Alguns aspectos de referenciação e tópico discursivo na fala (2000)
Alguns Aspectos do Rompimento de keynes com os Clássicos
-
Upload
universidadeestadualdelondrina -
Category
Documents
-
view
0 -
download
0
Transcript of Alguns Aspectos do Rompimento de keynes com os Clássicos
Universidade Estadual de Londrina
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
ALGUNS ASPECTOS DO ROMPIMENTO DE KEYNES COM OS CLÁSSICOS
JOÃO RAUCER RIBEIRO SOARES
LONDRINA – PARANÁ 2012
JOÃO RAUCER RIBEIRO SOARES ALGUNS ASPECTOS DO ROMPIMENTO DE KEYNES COM
OS CLÁSSICOS
Monografia preliminar apresentada ao Curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Londrina, como exigência parcial para a sua conclusão. Orientador: Prof. Dr. Miguel Arturo Curotto de Oliveira
LONDRINA - PR 2012
JOÃO RAUCER RIBEIRO SOARES
ALGUNS ASPECTOS DO ROMPIMENTO DE KEYNES COM OS CLÁSSICOS
Monografia apresentada ao curso de Graduação em Ciências Econômicas do Departamento de Economia, Universidade Estadual de Londrina, como exigência para a sua conclusão.
COMISSÃO EXAMINADORA
____________________________________ Prof. Dr. Miguel Arturo Curotto de Oliveira.
Universidade Estadual de Londrina
____________________________________ Prof. Azenil Staviski.
Universidade Estadual de Londrina
____________________________________ Prof. Dr. Sinival Osório Pitaguari. Universidade Estadual de Londrina
Londrina, _____de ___________de _____.
A Deus por ter iluminado meu caminho e
por ter me dado forças nas horas em que
precisei, sem o Senhor este trabalho não
seria possível.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente quero agradecer a Deus por ter me dado forças para
realizar este trabalho e por iluminar o meu caminho em todo o meu curso de
graduação, se hoje estou finalizando mais uma etapa na minha vida devo tudo ao
Senhor, meu sincero muito obrigado meu Deus.
A minha família e principalmente a minha mãe Sandra Regina
Ribeiro Soares que sempre me apoiou e deu forças em todos os momentos.
Ao meu professor orientador Miguel Arturo Curotto de Oliveira que
sempre esteve presente quando precisava e que me ajudou de diversas maneiras.
Aos meus amigos da minha república Pietro André Telatin
Paschoalino e Gustavo Luís Pagliari que me deram força e que sempre estiveram
presente ao meu lado nas horas que mais precisei.
Ao meu amigo Elcio Cordeiro que sempre também esteve presente e
me auxiliou de varias formas, e foi uma das peças chaves para esse trabalho
acontecer.
A minha namorada Elizane Alves Caetano dos Santos que também
colaborou comigo.
A Maria Letícia Santos Scholz que também teve participação para
este trabalho acontecer.
Aos meus amigos da faculdade Igor Ricardo, João Victor, Flavio
Fiuza, Diego Plassa, Francisco Meyer, André Katsumi, Heitor Mazieiro, Carlos
Eduardo, Rodolfo Moreira, André Ricardo, Giovani Alves, Giovani Oliveira e vários
outros que sempre estiveram ao meu lado.
Enfim agradeço a todos que colaboram comigo neste trabalho e que
sempre estiveram ao meu lado contribuindo para a finalização desta etapa.
“O Bom Economista deve ser matemático,
historiador, estadista, filósofo... deve
entender os símbolos e falar com palavras.
Deve contemplar o particular nos termos do
genérico, e tocar o abstrato e o concreto na
mesma revoada do pensamento. Deve
estudar o presente à luz do passado com
objetivos futuros. Nenhuma parte da
natureza humana ou das suas instituições
deve ficar completamente fora do alcance de
sua visão. Ele deve ser decidido e
desinteressado com a mesma disposição;
tão distante e incorruptível quanto um artista,
e ainda assim algumas vezes tão perto da
terra quanto um político”.
(John Maynard Keynes)
SOARES, João Raucer Ribeiro. Alguns Aspectos do Rompimento de Keynes com os Clássicos. 2012. 58 f.. Trabalho de Conlusão de Curso (Graduação em Ciências Econômicas) -. Centro de Estudos Sociais Aplicados, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2012.
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo mostrar que o pleno emprego no período de 1803 a 1936 que a escola clássica concebe como regra é na verdade exceção, e os objetivos específicos buscam contestar as principais teorias do mainstrean que estão por trás da crítica de Keynes à escola clássica. A Crise de 1929 que causou um desemprego de 25% da população nos Estados Unidos da América mostrou que o pleno emprego não era uma regra na economia. Depois deste fato John Maynard Keynes em 1936 lançou A Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda. Nesta obra Keynes contesta a Lei de Say, a teoria da determinação da renda através do mercado de trabalho, a teoria quantitativa da moeda e a solução clássica para a crise, através dos seus argumentos e de sua observação dos acontecimentos Keynes mostra que o capitalismo é um sistema econômico instável, devido principalmente à instabilidade dos investimentos que causa insuficiência de demanda efetiva, o capitalismo se mostra na maior parte das vezes em um equilíbrio abaixo do pleno emprego. Palavras-chave: Keynes. Clássicos. Emprego.
SOARES, João Ribeiro Raucer. Some aspects Keynes with the classics. 2012. 58 f.. Completion of Course Work (Course of Economics)- Centre for Applied Social Studies, State University of Londrina, Londrina, 2012.
ABSTRACT This paper aims to show that full employment in the period from 1803 to 1936 that will school classic designs as a rule is actually the exception, and the specific objectives seek to challenge the major mainstream theories behind Keynes's critique of the classical school . The Crisis of 1929 which caused unemployment of 25% of the population in the United States of America came to show that full employment was not a rule in the economy. After this fact John Maynard Keynes in 1936 launched The General Theory of Interest, Employment and Money, Keynes denies this book Say's Law, the theory of income determination through the labor market, the quantity theory of money and the classic solution to the crisis, through their arguments and their observation of events Keynes shows that capitalism is an economic system unstable, mainly due to the instability of investment that causes insufficient effective demand, capitalism shown in most cases in a balance below full employment. Keywords: Keynes. Classics. Employment.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - A Função Produção e a Produtividade marginal do trabalho...............19
Figura 2 - Curva de Demanda por trabalho .......................................................... 21 Figura 3 - Curva de Oferta de trabalho e o Trade off entre renda e lazer ............. 23 Figura 4 - Equilíbrio no Mercado de trabalho e determinação da produção ......... 26 Figura 5 - Oferta e Demanda de trabalho em função do salário real e nominal. 28 Figura 6 - Curva de Oferta em nível de preços .............................................. ... ...29
Figura 7 - Função Consumo ................................................................................ 38 Figura 8 - Função Poupança ................................................................................ 39
Figura 9 - Política Fiscal de Estabilização ............................................................ 41
Figura 10 - Curva de Demanda Agregada ............................................................ 44
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
2 ALGUNS ASPECTOS DA TEORIA CLÁSSICA ................................................... 15
2.1 A Lei de Say ................................................................................................................................... 16
2.2 A Função de Produção Clássica ................................................................................................. 18
2.3 A Demanda Agregada por Trabalho ............................................................................................ 19
2.4 A Oferta Agregada de Trabalho ................................................................................................... 22
2.5 O Equilíbrio no Mercado de Trabalho e os Determinantes do Emprego e do Produto ......... 25
2.6 A Teoria Quantitativa da Moeda................................................................................................... 31
3 ALGUNS ASPECTOS DA TEORIA KEYNESIANA ............................................. 35
3.1 A Teoria da Demanda Efetiva e a Crítica a Lei de Say .............................................................. 36
3.2 O Investimento, os Gastos do Governo e os Juros .................................................................. 39
3.3 A Moeda e a Política Econômica ................................................................................................. 41
3.4 O Mercado de Trabalho e os Salários ......................................................................................... 44
4 UM PARALELO ENTRE KEYNES E OS CLÁSSICOS ........................................ 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 51
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55
10
1 INTRODUÇÃO
O objetivo geral deste trabalho é discutir o pleno emprego dos
teóricos clássicos1 de 1803 a 1936, mostrando que a hipótese de pleno emprego no
sistema de livre mercado não é uma regra e sim uma exceção. Os objetivos
específicos consistem em contestar a partir dos argumentos de Keynes todas as
teorias clássicas a seguir desde o funcionamento do sistema de livre mercado, a Lei
de Say, os principais determinantes do emprego e da renda a partir do mercado de
trabalho, a Teoria Quantitativa da Moeda, assim como a solução para as crises
econômicas através das quedas dos salários reais.
Dentre os autores clássicos Jean Baptiste Say2 foi um dos seus
principais representantes no séc. XIX. Este desenvolveu a denominada Lei dos
mercados ou Lei de Say como ficou conhecida, que diz em seu enunciado que a
“oferta cria sua própria procura” - ou seja, que toda oferta produzida no mercado
será automaticamente demandada, pois todo o produtor fabrica seu produto visando
trocar este por outro - e a moeda funciona como mero facilitador das trocas
comerciais.
A Lei acima supõe um fluxo contínuo da renda do processo de
produção para a compra de bens e serviços, sendo o excedente da renda
encaminhada para a poupança, utilizada para os investimentos dos empresários3. A
taxa de juros é a variável chave que garante o equilíbrio macroeconômico entre
poupança e investimento4 impossibilita uma crise geral de subconsumo ou
1 Teóricos Clássicos são os Economistas clássicos, que foi o termo utilizado por Marx para designar os seguidores de Ricardo (Economista Inglês do século XIX), como Jean Baptiste Say, John Stuart Mill e outros Economistas do século XIX, mas aqui o termo é mais amplo no sentido a qual Keynes utilizou para os Economistas que vieram a aperfeiçoar as Teorias de Ricardo como Marshall, Edgeworth e o Pigou. 2 Jean Baptiste Say, Economista Francês do século XIX ficou conhecido por sua Lei dos Mercados ou Lei de Say, este está inserido na escola Clássica Inglesa de sua época, sua principal obra foi Tratado de Economia Política de 1803. 3 A hipótese acima especifica o fluxo de renda na economia idealizado por Say, ou seja, as empresas vendem seus produtos para as famílias, essas vendem por sua vez a força de trabalho e recebem um salário em troca que usam para comprar os produtos das empresas, e parte dessa renda das famílias que é poupada vai para a poupança das instituições financeiras, onde a partir daí emprestam para os empresários para investir em suas empresas, esse fluxo é mantido sem que nenhuma moeda é retida pelas famílias ou empresas, pois os Economistas que defendiam a Lei de Say suponha a moeda apenas como meio de troca e não como reserva de valor e outras funções, assim a moeda vai passando das empresas para os trabalhadores continuamente, sendo um fluxo contínuo, não havendo assim nenhuma moeda que vaze para fora desse fluxo. 4 A Taxa de juros para os economistas clássicos é o preço que regula os fundos de empréstimos,
11 superprodução5 e possibilita o pleno emprego dos fatores de produção. Em
consequência disso, a economia seria auto-regulável, sendo desnecessária a
intervenção do estado na economia.
O pleno emprego é a situação em que a demanda agregada de
trabalho é igual ou superior à oferta agregada de trabalho, ou seja, todos que
desejam vender sua força de trabalho a salários correntes serão empregadas. De
modo geral, o pleno emprego é considerado o grau máximo do uso dos recursos
produtivos (capital e trabalho) na economia. Em uma economia dinâmica há uma
dificuldade grande na eliminação total do desemprego, pois existem certas
atividades que não ocupam continuamente a força máxima do trabalho (desemprego
sazonal) e existe certo tempo para as pessoas trocarem de emprego (desemprego
friccional). Além disso, existem algumas pessoas que vivem desempregadas por
vontade própria (desemprego voluntário).
O pensador Inglês David Ricardo6 foi o principal representante da
escola clássica no século XIX. Este afirmava que a economia estava sempre em
equilíbrio de pleno emprego na primeira metade do século XIX, concordando com a
Lei de Say - considerando o pleno emprego compatível com a existência do
desemprego voluntário, friccional e sazonal – e dando espaço à impossibilidade de
haver o desemprego involuntário, ou seja, pessoas que querem trabalhar e não
encontram emprego aos salários correntes.
