Alguns apontamentos sobre a traduçom galega da General Estória do rei Afonso X, o Sábio

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Revisla de Lelras - UTAD n.o 4, 1999, pp. 49-66 Alguns apontamentos sobre a tradul;om galega da General Estoria do rei Afonso X, 0 Sabio Jose Henrique Peres Rodrigues Universidade de Vigo No ultimo quartel do sec. XIII iniciava-se, sob a direcyom do rei castelhano Afonso X, 0 Sabio, a compilayom e elaborayom de umha obra de tamanho e aspirayoes descomunais em que se pretendia recolher toda a hist6ria escrita da humanidade. 0 resultado de tal empresa vai ser a conhecida como General Estoria, urn manuscrito em prosa em que se narra desde as origens mesmas do mundo, tiradas como era l6gico dos capitulos do Genese, ate a sua pr6pria epoca. Escrita em castelhano originalmente, esta obra conta tambem com duas traduyoes para 0 galego-portugues medieval, umha gal ega e a outra portuguesa. A portuguesa conserva-se apenas em fragmentos isolados que forom resgatados polo P. Avelino da Costa na Torre do Tombo; mas a traduyom galega, anterior, realizada a comeyos do sec. XIV, alcanya toda a primeira parte da obra, em conjunto seis livros e meio que compreendem em total uns 153 f6lios. Desconhece-se 0 nome do autor da traduyom' , ainda que se suspeita por umhas anotayoes a margem situadas na parte final do manuscrito que se poderia tratar de urn desconhecido N uno Freyre. Neste pequeno trabalho pretendemos analisar a presenya de certos castelhanismos' nessa traduyom para, a partir dai, contribuir a detellllinar quais foram as relayoes entre 0 galego da Galiza e 0 castelhano neste periodo ever ate que ponto estava afectado ja nessa epoca 0 galego da Galiza pol a pressom castelhana. 49

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Revisla de Lelras - UTAD

n.o 4, 1999, pp. 49-66

Alguns apontamentos sobre a tradul;om galega da General Estoria do rei Afonso X, 0 Sabio

Jose Henrique Peres Rodrigues

Universidade de Vigo

No ultimo quartel do sec. XIII iniciava-se, sob a direcyom do rei castelhano

Afonso X, 0 Sabio, a compilayom e elaborayom de umha obra de tamanho e

aspirayoes descomunais em que se pretendia recolher toda a hist6ria escrita da

humanidade. 0 resultado de tal empresa vai ser a conhecida como General

Estoria, urn manuscrito em prosa em que se narra desde as origens mesmas do

mundo, tiradas como era l6gico dos capitulos do Genese, ate a sua pr6pria

epoca. Escrita em castelhano originalmente, esta obra conta tambem com duas

traduyoes para 0 galego-portugues medieval, umha gal ega e a outra portuguesa.

A portuguesa conserva-se apenas em fragmentos isolados que forom resgatados

polo P. Avelino da Costa na Torre do Tombo; mas a traduyom galega, anterior,

realizada a comeyos do sec. XIV, alcanya toda a primeira parte da obra, em

conjunto seis livros e meio que compreendem em total uns 153 f6lios.

Desconhece-se 0 nome do autor da traduyom' , ainda que se suspeita por

umhas anotayoes a margem situadas na parte final do manuscrito que se poderia

tratar de urn desconhecido N uno Freyre.

Neste pequeno trabalho pretendemos analisar a presenya de certos

castelhanismos' nessa traduyom para, a partir dai, contribuir a detellllinar quais

foram as relayoes entre 0 galego da Galiza e 0 castelhano neste periodo ever

ate que ponto estava afectado ja nessa epoca 0 galego da Galiza pol a pressom

castelhana.

