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デート・ア・ライブ

狂三リフレイン

Date A Live Volume 16

Refrão Kurumi

Autor: Koushi Tachibana

Ilustração: Tsunako

Tradução: Myturn e Limaun_

Edição: Myturn

Revisão: Fallen-kun

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Prólogo – Aliada da Justiça

Tokisaki Kurumi era uma jovem garota de coração bondoso, e aqueles que

a conheciam elogiavam-na por ser assim. Nascida em uma família rica, ela era

uma Ojou-sama de berço de ouro que foi criada entre as palmas de pais

amorosos. Ela nunca foi forçada a ceder a restrições em sua liberdade ou teve

algum tipo de descontentamento em sua infância; e assim, dezessete anos de sua

vida se passaram.

Não odiando e nem sendo odiada pelos outros, uma vida extremamente

pacífica e estável.

Dentro desses calmos dias de pura felicidade, parecia que todos

consideravam seu estilo de vida como sendo apenas isso, e ela parecia acreditar

nisso também.

...... Um turvo sentimento de desamparo.

Talvez tenha se originado da quantidade sem restrições de liberdade que

ela desfrutou desde seu nascimento, ou talvez fosse simplesmente devido à sua

natureza inata, mas noções como essas frequentemente eram facilmente

absorvidas pelo coração de Kurumi.

Ao vislumbrar o abrangente mundo, muitas pessoas podiam ser vistas

encarando múltiplas dificuldades e sofrimentos.

Alguns encontravam suas mortes ao serem lançados à guerra, enquanto

outros já estavam condenados com doenças terminais antes mesmo que

pudessem dar seu primeiro respiro. Alguns possuíam nada além dos trapos de

suas costas, muito menos bocado algum de comida para encher suas barrigas,

havia pessoas sendo tratadas com imensas e chocantes disparidades. Neste

mundo, era os ventos de coração frio que soprava contra os membros emaciados

dos fracos.

Ela observava pela televisão, jornais, revistas... até com seus próprios

olhos.

Enquanto Kurumi testemunhava esses sofrimentos, um sentimento

amargo de desamparo atormentava seu coração.

Talvez isso fosse algo que pelo qual todos passassem. Mas, apesar de

estarem completamente cientes da inexorável falta de emoção nesse mundo, as

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pessoas haviam sucumbido a essa realidade, desconsiderando a desgraça do

mundo, que elas mesmas eram incapazes de tocar.

Mas o coração de Kurumi, não importava o tempo que passasse, ainda

guardava esse assunto.

Talvez haja algo que eu possa fazer.

Eu quero estender a mão àqueles que necessitam.

Esse inocente senso de justiça era, do lado bom, puro e, todavia, ingênuo.

Esse sentimento, que havia se enraizado no seu coração, não foi notado

por ninguém.

Possivelmente, foi devido a personalidade dela que aquilo aconteceu.

...... Naquele dia.

Aquele dia fora um dia mediano como qualquer outro.

Aproximadamente cinco horas da tarde, Kurumi andava pelo caminho

para casa junto de sua amiga, sobressaindo a vista do pôr-do-sol enquanto

conversavam despretensiosamente.

— ...sobre isso, Sawa-san.

— Hm?

Ao ser chamada por Kurumi, sua colega de escola Yamauchi Sawa

inclinou levemente a cabeça ao piscar os olhos. Ela era uma garota simples de

cabelos castanho-avermelhados, amarrados em três tranças.

— Você tem planos para amanhã? Se estiver livre, eu gostaria de visitar

sua casa.

— Certo. Seria ótimo... Ah, seria porque você quer fazer carinho no

Chestnut1 de novo?

Sawa disse com uma leve risada. Chestnut era o nome de um gato que

Sawa trouxe para casa e criou. Era um gato americano de pelo curto que era

descarado e agiria brincante com estranhos que já encontrou uma primeira vez.

— Não é isso. Eu... só queria estudar junto com você...

1 Chestnut, do inglês, significa castanha.

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— Hehe, claro que sim. Por favor, venha sem falta. —— Mas já que

Kurumi-san é apaixonada por gatos, por que você mesma não tem um?

O enunciado de Sawa fez com que Kurumi franzisse as sobrancelhas.

— ...Minha mãe é alérgica a gatos.

— Entendo. Então você vai ter que esperar até a sua próxima vida para

criar um.

Ao terminar, Sawa sorriu novamente e acenou com a mão, partindo em

direção à sua própria casa logo em seguida.

Kurumi devolveu o gesto e ofereceu suas despedidas e prolongou-se até a

figura de sua amiga desaparecer para poder começar sua série de passos até sua

casa.

Não havia nada para reclamar em uma vida rotineira estável. Sua amiga

também estava sob a proteção das asas do destino. Ela nunca havia tropeçado em

dificuldades, então seu tom de fala não esbarrava em notas falsas.

Dessa maneira, tal forma de viver indubitavelmente continuaria. Mesmo

que um pingo de dúvida se erguesse nas profundezas do coração de Kurumi, ela

parecia continuar andando para casa como se estivesse fingindo ignorância a

respeito disso.

... Não muito depois, ela se sentiu um pouco indisposta.

— ......Hã?

Após passar por alguns becos, Kurumi abriu bem os olhos ao examinar

seus arredores.

Sem perceber, a agitação das pessoas, o barulho dos animais, e todos os

tipos de sons haviam desaparecido.

Era como se ela simplesmente tivesse perdido seu rumo e entrado em

outro mundo.

Instantaneamente, Kurumi já tinha até mesmo chegado à conclusão que

seus ouvidos estavam passando por alguma dificuldade auditiva momentânea...

...mas esse, de longe, não era o caso. O farfalhar do pano de suas roupas criava

uma fricção que era sonoramente audível para ela.

— O que é... isso......

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Apesar da sonolência, Kurumi continuou andando para sair daquele

lugar.

Entretanto...

— Quê......

Ela rapidamente cessou seus passos.

A razão era simples de entender. Diante dela, uma anormalidade não

identificada se manifestará.

Se assemelhava a uma sombra preta que tomava uma forma humanóide e

viva. O corpo daquela criatura emanava uma aura obscura enquanto emitia algo

que não poderia ser descrita como gritos de lamentação e raiva.

— Hya......!?

Aquilo era obviamente uma existência fora do comum.

Kurumi não pôde evitar de suprimir sua respiração, desesperada para

recuar dali.

Não obstante, seu corpo, transbordando de inquietação, não agiu como ela

ordenou. Com uma torção de seu pé, Kurumi desabou com o traseiro no chão.

— Kya......!

— ...............

Então, como se finalmente tivesse percebido Kurumi ali, a entidade se

aproximou da garota vagarosamente.

— Não...... Não......!

Kurumi estava completamente incapaz de fazer qualquer coisa,

meramente tremendo de medo.

Mas... ...no instante seguinte.

— ......!?

O campo de visão de Kurumi foi completamente preenchido por luz. Logo

após uma bruta explosão reverberar, o monstro perto dela evaporou no ar.

No lugar daquilo estava de pé uma garota que parecia ter trocado de lugar

com aquela coisa.

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— ...Está tudo bem com você?

— Eh... Hm... ...Eu estou... bem.

Confusa, Kurumi ergueu sua cabeça com certo receio, e sua linha de visão

encontrou a figura daquela garota.

Seus cabelos estavam esvoaçando com o vento, ela era uma jovem dama

que possuía feições normais. Uma expressão irresoluta aparecia em seu rosto,

elaborando ainda mais seu comportamento imperscrutável. Ela estava adornada

com um vestido formal e de elegância deslumbrante. Todas e cada uma de suas

características essenciais a retratavam como um Anjo ou deusa.

Deslocada de sua linha de pensamento, Kurumi finalmente entendeu. Foi

ela quem havia derrotado a sombria criatura e resgatou Kurumi.

— O-Obrigado por me salvar...

Enquanto Kurumi mostrava sua mais sincera gratidão em palavras

trêmulas, a garota estendia sua mão em direção a ela.

Aceitando a oferta, Kurumi se colocou de pé novamente.

— Mas... agora a pouco, o que diabos era aquilo...

Com o questionamento de Kurumi, a garota a olhou em seus olhos ao falar.

— ...Um Espírito. É uma criatura cujo propósito é destruir esse mundo.

— Espírito...

— ...Correto. Falando nisso, quem seria você? Por que você apareceu aqui?

— Ah, me desculpe. Meu nome é Tokisaki Kurumi. Agora o porquê de eu

estar aqui... Eu também gostaria de saber, para ser sincera.

Após a explicação de Kurumi, a jovem moça acariciou o queixo ao

murmurar um “Hmm”, como se estivesse mostrando sinais de estar refletindo

sobre algo.

— ...Perdeu o caminho contra a própria vontade? Hmm, talvez você tenha

uma natureza compatível.

— Hmm...?

Kurumi inclinou sua cabeça em suspeita e exclamou. Em seguida, a garota

encarou diretamente os olhos de Kurumi.

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— ...Perdoe-me pela pergunta repentina, Kurumi, mas você deseja ter

poder?

— ...Poder...?

— ......Isso mesmo. Um poder como o meu. Você o deseja? Você vai sem

dúvida alguma ser compatível com a natureza do cristal Sephira. Se você estiver

disposta... ...espero que você possa salvar o mundo comigo.

— ...............

Frases absurdas além da compreensão estavam sendo ditas.

Uma pessoa comum iria definitivamente as dispensaria com uma risada e

guardar suspeitas duvidosas dentro de si.

E Kurumi também suspeitava daquilo.

Contudo, o que era mais poderoso que isso era a emoção profundamente

enraizada no coração de Kurumi, e isso a levou a inconscientemente baixar sua

cabeça para frente.

— Ótimo. Com sua ajuda, nós teremos cem vezes mais poder.

A garota pausou para sorrir um pouco antes de continuar.

— ......Prazer em conhecê-la, Kurumi. Eu sou Takamiya Mio, também

conhecida como... uma aliada da Justiça.

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Capítulo 1 – A Tentação de Nightmare

— Ku-rumi......

Não era intenção dele pronunciar aquele nome.

No momento em que a garota em sua linha de visão veio apareceu, a

atenção e o foco de Shidou se direcionaram àquela figura como flechas

perseguindo um alvo. ......Ele havia pronunciado aquele nome parcialmente por

um reflexo que ele não pôde conter.

A impressão que ela exalava em relação aos outros... ...era mais do que o

suficiente para cativar a visão de Shidou e a capturar para sempre.

Cabelos esplêndidos, tão escuros quanto pérolas negras.

Pele sedosa e macia com um brilho tal como o de porcelana branca.

Um sorriso encantador em seus lábios vermelhos-cereja.

E um canto de olho relógio quase imperceptível.

Tal descrição possuía apenas uma pessoa nesse mundo.

— ...Kurumi. Tokisaki Kurumi.

O “Pior Espírito”, capaz de manipular o tempo usando seu Anjo,

<Zafkiel>.

O Espírito que emergiu diante de Shidou e os outros inúmeras vezes, seja

almejando suas vidas ou até mesmo alternando entre estar contra e a favor deles

uma vez ou outra, estava ali.

— Mas, por que......

Aquele fragmento de fala foi lançado da boca dele.

Onde ela surgiu não era um beco isolado tarde da noite ou em algum

apuro em que ele se meteu ao ser encurralado pelo inimigo...

Foi na classe 2-4 do ensino médio, a classe de Shidou.

A encarnação da anormalidade estava sentada de um jeito que

personificava o padrão cotidiano. Tal estonteante presença o fez engolir sua

própria saliva.

— ......Fufu.

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Descansando sobre a carteira, Kurumi ergueu seu rosto em sátira ao tomar

interesse na reação de Shidou.

— Por que...? Que pergunta estranha de se perguntar, Shidou-san. Você

não tem mais nada para falar para sua colega desaparecida há tempos que acabou

de retornar à escola?

Ela corrigiu sua postura como se quisesse mostrar suas vestes.

Ela não estava vestindo um Astral Dress tingido com um vermelho

escarlate sangrento, mas sim uma jaqueta combinando com sua saia plissada. O

uniforme padrão do ensino médio que Shidou e todos os outros estavam usando.

— Você......

Ele franziu as sobrancelhas, deixando sair uma voz indistinguível.

Sem dúvidas, Kurumi foi um membro daquela turma alguns meses antes.

O método, apesar disso, parece ter sido através dos procedimentos oficiais,

fazendo ela se juntar à turma, tratando seu sumiço como uma saída sabática.

Ainda assim, Shidou não iria aceitar isso obedientemente. Afinal, sua

entrada indicava que um alvo já havia sido colocado em suas costas.

— Ara, ara.

Talvez todas as bandeiras de aviso se ergueram em sua visão de uma vez

só. Kurumi levantou-se em um capricho frívolo e deu um largo e impetuoso

passo em sua direção.

— Shidou!

— ...............

Alertadas pelo seu súbito avanço, duas sombras pularam de trás de

Shidou que nem sentinelas de plantão.

Uma tinha cabelos soltos cor da noite e a outra tinha cabelos pálidos

cortados na altura dos ombros, elas eram os Espíritos que iam à mesma escola

que Shidou: Yatogami Tohka e Tobiichi Origami.

No entanto, ambas estavam apenas dançando na palma da mão de

Kurumi. Ela não exibia nem um pingo de perturbação em seu falso sorriso ao

falar.

— Ufufu, popular como sempre, Shidou-san.

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Uma estranha observação partindo de Kurumi, seu olhar iminente

avaliava Tohka e Origami.

— Não se preocupem, eu não tenho nenhuma intenção de causar

problemas.

— O que você está tentando fazer......!

— Por que devíamos acreditar em você?

— Ai, ai, eu sou tão indesejável. Isso é de partir o coração.

— Mgh......

Kurumi fingiu estar buscando por simpatia. Tohka, em um estado de

confusão, copiou o rosto sombrio inexpressivo de Origami sem sequer piscar.

Em meio à sua farsa, Kurumi soltou algumas risadinhas.

— ......Se eu tivesse desejado audaciosamente empregar um método...

Mais... Violento... meu Anjo já teria aparecido a uma altura dessas.

— Guh.........

Restava apenas silêncio em Shidou pois ela havia lhe roubado a fala. O

sorriso afetado de Kurumi irradiava de ouvido a ouvido, a garota continuou com

a eloquência de um coro.

— Ao cobrir as instalações com a <City of Devouring Time>1, meus clones

utilizariam os estudantes inconscientes como escudos humanos...... com uma

arma apontando para as cabeças de cada um de seus colegas, como Shidou-san

optaria me enfrentar? Estou ansiosa para saber.

— Kurumi......!

— Kihihi, hihi.

Uma sinistra gargalhada de gelar a espinha era o que constituía a resposta

de Kurumi ao ter seu nome chamado por Shidou.

— Eu imploro que você seja tão gentil a ponto de acreditar na minha

promessa de que não vou fazer isso. Se mesmo assim você mostrar ser incapaz

de confiar em mim...... então eu estarei mais que pronta em acatar o que decidir.

1 Cidade que devora o tempo.

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— ......Tch, você...

Confrontado por uma clara intimidação executada de modo tão sedutor,

Shidou teve o ar de seus pulmões tomado.

Tohka e Origami levantaram suas guardas também, fechando seus punhos

em indignação, apenas para serem dispensadas com um toque das mãos de

Shidou nos seus ombros.

— ........Tudo bem.

— Ufufu, que pessoa gentil você é, Shidou-san.

Pareceu ser uma resposta correta da parte dele, ao que Kurumi se

mostrava cheia de deleite enquanto arrumava seu cabelo.

Shidou nada podia fazer exceto evitar olhar aquela vista encantadora, mas

ele ainda permanecia vigilante quanto à femme fatale2.

Se ela não foi até ali para mexer com a mente dele, então por que ela havia

voltado para a escola? Shidou não tinha pistas disso.

— Kurumi, por que você......

— Ufufu, tenha a bondade de evitar fazer um rosto tão assustador...... eu

vim apenas para encontrar prazer na vida escolar junto de Shidou-san.

— ............

Shidou ficou sem palavras.

Como se estivesse fazendo uma sátira, Kurumi deu de ombros e

continuou, apesar do solene silêncio dele...... e em um volume o qual a turma

inteira pôde ouvir.

— Você é tão cruel~! Eu humildemente não queria nada além de ir à escola

com o Shidou-san...... mesmo depois de eu obedecer tudo o que você me pediu

para fazer!? Eu fiquei quase nua na casa do Shidou-san, pronta para sem

hesitação alguma servir ao seu chamado! Eu não posso ter essa modesta

recompensa por tudo que fiz?

— Hã!?

2 Expressão francesa que significa uma mulher atraente e sedutora, especialmente uma que no fim traria desastre ao homem que se envolve com ela.

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As palavras sem sentido daquela garota tentadora provocaram um grito

alto do garoto.

— D-do que você está falando! Essas coisas nunca........

Shidou se apressou em retificar aquilo.

Mas já havia sido em vão. Seus colegas, dando ouvido à promulgação de

Kurumi, estavam agora lançando olhares estranhos e sussurrando em tons

abafados.

— Eh...... é verdade isso? O Itsuka-kun atacou novamente?

— Aliás, essa não é a Tokisaki-san que se transferiu para cá em junho?

— Parece que ela deveria estar de licença...... Será que ela esteve na casa

do Itsuka esse tempo todo......!?

E assim, vários rumores infundados foram lançados de uma só vez.

— ......Oou......

O rosto de Shidou estava marcado com o desespero mais desesperador

enquanto ele colocava a mão na testa. Do outro lado, risadas alegres escapavam

da boca de Kurumi, talvez resultantes do dilema dele.

Contudo, essa situação era de se esperar, sem contar que sua reputação já

esteve, e ainda estava, em mau estado desde o começo. Para elevar o ânimo,

Shidou coçou o cabelo soltou um suspiro profundo, e em seguida voltou sua

visão para Kurumi.

— .......Só para curtir a vida escolar, hein. Se é só esse o seu real motivo,

então eu alegremente te receberei. Sabe, nós até faremos uma festa para você se

esse for o caso. ......Claro, só se você me deixar selar o seu reiryoku3.

Shidou falou com retraimentos entre suas palavras.

Não é necessário dizer que ele não queria que suas declarações fossem

assim. Não, para ser preciso, elas vinham de seu coração. Nunca em seus mais

loucos sonhos ele poderia predizer o que veio a seguir.

A resposta de Kurumi eclipsou as antecipações dele.

— Sim, claro. Eu não me importaria.

3 Do japonês霊力 (れいりょく), que significa poder espiritual.

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— ......Hã?

Ele estava estupefato à resposta dela.

Shidou refletiu sobre o teor sutil de seus pronunciamentos. Quando ele

suspeitou de seus próprios ouvidos e cérebro por anomalias de comunicação, ele

lançou um olhar para os rostos de Tohka e Origami, e encontrou o reflexo de sua

própria expressão.

— Kurumi......? O que você acabou de dizer.........

— Reiterando, eu não tenho queixas em entregar meu reiryoku para

Shidou-san. Tendo dito isso......

Kurumi ergueu o dedo indicador, com um sorriso diabólico em sua boca.

— Eu tenho apenas uma condição.

— ......

A respiração de Shidou ficou carregada.

Para aquela Kurumi tão francamente ceder seus poderes, era algo além da

compreensão científica imaginar que tipo de condição impraticável ela iria

propor. Presumir que ela estava apenas brincando com ele soava melhor.

Mas Shidou optou por não fazer isso. Se existisse mesmo a mais

microscópica possibilidade de selar o reiryoku de Kurumi, Shidou não tinha

escolha além de se aventurar naquele risco impossível...... Mas importante, o

olhar brincalhão dela não estava ali, já que um comportamento sem precedentes

ocupava seu lugar.

Ele se prestou a provar.

— ......Essa condição, qual é?

— É.........

Então.

No momento em que os lábios de Kurumi iria pronunciar algo, o sino

sinalizando o início da aula tocou.

— Ara, ara. Olha a hora. Mas que pena, não podemos fazer nada quanto a

isso.

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Kurumi deu um giro, então começou a se deslocar em direção ao seu

assento.

— Kurumi.

Shidou elevou sua voz para fazê-la parar, sem esperar que o mais-que-

audível volume dela atraísse a atenção de alguns colegas de classe como um imã.

Seja como for, Kurumi manteve a compostura, sem se surpreender com a

tentativa fracassada. Ela deu uma risada, posicionando um dos dedos sobre a

boca.

— Os detalhes seguirão depois da escola. Aqui está um pouco tumultuado.

Sem mencionar...... que o dever de um estudante é estudar, certo?

Deixando apenas aquela frase, Kurumi desapareceu gradualmente da

presença de Shidou.

◇◇◇◇

— ......Tobiichi Origami, ex-membro da AST4, possuía patente de Primeiro

Sargento na época, Wizard de nível B+; renunciou ao cargo devido a motivos

pessoais alguns meses atrás.

Dentro das paredes de uma sala dentro da filial japonesa das Indústrias

DEM, Artemisia Ashcroft lia em voz alta um documento reproduzido na tela,

com sua mão mexendo no queixo.

As mechas de seus brilhantes cabelos dourados pareciam absorver cada

traço de luz solar, o que complementava suas pupilas azuis-ultramarino em uma

efígie do oceano de verão. Geralmente mostrando um sorriso recatado, seu rosto

estava coberto por sinais de confusão e ceticismo.

— ......Não há dúvidas sobre isso. É definitivamente ela.

Artemisia acionou o painel de controle para mais detalhes em relação ao

dossiê.

4Sigla inglesa para Anti-Spirit Team: Time Anti-Espírito.

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Altura, massa corporal, e nível de treinamento com unidades Realizer, só

para dizer alguns, eram dados que estavam entre as várias linhas que eram

mostradas no monitor.

O que ela agora acessava e conectava era o banco de dados que a DEM

possuía, disponibilizando dados dos Wizards de cada país associado.

Os Magos de hoje eram indivíduos que não faziam encantamentos ou

rituais, mas utilizavam plenamente os Realizers, que permitiam a eles expandir

seus Territórios.

Consequentemente, havia a necessidade de inserir cirurgicamente um

pequeno chip eletrônico em seus cérebros...... carregar aquilo em discrição era,

em primeiro lugar, inviável.

Melhor dizendo, toda a informação relativa aos Wizards que usavam

Realizers fabricados pela DEM estava inevitavelmente gravada naquilo.

Por volta de um mês atrás, quando Artemisia tentou lançar um ataque

contra os Espíritos que estavam no espaço sideral, outra Wizard chegou no local

da ação. Após ela preencher os formulários de forma a evitar que qualquer

resultado inesperado aparecesse, o display revelou toda a informação relevante

solicitada do banco de dados sobre aquela garota.

— Hm......

No entanto, Artemisia amuou, irritada por algum motivo.

Conforme suas expectativas, o fato de que o arquivo continha tal

conhecimento era mais que tolerável, mesmo que apenas indicações

rudimentares estavam registradas...... nada daquilo era o que ela procurava.

— ......O que você está fazendo, Artemisia?

Então alguém se apoiou no encosto da cadeira. Uma voz ressoou por de

trás dela.

Com um vislumbre, sem que Artemisia notasse, estava de pé uma dama.

Ela possuía cabelos de cor mais pálida do que os da jovem loira e olhos mais

negros que os dela. Se Artemisia fosse o sol, então ela era uma dama com detalhes

enganadores como os da Lua.

Deixando isso de lado, quem vê cara não vê coração, já que para Artemisia

faltava a arrogância de se nomear o sol diante dela.

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Ellen Mira Mathers, segunda em comando das Indústrias DEM, renomada

por todos como a Maga mais poderosa da humanidade.

— Ah, Ellen. Estou investigando um certo assunto.

Respondendo a tal ambiguidade, Ellen se inclinou para frente até certo

grau, analisando o que estava próximo à mão de Artemisia.

— Os dados de Tobiichi Origami, hein... O que tem ela?

— Vocês se conhecem?

— Hn, bastante.

Ellen espremeu um pouco os olhos. Essa reação não era algo totalmente

novo, mas por alguma razão, ela parecia estar presa a resquícios de repulsa.

— Aconteceu alguma coisa? Entre você e aquela garota.

— Não, nada em particular.

Ellen afastou o olhar...... era a prova concreta de seu desinteresse em

continuar decorrendo sobre esse assunto. Artemisia desistiu e retornou ao seu

tópico inicial.

— Essa garota...... Ela é um Espírito, certo?

— Correto. Codinome <Angel>. O Espírito que esse mundo denominou

uma vez como <Devil>. 5

— Ela foi previamente um membro da AST?

— Sim, aparentemente ela abdicou seu posto ao se tornar um Espírito.

— Hmpf......

Com os dedos ainda acariciando o queixo, Artemisia examinou uma

fotografia de Origami que apareceu na tela novamente, murmurando algo alguns

segundos depois.

— Sobre isso, Ellen. Ela e eu nos encontramos alguns dias atrás, suponho.

— ......Onde você quer chegar?

— Essa garota parece me conhecer de algum lugar.

5Angel e Devil, do inglês, significam Anjo e Diabo, respectivamente. São os codinomes das versões normal e inversa de Origami, nesta ordem.

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— ............

Suas palavras aniquilaram as da Ellen, apesar de passado algum tempo;

junto a respiração arejada, ela recuperou sua habilidade de falar

apropriadamente.

— Artemisia, você está se menosprezando a uma extensão grande demais.

Não há nada demais em um ex-membro da AST conhecer a Artemisia Ashcroft

de Nível SSS.

— Hn...... talvez esteja certa.

— Eu estou. Francamente, eu não tenho ideia de como você acreditou que

eu saberia algo que você não saiba.

— Ahaha...... Eu também acho.

Ao ver Artemisia dar de ombros e formar um sorriso irônico, Ellen não

pôde evitar e suspirou.

— De qualquer modo, Ike está nos chamando. Temos que ir.

— Ah, tudo bem. Em um minuto.

Ao mandar o computador para o modo de suspensão ela seguiu a figura

de Ellen que se retirava da sala.

— ............

Enquanto elas percorriam seu caminho sem dizer nada, Ellen deu uma

olhada em Artemisia de repente. Naturalmente, sendo a garota perceptiva que

era, foi o suficiente para ela notar e, por consequência, responder com um sorriso,

desconcertando Ellen, que retornou o rosto para frente.

Quando Artemisia tocou pela primeira vez no assunto sobre Tobiichi

Origami, Ellen sentiu-se um tanto nervosa, mas parece que Artemisia não havia

se fixado isso em sua mente.

Ela de fato havia cruzado sua lâmina com a da Origami na última batalha.

Era inevitável que algumas incertezas surgissem durante o diálogo acalorado.

A luta de entre suas lâminas de batalha certamente não teria afetado suas

memórias. Mesmo assim, seria mais prudente confirmar o registro de conversas

depois, para desencargo de consciência. Pensando dessa forma, Ellen entrou no

elevador junto com Artemisia.

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— Hn, Ellen, essa reunião significa que temos novos planos?

— E quem sabe? De qualquer maneira, ele realmente disse que tinha algo

para nos mostrar.

— Algo para nos mostrar?

— Sim.

Trocando algumas zombarias triviais e coisas irrelevantes, ambas

chegaram no último andar do prédio...... diante da Direção Administrativa das

Indústrias DEM, o covil de Isaac Westcott.

Mas.

— .........

Ellen parou abruptamente, tendo detectado que além da porta havia uma

presença indesejada.

Apesar de Westcott possuir um ar de intimidação que a maioria das

pessoas comuns sequer chegavam perto, a sombria presença a uma mera porta

de distância destilava um ar único.

Como se... sim, como se uma horda de horrores as aguardasse com

respiração silenciosa.

— Ellen.

— ......Sim.

Artemisia mostrou sinais de percepção, franzindo as sobrancelhas e

fazendo uma careta.

— O que exatamente é isso?

— Não faço nenhuma ideia.

— Sir Isaac não poderia ter sido...... atacado, poderia?

— Certamente não, mesmo que esse lugar seja apenas uma filial, ainda é

parte das Indústrias DEM. Venha o que vier, lançar um ataque debaixo de nossos

narizes, nenhuma pessoa conseguiria...

Ellen parou ali mesmo.

— ...Havia uma sim; uma pessoa que já invadira a filial Japonesa antes.

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O Espírito <Nightmare6>...... capaz de manipular o tempo e as sombras,

junto de uma bateria infinita de clones oriundos de linhas do tempo anteriores.

É claro, eles raramente baixavam suas guardas. Ao se tratar de um invasor,

contudo, ninguém exceto ela veio à mente. Ellen cerrou os dentes e escancarou a

porta, sem se importar em bater antes.

— Ike! Você está bem? Ik......

Mas ao pisar na sala, seu passo e voz agitados encerraram na mesma

velocidade.

Era autoexplicativo. Nenhum Espírito encontrava-se na suíte, e Westcott

sentava-se confortavelmente em sua poltrona.

— O que......

— ......Ah, vejo que já chegaram, Ellen. Qual o problema? Você parece ter

visto uma assombração.

— Não, não é nada.

Ela prontamente arrumou as lapelas desgrenhadas de sua roupa,

enquanto Artemisia mostrava uma expressão confusa de modo semelhante.

— Hm......? Eu definitivamente senti uma presença aqui......

Ironicamente, Westcott se deleitava em saborear com os olhos as reações

das duas, então ele se levantou e andou lentamente até a janela.

— Bom. Eu as convoquei hoje por nenhuma outra razão...... Contando com

o Espírito do espaço sideral que caiu nas garras da Ratatoskr, eles já acumularam

até então dez deles.

— ......Peço perdão pelas minhas falhas.

Ellen abaixou a cabeça envergonhada pelas palavras dele.

Durante a disputa nos cosmos, a <Goetia> guiada por ela havia sido

subjugada pela espaçonave <Fraxinus>. A memória vividamente rondava a

mente de Ellen. Se ela não tivesse sido abatida ali, o curso da batalha teria, na

maior parte, permanecido inalterado.

No entanto Westcott procurou incentivá-la ao invés de desanimá-la.

6Palavra inglesa que significa pesadelo. Era o codinome para Tokisaki Kurumi.

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— Não há motivo para se remoer em relação a isso. Ambas vocês se saíram

bem. Na verdade, ouso dizer que as circunstâncias atuais ocasionarão o melhor

caso possível.

— O melhor?

— Indubitavelmente. Uma grande quantidade de Espíritos está reunida

no mesmo lugar, e eu tenho, mesmo que só uma parte dele, um Rei Demônio em

minhas mãos. ......A ausência de Elliot é uma pena, no máximo.

— ......Tch.

Elliot. Ao ouvir o nome daquele traidor, o rosto de Ellen se modificou para

um tom ameaçador em instantes.

Provavelmente tendo notado a seriedade dela, Westcott encolheu os

ombros.

— De qualquer maneira, parece ser a hora certa. Ainda se lembra do que

eu mencionei antes, Ellen?...... Nós faremos com que Shidou faça o papel de chave

para nós.

— ......! Aquilo......

As pupilas da mulher dilataram.

Westcott gargalhou, com suas mãos erguidas ao alto.

Um verniz de trevas começou a brotar, e um grande livro de capa

tenebrosa materializou-se: O Rei Demônio <Beelzebub>, uma aparição em forma

de livro que ele obteve do Espírito <Sister>.

Seu poder consistia em onisciência: em ver tudo e saber de tudo que se

passou, que passava, e que iria se passar neste mundo, sendo verdadeiramente a

pior das piores habilidades.

— A <Sister7> pode me atrapalhar como quiser enquanto eu procuro o que

me interessa. Com a paciência adequada, mesmo a menor brecha na vigilância

da Ratatoskr não mais estará em segredo. ......Já estava na hora de nós

começarmos o massacre. Misericórdia é desnecessária. Mostre o poder da Wizard

mais poderosa da humanidade como desejar.

7 Palavra inglesa para Irmã ou Freira. Codinome do Espírito Nia.

23

— Deixe comigo. Eu vou entregar sem falhas um resultado perfeito para

você.

— Muito bem. Tenho grandes expectativas para vocês duas.

Como se tivessem sido inspiradas pelas palavras dele, Ellen refinou sua

postura em concordância, e Artemisia a imitou logo em seguida.

— Então, é melhor nós partirmos de imediato......

— ......Ah, e mais uma coisa.

Naquele momento, cortando sua fala, Westcott pareceu eletrificado por

um curto momento ao se lembrar de algo e ergueu as pontas de seus ombros.

— O que foi?

— Eu esqueci de contar a vocês algo em respeito a essa operação...... Eu

reuni um pessoal suplementar para esse estratagema.

— Pessoal suplementar...... Wizards? Você acha que nossas capacidades

serão insuficientes?

— Ellen se esforçou ao máximo para enunciar de maneira equânime, ainda

que sem sucesso, já que alguns tons de irritação vazaram de sua dissimulação.

— Eu não disse nada parecido com isso. Você é sem sombra de dúvidas a

mais poderosa Wizard, e Artemisia seguramente possui o título de segunda,

apenas atrás de você. Contudo, você não deve subestimar a força dos números.

Espíritos selados são brincadeira de criança para vocês duas, mas pegue dois

pares delas e elas poderiam atrasar vocês por alguns minutos. E são esses poucos

tiques de tempo que podem custar o alvo de vocês.

— Isso......

— Ahaha, isso seria um problema.

Artemisia riu impensadamente enquanto sua flagelada companheira

enrugou as sobrancelhas.

O que Westcott declarou não era nada mais do que a verdade. Ellen, por

exemplo, cujo poder era sem igual, falhou em capturar seu objetivo em muitas

ocasiões por causa dos empecilhos causados pelos Espíritos.

24

Mesmo com os Wizards da DEM e os Bandersnatches não tripulados, em

vista da monumental disparidade de forças entre eles e os Espíritos, o temor das

tropas adicionais era crítico.

— Mas, Ike, eu não conheço um Mago competente o suficiente para seguir

o nosso ritmo. Nos fazer andar com um time inexperiente iria influenciar nossa

performance de forma negativa.

— Aah, com certeza iria.

Ele a ratificou expondo isso com boa graça.

— Ainda assim, eu peço que vocês se acalmem. Elas serão de grande uso

para vocês.

Erguendo sua mão em seu próprio ritmo, Westcott estalou os dedos.

Num piscar de olhos, inúmeras folhas de papel proliferaram de trás de sua

cadeira como um vendaval frenético, circulando no meio do ar.

— O que.........

— Quê!!

A rápida e imprevista sequência de eventos paralisou ambas as damas,

depois que os pedaços de papel cobriram as paredes por completo.

Naquele momento, as duas conseguiram discernir que as camadas de

papel eram páginas de um livro antiquado.

— Isso......

Ellen focou a visão numa tentativa de ter uma vista aproximada

daquilo...... apenas para imediatamente arregalar os olhos em descrença.

Era de se esperar. Várias garotas se arrastavam para fora daquelas

páginas.

Cabeças com cabelos acinzentados que gravitavam ao redor de uma cor

preto-carvão contemplavam elas com pupilas verdes completamente intrigantes.

Ainda que o traço mais característico era que...... cada uma delas possuía

o mesmo rosto idêntico, como se fosse recortes do mesmo tecido.

— ......! Ellen.

— Sim......

25

Gotas de suor desciam pela bochecha de Artemisia.

Isso mesmo; aquelas eram as miríades de presenças que elas sentiram

antes de pisar na sala.

— Vou lhes apresentar imediatamente. Essa são as filhas do Rei Demônio:

<Nibelcol>.

Com olhos tingidos de óxido de cobre, Westcott declarou isso com um

sorriso diabólico.

◇◇◇◇

26

27

Raios cor de açafrão opalescentes do pôr do sol irradiava pelas janelas da

classe.

Shidou olhou rapidamente para o relógio digital gravado na tela do seu

celular, dando um suspiro e levantando a cabeça.

Já era depois da aula, onde todas as turmas já tinham encerrado. Seus

colegas já tinham partido para casa, deixando para trás ninguém além dos perfis

de Shidou, Tohka e Origami, assim como as irmãs Yamai, Kaguya e Yuzuru da

turma vizinha. Elas eram Espíritos cujos poderes foram selados por Shidou no

passado.

Obviamente, tinha apenas uma razão o prendendo ali.

— Para mais uma vez conversar com Kurumi.

O local tête-à-tête escolhido por ela foi o terraço da escola. Shidou girou os

punhos para se preparar ao que estava por vir e se levantou de sua carteira.

— Então, eu meio que já tenho que ir, pessoal.

Um pouco chateada, Tohka uniu as sobrancelhas em forma de um “V”

invertido.

— Muu...... Você vai ficar bem, Shidou? Talvez possamos acompanhar

você, apesar de tudo......

Os outros Espíritos concordaram com a cabeça, cada uma com suas

respectivas razões.

— Como Tohka disse, é perigoso demais.

— Ao batalhar com ela que engrinalda o Estigiano8, são imperativas as

nossas forças.

— Consentimento. Nós o acompanharemos.

Shidou conseguiu formar um sorriso e bateu de leve sobre a cabeça de

Tohka, colocando-a de lado a lado com a dele.

— Obrigado, todas vocês. Mas eu ficarei bem. Claro, Kurumi é um Espírito

perigoso...... mas ela não é do tipo de trair sua palavra. Além disso...

Ele segurou o ar fino com mãos firmes.

8 Relativo ao Rio Estige, rio infernal de Hades garantido à ninfa Estige.

28

— Se o cara que vai selar os poderes dela não conseguir nem mesmo falar

com ela cara a cara, o futuro não vai parecer terrivelmente desolado?

— Shidou......

Tohka persistia com rosto angustiado, mas então enquanto teimosamente

cabeça dura, ela sacudiu a cabeça rapidamente de novo e reviveu sua expressão

de alegria e entusiasmo.

— ......Umu, eu entendo. Boa sorte!

— Aah.

Curvando-se com vigor, Shidou partiu da sala de aula, e dos olhos de todo

mundo. Ele ascendeu até o último andar, e apareceu diante de uma porta que

levava ao telhado aberto.

Logo então, uma bem conhecida voz soou de um fone dentro de seu

ouvido.

『 Você já deve estar ciente, mas não tente nada estúpido. Mesmo que tudo

aconteça sob o monitoramento da <Fraxinus>, o Anjo de Kurumi é bem peculiar.

Não sabemos nada do que irá acontecer. 』

A locutora não era outra senão a sua irmã mais nova, a comandante da

Ratatoskr, Itsuka Kotori. Ela estava no momento situada dentro da aeronave

<Fraxinus>, observando a situação de Shidou e as outras com extrema cautela.

— É, eu entendo. Mesmo que, salvar Espíritos é o objetivo da Ratatoskr,

certo? Não importa o quão assustadora Kurumi possa ser, ir sem nenhuma

ordem ocasionaria eu ser chutado pela minha mais assustadora Imouto-sama.

『 Ara, eu iria te amarrar e te servir uma grande porção de tortura de

cócegas, sem mencionar tornar público ao mundo inteiro tudo sobre o seu

passado obscuro que eu reuni até agora. Ser chutado? Que Imouto-sama mais

bondosa. Certifique-se de tomar cuidado. 』

— ......Haha.

Kotori retornou seu riso com um “Humph” . Seu rosto já perspirando,

Shidou fez um esforço em sorrir.

O acréscimo de tensão que o estava encobrindo clareou um tom ao dar um

tapa em suas bochechas para irromper ao estado de espírito certo. Shidou abriu

a porta.

29

— …….

Uma radiação brilhante incomparável a luminosa intensidade do corredor

ofuscou sua visão, impedindo-o de atenuar os olhos— — Pouco a pouco, seu

ponto de visão encontrou o contorno de uma garota sozinha no centro.

— Ara.

Kurumi, olhando vagamente para a cidade à distância além da cerca,

parecia ter notado sua chegada e girou um semicírculo para vê-lo.

— Ufufu, bem-vindo. Você tem minha gratidão por se apresentar, Shidou-

san.

Ela caminhou para mais perto dele a passos largos, logo depois ergueu a

borda de sua saia para realizar uma reverência teatral.

Esse indevidamente equilibrado e gracioso gesto hipnotizava e enredava

a vista de Shidou em um piscar de olhos.

Contrariamente, agora não era hora de se ocupar com tais problemas. Ele

balançou a cabeça para a esquerda e para a direita na tentativa de liberar sua

mente da tentação iminente. Então, ele encarou o rosto de Kurumi.

— Tudo certo, Kurumi. Estou aqui como prometido.

— ......

À primeira vista, ela retribuiu o olhar dele, e curvou os cantos de sua boca.

— Como eu pensei nessa manhã. Mesmo que minusculamente, você

certamente mudou, Shidou-san.

— Eh......?

— Em contraste com nosso primeiro encontro, seu semblante está mais

maduro. Bom, depois de ter passado os dias em tamanhas tribulações, era de se

esperar. Ufufu...... Quão amável você ficou.

— N-Não tire sarro de mim.

Um traço de apreensão acompanhou sua exclamação. O fato de estarem

no cair da noite fez Shidou mais apreciativo. Mas tendo o pôr-do-sol envelopado

seu corpo inteiro, a imagem de suas bochechas avermelhando se tornou

impraticável de disfarçar.

30

— Ou melhor, já é hora de você confessar. Sobre essa manhã. ...a condição

para selar seu poder.

Os lábios de Kurumi se curvaram mais uma vez diante de sua declaração.

Um sorriso simplório irresistível demais, demasiado estranho e

encantador.

Com suas costas carregando o sol crepuscular, dizer que ela era como o

quarto cavaleiro do apocalipse levando Shidou para o submundo não era nem

um pouco uma hipérbole.

— Oh, muito bem então. Eu falo. Eu...

Naquele instante, quando a Kurumi borrada por meia-luz iria começar a

falar.

— ......gh!?—

Do nada, Shidou foi afetado por uma tontura aguda.

Não. Se alguém tivesse aversão a expressões erráticas, a palavra tontura

falharia em explicar a sensação. Esse sentimento lembrava o de ter a origem de

seu poder drenado sem aviso; um sentimento de perda que ultrapassa a agonia

e a doença de uma vez só, ameaçando enterrar seu corpo em escuridão numa

fração de segundo de vulnerabilidade.

Contudo, ele já havia sentido esse formigamento impalpável antes.

Quando sua pele e ossos foram perfurados por uma bala.

Quando seu interior foi invadido por uma espada por detrás.

E... quando parte de seu corpo foi obliterado a nada por uma chave.

Existia como uma ligeira sensação de seu próprio corpo sendo invadido

por algo que facilmente transcendia as potencialidades mortais de uma forma de

vida humana.

Na plenitude do tempo, esse era o arrepio da morte.

◇◇◇◇

31

Às 17:30, no espaço aéreo de Tenguu City, Prefeitura de Tóquio.

Revestida pela Unidade-RC <Pendragon>, Ellen levitava por meio de seu

Território que a encapsulava junto de suas proximidades enquanto espiava à

marcada escola de ensino médio de longe.

A distância concreta entre eles excedia dez mil metros, mesmo assim a

Maga tinha uma visão de águia apuradíssimo das pequenas figuras que ali se

mexiam.

O Espírito de nome <Nightmare>, juntamente de Itsuka Shidou.

— As preparações estão completas?

Ellen supervisionava as condições abaixo, falando consigo mesma.

O dispositivo de comunicação transmitiu então a voz de Artemisia.

『 Certamente. Preparada quando você estiver. 』

Equipada com a versão irmã de <Pendragon>, <Lancelot>, Artemisia

estava posicionada em outro local, estudando os mesmos alvos que os de Ellen.

O silêncio mudo de Ellen agiu como um substituto interino para sua

resposta, depois da qual ela olhou novamente para baixo e moveu-se com toda a

velocidade da unidade acoplada em suas costas.

A retraída estrutura desdobrou-se, remontando-se em um luminoso e

brilhante sabre dourado.

Feita dentro do reino das possibilidades por meio da saída energética

superabundante de tecnologia Realizer, a lâmina laser <Caledwlch>, mesmo

nome de uma espada sagrada, era a arma-chefe de <Pendragon>.

— Aqui vamos nós.

Uma lacônica exortação dela era tudo que precisava para eles começarem

sua descida, como se estivessem propulsionando-se de uma parede de ar fino.

Tamanha velocidade rivalizava a trajetória de uma bala de chumbo; mais

do que o suficiente para uma pessoa comum desmaiar ou mesmo se rasgar em

pedaços e elas davam a impressão de atravessar os céus à tamanha velocidade

como se fosse brincadeira de criança enquanto os dois centravam seu alvo.

Uma obsoleta metáfora como ‘indetectável à olho nu’ agora invadia a

realidade. Nenhuma alma podia perceber Ellen, para assim dizer.

32

Contudo.

— ......ch! Hah!

Ellen, lascando as moléculas do ar que nem um cometa atravessando o

espaço sideral, sofreu uma parada instantânea e armou sua espada.

Uma vívida explosão de energia mágica dispersou em todas as direções,

iluminando as massas de nuvens ao redor.

— Kuh...

Mesmo o poder de <Caledwlch> não produziria uma explosão de tamanha

imensidão com um golpe só.

Isso mesmo; ali se apresentava senão outra lâmina dotada de magia.

— Phew. E conseguir deter o ataque a essa velocidade; com certeza é você,

Ellen.

A garota que ergueu sua espada contra Ellen proferiu pelas pontas de sua

boca também.

Ela estava adornada com uma Unidade-RC formulada semelhante a um

lobo, com seu cabelo formando um rabo de cavalo, e um sinal sob o olho

esquerdo.

— Você é...

Ao dar ouvidos àquela voz e avistar aquele rosto, não foi difícil para Ellen

franzir as sobrancelhas.

— Mana! Por que você está aqui!?

— Hah!

Ellen chamando o nome dela foi um erro; a garota, Takamiya Mana

aproveitou a oportunidade para lançar um completo acompanhamento.

— Chi...

Ira contorcia o semblante de Ellen enquanto manobrava o seu Território e

posição, repelindo o ataque.

O afastamento entre elas aumentou com um salto para trás, ela olhava

fixamente para Mana, relaxando os ombros como provocação.

33

— Oya, oya, você está com uma bela duma aparência estressada. Com as

rugas vem a idade, sabia?

— ......Lixo.

Como se cuspisse aquele vocábulo, Ellen observava Mana com Cautela,

refletindo ad nauseam9.

Mana havia alcançado sua trajetória, que por si só era admissível. Apesar

de não ser párea para Ellen, ela ainda provava ser uma Maga

extraordinariamente competente. Flanquear um caçador empenhado iria sempre

ser mais fácil do que desafiá-lo de frente.

Contudo, isso implicava que ela conhecia o paradeiro e o objetivo de Ellen

de antemão.

— Mana sabia que Ellen atacaria Shidou?

Não, se por algum acaso essa informação fosse vazada, apontar onde e

quando ela começaria o assalto por si só seria problemático.

