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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE
BRASÍLIA
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Curso de Engenharia Ambiental
Avaliação da gestão das águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião DF:
Atuação da CAESB e ADASA Autor: Emmanuel Carlos Guimarães Moreira
Orientador: Prof. Dra. Ida Claudia Pessoa Brasil
BRASÍLIA 2007
ii
EMMANUEL CARLOS GUIMARÃES MOREIRA
Avaliação da gestão das águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião DF:
Atuação da CAESB e ADASA
Monografia apresentada ao curso de Engenharia
Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como
requisito parcial à obtenção do Título de Bacharel em
Engenharia Ambiental.
Orientador: Prof. Dra. Ida Cláudia Pessoa Brasil.
Brasília/DF 2007
iii
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA
CURSO: ENGENHARIA AMBIENTAL
Avaliação da gestão das águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião DF:
Atuação da CAESB e ADASA
EMMANUEL CARLOS GUIMARÃES MOREIRA
Monografia defendida e aprovada como requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Engenharia Ambiental, em 13 de Junho de 2007, pela banca examinadora
constituída por:
______________________________________
Profª. Drª. Ida Cláudia Pessoa Brasil
(Orientadora)
_____________________________________
Profª. Msc. Elenice dos Santos Costa
(Examinadora )
Brasília UCB
iv
Todos esses anos, por cada um desses dias, na construção desta carreira fui impulsionado pelo
amor à nossa natureza. Terra Mãe, fruto do amor maior, cuidemos de ti como de nós.
“Tu casa es mi casa”, habitemos em Ti Senhor.
Mãe, Pai, agora sim! Eis seu mérito!
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, que me conduz entre vales e em Seu tempo me
fortalece o crescimento, quão grande és Tu Senhor. Minha graciosa MÃE, que me orienta pelos
oceanos da vida como a estrela fulgente da alvorada e mesmo pelos mais árduos momentos é
sempre fonte de amor e vida para o meu ser. Meu tão querido PAI, presença constante e
fundamental, caminho de determinação e amor. Muito obrigado pelo que são. Professora Dra.
Ida C. P. Brasil, por sua proximidade e interesse no desenvolvimento deste projeto; aos gestores
de águas subterrâneas Rafael M. Mello e Roberto M. M. dos Santos, que me acompanharam
neste trabalho. E amigos que me apoiaram e se fizeram presentes nesta caminhada.
vi
RESUMO
Os reservatórios subterrâneos de água são de fundamental importância para os recursos hídricos e representam mais de 90% da água doce no mundo. O sistema de abastecimento por perfurações subterrâneas já é muito antigo, mas atualmente sua demanda de uso atinge um crescimento anual incomparável. Visto sua importância, é fundamental a aplicação de eficientes normas de gestão para maximizar os seus usos, onde estas se encontram definidas na legislação brasileira desde o âmbito municipal, estadual até o nacional, integrando os interesses de usos locais com os de uso da nação. Assim estão inscritos ao amparo das Leis os órgão para as finalidades de gestão e abastecimento e outro com fins de fiscalização e outorga, onde no estudo do caso realizado tratam-se respectivamente da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) e da Agência Reguladora de Água e Saneamento do Distrito Federal (ADASA) Neste estudo foi contemplado o abastecimento urbano da Região Administrativa de São Sebastião, o qual é realizado através de reservas subterrâneas de água, de modo que foi avaliada a atual situação a gestão nesta localidade, bem como a atuação de seus órgãos gestores dentro das definições das Leis. Verifica as práticas de gerenciamento utilizadas, as limitações para a realização do monitoramento e o cumprimento com os termos de outorga. Determina a importância dos instrumentos de gestão para a conservação dos padrões de potabilidade e quantidade da água e seu embasamento legislativo. Argumenta algumas possibilidades de impactos negativos para o meio ambiente, em conseqüência de um mau uso dos recursos hídricos subterrâneos e seus possíveis efeitos a longo prazo. Com o objetivo de chamar a atenção para a importância que esta atividade representa para o ser humano e mais ainda para o desenvolvimento das gerações futuras.
PALAVRAS-CHAVE: Gestão de águas subterrâneas, Outorga, Aqüíferos e Plano de
Recursos Hídricos.
vii
ABSTRACT
The underground water reservoirs are of basic importance for the hidro resources, therefore they represent 90% of the water more than candy in the world. The system of supplying for underground perforations already is very old, but currently its demand of use reaches an incomparable annual growth. Because of its importance is basic the application of efficient norms of management to maximize its uses, where these can be find definite in the Brazilian legislation since the municipal scope, state until the national one, integrating the interests of local uses with the ones of use of the nation. Thus an agency for the purposes of management and supplying and another one with fiscalization ends and grant are enrolled in the support of the Laws, where in the study of carried through case Water Agency of and Sanitation of the Federal District are respectively about the Company of Ambient Sanitation of the Federal District (CAESB) and of the Regulating (ADASA). In this study the urban supplying of the Administrative Region of São Sebastião was contemplated, which is carried through through underground water reserves, in way that was evaluated the current situation the management in this locality, as well as the performance of its managing agencies inside of the definitions of the Laws. It verifies the practical ones of management used, the limitations for the accomplishment of the supervision and the fulfilment with the grant terms. It determines the importance of the instruments of management for the conservation of the quality standards and amount of the water in its legislative basement. It argues some possibilities of negative impacts for the environment, in consequence of a bad use of the underground hidro resources and its possible effect in long stated period . With the objective to more still call the attention for the importance that this activity represents it human being and for the development of the future generations.
KEYWORDS: Management underground waters, To approve resources, Water-bearing and Plan of Hidro Resources.
viii
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS........................................................................................................xiii LISTA DE FIGURAS.........................................................................................................xiv LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS................................................xvi 1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................1 1.1 OBJETIVOS.............................................. .................................................................2
1.1.1 Objetivo Geral....................................................................................................2
1.1.2 Objetivos Específicos.........................................................................................3
1.2 JUSTIFICATIVA........................................................................................................3
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................5
2.1 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS.......................................................................................5
2.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO: REGIÃO ADMINISTRATIVA...15
DE SÃO SEBASTIÃO – DF
2.3 COMPANHIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL DO DISTRITO FEDERAL –..23
CAESB
3. BASE LEGAL E REGULAMENTAR..................................................................26
3.1 POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS – LEI Nº 9.433, DE 08.....26
DE JANEIRO DE 1997
3.2 CRIAÇÃO DA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA) LEI Nº 9.984,.........28
DE 17 DE JULHO DE 2000
3.3 INSTITUIÇÃO DA CÂMARA TÉCNICA PERMANENTE DE ÁGUAS.............30
SUBTERRÂNEAS – RESOLUÇÃO Nº 09 DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS
HÍDRICOS (CNRH)
3.4 DIRETRIZES GERAIS PARA A GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS....30
– RESOLUÇÃO Nº 15 DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (CNRH)
ix
3.5 CRITÉRIOS GERAIS PARA OUTORGA DE DIREITO DE USO DOS..............32
RECURSOS HÍDRICOS – RESOLUÇÃO Nº 16 DO CONSELHO NACIONAL DE
RECURSOS HÍDRICOS (CNRH)
3.6 DIRETRIZES PARA INSERÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO............34
INSTRUMENTO DE PLANO DE RECURSOS HÍDRICOS – RESOLUÇÃO Nº 22 DO
CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (CNRH)
3.7 CRIAÇÃO DA AGÊNCIA REGULADORA DE ÁGUAS E SANEAMENTO.....35
DO DISTRITO FEDERAL (ADASA/DF) – LEI Nº 3.365/2004
3.7.1 Outorga de uso dos recursos hídricos em corpos de água no........................37
Distrito Federal – Resolução nº 350/2006
3.7.2 Procedimentos gerais para obturação e lacração de poços escavados...........39
e poços tubulares – Resolução nº 420/ 2006
3.8 POLÍTICA DE RECURSOS HÍDRICOS DO DISTRITO FEDERAL E SEU........41
SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS – LEI Nº 2.725/2001
3.8.1 Outorga do direito de uso de águas subterrâneas no Distrito Federal –........43
Decreto nº 22.358 de 31 de Agosto de 2001
3.9 CRIAÇÃO DA TAXA DE FISCALIZAÇÃO SOBRE SERVIÇOS........................46
PÚBLICOS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO – TFS, E
DA TAXA DE FISCALIZAÇÃO DOS USOS DOS RECURSOS HÍDRICOS – TFU. LEI
COMPLEMENTAR Nº 711, DE 13 DE SETEMBRO DE 2005
4. MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................49
4.1 PESQUISA DOCUMENTAL SOBRE AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS................50
4.2 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA................................................................................51
4.3 PESQUISA DE CAMPO..........................................................................................52
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES..........................................................................56
5.1 DIAGNÓSTICO SOBRE A GESTÃO SUSTENTÁVEL EM.................................56
SÃO SEBASTIÃO
x
5.2 ANÁLISE DA GESTÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS PELA CAESB.............65
EM SÃO SEBASTIÃO – DF: QUANTIDADE, QUALIDADE, COBRANÇA E OUTORGA
5.2.1 Outorga dos poços..........................................................................................68
5.2.2 Cobrança e Tarifação das águas.....................................................................70
5.2.3 Qualidade da água..........................................................................................71
5.2.4 Quantidade de água........................................................................................76
5.3 IMPACTOS NA GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS:...........................79
A VARIAÇÃO DO LENÇOL FREÁTICO
5.3.1 CONSEQUÊNCIA DO USO EXCESSIVO: UM ALERTA.........................81
DA SITUAÇÃO
6. CONCLUSÃO..........................................................................................................83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................85
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela Conteúdo Página
1 Classificação dos sistemas e subsistemas aqüíferos do domínio...................57
fraturado do Distrito Federal
2 Sistema de Distribuição de água em São Sebastião......................................64
3 Referencial de ligações registradas e respectivas economias........................65
4 Análises Físico-Química e Biológicas dos poços em São Sebastião.............73
no 1º trimestre 2007.
5 Unidades de Tratamento................................................................................74
6 Correções realizadas em amostras analisadas no Sistema.............................75
São Sebastião – Abril de 2007
7 Reserva hídrica de água subterrânea no Sistema Canastra – DF...................76
8 Relação dos volumes explotados dos poços de acordo com sua vazão.........77
total e sua vazão de outorga.
xii
LISTA DE FIGURAS
Figura Conteúdo Página
1 Zonas de Saturação do solo.....................................................................................6
2 Tipos de captação subterrânea................................................................................9
3 Água no Mundo....................................................................................................11
4 Rio São Bartolomeu..............................................................................................16
5 Ribeirão Taboca....................................................................................................16
6 Ribeirão Santo Antonio da Papuda.......................................................................16
7 Administração Regional de São Sebastião...........................................................17
8 Vista da cidade de São Sebastião..........................................................................18
9 Mapa 01 de localização dos poços tubulares da região de São Sebastião............20
10 Mapa 02 de localização dos poços tubulares da região de São Sebastião............21
11 Estação de Tratamento de Esgotos de São Sebastião – DF..................................23
12 Organograma do Sistema Nacional de Gerenciamento de...................................27
Recursos Hídricos (SINGREH)
13 Organograma da Agência Nacional de Águas (ANA)..........................................29
14 Organograma interno da Agência Reguladora de Água e ...................................37
Saneamento do Distrito Federal – ADASA/DF
15 Procedimentos de obturação de poços tubulares..................................................40
16 Taxa de Fiscalização sobre Serviços Públicos de Abastecimento de...................47
Água e Esgotamento Sanitário – TFS
17 Taxa de Fiscalização dos Usos dos Recursos Hídricos – TFU.............................47
18 Questionário sobre gestão de águas subterrâneas em São Sebastião....................53
19 Mapa hidrológico da Região do Distrito Federal e Entorno.................................58
20 Fotografia Poço SJ 1.............................................................................................60
21 Fotografia poço SS 12...........................................................................................60
22 Fotografia poço SS 06...........................................................................................61
23 Fotografia interna poço SS 16...............................................................................61
24 Fotografia externa poço SS 16..............................................................................62
25 Fotografia poço SS 13...........................................................................................62
xiii
26 Fotografia poço SS13............................................................................................63
27 Fotografia do Centro de Reservação SS 02..........................................................64
28 Mapa de favorabilidade à explotação das águas subterrâneas na região..............67
do Distrito Federal e entorno
xiv
LISTA DE SIGLAS, SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
ADASA Agência Reguladora de Água e Saneamento do Distrito Federal
ANA Agência Nacional de Águas
AS 8000 Social Accountability 8000
CAESB Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
CBH Comitês de Bacias Hidrográficas
CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos
CRH Conselho de Recursos Hídricos dos Estados e do DF
DF Distrito Federal
F Filitos (Geologia)
F/Q/M Filitos/ Quartzitos/ Rochas Metacarbonáticas (Geologia)
ISO 9.000:2.000 International Standardization Organization – gestão da qualidade
por processos
ISO 14.001 International Standardization Organization – diretrizes de gestão
ambiental
NBR Normas Brasileiras de Regulação
ONG Organizações Não Governamentais
OSHAS 18.000 Saúde e Segurança Ocupacional
PDL Planos Diretores Locais
PNRH Política Nacional de Recursos Hídricos
R3Q3 Metarritmitos e Quartzitos (Geologia)
R4 Metarritmitos argilosos (Geologia)
SDT Sólidos Dissolvidos Totais
SINGREH Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
TFS Taxa de Fiscalização sobre Serviços Públicos
TFU Taxa de Fiscalização dos Usos dos Recursos Hídricos
UTM Projeção Universal Transversal de Mercartor
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1. INTRODUÇÃO
Dentro do ciclo hidrológico os maiores reservatórios de água doce se encontram nos
subterrâneos do subsolo. Esta parcela de água representa uma fonte muito importante de
abastecimento para a população, uma vez que sua disseminação irregular nos subsolos
ocasiona sua ocorrência mesmo em regiões de clima árido, fato que proporciona o
abastecimento mesmo em estações de estiagem.
Além de constituírem a maior parte dos reservatórios, eles também compõem os
níveis dos recursos superficiais, atuando como seu leito sub-superficial e alimentando seu
fluxo mesmo em períodos de estiagem. Tal fato implica na necessidade da gestão integrada
de tais recursos, permitindo realizar o controle de abastecimento segundo as condições da
vazão e da estação do ano, tanto para os recursos hídricos superficiais quanto para os
subterrâneos, atingindo assim seu melhor aproveitamento.
Com tal objetivo este trabalho procura, esclarecer as definições para o uso
sustentável, as limitações no uso das águas subterrâneas e aponta as fundamentais práticas
de gestão e planejamento para seu uso e proteção (ao amparo das leis do Distrito Federal).
Especificamente analisa a atuação dos órgãos gestores de recursos hídricos do DF,
compostos pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) e
Agência Reguladora de Água e Saneamento (ADASA), na Região Administrativa de São
Sebastião - DF.
Em vista das diferentes formas de exploração das águas subterrâneas, os processos
de outorga e de monitoramento constituem-se numa ferramenta extremamente importante,
para regular as possibilidades de uso da água e sua tarifação, assim como fornecer padrões
para a determinação da quantidade e qualidade das águas exploradas, objetivando definir as
vazões de explotação para cada tipo de uso. Tendo em vista alcançar um ideal de manejo
onde a população seja melhor atendida, ao mesmo tempo em que se estabeleça um
planejamento para o uso sustentável do potencial aqüífero.
Entretanto existe uma série de limitações que dificultam este monitoramento como:
a ocultação da fiscalização, por conveniências particulares, do cadastramento das fontes de
extração; a dificuldade de monitoramento periódico necessário para o recolhimento de
dados relativos a qualidade e volume de explotação da água e, o apoio da sociedade, que
2
muitas vezes se torna inimiga da gestão, por não se evidenciar nos processos de outorga da
água buscando evitar cobranças e restrições quanto a sua exploração.
Paralelamente a estas dificuldades tem-se a necessidade do abastecimento
populacional onde, no caso da Região Administrativa de São Sebastião – DF, é realizado
unicamente através de captações subterrâneas, o que gera mais uma limitação com relação
ao volume passível de captação sem, contudo, comprometer o nível do reservatório
permanente, porém atingindo seus fins de abastecimento.
Neste momento entra o papel fundamental da gestão pela CAESB buscando
estabelecer as relações possíveis entre consumo humano, disponibilidade e qualidade do
recurso oferecido. Atuando conjuntamente com o seu órgão regulador e fiscalizador
(ADASA – DF) e interagindo de forma a atender a demanda de abastecimento populacional
e assegurando a implementação dos instrumentos de gestão dos aqüíferos sem prejudicar o
nível de suas reservas.
Surge assim a necessidade de se analisar qual vem sendo a situação da gestão dos
recursos hídricos subterrâneos na Região Administrativa de São Sebastião. Avaliar se os
instrumentos de gestão estão conseguindo garantir o suprimento adequado para a demanda
de abastecimento populacional, identificar os possíveis impactos ao meio ambiente
decorrentes desta gestão. Caracterizar os principais instrumentos da Política de Recursos
Hídricos que vêm sendo utilizados e os resultados alcançados frente aos objetivos
esperados.
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
Avaliar a execução de Políticas Públicas de Gestão do meio ambiente no que se
refere às águas subterrâneas da Região Administrativa de São Sebastião – Distrito Federal.
3
1.1.2 Objetivos Específicos
a) Analisar a gestão das águas subterrâneas pela CAESB na Região Administrativa de
São Sebastião – DF.
b) Elaborar diagnóstico da gestão de águas subterrâneas na Região Administrativa de
São Sebastião – DF, em relação às Políticas Públicas de Recursos Hídricos.
c) Determinar possíveis impactos da gestão das águas subterrâneas para a Região
Administrativa de São Sebastião – DF.
1.2 JUSTIFICATIVA
O crescimento populacional vem causando aumento na necessidade de
abastecimento de água potável de tal maneira que, com o passar dos tempos, essa procura
começou também a usufruir dos recursos hídricos subterrâneos.
Da mesma forma que é fundamental a utilização racional dos recursos superficiais, é
importante haver um plano de manejo para os recursos subterrâneos. Encontrar um
caminho objetivando um manejo mais otimizado, aumentar a eficiência de uso de tais
recursos, adequar os seus usos múltiplos e assegurar sua sustentabilidade.
Em virtude de seu fácil acesso e à qualidade de suas águas, os recursos hídricos
subterrâneos vêm sofrendo uma exploração extremamente desordenada, fato que, muitas
vezes, está comprometendo a qualidade de suas águas e trazendo, como maiores problemas,
a contaminação e o esgotamento de suas reservas.
A demanda de água para o abastecimento populacional na Região Administrativa de
São Sebastião e a falta de recursos hídricos superficiais existentes naquele local,
desencadeou um sistema de abastecimento público totalmente baseado na captação de
águas subterrâneas. Portanto tornou-se mais viável a utilização de água subterrânea de boa
qualidade e volume para o abastecimento da população, em detrimento do fornecimento
através de águas superficiais que necessitam ser captadas a quilômetros de distância,
demandando um valor muito alto para a implantação da infra-estrutura necessária.
Tais condições comprovam a necessidade de um efetivo monitoramento pelos
órgãos gestores do Distrito Federal (ADASA e CAESB), com o objetivo de organizar um
4
registro eficiente e constante dos dados, formatar um plano de manejo e outorga, para o
atendimento das necessidades de abastecimento dos usuários, bem como normatizar suas
condições de exploração e uso do recurso subterrâneo em questão.
Por isso a importância de se gerar mais conhecimentos científicos - tecnológicos
sobre as situações decorrentes do abastecimento urbano através de águas subterrâneas. Pois
fazem parte de um conjunto de informações que determinam quais ações devem ser
executadas em determinado momento, respeitando o direito ao uso comum da água e os
limites impostos pelo ambiente em questão. Atitudes preventivas evitam possíveis impactos
ao meio ambiente e garantem o seu uso a gerações futuras, papel fundamental no campo da
gestão do meio ambiente por meio de Políticas Públicas.
5
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O presente estudo, que aborda a gestão de águas subterrâneas na Região
Administrativa de São Sebastião – DF, traz relacionados os termos técnicos mais
importantes para a compreensão textual das definições utilizadas.
2.1 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
Aqüífero é uma formação geológica que contém água e permite que quantidades
significativas dessa água movimentem-se no seu interior, em condições naturais
(BARROS, 1999).
Água Subterrânea é toda água que está contida nos poros ou fraturas das rochas da
crosta terrestre. Estes espaços vazios têm, em geral, dimensões milimétricas, porém, são em
tão grande número que o subsolo constitui o segundo maior reservatório de água doce do
Globo Terrestre (REBOUÇAS, 198-?).
Segundo Todd (1967), praticamente toda a água subterrânea se origina de água
superficial. As principais fontes de reabastecimento natural incluem a precipitação, cursos
d’água, lagos e reservatórios. Outra contribuição, conhecida como reabastecimento
artificial, ocorre do excesso de irrigação, percolação proveniente de canais e águas
propositadamente fornecidas a fim de aumentar o abastecimento das águas subterrâneas.
A ocorrência de águas subterrâneas no subsolo pode ser dividida em zonas de
saturação e aeração. Na zona de saturação todos os interstícios estão preenchidos com água
sob pressão hidrostática. A zona de aeração consiste de interstícios parcialmente ocupados
por água e parcialmente por ar. Na maioria das massas terrestres, uma única zona de
aeração sobrepõe-se a uma única zona de saturação, que se estende para cima até à
superfície. A zona saturada é limitada no topo, ou por uma superfície limítrofe de
saturação, ou por estratos impermeáveis sobrejacentes, e estende-se para baixo até estratos
impermeáveis subjacentes tais como leitos de argila ou de rocha. Na ausência de estratos
impermeáveis sobrejacentes, a superfície superior da zona de saturação é o nível d’água, ou
superfície freática. Esta é definida como a superfície de pressão atmosférica e seria revelada
pelo nível no qual permanece a água em um poço que penetre o aqüífero (TODD, 1967).
6
Figura 01 – Zonas de Saturação do solo (Fonte: ABAS, 2007)
A água que ocorre na zona de saturação é comumente denominada simplesmente de
água subterrânea. Na zona de aeração, ocorre água suspensa, ou vadosa (rasa). Esta zona
geral pode ser posteriormente dividida na zona de água do solo, zona intermediária e zona
capilar (TODD, 1967).
Zona de umidade do solo, a água encontrada nesta zona existe em um estão inferior
ao da saturação, estende-se da superfície do solo para baixo, através da maior parte da zona
das raízes. Sua espessura varia com o tipo de solo e com a vegetação (TODD, 1967).