Existe um axioma importante que garante que a estrutura teórica dos
clássicos seja sólida, e permite que o pleno uso dos fatores e o equilíbrio de
mercado neste estado ocorram. O axioma da ergodicidade7 tratado pelos Pós-
assim um aumento na taxa de juros aumenta a poupança e diminui os empréstimos e uma diminuição na taxa de juros aumenta os empréstimos e diminui a poupança, desse modo um excesso de poupança faria a taxa de juros baixarem, diminuindo a taxa de poupança e incentivando os empréstimos de modo a regular a oferta de poupança e a demanda por empréstimos. Já uma diminuição na taxa de poupança faria a taxa de juros aumentarem, incentivando a poupança e diminuindo os empréstimos, restaurando o equilíbrio no mercado. 5 Uma crise geral de subconsumo ou superprodução ocorre quando nem tudo o que se produz na economia é consumido, ocorrendo um excesso de produtos não vendidos devido à insuficiência de demanda efetiva (ver nota de rodapé nove). 6 David Ricardo, Economista inglês do século XIX e principal expoente da Escola Clássica Inglesa, sua Principal obra foi Princípios de Economia Política e Tributação de 1807. 7 O axioma da ergodicidade é um axioma tratado pelos Pós-Keynesianos, este diz que para os Economistas Clássicos o mundo era ergódigo, ou seja, previsível, através dos eventos passados e futuros os agentes faziam sua previsão de suas compras e vendas de produtos e suas ações econômicas em geral, de modo que sua racionalidade e os fatos passados e futuros garantissem que esses acertariam suas previsões.
12 Keynesianos8 diz que os empresários baseiam suas decisões nos fatos passados e
nas informações do presente, sendo o futuro previsível livre de alterações. Assim os
investimentos dos agentes são feitos automaticamente sem riscos garantindo o
pleno emprego.
A partir da Crise de 1929 foi ficando mais claro que o sistema
econômico não era bem como os clássicos defendiam, não era um sistema que o
mercado se autorregulava e mantinha o equilíbrio em pleno emprego através do
sistema de preços. A crise de 1929 acarretou desemprego de 25% da população e
queda de 1/3 no produto interno bruto na economia dos Estados Unidos da América.
Esses fatos mostraram a não existência de pleno emprego na economia - mesmo
considerando o desemprego voluntário e friccional – e que era impossível existir uma
taxa tão grande de desemprego apenas dessas duas naturezas e também havia
muita gente procurando emprego e não encontravam.
A Teoria Geral dos Juros, do Emprego e da Moeda de John Maynard
Keynes de 1936 foi uma revolução na teoria econômica, pois Keynes rejeitou o
automatismo de mercado que garantia o pleno emprego - mesmo o mercado
operando em livre concorrência e com preços e salários flexíveis, o pleno emprego
nem sempre era garantido. O equilíbrio poderia ocorrer a qualquer nível de produto
não só no pleno emprego. A segunda proposta inovadora de Keynes foi dar atenção
às flutuações do emprego e da renda no curto prazo, que os clássicos ignoravam por
tratarem basicamente do longo prazo, mas mesmo neste, o pleno emprego poderia
não ser alcançado para Keynes.
O terceiro fator que faz a Teoria Keynesiana ser uma revolução ou
no mínimo inovadora foi rejeitar a fé dos clássicos nos mecanismos de mercado para
manter a economia no pleno emprego. Keynes critica que o sistema de preços
funcionaria perfeitamente, muitas vezes os preços não indicando as condições do
mercado corretamente. O papel do estado na economia é a quarta inovação de
Keynes: a insuficiência de demanda efetiva9 seria resultado principalmente dos
8 Os Pós-Keynesianos são os economistas que se mantiveram mais fiel a Keynes, é um grupo de economistas que interpretam Keynes focando a essência da sua revolução, estes estudam a questão da incerteza, o papel do dinheiro e das instituições financeiras na economia, assim como a inaplicabilidade do método de equilíbrio no estudo da disciplina econômica, Paul Davidson e H. Minsky são um dos representantes Pós-Keynesianos. 9 A insuficiência de demanda efetiva é o termo que Keynes utiliza para caracterizar a causa das crises econômicas, o termo significa a insuficiência do mercado em demandar todos os produtos produzidos na economia, assim como transformar toda poupança em investimento de modo a garantir o pleno emprego. A insuficiência de demanda efetiva é quando existe uma quantidade de fatores ociosos na
13 investimentos muito baixos dos empresários. Para esta falta de investimentos,
Keynes propõe os gastos do governo, que cobririam os baixos investimentos e
através destes gastos seria possível trazer a economia no estado pré-crise. Deste
modo a demanda do governo traria um efeito multiplicador10 dos gastos que
aumentaria a demanda de consumo e investimento.
Para que a oferta crie sua própria demanda e haja o pleno emprego,
a renda agregada tem que ser igual aos gastos correntes. Como o consumo é
constante, o fator que desestabiliza essa suposta igualdade e o pleno emprego é a
parte dos gastos correntes que são os investimentos. Os clássicos baseavam-se na
hipótese de que todos os gastos referentes aos investimentos deveriam ser feitos
automaticamente, pois os agentes tinham plena certeza dos acontecimentos futuros
baseados nas informações do presente e do passado.
Para Keynes os gastos com investimentos podem não ser feitos
automaticamente, por que existem as incertezas em relação aos rendimentos futuros
- permitindo assim que nem todo o investimento seja feito, trazendo o desequilíbrio
entre oferta e demanda agregada - e ao equilíbrio do emprego abaixo do pleno
emprego devido à insuficiência de demanda efetiva. Diferente da corrente clássica
que considerava que o sistema capitalista estava sempre em equilíbrio de pleno
emprego, Keynes diz que o sistema capitalista é instável indo do pleno emprego ao
desemprego em massa, e normalmente está em equilíbrio abaixo do primeiro.
O termo macroeconomia surgiu nos anos 3011, período em que
houve grandes avanços nas questões econômicas agregativas. Após um longo
economia, de acordo com Keynes o produto e o emprego na economia dependem da demanda, a insuficiência acontece quando o produto o emprego não estão aos níveis do produto potencial ou de pleno emprego. O produto e o emprego estão abaixo devido principalmente à insuficiência de demanda de investimentos ou de bens de produção dos empresários, que é o principal fator para Keynes das causas das flutuações do emprego e da renda. 10 O efeito multiplicador foi introduzido por R. F. Kahn em seu artigo, “The Relation of Home Investment to Unemployment’’ (Economic Journal, junho de 1931), Keynes usou esse termo baseado em Kahn para explicar os efeitos reais dos gastos gerais na economia. Keynes diz que um aumento nos gastos do governo ou investimentos faria com que aquela quantidade inicial de gastos ou investimento, fosse multiplicado por um fator chamado multiplicador, que é o inverso de um menos a propensão marginal a consumir, esta é o efeito de um aumento de uma unidade na renda sobre o consumo, ou seja, os gastos do governo aumentaria a renda de uma pessoa, que gastaria sua renda com outra pessoa, que gastaria a renda ou faria investimento gerando renda pra outra pessoa e assim sucessivamente em função do resultado da propensão marginal a consumir, assim o gasto inicial seria potencializado pelo efeito multiplicador causando uma mudança maior na economia que o efeito inicial. 11 Os agregados econômicos foram estudados antes por Leon Walras, Economista do século XIX, sua principal obra foi Conpêndio dos Elementos de Economia Política Pura de 1874, onde este abordou principalmente a sua Teoria do Equilíbrio Geral, neste livro Walras vai estudar os agregados econômicos da economia e seu equilíbrio.
14 tempo em que as questões microeconômicas dominaram o campo da economia, os
fatores que determinavam a renda, o emprego e os preços começaram a receber
maior atenção, isto a partir do início do século XX. A depressão de 1929 aumentou a
urgência das questões macroeconômicas e o principal resultado das pesquisas
nessa área foi o livro A Teoria Geral dos Juros, do Emprego e da Moeda de John
Maynard Keynes, que esboçava o funcionamento dos agregados macroeconômicos
na economia, rompendo de forma radical os seus conceitos com o pensamento
econômico até então dominante.
Este trabalho está dividido em três capítulos e mais uma conclusão
geral sobre o assunto. O primeiro capítulo tratará de alguns aspectos da Teoria
Clássica, visando as principais teorias clássicas que estão por trás da crítica de
Keynes aos Clássicos. O segundo capítulo abordará pontos chave da Teoria
Keynesiana, que está exposta principalmente na Teoria Geral. Por fim o terceiro
capítulo fará um paralelo entre as Teorias Clássica e Keynesiana e haverá para
fechamento as principais conclusões tiradas ao decorrer deste trabalho.
15 2 ALGUNS ASPECTOS DA TEORIA CLÁSSICA
O presente capítulo tem o propósito de apresentar alguns aspectos
da teoria clássica, citando as principais teorias clássicas que estão por trás da crítica
de Keynes à escola clássica. Entre essas teorias estão a Lei Say, a Teoria
Quantitativa da Moeda, a análise de determinação do emprego e da renda no
mercado de trabalho e também pela função produção.
Essas teorias formam um conjunto de vários estudos desde o século
XIV, por vários pensadores e economistas que foram rotulados de clássicos
primeiramente por Marx12 e depois por Keynes, que chamou de escola clássica os
pensadores que eram seguidores de Ricardo. A escola clássica13 é conhecida na
literatura econômica pelos economistas que fazem parte dela, entre eles Adam
Smith14, David Ricardo, Jean Baptiste Say entre outros que tem suas aproximações
metodológicas e a mesma linha de pensamento (BRUE, 2005, p. 63).
Na definição de escola clássica por Keynes entram também alguns
autores da chamada escola neoclássica15 e da escola marginalista16, que tem
algumas aproximações com a antiga escola clássica, mas que possui certas
diferenças (BRUE, 2005, p. 273).
Apesar de o estudo da escola clássica ter sido muito mais
abrangente do que as teorias apresentadas a seguir, de ter sido de muita
importância para a economia e ainda que muitos dos pressupostos seus sejam
válidos até hoje, Keynes de uma forma fez uma simplificação dessa escola
12 Karl Marx, economista do século XIX, foi um dos mais importantes economistas de todos os tempos e que mais influenciaram as pessoas com suas ideias, economista que foi um dos responsáveis pelas ideias revolucionárias socialistas, este mostrou as grandes contradições do capitalismo em sua história, sua obra mais importante foi O Capital de 1867. 13 A Escola Clássica definida pela literatura econômica é formada por pensadores econômicos como Adam Smith, David Ricardo e Jean Baptiste Say, que defende o livre mercado, fazem uma análise de longo prazo e focam na importância da oferta para determinação nos preços. 14 Adam Smith, economista e filósofo do século XVIII e XIX, marcou o início da Ciência Econômica, sua obra mais importante foi A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua Natureza e suas Causas de 1776. 15 A Escola Neoclássica é liderada por Alfred Marshall (ver nota de rodapé 17), esses tinham um foco maior no curto prazo diferente da escola clássica que se voltava para o longo prazo e começam a focar também na importância da demanda e ainda utilizam a Teoria do valor utilidade para explicar o valor de uma mercadoria em oposição à teoria do valor trabalho da escola clássica. 16 A Escola Marginalista é formada por pensadores como W. Stanley Jevons economista Inglês e Carl Menger economista Austríaco, que foram os desenvolvedores do marginalismo, economistas do século XIX, desenvolveram a Teoria da Utilidade Marginal e seu pensamento econômico foi incorporado à escola neoclássica.
16 elencando as principais teorias clássicas que vieram a contrastar com suas ideias
(DILLARD, 1989, p. 17).
“Escola Clássica”17 foi uma expressão utilizada por Keynes para
designar David Ricardo e seus seguidores entre eles John Stuart Mill18, Alfred
Marshall19 e Arthur Cecil Pigou20. Na Teoria Geral do emprego, dos juros e da
moeda de Keynes, este critica principalmente duas teorias clássicas. A primeira é a
Lei de Say ou dos mercados de Jean Baptiste Say, seu criador. A teoria dos
mercados aponta que a “oferta cria sua própria procura”, ou seja, o preço da procura
agregada é igual oferta agregada em todos os níveis de produção e emprego; a
segunda é a teoria quantitativa da moeda, a mais antiga teoria econômica formulada
inicialmente no século XIV (KEYNES, 1936, p. 38 e 156).
Existem variáveis importantes para colaborar e reafirmar a
consistência do funcionamento da economia clássica, que são a oferta e a demanda
agregada do mercado de trabalho, que determinam juntos com a função produção o
emprego e a produção na economia. Essas teorias clássicas estão baseadas no seu
enfoque da oferta como determinante do emprego, diferente de Keynes que criticou
essas teorias e deu o enfoque na demanda como determinante do emprego
(FROYEN, 1999, p. 56).
2.1 A Lei de Say
A lei dos mercados diz que “a oferta cria sua própria procura”, pois
todos os recursos são gastos em bens e serviços. O excedente da renda vai para
poupança sendo transformada em investimento, a moeda é considerada como mero
facilitador das trocas comerciais e o produtor só produz tendo em vista suas
necessidades de consumo. Todo produto seu é trocado por outro de outro produtor,
que são também consumidores, e desta forma há pleno emprego (DILLARD, 1989,
p. 19).