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Analise de Variantes

Procederemos em primeiro lugar a mostrar aqueles casos em que

expressoes originariamente galegas convivem com expressoes castelhanas para

a representayom de urn mesmo significado ao longo da obra, tentando advertir

se existe algurn valor acrescentado nas expressoes castelhanas ou se a sua co­

presen\\a e mostra quer simplesmente de urn processo de substituiyom sem

repercussoes sincronicas do ponto de vista semantico quer de urn processo de

"excesso de fidelidade" ou urn descuido por parte do tradutor. A este respeito e

necessario ter em conta qual era a considerayom que as pessoas da epoca merecia

a relayom entre 0 castelhano e 0 galego-portugues, romances em que, como

sinala 0 professor Jose Luis Rodrigues (1983: 8), "dada a (sua) similitude

estrutural, na epoca muito mais acusada que na atualidade, so estamos em

situayao de detectar alguns castelhanismos lexicais, ou porventura morfologicos,

com base indispensavel na fonetica rustorica". 0 certo e que, em qualquer

caso, existia sem duvida consciencia plena da diferenya linguistica, 0 que se

pode advertir em certos trechos de que falaremos depois, mas tambem e certo

que 0 caracter e funyom de Ifngua nacional e desenvolvido quase exclusivamente

polo latim, sobretudo no caso galego: " ... et este libra no achamos queo ajamos

traslladado os latynos do arauigo eno nosso". (134, 7)3. As diferentes Ifnguas

ramanicas percebe-se como correspondia cIaramente urn caracter dialetal ou

de "lenguages": " ... et alcfar eno arauigo tanto quer dizer ena nossa lenguage

como amarelos" (279, 19-20).Asituayom seria comparavel a que se da hoje no

mundo arabe, onde 0 arabe cIassico, que desenvolve a funyom de lingua

nacional, nom e compreendido pola maioria da populayom, falante de diversos

dialectos surgidos a partir dessa lingua. Destarte, muitas vezes 0 autor precisa

de fazer esclarecimentos como este: " ... foy dita esta palaura, que diz asi eno

noso laty: 'Ego som dominus deus tuus qui aduxite de ur caldeorum' et esto

quer dizer asi eno noso lenguage: ... " (148, 34-35). Tudo isto serve-nos para

situar-nos mentalmente na epoca e compreender 0 canlcter que tinham os

relacionamentos entre as linguas. Nurnha situayom diglossica como a descrita

nom e esperavel em principio urn especial cuidado com 0 dialecto no senti do

de priva-lo de influxos alheios. Esse cui dado, se existir, era reservado para 0

latim. Por isso nom deve surpreender a entrada maciya de castelhanismos nos

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textos gal egos, mas tambem nom devemos pensar que se tenha tratado de urn

simples caso de "osmose ingenua" entre entidades de cuja total diferenciayom

o tradutor nom teria sido consciente.

Sem mais considerayoes passaremos de imediato a enunciar as variantes

galego-castelhanas recolhidas na nossa leitura.

ADORAR A I ADORAR

Na traduyom unicamente se refletem as vacilayoes do original que deviam

ser correntes no castelhano da epoca, pois que se estava precisamente gestando

nessa lingua 0 emprego da preposiyao a com 0 CD, que vai chegar ate os nossos

dias. Actualmente emprega-se unicarnente quando 0 referente do CD e de tipo

[+ animado). Note-se que no texto pode ter a funyom de proporcionar natureza

animada aos elementos referidos.

Este uso tam marcado da preposiyao a com CD nom se conservou no

galego posterior" polo que se pode supor uma aquisiyom gratuita pOT parte do

tradutor. 0 mesmo fenomeno acontece em "destroyse aSodoma e aGomorra"

(J 90,27-28).

o ARUORE I AARUORE

Ha umha maioria de ocorrencias que registram genero feminino , frente a

duas apenas que 0 registram masculino, como no castelhano: (188, 25) e (190,

29-30). Nom parece refletir qualquer diferen<;:a significacional.

OBISPO I BISPO

Nalgum caso, dada a peculiar representayom do artigo (encostado no

verbo) que se pode achar nestes textos galegos em prosa, resulta dificil decidir

qual das formas empregou 0 autor: "Onde diz sobre este lugar Lucas, obispo

de Tui, ... " (J29, 33). Em qualquer caso abundam mais as fonnas castelhanizadas.

CARPENTARIA I FILA.DERIA

Em toda a obra se acha presente 0 sufixo galego-portugues -ARIA, excepto

na palavra fiHideria (1 04,32) que e lexicalmente urn castelhanismo (fia<;:om).

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CARUALLO/RROBRE No texto aparece sempre rrobre, com certeza por decalco do original

castelhano. Registra-se caruallo umha s6 vez, na expressom: " .. . et atados co

vyncallos de caruallo toryidas ... " (90, 26). Em qualquer caso, descartar rrobre

definitivamente como fOlllla nom gal ega parece algo precipitado, mormente

quando se tern conservado na Galiza top6nimos e sobrenomes como reboredo.

DONA/DONA •

E dificil decidir se existe realmente uma variante com nasal palatal desta

expressom, e portanto castelhanizada, ou se se trata apenas de uma variante

ortogrMica. Para observar 0 problema no seu conjunto convem olhar as outras

alternancias deste tipo que se registram ao longo da obra: gaanar/ gaanar (cast.

act. "ganar" - ganhar-); rreyna/ rreyna (cast. act. "reina"- rainha-); prene/prenada;

estrayo; conosyer; pena; panos; sonnos ... Em principio temos de ter em conta

duas circunstancias : A prime ira e que nos estamos defrontando com a

representayom de dous fonemas, 0 nasal alveolar e 0 nasal palatal, e de urn

fone, a nasalidade vocaIica' . Da nasal palatal e da nasalidade vocaIica pode-se

dizer que nom existe entre elas umha diferenya absoluta, mas umha transiyom

gradual, pois ainda hoje e possivel advertir pronuncias intermedias em certas

variedades luso-brasileiras. Prova desta transi90m temo-la em testemoyo ou

estrayo. A segunda circunstancia a ter em conta e que nos defrontarnos tambem

com trt!S possiveis representayoes gnificas: 0 <n> simples; 0 <nn> duplo, que

pode ser representado por <nn>, <n'>, <-- ->, <-n>, <ii> e a nasalidade vocalica,

que pode tambem ser representada por <- >' , <'> ou por procedimentos diversos

tais como a repeti90m de vogal nasalada, 0 usa de acentos graves ou inclusive

o emprego de urn <n> simples intervocalico como deduzem viirios autores: ver

Jose Luis Rodriguez (1983: 12) ou Amable Veiga (1987: 241 e ss.). A partir dai

coligimos que:

