. INTRODUCCIÓN ESPECÍFICA AL PROBLEMA METODOLÓGICO: LA INVESTIGACIÓN CIENTÍFICA EN COMUNICACIÓN
APOSTILA ESPECÍFICA PSICOLOGIA FHEMIG -REPRODUÇÃO PROIBIDA
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Karina de O. Lima
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Índice:
1. Novo Código de Ética Profissional do Psicólogo. Página 3
2. Elaboração de laudo psicológico: análise, desenvolvimento e cuidados no
processo de comunicação dos resultados do psicodiagnóstico. Página 10
3. Entrevista psicológica: definição, tipos e finalidades. Página 20
4. Identificação do problema, sinais e sintomas. Página 26
5. Psicodiagnóstico: criança e adulto; tipos, fundamentos e passos do processo
psicodiagnóstico, aplicação, interpretação e análise. Página 27
6. Psicopatologia: conceituação; alterações da percepção, representação, juízo,
raciocínio, memória, atenção, consciência e afetividade; doenças de natureza
psíquica (alcoolismo, depressão, esquizofrenia, ansiedade). Página 52
7. Possibilidades de atendimento institucional. Página 70
8. Saúde mental e trabalho: estruturas de personalidade, natureza e causa dos
distúrbios, mecanismos de ajustamento; transtornos mentais e do comportamento
relacionados ao trabalho; atendimento em psicoterapia individual e de grupo.
Página 71
9. Metodologias de diagnóstico e de intervenção em instituições de saúde. Página
138
10. Fundamentos para o planejamento e a gestão do processo de trabalho em
organizações públicas de saúde. Página 141
11. Fundamentos para a avaliação dos serviços de saúde. Página 154
12. Transplante: legislação sobre transplantes no Brasil (SUS); o sistema de lista
única; o sistema de distribuição de órgãos; abordagem e entrevista a família do
doador; legislação das comissões intra-hospitalares de doação de órgãos e tecidos
para transplantes (CIHDOTT’s). Página 157
13. Modelo Brasileiro: SNT, CNCDO’s, CIHDOTT. Página 173
14. Referências Bibliográficas. Página 175
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1. Novo Código de Ética Profissional do Psicólogo.
CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO
O XIII Plenário do Conselho Federal de Psicologia entrega aos psicólogos e à sociedade o novo
Código de Ética Profissional do Psicólogo.
O trabalho de construção democrática deste Código esteve sobre responsabilidade do XII Plenário,
sob a presidência do psicólogo Odair Furtado e sob a coordenação do psicólogo Aluízio Lopes de
Brito, então Secretário de Orientação e Ética.
Ao XII Plenário coube também a formação do Grupo de Profissionais e Professores convidados,
responsável por traduzir os debates nacionais do II Fórum Nacional de Ética.
Ao Grupo, nossos agradecimentos e elogios pelo trabalho de tradução fiel aos debates e
preocupações expressas no Fórum.
Em nossa Gestão, os resultados foram submetidos à aprovação da Assembléia de Políticas
Administrativas e Financeiras do Sistema Conselhos de Psicologia, APAF, quando foi finalizado o
texto que ora se apresenta.
Deixamos aqui registrado nosso reconhecimento aos colegas do XII Plenário e a todos que, direta
ou indiretamente, contribuíram para os avanços obtidos e expressos neste novo texto.
AOS PSICÓLOGOS
Brasília, agosto de 2005.
RESOLUÇÃO CFP Nº 010/05 Aprova o Código de Ética Profissional do Psicólogo.
O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e regimentais, que
lhe são conferidas pela Lei no 5.766, de 20 de dezembro de 1971;
CONSIDERANDO o disposto no Art. 6º, letra “e”, da Lei no 5.766 de 20/12/1971, e o Art. 6º, inciso
VII, do Decreto nº 79.822 de 17/6/1977;
CONSIDERANDO o disposto na Constituição Federal de 1988, conhecida como Constituição
Cidadã, que consolida o Estado Democrático de Direito e legislações dela decorrentes;
CONSIDERANDO decisão deste Plenário em reunião realizada no dia 21 de julho de 2005;
RESOLVE:
Art. 1º - Aprovar o Código de Ética Profissional do Psicólogo.
Art. 2º - A presente Resolução entrará em vigor no dia 27 de agosto de 2005.
Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário, em especial a Resolução CFP n º 002/87.
Brasília, 21 de julho de 2005.
Ana Mercês Bahia Bock
Conselheira-Presidente
APRESENTAÇÃO
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Toda profissão define-se a partir de um corpo de práticas que busca atender demandas sociais,
norteado por elevados padrões técnicos e pela existência de normas éticas que garantam a
adequada relação de cada profissional com seus pares e com a sociedade como um todo.
Um Código de Ética profissional, ao estabelecer padrões esperados quanto às práticas
referendadas pela respectiva categoria profissional e pela sociedade, procura fomentar a auto-
reflexão exigida de cada indivíduo acerca da sua práxis, de modo a responsabilizá-lo, pessoal e
coletivamente, por ações e suas conseqüências no exerc ício profissional. A missão primordial de
um código de ética profissional não é de normatizar a natureza técnica do trabalho, e, sim, a de
assegurar, dentro de valores relevantes para a sociedade e para as práticas desenvolvidas, um
padrão de conduta que fortaleça o reconhecimento social daquela categoria.
Códigos de Ética expressam sempre uma concepção de homem e de sociedade que determina a
direção das relações entre os indivíduos. Traduzem-se em princípios e normas que devem se
pautar pelo respeito ao sujeito humano e seus direitos fundamentais. Por constituir a expressão de
valores universais, tais como os constantes na Declaração Universal dos Direitos Humanos; sócio-
culturais, que refletem a realidade do país; e de valores que estruturam uma profissão, um código
de ética não pode ser visto como em conjunto fixo de normas e imutável no tempo. As sociedades
mudam, as profissões trans formam-se e isso exige, também, uma reflexão contínua sobre o
próprio código de ética que nos orienta.
A formulação deste Código de Ética, o terceiro da profissão de psicólogo no Brasil, responde ao
contexto organizativo dos psicólogos, ao momento do país e ao estágio de desenvolvimento da
Psicologia enquanto campo científico e profissional. Este Código de Ética dos Psicólogos é reflexo
da necessidade, sentida pela categoria e suas entidades representativas, de atender à evolução do
contexto institucional-legal do país, marcadamente a partir da promulgação da denominada
Constituição Cidadã, em 1988, e das legislações dela decorrentes.
Consoante com a conjuntura democrática vigente, o presente Código foi construído a partir de
múltiplos espaços de discussão sobre a ética da profissão, suas responsabilidades e
compromissos com a promoção da cidadania. O processo ocorreu ao longo de três anos, em todo
o país, com a participação direta dos psicólogos e aberto à sociedade.
Este Código de Ética pautou-se pelo princ ípio geral de aproximar-se mais de um instrumento de
reflexão do que de um conjunto de normas a serem seguidas pelo psicólogo. Para tanto, na sua
construção buscou-se:
a. Valorizar os princ ípios fundamentais como grandes eixos que devem orientar a relação do
psicólogo com a sociedade, a profissão, as entidades profissionais e a ciência, pois esses eixos
atravessam todas as práticas e estas demandam uma contínua reflexão sobre o contexto social e
institucional.
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b. Abrir espaço para a discussão, pelo psicólogo, dos limites e interseções relativos aos direitos
individuais e coletivos, questão crucial para as relações que estabelece com a sociedade, os
colegas de profissão e os usuários ou beneficiários dos seus serviços.
c. Contemplar a diversidade que configura o exerc ício da profissão e a crescente inserção do
psicólogo em contextos institucionais e em equipes multiprofissionais.
d. Estimular reflexões que considerem a profissão como um todo e não em suas práticas
particulares, uma vez que os principais dilemas éticos não se restringem a práticas específicas e
surgem em quaisquer contextos de atuação.
Ao aprovar e divulgar o Código de Ética Profissional do Psicólogo, a expectativa é de que ele seja
um instrumento capaz de delinear para a sociedade as responsabilidades e deveres do psicólogo,
oferecer diretrizes para a sua formação e balizar os julgamentos das suas ações, contribuindo para
o fortalecimento e ampliação do significado social da profissão.
7PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da
igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das
coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade
política, econômica, social e cultural.
IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional,
contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo cient ífico de conhecimento e de
prática.
V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às
informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da
profissão.
VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando
situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada.
VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos
dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em
consonância com os demais princ ípios deste Código.
DAS RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO
Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos:
a) Conhecer, divulgar, cumprir e fazer cumprir este Código;
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b) Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado
pessoal, teórica e tecnicamente;
c) Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à
natureza desses serviços, utilizando princ ípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente
fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional;
d) Prestar serviços profissionais em situações de calamidade pública ou de emergência, sem visar
benefício pessoal;
e) Estabelecer acordos de prestação de serviços que respeitem os direitos do usuário ou
beneficiário de serviços de Psicologia;
f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos, informações concernentes
ao trabalho a ser realizado e ao seu objetivo profissional;
g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos,
transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões que afetem o usuário ou
beneficiário;
h) Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos apropriados, a partir da prestação de
serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os documentos pertinentes ao bom termo
do trabalho;
i) Zelar para que a comercialização, aquisição, doação, empréstimo, guarda e forma de divulgação
do material privativo do psicólogo sejam feitas conforme os princípios deste Código;
j) Ter, para com o trabalho dos psicólogos e de outros profissionais, respeito, consideração e
solidariedade, e, quando solicitado, colaborar com estes, salvo impedimento por motivo relevante;
k) Sugerir serviços de outros psicólogos, sempre que, por motivos justificáveis, não puderem ser
continuados pelo profissional que os assumiu inicialmente, fornecendo ao seu substituto as
informações necessárias à continuidade do trabalho;
l) Levar ao conhecimento das instâncias competentes o exercício ilegal ou irregular da profissão,
transgressões a princípios e diretrizes deste Código ou da legislação profissional.
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade ou opressão;
b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou
a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais;
c) Utilizar ou favorecer o uso de conhecimento e a utilização de práticas psicológicas como
instrumentos de castigo, tortura ou qualquer forma de violência;
d) Acumpliciar-se com pessoas ou organizações que exerçam ou favoreçam o exercício ilegal da
profissão de psicólogo ou de qualquer outra atividade profissional;
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e) Ser conivente com erros, faltas éticas, violação de direitos, crimes ou contravenções penais
praticados por psicólogos na prestação de serviços profissionais;
f) Prestar serviços ou vincular o título de psicólogo a serviços de atendimento psicológico cujos
procedimentos, técnicas e meios não estejam regulamentados ou reconhecidos pela profissão;
g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnicocientífica;
h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas psicológicas, adulterar seus
resultados ou fazer declarações falsas;
i) Induzir qualquer pessoa ou organização a recorrer a seus serviços;
j) Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo com o atendido,
relação que possa interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado;
k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais ou
profissionais, atuais ou anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a
fidelidade aos resultados da avaliação;
l) Desviar para serviço particular ou de outra instituição, visando benefício próprio, pessoas ou
organizações atendidas por instituição com a qual mantenha qualquer tipo de vínculo profissional;
m) Prestar serviços profissionais a organizações concorrentes de modo que possam resultar em
prejuízo para as partes envolvidas, decorrentes de informações privilegiadas;
n) Prolongar, desnecessariamente, a prestação de serviços profissionais;
o) Pleitear ou receber comissões, empréstimos, doações ou vantagens outras de qualquer espécie,
além dos honorários contratados, assim como intermediar transações financeiras;
p) Receber, pagar remuneração ou porcentagem por encaminhamento de serviços;
q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços psicológicos
em meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou organizações.
Art. 3º – O psicólogo, para ingressar, associar-se ou permanecer em uma organização, considerará
a missão, a filosofia, as políticas, as normas e as práticas nela vigentes e sua compatibilidade com
os princípios e regras deste Código.
Parágrafo único: Existindo incompatibilidade, cabe ao psicólogo recusar-se a prestar serviços e, se
pertinente, apresentar denúncia ao órgão competente.
Art. 4º – Ao fixar a remuneração pelo seu trabalho, o psicólogo:
a) Levará em conta a justa retribuição aos serviços prestados e as condições do usuário ou
beneficiário;
b) Estipulará o valor de acordo com as características da atividade e o comunicará ao usuário ou
beneficiário antes do início do trabalho a ser realizado;
c) Assegurará a qualidade dos serviços oferecidos independentemente do valor acordado.
Art. 5º – O psicólogo, quando participar de greves ou paralisações, garantirá que:
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a) As atividades de emergência não sejam interrompidas;
b) Haja prévia comunicação da paralisação aos usuários ou beneficiários dos serviços atingidos
pela mesma.
Art. 6º – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos:
a) Encaminhará a profissionais ou entidades habilitados e qualificados demandas que extrapolem
seu campo de atuação;
b) Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado, resguardando
o caráter confidencial das comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de
preservar o sigilo.
Art. 7º – O psicólogo poderá intervir na prestação de serviços psicológicos que estejam sendo
efetuados por outro profissional, nas seguintes situações:
a) A pedido do profissional responsável pelo serviço;
b) Em caso de emergência ou risco ao beneficiário ou usuário do serviço,
quando dará imediata ciência ao profissional;
c) Quando informado expressamente, por qualquer uma das partes, da interrupção voluntária e
definitiva do serviço;
d) Quando se tratar de trabalho multiprofissional e a intervenção fizer parte da metodologia
adotada.
Art. 8º – Para realizar atendimento não eventual de criança, adolescente ou interdito, o psicólogo
deverá obter autorização de ao menos um de seus responsáveis, observadas as determinações da
legislação vigente:
§1° – No caso de não se apresentar um responsável legal, o atendimento deverá ser efetuado e
comunicado às autoridades competentes;
§2° – O psicólogo responsabilizar-se-á pelos encaminhamentos que se fizerem necessários para
garantir a proteção integral do atendido.
Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da
confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no
exercício profissional.
Art. 10 – Nas situações em que se configure conflito entre as exigências decorrentes do disposto
no Art. 9º e as afirmações dos princ ípios fundamentais deste Código, excetuando-se os casos
previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca
do menor prejuízo.
Parágrafo único – Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste artigo, o psicólogo deverá
restringir-se a prestar as informações estritamente necessárias.
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Art. 11 – Quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo poderá prestar informações,
considerando o previsto neste Código.
Art. 12 – Nos documentos que embasam as atividades em equipe multiprofissional, o psicólogo
registrará apenas as informações necessárias para o cumprimento dos objetivos do trabalho.
Art. 13 – No atendimento à criança, ao adolescente ou ao interdito, deve ser comunicado aos
responsáveis o estritamente essencial para se promoverem medidas em seu benefício.
Art. 14 – A utilização de quaisquer meios de registro e observação da prática psicológica
obedecerá às normas deste Código e a legislação profissional vigente, devendo o usuário ou
beneficiário, desde o início, ser informado.
Art. 15 – Em caso de interrupção do trabalho do psicólogo, por quaisquer motivos, ele deverá zelar
pelo destino dos seus arquivos confidenciais.
§ 1° – Em caso de demissão ou exoneração, o psicólogo deverá repassar todo o material ao
psicólogo que vier a substituí-lo, ou lacrá-lo para posterior utilização pelo psicólogo substituto.
§ 2° – Em caso de extinção do serviço de Psicologia, o psicólogo responsável informará ao
Conselho Regional de Psicologia, que providenciará a destinação dos arquivos confidenciais.
Art. 16 – O psicólogo, na realização de estudos, pesquisas e atividades voltadas para a produção
de conhecimento e desenvolvimento de tecnologias:
a) Avaliará os riscos envolvidos, tanto pelos procedimentos, como pela divulgação dos resultados,
com o objetivo de proteger as pessoas, grupos, organizações e comunidades envolvidas;
b) Garantirá o caráter voluntário da participação dos envolvidos, mediante consentimento livre e
esclarecido, salvo nas situações previstas em legislação específica e respeitando os princípios
deste Código;
c) Garantirá o anonimato das pessoas, grupos ou organizações, salvo interesse manifesto destes;
d) Garantirá o acesso das pessoas, grupos ou organizações aos resultados das pesquisas ou
estudos, após seu encerramento, sempre que assim o desejarem.
Art. 17 – Caberá aos psicólogos docentes ou supervisores esclarecer, informar, orientar e exigir
dos estudantes a observância dos princ ípios e normas contidas neste Código.
Art. 18 – O psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, emprestará ou venderá a leigos
instrumentos e técnicas psicológicas que permitam ou facilitem o exercício ilegal da profissão.
Art. 19 – O psicólogo, ao participar de atividade em veículos de comunicação, zelará para que as
informações prestadas disseminem o conhecimento a respeito das atribuições, da base cient ífica e
do papel social da profissão.
Art. 20 – O psicólogo, ao promover publicamente seus serviços, por quaisquer meios, individual ou
coletivamente:
a) Informará o seu nome completo, o CRP e seu número de registro;
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b) Fará referência apenas a títulos ou qualificações profissionais que possua;
c) Divulgará somente qualificações, atividades e recursos relativos a técnicas e práticas que
estejam reconhecidas ou regulamentadas pela profissão;
d) Não utilizará o preço do serviço como forma de propaganda;
e) Não fará previsão taxativa de resultados;
f) Não fará auto-promoção em detrimento de outros profissionais;
g) Não proporá atividades que sejam atribuições privativas de outras categorias profissionais;
h) Não fará divulgação sensacionalista das atividades profissionais.
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 21 – As transgressões dos preceitos deste Código constituem infração disciplinar com a
aplicação das seguintes penalidades, na forma dos dispositivos legais ou regimentais:
a) Advertência;
b) Multa;
c) Censura pública;
d) Suspensão do exercício profissional, por até 30 (trinta) dias, ad referendum do Conselho Federal
de Psicologia;
e) Cassação do exercício profissional, ad referendum do Conselho Federal de Psicologia.
Art. 22 – As dúvidas na observância deste Código e os casos omissos serão resolvidos pelos
Conselhos Regionais de Psicologia, ad referendum do Conselho Federal de Psicologia.
Art. 23 – Competirá ao Conselho Federal de Psicologia firmar jurisprudência quanto aos casos
omissos e fazê-la incorporar a este Código.
Art. 24 – O presente Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal de Psicologia, por iniciativa
própria ou da categoria, ouvidos os Conselhos Regionais de Psicologia.
Art. 25 – Este Código entra em vigor em 27 de agosto de 2005.
Fonte: www.pol.org.br/legislacao/pdf/cod_etica_novo.pdf
2. Elaboração de laudo psicológico: análise, desenvolvimento e cuidados no
processo de comunicação dos resultados do psicodiagnóstico.
Informe Psicodiagnóstico
O informe, como dito anteriormente, refere-se ao resumo das conclusões
diagnósticas e prognosticas, e deve fazer parte de cada conjunto dos documentos
relativos às avaliações realizadas, seja num trabalho particular (como consultório), seja
em instituições; devendo ser guardados por um período de cinco anos (ARZENO, 1995;
CFP, 2006).
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No trabalho institucional, a realização do informe é imprescindível, uma vez que
diversos profissionais poderão ter acesso a este, como resposta a um pedido de
avaliação, e até mesmo um outro profissional da área de psicologia, seja devido à
rotatividade encontrada em tais estabelecimentos, ou pelo falto de este poder dar
seguimento ao caso num trabalho terapêutico, por exemplo (ARZENO, 1995).
Por vezes pode ocorrer também um novo pedido de avaliação após algum tempo,
como no caso de alguma intervenção terapêutica ou cirúrgica, o que permite uma
comparação entre o informe atual e o anterior (ARZENO, 1995).
Pelo fato de poder ser outro o profissional a realizar, ou a ter realizado, a
avaliação, e por geralmente estes informes serem encaminhados de modo escrito, em
forma de documento, a outros profissionais, não só da área da saúde, mas também
educacional e judicial, a maneira de redigi-los é bastante relevante, uma vez que qualquer
informação colocada poderá ser utilizada a favor, ou não, do paciente avaliado.
A linguagem técnica é geralmente utilizada ao se enviar o documento a um outro
profissional da mesma área. Referindo-se a testes, termos comuns à psicopatologia,
psicoterapia, etc. Uma linguagem menos técnica e mais concisa é utilizada ao se emitir o
informe a profissionais da área da educação, tomando maiores precauções para não
transparecer intimidades do caso que não se relacionem com campo pedagógico, ou
deixar brechas para a utilização de rótulos desnecessários, sendo importante evidenciar
potencialidades. Para médicos, geralmente interessados em receber informações sobre a
presença ou ausência de transtornos, o informe pode ser conciso, com respostas claras
aos objetivos da avaliação. No campo judicial, o informe deve ser expresso em termos
bastante inequívocos, afirmações que não sejam dúbias, definições e conclusões claras e
elucidativas, fazendo uso de alguns pontos do material utilizado e termos comuns ao
âmbito forense, para que as informações passadas não sejam utilizadas como convier à
causa. Já no informe para fins trabalhistas, este deve, preferencialmente, informar se os
traços de personalidade requeridos para a função, são presentes, adequados, aceitáveis
ou ausentes no aspirante ao cargo, lembrando-se de apresentar as potencialidades do
sujeito, e até mesmo qual seria o cargo para o qual estas seriam mais aproveitadas
(ARZENO, 1995).
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Algumas vezes, por insegurança, inexperiência, ou com a finalidade de fazer muito
bem seu trabalho, o profissional psicólogo pode vir a colocar no documento de informe
tudo o que foi observado durante a avaliação, porém, não se deve dizer absolutamente
tudo, e sim o que foi solicitado e servirá para esclarecer as conclusões obtidas. Ou seja, é
importante dizer o necessário e de uma forma que sempre possa ser interpretado com
objetividade e não possa ser usado em prejuízo do sujeito avaliado (ARZENO, 1995;
CFP, 2006).
Documentos Emitidos pelos profissionais Psicólogos
Dando continuidade às questões referentes à maneira de se redigir os documentos
de informe, o Conselho Federal de Psicologia, pela resolução nº 007/2003, instituiu um
Manual de Elaboração de Documentos Decorrentes de Avaliações Psicológicas. Este será
utilizado nos tópicos a seguir a fim de elucidar, baseado nos preceitos do CFP, as
definições, formas de apresentação, etc. dos documentos.
Princípios para redação dos documentos
Para a redação dos documentos, o psicólogo deverá adotar técnicas de linguagem
escrita e os princípios éticos, técnicos e científicos de sua profissão.
Quanto à linguagem escrita, o documento deve apresentar uma redação bem
estruturada, concisa, harmônica e clara, possibilitando a expressão do que realmente se
quer comunicar. Desta forma, deve se restringir pontualmente às informações que se
fizerem necessárias, recusando qualquer tipo de consideração que não tenha relação
com a finalidade do documento específico.
A clareza se revela na estrutura frasal, pela seqüência/ordenamento adequado
dos conteúdos. A concisão se verifica no emprego da linguagem adequada, da palavra
exata e necessária. Essa “economia verbal” requer do psicólogo a atenção para o
equilíbrio que evite uma redação muito sucinta ou o exagero de uma redação prolixa. Por
fim, a harmonia está presente na correlação adequada das frases, no aspecto sonoro e
na ausência de vícios de linguagem e/ou cacofonias (sons desagradáveis formados pela
união de palavras que podem dar a estas, sentido pejorativo, obsceno ou engraçado).
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A ordenação do documento deve possibilitar sua compreensão por quem o lê, o
que é permitido pela coerência gramatical, estrutura e composição de parágrafos ou
frases.
Frases e termos devem ser utilizados de forma compatível com as expressões
próprias da linguagem profissional, garantindo a precisão da comunicação, evitando a
diversidade de significações da linguagem popular, considerando a quem o documento
será destinado. O que não significa que a linguagem deva ser sempre técnica, como dito
no tópico anterior, e sim que quando há necessidade de termos mais simples, estes
devem corresponder aos seus reais significados.
Com relação aos princípios técnicos, o documento deve considerar a natureza
dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto de estudo.
O profissional psicólogo, ao produzir documentos escritos, deve se basear
exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações, dinâmicas
de grupo, escuta, intervenções verbais) que se caracterizam como métodos e técnicas
psicológicas para a coleta de dados, estudos e interpretações de informações a respeito
do sujeito atendido, bem como sobre outros materiais e grupo atendidos e sobre outros
materiais e documentos produzidos anteriormente e pertinentes à matéria em questão.
Esses instrumentais técnicos devem obedecer às condições mínimas requeridas de
qualidade e de uso, devendo ser adequados à investigação em questão.
Outro fato importante de ser lembrado é que todas as laudas, desde a primeira até
a penúltima, devem ser rubricadas, considerando que a última estará assinada, em toda e
qualquer modalidade de documento.
Por fim, fazendo referência aos princípios éticos, ao elaborar um documento, o
psicólogo deverá sempre basear suas informações nos princípios e dispositivos do
Código de Ética Profissional do Psicólogo. Dentre estes, os cuidados em relação aos
deveres do psicólogo nas suas relações com a pessoa atendida, ao sigilo profissional, às
relações com a justiça e ao alcance das informações – identificando riscos e
compromissos em relação à utilização das informações presentes nos documentos em
sua dimensão de relações de poder.
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Seria expressamente proibido realizar, sob toda e qualquer condição, do uso dos
instrumentos, técnicas psicológicas e da experiência profissional da Psicologia na
sustentação de modelos institucionais e ideológicos que perpetuem qualquer forma de
segregação.
Deve-se realizar uma prestação de serviço responsável pela execução de um
trabalho de qualidade cujos princípios éticos sustentam o compromisso social da
Psicologia.
Tipos de documentos
Neste tópico serão apresentados conceito, finalidade e estrutura de cada tipo de
documento que pode ser emitido pelo profissional psicólogo, a saber: declaração,
atestado psicológico, relatório/laudo psicológico e parecer psicológico.
I. Declaração
Documento que visa informar a ocorrência de fatos ou situações objetivas
relacionados ao atendimento psicológico. Nele não devem ser feitos registros de
sintomas, situações ou estados psicológicos.
Tem a finalidade de declarar:
• Comparecimentos do atendido e/ou do seu acompanhante, quando
necessário;
• Acompanhamento psicológico do atendido;
• Informações sobre as condições do atendimento (tempo de
acompanhamento, dias ou horários).
Quanto à estrutura, a declaração deve expor:
• Registro do nome e sobrenome do solicitante;
• Finalidade do documento (por exemplo, para fins de comprovação);
• Registro de informações solicitadas em relação ao atendimento (por
exemplo: se faz acompanhamento psicológico, em quais dias, qual
horário);
• Registro do local e data da expedição da declaração;
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• Registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no CRP e/ou
carimbo com as mesmas informações.
• Assinatura do psicólogo acima de sua identificação ou do carimbo.
A declaração deve ser emitida em papel timbrado ou apresentar na subscrição do
documento o carimbo, em que constem nome e sobrenome do psicólogo, acrescido de
sua inscrição profissional (“Nome do psicólogo / N.º da inscrição”).
II. Atestado Psicológico
Este documento é utilizado para certificar uma determinada situação ou estado
psicológico, e tem como finalidade afirmar sobre as condições psicológicas de quem o
solicita, por requerimento, com fins de:
• Justificar faltas e/ou impedimentos do solicitante;
• Justificar estar apto ou não para atividades específicas, após realização de
um processo de avaliação psicológica, dentro do rigor técnico e ético;
• Solicitar afastamento e/ou dispensa do solicitante, subsidiado na afirmação
atestada do fato, em acordo com o disposto na Resolução CFP nº. 015/96.
Ao se formular o atestado, as informações devem restringir-se às solicitadas,
contendo somente o fato constatado. Embora seja um documento simples, deve cumprir
algumas formalidades.
O atestado deve ser emitido em papel timbrado ou apresentar na subscrição do
documento o carimbo, em que conste o nome e sobrenome do psicólogo, acrescido de
sua inscrição profissional (“Nome do psicólogo / N.º da inscrição”).
Ele deve expor:
• Registro do nome e sobrenome do cliente;
• Finalidade do documento;
• Registro da informação do sintoma, situação ou condições psicológicas
que justifiquem o atendimento, afastamento ou falta – podendo ser
registrado sob o indicativo do código da Classificação Internacional de
Doenças em vigor;
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• Registro do local e data da expedição do atestado;
• Registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no CRP e/ou
carimbo com as mesmas informações;
• Assinatura do psicólogo acima de sua identificação ou do carimbo.
Para evitar adulterações no documento, os registros devem estar transcritos de
forma corrida, ou seja, separados apenas pela pontuação, sem parágrafos. Caso haja
necessidade da utilização de parágrafos, o psicólogo deve preencher esses espaços com
traços.
É importante ressaltar que o atestado emitido para justificar aptidão ou não para
determinada atividade, através do uso do psicodiagnóstico, deve ter seu relatório
correspondente guardado nos arquivos profissionais do psicólogo, pelo prazo mínimo de
cinco anos, ou o prazo previsto por lei.
III. Relatório ou Laudo Psicológico
Referem-se a uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições
psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas
no processo de avaliação psicológica. Como todo documento, deve ser subsidiado nos
dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico baseado em referencial
técnico-filosófico e científico adotado pelo psicólogo.
Finalidade do relatório ou laudo psicológico: apresentar os procedimentos e
conclusões geradas pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o motivo do
encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e evolução do caso,
orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação de
acompanhamento psicológico, limitando-se a fornecer somente as informações
necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição.
O relatório psicológico é uma peça escrita de natureza e valor científicos. Sendo
assim, deve conter narrativa detalhada e didática, com clareza, precisão e harmonia,
tornando-se acessível e compreensível ao destinatário. Os termos técnicos devem,
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portanto, estar acompanhados das explicações e/ou conceituação retiradas dos
fundamentos teórico-filosóficos que os sustentam.
Quanto à sua estrutura, o relatório psicológico deve conter no mínimo cinco itens:
identificação, descrição da demanda, procedimento, análise e conclusão.
Identificação
Constitui-se da parte superior do primeiro tópico do documento com a finalidade de
identificar:
• AUTOR/relator – quem elabora - nome(s) do(s) psicólogo(s) que realizará(ão) a
avaliação, com a(s) respectiva(s) inscrição(ões) no Conselho Regional.;
• INTERESSADO – quem solicita - nome do autor do pedido (se a solicitação foi da
Justiça, se foi de empresas, entidades ou do cliente);
• ASSUNTO/finalidade – o psicólogo indicará a razão, o motivo do pedido (se para
acompanhamento psicológico, prorrogação de prazo para acompanhamento ou
outras razões pertinentes a uma avaliação psicológica).
Descrição da demanda
Esta parte destina-se à descrição das informações referentes à problemática
apresentada e dos motivos, razões e expectativas que produziram o pedido do
documento. Nesta parte, deve-se apresentar a análise que se faz da demanda,
justificando o procedimento adotado.
Procedimento
Nesta parte serão apresentados os recursos e instrumentos técnicos utilizados para
coletar as informações (número de encontros, pessoas ouvidas etc) à luz do referencial
teórico-filosófico que os embasa.
O procedimento adotado deve ser pertinente para avaliar a complexidade do que está
sendo demandado.
Análise
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Na análise, o psicólogo faz uma exposição descritiva de forma metódica, objetiva e fiel
dos dados colhidos e das situações vividas relacionados à demanda.
Como apresentado anteriormente, nos princípios técnicos, “O processo de avaliação
psicológica deve considerar que os objetos deste procedimento (as questões de ordem
psicológica) têm determinações históricas, sociais, econômicas e políticas, sendo as
mesmas, elementos constitutivos no processo de subjetivação. O documento, portanto,
deve considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto de
estudo”.
Nessa exposição, deve-se respeitar a fundamentação teórica que sustenta o
instrumental técnico utilizado, bem como princípios éticos e as questões relativas ao sigilo
das informações. Somente deve ser relatado o que for necessário para o esclarecimento
do encaminhamento, conforme explicita o Código de Ética Profissional do Psicólogo.
O psicólogo, ainda nesta parte, não deve fazer afirmações sem sustentação em fatos
e/ou teorias, devendo ter linguagem precisa, especialmente quando se referir a dados
subjetivos.
Conclusão
Na conclusão do relatório, serão expostos o resultado e/ou considerações a respeito
de sua investigação. As considerações geradas pelo processo de avaliação psicológica
devem transmitir ao solicitante tanto a análise da demanda como do processo de
avaliação psicológica como um todo.
Vale ressaltar a importância de sugestões e projetos de trabalho que contemplem as
variáveis envolvidas durante todo o processo.
Após isto, o documento é encerrado, com indicação do local, data de emissão,
assinatura do psicólogo e o seu número de inscrição no CRP.
IV. Parecer Psicológico
O parecer é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do
campo psicológico cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo.
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Ele tem como finalidade apresentar uma resposta esclarecedora no campo do
conhecimento psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “questão-
problema”, visando diminuir dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, portanto,
uma resposta a uma consulta, que exige de quem responde competência no assunto.
O psicólogo parecerista deve fazer a análise do problema apresentado,
destacando os aspectos relevantes e opinar a respeito, considerando os quesitos
apontados e com fundamento em referencial teórico-científico.
Havendo quesitos, o psicólogo deve respondê-los de forma sintética e
convincente, não deixando nenhum sem resposta. Quando não houver dados para a
resposta ou quando o psicólogo não puder ser categórico, deve-se utilizar a expressão
“sem elementos de convicção”. Se o quesito estiver mal formulado, pode-se afirmar
“prejudicado”, “sem elementos” ou “aguarda evolução”.
Quanto à estrutura, tem-se que o parecer é composto de quatro itens:
identificação, exposição de motivos, análise e conclusão.
Identificação
Identifica o nome do parecerista e sua titulação, o nome do autor da solicitação e
sua titulação.
Exposição de Motivos
Nesta parte o parecerista transcreve o objetivo da consulta e dos quesitos ou
apresenta as dúvidas levantadas pelo solicitante. Deve-se apresentar a questão em tese,
não sendo necessária, portanto, a descrição detalhada dos procedimentos, como os
dados colhidos ou o nome dos envolvidos.
Análise
A discussão do Parecer Psicológico se constitui na análise minuciosa da questão
explanada e argumentada com base nos fundamentos necessários existentes, seja na
ética, na técnica ou no corpo conceitual da ciência psicológica. Nesta parte, deve
respeitar as normas de referências de trabalhos científicos para suas citações e
informações.
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Conclusão
Parte final do parecer. O psicólogo deve apresentar seu posicionamento,
respondendo à questão levantada. Em seguida, deve informar o local e data em que foi
elaborado o documento e assiná-lo.
3.Entrevista psicológica: definição, tipos e finalidades.
A entrevista é um dos recursos técnicos de que dispõe o psicólogo para obter
informações, com o objetivo de pesquisa, avaliação, orientação e/ou aconselhamento,
seja em contexto escolar, clínico, organizacional ou em outros. Historicamente, as
técnicas de entrevista têm origem na medicina e, já no campo da psicologia, foram
elaboradas no contexto da psicoterapia e da psicometria. Segundo Winicott (1983) a
psicanálise, ao se preocupar com a etiologia das doenças psiquiátricas, passou a exigir
do clínico o interesse pelos processos de desenvolvimento psíquico e não apenas pelos
sintomas; assim “os psicanalistas se tornaram pioneiros em tomar a história do paciente”
(p. 115).
Na visão de Bleger (1991) pode ser considerado uma entrevista uma relação
humana na qual um dos integrantes devem procurar entender o que está acontecendo e
atuar segundo esse conhecimento. A realização dos objetivos possíveis da entrevista da
atuação de acordo com esse saber. O psicólogo utiliza uma técnica psicológica e
concomitantemente lança mão de recursos advindos da psicologia para configurar a
própria situação da entrevista.
Merece destaque a tão debatida questão da (ilusão da) neutralidade científica.
Nesse sentido, Thiollent (1987) expõe que a idéia de neutralidade não é verdadeira visto
que à medida que qualquer procedimento de investigação envolve pressupostos teóricos,
práticos e variáveis segundo os interesses sociopolíticos que estão em pauta no ato de
conhecer. O referido autor apresenta uma visão sociológica da questão referente ao
posicionamento do entrevistador. A esse aspecto acrescentam-se os psicológicos, como
os valores, pensamentos e sentimentos, que não apenas perpassam mas constituem todo
e qualquer encontro entre pessoas. Sendo assim, o entrevistador não está isento de
comprometer os resultados de seu trabalho em função de suas limitações pessoais e
profissionais. Entretanto, isso não significa descuido com os aspectos éticos, norteadores
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da atuação do psicólogo. Elementos mais minuciosos em relação à entrevista psicológica
de maneira geral podem ser encontrados em Bleger (1991) e Pain (1992).
Aspectos Técnicos
Em uma entrevista, espera-se que surjam elementos referentes àquilo que o
entrevistado conhece, ouviu falar e que também imagina, relacionados à psicologia e ao
trabalho do psicólogo, de maneira geral. Considerando-se tais elementos, torna-se mais
fácil compreender determinados comportamentos e verbalizações por parte de nosso
sujeito. Na entrevista faz-se necessária uma efetiva interação interpessoal, com o
profissional apresentando seus questionamentos, observando e ouvindo a pessoa
entrevistada. A condução do processo precisa ser respaldada tanto pelos pressupostos
da teoria adotada pelo profissional quanto pelas condições subjetivas deste, ou seja,
requer possibilidades efetivas de escutar, acolher e elaborar hipóteses diagnósticas a
respeito do caso.
Durante a entrevista é importante o psicólogo observar a postura corporal, os
gestos, o tom de voz, a aparência, a posição na cadeira, enfim, aspectos não verbais que
fornecem dados fundamentais a respeito do entrevistado e seu posicionamento na
circunstância de entrevista. Estar atento, também, aos sentimentos despertados em si
durante a entrevista é fundamental para o psicólogo, pois fenômenos como a
transferência e a contratransferência fazem parte de todo relacionamento interpessoal e
seguramente vão configurar o processo de entrevista. O entrevistado atribui papéis ao
entrevistador e se comporta em função destes.
A respeito disso, Bleger (1991) afirma que com a observação desses fenômenos é
possível colocar-se frente aos aspectos da conduta e da personalidade do entrevistado.
Esses aspectos acrescentam uma dimensão importante do conhecimento da estrutura de
sua personalidade e ao caráter de seus conflitos. A contratransferência nesse contexto,
abrange as respostas do entrevistador às manifestações do entrevistado. Envolve a
história pessoal daquele e esses sentimentos precisam ser considerados para um bom
manejo e eficácia da entrevista.
Tipos de Entrevistas
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A entrevista pode ser utilizada dentro de um processo avaliativo, seja de
indivíduos, seja da instituição como um todo. Também pode ser empregada com fins
investigativos, no caso de uma pesquisa. E há pesquisas que também comportam
processos avaliativos. Os tipos de entrevistas estão diretamente relacionados aos
objetivos com que são empregadas. Existe a entrevista dirigida, composta de questões
fechadas; a semidirigida, em que o sujeito orienta-se a partir de perguntas abertas; a
centrada, que focaliza um tema específico; a não diretiva, que gira em torno de um tema
geral, e a clínica.
De acordo com a situação, seja uma avaliação de uma criança com dificuldades
escolares, seja uma pesquisa, por exemplo, cabe ao profissional decidir o tipo de
entrevista mais pertinente. Em algumas circunstâncias, é comum iniciarmos a entrevista
de maneira mais livre e depois apresentarmos algumas perguntas abertas, para o
aprofundamento de temas não abordados pelo entrevistado.
Com base em pesquisas na área das ciências sociais, Thiollent (1987) mostra que
entrevistas e questionários (assim como testes) que, de maneira geral, favorecem
pessoas de mesmo nível sociocultural de quem elaborou os instrumentos. Esse dado
leva-nos a pensar que alguns questionamentos apresentados ao indivíduo entrevistado
não necessariamente fazem parte de seu universo cotidiano e que por isso sua resposta
pode refletir apenas nossa inabilidade em compreender a sua realidade.
É preciso um particular cuidado com perguntas que apenas conduzem à
confirmação daquilo que esperamos. O entrevistado deve falar por si. De maneira geral, a
primeira entrevista caracteriza-se por um momento inicial mais livre, acompanhado,
posteriormente e de acordo com a configuração da situação, de um direcionamento para
o preenchimento de lacunas percebidas pelo profissional. A obtenção de determinadas
informações é imprescindível para a compreensão do contexto, que nos permite formular
hipóteses que vão compondo o mosaico.
Assim como outras técnicas adotadas no trabalho do psicólogo, a entrevista
merece uma atenção especial na formação profissional, sendo aqui compreendida como
um momento privilegiado de escuta do outro, no qual o entrevistado busca um espaço de
acolhimento (Bleger, 1991). Assim, além da função avaliativa, a entrevista também pode
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apresentar-se como um momento terapêutico, para o qual o psicólogo precisa estar
atento.
Entrevista Clínica
De acordo com TAVARES (2000) “A entrevista clínica é um conjunto de processos
de técnicas de investigação, de tempo delimitado, dirigido por um entrevistador treinado,
que utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de
descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos (indivíduo, casal, família,
rede social), em um processo que visa a fazer recomendações, encaminhamentos ou
propor algum tipo de intervenção em benefício das pessoas entrevistadas.”
A entrevista clínica é dirigida, ou seja, tem objetivos definidos e é através dela que
o entrevistador estrutura sua intervenção. Todos os tipos de entrevista têm alguma forma
de estruturação na medida em que a atividade do entrevistador direciona a entrevista no
sentido de alcançar seus objetivos. (TAVARES, 2000)
Papel do entrevistador
É necessário habilidades do entrevistador para que ele esteja preparado para lidar
com o direcionamento que o sujeito parecer querer dar a entrevista, de forma a otimizar o
encontro entre a demanda do sujeito e os objetivos da tarefa. Quando o entrevistador
confronta uma defesa, ele empaticamente reconhece ou pede esclarecimentos, está
facilitando ou dificultando o processo. Portando é necessário que o entrevistador domine
as especificações da técnica.
Segundo TAVARES (2000) para realizar uma entrevista de modo adequado o
entrevistador deve ser capaz de:
1. Estar presente, no sentido de estar inteiramente disponível para o outro
naquele momento sem a interferência de outras pessoas;
2. Auxiliar o paciente para que ele se sinta a vontade e construa a possibilidade
de uma aliança terapêutica;
3. Facilitar a expressão dos motivos que levaram a pessoa até a consulta;
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4. Buscar esclarecimentos para colocações vagas ou incompletas;
5. Confrontar esquivas e contradições de maneira gentil;
6. Tolerar a ansiedade relacionada aos temas evocados na entrevista;
7. Reconhecer defesas e modos de estruturação do paciente;
8. Identificar e compreender seus processos transferenciais;
9. Assumir a iniciativa em momentos de impasse;
10. Dominas as técnicas que utiliza no seu trabalho;
Outro ponto importante significa reconhecer a desigualdade intrínseca na relação,
que dá uma posição privilegiada ao entrevistador. Essa posição lhe confere poder e,
portanto, a responsabilidade de zelar pelo interesse e bem-estar do outro. Também é do
entrevistador a responsabilidade de reconhecer a necessidade de treinamento
especializado e atualizações constantes ou periódicas.
Papel do entrevistado
O papel principal da pessoa entrevistada é o de prestar informações. Nos casos
em que parece haver dificuldades de levantar a informação, é bem provável que o
entrevistador tenha que centrar sua atenção na relação com a pessoa entrevistada, para
compreender os motivos de sua atitude. Distorções relacionadas a pessoas ou
instituições interessadas na avaliação, a idéias preconcebidas em relação à psicologia ou
à saúde mental e a fantasias inconscientes vinculadas a ansiedades pessoais acerca do
processo.
