Archeology of the territory of the bay of Luanda

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COLECTIVOS PARA UMA ARQUEOLOGIA DO TERRITÓRIO. ``BAIA DE LUANDA`` Collective For An Archeology Of The Territory Bay Of Luanda SALITA MATEUS Trabalho de Cultura Metropolitana Contemporânea Mestrado Em Arquitectura Dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos. Docente: Ana Milheiro 1-º Semestre 2014-2015 ISCTE-IUL [email protected] LISBOA-2015

Transcript of Archeology of the territory of the bay of Luanda

COLECTIVOS

PARA UMA ARQUEOLOGIA DO TERRITÓRIO.

``BAIA DE LUANDA``

Collective

For An Archeology Of The Territory

Bay Of Luanda

SALITA MATEUS

Trabalho de Cultura Metropolitana Contemporânea

Mestrado Em Arquitectura Dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos.

Docente: Ana Milheiro

1-º Semestre 2014-2015

ISCTE-IUL

[email protected]

LISBOA-2015

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RESUMO:

Neste ensaio trabalhamos de maneira a tornar possível, o enquadramento critico e

teórico do projecto de investigação, sobre a arqueologia do território da baia de Luanda,

um território metropolitano contemporâneo, localizado em Angola. E para isto

Abordaremos diretamente as marcas da arqueologia do território Angolano, marcas estas

que retratam a influencia, da cultura no processo evolutivo da baia de Luanda no decorrer

das décadas. Fazendo um enquadramento cientifico gerado pelo pensamento e pela cultura

contemporânea será possível sistematiza-lo de acordo as tendências que se preocupam com

as constantes alterações do quadro metropolitano dos territórios contemporâneos. A cultura

contemporânea deu lugar a um novo de conceito de urbe e da criação da urbe e é tendo em

conta este novo horizonte urbano que entendemos e enxergamos o metropolitanismo dos

territórios contemporâneos, de forma a vê-lo como um todo e não como uma partícula

independente das outras áreas que constituem a sociedade. Pois o metropolitanismo existe

em um estado dinâmico, metamórfico.

Palavras-chave: LUANDA, ARQUEOLOGIA, CULTURA.

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ABSTRACT

In this test work in order to make possible the critical and theoretical framework of the

research project on the archeology of the territory of the bay of Luanda , a contemporary

metropolitan territory , located in Angola . And this directly will cover the marks of

Angolan territory of archeology, these brands that portray the influence of culture in the

evolutionary process of Luanda bay over the decades . Making a scientific framework

generated by thought and contemporary culture will be possible to systematize it according

the trends that are concerned with the amendments of the metropolitan framework of

contemporary territories. Contemporary culture has given rise to a new concept of

metropolis and the creation of the metropolis and is taking into account this new urban

horizon that we see and understand the metropolitanismo of contemporary territories , in

order to see it as a whole and not as a particle independent of the other areas of society. For

the metropolitanismo exists in a dynamic , metamorphic state.

Key words : LUANDA, ARCHAEOLOGY, CULTURE.

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Introdução

A baia de Luanda resulta da separação da cidade de Luanda do oceano por meio de um

cordão litoral com sete quilômetros de comprimentos. Ilha de Luanda ou do cabo como

geralmente é conhecida se encontra em Angola no continente Africano. A ilha tem uma

porção de terra com 7 km de comprimento. A ilha liga-se ao resto do território na fortaleza

de são Miguel. Na verdade o que se pretende é usar esta pequena parcela como amostra

para um estudo que pretendemos direcionar em todo território de Angola.

Esta analise sobre a arqueologia do território metropolitano contemporâneo da Baia de

Luanda tem como objetivo os seguintes aspectos;

Objetivo geral

Intervir no domínio dos fenômenos culturais existentes no território metropolitano

contemporâneo da baia da cidade de Luanda.

E de forma especifica objetivamos incentivar o debate sobre a cultura metropolitana

contemporânea da arquitectura do território da baia da cidade de Luanda.

Neste trabalho abordaremos sobre os movimentos culturais da baia da cidade de

Luanda com relação aos seguintes itens:

-Novos horizontes do entendimento urbano, influenciados por uma relação entre

centro e periferia e de uma sub posição de culturas no decorrer do tempo.

-Metropolitanismo em metamorfose.

-Coletivos para uma arqueologia do território baseado nas diferentes áreas do saber.

De realçar que o trabalho é um ensaio no qual procuraremos assim nos

familiarizarmos o Maximo na medida do possível as normas e exigências editoriais

frequentemente associadas a artigos submetidos nas áreas da Cultura e Teoria da

Arquitectura e do Urbanismo.