Zona Intermediária estende-se da extremidade inferior da zona de água do solo à
extremidade superior da zona de capilaridade. Esta zona pode variar em espessura de zero,
quando as zonas limítrofes emergem com um nível d’água aproximando-se da superfície do
terreno, a várias centenas de pés sob condições de nível d’água profundo (TODD, 1967).
Constituem assim diferentes características aqüíferas onde, segundo Todd (1967), a
maioria dos aqüíferos são de grande extensão em área e podem ser visualizados como
reservatórios subterrâneos de armazenamento. A água entra em um reservatório por meio
7
de reabastecimento natural ou artificial; e sai sob ação da gravidade ou é extraída por
poços. Em geral o volume de água anual removido ou substituído representa apenas uma
pequena fração da capacidade total de armazenamento.
Segundo Barros (1999), aqüíferos, rochas-reservatórios ou simplesmente
reservatórios de água subterrânea são unidades hidrogeológicas caracterizadas por diversos
parâmetros, tais como:
(a) Dimensão: extensão, espessura e geométria, que são definidos pela geologia
estratigráfica e estrutural;
(b) Hidrodinâmica: transmissividade, armazenamento ou porosidade efetiva, que
dependem dos padrões faciológicos; pelas condições de recarga e descarga; e pelas
variáveis de estado que descrevem a situação do aqüífero em cada instante
(superfície piezométrica, importância das reservas, aspectos da qualidade, condições
de exploração, etc.).
Em termos hidrológicos as rochas da litosfera podem ser diferenciadas com base em
dois parâmetros principais: porosidade e permeabilidade. Enquanto o coeficiente de
porosidade indica a proporção de espaços vazios suscetíveis de serem preenchidos pela
água, o coeficiente de permeabilidade ou condutividade hidráulica indica a maior ou menor
facilidade com que esta circula. Em condições naturais, as águas subterrâneas percolam sob
a ação de diferenças de carga ou de potencial hidráulico (REBOUÇAS, 198-?).
Segundo Carmelo (2002), rochas aqüíferas são formações geológicas que
apresentam porosidade para reter a água e possuem comunicação entres os espaços, o que
permite sua circulação da água. De tal maneira que aquiclude é uma formação com
propriedades físicas adequadas para o armazenamento de volumes consideráveis de água,
mas não possui condições para circulação e transmissão dessa água por causa da presença
de camadas ricas em argila. Aquitarde é uma formação ou camada que apresenta diferenças
de permeabilidade no topo e/ou base, o que possibilita infiltração e circulação irregular da
água. E ainda aquífugo é a denominação para o oposto de um aqüífero ideal, onde não há
possibilidade de retenção e circulação da água.
Quando os poros e rachaduras estão ligados uns aos outros e permitem fácil
circulação da água, chamamos a rocha de aqüífera. As condições de ocorrência das águas
subterrâneas podem ser de aqüífero livre, isto é, o nível de saturação encontra-se sob a ação
8
da pressão atmosférica, através de uma zona não saturada; ou confinado, isto é, a camada
aqüífera está encerrada entre camadas de permeabilidade relativamente mais baixa,
estabelecendo-se pressões de confinamento superiores à pressão atmosférica. Segundo as
relações de permeabilidade das camadas adjacentes o aqüífero poderá ter condições
intermediárias de semi-livre ou de semi-confinado (REBOUÇAS,198-?).
Segundo Todd (1967), aqüífero não confinado é aquele em que o nível d’água serve
como superfície superior da zona de saturação. É também conhecido como freático ou não
artesiano. O nível da água apresenta forma ondulada e inclinações variáveis dependendo
das áreas de reabastecimento e descarga, bombeamento de poços e permeabilidade. Os
levantamentos e abaixamento no nível d’água correspondem a variações do volume da água
em armazenamento no aqüífero.
Logo os aqüíferos confinados, também conhecidos como artesianos ou aqüíferos
sob pressão, ocorrem quando o nível d’água está confinado sob pressão maior do que a
atmosférica por estratos sobrejacentes relativamente impermeáveis. Em um poço que
penetre tais aqüíferos, o nível d’água subirá acima do fundo do leito confinante, como
indicado nos poços artesianos e surgentes. A água entra na camada aqüífera confinada em
uma área em que o leito confinante sobe até a superfície ou termina no subsolo e o aqüífero
torna-se não confinado (TODD, 1967).
9
Figura 02 – Tipos de captação subterrânea (Fonte: IGC-USP, 2007)
A propriedade aqüífera é intrínseca do material rochoso, o qual poderá estar
saturado de água sobre toda sua espessura, ou apresentar importante parcela não saturada.
Uma obra de captação de água dentro de um aqüífero saturado nada mais é que uma
cavidade de grandes proporções, destinada a interligar poros e/ou fraturas das rochas e para
dentro da qual a pressão hidrostática obriga a água a fluir, tomando o lugar do volume que
foi retirado pelo equipamento de extração (REBOUÇAS, 198-?).
Nessa conceituação e de acordo com Barros (1999), no Brasil as águas subterrâneas
ocupam três contextos hidrogeológicos diferenciados: (i) as zonas fraturadas do
Embasamento Cristalino, mascaradas por um manto de intemperismo; (ii) as zonas de
rochas ígneas e metamórficas aflorantes a sub-aflorantes; (iii) as bacias geológicas de
rochas sedimentares. Desta diversificação, resultam sistemas aqüíferos que, pelo seu
comportamento podem ser reunidos em:
10
� Granulares porosos:
(a) Aqüíferos Superficiais – geralmente ocorrem em sedimentos clássicos não
consolidados. Alguns aqüíferos possantes são encontrados em depósitos aluviais de
drenagens de grande porte e consistem basicamente de areia e argila, com cascalho
e seixos na base da seqüência. Altas transmissividades e grandes vazões são
características dos aqüíferos arenosos e cascalhosos, sendo que estes últimos variam
muito em termos de continuidade lateral e vertical. As capacidades específicas
variam de 1 a 5 m³/h/m.
(b) Aqüíferos Sedimentares Regionais – encontram-se mais próximos à superfície,
são menos consolidados, menos compactados, mais porosos, mais facilmente
atingidos pelas perfurações e, por fim, com recargas mais rápidas.
� Aqüíferos fraturados: embora esses aqüíferos não apresentem uma produtividade
significativa, têm uma importância social grande, em nível local para abastecimento
doméstico, irrigação de pequeno porte e uso industrial. Os aqüíferos de rochas
fraturadas possuem capacidade de armazenamento restritas as áreas com sistemas de
fraturas interconectadas. As vazões e qualidades das águas destes aqüíferos, em
regiões semi-áridas, são normalmente pobres. O grande desafio dos estudos de
exploração de água subterrânea em regiões de fraturas, nos aqüíferos do
embasamento, constitui distinguir padrões de fraturas com máxima capacidade de
armazenamento. A frequência de ocorrência de fraturas produtivas em rochas
cristalinas decresce com a profundidade, com zonas mais favoráveis em torno de
30m tendo como limite econômico de perfuração 60m.
� Aqüíferos cársticos ou cársticos fissurais: são formados por rochas carbonáticas
com fraturas e outras descontinuidades, submetidas a processos de dissolução.
Apresentam certas peculiaridades, dentre as quais destacam-se: grande rapidez da
infiltração das chuvas e outras águas superficiais; anomalias na direção do fluxo de
água com relação ao gradiente potenciométrico regional; e grande variação espacial
dos valores de permeabilidade e armazenamento no mesmo sistema aqüífero.
Dessa forma tendo em vista que o sistema hidrogeológico da Terra apresenta, 97,5%
de água salgada, restam apenas 2,5% de água doce (SDT menor de 1.000 ppm - CONAMA
01/86). Desse montante, 1,72% estão presos nas calotas polares e nas geleiras; assim, resta
11
um total de 0,74% nas reservas subterrâneas e 0,04% nos rios e lagos, conforme
demonstrado na Figura 03 (ANA, 2007).
Figura 03 – Água no Mundo (Fonte: ANA,2007)
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o índice considerado suficiente
para a vida em comunidade, para o exercício das atividades humanas, sociais e econômicas,
é de 2.500 m³ de água por habitante, por ano. Abaixo de 1.500 m³/hab.ano, a situação é
considerada crítica (ANA, 2007).
Frente a essa realidade surge a necessidade de se proporcionar o aproveitamento
máximo dos recursos hídricos subterrâneos que constituem uma grande parcela dos
reservatórios de água doce do planeta. Assim segundo Todd (1967), deve-se encarar toda a
bacia de águas subterrâneas, como um grande reservatório natural e seu uso por um único
proprietário afeta o abastecimento de todos os outros. Portanto a vazão segura determina a
quantidade de água que pode ser retirada dela anualmente sem produzir resultado
12
inconveniente. O bombeamento que excede à vazão segura é a sobretiragem ou
superexplotação.
Há apenas uma certa quantidade de água que entra em uma bacia subterrânea;
portanto, só esta quantidade pode ser bombeada. Caso contrário, resultados inconvenientes
podem ocorrer. A vazão segura pode ser limitada a uma quantidade menor do que a
quantidade líquida de água fornecida à bacia; assim, a vazão segura pode variar quando as
condições governantes variam (TODD, 1967).
Para efeito dos cálculos (ADASA, 2007a), é considerado o volume conhecido como
reserva permanente, que define o volume permanente necessário para se manter todas as
propriedades fundamentais dos sistemas interligados por este aqüífero; pode ser definida
pela multiplicação da área do domínio fraturado (A), pela sua espessura média (b) e seu
índice de fraturamento (If). Conforme expresso na equação 1:
RP = A*b*If. (Eq. 1)
A partir daí desenvolve-se o conceito de reserva renovável, que corresponde ao
volume de água que retorna aos lençóis freáticos por infiltração e recarrega os aqüíferos.
Esta pode ser definida através da relação existente entre a precipitação anual média e seu
percentual de infiltração, definido como um valor de 10% e multiplicado pela área vezes
0,1. Assim corresponde a equação 2:
RR = A * 0,1 * 1,4 * 0,1 (Eq. 2)
Logo, a reserva explotável é baseada no limite que pode ser extraído do aqüífero
sem comprometer o seu nível com o passar dos tempos. Seu cálculo é definido pela soma
da reserva renovável mais cinco por cento da reserva permanente, conforme equação 3:
RE = RR + 0,05 * RP (Eq. 3)
Logo, existem fatores que contribuem para a escassez hídrica de forma geral no
Brasil, como por exemplo: a combinação entre o crescimento exagerado das demandas
13
localizadas e da degradação da qualidade das águas. Esse quadro é conseqüência dos
desordenados processos de urbanização, industrialização e expansão agrícola. Os quais se
intensificaram exponencialmente desde a Revolução Industrial e pelo modo de produção
capitalista, em meados do século XVIII (SETTI, 2001).
Verificam-se dois tipos básicos de escassez de água: a escassez quantitativa e a
escassez qualitativa. A escassez quantitativa ocorre quando as demandas para utilização da
água pelos diversos setores ultrapassam a disponibilidade hídrica. A escassez qualitativa
ocorre quando a qualidade encontrada não é compatível com o uso pretendido. Hoje, nas
grandes cidades e em bacias hidrográficas muito urbanizadas, é comum verificar-se a
escassez quantitativa e qualitativa das águas. Tanto a disponibilidade não é suficiente para
todos, quanto à qualidade não atende aos usos mais exigentes, como o abastecimento
público (FERREIRA, 2005).
Assim, para se prevenir desta situação, formulou-se o conceito de gestão para as
águas onde, segundo Setti (2001), a gestão de águas como uma atividade analítica e criativa
é voltada à formulação de princípios e diretrizes para o preparo de documentos orientadores
e normativos e à estruturação de sistemas gerenciais e de tomada de decisões, que têm por
objetivo final promover o inventário, uso, controle e proteção dos recursos hídricos.
Segundo este autor fazem parte dessa atividade os seguintes elementos, a seguir definidos:
a Política de Águas, o Plano de Uso, Controle ou Proteção das Águas e o Gerenciamento de
Águas.
· Política de Águas: conjunto consistente de princípios doutrinários que congregam
as aspirações sociais e/ou governamentais, no que concerne à regulamentação ou
modificação nos usos, controle e proteção das águas.
· Plano de Uso, Controle ou Proteção das Águas: qualquer estudo prospectivo que
busque adequar o uso, o controle e o grau de proteção dos recursos hídricos às
aspirações sociais e/ou governamentais expressas, formal ou informalmente, em
uma Política das Águas, através da coordenação, compatibilização, articulação e/ou
projetos de intervenções.
· Gerenciamento de Águas: Conjunto de ações governamentais destinadas a regular
o uso, o controle e a proteção das águas, e avaliar a conformidade da situação
corrente com os princípios doutrinários estabelecidos pela Política de Águas.
14
Nos termos da Agenda 21, Brasília (2003), são estabelecidos metas de manejo
baseadas na identificação dos recursos hídricos de superfície e subterrâneos que possam ser
desenvolvidos para uso numa base sustentável e outros importantes recursos dependentes
de água que se possam aproveitar e, simultaneamente, dar início a programas para a
proteção, conservação e uso racional desses recursos em bases sustentáveis.
Segundo as capacidades e recursos disponíveis de cada Estado, deve-se buscar
implementar atividades de gestão e proteção às águas subterrâneas apoiadas em
procedimentos tais como:
(i) Desenvolvimento de práticas agrícolas que não degradem as águas subterrâneas;[...] (iii) Prevenção da poluição de aqüíferos por meio da regulamentação de substâncias tóxicas que se infiltram no solo e o estabelecimento de zonas de proteção em áreas de filtramento e absorção de águas subterrâneas; (iv) Projetos e ma manejo de aterros sanitários baseados em informações hidrogeológica correta e avaliação de impacto, usando a melhor tecnologia disponível; (v) Promoção de medidas para melhorar a segurança e integridade dos poços e suas áreas circundantes para reduzir a intrusão de agentes patogênicos biológicos e produtos quimicos perigosos nos lençóis freáticos por meio de poços; (vi) Monitoramento, quanto necessário, da qualidade das águas superficiais e subterrâneas potencialmente afetadas por locais de armazenamento de materiais tóxicos e perigosos (Brasília, 2003).
Paralelamente no alcance destes objetivos, segundo Barros (1999), as propostas
metodológicas devem atuar para a gestão conjunta, a fim de se disciplinar e controlar os
usos, mediar conflitos e proteger ambientalmente as águas, buscando-se atingir resultados
provenientes de planejamentos e estudos de gestão dos recursos hídricos, tais como:
a) Maior diversificação das fontes de suprimento e conseqüente aumento de
alternativas de gerenciamento;
b) Possibilidade de utilização das águas já armazenadas nos aqüíferos como um
recurso temporal para um possível escalonamento das inversões no sistema
superficial, adaptando-se às variações da demanda;
15
c) Um melhor aproveitamento dos recursos, pois em anos úmidos podem-se
utilizar as águas superficiais e em anos de estiagem, seriam usadas
preferencialmente as águas subterrâneas. Da mesma maneira, para usos mais nobres
como abastecimento humano, poderiam ser utilizadas prioritariamente as águas
subterrâneas;
d) Possibilidade de utilização do aqüífero como um elemento de distribuição de
águas, em toda a área em que ele ocorra;
e) Mediante a recarga artificial, pode-se utilizar os aqüíferos como elemento de
armazenamento, reduzindo-se custos;
f) Utilização das rochas-reservatórios como elementos de filtração e de mistura de
águas de diferentes padrões de qualidade físico-quimica;
g) Minimização de problemas conseqüentes de excesso de chuvas, inundações,
excedentes de irrigação ou por filtração de canais sem revestimentos.
Conclui-se que, para a gestão das águas subterrâneas, é necessário à gestão conjunta das
águas superficiais, assim como a gestão das águas superficiais não alcança a sua otimização
se não forem considerados os volumes de subsuperfície (BARROS, 1999).
2.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO: REGIÃO ADMINISTRATIVA
DE SÃO SEBASTIÃO – DF
A área de estudo situa-se na porção centro-sul do Distrito Federal, a sudeste de
Brasília. É delimitada pelas coordenadas UTM 8245500 N, 8238500 S e 205500 L, 197000
W, e abrange um total de 59,5 km² (JOKO, 2002).
Localizada na bacia hidrográfica do São Bartolomeu, tem como principais
drenagens o Ribeirão Taboca, localizado ao norte da área, e o Ribeirão Santo Antônio da
Papuda, ao sul da área (JOKO, 2002). Vide figuras 4, 5 e 6.
16
Figura 04 – Rio São Bartolomeu, data: 28/05/2007
Figura 05 – Ribeirão Taboca, Figura 06 – Ribeirão Santo Antonio da Papuda, data: 28/05/2007 data: 28/05/2007
O acesso por via rodoviária pode ser feito, a partir de Brasília, através da DF-001
(EPCT) e, posteriormente, seguindo a DF-135, sentido Unaí (JOKO, 2002).
17
Até 1993 a Agrovila São Sebastião fazia parte da RA VII - Paranoá quando então,
através da Lei n.º 467/93, foi criada a Região Administrativa São Sebastião (DISTRITO
FEDERAL, 2007f).
Figura 07 –Administração Regional de São Sebastião, data: 28/05/2007
A área urbana de São Sebastião é composta pela Agrovila, Setor Residencial Oeste,
Vila Nova e Área Especial. A área rural é constituída pela Colônia Agrícola de Nova
Betânia e pelo Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal - PAD/DF
(DISTRITO FEDERAL, 2007f).
18
Figura 08 - Vista da cidade de São Sebastião, data: 28/05/2007
As terras que hoje constituem a Região Administrativa XIV pertenciam, antes da
mudança da nova capital, às fazendas Taboquinha, Papuda e Cachoeirinha. Com o início
das obras da construção de Brasília, essas fazendas foram desapropriadas e nelas se
instalaram pessoas que exploravam o comércio. No princípio a Agrovila era habitada por
comerciantes de areia, cerâmica e olaria. Com a intensificação da imigração surgiram várias
invasões de áreas públicas que, posteriormente, foram removidas para esta localidade
(DISTRITO FEDERAL, 2007f).
Nos últimos anos, a população da região de São Sebastião vem crescendo de forma
vertiginosa, principalmente após a sua mudança de nominação de “agrovila” para “Região
Administrativa”. Este crescimento não só ocorreu na cidade como também nos
condomínios próximos, evidenciado pelo grande número de casas hoje existentes (JOKO,
2002).
19
O Sistema de Abastecimento de São Sebastião foi concebido, em primeira fase, com
base na utilização de captação de águas subterrâneas, em conformidade com estudos
geofísicos do subsolo da região realizados pela CAESB (CAESB, 2007a).
Esse sistema de captação foi realizado através de poços, com atual disponibilidade
hídrica de 218 l/s e vazão média de água tratada em 2004 de 102 l/s, que representa
aproximadamente 2% da vazão total produzida pela CAESB no ano e abastece cerca de 4%
da população atendida do Distrito Federal (CAESB, 2007a).
O Sistema é constituído por 21 poços tubulares profundos segundo informações da
CAESB, destes um encontrava-se inoperante no primeiro trimestre de 2007 (SS-14) e um é
destinado ao monitoramento piezométrico, entretanto de acordo com a ADASA/DF apenas
18 poços possuem outorga. Distribuídos ao longo da cidade, conforme pode ser visualizado
no mapa de localização dos poços Figura 09 e 10. As duas unidades de tratamento contam
com sistema de cloração, utilizando equipamento de geração de cloro “in loco” e sistema de
fluoretação, utilizando como agente fluoretante o ácido fluossilícico (CAESB, 2007a).
20
Figura 09 – Mapa 01 de localização dos poços tubulares da região de São Sebastião (Fonte: CAESB, 2007b)
21
AQUI VAI UM MAPA DE LOCALIZAÇAO DOS APAGA DEPOIS Q LER..)
Figura 10 – Mapa 02 de localização dos poços tubulares na região de São Sebastião (Fonte: CAESB, 2007b)
22
Inicialmente, foram implantados oito pontos de cloração em 8 dos 19 poços
existentes, para desinfecção provisória de toda a água produzida. Atualmente, parte da água
recalcada é distribuída diretamente na rede e, por essa razão, têm-se verificado problemas
no abastecimento em alguns setores da cidade, tais como pressões baixas e falta de água
(CAESB, 2007a).
Antes dessas ações a agrovila possuía um total de cinco poços tubulares profundos,
que supriam parte da população; a parte restante era abastecida por meio de distribuição por
caminhões pipa. Em 1997, com objetivo de sanar os problemas de abastecimento de água
originados pelo crescimento abrupto da população, foram perfurados vários poços e foram
implantadas redes de adução e distribuição, colocadas em funcionamento em meados de
1998 (DISTRITO FEDERAL, 2007f).
A “Área de Risco de São Sebastião”, localizada ao longo dos córregos Mato Grande
e Santo Antônio da Papuda, por sua peculiaridade causou grande repercussão nos últimos
anos, ao ser delimitada pela Defesa Civil/DF em 1992, diligenciaram-se estudos que
diagnosticaram como área de risco de inundação e desabamento das habitações que ainda
ocupam irregularmente a área. A ocupação irregular dessa área originou sérios problemas
de abastecimento devido ao fato de existir lençol freático aflorado na localidade, com risco
de contaminação dos poços de água que abastecem a cidade pelas fossas existentes
(DISTRITO FEDERAL, 2007f).
Para atender a demanda da população e proteger os mananciais subterrâneos, fonte
de abastecimento da cidade, foi inaugurada sua Estação de Tratamento de Esgotos em 20 de
Outubro de 1998. Foi projetada para atender uma população de aproximadamente 77.000
habitantes e tem capacidade média de projeto de 226l/s. Conforme ilustra a Figura 11
(CAESB, 2007).
23
Figura 11 – Estação de Tratamento de Esgotos de São Sebastião – DF (Fonte: CAESB, 2007a)
Devido a sua topografia a cidade tem seus esgotos coletados por gravidade e passam
por quatro fases de tratamento ate serem dispostos no Ribeirão Santo Antônio da Papuda. A
ETE São Sebastião atende aproximadamente 66,25% da população, que era estimada em
Dezembro de 2005 em cerca de 72.300 habitantes (CAESB, 2007a).
2.3 COMPANHIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL DO DISTRITO FEDERAL –
CAESB
A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal - CAESB é uma
empresa pública de direito privado, regida pela Lei das Sociedades Anônimas. Seu
atendimento alcança a marca de 99% em do abastecimento de água (correspondente a 2,17
milhões de pessoas) e 93% no atendimento de esgotamento sanitário (correspondentes a
2,03 milhões de pessoas), sendo que todo esgoto coletado é 100% tratado(CAESB, 2007a).