aranha: poderia representar-se: arana, arana, araa, araya e inclu-•

Slve arona

duna: poderia representar-se: duna, duna

boa: poderia representar-se: bOa, boa, booa, booa, bona

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Advertem-se, pois, diversos casos de confluencia em que umha grafia

pode representar ate os tres fonemas aludidos. Corresponde agora decidir a

soluyom mais correcta para cada caso. Em casos como gaanar (111, 18), gaanou

(11,20), gaanou (113, 33) ou gaiinase (160, 14) apostarnos sempre por uma

pronuncia palatalizada ou afim a esta que exclui 0 possivel castelhanismo,

devido a que de urn ou outro modo sempre parece querer marcar-se a

"nasalidade" no primeiro a. Cremos que 0 mesmo cabe dizer para rreynas (97,

33) ou rreynas (98, 21)7. Em todos os casos parece existir umha pronlincia

nasal palatalizada que pode estar representada apenas pelo -n- intervocalic08 •

A inflexom do a seria urn mero recurso grafico castelhanizante como todos os

que aparecem frequentemente no texto, apoiado talvez numha pronuncia

tambem palatalizada do a.

Noutros casos produz-se uma altemancia grafica entre 0 <n> simples e 0

<nn> duplo, sendo a nom palatalizada a fOlJl1a legitima galega: pena (46,23), ,

pena (88, 25), dona (255, 23), dona (255, 24-25), piino (104, 27). E dificil

tarnbem deduzir qual a pronuncia real dos <nn> duplos. Em principio, tendo

em conta tam bern a pervivencia de alguns desses castelhanismos em galego

actual, poderia aceitar-se a pronnncia palatal polo menos para 0 caso do <nn>

duplo. No entanto, parece estranho que 0 <nn> duplo nunca se tenha efectivado

na sua representayom mais "completa", tal e como acontece frequentemente

no caso de sonno (sonho) (271, 6; 293, 28 ... ) que se escreve assim com certeza

para evitar a confusom com sono'. 0 uso "completo" do <nn> duplo seria

marca inequivoca de palatalidade. Portanto, acreditamos que nestes casos acima

citados nom existe palatalidade e consequentemente castelhanismo, mas apenas

uma marca de nasalidade.

DIABLO I DIABRO

Trata-se da mesma altemancia que no caso de PLOUVO/PROUVO.

DUBDA I DULDA Apassagem para -1- do primeiro elemento dos grupos latinos B'T, D'C ...

e urn trayo propriamente leones que afectou 0 galego-portugues (julgar) e

tambem 0 castelhano (nalga -nadega-). cfr. infra.

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GENERAL I GEERAL Achamos que se pode tratar de diferentes representa90es da mesma fOl lila,

com 0 <n> no primeiro caso representando apenas a nasalidade vocalica.

Existem bastantes evidencias desta hip6tese, como po de ver-se entre outros ,

nos autores Jose Luis Rodriguez eArnable Veiga Arias, ja citados. A

interpretayom de "general", muito mais abundante, como urn castelhanismo,

em todo 0 caso, ficaria it vontade de cada leitor.

JUDIO I JUDEU

Neste caso achamo-nos frente a uma verdadeira variante lexica motivada

polo influxo do castelhano sobre 0 galego. A forma castelhanizada e mais

abundante, talvez tambem polo caracter de tradUl;:om que tern esta obra: mas

ambas as fOllnas se documentam suficientes vezes como para descartar os

descuidos ou erros tradutol6gicos. Tudo isto sugere a possibilidade de que possa

existir talvez alguma especializayom semantica operando a nivel sincr6nico

para cada urn dos membros da parelha.

Realizamos, pois, urn levantamento de cada uma das ocorrencias tratando

de visar 0 contexto em que apareciam e tratando de comprovar se este as

deterrninava de algumha forma. Achamos 33 ocorrencias parajudio e 10 para

judeu. Delas excluimos aquelas que constituissem ja expressoes feitas ou nomes

pr6prios , como "".terceiro libro da antiguydade dos judios" (99, 17-18):

"catyvydade dos judios" (153, 33-34)"; "aEstoria dos judios" (241,5-6)". e

ficarom em total 27 ocorrencias parajudio frente a 10 parajudeu. Tendo em

conta que a obra estudada tern 0 caracter de traduyom a partir do castelhano

devemos admitir judio como "tenllo nom marcado", pois e a forma exclusiva

do castelbano. Deveremos, pois, centrar-nos sobretudo naquelas ocasioes em

que 0 autor decidiu traduzir realmente parajudeu a forma castelhana.

Das dez formas de tipo judeu vemos que sete delas se referem

principal mente aos judeus biblicos, os do Antigo Testamento e, portanto, povo

escolhido de Deus, nom se apreciando nelas umha atitude negativa para 0

referente por parte do autor: "Teuero despoys os judeus que vyiia de Eber, que

foy da lyiia de Sem et outrosy os de Jafet," (73, 2-3); "Depoys toma esta rraz6

enque os judeus destroyrom aqueles sete pouoos dos cananeos co todas suas

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gentes ... Et poblarom as despoys os judeus co outros omes de outras copanas

et co outros das terras et yidades ... " (75, 3-7). Das tres restantes apreciam-se

contextos ambiguos. Em "Et por esto lie mandou Deus que fezesse pera sy hiia

arca ... et que labrase esta arca ( ... ) Et todas estas camaras .. . ontrelos omes et as

suas anymalias ... et quelle fezesse em yima eno teyto hUa feesta. Et diz oebrayco

et meestre Pedro co os Judcos que foy como vidreyra;" (36-24; 37-18) e " ... diz

asi meestre Pedro ... , que dizem os judeus que esto no he de creer, que Loth

podese fazer fillos em suas fillas daquela guysa; ... " (215, 15-17). Meestre Pedro

parece estar citando tambem 0 Antigo Testamento. Em "donde viero os ysrrelitas

que agora som os judeus." (265, 34-35), muito mais dificil de explicar, pode

ter acontecido uma contaminayom ou deslizamento de significado a partir de

"ysrraelitas" .