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Baia de Luanda.

Ao relacionarmos os termos Cultura metropolitana contemporânea, e o coletivo para

uma arqueologia do território na Baia de Luanda; teremos obrigatoriamente, de tocar no

aspecto que tem norteado durante séculos os aspectos culturais da cidade que é sua

devoção a Kianda1.

Outro ponto que nos salta aos olhos ao pensar na Cultura metropolitana

contemporânea, e nos coletivos para uma arqueologia do território na Baia de Luanda; é a

Igreja da nossa senhora do Cabo uma das construções mais antigas presentes na ilha sua

construção data da era colonial. Mas o que tratar de Luanda do ponto de vista arqueológico

antes desta época?

Pelo que despertou a nossa atenção o comentário critico de alguns que de certa forma

se tem mostrado sedentos pelo conhecimento de dados sobre a arqueologia do território

Angolano:

Arqueologia do Território Angolano

Se não me engano, foi este o título da única obra de largo fôlego sobre

arqueologia em Angola. Da responsabilidade de uma figura-chave para a

divulgação e a própria formação de um ambiente cultural e literário

verdadeiramente nacional nos anos 50 a 70 (Carlos Ervedosa), desde então

não conheço (mas não sou historiador) uma obra de relevo que nos traga

notícias da arqueologia sobre o nosso país e feita por angolanos. Há um

trabalho recende, subscrito por Manuel Gutierrez (que coordena outras

investigações angolanas): Art rupestre en Angola: province de Namibe,

com prefácio de Francisco Xavier Yambo, que justamente chama a

atenção para a necessidade de uma arqueologia das grandes cidades

pré-coloniais: "Mbalundu, Mbanza Ndongo, Itengo, Mbanza Kongo,

Kassanji, Ondjiva, etc". Há mais trabalhos mas mal divulgados, de curto

escopo e incidindo sobre pinturas rupestres - tanto quanto o leitor comum

1 kianda- Ser mistico idolatrado em alguns povos da cidade de luanda

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possa conhecer aqui.

É estranho que não se faça arquelogia dos últimos 1000 a 2000 anos, por

exemplo. Tanto mais quanto assistimos, em quantidade e muitas vezes em

qualidade, a um crescimento e uma intensificação de estudos sobre Angola,

a história dos povos que atravessaram o nosso território e nele se

instalaram, tentativas de datação de momentos decisivos, etc. Mas os

livros importantes sobre a nossa História (isso data já do tempo colonial)

limitam-se a, com maior ou menor rigor, confrontar fontes escritas com

fontes orais e tirar daí conclusões. Essas conclusões são sempre muito

relativas, não nos permitem propriamente concluir nada sobre, por

exemplo, quando se fundaram grandes unidades políticas para- ou

pré-coloniais, como por exemplo Kongo, Lunda, Ndongo, Matamba,

Cuanhama, Bailundo, várias outras.

É claro que temos sempre a desculpa da guerra e, no tempo colonial, a de

que não havia interesse das autoridades. Mas a guerra não nos impediu de

fazer arqueologia na Ilha de Luanda, ou na Mulemba Xangola (na que se

pensa que seja essa árvore), bem como em Benguela - onde agora se vai

investigar uma prisão do princípio do século XX (na Chila) sem se

investigar a instalação dos povos que ali vivem há séculos para saber da

sua chegada ao local, das formas de vida em cada época, enfim, de tudo

aquilo em que a arqueologia nos pode ajudar.

Fica, portanto, uma espécie de mistério, ou pelo menos de adivinha.

Porque é que não há investigação arqueológica sobre o período histórico

em Angola?[...] Publicado em 2011 por F. Soares

Mas é de sublinhar que muitos trabalhos tem sido feito para salvaguardar, ou seja,

perpetuar a arqueologia do território da baia de Luanda quer seja através de estudo de

caráter mais cientifico como num lado mais virado as artes. Concordamos que tem sido

pouco visto o vasto território e as imensas camadas arqueológicas fixas no tempo que

pretendemos alcançar. Sou de opinião que é possível um dos caminhos á solução para

alcançar maiores resultados nesta busca esta em enxergamos um coletivo para arqueologia

do território.

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Temos grandes e bons exemplos como o trabalho de Rosa Silva investigadora

angolana, que contribuiu bastante para apresentação da historia partindo centenas de anos

antes á colonização de Angola.