O resultado de uma entrevista depende largamente da experiência e da habilidade
do entrevistador, além do domínio da técnica. Criar um clima que facilite a interação
nesse contexto e a abertura para o exame de questões íntimas e pessoais talvez seja o
desafio maior da entrevista clínica.
Nas entrevistas clínicas deseja-se conhecer em profundidade o sujeito, com o
objetivo de entender qual a situação que o levou à entrevista. Nessa situação o
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entrevistado é porta-voz de uma demanda e espera um retorno que o auxilie. Nesses
casos é preciso que se crie um espaço as manifestações individuais e requer habilidades
e conhecimentos específicos que permitam ao entrevistador conduzir adequadamente o
processo. Essa especificidade clinica favorece que sejam utilizadas as entrevistas semi-
estruturas e de estruturação.
De acordo com TAVARES (2000), as entrevistas podem ser classificadas em
relação ao aspecto formal em:
Estruturadas: Tem pouca utilidade na área clinica. Ela é mais utilizada em
pesquisas onde se destinam basicamente no levantamento de informações. É utilizada
praticamente como um questionário.
Semi-estruturadas: Tem um roteiro com tópicos pré-estabelecidos. São assim
denominadas porque o entrevistador tem clareza de seus objetivos, de que tipo de
informação é necessária para atingi-los, de como essa informação deve ser obtida,
quando ou em que seqüência, em que condições deve ser investigadas e como deve ser
considerada. São de grande utilidade em settings onde é necessária ou desejável a
padronização de procedimentos e registro de dados, como nas clínicas sociais, na saúde
pública, na psicologia hospitalar.
Livre de estruturação: Não tem o roteiro pré-estabelecido, no entanto tem certa
estruturação, pois tem suas metas, o papel de quem a conduz e os procedimentos pelos
quais é possível atingir seus objetivos.
Segundo TAVARES (2000) todas as entrevistas requerem uma etapa de
apresentação da demanda, de reconhecimento da natureza da natureza do problema e da
formulação de alternativas de solução e de encaminhamento. Elas podem ser
classificadas em relação aos seus objetivos:
Entrevista de triagem: O objetivo principal é avaliar a demanda do sujeito e fazer
encaminhamento. É fundamental para avaliar a gravidade da crise, pois nesses casos,
torna-se necessário ou imprescindível o encaminhamento para um apoio medicamentoso.
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Entrevista de Anamnese: O objetivo principal é o levantamento detalhado da
história de desenvolvimento da pessoa, principalmente na infância.
Entrevista Diagnóstica (que podem ser sindrômicas ou dinâmicas): De certo modo,
toda entrevista clínica comporta elementos diagnósticos. Em outro sentido, empregamos
o termo diagnóstico de modo mais específico, definindo-o como o exame e a análise
explícitos ou cuidadosos de uma condição na tentativa de compreendê-la, explicá-la e
possivelmente modificá-la. Implica descrever, avaliar, relaciona e inferir, tendo em vista a
modificação daquela condição. A entrevista diagnóstica pode priorizar aspectos
sindrômicos ou psicodinâmicos. O primeiro visa á descrição de sinais (como por exemplo:
baixa auto-estima, sentimentos de culpa) e sintomas (humor deprimido, ideação suicida)
para a classificação de um quadro ou síndrome (Transtorno Depressivo Maior). O
diagnóstico psicodinâmico visa á descrição e à compreensão da experiência ou do modo
particular de funcionamento do sujeito, tendo em vista uma abordagem teórica.
Entrevistas sistêmicas: Geralmente são utilizadas para avaliar casais e famílias e
podem focalizar a avaliação da estrutura ou da estória familiar. Essas técnicas são muito
variadas e fortemente influenciadas pela orientação teórica do entrevistador.
Entrevistas de devolutiva: Tem por finalidade comunicar ao sujeito o resultado da
avaliação. É importante, pois permite ao sujeito expressar pensamentos e sentimentos em
relação às conclusões e recomendações do entrevistador.
4. Identificação do problema, sinais e sintomas.
Segundo Dalgalarrondo (2000), a semiologia é a ciência dos signos, podendo ser
utilizada para o estudo das interações em diversas áreas do conhecimento (artes, por
exemplo). A semiologia médica é algo mais específico e diz respeito ao estudo dos sinais
e sintomas das doenças. Também há o estudo dos sinais e sintomas dos transtornos
mentais, o qual é denominado semiologia psicopatológica.
O signo é muito importante dentro da semiologia, e dele faz parte a língua, os
gestos, comportamentos (verbais e não verbais), entre outros. Eles podem ser entendidos
como sinais, já que todos os signos possuem significação (Dalgalarrondo, 2000).
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Os profissionais da psicologia dão especial atenção aos sinais comportamentais
que podem ser vistos objetivamente, e também aos sintomas, queixas que são relatadas
pelo paciente e constituem-se em vivencias subjetivas de alguma patologia, transtorno.
Ainda segundo Dalgalarrondo (2000), os sintomas médicos e psicopatológicos são
tanto um símbolo quanto um índice (indicador). No primeiro caso, o sentido vai depender
das relações que este mantém com outros símbolos do sistema simbólico total do
paciente. Já no que diz respeito a sua dimensão “índice” os sintomas remetem a uma
disfunção que está em um outro lugar do organismo e do aparelho psíquico.
Os sinais e sintomas podem ser agrupados e a esses agrupamentos da-se o nome
de síndromes, ou seja, nas síndromes são descritos sinais e sintomas recorrentes.
Quando é possível identificar nos fenômenos fatores causai, curso homogêneo, estados
terminais típicos, fatores genéticos relacionados, mecanismos psicopatológicos e
psicológicos, tratamentos previsíveis, pode-se chamar de entidades nosológicas ou
transtornos e doenças específicos (Dalgalarrondo, 2000).
5. Psicodiagnóstico: criança e adulto; tipos, fundamentos e passos do processo
psicodiagnóstico, aplicação, interpretação e análise.
De acordo com o Dicionário Aurélio (1999), Avaliação refere-se à: “sf. 1. Ato ou
efeito de avaliar (-se). 2. Apreciação, análise. 3. Valor determinado pelos avaliadores”. O
termo avaliação é abrangente e nos remete a diferentes conceitos, desta forma, para o
Conselho Federal de Psicologia a Avaliação Psicológica, é um processo técnico e
científico realizado com pessoas ou grupos de pessoas que, de acordo com cada área do
conhecimento, requer metodologias específicas. Suas estratégias aplicam-se a diversas
abordagens e recursos disponíveis para o processo de avaliação (CUNHA, 2000). Ela é
dinâmica e constitui-se em fonte de informações de caráter explicativo sobre os
fenômenos psicológicos, com a finalidade de subsidiar os trabalhos nos diferentes
campos de atuação do psicólogo. Trata-se de um estudo que requer um planejamento
prévio e cuidadoso, de acordo com a demanda e os fins aos quais a avaliação destina-se.
Avaliação Psicológica para Alchieri e Noronha (2004) é:
“um exame de caráter compreensivo efetuado para responder questões específicas quanto ao funcionamento psíquico adaptado ou não de uma pessoa durante um período específico de tempo ou para
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predizer o funcionamento psicológico da pessoa no futuro. A avaliação deve fornecer informações cientificamente fundamentadas tais que orientem, sugiram, sustentem o processo de tomada de decisão em algum contexto específico no qual a decisão precisa levar em consideração informações sobre o funcionamento psicológico” (p. 44).
Segundo Cunha (2000), o conceito de avaliação psicológica é muito amplo,
englobando em si o psicodiagnóstico. Este seria uma avaliação psicológica de finalidade
clínica, e não abarcaria todos os modelos possíveis de avaliação psicológica.
Para a autora, o psicodiagnóstico é definido como “um processo científico, limitado
no tempo, que utiliza técnicas e testes psicológicos, em nível individual ou não, seja para
entender problemas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos
específicos, seja para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os
resultados, na base dos quais são propostas soluções, se for o caso”. Visa, assim,
identificar forças e fraquezas no funcionamento psicológico (CUNHA, 2000).
A fim de caracterizar este processo, tem-se que o mesmo se dá em uma situação
bipessoal, com papéis bastante definidos e com um contrato, havendo uma pessoa que
pede ajuda (paciente) e uma que recebe o pedido e se compromete em solucioná-lo, na
medida do possível, o psicólogo. Sua duração é limitada e seu objetivo é conseguir,
através de técnicas, investigar, descrever e compreender, de forma mais completa
possível, a personalidade total do paciente ou grupo familiar, abrangendo aspectos
passados, presentes e futuros desta personalidade (OCAMPO & ARZENO, 2001).
Mostra-se assim, como um processo científico, uma vez que parte do
levantamento prévio de hipóteses que serão confirmadas ou refutadas por meio de um
plano de avaliação, com passos e técnicas predeterminadas e objetivos específicos
(CUNHA, 2000).
Com os dados obtidos, faz-se uma inter-relação destes com as informações
obtidas a partir das hipóteses iniciais, e uma seleção e integração com os objetivos do
psicodiagnóstico, assim, os resultados são comunicados, a quem de direito,
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determinando-se quais dados devem ser apresentados para que seja possível a oferta de
subsídios para recomendações e/ou decisões (CUNHA, 2000).
É importante ainda salientar a qual público o psicólogo que realiza
psicodiagnóstico atende. Este, geralmente, é formado por profissionais médicos
(psiquiatras, pediatras, neurologistas, etc.), advogados, juízes e pela comunidade escolar,
que encaminham seus clientes. Há também, mas com menor freqüência, casos de
procura espontânea do paciente ou familiar, principalmente quando recomendado por
amigo ou outro membro da família (CUNHA, 200).
O profissional psicólogo deve, por fim, atentar-se para a finalidade da investigação,
para que as necessidades da fonte de solicitação sejam atendidas e seu trabalho tenha o
impacto e crédito merecidos. Para tanto, ao se observar a dificuldade que o solicitante do
encaminhamento pode apresentar ao requerer uma avaliação psicológica, é de sua
responsabilidade encontrar meios de manter contato e uma boa comunicação com os
diferentes profissionais com quem trabalha, para conhecer melhor suas necessidades e, o
mais importante, esclarecer e determinar, em conjunto, o que se espera dele (CUNHA,
2000).
Objetivos:
O principal objetivo do processo psicodiagnóstico é conseguir uma descrição e
compreensão da personalidade do paciente, de forma a explicar a dinâmica do caso como
aparece no material, integrando-o, posteriormente, num quadro global, sem esquecer-se
de incluir tanto aspectos patológicos quanto adaptativos. (OCAMPO & ARZENO, 2001).
É de suma importância que o psicólogo tenha ciência sobre qual a finalidade, ou
finalidades, do psicodiagnóstico a ser realizado, que depende do motivo do
encaminhamento. Isto confere ao profissional maiores condições de fazer escolhas mais
acertadas quanto às técnicas e materiais a serem utilizados (ARZENO, 1995) (CUNHA,
2000).
Dentre os motivos que levam a este tipo de consulta tem que se distinguir
basicamente dois tipos: o motivo latente e o motivo manifesto. O primeiro, caracterizado
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por ser o mais oculto, inconsciente, que às vezes nem o cliente tem muita certeza, e, o
último, o mais consciente, geralmente o motivo que aparece num primeiro momento,
quando o cliente é perguntado sobre o porquê da consulta (ARZENO, 1995).
Cunha (2000) aponta que existem um ou vários objetivos em um processo
psicodiagnóstico, e que os mais comuns seriam os seguintes:
• Classificação simples: quando há a comparação da amostra do
comportamento do examinado com os resultados obtidos por outros sujeitos de
uma população com condições semelhantes à dele (idade, escolaridade,
sexo); os dados são fornecidos de modo quantitativo, e são classificados de
maneira resumida e simplificada, como p.ex. em uma avaliação intelectual.
• Descrição: vai além da anterior, uma vez que interpreta diferenças de escores,
identifica potencialidades e fracassos, além de descrever o desempenho do
paciente, p.ex. avaliações de déficit neurológico.
• Classificação nosológica: as hipóteses iniciais são testadas tendo como
referência critérios diagnósticos. Uma avaliação com este objetivo pode ser
realizada em diferentes situações. Uma refere-se ao paciente não testável,
sendo assim, o profissional deverá fazer um julgamento clínico acerca da
presença ou não de sintomas significativos, para verificar através da
comparação com outros pacientes da mesma categoria diagnóstica o que este
tem em comum com ela. A outra situação é quando o paciente é passível de
teste, assim, a possibilidade da realização de um psicodiagnóstico se faz
possível, e as hipóteses iniciais podem ser testadas cientificamente, através da
bateria de testes – nesta situação não caberia somente conferir quais critérios
diagnósticos são preenchidos pelo paciente. A classificação nosológica auxilia
na comunicação entre profissionais e contribui para o levantamento de dados
epidemiológicos de uma comunidade.
• Diagnóstico diferencial: são investigadas irregularidades e inconsistências dos
resultados dos testes e/ou do quadro sintomático para diferenciar categorias
nosológicas, níveis de funcionamento, alternativas diagnósticas ou natureza da
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patologia. Para tanto, o psicólogo de ter um vasto conhecimento em
psicopatologia e sobre técnicas sofisticadas de diagnóstico.
• Avaliação compreensiva: considera o caso num sentido mais global. Tenta-se
determinar o nível de funcionamento da personalidade, examinam-se funções
do ego (insight) e condições do sistema de defesas para que a indicação
terapêutica e/ou a previsão das possíveis respostas aos mesmos possam ser
facilitadas. Não há uma necessidade explícita do uso de testes, porém estes
permitem evidências mais precisas e objetivas, que podem contribuir na
avaliação dos resultados terapêuticos, por um reteste futuro.
• Entendimento dinâmico: similar à avaliação compreensiva, uma vez que
enfoca a personalidade de modo global, mas a ultrapassa por pressupor um
nível mais elevado de inferência clínica, utilizando uma dimensão mais
aprofundada, na direção histórica do desenvolvimento, investigando conflitos,
psicodinamismos e chegando a uma compreensão do caso com base num
referencial teórico. Requer uma condução diferenciada das entrevistas e dos
materiais de testagem.
• Prevenção: propõe identificar problemas precocemente, avaliar riscos, estimar
forças e fraquezas do ego, de sua capacidade para enfrentar situações novas,
conflitivas, ansiogênicas ou difíceis. Geralmente utiliza-se recursos de triagem,
para atingir uma maior população em um menor número de tempo, mas
também é de grande utilidade numa avaliação individual, mais aprofundada.
• Prognóstico: pode avaliar condições que possam influenciar, de algum modo,
no curso de um caso. Ressalta-se que esta área ainda exige maior estudo para
aprimorar tanto a adequação da testagem utilizada, como sua coleta de dados
estatísticos.
• Perícia forense: contribui na resolução de questões relacionadas com
“insanidade”, competência para o exercício de funções de cidadão, avaliação
de incapacidade ou de comprometimentos psicopatológicos que possam se
associar com infrações de leis, etc. geralmente o psicólogo deve responder
uma série de quesitos pra instruir em decisões importantíssimas do processo,
portanto, isto deve ser feito de forma clara, precisa e objetiva.
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Etapas do processo:
Os passos do psicodiagnóstico não apresentam muitas diferenças de autor para
autor, aqui será utilizado um modelo baseado em Cunha (2000) e Arzeno (1995), sendo
que a única diferença entre estes está no fato de que Arzeno considera uma etapa
anterior às apresentadas a seguir, sendo esta referente ao momento em que o
consultante faz a solicitação de avaliação até o encontro com o profissional.
As etapas são as seguintes:
• 1º momento: realização da(s) primeira(s) entrevista(s) para levantamento e
esclarecimento dos motivos (manifesto e latente) da consulta, as ansiedades,
defesas, fantasias, e a construção da história do indivíduo e da família em
questão. Nesta etapa ocorre a definição das hipóteses iniciais e dos objetivos
do exame.
• 2º momento: reflexão sobre material coletado na etapa anterior e sobre as
hipóteses iniciais a fim de planejar e selecionar os instrumentos a serem
utilizados na avaliação. Em alguns casos se mostra de suma importância as
entrevistas incluindo os membros mais implicados na patologia do paciente
e/ou grupo familiar.
• 3º momento: realização da estratégia diagnóstica planejada. Ocorre o
levantamento quantitativo e qualitativo dos dados. É relevante salientar que
não deve haver um modelo rígido de psicodiagnóstico, uma vez que cada caso
é único, demonstrando necessidades únicas, sendo estas sanadas com
instrumentos próprios para elas.
• 4º momento: estudo do material coletado. Nesta etapa faz-se a integração dos
dados e informações, buscando recorrências e convergências dentro do
material, encontrar o significado de pontos obscuros, correlacionar os
instrumentos entre si e com as histórias obtidas no primeiro momento,
formulando inferências por estas relações tendo como ponto de partida as
hipóteses iniciais e os objetivos da avaliação.
• 5º momento: entrevista de devolução. Nela ocorre a comunicação dos
resultados obtidos, as orientações a respeito do caso e o encerramento do
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processo. Ela pode ocorrer somente uma vez, ou diversas vezes, uma vez
que, geralmente, faz-se uma devolutiva de forma separada para o paciente
(em primeiro lugar) e outra para os pais e o restante da família. Quando o
paciente é um grupo familiar, a devolutiva e as conclusões são transmitidas a
todos.
O psicólogo deve se lembrar de que o processo psicodiagnóstico não é
agradável para o paciente, portanto é importante ter bastante cuidado para não
torná-lo persecutório. Isto é possível quando o profissional explica como se dá o
processo já num primeiro encontro; evita que a(s) entrevista(s) inicial(is) se
torne(m) um inquérito sem fim, causando muita ansiedade; explicita em linguagem
acessível e compreensível o que é esperado do paciente em cada etapa do
processo (principalmente quando são utilizados testes); procura evitar que a
entrevista de devolução seja uma mera transmissão de conclusões, sem que haja
a oportunidade do paciente ou familiares expressarem suas reações, e sim, que
neste momento, ocorra um espaço para que uma conversa se instaure, para que
possíveis dúvidas possam ser sanadas e encaminhamentos realizados com maior
esclarecimento.
Ao final do processo psicodiagnóstico, dependendo da fonte solicitante, é
necessário que o psicólogo forneça um documento contendo as observações e
conclusões a que chegou, o chamado laudo psicológico.
Trata-se de um parecer técnico que visa subsidiar o profissional a tomar
decisões e é um dos principais recursos para comunicar resultados de uma
avaliação psicológica. Seu objetivo é apresentar materialmente um resultado
conclusivo de acordo com a finalidade proposta de consulta, estudo ou prova e
deve restringir as informações fornecidas às estritamente necessárias à solicitação
(objetivo da avaliação), com a intenção de preservar a privacidade do paciente
(SILVA, 2008).
NOTA: cada etapa do processo psicodiagnóstico está descrita de maneira
mais detalhada no capítulo 11 de Cunha (2000).
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Plano de Avaliação e Bateria de Testes
Relembrando que o processo psicodiagnóstico parte do levantamento prévio de
hipóteses que serão confirmadas ou refutadas por meio de um plano de avaliação, com
passos e técnicas predeterminadas e objetivos específicos, é importante explorarmos um
pouco o que seriam este plano de avaliação e as técnicas subjacentes a este.
Através do plano de avaliação, o qual se caracteriza por ser um processo, procura-
se identificar quais recursos auxiliariam o investigador (neste caso o psicólogo) a
estabelecer uma relação entre suas hipóteses iniciais e suas possíveis respostas
(CUNHA, 2000).
Um dos fatores que podem colaborar com a escolha do material mais adequado
para a investigação é o encaminhamento feito por outro profissional, uma vez que este
sugere um objetivo para o exame psicológico. Porém, esta informação não é suficiente, o
psicólogo deve complementá-la e confrontá-la com os dados objetivos e subjetivos do
caso. Por isto, na maioria das vezes, este plano só é estabelecido após entrevistas com o
sujeito e/ou responsável (CUNHA, 2000).
O plano de avaliação consiste então em traduzir as perguntas sugeridas
inicialmente em testes e técnicas, programando a administração de alguns instrumentos
que sejam adequados e especialmente selecionados para fornecer subsídios para se
chegar às respostas das perguntas iniciais. O que irá confirmar ou refutar as hipóteses de
modo mais seguro (CUNHA, 2000).
É importante ressaltar que a testagem de uma hipótese pode ser feita por
diferentes instrumentos, e que a opção por um específico deve levar em consideração os
seguintes itens: características demográficas do sujeito (idade, sexo, nível sociocultural,
etc.); suas condições específicas (comprometimentos sensoriais, motores, cognitivos –
permanentes ou temporários); fatores situacionais (ex: medicação, internação, etc.)
(ARZENO, 1995; CUNHA, 2000).
Como pode ser observado então, o plano de avaliação envolve a organização de
uma “bateria de testes”.
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Segundo Cunha (2000), esta é uma expressão usada para designar “um conjunto
de testes ou de técnicas, que podem variar entre dois e cinco ou mais instrumentos, que
são incluídos no processo psicodiagnóstico para fornecer subsídios que permitam
confirmar ou infirmar as hipóteses iniciais, atendendo o objetivo da avaliação”.
A bateria de testes é utilizada principalmente por duas razões:
1. por se considerar que nenhum teste sozinho conseguiria fazer uma avaliação
abrangente da pessoa como um todo.
2. por se acreditar que o uso de diferentes testes envolve a tentativa de uma
validação intertestes dos dados obtidos, diminuindo assim a margem de erro e provendo
um fundamento mais embasado para se chegar a inferências clínicas (Exner, 1980 apud
CUNHA, 2000).
Porém, é importante ressaltar, para o segundo ponto, que embora isto garanta
maior segurança nas conclusões, não se deve utilizar um número extensivo de testes,
para não aumentar, desnecessariamente, o número de sessões do psicodiagnóstico e,
conseqüentemente, seu valor persecutório.
Cunha (2000) apresenta dois tipos de principais de baterias de testes:
- as padronizadas: para avaliações mais específicas - nestas a organização da
bateria provém de vários estudos, que auxiliam a realização de exames bastante
específicos, como alguns exames neuropsicológicos, mas o psicólogo pode incluir alguns
testes, se necessário;
- e as não-padronizadas: mais comuns na prática clínica - a bateria de testes é
selecionada de acordo com o objetivo da consulta e características do paciente, e,
baseando-se nisto, durante o plano de avaliação, determina-se o número e tipos de
testes, de acordo com sua natureza, tipo, propriedades psicométricas, tempo de
administração, grau de dificuldade, e qualidade ansiogênica.
Devido à grande variedade de questões iniciais e aos objetivos do
psicodiagnóstico, constantemente a bateria de testes é composta por testes psicométricos
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e técnicas projetivas. E sua distribuição e seqüência devem ser consideradas levando-se
em conta o tempo de aplicação, grau de dificuldade, o quanto de ansiedade pode gerar, e
as características individuais do paciente (ARZENO, 1995; CUNHA, 2000).
Quanto a isto, Cunha (2000) propõe que à medida que são apresentadas as
técnicas projetivas, maior a mobilização de ansiedade, por oferecer estímulos pouco
estruturados e o paciente ter que se responsabilizar pela situação e respostas dadas
(uma vez que não há certo e errado). Sendo assim, coloca-se que o conveniente seria
que houvesse uma alternância entre técnicas projetivas e psicométricas, iniciando e
terminando o processo com testes pouco ou não-ansiogênicos para o paciente.
Complementando, ao se organizar a bateria de testes, deve-se revisar quem é o
cliente, e quais as características e particularidades tanto do teste em si como de sua
aplicação. Lembrando-se que o mais importante, o foco da investigação, é o sujeito e não
o teste.
Testes Psicométricos
Os testes psicométricos têm um caráter científico, se baseiam na teoria da medida
e, mais especificamente, na psicometria, usam números para descrever os fenômenos
psicológicos, assim, são considerados objetivos (SILVA, 2008; FORMIGA, MELLO, 2000).
Tem-se denominado método psicométrico o procedimento estatístico sobre o qual
se baseia a construção dos testes, assim como a elaboração dos dados da investigação.
Entretanto, quando se trata da metodologia utilizada para a obtenção de dados, diz-se
que um teste psicométrico é aquele cujas normas gerais utilizadas são quantitativas, o
que quer dizer que o resultado é um número ou medida (ESTÁCIO, 2008).
Os itens do teste são objetivos e podem ser computados de forma independente
uns dos outros, seguindo uma tabela (ex.: testes de inteligência). A técnica se caracteriza
por ser de escolha forçada, escalas em que o sujeito deve simplesmente marcar suas
respostas. Primam pela objetividade, que é traduzida em tarefas padronizadas. A
correção ou apuração é mecânica, portanto, sem ambigüidade por parte do avaliador
(ESTÁCIO, 2008; SILVA, 2008).
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Para Alchieri e Cruz (2003, p.59 apud SILVA, 2008), os instrumentos
psicométricos estão basicamente fundamentados em valores estatísticos que indicam sua
sensibilidade (ou adaptabilidade do teste ao grupo examinado), sua precisão
(fidedignidade nos valores quanto à confiabilidade e estabilidade dos resultados) e
validade (segurança de que o teste mede o que se deseja medir).
A seguir será apresentado um importante exemplar destes testes.
Escalas Wechsler de Inteligência
Desenvolvidas por David Wechsler, estas escalas têm sido incluídas entre os
instrumentos mais conhecidos para avaliação da inteligência (QI), embora não sirva
somente para isto, e vêm sendo constantemente revisadas para maior adaptação à
população brasileira (CUNHA, 2000).
São consideradas “padrão ouro” nas avaliações psicométricas, sendo utilizadas
cada vez menos para determinação de um nível intelectual e cada vez mais para atender
necessidades bastante específicas no diagnóstico de psicopatologistas e avaliações
neuropsicológicas, tendo variações que permitem a avaliação desde crianças a idosos
(CUNHA, 2000).
A seguir serão expostas as duas versões mais usadas e mais recentes.
Teste WISC – III
A Escala de Inteligência Wechsler para Crianças (WISC-III), desenvolvida por
David Wechsler em 1991, representa a terceira edição da Escala de Inteligência Wechsler
para Crianças (WISC) e tem por finalidade avaliar a capacidade intelectual de crianças
(CUNHA, 2000).
Como medida da capacidade intelectual geral, o WISC-III pode ser utilizado para
diferentes finalidades, como por exemplo: avaliação psicoeducacional, diagnóstico de
crianças excepcionais em idade escolar, avaliação clínica, neuropsicológica e pesquisa.
Além disso, o instrumento pode ser útil não apenas para diagnósticos de deficiências ou
avaliações de uma criança, mas também para identificar as forças e fraquezas do sujeito
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e fornecer informações relevantes para a elaboração de uma programação educacional
específica para cada caso (FIGUEIREDO, 2000).
O WISC-III é composto por 13 subtestes, sendo 12 deles mantidos do WISC-R e
um novo subteste, Procurador de Símbolos, organizados em dois grupos: Verbais e
Perceptivos-motores (ou de Execução), que são aplicados nas crianças em ordem
alternadas, ou seja, um subteste de Execução e depois um subteste verbal e vice-versa
(WECHSLER, 2002).
Os subtestes são organizados nos seguintes conjuntos:
a) Subtestes Verbais: Informação, Semelhanças, Aritmética, Vocabulário,
Compreensão e Dígitos;
b) Subtestes de Execução: Completar Figuras, Código, Arranjo de Figuras,
Cubos, Armar Objetos, Procurar Símbolos e Labirintos.
c) Subtestes Suplementares: Dígitos, Procurar Símbolos e Labirintos.
Na elaboração do WISC-III, muitas investigações foram realizadas (teóricas e
empíricas) e, embora tenham sido realizadas melhoras substanciais e acrescentado
importante número de itens novos, as características fundamentais do WISC e do WISCR
mantiveram-se iguais no WISC-III (WECHSLER, 2002).
Figueiredo (2000) aponta que, como no WISC-R, o WISC-III, é formado por
diversos subtestes que, individualmente, avaliam e predizem várias dimensões da
habilidade cognitiva, sendo que, quando agrupados, o desempenho das crianças nesses
subtestes fornecem estimativas da capacidade intelectual das mesmas, a saber: QIs
Verbal, de Execução e Total (sendo que os subtestes Procurar Símbolos, Dígitos e
Labirintos não entram neste compito). Além da escala de QI, o teste também fornece os
Índices Fatoriais, que estimam diferentes construtos subjacentes ao teste, sendo eles
agrupados da seguinte maneira:
a) Compreensão Verbal: Informação, Semelhanças, Vocabulário e Compreensão;
b) Organização Perceptual: Completar Figuras, Arranjo de Figuras, Cubos e Armar
objetos;
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c) Resistência à Distração: Aritmética e Dígitos;
d) Velocidade de Processamento: Código e Procurar Símbolos.
A Escala de Inteligência Wechsler para Crianças WISC-III foi desenvolvida levando
em consideração a concepção da inteligência como uma entidade agregada e global, ou
seja, capacidade do indivíduo em raciocinar, lidar e operar com propósito, racionalmente e
efetivamente com o seu meio ambiente. Por esta razão, os subtestes foram selecionados
com o objetivo de investigar muitas capacidades mentais diferentes, mas que juntas
oferecem uma estimativa da capacidade intelectual geral da criança (FIGUEIREDO, 2000;
WECHSLER, 2002).
É aconselhado que o teste seja aplicado de forma integral, incluindo todos os
subtestes do WISC-III. Todos os subtestes devem ser valorizados do ponto de vista da
avaliação, incluindo os que são considerados facultativos e não entram no cálculo dos
três quocientes de base (QI-verbal, QI-execução, QI-total) (CUNHA, 2000; FIGUEIREDO,
2000).
Simões (2002) aponta que a observação do perfil constituído pelas pontuações
ponderadas de cada subescala e de cada subteste comporta uma explicação de natureza
quantitativa. Os desempenhos da criança em cada subteste são, ao mesmo tempo,
diretamente comparados com os resultados nos restantes subtestes e com os do seu
grupo etário, colocando assim em evidência áreas fortes e fracas. O reagrupamento de
alguns subtestes, no interior de cada subescala, pode também revelar aspectos
importantes para a explicação do funcionamento cognitivo da criança.
O mesmo autor afirma que na análise item a item, ou seja, de cada subteste,
ocorre a apreciação qualitativa, a qual, muitas vezes se mostra de grande relevância, por
permitir uma investigação mais acurada da especificidade medida por eles. Desta forma,
Simões (2002) retomou trabalhos de vários investigadores (Goia, Isquith & Guy, 2001, pp.
329-336; Grégoire, 2000, pp. 176-204; Kaufman & Lichtenberger, 2000, 81-190; Lussier &
Flessas, 2001, pp. 51-58) a fim de esboçar algumas análises relativas à interpretação
associadas a cada subteste isoladamente, e que serão exibidas a seguir.
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• Sub-escala Verbal
a) Informação: mede o nível dos conhecimentos adquiridos a partir da
educação na família e na escola. Recorre à memória de longo prazo.
Permite verificar a organização temporal. Nas crianças que apresentam
problemas de linguagem (disfasias), dificuldades de aprendizagem (déficits
seqüenciais) ou desatenção-impulsividade é particularmente freqüente a
existência de um déficit na organização temporal.
b) Semelhanças: avalia a capacidade de estabelecer relações lógicas e a
formação de conceitos verbais ou de categorias; além da capacidade de
síntese e de integração de conhecimentos. É um subteste difícil para as
crianças com limitações intelectuais. Pode ser o melhor resultado da
subescala verbal para os sujeitos disfásicos que freqüentemente
apresentam um nível elevado de inteligência geral e, em especial, uma boa
capacidade de síntese. É importante observar se a criança alcança a
pontuação máxima nos itens através de uma única resposta correta ou de
explicações pormenorizadas.
c) Aritmética: Avalia a capacidade de cálculo mental, a compreensão de
enunciados verbais de uma certa complexidade e a capacidade de
raciocínio. É bastante sensível a um déficit de atenção (e à falta de controle
da impulsividade). Requer uma boa capacidade da memória de trabalho (e
da memória para seqüências de procedimentos) necessária para manter
presente todos os elementos do problema a resolver.
d) Vocabulário: Mede a competência lingüística, os conhecimentos lexicais e,
sobretudo, a facilidade de elaboração do discurso. Assim como em
“Semelhanças”, deve-se observar a equidade do vocabulário utilizado e a
precisão do pensamento. Um desempenho baixo pode traduzir falta de
familiarização com o contexto educativo ou ausência de experiência
escolar.
e) Compreensão: Examina a capacidade do sujeito exprimir as suas
experiências. Apela ao conhecimento de regras de relacionamento social.
Permite observar a facilidade de argumentação (quando o sujeito justifica
suas respostas), e a flexibilidade mental (quando é solicitada uma segunda
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resposta ao mesmo item). Um resultado fraco pode sugerir uma certa
dificuldade neurológica do sujeito na mobilização dos seus recursos
cognitivos durante a tentativa de evocação de várias soluções para um
mesmo problema ou revelar desconhecimento das regras sociais, falta de
empatia e de julgamento (que caracterizam freqüentemente os sujeitos que
apresentam uma disfunção não verbal).
f) Dígitos: na Ordem Direta, a prova mede a memória auditiva seqüencial e é bastante
sensível à capacidade de escuta e às flutuações da atenção. Quando o sujeito repete
todos os números, mas não na ordem em que eles lhe foram apresentados, trata-se
especificamente de capacidade de evocação seqüencial em modalidade auditiva e não de
um déficit de natureza mnésica ou atencional. A Memória de Dígitos no Sentido Inverso
mede a capacidade de memória de trabalho (inteligência geral). Esta tarefa é geralmente
mais difícil que a precedente. É esperado que o resultado na Ordem Inversa seja um ou
dois pontos inferiores ao obtido na Ordem Direta. Um resultado (excepcional) igual ou
superior na Ordem Inversa parece indicativo do recurso a excelentes estratégias
executivas e da utilização preferencial de um modo de evocação visual (que substitui uma
atenção auditiva enfraquecida). Em termos globais esta prova está também associada ao
processamento verbal auditivo.
• Sub-Escala de Execução
a) Completar Figuras: É o primeiro subteste da escala a ser aplicado
podendo, por isso, esperar-se que o resultado obtido seja negativamente
influenciado pelo efeito de novidade, sobretudo numa criança tímida, por
uma reação de inibição ansiosa. Recorre à memória visual e a um bom
senso prático.
b) Código: Mede a capacidade de associar números a símbolos e de
memorizar corretamente essas associações, a fim de executar a tarefa o
mais rapidamente possível. Avalia a capacidade de aprendizagem
mecânica/automatizada. Um bom resultado sugere um estilo seqüencial
preferencial. A reprodução dos símbolos requer uma boa caligrafia, muitas
vezes ausente nas crianças impulsivas (os problemas neuromotores finos
são freqüentemente relacionados com esta problemática). Um resultado
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fraco pode dever-se a uma dificuldade da memória cinestésica -
“capacidade da criança reter os movimentos motores necessários à
realização gráfica” (PSICOPEDAGOGIA BRASIL, 2009) - da seqüência
gestual a executar, ou ser observado em certas crianças dispráxicas (com
dificuldades motoras e de linguagem).
c) Arranjo de Figuras: Requer uma boa capacidade de análise perceptiva,
bem como uma integração do conjunto das informações disponíveis. A
relação dos desenhos que compõem cada história exige uma forma de
discurso interior funcional, o que pode não ocorrer nos sujeitos que
apresentam uma disfasia, sobretudo receptiva. Muitas vezes as crianças
disfásicas evidenciam dificuldades na percepção do tempo e do espaço,
que podem ser detectadas nesta tarefa.
d) Cubos. Examina a capacidade de organização e processamento viso-
espacial/não-verbal, a capacidade para decompor mentalmente os
elementos constituintes do modelo a reproduzir. É considerada uma
medida de resolução de problemas não verbais e usada como uma das
contra-provas de déficits nas funções executivas. Neste contexto, permite
identificar dificuldades de auto-monitorização presentes quando a criança é
incapaz de reconhecer erros evidentes, mesmo quando é desafiada a
descobrir esses erros ou a comparar o seu trabalho com o estímulo, após a
aplicação formal do subteste. A escolha do tipo de estratégia (global,
analítica ou sintética) que permite a execução da tarefa revela-se um
excelente índice da inteligência não-verbal, bem como das capacidades de
raciocínio viso-espacial. Em comparação com outras medidas de aptidão
viso-espacial, o subteste de Cubos supõe o recurso a um funcionamento
viso-perceptivo, capacidades construtivas, coordenação, rapidez
psicomotora.
e) Armar Objetos. Mede a capacidade de organizar um todo a partir de
elementos separados, recorre à capacidade de integração perceptiva.
Proporciona uma oportunidade para observar diretamente a estratégia de
resolução dos problemas (itens).
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f) Procurar Símbolos: recorre à capacidade de discriminação perceptiva.
Depende de uma boa capacidade de atenção visual e de memória de
trabalho. As crianças impulsivas, ou com déficit de atenção, obtêm com
freqüência os resultados mais baixos, da subescala de execução, no
Código e no Procurar Símbolos.
g) g) Labirintos: Examina a capacidade de antecipação e de planificação,
requer uma estratégia viso-espacial em memória de trabalho. É bastante
sensível à impulsividade do método ou abordagem adaptada. As crianças
mais jovens, que sofrem de dispraxia motora, apresentam dificuldades na
realização desta tarefa: o insucesso provém de uma incapacidade de
planificação da sua execução gestual, como se existisse uma desconexão
entre a intenção e a realização do gesto a efetuar.
WAIS – III
As Escalas Wechsler de Inteligência para adultos (WAIS), foram desenvolvidas a
fim de auxiliar na avaliação do funcionamento intelectual de adolescentes e adultos.
Mostrando-se como importantes recursos diagnósticos para identificar tanto diferentes
habilidades cognitivas, quanto à investigação do impacto de problemas emocionais,
psiquiátricos e neurológicos no funcionamento cognitivo (NASCIMENTO, 2000).
O objetivo de sua utilização incide sobre a avaliação de problemas de
aprendizagem, predição de desempenho acadêmico futuro, diagnóstico de transtornos
psiquiátricos e neurológicos (NASCIMENTO, 2000).
O WAIS – III apresenta-se como uma versão mais recente do WAIS, publicada em
1997. É composto pela mesma estrutura do WAIS – R, sendo que houve um aumento de
32% de novos itens, e sua idade de aplicação atual vai de 16 a 89 anos (CUNHA, 2000).
Pode ser indicado para medir a inteligência geral, identificar potencialidades e
fraquezas do funcionamento cognitivo e avaliar o impacto de problemas psicopatológicos
no funcionamento cognitivo (CUNHA; NASCIMENTO, 2000).
Ele compreende 14 subtestes, sendo aplicados de forma alternada (subteste de
execução em seguida o verbal) iniciando pelo subteste de execução Completar Figuras,
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mas, dependendo do objetivo da avaliação, a aplicação de todos não é necessária. Para o
cálculo do QI total, por exemplo, são necessários 11 subtestes (CUNHA, 2000). A seguir
serão apresentados os subtestes que compõe os conjuntos de aplicação (verbal e de
execução – lembrando que os testes suplementares e opcional não entram no compito do
QI total):
a) Subtestes Verbais: Vocabulário, Semelhanças, Aritmética, Dígitos,
Informação, Compreensão e Seqüência de Números e Letras
(suplementar);
b) Subtestes de Execução: Completar Figuras, Códigos, Cubos, Raciocínio
Mental, Arranjo de Figuras, Procurar Símbolos (suplementar) e Armar
Objetos (opcional);
O WAIS – III segue os mesmos passos para interpretação das outras Escalas
Wechsler de Inteligência, sendo assim, oferece a possibilidade de oferecer medidas
referentes às escalas de QI (verbal, de execução e total) além dos Índices Fatoriais
(NASCIMENTO, 2000). O que cada Índice Fatorial reflete e os subtestes referentes a
cada um deles são:
a) Compreensão Verbal: subtestes - Vocabulário, Informação e Semelhanças;
evidencia o conhecimento verbal adquirido e o processo mental necessário
para responder às questões, que seria a capacidade de compreensão
(raciocínio verbal).
b) Organização Perceptual: formado pelos subtestes Cubos, Completar
Figuras e Raciocínio Matricial; mede o raciocínio não-verbal, raciocínio
fluido, atenção para detalhes e integração visomotora.
c) Memória de Trabalho: obtido pelos subtestes Aritmética, Dígitos e
Seqüência de Números e Letras; está relacionado à capacidade de atentar-
se para a informação, mantê-la brevemente e processá-la na memória, para
em seguida, emitir uma resposta.
d) Velocidade de Processamento: subtestes componentes – Códigos e
Procurar Símbolos; refere-se à resistência à distrabilidade, mede os
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processos relacionados à atenção, memória e concentração para processar,
rapidamente, a informação visual.
Testes/Técnicas Projetivos (as)
Os testes projetivos requerem respostas livres; sua apuração é ambígua, sujeita
aos vieses de interpretação do avaliador. O psicólogo trabalha com tarefas pouco ou nada
estruturadas, a apuração das respostas deixa margem para interpretações subjetivas do
próprio avaliador, e os resultados são totalmente dependentes da sua percepção, dos
seus critérios de entendimento e bom senso (SILVA, 2008).
Os testes cuja metodologia é projetiva são aqueles cujas normas são qualitativas,
ou seja, são testes menos objetivos. O resultado se expressa através de uma tipologia.
Por terem uma avaliação qualitativa, seus elementos (itens de teste) não podem ser
medidos em separado. A constância de certas características avaliadas no teste, como
um todo, que dará a relativa certeza de um diagnóstico (ex.: testes de personalidade em
geral) (ESTÁCIO, 2008)
Os testes de personalidade, como integrantes dos projetivos, medem as
características de personalidade propriamente ditas, que não se referem aos aspectos
cognitivos da conduta. Ex.: estabilidade emocional, atitude, interesse, sociabilidade, etc.
Porém, sabe-se que a personalidade de um indivíduo muda constantemente, portanto, o
que realmente é medido são as características mais ou menos constantes da
personalidade, mas mesmo assim, em determinado momento (ESTÁCIO, 2008).
A seguir, veja um exemplo destes testes.
Teste do Desenho da Figura Humana (DFH)
Ao final do século XIX, já se acreditava que o desenho de crianças podia ser
avaliado como indicador do desenvolvimento psicológico. Goodenough foi pioneira; em
1926 desenvolveu a primeira escala com critérios de análise do Desenho da Figura
Humana (DFH), como medida de desenvolvimento intelectual de crianças.
Posteriormente, Harris, em 1963, revisou a escala e a expandiu, sendo esta passando a
ser considerada como medida de maturidade (HUTZ; BANDEIRA, 2000).
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Após duas décadas, Manchover, após análise de diversas observações clínicas
sobre a representação gráfica de figuras humanas desenhadas por crianças e adultos que
apresentavam problemas psicológicos, publicou tais resultados em 1949, e assim surgiu
um novo caráter dado ao DFH, o projetivo. Este tipo de análise se popularizou, hoje é um
dos mais utilizados como método de avaliação da personalidade (HUTZ; BANDEIRA,
2000).
DFH: Avaliação do desenvolvimento infantil
Ao revisar e ampliar a escala de Goodenough, Harris (1963) já questionava o uso
do DFH como teste de inteligência, entendendo-o como medida de maturidade conceitual,
ou seja, como a criança compreende o corpo humano, introduzindo o enfoque do
desenvolvimento infantil no desenho, amplamente estudado por Koppitz (HUTZ,
BANDEIRA, 2000).