Das 27 fOllnas de tipo judio polo menos 17 referem-se aos judeus olhados

como coetaneos, como vizinhos quase sempre indesejados das vilas e cidades

europeias da Baixa Tdade Media'o: "et par esta rrazo de Y saac yircondam agora

os judios ... " (218, 8-9); "Et dizem os judios que Y smael fazia ymages de barro,"

(219,8-9).

Em 10 casos, quando menos, dentro dos 27 iniciais, manifesta-se ja urnha

clara tendencia negativa para eles: " .. . que quer significar anoso senor Thesu

Christo que fugio ao Egyto ante amaldade dos judios," (139, 4-5); "et diz ofrayre

que par esta rrazo se querem os falsos dos judios chegar adizer em seus escamos

que fay Ihesu Christo fillo de ferreyro," (139, 23-24), ficando apenas tres casos

que parecem fugir desta tendencia: "Et 0 que a1y primeiramete rreynou, ... , ouvo

nome Leobio et foy jUdio ... " (197, 11-13); "profeta que ouvo nome Malco,

que escriuio aEstoria dos judios." (241, 5-6) e "ca he casada con aquel judio,

et sua mulher he, et leyxalla." (276, 35-36).

Em conjunto, pois , a falta de mais comprovayoes, contrastes e

levantamentos mais exaustivos, cremos que se poderia defender a

especializayom semantica em certo momenta dos dous membros da parelha

judeuljudio. Como acontece nestes casos de substituiyom Iinguistica 0 termo

"intruso", 0 castelhano, parece possuiruma conotayom mais modema na epoca:

o anti-semitismo. Parece como se a forma galego-portuguesa nom se tivesse

visto afectada polas conotayoes semanticas de crescente rechayo contra os judeus

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que yam levar it sua expulsom definitiva em 1492. Num trabalho monognifico ,

sobre a presenya judia na Galiza Jose Ramon Onega precisamente fomeceni

numerosos testemunhos historicos sobre esta situayom de maior tolerancia que

se teria vi vi do no nosso pais, onde habitaria grande numero de judeus a

conviverem pacificamente com os cristaos:

Durante los siglos XI, XII, XIII, XTV Y XV, la sangre judia riega generosamente la tierra de Espana, con la excepci6n de Galicia, donde no se conocen hechos colectivos sangrientos protagonizados por los cristianos (Onega, 1981 : 269).

JUSTl(:IA 1 JUSTl(:A

Registramos tres fonnas parajustil;ia e umha parajustil;a. Os contextos

de justiyia levam parelha umha conotayom de virtude: "Fezero aonrra das

bondades et vertudes, asy como aajusti~ia et alealdade" (96-34; 97-1); "et que

elles mandassem ao pobOo como ... se matevessem em justi~ia et em paz todos

los rreynos do seu senorio" (157, 29-31); "et matina aterra em paz, em justi~ia

abondada et gardada de toda cousa" (247, 26-27). Ajustir;a, porem, aparece

vista como opressom: "yam sse todos aly quando et cada quese viam em coyta

de fey to de justi~a quando lies acaesyiam cousas desaguisadas" (115,17-18).

Faltam mais exemplos para extrair qualquer hipotese. Outras altemancias deste

tipo presentes no texto som: grar;a/ grafia; codir;a/ codir;ia ...

YUAM/YAM ,

No texto predominam completamente as formas do tipo ya. E possivel

que yua (13 /36) seja apenas urn erro de traduyom.

LENGUA 1 LINGUA

Altemam as duas variantes com preferencia talvez para a primeira, 0 que

pode ser devido ao influxo do texto original. 0 mesmo se passa com linguagem

/ lenguage. Em qualquer caso, /engua(ge) repete-se suficientes vezes como

para pensar que tenha sido ja ace ito como variante na lingua de destino.

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LUNA/LOA

Poderia existir aqui uma certa especializa90m semantica, ainda que ha

muito poucos exemplos para afiumi-Io: luna referiria a lua como astra ou corpo

espacia!, conhecido sobretudo atraves da literatura: " ... et estas sete estrelas am

nome planetas (. .. ) et vam eles ordenados ontrasi desta guysa; et os yircos dos

seus yeos como seem em esta maneyra: Satumo, Iupiter, Mars, Sol, Venus,

Mercurio, Luna." (182, 28); " ... alyaro tanto aarca que queriam chegar ao yirco

da luna." (243, 21). Liia, no entanto, referiria a lua como parte da boveda ce­

leste, visivel desde a Terra: "alumeou os yeos et a terra co 0 sol, et co aliia, ... "

(4, 19); " ... et po so as eno finnamento: osol par 10 dia, et alua e as estrellas pera

anoyte." (4, 20-21); "Aliia outrasi ha as suas vezes et 0 seu poder, et volue 0

mar et mesturao, et volueo, et asy faz enas cousas da terra." (183,10-11) .

