Archeology of the territory of the bay of Luanda
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COLECTIVOS
PARA UMA ARQUEOLOGIA DO TERRITÓRIO.
``BAIA DE LUANDA``
Collective
For An Archeology Of The Territory
Bay Of Luanda
SALITA MATEUS
Trabalho de Cultura Metropolitana Contemporânea
Mestrado Em Arquitectura Dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos.
Docente: Ana Milheiro
1-º Semestre 2014-2015
ISCTE-IUL
LISBOA-2015
3
RESUMO:
Neste ensaio trabalhamos de maneira a tornar possível, o enquadramento critico e
teórico do projecto de investigação, sobre a arqueologia do território da baia de Luanda,
um território metropolitano contemporâneo, localizado em Angola. E para isto
Abordaremos diretamente as marcas da arqueologia do território Angolano, marcas estas
que retratam a influencia, da cultura no processo evolutivo da baia de Luanda no decorrer
das décadas. Fazendo um enquadramento cientifico gerado pelo pensamento e pela cultura
contemporânea será possível sistematiza-lo de acordo as tendências que se preocupam com
as constantes alterações do quadro metropolitano dos territórios contemporâneos. A cultura
contemporânea deu lugar a um novo de conceito de urbe e da criação da urbe e é tendo em
conta este novo horizonte urbano que entendemos e enxergamos o metropolitanismo dos
territórios contemporâneos, de forma a vê-lo como um todo e não como uma partícula
independente das outras áreas que constituem a sociedade. Pois o metropolitanismo existe
em um estado dinâmico, metamórfico.
Palavras-chave: LUANDA, ARQUEOLOGIA, CULTURA.
4
ABSTRACT
In this test work in order to make possible the critical and theoretical framework of the
research project on the archeology of the territory of the bay of Luanda , a contemporary
metropolitan territory , located in Angola . And this directly will cover the marks of
Angolan territory of archeology, these brands that portray the influence of culture in the
evolutionary process of Luanda bay over the decades . Making a scientific framework
generated by thought and contemporary culture will be possible to systematize it according
the trends that are concerned with the amendments of the metropolitan framework of
contemporary territories. Contemporary culture has given rise to a new concept of
metropolis and the creation of the metropolis and is taking into account this new urban
horizon that we see and understand the metropolitanismo of contemporary territories , in
order to see it as a whole and not as a particle independent of the other areas of society. For
the metropolitanismo exists in a dynamic , metamorphic state.
Key words : LUANDA, ARCHAEOLOGY, CULTURE.
5
Introdução
A baia de Luanda resulta da separação da cidade de Luanda do oceano por meio de um
cordão litoral com sete quilômetros de comprimentos. Ilha de Luanda ou do cabo como
geralmente é conhecida se encontra em Angola no continente Africano. A ilha tem uma
porção de terra com 7 km de comprimento. A ilha liga-se ao resto do território na fortaleza
de são Miguel. Na verdade o que se pretende é usar esta pequena parcela como amostra
para um estudo que pretendemos direcionar em todo território de Angola.
Esta analise sobre a arqueologia do território metropolitano contemporâneo da Baia de
Luanda tem como objetivo os seguintes aspectos;
Objetivo geral
Intervir no domínio dos fenômenos culturais existentes no território metropolitano
contemporâneo da baia da cidade de Luanda.
E de forma especifica objetivamos incentivar o debate sobre a cultura metropolitana
contemporânea da arquitectura do território da baia da cidade de Luanda.
Neste trabalho abordaremos sobre os movimentos culturais da baia da cidade de
Luanda com relação aos seguintes itens:
-Novos horizontes do entendimento urbano, influenciados por uma relação entre
centro e periferia e de uma sub posição de culturas no decorrer do tempo.
-Metropolitanismo em metamorfose.
-Coletivos para uma arqueologia do território baseado nas diferentes áreas do saber.
De realçar que o trabalho é um ensaio no qual procuraremos assim nos
familiarizarmos o Maximo na medida do possível as normas e exigências editoriais
frequentemente associadas a artigos submetidos nas áreas da Cultura e Teoria da
Arquitectura e do Urbanismo.
6
Baia de Luanda.
Ao relacionarmos os termos Cultura metropolitana contemporânea, e o coletivo para
uma arqueologia do território na Baia de Luanda; teremos obrigatoriamente, de tocar no
aspecto que tem norteado durante séculos os aspectos culturais da cidade que é sua
devoção a Kianda1.