O esforço de Tomas Gavino em elaborar uma lista com o nome de vários autores e

escritores Angolanos o que a meu ver contribui ao estudo da arqueologia do território ,

fazendo um registro de vários homens que com o seu trabalho tem feito parte da cultura

contemporânea da cidade de Luanda que é fruto desta relação estreita existente com o

arqueológico desta necessária sobreposição no passar do tempo:

Autores e escritores Angolanos

Abel Augusto Bolota (1942, Quinjenje) – Benguela, Cidade Mãe de

Cidades (1967).

Abel dos Santos (…, Luanda) – A Guerra em Angola (…);

A Importância da Vida (…); Gestão dos Recursos Humanos (…); O

Nosso Mato (…); Crónicas do meu passado (2011).

Abel Paulo Gamba “Khoisan” (…, Luanda) – Bósnia, Rwanda e

Kosovo: o Conselho de Segurança das Nações Unidas nos três conflitos

(2013).

Abílio Esmael Jamba (1988, Huambo) – O conflito de gerações

(2013).[...]

Belarmino Van-Dúnem (1975, Luanda) – Prevenção de conflitos em

África: da OUA a UA (2008); A dor que eu pari (2010); Globalização e

Integração Regional em África (2010); Política externa dos Estados e

diplomacia do Presidente José Eduardo dos Santos (2014).

Benjamim Fernando (1965, Luanda) – A fauna e as finalidades

didácticas em alguns provérbios Bakongo (2012).[...]

Bento Mântua (1878, Luanda – 1932, Lisboa) – Novo Altar (1905);

Má sina (1908); Gente moça (1910); A Morte (1912);

Ordinário…marche! (1913); O Fado (1915); Quando o coração manda

(1932).[...]

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Boaventura Cardoso (1944, Luanda) – Dizanga dia muenhu (1977);

O fogo da fala (1980); A morte do velho Kipacaça (1987); O signo do

fogo (1992); Maio mês de Maria (1997); Mãe materno mar (2001);

Noites de vigília (2013).

Bonga (Barceló de Carvalho) (1942, Kipiri) – As nossas malambas

(sem data).[...]

Carla Baptista (1969, Luanda) – Fintar o Destino (argumento, c/

Fernando Vendrell) (1994); Portugal-Angola, Olhares Trocados (2002);

O Herói (argumento, c/ Zézé Gamboa (2004); Pele (argumento, c/

Fernando Vendrell) (2006); Jornalistas, do Ofício à Profissão (2007);

Memórias Vivas do Jornalismo (2009); Apogeu, Morte e Ressurreição da

Política nos Jornais Portugueses (2011).

Carla Ferreira (1967, Luanda) – A conquista da cidade na narrativa

de Luandino Vieira (2009).

Carla Gomes (1969, Luanda) – Mar, amor e alma (2012).[...]

Carlos Alberto Van-Dúnem (1935, Luanda) – Vinte e dois poemas

para o 29 de Março (2000).

Carlos Albuquerque (1940, Luanda) – Angola: a cultura do medo

(2002).

David Filho (Manuel David Mendes) (1964, Luanda) – Meu amor,

minha ilusão (1995).

De Cássia Vissuma (1985, Andulo) – No calar da noite (2011);

Pedaços de mim (2013).

Delfina Velez Vernuccio (1976, Luanda) – Fragmentos de um deus

inacabado (2008).

Denilson Moreira (1987, Luanda) – De Lúcifer para os pecadores

(2012).

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Diogo Joaquim Manuel “Barbosinha” (…, Luanda – 2001, Caxito) –

Contos de serão (2002).

Elvídio de Oliveira (1926, Luanda) – A Matemática é um

bicho-de-sete-cabeças? (2006); Quem te manda falar (2006); Turista kalu

em Loanda: Luanda da minha infância (2009); Os problemas que

estamos com eles (2012).

Elvira Peregrina de Jesus Van-Dúnem (1949, Luanda) – Recursos

hídricos e sua importância para o desenvolvimento e bem estar (2003).

Emanuel Berenguel (1970, Luanda) – Atlas das aves invernantes do

Baixo Alentejo (1999).

Emanuel Dundão “Kiama” (1986, Luanda) – Ecos d’alma (2011).

Emanuel Eduardo (1982, Luanda) – A verdade do passado (2003); O

meu coração de amor (c/ António Miguel Afonso) (2013).

Felisberto Filipe (…, Luanda) – Um minuto para amar (2011).

Felisberto Njele (1955, Luanda) – Segurança Humana em Angola (c/

Manuel Correia de Barros) (2006).

Fernanda Baião (1961, Luanda) – Minhas lágrimas (2003).