A lei dos mercados é apresentada por Say em 1803 no seu Tratado
17 Ver a primeira nota de rodapé. 18 John Stuart Mill, Economista Inglês do séc. XIX e cuja obra mais importante foi Princípios de Economia 19 Alfred Marshall, economista Inglês do séc. XIX e XX e principal expoente da Escola Neoclássica de Cambridge e sua principal obra foi Princípios de Economia. 20 Arthur Cecil Pigou, economista Inglês do séc. XIX e XX foi professor de Keynes na Escola de Cambridge, e algumas das suas principais obras foram Industrial Fluctuations (1927) e The Theory of
17 de Economia Política, mostrando a função da moeda na economia e como a oferta
cria sua própria procura: Nos lugares que produzem muito, cria-se a única substância com o qual se compra: refiro-me ao valor. O dinheiro desempenha somente o ofício passageiro nessa troca dupla; e, terminadas as trocas, verifica-se sempre: produtos foram pagos por produtos (Say, J.B. 1803. p.139). É bom observar que um produto acabado oferece, a partir desse instante, um mercado para outros produtos equivalente a todo o montante de seu valor. Com efeito, quando o último produtor acabou um produto, seu maior desejo é vendê-lo para que o valor desse produto não fique ocioso em suas mãos. Por outro lado, porém, ele tem igual pressa em desfazer-se do dinheiro que sua venda lhe propicia, para que o valor do dinheiro tampouco fique ocioso. Ora, não é possível desfazer-se de seu dinheiro, senão procurando comprar um produto qualquer. Vê-se, portanto, que só o fato da criação de um produto abre, a partir desse mesmo instante, um mercado para outros produtos (Say, J.B. 1803. p.139).
A validade da lei de Say em que a oferta e a demanda agregada
são iguais é explicada pelo funcionamento da taxa de juros na teoria clássica, sendo
uma força determinante para o equilíbrio macroeconômico. De acordo com o
equilíbrio entre a poupança e o investimento - que é feito pelo mecanismo flexível da
taxa de juros - um excesso de poupança faz a taxa de juros baixar, diminui o
incentivo a poupança e aumenta o incentivo à inversão (investimentos em bens de
capital), mantendo assim igualdade entre poupança e investimento (MOREIRA,
2005, p. 414).
A taxa de juros ainda cumpre outro papel para manter o emprego
total, pois um aumento da poupança de acordo com os clássicos representa uma
diminuição da procura de bens de consumo, e faz com que seus preços baixem. Isto
diminui os lucros das empresas de bens de consumo e esses deslocam seus meios
de produção para a indústria de bens de investimento que a procura aumentou
(DILLARD, 1989, p. 20).
O pleno emprego dos fatores de produção é garantido na teoria
clássica, pois todo rendimento é gasto em bens e serviços. O excedente é
canalizado para poupança que se transforma em investimento, que também é um
gasto em inversão (bens de investimento) feito pelos empresários. As taxas de juros
unemployment (1933).
18 flexíveis mantêm a poupança e investimento em igualdade e o mercado funciona
perfeitamente não existindo insuficiência de demanda agregada e nem fatores
ociosos (DILLARD, 1989, p.19).
O axioma da ergodicidade diz que os agentes econômicos preveem
os eventos futuros através das informações presentes e dos eventos passados. Este
axioma é uma das bases da estrutura da teoria da escola clássica. Para esta escola
a atividade econômica ocorria sob as condições de certeza acerca dos eventos
futuros. A realidade era programada e imutável, assim os agentes tinham condições
de prever os eventos futuros e tomar as suas decisões de investimento
corretamente. A não existência de incerteza em relação ao futuro permite então a
validade da lei de Say (MOREIRA, 2005 apud DAVIDSON, 1996, p. 479).
2.2 A Função de Produção Clássica
A função produção agregada é parte central do modelo clássico21.
Esta é baseada na tecnologia individual das firmas, sendo considerada homogênea
entre elas. A função produção mostra a relação entre níveis de produção e os níveis
de insumo, resultando a produção em cada nível de utilização dos insumos. A
equação é escrita da seguinte forma:
Y= F (K, N)22
No curto prazo o estoque de capital, a tecnologia e a população são
fixos. Então a variável responsável pelo aumento da produção no curto prazo é a
mão de obra, a baixos níveis de emprego. A função é suposta uma linha reta, a
inclinação representa a variação da produção para uma dada mudança no emprego,
e quando a inclinação é constante a curva exibe retornos constantes aos aumentos
da quantidade de mão de obra. Já para níveis de emprego alto a curva se
representa com inclinação não linear, e os retornos são decrescentes a cada
aumento da quantidade de mão de obra, e o acréscimo à produção é cada vez
menor. A produtividade marginal do trabalho (PMgN) é o resultado da razão entre a
variação de Y e de N. A figura abaixo ilustra a função produção e o comportamento
da produtividade marginal do trabalho em relação ao número de trabalhadores
(FROYEN, 1999, p. 47).
21 Modelo Clássico é um modelo macroeconômico baseado nos estudos dos teóricos clássicos para a determinação do produto, do emprego e da renda.
19
FIGURA 1
(FONTE: FROYEN, 1999)
2.3 A Demanda Agregada por Trabalho A quantidade de mão de obra empregada ou o emprego para os
economistas clássicos são determinados pelas forças de oferta e demanda no
mercado de trabalho, sendo que este funciona perfeitamente com as empresas e os
trabalhadores individuais agindo de forma ótima. Para determinar a demanda por
trabalho, é preciso verificar primeiro o comportamento de uma firma individual. No
modelo clássico, as empresas são perfeitamente competitivas, e determinam a
quantidade produzida que maximizem seus lucros. No curto prazo a produção só
pode ser alterada pelo aumento da utilização do insumo trabalho, e a firma
aumentará sua produção até o ponto em que o custo marginal de produção for igual
22 Y representa a produção real, K o estoque de capital e N a quantidade de mão de obra.
20 à receita marginal de suas vendas, pois este é o ponto de maximização dos lucros
das firmas (SIMONSEN; CYSNE, 2007, p. 310).
Para a empresa perfeitamente competitiva a receita marginal é igual
ao preço do produto, sendo o trabalho o único fator variável no curto prazo. O custo
adicional de cada unidade de produção é igual ao custo marginal do trabalho, e o
custo marginal do trabalho é igual ao salário monetário dividido pelo número de bens
produzidos por unidade adicional de mão de obra. As quantidades produzidas por
unidade adicional de mão de obra empregada é igual à produtividade marginal do
trabalho (PMgN), então o custo marginal da firma (CMg) é igual a razão entre salário
monetário ou nominal (W) e o produto marginal do trabalho (FROYEN, 1999, p. 49-
50).
CMg= W/PMgN
Se, por exemplo, o salário for de $6/ hora e um trabalhador produzir
três unidades de produção, o custo marginal de cada unidade será de $2 (FROYEN,
1999, p. 50).
A condição para maximização do lucro no curto prazo é
P= CMg= W/PMgN e W/P= PMgN
Assim segundo Nunes e Nunes (1997, p.107), a condição para a
maximização do lucro pela firma é que o salário real seja igual ao produto marginal
do trabalho.
Esta condição de maximização dos lucros mostra que a demanda
por horas de trabalho de uma empresa é igual ao produto marginal da hora do
trabalho. Seja o salário real de 3,0 (por exemplo, um salário nominal de $6 e um
preço do produto de $2), a firma contratará 500 trabalhadores (FROYEN, 1999, p.
50).
A uma quantidade de trabalho abaixo, como 400 trabalhadores, o
produto marginal seria de 4,0, excedendo o salário real de 3,0. O pagamento ao
trabalhador, em termos reais, seria menor ao produto real produzido por ele. Os
lucros aumentariam conforme a contratação de unidades adicionais de trabalho, e as
quantidades maiores que 500 unidades produzidas - se o salário real fosse 3,0 - o
salário real seria maior que o produto marginal do trabalho. Os pagamentos aos
trabalhadores excederiam o produto marginal das unidades de trabalho, e os custos
marginais seriam superiores ao preço do produto. Nesta situação as diminuições da
utilização da mão de obra aumentariam os lucros (FROYEN, 1999, p. 50).
21
Portanto a quantidade de mão de obra que maximiza os lucros das
empresas, para cada nível de salário real, é dada pela quantidade de trabalho cujo
salário real é igual ao produto marginal do trabalho. A curva de produto marginal é a
curva de demanda da firma por mão de obra. Deduz-se, portanto, que a demanda
por trabalho está inversamente relacionada ao valor do salário real. Por exemplo,
quanto maior o salário real, menor será o nível de trabalho que iguala o salário real
ao produto marginal do trabalho (MANKIW, 2008, p. 39).
A curva de demanda por trabalho é igual à soma horizontal das
curvas de demanda das empresas individuais. Para cada salário real, essa curva
representará a soma das quantidades de trabalho demandadas pelas firmas na
economia. A função de demanda agregada por trabalho é dado pela fórmula abaixo:
N= f (W/P)23, onde, na economia em geral e nas firmas
individualmente, o aumento do salário real resulta em uma diminuição na demanda
por trabalho. A figura abaixo ilustra o gráfico da demanda por trabalho da empresa
(FROYEN, 1999, p. 51).
FIGURA 2
(FONTE: FROYEN, 1999)
23 A equação demonstra que a demanda por trabalho (N) está em função do salário real do trabalhador (W/P), uma diminuição do salário real aumenta a demanda agregada por mão de obra e
22 2.4 A Oferta Agregada de Trabalho
A outra relação que vai determinar o emprego e a produção no
modelo clássico é a curva de oferta de trabalho. Os serviços de trabalho são
fornecidos pela mão-de-obra. A curva de oferta de trabalho se apresenta
primeiramente pela decisão individual da oferta de trabalho, sabendo que o indivíduo
tenta maximizar sua utilidade ou satisfação, sendo que o nível de utilidade depende
positivamente da renda real. Isto lhe garante o poder de compra tanto para bens e
serviços quanto de lazer. Assim existe um trade-off entre os dois objetivos, pois a
renda aumenta com o trabalho e consequentemente reduz o tempo para o lazer
(SIMONSEN; CYSNE, 2007, p. 298).
O trabalhador vai distribuir entre suas 24 horas a sua rotina de lazer
e trabalho. Considerando N como a sua oferta de trabalho, no gráfico que a seguir é
apresentado o trade-off de lazer e trabalho. No eixo horizontal estão as horas diárias
de trabalho que são medidas da direita para a esquerda, começando do zero até
vinte quatro horas; e o lazer é 24 horas menos as horas trabalhadas. A renda real é
medida no eixo vertical e é igual ao salário real multiplicado pelo número de horas
trabalhadas, e as linhas curvas do gráfico representado pela unidade U são as
curvas de indiferença. Os pontos que estão ao longo da curva são combinações de
renda e lazer que resultam em um mesmo nível de satisfação para o indivíduo,
portanto em uma determinada curva o indivíduo é indiferente às combinações entre
renda e lazer (FROYEN, 1999, p. 52).
A inclinação da curva de indiferença fornece a taxa que o indivíduo
está disposto a trocar lazer por renda, ou seja, uma quantidade adicional de renda
que ele receberia para manter o mesmo nível de utilidade após perder uma unidade
de lazer, aumentando sua oferta de trabalho em uma unidade de N. As curvas se
tornam mais inclinadas da esquerda para a direita, mostrando que para manter o seu
nível inalterado de utilidade o indivíduo exige uma compensação salarial maior para
trabalhar a 18º hora de trabalho do que para a 6º hora. Como o indivíduo vai
diminuindo sua hora de lazer constantemente, as últimas horas de lazer são mais
valiosas, pois o lazer vai se tornando mais raro a cada hora a mais trabalhada, por
isso o indivíduo exige uma compensação maior para trabalhar a 18º do que a 6º
hora. As curvas mais altas, situadas à direita, representam níveis maiores de
vice-versa.
23 utilidade (FROYEN, 1999, p. 52).
As retas originadas no ponto zero do eixo horizontal mostram as
linhas orçamentárias com as quais se defronta o indivíduo. O ponto zero das linhas
traçadas marca o ponto onde o indivíduo não trabalha, só tem lazer. A partir deste
ponto para cima onde as retas estão traçadas, o indivíduo troca o lazer pela renda, a
uma taxa igual ao salário real por hora W/P que é inclinação da reta. Quanto maior o
salário real, mais inclinada é a linha orçamentária, assim a um salário real maior um
aumento de uma unidade na jornada de trabalho resulta em uma renda que é maior
do que se fosse um salário real menor. A figura mostra abaixo três linhas de
orçamento que correspondem a salários reais de 2,0, 3,0 e 4,0 (FROYEN, 1999, p.
53).
