ANÁLISE SOBRE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL NO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS

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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC CURSO DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL E AGROECOLOGIA EDGAR ALVES DA COSTA JUNIOR ANÁLISE SOBRE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL NO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS: O caso do Projeto “Agrofloresta: Produzir e Conservar” CONCÓRDIA 2011

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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC CURSO DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL E AGROEC OLOGIA

EDGAR ALVES DA COSTA JUNIOR

ANÁLISE SOBRE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL NO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS: O caso do Projeto

“Agrofloresta: Produzir e Conservar”

CONCÓRDIA 2011

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EDGAR ALVES DA COSTA JUNIOR

ANÁLISE SOBRE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL NO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS: O caso do Projeto

“Agrofloresta: Produzir e Conservar”

Monografia apresentada como exigência para a obtenção do título de Bacharel, do Curso de Desenvolvimento Rural Sustentável e Agroecologia - DRS, ministrado pela Universidade do Contestado – UnC Concórdia, sob orientação do professor Valdemar Arl e Co-orientação da professora Fátima Conceição Marques Piña Rodrigues.

CONCÓRDIA 2011

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ANÁLISE SOBRE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL NO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS

EDGAR ALVES DA COSTA JUNIOR

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi submetido ao processo de avaliação pela Banca Examinadora para a obtenção do Título de:

Bacharel em Desenvolvimento Rural Sustentável e Agr oecologia.

E aprovada na sua versão final em _______ (data), atendendo às normas da legislação vigente da Universidade do Contestado e Coordenação do Curso de Desenvolvimento Rural Sustentável e Agroecologia.

_____________________________________________ Nome do Coordenador do Curso

BANCA EXAMINADORA: _________________________ Nome do Presidente _________________________ Membro _________________________ Membro

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Dedico este trabalho ao meu Pai Edgar (in memorian), mesmo com seu rostinho às vezes bravinho, porque escolhi um caminho do qual ele experimentou por aproximadamente 20 anos e sentiu que os

espinhos incomodaram... O da articulação e mobilização, pelo coração! Obrigado por ter sempre acreditado.

Dedico também a toda a minha família, Márcio, Nei, Hélio, Anderson, Adam, Letícia (quem diria, agora você já tem 12 anos, que orgulho!),

Lena (companheira de grandes aventuras). E Gisele, a mãe de coração. Obrigado a Todos por fazerem parte da minha vida.

A Todos/as meus Amigos/as.

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AGRADECIMENTO

Obrigado meu Deus! Nessa caminhada de lutas, muitas vezes sozinho nas andanças da

vida. Tu oh meu Deus, sempre foi o meu refúgio e meu maior conselheiro. Obrigado pelos

aprendizados e pelo amadurecimento que a passos lentos, pacientemente, venho

aprendendo a ter.

Quero agradecer a primeiramente a Todo/as que acreditaram em mim.

Em especial agradeço pelas oportunidades de sempre cruzar com pessoas boas em meu

caminho, que me impulsionam a voar.

Agradeço aqui algumas pessoas em especial:

A você companheira Lena Keferstein, pela paciência, pelo apoio e por cobrar resultados

assim. Se não fosse você, seria mais difícil esse caminhar.

Agradeço a vocês queridas professoras, Eliana C. Leite, Fátima C. M. P. Rodrigues, mesmo

reconhecendo nossas limitações, pelas oportunidades e pelas orientações. Foi um prazer

estar com vocês no projeto Agrofloresta Ipanema: Produzir e Conservar. Plantamos

sementes e ficará marcado para sempre.

Agradeço a pessoas queridas que tanto me instruíram e colaboraram para meu crescimento

profissional. A vocês, Ana Rebeschini e Armin Deitenbach.

Agradeço ao meu orientador professor Valdemar Arl pela paciência e pelas orientações.

Agradeço também, a Universidade do Contestado, em nome das professoras Arlene

Aguarezi e Neide Dalmagro.

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RESUMO

A partir do ano 2003, intensificaram-se ações e apoios voltados à agricultura familiar no Brasil e ao tema da agroecologia. A partir de então, foi formulada a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural – PNATER. O projeto “Extensão Inovadora em Modelos Sustentáveis de Produção: Sistemas Agroflorestais e Manejo de Produtos Florestais Não-madeireiros – CNPq 551944/2007-2”, executado na região de Sorocaba, Estado de São Paulo, partiu da percepção das dificuldades enfrentadas no estabelecimento de um trabalho de extensão rural voltado à agroecologia para que, fosse capaz de gerar a disseminação de experiências e aprendizados de forma eficaz e autônoma, ampliando assim o público potencialmente atingido pelas ações. O objetivo deste trabalho foi analisar se a execução do projeto seguiu os princípios e as diretrizes da política, identificando os problemas relacionados com a execução da ATER descentralizada investigando se o chamado sistema descentralizado gera resultados contínuos e permanentes, buscando a partir disso, propor alternativas para a execução de ATER a partir dos aprendizados obtidos no projeto. Os resultados demonstraram que o processo desenvolvido foi muito rico, no que tange a construção do conhecimento relacionado a sistemas sustentáveis de produção e ATER com a formação de jovens enquanto agentes de extensão rural. Por outro lado, a insuficiência da ATER, a crescente demanda, a falta de estruturas e recursos relacionados e principalmente, a falta de continuidade e monitoramento pós-projeto, enfraquece todo o potencial trabalhado dentro da comunidade.

Palavras-chave: Assistência Técnica e Extensão Rural, Agroecologia, Sistemas Agroflorestais, Construção do Conhecimento.

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ABSTRACT

Since the year 2003, actions and support targeted at family farmers in Brazil and at the topic of agroecology were itensified. As a consequence, the National Policy on Technical Assistance and Rural Extension – PNATER was formulated. The project "Innovative Extension in Sustainable Production: Agroforestry Systems and Management of Non-timber Forest Products - CNPq 551944/2007-2," executed in Sorocaba, in the state of São Paulo, parted from the perception of the difficulties in establishing a rural extension work aimed at sustainable agriculture, in order to be able to generate the dissemination of experiences and learning effectively and autonomously, thus expanding the public potentially affected by these actions. The objective of this study was to analyze whether the execution of the project followed the principles and guide lines of the policy, identifying problems related to the implementation of decentralized ATER, investigating whether the so-called decentralized system generates continuous and permanent results, thus seeking to propose alternatives to the execution of ATER derived from the knowledge obtained from the project. The results demonstrated that the developed process was very rich with respect to construction of knowledge related to sustainable production systems, to the formation of youth as extension agents. On the other hand, the inadequacy of ATER, the increasing demand, the lack of structures and related funds and especially the lack of continuity and post-project monitoring, weakens the the whole potential developed within the community.

Keywords: Technical Assistance and Rural Extension, Agroecology, Agroforestry, Construction of Knowledge.

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INDICE DE FIGURAS

Figura 1: Localização da região de Iperó no Estado de São Paulo e detalhe da distribuição dos lotes e famílias envolvidas no Projeto Agrofloresta, no Assentamento Ipanema, Iperó- SP (Propriedades assinaladas em vermelho no mapa). ................. 33

Figura 2: Fluxograma do projeto ............................................................................... 38

Figura 3: Visita de Troca de Saberes e Experiências. Esq. Paraty/RJ e Dir. Barra do Turvo/SP ................................................................................................................... 40

Figura 4: Áreas com Adubação Verde, sendo demarcadas as parcelas ................... 41

Figura 5: Oficina de Desenho de Sistemas Agroflorestais e detalhe do jogo elaborado (Eco-cartas) .............................................................................................. 41

Figura 6: Áreas Demonstrativas Implantadas............................................................ 42

Figura 7: Números de Atividades Realizadas por Áreas Temáticas .......................... 47

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INDICE DE TABELAS

Tabela 1: Alguns elementos para a comparação entre tipos de extensão .................. 22

Tabela 2: Matriz Lógica do Projeto ..................................................................................... 44

Tabela 3: Análise FOFA do projeto ..................................................................................... 55

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10

2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................... .................................................. 13

2.1. DEFINIÇÃO DE AGROECOLOGIA E SISTEMAS AGROFLORESTAIS ..... 13 2.2. HISTÓRICO E PRESSUPOSTOS SOBRE ATER ....................................... 15 2.3. A NOVA ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL - ATER ............. 18 2.4. DESAFIOS E CRÍTICAS DA NOVA ATER .................................................. 22

3. METODOLOGIA DA ANÁLISE ............................ .............................................. 26

3.1. OBJETO DE ESTUDO ................................................................................. 26 3.2. INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS ..................................................... 26 3.3. ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES .................................................................. 29

4. O PROJETO: “EXTENSÃO INOVADORA EM MODELOS SUSTENTÁV EIS DE PRODUÇÃO: SISTEMAS AGROFLORESTAIS E MANEJO DE PRODU TOS FLORESTAIS NÃO-MADEIREIROS” ....................... ............................................... 30

4.1. ÁREA DE ESTUDO E PÚBLICO DO PROJETO ......................................... 32 4.2. METODOLOGIA DO PROJETO .................................................................. 34 4.3. RESUMO DO PROCESSO REALIZADO EM CAMPO ................................ 38

5. ANÁLISE ........................................... ................................................................. 44

5.1. ANÁLISE DA EXECUÇÃO DO PROJETO ................................................... 44 5.2. O CUMPRIMENTO DOS PRINCIPIOS DA PNATER ................................... 48 5.2.1. O Primeiro Princípio .................................................................................. 49 5.2.2. O Segundo Princípio ................................................................................. 50 5.2.3. O Terceiro Princípio .................................................................................. 50 5.2.4. O Quarto Princípio .................................................................................... 51 5.2.5. O Quinto Princípio ..................................................................................... 52 5.2.6. O Sexto Princípio ...................................................................................... 53 5.3. ANÁLISE CRÍTICA DO PROJETO............................................................... 54 5.3.1. Forças ....................................................................................................... 56 5.3.2. Oportunidades .......................................................................................... 57 5.3.3. Fraquezas ................................................................................................. 59 5.3.4. Ameaças ................................................................................................... 62 5.3.5. Ambiente Interno (Forças e Fraquezas) ................................................... 65 5.3.6. Ambiente Externo (Oportunidades e Ameaças) ........................................ 66

6. CONCLUSÃO ......................................... ............................................................ 67

BIBLIOGRAFIA ...................................... .................................................................. 69

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1. INTRODUÇÃO

A partir do ano 2003, intensificaram-se ações e apoios voltados à agricultura

familiar no Brasil e ao tema da agroecologia. Desde então, através de um processo

participativo foi formulada a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão

Rural – PNATER, (MDA; SAF; DATER, 2004), coordenada pelo Ministério do

Desenvolvimento Agrário - MDA, a partir da criação da Secretaria de Agricultura

Familiar – SAF e do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural -

DATER.

Com base na Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural -

PNATER existem inúmeras ações e diretrizes estabelecidas, voltadas ao apoio da

agricultura familiar e agroecologia, estando entre estas diretrizes a criação de um

sistema descentralizado de ATER. Desta forma, diversos editais são lançados a

cada ano.

O tipo de ATER atualmente desenvolvido, chamado de “descentralizado” pelo

qual apresenta inúmeras vantagens, entre elas a questão do respeito aos valores

culturais, gênero, estabelecido de forma participativa e endógena, entre outros

assuntos pertinentes, ao mesmo tempo, foram identificados problemas em projetos

seguindo o sistema descentralizado de ATER, principalmente pela falta de

continuidade pós-projeto visto que, tal questão está prevista nas diretrizes desse

instrumento que é a própria PNATER.

Esses exemplos de aparentes problemáticas relacionadas a ATER

descentralizada tornam necessário de colocar a pergunta se a ATER

descentralizada gera os resultados esperados, principalmente no sentido de

continuidade pós-projeto e se não, porque não? Analisando esse tema, nos permite

identificar meios para melhorar a execução atual de ATER e com isso atingir as

metas conforme previstas na PNATER.

O projeto “Extensão Inovadora em Modelos Sustentáveis de Produção:

Sistemas Agroflorestais e Manejo de Produtos Florestais Não-madeireiros – CNPq

551944/2007-21”, partiu da percepção das dificuldades enfrentadas no

1 MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA (MCT), a Secretaria da Agricultura Familiar do

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO (SAF/MDA) e a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME

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estabelecimento de um trabalho de extensão rural voltado à agroecologia para que,

fosse capaz de gerar a disseminação de experiências e aprendizados de forma

eficaz e autônoma, ampliando assim o público potencialmente atingido por estas

ações, através do processo denominado de construção do conhecimento.

Seu principal objetivo foi trabalhar a criação de uma proposta metodológica

inovadora de ATER, voltado a apoiar a transição agroecológica no Assentamento

Ipanema, que pudesse gerar a efetiva participação e comprometimento dos

envolvidos. Desta forma, foram implantadas áreas modelo de Sistemas

Agroflorestais - SAFs voltados a diferentes finalidades, e exemplos de uso

sustentável de Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNM).

Analisando os objetivos e as metodologias propostas, esse projeto é um bom

exemplo de ATER descentralizada, fato também, que faz parte do edital entre o

Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA em parceria com o Ministério da

Ciência e Tecnologia – MCT e o Conselho de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico – CNPq, como parte das estratégias previstas na PNATER, parece

oportuno usar ele como base na pesquisa sobre os resultados de ATER.

O objetivo geral deste trabalho de conclusão de curso é analisar a eficiência do

sistema de ATER com ênfase no projeto, avaliando se os objetivos propostos foram

atingidos e como vem ou não se dando a continuidade por parte do público

beneficiário do projeto. A pergunta chave a ser respondida com base no projeto

acima é: O sistema descentralizado de ATER prevista na PNATER gera resultados

contínuos e permanentes para os beneficiários conforme vem sendo executado na

prática?

Mais especificamente os objetivos desse trabalho são:

1. - Analisar se a execução atual da PNATER segue os princípios e as diretrizes

da política;

2. - Identificar problemas relacionados com a execução de ATER

descentralizada;

3. - Investigar se a ATER descentralzada como vem sendo executada

atualmente traz resultados contínuos e permanentes; e

(SESAN/MDS), por intermédio do CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO - CNPq, no âmbito da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural – PNATER, lançam o Edital MCT/CNPq/MDA/SAF/MDS/SESAN- Nº 36/2007: Seleção Pública de Propostas para Apoio a Projetos de Extensão Tecnoló gica Inovadora para Agricultura Familiar .

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4. - Propor alternativas para a execução de ATER descentralizada.

Visando atingir tais objetivos, este trabalho de conclusão de curso, vai

pesquisar bibliografias e documentos voltados ao tema, assim identificando os

principais problemas ou lições apontadas, como também, descrever o processo de

ATER desenvolvido no trabalho de extensão rural voltado a construção do

conhecimento agroecológico na comunidade do assentamento Ipanema, município

de Iperó, com ênfase no projeto: CNPq 551944/2007-2, do qual se pretende analisar

os principais resultados obtidos com base em análise avaliativa, crítica e propositiva

e assim ao final, propondo alternativas voltadas à assistência técnica e extensão

rural, com base no Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural –

PNATER elaborado através de consulta pública pelo Ministério do Desenvolvimento

Agrário – MDA. O trabalho será desenvolvido da seguinte forma:

No capitulo seguinte serão definidos os termos Agroecologia e Sistemas

Agroflorestais antes de ser apresentada uma síntese sobre o histórico da

Assistência Técnica e Extensão Rural no Brasil. Na seqüência, será feita uma

descrição do sistema atual de ATER, denominada de “Nova ATER Pública”, dando

ênfase aos conceitos de Agroecologia e Agricultura familiar, entre outros temas. Este

capítulo será concluído pelos desafios já identificados da nova ATER.

No Capitulo três será apresentada a metodologia da análise, seguida, no

próximo capitulo, da descrição do projeto objeto de análise, bem como, o processo

metodológico desenvolvido em sua execução. O capitulo cinco analisa os resultados

do projeto em comparação com a metodologia prevista e com os princípios da

PNATER para assim identificar no passo seguinte problemas na execução atual de

ATER. Na conclusão serão dadas sugestões para melhorar o sistema atual de

ATER.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo, serão definidos através de conceitos a Agroecologia e os Sistemas

Agroflorestais, temas trabalhados no projeto objeto de análise. Em seguida será

apresentado o sistema brasileiro de ATER, começando por sua criação e o

desenvolvimento no passado, explicando em seguida o sistema atual a partir da

nova política de ATER e, terminando com a listagem por alguns desafios e

problemas identificados na literatura.