Fernanda Mualeia (1979, Luanda) – Guia Prático de Direito

Comercial (c/ Sofia Vale) (2013).[...]

Fernandes Manuel (…, Luanda) – Consumo de Bebidas Alcoólicas

entre os Estudantes Universitários (2012); Homicídios em Angola (2013);

Stress Laboral. Estudo, Diagnóstico e Estratégia de Redução (2014).

Pedro Paulo Ramos Ventura (1975, Luanda) – A culpa é do

Monoteísmo (2011); A Utopia do Perdão (2012).

Pedro Poças (1975, Luanda) – Nazunia, 2011.

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Pedro Proença (1962, Lubango) – The great tantric gangster (1997);

A Arte do Microscópio (2000); O Homem Batata (2000); Comentários ao

Apocalipse (2010).

Pedro Romão (…, Luanda) – Anotações à Lei da Prisão Preventiva e

Legislação Complementar (c/ Fernando Macedo) (2008).

Pedro Sampaio Nunes (1953, Lobito) – Livro Verde da Segurança de

Abastecimento de Energia para a Europa (2005).

Pedro Sebastião Teta (1959, Nzeto) – Controlo Inteligente (co-autor)

(1992).

Pedro Sousa Pereira (1966, Luanda) – Nem tudo começa com um

beijo (c/ Jorge Araújo) (2005); Paralelo 75 ou O segredo de um coração

traído (c/ Jorge Araújo) (2007); Cinco balas contra a América (c/ Jorge

Araújo) (2009).

Penelas Santana (1981, Ndalatando) – Crónicas da nossa gente

(2005); Dikwatu, morte na sanzala (2006); Quando o adultério é

sinónimo de amor (2008); Algumas das razões que fazem o MPLA e dos

Santos ganharem eleições (2 volumes) (2012); Como conquistar ou

reconquistar a pessoa que você ama (2013); Como aceitar que te perdi e

conviver com a dor (2014).

Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) (1941,

Benguela) – As aventuras de Ngunga (1973); Muana Puó (1978); A

corda (teatro) (1978); Mayombe (1980); A revolta da casa dos ídolos

(teatro); O cão e os caluandas (1985); Yaka (1985); Lueji (1989);

Geração da utopia (1992); O desejo de Kianda (1995); Parábola do

cágado velho (1997); A gloriosa família (1997); A montanha da água

lilás (2000); Jaime Bunda, agente secreto (2001); Jaime Bunda e a morte

do americano (2003); Predadores (2005); O terrorista de Berkeley,

California (2007); O quase fim do mundo (2008); Contos de morte

(2008); O planalto e a estepe (2009); A Sul. O Sombreiro (2011); O

tímido e as mulheres (2013).

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Pereira Alfredo (…, Luanda) – Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos

no Município do Dande, na Cidade de Caxito – Angola (2011).

Pichel de Lukoko (Pio Chiwale) (1934, Bailundo) – Em demanda do

Rei Cingi I (2003); Wambu Kalunga em Elegia (2014).

Pindi Dueme (1971, Kinshasa) – Entender o porquê das coisas

(2009); Entender a Nova Aliança (2010); Revisita-te a ti mesmo

(2013).[...] Compilado por Tomas Gavito.

De igual forma citamos o trabalho fotografico de Filomena Barata que garantem um

registo da paisagem do territorio da baia de luanda. Fotografias estas que perpetuaram

uma epoca que ja mais voltara e uma paisagem unica pois com certeza que se nos

dirigimos ao mesmo angolo de visiblidade que o fotografo esteve no momento, ja mais

seria pussivel conseguir a mesma imagem isto pela mutação que a mesma sofreu.

FIGURA 1- Ilha do Mussulo

Fonte: Fotografia de António Barata

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FIGURA 2 -Baia de Luanda

Fonte: fotografia de Filomena Barata, 2010

Os grupos teatrais também têm realizado trabalhos que despertam o interesse neste

casamento entre o arqueológico e o contemporâneo. Sendo possível recitar o Grupo hubba

artes2, que realizou uma pesquisa no ano 2012 dando origem á estórias que retratam a

cultura metropolitana contemporânea.