FIGURA 3
(FONTE: FROYEN, 1999)
Para qualquer salário real que o indivíduo deseje maximizar sua
utilidade, este deverá escolher o ponto onde a linha orçamentária corresponde a
esta taxa salarial que seja tangente a uma dessas curvas de indiferença. Este ponto
24 representa a propriedade em que a taxa a qual o indivíduo está disposto a trocar
lazer por renda é igual à taxa da inclinação da curva de indiferença. Na figura a um
salário real de 2,0, o trabalhador escolherá o ponto A onde ofertará 6 horas de
trabalho, terá um lazer de 18 horas e uma renda real de 12. Aos salários reais de 3,0
e 4,0 o indivíduo escolherá os pontos B e C. De modo que com o aumento dos
salários reais a oferta de trabalho aumenta (FROYEN, 1999, p. 54).
Em Froyen (1999, p. 54), a figura b representa a curva de oferta de
trabalho para o indivíduo b. Esta curva consiste no ponto A, B e C que é quantidade
de trabalho que o indivíduo deseja ofertar a cada salário real. A curva de oferta
agregada de trabalho resulta na soma de todas as curvas horizontais individuais da
oferta de trabalho, e mostra o total ofertado a cada salário real na economia. A curva
da oferta agregada de trabalho pode ser representada pela fórmula abaixo:
N= g (W/P)24
A oferta de trabalho da teoria clássica é baseada no salário real e
não no nominal. O indivíduo está preocupado com seu poder de compra na
quantidade de bens e serviços que seu salário pode comprar e não com seu salário
nominal. Por exemplo: um aumento do salário nominal de $2,0/hora para $4,0/hora e
ao mesmo tempo os preços de todos os produtos dobrarem, após a mudança os
trabalhadores estarão ofertando a mesma quantidade de trabalho que antes, pois o
seu salário real não aumentou para incentivar esses a trocar mais lazer por trabalho
(SIMONSEN; CYSNE, 2007, p. 298).
Segundo a curva de oferta de trabalho com inclinação positiva,
supõe-se que seja ofertado mais trabalho se os salários reais forem mais altos, isto
significa que o preço do lazer está maior. O preço mais alto dos salários reais aos
trabalhadores fará estes escolherem menos lazer, esse efeito é análogo ao efeito
substituição da teoria do consumidor. Deve-se considerar também o efeito renda, da
teoria do consumidor, à medida que o salário real aumenta o trabalhador consegue
obter uma renda real mais alta. Quando há níveis mais altos de salário real o lazer
se torna mais atrativo do que a novos aumentos na renda (FROYEN, 1999, p. 54).
Devido aos aumentos sucessivos no salário real, chega-se a um
ponto em que o trabalhador começa a ofertar menos trabalho e priorizar mais lazer,
mesmo com aumento do salário real. Neste ponto o efeito renda supera efeito
24 A equação demonstra que a demanda agregada por mão de obra (N) está em função do salário real (W/P).
25 substituição; a curva de trabalho se torna negativa e curva-se para trás, no eixo
vertical. É quase certo que em salários extremamente altos, o efeito substituição
supera o efeito renda e não precisam ser extremamente altos para que isso ocorra.
Apesar de a evidência empírica ser inconclusiva, é adotado que os salários nos
países industrializados a curva de oferta de trabalho tenha uma inclinação positiva e
que o efeito substituição supere o efeito renda (FROYEN, 1999, p. 54-55). 2.5 O Equilíbrio no Mercado de Trabalho e os Determinantes do Emprego e do Produto
As relações abaixo, junto com a condição de equilíbrio no mercado
de trabalho, determinam o produto, o emprego e o salário real que são as variáveis
endógenas do modelo clássico (FROYEN, 1999, p. 55).
Y= f (K, N)25
N= f(W/P)26
N= g(W/P)27
A condição de equilíbrio no mercado de trabalho é que a oferta de
trabalho seja igual à demanda de trabalho. O gráfico abaixo mostra o equilíbrio no
modelo clássico, o nível de equilíbrio de emprego e do salário real, ocorre no ponto
de intersecção entre as curvas de demanda agregada por trabalho e de oferta
agregada por trabalho, esse nível de equilíbrio do mercado de trabalho resulta em
um nível de equilíbrio do produto Y, definido pela função produção na figura b
(FROYEN, 1999, p. 55).
25 Função de produção clássica. 26 Oferta agregada de trabalho. 27 Demanda agregada de trabalho.
26
FIGURA 4
(FONTE: FROYEN, 1999)
Os fatores determinantes do produto e do emprego no modelo
clássico, representado por variáveis exógenas são os fatores que deslocam as
curvas de oferta e demanda por trabalho, assim como a função de produção
agregada. Dada uma determinada quantidade de insumos, a mudança tecnológica
desloca a curva da função produção, aumentando assim o produto total da
economia. À medida que o estoque de capital se altera, também a curva da função
produção é deslocada para cima, aumentando o produto geral da economia. A curva
de demanda por trabalho representa a curva do produto marginal do trabalho que é
a inclinação da função produção. A curva de demanda por trabalho será deslocada
conforme aumenta a produtividade do trabalho, em virtude de uma mudança
tecnológica ou de capital (FROYEN, 1999, p. 56-57).
O crescimento populacional é um fator que desloca a curva de oferta
de trabalho para a direita, as mudanças nas funções de preferências dos indivíduos
entre trabalho e lazer também altera a curva de oferta de trabalho. O comum no
modelo clássico é que todas as variáveis que afetam a produção no modelo clássico
são todas variáveis do lado da oferta agregada, no qual as firmas é que decidem
27 produzir, portanto os níveis de produção e do emprego no modelo clássico são
determinados exclusivamente por fatores que estão do lado da oferta (FROYEN,
1999, p. 57).
A figura a abaixo ilustra o equilíbrio entre a curva de oferta e
demanda agregada por trabalho que mostra o salário real em função do emprego. A
figura b ilustra o equilíbrio entre a oferta e a demanda por trabalho mostrando o
salário nominal em função do emprego. A oferta de trabalho é uma curva com
inclinação positiva, que representa a quantidade de oferta de trabalho para cada
salário nominal, sendo P o nível de preços, a inclinação é positiva porque dado um
nível de preços para um salário monetário mais alto é um salário real mais alto. Os
trabalhadores se preocupam com os níveis de salários reais, cada nível de preços
representa uma curva diferente, para cada nível de preço significa salário real
diferente e, portanto uma quantidade de oferta de trabalho diferente (FROYEN,
1999, p. 57).
Dada uma mudança no preço de P para 2P, ou seja, o dobro de P, a
curva de oferta de trabalho se desloca para N (2P), pois com o aumento dos preços -
dado o salário nominal - o salário real se torna mais baixo. Portanto é ofertado
menos trabalho devido à queda do salário real; o aumento dos preços desloca a
curva de oferta de trabalho para cima e para esquerda; já deslocamentos tanto dos
preços e dos salários nos casos de P para 2P e ao mesmo tempo a mudança de
salários nominais de W para 2W não alteram os salários reais e não altera a curva
de oferta de trabalho. Assim aumentos ou diminuições equiproporcionais de salários
monetários e preços deixam inalterada a curva de oferta de trabalho, evidenciando
que os trabalhadores estão interessados nos salários reais e não nominais
(FROYEN, 1999, p. 57).
28
FIGURA 5
(FONTE: FROYEN, 1999)
Segundo Simonsen e Cysne (2007, p. 279), as curvas de demanda
por trabalho f (W/P) e a do produto marginal do trabalho (PMgN) são equivalentes.
Todos os pontos da curva de demanda por trabalho traçada contra o salário
monetário devem satisfazer a esta condição: W/P= PMgN
Para saber a quantidade demandada para um determinado salário
monetário, dependerá do nível de preços. A firma escolherá o nível de emprego em
que W= PMgN.P. Quanto maior são os preços (P, 2P, 3P), a curva de demanda por
trabalho vai se deslocando para a direita (de PMgN.P para PMgN.2P para
PMgN.3P). A um dado salário nominal, níveis de preços mais altos aumentam a
demanda por trabalho, pois o salário real se torna mais baixo. Portanto a demanda
por trabalho depende apenas do salário real. Aumentos dos salários nominais
proporcionais aos níveis de preços, (W, P) para (2W, 2P) não alteram a demanda
por trabalho (FROYEN, 1999, p. 58).
29
A curva de oferta agregada do modelo clássico é análoga
macroeconômica do conceito microeconômico da curva de oferta da firma. A cada
diferente preço do produto há uma determinada oferta que a firma deseja vender.
Em uma firma perfeitamente competitiva a maximização do lucro é dada quando o
custo marginal é igual ao preço CMg= P, ou quando a produtividade marginal é
igual ao salário real PMgN= W/P. Em uma firma no mercado competitivo esta decide
a sua produção e sua demanda por mão de obra, dado que o salário monetário e
sua decisão de contratar mais mão-de-obra não afeta os salários monetários, sendo
o mercado competitivo ela não tem poder para afetar os salários. Dado que o salário
monetário é fixo, a curva de oferta de produto da firma tem inclinação positiva em
relação aos preços. Assim preços mais altos diminuem os salários reais e as firmas
demandam mais trabalho e produzem mais (SIMONSEN; CYSNE, 2007, p. 292-
293).
Em uma curva de oferta agregada, para todo o mercado os salários
monetários não podem ser dados como fixos, os salários se ajustam para manter o
equilíbrio no mercado de trabalho. A figura abaixo ilustra a curva de oferta agregada
clássica em que o nível agregado de preços está em função do produto (FROYEN,
1999, p. 58-59).
FIGURA 6
(FONTE: FROYEN, 1999)
Na figura acima está representada a curva de oferta agregada, em
que existem três níveis de preços no eixo da abscissa e a produção y no eixo da
30 ordenada. No nível de preços P o salário monetário é W, o emprego é N e o produto
é y como mostra a figura. Ao nível de preços 2P, se o salário monetário
permanecesse W, a demanda por trabalho aumentaria para 2N, pois os preços mais
altos diminuem os salários reais; as firmas contratam mais e aumentam a produção,
mas os salários monetários não são fixos. Assim ao nível de preços 2P a curva de
oferta de trabalho se desloca para a esquerda como mostra a figura anterior a esta
de cima. Como há um excesso de demanda por trabalho, os salários nominais
aumentam para manter o equilíbrio nesse mercado (FROYEN, 1999, p. 60-61).
A reação aos preços mais altos faz as firmas expandirem o emprego
e a produção. Para isso elas devem aumentar os salários monetários dos
trabalhadores para atrair mais destes. Se elas não aumentarem os salários sofrerão
demissões e possíveis vacâncias de cargos, pois outras empresas que subiram seus
salários contratarão estes trabalhadores. Os salários monetários vão aumentar até o
ponto em que a oferta e a demanda de trabalho estiverem em equilíbrio. Na figura
3.5 b o salário monetário aumentou na mesma proporção que o nível de preços,
deixando o salário real ao nível anterior e o emprego também. Consequentemente a
produção será a mesma no nível de preços P e de 2P, pois os salários subiram
conforme os preços subiram (FROYEN, 1999, p. 61).
Existem alguns fatores que não afetam o produto e emprego no
modelo clássico. O nível de produto e emprego é determinado pela oferta, assim o
nível de demanda agregada não afetará o produto e o emprego neste modelo.
Fatores como a quantidade de moeda, o nível de gastos governamentais e o nível
de demanda por bens de capital do setor privado não afetam o produto e o emprego,
pois são fatores do lado da demanda e não da oferta. Já a política tributária pode
afetar o emprego e a produção na medida em que afeta o lado da oferta, se afetar o
lado da demanda não afetará emprego nem produção (FROYEN, 1999, p. 61).
Dentro do modelo clássico que explica a variação do produto e do
emprego pelo lado da oferta, há duas suposições importantes que contribuem para o
funcionamento do modelo, que são: os preços e os salários são perfeitamente
flexíveis e há informação perfeita sobre os preços do mercado por parte de todos os
agentes. Assim por meio destas suposições é atingido o nível de equilíbrio de
produto e emprego entre oferta e demanda agregada (FROYEN, 1999, p. 63).
A escola clássica explica o fato de haver grande quantidade de mão-
de-obra que querem trabalhar e não encontram emprego ao mercado de trabalho. O
31 mercado de trabalho imperfeito surge da ação dos sindicatos e do governo através
das leis do salário mínimo, seguro desemprego e os subsídios aos trabalhadores.
Esses impedem que os salários baixem para níveis competitivos causando
desemprego. O professor Pigou afirma que em condições de competição livre a
existência de desemprego involuntário pressiona os salários para baixo até todos
que desejam trabalhar encontrem emprego (DILLARD, 1989, p. 22).
2.6 A Teoria Quantitativa da Moeda
A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) é a mais antiga das teorias
econômicas que teve um intenso debate entre os economistas no decorrer dos
séculos. Sua primeira formulação se deu por Jean Bodin no séc.XVI (entre as
décadas de 30 e 90), que vem retornando sobre novas roupagens através dos
monetaristas no século XX. A TQM possui vários postulados que a sustentam. O
primeiro postulado é o da proporcionalidade que diz que os preços variarão na
mesma proporção que a variação da oferta monetária (CORRAZA, 2003, p. 74).