24
Sua área de atuação possibilita controlar as ações poluidoras das águas visto que,
em determinadas situações abrange até mesmo além dos limites de sua concessão. A
CAESB atua nas diversas etapas dos processos de captação de águas e no tratamento de
esgotos sanitários. Para tanto, a Companhia planeja, projeta e executa as atividades
necessárias ao gerenciamento do saneamento ambiental do Distrito Federal e exerce a
manutenção dos sistemas de esgotos sanitários e captação de águas. Sua competência
abrange ações rigorosas como a desapropriação e o isolamento de áreas, para recuperar e
conservar os mananciais (CAESB, 2007a).
A Companhia desenvolve ações locais que possibilitam sua melhor atuação, com
participação ativa na realização dos Planos Diretores Locais – PDLs. Quando uma região
administrativa define seu PDL, a CAESB é consultada sobre as condições de cada região,
referentes ao abastecimento de água e ao esgotamento sanitário, determinando a melhor
forma para um ordenamento territorial eficiente. Este instrumento vem se demonstrando
muito importante para um desenvolvimento sustentável aplicado ao crescimento e expansão
da população com uma característica muito interessante sua ação democrática, uma vez que
a população possui participação ativa (CAESB, 2007a).
Assim ao somarmos a integração da Companhia com a participação ativa da
comunidade, espera-se excelência nos serviços prestados e o alcance de um melhor
desempenho ambiental. Para tanto, tais serviços são baseados em diretrizes que introduzem
uma nova visão empresarial, proporcionando um melhor desempenho na interação com o
mercado (CAESB, 2007a).
Para alcançar este potencial a CAESB adotou três modelos básicos para a gestão da
Companhia; são eles: gestão ambiental; gestão para a qualidade; e gestão da
responsabilidade social corporativa (CAESB, 2007a).
O Sistema de Gestão Ambiental vincula-se à nova postura adotada pela Companhia
a partir de 2005, quando houve a mudança de seu nome para Companhia de Saneamento
Ambiental do Distrito Federal. A partir de então, as questões ambientais passaram a nortear
as ações da empresa, que incorporou conceitos relativos à sustentabilidade ambiental dentro
de suas decisões, com a educação ambiental num enfoque contínuo de melhoria (CAESB,
2007a).
25
O Sistema de Gestão para a Qualidade realiza suas práticas gerenciais utilizando
normas internacionais de certificação, como o ISO 9000:2000 normas de qualidade; o ISO
14.001 referente à qualidade para o meio ambiente; o AS 8000, que enfoca a
responsabilidade social e o OSHAS 18.000 relativo à segurança do trabalho. Incentiva a
adoção de novas práticas de gestão, otimizando e melhorando continuamente a qualidade
dos serviços (CAESB, 2007a).
Finalmente o Sistema de Gestão da Responsabilidade Social Corporativa trabalha
em parceria com as ONGs (Organizações Não-Governamentais), buscando a inclusão
social e a redução das desigualdades. Para isso introduz conceitos de cidadania empresarial
e executa projetos de educação, emprego, saúde e meio ambiente voltado para as camadas
mais carentes da sociedade (CAESB, 2007a).
26
3. BASE LEGAL E REGULAMENTAR
O presente estudo realiza um levantamento das legislações ambientais concernentes
a este assunto, tanto em âmbito nacional como regional e destaca os principais instrumentos
legislativos, onde estão baseadas as diretrizes para o desenvolvimento da gestão de águas
subterrâneas.
3.1 POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS – LEI Nº 9433, DE 08 DE
JANEIRO 1997
De acordo com o artigo 1º da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9433/97),
a água é um recurso limitado incorporado de valor econômico. Visto os seus usos múltiplos
e diversas vertentes de interesse, sua gestão deve priorizar o consumo humano e satisfazer,
ao mesmo tempo e se possível, outros usos consuntivos da água. Daí a importância de seu
monitoramento e estudo para garantir sua vitalidade e assegurar sua disponibilidade às
gerações futuras.
Seguindo os fundamentos e objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos
(PNRH), articulam-se os interesses regionais, estaduais e nacionais, de forma a propor o
Plano de Recursos Hídricos. Apoiado nesta mesma Lei para outorgar, cobrar e gerir o
sistema de informações, orientar sua implementação e elaborar assim planos por
Bacia Hidrográfica, agindo em cada região, para o interesse comum da União.
Assim, o exercício dos direitos de acesso à água são previstos nos artigos 11 e 12 da
Lei 9.433/97, que delibera também sobre a extração de água de aqüífero subterrâneo, seja
para consumo final ou insumo de processo produtivo onde para tal ação, ficam sujeitos os
direitos ao Poder Público. Adota o regime de outorga para assegurar o controle quantitativo
e qualitativo de seus usos, respeitando a classe em que o corpo de água se enquadra
(segundo a legislação ambiental), bem como preservando os usos múltiplos destes recursos.
Fica caracterizado que, por necessidade de requerimento da União com vistas a
atender situações específicas de urgência, a ausência de uso por três anos consecutivos ou
ainda o não cumprimento dos termos da outorga, ensejará a suspensão dos direitos de uso,
de forma parcial ou total, em definitivo ou por prazo determinado. Tal realidade que
27
possibilita a supremacia do interesse da União e garante a satisfação dos termos constantes
do artigo 15 desta mesma Lei.
Complementando os instrumentos de outorga, tem-se a cobrança do uso dos
recursos hídricos (que é definido no artigo 19 desta Lei) e visa demonstrar ao usuário a
reconhecer a água como bem econômico gerando desta forma uma maior racionalidade no
momento de seu uso, principalmente tendo-se em vista que a cobrança observa o volume
retirado, onde, com os valores arrecadados, ocorre o financiamento de programas, estudos e
obras que visem alterar de modo benéfico os usos múltiplos dos recursos hídricos.
Contudo para que os instrumentos previstos nesta lei alcancem seus objetivos e
fundamentos, através da ação do Poder Público foi implementado o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos. Assim, compete ao Poder Executivo Estadual e do
Distrito Federal em conjunto com o Poder Executivo Federal, atuar nos instrumentos de
outorga, fiscalização, integração e de informações sobre os recursos hídricos, atuando cada
um em sua esfera de competência (capítulo VI desta Lei).
Portanto como composição deste Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, apresentam-se diversas categorias diferentes onde cada qual apresenta suas
funções correspondentes, como pode ser visto na Figura 12. Alcança, dessa forma, um
maior número específico de situações, democratizando as decisões e organizando as
atuações de cada categoria, como se discorre no Título II desta Lei.
Figura 12 – Organograma do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), data: 20/05/2007.
SINGREH
CNRH CRH Estadual/Distrital
CBH Órgãos dos Poderes Públicos
Agências de Águas
ANA
28
Participam como componentes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, já em uma categoria mais específica, os Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH).
Órgãos que possuem sua área de atuação limitada a uma Bacia Hidrográfica ou a um grupo
de Bacias ou Sub-Bacias-Hidrográficas contíguas e seus tributários. Conjuntamente, existe
a atuação das Agências de Águas que desempenham a função de Secretaria Executiva do
respectivo Comitê de Bacia, os respectivos órgãos dos poderes públicos federal, estadual e
do Distrito Federal e o Conselho de Recursos Hídricos Estadual/ Distrital (CRH).
O Conselho Nacional de Recursos Hídricos atua em dimensão nacional, também
compete arbitrar sobre conflitos interestaduais acima dos Conselhos Estaduais de Recursos
Hídricos, e deliberar sobre o melhor projeto de aproveitamento em situações trans-
estaduais. Enfim, articular o planejamento dos recursos hídricos desde a escala estadual a
regional, até a nacional, sendo, desta forma, amparado em suas decisões pelos Conselhos
Estaduais de Recursos Hídricos e do Distrito Federal, compondo dados para a articulação
dos interesses em âmbito nacional.
Na situação de infração aos dispositivos previstos nesta lei e como penalidade para a
desobediência às normas instruídas, o infrator pode ser submetido à advertência, multa e
embargo provisório para a correção das irregularidades ocorridas, ou ainda, embargo
definitivo e revogação da outorga no caso de não se repor, incontinenti, o antigo estado dos
recursos hídricos.
3.2 CRIAÇÃO DA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA) LEI Nº 9.984, DE 17
DE JULHO DE 2000
Posteriormente a Lei 9433/97, a fim de implementar esta Política Nacional de
Recursos Hídricos (PNRH) e coordenar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, houve a criação da Agência Nacional de Águas (ANA), vinculada ao Ministério
do Meio Ambiente, com autonomia administrativa, financeira e poder de articulação com
órgãos e entidades públicas e privadas integrantes do SINGREH (conforme se trata na lei
998/2000). Cabe-lhe principalmente, entre outros, a fiscalizar os corpos d’água de domínio
da União, outorgar os direitos de usos dos recursos hídricos, disciplinar a operacionalização
29
dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, gerir e implantar o Sistema
Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.
No âmbito de suas fiscalizações, penalidades e outorgas, as receitas geradas são
enquadradas pela ANA no artigo 22 da Lei 9433/97, com o objetivo de cumprir o
estabelecido, de correlacionar os registros de infração em sua respectiva bacia hidrográfica,
(artigo 21§ 1º da Lei 9.433/97).
A Figura 13 demonstra a organização interna da Agência Nacional de Águas.
Figura 13 – Organograma da Agência Nacional de Águas (Fonte: ANA, 2007)
Para o desenvolvimento de suas tarefas, esta Agência é composta pelas principais
áreas de atuação, as quais são divididas em Superintendências, para a finalidade da
organização de suas funções e seu melhor desempenho.
30
3.3 INSTITUIÇÃO DA CÂMARA TÉCNICA PERMANENTE DE ÁGUAS
SUBTERRÂNEAS - RESOLUÇÃO Nº 09 DO CONSELHO NACIONAL DE
RECURSOS HÍDRICOS (CNRH).
Com a criação da Lei 9433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos
Hídricos, criou-se o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Dentre outros já mencionados,
dele fazem parte o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), ao qual compete a
função de criação das Câmaras Técnicas. De acordo com critérios estabelecidos no seu
regimento interno, o CNRH em sua Resolução nº 09 instituiu, a Câmara Técnica
Permanente de Águas Subterrâneas, para que assim seja inserida a gestão das águas
subterrâneas na PNRH, para solucionar eventuais conflitos, integrar a gestão entre águas
subterrâneas e superficiais, realizar a sua proteção e seu gerenciamento.
3.4 DIRETRIZES GERAIS PARA A GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS –
RESOLUÇÃO Nº 15 DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS
(CNRH)
O artigo 35 da Lei 9433/97 determina ao CNRH o estabelecimento de diretrizes
para realizar sua implementação. Para que a aplicação dos instrumentos do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos coordene a gestão integrada das águas,
leva-se em conta a competência de cada município para o disciplinamento do uso e
ocupação do solo, sabendo que os aqüíferos possuem zona de descarga e de recarga que
devem ser preservadas e, que no caso de um mau planejamento e/ou uma exploração
inadequada das águas subterrâneas, o resultado pode ser uma alteração indesejável de sua
quantidade e qualidade (Resolução nº 15 do CNRH).
Para efeito dessas atribuições tem-se conceituado na Resolução nº 15, de 11 de
Janeiro de 2001, em seu artigo 1º que:
I – Águas Subterrâneas: as águas que ocorrem natural ou artificialmente no subsolo; II – Águas Meteóricas: as águas encontradas na atmosfera em quaisquer de seus estados físicos; III – Aqüífero: corpo hidrogeológico com capacidade de acumular e transmitir água através dos seus poros, fissuras ou espaços resultantes da dissolução e carreamento de materiais rochosos;
31
IV – Corpo Hídrico: volume de água armazenado no solo (BRASIL, 2004d).
Com isso preceitua-se na PNRH a interdependência entre as águas subterrâneas,
superficiais e meteóricas, fato que implica na implementação de suas diretrizes. Portanto as
medidas que assegurem a realização da gestão integrada dessas águas serão incorporadas
segundo as características hidrogeológicas dos aqüíferos e seus respectivos usos
preponderantes. Propõe práticas que influenciem no aumento das disponibilidades hídricas,
obedecendo às outorgas de direito de uso baseadas em sua gestão integrada e nos critérios
estabelecidos para a correspondente tarifação pelo uso dos recursos hídricos. Estes dados
deverão ser organizados e disponibilizados pelo Sistema de Informações de Recursos
Hídricos no âmbito federal, estadual e do DF, conforme previsto no artigo 3º da Resolução
da nº 15 do CNRH.
Logo, consta como dever dos estados e do DF, orientar os municípios sobre as
diretrizes de gestão integrada das águas subterrâneas, propondo mecanismos de proteção
das áreas de recarga e descarga dos aqüíferos, e de práticas de reuso e recarga artificiais,
sempre embasadas em estudos hidrogeológicos; assim, qualquer tipo de interferência que
venha a sofrer o aqüífero em questão, pode ser facilmente identificada para se avaliar
possíveis impactos decorrentes (conforme Resolução nº 15, artigos 6º, 7º e 8º).
Para se manter as práticas de usos racionais e de conservação dos recursos hídricos
subterrâneos, também são necessários cuidados referentes aos poços de perfuração, pois
estes precisam de informações técnicas e monitoramento. Assim, quando forem jorrantes é
preciso controle de desperdício com os dispositivos adequados e ainda, no caso de serem
desativados, deverão ser adequadamente tamponados por seus responsáveis para evitar a
poluição dos aqüíferos, ficando passíveis de sanções os responsáveis que não adotarem as
providências de acordo com as normas propostas de fiscalização e controle desses recursos
(Resolução nº 15 artigos 6 a 11).
32
3.5 CRITÉRIOS GERAIS PARA OUTORGA DE DIREITO DE USO DOS
RECURSOS HÍDRICOS – RESOLUÇÃO Nº 16 DO CONSELHO NACIONAL DE
RECURSOS HÍDRICOS (CNRH)
A execução da Política Nacional de Recursos Hídricos e a atuação integrada do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, a Resolução nº 16 do CNRH
define os critérios gerais para a outorga do direito de uso dos recursos hídricos. Assim,
considera a viabilidade de seu uso por intermédio de um ato administrativo frente às
legislações específicas vigentes, concedendo o direito de uso para o outorgado por prazo
determinado enquadrado nas respectivas condições expressas neste ato.
Condições tais que não implicam na alienação total ou parcial das águas ou na
relação de interdependência entre os corpos d’água, e condicionam o regime de
racionamento e disponibilidade hídrica, o que poderá ocasionar a suspensão da outorga. O
outorgado é sempre obrigado a respeitar o direito de terceiros. Ressaltando ainda no
contexto deste trabalho que, para o consumo final ou insumo de processo produtivo, a
extração de água de aqüífero subterrâneo está sujeita a outorga (Resolução nº 15 artigo 4º).
Estabelece que para requerimentos de outorga de uso dos recursos hídricos, será
necessário à autoridade competente no mínimo as seguintes informações previstas no artigo
16 desta resolução:
I – em todos os casos: a) identificação do requerente; b) localização geográfica do(s) ponto(s) característico(s) objeto do pleito de outorga, incluindo nome do corpo de água e da bacia hidrográfica principal; c) especificação da finalidade do uso da água; II – quando se tratar de derivação ou captação de água oriunda de corpo de água superficial ou subterrâneo: a) vazão máxima instantânea e volume diário que se pretenda derivar; b) regime de variação, em termos de número de dias de captação, em cada mês, e de número de horas de captação, em cada dia [...](BRASIL, 2004e).
De qualquer maneira ainda é necessária a satisfação das exigências técnicas legais
ou de interesse público, antes que o pedido seja deferido. O artigo 20 da
Resolução nº 15 relaciona as mínimas informações que devem constar do ato
administrativo da outorga, a saber:
33
I – identificação do outorgado; II – localização geográfica e hidrográfica, quantidade e finalidade a que se destinem as águas;
III – prazo de vigência; IV – obrigação, nos termos da legislação, de recolher os valores da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, quando exigível, que será definida mediante regulamento específico; V – condição em que a outorga poderá cessar seus efeitos legais, observada a legislação pertinente; e VI – situações ou circunstâncias em que poderá ocorrer a suspensão da outorga em observância ao art. 15 da Lei 9433/97 e do art. 24 desta Resolução. Art. 21. A autoridade outorgante manterá cadastro dos usuários de recursos hídricos contendo, para cada corpo de água, no mínimo: I – registro das outorgas emitidas e dos usos que independem de outorga; II – vazão máxima instantânea e volume diário outorgado no corpo de água e nos corpos de água localizados a montante e a jusante, para atendimento aos usos que independem de outorga, e III – vazão mínima do corpo de água necessária à prevenção da degradação ambiental, à manutenção dos ecossistemas aquáticos e à manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário, quando couber entre outros usos (BRASIL, 2004e).
Este conjunto de informações possibilita ao órgão gestor realizar um monitoramento
e controle do aqüífero, situado no espaço e no tempo, para avaliar informações acerca de
todos os usos por meio das concessões e suspensões das outorgas registradas, regulando
assim o aumento ou diminuição da vazão, obtendo o volume real explorado e compondo
um quadro com as informações que integrarão o Sistema Nacional de Informações sobre
Recursos Hídricos. Entretanto existem situações em que a outorga poderá ser suspensa,
como citado no artigo 24 da Resolução nº 16 do CNRH, de maneira parcial ou total, em
definitivo ou por prazo determinado, sem qualquer direito de indenização ao usuário, nas
seguintes circunstâncias:
I – não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga; II – ausência de uso por três anos consecutivos;
III – necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as decorrentes de condições climáticas adversas; IV – necessidade premente de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental; V – necessidade de se atender a usos prioritários de interesse coletivo para os quais não se disponha de fontes alternativas;
34
VI – necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo de água, e
VII – indeferimento ou cassação da licença ambiental (BRASIL, 2004e).
Para avaliar os recursos hídricos subterrâneos, a Unidade da Federação que emitiu a
outorga deverá manter os seus serviços indispensáveis para o controle da qualidade,
quantidade e seu comportamento hidrológico. Contudo cabe ao outorgado manter e
encaminhar à autoridade os dados do monitoramento da vazão na forma preconizada no ato
da outorga. Compete ao CNRH arbitrar sobre eventuais conflitos relacionados aos usos das
águas subterrâneas que se estendam por mais de uma Unidade da Federação. O não
cumprimento acarretará pena dos infratores, segundo previsto na lei 9433/97 e legislação
pertinente (Resolução nº 16, arts. 27,28 e 31).
3.6 DIRETRIZES PARA A INSERÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO
INSTRUMENTO DE PLANOS DE RECURSOS HÍDRICOS – RESOLUÇÃO Nº 22
DO CONSELHO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (CNRH)
A gestão integrada de águas subterrâneas requer dados básicos necessários à sua
gestão sistêmica, os quais são fornecidos pelos Planos de Recursos Hídricos, elaborados
contemplando a Bacia Hidrográfica por estado e para o país e em observância à Política
Nacional de Recursos Hídricos e, portanto, devem promover o desenvolvimento social e
ambientalmente sustentável considerando os usos múltiplos e funções peculiares de cada
aqüífero. Também é importante definir sua caracterização e inter-relações com os demais
corpos hídricos, para alcançar uma visão sistêmica e participativa das águas (Resolução n
º22, arts. 1º e 2º).
As informações hidrogeológicas mínimas sobre dados das águas subterrâneas que
devem constar nos Planos de Recursos Hídricos, conforme o art. 3º desta Resolução são:
I – a caracterização espacial; II – o cômputo das águas subterrâneas no balanço hídrico; III – a estimativa das recargas e descargas, tanto naturais quanto
artificiais; IV – a estimativa das reservas permanentes explotáveis dos aqüíferos; V – caracterização físico, química e biológica das águas dos aqüíferos;
35
VI – as devidas medidas de uso e proteção dos aqüíferos (BRASIL,
2004f).
Assim, conforme o artigo 4º desta Resolução, os Planos de Recursos Hídricos
elaborados por bacia devem contemplar o monitoramento da quantidade e qualidade dos
recursos dos aqüíferos:
I – rede de monitoramento dos níveis d’água dos aqüíferos e sua qualidade; II – densidade dos pontos de monitoramento; e III – frequência de monitoramento dos parâmetros. Artigo 5º As ações potencialmente impactantes nas águas subterrâneas, bem como as ações de proteção e mitigação a serem empreendidas devem ser diagnosticadas e previstas nos Planos de Recursos Hídricos, incluindo-se medidas emergenciais a serem adotadas em casos de contaminação e poluição acidental. Onde este diagnóstico deve incluir: I – descrição e previsão da estimativa de pressões sócio-econômicas e ambientais sobre as disponibilidades; II – estimativa das fontes pontuais e difusas de poluição; III – avaliação das características e usos do solo; e IV – análise de outros impactos da atividade humana relacionadas às águas subterrâneas (BRASIL, 2004f).
Estes tipos de medidas visam garantir a prevenção, proteção, conservação e
recuperação dos aqüíferos, precisam ser atualizadas e podem contar com áreas de uso
restritivo para alcance dos objetivos propostos e certificar a boa função do aqüífero
(Resolução nº 22, artigo 6º).
3.7 CRIAÇÃO DA AGÊNCIA REGULADORA DE ÁGUAS E SANEAMENTO DO
DISTRITO FEDERAL (ADASA) – LEI Nº 3.365/2004
A ADASA é uma autarquia criada pela Lei nº 3.365/2004, que possui personalidade
jurídica de direito público e encontra-se vinculada à Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos. Basicamente possui a finalidade de regular, controlar e
fiscalizar, com poder de polícia, a qualidade e quantidade dos corpos de água de domínio
distrital ou delegado pela União e Estados. Sua atuação é baseada nos preceitos estipulados
na Política Nacional de Recursos Hídricos e na Política de Recursos Hídricos do Distrito
36
Federal, articulada com diversos órgãos integrantes do seu Sistema de Gerenciamento de
Recursos Hídricos.
Na esfera de sua competência, exerce o controle das atividades decorrentes, em
cumprimento às legislações pertinentes de recursos hídricos e meio ambiente. A partir daí,
promove a regulação, disciplinamento e fiscalização do abastecimento de água, assim como
suas respectivas tarifações, estas baseadas em estudos técnicos para subsidiar sua definição.
Adicionalmente compete-lhe outorgar o direito de uso de recursos hídricos do Distrito
Federal e prestar apoio à elaboração dos planos de recursos hídricos das bacias do DF.
No âmbito dos serviços de abastecimento de água a regulação, pela ADASA, visa o
bem estar da população. Ao zelar pela qualidade de seus serviços, faz cumprir as normas
legais e regulamentares e previne condutas violadoras de normas. Essas atividades de
regulação compreendem-se da normalização, a qual propõe normas legais; a fiscalização,
que realiza a verificação continua dos serviços outrora regulados e o controle, que abrange
medidas e ações de forma a assegurar a prestação adequada dos serviços.
