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デート・ア・ライブ
狂三リフレイン
Date A Live Volume 16
Refrão Kurumi
Autor: Koushi Tachibana
Ilustração: Tsunako
Tradução: Myturn e Limaun_
Edição: Myturn
Revisão: Fallen-kun
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Prólogo – Aliada da Justiça
Tokisaki Kurumi era uma jovem garota de coração bondoso, e aqueles que
a conheciam elogiavam-na por ser assim. Nascida em uma família rica, ela era
uma Ojou-sama de berço de ouro que foi criada entre as palmas de pais
amorosos. Ela nunca foi forçada a ceder a restrições em sua liberdade ou teve
algum tipo de descontentamento em sua infância; e assim, dezessete anos de sua
vida se passaram.
Não odiando e nem sendo odiada pelos outros, uma vida extremamente
pacífica e estável.
Dentro desses calmos dias de pura felicidade, parecia que todos
consideravam seu estilo de vida como sendo apenas isso, e ela parecia acreditar
nisso também.
...... Um turvo sentimento de desamparo.
Talvez tenha se originado da quantidade sem restrições de liberdade que
ela desfrutou desde seu nascimento, ou talvez fosse simplesmente devido à sua
natureza inata, mas noções como essas frequentemente eram facilmente
absorvidas pelo coração de Kurumi.
Ao vislumbrar o abrangente mundo, muitas pessoas podiam ser vistas
encarando múltiplas dificuldades e sofrimentos.
Alguns encontravam suas mortes ao serem lançados à guerra, enquanto
outros já estavam condenados com doenças terminais antes mesmo que
pudessem dar seu primeiro respiro. Alguns possuíam nada além dos trapos de
suas costas, muito menos bocado algum de comida para encher suas barrigas,
havia pessoas sendo tratadas com imensas e chocantes disparidades. Neste
mundo, era os ventos de coração frio que soprava contra os membros emaciados
dos fracos.
Ela observava pela televisão, jornais, revistas... até com seus próprios
olhos.
Enquanto Kurumi testemunhava esses sofrimentos, um sentimento
amargo de desamparo atormentava seu coração.
Talvez isso fosse algo que pelo qual todos passassem. Mas, apesar de
estarem completamente cientes da inexorável falta de emoção nesse mundo, as
5
pessoas haviam sucumbido a essa realidade, desconsiderando a desgraça do
mundo, que elas mesmas eram incapazes de tocar.
Mas o coração de Kurumi, não importava o tempo que passasse, ainda
guardava esse assunto.
Talvez haja algo que eu possa fazer.
Eu quero estender a mão àqueles que necessitam.
Esse inocente senso de justiça era, do lado bom, puro e, todavia, ingênuo.
Esse sentimento, que havia se enraizado no seu coração, não foi notado
por ninguém.
Possivelmente, foi devido a personalidade dela que aquilo aconteceu.
...... Naquele dia.
Aquele dia fora um dia mediano como qualquer outro.
Aproximadamente cinco horas da tarde, Kurumi andava pelo caminho
para casa junto de sua amiga, sobressaindo a vista do pôr-do-sol enquanto
conversavam despretensiosamente.
— ...sobre isso, Sawa-san.
— Hm?
Ao ser chamada por Kurumi, sua colega de escola Yamauchi Sawa
inclinou levemente a cabeça ao piscar os olhos. Ela era uma garota simples de
cabelos castanho-avermelhados, amarrados em três tranças.
— Você tem planos para amanhã? Se estiver livre, eu gostaria de visitar
sua casa.
— Certo. Seria ótimo... Ah, seria porque você quer fazer carinho no
Chestnut1 de novo?
Sawa disse com uma leve risada. Chestnut era o nome de um gato que
Sawa trouxe para casa e criou. Era um gato americano de pelo curto que era
descarado e agiria brincante com estranhos que já encontrou uma primeira vez.
— Não é isso. Eu... só queria estudar junto com você...
1 Chestnut, do inglês, significa castanha.
6
— Hehe, claro que sim. Por favor, venha sem falta. —— Mas já que
Kurumi-san é apaixonada por gatos, por que você mesma não tem um?
O enunciado de Sawa fez com que Kurumi franzisse as sobrancelhas.
— ...Minha mãe é alérgica a gatos.
— Entendo. Então você vai ter que esperar até a sua próxima vida para
criar um.
Ao terminar, Sawa sorriu novamente e acenou com a mão, partindo em
direção à sua própria casa logo em seguida.
Kurumi devolveu o gesto e ofereceu suas despedidas e prolongou-se até a
figura de sua amiga desaparecer para poder começar sua série de passos até sua
casa.
Não havia nada para reclamar em uma vida rotineira estável. Sua amiga
também estava sob a proteção das asas do destino. Ela nunca havia tropeçado em
dificuldades, então seu tom de fala não esbarrava em notas falsas.
Dessa maneira, tal forma de viver indubitavelmente continuaria. Mesmo
que um pingo de dúvida se erguesse nas profundezas do coração de Kurumi, ela
parecia continuar andando para casa como se estivesse fingindo ignorância a
respeito disso.
... Não muito depois, ela se sentiu um pouco indisposta.
— ......Hã?
Após passar por alguns becos, Kurumi abriu bem os olhos ao examinar
seus arredores.
Sem perceber, a agitação das pessoas, o barulho dos animais, e todos os
tipos de sons haviam desaparecido.
Era como se ela simplesmente tivesse perdido seu rumo e entrado em
outro mundo.
Instantaneamente, Kurumi já tinha até mesmo chegado à conclusão que
seus ouvidos estavam passando por alguma dificuldade auditiva momentânea...
...mas esse, de longe, não era o caso. O farfalhar do pano de suas roupas criava
uma fricção que era sonoramente audível para ela.
— O que é... isso......
7
Apesar da sonolência, Kurumi continuou andando para sair daquele
lugar.
Entretanto...
— Quê......
Ela rapidamente cessou seus passos.
A razão era simples de entender. Diante dela, uma anormalidade não
identificada se manifestará.
Se assemelhava a uma sombra preta que tomava uma forma humanóide e
viva. O corpo daquela criatura emanava uma aura obscura enquanto emitia algo
que não poderia ser descrita como gritos de lamentação e raiva.
— Hya......!?
Aquilo era obviamente uma existência fora do comum.
Kurumi não pôde evitar de suprimir sua respiração, desesperada para
recuar dali.
Não obstante, seu corpo, transbordando de inquietação, não agiu como ela
ordenou. Com uma torção de seu pé, Kurumi desabou com o traseiro no chão.
— Kya......!
— ...............
Então, como se finalmente tivesse percebido Kurumi ali, a entidade se
aproximou da garota vagarosamente.
— Não...... Não......!
Kurumi estava completamente incapaz de fazer qualquer coisa,
meramente tremendo de medo.
Mas... ...no instante seguinte.
— ......!?
O campo de visão de Kurumi foi completamente preenchido por luz. Logo
após uma bruta explosão reverberar, o monstro perto dela evaporou no ar.
No lugar daquilo estava de pé uma garota que parecia ter trocado de lugar
com aquela coisa.
8
— ...Está tudo bem com você?
— Eh... Hm... ...Eu estou... bem.
Confusa, Kurumi ergueu sua cabeça com certo receio, e sua linha de visão
encontrou a figura daquela garota.
Seus cabelos estavam esvoaçando com o vento, ela era uma jovem dama
que possuía feições normais. Uma expressão irresoluta aparecia em seu rosto,
elaborando ainda mais seu comportamento imperscrutável. Ela estava adornada
com um vestido formal e de elegância deslumbrante. Todas e cada uma de suas
características essenciais a retratavam como um Anjo ou deusa.
Deslocada de sua linha de pensamento, Kurumi finalmente entendeu. Foi
ela quem havia derrotado a sombria criatura e resgatou Kurumi.
— O-Obrigado por me salvar...
Enquanto Kurumi mostrava sua mais sincera gratidão em palavras
trêmulas, a garota estendia sua mão em direção a ela.
Aceitando a oferta, Kurumi se colocou de pé novamente.
— Mas... agora a pouco, o que diabos era aquilo...
Com o questionamento de Kurumi, a garota a olhou em seus olhos ao falar.
— ...Um Espírito. É uma criatura cujo propósito é destruir esse mundo.
— Espírito...
— ...Correto. Falando nisso, quem seria você? Por que você apareceu aqui?
— Ah, me desculpe. Meu nome é Tokisaki Kurumi. Agora o porquê de eu
estar aqui... Eu também gostaria de saber, para ser sincera.
Após a explicação de Kurumi, a jovem moça acariciou o queixo ao
murmurar um “Hmm”, como se estivesse mostrando sinais de estar refletindo
sobre algo.
— ...Perdeu o caminho contra a própria vontade? Hmm, talvez você tenha
uma natureza compatível.
— Hmm...?
Kurumi inclinou sua cabeça em suspeita e exclamou. Em seguida, a garota
encarou diretamente os olhos de Kurumi.
9
— ...Perdoe-me pela pergunta repentina, Kurumi, mas você deseja ter
poder?
— ...Poder...?
— ......Isso mesmo. Um poder como o meu. Você o deseja? Você vai sem
dúvida alguma ser compatível com a natureza do cristal Sephira. Se você estiver
disposta... ...espero que você possa salvar o mundo comigo.
— ...............
Frases absurdas além da compreensão estavam sendo ditas.
Uma pessoa comum iria definitivamente as dispensaria com uma risada e
guardar suspeitas duvidosas dentro de si.
E Kurumi também suspeitava daquilo.
Contudo, o que era mais poderoso que isso era a emoção profundamente
enraizada no coração de Kurumi, e isso a levou a inconscientemente baixar sua
cabeça para frente.
— Ótimo. Com sua ajuda, nós teremos cem vezes mais poder.
A garota pausou para sorrir um pouco antes de continuar.
— ......Prazer em conhecê-la, Kurumi. Eu sou Takamiya Mio, também
conhecida como... uma aliada da Justiça.
10
Capítulo 1 – A Tentação de Nightmare
— Ku-rumi......
Não era intenção dele pronunciar aquele nome.
No momento em que a garota em sua linha de visão veio apareceu, a
atenção e o foco de Shidou se direcionaram àquela figura como flechas
perseguindo um alvo. ......Ele havia pronunciado aquele nome parcialmente por
um reflexo que ele não pôde conter.
A impressão que ela exalava em relação aos outros... ...era mais do que o
suficiente para cativar a visão de Shidou e a capturar para sempre.
Cabelos esplêndidos, tão escuros quanto pérolas negras.
Pele sedosa e macia com um brilho tal como o de porcelana branca.
Um sorriso encantador em seus lábios vermelhos-cereja.
E um canto de olho relógio quase imperceptível.
Tal descrição possuía apenas uma pessoa nesse mundo.
— ...Kurumi. Tokisaki Kurumi.
O “Pior Espírito”, capaz de manipular o tempo usando seu Anjo,
<Zafkiel>.
O Espírito que emergiu diante de Shidou e os outros inúmeras vezes, seja
almejando suas vidas ou até mesmo alternando entre estar contra e a favor deles
uma vez ou outra, estava ali.
— Mas, por que......
Aquele fragmento de fala foi lançado da boca dele.
Onde ela surgiu não era um beco isolado tarde da noite ou em algum
apuro em que ele se meteu ao ser encurralado pelo inimigo...
Foi na classe 2-4 do ensino médio, a classe de Shidou.
A encarnação da anormalidade estava sentada de um jeito que
personificava o padrão cotidiano. Tal estonteante presença o fez engolir sua
própria saliva.
— ......Fufu.
11
Descansando sobre a carteira, Kurumi ergueu seu rosto em sátira ao tomar
interesse na reação de Shidou.
— Por que...? Que pergunta estranha de se perguntar, Shidou-san. Você
não tem mais nada para falar para sua colega desaparecida há tempos que acabou
de retornar à escola?
Ela corrigiu sua postura como se quisesse mostrar suas vestes.
Ela não estava vestindo um Astral Dress tingido com um vermelho
escarlate sangrento, mas sim uma jaqueta combinando com sua saia plissada. O
uniforme padrão do ensino médio que Shidou e todos os outros estavam usando.
— Você......
Ele franziu as sobrancelhas, deixando sair uma voz indistinguível.
Sem dúvidas, Kurumi foi um membro daquela turma alguns meses antes.
O método, apesar disso, parece ter sido através dos procedimentos oficiais,
fazendo ela se juntar à turma, tratando seu sumiço como uma saída sabática.
Ainda assim, Shidou não iria aceitar isso obedientemente. Afinal, sua
entrada indicava que um alvo já havia sido colocado em suas costas.
— Ara, ara.
Talvez todas as bandeiras de aviso se ergueram em sua visão de uma vez
só. Kurumi levantou-se em um capricho frívolo e deu um largo e impetuoso
passo em sua direção.
— Shidou!
— ...............
Alertadas pelo seu súbito avanço, duas sombras pularam de trás de
Shidou que nem sentinelas de plantão.
Uma tinha cabelos soltos cor da noite e a outra tinha cabelos pálidos
cortados na altura dos ombros, elas eram os Espíritos que iam à mesma escola
que Shidou: Yatogami Tohka e Tobiichi Origami.
No entanto, ambas estavam apenas dançando na palma da mão de
Kurumi. Ela não exibia nem um pingo de perturbação em seu falso sorriso ao
falar.
— Ufufu, popular como sempre, Shidou-san.
12
Uma estranha observação partindo de Kurumi, seu olhar iminente
avaliava Tohka e Origami.
— Não se preocupem, eu não tenho nenhuma intenção de causar
problemas.
— O que você está tentando fazer......!
— Por que devíamos acreditar em você?
— Ai, ai, eu sou tão indesejável. Isso é de partir o coração.
— Mgh......
Kurumi fingiu estar buscando por simpatia. Tohka, em um estado de
confusão, copiou o rosto sombrio inexpressivo de Origami sem sequer piscar.
Em meio à sua farsa, Kurumi soltou algumas risadinhas.
— ......Se eu tivesse desejado audaciosamente empregar um método...
Mais... Violento... meu Anjo já teria aparecido a uma altura dessas.
— Guh.........
Restava apenas silêncio em Shidou pois ela havia lhe roubado a fala. O
sorriso afetado de Kurumi irradiava de ouvido a ouvido, a garota continuou com
a eloquência de um coro.
— Ao cobrir as instalações com a <City of Devouring Time>1, meus clones
utilizariam os estudantes inconscientes como escudos humanos...... com uma
arma apontando para as cabeças de cada um de seus colegas, como Shidou-san
optaria me enfrentar? Estou ansiosa para saber.
— Kurumi......!
— Kihihi, hihi.
Uma sinistra gargalhada de gelar a espinha era o que constituía a resposta
de Kurumi ao ter seu nome chamado por Shidou.
— Eu imploro que você seja tão gentil a ponto de acreditar na minha
promessa de que não vou fazer isso. Se mesmo assim você mostrar ser incapaz
de confiar em mim...... então eu estarei mais que pronta em acatar o que decidir.
1 Cidade que devora o tempo.
13
— ......Tch, você...
Confrontado por uma clara intimidação executada de modo tão sedutor,
Shidou teve o ar de seus pulmões tomado.
Tohka e Origami levantaram suas guardas também, fechando seus punhos
em indignação, apenas para serem dispensadas com um toque das mãos de
Shidou nos seus ombros.
— ........Tudo bem.
— Ufufu, que pessoa gentil você é, Shidou-san.
Pareceu ser uma resposta correta da parte dele, ao que Kurumi se
mostrava cheia de deleite enquanto arrumava seu cabelo.
Shidou nada podia fazer exceto evitar olhar aquela vista encantadora, mas
ele ainda permanecia vigilante quanto à femme fatale2.
Se ela não foi até ali para mexer com a mente dele, então por que ela havia
voltado para a escola? Shidou não tinha pistas disso.
— Kurumi, por que você......
— Ufufu, tenha a bondade de evitar fazer um rosto tão assustador...... eu
vim apenas para encontrar prazer na vida escolar junto de Shidou-san.
— ............
Shidou ficou sem palavras.
Como se estivesse fazendo uma sátira, Kurumi deu de ombros e
continuou, apesar do solene silêncio dele...... e em um volume o qual a turma
inteira pôde ouvir.
— Você é tão cruel~! Eu humildemente não queria nada além de ir à escola
com o Shidou-san...... mesmo depois de eu obedecer tudo o que você me pediu
para fazer!? Eu fiquei quase nua na casa do Shidou-san, pronta para sem
hesitação alguma servir ao seu chamado! Eu não posso ter essa modesta
recompensa por tudo que fiz?
— Hã!?
2 Expressão francesa que significa uma mulher atraente e sedutora, especialmente uma que no fim traria desastre ao homem que se envolve com ela.
14
As palavras sem sentido daquela garota tentadora provocaram um grito
alto do garoto.
— D-do que você está falando! Essas coisas nunca........
Shidou se apressou em retificar aquilo.
Mas já havia sido em vão. Seus colegas, dando ouvido à promulgação de
Kurumi, estavam agora lançando olhares estranhos e sussurrando em tons
abafados.
— Eh...... é verdade isso? O Itsuka-kun atacou novamente?
— Aliás, essa não é a Tokisaki-san que se transferiu para cá em junho?
— Parece que ela deveria estar de licença...... Será que ela esteve na casa
do Itsuka esse tempo todo......!?
E assim, vários rumores infundados foram lançados de uma só vez.
— ......Oou......
O rosto de Shidou estava marcado com o desespero mais desesperador
enquanto ele colocava a mão na testa. Do outro lado, risadas alegres escapavam
da boca de Kurumi, talvez resultantes do dilema dele.
Contudo, essa situação era de se esperar, sem contar que sua reputação já
esteve, e ainda estava, em mau estado desde o começo. Para elevar o ânimo,
Shidou coçou o cabelo soltou um suspiro profundo, e em seguida voltou sua
visão para Kurumi.
— .......Só para curtir a vida escolar, hein. Se é só esse o seu real motivo,
então eu alegremente te receberei. Sabe, nós até faremos uma festa para você se
esse for o caso. ......Claro, só se você me deixar selar o seu reiryoku3.
Shidou falou com retraimentos entre suas palavras.
Não é necessário dizer que ele não queria que suas declarações fossem
assim. Não, para ser preciso, elas vinham de seu coração. Nunca em seus mais
loucos sonhos ele poderia predizer o que veio a seguir.
A resposta de Kurumi eclipsou as antecipações dele.
— Sim, claro. Eu não me importaria.
3 Do japonês霊力 (れいりょく), que significa poder espiritual.
15
— ......Hã?
Ele estava estupefato à resposta dela.
Shidou refletiu sobre o teor sutil de seus pronunciamentos. Quando ele
suspeitou de seus próprios ouvidos e cérebro por anomalias de comunicação, ele
lançou um olhar para os rostos de Tohka e Origami, e encontrou o reflexo de sua
própria expressão.
— Kurumi......? O que você acabou de dizer.........
— Reiterando, eu não tenho queixas em entregar meu reiryoku para
Shidou-san. Tendo dito isso......
Kurumi ergueu o dedo indicador, com um sorriso diabólico em sua boca.
— Eu tenho apenas uma condição.
— ......
A respiração de Shidou ficou carregada.
Para aquela Kurumi tão francamente ceder seus poderes, era algo além da
compreensão científica imaginar que tipo de condição impraticável ela iria
propor. Presumir que ela estava apenas brincando com ele soava melhor.
Mas Shidou optou por não fazer isso. Se existisse mesmo a mais
microscópica possibilidade de selar o reiryoku de Kurumi, Shidou não tinha
escolha além de se aventurar naquele risco impossível...... Mas importante, o
olhar brincalhão dela não estava ali, já que um comportamento sem precedentes
ocupava seu lugar.
Ele se prestou a provar.
— ......Essa condição, qual é?
— É.........
Então.
No momento em que os lábios de Kurumi iria pronunciar algo, o sino
sinalizando o início da aula tocou.
— Ara, ara. Olha a hora. Mas que pena, não podemos fazer nada quanto a
isso.
16
Kurumi deu um giro, então começou a se deslocar em direção ao seu
assento.
— Kurumi.
Shidou elevou sua voz para fazê-la parar, sem esperar que o mais-que-
audível volume dela atraísse a atenção de alguns colegas de classe como um imã.
Seja como for, Kurumi manteve a compostura, sem se surpreender com a
tentativa fracassada. Ela deu uma risada, posicionando um dos dedos sobre a
boca.
— Os detalhes seguirão depois da escola. Aqui está um pouco tumultuado.
Sem mencionar...... que o dever de um estudante é estudar, certo?
Deixando apenas aquela frase, Kurumi desapareceu gradualmente da
presença de Shidou.
◇◇◇◇
— ......Tobiichi Origami, ex-membro da AST4, possuía patente de Primeiro
Sargento na época, Wizard de nível B+; renunciou ao cargo devido a motivos
pessoais alguns meses atrás.
Dentro das paredes de uma sala dentro da filial japonesa das Indústrias
DEM, Artemisia Ashcroft lia em voz alta um documento reproduzido na tela,
com sua mão mexendo no queixo.
As mechas de seus brilhantes cabelos dourados pareciam absorver cada
traço de luz solar, o que complementava suas pupilas azuis-ultramarino em uma
efígie do oceano de verão. Geralmente mostrando um sorriso recatado, seu rosto
estava coberto por sinais de confusão e ceticismo.
— ......Não há dúvidas sobre isso. É definitivamente ela.
Artemisia acionou o painel de controle para mais detalhes em relação ao
dossiê.
4Sigla inglesa para Anti-Spirit Team: Time Anti-Espírito.
17
Altura, massa corporal, e nível de treinamento com unidades Realizer, só
para dizer alguns, eram dados que estavam entre as várias linhas que eram
mostradas no monitor.
O que ela agora acessava e conectava era o banco de dados que a DEM
possuía, disponibilizando dados dos Wizards de cada país associado.
Os Magos de hoje eram indivíduos que não faziam encantamentos ou
rituais, mas utilizavam plenamente os Realizers, que permitiam a eles expandir
seus Territórios.
Consequentemente, havia a necessidade de inserir cirurgicamente um
pequeno chip eletrônico em seus cérebros...... carregar aquilo em discrição era,
em primeiro lugar, inviável.
Melhor dizendo, toda a informação relativa aos Wizards que usavam
Realizers fabricados pela DEM estava inevitavelmente gravada naquilo.
Por volta de um mês atrás, quando Artemisia tentou lançar um ataque
contra os Espíritos que estavam no espaço sideral, outra Wizard chegou no local
da ação. Após ela preencher os formulários de forma a evitar que qualquer
resultado inesperado aparecesse, o display revelou toda a informação relevante
solicitada do banco de dados sobre aquela garota.
— Hm......
No entanto, Artemisia amuou, irritada por algum motivo.
Conforme suas expectativas, o fato de que o arquivo continha tal
conhecimento era mais que tolerável, mesmo que apenas indicações
rudimentares estavam registradas...... nada daquilo era o que ela procurava.
— ......O que você está fazendo, Artemisia?
Então alguém se apoiou no encosto da cadeira. Uma voz ressoou por de
trás dela.
Com um vislumbre, sem que Artemisia notasse, estava de pé uma dama.
Ela possuía cabelos de cor mais pálida do que os da jovem loira e olhos mais
negros que os dela. Se Artemisia fosse o sol, então ela era uma dama com detalhes
enganadores como os da Lua.
Deixando isso de lado, quem vê cara não vê coração, já que para Artemisia
faltava a arrogância de se nomear o sol diante dela.
18
Ellen Mira Mathers, segunda em comando das Indústrias DEM, renomada
por todos como a Maga mais poderosa da humanidade.
— Ah, Ellen. Estou investigando um certo assunto.
Respondendo a tal ambiguidade, Ellen se inclinou para frente até certo
grau, analisando o que estava próximo à mão de Artemisia.
— Os dados de Tobiichi Origami, hein... O que tem ela?
— Vocês se conhecem?
— Hn, bastante.
Ellen espremeu um pouco os olhos. Essa reação não era algo totalmente
novo, mas por alguma razão, ela parecia estar presa a resquícios de repulsa.
— Aconteceu alguma coisa? Entre você e aquela garota.
— Não, nada em particular.
Ellen afastou o olhar...... era a prova concreta de seu desinteresse em
continuar decorrendo sobre esse assunto. Artemisia desistiu e retornou ao seu
tópico inicial.
— Essa garota...... Ela é um Espírito, certo?
— Correto. Codinome <Angel>. O Espírito que esse mundo denominou
uma vez como <Devil>. 5
— Ela foi previamente um membro da AST?
— Sim, aparentemente ela abdicou seu posto ao se tornar um Espírito.
— Hmpf......
Com os dedos ainda acariciando o queixo, Artemisia examinou uma
fotografia de Origami que apareceu na tela novamente, murmurando algo alguns
segundos depois.
— Sobre isso, Ellen. Ela e eu nos encontramos alguns dias atrás, suponho.
— ......Onde você quer chegar?
— Essa garota parece me conhecer de algum lugar.
5Angel e Devil, do inglês, significam Anjo e Diabo, respectivamente. São os codinomes das versões normal e inversa de Origami, nesta ordem.
19
— ............
Suas palavras aniquilaram as da Ellen, apesar de passado algum tempo;
junto a respiração arejada, ela recuperou sua habilidade de falar
apropriadamente.
— Artemisia, você está se menosprezando a uma extensão grande demais.
Não há nada demais em um ex-membro da AST conhecer a Artemisia Ashcroft
de Nível SSS.
— Hn...... talvez esteja certa.
— Eu estou. Francamente, eu não tenho ideia de como você acreditou que
eu saberia algo que você não saiba.
— Ahaha...... Eu também acho.
Ao ver Artemisia dar de ombros e formar um sorriso irônico, Ellen não
pôde evitar e suspirou.
— De qualquer modo, Ike está nos chamando. Temos que ir.
— Ah, tudo bem. Em um minuto.
Ao mandar o computador para o modo de suspensão ela seguiu a figura
de Ellen que se retirava da sala.
— ............
Enquanto elas percorriam seu caminho sem dizer nada, Ellen deu uma
olhada em Artemisia de repente. Naturalmente, sendo a garota perceptiva que
era, foi o suficiente para ela notar e, por consequência, responder com um sorriso,
desconcertando Ellen, que retornou o rosto para frente.
Quando Artemisia tocou pela primeira vez no assunto sobre Tobiichi
Origami, Ellen sentiu-se um tanto nervosa, mas parece que Artemisia não havia
se fixado isso em sua mente.
Ela de fato havia cruzado sua lâmina com a da Origami na última batalha.
Era inevitável que algumas incertezas surgissem durante o diálogo acalorado.
A luta de entre suas lâminas de batalha certamente não teria afetado suas
memórias. Mesmo assim, seria mais prudente confirmar o registro de conversas
depois, para desencargo de consciência. Pensando dessa forma, Ellen entrou no
elevador junto com Artemisia.
20
— Hn, Ellen, essa reunião significa que temos novos planos?
— E quem sabe? De qualquer maneira, ele realmente disse que tinha algo
para nos mostrar.
— Algo para nos mostrar?
— Sim.
Trocando algumas zombarias triviais e coisas irrelevantes, ambas
chegaram no último andar do prédio...... diante da Direção Administrativa das
Indústrias DEM, o covil de Isaac Westcott.
Mas.
— .........
Ellen parou abruptamente, tendo detectado que além da porta havia uma
presença indesejada.
Apesar de Westcott possuir um ar de intimidação que a maioria das
pessoas comuns sequer chegavam perto, a sombria presença a uma mera porta
de distância destilava um ar único.
Como se... sim, como se uma horda de horrores as aguardasse com
respiração silenciosa.
— Ellen.
— ......Sim.
Artemisia mostrou sinais de percepção, franzindo as sobrancelhas e
fazendo uma careta.
— O que exatamente é isso?
— Não faço nenhuma ideia.
— Sir Isaac não poderia ter sido...... atacado, poderia?
— Certamente não, mesmo que esse lugar seja apenas uma filial, ainda é
parte das Indústrias DEM. Venha o que vier, lançar um ataque debaixo de nossos
narizes, nenhuma pessoa conseguiria...
Ellen parou ali mesmo.
— ...Havia uma sim; uma pessoa que já invadira a filial Japonesa antes.
21
O Espírito <Nightmare6>...... capaz de manipular o tempo e as sombras,
junto de uma bateria infinita de clones oriundos de linhas do tempo anteriores.
É claro, eles raramente baixavam suas guardas. Ao se tratar de um invasor,
contudo, ninguém exceto ela veio à mente. Ellen cerrou os dentes e escancarou a
porta, sem se importar em bater antes.
— Ike! Você está bem? Ik......
Mas ao pisar na sala, seu passo e voz agitados encerraram na mesma
velocidade.
Era autoexplicativo. Nenhum Espírito encontrava-se na suíte, e Westcott
sentava-se confortavelmente em sua poltrona.
— O que......
— ......Ah, vejo que já chegaram, Ellen. Qual o problema? Você parece ter
visto uma assombração.
— Não, não é nada.
Ela prontamente arrumou as lapelas desgrenhadas de sua roupa,
enquanto Artemisia mostrava uma expressão confusa de modo semelhante.
— Hm......? Eu definitivamente senti uma presença aqui......
Ironicamente, Westcott se deleitava em saborear com os olhos as reações
das duas, então ele se levantou e andou lentamente até a janela.
— Bom. Eu as convoquei hoje por nenhuma outra razão...... Contando com
o Espírito do espaço sideral que caiu nas garras da Ratatoskr, eles já acumularam
até então dez deles.
— ......Peço perdão pelas minhas falhas.
Ellen abaixou a cabeça envergonhada pelas palavras dele.
Durante a disputa nos cosmos, a <Goetia> guiada por ela havia sido
subjugada pela espaçonave <Fraxinus>. A memória vividamente rondava a
mente de Ellen. Se ela não tivesse sido abatida ali, o curso da batalha teria, na
maior parte, permanecido inalterado.
No entanto Westcott procurou incentivá-la ao invés de desanimá-la.
6Palavra inglesa que significa pesadelo. Era o codinome para Tokisaki Kurumi.
22
— Não há motivo para se remoer em relação a isso. Ambas vocês se saíram
bem. Na verdade, ouso dizer que as circunstâncias atuais ocasionarão o melhor
caso possível.
— O melhor?
— Indubitavelmente. Uma grande quantidade de Espíritos está reunida
no mesmo lugar, e eu tenho, mesmo que só uma parte dele, um Rei Demônio em
minhas mãos. ......A ausência de Elliot é uma pena, no máximo.
— ......Tch.
Elliot. Ao ouvir o nome daquele traidor, o rosto de Ellen se modificou para
um tom ameaçador em instantes.
Provavelmente tendo notado a seriedade dela, Westcott encolheu os
ombros.
— De qualquer maneira, parece ser a hora certa. Ainda se lembra do que
eu mencionei antes, Ellen?...... Nós faremos com que Shidou faça o papel de chave
para nós.
— ......! Aquilo......
As pupilas da mulher dilataram.
Westcott gargalhou, com suas mãos erguidas ao alto.
Um verniz de trevas começou a brotar, e um grande livro de capa
tenebrosa materializou-se: O Rei Demônio <Beelzebub>, uma aparição em forma
de livro que ele obteve do Espírito <Sister>.
Seu poder consistia em onisciência: em ver tudo e saber de tudo que se
passou, que passava, e que iria se passar neste mundo, sendo verdadeiramente a
pior das piores habilidades.
— A <Sister7> pode me atrapalhar como quiser enquanto eu procuro o que
me interessa. Com a paciência adequada, mesmo a menor brecha na vigilância
da Ratatoskr não mais estará em segredo. ......Já estava na hora de nós
começarmos o massacre. Misericórdia é desnecessária. Mostre o poder da Wizard
mais poderosa da humanidade como desejar.
7 Palavra inglesa para Irmã ou Freira. Codinome do Espírito Nia.
23
— Deixe comigo. Eu vou entregar sem falhas um resultado perfeito para
você.
— Muito bem. Tenho grandes expectativas para vocês duas.
Como se tivessem sido inspiradas pelas palavras dele, Ellen refinou sua
postura em concordância, e Artemisia a imitou logo em seguida.
— Então, é melhor nós partirmos de imediato......
— ......Ah, e mais uma coisa.
Naquele momento, cortando sua fala, Westcott pareceu eletrificado por
um curto momento ao se lembrar de algo e ergueu as pontas de seus ombros.
— O que foi?
— Eu esqueci de contar a vocês algo em respeito a essa operação...... Eu
reuni um pessoal suplementar para esse estratagema.
— Pessoal suplementar...... Wizards? Você acha que nossas capacidades
serão insuficientes?
— Ellen se esforçou ao máximo para enunciar de maneira equânime, ainda
que sem sucesso, já que alguns tons de irritação vazaram de sua dissimulação.
— Eu não disse nada parecido com isso. Você é sem sombra de dúvidas a
mais poderosa Wizard, e Artemisia seguramente possui o título de segunda,
apenas atrás de você. Contudo, você não deve subestimar a força dos números.
Espíritos selados são brincadeira de criança para vocês duas, mas pegue dois
pares delas e elas poderiam atrasar vocês por alguns minutos. E são esses poucos
tiques de tempo que podem custar o alvo de vocês.
— Isso......
— Ahaha, isso seria um problema.
Artemisia riu impensadamente enquanto sua flagelada companheira
enrugou as sobrancelhas.
O que Westcott declarou não era nada mais do que a verdade. Ellen, por
exemplo, cujo poder era sem igual, falhou em capturar seu objetivo em muitas
ocasiões por causa dos empecilhos causados pelos Espíritos.
24
Mesmo com os Wizards da DEM e os Bandersnatches não tripulados, em
vista da monumental disparidade de forças entre eles e os Espíritos, o temor das
tropas adicionais era crítico.
— Mas, Ike, eu não conheço um Mago competente o suficiente para seguir
o nosso ritmo. Nos fazer andar com um time inexperiente iria influenciar nossa
performance de forma negativa.
— Aah, com certeza iria.
Ele a ratificou expondo isso com boa graça.
— Ainda assim, eu peço que vocês se acalmem. Elas serão de grande uso
para vocês.
Erguendo sua mão em seu próprio ritmo, Westcott estalou os dedos.
Num piscar de olhos, inúmeras folhas de papel proliferaram de trás de sua
cadeira como um vendaval frenético, circulando no meio do ar.
— O que.........
— Quê!!
A rápida e imprevista sequência de eventos paralisou ambas as damas,
depois que os pedaços de papel cobriram as paredes por completo.
Naquele momento, as duas conseguiram discernir que as camadas de
papel eram páginas de um livro antiquado.
— Isso......
Ellen focou a visão numa tentativa de ter uma vista aproximada
daquilo...... apenas para imediatamente arregalar os olhos em descrença.
Era de se esperar. Várias garotas se arrastavam para fora daquelas
páginas.
Cabeças com cabelos acinzentados que gravitavam ao redor de uma cor
preto-carvão contemplavam elas com pupilas verdes completamente intrigantes.
Ainda que o traço mais característico era que...... cada uma delas possuía
o mesmo rosto idêntico, como se fosse recortes do mesmo tecido.
— ......! Ellen.
— Sim......
25
Gotas de suor desciam pela bochecha de Artemisia.
Isso mesmo; aquelas eram as miríades de presenças que elas sentiram
antes de pisar na sala.
— Vou lhes apresentar imediatamente. Essa são as filhas do Rei Demônio:
<Nibelcol>.
Com olhos tingidos de óxido de cobre, Westcott declarou isso com um
sorriso diabólico.
◇◇◇◇
27
Raios cor de açafrão opalescentes do pôr do sol irradiava pelas janelas da
classe.
Shidou olhou rapidamente para o relógio digital gravado na tela do seu
celular, dando um suspiro e levantando a cabeça.
Já era depois da aula, onde todas as turmas já tinham encerrado. Seus
colegas já tinham partido para casa, deixando para trás ninguém além dos perfis
de Shidou, Tohka e Origami, assim como as irmãs Yamai, Kaguya e Yuzuru da
turma vizinha. Elas eram Espíritos cujos poderes foram selados por Shidou no
passado.
Obviamente, tinha apenas uma razão o prendendo ali.
— Para mais uma vez conversar com Kurumi.
O local tête-à-tête escolhido por ela foi o terraço da escola. Shidou girou os
punhos para se preparar ao que estava por vir e se levantou de sua carteira.
— Então, eu meio que já tenho que ir, pessoal.
Um pouco chateada, Tohka uniu as sobrancelhas em forma de um “V”
invertido.
— Muu...... Você vai ficar bem, Shidou? Talvez possamos acompanhar
você, apesar de tudo......
Os outros Espíritos concordaram com a cabeça, cada uma com suas
respectivas razões.
— Como Tohka disse, é perigoso demais.
— Ao batalhar com ela que engrinalda o Estigiano8, são imperativas as
nossas forças.
— Consentimento. Nós o acompanharemos.
Shidou conseguiu formar um sorriso e bateu de leve sobre a cabeça de
Tohka, colocando-a de lado a lado com a dele.
— Obrigado, todas vocês. Mas eu ficarei bem. Claro, Kurumi é um Espírito
perigoso...... mas ela não é do tipo de trair sua palavra. Além disso...
Ele segurou o ar fino com mãos firmes.
8 Relativo ao Rio Estige, rio infernal de Hades garantido à ninfa Estige.
28
— Se o cara que vai selar os poderes dela não conseguir nem mesmo falar
com ela cara a cara, o futuro não vai parecer terrivelmente desolado?
— Shidou......
Tohka persistia com rosto angustiado, mas então enquanto teimosamente
cabeça dura, ela sacudiu a cabeça rapidamente de novo e reviveu sua expressão
de alegria e entusiasmo.
— ......Umu, eu entendo. Boa sorte!
— Aah.
Curvando-se com vigor, Shidou partiu da sala de aula, e dos olhos de todo
mundo. Ele ascendeu até o último andar, e apareceu diante de uma porta que
levava ao telhado aberto.
Logo então, uma bem conhecida voz soou de um fone dentro de seu
ouvido.
『 Você já deve estar ciente, mas não tente nada estúpido. Mesmo que tudo
aconteça sob o monitoramento da <Fraxinus>, o Anjo de Kurumi é bem peculiar.
Não sabemos nada do que irá acontecer. 』
A locutora não era outra senão a sua irmã mais nova, a comandante da
Ratatoskr, Itsuka Kotori. Ela estava no momento situada dentro da aeronave
<Fraxinus>, observando a situação de Shidou e as outras com extrema cautela.
— É, eu entendo. Mesmo que, salvar Espíritos é o objetivo da Ratatoskr,
certo? Não importa o quão assustadora Kurumi possa ser, ir sem nenhuma
ordem ocasionaria eu ser chutado pela minha mais assustadora Imouto-sama.
『 Ara, eu iria te amarrar e te servir uma grande porção de tortura de
cócegas, sem mencionar tornar público ao mundo inteiro tudo sobre o seu
passado obscuro que eu reuni até agora. Ser chutado? Que Imouto-sama mais
bondosa. Certifique-se de tomar cuidado. 』
— ......Haha.
Kotori retornou seu riso com um “Humph” . Seu rosto já perspirando,
Shidou fez um esforço em sorrir.
O acréscimo de tensão que o estava encobrindo clareou um tom ao dar um
tapa em suas bochechas para irromper ao estado de espírito certo. Shidou abriu
a porta.
29
— …….
Uma radiação brilhante incomparável a luminosa intensidade do corredor
ofuscou sua visão, impedindo-o de atenuar os olhos— — Pouco a pouco, seu
ponto de visão encontrou o contorno de uma garota sozinha no centro.
— Ara.
Kurumi, olhando vagamente para a cidade à distância além da cerca,
parecia ter notado sua chegada e girou um semicírculo para vê-lo.
— Ufufu, bem-vindo. Você tem minha gratidão por se apresentar, Shidou-
san.
Ela caminhou para mais perto dele a passos largos, logo depois ergueu a
borda de sua saia para realizar uma reverência teatral.
Esse indevidamente equilibrado e gracioso gesto hipnotizava e enredava
a vista de Shidou em um piscar de olhos.
Contrariamente, agora não era hora de se ocupar com tais problemas. Ele
balançou a cabeça para a esquerda e para a direita na tentativa de liberar sua
mente da tentação iminente. Então, ele encarou o rosto de Kurumi.
— Tudo certo, Kurumi. Estou aqui como prometido.
— ......
À primeira vista, ela retribuiu o olhar dele, e curvou os cantos de sua boca.
— Como eu pensei nessa manhã. Mesmo que minusculamente, você
certamente mudou, Shidou-san.
— Eh......?
— Em contraste com nosso primeiro encontro, seu semblante está mais
maduro. Bom, depois de ter passado os dias em tamanhas tribulações, era de se
esperar. Ufufu...... Quão amável você ficou.
— N-Não tire sarro de mim.
Um traço de apreensão acompanhou sua exclamação. O fato de estarem
no cair da noite fez Shidou mais apreciativo. Mas tendo o pôr-do-sol envelopado
seu corpo inteiro, a imagem de suas bochechas avermelhando se tornou
impraticável de disfarçar.
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— Ou melhor, já é hora de você confessar. Sobre essa manhã. ...a condição
para selar seu poder.
Os lábios de Kurumi se curvaram mais uma vez diante de sua declaração.
Um sorriso simplório irresistível demais, demasiado estranho e
encantador.
Com suas costas carregando o sol crepuscular, dizer que ela era como o
quarto cavaleiro do apocalipse levando Shidou para o submundo não era nem
um pouco uma hipérbole.
— Oh, muito bem então. Eu falo. Eu...
Naquele instante, quando a Kurumi borrada por meia-luz iria começar a
falar.
— ......gh!?—
Do nada, Shidou foi afetado por uma tontura aguda.
Não. Se alguém tivesse aversão a expressões erráticas, a palavra tontura
falharia em explicar a sensação. Esse sentimento lembrava o de ter a origem de
seu poder drenado sem aviso; um sentimento de perda que ultrapassa a agonia
e a doença de uma vez só, ameaçando enterrar seu corpo em escuridão numa
fração de segundo de vulnerabilidade.
Contudo, ele já havia sentido esse formigamento impalpável antes.
Quando sua pele e ossos foram perfurados por uma bala.
Quando seu interior foi invadido por uma espada por detrás.
E... quando parte de seu corpo foi obliterado a nada por uma chave.
Existia como uma ligeira sensação de seu próprio corpo sendo invadido
por algo que facilmente transcendia as potencialidades mortais de uma forma de
vida humana.
Na plenitude do tempo, esse era o arrepio da morte.
◇◇◇◇
31
Às 17:30, no espaço aéreo de Tenguu City, Prefeitura de Tóquio.
Revestida pela Unidade-RC <Pendragon>, Ellen levitava por meio de seu
Território que a encapsulava junto de suas proximidades enquanto espiava à
marcada escola de ensino médio de longe.
A distância concreta entre eles excedia dez mil metros, mesmo assim a
Maga tinha uma visão de águia apuradíssimo das pequenas figuras que ali se
mexiam.
O Espírito de nome <Nightmare>, juntamente de Itsuka Shidou.
— As preparações estão completas?
Ellen supervisionava as condições abaixo, falando consigo mesma.
O dispositivo de comunicação transmitiu então a voz de Artemisia.
『 Certamente. Preparada quando você estiver. 』
Equipada com a versão irmã de <Pendragon>, <Lancelot>, Artemisia
estava posicionada em outro local, estudando os mesmos alvos que os de Ellen.
O silêncio mudo de Ellen agiu como um substituto interino para sua
resposta, depois da qual ela olhou novamente para baixo e moveu-se com toda a
velocidade da unidade acoplada em suas costas.
A retraída estrutura desdobrou-se, remontando-se em um luminoso e
brilhante sabre dourado.
Feita dentro do reino das possibilidades por meio da saída energética
superabundante de tecnologia Realizer, a lâmina laser <Caledwlch>, mesmo
nome de uma espada sagrada, era a arma-chefe de <Pendragon>.
— Aqui vamos nós.
Uma lacônica exortação dela era tudo que precisava para eles começarem
sua descida, como se estivessem propulsionando-se de uma parede de ar fino.
Tamanha velocidade rivalizava a trajetória de uma bala de chumbo; mais
do que o suficiente para uma pessoa comum desmaiar ou mesmo se rasgar em
pedaços e elas davam a impressão de atravessar os céus à tamanha velocidade
como se fosse brincadeira de criança enquanto os dois centravam seu alvo.
Uma obsoleta metáfora como ‘indetectável à olho nu’ agora invadia a
realidade. Nenhuma alma podia perceber Ellen, para assim dizer.
32
Contudo.
— ......ch! Hah!
Ellen, lascando as moléculas do ar que nem um cometa atravessando o
espaço sideral, sofreu uma parada instantânea e armou sua espada.
Uma vívida explosão de energia mágica dispersou em todas as direções,
iluminando as massas de nuvens ao redor.
— Kuh...
Mesmo o poder de <Caledwlch> não produziria uma explosão de tamanha
imensidão com um golpe só.
Isso mesmo; ali se apresentava senão outra lâmina dotada de magia.
— Phew. E conseguir deter o ataque a essa velocidade; com certeza é você,
Ellen.
A garota que ergueu sua espada contra Ellen proferiu pelas pontas de sua
boca também.
Ela estava adornada com uma Unidade-RC formulada semelhante a um
lobo, com seu cabelo formando um rabo de cavalo, e um sinal sob o olho
esquerdo.
— Você é...
Ao dar ouvidos àquela voz e avistar aquele rosto, não foi difícil para Ellen
franzir as sobrancelhas.
— Mana! Por que você está aqui!?
— Hah!
Ellen chamando o nome dela foi um erro; a garota, Takamiya Mana
aproveitou a oportunidade para lançar um completo acompanhamento.
— Chi...
Ira contorcia o semblante de Ellen enquanto manobrava o seu Território e
posição, repelindo o ataque.
O afastamento entre elas aumentou com um salto para trás, ela olhava
fixamente para Mana, relaxando os ombros como provocação.
33
— Oya, oya, você está com uma bela duma aparência estressada. Com as
rugas vem a idade, sabia?
— ......Lixo.
Como se cuspisse aquele vocábulo, Ellen observava Mana com Cautela,
refletindo ad nauseam9.
Mana havia alcançado sua trajetória, que por si só era admissível. Apesar
de não ser párea para Ellen, ela ainda provava ser uma Maga
extraordinariamente competente. Flanquear um caçador empenhado iria sempre
ser mais fácil do que desafiá-lo de frente.
Contudo, isso implicava que ela conhecia o paradeiro e o objetivo de Ellen
de antemão.
— Mana sabia que Ellen atacaria Shidou?
Não, se por algum acaso essa informação fosse vazada, apontar onde e
quando ela começaria o assalto por si só seria problemático.