O segundo postulado é o da causalidade. Este defende que as
variações na oferta monetária causam variações no nível de preços. Tem duas
causalidades, sendo a primeira direta que demonstra que as variações na oferta
monetária afetam o nível de preços pela demanda de bens e serviços. A segunda é
a causalidade indireta que demonstra que as variações na oferta monetária afetam
taxas de juros que afetam preços, por exemplo: um aumento na oferta monetária
diminui as taxas de juros - estimulando os investimentos que aumentam o nível de
preços (CORRAZA, 2003, p. 74).
O terceiro postulado defende que exceto no curto prazo no período
de ajustamento monetário as variáveis nominais, no caso a moeda, não afetam
variáveis reais. O quarto postulado é o da exogeneidade da moeda, que diz que a
oferta monetária é determinada pela autoridade monetária (CORRAZA, 2003, p. 75).
A teoria quantitativa da moeda consiste na explicação sobre a
principal causa da variação do valor da moeda. Esta mostra que o estoque de
moeda M é o principal determinante dos níveis de preço P. Esta conclusão que os
economistas clássicos chegaram se deu a partir da hipótese que o produto real a
preços constantes depende exclusivamente dos fatores de produção e da função
produção agregada, que são as variáveis reais. Também que a velocidade da
32 moeda é constante no curto prazo. Concluiu-se que o produto real a preços
constantes depende somente dos fatores reais a partir da hipótese de que existe a
plena flexibilidade de preços e salários na economia em geral (CORAZZA; KLEMER,
2003, p. 67-68).
Segundo Corazza e Klemer (2003, p. 68), dentro da equação
quantitativa da moeda existe uma identidade entre o total de pagamentos de moeda
transacionado e o total de bens e serviços transacionados, como mostra a equação
abaixo:
M.V= P.T28
A partir da equação acima da teoria quantitativa da moeda os
clássicos fazem algumas suposições. Uma delas é que a velocidade da circulação
de moeda é constante no curto prazo, assim como a quantidade de transações
físicas de bens e serviços - concluindo que as alterações no nível geral de preços se
devem a mudanças na oferta monetária. Um aumento na oferta monetária faz que o
nível geral de preços aumente na mesma proporção que o verificado na mesma. As
variáveis reais para os clássicos não são afetadas por variáveis monetárias, um
aumento da oferta monetária não afeta o produto real, pois os preços e salários são
flexíveis. Logo, um aumento na oferta monetária só afeta o nível geral de preços,
pois a economia está em pleno emprego (CORAZZA; KLEMER, 2003, p. 70).
Assim a Teoria Quantitativa da Moeda e a Lei de Say têm suas
afinidades de supostos, em supor o pleno emprego na economia e a neutralidade da
moeda. A neutralidade da moeda permite que esta não afete as variáveis reais como
produto e emprego, e a suposição de pleno emprego diz que apenas os preços
aumentam conforme a oferta de moeda aumenta. Essas duas teorias são as
principais teorias clássicas que Keynes vai criticar na sua Teoria Geral (MOLLO,
2004, p. 326-327).
Os economistas neoclássicos deram uma nova versão à teoria
quantitativa da moeda, conhecida como versão dos saldos monetários de
Cambridge. Nesta ótica dos saldos monetários, a moeda tem função de poder de
28 A equação representa a equação quantitativa da moeda em que M é o estoque monetário ou oferta monetária, V é a velocidade de circulação da moeda, P é o nível geral de preços e T é a quantidade total de transações físicas de bens e serviços. M.V representa o total de transferência de moeda entre os agentes para o pagamento de bens e serviços e P.T representa o total de transferências de bens e serviços entre os agentes econômicos.
33 compra temporário entre a venda e compra de um bem ou serviço. Mesmo nesta
análise a moeda continua tendo sua principal função de facilitar as trocas
comerciais. Essa nova versão é um refinamento da teoria quantitativa da moeda que
data do inicio do século passado elaborada por Marshall, Wicksell29 e Fisher30. Na
equação de Cambridge a quantidade da moeda retida pelos agentes está em função
da sua renda (SIMONSEN; CYSNE, 2007, p. 340).
M= KPNy= KPy’31
No longo prazo como K e y são constantes, há uma
proporcionalidade entre expansão da oferta monetária e expansão do nível de
preços. No curto prazo os neoclássicos enfatizam a não neutralidade da moeda, mas
no longo prazo a moeda se torna neutra, só afetando o nível geral de preços
(CORAZZA; KLEMER, 2003, p. 71-72).
De acordo com Corazza e Klemer (2003, p. 77) a última versão da
Teoria Quantitativa da moeda foi a monetarista, de Milton Friedman, que se tornou
uma teoria de demanda por moeda mais do que uma teoria do nível de preços e da
renda nominal. Nesta versão existem duas hipóteses:
1- A quantidade real de moeda M/P importa para os agentes
econômicos mais do que a quantidade nominal de moeda M.
2- Em qualquer situação os agentes desejam reter uma quantidade
definida de moeda.
Para Friedman um dos principais pontos que se deve destacar é que
o nível de preços e o nível de renda nominal são resultados da interação entre a
oferta e da demanda por moeda. A conclusão que Friedman chega é que a
demanda por moeda ou saldos reais é função estável do nível de renda real. Como
os neoclássicos, os monetaristas chegam à mesma conclusão, que exceto no curto
prazo o aumento da oferta monetária só afeta o nível geral de preços. As
29 Johan Gustav Knut Wicksell, economista do século XIX e XX, abordou a teoria monetária numa abordagem macroeconômica, sua principal obra foi Lições de Economia Política de 1911. 30 Irving Fisher, matemático e economista do século XIX e XX, foi um dos principais expoentes da escola monetária, sua principal obra foi The Theory of interest de 1930. 31 A equação representa a equação dos saldos monetários de Cambridge, M é a oferta monetária, P é o nível geral de preços, N é o número de habitantes do país, y é a renda per capita a preços constantes, y’ renda nacional a preços constantes e K é a razão de oferta monetária em relação à renda nacional (K=1/V; 0<K<=1), K é chamado de constante marshalliana ou de Cambridge, K representa o encaixe médio mantido por unidade monetária transacionada por ano.
34 observações dos monetaristas permitiram concluir que no longo prazo a inflação era
causada por um grande crescimento da base monetária em relação ao produto real
agregado, assim a inflação é sempre um fenômeno monetário (CORAZZA;
KLEMER, 2003, p. 85).
Os economistas clássicos enfatizavam as tendências de auto-ajuste
na economia. Com a não intervenção do estado na economia que causa
instabilidade, o setor privado seria estável, e o pleno emprego seria atingido. O
primeiro mecanismo estabilizador seria a taxa de juros, que ajustaria a poupança e o
investimento para manter equilíbrio na demanda agregada. O segundo mecanismo
estabilizador seria a flexibilidade de preços e salários nominais, que impede que as
mudanças da demanda afetem o produto. É de vital importância a flexibilidade de
preços e salários para atingir o pleno emprego na economia clássica (FROYEN,
1999, p. 85).
O segundo ponto central da teoria clássica é a dicotomia entre
fatores que determinam variáveis reais e monetárias. No modelo clássico em que o
produto e emprego são determinados pela oferta, são os fatores reais que
determinam as variáveis reais e nominais. A produção e o emprego dependem
principalmente da tecnologia, do capital e da população. A moeda é um meio que
determina os valores nominais que medem as quantidades, mas esta não influencia
na determinação das quantidades reais (FROYEN, 1999, p. 86).
35 3 ALGUNS ASPECTOS DA TEORIA KEYNESIANA
O presente capítulo tem o propósito de apresentar alguns aspectos
da teoria de Keynes que está contida principalmente no seu livro A Teoria Geral dos
Juros, do Emprego e da Moeda de 1936. John Maynard Keynes foi um dos mais
importantes economistas do século XX. Ele revolucionou a economia ao mostrar que
muitas das ideias da teoria clássica e neoclássica, até então dominantes, se
mostravam incompatíveis com a realidade e era um caso particular da economia.
Suas teorias foram postas na prática primeiramente com o Plano New Deal do
presidente Franklin Delano Roosevelt em 1933 com o objetivo de sair da depressão
econômica que os Estados Unidos da América se encontravam.
As Teorias Keynesianas foram postas em práticas do século
passado até hoje, através das políticas fiscais e monetárias expansionistas32, com
objetivo de amenizar as crises econômicas. Isto difere dos economistas clássicos,
que defendiam a não intervenção do estado na economia. Keynes passou a
defender a intervenção do estado para estimular a economia principalmente em
épocas de crises com políticas econômicas ativas (KEYNES, 1936, p. 13).
Keynes foi inovador ao mostrar que a produção e o emprego eram
principalmente determinados pela demanda efetiva, diferente da escola clássica que
defendia que a produção e o emprego eram determinados só pela oferta. Mostrou
sua inovação ao mostrar que o desemprego era situação comum do capitalismo, e
este era instável devido à insuficiência de demanda efetiva. Que através das
políticas monetárias e fiscais o estado deveria agir para trazer a economia para seu
estado potencial (KEYNES, 1936, p. 11-13).
No primeiro capítulo do seu livro A Teoria Geral dos Juros, do
Emprego e da Moeda Keynes diz que:
Argumentarei que os postulados da teoria clássica se aplicam apenas a um caso especial e não ao caso geral, pois a situação que ela supõe acha-se no limite das situações de equilíbrio. Ademais, as características desse caso especial não são as da sociedade econômica em que realmente vivemos, de modo que os ensinamentos daquela teoria seriam ilusórios e desastrosos se
32 A Política monetária expansionista compreende um aumento da oferta monetária na economia através dos vários instrumentos em que o banco central tem a seu dispor, com objetivo de estimular a demanda agregada e a Política fiscal expansionista compreende um aumento nos gastos do governo ou redução dos impostos ou os dois, também visando estimular a demanda agregada.
36
tentássemos aplicar as suas conclusões aos fatos da experiência. (Keynes, J.M.1936. p. 23).
3.1 A Teoria da Demanda Efetiva e a Crítica a Lei de Say
De acordo com Moreira (2006, p. 198), a teoria keynesiana permite
refutar a Lei de Say e mostrar que o sistema econômico capitalista é inerentemente
instável, e não estável em equilíbrio de pleno emprego, como acreditava Jean-
Baptiste Say e John Stuart Mill no séc.XIX. Através da incerteza e das propriedades
da moeda a igualdade entre renda e gasto não é observada, pois toda renda não é
gasta, porque existem além dos gastos com consumo os gastos com investimento
feito pelos empresários, e estes dependem dos rendimentos esperados no longo
prazo.
Assim nem todo o gasto com investimento dos empresários serão
feitos imediatamente, pois dependem das expectativas desses em relação ao futuro
que está estruturado sobe bases frágeis - fazendo assim haver insuficiência de
demanda efetiva e gerando o desemprego involuntário desconsiderado pelos
clássicos (MOREIRA, 2006, p. 198).
Em uma economia monetária há rejeição da hipótese de
ergodicidade, pois as informações do passado e do presente não são seguras para
os agentes tomarem suas decisões (MOREIRA, 2005 apud DAVIDSON, 1999, p.
53).
As informações necessárias para os agentes tomarem suas
decisões não existem no momento (MOREIRA, 2005 apud DEQUECH, 2001). Esses
então baseiam suas decisões na análise convencional e no seu estado de confiança,
que é precário e frágil, dando assim o caráter instável do sistema (Andrade, 1987, p.
88-89).
De acordo com Keynes, a alta taxa de desemprego na Grã-
Bretanha, Estados Unidos e outros países industrializados era resultado de uma
insuficiência de demanda agregada. A demanda agregada estaria muito abaixo em
razão da baixa demanda por investimentos. A teoria de Keynes deu base às
políticas econômicas no combate ao desemprego, que deveriam estimular a
demanda agregada. Keynes sugeriu medidas de política fiscal para estimular a
demanda, principalmente referente aos gastos públicos. Além disso, a teoria
37 Keynesiana defende o uso da política monetária também para regular a demanda
agregada (FROYEN, 1999, p. 89).
Em Keynes a determinação do produto, da renda e do emprego é
determinada pela demanda agregada (DA), diferente dos clássicos que era
determinada pela oferta agregada. Para o produto estar em equilíbrio, este deve ser
igual à demanda agregada. Esta é composta por três componentes em uma
economia fechada e com governo: o consumo das famílias (C), o investimento das
firmas (I) e os gastos do governo (G) (FROYEN, 1999, p.93).
Y= DA= C+I+G
A renda nacional pode ser representada por outra forma (FROYEN,
1999, p.93).