Conclui-se que dessa forma o prestador de serviços de abastecimento de água deve
se submeter ao poder regulador da ADASA/DF, facilitando sua ação e cumprindo suas
determinações. Deve ainda atender aos usuários com eficiência, prestar as informações
solicitadas e cumprir todas as normas regulamentares.
A ADASA/DF compete zelar pelo cumprimento das normas legais e
regulamentadoras, com atenção aos contratos de concessão e permissão, que são alvo de
maior enfoque no presente trabalho. Compete-lhe ainda fiscalizar aspectos técnicos e
aplicar as devidas sanções e penalidades quando devido e realizar estudos para maximizar a
qualidade e eficiência dos serviços prestados, assim como coletar e interpretar os dados
obtidos nas diligências.
Ao usuário cumpre como dever básico, a utilização adequada dos recursos hídricos,
controlando desperdícios e promovendo sua conservação para as gerações futuras.
37
Na Figura 14 é demonstrado a organização interna da ADASA/DF.
Figura 14 – Organograma interno da Agência Reguladora de Água e Saneamento do
Distrito Federal – ADASA/DF (Fonte: DISTRITO FEDERAL, 2007a).
Organograma referente ao funcionamento interno da ADASA/DF. Que para
viabilizar suas metas possui uma diretoria colegiada composta pelos diretores, de onde
emergem as decisões que serão executadas pelos setores responsáveis pelas atividades
específicas, conforme demonstra a figura 14.
3.7.1 Outorga de uso dos recursos hídricos em corpos de água no Distrito Federal –
Resolução Nº 350/2006
A Resolução nº 350/2006 da ADASA/DF trata dos princípios de outorga e de
concessão de autorização de uso dos recursos hídricos. Destaca-se que a outorga prévia e a
outorga de direito de uso têm competência delegada pela União ou pelos Estados. Para a
definição de tais ações consideram-se:
38
[...]III – captação e/ou exploração de aqüífero: ato de retirar água contida no aqüífero, através de poços tubulares ou poços manuais, ou outro tipo de obra, sendo extraída manualmente, de forma jorrante ou por bombeamento;[...] VIII – disponibilidade hídrica: parcela da potencialidade da água superficial ou subterrânea que pode ser utilizada para diferentes finalidades;[...] X – outorga de direito de uso de recursos hídricos: ato administrativo, mediante o qual a ADASA/DF faculta ao outorgado o direito de uso de recursos hídricos, por prazo determinado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato; XI – outorgado: titular do direito de uso de recursos hídricos com direitos e obrigações decorrentes do ato de outorga; XII – poço manual, perfuração manual no solo ou rocha, incluindo poço amazonas/cisterna/poço escavado/cacimba, revestido com tijolo ou tubo de concreto, ou sem revestimento; XIII – poço tubular: perfuração a partir de equipamento motorizado, de diâmetro reduzido, total ou parcialmente revestido com tubos de metal ou PVC. Se a água se eleva espontaneamente acima da superfície do solo, o poço é denominado de poço artesiano;[...] XV – renovação de outorga: ato administrativo, mediante o qual a ADASA/DF, renovará o direito de uso de recursos hídricos, observadas as normas, critérios e prioridades de uso de recursos hídricos;[...] XVIII – revogação de outorga: ato administrativo, mediante o qual a ADASA/DF, invalidará a outorga por motivo de interesse público ou pelo cometimento de infração pelo outorgado; XIX – suspensão de outorga: ato administrativo pelo qual, a critério da ADASA/DF ou por solicitação do outorgado, fará cessar por tempo determinado os efeitos da outorga;[...] XXI – transferência de outorga: Ato administrativo mediante o qual a ADASA/DF autoriza previamente a transferência dos direitos da outorga ao novo usuário (DISTRITO FEDERAL, 2007b).
Assim, nos princípios da outorga consta a necessidade do gerenciamento da bacia
hidrogeológica, consoante as normas do Plano de Recursos Hídricos, preservando o uso
múltiplo das águas. Logo, como definido na Seção II desta Resolução, para o uso dos
recursos hídricos subterrâneos é obrigatório à outorga do direito de uso para a extração de
sua água por meio de poços e para finalidade de consumo ou insumo de processo produtivo,
sendo preciso ser apresentado o teste de vazão e o certificado de qualidade de água, além
do atendimento aos condicionantes da outorga prévia para que se obtenha a outorga de
direito de uso.
No caso do uso de águas subterrâneas considerado como insignificante, com sua
vazão inferior a 5m³/dia ou para fins de estudo, é necessário o seu registro. Para projetos de
39
bombeamento considerados significantes, a construção do poço e seu ensaio de
bombeamento para a captação de água subterrânea devem seguir as normas da ABNT
(NBR 12212 e NBR 12244). Ainda por via de regra, independentemente da vazão
explorada, estipula-se que projetos de captação de água em condomínios horizontais são
exclusivos para atendimento coletivo e também precisam ter seu registro junto a
ADASA/DF.
3.7.2 Procedimentos gerais para obturação e lacração de poços escavados e poços
tubulares. Resolução nº 420/2006
De acordo com a lei n. 3.365/2004, compete à ADASA/DF regular, disciplinar e
fiscalizar os usos dos recursos hídricos subterrâneos; para tanto cumpre-lhe padronizar os
procedimentos para a obturação e lacração de poços, com vistas a minimizar os riscos de
contaminação de suas águas, assim como acidentes, garantindo ainda o bem estar da
população e a boa conservação dos recursos subterrâneos.
Para estabelecer os procedimentos para a obturação e lacração de poços no território
do Distrito Federal, em termos de conceituação considera-se:
[...]VI – poço abandonado: poço fora de operação, comumente localizado em área de livre acesso e que não tem conservação; VII – poço desativado: poço fora de operação, temporária ou definitivamente, lacrado ou não, que tem responsável por sua conservação; VIII – poço escavado: também conhecido como poço manual, poço perfurado manualmente no solo ou rocha, incluindo poço amazonas/cisterna/cacimba, revestido com tijolo ou tubo de concreto, ou sem revestimento;[...] X – poço obturado: poço cujo orifício foi restaurado, muito próximo ao seu estado natural, de forma a não haver reversibilidade no processo de captação de água; XI – poço seco: perfuração para captação de água subterrânea sem sucesso, sem água; XII – poço tubular: poço perfurado a partir de equipamento motorizado, de diâmetro reduzido, total ou parcialmente revestido com tubos de metal ou PVC. Se a água se eleva espontaneamente acima da superfície do solo, o poço é denominado de poço artesiano [...] (DISTRITO FEDERAL, 2007c).
40
No caso da obturação de poços a responsabilidade será do usuário, o qual terá que
responder a uma série de normas específicas para cada caso. Em conseqüência ao abandono
do poço, ele terá a revogação da sua outorga ou o embargo definitivo. Para o procedimento
de lacração dos poços é utilizado um dispositivo de lacre (selo, fita, corrente, etc.), com o
objetivo de impedir temporariamente a captação de água do poço, e será acompanhado da
aplicação de um embargo provisório ou suspensão temporária de uso, que poderão ser
aplicados em caso de alguma situação mais emergencial.
A responsabilidade de obturação dos poços consiste de algumas atividades básicas
para mantê-lo em situação próxima ao seu estado natural e no intuito de impedir a
reversibilidade do processo de captação, portanto consiste de procedimentos tais como a
retirada da bomba e das instalações hidráulicas e elétricas, desinfecção do poço, uso de
brita ou cascalho para alcançar o nível do terreno e por fim lançar calda de cimento na boca
do poço e fazer seu acabamento, conforme ilustrado na Figura 15.
Fundo do Poço
Lamina d’água
Nível da Água
Profundidade do
Poço
Boca do Poço POÇO EM OPERAÇÃO POÇO OBTURADO
Nível do Terreno
CCAAMMAADDAA 30 m de
Fundo do Poço
CCAAMMAADDAA Brita ou Cascalh
Boca do Poço
Figura 15 – Procedimentos de obturação de poços tubulares (Fonte: ADASA/DF, 2007c)
41
3.8 POLÍTICA DE RECURSOS HÍDRICOS DO DISTRITO FEDERAL E SEU
SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS – LEI Nº 2725/2001
Para efeito desta lei considera-se a água como um bem natural público de domínio
do Distrito Federal, constituinte do ciclo hidrológico onde sua unidade básica de
intervenção é a bacia hidrográfica, a qual compreende também sua fase subterrânea para
definição de sua gestão. Assim os recursos hídricos subterrâneos compõem uma função
social de valor econômico, onde as ações de seu gerenciamento utilizam-se de
conhecimentos científicos e tecnológicos, com o objetivo de assegurar seu uso sustentável.
Somado a essas ações passa a entrar o papel da sociedade, que deve ser alvo de instrução e
conscientização através da ferramenta de educação ambiental, efetivando os objetivos
propostos.
O uso sustentável visa assegurar a disponibilidade de água em quantidade e
qualidade às gerações futuras e maximizar a disponibilidade de recursos hídricos através de
seu uso racional e integrado. Tais objetivos são baseados na adequação da gestão com os
diversos fatores bióticos, físicos, demográficos, econômicos, sociais e culturais no Distrito
Federal, juntamente com sua integração na política ambiental, a fim de orientar e
complementar os estudos hidrogeológicos, definir parâmetros regionais, sub-regionais e
locais de ação, e efetivar o aproveitamento múltiplo ou específico desses recursos.
A partir dos regulamentos previstos na Política Nacional de Recursos Hídricos,
realizar programas e projetos específicos de explotação e aproveitamento de recursos
hídricos subterrâneos, utilizando-se de recursos disponíveis no Fundo de Recursos Hídricos
do Distrito Federal, que congrega em seu orçamento as cobranças e outorgas de usuários,
multas e aplicações de outras penalidades a infratores. Encontram-se sujeitos à outorga pelo
Poder Público, segundo artigo 12 desta Lei, o uso da extração de água de aqüífero
subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo, que tem por objetivos
básicos assegurar o controle e o exercício dos direitos de acesso à água. Maiores detalhes
serão esclarecidos ao abordarmos o Decreto 22.358/2001 que dispõe sobre a outorga de
água subterrânea no Distrito Federal.
Logo, para fundamentar os instrumentos de outorga, as informações referentes à
gestão têm seus dados coletados, armazenados e tratados pelo Sistema de Informações
42
sobre Recursos Hídricos do DF. Este é o responsável pela difusão das informações sobre o
uso racional da água cabendo-lhe reuni-las e dar-lhes consistência para a divulgação sobre a
situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos no DF.
Conforme título II desta Lei, fica instituído o Sistema de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, ao qual cabe coordenar a gestão integrada das águas, promover a
cobrança de uso e arbitrar administrativamente nos conflitos pelo uso dos recursos hídricos.
Para tanto conta com a participação de componentes como o Conselho de Recursos
Hídricos, os Comitês de Bacia Hidrográfica e as Agências de Bacia, para a realização das
atividades de suas respectivas competências, onde cada um é composto por representantes
das secretarias do governo do Distrito Federal e de outros órgãos do poder público, usuário
das águas e de representantes da organização civil.
São de competência do Conselho de Recursos Hídricos do DF as atividades de gestão
como, articulação do planejamento de recursos hídricos, propostas de alteração da
legislação pertinente, estabelecimento de diretrizes complementares e seus instrumentos,
critérios gerais para outorga e cobrança pelo uso dos recursos hídricos e demais
providências necessárias ao cumprimento dos Planos de Recursos Hídricos.
Os Comitês de Bacia atuam na área de uma bacia hidrográfica ou em bacias contíguas
e competem-lhes atividades como: estabelecer valores sugeridos de cobrança, aprovar o
plano de recursos hídricos para determinada bacia e arbitrar em conflitos relacionados aos
recursos hídricos. Logo, as Agências de Bacia exercem a função de Secretaria Executiva do
respectivo Comitê de Bacia e por isso possuem sua mesma área de atuação; são
responsáveis por atividades importantes como: manter o cadastro de usuários de recursos
hídricos, assim como o balanço da disponibilidade hídrica em sua área de atuação,
implementar e gerir o Sistema de Informações de Recursos Hídricos e analisar e emitir
pareceres sobre projetos e obras a serem financiados com recursos da cobrança pelo seu
uso.
Constituem o Fundo de Recursos para Águas Subterrâneas do Distrito Federal as
verbas arrecadadas por infrações das normas de utilização dos recursos hídricos
subterrâneos, conforme especificado no artigo 46 desta lei:
I – derivar ou utilizar recursos hídricos para qualquer finalidade, sem a respectiva outorga de direito de uso;
43
II – iniciar a implantação ou implantar empreendimento que exija derivação ou a utilização de recursos hídricos, superficiais ou subterrâneos, que implique alterações no regime, quantidade ou qualidade dos mesmos, sem autorização dos órgãos ou entidades competentes; III – utilizar-se dos recursos hídricos ou executar obras ou serviços relacionados com os mesmos em desacordo com as condições estabelecidas na outorga; IV – perfurar poços para extração de água subterrânea ou operá-los sem a devida autorização; V – fraudar as medições dos volumes de água utilizados ou declarar valores diferentes dos medidos; VI – infringir normas estabelecidas no regulamento desta Lei e nos regulamentos administrativos, compreendendo instruções e procedimentos fixados pelos órgãos ou entidades competentes; VII – obstar ou dificultar a ação fiscalizadora das autoridades competentes no exercício de suas funções (DISTRITO FEDERAL, 2007d).
3.8.1 Outorga do direito de uso de águas subterrâneas no Distrito Federal – Decreto nº
22.358 de 31 de Agosto de 2001
Conforme o artigo 1º deste Decreto, fica estipulado a outorga de direito de uso de
água subterrânea no território do Distrito Federal, conforme previsto no artigo 12 da Lei
2.725/2001 já mencionada. Dispõe-se ainda neste mesmo capítulo que as águas
subterrâneas estão localizadas no subsolo e não serão consideradas no caso de constituir
drenagem ou acúmulo superficial e espécie similar e que, para tais fins, consideram-se as
definições já destacadas na Resolução nº 350/2006 da ADASA, na Resolução nº 15 do
CNRH acrescentando-se:
I – água subterrânea – água que se localiza no subsolo preenchendo os poros das rochas granulares, cavernas de rochas solúveis, fraturas, fissuras ou fendas das rochas cristalinas; II – aqüífero: no meio sedimentar denomina-se intersticial e, no meio cristalino, aqüífero fissural fraturado;[...] VI – recarga – condição de alimentação do aqüífero a partir da superfície, podendo se dar através da infiltração da água da chuva ou de rios e lagos – recarga natural, ou através da infiltração por barramento superficial, injeção através de poços, ou qualquer obra que induza à infiltração – recarga artificial; VII – usuário de água subterrânea – toda pessoa física ou jurídica, de direito publico ou privado, que faça uso de recursos hídricos subterrâneos, por meio de poço tubular e que dependa da outorga;
44
VIII – conservação – utilização racional de um recurso natural, de modo a otimizar o seu rendimento, garantindo a sua renovação ou auto-sustentação do aqüífero; IX – proteção – ação destinada a resguardar o recurso natural utilizado ou não; X – preservação – ação de preservar contra a destruição e qualquer forma de dano ou degradação de um recurso natural; XI – administração ou gestão – conjunto de ações, definidas em normas, destinadas ao controle do uso da água subterrânea, relacionadas a: a- avaliação dos recursos hídricos subterrâneos e planejamento do seu aproveitamento racional; b- outorga, monitoramento e fiscalização do uso dessas águas; c- aplicação de medidas relativas à conservação, proteção e à preservação quantitativa e qualitativa da água subterrânea.[...] XIII – poluente – toda e qualquer forma de matéria ou energia que, direta ou indiretamente, cause alteração gradativa da água subterrânea; XIV – poluição – ato ou efeito de poluir; qualquer alterações das propriedades físicas, químicas ou biológicas da água subterrânea, que possa ocasionar prejuízo à saúde, à segurança e ao bem estar das populações, comprometer seu uso para fins de consumo humano, de atividades agropecuárias, industriais, comerciais e recreativas, e causar qualquer dano à flora e à fauna; XV – potencialidade – volume de água subterrânea armazenada no aqüífero, suscetível de ser utilizado;[...] XVII – vazão explotável – é o volume de água extraída por tempo determinado, sendo expresso em m³/h (metros cúbicos por hora), em l/h (litros por hora) ou ainda em l/s (litros por segundo); XVIII – domínio poroso – aqüíferos caracterizados por reservatórios onde a água ocupa os espaços entre os minerais constituintes do corpo rochoso; XIX – domínio fraturado – aqüíferos caracterizados pelos meios rochosos, onde os espaços ocupados pela água são representados por planos de fraturas, microfraturas, diáclases, juntas ou zonas de cisalhamento e falhas geológicas [...](DISTRITO FEDERAL, 2007e).
Constam ainda, de forma complementar à Resolução nº 16 do CNRH e Resolução
nº 350 da ADASA, as definições encontradas na seção II, do capítulo III deste Decreto,
referentes aos tipos de uso outorgáveis.
Estabelece que onde houver rede pública de abastecimento, fica proibido o uso da
água subterrânea, salvo em situações de usos industriais, comerciais ou de irrigação, em
áreas com superfície superior a 5.000m² (cinco mil metros quadrados) ou ainda em
situações precárias de abastecimento de água pela rede pública, constituindo-se assim
apenas como uma solução provisória.
No caso de concessão da outorga, é dever do outorgado comprovar, por meio de
atestado da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, que seu sistema atende às normas
45
sanitárias vigentes, permitindo sua autorização de funcionamento junto aos órgãos
competentes. Cabe-lhe ainda as obrigações previstas no artigo 13 deste Decreto, quais
sejam:
I – cumprir as exigências formuladas pela autoridade outorgante; II – atender à fiscalização, permitindo o livre acesso aos locais de captação, planos, projetos, contratos, relatórios, registros e quaisquer documentos referentes à concessão ou à autorização; III – construir e manter, quando e onde for determinada pela autoridade outorgante, a instalação necessária às observações hidrométricas das águas extraídas; IV – manter em perfeito estado de conservação e funcionamento os bens e as instalações vinculadas à outorga; V – não ceder a água captada a terceiros, com ou sem ônus, sem prévia anuência da autoridade outorgante; VI – permitir a realização de testes e análises de interesse hidrogeológico, por técnicos credenciados pela autoridade outorgante (DISTRITO FEDERAL, 2007e).
Considera-se que, para o correto funcionamento do poço, este deve assegurar as
condições naturais do aqüífero identificando eventuais mudanças físicas, químicas ou
bacteriológicas e será exigida a utilização do medidor de vazão assim como seu livre acesso
para a realização do controle de uso, onde a não conformidade acarreta a interdição do
poço.
Portanto são definidas medidas de proteção sanitária e de conservação que visam
oferecer os pré-requisitos mínimos para a gestão dos aqüíferos. Com isso é estabelecido um
perímetro imediato de proteção sanitária que objetiva resguardar o seu interior da entrada
de animais e poluentes, protegendo o poço tubular com armações de concreto armado
impedindo assim a penetração de poluição por escoamento superficial onde, a partir do
ponto de captação, é delimitado um raio de 30m para a realização desta proteção.
Todavia, os perímetros de proteção não implicam em desapropriação de terra e sim
em possíveis restrições para a segurança do poço perfurado, garantindo que não haverá a
redução de sua potencialidade e qualidade. Visa oferecer uma boa condição para a
efetivação do monitoramento, o qual utiliza esses benefícios para integrar o Sistema de
Informação de Recursos Hídricos do Distrito Federal e implementar efetivamente o
cadastro georreferenciado dos poços tubulares para a realização de uma boa manutenção.
46
De acordo com o artigo 2º da Lei 2.2725/2001, com relação à utilização dos
recursos hídricos subterrâneos em situações de escassez, a prioridade é para o consumo
humano e a dessedentação de animais; nestas circunstâncias e em prol da manutenção do
equilíbrio natural das águas subterrâneas, compete à Secretaria de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos adotar as seguintes providências, segundo artigo 25 do Decreto
22.358/2001 :
I – determinar a suspensão da outorga de direito de uso, até que o aqüífero se recupere, ou seja, superada a situação que determinou a carência de água; II – determinar a restrição ao regime de operação outorgado; III – revogar a concessão ou a autorização para uso de água subterrânea; IV – restringir as vazões captadas por poços em toda a região ou em áreas localizadas; V – estabelecer distâncias mínimas entre as captações a serem executadas; VI – estabelecer áreas de proteção, restrição, controle e recarga de aqüíferos; VII – estabelecer perímetro de proteção sanitária (DISTRITO FEDERAL, 2007e).
Tendo em vista que este é um objetivo de interesse comum à sociedade consta que,
apesar de o outorgado ter o direito de entrar com recurso no Conselho Nacional de
Recursos Hídricos do Distrito Federal em razão de seu direito de outorga, o mesmo não terá
qualquer direito a indenização quando se tornarem necessárias a adoção de tais medidas.
3.9 CRIAÇÃO DA TAXA DE FISCALIZAÇÃO SOBRE SERVIÇOS PÚBLICOS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO – TFS E DA TAXA DE FISCALIZAÇÃO DOS USOS DOS RECURSOS HÍDRICOS – TFU. LEI COMPLEMENTAR Nº 711, DE 13 DE SETEMBRO DE 2005.
Na composição dos termos da Lei Distrital nº 3.365/2004, fica criada através desta
Lei as taxas referentes aos serviços públicos de abastecimento de água e esgotamento
sanitário (TFS) e sobre a fiscalização dos usos dos recursos hídricos (TFU), receitas estas
cobradas pela Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal –
ADASA/DF. Referidas taxas compõem o seu patrimônio.
A taxa de Fiscalização sobre Serviços Públicos de Abastecimento de Água e
Esgotamento Sanitário – TFS, é cobrada anualmente dos prestadores de serviços públicos
47
no Distrito Federal. Corresponde a 1% (um por cento) do valor do benefício econômico do
saneamento sanitário prestado, calculado com base no volume faturado de água e esgotos
levando-se em consideração, para efeito de cálculo, os valores da fatura de água e esgoto
para as respectivas áreas de atuação.
���� Bes = Vf * Tm
���� TFS = 0,01 * Bes Onde:
Bes é igual ao benefício econômico de saneamento, calculado com base no volume faturado de água e esgotos e na tarifa média praticada, levando-se em conta os dados de cada mês; Vf é igual ao somatório dos volumes faturados de água e de esgotos, expressos em metros cúbicos; Tm é a tarifa média, expressa em reais, obtida pela divisão da Receita Operacional Direta (ROD), que é a receita obtida com o faturamento mensal de água e esgoto, pelo volume total de água e esgoto faturado no mesmo mês.