— Então, teria Shidou percebido que a probabilidade de ser encurralado e
permaneceu em alerta até agora?
Não, supondo que ele fosse astuto, manter-se alerta numa área de raio de
dez mil metros era um feito não realizável para mesmo a mais excelente dos
Magos.
— ......Hm.
Tendo invalidado as poucas hipóteses flutuando em sua mente, Ellen
arrumou os cabelos sem pressa alguma.
O que mais importava agora não era de forma alguma explorar como
Mana conseguiu encontrar por acaso a localização de Ellen. Ela transmitiu uma
diretiva mental para Artemisia, que estava situada no outro lado.
— Artemisia. Nós temos companhia. Mudança de planos. Já que...
No meio, Ellen percebeu.
No lugar da voz de Artemisia ser transmitida de volta para ela, apenas um
emaranhado de ruído podia ser percebido.
9 Refere-se a algo que já foi feito ou repetido tantas vezes que se torna irritante ou desgastante.
34
— Isso é......
Artemisia ser derrotada era algo difícil de acreditar. Uma falha na
transmissão, ela temia, ou Artemisia fora interrompida e estava engajada em uma
batalha.
Ellen mordeu sua língua, encarando mais ferozmente Mana.
— Não tenho a menor enevoada noção de como conseguiram realizá-lo,
mas brilhante trabalho.
Logo após, do nada, até o rosto de Mana contorceu-se em uma careta.
— ......Você não tem ideia. Brilhante demais que até me irrita. Ellen, se pelo
menos você não tivesse aparecido, eu poderia ter achado que era uma
brincadeira.
— ......? Como assim?
Sua declaração confusa deixou um vinco ou outro nas sobrancelhas de
Ellen. Sem a vontade de elaborar adiante, Mana sacudiu a cabeça de um lado
para outro.
— Isso não tem nada a ver com você. Aliás, o que devemos fazer agora?
Você perdeu o tempo mais oportuno de qualquer jeito.
— Hmph.
A provocação de Mana provocou um escárnio desdenhoso de Ellen, que
mirou a ponta aguda do seu sabre nela.
— Você conseguiu parar meu ataque, admito. Mas tudo que você fez foi
dar significado às palavras ‘você venceu contra mim’ pela primeira vez.
— Hnn? Venha até mim então...
Ela adotou uma postura de combate e preparou seu sabre laser.
Por outro lado, Ellen não gastou mais um segundo em escutar.
— era o que eu esperava que dissesse.
Com essa resposta, ela desmanchou a unidade em sua mochila, deixando
o que estava guardado voar livremente por seu Território.
— As diversas páginas de livro dali de dentro.
35
— ......Papel?
Mana murmurou em perplexidade, suavizando sua postura a um certo
degrau.
Talvez ela não conseguisse dizer o significado das ações de Ellen, por isso
entrou em ofensiva.
Ellen relaxou seus lábios com um suspiro, depois disso estendeu sua mão
esquerda para frente ao contrário de sua mão direita que segurava a sua espada.
Junto daquele movimento, as incontáveis folhas de papel se organizaram.
Mana não tinha chances, por assim dizer, de ultrapassar o poder de Ellen.
Todavia, como notado por Westcott, ele podia muito bem comprar tempo.
Portanto, Ellen não deveria sucumbir às provocações de Mana, mas sim
executar sua missão nem um minuto depois.
— .......O que você está conspirando?
Analisando o estranho e suspeito comportamento de Ellen, Mana
murmurou para si mesma.
Contudo, sua dúvida não estava endereçada a Ellen especificamente.
Mesmo que a mensagem chegasse até ela, ninguém em sã consciência iria revelar
sinceramente sua mão para o inimigo.
— Venham, <Nibelcol>.
Ellen deu o comando com um estalar de dedos.
As folha de papel que a circulava começaram a palpitar e pulsar, com
muitas garotas se arrastando de dentro.
Envoltas em roupas negras, todas elas possuíam expressões faciais
idênticas.
— Aah...
— O quê...... Já é a hora?
— Não importa. É para o bem do Otou-sama, apesar de tudo.
Parecendo com o perfeito exemplo de apatia, cada uma delas alongou seus
corpos enquanto contemplavam Mana.
— ......!
36
A respiração dela parou.
Por um momento ali, ela estava se questionando se estava alucinando ou
tendo delírios. Seria bem simples para Ellen projetar qualquer ilusão que
imaginasse no seu Território.
Mas estava longe de ser o caso.
Uma visual inspeção do espaço lhe provia uma estimativa de vinte
pessoas.
Cada uma delas emanava uma presença muito tangível, sem mencionar
um grande acúmulo de energia.
Sim... Traçava um paralelo com a vez que ela veio a encarar os clones de
<Nightmare>, Tokisaki Kurumi.
Ellen deu um sorriso largo à reação de Mana.
— Elas serão as que entreteram você. <Nibelcol>, eu estarei focando no
alvo. O resto é com vocês.
Ela entregou a ordem para as garotas <Nibelcol>, que lançaram um olhar
indiferente a ela e deram adeus com as mãos.
— Aah, tudo bem. Tome cuidado.
— Aliás, o que a Ellen é para Otou-sama? Uma amante?
— Ehh, não pode ser. Otou-sama deve ter mau gosto então.
As garotas riram alegremente.
— ......Ei.
Ellen franziu a testa por causa do feedback inesperado.
Contudo, ela abominava dar um vacilo diante de Mana. Refrescando-se ao
sacudir a cabeça, Ellen encarou para baixo... para a escola que Shidou estava.
— Ch. Você não vai escapar......!
Para então colocar um fim em Ellen, Mana planejou ativar os propulsores.
Mas antes que pudesse, as meninas <Nibelcol> que estavam rindo até
agora a lançaram um olhar tão afiado quanto uma agulha ao mesmo tempo.
— Kuh......
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Fazendo uma careta, ela rangeu os dentes.
Se esse fosse um conflito um-a-um, a vitória de Mana estava garantida.
Mas as suas oponentes totalizavam vinte. E além disso elas estavam ordenadas
para impedi-la de impedir Ellen, não de subjugá-la. As circunstâncias estavam
invertidas.
Para obstruir uma Maga muito mais poderosa que ela mesma enquanto é
obstruída por vinte pessoas. Confrontada com tamanha crise surreal, Mana
conseguia sentir gotas de suor descendo por suas bochechas.
A inadequação a encarava no rosto. Sem reforços equivalentes àquelas
<Nibelcol>.
— Ara, ara.
Naquele momento.
Quando Mana estava prestes a se render, uma voz incômoda a todos
reverberou de trás dela.
— ......Nn?
— O que é isso? Exatas mesmas feições; Uwah, isso é meio assustador.
— Ahaha, contudo, não somos diferentes.
As <Nibelcol> em frente de Mana estavam lutando para falar
simultaneamente.
Como se em retaliação, incontáveis silhuetas emergiram detrás dela.
Um Astral Dress de cores vermelho vinho e azeviche, cabelos amarrados
desigualmente nos dois lados, e... um olho esquerdo que fazia tique-taque em
sincronia com o tempo que passava.
Com cópias que espelhavam o Espírito, Tokisaki Kurumi parecia cem por
cento como suporte de Mana e estava ali para auxiliá-la.
— ......<Nightmare>.
Ela virou sua atenção para a esquerda, com sua conduta ainda mais
austera; para a qual Kurumi deu um sorriso convencido e divertido.
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— Que reviravolta do destino, Mana-san. Você me permitirá dar uma mão
se estiver num aperto, não irá? Até mesmo eu acho desagradável oprimir os
fracos.
— Da boca de quem saiu tamanha besteira, vou decapitar sua cabeça junto
dessa língua ardilosa, não vou cobrar por isso.
— Ara, que assustador, de fato assustador...... Con~tu~do, agora é
realmente a hora de manter esse lado ousado? Mana-san sozinha se esforçaria
muito em enfrentar todas elas, eu imagino.
— ......Ch.
Sem se preocupar em reprimir a hostilidade, Mana clicou sua língua e
puxou seu sabre de luz <Wolftail> novamente.
— Depois de tomar conta de cada uma delas, você é a próxima!
◇◇◇◇
40
— dou-san, Shidou-san.
— ............!
Tendo seu nome chamado por Kurumi, Shidou abriu os olhos.
— Eh...... Uh...... Huh......?
Ele analisou seus arredores, como se estivesse em transe.
Onde ele agora se encontrava era o telhado da Escola de Ensino Médio
Raizen que eles iam, em frente dele uma Kurumi borrada com o magnífico pôr
do sol.
Depois que Shidou ficou consciente, pontos de interrogação em
introspecção flutuavam em sua mente.
— Por que eu estava tentando confirmar o óbvio?
De fato; tudo que ele tentou confirmar já era de seu conhecimento.
Ele golpeado com uma indisposição que lhe roubou momentos
transitórios de sua cognição, meramente para refazer suas lembranças do início,
como se o botão de reset de um jogo tivesse sido pressionado.
— Você está vivo e bem, Shidou-san?
— A-Aah...... Desculpe-me, é que eu me distraí um pouco...
Ainda uma aflição atormentava o garoto.
Com suas costas contra o anoitecer, a figura de Kurumi dava a impressão
de se reorientar vagamente.
Não, verdade seja dita, nada deveria se mover.
Como que poderia explicar...... O perfil habitual dela de indiferença rígida
e sangue frio parecia um tanto exausto e surrado.
— Kurumi......? Você......
— Ara, ara?
Um tremor fugiu de suas sobrancelhas, embora sutil, e no lugar sua
articulação habitual retornou.
— Tenho eu algo em meu rosto?
— ......Ah, não.
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Num piscar de olhos, a Kurumi com a qual ele estava familiarizado havia
voltado, obrigando-o a prevaricar10.
De todo modo, um contraste perceptível se manifestara. Mas onde e como,
Shidou não conseguia apontar com clareza.
— Tudo certo, então. Voltemos ao tópico.
Como se ela visse através de seus pensamentos ou outra coisa, Kurumi
engrandeceu sua atitude e estimulou a conversa.
— Meu objetivo é o mesmo de antes, letra a letra, o reiryoku contido no
corpo de Shidou-san...... Eu gostaria de consumir ele. A razão por trás de meu
recomeço nas aulas é extremamente simples, também. Incluindo Mukuru-san, a
qual você selou recentemente, não teria Shidou-san acumulado o equivalente à
energia de dez Espíritos até então? Ufufu, eu imagino que o tempo esteja bom
para colheita.
— ......
Shidou não desviou um centímetro de seu olhar da figura dela,
respondendo com pura mudez, seu rosto estava profusamente encharcado.
Consumir; em termos mais simples, devorar o seu reiryoku, e ele junto...
sinônimo de seu falecimento. Indiferente do fato de ser a solicitação de um
Espírito, Shidou não poderia aceitar de forma alguma.
Apesar disso, Kurumi deveria estar au fait 11 dessa complicação a uma
determinada extensão. Colocando um dedo sobre os lábios em uma sedução
tentadora, ela montou um sorriso encantador.
— E a aspiração de Shidou-san é selar o meu...... correto?
— ......É sim. Mas apenas isso não vai ser o suficiente.
— Perdão?
Ela inclinou a cabeça, perplexa com sua afirmação, ao que ele esticou o
dedo indicador.
— Eu vou selar seus poderes, fazer você pagar por tudo que fez até agora.
E no topo disso, deixar você viver uma vida feliz. Esse é o meu desejo definitivo.
10 Faltar com a verdade. 11 Termo francês: ter bom ou detalhado conhecimento de.
42
— Ara, ara.
Incapaz de reprimir mais, Kurumi se dissolveu em risos curvando sua
coluna.
— Ufufu, você é um baita de um santo filantrópico, não é, Shidou-san?
Lamentavelmente, eu receio não estar de acordo também. Não que eu não tenha
interesse na vida feliz que você mencionou, no entanto, eu não posso me privar de
meu reiryoku, custe o que custar.
Ela estendeu o dedo em sua boca para frente.
— Aqui estamos em um impasse. O desejo de Shidou-san e o meu correm
em paralelo um em relação ao outro, nenhum dos quais serão trazidos a
realização no status quo, desperdiçando precioso tempo......
Kurumi então alinhou o dedo indicador de sua outra mão ao lado da
primeira.
— Nee, Shidou-san.
A curvatura de seus lábios era sedutora como sempre, ela fez o toque de
seus dois dedos como um beijo.
— Ao invés de deixar nossas linhas paralelas nunca se encontrarem e
nossas esperanças se tornarem nada, você não preferiria um método que
realizasse a ambos? Mesmo que isso nos levasse a perder tudo.
Sua cabeça inclinou.
— ......
Parecendo ter notado o traiçoeiro penhasco que as palavras dela beiravam,
o corpo dele tremia com borboletas.
Não muito depois, a precária tensão difundiu-se pelo ambiente pouco a
pouco.
Por tudo isso, a fonte do suspense, a própria Kurumi, começou a rir.
— Por favor não fique apreensivo, Shidou-san. Eu acredito que já disse
isso antes no passado, mas eu não tenho o menor interesse em pilhar seu reiryoku
à força.
— ......Então, o que você propõe?
43
Com um brilho de incerteza nos olhos, Shidou colocou precisamente a
pergunta que Kurumi esperava para atacar. Ela separou as mãos
exageradamente.
— Ufufu, que vou sujeitar-me ao estilo de Shidou-san.
— Eh......?
Lá e então, Kurumi executou uma pirueta rodopiante, com o ruído das
solas dos sapatos tocando no chão.
— Quem de nós fizer um se apaixonar pelo outro primeiro...... Como isso
soa?
— ............Eh?
Uma proposta imprevista o deixou pasmo.
— Aquele que fizer um se apaixonar pelo outro primeiro...... vence?
— Assim mesmo, assim mesmo.
Sua voz sussurrou, chegando mais perto de Shidou.
— Eu continuarei nesta escola por enquanto. No evento em que eu me
apaixonar por Shidou-san, meus poderes serão seus. ......Con~tu~do, se o inverso
ocorrer, a vitória será minha...... Nesse caso, Shidou-san vai ser meu para me
deliciar.
— Você...... Está claro que eu vou perder minha vida se eu me apaixonar
por você, então não tem jeito de isso acontecer. Essa disputa era sem sentido para
começo de...
— Você tem certeza?
Kurumi o interrompeu, com seu dedo tentador acariciando o queixo dele.
— Eu, no entanto... a possuo... a confiança para fazer Shidou-san renunciar
a vida por mim.
— ......!
Shidou, atônito à autoconfiança dela, engoliu em seco.
Kurumi deu uma espiada na expressão dele com a parte de cima do canto
de visão, rindo.
44
— Diga-me, Shidou-san, sim? A confiança para me cativar; a coragem para
me coagir a escolher Shidou-san ao invés de tudo o que é meu.
— E-Eu......
Tum-tum, tum-tum; o coração dele pulsava com intensidade.
Talvez por estar extremamente ciente de que a morte o aguardava a um
passo em falso, ou que a feiticeira diante dele havia puxado seu coração, Shidou
era no momento incapaz de diferenciar.
Naquele momento, similar a uma chamada de despertar dos céus, a voz
de Kotori ecoou em seu ouvido direito.
『 Controle-se, Shidou. Para essa Kurumi apresentar uma solicitação tão
estranha, ela definitivamente está planejando algo às nossas costas. Reine,
comece a análise, rápido. 』
Mas, nesse instante, um alarme que atravessou a fala dele fez um grande
barulho pelo receptor dele.
『 O que diabos está acontecendo numa hora como essa! 』
『 Comandante, essa resposta. 』
『 Quê...... Isso é......!? 』
Seguindo a voz de Kotori transbordando em consternação e zumbidos de
estática distorcida, nada compreensível e nem sons aleatórios ressoaram pelo
receptor mais.
— ......!!
Mexê-lo não surtia efeito.
Completamente isolado de contato com <Fraxinus>, era o equivalente a
perder a visão do farol estando no mar à noite.
Ainda, desafiando as circunstâncias completamente desamparadas, a
incompreensão crescendo dentro de Shidou esmagava qualquer tufo de
ansiedade ou trepidação.
— Obrigação nobre, junto de um senso de dever.
Shidou agora fora presenteado com a chance de persuadir Tokisaki
Kurumi.
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O Shidou do passado já teria se acuado em medo.
O antigo Shidou estaria em completa desordem, confuso com o que dizer,
Mas a pessoa que estava de pé ali não era mais um de seus antigos eus.
Ele era um homem que havia encantado, e também selado, dez Espíritos.
Tohka, Yoshino, Kotori, Kaguya, Yuzuru, Miku, Natsumi, Origami, Nia e
Mukuro; elas todas estavam do seu lado, o encorajando sem hesitar.
Ele nunca mais poderia olhá-las nos olhos de novo se ele hesitasse com
Kurumi agora.
— Eu sei.
Shidou atravessou o dedo na direção dela, um largo sorriso surgiu na boca
dele.
— Eu aceito a sua competição. Eu vou fazer você me escolher e desistir de
todo o resto.
Ao ser respondida com tanta ardência, Kurumi aumentou seu raio de
alegria.
— Ufufu, fufu. Esse é o meu Shidou-san; de fato a pessoa que eu
reconheço.
Girando seu corpo ali, Kurumi declarou um manifesto de guerra em um
tom de brincadeira malicioso.
— Então agora... comecemos nosso encontro, sim?
46
Capítulo 02 - Maré de batalha
— Kuu!
Era de noite quando um som alto veio da entrada. Shidou pensou que
Kotori tinha voltado, mas naquele momento, ela lhe entregou um vigoroso soco
direto na boca de seu estômago.
— Ai!
O ataque repentino de Kotori o pegou de surpresa, o corpo inteiro de
Shidou inadvertidamente voou para trás na sala de estar.
— O-O que está fazendo Kotori......!
— Essa não é a hora de perguntar "O que está fazendo"! Você não entendeu
ainda? Se você perder, você vai morrer!!
— ......Eu sei, mas nessa situação......
Kotori fez um som de "hun" com o nariz e coçou sua cabeça de irritada
frustração antes de falar.
— Aah, fala sério. Eu sei que você não tinha escolha a não ser aceitar a
proposta da Kurumi. Mas entender e aceitar são coisas totalmente diferentes!
Como sempre, esse meu irmão idiota nunca se preocupa com si mesmo......!
— V-Você......
Então, enquanto Shidou se esforçava para levantar, suor frio escorreu pelo
seu rosto quando Kotori apontou seu dedo para ele.
— Un.
— ......"Un"? O que diabos quer dizer com isso?
— Eu vou te deixar devolver o soco...... Foi uma falha do seu suporte ter a
comunicação cortada quando você teve que fazer uma decisão tão crítica.
— Ei, ei......
Shidou mostrou uma expressão complicada. De vez em quando, Kotori
podia mostrar uma fachada bem masculina.
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Embora esse seja um dos pontos fortes de Kotori, não importa como, era
impossível mudar o passado. Portanto, era esperado que seu honrado irmão mais
velho amasse sua irmãzinha.
Porém, se feito sem entusiasmo contra a vontade de alguém, isso poderia
ser visto como uma farsa e ele se sentiria mal em relação aos sentimentos de
Kotori.
Shidou respirou profundamente enquanto se levantava e ficou de pé em
frente de Kotori.
— Não posso fazer nada. Você é muito atenciosa, Kotori.
— Ah, pode vir.
Kotori estendeu ambos os braços para os lados para enfatizar que estava
completamente indefesa. Shidou engoliu em seco...
— Aqui!
Shidou rapidamente colocou ambas as mãos nas axilas de Kotori,
movendo seus dedos de várias formas diferentes, fazendo um som de
"kochokochokocho".
— O quê!? E-Espera ai...... ahahahahaha!?
O corpo de Kotori se contorceu até ela não conseguir mais ficar em pé de
tanto rir. Depois de receber essas cócegas implacáveis, Kotori caiu no sofá.
Shidou bateu a palmas das mãos com um som de "pat-pat".
— Hah. Bem, isso deve ser o suficiente.
— I-Isso foi injusto...... Foi um exagero......
Enquanto Shidou concluía sua brincadeira, Kotori soltou uma voz fraca
pontuada com arfadas, ficando sem ar por ter rido tanto.
Naquela hora.
— ......Shidou, nós viemos te incomodar um pouco!
Justo naquela hora, a porta foi aberta e as garotas entraram na sala de estar
uma a uma.
Tohka e Origami, que tinham voltado para a Mansão dos Espíritos ao lado
e para sua própria casa respectivamente para trocar de roupa, vieram com
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Yoshino, Natsumi, Mukuro, assim como Nia e Miku, que vieram de suas próprias
casas. Mesmo a analista da <Ratatoskr> Murasame Reine estava em meio à
multidão que se formou dentro da sala de estar. Afinal, Kotori tinha convidado
elas para discutir os eventos daquele dia.
— Un......?
Foi então que, como consequência de terem visto a postura de Shidou e
Kotori na sala de estar refletida bem na sua frente, todas, sem exceção, ficaram
espantadas com expressões estupefatas em seus olhos.
— Por...... Por que Kotori está caída no sofá com olhos mareados e com o
corpo tremendo!?
— ......Eh, o que é isso? O que aconteceu?
— Ah, não, é porque......
Se virando para a direção delas, Shidou tentou explicar as circunstancias
desesperadamente enquanto os Espíritos começaram a imaginar coisas.
Porém, Kotori foi mais rápida que ele. Ela o empurrou de lado enquanto
ele tentava se levantar e correu para o abraço de Yuzuru. Incidentalmente, a
pessoa mais próxima não era a Yuzuru, mas sim Miku, que tinha entrado ali
dentro a passos apressados.
— Fuah! Pessoal, me ouçam...... Shidou, ele, Shidou, ele...... ha!
Enquanto fingia estar chorando, Kotori esfregou o rosto no peito de
Yuzuru. Vendo Kotori com tal expressão incomum, os Espíritos olharam para
Shidou com aspectos aturdidos.
— S-Shidou!? O que você fez à Kotori!?
— Calma, calma, Kotori, tudo vai ficar bem agora.
— Aiyaa, desculpa, Garoto. Nós te atrapalhamos no que estava fazendo?
— Ei......
Com as diferentes reações de todos os Espíritos, Shidou só podia aumentar
seu tom de voz.
— E-Espera aí, vocês se enganaram! Isso não......!
— Dúvida. Enganadas, por quê?
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— O que a Kotori disse com certeza......
De repente, o corpo de Shidou começou a tremer. Kotori somente disse
"Shidou, ele...". O que foi dito não era bem uma mentira.
Naquele instante, enquanto Kotori estava se agarrando fortemente em
Yuzuru, seus lábios mostraram um leve sorriso malvado para Shidou.
— V-Você está armando para mim, Kotori!
— T-Tudo bem com você, Kotori-san......?
— Ahn! É sempre a Kotori! Que injusto!
— Ela ainda é sua irmãzinha? As irmãzinhas são melhores? É melhor ir
preparando a documentação da adoção o quanto antes, Onii-chan.
— Vocês não acham que suas reações estão cada vez mais ridículas!?
Tais palavras estavam cheias de culpa, inveja e demanda disparadas a ele
pela boca de todas, Shidou gritou de lamentação.
......cerca de dez minutos depois, o tumulto cessou.
No final, Kotori, que falhou em evitar de rir logo depois, explicou a
situação para todas.
......Incidentalmente, durante o caos subsequente com todos amontoados,
algumas das roupas usadas por Shidou sumiram de alguma forma, a culpada
definitivamente iria embora com elas. Para ser exato, haviam três suspeitos, todos
eles tinham convicção de que fugiriam dali por não deixarem evidências o
suficiente.
Depois foi descoberto que todas as suspeitas tinham trabalhado juntas;
levando isso a um outro incidente...... mas essa é outra história.
— ......Então essa é a questão.
Depois de esclarecer, Kotori olhou para os Espíritos na sala de estar que
estavam reunidos em círculo. Yoshino e Natsumi nervosamente engoliram em
seco.
Por ser impossível de evitar, Kotori explicou não somente sua briga com
Shidou, mas também sobre a aparição do pior Espirito, Kurumi, na escola...... e
como Kurumi tinha proposto uma competição com Shidou.
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É claro, Tohka, Origami, e as irmãs Yamai, que estavam na escola, assim
como Reine, que estava a bordo da <Fraxinus>, já sabiam sobre as circunstâncias
detalhadas. Porém, os Espíritos que não frequentam a Escola de Ensino Médio
Raizen não tiveram essa oportunidade. Elas provavelmente estavam pensando
no futuro assim que as circunstancias foram apresentadas a elas também.
— Por favor, tomem cuidado também pessoal. Como o objetivo da Kurumi
é o reiryoku dos Espíritos, a possibilidade dela aparecer diante de vocês não é
zero.
— S-Sim......
— ......Entendi. Não sairei de casa.
Vendo a Natsumi agarrar os joelhos de medo, Kotori deu um sorriso
desconcertado.
— Não, eu não terminei de falar ainda...... a <Ratatoskr> vai fortificar seu
alerta também.
Então, a garota sentada ao lado dela... Mukuro, falou quase que
sussurrando.
— Fumu...... Muku não compreendeu.
Ela inclinou sua cabeça de forma fofa. Seguindo esse ato, seu longo cabelo
loiro tocou a superfície do sofá. Uma vez, nos dias anteriores, Shidou tinha
cortado as pontas de seu cabelo, mas sua cabeleira deslumbrante ainda era a
maior entre os Espíritos.
— Un? O que foi?
— O reiryoku dos Espíritos é o que ela busca...... Isto eu compreendi.
Mesmo assim, por qual benefício Kurumi precisas desse reiryoku? O que justifica
ela tramar meios tão trabalhosos para adquiri-lo?
— Isso......
Com Mukuro perguntando essas questões, Shidou teve dificuldade de
providenciar uma resposta coerente.
De fato, era como Mukuro tinha pronunciado. Mais de meio ano tinha se
passado desde que Kurumi apareceu pela primeira vez diante de Shidou.
Algumas vezes como inimiga e outras como aliada que lhe emprestava seus
poderes, ela nunca tinha divulgado o que planeja fazer com esse reiryoku.
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— Fuh, não é impossível para mim pessoalmente entender o que ela quer.
Vivendo como um Espírito, não seria incomum buscar ser a mais forte!
Kaguya disse enquanto fazia uma pose estilosa exagerada. Sentada perto
dela, Yuzuru soltou um suspiro.
— Suspiro. Seria fácil lidar com a Kurumi se ela fosse tão simplória quanto
a Kaguya.
— N-Não me faça parecer uma idiota!
— Negação. Eu não disse isso. Nesse mundo, uma pessoa simplória é a
mais forte. Ser simples é a melhor coisa. Em outras palavras, Kaguya é a mais
forte.
— Quê, sério!? K-Kukuku......! É verdade, Yuzuru, até mesmo você sabe
disso!
Kaguya mais uma vez elaborou uma pose. Yuzuru se virou para Shidou,
lançando um olhar que dizia "eu acho". Sem saber como responder, Shidou só
pode se mover para frente com um sorriso ambíguo.
Naquele momento, Shidou percebeu enquanto ainda refletia sobre a
conversa anterior, que a forma animada de Nia se comportar foi substituída por
uma expressão séria imersa em pensamentos.
— ......? O que foi, Nia? Seu estômago se cansou de comer coisas ruins?
— Sim, sim, mais cedo de manhã eu comi alguns doces que achei no meio
da rua...... desse tamanho!
Com um estalo chamativo dos pulsos, Nia perfeitamente se colocou no
papel de um tsukkomi1. Vendo isso, Shidou exalou um suspiro de alivio.
— Bom, é a Nia de sempre.
— O que quis dizer com isso, Garoto?
Com os olhos semicerrados, Nia replicou. Em resposta, Shidou abaixou
sua cabeça, como se tivesse dizendo "Não, esquece isso".
— Bem, esquece. Deixando isso de lado, eu tenho um pouco de informação
sobre os objetivos da Kurumin.
1 Tsukkomi é um tipo de comédia japonesa onde há um personagem sério que sempre responde ás piadas dos outros personagens.
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— ......! O que......!
Conforme Kotori mostrava uma expressão surpresa depois de ouvir as
palavras de Nia, Nia só pôde encolher seus ombros em resposta.
— Não posso fazer nada se vocês ficaram surpresos. Desculpa, desculpa,
eu não tinha a impressão de esconder isso, mas......
— Nia, você acabou de chamar a Kurumi de "Kurumin"......!?
— Ei, foco no que eu disse primeiro!
Enquanto Nia assumia mais uma vez o papel de tsukkomi, Shidou se
encontrou reflexivamente aplaudindo com suas mãos.
— Aaah, fala sério, até a Imouto-chan ficou assim! Com tudo que já foi dito
e que aconteceu, essa é a imagem que os irmãos Itsuka tem de mim!
Enquanto Nia fazia beicinho dessatisfeita, Shidou dava um sorriso sem
jeito enquanto trocava olhares com Kotori.
— No final das contas.....
— Exatamente......
— É sério!
Assim como em um mangá, a Nia enraivecida ergueu sua mão em
protesto. Kotori disse para tentar acalma-la.
— Minhas desculpas, é culpa minha...... Mas é sério? Você investigou os
objetivos da Kurumi durante a época que tinha <Rasiel> em sua forma completa?
— Un...... aaahh, bem, o que você disse está meio certo.
Nia tossiu para clarear sua garganta antes de continuar a falar.
— Naturalmente, foi antes do Garoto selar meu reiryoku...... eu estava no
meu quarto, quando de repente um Espírito negro apareceu das sombras.
— ...! Nia você se encontrou com a Kurumi!?
— Além disso, ouvindo sua história, não parece ter sido coincidência. Por
que ela foi atrás de você......?
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Quando o volume das vozes de Shidou e Kotori se ergueram de surpresa.
Nia abriu a palma de sua mão para pedir que eles se acalmassem antes dela
continuar.
— De alguma forma, parece que tinha algo que ela queria que eu
investigasse através do <Rasiel>. Bem, apesar de eu ter pensado em recusar,
depois de olhar para o anjo da Kurumin, ele pareceu ser muito forte. Ah, eu achei
que não conseguiria vencer ela, então eu obedientemente investiguei para ela.
Me desculpem por ser tão fraca.
— ......Não, seu julgamento foi correto. Então, o que a Kurumi queria
saber?
Quando Kotori perguntou, Nia corrigiu a posição dos seus óculos
empurrando eles antes de responder.
— ...... Informações sobre o Espírito da Origem.
— Espírito......
— Da Origem......?
Em resposta ao que Nia disse, pontos de interrogação flutuaram sobre as
cabeças dos Espíritos.
— Sim, foi há trinta anos que o Primeiro Espírito apareceu nesse mundo.
Kurumin queria saber a localização exata e a hora que aquela pessoa apareceu, e
também o poder que ela tinha. ......Tudo para poder matá-la.
— O que......?
Ao ouvir esses detalhes perturbadores da boca de Nia, Shidou
instintivamente franziu as sobrancelhas.
— Matar...... o Primeiro Espírito? Esse é o objetivo da Kurumi?
— Pelo menos até onde sei, embora nem mesmo eu saiba porque ela quer
matar o Primeiro Espírito.
Enquanto Nia coçava seu rosto embaraçadamente, ela murmurou
"Naquela época eu não sonhava nem nos meus sonhos mais alucinantes que
<Rasiel> seria tirado de mim, ah".
54
Kotori pegou um Chupa-Chups que ainda não tinha sido aberto e o colocou
na boca, movendo o palito para cima e para baixo enquanto seu rosto mostrava
uma expressão complicada.
— Matar o Primeiro Espírito...... Eu entendo o porquê dela querer saber os
poderes do Primeiro Espírito, mas por que ela teria perguntado o local e a hora
da sua primeira aparição nesse mundo......?
— ...... Trinta anos atrás, naquele ponto e naquela hora, para me assegurar
que aquele Espírito desapareça.
Quando Origami respondeu exatamente o que ela estava pensando, Kotori
ergueu a cabeça surpresa.
— Quê? Você sabe de alguma coisa?
— Esse não é o caso. Mas no passado...... quando eu confiei na Kurumi no
mundo anterior, ela disse alguma coisa assim.
Origami disse em um tom quieto.
Isso mesmo, para salvar seus pais de serem mortos, Origami voltou no
tempo com a ajuda do Anjo de Kurumi, <Zafkiel>.
— Então é isso...... tirando vantagem de seu Anjo <Zafkiel>, Kurumi pode
realmente voltar no tempo. Então é por isso que ela precisa do reiryoku que
Shidou selou até agora. Para matar o Primeiro Espírito, que apareceu há 30 anos
e apagar sua existência da história......
Depois de identificar esse ponto, Kotori fez uma expressão adstringente
enquanto coçava sua cabeça.
— Aahh, fala sério. Isso só levantou ainda mais questões. Kurumi quer o
reiryoku para usar a bala que a fará voltar ao passado...... para poder matar o
Primeiro Espírito? Por que ela quer fazer isso?
— Desse ponto em diante, só podemos fazer meras especulações. É muito
perigoso avançar nesse ponto sem mais informações, mesmo se pegarmos como
base o que já sabemos.
Origami respondeu de maneira plana, enquanto olhava diretamente para
Kotori. Em resposta, Kotori suspirou derrotada enquanto gentilmente acenava
com a cabeça.
— ......Sim, obrigada pelo aviso.
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Para se acalmar, Kotori respirou profundamente e pressionou sua testa
com um baque.
— No entanto, para termos sucesso na batalha contra a Kurumi, nós temos
que saber seus motivos o mais rápido o possível. Obviamente, os motivos do
nosso lado já foram expostos, mas as aspirações do outro lado ainda não foram
esclarecidas. Não importa como vemos, estamos em muita desvantagem.
— Un......
Ouvindo as palavras de Kotori, Shidou suou frio.
Certamente, era uma vantagem considerável saber o que o outro lado
estava buscando, especialmente em uma disputa onde a pessoa que se apaixonar
perde. Se alguém fosse descrever a situação atual, seria algo como se aproximar
da Kurumi completamente nu enquanto ela estava vestindo uma armadura
reforçada.
Sendo forçado a se lembrar de sua própria imprudência mais uma vez,
Shidou amargamente distorceu sua expressão facial em desprazer.
Observando essa reação de Shidou, Kotori encolheu os ombros.
— Não precisa fazer essa expressão de Chihuahua debaixo da chuva.
Como eu disse antes, era uma situação em que você não tinha escolha a não ser
aceitar a proposta da Kurumi. Mesmo que a comunicação tenha sido cortada, o
que aconteceu não teria mudado. Vamos conversar sobre o que faremos depois.
— Ah, sim......
Depois de ouvir o que Kotori tinha dito, Shidou também acenou
afirmativamente em resposta.
Então, Shidou deu tapinhas em suas bochechas para recobrar seu espirito
de luta. Se ele permitisse que sua irmã ficasse preocupado com os sentimentos de
nervosismo aparecendo em seu rosto, ele seria uma desgraça como irmão mais
velho.
Naquele momento, Shidou se lembrou das palavras que Kotori tinha
mencionado antes.
— Ah...... Isso mesmo, Kotori. O que aconteceu para a comunicação ter
sido interrompida? Eu estava preocupado porque eu ouvi algo que parecia......
— Ahhh......
56
Por algum motivo, Kotori cruzou os braços e fez uma expressão
complicada.
— Parando para pensar nisso, nós ainda não te contamos...... Naquela
hora, houve uma estranha reação no radar da <Ratatoskr>.
— Estranha Reação?
— Isso mesmo, embora tenha acontecido bem de repente; eu não
conseguia acreditar, mas......
— ......permita-me explicar essa parte.
Então, se intrometendo no meio da fala de Kotori, uma voz ecoou por de
trás deles.
Quando Shidou se virou em direção a voz, seus olhos ficaram arregalados
pela surpresa de ter visto a pessoa que estava ali.
Era uma garota quase do mesmo tamanho de Kotori. Seus cabelos estavam
presos em um único rabo de cavalo e havia uma verruga chamativa embaixo de
seu olho. Mais importante, naquele momento seu corpo estava todo coberto de
emplastros e esparadrapos.
— Mana!?
Bem ali estava a verdadeira irmã mais nova de Shidou, Takamiya Mana.
— Quando foi que você...... Mais importante que isso, onde foi que você se
machucou desse jeito?! Você está bem!?
— Não foi nada. Só uns arranhões.
Enquanto Mana sorria e acenava com as mãos, Kotori olhava para ela
como uma expressão desgostosa.
— Você...... Se eu me lembro bem, não era para você estar na capsula
médica se tratando?
— Haha...... Desculpa, eu vou voltar para lá assim que terminar de falar.
Só um segundo...... Tem algo que eu preciso dizer ao Nii-sama e aos outros.
O sorriso de Mana sumiu silenciosamente de seu rosto quando ela se
virou, seus olhos mostravam um olhar sério em direção de Shidou.
— O que quer nos contar?
57
— Sim, vou contar para o Nii-sama e para os outros o que aconteceu
enquanto você estava conversando com a <Nightmare>...... Tokisaki Kurumi.
Mana se sentou em uma cadeira vazia enquanto continuava.
O ataque de Ellen Mathers com Shidou como alvo.
Assim como as incontáveis garotas que ela invocou.
— O que......
Depois de ser atingido por tal informação inesperada, a respiração de
Shidou ficou irregular por um momento. Não, não somente Shidou, mas todos
os Espíritos presentes na cena ficam com expressões espantadas.
— C-Como......
— Como uma coisa dessas aconteceu......?
— Gumuu...... Um segredo escondido para proteger a todos...... Droga,
mesmo eu gostaria de tentar algo tão legal assim.
— Mas o que são essas garotas que a Ellen invocou......
Mana vagarosamente balançou sua cabeça para responder à pergunta de
Shidou.
— Não está muito claro, mas é a primeira vez que muitas pessoas com
rostos idênticos aparecem depois da <Nightmare>; com certeza elas não são
existências comuns.
Como se não tivesse outra alternativa, Mana encolheu os ombros em
desespero.
Porém, Kotori voltou a questionar outra pergunta à Mana.
— ...... E é só isso? Até mesmo nós já sabíamos disso. Você não viria até
aqui só para dizer isso, certo? Honestamente, você com certeza fica ao lado de
Shidou quando se trata de imprudência, mesmo um idiota saberia julgar se isso
era necessário ou não.
Mana ergueu os cantos de seus lábios para fazer um leve beicinho.
— É uma honra ouvir isso da Kotori-san. .....bem, isso certamente é
verdade, mas tem uma coisa que eu ainda não perguntei à Kotori-san.
— ...... Como foi que você previu o ataque de Ellen?
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Os olhos de Kotori estremeceram de leve, Mana acenou como se ela tivesse
levantado a questão correta.
— ......? O que está acontecendo? A Kotori pediu para alguém proteger a
Mana?
— Não houve tal expectativa. Se eu soubesse que a DEM estava
preparando um ataque, eu teria avisado ao Shidou e aos outros hoje logo de
manhã...... Além disso, mesmo se eu soubesse eu não teria permitido que você
lidasse com eles enquanto ainda estava se recuperando. Como acabou sendo de
ajuda, eu acabei deixando passar; se não, você não teria sofrido algumas sanções?
Quando Kotori olhou atentamente para Mana, a garota murmurou um
leve riso para se esquivar indiferentemente da declaração.
— B-Bem, por outro lado, deixando isso de lado, eu soube do plano de
ataque da Ellen um pouco antes dele acontecer. E no começo do ataque, Ellen de
repente apareceu nas coordenadas precisas que recebi.
— Eu não entendi isso. A Ellen estava em perfeito estado furtivo; de forma
que nós não pudemos detectá-la até o começo da batalha. Mana, como você ficou
sabendo disso?
Mana exalou reservadamente.
— Eu odeio dizer isso, mas a razão é simples. Alguém me disse de
antemão.
— Alguém te disse, quem?
— ......<Nightmare>, Tokisaki Kurumi.
— .....Hã?
Shidou ficou tão perplexo que seus olhos se tornaram em dois pontos
minúsculos.
— Es-Espera um minuto, o que quer dizer com a Kurumi te contou?
— É como eu disse, mas vamos lá....... Ontem, aquela mulher apareceu de
repente no meu quarto. Eu pensei que ela iria me atacar enquanto eu estava
dormindo, então eu cortei sua cabeça sem perguntar nada......
— ......
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Mana disse algo tão terrível de forma casual. Isso era fruto do ciclo vicioso
de conflitos entre as duas adversárias mutuas, a garota estava tão agressiva
quanto sempre.
Mas Mana continuou sem um pingo de inquietação.
— Muitos clones então apareceram dizendo que queriam conversar. Bem,
naquela hora, eu pensei que ela diria suas últimas palavras como se uma faca
estivesse apontada para seu pescoço......
— Então ela te contou sobre o ataque de Ellen?
— Isso mesmo.
Mana acenou exageradamente em consenso, mas a expressão facial
rigorosa de Kotori direcionada a ela não oscilou nem um pouco.
— ......então Mana-chan, você realmente achou que foi inteligente manter
isso em segredo de mim?
— Un.
Enquanto os ombros de Mana começavam a tremer, Kotori respondeu
com um sorriso seco.
— Não, não foi isso, Kotori-san. Eu não queria esconder isso de você, é que
eu não acreditei no que aquela mulher disse, para começar.
— Mas você não foi até lá por ter acreditado nas palavras de Kurumi?
— Não...... eu pensei que era uma armadilha e que vocês poderiam se
machucar...... E se eu tivesse contado para a Kotori-san, ela com certeza não teria
me deixado ir......
— Hoho? Então você já aprendeu. Que tal conversarmos melhor sobre isso
depois?
— Un, parece que minha doença crônica começou a atacar......
Imediatamente depois disso, Mana se agarrou seu peito, caindo no chão,
mas Kotori não pareceu se preocupar muito com isso e balançou a mão de forma
desleixada.
— Ah, sim, sim, que perigo. Da próxima vez vamos te acomodar em uma
instituição medica ainda mais rigorosa.
60
— Un...... ah, acho que foi só a minha imaginação.
Mana rapidamente ficou de pé como se nada tivesse acontecido.
Vendo isso, Kotori suspirou enquanto levantava sua mão para repensar.
— De qualquer forma, nossa maior prioridade agora é a questão com a
Kurumi.
— Ah, por que a Kurumi contou à mana sobre o ataque de Ellen e como
ela obteve essa informação, para começar......
Depois de ouvir Shidou, Origami exibiu um olhar fraco quando
respondeu.
— Poderia ser que o motivo para ela ter contado à Mana sobre o ataque de
Ellen ser simplesmente porque ela queria parar o ataque? Como a Kurumi está
atrás do reiryoku selado dentro de Shidou, é óbvio que ela não queria que a DEM
tivesse sucesso. Além disso, ela pode comandar diversos clones para conduzir
atividades de espionagem. Não é inimaginável que ela tenha descoberto o plano
da DEM nesse processo.
Enquanto Origami indiferentemente respondia, Shidou deu um pequeno
gemido enquanto colocava suas mãos na cintura.
— Un...... Bem, assim como você disse.....
— Tem alguma parte disso te deixando confuso?
— Ah...... não, eu não quis dizer isso......
Shidou respondeu ambiguamente.
O que Origami tinha dito fazia sentido. Mas por quê? Por um momento, a
imagem do rosto de Kurumi relampejou em sua mente, acendendo um estranho
sentimento de desconforto que obstruía os pensamentos de Shidou.
Todavia, não seria bom perturbar ainda mais os outros ali presentes por
motivos tão vagos. Shidou gentilmente acenou com a cabeça.
— Na-Nada, de qualquer forma, vamos nos preparar para amanhã.
— Muito bem, no nosso lado, nós vamos continuar a investigação. Mas a
tarefa mais importante é Shidou tomar a iniciativa e não ser pego pelo ritmo da
Kurumi. Você absolutamente não pode ser descuidado.
61
— Aah...... Eu entendi.
Uma grande quantidade de mistérios ainda cercava Kurumi. Seria uma
mentira dizer que ele não estava nervoso sobre a disputa que terá com aquela
garota.
Mesmo assim, enquanto ele ainda tiver chances de vencer, ele ainda
poderá selar seu reiryoku.
Para acalmar sua mente, Shidou inclinou sua cabeça para frente.
◇◇◇◇
Porém, na manhã seguinte.
— O quê...!?
O amanhecer deu início ao colapso da tranquilidade que Shidou tinha
passado a noite inteira cultivando em sua mente.
Mas nenhuma outra alternativa estava disponível.
— ......Ufufu, olá, Shidou-san. Hoje está realmente um bom dia.
Pronto para ir para a escola, Shidou abriu a porta para encontrar Kurumi
o esperando usando uma jaqueta preta e exaltando um sorriso excepcionalmente
encantador.
— K-Kurumi......
— Hehe, o que tem feito, Shidou-san? Para estar com uma expressão
dessas em seu rosto.
Vendo algo engraçado, Kurumi descarregou uma gargalhada que
gradualmente se tornava um risinho leve. Shidou estremeceu os ombros e
respirou profundamente para acalmar as batidas de seu coração. Apesar de suas
perspectivas parecerem favoráveis ontem, a aparição repentina dela foi o
suficiente para perturbá-lo.
— Não...... eu só fiquei um pouco surpreso de te ver. Por que está aqui?
— Ara, ara, é algo estranho colegas de classe irem para a escola juntos?
— ......É verdade, não é algo tão surpreendente assim.
62
Embora suor estivesse escorrendo pelo seu rosto, Shidou se virou para
retorquir.
Sim, isso não deveria ser uma surpresa. A disputa contra Kurumi já havia
começado. Seria melhor dizer que Shidou já deveria ter pensado que isso
aconteceria.
Porém, ele não poderia obedientemente seguir o ritmo da Kurumi. Sua
boca ficou aberta antes de fazer um sorriso destemido.
— Mas para você ter vindo até aqui para me encontrar...... Está interessada
em mim?
— Ufufu, e se eu estiver?
Ela caminhou rapidamente até Shidou, entrelaçando seus braços nos dele.
Quando Kurumi se aproximou dele, o contato corporal repentino causou
uma explosão de tontura no coração de Shidou.
— Muito bem, podemos ir?
Dessa forma, Shidou foi parcialmente pressionado a caminhar em direção
à rua.
Porém, deixar que a Kurumi tome a iniciativa não era bom. Shidou
secretamente usou seu braço livre para pegar um intercomunicador compacto
escondido em seu bolso e o colocou no ouvido. Segundos depois de liga-lo, uma
voz foi ouvida vindo do intercomunicador.
— .....Un, qual o problema, Shin?
Com uma voz sonolenta chamando Shidou por um apelido, aquela pessoa
era sem dúvidas Reine.