O Grupo se dirigiu para o local de forma a obter dados para a montagem de obras

teatrais. Mussulo conhecida geralmente por ilha é uma planilha pertencente à cidade de

Luanda Capital de Angola. O turismo tem tornado-a cada vez mais conhecido. A

população vive basicamente da pesca e o comercio, nos últimos anos foi visível à

construção de grandes moradias. Em épocas de festa o Mussulo não dorme, lá encontramos

as maiores festas da cidade e a margem da praia do Capussoca parece não conseguir

respirar. De forma bastante superficial houve algumas insinuações acerca do trafico de

Drogas, de órgãos e ate trafico de pessoas para a prostituição, mas não passou de

2 Hubba artes ,Organização não govermental que tem apoiado varias atividades artisticas em Luanda

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insinuações ninguém cita nomes nem indicam residências exatas, fechavam-se quando

confrontados.

Há abertura de varias seitas, também já é visto alguns rituais religiosos que consiste

em entregar seus parentes para criaturas existentes no fundo do mar. Sendo o Povo devoto

a kianda, acredita que uma boa parte das pessoas que desaparecem foram levadas pelas

sereias ou pelo bicho do mar, alguns dos pescadores cavam buracos na praia deforma a

quem for nadar e ser visto com bons olhos pela sereia, já não consegue voltar e a sereia

agradece mandando cada vez mais peixes.

As recolhas de dados sobre a kianda foi um trabalhamos em equipa de forma a

conseguir toda informação necessária. Precisava contextualizar a história, fazer estudo do

campo e tornar a historia bem próxima ao publica alvo e nada melhor do que reunir uma

equipa para o trabalho de campo. Estiveram a trabalhar neste projecto:

Indira Gonçalves- Psicóloga, Docente universitária, atriz.

Bruno Clemente- Ator, Bacharel em teologia e Professor da Escola Bíblica Dominical.

Sandra Mateus - Atriz e Cineasta. Formada em cinema e TV pelo instituto superior

metropolitano de Angola. Acionista do Hubba Artes

Mussulo e a kianda

Kianda é nome dado à sereia, que uma boa parte do povo das praias de Luanda

acredita existir. A Kianda faz parte da historia da cultura do povo Luandence. Vários

escritores já apresentaram livros retratando a historia da kianda ou simplesmente

mencionando o seu nome em alguns parágrafos, dentre eles esta; o ilustre Pepetela com seu

livro O Desejo da kianda publicado em 1995.

Ao conversarmos com os moradores do mussulo sobre o assunto parece que eles

vivem em um mundo imaginário paralelo ao nosso, ou se calhar nos é que vivemos no

mundo paralelo imaginário e eles estão na vida real. Ouvimos historia de pescadores,

contadas na primeira pessoa, elas são narradas desde o ouvi dizer passando pelo aconteceu

com minha Bisavó, tio, pai ate chegar a; ‘vi com os meus próprios olhos’.

As historias contadas parecem tão reais e quanto mais você escuta menos duvida de

que talvez não seja uma simples estória de pescador que não sabe ler nem escrever e alguns

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deles o mais longe que chegarão foi Luanda; Os mais viajados ou os que já frequentaram a

escola tendo ate ao ensino médio concluído, dificilmente falam do assunto, só depois de

perceberem que você não vai achar que eles são ignorantes ou menos civilizados é que

começam a falar sobre o assunto.

E tão logo eles começam a falar você percebe que eles realmente acreditam e mais do

que isso vivem aquilo. Quer seja no olhar do homem embriagado, como no olhar do

simples pescador que não para de fazer o seu trabalho enquanto contigo conversa ou ate

ainda no olhar dos moradores é visível em algum momento da conversa um medo e uma

crença ilimitada que tem uma força que por alguns segundos por mais incrédulo que

sejamos no nosso interior conseguimos sentir que há alguma coisa de real na sua paisagem

que a difere de uma miragem, como se enquanto descrevem o acontecimento no seu

interior suplicassem que acreditassem neles, pois não é mentira por mais absurdo que

pareça, mesmo assim não deixa de ser real .

A Verdade não precisa da autorização da nossa crença para ser ou deixar de ser. Pois

ela é independente da crença.

Depois do primeiro contacto com o mussulo, com seus habitantes, com seus hábitos e

costumes, resolvemos nos abrir para uma investigação á grande escala, e para este passo

precisávamos de toda informação concernente à história da kianda, precisávamos saber

qual a relação desta história com as demais historia de sereia ou ser marinhos que se

parecem com o ser humano, precisávamos saber como outros territórios contemporâneos

encaram a existência ou não de sereias nos dias de hoje e ver os registros arqueológicos

nestas cidades marítimas.