Figura 16 – Taxa de Fiscalização sobre Serviços Públicos de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário – TFS (Data: 20/05/2007)
A Taxa de Fiscalização dos Usos dos Recursos Hídricos – TFU, também é cobrada
anualmente dos usuários de recursos hídricos do Distrito Federal. Seu valor é equivalente a
5% (cinco por cento) do valor do benefício econômico de uso auferido pelo usuário de
recursos hídricos. Entende-se por benefício econômico do uso, o volume de água captada e
de efluente lançado, através do qual é realizado o seu cálculo.
���� TFU = 0,05 x Beu(a)
����Beu(a) = Vp x Tm
Onde:
Beu(a) é o benefício econômico de uso auferido pelos prestadores de serviços públicos, calculado pela multiplicação do somatório dos volumes produzidos de água e de coleta de esgoto sanitário, pela tarifa média praticada, levando-se em consideração os dados de cada mês; Vp é igual ao somatório dos volumes produzidos de água e de coleta de esgotos sanitários, expressos em metros cúbicos; e, Tm é a tarifa média, expressa em reais, obtida na forma prevista no § 2º, art. 2º, desta Lei.
���� TFU = 0,05 x Beu(b)x Ka x Kb
���� Beu(b)=Vp x Tm
Onde:
Beu(b) é o benefício econômico do uso, calculado sobre o volume de água captada e de efluente lançado, por não-prestadores de serviços públicos, multiplicado pela tarifa média; Ka é igual ao fator de ponderação variável, em razão da destinação da captação da água para fins residenciais, industriais, comerciais, rurais e outros, a ser definido pela ADASA/DF; Kb é igual ao fator de ponderação variável, em razão dos efluentes lançados e o grau de poluição causado no corpo hídrico, a ser definido pela ADASA/DF. Vp é igual ao somatório dos volumes produzidos de água e de lançamento de efluentes, expressos em metros cúbicos;
48
Tm é a tarifa média, expressa em reais, obtida na forma prevista no § 2º, art. 2º, desta Lei.
���� TFU=0,05 x Beu(c)
Onde: Beu(c) é igual à receita auferida pelo uso dos recursos hídricos, expressa em reais.
Figura 17 – Taxa de Fiscalização dos Usos dos Recursos Hídricos – TFU (Data: 20/05/2007)
Caso não haja outorga de uso do recurso hídrico em questão, quer seja pelo
prestador de serviço quer seja pelo usuário, este estará sujeito da mesma forma ao
recolhimento das taxas de fiscalização. O não pagamento mensal destas taxas implica na
aplicação de multa e juros de mora, além de que os valores não recolhidos serão inscritos
na dívida ativa da ADASA/DF, para efeito de cobrança judicial (segundo art.8º desta Lei).
Para a realização do cadastro dos usuários dos recursos hídricos do DF e dos
prestadores de serviços públicos, devem ser informados os dados relativos às extrações de
água, sua captação e lançamentos de afluentes. Na falta destes dados, a ADASA/DF poderá
realizar os cálculos utilizando o princípio da razoabilidade e utilizar parâmetros
equivalentes de atividades de mesma natureza, efetivando o recolhimento das receitas. Este
fato poderá ocasionar, ainda, a aplicação de penalidades conforme previsto na Lei
2.725/2001, devido à ausência de tais dados.
49
4. MATERIAIS E MÉTODOS
O espírito humano deve empregar investigação para a demonstração da verdade,
ordem para se impor aos diferentes processos necessários para se atingir um fim dado ou
um resultado desejado. O conjunto desses processos expressa o sentido geral da definição
de método (CERVO; BERVIAN, 2002).
Devem-se selecionar os meios e processos mais adequados para os objetivos
selecionados. Os investigadores que obtiveram êxito tiveram o cuidado de anotar os passos
percorridos e os meios que levaram aos resultados (CERVO; BERVIAN, 2002).
O método científico não possui virtudes milagrosas. O método não é um modelo,
fórmula ou receita que uma vez aplicada colhe, sem margem de erro, os resultados
previstos ou desejados. O método é apenas um conjunto ordenado de procedimentos que se
mostraram eficientes ao longo da História, na busca do saber. O método científico é, pois,
um instrumento de trabalho. O resultado depende de seu usuário. Assim, o bom método
torna-se fator de segurança e economia (CERVO; BERVIAN, 2002).
Alguns autores identificam a ciência como um método sistemático de explicar um
grande número de ocorrências semelhantes. O método científico quer descobrir a realidade
dos fatos e esses, ao serem descobertos, devem, por sua vez, guiar o uso do método
(CERVO; BERVIAN, 2002).
Com base na metodologia científica, o presente estudo contempla a análise
sistemática da Política Nacional de Recursos Hídricos e a Política Distrital de Recursos
Hídricos como instrumentos de gestão ambiental por parte do Poder Público. Essa
legislação específica é executada pelos órgãos gestores de água no Distrito Federal: a
Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal – ADASA e a Companhia
de Saneamento Ambiental do Distrito Federal – CAESB, responsáveis pela regulamentação
e aplicação dos instrumentos previstos nas respectivas legislações em vigor.
A dinâmica das águas subterrâneas implica em variações que precisam ser previstas,
para se adequar o seu gerenciamento a determinadas condições ocasionadas devido ao seu
uso. Neste momento são definidos os termos de uso e exploração das águas subterrâneas,
utilizando-se um monitoramento para a avaliação dos parâmetros necessários, os quais são
fiscalizados para o cumprimento das diretrizes pré-estabelecidas, obtendo-se assim a
50
outorga. Esta por sua vez assegura ao outorgado o direito de uso, se enquadrando no seu
respectivo dever; na outorga também se definem as condições de sua suspensão ou
revogação do direito.
4.1 PESQUISA DOCUMENTAL SOBRE AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
A pesquisa documental é um procedimento racional e sistemático que tem como
objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. É requerida quando não
se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a
informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser
adequadamente relacionada ao problema (GIL, 2002).
Utiliza-se cuidadosamente de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos e
desenvolve-se ao longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada
formulação do problema até a satisfatória apresentação dos fatos (GIL, 2002).
É utilizada a aplicação de métodos científicos buscando alcançar respostas para
questões levantadas, a fim de compor as finalidades da pesquisa. Entretanto,
ocasionalmente não acontece à justa veracidade nas respostas; contudo, esses métodos
constituem a melhor maneira de se encontrar resultados satisfatórios ou de completo
sucesso (NEVES, 2006).
Muitas razões determinam a realização de uma pesquisa, estas podem ser
classificadas em dois grandes grupos (GIL, 2002):
-Razões de ordem intelectual (puras): decorrem do desejo de conhecer pela própria
satisfação de conhecer.
-Razões de ordem prática (aplicadas): decorrem do desejo de conhecer com vistas a
fazer algo de maneira mais eficiente.
Estes dois tipos de pesquisa não podem ser tratados como se fossem mutuamente
exclusivas, pois uma pesquisa sobre problemas práticos pode conduzir à descoberta de
princípios científicos. Da mesma forma, uma pesquisa pura pode fornecer conhecimentos
passíveis de aplicação prática imediata (GIL, 2002).
Qualquer empreendimento de pesquisa para ser bem-sucedido, deve levar em
consideração a disponibilidade de recursos disponíveis. O pesquisador deve ter a noção de
51
tempo a ser utilizado na pesquisa e valorizá-lo. Deve prover-se de equipamentos e materiais
necessários ao desenvolvimento da pesquisa e estar atento aos gastos decorrentes da
remuneração dos serviços prestados por outras pessoas (GIL, 2002).
Nesta investigação foram contemplados estudos comparativos das legislações
brasileiras relacionadas aos recursos hídricos e, mais detalhadamente, a sua ocorrência na
forma subterrânea. Primeiramente foi comentada a Lei 9.433/97, que trata da Política
Nacional de Recursos Hídricos, onde constam as diretrizes que devem ser respeitadas para
se realizar a gestão sustentável, assim como sua defesa no âmbito legislativo e em seguida a
Política de Recursos Hídricos do Distrito Federal e as respectivas resoluções e decretos
afins.
O estudo também foi realizado com a legislação referente aos recursos hídricos
subterrâneos do Distrito Federal e sua administração pelos órgãos gestores, principalmente,
A ADASA, que possui autonomia para legislar, e a CAESB, enfocada em sua área de
trabalho e suas condições de atuação. Foram analisados os instrumentos para possibilitar a
verificação da situação da gestão e possíveis impactos decorrentes da utilização das águas
subterrâneas para abastecimento da população. Trata-se da elaboração de um diagnóstico
preliminar, cuja observação permite registrar inconformidades segundo suas próprias
diretrizes, que visam garantir o abastecimento populacional ao mesmo tempo em que
assegura a integridade do recurso explorado.
Portanto pretendeu-se alcançar o registro de melhores práticas de gestão, para que
assim seja possível incorporar, ocasionalmente, dentro da legislação, subitens referentes a
alguma nova situação empírica da realidade ou a alguma nova situação de gestão.
4.2 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
Qualquer espécie de pesquisa, em qualquer área, pressupõe e exige uma pesquisa
bibliográfica prévia, quer para o levantamento da situação da questão, quer para a
fundamentação teórica ou ainda para justificar os limites e contribuições da pesquisa
(CERVO; BERVIAN, 1983).
A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências
teóricas publicadas em documentos. É realizada com o intuito de recolher informações e
52
conhecimentos prévios acerca de um problema para o qual se procura resposta ou sobre
uma hipótese que se quer experimentar (CERVO; BERVIAN, 1983).
De forma a complementar as informações legislativas, foi realizada uma pesquisa
bibliográfica em busca das conceituações já definidas para as águas subterrâneas e outros
estudos de dissertações realizados na região de São Sebastião. Entretanto a própria criação
da Região Administrativa de São Sebastião é um fato relativamente novo,
conseqüentemente, a chegada da infra-estrutura urbana na região ainda está por acontecer.
Todavia foram poucos autores que relataram as condições ambientais e de gestão dos
recursos hídricos nesta região.
Foi relatado também um breve histórico da situação em estudo, com uma descrição
da área e das condições que regem a localidade. Descrevemos a explosão populaçional e
sua necessidade de abastecimento. Identificamos os fatores importantes para a avaliação de
algum possível impacto ao meio ambiente e apresentamos a maneira como ocorre a gestão
de águas subterrâneas na região.
4.3 PESQUISA DE CAMPO
No planejamento de toda pesquisa é envolvida a tarefa de coleta de dados, uma fase
intermediária que ocorre após a escolha e delimitação do assunto, a revisão bibliográfica, a
definição dos objetivos, a formulação do problema e das hipóteses e a identificação das
variáveis. Há diversas formas de coleta de dados, todas com suas vantagens e desvantagens.
Os instrumentos de largo uso são a entrevista, o formulário e o questionário (CERVO;
BERVIAN, 1983).
Para a realização deste estudo foi utilizado o método questionário, considerando a
melhor viabilidade e suas vantagens oferecidas. Este método possibilita medir com melhor
exatidão o que se deseja dentro do contexto da pesquisa; deve apresentar natureza
impessoal para assegurar uniformidade na avaliação de uma situação ou outra. Para isso, é
composta por um conjunto de questões, todas logicamente relacionadas com o problema
central, onde é estabelecida com critério as questões mais importantes a serem propostas e
que interessam ser conhecidas, de acordo com os objetivos (CERVO; BERVIAN, 1983).
53
Para melhor administrar o tempo da entrevista, as perguntas foram elaboradas de
maneira clara e precisa, abordando diretamente os objetivos específicos determinados e
propostas de maneira que retornassem respostas objetivas de forma a não insinuarem outras
colocações.
Como parte deste estudo foi aplicado um questionário referente à situação da gestão
das águas subterrâneas na região de São Sebastião e os possíveis impactos advindos do
abastecimento de água para a população. Estes foram aplicados para os gestores
representantes da ADASA e da CAESB e também para o administrador regional de São
Sebastião. Todos os três questionários foram aplicados com as mesmas questões, na
intenção de uma possível comparação as entre respostas obtidas. Entretanto o administrador
regional de São Sebastião preferiu encaminhar as questões a CAESB que é a companhia
responsável pela execução desta gestão, reduzindo assim o número de questionários para
dois.
Estão apresentadas na Figura 18 as respostas obtidas pelo entrevistado Rafael
Machado Mello, biólogo gestor de recursos hídricos da ADASA/DF. Seguidamente pelas
respostas do entrevistado Roberto Márcio Macedo dos Santos, geólogo coordenador de
águas subterrâneas da CAESB/DF.
Nº/
entrevistado
Perguntas/ Respostas
01) Qual a situação da gestão de águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião – DF?
CAESB
“O sistema público de abastecimento de água da cidade de São Sebastião foi inaugurado no ano de 1997, e é composto de 21 poços em operação e um poço para monitoramento piezométrico. Desde então a CAESB vem realizando gestões no sentido de garantir a sustentabilidade do sistema e do uso dos aqüíferos. Destacam-se neste item a construção de centros de reservação e tratamento de água, implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgotos, licenciamento ambiental de todo sistema e outorga de direito de uso de todos os poços, além da implantação de uma rotina de monitoramento quantitativo e qualitativo.”
ADASA/DF
“Atualmente a rede de abastecimento de água de São Sebastião é composta por uma bateria de poços tubulares, dos quais 18 estão outorgados pela ADASA com a finalidade de abastecimento humano e 1 registrado, com finalidade de monitoramento. Com base em estudos
54
hidrogeológicos, o DF foi dividido em subsistemas cujas reservas de água foram estimadas, possibilitando avaliar a disponibilidade hídrica da água subterrânea. Constatou-se que somente as captações da CAESB, na região de São Sebastião, já representam 65% da reserva explotável do Subsistema F/Q/M, o qual se inserem as captações da CAESB”. Ao atingir 90% da reserva explotável será avaliado pela ADASA/DF, podendo ser revisto os valores e horas de uso outorgados, considerando as prioridades de uso e se porventura surjam conflitos entre poços como: impactos ambientais, rebaixamento do nível, diminuição da vazão, serão analisados na operação e revista a outorga se necessário. Resoluções serão emitidas com regulação especifica para áreas onde estejam ocorrendo superexplotação do aqüífero. A CAESB vem incrementando ao longo dos últimos anos, a utilização de águas subterrâneas captadas através de poços tubulares profundos destinados ao abastecimento público. A descoberta de aqüíferos de alta produtividade, a crescente necessidade do atendimento à novas demandas em áreas urbanas ou isoladas, além da saturação da oferta das captações superficiais, gerou na Companhia uma nova concepção com relação aos mananciais subterrâneos. Aliado a este crescimento, a legislação ambiental tem sido mais rigorosa, seja nos padrões de qualidade da água, seja na exigência de melhores estruturas de monitoramento e proteção das águas subterrâneas. Visando atender a estas as necessidades, assim como proporcionar melhores instrumentos de gestão de águas subterrâneas para a Companhia, a CAESB implementou um sistema de monitoramento sistemático, qualitativo e quantitativo, de águas subterrâneas. O banco de dados a ser gerado servirá de base técnica para a definição das vazões explotáveis de segurança, a serem adotadas em sintonia com as restrições ambientais dos órgãos fiscalizadores, além de fornecer instrumentos para a reavaliação permanente das condições operacionais, com vistas à sua otimização.”
02) Quais os motivos das dificuldades para a gestão de águas na Região Administrativa de São Sebastião-DF?
CAESB
“No caso da cidade de São Sebastião, considera-se que a gestão do sistema vem sendo feita de forma bastante eficiente, conciliando o atendimento à população com água de qualidade com a explotação sustentável dos aqüíferos. Neste segundo caso, destaca-se como eficiente instrumento de gestão o monitoramento sistemático da qualidade da água bruta, além do acompanhamento da resposta do aqüífero frente ao regime de explotação adotado, através do monitoramento de níveis.”
ADASA/DF
“O comprometimento da população (usuário) da região, com a regularização de suas captações subterrâneas. Como em todo DF, a falta da conscientização por parte da sociedade em seguir os tramites legais para a perfuração dos poços, como a regularização daquela já existente e ainda o cumprimento das exigências dos atos normativos de Outorga (Resolução /Despacho). O correto é que a ADASA tenha sua própria rede
55
de poços piezométricos e que faça monitoramento diário, aferindo nível da água e qualidade da água.”
03) Quais os possíveis impactos negativos decorrentes da gestão das águas subterrâneas para a região de São Sebastião-DF?
CAESB
“As principais conseqüências negativas de uma gestão ineficiente, seja pela ausência de ferramentas de gestão, seja pela ausência de um enfoque baseado na sustentabilidade, podem ser a exaustão de um aqüífero ou a sua contaminação, situações de difícil correção posterior. Desta forma, ciente de sua responsabilidade, a CAESB não vem medindo esforços no sentido de se capacitar, técnica e estruturalmente, para utilizar de forma sustentável os aqüíferos do Distrito Federal.”
ADASA/DF
� “Superexplotação do aqüífero; � Contaminação do lençol freático (poluição); � Desperdício; � Estresse hídrico; � Usos múltiplos da água sem devido planejamento, não respeitando
finalidades mais nobres como abastecimento humano.”
Figura 18 - Questionário sobre gestão de águas subterrâneas em São Sebastião (Data: 15/05/2007)
56
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O presente estudo aborda a gestão das águas subterrâneas em São Sebastião – DF e
verifica a atuação dos seus órgãos gestores (ADASA/DF e CAESB). Para isso foram
estudados os vinte poços da região utilizados pela CAESB para o abastecimento geral da
população, contemplando os procedimentos de outorga, instrumentos de cobrança, estudos
da qualidade e quantidade da água utilizada.
5.1 DIAGNÓSTICO SOBRE A GESTÃO SUSTENTÁVEL EM SÃO SEBASTIÃO
A região está situada em zonas com altas cotas topográficas, divisoras de grandes
bacias; conseqüentemente, suas drenagens superficiais não apresentam grandes vazões.
Com isso, a importância das reservas hidrogeológicas consideradas estratégicas é cada vez
maior (JOKO, 2002).
São Sebastião é a única cidade do Distrito Federal que tem o seu sistema de
abastecimento público de água totalmente baseado na captação por poços tubulares
profundos. A garantia do abastecimento sustentável de água dessa cidade é diretamente
dependente de estudos hidrogeológicos pois, por meio destas informações, pode-se
recomendar e coordenar ações para o manejo adequado dos seus aqüíferos e garantir a
sustentabilidade do abastecimento de água potável (JOKO, 2002).
Se comparadas com as águas de origem superficial, a captação de água subterrânea
demanda menor custo, uma vez que os pontos de captação podem ser localizados próximos
dos centros de consumo, não sendo necessários à construção de grandes redes de
distribuição. Além disso, graças ao reservatório subterrâneo natural, não são necessárias
grandes obras para reservar e coletar a água. Essas características aliadas com a garantia de
na maior parte das vezes, a água captada ser de excelente qualidade, poupando o seu
tratamento, fazem com que o abastecimento populacional tendo como fonte a água
subterrânea seja cada vez mais viável e utilizado (JOKO, 2002).
As melhores caracterizações dos aqüíferos do Distrito Federal foram realizadas por
Barros (1999) e, posteriormente, por Campos e Freitas (1998). Basicamente estes estudos
classificaram no Distrito Federal dois domínios principais de aqüíferos, característicos de
57
regiões que contém rochas metamórficas com coberturas de solos; o primeiro foi
denominado Domínio Aqüífero Poroso e o segundo Domínio Aqüífero Fraturado (JOKO,
2002).
O Sistema Aqüífero Fissural foi denominado Domínio de Águas Subterrâneas
Profundas (BARROS, 1999). São pertencentes à zona de saturação, distribuem-se e se
armazenam irregularmente nas rochas metamórficas impermeáveis e pouco porosas através
do sistema de fraturas/falhas, cavidades de dissolução e em menor parte, em outros tipos de
porosidade secundária.
Esse domínio apresenta aqüíferos com variadas configurações: livres ou confinados,
com extensão lateral variável, anisotrópicos e heterogêneos. Campos e Freitas-Silva (1998),
classificaram esse domínio em quatro sistemas aqüíferos denominados de sistemas
aqüíferos Paranoá, Canastra, Araxá e Bambuí. De acordo com a litologia predominante o
Sistema Paranoá foi subdividido em cinco subsistemas: S/A, A, R3Q3, R4 e PPC; já o
Sistema Canastra foi subdividido nos subsistemas F e F/Q/M. A Tabela 01 apresenta as
relações de classificação dos aqüíferos (CAMPOS; FREITAS apud JOKO, 2002).
Tabela 01 – Classificação dos sistemas e subsistemas aqüíferos do domínio fraturado do Distrito Federal (JOKO, 2002). Sistema Subsistema Vazão Média (L/h)
S/A 12.700
A 4.390
R3/Q3 12.200
R4 6.150
Paranoá
PPC 9.100
F 7.500 Canastra
F/Q/M 33.000
Bambuí - 5.210
Araxá - 3.150
Já o Domínio Fraturado, devido a suas características observadas, pode ser melhor
denominado como Domínio Fraturado/Dissolução e pode ser dividido em sistemas Paranoá
e Canastra, todos subdivididos em subsistemas, de acordo com sua geologia e seu
58
comportamento hidrogeológico. O Sistema Paranoá, presente na área estudada é
subdividido em subsistemas R3/Q3 e R4 e o Sistema Canastra é subdividido em
subsistemas F e F/Q/M, como pode ser visualizado na Figura 19 (JOKO, 2002).
A mineralogia das rochas exerce fundamental importância hidrogeológica na região.
A mineralogia carbonática das rochas do subsistema F/Q/M favorece sua dissolução ao
longo das fissuras, aumentando as suas aberturas e ampliando os seus parâmetros
hidrogeológicos. Em função da ação conjunta de processos químicos e físicos é possível
denominar o sistema de físsuro-cárstico. O comportamento hidrogeológico das rochas
também está relacionado diretamente com a mineralogia (JOKO, 2002).
59
O subsistema F/Q/M foi desenvolvido sobre rochas metacarbonáticas (M), além dos
filitos (F) e quartzitos (Q), nas quais ocorreram processos químicos que causaram
dissoluções ampliando as descontinuidades, aumentando o volume de água armazenada e
incrementando seus parâmetros hidrodinâmicos. Por essas particularidades, os poços
tubulares profundos na cidade de São Sebastião apresentam altas vazões, possibilitando o
abastecimento público exclusivo por águas subterrâneas para grande densidade
populacional - aproximadamente 80.000 habitantes (JOKO, 2002).