2.1. DEFINIÇÃO DE AGROECOLOGIA E SISTEMAS AGROFLORESTAIS

Em busca de uma alternativa até então ao modelo desgastante de produção

agropecuária baseada em pacotes tecnológicos na chamada agricultura moderna,

desde os anos 40 no Brasil, surge a Agroecologia, como um contraponto ao modelo

hegemônico de produção das últimas décadas, propondo modelos alternativos e

sustentáveis, com o objetivo de diminuir o impacto ambiental da produção, além de

assegurar uma maior estabilidade e autonomia ao agricultor familiar (EHLERS,

1996).

Caporal apud Kreutz et al. (2007) define a agroecologia como:

[...] base para construção do desenvolvimento rural Sustentável, independente das suas vertentes, que passa a ser entendida como uma ciência ou um conjunto de conhecimentos que ajudam no correto redesenho e o adequado manejo de agroecossistemas na perspectiva de sustentabilidade através de processo educativos e participativos do qual representam uma oportunidade para construir melhores vínculos entre os vários atores e qualificam o conhecimento mútuo.

Para Caporal e Costabeber (2004), a partir da contribuição conceitual sobre o tema,

ela está definida em partes como sendo:

[...] um enfoque teórico e metodológico que, lançando mão de diversas disciplinas científicas, pretende estudar a atividade agrária sob uma perspectiva ecológica. Sendo assim, a Agroecologia, a partir de um enfoque sistêmico, adota o agroecossistema como unidade de análise, tendo como propósito, em última instância, proporcionar as bases científicas (princípios, conceitos e metodologias) para apoiar o processo de transição do atual modelo de agricultura convencional para estilos de agriculturas sustentáveis.

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Dentro do universo da agroecologia, temos pautados os temas como

agricultura orgânica, permacultura, agricultura biodinâmica, agricultura de base

ecológica, sistemas agroflorestais, entre outros diversos temas.

Nos Sistemas Agroflorestais – SAFs ou “Agrofloresta”, termo comumente

chamado no Brasil, espécies lenhosas, herbáceas e agrícolas são cultivadas juntas,

algumas vezes escalonadas no espaço e no tempo, adotando-se práticas

diversificadas de manejo que geram a conservação dos recursos naturais

(TORQUEDIAU, 1989). Nesse sistema produtivo os benefícios resultam das

interações ecológicas e econômicas (LUDGREN; RAINTREE, 1982 e MACDICKEN;

VERGARA, 1990). Embora as agroflorestas busquem a semelhança com a

natureza, adotando uma estrutura sucessional análoga aos processos naturais

(VIVAN, 2000), no entanto, define como sendo em essência sistemas agrícolas de

produção no qual o homem, os animais e o ambiente se integram (CAPRA, 1996).

De acordo com Podadera et al. (2009), Farrell e Altieri (2002), sistema

agroflorestal é um nome genérico utilizado para descrever sistemas tradicionais de

uso da terra, nos quais as árvores são associadas no espaço e/ou tempo com

espécies agrícolas anuais e/ou animais. Este tipo de sistema apresenta diversas

vantagens ambientais e sócio-econômicas e preenche muitos requisitos da

sustentabilidade (TORQUEBIAU, 1989) tais como o eficiente uso dos recursos

naturais, proteção do solo, da hidrologia e da biodiversidade (FARRELL; ALTIERI,

2002), além de aumento na segurança alimentar para o produtor devido à

diversificação na produção e conseqüente possibilidade de diversificação de renda.

Nesse contexto, os sistemas agroflorestais (SAFs) têm sido estudados e

implantados em diversos locais do mundo e do Brasil, mas ainda em escala

incipiente. Na sua concepção embora haja uma redução da lucratividade por

unidade agrícola, por outro lado há a minimização dos impactos ambientais. De

acordo com Altieri (1989) um dos desafios em sistemas agroecológicos é o

redirecionamento da análise econômica de forma a contabilizar o uso dos recursos

naturais e refletir o real valor da produção na sustentabilidade agrícola.

A mudança de paradigma por parte de agricultores familiares, partindo de

sistemas convencionais de produção para outros com maior diversidade e baseados

em princípios agroecológicos, como os propostos por Altieri (1989), é difícil e requer

ações de assistência técnica e extensão rural (ATER) efetivas e contínuas. Dessa

forma, primeiramente é necessário construir e implantar de forma participativa

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modelos de SAFs, ajustar e desenvolver o manejo de PFNM adaptados às

realidades locais e regionais criando assim, áreas demonstrativas em sistemas

sustentáveis que possam servir de modelos replicáveis para pequenos

produtores/agricultores familiares. Simultaneamente, são necessárias medidas de

melhoria do sistema de ATER, para que estes agricultores familiares possam ser

permanente e efetivamente assistidos neste processo de transição.

A Agroecologia vem se constituindo como um enfoque alternativo tanto para

os estudos do desenvolvimento rural como para o estabelecimento de uma nova

forma de ver e entender o desenvolvimento agrícola na perspectiva da

sustentabilidade (CAPORAL; COSTABEBER, 2004).

Tais questões nos levam a concluir que, diante dos desafios impostos pela

sociedade em busca do desenvolvimento sustentável, visando transformar as

práticas convencionais do passado, Caporal (2003) instrui que:

[...] os aparatos públicos de extensão terão que transformar sua prática convencional para que possam atender às novas exigências da sociedade. A crise social e ambiental, gerada pelos modelos de desenvolvimento rural convencionais e de extensão, recomenda uma clara ruptura com o modelo extensionista baseado na Teoria da Difusão de Inovações e nos tradicionais pacotes da "Revolução Verde".

Estas colaborações ajudaram a traçar um retrato sobre a agroecologia

enquanto conceito no Brasil, servindo de referência para os Programas de

Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER que seguem as orientações da nova

Política Nacional de ATER, instituída no âmbito do Ministério do Desenvolvimento

Agrário - MDA, que será comentada adiante, da qual é destacada pelos principais

atores, como sendo capazes, se levadas em consideração, de dar sustentação a um

efetivo processo de transição baseada nos princípios agroecológicos. (CAPORAL;

COSTABEBER, 2004).

2.2. HISTÓRICO E PRESSUPOSTOS SOBRE ATER

O desenvolvimento rural no Brasil e suas transformações, a partir dos

governos e suas políticas se iniciaram ainda na fase do Brasil imperial, criando o que

naquela época eram chamados de Institutos Imperiais de Agricultura, no final do

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século 19 (CNATER, 2011). Desde então, a extensão Rural ou “Extensionismo”

sempre esteve presente nas fases do desenvolvimento agrícola e rural do país.

Os serviços de extensão rural se configuram enquanto política pública no

Brasil, quase 90 anos depois da criação dos Institutos Imperiais de Agricultura a

partir da criação da Associação de Crédito e Assistência Técnica Rural do estado de

Minas Gerais, a ASCAR. Menos de 10 anos depois, essa associação já estava

presente na maioria dos estados do Brasil, chamada agora de Associação Brasileira

de Crédito e Assistência Técnica – ABCAR (CNATER, 2011). Esta iniciativa criou um

sistema nacional de ATER. Antes da criação da ABCAR a extensão rural teve um

caráter privado ou paraestatal; posteriormente, sendo reconhecida como pública

(MDA; SAF; DATER, 2004).

Dessa forma, o modelo de extensão rural chegou ao Brasil por volta dos anos

40 do século passado, período chamado de pós-guerra, com o objetivo de apoiar a

modernização da agricultura e a industrialização do país (MDA; SAF; DATER, 2004).

Entre as décadas de 1950 e 1960, a extensão rural teve início a partir do crédito

supervisionado, do qual levou conhecimento agrícola e de economia doméstica,

visando o bem estar das famílias. Com isso, esse processo se intensificou a partir

dos anos 60, com a chegada da então chamada revolução verde2 sendo direcionada

ao atendimento frente às demandas ao modelo urbano-industrial3 (CAPORAL;

COSTABEBER, 2004).

Logo após, a partir da década de 70 este tipo de ATER passou a propor

transferência de tecnologias a partir da modernização da agricultura. Este processo

culminou com a massificação do crédito direcionado para a produção de

“commodities” (CNATER, 2011). Neste mesmo período o processo foi estatizado,

2 A Revolução Verde pode ser caracterizada como um paradigma tecnológico derivado da evolução dos conhecimentos da química e da biologia, caracterizada fundamentalmente pela combinação de insumos químicos (fertilizantes, agrotóxicos), mecânicos (tratores e implementos) e biológicos (semente geneticamente melhoradas) que definiram uma trajetória tecnológica baseada no uso intensivo desses insumos. (ALBERGONI; PELAEZ, 2007)

3 Caporal et al. (2009) define como sendo um “modelo de desenvolvimento cuja viabilização necessitava que a agricultura cumprisse funções, entre as quais a de fornecedora de mão-de-obra e de consumidora de serviços e produtos industrializados, como as máquinas, os equipamentos, as sementes híbridas ou melhoradas, os agrotóxicos e fertilizantes químicos sintéticos, além de contribuir, pelas exportações, para o superávit da balança comercial. Esse modelo, que é fruto de decisões políticas, norteou a ação extensionista. Ao mesmo tempo, continua sendo responsável pela concentração da terra, pelo êxodo rural, pela baixa escolaridade no campo, pela redução da biodiversidade, pela poluição, pela contaminação dos alimentos, pela exclusão social, pela desvalorização do trabalho na agricultura, pelo empobrecimento no meio rural, entre outros problemas”.

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implantando o Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural –

SIBRATER (MDA; SAF; DATER, 2004).

Na década seguinte, a agricultura alternativa começou a aparecer a partir do

público beneficiário, do qual era valorizado o pequeno produtor e sua produção

diferenciada, menos dependente de insumos agrícolas. Porém, foi a partir da década

de 90, que o Brasil aprofundou o modelo político-econômico e com isso, o resultado

era o sucateamento do aparato estatal, sendo considerada esta década, como parte

da extensão perdida. O motivo se deu a partir da extinção pelo então presidente

Fernando Collor, do Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural

(SIBRATER), pondo fim de vez a garantia e existência dos serviços públicos de

ATER no Brasil por parte do governo federal (MDA; SAF; DATER, 2004).

Diante dessas circunstâncias, na ausência do apoio federal, duas frentes

tomaram forma, voltadas à extensão rural, sendo uma, por parte de alguns estados

e municípios, que reestruturaram tais serviços criando novos meios de apoio ao

setor rural, como financiamentos e operacionalização dos serviços (CNATER, 2011),

e outra, não-governamental, principalmente através de ONGs (Organização Não-

Governamental) com apoio de entidades internacionais, dando inicio aos processos

alternativos de investigação/ação participante (FREIRE, 1983).

Neste mesmo período, os processos de redemocratização do campo e dos

movimentos sociais tomaram forma e se fortaleceram, cobrando do Estado, a

elaboração de política pública direcionada a agricultura familiar e aos povos

tradicionais, respeitando assim, toda a diversidade cultural brasileira. Em 1996 o

Programa Nacional para o Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF foi

iniciado, sendo o primeiro programa voltado ao financiamento da produção da

agricultura familiar (KEFERSTEIN, 2009). Mesmo com esse programa, a crise que

se sucedeu após a extinção do SIBRATER nas entidades oficiais continuou (MDA;

SAF; DATER, 2004).

Após esse tempo de ociosidade, no ano de 2003, a primeira ação realizada foi

à transferência da competência da ATER pública do Ministério da Agricultura e

Abastecimento (MAPA), sob guarda da Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (Embrapa) desde o fim da Embrater, para o Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA). A seguir foi criado o Departamento de Assistência

Técnica e Extensão Rural (DATER), vinculado à Secretaria de Agricultura Familiar -

MDA (DIAS, 2007, pag. 16), sendo responsável pela elaboração da Política Nacional

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de Assistência Técnica e Extensão Rural - a PNATER. Ela foi consolidada como

política pública a partir do ano de 2004, porém, somente foi instituída em Janeiro de

2010.

A Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural – PNATER foi

criada como uma proposta alternativa ao atual modelo de assistencialismo ocorrido

até final dos anos 80, após o modelo de extensão rural anteriormente adotado, cair

em quase extinção, principalmente no que se refere aos agricultores familiares que

ficaram sem acesso a informação, assessoria técnica, pesquisa, entre outras

questões.

Tanto para Kreutz et al. (2007) como para Lisita (2005), a extensão rural

passou por três fases. A primeira (1948-1960), chamada de “humanismo

assistencialista”, voltada à organização dos serviços de extensão rural oficial no

Brasil com intuito de aumentar a produtividade agrícola e, portanto, a renda das

famílias. A segunda (1964-1980), chamada de “difusionismo produtivista”, que

procurou estabelecer o que chamamos de modernização ou aprimoramento voltado

à produção industrial a partir dos pacotes tecnológicos modernizantes; e a última, já

por volta dos anos 80 até os dias atuais, tida como uma alternativa de se fazer

extensão rural, diante agora de uma possível percepção de crise no modelo de

desenvolvimento agrícola, chamado de “humanismo crítico”, trazendo uma nova

consciência crítica aos modelos das fases anteriores, usando métodos como

planejamento participativo, ente outras coisas.

2.3. A NOVA ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL - ATER

A Lei de ATER nº 12.188, de 11 de janeiro de 2010, institui a Política Nacional

de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER) e o Programa Nacional de

Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária

(PRONATER). A PNATER define os princípios e diretrizes que estabelecem as

formas como esta política deve ser implementada, inclusive, citando em seu

conteúdo, a questão da oferta de uma extensão pública, gratuita e de caráter

continuado (BRASIL, 2010), a partir de um processo descentralizado (MDA; SAF;

DATER, 2004). O PRONATER, por si só, estabelece ainda a forma de contratação

19

desses serviços através da dispensa de licitação e da realização das conferências

Nacional de ATER, tendo a primeira prevista para acontecer ainda em 2011

(CNATER, 2011).

São os beneficiários dessa nova Assistência Técnica e Extensão Rural

conforme estabelece a PNATER: Populações tradicionais de agricultores familiares,

assentados da reforma agrária, indígenas, extrativistas, povos da floresta,

ribeirinhos, quilombolas, pescadores, seringueiros, entre outros povos definidos

como beneficiários da Secretaria da Agricultura Familiar – SAF, do Ministério do

Desenvolvimento Agrário – MDA (BRASIL, 2010).

A implementação da PNATER tem o objetivo maior de promover a

universalização do conhecimento no campo. Além disso, o objetivo deste tipo de

ATER pode ser mais bem evidenciado a partir de autores pioneiros nesta discussão:

(...) Ela tem o objetivo de alcançar um modelo de desenvolvimento socialmente eqüitativo e ambientalmente sustentável, adotando os princípios teóricos da Agroecologia como critério para o desenvolvimento e seleção das soluções mais adequadas e compatíveis com as condições específicas de cada agroecossistema e do sistema cultural das pessoas envolvidas no seu manejo (CAPORAL; COSTABEBER, 2004, p.64).

Os serviços de ATER foram resgatados enquanto política pública voltada ao

meio rural, buscando aumentar sua abrangência, melhorando sua qualidade, com

inclusão social e produtiva (CAPORAL, 2009), segurança e soberania alimentar, a

partir do fortalecimento da agricultura familiar e da reforma agrária, promovendo com

isso o novo tipo de desenvolvimento rural, agora tido como sustentável, dando

prioridade à superação da extrema pobreza. (CNATER, 2011)

O elemento mais marcante da PNATER foi a sua clara opção pela

agroecologia como modelo sustentável de produção agrícola. Ficou evidente a

busca do desenvolvimento rural ou de sistemas de produção sustentáveis no meio

rural, assim contribuindo para a segurança e soberania alimentar, entre outros

elementos voltados ao desenvolvimento rural sustentável. No entanto, a lei n°

12.188/2010 não utiliza o termo agroecologia em sua nova redação, fazendo

referência apenas a adoção dos princípios da agricultura de base ecológica.