Para escrever e enriquecer a historia New muxima-ssulo a informação recolhida servia

perfeitamente, tinha-se de forma geral o dia a dia dos habitantes de Luanda na zona do

mussulo, suas crenças, seus medos, a forma como se apegam a um ser supremo e o seu

crescimento econômico. Mas para peça de teatro era especificamente sobre a Kianda e se

pretendíamos leva-la ao palco num ângulo nunca antes visto, fora daquilo que os livros

dizem ou o que a ficção cientifica tem incutido na mente da sociedade, vista do angulo em

que é possível ter a mesma perspectiva que aqueles que durante toda uma vida acreditaram,

vivem e deixam-se nortear por essas crenças, sem ao menos saber se as suas origens

remota da mitologia da antiga Grécia ou de verdades ate agora ocultas a uma sociedade

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que se faz cega e muda por escolha própria, frente aos fatos a ela apresentado pela

transição oral de uma arqueologia tatuada na arquitectura de um coletivo dos territórios

metropolitanos marítimos contemporâneos, de uma arqueologia cujo tempo não foi capaz

de apagar, tornando-se ou perdurando então como um palimpsesto; Teríamos que fazer

algumas alterações aos prazos de entrega. Por isso em substituição escrevemos a peça

wanzola-Grito do submundo.

A peça wanzola-Grito do Submundo foi apresentada pela primeira vez pelo Grupo

Arte evangélica, mas, é propriedade do Hubba artes, uma organização que apoia e arte

virada numa vertente cristã.

Ao escrever a historia New Muxima-ssulo fez-se o esforço de manter a imagem real

do mussulo em cada parte do texto de forma que a historia possibilite ao leitor uma

paisagem fiel do que é o Mussulo.

Eis alguns textos retirados do esboço do livro New Muxima-ssulo feito em 2013 por

Salita Mateus.

New Muxima-ssulo

Em algum momento lembramos-nos da nossa infância,

lembramos-nos dos ensinamentos que deveríamos ter acatado e dos que

ate agora não enxergamos a sua utilidade. O porquê não eu sei, mas por

algum motivo Muxima resolveu lembrar-se de todos eles.

Muxima moça, linda como ela só, bem na flor da idade com seus

lindos dezoito anos e quatro meses e dois dias de idade. Ela tem um pé

enorme e um sorriso de cassule. Mas neste exato momento Muxima se

encontra meio assustada, é a primeira vez que tem relações sexuais [...].

O senhor parece mesmo ter por ai uns quarenta anos, sim quarenta anos.

uns vinte e poucos anos mais velho que ela. Ele tem aparência de um

deus grego, é de pele clara, dois e vinte de altura, apesar de que a maior

parte das pessoas diz que ele é um gigante de três metros. A idade não

ofusca nem de perto o seu lindo corpo adornado de músculos que o

tornam apreciado por qualquer amante da beleza masculina. Ele pode

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ficar com qualquer mulher o que me inquieta é querer saber o porquê,

que hoje ele escolheu ficar com uma menina tão ingênua?

Vejo que ela nem se preocupou em saber o que tinha de especial,

pois simplesmente esta distante, e enquanto ele aprecia cada milímetro do

seu corpo virgem como se encontrasse uma colmeia transbordando de

mel, sem nenhuma abelha se quer por perto. Ela com uma tristeza

abismal vê sua virgindade a sair em cada suspiro que da, em algum

momento vejo ela parando, e não consegue ouvir os seus próprios gritos

de prazer, dando lugar a um som veemente, que parece trazer consigo

todos os versículos bíblicos que ela aprendeu na escola bíblica dominical.

A situação deixa-lhe muito nervosa, ela esta respirando cada vez mais

fundo, o que tende a acelerar os seus movimentos, deixando o homem

pensando que é um as por conseguir trazer-lhe um orgasmo na primeira

relação sexual. Mas ela simplesmente esta gritando cada vez mais alto, e

agora eles tornaram-se choro, choro que acompanham as lembranças das

coisas que o pai lhe ensinava, do seu desejo de ser diferente do resto do

mundo e guardasse para o seu príncipe mesmo que não tivesse encanto

bastava ser seu, seu porto seguro.[...]

[...]Vejo-a agora bem mais Calma, bem mais calma e com o rosto

transbordando de alegria, pois ela esta ouvir que o seu homem quer casar

com ela e ficar pra sempre com ela, quer construir uma família e

envelhecer ao seu lado.

Enfim o texto nos é familiar, é tipo de coisas que a maior parte das

mulheres já ouviu e quase todo homem já disse. Bem neste caso com

uma pequena diferença; ele não disse, ela simplesmente ouviu o que

queria ouvir. E por mais que fui com a cara da moça, posso confirmar

que ele não disse um terço do que Muxima acha que ouviu.