Outro ponto que nos salta aos olhos ao pensar na Cultura metropolitana
contemporânea, e nos coletivos para uma arqueologia do território na Baia de Luanda; é a
Igreja da nossa senhora do Cabo uma das construções mais antigas presentes na ilha sua
construção data da era colonial. Mas o que tratar de Luanda do ponto de vista arqueológico
antes desta época?
Pelo que despertou a nossa atenção o comentário critico de alguns que de certa forma
se tem mostrado sedentos pelo conhecimento de dados sobre a arqueologia do território
Angolano:
Arqueologia do Território Angolano
Se não me engano, foi este o título da única obra de largo fôlego sobre
arqueologia em Angola. Da responsabilidade de uma figura-chave para a
divulgação e a própria formação de um ambiente cultural e literário
verdadeiramente nacional nos anos 50 a 70 (Carlos Ervedosa), desde então
não conheço (mas não sou historiador) uma obra de relevo que nos traga
notícias da arqueologia sobre o nosso país e feita por angolanos. Há um
trabalho recende, subscrito por Manuel Gutierrez (que coordena outras
investigações angolanas): Art rupestre en Angola: province de Namibe,
com prefácio de Francisco Xavier Yambo, que justamente chama a
atenção para a necessidade de uma arqueologia das grandes cidades
pré-coloniais: "Mbalundu, Mbanza Ndongo, Itengo, Mbanza Kongo,
Kassanji, Ondjiva, etc". Há mais trabalhos mas mal divulgados, de curto
escopo e incidindo sobre pinturas rupestres - tanto quanto o leitor comum
1 kianda- Ser mistico idolatrado em alguns povos da cidade de luanda
7
possa conhecer aqui.
É estranho que não se faça arquelogia dos últimos 1000 a 2000 anos, por
exemplo. Tanto mais quanto assistimos, em quantidade e muitas vezes em
qualidade, a um crescimento e uma intensificação de estudos sobre Angola,
a história dos povos que atravessaram o nosso território e nele se
instalaram, tentativas de datação de momentos decisivos, etc. Mas os
livros importantes sobre a nossa História (isso data já do tempo colonial)
limitam-se a, com maior ou menor rigor, confrontar fontes escritas com
fontes orais e tirar daí conclusões. Essas conclusões são sempre muito
relativas, não nos permitem propriamente concluir nada sobre, por
exemplo, quando se fundaram grandes unidades políticas para- ou
pré-coloniais, como por exemplo Kongo, Lunda, Ndongo, Matamba,
Cuanhama, Bailundo, várias outras.
É claro que temos sempre a desculpa da guerra e, no tempo colonial, a de
que não havia interesse das autoridades. Mas a guerra não nos impediu de
fazer arqueologia na Ilha de Luanda, ou na Mulemba Xangola (na que se
pensa que seja essa árvore), bem como em Benguela - onde agora se vai
investigar uma prisão do princípio do século XX (na Chila) sem se
investigar a instalação dos povos que ali vivem há séculos para saber da
sua chegada ao local, das formas de vida em cada época, enfim, de tudo
aquilo em que a arqueologia nos pode ajudar.
Fica, portanto, uma espécie de mistério, ou pelo menos de adivinha.
Porque é que não há investigação arqueológica sobre o período histórico
em Angola?[...] Publicado em 2011 por F. Soares
Mas é de sublinhar que muitos trabalhos tem sido feito para salvaguardar, ou seja,
perpetuar a arqueologia do território da baia de Luanda quer seja através de estudo de
caráter mais cientifico como num lado mais virado as artes. Concordamos que tem sido
pouco visto o vasto território e as imensas camadas arqueológicas fixas no tempo que
pretendemos alcançar. Sou de opinião que é possível um dos caminhos á solução para
alcançar maiores resultados nesta busca esta em enxergamos um coletivo para arqueologia
do território.
8
Temos grandes e bons exemplos como o trabalho de Rosa Silva investigadora
angolana, que contribuiu bastante para apresentação da historia partindo centenas de anos
antes á colonização de Angola.
O esforço de Tomas Gavino em elaborar uma lista com o nome de vários autores e
escritores Angolanos o que a meu ver contribui ao estudo da arqueologia do território ,
fazendo um registro de vários homens que com o seu trabalho tem feito parte da cultura
contemporânea da cidade de Luanda que é fruto desta relação estreita existente com o
arqueológico desta necessária sobreposição no passar do tempo:
Autores e escritores Angolanos
Abel Augusto Bolota (1942, Quinjenje) – Benguela, Cidade Mãe de
Cidades (1967).