Na área estudada esses aqüíferos apresentam importância elevada por serem
responsáveis pelo abastecimento da população da cidade de São Sebastião. Este fator é
diretamente relacionado ao Subsistema F/Q/M, uma vez que este é o responsável pelo
abastecimento hídrico da cidade de São Sebastião, com a maior densidade populacional da
região.
Para realização deste abastecimento a CAESB conta com a extração em 20 pontos
de captação espalhados pela cidade, sendo que um destes não realiza explotação e serve
apenas para realizações de testes de piezometria. A condição encontrada na região destes
poços está de acordo com as normas de gestão regulamentares, encontram-se praticamente
todos em boas condições de limpeza e cercados, entretanto ocorrem falhas quanto aos
sistemas de alvenaria de proteção às perfurações subterrâneas.
O registro realizado de algumas situações encontradas ilustra as condições atuais
destes poços, conforme apresentado nas figuras seguintes.
60
Figura 20 – Fotografia Poço SJ 1, data: 19/05/2007
Figura 21 – Fotografia poço SS 12, data: 19/05/2007
61
Figura 22 – Fotografia poço SS 06, data: 19/05/2007
Figura 23 – Fotografia interna poço SS 16, data: 19/05/2007
62
Figura 24 – Fotografia externa poço SS 16, data: 19/05/2007
Figura 25 – Fotografia poço SS 13, data: 19/05/2007
63
Figura 26 – Fotografia poço SS13, data: 19/05/2007
Possui ainda dois pontos de reservatórios para a água extraída dos poços, Figura 27,
estes reservatórios situam-se na porção leste e oeste da cidade em topografias mais
elevadas, de modo a realizar a distribuição da água por gravidade. Independente do
tratamento realizado diretamente na saída de alguns poços, toda a água recebida nestes dois
centros de reservação passa pelos procedimentos de cloração e fluoretação.
64
Figura 27 – Fotografia do Centro de Reservação SS 02, data: 19/05/2007
Os dois Centros de Reservação possuem a mesma infra-estrutura, que se constituem
de dois tanques reservatórios e um centro de monitoramento para realização dos testes com
as amostras recolhidas. Como pode ser visto nesta figura a estrutura à direita da fotografia,
corresponde ao centro de monitoramento.
Essa forma de captação urbana é única no Distrito Federal, tendo em vista que as
demais cidades são abastecidas principalmente por águas superficiais. Estudos técnico-
econômicos de alternativas para esta região foram realizados pela CAESB e demonstraram
que a alternativa mais viável é por meio das captações subterrâneas.
Tabela 02 – Sistema de Distribuição de água em São Sebastião ATENDIMENTO / CONSUMO
População Consumo
Setor Total
(habitantes) Abastecida (habitantes)
% de Atendimento
Volume Distribuído (m³/mês)
Volume Utilizado (m³/mês)
% Perdas
São Sebastião
67.292 55.618 82,65 267.912 166.077 38,00
(DISTRITO FEDERAL, 2007f)
65
Os dados da Tabela 02 demonstram que a distribuição de água em São Sebastião já
atende um bom percentual da população, porém com excesso de volume distribuído por
mês. Com o aprimoramento das técnicas de gestão e a implementação de mais infra-
estrutura para as atividades de abastecimento da população, este quadro poderá ser
revertido pela a distribuição desta perda no volume mensal distribuído para o restante da
população que ainda não está sendo atendida.
A Tabela 03 faz referência às ligações existentes em São Sebastião.
Tabela 03 – Referencial de ligações registradas e respectivas economias Nº de Ligações Reais Nº de Ligações Ativas
Tipo Sem Hidrôm.
Com Hidrôm.
Total Sem
Hidrôm. Com
Hidrôm. Total
Nº de Economias
Domiciliar 17 13.343 13.510 17 12.391 12.408 14.792 Comercial 2 656 658 2 476 478 478 Industrial 0 6 6 0 4 4 4 Pública 0 30 30 0 28 28 28 Total Instalado
19 14.185 14.204 19 12.899 12.918 15.302
(DISTRITO FEDERAL, 2007f)
Conclui-se que as ligações ativas correspondem a menor número do que as reais em
virtude das situações em que estas foram desativadas de uso. Dessa forma pelos valores
apresentados se torna possível realizar uma boa estimativa dos volumes mensais utilizados,
para propor um planejamento do volume mensal distribuído em proporção ao uso realizado,
para se evitar as perdas ocasionadas.
5.2 ANÁLISE DA GESTÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS PELA CAESB EM SÃO
SEBASTIÃO – DF: OUTORGA, COBRANÇA, QUALIDADE E QUANTIDADE
Com base em estudos hidrogeológicos realizados para os sistemas aqüíferos do
Distrito Federal foi determinado, por volta do ano de 1997, que a região de São Sebastião
teria seu abastecimento de água diferenciado das outras Regiões Administrativas, haja vista
sua localização situar-se na superfície de uma geologia local muito rica em reservatórios de
água subterrânea.
A instalação de uma estação para tratamento de esgotos precedeu o início de
perfuração dos poços e a necessidade de manter a qualidade das águas subterrâneas
impulsionou ainda mais este processo. Fundamentalmente, baseado na conservação dos
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aqüíferos, era necessário contar com a presença de uma rede de esgotos antes que a
população crescesse, com isso aumenta as chances de contaminação do lençol freático.
Posteriormente, os poços foram perfurados em conformidade com as diretrizes para
a preservação e manutenção de suas qualidades de potabilidade. As práticas fundamentais
foram apuradas e realizadas; entretanto, em virtude de adversidades, atualmente a CAESB
sofreu algumas avarias em seus equipamentos que passam por manutenção, conforme será
detalhado no item 5.2.4 que trata das referências de quantidade da água.
Pelos estudos realizados em parceria com a CAESB, foram calculadas as estimativas
do volume de água existente em cada subsistema hidrogeológico da região do Distrito
Federal. Concluindo-se que as vazões dos Ribeirões Taboca e Santo Antônio da Papuda da
Bacia Hidrográfica do Rio São Bartolomeu, são insuficientes para abastecer toda a
população. Somado aos resultados dos estudos, foi determinado a favorabilidade da
exploração de captações subterrâneas de água para a região de São Sebastião. A Figura 28
mostra a favorabilidade das regiões do Distrito Federal.
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Concomitantemente à gestão da qualidade e quantidade das águas subterrâneas, são
aplicados instrumentos de cobrança pelos serviços e usos dos recursos hídricos, previstos
na Lei 9.433/1997 e na Lei 2.725/2001. A cidade de São Sebastião, obviamente é passível
desta cobrança; todavia, em virtude da recente transformação de sua situação de “Agrovila”
para “Região Administrativa”, e ainda mais com a recém criada Agência Reguladora de
Águas e Saneamento do Distrito Federal (ADASA/DF), algumas resoluções ainda não
foram implementadas e a implantação de algumas infra-estruturas ainda estão sendo
processadas. Por isso a situação de cobrança pelo uso dos recursos hídricos naquela região
ainda está sendo realizada de maneira precária, apenas pelas tarifações da CAESB.
Os procedimentos básicos necessários para a realização do abastecimento urbano de
água enfocados neste trabalho, constam do sistema de qualidade, da avaliação da
quantidade de uso, da cobrança por este bem de domínio da união e seus serviços correlatos
e dos instrumentos de outorga. Portanto, no ato da aprovação de cada um destes
procedimentos é facultado ao órgão gestor (ADASA/DF) definir as ações requeridas, seu
correto cumprimento e ensejar sua aprovação.
A outorga é definida para cada situação através de resoluções específicas. Quando
se baseia apenas em alguma resolução geral é comum que ocorram inconformidades com a
especificidade local, provocando o descumprimento de alguma norma. Como foi criada no
ano de 2004, muita burocracia interna da ADASA/DF ainda está sendo resolvida. A
mudança de sua sede no final do ano de 2006 para melhorar sua infra-estrutura, muito
contribuiu para o atraso no andamento dos vários processos existentes.
A finalidade deste órgão é controlar todos os cadastros de outorga do Distrito
Federal; portanto, sabe-se que cada vez a sua atuação será mais efetiva, principalmente
referente às concessões de outorga, suas fiscalizações e cobranças.
5.2.1 Outorga dos Poços
Na cidade de São Sebastião todos os poços para abastecimento de água da
população, exceto alguns poços de condomínios e das áreas rurais, são outorgados pela
ADASA/DF para o uso da CAESB. Isto corresponde a 20 poços, sendo que 19 deles estão
em operação e 01 é para realização de medições de nível, funcionando como piezômetro.
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Portanto fica entendido que estes poços satisfazem todos os parâmetros pré-definidos para a
obtenção da outorga.
Até o cumprimento das exigências para outorgar o aproveitamento das águas
subterrâneas é expedida uma outorga prévia, com duração de até um ano, a qual não
concede o direito de uso do recurso hídrico. Nesse tempo o outorgado deve procurar
satisfazer os parâmetros ainda não atendidos pelos termos da outorga; caso contrário este
será suspenso e será impedido o uso do recurso hídrico subterrâneo.
Nesse estudo constatou-se que as outorgas concedidas para a CAESB vêm
obedecendo aos volumes máximos diários de extração do aqüífero; no caso de São
Sebastião as captações subterrâneas para abastecimento humano são permitidas pelo artigo
11 da Lei 22.358/2001, pois a cidade não possuía rede pública de abastecimento.
No caso estudado, o instrumento de outorga trata diretamente com a Companhia de
Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB), responsável pela gestão de
saneamento ambiental da região; portanto fica ela encarregada de:
a) Satisfazer os termos de gestão após a concessão da outorga;
b) Realizar testes e análises hidrogeológicas, análises físico-químicas e bacteriológicas
da água, enviadas anualmente a ADASA/DF com seus respectivos laudos;
c) Obedecer ao tempo previsto de 20hs para o funcionamento diário da bomba de
explotação.
A ADASA/DF vem eventualmente notificando alguns poços para que seja
finalizada a obra de instalação da sua proteção, que consiste numa laje protetora de
alvenaria ao redor da perfuração para evitar que o escoamento superficial venha a
contaminar as águas subterrâneas. Uma laje de concreto envolvendo o tubo de revestimento
da perfuração, com sua declividade orientada do centro para a borda também é necessária,
com o mesmo objetivo de se evitar a contaminação e proteger a entrada do poço.
Para manter a boa qualidade das águas subterrâneas todos os poços no ato de
concessão da outorga, devem obedecer a um raio de proteção de 30 metros delimitados,
cercados e limpos. Entretanto, pesquisas de campo revelaram que muitos dos poços não
atingem os 30 metros de raio definidos, até mesmo porque muitos se situam na área urbana,
sem muito espaço livre. Entrevistas informais realizadas na ADASA/DF, esclareceram que
o raio de 30 metros na maioria das vezes se torna impraticável; assim, cada situação é
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analisada por um técnico deste órgão, responsável pela definição da área a ser protegida e
cercada.
Nos outros quesitos de limpeza e proteção, todos os poços apresentam boas
condições, exceto aqueles com alguma obra de manutenção, com este propósito também
foram implantados os sistemas de coleta e tratamento de esgotos na região de São
Sebastião, visando a evitar a contaminação do aqüífero, conforme relatado no item 5.2.3.
Outro problema que vem acontecendo com os poços estudados para o abastecimento
urbano de São Sebastião é referente à instalação, operação e manutenção dos hidrômetros.
Estes equipamentos são utilizados para se medir o volume e a taxa de vazão dos poços;
como estas taxas apresentam pressões muito altas, os hidrômetros vêm sendo danificados.
Uma solução provisória adotada foi a substituição dos aparelhos danificados por
outros, conhecidos como horímetros; estes não são prejudicados pela pressão da vazão de
saída, pois trabalham apenas com a medição do tempo de funcionamento da bomba. É
importante frisar que esta é uma solução prévia e que estão sendo pesquisados novos
equipamentos que suportem o trabalho.
5.2.2 Cobrança e tarifação das águas
O sistema de abastecimento urbano de água é composto por vários processos, os
quais se baseiam na captação, tratamento, transporte, destinação final e reciclagem da água,
em virtude disto é estipulado um valor a ser cobrado da população para custear estes
processos, sendo que este valor leva em consideração o uso quantitativo e qualitativo do
recurso hídrico para definir sua valoração.
A cobrança pelo recurso hídrico é calculada em função da modalidade do uso e se
torna proporcional ao porte das intervenções e aos volumes captados. Outra utilidade
encontrada neste instrumento de cobrança é o desenvolvimento de uma gestão racional na
medida em que as pessoas evitam o desperdício, tendo em vista o valor cobrado pelo
consumo.
Consta na Lei 9.433/97, que a água é um bem de domínio público e por isso
passível de cobrança através da Política de Recursos Hídricos, a qual define as diretrizes e
critérios de cobrança pelos seus Planos de Recursos Hídricos, que compõem o Sistema de
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Gerenciamento de Recursos Hídricos, onde se podem encontrar os critérios gerais para a
outorga de direitos de cobrança, definidos pelo Conselho de Recursos Hídricos do Distrito
Federal.
Os mecanismos de cobrança pelo uso dos recursos hídricos são estabelecidos pelos
Comitês de Bacia Hidrográfica, que ainda sugerem valores a serem cobrados. Contudo,
para se definir estes valores são realizados estudos técnicos da situação de cada região pelo
órgão regulador de águas do Distrito Federal (ADASA/DF), que define os valores a serem
cobrados com base nos mecanismos sugeridos pelo Comitê de Bacia Hidrográfica e de
acordo com o Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal.
Entretanto, na região de São Sebastião estes estudos ainda não foram realizados e
com isso não foi definida a tarifação para o uso dos serviços e da água na região. A única
forma de cobrança realizada nesta área vem sendo através da Taxa de Fiscalização sobre
Serviços Públicos de Abastecimento de Água (TFS) e pela Taxa de Fiscalização dos Usos
dos Recursos Hídricos (TFU), as quais entraram em vigor recentemente, no ano de 2005,
contudo apenas o pagamento da TFU consta nas obrigações dos termos de outorga dos
poços e deve ser paga pela CAESB para a ADASA/DF.
Portanto os moradores da região ainda não pagam pelos valores referentes a estas
taxas; apenas recebem a conta normal de água que cobra pelos serviços de tratamento,
funcionários, bombeamento e outros serviços básicos normalmente pagos por todas as
regiões.
5.2.3 Qualidade da água
A qualidade da água precisa ser compatível com a sua destinação de uso; uma
melhor qualidade para um uso mais exigente possibilita uma maior economia com
processos de tratamento, além de assegurar a perenidade qualitativa do recurso hídrico.
Para realizar o enquadramento das águas em classe, cabe ao Poder Executivo definir
os padrões e referenciais qualitativos para os recursos hídricos, os quais são determinados
pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) em sua Resolução nº 357/2005,
destacando ainda que, apesar desta classificação ser utilizada ela não apresenta valores
específicos para corpos d’água subterrâneos. O abastecimento populacional é enquadrado
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na classe 01 de qualidade, categoria que define os parâmetros de análise físico-química e
bacteriológica dentro dos Valores Máximos Permissíveis (VMP) para as atividades
humanas de contato primário com a água.
Os procedimentos de controle da qualidade da água para consumo humano e seu
padrão de potabilidade são determinados pela Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde,
que define os valores adequados dos parâmetros de análise para a potabilidade das águas
subterrâneas (vide Tabela 04).
Cumpre à ADASA/DF, propor ao Conselho de Recursos Hídricos do Distrito
Federal incentivos destinados à conservação da qualidade da água no Distrito Federal, com
o objetivo de regular e controlar a qualidade dos corpos de água subterrânea. Neste
momento ocorre a participação da regulação técnica, responsável pela análise e controle
dos padrões de qualidade, com a verificação do cumprimento das normas legais.
A CAESB desenvolve trimestralmente a análise das características físico-químicas e
biológicas das águas subterrâneas de cada poço, para o abastecimento da região de São
Sebastião. onde são analisados não só os parâmetros essenciais previstos na Resolução
350/2006 da ADASA/DF, como também são analisadas as taxas de Alcalinidade (mg/l),
Demanda Química de Oxigênio (DQO – mg/l), Dureza (mg/l), Ferro total (mg/l),
Nitrogênio Amoniacal (mg de N/l) e Nitrato (mg de N/l) (Vide Tabela 04).
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Tabela 04 – Análises Físico-Químicas e Biológicas dos poços em São Sebastião no 1º trimestre 2007.
Fonte: CAESB, 2007a
O poço SS – 09 não possui resultados destas análises visto que este é um poço
apenas de monitoramento do nível da água e o poço SS – 14 não possui os dados, pois se
encontrava inoperante no período de realização dos testes. A análise destes poços revela
bons padrões de potabilidade para uma água de origem bruta. Mesmo assim para realizar o
abastecimento urbano, as águas destes poços passam por unidades de cloração implantadas
para determinados poços conforme Tabela 05 e todo volume também realiza o tratamento
básico de cloração e fluoretação nos Centros de Reservação Oeste e Leste.
Sist. Param. Unid.
pH Turbid. UT
Condutiv. µµµµS/cm
SDT mg/l
Alcalin. mg/l
DQO mg/l
Dureza mg/l
Fe total mg/l
Manga. mg/l
Cloreto mg/l
N Amonia mg de
N/l
Nitrato mg de
N/l
Coli Total
NPM/100 ml
E. Coli NPM/10
0 ml
SS-1 7,50 4,50 201,0 136,7 97,9 1,10 107,25 0,119 0,02 0,98 0,12 0,201 aus. aus.
SS-2 7,90 0,60 211,0 143,5 98,8 0,10 109,10 <0,005 <0,025 0,80 <0,02 <0,031 3 aus.
SS-5 7,90 0,50 223,0 151,6 102,1 0,10 109,80 <0,005 <0,025 1,60 <0,02 0,082 aus. aus.
SS-6 8,00 0,60 229,0 155,7 109,7 0,20 116,50 0,039 <0,025 0,90 0,04 0,049 1 aus.
SS-7 8,00 0,40 206,0 140,1 99,1 0,60 103,40 0,022 0,04 1,80 <0,02 <0,031 4,1 aus.
SS-8 8,00 0,50 218,0 148,2 105,1 0,50 110,60 0,019 <0,025 1,50 <0,02 0,376 aus. aus.
SS-9 - - - - - - - - - - - - - -
SS-10 7,70 0,30 269,0 182,9 116,2 1,20 130,00 <0,005 <0,025 5,40 <0,02 1,986 1 aus.
SS-11 8,00 0,40 193,1 131,3 87,5 0,40 86,10 <0,005 <0,025 1,60 <0,02 0,628 1 aus.
SS-12 7,80 1,20 206,0 140,1 93,9 2,00 101,80 0,050 0,05 0,50 <0,02 <0,031 161,6 34,1
SS-13 7,70 0,10 210,0 142,8 113,1 0,50 110,80 <0,005 <0,025 0,40 <0,02 <0,031 aus. aus.
SS-14 Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø Ø
SS-15 8,00 0,60 202,0 137,4 103,7 3,20 105,00 0,122 <0,025 0,50 <0,02 <0,031 aus. aus.
SS-16 7,90 0,60 216,0 146,9 105,7 0,70 110,60 <0,005 <0,025 0,80 <0,02 <0,031 1 aus.
SS-17 7,80 1,70 213,0 144,8 101,1 0,20 106,80 0,018 <0,025 0,60 <0,02 <0,031 >2419,6 143
SS-18 7,40 0,80 229,0 155,7 107,8 0,30 116,10 0,063 <0,025 0,90 <0,02 0,107 10,9 aus.
SS-19 5,80 1,40 5,7 3,9 2,2 0,10 2,90 0,042 <0,025 0,40 <0,02 <0,031 aus. aus.
VN-1 6,60 0,50 70,9 48,2 9,0 0,40 17,90 0,047 <0,025 2,50 <0,02 4,640 178,9 aus.
SJ-1 7,10 0,50 144,7 98,4 43,2 2,60 60,90 <0,005 <0,025 2,70 <0,02 3,760 1 aus.
SJ-2 5,80 0,30 77,5 52,7 10,1 1,50 21,10 <0,005 <0,025 6,10 <0,02 3,950 aus. aus.
SJ-3 7,80 0,40 173,3 117,8 82,3 1,70 85,30 0,013 <0,025 0,80 <0,02 0,088 aus. aus.
São
Seba
stiã
o
SS-20 8,00 0,70 167,6 114,0 73,3 2,30 102,92 0,020 <0,025 0,36 0,08 <0,031 aus. aus.
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Tabela 05 – Unidades de Tratamento
Identificação Equipamentos Produçao – Vol. Tratado (l/s)
Setor Oeste / UTS-SS01
Tratamento de água proveniente dos poços na saída do Centro de Reservação Oeste.
-
Setor Leste / UTS-SS02
Tratamento de água proveniente dos poços na saída do Centro de Reservação Leste
-
São Sebastião / UCP-SS01
Unidade de cloração de poço
19.215
São Sebastião / UCP-SS02
Unidade de cloração de poço
13.960
São Sebastião / UCP-SS06
Unidade de cloração de poço
26.437
São Sebastião / UCP-SS08
Unidade de cloração de poço
8.486
São Sebastião / UCP-SS12
Unidade de cloração de poço
41.250
São Sebastião / UCP-SS13
Unidade de cloração de poço
8.988
São José / UCP-SJ01
Unidade de cloração de poço
8.183
São José / UCP-SJ03
Unidade de cloração de poço
24.108
TOTAL
150.357
Fonte: CAESB, 2007a
Em alguns dos poços analisados existe a ocorrência de inconformidades com as
normas da Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde. No padrão de potabilidade
microbiológica, que trata principalmente de Coliformes Totais e Coliformes
Termotolerantes (Escherichia coli), onze poços acusaram a presença destes
microorganismos enquanto a norma determina sua ausência, mas não representam nenhum
problema grave, haja vista que são eliminados pelo tratamento de cloração.
Possivelmente as alterações desses parâmetros podem estar ligadas aos problemas
existentes em algumas infra-estruturas dos poços. Por exemplo, a falta da estrutura de
alvenaria na superfície, que reveste os tubos das canalizações, pode ser a responsável pela
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contaminação por presença de Coliformes totais e Coliformes termotolerantes (Escherichia
coli) nas águas captadas, haja vista a vulnerabilidade de contaminação pelo escoamento
superficial estar aumentada pela falta desta estrutura, que objetiva justamente a prevenção
superficial.