A existência de um suporte que possuía visão panorâmica da situação
aliviava um pouco o coração de Shidou. Enquanto Shidou exalava suavemente o
ar, ele sussurrou uma resposta em voz baixa para não ser ouvido por Kurumi.
— ......Me desculpe, Reine-san. É uma emergência.
— ......É a Kurumi?
Depois de um momento de pausa, Reine pareceu ter percebido a situação.
Shidou tomou o silencio como uma afirmação positiva.
63
— ......A disputa começou mais cedo que o esperado. Eu vou chamar a
Kotori. Entretanto, você deveria conversar com ela também, não é bom ficar em
silêncio.
Na falta de um destino especifico para a comunicação, o intercomunicador
estava especificado para entrar em contato com a ponte de comando da
<Fraxinus> que sobrevoava a Cidade Tengu. Normalmente, a comunicação de
Shidou era atendida pela Comandante Kotori. Mas naquele momento, Shidou
sabia melhor que qualquer um que Kotori ainda estava na residência dos Itsuka.
Shidou pigarreou para mostrar consenso antes de voltar a conversar com
Kurumi.
— ......Mesmo assim, hoje está bem frio. Deve ser o natural, já que estamos
em fevereiro.
— Sim, sim, mas vamos ficar aquecidos se fizermos dessa forma.
Depois de dizer isso, Kurumi apertou sua pegada.
— ......!?
O corpo de Shidou congelou quando ele inevitavelmente começou a
caminhar de forma não natural, como se fosse um robô. Mas é claro, isso era o
esperado.
Kurumi era certamente aterradora. Até aquele momento ela já tinha
consumido várias pessoas, ela realmente merecia o apelido de Pior Espírito.
Mas antes disso... ela era uma linda garota.
Lisos cabelos negros e uma pele suave, acompanhados de uma graciosa e
respeitável aparência...... e não somente isso.
Seu corpo exalava um leve odor aromático, junto com o que parecia ser o
toque fugaz de seus finos dedos. Cada gesto detalhado dela, tudo provocava um
forte estimulo em Shidou.
— Ugn......
— Acalme-se, Shin. Seu coração está batendo mais rápido.
Assim como Reine tinha dito, confiar si mesmo a suas emoções o levaria a
ruína. Para manter a calma, Shidou cantarolou (uma pequena coleção de) sutras
do coração.
64
Porém,
— ......Fu......
— Huff......
Inadvertidamente, Kurumi soprou no ouvido de Shidou, e com a sensação
inesperada, ele não conseguiu deixar de soltar um pequeno gemido de lamento.
— Ara, ara.
Ao ouvir tal reação engraçada vindo de Shidou, Kurumi riu do fundo de
seu coração.
— Shidou-san, você realmente tem uma voz tão fofa.
— Você......
Como sempre, ele parecia com um brinquedo dançando na palma da mão
de Kurumi.
Isso não poderia continuar assim. Tentando revidar, Shidou desobstruiu
sua garganta ao tossir algumas vezes.
Porém, precisamente nessa hora, Kurumi mais uma vez cutucou Shidou,
o levando a uma rota diferente da que ele normalmente usava para ir à escola.
— Ei, Kurumi, onde está indo?
— Ufufu, ainda temos um bom tempo antes da aula começar. Fazer um
pequeno desvio não seria bom?
— Hã......? O que está dizendo......?
Dizendo isso, Shidou gentilmente apertou o intercomunicador, pedindo
ajuda da equipe de suporte.
Depois de uma simples batida, o som de uma voz diferente foi ouvida
vindo do intercomunicador.
— ...... Daqui em diante, vamos agir de acordo com os desejos da Kurumi.
Se houver algum perigo, nós te faremos cobertura.
Uma voz familiar, era Kotori. Parece que ela foi correndo para a
<Fraxinus> direto da casa dos Itsuka.
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Agindo como se ele estivesse absorvendo as ideias de Kurumi e Kotori ao
mesmo tempo, Shidou gentilmente acenou com a cabeça em consenso para
ambas as conversas.
— .....Certo. Eu acho que não deve ser um problema. Tem algum lugar
para onde você quer ir?
— Não, eu só queria ficar um pouco mais de tempo ao lado do Shidou-
san.
— Haha...... Essas palavras com certeza podem deixar um cara feliz.
Shidou riu enquanto começava a refletir nisso simultaneamente.
Até o momento ele só esteve na defensiva, deveria ter alguma forma de
quebrar a compostura de Kurumi, mesmo que só um pouco......
Enquanto pensava nisso, Shidou brevemente soltou um som de "ah".
— Isso mesmo; pode me acompanhar por enquanto? Tem um lugar que
eu queria te mostrar pelo menos uma vez.
— ......Hm?
Kurumi espremeu os olhos enquanto ficava curiosa com a tentativa de
contra-ataque de Shidou.
— Isso realmente parece empolgante. Ufufu, obrigado por se importar.
— Oh, então podemos ir?
— Como desejar.
Quando Kurumi respondeu com um sorriso, Shidou continuou a andar na
rua enquanto mantinha uma postura com os braços cruzados com as mãos de
Kurumi.
Depois de alguns minutos se passarem, os dois entraram em um pequeno
beco.
Chegando no local, a sensação da Kurumi tremendo foi transmitida ao seu
braço.
— ......Shidou-san, que lugar é esse?
Kurumi soltou uma voz trêmula enquanto olhava para a vista que estava
diante dela.
66
Mas, não foi à toa que isso aconteceu. Afinal, aquele beco era um lugar
onde gatos de todos os tipos e tamanhos se reuniam.
Isso mesmo. Ele tinha poucas informações sobre Kurumi comparado com
os outros Espíritos...... Mas ele bem sabia que ela gostava bastante de animais
(principalmente gatos).
— Ah, eu acidentalmente vi você por aqui um tempo atrás; parece ser um
lugar onde gatos de rua se encontram...... Kurumi, você não gosta de gatos?
— N-Não é como se eu tivesse algum gosto especial por eles.
Kurumi tentou disfarçar de maneira valente. Mas com uma rápida olhada
em seu rosto, qualquer um facilmente notaria que sua superfície estava corada
em um tom vermelho vivo.
Parece que o resultado foi melhor que o esperado. Para evitar a agitação
de todos eles, Shidou passou na ponta dos pés por eles e se agachou sobre o joelho
para gentilmente acariciar as costas do gato listrado que estava mais ao fundo.
— Olha, eles parecem estar familiarizados com pessoas. Que tal, quer
tentar também, Kurumi?
— ......! Bem, se o Shidou-san chegou ao ponto de insistir, então suponho
que devo tentar.
Kurumi fez uma expressão feliz como se ela estivesse esperando Shidou
dizer aquelas palavras. Enquanto se agachava ao seu lado, ela estendeu sua mão
para o gato listrado.
Porém, quando a mão de Kurumi estava prestes a fazer contato com ele, o
gato listrado vigilantemente ergueu seu rosto.
Então, Kurumi deu um passo para frente, fazendo uma ação além das
expectativas de Shidou.
— Está tudo bem. Eu não sou tão assustadora assim. Miau.
Sim, Shidou não escutou errado. Kurumi estava falando com o gato em
um tom de voz bem persuasivo. E então, ela estendeu a ponta de seus dedos
como uma setária2 em sincronia com o balanço da cauda do gato.
— .....Oh?
2 Setária é um tipo de capim, também conhecido como rabo de gato ou rabo de raposa.
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Shidou estava atordoado. Mesmo que ele já soubesse que ela gostava de
gatos, ele nunca acreditaria que Kurumi poderia falar com uma voz como aquela.
— Miau, miau.
Kurumi não parecia estar prestando atenção na reação de Shidou
enquanto movia a ponta dos dedos cada vez mais perto do gato.
Porém, o gato listrado pareceu achar as ações de Kurumi suspeitas e
rapidamente se distanciou do seu alcance e fugiu.
— Ah......
Kurumi ficou com uma expressão chocada que não era comum de se ver
em seu rosto, Shidou se sentiu um pouco mal por ela e soltou um breve riso.
— ......!
Naquela hora, como se tivesse acabado de perceber isso, Kurumi soltou
um som de "Ha" com um suspiro de vergonha.
— O-O que foi, Shidou-san?
— Nada...... haha, desculpa, eu não fiz por mal......
Shidou disse enquanto não conseguia parar de rir, fazendo com que
Kurumi fizesse beicinho de insatisfação. Mesmo que sua expressão facial seja
bem fofa, não era sua intenção deixa-la brava. Então, Shidou apontou para um
gato que continuava a rolar pelo chão.
— Olha, ainda tem outros gatos, por que não tenta acaricia-los?
— Esquece isso, eu não pretendia acaricia-los para começo de conversa. E
mesmo se eu tentar de novo, eles certamente vão fugir novamente.
Quando Kurumi disse isso irritada como uma tsundere3, Shidou deu um
sorriso meio sem jeito para conforta-la.
— Não diga uma coisa dessas. Eu, eu, vai dar tudo certo na próxima vez.
Miau.
— ......!
3 Tsundere é um tipo de personalidade usada em obras japonesas onde o personagem mostra uma atitude agressiva ou irritada, mas é amável por dentro.
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Percebendo que Shidou estava imitando seu comportamento anterior, o
rosto de Kurumi ficou ainda mais vermelho.
Olhando para Shidou com um olhar furioso, Kurumi abruptamente
espremeu os olhos quando acabou de ter uma ideia.
— ......Você pediu por isso. Então......
Kurumi mostrou um sorriso maldoso enquanto delicadamente tocava o
pescoço de Shidou.
— Hiya!?
— Ufufu, então é verdade. Acariciar um filhote num lugar desses faz ela
ficar comportada.
— V-Você......
Atingido por esse ataque repentino, as bochechas de Shidou ficaram
vermelhas enquanto Kurumi acariciava sua cabeça dando risadinhas.
— Ufufu, bom garoto. Vamos, o que disse antes? Miau?
— ......Ugh, M-Miau.
Como ele disse que não tinha problema a momentos atrás, Shidou não
conseguia fugir do alcance da Kurumi, Por um momento, Shidou não tinha
escolha a não ser resistir ás caricias alegres de Kurumi.
......cerca de vinte minutos depois, Shidou e Kurumi eventualmente
chegaram na escola, a poucos instantes antes do sino da escola começar a tocar.
— Shidou!
— Shidou.
Dentro da sala de aula, tendo chegado mais cedo, Tohka e Origami se
apressaram a chamar por ele. Shidou gentilmente ergueu sua mão em resposta.
— Oh, Tohka, Origami, bom dia.
— Umu, bom dia, Shidou...... Não é isso. Tudo bem com você, Shidou? Eu
estava preocupada com você!
Tohka franziu as sobrancelhas enquanto falava.
69
Mas isso era inevitável. Tohka, que vivia na Mansão dos Espíritos próxima
a residência dos Itsuka, sempre ia para a escola junto com Shidou. Ela não podia
evitar de ficar muito preocupada por ele não ter aparecido na frente de sua casa.
Mas no momento que Shidou estava começando a se desculpar por isso,
Origami moveu sua boca mais rápido.
— Nessa manhã, ouve um acidente de transito na interseção do segundo
distrito na cidade. Nós ficamos preocupadas de você ter se envolvido nele por
estar atrasado.
— Quê......?
Shidou estava bem acostumado com aquele cruzamento. Afinal, em
circunstancias normais, ele passava todo dia por ali para ir à escola. Porém, ele
não soube sobre esse incidente até ouvir a história através de Origami.
Tudo porque esse acidente não tinha acontecido quando ele passou por lá.
Não, para ser mais preciso, Shidou nem sequer passou por aquele cruzamento
hoje. Porque......
— Ufufu, bom dia, Tohka-san, Origami-san.
Naquele momento, a voz de Kurumi ecoou por trás de suas costas,
fazendo com que a expressão facial de Tohka e Origami se preenchessem de um
tom de vigilância.
— Mu...... Kurumi.
— Como eu pensei, foi coisa sua.
— Coisa minha? Realmente me dói escutar algo assim. Eu estava
meramente vindo para a escola com o Shidou-san. Tem algo de errado nisso?
Sob essas circunstancias, Kurumi gentilmente devolveu um olhar afiado
para as duas. Shidou pôde ouvir os outros alunos que estavam vendo a cena
cochicharem "Shuraba...... Shuraba”......
— Bem, está quase na hora do professor chegar. Ufufu, estou ansiosa por
hoje, Shidou-san.
Depois de deliberadamente provocá-los com esses maneirismos afetuosos,
Kurumi se dirigiu ao seu assento.
— ......
70
Em absoluto silêncio, Shidou olhou para as costas dela.
Não havia nenhum significado especial.
Mas como ele poderia dizer?
Parecia que havia alguma atmosfera sibilina em volta das ações de
Kurumi.
— Mu......? O que foi, Shidou?
— ...! Ah...... nada.
Abordado por Tohka sem aviso, os ombros de Shidou tremeram
levemente.
— Não é nada. A Kurumi está certa; nós também devemos voltar para
nossos assentos.
Ele colocou sua bolsa na carteira.
Tohka inclinou sua cabeça com curiosidade por um momento, mas como
a professora entrou na sala de aula, ela se virou para seu assento com
conformidade.
◇◇◇◇
— Kukuku.
— Kukuku.
— Como está indo, eu?
— Sim, sim, com isso, deve estar tudo de acordo com o "plano".
— Essa é a número 193, eu?
— A conexão com a associação foi desconectada.
— Talvez já.
— Ara, ara.
— Essa é a número 238, eu?
— Por aqui a mesma coisa.
71
— Agora a pouco.
— Ara, ara.
— Isso realmente é triste.
— Que lamentável.
— Que crueldade.
— Que inconstante.
— Ah, ah, mas.
— Sim, sim, não temos tempo para permanecer estagnadas.
— Já está quase na hora do próximo compromisso.
— Então, vamos até lá.
— Se cuide, eu.
— Vamos nos encontrar de novo algum dia.
— Sim, sim.
— Algum dia, na jornada para Hades.
— Algum dia, em uma prisão dentro do inferno.
◇◇◇◇
Uma badalada que indicava o fim da quarta aula ressoou pela escola.
— ............
Depois de ouvir o sino, Shidou cerrou seu punho para fortalecer sua
determinação.
Mas de fato ele precisava fazer isso. Com o fim do quarto período se
iniciava a pausa para a refeição.
Em outras palavras, o som do sino não era nada mais do que o símbolo da
chegada da hora de comer.
72
A batalha de Shidou contra Kurumi para saber quem se apaixonaria pelo
outro tinha começado no dia anterior. Mesmo que ataque daquela manhã tenha
sido inesperado, sua vantagem surgiria durante a pausa para refeição.
Ele guardou seu livro didático e pegou a marmita (arma) em sua mochila.
Então, como se tivesse sido combinado de antemão, uma silhueta apareceu
no canto de sua visão: Kurumi.
— Ufufu, ei, Shidou-san, por que não comemos juntos?
Com um sorriso no rosto, ela mostrou sua marmita nem um segundo
depois. Porém, por trás de sorriso exuberante, havia uma atmosfera perigosa no
ar como se ela tivesse evidentemente escolhido aquilo como sua arma.
Aparentemente, Kurumi deve ter tido a mesma ideia de Shidou.
Mas Shidou não tinha intenção de ser capturado por esse plano. Se
sentindo um pouco nervoso, ele se levantou para responder à Kurumi.
— Ah, claro, mas aqui não é um bom lugar. Já que é uma oportunidade
rara, vamos para a cobertura da escola juntos.
— Com prazer.
Kurumi acenou com um sorriso antes de se virar para Origami e Tohka,
que estavam sentadas ao lado de Shidou com olhos cheios de cautela.
— ...Por que não vamos com a Tohka-san e com a Origami-san? Você
também pode convidar a Kaguya-san e a Yuzuru-san. Assim elas não vão ficar
amontoadas atrás da porta que nem ontem.
— O qu......!
— ............
Kurumi deu um pequeno risinho enquanto Tohka e Origami mostravam
suas respectivas reações.
Por um momento, Shidou não entendeu o porquê de Kurumi ter dito
aquilo, mas... ele imediatamente descobriu o motivo.
— Tohka, Origami, talvez vocês duas não devessem......
— ............
73
Quando Shidou estava prestes a terminar de falar, as duas desviaram seus
olhares, coradas de frustração. Parece que elas estavam espionando eles por trás
da porta quando ele conversava com Kurumi no dia anterior.
Mesmo que nada tenha acontecido naquela hora, para elas terem feito tal
coisa, elas realmente devem ter ficado preocupadas. Shidou deu um sorriso
desconsertado para dizer obrigado.
— De qualquer forma, vamos. Eu não quero desperdiçar nossa preciosa
pausa para refeição.
— Sim, é verdade.
Shidou e Kurumi despreocupadamente acenaram um para o outro e
saíram de lá. Atrás deles, Tohka e Origami seguiram o exemplo deles indo logo
depois. Depois de irem à sala vizinha convidar Kaguya e Yuzuru, todos eles
seguiram para as escadas que levavam à cobertura.
Diferente do dia anterior, o sol estava os iluminando com um calor
reconfortante. Shidou gentilmente esticou seu corpo enquanto ele se voltava para
a direção do gradil para vagarosamente sentar no banco.
Depois de ver que Kurumi estava sentada em frente a ele, eles trocaram
olhares mútuos e Shidou abriu a tampa de sua marmita.
— ......Hm?
Olhando para a marmita, Kurumi parou sua respiração por um segundo.
Porém, seria impossível de ignorar. Já que naquele dia, Shidou tinha
levado bolinhos de arroz em forma de gatinhos embalados; uma refeição
customizada de gatinhos.
— Un, o que foi Kurumi? Algo de errado com minha comida?
— ......Céus, não. Eu achei sua marmita bem adorável.
O rosto de Kurumi estava completamente corado, seus olhos estavam
tentando encobrir isso de alguma forma. Em outras palavras, só de olhar para
aquilo já tinha a tocado de alguma forma.
Aquela reação era esperada. Shidou aproveitou a oportunidade, dando o
primeiro tiro que dava início à guerra.
74
— Haha, obrigado. ......Como eu fiz bastante, não quer ficar com alguns,
Kurumi?
— ......!
Provavelmente adivinhando o objetivo de Shidou, Kurumi mexeu as
sobrancelhas de leve.
Aquela marmita com tema felino não se limitava apenas a aparência. Ela
estava incorporada com as técnicas e criatividade culinárias de Shidou.
Até aquele momento, Shidou tinha entrado em contato, conversado, e
selado o reiryoku de dez espíritos. Embora o método de captura de seus corações
tenha variado de Espírito para Espírito, com a experiência que adquiriu, a
"conquista pelo estômago" se provou ser bem efetiva.
Uma comida deliciosa poderia enfraquecer até a mais interna linha de
defesa. É claro, Shidou não achava que só isso poderia conquistar Kurumi. Mas
isso poderia lhe garantir uma brecha de dez minutos nas muralhas de seu
coração.
— ............
Kurumi respirou lentamente para suprimir sua excitação enquanto abria
um sorriso.
— Bem...... se você insiste. Mas eu me sentiria mal de apenas aceitar.
Enquanto dizia isso, Kurumi abriu sua marmita para mostrar a ele.
— Que tal fazermos uma troca.....?
— ......!
Olhando o conteúdo da marmita, foi a vez de Shidou ficar chocado.
A refeição consistia em alimentos de cores verde, vermelho e amarelo
brilhantes, bem acompanhados com arroz. Apesar do menu ser bem comum,
Shidou pôde claramente ver que aquela refeição tinha sido meticulosamente feita
a mão.
Shidou foi convencido. Ele não era o único que tinha afiado sua espada
para perfurar seu oponente.
— Fu......
75
— ......Ufufu.
Por coincidência, Shidou e Kurumi riram juntos ao mesmo tempo.
Observando os dois, os Espíritos sentiram suor escorrendo por seus rostos.
— M-Mu...... O que eles estão fazendo?
— Uma batalha feroz de ofensiva e defensiva está ocorrendo agora.
— É como se dois mestres estivessem medindo as forças de seu
oponente...... Eu li algo assim em um mangá!
— Entendimento. Eu sinto uma aura tremenda na atmosfera.
Tentando não os perturbar, Tohka e as outras estavam falando em
sussurros.
Quando Shidou de repente ergueu os cantos de seus lábios, ele entregou a
marmita temática de gatinhos para a Kurumi em seu próprio ritmo.
— Vamos lá...... vamos comer.
Shidou mostrou um sorriso destemido quando as marmitas foram
trocadas.
Diante uma pressão incrível, até mesmo Kurumi não poderia deixar de
engolir sua saliva.
...... Sendo pega de surpresa por esse ataque inesperado, parece que ela
tinha subestimado um pouco Shidou.
Porém, ela não podia mostrar nenhuma fraqueza naquele momento.
Kurumi fingiu compostura quando ela estendeu sua mão.
— Muito bem, itadakimasu.
Mas...... mas antes de alcançar a marmita, Kurumi parou o movimento dos
braços de repente.
Arrumados dentro da marmita estavam gatinhos brilhantes feitos de
arroz, gatinhos pretos cuja superfície estava coberta por algas reluzentes, e gatos
malhados feitos de katsuobushi 4 finamente cortados. Com tal variedade de
gatinhos reunidos juntos, era como se eles estivessem implorando "Por favor, me
4 Conserva de carne seca de atum-bonito usado para fazer caldos e acompanhamentos.
76
coma, me coma". Para Kurumi, escolher só um seria uma coisa impossivelmente
cruel de se fazer.
— Uh......!
— Hm? O que foi? Não vai comer?
Shidou levemente inclinou sua cabeça quando perguntou.
Mesmo que suas palavras e expressão parecessem normais, naquele
momento Kurumi via um vilão com um sorriso impiedoso no rosto de Shidou.
Para adicionar, no espaço atrás dele, uma alucinação de várias raças de gatos
miando preenchia seu campo de visão.
Ainda assim, Kurumi não podia ceder ali. Se preenchendo de
determinação, ela pegou um bolinho de arroz em forma de gato preto.
— A-aqui vou eu, itadakimasu.
Depois de cuidadosamente olhar para seu rosto amável, Kurumi
endureceu seu coração e o colocou em sua boca.
— ......!
... Um impacto explosivo de sabor.
Mesmo que ela já soubesse através de um clone que Shidou tinha o hábito
de cozinhar, para ele ter chegado a um nível desses....
O rico aroma da alga orgânica fazia cócegas em sua cavidade nasal por
dentro. No momento seguinte, parecia mentira que os bolinhos de arroz
puderam manter a forma que carregavam em seu nome, enquanto o arroz
dissolvia em sua boca logo em seguida. A imagem de ser cercada por contáveis
gatos afanando uns aos outros estava sendo refletida em sua mente. Ahahahaha.
Ufufufufu.
Porém, isso não era tudo. No momento em que grãos brancos de arroz se
partiram, uma carne suculenta que estava escondida foi revelada.
Além do bolinho de arroz que podia ser comido em uma mordida, havia
ainda a habilidade incrível de adicionar pedaços carne em formatos
impressionantes. Enquanto levava em consideração o balanço entre arroz puro e
temperos perfumados, o molho grosso de teriyaki estava distribuído em ondas.
Kurumi se contorcia de prazer enquanto se imaginava sendo atingida pelas patas
de vários gatinhos.
77
— Ahhh......
Cavidade oral, cavidade nasal, esôfago, estômago...... lugares que ela
normalmente nunca alcançaria estavam sendo calorosamente acariciados por um
sensação agradável. Kurumi apoiou sua cabeça com as mãos enquanto ela mal
conseguia fazer um grande sorriso.
— Não...... como esperado do Shidou-san, isso está muito delicioso.
— Verdade, que maravilha. Tudo que você gosta só deixa as coisas
melhores.
Um sorriso surgiu no rosto de Shidou.
Mas...... agora era a vez da Kurumi. Kurumi usou seus palitinhos para
pegar um pedaço de frango frito e colocá-lo na boca dele.
— ......Vamos, Shidou-san, diga "Ah".
Kurumi disse enquanto conferia o pedaço de frango frito.
— Gu......!
Confrontado pelo poder destrutivo da situação, Shidou ficou paralisado
no mesmo lugar sem ter o que fazer. Sim, aquela era uma batalha amorosa.
Aquele que ter seu coração tomado primeiro será derrotado.
Não somente o sabor da comida decidiria esse embate. Mas a forma como
a contraparte iria comer sua comida também era um ponto importante.
Dessa perspectiva, o método adotado por Kurumi era o mais bem-
sucedido e o mais sensato. Não havia um único garoto que estivesse no ensino
médio que não ficaria feliz de receber comida na boca de uma linda garota.
Aquela era a escolha ideal que virava o jogo sem que a contraparte sequer
pudesse reagir.
— Oh, qual é o problema, Shidou-san?
— Não...... eu já vou fazer, aaah.
Enquanto limpava o suor que escorria pelo seu rosto, Shidou abriu a boca
para abocanhar o frango frito de Kurumi.
—......
78
Por um momento, parece que uma corrente elétrica tinha percorrido todo
seu corpo.
...... Deleitável. A qualidade da carne certamente era superior, mas ao
mesmo tempo o procedimento para cozinha-la foi conduzido impecavelmente.
Pré-temperado utilizando alho perfumado em vez de gengibre, naquele ponto os
sentimentos de uma dama poderiam ser perfeitamente apreciados.
Porém, o verdadeiro valor do frango frito não estava somente nisso.
Incrível...... dentro de sua mente ele podia vividamente imaginar o cenário
de uma cozinha de manhã, onde Kurumi estava vestindo um avental por cima
de seu uniforme de escola e arregaçando as mangas para começar habilmente a
cozinhar.
Sem dúvidas, o objetivo de Kurumi era obter o reiryoku selado dentro de
Shidou, mas isso não mudava o fato de que ela tinha feito aquela comida
pensando nele. Aquele sabor era a nata da nata que se podia fazer quando se
estima a pessoa que irá eventualmente comer aquela refeição.
Como ele podia cozinhar sozinha, Shidou raramente tinha a oportunidade
de comer algo preparado por outra pessoa. Pode se dizer que aquela habilidade
continha as presar de uma técnica mortífera.
— Ufufu, como está, Shidou-san?
— ......!
Ouvir as palavras de Kurumi trouxe Shidou de volta a realidade. Ele
limpou as lágrimas que estavam se formando e conseguiu recuperar o sorriso em
seu rosto.
— ......Ahh, está tão delicioso que até escorreram lágrimas.
— Ara ara, você está me elogiando demais.
Kurumi manteve um ritmo elegante enquanto ria "hehe".
Porém, parece que ela percebeu que a chama que acendeu dentro dos
olhos de Shidou ainda não tinha desaparecido. Kurumi rapidamente mudou seu
sorriso para uma expressão destemida.
80
— ............
— ............
Shidou e Kurumi aproveitaram a oportunidade para cruzarem seus
olhares um com o outro; alguns segundos depois, os fizeram seus movimentos
ao mesmo tempo.
— Quer comer mais um?
— Os rolinhos de ovos são os pratos que tenho mais confiança.
Ding! Aquilo soou como a lâmina de duas espadas se cruzando uma
contra a outra. Shidou e Kurumi sentiram suor escorrer por seus rostos enquanto
eles erguiam os cantos de seus lábios e erguiam suas marmitas
simultaneamente......!
— Oh...... Oh, eu realmente não entendo, mas eu me sinto como se tivesse
vendo algo incrível......!
— Tohka, um passo para trás. É muito perigoso se envolver.
Origami rapidamente pegou nos ombros de Tohka como se tivesse
tentando lembrá-la disso. Então, em outro lugar, Kaguya estava pronunciando
"Ku......" em lamento enquanto apertava seu punho.
— Mas que diabos, aqueles dois estão tendo um duelo tão legal......!
Yuzuru! Nós também temos que decidir nossa disputa!
— Concordância. Aceito o desafio. ...Que tal o pão de curry que eu comprei
mais cedo?
— Haha. É um deleite de mediocridade. Aqui, esse é meu pão, mais
vermelho que o fluxo de sangue (geleia de morango).
— Mastigando...... o gosto é comum.
Com olhares ininteligíveis, as irmãs Yamai inclinaram suas cabeças ao
mesmo tempo.
Enquanto elas estavam tentando usar seus pães para decidir a vencedora,
a batalha entre Kurumi e Shidou continuava. Uma atrás da outra, Shidou
entregou seus gatos malhados incrustados em peixes secos com cobertura
crocante. Da mesma forma, Kurumi contra-atacou entregando-o a ele seu prato
de espinafre.
81
— Uau...... O tempero desses pedaços de atum-bonito...... isso não é
somente óleo de soja......!
— Ufufu...... que tal esse aqui?
— ......!? Dentro dessa jarra térmica, é sopa de miso......!?
Depois que o cabo de guerra foi puxado por ambos por trinta minutos, eles
perceberam que suas marmitas se esvaziaram.
— Ha...... ha......
— U-Ufufufufu......
Ao mesmo tempo, os dois limparam os grãos de arroz grudados em suas
bochechas com seus dedos e os lamberam para limpa-los.
— Podemos dizer que foi um empate..... certo?
— Fu...... Muito bem.
Então, mais uma vez em sincronia, Shidou e Kurumi bateram as palmas
das mãos juntos com um som de "pan" e curvaram suas cabeças para mostrar
gratidão pela hospitalidade e pela refeição.
Olhando para aquilo, os Espíritos que estavam ao lado deles exclamaram
todos um "Ooh......" enquanto batiam as palmas de suas mãos em aplauso.
— ......Oh?
Contraindo suas sobrancelhas ao perceber algo, Kurumi sedutoramente
abaixou os cantos de sua boca, soltando um risinho breve enquanto se
aproximava.
— Ei, Shidou-san......
— O-O que foi......?
— Por favor, fique assim por um momento.
Quando o corpo de Shidou se enrijeceu, Kurumi vagarosamente
aproximou seu rosto do dele.
Sua pele delicada preencheu todo seu campo de visão enquanto usa doce
fragrância estimulava seu nariz. Toda vez que Kurumi respirava ele a sentia em
seu pescoço, aquilo era como uma descarga elétrica percorresse diretamente para
seu cérebro.
82
— Ei...... O-O que......
Com as ações repentinas de Kurumi, múltiplos pontos de interrogação
surgiram na cabeça de Shidou. O que ela estava fazendo afinal? Sem chance, um
beijo numa hora daquelas? Claro, como aquele era o objetivo de Shidou,
naturalmente ele não recusaria. Porém, sem um alto nível de afeição, um beijo
não faria o reiryoku dela ser selado corretamente. Sua oponente era a Kurumi.
Mesmo que Shidou tenha feito um bom trabalho de manhã, contar somente com
a marmita não deveria ser o suficiente. Em outras palavras, era um beijo
perfeitamente desperdiçado, mas ainda assim um beijo em seu sentido mais
puro. Shidou não sabia se deveria para-la. Enquanto deliberava sobre isso, os
lábios de Kurumi chegaram mais perto e então......
No instante seguinte, a língua de Kurumi lambeu a bochecha de Shidou.
— Ha......!
Com esse toque inesperado, Shidou não pode se conter e latiu isso.
— Hehe, Shidou-san, ainda tinha alguns grãos de arroz grudados em seu
rosto.
Quando Kurumi contraia seus lábios, Shidou a olhava com olhos
espantados enquanto tocava o local onde sua bochecha foi lambida.
— Hã......? Tá falando sério, isso é uma mentira......?
Shidou passou a mão para reavaliar seu rosto enquanto corava. Mesmo
que sua atenção tenha se focado no confronte de marmitas, ele acreditava que
ambos tinham se livrado de todo arroz que tinha ficado grudado em suas
bochechas......
Saboreando essa visão, Kurumi caiu na gargalhada.
— Ara, parece que eu já o entendo muito bem.
— ......Ei!
Mesmo que somente palavras agradáveis tenham vindo de Kurumi,
Shidou ainda estava visivelmente com os olhos espremidos. Parece que seu
choque momentâneo somente foi originado por ter sido lambido na bochecha.
Kurumi inegavelmente via o estado atual de Shidou com diversão, mas
então pela primeira vez ela voltou seu olhar para os outros Espíritos.
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— Ufufu, o que acharam, pessoal? é um pouco vergonhoso ser observada
por olhos tão afiados.
— ......!
— E-Eu não vi nada!
— Concordância...... Yuzuru e o restante estavam comendo como o de
costume.
Confrontadas pela acusação de Kurumi, os Espíritos comunicaram seus
respectivos pensamentos. Kurumi os seguiu rindo como se ela tivesse ouvido
algum muito engraçado antes de vagarosamente ficar de pé.
— Kurumi?
— Ufufu, terei que me desculpar primeiro. Shidou-san, a marmita estava
realmente deliciosa.
— Ah, a sua também estava incrível.
Depois de dar sua resposta, Kurumi mais uma vez aproximou seu rosto
de Shidou, gentilmente tamborilando as pontas de seu dedo para acariciar o
queixo dele.
— ......!
— Ei...... Shidou-san. Mudando de assunto, você tem planos para a quarta-
feira depois da escola?
— Quarta-feira......?
Essa pergunta repentina repercutiu na cabeça de Shidou por um
momento...... Mas imediatamente após isso, ele percebeu que esse era um convite
de Kurumi.
Como ele não tinha nada marcado para aquela hora; nem depois disso,
não tinha porque Shidou não priorizar a captura de Kurumi. A única resposta
aceitável era sim.
— ............
Porém, depois de pensar por um momento, ele percebeu a intenção por
trás do olhar provocativo de Kurumi e disse.
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— Me desculpe, mas nesse dia eu tenho uma coisa para fazer que não
posso remarcar.
— Ara, então é isso?
— Ahh... quero dizer, eu estava pensando em convidar a garota a minha
frente para um encontro.
Quando Shidou disse isso, os olhos de Kurumi se arregalaram de surpresa.
— Ara, ara.
Rindo como se tivesse interessada na escolha de palavras de Shidou,
Kurumi continuou.
— Você realmente mantém o mesmo ritmo, Shidou-san. Então, nesse dia,
por favor me dê o seu tempo.
— Ahh, é claro...... espera aí, "me dê o seu tempo" não deveria ser levado
no sentido literal.
Shidou respondeu com os olhos semicerrados. Essa não era uma expressão
engraçada, quando falada por alguém como Kurumi, que como o tempo dos
humanos, era mais como um trocadilho sinistro.
Kurumi também parecia estar ciente dos motivos por trás da expressão de
Shidou, encolhendo levemente os ombros enquanto ria.
— Ufufu, você realmente me disse algo interessante. É claro, você deveria
considerá-la como uma frase idiomática..... logo no começo.
Kurumi de repente parou, mas então seus dedos que estavam acariciando
o queixo dele se moveram para uma parte superior de seu rosto.
— Simplesmente mantenha esse tipo de significado em sua cabeça,
Shidou-san. Eu tenho planos para esse dia também.
— ......
Além do sorriso feliz, o olho esquerdo de Kurumi brilhava uma luz
tentadora; uma força de vontade tão bonita, tão calma, intensamente fria e
brilhante. Olhando o rosto de Kurumi com uma visão tão sem obstruções fazia
com que Shidou impotentemente prendesse sua respiração.
— Então, me despeço aqui. Por favor espere ansioso por isso, Shidou-san.
85
Vagarosamente relaxando sua expressão, Kurumi se virou e ergueu a
bainha de seu vestido para cumprimentar Shidou.
Depois daquilo, ela se virou para o prédio da escola em passos vívidos.
Então, dez segundos depois, a visão de suas costas foi encoberta pelo
interior da escola.
— .........ha.........!
Shidou respirou profundamente, conforme a tensão tinha finalmente se
dissipado.
— T-Tudo bem com você, Shidou!?
Tohka, que estava sentada no lado oposto do telhado, olhou para ele com
um olhar ansioso.
— Aah...... estou bem... me desculpe, eu entendo sua preocupação...... Ai,
Origami, isso machuca.
Origami estava tenazmente limpando o rosto de Shidou com um pano
úmido, que tinha sido transformado depois de ser encharcado de suor.
Então, como se tivesse mostrando sua apreciação para Shidou, a voz de
Kotori pôde ser ouvida do intercomunicador.
— Isso foi dureza, mas os resultados não foram ruins. Mesmo que Kurumi
tente manter seus sentimentos na mesma magnitude, algumas flutuações
consideráveis foram detectadas.
— S-Sério?
— Un, bem, valores oscilantes não vão derrotar ninguém, especialmente
no final.
— Eh......
Ao ouvir essas palavras, Shidou se sentiu com dificuldades para ficar de
pé. Mesmo ele conscientemente sabia que ela era chamada de Pior Espírito.
Portanto, as contramedidas principais seriam ter certeza de que Shidou poderia
ser um combatente a altura.
Ainda assim, depois de conversar com Kurumi cara-a-cara, trocar palavras
com ela, e sentir seu toque e respiração... seu preparo e determinação tinham sido
jogados fora de seu corpo enquanto sua mente tinha se tornado limpa e leve.
86
— Mas......
Enquanto Shidou estava carregado de tal autorreflexão, Kaguya fez uma
expressão problemática enquanto ela colocava a mão no queixo.
— Ei, por que a Kurumi solicitou o dia de Odin? Tem algo de especial
nesse dia?
— Não, nada demais, é só......
Repentinamente.
Quando Shidou estava com a questão de Kaguya agarrada em seu cérebro,
outra pessoa arregalou seus olhos ao perceber algo... era Origami.
— Nessa quarta-feira.
Origami brevemente falou algo antes de pegar seu smartphone e começar
a fazer algo nele.
Depois de alguns segundos, mostrou uma expressão de completa
compreensão enquanto apontava a tela do celular para Shidou e os outros.
— Eu já entendi os motivos da Tokisaki Kurumi. Ela pretende terminar
com tudo nesse dia.
— O que você quer dizer com...... ah.
Shidou só conseguiu dizer parte de sua frase pois se sentiu obrigado a
para-la ao ver a tela do celular.
Origami acenou com a cabeça em concordância.
— Essa quarta-feira é dia 14. É o dia... de São Valentim!
Apesar de Origami tentar dizer isso de forma calma, sua voz revelava um
grau súbito de ansiedade.
Foi então que um alarme encerrando o intervalo reverberou por toda a
escola.
87
Capítulo 03 - O Tempo de uma Dama
— ...... Muito obrigada por terem vindo, pessoal.
Naquela noite, em uma sala dentro da mansão dos Espíritos, Kotori disse
isso enquanto olhava para todos. Por algum motivo, a iluminação na sala estava
muito escura, com uma luz de destaque jogada na área que envolvia a mesa.
Entretanto, Kotori colocou os cotovelos contra a mesa, assumindo uma
postura com os dedos entrelaçados uns nos outros. Porém o motivo para isso não
foi entendido, parecia que sua figura de comandante tinha aumentado em relação
a normal.
Já no centro da sala, Tohka, Origami, Yoshino, Kaguya, Yuzuru, Miku,
Natsumi, Nia e Mukuro, todos os Espíritos foram convocadas em força total.
Todas estavam sentadas na mesa redonda, cada uma delas com uma postura
diferente, seja coçando as bochechas ou alongando os braços.
— Fumu, qual será o dilema a ser discutido... na hora das bruxas1.
Mukuro perguntou enquanto bocejava.
Porém, seria inesperada outro tipo de pergunta. Já tinha passado da meia-
noite. Muitas pessoas além de Mukuro estavam com sono...... bem, de alguma
forma haviam exceções como Nia, que parecia ainda mais energética do que
costumava ser durante o dia.
Kotori gentilmente acenou com a cabeça e continuou respondendo à
pergunta de Mukuro.
— A situação já deve ter sido explicada a vocês. Na tarde de hoje,
...Kurumi convidou Shidou para um encontro no dia 14 de fevereiro, o Dia de
São Valentim2.
Ouvindo isso, Tohka inclinou sua cabeça e cruzou os braços em uma
expressão confusa.
— Muu, o que é o Dia de São Valentim para começar?
1 Hora das bruxas é a primeira hora após a meia-noite, onde é dito que a maioria dos eventos sobrenaturais acontecem. 2 O tradutor optou por usar dia de São Valentim para que não confundam com o Dia dos Namorados brasileiro.
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— Ah...... desculpa, desculpa. Então parece que não te explicaram ainda.
O Dia de São Valentim é......
Enquanto Kotori tentava explicar, Nia de repente a interrompeu.
— É o...... dia em que São Valentim, conhecido como o santo padroeiro dos
amantes, foi terrivelmente executado!
— O que......!?
— E-Esse é um dia terrível......?
Quando Tohka e Yoshino fizeram expressões chocadas, Kotori
comicamente bateu no canto da cabeça de Nia.
— Mesmo que a origem esteja correta, preste atenção no modo como fala!
— Ehehe, desculpa, desculpa. Bem, então, nesse dia é comemorado o dia
de São Valentin, garotas dão presentes para os garotos; é melhor pensar dessa
forma.
— Fumu, um presente.
— Pergunta. O que deve ser dado?
As irmãs Yamai perguntaram enquanto simetricamente inclinavam suas
cabeças.
— Bem...... mesmo que não tenha nada especificando o que deve ser dado,
no Japão geralmente se dá chocolate.
— Ei!
Ouvindo as palavras de Kotori, os olhos de Tohka começaram a faiscar e
cintilar.
— Receber chocolates...... quem diria que existe um dia tão maravilhoso!
— ......Errado, Tohka. Tudo bem ficar animada, mas é o homem que deve
ser presenteado por uma mulher, entendeu? Então você vai ficar do outro lado
do presente.
Enquanto a animação de Tohka começava a fazer os braços dela tremerem,
Natsumi respondeu com os olhos semicerrados.
— Mu? Umu, eu não sabia...... nu? Entendi, eu não posso comer...... Não,
tudo bem, dar um presente para o Shidou também será bem excitante......
89
— Seu humor caiu visivelmente......
Natsumi disse enquanto suor escorria por sua cabeça. Entretanto, Kotori
suspirou e encolheu os ombros.
— Não se preocupe, Tohka. Amigos trocarem chocolates também está na
moda ultimamente...... Além disso, ainda tem o White Day no dia 14 do próximo
mês. Nesse dia, os homens que receberam chocolates das mulheres no Dia dos
Namorados devolvem o favor e dão a elas chocolates.
— O-Oh......!
Tohka olhou para Kotori como um clérigo que acabou de receber uma
profecia divina de um oráculo. Vendo isso, todas as outras não sabiam se faziam
uma cara agradável ou mostravam um sorriso desconsertado.
— Er, Kotori-san, o que você achou disso? Eu certamente vou ficar com
ciúmes se alguém sair para um encontro como o Querido no Dia dos
Namorados......
Miku disse enquanto fazia um movimento fofo ao cutucar seu queixo com
os dedos.
Então, Kotori respondeu o gesto acenando com a cabeça.
— Kurumi disse que pretende decidir a disputa no encontro desse dia.
Uma derrota significaria que tanto o reiryoku quanto a vida de Shidou seriam
tomados, então não podemos de forma alguma ficar paradas.
— Porém, mesmo que seja o Shidou, eu não acho que ele assumirá a
derrota e entregará sua própria vida......
— Eu também acho, mas também parece que a Kurumi não viria com uma
negociação dessas sem ter confiança na sua taxa de sucesso. Não seria ruim
ficarmos cautelosas.
— Pergunta. O que exatamente devemos fazer como precaução?
Quando Yuzuru ergueu seu braço para questionar, Kotori acenou
enquanto erguia dois dedos.
— Há duas aproximações para essa presunção, a primeira é que nós
também vamos dar chocolates para o Shidou.
90
— Um meio razoável, chocolate era originalmente o que se presumia para
ser dado.
— Isso, para um cara, se a Kurumin for a única a lhe dar um chocolate,
isso com certeza fará o coração dele acelerar.
Nia encolheu os ombros. Então, Kotori sorriu torto com sentimentos
incertos dadas as atuais circunstâncias.
— Tendo dito isso, hoje é o último dia antes do dia 14. Mesmo que o
chocolate seja feito à mão, não tem problema prepará-lo um dia antes... se alguma
coisa acontecer, o problema vai começar aqui. Eu queria treinar a resistência do
Shidou o máximo o possível antes disso.
— Resistencia......?
Tohka inclinou a cabeça enquanto cruzava os braços e Kotori continuou a
falar.
— Sim, melhor dizendo, para que ele não seja enganado pela Kurumi
durante o encontro, nós temos que o deixar imune antes.
— Hmm. Entretanto, que tipo de imunidade e por quê?
Deparada com a questão de Mukuro, Kotori respondeu enquanto
apontava o dedo para cima.
— Para ser franca... ao charme maduro.
— ......!?
Em resposta às palavras de Kotori, os Espíritos começaram a fofocar por
todos os cantos.
Então, quando todas se silenciaram, Kotori retornou a falar.
— Tohka e as outras viram o que aconteceu naquele dia, então eu acho que
elas entendem...... Como esperado, Kurumi é um grande desafio. Aquela mulher
terrível que, com as pontas dos dedos, é capaz de calmamente brincar com os
corações dos homens com seu comportamento encantador, convites sedutores e
truques de um súcubo. Como Shidou nunca selou esse tipo de Espirito antes, ele
tem que aprender a como lidar com esse tipo de mulher.
— ............
Todos os Espíritos engoliram em seco e prenderam suas respirações.
91
Para quebrar essa atmosfera tensa, duas pessoas levantaram suas mãos ao
ar energeticamente. Elas eram Miku e Nia, respectivamente.
— Permita que eu faça isso! Eu sou um ano mais velha que o Querido. Eu
posso fazer o papel de irmã mais velha!
— Eu também, eu também! O charme maduro do meu corpo está
transbordando!
As duas falaram orgulhosamente enquanto estufavam seus peitos.
Porém, Kotori balançou sua cabeça com uma expressão cheia de
constrangimento.
— Não é sobre números. Eu estou falando de maturidade em um nível
espiritual. Se essa condição não for cumprida, então não será nada mais do que
uma criança um pouco mais velha.
— Uchu!
— Ahha!
As palavras impiedosas penetraram em Miku e Nia como facas.
— Uuu, que imperdoável, Kotori-san...... Eu... pelo menos o estilo do meu
corpo é bem maduro......
— E até mesmo sou... boa...... em ficar acordada até tarde......
— ......
Quando Miku e Nia indiscriminadamente argumentaram, elas não
perceberam que Origami cutucava seus ombros com um som de "pon" vindo de
trás. As duas, ao serem atingidas ao mesmo tempo, soltaram um som de "wan"
enquanto se agarravam em Origami...... Bem, para Miku, os motivos para seus
movimentos de mãos eram bem peculiares.
Apesar disso, enquanto ignorava essas três, a reunião prosseguiu.
— Isso é bem problemático. Não importa o quão forte ele seja, parece que
tem um desejo inato no coração dos homens se comportarem como garotos
mimados quando são bajulados por uma irmã mais velha madura.