— Então, teria Shidou percebido que a probabilidade de ser encurralado e

permaneceu em alerta até agora?

Não, supondo que ele fosse astuto, manter-se alerta numa área de raio de

dez mil metros era um feito não realizável para mesmo a mais excelente dos

Magos.

— ......Hm.

Tendo invalidado as poucas hipóteses flutuando em sua mente, Ellen

arrumou os cabelos sem pressa alguma.

O que mais importava agora não era de forma alguma explorar como

Mana conseguiu encontrar por acaso a localização de Ellen. Ela transmitiu uma

diretiva mental para Artemisia, que estava situada no outro lado.

— Artemisia. Nós temos companhia. Mudança de planos. Já que...

No meio, Ellen percebeu.

No lugar da voz de Artemisia ser transmitida de volta para ela, apenas um

emaranhado de ruído podia ser percebido.

9 Refere-se a algo que já foi feito ou repetido tantas vezes que se torna irritante ou desgastante.

34

— Isso é......

Artemisia ser derrotada era algo difícil de acreditar. Uma falha na

transmissão, ela temia, ou Artemisia fora interrompida e estava engajada em uma

batalha.

Ellen mordeu sua língua, encarando mais ferozmente Mana.

— Não tenho a menor enevoada noção de como conseguiram realizá-lo,

mas brilhante trabalho.

Logo após, do nada, até o rosto de Mana contorceu-se em uma careta.

— ......Você não tem ideia. Brilhante demais que até me irrita. Ellen, se pelo

menos você não tivesse aparecido, eu poderia ter achado que era uma

brincadeira.

— ......? Como assim?

Sua declaração confusa deixou um vinco ou outro nas sobrancelhas de

Ellen. Sem a vontade de elaborar adiante, Mana sacudiu a cabeça de um lado

para outro.

— Isso não tem nada a ver com você. Aliás, o que devemos fazer agora?

Você perdeu o tempo mais oportuno de qualquer jeito.

— Hmph.

A provocação de Mana provocou um escárnio desdenhoso de Ellen, que

mirou a ponta aguda do seu sabre nela.

— Você conseguiu parar meu ataque, admito. Mas tudo que você fez foi

dar significado às palavras ‘você venceu contra mim’ pela primeira vez.

— Hnn? Venha até mim então...

Ela adotou uma postura de combate e preparou seu sabre laser.

Por outro lado, Ellen não gastou mais um segundo em escutar.

— era o que eu esperava que dissesse.

Com essa resposta, ela desmanchou a unidade em sua mochila, deixando

o que estava guardado voar livremente por seu Território.

— As diversas páginas de livro dali de dentro.

35

— ......Papel?

Mana murmurou em perplexidade, suavizando sua postura a um certo

degrau.

Talvez ela não conseguisse dizer o significado das ações de Ellen, por isso

entrou em ofensiva.

Ellen relaxou seus lábios com um suspiro, depois disso estendeu sua mão

esquerda para frente ao contrário de sua mão direita que segurava a sua espada.

Junto daquele movimento, as incontáveis folhas de papel se organizaram.

Mana não tinha chances, por assim dizer, de ultrapassar o poder de Ellen.

Todavia, como notado por Westcott, ele podia muito bem comprar tempo.

Portanto, Ellen não deveria sucumbir às provocações de Mana, mas sim

executar sua missão nem um minuto depois.

— .......O que você está conspirando?

Analisando o estranho e suspeito comportamento de Ellen, Mana

murmurou para si mesma.

Contudo, sua dúvida não estava endereçada a Ellen especificamente.

Mesmo que a mensagem chegasse até ela, ninguém em sã consciência iria revelar

sinceramente sua mão para o inimigo.

— Venham, <Nibelcol>.

Ellen deu o comando com um estalar de dedos.

As folha de papel que a circulava começaram a palpitar e pulsar, com

muitas garotas se arrastando de dentro.

Envoltas em roupas negras, todas elas possuíam expressões faciais

idênticas.

— Aah...

— O quê...... Já é a hora?

— Não importa. É para o bem do Otou-sama, apesar de tudo.

Parecendo com o perfeito exemplo de apatia, cada uma delas alongou seus

corpos enquanto contemplavam Mana.

— ......!

36

A respiração dela parou.

Por um momento ali, ela estava se questionando se estava alucinando ou

tendo delírios. Seria bem simples para Ellen projetar qualquer ilusão que

imaginasse no seu Território.

Mas estava longe de ser o caso.

Uma visual inspeção do espaço lhe provia uma estimativa de vinte

pessoas.

Cada uma delas emanava uma presença muito tangível, sem mencionar

um grande acúmulo de energia.

Sim... Traçava um paralelo com a vez que ela veio a encarar os clones de

<Nightmare>, Tokisaki Kurumi.

Ellen deu um sorriso largo à reação de Mana.

— Elas serão as que entreteram você. <Nibelcol>, eu estarei focando no

alvo. O resto é com vocês.

Ela entregou a ordem para as garotas <Nibelcol>, que lançaram um olhar

indiferente a ela e deram adeus com as mãos.

— Aah, tudo bem. Tome cuidado.

— Aliás, o que a Ellen é para Otou-sama? Uma amante?

— Ehh, não pode ser. Otou-sama deve ter mau gosto então.

As garotas riram alegremente.

— ......Ei.

Ellen franziu a testa por causa do feedback inesperado.

Contudo, ela abominava dar um vacilo diante de Mana. Refrescando-se ao

sacudir a cabeça, Ellen encarou para baixo... para a escola que Shidou estava.

— Ch. Você não vai escapar......!

Para então colocar um fim em Ellen, Mana planejou ativar os propulsores.

Mas antes que pudesse, as meninas <Nibelcol> que estavam rindo até

agora a lançaram um olhar tão afiado quanto uma agulha ao mesmo tempo.

— Kuh......

37

Fazendo uma careta, ela rangeu os dentes.

Se esse fosse um conflito um-a-um, a vitória de Mana estava garantida.

Mas as suas oponentes totalizavam vinte. E além disso elas estavam ordenadas

para impedi-la de impedir Ellen, não de subjugá-la. As circunstâncias estavam

invertidas.

Para obstruir uma Maga muito mais poderosa que ela mesma enquanto é

obstruída por vinte pessoas. Confrontada com tamanha crise surreal, Mana

conseguia sentir gotas de suor descendo por suas bochechas.

A inadequação a encarava no rosto. Sem reforços equivalentes àquelas

<Nibelcol>.

— Ara, ara.

Naquele momento.

Quando Mana estava prestes a se render, uma voz incômoda a todos

reverberou de trás dela.

— ......Nn?

— O que é isso? Exatas mesmas feições; Uwah, isso é meio assustador.

— Ahaha, contudo, não somos diferentes.

As <Nibelcol> em frente de Mana estavam lutando para falar

simultaneamente.

Como se em retaliação, incontáveis silhuetas emergiram detrás dela.

Um Astral Dress de cores vermelho vinho e azeviche, cabelos amarrados

desigualmente nos dois lados, e... um olho esquerdo que fazia tique-taque em

sincronia com o tempo que passava.

Com cópias que espelhavam o Espírito, Tokisaki Kurumi parecia cem por

cento como suporte de Mana e estava ali para auxiliá-la.

— ......<Nightmare>.

Ela virou sua atenção para a esquerda, com sua conduta ainda mais

austera; para a qual Kurumi deu um sorriso convencido e divertido.

38

— Que reviravolta do destino, Mana-san. Você me permitirá dar uma mão

se estiver num aperto, não irá? Até mesmo eu acho desagradável oprimir os

fracos.

— Da boca de quem saiu tamanha besteira, vou decapitar sua cabeça junto

dessa língua ardilosa, não vou cobrar por isso.

— Ara, que assustador, de fato assustador...... Con~tu~do, agora é

realmente a hora de manter esse lado ousado? Mana-san sozinha se esforçaria

muito em enfrentar todas elas, eu imagino.

— ......Ch.

Sem se preocupar em reprimir a hostilidade, Mana clicou sua língua e

puxou seu sabre de luz <Wolftail> novamente.

— Depois de tomar conta de cada uma delas, você é a próxima!

◇◇◇◇

39

40

— dou-san, Shidou-san.

— ............!

Tendo seu nome chamado por Kurumi, Shidou abriu os olhos.

— Eh...... Uh...... Huh......?

Ele analisou seus arredores, como se estivesse em transe.

Onde ele agora se encontrava era o telhado da Escola de Ensino Médio

Raizen que eles iam, em frente dele uma Kurumi borrada com o magnífico pôr

do sol.

Depois que Shidou ficou consciente, pontos de interrogação em

introspecção flutuavam em sua mente.

— Por que eu estava tentando confirmar o óbvio?

De fato; tudo que ele tentou confirmar já era de seu conhecimento.

Ele golpeado com uma indisposição que lhe roubou momentos

transitórios de sua cognição, meramente para refazer suas lembranças do início,

como se o botão de reset de um jogo tivesse sido pressionado.

— Você está vivo e bem, Shidou-san?

— A-Aah...... Desculpe-me, é que eu me distraí um pouco...

Ainda uma aflição atormentava o garoto.

Com suas costas contra o anoitecer, a figura de Kurumi dava a impressão

de se reorientar vagamente.

Não, verdade seja dita, nada deveria se mover.

Como que poderia explicar...... O perfil habitual dela de indiferença rígida

e sangue frio parecia um tanto exausto e surrado.

— Kurumi......? Você......

— Ara, ara?

Um tremor fugiu de suas sobrancelhas, embora sutil, e no lugar sua

articulação habitual retornou.

— Tenho eu algo em meu rosto?

— ......Ah, não.

41

Num piscar de olhos, a Kurumi com a qual ele estava familiarizado havia

voltado, obrigando-o a prevaricar10.

De todo modo, um contraste perceptível se manifestara. Mas onde e como,

Shidou não conseguia apontar com clareza.

— Tudo certo, então. Voltemos ao tópico.

Como se ela visse através de seus pensamentos ou outra coisa, Kurumi

engrandeceu sua atitude e estimulou a conversa.

— Meu objetivo é o mesmo de antes, letra a letra, o reiryoku contido no

corpo de Shidou-san...... Eu gostaria de consumir ele. A razão por trás de meu

recomeço nas aulas é extremamente simples, também. Incluindo Mukuru-san, a

qual você selou recentemente, não teria Shidou-san acumulado o equivalente à

energia de dez Espíritos até então? Ufufu, eu imagino que o tempo esteja bom

para colheita.

— ......

Shidou não desviou um centímetro de seu olhar da figura dela,

respondendo com pura mudez, seu rosto estava profusamente encharcado.

Consumir; em termos mais simples, devorar o seu reiryoku, e ele junto...

sinônimo de seu falecimento. Indiferente do fato de ser a solicitação de um

Espírito, Shidou não poderia aceitar de forma alguma.

Apesar disso, Kurumi deveria estar au fait 11 dessa complicação a uma

determinada extensão. Colocando um dedo sobre os lábios em uma sedução

tentadora, ela montou um sorriso encantador.

— E a aspiração de Shidou-san é selar o meu...... correto?

— ......É sim. Mas apenas isso não vai ser o suficiente.

— Perdão?

Ela inclinou a cabeça, perplexa com sua afirmação, ao que ele esticou o

dedo indicador.

— Eu vou selar seus poderes, fazer você pagar por tudo que fez até agora.

E no topo disso, deixar você viver uma vida feliz. Esse é o meu desejo definitivo.

10 Faltar com a verdade. 11 Termo francês: ter bom ou detalhado conhecimento de.

42

— Ara, ara.

Incapaz de reprimir mais, Kurumi se dissolveu em risos curvando sua

coluna.

— Ufufu, você é um baita de um santo filantrópico, não é, Shidou-san?

Lamentavelmente, eu receio não estar de acordo também. Não que eu não tenha

interesse na vida feliz que você mencionou, no entanto, eu não posso me privar de

meu reiryoku, custe o que custar.

Ela estendeu o dedo em sua boca para frente.

— Aqui estamos em um impasse. O desejo de Shidou-san e o meu correm

em paralelo um em relação ao outro, nenhum dos quais serão trazidos a

realização no status quo, desperdiçando precioso tempo......

Kurumi então alinhou o dedo indicador de sua outra mão ao lado da

primeira.

— Nee, Shidou-san.

A curvatura de seus lábios era sedutora como sempre, ela fez o toque de

seus dois dedos como um beijo.

— Ao invés de deixar nossas linhas paralelas nunca se encontrarem e

nossas esperanças se tornarem nada, você não preferiria um método que

realizasse a ambos? Mesmo que isso nos levasse a perder tudo.

Sua cabeça inclinou.

— ......

Parecendo ter notado o traiçoeiro penhasco que as palavras dela beiravam,

o corpo dele tremia com borboletas.

Não muito depois, a precária tensão difundiu-se pelo ambiente pouco a

pouco.

Por tudo isso, a fonte do suspense, a própria Kurumi, começou a rir.

— Por favor não fique apreensivo, Shidou-san. Eu acredito que já disse

isso antes no passado, mas eu não tenho o menor interesse em pilhar seu reiryoku

à força.

— ......Então, o que você propõe?

43

Com um brilho de incerteza nos olhos, Shidou colocou precisamente a

pergunta que Kurumi esperava para atacar. Ela separou as mãos

exageradamente.

— Ufufu, que vou sujeitar-me ao estilo de Shidou-san.

— Eh......?

Lá e então, Kurumi executou uma pirueta rodopiante, com o ruído das

solas dos sapatos tocando no chão.

— Quem de nós fizer um se apaixonar pelo outro primeiro...... Como isso

soa?

— ............Eh?

Uma proposta imprevista o deixou pasmo.

— Aquele que fizer um se apaixonar pelo outro primeiro...... vence?

— Assim mesmo, assim mesmo.

Sua voz sussurrou, chegando mais perto de Shidou.

— Eu continuarei nesta escola por enquanto. No evento em que eu me

apaixonar por Shidou-san, meus poderes serão seus. ......Con~tu~do, se o inverso

ocorrer, a vitória será minha...... Nesse caso, Shidou-san vai ser meu para me

deliciar.

— Você...... Está claro que eu vou perder minha vida se eu me apaixonar

por você, então não tem jeito de isso acontecer. Essa disputa era sem sentido para

começo de...

— Você tem certeza?

Kurumi o interrompeu, com seu dedo tentador acariciando o queixo dele.

— Eu, no entanto... a possuo... a confiança para fazer Shidou-san renunciar

a vida por mim.

— ......!

Shidou, atônito à autoconfiança dela, engoliu em seco.

Kurumi deu uma espiada na expressão dele com a parte de cima do canto

de visão, rindo.

44

— Diga-me, Shidou-san, sim? A confiança para me cativar; a coragem para

me coagir a escolher Shidou-san ao invés de tudo o que é meu.

— E-Eu......

Tum-tum, tum-tum; o coração dele pulsava com intensidade.

Talvez por estar extremamente ciente de que a morte o aguardava a um

passo em falso, ou que a feiticeira diante dele havia puxado seu coração, Shidou

era no momento incapaz de diferenciar.

Naquele momento, similar a uma chamada de despertar dos céus, a voz

de Kotori ecoou em seu ouvido direito.

『 Controle-se, Shidou. Para essa Kurumi apresentar uma solicitação tão

estranha, ela definitivamente está planejando algo às nossas costas. Reine,

comece a análise, rápido. 』

Mas, nesse instante, um alarme que atravessou a fala dele fez um grande

barulho pelo receptor dele.

『 O que diabos está acontecendo numa hora como essa! 』

『 Comandante, essa resposta. 』

『 Quê...... Isso é......!? 』

Seguindo a voz de Kotori transbordando em consternação e zumbidos de

estática distorcida, nada compreensível e nem sons aleatórios ressoaram pelo

receptor mais.

— ......!!

Mexê-lo não surtia efeito.

Completamente isolado de contato com <Fraxinus>, era o equivalente a

perder a visão do farol estando no mar à noite.

Ainda, desafiando as circunstâncias completamente desamparadas, a

incompreensão crescendo dentro de Shidou esmagava qualquer tufo de

ansiedade ou trepidação.

— Obrigação nobre, junto de um senso de dever.

Shidou agora fora presenteado com a chance de persuadir Tokisaki

Kurumi.

45

O Shidou do passado já teria se acuado em medo.

O antigo Shidou estaria em completa desordem, confuso com o que dizer,

Mas a pessoa que estava de pé ali não era mais um de seus antigos eus.

Ele era um homem que havia encantado, e também selado, dez Espíritos.

Tohka, Yoshino, Kotori, Kaguya, Yuzuru, Miku, Natsumi, Origami, Nia e

Mukuro; elas todas estavam do seu lado, o encorajando sem hesitar.

Ele nunca mais poderia olhá-las nos olhos de novo se ele hesitasse com

Kurumi agora.

— Eu sei.

Shidou atravessou o dedo na direção dela, um largo sorriso surgiu na boca

dele.

— Eu aceito a sua competição. Eu vou fazer você me escolher e desistir de

todo o resto.

Ao ser respondida com tanta ardência, Kurumi aumentou seu raio de

alegria.

— Ufufu, fufu. Esse é o meu Shidou-san; de fato a pessoa que eu

reconheço.

Girando seu corpo ali, Kurumi declarou um manifesto de guerra em um

tom de brincadeira malicioso.

— Então agora... comecemos nosso encontro, sim?

46

Capítulo 02 - Maré de batalha

— Kuu!

Era de noite quando um som alto veio da entrada. Shidou pensou que

Kotori tinha voltado, mas naquele momento, ela lhe entregou um vigoroso soco

direto na boca de seu estômago.

— Ai!

O ataque repentino de Kotori o pegou de surpresa, o corpo inteiro de

Shidou inadvertidamente voou para trás na sala de estar.

— O-O que está fazendo Kotori......!

— Essa não é a hora de perguntar "O que está fazendo"! Você não entendeu

ainda? Se você perder, você vai morrer!!

— ......Eu sei, mas nessa situação......

Kotori fez um som de "hun" com o nariz e coçou sua cabeça de irritada

frustração antes de falar.

— Aah, fala sério. Eu sei que você não tinha escolha a não ser aceitar a

proposta da Kurumi. Mas entender e aceitar são coisas totalmente diferentes!

Como sempre, esse meu irmão idiota nunca se preocupa com si mesmo......!

— V-Você......

Então, enquanto Shidou se esforçava para levantar, suor frio escorreu pelo

seu rosto quando Kotori apontou seu dedo para ele.

— Un.

— ......"Un"? O que diabos quer dizer com isso?

— Eu vou te deixar devolver o soco...... Foi uma falha do seu suporte ter a

comunicação cortada quando você teve que fazer uma decisão tão crítica.

— Ei, ei......

Shidou mostrou uma expressão complicada. De vez em quando, Kotori

podia mostrar uma fachada bem masculina.

47

Embora esse seja um dos pontos fortes de Kotori, não importa como, era

impossível mudar o passado. Portanto, era esperado que seu honrado irmão mais

velho amasse sua irmãzinha.

Porém, se feito sem entusiasmo contra a vontade de alguém, isso poderia

ser visto como uma farsa e ele se sentiria mal em relação aos sentimentos de

Kotori.

Shidou respirou profundamente enquanto se levantava e ficou de pé em

frente de Kotori.

— Não posso fazer nada. Você é muito atenciosa, Kotori.

— Ah, pode vir.

Kotori estendeu ambos os braços para os lados para enfatizar que estava

completamente indefesa. Shidou engoliu em seco...

— Aqui!

Shidou rapidamente colocou ambas as mãos nas axilas de Kotori,

movendo seus dedos de várias formas diferentes, fazendo um som de

"kochokochokocho".

— O quê!? E-Espera ai...... ahahahahaha!?

O corpo de Kotori se contorceu até ela não conseguir mais ficar em pé de

tanto rir. Depois de receber essas cócegas implacáveis, Kotori caiu no sofá.

Shidou bateu a palmas das mãos com um som de "pat-pat".

— Hah. Bem, isso deve ser o suficiente.

— I-Isso foi injusto...... Foi um exagero......

Enquanto Shidou concluía sua brincadeira, Kotori soltou uma voz fraca

pontuada com arfadas, ficando sem ar por ter rido tanto.

Naquela hora.

— ......Shidou, nós viemos te incomodar um pouco!

Justo naquela hora, a porta foi aberta e as garotas entraram na sala de estar

uma a uma.

Tohka e Origami, que tinham voltado para a Mansão dos Espíritos ao lado

e para sua própria casa respectivamente para trocar de roupa, vieram com

48

Yoshino, Natsumi, Mukuro, assim como Nia e Miku, que vieram de suas próprias

casas. Mesmo a analista da <Ratatoskr> Murasame Reine estava em meio à

multidão que se formou dentro da sala de estar. Afinal, Kotori tinha convidado

elas para discutir os eventos daquele dia.

— Un......?

Foi então que, como consequência de terem visto a postura de Shidou e

Kotori na sala de estar refletida bem na sua frente, todas, sem exceção, ficaram

espantadas com expressões estupefatas em seus olhos.

— Por...... Por que Kotori está caída no sofá com olhos mareados e com o

corpo tremendo!?

— ......Eh, o que é isso? O que aconteceu?

— Ah, não, é porque......

Se virando para a direção delas, Shidou tentou explicar as circunstancias

desesperadamente enquanto os Espíritos começaram a imaginar coisas.

Porém, Kotori foi mais rápida que ele. Ela o empurrou de lado enquanto

ele tentava se levantar e correu para o abraço de Yuzuru. Incidentalmente, a

pessoa mais próxima não era a Yuzuru, mas sim Miku, que tinha entrado ali

dentro a passos apressados.

— Fuah! Pessoal, me ouçam...... Shidou, ele, Shidou, ele...... ha!

Enquanto fingia estar chorando, Kotori esfregou o rosto no peito de

Yuzuru. Vendo Kotori com tal expressão incomum, os Espíritos olharam para

Shidou com aspectos aturdidos.

— S-Shidou!? O que você fez à Kotori!?

— Calma, calma, Kotori, tudo vai ficar bem agora.

— Aiyaa, desculpa, Garoto. Nós te atrapalhamos no que estava fazendo?

— Ei......

Com as diferentes reações de todos os Espíritos, Shidou só podia aumentar

seu tom de voz.

— E-Espera aí, vocês se enganaram! Isso não......!

— Dúvida. Enganadas, por quê?

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— O que a Kotori disse com certeza......

De repente, o corpo de Shidou começou a tremer. Kotori somente disse

"Shidou, ele...". O que foi dito não era bem uma mentira.

Naquele instante, enquanto Kotori estava se agarrando fortemente em

Yuzuru, seus lábios mostraram um leve sorriso malvado para Shidou.

— V-Você está armando para mim, Kotori!

— T-Tudo bem com você, Kotori-san......?

— Ahn! É sempre a Kotori! Que injusto!

— Ela ainda é sua irmãzinha? As irmãzinhas são melhores? É melhor ir

preparando a documentação da adoção o quanto antes, Onii-chan.

— Vocês não acham que suas reações estão cada vez mais ridículas!?

Tais palavras estavam cheias de culpa, inveja e demanda disparadas a ele

pela boca de todas, Shidou gritou de lamentação.

......cerca de dez minutos depois, o tumulto cessou.

No final, Kotori, que falhou em evitar de rir logo depois, explicou a

situação para todas.

......Incidentalmente, durante o caos subsequente com todos amontoados,

algumas das roupas usadas por Shidou sumiram de alguma forma, a culpada

definitivamente iria embora com elas. Para ser exato, haviam três suspeitos, todos

eles tinham convicção de que fugiriam dali por não deixarem evidências o

suficiente.

Depois foi descoberto que todas as suspeitas tinham trabalhado juntas;

levando isso a um outro incidente...... mas essa é outra história.

— ......Então essa é a questão.

Depois de esclarecer, Kotori olhou para os Espíritos na sala de estar que

estavam reunidos em círculo. Yoshino e Natsumi nervosamente engoliram em

seco.

Por ser impossível de evitar, Kotori explicou não somente sua briga com

Shidou, mas também sobre a aparição do pior Espirito, Kurumi, na escola...... e

como Kurumi tinha proposto uma competição com Shidou.

50

É claro, Tohka, Origami, e as irmãs Yamai, que estavam na escola, assim

como Reine, que estava a bordo da <Fraxinus>, já sabiam sobre as circunstâncias

detalhadas. Porém, os Espíritos que não frequentam a Escola de Ensino Médio

Raizen não tiveram essa oportunidade. Elas provavelmente estavam pensando

no futuro assim que as circunstancias foram apresentadas a elas também.

— Por favor, tomem cuidado também pessoal. Como o objetivo da Kurumi

é o reiryoku dos Espíritos, a possibilidade dela aparecer diante de vocês não é

zero.

— S-Sim......

— ......Entendi. Não sairei de casa.

Vendo a Natsumi agarrar os joelhos de medo, Kotori deu um sorriso

desconcertado.

— Não, eu não terminei de falar ainda...... a <Ratatoskr> vai fortificar seu

alerta também.

Então, a garota sentada ao lado dela... Mukuro, falou quase que

sussurrando.

— Fumu...... Muku não compreendeu.

Ela inclinou sua cabeça de forma fofa. Seguindo esse ato, seu longo cabelo

loiro tocou a superfície do sofá. Uma vez, nos dias anteriores, Shidou tinha

cortado as pontas de seu cabelo, mas sua cabeleira deslumbrante ainda era a

maior entre os Espíritos.

— Un? O que foi?

— O reiryoku dos Espíritos é o que ela busca...... Isto eu compreendi.

Mesmo assim, por qual benefício Kurumi precisas desse reiryoku? O que justifica

ela tramar meios tão trabalhosos para adquiri-lo?

— Isso......

Com Mukuro perguntando essas questões, Shidou teve dificuldade de

providenciar uma resposta coerente.

De fato, era como Mukuro tinha pronunciado. Mais de meio ano tinha se

passado desde que Kurumi apareceu pela primeira vez diante de Shidou.

Algumas vezes como inimiga e outras como aliada que lhe emprestava seus

poderes, ela nunca tinha divulgado o que planeja fazer com esse reiryoku.

51

— Fuh, não é impossível para mim pessoalmente entender o que ela quer.

Vivendo como um Espírito, não seria incomum buscar ser a mais forte!

Kaguya disse enquanto fazia uma pose estilosa exagerada. Sentada perto

dela, Yuzuru soltou um suspiro.

— Suspiro. Seria fácil lidar com a Kurumi se ela fosse tão simplória quanto

a Kaguya.

— N-Não me faça parecer uma idiota!

— Negação. Eu não disse isso. Nesse mundo, uma pessoa simplória é a

mais forte. Ser simples é a melhor coisa. Em outras palavras, Kaguya é a mais

forte.

— Quê, sério!? K-Kukuku......! É verdade, Yuzuru, até mesmo você sabe

disso!

Kaguya mais uma vez elaborou uma pose. Yuzuru se virou para Shidou,

lançando um olhar que dizia "eu acho". Sem saber como responder, Shidou só

pode se mover para frente com um sorriso ambíguo.

Naquele momento, Shidou percebeu enquanto ainda refletia sobre a

conversa anterior, que a forma animada de Nia se comportar foi substituída por

uma expressão séria imersa em pensamentos.

— ......? O que foi, Nia? Seu estômago se cansou de comer coisas ruins?

— Sim, sim, mais cedo de manhã eu comi alguns doces que achei no meio

da rua...... desse tamanho!

Com um estalo chamativo dos pulsos, Nia perfeitamente se colocou no

papel de um tsukkomi1. Vendo isso, Shidou exalou um suspiro de alivio.

— Bom, é a Nia de sempre.

— O que quis dizer com isso, Garoto?

Com os olhos semicerrados, Nia replicou. Em resposta, Shidou abaixou

sua cabeça, como se tivesse dizendo "Não, esquece isso".

— Bem, esquece. Deixando isso de lado, eu tenho um pouco de informação

sobre os objetivos da Kurumin.

1 Tsukkomi é um tipo de comédia japonesa onde há um personagem sério que sempre responde ás piadas dos outros personagens.

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— ......! O que......!

Conforme Kotori mostrava uma expressão surpresa depois de ouvir as

palavras de Nia, Nia só pôde encolher seus ombros em resposta.

— Não posso fazer nada se vocês ficaram surpresos. Desculpa, desculpa,

eu não tinha a impressão de esconder isso, mas......

— Nia, você acabou de chamar a Kurumi de "Kurumin"......!?

— Ei, foco no que eu disse primeiro!

Enquanto Nia assumia mais uma vez o papel de tsukkomi, Shidou se

encontrou reflexivamente aplaudindo com suas mãos.

— Aaah, fala sério, até a Imouto-chan ficou assim! Com tudo que já foi dito

e que aconteceu, essa é a imagem que os irmãos Itsuka tem de mim!

Enquanto Nia fazia beicinho dessatisfeita, Shidou dava um sorriso sem

jeito enquanto trocava olhares com Kotori.

— No final das contas.....

— Exatamente......

— É sério!

Assim como em um mangá, a Nia enraivecida ergueu sua mão em

protesto. Kotori disse para tentar acalma-la.

— Minhas desculpas, é culpa minha...... Mas é sério? Você investigou os

objetivos da Kurumi durante a época que tinha <Rasiel> em sua forma completa?

— Un...... aaahh, bem, o que você disse está meio certo.

Nia tossiu para clarear sua garganta antes de continuar a falar.

— Naturalmente, foi antes do Garoto selar meu reiryoku...... eu estava no

meu quarto, quando de repente um Espírito negro apareceu das sombras.

— ...! Nia você se encontrou com a Kurumi!?

— Além disso, ouvindo sua história, não parece ter sido coincidência. Por

que ela foi atrás de você......?

53

Quando o volume das vozes de Shidou e Kotori se ergueram de surpresa.

Nia abriu a palma de sua mão para pedir que eles se acalmassem antes dela

continuar.

— De alguma forma, parece que tinha algo que ela queria que eu

investigasse através do <Rasiel>. Bem, apesar de eu ter pensado em recusar,

depois de olhar para o anjo da Kurumin, ele pareceu ser muito forte. Ah, eu achei

que não conseguiria vencer ela, então eu obedientemente investiguei para ela.

Me desculpem por ser tão fraca.

— ......Não, seu julgamento foi correto. Então, o que a Kurumi queria

saber?

Quando Kotori perguntou, Nia corrigiu a posição dos seus óculos

empurrando eles antes de responder.

— ...... Informações sobre o Espírito da Origem.

— Espírito......

— Da Origem......?

Em resposta ao que Nia disse, pontos de interrogação flutuaram sobre as

cabeças dos Espíritos.

— Sim, foi há trinta anos que o Primeiro Espírito apareceu nesse mundo.

Kurumin queria saber a localização exata e a hora que aquela pessoa apareceu, e

também o poder que ela tinha. ......Tudo para poder matá-la.

— O que......?

Ao ouvir esses detalhes perturbadores da boca de Nia, Shidou

instintivamente franziu as sobrancelhas.

— Matar...... o Primeiro Espírito? Esse é o objetivo da Kurumi?

— Pelo menos até onde sei, embora nem mesmo eu saiba porque ela quer

matar o Primeiro Espírito.

Enquanto Nia coçava seu rosto embaraçadamente, ela murmurou

"Naquela época eu não sonhava nem nos meus sonhos mais alucinantes que

<Rasiel> seria tirado de mim, ah".

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Kotori pegou um Chupa-Chups que ainda não tinha sido aberto e o colocou

na boca, movendo o palito para cima e para baixo enquanto seu rosto mostrava

uma expressão complicada.

— Matar o Primeiro Espírito...... Eu entendo o porquê dela querer saber os

poderes do Primeiro Espírito, mas por que ela teria perguntado o local e a hora

da sua primeira aparição nesse mundo......?

— ...... Trinta anos atrás, naquele ponto e naquela hora, para me assegurar

que aquele Espírito desapareça.

Quando Origami respondeu exatamente o que ela estava pensando, Kotori

ergueu a cabeça surpresa.

— Quê? Você sabe de alguma coisa?

— Esse não é o caso. Mas no passado...... quando eu confiei na Kurumi no

mundo anterior, ela disse alguma coisa assim.

Origami disse em um tom quieto.

Isso mesmo, para salvar seus pais de serem mortos, Origami voltou no

tempo com a ajuda do Anjo de Kurumi, <Zafkiel>.

— Então é isso...... tirando vantagem de seu Anjo <Zafkiel>, Kurumi pode

realmente voltar no tempo. Então é por isso que ela precisa do reiryoku que

Shidou selou até agora. Para matar o Primeiro Espírito, que apareceu há 30 anos

e apagar sua existência da história......

Depois de identificar esse ponto, Kotori fez uma expressão adstringente

enquanto coçava sua cabeça.

— Aahh, fala sério. Isso só levantou ainda mais questões. Kurumi quer o

reiryoku para usar a bala que a fará voltar ao passado...... para poder matar o

Primeiro Espírito? Por que ela quer fazer isso?

— Desse ponto em diante, só podemos fazer meras especulações. É muito

perigoso avançar nesse ponto sem mais informações, mesmo se pegarmos como

base o que já sabemos.

Origami respondeu de maneira plana, enquanto olhava diretamente para

Kotori. Em resposta, Kotori suspirou derrotada enquanto gentilmente acenava

com a cabeça.

— ......Sim, obrigada pelo aviso.

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Para se acalmar, Kotori respirou profundamente e pressionou sua testa

com um baque.

— No entanto, para termos sucesso na batalha contra a Kurumi, nós temos

que saber seus motivos o mais rápido o possível. Obviamente, os motivos do

nosso lado já foram expostos, mas as aspirações do outro lado ainda não foram

esclarecidas. Não importa como vemos, estamos em muita desvantagem.

— Un......

Ouvindo as palavras de Kotori, Shidou suou frio.

Certamente, era uma vantagem considerável saber o que o outro lado

estava buscando, especialmente em uma disputa onde a pessoa que se apaixonar

perde. Se alguém fosse descrever a situação atual, seria algo como se aproximar

da Kurumi completamente nu enquanto ela estava vestindo uma armadura

reforçada.

Sendo forçado a se lembrar de sua própria imprudência mais uma vez,

Shidou amargamente distorceu sua expressão facial em desprazer.

Observando essa reação de Shidou, Kotori encolheu os ombros.

— Não precisa fazer essa expressão de Chihuahua debaixo da chuva.

Como eu disse antes, era uma situação em que você não tinha escolha a não ser

aceitar a proposta da Kurumi. Mesmo que a comunicação tenha sido cortada, o

que aconteceu não teria mudado. Vamos conversar sobre o que faremos depois.

— Ah, sim......

Depois de ouvir o que Kotori tinha dito, Shidou também acenou

afirmativamente em resposta.

Então, Shidou deu tapinhas em suas bochechas para recobrar seu espirito

de luta. Se ele permitisse que sua irmã ficasse preocupado com os sentimentos de

nervosismo aparecendo em seu rosto, ele seria uma desgraça como irmão mais

velho.

Naquele momento, Shidou se lembrou das palavras que Kotori tinha

mencionado antes.

— Ah...... Isso mesmo, Kotori. O que aconteceu para a comunicação ter

sido interrompida? Eu estava preocupado porque eu ouvi algo que parecia......

— Ahhh......

56

Por algum motivo, Kotori cruzou os braços e fez uma expressão

complicada.

— Parando para pensar nisso, nós ainda não te contamos...... Naquela

hora, houve uma estranha reação no radar da <Ratatoskr>.

— Estranha Reação?

— Isso mesmo, embora tenha acontecido bem de repente; eu não

conseguia acreditar, mas......

— ......permita-me explicar essa parte.

Então, se intrometendo no meio da fala de Kotori, uma voz ecoou por de

trás deles.

Quando Shidou se virou em direção a voz, seus olhos ficaram arregalados

pela surpresa de ter visto a pessoa que estava ali.

Era uma garota quase do mesmo tamanho de Kotori. Seus cabelos estavam

presos em um único rabo de cavalo e havia uma verruga chamativa embaixo de

seu olho. Mais importante, naquele momento seu corpo estava todo coberto de

emplastros e esparadrapos.

— Mana!?

Bem ali estava a verdadeira irmã mais nova de Shidou, Takamiya Mana.

— Quando foi que você...... Mais importante que isso, onde foi que você se

machucou desse jeito?! Você está bem!?

— Não foi nada. Só uns arranhões.

Enquanto Mana sorria e acenava com as mãos, Kotori olhava para ela

como uma expressão desgostosa.

— Você...... Se eu me lembro bem, não era para você estar na capsula

médica se tratando?

— Haha...... Desculpa, eu vou voltar para lá assim que terminar de falar.

Só um segundo...... Tem algo que eu preciso dizer ao Nii-sama e aos outros.

O sorriso de Mana sumiu silenciosamente de seu rosto quando ela se

virou, seus olhos mostravam um olhar sério em direção de Shidou.

— O que quer nos contar?

57

— Sim, vou contar para o Nii-sama e para os outros o que aconteceu

enquanto você estava conversando com a <Nightmare>...... Tokisaki Kurumi.

Mana se sentou em uma cadeira vazia enquanto continuava.

O ataque de Ellen Mathers com Shidou como alvo.

Assim como as incontáveis garotas que ela invocou.

— O que......

Depois de ser atingido por tal informação inesperada, a respiração de

Shidou ficou irregular por um momento. Não, não somente Shidou, mas todos

os Espíritos presentes na cena ficam com expressões espantadas.

— C-Como......

— Como uma coisa dessas aconteceu......?

— Gumuu...... Um segredo escondido para proteger a todos...... Droga,

mesmo eu gostaria de tentar algo tão legal assim.

— Mas o que são essas garotas que a Ellen invocou......

Mana vagarosamente balançou sua cabeça para responder à pergunta de

Shidou.

— Não está muito claro, mas é a primeira vez que muitas pessoas com

rostos idênticos aparecem depois da <Nightmare>; com certeza elas não são

existências comuns.

Como se não tivesse outra alternativa, Mana encolheu os ombros em

desespero.

Porém, Kotori voltou a questionar outra pergunta à Mana.

— ...... E é só isso? Até mesmo nós já sabíamos disso. Você não viria até

aqui só para dizer isso, certo? Honestamente, você com certeza fica ao lado de

Shidou quando se trata de imprudência, mesmo um idiota saberia julgar se isso

era necessário ou não.

Mana ergueu os cantos de seus lábios para fazer um leve beicinho.

— É uma honra ouvir isso da Kotori-san. .....bem, isso certamente é

verdade, mas tem uma coisa que eu ainda não perguntei à Kotori-san.

— ...... Como foi que você previu o ataque de Ellen?

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Os olhos de Kotori estremeceram de leve, Mana acenou como se ela tivesse

levantado a questão correta.

— ......? O que está acontecendo? A Kotori pediu para alguém proteger a

Mana?

— Não houve tal expectativa. Se eu soubesse que a DEM estava

preparando um ataque, eu teria avisado ao Shidou e aos outros hoje logo de

manhã...... Além disso, mesmo se eu soubesse eu não teria permitido que você

lidasse com eles enquanto ainda estava se recuperando. Como acabou sendo de

ajuda, eu acabei deixando passar; se não, você não teria sofrido algumas sanções?

Quando Kotori olhou atentamente para Mana, a garota murmurou um

leve riso para se esquivar indiferentemente da declaração.

— B-Bem, por outro lado, deixando isso de lado, eu soube do plano de

ataque da Ellen um pouco antes dele acontecer. E no começo do ataque, Ellen de

repente apareceu nas coordenadas precisas que recebi.

— Eu não entendi isso. A Ellen estava em perfeito estado furtivo; de forma

que nós não pudemos detectá-la até o começo da batalha. Mana, como você ficou

sabendo disso?

Mana exalou reservadamente.

— Eu odeio dizer isso, mas a razão é simples. Alguém me disse de

antemão.

— Alguém te disse, quem?

— ......<Nightmare>, Tokisaki Kurumi.

— .....Hã?

Shidou ficou tão perplexo que seus olhos se tornaram em dois pontos

minúsculos.

— Es-Espera um minuto, o que quer dizer com a Kurumi te contou?

— É como eu disse, mas vamos lá....... Ontem, aquela mulher apareceu de

repente no meu quarto. Eu pensei que ela iria me atacar enquanto eu estava

dormindo, então eu cortei sua cabeça sem perguntar nada......

— ......

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Mana disse algo tão terrível de forma casual. Isso era fruto do ciclo vicioso

de conflitos entre as duas adversárias mutuas, a garota estava tão agressiva

quanto sempre.

Mas Mana continuou sem um pingo de inquietação.

— Muitos clones então apareceram dizendo que queriam conversar. Bem,

naquela hora, eu pensei que ela diria suas últimas palavras como se uma faca

estivesse apontada para seu pescoço......

— Então ela te contou sobre o ataque de Ellen?

— Isso mesmo.

Mana acenou exageradamente em consenso, mas a expressão facial

rigorosa de Kotori direcionada a ela não oscilou nem um pouco.

— ......então Mana-chan, você realmente achou que foi inteligente manter

isso em segredo de mim?

— Un.

Enquanto os ombros de Mana começavam a tremer, Kotori respondeu

com um sorriso seco.

— Não, não foi isso, Kotori-san. Eu não queria esconder isso de você, é que

eu não acreditei no que aquela mulher disse, para começar.

— Mas você não foi até lá por ter acreditado nas palavras de Kurumi?

— Não...... eu pensei que era uma armadilha e que vocês poderiam se

machucar...... E se eu tivesse contado para a Kotori-san, ela com certeza não teria

me deixado ir......

— Hoho? Então você já aprendeu. Que tal conversarmos melhor sobre isso

depois?

— Un, parece que minha doença crônica começou a atacar......

Imediatamente depois disso, Mana se agarrou seu peito, caindo no chão,

mas Kotori não pareceu se preocupar muito com isso e balançou a mão de forma

desleixada.

— Ah, sim, sim, que perigo. Da próxima vez vamos te acomodar em uma

instituição medica ainda mais rigorosa.

60

— Un...... ah, acho que foi só a minha imaginação.

Mana rapidamente ficou de pé como se nada tivesse acontecido.

Vendo isso, Kotori suspirou enquanto levantava sua mão para repensar.

— De qualquer forma, nossa maior prioridade agora é a questão com a

Kurumi.

— Ah, por que a Kurumi contou à mana sobre o ataque de Ellen e como

ela obteve essa informação, para começar......

Depois de ouvir Shidou, Origami exibiu um olhar fraco quando

respondeu.

— Poderia ser que o motivo para ela ter contado à Mana sobre o ataque de

Ellen ser simplesmente porque ela queria parar o ataque? Como a Kurumi está

atrás do reiryoku selado dentro de Shidou, é óbvio que ela não queria que a DEM

tivesse sucesso. Além disso, ela pode comandar diversos clones para conduzir

atividades de espionagem. Não é inimaginável que ela tenha descoberto o plano

da DEM nesse processo.

Enquanto Origami indiferentemente respondia, Shidou deu um pequeno

gemido enquanto colocava suas mãos na cintura.

— Un...... Bem, assim como você disse.....

— Tem alguma parte disso te deixando confuso?

— Ah...... não, eu não quis dizer isso......

Shidou respondeu ambiguamente.

O que Origami tinha dito fazia sentido. Mas por quê? Por um momento, a

imagem do rosto de Kurumi relampejou em sua mente, acendendo um estranho

sentimento de desconforto que obstruía os pensamentos de Shidou.

Todavia, não seria bom perturbar ainda mais os outros ali presentes por

motivos tão vagos. Shidou gentilmente acenou com a cabeça.

— Na-Nada, de qualquer forma, vamos nos preparar para amanhã.

— Muito bem, no nosso lado, nós vamos continuar a investigação. Mas a

tarefa mais importante é Shidou tomar a iniciativa e não ser pego pelo ritmo da

Kurumi. Você absolutamente não pode ser descuidado.

61

— Aah...... Eu entendi.

Uma grande quantidade de mistérios ainda cercava Kurumi. Seria uma

mentira dizer que ele não estava nervoso sobre a disputa que terá com aquela

garota.

Mesmo assim, enquanto ele ainda tiver chances de vencer, ele ainda

poderá selar seu reiryoku.

Para acalmar sua mente, Shidou inclinou sua cabeça para frente.

◇◇◇◇

Porém, na manhã seguinte.

— O quê...!?

O amanhecer deu início ao colapso da tranquilidade que Shidou tinha

passado a noite inteira cultivando em sua mente.

Mas nenhuma outra alternativa estava disponível.

— ......Ufufu, olá, Shidou-san. Hoje está realmente um bom dia.

Pronto para ir para a escola, Shidou abriu a porta para encontrar Kurumi

o esperando usando uma jaqueta preta e exaltando um sorriso excepcionalmente

encantador.

— K-Kurumi......

— Hehe, o que tem feito, Shidou-san? Para estar com uma expressão

dessas em seu rosto.

Vendo algo engraçado, Kurumi descarregou uma gargalhada que

gradualmente se tornava um risinho leve. Shidou estremeceu os ombros e

respirou profundamente para acalmar as batidas de seu coração. Apesar de suas

perspectivas parecerem favoráveis ontem, a aparição repentina dela foi o

suficiente para perturbá-lo.

— Não...... eu só fiquei um pouco surpreso de te ver. Por que está aqui?

— Ara, ara, é algo estranho colegas de classe irem para a escola juntos?

— ......É verdade, não é algo tão surpreendente assim.

62

Embora suor estivesse escorrendo pelo seu rosto, Shidou se virou para

retorquir.

Sim, isso não deveria ser uma surpresa. A disputa contra Kurumi já havia

começado. Seria melhor dizer que Shidou já deveria ter pensado que isso

aconteceria.

Porém, ele não poderia obedientemente seguir o ritmo da Kurumi. Sua

boca ficou aberta antes de fazer um sorriso destemido.

— Mas para você ter vindo até aqui para me encontrar...... Está interessada

em mim?

— Ufufu, e se eu estiver?

Ela caminhou rapidamente até Shidou, entrelaçando seus braços nos dele.

Quando Kurumi se aproximou dele, o contato corporal repentino causou

uma explosão de tontura no coração de Shidou.

— Muito bem, podemos ir?

Dessa forma, Shidou foi parcialmente pressionado a caminhar em direção

à rua.

Porém, deixar que a Kurumi tome a iniciativa não era bom. Shidou

secretamente usou seu braço livre para pegar um intercomunicador compacto

escondido em seu bolso e o colocou no ouvido. Segundos depois de liga-lo, uma

voz foi ouvida vindo do intercomunicador.

— .....Un, qual o problema, Shin?

Com uma voz sonolenta chamando Shidou por um apelido, aquela pessoa

era sem dúvidas Reine.