Com isso, a ATER ganha uma nova dimensão, o seu papel é modificado, se

tornando uma lei institucionalizada no Brasil, passando a atuar agora com foco

voltado ao desenvolvimento rural sustentável, integrando o manejo adequado dos

recursos hídricos, atrelado a preservação do meio ambiente.

20

Além disso, a Lei 12.188/2010, que institui a lei de ATER em seu segundo

artigo no item um, fortalece a Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER, como

sendo: “[...] serviço de educação não formal, de caráter continuado no meio rural,

que promove processo de gestão, produção, beneficiamento e comercialização [...]”

(BRASIL, 2010). Esta questão da continuidade é ainda evidenciada no artigo

terceiro, enquanto princípio da ATER que esta seja gratuita, com qualidade e de fácil

acessibilidade aos serviços de ATER. Mais adiante na lei, no artigo quarto, é

configurado como objetivo, o novo compromisso nesta continuidade, pois tem como

objetivo “[...] assessorar as diversas fases das atividades econômicas [...]” (BRASIL,

2010).

A lei de ATER reforça ainda que a forma de aplicação estão baseadas em

metodologias participativas, com enfoque multidisciplinar e intercultural e a

democratização da gestão da política pública (BRASIL, 2010), com ênfase em

processos de desenvolvimento endógeno, e de um paradigma baseado nos

princípios de agroecologia (MDA; SAF; DATER, 2004).

Chama à atenção no documento da PNATER o reconhecimento da

pluralidade dos agentes que trabalham com ATER, convocados a compor um

“sistema nacional descentralizado de ATER pública”, coordenado pelo

DATER/SAF/MDA e articulado por mecanismos de gestão social e financiamento

misto (várias instâncias governamentais, parcerias, fontes internacionais etc.). Isto

representa ao mesmo tempo o reconhecimento da incapacidade do Estado prover

exclusivamente os serviços e a diversidade que hoje caracteriza a extensão rural no

país. Este reconhecimento aponta para dois objetivos distintos: reestruturar o

aparato estatal e apoiar a iniciativa não governamental.

Neste sentido, a concepção da Política Nacional de Assistência Técnica e

Extensão Rural – PNATER está fundamentada em aspectos considerados básicos

para promoção do desenvolvimento rural sustentável, pretendendo ser estabelecida

de forma sistêmica, articulando recursos humanos e financeiros a partir de parcerias

eficazes, solidárias e comprometidas com o desenvolvimento e fortalecimento da

agricultura familiar em todo território nacional, (MCT; CNPq; MDA; SAF; MDS;

SESAN, 2007).

Nesse sentido, visando facilitar entendimento quanto a essa nova face da

ATER no Brasil, a partir da colaboração de Caporal (2003), parece ser adequado

21

adotar-se o conceito de “Extensão Rural Agroecológica”, no que tange a execução

da política nacional, como sendo:

[...] um processo de intervenção de caráter educativo e transformador, baseado em metodologias de investigação-ação participante que permitam o desenvolvimento de uma prática social mediante a qual os sujeitos do processo buscam a construção e sistematização de conhecimentos que os levem a incidir conscientemente sobre a realidade, com o objetivo de alcançar um modelo de desenvolvimento socialmente eqüitativo e ambientalmente sustentável, adotando os princípios teóricos da Agroecologia como critério para o desenvolvimento e seleção das soluções mais adequadas e compatíveis com as condições específicas de cada agroecossistema e do sistema cultural das pessoas implicadas em seu manejo.

Assim, podemos concluir que, para que o estado venha a assegurar a

abrangência e mecanismos de acesso às políticas públicas, especialmente junto aos

setores menos favorecidos do campo, a extensão rural pública continua sendo vista

como uma ferramenta fundamental para, tanto pela sua capilaridade, como pela

possibilidade de que, por meio desse mecanismo, o Estado possa alavancar

estratégias de desenvolvimento rural sustentável, com objetivos orientados pela

busca de equilíbrio social e sustentabilidade ambiental, objetos esses que não são

garantidos pelo mercado.

Quanto ao novo serviço público de extensão rural, espera-se que este seja

voltado àqueles setores da agricultura em que se encontram as famílias rurais que

não podem pagar por serviços de assistência técnica.

A Tabela 1 resume as diferenças entre a nova ATER descentralizada e a

extensão rural convencional, dando uma sintetizada naquilo anteriormente

comentado sobre o processo que diferencia os tios de assistência técnica, voltado

ao modelo convencional de produção e o novo paradigma de modelos voltados a

agroecologia e agricultura familiar.

22

Tabela 1: Alguns elementos para a comparação entre tipos de extensão

Indicadores Extensão Rural convencional Extensão Ru ral Agroecológica

Bases teóricas e Ideológicas

Teoria da Difusão de inovações. Conhecimento científico em primeiro lugar.

Desenvolvimento local. Agricultor em primeiro lugar. Resistência dos camponeses.

Principal objetivo

Econômico. Incremento de renda e bem estar mediante a transferência de tecnologias. Aumento da produção e produtividade.

Eco-social. Busca de estilos de desenvolvimento sócio-economicamente equilibrado e ambientalmente sustentável. Melhorar as condições de vida com proteção ao meio ambiente.

Compreensão sobre meio ambiente

Base de recursos a ser explorada para alcançar objetivos de produção e produtividade. Aplicação de técnicas de conservação.

Base de recursos que deve ser utilizada adequadamente de forma a alcançar estabilidade nos sistemas agrícolas. Evitar ou diminuir impactos ao ambiente e aos estilos de vida.

Compreensão da agricultura

Aplicação de técnicas e práticas agrícolas. Simplificação e especialização.

Processo produtivo complexo e diversificado, em que ocorre a co-evolução das culturas e dos agroecossistemas.

Agricultura sustentável

Intensificação verde. Aplicação de tecnologias mais brandas e práticas conservacionistas em sistemas convencionais.

Orientação agroecológica. Tecnologias e práticas adaptadas a agroecossistemas complexos e diferentes culturas.

Metodologia Para transferência de informações e assessoramento técnico. Participação funcional dos beneficiários.

Para recuperação e síntese do conhecimento local, construção de novos conhecimentos. Investigação-ação participativa.

Comunicação De cima para baixo. De uma fonte a um receptor.

Diálogo horizontal entre iguais. Estabelecimento de plataformas de negociação.

Educação Persuasiva. Educar para a adoção de novas técnicas. Induzir ao cambio social.

Democrática e participativa. Incrementar o poder dos agricultores para que decidam.

Papel do Agente Professor. Repassar tecnologias e ensinar práticas. Assessor técnico.

Facilitador. Apoio à busca e identificação de melhores opções e soluções técnicas e não Técnicas

Fonte: Caporal (2003)

Como citado, atualmente a demanda por ATER é crescente, visto como um

serviço contemporâneo, apontado pela PNATER, dando a acreditar como sendo o

grande indutor do desenvolvimento rural sustentável.

2.4. DESAFIOS E CRÍTICAS DA NOVA ATER

Em trabalho realizado através de levantamento bibliográfico sobre ATER e

Sistemas Agroflorestais (SAFs), relacionados em duas vertentes. Um direcionado a

técnica ou manejo propriamente dito dos sistemas agroflorestais e outro, relacionado

23

à Assistência Técnica e Extensão rural. Do total de 105 trabalhos levantados, 20 %

apenas tratavam da questão de ATER e os demais, 80% se referiam a técnica,

conceitos, manejo, etc. relacionados aos SAFs (PODADERA, et al. 2009).

Desta forma, podemos concluir que, existem poucos trabalhos relacionados à

questão da nova ATER, principalmente da execução no Brasil. Um motivo por isso é

que a lei instituindo a PNATER foi somente implementada em Janeiro de 2010.

Porém, foram identificados alguns desafios e problemas em relação à execução da

mesma.

A própria PNATER considera que diante dos resultados negativos dos

modelos de desenvolvimento agrário anteriores a exemplo da Revolução Verde e

seus pacotes tecnológicos, e ainda dos problemas enfrentados na fase difusionista

de ATER, existe o desafio de apoiar estratégias de desenvolvimento sustentável,

pois necessitam de política renovada e duradora (MDA; SAF; DATER, 2004).

Além disso, no ano de 2011, o documento base para a preparação da

primeira Conferência Nacional de ATER, prevista para acontecer ainda em 2011

(CNATER, 2011), aponta o que é chamado de novos e grandes desafios a serem

enfrentados, entre eles:

- Universalização dos serviços de ATER, voltado a atender a demanda de

aproximadamente 4 milhões de famílias, permitindo a essas famílias o acesso a

políticas públicas através da inclusão social e produtiva;

- O redesenho da sistemática dos serviços de ATER, que garantam a

continuidade das atividades, a qualificação dos seus quadros técnicos, gestão e

controle social e;

- A definição das estratégias de qualificação e ampliação dos quadros

técnicos, garantindo uma abordagem de diálogos e contraposição de idéias,

conforme estabelecido na PNATER, propiciando ainda, a diminuição das

desigualdades e garantindo a sucessão das famílias no campo.

Outro ponto que merece destaque pela PNATER é o desafio de estimular a

constrição de sistemas produtivos sustentáveis, tendo agroecologia como pano de

fundo, buscando ainda, processos de envolvimento organizado do público

beneficiário (CNATER, 2011).

Para Kreutz et al. (2007)

[...] o desafio da extensão rural Brasileira é deixar que a sua competência técnica e seu crescente comprometimento político com a agricultura familiar a transformem de um organismo voltado à assistência técnica aos

24

agricultores, em uma unidade que planeja, juntamente com os atores locais, o processo de desenvolvimento.

O mesmo autor considera ainda que as empresas oficiais possuem limitações

para a operacionalização por falta de processos pedagógicos construtivistas, cultura

imediatista, estrutura institucional insuficiente e despreparo para trabalhar com os

saberes locais e na consolidação de redes de parcerias.

Nos poucos trabalhos que existem, fazendo uma análise crítica da execução

da nova ATER, os problemas seguintes são destacados:

Diesel, Neumann e Garcia (2007), em recente trabalho que analisa o porquê a

nova ATER “não sai do papel”, examinam e discutem as possibilidade e dificuldades

que vem sendo encontradas na implementação dessa política nacional. Apesar dos

esforços por parte do DATER (Departamento de Assistência Técnica e Extensão

Rural), responsável pela implementação da política, observa enorme força de inércia

que faz com que esses serviços ainda sejam realizados através de práticas

difusionistas antigas, com metodologias obsoletas, mostrando-se ineficientes e

inadequadas no que se refere à nova extensão rural (CAPORAL; RAMOS, 2007).

Dando seqüência, existem algumas dificuldades que são apontadas a

exemplo do perfil dos profissionais que atuam dentro das organizações

principalmente oficiais por falta de uma base metodológica e de dialogo e construção

participativa com a base (DIESEL, NEUMANN E GARCIA, 2007). No entanto,

Pacífico e Caporal (2011), demonstram que no período de 2004-2005, o DATER

desenvolveu um processo de capacitação dos extensionistas, sendo a primeira

etapa, o horizonte de nivelamento dos conceitos, visando dar aos profissionais da

área embasamento teórico que norteiam a ATER.

Souza apud Diesel, Neumann e Garcia (2007), com referência à adoção da

PNATER no nordeste do Brasil apontam uma aceitação diferenciada entre estados,

a falta de conhecimento sobre a política e o forte fator, chamado por eles de política

ideológica. Podendo isso estar relacionado pela clara opção em alguns estados por

modelos convencionais de desenvolvimento, a exemplo do agronegócio. Diesel,

Neumann e Garcia (2007), consideram ainda, que “em organizações favoráveis à

nova política, problemas administrativos e financeiros podem impedir o

desenvolvimento das ações segundo a nova política de ATER”.

Na análise realizada por Diesel, Neumann e Garcia (2007), no projeto

executado pela Universidade Federal de Santa Maria no ano de 2004 ainda foram

25

identificados os seguintes problemas: insegurança na parte metodológica e por

complexidade do processo metodológico na aplicação prática; falta de autonomia

dos profissionais dentro das entidades para implementar a nova ATER, limitando

ações participativas e endógenas; baixa receptividade por parte dos agricultores em

vista do modelo alternativo de produção; restrição de envolvimento por falta de

projeção de continuidade; e falta de material didático principalmente voltado à

extensão rural (PODADERA et al., 2009). Diesel, Neumann e Garcia (2007)

destacam ainda, que “[...] nas organizações mais consolidadas [...] salienta-se a

proliferação das demandas pontuais (de origem dos agricultores e de organizações

externas) que levam à fragmentação e descontinuidade da ação extensionista”.

Outro ponto importante está no fato de que não existe ao certo uma análise

ou monitoramento do processo que vem sendo realizado a partir da execução desta

política considerada por um lado descentralizada, a exemplo da inexistência de um

sistema de avaliação e monitoramento (DIAS, 2007), mesmo que, diversos

resultados vêm mostrando um avanço na produtividade e importância da agricultura

familiar no que representa no PIB para o Brasil (IBGE, 2010), principais públicos-

alvo da Política de ATER.

26

3. METODOLOGIA DA ANÁLISE

A falta de monitoramento oficial, conforme destacada no capitulo anterior, faz

necessárias análises da execução de ATER por incentivos independentes, como

este trabalho. Neste capitulo será apresentada a metodologia utilizada para fazer

esta análise.

3.1. OBJETO DE ESTUDO

O presente trabalho de pesquisa foi executado a partir do projeto “Extensão

Inovadora em Modelos Sustentáveis de Produção: Sistemas Agroflorestais e Manejo

de Produtos Florestais – UFSCAR-CNPq 551944.2007-2”, que teve como

proponente a Universidade Federal de São Carlos, através do seu Campus no

município de Sorocaba – Estado de São Paulo.

Este projeto fez parte do Edital MCT/CNPq/MDA/SAF/MDS/SESAN - Nº

36/2007 - Seleção Pública de Propostas para Apoio a Projetos de Extensão

Tecnológica Inovadora para Agricultura Familiar, como parte das estratégias do

Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA em parceria com o Conselho Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (Edital CNPq 036/2007).

O projeto foi executado entre dezembro de 2007 a maio de 2011 em duas

regiões do Estado de São Paulo - a área modelo, a Região do Vale do Ribeira, e a

área foco, os Assentamentos da Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema, região de

Sorocaba, município de Iperó/SP.

3.2. INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS

Para a análise de ATER a partir do projeto definido acima, foram resgatados

os materiais produzidos pelo projeto “Extensão Inovadora em Modelos Sustentáveis

27

de Produção: Sistemas Agroflorestais e Manejo de Produtos Florestais – UFSCAR-

CNPq 551944.2007-2”;

O resgate dos materiais do projeto foi realizado a partir do banco de dados

existente e disponível para consulta, através do acesso gerado na plataforma do

projeto (disponível em Googledocs.com®), além de acervos digitais disponíveis on-

line para imagens (Picasa®) e vídeos realizados no projeto (Youtube®). A partir

destes documentos foi feita a descrição do projeto no capitulo seguinte e também a

extração de parte dos dados para a análise.

Também foram sistematizados os cadernos de monitoramento participativo de

Sistemas Agroflorestais introduzido junto aos monitores do projeto para verificar as

atividades por eles relatadas. O caderno de monitoramento ou “diário do monitor” foi

um instrumento aplicado durante o decorrer do projeto e foi preenchido pelos

participantes denominados como monitores multiplicadores. Nestes cadernos, existe

uma série de informações sobre as atividades realizadas que foram consideradas

pelos monitores, além de uma análise final sobre as atividades desenvolvidas no

decorrer do projeto, e uma avaliação por parte desses, sobre o processo do qual

participaram. Estas informações serviram para a descrição das atividades

desenvolvidas pelo projeto como também para a análise dos resultados do mesmo.

Além disso, o relatório final do projeto 551944/2007-2, sistematizado pela

equipe proponente, a Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba,

ainda na fase de estágio curricular obrigatório por parte do discente, foi que deu

base para verificar os principais resultados que foram alcançados pelo projeto.