— Kaka, quer dizer então que homens levam um bom tempo para
amadurecer.
92
— Concordância. Kaguya também era originalmente um garoto. Isso não
me admira.
— O que quer dizer com isso!? Aliás, o que quis dizer com "não me
admira"!?
— Acalmem-se...... eh, ué?
Kotori de repente interrompeu suas próprias palavras.
— Origami, onde elas foram?
— Muu?
Tohka olhou para o lugar onde Origami e as outras estavam até agora a
pouco. Para se certificar que, assim como Kotori disse, o paradeiro das três
pessoas tinha desaparecido.
— Uh......
— Elas foram ao banheiro?
Todos Espíritos inclinaram suas cabeças, Kotori deu uma olhada rápida
para a porta antes de continuar.
— Não importa, elas logo estarão de volta. De qualquer forma, se
pudermos satisfazer esse sentimento mesmo que temporariamente, o coração de
Shidou irá permanecer calmo não importa quais meios Kurumi tentara empregar
nele. É por isso que temos que nos tornar irmãs mais velhas do Shidou.
— M-Mas, Kotori-san, nós somos menores do que o Shidou-san......
Quando Shidou disse isso franzindo o cenho no formato do Kanji para oito
(八), Kotori formou uma expressão embaraçada enquanto acenava com a cabeça.
— Bem, isso é verdade, mas contanto que adquira um charme maduro,
você deve conseguir obter um apelo de uma mulher mais velha do que sua idade
verdadeira. É claro, se você realmente se tornasse uma adulta, os efeitos seriam
maiores, mas o esperado é que......
— ......Isso.
Enquanto Kotori falava, uma garota tímida levantou sua mão com medo
de ser ridicularizada.
— Talvez... talvez haja um jeito......?
93
◇◇◇◇
— Hmm...... Uh......
Acompanhado por um pequeno gemido, Shidou vagarosamente abriu os
olhos.
Enquanto sua consciência estava vagarosamente despertando, pouco a
pouco os seus arredores estavam gradualmente se tornando visíveis.
Parece que os arredores continuavam bem escuros, com a luz do dia ainda
não permeando o local. Mesmo que naquele dia ele não tivesse planos para ir
para cama cedo...... naquele momento.
— ......Hmm?
Enquanto sua consciência ainda estava difusa, quando ele tentou se virar
em sua cama, Shidou franziu suas sobrancelhas.
......seu corpo não conseguia se mover.
Por um momento, ele pensou que aquilo era uma paralisia do sono...... mas
com certeza aquilo era uma sensação estranha. Pode se dizer que era como se
alguém estivesse agarrado a ele.
Um toque suave e quente, claramente alguém além dele estava em seu
futon.
— ............
Shidou silenciosamente suspirou depois de um momento de silencio.
Talvez aquele fosse um caso comum, ele devia ter suspeitado que estava
um sonho ou algo que lembrasse um fenômeno físico...... Seja para o bem ou para
o mal, Shidou já tinha alguma noção sobre o que estava lhe causando aquela
sensação.
— Origami......? Ou Miku? Não, talvez seja a Nia......?
Com os olhos semicerrados, Shidou sentiu a força que pressionava seu
corpo relaxando. Ao mesmo tempo, ele ergueu a capa do futon.
— Como esperado do Shidou.
— Como esperado do Querido.
94
— Como esperado do Garoto.
— Uwaaah!?
Vendo as três pessoas embaixo do futon, Shidou soltou um grito de
espanto.
Ele não esperava que todas as três pessoas que ele tinha pensado estariam
juntas ali. Embora sua reação tenha sido mais por causa......
Mais do que tudo, as três estavam vestindo roupas sensuais como babydolls
e cintas-ligas.
— V-Vocês......?
Como resultado de não entender o que estava acontecendo, o rosto de
Shidou estava preenchido de perplexidade.
Mesmo assim, as três sorriram levemente, se aproximando para se
inclinarem sobre ele.
Enquanto Origami se levantava sobre sua barriga, Miku estava movendo
seus grandes seios da direita para a esquerda, prontos para pular e ataca-lo de
ambos os lados. Mesmo que ele tenha sentido eles tocarem sua pele agora a
pouco, ver esse gesto causou um sentido de tensão e excitamento completamente
diferente no cérebro de Shidou.
— Espera...... e-ei......
— Não se preocupe, Shidou, deixe seu corpo com a gente.
— Isso mesmo; nós, suas irmãs mais velhas, iremos cuidar bem de você.
— Sim, se você tiver essa experiência com nós primeiro, então você não
vai se sentir assustado depois, mesmo se for a Kurumin!
Com aquilo dito, as três se inclinaram para mais perto. Seus
comportamentos sensual e trajes divergentes fizeram o coração de Shidou pulsar
violentamente.
Mas......
96
— Para um homem, isso é realmente incrível. Há rumores que alguém
pode se tornar um mago sem ter experiências com uma mulher, mas para uma
pessoa se acostumar do nada a ser um sábio...... Ah, talvez seja porque antes disso
ele era um playboy. Um jovem playboy3!
Como resultado das piadas costumeiras de Nia, Shidou sentiu que a alta
temperatura emitida por sua cabeça se esfriou um pouco.
— ......Ah sério, mesmo que eu não tenha entendido o que vocês disseram,
me devolvam meu quarto!
Shidou soltou um grito, empurrando as costas de Origami e das outras
tentando tirá-las de seu quarto.
— Não há nada que possamos fazer. Vou ter que voltar mais tarde.
— Kya! Esse Querido agressivo também é muito bom!
— Eh, o que deu no Garoto agora?
Com cada uma delas expressando o que queriam respectivamente, o trio
saiu da residência dos Itsuka.
— Caramba......
Shidou soltou um ar de alivio, limpando o suor em sua testa com a manga
antes de reentrar no futon.
— ......Porém, ele não conseguiu dormir imediatamente.
Embora tenha somente meio adormecido, ele foi acordado pelo toque da
lingerie de Origami por debaixo do futon, fazendo seu coração acelerar.
Quando...
— ......Hmm?
Apesar de não saber quanto tempo se passou, Shidou de repente ergueu
suas sobrancelhas.
Do lado de fora da janela... por algum motivo, havia um pequeno som de
clique vindo da varanda.
— Mas que barulho é esse......?
3 Nota da tradução JP-EN: Playboy (遊び人) é uma piada com a classe Gadabout (Buscador de Prazer) de Dragon Quest 3, cuja uma das classes que ele pode se transferir é Sábio.
97
Parecia que alguém estava batendo na janela. Shidou adotou uma
expressão aturdida enquanto vagarosamente se arrastava para fora da cama,
esfregando os olhos enquanto andava em direção a janela, sua mão logo agarrou
a cortina.
Porém, nesse momento, sua mão parou.
Devido a sua sonolência estar fazendo com que suas habilidades de
julgamento se reduzissem, Shidou não percebeu até aquele momento a
anormalidade da situação de que alguém poderia bater em sua janela durante o
meio da noite.
— Não pode ser, seria a Kurumi......?
Shidou torceu a sobrancelha enquanto sussurrava para si mesmo. Quem
poderia o visitar durante o meio da noite, sim...
— ............ Não, não necessariamente.
Relembrando os rostos das pessoas que tinham acabado de atacá-lo,
Shidou soltou um suspiro profundo...... É melhor dizer que comparado com a
Kurumi, a possibilidade de ser uma dessas três pessoas era consideravelmente
alta.
De qualquer forma, ele não conseguiria descobrir se continuasse daquela
forma. Shidou abriu as cortinas decididamente.
Porém.
— Hã......?
Não havia ninguém ali, ninguém fora da janela. Pelo contrário, quando
Shidou abriu as cortinas, mesmo a robustez do tecido tocando o chão quase não
pôde ser ouvida.
— Que estranho, eu tinha certeza de que......
Esticando seu pescoço, ele abriu a janela da varanda. Um ar frio atacou seu
corpo protegido pelo quente e confortável futon.
— Uh...... Que frio.
Enquanto ainda calçava seus chinelos, ele olhou para a vizinhança. Mas
mesmo assim não havia nenhuma silhueta suspeita ou até mesmo pássaros que
tinham acordado mais cedo.
98
Se perguntando se não tinha sido um sonho, Shidou coçou sua cabeça e
fez um movimento para retornar ao seu quarto.
Então, naquele momento.
— ......Fufu, fufu.
— ......!?
Enquanto procurava pela origem daquela risada, Shidou sentiu seu corpo
tremer.
— Q-Quem está aí......?
Espantado com o som repentino de risada, Shidou olhou para os arredores
mais uma vez. Seguindo isso, várias vozes foram ouvidas uma atrás da outra.
— Ei, esse não é o Itsuka Shidou que mencionaram antes?
— Bem...... ele é bem comum. Isso é um pouco inesperado.
— É ele mesmo? Até que é bem bonito.
— M-Mas que diabos é isso......?
Com o rosto corado com um tom de confusão, ele olhou para a origem das
vozes. Porém, era como se seja lá o que for que ele estava vendo, não poderia ser
considerado uma pessoa.
Por um momento, Shidou pensou que ele estava conversando com um dos
clones da Kurumi escondido nas sombras. ......Não, não era isso. A voz que ecoou
pelos arredores era diferente da voz da Kurumi.
— Quem está aí!? O que você quer comigo!?
Shidou não pôde fazer nada além de chamar e sua voz ecoou pelo céu da
noite.
E então, como se o respondesse, risadas preencheram os arredores.
......Então, naquele instante.
Vários pedaços de papel caíram do céu.
— Papel......?
Shidou inclinou seu pescoço enquanto ia em direção ao pedaço de papel
para pegá-lo.
99
Porém, no momento que suas mãos entraram em contato com o papel,
uma luz fosca iluminou a varanda......
— Baah!
Uma garota emergiu dali.
— Wa......!?
Como resultado da aparição repentina, Shidou caiu no chão de costas. As
garotas, que pareciam ter achado aquilo engraçado, soltaram risinhos de leve.
— Haha, isso foi tão surpreendente assim?
— V-Vocês são......
Shidou estava estupefato enquanto olhava os rostos das garotas.
Ouvindo aquela pergunta besta, Shidou imediatamente prendeu a
respiração. Apesar de estar semiconsciente, ele ainda ficou bem perturbado com
aquela visão. O impacto daquela cena era como despertar de repente.
Se aquela visão não for um sonho, nada poderia ser mais extraordinário
do que uma garota sair de um pedaço de papel.
Mas Shidou já tinha ouvido falar da existência daquela garota através de
Mana.
— Não pode ser, você é da DEM......!?
Quando Shidou começou a tremer, os papeis que pareciam ter sido
rasgados deram origem a garotas com o mesmo rosto, um a um.
Essa cena era igual a quando Kurumi revelava seus clones. Deparado com
um fenômeno que violava as leis e teorias do mundo, Shidou ficou
momentaneamente sem palavras.
— Hã, como sabe sobre a gente?
— Apesar que DEM é uma forma muito casual de se chamar.
As garotas fizeram beicinho de descontentamento.
Porém, Shidou não conseguia responder a elas.
Entre a miríade de vozes que vinham de todas as direções, uma das
garotas pronunciou algo que era difícil de acreditar.
100
— Sim, de qualquer forma, nós... também podemos ser consideradas
Espiritos.
Ela tinha dito aquelas palavras.
— O que...!?
Shidou arregalou seus olhos de espanto.
— E-Espíritos.....!?
Sim, a garota certamente tinha acabado de dizer isso.
A confusão fez a cabeça de Shidou girar. Era certamente possível que
aquela garota tinha o poder de se clonar igual ao de Kurumi, mas por que um
Espírito estaria trabalhando com a DEM que quer matar os Espíritos......?
Enquanto Shidou estava perdido em confusão, outra garota continuou a
falar.
— Ah, nós nos chamamos <Nibelcol>. Um bom nome, não acha?
— Bem, por termos sido criadas pelo Otou-sama, devemos ser um pouco
diferentes do que você está acostumado.
— O-O que quer dizer com isso......?
Ouvindo Shidou perdido em sua resposta, a garota <Nibelcol> encolheu
os ombros.
— Hehe, quer saber?
— Tudo bem te contar, mas não faz muito sentido, né?
— Sim, por que você...... vai morrer agora.
Então, como se fosse algo normal, as <Nibelcol> disseram essas palavras.
Aquela declaração não tinha nenhuma malícia, nem sequer um pingo de
intenção assassina. Foi dito como se fosse um cumprimento agradável que
fazemos quando saímos de casa depois de aceitarmos um pedido de ir comprar
alguma coisa. Como resultado do tom que foi direcionado a ele, não houve tempo
o suficiente para reagir.
— ......!
101
Mesmo assim, o tempo de reação ainda foi bem rápido comparado ao de
um aluno do ensino médio comum. Levado por nada mais nada menos do que a
experiência de ter sido exposto a várias situações de vida ou morte, Shidou
retirou seu corpo do chão, pulando da varanda para escapar de <Nibelcol>.
Porém......
— Hã......?
No momento seguinte, Shidou ouviu tal voz saindo de sua garganta.
Ao mesmo tempo, seu campo de visão começou a tremer violentamente,
seu corpo abatido caiu na varanda.
Olhando para a parte de baixo de seu corpo, Shidou finalmente percebeu.
......Seu pé, que ele tinha usado para tentar fugir, tinha sido perfeitamente
cortado fora.
— Guh...... AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!?
Ao perceber isso, uma dor tremenda atingiu Shidou, forte o suficiente para
fazer sua mente entrar em colapso.
Quase como uma ilusão piscando e estalando sob o negro céu da noite, a
violenta agitação de emoções e a tensão fizeram seu coração bater violentamente
enquanto seu sangue difusamente saia em abundancia do corte em sua perna.
— Você acha que pode escapar?
— Não, não, nosso pai nos pediu para fazermos isso.
— Você encontrará seu fim aqui.
As <Nibelcol> ainda falavam em tom casual.
Mas então, mesmo que seu sangue estivesse besuntado em uma poça de
sangue, suas sobrancelhas só podiam tremer fracamente em vez de se contorcer
devido a dor intensa.
— Hã......? Que incrível, o que é isso?
— Sua perna está queimando? É como se estivesse tentando grudar o pé
cortado de volta?
— Hmm...... Essa deve ser a habilidade regenerativa de <Camael>. Nada
mal.
102
As <Nibelcol> disseram com interesse observando aquela cena, assim
como crianças que encontraram um inseto raro no meio da estrada.
Para ter certeza, as chamas vacilantes estavam envolvendo o corte em sua
perna, apesar de não se saber como elas se acendeu. A sensação furiosa de
queimadura estava sendo sobreposta pela dor violenta. Tremendo de agonia,
aquela era a sensação que impiedosamente devastava seus nervos.
Porém, assim como <Nibelcol> tinha dito, as chamas também estavam
tentando reunir o membro decepado ao restante do corpo.
...... aquelas eram as chamas curativas possuídas pelo Anjo de Kotori,
<Camael>.
— Entendi, entendi, isso com certeza é algo complicado de se lidar.
— Un, algo está errado, ele não morre mesmo depois de ser morto.
— Bem, então, o pedido do Otou-sama não pode ser cumprido, o que
devemos fazer?
As <Nibelcol> inclinaram suas cabeças confusas enquanto olhavam umas
para as outras procurando uma resposta.
Mas no momento seguinte, as <Nibelcol> acenaram com a cabeça uma
para a outra mais uma vez antes de voltarem sua atenção para o corpo de Shidou.
— Bem, só há um jeito.
— Sim, só há um jeito.
— ......Vamos continuar te matando até você morrer.
No mesmo tempo que a <Nibelcol> disse isso, Shidou sentiu um tremendo
impacto atingir todo seu corpo.
— ......................!?
Seu campo de visão estava tingido de vermelho devido aos ataques
desferidos nele e uma dor cada vez mais intensa surgia.
A sensação de dor zunia pelo seu sistema nervoso, roendo todos seus
sentidos. Se não fosse pela proteção de <Camael>, uma pessoa comum já teria
morrido naquele momento.
Shidou não conseguia mais sequer gemer de sofrimento.
103
Mesmo querendo usar o Anjo do som, <Gabriel> para amenizar a dor... era
tarde demais.
As <Nibelcol>, sem nem um pingo de humanidade, atacaram cada
centímetro do corpo de Shidou, perfurando, quebrando, fatiando......
Finalmente, a consciência de Shidou foi mergulhada nas trevas.
◇◇◇◇
— ...... uwaaaaaaaaahhhhhh!?
Gritando como se sua garganta estivesse prestes a colapsar, Shidou pulou
de sua cama.
Alguns segundos depois, Shidou olhou ao redor e viu seu familiar quarto.
Pela janela, o sol já tinha se erguido no céu.
— ............!
Com esse breve momento, Shidou apressadamente começou a verificar
seu corpo.
Depois de usar suas mãos para confirmar que não haviam buracos em seu
peito ou abdômen e que seus pés não estavam cortados, Shidou exalou um
grande suspiro de alivio.
— ...... Até mesmo para um pesadelo aquilo foi aterrorizante demais, ei......
Quando ele disse isso, enquanto secava sua testa, sua manga ficou
encharcada de suor. Aquilo não estava no nível de uma simples transpiração
durante uma noite de sono. Era como se Shidou tivesse dormido sob uma
tempestade de uma floresta tropical.
Porém, aquilo não era surpresa. O pesadelo que Shidou estava tendo......
mesmo que ele não quisesse se lembrar dele, ainda assim isso acabava
acontecendo forçadamente. ......Enquanto refletia, seu corpo não conseguia parar
de tremer.
Afinal, quanta ansiedade era necessária para ter aquele tipo de pesadelo?
104
Shidou balançou sua cabeça como se estivesse tentando se livrar da dor
severa que ainda permanecia em sua cabeça. Ele então ficou de pé depois de
puxar o agora umedecido futon.
Com o vendo soprando contra seu peito, Shidou decidiu se dirigir para o
primeiro andar para tomar banho.
— ......Hmm?
No meio do caminho descendo as escadas, Shidou vacilou perto da borda
enquanto suas sobrancelhas tremeram. Um cheiro sedutor estava percorrendo o
primeiro andar, "ton, ton, ton"...... e o alegre som de uma faca de cozinha atingido
uma tábua de cortar podia ser ouvido.
Isso mesmo...... era como se alguém estivesse preparando o café da manhã.
— Kotori......?
Shidou sussurrou para ele mesmo enquanto esticava seu pescoço.
Aquilo era inevitável, já que somente ele e Kotori estavam em casa naquele
momento. Mesmo que o café da manhã...... ou qualquer outra refeição do dia
fosse basicamente seu trabalho, talvez ele estivesse atrasado devido ao pesadelo
e Kotori decidiu tomar a iniciativa de preparar o café da manhã ela mesma.
Porém, um sentimento desconfortável ainda permanecia no ar. A Kotori
podia manejar a faca de cozinha de maneira tão habilidosa assim......?
— ......Hã?
Vendo a figura na sala de estar, os olhos de Shidou se tornaram pequenos
pontos por causa da surpresa.
— ......Un? Ah, bom dia, Shidou.
A mulher, que estava sentada no sofá, acenou com a mão para
cumprimentá-lo.
Porém, Shidou não pôde devolver o gesto. Boquiaberto, ele só conseguiu
ficar olhando-a perplexo.
Mas não poderia ser diferente, quem estava sentada ali era Kotori, porém
ela parecia estar mais velha do que ele.
105
Uma grande contradição apareceu somente com um cumprimento.
Shidou, pensando que ainda estava sonhando, beliscou a si mesmo, somente para
descobrir que aquilo doeu.
A idade que ela aparentava ter era por volta dos vinte anos de idade. Com
mãos e pés esbeltos assim como um rosto maduro, ela não tinha penteado seu
cabelo em rabos-de-cavalo duplos, mas em vez disso, seu laço preto estava preso
em seu pulso.
Porém, o que era mais destacado era seu peito. Os seios de Kotori, que
normalmente eram modestos para uma garota de sua idade, haviam se
expandido em um grau nada natural.
E que Onee-san era Kotori, que estava sentada no sofá, vestindo somente
uma camisa pouco abotoada e assistia TV de forma despreocupada. Daquela
forma, não importa como ela se parecia, sua aparência tinha o charme de uma
secretária que estava se preparando para ir trabalhar.
— O que aconteceu, o que é isso? ......Ah, você está fascinado pelos pés da
sua Onee-san? Ei, no final das contas Shidou é um garoto também.
Enquanto Shidou estava com os olhos arregalados pelo choque, Kotori
mostrava um sorriso malicioso e deliberadamente ergueu sua perna. Espiando a
bainha de sua camisa e as radiantes e lindas pernas dela, Shidou não conseguiu
evitar de prender sua respiração.
— ......! N-Não, não é isso! Kotori...... certo? Não, não, mas o que diabos
está acontecendo......?
— Hã? O que foi agora?
— Não, mesmo que seu corpo tivesse crescido de repente, seus seios estão
anormais demais...... Gaha!?
No meio da fala, Kotori atirou uma almofada nele. O corpo de Shidou se
inclinou para trás.
— Shidou-san.
Enquanto Shidou estava esfregando o nariz que tinha sido diretamente
atingido pela almofada, outra voz veio da cozinha.
Olhando para lá, ele viu Yoshino, que mostrava o mesmo tipo de
crescimento, preparando o café da manhã.
106
Com o cabelo preso em um rabo de cavalo e um avental simples, ela
parecia exatamente com uma dona de casa jovem.
Em adição a isso, havia a figura de três pequenas garotas próximas das
pernas de Yoshino. Depois de ficar confuso por um momento, logo ele percebeu
que elas eram Origami, Miku e Nia depois de terem sua aparência reduzida em
tamanho. Por algum motivo, havia uma placa pendurada em seus pescoços onde
estava escrito "Sentimos muitos por nos esgueirarmos".
— Um erro de cálculo, mas eu não vou desistir. Quem disse que pessoas
com aparência jovem não podem ser irmãs mais velhas?
— Ya! Por que tivemos que ficar menores?! Eu também queria seduzir o
Querido!
— Ahhh, bem isso é mais fácil para pessoas que tem algo contrastante para
mostrar. A causa de nossa existência é um exemplo. Uma jovem mulher comum
não seria capaz de mostrar atributos de uma esposa?
— Wa......!? I-Isso é realmente......!
Depois de ouvir Nia, Miku por algum motivo parecia que tinha recebido
algo parecido com uma revelação divina. Depois disso ela fez um olhar mimado
enquanto se agarrava às pernas de Yoshino.
Yoshino deu um sorriso torto enquanto ela gentilmente acariciava a cabeça
de Miku. Shidou observou enquanto suas linhas de visão se cruzavam. Em sua
mão esquerda, o fantoche em forma de coelho <Yoshinon> (que por algum
motivo desconhecido estava com um bigode falso anexado a ele) acenou para ele
com um leve aceno.
— Shidou, parece que a mamãe quer que você experimente isso. A
propósito, eu sou o pai.
— Isso...... Por favor, você pode fazer isso? Não, seria isto impossível......?
— Hã......? A-Ah......
Apesar de ainda não entender nada, Shidou caminhou obedientemente
para onde foi solicitado. Então, ele pegou o pequeno prato nas mãos de Yoshino,
provando o sabor da sopa de missô.
— Un...... está delicioso. O sabor do caldo da sopa está bem acentuado.
108
— Sério? Isso...... Isso é muito bom.
Yoshino mostrou um leve sorriso.
Ela estava diferente da Yoshino de sempre, transbordando uma atmosfera
graciosa e inclusiva. O coração de Shidou disparou involuntariamente.
Porém, Shidou imediatamente reconsiderou enquanto balançava sua
cabeça de um lado para o outro.
— ......Isso, não, não, não é assim. O que é isso, para começar? Isso por
acaso não é um sonho, é!?
Quando Shidou disse isso, uma pequena Origami se aproximou dele e deu
uma resposta.
— É parte do treinamento.
— T-Treinamento......?
— Sim, para que no próximo dia 14, Shidou esteja com a resistência afiada
ao charme tentador da Tokisaki Kurumi.
— Afiar minha resistência...... Como supostamente eu faria isso?
— Você deve seguir sua rotina normal. Porém, nós estaremos
monitorando as batidas de seu coração e níveis de excitação. Para se certificar que
eles não excedam um certo valor, eu quero que você mantenha a batida de seu
coração sobre controle.
— Ha......
Shidou coçou seu rosto enquanto devolvia uma resposta vaga. Então,
Kotori adicionou algo por trás dele.
— Ah, haverá uma penalidade apropriada, então não se preocupe, ok?
Cada vez que sua excitação estiver acima dos níveis desejados por mais de dez
segundos, uma ilustração rascunhada por Shidou no passado serão upados na
SNS.
— Droga, eu pensei que não tinha tantas delas recentemente!
Enquanto Shidou gritava com uma voz estridente, Kotori meramente riu.
Ela parecia exatamente com uma irmã mais velha mexendo com seu irmão.
109
Mesmo que seja falso dizer que não havia alguma dessatisfaçam, ele sabia
por experiência própria que nada poderia ser feito contra isso. Shidou suspirou
enquanto se virava para Origami.
— ......Então, por que Kotori e Yoshino se tornaram irmãs mais velhas?
— Estamos nos aproximando do Shidou como irmãs mais velhas para ver
como seu coração responde a isso.
— Desculpa, mas isso também é para testar meus limites?
Enquanto Shidou não conseguiu deixar de gritar isso, Origami acenou
com a cabeça.
— Então, está tudo bem mesmo que você esteja quase sendo forçado a isso.
— I-Isso, para falar a verdade, é também uma questão de ser estrangulado
pelos limiares da vida...... e até mesmo tem uma certa sensação de vida ou morte
em nível social......
— Então é isso?
No breve momento que Origami falou, ela estalou seu dedo anelar.
Reconhecendo esse sinal, Nia e Miku pegaram a bainha do vestido de
Yoshino, o puxando de uma só vez.
No instante seguinte, o lado esquerdo e direito se removeram, deixando
somente o avental. A esposa casta se transformou na cara da noite em um piscar
de olhos.
— Ki-ya......!
— O que......!?
Por isso ter acontecido de repente, Shidou não conseguir deixar de ficar
com os olhos rolando. Porém, Shidou não foi o único a ficar surpreso. Yoshino,
cujas bochechas estavam coradas com um tom vermelho vivo, caiu no chão.
Ele estava pressionado contra uma aproximação de uma irmã mais velha
totalmente diferente de antes, mas um odor de sedução imoral fez com que o
corpo de Shidou involuntariamente permanecesse congelado no lugar.
Em um instante, uma buzina em algum lugar da sala soou um som de
bipe. Parece que o coração Shidou acelerou acima dos parâmetros aceitáveis.
110
— Ugu......!
De alguma forma, ele apressadamente diminuiu a velocidade das batidas
de seu coração. Shidou rapidamente mudou sua linha de visão e rapidamente
pegou um agasalho que estava pendurado numa cadeira para cobrir os ombros
de Yoshino.
Porém, no instante seguinte, a próxima assassina apareceu diante do
campo de visão de Shidou.
— Shidou...... Não é isso! Itsuka-kun! A aula está prestes a começar......!
Ele não percebeu por quanto tempo ela estava ali, mas diante dele estava
uma Tohka estilo professora usando óculos e uma roupa que enfatizava suas
curvas.
Desnecessário dizer que ela parecia ser mais velha que Shidou, seu corpo
cresceu para o de uma mulher de 20 anos. Mas mesmo que o tamanho da roupa
seja um pouco pequeno, as excepcionalmente sensuais linhas de seu corpo
estavam fortemente enfatizadas, influenciando os olhos de Shidou a
instintivamente pousarem sobre a área dos seios.
— Muu, o que foi, Itsuka-kun?
— Ah, não......
Enquanto desviava seu olhar, Shidou tossiu duas vezes para encobrir esse
assunto.
De frente com Shidou, Tohka soltou uma expressão confusa. Mesmo que
seu corpo esteja utilizando o erotismo como arma, a pessoa em questão não
estava consciente disso. Essa diferença fez o coração de Shidou ficar ainda mais
abalado.
Porém, Tohka não pareceu ter percebido isso. Enquanto andava em ritmo
como uma modelo, ela guiou a mão dele para se sentar na mesa, puxando uma
cadeira.
Então, ela colocou outra cadeira para se sentar ao lado dele, posicionando
seu corpo para abraça-lo.
— H-Hmm......?
— Agora, Itsuka-kun, a aula da Tohka-sensei vai começar. Com meu......
mu?
111
Tohka inexplicavelmente franziu a sobrancelha, pegando um bloco de
anotações em seu bolso para reler o que estava escrito nele.
— Ah, sim. Vamos começar nossa aula extracurricular proibida. Está
preparado? Err, primeiro com higiene e educação física, estames e pistilos são......
— Quem determinou os papéis de vocês?!
Shidou deu um grito cheio de frustração enquanto vigorosamente se
levantou da cadeira.
— Mu, onde está indo, Itsuka-kun?!
— V-Vou só lavar meu rosto......!
Shidou correi para o banheiro para acalmar tanto suas bochechas coradas
quanto o fluxo de sangue que corria em sua cabeça. O alarme desde o começo
estava tocando incessantemente. Não importa o quão ruim estava, ele tinha que
acalmar suas emoções primeiro.
— O quê......!?
Porém, ao abrir a porta, Shidou se sentiu enrijecido novamente.
O motivo era simples. Natsumi estava em pé ali vestindo somente uma
toalha.
Desnecessário dizer que aquela Natsumi não era a Natsumi de sempre.
Era a Natsumi que tinha uma aparência adulta quando ela usava seu Anjo
<Haniel>.
Pego pela confusão, ver aquela figura fez com que Shidou finalmente
tivesse uma ideia do motivo para Kotori e as outras estarem transformadas.
— Ara......?
Natsumi cumprimentou ele com um sorriso enquanto desviava seu olhar.
Como resultado de ter acabado de tomar um banho, seu cabelo molhado
ainda estava agarrado a sua pele branca e sedosa. Talvez não havia nada mais
estimulante do que aquela cena.
— Ufufu, bom dia, Shidou-kun. Que lamentável, alguns minutos antes e
eu não teria uma toalha cobrindo meu corpo.
— ......! Você, o que está dizendo......?
112
Com essas palavras inesperadas, o rosto corado de Shidou ficou ainda
mais vermelho. Então, com uma expressão maliciosa, Natsumi acariciou o queixo
dele com a ponta dos dedos.
— Ou você ficou esperando para poder tira-la você mesmo? Fufu...... que
safadinho.
Enquanto dizia isso, Natsumi pegou a mão de Shidou e a levou até seu
peito.
— Espera......!?
Shidou puxou de volta sua mão em pânico. Porém, como resultado da
força excessiva, o movimento fez com que ele caísse para trás.
— Auu!
Tendo batido a sua nuca, as bochechas de Shidou estremeceram de dor
enquanto ele gentilmente coçava essa área.
Naquele ponto, a sombra de uma figura de repente apareceu o ignorando.
— O quê......!?
Com uma respiração errante, os olhos de Shidou forçadamente se
arregalaram.
Isso mesmo, quem apareceu ali foi Kaguya, vestindo um casaco branco
sobre suas vestes, fazendo ela se parecer com uma médica. Por sua vez, Yuzuru
estava parecendo uma enfermeira com um perigoso vestido curto.
— Kuku, o que foi? Alguém se machucou? Deixe-me dar uma olhada.
— Identificação. Kaguya, mesmo depois de finalmente se transformar em
uma adulta com os poderes da Natsumi, isso acabou sendo desperdiçado pelo
jeito que você fala.
— ......! Q-Que irritante! O jeito que a Yuzuru fala também não é a mesma
coisa?
E dessa forma, as duas começaram a brigar por algo trivial.
O problema não era isso, o problema era que... as duas estavam discutindo
enquanto vestiam vestidos curtos em cima do rosto de Shidou que estava no
chão.
113
— ............!
Enquanto a sirene soava afiadamente, Shidou desajeitadamente ficou de
pé e saiu andando pelo corredor.
De qualquer forma, ele tinha que acalmar as batidas de seu coração
primeiro. Então, ele planejou passar correndo pela entrada e ir para fora.
Porém, havia a sombra de outra pessoa ali, como se estivesse querendo
enfatizar a identidade de quem estava de guarda na porta.
— Mun. Para onde vais, Nushi-sama?
— Mukuro......!?
Então, Mukuro, que também teve seu corpo transformado no de uma
adulta assim como todas as outras, esticou suas mãos para bloquear a entrada
enquanto vestia um quimono.
Mas não era um simples quimono. Com um padrão deslumbrante
envolvido por uma faixa em conjunto com ombros audaciosamente expostos,
esse era o que chamam de quimono de cortesã.
— Bem, ah......
Mukuro, tendo crescido através dos poderes de Natsumi, teve seu corpo
sensual aprimorada a níveis destrutivos, comparável a uma ogiva nuclear. Passo
a passo, ela marchou para frente de forma sedutora.
A sirene estava soando mais alto do que antes. Shidou parou a
aproximação de Mukuro e abriu a porta para escapar para fora.
......Porém.
— Mun, por obséquio pare, Nushi-sama.
— Quê!?
No momento em que ele abriu a porta, por trás, Mukuro agarrou a bainha
de sua calça, fazendo-o cair para frente.
Porém, ele não caiu no chão.
Para ser preciso, seu rosto estava atualmente afundado nos seios de uma
pessoa que estava de pé diante da porta que foi aberta.
— O que...é... hã!?
114
— ......Hmm?
No meio da turbulência dentro de sua cabeça, Shidou ouviu uma voz
quieta vindo de fora. Cuidadosamente erguendo sua cabeça, ele descobriu que
aquela pessoa era a analista oficial da <Ratatosk>, Murasame Reine.
— R-Reine-san......! Me desculpe......
— ......Ah.
Mas antes de Shidou terminar, Reine pareceu ter entendido o que estava
acontecendo e levemente acenou com a cabeça. Então, ela colocou sua mão na
nuca de Shidou. Mais uma vez, seu rosto foi afundado nos seios dela enquanto
ela gentilmente acariciava sua cabeça.
— ...... Fique melhor.
— ...........!?
Enquanto o interior da cabeça de Shidou estava cheio de confusão e
vergonha, ele ouviu uma exclamação de "Oh" vindo dos Espíritos atrás dele junto
com o som de uma salva de aplausos.
◇◇◇◇
Muitas horas se passaram depois da comoção na residência dos Itsuka.
Com a ajuda do <Haniel> de Natsumi, Kotori e as outras tiveram suas
aparências recuperadas. Eventualmente, elas chegaram em uma loja
especializada em confeitaria na rua principal da Cidade Tengu.
Enquanto olhava para todos, Kotori colocou sua mão em sua cintura
enquanto falava.
— Certo, pessoal, olhem para isso. No primeiro treinamento do Shidou,
graças a ajuda de todos, nós atingimos certos resultados.
Quando Kotori disse isso, Nia e Miku falaram algo em tom de sussurro.
— Sério, hein? Eu acho que os resultados foram obtidos pela Reinechino.
— Teria sido melhor se nós tivéssemos participado dessa batalha também.
115
— Uhn-uhn!
Como se tivesse ouvido elas, Kotori irritadamente clareou sua garganta
para chamar a atenção delas.
— Então, eu acho que devemos partir para nossa próxima estratégia.
Sim, esse também é o motivo para Kotori e as outras estarem visitando
esse local.
Elas estavam lá...... para fazer chocolate caseiro para entregar ao Shidou
no dia 14.
— Procurem por qualquer material que gostarem. Mesmo que só o
mínimo do mínimo tenha sido explicado, se vocês ainda não souberem o que
comprar, sintam-se livres para perguntar a mim ou a Reine. Tá bom?
— Umu!
— Sim......!
— Entendido.
Com a resposta dos Espíritos, todas elas se espalharam pela loja. Kotori
soltou um "Bem, agora..." enquanto via elas saírem de perto.
— Vamos lá também.
— ......Ah, tudo bem.
Quando Kotori disse isso, uma resposta veio por trás dela vindo de Reine.
Naquele momento, Reine não estava vestindo nem o uniforme da
<Ratatoskr> nem o jaleco do laboratório da escola. Em vez disso, ela estava
vestindo uma túnica elegante e colorida, com o rosto de um urso de pelúcia com
uma marca característica em seu rosto preso em seu bolso. De alguma forma,
aquilo dava uma sensação absurdamente surreal.
Não foi coincidência ela ter visitado a residência dos Itsuka.
Originalmente, Kotori tinha pedido a ela para supervisionar o material
selecionado e a produção dos chocolates.
— Bem, então. Primeiro temos que começar com o material básico para o
chocolate......
Enquanto murmurava, Kotori andou para a área interna da loja com Reine.
116
Aquela era a hora onde a loja deveria estar no pico da temporada. Uma
grande variedade de chocolates estavam alinhados lado-a-lado nas prateleiras.
Haviam até mesmo alguns pôsteres espalhafatosos com receitas de chocolates
caseiros.
— Hehe, há tantos tipos diferentes aqui.
De qualquer forma, diferente dos produtos pré-fabricados que eram
vendidos em lojas de conveniências e outros lugares, pacotes transparentes
foram utilizados para se certificar que a lista de ingredientes estava presente
neles. Parece que a porcentagem de cacau e a área distribuída variava em cada
produto. Quando vistas de longe, essas palavras poderiam emular um lindo tom
gradual.
Em frente às prateleiras estavam cinco garotas. Elas eram Tohka, Yoshino,
Natsumi, Kaguya e Mukuro, respectivamente. Cada uma delas as olhava com
olhares sérios, avaliando as prateleiras com cuidado.
— E então, pessoal? Alguma coisa chamou a atenção de vocês?
Ouvindo a voz de Kotori, Tohka abruptamente se virou.
— Oh, Kotori. Muu...... tudo parece muito bom, mas tem tantos.
— Sim...... eu não sei qual deles é o melhor.
— E algum deles parecem simples demais.
— Hmm, honorável irmã, o que demarca o cacau Venezuelano do
Colombiano?
— Err............?
Ao ser questionada por Mukuro, Kotori sentiu suor frio escorrer por sua
testa.
Embora possa ser considerado "caseiro", a experiência de Kotori fazendo
chocolate se limitava a ajudar sua mãe em algumas criações deformadas vindas
de um kit para produção caseira vendido comercialmente. Era impossível para
ela dizer algo tão avançado como a diferença de sabores entre as diversas origens
do chocolate.
Todavia, apesar de não entender completamente do assunto, ela tinha que
responder por causa do que ela tinha dito antes.
117
Um pouco confusa, os olhos de Kotori se afundaram enquanto se
reviraram.
— Er... bem, é que...
Então, naquele momento, parecendo ter notado que Kotori estava em
apuros, uma mão pousou sobre o ombro de Kotori... era Reine.
— Reine...?
— ......Hmm.
Depois de dar um aceno com a cabeça que parecia estar dizendo "Deixe
isso comigo", ela se virou para olhar a todos.
— ......Entre os grãos de cacau, o aroma mais saboroso vem da variedade
Criollo, o que tem a resistencia mais forte é o Forastero, e tem também a variedade
Trinitario, que possui um pouco de cada vantagem...
— ......M-Muu.....?
Ouvindo a explicação de Reine, Tohka fez uma expressão confusa.
Não, não somente Tohka, as outras três também estavam com expressões
atordoadas.
No entanto, parece que Reine tinha previsto tais reações delas. Ela esticou
se dedo e o apontou para cima enquanto continuava.
— ......Em vez de tentarem distinguir os grãos de cacau, será mais fácil
aprenderem sobre as proporções de cacau e leite. Não seria errado pensar que o
chocolate de cor escura é o amargo e o claro o mais doce.
— O-Oh, entendi.
Enquanto Tohka exclamava com seu punho batendo na palma de sua mão,
ela se virou mais uma vez para a estante de exibição. Yoshino, Natsumi e Mukuro
fizeram o mesmo e também começaram a decidir a cor do chocolate.
— Me desculpe sobre isso, você foi de grande ajuda.
— ...... Não tem problema.
Quando Kotori disse isso, Reine mais uma vez voltou sua atenção para ela.
— ......Mais do que isso, Kotori, que tipo de chocolate você quer preparar?
118
— Bem...... honestamente eu ainda não sei. Apenas derreter o chocolate em
uma forma não é algo complicado, mas acho que não posso lidar com métodos
mais delicados.
— ......Hmm, eu não acho que é necessário pensar em questões tão
complexas. Depois de solidificar, decorar com chocolate branco deve ser o
suficiente para mostrar alguma individualidade. Mesmo sendo algo cliché, o que
importa é o sentimento que carregam.
— Un...... será que esse é o caso?
— Ah, mas escuta, quando damos chocolates, usar etapas simples no
processo de cozimento deixa o homem inconfortável?
— ......!
Depois de escutar isso, os olhos de Kotori se arregalaram de surpresa e
uma gargalhada saiu de sua boca.
— Isso mesmo, certamente parece que meu pensamento é complicado
demais.
De fato, se fosse o Shidou, não importa que tipo de chocolate seja, ele
ficaria feliz de aceitá-lo.
— Obrigada Reine.
— ......Oh.
Enquanto Kotori agradecia a Reine, Tohka e as outras estavam pegando o
que elas precisavam nas prateleiras. Tohka tinha escolhido chocolate ao leite com
uma boa quantidade de doçura e o colocou no seu carrinho de compras.
Naquele momento, seus olhos se voltaram para a área ao lado.
Naquele lugar haviam muitos materiais para decorar doces, tais como
canudos de chocolate e docinhos confeccionados em formato de coração.
Quem estavam do outro lado eram as irmãs Yamai. Segurando miçangas
prateadas e folhas douradas comestíveis em suas mãos, seus olhos brilhavam
com um "Oooh" de admiração.
— Hã? Que enganação, como se come isso? Isso é um embrulho de papel?
— Confirmação. Está escrito que é comestível na embalagem.
119
— Verdade......? K-kuku... se existe tal coisa, isso pode fazer minha cruz
fosforescente aparecer nesse mundo......
Um sorriso maligno surgindo no rosto de Yuzuru enquanto ela segurava
as folhas douradas em suas mãos.
Enquanto Kotori sorria amargamente com essa visão, ela ouviu as vozes
de Miku e Nia a chamando do outro lado.
— Kotori-san, Reine-san. Eu tenho um chocolate em mente, mas que tipos
de materiais preciso coletar?
— Ah, mesma coisa aqui. Eu sou uma negação quando se trata de
cozinhar.
— O que vocês querem fazer?
Ouvindo Kotori perguntar isso, Miku e Nia fizeram um gesto com as mãos
e continuaram a falar.
— Bem, acho que quero fazer algo pegajoso em temperatura ambiente, um
tipo de chocolate que não se solidifica...... ah, mas que também não esteja
perfeitamente em estado líquido. Em especial, eu quero uma viscosidade que
possa ser aplicada em meu corpo.
— E eu quero do tipo que faça o vigor juvenil do Garoto aumentar 100
vezes ao comer. Mas o que devo colocar nele? Quem sabe uma tartaruga de casco
mole?
— Façam chocolates comuns!
Kotori deu um grande suspiro depois de dar uma bronca nas duas.
Para começar, Miku e Nia deviam ser as mais velhas entre os Espíritos.
Porém, Kotori sentia como se tivesse lidando com duas crianças crescidas.
Naquele momento.
— ......Hmm?
Percebendo algo ali, Kotori de repente olhou para os arredores.
Seja perto dos chocolates ou das prateleiras de decorações, tinha um
Espírito cuja localização ela não conseguiu encontrar.
— ......Ei, para onde está indo, Origami?
120
Depois de procurar primeiro na sessão de embalagens e laços, ela pensou
em procurar por volta da entrada da loja.
Então, ela viu Origami voltando da loja de produtos para o lar que ficava
do lado oposto ao da confeitaria onde Kotori e as outras estavam.
— ......Hmm?
Kotori franziu as sobrancelhas quando ela viu Origami voltar à confeitaria
com uma sacola de compras em suas mãos.
— Bem, onde você esteve? Você deveria saber que viemos aqui para
fazermos os chocolates.
— É claro que sei. Eu fui procurar alguns itens necessários.
Falando com total autoconfiança, Origami mostrou a sacola para Kotori.
Quando olhou dentro dela, ela viu que lá havia vários rolos cilíndricos
usados para embalar alguma coisa.
— ......O que é isso?
— Silicone.
— ......E para o que você vai usar isso?
— Moldagem.
— .............O que você vai moldar?
— Eu mesma.
Origami respondeu a ela sem qualquer pingo de hesitação.
Com essa resposta breve, Kotori finalmente entendeu o que ela estava
pensando. ...O ponto de Origami era que ela queria criar um chocolate em forma
de Origami do tamanho da original.
Kotori soltou um suspiro ainda maior como se estivesse exausta.
— ......Não, por favor, pare. Não importa quão tolerante ele seja, até mesmo
o Shidou recusaria uma coisa dessas.
— Mas essa é a única forma de combater a Tokisaki Kurumi.
Origami proferiu com uma expressão extremamente séria. Olhando para
aquele rosto, parecia que ela tinha pensado naquilo de todo coração. Obviamente
121
ela era bem inteligente, mas o que levou ela a ter essa ideia? Kotori não conseguia
entender.
Mais uma vez, Reine fez uma expressão como se estivesse dizendo "Deixe-
isso comigo" antes de dar um passo à frente.
— ...... De fato, você pensou em algo incrível Origami. Porém, há um
problema.
— Problema?
— .....A quantidade. O volume do corpo humano é imenso. Naturalmente,
o gentil Shin nunca iria desperdiçar um presente desses. Como resultado, ele
obviamente iria consumir carboidrato em excesso dentro do prazo de validade
do chocolate.
— ............!
Os olhos de Origami ficaram arregalados depois de ouvir as palavras de
Reine.
— Eu não tinha chegado a essa conclusão. Que vergonha.
— ......Isso porque você só está pensando no Shin. Mas agora, devemos
fazer isso de uma forma que levemos a saúde do Shin em consideração.
Ouvindo isso, Origami gentilmente concordou com a cabeça.
— Eu vou fazer isso. Diminuir o tamanho sem perder a qualidade é um
trabalho difícil, precisaremos de uma impressora 3D o mais rápido o possível.
— ............
Os olhos de Origami estavam cheios de determinação enquanto ela
apertava seu punho. Olhando isso, Reine só pôde permanecer calada, coçando o
rosto.
Kotori suspirou enquanto colocava as mãos nos ombros de Reine.
— Mesmo que seja um feriado esperado a muito tempo, nós realmente
estamos te dando trabalho. Reine...... seu salário será aumentado então por favor
me perdoe.
— ......Não, eu não me importo. Eu planejava ir as compras também, já que
tem alguns materiais aqui que preciso comprar.