A noite passou rápido, o sol da praia do mussulo vai rompendo a

janela envidraça do quarto.

-Acorda Muxima! Acorda.

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Ela acordou com o cheiro de ovo mexido e pão quentinho acabando

de sair do forno. Á anos que a vejo nestas praias de Luanda e em nenhum

dos seus sonhos, vi ela a imaginar que algum dia poderia acordar nos

melhores hotéis do mussulo, com o café da manha na cama. Ela esta

abrindo os olhos, tem a certeza que encontrou um príncipe, só que não

era encantando e nem seu, pois á tempos que o vi saindo e de pequeno

almoço só tem mesmo o cheiro que vem do quarto ao lado.

Jesus! Ela esta esperando por ele a duas horas, esta meio incrédula. E

agora a empregada do hotel pede para ela abandonar o quarto.

E eu estava de volta á vida real, ao sol divino do mussulo, as noites

quentes e animadas que esta planilha oferece a todos os amantes da noite.

O mussulo único e lindo onde o consumo de álcool é uma arte e

bebesse do Caporroto ate ao champanhe mais caro, só não bebe quem já

bebeu ate não poder mais, nem a menor idade limita o consumo deste

liquido. [...]

O mussulo nunca foi... Nunca foi um convento, «um convento não»!

Não gosto muito deste termo prefiro dizer nunca foi um «lugar de

santos», nem de santos nem de pobres, Epa é como nas outras praias de

Luanda há gente muito pobre e há gente muito rica, todos os anos

erguem-se casarões, mas existe sempre aquela casinha do pescador que

faz do mar o seu ganha pão, e da um estilo mais artístico, mais natural e

ate certo ponto mais familiar ao mussulo. [...]

É horrível eles estão de mão atadas parece que não ha nada que

possam fazer, para minimizar as coisas.

Mas o povo decidiu consultar a profetiza Joana debaixo da arvore.

Eles perguntam o que devem fazer, se devem dar mais sacrifícios á

Kianda, ao Bicho do mar, ou ficar a chinguilar, matar umas galinhas,

cabrito ou ate mesmo porco só para ver se aparece mais peixe. Estão

dizendo que já não sabem o que fazer com esses jovens que não saem do

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alcoolismo e da prostituição. Ela respondeu apenas que um demônio

nunca vai destruir outro demônio.

-Descansem porque isso é dente por dente olho por olho. Se tiver

demônio por perto, tem anjos mais perto ainda. Disse velha Joana com a

sua voz pesada, que, mas parecia com vozes masculinas.[...]

-Fala sério! Nós não precisamos de uma mulher velha para acabar

com isso. Dizem os pescadores já meio estressados. Ela sorri e diz:

-Alguém fez um pedido a estrela cadente?

Ao ouvir isto Todo o resto estava boca e abertos, contemplando

simplesmente a mesma visão que Juana. Não da para acreditar, mas tem

mesmo uma menina no helicóptero a mais de 20 metros de altura, pronta

a se jogar no mar a uns 500 metros da contracosta da ilha, é de loucos e

super-radical, não é o tipo de coisas que as meninas costumavam fazer,

tipo não era exatamente o mesmo que surfar, e pela forma como ela

despediu o piloto e se jogou no mar, a tipa sabia mesmo a cena que

estava a fazer.

Enquanto vão olhando um para os outros, para garantir que todo

mundo viu a cena, Anciã Joana com um ar malandro, típico dela, coça a

cabeça e diz;

-Eu aposto com vocês que, nenhum deles consegue trazer ela para a

beira.

-Apostas o quê?

-A minha preciosa casinha e vocês a apenas a pesca de amanhã. Eles

aceitam sorrindo.

Por mais que Joana fosse chata e insuportável com eles, me parece

que o povo gostava de levar chute na bunda.

Joana é uma velha que, por mais que você tente adivinhar, nunca

saberás quantos anos aquele museu humano tem de existência. Velha

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sabia de poucas palavras e sempre ironicamente de mal com a vida,

sempre com uma pitada de amor rústico, que ela fazia questão de enterrar,

tinha resposta para tudo como se soubesse de tudo, para alguns era uma

bruxa, para outros uma vidente para poucos apenas uma velha

insuportável e para ninguém era apenas Joana pelo menos ate agora.[...]

- Ninguém é obrigado a escutar as tuas historias sua velha bruxa.

-Bruxa eu? Respondeu Joana que parecia mesmo que havia fumado

umas ervas antes de vir ter com as crianças.