Y=C+S+T33
O desequilíbrio entre demanda e o produto acontece quando há um
acúmulo não planejado de estoques (I). Neste caso o produto é maior que a
demanda agregada, ou seja, Y>DA. O desequilíbrio também acontece quando há
uma escassez de estoques não planejados, neste caso DA>Y (FROYEN, 1999, p.
97).
A demanda efetiva (DE) é o ponto onde a demanda agregada e a
oferta agregada se encontram, nesse ponto há um equilíbrio entre oferta e demanda
agregada. De acordo com a Lei de Say a oferta e a demanda agregada estariam
sempre em equilíbrio e em pleno emprego. Em Keynes o nível de equilíbrio de oferta
e demanda agregada pode ocorrer abaixo do pleno emprego, e no pleno emprego
há uma insuficiência de demanda efetiva que permite que haja excesso de produto
em relação à demanda, a insuficiência de demanda efetiva é devida principalmente
à escassez dos investimentos, que permite que nem tudo que seja produzido seja
consumido e que haja um hiato do produto34 entre o produto de pleno emprego e
produto abaixo do pleno emprego (DAVIDSON, 2003, p. 8-9).
Há uma inconsistência teórica no modelo clássico que vem refutar
a Lei de Say. Esta se baseia na taxa de juros como variável responsável pelo
equilíbrio entre poupança e investimento. Neste modelo a poupança determina o
33 Essa identidade representa o total da renda nacional (Y) onde S representa a poupança, C o consumo e T os impostos que financiam os gastos do governo (G). 34 O hiato do produto é a diferença entre o produto de pleno emprego e o produto abaixo do pleno emprego, o produto de pleno emprego gera um excedente de oferta em relação à demanda dos produtos devido à insuficiência de demanda efetiva.
38 investimento, pois as poupanças das famílias são canalizadas para o investimento
produtivo. Em Keynes, apesar de a taxa de juros ser um fator que determina o
investimento, a poupança é determinada pelo nível de renda, de modo que o nível
de renda (Y) é determinado pelo consumo, gastos do governo e o investimento, a
poupança (S) é um resíduo do consumo (C), assim S=Y-C, assim o investimento
determina a poupança e não o contrário (BIELSCHOWSKY; CUSTÓDIO, 2011, p.
64).
Segundo Froyen (1999, p.98) os gastos com consumo representam
a maior parte da demanda agregada, Keynes (1936, p.39-40) na sua teoria geral
explica o funcionamento da função consumo “A psicologia da comunidade é tal que,
quando a renda aumenta, o consumo agregado também aumenta, porém não tanto
quanto a renda.”. O trecho acima deixa claro que o consumo está em função da
renda. A função consumo é apresentada abaixo (FROYEN, 1999, p. 98).
C= a+b. Yd35 Yd= Y-t36
A figura abaixo mostra a função consumo na forma gráfica
(FROYEN, 1999, p.99).
FIGURA 7
(FONTE: FROYEN, 1999)
Há também a função poupança keynesiana apresentada a seguir
que está em função da renda (FROYEN, 1999, p. 99-100).
35 Essa equação representa a função consumo, em que C é o consumo, a é o intercepto representando o valor do consumo quando a renda é igual à zero, e b representa a propensão marginal a consumir (PMgC) e indica o impacto da variação de uma unidade da renda sobre o consumo. 36 O Yd é a renda disponível fazendo parte da função consumo, onde Y é a renda bruta e t são os
39
S= -a+(1-b)Yd37
A função poupança é apresentada na forma gráfica abaixo
(FROYEN, 1999, p. 100).
FIGURA 8
(FONTE: FROYEN, 1999)
3.2 O Investimento, os Gastos do Governo e os Juros
Para Keynes o investimento é um dos principais fatores
responsáveis pela variação da renda. O consumo é função estável da renda
disponível, não significando que o consumo não oscile ao longo do tempo. O
consumo, contudo, não é importante para explicar a variabilidade na renda, apesar
de ser o maior componente da demanda agregada. Ele na verdade é dependente da
renda (FROYEN, 1999, p. 100-101).
Com o objetivo de explicar a variação da demanda agregada,
Keynes procurou componentes autônomos independentes da renda, sendo o
investimento um componente autônomo e o principal responsável pela instabilidade
da renda (FROYEN, 1999, p. 101).
A eficiência marginal do capital (Emgk) junto com a taxa de juros
determina o investimento feito pelas empresas. A Emgk é a máxima taxa de
rendimento esperado de um bem de capital sobre o custo de uma unidade marginal
dessa espécie de bem, ou seja, é o rendimento esperado do bem de capital sobre
seu custo dos bens produzidos por ele. Essa também é formada pelos rendimentos
esperados do futuro, como dito acima, que estão baseados nas expectativas dos
impostos. 37 Essa é a função poupança, onde S é a poupança, -a é o intercepto sendo o valor da poupança quando a renda é igual a zero e 1-b é a propensão marginal a poupar, indicando o impacto de um aumento unitário na renda disponível impacta no aumento da poupança.
40 empresários em relação ao futuro - como as taxas de juros que são relativamente
‘‘rígidas’’. A eficiência marginal do capital é o principal responsável pela instabilidade
do sistema capitalista e pelo desemprego (KEYNES, 1936, p. 115).
Os fatores que determinam a renda esperada de um ativo estão
baseados no estado das expectativas de longo prazo dos agentes econômicos.
Este serve de base para os agentes tomarem suas decisões. Não depende,
portanto, do que eles acham mais provável que aconteça; depende da confiança
com que esses fazem o prognóstico. O estado de confiança é importante na medida
em que determina a escala de eficácia marginal do capital (KEYNES, 1936, p. 123-
124).
O fator mais importante é a extrema precariedade do conhecimento
para fazer os cálculos das rendas esperadas. O conhecimento que se tem para fazer
os cálculos dos fatores que regularão a renda de alguns anos mais tarde é muito
limitado e em geral desprezível. Há de se admitir que a base de conhecimento que
se tem para calcular a renda provável para daqui a dez anos de uma estrada de
ferro pouco significa e, às vezes, a nada levam (KEYNES, 1936, p. 125).
Outro item que determina o investimento é a taxa de juros, os juros
são um fenômeno monetário que fornece a explicação do dinheiro no sistema
econômico, as taxas de juros é a recompensa pelo não entesouramento do dinheiro,
pois o dinheiro vem a ser o único ativo perfeitamente líquido no sistema econômico,
assim a taxa de juros vai variar conforme a variação da preferência pela liquidez dos
agentes, um aumento pela preferência pela liquidez dos agentes aumenta os juros e
uma diminuição dessa preferência diminui os juros (KEYNES, 1936, p. 137).
Outro fator que determina a taxa de juros é a quantidade de dinheiro
na economia, que é controlado pela autoridade monetária. Assim por meio da
política monetária é possível influenciar a taxa de juros, assim um aumento na
quantidade de dinheiro diminui a taxa de juros e uma diminuição nesse aumenta
essa (KEYNES, 1936, p. 158).
Os gastos do governo (G) são o segundo componente autônomo da
demanda agregada. Os formuladores de política econômica é que determinam os
gastos do governo, a arrecadação tributária líquida (T) é o resultado dos impostos
arrecadados pelo governo menos as transferências do governo, o governo
determina as alíquotas dos impostos, as transferências governamentais assim como
seus gastos, essas decisões são de muita importância, pois os gastos do governo
41 têm um grande impacto na demanda agregada (FROYEN, 1999, p. 103).
A grande importância tanto dos investimentos e dos gastos do
governo na demanda agregada está no fato, que estes gastos são multiplicados por
um fator chamado multiplicador dos dispêndios autônomos, que está representado
pela equação a seguir: 1/1-b, em que b é a propensão marginal a consumir, a cada
aumento ou diminuição dos gastos do governo ou do investimento é multiplicado por
este fator, sendo a produtividade marginal igual a 0,8 o multiplicador terá resultado
de 1/1-0,8= 5, assim um aumento de uma unidade no investimento ou no gastos do
governo tem como resultado cinco vezes a mais na renda de equilíbrio final. Já um
aumento dos impostos ou diminuição nos investimentos ou no gastos do governo, o
efeito é contrário causando contração no nível de renda final cinco vezes a mais do
que a redução inicial. O gráfico abaixo mostra um exemplo de uma política fiscal de
estabilização (FROYEN, 1999, p. 106).
FIGURA 9
(FONTE: FROYEN, 1999)
Na figura acima o gráfico ilustra um aumento dos gastos do governo
e seu impacto na demanda agregada, o aumento dos gastos do governo aumenta a
demanda agregada e o produto.
42 3.3 A Moeda e a Política Econômica
Andrade (1987, p. 89), diz que a moeda na teoria keynesiana não é
só mais um mero facilitador de trocas e numerário, mas uma reserva de valor. Assim
na economia capitalista a moeda representa um refúgio às incertezas do futuro, que
leva os agentes a reter moeda com medo de investir em outros ativos que possam
não obter retorno, como a moeda é o ativo mais líquido os agentes econômicos
mantêm estas com eles para salvaguardar sua riqueza. Froyen (1999, p.123), coloca
como fundamental para a teoria monetária keynesiana que a moeda afeta a renda
através das taxas de juros. Um aumento na oferta de moeda, por exemplo, faz cair à
taxa de juros, que por sua vez, aumenta a demanda agregada e a renda
respectivamente.
A teoria clássica tratou a moeda como apenas mero facilitador das
trocas e que seus efeitos eram de curto prazo na economia real, defendidos pela Lei
de Say e a teoria quantitativa da moeda. O tratamento Keynesiano da moeda é que
ela tem um papel fundamental na economia, na medida em que esta afeta as
decisões dos agentes. Assim a moeda é considerada não neutra tanto no curto
quanto no longo prazo (AMADO, 2000, p. 44-45).
Diferente da teoria quantitativa da moeda o ativo dinheiro na teoria
monetária keynesiana funciona como um elo entre o presente e o futuro em
condições de incerteza, assim a política monetária e a decisão de gastar a renda
com a moeda afetam a demanda e o emprego, portanto o dinheiro deve ser levado
em conta para definir uma posição de equilíbrio (BIELSCHOWSKY; CUSTÓDIO,
2011, p. 68-69).
Os problemas econômicos seriam menores se as decisões de
investir dependessem somente das expectativas dos lucros esperados por parte dos
capitalistas, e os gastos agregados da economia que determinam a renda e o
emprego, seriam determinados pela propensão marginal a consumir e pelas
expectativas de lucro. A dificuldade fica maior por que os investimentos dependem
também dos juros que são um fenômeno monetário, que acentua ainda mais a
natureza instável dos investimentos (FILHO, 1990, p. 129).
Para Keynes os juros são um fenômeno monetário, porque ao
contrário da teoria clássica que supõe a taxa de juros como sendo o preço de
equilíbrio entre a demanda de fundos de investimento e a oferta de poupança, a taxa
43 de juros consiste no preço que equilibra manter a riqueza na forma de moeda, dada
uma quantidade disponível de moeda no mercado (FILHO, 1990, apud KEYNES,
1964, p. 167).
Para Keynes se a renda esperada dos ativos de capital é superior à
renda esperada dos outros ativos, o investimento em ativos de capital provoca uma
ampliação dos bens de produção, reduzindo sua renda esperada, no entanto não
existe nenhuma força que reduza automaticamente o prêmio de liquidez da moeda,
quando este está em um nível elevado. A moeda justamente por possuir
elasticidade- produção e substituição zero, esta é a unidade de medida de salários e
contratos e por isso funciona como um ativo que rende proteção contra a incerteza.
Em momentos de muita incerteza, mesmo que o governo amplie a base monetária,
os investidores podem manter sua riqueza sob a forma de moeda do que aplicá-la
em ativos de capital, impondo padrão mínimo para o prêmio de liquidez da moeda
(BIELSCHOWSKY; CUSTÓDIO, 2011, p. 69).
De acordo com Keynes (1936, p. 139), existe três motivos que
fazem os agentes econômicos ter preferência pela liquidez:
O motivo da transação: os agentes econômicos mantêm dinheiro em
mãos para fazer frente aos seus gastos correntes.
O motivo da precaução: os agentes econômicos mantêm dinheiro
em mãos para algum imprevisto futuro.
O motivo da especulação: os agentes econômicos mantêm
dinheiro em mãos para lucrar no mercado financeiro.
Segundo Froyen (1999, p. 89), Keynes defende a política monetária
e fiscal para regular o nível de demanda agregada, principalmente essas políticas
seriam usadas nas épocas de crise econômica para a recuperação da economia,
essas crises que tinha como características um alto nível de desemprego,
ociosidade do capital e queda do nível de renda estava associada à insuficiência de
demanda efetiva como chamou Keynes, assim através das políticas monetária e
fiscal a demanda efetiva iria voltar a seu estado anterior a crise.