Abel dos Santos (…, Luanda) – A Guerra em Angola (…);
A Importância da Vida (…); Gestão dos Recursos Humanos (…); O
Nosso Mato (…); Crónicas do meu passado (2011).
Abel Paulo Gamba “Khoisan” (…, Luanda) – Bósnia, Rwanda e
Kosovo: o Conselho de Segurança das Nações Unidas nos três conflitos
(2013).
Abílio Esmael Jamba (1988, Huambo) – O conflito de gerações
(2013).[...]
Belarmino Van-Dúnem (1975, Luanda) – Prevenção de conflitos em
África: da OUA a UA (2008); A dor que eu pari (2010); Globalização e
Integração Regional em África (2010); Política externa dos Estados e
diplomacia do Presidente José Eduardo dos Santos (2014).
Benjamim Fernando (1965, Luanda) – A fauna e as finalidades
didácticas em alguns provérbios Bakongo (2012).[...]
Bento Mântua (1878, Luanda – 1932, Lisboa) – Novo Altar (1905);
Má sina (1908); Gente moça (1910); A Morte (1912);
Ordinário…marche! (1913); O Fado (1915); Quando o coração manda
(1932).[...]
9
Boaventura Cardoso (1944, Luanda) – Dizanga dia muenhu (1977);
O fogo da fala (1980); A morte do velho Kipacaça (1987); O signo do
fogo (1992); Maio mês de Maria (1997); Mãe materno mar (2001);
Noites de vigília (2013).
Bonga (Barceló de Carvalho) (1942, Kipiri) – As nossas malambas
(sem data).[...]
Carla Baptista (1969, Luanda) – Fintar o Destino (argumento, c/
Fernando Vendrell) (1994); Portugal-Angola, Olhares Trocados (2002);
O Herói (argumento, c/ Zézé Gamboa (2004); Pele (argumento, c/
Fernando Vendrell) (2006); Jornalistas, do Ofício à Profissão (2007);
Memórias Vivas do Jornalismo (2009); Apogeu, Morte e Ressurreição da
Política nos Jornais Portugueses (2011).
Carla Ferreira (1967, Luanda) – A conquista da cidade na narrativa
de Luandino Vieira (2009).
Carla Gomes (1969, Luanda) – Mar, amor e alma (2012).[...]
Carlos Alberto Van-Dúnem (1935, Luanda) – Vinte e dois poemas
para o 29 de Março (2000).
Carlos Albuquerque (1940, Luanda) – Angola: a cultura do medo
(2002).
David Filho (Manuel David Mendes) (1964, Luanda) – Meu amor,
minha ilusão (1995).
De Cássia Vissuma (1985, Andulo) – No calar da noite (2011);
Pedaços de mim (2013).
Delfina Velez Vernuccio (1976, Luanda) – Fragmentos de um deus
inacabado (2008).
Denilson Moreira (1987, Luanda) – De Lúcifer para os pecadores
(2012).
10
Diogo Joaquim Manuel “Barbosinha” (…, Luanda – 2001, Caxito) –
Contos de serão (2002).
Elvídio de Oliveira (1926, Luanda) – A Matemática é um
bicho-de-sete-cabeças? (2006); Quem te manda falar (2006); Turista kalu
em Loanda: Luanda da minha infância (2009); Os problemas que
estamos com eles (2012).
Elvira Peregrina de Jesus Van-Dúnem (1949, Luanda) – Recursos
hídricos e sua importância para o desenvolvimento e bem estar (2003).
Emanuel Berenguel (1970, Luanda) – Atlas das aves invernantes do
Baixo Alentejo (1999).
Emanuel Dundão “Kiama” (1986, Luanda) – Ecos d’alma (2011).
Emanuel Eduardo (1982, Luanda) – A verdade do passado (2003); O
meu coração de amor (c/ António Miguel Afonso) (2013).
Felisberto Filipe (…, Luanda) – Um minuto para amar (2011).
Felisberto Njele (1955, Luanda) – Segurança Humana em Angola (c/
Manuel Correia de Barros) (2006).
Fernanda Baião (1961, Luanda) – Minhas lágrimas (2003).
Fernanda Mualeia (1979, Luanda) – Guia Prático de Direito
Comercial (c/ Sofia Vale) (2013).[...]
Fernandes Manuel (…, Luanda) – Consumo de Bebidas Alcoólicas
entre os Estudantes Universitários (2012); Homicídios em Angola (2013);
Stress Laboral. Estudo, Diagnóstico e Estratégia de Redução (2014).