O instrumento, após a colaboração de Koppitz, passou a ser um sistema de
avaliação objetivo utilizado internacionalmente. Para a aplicação dessa técnica, pede-se à
criança que faça o desenho de uma pessoa inteira em uma folha branca, tamanho ofício,
colocando a sua disposição um lápis preto número dois e uma borracha. A avaliação é
feita com um único desenho, inclui 30 itens evolutivos, pontuados como ausentes ou
presentes, que somados, gerando um escore global. A análise também pode ser realizada
na avaliação pela presença de itens esperados, comuns, incomuns e excepcionais
conforme a idade da criança. (HUTZ, BANDEIRA, 2000).
Esta forma de aplicação do DFH mede o desenvolvimento cognitivo.
Atualmente, é considerado pelo CFP, para avaliação do desenvolvimento
cognitivo, a forma de correção proposta por Sisto, ainda tendo como referencia os
estudos de Goodenough, baseado no modelo de Rasch, criado em 1960, o qual supõe
que ao responder um item do teste, a pessoa manifesta alguma quantidade de
determinada habilidade. Assim, em cada nível de habilidade, existe a probabilidade das
pessoas desse nível fornecerem resposta correta para aquele item. Os itens se
apresentam então de forma hierárquica de acordo com sua dificuldade e da habilidade do
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sujeito, de tal modo que as pessoas mais habilidosas desenharão os itens mais difíceis e
as menos, não (RUEDA, 2005).
A escala solicita o desenho de uma pessoa e reduziu os itens a 30 diferentemente
de Kopitz, que foram selecionados com vistas a se constituírem em uma escala e não em
um simples inventário de itens (VETOR – EDITORA, 2009).
O DFH – Escala Sisto é uma medida de inteligência e está relacionada ao fator g,
a operatoriedade (conceito de Piaget referente ao desenvolvimento cognitivo em crianças)
e aprendizagem escolar (VETOR-EDITORA, 2009).
Algumas vantagens apresentadas por este sistema de correção: menor número de
itens (30); itens predominantemente masculinos e femininos (o sistema de correção é o
mesmo, mudam-se as normas); existência de uma classificação hierárquica de itens de
acordo com o sexo e a idade da criança; solicitação de apenas um desenho, não levando
em consideração se a figura desenhada é feminina ou masculina; esta forma de correção
possibilita uma escala unidimensional (RUEDA, 2005).
Além destas, o sistema proposto por Sisto fornece as seguintes contribuições
(VETOR – EDITORA, 2009):
1) Estudo dos itens quanto ao funcionamento diferencial e a análise de sua influência.
São técnicas de análises não disponíveis à época para Goodenough;
2) A manutenção do caráter evolutivo da proposta original, procurando selecionar os itens
em relação às idades cronológicas;
3) Além de fornecer evidências de validade em termos de desenvolvimento cronológico e
inteligência como fez Goodenough fornece evidências de validade em termos de
desenvolvimento cognitivo na perspectiva de Piaget, ficando claro sua relação com a
operatoriedade.
DFH: Avaliação da Personalidade e Ajustamento Emocional
Koppitz em 1968, propôs outra forma de avaliação descrita para a interpretação do
DFH, quando passou a avaliar os aspectos emocionais em crianças pelo DFH, baseada
nos estudos de Machover e Hammer. Estabelecendo uma escala de 30 indicadores
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emocionais que seriam suficientes para diferenciar crianças com e sem problemas
emocionais (HUTZ; BANDEIRA, 2000).
O DFH pode também ter uma avaliação que aborde a personalidade e seus
aspectos estruturais e dinâmicos. Esta forma de avaliação teve origem com as pesquisas
de Machover, em 1949, e mostra-se como um dos mais ricos instrumentos para a
investigação da personalidade e de características psicológicas. Na aplicação, é solicitado
também que se faça o desenho DFH do sexo oposto à primeira figura desenhada (em
folhas separadas). Há outra possibilidade, pedindo que se desenhe a pessoa na chuva, o
que permitiria investigar as reações do examinando a situações de tensão. Recomenda-
se ainda, a realização de um inquérito ou a construção de uma história sobre a figura
(HUTZ; BANDEIRA, 2000).
Machover (1967) afirma que, quando um sujeito realiza o Desenho da Figura
Humana, refere-se necessariamente às imagens internalizadas que tem de si próprio e
dos outros, e dessa forma ocorre à projeção de sua imagem corporal. Ao se desenhar
uma pessoa, o indivíduo projeta a sua imagem corporal no papel, ou seja, é como a
figuração de nosso corpo formada em nossa mente, um modo pelo qual o corpo se
apresenta para nós (Schilder, 1981, citado em HUTZ; BANDEIRA, 2000).
Para Van Kolker (1984, citado em HUTZ; BANDEIRA, 2000), o desenho pode
também ser a representação de outros aspectos do indivíduo, como aspirações,
preferências, pessoas vinculadas a ele, imagem ideal, padrões de hábitos, atitudes para
com o examinador e a situação de testagem. Trinca, 1987, corrobora estes fatos citando
Levy, 1959, ao dizer que o desenho “além de veículo de projeção da imagem corporal,
pode ser uma projeção de autoconceito, uma projeção de atitudes para com alguém do
ambiente, uma projeção da imagem ideal do eu, um resultado de circunstâncias externas,
uma expressão de padrões de hábitos, uma expressão de tonalidade emocional, uma
projeção de atitudes do sujeito para com o examinador e a situação, uma expressão de
suas atitudes para com a vida e a sociedade em geral”, sendo uma combinação de tudo
isso. Além do mais, o desenho pode ser uma expressão consciente ou pode incluir
símbolos profundamente disfarçados, expressivos de fenômenos inconscientes.
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DFH e a Ansiedade
O DFH pode ser utilizado também para a avaliação de aspectos específicos, tais
com a ansiedade. Handler, em 1967, propôs uma escala para avaliação da ansiedade de
adolescente e adultos, com 20 itens de ansiedade, estabelecendo critérios de escore para
análise de maneira formal, que abrangem tanto a ansiedade causada por situações
externas estressantes como causas intrapsíquicas. Foram descritos vinte índices,
atribuindo-se escores de acordo com as características do desenho de cada um deles, em
escalas de quatro ou dois pontos, onde, nesta última, a presença é um indicador de
ansiedade. Porém recomenda-se cautela na utilização deste material com tal finalidade
(HUTZ; BANDEIRA, 2000).
O Sexo da Figura
Sendo o DFH considerado uma expressão da auto-imagem de crianças que
projetam suas identificações e conflitos nos desenhos, seria esperado que os mesmos
fossem correspondentes ao sexo da criança que o desenhou. Machover (1949) afirmou
que crianças que desenham figuras do sexo oposto provavelmente apresentam um
problema no desenvolvimento de sua identidade sexual. Vários estudos mostraram que
há uma tendência geral das pessoas desenharem figuras do mesmo sexo, contudo, não
há confirmação da hipótese lançada por Machover. Desta forma, o DFH não pode ser
utilizado como indicador de patologia (HUTZ; BANDEIRA, 2000).
Entrevista Lúdica
Segundo FRANCO e MAZORRA a entrevista lúdica é uma técnica de investigação
clínica da personalidade da criança introduzida inicialmente por Aberastury (1992). Nesse
procedimento, o comportamento da criança é observado em uma sala destinada à
ludoterapia, com brinquedos e material gráfico. Tendo em vista que a atividade lúdica é a
forma como a criança expressa suas fantasias, desejos e experiências, o emprego desses
recursos tem como objetivo a instrumentalização de suas possibilidades comunicacionais.
(FRANCO e MAZORRA)
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No atendimento com criança a queixa inicial é trazida pelos pais e esta geralmente
se apresenta de forma confusa; neste momento o terapeuta tem que intervir como
facilitador da comunicação dos problemas, buscando uma definição dos objetivos
pretendidos. O profissional nesta situação deve ajudar aos pais a optarem pelo bem-estar
da criança definindo então metas para a atuação terapêutica. A posição da criança, no
processo terapêutico, é diferente, visto serem os pais ou outros responsáveis, que
buscam atendimento para ela. Em conseqüência, influenciam o estabelecimento de
metas, concordam ou não com o plano de atendimento, e determinam até mesmo quando
a terapia deve ser encerrada.
De acordo com FRANCO e MAZORRA com freqüência os terapeutas entrevistam
os pais antes de ver a criança individualmente de modo a obter informações sobre os
problemas apresentados, a história dos problemas, formas anteriores de lidar com os
problemas, as forças da criança, acontecimentos significativos na vida da criança, tais
como mudança ou morte, além de problemas ou doenças físicas.
Geralmente as crianças podem apresentar-se ansiosas em relação ao contato com
o terapeuta. O profissional deve auxiliar os pais a pensarem sobre algumas maneiras de
preparar a criança para este momento.
Freqüentemente com crianças com menos de 10 anos utiliza-se entrevistas lúdicas
(com jogos ou brinquedos). As entrevistas com jogos ou brinquedos podem ser
parcialmente estruturadas ou não-estruturadas. Essas entrevistas geralmente tem como
início o modo totalmente não-estruturado, pois a criança faz uso livre dos materiais, o
terapeuta de forma gradativa realiza perguntas sobre a problemática ou questões
referentes. Estas perguntas podem ser relacionadas ou não com o brinquedo embora
estas ocorram quando a criança está em relação com ele, mas a criança deve estar à
vontade para responder quando estiver ocupada com atividades mais agradáveis.
As crianças variam na quantidade e tipo de verbalização durante as sessões de
brinquedo ou jogo. Seu discurso pode estar focado no brinquedo ou em outros tópicos. O
material de jogo em brinquedo não precisa ser elaborado, mas deve incluir os seguintes
materiais ou pelo menos alguns deles: blocos de madeira; bonecos flexíveis e pequenos,
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usados às vezes em casas de boneca, incluindo mãe, pai, menino, menina e bebê; uma
boneca-bebê, talvez com uma genitália anatomicamente perfeita; carros e caminhões
pequenos; soldados, cowboys e índios; marionetes; massa de modelar; pequenas armas
de brinquedo; papel e lápis.
A idéia fundamental no uso de entrevistas lúdicas é a de que as crianças irão
projetar suas questões-chaves no conteúdo do brinquedo e na maneira com que utilizam
o material; as crianças geralmente usam o brinquedo para controlar suas preocupações.
Elas podem, indiretamente, revelar medos, fonte de raiva, preocupações sexuais, culpa e
conflito com os pais através do brinquedo. Através da observação do brinquedo é possível
avaliar a inteligência, criatividade, espontaneidade, defesas, habilidades percepto-
motoras, processos de pensamento, organização, percepção de si próprio e dos outros e
a natureza dos processos de interação. O brincar com a criança pode oferecer
informações acerca de atitudes em relação a regras, modo de lidar com a vitória e a
derrota, impulsividade, comportamentos dependentes e independentes, disposição para
ser ensinada, estilos de aprendizagem, comportamento de expor-se a riscos, modo de
iniciar uma interação e atitudes em relação à competição.
Os desenhos são considerados uma fonte rica de informações, pois há muitas
crianças que desenham espontaneamente durante a entrevista enquanto que outras só
quando solicitadas.
Outra técnica muito utilizada é o uso da fantasia que pode ser empregada no
relato verbal de estórias fictícias, "onde a criança descreve os sentimentos dos
personagens e as possíveis regras que governam seus comportamentos, se deve ao fato
de que este instrumento – a fantasia – favorece a identificação de possíveis sentimentos
da própria criança, através de inferências baseadas no seu relato verbal. Em algumas
situações, pede-se a criança que permaneça de olhos fechados, enquanto descreve
estórias irreais que devem ser imaginadas. É então solicitado que a criança complete a
fantasia. Em seguida, desenhe o que imaginou; a cada contato com a criança são
propostos cinco tipos de atividades para que escolha uma delas: desenho livre, desenho
em quadrinhos, estórias de gravura, argila e construção de cena com brinquedos. Cada
atividade é finalizada com uma fantasia, sendo registrado o relato verbal da criança. A
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seguir, são feitas perguntas para tornar mais compreensíveis os pontos obscuros e
omissões, enquanto outros tipos de perguntas pretendem levar à identificação de
incoerências no relato.
Para a realização da entrevista lúdica pode ser usada uma caixa onde seja
incluído os seguintes materiais: papel sulfite, tinta a dedo, lápis de cor, lápis preto, lápis
de cera, canetinhas hidrocor, apontador, borracha, cola, durex, barbante, tesoura sem
ponta, palitinhos de madeira, revistinhas, livros, massa de modelar (de diversas cores),
família de pano, família de animais selvagens e domésticos, revólver de brinquedo,
carrinhos ou caminhões (pelo menos dois), xícaras e seus respectivos pires, fogão,
panelinha, dominó, blocos de madeira ou de plástico, pinos de encaixe, material de
sucata, fantoches e jogos comerciais estruturados.
As informações obtidas através da avaliação devem ser interpretadas e integradas
para proporcionar um entendimento mais profundo dos problemas apresentados. Esta
formulação deve incluir comentários sobre recursos e déficits específicos da
personalidade e o modo como eles relacionam-se aos problemas, a gravidade do
problema, variáveis fisiológicas, psicológicas, familiares e sócio-culturais que contribuem
para o desenvolvimento e manutenção dos problemas, conseqüências dos problemas
para a criança e a família e os meios atuais de lidar com os problemas.
6. Psicopatologia: conceituação; alterações da percepção, representação, juízo,
raciocínio, memória, atenção, consciência e afetividade; doenças de natureza
psíquica (alcoolismo, depressão, esquizofrenia, ansiedade).
Psicopatologia pode ser definida como a ciência que trata da natureza da doença
mental. Esta ciência estuda inúmeros fenômenos humanos e historicamente esses
fenômenos estudados pela psicopatologia foram denominados “doença mental
(Dalgalarrondo, 2000).
Exame do Estado Mental
Segundo CORDIOLI (2009) O exame do estado mental é a pesquisa sistemática
de sinais e sintomas de alterações do funcionamento mental, durante a entrevista
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psiquiátrica. As informações são obtidas através da observação direta da aparência do
paciente, da anamnese, bem como do relato de familiares e outros informantes como
atendentes, amigos, colegas ou até mesmo autoridades policiais. O exame do estado
mental não deve ser realizado apenas pelos psiquiatras, mas deve fazer parte do exame
clínico do paciente, independente da sua morbidade. É essencial não só para o
diagnóstico de possíveis transtornos psiquiátricos, como pode também oferecer indícios
importantes de transtornos neurológicos, metabólicos, intoxicações ou de efeitos de
drogas.
Cada função mental é considerada separadamente de uma forma paralela a um
exame físico. O resultado do exame e da entrevista clínica são combinados para se
formular o diagnóstico psiquiátrico.
Segundo CORDIOLI (2009) o exame inicia-se com uma descrição sumária sobre o
local onde se realiza a entrevista (hospital, posto de saúde, consultório particular). Em
seguida, descreve-se o motivo pelo qual está sendo realizada (avaliação para internação
hospitalar ou tratamento ambulatorial, diagnóstico, consultoria), seguindo-se de
impressões sobre o paciente registradas pelo entrevistador sobre os seguintes aspectos:
1. Aparência: O aspecto da pessoa é avaliado, desde a idade, altura, peso,
vestuário (se está limpo, sujo, aspecto bizarro, roupas incongruentes, muito coloridas). A
atitude dominante durante a entrevista também é alvo de consideração (se desconfiado,
receptivo, evita responder às perguntas, etc)
2. Atividade psicomotora e Comportamento: Como a pessoa se move, posições
do corpo (flexibilidade cérea, comum na esquizofrenia hebefrênica ou hebefrenia),
agitação psicomotora. Movimentos anormais como coréia, tiques ou tremores também
são descritos aqui.
3. Atitude frente ao examinador: Como o paciente se comporta durante o
exame. Alguns limitam-se a responder somente o que o entrevistador pergunta. Outros
são mais abertos, reticentes, fechados e até desconfiados, por vergonha, falta de vontade
ou medo de contar suas experiências pessoais. Também podem ser hostis, numa
tentativa de envergonhar ou humilhar o examinador; bajuladores, para agradar. É
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importante que o entrevistador além de anotar a postura indique alguns exemplos que o
fizeram pensar daquela forma.
4. Comunicação com o examinador: Costuma-se separar discurso de
pensamento. No geral, em discurso descreve-se o volume que a pessoa usa ao falar,
fluxo, velocidade. Maneirismos, sotaques, hesitações (ou bloqueios), tiques vocais são
descritos aqui.
5. Sentimentos despertados: O entrevistador deve relatar a impressão emocional
geral transmitida pelo paciente, ou seja, os sentimentos despertados em sua pessoa pelo
paciente
6. Funções mentais
6.1 Consciência: é o reconhecimento da realidade externa ou de si mesmo em
determinado momento, e a capacidade de responder aos seus estímulos. O nível de
consciência é avaliado em: Obnubilação/sonolência, Confusão, Estupor, Coma,
Hiperalerta.
6.2 Atenção: A atenção é uma dimensão da consciência que designa a
capacidade para manter o foco em uma atividade.
A atenção pode ser avaliada nos estados de:
Vigilância: designa a capacidade de voltar o foco da atenção para os estímulos
externos
Tenacidade: capacidade de manutenção da atenção ou de uma tarefa específica.
Concentração: é a capacidade de manter a atenção voluntária em processos
internos do pensamento ou em alguma atividade mental
As alterações na atenção podem ser descritas como:
Desatenção: incapacidade de voltar o foco para um determinado estímulo.
Distração: incapacidade de manter o foco da atenção em determinado estímulo.
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6.3 Sensopercepção: designa a capacidade de perceber e interpretar os
estímulos que se apresentam aos órgãos dos sentidos. Os estímulos podem ser:
auditivos, visuais, olfativos, táteis e gustativos.
Na percepção é avaliada a sensopercepção do paciente, ou seja, como ele recebe
(sentidos) e percebe (interpretação) o mundo. Descreve-se aqui fenônemos como
alucinação e ilusão. A natureza de cada experiência deve ser descrita em detalhes.
Alucinações auditivas, por exemplo, são comuns na esquizofrenia enquanto alucinações
visuais são frequentes em doenças orgânicas. Deve-se questionar sobre alterações de
todos os sentidos pois as alucinações podem ser olfativas, cenestésicas, etc. Alguns dos
sintomas de Kurt Schneider de primeira ordem são alucinatórios, como o eco do
pensamento, gedankenlautverden, roubo do pensamento e iserção de pensamentos.
Despersonalização (o indivíduo sente-se irreal) e desrealização (sente o mundo como
irreal) também devem ser descritos aqui.
Também é importante verificar se as alucinações ocorrem na segunda pessoa
(conversa com o paciente) ou na terceira pessoa (conversam entre si) e se comandam o
doente (atos homicidas ou suicidas). Às vezes as alucinações podem ser outros sons
além de vozes, como sinos, latidos, sons de motores, zumbidos, etc. Também podem ser
outros fenômenos visuais como halos ou cores difíceis de descrever. Estas são chamadas
alucianções elementares
Alucinações extra-campinas são aquelas nas quais o paciente vê ou ouve coisas
fora de seu campo sensorial (ouvir uma voz a 3 km de distância, ver através de paredes,
etc).
Deve-se questionar como a pessoa lida com as alucinações, se são assustadoras,
angustiantes ou prazerosas.
6.4 Orientação: capacidade do indivíduo de situar-se no tempo, espaço ou
situação e reconhecer sua própria pessoa.
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São feitas questões para saber se o paciente sabe onde está (orientação espacial)
e o dia/mês/ano (orientação temporal). Questionar também se sabe quem é e qual sua
situação (orientação autopsíquica).
6.5 Memória: é a capacidade de registrar, fixar ou reter, evocar e reconhecer
objetos, pessoas e experiências passadas ou estímulos sensoriais. Para fins de avaliação
divide-se a memória em: sensorial, que recebe a informação dos órgãos dos sentidos e a
retém por breve período de tempo (0,5segundos); imediata, responsável pelo registro de
informações ouvidas nos últimos 15 a 20 segundos; recente, que divide-se em de curto
prazo (5-10min) e de longo prazo (mais de 30 min); e remota, que é a responsável pela
retenção permanente de informação selecionada.
As alterações e Transtornos mais comuns são:
Amnésia: incapacidade parcial ou total de evocar experiências passadas.
Amnésia imediata: geralmente existe um comprometimento cerebral agudo.
Amnésia anterógrada: o paciente esquece tudo o que ocorreu após um fato ou
acidente importante. Ex: traumatismo craniano, distúrbio dissociativo (histeria).
Amnésia retrógrada: esquecimento de situações ocorridas anteriormente a um
trauma, doença ou fato importante.
Amnésia lacunar: esquecimento dos fatos ocorridos entre duas datas.
Amnésia remota: esquecimento de fatos ocorridos no passado.
6.6 Inteligência: capacidade de uma pessoa de assimilar conhecimentos factuais,
compreender as relações entre eles e integrá-los aos conhecimentos já adquiridos
anteriormente; de raciocinar logicamente e de forma abstrata manipulando conceitos,
números ou palavras. Capacidade de resolver situações novas com rapidez e com êxito
mediante a realização de tarefas que envolvam a apreensão de relações abstratas entre
fatos, eventos, antecedentes e consequências, etc.
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As alterações e transtornos mais comuns são avaliadas através de testes
específicos. O mini mental state examination é exemplo de questionário que pode ser
aplicado para esta avaliação. Podem-se encontrar casos de deficiência mental, demência
e incapacidade de abstração.
6.7 Afetividade e Humor. Afeto é a expressão de uma emoção e humor é o
estado emocional do indivíduo, relatado pelo mesmo. O afeto de uma pessoa pode variar
desde depressivo (depressão nervosa), elação ou eufórico, irritado e normal. Se a
sensação que se tem ao final do exame é de um estado depressivo, tal deve ser descrito
em humor. Os vários estados afetivos demonstram se uma pessoa demonstra uma
expansão do seu afeto ou se o mesmo se encontra restrito (muitas vezes descrito como
aplainado ou embotado). Também é importante notar se o afeto está incongruente (por
exemplo um indivíduo ri ao invés de chorar quando lhe contam uma notícia triste).
Aspectos culturais devem ser considerados.
6.8 Pensamento: é o conjunto de funções integrativas capazes de associar
conhecimentos novos e antigos, integrar estímulos externos e internos, analisar,
abstrair,julgar, concluir, sintetizar e criar.
Esta categoria é dividida em forma (como a pessoa pensa) e conteúdo (o quê se
pensa). Na maioria das vezes o indivíduo com depressão profunda, ela não pensaem
outra coisa a não ser o suícidio. Nada mais do que ela pensa, mais faz sentido. Como
antes fazer as tarefas de costumes eram normais , passam a ser muito difíceis. São elas:
-O prazer de tomar banho; -Fazer a barba; -Trabalhar; -Conversar com outras pessoas,
(torna-se insuportável); -Concentração quase 0 "Pensamento a mil"; -Pensamento de
suícidio ou mesmo homicídio; -Convivência com outras pessoas; -Pensamentos
repetitivos, tagarelices; -Sonolência excessiva ou insônia;
Pensamento - Forma ou processo: Nesta categoria, avalia-se a velocidade do
pensamento, fluxo e como está conectado A perturbação do pensamento formal ocorre
quando há "pressão" para se pensar (excessivamente rápido), fuga de idéias, bloqueio do
pensamento, desconexão do pensamento ou pensamento desagregado (quando há perda
de associação entre as idéias, podendo chegar ao ponto de "salada de palavras", quando
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o paciente apenas responde palavras desconectadas. Tangencialidade (não responde às
perguntas) e pensamento circunstancial (com diversos detalhes perdendo-se ou
retardando-se a conclusão da idéia).
Pensamento - Conteúdo: inclui as crenças da pessoa e o que é discutido durante a
entrevista. Estes podem ser idéias intrusivas angustiantes (pensamento obsessivo),
ruminações (pensamentos recorrentes), fobias. Idéias supervalorizadas, delírio,
grandiosidade, irradiação do pensamento, preocupações com o corpo (anorexia, bulimia),
ciúmes patológico também devem ser explorados. Uma pessoa deprimida pode ter idéias
de ruínas ("tudo está acabado") e desesperança. Idéias suicidas e homicidas devem ser
investigadas.
6.9 Juízo Crítico: É a capacidade para perceber e avaliar adequadamente a
realidade externa esepará-la dos aspectos do mundo interno ou subjetivo. Implica
separarsentimentos, impulsos e fantasias próprios, de sentimentos e impulsos de outras
pessoas. Refere-se, ainda, à possibilidade de auto avaliar-se adequadamente e ter uma
visão realista de si mesmo, suas dificuldades e suas qualidades. A capacidade de
julgamento é necessária para todas as decisões diárias, para estabelecer prioridades e
prever conseqüências.
Os distúrbios do julgamento podem ser circunscritos a uma ou mais áreas, como
dinheiro ou sexualidade, mantendo as demais áreas adequadas.
O paciente pode apresentadas alterações como: falar coisas inapropriadas; ser
inconveniente; gastar mais do que pode; não medir conseqüências; não se dar conta da
gravidade da doença; não reconhecer limitações.
6.10 Conduta: São os comportamentos observáveis do indivíduo: comportamento
motor,atitudes, atos, gestos, tiques, impulsos, verbalizações, etc
Podem ser apresentadas as seguintes alterações: Inquietação, agitação
(hiperatividade, aumento de energia) ou retardo (hipoatividade, diminuição do interesse
por atividades, lentificação dos movimentos e da fala) psicomotores; agressividade,
sadismo, masoquismo; comportamento catatônico (ficar parado, sem qualquer movimento
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durante horas, mesmo em posição desagradável, podendo alternar-se com
hiperatividade), bizarro (fazer coisas absurdas ou estranhas, como revirar lixo)ou autista
(concentrado em si mesmo e independente do mundo ao seu redor); negativismo (fazer o
contrário do que é solicitado); tiques e cacoetes;comportamento histriônico (sentimentos
expressos de forma exagerada e dramática); risos imotivados; uso/abuso de álcool e
drogas, fissura (ou "craving", perda do controle em busca do uso de SPA), roubo,
vandalismo,exposição ao perigo; jogo, compras/gastos, comer compulsivos ou
excessivos;mesquinhez; anorexia; tentativa de suicídio, suicídio, homicídio; aumento ou
diminuição da atividade sexual, parafilias; tricotilomania; impulsividade;compulsões
(urgência irresistível de realizar um ato motor aparentemente sem motivo, repetitivo,
estereotipado, reconhecido como sem significado; rituais,limpeza e ordem exagerados,
evitações); somatizações, estados dissociativos (sintomas físicos persistentes sem
explicação plausível), estados de transe; dimuição das habilidades sociais (não se dar
conta que está se comportando mal em público), piora dos cuidados pessoais (higiene),
isolamento social(evitar encontros com amigos, familiares); aparência excêntrica
(diferente do seu grupo sociocultural, com roupas, ornamentos, postura ou trejeitos muito
discrepantes).
6.11 Linguagem É a maneira como a pessoa se comunica, verbal ou não
verbalmente, envolvendo gestos, olhar, expressão facial ou por escrito.
Podem ser encontradas na comunicação oral, escrita e mímica, espontânea ou em
resposta. Exemplos: disartria (dificuldade na articulação da palavra), gagueira, bradilalia
(falar muito devagar), taquilalia (falar muito rápido), ecolalia (repetir as últimas palavras do
interlocutor), afasia (não conseguir falar), logorréia (não parar de falar), mutismo (ficar
completamente quieto), vulgaridade (usar vocabulário de baixo calão), coprolalia (uso de
palavras obcenas); disgrafia (escrever palavras incorretamente); alterações da mímica
facial (ausência, exagero, tiques). Neologismos (invenção de palavras com significados
particulares para o paciente), salada de palavras e associação por rimas refletem um
processo de pensamento desgregado.
7. Funções psicofisiológicas
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7.1 Sono: Insônia inicial, terminal, ou no meio da noite; hipersonia;sonambulismo;
terror noturno; apnéia do sono; alterações do ciclo sono-vigília (SCO, Demência),
diminuição da necessidade de sono (Mania).
7.2 Apetite: Aumento ou diminuição, com ou sem alteração no peso (considerar
variações maiores que 5% do peso usual).
7.3 Sexualidade: diminuição ou aumento do desejo ou da excitação (depressão e
mania); incapacidade de atingir o orgasmo; parafilias; ejaculação precoce, retardada,
vaginismo.
Doenças.
ALCOOLISMO:
O alcoolismo diz respeito aos abusos e dependência de álcool, porém esse termo
não é utilizado pela maioria dos sistemas diagnósticos, como é o caso do DSM IV
(KAPLAN; SADOCK; GREBB, 2003).
Os transtornos relacionados ao álcool apontados pelo DSM IV são os seguintes
(KAPLAN; SADOCK; GREBB, 2003):
• Dependência de álcool.
• Abuso de álcool.
• Intoxicação com álcool.
• Abstinência de álcool.
• Transtorno amnéstico induzido por álcool.
• Transtorno psicótico induzido por álcool, com delírios.
• Transtorno psicótico induzido por álcool, com alucinações.
• Transtorno do humor induzido por álcool.
• Transtorno de ansiedade induzido por álcool,
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• Disfunção sexual induzida por álcool.
• Transtorno do sono induzido por álcool.
ESQUIZOFRENIA:
O início da Esquizofrenia tipicamente ocorre entre o final da adolescência e por
volta dos 35 anos, sendo raro o início antes da adolescência (embora haja relatos de
casos com início aos 5 ou 6 anos). Os aspectos essenciais da condição são os mesmos
em crianças, mas pode ser particularmente difícil fazer o diagnóstico neste grupo etário.
Em crianças, os delírios e alucinações podem ser menos elaborados do que aqueles
observados em adultos, e as alucinações visuais podem ser mais comuns.
A Esquizofrenia também pode começar mais tarde (por ex., após os 45 anos). Os
casos de aparecimento tardio tendem a ser similares à Esquizofrenia de início mais
precoce, exceto por uma proporção maior de mulheres, uma melhor história ocupacional e
maior freqüência de casamentos. A apresentação clínica tende mais a incluir delírios e
alucinações paranóides, sendo menos propensa a incluir sintomas desorganizados e
negativos. O curso geralmente é crônico, embora os indivíduos freqüentemente
respondam bastante bem aos medicamentos antipsicóticos em doses menores.
A Esquizofrenia envolve disfunção em uma ou mais áreas importantes do
funcionamento (por ex., relações interpessoais, trabalho, educação ou higiene).
SINAIS E SINTOMAS
Os aspectos essenciais da Esquizofrenia são um misto de sinais e sintomas
característicos (tanto positivos quanto negativos) que estiveram presentes por um período
de tempo significativo durante 1 mês (ou por um tempo menor, se tratados com sucesso),
com alguns sinais do transtorno persistindo por pelo menos 6 meses.
Esses sinais e sintomas estão associados com acentuada disfunção social ou
ocupacional. A perturbação não é melhor explicada por um Transtorno Esquizoafetivo ou
Transtorno do Humor com Características Psicóticas nem se deve aos efeitos fisiológicos
diretos de uma substância ou de uma condição médica geral.
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Em indivíduos com um diagnóstico prévio de Transtorno Autista (ou outro
Transtorno Invasivo do Desenvolvimento), o diagnóstico adicional de Esquizofrenia aplica-
se apenas se delírios ou alucinações proeminentes estão presentes por pelo menos 1
mês.
Os sintomas característicos de Esquizofrenia envolvem uma faixa de disfunções
cognitivas e emocionais que acometem a percepção, o pensamento inferencial, a
linguagem e a comunicação, o monitoramento comportamental, o afeto, a fluência e
produtividade do pensamento e do discurso, a capacidade hedônica, a volição, o impulso
e a atenção. O diagnóstico envolve o reconhecimento de uma constelação de sinais e
sintomas associados com prejuízo no funcionamento ocupacional ou social.
Os sintomas característicos podem ser conceitualizados como enquadrando-se em
duas amplas categorias — positivos e negativos. Os sintomas positivos parecem refletir
um excesso ou distorção de funções normais, enquanto os sintomas negativos parecem
refletir uma diminuição ou perda de funções normais.
• Os sintomas positivos incluem distorções ou exageros do pensamento inferencial
(delírios), da percepção (alucinações), da linguagem e comunicação (discurso
desorganizado) e do monitoramento comportamental (comportamento amplamente
desorganizado ou catatônico). Esses sintomas positivos podem compreender duas
dimensões distintas, que, por sua vez, podem estar relacionadas a diferentes
mecanismos neurais e correlações clínicas subjacentes: a "dimensão psicótica" inclui
delírios e alucinações, enquanto a "dimensão da desorganização" inclui o discurso e
comportamento desorganizados.
• Os sintomas negativos incluem restrições na amplitude e intensidade da expressão
emocional (embotamento do afeto), na fluência e produtividade do pensamento
(alogia) e na iniciação de comportamentos dirigidos a um objetivo (avolição).
OBS: Os medicamentos neurolépticos freqüentemente produzem efeitos colaterais
extrapiramidais que se assemelham muito ao embotamento afetivo ou à avolição. A
distinção entre os verdadeiros sintomas negativos e os efeitos colaterais de
medicamentos depende de um discernimento clínico envolvendo a gravidade dos
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sintomas negativos, a natureza e tipo de medicamento neuroléptico, os efeitos de um
ajuste da dosagem e os efeitos de medicamentos anticolinérgicos.
Delírios:
Os delírios são crenças errôneas, habitualmente envolvendo a interpretação falsa
de percepções ou experiências. Seu conteúdo pode incluir uma variedade de temas (por
ex., persecutórios, referenciais, somáticos, religiosos, ou grandiosos). Os delírios
persecutórios são os mais comuns; neles a pessoa acredita estar sendo atormentada,
seguida, enganada, espionada ou ridicularizada.
Embora os delírios bizarros sejam considerados especialmente característicos da
Esquizofrenia, pode ser difícil avaliar o grau de "bizarria", especialmente entre diferentes
culturas. Os delírios são considerados bizarros se são claramente implausíveis e
incompreensíveis e não derivam de experiências comuns da vida. Um exemplo de delírio
bizarro é a crença de uma pessoa de que um estranho retirou seus órgãos internos e os
substituiu pelos de outra, sem deixar quaisquer cicatrizes ou ferimentos. Um exemplo de
delírio não-bizarro é a falsa crença de estar sob vigilância policial.
Alucinações:
As alucinações podem ocorrer em qualquer modalidade sensorial (por ex.,
auditivas, visuais, olfativas, gustativas e táteis), mas as alucinações auditivas são, de
longe, as mais comuns e características da Esquizofrenia, sendo geralmente
experimentadas como vozes conhecidas ou estranhas, que são percebidas como
distintas dos pensamentos da própria pessoa. O conteúdo pode ser bastante variável,
embora as vozes pejorativas ou ameaçadoras sejam especialmente comuns.
As alucinações devem ocorrer no contexto de um sensório claro; aquelas que
ocorrem enquanto o indivíduo adormece (hipnagógicas) ou desperta (hipnopômpicas)
são consideradas parte da faixa de experiências normais. Experiências isoladas de ouvir
o próprio nome sendo chamado ou experiências que não possuem a qualidade de uma
percepção externa (por ex., zumbidos na própria cabeça) também não são consideradas
alucinações características da Esquizofrenia.
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OBS: As alucinações podem ser também um componente normal de uma experiência
religiosa, em certos contextos culturais.
Desorganização do pensamento:
A desorganização do pensamento ("transtorno do pensamento formal",
"afrouxamento de associações") é defendida por alguns autores como o aspecto mais
importante da Esquizofrenia.
O discurso dos indivíduos com Esquizofrenia pode ser desorganizado de variadas
maneiras. A pessoa pode "sair dos trilhos", saltando de um assunto para outro
("descarrilamento" ou "associações frouxas"); as respostas podem estar obliquamente
relacionadas ou não ter relação alguma com as perguntas ("tangencialidade"); raramente,
o discurso pode estar desorganizado de forma tão severa, que é praticamente
incompreensível e se assemelha à afasia receptiva em sua desorganização linguística
(“incoerência”, salada de palavras”).
Um comportamento amplamente desorganizado pode manifestar-se de variadas
maneiras, indo desde o comportamento tolo e pueril até a agitação imprevisível. Podem
ser notados problemas em qualquer forma de comportamento dirigido a um objetivo,
acarretando dificuldades no desempenho de atividades da vida diária, tais como
organizar as refeições ou manter a higiene.
A pessoa pode parecer mostrar-se acentuadamente desleixada, vestir-se de modo
incomum (por ex., usar casacos sobrepostos, cachecóis e luvas em um dia quente), pode
exibir um comportamento sexual nitidamente inadequado (por ex., masturbar-se em
público) ou uma agitação imprevisível e sem um desencadeante (por ex, gritar ou
praguejar).
O comportamento muito desorganizado deve ser diferenciado de um
comportamento meramente desprovido de objetivos e do comportamento organizado
motivado por crenças delirantes. Similarmente, alguns casos de comportamento inquieto,
irado ou agitado não devem ser considerados evidência de Esquizofrenia, especialmente
se a motivação for compreensível.
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Comportamentos motores catatônicos:
Os comportamentos motores catatônicos incluem uma diminuição acentuada na
reatividade ao ambiente, às vezes alcançando um grau extremo de completa falta de
consciência (estupor catatônico), manutenção de uma postura rígida e resistência aos
esforços de mobilização (rigidez catatônica), resistência ativa a instruções ou tentativas
de mobilização (negativismo catatônico), adoção de posturas inadequadas ou bizarras
(postura catatônica), ou excessiva atividade motora sem propósito e não estimulada
(excitação catatônica).
Embora a catatonia tenha sido historicamente associada à Esquizofrenia, o clínico
não deve esquecer que os sintomas catatônicos são inespecíficos e podem ocorrer em
outros transtornos mentais (ver Transtornos do Humor com Características Catatônicas),
em condições médicas gerais (ver Transtorno Catatônico Devido a uma Condição Médica
Geral) e Transtornos do Movimento Induzidos por Medicamentos (ver Parkinsonismo
Induzido por Neurolépticos).
Subtipos
O diagnóstico de um determinado subtipo está baseado no quadro clínico que
ocasionou a avaliação ou admissão mais recente para cuidados clínicos, podendo,
portanto, mudar com o tempo. Critérios específicos são oferecidos para cada um dos
seguintes subtipos:
Tipo Paranóide: há a preocupação com um ou mais delírios ou alucinações auditivas
freqüentes. Nenhum dos seguintes sintomas é proeminente: discurso desorganizado,
comportamento desorganizado ou catatônico, ou afeto embotado ou inadequado.
Tipo Desorganizado: todos os seguintes sintomas são proeminentes: discurso
desorganizado, comportamento desorganizado e afeto embotado ou inadequado.
Tipo Catatônico: há imobilidade motora evidenciada por cataplexia (incluindo
flexibilidade cérea ou estupor), atividade motora excessiva (aparentemente desprovida de
propósito e não influenciada por estímulos externos), extremo negativismo (uma
resistência aparentemente sem motivo a toda e qualquer instrução, ou manutenção de
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uma postura rígida contra tentativas de mobilização) ou mutismo, peculiaridades do
movimento voluntário evidenciadas por posturas (adoção voluntária de posturas
inadequadas ou bizarras, movimentos estereotipados, maneirismos proeminentes ou
trejeitos faciais proeminentes), ecolalia ou ecopraxia.
TRANSTORNOS DEPRESSIVOS .
O Transtorno Depressivo Maior se caracteriza por um ou mais Episódios
Depressivos Maiores (isto é, pelo menos 2 semanas de humor deprimido ou perda de
interesse, acompanhados por pelo menos quatro sintomas adicionais de depressão).
Critérios Diagnósticos para Transtorno Depressivo Maior, Episódio Único
A. Presença de um único Episódio Depressivo Maior .
B. O Episódio Depressivo Maior não é melhor explicado por um Transtorno Esquizoafetivo
nem está sobreposto a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno Delirante
ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.
C. Jamais houve um Episódio Maníaco , um Episódio Misto ou um Episódio Hipomaníaco.
Critérios Diagnósticos para Transtorno Depressivo Maior, Recorrente
A. Presença de dois ou mais Episódios Depressivos Maiores
Nota: Para serem considerados episódios distintos, deve haver um intervalo de pelo
menos 2 meses consecutivos durante os quais não são satisfeitos os critérios para
Episódio Depressivo Maior.
B. Os Episódios Depressivos Maiores não são melhor explicados por Transtorno
Esquizoafetivo nem estão sobrepostos a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme,
Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.
C. Jamais houve um Episódio Maníaco, um Episódio Misto ou um Episódio Hipomaníaco.
Nota: Esta exclusão não se aplica se todos os episódios tipo maníaco, tipo misto ou tipo
hipomaníaco são induzidos por substância ou tratamento ou se devem aos efeitos
fisiológicos diretos de uma condição médica geral.
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TRANSTORNOS DE ANSIEDADE
A Ansiedade no DSM IV é subdividida em:
Agorafobia
Ataque de Pânico
Transtorno de Pânico Sem Agorafobia
Transtorno de Pânico Com Agorafobia
Agorafobia Sem História de Transtorno de Pânico
Fobia Específica
Fobia Social
Transtorno Obsessivo-Compulsivo
Transtorno de Estresse Pós-Traumático
Transtorno de Estresse Agudo
Transtorno de Ansiedade Generalizada
Transtorno de Ansiedade Devido a uma Condição Médica Geral
Transtorno de Ansiedade Induzido por Substância
Transtorno de Ansiedade Sem Outra Especificação.
Ataques de Pânico e Agorafobia ocorrem no contexto de diversos outros transtornos.
Um Ataque de Pânico é representado por um período distinto no qual há o início
súbito de intensa apreensão, temor ou terror, freqüentemente associados com
sentimentos de catástrofe iminente. Durante esses ataques, estão presentes sintomas tais
como falta de ar, palpitações, dor ou desconforto torácico, sensação de sufocamento e
medo de "ficar louco" ou de perder o controle.
A Agorafobia é a ansiedade ou esquiva a locais ou situações das quais poderia
ser difícil (ou embaraçoso) escapar ou nas quais o auxílio poderia não estar disponível, no
caso de ter um Ataque de Pânico ou sintomas tipo pânico.
O Transtorno de Pânico Sem Agorafobia é caracterizado por Ataques de Pânico
inesperados e recorrentes acerca dos quais o indivíduo se sente persistentemente
preocupado.
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O Transtorno de Pânico Com Agorafobia caracteriza-se por Ataques de Pânico
recorrentes e inesperados e Agorafobia.
A Agorafobia Sem História de Transtorno de Pânico caracteriza-se pela
presença de Agorafobia e sintomas característicos de ataques de pânico sem uma
história de Ataques de Pânico inesperados.
A Fobia Específica caracteriza-se por ansiedade clinicamente significativa
provocada pela exposição a um objeto ou situação específicos e temidos, freqüentemente
levando ao comportamento de esquiva.
A Fobia Social caracteriza-se por ansiedade clinicamente significativa provocada
pela exposição a certos tipos de situações sociais ou de desempenho, freqüentemente
levando ao comportamento de esquiva.
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo: As características essenciais do
Transtorno Obsessivo-Compulsivo são obsessões ou compulsões recorrentes
suficientemente severas para consumirem tempo (isto é, consomem mais de uma hora
por dia) ou causar sofrimento acentuado ou prejuízo significativo.
Em algum ponto durante o curso do transtorno, o indivíduo reconheceu que as
obsessões ou compulsões são excessivas ou irracionais. Em presença de outro
transtorno do Eixo I, o conteúdo das obsessões ou compulsões não se restringe a ele. A
perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga
de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral.