A arte da política monetária que visa o aumento do produto ou
redução do desemprego é transformar a moeda, que é um ativo na escala financeira
em meio de troca na escala industrial, ou seja, é atrair a moeda que esta no sistema
financeiro para a economia real onde esta comprará os bens de capital para
aumentar o investimento e a renda, reduzindo o desemprego. Então a autoridade
44 monetária deve aumentar o estoque monetário na circulação financeira por meio das
operações de mercado aberto, reduzindo assim a taxa de juros dos ativos líquidos,
com objetivo de recompor as estratégias privadas de portfólio, aumento a
quantidade de ativos ilíquidos (bens de capital) e diminuindo os ativos líquidos
(títulos, ações), então esta política busca desestimular a posse de títulos com a
queda dos juros e estimular a aquisição de máquinas que teriam agora um retorno
maior aos ativos líquidos devido à queda dos juros desses (SICSÚ, 1997, p. 101).
O outro instrumento de política econômica que o governo pode usar
para estabilizar a demanda agregada é a política fiscal, que deve ser usada
principalmente em épocas de crise para compensar a queda na demanda privada
por investimentos. O governo deve aumentar os gastos suficientes para voltar ao
equilíbrio pré-crise ou diminuir os impostos, que devem ser maior que o aumento do
gasto, pois o efeito multiplicador dos impostos é menor do que os dos gastos, o
governo pode também utilizar os dois instrumentos de política fiscal. A figura abaixo
apresenta o efeito da queda dos investimentos e depois do aumento dos gastos do
governo para compensar a queda da demanda (FROYEN, 1999, p. 113-115).
FIGURA 10
(FONTE: FROYEN, 1999)
45 3.4 O Mercado de Trabalho e os Salários
Keynes concorda com a curva de demanda por trabalho
marginalista, colocando que em virtude da produtividade marginal decrescente, o
nível de emprego e o salário real estão inversamente correlacionados. No entanto
esse afirma que a curva de oferta por trabalho não existe, invalidando a hipótese de
que o salário real é igual à desutilidade marginal do trabalho (BIELSCHOWSKY;
CUSTÓDIO, 2011, p. 63).
Os argumentos de Keynes para refutar a curva de oferta de trabalho
estão elencados a seguir: primeiro para ele os trabalhadores não podem fixar o
salário real (W/P), pois quando estes decidem o salário nominal, os preços são
determinados ex-post pelos empresários. Segundo os trabalhadores não deixam seu
emprego (reduzindo a oferta de trabalho) em função de um aumento nos preços e
ainda esse diz, que uma queda no salário nominal reduz o custo marginal, reduzindo
os preços sem afetar o salário real, assim esse refuta a tese neoclássica de que uma
queda no salário nominal provocaria queda no salário real, equilibrando o mercado
de trabalho. A conclusão de Keynes coloca em cheque a determinação do produto e
do emprego pela oferta e demanda de trabalho, e este apresenta que o emprego e
do produto é determinado pela demanda agregada (BIELSCHOWSKY; CUSTÓDIO,
2011, p. 64).
A taxa de salário também é um fator importante na teoria de
Keynes, pois esta influência a produção e o emprego. Existe uma controvérsia entre
a teoria clássica e a keynesiana no que diz respeito à relação entre a redução da
taxa de salários e o emprego, os clássicos afirmam que uma diminuição na taxa de
salários aumenta o emprego e restabelece o equilíbrio de pleno emprego, na medida
em que diminuem os salários os preços diminuem consequentemente aumenta a
demanda por bens e os lucros, assim aumentam a contratação de empregados
aumentando o emprego até o ponto de equilíbrio de pleno emprego (DILLARD,
1989, p. 189-190).
A teoria clássica falha em não ter uma teoria da procura efetiva, a
suposição de uma diminuição nos salários aumentar o emprego só vale para uma
única indústria. Quando se trata da economia em geral uma diminuição nos salários
não causa aumento do emprego, pois o benefício da diminuição dos custos ao
emprego será anulado pela diminuição da procura efetiva e a diminuição desta pode
46 até aumentar o desemprego. Assim quando os clássicos propõem uma solução para
o desemprego com a diminuição dos salários na prática se mostra desastrosa até
podendo causar efeito contrário (DILLARD, 1989, p. 190-191).
Keynes não nega a importância da oferta de trabalho para a
determinação do emprego mais coloca este como um fator de importância
secundária (KEYNES, 1936, p. 192).
Os Keynesianos verificam que a economia é instável devido à
instabilidade da demanda agregada, principalmente aos investimentos privados que
é um componente da demanda agregada. Para Keynes a demanda agregada afeta o
produto e o emprego. Consequentemente no curto prazo, as oscilações da demanda
agregada causam, flutuações na produção e no emprego. Para estas flutuações
Keynes apresenta como solução o uso das políticas monetária e fiscal, que visam
compensar essas flutuações na demanda agregada. Os Keynesianos são
intervencionistas e defendem políticas ativas para controlar a demanda agregada
(FROYEN, 1999, p. 236).
47
4 Um Paralelo entre Keynes e os Clássicos O presente capítulo que se discorre busca fazer uma comparação ou
um paralelo entre os dois capítulos anteriores mostrando suas diferenças
fundamentais.
Para Jean Baptiste Say representante da teoria econômica clássica
o pleno emprego do trabalho e dos demais fatores de produção é situação normal no
sistema econômico, isto é justificado pela Lei de Say que supõe que a oferta cria sua
própria procura, ou seja, todo o produtor produz suas mercadorias visando trocá-las
por outras de outros produtores (DILLARD, 1989, p. 17-18).
Dentro de uma economia monetária a hipótese acima seria válida a
partir de que todos os rendimentos gerados no processo produtivo são direcionados
para os gastos em bens e serviços e o excedente da renda são encaminhados para
a poupança que se converte em gastos com investimento automaticamente, sendo a
taxa de juros responsável pela igualdade entre poupança e investimento, de modo a
garantir o pleno emprego (MOREIRA, 2005, p. 411).
O axioma da ergodicidade permite que toda renda encaminhada
para a poupança se transforma em investimento automaticamente, pois este axioma
diz que os agentes econômicos (empresários) têm conhecimento perfeito da
realidade econômica futura a partir de informações passadas e presentes
(MOREIRA, 2005, p. 415).
Keynes diz que situação normal do capitalismo é de uma atividade
econômica flutuante que vai do pleno emprego ao desemprego e o seu pressuposto
é que o emprego incompleto é normal (DILLARD, 1989, p. 5).
O pressuposto é baseado na não igualdade entre renda e gastos,
os gastos com investimento dependem dos rendimentos esperados no futuro e não
são feitos automaticamente, pois as informações do passado e do presente são
insuficientes para os agentes tomar a decisão de investir (MOREIRA, 2005, p. 418).
Dentro da teoria clássica a taxa de juros é o fator que equilibra a
oferta de poupança e a demanda por investimento, os investimentos são os recursos
procurados para investir e a poupança é a oferta desses, sendo a taxa de juros o
preço que iguala a poupança e o investimento (KEYNES, 1936, p. 143).
48
Para Keynes (1936, p. 137), a taxa de juros é a recompensa da
renúncia à liquidez, ou seja, é o preço que se paga para o individuo dispor de seu
dinheiro ou sua liquidez.
No modelo clássico citado por Froyen (1999, p. 55), os
determinantes do produto e do emprego, está no mercado de trabalho e na função
produção, neste modelo o produto e o emprego é determinado por fatores
associados à oferta. Segundo Bielschowsky e Custódio (2011, p. 63), o equilíbrio do
mercado de trabalho determina o produto e o emprego, ou seja, o equilíbrio entre
demanda e oferta de trabalho.
Já a função de produção determina a produção e o emprego a partir
de mudanças tecnológicas, assim como mudanças no estoque de capital. As
mudanças tecnológicas e no estoque de capital altera a produtividade do
trabalhador, consequentemente alterando a demanda por trabalho (FROYEN, 1999,
p. 56-57).
Para Keynes o emprego e a renda dependem da propensão
marginal a consumir, da eficiência marginal do capital e da taxa de juros. A escala da
eficiência marginal do capital depende do volume de equipamento existente assim
como das expectativas do empresário em longo prazo. A renda nacional depende do
emprego, já a taxa de juros depende do estado da preferência à liquidez e da
quantidade de moeda ofertada pela autoridade monetária (KEYNES, 1936, p. 191-
192).
Keynes não nega a importância do mercado de trabalho para a
determinação do produto, mas diz que este tem importância secundária (KEYNES,
1936, p. 192).
E em relação à função produção na determinação do produto e da
renda está ligada mais na teoria do crescimento econômico que é de longo prazo, a
função produção estaria ligada a mudanças na capacidade de produção na
economia ao longo do tempo, no curto prazo quem determina produto e renda é a
demanda agregada (SIMONSEN; CYSNE, 2007, p. 234).
Para os clássicos segundo Keynes (1936, p. 143), a taxa de juros é
o “preço” que equilibra a demanda por investimento e a oferta de poupança.
Bielschowsky e Custódio (2011, p. 64), diz que a escola clássica incorre em erro
teórico, pois de acordo com essa análise a poupança determinaria o investimento,
sendo que as duas eram reguladas pelos juros para manter o seu equilíbrio. Em
49 Keynes quem determina a poupança é o investimento sendo o contrário da análise
clássica, a poupança seria o resíduo da renda depois do consumo ser feito, como o
consumo depende da renda e a renda do investimento, investimento determina
então a poupança que é igual ao investimento no equilíbrio entre oferta e demanda
agregada.
Tanto na Lei de Say assim como na Teoria quantitativa da moeda, a
moeda era apenas um facilitador das trocas comerciais, não tendo função o seu
entesouramento, assim a moeda não afetaria a economia real no longo prazo sendo
neutra, apenas afetaria os preços (MOLLO, 2004, p. 326).
Ao contrário Keynes diz que a moeda afeta a economia real através
da taxa de juros, que determina o emprego e a renda, sendo então a moeda não
neutra. A moeda representa mais do que um meio de troca, é uma reserva de valor,
sendo a moeda o ativo mais líquido, nos momentos de alta incerteza dos
investidores a moeda surge como proteção aos riscos que a economia real pode
trazer (BIELSHOWSKY; CUSTÓDIO, 2011, p. 68-69).
Pigou como representante da escola neoclássica, um clássico para
Keynes, explica a causa do desemprego de curto prazo devido aos problemas no
mercado de trabalho. Para este a causa do desemprego estaria no alto nível de
salário real, que seria acima do salário que equilibra a oferta e a demanda por
trabalho (ARTHMAR, 2005, p. 195).
O salário real alto era resultado da intervenção do governo através
de políticas de seguro desemprego, políticas de salário mínimo e da força sindical
através de pressões para o aumento dos salários reais acima do nível de equilíbrio.
Assim sua solução para o desemprego seria a queda dos salários reais para o
restabelecimento do equilíbrio do mercado com pleno emprego, de modo que sem
essas intervenções externas (governo e sindicatos) o mercado levaria
automaticamente ao equilíbrio de pleno emprego (ARTHMAR, 2005, p.195).
Em Froyen (1999, p. 89), Keynes coloca como causa do
desemprego a insuficiência de demanda agregada, que estaria muito baixa devido
aos baixos investimentos, sendo este o mais importante fator para as explicações
das variações no emprego e na renda. Keynes em resposta a tese, que Pigou
defendia para solucionar o problema do desemprego, diz que a proposta dele era
duvidosa, pois os salários reais não estariam sendo determinados pelas
negociações entre empresários e trabalhadores, e sim pelas expectativas de vendas
50 dos empresários. Apesar de colocar que a tese de Pigou seria duvidosa, Keynes diz
que sua eficácia estaria em diminuir a demanda de moeda devido à diminuição de
salários e preços, consequentemente haveria um recuo na taxa de juros que
aumentaria os investimentos, aumentando assim o emprego, mecanismo conhecido
como “efeito Keynes” (ARTHMAR, 2005, p. 196).
A dúvida de Keynes em relação ao efeito da política que Pigou
defendia, estaria no seu impacto negativo na demanda agregada que poderia anular
ou até piorar o efeito da política pigouviana. Assim devido à diminuição dos salários
o consumo podia diminuir mais ainda e os investimentos também, causando assim
uma piora maior no desemprego. Keynes então optou por uma solução através de
políticas via expansão da oferta de moeda e também pelos gastos públicos. A
expansão da oferta de moeda teria como consequência, uma queda na taxa de juros
e, por conseguinte aumento nos investimentos e por fim no emprego. Os gastos
estimulariam a demanda agregada com mais consumo e investimento, aumentando
por fim o emprego (ARTHMAR, 2005, p. 196).
51
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto este trabalho alcançou o objetivo de mostrar que o pleno
emprego dos fatores de produção é uma exceção e não uma regra, como se
verificou na crise de 1929, em que 25% da população economicamente ativa dos
Estados Unidos da América ficou desempregada e que nem toda essa população
era formada por desempregados voluntários, friccional e sazonal, mas também por
desempregados involuntários. Os economistas clássicos se mostraram “ingênuos”
como diz Keynes, em acreditar que o mercado se auto-regularia de modo a
proporcionar o pleno emprego e maximização da utilidade de todos os agentes
econômicos.