Pedro Paulo Ramos Ventura (1975, Luanda) – A culpa é do
Monoteísmo (2011); A Utopia do Perdão (2012).
Pedro Poças (1975, Luanda) – Nazunia, 2011.
11
Pedro Proença (1962, Lubango) – The great tantric gangster (1997);
A Arte do Microscópio (2000); O Homem Batata (2000); Comentários ao
Apocalipse (2010).
Pedro Romão (…, Luanda) – Anotações à Lei da Prisão Preventiva e
Legislação Complementar (c/ Fernando Macedo) (2008).
Pedro Sampaio Nunes (1953, Lobito) – Livro Verde da Segurança de
Abastecimento de Energia para a Europa (2005).
Pedro Sebastião Teta (1959, Nzeto) – Controlo Inteligente (co-autor)
(1992).
Pedro Sousa Pereira (1966, Luanda) – Nem tudo começa com um
beijo (c/ Jorge Araújo) (2005); Paralelo 75 ou O segredo de um coração
traído (c/ Jorge Araújo) (2007); Cinco balas contra a América (c/ Jorge
Araújo) (2009).
Penelas Santana (1981, Ndalatando) – Crónicas da nossa gente
(2005); Dikwatu, morte na sanzala (2006); Quando o adultério é
sinónimo de amor (2008); Algumas das razões que fazem o MPLA e dos
Santos ganharem eleições (2 volumes) (2012); Como conquistar ou
reconquistar a pessoa que você ama (2013); Como aceitar que te perdi e
conviver com a dor (2014).
Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) (1941,
Benguela) – As aventuras de Ngunga (1973); Muana Puó (1978); A
corda (teatro) (1978); Mayombe (1980); A revolta da casa dos ídolos
(teatro); O cão e os caluandas (1985); Yaka (1985); Lueji (1989);
Geração da utopia (1992); O desejo de Kianda (1995); Parábola do
cágado velho (1997); A gloriosa família (1997); A montanha da água
lilás (2000); Jaime Bunda, agente secreto (2001); Jaime Bunda e a morte
do americano (2003); Predadores (2005); O terrorista de Berkeley,
California (2007); O quase fim do mundo (2008); Contos de morte
(2008); O planalto e a estepe (2009); A Sul. O Sombreiro (2011); O
tímido e as mulheres (2013).
12
Pereira Alfredo (…, Luanda) – Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos
no Município do Dande, na Cidade de Caxito – Angola (2011).
Pichel de Lukoko (Pio Chiwale) (1934, Bailundo) – Em demanda do
Rei Cingi I (2003); Wambu Kalunga em Elegia (2014).
Pindi Dueme (1971, Kinshasa) – Entender o porquê das coisas
(2009); Entender a Nova Aliança (2010); Revisita-te a ti mesmo
(2013).[...] Compilado por Tomas Gavito.
De igual forma citamos o trabalho fotografico de Filomena Barata que garantem um
registo da paisagem do territorio da baia de luanda. Fotografias estas que perpetuaram
uma epoca que ja mais voltara e uma paisagem unica pois com certeza que se nos
dirigimos ao mesmo angolo de visiblidade que o fotografo esteve no momento, ja mais
seria pussivel conseguir a mesma imagem isto pela mutação que a mesma sofreu.
FIGURA 1- Ilha do Mussulo
Fonte: Fotografia de António Barata
13
FIGURA 2 -Baia de Luanda
Fonte: fotografia de Filomena Barata, 2010
Os grupos teatrais também têm realizado trabalhos que despertam o interesse neste
casamento entre o arqueológico e o contemporâneo. Sendo possível recitar o Grupo hubba
artes2, que realizou uma pesquisa no ano 2012 dando origem á estórias que retratam a
cultura metropolitana contemporânea.
O Grupo se dirigiu para o local de forma a obter dados para a montagem de obras
teatrais. Mussulo conhecida geralmente por ilha é uma planilha pertencente à cidade de
Luanda Capital de Angola. O turismo tem tornado-a cada vez mais conhecido. A
população vive basicamente da pesca e o comercio, nos últimos anos foi visível à
construção de grandes moradias. Em épocas de festa o Mussulo não dorme, lá encontramos
as maiores festas da cidade e a margem da praia do Capussoca parece não conseguir
respirar. De forma bastante superficial houve algumas insinuações acerca do trafico de
Drogas, de órgãos e ate trafico de pessoas para a prostituição, mas não passou de
2 Hubba artes ,Organização não govermental que tem apoiado varias atividades artisticas em Luanda
14
insinuações ninguém cita nomes nem indicam residências exatas, fechavam-se quando
confrontados.