A existência de um suporte que possuía visão panorâmica da situação

aliviava um pouco o coração de Shidou. Enquanto Shidou exalava suavemente o

ar, ele sussurrou uma resposta em voz baixa para não ser ouvido por Kurumi.

— ......Me desculpe, Reine-san. É uma emergência.

— ......É a Kurumi?

Depois de um momento de pausa, Reine pareceu ter percebido a situação.

Shidou tomou o silencio como uma afirmação positiva.

63

— ......A disputa começou mais cedo que o esperado. Eu vou chamar a

Kotori. Entretanto, você deveria conversar com ela também, não é bom ficar em

silêncio.

Na falta de um destino especifico para a comunicação, o intercomunicador

estava especificado para entrar em contato com a ponte de comando da

<Fraxinus> que sobrevoava a Cidade Tengu. Normalmente, a comunicação de

Shidou era atendida pela Comandante Kotori. Mas naquele momento, Shidou

sabia melhor que qualquer um que Kotori ainda estava na residência dos Itsuka.

Shidou pigarreou para mostrar consenso antes de voltar a conversar com

Kurumi.

— ......Mesmo assim, hoje está bem frio. Deve ser o natural, já que estamos

em fevereiro.

— Sim, sim, mas vamos ficar aquecidos se fizermos dessa forma.

Depois de dizer isso, Kurumi apertou sua pegada.

— ......!?

O corpo de Shidou congelou quando ele inevitavelmente começou a

caminhar de forma não natural, como se fosse um robô. Mas é claro, isso era o

esperado.

Kurumi era certamente aterradora. Até aquele momento ela já tinha

consumido várias pessoas, ela realmente merecia o apelido de Pior Espírito.

Mas antes disso... ela era uma linda garota.

Lisos cabelos negros e uma pele suave, acompanhados de uma graciosa e

respeitável aparência...... e não somente isso.

Seu corpo exalava um leve odor aromático, junto com o que parecia ser o

toque fugaz de seus finos dedos. Cada gesto detalhado dela, tudo provocava um

forte estimulo em Shidou.

— Ugn......

— Acalme-se, Shin. Seu coração está batendo mais rápido.

Assim como Reine tinha dito, confiar si mesmo a suas emoções o levaria a

ruína. Para manter a calma, Shidou cantarolou (uma pequena coleção de) sutras

do coração.

64

Porém,

— ......Fu......

— Huff......

Inadvertidamente, Kurumi soprou no ouvido de Shidou, e com a sensação

inesperada, ele não conseguiu deixar de soltar um pequeno gemido de lamento.

— Ara, ara.

Ao ouvir tal reação engraçada vindo de Shidou, Kurumi riu do fundo de

seu coração.

— Shidou-san, você realmente tem uma voz tão fofa.

— Você......

Como sempre, ele parecia com um brinquedo dançando na palma da mão

de Kurumi.

Isso não poderia continuar assim. Tentando revidar, Shidou desobstruiu

sua garganta ao tossir algumas vezes.

Porém, precisamente nessa hora, Kurumi mais uma vez cutucou Shidou,

o levando a uma rota diferente da que ele normalmente usava para ir à escola.

— Ei, Kurumi, onde está indo?

— Ufufu, ainda temos um bom tempo antes da aula começar. Fazer um

pequeno desvio não seria bom?

— Hã......? O que está dizendo......?

Dizendo isso, Shidou gentilmente apertou o intercomunicador, pedindo

ajuda da equipe de suporte.

Depois de uma simples batida, o som de uma voz diferente foi ouvida

vindo do intercomunicador.

— ...... Daqui em diante, vamos agir de acordo com os desejos da Kurumi.

Se houver algum perigo, nós te faremos cobertura.

Uma voz familiar, era Kotori. Parece que ela foi correndo para a

<Fraxinus> direto da casa dos Itsuka.

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Agindo como se ele estivesse absorvendo as ideias de Kurumi e Kotori ao

mesmo tempo, Shidou gentilmente acenou com a cabeça em consenso para

ambas as conversas.

— .....Certo. Eu acho que não deve ser um problema. Tem algum lugar

para onde você quer ir?

— Não, eu só queria ficar um pouco mais de tempo ao lado do Shidou-

san.

— Haha...... Essas palavras com certeza podem deixar um cara feliz.

Shidou riu enquanto começava a refletir nisso simultaneamente.

Até o momento ele só esteve na defensiva, deveria ter alguma forma de

quebrar a compostura de Kurumi, mesmo que só um pouco......

Enquanto pensava nisso, Shidou brevemente soltou um som de "ah".

— Isso mesmo; pode me acompanhar por enquanto? Tem um lugar que

eu queria te mostrar pelo menos uma vez.

— ......Hm?

Kurumi espremeu os olhos enquanto ficava curiosa com a tentativa de

contra-ataque de Shidou.

— Isso realmente parece empolgante. Ufufu, obrigado por se importar.

— Oh, então podemos ir?

— Como desejar.

Quando Kurumi respondeu com um sorriso, Shidou continuou a andar na

rua enquanto mantinha uma postura com os braços cruzados com as mãos de

Kurumi.

Depois de alguns minutos se passarem, os dois entraram em um pequeno

beco.

Chegando no local, a sensação da Kurumi tremendo foi transmitida ao seu

braço.

— ......Shidou-san, que lugar é esse?

Kurumi soltou uma voz trêmula enquanto olhava para a vista que estava

diante dela.

66

Mas, não foi à toa que isso aconteceu. Afinal, aquele beco era um lugar

onde gatos de todos os tipos e tamanhos se reuniam.

Isso mesmo. Ele tinha poucas informações sobre Kurumi comparado com

os outros Espíritos...... Mas ele bem sabia que ela gostava bastante de animais

(principalmente gatos).

— Ah, eu acidentalmente vi você por aqui um tempo atrás; parece ser um

lugar onde gatos de rua se encontram...... Kurumi, você não gosta de gatos?

— N-Não é como se eu tivesse algum gosto especial por eles.

Kurumi tentou disfarçar de maneira valente. Mas com uma rápida olhada

em seu rosto, qualquer um facilmente notaria que sua superfície estava corada

em um tom vermelho vivo.

Parece que o resultado foi melhor que o esperado. Para evitar a agitação

de todos eles, Shidou passou na ponta dos pés por eles e se agachou sobre o joelho

para gentilmente acariciar as costas do gato listrado que estava mais ao fundo.

— Olha, eles parecem estar familiarizados com pessoas. Que tal, quer

tentar também, Kurumi?

— ......! Bem, se o Shidou-san chegou ao ponto de insistir, então suponho

que devo tentar.

Kurumi fez uma expressão feliz como se ela estivesse esperando Shidou

dizer aquelas palavras. Enquanto se agachava ao seu lado, ela estendeu sua mão

para o gato listrado.

Porém, quando a mão de Kurumi estava prestes a fazer contato com ele, o

gato listrado vigilantemente ergueu seu rosto.

Então, Kurumi deu um passo para frente, fazendo uma ação além das

expectativas de Shidou.

— Está tudo bem. Eu não sou tão assustadora assim. Miau.

Sim, Shidou não escutou errado. Kurumi estava falando com o gato em

um tom de voz bem persuasivo. E então, ela estendeu a ponta de seus dedos

como uma setária2 em sincronia com o balanço da cauda do gato.

— .....Oh?

2 Setária é um tipo de capim, também conhecido como rabo de gato ou rabo de raposa.

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Shidou estava atordoado. Mesmo que ele já soubesse que ela gostava de

gatos, ele nunca acreditaria que Kurumi poderia falar com uma voz como aquela.

— Miau, miau.

Kurumi não parecia estar prestando atenção na reação de Shidou

enquanto movia a ponta dos dedos cada vez mais perto do gato.

Porém, o gato listrado pareceu achar as ações de Kurumi suspeitas e

rapidamente se distanciou do seu alcance e fugiu.

— Ah......

Kurumi ficou com uma expressão chocada que não era comum de se ver

em seu rosto, Shidou se sentiu um pouco mal por ela e soltou um breve riso.

— ......!

Naquela hora, como se tivesse acabado de perceber isso, Kurumi soltou

um som de "Ha" com um suspiro de vergonha.

— O-O que foi, Shidou-san?

— Nada...... haha, desculpa, eu não fiz por mal......

Shidou disse enquanto não conseguia parar de rir, fazendo com que

Kurumi fizesse beicinho de insatisfação. Mesmo que sua expressão facial seja

bem fofa, não era sua intenção deixa-la brava. Então, Shidou apontou para um

gato que continuava a rolar pelo chão.

— Olha, ainda tem outros gatos, por que não tenta acaricia-los?

— Esquece isso, eu não pretendia acaricia-los para começo de conversa. E

mesmo se eu tentar de novo, eles certamente vão fugir novamente.

Quando Kurumi disse isso irritada como uma tsundere3, Shidou deu um

sorriso meio sem jeito para conforta-la.

— Não diga uma coisa dessas. Eu, eu, vai dar tudo certo na próxima vez.

Miau.

— ......!

3 Tsundere é um tipo de personalidade usada em obras japonesas onde o personagem mostra uma atitude agressiva ou irritada, mas é amável por dentro.

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Percebendo que Shidou estava imitando seu comportamento anterior, o

rosto de Kurumi ficou ainda mais vermelho.

Olhando para Shidou com um olhar furioso, Kurumi abruptamente

espremeu os olhos quando acabou de ter uma ideia.

— ......Você pediu por isso. Então......

Kurumi mostrou um sorriso maldoso enquanto delicadamente tocava o

pescoço de Shidou.

— Hiya!?

— Ufufu, então é verdade. Acariciar um filhote num lugar desses faz ela

ficar comportada.

— V-Você......

Atingido por esse ataque repentino, as bochechas de Shidou ficaram

vermelhas enquanto Kurumi acariciava sua cabeça dando risadinhas.

— Ufufu, bom garoto. Vamos, o que disse antes? Miau?

— ......Ugh, M-Miau.

Como ele disse que não tinha problema a momentos atrás, Shidou não

conseguia fugir do alcance da Kurumi, Por um momento, Shidou não tinha

escolha a não ser resistir ás caricias alegres de Kurumi.

......cerca de vinte minutos depois, Shidou e Kurumi eventualmente

chegaram na escola, a poucos instantes antes do sino da escola começar a tocar.

— Shidou!

— Shidou.

Dentro da sala de aula, tendo chegado mais cedo, Tohka e Origami se

apressaram a chamar por ele. Shidou gentilmente ergueu sua mão em resposta.

— Oh, Tohka, Origami, bom dia.

— Umu, bom dia, Shidou...... Não é isso. Tudo bem com você, Shidou? Eu

estava preocupada com você!

Tohka franziu as sobrancelhas enquanto falava.

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Mas isso era inevitável. Tohka, que vivia na Mansão dos Espíritos próxima

a residência dos Itsuka, sempre ia para a escola junto com Shidou. Ela não podia

evitar de ficar muito preocupada por ele não ter aparecido na frente de sua casa.

Mas no momento que Shidou estava começando a se desculpar por isso,

Origami moveu sua boca mais rápido.

— Nessa manhã, ouve um acidente de transito na interseção do segundo

distrito na cidade. Nós ficamos preocupadas de você ter se envolvido nele por

estar atrasado.

— Quê......?

Shidou estava bem acostumado com aquele cruzamento. Afinal, em

circunstancias normais, ele passava todo dia por ali para ir à escola. Porém, ele

não soube sobre esse incidente até ouvir a história através de Origami.

Tudo porque esse acidente não tinha acontecido quando ele passou por lá.

Não, para ser mais preciso, Shidou nem sequer passou por aquele cruzamento

hoje. Porque......

— Ufufu, bom dia, Tohka-san, Origami-san.

Naquele momento, a voz de Kurumi ecoou por trás de suas costas,

fazendo com que a expressão facial de Tohka e Origami se preenchessem de um

tom de vigilância.

— Mu...... Kurumi.

— Como eu pensei, foi coisa sua.

— Coisa minha? Realmente me dói escutar algo assim. Eu estava

meramente vindo para a escola com o Shidou-san. Tem algo de errado nisso?

Sob essas circunstancias, Kurumi gentilmente devolveu um olhar afiado

para as duas. Shidou pôde ouvir os outros alunos que estavam vendo a cena

cochicharem "Shuraba...... Shuraba”......

— Bem, está quase na hora do professor chegar. Ufufu, estou ansiosa por

hoje, Shidou-san.

Depois de deliberadamente provocá-los com esses maneirismos afetuosos,

Kurumi se dirigiu ao seu assento.

— ......

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Em absoluto silêncio, Shidou olhou para as costas dela.

Não havia nenhum significado especial.

Mas como ele poderia dizer?

Parecia que havia alguma atmosfera sibilina em volta das ações de

Kurumi.

— Mu......? O que foi, Shidou?

— ...! Ah...... nada.

Abordado por Tohka sem aviso, os ombros de Shidou tremeram

levemente.

— Não é nada. A Kurumi está certa; nós também devemos voltar para

nossos assentos.

Ele colocou sua bolsa na carteira.

Tohka inclinou sua cabeça com curiosidade por um momento, mas como

a professora entrou na sala de aula, ela se virou para seu assento com

conformidade.

◇◇◇◇

— Kukuku.

— Kukuku.

— Como está indo, eu?

— Sim, sim, com isso, deve estar tudo de acordo com o "plano".

— Essa é a número 193, eu?

— A conexão com a associação foi desconectada.

— Talvez já.

— Ara, ara.

— Essa é a número 238, eu?

— Por aqui a mesma coisa.

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— Agora a pouco.

— Ara, ara.

— Isso realmente é triste.

— Que lamentável.

— Que crueldade.

— Que inconstante.

— Ah, ah, mas.

— Sim, sim, não temos tempo para permanecer estagnadas.

— Já está quase na hora do próximo compromisso.

— Então, vamos até lá.

— Se cuide, eu.

— Vamos nos encontrar de novo algum dia.

— Sim, sim.

— Algum dia, na jornada para Hades.

— Algum dia, em uma prisão dentro do inferno.

◇◇◇◇

Uma badalada que indicava o fim da quarta aula ressoou pela escola.

— ............

Depois de ouvir o sino, Shidou cerrou seu punho para fortalecer sua

determinação.

Mas de fato ele precisava fazer isso. Com o fim do quarto período se

iniciava a pausa para a refeição.

Em outras palavras, o som do sino não era nada mais do que o símbolo da

chegada da hora de comer.

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A batalha de Shidou contra Kurumi para saber quem se apaixonaria pelo

outro tinha começado no dia anterior. Mesmo que ataque daquela manhã tenha

sido inesperado, sua vantagem surgiria durante a pausa para refeição.

Ele guardou seu livro didático e pegou a marmita (arma) em sua mochila.

Então, como se tivesse sido combinado de antemão, uma silhueta apareceu

no canto de sua visão: Kurumi.

— Ufufu, ei, Shidou-san, por que não comemos juntos?

Com um sorriso no rosto, ela mostrou sua marmita nem um segundo

depois. Porém, por trás de sorriso exuberante, havia uma atmosfera perigosa no

ar como se ela tivesse evidentemente escolhido aquilo como sua arma.

Aparentemente, Kurumi deve ter tido a mesma ideia de Shidou.

Mas Shidou não tinha intenção de ser capturado por esse plano. Se

sentindo um pouco nervoso, ele se levantou para responder à Kurumi.

— Ah, claro, mas aqui não é um bom lugar. Já que é uma oportunidade

rara, vamos para a cobertura da escola juntos.

— Com prazer.

Kurumi acenou com um sorriso antes de se virar para Origami e Tohka,

que estavam sentadas ao lado de Shidou com olhos cheios de cautela.

— ...Por que não vamos com a Tohka-san e com a Origami-san? Você

também pode convidar a Kaguya-san e a Yuzuru-san. Assim elas não vão ficar

amontoadas atrás da porta que nem ontem.

— O qu......!

— ............

Kurumi deu um pequeno risinho enquanto Tohka e Origami mostravam

suas respectivas reações.

Por um momento, Shidou não entendeu o porquê de Kurumi ter dito

aquilo, mas... ele imediatamente descobriu o motivo.

— Tohka, Origami, talvez vocês duas não devessem......

— ............

73

Quando Shidou estava prestes a terminar de falar, as duas desviaram seus

olhares, coradas de frustração. Parece que elas estavam espionando eles por trás

da porta quando ele conversava com Kurumi no dia anterior.

Mesmo que nada tenha acontecido naquela hora, para elas terem feito tal

coisa, elas realmente devem ter ficado preocupadas. Shidou deu um sorriso

desconsertado para dizer obrigado.

— De qualquer forma, vamos. Eu não quero desperdiçar nossa preciosa

pausa para refeição.

— Sim, é verdade.

Shidou e Kurumi despreocupadamente acenaram um para o outro e

saíram de lá. Atrás deles, Tohka e Origami seguiram o exemplo deles indo logo

depois. Depois de irem à sala vizinha convidar Kaguya e Yuzuru, todos eles

seguiram para as escadas que levavam à cobertura.

Diferente do dia anterior, o sol estava os iluminando com um calor

reconfortante. Shidou gentilmente esticou seu corpo enquanto ele se voltava para

a direção do gradil para vagarosamente sentar no banco.

Depois de ver que Kurumi estava sentada em frente a ele, eles trocaram

olhares mútuos e Shidou abriu a tampa de sua marmita.

— ......Hm?

Olhando para a marmita, Kurumi parou sua respiração por um segundo.

Porém, seria impossível de ignorar. Já que naquele dia, Shidou tinha

levado bolinhos de arroz em forma de gatinhos embalados; uma refeição

customizada de gatinhos.

— Un, o que foi Kurumi? Algo de errado com minha comida?

— ......Céus, não. Eu achei sua marmita bem adorável.

O rosto de Kurumi estava completamente corado, seus olhos estavam

tentando encobrir isso de alguma forma. Em outras palavras, só de olhar para

aquilo já tinha a tocado de alguma forma.

Aquela reação era esperada. Shidou aproveitou a oportunidade, dando o

primeiro tiro que dava início à guerra.

74

— Haha, obrigado. ......Como eu fiz bastante, não quer ficar com alguns,

Kurumi?

— ......!

Provavelmente adivinhando o objetivo de Shidou, Kurumi mexeu as

sobrancelhas de leve.

Aquela marmita com tema felino não se limitava apenas a aparência. Ela

estava incorporada com as técnicas e criatividade culinárias de Shidou.

Até aquele momento, Shidou tinha entrado em contato, conversado, e

selado o reiryoku de dez espíritos. Embora o método de captura de seus corações

tenha variado de Espírito para Espírito, com a experiência que adquiriu, a

"conquista pelo estômago" se provou ser bem efetiva.

Uma comida deliciosa poderia enfraquecer até a mais interna linha de

defesa. É claro, Shidou não achava que só isso poderia conquistar Kurumi. Mas

isso poderia lhe garantir uma brecha de dez minutos nas muralhas de seu

coração.

— ............

Kurumi respirou lentamente para suprimir sua excitação enquanto abria

um sorriso.

— Bem...... se você insiste. Mas eu me sentiria mal de apenas aceitar.

Enquanto dizia isso, Kurumi abriu sua marmita para mostrar a ele.

— Que tal fazermos uma troca.....?

— ......!

Olhando o conteúdo da marmita, foi a vez de Shidou ficar chocado.

A refeição consistia em alimentos de cores verde, vermelho e amarelo

brilhantes, bem acompanhados com arroz. Apesar do menu ser bem comum,

Shidou pôde claramente ver que aquela refeição tinha sido meticulosamente feita

a mão.

Shidou foi convencido. Ele não era o único que tinha afiado sua espada

para perfurar seu oponente.

— Fu......

75

— ......Ufufu.

Por coincidência, Shidou e Kurumi riram juntos ao mesmo tempo.

Observando os dois, os Espíritos sentiram suor escorrendo por seus rostos.

— M-Mu...... O que eles estão fazendo?

— Uma batalha feroz de ofensiva e defensiva está ocorrendo agora.

— É como se dois mestres estivessem medindo as forças de seu

oponente...... Eu li algo assim em um mangá!

— Entendimento. Eu sinto uma aura tremenda na atmosfera.

Tentando não os perturbar, Tohka e as outras estavam falando em

sussurros.

Quando Shidou de repente ergueu os cantos de seus lábios, ele entregou a

marmita temática de gatinhos para a Kurumi em seu próprio ritmo.

— Vamos lá...... vamos comer.

Shidou mostrou um sorriso destemido quando as marmitas foram

trocadas.

Diante uma pressão incrível, até mesmo Kurumi não poderia deixar de

engolir sua saliva.

...... Sendo pega de surpresa por esse ataque inesperado, parece que ela

tinha subestimado um pouco Shidou.

Porém, ela não podia mostrar nenhuma fraqueza naquele momento.

Kurumi fingiu compostura quando ela estendeu sua mão.

— Muito bem, itadakimasu.

Mas...... mas antes de alcançar a marmita, Kurumi parou o movimento dos

braços de repente.

Arrumados dentro da marmita estavam gatinhos brilhantes feitos de

arroz, gatinhos pretos cuja superfície estava coberta por algas reluzentes, e gatos

malhados feitos de katsuobushi 4 finamente cortados. Com tal variedade de

gatinhos reunidos juntos, era como se eles estivessem implorando "Por favor, me

4 Conserva de carne seca de atum-bonito usado para fazer caldos e acompanhamentos.

76

coma, me coma". Para Kurumi, escolher só um seria uma coisa impossivelmente

cruel de se fazer.

— Uh......!

— Hm? O que foi? Não vai comer?

Shidou levemente inclinou sua cabeça quando perguntou.

Mesmo que suas palavras e expressão parecessem normais, naquele

momento Kurumi via um vilão com um sorriso impiedoso no rosto de Shidou.

Para adicionar, no espaço atrás dele, uma alucinação de várias raças de gatos

miando preenchia seu campo de visão.

Ainda assim, Kurumi não podia ceder ali. Se preenchendo de

determinação, ela pegou um bolinho de arroz em forma de gato preto.

— A-aqui vou eu, itadakimasu.

Depois de cuidadosamente olhar para seu rosto amável, Kurumi

endureceu seu coração e o colocou em sua boca.

— ......!

... Um impacto explosivo de sabor.

Mesmo que ela já soubesse através de um clone que Shidou tinha o hábito

de cozinhar, para ele ter chegado a um nível desses....

O rico aroma da alga orgânica fazia cócegas em sua cavidade nasal por

dentro. No momento seguinte, parecia mentira que os bolinhos de arroz

puderam manter a forma que carregavam em seu nome, enquanto o arroz

dissolvia em sua boca logo em seguida. A imagem de ser cercada por contáveis

gatos afanando uns aos outros estava sendo refletida em sua mente. Ahahahaha.

Ufufufufu.

Porém, isso não era tudo. No momento em que grãos brancos de arroz se

partiram, uma carne suculenta que estava escondida foi revelada.

Além do bolinho de arroz que podia ser comido em uma mordida, havia

ainda a habilidade incrível de adicionar pedaços carne em formatos

impressionantes. Enquanto levava em consideração o balanço entre arroz puro e

temperos perfumados, o molho grosso de teriyaki estava distribuído em ondas.

Kurumi se contorcia de prazer enquanto se imaginava sendo atingida pelas patas

de vários gatinhos.

77

— Ahhh......

Cavidade oral, cavidade nasal, esôfago, estômago...... lugares que ela

normalmente nunca alcançaria estavam sendo calorosamente acariciados por um

sensação agradável. Kurumi apoiou sua cabeça com as mãos enquanto ela mal

conseguia fazer um grande sorriso.

— Não...... como esperado do Shidou-san, isso está muito delicioso.

— Verdade, que maravilha. Tudo que você gosta só deixa as coisas

melhores.

Um sorriso surgiu no rosto de Shidou.

Mas...... agora era a vez da Kurumi. Kurumi usou seus palitinhos para

pegar um pedaço de frango frito e colocá-lo na boca dele.

— ......Vamos, Shidou-san, diga "Ah".

Kurumi disse enquanto conferia o pedaço de frango frito.

— Gu......!

Confrontado pelo poder destrutivo da situação, Shidou ficou paralisado

no mesmo lugar sem ter o que fazer. Sim, aquela era uma batalha amorosa.

Aquele que ter seu coração tomado primeiro será derrotado.

Não somente o sabor da comida decidiria esse embate. Mas a forma como

a contraparte iria comer sua comida também era um ponto importante.

Dessa perspectiva, o método adotado por Kurumi era o mais bem-

sucedido e o mais sensato. Não havia um único garoto que estivesse no ensino

médio que não ficaria feliz de receber comida na boca de uma linda garota.

Aquela era a escolha ideal que virava o jogo sem que a contraparte sequer

pudesse reagir.

— Oh, qual é o problema, Shidou-san?

— Não...... eu já vou fazer, aaah.

Enquanto limpava o suor que escorria pelo seu rosto, Shidou abriu a boca

para abocanhar o frango frito de Kurumi.

—......

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Por um momento, parece que uma corrente elétrica tinha percorrido todo

seu corpo.

...... Deleitável. A qualidade da carne certamente era superior, mas ao

mesmo tempo o procedimento para cozinha-la foi conduzido impecavelmente.

Pré-temperado utilizando alho perfumado em vez de gengibre, naquele ponto os

sentimentos de uma dama poderiam ser perfeitamente apreciados.

Porém, o verdadeiro valor do frango frito não estava somente nisso.

Incrível...... dentro de sua mente ele podia vividamente imaginar o cenário

de uma cozinha de manhã, onde Kurumi estava vestindo um avental por cima

de seu uniforme de escola e arregaçando as mangas para começar habilmente a

cozinhar.

Sem dúvidas, o objetivo de Kurumi era obter o reiryoku selado dentro de

Shidou, mas isso não mudava o fato de que ela tinha feito aquela comida

pensando nele. Aquele sabor era a nata da nata que se podia fazer quando se

estima a pessoa que irá eventualmente comer aquela refeição.

Como ele podia cozinhar sozinha, Shidou raramente tinha a oportunidade

de comer algo preparado por outra pessoa. Pode se dizer que aquela habilidade

continha as presar de uma técnica mortífera.

— Ufufu, como está, Shidou-san?

— ......!

Ouvir as palavras de Kurumi trouxe Shidou de volta a realidade. Ele

limpou as lágrimas que estavam se formando e conseguiu recuperar o sorriso em

seu rosto.

— ......Ahh, está tão delicioso que até escorreram lágrimas.

— Ara ara, você está me elogiando demais.

Kurumi manteve um ritmo elegante enquanto ria "hehe".

Porém, parece que ela percebeu que a chama que acendeu dentro dos

olhos de Shidou ainda não tinha desaparecido. Kurumi rapidamente mudou seu

sorriso para uma expressão destemida.

79

80

— ............

— ............

Shidou e Kurumi aproveitaram a oportunidade para cruzarem seus

olhares um com o outro; alguns segundos depois, os fizeram seus movimentos

ao mesmo tempo.

— Quer comer mais um?

— Os rolinhos de ovos são os pratos que tenho mais confiança.

Ding! Aquilo soou como a lâmina de duas espadas se cruzando uma

contra a outra. Shidou e Kurumi sentiram suor escorrer por seus rostos enquanto

eles erguiam os cantos de seus lábios e erguiam suas marmitas

simultaneamente......!

— Oh...... Oh, eu realmente não entendo, mas eu me sinto como se tivesse

vendo algo incrível......!

— Tohka, um passo para trás. É muito perigoso se envolver.

Origami rapidamente pegou nos ombros de Tohka como se tivesse

tentando lembrá-la disso. Então, em outro lugar, Kaguya estava pronunciando

"Ku......" em lamento enquanto apertava seu punho.

— Mas que diabos, aqueles dois estão tendo um duelo tão legal......!

Yuzuru! Nós também temos que decidir nossa disputa!

— Concordância. Aceito o desafio. ...Que tal o pão de curry que eu comprei

mais cedo?

— Haha. É um deleite de mediocridade. Aqui, esse é meu pão, mais

vermelho que o fluxo de sangue (geleia de morango).

— Mastigando...... o gosto é comum.

Com olhares ininteligíveis, as irmãs Yamai inclinaram suas cabeças ao

mesmo tempo.

Enquanto elas estavam tentando usar seus pães para decidir a vencedora,

a batalha entre Kurumi e Shidou continuava. Uma atrás da outra, Shidou

entregou seus gatos malhados incrustados em peixes secos com cobertura

crocante. Da mesma forma, Kurumi contra-atacou entregando-o a ele seu prato

de espinafre.

81

— Uau...... O tempero desses pedaços de atum-bonito...... isso não é

somente óleo de soja......!

— Ufufu...... que tal esse aqui?

— ......!? Dentro dessa jarra térmica, é sopa de miso......!?

Depois que o cabo de guerra foi puxado por ambos por trinta minutos, eles

perceberam que suas marmitas se esvaziaram.

— Ha...... ha......

— U-Ufufufufu......

Ao mesmo tempo, os dois limparam os grãos de arroz grudados em suas

bochechas com seus dedos e os lamberam para limpa-los.

— Podemos dizer que foi um empate..... certo?

— Fu...... Muito bem.

Então, mais uma vez em sincronia, Shidou e Kurumi bateram as palmas

das mãos juntos com um som de "pan" e curvaram suas cabeças para mostrar

gratidão pela hospitalidade e pela refeição.

Olhando para aquilo, os Espíritos que estavam ao lado deles exclamaram

todos um "Ooh......" enquanto batiam as palmas de suas mãos em aplauso.

— ......Oh?

Contraindo suas sobrancelhas ao perceber algo, Kurumi sedutoramente

abaixou os cantos de sua boca, soltando um risinho breve enquanto se

aproximava.

— Ei, Shidou-san......

— O-O que foi......?

— Por favor, fique assim por um momento.

Quando o corpo de Shidou se enrijeceu, Kurumi vagarosamente

aproximou seu rosto do dele.

Sua pele delicada preencheu todo seu campo de visão enquanto usa doce

fragrância estimulava seu nariz. Toda vez que Kurumi respirava ele a sentia em

seu pescoço, aquilo era como uma descarga elétrica percorresse diretamente para

seu cérebro.

82

— Ei...... O-O que......

Com as ações repentinas de Kurumi, múltiplos pontos de interrogação

surgiram na cabeça de Shidou. O que ela estava fazendo afinal? Sem chance, um

beijo numa hora daquelas? Claro, como aquele era o objetivo de Shidou,

naturalmente ele não recusaria. Porém, sem um alto nível de afeição, um beijo

não faria o reiryoku dela ser selado corretamente. Sua oponente era a Kurumi.

Mesmo que Shidou tenha feito um bom trabalho de manhã, contar somente com

a marmita não deveria ser o suficiente. Em outras palavras, era um beijo

perfeitamente desperdiçado, mas ainda assim um beijo em seu sentido mais

puro. Shidou não sabia se deveria para-la. Enquanto deliberava sobre isso, os

lábios de Kurumi chegaram mais perto e então......

No instante seguinte, a língua de Kurumi lambeu a bochecha de Shidou.

— Ha......!

Com esse toque inesperado, Shidou não pode se conter e latiu isso.

— Hehe, Shidou-san, ainda tinha alguns grãos de arroz grudados em seu

rosto.

Quando Kurumi contraia seus lábios, Shidou a olhava com olhos

espantados enquanto tocava o local onde sua bochecha foi lambida.

— Hã......? Tá falando sério, isso é uma mentira......?

Shidou passou a mão para reavaliar seu rosto enquanto corava. Mesmo

que sua atenção tenha se focado no confronte de marmitas, ele acreditava que

ambos tinham se livrado de todo arroz que tinha ficado grudado em suas

bochechas......

Saboreando essa visão, Kurumi caiu na gargalhada.

— Ara, parece que eu já o entendo muito bem.

— ......Ei!

Mesmo que somente palavras agradáveis tenham vindo de Kurumi,

Shidou ainda estava visivelmente com os olhos espremidos. Parece que seu

choque momentâneo somente foi originado por ter sido lambido na bochecha.

Kurumi inegavelmente via o estado atual de Shidou com diversão, mas

então pela primeira vez ela voltou seu olhar para os outros Espíritos.

83

— Ufufu, o que acharam, pessoal? é um pouco vergonhoso ser observada

por olhos tão afiados.

— ......!

— E-Eu não vi nada!

— Concordância...... Yuzuru e o restante estavam comendo como o de

costume.

Confrontadas pela acusação de Kurumi, os Espíritos comunicaram seus

respectivos pensamentos. Kurumi os seguiu rindo como se ela tivesse ouvido

algum muito engraçado antes de vagarosamente ficar de pé.

— Kurumi?

— Ufufu, terei que me desculpar primeiro. Shidou-san, a marmita estava

realmente deliciosa.

— Ah, a sua também estava incrível.

Depois de dar sua resposta, Kurumi mais uma vez aproximou seu rosto

de Shidou, gentilmente tamborilando as pontas de seu dedo para acariciar o

queixo dele.

— ......!

— Ei...... Shidou-san. Mudando de assunto, você tem planos para a quarta-

feira depois da escola?

— Quarta-feira......?

Essa pergunta repentina repercutiu na cabeça de Shidou por um

momento...... Mas imediatamente após isso, ele percebeu que esse era um convite

de Kurumi.

Como ele não tinha nada marcado para aquela hora; nem depois disso,

não tinha porque Shidou não priorizar a captura de Kurumi. A única resposta

aceitável era sim.

— ............

Porém, depois de pensar por um momento, ele percebeu a intenção por

trás do olhar provocativo de Kurumi e disse.

84

— Me desculpe, mas nesse dia eu tenho uma coisa para fazer que não

posso remarcar.

— Ara, então é isso?

— Ahh... quero dizer, eu estava pensando em convidar a garota a minha

frente para um encontro.

Quando Shidou disse isso, os olhos de Kurumi se arregalaram de surpresa.

— Ara, ara.

Rindo como se tivesse interessada na escolha de palavras de Shidou,

Kurumi continuou.

— Você realmente mantém o mesmo ritmo, Shidou-san. Então, nesse dia,

por favor me dê o seu tempo.

— Ahh, é claro...... espera aí, "me dê o seu tempo" não deveria ser levado

no sentido literal.

Shidou respondeu com os olhos semicerrados. Essa não era uma expressão

engraçada, quando falada por alguém como Kurumi, que como o tempo dos

humanos, era mais como um trocadilho sinistro.

Kurumi também parecia estar ciente dos motivos por trás da expressão de

Shidou, encolhendo levemente os ombros enquanto ria.

— Ufufu, você realmente me disse algo interessante. É claro, você deveria

considerá-la como uma frase idiomática..... logo no começo.

Kurumi de repente parou, mas então seus dedos que estavam acariciando

o queixo dele se moveram para uma parte superior de seu rosto.

— Simplesmente mantenha esse tipo de significado em sua cabeça,

Shidou-san. Eu tenho planos para esse dia também.

— ......

Além do sorriso feliz, o olho esquerdo de Kurumi brilhava uma luz

tentadora; uma força de vontade tão bonita, tão calma, intensamente fria e

brilhante. Olhando o rosto de Kurumi com uma visão tão sem obstruções fazia

com que Shidou impotentemente prendesse sua respiração.

— Então, me despeço aqui. Por favor espere ansioso por isso, Shidou-san.

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Vagarosamente relaxando sua expressão, Kurumi se virou e ergueu a

bainha de seu vestido para cumprimentar Shidou.

Depois daquilo, ela se virou para o prédio da escola em passos vívidos.

Então, dez segundos depois, a visão de suas costas foi encoberta pelo

interior da escola.

— .........ha.........!

Shidou respirou profundamente, conforme a tensão tinha finalmente se

dissipado.

— T-Tudo bem com você, Shidou!?

Tohka, que estava sentada no lado oposto do telhado, olhou para ele com

um olhar ansioso.

— Aah...... estou bem... me desculpe, eu entendo sua preocupação...... Ai,

Origami, isso machuca.

Origami estava tenazmente limpando o rosto de Shidou com um pano

úmido, que tinha sido transformado depois de ser encharcado de suor.

Então, como se tivesse mostrando sua apreciação para Shidou, a voz de

Kotori pôde ser ouvida do intercomunicador.

— Isso foi dureza, mas os resultados não foram ruins. Mesmo que Kurumi

tente manter seus sentimentos na mesma magnitude, algumas flutuações

consideráveis foram detectadas.

— S-Sério?

— Un, bem, valores oscilantes não vão derrotar ninguém, especialmente

no final.

— Eh......

Ao ouvir essas palavras, Shidou se sentiu com dificuldades para ficar de

pé. Mesmo ele conscientemente sabia que ela era chamada de Pior Espírito.

Portanto, as contramedidas principais seriam ter certeza de que Shidou poderia

ser um combatente a altura.

Ainda assim, depois de conversar com Kurumi cara-a-cara, trocar palavras

com ela, e sentir seu toque e respiração... seu preparo e determinação tinham sido

jogados fora de seu corpo enquanto sua mente tinha se tornado limpa e leve.

86

— Mas......

Enquanto Shidou estava carregado de tal autorreflexão, Kaguya fez uma

expressão problemática enquanto ela colocava a mão no queixo.

— Ei, por que a Kurumi solicitou o dia de Odin? Tem algo de especial

nesse dia?

— Não, nada demais, é só......

Repentinamente.

Quando Shidou estava com a questão de Kaguya agarrada em seu cérebro,

outra pessoa arregalou seus olhos ao perceber algo... era Origami.

— Nessa quarta-feira.

Origami brevemente falou algo antes de pegar seu smartphone e começar

a fazer algo nele.

Depois de alguns segundos, mostrou uma expressão de completa

compreensão enquanto apontava a tela do celular para Shidou e os outros.

— Eu já entendi os motivos da Tokisaki Kurumi. Ela pretende terminar

com tudo nesse dia.

— O que você quer dizer com...... ah.

Shidou só conseguiu dizer parte de sua frase pois se sentiu obrigado a

para-la ao ver a tela do celular.

Origami acenou com a cabeça em concordância.

— Essa quarta-feira é dia 14. É o dia... de São Valentim!

Apesar de Origami tentar dizer isso de forma calma, sua voz revelava um

grau súbito de ansiedade.

Foi então que um alarme encerrando o intervalo reverberou por toda a

escola.

87

Capítulo 03 - O Tempo de uma Dama

— ...... Muito obrigada por terem vindo, pessoal.

Naquela noite, em uma sala dentro da mansão dos Espíritos, Kotori disse

isso enquanto olhava para todos. Por algum motivo, a iluminação na sala estava

muito escura, com uma luz de destaque jogada na área que envolvia a mesa.

Entretanto, Kotori colocou os cotovelos contra a mesa, assumindo uma

postura com os dedos entrelaçados uns nos outros. Porém o motivo para isso não

foi entendido, parecia que sua figura de comandante tinha aumentado em relação

a normal.

Já no centro da sala, Tohka, Origami, Yoshino, Kaguya, Yuzuru, Miku,

Natsumi, Nia e Mukuro, todos os Espíritos foram convocadas em força total.

Todas estavam sentadas na mesa redonda, cada uma delas com uma postura

diferente, seja coçando as bochechas ou alongando os braços.

— Fumu, qual será o dilema a ser discutido... na hora das bruxas1.

Mukuro perguntou enquanto bocejava.

Porém, seria inesperada outro tipo de pergunta. Já tinha passado da meia-

noite. Muitas pessoas além de Mukuro estavam com sono...... bem, de alguma

forma haviam exceções como Nia, que parecia ainda mais energética do que

costumava ser durante o dia.

Kotori gentilmente acenou com a cabeça e continuou respondendo à

pergunta de Mukuro.

— A situação já deve ter sido explicada a vocês. Na tarde de hoje,

...Kurumi convidou Shidou para um encontro no dia 14 de fevereiro, o Dia de

São Valentim2.

Ouvindo isso, Tohka inclinou sua cabeça e cruzou os braços em uma

expressão confusa.

— Muu, o que é o Dia de São Valentim para começar?

1 Hora das bruxas é a primeira hora após a meia-noite, onde é dito que a maioria dos eventos sobrenaturais acontecem. 2 O tradutor optou por usar dia de São Valentim para que não confundam com o Dia dos Namorados brasileiro.

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— Ah...... desculpa, desculpa. Então parece que não te explicaram ainda.

O Dia de São Valentim é......

Enquanto Kotori tentava explicar, Nia de repente a interrompeu.

— É o...... dia em que São Valentim, conhecido como o santo padroeiro dos

amantes, foi terrivelmente executado!

— O que......!?

— E-Esse é um dia terrível......?

Quando Tohka e Yoshino fizeram expressões chocadas, Kotori

comicamente bateu no canto da cabeça de Nia.

— Mesmo que a origem esteja correta, preste atenção no modo como fala!

— Ehehe, desculpa, desculpa. Bem, então, nesse dia é comemorado o dia

de São Valentin, garotas dão presentes para os garotos; é melhor pensar dessa

forma.

— Fumu, um presente.

— Pergunta. O que deve ser dado?

As irmãs Yamai perguntaram enquanto simetricamente inclinavam suas

cabeças.

— Bem...... mesmo que não tenha nada especificando o que deve ser dado,

no Japão geralmente se dá chocolate.

— Ei!

Ouvindo as palavras de Kotori, os olhos de Tohka começaram a faiscar e

cintilar.

— Receber chocolates...... quem diria que existe um dia tão maravilhoso!

— ......Errado, Tohka. Tudo bem ficar animada, mas é o homem que deve

ser presenteado por uma mulher, entendeu? Então você vai ficar do outro lado

do presente.

Enquanto a animação de Tohka começava a fazer os braços dela tremerem,

Natsumi respondeu com os olhos semicerrados.

— Mu? Umu, eu não sabia...... nu? Entendi, eu não posso comer...... Não,

tudo bem, dar um presente para o Shidou também será bem excitante......

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— Seu humor caiu visivelmente......

Natsumi disse enquanto suor escorria por sua cabeça. Entretanto, Kotori

suspirou e encolheu os ombros.

— Não se preocupe, Tohka. Amigos trocarem chocolates também está na

moda ultimamente...... Além disso, ainda tem o White Day no dia 14 do próximo

mês. Nesse dia, os homens que receberam chocolates das mulheres no Dia dos

Namorados devolvem o favor e dão a elas chocolates.

— O-Oh......!

Tohka olhou para Kotori como um clérigo que acabou de receber uma

profecia divina de um oráculo. Vendo isso, todas as outras não sabiam se faziam

uma cara agradável ou mostravam um sorriso desconsertado.

— Er, Kotori-san, o que você achou disso? Eu certamente vou ficar com

ciúmes se alguém sair para um encontro como o Querido no Dia dos

Namorados......

Miku disse enquanto fazia um movimento fofo ao cutucar seu queixo com

os dedos.

Então, Kotori respondeu o gesto acenando com a cabeça.

— Kurumi disse que pretende decidir a disputa no encontro desse dia.

Uma derrota significaria que tanto o reiryoku quanto a vida de Shidou seriam

tomados, então não podemos de forma alguma ficar paradas.

— Porém, mesmo que seja o Shidou, eu não acho que ele assumirá a

derrota e entregará sua própria vida......

— Eu também acho, mas também parece que a Kurumi não viria com uma

negociação dessas sem ter confiança na sua taxa de sucesso. Não seria ruim

ficarmos cautelosas.

— Pergunta. O que exatamente devemos fazer como precaução?

Quando Yuzuru ergueu seu braço para questionar, Kotori acenou

enquanto erguia dois dedos.

— Há duas aproximações para essa presunção, a primeira é que nós

também vamos dar chocolates para o Shidou.

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— Um meio razoável, chocolate era originalmente o que se presumia para

ser dado.

— Isso, para um cara, se a Kurumin for a única a lhe dar um chocolate,

isso com certeza fará o coração dele acelerar.

Nia encolheu os ombros. Então, Kotori sorriu torto com sentimentos

incertos dadas as atuais circunstâncias.

— Tendo dito isso, hoje é o último dia antes do dia 14. Mesmo que o

chocolate seja feito à mão, não tem problema prepará-lo um dia antes... se alguma

coisa acontecer, o problema vai começar aqui. Eu queria treinar a resistência do

Shidou o máximo o possível antes disso.

— Resistencia......?

Tohka inclinou a cabeça enquanto cruzava os braços e Kotori continuou a

falar.

— Sim, melhor dizendo, para que ele não seja enganado pela Kurumi

durante o encontro, nós temos que o deixar imune antes.

— Hmm. Entretanto, que tipo de imunidade e por quê?

Deparada com a questão de Mukuro, Kotori respondeu enquanto

apontava o dedo para cima.

— Para ser franca... ao charme maduro.

— ......!?

Em resposta às palavras de Kotori, os Espíritos começaram a fofocar por

todos os cantos.

Então, quando todas se silenciaram, Kotori retornou a falar.

— Tohka e as outras viram o que aconteceu naquele dia, então eu acho que

elas entendem...... Como esperado, Kurumi é um grande desafio. Aquela mulher

terrível que, com as pontas dos dedos, é capaz de calmamente brincar com os

corações dos homens com seu comportamento encantador, convites sedutores e

truques de um súcubo. Como Shidou nunca selou esse tipo de Espirito antes, ele

tem que aprender a como lidar com esse tipo de mulher.

— ............

Todos os Espíritos engoliram em seco e prenderam suas respirações.

91

Para quebrar essa atmosfera tensa, duas pessoas levantaram suas mãos ao

ar energeticamente. Elas eram Miku e Nia, respectivamente.

— Permita que eu faça isso! Eu sou um ano mais velha que o Querido. Eu

posso fazer o papel de irmã mais velha!

— Eu também, eu também! O charme maduro do meu corpo está

transbordando!

As duas falaram orgulhosamente enquanto estufavam seus peitos.

Porém, Kotori balançou sua cabeça com uma expressão cheia de

constrangimento.

— Não é sobre números. Eu estou falando de maturidade em um nível

espiritual. Se essa condição não for cumprida, então não será nada mais do que

uma criança um pouco mais velha.

— Uchu!

— Ahha!

As palavras impiedosas penetraram em Miku e Nia como facas.

— Uuu, que imperdoável, Kotori-san...... Eu... pelo menos o estilo do meu

corpo é bem maduro......

— E até mesmo sou... boa...... em ficar acordada até tarde......

— ......

Quando Miku e Nia indiscriminadamente argumentaram, elas não

perceberam que Origami cutucava seus ombros com um som de "pon" vindo de

trás. As duas, ao serem atingidas ao mesmo tempo, soltaram um som de "wan"

enquanto se agarravam em Origami...... Bem, para Miku, os motivos para seus

movimentos de mãos eram bem peculiares.

Apesar disso, enquanto ignorava essas três, a reunião prosseguiu.

— Isso é bem problemático. Não importa o quão forte ele seja, parece que

tem um desejo inato no coração dos homens se comportarem como garotos

mimados quando são bajulados por uma irmã mais velha madura.