Para avaliar os resultados do projeto no que se refere à percepção na

comunidade e possível continuidade depois do seu término, foram aplicadas

entrevistas semi-estruturadas.

De acordo com Podadera (2009), a metodologia de entrevistas semi-

estruturadas é baseada em algumas perguntas-chave pré-determinadas. Desta

forma, este instrumento facilita criar um ambiente de diálogo, permitindo à pessoa

entrevistada se expressar livremente sem as limitações criadas por um questionário

guiado.

O objetivo dessas entrevistas foi verificar junto aos beneficiários do projeto

observando como se deu o desenvolvimento do projeto, as fases que participaram,

assim como os pontos fortes e fracos observados. O objetivo maior dessas

entrevistas foi saber se o processo desenvolvido ao longo de aproximadamente três

28

anos junto aos beneficiários, de alguma forma, está surtindo efeito no que se refere

à continuidade dentro da comunidade e por iniciativa dos próprios participantes, a

exemplo da ampliação da proposta agroecológica desenvolvida no projeto na

propriedade, da manutenção das áreas enquanto Unidades de Demonstração que

foram implantadas como referência na comunidade, e na consolidação dos

monitores formados enquanto agentes de ATER.

As entrevistas foram aplicadas conforme questionário abaixo, através de

visitas nas propriedades. As entrevistas foram divididas em dois momentos, um

voltado aos 06 jovens monitores que passaram por um processo de formação

continuada, e o outro direcionado a nove famílias com participação direta das

atividades do projeto, totalizando 15 das 40 famílias do projeto, representando

37,5% dos participantes.

Desta forma, as perguntas utilizadas nestas entrevistas foram:

Entrevista com os Agricultores (as) Familiares Participantes do Projeto

1 – Você participou de algum projeto nos últimos 02 anos voltado a Agroecologia e aos Sistemas Agroflorestais? Qual projeto?

2 – Em caso afirmativo, participou de quais atividades (Reuniões, cursos, visitas de intercâmbios, mutirões para implantação de áreas demonstrativas)?

3 – Desenvolveu algum experimento na unidade familiar referente a este projeto? Recebeu Unidade Demonstrativa?

4 – Recebeu diretamente alguma colaboração do projeto como assistência técnica, mudas e/ou sementes, insumos?

5 – Como ou que o foi desenvolvido em sua área a partir dos aprendizados e trocas obtidas? Implantou experimento? Aumentou Unidade demonstrativa, etc?

6 – O que você considerou de pontos positivos dentro deste projeto?

7 – O que você considerou de pontos negativos no projeto desenvolvido?

8 – Você continua experimentando ou trabalhando com o que aprendeu sobre agroecologia neste projeto? Sim, Não e Por quê?

Quadro 1: Roteiro das entrevistas com os agricultor es familiares.

29

3.3. ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES

As informações resgatadas do projeto serão analisadas com base em uma

análise avaliativa, crítica, e propositiva.

Primeiramente será verificado se a metodologia e as atividades previstas na

proposta do projeto foram aplicadas de fato em sua execução, comparando a

proposta do projeto com as atividades desenvolvidas.

Em seguida, será analisado se o projeto foi de encontro com os princípios

estabelecidos na Lei de ATER nº 12.188, de 11 de janeiro de 2010, para então,

demonstrar que ele é um bom exemplo para a análise de ATER.

As duas avaliações citadas servirão como base para a análise crítica principal

do projeto e da execução da nova ATER. Nesta etapa os resultados do projeto,

obtidos através dos documentos sistematizados, os cadernos de monitoramento dos

monitores, o relatório final como também as entrevistas aplicadas, serão analisadas

através do método SWOT/FOFA4 (Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e

Ameaças) para demonstrar os pontos fortes e fracos do projeto e apresentar

algumas possíveis explicações pelos problemas identificados, analisando se eles

foram específicos do projeto ou se são gerais da execução atual de ATER para

assim propor alternativas para o melhoramento da mesma.

4 “A análise SWOT (FOFA, em português) é um sistema utilizado para verificar a posição estratégica de uma instituição; corresponde à sigla em inglês para Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats) e foi desenvolvida pela universidade de Harvard durante as décadas de 1950 e 1960 (OLIVA, 2007). Nesta análise são considerados dois ambientes de interferência na realidade analisada: o interno (Forças e Fraquezas) e o externo (Oportunidades e Ameaças)” (RAMOS et al., 2008).

30

4. O PROJETO: “EXTENSÃO INOVADORA EM MODELOS SUSTEN TÁVEIS

DE PRODUÇÃO: SISTEMAS AGROFLORESTAIS E MANEJO DE

PRODUTOS FLORESTAIS NÃO-MADEIREIROS”

A descrição e análise deste trabalho estão sendo feitas a partir das atividades

e resultados que foram obtidos durante a execução do projeto “Extensão

Inovadora em Modelos Sustentáveis de Produção: Sist emas Agroflorestais e

Manejo de Produtos Florestais Não-madeireiros - 551 944/2007-2 –

MDA/CNPq/UFSCar Sorocaba”.

Este projeto foi apoiado pelo Edital MCT/CNPq/MDA/SAF/MDS/SESAN – N°

36/2007: Seleção Pública de Propostas para Apoio a Projetos de Extensão

Tecnológica Inovadora para Agricultura Familiar. Este edital foi publicado no âmbito

da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural e se destinou a grupos

de extensão das Instituições de Ensino Superior Públicas, Comunitárias e

Confessionais, e as Instituições Públicas de Assistência Técnica e Extensão. Ele

pretendeu que:

[...] as ações apoiadas por este Edital forneçam opções econômicas e sociais para a geração de renda para as famílias beneficiadas, permitindo a sucessão das gerações nos seus territórios originais, contribuindo para a inclusão social das famílias e melhorando a qualidade de vida no campo (MCT; CNPq; MDA; SAF; MDS; SESAN, 2007).

O edital financiou despesas de custeio, despesas de capital e bolsas de

trabalho e estudos por um prazo máximo de 30 meses, mas excluiu o financiamento

de despesas de rotina e exigiu que as instituições a ser financiadas tivessem a

capacidade e infra-estrutura de recursos humanos e materiais para realizar as

atividades propostas (MCT; CNPq; MDA; SAF; MDS; SESAN, 2007).

O projeto partiu da percepção das dificuldades enfrentadas no

estabelecimento de um trabalho de extensão rural voltado à agroecologia para que,

fosse capaz de gerar a disseminação de experiências e aprendizados de forma

eficaz e autônoma, ampliando assim o público potencialmente atingido por estas

ações, através do processo denominado de construção do conhecimento. Seu

principal foco foi trabalhar a criação de uma proposta metodológica inovadora

de ATER (como exigido no Edital CNPq 036/2007), voltada a apoiar a transição

agroecológica no Assentamento Ipanema, que possibilitasse gerar a efetiva

participação e o comprometimento da comunidade.

31

No sudeste do Brasil, especialmente em áreas de floresta estacional e

cerrado, existiam poucas experiências com sistemas agroflorestais. Além disso, na

maioria dos casos, os projetos eram implementados com apoio público ou privado.

No entanto, as atividades acabam quando da conclusão dos projetos. A principal

idéia do projeto proposto foi envolver pequenos agricultores assentados da reforma

agrária na experiência e gestão das suas propriedades, incentivando-os a se

organizarem e se tornarem autônomos na pesquisa de novos projetos e do

planejamento da produção e comercialização de seus produtos, associada ao

manejo ecológico.

Os objetivos propostos pelo projeto foram:

• Estabelecer um sistema participativo de gestão;

• Gerar mecanismos para disponibilização e apropriação do conhecimento

pelos atores envolvidos, em SAF (sistemas agroflorestais) e manejo de PFNM

(produtos florestais não-madeireiros) e;

• Contribuir para os sistemas de ATER (assistência técnica e extensão rural)

com modelos aplicados a realidades locais, em sistemas sustentáveis de uso

da terra.

Após a conclusão do projeto e em decorrência do mesmo, esperava-se que

as condições de qualidade de vida e segurança alimentar das famílias dos

agricultores familiares do assentamento melhorassem substancialmente, com a

possibilidade de replicação das áreas pilotos do projeto que foram implantadas.

Além disso, esperava-se que o projeto tivesse representado o início das

ações de recuperação e, adequação ambiental do assentamento, o que certamente

permitiria sua melhor integração com a Unidade de Conservação, a Floresta

Nacional de Ipanema/ICMBIO, onde se encontra inserido. Os resultados do projeto

poderiam incentivar também agricultores familiares de municípios vizinhos, a iniciar o

processo de transição do paradigma de produção baseado em monocultivos para

modelos de produção sustentável.

32

4.1. ÁREA DE ESTUDO E PÚBLICO DO PROJETO

O presente projeto foi realizado em duas regiões do Estado de São Paulo - a

área modelo, localizado na Região do Vale do Ribeira, e a área foco, nos

Assentamentos no entorno da Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema, região de

Sorocaba, município de Iperó/SP. Como apoio à capacitação foram inseridas ações

incluindo as experiências localizadas em Paraty-RJ, obtidas através do projeto

PRODETAB, realizado em 2006 pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

(Convênio UFRRJ/Embrapa 017/2001 – Banco Mundial).

Na região do Vale do Ribeira foram utilizadas como áreas modelos as regiões

e propriedades envolvidas no projeto “Recuperação e Conservação Ambiental

através do Desenvolvimento Agroflorestal em Comunidades e Assentamentos no

Vale do Ribeira e Pontal do Paranapanema – Estado de São Paulo - PDA 081 MA”,

inseridas nas regiões de Cajati, Cananéia e Barra do Turvo.

Na região de Iperó, o foco foi o Assentamento Ipanema, situado no entorno da

Floresta Nacional de Ipanema (Figura 1). O assentamento localiza-se entre as

latitudes Sul de 23º 25' e 23º 27' e as longitudes Oeste 47º 35' e 47º 40', com

altitudes entre 550 e 971 metros. A área é atravessada em sua parte sul pelo

Trópico de Capricórnio, localizando-se assim em uma zona de transição, de tropical

para temperada (PODADERA, 2009). Segundo Fávero et al. (2004), e de acordo

com a metodologia de Köeppen, apresenta condições climáticas tipo Cfa –

subtropical quente, constantemente úmido, com inverno menos seco - ao sul,

limitando com Cwa – subtropical quente, com inverno mais seco - ao norte.

Reconhecido oficialmente como área de assentamento rural em Dezembro de

1995 através da Portaria 342 de 14/11/1995 (INCRA), o Assentamento Ipanema

abrange uma área de 1.768,71 hectares, sendo que 1.235,14 ha desse total se

encontram no interior da FLONA de Ipanema, na área conhecida como Área I. O

restante, com 533,57 hectares, conhecido como Área II, se situa em sua zona de

amortecimento, em área do Ministério da Agricultura. As áreas ciliares estão

demarcadas em sua maioria fora dos lotes, junto com as áreas de Reserva Legal

coletivas, constituindo áreas comuns do assentamento (INCRA, 2005). Na ocasião

da ocupação pelo Movimento Sem Terra- MST essas áreas já se encontravam em

diferentes graus de degradação.

33

A ocupação da área ocorreu em 1992, quando cerca de 800 famílias

(pertencentes ao MST) ocuparam a área do Ministério da Agricultura, dando início

aos Projetos de Assentamento (PAs) Ipanema I e II. O Decreto nº 530, que

estabeleceu a FLONA de Ipanema ocorreu logo após essa ocupação (MMA; IBAMA,

2003). Os seus 151 lotes têm em média nove hectares de área agricultável,

totalizando 1.368,48 ha. As atividades principais são pecuária, fruticultura,

horticultura e produção de cereais e mandioca, e alguns lotes produzem alimentos

orgânicos (INCRA, 2005).

Figura 1: Localização da região de Iperó no Estado de São Paulo e detalhe da distribuição dos lotes e famílias envolvidas no Projeto Agrofloresta , no Assentamento Ipanema, Iperó- SP (Propriedades assinaladas em vermelho no mapa). Fonte: Podadera (2009)

Área I

Área II

34

O objetivo inicial do projeto era de trabalhar três áreas de demonstração,

sendo constituídos por agentes multiplicadores da comunidade, monitores bolsistas,

bolsistas de extensão e monitores alunos de pós-graduação, totalizando como

público beneficiário direto nove famílias. Como a proposta do projeto envolve o

elemento do efeito multiplicador, procuramos desde o início do projeto, ainda em sua

participação, deixar que o interesse da comunidade sobressaísse.

Através de registro do projeto, nas primeiras reuniões de divulgação o número

de interessados chegou a totalizar 80 pessoas. Após, as reuniões de sensibilização

e os esclarecimentos quanto as limitações do projeto e da necessidade de

comprometimento de cada família, os interessados em participar do projeto

diretamente foram de 44 famílias no total (27 na área I e 17 na área II).

Desta forma, o trabalho foi realizado com aproximadamente 40 famílias

direta e indiretamente. Desse total, 11 famílias foram selecionadas para receberem

unidades de demonstração e experimentação implantadas ou manejos

estabelecidos em grupo. As demais famílias foram incorporadas nas diversas

atividades ou processos de formação, como visitas de intercâmbio, mutirões e trocas

de experiências, entre outras diversas ações que foram sendo estabelecidas para o

conjunto dos participantes.

4.2. METODOLOGIA DO PROJETO

O projeto buscou promover a difusão dos sistemas agroflorestais (SAFs),

através de técnicas de extensão inovadora, a fim de estimular os pequenos

agricultores familiares para o trânsito da agricultura tradicional convencional para a

agroecologia (ALTIERI,1989 e FARRELL & ALTIERI, 2002) com base em sistemas

agroflorestais que asseguram o aumento da diversidade de produtos e renda,

associados à sustentabilidade ecológica (CAPORAL; COSTABEBER, 2000). O foco

então proposto foi de implantar áreas modelo de sistemas agroflorestais - SAFs,

voltados a diferentes finalidades, e com exemplos de uso sustentável de Produtos

Florestais Não-Madeireiros (PFNM).

O projeto fez uso das contribuições metodológicas vindas de enfoques

centrados no desenvolvimento local ou endógeno. Nesse sentido, foram utilizadas

35

orientações metodológicas baseadas em Investigação e Ação Participante – IAP

(FREIRE, 1983), onde é recomendado como método de intervenção em

determinada comunidade, um enfoque capaz de combinar pesquisa científica,

educação de adultos e ação política de modo a buscar assim, a construção do

conhecimento capaz de elevar o poder dos grupos sociais, transformando-os em

protagonistas dos processos de desenvolvimento em busca da sustentabilidade.

Como normalmente acontecem, projetos de ATER são limitados em recursos,

tempo, assim como pessoas, este não fica fora da estatística. Foi fundamental que o

processo de monitoria proposto fosse assegurado e assim, viesse a alcançar mais

resultados, em menos tempo, com maior fluxo de informação junto à comunidade

trabalhada e conseqüentemente as famílias trabalhadas.

O processo de monitoria proposto consistiu no envolvimento de

multiplicadores (agentes locais de desenvolvimento), também chamados de

monitores, para o acompanhamento dos restantes participantes. Os monitores foram

definidos como Agentes multiplicadores nos quais o projeto direcionou um processo

de discussão sobre questões agroecológicas, incluindo questões de equilíbrios

ecológicos, sociais, econômicos e culturais e a partir disso, o processo de

capacitação é direcionado para boas práticas no melhor planejamento da unidade

familiar etc.

Estes agentes também acompanhariam as chamadas Unidades

Demonstrativas5 (UD), espaços onde se concentrou a aplicação prática do processo

agroecológico, fossem eles em SAFs, fosse com M-PFNM. Foi proposto que nessas

unidades, em primeiro momento, na área do monitor, seriam demonstrados

processos seguros a serem trabalhados dentro da proposta do projeto. Essas áreas

seriam potencializadas, destinando assim, forças em sua preparação, formação e

acompanhamento para que estas viessem a servir de referências e que fossem

apropriadas pelos protagonistas.