Há abertura de varias seitas, também já é visto alguns rituais religiosos que consiste
em entregar seus parentes para criaturas existentes no fundo do mar. Sendo o Povo devoto
a kianda, acredita que uma boa parte das pessoas que desaparecem foram levadas pelas
sereias ou pelo bicho do mar, alguns dos pescadores cavam buracos na praia deforma a
quem for nadar e ser visto com bons olhos pela sereia, já não consegue voltar e a sereia
agradece mandando cada vez mais peixes.
As recolhas de dados sobre a kianda foi um trabalhamos em equipa de forma a
conseguir toda informação necessária. Precisava contextualizar a história, fazer estudo do
campo e tornar a historia bem próxima ao publica alvo e nada melhor do que reunir uma
equipa para o trabalho de campo. Estiveram a trabalhar neste projecto:
Indira Gonçalves- Psicóloga, Docente universitária, atriz.
Bruno Clemente- Ator, Bacharel em teologia e Professor da Escola Bíblica Dominical.
Sandra Mateus - Atriz e Cineasta. Formada em cinema e TV pelo instituto superior
metropolitano de Angola. Acionista do Hubba Artes
Mussulo e a kianda
Kianda é nome dado à sereia, que uma boa parte do povo das praias de Luanda
acredita existir. A Kianda faz parte da historia da cultura do povo Luandence. Vários
escritores já apresentaram livros retratando a historia da kianda ou simplesmente
mencionando o seu nome em alguns parágrafos, dentre eles esta; o ilustre Pepetela com seu
livro O Desejo da kianda publicado em 1995.
Ao conversarmos com os moradores do mussulo sobre o assunto parece que eles
vivem em um mundo imaginário paralelo ao nosso, ou se calhar nos é que vivemos no
mundo paralelo imaginário e eles estão na vida real. Ouvimos historia de pescadores,
contadas na primeira pessoa, elas são narradas desde o ouvi dizer passando pelo aconteceu
com minha Bisavó, tio, pai ate chegar a; ‘vi com os meus próprios olhos’.
As historias contadas parecem tão reais e quanto mais você escuta menos duvida de
que talvez não seja uma simples estória de pescador que não sabe ler nem escrever e alguns
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deles o mais longe que chegarão foi Luanda; Os mais viajados ou os que já frequentaram a
escola tendo ate ao ensino médio concluído, dificilmente falam do assunto, só depois de
perceberem que você não vai achar que eles são ignorantes ou menos civilizados é que
começam a falar sobre o assunto.
E tão logo eles começam a falar você percebe que eles realmente acreditam e mais do
que isso vivem aquilo. Quer seja no olhar do homem embriagado, como no olhar do
simples pescador que não para de fazer o seu trabalho enquanto contigo conversa ou ate
ainda no olhar dos moradores é visível em algum momento da conversa um medo e uma
crença ilimitada que tem uma força que por alguns segundos por mais incrédulo que
sejamos no nosso interior conseguimos sentir que há alguma coisa de real na sua paisagem
que a difere de uma miragem, como se enquanto descrevem o acontecimento no seu
interior suplicassem que acreditassem neles, pois não é mentira por mais absurdo que
pareça, mesmo assim não deixa de ser real .
A Verdade não precisa da autorização da nossa crença para ser ou deixar de ser. Pois
ela é independente da crença.
Depois do primeiro contacto com o mussulo, com seus habitantes, com seus hábitos e
costumes, resolvemos nos abrir para uma investigação á grande escala, e para este passo
precisávamos de toda informação concernente à história da kianda, precisávamos saber
qual a relação desta história com as demais historia de sereia ou ser marinhos que se
parecem com o ser humano, precisávamos saber como outros territórios contemporâneos
encaram a existência ou não de sereias nos dias de hoje e ver os registros arqueológicos
nestas cidades marítimas.