As obsessões são idéias, pensamentos, impulsos ou imagens persistentes, que são
vivenciados como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou
sofrimento. A qualidade intrusiva e inadequada das obsessões é chamada de "ego-
distônica".*
O termo refere-se ao sentimento do indivíduo de que o conteúdo da obsessão é
estranho, não está dentro de seu próprio controle nem é a espécie de pensamento que
ele esperaria ter. Entretanto, ele é capaz de reconhecer que as obsessões são produto de
sua própria mente e não impostas a partir do exterior (como na inserção de pensamento).
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As obsessões mais comuns são pensamentos repetidos acerca de contaminação (por
ex., ser contaminado em apertos de mãos), dúvidas repetidas (por ex., imaginar se foram
executados certos atos, tais como ter machucado alguém em um acidente de trânsito ou
ter deixado uma porta destrancada), uma necessidade de organizar as coisas em
determinada ordem (por ex., intenso sofrimento quando os objetos estão desordenados
ou assimétricos), impulsos agressivos ou horrorizantes (por ex., de machucar o próprio
filho ou gritar uma obscenidade na igreja) e imagens sexuais (por ex., uma imagem
pornográfica recorrente).
Os pensamentos, impulsos ou imagens não são meras preocupações excessivas
acerca de problemas da vida real (por ex., preocupação com dificuldades atuais, como
problemas financeiros, profissionais ou escolares) e não tendem a estar relacionados a
um problema da vida real.
O indivíduo com obsessões em geral tenta ignorar ou suprimir esses pensamentos ou
impulsos ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação (isto é, uma compulsão).
Um indivíduo assaltado por dúvidas acerca de ter desligado o gás do fogão, por exemplo,
procura neutralizá-las verificando repetidamente para assegurar-se de que o fogão está
desligado.
As compulsões são comportamentos repetitivos (por ex., lavar as mãos, ordenar,
verificar) ou atos mentais (por ex., orar, contar, repetir palavras em silêncio) cujo objetivo
é prevenir ou reduzir a ansiedade ou sofrimento, ao invés de oferecer prazer ou
gratificação. As apresentações do Transtorno Obsessivo-Compulsivo em crianças
geralmente são similares àquelas da idade adulta. Lavagens, verificação e rituais de
organização são particularmente comuns em crianças. As crianças em geral não solicitam
ajuda, e os sintomas podem não ser ego-distônicos.*
* Pensamentos ego-distônicos são aqueles percebidos como intrusivos, como algo
que não é próprio.
O Transtorno de Estresse Pós-Traumático caracteriza-se pela revivência de um
evento extremamente traumático, acompanhada por sintomas de excitação aumentada e
esquiva de estímulos associados com o trauma. P.ex. Um determinado sujeito não
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conseguir chegar perto de piscinas e lagos, mar, uma vez que no passado presenciou um
afogamento fatal de um familiar.
O Transtorno de Estresse Agudo caracteriza-se por sintomas similares àqueles do
Transtorno de Estresse Pós-Traumático, ocorrendo logo após um evento extremamente
traumático.
O Transtorno de Ansiedade Generalizada caracteriza-se por pelo menos 6 meses
de ansiedade e preocupação excessivas e persistentes.
7. Possibilidades de atendimento institucional.
“O ser humano antes de ser pessoa é sempre um grupo, mas não no sentido de
que pertence a um grupo, e sim no de que sua personalidade é o grupo” (BLEGER, 1980,
p. 97 apud ANACLETO; ANACLETO; PEREIRA, 2005).
A Psicologia institucional para Bleger não é um mero campo de atuação, o mais
importante é que é um campo de investigação. Para este autor a partir da análise da
prática psicológica nas instituições pode-se investigar os fenômenos que envolvem cada
um dos problemas e situações que são trabalhadas nessa prática. Assim, a ciência teria
como base a prática.
Para este autor o diagnóstico, planejamento, bem como uma proposta de
intervenção dentro de uma instituição devem considerá-la como um todo, ou seja, desde
aspectos físicos a aspectos humanos que constituem tal instituição. Além disso, o
psicólogo institucional deve ter claro que é preciso ultrapassar os objetivos das pessoas
que lhe contratam (equipe administrativa) e chegar aos seus objetivos de trabalho
também através dos sintomas que são identificados durante o diagnóstico institucional.
O psicólogo institucional deve ter como base a atividade humana dentro da
instituição, mas para isso deve ter informações sobre a instituição que está inserido.
Alguns pontos devem ser pesquisados, a saber: situação e objetivos da instituição, onde
ela está localizada e como se relaciona com a comunidade em volta, como está
organizada e quais são suas normas, como e onde foi fundada, como se relaciona com
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outras instituições, seus resultados e como ela própria obtém dados do seu desempenho,
informações sobre as pessoas que trabalham na instituição (quem são, quantos, etc.).
Bleger afirma que o psicólogo deve ter ações relativas à psico-higiene, isto é,
visando a população sadia e a promoção de saúde. Ele vai intervir nos relacionamentos
interpessoais, vai explicitar o que muitas vezes está implícito.
Segundo o autor anteriormente referido deve-se lançar mão da “indagação
operativa”, a qual compreende a observação dos fatos, seus detalhes e seqüência
temporal; compreensão dos acontecimentos e de como eles se relacionam; uso dessa
compreensão para fazer apontamentos, interpretações e reflexões.
Para Bleger o psicólogo é um catalisador, um “depositário de conflitos” e isso pode
fazer com que a instituição haja no sentido de anular suas ações. Ele deve ter claro que
isso acontece e tentar modificar os mecanismos utilizados pela instituição.
8. Saúde mental e trabalho: estruturas de personalidade, natureza e causa dos
distúrbios, mecanismos de ajustamento; transtornos mentais e do comportamento
relacionados ao trabalho; atendimento em psicoterapia individual e de grupo.
São apresentadas a seguir algumas teorias que tratam das estruturas da
personalidade:
Toda a teoria de Freud está baseada no pressuposto de que o corpo é a fonte
básica de toda a experiência mental. E afirmou que não há descontinuidade nos eventos
mentais, isto é, estes, conscientes ou não, são influenciados por fatos que os precederam
no passado, são ligados uns aos outros. A esse pressuposto foi denominado o termo
Determinismo Psíquico.
Em sua primeira explanação (Primeira Tópica) sobre o estado da consciência,
Freud interessou-se também em suas áreas menos expostas, as quais ele chamou de
inconsciente e pré-consciente.
Primeira Tópica: Primeiro Modelo do Aparelho Psíquico
Inconsciente: parte do funcionamento mental que deposita os desejos instintivos e
necessidades e ações fisiológicas. Para Freud, ao longo da vida do sujeito, o inconsciente
torna-se um depósito para idéias sociais inaceitáveis, memórias traumáticas e emoções
dolorosas colocadas fora da mente pelo mecanismo da repressão psicológica. Na visão
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psicanalítica, o inconsciente se expressa no sintoma. Pensamentos inconscientes não são
diretamente acessíveis por uma ordinária introspecção, mas podem ser interpretados por
métodos especiais e técnicas como a livre-associação, análise de sonhos e atos falhos
presentes na fala, examinados e conduzidos durante o processo analítico.
Consciente: é através dele que se dá o contato com o mundo exterior. Inclui sensações e
experiências das quais há a percepção a cada momento. Freud não considerava este
aspecto da vida mental o mais importante uma vez que há uma pequena parte de nossos
pensamentos, sensações e lembranças perceptíveis todo o tempo.
Pré-consciente: é a parte situada entre o consciente e o inconsciente. Parte do
inconsciente que pode se tornar consciente com facilidade, na medida em que a
consciência precisa de lembranças para desempenhar suas funções. (P. ex: nome de
pessoas, datas importantes, endereços, entre outros).
Pulsões (trieb) ou instintos (instinkt)
Pulsão (em alemão: trieb): “processo dinâmico que consiste numa pressão ou
força (carga energética, fator de motricidade) que faz tender o organismo para um alvo.”
Instinto (em alemão: instinkt): “esquema de comportamento herdado, próprio de uma
espécie animal, que pouco varia de um indivíduo para outro, que se desenrola segundo
uma seqüência temporal pouco suscetível de alterações, e que parece corresponder a
uma finalidade” (LaPlanche e Pontalis, 1975).
Os instintos básicos foram divididos por Freud em duas forças antagônicas,
representadas pelos instintos de vida (responsáveis pela sobrevivência do indivíduo e da
espécie) e pelos instintos de morte (agressivos e destrutivos).
Por estes instintos, uma energia pode fluir, fazendo com que uma satisfação
instintual possa ser substituída por outra e se submeter a adiamentos. O mecanismo
instintual é complexo. Segundo Freud: “Os instintos sexuais fazem-se notar por sua
plasticidade, sua capacidade de alterar suas finalidades, sua capacidade de se
substituírem, que permite uma satisfação instintual ser substituída por outra, e por sua
possibilidade de se submeterem a adiamentos...” ( 1933, livro 28, Ed. Bras.)
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Impulso: Energia que possui uma origem interna, situada entre o corpo (somático), isto é,
em uma região deste corpo onde nasce uma excitação e o psíquico.
Libido: impulsos sexuais e impulsos de autoconservação. Os primeiros são os
responsáveis pela manutenção da vida da espécie e estão relacionados à reprodução, já
os segundos são os responsáveis pela manutenção da vida do indivíduo (comer, beber,
dormir, etc).
Catexia do objeto: processo de investimento da energia libidinal, em idéias, pessoas,
objetos. A mobilidade original da libido é perdida quando há a catexia voltada para um
determinado objeto. A catexia está relacionada aos sentimentos de amor, ódio, raiva, que
podem ser relacionados aos objetos. O luto, no qual pode haver um desinteresse por
parte do indivíduo pelas ocupações normais e a preocupação com o recente finado pode
ser interpretado neste sentido, como uma retirada de libido dos relacionamentos habituais
e cotidianos e uma extrema catexia da pessoa perdida.
Princípio do Prazer / Processo primário: Explicado pelo mecanismo psíquico em que
os impulsos agem no sentido de busca de prazer e evita o desprazer (prazer causado
pela redução da tensão, desprazer causado pelo acúmulo de tensão produzida no interior
do aparelho psíquico). Este princípio rege as primeiras experiências da vida de um bebê
recém-nascido, tendo como característica central a ausência de contradição, não leva em
conta a realidade. Freud nominou este funcionamento de processos mentais primários.
Há satisfações alucinatórias neste período, em que o bebê na ausência do objeto de
satisfação tem uma revivescência perceptiva de algo que proporcionou prazer no
passado.
Princípio de Realidade / Processo secundário: As experiências pelas quais o bebê vai
passando, fazem com que esse sujeito passe a considerar a realidade para que suas
satisfações sejam obtidas sem que a alucinação seja o meio de alcançá-las. A satisfação
passa a considerar adiamentos e atrasos, porém desta maneira se mostra mais segura e
provoca menor risco para a integridade do indivíduo. Este mecanismo foi denominado
processo secundário e co-existe ao lado dos processos primários, isto é, um processo
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não substitui o outro, os dois formam um complexo mecanismo de funcionamento
psíquico.
Fantasia: Modo de pensar inconsciente que não leva em conta a realidade. Está presente
nas brincadeiras infantis, sonhos, sintomas neuróticos. É regida pelo processo primário.
Pulsão de Vida: Freud reformulou sua teoria sobre os impulsos. Aglutina todos eles em
Pulsão de Vida (Eros) e Pulsão de Morte (Thânatos). Os impulsos de autoconservação e
os impulsos sexuais, responsáveis pela preservação da vida e da espécie, passam a
fazer parte da pulsão de vida, porém esta não se resume à atividades vitais mas também
à atividades que levam o sujeito a construir (p.ex.: união com outros indivíduos, estudo,
trabalho, etc).
Pulsão de Morte – compulsão à repetição: Freud ao analisar sonhos, percebeu que
eventos desagradáveis, como lembranças de guerra, poderiam ser constantemente
repetidos. Freud irá então reformular sua teoria das pulsões, antes dividida em impulsos
de autoconservação e impulsos sexuais. Explica que repetições, em sonhos ou mesmo
em atos, pudessem ser fruto do que ele chamou de pulsão de morte e estas estariam em
contradição com o princípio do prazer que rege as pulsões de vida. O impulso de morte
estaria presente no interior da vida psíquica dos indivíduos (sob a forma de
autodestruição, masoquismo, etc.), podendo ser projetado para o mundo externo sob a
forma de agressividade, destruição, sadismo, entre outras.
Segunda Tópica: Segundo Modelo do Aparelho Psíquico
Freud a fim de apreender a complexidade do dinamismo do aparelho psíquico
reelaborou a sua concepção sobre a estrutura da personalidade. Entretanto, a primeira
concepção (aparelho dividido em cs, ics e pré-cs) não foi abandonada, ela foi integrada à
nova concepção. Tal concepção foi denominada 2ª tópica. Nesta, a personalidade é
dividida em três partes que mantém relações mútuas entre si. São elas o ID, o EGO e o
SUPEREGO.
Id: (“es” em alemão, é a forma latina do pronome neutro “isto”). Refere-se à parte
inacessível da personalidade. Corresponde ao conceito inicial de inconsciente, apesar de
também o ego e o superego possuírem aspectos inconscientes. Além disso, o ID é o
reservatório dos instintos (tanto de vida quanto de morte) e da energia libidinal e é ele que
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fornece e satisfaz as exigências do Ego e do Superego, fornecendo toda a energia para
eles. Apesar de seus conteúdos serem quase todos inconscientes, o Id tem o poder de
agir na vida mental de um indivíduo.
Características do Id
• Caótico e Desorganizado. As leis lógicas do pensamento não se aplicam a ele.
Impulsos contraditórios coexistem lado a lado, sem que um anule ou diminua o
outro.
• Atemporal: Fatos que ocorreram no passado convivem paralelamente e sem
desvantagem de intensidade, com relação a fatos que ocorreram recentemente.
• É orientado pelo princípio do prazer, isto é, seu objetivo é reduzir a tensão sem
levar em consideração os atrasos, adiamentos e o outro. Não leva em conta a
realidade. Assim é regido pelo processo primário, em que as satisfações são
obtidas por meio de atos reflexos e fantasias.
Ego: Segundo Freud, o Ego é desenvolvido com o passar da vida do indivíduo. Parte do
ID que passa a ser influenciada pelo mundo externo, e que passa a funcionar como uma
defesa protetora contra o que ameaça a vida psíquica. É regido segundo o processo
secundário, onde predominam a realidade e a razão. Tem por objetivo ajudar o Id a
satisfazer suas pulsões, porém de forma racional, planejada, escolhendo lugares, objetos
e momentos socialmente aceitos.
É receptivo tanto às excitações internas quanto externas ao indivíduo. Os investimentos
libidinais, embora oriundos do Id passam necessariamente pelo Ego.
Embora muitas características do Ego coincidam com o consciente muitos conteúdos
inconscientes também o compõe. É o caso dos mecanismos de defesa, instrumentos do
Ego para lidar com a tensão emanada pelo Id.
O ego portanto exerce função de síntese, contato e defesa.
Superego (Ideal do Ego e Ego-Ideal): Forma-se a partir do Ego. Exerce função crítica e
normativa e também de formação de ideais. Forma-se a partir do declínio do Complexo de
Édipo, a partir da interiorização das imagens idealizadas dos pais. Age conscientemente e
também inconscientemente. Restrições inconscientes são indiretas podendo aparecer sob
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a forma de compulsões e proibições. É o responsável pela auto-estima, consciência moral
e sentimentos de culpa. Em relação ao Ego pode-se dizer que o superego age como
modelo e obstáculo. Modelo com relação ao ideal, obstáculo, com relação ao proibido.
Ansiedade: Provocada por um aumento de tensão ou desprazer desencadeado por um
evento real ou imaginário. Traz uma ameaça para o Ego. Exemplo de estressores que
podem levar à ansiedade: perda de um objeto desejado, perda de amor (rejeição), perda
de identidade (prestígio), perda da auto-estima (desaprovação do superego que resultam
em culpa ou ódio em relação a si mesmo).
Mecanismos de defesa do Ego: O ego muitas vezes não consegue lidar com as
demandas do Id e com a cobranças do superego. Quando isto acontece, provocando
ansiedade, alguns mecanismos de defesa aparecem.
Vejamos agora alguns mecanismos de defesa:
Sublimação: Defesa bem sucedida contra a ansiedade, pois ele diminui a tensão. O
aumento de tensão ou desprazer é desviado para outros canais de expressão
socialmente aceitáveis como, por exemplo, a criação artística.
Mecanismos de defesa patogênicos: Defesas que não eliminam a tensão apenas a
encobrem. O ego protege o indivíduo inconscientemente, através de distorções da
realidade. Por outro lado não possibilitam um conhecimento real sobre os desejos,
medos e necessidades. São eles:
Recalcamento: Por força de um contra-investimento, um ato psíquico ou uma idéia é
excluído da consciência e jogado para o inconsciente. Por exemplo, esquecimento de
fatos traumáticos acontecidos na infância (ato violência, acidente, entre outros). Fatos
que só são acessados através da análise ou sonhos.
Repressão: Mecanismo consciente, que atua como censura. A moral do sujeito está
ligada a este mecanismo. Envolve a não-percepção, a consciência de algo que traz
constrangimento ou sofrimento. Pode atuar nas lembranças, na percepção do presente
(p. ex. não percebendo algo da realidade: no caso da morte de alguém pelo qual um
sujeito tinha sentimentos de amor e ódio. Na ocasião de seu falecimento os sentimentos
tanto de hostilidade quanto de perda podem não ser percebidos e este sujeito pode
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mostrar-se indiferente.) e até mesmo no funcionamento do corpo ( p. ex.: Uma mulher
pode reprimir tanto um desejo sexual que pode chagar a tornar-se frígida).
Negação: Está relacionado à repressão. O sujeito nega a existência de alguma ameaça
ou evento traumático ocorrido. Por exemplo: negação de um diagnóstico grave, negação
da iminência de morte de um ente querido, negação de algo que aconteceu no passado,
fantasia de que alguns fatos não ocorreram ou não “foi bem assim”.
Racionalização: Redefinição da realidade. Processo de colocar motivos aceitáveis para
atos ou idéias inaceitáveis. Culpar um objeto por falhas pessoais ao invés de culpar-se a
si mesmo. Por exemplo: dar explicações racionais para a perda de um emprego ou
relacionamento convencendo-se de que estes objetos perdidos possuíam defeitos.
Formação Reativa: Inversão da realidade. O impulso é cada vez mais ocultado. Um
sentimento contrário é colocado no lugar de outro para disfarçá-lo. Por exemplo, atribuir
repugnância e nojo ao sexo, quando os impulsos sexuais não podem ser satisfeitos.
Impulsos agressivos podem dar lugar a comportamentos solícitos e amigáveis.
Isolamento: Uma idéia ou ato sofre o rompimento de suas conexões com outras idéias e
pensamentos. O fato isolado passa a receber pouca ou nenhuma reação emocional,
como se eles tivessem relacionados a outro sujeito. Fatos podem ser relatados sem
sentimento quando um sujeito fala de conteúdos que foram isolados de sua
personalidade. P. ex.: um sujeito fala sobre traição conjugal, demonstrando compreensão
e indiferença ao assunto, enquanto no passado este sujeito já passou por uma situação
de traição conjugal, na qual houve sofrimento.
Projeção: Colocar algo do mundo interno no mundo externo. Desejos, intenções e
sentimentos que são ignorados em si mesmo são atribuídos a outras pessoas, objetos ou
animais. P. ex.: Um pai pode dizer ao seu filho que este não cumpre suas tarefas, que
este não será bem-sucedido, que este não tem aprovação dos outros, quando na verdade
este sentimento é para com ele mesmo.
Regressão: Escapar da realidade. Retorno do sujeito a etapas de desenvolvimento
anterior, que foram mais agradáveis, com menos frustração e ansiedade. Exemplo: falar
como criança, destruir propriedades, roer unhas, por o dedo no nariz, vestir-se como
criança, dirigir rápida e imprudentemente, entre outros.
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Deslocamento: Acontece quando o objeto que satisfazia um impulso do Id não está
presente. A pessoa então desloca este impulso para outro objeto. Por exemplo: gritar com
um cachorro, quando a tensão foi provocada por um outro estressor, ou bater numa
criança quando uma agressividade não pode ser expressada em direção ao fator
desencadeante.
Neurose: Os mecanismos de defesa contra a ansiedade podem ser encontrados em
indivíduos saudáveis, porém quando estão fortemente associados e trazem dificuldades
sociais caracterizam-se enquanto neuroses. Por exemplo: fobias, transtorno obsessivo-
compulsivo (TOC), histeria, entre outros.
Freud revelou a presença de uma sexualidade infantil. Seria esta a responsável
pela compreensão de toda a vida psíquica posterior na fase adulta. Através de suas
observações ele categorizou o desenvolvimento infantil em fases psicossexuais do
desenvolvimento.
O corpo é cercado de regiões (zonas) erógenas que sob estimulação provocam
sensações prazerosas. Ao nascer o bebê vai descobrindo tais áreas através da
estimulação. Freud associou a satisfação através desta estimulação à fases de
desenvolvimento infantil. São elas: fase oral, fase anal, fase fálica, fase genital, período
de latência e fase genital.
O termo fixação foi designado para descrever um estado em que parte da libido
permanece investida em uma das fases psicossexuais, devido à uma frustração na fase
atual ou satisfação excessiva na fase anterior.
Fase Oral: A primeira zona erógena é a boca, língua e mais tarde dentes, estimulada
através da amamentação e do seio materno. Além disso, ao ser amamentada, a criança é
também confortada, acalentada e acariciada. A boca neste momento é a única parte do
corpo que a criança pode controlar. A fase oral desenvolvida tardiamente pode incluir a
gratificação de instintos agressivos com o uso dos dentes para morder o seio.
Fase Anal: Por volta dos dois anos de idade a criança aprende a controlar os esfíncteres
anais e a bexiga. A obtenção deste controle fisiológico provoca sensações de prazer.
Além disso, as crianças vão percebendo que este controle pode ser alvo de elogios e
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atenção por parte dos pais. Acontece, porém, que a criança pode perceber que ir ao
banheiro é algo “sujo” e traz repugnância, uma vez que hábitos de higiene são treinados
cercando esta zona erógena de tabus e proibições.
Fase Fálica: Acontece quando as crianças se dão conta da diferença sexual. As meninas
se dão conta da falta de um pênis, enquanto os meninos se dão conta da presença de
um. O foco do prazer deixa de ser o ânus e passa a ser o genital. As crianças
demonstram interesse em explorar e manipular esses genitais. Dúvidas e fantasias
aparecem, como por exemplo, por que as meninas não tem pênis, se elas conseguem
urinar, etc. O pai e a mãe passam a ser objetos de curiosidade e interesse também.
Podem manifestar ciúmes da atenção dada um pelo outro no casal, é comum que
brinquem ou perguntar se podem se casar com os pais. Neste momento, frente aos
desejos incestuosos e à masturbação, a realidade e a moral colocada pelos pais entram
em conflito com os impulsos do Id. Nesta fase aparece o conflito de substituir os pais e a
rivalidade contra aquele que “está tomando o seu lugar”. Este conflito foi denominado por
Freud de Complexo de Édipo, inspirado no mito grego do Édipo Rei, de Sófocles no séc.
V antes de Cristo. O jovem Édipo, sem saber de quem era filho realmente, mata o pai e se
casa com a mãe, mais tarde quando descobre a verdade, ele próprio arranca seus dois
olhos.
Complexo de Édipo – A Lei, a Castração:
O Complexo de Édipo acontece diferentemente para as meninas e meninos. Freud
explicou o Complexo de Édipo masculino mais detalhamente, de forma parecida com o
que acontece no mito do Édipo rei. Para o menino, que deseja estar próximo de sua mãe,
o pai aparece como um rival. Ao mesmo tempo ele também deseja o amor e afeição de
seu pai e desta forma ele vive um conflito de desejar o amor dos pais e ao mesmo tempo
temê-los. Junto com o desejo de tomar o lugar do pai está o medo de ser machucado. Ele
interpreta este anseio como um temor de que seu pênis seja cortado, que é nesta época o
órgão de sua satisfação de prazer. Este é o chamado temor de castração. Esse complexo
acaba sendo reprimido, permanece inconsciente. É tarefa do superego (que está em
desenvolvimento) impedi-lo de aparecer ou até mesmo que haja uma reflexão sobre ele.
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Para as meninas o complexo foi chamado de Complexo de Electra. Assim como
para os meninos, para as meninas o primeiro objeto de amor é a mãe, uma vez que ela é
a fonte de alimento, afeto e segurança. Mas ela perceberá que a mãe não pode lhe dar
aquilo que lhe falta: um pênis. Surge aí uma hostilidade frente à mãe e seu interesse será
destinado ao pai, aquele que pode lhe dar um pênis ou um substituto deste. No conflito
das meninas, parece haver uma menor repressão e o que foi observado é que elas
permanecem nesta situação edipiana por mais tempo e até mesmo a resolução pode ser
incompleta.
Para os meninos é a castração que os faz superar o complexo de Édipo. É
instaurada a lei da proibição, a interdição paterna. Para as meninas é justamente a
castração que faz iniciar Complexo de Édipo.
A resolução do Complexo: a ansiedade de castração nos meninos fará com que
eles abandonem seus desejos incestuosos pela mãe e superem o complexo identificando-
se ao pai. As meninas também passam a identificar-se com a mãe e assumem uma
identidade feminina. Passa a buscar nos homens similaridades do pai.
Período de latência: Independentemente de como se dará a resolução deste conflito
com os pais, a maioria das crianças por volta dos 5 anos de idade passam a demonstrar
interesse em outros relacionamentos, como nas amizades, esportes, entre outros. A
repressão feita pelo superego neste momento é bem sucedida e os desejos não
resolvidos da fase fálica não perturbam mais. A sexualidade não avança mais e os
anseios sexuais até diminuem.
Fase Genital: Nesta fase final do desenvolvimento psicossexual meninos e meninas,
conscientes de suas identidades sexuais distintas começam a buscar formas de satisfazer
suas necessidades eróticas e interpessoais. Os impulsos sexuais pré-genitais que
acabem não tendo êxito na sexualidade genital podem então ser recalcados ou
sublimados, isto é, transformados em atividades socialmente produtivas.
Narcisismo:
Narcisismo primário:
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Em 1914, Freud diferenciou a libido do ego da libido do objeto. Pode-se falar
também em auto-erotismo e amor objetal. Durante as primeiras experiências do bebê o
ego ainda não está formado, e o auto-erotismo (satisfação pelo e no próprio corpo: chupar
o dedo, morder o pé...) vem como uma forma de satisfação libidinal. Depois, na
impossibilidade de manter-se como seu próprio objeto de amor, este indivíduo volta-se
finalmente para um objeto externo, desenvolvendo o que Freud chamou de amor objetal.
Neste amor objetal o sujeito deve fazer escolhas e para que isto ocorra o indivíduo deve
ter percorrido os estágios psicossexuais do desenvolvimento e até mesmo elaborado o
complexo de Édipo. O narcisismo primário termina quando o desenvolvimento
psicossexual se completa.
Narcisismo secundário:
A escolha objetal pode dar-se de duas maneiras. Existe a escolha anaclítica e a
escolha narcisista. Na escolha anaclítica, o indivíduo busca no objeto de amor por
exemplo, a mulher ou o homem que uma vez o protegeu, há portanto uma renúncia ao
próprio narcisismo que ele já viveu. Já na escolha narcisista, o indivíduo busca no amor
objetal por exemplo a sua própria imagem, ele ama alguém que apresenta características
bem semelhantes às que ele próprio possui ou possuiu, ou gostaria de possuir.
Manifestações do Inconsciente: Freud percebeu, através do método da associação-livre
e a partir dos relatos de sonhos de seus pacientes que o inconsciente não se revela
diretamente, através da consciência e sim de forma encoberta. O inconsciente aparece
então nos sonhos, aparentemente sem nexo e sentido, nas chistes e atos-falhos.
Sonhos e elaboração onírica: Forma de satisfação de desejos que não foram ou não
puderam ser realizados. Os conteúdos do sonho são conteúdos manifestos, isto é, são
manifestados, diferentemente de conteúdos latentes, que não conseguem aparecer. Nos
sonhos, embora apareçam de maneira não clara, os conteúdos aparecem disfarçados,
distorcidos pelos mecanismos de deslocamento e da condensação. Esta distorção
permite que o desejo seja aceitável ao ego, uma vez que no estado de vigília muitas
ações são inaceitáveis devido à repressão e moral, não temendo punições.
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Fisiologicamente a função do sonho é manter o sono, proporcionar um momento
de satisfação para que o indivíduo não desperte. Assim, durante o sonho há uma
satisfação adicional ou uma redução da tensão, pois energias acumuladas são
descarregadas, mesmo que não tenha havido uma realização na realidade físico-sensorial
dos desejos.
Nos sonhos traumáticos, nos pesadelos, também há redução de tensão e
produção de prazer. Muitos sonhos traumáticos de guerra que aconteciam repetidamente
durante o sono de alguns indivíduos que viveram situações de guerra, foram interpretados
por Freud como uma necessidade de elaboração da situação traumática. Essas
repetições podem ajudar o indivíduo de alguma forma a elaborar suas angústias, temores
e ódio.
A interpretação de um sonho para Freud só terá sentido no próprio discurso do
indivíduo. Regras gerais podem não ser válidas. É trabalho do analista ajudar o paciente a
interpretar o sonho.
O livro de Freud publicado em 1900, “A interpretação dos Sonhos” é considerado
dentro de sua obra, um dos livros mais importantes.
Chistes, ato falhos: assim como nos sonhos o inconsciente se manifesta nos chistes
(brincadeiras, piadas) e atos falhos (troca de nome aparentemente acidental, erro de
endereço, entre outros). Esta aparição do inconsciente é dada através dos mecanismos
de condensação e deslocamento.
No decorrer de seus atendimentos e a partir de alguns casos de abandono de
tratamento, Freud percebeu a importância de analisar e perceber a expectativa projetada
e sentimentos, tanto negativos quanto positivos, do paciente para com seu analista e do
analista para com seu paciente. Tais sentimentos estariam contribuindo para o sucesso
do tratamento ou fracasso, dependendo de como fossem manejados. A partir daí, ele
criou o conceito de transferência e contra-transferência.
Transferência: Transferência é um fenômeno na psicologia, caracterizado pelo
direcionamento inconsciente de sentimentos de uma pessoa para outra. Foi
primeiramente descrita por Freud, quem reconheceu sua importância para a psicanálise
para uma melhor compreensão dos sentimentos dos pacientes. A relação paciente-
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terapeuta sob o contexto da livre-associação, sem risco de juízos alheios, permite a
construção de um relacionamento inédito para o paciente. A transferência que surge
nesta relação torna-se, então, o instrumento terapêutico principal, na medida em que
permite a atualização dos conteúdos inconscientes que permeiam as relações
interpessoais do paciente.
Contra-transferência: O analista deve tomar cuidado com a contra-transferência, isto é,
com o processo contrário em que afetos do analista são transferidos para o paciente, o
que pode dificultar a relação terapêutica.
Jacques Lacan
Marie Émile Lacan (1901-1981), foi um psicanalista francês. Formou-se em
Medicina e especializou-se em Psiquiatria. Trabalha como interno da Enfermaria Especial
para alienados da Chefatura de Polícia. Interesse-se pelo estudo das psicoses e em toda
sua obra haverá um aprofundamento sobre tratamento de psicóticos. Estuda literatura e
filosofia e aproxima-se dos surrealistas. Num primeiro momento faz parte da IPA
(International Psicoanalises Association) mas depois acaba saindo e afirmando que os
pós-freudianos haviam se desviado da proposta Freudiana. Propõe então um “Retorno a
Freud” . Estuda lingüística e antropologia estrutural (Levi-Strauss) e incorpora esses
conhecimentos em sua teoria. Fica assim sendo representante importante do
Estruturalismo. Para Lacan há três registros psíquicos: o registro no Campo Imaginário, o
registro no Campo Simbólico e o Registro no Campo do Real. É a partir do campo
simbólico, através da fala, da linguagem é possível que haja o acesso ao inconsciente,
que foi definido pelo autor como “estruturado como uma linguagem”. Seu ensino deu-se
primordialmente através de seminários e conferências.
REGISTROS:
Imaginário:
Forma-se a partir do Estádio do Espelho:
• Descrito como o momento em que a criança descobre, constrói uma imagem de si.
Pode prescindir de um espelho, onde uma imagem é projetada ou não
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necessariamente, pois o outro também faz a função de espelho. No caso de uma
pessoa cega, por exemplo.
• Ponto decisivo na origem do ser, momento de constituição do ser. Antes há a
noção de um corpo despedaçado. No estádio do espelho este corpo dá lugar a
uma imagem totalizada do corpo. Passa a haver uma divisão entre um mundo
interno e externo. Não há um eu antes do estádio do espelho. A brecha, a hiância
que havia antes entre o corpo e sua imagem é então preenchida.
• Uma unidade e uma subjetivação e também alienação, subjugação da criança à
sua imagem, aos seus semelhantes, ao desejo de sua mãe.
• Lacan descreve uma identificação primária da criança com a sua própria
imagem e a qualifica de imaginária, uma vez que a criança identifica-se com algo
que não é ela própria mas que lhe permite reconhecer-se.
1ª etapa: a criança reconhece na imagem do espelho uma realidade ou pelo menos a
imagem de um outro.
2ª etapa: A criança não mais tenta pegar este objeto real, este outro que estaria detrás do
espelho.
3ª etapa: A criança reconhece este outro como sendo sua própria imagem.
• Esta relação com o espelho, ou relação especular, tem traços em comum com a
relação da criança com sua mãe. Traços imaginários, cujas características são:
relação imediata, indistinção, identificação narcísica, alienação. A criança deseja
não só receber os cuidados e afeto de sua mãe, mas também que seja o que falta
a essa mãe, deseja ser um todo, um complemento. Há uma indistinção da criança
com a mãe. Em termos lacanianos esta criança deseja ser o Falo desta mãe,
aquele que detém o poder de possuir o que falta ao outro. Falo não deve se
confundido, portanto, com o órgão sexual, com o pênis.
• O indivíduo tem por desejo ser o desejo de sua mãe. E é por isto que a definição
de desejo na teoria lacaniana é: “o desejo é o desejo do outro”.
Simbólico:
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Acesso à ordem simbólica: a partir do Complexo de Édipo.
1º tempo do Édipo: Coincide com a 3ª etapa do Estádio do espelho.
A criança que queria ser o falo da mãe, onde havia uma indistinção dela com esta própria
mãe, é privada disto pelo pai. Este priva a mãe de um Falo, uma vez que a criança
percebe que este pai é desejo da mãe. O pai portanto, é quem tem o falo. Acontece aí o
encontro com a Lei do Pai.
2º tempo do Édipo: interdição do pai; castração (ser castrado significando não ter o
Falo).
Esta castração mostra ao sujeito que há uma FALTA , uma falta de ser.
Passagem do ser ao ter.
Se a mãe aceita a lei do paterna, a função paterna a criança então se identificará ao pai,
aquele quem tem o falo e haverá a entrada na ordem simbólica. A criança sai da relação
dual com a mãe para entrar então em na tríade familiar.
O simbólico traz consigo a cultura, a linguagem e a civilização.
3º tempo do Édipo: acesso ao Nome-do-Pai e à ordem simbólica.
O inconsciente é estruturado como linguagem: ao aceder à linguagem o sujeito é
dominado e constituído pela ordem simbólica. O sujeito entra na trama da linguagem.
Lacan enquanto pesquisador no campo da lingüística, traz a contribuição de F. de
Saussure sobre significantes e significados, inerentes a esta trama da linguagem.
A língua, o código, refere-se aos significantes. Significantes são desde oposições
fonemáticas até locuções compostas (frases...) –( Semiologia)
O discurso pronunciado refere-se aos significados. – (Semântica).
Supremacia do significante: “Os significados são apenas variações individuais e só
ganham coerência dentro da coerência da rede significante”.
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Rede ou cadeia significante: significantes expressos possuem outros significantes
associados, muitos inconscientes. Por exemplo: as inscrições : Homem / Mulher nas
portas de banheiros públicos, tem por traz destes significantes muitos outros relativos à
cultura da segregação dos sexos.
Há leis que regem a linguagem e o inconsciente: a metáfora e a metonímia.
Metáfora : correspondente do termo Freudiano de condensação. Parte pelo todo. Há
uma substituição. Sincronia. Por exemplo, dizer a um homem: “ Você é um touro”. O
significante Touro engloba outros: força, resistência , braveza ....”
Metonímia: correspondente do termo Freudiano de deslocamento. Todo pela parte. Há
uma combinação. Diacronia. Exemplo: “Sou Estagiário”. Este significante esconde outros
tantos como, “ainda não possuo um título”, “minha responsabilidade ainda não é a de um
profissional”, “Estou numa fase de transição, um estágio pelo qual devo passar para
alcançar algo”.
Real
Toca naquilo que no sujeito é o "improdutivo", resto inassimilável, aquilo que se
passa no corpo mas não consegue ser totalmente simbolizado.
Estruturas clínicas: Neurose, Psicose, Perversão.
Dependem principalmente do que se passou durante as fases inicias: Estádio do Espelho
e vivência do Édipo.
Perversão: No Édipo só aceitará a castração se houver a possibilidade de transgredi-la.
Frente à angústia de castração há a mobilização de recursos defensivos para contorná-la.
Defesas: fixação e a regressão, e denegação da realidade. Dificuldade de perceber a
ausência do pênis na mãe. Mecanismos constitutivos da homossexualidade e do
fetichismo. Perversão feminina traz uma discussão problemática. Perversão descrita e
percebida nos homens.
Traços: desafio e transgressão. Não consegue assumir a sua parte perdedora.
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Desejo: orientado pela questão da castração. Não há o desejo do desejo do outro. Não há
a renúncia ao objeto primordial. A única lei do desejo é a sua e não do outro.
Neurose: Aceita a obrigatoriedade da castração, se submetendo a ela de bom ou mal
grado, mas desenvolve uma nostalgia sintomática diante da perda sofrida.
Neurose Obsessiva: Nostálgicos do ser. Sentem-se amados demais pela mãe. A mãe
poderia encontrar nesta criança o que supostamente espera do pai. Criança se coloca
numa posição de suplência à satisfação do desejo materno. Como se esta satisfação lhe
tivesse sido uma falha. Quer assegurar o controle onipotente do objeto. Ocupa o lugar de
gozo do outro. Competição e rivalidade.
Traços: economia obsessiva do desejo. Caráter imperioso da necessidade e do dever.
Obstinação. Organização obcecante do prazer. Ambivalência. Isolamento, Anulação
Retroativa.
Neurose Histérica: Questão do passo a dar na assunção da conquista do falo, que se dá
no declínio do Complexo de Édipo. O pai tem direito ao falo e é por isso que a mãe o
deseja. Mas acredita que o pai só o tem porque tirou da mãe, que é quem o possuía
anteriormente. Há assim uma reivindicação permanente pelo fato de a mãe também poder
tê-lo e o próprio sujeito também poder tê-lo. Implicitamente há uma sensação no histérico
de que ele não pode ter o falo.
Traços: reivindicação do ter. Sedução: mais colocada a serviço do falo do que de seu
desejo. Evita o encontro com a falta. Indecisão permanente. No desejo histérico há uma
constante: permanecer insatisfeita.
Psicose: A psicose está relacionada com uma passagem mal sucedida pelo estádio do
espelho. O estádio do espelho é responsável pela estruturação do sujeito humano. Os
psicóticos estariam presos ao corpo despedaçado, que existe antes da identificação do
corpo à imagem especular. Há, portanto, nos psicóticos uma falha na dinâmica
imaginária, marcada pelas identificações com o outro, com o semelhante.
Há um acidente na organização de seu psiquismo, que é formado a partir da linguagem.
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Os fenômenos elementares da psicose são: alucinações auditivas ou visuais,
interpretações delirantes, afrouxamento dos elos associativos, e alterações diversas de
linguagem.
Carl Jung
Carl Gustav Jung nasceu em 1875 na Suíça, cursou Medicina e especializou-se
em Psiquiatria. Ingressou nas Universidades de Basiléia e Zurique para estudar medicina,
já tinha noções de Kant e Goethe. Depois teve interesse pelas idéias de Schopenhauer e
Nietzsche, idéias que influenciaram a construção de sua Psicologia Analítica. Então, com
tal interesse pelo homem, tanto biológica como espiritualmente, a Psicologia entra na sua
vida.
Em 1900, Jung conclui a faculdade de medicina e saiu da Basiléia para ser o
segundo assistente no Hospital Psiquiátrico Burgholzli em Zurique. O hospital era dirigido
por Eugen Bleuler, que utilizava a teoria do associacionismo, que tem como base
experiências de associação verbal. Bleuler também trazia à Psiquiatria uma base
psicológica. Os estudos de Bleuler e seus colaboradores, como Jung, voltam-se à
esquizofrenia.
Neste modelo havia uma pessoa, o experimentador, que dizia palavras isoladas,
chamadas palavras indutoras. Este pedia que o sujeito do experimento respondesse com
a primeira palavra que viesse a sua mente, a chamada palavra induzida, a cada palavra
indutora. Era medido o tempo de resposta entre dizer a palavra indutora e responder a
palavra induzida.
Com suas experiência, Jung observou as diferentes reações nos sujeitos, e com
isso veio a hipótese de que essas palavras deveriam atingir conteúdos emocionais das
pessoas, ou ainda áreas de bloqueio afetivo de que os sujeito não tinham consciência.
Jung se interessava pelos estudos feitos por Freud. Notando uma proximidade
entre seus estudos e aqueles feitos por Freud. Dessa maneira, aproxima-se da
Psicanálise.
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Desde então, essas experiências tornaram-se uma forma de explorar o
inconsciente. Buscava com palavras indutoras descobrir os conteúdos inconscientes que
estavam sendo alcançados e denominou-os “complexo psíquico”, ou seja, idéias ou
representações afetivamente carregadas e autônomas da psique consciente.
A origem do complexo é uma situação psíquica considerada incompatível tanto
com a atitude como com a atmosfera consciente de costume, pois, há um núcleo que
possui alta carga afetiva. Este passa a estabelecer associações com outros elementos,
formando assim a chamada “psique parcelada”.
A afinidade entre as idéias de Freud e Jung deteriorou-se com a publicação da
Psicologia do Inconsciente, em 1912 (revista em 1916), em que Jung apresenta noções
parecidas entre as fantasias psicóticas e os mitos antigos. Nisso, incentivado por colegas,
amigos e pacientes cria sua Escola. Para o desenvolvimento de suas teorias Jung utilizou
conhecimento de mitologia (trabalhos em colaboração com Kerensky) e História e culturas
de países como México, Índia e Quênia
Jung adoeceu e faleceu em 06 de junho de 1961, em Kusnacht. Criou a Psicologia
Analítica e é visto como um dos grandes expoentes do século XX. Deixa contribuições
científicas importantes para o estudo e compreensão da alma humana. Em sua obra
constam as questões espirituais, enquanto fenômenos psíquicos.
Inconsciente Coletivo.
O inconsciente coletivo são sensações, pensamentos e memórias compartilhadas
por todos os seres humanos, independente das diferenças de raça, cultura e individuais.
O inconsciente coletivo se compõe do que ele chamou de arquétipos, ou imagens
primordiais, ou seja, são experiências comuns a toda humanidade, tais como: enfrentar a
morte de um ente e cuja manifestação simbólica encontra-se nos mitos, nas grandes
religiões, nas fantasias, na Alquimia, nos contos de fadas e outros.