Uma das estratégias em ATER adotada para o projeto foi de identificar

famílias localizadas em pontos chaves da comunidade, para que estes futuramente

5 Área acompanhada pelo monitor, aplicando aquilo que veio apreendendo dentro da proposta do projeto, nas oficinas de formação realizado no projeto, no que condiz a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) e aos processos agroecológicos, além de, aplicarem aquilo que vem sendo construído de forma participativa a partir daquilo que os beneficiários demandam e que estejam alicerçadas aos objetivos do projeto (UFSCAR, 2011).

36

pudessem servir como Unidades Demonstrativas (UD´s) e as famílias participantes

viessem a atuar como multiplicadores locais (UFSCAR , 2011).

Como sabemos a agroecologia não é um modelo que se dá pronto, todavia,

podemos direcioná-la a processos construídos de forma participativa, e que assim,

haja uma melhor compreensão das funções que esta nos proporciona. O trabalho

nessas unidades era então para acontecer em forma de mutirões ou de dias de

campo para que assim, pudessem ser mais bem aproveitados os momentos de

trocas de experiências e uma construção focada na participação.

Ao lado disso, o objetivo também foi estimular jovens agricultores a se

tornarem agentes multiplicadores locais, a fim de integrá-los em instituições de

assistência técnica rural, ao mesmo tempo em que, eles seriam apresentados a esta

nova metodologia de trabalho de pesquisa e ação participativa, conforme prevê a

PNATER. O projeto buscou promover ainda, a formação de agentes de ATER

(Assistência Técnica e Extensão Rural) em modelos de sistemas de produção rural

sustentável, pois pretendia contar com a parceria dos principais órgãos que atuam

em ATER no Estado de São Paulo.

Procurando evitar erros cometidos por projetos anteriormente executados, o

projeto incluiu na metodologia proposta o resgate de conhecimentos e experiências

em sistemas de produção ou desenvolvimento rural sustentável, semelhantes

(Sistemas Agroflorestais e Manejo de Produtos Florestais Não Madeireiros) na

Região do Vale do Ribeira/SP e Paraty/RJ, organizá-los de modo a torná-los

acessíveis a todo e qualquer cidadão, em especial aos agricultores familiares da

região, e de outras regiões do Estado que possa ter estas experiências como

referência.

Objetivou ainda, promover uma troca de conhecimentos entre agricultores

familiares das três regiões envolvidas, de modo que as experiências das áreas

modelos (Vale do Ribeira e Paraty) pudessem ser aproveitadas na área foco

(Sorocaba - Iperó) facilitando o início da implantação de modelos alternativos de

produção, baseados em critérios agroecológicos, na mesma.

Para a melhor execução do projeto, as atividades sempre procurariam levar

em consideração o planejamento participativo (MDA; SAF; DATER, 2004), a partir do

estabelecimento de um diálogo e intervenção que procurasse aproximar e facilitar a

compreensão dos agricultores no que se refere à proposta do projeto. Para que isso

fosse possível, foi pensada num sistema participativo de gestão do projeto,

37

denominado de Conselho Gestor (CG), buscando com isso, a integração dos

diversos parceiros e o atendimento às demandas de cada um em particular, para

que pudesse garantir um eficiente sistema de coordenação e comunicação, através

de um adequado suporte administrativo e operacional, que possibilite um perfeito

contato entre a entidade proponente e as demais que executarão determinadas

atividades e o próprio monitoramento do projeto. Neste CG, também seria reforçado

o processo de monitoramento (tarefas do monitor) que seria realizado, e seriam

indicados os nomes dos monitores.

Em busca do alcance do exposto, o projeto foi dividido em duas etapas

principais que seriam trabalhadas:

O foco trabalhado na primeira etapa seria direcionar a atenção para aqueles

que queriam estar mais comprometidos com os trabalhos e participar ativamente do

projeto, para que, como forma de transformação, eles pudessem contribuir como

agentes multiplicadores em relação à recuperação propriamente dita das áreas

alteradas, bem como, a melhor conservação dos recursos naturais nos lotes e no

assentamento, estabelecendo assim, um sistema mais autônomo de geração do

conhecimento dentro da própria comunidade.

Nesta etapa, incluíram as visitas de intercâmbios; os processos iniciais de

capacitação a exemplo da formação dos agentes multiplicadores, e do processo de

construção do conhecimento para o estabelecimento de Sistemas Agroflorestais e

do Manejo de Produtos Florestais Não-madeireiros. Todos seriam essenciais e

serviriam como processo condutor para as atividades que se seguiriam.

Na segunda etapa, o exercício daquilo que seria construído com a

comunidade ao longo desse tempo tomaria forma e com isso, seria aplicado na

prática o conhecimento construído de forma participativa. Desta forma seria possível

verificar a importância do trabalho dos agentes multiplicadores, da organização local

e o comprometimento das famílias para a implantação das unidades demonstrativas.

Além disso, poder-se-ia observar principalmente a independência ganhando forma a

partir de novas iniciativas que se sucederiam.

Abaixo apresento o fluxograma (Figura 2) que demonstra a metodologia

desenvolvida no decorrer do projeto conforme acima descrito.

38

Figura 2: Fluxograma do projeto

4.3. RESUMO DO PROCESSO REALIZADO EM CAMPO

Toda a estratégia interna do projeto foi criada para ser desenvolvida de forma

participativa pelos atores principais, os agricultores e suas famílias, as

universidades e instituições locais e regionais de assistência técnica envolvidas.

Com este objetivo, no primeiro encontro foi estabelecido o Conselho Gestor

do projeto que compreendeu todas as instituições envolvidas e os membros locais

da comunidade.

A partir da análise da participação nas reuniões, dos pontos chaves da

comunidade e dos jovens que demonstrariam mais interesse, etc. o Conselho Gestor

selecionou seis jovens, estudantes do ensino médio, para atuarem como

39

"multiplicadores" locais. A tarefa deles era de acompanhar acompanharia em torno

de 05 unidades familiares cada um e disponibilizar alguns dias para o trabalho em

sua Unidade Demonstrativa. Esses jovens receberam uma bolsa pelo projeto. A

equipe, bem como, todos os jovens monitores foi treinada para aplicar metodologias

participativas e de pesquisas que foram realizadas através de oficinas de formação.

O projeto a partir da atividade inicial, da formação do conselho gestor, da

identificação e início da formação dos agentes multiplicadores procurou construir de

forma participativa dentro do assentamento, os diagnósticos iniciais, onde dentro do

projeto, a comunidade/assentamento, ajudou a formar a linha de base, traçando um

retrato local onde o projeto estaria sendo desenvolvido.

Esta linha construída com os atores envolvidos deu a base de como deveria

acontecer o processo de monitoramento em conseqüência dos trabalhos sendo

desenvolvidos e, para avaliar as mudanças que aconteceriam ao longo do projeto a

partir do retrato inicial (UFSCAR , 2011).

O trabalho de monitoria consistiu em motivar, capacitar e fortalecer os

monitores para atuarem como agentes multiplicadores de desenvolvimento em sua

comunidade.

Durante este período, conforme o projeto foi ganhando forma, iniciaram-se as

parcerias com novos projetos e atores que foram sendo envolvidos no decorrer

desse processo.

Visitas de intercâmbio foram promovidas pelo projeto permitindo assim, que

os participantes compartilhassem experiências reais com outros agricultores, com

intuito de observar a organização comunitária e a produção em sistemas

agroflorestais mais consolidados.

Desta forma, aconteceram duas visitas de intercâmbio, sendo uma na cidade

de Paraty/RJ e outra na cidade de Barra do Turvo/SP (Figura 3). Cerca de 60

(sessenta) produtores e/ou membros da família participaram destas visitas.

Observou-se que estas atividades permitiram alcançar um resultado positivo na

medida em que estas foram muito encorajadoras, favorecendo a discussão sobre o

caso real de produção e outros sistemas de comercialização. Além das 40 famílias

que participam do projeto, outros mostraram interesse em participar mais ativamente

no projeto após estas trocas de experiências.

40

Figura 3: Visita de Troca de Saberes e Experiência. Esq. Paraty/RJ e Dir. Barra do Turvo/SP Fonte: UFSCAR (2011)

Diagnósticos dos sistemas agrícolas locais realizados através do Diagnóstico

Rural Participativo (DRP) indicaram que muitos agricultores estavam interessados

em aumentar a diversidade de espécies em suas propriedades, especialmente

através da introdução ou aumento da produção de árvores de frutas. No entanto, a

maioria deles não sabia sobre a produção e a utilização de espécies frutíferas

nativas, e habitualmente, citaram apenas exóticas, apesar da ocorrência natural de

muitas das nativas no entorno de suas propriedades (COSTA JR et al., 2009) . Do

total de espécies indicadas, 66,6% foram para a produção de frutos, 16,7% para

produção de madeira, e 16,7% para a produção de produtos florestais não-

madeireiros.

Após a realização das visitas de intercâmbios e o diagnóstico realizado, os

agentes multiplicadores, monitores da universidade e facilitadores (equipe de

projeto), realizaram em conjunto com os agricultores locais, dias de campo, a fim de

estabelecer as unidades demonstrativas (UD).

Foram demarcadas, mais de 60 UDs (parcelas de 100m2), do qual num

primeiro momento procurou-se melhorar as condições das áreas degradadas para

posteriormente, implantar os sistemas agroflorestais (Figura 4).

41

Figura 4: Área com Adubação Verde, sendo demarcadas as parcelas Fonte: UFSCAR (2011)

De acordo com o desejo dos agricultores visando diversificar a produção e

buscar maior equilíbrio ecológico, a equipe técnica sugeriu a utilização de espécies

nativas. Os agricultores reagiram positivamente, contudo, afirmaram não conhecer

tais espécies.

Devido à solicitação por parte dos agricultores e dos monitores e da falta

desses materiais, foi preparado um material didático ilustrativo (jogo de cartas) com

espécies divididas por grupos de uso, sendo esses: espécies de frutas nativas,

madeiras, melíferas e funcionais, além de, estarem divididas por tempo de produção:

curto, médio e longo prazo (Figura 5). Este material foi preparado para o seminário

de planejamento dos modelos de sistemas agroflorestais a serem implantados. Este

material foi construído por um estudante de biologia, com orientação da equipe do

projeto.

Figura 5: Oficina de Desenho de Sistemas Agroflores tais e detalhe do jogo elaborado (Eco-cartas) Fonte: UFSCAR (2011)

42

Posteriormente, foram realizadas as oficinas de planejamento dos SAFs que

foi de importância para a geração e construção do conhecimento e só depois,

passamos a fase de aquisição e produção das mudas das espécies levantadas pelo

diagnóstico e seguimos com a implantação das áreas demonstrativas e a difusão e

divulgação dos resultados em diversos eventos que se sucederam.

Nesta oficina as espécies foram definidas, bem como também, o arranjo

estrutural dos sistemas agroflorestais. Tudo isso foi discutido para que a composição

e estrutura dos SAFs representassem as expectativas dos agricultores. Isto foi

baseado no princípio de que o projeto é um processo voltado para facilitar a

"construção" do conhecimento dentro da comunidade, incentivando assim, a geração

de experiências e inovações em seus sistemas de produção tradicionais.

O resultado da oficina de planejamento apresentou as espécies

representadas conforme o tempo de produção de curto, médio e longo prazo

citadas. A maioria das espécies de curto prazo foi de espécies agrícolas (exóticas),

no entanto, notamos também um número interessante de espécies nativas de médio

e longo prazo. Isso demonstra que o conhecimento dos agricultores sobre as

espécies nativas apresentou uma melhora de qualidade, mostrando que a estratégia

de usar o material didático aliado a esta metodologia de inovação foi eficiente.

Figura 6: Áreas Demonstrativas Implantadas Fonte: UFSCAR (2011)

Após este workshop, a implantação das unidades demonstrativas foi

inicializada (Figura 6). Ao todo, foram implantadas seis unidades demonstrativas nas

áreas dos monitores do projeto e ainda, quatro áreas experimentais foram

instaladas.

Ainda, nesta etapa, foi possível verificar que as parcerias que foram

estabelecidas com as entidades locais e regionais foram validas a partir da

43

participação não só na primeira etapa, como nessa também. Além disso, as

parcerias estabelecidas com novos projetos resultaram num trabalho que foi aquém

do processo local, ou seja, partimos para uma construção e envolvimento regional

para fortalecimento da agroecologia dentro do estado com novas propostas a partir

daquilo que veio sendo trabalhado. Um exemplo disso, foram as diversas atividades

realizadas em rede junto a Articulação Paulista de Agroecologia – APA e diversos

eventos a exemplo do I Fórum Paulista de Agroecologia, realizados em parceria com

diversas instituições.

A continuidade vem sendo realizada, do qual atualmente, se configura na

estruturação do Núcleo de Agroecologia APETÊ-CAAPUÃ6 na UFSCAR – Campus

Sorocaba e as estratégias em rede, a exemplo da animação da Articulação Regional

Sorocabana de Agroecologia, que realizou na região o I Semana de Agroecologia da

UFSCar e I Fórum da Articulação Sorocabana de Agroecologia, realizado entre 16 –

18 de Novembro de 2011, como objetivo de organização, rede e animação da

Articulação Paulista de Agroecologia, integrante da Articulação Nacional de

Agroecologia – ANA.7

6 MDA/SAF/CNPq – Nº 58/2010 Seleção pública de propostas de pesquisa científica e extensão tecnológica para Agricultura Familiar no âmbito da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural 7 Articulação Nacional de Agroecologia - http://www.agroecologia.org.br/

44

5. ANÁLISE

Neste capítulo será analisado o projeto apresentado no capítulo anterior,

começando com a sua execução, continuando com a análise do seguimento dos

princípios de ATER e terminando com uma análise crítica do projeto e

conseqüentemente da ATER como vem sendo executada.

5.1. ANÁLISE DA EXECUÇÃO DO PROJETO

Na tabela seguinte será apresentada uma síntese das atividades e objetivos

específicos trabalhados pelo projeto, além dos resultados obtidos. É com base nesta

tabela, que estará sendo analisando se o projeto cumpriu a proposta estabelecida.

Tabela 2: Matriz Lógica do Projeto (continua)

OBJETIVO ESPECÍFICO ATIVIDADES METODOLOGIA RESULTADOS

ESPERADOS RESULTADOS OBTIDOS

1- Estabelecer um sistema participativo de gestão do projeto

1.1. Diagnóstico das ações/atores nas áreas

Metodologias participativas, encontros, revisão bibliográfica

Auto-conhecimento da equipe e dos atores envolvidos

03 reuniões divulgação do projeto;

02 reuniões gerais para definição dos participantes;

1.2. Formação do Conselho Gestor

Reunião com todos os atores;

Seleção das áreas-piloto e agentes multiplicadores

- Atores envolvidos no Conselho/ clareza de papéis de cada ator;

- Conselho Gestor Formado

CG Instalado 30 dias depois.

32 reuniões com parceiros;

06 Reuniões CG;

07 Reuniões Câmara Técnica (envolvia parceiros principais);

Média Participantes/Reunião = 15

1.3. Nivelamento dos atores envolvidos

Identificação dos agentes multiplicadores Oficinas - teórico práticas

“Todos os atores envolvidos “falando” mesma linguagem”

12 Oficinas de nivelamento (06 ofic. Jovens, 3 reuniões na comunidade, 1 oficina de mapeamento participativo, 01 Oficina Desenho de SAFs, etc.).

2-

2.1. Formação de agentes multiplicadores

Dinâmicas sócio-ambientais

Monitoramento das áreas-piloto

Pessoal treinado em técnicas e dinâmicas participativas bem como no uso dos instrumentos de monitoramento

06 monitores multiplicadores capacitados (04 deles formados Técnicos em Agroecologia (COTUCA/UNICAMP/PRONERA8);

10 Alunos de Graduação;

03 Alunos de Pós-Graduação.

8 Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária (INCRA)

45

Tabela 3: Matriz Lógica do Projeto (conclusão)

2- Gerar mecanismos para disponibilização apropriação do conhecimento pelos atores envolvidos, em SAFs e manejo de PFNM (produtos florestais não madeireiros)

2.2. Sistematização do conhecimento - etapa 1 (Vale do Ribeira/Sorocaba – Iperó)

Revisão bibliográfica pesquisa a campo

Resgatar e organizar o conhecimento sobre SAF e manejo de PFNM no Vale do Ribeira (área modelo)

Capítulo Livro: Difusão SAFs;

107 trabalhos resgatados

Biodiversidade VdR;

Análise Bibliográfica.