-Bruxa é a tua mãe que consagrou na kianda

-Bruxa?! Bruxa é a tua avo que anda ai a xinguilar nos óbitos ate o

morto deitar sangue, bruxa será a tua família inteira se você não aceitar

Jesus como senhor e salvador.

Dani que ate agora conseguiu bater o recorde de controles de ataques

nervosos explodiu e começou a falar sem parar:

-Eu quero Jesus! Eu quero Jesus! Como senhor e salvador eu quero

Jesus.

-Não! Não dessa forma velha. Reagiu Cadete em meio à situação

-De que forma cadete?! Se esta geração tem ouvidos, mas não ouve,

tem olho, mas não vê! Diga-me de que forma eles vão se arrepender, e se

converter ao Deus vivo. De que forma Cadete?! Perguntou a velha a

Cadete.

-Com amor, Joana! Só com amor! De tal maneira que eles sejam a

geração dos que amam o Deus vivo.

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Joana abana a cabeça, coçando a cabeça, tira um suspiro irônico e vai

indo embora. Dé pega na mão de Cadete que parece distante e pensativa

a olhar para Joana e diz;

-Um dia eu vou ensinar a Velha a contar historias como você Cade,

agora fala-nos mais do teu Deus.

-O Deus da velha é bem parecido com ela! É terrível!. Diz Paló.[...]

[...]A chuva acabou com a chama em menos de 5 minutos e isso

estressou ainda mais Joana.

-Uau! Que grande milagre Deus! Não dava pra fazer chover um

pouquinho antes? É que eu precisava mesmo que a chuva acabasse

literamente com o churrasco, nem adianta dizer que você me advertiu que

o diabo havia de pegar pesado. Isso não foi pegar pesado.

-Caramba Pai! Isso Foi Deus ficar parado enquanto Diabo esmagava

tudo bem ao seu lado.

-Era tão fácil pra você Deus Pai!... Tão fácil salvar todos eles, ou

então apenas um! Um! Só um.

-Olha aqui Deus! Você vai precisar mais do que um peixe pra me

levar em Nínive! Pode parar de me fazer lembrar Jô, eu não sou Jô.

-Qual é Deus? Isso foi golpe baixo. Diz-me que isso não é real.

-Quando eu acordar, tudo vai passar não é velha?

-Não Dete! Dessa vez não vai passar! [...]

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-Deus hoje eu sei que o problema não foi o Diabo pegar pesado! Mas

sim eu sair do seu lado. Quer levar ela? Leva Deus, mas me receba de

volta. Eu sei que contigo ela só pode estar melhor; Deus Pai cadê você?!

-Eu estou sempre aqui filha, você é que esteve de costa para mim.

[...]MATEUS.Salita Esboço do livro New Muxima-ssulo.2013

A cultura contemporânea da baia de Luanda é fruto da semente da vivencia do homem

sobre o solo histórico das cidades, se encontrando de todo modo enraizado naquilo que

permanece nas diversas camadas do subsolo. É tendo em conta este novo horizonte urbano

que entendemos e enxergamos o metropolitanismo dos territórios contemporâneos. Pois o

metropolitanismo existe em um estado dinâmico, metamórfico.

Dizer ainda que o trabalho realizado de forma individual por Tomas Gavino, Pelo

grupo Hubba Artes, pela Rosa Silva, pela Filomena Barata, ou ate mesmo por F. Soares

vistos de forma conjunta, como um todo constitui um coletivo para uma arqueologia do

território.

Num tempo muito muito longe chamado hoje, haverá uma nação do

futuro chamada ontem. [...] Salita Mateus 2014

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REFERÊNCIAS

Estudos

PEPETELA. O desejo de kianda, 1995

BIBLIA SAGRADA-2ª edição revista e atualizada traduzida por João ferreira de

Almeida-2009

SILVA, Rosa Cruz, coord. (1997), Angola e o seu Potencial/História.

Luanda, Ministério da Cultura.

SOARES. F- Arqueologia Angolana: Arrugamao 2011 Disponível em:

‹http://arrugamao.blogspot.pt/2011/01/arqueologia-angolana.html ›Acessado em

8/2/2015

GAVINO.S- Lista de Autores Angolanos: aeppea. Wordpress. Disponivel em:

‹https://aeppea.wordpress.com/autores-de-angola-lista-elaborada-por-tomas-gavino/ ›

Acessado em 8/2/2015

FONTES

MATEUS, S.C- New Muxima-ssulo.Luanda: Hubba artes 2013.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_Luanda Acessado em 8/2/2015