O arquétipo traduz-se, então, em imagens formadas a partir da interação com
ambiente, sendo assim, preenchidas por materiais da realidade.
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“A noção de arquétipo, postulando a existência de uma base
psíquica comum a todos os humanos, permite compreender por que
em lugares e épocas distantes aparecem temas idênticos, nos
contos de fadas, nos mitos nos dogmas e ritos das religiões, nas
artes, na filosofia, nas produções do inconsciente de modo geral-
seja nos sonhos de pessoas normais, sejam em delírios dos loucos”
(SILVEIRA, 1971).
Para Jung os arquétipos são elementos necessários para a auto-regulação da
psique.
Processo de Individuação e os Arquétipos.
Através do processo de individuação o homem realiza sua potencialidade ou auto
desenvolvimento, ou seja, tornar-se um ser único. Os principais arquétipos descritos no
processo de individuação são: a Persona, a Sombra, a Anima, o Animus e o Self. Abaixo
descrevemos cada um desses arquétipos.
- Persona: é a forma que nos apresentamos ao mundo. É o nosso caráter; através dela
nos relacionamos com as outras pessoas.
A Persona inclui nossos papéis familiares, profissionais e nossa expressão
pessoal. O termo Persona é derivado da palavra latina equivalente à máscara. Então,
para se adaptar ao ambiente em que vive, o indivíduo assume os papéis que lhe cabem
nas diferentes situações em que se encontra, tentando preenchê-los e corresponder às
expectativas.
O Ego identifica-se com a Persona em maior ou menor grau, isto se torna, então,
uma fonte de neuroses, pois, ninguém vive inteiramente dentro dos moldes que são
determinados pela consciência coletiva.
- Sombra: é o centro do inconsciente pessoal, o núcleo do material que foi reprimido da
consciência. À medida que o Ego rejeita a imagem ideal que tem de si, o indivíduo passa
a se defrontar com um outro lado, dos seus defeitos e impulsos contrários aos padrões e
ideais sociais. Este outro lado foi chamado de Sombra, ou seja, a Sombra é aquilo que
consideramos inferior em nossa personalidade, aquilo que descuidamos e nunca
desenvolvemos em nós mesmos.
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- Anima e Animus: são os arquétipos feminino e masculino. São componentes contra-
sexuais inconscientes, ou seja, à medida que a consciência do homem é masculina,
haverá uma outra parte feminina em seu inconsciente e vice-versa para a mulher.
A Anima geralmente é representada por princesa, fada, sereia etc. Já o Animus é
representado como príncipe, herói, feiticeiro etc. Para Jung, a Anima é a personificação
das tendências psicológicas femininas na psique do homem, tais como: sentimentos,
estados de humor, sensibilidade e outros Já na mulher o Animus personifica as
características masculinas, como pensamentos rígidos. Estes são arquétipos que
determinam o encontro do eu com o outro.
- Self: é chamado por Jung de arquétipo central, ou seja, o arquétipo da ordem, da
totalidade da personalidade, é organizador e determina o desenvolvimento psíquico. O
processo de individuação tem como meta o Self.
Como o processo de individuação é uma aproximação entre consciente e
inconsciente, ou seja, eles se complementam, o Ego não será mais o centro. Este centro
se constituirá num ponto de equilíbrio que garante uma base sólida para a personalidade.
O Self é simbolizado em sonhos ou imagens de forma impessoal, como um círculo
ou quadrado, ou de forma pessoal como um velho ou uma velha sábia, uma criança
divina, ou na forma de outro símbolo de divindade. Todos estes são símbolos da
totalidade, unificação, ou equilíbrio dinâmico, os objetivos do processo de individuação.
Introversão e Extroversão.
Para Jung cada indivíduo se caracteriza de acordo com como é voltado para seu
interior ou para o exterior. A energia daqueles que são introvertidos se direciona para seu
mundo interno, enquanto a energia do extrovertido se direciona mais para seu mundo
externo.
Mas, nenhum indivíduo é apenas introvertido ou extrovertido, muda de acordo com
a ocasião em que algumas vezes a introversão é mais apropriada e, em outras situações
a extroversão é mais adequada. Uma exclui a outra, portanto não se pode manter ambas
ao mesmo tempo e uma não é melhor do que a outra.
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Os dois tipos de pessoas são necessários no mundo. Mas, o ideal é que cada
indivíduo seja flexível e possa adotar uma das duas de acordo com o que for necessário,
e que haja um equilíbrio.
a) Introvertidos
Os introvertidos estão ligados em seus próprios pensamentos e sentimentos, em
seu mundo interior, com tendência à introspecção. Mas, tem que se tomar cuidado para
que estas pessoas não mergulhem de forma excessiva em seu mundo interior, tornando
raro seu contato com o ambiente externo.
b) Extrovertidos
Já os extrovertidos estão ligados ao mundo externo das pessoas e dos objetos.
São pessoas sociáveis e conscientes do que acontece à sua volta. São pessoas que têm
como base as idéias de outros, e acabam não desenvolvendo suas próprias idéias e
opiniões. Têm que se proteger para que não sejam englobados pelo mundo externo.
Pensamento; Intuição; Sensação e Sentimento
Para Jung, confrontando-se o inconsciente pessoal e integrando-o com o
inconsciente coletivo, representado no arquétipo da sombra coletiva, um paciente pode
alcançar um estado de individuação, ou a integridade, através da reconciliação dos
diversos estados da personalidade, que é dividido também nas subvariáveis, tais como,
pensamento, intuição, sensação e percepção.
- Pensamento: é uma maneira diferente de preparar julgamentos e tomar decisões. As
pessoas em que predomina o pensamento são consideradas reflexivas e, têm como
característica fazer grandes planos. O pensamento está relacionado com a verdade e
com julgamentos.
- Intuição: é uma forma de acionar informações das experiências passadas, objetivos
futuros e processos inconscientes. Os intuitivos dão mais importância ao que poderia vir a
acontecer, ou que seria possível, que às vivências. Eles relacionam prontamente as
experiências passadas complacentes e as experiências relevantes atuais.
- Sensação: é classificada junto com a intuição, pois, são formas de adquirir informações
e não formas de tomar decisões. A Sensação está ligada à experiência direta, na
percepção de detalhes, de fatos concretos, ou seja, o que se pode ver, tocar. Os
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sensitivos respondem ao presente, têm facilidade de lidar com crises e emergências
cotidianas.
- Sentimento: uma maneira alternativa de preparar julgamentos e tomar decisões. Os
sentimentais são voltados para o lado emocional da experiência, de preferência emoções
fortes. Dão valor à consistência e princípios abstratos. Suas decisões são tomadas de
acordo com seus valores.
Símbolos
Para Jung, à priori o inconsciente se expressa através de símbolos. Ele se
interessa por símbolos naturais, que são produções espontâneas da psique individual. Os
símbolos coletivos também são importantes e geralmente são imagens religiosas. Para
ele um símbolo é alguma coisa em si mesma, algo dinâmico, que representa uma dada
situação psíquica do indivíduo. Pode ser um termo, um nome ou uma imagem familiar na
vida diária, mas possui significados além do convencional e óbvio.
Sonhos
Os sonhos possuem mais emoções intensas e imagens simbólicas que nosso
pensamento consciente. Trabalham como pontes entre consciente e inconsciente. Para
Jung, a função dos sonhos é tentar equilibrar o nosso psicológico através da produção de
um material do sonho que refaz o equilíbrio psíquico total.
Mecanismos de ajustamento
O termo ajustamento tem relação com ajustar-se ao que é aceito, desejável.
Como forma de proteger o aparelho psíquico, os mecanismos de defesa deformam
ou suprimem a realidade para evitar uma percepção aversiva, e assim, proteger o
aparelho psíquico. Os mecanismos de defesa são processos realizados pelo ego e são
inconscientes (Schultz & Schultz, 1998; Bock, 1995).
Mais sobre mecanismos de defesa encontra-se em outros tópicos dessa apostila.
Saúde Mental
A doença mental pode ter diferentes causas e em muitos casos mais de um fator
atua como causa. Fatores genéticos, orgânicos, sociais, de personalidade podem ser
determinantes para o aparecimento de uma doença mental.
Cerca de 30% dos trabalhadores são acometidos por transtornos mentais leves e 5 a
10% por transtornos mentais graves (OMS apud Ministério da Saúde do Brasil, 2001).
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Na sociedade capitalista o trabalho é mediador da integração social e tem uma grande
importância para a saúde (física e mental) das pessoas. Os fatores do trabalho que
influenciam na saúde das pessoas são muitos, ou seja, há uma multiplicidade de fatores
envolvidos na determinação de doenças mentais e comportamentais relacionadas ao
trabalho. Condições de emprego, subemprego, mudanças no trabalho (promoção, nova
função, queda), entre outros, podem ser fontes de stress para os trabalhadores (Ministério
da Saúde do Brasil, 2001).
Para Codo (2002) apud Jacques (2003), quanto mais liberdade, autonomia e
controle o trabalhador tem no seu ambiente de trabalho, mais favoráveis a saúde é o
ambiente de trabalho. A perda de controle gera sofrimento e sensações de desprazer no
trabalhador. Este autor tem uma perspectiva psicossocial da saúde mental, ou seja,
admite que o trabalho tem um papel estruturante na vida do ser humano. Desta forma,
não é possível analisar e pensar no bem estar psíquico do individuo sem pensar nas
relações que o mesmo estabelece com o trabalho.
Codo, juntamente com outros autores, seus colaboradores, tem como objetivo em
seus trabalhos identificar quadros psicopatológicos e relacioná-los a categorias
profissionais. Sobre a importância de suas investigações e do seu método investigativos
pode-se recorrer às palavras do próprio autor: “este método de investigação, com seus
avanços e recuos, foi responsável pela descoberta da síndrome do trabalho vazio entre
bancários, paranóia entre digitadores, histeria em trabalhadores de creches e burnout em
educadores" (CODO, 2002, p.185 apud JACQUES, 2003).
Segundo Codo (1997, 2002), em Jacques (2003) o trabalho deve gerar significado
para o homem e as doenças psíquicas relacionadas ao trabalho ocorrem quando este
atinge sua dimensão geradora de significado.
Codo e seus colaboradores elaboraram uma metodologia baseada em 13 escalas
de trabalho, uma clínica (por exemplo, a escala de histeria e de depressão) e uma de
alcoolismo. Além desses instrumentos, são utilizados nessa metodologia um protocolo de
observação e são analisadas entrevistas que tinham por finalidade diagnosticar a
psicodinâmica. Portanto, cruzam-se informações do trabalho com escalas clínicas,
informações objetivas e subjetivas são utilizadas (JACQUES, 2003).
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Para a prevenção de doenças mentais relacionados ao trabalho são necessárias
ações de vigilância aos ambientes e condições de trabalho (Ministério da Saúde do Brasil,
2001).
Quando há o diagnóstico de uma doença relacionada ao trabalho deve-se
proceder da seguinte forma: 1. verificar a necessidade de afastamento do trabalhador
(total ou parcial) do ambiente de trabalho, podendo ser esse afastamento temporário ou
permanente; 2. Solicitar emissão do CAT pela empresa e preencher o LEM para
encaminhar ao INSS; 3. acompanhar como o caso evolui; 4. notificação ao SUS de piora
do caso; 5. busca por outros casos e também por fatores de risco na empresa e em
empresas que trabalham no mesmo ramo de atividades; 6. recomendações à empresa
sobre fatores de controle e proteção que devam ser adotados (Ministério da Saúde do
Brasil, 2001).
A AMA apud Ministério da Saúde do Brasil (2001) aponta as deficiências ou
disfunções casadas pelas doenças mentais relativas ao trabalho, a saber: limitações em
atividades cotidianas (vida diária); exercício de funções sociais (diz respeito a capacidade
de comunicação eficiente com outras pessoas); concentração, persistência ou ritmo
(capacidade de completar tarefas); deteriorização ou descompensação no trabalho (o
individuo não consegue se adaptar a situações estressantes).
A portaria 1399 de 1999 aponta os transtornos mentais e de comportamento
relacionados ao trabalho. Veja:
• Demência em outras doenças específicas classificadas em outros locais (F02.8)
• Delirium, não-sobreposto à demência, como descrita (F05.0)
• Transtorno cognitivo leve (F06.7)
• Transtorno orgânico de personalidade (F07.0)
• Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado (F09.-)
• Alcoolismo crônico (relacionado ao trabalho) (F10.2)
• Episódios depressivos (F32.-)
• Estado de estresse pós-traumático (F43.1)
• Neurastenia (inclui síndrome de fadiga) (F48.0)
• Outros transtornos neuróticos especificados (inclui neurose profissional) (F48.8)
• Transtorno do ciclo vigília-sono devido a fatores não-orgânicos (F51.2)
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• Sensação de estar acabado (síndrome de burn-out g, síndrome do esgotamento
profissional) (Z73.0)
DEMÊNCIA EM OUTRAS DOENÇAS ESPECÍFICAS CLASSIFICADAS EM OUTROS
LOCAIS CID-10 F02.8 apud Ministério da Saúde do Brasil (2001).
“Demência é conceituada como síndrome, geralmente crônica e progressiva, devida a
uma patologiaencefálica, de caráter adquirido, na qual se verificam diversas deficiências
das funções corticais superiores, incluindo: memória, pensamento, orientação,
compreensão, cálculo, capacidade de aprender, linguagem e julgamento. A consciência
não é afetada e as deficiências cognitivas são acompanhadas e, ocasionalmente,
precedidas por deterioração do controle emocional, da conduta social ou da motivação
(Bertolote, 1997). Pode estar associada a inúmeras doenças que atingem primária ou
secundariamente o cérebro, entre elas, epilepsia, alcoolismo, degeneração
hepatolenticular, hipotireoidismo adquirido, lúpus eritematoso sistêmico, tripanosomíase,
intoxicações, doenças pelo HIV, doença de Huntington g, doença de Parkinson g,
ocorrência de infartos múltiplos, outras doenças vasculares cerebrais isquêmicas e
contusões cerebrais repetidas, como as sofridas pelos boxeadores” (Ministério da Saúde
do Brasil, 2001, p. 164).
Os fatores de risco são:
- Exposição a toxinas como monóxido de carbono (CO), sulfeto de hidrogênio (H²S);
sulfeto de carbono; metais pesados (manganês, mercúrio, chumbo e arsênio); derivados
organometálicos (chumbo tetraetila e organoestanhosos).
Critérios diagnóstico:
• comprometimento ou incapacidade manifestada pelo declínio das funções cognitivas
(corticais superiores), como: capacidade de aprendizagem, memória, atenção,
concentração, linguagem, nível de inteligência, capacidade de resolver problemas, juízo
crítico e comportamento social adequado;
• comprometimento ou incapacidade pessoal para as atividades da vida diária.
Para o tratamento o trabalhador deve ser afastado da exposição as substâncias
acima citadas, deve ter acesso aos benefícios do SAT, deve ser atendido em suas
necessidades emocionais e também ser tratado com fármacos e por último é necessário
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realizar um manejo da situação de trabalho, com informações a gerência e colegas de
trabalho sobre o diagnóstico do paciente e também buscando novos casos naquele
ambiente.
No que diz respeito à prevenção deve-se realizar vigilância dos ambientes, das
condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde. Assim, é necessário medidas de
controle ambiental com a finalidade de eliminação e/ ou redução dos níveis de exposição
e também realizar análise ergonômica do trabalho, da atividade.
DELIRIUM, NÃO-SOBREPOSTO À DEMÊNCIA - CID-10 F05.0 apud Ministério da
Saúde do Brasil (2001).
“Delirium é uma síndrome caracterizada por rebaixamento do nível de consciência, com
distúrbio da orientação (no tempo e no espaço) e da atenção (hipovigilância e hipotenacidade),
associada ao comprometimento global das funções cognitivas. Podem ocorrer alterações do humor
(irritabilidade), da percepção (ilusões e/ou alucinações especialmente visuais), do pensamento
(ideação delirante) e do comportamento (reações de medo e agitação psicomotora). Geralmente, o
paciente apresenta uma inversão característica do ritmo vigília-sono com sonolência diurna e
agitação noturna. Pode vir acompanhada de sintomas neurológicos como tremor, asterixis,
nistagmo, incoordenação motora e incontinência urinária. Geralmente, o delirium tem um início
súbito (em horas ou dias), um curso breve e flutuante e uma melhora rápida assim que o fator
causador é identificado e corrigido. O delirium pode ocorrer no curso de uma demência, pode
evoluir para demência, para recuperação completa ou para a morte. Apresenta distintos níveis de
gravidade, de formas leves a muito graves.” (Ministério da Saúde do Brasil, 2001, p. 166).
A exposição às toxinas monóxido de carbono (CO), dissulfeto de hidrogênio (H2S)
(substâncias asfixiantes) e ao sulfeto de carbono são fatores de risco para o Delirium não
sobreposto a demência.
Critérios diagnósticos:
• rebaixamento do nível da consciência – traduzido pela redução da clareza da
consciência em relação ao ambiente, com diminuição da capacidade de direcionar,
focalizar, manter ou deslocar a atenção. É o aspecto fundamental entre os critérios
diagnósticos para o delirium;
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• alterações na cognição, tais como déficit de memória, desorientação, perturbação de
linguagem ou desenvolvimento de uma perturbação da percepção que não é explicada
por uma demência preexistente, estabelecida ou em evolução;
• perturbação que se desenvolve ao longo de um curto período de tempo (horas a dias),
com tendência a flutuações no decorrer do dia;
• existência de evidências a partir da história, exame físico ou achados laboratoriais de
que a perturbação é conseqüência direta ou indireta, associada a uma situação de
trabalho.
Para o tratamento o trabalhador deve ser afastado da exposição as substâncias
acima citadas, deve ter suporte físico visando evitar acidentes e ser tratado com fármacos
quando estiverem presentes insônia (uso do haloperidol) e alucinações
benzodiazepínicos) e se acontecerem convulsões podem ser utilizados
anticonvulsivantes.
No que diz respeito à prevenção deve-se realizar vigilância dos ambientes, das
condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde. Assim, é necessário medidas de
controle ambiental com a finalidade de eliminação e/ ou redução dos níveis de exposição
(por exemplo, monitoramento da qualidade do ar, organizar o trabalho de forma que o
menor número de trabalhadores fiquem expostos as substâncias tóxicas pelo menor
tempo possível, uso de equipamentos de segurança, entre outros) e também realizar
análise ergonômica do trabalho, da atividade (por exemplo, verificar o conteúdo das
tarefas, ritmo e intensidade do trabalho, fatores psicossociais e individuais, uso de
equipamentos de segurança, entre outros).
Feito o diagnóstico deve-se, como já citado anteriormente, proceder da seguinte
forma: 1. verificar a necessidade de afastamento do trabalhador (total ou parcial) do
ambiente de trabalho, podendo ser esse afastamento temporário ou permanente; 2.
Solicitar emissão do CAT pela empresa e preencher o LEM para encaminhar ao INSS; 3.
acompanhar como o caso evolui; 4. notificação ao SUS de piora do caso; 5. busca por
outros casos e também por fatores de risco na empresa e em empresas que trabalham no
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mesmo ramo de atividades; 6. recomendações à empresa sobre fatores de controle e
proteção que devam ser adotados.
TRANSTORNO COGNITIVO LEVE CID-10 F06.7 apud Ministério da Saúde do Brasil
(2001).
“Transtorno cognitivo leve caracteriza-se por alterações da memória, da orientação, da
capacidade de aprendizado e redução da capacidade de concentração em tarefas prolongadas. O
paciente se queixa de intensa sensação de fadiga mental ao executar tarefas mentais e um
aprendizado novo é percebido subjetivamente como difícil, ainda que objetivamente consiga
realizá-lo bem. Esses sintomas podem manifestar-se precedendo ou sucedendo quadros variados
de infecções (inclusive por HIV) ou de distúrbios físicos, tanto cerebrais quanto sistêmicos, sem
que haja evidências diretas de comprometimento cerebral” (Ministério da Saúde do Brasil,
2001, p. 169).
Os fatores de risco são:
- Exposição às toxinas: chumbo e seus compostos tóxicos; manganês e seus compostos
tóxicos; mercúrio e seus compostos tóxicos; sulfeto de carbono; tolueno e outros
solventes aromáticos neurotóxicos; tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano e outros
solventes orgânicos halogenados neurotóxicos; outros solventes orgânicos neurotóxicos.
- Exposição a níveis elevados de ruído.
Problemas no desempenho cognitivo, tais como dificuldades de memória,
dificuldades de aprendizado e de concentração são utilizados para o diagnóstico de
Transtorno Cognitivo Leve.
Para o tratamento do Transtorno cognitivo leve relacionado ao trabalho deve –se
afastar o paciente do ambiente de trabalho. Fármacos como benzodiazepínicos para a
ansiedade e insônia e também antidepressivos podem ser utilizados. Dependendo da gravidade
pode ser necessário a reabilitação neuropsicológica e também a reabilitação profissional.
As medidas de prevenção são as mesmas já citadas quando discutidos outros
transtornos, a saber: realizar vigilância dos ambientes, das condições de trabalho e dos
efeitos ou danos à saúde. Assim, é necessário medidas de controle ambiental com a
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finalidade de eliminação e/ ou redução dos níveis de exposição (por exemplo,
monitoramento da qualidade do ar, organizar o trabalho de forma que o menor número de
trabalhadores fiquem expostos as substâncias tóxicas pelo menor tempo possível, uso de
equipamentos de segurança, entre outros) e também realizar análise ergonômica do
trabalho, da atividade (por exemplo, verificar o conteúdo das tarefas, ritmo e intensidade
do trabalho, fatores psicossociais e individuais, uso de equipamentos de segurança, entre
outros).
É importante que se tenha a participação de trabalhadores nos níveis gerenciais
para promoção de saúde e mudanças no ambiente que visem prevenção de doenças
ocupacionais.
Sobre a conduta, no caso de ser confirmada essa doença, deve-se proceder como
já citado no início desse texto.
TRANSTORNO ORGÂNICO DE PERSONALIDADE CID-10 F07.0 apud Ministério da
Saúde do Brasil (2001).
“Transtorno orgânico de personalidade é conceituado como a alteração da personalidade e do
comportamento que aparece como um transtorno concomitante ou residual de uma doença, lesão
ou disfunção cerebral. Caracterizase por uma alteração significativa dos padrões habituais de
comportamento pré-mórbido, particularmente no que se refere à expressão das emoções,
necessidades e impulsos. As funções cognitivas podem estar comprometidas de modo particular
ou mesmo exclusivo nas áreas de planejamento e antecipação das prováveis conseqüências
pessoais e sociais, como na chamada síndrome do lobo frontal, que pode ocorrer não apenas
associada à lesão no lobo frontal, mas também a lesões de outras áreas cerebrais circunscritas”
(Ministério da Saúde do Brasil, 2001, p. 171).
Os fatores de risco relativos à ocupação são:
- Exposição às seguintes substâncias: brometo de metila; chumbo ou seus compostos
tóxicos; manganês e seus compostos tóxicos; mercúrio e seus compostos tóxicos; sulfeto
de carbono; tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos ; tricloroetileno,
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tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes orgânicos halogenados neurotóxicos;
outros solventes orgânicos neurotóxicos.
Para o diagnóstico desse transtorno devem estar presentes dois ou mais dos
seguintes aspectos:
• capacidade consistentemente reduzida de perseverar em atividades com fins
determinados, especialmente aquelas envolvendo períodos de tempo mais prolongados e
gratificação postergada;
• comportamento emocional alterado, caracterizado por labilidade emocional, alegria
superficial e imotivada
(euforia, jocosidade inadequada) e mudança fácil para irritabilidade, explosões rápidas de
raiva e agressividade ou apatia;
• expressão de necessidades e impulsos sem considerar as conseqüências ou
convenções sociais (roubo, propostas sexuais inadequadas, comer vorazmente ou
mostrar descaso pela higiene pessoal);
• perturbações cognitivas na forma de desconfiança, ideação paranóide e/ou preocupação
excessiva com um tema único, usualmente abstrato (por exemplo: religião, certo e
errado);
• alteração marcante da velocidade e fluxo da produção de linguagem com aspectos, tais
como circunstancialidade, prolixidade, viscosidade e hipergrafia;
• comportamento sexual alterado.
O tratamento tem como objetivo a reabilitação social. Os fármacos
benzodiazepínicos para a ansiedade e insônia, antidepressivos, carbamazepina para
controle da impulsividade e antipsicóticos para comportamentos disruptivos podem ser
utilizados. Em muitos casos a aposentadoria por invalidez pode ser necessária.
As medidas de prevenção são as mesmas já citadas quando discutidos outros
transtornos, a saber: realizar vigilância dos ambientes, das condições de trabalho e dos
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efeitos ou danos à saúde. Assim, é necessário medidas de controle ambiental com a
finalidade de eliminação e/ ou redução dos níveis de exposição (por exemplo, medidas de
limpeza, organizar o trabalho de forma que o menor número de trabalhadores fiquem
expostos as substâncias tóxicas pelo menor tempo possível, uso de equipamentos de
segurança, entre outros) e também realizar análise ergonômica do trabalho, da atividade
(por exemplo, verificar o conteúdo das tarefas, ritmo e intensidade do trabalho, fatores
psicossociais e individuais, uso de equipamentos de segurança, entre outros).
É importante que se tenha a participação de trabalhadores nos níveis gerenciais
para promoção de saúde e mudanças no ambiente que visem prevenção de doenças
ocupacionais.
Sobre a conduta, no caso de ser confirmada essa doença, deve-se proceder como
já citado no início desse texto.
TRANSTORNO MENTAL ORGÂNICO OU SINTOMÁTICO NÃO-ESPECIFICADO CID-10
F09.- apud Ministério da Saúde do Brasil (2001).
“Este termo compreende uma série de transtornos mentais agrupados por terem em comum uma
doença cebral de etiologia demonstrável, uma lesão cerebral ou outro dano que leva a uma
disfunção que pode ser primária, como nas doenças, lesões ou danos que afetam direta e
seletivamente o cérebro, ou secundária, como nas doenças sistêmicas nas quais o cérebro é um
dos múltiplos órgãos envolvidos. Fazem parte desse grupo a demência na doença de Alzheimer g,
a demência vascular, a síndrome amnésicag orgânica (não-induzida por álcool ou psicotrópicos) e
vários outros transtornos orgânicos (alucinose, estado catatônico, delirante, do humor, da
ansiedade), a síndrome pós-encefalite e pós-traumática, incluindo, também, a
psicose orgânica e a psicose sintomática” (Ministério da Saúde do Brasil, 2001, p.173).
Para o diagnóstico desse transtorno devem estar presentes dois ou mais dos
seguintes aspectos:
- Exposição às seguintes substâncias: brometo de metila; chumbo e seus compostos
tóxicos; manganês e seus compostos tóxicos; mercúrio e seus compostos tóxicos; sulfeto
de carbono; tolueno e outros solventes aromáticos neurotóxicos; tricloroetileno,
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tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes orgânicos halogenados neurotóxicos;
outros solventes orgânicos neurotóxicos.
O diagnóstico é baseado em evidências de doença, lesão ou disfunção cerebral ou de
uma doença física sistêmica, associada a uma das síndromes relacionadas.
As medidas de prevenção são as mesmas já citadas quando discutidos outros
transtornos relacionados a ocupação, a saber: realizar vigilância dos ambientes, das
condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde. Assim, é necessário medidas de
controle ambiental com a finalidade de eliminação e/ ou redução dos níveis de exposição
(por exemplo, medidas de limpeza, organizar o trabalho de forma que o menor número de
trabalhadores fiquem expostos as substâncias tóxicas pelo menor tempo possível, uso de
equipamentos de segurança, entre outros) e também realizar análise ergonômica do
trabalho, da atividade (por exemplo, verificar o conteúdo das tarefas, ritmo e intensidade
do trabalho, fatores psicossociais e individuais, uso de equipamentos de segurança, entre
outros).
Feito o diagnóstico deve-se, como já citado anteriormente, proceder da seguinte
forma: 1. verificar a necessidade de afastamento do trabalhador (total ou parcial) do
ambiente de trabalho, podendo ser esse afastamento temporário ou permanente; 2.
Solicitar emissão do CAT pela empresa e preencher o LEM para encaminhar ao INSS; 3.
acompanhar como o caso evolui; 4. notificação ao SUS de piora do caso; 5. busca por
outros casos e também por fatores de risco na empresa e em empresas que trabalham no
mesmo ramo de atividades; 6. recomendações à empresa sobre fatores de controle e
proteção que devam ser adotados.
É importante que se tenha a participação de trabalhadores nos níveis gerenciais
para promoção de saúde e mudanças no ambiente que visem prevenção de doenças
ocupacionais.
ALCOOLISMO CRÔNICO RELACIONADO AO TRABALHO CID-10 F10.2 apud
Ministério da Saúde do Brasil (2001).
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“Alcoolismo refere-se a um modo crônico e continuado de usar bebidas alcoólicas, caracterizado
pelo descontrole periódico da ingestão ou por um padrão de consumo de álcool com episódios
freqüentes de intoxicação e preocupação com o álcool e o seu uso, apesar das conseqüências
adversas desse comportamento para a vida e a saúde do usuário. Segundo a OMS, a síndrome de
dependência do álcool é um dos problemas relacionados ao trabalho. A Sociedade Americana das
Dependências, em 1990, considerou o alcoolismo como uma doença crônica primária que tem seu
desenvolvimento e manifestações influenciados por fatores genéticos, psicossociais e ambientais,
freqüentemente progressiva e fatal. A perturbação do controle de ingestão de álcool caracteriza-se
por ser contínua ou periódica e por distorções do pensamento, caracteristicamente a negação, isto
é, o bebedor alcoólico tende a não reconhecer que faz uso abusivo do álcool” (Ministério da
Saúde do Brasil, 2001, p.175).
Vários são os fatores psicossociais relacionados ao alcoolismo, sendo que o
trabalho está entre eles. Algumas ocupações tem sido mais relacionadas ao alcoolismo, a
saber: aquelas que se caracterizam por ser socialmente desprestigiadas e rejeitadas;
atividades nas quais a tensão está sempre presente, de “grande densidade de atividade
mental”, atividades monótonas, tediosas e que ocasionem um isolamento do convívio
humano; atividades que envolvem afastamento prolongado do lar.
Diagnóstico:
As manifestações devem ocorrer juntas, de forma repetida durante um período de
12 meses, devendo ser explicitada a relação da ocorrência com a situação de trabalho:
• um forte desejo ou compulsão de consumir álcool em situações de forte tensão presente
ou gerada pelo trabalho;
• comprometimento da capacidade de controlar o comportamento de uso da substância –
em termos de início, término ou níveis – evidenciado pelo uso da substância em
quantidades maiores ou por um período mais longo que o pretendido ou por um desejo
persistente ou por esforços infrutíferos para reduzir ou controlar o seu uso;
• um estado fisiológico de abstinência quando o uso do álcool é reduzido ou interrompido;
• evidência de tolerância aos efeitos da substância de forma que haja uma necessidade
de quantidades crescentes da substância para obter o efeito desejado;
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• preocupação com o uso da substância, manifestada pela redução ou abandono de
importantes prazeres ou interesses alternativos por causa de seu uso ou pelo gasto de
uma grande quantidade de tempo em atividades necessárias para obter, consumir ou
recuperar-se dos efeitos da ingestão da substância;
• uso persistente da substância, a despeito das evidências das suas conseqüências
nocivas e da consciência do indivíduo a respeito do problema.
Pode estar relacionado ao desenvolvimento de outros transtornos, a saber:
delirium (delirium tremens); demência induzida pelo álcool; transtorno amnésico induzido
pelo álcool; transtorno psicótico induzido pelo álcool; outros transtornos relacionados ao
álcool: transtorno do humor induzido pelo álcool, transtorno de ansiedade induzido pelo
álcool, disfunção sexual induzida pelo álcool, transtorno do sono induzido pelo álcool.
Para o tratamento devem ser utilizadas diversas estratégias terapêuticas, sendo
que em muitos casos pode ser necessário o afastamento do trabalho. Veja as estratégias
terapêuticas que normalmente são utilizadas: psicoterapia; intervenção farmacológica
(ansiolíticos e antidepressivos); grupos de mútua ajuda, freqüentar centros de atenção
diária.
No que diz respeito à prevenção deve-se realizar vigilância dos ambientes, das
condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde. Assim, é necessário medidas de
controle ambiental com a finalidade de eliminação e/ ou redução dos níveis de exposição
aos fatores de risco e também realizar análise ergonômica do trabalho, da atividade.
Sobre a conduta, no caso de ser confirmada essa doença, deve-se proceder como
já citado no início desse texto.
EPISÓDIOS DEPRESSIVOS CID-10 F32.- apud Ministério da Saúde do Brasil (2001).
“Os episódios depressivos caracterizam-se por humor triste, perda do interesse e prazer nas
atividades cotidianas, sendo comum uma sensação de fadiga aumentada. O paciente pode se
queixar de dificuldade de concentração, pode apresentar baixa auto-estima e autoconfiança,
desesperança, idéias de culpa e inutilidade; visões desoladas e pessimistas do futuro, idéias ou
atos suicidas. O sono encontra-se freqüentemente perturbado, geralmente por insônia terminal. O
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paciente se queixa de diminuição do apetite, geralmente com perda de peso sensível. Sintomas de
ansiedade são muito freqüentes. A angústia tende a ser tipicamente mais intensa pela manhã. As
alterações da psicomotricidade podem variar da lentificação à agitação. Pode haver lentificação do
pensamento. Os episódios depressivos devem ser classificados nas modalidades: leve, moderada,
grave sem sintomas psicóticos, grave com sintomas psicóticos (Ministério da Saúde do Brasil,
2001, p. 178).
Alguns fatores de risco são: decepção e frustração no ambiente de trabalho, nível
elevado de exigência, excessiva competição, queda no nível da hierarquia que ocupava,
perda afetiva, demissão. Além disso, a exposição às substâncias brometo de metila;
chumbo e seus compostos tóxicos; manganês e seus compostos tóxicos; mercúrio e seus
compostos tóxicos; sulfeto de carbono; tolueno e outros solventes aromáticos
neurotóxicos; tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes orgânicos
halogenados neurotóxicos; outros solventes orgânicos neurotóxicos. também são fatores
de risco.
Diagnóstico:
A presença de pelo menos cinco dos sintomas abaixo, por um período de, no
mínimo, duas semanas, sendo que um dos sintomas característicos é humor triste ou
diminuição do interesse ou prazer, além de:
• marcante perda de interesse ou prazer em atividades que normalmente são agradáveis;
• diminuição ou aumento do apetite com perda ou ganho de peso (5% ou mais do peso
corporal, no último mês);
• insônia ou hipersonia;
• agitação ou retardo psicomotor;
• fadiga ou perda da energia;
• sentimentos de desesperança, culpa excessiva ou inadequada;
• diminuição da capacidade de pensar e de se concentrar ou indecisão;
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• pensamentos recorrentes de morte (sem ser apenas medo de morrer), ideação suicida
recorrente sem um plano específico ou uma tentativa de suicídio ou um plano específico
de suicídio.
No tratamento devem ser utilizadas as seguintes estratégias: psicoterapia, uso de
fármacos (antidepressivos, dependendo da gravidade de cada caso), intervenções
psicossociais.
Deve ser avaliado e indicado quando necessário o afastamento do paciente do
ambiente de trabalho.
No que diz respeito à prevenção deve-se realizar vigilância dos ambientes, das
condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde. Assim, é necessário medidas de
controle ambiental com a finalidade de eliminação e/ ou redução dos níveis de exposição
aos fatores de risco e também realizar análise ergonômica do trabalho, da atividade.
Feito o diagnóstico deve-se, como já citado anteriormente, proceder da seguinte
forma: 1. verificar a necessidade de afastamento do trabalhador (total ou parcial) do
ambiente de trabalho, podendo ser esse afastamento temporário ou permanente; 2.
Solicitar emissão do CAT pela empresa e preencher o LEM para encaminhar ao INSS; 3.
acompanhar como o caso evolui; 4. notificação ao SUS de piora do caso; 5. busca por
outros casos e também por fatores de risco na empresa e em empresas que trabalham no
mesmo ramo de atividades; 6. recomendações à empresa sobre fatores de controle e
proteção que devam ser adotados.
ESTADO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO CID-10 F43.1 apud Ministério da Saúde
do Brasil (2001).
“O estado de estresse pós-traumático caracteriza-se como uma resposta tardia e/ou protraída a um
evento ou situação estressante (de curta ou longa duração) de natureza excepcionalmente
ameaçadora ou catastrófica. E, reconhecidamente, causaria extrema angústia em qualquer
pessoa. São exemplos: os desastres naturais ou produzidos pelo homem, acidentes graves,
testemunho de morte violenta ou ser vítima de tortura, estupro, terrorismo ou qualquer outro crime.
O paciente experimentou, testemunhou ou foi confrontado com um evento ou eventos que
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implicaram morte ou ameaça de morte, lesão grave ou ameaça da integridade física a si ou a
outros” (Ministério da Saúde do Brasil, 2001, p. 181).
Os fatores de risco relacionados ao trabalho são: realização de trabalhos
perigosos que tenham, por exemplo, responsabilidade com vidas humanas e de
acidentes.
Diagnóstico:
Pacientes que apresentem quadros de início até 6 meses após um evento ou período de
estresse traumático* caracterizados por:
• evento ou situação estressante (de curta ou longa duração) de natureza
excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica, aos quais o paciente foi exposto, em uma
situação de trabalho ou relacionada ao trabalho;
• rememorações ou revivescências persistentes e recorrentes do evento estressor em
imagens, pensamentos, percepções ou memórias vívidas e/ou pesadelos e/ou agir ou
sentir como se o evento traumático estivesse acontecendo de novo (incluindo a sensação
de reviver a experiência, ilusões, alucinações e episódios dissociativos de flashback,
inclusive aqueles que ocorrem ao despertar ou quando intoxicado) e/ou angústia quando
da exposição a indícios internos ou externos que lembram ou
simbolizam um aspecto do evento traumático e/ou reação fisiológica exacerbada a
indícios internos ou externos que simbolizem ou lembrem um aspecto do evento
traumático);
• atitude persistente de evitar circunstâncias semelhantes ou associadas ao evento
estressor (ausente antes do trauma) indicada por:
- esforços para evitar pensamentos, sentimentos ou conversas associadas ao trauma;
- esforços para evitar atividades, lugares ou pessoas que tragam lembranças do trauma;
- incapacidade de relembrar, parcial ou completamente, alguns aspectos importantes do
período de exposição ao estressor;
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- interesse ou participação significativamente diminuída em atividades importantes;
- sentimentos de distanciamento ou estranhamento dos outros;
- distanciamento afetivo (por exemplo, incapacidade de ter sentimentos amorosos);
- sentimento de futuro curto (por exemplo, não espera mais ter uma carreira, casamento,
filhos, uma expectativa de vida normal);
- sintomas persistentes de estado de alerta exacerbado;
- dificuldade para adormecer ou permanecer dormindo;
- irritabilidade ou explosões de raiva;
- dificuldade de concentração;
- hipervigilância;
- resposta exagerada a susto.
No que diz respeito à prevenção deve-se realizar vigilância dos ambientes, das
condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde. Assim, é necessário medidas de
controle ambiental com a finalidade de eliminação e/ ou redução dos níveis de exposição
aos fatores de risco e também realizar análise ergonômica do trabalho, da atividade.
Feito o diagnóstico deve-se, como já citado anteriormente, proceder da seguinte
forma: 1. verificar a necessidade de afastamento do trabalhador (total ou parcial) do
ambiente de trabalho, podendo ser esse afastamento temporário ou permanente; 2.
Solicitar emissão do CAT pela empresa e preencher o LEM para encaminhar ao INSS; 3.
acompanhar como o caso evolui; 4. notificação ao SUS de piora do caso; 5. busca por
outros casos e também por fatores de risco na empresa e em empresas que trabalham no
mesmo ramo de atividades; 6. recomendações à empresa sobre fatores de controle e
proteção que devam ser adotados.
NEURASTENIA (Inclui Síndrome de Fadiga) CID-10 F48.0 apud Ministério da Saúde
do Brasil (2001).
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“A característica mais marcante da síndrome de fadiga relacionada ao trabalho* é a presença de
fadiga constante, acumulada ao longo de meses ou anos em situações de trabalho em que não há
oportunidade de se obter descanso necessário e suficiente. A fadiga é referida pelo paciente como
sendo constante, como acordar cansado, simultaneamente física e mentalmente, caracterizando
uma fadiga geral. Outras manifestações importantes são: má qualidade do sono, dificuldade de
aprofundar o sono, despertares freqüentes durante a noite, especificamente insônia inicial,
dificuldade para adormecer ou “a cabeça não consegue desligar”, irritabilidade ou falta de
paciência e desânimo. Outros sintomas que podem fazer parte da síndrome são: dores de cabeça,
dores musculares (geralmente nos músculos mais utilizados no trabalho), perda do apetite e mal-
estar geral. Trata-se, em geral, de um quadro crônico” (Ministério da Saúde do Brasil, 2001, p.
184).
São fatores de isco relacionados ao trabalho:
- ritmos de trabalho acelerados; grandes jornadas de trabalho e jornada de trabalho em
turnos alternados.
- exposição a: brometo de metila; chumbo e seus compostos tóxicos; manganês e seus
compostos tóxicos; mercúrio e seus compostos tóxicos; sulfeto de carbono; tolueno e
outros solventes aromáticos neurotóxicos; tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano e
outros solventes orgânicos halogenados neurotóxicos; outros solventes orgânicos
neurotóxicos.
Diagnóstico está baseado em:
• queixas persistentes e angustiantes de fadiga aumentada após esforço mental ou
queixas persistentes e angustiantes de fraqueza e exaustão corporal após esforço físico
mínimo;
• pelo menos dois dos seguintes: sensação de dores musculares, tonturas, cefaléias
tensionais, perturbações do sono, incapacidade de relaxar, irritabilidade, dispepsia;
• paciente é incapaz de se recuperar por meio do descanso, relaxamento ou
entretenimento;
• duração do transtorno de pelo menos três meses.
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O tratamento deve ter o objetivo de mudanças nas condições de trabalho. Uso de
fármacos (ansiolíticos e hipnóticos) para insônia e irritabilidade.
No que diz respeito à prevenção deve-se realizar vigilância dos ambientes, das
condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde. Assim, é necessário medidas de
controle ambiental com a finalidade de eliminação e/ ou redução dos níveis de exposição
aos fatores de risco e também realizar análise ergonômica do trabalho, da atividade.
Feito o diagnóstico deve-se, como já citado anteriormente, proceder da seguinte
forma: 1. verificar a necessidade de afastamento do trabalhador (total ou parcial) do
ambiente de trabalho, podendo ser esse afastamento temporário ou permanente; 2.
Solicitar emissão do CAT pela empresa e preencher o LEM para encaminhar ao INSS; 3.
acompanhar como o caso evolui; 4. notificação ao SUS de piora do caso; 5. busca por
outros casos e também por fatores de risco na empresa e em empresas que trabalham no
mesmo ramo de atividades; 6. recomendações à empresa sobre fatores de controle e
proteção que devam ser adotados.
OUTROS TRANSTORNOS NEURÓTICOS ESPECIFICADOS (Inclui Neurose
Profissional) CID-10 F48.8 apud Ministério da Saúde do Brasil (2001).
“O grupo outros transtornos neuróticos especificados inclui transtornos mistos de comportamento,
crenças e emoções que têm uma associação estreita com uma determinada cultura. Segundo a
CID-10, a neurose ocupacional, que inclui a câimbra de escrivão,*, está incluída neste grupo. A
categoria neurose profissional é definida por Aubert (1993) como “uma afecção psicógena
persistente, na qual os sintomas são expressão simbólica de um conflito psíquico, cujo
desenvolvimento encontra-se vinculado a uma determinada situação organizacional ou
profissional” (Ministério da Saúde do Brasil, 2001, p. 186).