— Kaka, quer dizer então que homens levam um bom tempo para

amadurecer.

92

— Concordância. Kaguya também era originalmente um garoto. Isso não

me admira.

— O que quer dizer com isso!? Aliás, o que quis dizer com "não me

admira"!?

— Acalmem-se...... eh, ué?

Kotori de repente interrompeu suas próprias palavras.

— Origami, onde elas foram?

— Muu?

Tohka olhou para o lugar onde Origami e as outras estavam até agora a

pouco. Para se certificar que, assim como Kotori disse, o paradeiro das três

pessoas tinha desaparecido.

— Uh......

— Elas foram ao banheiro?

Todos Espíritos inclinaram suas cabeças, Kotori deu uma olhada rápida

para a porta antes de continuar.

— Não importa, elas logo estarão de volta. De qualquer forma, se

pudermos satisfazer esse sentimento mesmo que temporariamente, o coração de

Shidou irá permanecer calmo não importa quais meios Kurumi tentara empregar

nele. É por isso que temos que nos tornar irmãs mais velhas do Shidou.

— M-Mas, Kotori-san, nós somos menores do que o Shidou-san......

Quando Shidou disse isso franzindo o cenho no formato do Kanji para oito

(八), Kotori formou uma expressão embaraçada enquanto acenava com a cabeça.

— Bem, isso é verdade, mas contanto que adquira um charme maduro,

você deve conseguir obter um apelo de uma mulher mais velha do que sua idade

verdadeira. É claro, se você realmente se tornasse uma adulta, os efeitos seriam

maiores, mas o esperado é que......

— ......Isso.

Enquanto Kotori falava, uma garota tímida levantou sua mão com medo

de ser ridicularizada.

— Talvez... talvez haja um jeito......?

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◇◇◇◇

— Hmm...... Uh......

Acompanhado por um pequeno gemido, Shidou vagarosamente abriu os

olhos.

Enquanto sua consciência estava vagarosamente despertando, pouco a

pouco os seus arredores estavam gradualmente se tornando visíveis.

Parece que os arredores continuavam bem escuros, com a luz do dia ainda

não permeando o local. Mesmo que naquele dia ele não tivesse planos para ir

para cama cedo...... naquele momento.

— ......Hmm?

Enquanto sua consciência ainda estava difusa, quando ele tentou se virar

em sua cama, Shidou franziu suas sobrancelhas.

......seu corpo não conseguia se mover.

Por um momento, ele pensou que aquilo era uma paralisia do sono...... mas

com certeza aquilo era uma sensação estranha. Pode se dizer que era como se

alguém estivesse agarrado a ele.

Um toque suave e quente, claramente alguém além dele estava em seu

futon.

— ............

Shidou silenciosamente suspirou depois de um momento de silencio.

Talvez aquele fosse um caso comum, ele devia ter suspeitado que estava

um sonho ou algo que lembrasse um fenômeno físico...... Seja para o bem ou para

o mal, Shidou já tinha alguma noção sobre o que estava lhe causando aquela

sensação.

— Origami......? Ou Miku? Não, talvez seja a Nia......?

Com os olhos semicerrados, Shidou sentiu a força que pressionava seu

corpo relaxando. Ao mesmo tempo, ele ergueu a capa do futon.

— Como esperado do Shidou.

— Como esperado do Querido.

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— Como esperado do Garoto.

— Uwaaah!?

Vendo as três pessoas embaixo do futon, Shidou soltou um grito de

espanto.

Ele não esperava que todas as três pessoas que ele tinha pensado estariam

juntas ali. Embora sua reação tenha sido mais por causa......

Mais do que tudo, as três estavam vestindo roupas sensuais como babydolls

e cintas-ligas.

— V-Vocês......?

Como resultado de não entender o que estava acontecendo, o rosto de

Shidou estava preenchido de perplexidade.

Mesmo assim, as três sorriram levemente, se aproximando para se

inclinarem sobre ele.

Enquanto Origami se levantava sobre sua barriga, Miku estava movendo

seus grandes seios da direita para a esquerda, prontos para pular e ataca-lo de

ambos os lados. Mesmo que ele tenha sentido eles tocarem sua pele agora a

pouco, ver esse gesto causou um sentido de tensão e excitamento completamente

diferente no cérebro de Shidou.

— Espera...... e-ei......

— Não se preocupe, Shidou, deixe seu corpo com a gente.

— Isso mesmo; nós, suas irmãs mais velhas, iremos cuidar bem de você.

— Sim, se você tiver essa experiência com nós primeiro, então você não

vai se sentir assustado depois, mesmo se for a Kurumin!

Com aquilo dito, as três se inclinaram para mais perto. Seus

comportamentos sensual e trajes divergentes fizeram o coração de Shidou pulsar

violentamente.

Mas......

95

96

— Para um homem, isso é realmente incrível. Há rumores que alguém

pode se tornar um mago sem ter experiências com uma mulher, mas para uma

pessoa se acostumar do nada a ser um sábio...... Ah, talvez seja porque antes disso

ele era um playboy. Um jovem playboy3!

Como resultado das piadas costumeiras de Nia, Shidou sentiu que a alta

temperatura emitida por sua cabeça se esfriou um pouco.

— ......Ah sério, mesmo que eu não tenha entendido o que vocês disseram,

me devolvam meu quarto!

Shidou soltou um grito, empurrando as costas de Origami e das outras

tentando tirá-las de seu quarto.

— Não há nada que possamos fazer. Vou ter que voltar mais tarde.

— Kya! Esse Querido agressivo também é muito bom!

— Eh, o que deu no Garoto agora?

Com cada uma delas expressando o que queriam respectivamente, o trio

saiu da residência dos Itsuka.

— Caramba......

Shidou soltou um ar de alivio, limpando o suor em sua testa com a manga

antes de reentrar no futon.

— ......Porém, ele não conseguiu dormir imediatamente.

Embora tenha somente meio adormecido, ele foi acordado pelo toque da

lingerie de Origami por debaixo do futon, fazendo seu coração acelerar.

Quando...

— ......Hmm?

Apesar de não saber quanto tempo se passou, Shidou de repente ergueu

suas sobrancelhas.

Do lado de fora da janela... por algum motivo, havia um pequeno som de

clique vindo da varanda.

— Mas que barulho é esse......?

3 Nota da tradução JP-EN: Playboy (遊び人) é uma piada com a classe Gadabout (Buscador de Prazer) de Dragon Quest 3, cuja uma das classes que ele pode se transferir é Sábio.

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Parecia que alguém estava batendo na janela. Shidou adotou uma

expressão aturdida enquanto vagarosamente se arrastava para fora da cama,

esfregando os olhos enquanto andava em direção a janela, sua mão logo agarrou

a cortina.

Porém, nesse momento, sua mão parou.

Devido a sua sonolência estar fazendo com que suas habilidades de

julgamento se reduzissem, Shidou não percebeu até aquele momento a

anormalidade da situação de que alguém poderia bater em sua janela durante o

meio da noite.

— Não pode ser, seria a Kurumi......?

Shidou torceu a sobrancelha enquanto sussurrava para si mesmo. Quem

poderia o visitar durante o meio da noite, sim...

— ............ Não, não necessariamente.

Relembrando os rostos das pessoas que tinham acabado de atacá-lo,

Shidou soltou um suspiro profundo...... É melhor dizer que comparado com a

Kurumi, a possibilidade de ser uma dessas três pessoas era consideravelmente

alta.

De qualquer forma, ele não conseguiria descobrir se continuasse daquela

forma. Shidou abriu as cortinas decididamente.

Porém.

— Hã......?

Não havia ninguém ali, ninguém fora da janela. Pelo contrário, quando

Shidou abriu as cortinas, mesmo a robustez do tecido tocando o chão quase não

pôde ser ouvida.

— Que estranho, eu tinha certeza de que......

Esticando seu pescoço, ele abriu a janela da varanda. Um ar frio atacou seu

corpo protegido pelo quente e confortável futon.

— Uh...... Que frio.

Enquanto ainda calçava seus chinelos, ele olhou para a vizinhança. Mas

mesmo assim não havia nenhuma silhueta suspeita ou até mesmo pássaros que

tinham acordado mais cedo.

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Se perguntando se não tinha sido um sonho, Shidou coçou sua cabeça e

fez um movimento para retornar ao seu quarto.

Então, naquele momento.

— ......Fufu, fufu.

— ......!?

Enquanto procurava pela origem daquela risada, Shidou sentiu seu corpo

tremer.

— Q-Quem está aí......?

Espantado com o som repentino de risada, Shidou olhou para os arredores

mais uma vez. Seguindo isso, várias vozes foram ouvidas uma atrás da outra.

— Ei, esse não é o Itsuka Shidou que mencionaram antes?

— Bem...... ele é bem comum. Isso é um pouco inesperado.

— É ele mesmo? Até que é bem bonito.

— M-Mas que diabos é isso......?

Com o rosto corado com um tom de confusão, ele olhou para a origem das

vozes. Porém, era como se seja lá o que for que ele estava vendo, não poderia ser

considerado uma pessoa.

Por um momento, Shidou pensou que ele estava conversando com um dos

clones da Kurumi escondido nas sombras. ......Não, não era isso. A voz que ecoou

pelos arredores era diferente da voz da Kurumi.

— Quem está aí!? O que você quer comigo!?

Shidou não pôde fazer nada além de chamar e sua voz ecoou pelo céu da

noite.

E então, como se o respondesse, risadas preencheram os arredores.

......Então, naquele instante.

Vários pedaços de papel caíram do céu.

— Papel......?

Shidou inclinou seu pescoço enquanto ia em direção ao pedaço de papel

para pegá-lo.

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Porém, no momento que suas mãos entraram em contato com o papel,

uma luz fosca iluminou a varanda......

— Baah!

Uma garota emergiu dali.

— Wa......!?

Como resultado da aparição repentina, Shidou caiu no chão de costas. As

garotas, que pareciam ter achado aquilo engraçado, soltaram risinhos de leve.

— Haha, isso foi tão surpreendente assim?

— V-Vocês são......

Shidou estava estupefato enquanto olhava os rostos das garotas.

Ouvindo aquela pergunta besta, Shidou imediatamente prendeu a

respiração. Apesar de estar semiconsciente, ele ainda ficou bem perturbado com

aquela visão. O impacto daquela cena era como despertar de repente.

Se aquela visão não for um sonho, nada poderia ser mais extraordinário

do que uma garota sair de um pedaço de papel.

Mas Shidou já tinha ouvido falar da existência daquela garota através de

Mana.

— Não pode ser, você é da DEM......!?

Quando Shidou começou a tremer, os papeis que pareciam ter sido

rasgados deram origem a garotas com o mesmo rosto, um a um.

Essa cena era igual a quando Kurumi revelava seus clones. Deparado com

um fenômeno que violava as leis e teorias do mundo, Shidou ficou

momentaneamente sem palavras.

— Hã, como sabe sobre a gente?

— Apesar que DEM é uma forma muito casual de se chamar.

As garotas fizeram beicinho de descontentamento.

Porém, Shidou não conseguia responder a elas.

Entre a miríade de vozes que vinham de todas as direções, uma das

garotas pronunciou algo que era difícil de acreditar.

100

— Sim, de qualquer forma, nós... também podemos ser consideradas

Espiritos.

Ela tinha dito aquelas palavras.

— O que...!?

Shidou arregalou seus olhos de espanto.

— E-Espíritos.....!?

Sim, a garota certamente tinha acabado de dizer isso.

A confusão fez a cabeça de Shidou girar. Era certamente possível que

aquela garota tinha o poder de se clonar igual ao de Kurumi, mas por que um

Espírito estaria trabalhando com a DEM que quer matar os Espíritos......?

Enquanto Shidou estava perdido em confusão, outra garota continuou a

falar.

— Ah, nós nos chamamos <Nibelcol>. Um bom nome, não acha?

— Bem, por termos sido criadas pelo Otou-sama, devemos ser um pouco

diferentes do que você está acostumado.

— O-O que quer dizer com isso......?

Ouvindo Shidou perdido em sua resposta, a garota <Nibelcol> encolheu

os ombros.

— Hehe, quer saber?

— Tudo bem te contar, mas não faz muito sentido, né?

— Sim, por que você...... vai morrer agora.

Então, como se fosse algo normal, as <Nibelcol> disseram essas palavras.

Aquela declaração não tinha nenhuma malícia, nem sequer um pingo de

intenção assassina. Foi dito como se fosse um cumprimento agradável que

fazemos quando saímos de casa depois de aceitarmos um pedido de ir comprar

alguma coisa. Como resultado do tom que foi direcionado a ele, não houve tempo

o suficiente para reagir.

— ......!

101

Mesmo assim, o tempo de reação ainda foi bem rápido comparado ao de

um aluno do ensino médio comum. Levado por nada mais nada menos do que a

experiência de ter sido exposto a várias situações de vida ou morte, Shidou

retirou seu corpo do chão, pulando da varanda para escapar de <Nibelcol>.

Porém......

— Hã......?

No momento seguinte, Shidou ouviu tal voz saindo de sua garganta.

Ao mesmo tempo, seu campo de visão começou a tremer violentamente,

seu corpo abatido caiu na varanda.

Olhando para a parte de baixo de seu corpo, Shidou finalmente percebeu.

......Seu pé, que ele tinha usado para tentar fugir, tinha sido perfeitamente

cortado fora.

— Guh...... AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!?

Ao perceber isso, uma dor tremenda atingiu Shidou, forte o suficiente para

fazer sua mente entrar em colapso.

Quase como uma ilusão piscando e estalando sob o negro céu da noite, a

violenta agitação de emoções e a tensão fizeram seu coração bater violentamente

enquanto seu sangue difusamente saia em abundancia do corte em sua perna.

— Você acha que pode escapar?

— Não, não, nosso pai nos pediu para fazermos isso.

— Você encontrará seu fim aqui.

As <Nibelcol> ainda falavam em tom casual.

Mas então, mesmo que seu sangue estivesse besuntado em uma poça de

sangue, suas sobrancelhas só podiam tremer fracamente em vez de se contorcer

devido a dor intensa.

— Hã......? Que incrível, o que é isso?

— Sua perna está queimando? É como se estivesse tentando grudar o pé

cortado de volta?

— Hmm...... Essa deve ser a habilidade regenerativa de <Camael>. Nada

mal.

102

As <Nibelcol> disseram com interesse observando aquela cena, assim

como crianças que encontraram um inseto raro no meio da estrada.

Para ter certeza, as chamas vacilantes estavam envolvendo o corte em sua

perna, apesar de não se saber como elas se acendeu. A sensação furiosa de

queimadura estava sendo sobreposta pela dor violenta. Tremendo de agonia,

aquela era a sensação que impiedosamente devastava seus nervos.

Porém, assim como <Nibelcol> tinha dito, as chamas também estavam

tentando reunir o membro decepado ao restante do corpo.

...... aquelas eram as chamas curativas possuídas pelo Anjo de Kotori,

<Camael>.

— Entendi, entendi, isso com certeza é algo complicado de se lidar.

— Un, algo está errado, ele não morre mesmo depois de ser morto.

— Bem, então, o pedido do Otou-sama não pode ser cumprido, o que

devemos fazer?

As <Nibelcol> inclinaram suas cabeças confusas enquanto olhavam umas

para as outras procurando uma resposta.

Mas no momento seguinte, as <Nibelcol> acenaram com a cabeça uma

para a outra mais uma vez antes de voltarem sua atenção para o corpo de Shidou.

— Bem, só há um jeito.

— Sim, só há um jeito.

— ......Vamos continuar te matando até você morrer.

No mesmo tempo que a <Nibelcol> disse isso, Shidou sentiu um tremendo

impacto atingir todo seu corpo.

— ......................!?

Seu campo de visão estava tingido de vermelho devido aos ataques

desferidos nele e uma dor cada vez mais intensa surgia.

A sensação de dor zunia pelo seu sistema nervoso, roendo todos seus

sentidos. Se não fosse pela proteção de <Camael>, uma pessoa comum já teria

morrido naquele momento.

Shidou não conseguia mais sequer gemer de sofrimento.

103

Mesmo querendo usar o Anjo do som, <Gabriel> para amenizar a dor... era

tarde demais.

As <Nibelcol>, sem nem um pingo de humanidade, atacaram cada

centímetro do corpo de Shidou, perfurando, quebrando, fatiando......

Finalmente, a consciência de Shidou foi mergulhada nas trevas.

◇◇◇◇

— ...... uwaaaaaaaaahhhhhh!?

Gritando como se sua garganta estivesse prestes a colapsar, Shidou pulou

de sua cama.

Alguns segundos depois, Shidou olhou ao redor e viu seu familiar quarto.

Pela janela, o sol já tinha se erguido no céu.

— ............!

Com esse breve momento, Shidou apressadamente começou a verificar

seu corpo.

Depois de usar suas mãos para confirmar que não haviam buracos em seu

peito ou abdômen e que seus pés não estavam cortados, Shidou exalou um

grande suspiro de alivio.

— ...... Até mesmo para um pesadelo aquilo foi aterrorizante demais, ei......

Quando ele disse isso, enquanto secava sua testa, sua manga ficou

encharcada de suor. Aquilo não estava no nível de uma simples transpiração

durante uma noite de sono. Era como se Shidou tivesse dormido sob uma

tempestade de uma floresta tropical.

Porém, aquilo não era surpresa. O pesadelo que Shidou estava tendo......

mesmo que ele não quisesse se lembrar dele, ainda assim isso acabava

acontecendo forçadamente. ......Enquanto refletia, seu corpo não conseguia parar

de tremer.

Afinal, quanta ansiedade era necessária para ter aquele tipo de pesadelo?

104

Shidou balançou sua cabeça como se estivesse tentando se livrar da dor

severa que ainda permanecia em sua cabeça. Ele então ficou de pé depois de

puxar o agora umedecido futon.

Com o vendo soprando contra seu peito, Shidou decidiu se dirigir para o

primeiro andar para tomar banho.

— ......Hmm?

No meio do caminho descendo as escadas, Shidou vacilou perto da borda

enquanto suas sobrancelhas tremeram. Um cheiro sedutor estava percorrendo o

primeiro andar, "ton, ton, ton"...... e o alegre som de uma faca de cozinha atingido

uma tábua de cortar podia ser ouvido.

Isso mesmo...... era como se alguém estivesse preparando o café da manhã.

— Kotori......?

Shidou sussurrou para ele mesmo enquanto esticava seu pescoço.

Aquilo era inevitável, já que somente ele e Kotori estavam em casa naquele

momento. Mesmo que o café da manhã...... ou qualquer outra refeição do dia

fosse basicamente seu trabalho, talvez ele estivesse atrasado devido ao pesadelo

e Kotori decidiu tomar a iniciativa de preparar o café da manhã ela mesma.

Porém, um sentimento desconfortável ainda permanecia no ar. A Kotori

podia manejar a faca de cozinha de maneira tão habilidosa assim......?

— ......Hã?

Vendo a figura na sala de estar, os olhos de Shidou se tornaram pequenos

pontos por causa da surpresa.

— ......Un? Ah, bom dia, Shidou.

A mulher, que estava sentada no sofá, acenou com a mão para

cumprimentá-lo.

Porém, Shidou não pôde devolver o gesto. Boquiaberto, ele só conseguiu

ficar olhando-a perplexo.

Mas não poderia ser diferente, quem estava sentada ali era Kotori, porém

ela parecia estar mais velha do que ele.

105

Uma grande contradição apareceu somente com um cumprimento.

Shidou, pensando que ainda estava sonhando, beliscou a si mesmo, somente para

descobrir que aquilo doeu.

A idade que ela aparentava ter era por volta dos vinte anos de idade. Com

mãos e pés esbeltos assim como um rosto maduro, ela não tinha penteado seu

cabelo em rabos-de-cavalo duplos, mas em vez disso, seu laço preto estava preso

em seu pulso.

Porém, o que era mais destacado era seu peito. Os seios de Kotori, que

normalmente eram modestos para uma garota de sua idade, haviam se

expandido em um grau nada natural.

E que Onee-san era Kotori, que estava sentada no sofá, vestindo somente

uma camisa pouco abotoada e assistia TV de forma despreocupada. Daquela

forma, não importa como ela se parecia, sua aparência tinha o charme de uma

secretária que estava se preparando para ir trabalhar.

— O que aconteceu, o que é isso? ......Ah, você está fascinado pelos pés da

sua Onee-san? Ei, no final das contas Shidou é um garoto também.

Enquanto Shidou estava com os olhos arregalados pelo choque, Kotori

mostrava um sorriso malicioso e deliberadamente ergueu sua perna. Espiando a

bainha de sua camisa e as radiantes e lindas pernas dela, Shidou não conseguiu

evitar de prender sua respiração.

— ......! N-Não, não é isso! Kotori...... certo? Não, não, mas o que diabos

está acontecendo......?

— Hã? O que foi agora?

— Não, mesmo que seu corpo tivesse crescido de repente, seus seios estão

anormais demais...... Gaha!?

No meio da fala, Kotori atirou uma almofada nele. O corpo de Shidou se

inclinou para trás.

— Shidou-san.

Enquanto Shidou estava esfregando o nariz que tinha sido diretamente

atingido pela almofada, outra voz veio da cozinha.

Olhando para lá, ele viu Yoshino, que mostrava o mesmo tipo de

crescimento, preparando o café da manhã.

106

Com o cabelo preso em um rabo de cavalo e um avental simples, ela

parecia exatamente com uma dona de casa jovem.

Em adição a isso, havia a figura de três pequenas garotas próximas das

pernas de Yoshino. Depois de ficar confuso por um momento, logo ele percebeu

que elas eram Origami, Miku e Nia depois de terem sua aparência reduzida em

tamanho. Por algum motivo, havia uma placa pendurada em seus pescoços onde

estava escrito "Sentimos muitos por nos esgueirarmos".

— Um erro de cálculo, mas eu não vou desistir. Quem disse que pessoas

com aparência jovem não podem ser irmãs mais velhas?

— Ya! Por que tivemos que ficar menores?! Eu também queria seduzir o

Querido!

— Ahhh, bem isso é mais fácil para pessoas que tem algo contrastante para

mostrar. A causa de nossa existência é um exemplo. Uma jovem mulher comum

não seria capaz de mostrar atributos de uma esposa?

— Wa......!? I-Isso é realmente......!

Depois de ouvir Nia, Miku por algum motivo parecia que tinha recebido

algo parecido com uma revelação divina. Depois disso ela fez um olhar mimado

enquanto se agarrava às pernas de Yoshino.

Yoshino deu um sorriso torto enquanto ela gentilmente acariciava a cabeça

de Miku. Shidou observou enquanto suas linhas de visão se cruzavam. Em sua

mão esquerda, o fantoche em forma de coelho <Yoshinon> (que por algum

motivo desconhecido estava com um bigode falso anexado a ele) acenou para ele

com um leve aceno.

— Shidou, parece que a mamãe quer que você experimente isso. A

propósito, eu sou o pai.

— Isso...... Por favor, você pode fazer isso? Não, seria isto impossível......?

— Hã......? A-Ah......

Apesar de ainda não entender nada, Shidou caminhou obedientemente

para onde foi solicitado. Então, ele pegou o pequeno prato nas mãos de Yoshino,

provando o sabor da sopa de missô.

— Un...... está delicioso. O sabor do caldo da sopa está bem acentuado.

107

108

— Sério? Isso...... Isso é muito bom.

Yoshino mostrou um leve sorriso.

Ela estava diferente da Yoshino de sempre, transbordando uma atmosfera

graciosa e inclusiva. O coração de Shidou disparou involuntariamente.

Porém, Shidou imediatamente reconsiderou enquanto balançava sua

cabeça de um lado para o outro.

— ......Isso, não, não, não é assim. O que é isso, para começar? Isso por

acaso não é um sonho, é!?

Quando Shidou disse isso, uma pequena Origami se aproximou dele e deu

uma resposta.

— É parte do treinamento.

— T-Treinamento......?

— Sim, para que no próximo dia 14, Shidou esteja com a resistência afiada

ao charme tentador da Tokisaki Kurumi.

— Afiar minha resistência...... Como supostamente eu faria isso?

— Você deve seguir sua rotina normal. Porém, nós estaremos

monitorando as batidas de seu coração e níveis de excitação. Para se certificar que

eles não excedam um certo valor, eu quero que você mantenha a batida de seu

coração sobre controle.

— Ha......

Shidou coçou seu rosto enquanto devolvia uma resposta vaga. Então,

Kotori adicionou algo por trás dele.

— Ah, haverá uma penalidade apropriada, então não se preocupe, ok?

Cada vez que sua excitação estiver acima dos níveis desejados por mais de dez

segundos, uma ilustração rascunhada por Shidou no passado serão upados na

SNS.

— Droga, eu pensei que não tinha tantas delas recentemente!

Enquanto Shidou gritava com uma voz estridente, Kotori meramente riu.

Ela parecia exatamente com uma irmã mais velha mexendo com seu irmão.

109

Mesmo que seja falso dizer que não havia alguma dessatisfaçam, ele sabia

por experiência própria que nada poderia ser feito contra isso. Shidou suspirou

enquanto se virava para Origami.

— ......Então, por que Kotori e Yoshino se tornaram irmãs mais velhas?

— Estamos nos aproximando do Shidou como irmãs mais velhas para ver

como seu coração responde a isso.

— Desculpa, mas isso também é para testar meus limites?

Enquanto Shidou não conseguiu deixar de gritar isso, Origami acenou

com a cabeça.

— Então, está tudo bem mesmo que você esteja quase sendo forçado a isso.

— I-Isso, para falar a verdade, é também uma questão de ser estrangulado

pelos limiares da vida...... e até mesmo tem uma certa sensação de vida ou morte

em nível social......

— Então é isso?

No breve momento que Origami falou, ela estalou seu dedo anelar.

Reconhecendo esse sinal, Nia e Miku pegaram a bainha do vestido de

Yoshino, o puxando de uma só vez.

No instante seguinte, o lado esquerdo e direito se removeram, deixando

somente o avental. A esposa casta se transformou na cara da noite em um piscar

de olhos.

— Ki-ya......!

— O que......!?

Por isso ter acontecido de repente, Shidou não conseguir deixar de ficar

com os olhos rolando. Porém, Shidou não foi o único a ficar surpreso. Yoshino,

cujas bochechas estavam coradas com um tom vermelho vivo, caiu no chão.

Ele estava pressionado contra uma aproximação de uma irmã mais velha

totalmente diferente de antes, mas um odor de sedução imoral fez com que o

corpo de Shidou involuntariamente permanecesse congelado no lugar.

Em um instante, uma buzina em algum lugar da sala soou um som de

bipe. Parece que o coração Shidou acelerou acima dos parâmetros aceitáveis.

110

— Ugu......!

De alguma forma, ele apressadamente diminuiu a velocidade das batidas

de seu coração. Shidou rapidamente mudou sua linha de visão e rapidamente

pegou um agasalho que estava pendurado numa cadeira para cobrir os ombros

de Yoshino.

Porém, no instante seguinte, a próxima assassina apareceu diante do

campo de visão de Shidou.

— Shidou...... Não é isso! Itsuka-kun! A aula está prestes a começar......!

Ele não percebeu por quanto tempo ela estava ali, mas diante dele estava

uma Tohka estilo professora usando óculos e uma roupa que enfatizava suas

curvas.

Desnecessário dizer que ela parecia ser mais velha que Shidou, seu corpo

cresceu para o de uma mulher de 20 anos. Mas mesmo que o tamanho da roupa

seja um pouco pequeno, as excepcionalmente sensuais linhas de seu corpo

estavam fortemente enfatizadas, influenciando os olhos de Shidou a

instintivamente pousarem sobre a área dos seios.

— Muu, o que foi, Itsuka-kun?

— Ah, não......

Enquanto desviava seu olhar, Shidou tossiu duas vezes para encobrir esse

assunto.

De frente com Shidou, Tohka soltou uma expressão confusa. Mesmo que

seu corpo esteja utilizando o erotismo como arma, a pessoa em questão não

estava consciente disso. Essa diferença fez o coração de Shidou ficar ainda mais

abalado.

Porém, Tohka não pareceu ter percebido isso. Enquanto andava em ritmo

como uma modelo, ela guiou a mão dele para se sentar na mesa, puxando uma

cadeira.

Então, ela colocou outra cadeira para se sentar ao lado dele, posicionando

seu corpo para abraça-lo.

— H-Hmm......?

— Agora, Itsuka-kun, a aula da Tohka-sensei vai começar. Com meu......

mu?

111

Tohka inexplicavelmente franziu a sobrancelha, pegando um bloco de

anotações em seu bolso para reler o que estava escrito nele.

— Ah, sim. Vamos começar nossa aula extracurricular proibida. Está

preparado? Err, primeiro com higiene e educação física, estames e pistilos são......

— Quem determinou os papéis de vocês?!

Shidou deu um grito cheio de frustração enquanto vigorosamente se

levantou da cadeira.

— Mu, onde está indo, Itsuka-kun?!

— V-Vou só lavar meu rosto......!

Shidou correi para o banheiro para acalmar tanto suas bochechas coradas

quanto o fluxo de sangue que corria em sua cabeça. O alarme desde o começo

estava tocando incessantemente. Não importa o quão ruim estava, ele tinha que

acalmar suas emoções primeiro.

— O quê......!?

Porém, ao abrir a porta, Shidou se sentiu enrijecido novamente.

O motivo era simples. Natsumi estava em pé ali vestindo somente uma

toalha.

Desnecessário dizer que aquela Natsumi não era a Natsumi de sempre.

Era a Natsumi que tinha uma aparência adulta quando ela usava seu Anjo

<Haniel>.

Pego pela confusão, ver aquela figura fez com que Shidou finalmente

tivesse uma ideia do motivo para Kotori e as outras estarem transformadas.

— Ara......?

Natsumi cumprimentou ele com um sorriso enquanto desviava seu olhar.

Como resultado de ter acabado de tomar um banho, seu cabelo molhado

ainda estava agarrado a sua pele branca e sedosa. Talvez não havia nada mais

estimulante do que aquela cena.

— Ufufu, bom dia, Shidou-kun. Que lamentável, alguns minutos antes e

eu não teria uma toalha cobrindo meu corpo.

— ......! Você, o que está dizendo......?

112

Com essas palavras inesperadas, o rosto corado de Shidou ficou ainda

mais vermelho. Então, com uma expressão maliciosa, Natsumi acariciou o queixo

dele com a ponta dos dedos.

— Ou você ficou esperando para poder tira-la você mesmo? Fufu...... que

safadinho.

Enquanto dizia isso, Natsumi pegou a mão de Shidou e a levou até seu

peito.

— Espera......!?

Shidou puxou de volta sua mão em pânico. Porém, como resultado da

força excessiva, o movimento fez com que ele caísse para trás.

— Auu!

Tendo batido a sua nuca, as bochechas de Shidou estremeceram de dor

enquanto ele gentilmente coçava essa área.

Naquele ponto, a sombra de uma figura de repente apareceu o ignorando.

— O quê......!?

Com uma respiração errante, os olhos de Shidou forçadamente se

arregalaram.

Isso mesmo, quem apareceu ali foi Kaguya, vestindo um casaco branco

sobre suas vestes, fazendo ela se parecer com uma médica. Por sua vez, Yuzuru

estava parecendo uma enfermeira com um perigoso vestido curto.

— Kuku, o que foi? Alguém se machucou? Deixe-me dar uma olhada.

— Identificação. Kaguya, mesmo depois de finalmente se transformar em

uma adulta com os poderes da Natsumi, isso acabou sendo desperdiçado pelo

jeito que você fala.

— ......! Q-Que irritante! O jeito que a Yuzuru fala também não é a mesma

coisa?

E dessa forma, as duas começaram a brigar por algo trivial.

O problema não era isso, o problema era que... as duas estavam discutindo

enquanto vestiam vestidos curtos em cima do rosto de Shidou que estava no

chão.

113

— ............!

Enquanto a sirene soava afiadamente, Shidou desajeitadamente ficou de

pé e saiu andando pelo corredor.

De qualquer forma, ele tinha que acalmar as batidas de seu coração

primeiro. Então, ele planejou passar correndo pela entrada e ir para fora.

Porém, havia a sombra de outra pessoa ali, como se estivesse querendo

enfatizar a identidade de quem estava de guarda na porta.

— Mun. Para onde vais, Nushi-sama?

— Mukuro......!?

Então, Mukuro, que também teve seu corpo transformado no de uma

adulta assim como todas as outras, esticou suas mãos para bloquear a entrada

enquanto vestia um quimono.

Mas não era um simples quimono. Com um padrão deslumbrante

envolvido por uma faixa em conjunto com ombros audaciosamente expostos,

esse era o que chamam de quimono de cortesã.

— Bem, ah......

Mukuro, tendo crescido através dos poderes de Natsumi, teve seu corpo

sensual aprimorada a níveis destrutivos, comparável a uma ogiva nuclear. Passo

a passo, ela marchou para frente de forma sedutora.

A sirene estava soando mais alto do que antes. Shidou parou a

aproximação de Mukuro e abriu a porta para escapar para fora.

......Porém.

— Mun, por obséquio pare, Nushi-sama.

— Quê!?

No momento em que ele abriu a porta, por trás, Mukuro agarrou a bainha

de sua calça, fazendo-o cair para frente.

Porém, ele não caiu no chão.

Para ser preciso, seu rosto estava atualmente afundado nos seios de uma

pessoa que estava de pé diante da porta que foi aberta.

— O que...é... hã!?

114

— ......Hmm?

No meio da turbulência dentro de sua cabeça, Shidou ouviu uma voz

quieta vindo de fora. Cuidadosamente erguendo sua cabeça, ele descobriu que

aquela pessoa era a analista oficial da <Ratatosk>, Murasame Reine.

— R-Reine-san......! Me desculpe......

— ......Ah.

Mas antes de Shidou terminar, Reine pareceu ter entendido o que estava

acontecendo e levemente acenou com a cabeça. Então, ela colocou sua mão na

nuca de Shidou. Mais uma vez, seu rosto foi afundado nos seios dela enquanto

ela gentilmente acariciava sua cabeça.

— ...... Fique melhor.

— ...........!?

Enquanto o interior da cabeça de Shidou estava cheio de confusão e

vergonha, ele ouviu uma exclamação de "Oh" vindo dos Espíritos atrás dele junto

com o som de uma salva de aplausos.

◇◇◇◇

Muitas horas se passaram depois da comoção na residência dos Itsuka.

Com a ajuda do <Haniel> de Natsumi, Kotori e as outras tiveram suas

aparências recuperadas. Eventualmente, elas chegaram em uma loja

especializada em confeitaria na rua principal da Cidade Tengu.

Enquanto olhava para todos, Kotori colocou sua mão em sua cintura

enquanto falava.

— Certo, pessoal, olhem para isso. No primeiro treinamento do Shidou,

graças a ajuda de todos, nós atingimos certos resultados.

Quando Kotori disse isso, Nia e Miku falaram algo em tom de sussurro.

— Sério, hein? Eu acho que os resultados foram obtidos pela Reinechino.

— Teria sido melhor se nós tivéssemos participado dessa batalha também.

115

— Uhn-uhn!

Como se tivesse ouvido elas, Kotori irritadamente clareou sua garganta

para chamar a atenção delas.

— Então, eu acho que devemos partir para nossa próxima estratégia.

Sim, esse também é o motivo para Kotori e as outras estarem visitando

esse local.

Elas estavam lá...... para fazer chocolate caseiro para entregar ao Shidou

no dia 14.

— Procurem por qualquer material que gostarem. Mesmo que só o

mínimo do mínimo tenha sido explicado, se vocês ainda não souberem o que

comprar, sintam-se livres para perguntar a mim ou a Reine. Tá bom?

— Umu!

— Sim......!

— Entendido.

Com a resposta dos Espíritos, todas elas se espalharam pela loja. Kotori

soltou um "Bem, agora..." enquanto via elas saírem de perto.

— Vamos lá também.

— ......Ah, tudo bem.

Quando Kotori disse isso, uma resposta veio por trás dela vindo de Reine.

Naquele momento, Reine não estava vestindo nem o uniforme da

<Ratatoskr> nem o jaleco do laboratório da escola. Em vez disso, ela estava

vestindo uma túnica elegante e colorida, com o rosto de um urso de pelúcia com

uma marca característica em seu rosto preso em seu bolso. De alguma forma,

aquilo dava uma sensação absurdamente surreal.

Não foi coincidência ela ter visitado a residência dos Itsuka.

Originalmente, Kotori tinha pedido a ela para supervisionar o material

selecionado e a produção dos chocolates.

— Bem, então. Primeiro temos que começar com o material básico para o

chocolate......

Enquanto murmurava, Kotori andou para a área interna da loja com Reine.

116

Aquela era a hora onde a loja deveria estar no pico da temporada. Uma

grande variedade de chocolates estavam alinhados lado-a-lado nas prateleiras.

Haviam até mesmo alguns pôsteres espalhafatosos com receitas de chocolates

caseiros.

— Hehe, há tantos tipos diferentes aqui.

De qualquer forma, diferente dos produtos pré-fabricados que eram

vendidos em lojas de conveniências e outros lugares, pacotes transparentes

foram utilizados para se certificar que a lista de ingredientes estava presente

neles. Parece que a porcentagem de cacau e a área distribuída variava em cada

produto. Quando vistas de longe, essas palavras poderiam emular um lindo tom

gradual.

Em frente às prateleiras estavam cinco garotas. Elas eram Tohka, Yoshino,

Natsumi, Kaguya e Mukuro, respectivamente. Cada uma delas as olhava com

olhares sérios, avaliando as prateleiras com cuidado.

— E então, pessoal? Alguma coisa chamou a atenção de vocês?

Ouvindo a voz de Kotori, Tohka abruptamente se virou.

— Oh, Kotori. Muu...... tudo parece muito bom, mas tem tantos.

— Sim...... eu não sei qual deles é o melhor.

— E algum deles parecem simples demais.

— Hmm, honorável irmã, o que demarca o cacau Venezuelano do

Colombiano?

— Err............?

Ao ser questionada por Mukuro, Kotori sentiu suor frio escorrer por sua

testa.

Embora possa ser considerado "caseiro", a experiência de Kotori fazendo

chocolate se limitava a ajudar sua mãe em algumas criações deformadas vindas

de um kit para produção caseira vendido comercialmente. Era impossível para

ela dizer algo tão avançado como a diferença de sabores entre as diversas origens

do chocolate.

Todavia, apesar de não entender completamente do assunto, ela tinha que

responder por causa do que ela tinha dito antes.

117

Um pouco confusa, os olhos de Kotori se afundaram enquanto se

reviraram.

— Er... bem, é que...

Então, naquele momento, parecendo ter notado que Kotori estava em

apuros, uma mão pousou sobre o ombro de Kotori... era Reine.

— Reine...?

— ......Hmm.

Depois de dar um aceno com a cabeça que parecia estar dizendo "Deixe

isso comigo", ela se virou para olhar a todos.

— ......Entre os grãos de cacau, o aroma mais saboroso vem da variedade

Criollo, o que tem a resistencia mais forte é o Forastero, e tem também a variedade

Trinitario, que possui um pouco de cada vantagem...

— ......M-Muu.....?

Ouvindo a explicação de Reine, Tohka fez uma expressão confusa.

Não, não somente Tohka, as outras três também estavam com expressões

atordoadas.

No entanto, parece que Reine tinha previsto tais reações delas. Ela esticou

se dedo e o apontou para cima enquanto continuava.

— ......Em vez de tentarem distinguir os grãos de cacau, será mais fácil

aprenderem sobre as proporções de cacau e leite. Não seria errado pensar que o

chocolate de cor escura é o amargo e o claro o mais doce.

— O-Oh, entendi.

Enquanto Tohka exclamava com seu punho batendo na palma de sua mão,

ela se virou mais uma vez para a estante de exibição. Yoshino, Natsumi e Mukuro

fizeram o mesmo e também começaram a decidir a cor do chocolate.

— Me desculpe sobre isso, você foi de grande ajuda.

— ...... Não tem problema.

Quando Kotori disse isso, Reine mais uma vez voltou sua atenção para ela.

— ......Mais do que isso, Kotori, que tipo de chocolate você quer preparar?

118

— Bem...... honestamente eu ainda não sei. Apenas derreter o chocolate em

uma forma não é algo complicado, mas acho que não posso lidar com métodos

mais delicados.

— ......Hmm, eu não acho que é necessário pensar em questões tão

complexas. Depois de solidificar, decorar com chocolate branco deve ser o

suficiente para mostrar alguma individualidade. Mesmo sendo algo cliché, o que

importa é o sentimento que carregam.

— Un...... será que esse é o caso?

— Ah, mas escuta, quando damos chocolates, usar etapas simples no

processo de cozimento deixa o homem inconfortável?

— ......!

Depois de escutar isso, os olhos de Kotori se arregalaram de surpresa e

uma gargalhada saiu de sua boca.

— Isso mesmo, certamente parece que meu pensamento é complicado

demais.

De fato, se fosse o Shidou, não importa que tipo de chocolate seja, ele

ficaria feliz de aceitá-lo.

— Obrigada Reine.

— ......Oh.

Enquanto Kotori agradecia a Reine, Tohka e as outras estavam pegando o

que elas precisavam nas prateleiras. Tohka tinha escolhido chocolate ao leite com

uma boa quantidade de doçura e o colocou no seu carrinho de compras.

Naquele momento, seus olhos se voltaram para a área ao lado.

Naquele lugar haviam muitos materiais para decorar doces, tais como

canudos de chocolate e docinhos confeccionados em formato de coração.

Quem estavam do outro lado eram as irmãs Yamai. Segurando miçangas

prateadas e folhas douradas comestíveis em suas mãos, seus olhos brilhavam

com um "Oooh" de admiração.

— Hã? Que enganação, como se come isso? Isso é um embrulho de papel?

— Confirmação. Está escrito que é comestível na embalagem.

119

— Verdade......? K-kuku... se existe tal coisa, isso pode fazer minha cruz

fosforescente aparecer nesse mundo......

Um sorriso maligno surgindo no rosto de Yuzuru enquanto ela segurava

as folhas douradas em suas mãos.

Enquanto Kotori sorria amargamente com essa visão, ela ouviu as vozes

de Miku e Nia a chamando do outro lado.

— Kotori-san, Reine-san. Eu tenho um chocolate em mente, mas que tipos

de materiais preciso coletar?

— Ah, mesma coisa aqui. Eu sou uma negação quando se trata de

cozinhar.

— O que vocês querem fazer?

Ouvindo Kotori perguntar isso, Miku e Nia fizeram um gesto com as mãos

e continuaram a falar.

— Bem, acho que quero fazer algo pegajoso em temperatura ambiente, um

tipo de chocolate que não se solidifica...... ah, mas que também não esteja

perfeitamente em estado líquido. Em especial, eu quero uma viscosidade que

possa ser aplicada em meu corpo.

— E eu quero do tipo que faça o vigor juvenil do Garoto aumentar 100

vezes ao comer. Mas o que devo colocar nele? Quem sabe uma tartaruga de casco

mole?

— Façam chocolates comuns!

Kotori deu um grande suspiro depois de dar uma bronca nas duas.

Para começar, Miku e Nia deviam ser as mais velhas entre os Espíritos.

Porém, Kotori sentia como se tivesse lidando com duas crianças crescidas.

Naquele momento.

— ......Hmm?

Percebendo algo ali, Kotori de repente olhou para os arredores.

Seja perto dos chocolates ou das prateleiras de decorações, tinha um

Espírito cuja localização ela não conseguiu encontrar.

— ......Ei, para onde está indo, Origami?

120

Depois de procurar primeiro na sessão de embalagens e laços, ela pensou

em procurar por volta da entrada da loja.

Então, ela viu Origami voltando da loja de produtos para o lar que ficava

do lado oposto ao da confeitaria onde Kotori e as outras estavam.

— ......Hmm?

Kotori franziu as sobrancelhas quando ela viu Origami voltar à confeitaria

com uma sacola de compras em suas mãos.

— Bem, onde você esteve? Você deveria saber que viemos aqui para

fazermos os chocolates.

— É claro que sei. Eu fui procurar alguns itens necessários.

Falando com total autoconfiança, Origami mostrou a sacola para Kotori.

Quando olhou dentro dela, ela viu que lá havia vários rolos cilíndricos

usados para embalar alguma coisa.

— ......O que é isso?

— Silicone.

— ......E para o que você vai usar isso?

— Moldagem.

— .............O que você vai moldar?

— Eu mesma.

Origami respondeu a ela sem qualquer pingo de hesitação.

Com essa resposta breve, Kotori finalmente entendeu o que ela estava

pensando. ...O ponto de Origami era que ela queria criar um chocolate em forma

de Origami do tamanho da original.

Kotori soltou um suspiro ainda maior como se estivesse exausta.

— ......Não, por favor, pare. Não importa quão tolerante ele seja, até mesmo

o Shidou recusaria uma coisa dessas.

— Mas essa é a única forma de combater a Tokisaki Kurumi.

Origami proferiu com uma expressão extremamente séria. Olhando para

aquele rosto, parecia que ela tinha pensado naquilo de todo coração. Obviamente

121

ela era bem inteligente, mas o que levou ela a ter essa ideia? Kotori não conseguia

entender.

Mais uma vez, Reine fez uma expressão como se estivesse dizendo "Deixe-

isso comigo" antes de dar um passo à frente.

— ...... De fato, você pensou em algo incrível Origami. Porém, há um

problema.

— Problema?

— .....A quantidade. O volume do corpo humano é imenso. Naturalmente,

o gentil Shin nunca iria desperdiçar um presente desses. Como resultado, ele

obviamente iria consumir carboidrato em excesso dentro do prazo de validade

do chocolate.

— ............!

Os olhos de Origami ficaram arregalados depois de ouvir as palavras de

Reine.

— Eu não tinha chegado a essa conclusão. Que vergonha.

— ......Isso porque você só está pensando no Shin. Mas agora, devemos

fazer isso de uma forma que levemos a saúde do Shin em consideração.

Ouvindo isso, Origami gentilmente concordou com a cabeça.

— Eu vou fazer isso. Diminuir o tamanho sem perder a qualidade é um

trabalho difícil, precisaremos de uma impressora 3D o mais rápido o possível.

— ............

Os olhos de Origami estavam cheios de determinação enquanto ela

apertava seu punho. Olhando isso, Reine só pôde permanecer calada, coçando o

rosto.

Kotori suspirou enquanto colocava as mãos nos ombros de Reine.

— Mesmo que seja um feriado esperado a muito tempo, nós realmente

estamos te dando trabalho. Reine...... seu salário será aumentado então por favor

me perdoe.

— ......Não, eu não me importo. Eu planejava ir as compras também, já que

tem alguns materiais aqui que preciso comprar.