122
Reine disse isso cheia de seu tom sonolento de sempre.
Com essa resposta inesperada, os olhos de Kotori se tornaram esferas
circulares completas.
— Reine, você também vai fazer chocolate? Pra quem você vai dá-lo?
— ......Hmm? Bem, para todos que têm cuidado de mim no meu dia-a-dia,
para a equipe da <Fraxinus> e os colegas de trabalho na escola. Eu gostaria de
preparar para o Shin, mas ele já vai estar com as mãos cheias do que ele irá receber
dos Espíritos, não é?
Reine falou com uma mão pousada no queixo, como se tivesse em um
profundo pensamento.
Kotori soltou um pequeno som de "hah" enquanto encolhia os ombros.
— Por que essa lista de caras? E eu pensando que a Reine tinha encontrado
alguém especial para dar o chocolate.
— ......me desculpe por não corresponder suas expectativas. Mas dessa
vez, não tem nada a ver com isso.
Reine gentilmente exalou o ar enquanto dizia isso.
Kotori olhou para cima para mais uma vez olhar para o rosto dela.
Ela tinha braços e pernas esbeltos com um busto volumoso sem igual.
Apesar dos círculos negros que envolviam seus olhos parecem nada saudáveis,
eles eram compensados por seus amáveis atributos faciais.
Engenhosa e inteligente, ela era capaz de lidar com qualquer coisa
perfeitamente. Mesmo sendo mais velha que Kotori, ela era uma mulher madura
que tinha a capacidade de construir uma amizade confortável com ela sem
parecer modesta ou autoritária.
Se alguém fosse pedir para Kotori listar mulheres que ela gostaria de ser
igual, então Reine seria sem dúvidas uma das selecionadas. O mundo dos
homens com certeza não ignoraria uma mulher dessas, mas ela nunca tinha
ouvido Reine falar algo sobre romance antes.
— Recentemente......
— ......Hmm?
123
Quando Kotori repetiu as palavras de Reine, Reine se virou para Kotori
enquanto lentamente inclina a cabeça.
— Isso me lembra que que nunca ouvi Reine falar algo sobre esse assunto
antes. Você já teve algum no passado, algo como um amado?
— .....Bem.
Enquanto os olhos de Kotori faiscavam de curiosidade, Reine coçou a
cabeça como se estivesse um pouco desconsertada.
Essa era de fato uma reação rara. Kotori não pôde deixar de sentir prazer
com essa situação e os cantos de sua boca formaram um sorriso enquanto
vagarosamente andava para o lado de Reine.
Percebendo agora, Kotori viu que o raro assunto sobre amor fez com que
os Espíritos se reunissem ao redor delas, escutando-as atentamente. Mesmo
sendo Espíritos, todas elas eram adolescentes que mostravam um interesse
natural nesse tipo de história...... Bem, havia aquelas como Tohka que só vieram
porque as outras tinham se reunido ali. O modo de pensar desse tipo de pessoa
não era algo impossível.
— Diga, não vai doer. Vamos, vamos, anda logo e conte os fatos.
Kotori disse em tom animador como se estivesse representando todas que
estavam ali. Em resposta, Reine deu um suspiro audível como se tivesse
mostrando que desistiu.
— ......Ah, bem, isso mesmo. Houve...... uma pessoa.
De alguma forma, ela parecia um pouco melancólica enquanto olhava para
cima e falava isso. Os Espíritos, profundamente intrigados por essa questão,
disseram todas "Oh......" ao mesmo tempo.
— Ah, entendi. Se for a Reine então deve ser mais do que bem-vindo, né?
— Certo, você tem um bom homem? Então diga, não tem nenhum
fofoqueiro aqui, não precisa ficar com vergonha.
— ......Isso, como posso dizer, eu não acho que seja o que está pensando,
ser favorecida pelo sexo oposto.
Reine disse ambiguamente como se quisesse se encobrir.
124
Kotori deu uma exclamação de "tudo bem" para se sobressair sobre o
tumulto antes de continuar.
— Fala mais sobre ele, que tipo de pessoa era ele? Ter alguém como a
Reine, com certeza ele deve ser uma pessoa muito boa, certo?
— ......Isso mesmo. Ele era...... uma pessoa gentil. Uma pessoa muito gentil.
Refletindo enquanto se repetia, Reine gentilmente fechou os olhos.
— ......Eu ouso dizer que eu nunca serei capaz de amar alguém além dele.
Ele sempre será meu primeiro e único amor.
— ............
Palavras cheias de sofrimento interromperam as perguntas de Kotori por
um momento.
Mas Kaguya, que não percebeu o clima, inclinou a cabeça de curiosidade.
— ...... Err, então por que se separaram? Se você ainda sente isso por ele......
— ......Ei!
Kotori soltou uma breve interjeição para fazê-la parar de falar. Tendo
finalmente entendido o que estava acontecendo, Kaguya desviou os olhos como
se quisesse se desculpar de ter falado tanto.
...... Da forma que Reine estava falando, parece que foi uma história que
ficou no passado. Porém, mesmo agora, parecia que Reine ainda pensava nele.
Dizer que saber a origem dessa história seria chato seria uma mentira.
Porém, ficar bisbilhotando esse assunto dessa forma seria desrespeitoso. Kotori
respirou profundamente antes de soltar um simples pensamento que veio de seu
peito.
— Que amável.
Ao ouvir essas palavras, os olhos de Reine se abriram de surpresa.
— ...... então é isso mesmo?
— Sim, essa pessoa deve estar feliz que você esteja pensando nela.
Enquanto Kotori dizia isso, os outros Espíritos não hesitaram em acenar
todas juntas para mostrar consentimento.
125
— Sim...... eu acho isso lindo.
— Aprovação. É incrível que a Reine tenha um passado tão adorável.
— Ei, a realidade é bem mais estranha que os mangás. A esse respeito, uma
história real é incomparável com uma história fictícia. A realidade vai te atacar
sem qualquer presságio ou desenvolvimento.
— Ufufu...... mas que história adorável, é um pouco invejável.
...... Naquele momento.
Enquanto todos estavam falando alto, Kotori ouviu algo de algum lugar
que fez suas sobrancelhas tremerem.
Levou cerca de três segundos para Kotori se recordar daquela voz, seu
corpo instantaneamente ficou tenso enquanto ela se virava.
— Kurumi......?
Isso mesmo, por mais que nãos e soubesse por quanto tempo ela estava lá,
o Pior Espírito, Tokisaki Kurumi, estava de pé ali.
— O quê......?
— ......
Por ter ouvido a voz de Kotori, ou talvez por ter percebido sua presença
antes de Kotori, os outros Espíritos ficam com expressões de alerta total.
Porém, Kurumi não pareceu ter ficado nem um pouco em pânico ao ver a
reação dos Espíritos. Ela somente sorriu alegremente.
— Ara, ara, o que está acontecendo pessoal?
— ......Nada, eu só fiquei surpresa de você ter iniciado a conversa.
As narinas de Kotori fizeram um som de "hun" enquanto ela realinhava
sua postura e respondia a ela com um tom destemido.
Olhando cuidadosamente, Kurumi não estava vestindo seu Astral Dress.
Em vez disso, ela estava vestindo um lindo casaco monocromático.
Até onde se podia saber, aquela não era uma situação de batalha...... mas
só enquanto se olhava somente a superfície.
— Então, Kurumi. O que está fazendo? Você veio atrás de algo?
126
Enquanto Kotori cruzava os braços e questionava, Kurumi bateu as
palmas das mãos como se tivesse se recordando de algo.
— Ah sim, eu vim fazer compras.
— Compras?
— Isso...... Eu estava pensando sobre os arranjos de materiais para
preparar o chocolate que darei ao Shidou-san.
— ......!
O comentário de Kurumi causou um alvoroço entre os Espíritos.
Mas isso com certeza estava dentro do esperado. O dia 14 foi escolhido
como o dia da batalha decisiva e o feriado especial do Dia de São Valentim
enriquecia esse embate.
Naquele momento, Kurumi percebeu algo enquanto piscava os olhos.
— É possível que todas vocês estejam comprando materiais para fazer
chocolate também?
— ......Bem, parece que você percebeu.
— Ufufu, isso mesmo. Os motivos para vir a essa confeitaria hoje
certamente eram limitados. Além disso, é possível adivinhar isso com uma
rápida olhada em suas cestas de compras...
Então, Kurumi olhou para todas, uma de cada vez, antes de abruptamente
para nas mãos de Origami, fazendo uma estranha expressão facial... bem, sem
dúvidas ela o faria considerando o que a garota estava segurando.
— ...... Você vai fazer chocolate caseiro?
— ...... Esse é o plano, por hora.
Por um momento, Kurumi parecia estar perdida em pensamentos, com
um ponto de interrogação em cima de sua cabeça. Porém, ela logo recobrou sua
compostura normal e ergueu a cabeça para clarear sua garganta.
— Então agora, eu tenho algo que queria propor que chamará a atenção
de vocês.
— Proposta.....?
127
Ouvindo as palavras de Kurumi, Kotori mostrou uma expressão
incrédula.
...Cerca de uma hora já havia se passado.
— ...... Mas que, err, situação é essa?
Kotori, que tinha chegado em uma sala na mansão dos Espíritos para fazer
chocolate depois de deixar a loja, proferiu em voz baixa.
Mas aquilo era natural, de alguma forma...
— Ara, ara. Então esse é o lugar onde estão vivendo. Ufufu, mas que lugar
maravilhoso.
Atrás de Kotori, o Pior Espírito, Tokisaki Kurumi, estava murmurando
prazerosamente enquanto olhava para a espaçosa cozinha.
Isso mesmo. Aquela era a proposta de Kurumi...
"— ... Eu também quero começar a fazer o chocolate o mais cedo o possível
depois de adquirir os ingredientes. Se todas não se importarem, podemos fazê-
los juntas?"
Além de inesperado, o pedido daquela pessoa era irracional.
Kurumi de fato era um Espírito, o objetivo da Ratatoskr era tanto capturá-
los quanto oferecer asilo a eles. Em todo caso, aquele tipo de interação para
sobrepujar o sentimento de precaução deles.
Mas no caso dela, a situação claramente era diferente do que a dos outros
Espíritos.
Afinal, ela já conhecia a <Ratatoskr> e os objetivos de Shidou e o desafiou
para um embate com regras predefinidas. Não havia nada errado em suspeitar
que ela tinha motivos secretos para ter proposto aquilo.
— ............
Sem demora, naquele momento Kotori se virou para olhar Kurumi.
Certamente, Kurumi era um Espírito perigoso. Com uma grande reserva
de reiryoku, não havia nenhuma forma para vence-la em questão de números. Um
momento de descuido era inadmissível contra aquela oponente.
128
Mas por esse motivo, aquilo poderia ser descrito como uma oportunidade
de ouro para reunir informação sobre ela.
Para o próximo dia 14, antes da batalha decisiva entre Kurumi e Shidou,
Kotori queria saber o máximo o possível sobre Kurumi. Por esse motivo, ela não
teve escolha a não ser aceitar a proposta.
— ......Kotori.
Enquanto Kotori estava presa em pensamentos, Reine chamou seu nome
em voz baixa.
— ......Por enquanto, eu vou retornar à <Fraxinus>. Essa é uma rara
oportunidade de monitorar os valores emocionais de Kurumi e colher resultados
favoráveis o máximo possível.
— Isso, por favor. Eu vou fazer algo para lidar com a situação daqui.
— ......Un, estou dependendo de você; que a sorte esteja com você.
Depois de Reine terminar de falar, ela vagarosamente ergueu sua cabeça e
saiu da sala. Quando ela viu as costas de Reine deixarem o local, Kurumi inclinou
sua cabeça como se tivesse intrigada com a retirada misteriosa.
— Ara, a Murasame-sensei vai para casa?
— Sim, parece que ela tem um trabalho a fazer.
Enquanto Kotori tentava intencionalmente engana-la, Kurumi soltou um
"hmm......", franzindo as sobrancelhas enquanto via a figura de Reine desaparecer
naquela direção.
Por um momento, Kotori pensou que ela estava ciente de que era uma
mentira... mas era um pouco diferente disso. Mesmo que não estivesse claro,
dentro daquele olhar havia um reflexo de suspeita.
— O que foi? Tem alguma coisa que queria perguntar à Reine?
— Ah, não, acho que não.
Quando questionada por Kotori, Kurumi balançou sua cabeça
despreocupadamente.
— ...... Aliás, vamos começar logo.
129
E então, como se quisesse trazer o assunto de volta para seu controle, ela
apontou para as sacolas de compras marcadas com o logotipo da confeitaria que
estavam em cima da mesa da cozinha.
Naquele momento, Kotori e as outras não estavam em um dos cômodos
que os Espíritos residem, mas em vez disso eles estavam em uma cozinha
preparada em um espaço no primeiro andar da mansão.
Por ser uma mansão desenvolvida para acomodar os Espíritos, havia
várias instalações preparadas ao redor da sala de estar. Havia uma academia
fitness para manter a saúde e uma sala de cinema para entretenimento. A cozinha
era uma dessas instalações.
É claro, havia cozinhas em outros cômodos, mas para eventos como o Dia
de São Valentim e o Natal, aquele espaço grande foi construído em antecipação
para que vários Espíritos pudessem trabalhar juntos.
Naquela cozinha onde os Espíritos podiam trabalhar lado a lado juntos,
havia vários utensílios de cozinha, seja de origem ocidental ou oriental, que
estavam à disposição. Havia até mesmo um grande forno a gás que normalmente
era usado em restaurantes profissionais instalado e pronto para usar.
Quando a mansão foi terminada no ano anterior, uma simples olhada foi
o suficiente para fazer Shidou ficar completamente paralisado sem reação, como
se fosse um jovem garoto olhando um brinquedo novo pela vitrine.
— Ufufu, já faz um bom tempo desde que eu fiz alguns doces...... ara?
Enquanto Kurumi animadamente espalhava os ingredientes que ela
comprou pela cozinha, seus olhos ficaram arregalados quando ela percebeu algo.
O motivo rapidamente ficou evidente. Os Espíritos estavam reunidos no
canto do local com olhares vigilantes em seus rostos.
— Mu...... Mas o que diabos você está pensando, Kurumi?
— S-Se vocês abrirem os seus, eu posso ajudar......
— Colaborando na guerra. Yuzuru não permanecerá em silêncio quanto a
isso.
Várias pessoas falaram enquanto voltavam seus olhares para Kurumi.
Porém, sua confiança exterior escondia um temor tímido.
130
Mas aquilo era somente o natural. O oponente era um Espírito que
declarou suas intenções de comer Shidou. Era impossível para elas não ficarem
alertas.
Porém, aquilo estava dentro das expectativas de Kurumi. Ela relaxou sua
boca com um som de "fufu" antes de continuar a falar em voz alta.
— Ara, vocês não vão começar a fazer também? Ufufu, então o coração do
Shidou-san vai pertencer exclusivamente a mim.
— O qu......?!
Depois de ouvir as palavras de Kurumi, todos Espíritos franziram as
sobrancelhas.
Uma provocação tão simples, mas mesmo para aquelas que estavam
cientes (embora parece que havia algumas que realmente estavam desatentas),
elas não poderiam ignorar essas palavras. Os Espíritos exalaram nervosamente
antes de vagarosamente se moverem para o local de preparo de refeições.
— Como se eu fosse deixar......! Eu vou proteger o Shidou! Ungunu!
— E-Eu também vou...... fazer meu melhor!
— O Nushi-sama da Muku não deve ser permitido a ser tomado
arbitrariamente por ti.
Depois de dizerem isso, os Espíritos começaram a organizar os
ingredientes que tinham comprado.
Olhando para isso, Kurumi divertidamente riu do fundo do seu coração.
— Ufufu, eu também não vou perder.
Kurumi arregaçou as mangas, colocou um avental que estava pendurado
no local e lavou as mãos bem cuidadosamente.
Todas as outras também trocaram seu estilo de aparência para se preparar
para cozinhar antes de voltarem à cozinha mais uma vez. Estendendo suas mãos
lavadas para secar acima do nível do peito em frente à mesa, a postura delas se
parecia com a de um cirurgião se preparando para uma cirurgia.
— ............
131
— ............
— ............Ummmuu.
Porém, o cirurgião que estava diante da cozinha, não, os Espíritos não
sabiam nem sequer como começar a operação.
Depois de permanecer em silêncio por alguns segundos, Tohka olhou
confusa para Kotori.
— Kotori, o que devemos fazer agora? Umumu.
— Eh. Ah, sim.
Os olhos de Kotori se arredondaram por alguns segundos antes dela
fracamente acenar com a cabeça... embora elas já tenham falado sobre os
ingredientes necessários, os métodos específicos de produção não haviam sido
explicados em detalhes ainda.
— Bem, para dizer brevemente, você tem que derreter o pedaço de
chocolate e então resfria-lo no refrigerador e decora-lo como quiser.
— Oh, entendi! Ummuu.
— Diga, Tohka, não só no começo, mas até agora pouco, você estava
mastigando alguma coisa?
Naquela hora, Natsumi falou isso para Tohka com olhos semicerrados
depois de franzir o cenho.
Falando nisso, agora mesmo, por algum motivo, as palavras de Tohka
soaram estranhamente pouco claras. Quando Kotori olhou para a direção de
Tohka, o motivo para isso logo ficou aparente.
Tohka já tinha aberto a sacola do chocolate que tinha comprado e suas
mãos já estavam tirando o conteúdo para come-lo vividamente.
— Ei...... isso não é bom, Tohka. Se você comer muito, não vai sobrar nada
para dar ao Shidou.
— Muu? Ah......! Antes que eu percebesse......!?
Quando Kotori terminou, Tohka ficou com uma expressão atordoada
depois de perceber o movimento de sua mão.
— A-ah, Kurumi...... mas que ataque astuto...... ummmuu.
132
— ......Não, obviamente foi algo diferente disso. De qualquer forma, você
ainda está comendo.
— Ufufu, parece estar funcionando. Eu o modifiquei para que você sinta
ainda mais vontade de come-lo.
— Muu!? Eu não consigo parar.....! Ummmuu.
— Kurumi, você não deveria importuna-la imediatamente!
Depois de Kotori dizer isso, ela tomou a sacola do chocolate das mãos de
Tohka, que estava exausta demais para até mesmo respirar.
— Ha...... que bom que nós compramos um pouco mais por precaução.
Pessoal, vamos começar então.
— Umu!
Enquanto Kotori dizia isso abaixando sua voz, Tohka vigorosamente
acenou com a cabeça.
Porém, ela inclinou sua cabeça no momento seguinte.
— ......Mu, Kotori. Como vamos derrete-lo?
— Hã? Do que está falando; você não precisa perguntar isso. Chocolate......
Depois de falar isso, Kotori de repente interrompeu suas palavras.
Não, não somente suas palavras. Por alguns segundos, todos os seus
movimentos foram cessados deixando seu corpo completamente estacionário.
Havia somente o movimento de suor escorrendo de sua testa vagarosamente.
— ......Kotori-san?
— O que foi?
— E-E-Esperem um pouco.
Ao ser questionada pelos Espíritos que estavam com expressões confusas
em seus rostos, Kotori finalmente foi capaz de se recuperar do enrijecimento.
Enquanto limpava o suor de sua testa, ela tentou recobrar o passado quando ela
tinha feito chocolate com sua mãe.
Ela não pensava que os efeitos da retirada de Reine, que voltou para a
<Fraxinus>, se mostrariam dessa forma. Kotori pressionou sua mão contra a testa
enquanto ela rangia amargamente os dentes.
133
Então, depois de ver Kotori em um estado tão deplorável, Kurumi
suavemente riu.
— Ara, Kotori-san. Você não sabe como tempera-lo? Eu posso ensina-la se
não se importar.
— ......! Q-Que barulhenta. Eu sei como fazer uma coisinha dessas!
Kotori respirava indignadamente enquanto ela orgulhosamente se
gabava.
Mas depois de um momento, uma questão preencheu sua cabeça.
......Temperar4? Como assim temperar? Ela quis dizer derreter o chocolate?
temperar...... tenpa?
— ............
Kotori disfarçadamente olhou para a direção de Natsumi, e se
surpreendeu ao ver que seus ombros estavam tremendo de surpresa.
— ...... O-O que está fazendo?
— Não, não é nada. ......De qualquer forma, primeiro temos que derreter o
chocolate. O ponto é que você só precisa dissolvê-lo, então não precisam pensar
muito nisso.
Enquanto Kotori se alongava em seu blefe, ela deu uma olhada numa
panela que estava na estante e a colocou em cima do fogão. E então, ela jogou um
grande pedaço de chocolate dentro da panela antes de acender o fogo. A sopro
das chamas da boca do fogão contra a panela era comparável a esses usados nas
cozinhas de restaurantes chineses profissionais.
Mesmo que vagarosamente, o chocolate foi perdendo seu formato original
e derretendo. Tohka e as outras soltaram um som de "Oh..." maravilhadas com a
visão.
— Incrível, Kotori, está derretendo perfeitamente.
— Mun, isso é esplêndido.
— Oh, nada mal, Imouto-chan, como esperado da irmãzinha do Garoto.
4 Temperar aqui é o processo de derreter a barra de chocolate lentamente, aqui também a um trocadilho com Tenpa que significa algo como cabelo encaracolado artificialmente.
134
Enquanto todas estavam a elogiando, Kotori estava um pouco inquieta,
mas ainda assim estufou o peito de orgulho.
— S-Sim, para mim isso é tão fácil quanto......
— Ei, tem alguma coisa queimando?
— Hã?
Depois de ouvir o que Natsumi disse, Kotori correu para verificar.
— Hiii......
No final das contas, o chocolate no fundo da panela tinha fervido e
queimou em questão de segundos. Uma fumaça preta emergiu da panela junto
com um cheiro de queimado, que preencheu os arredores.
— I-Isso é um desastre! Água! Joguem agua no chocolate!
— O...... Ohhh.
— M-Muito bem, por favor, tome isso......!
Kotori rapidamente jogou o conteúdo de um copo de água que tinha sido
entregue a ela na panela. Xuuuuuuuu...! Quando esse som soou, ainda mais
fumaça saiu da panela antes de finalmente parar de ferver.
— Ha...... ha......
— E-Eu fui muito impaciente......
— Ei, ei, Imouto-chan, fazer chocolate era para ser desse jeito?
— Ugu......
Depois de ser questionada por Nia, Kotori sentiu gotas de suor surgirem
em sua testa.
Dentro da panela, um liquido preto se reuniu embaixo da quantidade
restante do chocolate que ainda não tinha derretido. No final das contas, seria
impossível chamar aquilo de gostoso mesmo depois dele se solidificar.
— Ara, ara.
Naquele momento, a linha de visão de Kotori se cruzou com a de Kurumi.
Enquanto aceitava o olhar de Kotori, Kurumi deu um sorriso gentil como
se estivesse dizendo "Eu posso ajudar na hora que quiser".
135
— Ku......
O rosto de Kotori se contorceu em desapontamento. Apesar disso, era fato
que ela queria pedir ajuda, mas seu orgulho não permitia que ela confiasse em
Kurumi.
— Ei, eu, Kaguya, Yuzuru, vocês por acaso já tiveram um duelo de
chocolate?
Abaixando sua voz para Kurumi não ouvir, Kotori decidiu perguntar para
as irmãs Yamai. As duas colocaram suas mãos no queixo.
— Gênese e eu são incompatíveis. Destruição e aniquilação são minha
origem.
— Tradução. Infelizmente nunca houve um duelo de chocolate, embora
tenha tido um confronto de comer comida de fast food.
— Então é isso......
Enquanto os ombros de Kotori desabavam de desapontamento, Kaguya
interveio com um "mas".
— Não é como se nós não tivéssemos nenhum conhecimento em derreter
esse amontoado negro.
— Concordância. Eu me lembro de terem usado água fervente na TV.
— Água fervente......
Enquanto Kotori ouvia as duas, seus olhos de repente se arregalaram.
Naquela hora, ela se lembrou de que que sua mãe colocou água fervente
na panela. De fato, com isso eles não iriam precisar se preocupar com o chocolate
se queimar.
— É isso!
Kotori então preparou outra panela, colocando água dentro dela antes de
acender o fogo. Logo após, a água começou a ferver e vapor começou a sair da
panela.
— Bom.
136
Kotori pegou o chocolate e o colocou por inteiro na água fervente. Naquela
hora, mesmo sem saber o porquê, Natsumi soltou um "ah..." como se tivesse
percebido algo errado.
Colocar o chocolate na água tão rápido fez as bordas dele serem
dissolvidas na água quente.
— Derreteu, derreteu, não, agora só precisamos solidifica-lo.
— Hmm...... honorável irmã, esse chocolate possui uma aparência que não
faz jus ao que a Muku se recorda.
Enquanto cuidadosamente olhava para os movimentos da mão de Kotori,
Mukuro estava com um olhar incrédulo. Mas Kotori somente riu em resposta.
— Bem, você nunca viu nessa forma porque é caseiro. Mas ele vai ficar
endurecido em breve depois que o colocarmos em uma forma. Tente provar se
estiver preocupada.
— Mun, muito bem.
— Kotori! Eu também! Eu também quero provar!
Os olhos de Tohka estavam brilhando enquanto ela erguia sua mão para
pedir. Kotori disse "está bem", antes de colocar o chocolate derretido em um prato
e entregar para as duas.
Ao mesmo tempo, as duas lamberam o chocolate.
Porém.....
— .....M-Mun......?
— Kotori......? De alguma forma parece que o sabor está fraco.
— Hã?
Kotori enrugou as sobrancelhas e experimentou ela mesma o chocolate.
Depois disso, ela fez uma expressão similar a das duas.
— Ei, por que isso...... sequer pode ser chamado de gostoso, no mínimo......
— ......Não, bem, o gosto ficou estranho por que ele se misturou com a água
quente......
137
Com olhos semicerrados, Natsumi respondeu. Os ombros de Kotori
tremeram como se ela tivesse tentando encontrar uma explicação.
— E-Então, como devemos derreter o chocolate afinal......?
Enquanto Kotori levava as mãos à cabeça em agonia, dessa vez foi Miku
que ficou com a expressão iluminada como se tivesse pensado em uma coisa.
— Ah, Kotori-san, eu pensei em um bom método!
— ............
Kotori lançou um olhar de suspeita para Miku. É claro, se fosse um bom
método, então ela iria querer tentar de qualquer forma. Mas mesmo assim, a
expressão de ânimo de Miku parecia ser excessiva.
— ......E qual é? Vai ser algo como "escutem, vocês ficariam bravas se eu
disser que podemos derreter o chocolate lambendo ele"?
— Kya! Como você descobriu? Como eu pensei, nós podemos nos
comunicar com as profundezas de nossos corações!
— Espera...... não, me solta!
Enquanto Kotori empurrava o corpo de Miku para trás, ela mais uma vez
pressionava sua cabeça.
Seu orgulho nunca permitiria aceitar o auxílio de Kurumi. Procurando por
alguém que tinha habilidades na cozinha......
— ......! Sim, Origami!
Kotori ergueu sua cabeça e voltou seus olhos para a direção de Origami.
Talentosa tanto em artes militares quanto em artes domesticas, Origami
era perfeitamente competente em tudo. Se for ela, fazer chocolate deve ser uma
de suas especialidades.
Mas......
— O quê?
— ............
Através dos despercebidos computador e impressora 3D, Origami
imprimia algo parecido com uma miniatura nua de si mesma. Kotori ficou pasma
ao ver aquilo.
138
De alguma forma, enquanto carregava a imagem no computador de si
mesma, o objeto naquele momento se parecia com um Vienna Gashapon
Gashapon5. A imagem era incapaz de se conectar com o centro da cabeça.
— ............Boa sorte.
— Vou fazer meu melhor.
Quando Kotori disse isso com suor escorrendo por seu rosto, Origami
acenou com a cabeça com uma expressão séria.
Pela terceira vez, ela estava completamente perdida.
Talvez, por não conseguir aguentar ver Kotori assim, Natsumi falou com
um tom de voz bem educado.
— ......Kotori.
— ......O que foi?
— ......Nada, eu não sei se essa é a questão e eu me responsabilizarei se for
uma falha. Talvez você não queira ouvir o que eu tenho a dizer em primeiro
lugar......
— Não, o que você quer dizer?
Depois de Kotori falar, ela franziu o cenho. Natsumi respondeu enquanto
desviava seu olhar.
— ...... Se houver uma forma mais simples de fazer isso, eu vou entender.
— ............Sensei!
Kotori rapidamente apertou as mãos de Natsumi.
— Oooh......!
— Natsumi-san que incrível......!
Então, cada um dos outros Espíritos lançou um olhar de respeito para
Natsumi. Surpresa com isso, os ombros de Natsumi tremeram enquanto ela
tentava permanecer calma sob um par de olhos vacilantes.
— N-Não, eu não quero que criem muitas expectativas......
— Sensei! O que devemos fazer!?
5 Gashapon é uma fabricante de máquinas de venda de bonecos aleatórios em capsulas.
139
— ......Bem, primeiro coloquem o chocolate cortado em uma bacia e então
adicionem ela à água quente. Ah, a temperatura deve permanecer constante......
Enquanto Natsumi informava as instruções de forma desajeitada, os
Espíritos ouviam atentamente enquanto começavam a produzir seus chocolates
caseiros.
Naquela hora......
— ......?
As sobrancelhas de Kotori inesperadamente se fecharam.
— ......Ufufu, fufu.
Olhando para o estado atual dos outros Espíritos, Kurumi soltou uma
gargalhada alta de contentamento.
Não era como se ela quisesse ridicularizar os fracotes que a tinham
desafiado. Era somente como se ela tivesse sorrindo enquanto animadamente
observava a expressão perplexa de uma irmã mais nova.
— ...... Sem chance.
Kotori levemente encolheu os ombros enquanto pegava uma bacia para
colocar o chocolate.
— Muito bem pessoal, vamos fazer um chocolate que não vai perder para
o da Kurumi!
— Ooh!
Como se respondessem a voz de Kotori, os Espíritos ergueram seus
punhos para o ar.
140
Capítulo 04 - O Pecado Recente
E então, o dia 14 de fevereiro amanheceu.
Esse era o dia dos namorados que era celebrado com o nome de dia de São
Valentim. E era o dia da batalha decisiva entre Shidou e Kurumi.
...............
Shidou se lavou no banheiro mais cuidadosamente do que o de costume
antes de sair. Enquanto alinhava seu reflexo no espelho, ele estapeou suas
próprias bochechas para levantar seu espírito de luta com um grito de kiai. Finas
gotas de água fizeram um som ligeiramente saboroso ao se chocarem com o
espelho.
— ...Muito bem.
Desnecessário dizer que ele não se esqueceu de secar as gotas de água que
tinham caído no espelho. Se as ignorasse, elas poderiam deixar uma mancha
branca depois de secarem que seria difícil de limpar.
O comportamento excessivo das pessoas comuns... ou as ações primitivas
de um dono de casa.
O oponente era uma rival difícil de derrotar: Tokisaki Kurumi. Enquanto
Shidou a encontrou pela primeira vez somente há poucos meses, ela foi o único
Espírito que ele não conseguiu selar. Ela não seria uma oponente fácil de
conquistar. Shidou provavelmente teria que lavar seu rosto de novo.
Mas mesmo assim, Shidou não pretendia morrer naquele dia.
Por esse motivo, ele não poderia deixar sequer a menor mácula passar. Se
ele deixasse a limpeza com Kotori, ela provavelmente riscaria o espelho por
forçadamente tentar esfregá-lo para tirar a mancha.
Shidou pensou que Kotori provavelmente espumaria de raiva se ouvisse
isso. Enquanto abria a porta para a sala de estar, ele de repente parou seus passos.
Kotori estava de pé no outro lado da porta esperando por Shidou.
— Oh?!
Embora os pensamentos de Shidou não pudessem ser descobertos só de
olhá-lo, ainda assim qualquer um ficaria surpreso ao ver Kotori aparecer tão de
repente.
141
Ao ver essa reação em Shidou, Kotori fez um beicinho de desaprovação.
— Ei, ei, o que foi isso?
— Nada, desculpa...... eu só fiquei um pouco surpreso.
Kotori olhou para o rosto de Shidou com uma expressão de dúvida por
alguns segundos, mas então disse "Bem, não importa" e encolheu os ombros.
Ela casualmente pegou algo que estava escondido atrás dela.
— Toma.
— Hã?
Shidou encarou com olhos arregalados, olhando intercaladamente para
Kotori e para o objeto em sua mão. Era uma pequena caixa decorada com um
embrulho bonito: laços negros e papel de embrulho vermelho, fazendo o se
parecer com o uniforme militar de Kotori.
— Oh...... será que isso é chocolate?
Ouvindo a pergunta de Shidou, o nariz de Kotori fez um barulho de
"hum", enquanto suas bochechas ficaram levemente coradas e ela desviava o
olhar.
— ...... somente dessa vez, apesar que não tem nada demais receber isso de
sua irmãzinha.
— O que está dizendo? Obrigado, Kotori.
Shidou sorriu enquanto pegava o chocolate, enquanto o rosto de Kotori se
tornava cada vez mais vermelho e ela se virava para trás.
— Certo, certo, vamos comparar então, olha.
— Hmm?
Enquanto Shidou inclinava a cabeça, Kotori gentilmente ergueu sua mão
enquanto gesticulava para a direção da sala de estar.
Como se estivessem sincronizados com o comando dela, puderam ser
vistos cinco Espíritos esperando na sala de estar, todos eles se reuniram ao redor
de Shidou enquanto seguravam pequenas caixas e sacolas em suas mãos. Da
direita para a esquerda, elas eram Yoshino, Natsumi, Mukuro, Miku e Nia,
respectivamente.
142
— Uau, todas vieram? Mas ainda é bem cedo.
— Sim... porque eu queria entregar isso ao Shidou-san.
— ...Bem, provavelmente não esteja bom, mas por enquanto...
— Mun, por obséquio, Nushi-sama, aceite. Isto não deves perder para o
daquela megera.
— Está tudo bem com eles, nós não colocamos nenhuma coisa estranha
neles.
— Sim, sim, foram todos feitos de forma natural.
— Por que sinto que a segunda parte dessa frase parece um pouco
assustadora!?
Recebendo um grito alto de Shidou, Nia e Miku começaram a gargalhar.
Em todo caso, com chocolates continuamente sendo empilhados em suas
mãos, Shidou dava um sorriso desconcertado enquanto agradecia a todas.
— Haha... obrigado, pessoal. É a primeira vez desde que nasci que recebo
tantos chocolates.
— Não... de nada.
— Ei... ei... por favor, abra!
— Oh, está tudo bem? Bem, então......
Em resposta aos pedidos de Miku, Shidou colocou as caixas e sacolas
recebidas na mesa e começou a abrir a embalagem delas um a um.
Em um piscar de olhos, havia chocolates de várias formas, em forma de
coração, forma de estrela e até mesmo trufas. Qualquer um poderia perceber só
com um olhar que aquilo não era um produto fabricado comprado em uma loja.
— Oh, todos eles são caseiros!?
Em resposta à pergunta de Shidou, os Espíritos certamente acenaram
orgulhosamente com a cabeça.
— Qual o problema? Kotori, por acaso você não perdeu chocolate
colocando-o diretamente na panela ou o colocando direto na água quente, né?
— E-e-e-e-e-esse tipo de coisa nunca aconteceu!
143
Kotori, que estava em um estado constantemente trêmulo, virou seus
olhos para ver a cena dos Espíritos rindo alegremente.
Parece que ela tinha feito algo parecido com isso. Mesmo que Kotori não
fosse tão habilidosa na cozinha, ela sempre esteve em uma posição de teimosia
enquanto ela fazia o trabalho duro.
Todavia, o trabalho feito no chocolate à sua frente era incrível para ter
vindo de uma novata. Não somente isso, enquanto estavam alinhados
ordenadamente, a decoração também mostrava ter características bem amáveis.
A propósito, o chocolate feito por Kotori tinha o formato de estrela bem
tradicional, os de Yoshino tinham o formato de Yoshinon, os de Natsumi o
formato de trufas, os da Mukuro tinham uma grande variedade de estrelas de
diversos tamanhos, os feitos por Miku tinham padrões parecidos com notas
musicais, e os de Nia estavam estilizados como chocolates ao leite semicirculares
com pedaços de morango saindo deles, fazendo com que eles tenham formas de
seios.
...Embora tenha alguns chocolates com formas constrangedoras no meio
deles, qualquer homem se sentiria honrado de receber tantos chocolates. Shidou
mais uma vez agradeceu a todas e experimentou cada um deles um a um.
— Uhm, está delicioso! Haha, eles podem superar até os feitos de um
profissional.
Depois de ouvir as palavras de Shidou, os Espíritos sorriram.
No meio do grupo, Kotori mostrou uma expressão aliviada enquanto
encolhia os ombros.
— Se você gostou, então mais do que qualquer coisa, dê o seu melhor hoje.
— Ah... é mesmo.
Shidou deu um aceno vigoroso com a cabeça e colocou mais um pedaço
de chocolate na boca. O aumento momentâneo de energia causado pelo açúcar
produziu um sentimento de que todos estavam lhe encorajando à suas costas,
preenchendo cada centímetro de seu corpo de motivação.
Vendo Shidou neste estado, Kotori só pôde dar de ombros com um sorriso
desconcertado.
144
— Parece que não temos com o que se preocupar. ...Ah, mas nem pense
em comer muito para seu próprio bem, certo?
— Hã?
Com as palavras de Kotori, Shidou suou frio.
— Não brinca, realmente vocês acrescentaram alguma coisa......
— Não é isso! Eu quero dizer que ainda há algumas pessoas na escola,
então é melhor não comer muito!
Kotori cutucou a testa de Shidou enquanto falava.
Depois de vinte minutos, Shidou se trocou e saiu de casa enquanto se
despedia de todas que estavam presentes. Então, depois de se virar, ele viu Tohka
em frente a porta.
— ...! Shidou! Bom dia!
Depois de notá-lo, Tohka, cheia de vitalidade, acenou com a mão
energicamente.
— Ah, bom dia, Tohka. Por quanto tempo esteve esperando?
— Não, não é verdade! Eu acabei de chegar!
Depois de dizer isso, Tohka fungou com seu nariz que estava escorrendo.
Olhando com cuidado, era perceptível que seu nariz estava levemente vermelho.
Sendo assim, ele não entendeu o que Tohka quis dizer com "acabei de chegar",
parece que ela esteve esperando no frio por um bom tempo.
Porém, parece que Tohka não se importava com isso. Por suas mãos, ela
entregou um pequeno saco de papel contendo uma caixa finamente embalada
diretamente para Shidou.
— Shidou! Feliz dia de São Valentim!
E depois de dizer isso, ela mostrou um sorriso radiante.
— Oh, ei.
Já tendo recebido chocolates de Kotori e das outras, ele já estava preparado
para tal presente. Porém, por ter recebido de uma forma tão animada, o rosto de
Shidou ficou levemente corado enquanto ele recebia o presente.
— Obrigado, Tohka.
145
— Umu, estou confiante com ele!
Tohka acenou com a cabeça enquanto direcionava seus olhos radiantes
para Shidou.
— Haha...
Embora tenha sido encorajado de uma forma um pouco presunçosa, ele
não podia fazer nada. Shidou abriu a caixa para verificar seu conteúdo.
Lá dentro, com uma gentil fragrância aromática, estavam várias trufas de
chocolate cobertas com um pó amarelo.
Aquilo era...
— Ah, isso aqui seria farinha de soja?
— Oh, isso mesmo!
Tohka ergueu suas mãos para bater palmas. De fato, eram trufas com
cobertura de farinha de soja. Realmente, aquele era um prato com a cara de
Tohka.
Shidou pegou um pedaço de chocolate e o colocou na boca. A doçura do
chocolate misturado com o aroma da soja. Mesmo que ele não soubesse quais
instruções ela recebeu para fazer aquilo, ainda assim era um feito notável.
— Un, delicioso! Bem feito, Tohka...
Antes de terminar, Shidou abruptamente parou suas palavras.
Tohka estava olhando para Shidou com uma expressão muito ansiosa.
— ...Você também quer comer um, Tohka?
— ...! N-Não, está tudo bem, esse é um presente meu para o Shidou!
— Bem, não teria problema algum dar um para a Tohka então, não é
mesmo?
Quando Shidou disse aquilo, Tohka abriu seus olhos os transformando em
dois grandes círculos.
— Mu! Está... está tudo bem mesmo?
— Está sim, toma.
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Shidou colocou um pedaço de chocolate gentilmente na boca de Tohka,
fazendo seus músculos arquearem enquanto ela revelava uma expressão
comovida.
— Ah... Umu, delicioso! Chamem o chef!
— Não, esse foi o que você fez.
Enquanto Shidou respondia com um sorriso torto, Tohka mostrou uma
expressão de surpresa enquanto dizia "Hah! É mesmo!"
De qualquer forma, não é como se eles pudessem comer todos ali. Para
poder saboreá-los mais tarde, Shidou os colocou de volta no saco.
— Bem, vamos. ...Falando nisso, a Kurumi não está aqui hoje.
— Mu? Oh, é mesmo.
Tohka olhou em volta inquieta enquanto falava. Enquanto isso, Shidou
estava pensando nisso enquanto levava a mão ao queixo.
Hoje era o dia da batalha decisiva. O evento principal seria deixado para
depois da escola.
Shidou disse "Okay!" enquanto cerrava os punhos para elevar sua energia,
e então se dirigiu para a rota da escola com Tohka.
— ...Hmm?
Depois disso, se passaram cerca de vinte minutos.
Alcançando a entrada da escola, Shidou ficou com um olhar estupefato.
Ele teve essa reação pois as irmãs Yamai estavam em pé dos lados direito
e esquerdo do portão de entrada, como se fossem Kongourikishi1 esperando ele.
— Kaguya e Yuzuru? O que estão fazendo em um lugar como esse...?
— Você chegou, Shidou! Kuku, meu crucifixo dourado se ergue agora!
— Apresentação. Eu estava te esperando, aceite isso.
Kaguya e Yuzuru rapidamente obstruíram as palavras de Shidou ao
entregar a ele uma caixa. Os estudantes que passavam por eles pareceram
imediatamente reconhecer o significado dessa ação na data de hoje. Deparados
1 Kongourikishi são dois deuses guardiões musculosos que ficam nas entradas de templos budistas.
147
com uma forma tão digna e generosa de dar chocolates, houveram aplausos
esporádicos vindo dos arredores.
— Oh, oh...... obrigado. Mas não precisavam me dar isso aqui.
— Kuku, o que você diz? Como vamos à mesma escola, nós seríamos tolas
de não aproveitar essa vantagem.
— Assentimento. Ao mostrar isso na frente de todos, há também um ponto
de dissuasão contra nossas inimigas.
— O propósito foi cumprido! Adeus!
— Comentário. Embora eu quisesse mostrar, é um pouco vergonhoso
entregar isso na frente de todo mundo, então, eu quero sair daqui o mais rápido
o possível. É isso o que Kaguya queria dizer.
— Eu disse algo assim!?
Kaguya gritou enquanto saia atrás de Yuzuru, que correu para dentro do
prédio da escola mais cedo para fugir dela.
Incidentalmente, depois de confirmar, o chocolate de Kaguya tinha
formato de cruz e era decorado com folhas douradas. Enquanto o chocolate de
Yuzuru era decorado com confeitos de missangas que davam a ele um tom
prateado brilhante.
— Como sempre, essas duas parecem uma tempestade...
Shidou sentiu uma gota de suor escorrer enquanto falava, e então ele levou
o chocolate recém recebido para dentro do prédio da escola.
Mas... depois de entrar na sala de aula, Shidou sentiu seus olhos mais uma
vez ficarem bem abertos de espanto.
— O qu...
Porém, a reação de Shidou era algo plausível. Qualquer pessoa mostraria
uma reação similar se uma estátua de um Anjo aparecesse em cima de sua mesa.
Sobre uma inspeção mais próxima, ele descobriu que a estátua era
inteiramente feita de chocolate. Vendo um trabalho com tamanha habilidade
manual, Shidou inadvertidamente sentiu suor se formando em sua testa.
Apesar disso, a origem daquilo era óbvia.
148
— ...Origami.
— O que foi?
Quando Shidou chamou aquele nome freneticamente, houve uma
resposta imediata, já que a culpada estava sentada no assento do lado esquerdo
dele.
Sim, o rosto da estátua, não importa de que ponto de vista olhasse, era
idêntico ao de Origami.
— O que é isso... isso é... incrível. Obrigado.
— Fico feliz.
Como resultado de não ser capaz de achar as palavras certas para falar
depois de se deparar com aquilo, Origami vagarosamente abriu a boca enquanto
corava.
— Mas eu não posso comer isso agora, então eu ficarei grato se você puder
guardá-lo para mim...
— Eu cometi um erro.
Quando a Origami terminou, ela pegou uma capa de plástico para
embrulhar o chocolate. Em menos de um minuto, o chocolate estava embalado
pelas lindas mãos da garota.
— Aqui, sem problemas.
— O-Obrigado... como esperado de você.
Shidou falou com um sorriso torto enquanto colocava o saco com o
chocolate de Kaguya na mesa.
— ...Hmm?
De repente, ele percebeu um sussurro vindo do fundo da sala de aula.
— ...merda, merda, merda, merda...
— Morra morra morra morra morra.
— Como podemos... fazer uma... bomba...?
Sim, depois de ver a coisa que estava na mão de Shidou, os garotos da sala
ficaram com sentimentos negativos de ressentimento.
149
— ............
O rosto de Shidou se contraiu impotente. Apesar do ambiente estar bem
complicado, não era como se fosse impossível entender o sentimento deles.
Assim como ele tinha dito à Kotori e as outras naquela manhã. Era a
primeira vez que ele recebia tantos chocolates em sua vida. Até o ano passado,
ele só ganhava chocolates de sua mãe e da Kotori.
Bem, seu amigo Hiroto Tonomachi disse, "Fuffuffu... ele trouxe todas os
chocolates de edição limitada que encontrou nas lojas da vizinhança, então
ninguém poderia mandar chocolates..."
Mesmo que ele pudesse comprar um chocolate de alta qualidade para si
mesmo, um só não valeria.
Incidentalmente, assim que Tonomachi mencionou isso, os outros garotos
começaram a encarar Shidou com rostos cheios de raiva e tristeza.
— Senhores... Agora eu vou começar a cerimônia.
De repente, do outro lado da sala, Tonomachi estava prestes a abrir a caixa
em sua mão.
Dentro daquilo estava uma boneca de chocolate com o nome "Itsuka"
escrito com chocolate branco.
Quando Tonomachi vagarosamente abriu a caixa, os garotos começaram
a dançar um estranho ritual que emitia um som de "dondokodokodondokodon"
no ritmo de um tambor.