Para escrever e enriquecer a historia New muxima-ssulo a informação recolhida servia
perfeitamente, tinha-se de forma geral o dia a dia dos habitantes de Luanda na zona do
mussulo, suas crenças, seus medos, a forma como se apegam a um ser supremo e o seu
crescimento econômico. Mas para peça de teatro era especificamente sobre a Kianda e se
pretendíamos leva-la ao palco num ângulo nunca antes visto, fora daquilo que os livros
dizem ou o que a ficção cientifica tem incutido na mente da sociedade, vista do angulo em
que é possível ter a mesma perspectiva que aqueles que durante toda uma vida acreditaram,
vivem e deixam-se nortear por essas crenças, sem ao menos saber se as suas origens
remota da mitologia da antiga Grécia ou de verdades ate agora ocultas a uma sociedade
16
que se faz cega e muda por escolha própria, frente aos fatos a ela apresentado pela
transição oral de uma arqueologia tatuada na arquitectura de um coletivo dos territórios
metropolitanos marítimos contemporâneos, de uma arqueologia cujo tempo não foi capaz
de apagar, tornando-se ou perdurando então como um palimpsesto; Teríamos que fazer
algumas alterações aos prazos de entrega. Por isso em substituição escrevemos a peça
wanzola-Grito do submundo.
A peça wanzola-Grito do Submundo foi apresentada pela primeira vez pelo Grupo
Arte evangélica, mas, é propriedade do Hubba artes, uma organização que apoia e arte
virada numa vertente cristã.
Ao escrever a historia New Muxima-ssulo fez-se o esforço de manter a imagem real
do mussulo em cada parte do texto de forma que a historia possibilite ao leitor uma
paisagem fiel do que é o Mussulo.
Eis alguns textos retirados do esboço do livro New Muxima-ssulo feito em 2013 por
Salita Mateus.
New Muxima-ssulo
Em algum momento lembramos-nos da nossa infância,
lembramos-nos dos ensinamentos que deveríamos ter acatado e dos que
ate agora não enxergamos a sua utilidade. O porquê não eu sei, mas por
algum motivo Muxima resolveu lembrar-se de todos eles.
Muxima moça, linda como ela só, bem na flor da idade com seus
lindos dezoito anos e quatro meses e dois dias de idade. Ela tem um pé
enorme e um sorriso de cassule. Mas neste exato momento Muxima se
encontra meio assustada, é a primeira vez que tem relações sexuais [...].
O senhor parece mesmo ter por ai uns quarenta anos, sim quarenta anos.
uns vinte e poucos anos mais velho que ela. Ele tem aparência de um
deus grego, é de pele clara, dois e vinte de altura, apesar de que a maior
parte das pessoas diz que ele é um gigante de três metros. A idade não
ofusca nem de perto o seu lindo corpo adornado de músculos que o
tornam apreciado por qualquer amante da beleza masculina. Ele pode
17
ficar com qualquer mulher o que me inquieta é querer saber o porquê,
que hoje ele escolheu ficar com uma menina tão ingênua?
Vejo que ela nem se preocupou em saber o que tinha de especial,
pois simplesmente esta distante, e enquanto ele aprecia cada milímetro do
seu corpo virgem como se encontrasse uma colmeia transbordando de
mel, sem nenhuma abelha se quer por perto. Ela com uma tristeza
abismal vê sua virgindade a sair em cada suspiro que da, em algum
momento vejo ela parando, e não consegue ouvir os seus próprios gritos
de prazer, dando lugar a um som veemente, que parece trazer consigo
todos os versículos bíblicos que ela aprendeu na escola bíblica dominical.
A situação deixa-lhe muito nervosa, ela esta respirando cada vez mais
fundo, o que tende a acelerar os seus movimentos, deixando o homem
pensando que é um as por conseguir trazer-lhe um orgasmo na primeira
relação sexual. Mas ela simplesmente esta gritando cada vez mais alto, e
agora eles tornaram-se choro, choro que acompanham as lembranças das
coisas que o pai lhe ensinava, do seu desejo de ser diferente do resto do
mundo e guardasse para o seu príncipe mesmo que não tivesse encanto
bastava ser seu, seu porto seguro.[...]
[...]Vejo-a agora bem mais Calma, bem mais calma e com o rosto
transbordando de alegria, pois ela esta ouvir que o seu homem quer casar
com ela e ficar pra sempre com ela, quer construir uma família e
envelhecer ao seu lado.
Enfim o texto nos é familiar, é tipo de coisas que a maior parte das
mulheres já ouviu e quase todo homem já disse. Bem neste caso com
uma pequena diferença; ele não disse, ela simplesmente ouviu o que
queria ouvir. E por mais que fui com a cara da moça, posso confirmar
que ele não disse um terço do que Muxima acha que ouviu.
A noite passou rápido, o sol da praia do mussulo vai rompendo a
janela envidraça do quarto.