A crença dos clássicos no mercado que funciona perfeitamente, não
necessitando da intervenção do estado na economia está na crença na Lei de Say,
na Teoria Quantitativa da Moeda e na determinação do emprego e do produto
determinado unicamente pelo mercado de trabalho, além da função produção,
esquecendo assim da importância da demanda agregada, como acreditava Keynes
para explicar o emprego e a renda.
Assim Keynes intitula os Clássicos como geômetras euclidianos,
vivendo em um mundo não euclidiano, Keynes a seguir cita uma definição para a
natureza do sistema capitalista: Em especial, é uma das características essenciais do sistema econômico em que vivemos não ser ele violentamente instável, mesmo estando sujeito a severas flutuações no que concerne à produção e ao emprego. Na verdade ele parece apto a permanecer em condições crônicas de atividade subnormal durante um tempo considerável sem tendência marcado para a recuperação ou ao colapso completo. Ademais, a evidência prova que o pleno emprego, ou mesmo o aproximadamente pleno, é uma situação tão rara quanto efêmera. As flutuações podem começar de repente, mas parecem atenuar-se antes de chegar a grandes extremos, e o nosso destino é a situação intermediária, não propriamente desesperada e tampouco satisfatória. (Keynes, J.M. 1936. p.194)
A Lei de Say vem a valer só para uma economia de trocas ou
escambo, pois em uma economia monetária a questão da incerteza e da moeda,
52 permite que nem todo renda se transforme em consumo ou em investimento,
fazendo com que ajam fatores de produção ociosos. A moeda se mostra mais que
um facilitador das trocas comerciais e numerário, mas também como um ativo
importante garantindo liquidez em épocas de extrema incerteza dos agentes
econômicos.
Assim a moeda é usada também como reserva de valor que garante
riqueza para os agentes econômicos, além de ser usada no mercado financeiro para
especulação que às vezes se mostra mais favorável em relação ao mercado de bens
e serviços, e quando o mercado financeiro se apresenta desfavorável para as
aplicações, o dinheiro garante a riqueza dos agentes que os mantêm como riqueza
em mãos.
A questão da incerteza para Keynes esta relacionado há um futuro
que é imprevisível, improvável, não probabilístico. Esta incerteza em relação à
situação econômica futura abre espaço para os investidores se protegerem, assim
estes muitas vezes deixam de investir no presente, para esperar até que alguma
convenção social38 apresente algum otimismo em relação ao retorno dos seus
investimentos. Por isso que a variável mais importante da macroeconomia
Keynesiana é o investimento, que defini a variação no emprego e na renda, pois este
é muito flutuante, enquanto os outros componentes da demanda agregada são
praticamente constantes em relação ao tempo.
Já a Teoria quantitativa da moeda não vem a sustentar também,
pois, apesar de a moeda ser um fator que afetam os preços, a moeda tem impacto
no setor real também no longo prazo, através das flutuações da oferta monetária
esta afeta taxa de juros, que afetam os investimentos, afetando emprego e renda.
Uma vez que a taxa de juros indica ao investidor uma escala da eficiência marginal
do capital suficiente para cobrir os custos dos empréstimos, estes mudam sua
atitude caso estejam pessimistas e começam a ficarem otimistas e começam a
investir, o que influência suas expectativas do longo prazo também, na medida em
que o presente esteja garantindo o retorno dos investimentos, eles investirão
também futuramente, determinando assim que a moeda influência o setor real no
38 A convenção social é na verdade a crença da sociedade em geral sobre os acontecimentos que poderão vir a ocorrer sendo ela ou não correta. Dado que o futuro é incerto é adotado um juízo convencional ou uma convenção social que permita que os agentes guiem por essas projeções. Esse juízo convencional, assim como futuro esta em bases frágeis de modo que uma piora na confiança dos agentes faz esses deslocarem desse juízo e começarem a diminuir suas inversões e a buscar
53 longo prazo.
A alternativa de Pigou para combater o desemprego esta baseada
em uma ação no mercado de trabalho, este propõe que os salários reais devem cair
para que a demanda de trabalho se iguale a oferta de trabalho. De acordo com ele
haveria um excesso de oferta de trabalho, pois os salários reias estavam além do
equilíbrio de pleno emprego devido à pressão dos sindicatos, as políticas do governo
para combater o desemprego que pressionavam os salários acima do equilíbrio,
fazendo com que as empresas não contratassem esse excedente de mão de obra,
pois seu preço estava caro e inviável para a produção. Assim a proposta é que
através da queda dos salários reais, permita que os empresários voltem a contratar
esse excedente restaurando o pleno emprego.
Keynes se mostra cético com essa medida que apesar de
apresentar uma consistência lógica formal, ela não da importância à demanda
agregada, pois esta que determina o emprego e a renda para Keynes sendo muito
mais importante que o mercado de trabalho, as consequências da medida proposta
por Pigou poderia ser neutra e até negativa, na medida em que a queda dos salários
reais diminuam o consumo dos trabalhadores reduzindo assim a demanda agregada
e a renda e o emprego consequentemente.
Keynes mostra a alternativa para as grandes crises, depressões e os
ciclos econômicos através das políticas fiscais expansionistas e da política
monetária. A política monetária através do aumento da oferta de moeda diminuiriam
os juros que aumentaria o investimento em épocas de crise, recuperando os níveis
da demanda agregada no patamar do período pré-crise, restaurando o emprego e a
renda.
Keynes se mostra mais otimista e coloca como mais importante à
política fiscal do que a monetária, pois esta apresenta certa defasagem39 de tempo
para afetar a demanda e afeta indiretamente a demanda agregada. Nas épocas de
crise a economia poderia estar num estado em que as taxas de juros estavam tão
baixas, que se baixassem mais ainda não eram suficientes para os capitalistas
investirem, pois a eficiência marginal do capital estava muito baixa e, portanto uma
nova diminuição nas taxas de juros não afetaria o investimento devido que a
outros ativos que sejam mais líquidos como a moeda. 39 A defasagem da política monetária é devido ao tempo que se leva para essa política fazer efeito, através do aumento da base monetária que afetaria as taxas de juros que então após isso poderia
54 eficiência marginal do capital é mais importante que a taxa de juros para a
determinação dos investimentos. Keynes chamou o estado em que a taxa de juros
estariam muito baixas e que uma nova queda dessa não afetaria o investimento de
armadilha de liquidez40.
A política fiscal para Keynes é a melhor saída para as crises e
também para amenizar os ciclos econômicos, devido a esta afetar diretamente a
demanda agregada. O governo através do aumento de gastos correntes ou dos
investimentos em infraestrutura, e de diminuição dos impostos aumentaria o
consumo e incentivaria ao aumento da demanda privada por investimentos, que
aumentaria a demanda agregada e, portanto o emprego e a renda, trazendo o
emprego para próximo do pleno. Os financiamentos desses gastos seriam de acordo
com Keynes principalmente através da emissão de títulos públicos, que poderia
desequilibrar em certa forma as contas governamentais no curto prazo, mais que
seriam essas restabelecidas no longo prazo através da maior atividade econômica e
consequentemente das receitas do governo que financiaria automaticamente o
déficit público. O financiamento dos gastos através do aumento dos impostos teria
uma influência menor no seu efeito de aumentar a demanda agregada, pois esta
seria prejudicada com a diminuição da renda disponível.
Keynes nunca pediu para que os governos fossem imprudentes em
seus gastos como interpretam outros trabalhos como políticas keynesianas, pediu
que o governo devesse ter certo déficit em suas contas, mas só em apenas em uma
das suas contas e que fosse de maneira que não comprometessem o governo a
honrar suas dividas, assim alguns trabalhos científicos distorcem a teoria
Keynesiana em dizer que esta é uma política de imprudência fiscal, na verdade a
teoria Keynesiana e suas aplicações políticas se mostra uma política de soluções
para as crises e para amenização dos ciclos econômicos.
afetar a demanda agregada, levando então certo tempo para afetar a economia. 40 A armadilha de liquidez acontece quando as taxas de juros estão a um nível muito baixo e que a diminuição desta já não tem poder de afetar o nível de investimento.
55
REFERÊNCIAS AMADO, Adriana Moreira. Limites Monetários ao Crescimento: Keynes e a Não-
Neutralidade da Moeda. Ensaios FEE, Porto Alegre, v.21, n.1, p.44-81, 2000.
ANDRADE, R. P. Expectativas, Incerteza e Instabilidade no Capitalismo: Uma
Abordagem apartir de Keynes. Revista de Economia Política, São Paulo, v.7, n.2,
p. 81-95, abr./jun. 1987.
ARTHMAR, Rogério. Pigou e a Revolução Keynesiana. Economia e Sociedade,
Campinas, v.14, n.2 (25), p.193-213, jul./dez. 2005.
BIELSHOWSKY, Pablo; CUSTÓDIO, Marcos da Cunha. Keynes: A Crítica ao
Modelo Clássico e a Criação da Macroeconomia. Revista Eletrônica Novo Enfoque, Rio de Janeiro, v.13, n.13, p.62-71, 2011.
BRUE, Stanley L. História do Pensamento Econômico. 6ed. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2005.
CORAZZA, Gentil; KLEMER, Rodrigo L. Friedman e o Monetarismo: A Velha Teoria
Quantitativa da Moeda e Moderna Escola Monetarista. Revista Análise Econômica, Porto Alegre, n.40, p.65-87, set. 2003.
DAVIDSON, Paul. Resgatando a Revolução Keynesiana. In: SICSÚ, João; LIMA,
Gilberto Tadeu (Org.). Macroeconomia do Emprego e da Renda: Keynes e o
Keynesianismo. 1ed. Barueri: Manole, 2003. p.3-28.
DILLARD, Dudley. A Teoria Econômica de John Maynard Keynes: Teoria de uma
Economia Monetária. 6. ed. São Paulo: Livraria Pioneiro Editora, 1989.
FILHO, Fernando Ferrari. As Concepções da Teoria Monetária de John Maynard
56 Keynes: Um Exercício Cronológico. Revista Análise Econômica, Porto Alegre,
n.13, p.121-132, mar.1990.
FILHO, Fernando Ferrari. Os “Keynesianos Neoclássicos” e os Pós-Keynesianos.
Ensaios FEE, Porto Alegre, v.12, n.2, p.340-348, 1991.
FROYEN, Richard T. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
GALBRAITH, J. K. A Era da Incerteza. 9. ed. São Paulo: Pioneira, 1998.
KEYNES, J. M. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. 1. ed. São
Paulo: Atlas, 2007.
LOPES, João do Carmo; ROSSETI, José Paschoal. Economia Monetária. 7ed. São
Paulo: Atlas S.A., 1998.
MARSHALL, A. Princípios de Economia. 1. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
MOLLO, M.L.R. Ortodoxia e Heterodoxia Monetárias: A Questão da Neutralidade da
Moeda. Revista de Economia Política, São Paulo, v.24, n.3, p. 323-343, jul./set.
2004.
MOREIRA, R. R. “A Derrota da Lei de Say”: Elementos Teóricos Fundamentais e
algumas Implicações Metodológicas e Dinâmicas. Revista de Economia Contemporânea, Rio de Janeiro, v.9, n.2, p. 411-431, mai./ago. 2005.
MOREIRA, R. R. Relativizando o Dilema da Estabilidade versus Instabilidade: Keynes, o Mainstream e o conceito de Bifurcação na Economia. Revista de Economia, Espírito Santo, v.7, n.1, p.189-216, jan./jul. 2006.
NUNES; Selene Peres Peres; NUNES, Ricardo da Costa. Mercado de trabalho em
Keynes e o papel da rigidez de salários nominais. Revista de Economia Política,
São Paulo, v.17, n.3 (67), p.105-119, jul./set.1997.
57 RICARDO, D. Princípios de Economia Política e Tributação. 1. ed. São Paulo:
Nova Cultural, 1996.
SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de Economia. 5. ed. São Paulo: Best Seller,
1999.
SAY, J. B. Tratado de Economia Política. 1. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
SICSÚ, J. A Negação da Ineficácia da Política Monetária: A Alternativa de Keynes e
dos Pós-Keynesianos. Revista Análise Econômica, Porto Alegre, n.28, p.80-107,
set.1997.
SIMONSEN, Mario Henrique; CYSNE, Rubens Penha. Macroeconomia. 3ed. São
Paulo: Atlas S.A., 2007.
WALRAS, Marie-Esprit Léon. Compêndio dos Elementos de Economia e Política Pura. 5ed. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
WICKSELL, Joan Gustav Knut. Lições de Economia Política. 5ed. São Paulo:
Nova Cultural, 1996.