2.3. Adequação/ transformação da linguagem de publicações elaboradas no Vale do Ribeira e sistematização do conhecimento - etapa 2 (Sorocaba e região)

Viagens ao Vale, Dias de Campo, Registros fotográficos e filmagens, elaboração dos manuais e cartilhas pelos atores envolvidos com orientação da equipe técnica

Produção de manuais, cartilhas e mídias pelos atores envolvidos sobre os resultados do projeto e apresentação de trabalhos científicos em eventos

03 trabalhos resgatados;

SAFs Caso 1;

SAFs Caso 2;

Difusão de Sistemas Agroflorestais no Vale do Ribeira;

18 trabalhos publicados

3- Contribuir para o sistema de ater com modelos aplicados à realidades locais, em sistemas sustentáveis

3.1. Formação de agentes multiplicadores e de ATER

Vide atividade 2.1. Equipe Multidisciplinar engajada no projeto;

06 Agentes Multiplicadores;

10 bolsistas graduandos;

3.2. Implantação de área piloto SAF e PFNM

Construção participativa de modelos de Saf e implantação no campo

Seleção dos PFNM

Construção participativa de modelos de M-PNMF

03 unidades demonstrativas implantadas e monitoradas

06 Unidades Demonstrativas Implantadas;

05 Unidades Experimentais Acompanhadas;

Outras Iniciativas

3.3 Sistematização dos modelos e suas ferramentas voltadas para ATER e estratégias de difusão e divulgação

Documentário e vídeo sistematizando todas as experiências do projeto

Cartilhas

Publicação de trabalhos científicos e de divulgação

Fornecimentos de subsídios (práticas sistematizadas) para agentes de ATER existentes ou novos

Blog do Projeto;

Vídeo realizado e disponível;

Elaboração de 03 materiais didáticos (Cartilha Artesanato SEMEARTE, ECOCARTAS, Jogo Agroflorestal para planejamento de SAFs. (Google Docs).

3.4. Construção participativa de indicadores de sustentabilidade para os modelos de SAF e M-PFNM implantados

Oficinas, dias de campo

Workshop do projeto

Divulgação dos erros/acertos e principais aprendizados em ATER-Florestal decorrente do projeto

Cartilha Monitoramento de Sistemas Agroflorestais;

09 Regiões do Estado praticando Monitoramento Participativo;

Livro em Construção;

Difusão e Construção do Conhecimento.

Fonte: adaptado de UFSCAR (2011)

46

Da tabela acima, como também da descrição das atividades no capitulo

anterior, pode-se concluir que todas as atividades e resultados previstos pelo projeto

foram atingidos. Na maioria dos casos, foi desenvolvido muito mais do que

inicialmente havia sido planejado.

Um exemplo para isso é o envolvimento das famílias, visto que, a proposta

original tratava-se de um número bem inferior de famílias a serem trabalhadas

durante o decorrer do projeto. Ao todo participaram do projeto 40 famílias, sendo

que dessas, a metodologia previa três monitores multiplicadores, 01 unidade de

demonstração e 03 famílias para acompanhamento e repasse dos aprendizados por

cada monitor, tendo esse conjunto chamado de Área Piloto do projeto.

Devido à expectativa gerada ainda na fase de divulgação do projeto,

relacionado ao número de pessoas interessadas e de jovens querendo atuar como

multiplicadores, o conselho gestor, decidiu dividir as bolsas previstas para os

monitores para assim, possibilitar a participação dos demais. Ao final, foram

implantadas 06 unidades de demonstração e 05 unidades chamadas experimentais

(Atividade 3.2 da tabela acima).

Além disso, com o passar do tempo o projeto tomou forma, e com isso,

diversas foram às atividades que se realizaram além do processo local que não

haviam sido previstos (Atividade 3.4 da tabela acima). Por exemplo, parcerias9 com

entidades que tiveram projeto aprovado no âmbito de edital semelhante voltado a

agricultura familiares as diversas atividades realizadas em parceria com a

Articulação Paulista de Agroecologia – APA. Essas atividades demonstraram o forte

potencial de diálogos, trocas e conexão entre projetos e redes dentro do estado.

Abaixo, é apresentado um gráfico (Figura 7) que demonstra a quantidade das

atividades desenvolvidas, sistematizadas por tema da Tabela 2. A sistematização foi

feita da seguinte maneira:

• Divulgação do Projeto: Atividades relacionadas à quantidade de vezes

em que o projeto foi divulgado de modo geral;

• Reuniões na Comunidade: Reuniões com intuito de divulgação e

sensibilização do projeto;

9 A respeito do: “Projeto Fomento à rede de pesquisa participativa e ATER agroecológica através da formação de agentes agroflorestais no âmbito da Articulação Paulista de Agroecologia” financiado através do Conselho Nacional de Pesquisa Científica com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (CNPq - Edital - 24/2008 - 576846/2008-2)

47

• Nivelamento Metodológico: Atividades com relação ao nivelamento das

etapas e metodologias previstas no projeto;

• Oficinas / Formação / Capacitação: Atividades de formação da equipe

do projeto, dos monitores multiplicadores;

• Eventos / Congressos / Oficinas: Trata-se de eventos regionais,

congressos, fóruns, relacionados ao tema em que o projeto apresentou

trabalhos;

• Intercâmbios ou troca de Experiências: Estas trocas compreendem

atividades na região, outras regiões e estados, entre pessoas em atividades a

exemplo dos mutirões realizados;

• Reuniões Planejamento da Equipe: Atividades para planejamento,

discussão e balanço dos resultados e estratégias futuras entre a equipe do

projeto;

• Parcerias / Conselho Gestor: As atividades constam do número de

reuniões realizadas no CG e na câmara Técnica do projeto e ainda, reuniões

ou atividades realizadas com parceiros em relação ao projeto.

• Levantamento e Diagnósticos: Atividades relacionadas a visitas em

campo, nas Unidades Demonstrativas, levantamentos, etc.

• Ações Regionais: Atividades que foram realizadas em parcerias com

entidades, participação em oficinas, organização de eventos, etc.

Figura 7: Números de Atividades Realizadas por Área s Temáticas

48

Esse gráfico comprova que nenhum tema foi negligenciado, que cada objetivo

do projeto, como por exemplo, os diagnósticos iniciais realizados ou os intercâmbios,

foi trabalhado intensamente e que até para as famílias participando somente

indiretamente teve um número enorme de atividades, possibilitando um aprendizado

profundo, assim como efeitos multiplicadores.

O número de atividades relacionadas ao conselho gestor e com os parceiros

foram fundamentais para que a execução do projeto fosse transparente e objetiva

indo de encontro aos resultados que eram esperados.

Os processos constantes de capacitação e formação dos monitores

multiplicadores junto à equipe do projeto contribuíram não só para o conhecimento

deles, como também, para que todas as ações pudessem ser realizadas na prática

junto à comunidade.

Quando comparado a proposta inicial do projeto com o processo de ATER

desenvolvido, podemos concluir que o projeto cumpriu todas as atividades previstas

e teve um potencial efeito de mobilização, articulação e multiplicação, graças a

clareza dos papéis entre os participantes, o comprometimento dos atores e

parceiros, possibilitando com isso, gerar fluxo de informação e construção do

conhecimento local.

5.2. O CUMPRIMENTO DOS PRINCIPIOS DA PNATER

A escolha do projeto como um dos projetos apoiados pelo Edital CNPq

036/2007, sendo que a aderência da proposta à PNATER era um dos pontos

principais dos critérios de análise e julgamento de mérito e relevância, já demonstra

que ele foi considerado como dentro das exigências da PNATER. Em seguida, é

comprovada com alguns exemplos que isso realmente foi o caso, comparando os

princípios definidos na lei instituindo a PNATER com a metodologia e execução do

projeto.

Os princípios da PNATER são:

I. Desenvolvimento rural sustentável, compatível com a utilização dos

recursos naturais e com a preservação do meio ambiente;

49

II. Gratuidade, qualidade e acessibilidade aos serviços de assistência

técnica e extensão rural;

III. Adoção de metodologia participativa, com enfoque multidisciplinar,

interdisciplinar e intercultural, buscando a construção da cidadania e a

democratização da gestão da política pública;

IV. Adoção dos princípios da agricultura de base ecológica como enfoque

preferencial para o desenvolvimento de sistemas de produção

sustentável;

V. Equidade nas relações de gênero, geração, raça e etnia; e

VI. Contribuição para a segurança alimentar e nutricional (BRASIL, 2010).

5.2.1. O Primeiro Princípio

O primeiro princípio da PNATER é o desenvolvimento rural sustentável, que

pode ser entendido conformo definido pelo CONDRAF (2004) como sendo “[...] um

processo dinâmico e multidimensional, portanto, necessariamente articulador e

conciliador de setores econômicos, atores sociais, práticas culturais e realidades

ambientais diversas e diversificadas”.

Assim, entendemos que a agroecologia, que inclui todos esses aspectos, é a

responsável pela busca desse desenvolvimento rural sustentável como já

referenciado anteriormente em prol da sustentabilidade.

A proposta do Edital CNPq 036/2007 previa na linha temática o uso de

técnicas de manejo em sistemas de produção sustentável de base ecológica. Um

dos pontos reveladores do projeto foi a proposta de construção de conhecimento

voltada a valoração de espécies nativas locais, buscando com isso a diversificação

da produção, a partir da introdução de novas espécies, visando seu uso e manejo

dentro da comunidade, ao mesmo tempo em que propôs modelos alternativos,

baseado no uso dessas espécies em comunidades rurais no entorno de unidades da

conservação onde estão inseridos.

Dessa forma, de acordo com a descrição do projeto, da metodologia utilizada

e da proposta clara de trabalhar modelos sustentáveis de produção a partir da lógica

da agroecologia com base na técnica dos sistemas agroflorestais, podemos então

50

concluir que o projeto foi de encontro com esse primeiro princípio (MDA; SAF;

DATER, 2004).

5.2.2. O Segundo Princípio

O princípio II diz que a nova ATER pública deve ser gratuíta, com qualidade e

acessível à agricultura familiar. Um projeto vai de encontro a esses princípios,

principalmente, na consolidação de política pública, quando o estado através dessa

iniciativa gera a possibilidade da participação e inclusão desse tipo de público.

O projeto, em nenhum momento, observado sua limitação de infra-estrutura,

recursos e seu caráter universitário, foi excludente, permitindo assim a partir de um

acordo pré-estabelecido dentro da comunidade com comprometimento e autonomia

dos participantes, que todos os interessados pudessem participar sem custo. Das

150 famílias instaladas no assentamento Ipanema, quarenta optaram por participar

diretamente das atividades. Acredita-se assim que houve dentro do assentamento

um fluxo de informação suficiente para que as demais recebessem algum benefício

de ATER indireto.

5.2.3. O Terceiro Princípio

O terceiro princípio, também sendo considerado como um dos principais

nessa nova política de desenvolvimento rural sustentável traz as metodologias

participativas, a sua construção endógena, o seu enfoque multidisciplinar,

interdisciplinar e intercultural, colocando com isso a nova ATER pública a

desempenhar um papel educativo, construtivo, animando e facilitando os processos

de diálogos junto às comunidades (MDA; SAF; DATER, 2004).

O projeto, conforme pode ser verificado na proposta desenvolveu a partir de

uma equipe multidisciplinar (a participação da universidade e sua diversidade)

diversas atividades que procuraram, ainda na construção da proposta do projeto,

51

proporcionasse diálogos e nivelamentos para que o projeto pudesse atender as

exigências do edital assim como principalmente a demanda da comunidade.

Desta forma, a proposta por si possuiu caráter multidisciplinar e

interdisciplinar, uma vez que utilizou conceitos e critérios ecológicos (ciências

biológicas) num sistema de produção (ciências agrárias). Por outro lado, os sistemas

agroflorestais uma vez implantados foram avaliados em relação a indicadores

ambientais, sociais e econômicos, o que novamente traduz a inter e

multidisciplinaridade do projeto. A equipe foi composta por engenheiros florestais,

agrônomos, biólogos, economistas, educadores, além de estudantes de graduação,

de nível médio, técnicos e extensionistas.

No início do projeto, com base nesse foco, foi desenvolvida uma proposta

com base em projetos anteriores com o mesmo tema de ouvir agricultores,

extensionistas e entidades de ATER como forma de conselhos para que o projeto

fosse mais bem executado. Com base nisso, como observado nas Atividades 2.2 e

2.3 da Tabela 2 foi realizado um levantamento na região do Vale do Ribeira, no

estado de São Paulo, que tem histórico de aproximadamente 20 anos com projetos

sócio-ambientais, servindo de área modelo para o projeto desenvolvido.

A preocupação desde o início do projeto em estabelecer um sistema

participativo de gestão, conforme previsto na Atividade 1.1 da Tabela 2, incluindo os

diversos atores envolvidos, demonstrou o comprometimento com esse princípio III.

Isto pode ser observado também com base na Figura 7, a quantidade de atividades

relacionadas a Parcerias / Conselho Gestor / Parceiros, os Levantamentos e

Diagnósticos, as Reuniões na Comunidade atrelada às oficinas de nivelamento

demonstram o cumprimento do princípio.

5.2.4. O Quarto Princípio

O quarto princípio que se refere à agricultura de base ecológica, já está sendo

levado em consideração dentro do primeiro princípio que se refere ao

desenvolvimento rural sustentável atrelado aos princípios da agroecologia.

Como a proposta do projeto sugere uma agricultura a partir da prática de

sistemas agroflorestais, que sempre são na base ecológica, além da sua proposta

52

com base no planejamento da propriedade como um todo, inserindo as práticas

agroecológicas, acredita-se que tal princípio foi atingido.

5.2.5. O Quinto Princípio

O princípio V exige que, dentro das práticas de projeto como também

assegurado na nova política de ATER, deve ser levado em conta equilíbrio de

participação onde possibilita, sem nenhum tipo de discriminação, que as diferenças

entre gênero, geração raça e etnia, sejam igualitárias sem restringir o acesso das

pessoas ou manifestações (MDA; SAF; DATER, 2004).

No projeto, como já comentado anteriormente, foi aberta a participação de

todos que tinham interesse. Através da lista dos participantes do projeto foi possível

verificar que, mesmo tendo os homens como titular da maioria dos lotes do

assentamento, obteve-se uma porcentagem considerável de 30% de mulheres em

relação aos homens. Todavia este dado foi na base da lista dos participantes

titulares sem levar em consideração que o projeto trabalhou com famílias inteiras.

Além disso, a participação de pessoas mais velhas da comunidade foi

essencial para a construção do mapeamento participativo a partir do conhecimento

acumulado, proporcionando assim uma troca através da proposta de formação da

juventude integrante do projeto. Como a proposta do projeto foi baseada na

formação de jovens secundaristas desde então a preocupação com a geração ou

sucessão familiar na comunidade esteve presente.

A comunidade é dividida em duas áreas. A partir do diagnóstico inicial

realizado na comunidade foi possível observar diversas lideranças divididas por

grupos internos, além da presença de diversos grupos religiosos. Diante dessas

informações e em comum acordo com o conselho gestor, o projeto aproximou todos

esses grupos para que fossem assim representados.

Pode-se concluir então que dentro desta perspectiva foi possível proporcionar

a participação com respeito a esse princípio na execução e geração de resultados

desse projeto.

53

5.2.6. O Sexto Princípio

O último princípio previsto na política nacional está na contribuição de

projetos de desenvolvimento rural sustentável que tenham ênfase na segurança

alimentar e nutricional das famílias. O Edital CNPq 036/2007 também teve como

exigência dos projetos a serem contratados, a meta de auto-suficiência na produção

de alimentos e conseqüentemente geração de renda das famílias participantes.