122

Reine disse isso cheia de seu tom sonolento de sempre.

Com essa resposta inesperada, os olhos de Kotori se tornaram esferas

circulares completas.

— Reine, você também vai fazer chocolate? Pra quem você vai dá-lo?

— ......Hmm? Bem, para todos que têm cuidado de mim no meu dia-a-dia,

para a equipe da <Fraxinus> e os colegas de trabalho na escola. Eu gostaria de

preparar para o Shin, mas ele já vai estar com as mãos cheias do que ele irá receber

dos Espíritos, não é?

Reine falou com uma mão pousada no queixo, como se tivesse em um

profundo pensamento.

Kotori soltou um pequeno som de "hah" enquanto encolhia os ombros.

— Por que essa lista de caras? E eu pensando que a Reine tinha encontrado

alguém especial para dar o chocolate.

— ......me desculpe por não corresponder suas expectativas. Mas dessa

vez, não tem nada a ver com isso.

Reine gentilmente exalou o ar enquanto dizia isso.

Kotori olhou para cima para mais uma vez olhar para o rosto dela.

Ela tinha braços e pernas esbeltos com um busto volumoso sem igual.

Apesar dos círculos negros que envolviam seus olhos parecem nada saudáveis,

eles eram compensados por seus amáveis atributos faciais.

Engenhosa e inteligente, ela era capaz de lidar com qualquer coisa

perfeitamente. Mesmo sendo mais velha que Kotori, ela era uma mulher madura

que tinha a capacidade de construir uma amizade confortável com ela sem

parecer modesta ou autoritária.

Se alguém fosse pedir para Kotori listar mulheres que ela gostaria de ser

igual, então Reine seria sem dúvidas uma das selecionadas. O mundo dos

homens com certeza não ignoraria uma mulher dessas, mas ela nunca tinha

ouvido Reine falar algo sobre romance antes.

— Recentemente......

— ......Hmm?

123

Quando Kotori repetiu as palavras de Reine, Reine se virou para Kotori

enquanto lentamente inclina a cabeça.

— Isso me lembra que que nunca ouvi Reine falar algo sobre esse assunto

antes. Você já teve algum no passado, algo como um amado?

— .....Bem.

Enquanto os olhos de Kotori faiscavam de curiosidade, Reine coçou a

cabeça como se estivesse um pouco desconsertada.

Essa era de fato uma reação rara. Kotori não pôde deixar de sentir prazer

com essa situação e os cantos de sua boca formaram um sorriso enquanto

vagarosamente andava para o lado de Reine.

Percebendo agora, Kotori viu que o raro assunto sobre amor fez com que

os Espíritos se reunissem ao redor delas, escutando-as atentamente. Mesmo

sendo Espíritos, todas elas eram adolescentes que mostravam um interesse

natural nesse tipo de história...... Bem, havia aquelas como Tohka que só vieram

porque as outras tinham se reunido ali. O modo de pensar desse tipo de pessoa

não era algo impossível.

— Diga, não vai doer. Vamos, vamos, anda logo e conte os fatos.

Kotori disse em tom animador como se estivesse representando todas que

estavam ali. Em resposta, Reine deu um suspiro audível como se tivesse

mostrando que desistiu.

— ......Ah, bem, isso mesmo. Houve...... uma pessoa.

De alguma forma, ela parecia um pouco melancólica enquanto olhava para

cima e falava isso. Os Espíritos, profundamente intrigados por essa questão,

disseram todas "Oh......" ao mesmo tempo.

— Ah, entendi. Se for a Reine então deve ser mais do que bem-vindo, né?

— Certo, você tem um bom homem? Então diga, não tem nenhum

fofoqueiro aqui, não precisa ficar com vergonha.

— ......Isso, como posso dizer, eu não acho que seja o que está pensando,

ser favorecida pelo sexo oposto.

Reine disse ambiguamente como se quisesse se encobrir.

124

Kotori deu uma exclamação de "tudo bem" para se sobressair sobre o

tumulto antes de continuar.

— Fala mais sobre ele, que tipo de pessoa era ele? Ter alguém como a

Reine, com certeza ele deve ser uma pessoa muito boa, certo?

— ......Isso mesmo. Ele era...... uma pessoa gentil. Uma pessoa muito gentil.

Refletindo enquanto se repetia, Reine gentilmente fechou os olhos.

— ......Eu ouso dizer que eu nunca serei capaz de amar alguém além dele.

Ele sempre será meu primeiro e único amor.

— ............

Palavras cheias de sofrimento interromperam as perguntas de Kotori por

um momento.

Mas Kaguya, que não percebeu o clima, inclinou a cabeça de curiosidade.

— ...... Err, então por que se separaram? Se você ainda sente isso por ele......

— ......Ei!

Kotori soltou uma breve interjeição para fazê-la parar de falar. Tendo

finalmente entendido o que estava acontecendo, Kaguya desviou os olhos como

se quisesse se desculpar de ter falado tanto.

...... Da forma que Reine estava falando, parece que foi uma história que

ficou no passado. Porém, mesmo agora, parecia que Reine ainda pensava nele.

Dizer que saber a origem dessa história seria chato seria uma mentira.

Porém, ficar bisbilhotando esse assunto dessa forma seria desrespeitoso. Kotori

respirou profundamente antes de soltar um simples pensamento que veio de seu

peito.

— Que amável.

Ao ouvir essas palavras, os olhos de Reine se abriram de surpresa.

— ...... então é isso mesmo?

— Sim, essa pessoa deve estar feliz que você esteja pensando nela.

Enquanto Kotori dizia isso, os outros Espíritos não hesitaram em acenar

todas juntas para mostrar consentimento.

125

— Sim...... eu acho isso lindo.

— Aprovação. É incrível que a Reine tenha um passado tão adorável.

— Ei, a realidade é bem mais estranha que os mangás. A esse respeito, uma

história real é incomparável com uma história fictícia. A realidade vai te atacar

sem qualquer presságio ou desenvolvimento.

— Ufufu...... mas que história adorável, é um pouco invejável.

...... Naquele momento.

Enquanto todos estavam falando alto, Kotori ouviu algo de algum lugar

que fez suas sobrancelhas tremerem.

Levou cerca de três segundos para Kotori se recordar daquela voz, seu

corpo instantaneamente ficou tenso enquanto ela se virava.

— Kurumi......?

Isso mesmo, por mais que nãos e soubesse por quanto tempo ela estava lá,

o Pior Espírito, Tokisaki Kurumi, estava de pé ali.

— O quê......?

— ......

Por ter ouvido a voz de Kotori, ou talvez por ter percebido sua presença

antes de Kotori, os outros Espíritos ficam com expressões de alerta total.

Porém, Kurumi não pareceu ter ficado nem um pouco em pânico ao ver a

reação dos Espíritos. Ela somente sorriu alegremente.

— Ara, ara, o que está acontecendo pessoal?

— ......Nada, eu só fiquei surpresa de você ter iniciado a conversa.

As narinas de Kotori fizeram um som de "hun" enquanto ela realinhava

sua postura e respondia a ela com um tom destemido.

Olhando cuidadosamente, Kurumi não estava vestindo seu Astral Dress.

Em vez disso, ela estava vestindo um lindo casaco monocromático.

Até onde se podia saber, aquela não era uma situação de batalha...... mas

só enquanto se olhava somente a superfície.

— Então, Kurumi. O que está fazendo? Você veio atrás de algo?

126

Enquanto Kotori cruzava os braços e questionava, Kurumi bateu as

palmas das mãos como se tivesse se recordando de algo.

— Ah sim, eu vim fazer compras.

— Compras?

— Isso...... Eu estava pensando sobre os arranjos de materiais para

preparar o chocolate que darei ao Shidou-san.

— ......!

O comentário de Kurumi causou um alvoroço entre os Espíritos.

Mas isso com certeza estava dentro do esperado. O dia 14 foi escolhido

como o dia da batalha decisiva e o feriado especial do Dia de São Valentim

enriquecia esse embate.

Naquele momento, Kurumi percebeu algo enquanto piscava os olhos.

— É possível que todas vocês estejam comprando materiais para fazer

chocolate também?

— ......Bem, parece que você percebeu.

— Ufufu, isso mesmo. Os motivos para vir a essa confeitaria hoje

certamente eram limitados. Além disso, é possível adivinhar isso com uma

rápida olhada em suas cestas de compras...

Então, Kurumi olhou para todas, uma de cada vez, antes de abruptamente

para nas mãos de Origami, fazendo uma estranha expressão facial... bem, sem

dúvidas ela o faria considerando o que a garota estava segurando.

— ...... Você vai fazer chocolate caseiro?

— ...... Esse é o plano, por hora.

Por um momento, Kurumi parecia estar perdida em pensamentos, com

um ponto de interrogação em cima de sua cabeça. Porém, ela logo recobrou sua

compostura normal e ergueu a cabeça para clarear sua garganta.

— Então agora, eu tenho algo que queria propor que chamará a atenção

de vocês.

— Proposta.....?

127

Ouvindo as palavras de Kurumi, Kotori mostrou uma expressão

incrédula.

...Cerca de uma hora já havia se passado.

— ...... Mas que, err, situação é essa?

Kotori, que tinha chegado em uma sala na mansão dos Espíritos para fazer

chocolate depois de deixar a loja, proferiu em voz baixa.

Mas aquilo era natural, de alguma forma...

— Ara, ara. Então esse é o lugar onde estão vivendo. Ufufu, mas que lugar

maravilhoso.

Atrás de Kotori, o Pior Espírito, Tokisaki Kurumi, estava murmurando

prazerosamente enquanto olhava para a espaçosa cozinha.

Isso mesmo. Aquela era a proposta de Kurumi...

"— ... Eu também quero começar a fazer o chocolate o mais cedo o possível

depois de adquirir os ingredientes. Se todas não se importarem, podemos fazê-

los juntas?"

Além de inesperado, o pedido daquela pessoa era irracional.

Kurumi de fato era um Espírito, o objetivo da Ratatoskr era tanto capturá-

los quanto oferecer asilo a eles. Em todo caso, aquele tipo de interação para

sobrepujar o sentimento de precaução deles.

Mas no caso dela, a situação claramente era diferente do que a dos outros

Espíritos.

Afinal, ela já conhecia a <Ratatoskr> e os objetivos de Shidou e o desafiou

para um embate com regras predefinidas. Não havia nada errado em suspeitar

que ela tinha motivos secretos para ter proposto aquilo.

— ............

Sem demora, naquele momento Kotori se virou para olhar Kurumi.

Certamente, Kurumi era um Espírito perigoso. Com uma grande reserva

de reiryoku, não havia nenhuma forma para vence-la em questão de números. Um

momento de descuido era inadmissível contra aquela oponente.

128

Mas por esse motivo, aquilo poderia ser descrito como uma oportunidade

de ouro para reunir informação sobre ela.

Para o próximo dia 14, antes da batalha decisiva entre Kurumi e Shidou,

Kotori queria saber o máximo o possível sobre Kurumi. Por esse motivo, ela não

teve escolha a não ser aceitar a proposta.

— ......Kotori.

Enquanto Kotori estava presa em pensamentos, Reine chamou seu nome

em voz baixa.

— ......Por enquanto, eu vou retornar à <Fraxinus>. Essa é uma rara

oportunidade de monitorar os valores emocionais de Kurumi e colher resultados

favoráveis o máximo possível.

— Isso, por favor. Eu vou fazer algo para lidar com a situação daqui.

— ......Un, estou dependendo de você; que a sorte esteja com você.

Depois de Reine terminar de falar, ela vagarosamente ergueu sua cabeça e

saiu da sala. Quando ela viu as costas de Reine deixarem o local, Kurumi inclinou

sua cabeça como se tivesse intrigada com a retirada misteriosa.

— Ara, a Murasame-sensei vai para casa?

— Sim, parece que ela tem um trabalho a fazer.

Enquanto Kotori tentava intencionalmente engana-la, Kurumi soltou um

"hmm......", franzindo as sobrancelhas enquanto via a figura de Reine desaparecer

naquela direção.

Por um momento, Kotori pensou que ela estava ciente de que era uma

mentira... mas era um pouco diferente disso. Mesmo que não estivesse claro,

dentro daquele olhar havia um reflexo de suspeita.

— O que foi? Tem alguma coisa que queria perguntar à Reine?

— Ah, não, acho que não.

Quando questionada por Kotori, Kurumi balançou sua cabeça

despreocupadamente.

— ...... Aliás, vamos começar logo.

129

E então, como se quisesse trazer o assunto de volta para seu controle, ela

apontou para as sacolas de compras marcadas com o logotipo da confeitaria que

estavam em cima da mesa da cozinha.

Naquele momento, Kotori e as outras não estavam em um dos cômodos

que os Espíritos residem, mas em vez disso eles estavam em uma cozinha

preparada em um espaço no primeiro andar da mansão.

Por ser uma mansão desenvolvida para acomodar os Espíritos, havia

várias instalações preparadas ao redor da sala de estar. Havia uma academia

fitness para manter a saúde e uma sala de cinema para entretenimento. A cozinha

era uma dessas instalações.

É claro, havia cozinhas em outros cômodos, mas para eventos como o Dia

de São Valentim e o Natal, aquele espaço grande foi construído em antecipação

para que vários Espíritos pudessem trabalhar juntos.

Naquela cozinha onde os Espíritos podiam trabalhar lado a lado juntos,

havia vários utensílios de cozinha, seja de origem ocidental ou oriental, que

estavam à disposição. Havia até mesmo um grande forno a gás que normalmente

era usado em restaurantes profissionais instalado e pronto para usar.

Quando a mansão foi terminada no ano anterior, uma simples olhada foi

o suficiente para fazer Shidou ficar completamente paralisado sem reação, como

se fosse um jovem garoto olhando um brinquedo novo pela vitrine.

— Ufufu, já faz um bom tempo desde que eu fiz alguns doces...... ara?

Enquanto Kurumi animadamente espalhava os ingredientes que ela

comprou pela cozinha, seus olhos ficaram arregalados quando ela percebeu algo.

O motivo rapidamente ficou evidente. Os Espíritos estavam reunidos no

canto do local com olhares vigilantes em seus rostos.

— Mu...... Mas o que diabos você está pensando, Kurumi?

— S-Se vocês abrirem os seus, eu posso ajudar......

— Colaborando na guerra. Yuzuru não permanecerá em silêncio quanto a

isso.

Várias pessoas falaram enquanto voltavam seus olhares para Kurumi.

Porém, sua confiança exterior escondia um temor tímido.

130

Mas aquilo era somente o natural. O oponente era um Espírito que

declarou suas intenções de comer Shidou. Era impossível para elas não ficarem

alertas.

Porém, aquilo estava dentro das expectativas de Kurumi. Ela relaxou sua

boca com um som de "fufu" antes de continuar a falar em voz alta.

— Ara, vocês não vão começar a fazer também? Ufufu, então o coração do

Shidou-san vai pertencer exclusivamente a mim.

— O qu......?!

Depois de ouvir as palavras de Kurumi, todos Espíritos franziram as

sobrancelhas.

Uma provocação tão simples, mas mesmo para aquelas que estavam

cientes (embora parece que havia algumas que realmente estavam desatentas),

elas não poderiam ignorar essas palavras. Os Espíritos exalaram nervosamente

antes de vagarosamente se moverem para o local de preparo de refeições.

— Como se eu fosse deixar......! Eu vou proteger o Shidou! Ungunu!

— E-Eu também vou...... fazer meu melhor!

— O Nushi-sama da Muku não deve ser permitido a ser tomado

arbitrariamente por ti.

Depois de dizerem isso, os Espíritos começaram a organizar os

ingredientes que tinham comprado.

Olhando para isso, Kurumi divertidamente riu do fundo do seu coração.

— Ufufu, eu também não vou perder.

Kurumi arregaçou as mangas, colocou um avental que estava pendurado

no local e lavou as mãos bem cuidadosamente.

Todas as outras também trocaram seu estilo de aparência para se preparar

para cozinhar antes de voltarem à cozinha mais uma vez. Estendendo suas mãos

lavadas para secar acima do nível do peito em frente à mesa, a postura delas se

parecia com a de um cirurgião se preparando para uma cirurgia.

— ............

131

— ............

— ............Ummmuu.

Porém, o cirurgião que estava diante da cozinha, não, os Espíritos não

sabiam nem sequer como começar a operação.

Depois de permanecer em silêncio por alguns segundos, Tohka olhou

confusa para Kotori.

— Kotori, o que devemos fazer agora? Umumu.

— Eh. Ah, sim.

Os olhos de Kotori se arredondaram por alguns segundos antes dela

fracamente acenar com a cabeça... embora elas já tenham falado sobre os

ingredientes necessários, os métodos específicos de produção não haviam sido

explicados em detalhes ainda.

— Bem, para dizer brevemente, você tem que derreter o pedaço de

chocolate e então resfria-lo no refrigerador e decora-lo como quiser.

— Oh, entendi! Ummuu.

— Diga, Tohka, não só no começo, mas até agora pouco, você estava

mastigando alguma coisa?

Naquela hora, Natsumi falou isso para Tohka com olhos semicerrados

depois de franzir o cenho.

Falando nisso, agora mesmo, por algum motivo, as palavras de Tohka

soaram estranhamente pouco claras. Quando Kotori olhou para a direção de

Tohka, o motivo para isso logo ficou aparente.

Tohka já tinha aberto a sacola do chocolate que tinha comprado e suas

mãos já estavam tirando o conteúdo para come-lo vividamente.

— Ei...... isso não é bom, Tohka. Se você comer muito, não vai sobrar nada

para dar ao Shidou.

— Muu? Ah......! Antes que eu percebesse......!?

Quando Kotori terminou, Tohka ficou com uma expressão atordoada

depois de perceber o movimento de sua mão.

— A-ah, Kurumi...... mas que ataque astuto...... ummmuu.

132

— ......Não, obviamente foi algo diferente disso. De qualquer forma, você

ainda está comendo.

— Ufufu, parece estar funcionando. Eu o modifiquei para que você sinta

ainda mais vontade de come-lo.

— Muu!? Eu não consigo parar.....! Ummmuu.

— Kurumi, você não deveria importuna-la imediatamente!

Depois de Kotori dizer isso, ela tomou a sacola do chocolate das mãos de

Tohka, que estava exausta demais para até mesmo respirar.

— Ha...... que bom que nós compramos um pouco mais por precaução.

Pessoal, vamos começar então.

— Umu!

Enquanto Kotori dizia isso abaixando sua voz, Tohka vigorosamente

acenou com a cabeça.

Porém, ela inclinou sua cabeça no momento seguinte.

— ......Mu, Kotori. Como vamos derrete-lo?

— Hã? Do que está falando; você não precisa perguntar isso. Chocolate......

Depois de falar isso, Kotori de repente interrompeu suas palavras.

Não, não somente suas palavras. Por alguns segundos, todos os seus

movimentos foram cessados deixando seu corpo completamente estacionário.

Havia somente o movimento de suor escorrendo de sua testa vagarosamente.

— ......Kotori-san?

— O que foi?

— E-E-Esperem um pouco.

Ao ser questionada pelos Espíritos que estavam com expressões confusas

em seus rostos, Kotori finalmente foi capaz de se recuperar do enrijecimento.

Enquanto limpava o suor de sua testa, ela tentou recobrar o passado quando ela

tinha feito chocolate com sua mãe.

Ela não pensava que os efeitos da retirada de Reine, que voltou para a

<Fraxinus>, se mostrariam dessa forma. Kotori pressionou sua mão contra a testa

enquanto ela rangia amargamente os dentes.

133

Então, depois de ver Kotori em um estado tão deplorável, Kurumi

suavemente riu.

— Ara, Kotori-san. Você não sabe como tempera-lo? Eu posso ensina-la se

não se importar.

— ......! Q-Que barulhenta. Eu sei como fazer uma coisinha dessas!

Kotori respirava indignadamente enquanto ela orgulhosamente se

gabava.

Mas depois de um momento, uma questão preencheu sua cabeça.

......Temperar4? Como assim temperar? Ela quis dizer derreter o chocolate?

temperar...... tenpa?

— ............

Kotori disfarçadamente olhou para a direção de Natsumi, e se

surpreendeu ao ver que seus ombros estavam tremendo de surpresa.

— ...... O-O que está fazendo?

— Não, não é nada. ......De qualquer forma, primeiro temos que derreter o

chocolate. O ponto é que você só precisa dissolvê-lo, então não precisam pensar

muito nisso.

Enquanto Kotori se alongava em seu blefe, ela deu uma olhada numa

panela que estava na estante e a colocou em cima do fogão. E então, ela jogou um

grande pedaço de chocolate dentro da panela antes de acender o fogo. A sopro

das chamas da boca do fogão contra a panela era comparável a esses usados nas

cozinhas de restaurantes chineses profissionais.

Mesmo que vagarosamente, o chocolate foi perdendo seu formato original

e derretendo. Tohka e as outras soltaram um som de "Oh..." maravilhadas com a

visão.

— Incrível, Kotori, está derretendo perfeitamente.

— Mun, isso é esplêndido.

— Oh, nada mal, Imouto-chan, como esperado da irmãzinha do Garoto.

4 Temperar aqui é o processo de derreter a barra de chocolate lentamente, aqui também a um trocadilho com Tenpa que significa algo como cabelo encaracolado artificialmente.

134

Enquanto todas estavam a elogiando, Kotori estava um pouco inquieta,

mas ainda assim estufou o peito de orgulho.

— S-Sim, para mim isso é tão fácil quanto......

— Ei, tem alguma coisa queimando?

— Hã?

Depois de ouvir o que Natsumi disse, Kotori correu para verificar.

— Hiii......

No final das contas, o chocolate no fundo da panela tinha fervido e

queimou em questão de segundos. Uma fumaça preta emergiu da panela junto

com um cheiro de queimado, que preencheu os arredores.

— I-Isso é um desastre! Água! Joguem agua no chocolate!

— O...... Ohhh.

— M-Muito bem, por favor, tome isso......!

Kotori rapidamente jogou o conteúdo de um copo de água que tinha sido

entregue a ela na panela. Xuuuuuuuu...! Quando esse som soou, ainda mais

fumaça saiu da panela antes de finalmente parar de ferver.

— Ha...... ha......

— E-Eu fui muito impaciente......

— Ei, ei, Imouto-chan, fazer chocolate era para ser desse jeito?

— Ugu......

Depois de ser questionada por Nia, Kotori sentiu gotas de suor surgirem

em sua testa.

Dentro da panela, um liquido preto se reuniu embaixo da quantidade

restante do chocolate que ainda não tinha derretido. No final das contas, seria

impossível chamar aquilo de gostoso mesmo depois dele se solidificar.

— Ara, ara.

Naquele momento, a linha de visão de Kotori se cruzou com a de Kurumi.

Enquanto aceitava o olhar de Kotori, Kurumi deu um sorriso gentil como

se estivesse dizendo "Eu posso ajudar na hora que quiser".

135

— Ku......

O rosto de Kotori se contorceu em desapontamento. Apesar disso, era fato

que ela queria pedir ajuda, mas seu orgulho não permitia que ela confiasse em

Kurumi.

— Ei, eu, Kaguya, Yuzuru, vocês por acaso já tiveram um duelo de

chocolate?

Abaixando sua voz para Kurumi não ouvir, Kotori decidiu perguntar para

as irmãs Yamai. As duas colocaram suas mãos no queixo.

— Gênese e eu são incompatíveis. Destruição e aniquilação são minha

origem.

— Tradução. Infelizmente nunca houve um duelo de chocolate, embora

tenha tido um confronto de comer comida de fast food.

— Então é isso......

Enquanto os ombros de Kotori desabavam de desapontamento, Kaguya

interveio com um "mas".

— Não é como se nós não tivéssemos nenhum conhecimento em derreter

esse amontoado negro.

— Concordância. Eu me lembro de terem usado água fervente na TV.

— Água fervente......

Enquanto Kotori ouvia as duas, seus olhos de repente se arregalaram.

Naquela hora, ela se lembrou de que que sua mãe colocou água fervente

na panela. De fato, com isso eles não iriam precisar se preocupar com o chocolate

se queimar.

— É isso!

Kotori então preparou outra panela, colocando água dentro dela antes de

acender o fogo. Logo após, a água começou a ferver e vapor começou a sair da

panela.

— Bom.

136

Kotori pegou o chocolate e o colocou por inteiro na água fervente. Naquela

hora, mesmo sem saber o porquê, Natsumi soltou um "ah..." como se tivesse

percebido algo errado.

Colocar o chocolate na água tão rápido fez as bordas dele serem

dissolvidas na água quente.

— Derreteu, derreteu, não, agora só precisamos solidifica-lo.

— Hmm...... honorável irmã, esse chocolate possui uma aparência que não

faz jus ao que a Muku se recorda.

Enquanto cuidadosamente olhava para os movimentos da mão de Kotori,

Mukuro estava com um olhar incrédulo. Mas Kotori somente riu em resposta.

— Bem, você nunca viu nessa forma porque é caseiro. Mas ele vai ficar

endurecido em breve depois que o colocarmos em uma forma. Tente provar se

estiver preocupada.

— Mun, muito bem.

— Kotori! Eu também! Eu também quero provar!

Os olhos de Tohka estavam brilhando enquanto ela erguia sua mão para

pedir. Kotori disse "está bem", antes de colocar o chocolate derretido em um prato

e entregar para as duas.

Ao mesmo tempo, as duas lamberam o chocolate.

Porém.....

— .....M-Mun......?

— Kotori......? De alguma forma parece que o sabor está fraco.

— Hã?

Kotori enrugou as sobrancelhas e experimentou ela mesma o chocolate.

Depois disso, ela fez uma expressão similar a das duas.

— Ei, por que isso...... sequer pode ser chamado de gostoso, no mínimo......

— ......Não, bem, o gosto ficou estranho por que ele se misturou com a água

quente......

137

Com olhos semicerrados, Natsumi respondeu. Os ombros de Kotori

tremeram como se ela tivesse tentando encontrar uma explicação.

— E-Então, como devemos derreter o chocolate afinal......?

Enquanto Kotori levava as mãos à cabeça em agonia, dessa vez foi Miku

que ficou com a expressão iluminada como se tivesse pensado em uma coisa.

— Ah, Kotori-san, eu pensei em um bom método!

— ............

Kotori lançou um olhar de suspeita para Miku. É claro, se fosse um bom

método, então ela iria querer tentar de qualquer forma. Mas mesmo assim, a

expressão de ânimo de Miku parecia ser excessiva.

— ......E qual é? Vai ser algo como "escutem, vocês ficariam bravas se eu

disser que podemos derreter o chocolate lambendo ele"?

— Kya! Como você descobriu? Como eu pensei, nós podemos nos

comunicar com as profundezas de nossos corações!

— Espera...... não, me solta!

Enquanto Kotori empurrava o corpo de Miku para trás, ela mais uma vez

pressionava sua cabeça.

Seu orgulho nunca permitiria aceitar o auxílio de Kurumi. Procurando por

alguém que tinha habilidades na cozinha......

— ......! Sim, Origami!

Kotori ergueu sua cabeça e voltou seus olhos para a direção de Origami.

Talentosa tanto em artes militares quanto em artes domesticas, Origami

era perfeitamente competente em tudo. Se for ela, fazer chocolate deve ser uma

de suas especialidades.

Mas......

— O quê?

— ............

Através dos despercebidos computador e impressora 3D, Origami

imprimia algo parecido com uma miniatura nua de si mesma. Kotori ficou pasma

ao ver aquilo.

138

De alguma forma, enquanto carregava a imagem no computador de si

mesma, o objeto naquele momento se parecia com um Vienna Gashapon

Gashapon5. A imagem era incapaz de se conectar com o centro da cabeça.

— ............Boa sorte.

— Vou fazer meu melhor.

Quando Kotori disse isso com suor escorrendo por seu rosto, Origami

acenou com a cabeça com uma expressão séria.

Pela terceira vez, ela estava completamente perdida.

Talvez, por não conseguir aguentar ver Kotori assim, Natsumi falou com

um tom de voz bem educado.

— ......Kotori.

— ......O que foi?

— ......Nada, eu não sei se essa é a questão e eu me responsabilizarei se for

uma falha. Talvez você não queira ouvir o que eu tenho a dizer em primeiro

lugar......

— Não, o que você quer dizer?

Depois de Kotori falar, ela franziu o cenho. Natsumi respondeu enquanto

desviava seu olhar.

— ...... Se houver uma forma mais simples de fazer isso, eu vou entender.

— ............Sensei!

Kotori rapidamente apertou as mãos de Natsumi.

— Oooh......!

— Natsumi-san que incrível......!

Então, cada um dos outros Espíritos lançou um olhar de respeito para

Natsumi. Surpresa com isso, os ombros de Natsumi tremeram enquanto ela

tentava permanecer calma sob um par de olhos vacilantes.

— N-Não, eu não quero que criem muitas expectativas......

— Sensei! O que devemos fazer!?

5 Gashapon é uma fabricante de máquinas de venda de bonecos aleatórios em capsulas.

139

— ......Bem, primeiro coloquem o chocolate cortado em uma bacia e então

adicionem ela à água quente. Ah, a temperatura deve permanecer constante......

Enquanto Natsumi informava as instruções de forma desajeitada, os

Espíritos ouviam atentamente enquanto começavam a produzir seus chocolates

caseiros.

Naquela hora......

— ......?

As sobrancelhas de Kotori inesperadamente se fecharam.

— ......Ufufu, fufu.

Olhando para o estado atual dos outros Espíritos, Kurumi soltou uma

gargalhada alta de contentamento.

Não era como se ela quisesse ridicularizar os fracotes que a tinham

desafiado. Era somente como se ela tivesse sorrindo enquanto animadamente

observava a expressão perplexa de uma irmã mais nova.

— ...... Sem chance.

Kotori levemente encolheu os ombros enquanto pegava uma bacia para

colocar o chocolate.

— Muito bem pessoal, vamos fazer um chocolate que não vai perder para

o da Kurumi!

— Ooh!

Como se respondessem a voz de Kotori, os Espíritos ergueram seus

punhos para o ar.

140

Capítulo 04 - O Pecado Recente

E então, o dia 14 de fevereiro amanheceu.

Esse era o dia dos namorados que era celebrado com o nome de dia de São

Valentim. E era o dia da batalha decisiva entre Shidou e Kurumi.

...............

Shidou se lavou no banheiro mais cuidadosamente do que o de costume

antes de sair. Enquanto alinhava seu reflexo no espelho, ele estapeou suas

próprias bochechas para levantar seu espírito de luta com um grito de kiai. Finas

gotas de água fizeram um som ligeiramente saboroso ao se chocarem com o

espelho.

— ...Muito bem.

Desnecessário dizer que ele não se esqueceu de secar as gotas de água que

tinham caído no espelho. Se as ignorasse, elas poderiam deixar uma mancha

branca depois de secarem que seria difícil de limpar.

O comportamento excessivo das pessoas comuns... ou as ações primitivas

de um dono de casa.

O oponente era uma rival difícil de derrotar: Tokisaki Kurumi. Enquanto

Shidou a encontrou pela primeira vez somente há poucos meses, ela foi o único

Espírito que ele não conseguiu selar. Ela não seria uma oponente fácil de

conquistar. Shidou provavelmente teria que lavar seu rosto de novo.

Mas mesmo assim, Shidou não pretendia morrer naquele dia.

Por esse motivo, ele não poderia deixar sequer a menor mácula passar. Se

ele deixasse a limpeza com Kotori, ela provavelmente riscaria o espelho por

forçadamente tentar esfregá-lo para tirar a mancha.

Shidou pensou que Kotori provavelmente espumaria de raiva se ouvisse

isso. Enquanto abria a porta para a sala de estar, ele de repente parou seus passos.

Kotori estava de pé no outro lado da porta esperando por Shidou.

— Oh?!

Embora os pensamentos de Shidou não pudessem ser descobertos só de

olhá-lo, ainda assim qualquer um ficaria surpreso ao ver Kotori aparecer tão de

repente.

141

Ao ver essa reação em Shidou, Kotori fez um beicinho de desaprovação.

— Ei, ei, o que foi isso?

— Nada, desculpa...... eu só fiquei um pouco surpreso.

Kotori olhou para o rosto de Shidou com uma expressão de dúvida por

alguns segundos, mas então disse "Bem, não importa" e encolheu os ombros.

Ela casualmente pegou algo que estava escondido atrás dela.

— Toma.

— Hã?

Shidou encarou com olhos arregalados, olhando intercaladamente para

Kotori e para o objeto em sua mão. Era uma pequena caixa decorada com um

embrulho bonito: laços negros e papel de embrulho vermelho, fazendo o se

parecer com o uniforme militar de Kotori.

— Oh...... será que isso é chocolate?

Ouvindo a pergunta de Shidou, o nariz de Kotori fez um barulho de

"hum", enquanto suas bochechas ficaram levemente coradas e ela desviava o

olhar.

— ...... somente dessa vez, apesar que não tem nada demais receber isso de

sua irmãzinha.

— O que está dizendo? Obrigado, Kotori.

Shidou sorriu enquanto pegava o chocolate, enquanto o rosto de Kotori se

tornava cada vez mais vermelho e ela se virava para trás.

— Certo, certo, vamos comparar então, olha.

— Hmm?

Enquanto Shidou inclinava a cabeça, Kotori gentilmente ergueu sua mão

enquanto gesticulava para a direção da sala de estar.

Como se estivessem sincronizados com o comando dela, puderam ser

vistos cinco Espíritos esperando na sala de estar, todos eles se reuniram ao redor

de Shidou enquanto seguravam pequenas caixas e sacolas em suas mãos. Da

direita para a esquerda, elas eram Yoshino, Natsumi, Mukuro, Miku e Nia,

respectivamente.

142

— Uau, todas vieram? Mas ainda é bem cedo.

— Sim... porque eu queria entregar isso ao Shidou-san.

— ...Bem, provavelmente não esteja bom, mas por enquanto...

— Mun, por obséquio, Nushi-sama, aceite. Isto não deves perder para o

daquela megera.

— Está tudo bem com eles, nós não colocamos nenhuma coisa estranha

neles.

— Sim, sim, foram todos feitos de forma natural.

— Por que sinto que a segunda parte dessa frase parece um pouco

assustadora!?

Recebendo um grito alto de Shidou, Nia e Miku começaram a gargalhar.

Em todo caso, com chocolates continuamente sendo empilhados em suas

mãos, Shidou dava um sorriso desconcertado enquanto agradecia a todas.

— Haha... obrigado, pessoal. É a primeira vez desde que nasci que recebo

tantos chocolates.

— Não... de nada.

— Ei... ei... por favor, abra!

— Oh, está tudo bem? Bem, então......

Em resposta aos pedidos de Miku, Shidou colocou as caixas e sacolas

recebidas na mesa e começou a abrir a embalagem delas um a um.

Em um piscar de olhos, havia chocolates de várias formas, em forma de

coração, forma de estrela e até mesmo trufas. Qualquer um poderia perceber só

com um olhar que aquilo não era um produto fabricado comprado em uma loja.

— Oh, todos eles são caseiros!?

Em resposta à pergunta de Shidou, os Espíritos certamente acenaram

orgulhosamente com a cabeça.

— Qual o problema? Kotori, por acaso você não perdeu chocolate

colocando-o diretamente na panela ou o colocando direto na água quente, né?

— E-e-e-e-e-esse tipo de coisa nunca aconteceu!

143

Kotori, que estava em um estado constantemente trêmulo, virou seus

olhos para ver a cena dos Espíritos rindo alegremente.

Parece que ela tinha feito algo parecido com isso. Mesmo que Kotori não

fosse tão habilidosa na cozinha, ela sempre esteve em uma posição de teimosia

enquanto ela fazia o trabalho duro.

Todavia, o trabalho feito no chocolate à sua frente era incrível para ter

vindo de uma novata. Não somente isso, enquanto estavam alinhados

ordenadamente, a decoração também mostrava ter características bem amáveis.

A propósito, o chocolate feito por Kotori tinha o formato de estrela bem

tradicional, os de Yoshino tinham o formato de Yoshinon, os de Natsumi o

formato de trufas, os da Mukuro tinham uma grande variedade de estrelas de

diversos tamanhos, os feitos por Miku tinham padrões parecidos com notas

musicais, e os de Nia estavam estilizados como chocolates ao leite semicirculares

com pedaços de morango saindo deles, fazendo com que eles tenham formas de

seios.

...Embora tenha alguns chocolates com formas constrangedoras no meio

deles, qualquer homem se sentiria honrado de receber tantos chocolates. Shidou

mais uma vez agradeceu a todas e experimentou cada um deles um a um.

— Uhm, está delicioso! Haha, eles podem superar até os feitos de um

profissional.

Depois de ouvir as palavras de Shidou, os Espíritos sorriram.

No meio do grupo, Kotori mostrou uma expressão aliviada enquanto

encolhia os ombros.

— Se você gostou, então mais do que qualquer coisa, dê o seu melhor hoje.

— Ah... é mesmo.

Shidou deu um aceno vigoroso com a cabeça e colocou mais um pedaço

de chocolate na boca. O aumento momentâneo de energia causado pelo açúcar

produziu um sentimento de que todos estavam lhe encorajando à suas costas,

preenchendo cada centímetro de seu corpo de motivação.

Vendo Shidou neste estado, Kotori só pôde dar de ombros com um sorriso

desconcertado.

144

— Parece que não temos com o que se preocupar. ...Ah, mas nem pense

em comer muito para seu próprio bem, certo?

— Hã?

Com as palavras de Kotori, Shidou suou frio.

— Não brinca, realmente vocês acrescentaram alguma coisa......

— Não é isso! Eu quero dizer que ainda há algumas pessoas na escola,

então é melhor não comer muito!

Kotori cutucou a testa de Shidou enquanto falava.

Depois de vinte minutos, Shidou se trocou e saiu de casa enquanto se

despedia de todas que estavam presentes. Então, depois de se virar, ele viu Tohka

em frente a porta.

— ...! Shidou! Bom dia!

Depois de notá-lo, Tohka, cheia de vitalidade, acenou com a mão

energicamente.

— Ah, bom dia, Tohka. Por quanto tempo esteve esperando?

— Não, não é verdade! Eu acabei de chegar!

Depois de dizer isso, Tohka fungou com seu nariz que estava escorrendo.

Olhando com cuidado, era perceptível que seu nariz estava levemente vermelho.

Sendo assim, ele não entendeu o que Tohka quis dizer com "acabei de chegar",

parece que ela esteve esperando no frio por um bom tempo.

Porém, parece que Tohka não se importava com isso. Por suas mãos, ela

entregou um pequeno saco de papel contendo uma caixa finamente embalada

diretamente para Shidou.

— Shidou! Feliz dia de São Valentim!

E depois de dizer isso, ela mostrou um sorriso radiante.

— Oh, ei.

Já tendo recebido chocolates de Kotori e das outras, ele já estava preparado

para tal presente. Porém, por ter recebido de uma forma tão animada, o rosto de

Shidou ficou levemente corado enquanto ele recebia o presente.

— Obrigado, Tohka.

145

— Umu, estou confiante com ele!

Tohka acenou com a cabeça enquanto direcionava seus olhos radiantes

para Shidou.

— Haha...

Embora tenha sido encorajado de uma forma um pouco presunçosa, ele

não podia fazer nada. Shidou abriu a caixa para verificar seu conteúdo.

Lá dentro, com uma gentil fragrância aromática, estavam várias trufas de

chocolate cobertas com um pó amarelo.

Aquilo era...

— Ah, isso aqui seria farinha de soja?

— Oh, isso mesmo!

Tohka ergueu suas mãos para bater palmas. De fato, eram trufas com

cobertura de farinha de soja. Realmente, aquele era um prato com a cara de

Tohka.

Shidou pegou um pedaço de chocolate e o colocou na boca. A doçura do

chocolate misturado com o aroma da soja. Mesmo que ele não soubesse quais

instruções ela recebeu para fazer aquilo, ainda assim era um feito notável.

— Un, delicioso! Bem feito, Tohka...

Antes de terminar, Shidou abruptamente parou suas palavras.

Tohka estava olhando para Shidou com uma expressão muito ansiosa.

— ...Você também quer comer um, Tohka?

— ...! N-Não, está tudo bem, esse é um presente meu para o Shidou!

— Bem, não teria problema algum dar um para a Tohka então, não é

mesmo?

Quando Shidou disse aquilo, Tohka abriu seus olhos os transformando em

dois grandes círculos.

— Mu! Está... está tudo bem mesmo?

— Está sim, toma.

146

Shidou colocou um pedaço de chocolate gentilmente na boca de Tohka,

fazendo seus músculos arquearem enquanto ela revelava uma expressão

comovida.

— Ah... Umu, delicioso! Chamem o chef!

— Não, esse foi o que você fez.

Enquanto Shidou respondia com um sorriso torto, Tohka mostrou uma

expressão de surpresa enquanto dizia "Hah! É mesmo!"

De qualquer forma, não é como se eles pudessem comer todos ali. Para

poder saboreá-los mais tarde, Shidou os colocou de volta no saco.

— Bem, vamos. ...Falando nisso, a Kurumi não está aqui hoje.

— Mu? Oh, é mesmo.

Tohka olhou em volta inquieta enquanto falava. Enquanto isso, Shidou

estava pensando nisso enquanto levava a mão ao queixo.

Hoje era o dia da batalha decisiva. O evento principal seria deixado para

depois da escola.

Shidou disse "Okay!" enquanto cerrava os punhos para elevar sua energia,

e então se dirigiu para a rota da escola com Tohka.

— ...Hmm?

Depois disso, se passaram cerca de vinte minutos.

Alcançando a entrada da escola, Shidou ficou com um olhar estupefato.

Ele teve essa reação pois as irmãs Yamai estavam em pé dos lados direito

e esquerdo do portão de entrada, como se fossem Kongourikishi1 esperando ele.

— Kaguya e Yuzuru? O que estão fazendo em um lugar como esse...?

— Você chegou, Shidou! Kuku, meu crucifixo dourado se ergue agora!

— Apresentação. Eu estava te esperando, aceite isso.

Kaguya e Yuzuru rapidamente obstruíram as palavras de Shidou ao

entregar a ele uma caixa. Os estudantes que passavam por eles pareceram

imediatamente reconhecer o significado dessa ação na data de hoje. Deparados

1 Kongourikishi são dois deuses guardiões musculosos que ficam nas entradas de templos budistas.

147

com uma forma tão digna e generosa de dar chocolates, houveram aplausos

esporádicos vindo dos arredores.

— Oh, oh...... obrigado. Mas não precisavam me dar isso aqui.

— Kuku, o que você diz? Como vamos à mesma escola, nós seríamos tolas

de não aproveitar essa vantagem.

— Assentimento. Ao mostrar isso na frente de todos, há também um ponto

de dissuasão contra nossas inimigas.

— O propósito foi cumprido! Adeus!

— Comentário. Embora eu quisesse mostrar, é um pouco vergonhoso

entregar isso na frente de todo mundo, então, eu quero sair daqui o mais rápido

o possível. É isso o que Kaguya queria dizer.

— Eu disse algo assim!?

Kaguya gritou enquanto saia atrás de Yuzuru, que correu para dentro do

prédio da escola mais cedo para fugir dela.

Incidentalmente, depois de confirmar, o chocolate de Kaguya tinha

formato de cruz e era decorado com folhas douradas. Enquanto o chocolate de

Yuzuru era decorado com confeitos de missangas que davam a ele um tom

prateado brilhante.

— Como sempre, essas duas parecem uma tempestade...

Shidou sentiu uma gota de suor escorrer enquanto falava, e então ele levou

o chocolate recém recebido para dentro do prédio da escola.

Mas... depois de entrar na sala de aula, Shidou sentiu seus olhos mais uma

vez ficarem bem abertos de espanto.

— O qu...

Porém, a reação de Shidou era algo plausível. Qualquer pessoa mostraria

uma reação similar se uma estátua de um Anjo aparecesse em cima de sua mesa.

Sobre uma inspeção mais próxima, ele descobriu que a estátua era

inteiramente feita de chocolate. Vendo um trabalho com tamanha habilidade

manual, Shidou inadvertidamente sentiu suor se formando em sua testa.

Apesar disso, a origem daquilo era óbvia.

148

— ...Origami.

— O que foi?

Quando Shidou chamou aquele nome freneticamente, houve uma

resposta imediata, já que a culpada estava sentada no assento do lado esquerdo

dele.

Sim, o rosto da estátua, não importa de que ponto de vista olhasse, era

idêntico ao de Origami.

— O que é isso... isso é... incrível. Obrigado.

— Fico feliz.

Como resultado de não ser capaz de achar as palavras certas para falar

depois de se deparar com aquilo, Origami vagarosamente abriu a boca enquanto

corava.

— Mas eu não posso comer isso agora, então eu ficarei grato se você puder

guardá-lo para mim...

— Eu cometi um erro.

Quando a Origami terminou, ela pegou uma capa de plástico para

embrulhar o chocolate. Em menos de um minuto, o chocolate estava embalado

pelas lindas mãos da garota.

— Aqui, sem problemas.

— O-Obrigado... como esperado de você.

Shidou falou com um sorriso torto enquanto colocava o saco com o

chocolate de Kaguya na mesa.

— ...Hmm?

De repente, ele percebeu um sussurro vindo do fundo da sala de aula.

— ...merda, merda, merda, merda...

— Morra morra morra morra morra.

— Como podemos... fazer uma... bomba...?

Sim, depois de ver a coisa que estava na mão de Shidou, os garotos da sala

ficaram com sentimentos negativos de ressentimento.

149

— ............

O rosto de Shidou se contraiu impotente. Apesar do ambiente estar bem

complicado, não era como se fosse impossível entender o sentimento deles.

Assim como ele tinha dito à Kotori e as outras naquela manhã. Era a

primeira vez que ele recebia tantos chocolates em sua vida. Até o ano passado,

ele só ganhava chocolates de sua mãe e da Kotori.

Bem, seu amigo Hiroto Tonomachi disse, "Fuffuffu... ele trouxe todas os

chocolates de edição limitada que encontrou nas lojas da vizinhança, então

ninguém poderia mandar chocolates..."

Mesmo que ele pudesse comprar um chocolate de alta qualidade para si

mesmo, um só não valeria.

Incidentalmente, assim que Tonomachi mencionou isso, os outros garotos

começaram a encarar Shidou com rostos cheios de raiva e tristeza.

— Senhores... Agora eu vou começar a cerimônia.

De repente, do outro lado da sala, Tonomachi estava prestes a abrir a caixa

em sua mão.

Dentro daquilo estava uma boneca de chocolate com o nome "Itsuka"

escrito com chocolate branco.

Quando Tonomachi vagarosamente abriu a caixa, os garotos começaram

a dançar um estranho ritual que emitia um som de "dondokodokodondokodon"

no ritmo de um tambor.