Os fatores de risco relacionados ao trabalho são: problemas relacionados ao
emprego e ao desemprego; mudança de emprego; ameaça de desemprego; ritmo de
trabalho penoso; condições difíceis de trabalho; outras dificuldades físicas e mentais
relacionadas ao trabalho.
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Sintomas como cansaço, desinteresse pelo trabalho e outras atividades,
irritabilidade, alterações do sono normalmente estão presentes.
No que diz respeito à prevenção deve-se realizar vigilância dos ambientes, das
condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde. Assim, é necessário medidas de
controle ambiental com a finalidade de eliminação e/ ou redução dos níveis de exposição
aos fatores de risco e também realizar análise ergonômica do trabalho, da atividade.
Sobre a conduta, no caso de ser confirmada essa doença, deve-se proceder como
já citado no início desse texto.
TRANSTORNO DO CICLO VIGÍLIA-SONO DEVIDO A FATORES NÃO-ORGÂNICOS
CID-10 F51.2 apud Ministério da Saúde do Brasil (2001).
“O transtorno do ciclo vigília-sono devido a fatores não-orgânicos é definido como uma perda de
sincronia entre o ciclo vigília-sono do indivíduo e o ciclo vigília-sono socialmente estabelecido
como normal, resultando em queixas de insônia, interrupção precoce do sono ou de sonolência
excessiva. Esses transtornos podem ser psicogênicos ou de origem orgânica presumida,
dependendo da contribuição relativa de fatores psicológicos, psicossociais ou orgânicos. O
transtorno do ciclo vigília-sono relacionado ao trabalho pode ser incluído nessa categoria, uma vez
que, por definição, é determinado pela jornada de trabalho à noite em regime fixo ou pela
alternância de horários diurnos, vespertinos e/ou noturnos, em regime de revezamento de turnos”
(Ministério da Saúde do Brasil, 2001, p. 189).
Os fatores de risco podem ser orgânicos (fatores que influenciam a saúde),
circunstâncias econômicas e sociais, problemas relacionados com o emprego e com o
desemprego, trabalho em turnos ou trabalho noturno; circunstância relacionadas às
condições de trabalho.
O diagnóstico se baseia nos seguintes fatores: adiantamento ou atraso de fases
do ciclo vigília-sono, dificuldades para dormir, interrupções freqüentes no sono,
sonolência em excesso durante a vigília e percepção de sono de má qualidade. Na
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presença desses fatores deve-se realizar exames para diagnóstico diferencial para
distúrbios de sono não-relacionados com a organização do trabalho.
Veja os aspectos clínicos que devem estar presentes para o diagnóstico desse
transtorno.
• padrão vigília-sono do indivíduo fora de sincronia com o ciclo vigília-sono desejado, que
é normal em uma dada sociedade particular e compartilhado pela maioria das pessoas no
mesmo ambiente cultural;
• como resultado da perturbação do ciclo vigília-sono, indivíduo com insônia durante o
principal período de sono e hipersonia durante o período de vigília quase todos os dias,
por pelo menos um mês ou recorrentemente por períodos mais curtos de tempo;
• quantidade, qualidade e tempo de sono insatisfatórios como causa de angústia pessoal
marcante ou interferência com o funcionamento pessoal na vida diária, social ou
ocupacional;
• inexistência de fator orgânico causal, tal como condição neurológica ou outra condição
médica, transtorno de uso de substância psicoativa ou de um medicamento.
No que diz respeito ao tratamento são indicados repousos intrajornadas, prática de
cochilo entre as pausas. Se necessário mudança no horário de trabalho.
Para prevenção deve-se organizar o trabalho buscando que o sistema de turnos
seja utilizado o mínimo possível e que quando este esteja presente haja um maior número
de horas de descanso para os trabalhadores.
Feito o diagnóstico deve-se, como já citado anteriormente, proceder da seguinte
forma: 1. verificar a necessidade de afastamento do trabalhador (total ou parcial) do
ambiente de trabalho, podendo ser esse afastamento temporário ou permanente; 2.
Solicitar emissão do CAT pela empresa e preencher o LEM para encaminhar ao INSS; 3.
acompanhar como o caso evolui; 4. notificação ao SUS de piora do caso; 5. busca por
outros casos e também por fatores de risco na empresa e em empresas que trabalham no
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mesmo ramo de atividades; 6. recomendações à empresa sobre fatores de controle e
proteção que devam ser adotados.
É importante que se tenha a participação de trabalhadores nos níveis gerenciais
para promoção de saúde e mudanças no ambiente que visem prevenção de doenças
ocupacionais.
SENSAÇÃO DE ESTAR ACABADO (SÍNDROME DE BURN-OUT OU SÍNDROME DO
ESGOTAMENTO PROFISSIONAL) CID-10 Z73.0 apud Ministério da Saúde do Brasil
(2001).
“A sensação de estar acabado ou s índrome do esgotamento profissional é um tipo de resposta
prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho. Tem sido descrita como
resultante da vivência profissional em um contexto de relações sociais complexas, envolvendo a
representação que a pessoa tem de si e dos outros. O trabalhador que antes era muito envolvido
afetivamente com os seus clientes, com os seus pacientes ou com o trabalho em si, desgasta-se e,
em um dado momento, desiste, perde a energia ou se “queima” completamente. O trabalhador
perde o sentido de sua relação com o trabalho, desinteressa-se e qualquer esforço lhe parece
inútil” (Ministério da Saúde do Brasil, 2001, p. 191).
Para o diagnóstico podem ser identificados:
• história de grande envolvimento subjetivo com o trabalho, função, profissão ou
empreendimento assumido, que muitas vezes ganha o caráter de missão;
• sentimentos de desgaste emocional e esvaziamento afetivo (exaustão emocional);
• queixa de reação negativa, insensibilidade ou afastamento excessivo do público que
deveria receber os serviços ou cuidados do paciente (despersonalização);
• queixa de sentimento de diminuição da competência e do sucesso no trabalho.
Sintomas inespecíficos: insônia, fadiga, irritabilidade, tristeza, desinteresse, apatia,
angústia, tremores e inquietação.
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No tratamento devem ser utilizadas as seguintes estratégias: psicoterapia, uso de
fármacos (antidepressivos e ansiolíticos), intervenções psicossociais. A gravidade de
cada caso deve ser avaliada para aplicação dessas estratégias.
No que diz respeito à prevenção deve-se realizar vigilância dos ambientes, das
condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde.
Sobre a conduta, no caso de ser confirmada essa doença, deve-se proceder como
já citado no início desse texto.
Atendimento em Psicoterapia individual e grupal.
Cordioli (2008) afirma que “(...) existem mais de 250 modalidades distintas de
psicoterapias, descritas de uma ou outra forma em mais de 10 mil livros e em milhares de
artigos científicos relatando pesquisas realizadas com a finalidade de compreender a
natureza do processo psicoterápico e os mecanismos de mudança e de comprovar a sua
efetividade, especificando em que condições devem ser usados e para quais pacientes”
(p. 20).
Sem a intenção de esgotar o tema, apresentaremos agora algumas teorias e
técnicas psicoterápicas importantes na atualidade:
Psicoterapia Psicodinâmica Breve
David H. Malan
De acordo com Yoshida (1990), a partir de 1950, o movimento de psicoterapia
breve ganha força com vários grupos de pesquisadores que buscavam definir critérios de
seleção, alterações de técnicas e os efeitos que poderia se esperar a partir delas. Neste
contexto, destacam-se dois grupos que trabalhavam independentemente: um na Clínica
Tavistock, em Londres, dirigido por David Malan, e o outro no Hospital Geral de
Massachusetts, em Boston, dirigido por Peter E. Sifneos.
Para esta autora, o grupo da Tavistock, com o objetivo de resgatar o método
original de Freud, desenvolveu uma técnica de psicoterapia que inclui vários tipos de
recursos técnicos disponíveis na psicanálise: análise da resistência, interpretação
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transferencial, interpretação de sonhos e fantasias. O procedimento adotado por eles
consistia em fazer uma avaliação psicodiagnóstica, composta de entrevistas clínicas e
utilização de testes, para daí se estabelecer uma hipótese psicodinâmica básica. Esta
hipótese busca identificar o conflito primário do paciente, no qual sua problemática atual
constitui uma reedição. Com base nesta hipótese se estabelece um objetivo específico e
limitado, que consiste no foco ou tema especifico para interpretação. Com isso em mãos,
se defini o procedimento terapêutico mais estratégico a ser adotado.
Lemgruber (1984) diz que para Malan o objetivo ou o foco deve ser formulado
idealmente em termos de uma interpretação essencial, na qual se baseia o processo
terapêutico.
De forma mais especifica, Lemgruber (1984) destaca que segundo Malan os três
recursos técnicos que o terapeuta pode usar para buscar o foco são:
• Interpretação seletiva: onde se busca interpretar sempre o material do paciente em
relação ao conflito focal.
• Atenção seletiva: através da qual se busca todas as relações possíveis do material
que o paciente traz com o conflito focal (é diferente da atenção flutuante da
psicanálise clássica).
• Negligência seletiva: leva o terapeuta a evitar qualquer material que possa desviá-
lo do foco.
Yoshida (1990) ressalta que a atitude do terapeuta para Malan é ativa, utilizando-
se de interpretações seletivas, atenção seletiva e negligência seletiva. Ele deve procurar
manter a focalização sobre os elementos da hipótese psicodinâmica básica. Esta técnica
é conhecida com o nome de Psicoterapia Focal.
Peter E. Sifneos
Yoshida (1990) coloca que Sifneos propôs uma técnica de psicoterapia
denominada Psicoterapia Breve Provocadora de ansiedade (Short-Term Anxiety-
Provoking Psychotherapy, STAPP) indicada para casos em que os sintomas neuróticos
são claramente identificáveis e onde a problemática edipiana está em primeiro plano,
como por exemplo, na fobia e nas formas brandas de neuroses obsessivas. O
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procedimento proposto consiste em pedir para o paciente escolher qual dificuldade
emocional considera prioritária. Em seguida o terapeuta faz um levantamento detalhado
da história de vida do paciente, com o objetivo de se formular uma hipótese psicodinâmica
que dê conta de explicar os conflitos emocionais subjacentes às dificuldades vividas por
ele.
Desempenhando o papel de “avaliador” e “professor”, o terapeuta formula
questões provocadoras de ansiedade, que estimulem o paciente a enfrentar e examinar
áreas do conflito emocional que numa outra situação evitaria. As sessões ocorrem na
posição de face a face e desde o início é dito para o paciente que o tratamento terá uma
duração de doze a dezoito sessões.
Hector Fiorini
Fiorini (1995) propõe a “Psicoterapia de esclarecimento”, que consiste em um
trabalho egóico com base teórica psicanalista. Para ele o estudo das funções egóicas é
importante para a compreensão da dinâmica do comportamento e também para entender
os mecanismos de ação das influências sobre este comportamento. Este estudo também
se faz importante para a eficácia terapêutica, já que o êxito ou o fracasso de uma
psicoterapia dependem da evolução adequada ou do descaso pelos recursos egóicos do
paciente.
Uma das principais razões que fazem Fiorini priorizar o ego, além do descaso
teórico que se deu a ele até então, é que este é potencialmente plástico e tem bastante
mobilidade se comparado com a inércia atribuída ao superego e ao id. O que permite uma
base para a compreensão da ação terapêutica e de uma diversidade de recursos
corretivos. O ego é uma dimensão de especial interesse para todo o enfoque diagnóstico,
prognóstico e terapêutico.
De acordo com Hegenberg (2004), para Fiorini o papel do terapeuta é semelhante
ao de um “docente”, ou seja, ele assume uma postura pedagógica, colocando-se no lugar
do saber. Na Psicoterapia Breve de Fiorini, o terapeuta realiza o manejo das sessões, a
indicação de livros e filmes, a sugestão de condutas, como por exemplo, propor viagens,
falar com alguém sobre algum assunto fundamental para o problema do paciente. O
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terapeuta busca dar condições para a criação de um contexto de discriminação e
esclarecimento, em que o insight abre espaço para a experiência emocional corretiva.
O trabalho proposto por Fiorini (1995) é predominantemente cognitivo, com
duração de 3 a 6 meses, voltado para o futuro e para a realidade factual (social) do
cliente. O terapeuta é mais ativo, com atenção voltada para o foco, usando interpretações
transferenciais apenas para diluir os obstáculos, com o objetivo de fortalecer áreas livres
de conflitos.
Fiorini (1995) destacou alguns tipos de intervenções verbais de um terapeuta em
psicoterapia breve, são elas:
� Interrogar o paciente, solicitando dados precisos, com o objetivo de
ampliar e esclarecer o relato;
� Propiciar informação;
� Confirmar ou retificar os conceitos do paciente sobre sua situação;
� Clarificar, ou seja, reformular o relato do paciente para que certos
conteúdos adquiram mais relevo;
� Recapitular, resumir o processo de cada sessão e do conjunto do
tratamento;
� Assinalar relações entre dados;
� Interpretar o significado de comportamentos do paciente;
� Sugerir atitudes determinadas, mudanças a titulo de experiência;
� Indicar especificamente a adoção de certos comportamentos com
caráter de prescrição, intervenções de cunho diretivo;
� Dar enquadramento à tarefa;
� Meta-intervenção, ou seja, comentar ou avaliar o porquê de ter usado
determinada intervenção;
� Outras intervenções: cumprimentar, anunciar interrupções, variações
ocasionais de horários, etc.
Ele também aponta a necessidade de diferentes tipos de intervenções, tais como:
intervenções corporais (gestos, postura corporal e olhares) e intervenções para-corporais
(tom de voz, intensidade e ritmo da fala).
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Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica segundo Braier
De acordo com o autor acima citado na Psicoterapia Breve tem-se a finalidade de
levar o paciente a superar seus sintomas e problemas atuais, ou seja, centra-se na
realidade do paciente. Além disso, busca-se o desenvolvimento do paciente e também
que ele adquira ou readquira a capacidade de tomar decisões.
Desta forma o foco terapêutico é em torno do problema, da queixa, dos sintomas
relatados pelo paciente. Nesse sentido, associação livre deve “girar” em torno do foco
terapêutico. Além disso, o papel ativo do terapeuta é essencial para o sucesso do
processo psicoterápico (BRAIER, 2001).
Braier afirma que a psicoterapia breve surge porque havia uma grande demanda
de pacientes vindos das instituições.
Sobre a técnica, alguns aspectos imprescindíveis são: estabelecer prazo para
término (este varia de acordo com o paciente e se for realizado em instituições também
de acordo com os prazos que estas determinam), responsabilidades do terapeuta e
paciente, como será feito o tratamento, usa-se esclarecimentos, confrontações e
assinalamentos, estabelecer relações entre experiências significativas e condições atuais,
clarificação de percepções individuais, esclarecimentos de perspectivas individuais, entre
outras. Além disso, a psicoterapia deve levar o paciente ao “insight” dos conflitos
existentes, mesmo que esse não seja completo (BRAIER, 2001).
Nesse tipo de psicoterapia é muito importante a entrevista inicial e alguns objetivos
devem ser considerados nesse momento e são citados por Braier, a saber:
a) estabelecimento do vínculo;
b) levantamento da história clínica e das queixas;
c) psicodiagnóstico, também enfatizando o prognóstico;
d) contrato terapêutico.
Alguns pacientes que, segundo Braier não se beneficiam em grande escala da
psicoterapia breve de orientação psicanalítica são: pacientes com psicose crônica,
pacientes com doenças psicossomáticas e psicopatias, toxicomanias, pacientes
pervertidos e com caracteropatias graves, pacientes com pouca tolerância a frustração e
ansiedade, com debilidades egóicas, pacientes que não tem motivação para o tratamento,
entre outros.
Psicoterapia de Apoio.
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Introdução.
Existe pouca literatura especifica publicada na área de Psicoterapia de Apoio (PA),
o que leva a uma ausência de definições de técnicas, objetivos e intervenções para esta
prática clínica. Porém, Aristides Cordioli (1993) afirma que ela é uma modalidade
terapêutica bastante utilizada, particularmente em pacientes caracteriológicos graves ou
psicóticos. Ainda segundo este autor, as razões para este certo menosprezo, é que ela
vem sendo considerada menos eficaz, mais superficial e de menor valor em se
comparada com as práticas terapêuticas que são voltadas para o insight.
Cordioli (1993) salienta que muitas das intervenções típicas em PA como o
aconselhamento, a sugestão, o controle ativo, quando inadequadamente utilizadas podem
provocar efeitos iatrogênicos1 ao estimularem a dependência e a regressão, em vez de
provocarem o crescimento emocional e autonomia.
Cordioli (1993) citando Dewald (1981) diz que o objetivo da PA é o alívio dos
sintomas e a mudança do comportamento manifesto, sem dar ênfase a modificação da
personalidade nem a resolução de conflitos inconscientes. Em PA não se trata de trazer à
consciência conflitos inconscientes, ante a incapacidade do ego em integrar ou resolver
tais conflitos, pois isso levaria a um aumento da ansiedade. Dewald propõem ainda o
exame das diferentes defesas utilizadas pelo paciente, reforçando-as ou encorajando-as,
ao invés de questioná-las e desfazê-las. Este autor menciona ainda que as práticas
específicas possíveis para PA são: a sugestão, o conforto moral, as explicações
intelectuais entre outras.
De maneira mais especifica, Cordioli (1993) define a PA como uma forma de
terapia que tem como principal objetivo manter ou restabelecer o nível de funcionamento
prévio do paciente. Esta meta será buscada mediante o reforço de mecanismos de
defesas adaptativos, o afastamento de pressões ambientais demasiado intensas e a
adoção de medidas que visam o alívio dos sintomas. Com isso procura-se promover o
crescimento emocional, estimulando ativamente a ultrapassagem das etapas evolutivas,
além de visar a aquisição de maturidade emocional mediante a promoção da autonomia,
1 Efeitos patológicos causados pelo próprio tratamento.
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a consolidação de uma identidade própria, através o estabelecimento de uma auto-
imagem estável e integrada do self, e a melhorar a capacidade de julgamento da
realidade. Ou seja, suas intervenções visam predominantemente o fortalecimento do ego,
por tanto, valem-se de técnicas psicológicas como a sugestão, o aconselhamento, a
educação, o controle ativo, a clarificação e a confrontação.
Um tratamento de PA pode durar dias, semanas, meses ou até anos. Cordioli
(1993) a classifica de acordo com seu tempo de duração em:
Psicoterapias de apoio de longa duração: destinadas a pacientes com importantes
incapacidades do ego, tais como, psicóticos, portadores de transtornos caracteriológicos
graves, ou com atrasos ou déficits evolutivos acentuados, e que não apresentam
condições para um tratamento dirigido ao insight.
Psicoterapias de apoio de curta duração: destinadas a controlar crises agudas que
ocorrem ou isoladas ou no curso das terapias prolongadas, e restabelecer o nível de
funcionamento prévio do paciente.
Avaliação do Paciente
Ainda segundo Cordioli (1993), as Psicoterapias de Apoio são usadas
isoladamente ou associadas a outras terapias em pacientes com diferentes graus de
comprometimento das funções do ego. Por tanto, os candidatos mais típicos para a PA
são os que têm: teste de realidade comprometido, ou seja, inabilidade para separar fatos
de fantasias, e para reconhecer os limites entre si mesmo e o outro, implicando no risco
de desenvolver um quadro psicótico se fosse submetido a uma psicoterapia voltada ao
insight; controle de impulsos deficiente, mais especificamente, necessidade freqüente de
exteriorizar os afetos de uma maneira destrutiva para si e para os outros, implicando em
dificuldade de conter e examinar sentimentos; relações interpessoais pobres ou
incapacidade de estabelecer e manter um relacionamento estável, no qual se inclui um
nível razoável de confiança, de intimidade e de trocas; dificuldade de ter emoções
adequadas, ou melhor, os afetos são experimentados de forma exagerada ou inibida em
relação à situação de que os provoca; pouca capacidade de sublimação, apresentando
dificuldade para canalizar energia para atividades criativas; pouca capacidade de
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introspecção, pouco interesse ou curiosidade em compreender-se; dificuldade em
comunicar seus sentimentos ao terapeuta, nível intelectual baixo.
Para que seja realizada uma psicoterapia de apoio com qualidade, Cordioli (1993)
destaca que é importante que seja feita uma cuidadosa avaliação clínica do paciente, que
inclua a identificação dos sintomas, fatores desencadeantes, diagnóstico nosográfico2 e
aspectos de personalidade como a compreensão profunda da psicodinâmica do paciente.
Para o planejamento das intervenções a serem utilizadas no processo terapêutico é
essencial entender suas motivações inconscientes, o uso de mecanismos de defesas
preferenciais, o conflito psíquico, a relação paciente-terapeuta, ter uma visão das etapas
evolutivas, dos sucessos e dos fracassos nos diferentes períodos críticos e dos aspectos
sadios e das vulnerabilidades do indivíduo.
Mais especificamente, Cordioli (1993) apresenta a avaliação do paciente nos
seguintes termos:
Diagnóstico Clínico: obtido através da historia clínica do paciente e de um exame
psiquiátrico.
Diagnóstico da Personalidade: com o objetivo de identificar os déficits no
funcionamento do ego, mecanismos de defesas patológicos predominantes e o nível de
organização da estrutura da personalidade.
Diagnóstico Dinâmico: identificação de lacunas em processos evolutivos básicos,
das defesas predominantes, da capacidade de avaliar a realidade, dos aspectos sadios
do ego e rigidez do superego.
O autor propõe também que após a avaliação é importante que o terapeuta
elabore uma explicação provisória para a origem dos déficits identificados. E o
planejamento geral das intervenções de apoio deve ser orientado por esta explicação.
Tipos e descrição das Intervenções
Cordioli (1993) afirma que as intervenções em PA têm o objetivo de fortalecimento
das funções egoicas, a partir disso descreve algumas. 2 Diagnostico que descreve e classifica.
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Sugestão
Intervenção que tem por objetivo induzir uma idéia, sentimento ou alterar a
vontade do paciente. É o recurso utilizado nas situações em que o paciente, por
limitações pessoais, não consegue perceber as alternativas, examiná-las criticamente, e
selecionar a mais conveniente, em função da realidade. Neste caso, o terapeuta introduz
idéias novas, propõe alternativas sobre como conduzir-se em diferentes situações,
assinando as conseqüências e deixando ao paciente a responsabilidade pela escolha. Ou
seja, o terapeuta vale-se de sua própria capacidade de examinar a realidade,
emprestando-a temporariamente ao paciente, que a utiliza para tomar as suas decisões.
Porém, a utilização deste recurso deve ser provisória, por período de tempo limitado,
determinado pela incapacidade do paciente para exercer tal função, pois o risco de sua
perpetuação pode favorecer a dependência e retardo da autonomia.
Controle ativo
É o recurso técnico no qual o terapeuta, valendo-se de sua autoridade, assume
funções de ego-auxiliar, decidindo e executando (ele mesmo ou auxiliares por ele
designados) funções que o paciente momentaneamente é incapaz de desempenhar. Este
tipo de procedimento é mais indicado para psicóticos ou situações de grande descontrole
emocional.
Reasseguramento
É a intervenção através da qual o terapeuta demonstrar aprovação ou
concordância sobre determinadas atitudes ou idéias do paciente, estimulando-o a tomar
decisões difíceis. Os elogios têm por objetivo aumentar a auto-estima do paciente,
mostrando acreditar em suas capacidades. Porém, estes têm que ser sinceros e
verdadeiros, baseados em fatos concretos e reais.
Aconselhamento
São sugestões e recomendações sobre atitudes e decisões que o terapeuta dá ao
paciente de forma ativa, com a finalidade de reforçar os aspectos sadios de sua
personalidade, ou para reduzir sintomas provocadores de stress, ou ainda para evitar
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crises. O terapeuta deve se guiar pelas necessidades do paciente e não por seus próprios
valores, desejos e aspirações. Esta técnica não deve ser confundida com o controle ativo,
pois nesta ocorrem proibições e ordens ao paciente e no aconselhamento é oferecido
uma explicação racional das vantagens ou desvantagens da atitude aconselhada. Mas
este também é um recurso de uso breve e excepcional, utilizado em pacientes muito
regressivos, ou em situações de crise aguda, nas quais a capacidade de avaliar a
realidade está comprometida.
Ventilação (desabafo)
É a comunicação por parte do paciente de emoções ou sentimentos reprimidos, os
quais são revividos de uma forma emocionalmente carregada, superando, assim, a
repressão a que conflitos e situações traumáticas estavam submetidos. Para que isto
ocorra é fundamental que o paciente sinta-se seguro e acolhido pelo terapeuta, que exista
um clima de confiança, onde o paciente saiba que será ouvido e não vai haver rejeição do
que vai falar.
Educação
É intervenção na qual o terapeuta dá informações ao paciente sobre a gênese de
seus sintomas, e o ensina como controlá-los, suprimi-los ou evitá-los.
Aspectos Gerais da Técnica
Cordioli (1993) destaca alguns aspectos gerais para a utilização das técnicas em
psicoterapia de apoio e que se diferenciam das psicoterapias de orientação analítica. O
primeiro destes aspectos é o fato do terapeuta não manter uma posição neutra na relação
terapêutica, pois ele deve mostrar, ativamente, envolvimento, simpatia e atitude de apoio.
Porém, é importante que o terapeuta tome cuidado e evite grandiosidade, onipotência e
seus vieses pessoais.
Outro aspecto que deve ser levado em conta, é que em PA a associação livre é
desaconselhada, sendo aconselhada a descrição detalhada dos fatos diários, nos quais
se manifestem as forças e debilidades do ego. Portanto, o foco é no aqui e agora,
estimulando-se os relatos dos eventos recentes mais significativos. É comum em PA, o
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estabelecimento de tarefas semanais ou quinzenais e suas revisões durante as sessões
para reforço e apoio dos avanços, análise e superação das dificuldades.
Usualmente não são feitas interpretações transferenciais, apenas quando a
transferência constitui uma resistência ao tratamento. Podem, também, ser utilizadas para
evidenciar relações simbióticas de dependência, ou de mecanismos primitivos como a
dissociação e a identificação projetiva.
Praticamente não é utilizada interpretação com objetivo de tornar manifesto o
conteúdo latente, no entanto, são utilizadas intervenções com o intuito de diminuir a
ansiedade, através do aumento de autoconhecimento, mais para aumenta do que para
desfazer as defesas.
Em PA, as sessões são normalmente semanais, mas podem ser quinzenais ou
mensais, dependendo da necessidade do caso. Mas os encontros devem ser previsíveis e
regulares.
Aconselhamento
O Aconselhamento constitui, atualmente, uma área especifica da Psicologia,
abrangendo um importante setor de especialização da ciência psicológica. É uma prática
que se desenvolveu nos campos da: orientação educacional, higiene mental, orientação
profissional, psicometria, serviço social de caso e psicoterapia.
Desenvolvimento Histórico
Segundo Ruth Scheeffer (1964), o desenvolvimento histórico do Aconselhamento
surge ligado a alguns movimentos psicológicos renovadores, tais como: 1) O
aparecimento da orientação profissional, mais especificamente, quando Parsons fundou
seu Serviço de Orientação Profissional em Boston, em 1909, que limitava-se a fornecer
aos clientes informações relativas ao mundo profissional, sem se preocupar com as
técnicas de relacionamento entre orientador e orientando, com uma atuação de caráter
estático. Mais tarde, em 1924, iria se definir a orientação profissional como o
fortalecimento de informações e conselhos sobre a escolha da profissão, pautado na
experiência do orientador. Já em 1937, a orientação profissional adquire maior
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dinamismo, neste momento, Meyer a define como o processo no qual o indivíduo é
assistido com o objetivo de este encontrar, de acordo com as suas características
pessoais, a profissão mais adequada. Nesta época, predominava a ênfase na aplicação
de testes psicológicos, porém, já se admitia que a orientação fosse um processo que visa
ajudar o orientando a fazer algo para si. Após o auge dos testes psicológicos, de 1940 à
1950, foi dada maior importância à relação orientador e orientando na situação de
aconselhamento do processo de orientação profissional. Sem dúvidas, o maior
influenciador desta mudança foi Carl Rogers, com suas teorias de orientação não-diretiva
no aconselhamento psicológico. 2) A criação de Serviços de Higiene Mental para adultos,
inclusive de Centro de Aconselhamento Pré-Matrimonial e Matrimonial, nos E.U.A.,
favorece a criação de campo de atuação para o aconselhamento. 3) As instituições de
Assistência Social que precisavam dar aos clientes, além de assistência médica e
financeira, oportunidades de expressão e alívio de suas cargas emocionais constituíram
um outro campo de atuação para desenvolvimento do aconselhamento psicológico. 4)
Uma outra oportunidade de aplicação do aconselhamento foi desenvolvimento dos
serviços de assistência psicológica nas empresas.
Definição
Ainda segundo Scheeffer (1964), o termo aconselhamento já foi tradicionalmente
associado a várias situações, tais como: fornecer informações, dar conselhos, criticar,
elogiar, encorajar, apresentar sugestões e interpretar ao cliente o significado de seu
comportamento. Mas, suas definições sofreram mudanças no decorrer de sua história.
Suas primeiras definições eram concisas e estáticas, Scheeffer (1964) cita Garrett
(1942) que definia aconselhamento com uma conversa profissional.
Mais tarde o aconselhamento passou a ser definido em termos mais dinâmicos e
operacionais. Scheeffer (1964) atribui a Carl Rogers (1941) este tipo de conceituação
quando o definiu como um processo de contatos diretos com o indivíduo, no qual a
principal meta é lhe oferecer assistência na modificação de suas atitudes e
comportamentos.
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Scheeffer (1964) aponta outras definições que têm sido dadas ao aconselhamento.
Como, por exemplo, a de Mac Kinney (1958) que diz que o aconselhamento é uma
relação interpessoal na qual o conselheiro deve perceber o indivíduo em sua totalidade
psíquica, com o objetivo de lhe ajudar a se ajustar mais efetivamente a si próprio e ao seu
ambiente. Nesta concepção, nota-se que o planejamento do aconselhamento dá ênfase
ao ajustamento do indivíduo ao ambiente em que está inserido. Outro exemplo, de
definição dado pelo autor, é a elaborada por Tolberg (1959), nela o aconselhamento é
delimitado enquanto uma relação entre duas pessoas na qual o aconselhador, mediante a
situação estabelecida e a sua competência especial, proporciona uma situação de
aprendizagem, na qual o indivíduo, uma pessoa normal, é ajudado a conhecer a si
próprio, e as suas possibilidades e potencialidades, a fim de fazer o uso adequado de
suas características. Percebe-se nesta definição que o aconselhamento é visto como uma
situação de aprendizagem e aplicável a pessoas normais.
Considerando e sintetizando as definições apresentadas, Scheeffer (1964), define
aconselhamento “como uma relação face a face de duas pessoas, na qual uma delas é
ajudada a resolver dificuldades de ordem educacional, profissional, vital e utilizar melhor
seus recursos pessoais” (p.14), ele completa destacando a importância de se tomar o
indivíduo em sua totalidade no processo de aconselhamento.
Métodos de Aconselhamento
Os métodos de aconselhamento vêm sofrendo alterações no decorrer de sua
história, modificando suas técnicas, os princípios que o norteiam e sua dinâmica.
Scheeffer (1964) faz um apanhado histórico dos principais métodos de aconselhamento,
dividindo-os em:
Método Autoritário:
Os primeiros métodos desenvolvidos para o aconselhamento se caracterizam pelo
elevado nível de autoritarismo. Basicamente, suas ações consistiam na repreensão e na
ameaça dos orientados. Este tipo de método está, hoje, praticamente abandonado, pela
falta de sentido humanitário, por serem pouco duradouras e por conseguirem
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modificações muito superficiais. São ações que seguem mais no sentido de reprimir do
que de modificar.
Método Exortativo
O orientador trabalha com o objetivo de conseguir que o orientado faça uma
promessa: deixar de beber, de jogar, de bater na esposa, etc. Ou seja, o trabalho
caracteriza-se pela obtenção de um termo de compromisso ou uma promessa formal do
orientando, de acordo com o que o orientador acha ser melhor para ele. Até
recentemente, este método vem sendo usado em vários contextos orientacionais, apesar
de seus inconvenientes: o fato de ser baseado numa exigência externa e que, muitas
vezes, não pode ser, por motivos internos, atendida, gera, além do problema existente,
um sentimento de culpa pelo não cumprimento da promessa.
Método Sugestivo
Caracteriza-se fundamentalmente pelo emprego de técnicas sugestivas, na qual,
procura-se provocar uma modificação no comportamento e nas atitudes do sujeito,
através de sugestões sobre o progresso obtido, como, por exemplo, o encorajamento:
“você está mais calmo”; “mais corajoso”; etc. É ainda bastante usado atualmente.
Consiste na supressão do problema e através do encorajamento e suporte, o indivíduo, se
convence que o problema não existe. Ressurgiu, com mais ênfase, com o hipnotismo.
Catarse
Foi utilizada pela Igreja Católica, onde era baseada na confissão. Consiste em
expressar problemas para outra pessoa que irá proporcionar orientação. Este método foi
trazido para a terapêutica por Freud, que o utilizou na Psicanálise de maneira sistemática
e profunda com o objetivo de liberar o individuo de recalques, angústias, etc. Aplicada de
maneira continua pode mobilizar o inconsciente. É um método bastante utilizado por
quem faz aconselhamento.
Método Diretivo
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É o método que conta com o maior numero de seguidores dentro da área do
aconselhamento. Nele o orientador age como dirigente, seleciona os tópicos que serão
discutidos, define os problemas, descobre as causa e sugere soluções ou propõe planos
de ação. Baseia-se na orientação médica, pois dá bastante importância para o histórico
do caso e procura realizar um diagnóstico e um prognóstico. Este tipo de orientação pode
gerar um efeito iatrogênico, a dependência do orientando, visto que a responsabilidade
das soluções está a cargo do orientador. Não deixa de ser um aconselhamento do tipo
autoritário, embora não em caráter rígido.
Método Interpretativo
Na orientação diretiva, além da persuasão e conselhos, também se utiliza as
técnicas interpretativas. É baseado no estudo da dinâmica da personalidade, o que
permite uma melhor compreensão do comportamento e a possível descoberta das causa
que o motivam. Pode ser considerada uma tentativa de mudar o comportamento através
de uma explicação e interpretação intelectual.
Método Não-Diretivo
Método iniciado por Carl Rogers apresenta as seguintes características: dá maior
responsabilidade da direção da entrevista ao orientando, isto é, a entrevista é centralizada
na pessoa do orientando; visa à pessoa, mais do que o problema apresentado;
proporciona a oportunidade de um amadurecimento pessoal; não se dá grande
importância ao conteúdo fatual e intelectual, mas ao emocional. O papel do orientador
consiste em clarificar os conteúdos emocionais do trazidos pelo orientando, não há a
preocupação de se elaborar um diagnóstico, como na orientação diretiva.
Método Eclético
Consiste na aplicação de conceitos e técnicas dos diversos métodos apresentados
acima. Caracteriza-se pela utilização das técnicas, consideradas pelo orientador, mais
satisfatórias e eficientes para a situação apresentada pelo cliente. É dada grande ênfase
a habilidade do orientador em selecionar, manejar e aplicar a técnica mais adequada às
exigências do cliente.
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Terapia Comportamental
A terapia comportamental implica principalmente, conforme (FRANKS E WILSON,
1975, APUD CABALLO, 2002), na aplicação dos princípios derivados da investigação na
psicologia experimental e social, para o alívio do sofrimento das pessoas e o progresso do
funcionamento humano, assim sendo, implica na alteração ambiental e na interação
social, mais que na alteração direta dos processos corporais por meio de procedimentos
biológicos.
Os mesmos autores colocam que tal terapia apresenta objetivos educativos e as
técnicas facilitam um maior autocontrole. “Na aplicação da terapia comportamental,
normalmente se negocia um acordo contratual no qual se especificam procedimentos e
objetivos mutuamente agradáveis. Aqueles que empregam os enfoques comportamentais
de modo responsável, guiam-se por princípios éticos amplamente aceitos”. (p. 11).
A análise do Comportamento tem suas raízes teóricas no Behaviorismo Radical, o
qual enfatiza a determinação ambiental sobre o sujeito. Para esta corrente teórica, “o
comportamento dos sujeitos ocorre (desenvolve-se e modifica-se) em função de certas
condições ambientais especificáveis”. (CABALLO, 2002, p. 62). Em outras palavras, o
sujeito é determinado pelo ambiente físico, cultural, social e histórico que o cerca.
Assim sendo, Caballo (2002) apresenta a análise funcional como o recurso
utilizado para avaliar e propor mudanças comportamentais de modo a atingir os objetivos
terapêuticos. A análise funcional especifica as condições ambientais das quais o
comportamento é função, ou seja, permite a descrição detalhada das relações funcionais
entre as variáveis antecedentes e o comportamento em questão, e entre o
comportamento e suas conseqüências, relações estas também conhecidas como tríplice
contingência do comportamento: estímulo-resposta-conseqüência (S-R-C). É com base
na identificação destas relações que o terapeuta, segundo Lettner e Rangé (1988), pode
levantar hipóteses de aquisição e manutenção do comportamento, a fim de escolher
procedimentos e objetivos adequados para a intervenção.
É importante ressaltar que a atividade psicológica não consiste, como pode parecer
em um primeiro momento, em aprendizados estereotipados, pré-fixados mecanicamente.
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Trata-se de classes de comportamento de acordo com as definições de estímulo
propostas por Skinner, em 1975. Não cabe neste momento o aprofundamento sobre a
teoria da aprendizagem que sustenta a terapia comportamental, mas para maiores
esclarecimentos pode-se consultar Caballo (2002). Reitera-se apenas, de acordo com tal
autor, que o importante nesta teoria é identificar a função do comportamento, e não a sua
topografia.
O terapeuta comportamental utiliza-se de muitos recursos durante o processo
terapêutico, e o relacionamento terapeuta-cliente, assim como em outras abordagens
teóricas, é sua primeira preocupação. O relacionamento é direcionado pelo terapeuta e,
segundo Lettner e Rangé (1988), depende de diversos fatores, entre eles a história
anterior de comportamentos de cada membro, aspectos de contato visual adequado,
linguagem ao nível de compreensão do cliente, postura que denote atenção e ao mesmo
tempo descontração, vestuário e ambiente onde se desenvolve a relação. Para o bom
andamento da psicoterapia, este relacionamento é fundamental para que o cliente aceite
as orientações psicoterápicas e confie no terapeuta, para tanto é necessário que o
terapeuta domine as técnicas de entrevista, saiba reforçar diferencialmente as
verbalizações do cliente, saiba controlar a própria ansiedade, e seja capaz de
proporcionar uma audiência não punitiva ao paciente.
O reforçamento positivo é outro recurso disponível ao terapeuta comportamental,
o qual tem sua base no grande princípio da teoria da aprendizagem, que afirma que os
comportamentos são mantidos por suas conseqüências, uma vez que há uma relação de
contingência entre uma resposta e sua conseqüência, quando a conseqüência depende
da ocorrência da resposta. Assim, o reforçamento positivo implica na apresentação de um
estímulo positivo, reforçador, ou seja, uma recompensa. O efeito do uso deste recurso é o
aumento gradual da resposta que o precede, até sua ocorrência mais ou menos estável.
Logo, o terapeuta pode utilizar o reforço diretamente em sua relação com o cliente. Por
exemplo, o terapeuta pode reforçar diferencialmente, com elogios verbais, a ocorrência de
comportamentos assertivos em clientes com baixo repertório de assertividade. Vale
lembrar também a possibilidade de utilização do reforçamento negativo, ou seja, a
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retirada de um estímulo aversivo. O reforço negativo também aumenta a probabilidade de
ocorrência da resposta.
Há diversas maneiras de utilizar esses tipos de reforçamento, tais formas de
programar o reforço são chamadas de esquemas de reforçamento. O esquema de
reforço contínuo implica em um reforço a cada resposta apresentada pelo cliente, o qual
produz freqüência baixa e estável de ocorrência do comportamento e baixo nível de
resistência à extinção. O esquema de reforço intermitente segue critérios de tempo ou
de números de comportamentos para liberar o reforço, o qual gera uma freqüência de
comportamentos mais alta e a resistência à extinção é maior. O reforço diferencial,
citado acima, consiste em reforçar diferentemente as respostas, ou seja, reforçar umas e
extinguir outras, no sentido de modelar3 o comportamento de acordo com o planejamento
final. O reforço condicionado diz respeito a um estímulo que anteriormente não tivesse
propriedades reforçadoras e passa a adquiri-las de uma maneira condicionada quando é
associado sistematicamente a um estímulo reforçador, funcionando então como estímulo
discriminativo para a ocorrência da resposta que o produz. O reforçamento simbólico
ocorre quando o estímulo reforçador apresentado após a ocorrência da resposta é um
símbolo a ser trocado pelo paciente por reforçadores condicionados. (LETTNER e
RANGÉ, 1988). Certamente, depende dos objetivos do terapeuta a escolha do melhor
esquema de reforçamento para cada situação clínica.
A discriminação e a generalização também podem ser utilizadas pelo terapeuta. A
discriminação consiste em “reforçar positivamente um comportamento na presença de um
estímulo, e extinguir a ocorrência deste comportamento na presença de outros estímulos”.
(LETTNER E RANGÉ, 1988, p. 76). E a generalização acontece após um processo de
discriminação, o qual “aumenta a probabilidade de ocorrência da resposta reforçada na
presença de estímulos que tenham características semelhantes ao estímulo
discriminativo”. (LETTNER E RANGÉ, 1988, p. 77).
3 A modelagem do comportamento baseia-se nos princípios de reforço diferencial e aproximação sucessiva,
que consiste na escolha progressiva de novos comportamentos a reforçar, dentro de uma hierarquia de
comportamentos pertencentes a uma mesma classe de respostas, até atingir-se um critério preestabelecido de
desempenho considerado desejável.
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A extinção do comportamento é a quebra da relação de contingência que existe
entre uma resposta e sua conseqüência, o que produz o efeito de reduzir gradual e
definitivamente a freqüência do comportamento que deixou de ser reforçado. “Deixar que
uma resposta ocorra sem ser seguida por suas conseqüências usuais, ou permitir que o
cliente tenha acesso aos estímulos reforçadores sem a ocorrência da resposta que antes
o produzia, faz com que o comportamento antes mantido por esta relação de contingência
perca sua força e diminua de freqüência”. (LETTNER E RANGÉ, 1988, p. 75).
Há comportamentos que são extintos com mais facilidades que outros. A medida
que indica a força do condicionamento é chamada de resistência à extinção, a qual,
segundo Lettner e Rangé (1988), possui como critério o número de respostas ou tempo
que o organismo demora para atingir as freqüências não condicionadas de ocorrência do
comportamento.
Para uma intervenção comportamental mais efetiva, sugere-se que o terapeuta
tenha formas de mensurar a freqüência e mesmo a topografia do comportamento antes
de iniciar o processo terapêutico em si, como linha de base para avaliar, ao final do
processo, as mudanças adquiridas com a intervenção. E, para avaliar a duração de um
efeito terapêutico, muitos terapeutas utilizam-se do seguimento, técnica que consiste no
acompanhamento e avaliação da problemática do paciente após algum tempo de alta.