Os sistemas agroflorestais, conforme conceituado anteriormente têm uma

preocupação com a diversificação da produção e da renda tanto a curto, médio

como em longo prazo. Além disso, essa diversificação da produção faz parte dos

princípios da agroecologia, principalmente no que se refere à utilização de produtos

locais e regionais. A própria metodologia de implantação dos SAFs teve essa

preocupação quando observado o planejamento estratégico que foi estabelecido

(vide 4.3.), voltado à inserção de novas espécies dentro dos sistemas de produção

praticados pelas famílias.

Um exemplo disso pode ser resgatado pelo trabalho de Cardoso-Leite et al.

(2010) apresentado em Montpellier, França, quando no primeiro diagnóstico

realizado para saber o conhecimento e uso de espécies para SAFs, foi verificado

que as famílias citaram pouquíssimas espécies, na maioria, exóticas de médio

prazo. Após as metodologias estabelecidas no projeto, ao final foi trabalhado com

uma lista de aproximadamente 60 espécies, composta agora na maioria por nativas

de curto, médio e longo prazo.

As espécies consideradas novas pelos agricultores foram sugeridas a partir

do conhecimento dos mais antigos, de entrevistas com extensionistas e profissionais

locais, do levantamento da flora no entorno na comunidade e das espécies já

registradas como geradoras de renda, assim buscando, tanto a diversificação de

alimentos como também de renda.

Conclui-se então que, diante dos princípios estabelecidos em conformidade

com o edital do projeto e com as metodologias estabelecidas, em prol da

diversificação da produção, o projeto atendeu tais exigências.

No que se refere aos princípios estabelecidos na lei 12.188, de 11 de Janeiro

de 2010, e de acordo com a redação mais detalhada da PNATER em 2004,

54

podemos concluir que o projeto cumpriu aquilo que está previsto e pode ser

considerado como um bom exemplo de um projeto de PNATER.

5.3. ANÁLISE CRÍTICA DO PROJETO

A metodologia adotada para verificar o cenário de resultados do projeto foi o

método SWOT (Strenghts, Weaknesses, Opportunities e Threats) ou FOFA ((Forças,

Fraquezas, oportunidades e Ameaças), ferramenta metodológica e participativa

capaz de ajudar a identificar as principais potencialidades e fragilidades que podem

ser utilizadas em diversos setores.

A tabela abaixo (Tabela 3) foi gerada com base nas informações das

entrevistas semi-estruturadas que foram aplicadas junto aos monitores

multiplicadores, que se trata de jovens bolsistas da própria comunidade, escolhidos

através do Conselho Gestor, como também, aplicadas com algumas famílias que

participaram diretamente do projeto. Também foram utilizadas as informações dos

documentos regatados do projeto, dos cadernos sistematizados de monitoramento e

do relatório final.

Com base nos resultados das entrevistas que ajudou a formular a análise

FOFA abaixo, foram entrevistas 15 famílias, sendo que, desses, seis (06) foram

monitores que receberam apoio direto do projeto (recursos, insumos, etc.) e as

demais famílias (09), se tratavam de agricultores que participaram diretamente das

atividades (mutirões, intercâmbios, atividades gerais, etc.).

O resultado em síntese apontado demonstrou que, das 15 famílias

entrevistas, todas (100%) reconheceram o projeto que foi desenvolvido, sendo que

desse total, 11 (73%) receberam algum tipo de apoio direto. Dos que continuam

experimentando, apenas 05 (33%) vêm fazendo algumas “coisas” relacionadas à

agroecologia. Desse total, 12 (80%) apontam a falta de continuidade como um

problema.

55

Tabela 4 : Análise FOFA do projeto

AJUDA ATRAPALHA

FORÇAS FRAQUEZAS

INT

ER

NA

S

Crescente interesse dos agricultores em participar do projeto (expectativas);

Transparência que o projeto veio ganhando na sua execução;

Planejamento participativo levando em conta as considerações dos assentados;

Participação das mulheres e da Juventude nas atividades do projeto;

Geração de materiais didáticos;

Fortalecimento de iniciativas pré-existentes;

Interação dos jovens como agentes Multiplicadores / transformadores.

Receio das famílias que tem uma situação fundiária ainda indefinida de suas áreas junto a FLONA Ipanema, principalmente da inserção de árvores nativas;

Agricultores com dificuldades em entender mais sobre o projeto.

Estrutura de transporte pelo projeto prejudicado (falta de veículos);

Estruturação de projetos;

Ausência de recursos financeiros para a construção de cercas nas áreas a serem recuperadas;

Falta de atendimento das expectativas devido à demanda de participação no projeto.

Falta de continuidade interna por desestímulo.

OPORTUNIDADE AMEAÇAS

EX

TE

RN

AS

Abertura para discussão entre as famílias, sobre espécies nativas a serem trabalhadas na recuperação das áreas;

Diversificação de arranjos com espécies nativas, levando em consideração espécies frutíferas e algumas exóticas de interesse das famílias;

Construção do conhecimento da comunidade;

Novas Iniciativas que foram acontecendo;

Inserção da Universidade junto a comunidade;

Participação ativa dos parceiros no planejamento das etapas do projeto.

Riscos para as áreas em recuperação, devido uso indevido de fogo por vizinhos;

Falta da consolidação da juventude enquanto agentes de ATER, principalmente os jovens monitores que se formaram no decorrer do projeto no Curso do PRONERA/UNICAMP;

Falta de vocação da Agroecologia na Região de Sorocaba;

Falta de continuidade enquanto as ações atuais de projetos de modo geral;

Necessidade de acompanhamento e monitoramento de projetos antes, durante e depois buscando uma proposta de continuidade.

Os comentários a seguir serão tratados de modo geral divididos em duas

categorias: Aquilo que ajuda e que atrapalha. Assim, primeiro são comentadas as

forças e oportunidades e na seqüência as fraquezas e ameaças. Após essa análise

será por fim aplicada a leitura do método FOFA, ou seja, avaliando questões

56

relacionadas ao ambiente interno (forças e fraquezas) e em seguida analisando

aquelas relacionadas ao ambiente externo (oportunidades e ameaças).

5.3.1. Forças

Podemos verificar pela Tabela 3 com referência as Forças, que existem

informações voltadas a questões metodológicas, de participação, ligados aos

princípios da PNATER e que muito tem a ver com aquilo que foi previsto no projeto

enquanto exigência do edital. Como as quatro primeiras forças, a exemplo de

planejamento participativo, transparência, gênero, entre outros assuntos, já foram

examinadas em detalhe, principalmente no item 5.2.. Isto posto, não será feita nova

abordagem, e sim, somente fazendo referência aos demais casos isolados.

Com referência a geração de materiais didáticos, podendo considerar

inovadora, por valorizar o conhecimento local, estimular os aprendizados sobre usos

das plantas nativas regionais e a construção participativa com a integração da

comunidade no processo e principalmente, pelo projeto ter previamente observado a

falta de materiais voltados ao tema, merece destaque o jogo de cartas ou Eco-cartas

(COELHO; CARDOSO-LEITE, 2010) (ver item 4.3.), desenvolvido para o projeto por

intermédio dos integrantes da equipe. Este material foi de extrema importância para

trabalhar a construção do conhecimento junto à comunidade e em busca do

estabelecimento de sistemas agroflorestais.

No que corresponde ao fortalecimento das iniciativas pré-existentes, pela

análise do relatório (UFSCAR, 2011), este processo se deu, ainda na proposta de

elaboração do projeto objeto de análise, quando, na tentativa de inovar na proposta

de extensão, o foco foi realizar um levantamento das iniciativas ou projetos

anteriormente desenvolvidos e com isso, tirar lições e aprendizados, buscando

fortalecer ou de alguma forma, dar continuidade a propostas parecidas. Para o

projeto, isto foi no sentido de enriquecer ou melhorar áreas de SAFs já trabalhadas e

que, por falta de continuidade ficaram sem acompanhamentos.

A interação dos jovens aconteceu assim que o projeto iniciou o processo de

formação, unindo as iniciativas existentes, consolidando um processo de formação

participativa com diversos outros agentes. Além disso, alguns dos jovens que já

57

estavam estudando agroecologia no colégio técnico em Itapeva/SP

(UNICAMP/INCRA/PRONERA) tiveram seus trabalhos de conclusão de curso com

temas que foram trabalhados dentro do projeto, recebendo assim, elogios por parte

dos seus orientandos e ajudando a gerar novos produtos para o projeto, além de

gerar novos materiais didáticos.

Ainda com base nesta interação dos jovens na comunidade, vale a seguinte

transcrição de um deles que mostra este sentimento:

Adquiri muito conhecimento, como observar o lugar quando aplicar um diagnóstico, a preparação do solo com poda e adubação verde, como fazer um croqui, o papel do monitor, aprendi a ouvir as pessoas na pratica. Aprendi a preparara área, recuperar o solo, preparar muvuca de sementes e mudas, enfim aprendi bastante coisa que foi muito importante para mim e procurei passar tudo isso para os monitorados.

Outro monitor comentou: “Eu acho que foi muito bom o método de fazer

mutirões, visitas de campo, troca de experiências, foi muito bom ver que a

concepção de um agricultor mudou após conhecer esse “novo modelo agrícola”.

Com isso, concluímos então o forte potencial multiplicador e mobilizador do

projeto, conforme previsto na PNATER. A partir de uma proposta metodológica que

está baseada na autonomia, no comprometimento, nas trocas de saberes e idéias e

sem dúvida, no processo paciente de construção do conhecimento.

5.3.2. Oportunidades

No que tange as oportunidades, questões relacionadas à “abertura para

discussão sobre novas espécies”, o destaque para “construção do conhecimento”

“diversificação de espécies” e “novas iniciativas”, pode-se concluir que:

O planejamento participativo e o processo estabelecido de construção do

conhecimento10, permitiram uma aproximação maior das famílias para a valorização

dos produtos da natureza, que antes não existia pela falta de conhecimento próprio

e principalmente, pela resistência das famílias pela sua situação indefinida junto a

10 Imagens podem ser acessadas através do link: https://picasaweb.google.com/agroflorestaipanema)

58

Floresta Nacional de Ipanema - ICMbio11, conforme destacado por COSTA JR. et. al.

(2009):

[...] A baixíssima ocorrência de citações diretas de espécies nativas locais reflete a falta de tradição dos assentados com o bioma local, considerando o fato de serem provenientes de diversas regiões do país, e muitos terem vindo da cidade [...] [Foi] detectada em diversos momentos a insegurança dos agricultores inserirem “plantas nativas” e “árvores” nas áreas produtivas de seus lotes, havendo o receio generalizado da perda da terra para os órgãos ambientais, o que é reforçado por sua situação fundiária ainda indefinida e a proximidade com a FLONA Ipanema.

Desta forma, não somente no que se refere à abertura das famílias pela

opção por plantas nativas, mas, também, pela diversificação da produção a partir

das áreas de monoculturas praticadas por eles. Não obstante, cabe ainda distinguir,

que o projeto optou pela agroecologia no desenvolvimento do trabalho e o que pode

ser analisado pelo relatório, é que o planejamento foi ao encontro do “olhar” para a

propriedade como um todo. Com isso, facilitou o diálogo no que se referiu ao

“receio” das famílias.

Pelos dados do projeto, quando comparado o número de famílias ou atores

inicialmente previsto pelo projeto, o aumento de 09 famílias para 40, ou ainda, mais

especificamente, 03 unidades de demonstração para 11 por iniciativa dos

participantes, reflete as novas iniciativas que se sucederam durante o projeto.

O projeto possibilitou a geração de pesquisa, fazendo valer esta relação

universidade e projetos de extensão, destacando assim, a apresentação em

diversos eventos e congressos, trabalhos relacionados à agroecologia no Brasil e

também no exterior. Aproximadamente 18 trabalhos foram apresentados nesses

eventos (Atividade 2.3. da Tabela 2). Além disso, a interação da extensão

universitária, gerando conhecimento e produtos diretos na comunidade, é de forte

relevância.

O papel da universidade, do ensino, pesquisa e extensão, da sua inter- e

multidisciplinaridade, articulados e integrados no que se refere ao desenvolvimento

rural sustentável, buscando formar redes e permitindo a integração de agentes de

ATER, agricultores familiares, e organizações fazem parte das orientações

estratégicas da política nacional para a Nova ATER. (PNATER, 2004). Concluindo

assim, que esta inserção teve reconhecimento por parte dos atores envolvidos.

11 Detalhes em: http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de-conservacao/biomas-brasileiros/mata-atlantica/unidades-de-conservacao-mata-atlantica/2191.

59

No que se refere à “participação ativa dos parceiros”, cabe destaque ao

Conselho Gestor formado com entidades parceiras da comunidade, como

universidade, entidades públicas de ATER (Estadual e Federal), órgão ambiental e a

representação de diversas lideranças, divididas por associações da comunidade,

que tiveram participação garantida. Com isso, o projeto ganhou transparência e

acima de tudo, nivelamento com referência à proposta metodológica. Foi através das

parcerias, que muitas ações foram potencializadas e factíveis de serem alcançadas.

Quanto às parcerias externas, a integração com novos projetos resultou num

trabalho que foi aquém do processo local, ou seja, para uma construção e

envolvimento regional para fortalecimento da agroecologia dentro do estado com

novas propostas a partir daquilo que foi sendo trabalhado. Um exemplo disso foram

as diversas atividades realizadas em rede junto à Articulação Paulista de

Agroecologia – APA e os diversos eventos a exemplo do I Fórum Paulista de

Agroecologia, 2010, realizados em parceria com diversas instituições.

5.3.3. Fraquezas

A leitura das fraquezas, levantadas com base nas entrevistas e no relatório,

nos permite observar, além de casos isolados, que, para o projeto, a questão da

estrutura e falta de recursos prevaleceu entre a maioria. Paralelo a isso, outra

questão a salientar, se refere à continuidade pós-projeto, fator esse tido como

relevante, principalmente por parte dos jovens formados pelo projeto como agentes

locais.

O “receio das famílias” colocado como fraqueza foi comentado ao mesmo

tempo em oportunidades (abertura para novas espécies), quando justamente o

projeto, através de diagnóstico prévio aplicado, conseguiu visualizar tal problema, no

que se refere a uma das áreas do assentamento que ainda tem sua situação

indefinida no que tange à titulação dos lotes. Devido a esta questão, muitas famílias

no momento que compreenderam que os sistemas agroflorestais envolviam o uso de

plantas nativas, se mostraram resistentes e acharam que poderiam perder suas

60

terras para o órgão ambiental12. Tal questão também nos leva a concluir que faz

parte deste projeto em específico e não é um problema relacionado a ATER de

modo geral.

Quanto o assunto relacionado à estrutura do projeto e à falta de recursos,

cabe a seguinte reflexão: Na maioria das vezes o recurso de um projeto de ATER é

pouco apoiado através dos editais e um sistema de ATER descentralizado é

custoso, porque existem necessidades que são centralizadas pela exigência de

veículos, transportes, infra-estrutura para atendimento, entre outras questões.

No presente edital, mesmo o projeto sendo direcionado a ATER, que tem

suas especificidades quanto à execução, porque demanda tempo, recursos para

locomoção, necessidade de insumos para estabelecimento das práticas

agroecológicas, e antes de tudo, pelo caráter mobilizador e participativo que

demanda atividades de sensibilização, nivelamentos, etc., não foi previsto tal apoio.

Com isso, o projeto teve limitações.

Na proposta inicial, em conversa com a coordenação do projeto, haviam sido

previstos, por exemplo, veículos (duas motos), para facilitar a interação junto à

comunidade, visto que, a entidade proponente fica numa cidade e a comunidade em

outra. Após a elegibilidade do projeto, no momento da revisão e contratação pelo

agente financiador, esta estrutura básica foi desconsiderada. O que da a entender

que as entidades interessadas, já devem prever essa estrutura para atendimento no

que se refere a ATER. No projeto, conforme verificado, a estrutura utilizada no que

se refere a veículos, foi dos próprios integrantes da equipe, com alguma ajuda de

combustível, pagos pelo projeto. Tal questão reflete a problemas identificados em

projetos como esse. (DIESEL, NEUMANN E GARCIA, 2007)

No que se refere à continuidade, um ponto considerável é o curto período de

tempo de projetos voltados à questão do desenvolvimento sustentável.