— Chowatsu!

Assim que essas vozes bizarras alcançaram seu clímax, Tonomachi pegou

um longo prego em seu bolso e o enfiou no peito da boneca com Itsuka escrito

nela enquanto erguia sua voz de uma maneira estranha.

Uma rachadura apareceu no corpo de chocolate, fazendo ela se

despedaçar.

Então, os garotos que estavam se aglomerando ali correram para pegar os

fragmentos do chocolate.

— Hyaha! O Itsuka foi destruído!

— Delicioso! Delicioso, ah!

150

— Eu quero... comê-lo... para ganhar os poderes do Itsuka.

— ............

Enquanto assistia essa cena bizarra do fim do mundo, Shidou só pôde

secar o suor que escorria em sua bochecha.

Normalmente, esses caras não eram tão ridículos... mas com certeza o dia

de São Valentim causou um efeito especial nos garotos.

De repente, como resultado de não terem visto os garotos agirem daquele

jeito, três garotas se levantaram juntas suspirando.

As três damas especiais da classe, Yamabuki Ai, Hazakura Mai e

Fujibakama Mii... coletivamente conhecidas como o trio Ai Mai Mii.

— Sério, esses garotos não têm salvação mesmo...

— Ei, ei, venham aqui...

— Venham, venham!

Depois de falar, Ai, Mai e Mii tiraram um recipiente de uma sacola

plástica. Embalados dentro dele podiam ser vistos pedaços de chocolate

espalhados que o preenchiam até a boca.

Então, os garotos que estavam agrupados no altar de sacrifício ergueram

seus rostos em uma velocidade tremenda após sentir o cheiro de chocolate no ar.

Mesmo que espalhados, havia ali cerca de trinta pedaços de chocolate.

Porém, nenhum deles sequer tocou o chão.

— Obrigado... obrigado...

— Receber chocolate de garotas... mas que fragrância boa...

— O veneno do Itsuka... foi purificado...

A sombra que pairava sobre os garotos daquele grupo foi dissipada (ou

pelo menos era o que parecia).

Naquela hora, ninguém sabia que um membro do departamento de artes

que tinha ficado profundamente comovido por esse ato depois escreveria a obra-

prima "As Deusas da Liberdade que distribui Chocolate para as massas".

— Mu, o que foi isso? Que barulhento.

151

— ...Bem, só deixa isso para lá.

Então...

De repente, todos os Espíritos olharam para a mesma direção.

A linha de visão de Shidou também foi afetada por essa direção enquanto

seus ombros gentilmente tremeram.

Kurumi estava em pé no final da linha de visão. No momento em que seus

olhos se encontraram, ela sorriu docemente.

— Ufufu, bom dia, Shidou-san. Hoje de manhã está bem animado por

aqui.

— Oh... Bom dia, Kurumi.

Shidou devolveu o cumprimento, mas não pôde deixar de soltar um som

de "guu" ao engolir em seco.

Mas isso era somente o natural, já que a Kurumi foi quem designou os

planos para hoje.

No dia anterior, assim como no anterior a ele, Shidou e Kurumi iniciaram

uma batalha ofensiva e defensiva feroz.

Mas as circunstâncias eram diferentes naquele dia devido ao compromisso

que está marcado para depois da aula. Como resultado, essa será uma situação

onde os dois estarão sozinhos sem a presença de outros Espíritos. Talvez, Kurumi

levará a sério a disputa contra ele.

— ......

A garganta de Shidou estava um pouco seca de tensão. Kurumi, que

percebeu isso, ergueu os cantos dos lábios em forma de sorriso.

— Fufu, não é nada bom estar nervoso, Shidou-san.

Kurumi andou para frente e disse isso enquanto aproximava seus lábios

do ouvido de Shidou.

— Coisas boas devem ser... guardadas para serem aproveitadas mais

tarde.

— ...~Tsu.

152

Inadvertidamente, pelo som ter sido ressoado diretamente em seus

ouvidos, seu corpo não se conteve e tremeu levemente.

Porém, para que Kurumi não percebesse esse tremor, Shidou decidiu

conter ele enquanto lançava um sorriso.

— Oh, aguardo ansiosamente por isso. ...Pode ficar tranquila que seu

quarto na mansão dos Espíritos já está preparado.

— Ara, ara.

Kurumi devolveu o sorriso ao mesmo tempo que o sino da escola soou.

◇◇◇◇

— Kihihihi!

— Kihihihi!

— Hehehe!

— Hehehe!

— Agora, para que horário está marcado aquele compromisso?

— Ainda falta uma hora.

— Ara, ara.

— Isso realmente está me deixando ansiosa.

— Como é que eles não se cansam de brincar por aí?

— Kihihi, hiki!

— Isso mesmo.

— Certo, essas garotas por exemplo.

— Na melhor das hipóteses isso deveria ser algo parecido com um evento

que acontece somente poucas vezes.

— Isso, isso, e...

— Sim, sim, essas garotas devem ter um motivo por trás de suas ações.

153

— Não tem como culpá-las a esse ponto.

— É claro, nós também temos um motivo para nossas ações.

— E então, não tem como evitarmos nos colidir umas com as outras.

— Nós não iremos pegar leve com elas, aliás.

— Certo, certo, então o próximo é...

— Nós temos que ir agora.

— Sim, sim.

— Obrigada.

— Por favor, caia para a morte mais querida.

— Por favor, tenha um falecimento com propósito.

— Por Eu2.

— Por Eu.

— Por Eu.

— ...Pelo Shidou-san.

◇◇◇◇

...Hoje, o tempo passou depressa.

Desnecessário dizer que os ponteiros do relógio giraram a passos largos.

Enquanto ele pensava no evento que ocorreria depois da escola, a aula acabou.

Enquanto ouvia o sino que sinalizava o fim da aula tocar, Shidou pensou

em algo.

Porém, ninguém poderia culpar Shidou.

Afinal, o encontro de hoje era com o Pior Espírito, Kurumi.

2 "Por Eu" pode parecer ortograficamente errado, mas julguei ser a forma mais

correta se tratando da particularidade de fala dos clones da Kurumi.

154

Apesar de ter a aparência de uma garota sedutora, sua verdadeira

identidade era...

— ...Deixa acontecer.

Pensando nesse tipo de coisa, Shidou fechou seus lábios como se estivesse

se lembrando de algo.

Kurumi era com certeza um Espírito com um poder avassalador. Seria

mentira dizer que ele não estava com medo dela.

Porém, Shidou tinha que fazê-la se apaixonar naquele dia. Como poderia

um homem correr dela com medo de abrir seu coração?

...Medo, pânico; esses sentimentos devem ser deixados de lado.

Simplesmente encarar esse encontro era o suficiente para fazer as batidas

de seu coração acelerarem a um passo violento enquanto um clima estimulante

de tensão permanecia no ar.

Para recobrar seu espírito de luta, Shidou deu tapinhas em suas bochechas

com as palmas das mãos.

『Aparentemente não a nada para eu adicionar até agora. 』

Como se estivesse combinando com a hora que Shidou encontrou ânimo,

o intercomunicador preso em seu ouvido direito ecoou a voz de Kotori.

Para ajudar Shidou, a <Fraxinus>, onde Kotori e a equipe estavam

esperando, já estava sobrevoando a Escola de Ensino Médio Raizen. Muitas

câmeras autônomas foram enviadas à sala de aula para observar as ações de

Kurumi.

Determinado, Shidou vagarosamente se levantou de sua cadeira.

Naquele momento, ele ouviu uma voz baixa vindo do assento próximo a

ele.

— Shidou...

Shidou se virou para ver que Tohka estava lançando a ele um olhar

inquieto cheio de preocupação.

— Tohka...

155

Enquanto sorria, Shidou pegou uma marmita de sua bolsa e usou seu

dedão para atirar uma trufa de soja em sua boca.

— Uhn, delicioso... agora eu sinto que tenho a força de cem pessoas.

— Oh......!

Tohka abriu bem seus olhos enquanto balançava sua mão alegremente.

Então ao mesmo tempo, do lado oposto de Tohka... um olhar estranho foi

sentido vindo do seu lado esquerdo.

— Shidou, comer meu chocolate vai te dar a força de mil pessoas.

Origami permaneceu sem expressão, mas falou com uma intensidade

incomum.

Porém, o chocolate de Origami era uma estatueta delicada em escala 1/6

da própria Origami. para falar a verdade, seria uma visão horrível se ele o

pegasse e o comesse normalmente como fez com o da Tohka. Enquanto dava um

sorriso torto e coçava o rosto, Shidou virou seu corpo para Origami.

— Eu vou comer o da Origami depois... assim que eu selar o reiryoku da

Kurumi.

— ............

Concordando com as palavras de Shidou, Origami parecia ter sido

persuadida.

Shidou olhou para as duas alternadamente, e então falou com as palavras

transbordando sua resolução.

— Estou indo agora.

— Umu......!

— Boa sorte.

Dando um grito de confirmação para ambas, Shidou avançou seu passo,

sem perder o ritmo até ficar de frente com Kurumi.

— Olá, Kurumi.

— Ara, Shidou-san, como posso ajudá-lo?

156

Talvez, mesmo sendo ela quem definiu o dia da batalha decisiva, Kurumi

tinha fingido esquecimento para poder falar de forma jocosa.

Shidou respirou gentilmente e, como se estivesse se adaptando ao tom

brincalhão dela, esticou as mãos.

— Depois, posso te convidar a um encontro?

— Ara, ara.

Kurumi deliberadamente fez uma expressão de surpresa antes de

vagarosamente relaxar as bochechas.

— Se estiver tudo bem para você, eu ficaria honrada.

Então, com a elegância de uma filha de família nobre, Kurumi pegou a

mão de Shidou para se levantar.

Dos olhos de uma pessoa alheia, esse gesto sem dúvidas pareceria com o

de uma dama aceitando o convite de um homem. De fato, depois de testemunhar

essa cena, os outros estudantes começaram a fofocar.

Porém, a reação de Tohka e Origami foram um pouco diferentes do

restante. Seus olhos estavam fervilhando de tensão, mas isso também mostrava

sua confiança em Shidou enquanto elas o viam sair pela porta.

Isso porque elas sabiam... que apesar da linguagem utilizada, para Shidou

e Kurumi, aquilo era só sinal anunciando o início da guerra entre eles.

— Bem, vamos indo.

— Ah, tudo bem.

Shidou acenou em concordância enquanto ele ajustava seu uniforme e

deixava a sala de aula com Kurumi. No caminho, quando eles passaram pela sala

vizinha, Kaguya e Yuzuru vieram dar um joinha para ele. Shidou retornou o

gesto enquanto andava no corredor.

Mesmo que os estudantes tenham ficado incomodados com a estranha

visão, seus rumores e fofocas não foram ouvidos por Shidou.

Não havia porque ele se preocupar mais com sua reputação. Somente no

último ano Shidou recebeu apelidos desagradáveis como "caçador de alunas

transferidas", "Itsuka da velocidade da luz" e "o homem que pilhou virtudes na

vida passada e agora está descarregando no presente". Naquele momento, se um

157

ou dois escândalos a mais forem feitos, esses rumores não causariam mais estrago

em alguém que já estava calejado.

『...Shidou. 』

Enquanto Shidou estava pensando em tal coisa conforme andava, a voz de

Kotori de repente foi ouvida pelo intercomunicador.

『Eu recebi as opções. Vamos decidir onde ir antes de deixar a escola. 』

Enquanto observava Kurumi e Shidou caminhando, três escolhas foram

mostradas no monitor principal da nave espacial, <Fraxinus>.

① - Casa

② - Karaokê

③ - Web-Café

As opções de curso de ação eram mapeadas por um dispositivo de

manifestação Realizer que indicava o humor atual de Kurumi e seu estado mental

em relação aos seus sentimentos por Shidou.

— Toda a equipe, decidam!

Enquanto Kotori dava a ordem, todos os membros da equipe na parte

inferior da ponte de comando começaram a operar seus consoles todos de uma

vez.

Depois de alguns minutos, o monitor mostrou os resultados estatísticos.

Mesmo que por uma pequena margem, a opção ② foi a que obteve o

maior número de votos. Kotori acariciou seu queixo.

— Bem, é compreensível... mas Maria, as opções não foram um pouco

tendenciosas?

Quando Kotori terminou de falar, os caracteres MARIA apareceram na

tela e uma voz foi ouvida dos alto-falantes instalados na ponte de comando.

Era a IA de gerenciamento da <Fraxinus>, também conhecida como

MARIA.

— Como eu disse anteriormente, as opções são automaticamente geradas

baseadas em vários dados que temos do Espírito em vez de serem criadas do

158

nada. Porém, se posso expressar minha opinião, esse não seria um movimento

crucial para essa partida?

— Partida?

— Sim, a adversária é Tokisaki Kurumi; ela não é uma oponente que

podemos nos dar o luxo de sermos negligentes. Acredito que nós devemos estar

preparados para o risco que cada escolha pode trazer, então devemos começar

com um ataque rápido imediatamente.

— Ataque rápido......?

— Para ser direta, nós devemos prendê-los em uma sala para que não

possam sofrer interferências de outras pessoas.

— ...E-Então é isso...

As sobrancelhas da Kurumi tremeram enquanto sua voz ressonava um eco

instável, mas ela imediatamente mudou seu processo de pensamento para

aproximar o microfone de sua boca.

— B-bem, de qualquer forma, Shidou, a escolha é a ②...

— Não... Esperem um pouco.

Mas assim que Kotori aproximou o microfone para dar as instruções à

Shidou pelo intercomunicador, o próprio de repente respondeu isso enquanto

era centralizado pela tela do monitor.

Enquanto trocava os calçados perto da entrada, Shidou ergueu sua voz

para bloquear as instruções vindas da <Fraxinus>.

Como Kurumi também estava trocando seus sapatos, ele tinha que fazê-lo

em uma altura que prevenisse que sua conversa fosse ouvida por ela. Depois de

rapidamente olhar para a direção de Kurumi, Shidou colocou suas mãos no

intercomunicador.

— Qual o problema? Tem algo errado?

Quando Kotori perguntou de forma suspeita, Shidou gentilmente

balançou a cabeça em negação antes de continuar a falar.

— ...Eu já decidi para qual lugar quero ir.

— O quê?

159

Kotori soltou uma voz aturdida. Então, outra voz além da voz de Kotori

ressoou em seus ouvidos. Uma voz de garota que parecia um sino prateado: a IA

da <Fraxinus>, Maria.

— Em outras palavras, quer dizer que você não tem confiança na minha

performance?

— Não, não é algo assim...

Shidou teve dificuldades para responder enquanto fazia uma expressão

complicada. Então, pouco tempo depois, ele ouviu um som parecido com uma

risada vindo de Maria.

— É só brincadeira... nós só estamos aqui para te dar suporte. Se você tiver

uma convicção firme, um homem deve ser capaz de fazer isso sozinho.

— Maria...

Depois de Shidou dizer esse nome, Maria continuou o questionamento.

— O que acha, Comandante?

Normalmente, Maria só a chamaria de Kotori, mas parece que ela tinha

intencionalmente usado um título mais formal dessa vez para reforçar seu

argumento.

Depois de uma pausa momentânea, Kotori suspirou profundamente.

— Fala sério, se eu disser que não acho isso uma boa ideia, então eu seria

chamada de teimosa.

Então, depois de ouvir o som do farfalhar dos cabelos dela, um "tudo bem"

pôde ser ouvido sendo transmitido a ele.

— Não há dúvidas de que o Shidou é o maior especialista em Espíritos do

mundo. Se alguém disser isso, eu vou reconhecer como verdade... assim como

Maria afirmou, nós estamos aqui para dar suporte. Faça como desejar. Se isso

acabar se tornando uma falha total, então é nesse ponto que nosso trabalho entra.

— Ah... obrigado, Kotori, Maria.

Assim que Shidou deu seu reconhecimento, Kurumi voltou até ele com

seus sapatos já trocados.

— Te fiz esperar, Shidou-san.

160

— Não foi nada. Então, podemos ir?

— Eh, a propósito...

Enquanto falava, Kurumi gentilmente colocou seus dedos em seus lábios.

— Tem um lugar que eu gostaria de ir.

— ......!

Em resposta às palavras de Kurumi, Shidou rapidamente franziu o cenho.

Imediatamente depois, a voz de Kotori foi ouvida pelo intercomunicador

emitindo um som de "ah cha".

— Parece que temos um conflito de planejamento. Se nós pudermos tomar

a dianteira seria muito bom, mas se for muito difícil convencê-la, então a

prioridade terá que ser cumprir com as expectativas de Kurumi primeiro.

— Er...

Porém, Shidou não estava muito nervoso.

Por que isso...? Ele não sabia exatamente o porquê, mas de alguma forma

parece que a linha de pensamento de Kurumi estava alinhada com os seus planos.

— Na verdade, eu também tenho um lugar em mente... provavelmente

seja o mesmo local que o seu.

— Ara, ara.

Kurumi deu um sorriso como se estivesse se divertindo com as palavras

de Shidou, rindo enquanto segurava a mão dele.

— Que interessante, então vamos descobrir isso juntos... por favor, me leve

no lugar que tem em mente, Shidou-san.

— Ah, deixe isso comigo.

Por um momento, Shidou sentiu um arrepio repentino ao sentir o toque

frio da mão de Kurumi, mas de alguma forma ele conseguiu evitar que seu

tremor fosse notado enquanto pegava na mão dela.

Então, os dois vagarosamente caminharam para a direção da estação.

...Depois de alguns minutos, com uma breve conversa entre Shidou e

Kotori, os dois finalmente saíram da Estação Tenguu.

161

— Aqui...

Os dois entraram dentro do prédio, parando em frente de uma certa loja

no momento em que a voz de Kotori foi ouvida pelo intercomunicador.

Kotori provavelmente também percebeu. Aquela era... uma loja de

lingeries que Shidou e Kurumi tinham visitado no encontro anterior.

— Bem... é esse o lugar que o Shidou-san queria ir?

Kurumi olhou para a vitrine da loja, sua boca esboçou um sorriso

enquanto Shidou acenou com a cabeça.

— AH, sim.

— Ufufu... então é isso? Shidou-san quer tanto assim me ver com roupas

de baixo?

— ...Bem, não é isso, é isso, mas não do jeito que está...

Defrontando uma resposta tão instigante de Kurumi, Shidou não

conseguiu deixar de ser incoerente. Vendo Shidou em tal estado, Kurumi soltou

uma gargalhada.

Depois disso, Kurumi olhou para a loja mais uma vez antes de falar.

— ...Essa é a resposta correta.

— Hã?

— O local que eu queria ir... apropriadamente falando, era sem dúvidas

aqui. Ufufu, eu me lembro de quando Shidou-san e eu vieram aqui. Eu estou tão

feliz.

Depois de dizer isso, Kurumi expôs um sorriso.

Isso mesmo, a Kurumi em pé naquele momento e a Kurumi que tinha

vindo a essa loja com Shidou no passado eram a mesma pessoa e pessoas

diferentes ao mesmo tempo.

No ano passado, em junho, a Kurumi que se aproximou de Shidou e saiu

em um encontro com ele era um clone nascido do <Zafkiel> de Kurumi.

— Eu estive pensando nisso desde aquele dia. Eu queria saber o que eu

tinha sentido ao visitar esse lugar com o Shidou-san... e o que eu estava pensando

antes de ter meu coração roubado pelo Shidou-san.

162

— ............

Enquanto Kurumi dizia isso, Shidou ficou em silêncio.

Naquela hora, a Kurumi que tinha andado e rido com ele naquela rua e a

Kurumi que tinha esticado sua mão para ele no telhado da escola não existia mais.

— Kurumi, você...

Shidou abriu sua boca, mas parou no momento seguinte.

As palavras ditas por Kurumi pareciam emitir de alguma forma uma

expressão melancólica e solitária.

— Mesmo que ela tenha sido uma garota imatura, ela também era eu.

— ............

Shidou se colocou em silêncio novamente, mas depois de alguns

segundos, ele soltou um suspiro gentil.

Então, Shidou segurou as mãos de Kurumi com ainda mais vigor em sua

mão.

— ...? Shidou-san?

— Isso aí, com certeza essa é a resposta para o encontro daquela vez.

— Hã?

Kurumi parecia chocada com as palavras de Shidou enquanto virava os

olhos. Enquanto isso, Shidou ergueu sua boca enquanto olhava novamente para

ela.

— Mesmo que tenha sido um clone, eu sou o homem que uma vez

conquistou a Tokisaki Kurumi. Sendo assim, vamos seguir o mesmo cronograma

daquela vez. ...Antes do dia terminar, você só estará pensando em mim.

— Haha.

Com uma expressão estupefata em seus olhos, Kurumi desabou em rir.

Então, ela retornou o favor colocando ainda mais força no aperto à mão de

Shidou.

— Estou ansiosa por isso. Ufufu, Shidou-san, você pode me capturar?

Os dois sorriram um para o outro enquanto entravam na loja lado-a-lado.

163

Aquela era uma loja de lingeries. Naturalmente, havia uma fileira de

roupas de baixo femininas à mostra nessa loja. Ela apreciava como um jardim

cheio de flores multicoloridas florescendo.

Entre tais flores, Kurumi andava graciosamente em ritmo passo a passo,

assim como uma borboleta. Cabelos negros brilhosos, um casaco preto, e um

único olho vermelho, ela parecia uma borboleta adorável com asas negras como

a noite.

— ...Ei, Shidou-san, é claro que você vai escolher um lingerie para mim,

não é?

Kurumi virou seu rosto enquanto mostrava um sorriso travesso. Ver tal

aparência adorável era algo um pouco perigoso para Shidou, pois ele sentiu as

batidas de seu coração acelerar.

— ...Isso, ah, é claro.

— Ufufu, que divertido. Venha... qual você acha que vai ficar bem em

mim?

Kurumi inclinou sua cabeça de forma brincalhona enquanto perguntava?

Atrás dela estavam incontáveis flores, era como se Kurumi estivesse

apontando várias armas multicoloridas para ele.

Naquela hora, uma voz veio do ponto no ouvido de Shidou fazendo uma

pergunta.

— ...precisa de uma opção, Shidou?

— ...Não, por favor, deixe-me pensar nisso sozinho dessa vez.

Com um sussurro, Shidou deu um passo à frente sem medo enquanto

olhava as roupas de baixo que estavam alinhadas no mostruário da loja.

Porém, seria difícil dizer que escolher uma lingerie sexy e chamativa seria

um bom movimento. Falando nisso, em uma partida onde o primeiro que se

apaixonar perde, permitir que Kurumi se equipe com uma roupa tão destrutiva

pode causar um dano irreversível a ele.

Em poucos minutos, ele encontrou algo apropriado para Kurumi, uma

roupa íntima que era exótica sem ser muito erótica. Shidou chamou Kurumi.

— Kurumi, que tal essa?

164

— Ara, ara, é bem bonita, eu imaginava que o Shidou-san definitivamente

escolheria aquele tipo de lingerie.

Enquanto falava, Kurumi apontava para uma sensacional roupa íntima

vestida por um manequim. Shidou sentiu uma gota de suor escorrer pelo seu

rosto.

— N-N-Não, estou dizendo que essa roupa íntima pode ficar

inesperadamente bem em você, não acha?

— Ufufu, então é isso? Se o Shidou-san está dizendo, então vou

experimentar.

Com uma expressão alegre, Kurumi pegou a roupa que Shidou selecionou

e foi para o provador.

Então, alguns minutos depois.

Com um silvo, a cortina se abriu para revelar Kurumi vestindo a lingerie.

— ......!

Olhando para aquela figura, Shidou inesperadamente engasgou com sua

própria respiração.

Ele se amaldiçoou por sua superficialidade e descuido. Certamente,

considerando o dano potencial que ele poderia sofrer, Shidou escolheu um

design com um grau de exposição relativamente baixo.

Porém, ele tinha se esquecido que o valor da roupa íntima não era

determinado pelo nível de exposição.

...Antecessores disseram: "A vitória não está em roupas íntimas eróticas,

mas sim nas roupas íntimas brancas".

Como resultado, lingeries que deveriam ser relativamente modestas,

produziam efeitos sinérgicos além das expectativas ao cobrirem o corpo de

Kurumi com o mais fino dos materiais.

Deslumbrantemente puro, um branco amável também tem uma beleza

polida. Por um momento, Shidou só conseguiu permanecer calado.

— ...Shidou-san?

— Err... ah.

165

Ao ouvir seu nome ser chamado, Shidou foi trazido de volta à realidade.

— Como ficou? Combinou comigo?

— Ah...... ficou muito bom, bom a um ponto de ser perigoso.

Depois de Shidou terminar de falar, Kurumi olhou para ele surpresa por

um instante enquanto suas bochechas coravam levemente.

— Ufufu, nesse caso, posso dizer que eu peguei o Shidou-san?

— Ei... do que está falando?

Em resposta às palavras de Kurumi, Shidou encolheu os ombros enquanto

falava. Naquele momento, ele estava no limite do fingimento, não havia nada que

ele pudesse dizer.

Ele não sabia se as reais intenções por trás de suas palavras tinham sido

notadas, mas Kurumi de repente revelou uma expressão sorridente.

— Bem, vamos levá-la então... Shidou-san.

Enquanto falava, Kurumi acenou para ele. Shidou vagarosamente andou

em direção a ela enquanto inclinava suas mãos para baixo.

— Pegue isso...

— Hmm...?

Kurumi entregou algo para ele que estava enrolado por um pano preto.

Defronte com esse mistério, Shidou estremeceu as sobrancelhas de curiosidade.

— O que é isso... ah, isso é...!

Desenrolando o pano com as duas mãos... Shidou sentiu um espasmo

repentino vindo de seu diafragma.

Porém, isso era natural. O que ele tinha recebido era a roupa íntima que

Kurumi tinha acabado de vestir, com um leve resíduo de temperatura quente

ainda permanecia nela por ter entrado em contato com o corpo de Kurumi.

— Ufufu, como essa é uma ocasião rara, hoje estarei vestindo a lingerie

que o Shidou-san escolheu para mim. ...Por favor, cuide bem dela.

— O-Oh...?

166

167

Apesar de não saber o que dizer, Shidou ainda assim se sentiu obrigado a

responder enquanto seu rosto ficava vermelho.

◇◇◇◇

— Hmm......

Cerca de duas horas tinham se passado desde o começo do encontro.

Enquanto observava a situação entre Kurumi e Shidou na ponte de

comando da <Fraxinus>, Kotori mexia o Chupa-Chups em sua boca.

No monitor, os dois tinham deixado a loja de lingeries e caminharam lado

a lado na rua em direção ao seu próximo destino.

A mão de Shidou segurava firmemente a mão da Kurumi. Não parecia que

Kurumi se sentia incomodada com isso. Na verdade, mesmo que suas reações

tenham sido mínimas, os valores de relacionamento da Kurumi não poderiam

ser considerados ruins.

— ...Que estranho.

Reine disse enquanto colocava a mão em seu queixo. Ela provavelmente

estava pensando na mesma coisa. Soltando um pequeno gemido, Kotori soltou

um som de "ah" enquanto ela olhava para o valor numérico no fundo da tela.

Ali, estava os valores do estado mental de Kurumi, porém......

— ...Claramente, eles estão diferentes dos valores que Kurumi apresenta

nos dias normais. É como se ela estivesse sob um estresse extremo. Porém, essa

reação não está sendo causado pelo encontro com o Shin. Isso é...

— ............

Ouvindo as palavras de Reine, Kotori ficou taciturna.

Os Espíritos ficarem sob estresse não era uma condição desejável por

Kotori.

Porém, refletida na tela, a expressão de Kurumi era de felicidade. Ainda

assim, isso não diminuía o sentimento que os valores mostravam de forma

alguma. Pelo contrário, havia uma atmosfera perigosa não identificável no ar.

168

— ...De qualquer forma, pessoal não sejam descuidados.

— Entendido!

Quando Kotori disse isso, a equipe respondeu em uníssono.

◇◇◇◇

Às dez horas, Shidou e Kurumi estavam sentados lado a lado no banco do

parque.

Desde que saíram da loja de lingeries, eles seguiram o seguinte

cronograma.

Andaram pelo mesmo caminho, comeram no mesmo local... e então

chegaram ali.

Quando uma cortina negra desceu pelos céus, iluminado somente pela luz

da lua e pelos esporádicos postes de luz. Já naquela hora, nenhuma sombra de

uma pessoa permanecia nas vizinhanças, criando a ilusão de que somente duas

pessoas tinham sobrado no mundo.

No meio de fevereiro, a temperatura depois do pôr do sol estava tão fria

que as pessoas podiam exalar uma névoa branca toda vez que respiravam.

Originalmente, esse não era um clima onde uma pessoa poderia ficar exposta por

muito tempo.

Porém, o parque era uma parte indispensável do encontro entre Shidou e

Kurumi.

— Shidou-san, você se lembra? Esse lugar...

— Ah... me lembro sim, apesar de eu não querer pensar nisso.

Shidou respondeu com um leve suspiro. Isso mesmo, foi naquele lugar

que Shidou viu pela primeira vez Kurumi cometer um crime violento e o

primeiro cadáver que ela deixou.

— Hehe.

Kurumi riu vagamente sem responder ao Shidou e então, como se ela se

lembrasse de algo, pegou uma caixa adorável de uma sacola.

169

— Pensando agora, eu quase me esqueci... Shidou-san, feliz Dia de São

Valentim.

Enquanto Kurumi dizia isso, ela entregava a caixa para Shidou.

Shidou pegou o presente com um sorriso desconcertado.

— Obrigado... mas, você quase esqueceu.

— Err, é que....

Kurumi exalou sem fôlego. Enquanto vagarosamente se virou para se

apoiar nele, um peso considerável foi colocado nos ombros de Shidou. Seu belo

cabelo negro tocava suas bochechas.

— Sobre isso... hoje foi tão divertido. É por isso que digo com segurança

que é a melhor memória que eu tenho.

— Kurumi...

Shidou levemente falou, gentilmente sorrindo enquanto pegava um

pequeno embrulho em sua bolsa.

— Bem, esse aqui é o meu, feliz Dia de São Valentim, Kurumi.

— Ara, ara.

Shidou entregou o embrulho, surpreendendo grandemente a Kurumi no

processo.

— Shidou-san... mesmo que eu não me importe muito com isso,

normalmente somente garotas...

— E por que eu não poderia!? Olha, o contrário está sendo bastante

popular ultimamente. Não há nenhuma regra que diz que só garotas devem dar

chocolates, não é mesmo?

Enquanto ele erguia sua voz para refutar as palavras dela, Kurumi riu para

mostrar seu divertimento.

— Ufufu, isso mesmo, é como você disse. ...Posso abrir?

— Ah, mas é claro.

Depois de concordarem um com o outro, os dois abriram as caixas que

receberam um do outro.

170

Shidou preparou um chocolate escuro coberto com um tempero feito de

mel e casca de laranja. Ele pensou que a cor escura e o gosto amargo combinam

com Kurumi de alguma forma.

Por outro lado, a caixa de Kurumi estava cheia de chocolates de vários

tamanhos e formatos diferentes.

Mesmo que sejam diferentes... isso não queria dizer que não havia uma

sensação de unidade entre eles. Eram chocolates em forma de gatos, do mesmo

tipo que Shidou tinha feito para ela há alguns dias.

— Oh, mas que fofinho.

— O chocolate do Shidou-san parece estar delicioso.

Enquanto falavam um com o outro, os dois inconscientemente pegaram

um chocolate da caixa e os jogaram em suas bocas.

— Haha, isso está delicioso, esse sabor... isso é avelã?

— Ah, como esperado do Shidou-san. Mmm... esse também está delicioso.

— ............

— ............

Não era como se não tivessem mais nada para falar.

Em vez disso, era só um sentimento de querer fixar o olhar nos olhos do

outro.

— ............

Shidou gentilmente puxou seus ombros para aproximar sua mão de forma

que ele pudesse amavelmente afagar a cabeça de Kurumi.

Kurumi não resistiu. Mas em vez disso, parece que ela já estava esperando

por esse ato pois ela se aproximou ainda mais dele.

Se qualquer desconhecido os visse agora, eles achariam que os dois eram

um casal em um momento íntimo. De fato, essa era a posição perfeita para

facilmente erguer o queixo dela e beijá-la.

Porém...

— ...nada mal, nada mal mesmo.

171

A voz de Kotori foi ouvida pelo intercomunicador, mesmo depois dessa

situação, não seria difícil imaginar a expressão facial que ela estava fazendo só

de ouvir sua voz.

Isso quer dizer que mesmo se eles se beijassem agora, ele não conseguiria

selar completamente o reiryoku dela.

Como se complementasse as palavras de Kotori, Shidou também ouviu a

voz de Reine.

— ...Kurumi não está mentindo. Eu chutaria que ela realmente gostou do

encontro de hoje com você, Shin. Mesmo que ela tenha uma impressão muito boa

de você, ela ainda não abriu seu coração.

Porém, Reine continuou.

— Nas profundezas de seu coração, parece haver uma grande barreira.

Determinação... resignação... algo como isso. Kurumi colocou uma amarra em si

mesmo que a impossibilita de ser feliz. Será impossível selar seus poderes a não

ser que você consiga remover a causa disso.

— ......

...Grandes amarras.

De forma silenciosa, enquanto ele gentilmente acariciava a cabeça de

Kurumi, seu coração estava relembrando aquelas palavras em uma deliberação

abrangente.

Ao mesmo tempo, a mente de Shidou recordou do que Nia e Origami

disseram.

"...de alguma forma, parece que havia algo que ela queria investigar com

meu <Rasiel>"

"...o Primeiro Espírito, ela quer matar aquela pessoa"

"30 anos atrás, naquele tempo, ela quer prevenir que a existência daquele

Espírito ocorra"

Sim, era possível que a questão estivesse enraizada nisso.

Kurumi queria usar a Décima Segunda Bala <Yud Bet> para voltar 30 anos

no passado e apagar a existência do Primeiro Espírito.

172

Mesmo que ela tenha que sacrificar tudo; mesmo que isso significasse

acumular uma milha de dez mil cadáveres para atingir esse objetivo.

Sobre o que causou isso, Shidou não sabia nada.

— ...Ei, Kurumi.

Então, Shidou abriu sua boca.

De fato, não vencer essa disputa significava morrer, mas seu motivo não

era somente esse.

Agora mais do que nunca, por essa garota que estava confiando somente

em si mesma, ele queria entender seus desejos, pensamentos e resoluções.

— Sim, Shidou-san.

— Pode me dizer por que está tentando derrotar o Primeiro Espírito?

— ......

No momento em que Shidou falou desse assunto, a expressão de Kurumi

imediatamente ficou tensa.

Porém, depois de um longo suspiro que denotava um pouco de tristeza,

Kurumi proferiu sua resposta.

— Você ouviu isso da Nia-san? Ela realmente é uma tagarela.

Kurumi ficou de pé, se afastando alguns passos do banco antes de se virar

de volta para Shidou.

Sob o céu da noite, as luzes da rua eram como holofotes iluminando

Kurumi.

Então, como se fosse uma cena de teatro.

— Shidou-san, está preparado para saber? Tudo... sobre mim.

Na escuridão da noite, os olhos da garota formaram um olhar penetrante

nele.

Enquanto o olho direito estava vermelho como sangue, o olho esquerdo

estava encravado com um relógio dourado que emitia um som de tique em

sincronia com o tempo.

— ......

173

Por um momento, Shidou pensou que o que ele estava vendo era fruto de

uma alucinação da sua mente, inadvertidamente fazendo com que ele engolisse

um suspiro de alívio.

Porém, ele não podia recuar ali, Shidou controlou suas mãos frias e

trêmulas enquanto acenava vigorosamente com a cabeça para Kurumi.

— ...Ah, essa é a minha intenção.

— ...Então está certo.

Kurumi quietamente falou enquanto elegantemente erguia sua mão

esquerda.

Naquele momento, enquanto se entrincheirava no chão, a sombra de

Kurumi se distorceu em forma de uma pistola antiga que então flutuou e

gentilmente pousou nas mãos de Kurumi.

Aquela era a pistola que servia como ponteiros das horas para o Anjo

<Zafkiel>.

— O qu...

Enquanto Shidou ficou surpreso repentinamente, Kurumi mirou e puxou

o gatilho sem hesitação. Bang, bang; um som seco ecoou algumas poucas vezes

pela vizinhança.

— ...!? Isso é...

— Perdemos o sinal de vídeo!

— As câmeras autônomas foram destruídas!

— Hã......?

Ouvindo os gritos da equipe da <Fraxinus> pelo seu ponto de ouvido,

Shidou instintivamente ergueu suas sobrancelhas. Porém, Kurumi não tinha

terminado. Ela deu um passo para frente, um passo se aproximando de Shidou,

esticou suas mãos como se estivesse querendo tocar sua bochecha.

No momento seguinte, as vozes da Fraxinus também desapareceram de

seu ouvido...

Kurumi tinha usado seus dedos para retirar o intercomunicador.

— ......!

174

Enquanto Shidou assistia aquilo com uma expressão espantada, Kurumi

pressionava seus dedos, quebrando o intercomunicador. Uma fagulha foi gerada

junto com um ruído eletrônico enquanto uma pequena quantidade de fumaça

saia de seus dedos brancos.

Em termos de tempo, isso aconteceu em menos de 5 segundos.

Nesse tempo tão curto, a comunicação entre Shidou e a <Fraxinus> foi

completamente encerrada.

Kurumi distorceu seus lábios em um sorriso torto enquanto ela mais uma

vez voltava seus olhos para Shidou.

— ...Mesmo agora?

— ......

Shidou ficou sem palavras por um instante.

Perder contato com a <Fraxinus> era o equivalente a ficar completamente

só diante de um Espírito. Se a Kurumi tivesse motivos, seria muito fácil para ele

ser comido.

Porém...

— ...Mesmo assim, eu ainda quero.

Shidou respondeu sem desviar seus olhos que estavam em contato com os

de Kurumi.

Certamente, parecia que as ações de Kurumi eram uma forma de fazer

Shidou recuar. Todavia, para ele era como se ela quisesse dizer a ele segredos que

ela não queria que mais ninguém soubesse.

Se ele não pudesse responder a esse ato de humanidade, então ele não teria

direito algum de agir como salvador de Espíritos.

— ......

Vendo tal reação de Shidou, Kurumi colocou a pistola de volta na sombra

e rapidamente se virou novamente para Shidou.

— Por favor, me siga.

Então, quando Kurumi terminou de falar, ela apressadamente andou em

direção a uma rua escura.

175

— Ah, ei.

Eles andaram por volta de 20 minutos.

Kurumi guiou Shidou por um beco e por dentro de um velho prédio

comunal.

Apesar de o prédio ter a aparência de ter sido abandonado e estar todo

pichado, a eletricidade ainda estava funcionando. Seguindo a piscante, mas ainda

assim confiável, luz, Shidou subiu as escadas e chegou a um quarto no terceiro

andar.

— Venha, Shidou-san.

— Aqui é...

Enquanto ele sussurrava, Shidou olhou para seus arredores.

Não havia muitas diferenças entre o quarto e o restante do prédio

abandonado. Mas diferente do corredor, o chão estava completamente limpo,

uma cortina estava pendurada na janela, e uma cama bem simples estava

colocada ali.

— Eu tenho vários fortes por essa cidade; esse é um deles. Mesmo que não

tenha nada aqui, por favor fique a vontade.

— ...Entendi. É um prazer ser convidado para o quarto de uma garota.

— Ufufu, você é cheio dos lisonjeios, Shidou-san.

Kurumi deu um pequeno riso enquanto sorria, tirou seu casaco e o colocou

em um cabide. Então ela esticou sua mão para Shidou, que inclinou levemente

sua cabeça.

— Ah, obrigado.

Shidou imitou as ações de Kurumi, quando ele entregou seu casaco a elas,

ambos foram pendurados juntos. Então, enquanto lentamente ela se aproximava

de Shidou...

— ............

Sem qualquer aviso, Kurumi pressionou seu corpo contra o peito de

Shidou.

— Kurumi...

176

— Shidou-san, você disse que queria saber tudo sobre mim.

— ...Ah.

Depois de ouvir a resposta de Shidou, Kurumi, que ficou sem dizer nada

por alguns segundos, enterrou seu rosto no peito dele, depois disso...

— ...Então, por favor, aceite isso...

Kurumi disse enquanto vagarosamente movia sua mão esquerda que, sem

o conhecimento dele, estava segurando uma pistola mais uma vez.

— <Zafkiel>... A Décima Bala <Yud>.

A sombra de Kurumi vagarosamente foi arrepiada e sugada pelo cano da

pistola.

Em um movimento, a pistola ficou alinhada com sua têmpora, então,

agindo como se fosse em sua própria cabeça, ela puxou o gatilho em Shidou.

◇◇◇◇

Quanto tempo já se passou?

Um dia, em uma escola exclusiva para garotas, dentro de um certo

lavatório.

— ...Hm.

Kurumi olhou para o espelho e viu seu próprio rosto sendo refletido.

...Um tapa-olho cobria seu olho esquerdo.

— No final das contas, isso não chama atenção demais?

Enquanto falava, ela removia o tapa-olho. O que estava escondido sob ele

agora estava exposto e refletido no espelho... seu olho esquerdo havia mudado

de aparência e agora se parecia com um relógio dourado.

Aquilo não era nada como lentes de contato especiais ou maquiagem. Era

difícil de acreditar, mas aquilo possuía até os ponteiros de minutos e segundos,

ticando com um som de tique-taque.

177

Sim, alguns dias atrás, Kurumi encontrou uma garota misteriosa... Mio.

Desde então ela tinha recebido um objeto que se assemelhava a uma joia com

uma radiância milagrosa, seu olho esquerdo tinha se transformado em algo

completamente diferente do que o de um ser humano normal.

Não... para ser específico, aquilo não foi a única coisa que mudou.

— ...Ufufu.

Kurumi gentilmente riu enquanto olhava seus olhos através do espelho.

Ela estaria mentindo se dissesse que não sentia nenhuma ansiedade ou

medo por ter seu corpo transformado naquela existência incomum. Porém,

comparado a isso, Kurumi estava cheia de um sentimento de realização e euforia.

Então.

— ...Kurumi-san, tem algo errado?

— ......?

Ao ser abordada repentinamente, Kurumi rapidamente colocou o tapa-

olho na posição original.

Se virando na direção da voz, Kurumi descobriu que era sua amiga que

estava em pé ali: Yamauchi Sawa. As mãos de Kurumi tremeram com o mal-

entendido.

— N-Nada, não tem nada de errado.

— ............

Com a resposta nervosa de Kurumi, Sawa encarou intensamente seu rosto.

— Ele está melhor? Seu olho esquerdo.

— E-Eh, ele ainda está em uma forma um pouco complicada para ser visto.

— Parece bem sério então... Por favor, cuide de seu corpo.

Depois de expressar sua preocupação com a saúde de Kurumi, Sawa se

lembrou de algo.

— Parando para pensar, Kurumi-san, você está livre depois da escola hoje?

Minha tia disse que queria trazer os irmãos do Chestnut para brincar.

— Hã...!?

178

Ao ouvir esse convite repentino, as sobrancelhas de Kurumi tremeram

levemente.

Chestnut era um gato que ostentava um alto nível de fofura, mas ouvir

que seus irmãos estariam presentes dessa vez, seria realmente um paraíso de

fofura para qualquer um. Se lembrando do sentimento do pêlo aveludado e das

patas macias de Chestnut, Kurumi ficou momentaneamente encantada.

Porém, ela imediatamente recobrou sua compostura e balançou sua cabeça

negativamente. Aquele dia ela tinha um compromisso que ela não podia deixar

de lado de forma alguma.

— M-Me desculpe, mas eu terei que recusar.

— Ah, você tem algo que precisa fazer?

— Sim... uma pequena tarefa, mas, por favor, me convide novamente

outro dia.

— Mas que pena, mas não tem nada que possa ser feito. Então fica para a

próxima.

— Absolutamente, com certeza, certo?

— S-Sim, eu já entendi.

Confrontada com o desejo implacável de Kurumi, Sawa só conseguiu

sorrir desconcertada enquanto suor escorria pelo seu rosto.

...Depois da escola naquele dia.

Kurumi estava em pé sozinha no telhado de um prédio nos subúrbios da

cidade.

O pôr do sol vermelho estava brilhando em suas costas, enquanto o vento

soprava na saia de seu uniforme.

— Venha.

Como se combinasse com a fala de Kurumi, pequenos passos ecoaram por

trás dela.

Se virando, Kurumi encontrou a figura de uma garota que não estava ali

antes.

179

Takamiya Mio, a garota que apareceu diante de Kurumi há alguns dias e

lhe deu poderes.

— Olá, Kurumi. Por favor, dê o seu melhor hoje de novo.

— Hm, por favor deixe isso comigo, Mio-san.

Assim que Kurumi a respondeu, a voz nos arredores desapareceu no

mesmo momento. Sim, foi exatamente igual a primeira vez que Kurumi

encontrou Mio.

Kurumi não sabia o princípio detalhado daquilo, mas isso devia ser devido

à habilidade de Mio. Ao encantar os arredores com algo que se parecia com uma

barreira, ela podia prevenir que o inimigo fuja para o lado de fora.

No momento seguinte, uma anormalidade apareceu abaixo de Kurumi.

Uma tempestade de neve, de repente cristais de gelo e neve apareceram e

começaram a girar formando um redemoinho. Dentro desse redemoinho, aquilo

apareceu.

Uma anormalidade que tinha a silhueta semelhante a de uma boneca feita

de gelo.

Mesmo que tenha sido a primeira vez que ela via aquilo, não havia

dúvidas.

...Espírito. Com um tremendo poder, Mio descreveu aquilo como uma

calamidade que está matando esse mundo.

— Bem, estou indo agora.

Depois de Kurumi falar brevemente, ela infundiu seus pés com poder e

pulou da beirada do prédio.

Caindo do céu, ela virou seu corpo com o objetivo de pousar em frente ao

Espírito de gelo. Mas é claro, seu pulo não era nada parecido com um feito

suicida.

— Astral Dress <Elohim>.

No momento que Kurumi entoou esse nome, sombras encobriram seu

corpo, formando um vestido brilhante feito de partículas de luz.

E...

180

— ...<Zafkiel>!

Quando Kurumi chamou por esse nome, duas pistolas com visual antigo

de tamanhos diferentes se manifestaram em frente de suas mãos.

— Sério, você apareceu em má hora... eu estou com um pouco de mal

humor hoje.

Kurumi afiou seu olhar. Caindo do prédio, ela apontou suas pistolas para

o Espírito de gelo.

...Mate os espíritos para salvar o mundo.

A autoproclamada Aliada da Justiça, Takamiya Mio-san, disse isso a ela

depois de dar poder à Kurumi.