A psicoterapia comportamental dispõe ainda de inúmeras técnicas que podem ser
utilizadas na intervenção psicoterápica, mas não é possível, no espaço deste texto,
abordá-las com profundidade. Assim, apenas citaremos as mais importantes, que são
facilmente encontradas nas referências bibliográficas indicadas: Esvaecimento –
desvanecimento (fading out); Condicionamento Clássico; Dessensibilização Sistemática;
Autocontrole; Frustração; Resistência à Frustração; Registro de comportamento;
Economia de Fichas; Relaxamento Muscular; Técnicas de Dessensibilização Auto-
administrada; Pais como agentes de mudança – pais como terapeutas; Desempenho de
Papéis – ou Treino de papéis (role-play); Treinamento assertivo; Modelação; Contrato de
Contingências; Punição; Time out; Reforçamento Negativo; Sensibilização (terapia
aversiva); Sensibilização Encoberta; Inundação (flooding) – ou terapia implosiva; Prática
negativa; Habituação (ou adaptação); Supressão de resposta (ansiedade); Princípio de
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Premack; Feedback auditivo atrasado (DAF); Biofeedback; Terapia Racional Emotiva
(Ellis); Terapia Cognitiva (Beck); Terapia cognitiva (Meichemnaum) ou treino auto-
instrucional; Tratamento de projeção do futuro; Treinamento de habilidades sociais;
Inoculação de estresse; Ensaio comportamental; Tarefas Comportamentais; Terapia da
enurese por despertador; Treinamento do controle da bexiga; Intenção Paradoxal;
Prevenção de resposta; Inversão de hábito; Foco Sensorial e foco genital; Técnica de
compressão (squeeze); Recondicionamento orgásmico (treinamento de masturbação);
Terapia Sexual conjunta; Dessensibilização masturbatória; Dilatadores hegar; Parada no
pensamento (thought-stopping); Família instrutora; Imaginação emotiva.
Dentre estas técnicas citadas, há algumas de controle aversivo, e os autores Lettner
e Rangé (1988) ressaltam que apesar das inúmeras restrições, “em alguns casos utiliza-
se o controle aversivo especialmente quando está em risco a segurança ou integridade
física do cliente, ou quando a severidade do distúrbio é muito grande, e outros recursos
para a redução na freqüência de respostas não podem ser usados ou são ineficientes”. (p.
80).
Há autores que distinguem técnicas operantes e técnicas respondentes, mas, como
os comportamentos dos clientes e os processos por que passam, sejam operantes ou
respondentes, podem ocorrer ao mesmo tempo, Lettner e Rangé (1988) julgaram
preferível descrever as técnicas sem esta separação formal.
Por fim, os autores esclarecem que é praticamente impossível fazer uma prescrição
de técnicas exclusivas, ou mais apropriadamente utilizáveis para cada distúrbio de
comportamento. Se o terapeuta tem formação adequada nenhuma escolha de técnicas se
fará, sem antes efetuar-se uma análise funcional que identifique e descreva claramente o
distúrbio do comportamento e suas relações com variáveis do meio ambiente. Caberá a
cada terapeuta a escolha da técnica que julgar mais adequada a cada caso, o que
também é uma característica da terapia comportamental.
Terapia Cognitivo-Comportamental
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem o seu foco voltado para os
processos cognitivos, os quais estão envolvidos na origem e desenvolvimento das
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psicopatologias. O que produz a queixa do paciente “não são diretamente os estímulos
ambientais, mas sim o processamento cognitivo seletivo falho (atribuição de significados)
da realidade pessoal do indivíduo”, ou seja, “uma distorção das cognições diante das
possíveis interpretações da realidade”. (NEVES NETO, 2003, p. 18). É o processamento
cognitivo que faz a mediação dos processos psicológicos, tais como a expressão de
emoções e a execução de comportamentos, desta forma acredita-se dar mais relevância
para o indivíduo e sua construção pessoal deste processamento.
Assim, as intervenções do psicoterapeuta cognitivo-comportamental tomam por
base os pensamentos dos clientes. Para tal, utiliza-se a classificação dos pensamentos
quanto ao grau de ajustamento psicossocial e cultural para com o seu meio
(disfuncionais ou primitivos e funcionais ou maduros), bem como a identificação de
como o próprio cliente se ajusta aos seus valores e o quanto este conjunto de dispositivos
aproxima ou distancia o indivíduo de seus mais diversos objetivos. (NEVES NETO, 2003).
Os erros sistemáticos ou distorções cognitivas podem ocorrer durante o
processamento de informações sobre si mesmo, o mundo e o futuro. “Esses erros
reforçam as cognições que podem ser adaptativas ou desadaptativas”. (BECK, 1997,
apud NEVES NETO, 2003, p. 20). Os mesmos podem ser: inferência arbitrária, abstração
seletiva, hipergeneralização, magnificação e minimização, personalização, pensamento
dicotômico4.
O objetivo da TCC, segundo Neves Neto (2003), é a “substituição de cognições
disfuncionais por pensamentos mais flexíveis e pautados na interação entre indivíduo e
seu ambiente”. (p. 15). A TCC, conforme o mesmo autor, atualmente defende uma
postura integrativa de psicoterapia, ou seja, reúnem-se sistematicamente técnicas
cientificamente embasadas das diversas abordagens teóricas existentes em psicologia
clínica, tais como psicoterapia comportamental, psicoterapia interpessoal, psicodinâmica,
gestalt, logoterapia, etc. “A terapia cognitiva fornece uma estrutura teórica unificadora
dentro da qual as técnicas clínicas de outras abordagens psicoterapêuticas estabelecidas
e validadas podem ser apropriadamente incorporadas (...) fornece um paradigma
4 Para maiores esclarecimentos destes erros indica-se a consulta à referência bib liográfica indicada.
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coerente e ao mesmo tempo evolutivo para a prática clínica”. (BECK E ALFORD, 2000,
apud NEVES NETO, 2003, p. 17).
Ao terapeuta cognitivo-comportamental também são possíveis inúmeras técnicas
como recurso terapêutico, citaremos apenas algumas questões importantes.
A postura ativa consiste no estabelecimento de uma relação terapêutica entre
cliente e psicoterapeuta embasada na tríade: calor humano, compreensão empática e
interesse genuíno. Novamente a aliança terapêutica é o passo inicial e fundamental para
o bom andamento do processo terapêutico.
Outro componente é o que se denominou chamar de empirismo colaborativo, ou
seja, não oferecer primeiramente as respostas para o paciente, mas criar condições para
que este as encontre e teste suas cognições.
A TCC é diretiva, ou seja, é um processo orientado para os problemas do presente,
uma vez que estes geralmente são mais fáceis e garantem um aumento de adesão do
cliente às intervenções futuras e mais amplas. E é também educativa, na qual discute-se
com o paciente sobre o modelo cognitivo-comportamental de psicoterapia, sobre a
natureza de seu problema, o processo psicoterapêutico e prepara-se para a prevenção de
recaídas.
A seqüência de sessões é previamente estabelecida pelo terapeuta, o que
caracteriza a TCC como estruturada. Há também o planejamento terapêutico
personalizado, que se baseia nos achados de pesquisas que demonstram tratamentos
eficazes para as queixas do paciente, mas não de modo rígido a ponto de ignorar
mudanças nas queixas ou problemas emergenciais da vida. Esta estrutura e
planejamento da TCC, possibilitam que este processo terapêutico seja de prazo limitado,
ou seja, os objetivos são priorizados no acordo entre paciente-terapeuta. Uma vez
tratados, novos objetivos podem ser ou não estipulados.
Uma técnica bastante utilizada consiste nas tarefas de casa, que são atividades
complementares à consulta e que visam aumentar a efetividade e a generalização dos
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efeitos da psicoterapia. Com este recurso a psicoterapia permanece mais tempo na vida
do paciente e este se sente também mais envolvido com a resolução de seus problemas.
A respeito da utilização das técnicas, Neves Neto (2003) ressalta que uma boa
técnica em geral flui naturalmente dentro das sessões, e requer habilidade do terapeuta
ao empregar este poderoso recurso, no entanto, as técnicas não substituem o papel da
relação terapêutica.
Novamente não será possível dentro deste texto a abordagem detalhada das
principais técnicas utilizadas na TCC. Para maior aprofundamento da temática indica-se a
consulta às referências sugeridas (Manual de técnicas cognitivo-comportamentais, de
Keith S. Dobson). Apresenta-se apenas as mais utilizadas de cada abordagem teórica.
Comportamentais: relaxamento muscular progressivo, agenda de atividades,
análise do comportamento, exposição, treino do manejo da ansiedade, reforçamento,
agendamento de atividades (semanal/diária), treino de discriminação, treino de contato,
agenda diária, contrato, controle de estímulos, relaxamento autógeno, modificação de
resposta, prevenção de resposta, observação do comportamento.
Cognitivas: terapia cognitiva geral, auto-reforçamento, resolução de problemas,
auto-verbalização, dessensibilização sistemática (imaginação), autocontrole, terapia
racional emotiva (Ellis), terapia cognitiva (Beck), automonitoração, eliciação de cognições,
parada de pensamento, inoculação de stress, explicação alternativa, ensaio cognitivo,
registro de pensamentos disfuncionais, linha do tempo.
Teoria da aprendizagem social: treino de assertividade, treino de habilidades
sociais, modelação.
Outras técnicas: terapia de casais, empatia, aconselhamento, terapia de família,
terapia sexual.
Psicoterapia de Grupo
A psicoterapia de Grupo pode ser feita em diferentes abordagens teóricas, sendo
que cada uma delas possui suas características.
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Muitos pacientes, com diferentes transtornos, podem se beneficiar da terapia grupal,
porém Ito, Roso, Tiwari, Kendall, Asbahr (2008) apontam alguns critérios que devem ser
considerados para a composição do grupo, a saber:
• Balanceamento do grupo por gênero, idade e gravidade do transtorno a ser
trabalhado. Alguns pacientes, como por exemplo, aqueles que apresentam
depressão, transtornos de personalidade e/ ou são muito agressivos e exigentes
não se beneficiam dessa terapêutica.
• Pacientes com o nível de gravidade do transtorno semelhantes devem compor o
grupo.
• O grupo deve ter cerca de seis participantes para dois terapeutas.
• O número de sessões deve ser por volta de 12, com duração de duas horas cada
uma e sendo estas semanais.
9. Metodologias de diagnóstico e de intervenção em instituições de saúde.
Campos, Barros e Castro discutem a promoção de saúde como estratégia para
enfrentar os problemas sanitários do país e contribuir para a melhoria da qualidade de
vida da população. Afirmam que posições teórico-políticas culminam em práticas, assim é
importante pensar nessas posições para refletir sobre essas práticas.
Ao se pensar em Promoção de Saúde uma pergunta surge: “Como cuidar da
saúde de sujeitos e coletividades?”. Considera-se inicialmente nessa reflexão, o conceito
ampliado de saúde, ou seja, saúde é algo multideterminado, sendo determinada, entre
outras coisas, pela maneira como a sociedade, nas quais os indivíduos são integrados,
organiza seu modo de produção. Com base nesse conceito, as ações em saúde
necessitam serem integradas as outras políticas públicas e econômicas (CAMPOS;
BARROS; CASTRO).
Assim, os profissionais de saúde devem focar não mais as doenças e sim os
sujeitos. Também a proposta de política nacional de Promoção de Saúde deve ser
Transversal e integradora. Além disso, a promoção de saúde também deve ser
intersetorial, abrangendo, por exemplo, questões relativas ao meio ambiente, nutrição,
moradia, uso de drogas, entre outras. Para que haja intersetorialidade é necessário o
diálogo entre os setores, além da co-gestão e co-responsabilidade. Também população
deve estar envolvida, no sentido de rastrear as suas necessidades e buscar alternativas
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para as mesmas, para isso é importante o fortalecimento dos movimentos sociais
(CAMPOS; BARROS; CASTRO).
Os modos de vida da população também devem ser pensados pela política de
promoção de saúde, contudo é necessário compreender/ considerar a estrutura social e
econômica em que as necessidades e hábitos da população são produzidos (CAMPOS;
BARROS; CASTRO).
Na promoção de saúde há um trabalho pela “autonomia dos sujeitos e das
coletividades” e esses são preparados para buscar soluções e formas de vida que
atendam as suas necessidades e desejos (CAMPOS; BARROS; CASTRO).
A política de Promoção de Saúde deve considerar que o sistema capitalista gera
necessidades de consumo contínuo, fato que traz conseqüências a saúde dos sujeitos.
Assim, deve investir na capacidade de auto-regulação dos sujeitos e também cobrar
atitudes do Estado que contribuam para não deixar os sujeitos tão vulneráveis a
quaisquer situações de risco, ou seja, uma das palavras de ordem é co-responsabilização
(CAMPOS; BARROS; CASTRO).
Campos, Barros e Castro propõem uma articulação entre os conceitos de
promoção de saúde e redução de danos. Veja os eixos temáticos de trabalho citados no
artigo: Modos de viver; Condições e relações de trabalho; Ambientes; Intersetorialidade;
Educação/ Formação/ Comunicação; Integralidade.
O apoio matricial trata-se de uma metodologia de trabalho que complementa a prevista
em sistemas hierarquizados: mecanismos de referência e contra-referência, protocolos e
centro de regulação. Seu objetivo é oferecer retaguarda assistencial e suporte técnico-
pedagógico às equipes de referencia (CAMPOS, 2007).
Essa metodologia pretende assegurar maior eficácia e eficiência ao trabalho em saúde
e investir na construção de autonomia dos usuários. As equipes de referência objetivam
ampliar as possibilidades de construção de vínculo entre profissionais e usuários e, ainda,
pressupõem uma lógica análoga para profissionais de policlínicas ou hospitais (terapeutas
ocupacionais, psiquiatras e psicólogos que trabalham em centros de apoio psicossocial;
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de infectologistas, enfermeiros e assistentes sociais no programa de DST/AIDS; de
ortopedistas, cirurgiões e enfermeiros em departamentos de trauma etc (CAMPOS, 2007).
Dessa forma, a equipe de referência é um grupo organizacional cujo objetivo, também, é
tirar o poder das profissões e corporações de especialistas, reforçando o poder de gestão
da equipe interdisciplinar. Cada equipe de referência tem um registro e um cadastro dos
seus casos. A proposta de equipes de referência é extensiva para hospitais, centros de
referência, enfermarias, unidades de urgência ou de terapia intensiva. (CAMPOS, 2007).
Existem duas maneiras para estabelecer o contato entre referências e apoiadores:
encontros periódicos e regulares e em caso de emergência o profissional de referência
aciona o apoio matricial (contato pessoal, eletrônico ou telefônico) (CAMPOS, 2007).
Estes contatos podem-se desenvolver em três planos fundamentais:
- atendimentos e intervenções conjuntas entre o especialista matricial e alguns
profissionais da equipe de referência;
- o apoiador pode programar para si mesmo uma série de atendimentos especializados,
mantendo contato com a equipe de referência;
- o apoio restringe-se à troca de conhecimento e de orientações entre equipe e
apoiador.
Em campinas foram criados Núcleos de Saúde Coletiva e organizou-se apoio em áreas
clínicas (saúde mental, nutrição e reabilitação física) (CAMPOS, 2007).
Há obstáculos estruturais, éticos, políticos, culturais, epistemológicos e subjetivos ao
desenvolvimento desse tipo de trabalho integrado à saúde (CAMPOS, 2007).
O nome matricial sugere que profissionais de referência e especialistas mantenham
uma relação horizontal e não vertical como recomenda a tradição dos sistemas de saúde.
Já o termo apoio sugere ordenar a relação entre referência e especialista. O termo foi
retirado do método Paidéia (CAMPOS, 2007).
Houve uma divisão do trabalho na Medicina e na saúde. Assim, estruturam-se
organizações de saúde com elevado grau de departamentalização. Analisando o hospital
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e o ambulatório verifica-se, na maioria, que se dividem em departamentos ordenados
conforme profissões e especialidades médicas (CAMPOS, 2007).
O SUS introduziu a diretriz do controle social. O apoio matricial depende da existência
de espaços coletivos em que as equipes de saúde compartilhem a elaboração de planos
gerenciais e de projetos terapêuticos e depende, também, de uma ampla reformulação da
mentalidade e da legislação do sistema de saúde (CAMPOS, 2007).
Os profissionais acostumaram-se a valorizar o trabalho autônomo, mas o apoio matricial
promove encontros entre distintas perspectivas e obriga os profissionais a comporem
projetos terapêuticos com outras racionalidades e visões de mundo (CAMPOS, 2007).
As equipes de referência e o apoio matricial buscam um trabalho coletivo e definem de
maneira mais precisa a responsabilidade sanitária. A maioria das especialidades e
profissões de saúde trabalha com um referencial sobre o processo saúde e doença
restrito. Outros tendem a valorizar o social na explicação desse fenômeno também geram
soluções restritas a essa linha de intervenção e isso é observado, ainda, entre os adeptos
de explicação subjetiva (desejo ou cognição) (CAMPOS, 2007).
10. Fundamentos para o planejamento e a gestão do processo de trabalho em
organizações públicas de saúde.
Há diversas pesquisas em gestão e avaliação de saúde no Brasil após a criação
do SUS em 1988. Há múltiplas correntes teóricas nessa produção, sendo que a
Sociologia aparece em destaque. Há uma disputa entre essas correntes, a qual influência
tanto os pesquisadores quanto aqueles que tomam as decisões em Saúde Pública
(Gestores e avaliadores). Assim, nota-se que estes são influenciados por diferentes
maneiras de interpretar a realidade, as quais têm fundamento nas correntes teóricas
acima citadas, porém nem sempre as pessoas têm consciência dessa influência (LINS;
CECCILIO, 2007).
Produções nas Ciências humanas em Gestão e Avaliação em Saúde:
• Estrutural e funcionalista:
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Lins e Cecílio (2007) utilizam Parson para sintetizar essa forma de pensamento, o qual
tem as seguintes características: ausência formal de conflitos de interesse entre os
sujeito, já que os mesmos introjetaram os interesses da sociedade; há na sociedade a
busca pelo consenso que levaria a homeostase; divergências são disfunções que devem
ser incorporadas pelo sistema; a gestão deve ter como base a disciplina e o controle –
racionalidade gerencial hegemônica. Citam também Aguilar e Ander-Egg (1995), os quais
atribuem racionalidades próprias ao desempenho de papéis específicos na sociedade.
Parson via a instituição como uma sociedade em miniatura. A teoria estrutural-
funcionalista de Parson influenciou muitas intervenções em gestão e avaliação em países
como Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra e Brasil, juntamente com as teorias clássicas
de Taylor e Fayol (LINS; CECCILIO, 2007).
Donabedian influenciou muito a área de avaliação de saúde e sua teoria seria uma
aplicação da teoria de sistemas à saúde, tendo como foco a atenção médica. Propunha a
avaliação em saúde a partir de um tripé metodológico: estrutura, processo e resultado.
Sua obra influenciou profissionais das mais diversas áreas em avaliação de saúde (LINS;
CECCILIO, 2007).
Os pesquisadores ligados a teoria dos sistemas faziam críticas à idéia mecânica de
instituições proposta na produção estrutural-funcionalista. Contudo, o paradigma continua
funcionalista, pois não há espaço para conflitos de interesse. Assim, mede-se o resultado
da organização, sem levar em conta os distintos interesses dos indivíduos que dela fazem
parte (LINS; CECCILIO, 2007).
• Teoria da Ação:
Os trabalhos dessa teoria se filiam à sociologia fenomenológica, que tem como
autoridades Schultz (1979) e Berger e Luckmann (1994). Posicionam-se contrariamente
ao positivismo, que preza pela objetividade, consideram o aspecto subjetivo para o estudo
da dinâmica social (LINS; CECCILIO, 2007).
A metodologia dessa teoria se baseia “no estudo dos atores ou pequenos grupos
situados biograficamente, o estudo dos estoques de conhecimento com os quais
interpretam e dos significados que atribuem ao fenômeno para sua melhor compreensão”
(LINS; CECCILIO, 2007).
Essa teoria também é utilizada para a análise das organizações, como exemplo de
autores que fazem isso tem-se Erhard Friedberg. Definem as instituições como
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“produções dos indivíduos que nelas interagem e como reflexos das estruturas e
significados prevalentes na sociedade em cada momento histórico” (LINS; CECCILIO,
2007).
• Estruturismo ou estruturacionismo:
Linha de pensamento que busca acabar com a dicotomia entre subjetivismo e
objetivismo. Nessa linha é defendido o conceito de Dualidade, a partir do qual se pensa
as estruturas sociais constituídas através da ação humana e também são o próprio meio
dessa constituição (LINS; CECCILIO, 2007).
Pierre Bourdieu é um dos expoentes dessa linha. Usa em seus escritos a idéia de
hábitos (disposição estável para agir em certa direção) e a partir dela propõe o conceito
de habitus que seria “um sistema de disposições duráveis, estruturas estruturadas
predispostas a funcionarem como estruturas estruturantes” (Bourdieu, 1983, p. 61 apud
Lins e Cecílio (2007). Campo seria o lócus no qual os agentes encontram-se fixados num
primeiro momento e aí se vê as relações de poder.
• Movimento Institucionalista:
Surge na França, na década de 60. É constituído por diversas tendências, tendo
destaque a Esquizoanálise com Gilles Deleuze e Felix Guattari e Análise Institucional,
também conhecida como Socianálise com George Lapassade e René Lourau. Esta última
propõe uma diferença entre os conceitos de organização e instituição, sendo essa
diferença importante para que se entenda a dinâmica social(LINS; CECCILIO, 2007).
Lapassade e Loureau (1972) apud Lins e Cecílio (2007) afirmam que instituição é “a
forma assumida pela reprodução e produção de relações sociais num dado modo de
produção, ou a maneira de agir e pensar que o indivíduo encontra preestabelecida”. Já no
que diz respeito ao conceito de instituição os referidos autores apontam dois significados:
1) conjuntos práticos que perseguem objetivos; 2) para designar algumas condutas ou
processos sociais.
Apontam ainda três momentos do conceito de instituição: a) Universalidade (normas,
aquilo que é instituído); b) Particularidade (instituinte) e c) Singularidade (formas
necessárias para atingir certa finalidade, momento da institucionalização).
Os analistas institucionais afirmam que o sentido da organização é externo a ela tanto
na história, quanto no modo de produção e na formação social que se constituí. A
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Socianálise foi aplicada a prática social dos grupos e das instituições (LINS; CECCILIO,
2007).
Campos metodológicos de intervenção organizacional:
Foram escolhidas três abordagens em caráter arbitrário para a construção desses
campos metodológicos de intervenção organizacional, sendo que essa idéia de campo é
inspirada na idéia de homônima de Bourdieu significando diferenciação das esferas
sociais, como especialistas (LINS; CECCILIO, 2007).
Esses campos buscam ser categorias analíticas baseadas nas teorias da
estruturação (Guiddens), estruturacionismo (Bourdieu), fenomenologia sociológica
(Schutz, Berger, Luckmann), estrutural funcionalista (Parsons e Talcott) e análise
institucional (Lourau e Lapassade) (LINS; CECCILIO, 2007).
De acordo com Lins e Ceccilo (2007) há três momentos da instituição (socianálise)
para definição de três campos de intervenção ideais:
1. Campo metodológico de intervenções universalistas (CMIU): há a predominância da
memória na prática dos atores. A ação desses atores é determinada pela estrutura
(regras – legislação, normas oficiais), por isso é a criatividade dos mesmos é determinada
pela estrutura. Organização entendida como um sistema ou um organismo que tende a
homeostase. Governabilidade normativa impera.
2. Campo metodológico de intervenções particularistas (CMIP): os interesses dos pequenos
grupos norteiam as ações nas organizações. Preza-se pela liberdade dos atores. A
criatividade desses atores é partilhada no grupo e a governança deve ser capaz de fazer
“aflorar” essa criatividade.
3. Campo metodológico de intervenções singulares (CMIS): nesse há a busca pela “síntese
dialética” entre estrutura e ação, entre memória e criatividade, norma e liberdade,
subjetividade e objetividade. Admite os diversos segmentos presentes na organização,
desfazendo dicotomias como “explorados e exploradores” exercendo ações que são
transformadoras e cristalizadas ao mesmo tempo.
Esses campos foram utilizados por Lins e Ceccilo (2007) para análise de teses e
dissertações da área de gestão e avaliação em saúde produzidas no Brasil de 2000 a
2004. Foram encontrados trabalhos:
• No referencial estrutural-funcionalista;
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• Busca por novos paradigmas em autores contemporâneos;
• Acredita-se que esse esquema de análise pode contribuir para novas leituras e
análises de proposições e intervenções organizacionais na área de saúde.
A formação de recursos humanos para o SUS (Sistema único de Saúde) é algo
bastante problemático no Brasil, já que os profissionais que se formam no país não estão
prontos para lidarem com a complexidade desse sistema, além de não terem a visão
coletiva de saúde, estando presos a modelos biomédicos (Brasil - Ministério da Saúde,
2004).
Constata-se que os currículos dos cursos que formam profissionais para a saúde
dão destaque a uma visão hospitalocêntrica, deixando para segundo plano os conteúdos
sobre o SUS. Apesar dessa pouca importância que se dá ao SUS nos currículos de
formação desses profissionais, muitos deles irão atuar como gestores nesse sistema
(Brasil - Ministério da Saúde, 2004).
Os estudantes da área da saúde têm demonstrado preocupação com a situação
acima citada (Brasil - Ministério da Saúde, 2004).
Diante dessa situação a Escola de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul
(ESP/RS) buscou uma articulação os estudantes da área da saúde, criando assim a
Assessoria de Relações com o Movimento Estudantil e Associações Científico-
Profissionais da Saúde, buscando o desenvolvimento de projetos que valorizem o SUS e
a visão coletiva de saúde. Projetos como “Escola de Verão do Rio Grande do Sul” foram
realizados já em 2002, data de criação da Assessoria de Relações com o Movimento
Estudantil e Associações Científico-Profissionais da Saúde (Brasil - Ministério da Saúde,
2004).
Apesar desses avanços apoiados pelo Movimento Estudantil ainda não se
encontra em quantidade suficiente políticas públicas de desenvolvimento de recursos
humanos para o SUS que tenham como alvo os estudantes e os cursos de formação de
profissionais da saúde (Brasil - Ministério da Saúde, 2004).
De acordo com o Caderno VER-SUS do Ministério da Saúde (2004), encontra-se
previsto na legislação brasileira pontos tratando da formação Recursos Humanos e o
Papel dos Gestores Públicos no Brasil, a saber:
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1 - Constituição Nacional de 1988
Artigo 200 o: Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos
termos da Lei:
III - ordenar a formação de Recursos Humanos na área da saúde;
V - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico.
2 - Lei Orgânica da Saúde de 1990
Artigo 6o: Estão incluídas no campo de atuação do SUS:
III - a ordenação da formação de recursos humanos na área da saúde;
X - o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e tecnológico.
Artigo 14o: Deverão ser criadas Comissões Permanentes de integração entre os serviços
de saúde e as instituições de ensino profissional e superior.
Parágrafo único: Cada uma dessas Comissões terá por finalidade propor prioridades,
métodos e estratégias para a formação e educação continuada dos recursos humanos do
Sistema Único de Saúde na esfera correspondente, assim como em relação à pesquisa e
à cooperação técnica entre essas instituições.
Artigo 15 o: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu
âmbito administrativo, as seguintes atribuições:
IX - participação na formulação e na execução da política de formação e desenvolvimento
de recursos humanos para a saúde;
XIX - realizar pesquisas e estudos na área da saúde.
Artigo 27 o: A política de recursos humanos na área da saúde será formalizada e
executada articuladamente pelas diferentes esferas de governo, em cumprimento dos
seguintes objetivos:
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147
I - organização de um sistema de formação de recursos humanos em todos os níveis de
ensino, inclusive de pós-graduação, além da elaboração de programas de permanente
aperfeiçoamento de pessoal;
Parágrafo único: Os serviços públicos que integram o SUS constituem campo de prática
para o ensino e pesquisa, mediante normas específicas elaboradas conjuntamente com o
sistema educacional.
Artigo 30 o: As especializações na forma de treinamento em serviço sob supervisão
serão regulamentadas por Comissão Nacional, [instituída junto ao Conselho Nacional de
Saúde], garantida a participação das entidades profissionais correspondentes.
Percebe-se que apesar da existência de leis, pouco se avançou na construção de
bases sólidas para a formação de recursos humanos em saúde que estejam em
consonância com os princípios do SUS. Haddad apud Brasil - Ministério da Saúde (2004)
afirma que é necessária uma nova definição do objeto, espaço e das ações de trabalho do
profissional da saúde.
No século XX há uma transição do modelo fordista de trabalho para o modelo
chamado de “flexibilização produtiva”, fato que implica novos significados ao trabalho,
sendo que novas exigências são feitas ao trabalhador, a saber: necessidade de ampla
qualificação, aumento do trabalho intelectual em detrimento do trabalho manual,
crescimento do trabalho informal (Brasil - Ministério da Saúde, 2004).
Esse novo panorama no mundo do trabalho gerou discussões no campo da
educação, das quais a necessidade de novas competências para o trabalho nos diversos
setores, dos quais também o campo da saúde (Brasil - Ministério da Saúde, 2004).
Seria necessário normalizar as competências em saúde, formar os profissionais
tendo como referência essas competências e por último avaliar e certificar por essas
competências. Contudo, vê-se, segundo Ramos apud Brasil - Ministério da Saúde (2004)
que na sua maioria, os currículos por competência nada mais são do que currículos
pautados em normas de competência. Ainda para o autor acima referido para um
currículo realmente pautado em competências dever-se-ia ter uma preocupação com a
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aprendizagem em ritmo individual e gradual e desenvolver a capacidade de auto-
avaliação.
Constata-se ainda a necessidade de formação continuada e permanente dos
profissionais de saúde. Motta (1998) apud Brasil - Ministério da Saúde (2004) afirma que
a formação permanente objetiva transformar o profissional em sujeito, deixando-o no
centro do processo de ensino-aprendizagem. Já a educação continuada de acordo com
Ricas (1994) apud Brasil - Ministério da Saúde (2004) seria relativo a atividades de
formação após o curso de graduação com o objetivo de atualização e aquisição de novos
conhecimentos/ informações.
Esses programas de educação continuada ou permanente devem considerar que
todo profissional de saúde tem uma visão sobre saúde e suas práticas têm relação com
tais visões. É necessário, ir além de questões teóricas e conceituais e pensar nesses
processos acontecendo em meio a relações de trabalho, as quais devem ser entendidas
como relações sociais que tem diferentes intenções e conflitos. Deve-se ter um esforço no
sentido de mobilizar e organizar novas estratégias de ação, no que diz respeito a
formação de recursos humanos para saúde(Brasil - Ministério da Saúde, 2004).
Veja agora, a título de ilustração, o que diz o programa UNI. Este programa surgiu
a partir de uma análise de saúde, da participação popular e da educação de profissionais de
saúde na América Latina. Práticas hegemônicas, assim como pensamentos hegemônicos são
impossíveis no campo da saúde. Assim, no UNI formas de ação e de pensamento são construídas
constantemente a partir do contexto em que se está inserido (Brasil - Ministério da Saúde,
2004).
No programa UNI há uma tentativa de revalorização da ação política e dos sujeitos
sociais, a partir do trabalho com parcerias. As práticas desse programa são baseadas no
ensino-aprendizagem, na investigação, na prática profissional em saúde, nas práticas
sanitárias, na participação da população, e na busca constante pelo exercício da
cidadania. O programa UNI foi construído na América Latina que saia de governos
autoritários (Brasil - Ministério da Saúde, 2004).
Os projetos do programa UNI são planejados a partir da abordagem coletiva dos
problemas. As práticas não são definidas a priori a partir de alguma teoria, mas são
decididas coletivamente e a população, juntamente com os alunos da Universidade e
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professores, pensam nessas práticas e decidem até mesmo as prioridades (Brasil -
Ministério da Saúde, 2004).
As pessoas apresentam uma grande motivação em participar de projetos que
também foram idealizados por elas e essa ação coletiva facilita a comunicação entre os
segmentos sociais e as instituições de saúde (Brasil - Ministério da Saúde, 2004).
Um outro ponto importante que pode ser pensado a partir do programa UNI é a
adoção de concepções pedagógicas “críticas, reflexivas e problematizadoras e
metodologias de ensino que permitissem a participação ativa dos estudantes em
diferentes e novos cenários de ensino.” (Brasil - Ministério da Saúde, 2004).
Para finalizar, as propostas de formação de recursos humanos devem considerar
os aspectos como equidade, qualidade e eficiência. Devem também pensar na
democratização, na maior participação social (Brasil - Ministério da Saúde, 2004).
CEBES (Centro Brasileiro de Estudos de Saúde)
O Movimento Sanitário almeja que as demandas da sociedade sejam vistas como um
todo. Busca-se então uma hegemonia da relação entre classe/Estado/Sociedade.
(FLEURY, 1997).
Com a criação do CEBES, institucionalizou-se o movimento sanitário organizando-se,
quanto ao sistema de saúde, na definição de um projeto comum de estratégias e táticas
de ação coletiva. O CEBES representou um novo saber que ressaltasse as relações entre
saúde e estrutura social; ampliação da consciência sanitária e a organização do
movimento social (FLEURY, 1997).
Existem duas concepções da ação do CEBES que polarizam os interesses de grande
número de associados. A primeira tem como objetivo desenvolver políticas de saúde mais
adequadas à realidade brasileira tendo o CEBES como um conjunto de tendências
renovadoras do setor saúde. A segunda concepção quer desenvolver atividades voltadas
à comunidade (FLEURY, 1997).
Tais concepções visam desenvolver o CEBES como um órgão democrático e que
preconiza a democratização do setor saúde, tendo como uma das marcas a unificação
dos serviços de saúde pública sem fins lucrativos (FLEURY, 1997).
A democracia nos anos 70 tinha um forte conteúdo anárquico e contra-cultural. A partir
dos anos 80 a democracia “institucionalista” recorreu ao conceito estratégico de
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desenvolvimento da consciência sanitária como forma de articulação de diferentes níveis
(FLEURY, 1997).
Segundo Fleury (1997), a Reforma Sanitária é “definida como um processo de
transformação da norma legal e do aparelho institucional que regulamenta se
responsabilizando pela proteção à saúde dos cidadãos e corresponde a um efetivo
deslocamento do poder político em direção às camadas populares, cuja expressão
material se concretiza na busca do direito universal à saúde e na criação de um sistema
único sob a égide do Estado”.
O CEBES consolidou-se no documento apresentado no I Simpósio sobre Política
Nacional de Saúde na Câmara Federal, em outubro de 1979. A constituição do
movimento sanitário como uma política abrange uma consciência sanitária e aliava a
organização política do movimento social com a busca da formulação de um projeto
alternativo para o sistema de saúde (FLEURY, 1997).
Bobbio (1994) apud Fleury (1997) encontra dois sentidos básicos para o conceito de
democracia: a formal e a substancial. Na democracia formal, destaca-se a idéia de
liberdade, já na democracia substancial, destaca-se o conteúdo ético baseado na
solidariedade e no desenvolvimento integral da comunidade política.
Schumpeter (1984) apud Fleury (1997) define método democrático como “aquele acordo
institucional para se chegar a decisões políticas em que os indivíduos adquirem o poder
de decisão através de uma luta competitiva pelos votos da população”.
Chauí (1990, apud Fleury, 1997) ainda nos mostra a relação entre Estado interventor e
economia oligopólica embutida nesta definição e resume os traços do modelo
schumpeteriano. Este modelo traz o esvaziamento do conteúdo moral da democracia e,
também, a pressuposição de que o homem político seja, essencialmente, um consumidor
e apropriador, reduzindo a participação cidadã à escolha dentre as ofertas políticas
tornando os cidadãos alienados quanto a esta questão.
Hirst (1992:13, apud Fleury, 1997) propõe “o gerenciamento econômico por meio da
coordenação dos grandes interesses sociais e da orquestração do acordo pela
negociação entre os grupos de interesse”. Defende o corporativismo e o pluralismo e
conclui, ainda, que a “representação corporativa dos interesses organizados pode
fortalecer a democracia”.
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Já Macpherson apud Fleury (1997) formula um tipo de democracia participativa
priorizando os movimentos sociais e almejando a ampliação do espaço político pela
sociedade civil. Acredita que tal modelo seja compatível com a democracia liberal.
Falando, ainda, sobre o termo democracia temos Robert Dahl que identifica dois eixos
histórico-analíticos de desenvolvimento político das sociedades: o eixo da liberação e o
eixo da participação (FLEURY, 1997).
Com estas questões, deixam de lado a necessidade de um processo institucional que
assegure a igualdade básica da cidadania e o fato de que o encontro entre liberalização e
participação subestima a participação ao espaço estrito do governo representativo.
Poulantzas (1981) apud Fleury (1997) assinala os pontos cruciais:
- a democracia não pode prescindir da dimensão liberal;
- a jurisdição das relações políticas é conseqüência inevitável;
- a cidadania resgata a mediação entre Estado e Sociedade;
- a burocracia estatal é requerida como fundamento da igualdade política dos cidadãos;
- a cidadania compreendida em toda sua complexidade contraditória;
- a participação cidadã nas decisões coletivas que afetam a comunidade política deve
ser resguardada por um corpo de regras;
- o sistema de representação com base territorial e definição da participação através dos
mecanismos de organização tem sido escolhido como o que melhor garante a igualdade
de condições para que opiniões individuais sejam consideradas nas decisões coletivas;
- a cidadania requer a positivação dos direitos sociais e atuação estatal como garantia
de sua vigência;
- a dimensão social da democracia exige novas formas concomitantes de participação
no poder político;
- a combinação do sistema de representação territorial com uma modalidade de
representação corporativa;
- a combinação do sistema representativo com a participação direta em organizações
públicas auto-geridas pretende transformar a correlação de forças, alterando o equilíbrio
da hegemonia dominante.
A democracia da Reforma Sanitária possuía as seguintes bases fundamentais:
formulação de uma utopia igualitária; garantia da saúde como direito individual e a
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construção de um poder local o qual ganhou forças com a gestão social democrática.
Sendo assim, assume a igualdade como principal meta (FLEURY, 1997).
Contudo, sabe-se que existe a desigualdade e novas tendências na sociedade brasileira
e isso faz com que esse modelo igualitário não seja feito de forma imediata. Grupos
buscaram fugir do Sistema Único de Saúde com suas regras uniformizadoras (FLEURY,
1997).
Quanto ao conceito do direito à saúde tem-se uma concepção ampliada e a saúde que
assume a condição de função pública e foi traduzido em uma base legal e normativa,
incluindo a Constituição Federal, a Lei Orgânica, as Constituições Estaduais, as Normas
Operacionais Básicas e etc (FLEURY, 1997).
É a garantia constitucional de que a população através de suas entidades
representativas poderá participar do processo de formulação das políticas de saúde e do
controle da sua execução, em todos os níveis desde o federal até o local.
As Conferências de Saúde nas três esferas do governo são as instâncias máximas de
proposição. É dever das instituições oferecer informações e conhecimentos necessários
para que a população se posicione sobre as questões que dizem respeito à sua saúde
(FLEURY, 1997).
A globalização vem alterando tanto as formas produtivas e as relações econômicas
quanto o papel dos Estados nacionais. Neste contexto, os estados latino-americanos, em
crise fiscal e administrativa, enfrentam-se com diversidade de demandas e expectativas
geradas no processo de participação democrática (FLEURY, 1997).
O CEBES protagonizou o movimento sanitário brasileiro, ainda sobre a ditadura militar,
dando um novo conceito ao movimento e sendo, pela visão política, como um movimento
exclusivamente reformista (NETO, 1997).
O Parlamento foi utilizado como espaço para debate público sobre a Saúde e para a
organização do movimento sanitário brasileiro. Prefeitos e vereadores comprometidos
com o movimento tinham esta questão em suas plataformas eleitorais (NETO, 1997).
A produção acadêmica “informada” politicamente, também foi importante para o
movimento sanitário no Brasil, à medida que estimulou e promoveu o debate, divulgação
do movimento pela série de livros e pela Revista “Saúde em Debate, construção de
contra-politicas ou de políticas alternativas e ocupação de espaços institucionais” (NETO,
1997).
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O Desafio dos Hospitais
O convênio MEC-MPAS foi precursor no processo de fortalecimento do setor público.
Depois vieram as Ações Integradas de saúde. No início dos anos 80 os asilos do
Ministério da Saúde transformaram-se em hospitais gerais ou especializados. Por mais
mudanças que ocorriam no setor saúde, não são marcantes para a Reforma Sanitária
(BARBOSA, 1997).
Somente em 90 a gestão hospitalar e a importância do hospital no SUS ganharam
espaço e pôde ser algo considerável. Nessa década acontecia a sua evolução e
desenvolvimento, por mais que ocorriam crises, e o nível de atenção hospitalar era
imprescindível nesse processo (BARBOSA, 1997).
Vecina Neto e Malik (1991) apud Barbosa (1997) propuseram uma análise da crise que
envolve o setor saúde em três dimensões: a primeira em nível estrutural, a segunda em
um nível organizacional e no terceiro plano estão as causas de caráter individual.
O município é o melhor âmbito para tratar a questão saúde, uma vez que é o ente
federado mais próximo da realidade da população, sendo capaz de identificar as
peculiaridades e as diversidades locais e por isso estaria mais acessível à participação,
avaliação e fiscalização dos cidadãos, usuários diretos do sistema (BARBOSA, 1997).
No processo de descentralização há uma redistribuição das responsabilidades às ações
e serviços de saúde entre vários níveis de governo, a partir da idéia de quanto mais perto
do fato a decisão for tomada, mais chance haverá desta decisão ser acertada
(BARBOSA, 1997).
Segundo Mendes, 1993, apud Barbosa, 1997, descentralizar não significa tornar
independentes as unidades de saúde, mas sim criar uma relação “biunívoca” entre as
dimensões centralização e descentralização, “onde a cada momento de descentralização
deve corresponder um outro, de centralização subordinada”.
Assim, o processo da reforma constitucional no campo da administração pública
brasileira induziu à utilização de modelos de maior autonomia das organizações estatais.
Introduzem-se os contratos de gestão que expressam uma nova racionalidade para tal
administração e permitem uma abrangente concepção de gestão (BARBOSA, 1997).
A Constituição, no art. 198, determina que as ações e os serviços públicos de saúde se
integrem em uma rede regionalizada e hierarquizada, constituindo um único sistema de
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saúde, organizados de forma descentralizada, com direção única em cada esfera de
governo e com a participação da comunidade (BARBOSA, 1997).
11. Fundamentos para a avaliação dos serviços de saúde.
Campos (2008) afirma que há uma grande preocupação da população com os
serviços de saúde e que apesar dos progressos o SUS ainda não atende a maioria das
necessidades de saúde da população brasileira.
O SUS não foi colocado como prioridade no país, exceto em alguns municípios,
com os quais se pode comprovar a possibilidade de um atendimento público em saúde.
As organizações estatais não são eficientes e isso gera um descrédito com relação as
mesmas (CAMPOS, 2008).
Também há uma falta de governança no que diz respeito ao SUS e este não é um
sistema, pois não funciona em rede com base populacional e territorial (CAMPOS, 2008).
É necessário um sistema integrado em saúde, mas ainda há muito o que fazer
(Campos, 2008).
A reforma sanitária estruturou o Sistema Único de Saúde para responder a realidade
social, política e administrativa caracterizada pelas complexas especificidades regionais
excluídas do modelo preponderante (BRASIL – Ministério da Saúde, 2007).