MALO/MAAO

Documentamos mala unicamente naexpressom: "Malo feziste et eu agora

te poderia todo esto demadar" (293, 35).

METALES / ESPANN60s ITAES

Predominam, com diferentes grafias, os plurais nounais, com queda de -

1-: infemaes (248, 4), terreaes (252, 28), taes (93 , 33), metaes (18, 17) ... A

founa espannoas, curiosamente, parece no entanto corresponder a urn singular

*espanhO « *espanhala), fOIlna proxima da conservada polo italiano atua!.

Tambem se pode tratar de urn simples recurso gnlfico. 0 mesmo aconteceria

com copanoas (249, 8).

Existem tambem algumhas founas em que se conserva 0 -1- intervocaJico:

sotyles (91 , 6), aueles -habeis- (98, 22), marrnoles (189, 11), presebeles (235,

27) , moueles (240, 26), metales (247, 24), soles (294, 24) ... No caso de

marmales e presebeles estamos, porem, frente a umha altemancia gnifica entre

-1- e -r- (cfr. infra). Nos demais casos e dificil tambem decidir se estamos perante

fOIlnas realmente castelhanizadas ou se se trata apenas de urn recurso gnifico

tambem castelhanizante ou simplesmente etimologizante, como no caso de -n­

( efr. supra).

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NEBLA/NOVOA Predomina a variante nebla, com seis ocorrencias: " ... et vio aquelas

neblas" (251, 15-16): " ... no vio nublo, ne nube, ne nebla" (251, 17) ... Aparecem

s6 dous casos de novoa: " ... et conjurou logo anube de novoa que fezera Jupi­

ter" (251,26) e nevoa: " ... fezo ... descender hua grande nevoa ... " (250, 34).

NIHO INIGO

Ignoramos se existia qualquer diferenya real de pronuncia entre as duas

fOImas: mas sim parece constatar-se urnha distribuiyom em certa medida regu­

lar que parece descartar qualquer possivel especializayom semantica. Ate a

pagina 31 achamos 10 ocorrencias de nihii frente a 8 de nigu. A partir de entom

a forma nigu torna-se quase exclusiva. Aparece isoladamente nihu na pag. 57:

"que nehua de quantas chuvias Deus fezera" (57, 7); na pag. 204: " ... que no ha

nehiia cousa eno mundo" (204, 35) e nas pags. 276: "ne lie fayas nenhua cousa ... "

(276,33-34) e 277: " ... no quiso Ysaac nehua cousa" (277, 34-35).

PE<;ESI PEIXES Aparece per;es, forma castelhanizada, no inicio da obra: "0 quinto dia

fezo os pe~es et as aues de todas maneyras et bendis66s;" (4, 22) . No resto dos

casos aparece a forma legitim a galega: "Venus ... se encobrio em fegura de

peyxe;" (138, 27-28); "negiia cousa do mudD que viuese, ne viua fosse, ne

peyxe, ne ave, ne aI, nose cria, nese pode aly criar." (211, 36-38) ...

PELIGRO I PRIGOOS Dada a instabilidade da oposiyom entre a liquida lateral e a vibrante no

texto estudado, e dificil estabelecer com certeza se a primeira forma se trata

certamente de urn castelhanismo ou simplesmente de umha cobertura gnifica.

PRAZEO/PLOUVO/PLOUGO Aparecem sob divers as formas as duas alternativas ja muito

testemunhadas para 0 tern a de preterito do verbo prazer: probolle (171, 30),

prouvo (227, 9), plouvo (238, 21) e tambem plougo (291, 33) e (9 , 29) .

Encontramos tambem umha formayom anal6gica ou mais provavelmente

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castelhanismo formado a partir do tema de presente: prazeolle (143, 27).

UISYOM / UISOM

Documentamos mais fonnas do tipo uisyom (8) que do tipo uisom (4). A

quantidade e distribui~om parecem descartar 0 erro de tradu~om para uisyom:

mas tambem nom somos capazes pelo contexto de determinar se a fonna

eastelhanizada apresenta matizes semanticos inovadores ou simplesmente maior

intensidade significativa. Das demais form as documentadas, a unica que

(re)incorporou 0 -i- do sufixo -TIONE(M) conservado pelo castelhano foi

Nasci6es (78, 19-23).

A freguencia do infinitivo pessoal

, E interessante 0 estudo da distribuiyom destas founas verbais ao longo

do texto porque 0 infinitivo pessoal e urn fen6meno estritamente galego­

portugues que nom tern lugar em nengumha outra lingua romanica. Como nom

existe em galego uma regra geral que determine a obrigatoriedade do uso

flexionado do infinitivo em todos os easos, 0 emprego que 0 tradutor fai dele

pode ser urn born indicativo da qualidade da traduyom. Sem duvida e para ele

o infinitivo pessoal umha forma habitual, pois que se trata de urn falante nativo"

e fai uso dele em certas ocasi6es que indicamos embaixo; mas interessa conhecer

se 0 usa com toda a frequencia que pediria 0 galego-portugues "puro" da epoca.

