento devido ao rebaixamento do nível do lençol freático e conseqüente curto circuito da bomba. O crescimento populacional e a necessidade de abastecimento doméstico e rural são tendências que contribuem ininterruptamente para o aumento de demanda do volume explotado. Tal fato gera a necessidade de mais conhecimentos para a previsão de uma possível situação de escassez e para implementar alternativas mitigadoras viáveis de aplicação, evitando maiores impactos negativos ao meio ambiente. Por isso torna-se importante conhecer o tempo médio de reabastecimento do aqüífero e as estações do ano, pois é através de uma determinada velocidade que a água se move da área de recarga para a área de retirada e mais consideravelmente durante a estação das chuvas. A variação do lençol freático traz inúmeras conseqüências, principalmente, podem-se citar questões de ordem social, sendo responsável por conflitos de usos entre os usuários deste sistema, haja vista que a variação pode ocasionar o esgotamento de determinados poços e de outros não naquela região, causando polêmicas sobre determinados usos localizados, que podem vir a gastar mais água. Como por exemplo, o volume gasto por moradias geralmente está muito a baixo do volume gasto por postos de gasolina, lava jatos entre outros empreendimentos, situação potencialmente geradora de tais conflitos. O rebaixamento do nível do aqüífero pode ocasionar o bombeamento de águas de menor qualidade, provenientes de aqüíferos adjacentes causando sua introdução em seu sistema. Tal fato pode variar desde uma pequena mudança natural no pH da água, até o caso de contaminação por Coliformes totais e/ou tolerantes (Escherichia coli), presentes, por exemplo, numa criação de animais há alguns quilômetros de distância. Outro caso encontrado corresponde à queima da bomba do poço devido ao rebaixamento do nível do lençol freático, isto ocorre possivelmente por um erro de planejamento da explotação cabível, por uma variação sazonal do poço ou ainda pela superexplotação dos aqüíferos. Em todos os casos a queima da bomba já terá trago um prejuízo econômico, logo, se tratar de uma superexplotação, outros impactos poderão acontecer a longo prazo, como conflitos sociais e perdas na qualidade das águas, em decorrência de uma falha na gestão. A reserva subterrânea de água influi diretamente no nível dos recursos hídricos superficiais, na situação de seu rebaixamento à alimentação subterrânea dos Ribeirões Taboca e Santo Antônio da Papuda e o Rio São Bartolomeu, poderá ser comprometida e com isso é provável também que haja

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redução de nível em alguns pontos do seu leito. O afastamento das águas de sua margem irá impactar em toda biota local, podendo gerar possíveis impactos negativos para toda região. Dessa forma fica caracterizada a importância da integração dos recursos hídricos, para melhorar sua eficiência de uso, principalmente, neste caso de abastecimento populacional.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A gestão regulamentar a ser aplicada sofre de algumas falhas, em geral, decorrentes da ausência ou avaria de alguma infra-estrutura aos pontos de captação. As diretrizes para a instalação, operação e manutenção dos poços são claras, bem definidas e necessariamente devem ser seguidas, no objetivo de se proporcionar os seus melhores usos, todavia as situações de alguns poços em São Sebastião ainda deixam a desejar. Por se tratar de uma área que apenas atualmente vem recebendo a devida atenção e apoio tecnológico necessário, os procedimentos para sua gestão vêm se aprimorando e recuperando um tempo em que ficaram estagnados. As especificidades para a regulamentação de todas as diretrizes a serem seguidas pelo empreendimento também causam contravenções, as quais muitas vezes estão em conformidade com a realidade local, mas, entretanto se desenquadram dos parâmetros da norma regulamentar e se tornam irregulares. Uma incoerência passível de se ocorrer entre a teoria e a prática. A gestão das águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião vem sendo bem desenvolvida, entretanto ainda precisa melhorar algumas de suas atividades para se enquadrarem perfeitamente dentro das Políticas Públicas de Recursos Hídricos. Frente à dimensão desta realidade, o abastecimento hídrico populacional consiste em um processo muito complexo que precisa ser atualizado constantemente para alcançar sua melhor eficiência, sobretudo em decorrência da baixa disponibilidade de estudos nesta área de reservatórios subterrâneos no Distrito Federal. A atuação da CAESB precisa ser cuidadosamente criticada, pois esta companhia desenvolve a atividade de abastecimento populacional de água e saneamento básico com ótimos rendimentos de suas atividades, atingindo uma produção bastante eficiente principalmente em virtude da sensibilidade necessária às suas ações. No caso de São Sebastião, a demanda populacional atendida pelo seu abastecimento de água é bastante satisfatória, especialmente em virtude do pouco tempo existente de sua implantação, contudo é necessário atentar para algumas falhas na implantação da infra-estrutura, para não comprometer a potabilidade futura das águas explotadas. A utilização do abastecimento populacional de água por meio de captações subterrâneas merece um cuidado especial para a realização de seu monitoramento, tanto para a qualidade quanto para a quantidade da água explorada, visando à diminuição dos impactos negativos possíveis de se originarem. Neste presente estudo foram constatados os impactos que possuem as maiores possibilidades de ocorrência, devido a implicações em sua infra-estrutura e assim como as possíveis conseqüências decorrentes. Todavia a ação fiscalizadora da ADASA/DF vem acelerando o desenvolvimento de ações concretas por parte da CAESB para mitigar essas eventuais falhas. Concluindo ficam as recomendações de clara importância para atividades posteriores: a) A criação do Comitê de Bacias Hidrográficas para o Distrito Federal e a efetivação dos Planos de Recursos Hídricos para orientar a implementação das Políticas Nacionais e Distritais de Recursos Hídricos. b) O desenvolvimento de estudos de disponibilidade e captação de águas subterrâneas em regiões com stress hídrico;

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CERVO, A. L.; BERVIAN, P.A. Metodologia científica: para uso dos estudantes universitários. 3. ed. São Paulo,

McGraw-Hill do Brasil. 1983.

GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa.4.ed. São Paulo: Atlas, 2002.

NEVES, R. A. Meio ambiente e reforma agrária: avaliação da execução da Resolução Conama 289/2001 que

estabelece diretrizes para o licenciamento ambiental de projetos de assentamentos de reforma agrária. Brasília. Trabalho

de Conclusão do Curso de Engenharia Ambiental, Universidade Católica de Brasília. 2006. 125p.

JOKO, C. T. Hidrogeologia da região de São Sebastião – DF, implicações para a gestão do sistema de abastecimento de

água. Brasília, 2002. 159f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Geociências, Universidade de Brasília.