— Chowatsu!
Assim que essas vozes bizarras alcançaram seu clímax, Tonomachi pegou
um longo prego em seu bolso e o enfiou no peito da boneca com Itsuka escrito
nela enquanto erguia sua voz de uma maneira estranha.
Uma rachadura apareceu no corpo de chocolate, fazendo ela se
despedaçar.
Então, os garotos que estavam se aglomerando ali correram para pegar os
fragmentos do chocolate.
— Hyaha! O Itsuka foi destruído!
— Delicioso! Delicioso, ah!
150
— Eu quero... comê-lo... para ganhar os poderes do Itsuka.
— ............
Enquanto assistia essa cena bizarra do fim do mundo, Shidou só pôde
secar o suor que escorria em sua bochecha.
Normalmente, esses caras não eram tão ridículos... mas com certeza o dia
de São Valentim causou um efeito especial nos garotos.
De repente, como resultado de não terem visto os garotos agirem daquele
jeito, três garotas se levantaram juntas suspirando.
As três damas especiais da classe, Yamabuki Ai, Hazakura Mai e
Fujibakama Mii... coletivamente conhecidas como o trio Ai Mai Mii.
— Sério, esses garotos não têm salvação mesmo...
— Ei, ei, venham aqui...
— Venham, venham!
Depois de falar, Ai, Mai e Mii tiraram um recipiente de uma sacola
plástica. Embalados dentro dele podiam ser vistos pedaços de chocolate
espalhados que o preenchiam até a boca.
Então, os garotos que estavam agrupados no altar de sacrifício ergueram
seus rostos em uma velocidade tremenda após sentir o cheiro de chocolate no ar.
Mesmo que espalhados, havia ali cerca de trinta pedaços de chocolate.
Porém, nenhum deles sequer tocou o chão.
— Obrigado... obrigado...
— Receber chocolate de garotas... mas que fragrância boa...
— O veneno do Itsuka... foi purificado...
A sombra que pairava sobre os garotos daquele grupo foi dissipada (ou
pelo menos era o que parecia).
Naquela hora, ninguém sabia que um membro do departamento de artes
que tinha ficado profundamente comovido por esse ato depois escreveria a obra-
prima "As Deusas da Liberdade que distribui Chocolate para as massas".
— Mu, o que foi isso? Que barulhento.
151
— ...Bem, só deixa isso para lá.
Então...
De repente, todos os Espíritos olharam para a mesma direção.
A linha de visão de Shidou também foi afetada por essa direção enquanto
seus ombros gentilmente tremeram.
Kurumi estava em pé no final da linha de visão. No momento em que seus
olhos se encontraram, ela sorriu docemente.
— Ufufu, bom dia, Shidou-san. Hoje de manhã está bem animado por
aqui.
— Oh... Bom dia, Kurumi.
Shidou devolveu o cumprimento, mas não pôde deixar de soltar um som
de "guu" ao engolir em seco.
Mas isso era somente o natural, já que a Kurumi foi quem designou os
planos para hoje.
No dia anterior, assim como no anterior a ele, Shidou e Kurumi iniciaram
uma batalha ofensiva e defensiva feroz.
Mas as circunstâncias eram diferentes naquele dia devido ao compromisso
que está marcado para depois da aula. Como resultado, essa será uma situação
onde os dois estarão sozinhos sem a presença de outros Espíritos. Talvez, Kurumi
levará a sério a disputa contra ele.
— ......
A garganta de Shidou estava um pouco seca de tensão. Kurumi, que
percebeu isso, ergueu os cantos dos lábios em forma de sorriso.
— Fufu, não é nada bom estar nervoso, Shidou-san.
Kurumi andou para frente e disse isso enquanto aproximava seus lábios
do ouvido de Shidou.
— Coisas boas devem ser... guardadas para serem aproveitadas mais
tarde.
— ...~Tsu.
152
Inadvertidamente, pelo som ter sido ressoado diretamente em seus
ouvidos, seu corpo não se conteve e tremeu levemente.
Porém, para que Kurumi não percebesse esse tremor, Shidou decidiu
conter ele enquanto lançava um sorriso.
— Oh, aguardo ansiosamente por isso. ...Pode ficar tranquila que seu
quarto na mansão dos Espíritos já está preparado.
— Ara, ara.
Kurumi devolveu o sorriso ao mesmo tempo que o sino da escola soou.
◇◇◇◇
— Kihihihi!
— Kihihihi!
— Hehehe!
— Hehehe!
— Agora, para que horário está marcado aquele compromisso?
— Ainda falta uma hora.
— Ara, ara.
— Isso realmente está me deixando ansiosa.
— Como é que eles não se cansam de brincar por aí?
— Kihihi, hiki!
— Isso mesmo.
— Certo, essas garotas por exemplo.
— Na melhor das hipóteses isso deveria ser algo parecido com um evento
que acontece somente poucas vezes.
— Isso, isso, e...
— Sim, sim, essas garotas devem ter um motivo por trás de suas ações.
153
— Não tem como culpá-las a esse ponto.
— É claro, nós também temos um motivo para nossas ações.
— E então, não tem como evitarmos nos colidir umas com as outras.
— Nós não iremos pegar leve com elas, aliás.
— Certo, certo, então o próximo é...
— Nós temos que ir agora.
— Sim, sim.
— Obrigada.
— Por favor, caia para a morte mais querida.
— Por favor, tenha um falecimento com propósito.
— Por Eu2.
— Por Eu.
— Por Eu.
— ...Pelo Shidou-san.
◇◇◇◇
...Hoje, o tempo passou depressa.
Desnecessário dizer que os ponteiros do relógio giraram a passos largos.
Enquanto ele pensava no evento que ocorreria depois da escola, a aula acabou.
Enquanto ouvia o sino que sinalizava o fim da aula tocar, Shidou pensou
em algo.
Porém, ninguém poderia culpar Shidou.
Afinal, o encontro de hoje era com o Pior Espírito, Kurumi.
2 "Por Eu" pode parecer ortograficamente errado, mas julguei ser a forma mais
correta se tratando da particularidade de fala dos clones da Kurumi.
154
Apesar de ter a aparência de uma garota sedutora, sua verdadeira
identidade era...
— ...Deixa acontecer.
Pensando nesse tipo de coisa, Shidou fechou seus lábios como se estivesse
se lembrando de algo.
Kurumi era com certeza um Espírito com um poder avassalador. Seria
mentira dizer que ele não estava com medo dela.
Porém, Shidou tinha que fazê-la se apaixonar naquele dia. Como poderia
um homem correr dela com medo de abrir seu coração?
...Medo, pânico; esses sentimentos devem ser deixados de lado.
Simplesmente encarar esse encontro era o suficiente para fazer as batidas
de seu coração acelerarem a um passo violento enquanto um clima estimulante
de tensão permanecia no ar.
Para recobrar seu espírito de luta, Shidou deu tapinhas em suas bochechas
com as palmas das mãos.
『Aparentemente não a nada para eu adicionar até agora. 』
Como se estivesse combinando com a hora que Shidou encontrou ânimo,
o intercomunicador preso em seu ouvido direito ecoou a voz de Kotori.
Para ajudar Shidou, a <Fraxinus>, onde Kotori e a equipe estavam
esperando, já estava sobrevoando a Escola de Ensino Médio Raizen. Muitas
câmeras autônomas foram enviadas à sala de aula para observar as ações de
Kurumi.
Determinado, Shidou vagarosamente se levantou de sua cadeira.
Naquele momento, ele ouviu uma voz baixa vindo do assento próximo a
ele.
— Shidou...
Shidou se virou para ver que Tohka estava lançando a ele um olhar
inquieto cheio de preocupação.
— Tohka...
155
Enquanto sorria, Shidou pegou uma marmita de sua bolsa e usou seu
dedão para atirar uma trufa de soja em sua boca.
— Uhn, delicioso... agora eu sinto que tenho a força de cem pessoas.
— Oh......!
Tohka abriu bem seus olhos enquanto balançava sua mão alegremente.
Então ao mesmo tempo, do lado oposto de Tohka... um olhar estranho foi
sentido vindo do seu lado esquerdo.
— Shidou, comer meu chocolate vai te dar a força de mil pessoas.
Origami permaneceu sem expressão, mas falou com uma intensidade
incomum.
Porém, o chocolate de Origami era uma estatueta delicada em escala 1/6
da própria Origami. para falar a verdade, seria uma visão horrível se ele o
pegasse e o comesse normalmente como fez com o da Tohka. Enquanto dava um
sorriso torto e coçava o rosto, Shidou virou seu corpo para Origami.
— Eu vou comer o da Origami depois... assim que eu selar o reiryoku da
Kurumi.
— ............
Concordando com as palavras de Shidou, Origami parecia ter sido
persuadida.
Shidou olhou para as duas alternadamente, e então falou com as palavras
transbordando sua resolução.
— Estou indo agora.
— Umu......!
— Boa sorte.
Dando um grito de confirmação para ambas, Shidou avançou seu passo,
sem perder o ritmo até ficar de frente com Kurumi.
— Olá, Kurumi.
— Ara, Shidou-san, como posso ajudá-lo?
156
Talvez, mesmo sendo ela quem definiu o dia da batalha decisiva, Kurumi
tinha fingido esquecimento para poder falar de forma jocosa.
Shidou respirou gentilmente e, como se estivesse se adaptando ao tom
brincalhão dela, esticou as mãos.
— Depois, posso te convidar a um encontro?
— Ara, ara.
Kurumi deliberadamente fez uma expressão de surpresa antes de
vagarosamente relaxar as bochechas.
— Se estiver tudo bem para você, eu ficaria honrada.
Então, com a elegância de uma filha de família nobre, Kurumi pegou a
mão de Shidou para se levantar.
Dos olhos de uma pessoa alheia, esse gesto sem dúvidas pareceria com o
de uma dama aceitando o convite de um homem. De fato, depois de testemunhar
essa cena, os outros estudantes começaram a fofocar.
Porém, a reação de Tohka e Origami foram um pouco diferentes do
restante. Seus olhos estavam fervilhando de tensão, mas isso também mostrava
sua confiança em Shidou enquanto elas o viam sair pela porta.
Isso porque elas sabiam... que apesar da linguagem utilizada, para Shidou
e Kurumi, aquilo era só sinal anunciando o início da guerra entre eles.
— Bem, vamos indo.
— Ah, tudo bem.
Shidou acenou em concordância enquanto ele ajustava seu uniforme e
deixava a sala de aula com Kurumi. No caminho, quando eles passaram pela sala
vizinha, Kaguya e Yuzuru vieram dar um joinha para ele. Shidou retornou o
gesto enquanto andava no corredor.
Mesmo que os estudantes tenham ficado incomodados com a estranha
visão, seus rumores e fofocas não foram ouvidos por Shidou.
Não havia porque ele se preocupar mais com sua reputação. Somente no
último ano Shidou recebeu apelidos desagradáveis como "caçador de alunas
transferidas", "Itsuka da velocidade da luz" e "o homem que pilhou virtudes na
vida passada e agora está descarregando no presente". Naquele momento, se um
157
ou dois escândalos a mais forem feitos, esses rumores não causariam mais estrago
em alguém que já estava calejado.
『...Shidou. 』
Enquanto Shidou estava pensando em tal coisa conforme andava, a voz de
Kotori de repente foi ouvida pelo intercomunicador.
『Eu recebi as opções. Vamos decidir onde ir antes de deixar a escola. 』
Enquanto observava Kurumi e Shidou caminhando, três escolhas foram
mostradas no monitor principal da nave espacial, <Fraxinus>.
① - Casa
② - Karaokê
③ - Web-Café
As opções de curso de ação eram mapeadas por um dispositivo de
manifestação Realizer que indicava o humor atual de Kurumi e seu estado mental
em relação aos seus sentimentos por Shidou.
— Toda a equipe, decidam!
Enquanto Kotori dava a ordem, todos os membros da equipe na parte
inferior da ponte de comando começaram a operar seus consoles todos de uma
vez.
Depois de alguns minutos, o monitor mostrou os resultados estatísticos.
Mesmo que por uma pequena margem, a opção ② foi a que obteve o
maior número de votos. Kotori acariciou seu queixo.
— Bem, é compreensível... mas Maria, as opções não foram um pouco
tendenciosas?
Quando Kotori terminou de falar, os caracteres MARIA apareceram na
tela e uma voz foi ouvida dos alto-falantes instalados na ponte de comando.
Era a IA de gerenciamento da <Fraxinus>, também conhecida como
MARIA.
— Como eu disse anteriormente, as opções são automaticamente geradas
baseadas em vários dados que temos do Espírito em vez de serem criadas do
158
nada. Porém, se posso expressar minha opinião, esse não seria um movimento
crucial para essa partida?
— Partida?
— Sim, a adversária é Tokisaki Kurumi; ela não é uma oponente que
podemos nos dar o luxo de sermos negligentes. Acredito que nós devemos estar
preparados para o risco que cada escolha pode trazer, então devemos começar
com um ataque rápido imediatamente.
— Ataque rápido......?
— Para ser direta, nós devemos prendê-los em uma sala para que não
possam sofrer interferências de outras pessoas.
— ...E-Então é isso...
As sobrancelhas da Kurumi tremeram enquanto sua voz ressonava um eco
instável, mas ela imediatamente mudou seu processo de pensamento para
aproximar o microfone de sua boca.
— B-bem, de qualquer forma, Shidou, a escolha é a ②...
— Não... Esperem um pouco.
Mas assim que Kotori aproximou o microfone para dar as instruções à
Shidou pelo intercomunicador, o próprio de repente respondeu isso enquanto
era centralizado pela tela do monitor.
Enquanto trocava os calçados perto da entrada, Shidou ergueu sua voz
para bloquear as instruções vindas da <Fraxinus>.
Como Kurumi também estava trocando seus sapatos, ele tinha que fazê-lo
em uma altura que prevenisse que sua conversa fosse ouvida por ela. Depois de
rapidamente olhar para a direção de Kurumi, Shidou colocou suas mãos no
intercomunicador.
— Qual o problema? Tem algo errado?
Quando Kotori perguntou de forma suspeita, Shidou gentilmente
balançou a cabeça em negação antes de continuar a falar.
— ...Eu já decidi para qual lugar quero ir.
— O quê?
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Kotori soltou uma voz aturdida. Então, outra voz além da voz de Kotori
ressoou em seus ouvidos. Uma voz de garota que parecia um sino prateado: a IA
da <Fraxinus>, Maria.
— Em outras palavras, quer dizer que você não tem confiança na minha
performance?
— Não, não é algo assim...
Shidou teve dificuldades para responder enquanto fazia uma expressão
complicada. Então, pouco tempo depois, ele ouviu um som parecido com uma
risada vindo de Maria.
— É só brincadeira... nós só estamos aqui para te dar suporte. Se você tiver
uma convicção firme, um homem deve ser capaz de fazer isso sozinho.
— Maria...
Depois de Shidou dizer esse nome, Maria continuou o questionamento.
— O que acha, Comandante?
Normalmente, Maria só a chamaria de Kotori, mas parece que ela tinha
intencionalmente usado um título mais formal dessa vez para reforçar seu
argumento.
Depois de uma pausa momentânea, Kotori suspirou profundamente.
— Fala sério, se eu disser que não acho isso uma boa ideia, então eu seria
chamada de teimosa.
Então, depois de ouvir o som do farfalhar dos cabelos dela, um "tudo bem"
pôde ser ouvido sendo transmitido a ele.
— Não há dúvidas de que o Shidou é o maior especialista em Espíritos do
mundo. Se alguém disser isso, eu vou reconhecer como verdade... assim como
Maria afirmou, nós estamos aqui para dar suporte. Faça como desejar. Se isso
acabar se tornando uma falha total, então é nesse ponto que nosso trabalho entra.
— Ah... obrigado, Kotori, Maria.
Assim que Shidou deu seu reconhecimento, Kurumi voltou até ele com
seus sapatos já trocados.
— Te fiz esperar, Shidou-san.
160
— Não foi nada. Então, podemos ir?
— Eh, a propósito...
Enquanto falava, Kurumi gentilmente colocou seus dedos em seus lábios.
— Tem um lugar que eu gostaria de ir.
— ......!
Em resposta às palavras de Kurumi, Shidou rapidamente franziu o cenho.
Imediatamente depois, a voz de Kotori foi ouvida pelo intercomunicador
emitindo um som de "ah cha".
— Parece que temos um conflito de planejamento. Se nós pudermos tomar
a dianteira seria muito bom, mas se for muito difícil convencê-la, então a
prioridade terá que ser cumprir com as expectativas de Kurumi primeiro.
— Er...
Porém, Shidou não estava muito nervoso.
Por que isso...? Ele não sabia exatamente o porquê, mas de alguma forma
parece que a linha de pensamento de Kurumi estava alinhada com os seus planos.
— Na verdade, eu também tenho um lugar em mente... provavelmente
seja o mesmo local que o seu.
— Ara, ara.
Kurumi deu um sorriso como se estivesse se divertindo com as palavras
de Shidou, rindo enquanto segurava a mão dele.
— Que interessante, então vamos descobrir isso juntos... por favor, me leve
no lugar que tem em mente, Shidou-san.
— Ah, deixe isso comigo.
Por um momento, Shidou sentiu um arrepio repentino ao sentir o toque
frio da mão de Kurumi, mas de alguma forma ele conseguiu evitar que seu
tremor fosse notado enquanto pegava na mão dela.
Então, os dois vagarosamente caminharam para a direção da estação.
...Depois de alguns minutos, com uma breve conversa entre Shidou e
Kotori, os dois finalmente saíram da Estação Tenguu.
161
— Aqui...
Os dois entraram dentro do prédio, parando em frente de uma certa loja
no momento em que a voz de Kotori foi ouvida pelo intercomunicador.
Kotori provavelmente também percebeu. Aquela era... uma loja de
lingeries que Shidou e Kurumi tinham visitado no encontro anterior.
— Bem... é esse o lugar que o Shidou-san queria ir?
Kurumi olhou para a vitrine da loja, sua boca esboçou um sorriso
enquanto Shidou acenou com a cabeça.
— AH, sim.
— Ufufu... então é isso? Shidou-san quer tanto assim me ver com roupas
de baixo?
— ...Bem, não é isso, é isso, mas não do jeito que está...
Defrontando uma resposta tão instigante de Kurumi, Shidou não
conseguiu deixar de ser incoerente. Vendo Shidou em tal estado, Kurumi soltou
uma gargalhada.
Depois disso, Kurumi olhou para a loja mais uma vez antes de falar.
— ...Essa é a resposta correta.
— Hã?
— O local que eu queria ir... apropriadamente falando, era sem dúvidas
aqui. Ufufu, eu me lembro de quando Shidou-san e eu vieram aqui. Eu estou tão
feliz.
Depois de dizer isso, Kurumi expôs um sorriso.
Isso mesmo, a Kurumi em pé naquele momento e a Kurumi que tinha
vindo a essa loja com Shidou no passado eram a mesma pessoa e pessoas
diferentes ao mesmo tempo.
No ano passado, em junho, a Kurumi que se aproximou de Shidou e saiu
em um encontro com ele era um clone nascido do <Zafkiel> de Kurumi.
— Eu estive pensando nisso desde aquele dia. Eu queria saber o que eu
tinha sentido ao visitar esse lugar com o Shidou-san... e o que eu estava pensando
antes de ter meu coração roubado pelo Shidou-san.
162
— ............
Enquanto Kurumi dizia isso, Shidou ficou em silêncio.
Naquela hora, a Kurumi que tinha andado e rido com ele naquela rua e a
Kurumi que tinha esticado sua mão para ele no telhado da escola não existia mais.
— Kurumi, você...
Shidou abriu sua boca, mas parou no momento seguinte.
As palavras ditas por Kurumi pareciam emitir de alguma forma uma
expressão melancólica e solitária.
— Mesmo que ela tenha sido uma garota imatura, ela também era eu.
— ............
Shidou se colocou em silêncio novamente, mas depois de alguns
segundos, ele soltou um suspiro gentil.
Então, Shidou segurou as mãos de Kurumi com ainda mais vigor em sua
mão.
— ...? Shidou-san?
— Isso aí, com certeza essa é a resposta para o encontro daquela vez.
— Hã?
Kurumi parecia chocada com as palavras de Shidou enquanto virava os
olhos. Enquanto isso, Shidou ergueu sua boca enquanto olhava novamente para
ela.
— Mesmo que tenha sido um clone, eu sou o homem que uma vez
conquistou a Tokisaki Kurumi. Sendo assim, vamos seguir o mesmo cronograma
daquela vez. ...Antes do dia terminar, você só estará pensando em mim.
— Haha.
Com uma expressão estupefata em seus olhos, Kurumi desabou em rir.
Então, ela retornou o favor colocando ainda mais força no aperto à mão de
Shidou.
— Estou ansiosa por isso. Ufufu, Shidou-san, você pode me capturar?
Os dois sorriram um para o outro enquanto entravam na loja lado-a-lado.
163
Aquela era uma loja de lingeries. Naturalmente, havia uma fileira de
roupas de baixo femininas à mostra nessa loja. Ela apreciava como um jardim
cheio de flores multicoloridas florescendo.
Entre tais flores, Kurumi andava graciosamente em ritmo passo a passo,
assim como uma borboleta. Cabelos negros brilhosos, um casaco preto, e um
único olho vermelho, ela parecia uma borboleta adorável com asas negras como
a noite.
— ...Ei, Shidou-san, é claro que você vai escolher um lingerie para mim,
não é?
Kurumi virou seu rosto enquanto mostrava um sorriso travesso. Ver tal
aparência adorável era algo um pouco perigoso para Shidou, pois ele sentiu as
batidas de seu coração acelerar.
— ...Isso, ah, é claro.
— Ufufu, que divertido. Venha... qual você acha que vai ficar bem em
mim?
Kurumi inclinou sua cabeça de forma brincalhona enquanto perguntava?
Atrás dela estavam incontáveis flores, era como se Kurumi estivesse
apontando várias armas multicoloridas para ele.
Naquela hora, uma voz veio do ponto no ouvido de Shidou fazendo uma
pergunta.
— ...precisa de uma opção, Shidou?
— ...Não, por favor, deixe-me pensar nisso sozinho dessa vez.
Com um sussurro, Shidou deu um passo à frente sem medo enquanto
olhava as roupas de baixo que estavam alinhadas no mostruário da loja.
Porém, seria difícil dizer que escolher uma lingerie sexy e chamativa seria
um bom movimento. Falando nisso, em uma partida onde o primeiro que se
apaixonar perde, permitir que Kurumi se equipe com uma roupa tão destrutiva
pode causar um dano irreversível a ele.
Em poucos minutos, ele encontrou algo apropriado para Kurumi, uma
roupa íntima que era exótica sem ser muito erótica. Shidou chamou Kurumi.
— Kurumi, que tal essa?
164
— Ara, ara, é bem bonita, eu imaginava que o Shidou-san definitivamente
escolheria aquele tipo de lingerie.
Enquanto falava, Kurumi apontava para uma sensacional roupa íntima
vestida por um manequim. Shidou sentiu uma gota de suor escorrer pelo seu
rosto.
— N-N-Não, estou dizendo que essa roupa íntima pode ficar
inesperadamente bem em você, não acha?
— Ufufu, então é isso? Se o Shidou-san está dizendo, então vou
experimentar.
Com uma expressão alegre, Kurumi pegou a roupa que Shidou selecionou
e foi para o provador.
Então, alguns minutos depois.
Com um silvo, a cortina se abriu para revelar Kurumi vestindo a lingerie.
— ......!
Olhando para aquela figura, Shidou inesperadamente engasgou com sua
própria respiração.
Ele se amaldiçoou por sua superficialidade e descuido. Certamente,
considerando o dano potencial que ele poderia sofrer, Shidou escolheu um
design com um grau de exposição relativamente baixo.
Porém, ele tinha se esquecido que o valor da roupa íntima não era
determinado pelo nível de exposição.
...Antecessores disseram: "A vitória não está em roupas íntimas eróticas,
mas sim nas roupas íntimas brancas".
Como resultado, lingeries que deveriam ser relativamente modestas,
produziam efeitos sinérgicos além das expectativas ao cobrirem o corpo de
Kurumi com o mais fino dos materiais.
Deslumbrantemente puro, um branco amável também tem uma beleza
polida. Por um momento, Shidou só conseguiu permanecer calado.
— ...Shidou-san?
— Err... ah.
165
Ao ouvir seu nome ser chamado, Shidou foi trazido de volta à realidade.
— Como ficou? Combinou comigo?
— Ah...... ficou muito bom, bom a um ponto de ser perigoso.
Depois de Shidou terminar de falar, Kurumi olhou para ele surpresa por
um instante enquanto suas bochechas coravam levemente.
— Ufufu, nesse caso, posso dizer que eu peguei o Shidou-san?
— Ei... do que está falando?
Em resposta às palavras de Kurumi, Shidou encolheu os ombros enquanto
falava. Naquele momento, ele estava no limite do fingimento, não havia nada que
ele pudesse dizer.
Ele não sabia se as reais intenções por trás de suas palavras tinham sido
notadas, mas Kurumi de repente revelou uma expressão sorridente.
— Bem, vamos levá-la então... Shidou-san.
Enquanto falava, Kurumi acenou para ele. Shidou vagarosamente andou
em direção a ela enquanto inclinava suas mãos para baixo.
— Pegue isso...
— Hmm...?
Kurumi entregou algo para ele que estava enrolado por um pano preto.
Defronte com esse mistério, Shidou estremeceu as sobrancelhas de curiosidade.
— O que é isso... ah, isso é...!
Desenrolando o pano com as duas mãos... Shidou sentiu um espasmo
repentino vindo de seu diafragma.
Porém, isso era natural. O que ele tinha recebido era a roupa íntima que
Kurumi tinha acabado de vestir, com um leve resíduo de temperatura quente
ainda permanecia nela por ter entrado em contato com o corpo de Kurumi.
— Ufufu, como essa é uma ocasião rara, hoje estarei vestindo a lingerie
que o Shidou-san escolheu para mim. ...Por favor, cuide bem dela.
— O-Oh...?
167
Apesar de não saber o que dizer, Shidou ainda assim se sentiu obrigado a
responder enquanto seu rosto ficava vermelho.
◇◇◇◇
— Hmm......
Cerca de duas horas tinham se passado desde o começo do encontro.
Enquanto observava a situação entre Kurumi e Shidou na ponte de
comando da <Fraxinus>, Kotori mexia o Chupa-Chups em sua boca.
No monitor, os dois tinham deixado a loja de lingeries e caminharam lado
a lado na rua em direção ao seu próximo destino.
A mão de Shidou segurava firmemente a mão da Kurumi. Não parecia que
Kurumi se sentia incomodada com isso. Na verdade, mesmo que suas reações
tenham sido mínimas, os valores de relacionamento da Kurumi não poderiam
ser considerados ruins.
— ...Que estranho.
Reine disse enquanto colocava a mão em seu queixo. Ela provavelmente
estava pensando na mesma coisa. Soltando um pequeno gemido, Kotori soltou
um som de "ah" enquanto ela olhava para o valor numérico no fundo da tela.
Ali, estava os valores do estado mental de Kurumi, porém......
— ...Claramente, eles estão diferentes dos valores que Kurumi apresenta
nos dias normais. É como se ela estivesse sob um estresse extremo. Porém, essa
reação não está sendo causado pelo encontro com o Shin. Isso é...
— ............
Ouvindo as palavras de Reine, Kotori ficou taciturna.
Os Espíritos ficarem sob estresse não era uma condição desejável por
Kotori.
Porém, refletida na tela, a expressão de Kurumi era de felicidade. Ainda
assim, isso não diminuía o sentimento que os valores mostravam de forma
alguma. Pelo contrário, havia uma atmosfera perigosa não identificável no ar.
168
— ...De qualquer forma, pessoal não sejam descuidados.
— Entendido!
Quando Kotori disse isso, a equipe respondeu em uníssono.
◇◇◇◇
Às dez horas, Shidou e Kurumi estavam sentados lado a lado no banco do
parque.
Desde que saíram da loja de lingeries, eles seguiram o seguinte
cronograma.
Andaram pelo mesmo caminho, comeram no mesmo local... e então
chegaram ali.
Quando uma cortina negra desceu pelos céus, iluminado somente pela luz
da lua e pelos esporádicos postes de luz. Já naquela hora, nenhuma sombra de
uma pessoa permanecia nas vizinhanças, criando a ilusão de que somente duas
pessoas tinham sobrado no mundo.
No meio de fevereiro, a temperatura depois do pôr do sol estava tão fria
que as pessoas podiam exalar uma névoa branca toda vez que respiravam.
Originalmente, esse não era um clima onde uma pessoa poderia ficar exposta por
muito tempo.
Porém, o parque era uma parte indispensável do encontro entre Shidou e
Kurumi.
— Shidou-san, você se lembra? Esse lugar...
— Ah... me lembro sim, apesar de eu não querer pensar nisso.
Shidou respondeu com um leve suspiro. Isso mesmo, foi naquele lugar
que Shidou viu pela primeira vez Kurumi cometer um crime violento e o
primeiro cadáver que ela deixou.
— Hehe.
Kurumi riu vagamente sem responder ao Shidou e então, como se ela se
lembrasse de algo, pegou uma caixa adorável de uma sacola.
169
— Pensando agora, eu quase me esqueci... Shidou-san, feliz Dia de São
Valentim.
Enquanto Kurumi dizia isso, ela entregava a caixa para Shidou.
Shidou pegou o presente com um sorriso desconcertado.
— Obrigado... mas, você quase esqueceu.
— Err, é que....
Kurumi exalou sem fôlego. Enquanto vagarosamente se virou para se
apoiar nele, um peso considerável foi colocado nos ombros de Shidou. Seu belo
cabelo negro tocava suas bochechas.
— Sobre isso... hoje foi tão divertido. É por isso que digo com segurança
que é a melhor memória que eu tenho.
— Kurumi...
Shidou levemente falou, gentilmente sorrindo enquanto pegava um
pequeno embrulho em sua bolsa.
— Bem, esse aqui é o meu, feliz Dia de São Valentim, Kurumi.
— Ara, ara.
Shidou entregou o embrulho, surpreendendo grandemente a Kurumi no
processo.
— Shidou-san... mesmo que eu não me importe muito com isso,
normalmente somente garotas...
— E por que eu não poderia!? Olha, o contrário está sendo bastante
popular ultimamente. Não há nenhuma regra que diz que só garotas devem dar
chocolates, não é mesmo?
Enquanto ele erguia sua voz para refutar as palavras dela, Kurumi riu para
mostrar seu divertimento.
— Ufufu, isso mesmo, é como você disse. ...Posso abrir?
— Ah, mas é claro.
Depois de concordarem um com o outro, os dois abriram as caixas que
receberam um do outro.
170
Shidou preparou um chocolate escuro coberto com um tempero feito de
mel e casca de laranja. Ele pensou que a cor escura e o gosto amargo combinam
com Kurumi de alguma forma.
Por outro lado, a caixa de Kurumi estava cheia de chocolates de vários
tamanhos e formatos diferentes.
Mesmo que sejam diferentes... isso não queria dizer que não havia uma
sensação de unidade entre eles. Eram chocolates em forma de gatos, do mesmo
tipo que Shidou tinha feito para ela há alguns dias.
— Oh, mas que fofinho.
— O chocolate do Shidou-san parece estar delicioso.
Enquanto falavam um com o outro, os dois inconscientemente pegaram
um chocolate da caixa e os jogaram em suas bocas.
— Haha, isso está delicioso, esse sabor... isso é avelã?
— Ah, como esperado do Shidou-san. Mmm... esse também está delicioso.
— ............
— ............
Não era como se não tivessem mais nada para falar.
Em vez disso, era só um sentimento de querer fixar o olhar nos olhos do
outro.
— ............
Shidou gentilmente puxou seus ombros para aproximar sua mão de forma
que ele pudesse amavelmente afagar a cabeça de Kurumi.
Kurumi não resistiu. Mas em vez disso, parece que ela já estava esperando
por esse ato pois ela se aproximou ainda mais dele.
Se qualquer desconhecido os visse agora, eles achariam que os dois eram
um casal em um momento íntimo. De fato, essa era a posição perfeita para
facilmente erguer o queixo dela e beijá-la.
Porém...
— ...nada mal, nada mal mesmo.
171
A voz de Kotori foi ouvida pelo intercomunicador, mesmo depois dessa
situação, não seria difícil imaginar a expressão facial que ela estava fazendo só
de ouvir sua voz.
Isso quer dizer que mesmo se eles se beijassem agora, ele não conseguiria
selar completamente o reiryoku dela.
Como se complementasse as palavras de Kotori, Shidou também ouviu a
voz de Reine.
— ...Kurumi não está mentindo. Eu chutaria que ela realmente gostou do
encontro de hoje com você, Shin. Mesmo que ela tenha uma impressão muito boa
de você, ela ainda não abriu seu coração.
Porém, Reine continuou.
— Nas profundezas de seu coração, parece haver uma grande barreira.
Determinação... resignação... algo como isso. Kurumi colocou uma amarra em si
mesmo que a impossibilita de ser feliz. Será impossível selar seus poderes a não
ser que você consiga remover a causa disso.
— ......
...Grandes amarras.
De forma silenciosa, enquanto ele gentilmente acariciava a cabeça de
Kurumi, seu coração estava relembrando aquelas palavras em uma deliberação
abrangente.
Ao mesmo tempo, a mente de Shidou recordou do que Nia e Origami
disseram.
"...de alguma forma, parece que havia algo que ela queria investigar com
meu <Rasiel>"
"...o Primeiro Espírito, ela quer matar aquela pessoa"
"30 anos atrás, naquele tempo, ela quer prevenir que a existência daquele
Espírito ocorra"
Sim, era possível que a questão estivesse enraizada nisso.
Kurumi queria usar a Décima Segunda Bala <Yud Bet> para voltar 30 anos
no passado e apagar a existência do Primeiro Espírito.
172
Mesmo que ela tenha que sacrificar tudo; mesmo que isso significasse
acumular uma milha de dez mil cadáveres para atingir esse objetivo.
Sobre o que causou isso, Shidou não sabia nada.
— ...Ei, Kurumi.
Então, Shidou abriu sua boca.
De fato, não vencer essa disputa significava morrer, mas seu motivo não
era somente esse.
Agora mais do que nunca, por essa garota que estava confiando somente
em si mesma, ele queria entender seus desejos, pensamentos e resoluções.
— Sim, Shidou-san.
— Pode me dizer por que está tentando derrotar o Primeiro Espírito?
— ......
No momento em que Shidou falou desse assunto, a expressão de Kurumi
imediatamente ficou tensa.
Porém, depois de um longo suspiro que denotava um pouco de tristeza,
Kurumi proferiu sua resposta.
— Você ouviu isso da Nia-san? Ela realmente é uma tagarela.
Kurumi ficou de pé, se afastando alguns passos do banco antes de se virar
de volta para Shidou.
Sob o céu da noite, as luzes da rua eram como holofotes iluminando
Kurumi.
Então, como se fosse uma cena de teatro.
— Shidou-san, está preparado para saber? Tudo... sobre mim.
Na escuridão da noite, os olhos da garota formaram um olhar penetrante
nele.
Enquanto o olho direito estava vermelho como sangue, o olho esquerdo
estava encravado com um relógio dourado que emitia um som de tique em
sincronia com o tempo.
— ......
173
Por um momento, Shidou pensou que o que ele estava vendo era fruto de
uma alucinação da sua mente, inadvertidamente fazendo com que ele engolisse
um suspiro de alívio.
Porém, ele não podia recuar ali, Shidou controlou suas mãos frias e
trêmulas enquanto acenava vigorosamente com a cabeça para Kurumi.
— ...Ah, essa é a minha intenção.
— ...Então está certo.
Kurumi quietamente falou enquanto elegantemente erguia sua mão
esquerda.
Naquele momento, enquanto se entrincheirava no chão, a sombra de
Kurumi se distorceu em forma de uma pistola antiga que então flutuou e
gentilmente pousou nas mãos de Kurumi.
Aquela era a pistola que servia como ponteiros das horas para o Anjo
<Zafkiel>.
— O qu...
Enquanto Shidou ficou surpreso repentinamente, Kurumi mirou e puxou
o gatilho sem hesitação. Bang, bang; um som seco ecoou algumas poucas vezes
pela vizinhança.
— ...!? Isso é...
— Perdemos o sinal de vídeo!
— As câmeras autônomas foram destruídas!
— Hã......?
Ouvindo os gritos da equipe da <Fraxinus> pelo seu ponto de ouvido,
Shidou instintivamente ergueu suas sobrancelhas. Porém, Kurumi não tinha
terminado. Ela deu um passo para frente, um passo se aproximando de Shidou,
esticou suas mãos como se estivesse querendo tocar sua bochecha.
No momento seguinte, as vozes da Fraxinus também desapareceram de
seu ouvido...
Kurumi tinha usado seus dedos para retirar o intercomunicador.
— ......!
174
Enquanto Shidou assistia aquilo com uma expressão espantada, Kurumi
pressionava seus dedos, quebrando o intercomunicador. Uma fagulha foi gerada
junto com um ruído eletrônico enquanto uma pequena quantidade de fumaça
saia de seus dedos brancos.
Em termos de tempo, isso aconteceu em menos de 5 segundos.
Nesse tempo tão curto, a comunicação entre Shidou e a <Fraxinus> foi
completamente encerrada.
Kurumi distorceu seus lábios em um sorriso torto enquanto ela mais uma
vez voltava seus olhos para Shidou.
— ...Mesmo agora?
— ......
Shidou ficou sem palavras por um instante.
Perder contato com a <Fraxinus> era o equivalente a ficar completamente
só diante de um Espírito. Se a Kurumi tivesse motivos, seria muito fácil para ele
ser comido.
Porém...
— ...Mesmo assim, eu ainda quero.
Shidou respondeu sem desviar seus olhos que estavam em contato com os
de Kurumi.
Certamente, parecia que as ações de Kurumi eram uma forma de fazer
Shidou recuar. Todavia, para ele era como se ela quisesse dizer a ele segredos que
ela não queria que mais ninguém soubesse.
Se ele não pudesse responder a esse ato de humanidade, então ele não teria
direito algum de agir como salvador de Espíritos.
— ......
Vendo tal reação de Shidou, Kurumi colocou a pistola de volta na sombra
e rapidamente se virou novamente para Shidou.
— Por favor, me siga.
Então, quando Kurumi terminou de falar, ela apressadamente andou em
direção a uma rua escura.
175
— Ah, ei.
Eles andaram por volta de 20 minutos.
Kurumi guiou Shidou por um beco e por dentro de um velho prédio
comunal.
Apesar de o prédio ter a aparência de ter sido abandonado e estar todo
pichado, a eletricidade ainda estava funcionando. Seguindo a piscante, mas ainda
assim confiável, luz, Shidou subiu as escadas e chegou a um quarto no terceiro
andar.
— Venha, Shidou-san.
— Aqui é...
Enquanto ele sussurrava, Shidou olhou para seus arredores.
Não havia muitas diferenças entre o quarto e o restante do prédio
abandonado. Mas diferente do corredor, o chão estava completamente limpo,
uma cortina estava pendurada na janela, e uma cama bem simples estava
colocada ali.
— Eu tenho vários fortes por essa cidade; esse é um deles. Mesmo que não
tenha nada aqui, por favor fique a vontade.
— ...Entendi. É um prazer ser convidado para o quarto de uma garota.
— Ufufu, você é cheio dos lisonjeios, Shidou-san.
Kurumi deu um pequeno riso enquanto sorria, tirou seu casaco e o colocou
em um cabide. Então ela esticou sua mão para Shidou, que inclinou levemente
sua cabeça.
— Ah, obrigado.
Shidou imitou as ações de Kurumi, quando ele entregou seu casaco a elas,
ambos foram pendurados juntos. Então, enquanto lentamente ela se aproximava
de Shidou...
— ............
Sem qualquer aviso, Kurumi pressionou seu corpo contra o peito de
Shidou.
— Kurumi...
176
— Shidou-san, você disse que queria saber tudo sobre mim.
— ...Ah.
Depois de ouvir a resposta de Shidou, Kurumi, que ficou sem dizer nada
por alguns segundos, enterrou seu rosto no peito dele, depois disso...
— ...Então, por favor, aceite isso...
Kurumi disse enquanto vagarosamente movia sua mão esquerda que, sem
o conhecimento dele, estava segurando uma pistola mais uma vez.
— <Zafkiel>... A Décima Bala <Yud>.
A sombra de Kurumi vagarosamente foi arrepiada e sugada pelo cano da
pistola.
Em um movimento, a pistola ficou alinhada com sua têmpora, então,
agindo como se fosse em sua própria cabeça, ela puxou o gatilho em Shidou.
◇◇◇◇
Quanto tempo já se passou?
Um dia, em uma escola exclusiva para garotas, dentro de um certo
lavatório.
— ...Hm.
Kurumi olhou para o espelho e viu seu próprio rosto sendo refletido.
...Um tapa-olho cobria seu olho esquerdo.
— No final das contas, isso não chama atenção demais?
Enquanto falava, ela removia o tapa-olho. O que estava escondido sob ele
agora estava exposto e refletido no espelho... seu olho esquerdo havia mudado
de aparência e agora se parecia com um relógio dourado.
Aquilo não era nada como lentes de contato especiais ou maquiagem. Era
difícil de acreditar, mas aquilo possuía até os ponteiros de minutos e segundos,
ticando com um som de tique-taque.
177
Sim, alguns dias atrás, Kurumi encontrou uma garota misteriosa... Mio.
Desde então ela tinha recebido um objeto que se assemelhava a uma joia com
uma radiância milagrosa, seu olho esquerdo tinha se transformado em algo
completamente diferente do que o de um ser humano normal.
Não... para ser específico, aquilo não foi a única coisa que mudou.
— ...Ufufu.
Kurumi gentilmente riu enquanto olhava seus olhos através do espelho.
Ela estaria mentindo se dissesse que não sentia nenhuma ansiedade ou
medo por ter seu corpo transformado naquela existência incomum. Porém,
comparado a isso, Kurumi estava cheia de um sentimento de realização e euforia.
Então.
— ...Kurumi-san, tem algo errado?
— ......?
Ao ser abordada repentinamente, Kurumi rapidamente colocou o tapa-
olho na posição original.
Se virando na direção da voz, Kurumi descobriu que era sua amiga que
estava em pé ali: Yamauchi Sawa. As mãos de Kurumi tremeram com o mal-
entendido.
— N-Nada, não tem nada de errado.
— ............
Com a resposta nervosa de Kurumi, Sawa encarou intensamente seu rosto.
— Ele está melhor? Seu olho esquerdo.
— E-Eh, ele ainda está em uma forma um pouco complicada para ser visto.
— Parece bem sério então... Por favor, cuide de seu corpo.
Depois de expressar sua preocupação com a saúde de Kurumi, Sawa se
lembrou de algo.
— Parando para pensar, Kurumi-san, você está livre depois da escola hoje?
Minha tia disse que queria trazer os irmãos do Chestnut para brincar.
— Hã...!?
178
Ao ouvir esse convite repentino, as sobrancelhas de Kurumi tremeram
levemente.
Chestnut era um gato que ostentava um alto nível de fofura, mas ouvir
que seus irmãos estariam presentes dessa vez, seria realmente um paraíso de
fofura para qualquer um. Se lembrando do sentimento do pêlo aveludado e das
patas macias de Chestnut, Kurumi ficou momentaneamente encantada.
Porém, ela imediatamente recobrou sua compostura e balançou sua cabeça
negativamente. Aquele dia ela tinha um compromisso que ela não podia deixar
de lado de forma alguma.
— M-Me desculpe, mas eu terei que recusar.
— Ah, você tem algo que precisa fazer?
— Sim... uma pequena tarefa, mas, por favor, me convide novamente
outro dia.
— Mas que pena, mas não tem nada que possa ser feito. Então fica para a
próxima.
— Absolutamente, com certeza, certo?
— S-Sim, eu já entendi.
Confrontada com o desejo implacável de Kurumi, Sawa só conseguiu
sorrir desconcertada enquanto suor escorria pelo seu rosto.
...Depois da escola naquele dia.
Kurumi estava em pé sozinha no telhado de um prédio nos subúrbios da
cidade.
O pôr do sol vermelho estava brilhando em suas costas, enquanto o vento
soprava na saia de seu uniforme.
— Venha.
Como se combinasse com a fala de Kurumi, pequenos passos ecoaram por
trás dela.
Se virando, Kurumi encontrou a figura de uma garota que não estava ali
antes.
179
Takamiya Mio, a garota que apareceu diante de Kurumi há alguns dias e
lhe deu poderes.
— Olá, Kurumi. Por favor, dê o seu melhor hoje de novo.
— Hm, por favor deixe isso comigo, Mio-san.
Assim que Kurumi a respondeu, a voz nos arredores desapareceu no
mesmo momento. Sim, foi exatamente igual a primeira vez que Kurumi
encontrou Mio.
Kurumi não sabia o princípio detalhado daquilo, mas isso devia ser devido
à habilidade de Mio. Ao encantar os arredores com algo que se parecia com uma
barreira, ela podia prevenir que o inimigo fuja para o lado de fora.
No momento seguinte, uma anormalidade apareceu abaixo de Kurumi.
Uma tempestade de neve, de repente cristais de gelo e neve apareceram e
começaram a girar formando um redemoinho. Dentro desse redemoinho, aquilo
apareceu.
Uma anormalidade que tinha a silhueta semelhante a de uma boneca feita
de gelo.
Mesmo que tenha sido a primeira vez que ela via aquilo, não havia
dúvidas.
...Espírito. Com um tremendo poder, Mio descreveu aquilo como uma
calamidade que está matando esse mundo.
— Bem, estou indo agora.
Depois de Kurumi falar brevemente, ela infundiu seus pés com poder e
pulou da beirada do prédio.
Caindo do céu, ela virou seu corpo com o objetivo de pousar em frente ao
Espírito de gelo. Mas é claro, seu pulo não era nada parecido com um feito
suicida.
— Astral Dress <Elohim>.
No momento que Kurumi entoou esse nome, sombras encobriram seu
corpo, formando um vestido brilhante feito de partículas de luz.
E...
180
— ...<Zafkiel>!
Quando Kurumi chamou por esse nome, duas pistolas com visual antigo
de tamanhos diferentes se manifestaram em frente de suas mãos.
— Sério, você apareceu em má hora... eu estou com um pouco de mal
humor hoje.
Kurumi afiou seu olhar. Caindo do prédio, ela apontou suas pistolas para
o Espírito de gelo.
...Mate os espíritos para salvar o mundo.
A autoproclamada Aliada da Justiça, Takamiya Mio-san, disse isso a ela
depois de dar poder à Kurumi.