-Acorda Muxima! Acorda.
18
Ela acordou com o cheiro de ovo mexido e pão quentinho acabando
de sair do forno. Á anos que a vejo nestas praias de Luanda e em nenhum
dos seus sonhos, vi ela a imaginar que algum dia poderia acordar nos
melhores hotéis do mussulo, com o café da manha na cama. Ela esta
abrindo os olhos, tem a certeza que encontrou um príncipe, só que não
era encantando e nem seu, pois á tempos que o vi saindo e de pequeno
almoço só tem mesmo o cheiro que vem do quarto ao lado.
Jesus! Ela esta esperando por ele a duas horas, esta meio incrédula. E
agora a empregada do hotel pede para ela abandonar o quarto.
E eu estava de volta á vida real, ao sol divino do mussulo, as noites
quentes e animadas que esta planilha oferece a todos os amantes da noite.
O mussulo único e lindo onde o consumo de álcool é uma arte e
bebesse do Caporroto ate ao champanhe mais caro, só não bebe quem já
bebeu ate não poder mais, nem a menor idade limita o consumo deste
liquido. [...]
O mussulo nunca foi... Nunca foi um convento, «um convento não»!
Não gosto muito deste termo prefiro dizer nunca foi um «lugar de
santos», nem de santos nem de pobres, Epa é como nas outras praias de
Luanda há gente muito pobre e há gente muito rica, todos os anos
erguem-se casarões, mas existe sempre aquela casinha do pescador que
faz do mar o seu ganha pão, e da um estilo mais artístico, mais natural e
ate certo ponto mais familiar ao mussulo. [...]
É horrível eles estão de mão atadas parece que não ha nada que
possam fazer, para minimizar as coisas.
Mas o povo decidiu consultar a profetiza Joana debaixo da arvore.
Eles perguntam o que devem fazer, se devem dar mais sacrifícios á
Kianda, ao Bicho do mar, ou ficar a chinguilar, matar umas galinhas,
cabrito ou ate mesmo porco só para ver se aparece mais peixe. Estão
dizendo que já não sabem o que fazer com esses jovens que não saem do
19
alcoolismo e da prostituição. Ela respondeu apenas que um demônio
nunca vai destruir outro demônio.
-Descansem porque isso é dente por dente olho por olho. Se tiver
demônio por perto, tem anjos mais perto ainda. Disse velha Joana com a
sua voz pesada, que, mas parecia com vozes masculinas.[...]
-Fala sério! Nós não precisamos de uma mulher velha para acabar
com isso. Dizem os pescadores já meio estressados. Ela sorri e diz:
-Alguém fez um pedido a estrela cadente?
Ao ouvir isto Todo o resto estava boca e abertos, contemplando
simplesmente a mesma visão que Juana. Não da para acreditar, mas tem
mesmo uma menina no helicóptero a mais de 20 metros de altura, pronta
a se jogar no mar a uns 500 metros da contracosta da ilha, é de loucos e
super-radical, não é o tipo de coisas que as meninas costumavam fazer,
tipo não era exatamente o mesmo que surfar, e pela forma como ela
despediu o piloto e se jogou no mar, a tipa sabia mesmo a cena que
estava a fazer.
Enquanto vão olhando um para os outros, para garantir que todo
mundo viu a cena, Anciã Joana com um ar malandro, típico dela, coça a
cabeça e diz;
-Eu aposto com vocês que, nenhum deles consegue trazer ela para a
beira.
-Apostas o quê?
-A minha preciosa casinha e vocês a apenas a pesca de amanhã. Eles
aceitam sorrindo.
Por mais que Joana fosse chata e insuportável com eles, me parece
que o povo gostava de levar chute na bunda.
Joana é uma velha que, por mais que você tente adivinhar, nunca
saberás quantos anos aquele museu humano tem de existência. Velha
20
sabia de poucas palavras e sempre ironicamente de mal com a vida,
sempre com uma pitada de amor rústico, que ela fazia questão de enterrar,
tinha resposta para tudo como se soubesse de tudo, para alguns era uma
bruxa, para outros uma vidente para poucos apenas uma velha
insuportável e para ninguém era apenas Joana pelo menos ate agora.[...]
- Ninguém é obrigado a escutar as tuas historias sua velha bruxa.
-Bruxa eu? Respondeu Joana que parecia mesmo que havia fumado
umas ervas antes de vir ter com as crianças.