Carecemos dos meios e 0 tempo necessarios para realizar urn trabalho

dessas caracteristicas que exigiria 0 eontraste com outros textos e agradeceria

muito 0 auxilio de meios infotlllaticos para a contagem das ocorrencias. Porem,

podemos tentar detetlllinar "a olho" se as dezassete oeorrencias aeima citadas

(duas delas simultaneas) constituem uma bagagem not mal para urn texto deste

tamanho. Ca1culando como media umas 350 palavras por pagina (it baixa) e

multiplicando por 295, que e 0 numero de paginas que ocupa 0 texto da

tradu~om, obtemos uma cifra aproximativa de 103.250 palavras. As nossas

dezassete oeorrencias constituiriam apenas 0,0164 % do total de efetivos.

Disto podemos deduzir que os easte1hanismos presentes na obra nom

som apenas marcas pitorescas, pinceladas que poderiam talvez servir para

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conservar 0 sabor do texto original ou demostrar 0 conhecimento do castelhano

por parte do tradutor. Parece que se comeya a advertir uma especie de abandono •

com respeito it lingua propria. E como se esta, carecendo de funyom nacional,

passasse a ser umha especie de castelhano imperfeito. Prova disto temo-Ia

simplesmente consultando 0 curto trecho da traduyom portuguesa da General

Estoria (meia piigina) que apresenta ao acaso Ramon Martinez-Lopez na

introduyom do lado do correspondente trecho galego. A traduyom portuguesa

tern mais aspecto de ser umha "verdadeira" traduyom. No que diz respeito aos

infinitivos pessoais observamos jii umha diferenya:

Versom castelhana: " ... auien ya todos los omnes grand sabor los vnos de

auer reyes, los otros de regnar; e fazien rey en cada cibdad e en cada uilla."

Versom galega: " ... avia ja todoslos omes sabor moy grande os hiius de

aver rreys, os outros de rreynar; Et faziam rrey em cada yidade et em cada

vila."

Versom portuguesa: " ... aviamja todolos homeens grande voontade, huus

de averem Reys e outros de reynarem e faziam Rey em cada cidade e em cada

villa."

Infinitivos pessoais presentes no texto: seere (22, 34), apoderare (36, 31),

dare (46,14), uiuere (50, 28), teelI110S (73,24), tomare et auere (89, IS), erdare

(107, 33), seere (108, 5), perdere (118, 14), prouar mos (128, 33), vljrem (ISS,

29), vijmem (171, 1), seere (181,33), averes (20 1,5), vijmes (227, 12), seyrem

(234, 12). Nom e infinitivo pessoal a fOlllla que cita como tal Ramon Lopez­

Martinez na introduyom (piig. LIV): "et tu vayte quanto podcrcs, ... , et nos no

faremos nada ata que tu sejas em saluo" (208, 6).

Outros castelhanismos

A continuayom citamos outros presumiveis castelhanismos recolhidos

por nos ao longo da obra: padre (7, 19) ... ; madre (7, 19) ... ; ladrillos (17, 20)

... ; medio (65 , 33) ... ; pobla (65 , 28) ... ; poblou (65,19) ... ; ayre (91,18) ... ;

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uergons:a (97, 24); prepostero (101, 35), fiHideria (104,32); oydo (113, 11);

mers:ed (115, 16) ... ; estudio (118, 19) ... ; oyredes (127, 31) e fonnas afins;

mers:ede (130, 10); envidia (137, 18) ... ; vengar (137, 19); pycos (142, 22);

ancharla(160, 12); clerigos (173, I; 174,33); conosyer (181, 9); cosso (J 82,12);

empero (189, 10) ... ; fablielas (213, 5)12; enuergons:es (217, 27); espas:io (225,

5); era (225, 25)13; enfesto (228, 29)14; eres (231, 6); servis:io (236, 7); poluos

(237, 8) " ... ; Iglesia (258, 15); chiiamente (254, 18)16; estudio (267, 9) ... ;

lis:ens:ia (283, 21) ... ; almendras (292, 4); ters:er (293, 20); azes (296,14), azl 7

(296, 15); testigo (295, 2-3) ...

No que diz respeito a fOllna testigo (testemunha), castelhanismo com

certeza, destaca 0 fato de ela alternar com a forma correta em galego-portugues

testemoyo (testemunho). Parece existir certa constancia desse caniter ex6geno

de testigo. Destarte temos ate urn exemplo em que se confrontam as duas num

trecho em que se pretende reproduzir metaforicamente urna diferenya idiomatica

entre linguas anti gas: "Et chamou lie Labam ho outeiro do testigo, et chamou

lie Jacob omotom do testemoyo, cada hii segundo seu linguage" (295, 2-3). 0

estranho e que nos textos alfonsinos compostos originariamente em galego­

portugues achamos justamente a oposis:om contniria: testimoya e testimonio.

Ver J. Luis Rodriguez (1983: 12).