Um Astral Dress absoluto... e um Anjo que pode controlar o tempo e as
sombras, <Zafkiel>.
Foi como a cena de um anime. Se ela quisesse falar sobre isso com seus
amigos e família, eles certamente iriam rir disso como se fosse uma piada mal
feita.
Porém, para Kurumi, que foi escolhida para vestir um astral Dress e portar
um Anjo, aquilo não era motivo para rir.
A existência de um poder sobrenatural que era além do senso comum.
E a presença de um inimigo que deve ser derrotado.
Mesmo Kurumi tendo crescido em um ambiente pacífico, a experiência de
ser atacada por um monstro grotesco e ser salva por uma misteriosa garota fazia
ela aceitar tudo aquilo como sendo verdade.
...Dessa forma, Tokisaki Kurumi se tornou uma caçadora de Espíritos.
Obviamente, ela estava arriscando sua vida, e ela não estava
completamente livre do medo.
Porém, ela não estaria viva naquela hora se Mio não aparecesse para
ajudá-la... sem contar que o objetivo de salvar o mundo despertou emoções que
estavam nas profundezas do coração de Kurumi.
Com um desejo de ajudar, as mãos das pessoas ocasionalmente ganhavam
força, mas elas ainda não tinham meios e métodos para alcançar seus objetivos.
181
O sentimento de salvar o mundo com suas próprias mãos preenchia o
vazio dentro do coração de Kurumi.
Por causa disso... Kurumi começou a lutar.
Para proteger seu mundo, família e amigos, ela matava os monstros que
apareciam na cidade.
Ela estava convencida que aquilo era por todo mundo.
Ela estava convencida que aquilo era por si mesma.
Ela estava convencida que... aquele era o significado de sua existência.
Porém, o fim daquele sonho veio mais cedo do que imaginava.
...Naquele dia. Naquele mesmo dia. Kurumi e Mio estavam suprimindo
outro Espírito juntas.
Uma variante revestida de chamas por todo o corpo, cada passo que ela
dava causava um calor residual que incendiava os prédios arredores, as ruas e as
árvores.
Era um inimigo muito poderoso e intimidador.
Porém, Kurumi não estava com medo. Segurando <Zafkiel> em ambas as
mãos, ela atirou uma saraivada incessante de balas.
— E é isso... está acabado...!
— ............
Juntamente com o som seco de tiros, o Espírito de fogo finalmente caiu.
Porém, seu corpo ainda estava vagarosamente se movendo, com seu punho feito
de cinzas se esticando em direção à Kurumi.
— ...Que persistente.
Kurumi cuspiu um suspiro de irritação e se moveu para atirar na cabeça
do Espírito. Depois disso, o corpo de Espírito permaneceu imóvel.
— Fala sério... finalmente isso acabou.
— ...Obrigada pelo esforço.
— Kya!
182
Assustada com a voz que veio de trás dela, o corpo de Kurumi se encolheu
instintivamente por um segundo. Olhando para trás, ela viu que Mio tinha
inesperadamente aparecido.
— Por favor, pare de aparecer tão de repente, você me assustou.
Quando Kurumi disse isso, Mio abaixou sua cabeça como se tivesse
pedindo desculpas.
— Como sempre, eu vou cuidar do restante do processo. Você pode voltar.
Se me lembro bem, você não disse que tinha feito uma promessa com uma amiga?
— Hm... Eu farei isso. Então, se cuide.
Depois de Kurumi dizer isso, ela deixou seu Astral Dress e Anjo se
desfazerem em partículas enquanto andava para fora daquele local.
Kurumi já tinha se acostumado com tal interação onde ela deixava a
barreira de Mio e seguia seu caminho.
Ela olhou para um relógio... naquele dia ela planejou ir até a casa da Sawa
para brincar com os irmãos e irmãs de Chestnut, mas parece que ainda tinha um
pouco de tempo sobrando.
— ...Muito bem.
Kurumi bateu as palmas das mãos e se dirigiu para a direção original de
onde ela tinha vindo.
Não havia nenhum motivo em especial, ela só pensou que seria legal levar
Mio até a casa de Sawa.
Já havia um tempo que ela e Mio suprimiam os Espíritos, mas elas nunca
tinham se falado fora do campo de batalha. Kurumi tinha certeza que mesmo
Mio, que sempre parecia estar com uma expressão levemente melancólica em seu
rosto, daria um sorriso depois de tocar um gato fofinho.
Porém...
— ......Hã?
Virando o beco, ela estava prestes a voltar ao local onde lutou contra o
Espirito momentos atrás. Mas abruptamente, Kurumi parou seus passos.
Mio estava lá como o esperado... mas o que estava caído ali não era um
monstro, mas sim uma garota humana.
183
— ......
Não, não somente isso. Kurumi estava tão surpresa que ela engasgou em
sua própria voz seca.
Sim, quem estava caída ali era...
...era a amiga de Kurumi, Yamauchi Sawa.
— O q...... hein......?
Enquanto estava incapaz de entender o significado daquilo que estava
diante de seus olhos, Kurumi encarava com olhos arregalados de horror.
Como se tivesse percebido o retorno de Kurumi, Mio vagarosamente virou
seu corpo para a direção dela.
— ...... Ah, Kurumi, você voltou. ...isso é lamentável, eu queria ser uma boa
parceria para você por um pouco mais de tempo.
Enquanto falava, Mio se virou para encarar Kurumi.
...Em suas mãos estava uma gema flutuante brilhando em um tom
vermelho.
Sem dúvidas, apesar da cor diferente, aquilo era a mesma coisa que Mio
tinha dado à Kurumi.
— D-Do que está falando... Por que a Sawa-san...
— Ah, ela era sua conhecida? Isso é realmente... eu fiz algo imperdoável.
— ...Será que...
Kurumi colocou sua mão próxima a sua boca. Em frente de vários
materiais que estavam à mostra, uma linha ligou os pontos que se formaram em
sua mente. Kurumi sentiu uma tremenda vontade de vomitar em seu estômago.
— ...No final das contas, você é muito inteligente.
A breve resposta de Mio só serviu para deixar Kurumi desesperada.
Sim, a posição onde Sawa estava caída era exatamente o mesmo ponto
onde Kurumi atirou e matou o Espírito de fogo.
E então, o Cristal Sephira estava aninhado nas mãos de mio. Isso
significava que...
184
— Aquele espírito era a... Sawa-san...?
Kurumi silenciosamente murmurou enquanto ela sentia seu coração se
contrair fortemente.
Aquele Espírito não foi o único. Kurumi tinha derrotado mais de 50
Espíritos em vários lugares. Talvez todos eles também fossem humanos.
Não, por outro lado, até mesmo a Kurumi tinha um Cristal Sephira
daqueles...
— Ah... AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH...!?
Naquele momento, Kurumi caiu de joelhos. Sua cabeça e coração estavam
rangendo de uma dor terrível... desespero. Esse sentimento negro começou a
corroer seu coração. Era como se uma alucinação de sua própria existência
virando do avesso.
...Nada bom, nada bom, esse sentimento não é permitido.
Instintivamente percebendo que aquele sentimento estava longe de ser
benéfico, Kurumi subconscientemente ergueu sua mão direita.
— ...<Z-Zafkiel>... a Quarta bala <Dalet>.
Então, quando Kurumi proferiu esse nome, o Anjo se manifestou,
permitindo a ela atirar uma bala em sua própria cabeça.
...Rebobinar o tempo do alvo, a Quarta Bala <Dalet>.
Para retroceder seu corpo e mente para o estado antes de sentir desespero.
— Ah... ah... ah...
Enquanto sua respiração tinha dificuldades para recobrar um ritmo
constante, Kurumi encarou atentamente Mio. Porém, Mio não estava com medo,
nem tremendo. Em vez disso, seus olhos estavam arregalados devido ao
impressionante ocorrido.
— Que surpresa, em pensar que você interromperia a Inversão através de
seus próprios poderes, mas você me poupou trabalho. Seria trabalhoso purificar
um Cristal Sephira refinado.
— Inversão... r-refinado...?
185
Depois de Kurumi perguntar, Mio, entre seus pensamentos, fez um gesto
de concordância com a cabeça.
— Isso, acho que você já percebeu, mas Espíritos são humanos que
receberam um Cristal Sephira. ...Não, eu compartilhei meu poder com eles; ficou
preciso dessa forma? Originalmente, a palavra Espírito só se referia a mim, o
Primeiro Espírito.
— O q...
— ...Mas, o Cristal Sephira original era incompatível com os atributos
humanos. Se ele for dado de forma forçada, os seres humanos não seriam capazes
de suprimir o poder transbordante, e ficam fora de controle.
Então, Mio continuou.
— Para fazer com que os Cristal Sephira fiquem compatíveis com os
humanos, a purificação é necessária. Então, se você der um Cristal Sephira
refinado a uma pessoa qualificada, ela vai se tornar um Espírito que consegue
manter sua consciência... assim como você.
— ...Quer dizer que a purificação é...
Os olhos de Kurumi se arregalaram de horror, quando o medo passou por
sua mente e seu corpo reagiu fazendo as raízes de seus dentes tremerem.
Porém, Mio continuou falando de forma indiferente.
— Isso, se forem colocados em corpos humanos, ele fará com que elas
fiquem fora de controle. Mas se o processo for repetido várias vezes, o Cristal
Sephira recuperado do corpo estará purificado. Imagine algo como um
dispositivo de filtragem; fica mais fácil de entender? Porém, recuperar o Cristal
Sephira é algo muito difícil. Eu realmente fui salva quando você apareceu.
A resposta de Mio não foi ruim; mas sim a pior resposta possível. Kurumi
se agarrou em seu peito para prevenir o sentimento de desespero de ressurgir.
...Tudo foi esclarecido.
Kurumi tem sido usada por Mio.
Enquanto pretendia salvar o mundo... Kurumi esteve matando humanos.
Com um olhar transbordando de raiva, Kurumi liberou um rugido de sua
garganta.
186
— Por que... você quer fazer uma coisa dessas...?!
Quando Kurumi perguntou isso aos berros, pela primeira vez Mio
mostrou uma expressão de complicação.
— ...Me desculpe. Eu realmente sinto muito. Eu não tenho nada contra
você. Mas eu não posso parar... não até todos os Cristais Sephira serem entregues
à humanidade.
Quando Mio disse isso, ela virou suas mãos em direção a Kurumi.
— ...Até lá, boa noite, Kurumi. Obrigada por tudo que fez até agora.
— O que você está...
As palavras de Kurumi de repente foram encerradas.
Não, seria melhor dizer que sua consciência foi interrompida.
...Quando será a próxima vez de despertar?
— ...Ara, ara...?
No meio de uma consciência enevoada, Kurumi abriu seus olhos.
Com uma memória nublada, ela não conseguia se lembrar de nada. A
única coisa que ela conseguia se lembrar era de seu próprio nome e do
extraordinário poder que ela portava.
Olhando em volta, o centro da rua estava destruído como se tivesse sido
atingido por um meteoro. Kurumi estava de pé no centro da cratera.
— Sim, onde é aqui... exatamente...?
Na vista que estava diante de seus olhos, havia muitos fatores
desconhecidos para seu cérebro conseguir lidar.
Onde era aquele lugar, quem era ela, por que ela estava ali...?
Quando Kurumi se questionava sobre esses assuntos, um ruído distante
ziniu em seus ouvidos.
— ...Ara?
Olhando em volta, ela viu pessoas voando no céu enquanto vestiam
armaduras mecanizadas. Com aquela estranha vista, os olhos de Kurumi ficaram
atordoados de espanto.
187
— Que incrível... O que exatamente é isso...
Porém, elas não deixaram Kurumi falar por muito tempo. Mirando com as
armas em suas mãos, elas atiraram várias bombas e mísseis em Kurumi.
— Kiki...!
Com os ombros tremendo, Kurumi rapidamente fugiu para sua sombra.
Mesmo que suas memórias ainda estejam incompletas, ela ainda assim, de
alguma forma, se lembrava de como usar seus poderes.
— Ha... Ha, hmm... isso me pegou de guarda baixa...
Nesse espaço escuro, Kurumi respirou profundamente enquanto tentava
rearranjar a situação atual em sua mente.
Porém, como a informação disponível era inadequada, não havia nada que
ela pudesse fazer. Fora seu nome, a única coisa que ela se lembrava era sobre seu
Anjo e Astral Dress...
— ............
Naquela hora, Kurumi concebeu uma ideia. Ela ergueu sua mão direita e
chamou pelo nome do Anjo.
— <Zafkiel>... a Décima Bala <Yud>... é isso mesmo?
Kurumi disse com uma voz apreensiva e uma pequena arma com uma
bala apareceu em sua mão. Mesmo que tenha sido algo que ela chamou, Kurumi
soltou um "uau" para mostrar sua surpresa.
—
— I-Isso realmente apareceu!
A décima Bala, <Yud>, se o pressentimento dela estiver correto, essa bala
poderia transmitir as memórias de qualquer objeto que ela atingir para ela, então
assim ela poderia ser capaz de se lembrar de tudo que seu cérebro vivenciou.
Os dedos de Kurumi tremeram enquanto ela pressionava o cano da arma
contra sua cabeça, mas ela ainda assim estava determinada a puxar o gatilho.
Bang, esse efeito ressoou como o som da bala atingindo a cabeça de
Kurumi.
Naquele momento...
188
— ............
O turbulento fluxo de memórias correu para a mente de Kurumi.
A garota que ela tinha conhecido anteriormente: Mio.
E... pelas suas próprias mãos, o que ela tinha feito a sua melhor amiga.
O crime cometido por seu engano.
— Ah...... ahhhhhhhhh......
Com as mãos trêmulas, Kurumi soltou a arma enquanto caía de joelhos.
Ressentimento sem fim e desespero permeavam o coração dela.
Relembrando até mesmo a tristeza entre a tolice que ela tinha feito.
...Porém.
Logo após, Kurumi ergueu sua cabeça.
Ali não estava mais uma garota que estava imersa em uma vida pacífica
ou uma criança que sonhava ser uma amiga da justiça.
o que sua expressão revelava era infatigabilidade.
O que brilhava em seus olhos era fúria.
Mesmo que ela não soubesse o que Mio estava pensando, Kurumi ainda
assim continuava viva.
E em suas mãos... o único poder que poderia interferir com o tempo desse
mundo, o Anjo mais forte, <Zafkiel>.
Tudo ainda não estava acabado.
Para refazer o mundo.
Não importa quantos sacrifícios ela terá que fazer.
Para refazer a história.
Mesmo que isso leve à destruição total de seu corpo.
Kurumi ficou de pé mais uma vez e começou a caminhar para frente.
◇◇◇◇
189
— ......!?
Vagarosamente abrindo seus olhos, Shidou verificou seus arredores.
Um quarto mal iluminado de um prédio residencial. Kurumi estava
reclinada em seu peito, a temperatura de seu corpo quente estava sendo
transmitida a ele.
Naquela hora, Shidou finalmente se lembrou.
Agora mesmo, ele estava em um encontro com Kurumi.
— A-Aquilo agora foi...
Sonhando acordado... o tempo pode ser tarde demais, mas sensualmente
era algo próximo a isso.
Aquilo foi algo como ter vivenciado a vida de outra pessoa. Até alguns
segundos atrás, a consciência de Shidou tinha certamente se convertido na de
Kurumi.
Então, Shidou percebeu, as palavras que Kurumi tinha recitado momentos
antes de atirar nele... A Décima Bala <Yud>.
Shidou já tinha visto isso antes. Um dos poderes de <Zafkiel>, a habilidade
de transmitir as memórias contidas em um objeto.
Não, Kurumi tinha atirado na cabeça de Shidou com uma arma pequena.
Isso só podia significar uma coisa.
O que Shidou tinha acabado de ver não era nem uma ilusão nem um
sonho... mas sim algo que tinha realmente acontecido no passado de Kurumi.
— ...Eu vou.
Kurumi disse de uma forma abrupta quase sem voz.
— Para matar o Espírito da Origem. Não importa o que aconteça. Não
importa... o que eu tenha que fazer.
Kurumi apertou com força a camisa de Shidou enquanto continuava.
— Eu não posso dizer que o que estou fazendo é certo. Enquanto era
enganada pelo Primeiro Espírito, eu matei várias pessoas... mesmo agora eu
190
carrego em minhas costas uma montanha de cadáveres para poder erradicar a
existência desse Espírito. Eu sou má, sem dúvidas uma inimiga da humanidade.
Matar, matar e matar mais ainda, um <Pesadelo> que traz morte atrás de morte.
Se houver realmente um inferno, um assento especial será reservado para mim
nas profundezas dele.
— Mas...
Kurumi cerrou sua mão em um punho.
— Eu não me importo, contanto que antes que eu caia na prisão da Terra,
eu possa alterar o mundo de forma a fazer que o Primeiro Espírito, Takamiya
Mio, nunca exista.
— Mio...
Shidou repetiu aquele nome em uma voz rouca. Mio. Ele já tinha ouvido
aquele nome antes...
Sim, ele tinha ouvido esse nome através da Mana anteriormente. Foi o
mesmo nome que o próprio Shidou tinha dito quando ele estava em estado de
transe quando seu reiryoku saiu de controle.
E além disso... Takamiya. Aquele sobrenome era inquestionavelmente o
mesmo sobrenome da Mana.
...Um significado desconhecido. Todas essas informações se misturaram
na cabeça de Shidou fazendo dela um caos.
Mas para o Shidou de agora, ele não tinha tempo sobrando para digerir
tudo isso.
Kurumi, depois de ficar exausta por explicar tudo a ele, vagarosamente
respirou profundamente enquanto ela afrouxava o aperto nas roupas de Shidou.
— Eu vou refazer tudo. Eu vou restaurar tudo que aconteceu do zero.
Kurumi ergueu sua cabeça que estava afundada nos peitos de Shidou e
olhou diretamente para os olhos dele.
— Esse é meu propósito, o significado da minha existência... por isso, o
poder dos Espíritos contidos dentro do Shidou-san é necessário.
Kurumi terminou suas palavras com um tom quase suplicante antes de
continuar a responder Shidou.
191
— É claro, eu não planejo esconder isso de você. Se eu comer o Shidou-
san, o Shidou-san vai morrer. Mas, contanto que eu consiga o reiryoku que o
Shidou-san tem, eu certamente conseguirei mudar a história.
— História...
Ouvindo essas palavras, Shidou não pôde deixar de se lembrar de quando
voltou ao passado com Kurumi.
Então, ele sabia melhor que ninguém que o que Kurumi disse não era uma
mera desilusão.
Afinal de contas, Shidou tinha mudado a história do mundo uma vez.
.....Com nada mais nada menos do que o poder do Anjo da Kurumi.
— Sim, ao apagar o Primeiro Espírito da história, eu nunca terei me
tornado um Espírito. Em outras palavras... o fato de que Shidou-san foi comido
vai desaparecer.
Então, Kurumi olhou intensamente para Shidou.
— Shidou-san, se você acredita em mim, por favor dê seu poder, sua vida
para mim. Por favor, só a empreste para mim por um momento.
— ......
Era uma visão diferente da Kurumi de sempre que tirava sarro dele, ela
estava com um olhar sério que deixava Shidou sem palavras.
O motivo para isso era compreensível. Porém, isso não mudava o fato de
que ele perderia sua vida. Normalmente Shidou teria pensado nisso.
Porém, o que estava naquela hora na mente de Shidou era um tipo
diferente de sentimento que ia e vinha.
...Um arrependimento que corria desenfreadamente como uma onda
violenta.
Uma raiva que ressecava seu corpo.
Naquela hora, se eu não tivesse a alcançado.
Naquela hora, se eu não tivesse apertado o gatilho.
Naquela hora, se eu não tivesse começado a caçar os Espíritos.
192
Se eu tivesse feito essas coisas, eu não teria me tornado quem eu sou agora.
Eu tenho que matar. Eu tenho que apagar. Eu tenho que fazer com que ela
nunca tenha existido.
Pelos meus amigos, pelo mundo, pelas vidas que ela comeu.
Aparentemente aqueles pensamentos não pertenciam a Shidou.
Porém, por ter vivenciado a vida de Kurumi, as emoções compartilhadas
também tinham devastado o coração de Shidou.
— Eu quero...
— ......
Enquanto Shidou soltava uma voz trêmula, Kurumi escondia seus olhos
atrás de sua franja por um momento antes de erguer a cabeça com uma decisão
tomada.
— É claro, eu não acho que essa é uma troca justa. Mesmo que eu queira
me certificar que tudo isso nunca tenha existido, não tem diferença eu solicitar a
vida do Shidou-san... então por agora, tudo que posso fazer é uma promessa.
Enquanto Kurumi dizia isso, ela despreocupadamente usou sua mão para
desabotoar sua blusa.
— ...!? E-Ei...?
Em resposta ao comportamento inesperado de Kurumi, Shidou mostrou
uma expressão desorientada.
Porém, Kurumi não pareceu se importar, pois suas mãos continuavam a
tirar as roupas que ela estava vestindo uma a uma.
A roupa de baixo escolhida na loja de lingerie já tinha sido exposta durante
o dia. Aquela peça não parecia combinar com ela, mas ainda assim ela parecia
favorecer o flerte encantador de Kurumi.
Esticando as mãos você poderia tocá-la.
E Kurumi certamente não recusaria.
Essa incrível sensação fez a cabeça de Shidou parecer que ele estava com
febre.
— .............
193
Como se tivesse percebido o estado do coração de Shidou, Kurumi esticou
seus braços e pegou as mãos de Shidou.
Então, ela puxou as mãos de Shidou de uma maneira como se elas
tivessem se movimentando sozinhas. Conduzindo os dedos de forma a fazer eles
deslizarem sobre a alça de seu sutiã.
— ............
Shidou não conseguia resistir a excitação que já tinha passado do nível
máximo permitido. Seus dedos estavam sendo conduzidos por Kurumi que os
fez abaixar as alças que estavam em seus ombros.
Mas isso não foi o fim. Da mesma forma, Kurumi colocou as mãos de
Shidou em seu abdômen, deixando os dedos próximos a sua calcinha.
A mão vagarosamente foi abaixando. Conforme a pele macia de Kurumi
gradualmente ficava exposta, Shidou não conseguia tirar seus olhos dela.
Sem nada para se cobrir, Kurumi, com as bochechas levemente coradas,
mais uma vez se voltou para Shidou.
— ...Eu vou lhe dar tudo menos meu reiryoku (Vida).
— O-O que...
Aquelas palavras saíram de sua garganta.
No quarto escuro, a luz da lua pousava pelo vão das cortinas, levemente
iluminando a pele de porcelana de Kurumi.
Nessa cena dos sonhos, a mente de Shidou primeiramente se lembrou de
um tipo de visão familiar em vez de puro desejo carnal.
Kurumi vagarosamente andou para frente, aproximando seu contato com
as mãos dele. Não, ela fez isso para empurrar o corpo de Shidou, fazendo ele cair
na cama atrás dele.
Kurumi caiu sobre o corpo de Shidou. Com respiração vacilante, ela levou
suas mãos até os botões das roupas de Shidou.
— E-Ei, Kurumi...
Shidou falou com dificuldades, querendo empurrar Kurumi para o lado.
Mas ela era um Espírito, mesmo que fosse mais fraca que Tohka em força bruta,
Shidou não tinha como competir com ela sendo um humano.
194
Não, talvez contrariando o desejo de Shidou, seu corpo instintivamente
recusaria qualquer resistência.
Para piorar a situação dele, Kurumi era... linda.
Brincadeiras a parte, se ele pudesse ficar com ela, até mesmo perder a vida
não importaria. Ela faria qualquer um perder a cabeça.
— Shidou-san, Shidou-san. Se você quiser, eu farei qualquer coisa. Se você
pedir, eu posso fazer qualquer coisa.
— K-Kurumi...
Um conflito entre racionalidade e instinto, parecia que seus neurônios
estavam sendo fritados.
Se ele se distraísse só um pouco, ele ficaria à mercê de Kurumi.
Porém...
— ......!?
No momento seguinte, quando os dedos de Kurumi estavam prestes a
tocar a pele de Shidou, um barulho alto de repente se rompeu. Era como se a
janela tivesse sido quebrada e várias garotas tivessem pulado para dentro do
quarto arrancando a cortina.
...Garotas que tinham exatamente a mesma aparência.
— En-con-tra-mos você.
— ...Hmm? Estavam esperando por isso?
— Isso é realmente nauseante. Muito bem, vamos deixar vocês terminarem
isso primeiro. Um homem morrer sem conhecer o corpo de uma mulher é
realmente lamentável.
— O q...
Shidou ficou espantado com as garotas que apareceram do nada.
Mas isso era natural já que aquelas eram as garotas que tinham aparecido
no sonho de Shidou dias atrás.
— ...Ara, ara.
Porém, a reação de Kurumi era um pouco diferente da de Shidou.
195
Comparando com surpresa, a superfície de seu rosto estava mais
carregada com raiva e frustração.
— Espíritos falsificados, vocês têm que ter muita coragem para perturbar
meu momento com o Shidou-san.
Enquanto ainda estava nua, Kurumi rapidamente ficou de pé.
Ouvindo essas palavras, as expressões das garotas rapidamente
mudaram.
— Oh? O que quis dizer com... "falsificados"?
— Eu posso considerar que está insultando nosso pai?
— Imperdoável!
Depois de terminarem de falar, as garotas afiaram seus olhares e atacaram
Kurumi todas de uma vez.
— Kurumi...!
Porém, Kurumi calmamente se virou. Sem que ele percebesse, as pistolas
de formato antiquado já estavam em suas mãos enquanto ela apertava o gatilho
continuamente.
— <Zafkiel>, A Sétima bala, <Zayin>!
As garotas que tocaram a bala ficaram paradas no ar, congeladas depois
de tentarem investir contra Kurumi.
A Sétima bala <Zayin> parava o tempo do alvo que foi atingido. Era
realmente um trunfo de <Zafkiel>.
— ...Uhmmm.
Kurumi grunhiu carrancudamente enquanto dava as costas para as
garotas.
Então, de acordo com essa ação, inúmeras mãos surgiram das sombras que
se espalhavam pelo chão e pela parede, puxando o corpo das garotas para as
sombras.
— <Zafkiel>, a Quarta Bala, <Dalet>.
Enquanto Kurumi dizia isso, ela mirava o cano da arma nos cacos de vidro
da janela quebrada, atirando uma bala negra.
196
No momento seguinte, os estilhaços flutuaram pelo ar e se organizaram
na janela como se fosse uma filmagem tocada de forma reversa.
Depois de alguns segundos, o quarto retornou para o silêncio e solidão de
antes.
Kurumi deu um leve suspiro, deixando cair as pistolas na sombra
enquanto se esforçava para voltar para Shidou.
— Alguns estorvos ficaram no caminho. Sério, em pensar que elas viriam
justo nesta hora.
Kurumi disse isso enquanto tinha dificuldades para ficar em pé, colocando
sua mão na parede.
— Kurumi...?
— Não é nada... sério...
Kurumi tentou sorrir enquanto tentava voltar para perto de Shidou,
porém...
Assim como uma marionete que teve suas linhas cortadas, ela caiu no
chão.
197
Capítulo 5 - Samsara da Salvação
— ...Você falhou?
Em uma sala dentro da filial japonesa das indústrias DEM, Ellen
respondeu o informe de seu subordinado com uma expressão de desgosto.
— Estranho dizer isso, mas até mesmo as partes do <Beelzebub> enviadas
pelo Ike estão tendo trabalho para ter algum resultado. Atualmente, tivemos uma
acumulação de falhas consecutivas. Qual é o maldito problema afinal? Eu
gostaria de saber se tem algum outro motivo além da baixa qualidade de quem
está tentando.
— Ellen é realmente incrível. Suas palavras contêm apenas espinhos.
Artemisia disse com um sorriso torto. Ellen produziu um som de "humph"
com o nariz enquanto fazia um gesto exagerado ao cruzar os pés.
Então, em sincronia com essa ação, muitas folhas de papel que estavam
sendo carregadas pelo vento flutuaram para o local vindas da entrada da sala.
De repente, algumas garotas com a mesma aparência emergiram dessas
folhas de papel.
— Bem, você não é a mais qualificada para dizer isso.
— Você não foi a primeira pessoa a falhar?
— É irritante receber esse olhar de raiva. Que idade você tem?
— ...Como é que é?
Ellen encarou as <Nibelcol> com um olhar afiado. As <Nibelcol> fingiram
ficar com medo, tremendo enquanto soltavam gritos de "kya, kya".
Ellen não tinha tempo para ficar brava com as <Nibelcol>, mas era
necessário que elas soubessem o que significava insultar Ellen, que era a mais
forte. Ellen franziu as sobrancelhas enquanto ela dava o comando para seu
cérebro expandir seu território voluntário.
Porém, o dispositivo de manifestação Realizer de Ellen não se ativou.
Antes que ela pudesse o fazer, Westcott entrou na sala.
— Olha só, parece que todos já estão reunidos.
198
— ...Ike.
Ellen suspendeu seus comandos enquanto se levantava da cadeira e
arrumava sua postura. Seguindo seu exemplo, Artemisia imitou suas ações,
também ficando de pé.
— ...! Otou-sama!
A expressão das <Nibelcol> de repente se iluminaram enquanto elas
corriam para o lado de Westcott.
Enquanto Westcott andava em direção a Ellen, ele vagarosamente
acariciou as cabeças das <Nibelcol>. Suas ações eram modeladas pelos
movimentos de seus músculos faciais, um sorriso sem gosto e sem odor.
— Parece que o progresso não está indo nada bem. A força de trabalho é
inadequada?
— Não, não é algo como isso...
Enquanto Ellen tentava responder, os gritos das <Nibelcol> bloquearam
suas palavras.
— Pai, você tem que me escutar. Toda hora aquelas garotas ficam no nosso
caminho.
— Sim, sim, é tão frustrante. Como é que ela se chama?
— Ela se chama <Nightmare>, né? Ela realmente é um problema. Se ela
não estivesse lá, não podemos imaginar quantas vezes o Itsuka Shidou já teria
morrido nesse momento.
— Humph...
Depois de escutar as palavras de <Nibelcol>, Westcott deu um pequeno
suspiro. Então, ele colocou sua mão no queixo, pensando profundamente.
— <Nightmare>...? Que estranho pensar que o Pior Espírito protegeria um
humano. A única forma de contra-atacar a <Nibelcol> em números é com os
clones dela.
— Mesmo assim, ela não está um pouco à frente demais de nós? Sem
dúvidas, mesmo usando os poderes de investigação de <Beelzebub> e o
gigantesco número de <Nibelcol> para atacar, ela ainda assim consegue nos
bloquear.
199
Depois de Artemisia terminar de falar, Westcott deu outro suspiro antes
de erguer os cantos de sua boca.
— Talvez... ela já esteja ciente de tudo. Se não for esse o caso, ela não
conseguiria se esconder do poder de investigação de <Beelzebub>.
— Você quer dizer que informações de nosso ataque estão sendo vazadas?
— Não, não o plano de ataque, mas sim o ataque em si.
— .......?
Em resposta às palavras de Westcott, Ellen inclinou sua cabeça de
curiosidade.
◇◇◇◇
— ... Kurumi! Kurumi!
Eles estavam em um prédio abandonado nos arredores da Cidade Tengu.
Nessa sala, Shidou correu até Kurumi, que tinha acabado de cair no chão.
Depois de cobrir o corpo nu dela com um lençol, ele cuidadosamente
mudou a posição dela enquanto aproximava seu ouvido da boca dela para
confirmar se ela ainda estava respirando.
Embora pequena, seu tímpano definitivamente captou o som de
respiração dela. Shidou, se sentindo momentaneamente aliviado, começou a
gentilmente balançar os ombros de Kurumi.
— Kurumi, tudo bem com você? Kurumi!
Então, Shidou repetiu o nome dela novamente, como se tentasse trazer de
volta a consciência de Kurumi.
— ...Por favor, espere um pouco, Shidou-san.
Kurumi respondeu a ele com uma voz quieta.
— ......!?
Porém, a expressão de Shidou ainda estava cheia de confusão porque
Kurumi ainda estava desacordada no chão, seus lábios permaneceram imóveis.
200
Mesmo assim, ele imediatamente entendeu a identidade da pessoa por
trás daquela voz.
Uma garota, que tinha o mesmo rosto de Kurumi, descuidadamente
avançou das sombras da parede. Sem dúvidas, ela era um clone de Kurumi criada
por <Zafkiel>.
O clone da Kurumi colocou seu dedo indicador perto da boca de Shidou
para o silenciar. Ela fez uma expressão facial complicada enquanto se ajoelhava
perto da Kurumi original.
— Por favor, fique um pouco em paz, Shidou-san; Eu só está dormindo.
Por favor permita que Eu descanse um pouco.
— T-Tudo bem, mas por que a Kurumi caiu de repente...?
Enquanto Shidou falava, o clone gentilmente acariciou o rosto do original
antes de voltar sua atenção a ele novamente.
— É porque tem sido bem difícil para Eu continuar participando de
tamanha batalha nesse estado de exaustão.
— O-O que você quer dizer com isso...?
— ............
Em resposta à pergunta de Shidou, o clone de repente expôs uma
expressão de hesitação.
Ela sabia o motivo, mas parecia que ela estava se perguntando se era
apropriado ou não contar ao Shidou.
No momento seguinte, uma silhueta emergiu atrás do clone.
É claro, assim como o clone, ela tinha a mesma aparência da Kurumi.
Porém, ela estava vestindo um vestido monótono de Lolita Gótica em vez do
Astral Dress vermelho e preto de sempre. Uma linda rosa artesanal decorava sua
cabeça enquanto um tapa-olho de uso médico cobria seu olho esquerdo.
— Você é...
Olhar para aquela figura fez os olhos de Shidou se arregalar.
Ela era a Kurumi de cinco anos atrás, a que Shidou tinha visto depois de
voltar ao passado com o poder da Décima Segunda Bala <Yud Bet>. Mas ele
imediatamente entendeu o que estava acontecendo. A Oitava Bala <Het> de
201
Zafkiel tinha reproduzido um clone da Kurumi do passado. Dito isso, mesmo
que o clone fosse de cinco anos atrás, isso não seria nada estranho.
Depois de alguma hesitação, a Kurumi de tapa-olho colocou suas mãos
nos ombros dele, seu olho vermelho encarando os olhos de Shidou.
— Shidou-san, está preparado para ouvir a verdade?
— Hã...?
— Se você não perguntar nada e fingir que não sabe de nada, então depois
que Eu acordar, tudo voltará ao normal. Mas, mesmo assim, ainda quer saber a
verdade?
A Kurumi de tapa-olho espremia os olhos enquanto falava. Era como se
ela estivesse vendo através da confusão e hesitação no coração dele, Shidou
pareceu ficar momentaneamente aturdido.
Porém, Shidou rangeu seus dentes para incitar a si mesmo enquanto
tentava encarar de volta a Kurumi de tapa-olho.
Então, a Kurumi de tapa-olho começou a rir, rindo como se tivesse
acabado de fazer uma pegadinha.
— Ara, ara, se fosse para ficar assim em silêncio era melhor nem ter
continuado.
— ...! E-Ei, você!
— Brincadeirinha... pela sua determinação, eu lhe ofereço minha gratidão
sem fim.
A Kurumi de tapa-olho mostrou uma expressão animada enquanto
vagarosamente se levantava e apontava o dedo indicador e o dedão de sua mão
direita contra Shidou.
Era como se... ela estivesse mirando em Shidou com uma arma.
Então, ela disse.
Era algo tão fora da realidade que beirava o absurdo.
— Começando da conclusão... Shidou-san, você já morreu.
A Kurumi de tapa-olho declarou isso; ela ergueu a ponta de seus dedos,
como se quisesse imitar o disparo de uma bala comum.
202
— ...O quê?
Shidou, que não fazia ideia do que a Kurumi de tapa-olho estava dizendo,
proferiu com uma voz inaudível.
— O que está dizendo...? Eu... morri? Ei, ei, então por que eu ainda
continuo me movendo nesse exato momento? Ou por acaso eu estou no paraíso
e nem percebi?
— Ufufu, então isso significa que eu sou um tipo de deusa desse lugar.
A Kurumi de tapa-olho mais uma vez disse de forma jocosa.
Porém, sua expressão imediatamente se acalmou enquanto ela continuava
a falar.
— Em outras palavras, Shidou-san já deveria estar morto... não, você
possivelmente já estaria morto.
— O que... está dizendo?
Shidou não sabia como responder adequadamente aquela declaração.
Mesmo que haja uma possibilidade... dele estar morto, se esse era o caso,
então a sombra de uma morte repentina paira sobre o dia-a-dia de qualquer ser
humano.
Porém, Shidou não podia continuar daí. Pela expressão da Kurumi de
tapa-olho, não parecia que ela estava brincando ou zombando dele.
— ............
Depois de adivinhar os pensamentos de Shidou pelo seu humor, a Kurumi
de tapa-olho continuou a falar depois de dar um sorriso triste.
◇◇◇◇
204
Em 9 de fevereiro depois que a aula acabou.
Tokisaki Kurumi era a única pessoa no terraço da escola, olhando para a
paisagem da Cidade Tenguu pelo cercado. Ela não tinha nenhum motivo especial
para estar ali, sem qualquer pensamento de nostalgia ou de ansiedade. Em
primeiro lugar, havia somente uma pequena sensação de sensibilidade sonora
que vinha a sua memória ao olhar para tal cenário, apesar de Kurumi
permanecesse cética quanto a tal coisa continuar em sua mente.
É claro, até mesmo Kurumi podia rir ou sentir raiva. Quando encontrava
algo que a deixava feliz, ela sorria... e ela também choraria se passasse por
momentos tristes.
Porém, apesar de nascer como uma humana, ela não poderia achar que o
conteúdo de sua mente, tendo gasto a maior parte de sua vida como um Espírito,
uma vingadora, uma assassina, poderia ser o mesmo de antes.
A alegria que ela sentia agora era certamente diferente da que sentia
antigamente.
O sofrimento dela agora com certeza era diferente de outrora.
Porém, somente a persistente chama do ódio em seu coração continuou
inalterado não importa o tempo que já se passou.
— ............
O sol já tinha começado a se pôr, e o evento da escuridão da noite cobrindo
completamente o prédio iria acontecer cedo ou tarde. Mesmo que ela não
soubesse que horas eram, ela sabia que já estava quase na hora marcada.
— ......Cansada, estou cansada de esperar.
Kurumi murmurou em um sussurro enquanto seus dedos estavam
encostados nas grades do parapeito.
Então, uma voz abafada, como se estivesse a respondendo, pôde ser
ouvida das sombras entrincheiradas debaixo dos pés de Kurumi.
— ......Ei, Eu, está tudo realmente bem?
Ao ouvir as palavras do clone, Kurumi lhe devolveu um olhar afiado.
205
— Eu não posso voltar atrás agora. Por favor entenda o significado de eu
ter devorado dezenas de milhares de vidas até esse momento. Eu vou... matar o
Shidou-san. Essa é a única forma de reescrever o mundo.
Quando Kurumi disse isso, houve silêncio por um instante. Então, uma
voz foi ouvida das sombras, parecia ser um clone diferente dessa vez.
— Para a atual Eu estar simplesmente se perguntando se está tudo está
realmente bem, o que exatamente Eu estava pensando?
— ............
Kurumi, depois de ouvir as palavras dos clones, franziu as sobrancelhas e
então começou a pisar na sombra com o salto de seu sapato.
No momento seguinte, como se estivesse tentando substituir esse barulho,
o som do ranger da porta entrou em seus tímpanos.
Shidou tinha chegado. Kurumi respirou profundamente para se acalmar
antes de se virar vagarosamente para olhar a entrada do terraço.
— ...Ara.
Ali estava Shidou, assim como Kurumi havia previsto. Sua expressão
estava carregada de determinação e tensão enquanto encarava Kurumi.
— Ufufu, bem-vindo. Então você realmente veio na hora marcada, Shidou-
san.
Kurumi o cumprimentou enquanto falava, erguendo a bainha de seu
vestido para se curvar graciosamente como se estivesse em uma cerimônia
respeitosa.
Shidou, que estava olhando para Kurumi, ficou com o rosto corado por
um momento. Porém, ele balançou a cabeça como se quisesse espantar qualquer
que fosse o pensamento que tinha em mente.
Naquele instante, Kurumi olhou para a porta de onde Shidou tinha vindo.
Assim que ele passou por ela, parece que a porta havia se mexido levemente.
...Provavelmente, Tohka e as outras tinham ido espiá-los por estarem
preocupadas com Shidou.
206
Mesmo que fosse inevitável, isso mostrava que não havia nenhuma
confiança entre eles. Kurumi suspirou de forma autodepreciativa. Então, quase
que em conjunto com as ações dela, Shidou abriu sua boca para falar.
— Kurumi, eu vim como o prometido.
E então, Kurumi olhou diretamente para aqueles olhos radiantes de firme
determinação que indicavam sua percepção da situação.
Não fazia nem um ano desde que ela tinha conhecido Shidou, mas parece
que a força dele tinha crescido consideravelmente. Ela desintencionalmente
relaxou a boca por um momento.
— ... Você mudou aos poucos, Shidou-san.
— Hmm...?
— Agora, você aparenta ter crescido e se tornado bem mais maduro
comparado a quando nos conhecemos. Bem, depois de ter passado por aquele
campo de carnificina talvez isso seja o mínimo... Ufufu, você o fez de forma
maravilhosa.
— N-Não tire sarro de mim.
Shidou respondeu timidamente. Mesmo que o sol já estivesse quase se
pondo, ainda assim estava visivelmente claro que o rosto de Shidou estava
corado. Parecia que essa cena fofa não iria mudar tão cedo.
— Deixando isso de lado, você tem que continuar aquela conversa de mais
cedo; sobre as condições para selar seu reiryoku.
— .........
Kurumi riu em resposta às palavras de Shidou.
Mesmo que não fosse uma expressão facial que indicava hostilidade,
talvez ela a fez como resultado da outra face de sua personalidade mostrando a
superioridade de sua vantagem em relação a ele. Shidou fez uma expressão de
nervoso e engoliu em seco.
— Eh, eh. Então eu vou te dizer, eu...
...Naquela hora.
No momento seguinte, assim que Kurumi começou a falar.
207
Uma única linha passou pela visão de Kurumi e a cena diante de seus
olhos foi tingida de vermelho vivo.
— Hã...?
De repente, Shidou não sabia o que diabos estava acontecendo, uma voz
instável saiu de sua garganta.
Depois disso, Shidou entendeu o que era aquela poça vermelha em frente
aos seus olhos, era a cor do sangue que jorrava de seu peito.
— ......
Instantaneamente.
De fato, literalmente em um piscar de olhos, Shidou foi empalado no peito
por uma garota que voava no céu.
Cabelos loiros dançando ao vento e uma armadura de platina coberta pelo
sangue fresco... a Wizard Ellen Mathers.
— Ah...... ga...... aaaah!
Shidou, que caiu no chão, gritou de dor. Hemoptise, um monte de sangue
começou a sair de sua boca.
Naquele momento, a porta do terraço foi aberta abruptamente com
extremo vigor.
— Shidou!
— Shidou......!
Os Espíritos que estavam bisbilhotando por trás da porta correram em
pânico. Como resultado da convulsão e vômito de sangue de Shidou, uma luz se
reuniu em volta dos Espíritos que se apressaram para vestir seus Astral Dresses
limitados.
Porém...
— ......Humph.
Ellen deu um leve riso cheio de ridicularização ao olhar para os Espíritos.
Então, ela de repente ergueu sua mão esquerda.
Então, uma partição de sua CR-Unit ejetou várias folhas de papel, que
dançaram no ar como se quisessem envolver Ellen e Shidou.
208
Então, no momento seguinte, várias garotas com o mesmo rosto
emergiram das folhas de papel.
— ......!?
Aquela era uma cena que se assemelhava aos clones de Kurumi emergindo
das sombras. Vestindo roupas que se pareciam com um Astral Dress, e com
esvoaçantes cabelos cor de carvão, essas garotas ficaram paradas ali para
bloquear a passagem dos Espíritos.
— Ei.
— Me desculpa, mas não posso deixar vocês ficarem no caminho.
— Bem, mesmo que seja difícil de dizer, parece que vocês vão nos
atrapalhar.
— Qu......!? Quem são elas?
— Receio. Quem são vocês?
As irmãs Yamai levantaram suas vozes espantadas enquanto invocavam
seu Anjo, <Raphael>. Similarmente, Tohka e Origami manifestaram seus Anjos e
atacaram as garotas.
— Saiam do caminho, aaaaaaaah!
— Fuh...
Porém, essas garotas não tentaram desviar do golpe.
Enquanto riam com um fino sorriso em seus rostos, essas garotas
alegremente receberam o corte da <Sandalphon> e o bombardeio da artilharia de
<Metatron>.
É claro, esse não foi o fim. Os corpos dessas garotas tinham sido tanto
cortados como perfurados.
Porém, elas nem sequer emitiram um gemido de angústia, nem mesmo
distorceram seus rostos para refletir uma expressão de dor. Elas somente
sorriram e riram.
Então, na abertura deixada pelo ataque delas, as outras garotas, uma a
uma, agarraram a espada de Tohka e as pernas de Origami.
— ......!
209
A expressão de Kurumi não podia ter deixado de ficar tensa ao ver tudo
aquilo. Mesmo que aquelas garotas tenham reiryoku em seus corpos, elas não tem
poder para competir contra Tohka e as outras oponentes.
Porém, a questão estava em seus números e como elas não se importavam
de morrer como indivíduos dentro daquele grupo.
Mesmo que ela não saiba sua verdadeira identidade, Kurumi sabia do
fundo do coração como era complicado lidar com aquilo, como usar a quantidade
como uma arma em si.
— ... Nós!
No momento após ela entender isso, Kurumi começou a convocação.
Como que em resposta a isso, a sombra de Kurumi começou a se expandir
no chão do terraço, e dali um grande número de Kurumis apareceram.
Então, as Kurumis, em resposta ao desejo de sua mestra, avançaram para
impedir que as garotas não identificadas atrapalhassem Tohka e as outras.
Apesar de fazer isso, ela não queria salvar Tohka e as outras. Mas se ela
deixasse as coisas como estão, Ellen certamente mataria Shidou. Essa situação era
inaceitável para Kurumi, que estava atrás do reiryoku selado dentro do corpo de
Shidou.
— Kuhihi, hihi hihi!
— Essa por acaso não é uma habilidade patenteada que nós supostamente
monopolizamos?
— Haha, o que é isso?
— Oh, então você é a famosa <Nightmare>? Tem mais de você do que
imaginávamos.
As Kurumis e as garotas entraram em combate umas com as outras,
transformando o terraço da escola em uma cena de aniquilação sanguinária.