-Bruxa é a tua mãe que consagrou na kianda
-Bruxa?! Bruxa é a tua avo que anda ai a xinguilar nos óbitos ate o
morto deitar sangue, bruxa será a tua família inteira se você não aceitar
Jesus como senhor e salvador.
Dani que ate agora conseguiu bater o recorde de controles de ataques
nervosos explodiu e começou a falar sem parar:
-Eu quero Jesus! Eu quero Jesus! Como senhor e salvador eu quero
Jesus.
-Não! Não dessa forma velha. Reagiu Cadete em meio à situação
-De que forma cadete?! Se esta geração tem ouvidos, mas não ouve,
tem olho, mas não vê! Diga-me de que forma eles vão se arrepender, e se
converter ao Deus vivo. De que forma Cadete?! Perguntou a velha a
Cadete.
-Com amor, Joana! Só com amor! De tal maneira que eles sejam a
geração dos que amam o Deus vivo.
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Joana abana a cabeça, coçando a cabeça, tira um suspiro irônico e vai
indo embora. Dé pega na mão de Cadete que parece distante e pensativa
a olhar para Joana e diz;
-Um dia eu vou ensinar a Velha a contar historias como você Cade,
agora fala-nos mais do teu Deus.
-O Deus da velha é bem parecido com ela! É terrível!. Diz Paló.[...]
[...]A chuva acabou com a chama em menos de 5 minutos e isso
estressou ainda mais Joana.
-Uau! Que grande milagre Deus! Não dava pra fazer chover um
pouquinho antes? É que eu precisava mesmo que a chuva acabasse
literamente com o churrasco, nem adianta dizer que você me advertiu que
o diabo havia de pegar pesado. Isso não foi pegar pesado.
-Caramba Pai! Isso Foi Deus ficar parado enquanto Diabo esmagava
tudo bem ao seu lado.
-Era tão fácil pra você Deus Pai!... Tão fácil salvar todos eles, ou
então apenas um! Um! Só um.
-Olha aqui Deus! Você vai precisar mais do que um peixe pra me
levar em Nínive! Pode parar de me fazer lembrar Jô, eu não sou Jô.
-Qual é Deus? Isso foi golpe baixo. Diz-me que isso não é real.
-Quando eu acordar, tudo vai passar não é velha?
-Não Dete! Dessa vez não vai passar! [...]
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-Deus hoje eu sei que o problema não foi o Diabo pegar pesado! Mas
sim eu sair do seu lado. Quer levar ela? Leva Deus, mas me receba de
volta. Eu sei que contigo ela só pode estar melhor; Deus Pai cadê você?!
-Eu estou sempre aqui filha, você é que esteve de costa para mim.
[...]MATEUS.Salita Esboço do livro New Muxima-ssulo.2013
A cultura contemporânea da baia de Luanda é fruto da semente da vivencia do homem
sobre o solo histórico das cidades, se encontrando de todo modo enraizado naquilo que
permanece nas diversas camadas do subsolo. É tendo em conta este novo horizonte urbano
que entendemos e enxergamos o metropolitanismo dos territórios contemporâneos. Pois o
metropolitanismo existe em um estado dinâmico, metamórfico.
Dizer ainda que o trabalho realizado de forma individual por Tomas Gavino, Pelo
grupo Hubba Artes, pela Rosa Silva, pela Filomena Barata, ou ate mesmo por F. Soares
vistos de forma conjunta, como um todo constitui um coletivo para uma arqueologia do
território.
Num tempo muito muito longe chamado hoje, haverá uma nação do
futuro chamada ontem. [...] Salita Mateus 2014
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REFERÊNCIAS
Estudos
PEPETELA. O desejo de kianda, 1995
BIBLIA SAGRADA-2ª edição revista e atualizada traduzida por João ferreira de
Almeida-2009
SILVA, Rosa Cruz, coord. (1997), Angola e o seu Potencial/História.
Luanda, Ministério da Cultura.
SOARES. F- Arqueologia Angolana: Arrugamao 2011 Disponível em:
‹http://arrugamao.blogspot.pt/2011/01/arqueologia-angolana.html ›Acessado em
8/2/2015
GAVINO.S- Lista de Autores Angolanos: aeppea. Wordpress. Disponivel em:
‹https://aeppea.wordpress.com/autores-de-angola-lista-elaborada-por-tomas-gavino/ ›
Acessado em 8/2/2015
FONTES
MATEUS, S.C- New Muxima-ssulo.Luanda: Hubba artes 2013.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_Luanda Acessado em 8/2/2015