Tambem se devem citar as fonnas do tipo: pezca (236, 16); parescam

(142,24) .. . que podem ser devidas tambem a umha vontade de aproximas:om

gnifica com 0 espanhol. Por provavel descuido temos: "sus padres" (115, 23),

mandato" (131 , 15),falescio (187, 17), tornosse (187, 20); coplio lies 10 (218,

4). Por hipergaleguismo na tradus:om: "Abrafam" (202, 31 )'9, chanto (231,

1 )20. Por restituiyom (grafica ou oral) da nasal alveolar In! intervocalica: per­

sonas (15, 5) e etc.; sonar (271, 19) e fOllnas afins ... Por restituiyom (grafica ou

oral) da Iiquida lateral III intervocalica: dolor (8, 16) e etc. ; color (15, 33) e

etc.; colores (15, 34) e etc.; pylares (17, 20) e etc.; pylar (17, 24) e etc. ; solamente

(58,33) e etc. ; alas (91, 20)" e etc.; uolaua (91, 17), naturalezas (92, 6) e etc.

Os terminados em - illo" tern tambem uma boa representas:om na obra: caudillos

(79,38); grandezillo (131, 33); taboezillas (142, 23); odrezillo (219, 5/23) e

(224,20); mans:ebillo (248, 13); polyllos (297, 3) ...

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Ou tras caracteristicas

- Lateralizayom do segundo elemento dos grupos consonanticos br, pr, gl :

Copla (I 09,35)23 , comple (133, 33)24, blanca (135, 17) e etc.; pleyto (202,

29) e etc.; rreglas (262, 35); complara (268, 17)" ; doble (273, 29); doblo

(277, 9); poble (282, 38) e etc ... Poderia tratar-se tambem de uma ,

ambigiiidade grafica. E urn fen6meno frequente no leones.

- QUA> k: contya (112, 11). Existe a possibilidade de que <qu> fosse urn

digrafo em born numero de casos. Ver quaero (137, 30)26 ou ayerqua (138,

38)"

- GUA> ga: gardar (120, 33) e fotmas afins; gameyida (151 , 35); Ver arguolas

(235, 7):

- FOllnas arrizot6nicas dos perfeitos em -i-: Aprendiste (144, 27), feziste (175,

8) e etc.; oquisiste (175, 8); disiste (223,34); podiste (281, 14); posiste

(294, 28) ...

- FOllnas com metafonia: Promyti (202, 33), bibido (234, 12) .. .

- Dezerlo (164, 30) aparece apenas numha ocasiom, sendo nos demais casos

sempre empregada a fOllna "dizer". Tern interesse este dado unicamente

porque nos lugares em que hoje em dia se conserva na Galiza a forma nom

castelhanizada e precisamente sob esta forma "dezer".

- Formayoes anal6gicas: "criauassem" (criavam-se) (210, 14).

- Outras: Touer (145, 9) e fOIlllas afins (liver), Froytas (88, 3) ... , Coyros (88,

25), Moyto (91, 21) ... , Outauo / Oytauo, Fame, Fumos, Caer (108,3) e etc.,

Sey (202,28), Vnllas (253,30) e etc., Grilanda (255,34), Estoue (269, 5)28 ,

Toue (273, 23)29, Preto (291, 32).

ConcIusom

Como aventuramos no titulo deste texto, apresentamos e comentamos

alguns aspectos, algumhas notas, a respeito da traduyom gal ega da General

Estoria. Nom dava 0 nosso pequeno trabalho para termos fomecido grandes

contributos ao conhecimento da obra. No entanto, considerariamos pelo menos

ter cumprido a nossa missom se conseguissemos chamar algo a aten90m sobre

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a importancia do estudo deste tipo de textos e docurnentos provenientes das

primeiras fases da castelhanizayom do galego-portugues na Galiza.

Interessa conhecer so bretudo como comeyam a funcionar os primeiros

mecanismos de substituiyom entre as duas variedades, castelhano e galego­

portugues, para podennos compreender em parte a dimensom psicologica e

sociologica que subjaz tras estes processos. Para isso som muito uteis, sem

duvida, todos os metodos propostos pola sociolinguisticahistorica para a analise

de variantes.

De todas as variantes que recolhemos no texto apenas podemos apostar

timidamente pela funcionalidade significativa da oposiyom judio / judeu. A

fOllna castelhana, como ja apontamos, estaria dotada de uma carga semilntica

de repulsa de que a respectiva fOlma gal ega care ceria. E 0 rechayo frente aos

judeus, que e umha atitude execravel vista desde a nossa perspectiva actual,

era "moderna" e valorizada positivamente na Coroa de Castel a dos inicios do

sec. XlV. Seria necessario, porem, confrontar estes e outros dados por nos

obtidos com os provenientes de outros textos da epoca para podetlllos ernitir

urn juizo minimamente fundamentado a respeito.

Por outra parte, 0 estudo "aproximativo" sobre a frequencia de uso dos

infinitivos pessoais na General Estoria descobre-nos urn influxo castelhano

bern subtil sobre a lingua do tradutor que provavelmente ele nom teria percebido

de modo consciente, 0 que demostra que os castelhanismos da obra som mais

produto de uma certa pressom social que urnha a1ternativa pessoal.

A analise de outros trayos Iinguisticos ao longo do texto poderia tambem

ajudar a situar geograficamente 0 tradutor. A lateralizayom do segundo e1emento

dos grupos consonilnticos br, pr, gl. .. assim como a resoluyom em -1- do primeiro

elemento do grupo B'T em dulda apontam a influxos leoneses. A realizayom

em -i- das formas arrizotonicas dos perfeitos de segunda pes so a apontaria

tam bern para urn galego em contacto com 0 leones. Mas, por outro lado, a

monotongayom do grupos consonanticos Ikw/ e /gw/ e a evoluyom UCT, ULT

> oi leva-nos hoje em dia a zonas mais ocidentais. Haveria que conhecer melhor

a distribuiyom destas isoglosas no seculo XIV para poder concluir algo valido

a respeito.