Conforme esta mesma Portaria, a unidade de turbidez apresentada pós-filtração ou
tratamento de desinfecção para águas subterrâneas, deveria ser de até 01 UT (Unidade de
Turbidez); entretanto, 04 poços excederam este valor. Mesmo assim também não
representam nenhum problema, visto que estes valores estão entre os 5% dos valores
permitidos de turbidez superiores aos VMP (Valores Máximos Permitidos) e ocorrem
dentro do limite máximo de 5,0 UT (Unidade de Turbidez) para qualquer amostra pontual.
Assim foram realizadas novas amostras depois de efetuado o devido tratamento para
correção dos parâmetros que apresentavam valores irregulares, conforme demonstrado na
Tabela 06.
Tabela 06 – Correções realizadas em amostras analisadas no Sistema São Sebastião – Abril de 2007
Parâmetro pH Cor Turb. Cloro Fluor Coli
Totais
Coli
Term.
Limites estabelecidos Portaria 518/2004 – MS 6,0 a 9,5 _< 15 _< 5 0,2 a 2,0 0,6 a 1,0 > 95% 100%
Nº de amostras exigidas 9 9 9 76 7 76 -
Nº de amostras coletadas 114 114 114 114 114 114 114
Nº de amostras que atendem à Legislação 80 114 114 107 6 * 109 112
* em fase de implantação do sistema de fluoretação
Fonte: CAESB, 2007a
Em relação aos demais parâmetros analisados como Ferro, Manganês, Cloreto e
Dureza, todos também estão em conformidade com os parâmetros definidos pela Portaria
518/2004, com exceção do pH, que em 02 casos ficaram abaixo dos valores recomendados
de 6,0 a 9,5. Porém, como devem apresentar essa concordância apenas no sistema de
distribuição, neste momento já terá ocorrido a homogeneização no reservatório junto aos
volumes de águas provenientes dos outros 17 poços, haja vista a pequena alteração
constatada no valor deste pH.
76
5.2.4 Quantidade de água
Em vista da cidade de São Sebastião ter seu abastecimento urbano de água realizado
somente através de captação subterrânea, tem-se a justificativa para suas altas taxas de
vazão explotadas. Esta realidade vem tomando uma dimensão cada vez maior,
proporcionalmente à taxa de crescimento da população, que implica em um aumento no
volume de água necessário para atender à demanda populacional.
Essas captações apesar de ainda relativamente recentes, constituirão os primeiros
dados de monitoramento de águas subterrâneas do DF, haja vista que em demais regiões a
exploração subterrânea de águas é realizada por condomínios residenciais, dos quais uma
parcela muito pequena possui outorga e tem o monitoramento de seus dados, assim não
constituirão dados futuros representativos. Por isso e por esta área hidrogeológica ser
relativamente nova e de extrema importância de demanda para decisões futuras sobre
qualidade e quantidade, é que se deve valorizar melhor a significância de tais dados e não
somente encarar como uma lacuna de curto período de ausência de dados.
Com base na análise dos dados fornecidos pela ADASA/DF, constata-se pela
Tabela 07 que seu percentual de explotação já atinge a marca dos 65%, que corresponde a
um volume bastante aproximado do limite de 90% determinado por este mesmo órgão.
Momento no qual devem ser estipulados determinados racionamentos preventivos e a
utilização de alternativas paralelas para o fornecimento de água à população, pois serão
revistos os termos de concessão de outorga no ano de 2011, quando irá acontecer o
vencimento do prazo de 5 anos outorgados para o uso destes poços.
Na Tabela 07 encontram-se os valores das reservas definidas para o Subsistema
F/Q/M do Domínio Fraturado.
Tabela 07 – Reserva hídrica de água subterrânea no Sistema Canastra – DF
Domínio Fraturado Área (m²) Espessura
(m)
Índice de Fraturamento
(%)
Reserva Permanente – RP (m³/ano)
Reserva Renovável – RR (m³/ano)
Reserva Explotável – RE (m³/ano)
F 913502000 100,0 0,005 456751000,0 12789028,0 35626578,0 Sistema Canastra F/Q/M 46122000 100,0 0,035 161427000,0 645708,0 8717058,0
Fonte: ADASA/DF, 2007
Em obediência aos termos previstos no artigo 2º da Lei 2.725/2001, que diz: ”[...]
em situação de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a
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dessedentação de animais. [...]” é necessária a implantação de um regime de racionamento
preventivo para aplicação de medidas que assegurem seus usos prioritários e evitem uma
situação de maior criticidade.
Para administrar o agravo desta situação, estão definidas no artigo 25 do Decreto
22.358/2001, as providências que garantem a preservação e a manutenção do equilíbrio
natural das águas subterrâneas, variando desde restrições das vazões captadas nos poços até
situações de suspensão ou revogação da outorga de direito de uso.
São realizadas medições de vazão para cada um dos poços responsáveis pelo
abastecimento urbano de São Sebastião, para controlar sua exploração conforme os valores
outorgados em suas resoluções. A Tabela 08 apresenta as respectivas vazões de outorga e
de teste; considera-se vazão de teste, o volume da capacidade de produção total do poço e,
por vazão de outorga, aquela regulada pela legislação vigente (75% da vazão de teste).
Tabela 08 – Relação dos volumes explotados dos poços de acordo com sua vazão total e sua vazão de outorga (ADASA/DF, 2007) Dados Gerais Q. outorga (75%) – 20h/dia Q. teste (100%) – 24h/dia
Poços Q. outorga
(l/h) Q. máx. (m³/dia)
Q. máx. (m³/ano)
Q. teste (l/h)
Q. teste (m³/dia)
Q. teste (m³/ano)
EPO-SS01 84.000 1.680,00 613200 112.000 2.688 981120 EPO-SS02 84.750 1.695,00 618675 113.000 2.712 989880 EPO-SS05 9.999 199,98 72992,7 13.333 319 116797,08 EPO-SS06 39.600 792,00 289080 52.800 12.672 462528 EPO-SS07 25.825 516,50 188522,5 34.434 826 301641,84 EPO-SS08 53.250 1.065,00 388725 71.000 1.704 621960 EPO-SS09 - - - - - - EPO-SS10 31.500 630,00 229950 42.000 1.008 367920
EPO-SS11 24.750 495,00 180675 33.000 792 289080
EPO-SS12 99.000 1.980,00 722700 132.000 3.168 1156320 EPO-SS13 22.980 459,60 167754 30.641 735 268415,16 EPO-SS14 6.600 132,00 48180 8.801 211 77096,76 EPO-SS15 29.700 594,00 216810 39.600 950 346896 EPO-SS16 139.500 2.790,00 1018350 186.000 4.464 1629360 EPO-SS17 37.125 742,50 271012,5 49.500 1.188 433620 EPO-SS18 7.713 154,26 56304,9 10.285 246 90096,6 EPO-VN01 24.750 495,00 180675 33.000 792 289080 EPO-SJ01 16.875 337,50 123187,5 22.500 540 197100 EPO-SJ02 5.400 108,00 39420 7.200 172 63072 EPO-SJ03 43.615 872,30 318389,5 58.154 1.395 509429,04 TOTAL 786.932
15.738,64 5744603,6 1.049.248
25181,952
9191412,48
Fonte: ADASA/DF, 2007
78
Com base nos resultados é possível encontrar um percentual de 65,9%,
correspondente ao somatório do volume das vazões outorgadas, relativo ao volume definido
pela reserva explotável somado à reserva renovável, como visto na Tabela 07 o que denota
uma sobra de aproximadamente 34% do total explotável das reservas subterrâneas
utilizadas. De acordo com a legislação vigente, este percentual pode alcançar até um limite
máximo de 90% de seu potencial; a partir daí, são reavaliadas as condições da outorga em
prol da manutenção e conservação dos recursos hídricos subterrâneos.
Dessa forma os valores explorados, apesar de serem altos, ainda não estão
comprometendo muito o nível do lençol freático. Na situação atual ainda sobra um volume
aproximado de 2.972.455,4 m³ de água por ano, de um total passível de ser utilizado de
8.717.058,0 m³/ano, correspondente à Reserva Explotável somada à Reserva Renovável.
Este valor explotado não pode ultrapassar a marca dos 90% determinados na legislação
pois, neste caso, a reserva passará a contar com um volume inferior a um milhão de m³ por
ano para realizar o equilíbrio de seu sistema.
É interessante ressaltar que o saldo positivo do balanço entre o volume que entra no
aqüífero e o volume consumido é resultado da reserva renovável somado aos 5% da reserva
permanente (vide item 2.1 pág. 12). Como o volume da reserva permanente é muitas vezes
maior que o volume da reserva renovável, este balanço só é positivo por sofrer o déficit no
coeficiente percentual da reserva permanente utilizado para o cálculo. Conclui-se que
apesar de um balanço positivo na teoria, certamente o lençol freático vem rebaixando
lentamente o seu nível prático na reserva permanente, em função desta demanda de
abastecimento.
O volume total passível de explotação consiste em 8.717.958 m³/ano e como já dito,
este valor compõe em 5,4% a reserva permanente do Subsistema Canastra F/Q/M de onde é
subtraído o valor da vazão total outorgada para captação e abastecimento da população, que
corresponde a 5.744.058 m³/ano; a diferença resulta num valor de sobra de 2.973.000
m³/ano. Em termos percentuais a vazão total outorgada é igual a 3,5% da reserva
permanente, o que deixa sobrar um valor de apenas 1,9% da reserva explotável a ser
explorada.
Como a utilização destes recursos subterrâneos é de aproximadamente 10 anos, se
for feita uma progressão temporal é possível estimar que daqui a mais 20 anos será
79
explotado uma vazão acumulada de 172.321.140 m³/ano, tendo como valor acumulado para
a reserva explotável 261.511.740 m³/ano; assim, encontraremos uma diferença de sobra
igual a 89.190.000 m³/ano. Percentualmente esta diferença representa atualmente mais da
metade da reserva permanente existente, de onde se pode entender que num prazo de vinte
anos, a reserva permanente que hoje tem 5% por ano de seu total utilizadas como reserva
explotável, terá uma redução de mais de 50% em seu nível freático, ou seja, são 5,4%
disponíveis para uso anualmente, de onde 3,5% são utilizados e corresponderão a metade
da reserva permanente. Por isso entende-se que este déficit no volume explotável utilizado
ocorre diretamente na reserva permanente.
É importante ressaltar que devido ao fato deste subsistema aqüífero ser de fraturas é
possível ocorrer rebaixamentos temporários em algum poço que possua menor Índice de
Fraturas, significando menor capacidade de armazenamento se sua vazão de explotação
estiver muito elevada e se prolongar próxima ao seu tempo limite de captação. Em
decorrência é comum haver entrada de ar no sistema de bombeamento devido ao
rebaixamento do nível do lençol freático e conseqüente curto-circuito da bomba.
O crescimento populacional e a necessidade de abastecimento doméstico e rural são
fatores que contribuem ininterruptamente para o aumento da demanda do volume
explotado. Tal fato gera a necessidade de mais conhecimentos para a previsão de uma
possível situação de escassez e para implementar alternativas mitigadoras viáveis de
aplicação, evitando maiores impactos negativos ao meio ambiente.
5.3 IMPACTO NA GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS: A VARIAÇÃO DO
LENÇOL FREÁTICO.
A eficiência de uso dos recursos hídricos subterrâneos depende de um bom
planejamento para condicionar as melhores práticas de gestão e maximizar o
aproveitamento de suas águas. Para isso é importante realizar um Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) que contemple as características da região a ser trabalhada.
Na região objeto do estudo, o abastecimento da população da cidade é realizado
basicamente através de captações subterrâneas; isso implica numa maior vazão de
explotação para atender à demanda. O volume retirado das reservas subterrâneas provoca
80
uma série de impactos, os quais inicialmente não são graves, mas podem ser
comprometedores na medida que se intensifica a sua retirada ou se prolongue a utilização
do aqüífero.
Como foi demonstrada no item 5.2.4, a região de São Sebastião já apresenta indícios
de uma superexplotação de seus aqüíferos, pois o abastecimento realizado através das
reservas subterrâneas tende a causar um rebaixamento de seus níveis no transcorrer dos
anos.
Num sistema aqüífero o volume de água que entra anualmente é o mesmo que pode
ser explorado sem que cause algum tipo de impacto, pois o reabastecimento é geralmente
menor que o volume da reserva permanente e esta, se for afetada, é quem causará os
desequilíbrios impactantes.
Por isso torna-se importante conhecer o tempo médio de reabastecimento do
aqüífero e as estações do ano, bem como presumir a velocidade com que a água se move da
área de recarga para a área de retirada, mais intensificada durante a estação das chuvas.
A variação do lençol freático traz inúmeras conseqüências. Pode-se citar questões
de ordem social como, sendo responsáveis por conflitos de uso da água, haja vista que tal
variação pode ocasionar o esgotamento de determinados poços, causando polêmicas sobre
determinados usos localizados. Por exemplo, o volume gasto por moradias geralmente está
muito abaixo do volume gasto por postos de gasolina e lava jatos dentre outros
consumidores, situação potencialmente geradora de tais conflitos.
O rebaixamento do nível do aqüífero pode ocasionar o bombeamento de águas de
menor qualidade provenientes de aqüíferos adjacentes. Tal fato pode variar desde uma
pequena mudança natural no pH da água até o caso de contaminação por Coliformes Totais
e/ou Termotolerantes (Escherichia coli) presentes, por exemplo, numa criação de animais a
alguns quilômetros de distância.
Outro caso encontrado corresponde à queima da bomba do poço devido ao
rebaixamento do nível do lençol freático, isto ocorre possivelmente por um erro de
planejamento da explotação cabível, por uma variação sazonal do poço ou ainda pela
superexplotação dos aqüíferos. Em todos os casos a queima da bomba provoca um prejuízo
econômico; tratando-se uma superexplotação, outros impactos poderão acontecer a longo
81
prazo, como conflitos sociais e perdas na qualidade das águas, em decorrência de uma falha
na gestão.
A reserva subterrânea de água influi diretamente no nível dos recursos hídricos
superficiais e na situação de seu rebaixamento. A alimentação subterrânea dos Ribeirões
Taboca e Santo Antônio da Papuda e o Rio São Bartolomeu, poderá ser comprometida e
com isso é provável também que haja redução de nível em alguns pontos do seu leito. O
afastamento das águas de sua margem irá impactar em toda biota local, podendo gerar
possíveis impactos negativos para a toda região. Dessa forma, fica caracterizada a
importância da integração dos recursos hídricos para melhorar sua eficiência de uso,
principalmente, neste caso de abastecimento populacional.
A região de São Sebastião, por estar localizada sobre aqüíferos fraturados e
caracterizados por rochas mais consolidadas, não precisa se preocupar com um problema
bastante comum que é o afundamento da superfície em virtude da ausência do material
líquido no interior das reservas subterrâneas, visto que esse problema acontece em
hidrogeologias de características mais porosas.
O bombeamento excessivo na região ainda pode acarretar problemas econômicos,
pois os investimentos em infra-estrutura para este tipo de abastecimento por vias
subterrâneas podem ser perdidos assim que o órgão regulador (ADASA/DF) determinar
que os níveis dos aqüíferos estão se aproximando do limite máximo estabelecido pela
legislação e por isso determinar a lacração dos poços. Os custos ainda devem aumentar
associados ao rebaixamento dos níveis das águas subterrâneas que implicarão na
necessidade de aprofundamento dos poços para se continuar a captação e por necessidade
do abaixamento da caixa da bomba ou instalação de bombas maiores.
5.3.1 Conseqüências do uso excessivo: um alerta da situação
O abastecimento da região de São Sebastião explora altas vazões para atender a
demanda populacional, nos dias de hoje ainda não são evidentes as alterações que estão
ocorrendo. Mesmo assim a explotação acontece de forma cotidiana a retirar um
determinado volume diário; a longo prazo efeitos colaterais, muita vezes imprevisíveis,
podem vir a ocorrer. Nesta situação é importante que os órgãos gestores estejam preparados
82
para contornar as dificuldades ocorridas, para se evitar maiores danos ao meio ambiente e
reduzir os transtornos populacionais.
A realização de estudos e a captação de fundos para a efetivação de medidas
alternativas para o abastecimento populacional é fundamental frente à dimensão do
problema. No momento em que for constatada a necessidade de mudança dos métodos
utilizados para o abastecimento populacional é oportuno que a realização das obras
alternativas auxiliares já estejam em andamento, visto que o volume disponível para
satisfação das demandas de consumo já estará comprometido.
Somado ao fato que quanto maior o esgotamento das reservas subterrâneas, maiores
serão os impactos causados ao meio ambiente e mais difícil serão as condições para a
reversibilidade da situação.
83
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Diante do desafio inicial deste estudo, de avaliar a maneira como é praticada a
gestão de águas subterrâneas pela CAESB em São Sebastião, foi verificada a hipótese de
que esta região é abastecida unicamente através de captações de águas subterrâneas. As
pesquisas realizadas confirmaram tal situação, devido à baixa vazão de seus recursos
superficiais e a favorabilidade de exploração das águas subterrâneas.
A gestão regulamentar aplicada apresenta algumas falhas, em geral decorrentes da
ausência ou avaria de alguma infra-estrutura nos pontos de captação. As diretrizes para a
instalação, operação e manutenção dos poços são claras, bem definidas e necessariamente
devem ser seguidas, com o objetivo de se proporcionar os seus melhores usos; todavia, as
situações de alguns poços em São Sebastião ainda deixam a desejar.
Por se tratar de uma área que apenas atualmente vem recebendo a devida atenção e
apoio tecnológico necessário, os procedimentos para sua gestão vêm se aprimorando e
recuperando um tempo em que ficaram estagnados. As especificidades para a
regulamentação de todas as diretrizes a serem seguidas pelo empreendimento também
causam contravenções, as quais muitas vezes estão em conformidade com a realidade local,
mas, se desenquadram dos parâmetros da norma regulamentar e se tornam irregulares. Uma
incoerência passível de se ocorrer entre a teoria e a prática.
A gestão das águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião vem
sendo bem desenvolvida, entretanto ainda precisa melhorar algumas de suas atividades para
se enquadrarem perfeitamente dentro das Políticas Públicas de Recursos Hídricos. Frente à
dimensão desta realidade, o abastecimento hídrico populacional consiste em um processo
muito complexo que precisa ser atualizado constantemente para alcançar sua melhor
eficiência, sobretudo em decorrência da baixa disponibilidade de estudos nesta área de
reservatórios subterrâneos no Distrito Federal.
A atuação da CAESB precisa ser cuidadosamente criticada, pois esta companhia
desenvolve a atividade de abastecimento populacional de água e saneamento básico com
ótimos rendimentos de suas atividades, atingindo uma produção bastante eficiente
principalmente em virtude da sensibilidade necessária às suas ações. No caso de São
Sebastião, a demanda populacional atendida pelo seu abastecimento de água é bastante
84
satisfatória, especialmente em virtude do pouco tempo existente de sua implantação,
contudo é necessário atentar para algumas falhas na implantação da infra-estrutura, para
não comprometer a potabilidade futura das águas explotadas.
A utilização do abastecimento populacional de água por meio de captações
subterrâneas merece um cuidado especial para a realização de seu monitoramento, tanto
para a qualidade quanto para a quantidade da água explorada, visando à diminuir a origem
de possíveis impactos negativos. Neste presente estudo foram constatados os impactos que
possuem as maiores possibilidades de ocorrência, devido a implicações em sua infra-
estrutura e bem como as possíveis conseqüências decorrentes. Todavia a ação fiscalizadora
da ADASA/DF vem acelerando o desenvolvimento de ações concretas por parte da CAESB
para mitigar essas eventuais falhas.
Concluindo ficam as recomendações de clara importância para atividades
posteriores:
a) A criação do Comitê de Bacias Hidrográficas para o Distrito Federal e a
efetivação dos Planos de Recursos Hídricos para orientar a implementação das
Políticas Nacionais e Distritais de Recursos Hídricos.
b) O desenvolvimento de estudos de disponibilidade e captação de águas
subterrâneas em regiões com stress hídrico;
c) A elaboração de medidas que visem à criação de áreas de uso restritivo de águas
subterrâneas, especialmente em áreas de recarga;
d) A realização de estudos de recarga artificial com água de enchente, excedentes
periódicos de Estações de Tratamento de Água (ETA), águas pluviais coletadas por
coberturas de edifícios, pistas de pouso e outros implúvios, para aumentar as
disponibilidades de água e atenuação de eventos críticos;
e) Por fim, a promoção do desenvolvimento metodológico para estabelecimento de
perímetros de proteção de captações e controle de uso de aqüíferos.
85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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TODD, D. K. Hidrologia de águas subterrâneas. Rio de Janeiro: Edgard Blücher. 1967.