Um Astral Dress absoluto... e um Anjo que pode controlar o tempo e as

sombras, <Zafkiel>.

Foi como a cena de um anime. Se ela quisesse falar sobre isso com seus

amigos e família, eles certamente iriam rir disso como se fosse uma piada mal

feita.

Porém, para Kurumi, que foi escolhida para vestir um astral Dress e portar

um Anjo, aquilo não era motivo para rir.

A existência de um poder sobrenatural que era além do senso comum.

E a presença de um inimigo que deve ser derrotado.

Mesmo Kurumi tendo crescido em um ambiente pacífico, a experiência de

ser atacada por um monstro grotesco e ser salva por uma misteriosa garota fazia

ela aceitar tudo aquilo como sendo verdade.

...Dessa forma, Tokisaki Kurumi se tornou uma caçadora de Espíritos.

Obviamente, ela estava arriscando sua vida, e ela não estava

completamente livre do medo.

Porém, ela não estaria viva naquela hora se Mio não aparecesse para

ajudá-la... sem contar que o objetivo de salvar o mundo despertou emoções que

estavam nas profundezas do coração de Kurumi.

Com um desejo de ajudar, as mãos das pessoas ocasionalmente ganhavam

força, mas elas ainda não tinham meios e métodos para alcançar seus objetivos.

181

O sentimento de salvar o mundo com suas próprias mãos preenchia o

vazio dentro do coração de Kurumi.

Por causa disso... Kurumi começou a lutar.

Para proteger seu mundo, família e amigos, ela matava os monstros que

apareciam na cidade.

Ela estava convencida que aquilo era por todo mundo.

Ela estava convencida que aquilo era por si mesma.

Ela estava convencida que... aquele era o significado de sua existência.

Porém, o fim daquele sonho veio mais cedo do que imaginava.

...Naquele dia. Naquele mesmo dia. Kurumi e Mio estavam suprimindo

outro Espírito juntas.

Uma variante revestida de chamas por todo o corpo, cada passo que ela

dava causava um calor residual que incendiava os prédios arredores, as ruas e as

árvores.

Era um inimigo muito poderoso e intimidador.

Porém, Kurumi não estava com medo. Segurando <Zafkiel> em ambas as

mãos, ela atirou uma saraivada incessante de balas.

— E é isso... está acabado...!

— ............

Juntamente com o som seco de tiros, o Espírito de fogo finalmente caiu.

Porém, seu corpo ainda estava vagarosamente se movendo, com seu punho feito

de cinzas se esticando em direção à Kurumi.

— ...Que persistente.

Kurumi cuspiu um suspiro de irritação e se moveu para atirar na cabeça

do Espírito. Depois disso, o corpo de Espírito permaneceu imóvel.

— Fala sério... finalmente isso acabou.

— ...Obrigada pelo esforço.

— Kya!

182

Assustada com a voz que veio de trás dela, o corpo de Kurumi se encolheu

instintivamente por um segundo. Olhando para trás, ela viu que Mio tinha

inesperadamente aparecido.

— Por favor, pare de aparecer tão de repente, você me assustou.

Quando Kurumi disse isso, Mio abaixou sua cabeça como se tivesse

pedindo desculpas.

— Como sempre, eu vou cuidar do restante do processo. Você pode voltar.

Se me lembro bem, você não disse que tinha feito uma promessa com uma amiga?

— Hm... Eu farei isso. Então, se cuide.

Depois de Kurumi dizer isso, ela deixou seu Astral Dress e Anjo se

desfazerem em partículas enquanto andava para fora daquele local.

Kurumi já tinha se acostumado com tal interação onde ela deixava a

barreira de Mio e seguia seu caminho.

Ela olhou para um relógio... naquele dia ela planejou ir até a casa da Sawa

para brincar com os irmãos e irmãs de Chestnut, mas parece que ainda tinha um

pouco de tempo sobrando.

— ...Muito bem.

Kurumi bateu as palmas das mãos e se dirigiu para a direção original de

onde ela tinha vindo.

Não havia nenhum motivo em especial, ela só pensou que seria legal levar

Mio até a casa de Sawa.

Já havia um tempo que ela e Mio suprimiam os Espíritos, mas elas nunca

tinham se falado fora do campo de batalha. Kurumi tinha certeza que mesmo

Mio, que sempre parecia estar com uma expressão levemente melancólica em seu

rosto, daria um sorriso depois de tocar um gato fofinho.

Porém...

— ......Hã?

Virando o beco, ela estava prestes a voltar ao local onde lutou contra o

Espirito momentos atrás. Mas abruptamente, Kurumi parou seus passos.

Mio estava lá como o esperado... mas o que estava caído ali não era um

monstro, mas sim uma garota humana.

183

— ......

Não, não somente isso. Kurumi estava tão surpresa que ela engasgou em

sua própria voz seca.

Sim, quem estava caída ali era...

...era a amiga de Kurumi, Yamauchi Sawa.

— O q...... hein......?

Enquanto estava incapaz de entender o significado daquilo que estava

diante de seus olhos, Kurumi encarava com olhos arregalados de horror.

Como se tivesse percebido o retorno de Kurumi, Mio vagarosamente virou

seu corpo para a direção dela.

— ...... Ah, Kurumi, você voltou. ...isso é lamentável, eu queria ser uma boa

parceria para você por um pouco mais de tempo.

Enquanto falava, Mio se virou para encarar Kurumi.

...Em suas mãos estava uma gema flutuante brilhando em um tom

vermelho.

Sem dúvidas, apesar da cor diferente, aquilo era a mesma coisa que Mio

tinha dado à Kurumi.

— D-Do que está falando... Por que a Sawa-san...

— Ah, ela era sua conhecida? Isso é realmente... eu fiz algo imperdoável.

— ...Será que...

Kurumi colocou sua mão próxima a sua boca. Em frente de vários

materiais que estavam à mostra, uma linha ligou os pontos que se formaram em

sua mente. Kurumi sentiu uma tremenda vontade de vomitar em seu estômago.

— ...No final das contas, você é muito inteligente.

A breve resposta de Mio só serviu para deixar Kurumi desesperada.

Sim, a posição onde Sawa estava caída era exatamente o mesmo ponto

onde Kurumi atirou e matou o Espírito de fogo.

E então, o Cristal Sephira estava aninhado nas mãos de mio. Isso

significava que...

184

— Aquele espírito era a... Sawa-san...?

Kurumi silenciosamente murmurou enquanto ela sentia seu coração se

contrair fortemente.

Aquele Espírito não foi o único. Kurumi tinha derrotado mais de 50

Espíritos em vários lugares. Talvez todos eles também fossem humanos.

Não, por outro lado, até mesmo a Kurumi tinha um Cristal Sephira

daqueles...

— Ah... AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH...!?

Naquele momento, Kurumi caiu de joelhos. Sua cabeça e coração estavam

rangendo de uma dor terrível... desespero. Esse sentimento negro começou a

corroer seu coração. Era como se uma alucinação de sua própria existência

virando do avesso.

...Nada bom, nada bom, esse sentimento não é permitido.

Instintivamente percebendo que aquele sentimento estava longe de ser

benéfico, Kurumi subconscientemente ergueu sua mão direita.

— ...<Z-Zafkiel>... a Quarta bala <Dalet>.

Então, quando Kurumi proferiu esse nome, o Anjo se manifestou,

permitindo a ela atirar uma bala em sua própria cabeça.

...Rebobinar o tempo do alvo, a Quarta Bala <Dalet>.

Para retroceder seu corpo e mente para o estado antes de sentir desespero.

— Ah... ah... ah...

Enquanto sua respiração tinha dificuldades para recobrar um ritmo

constante, Kurumi encarou atentamente Mio. Porém, Mio não estava com medo,

nem tremendo. Em vez disso, seus olhos estavam arregalados devido ao

impressionante ocorrido.

— Que surpresa, em pensar que você interromperia a Inversão através de

seus próprios poderes, mas você me poupou trabalho. Seria trabalhoso purificar

um Cristal Sephira refinado.

— Inversão... r-refinado...?

185

Depois de Kurumi perguntar, Mio, entre seus pensamentos, fez um gesto

de concordância com a cabeça.

— Isso, acho que você já percebeu, mas Espíritos são humanos que

receberam um Cristal Sephira. ...Não, eu compartilhei meu poder com eles; ficou

preciso dessa forma? Originalmente, a palavra Espírito só se referia a mim, o

Primeiro Espírito.

— O q...

— ...Mas, o Cristal Sephira original era incompatível com os atributos

humanos. Se ele for dado de forma forçada, os seres humanos não seriam capazes

de suprimir o poder transbordante, e ficam fora de controle.

Então, Mio continuou.

— Para fazer com que os Cristal Sephira fiquem compatíveis com os

humanos, a purificação é necessária. Então, se você der um Cristal Sephira

refinado a uma pessoa qualificada, ela vai se tornar um Espírito que consegue

manter sua consciência... assim como você.

— ...Quer dizer que a purificação é...

Os olhos de Kurumi se arregalaram de horror, quando o medo passou por

sua mente e seu corpo reagiu fazendo as raízes de seus dentes tremerem.

Porém, Mio continuou falando de forma indiferente.

— Isso, se forem colocados em corpos humanos, ele fará com que elas

fiquem fora de controle. Mas se o processo for repetido várias vezes, o Cristal

Sephira recuperado do corpo estará purificado. Imagine algo como um

dispositivo de filtragem; fica mais fácil de entender? Porém, recuperar o Cristal

Sephira é algo muito difícil. Eu realmente fui salva quando você apareceu.

A resposta de Mio não foi ruim; mas sim a pior resposta possível. Kurumi

se agarrou em seu peito para prevenir o sentimento de desespero de ressurgir.

...Tudo foi esclarecido.

Kurumi tem sido usada por Mio.

Enquanto pretendia salvar o mundo... Kurumi esteve matando humanos.

Com um olhar transbordando de raiva, Kurumi liberou um rugido de sua

garganta.

186

— Por que... você quer fazer uma coisa dessas...?!

Quando Kurumi perguntou isso aos berros, pela primeira vez Mio

mostrou uma expressão de complicação.

— ...Me desculpe. Eu realmente sinto muito. Eu não tenho nada contra

você. Mas eu não posso parar... não até todos os Cristais Sephira serem entregues

à humanidade.

Quando Mio disse isso, ela virou suas mãos em direção a Kurumi.

— ...Até lá, boa noite, Kurumi. Obrigada por tudo que fez até agora.

— O que você está...

As palavras de Kurumi de repente foram encerradas.

Não, seria melhor dizer que sua consciência foi interrompida.

...Quando será a próxima vez de despertar?

— ...Ara, ara...?

No meio de uma consciência enevoada, Kurumi abriu seus olhos.

Com uma memória nublada, ela não conseguia se lembrar de nada. A

única coisa que ela conseguia se lembrar era de seu próprio nome e do

extraordinário poder que ela portava.

Olhando em volta, o centro da rua estava destruído como se tivesse sido

atingido por um meteoro. Kurumi estava de pé no centro da cratera.

— Sim, onde é aqui... exatamente...?

Na vista que estava diante de seus olhos, havia muitos fatores

desconhecidos para seu cérebro conseguir lidar.

Onde era aquele lugar, quem era ela, por que ela estava ali...?

Quando Kurumi se questionava sobre esses assuntos, um ruído distante

ziniu em seus ouvidos.

— ...Ara?

Olhando em volta, ela viu pessoas voando no céu enquanto vestiam

armaduras mecanizadas. Com aquela estranha vista, os olhos de Kurumi ficaram

atordoados de espanto.

187

— Que incrível... O que exatamente é isso...

Porém, elas não deixaram Kurumi falar por muito tempo. Mirando com as

armas em suas mãos, elas atiraram várias bombas e mísseis em Kurumi.

— Kiki...!

Com os ombros tremendo, Kurumi rapidamente fugiu para sua sombra.

Mesmo que suas memórias ainda estejam incompletas, ela ainda assim, de

alguma forma, se lembrava de como usar seus poderes.

— Ha... Ha, hmm... isso me pegou de guarda baixa...

Nesse espaço escuro, Kurumi respirou profundamente enquanto tentava

rearranjar a situação atual em sua mente.

Porém, como a informação disponível era inadequada, não havia nada que

ela pudesse fazer. Fora seu nome, a única coisa que ela se lembrava era sobre seu

Anjo e Astral Dress...

— ............

Naquela hora, Kurumi concebeu uma ideia. Ela ergueu sua mão direita e

chamou pelo nome do Anjo.

— <Zafkiel>... a Décima Bala <Yud>... é isso mesmo?

Kurumi disse com uma voz apreensiva e uma pequena arma com uma

bala apareceu em sua mão. Mesmo que tenha sido algo que ela chamou, Kurumi

soltou um "uau" para mostrar sua surpresa.

— I-Isso realmente apareceu!

A décima Bala, <Yud>, se o pressentimento dela estiver correto, essa bala

poderia transmitir as memórias de qualquer objeto que ela atingir para ela, então

assim ela poderia ser capaz de se lembrar de tudo que seu cérebro vivenciou.

Os dedos de Kurumi tremeram enquanto ela pressionava o cano da arma

contra sua cabeça, mas ela ainda assim estava determinada a puxar o gatilho.

Bang, esse efeito ressoou como o som da bala atingindo a cabeça de

Kurumi.

Naquele momento...

188

— ............

O turbulento fluxo de memórias correu para a mente de Kurumi.

A garota que ela tinha conhecido anteriormente: Mio.

E... pelas suas próprias mãos, o que ela tinha feito a sua melhor amiga.

O crime cometido por seu engano.

— Ah...... ahhhhhhhhh......

Com as mãos trêmulas, Kurumi soltou a arma enquanto caía de joelhos.

Ressentimento sem fim e desespero permeavam o coração dela.

Relembrando até mesmo a tristeza entre a tolice que ela tinha feito.

...Porém.

Logo após, Kurumi ergueu sua cabeça.

Ali não estava mais uma garota que estava imersa em uma vida pacífica

ou uma criança que sonhava ser uma amiga da justiça.

o que sua expressão revelava era infatigabilidade.

O que brilhava em seus olhos era fúria.

Mesmo que ela não soubesse o que Mio estava pensando, Kurumi ainda

assim continuava viva.

E em suas mãos... o único poder que poderia interferir com o tempo desse

mundo, o Anjo mais forte, <Zafkiel>.

Tudo ainda não estava acabado.

Para refazer o mundo.

Não importa quantos sacrifícios ela terá que fazer.

Para refazer a história.

Mesmo que isso leve à destruição total de seu corpo.

Kurumi ficou de pé mais uma vez e começou a caminhar para frente.

◇◇◇◇

189

— ......!?

Vagarosamente abrindo seus olhos, Shidou verificou seus arredores.

Um quarto mal iluminado de um prédio residencial. Kurumi estava

reclinada em seu peito, a temperatura de seu corpo quente estava sendo

transmitida a ele.

Naquela hora, Shidou finalmente se lembrou.

Agora mesmo, ele estava em um encontro com Kurumi.

— A-Aquilo agora foi...

Sonhando acordado... o tempo pode ser tarde demais, mas sensualmente

era algo próximo a isso.

Aquilo foi algo como ter vivenciado a vida de outra pessoa. Até alguns

segundos atrás, a consciência de Shidou tinha certamente se convertido na de

Kurumi.

Então, Shidou percebeu, as palavras que Kurumi tinha recitado momentos

antes de atirar nele... A Décima Bala <Yud>.

Shidou já tinha visto isso antes. Um dos poderes de <Zafkiel>, a habilidade

de transmitir as memórias contidas em um objeto.

Não, Kurumi tinha atirado na cabeça de Shidou com uma arma pequena.

Isso só podia significar uma coisa.

O que Shidou tinha acabado de ver não era nem uma ilusão nem um

sonho... mas sim algo que tinha realmente acontecido no passado de Kurumi.

— ...Eu vou.

Kurumi disse de uma forma abrupta quase sem voz.

— Para matar o Espírito da Origem. Não importa o que aconteça. Não

importa... o que eu tenha que fazer.

Kurumi apertou com força a camisa de Shidou enquanto continuava.

— Eu não posso dizer que o que estou fazendo é certo. Enquanto era

enganada pelo Primeiro Espírito, eu matei várias pessoas... mesmo agora eu

190

carrego em minhas costas uma montanha de cadáveres para poder erradicar a

existência desse Espírito. Eu sou má, sem dúvidas uma inimiga da humanidade.

Matar, matar e matar mais ainda, um <Pesadelo> que traz morte atrás de morte.

Se houver realmente um inferno, um assento especial será reservado para mim

nas profundezas dele.

— Mas...

Kurumi cerrou sua mão em um punho.

— Eu não me importo, contanto que antes que eu caia na prisão da Terra,

eu possa alterar o mundo de forma a fazer que o Primeiro Espírito, Takamiya

Mio, nunca exista.

— Mio...

Shidou repetiu aquele nome em uma voz rouca. Mio. Ele já tinha ouvido

aquele nome antes...

Sim, ele tinha ouvido esse nome através da Mana anteriormente. Foi o

mesmo nome que o próprio Shidou tinha dito quando ele estava em estado de

transe quando seu reiryoku saiu de controle.

E além disso... Takamiya. Aquele sobrenome era inquestionavelmente o

mesmo sobrenome da Mana.

...Um significado desconhecido. Todas essas informações se misturaram

na cabeça de Shidou fazendo dela um caos.

Mas para o Shidou de agora, ele não tinha tempo sobrando para digerir

tudo isso.

Kurumi, depois de ficar exausta por explicar tudo a ele, vagarosamente

respirou profundamente enquanto ela afrouxava o aperto nas roupas de Shidou.

— Eu vou refazer tudo. Eu vou restaurar tudo que aconteceu do zero.

Kurumi ergueu sua cabeça que estava afundada nos peitos de Shidou e

olhou diretamente para os olhos dele.

— Esse é meu propósito, o significado da minha existência... por isso, o

poder dos Espíritos contidos dentro do Shidou-san é necessário.

Kurumi terminou suas palavras com um tom quase suplicante antes de

continuar a responder Shidou.

191

— É claro, eu não planejo esconder isso de você. Se eu comer o Shidou-

san, o Shidou-san vai morrer. Mas, contanto que eu consiga o reiryoku que o

Shidou-san tem, eu certamente conseguirei mudar a história.

— História...

Ouvindo essas palavras, Shidou não pôde deixar de se lembrar de quando

voltou ao passado com Kurumi.

Então, ele sabia melhor que ninguém que o que Kurumi disse não era uma

mera desilusão.

Afinal de contas, Shidou tinha mudado a história do mundo uma vez.

.....Com nada mais nada menos do que o poder do Anjo da Kurumi.

— Sim, ao apagar o Primeiro Espírito da história, eu nunca terei me

tornado um Espírito. Em outras palavras... o fato de que Shidou-san foi comido

vai desaparecer.

Então, Kurumi olhou intensamente para Shidou.

— Shidou-san, se você acredita em mim, por favor dê seu poder, sua vida

para mim. Por favor, só a empreste para mim por um momento.

— ......

Era uma visão diferente da Kurumi de sempre que tirava sarro dele, ela

estava com um olhar sério que deixava Shidou sem palavras.

O motivo para isso era compreensível. Porém, isso não mudava o fato de

que ele perderia sua vida. Normalmente Shidou teria pensado nisso.

Porém, o que estava naquela hora na mente de Shidou era um tipo

diferente de sentimento que ia e vinha.

...Um arrependimento que corria desenfreadamente como uma onda

violenta.

Uma raiva que ressecava seu corpo.

Naquela hora, se eu não tivesse a alcançado.

Naquela hora, se eu não tivesse apertado o gatilho.

Naquela hora, se eu não tivesse começado a caçar os Espíritos.

192

Se eu tivesse feito essas coisas, eu não teria me tornado quem eu sou agora.

Eu tenho que matar. Eu tenho que apagar. Eu tenho que fazer com que ela

nunca tenha existido.

Pelos meus amigos, pelo mundo, pelas vidas que ela comeu.

Aparentemente aqueles pensamentos não pertenciam a Shidou.

Porém, por ter vivenciado a vida de Kurumi, as emoções compartilhadas

também tinham devastado o coração de Shidou.

— Eu quero...

— ......

Enquanto Shidou soltava uma voz trêmula, Kurumi escondia seus olhos

atrás de sua franja por um momento antes de erguer a cabeça com uma decisão

tomada.

— É claro, eu não acho que essa é uma troca justa. Mesmo que eu queira

me certificar que tudo isso nunca tenha existido, não tem diferença eu solicitar a

vida do Shidou-san... então por agora, tudo que posso fazer é uma promessa.

Enquanto Kurumi dizia isso, ela despreocupadamente usou sua mão para

desabotoar sua blusa.

— ...!? E-Ei...?

Em resposta ao comportamento inesperado de Kurumi, Shidou mostrou

uma expressão desorientada.

Porém, Kurumi não pareceu se importar, pois suas mãos continuavam a

tirar as roupas que ela estava vestindo uma a uma.

A roupa de baixo escolhida na loja de lingerie já tinha sido exposta durante

o dia. Aquela peça não parecia combinar com ela, mas ainda assim ela parecia

favorecer o flerte encantador de Kurumi.

Esticando as mãos você poderia tocá-la.

E Kurumi certamente não recusaria.

Essa incrível sensação fez a cabeça de Shidou parecer que ele estava com

febre.

— .............

193

Como se tivesse percebido o estado do coração de Shidou, Kurumi esticou

seus braços e pegou as mãos de Shidou.

Então, ela puxou as mãos de Shidou de uma maneira como se elas

tivessem se movimentando sozinhas. Conduzindo os dedos de forma a fazer eles

deslizarem sobre a alça de seu sutiã.

— ............

Shidou não conseguia resistir a excitação que já tinha passado do nível

máximo permitido. Seus dedos estavam sendo conduzidos por Kurumi que os

fez abaixar as alças que estavam em seus ombros.

Mas isso não foi o fim. Da mesma forma, Kurumi colocou as mãos de

Shidou em seu abdômen, deixando os dedos próximos a sua calcinha.

A mão vagarosamente foi abaixando. Conforme a pele macia de Kurumi

gradualmente ficava exposta, Shidou não conseguia tirar seus olhos dela.

Sem nada para se cobrir, Kurumi, com as bochechas levemente coradas,

mais uma vez se voltou para Shidou.

— ...Eu vou lhe dar tudo menos meu reiryoku (Vida).

— O-O que...

Aquelas palavras saíram de sua garganta.

No quarto escuro, a luz da lua pousava pelo vão das cortinas, levemente

iluminando a pele de porcelana de Kurumi.

Nessa cena dos sonhos, a mente de Shidou primeiramente se lembrou de

um tipo de visão familiar em vez de puro desejo carnal.

Kurumi vagarosamente andou para frente, aproximando seu contato com

as mãos dele. Não, ela fez isso para empurrar o corpo de Shidou, fazendo ele cair

na cama atrás dele.

Kurumi caiu sobre o corpo de Shidou. Com respiração vacilante, ela levou

suas mãos até os botões das roupas de Shidou.

— E-Ei, Kurumi...

Shidou falou com dificuldades, querendo empurrar Kurumi para o lado.

Mas ela era um Espírito, mesmo que fosse mais fraca que Tohka em força bruta,

Shidou não tinha como competir com ela sendo um humano.

194

Não, talvez contrariando o desejo de Shidou, seu corpo instintivamente

recusaria qualquer resistência.

Para piorar a situação dele, Kurumi era... linda.

Brincadeiras a parte, se ele pudesse ficar com ela, até mesmo perder a vida

não importaria. Ela faria qualquer um perder a cabeça.

— Shidou-san, Shidou-san. Se você quiser, eu farei qualquer coisa. Se você

pedir, eu posso fazer qualquer coisa.

— K-Kurumi...

Um conflito entre racionalidade e instinto, parecia que seus neurônios

estavam sendo fritados.

Se ele se distraísse só um pouco, ele ficaria à mercê de Kurumi.

Porém...

— ......!?

No momento seguinte, quando os dedos de Kurumi estavam prestes a

tocar a pele de Shidou, um barulho alto de repente se rompeu. Era como se a

janela tivesse sido quebrada e várias garotas tivessem pulado para dentro do

quarto arrancando a cortina.

...Garotas que tinham exatamente a mesma aparência.

— En-con-tra-mos você.

— ...Hmm? Estavam esperando por isso?

— Isso é realmente nauseante. Muito bem, vamos deixar vocês terminarem

isso primeiro. Um homem morrer sem conhecer o corpo de uma mulher é

realmente lamentável.

— O q...

Shidou ficou espantado com as garotas que apareceram do nada.

Mas isso era natural já que aquelas eram as garotas que tinham aparecido

no sonho de Shidou dias atrás.

— ...Ara, ara.

Porém, a reação de Kurumi era um pouco diferente da de Shidou.

195

Comparando com surpresa, a superfície de seu rosto estava mais

carregada com raiva e frustração.

— Espíritos falsificados, vocês têm que ter muita coragem para perturbar

meu momento com o Shidou-san.

Enquanto ainda estava nua, Kurumi rapidamente ficou de pé.

Ouvindo essas palavras, as expressões das garotas rapidamente

mudaram.

— Oh? O que quis dizer com... "falsificados"?

— Eu posso considerar que está insultando nosso pai?

— Imperdoável!

Depois de terminarem de falar, as garotas afiaram seus olhares e atacaram

Kurumi todas de uma vez.

— Kurumi...!

Porém, Kurumi calmamente se virou. Sem que ele percebesse, as pistolas

de formato antiquado já estavam em suas mãos enquanto ela apertava o gatilho

continuamente.

— <Zafkiel>, A Sétima bala, <Zayin>!

As garotas que tocaram a bala ficaram paradas no ar, congeladas depois

de tentarem investir contra Kurumi.

A Sétima bala <Zayin> parava o tempo do alvo que foi atingido. Era

realmente um trunfo de <Zafkiel>.

— ...Uhmmm.

Kurumi grunhiu carrancudamente enquanto dava as costas para as

garotas.

Então, de acordo com essa ação, inúmeras mãos surgiram das sombras que

se espalhavam pelo chão e pela parede, puxando o corpo das garotas para as

sombras.

— <Zafkiel>, a Quarta Bala, <Dalet>.

Enquanto Kurumi dizia isso, ela mirava o cano da arma nos cacos de vidro

da janela quebrada, atirando uma bala negra.

196

No momento seguinte, os estilhaços flutuaram pelo ar e se organizaram

na janela como se fosse uma filmagem tocada de forma reversa.

Depois de alguns segundos, o quarto retornou para o silêncio e solidão de

antes.

Kurumi deu um leve suspiro, deixando cair as pistolas na sombra

enquanto se esforçava para voltar para Shidou.

— Alguns estorvos ficaram no caminho. Sério, em pensar que elas viriam

justo nesta hora.

Kurumi disse isso enquanto tinha dificuldades para ficar em pé, colocando

sua mão na parede.

— Kurumi...?

— Não é nada... sério...

Kurumi tentou sorrir enquanto tentava voltar para perto de Shidou,

porém...

Assim como uma marionete que teve suas linhas cortadas, ela caiu no

chão.

197

Capítulo 5 - Samsara da Salvação

— ...Você falhou?

Em uma sala dentro da filial japonesa das indústrias DEM, Ellen

respondeu o informe de seu subordinado com uma expressão de desgosto.

— Estranho dizer isso, mas até mesmo as partes do <Beelzebub> enviadas

pelo Ike estão tendo trabalho para ter algum resultado. Atualmente, tivemos uma

acumulação de falhas consecutivas. Qual é o maldito problema afinal? Eu

gostaria de saber se tem algum outro motivo além da baixa qualidade de quem

está tentando.

— Ellen é realmente incrível. Suas palavras contêm apenas espinhos.

Artemisia disse com um sorriso torto. Ellen produziu um som de "humph"

com o nariz enquanto fazia um gesto exagerado ao cruzar os pés.

Então, em sincronia com essa ação, muitas folhas de papel que estavam

sendo carregadas pelo vento flutuaram para o local vindas da entrada da sala.

De repente, algumas garotas com a mesma aparência emergiram dessas

folhas de papel.

— Bem, você não é a mais qualificada para dizer isso.

— Você não foi a primeira pessoa a falhar?

— É irritante receber esse olhar de raiva. Que idade você tem?

— ...Como é que é?

Ellen encarou as <Nibelcol> com um olhar afiado. As <Nibelcol> fingiram

ficar com medo, tremendo enquanto soltavam gritos de "kya, kya".

Ellen não tinha tempo para ficar brava com as <Nibelcol>, mas era

necessário que elas soubessem o que significava insultar Ellen, que era a mais

forte. Ellen franziu as sobrancelhas enquanto ela dava o comando para seu

cérebro expandir seu território voluntário.

Porém, o dispositivo de manifestação Realizer de Ellen não se ativou.

Antes que ela pudesse o fazer, Westcott entrou na sala.

— Olha só, parece que todos já estão reunidos.

198

— ...Ike.

Ellen suspendeu seus comandos enquanto se levantava da cadeira e

arrumava sua postura. Seguindo seu exemplo, Artemisia imitou suas ações,

também ficando de pé.

— ...! Otou-sama!

A expressão das <Nibelcol> de repente se iluminaram enquanto elas

corriam para o lado de Westcott.

Enquanto Westcott andava em direção a Ellen, ele vagarosamente

acariciou as cabeças das <Nibelcol>. Suas ações eram modeladas pelos

movimentos de seus músculos faciais, um sorriso sem gosto e sem odor.

— Parece que o progresso não está indo nada bem. A força de trabalho é

inadequada?

— Não, não é algo como isso...

Enquanto Ellen tentava responder, os gritos das <Nibelcol> bloquearam

suas palavras.

— Pai, você tem que me escutar. Toda hora aquelas garotas ficam no nosso

caminho.

— Sim, sim, é tão frustrante. Como é que ela se chama?

— Ela se chama <Nightmare>, né? Ela realmente é um problema. Se ela

não estivesse lá, não podemos imaginar quantas vezes o Itsuka Shidou já teria

morrido nesse momento.

— Humph...

Depois de escutar as palavras de <Nibelcol>, Westcott deu um pequeno

suspiro. Então, ele colocou sua mão no queixo, pensando profundamente.

— <Nightmare>...? Que estranho pensar que o Pior Espírito protegeria um

humano. A única forma de contra-atacar a <Nibelcol> em números é com os

clones dela.

— Mesmo assim, ela não está um pouco à frente demais de nós? Sem

dúvidas, mesmo usando os poderes de investigação de <Beelzebub> e o

gigantesco número de <Nibelcol> para atacar, ela ainda assim consegue nos

bloquear.

199

Depois de Artemisia terminar de falar, Westcott deu outro suspiro antes

de erguer os cantos de sua boca.

— Talvez... ela já esteja ciente de tudo. Se não for esse o caso, ela não

conseguiria se esconder do poder de investigação de <Beelzebub>.

— Você quer dizer que informações de nosso ataque estão sendo vazadas?

— Não, não o plano de ataque, mas sim o ataque em si.

— .......?

Em resposta às palavras de Westcott, Ellen inclinou sua cabeça de

curiosidade.

◇◇◇◇

— ... Kurumi! Kurumi!

Eles estavam em um prédio abandonado nos arredores da Cidade Tengu.

Nessa sala, Shidou correu até Kurumi, que tinha acabado de cair no chão.

Depois de cobrir o corpo nu dela com um lençol, ele cuidadosamente

mudou a posição dela enquanto aproximava seu ouvido da boca dela para

confirmar se ela ainda estava respirando.

Embora pequena, seu tímpano definitivamente captou o som de

respiração dela. Shidou, se sentindo momentaneamente aliviado, começou a

gentilmente balançar os ombros de Kurumi.

— Kurumi, tudo bem com você? Kurumi!

Então, Shidou repetiu o nome dela novamente, como se tentasse trazer de

volta a consciência de Kurumi.

— ...Por favor, espere um pouco, Shidou-san.

Kurumi respondeu a ele com uma voz quieta.

— ......!?

Porém, a expressão de Shidou ainda estava cheia de confusão porque

Kurumi ainda estava desacordada no chão, seus lábios permaneceram imóveis.

200

Mesmo assim, ele imediatamente entendeu a identidade da pessoa por

trás daquela voz.

Uma garota, que tinha o mesmo rosto de Kurumi, descuidadamente

avançou das sombras da parede. Sem dúvidas, ela era um clone de Kurumi criada

por <Zafkiel>.

O clone da Kurumi colocou seu dedo indicador perto da boca de Shidou

para o silenciar. Ela fez uma expressão facial complicada enquanto se ajoelhava

perto da Kurumi original.

— Por favor, fique um pouco em paz, Shidou-san; Eu só está dormindo.

Por favor permita que Eu descanse um pouco.

— T-Tudo bem, mas por que a Kurumi caiu de repente...?

Enquanto Shidou falava, o clone gentilmente acariciou o rosto do original

antes de voltar sua atenção a ele novamente.

— É porque tem sido bem difícil para Eu continuar participando de

tamanha batalha nesse estado de exaustão.

— O-O que você quer dizer com isso...?

— ............

Em resposta à pergunta de Shidou, o clone de repente expôs uma

expressão de hesitação.

Ela sabia o motivo, mas parecia que ela estava se perguntando se era

apropriado ou não contar ao Shidou.

No momento seguinte, uma silhueta emergiu atrás do clone.

É claro, assim como o clone, ela tinha a mesma aparência da Kurumi.

Porém, ela estava vestindo um vestido monótono de Lolita Gótica em vez do

Astral Dress vermelho e preto de sempre. Uma linda rosa artesanal decorava sua

cabeça enquanto um tapa-olho de uso médico cobria seu olho esquerdo.

— Você é...

Olhar para aquela figura fez os olhos de Shidou se arregalar.

Ela era a Kurumi de cinco anos atrás, a que Shidou tinha visto depois de

voltar ao passado com o poder da Décima Segunda Bala <Yud Bet>. Mas ele

imediatamente entendeu o que estava acontecendo. A Oitava Bala <Het> de

201

Zafkiel tinha reproduzido um clone da Kurumi do passado. Dito isso, mesmo

que o clone fosse de cinco anos atrás, isso não seria nada estranho.

Depois de alguma hesitação, a Kurumi de tapa-olho colocou suas mãos

nos ombros dele, seu olho vermelho encarando os olhos de Shidou.

— Shidou-san, está preparado para ouvir a verdade?

— Hã...?

— Se você não perguntar nada e fingir que não sabe de nada, então depois

que Eu acordar, tudo voltará ao normal. Mas, mesmo assim, ainda quer saber a

verdade?

A Kurumi de tapa-olho espremia os olhos enquanto falava. Era como se

ela estivesse vendo através da confusão e hesitação no coração dele, Shidou

pareceu ficar momentaneamente aturdido.

Porém, Shidou rangeu seus dentes para incitar a si mesmo enquanto

tentava encarar de volta a Kurumi de tapa-olho.

Então, a Kurumi de tapa-olho começou a rir, rindo como se tivesse

acabado de fazer uma pegadinha.

— Ara, ara, se fosse para ficar assim em silêncio era melhor nem ter

continuado.

— ...! E-Ei, você!

— Brincadeirinha... pela sua determinação, eu lhe ofereço minha gratidão

sem fim.

A Kurumi de tapa-olho mostrou uma expressão animada enquanto

vagarosamente se levantava e apontava o dedo indicador e o dedão de sua mão

direita contra Shidou.

Era como se... ela estivesse mirando em Shidou com uma arma.

Então, ela disse.

Era algo tão fora da realidade que beirava o absurdo.

— Começando da conclusão... Shidou-san, você já morreu.

A Kurumi de tapa-olho declarou isso; ela ergueu a ponta de seus dedos,

como se quisesse imitar o disparo de uma bala comum.

202

— ...O quê?

Shidou, que não fazia ideia do que a Kurumi de tapa-olho estava dizendo,

proferiu com uma voz inaudível.

— O que está dizendo...? Eu... morri? Ei, ei, então por que eu ainda

continuo me movendo nesse exato momento? Ou por acaso eu estou no paraíso

e nem percebi?

— Ufufu, então isso significa que eu sou um tipo de deusa desse lugar.

A Kurumi de tapa-olho mais uma vez disse de forma jocosa.

Porém, sua expressão imediatamente se acalmou enquanto ela continuava

a falar.

— Em outras palavras, Shidou-san já deveria estar morto... não, você

possivelmente já estaria morto.

— O que... está dizendo?

Shidou não sabia como responder adequadamente aquela declaração.

Mesmo que haja uma possibilidade... dele estar morto, se esse era o caso,

então a sombra de uma morte repentina paira sobre o dia-a-dia de qualquer ser

humano.

Porém, Shidou não podia continuar daí. Pela expressão da Kurumi de

tapa-olho, não parecia que ela estava brincando ou zombando dele.

— ............

Depois de adivinhar os pensamentos de Shidou pelo seu humor, a Kurumi

de tapa-olho continuou a falar depois de dar um sorriso triste.

◇◇◇◇

203

204

Em 9 de fevereiro depois que a aula acabou.

Tokisaki Kurumi era a única pessoa no terraço da escola, olhando para a

paisagem da Cidade Tenguu pelo cercado. Ela não tinha nenhum motivo especial

para estar ali, sem qualquer pensamento de nostalgia ou de ansiedade. Em

primeiro lugar, havia somente uma pequena sensação de sensibilidade sonora

que vinha a sua memória ao olhar para tal cenário, apesar de Kurumi

permanecesse cética quanto a tal coisa continuar em sua mente.

É claro, até mesmo Kurumi podia rir ou sentir raiva. Quando encontrava

algo que a deixava feliz, ela sorria... e ela também choraria se passasse por

momentos tristes.

Porém, apesar de nascer como uma humana, ela não poderia achar que o

conteúdo de sua mente, tendo gasto a maior parte de sua vida como um Espírito,

uma vingadora, uma assassina, poderia ser o mesmo de antes.

A alegria que ela sentia agora era certamente diferente da que sentia

antigamente.

O sofrimento dela agora com certeza era diferente de outrora.

Porém, somente a persistente chama do ódio em seu coração continuou

inalterado não importa o tempo que já se passou.

— ............

O sol já tinha começado a se pôr, e o evento da escuridão da noite cobrindo

completamente o prédio iria acontecer cedo ou tarde. Mesmo que ela não

soubesse que horas eram, ela sabia que já estava quase na hora marcada.

— ......Cansada, estou cansada de esperar.

Kurumi murmurou em um sussurro enquanto seus dedos estavam

encostados nas grades do parapeito.

Então, uma voz abafada, como se estivesse a respondendo, pôde ser

ouvida das sombras entrincheiradas debaixo dos pés de Kurumi.

— ......Ei, Eu, está tudo realmente bem?

Ao ouvir as palavras do clone, Kurumi lhe devolveu um olhar afiado.

205

— Eu não posso voltar atrás agora. Por favor entenda o significado de eu

ter devorado dezenas de milhares de vidas até esse momento. Eu vou... matar o

Shidou-san. Essa é a única forma de reescrever o mundo.

Quando Kurumi disse isso, houve silêncio por um instante. Então, uma

voz foi ouvida das sombras, parecia ser um clone diferente dessa vez.

— Para a atual Eu estar simplesmente se perguntando se está tudo está

realmente bem, o que exatamente Eu estava pensando?

— ............

Kurumi, depois de ouvir as palavras dos clones, franziu as sobrancelhas e

então começou a pisar na sombra com o salto de seu sapato.

No momento seguinte, como se estivesse tentando substituir esse barulho,

o som do ranger da porta entrou em seus tímpanos.

Shidou tinha chegado. Kurumi respirou profundamente para se acalmar

antes de se virar vagarosamente para olhar a entrada do terraço.

— ...Ara.

Ali estava Shidou, assim como Kurumi havia previsto. Sua expressão

estava carregada de determinação e tensão enquanto encarava Kurumi.

— Ufufu, bem-vindo. Então você realmente veio na hora marcada, Shidou-

san.

Kurumi o cumprimentou enquanto falava, erguendo a bainha de seu

vestido para se curvar graciosamente como se estivesse em uma cerimônia

respeitosa.

Shidou, que estava olhando para Kurumi, ficou com o rosto corado por

um momento. Porém, ele balançou a cabeça como se quisesse espantar qualquer

que fosse o pensamento que tinha em mente.

Naquele instante, Kurumi olhou para a porta de onde Shidou tinha vindo.

Assim que ele passou por ela, parece que a porta havia se mexido levemente.

...Provavelmente, Tohka e as outras tinham ido espiá-los por estarem

preocupadas com Shidou.

206

Mesmo que fosse inevitável, isso mostrava que não havia nenhuma

confiança entre eles. Kurumi suspirou de forma autodepreciativa. Então, quase

que em conjunto com as ações dela, Shidou abriu sua boca para falar.

— Kurumi, eu vim como o prometido.

E então, Kurumi olhou diretamente para aqueles olhos radiantes de firme

determinação que indicavam sua percepção da situação.

Não fazia nem um ano desde que ela tinha conhecido Shidou, mas parece

que a força dele tinha crescido consideravelmente. Ela desintencionalmente

relaxou a boca por um momento.

— ... Você mudou aos poucos, Shidou-san.

— Hmm...?

— Agora, você aparenta ter crescido e se tornado bem mais maduro

comparado a quando nos conhecemos. Bem, depois de ter passado por aquele

campo de carnificina talvez isso seja o mínimo... Ufufu, você o fez de forma

maravilhosa.

— N-Não tire sarro de mim.

Shidou respondeu timidamente. Mesmo que o sol já estivesse quase se

pondo, ainda assim estava visivelmente claro que o rosto de Shidou estava

corado. Parecia que essa cena fofa não iria mudar tão cedo.

— Deixando isso de lado, você tem que continuar aquela conversa de mais

cedo; sobre as condições para selar seu reiryoku.

— .........

Kurumi riu em resposta às palavras de Shidou.

Mesmo que não fosse uma expressão facial que indicava hostilidade,

talvez ela a fez como resultado da outra face de sua personalidade mostrando a

superioridade de sua vantagem em relação a ele. Shidou fez uma expressão de

nervoso e engoliu em seco.

— Eh, eh. Então eu vou te dizer, eu...

...Naquela hora.

No momento seguinte, assim que Kurumi começou a falar.

207

Uma única linha passou pela visão de Kurumi e a cena diante de seus

olhos foi tingida de vermelho vivo.

— Hã...?

De repente, Shidou não sabia o que diabos estava acontecendo, uma voz

instável saiu de sua garganta.

Depois disso, Shidou entendeu o que era aquela poça vermelha em frente

aos seus olhos, era a cor do sangue que jorrava de seu peito.

— ......

Instantaneamente.

De fato, literalmente em um piscar de olhos, Shidou foi empalado no peito

por uma garota que voava no céu.

Cabelos loiros dançando ao vento e uma armadura de platina coberta pelo

sangue fresco... a Wizard Ellen Mathers.

— Ah...... ga...... aaaah!

Shidou, que caiu no chão, gritou de dor. Hemoptise, um monte de sangue

começou a sair de sua boca.

Naquele momento, a porta do terraço foi aberta abruptamente com

extremo vigor.

— Shidou!

— Shidou......!

Os Espíritos que estavam bisbilhotando por trás da porta correram em

pânico. Como resultado da convulsão e vômito de sangue de Shidou, uma luz se

reuniu em volta dos Espíritos que se apressaram para vestir seus Astral Dresses

limitados.

Porém...

— ......Humph.

Ellen deu um leve riso cheio de ridicularização ao olhar para os Espíritos.

Então, ela de repente ergueu sua mão esquerda.

Então, uma partição de sua CR-Unit ejetou várias folhas de papel, que

dançaram no ar como se quisessem envolver Ellen e Shidou.

208

Então, no momento seguinte, várias garotas com o mesmo rosto

emergiram das folhas de papel.

— ......!?

Aquela era uma cena que se assemelhava aos clones de Kurumi emergindo

das sombras. Vestindo roupas que se pareciam com um Astral Dress, e com

esvoaçantes cabelos cor de carvão, essas garotas ficaram paradas ali para

bloquear a passagem dos Espíritos.

— Ei.

— Me desculpa, mas não posso deixar vocês ficarem no caminho.

— Bem, mesmo que seja difícil de dizer, parece que vocês vão nos

atrapalhar.

— Qu......!? Quem são elas?

— Receio. Quem são vocês?

As irmãs Yamai levantaram suas vozes espantadas enquanto invocavam

seu Anjo, <Raphael>. Similarmente, Tohka e Origami manifestaram seus Anjos e

atacaram as garotas.

— Saiam do caminho, aaaaaaaah!

— Fuh...

Porém, essas garotas não tentaram desviar do golpe.

Enquanto riam com um fino sorriso em seus rostos, essas garotas

alegremente receberam o corte da <Sandalphon> e o bombardeio da artilharia de

<Metatron>.

É claro, esse não foi o fim. Os corpos dessas garotas tinham sido tanto

cortados como perfurados.

Porém, elas nem sequer emitiram um gemido de angústia, nem mesmo

distorceram seus rostos para refletir uma expressão de dor. Elas somente

sorriram e riram.

Então, na abertura deixada pelo ataque delas, as outras garotas, uma a

uma, agarraram a espada de Tohka e as pernas de Origami.

— ......!

209

A expressão de Kurumi não podia ter deixado de ficar tensa ao ver tudo

aquilo. Mesmo que aquelas garotas tenham reiryoku em seus corpos, elas não tem

poder para competir contra Tohka e as outras oponentes.

Porém, a questão estava em seus números e como elas não se importavam

de morrer como indivíduos dentro daquele grupo.

Mesmo que ela não saiba sua verdadeira identidade, Kurumi sabia do

fundo do coração como era complicado lidar com aquilo, como usar a quantidade

como uma arma em si.

— ... Nós!

No momento após ela entender isso, Kurumi começou a convocação.

Como que em resposta a isso, a sombra de Kurumi começou a se expandir

no chão do terraço, e dali um grande número de Kurumis apareceram.

Então, as Kurumis, em resposta ao desejo de sua mestra, avançaram para

impedir que as garotas não identificadas atrapalhassem Tohka e as outras.

Apesar de fazer isso, ela não queria salvar Tohka e as outras. Mas se ela

deixasse as coisas como estão, Ellen certamente mataria Shidou. Essa situação era

inaceitável para Kurumi, que estava atrás do reiryoku selado dentro do corpo de

Shidou.

— Kuhihi, hihi hihi!

— Essa por acaso não é uma habilidade patenteada que nós supostamente

monopolizamos?

— Haha, o que é isso?

— Oh, então você é a famosa <Nightmare>? Tem mais de você do que

imaginávamos.

As Kurumis e as garotas entraram em combate umas com as outras,

transformando o terraço da escola em uma cena de aniquilação sanguinária.