Com este trabalho apenas esperamos ter colocado 0 nosso pequeno grao

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de areia no conhecimento desta obra em particular e deste periodo tam tran­

scendental para a hist6ria da nossa lingua.

NOTAS

1 Do tradutor galego sinala Ramon Lopez-Martinez que "Ia version gall ega, por 10 general fidelisima muestra sus personales perfiles afectivos deviimdose de la forma expresiva adecuada al didactismo y racionalismo que presiden la total concepcion de la General Estoria." (pag. 307).

2 Evidentemente, por falta do tempo e a preparaltom necessarias, nom ficou esgotado, com 0

corpus que extrafmos, 0 numero de castelhanismos e outros fen6menos interessantes da General Estoria, mas sim pensamos que este possa seT na maioria dos cas os de um tamanho o suficientemente grande e representativD como para pennitir-nos extrair algumas conclusoes.

, Para as cita~oes do texto original empregamos a edi~om de Ramon Martinez-Lopez que citamos na bibliogratia. Colocamos em primeiro lugar 0 numera de pagina na citada edi~om e depois 0 numero de linha.

4 No estado actual da lingua oral na Galiza e possivel, no entanto, advertir este tipo de constru~oes por influxo castelhano. As pessoas de mais idade e que conservam urn galego mais puro ainda nom as incorporarom, do que se deduz que se trata de urn fen6meno recente e que com certeza nom estava presente no galego da epoca.

5 Na Idade Media, a diferen~a do luso-brasileira e do galego actual, devemos supor que a nasalidade vocalica era urn tra~o realmente pertinente. No luso-brasileiro existem opinioes opostas a respeito, mas geraimente interpreta-se a vogal nasalizada fonetica como uma vogal + arquifonema nasal a nivel fonologico.

6 <_> tambem e empregado para representar a queda de qualquer outra consoanle: pouoos (70, 27) < POPULOS.

' cfr: prene (163, 9); prenada (163 , 10).

g 0 que invalidaria 0 suposto caracter de castelhanismo que Ihe atribui Rodrigues Lapa (Martinez-Lopez, pag. XVII).

9 Esta representa~om "completa" nom e em absoluto frequente ao longo da obra. 0 mats frequente som solu~5es do tipo: c8p8na (companha); lyno (Iinho): seFior (senhor) ...

10 0 proprio rei Afonso X e responsavel por severas leis que submetiam os judeus da Coraa de Castela a urn estatuto similar ao apartheid.

11 Boa mostra disso som as erros au vacilagoes que comete na tradugom e que se devem quase sempre ao desconhecimento do castelhano. P.ex: moyiieyro (242, 38), que traduz 0 original castelhano monedero (apudMartmez-Lopez, pag. 352).

12 Trata-se de uma adapta~om da forma castelhana da epoca "fabliellas", com pranuncia pala­tal [A] do digrafo <II>. 0 unico que faz 0 tradutor e substituir burdamente 0 sufixo pelo galego correspondente.

13 Trata-se da forma castelhana correspondente ao galego "eira". 14 Adapla,om para 0 galego do castelhano "entiesto", actual " inhiesto" (direito, levantado) 15 Pas. A forma "po" legitima do galego conservou-se nalguns lugares ate hoje em dia.

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16 Decalco fonnal do castelhano "Ilanamente". 11 Esta forma e a anterior significam "unidade militar, batalhom". A forma normal castelhana

e "haz". IS No resto da obra emprega sempre a forma galega "mandado" (subst.) 19 "Et par ende n5 quero que des aqui adeante te chamemAbraa mays Abrafam," (203 , 30-31). 20 E a forma espenivel par evolu~om patrimonial do latim plane/us (pranlo). A nossa forma

actual e semicultismo. Mas a forma casteihana, que sim registou a evolw;om patrimonial, e "Ilanto". A partir desta forma e baseando-se em paraielismos do tipo "chover" / "Hover"; "chorar" / "lIorar" ; "charnar" / "Hamar"". 0 tradutor constr6i uma hipotetica forma galega patrimonial a partir da castelhana.

21 Asas. Nom se debe confundir com a forma hom6grafa mas de acentua~om aguda ala (59, 29) e etc., que se corresponde com a actual forma luso-brasileira "Iii". A ultima e legltima.

22 Corresponde-se com a tennina'tom "- i1ho". Na variedade luso-brasileira a maior parte destes term as entrarom na lingua durante a Uniom Iberica.

23 Convenha, "cumpra", CUet aquelo abaste et cop la,"}. 24 Interessa, "cumpre", ("a EI esto lie comple et no mays"). 2S Comprara (de comprar). 26 Cafram. A pront'incia e "[ka'ero]". Na linha anterior aparece a mesma forma grafada "caerO". 27 Representa a forma "acerca". 28 "Et par que ella estoue despoys que foro casados". 2'1 "et corneu, et bebeu, et foyse et no toue por nada por que vendera as avantajees ... "

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