91
ANEXO C
Artigo Científico
RESUMO
Os reservatórios subterrâneos de água são de fundamental importância para os recursos hídricos, pois representam mais de 90% da água doce no mundo. O sistema de abastecimento por perfurações subterrâneas já é muito antigo, mas atualmente sua demanda de uso atinge um crescimento anual incomparável. Assim estão inscritos no amparo das Leis um órgão para as finalidades de gestão e abastecimento e outro com fins de fiscalização e outorga, onde no estudo de caso realizado tratam-se respectivamente da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) e da Agência Reguladora de Água e Saneamento do Distrito Federal (ADASA). Neste estudo foi contemplado o abastecimento urbano da Região Administrativa de São Sebastião, o qual é realizado através de reservas subterrâneas de água, de modo que foi avaliada a atual situação a gestão nesta localidade, bem como a atuação de seus órgãos gestores dentro das definições das Leis. Verifica as práticas de gerenciamento utilizadas, as limitações para a realização do monitoramento e o cumprimento com os termos de outorga. Determina a importância dos instrumentos de gestão para a conservação dos padrões de potabilidade e quantidade da água e seu embasamento legislativo. Argumenta algumas possibilidades de impactos negativos para o meio ambiente, em conseqüência de um mau uso dos recursos hídricos subterrâneos e seus possíveis efeitos a longo prazo. Com o objetivo de chamar a atenção para a importância que esta atividade representa para o ser humano e mais ainda para o desenvolvimento das gerações futuras. INTRODUÇÃO Dentro do ciclo hidrológico os maiores reservatórios de água doce se encontram nos subterrâneos do subsolo. Além de constituírem a maior parte dos reservatórios, eles também compõem os níveis dos recursos superficiais atuando como seu leito sub-superficial e alimentando seu fluxo mesmo em períodos de estiagem. Tal fato implica na necessidade da gestão integrada de tais recursos, permitindo realizar o controle de abastecimento segundo as condições da vazão e da estação do ano, tanto para os recursos hídricos superficiais quanto para os subterrâneos, atingindo assim seu melhor aproveitamento. Este trabalho procura esclarecer as definições para o uso sustentável e as limitações no uso das águas subterrâneas e aponta as fundamentais práticas de gestão e planejamento para seu uso e proteção, ao amparo leis do Distrito Federal. Especificamente, analisa a atuação dos órgãos gestores de recursos hídricos do DF, compostos pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) e Agência Reguladora de Água e Saneamento (ADASA), na Região Administrativa de São Sebastião - DF. os processos de outorga e de monitoramento constituem-se numa ferramenta extremamente importante, para regular as possibilidades de uso da água e sua tarifação, assim como fornecer padrões para a determinação da quantidade e qualidade das águas exploradas, objetivando definir as vazões de explotação para cada tipo de uso, com vistas a alcançar um ideal de manejo onde a população seja mais bem atendida, ao mesmo tempo em que se estabeleça um planejamento para o uso sustentável do potencial aqüífero. Entretanto existe uma série de limitações que dificultam este monitoramento, como o cadastramento das fontes de extração, por conveniências particulares, muitas vezes se ocultam da fiscalização; o monitoramento periódico necessário para o recolhimento de dados relativos a qualidade e volume de explotação da água e o apoio da sociedade, a qual muitas vezes se torna inimiga da gestão, por
92
não se evidenciar nos processos de outorga da água buscando evitar cobranças e restrições quanto a sua exploração. Paralelamente a estas dificuldades tem-se a necessidade do abastecimento populacional onde, no caso da Região Administrativa de São Sebastião – DF, é realizado unicamente através de captações subterrâneas, o que gera mais uma limitação com relação ao volume passível de captação sem, contudo comprometer o nível do reservatório permanente, porém atingindo seus fins de abastecimento. Neste momento entra o papel fundamental da gestão pela CAESB, buscando estabelecer as relações possíveis entre consumo humano, disponibilidade e qualidade do recurso oferecido, atuando conjuntamente com o seu órgão regulador e fiscalizador (ADASA – DF) e interagindo de forma a atender a demanda de abastecimento populacional e assegurar a implementação dos instrumentos de gestão dos aqüíferos sem prejudicar o nível de suas reservas. OBJETIVO Avaliar a execução de Políticas Públicas de Gestão do meio ambiente no que se refere às águas subterrâneas da Região Administrativa de São Sebastião – Distrito Federal.
JUSTIFICATIVA
O aumento do crescimento populacional vem causando aumento na necessidade de abastecimento de água potável de tal maneira que, com o passar dos tempos, essa procura começou também a usufruir dos recursos hídricos subterrâneos. Da mesma forma que é fundamental a utilização racional dos recursos superficiais, é importante haver um plano de manejo para os recursos subterrâneos. Encontrar um caminho objetivando um manejo mais otimizado, aumentar a eficiência de uso de tais recursos, adequar os seus usos múltiplos e assegurar sua sustentabilidade. Em virtude de seu fácil acesso e à qualidade de suas águas, os recursos hídricos subterrâneos vêm sofrendo uma exploração extremamente desordenada, fato que, muitas vezes, está comprometendo a qualidade de suas águas e trazendo, como maiores problemas, a contaminação e o esgotamento de suas reservas. A demanda de água para o abastecimento populacional na Região Administrativa de São Sebastião e a falta de recursos hídricos superficiais existentes naquele local, desencadeou um sistema de abastecimento público totalmente baseado na captação de águas subterrâneas. Portanto tornou-se mais viável a utilização de água subterrânea de boa qualidade e volume para o abastecimento da população, em detrimento do fornecimento através de águas superficiais que necessitam ser captada a quilômetros de distância, demandando um valor muito alto para a implantação da infra-estrutura necessária. Tais condições comprovam a necessidade de um efetivo monitoramento pelos órgãos gestores do Distrito Federal (ADASA e CAESB). No objetivo de organizar um registro eficiente e constante dos dados e formatar um plano de manejo e outorga. Para o atendimento das necessidades de abastecimento dos usuários, bem como normatizar suas condições de exploração e uso do recurso subterrâneo em questão. Por isso a importância de se gerar mais conhecimentos científicos - tecnológicos sobre as situações decorrentes do abastecimento urbano através de águas subterrâneas. Pois fazem parte de um conjunto de informações que determinam quais ações devem ser executadas em determinado momento, respeitando o direito ao uso comum da água e os limites impostos pelo ambiente em questão. Atitudes preventivas evitam possíveis impactos ao meio ambiente e garante o seu uso a gerações futuras, papel fundamental no campo da gestão do meio ambiente por meio de Políticas Públicas.
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MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa trata-se de um procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. É requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema (GIL, 2002). Utiliza-se cuidadosamente de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos e desenvolve-se ao longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até a satisfatória apresentação dos fatos (GIL, 2002). É utilizada a aplicação de métodos científicos em busca do alcance de respostas para questões levantadas, para compor as finalidades da pesquisa. Entretanto, ocasionalmente não acontece à justa veracidade nas respostas, contudo esses métodos constituem a melhor maneira de se encontrar resultados satisfatórios ou de completo sucesso (NEVES, 2006). Qualquer empreendimento de pesquisa, para ser bem-sucedido, deverá levar em consideração o problema dos recursos disponíveis. O pesquisador deve ter a noção de tempo a ser utilizado na pesquisa e valorizá-lo. Deve prover-se de equipamentos e materiais necessários ao desenvolvimento da pesquisa e estar atento aos gastos decorrentes da remuneração dos serviços prestados por outras pessoas (GIL, 2002). Nesta investigação foram contemplados estudos comparativos das legislações brasileiras relacionadas aos recursos hídricos e mais detalhadamente, a sua ocorrência na forma subterrânea. Dessa forma, foi observada primeiramente a Lei 9.433/97, que trata da Política Nacional de Recursos Hídricos, onde constam as diretrizes que devem ser respeitadas para se realizar a gestão sustentável, assim como sua defesa no amparo legislativo e em seguida a Política de Recursos Hídricos do Distrito Federal. O estudo também foi realizado com a legislação referente aos recursos hídricos subterrâneos pelos órgãos gestores do Distrito Federal, principalmente. A ADASA, que possui autonomia para legislar, enquanto a CAESB, foi enfocada em sua área de trabalho e suas condições de atuação, para possibilitar a verificação da situação da gestão e possíveis impactos decorrentes da utilização das águas subterrâneas para abastecimento da população. Trata-se da elaboração de um diagnóstico preliminar, cuja observação permite registrar inconformidades segundo suas próprias diretrizes, que visam a garantir o abastecimento populacional ao mesmo tempo em que assegurem a integridade do recurso explorado. A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos. É realizada com o intuito de recolher informações e conhecimentos prévios acerca de um problema para o qual se procura resposta ou sobre uma hipótese que se quer experimentar (CERVO; BERVIAN, 1983). Contudo de forma complementar as informações legislativas, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, em busca das conceituações já definidas para as águas subterrâneas e outros estudos de dissertações realizados na região de São Sebastião. Entretanto a própria criação da Região Administrativa de São Sebastião é um fato relativamente novo, conseqüentemente, a chegada da infra-estrutura urbana na região ainda está por acontecer. Todavia foram poucos autores que relataram as condições ambientais e de gestão dos recursos hídricos nesta região. Realizado um breve histórico da situação em estudo, uma descrição da área e as condições que regem esta localidade. Descrevendo rapidamente a população e sua necessidade de abastecimento. Identificando assim os fatores importantes para avaliação de algum possível impacto ao meio ambiente e caracterizando a maneira como ocorre a gestão de águas subterrâneas na região. No planejamento de toda pesquisa é envolvida a tarefa de coleta de dados, uma fase intermediária, que ocorre após a escolha e delimitação do assunto, a revisão bibliográfica, a definição dos objetivos, a formulação do problema e das hipóteses e a identificação das variáveis. Há diversas
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formas de coleta de dados, todas com suas vantagens e desvantagens. Os instrumentos de largo uso são a entrevista, o formulário e o questionário (CERVO; BERVIAN, 1983). Para a realização deste estudo foi utilizado o método questionário, considerando a melhor viabilidade e suas vantagens oferecidas. Portanto, com vistas ao melhor aproveitamento do tempo, as perguntas foram elaboradas de maneira clara e precisa, abordando diretamente os objetivos específicos determinados. Propostas de maneira que conduzissem facilmente às respostas de forma a não insinuarem outras colocações. Como parte deste estudo foi realizado à aplicação de um questionário, referente à situação da gestão das águas subterrâneas na região de São Sebastião e os possíveis impactos advindos do abastecimento de água para a população. Estes foram aplicados para os gestores representantes da ADASA e da CAESB e também para o administrador regional de São Sebastião. Todos os três questionários foram aplicados com as mesmas questões, na intenção de uma possível comparação as entre respostas obtidas. Entretanto o administrador regional de São Sebastião preferiu encaminhar as questões a CAESB que é a companhia responsável pela execução desta gestão, reduzindo assim o número de questionários para dois. RESULTADOS E DISCUSSÕES O presente estudo aborda a gestão das águas subterrâneas em São Sebastião – DF e verifica a atuação dos seus órgãos gestores (ADASA/Df e CAESB). Para isso foram estudados os vinte poços da região utilizados pela CAESB para o abastecimento geral da população, contemplando os procedimentos de outorga, instrumentos de cobrança, estudos da qualidade e quantidade da água utilizada. São Sebastião é a única cidade do Distrito Federal que tem o seu sistema de abastecimento público de água totalmente baseado na captação por poços tubulares profundos. A garantia do abastecimento sustentável de água dessa cidade é diretamente dependente de estudos hidrogeológicos, pois por meio destas informações pode se recomendar e coordenar ações para o manejo adequado dos seus aqüíferos e garantir a sustentabilidade do abastecimento de água potável (JOKO, 2002). Se comparadas com as águas de origem superficial, a captação de água subterrânea demanda menor custo, uma vez que os pontos de captação podem ser localizados próximos dos centros de consumo, não sendo necessários à construção de grandes redes de distribuição. Além disso, graças ao reservatório subterrâneo natural, não são necessárias grandes obras para reservar e coletar a água. Essas características aliadas com a garantia de na maior parte das vezes, a água captada ser de excelente qualidade, poupando o seu tratamento, fazem com que o abastecimento populacional tendo como fonte a água subterrânea seja cada vez mais viável e utilizado (JOKO, 2002). Para realização deste abastecimento a CAESB conta com a extração em 20 pontos de captação espalhados pela cidade, sendo que um destes não realiza explotação e serve apenas para realizações de testes de piezometria. A condição encontrada na região destes poços está de acordo com as normas de gestão regulamentares, encontram-se praticamente todos em boas condições de limpeza e cercados, entretanto ocorrem falhas quanto aos sistemas de alvenaria de proteção às perfurações subterrâneas. Os dois Centros de Reservação possuem a mesma infra-estrutura, que se constituem de dois tanques reservatórios e um centro de monitoramento para realização dos testes com as amostras recolhidas. Como pode ser visto nesta figura a estrutura à direita da fotografia, corresponde ao centro de monitoramento. Na cidade de São Sebastião todos os poços para abastecimento de água da população, exceto alguns dos poços de condomínios e das áreas rurais, são outorgados pela ADASA/DF para o uso da CAESB. O que corresponde a 20 poços, sendo que destes, 19 estão em operação e um é para realização de medições de nível, funcionando como piezômetro. Portanto fica entendido que estes poços satisfazem todos os parâmetros pré-definidos para a obtenção da outorga.
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Para manter a boa qualidade das águas subterrâneas todos os poços tiveram no ato de concessão de outorga, o requerimento de um perímetro de proteção com raio de 30 metros delimitados, cercados e limpos. Entretanto pesquisas de campo revelaram que muitos dos poços não atingem os 30 metros de raio definidos, até porque muitos se situam em meio à área urbana, o que faz com que se dificulte o espaço livre. Todavia em entrevista informal realizada na ADASA/DF, foi esclarecido que o raio de 30 metros na maioria das vezes se torna impraticável, assim cada situação é analisada por um técnico deste órgão, que será quem irá definir a área a ser protegida e cercada. O sistema de abastecimento urbano de água é composto por vários processos, os quais basicamente se baseiam em sua captação, tratamento, transporte, destinação final e reciclagem da água, em virtude disto é estipulado um valor a ser cobrado da população para custear estes processos. Sendo que este valor leva em consideração o uso quantitativo e qualitativo do recurso hídrico para definir sua valoração. De tal forma que a cobrança pelo recurso hídrico é calculada em função da modalidade do uso e se torna proporcional ao porte das intervenções e aos volumes captados. Outra utilidade encontrada neste instrumento de cobrança é o desenvolvimento de uma gestão racional, à medida que as pessoas evitam o desperdício tendo em vista um valor que será pago. Logo como consta na Lei 9.433/97, a água é um bem de domínio público e por isso passível de cobrança através da Política de Recursos Hídricos. A qual tem definido as diretrizes e critérios de cobrança pelos seus Planos de Recursos Hídricos, que compõem o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Onde se podem encontrar os critérios gerais para a outorga de direitos de cobrança, que são definidos pelo Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal. Em seguida são estabelecidos os mecanismos de cobrança pelo uso do recurso hídrico através dos Comitês de Bacia Hidrográfica, que ainda sugerem valores a serem cobrados. Contudo para se definir estes valores são realizados estudos técnicos da situação de cada região pelo órgão regulador de águas do Distrito Federal (ADASA/DF), que realiza a definição dos valores a serem cobrados com base nos mecanismos sugeridos pelo Comitê de Bacia Hidrográfica e de acordo com o Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal. A qualidade da água precisa ser compatível com a sua destinação de uso, uma melhor qualidade para um uso mais exigente, assim é possível uma maior economia com processos de tratamento, além de assegurar a perenidade qualitativa do recurso hídrico. Existe a ocorrência de inconformidades, em alguns destes poços analisados, com as normas da Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde. No padrão de potabilidade microbiológica, que trata principalmente de Coliformes totais e Coliformes Termotolerantes (Escherichia coli), onze poços apresentaram presença destes microorganismos, enquanto a norma determina sua ausência, mas não representam nenhum problema grave, haja vista que são eliminados pelo tratamento de cloração. Possivelmente as alterações desses parâmetros podem estar ligadas aos problemas existentes em algumas infra-estruturas dos poços. Por exemplo, a falta da estrutura de alvenaria na superfície, que reveste os tubos das canalizações, pode ser a responsável pela contaminação por presença de Coliformes totais e Coliformes termotolerantes (Escherichia coli) nas águas captadas, haja vista, a vulnerabilidade de contaminação pelo escoamento superficial estar aumentada pela falta desta estrutura, que executa justamente esta prevenção superficial. Em relação aos demais parâmetros analisados como, Ferro, Manganês, Cloreto e Dureza, todos também estão em conformidade com os parâmetros definidos pela Portaria 518/2004, com exceção do pH, que em dois casos se demonstram abaixo dos valores recomendados de 6,0 a 9,5. Porém como devem apresentar essa concordância apenas no sistema de distribuição, neste momento já terá ocorrido à homogeneização no reservatório junto aos volumes de águas provenientes dos outros 17 poços, haja vista a pequena alteração constatada no valor deste pH. Em vista da cidade de São Sebastião ter seu abastecimento urbano de água realizado somente através de captação subterrânea, tem-se a justificativa para suas altas taxas de vazão explotadas. Esta realidade vem tomando uma dimensão cada vez maior, proporcionalmente à taxa de
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crescimento da população, que implica em um aumento no volume de água necessário para atender a demanda populacional. Dessa forma os valores explorados apesar de serem altos, ainda não estão comprometendo muito o nível do lençol freático. Na situação atual ainda sobra um volume aproximado de 2.972.455,4 m³ de água por ano, de um total, passível de ser utilizado de 8.717.058,0 m³/ano, correspondente à sua Reserva Explotável somada a Reserva Renovável. Contudo este valor explotado não pode ultrapassar a marca dos 90% (noventa por cento) determinados na legislação, pois neste caso a reserva passará a contar com um volume inferior a um milhão de m³ por ano para realizar o equilíbrio de seu sistema. É interessante ressaltar que, o saldo positivo do balanço entre o volume que entra no aqüífero e o volume consumido é resultado da reserva renovável somado aos 5% (cinco por cento) da reserva permanente. Como o volume da reserva permanente é muitas vezes maior que o volume da reserva renovável, este balanço só se da como positivo por sofrer o déficit no coeficiente percentual da reserva permanente utilizado para o cálculo. Ou seja, apesar de um balanço positivo na teoria, certamente, o lençol freático vem rebaixando lentamente o seu nível prático na reserva permanente, em função desta demanda de abastecimento. É importante ressaltar que devido ao fato deste Subsistema aqüífero ser de fraturas é possível ocorrer rebaixamentos temporários em algum poço que possua menor Índice de Fraturas, ou seja, menor capacidade de armazenamento, se sua vazão de explotação estiver muito elevada e se prolongar próxima ao seu tempo limite de captação. Em decorrência é comum haver entrada de ar no sistema de bombeamento devido ao rebaixamento do nível do lençol freático e conseqüente curto circuito da bomba. O crescimento populacional e a necessidade de abastecimento doméstico e rural são tendências que contribuem ininterruptamente para o aumento de demanda do volume explotado. Tal fato gera a necessidade de mais conhecimentos para a previsão de uma possível situação de escassez e para implementar alternativas mitigadoras viáveis de aplicação, evitando maiores impactos negativos ao meio ambiente. Por isso torna-se importante conhecer o tempo médio de reabastecimento do aqüífero e as estações do ano, pois é através de uma determinada velocidade que a água se move da área de recarga para a área de retirada e mais consideravelmente durante a estação das chuvas. A variação do lençol freático traz inúmeras conseqüências, principalmente, podem-se citar questões de ordem social, sendo responsável por conflitos de usos entre os usuários deste sistema, haja vista que a variação pode ocasionar o esgotamento de determinados poços e de outros não naquela região, causando polêmicas sobre determinados usos localizados, que podem vir a gastar mais água. Como por exemplo, o volume gasto por moradias geralmente está muito a baixo do volume gasto por postos de gasolina, lava jatos entre outros empreendimentos, situação potencialmente geradora de tais conflitos. O rebaixamento do nível do aqüífero pode ocasionar o bombeamento de águas de menor qualidade, provenientes de aqüíferos adjacentes causando sua introdução em seu sistema. Tal fato pode variar desde uma pequena mudança natural no pH da água, até o caso de contaminação por Coliformes totais e/ou tolerantes (Escherichia coli), presentes, por exemplo, numa criação de animais há alguns quilômetros de distância. Outro caso encontrado corresponde à queima da bomba do poço devido ao rebaixamento do nível do lençol freático, isto ocorre possivelmente por um erro de planejamento da explotação cabível, por uma variação sazonal do poço ou ainda pela superexplotação dos aqüíferos. Em todos os casos a queima da bomba já terá trago um prejuízo econômico, logo, se tratar de uma superexplotação, outros impactos poderão acontecer a longo prazo, como conflitos sociais e perdas na qualidade das águas, em decorrência de uma falha na gestão. A reserva subterrânea de água influi diretamente no nível dos recursos hídricos superficiais, na situação de seu rebaixamento à alimentação subterrânea dos Ribeirões Taboca e Santo Antônio da Papuda e o Rio São Bartolomeu, poderá ser comprometida e com isso é provável também que haja
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redução de nível em alguns pontos do seu leito. O afastamento das águas de sua margem irá impactar em toda biota local, podendo gerar possíveis impactos negativos para toda região. Dessa forma fica caracterizada a importância da integração dos recursos hídricos, para melhorar sua eficiência de uso, principalmente, neste caso de abastecimento populacional.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A gestão regulamentar a ser aplicada sofre de algumas falhas, em geral, decorrentes da ausência ou avaria de alguma infra-estrutura aos pontos de captação. As diretrizes para a instalação, operação e manutenção dos poços são claras, bem definidas e necessariamente devem ser seguidas, no objetivo de se proporcionar os seus melhores usos, todavia as situações de alguns poços em São Sebastião ainda deixam a desejar. Por se tratar de uma área que apenas atualmente vem recebendo a devida atenção e apoio tecnológico necessário, os procedimentos para sua gestão vêm se aprimorando e recuperando um tempo em que ficaram estagnados. As especificidades para a regulamentação de todas as diretrizes a serem seguidas pelo empreendimento também causam contravenções, as quais muitas vezes estão em conformidade com a realidade local, mas, entretanto se desenquadram dos parâmetros da norma regulamentar e se tornam irregulares. Uma incoerência passível de se ocorrer entre a teoria e a prática. A gestão das águas subterrâneas na Região Administrativa de São Sebastião vem sendo bem desenvolvida, entretanto ainda precisa melhorar algumas de suas atividades para se enquadrarem perfeitamente dentro das Políticas Públicas de Recursos Hídricos. Frente à dimensão desta realidade, o abastecimento hídrico populacional consiste em um processo muito complexo que precisa ser atualizado constantemente para alcançar sua melhor eficiência, sobretudo em decorrência da baixa disponibilidade de estudos nesta área de reservatórios subterrâneos no Distrito Federal. A atuação da CAESB precisa ser cuidadosamente criticada, pois esta companhia desenvolve a atividade de abastecimento populacional de água e saneamento básico com ótimos rendimentos de suas atividades, atingindo uma produção bastante eficiente principalmente em virtude da sensibilidade necessária às suas ações. No caso de São Sebastião, a demanda populacional atendida pelo seu abastecimento de água é bastante satisfatória, especialmente em virtude do pouco tempo existente de sua implantação, contudo é necessário atentar para algumas falhas na implantação da infra-estrutura, para não comprometer a potabilidade futura das águas explotadas. A utilização do abastecimento populacional de água por meio de captações subterrâneas merece um cuidado especial para a realização de seu monitoramento, tanto para a qualidade quanto para a quantidade da água explorada, visando à diminuição dos impactos negativos possíveis de se originarem. Neste presente estudo foram constatados os impactos que possuem as maiores possibilidades de ocorrência, devido a implicações em sua infra-estrutura e assim como as possíveis conseqüências decorrentes. Todavia a ação fiscalizadora da ADASA/DF vem acelerando o desenvolvimento de ações concretas por parte da CAESB para mitigar essas eventuais falhas. Concluindo ficam as recomendações de clara importância para atividades posteriores: a) A criação do Comitê de Bacias Hidrográficas para o Distrito Federal e a efetivação dos Planos de Recursos Hídricos para orientar a implementação das Políticas Nacionais e Distritais de Recursos Hídricos. b) O desenvolvimento de estudos de disponibilidade e captação de águas subterrâneas em regiões com stress hídrico;
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa.4.ed. São Paulo: Atlas, 2002.
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JOKO, C. T. Hidrogeologia da região de São Sebastião – DF, implicações para a gestão do sistema de abastecimento de
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