Porém, isso sozinho não era o suficiente. Esses clones só podiam servir
como oponentes para aquelas garotas.
Kurumi retirou uma pistola das sombras e mirou o cano da arma para
Ellen, que estava pisando nas costas de Shidou.
— ......!?
210
No momento que ela estava prestes a apertar o gatilho, ela viu seu braço
ser cortado de uma só vez e voar pelo ar.
Não foi um ataque de Ellen.
Despercebida até então, outra Wizard tinha acabado de aparecer atrás de
Kurumi.
— Não deixarei você prosseguir, <Nightmare>.
— ...Artemisia Ashcroft....!
Kurumi rangeu os dentes enquanto chamava pelo nome da garota loira.
Uma dor terrível foi produzida por ter seu braço cortado fora pela lâmina
laser. Kurumi mordeu os lábios com força enquanto aguentava a dor, fugindo de
Artemisia por um fio.
Corpo a corpo. Uma batalha no mano-a-mano. Esgrima contra uma chuva
de balas.
Em questão de poucas dezenas de segundos, o terraço uma vez pacífico
da escola tinha se tornado um campo de batalha.
Era difícil adivinhar o que estava acontecendo. Talvez por causa dos
incessantes ataques de espada de Artemisia, não havia espaço suficiente para ela
usar a Quarta Bala <Dalet>.
Porém, no meio disso, uma coisa era certa.
Naquele momento, a vida de Shidou estava prestes a ser tirada.
— ...Acabou.
Com palavras calmas e cruéis, Ellen Mathers moveu a espada em sua mão.
— Pare, ahhhhhh!
O grito de Tohka ecoou pelo campo de batalha.
Porém, a mão de Ellen não parou.
Com a espada preenchida de um denso poder mágico, ela facilmente
decapitou a cabeça de Shidou.
— ......
Glish, uma poça de sangue jorrou.
211
Já com dificuldades de reparar um dano fatal no peito, as chamas
regenerativas de <Camael> que oscilavam em seu peito gradualmente
desapareceram. Com o poder desaparecido, as mãos e pernas de Shidou
gradualmente se enrijeceram.
Era como se a luz da vida de Shidou tivesse se extinguido.
— ...Ah.
Os Espíritos que viram aquela cena caíram no chão com seus anjos.
Seus rostos ficaram pálidos e eles começaram a tremer. Sofrimento. Perda.
Um sentimento de infelicidade. Nenhuma linguagem poderia expressar a
emoção que invadia seus corações.
Se alguém fosse descrever aquilo... seria algo como o mais profundo
desespero.
— Ha!
— Guh...
Depois de fugir de um incontável número de ataques de Artemisia,
Kurumi furiosamente rangeu os dentes enquanto dançava nas sombras.
— ...hah... Hah...
Se movendo pelas sombras, Kurumi finalmente chegou ao mundo fora
dali.
Ela agora estava em uma colina observando a Escola de Ensino Médio
Raizen. A plataforma estava ruim pois não era mantida como um parque, mas
isso era o mais conveniente pois não haviam pessoas próximas.
— Tudo bem com você, Eu?
Depois de alguns minutos, um clone mostrou seu rosto pelas sombras e
perguntou isso com uma expressão preocupada.
Então, outro clone surgiu das sombras carregando o braço direito que
Artemisia tinha cortado fora.
— Eu, aqui.
— ...... Muito bom.
212
Kurumi respondeu a ela com suor escorrendo de sua testa. Então procurou
pela sombra com a mão esquerda restante e pegou uma pistola de <Zafkiel>
carregada com uma bala.
— <Zafkiel>... Quarta bala <Dalet>.
Depois de chamar por esse nome, Kurumi direcionou o caminho da bala
para sua têmpora.
Naquele momento, como se estivesse rebobinando o tempo, o braço ferido
voou no ar e se encaixou no lado direito de seu corpo.
— ......!
Então, Kurumi, tendo terminado de recuperar seu braço ao estado
original, ficou com os olhos iluminados ao ver a cena que estava no fundo de sua
vista.
O telhado da Escola De Ensino Médio Raizen, dela um tremendo feixe de
luz se espalhou, queimando o céu acima dela.
Com um intermitente rugido ecoando, o prédio da escola desabou em um
instante.
Por fim, houve um alarme afiado soando pela cidade, mas já era tarde
demais. Um grande tornado surge do prédio da escola, que já tinha sido reduzido
em ruínas, arrastando os danos para as estruturas ao redor uma após a outra.
Então, um condensado de luz negra se expandiu radialmente com a escola como
centro. Até onde se podia ver, a paisagem foi transformada em uma terra
arrasada.
— Isso é...
— Tohka-san e as outras estão lutando...?
Os clones ficaram surpresos ao olharem para a direção das luzes.
Porém, Kurumi estava ciente que aquilo não era somente uma simples luz
emanada de reiryoku.
Mesmo que ela estivesse a uma grande distância, ainda havia a sensação
de que sua pele estava sendo cutucada por várias agulhas de acupuntura.
Desespero. Fúria. Ódio. Aquela era a sensação de transformar todos esses
sentimentos ruins dentro de seu corpo em uma arma.
213
Mesmo que o reiryoku de Shidou tivesse fluindo de volta para elas, tal
fenômeno não aconteceria. Aquilo era muito além do que um simples acúmulo
de reiryoku. Em primeiro lugar, a qualidade dele tinha se tornado algo totalmente
oposto.
Sim, em outras palavras, era como se pegasse o valor bruto positivo e
colocasse um sinal de menos na frente.
Kurumi se lembrava desse fenômeno. Ela franziu as sobrancelhas antes de
soltar um gemido.
— Inversão... é isso que aconteceu?
— ......!
Ao ouvir as palavras de Kurumi, os clones prenderam sua respiração.
Sem dúvidas, os Espíritos que estavam ali: Tohka, Origami e as Irmãs
Yamai, todas elas tinham se tornado Espíritos Inversos.
Mas aquilo era totalmente racional. Com a cabeça de Shidou sendo
arrancada na frente delas, era difícil de imaginar o desespero que elas estavam
sentindo.
— Bem...
— ......
De repente, uma voz interrompeu a linha de pensamento de Kurumi,
fazendo ela inesperadamente ficar sem ar.
Olhando de perto, outro clone se apresentou surgindo das sombras.
Não, não somente isso. O clone estava segurando Shidou, que estava
encharcado de sangue vermelho escuro que pingava de seu corpo.
— Eu, isso é...!
— Sim, sim... foi muito arriscado, mas eu me sentiria mal se o deixasse
como ele estava.
Então com isso dito, o clone colocou o cadáver mutilado de Shidou no
chão.
— ......a Quarta Bala <Dalet>.
214
Kurumi permaneceu em silêncio por um momento depois de atirar no
corpo de Shidou com a arma em sua mão.
Assim como aconteceu anteriormente com o braço de Kurumi, a cabeça de
Shidou, que tinha sido separada do torso, gentilmente se reconectou com o corpo.
O grande buraco em seu peito também foi fechado.
Porém... foi somente isso.
Os olhos de Shidou continuavam fechados, sem sinal de respiração.
De fato, a quarta bala <Dalet> era uma bala capaz de retroceder o tempo.
De fato, o corpo de Shidou tinha retornado ao estado de quando ele estava vivo.
Porém ficou somente nisso. Era impossível restaurar uma vida que já havia sido
perdida.
— ...........
Kurumi, para acalmar as batidas de seu coração, respirou profundamente
antes de pensar no que faria em seguida.
... Enquanto olhava Shidou, que permanecia descansando em paz, o
cenário do fim do mundo apareceu em sua linha de visão.
Porém, depois de um momento de silêncio, uma voz escapou de sua
garganta.
— Eu... falhei, não é...?
Tais palavras estavam coloridas com uma resignação pessimista.
... Há apenas alguns minutos atrás tudo estava indo tão bem. Kurumi
aumentou o aperto em seu punho com tanta força que começou a sangrar.
Ao obter os poderes de Shidou, ela usaria a Décima Segunda Bala <Yud
Bet> para voltar trinta anos atrás e apagar a existência do Primeiro Espírito.
Então, tudo que ela fez seria recompensado.
Kurumi esteve nesse caminho por milhares de dias.
Haviam dezenas de milhares de vidas caídas diante dos pés de Kurumi.
E em um piscar de olhos, tudo isso se tornou nada.
Foi estilhaçado... por causa de alguém.
215
Pelas mãos daquela odiosa Wizard, Ellen Mathers.
— Ah... Ah, Ah!
Se deixando levar pela emoção, Kurumi socou o chão com sua mão direita.
Ao ver aquela Kurumi que é normalmente indiferente a tudo agir daquela
forma, os ombros dos clones começaram a tremer de repente.
Porém, para a Kurumi de agora, não havia tempo para se preocupar com
a reação dos clones.
Suas esperanças foram perdidas. A esperança foi arrancada... da pior
forma possível: matando Shidou bem na sua frente.
— ......
Pensando nisso, Kurumi prendeu a respiração.
Foi questão de tempo para seu coração se preencher com um ódio
inexplicável.
Indiferentemente, o caminho que ela batalhou tanto para percorrer em
direção ao objetivo de sua vida tinha colapsado.
Além disso, tudo aquilo ainda foi causado pelo o que aquela mulher tinha
feito desde o começo.
Se fosse a Kurumi do começo, então provavelmente ela teria se invertido
assim como Tohka e as outras.
Ainda assim, Kurumi percebeu que haviam outras emoções misturadas
com a raiva.
Ah... isso mesmo.
Kurumi cobriu a testa de Shidou com suas mãos sujas de poeira e sangue,
gentilmente abrindo seus olhos.
Tristeza sem fim... um sentimento de desamparo.
A mente de Kurumi tinha se perdido em um caótico redemoinho. Apesar
de ter chegado a uma resposta, ela ainda assim não entendia seu significado.
Isso era uma tremenda contradição. Por que Kurumi estava pensando
nisso em vez de querer matar Shidou ela mesma?
216
— Shidou... -san...
Várias memórias surgiram em sua mente. Ao mesmo tempo, vários
sentimentos também se entrelaçaram, fazendo a mente de Kurumi ficar uma
loucura.
Shidou. Itsuka Shidou. Um garoto que amava os Espíritos e era amado
pelos Espíritos. Mesmo em frente da Kurumi, ele subjugou o medo e estendeu
sua mão para ela.
Kurumi estava inconscientemente se agarrando nos ombros do cadáver de
Shidou.
E colocando seus lábios sobre os dele...
Apesar de ainda não ter perdido a suavidade, aquele era um beijo bem
gelado.
Sentindo o toque, Kurumi finalmente se lembrou.
No jogo contra Shidou, foi ela quem perdeu.
— ...Ficou inconsciente antes do segundo beijo, mas que azarado você é.
Kurumi vagarosamente franziu as sobrancelhas.
No último ano, em junho, durante o encontro com Shidou, Kurumi tinha
sido derrotada pelo Espírito de Fogo, Itsuka Kotori, e por pouco conseguiu
escapar.
Naquele tempo, a pessoa que ficou entre Kotori e Kurumi não era ninguém
menos do que Shidou.
Mesmo que aquela atitude tenha sido um pouco desajeitada para um
cavalheiro, aquilo não mudava o fato de que ele tinha salvado sua vida. Antes de
Kurumi fugir para as sombras, ela tinha dado um selinho nele como forma de
agradecimento.
Embora agora, tudo aquilo já tenha passado completamente.
...Porém.
— ...Hã?
No momento seguinte, Kurumi sentiu uma sensação estranha.
217
Como poderia ser expressado? Era como se uma coisa quente estivesse
fluindo para dentro de seu corpo.
Assim como foi quando Mio lhe deu o Cristal Sephira...
— .... <Zafkiel>!
Se lembrando daquele tempo, Kurumi instintivamente chamou aquele
nome. Em resposta ao chamado de Kurumi, um grande relógio apareceu das
sombras.
— ......!
— Eu, isso é...!
O clone soltou uma voz cheia de espanto.
Porém, aquilo era inevitável. Porque naquele relógio, o numeral VI, cuja
cor tinha sumido desde a batalha contra Kotori, estava brilhando radiantemente.
— O que isso significa...? Não importa...
Kurumi vagarosamente se levantou, tocando cada numeral do relógio em
ordem.
Acelerar o alvo, a Primeira Bala <Aleph>.
Desacelerar a passagem do tempo de um objeto, a Segunda Bala <Bet>.
Fazer o alvo envelhecer, a Terceira Bala <Gimmel>.
Retroceder o tempo do alvo, a Quarta Bala <Dalet>.
Permitir uma predição do futuro de um curto espaço de tempo, a Quinta
Bala <Hei>.
Parar o tempo do alvo, a Sétima Bala <Zayin>.
Reproduzir uma cópia do passado de alguém, a Oitava Bala <Het>.
Estabelecer uma conexão com uma pessoa de outra linha do tempo, a
Nona Bala <Tet>.
Recordar a memória do alvo atingido, a Décima Bala <Yud>.
Sugar diretamente o poder dos Espíritos e viajar para o passado, a Décima
Primeira Bala <Yud Aleph> e a Décima Segunda Bala <Yud Bet>.
218
As mãos de Kurumi finalmente tocaram o numeral localizado na parte
mais abaixo do relógio.
...O único numeral que tinha perdido a cor, VI.
— A Sexta Bala <Vav>.
Kurumi sussurrou de leve enquanto olhava para o corpo de Shidou.
Obviamente, a Sexta Bala <Vav> tinha reganhado seu brilho depois dela
ter beijado Shidou.
Shidou só podia selar o reiryoku através do beijo. Kurumi estava bem ciente
disso por causa da investigação de suas cópias. Será que em vez da Sexta Bala
<Vav> ter sido quebrada na batalha contra Kotori, na verdade ela tinha sido
selada até aquele momento por causa do beijo de brincadeira que ela tinha dado
em Shidou?
Se for isso, mesmo que incompletamente, o coração de Kurumi tinha
começado a se abrir para Shidou.
Kurumi espremeu seus lábios com um sentimento autodepreciativo... a
emoção de ter sido derrotada e perdido a disputa. Talvez, desde o começo,
Kurumi não tinha nenhuma chance de vitória.
Porém, com suor escorrendo de seu rosto, Kurumi revelou um sorriso
deslumbrante.
A Sexta Bala <Vav>, que tinha sido selada até o presente momento, era a
melhor habilidade de <Zafkiel>.
Se ela usasse aquele poder que ela recuperou inesperadamente, mudar
tudo que tinha acontecido não era necessariamente impossível.
Era terrivelmente fraco chamar isso de esperança, porém era o suficiente
para inspirar Kurumi de novo.
Mas Kurumi ainda não tinha pagado o preço.
Para ser preciso... para que ela pudesse cumprir seu objetivo, mais
sacrifícios seriam necessários agora.
— ...Nós.
219
Kurumi quietamente disse em frente a uma série de clones que começaram
a acenar em concordância como se tivessem entendido as intenções dela em um
instante.
E então, ela fez uma declaração.
— Pelo bem do Shidou-san... por favor, morram.
Então, os clones começaram a rir, como se elas tivessem plena ciência de
seus motivos.
— Sim, sim, alegremente.
— Vamos lá, vamos todas em frente com isso.
— Esse corpo desde o começo sempre foi temporário.
— Por favor, use-o ao máximo.
— Enquanto essa vida puder ser usada para Eu dar um passo adiante.
— Vamos ao Higan 1com prazer.
— Podemos dizer algo divertido agora.
— Você também pode usar a mim como quiser.
— Acho que seria impossível recusar a isso.
— Hahahaha.
— Hahahaha.
Os clones meramente riram alegremente.
Certamente ninguém ficaria intacta no final, ninguém sobreviveria.
Porém, na expressão delas, não se via o menor fragmento de receio.
Kurumi sorriu desconcertada. A figura das garotas que compartilham a
mesma aparência que ela, eram inquestionavelmente confiáveis. Ela não podia
deixar de sentir um pouco de orgulho... mesmo que isso seja também um tipo de
narcisismo.
1 Higan seria o outro lado do Rio Sanzu, o rio que as pessoas atravessam quando morrem na tradição budista japonesa
220
— ...Então, por favor me sigam, nós, nessa jornada sem precedentes para
o outro mundo.
Então, enquanto cantarolava em voz alta, Kurumi ergueu o braço direito
segurando a arma.
O nome do poder que uma vez tinha sido perdido e foi recuperado a um
grande custo.
O nome de outra bala que tinha a possibilidade de mudar o mundo.
— <Zafkiel>... a Sexta Bala <Vav>.
Kurumi direcionou a arma com a bala em direção a sua têmpora... com um
sorriso em seu rosto ela apertou o gatilho.
◇◇◇◇
222
— ......
Bem abruptamente, ela acordou.
Não... aquilo que se encaixava na descrição de acordar era algo
questionável.
De qualquer forma, depois de Kurumi recuperar sua consciência, ela
imediatamente foi confirmar a situação dos arredores.
Um quarto escurecido onde somente o mínimo de móveis estavam
colocados, aquele era um dos muitos fortes que Kurumi tinha na cidade.
Na parede estava pendurado um uniforme limpo, e a data de 8 de
fevereiro estava sendo mostrada na tela do celular utilizado para reunir
informação.
Então, Kurumi tinha voltado.
8 de fevereiro, o dia antes de Kurumi voltar à Escola Raizen.
— ...aparentemente deu certo.
<Zafkiel>... a Sexta Bala <Vav>.
Uma bala que permitia que a consciência do alvo voltasse ao seu corpo no
passado.
Embora ela dependesse de quanto tempo tinha sido gasto, ela só poderia
ser usada para retornar alguns poucos dias no passado, muito menos do que
poderia ser voltado com a Décima Segunda Bala <Yud Bet>. Porém, naquele
momento, não seria uma metáfora dizer que era uma bala cujo único tiro poderia
salvar o mundo.
...Mas o trabalho pesado começaria a partir daquele momento. Kurumi foi
pegar um casaco para vestir, abriu a porta e saiu do quarto.
Então, enquanto descia as escadas do prédio abandonado, ela cambaleou
no beco inacessível, enquanto falava com si mesma.
— ...Bem, é hora de nos movermos, nós.
Então, em resposta a isso, um tremendo número de respostas veio das
sombras.
— Sim, sim.
223
— Não temos muito tempo.
— O inimigo é a Ellen Mathers e a Artemisia Ashcroft.
— E aquelas garotas misteriosas.
— Por enquanto, você quer mudar o local para onde chamaremos o
Shidou?
— Não, dessa forma nossos oponentes só irão mudar sua estratégia de
ataque de supetão. Seria um movimento ruim perder a vantagem de saber onde
a batalha irá ocorrer.
— Então, nos deixe suprimir aquelas que irão nos atacar.
— Sim, sim, isso é a única coisa que pode ser feita.
— Por favor, leve em conta a diferença de poder de luta de nosso oponente.
Nós podemos lidar com aquelas garotas, mas aquelas Wizards são monstros. Ah,
mesmo que sejam todas nós juntas, será difícil parar as duas ao mesmo tempo.
Devemos ter pelo menos um aliado, alguém com poder comparável a elas.
— Mas eu não acho que poderemos encontrar um aliado tão conveniente
assim.
— Não, não, ainda há uma pessoa que podemos usar.
— Eu só consigo pensar em uma pessoa, mas ela é uma candidata que eu
não gostaria de confiar tanto assim.
— E quem s...?
Quando ela estava prestes a perguntar, Kurumi de repente mostrou um
sorriso amargo, tendo imaginado a pessoa que os clones estavam pensando.
O clone não querer confiar nela era algo bem racional. Afinal, ela
provavelmente era a garota que matou o maior número de clones da Kurumi.
— Bem, isso será bem desagradável. Mas não há ninguém mais adequado
que ela.
Kurumi ergueu sua mão para dar uma instrução sem deixar que o diálogo
a fizesse perder seu ritmo de andar.
— ...Nós, por favor, vão à residência da Mana-san, corram até lá para
negociarem com ela emergencialmente.
224
— Sim, sim.
— Entendido.
— Além disso, por favor formem um grupo separado para explorar os
movimentos das Indústrias DEM. ...Procurem saber porque nem mesmo a Kotori
pôde fazer alguma coisa, há a possibilidade de eles estarem usando o
<Beelzebub> para achar pontos fracos na vigilância deles.
— Entendido.
— Tomem cuidado.
— Talvez, o outro lado também queira decidir logo as coisas. Eu acho que
eles vão atacar todos de uma só vez. Montem guarda em volta do Shidou-san.
Não deixem que eles tenham uma oportunidade... de matar o Shidou-san. Se
certifiquem de que ele ache que nenhuma de nós estejamos por perto, além de
mim, Tokisaki Kurumi.
Enquanto Kurumi falava, os clones sorriram e riram todos juntos.
— Ara, ara.
— Verdade, Eu.
— Mas que confissão perigosa.
— ...Uh.
Ouvir essas declarações fez com que Kurumi ficasse corada e sua
respiração ficasse ofegante. Ela pisou no chão com o pé irritadamente.
Depois de desabafar dessa forma, Kurumi recobrou sua determinação
enquanto se virava para frente para fazer uma declaração.
— Venham, nós... mesmo que sem pretensão, vamos resgatar e salvar esse
mundo.
...Então, a batalha de Tokisaki Kurumi começou.
E isso durou seis dias.
Mas nesses seis dias, Kurumi protegeu Shidou muitas vezes e também
repetidamente sofreu a perda de Shidou muitas vezes.
O inimigo era a astuta Indústrias DEM. Com o uso do Rei Demônio
<Beelzebub>, eles persistentemente aproveitaram cada oportunidade para
225
atentar contra a vida de Shidou usando as filhas do rei demônio, as <Nibelcol>, e
seus trunfos Ellen e Artemisia.
Mesmo com o de sacrificar diversas Kurumis, tomando milhares de
medidas no processo, Kurumi continuou a lutar.
Cada vez que Shidou morria, ela usava seus lábios para recuperar a Sexta
Bala <Vav>.
De novo e de novo, o mundo foi refeito.
No centro desses desastres, felizmente a Sexta Bala <Vav> só retornava as
memórias de Kurumi ao passado.
Antes que Shidou pudesse morrer, sua consciência voltava para uma
versão anterior de si mesma antes de recuperar a Sexta Bala. Então o tempo usado
para abastecer a Sexta Bala <Vav> e os clones usados para parar o inimigo eram
reiniciados para o estado original.
Afinal o tempo necessário para usar a Sexta Bala <Vav> era imenso e a
produção dos clones através da Oitava Bala <Het> não era infinita.
Se essa redefinição não fosse estabelecida, o tempo que Kurumi continha já
teria acabado a tempos.
Mas, em outras palavras... isso também valia para o inimigo.
Mesmo depois de matar algumas <Nibelcol> e dispensar Ellen diversas
vezes, o dano que eles receberam seria reiniciado cada vez que Kurumi utilizasse
a Sexta Bala <Vav>.
Não... precisamente devido a não saber que lutaram com a Kurumi antes,
todas as vezes eles agiriam de acordo com o plano de matar Shidou.
A única vantagem que Kurumi tinha era uma paixão ardente que
queimava em si mesma.
Uma vez.
Dez vezes.
Mais de mil vezes.
Enquanto matava e era morta repetidamente, Kurumi gradualmente
sentia seu próprio coração ficando fadigado.
226
Mecanicamente digerindo os mesmos eventos cada uma das vezes.
Somente para ser derrotada por uma anormalidade diferente da de antes.
E no núcleo disso, a mente da Kurumi original começava a carregar cada
vez mais exaustão.
Mas... Kurumi nunca renegou a arma em suas mãos.
Cada vez que Shidou era morto.
E sempre que ela tocava seus lábios rígidos.
Kurumi queria ser carregada por aquela mão mais uma vez.
— Shidou-san... ei, Shidou-san?
Quantas vezes foram no final das contas?
Segurando os lábios frios de Shidou com os seus...
— Vamos nos encontrar de novo...?
Kurumi apertou o gatilho mirando em sua própria cabeça.
◇◇◇◇
— O que...
Enquanto ouvia a história da Kurumi de tapa-olho, Shidou soltou uma voz
aguda.
Ele não pôde deixar de tocar seu peito e cabeça. É claro, não havia nenhum
buraco em seu peito e sua cabeça ainda estava ligada ao seu pescoço.
— Eu... já morri uma vez?
Enquanto era atingido por essa sensação irreal, Shidou encontrou
dificuldades para soltar essa frase de sua garganta.
Ao menos ele usou uma vigorosa quantidade de energia para
amargamente emitir essas palavras. Ao admitir isso com sua própria boca, era
como se ele se lembrasse de uma ilusão negando sua própria vida.
227
Mas a Kurumi de tapa-olho balançou sua cabeça em resposta às palavras
de Shidou.
— Não, isso é impreciso.
Então ela olhou nos olhos de Shidou e continuou.
— ...204 vezes.
— Hã...?
— Essa é... a quantidade de vezes que o Shidou-san morreu nas mãos da
DEM dentro desses últimos seis dias.
— ......
Dessa vez, nenhuma voz saiu de Shidou.
204 vezes, isso era muito além do esperado, fazendo ele ficar
momentaneamente estupefato.
Mesmo assim, a Kurumi de tapa-olho continuou.
— Nós já estamos muito bem cientes disso, mas a frustrante quantidade
de crias do <Beelzebub> permitiu que elas o atacassem em qualquer
oportunidade que encontrassem, criando diversas formas de tirar a vida do
Shidou-san.
— Ei, espera aí, esse tipo de...
Para evitar dizer algo estúpido, Shidou de repente fechou seus lábios e
parou no meio do que estava falando.
Mesmo que o método fosse diferente, Shidou já tinha voltado no tempo
uma vez com a ajuda de Kurumi e mudou a história. Não importa quão absurda
essa história fosse, ele não podia negar essas palavras.
E mais do que qualquer coisa...
— ............
Shidou viu a cor do rosto de Kurumi depois que ela desmaiou.
Com aquele rosto, apesar de seu comportamento indiferente, ela era uma
garota que estava completamente exausta.
228
Mesmo que o reiryoku selado no seu corpo fosse a meta dela, Kurumi tinha
feito um enorme sacrifício para salvar a vida de Shidou. De fato, aquela era uma
dedicação que Shidou não podia facilmente descrever.
Adivinhando os pensamentos de Shidou, a Kurumi de tapa-olho
gentilmente focou nele com seu único olho.
— Como eu disse, todas as vezes, nós enviamos nossa consciência de volta
ao passado usando a Sexta Bala <Vav>. Uma vez atrás da outra... é claro, somente
a consciência volta no tempo. O tempo usado e a morte dos clones também
voltam ao estado original.
Então, a Kurumi de tapa-olhos respirou profundamente.
— A mente da Eu, que está fadigada de repetir o mesmo tempo várias e
várias vezes, chegou ao seu limite.
— .............
Shidou silenciosamente suspirou enquanto sua linha de visão mais uma
vez caia sobre a Kurumi no chão.
Ela estava linda como sempre, mas ainda assim havia alguns traços leves
de fragilidade.
Compreensível... Sim, para que o objetivo de Kurumi fosse alcançado, o
reiryoku selado dentro do corpo de Shidou era indispensável, e era absolutamente
necessário evitar que Shidou fosse morto pela DEM. Então era compreensível que
Kurumi repetidamente salvasse sua vida através da tentativa e erro.
Mas ainda havia uma coisa que não podia ser compreendida.
Shidou olhou para a Kurumi que estava dormindo enquanto sussurrou
para si mesmo.
— Por que... você não me comeu imediatamente...?
Sim, aquilo era incompreensível para Shidou.
Certamente, por ele estar cercado pelos Espíritos e pela <Ratatoskr>, seria
muito difícil para Kurumi ter sucesso.
Porém, Kurumi poderia usar a Sexta Bala <Vav> para viajar ao mesmo
tempo quantas vezes fosse possível. Nesse caso, não era impossível para ela
encontrar uma oportunidade para tomar a vida de Shidou.
229
Porém, Kurumi não fez isso.
Ela permaneceu com o acordado inicialmente, indo a um encontro... e
então revelando todos seus segredos a ele para fazer com que Shidou entendesse
seu lado.
Ela estava pedindo ajuda... para Shidou.
Desgastar toda sua energia, indo ao ponto de se expor ao dormir na frente
de Shidou, eram coisas que ela não faria normalmente.
— ...Shidou-san.
A Kurumi de tapa-olho relaxou sua boca enquanto voltava sua linha de
visão para Shidou.
— Por favor, não pergunte nada impensado, Eu está...
...... De repente.
Justo quando a Kurumi de tapa-olho estava tentando dizer algo a ele,
Kurumi, que ainda deveria estar dormindo, moveu sua mão e uma pequena arma
se materializou antes dela atirar uma bala.
Uma bala parecida com uma sombra sólida passou raspando a bochecha
da Kurumi de tapa-olho e fez um pequeno buraco na parede. Depois de um
momento, a Kurumi de tapa-olho abriu seus olhos enquanto permanecia com
medo.
— ...Parece que se divertiu bastante conversando enquanto eu dormia, Eu.
Kurumi, com os olhos semicerrados, vagarosamente se levantou. Por
outro lado, o clone estendeu seus braços para cima com ansiedade, mas ela
meramente ignorou isso enquanto se levantava.
— ...Me desculpe, Shidou-san. A jovem Eu na sua frente parece estar
passando por uma fase difícil.
Kurumi disse enquanto tentava suprimir sua tontura ao colocar a mão em
sua testa.
Apesar de seu comportamento estar cheio da compostura normal de
Kurumi... para Shidou, não importa o que dissessem, parecia que ela estava se
forçando a agir bravamente. Shidou não pôde deixar de esticar suas mãos para
ajudá-la.
230
— Kurumi...
— ......
Kurumi recuou para evitar a mão de Shidou.
Porém, ele não viu nada parecido com sentimento de desgosto na
expressão dela.
De certa forma, sim... parecia que ela estava com medo de tocar a mão dele.
Kurumi balançou os ombros enquanto parecia tomar ciência de sua
própria expressão facial, expondo um sorriso nada amigável pra Shidou.
— ...Por favor, não queira entender, Shidou-san. Eu ajudei o Shidou-san
porque eu estaria em apuros se o reiryoku selado por você fosse perdido.
— Ah, ah... eu entendi.
Shidou estava muito pressionado pela situação para responder
apropriadamente. Como resultado, Kurumi gentilmente virou suas costas para
ele.
— ...Não interessa... ah, vamos deixar as coisas assim por hoje.
— Ah... ei, Kurumi!
Shidou esticou sua mão enquanto gritava, porém...
Naquele instante, Kurumi e seu clone desapareceram para dentro das
sombras.
— ...Kurumi...
Enquanto olhava o chão onde Kurumi tinha desaparecido, Shidou cerrou
seus punhos.
Kurumi, Tokisaki Kurumi.
Mais terrível que qualquer um, mais implacável que qualquer um... uma
garota mais gentil que qualquer um.
O garoto que foi salvo por ela várias vezeslentamente erguia seu rosto.
Seu par de olhos estava marcado com uma faísca brilhante de
determinação.
— Dessa vez... é minha vez de te salvar...
231
◇◇◇◇
No telhado do prédio iluminado pelo luar, uma sombra se expandiu como
se fosse uma tinta que foi derramada.
Kurumi surgiu de lá, suspirando profundamente enquanto seu corpo era
exposto ao ar fresco.
— ...Fuh.
Com certeza, ela parecia estar sem nenhuma força sobrando. Kurumi
inalou profundamente de novo enquanto permanecia com as costas encostadas
na grade.
Então, como se estivesse a seguindo, a Kurumi de cinco anos atrás, com
um tapa-olho em seu olho esquerdo, decidiu acompanhar Kurumi.
Sim, ela era a culpada por ter dito várias coisas desnecessárias ao Shidou
enquanto Kurumi estava inconsciente. Kurumi olhou para a Kurumi de tapa-
olho com olhos taciturnos.
— ...Você fez algo desnecessário, Eu.
— Ara, ara.
Enquanto Kurumi falava, a Kurumi de tapa-olhos apareceu como se
estivesse em transe, colocando seu dedo indicador no queixo enquanto desviava
os olhos.
— Eu não sei do que está falando. Eu meramente pensei que o Shidou-san
parecia entediado e decidi conversar com ele.
Enquanto a Kurumi de tapa-olho fingia não saber de nada, Kurumi
clareou sua garganta enquanto contraia a ponta de sua sobrancelha.
— ...Eu.
Porém, essas palavras não foram direcionadas para a Kurumi de tapa-
olho.
232
Como se respondesse a esse comando, a sombra abaixo de seus pés
começou a se arrastar enquanto outro clone da Kurumi fez um rosto como se
tivesse implorando pelo perdão dela.
— ...Sim, Eu, essa de tapa-olho estava falando para o Shidou-san tudo o
que aconteceu nesses últimos dias.
— Kihihiii!?
Com a traição de sua igual, a Kurumi de tapa-olho ergueu uma voz
estridente. Kurumi, com olhos semicerrados, a olhou mais uma vez.
— Deixe-me explicar, Eu.
Ao mesmo tempo que Kurumi soltou um gemido enquanto estava com as
mãos posicionadas na altura do peito, a Kurumi de tapa-olho esperou um tempo
antes de encolher os ombros seriamente.
— Embora seja de fato como você disse, é melhor dizer que eu não entendo
por que não o fazer, Eu. A determinação da Eu não está igual à que sempre foi e
é esperada, Eu. É por isso que apesar da forte vigilância, Eu acabou expondo sua
aparência sonolenta ao Shidou-san.
— ...Bem.
Tocada na ferida, Kurumi levemente franziu o cenho enquanto a Kurumi
de tapa-olho continuava com sua fala.
— Sendo assim, quem poderia ser censurada por informar o Shidou-san.
E até mesmo que o Shidou-san apreciaria a ideia de Eu ter salvo ele inúmeras
vezes. Então quais são as desvantagens disso?!
— .........
A Kurumi de tapa-olho fez um grande apelo enquanto conduzia sua fala.
Depois de um momento de silêncio, Kurumi respondeu a ela com o rosto
corado.
— ...... Não é nada disso.
— Hm? O que quer dizer com isso?
— Não há mal-entendidos! Minha partida contra o Shidou-san não é sobre
quem se apaixonar pelo outro primeiro perde!? Tal coisa... se ele souber que eu
233
tenho ajudado o Shidou-san por todo esse tempo, não seria a mesma coisa de ter
me atraído por ele...?!
— ...Uau, Eu...?
A Kurumi de tapa-olho arregalou seus olhos de surpresa. No instante
seguinte ela encolheu os ombros e riu.
— Hehe... Hahahahah, isso mesmo, é exatamente como você disse.
— ......De alguma forma, eu me sinto como uma tola.
— É só impressão sua.
A Kurumi de tapa-olho continuou enquanto dava de ombros.
Ao mesmo tempo, Kurumi parecia infeliz pois franziu o cenho novamente.
...... como foi que ela se colocou nessa posição humilhante. Mesmo que ela
quisesse usar a Sexta Bala <Vav> para viajar antes de sua queda, Shidou ainda
não tinha morrido naquela linha de tempo, então <Zafkiel> ainda não recuperou
esse poder.
Porém, se ela tentasse beijar ele enquanto Shidou ainda estivesse vivo, o
reiryoku que permanecia com Kurumi também seria selado.
— Então... o que vai fazer agora, Eu? Mesmo que a crise tenha sido evitada
agora, não temos muito tempo sobrando, certo?
— ...Isso mesmo.
Ouvindo as palavras dos clones, Kurumi mostrou uma expressão
angustiada.
Lutar para manter Shidou vivo era um pré-requisito para continuar. Mas
no caso dela comer Shidou...
Então.
— ......Você parece angustiada.
— ......!?
Naquele momento, uma voz que não era de um clone ressoou na escuridão
da noite. Kurumi quase engasgou nesse processo.
234
Era alta ou baixa, uma voz de homem ou de mulher? Era impossível
descrever aquela voz estranha.
Era uma voz que Kurumi se lembrava. Ela imediatamente deu o comando
para seus clones começarem a aparecer enquanto duas armas de aparência antiga
emergiram das sombras.
— ...Oh, parece que eu não sou muito bem-vinda aqui. Eu só vim aqui dar
um aviso.
Era impossível distinguir a figura da pessoa de onde aquela voz saia.
Irreconhecivelmente parada no canto do telhado estava a sombra da figura
coberta por mosaicos. A resolução da imagem da existência daquela pessoa
permanecia muito vaga. Certamente havia alguém ali, mas era impossível dizer
quem era.
Sim, aquele era o Espírito que Shidou e os outros chamavam de
<Phantom>.
Kurumi já recebeu informações diversas vezes daquele Espírito. De fato, a
informação sobre um garoto chamado Itsuka Shidou foi divulgada por
<Phantom>.
Mas naquele momento <Phantom> não era mais um cooperador de
Kurumi.
Não, certamente... ele era um inimigo.
— Bem-vinda? Você? Por favor, deixe essas piadinhas de lado.
Enquanto Kurumi conjurava um olhar afiado em seus olhos, segundos
depois, <Phantom> deu um suspiro como se tivesse adivinhado tudo.
— ...Oh, já entendi. Você já sabe? ...Então não posso mais fazer nada. Que
pena, mas é verdade que eu queria te dar um aviso.
Depois de dizer isso, <Phantom> fez um leve movimento para frente.
— Você acha... que pode escapar...!?
Acompanhando a voz de Kurumi, todos os clones apertaram o gatilho
juntos para atirar uma chuva de balas.
Um incontável número de balas negras percorreu a escuridão da noite e
atacou <Phantom>.
235
— ......
<Phantom> pulou para o céu para desviar das balas dos clones.
Mas isso foi o que Kurumi esperava. Para fornecer uma abertura para
<Phantom> fugir, ela não queria que nenhum clone mirasse para cima.
— <Zafkiel> ...a Sétima Bala <Zayin>!
Kurumi gritou enquanto apertava o gatilho.
Absolutamente invencível, a Sétima Bala <Zayin>, o tiro que poderia parar
o tempo atingiu <Phantom>.
Naquele momento, o padrão de mosaicos parou no ar perfeitamente.
— Nós!
No momento seguinte, os clones alinharam os canos de suas armas para
cima e atiraram suas balas.
Pobre <Phantom>, não pôde sequer falar enquanto era coberta com mais
de 100 balas.
...Ou pelo menos era o que parecia.
— ......Ya-re, ya-re, você me pegou de guarda baixa.
— O q...
Como resultado da voz vindo de dentro dela, Kurumi
desintencionalmente franziu as sobrancelhas. Ainda havia um amontoado de
mosaicos no céu. Mas a voz veio diretamente de baixo.
No chão do telhado, havia uma mulher agachada de joelhos.
Sim, era como se ela tivesse parado a Sétima Bala <Zayin> por deixar suas
roupas no ar enquanto aterrissava logo abaixo.
— Essa é... sua verdadeira aparência, não é?
Kurumi não hesitou em levantar sua arma enquanto encarava a mulher.
— ...Bem, isso deve ser verdade. Eu não esperava que essas barreiras
fossem despojadas tão lindamente. Como esperado de você... Kurumi.
Enquanto dizia isso, a dama vagarosamente erguia sua voz.
Ao olhar para aquele rosto, os olhos de Kurumi se arregalaram.
236
— ...Uh.
Cabelos longos e bagunçados que seriam facilmente reconhecidos. Uma
garota na casa dos vinte anos de idade.
Parece que ela não dormia a muito tempo. Sob seus olhos estavam círculos
negros. E encaixado em seu bolso estava um ursinho de pelúcia cheio de
cicatrizes.
— Murasame... sensei.
— ............
Kurumi chamou pelo nome daquela mulher... Murasame Reine, antes de
voltar a ficar em silêncio.
Sim, iluminada pelo luar estava a professora da escola que Kurumi
frequentava, Murasame Reine.
É claro, Kurumi sabia que ela não era somente uma professora. Ela era um
membro da <Ratatoskr> liderada por Kotori, e também alguém que queria que
Shidou a vencesse.
Porém, mesmo depois de levar isso em consideração, era incrivelmente
surpreendente que aquela existência fosse Reine.
...Aquilo não fazia sentido, Phantom era a Murasame Reine? Então a
informação que Kurumi recebeu era...
— ...Ah.
Porém.
Uma voz extremamente baixa saiu da garganta de Kurumi.
— Sim... Isso mesmo, ah, ah, ah, finalmente... tudo se encaixou.
— ............
Ouvindo as palavras de Kurumi, a Reine gentilmente espremeu seus olhos
enquanto saltava do chão.
Ela tentou fugir com um poderoso salto que era impossível para um ser
humano comum.
— ...! Nós!
237
Kurumi reverberou um grito furioso.
Então, a sombra no chão se agitou no momento que Reine aterrissou, com
incontáveis mãos agarrando seu corpo.
— ...Kuh...
Reine distorceu sua expressão enquanto tentava fugir das mãos.
Porém, isso não foi efetivo. Eventualmente Reine foi restringida pelas
mãos...
Como se ela tivesse sido tomada pelas sombras.
— ............
Por um momento, Kurumi murmurou algo com desgosto no momento
que Reine desaparecia de sua linha de visão, quase sendo engolida pelas
sombras.
— ... Você não merece nem mesmo ir para o inferno.
Nuvens encobriram a lua e a escuridão preencheu a rua.
Continua...
238
Posfácio
Olá a todos. Meu esporte favorito é Frisbee; eu sou o Tachibana Koushi.
Date a Live Volume 16 - Refrão Kurumi chegou em suas mãos. O que
achou dele? Eu ficaria alegre se você gostasse dele.
Então finalmente chegou o arco da Kurumi, que já não aparecia a algum
tempo. Embora você provavelmente a tenha visto em histórias curtas, o
sentimento não é o mesmo.
Durante o terceiro volume lá no começo, Kurumi poderia ter entrado no
harém inicial de Espíritos, mas por não ter sido selada, ela tem ficado às escuras
desde então. Para ela ter aparecido no título e na capa, com certeza houve uma
longa jornada. A ilustração dela com esse olhar realmente é fofa, sem contar suas
coxas sexy à mostra.
Não somente na capa frontal, mas também no interior. Todas as ilustrações
coloridas têm a Kurumi nelas; é a primeira vez que isso acontece. Como esperado
da Kurumi.
Eu vou me segurar nos spoilers já que acho que alguns de vocês leem o
posfácio antes do restante do conteúdo, então descreverei como isso e aquilo ou
essa cena e aquela cena.
Parando para pensar, a Kurumi foi a primeira personagem que criei em
Date a Live.
Apesar que, para ser preciso, a Kurumi atual é um pouco diferente; o
protótipo dela foi desenvolvido quando eu comecei a escrever essa novel durante
o meu segundo ano do ensino médio.
Uma Lolita Gótica com cabelos desiguais e um relógio em seu olho. Meu
estado mental estava certamente além da descrição: "Essa personagem tem
potencial, e um dia eu irei mostrá-la ao mundo". Dez anos depois, eu ainda
acredito firmemente na paixão que tinha naquela época.
Eu me lembro do rascunho original: ela era uma maga artificial que tinha
um relógio especial implantado no olho esquerdo, capaz de utilizar habilidades
particulares com o custo de seu próprio tempo de vida. Com a ativação de uma
dessas habilidades, o relógio andaria mais rápido, fazendo com que ela perdesse
uma quantidade igual de seu próprio tempo.
239
Como resultado, teria outros personagens além dela que possuíam
relógios também, mas basicamente os outros os tinham no dorso das mãos ou no
peito, fazendo ela ser a única que o tinha no olho. Algo do tipo.
E é claro, Kurumi não seria a heroína principal. Ela seria a irmãzinha
insana que ficaria atrás da vida do herói principal, dizendo, "Hihihihihi, ei, Onee-
sama?", ou uma frase parecida, algo de dar um frio na espinha.
A propósito, saindo do assunto, o protótipo do Kusanagi Neon do meu
trabalho de estreia <Soukyuu no Karma> também apareceria nessa história. Ele
faria parte dos militares e seria o mais forte deles, então ele teria relógios nas duas
mãos, nos ombros e no peito. Muito poderoso.
De alguma forma, falar sobre meus projetos passados me deixa
envergonhado.
Mas esse momento é fantástico: um volume sobre a Kurumi, um spin-off
sobre a Kurumi, o terceiro artbook da Tsunako-san sendo lançado em março!
Tudo de uma vez!
O artbook da Tsunako-san tem uma pequena história incluída nele, então
por favor, deem uma conferida! Isso junto com ilustrações exclusivas nunca antes
vistas...!!
O spin-off da Kurumi escrito por Higashide Yuichiro, Date a Bullet, está
extremamente fofo, sólido e violento. Eu simplesmente amei a Furue-chan. A
Aiai é fofa também. Como todas essas garotas adoráveis estão presentes nele,
tenho certeza que todas elas poderiam ter festas do chá juntas. E que visão
maravilhosa seria. E tem um anúncio no final, então por favor olhem ele também!
A Kurumi do NOCO-san está imensamente linda!
Falando em final, um esboço da nave renovada <Fraxinus Ex Celsior> que
apareceu no Volume 14 também foi incluído!
O design foi feito pelo Ebikawa Kanetake-san, que também desenhou a
<Fraxinus>! Espero que vocês gostem dessa versão mais legal e afiada, a
<Fraxinus EX>!
Como sempre, esse livro foi lançado graças aos esforços de muitas pessoas.
À ilustradora Tsunako-san, a imagem da Kurumi de pé entre os clones está
magnífica. Ao editor-san, por favor, perdoe os atrasos que causei até agora. Ao
240
designer Kusano-san, obrigado pelo excelente design de sempre. Não é hora para
se preocupar com o desenvolvimento do logo do título, kukuku...
Ao escritor do spin-off Higashide-san, ao NOCO-san, ao Designer da
<Fraxinus> Ebikawa-san, e a todos do Departamento de Publicação que se
envolveram no varejo e na distribuição, assim como você, que está lendo esse
livro agora, vocês tem a minha mais máxima gratidão.
O próximo é o volume 17. Como que isso e aquilo vai se desdobrar?
(Vamos ficar livres de spoilers)
Eu darei o meu melhor para entregá-lo a vocês, espero que satisfaça a suas
expectativas.
Com isso, eu espero ansiosamente para encontrá-los de novo, no próximo
volume.
Fevereiro de 2017.
Tachibana Koushi.
242
AVISO LEGAL: Date a Live é uma obra da Production IMS,
KADOKAWA e do autor Koushi Tachibana. Essa é uma tradução
feita de fãs para fãs sem objetivos financeiros. Caso a obra seja
lançada em território nacional, por favor adquira o produto oficial.
Autor: Tachibana Koushi
Ilustradora: Tsunako
Tradutor: Myturn e Limaun_
Revisor: Fallen-kun
Edição: Myturn