Atualmente há o desafio da efetivação do Pacto pela Saúde e acordos entre as três
esferas de gestão do SUS. Introduzem-se mudanças no processo de gestão do sistema e
nas formas de relação intergovernamental no âmbito da saúde. A substituição do atual
processo de habilitação pela adesão solidária aos Termos de Compromisso de Gestão; a
regionalização solidária e cooperativa como eixo estruturante do processo de
descentralização; a integração das várias formas de repasse de recursos federais e a
unificação dos vários pactos existentes são mecanismos que fortalecem a gestão do
sistema e ampliam a possibilidade de construção da equidade (BRASIL – Ministério da
Saúde, 2007).
Deve haver muita responsabilidade dos gestores quanto à saúde porque o direito desta
significa, em ultima instância, a defesa da vida. Dessa forma, em quase todos os países,
a avaliação na área da saúde é prioridade (BRASIL – Ministério da Saúde, 2007).
Para o processo de avaliação do desempenho do sistema único de saúde é necessário
que todos os envolvidos com o sistema de saúde compreendam os problemas que afetam
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os resultados de sua ação e construam algo que permita superá-los (BRASIL – Ministério
da Saúde, 2007).
A consolidação do SUS exige a ampliação de sua legitimidade social e o fortalecimento
de apoio políticos. Segundo PNAD 2003, 75% da população têm acesso assegurado
exclusivamente pelo sistema público e parte da população, mesmo tendo sistema
suplementar, também utiliza a rede pública para ações de saúde pública e para
procedimentos mais complexos e de maior custo (BRASIL – Ministério da Saúde, 2007).
São enormes os desafios para tornar efetivos os princípios para avaliação do sistema
público: universalidade do acesso, integralidade da atenção igualdade de direitos,
descentralização e participação social (BRASIL – Ministério da Saúde, 2007).
O sistema de saúde permanece burocratizado e verticalizado; são precários os sistemas
de referência; as ações ofertadas nem sempre satisfazem às necessidades da população;
sendo também precária interação entre equipes. Porém, não há como avaliar o sistema
de saúde somente através do SUS. Aproximadamente 34 milhões de pessoas (cerca de
19% da população) recebem atenção à saúde por meio do segmento provado (BRASIL –
Ministério da Saúde, 2007).
A Agência Nacional de Saúde Supletiva – ANS – vem desenvolvendo um projeto de
avaliação. A avaliação de desempenho do sistema de saúde (público ou privado)
dependerá se os processos propostos e resultados serão compatíveis aos seus objetivos
(BRASIL – Ministério da Saúde, 2007).
A tarefa de avaliar o desempenho do sistema de saúde se apresenta nas dimensões
política e técnica-operativa. O sistema público de saúde brasileiro, sob as diretrizes e
princípios do SUS, representa um novo marco jurídico-legal com conteúdos éticos, sociais
e políticos (BRASIL – Ministério da Saúde, 2007).
A constituição do sistema de saúde público causou desequilíbrios estruturais,
desorganização na composição e articulação entre serviços, iniqüidades no acesso e uma
cultura sanitária que a saúde é assistência médica. Para a diretriz metodológica na
avaliação deve-se considerar a proposta elaborada pelo Projeto Desenvolvimento de
Metodologia de Avaliação do Desempenho do Sistema de Saúde Brasileiro – PRO-
ADESS. A proposta metodológica em relação aos componentes público e privado
compreende: acesso, efetividade, eficiência, respeito ao direito das pessoas,
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aceitabilidade, continuidade, adequação e segurança. A equidade é considerada como
dimensão transversal (BRASIL – Ministério da Saúde, 2007).
A Constituição Federal entende que a saúde é direito do cidadão. Segundo o artigo 5º
da Lei 8.080/90, cabe ao SUS (1) identificar e divulgar fatores condicionantes e
determinantes da saúde; (2) formular políticas para reduzir agravos e estabelecer
condições que assegurem acesso universal e igualitário a ações e serviços de saúde para
sua promoção, proteção e recuperação; e (3) realizar atenção integral, articulando ações
assistenciais e de prevenção. Assim, condiciona-se a produção de saúde em ordem social
e econômica (BRASIL – Ministério da Saúde, 2007).
A avaliação em relação ao SUS mede seu próprio desempenho como política pública; é
a estrutura e a organização das redes de atenção à saúde; inclui planejamento; garante
acesso universal; tem participação social em saúde. (BRASIL – Ministério da Saúde,
2007).
Pode, então, definir dois grupos: o que reúne dimensões e indicadores que se
apresentam como determinantes e aqueles que efetivamente se apresentam como
dimensões e indicadores de desempenho propriamente dito, resultados das ações
sanitárias (BRASIL – Ministério da Saúde, 2007).
O SUS tem um espectro de atuação mais amplo. Compete a ele, segundo o artigo 200
da Constituição Federal: controlar e fiscalizar procedimentos, produtos, substâncias de
interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos e outros
insumos; executar ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde
do trabalhador; ordenar a formação de recursos humanos na área da saúde; participar da
formulação e da execução das ações de saneamento básico; incrementar em sua área de
atuação o desenvolvimento científico e tecnológico; fiscalizar e inspecionar alimentos,
bebidas e água para consumo humano; - participar do controle e fiscalização da
produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e
radioativos; - colaborar na proteção do meio ambiente e do trabalho (BRASIL – Ministério
da Saúde, 2007).
Deve-se considerar, também, na avaliação do SUS, as prioridades e os objetivos
governamentais expressos no Plano Plurianual (PPA) 2004/2007. A avaliação deve
produzir análises em âmbito federal, estadual e municipal. A realização as avaliação do
sistema em âmbito nacional é responsabilidade do Ministério da Saúde. O MS assegurará
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a cooperação técnica descentralizada e apoiará a constituição de Comitês de Avaliação
de Desempenho nas unidades federadas, promovendo a articulação entre as equipes das
secretarias e centros de excelência acadêmica (BRASIL – Ministério da Saúde, 2007).
Com base no processo de monitoramento da avaliação deverão ser produzidos notas
técnicas regulares para orientar o processo decisório; estudos pontuais; produção regular
de Relatório de Avaliação de Desempenho do Sistema de Saúde (BRASIL – Ministério da
Saúde, 2007).
12. Transplante: legislação sobre transplantes no Brasil (SUS); o sistema de lista
única; o sistema de distribuição de órgãos; abordagem e entrevista a família do
doador; legislação das comissões intra-hospitalares de doação de órgãos e tecidos
para transplantes (CIHDOTT’s).
LEI N° 9.434 de 4 de Fevereiro de 1997
Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e
tratamento e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1o. A disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, em vida ou post
mortem, para fins de transplante e tratamento, é permitida na forma desta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei não estão compreendidos entre os tecidos a que se
refere este artigo o sangue, o esperma e o óvulo.
Art. 2o. A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano só
poderá ser realizada por estabelecimento de saúde, público ou privado, e por equipes médico-
cirúrgicas de remoção e transplante previamente autorizados pelo órgão de gestão nacional do
Sistema único de Saúde.
Parágrafo único. A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos ou partes do corpo
humano só poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos os testes de triagem para
diagnóstico de infecção e infestação exigidos para a triagem de sangue para doação, segundo
dispõem a Lei n" 7.649, de 25 de janeiro de 1988, e regulamentos do Poder Executivo.
CAPÍTULO II
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DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM DE TECIDOS, ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO
PARA FINS DE TRANSPLANTE
Art. 3o. A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a
transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica constatada e
registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a
utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de
Medicina.
§ 1º Os prontuários médicos, contendo os resultados ou os laudos dos exames referentes aos
diagnósticos de morte encefálica e cópias dos documentos de que tratam os arts. 2º, Parágrafo
único; 4º e seus parágrafos; 5º; 7º, 9º, §§ 2º, 4º, 6º e 8º; e 10º, quando couber, e detalhando os
atos cirúrgicos relativos aos transplantes e enxertos, serão mantidos nos arquivos das instituições
referidas no art. 2º por um período mínimo de cinco anos.
§ 2o. As instituições referidas no art. 2º enviarão anualmente um relatório contendo os nomes dos
pacientes receptores ao órgão gestor estadual do Sistema Único de Saúde.
§ 3º Será admitida a presença de médico de confiança da família do falecido no ato da
comprovação e atestação da morte encefálica.
Art. 4º Salvo manifestação de vontade em contrário, nos termos desta Lei presume-se autorizada a
doação de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano, para finalidade de transplantes ou
terapêutica post mortem.
§ 1º A expressão "não-doador de órgãos e tecidos" deverá ser gravada, de forma indelével e
inviolável na Carteira de identidade Civil e na Carteira Nacional de Habilitação da pessoa que optar
por essa condição.
§ 2º A gravação de que trata este artigo será obrigatória em todo o território nacional a todos os
órgãos de identificação civil e departamentos de trânsito, decorridos trinta dias da publicação desta
Lei.
§ 3º O portador de Carteira de Identidade Civil ou de Carteira Nacional de Habilitação emitidas até
a data a que se refere o parágrafo anterior poderá manifestar sua vontade de não doador de
tecidos, órgãos ou partes do corpo após a morte, comparecendo ao órgão oficial de identificação
civil ou departamento de trânsito e procedendo à gravação da expressão "não-doador de órgãos e
tecidos".
§ 4º A manifestação de vontade feita na Carteira de Identidade Civil ou na Carteira Nacional de
Habilitação poderá ser reformulada a qualquer momento, registrando-se, no documento, a nova
declaração de vontade.
§ 5º No caso de dois ou mais documentos legalmente válidos com opções diferentes, quanto à
condição de doador ou não, do morto, prevalecerá aquele cuja emissão for mais recente.
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Art. 5º A remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa juridicamente
incapaz poderá ser feita desde que permitida expressamente por ambos os pais ou por seus
responsáveis legais
Art. 6º É vedada a remoção post morrem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoas não
identificadas.
7º (VETADO)
Parágrafo único. No caso de morte sem assistência médica, de óbito em decorrência de causa
mal definida ou de outras situações nas quais houver indicação de verificação da causa médica da
morte, a remoção de tecidos, órgãos ou partes de cadáver para fins de transplante ou terapêutica
somente poderá ser realizada após a autorização do patologista do serviço de verificação de óbito
responsável pela investigação e citada em relatório de necrópsia.
Art. 8º Após a retirada de partes do corpo, o cadáver será condignamente recomposto e entregue
aos parentes do morto ou seus responsáveis legais Para sepultamento.
CAPÍTULO III
DA DlSPOSlÇÃO DE TECIDOS, ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO HUMANO VIVO PARA FINS
DE TRANSPLANTE OU TRATAMENTO
Art. 9o. É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos ou
partes do próprio corpo vivo para fins de transplante ou terapêuticos.
§ 1º - (VETADO)
§ 2º - (VETADO)
§ 3º Só é permitida a doação referida neste artigo quando se t ratar de órgãos duplos, de partes de
órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar
vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometimento de suas
aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável, e corresponda a
uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa receptora.
§ 4º O doador deverá autorizar, Preferencialmente por escrito e diante de testemunhas,
especificamente o tecido, órgão ou parte do corpo objeto da retirada.
§ 5º A doação poderá ser revogada Pelo doador ou pelos responsáveis legais a qualquer momento
antes de sua concretização.
§ 6º O indivíduo juridicamente incapaz, com compatibilidade imunológica comprovada, poderá
fazer doação nos casos de t ransplante de medula óssea, desde que haja consentimento de ambos
os pais ou seus responsáveis legais e autorização judicial e o ato não oferecer risco para a sua
saúde.
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§ 7º É vedado à gestante dispor de tecidos, órgãos ou partes de seu corpo vivo, exceto quando se
tratar de doação de tecido para ser utizado em transplante de medula óssea e o ato não oferecer
risco à sua saúde ou ao feto.
§ 8º O auto t ransplante depende apenas do consentimento do próprio indivíduo, registrado em seu
prontuário médico ou, se ele for juridicamente incapaz, de um de seus pais ou responsáveis legais.
CAPÍTULO IV
DAS DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARES
Art.- 10. O transplante ou enxerto só se fará com o consentimento expresso do receptor, após
aconselhamento sobre a excepcionalidade e os riscos do procedimento.
Parágrafo único. Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas condições de
saúde impeçam ou comprometam a manifestação válida de sua vontade, o consentimento de que
trata este artigo será dado por um de seus pais ou responsáveis legais.
Art. 11. É proibida a veiculação, através de qualquer meio de comunicação social de anúncio que
configure:
a) publicidade de estabelecimentos autorizados a realizar transplantes e enxertos, relativa a estas
atividades;
b) apelo público no sentido da doação de tecido, órgão ou parte do corpo humano para pessoa
determinada, identificada ou não, ressalvado o disposto no parágrafo único;
c) apelo público para a arrecadação de fundos para o financiamento de transplante ou enxerto em
beneficio de particulares.
Parágrafo único. Os órgãos de gestão nacional, regional e local do Sistema Único de Saúde
realizarão periodicamente, através dos meios adequados de comunicação social campanhas de
esclarecimento público dos beneficies esperados a partir da vigência desta Lei e de estímulo à
doação de órgãos.
Art. 12. (VETADO)
Art. 13. É obrigatório, para todos os estabelecimentos de saúde, notificar, às centrais de
notificação, captação e distribuição de órgãos da unidade federada onde ocorrer, o diagnóstico de
morte encefálica feito em pacientes por eles atendidos.
CAPÍTULO V
DAS SANÇÕES PENAIS E ADMINISTRATIVAS
Seção I
Dos Crimes
Art. 14. Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em desacordo com as
disposições desta Lei:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa de 100 a 360 dias-multa.
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§ 1º Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e muita, de 100 a 150 dias-multa.
§ 2º Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o ofendido:
I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida,
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de três a dez anos, e multa de 100 a 200 dias-multa.
§ 3º Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o ofendido:
I - incapacidade permanente para o trabalho;
II - Enfermidade incurável;
IIII - perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos, e multa de 150 a 300 dias-multa.
§ 4º Se o crime é praticado em pessoa viva e resulta morte:
Pena - reclusão, de oito a vinte anos, e multa de 200 a 360 dias-multa.
Art. 15. Comprar ou vender tecidos, órgãos ou panes do corpo humano:
Pena- reclusão, de três a oito anos, e multa de 200 a 360 dias-multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem promove, intermedeia, facilita ou aufere qualquer
vantagem com a transação.
Art. 16. Realizar transplante ou enxerto utilizando tecidos, órgãos ou partes do corpo humano de
que se tem ciência terem sido obtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei.
Pena-reclusão, de um a seis anos, e multa, de 150 a 300 dias-multa.
Art. 17. Recolher, transportar, guardar ou distribuir partes do corpo humano de que se tem ciência
terem sido obtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei:
Pena - reclusão, de seis meses a dois anos, e multa, de 100 a 250 dias-multa.
Art. 18. Realizar transplante ou enxerto em desacordo com o disposto no art. 10 desta Lei e seu
parágrafo único:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Art. 19. Deixar de recompor cadáver, devolvendo-lhe aspecto condigno, para sepultamento ou
deixar de entregar ou retardar sua entrega aos familiares ou interessados:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Art. 20. Publicar anúncio ou apelo público em desacordo com o disposto no art. 11:
Pena - multa, de 100 a 200 dias-multa.
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Seção II
Das Sanções Administrativas
Art. 21. No caso dos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16 e 17, o estabelecimento de saúde e as
equipes médico cirúrgicas envolvidas poderão ser desautorizadas temporária ou permanentemente
pelas autoridades competentes.
§ 1º Se a instituição é particular, a autoridade competente poderá multá-la em 200 a 360 dias-multa
e, em caso de reincidência, poderá ter suas atividades suspensas temporária ou definitivamente,
sem direito a qualquer indenização ou compensação por investimentos realizados.
§ 2º Se a instituição é particular, é proibida de estabelecer contratos ou convênios com entidades
públicas bem como se beneficiar de créditos oriundos de instituições governamentais ou daquelas
em que o Estado é acionista, pelo prazo de cinco anos.
Art. 22. As instituições que deixarem de manter em arquivo relatórios dos transplantes realizados,
conforme o disposto no art. 3º, § 1º, ou que não enviarem os relatórios mencionados no art. 3º, §
2º, ao órgão de gestão estadual do Sistema Único de Saúde, estão sujeitas a multas de 100 a 200
dias multa.
§ 1º Incorre na mesma pena o estabelecimento de saúde que deixar de fazer as notificações
previstas no art. 13.
§ 2º Em caso de reincidência, além de multa, o órgão de gestão estadual do Sistema Único de
Saúde poderá determinar a desautorização temporária ou permanente da instituição.
Art. 23. Sujeita-se às penas do art. 59 da Lei n.º 4.117, de 27 de agosto de 1962, a empresa de
comunicação social que veicular anúncio em desacordo com o disposto no art. 11.
CAPÍTULO VI
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 24. (VETADO)
Art. 25. Revogam-se as disposições em contrário, particularmente a Lei n.º 8.489, de 18 de
novembro de 1992, e o Decreto n.º 879, de 22 de julho de 1993.
Brasília, 4 de fevereiro de 1997; 176º da Independência 109º da República.
Fernando Henrique Cardoso
Nelson A. Jobim
Carlos César de Albuquerque
LEI N° 10.211 de 23 de março de 2001
Altera dispositivos da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que "dispõe sobre a remoção de
órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento".
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
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163
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
"Art. 1º Os dispositivos adiante indicados, da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, passam a
vigorar com a seguinte redação:
"Art. 2º ......................................................................
"Parágrafo único. A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos e partes do corpo
humano só poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos os testes de triagem para
diagnóstico de infecção e infestação exigidos em normas regulamentares expedidas pelo Ministério
da Saúde." (NR)
"Art. 4º A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou
outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade,
obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em
documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte." (NR)
"Parágrafo único. (VETADO)"
"Art. 8º Após a retirada de tecidos, órgãos e partes, o cadáver será imediatamente necropsiado, se
verificada a hipótese do parágrafo único do art. 7º , e, em qualquer caso, condignamente
recomposto para ser entregue, em seguida, aos parentes do morto ou seus responsáveis legais
para sepultamento." (NR)
"Art. 9º É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes
do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes
consangüíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do § 4º deste artigo, ou em qualquer outra
pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula óssea.
........................................................................." (NR)
"Art. 10. O transplante ou enxerto só se fará com o consentimento expresso do receptor, assim
inscrito em lista única de espera, após aconselhamento sobre a excepcionalidade e os riscos do
procedimento." (NR)
"§ 1º Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas condições de saúde
impeçam ou comprometam a manifestação válida da sua vontade, o consentimento de que trata
este artigo será dado por um de seus pais ou responsáveis legais." (NR)
"§ 2º A inscrição em lista única de espera não confere ao pretenso receptor ou à sua família direito
subjetivo a indenização, se o transplante não se realizar em decorrência de alteração do estado de
órgãos, tecidos e partes, que lhe seriam destinados, provocado por acidente ou incidente em seu
transporte." (NR)
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Art. 2º As manifestações de vontade relativas à retirada "post mortem" de tecidos, órgãos e partes,
constantes da Carteira de Identidade Civil e da Carteira Nacional de Habilitação, perdem sua
validade a partir de 22 de dezembro de 2000.
Art. 3º Ficam convalidados os atos praticados com base na Medida Provisória nº 2.083-32, de 22
de fevereiro de 2001.
Art. 4º Ficam revogados os §§ 1º a 5º do art. 4º da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997.
Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 23 de março de 2001; 180º da Independência e 113º da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
José Gregori e José Serra
Legislação das comissões intra-hospitalares de doação de órgãos e tecidos para
transplantes (CIHDOTT’s).
Portaria nº 905/GM Em 16 de agosto de 2000.
O Ministro de Estado da Saúde, no uso de suas atribuições,
Considerando a Lei nº 9.434, de 04 de fevereiro de 1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos,
tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências;
Considerando o Decreto nº 2.268, de 30 de junho de 1997, que regulamenta a Lei supracitada;
Considerando a Portaria GM/MS nº 3.407, de 05 de agosto de 1998, que aprova o Regulamento
Técnico sobre as atividades de transplante e dispõe sobre a Coordenação Nacional de
Transplantes;
Considerando a Portaria GM/MS nº 3432, de 12 de agosto de 1998, que estabelece os critérios de
classificação e cadastramento de Unidades de Terapia Intensiva;
Considerando a Portaria GM/MS nº 479, de 15 de abril de 1999, que cria os mecanismos para a
implantação dos Sistemas Estaduais de Referência Hospitalar em Atendimento de Urgências e
Emergências;
Considerando a necessidade de ampliar os avanços já obtidos na captação de órgãos e na
realização de transplantes;
Considerando a necessidade de envolver, de forma mais efetiva e organizada, os hospitais
integrantes do Sistema Único de Saúde/SUS no esforço coletivo de captação de órgãos,
especialmente aqueles que disponham de Unidades de Tratamento Intensivo cadastradas como de
tipo II e III, que sejam integrantes dos Sistemas Estaduais de Referência Hospitalar em
Atendimento de Urgências e Emergências e que sejam hospitais que realizem transplantes;
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Considerando a necessidade de aprimorar o funcionamento das Centrais de Notificação, Captação
e Distribuição de Órgãos, dotando-as de instrumentos que permitam sua melhor articulação com os
hospitais integrantes do Sistema Único de Saúde/SUS, e
Considerando que a existência e funcionamento de Comissões Intra-hospitalares de Transplantes
permitem uma melhor organização do processo de captação de órgãos, melhor identificação dos
potenciais doadores, mais adequada abordagem de seus familiares, melhor articulação do hospital
com a respectiva Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos/CNCDO, o que, por
fim, viabilizam uma ampliação qualitativa e quantitativa na captação de órgãos, resolve:
Art. 1º Estabelecer que a obrigatoriedade da existência e efetivo funcionamento de Comissão
Intra-hospitalar de Transplantes passa a integrar o rol das exigências para cadastramento de
Unidades de Tratamento Intensivo do tipo II e III, estabelecidas pela Portaria GM/MS nº 3.432, de
12 de agosto de 1998, e para inclusão de hospitais nos Sistemas de Referência Hospitalar em
Atendimento de Urgências e Emergências, nos tipos I, II e III, fixadas pela Portaria GM/MS nº 479,
de 15 de abril de 1999.
§ 1º A Comissão de que trata este Artigo deverá ser instituída por ato formal da direção de cada
hospital, devendo ser composta por, no mínimo, 03 (três) membros integrantes de seu corpo
funcional, dentre os quais 01 (um) designado como Coordenador Intra-hospitalar de Transplantes;
§ 2º A Comissão terá as seguintes atribuições, que deverão estar claramente estabelecidas em
seu Regimento Interno:
a - organizar, no âmbito do hospital, o processo de captação de órgãos;
b - articular-se com as equipes médicas do hospital, especialmente as das Unidades de
Tratamento Intensivo e dos Serviços de Urgência e Emergência, no sentido de identificar os
potenciais doadores e estimular seu adequado suporte para fins de doação;
c - articular-se com as equipes encarregadas da verificação de morte encefálica, visando a
assegurar que o processo seja ágil e eficiente, dentro de estritos parâmetros éticos e morais;
d - coordenar o processo de abordagem dos familiares dos potenciais doadores identificados,
assegurando que esta ação seja, igualmente, regida pelos mais estritos parâmetros éticos e
morais;
e - articular-se com os respectivos Institutos Médicos Legais para, quando for o caso, agilizar o
processo de necrópsia dos doadores, facilitando, quando possível, a realização do procedimento
no próprio hospital tão logo seja procedida a retirada dos órgãos;
f - articular-se com a respectiva Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos, sob
cuja coordenação esteja, possibilitando o adequado fluxo de informações;
g - apresentar, mensalmente, Relatório de Atividades à CNCDO.
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Art. 2º Estabelecer que, a contar da publicação desta Portaria, não serão cadastradas UTI do tipo II
ou III ou incluídos hospitais nos Sistemas Estaduais de Referência Hospitalar em Atendimento de
Urgências e Emergências, que não comprovem, em seus processos de cadastramento, a criação e
funcionamento de suas respectivas Comissões Intra-hospitalares de Transplantes.
§1º A comprovação de que trata este Artigo se dará pelo envio dos atos de instituição da
Comissão, devidamente chancelados pelo responsável pela CNCDO à qual o hospital esteja
vinculado, anexos ao processo de cadastramento;
§ 2º Para os hospitais que já contam com UTI cadastradas como de tipo II ou III ou que já sejam
integrantes dos Sistemas Estaduais de Referência Hospitalar em Atendimento de Urgências e
Emergências, o prazo para adequação a esta norma é de um 01 (ano), a contar da publicação
desta Portaria;
§ 3º Os hospitais de t rata o § 2º deste Artigo deverão, no prazo estipulado, enviar à Secretaria de
Assistência à Saúde/Departamento de Redes e Sistemas Assistenciais, a documentação
comprobatória da instituição de suas respectivas Comissões Intra-hospitalares de Transplantes,
devidamente chancelada pelo responsável pela CNCDO à qual o hospital esteja vinculado;
§ 4º O não cumprimento do prazo estabelecido acarretará a perda da classificação, como tipo II ou
III, pela UTI do hospital faltoso e/ou a exclusão do Hospital do Sistema Estadual de Referência
Hospitalar em Atendimento de Urgências e Emergências e, consequentemente, a suspensão da
remuneração adicional a que hoje faz jus.
Art. 3º Incluir as exigências abaixo discriminadas no rol das estabelecidas pela Portaria GM/MS nº
3.432, de 12 de agosto de 1998, para o cadastramento de hospitais à realização de transplantes
das classes I, II e III:
a - a obrigatoriedade da existência e funcionamento de Comissão Int ra-hospitalar de Transplantes;
b - a obrigatoriedade da participação do esforço de captação e retirada de órgão, em articulação
com a respectiva CNCDO;
c - a obrigatoriedade de haver indicação de uma instituição parceira que atue como hospital
captador, no caso do hospital não realizar captação de órgãos, não contar com Atendimento de
Urgências e Emergências e não estar vinculado a uma Organização de Procura de Órgãos ou
Córneas;
§ 1º A Comissão de que trata a alínea "a" deste Artigo deverá ser instituída, ter as at ribuições, e
ser condição para cadastramento, em conformidade com o estabelecido nos Artigos 1º e 2º desta
Portaria;
§ 2º No caso de hospitais já cadastrados para a realização de transplantes, o prazo para
adequação à presente norma é de noventa 90 (dias), a contar da publicação desta Portaria;
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§ 3º Os hospitais de trata o § 2° deste Artigo deverão, no prazo estipulado, enviar à Secretaria de
Assistência à Saúde/Departamento de Redes e Sistemas Assistenciais, a documentação
comprobatória da instituição de suas respectivas Comissões Intra-hospitalares de Transplantes,
devidamente chancelada pelo responsável pela CNCDO à qual o hospital esteja vinculado;
§ 4º A participação do es forço de captação e retirada de órgãos de que trata a alínea "b" deste
Artigo se dará por meio do trabalho desenvolvido pela Comissão Intra-hospitalar de Transplantes
e, especialmente, pela participação do hospital, com suas respectivas equipes médicas, das
escalas estabelecidas pela CNCDO para a retirada de órgãos;
§ 5º A instituição parceira indicada como hospital captador, objeto da alínea "c" deste Artigo,
deverá manifestar concordância por ato formal da sua direção, que deverá ser anexada à
documentação de que trata o § 3º;
§ 6º O hospital já cadastrado para a realização de transplantes tem o prazo de noventa 90 (dias), a
contar da publicação desta Portaria, para articular-se com a respectiva CNCDO e iniciar sua
participação das escalas estabelecidas para a retirada de órgãos, fato que deverá ser atestado
pela CNCDO quando do envio da documentação de que trata o § 3º;
§7º O não cumprimento das exigências no prazo estabelecido acarretará o descadastramento do
hospital faltoso, para realização de transplantes.
Art. 4º Estabelecer que, a contar da publicação desta Portaria, não serão cadastradas hospitais
para realização de transplantes das classes I, II ou III que não comprovem, em seus processos de
cadastramento, a criação e funcionamento de suas respectivas Comissões Intra-hospitalares de
Transplantes.
Art. 5º Determinar que todos os órgãos captados e retirados conforme estabelecido por esta
Portaria, deverão ser destinados à respectiva Central de Notificação, Captação e Distribuição de
Órgãos, que os distribuirá obedecendo às listas únicas de receptores e a toda legislação em vigor.
Art. 6º Esta portaria entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em
contrário.
JOSÉ SERRA.
PORTARIA MS Nº. 1.262, DE 16 DE JUNHO DE 2006 - DOU 19/06/2006.
O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, INTERINO, no uso de suas atribuições, e Considerando as
disposições da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, e do Decreto nº2.268, de 30 de junho de
1997;
Considerando a necessidade de ampliar os avanços já obtidos na captação de tecidos de
doadores em parada cardio-respiratória;
Considerando a Portaria nº 1.752/GM, de 23 de setembro de 2005, que determina a
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constituição de Comissão Int ra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante
(CIHDOTT) em todos os hospitais públicos, privados e filantrópicos com mais de 80 leitos; e
considerando a Portaria nº 1006/MS/MEC, de 27 de maio de 2004, e a Portaria nº 1.702/GM, de 17
de agosto de 2004, referente à criação da reestruturação dos hospitais de ensino no âmbito do
Sistema Único de Saúde e a necessidade de organizar os indicadores e metas para as diversas
instituições, resolve:
Art. 1º Aprovar o Regulamento Técnico para estabelecer as atribuições, deveres e indicadores de
eficiência e do potencial de doação de órgãos e tecidos relativos às Comissões Intrahospitalares
de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), anexo a esta Portaria.
Art. 2º Prorrogar, até 30 de junho de 2006, o prazo estabelecido no art. 9º da Portaria nº1.752/GM,
de 23 de setembro de 2005, publicada no Diário Oficial da União nº 196, de 27 de setembro de
2005, Seção 1, pág. 54 .
Art. 3º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
JOSÉ AGENOR ÁLVARES DA SILVA
Capítulo I DA COMISSÃO INTRA-HOSPITALAR DE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS PARA
TRANSPLANTE
Seção I Da Estrutura
Art. 1º A Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante deve
ser composta por no mínimo três membros de nível superior, integrantes do corpo funcional
do estabelecimento de saúde, dentre os quais 1 (um) médico ou enfermeiro, designado
como Coordenador Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante.
§ 1º A Comissão de que trata este artigo deverá ser instituída por ato formal da direção de cada
hospital e estar diretamente vinculada à diretoria médica do estabelecimento.
§ 2º Os membros da Comissão não devem ser integrantes de equipe de transplante e/ou remoção
de órgãos ou tecidos ou integrar equipe de diagnóstico de morte encefálica.
§ 3º O coordenador deverá ter certificação de Curso de Formação de Coordenadores Int ra-
Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante, ministrado pelo Sistema Nacional
de Transplante (SNT) ou pelas Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos dos
Estados ou Distrito Federal, validado pelo SNT.
§ 4º Os coordenadores em exerc ício terão o prazo até 31 de dezembro de 2006 para se
adequarem à exigência do parágrafo anterior.
Seção II Das Atribuições
Art. 2º Cabe à Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante:
I - articular-se com a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos do Estado ou
Distrito Federal (CNCDO), notificando as situações de possíveis doações de órgãos e tecidos;
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II - identificar os recursos diagnósticos disponíveis na instituição, necessários para a avaliação do
possível doador de órgãos e/ou tecidos;
III - articular-se com os profissionais de saúde encarregados do diagnóstico de morte
encefálica e manutenção de potenciais doadores, objetivando a otimização do processo de doação
e captação de órgãos e tecidos;
IV - organizar, no âmbito da instituição, rotinas e protocolos que possibilitem o processo de doação
de órgãos e tecidos;
V - garantir uma adequada entrevista familiar para solicitação da doação;
VI - promover programa de educação continuada de todos os profissionais do estabelecimento
para compreensão do processo de doação de órgãos e tecidos;
VII - disponibilizar os insumos necessários para a captação efetiva de órgãos e tecidos no
hospital.
Art. 3º Cabe à Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante, em
conjunto com a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO):
I - avaliar a capacidade da instituição, diagnosticando a potencialidade da captação de órgãos e
tecidos;
II - definir, juntamente com o diretor médico do estabelecimento de saúde, os indicadores de
qualidade, com base no número de potenciais doadores na instituição, considerando as suas
características;
III - definir os parâmetros a serem adotados no acompanhamento das metas da contratualização
determinadas pela Portaria nº 1.702//GM de 2004, e encaminhar ao gestor local os indicadores de
desempenho estabelecidos para o hospital;
IV - adotar estratégias para otimizar a captação de órgãos e tecidos, estabelecendo metas de
atuação com prazo determinado;
V - promover programas de educação/sensibilização continuados dirigidos à comunidade; e
VI - estabelecer critérios de eficiência possibilitando análise de resultados.
Seção III Das Responsabilidades
Art. 4º A Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante tem os
seguintes deveres:
I - elaborar regimento interno e manual de atribuições, rotinas e responsabilidades;
II - manter os registros de suas atividades (relatórios diários, formulários, atas de
reuniões, documentos de notificações e doações etc,
III - arquivar e guardar adequadamente documentos do doador, protocolo de verificação de morte
encefálica, termo de consentimento esclarecido, exames laboratoriais e outros, de acordo com a
Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997;
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IV - apresentar mensalmente os relatórios a CNCDO, conforme modelo no Anexo III;
V - supervisionar todo o processo iniciado, desde a identificação do doador, incluindo a retirada de
órgãos e/ou tecidos, a entrega do corpo do doador à família e responsabilizarse pela guarda e
conservação e encaminhamento dos órgãos e tecidos, conforme orientação da respectiva CNCDO;
VI - promover e organizar o acolhimento às famílias doadoras durante todo o processo de doação
no âmbito da instituição; e
VII - promover, nos estabelecimentos autorizados para realização de transplantes de órgãos e/ou
tecidos, o acompanhamento dos indicadores de eficiência da atividade dos serviços de transplante,
relacionados com sobrevida e qualidade de vida de pacientes transplantados e encaminhar essas
informações a CNCDO.
Seção IV Dos Indicadores de Potencial de Doação da Instituição e de Eficiência no Desempenho
das Atividades.
Art. 5º Os critérios para determinação dos indicadores do potencial de doação de órgãos e
tecidos e de eficiência, utilizados para avaliar o desempenho das atividades são os seguintes:
I - número de leitos;
II - taxa de ocupação;
III - tempo médio de hospitalização;
IV - número de hospitalizações;
V - número de leitos de UTI e existência de respiradores mecânicos em outros setores do
estabelecimento de saúde;
VI - taxa de mortalidade geral da instituição com diagnósticos da causa base;
VII - número total de óbitos;
VIII - taxa de mortalidade em UTI;
IX - número de ocorrências de mortes encefálicas diagnosticadas e notificadas a CNCDO;
X - notificações a CNCDO de potenciais doadores de tecidos;
XI - no caso de doação de órgãos, o tempo médio entre a conclusão do diagnóstico de morte e
entrega do corpo aos familiares e de todas as etapas intermediárias;
XII - número de doações efetivas de córneas;
XIII - taxa de consentimento familiar em relação ao número de entrevistas realizadas; e
XIV - causas de não remoção especificadas se por contraindicação médica, condição de não
doador em vida, ausência de familiares presentes, identidade desconhecida, etc.
§ 1º A possibilidade de captação de córneas para transplante está diretamente relacionada ao
número de óbitos na instituição, sendo considerado adequado:
I - Entrevistar os familiares de pacientes falecidos no hospital oferecendo a possibilidade de
doação de córneas, garantindo a efetivação da doação em um prazo máximo de 6 horas após a
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constatação do óbito, em 100% dos casos, excetuando-se as contra-indicações médicas definidas
pela CNCDO e Banco de Olhos vinculado.
II - Obter um mínimo de 20% de captação efetiva de córneas em relação aos casos
entrevistados.
§ 2º A possibilidade de captação de órgãos para t ransplante está diretamente relacionada à
ocorrência de óbitos em pacientes internados nas Unidades de Tratamento Intensivo ou
unidades que disponham de equipamento de ventilação mecânica, sendo considerado
adequado:
I - Notificar a CNCDO 100% dos casos de ocorrências de diagnóstico de morte encefálica
conforme resolução do Conselho Federal de Medicina em vigor e
Art. 13 da Lei 9434 de 4 de fevereiro de 1997, em pacientes internados nas Unidades de
Tratamento Intensivo ou outras unidades no hospital que disponham de ventiladores
mecânicos. A ocorrência de situações de morte encefálica nas Unidades de Tratamento
Intensivo está estimada entre 10 a 14% do total de óbitos, podendo variar conforme as
características do hospital.
II - Entrevistar, em 100% desses casos, os familiares do paciente falecido, oferecendo a
possibilidade de doação de órgãos, excetuando-se as contra-indicações médicas, definidas pela
CNCDO.
III - Obter um mínimo de 30% de efetivação da doação de órgãos sobre o total de casos
notificados a CNCDO.
IV - Obter no mínimo, 60% de consentimento familiar à doação considerando os casos em
que foi aplicada a entrevista familiar.
V - Conduzir todas as etapas diagnósticas de qualificação do potencial doador de órgãos em no
máximo 18 horas.
§ 3º A possibilidade de captação de tecidos musculoesqueléticos, pele, válvulas cardíacas, outros
tecidos e partes do corpo humano deverá ser organizada pela CNCDO em regiões de abrangência
de Bancos de Tecidos específicos, facilitando os trâmites logísticos necessários à adequada
captação, acondicionamento e transporte do material coletado ao Banco de Tecidos.
§ 4º Compete ao Coordenador da Comissão, em conjunto com o Coordenador da CNCDO,
determinar os indicadores para a instituição, na forma do disposto no caput deste Artigo.
Capítulo II
DOS CURSOS DE FORMAÇÃO DE COORDENADOR INTRA-HOSPITALAR DE
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS PARA TRANSPLANTE
Art. 6º O currículo do Curso de Formação de Coordenador Intra-Hospitalar de Doação de
Órgãos e Tecidos para Transplante deve seguir as seguintes diretrizes:
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I - detecção de potencial doador;
II - seleção do doador;
III - manutenção do doador de órgãos e tecidos;
IV - diagnóstico de morte encefálica;
V - entrevista familiar para doação e atenção à família do doador;
VI - retirada dos órgãos e tecidos;
VII - meios de preservação e acondicionamento dos órgãos e tecidos;
VIII - transporte dos órgãos e tecidos;
IX - informações sobre o doador a CNCDO;
X - recomposição do corpo do doador;
XI - logística do processo doação-transplante;
XII - ética em doação e transplante;
XIII - critérios de distribuição de órgãos; e
XIV - aspectos legais.
Parágrafo único. A carga horária estabelecida para o Curso de Formação de Coordenador
Intra-Hospitalar de Transplante deve ser de no mínimo 24 horas.
Art. 7º Instruir que outros aspectos a serem abordados durante a realização do curso sejam
relacionados à:
I - possibilidade de capacitação para a elaboração de um programa estratégico próativo
para detectar a existência de possíveis doadores na instituição;
II - possibilidade de capacitação para promoção de educação continuada na
instituição;
III - possibilidade de capacitação para a organização de um sistema de controle de
qualidade de todas as ações realizadas durante o processo de doação de órgãos e
tecidos; e
IV - possibilidade de capacitação para a organização da equipe de trabalho e
treinamento dos integrantes.
Abordagem da família do doador.
Vários são os obstáculos no que diz respeito a doação de órgãos. A equipe de
captação é extremamente importante nesse processo e é ela quem procura o doador e
propõe à família a doação (RECH; RODRIGUES, 2007).
O processo se inicia quando o diagnóstico de morte encefálica é feito e não há
nenhuma contra-indicação à doação. Busca-se aí a família do doador em potencial para
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propor a doação. Casos de doação de córneas podem ser autorizados até mesmo pelo
telefone (RECH; RODRIGUES, 2007).
Rech e Rodrigues (2007) apontam que o melhor momento para se abordar a
questão da doação com os familiares parece ser logo após a notícia da morte, técnica é
denominada de “desacoplamento”. Duas equipes participam desse processo. Primeiro o
médico intersivista informa sobre a morte encefálica e esclarece todas as dúvidas da
família. Num segundo momento, uma outra equipe faria a investidura para a doação de
órgãos.
No que diz respeito a entrevista com esses familiares, orienta-se que as pessoas
que irão realizar essa entrevista sejam especificamente treinadas para isso, e os
profissionais psicólogos, médicos, assistentes sociais e enfermeiros podem realiza-la.
Além disso, é importante que eles estejam seguros e demonstrem uma preocupação com
a família, já que esses fatores estão relacionados com maiores taxas de consentimento
(RECH; RODRIGUES, 2007).
Também é aconselhável que esta seja feita em ambiente calmo e confortável, livre
de interferências e com a participação dos membros da família e possíveis amigos
desejados pela família. No início deve-se permitir que a família fale sobre seus
sentimentos, sobre o que aconteceu com seu familiar/ amigo e também suas dúvidas e
deve-se certificar que todos ali presentes tenham claro que o doador em potencial, seu
ente querido está morto (RECH; RODRIGUES, 2007).
Segue-se então com os esclarecimentos sobre a doação, sobre as conseqüências
no corpo e no velório, o fato da família não ter que arcar com nenhum custo relativo a
doação, entre outras preocupações que os familiares possam ter. Nesse momento
também é reiterado a família a possibilidade de voltar atrás sobre o consentimento da
doação mesmo após a assinatura do termo (RECH; RODRIGUES, 2007).
Deve ser garantido a família um tempo para refletir sobre a doação longe do
entrevistador e da equipe. Além disso, deve-se respeitar a decisão da família e não impor
juízos de valo e moral, fazendo-os sentir-se confortáveis com qualquer que seja a sua
decisão (RECH; RODRIGUES, 2007).
13. Modelo Brasileiro: SNT, CNCDO’s, CIHDOTT.
SNT
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Hoje, no Brasil, mais de 555 estabelecimentos de saúde são autorizados pelo
Sistema Nacional de transplante (SNT) a realizar transplantes, o que faz com que Brasil
tenha um dos maiores programas públicos de transplantes (saúde.gov.br).
O funcionamento baseado na legislação vigente já foi abordado no item anterior
dessa apostila.
CNCDO´s
As Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos tem suas
atribuições previstas na lei 9434 (já transcrita nessa apostila). Conta hoje com 24 centrais
estaduais, além de centrais regionais (saude.gov.br).
No site “saúde.gov.br” encontra-se listada a forma de funcionamento do
CMCDO´s, a saber:
1. O receptor preenche uma ficha e faz exames para determinar suas características
sangüíneas, da estatura física e antigênicas (o caso dos rins);
2. Os dados são organizados em um programa de computador. A ordem cronológica
é usada principalmente como critério de desempate;
3. Quando aparece um órgão, ele é submetido a exames e os resultados são
enviados para o computador;
4. O programa faz o cruzamento entre os dados de doador e receptor e apresenta
dez opções mais compatíveis com o órgão;
5. Os dez pacientes não são identificados pelo nome para evitar favorecimento. Só
suas iniciais e números são mostrados. Nesta etapa, todos os profissionais da
central têm acesso ao cadastro;
6. O laboratório refaz vários exames e realiza outros novos com material
armazenado desse receptor. Nesse momento, o receptor ainda não é comunicado;
7. A nova bateria de exames aponta o receptor mais compatível. Nessa etapa, o
acesso ao cadastro fica restrito à chefia da central;
8. O médico do receptor é contatado para responder sobre o estado de saúde do
receptor. Se ele estiver em boas condições, é o candidato a receber o novo órgão.
Se não estiver bem de saúde, o processo recomeça;
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9. O receptor é contatado e decide se deseja o transplante e em que hospital fará a
cirurgia.
CIHDOTT
Já abordado no item anterior dessa apostila.
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