Porém, isso sozinho não era o suficiente. Esses clones só podiam servir

como oponentes para aquelas garotas.

Kurumi retirou uma pistola das sombras e mirou o cano da arma para

Ellen, que estava pisando nas costas de Shidou.

— ......!?

210

No momento que ela estava prestes a apertar o gatilho, ela viu seu braço

ser cortado de uma só vez e voar pelo ar.

Não foi um ataque de Ellen.

Despercebida até então, outra Wizard tinha acabado de aparecer atrás de

Kurumi.

— Não deixarei você prosseguir, <Nightmare>.

— ...Artemisia Ashcroft....!

Kurumi rangeu os dentes enquanto chamava pelo nome da garota loira.

Uma dor terrível foi produzida por ter seu braço cortado fora pela lâmina

laser. Kurumi mordeu os lábios com força enquanto aguentava a dor, fugindo de

Artemisia por um fio.

Corpo a corpo. Uma batalha no mano-a-mano. Esgrima contra uma chuva

de balas.

Em questão de poucas dezenas de segundos, o terraço uma vez pacífico

da escola tinha se tornado um campo de batalha.

Era difícil adivinhar o que estava acontecendo. Talvez por causa dos

incessantes ataques de espada de Artemisia, não havia espaço suficiente para ela

usar a Quarta Bala <Dalet>.

Porém, no meio disso, uma coisa era certa.

Naquele momento, a vida de Shidou estava prestes a ser tirada.

— ...Acabou.

Com palavras calmas e cruéis, Ellen Mathers moveu a espada em sua mão.

— Pare, ahhhhhh!

O grito de Tohka ecoou pelo campo de batalha.

Porém, a mão de Ellen não parou.

Com a espada preenchida de um denso poder mágico, ela facilmente

decapitou a cabeça de Shidou.

— ......

Glish, uma poça de sangue jorrou.

211

Já com dificuldades de reparar um dano fatal no peito, as chamas

regenerativas de <Camael> que oscilavam em seu peito gradualmente

desapareceram. Com o poder desaparecido, as mãos e pernas de Shidou

gradualmente se enrijeceram.

Era como se a luz da vida de Shidou tivesse se extinguido.

— ...Ah.

Os Espíritos que viram aquela cena caíram no chão com seus anjos.

Seus rostos ficaram pálidos e eles começaram a tremer. Sofrimento. Perda.

Um sentimento de infelicidade. Nenhuma linguagem poderia expressar a

emoção que invadia seus corações.

Se alguém fosse descrever aquilo... seria algo como o mais profundo

desespero.

— Ha!

— Guh...

Depois de fugir de um incontável número de ataques de Artemisia,

Kurumi furiosamente rangeu os dentes enquanto dançava nas sombras.

— ...hah... Hah...

Se movendo pelas sombras, Kurumi finalmente chegou ao mundo fora

dali.

Ela agora estava em uma colina observando a Escola de Ensino Médio

Raizen. A plataforma estava ruim pois não era mantida como um parque, mas

isso era o mais conveniente pois não haviam pessoas próximas.

— Tudo bem com você, Eu?

Depois de alguns minutos, um clone mostrou seu rosto pelas sombras e

perguntou isso com uma expressão preocupada.

Então, outro clone surgiu das sombras carregando o braço direito que

Artemisia tinha cortado fora.

— Eu, aqui.

— ...... Muito bom.

212

Kurumi respondeu a ela com suor escorrendo de sua testa. Então procurou

pela sombra com a mão esquerda restante e pegou uma pistola de <Zafkiel>

carregada com uma bala.

— <Zafkiel>... Quarta bala <Dalet>.

Depois de chamar por esse nome, Kurumi direcionou o caminho da bala

para sua têmpora.

Naquele momento, como se estivesse rebobinando o tempo, o braço ferido

voou no ar e se encaixou no lado direito de seu corpo.

— ......!

Então, Kurumi, tendo terminado de recuperar seu braço ao estado

original, ficou com os olhos iluminados ao ver a cena que estava no fundo de sua

vista.

O telhado da Escola De Ensino Médio Raizen, dela um tremendo feixe de

luz se espalhou, queimando o céu acima dela.

Com um intermitente rugido ecoando, o prédio da escola desabou em um

instante.

Por fim, houve um alarme afiado soando pela cidade, mas já era tarde

demais. Um grande tornado surge do prédio da escola, que já tinha sido reduzido

em ruínas, arrastando os danos para as estruturas ao redor uma após a outra.

Então, um condensado de luz negra se expandiu radialmente com a escola como

centro. Até onde se podia ver, a paisagem foi transformada em uma terra

arrasada.

— Isso é...

— Tohka-san e as outras estão lutando...?

Os clones ficaram surpresos ao olharem para a direção das luzes.

Porém, Kurumi estava ciente que aquilo não era somente uma simples luz

emanada de reiryoku.

Mesmo que ela estivesse a uma grande distância, ainda havia a sensação

de que sua pele estava sendo cutucada por várias agulhas de acupuntura.

Desespero. Fúria. Ódio. Aquela era a sensação de transformar todos esses

sentimentos ruins dentro de seu corpo em uma arma.

213

Mesmo que o reiryoku de Shidou tivesse fluindo de volta para elas, tal

fenômeno não aconteceria. Aquilo era muito além do que um simples acúmulo

de reiryoku. Em primeiro lugar, a qualidade dele tinha se tornado algo totalmente

oposto.

Sim, em outras palavras, era como se pegasse o valor bruto positivo e

colocasse um sinal de menos na frente.

Kurumi se lembrava desse fenômeno. Ela franziu as sobrancelhas antes de

soltar um gemido.

— Inversão... é isso que aconteceu?

— ......!

Ao ouvir as palavras de Kurumi, os clones prenderam sua respiração.

Sem dúvidas, os Espíritos que estavam ali: Tohka, Origami e as Irmãs

Yamai, todas elas tinham se tornado Espíritos Inversos.

Mas aquilo era totalmente racional. Com a cabeça de Shidou sendo

arrancada na frente delas, era difícil de imaginar o desespero que elas estavam

sentindo.

— Bem...

— ......

De repente, uma voz interrompeu a linha de pensamento de Kurumi,

fazendo ela inesperadamente ficar sem ar.

Olhando de perto, outro clone se apresentou surgindo das sombras.

Não, não somente isso. O clone estava segurando Shidou, que estava

encharcado de sangue vermelho escuro que pingava de seu corpo.

— Eu, isso é...!

— Sim, sim... foi muito arriscado, mas eu me sentiria mal se o deixasse

como ele estava.

Então com isso dito, o clone colocou o cadáver mutilado de Shidou no

chão.

— ......a Quarta Bala <Dalet>.

214

Kurumi permaneceu em silêncio por um momento depois de atirar no

corpo de Shidou com a arma em sua mão.

Assim como aconteceu anteriormente com o braço de Kurumi, a cabeça de

Shidou, que tinha sido separada do torso, gentilmente se reconectou com o corpo.

O grande buraco em seu peito também foi fechado.

Porém... foi somente isso.

Os olhos de Shidou continuavam fechados, sem sinal de respiração.

De fato, a quarta bala <Dalet> era uma bala capaz de retroceder o tempo.

De fato, o corpo de Shidou tinha retornado ao estado de quando ele estava vivo.

Porém ficou somente nisso. Era impossível restaurar uma vida que já havia sido

perdida.

— ...........

Kurumi, para acalmar as batidas de seu coração, respirou profundamente

antes de pensar no que faria em seguida.

... Enquanto olhava Shidou, que permanecia descansando em paz, o

cenário do fim do mundo apareceu em sua linha de visão.

Porém, depois de um momento de silêncio, uma voz escapou de sua

garganta.

— Eu... falhei, não é...?

Tais palavras estavam coloridas com uma resignação pessimista.

... Há apenas alguns minutos atrás tudo estava indo tão bem. Kurumi

aumentou o aperto em seu punho com tanta força que começou a sangrar.

Ao obter os poderes de Shidou, ela usaria a Décima Segunda Bala <Yud

Bet> para voltar trinta anos atrás e apagar a existência do Primeiro Espírito.

Então, tudo que ela fez seria recompensado.

Kurumi esteve nesse caminho por milhares de dias.

Haviam dezenas de milhares de vidas caídas diante dos pés de Kurumi.

E em um piscar de olhos, tudo isso se tornou nada.

Foi estilhaçado... por causa de alguém.

215

Pelas mãos daquela odiosa Wizard, Ellen Mathers.

— Ah... Ah, Ah!

Se deixando levar pela emoção, Kurumi socou o chão com sua mão direita.

Ao ver aquela Kurumi que é normalmente indiferente a tudo agir daquela

forma, os ombros dos clones começaram a tremer de repente.

Porém, para a Kurumi de agora, não havia tempo para se preocupar com

a reação dos clones.

Suas esperanças foram perdidas. A esperança foi arrancada... da pior

forma possível: matando Shidou bem na sua frente.

— ......

Pensando nisso, Kurumi prendeu a respiração.

Foi questão de tempo para seu coração se preencher com um ódio

inexplicável.

Indiferentemente, o caminho que ela batalhou tanto para percorrer em

direção ao objetivo de sua vida tinha colapsado.

Além disso, tudo aquilo ainda foi causado pelo o que aquela mulher tinha

feito desde o começo.

Se fosse a Kurumi do começo, então provavelmente ela teria se invertido

assim como Tohka e as outras.

Ainda assim, Kurumi percebeu que haviam outras emoções misturadas

com a raiva.

Ah... isso mesmo.

Kurumi cobriu a testa de Shidou com suas mãos sujas de poeira e sangue,

gentilmente abrindo seus olhos.

Tristeza sem fim... um sentimento de desamparo.

A mente de Kurumi tinha se perdido em um caótico redemoinho. Apesar

de ter chegado a uma resposta, ela ainda assim não entendia seu significado.

Isso era uma tremenda contradição. Por que Kurumi estava pensando

nisso em vez de querer matar Shidou ela mesma?

216

— Shidou... -san...

Várias memórias surgiram em sua mente. Ao mesmo tempo, vários

sentimentos também se entrelaçaram, fazendo a mente de Kurumi ficar uma

loucura.

Shidou. Itsuka Shidou. Um garoto que amava os Espíritos e era amado

pelos Espíritos. Mesmo em frente da Kurumi, ele subjugou o medo e estendeu

sua mão para ela.

Kurumi estava inconscientemente se agarrando nos ombros do cadáver de

Shidou.

E colocando seus lábios sobre os dele...

Apesar de ainda não ter perdido a suavidade, aquele era um beijo bem

gelado.

Sentindo o toque, Kurumi finalmente se lembrou.

No jogo contra Shidou, foi ela quem perdeu.

— ...Ficou inconsciente antes do segundo beijo, mas que azarado você é.

Kurumi vagarosamente franziu as sobrancelhas.

No último ano, em junho, durante o encontro com Shidou, Kurumi tinha

sido derrotada pelo Espírito de Fogo, Itsuka Kotori, e por pouco conseguiu

escapar.

Naquele tempo, a pessoa que ficou entre Kotori e Kurumi não era ninguém

menos do que Shidou.

Mesmo que aquela atitude tenha sido um pouco desajeitada para um

cavalheiro, aquilo não mudava o fato de que ele tinha salvado sua vida. Antes de

Kurumi fugir para as sombras, ela tinha dado um selinho nele como forma de

agradecimento.

Embora agora, tudo aquilo já tenha passado completamente.

...Porém.

— ...Hã?

No momento seguinte, Kurumi sentiu uma sensação estranha.

217

Como poderia ser expressado? Era como se uma coisa quente estivesse

fluindo para dentro de seu corpo.

Assim como foi quando Mio lhe deu o Cristal Sephira...

— .... <Zafkiel>!

Se lembrando daquele tempo, Kurumi instintivamente chamou aquele

nome. Em resposta ao chamado de Kurumi, um grande relógio apareceu das

sombras.

— ......!

— Eu, isso é...!

O clone soltou uma voz cheia de espanto.

Porém, aquilo era inevitável. Porque naquele relógio, o numeral VI, cuja

cor tinha sumido desde a batalha contra Kotori, estava brilhando radiantemente.

— O que isso significa...? Não importa...

Kurumi vagarosamente se levantou, tocando cada numeral do relógio em

ordem.

Acelerar o alvo, a Primeira Bala <Aleph>.

Desacelerar a passagem do tempo de um objeto, a Segunda Bala <Bet>.

Fazer o alvo envelhecer, a Terceira Bala <Gimmel>.

Retroceder o tempo do alvo, a Quarta Bala <Dalet>.

Permitir uma predição do futuro de um curto espaço de tempo, a Quinta

Bala <Hei>.

Parar o tempo do alvo, a Sétima Bala <Zayin>.

Reproduzir uma cópia do passado de alguém, a Oitava Bala <Het>.

Estabelecer uma conexão com uma pessoa de outra linha do tempo, a

Nona Bala <Tet>.

Recordar a memória do alvo atingido, a Décima Bala <Yud>.

Sugar diretamente o poder dos Espíritos e viajar para o passado, a Décima

Primeira Bala <Yud Aleph> e a Décima Segunda Bala <Yud Bet>.

218

As mãos de Kurumi finalmente tocaram o numeral localizado na parte

mais abaixo do relógio.

...O único numeral que tinha perdido a cor, VI.

— A Sexta Bala <Vav>.

Kurumi sussurrou de leve enquanto olhava para o corpo de Shidou.

Obviamente, a Sexta Bala <Vav> tinha reganhado seu brilho depois dela

ter beijado Shidou.

Shidou só podia selar o reiryoku através do beijo. Kurumi estava bem ciente

disso por causa da investigação de suas cópias. Será que em vez da Sexta Bala

<Vav> ter sido quebrada na batalha contra Kotori, na verdade ela tinha sido

selada até aquele momento por causa do beijo de brincadeira que ela tinha dado

em Shidou?

Se for isso, mesmo que incompletamente, o coração de Kurumi tinha

começado a se abrir para Shidou.

Kurumi espremeu seus lábios com um sentimento autodepreciativo... a

emoção de ter sido derrotada e perdido a disputa. Talvez, desde o começo,

Kurumi não tinha nenhuma chance de vitória.

Porém, com suor escorrendo de seu rosto, Kurumi revelou um sorriso

deslumbrante.

A Sexta Bala <Vav>, que tinha sido selada até o presente momento, era a

melhor habilidade de <Zafkiel>.

Se ela usasse aquele poder que ela recuperou inesperadamente, mudar

tudo que tinha acontecido não era necessariamente impossível.

Era terrivelmente fraco chamar isso de esperança, porém era o suficiente

para inspirar Kurumi de novo.

Mas Kurumi ainda não tinha pagado o preço.

Para ser preciso... para que ela pudesse cumprir seu objetivo, mais

sacrifícios seriam necessários agora.

— ...Nós.

219

Kurumi quietamente disse em frente a uma série de clones que começaram

a acenar em concordância como se tivessem entendido as intenções dela em um

instante.

E então, ela fez uma declaração.

— Pelo bem do Shidou-san... por favor, morram.

Então, os clones começaram a rir, como se elas tivessem plena ciência de

seus motivos.

— Sim, sim, alegremente.

— Vamos lá, vamos todas em frente com isso.

— Esse corpo desde o começo sempre foi temporário.

— Por favor, use-o ao máximo.

— Enquanto essa vida puder ser usada para Eu dar um passo adiante.

— Vamos ao Higan 1com prazer.

— Podemos dizer algo divertido agora.

— Você também pode usar a mim como quiser.

— Acho que seria impossível recusar a isso.

— Hahahaha.

— Hahahaha.

Os clones meramente riram alegremente.

Certamente ninguém ficaria intacta no final, ninguém sobreviveria.

Porém, na expressão delas, não se via o menor fragmento de receio.

Kurumi sorriu desconcertada. A figura das garotas que compartilham a

mesma aparência que ela, eram inquestionavelmente confiáveis. Ela não podia

deixar de sentir um pouco de orgulho... mesmo que isso seja também um tipo de

narcisismo.

1 Higan seria o outro lado do Rio Sanzu, o rio que as pessoas atravessam quando morrem na tradição budista japonesa

220

— ...Então, por favor me sigam, nós, nessa jornada sem precedentes para

o outro mundo.

Então, enquanto cantarolava em voz alta, Kurumi ergueu o braço direito

segurando a arma.

O nome do poder que uma vez tinha sido perdido e foi recuperado a um

grande custo.

O nome de outra bala que tinha a possibilidade de mudar o mundo.

— <Zafkiel>... a Sexta Bala <Vav>.

Kurumi direcionou a arma com a bala em direção a sua têmpora... com um

sorriso em seu rosto ela apertou o gatilho.

◇◇◇◇

221

aa

222

— ......

Bem abruptamente, ela acordou.

Não... aquilo que se encaixava na descrição de acordar era algo

questionável.

De qualquer forma, depois de Kurumi recuperar sua consciência, ela

imediatamente foi confirmar a situação dos arredores.

Um quarto escurecido onde somente o mínimo de móveis estavam

colocados, aquele era um dos muitos fortes que Kurumi tinha na cidade.

Na parede estava pendurado um uniforme limpo, e a data de 8 de

fevereiro estava sendo mostrada na tela do celular utilizado para reunir

informação.

Então, Kurumi tinha voltado.

8 de fevereiro, o dia antes de Kurumi voltar à Escola Raizen.

— ...aparentemente deu certo.

<Zafkiel>... a Sexta Bala <Vav>.

Uma bala que permitia que a consciência do alvo voltasse ao seu corpo no

passado.

Embora ela dependesse de quanto tempo tinha sido gasto, ela só poderia

ser usada para retornar alguns poucos dias no passado, muito menos do que

poderia ser voltado com a Décima Segunda Bala <Yud Bet>. Porém, naquele

momento, não seria uma metáfora dizer que era uma bala cujo único tiro poderia

salvar o mundo.

...Mas o trabalho pesado começaria a partir daquele momento. Kurumi foi

pegar um casaco para vestir, abriu a porta e saiu do quarto.

Então, enquanto descia as escadas do prédio abandonado, ela cambaleou

no beco inacessível, enquanto falava com si mesma.

— ...Bem, é hora de nos movermos, nós.

Então, em resposta a isso, um tremendo número de respostas veio das

sombras.

— Sim, sim.

223

— Não temos muito tempo.

— O inimigo é a Ellen Mathers e a Artemisia Ashcroft.

— E aquelas garotas misteriosas.

— Por enquanto, você quer mudar o local para onde chamaremos o

Shidou?

— Não, dessa forma nossos oponentes só irão mudar sua estratégia de

ataque de supetão. Seria um movimento ruim perder a vantagem de saber onde

a batalha irá ocorrer.

— Então, nos deixe suprimir aquelas que irão nos atacar.

— Sim, sim, isso é a única coisa que pode ser feita.

— Por favor, leve em conta a diferença de poder de luta de nosso oponente.

Nós podemos lidar com aquelas garotas, mas aquelas Wizards são monstros. Ah,

mesmo que sejam todas nós juntas, será difícil parar as duas ao mesmo tempo.

Devemos ter pelo menos um aliado, alguém com poder comparável a elas.

— Mas eu não acho que poderemos encontrar um aliado tão conveniente

assim.

— Não, não, ainda há uma pessoa que podemos usar.

— Eu só consigo pensar em uma pessoa, mas ela é uma candidata que eu

não gostaria de confiar tanto assim.

— E quem s...?

Quando ela estava prestes a perguntar, Kurumi de repente mostrou um

sorriso amargo, tendo imaginado a pessoa que os clones estavam pensando.

O clone não querer confiar nela era algo bem racional. Afinal, ela

provavelmente era a garota que matou o maior número de clones da Kurumi.

— Bem, isso será bem desagradável. Mas não há ninguém mais adequado

que ela.

Kurumi ergueu sua mão para dar uma instrução sem deixar que o diálogo

a fizesse perder seu ritmo de andar.

— ...Nós, por favor, vão à residência da Mana-san, corram até lá para

negociarem com ela emergencialmente.

224

— Sim, sim.

— Entendido.

— Além disso, por favor formem um grupo separado para explorar os

movimentos das Indústrias DEM. ...Procurem saber porque nem mesmo a Kotori

pôde fazer alguma coisa, há a possibilidade de eles estarem usando o

<Beelzebub> para achar pontos fracos na vigilância deles.

— Entendido.

— Tomem cuidado.

— Talvez, o outro lado também queira decidir logo as coisas. Eu acho que

eles vão atacar todos de uma só vez. Montem guarda em volta do Shidou-san.

Não deixem que eles tenham uma oportunidade... de matar o Shidou-san. Se

certifiquem de que ele ache que nenhuma de nós estejamos por perto, além de

mim, Tokisaki Kurumi.

Enquanto Kurumi falava, os clones sorriram e riram todos juntos.

— Ara, ara.

— Verdade, Eu.

— Mas que confissão perigosa.

— ...Uh.

Ouvir essas declarações fez com que Kurumi ficasse corada e sua

respiração ficasse ofegante. Ela pisou no chão com o pé irritadamente.

Depois de desabafar dessa forma, Kurumi recobrou sua determinação

enquanto se virava para frente para fazer uma declaração.

— Venham, nós... mesmo que sem pretensão, vamos resgatar e salvar esse

mundo.

...Então, a batalha de Tokisaki Kurumi começou.

E isso durou seis dias.

Mas nesses seis dias, Kurumi protegeu Shidou muitas vezes e também

repetidamente sofreu a perda de Shidou muitas vezes.

O inimigo era a astuta Indústrias DEM. Com o uso do Rei Demônio

<Beelzebub>, eles persistentemente aproveitaram cada oportunidade para

225

atentar contra a vida de Shidou usando as filhas do rei demônio, as <Nibelcol>, e

seus trunfos Ellen e Artemisia.

Mesmo com o de sacrificar diversas Kurumis, tomando milhares de

medidas no processo, Kurumi continuou a lutar.

Cada vez que Shidou morria, ela usava seus lábios para recuperar a Sexta

Bala <Vav>.

De novo e de novo, o mundo foi refeito.

No centro desses desastres, felizmente a Sexta Bala <Vav> só retornava as

memórias de Kurumi ao passado.

Antes que Shidou pudesse morrer, sua consciência voltava para uma

versão anterior de si mesma antes de recuperar a Sexta Bala. Então o tempo usado

para abastecer a Sexta Bala <Vav> e os clones usados para parar o inimigo eram

reiniciados para o estado original.

Afinal o tempo necessário para usar a Sexta Bala <Vav> era imenso e a

produção dos clones através da Oitava Bala <Het> não era infinita.

Se essa redefinição não fosse estabelecida, o tempo que Kurumi continha já

teria acabado a tempos.

Mas, em outras palavras... isso também valia para o inimigo.

Mesmo depois de matar algumas <Nibelcol> e dispensar Ellen diversas

vezes, o dano que eles receberam seria reiniciado cada vez que Kurumi utilizasse

a Sexta Bala <Vav>.

Não... precisamente devido a não saber que lutaram com a Kurumi antes,

todas as vezes eles agiriam de acordo com o plano de matar Shidou.

A única vantagem que Kurumi tinha era uma paixão ardente que

queimava em si mesma.

Uma vez.

Dez vezes.

Mais de mil vezes.

Enquanto matava e era morta repetidamente, Kurumi gradualmente

sentia seu próprio coração ficando fadigado.

226

Mecanicamente digerindo os mesmos eventos cada uma das vezes.

Somente para ser derrotada por uma anormalidade diferente da de antes.

E no núcleo disso, a mente da Kurumi original começava a carregar cada

vez mais exaustão.

Mas... Kurumi nunca renegou a arma em suas mãos.

Cada vez que Shidou era morto.

E sempre que ela tocava seus lábios rígidos.

Kurumi queria ser carregada por aquela mão mais uma vez.

— Shidou-san... ei, Shidou-san?

Quantas vezes foram no final das contas?

Segurando os lábios frios de Shidou com os seus...

— Vamos nos encontrar de novo...?

Kurumi apertou o gatilho mirando em sua própria cabeça.

◇◇◇◇

— O que...

Enquanto ouvia a história da Kurumi de tapa-olho, Shidou soltou uma voz

aguda.

Ele não pôde deixar de tocar seu peito e cabeça. É claro, não havia nenhum

buraco em seu peito e sua cabeça ainda estava ligada ao seu pescoço.

— Eu... já morri uma vez?

Enquanto era atingido por essa sensação irreal, Shidou encontrou

dificuldades para soltar essa frase de sua garganta.

Ao menos ele usou uma vigorosa quantidade de energia para

amargamente emitir essas palavras. Ao admitir isso com sua própria boca, era

como se ele se lembrasse de uma ilusão negando sua própria vida.

227

Mas a Kurumi de tapa-olho balançou sua cabeça em resposta às palavras

de Shidou.

— Não, isso é impreciso.

Então ela olhou nos olhos de Shidou e continuou.

— ...204 vezes.

— Hã...?

— Essa é... a quantidade de vezes que o Shidou-san morreu nas mãos da

DEM dentro desses últimos seis dias.

— ......

Dessa vez, nenhuma voz saiu de Shidou.

204 vezes, isso era muito além do esperado, fazendo ele ficar

momentaneamente estupefato.

Mesmo assim, a Kurumi de tapa-olho continuou.

— Nós já estamos muito bem cientes disso, mas a frustrante quantidade

de crias do <Beelzebub> permitiu que elas o atacassem em qualquer

oportunidade que encontrassem, criando diversas formas de tirar a vida do

Shidou-san.

— Ei, espera aí, esse tipo de...

Para evitar dizer algo estúpido, Shidou de repente fechou seus lábios e

parou no meio do que estava falando.

Mesmo que o método fosse diferente, Shidou já tinha voltado no tempo

uma vez com a ajuda de Kurumi e mudou a história. Não importa quão absurda

essa história fosse, ele não podia negar essas palavras.

E mais do que qualquer coisa...

— ............

Shidou viu a cor do rosto de Kurumi depois que ela desmaiou.

Com aquele rosto, apesar de seu comportamento indiferente, ela era uma

garota que estava completamente exausta.

228

Mesmo que o reiryoku selado no seu corpo fosse a meta dela, Kurumi tinha

feito um enorme sacrifício para salvar a vida de Shidou. De fato, aquela era uma

dedicação que Shidou não podia facilmente descrever.

Adivinhando os pensamentos de Shidou, a Kurumi de tapa-olho

gentilmente focou nele com seu único olho.

— Como eu disse, todas as vezes, nós enviamos nossa consciência de volta

ao passado usando a Sexta Bala <Vav>. Uma vez atrás da outra... é claro, somente

a consciência volta no tempo. O tempo usado e a morte dos clones também

voltam ao estado original.

Então, a Kurumi de tapa-olhos respirou profundamente.

— A mente da Eu, que está fadigada de repetir o mesmo tempo várias e

várias vezes, chegou ao seu limite.

— .............

Shidou silenciosamente suspirou enquanto sua linha de visão mais uma

vez caia sobre a Kurumi no chão.

Ela estava linda como sempre, mas ainda assim havia alguns traços leves

de fragilidade.

Compreensível... Sim, para que o objetivo de Kurumi fosse alcançado, o

reiryoku selado dentro do corpo de Shidou era indispensável, e era absolutamente

necessário evitar que Shidou fosse morto pela DEM. Então era compreensível que

Kurumi repetidamente salvasse sua vida através da tentativa e erro.

Mas ainda havia uma coisa que não podia ser compreendida.

Shidou olhou para a Kurumi que estava dormindo enquanto sussurrou

para si mesmo.

— Por que... você não me comeu imediatamente...?

Sim, aquilo era incompreensível para Shidou.

Certamente, por ele estar cercado pelos Espíritos e pela <Ratatoskr>, seria

muito difícil para Kurumi ter sucesso.

Porém, Kurumi poderia usar a Sexta Bala <Vav> para viajar ao mesmo

tempo quantas vezes fosse possível. Nesse caso, não era impossível para ela

encontrar uma oportunidade para tomar a vida de Shidou.

229

Porém, Kurumi não fez isso.

Ela permaneceu com o acordado inicialmente, indo a um encontro... e

então revelando todos seus segredos a ele para fazer com que Shidou entendesse

seu lado.

Ela estava pedindo ajuda... para Shidou.

Desgastar toda sua energia, indo ao ponto de se expor ao dormir na frente

de Shidou, eram coisas que ela não faria normalmente.

— ...Shidou-san.

A Kurumi de tapa-olho relaxou sua boca enquanto voltava sua linha de

visão para Shidou.

— Por favor, não pergunte nada impensado, Eu está...

...... De repente.

Justo quando a Kurumi de tapa-olho estava tentando dizer algo a ele,

Kurumi, que ainda deveria estar dormindo, moveu sua mão e uma pequena arma

se materializou antes dela atirar uma bala.

Uma bala parecida com uma sombra sólida passou raspando a bochecha

da Kurumi de tapa-olho e fez um pequeno buraco na parede. Depois de um

momento, a Kurumi de tapa-olho abriu seus olhos enquanto permanecia com

medo.

— ...Parece que se divertiu bastante conversando enquanto eu dormia, Eu.

Kurumi, com os olhos semicerrados, vagarosamente se levantou. Por

outro lado, o clone estendeu seus braços para cima com ansiedade, mas ela

meramente ignorou isso enquanto se levantava.

— ...Me desculpe, Shidou-san. A jovem Eu na sua frente parece estar

passando por uma fase difícil.

Kurumi disse enquanto tentava suprimir sua tontura ao colocar a mão em

sua testa.

Apesar de seu comportamento estar cheio da compostura normal de

Kurumi... para Shidou, não importa o que dissessem, parecia que ela estava se

forçando a agir bravamente. Shidou não pôde deixar de esticar suas mãos para

ajudá-la.

230

— Kurumi...

— ......

Kurumi recuou para evitar a mão de Shidou.

Porém, ele não viu nada parecido com sentimento de desgosto na

expressão dela.

De certa forma, sim... parecia que ela estava com medo de tocar a mão dele.

Kurumi balançou os ombros enquanto parecia tomar ciência de sua

própria expressão facial, expondo um sorriso nada amigável pra Shidou.

— ...Por favor, não queira entender, Shidou-san. Eu ajudei o Shidou-san

porque eu estaria em apuros se o reiryoku selado por você fosse perdido.

— Ah, ah... eu entendi.

Shidou estava muito pressionado pela situação para responder

apropriadamente. Como resultado, Kurumi gentilmente virou suas costas para

ele.

— ...Não interessa... ah, vamos deixar as coisas assim por hoje.

— Ah... ei, Kurumi!

Shidou esticou sua mão enquanto gritava, porém...

Naquele instante, Kurumi e seu clone desapareceram para dentro das

sombras.

— ...Kurumi...

Enquanto olhava o chão onde Kurumi tinha desaparecido, Shidou cerrou

seus punhos.

Kurumi, Tokisaki Kurumi.

Mais terrível que qualquer um, mais implacável que qualquer um... uma

garota mais gentil que qualquer um.

O garoto que foi salvo por ela várias vezeslentamente erguia seu rosto.

Seu par de olhos estava marcado com uma faísca brilhante de

determinação.

— Dessa vez... é minha vez de te salvar...

231

◇◇◇◇

No telhado do prédio iluminado pelo luar, uma sombra se expandiu como

se fosse uma tinta que foi derramada.

Kurumi surgiu de lá, suspirando profundamente enquanto seu corpo era

exposto ao ar fresco.

— ...Fuh.

Com certeza, ela parecia estar sem nenhuma força sobrando. Kurumi

inalou profundamente de novo enquanto permanecia com as costas encostadas

na grade.

Então, como se estivesse a seguindo, a Kurumi de cinco anos atrás, com

um tapa-olho em seu olho esquerdo, decidiu acompanhar Kurumi.

Sim, ela era a culpada por ter dito várias coisas desnecessárias ao Shidou

enquanto Kurumi estava inconsciente. Kurumi olhou para a Kurumi de tapa-

olho com olhos taciturnos.

— ...Você fez algo desnecessário, Eu.

— Ara, ara.

Enquanto Kurumi falava, a Kurumi de tapa-olhos apareceu como se

estivesse em transe, colocando seu dedo indicador no queixo enquanto desviava

os olhos.

— Eu não sei do que está falando. Eu meramente pensei que o Shidou-san

parecia entediado e decidi conversar com ele.

Enquanto a Kurumi de tapa-olho fingia não saber de nada, Kurumi

clareou sua garganta enquanto contraia a ponta de sua sobrancelha.

— ...Eu.

Porém, essas palavras não foram direcionadas para a Kurumi de tapa-

olho.

232

Como se respondesse a esse comando, a sombra abaixo de seus pés

começou a se arrastar enquanto outro clone da Kurumi fez um rosto como se

tivesse implorando pelo perdão dela.

— ...Sim, Eu, essa de tapa-olho estava falando para o Shidou-san tudo o

que aconteceu nesses últimos dias.

— Kihihiii!?

Com a traição de sua igual, a Kurumi de tapa-olho ergueu uma voz

estridente. Kurumi, com olhos semicerrados, a olhou mais uma vez.

— Deixe-me explicar, Eu.

Ao mesmo tempo que Kurumi soltou um gemido enquanto estava com as

mãos posicionadas na altura do peito, a Kurumi de tapa-olho esperou um tempo

antes de encolher os ombros seriamente.

— Embora seja de fato como você disse, é melhor dizer que eu não entendo

por que não o fazer, Eu. A determinação da Eu não está igual à que sempre foi e

é esperada, Eu. É por isso que apesar da forte vigilância, Eu acabou expondo sua

aparência sonolenta ao Shidou-san.

— ...Bem.

Tocada na ferida, Kurumi levemente franziu o cenho enquanto a Kurumi

de tapa-olho continuava com sua fala.

— Sendo assim, quem poderia ser censurada por informar o Shidou-san.

E até mesmo que o Shidou-san apreciaria a ideia de Eu ter salvo ele inúmeras

vezes. Então quais são as desvantagens disso?!

— .........

A Kurumi de tapa-olho fez um grande apelo enquanto conduzia sua fala.

Depois de um momento de silêncio, Kurumi respondeu a ela com o rosto

corado.

— ...... Não é nada disso.

— Hm? O que quer dizer com isso?

— Não há mal-entendidos! Minha partida contra o Shidou-san não é sobre

quem se apaixonar pelo outro primeiro perde!? Tal coisa... se ele souber que eu

233

tenho ajudado o Shidou-san por todo esse tempo, não seria a mesma coisa de ter

me atraído por ele...?!

— ...Uau, Eu...?

A Kurumi de tapa-olho arregalou seus olhos de surpresa. No instante

seguinte ela encolheu os ombros e riu.

— Hehe... Hahahahah, isso mesmo, é exatamente como você disse.

— ......De alguma forma, eu me sinto como uma tola.

— É só impressão sua.

A Kurumi de tapa-olho continuou enquanto dava de ombros.

Ao mesmo tempo, Kurumi parecia infeliz pois franziu o cenho novamente.

...... como foi que ela se colocou nessa posição humilhante. Mesmo que ela

quisesse usar a Sexta Bala <Vav> para viajar antes de sua queda, Shidou ainda

não tinha morrido naquela linha de tempo, então <Zafkiel> ainda não recuperou

esse poder.

Porém, se ela tentasse beijar ele enquanto Shidou ainda estivesse vivo, o

reiryoku que permanecia com Kurumi também seria selado.

— Então... o que vai fazer agora, Eu? Mesmo que a crise tenha sido evitada

agora, não temos muito tempo sobrando, certo?

— ...Isso mesmo.

Ouvindo as palavras dos clones, Kurumi mostrou uma expressão

angustiada.

Lutar para manter Shidou vivo era um pré-requisito para continuar. Mas

no caso dela comer Shidou...

Então.

— ......Você parece angustiada.

— ......!?

Naquele momento, uma voz que não era de um clone ressoou na escuridão

da noite. Kurumi quase engasgou nesse processo.

234

Era alta ou baixa, uma voz de homem ou de mulher? Era impossível

descrever aquela voz estranha.

Era uma voz que Kurumi se lembrava. Ela imediatamente deu o comando

para seus clones começarem a aparecer enquanto duas armas de aparência antiga

emergiram das sombras.

— ...Oh, parece que eu não sou muito bem-vinda aqui. Eu só vim aqui dar

um aviso.

Era impossível distinguir a figura da pessoa de onde aquela voz saia.

Irreconhecivelmente parada no canto do telhado estava a sombra da figura

coberta por mosaicos. A resolução da imagem da existência daquela pessoa

permanecia muito vaga. Certamente havia alguém ali, mas era impossível dizer

quem era.

Sim, aquele era o Espírito que Shidou e os outros chamavam de

<Phantom>.

Kurumi já recebeu informações diversas vezes daquele Espírito. De fato, a

informação sobre um garoto chamado Itsuka Shidou foi divulgada por

<Phantom>.

Mas naquele momento <Phantom> não era mais um cooperador de

Kurumi.

Não, certamente... ele era um inimigo.

— Bem-vinda? Você? Por favor, deixe essas piadinhas de lado.

Enquanto Kurumi conjurava um olhar afiado em seus olhos, segundos

depois, <Phantom> deu um suspiro como se tivesse adivinhado tudo.

— ...Oh, já entendi. Você já sabe? ...Então não posso mais fazer nada. Que

pena, mas é verdade que eu queria te dar um aviso.

Depois de dizer isso, <Phantom> fez um leve movimento para frente.

— Você acha... que pode escapar...!?

Acompanhando a voz de Kurumi, todos os clones apertaram o gatilho

juntos para atirar uma chuva de balas.

Um incontável número de balas negras percorreu a escuridão da noite e

atacou <Phantom>.

235

— ......

<Phantom> pulou para o céu para desviar das balas dos clones.

Mas isso foi o que Kurumi esperava. Para fornecer uma abertura para

<Phantom> fugir, ela não queria que nenhum clone mirasse para cima.

— <Zafkiel> ...a Sétima Bala <Zayin>!

Kurumi gritou enquanto apertava o gatilho.

Absolutamente invencível, a Sétima Bala <Zayin>, o tiro que poderia parar

o tempo atingiu <Phantom>.

Naquele momento, o padrão de mosaicos parou no ar perfeitamente.

— Nós!

No momento seguinte, os clones alinharam os canos de suas armas para

cima e atiraram suas balas.

Pobre <Phantom>, não pôde sequer falar enquanto era coberta com mais

de 100 balas.

...Ou pelo menos era o que parecia.

— ......Ya-re, ya-re, você me pegou de guarda baixa.

— O q...

Como resultado da voz vindo de dentro dela, Kurumi

desintencionalmente franziu as sobrancelhas. Ainda havia um amontoado de

mosaicos no céu. Mas a voz veio diretamente de baixo.

No chão do telhado, havia uma mulher agachada de joelhos.

Sim, era como se ela tivesse parado a Sétima Bala <Zayin> por deixar suas

roupas no ar enquanto aterrissava logo abaixo.

— Essa é... sua verdadeira aparência, não é?

Kurumi não hesitou em levantar sua arma enquanto encarava a mulher.

— ...Bem, isso deve ser verdade. Eu não esperava que essas barreiras

fossem despojadas tão lindamente. Como esperado de você... Kurumi.

Enquanto dizia isso, a dama vagarosamente erguia sua voz.

Ao olhar para aquele rosto, os olhos de Kurumi se arregalaram.

236

— ...Uh.

Cabelos longos e bagunçados que seriam facilmente reconhecidos. Uma

garota na casa dos vinte anos de idade.

Parece que ela não dormia a muito tempo. Sob seus olhos estavam círculos

negros. E encaixado em seu bolso estava um ursinho de pelúcia cheio de

cicatrizes.

— Murasame... sensei.

— ............

Kurumi chamou pelo nome daquela mulher... Murasame Reine, antes de

voltar a ficar em silêncio.

Sim, iluminada pelo luar estava a professora da escola que Kurumi

frequentava, Murasame Reine.

É claro, Kurumi sabia que ela não era somente uma professora. Ela era um

membro da <Ratatoskr> liderada por Kotori, e também alguém que queria que

Shidou a vencesse.

Porém, mesmo depois de levar isso em consideração, era incrivelmente

surpreendente que aquela existência fosse Reine.

...Aquilo não fazia sentido, Phantom era a Murasame Reine? Então a

informação que Kurumi recebeu era...

— ...Ah.

Porém.

Uma voz extremamente baixa saiu da garganta de Kurumi.

— Sim... Isso mesmo, ah, ah, ah, finalmente... tudo se encaixou.

— ............

Ouvindo as palavras de Kurumi, a Reine gentilmente espremeu seus olhos

enquanto saltava do chão.

Ela tentou fugir com um poderoso salto que era impossível para um ser

humano comum.

— ...! Nós!

237

Kurumi reverberou um grito furioso.

Então, a sombra no chão se agitou no momento que Reine aterrissou, com

incontáveis mãos agarrando seu corpo.

— ...Kuh...

Reine distorceu sua expressão enquanto tentava fugir das mãos.

Porém, isso não foi efetivo. Eventualmente Reine foi restringida pelas

mãos...

Como se ela tivesse sido tomada pelas sombras.

— ............

Por um momento, Kurumi murmurou algo com desgosto no momento

que Reine desaparecia de sua linha de visão, quase sendo engolida pelas

sombras.

— ... Você não merece nem mesmo ir para o inferno.

Nuvens encobriram a lua e a escuridão preencheu a rua.

Continua...

238

Posfácio

Olá a todos. Meu esporte favorito é Frisbee; eu sou o Tachibana Koushi.

Date a Live Volume 16 - Refrão Kurumi chegou em suas mãos. O que

achou dele? Eu ficaria alegre se você gostasse dele.

Então finalmente chegou o arco da Kurumi, que já não aparecia a algum

tempo. Embora você provavelmente a tenha visto em histórias curtas, o

sentimento não é o mesmo.

Durante o terceiro volume lá no começo, Kurumi poderia ter entrado no

harém inicial de Espíritos, mas por não ter sido selada, ela tem ficado às escuras

desde então. Para ela ter aparecido no título e na capa, com certeza houve uma

longa jornada. A ilustração dela com esse olhar realmente é fofa, sem contar suas

coxas sexy à mostra.

Não somente na capa frontal, mas também no interior. Todas as ilustrações

coloridas têm a Kurumi nelas; é a primeira vez que isso acontece. Como esperado

da Kurumi.

Eu vou me segurar nos spoilers já que acho que alguns de vocês leem o

posfácio antes do restante do conteúdo, então descreverei como isso e aquilo ou

essa cena e aquela cena.

Parando para pensar, a Kurumi foi a primeira personagem que criei em

Date a Live.

Apesar que, para ser preciso, a Kurumi atual é um pouco diferente; o

protótipo dela foi desenvolvido quando eu comecei a escrever essa novel durante

o meu segundo ano do ensino médio.

Uma Lolita Gótica com cabelos desiguais e um relógio em seu olho. Meu

estado mental estava certamente além da descrição: "Essa personagem tem

potencial, e um dia eu irei mostrá-la ao mundo". Dez anos depois, eu ainda

acredito firmemente na paixão que tinha naquela época.

Eu me lembro do rascunho original: ela era uma maga artificial que tinha

um relógio especial implantado no olho esquerdo, capaz de utilizar habilidades

particulares com o custo de seu próprio tempo de vida. Com a ativação de uma

dessas habilidades, o relógio andaria mais rápido, fazendo com que ela perdesse

uma quantidade igual de seu próprio tempo.

239

Como resultado, teria outros personagens além dela que possuíam

relógios também, mas basicamente os outros os tinham no dorso das mãos ou no

peito, fazendo ela ser a única que o tinha no olho. Algo do tipo.

E é claro, Kurumi não seria a heroína principal. Ela seria a irmãzinha

insana que ficaria atrás da vida do herói principal, dizendo, "Hihihihihi, ei, Onee-

sama?", ou uma frase parecida, algo de dar um frio na espinha.

A propósito, saindo do assunto, o protótipo do Kusanagi Neon do meu

trabalho de estreia <Soukyuu no Karma> também apareceria nessa história. Ele

faria parte dos militares e seria o mais forte deles, então ele teria relógios nas duas

mãos, nos ombros e no peito. Muito poderoso.

De alguma forma, falar sobre meus projetos passados me deixa

envergonhado.

Mas esse momento é fantástico: um volume sobre a Kurumi, um spin-off

sobre a Kurumi, o terceiro artbook da Tsunako-san sendo lançado em março!

Tudo de uma vez!

O artbook da Tsunako-san tem uma pequena história incluída nele, então

por favor, deem uma conferida! Isso junto com ilustrações exclusivas nunca antes

vistas...!!

O spin-off da Kurumi escrito por Higashide Yuichiro, Date a Bullet, está

extremamente fofo, sólido e violento. Eu simplesmente amei a Furue-chan. A

Aiai é fofa também. Como todas essas garotas adoráveis estão presentes nele,

tenho certeza que todas elas poderiam ter festas do chá juntas. E que visão

maravilhosa seria. E tem um anúncio no final, então por favor olhem ele também!

A Kurumi do NOCO-san está imensamente linda!

Falando em final, um esboço da nave renovada <Fraxinus Ex Celsior> que

apareceu no Volume 14 também foi incluído!

O design foi feito pelo Ebikawa Kanetake-san, que também desenhou a

<Fraxinus>! Espero que vocês gostem dessa versão mais legal e afiada, a

<Fraxinus EX>!

Como sempre, esse livro foi lançado graças aos esforços de muitas pessoas.

À ilustradora Tsunako-san, a imagem da Kurumi de pé entre os clones está

magnífica. Ao editor-san, por favor, perdoe os atrasos que causei até agora. Ao

240

designer Kusano-san, obrigado pelo excelente design de sempre. Não é hora para

se preocupar com o desenvolvimento do logo do título, kukuku...

Ao escritor do spin-off Higashide-san, ao NOCO-san, ao Designer da

<Fraxinus> Ebikawa-san, e a todos do Departamento de Publicação que se

envolveram no varejo e na distribuição, assim como você, que está lendo esse

livro agora, vocês tem a minha mais máxima gratidão.

O próximo é o volume 17. Como que isso e aquilo vai se desdobrar?

(Vamos ficar livres de spoilers)

Eu darei o meu melhor para entregá-lo a vocês, espero que satisfaça a suas

expectativas.

Com isso, eu espero ansiosamente para encontrá-los de novo, no próximo

volume.

Fevereiro de 2017.

Tachibana Koushi.

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242

AVISO LEGAL: Date a Live é uma obra da Production IMS,

KADOKAWA e do autor Koushi Tachibana. Essa é uma tradução

feita de fãs para fãs sem objetivos financeiros. Caso a obra seja

lançada em território nacional, por favor adquira o produto oficial.

Autor: Tachibana Koushi

Ilustradora: Tsunako

Tradutor: Myturn e Limaun_

Revisor: Fallen-kun

Edição: Myturn