Normalmente, esses projetos são apoiados por no máximo 1 – 2 anos em média e

este tempo, claramente é pouco para estabelecer um “sistema sustentável”. Como

exemplo, para modelos agroecológicos como os Sistemas Agroflorestais – SAFs ou

mesmo do manejo de Produtos Florestais, não é possível verificar e acompanhar

parte do processo de desenvolvimento porque eles são sistemas de longo prazo,

fato que, o recurso acaba e o projeto também.

12 Ver: Costa Jr. et al. (2009).

61

Além disso, o curto período de tempo fica condicionado à efetiva necessidade

de organizar melhor os grupos ou a comunidade, para que se possa discutir e

construir de forma participativa, através de reuniões, diagnósticos, capacitações que

vem a ser necessárias. Após isso, é realizada a implantação de áreas e na maioria

das vezes, a continuidade desse processo fica sem acompanhamento e a

consolidação das propostas pode ficar prejudicada, muitas vezes pelo tempo para

apropriação do conhecimento por parte dos beneficiários, como também, pelo

comprometimento ou autonomia.

Esta questão vai de encontro a outro ponto levantado pelas fraquezas

“Agricultores com dificuldades para entender mais sobre o projeto”. Isto, pelos

relatos, teve muito a ver com a questão do entendimento sobre os papéis,

principalmente da entidade proponente, que foi tida muitas vezes como entidade de

ATER, mesmo que, nas reuniões de nivelamento, do conselho, sempre ser

esclarecida a posição da universidade enquanto colaboradora neste processo de

extensão. Tal questão pode estar atrelada, possivelmente, a carência ou falta de

ATER na comunidade, em quantidade suficiente a todos, mesmo que, durante o

decorrer do projeto, entidades como o Instituto de Terras do Estado de São Paulo -

ITESP13 e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA14, ligadas

diretamente à extensão pública estadual e federal conseqüentemente, fizeram parte

de todas as fases do projeto e com cadeira permanente no conselho gestor.

Algumas observações importantes feitas pela comunidade merecem ser

destacadas no que se refere à continuidade interna. (texto transcrito do vídeo final

do projeto15):

"Vocês vão começar este projeto, mas não vão embora, de repente, né?"

“Depois do projeto, vocês não vão abandonar a gente, né?”

Tal fato demonstra ao mesmo tempo para o projeto, insegurança das famílias

em relação a projetos anteriores e ainda, dependência e falta de autonomia em

relação à unidade familiar.

Ainda com base neste assunto, um fator que pode ser evidenciado é na

leitura do Item 4.2., quando no projeto, um dos pontos inovadores, também foi de

chamar a atenção das famílias para o comprometimento e autonomia, trazendo eles,

13 Ver: http://www.itesp.sp.gov.br/br/ 14 Ver: http://www.incra.gov.br/portal/ 15 Disponível em: http://projetoagroflorestaipanema.blogspot.com/

62

para uma reflexão no decorrer do projeto, para a não dependência e que muitos dos

aprendizados realizados, poderiam ser apropriados e aplicados em cada

propriedade, independentemente do apoio ou não de entidades ligadas a ATER.

Nesta perspectiva, cabe o exemplo tirado na leitura do relatório: “[...] um quintal

agroflorestal, por exemplo, se planejar, diversificar, possibilitar quantidade de

alimentos a mesa, visando à soberania e segurança alimentar, e se isso é bom,

porque nós mesmos não podemos fazer?” (UFSCAR, 2011).

Diante desta perspectiva, pode-se concluir que as fraquezas internas têm

muita relação com a falta de recursos e apoio a projetos de extensão rural. Mesmo

que, durante toda execução do projeto ser reforçada a parte do comprometimento de

cada um, existe uma preocupação pela falta de continuidade do projeto, se a

comunidade será capaz de apropriar todos os aprendizados e conhecimentos

gerados, para continuar a praticar a agroecologia como alternativa a produção

convencional, buscando a sustentabilidade ambiental, econômica, cultural e social,

independente da presença física de projetos ou apoios tidos como ATER, ou se

ficarão a mercê, na espera, por novas oportunidades.

Finalizando esta questão por aqui, vale a avaliação feita por um dois

participantes:

Com o fim do projeto, toda a construção coletivamente realizada passa por um processo de enfraquecimento, devido à falta de acompanhamento, e corre o risco de novamente se perder com o tempo. Acredito que nós quanto projeto (eu como monitor), deixamos a desejar em não conseguir desenvolver mecanismos de continuidades dos processos na própria comunidade. Mas que possivelmente se esbarraria novamente na falta de apoio financeiro por parte do governo, pois neste processo seria necessária verba para liberação e locomoção de agentes disseminadores, assim como materiais que auxiliariam nas discussões e organização.

5.3.4. Ameaças

A questão da continuidade tem a ver tanto quanto a questão interna da

comunidade (Ambiente Interno), buscando alternativas para tal, como tem ligação

direta com a aplicação da lei de ATER (Ambiente externo) no que tange a

distribuição de recursos, para que ATER atenda a demanda da agricultura familiar,

63

possibilitando o acesso a Nova ATER pública, contínua e de qualidade, conforme

apontado na política, e anteriormente, discutido no item 5.3.

Uma ameaça que no decorrer do projeto virou realidade, conforme relatos e

informações, além de fotos do banco de imagens do projeto, teve a ver com os

riscos de incêndios e/ou outros riscos nas áreas do projeto, pondo a perder parte do

trabalho realizado nas UDs. Isto ocorreu ainda na execução do projeto, quando foi

solicitado apoio ao cercamento das áreas em recuperação, tanto para impedir

acesso de pessoas buscando prevenir estes riscos, como por da prevenção da

entrada de animais da vizinhança nas áreas e o projeto não tinha recursos previstos

para tal. Este fato, ainda pode ser preocupante, visto que, nas UDs, o projeto

investiu aproximadamente R$2.800,00 entre insumos, mudas, diárias para plantios,

etc. (UFSCAR, 2011).

A ameaça mais transparente ao projeto, na conversa com os monitores

multiplicadores da comunidade (06 bolsistas), tem a ver com a consolidação destes,

enquanto agentes de extensão rural. Dos seis (06) monitores, quatro (04) estudaram

e se formaram através do Programa Nacional de Educação e Reforma Agrária –

PRONERA16, além de toda a formação que passaram pelo projeto. Estes jovens

formados, juntamente com os dois (02) que apenas concluíram o ensino médio

normal, ao final do projeto, estão na seguinte situação:

Jovem I: Permanece na comunidade, maneja sua UD, ainda se coloca como

monitor;

Jovem II: Permanece na comunidade, trabalha próximo do entorno da

comunidade como diarista em serviços não ligados a agricultura;

Jovem III: Permanece na comunidade e trabalha na manutenção de jardins,

etc., em condomínios no entorno das cidades;

Jovem IV: Saiu da comunidade, mudou para outra, trabalhou na cidade e

recentemente está sendo contratada por uma ONG para trabalho externo a sua

comunidade.

Jovem V: Saiu da comunidade, vive e mora na cidade, atuando em metalurgia

e;

16 O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA - é uma política pública de educação envolvendo trabalhadores(as) das áreas de Reforma Agrária. O PRONERA é um programa articulador de vários ministérios; de diferentes esferas de governo; de instituições e movimentos sociais e sindicais de trabalhadores (as) rurais para qualificação educacional dos assentados da Reforma Agrária. (INCRA, 2004).

64

Jovem VI: Saiu da comunidade para estudar antropologia, dando continuidade

à formação agora na tentativa do ensino superior.

Dos 06 jovens, apenas um permanece atuando como agricultor em sua

comunidade; 02 estão vivendo na comunidade, porém, não atuando na área

agrícola, 02 saíram da comunidade, vivendo nas cidades e trabalhando com outras

áreas e apenas 01, pode ser considerado um caso excepcional, por ter justificado

sua saída, para dar continuidade nos estudos. A expectativa para este último será

seu retorno ou não para a comunidade no futuro.

Com relação aos jovens, apenas recentemente, a coordenação do projeto

informou que uma ONG está interessada em contratar um dos jovens para atuar

com projetos ambientais na região, não diretamente na comunidade.

Segue mais alguma transcrição das entrevistas e avaliação por parte dos

monitores sobre esta questão (a e b): “Acho que o processo deveria continuar para

que daqui há alguns anos fosse visto um SAF já produzindo [...]” e “Por ser um

projeto de fins “revolucionários”, na agricultura daquela comunidade, eu sugiro que

tenha mais acompanhamento do projeto com os assentados”.

Com isso, podemos concluir que no que tange a consolidação dessa

juventude enquanto agentes de ATER na própria comunidade onde vivem, mesmo

para esses que se formaram no PRONERA, não aconteceu. Neste sentido, vem à

preocupação com a consolidação de políticas públicas, visto que, este processo de

formação e qualificação também é assegurado na PNATER na parte das

orientações estratégicas (PNATER, 2004), como também, no artigo 4°, parágrafo XII

da lei de ATER 2010. (BRASIL, 2010).

No que se refere ao “acompanhamento e monitoramento”, esta ameaça foi

detectada pela sistematização do relatório do projeto (UFSCAR, 2011), constando

que se os órgãos financiadores, a exemplo do próprio Ministério do Desenvolvimento

Agrário – MDA, responsável pela implementação da política de ATER, gerasse um

acompanhamento dos projetos financiados, haveria uma forte possibilidade da

identificação de boas e prósperas experiências, com potencial de continuidade. Para

o projeto, este monitoramento foi realizado apenas pela equipe do projeto no que se

referia aos sistemas de produção sustentáveis trabalhados.

Através de informações obtidas junto à coordenação do projeto, a pessoa

contratada para avaliar os resultados da chamada pública, apenas encaminhou uma

65

entrevista estruturada por e-mail, para que a própria equipe fizesse esta avaliação,

não chegando a realizar uma visita na comunidade para avaliar tais resultados.

Desta maneira, conclui-se, que é importante que este monitoramento

aconteça e que assim, os atores locais sintam-se de alguma forma, tendo a chance

de potencializar suas ações a partir de novos e continuados apoios no que se refere

à extensão. Para Dias (2007), a falta de um sistema de monitoramento e avaliação é

de suma importância para dar melhor embasamento à política, principalmente àquilo

que vai de encontro à execução propriamente dita.

No cenário aplicado através do método SWOT/FOFA, nos permitiu fazer uma

análise qualitativa a partir das informações obtidas pelas entrevistas, conversas com

a coordenação do projeto, relatório final e demais documentos pertinentes. Desta

forma, podemos dividir a conclusão desta análise em dois ambientes: Externo e

Interno.

5.3.5. Ambiente Interno (Forças e Fraquezas)

Pode-se considerar que diante de todo o processo participativo, de

investigação e ação participante, com valoração de aprendizados futuros e

presentes, realizado e reconhecido pelos atores, do qual propiciou a troca de

experiências, formação e construção do conhecimento, gerou com isso materiais

didáticos que colaboraram na interação da juventude enquanto multiplicadores locais

na comunidade difundindo a agroecologia.

Ao mesmo tempo, a situação indefinida das famílias, a dificuldade na

autonomia e auto-gestão por parte da comunidade e podemos dizer a insuficiência

de ATER, está diretamente ligado com a questão da demanda, quando da chegada

de um projeto com esse foco (extensão), o que reflete em necessidade de estrutura

e também de continuidade, podendo assim, se tornar um fator agravante pela

expectativa gerada.

66

5.3.6. Ambiente Externo (Oportunidades e Ameaças)

O processo trabalhado com a inserção da universidade atuando com foco na

extensão universitária, somado à forte participação dos parceiros, ao

comprometimento da comunidade e ao nivelamento de saberes e metodologias, com

inter- e multidisciplinaridade levou a um processo de construção do conhecimento,

demonstrando a importância da diversificação de produtos e renda atrelada a

preservação e boas práticas de manejo ecológico, possibilitando com isso, a

geração de aprendizados e experiências que possam subsidiar outras iniciativas.

Por outro lado, diante de todo o processo trabalhado, do conhecimento

gerado, a continuidade do processo fica comprometida, possivelmente por falta de

um monitoramento e avaliação no decorrer da execução do projeto. A falta de

consolidação da juventude formada enquanto agentes multiplicadores de ATER na

própria comunidade, mostra o desafio no âmbito geral, da necessidade do

acompanhamento para consolidação de determinadas políticas públicas, a exemplo

da própria PNATER.

Quanto ao fato da vocação da agroecologia na região, o que poderia ser uma

ameaça, mais recentemente, vem se consolidando a partir dos resultados e das

possibilidades geradas pelo apoio nesse projeto, para um trabalho regional.

A universidade, a partir da equipe atuante neste projeto, vem consolidando e

estruturando dentro do seu campus, com apoio de editais semelhantes, o Núcleo de

Agroecologia APETE-CAAPUA, que tem tanto eixos voltados à difusão da

agroecologia e do conhecimento dentro da universidade, como também, para a

região, a partir de práticas pontuais ligadas a extensão rural e a articulação da

agroecologia.

No mês de novembro de 2011, entre os dias 16 a 18, a universidade, com

diversos parceiros, realizou a I Semana de Agroecologia UFSCar Sorocaba e I

Fórum da Articulação Sorocabana de Agroecologia, mostrando a tendência e

possibilidade futura de continuidade enquanto ações no âmbito da articulação.

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6. CONCLUSÃO

O projeto que serviu de base para análise, demonstrou potencial mobilizador

e articulador a partir de uma série de atividades que foram realizadas em 30 meses

de execução. O processo foi proposto a partir da chamada específica voltada a

inovação em ATER proposta através da parceria entre o Ministério da Ciência e

Tecnologia – MCT, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome -

MDS e o Ministério do desenvolvimento Agrário – MDA, deixando bem claro seu

caráter do “âmbito da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural”.

Analisando as etapas trabalhadas no projeto objeto de análise, verificou-se

que este foi ao encontro àquilo que previa o edital CNPq 036/2007, assim como

também, quando comparado aos princípios estabelecidos na Lei de ATER n°

12.188/2010.

Diante deste cenário, pode-se verificar que os problemas relacionados à

execução da ATER, com base no projeto analisado, vão ao encontro da insuficiência

de ATER, recurso financeiro muito limitado e conseqüentemente, pouca estrutura

para atendimento da demanda.

A falta da consolidação de políticas públicas a exemplo da inserção dos

jovens formados em programas reconhecidos nacionalmente, a exemplo do

Programa Nacional de Reforma Agrária – PRONERA, unindo à falta de continuidade

através de ações concretas de ATER junto à comunidade e ainda, a falta de um

monitoramento de meio-termo e fim, coloca a execução da ATER numa incerteza de

consolidação de resultados e da política.

No que tange a geração de resultados contínuos e permanentes pela ATER, o

presente projeto analisado, mesmo com todas as ações que ainda continuam agora

tidas como mais pontuais, no entanto, para a comunidade, a garantia dessa

continuidade não foi dada.

Com base no exposto e naquilo que foi avaliado, minhas sugestões buscando

uma maior eficiência do sistema são:

Os projetos que envolvam Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER),

possam ser minuciosamente avaliados, para que não haja, através destes projetos,

geração de muitas expectativas junto a comunidades rurais, para que não aconteça

uma dependência por parte de recursos, insumos, materiais, etc. Importante

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salientar o fortalecimento nos projetos, da autonomia e comprometimento dos atores

envolvidos.

Que os recursos financeiros voltados à estruturação nos projetos com esse

caráter de ATER, possam ter assegurados tais itens a exemplo de veículos,

materiais didáticos, insumos e manutenção, etc., quando justificado.

Que possam existir monitoramento e avaliação tanto no meio quanto no fim

dos projetos, para que através disso, possam ser identificadas ações concretas e

que estas não se percam ao longo do tempo. Desta forma, este monitoramento vai

permitir que projetos com alto potencial possam ser identificados e então,

continuados.

Diante desses resultados, com base num projeto desenvolvido localmente,

seguindo aquilo que prevê a Nova Lei de ATER, se coloca a pergunta de como será

que a execução de ATER vem se dando em projetos semelhantes no Brasil ou como

eles conseguem evitar tais problemas? Esta pergunta fica no sentido dos problemas

que foram identificados no âmbito desta experiência.

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