African Restless Leverage Against Impunity

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25 Maio -Julho 2013 | 7| DIRECTOR: JOSÉ MANUEL ANES | DIRECTOR ADJUNTO: ANTÓNIO SILVA RIBEIRO www.segurancaedefesa.pt ISSN 1646-6071 «As assimetrias sociais põem em causa um dos pilares da Segurança e da Defesa nacional» Luís Fontoura, Presidente da Comissão para a Revisão do Conceito Estratégico de Defesa e Segurança «Todos os conflitos possuem dimensões únicas e necessitam de ser abordados com soluções à medida» Knud Bartels, Presidente do Comité Militar da NATO O Futuro de Portugal Adriano Moreira «A Defesa constitui o último esteio do Estado e a garantia final de que ele consegue exercer a sua autoridade» Loureiro dos Santos Europa – Política Comum de Segurança e Defesa ou Potência Civil? José Pereira da Costa

Transcript of African Restless Leverage Against Impunity

25 Maio -Julho 2013

| 7€ |

DIRECTOR: JOSÉ MANUEL ANES | DIRECTOR ADJUNTO: ANTÓNIO SILVA RIBEIRO

www.segurancaedefesa.pt

ISSN 1646-6071

«As assimetrias sociais põem em causa um dos pilares

da Segurança e da Defesa nacional»

Luís Fontoura, Presidente da Comissão para a Revisão do

Conceito Estratégico de Defesa e Segurança

«Todos os conflitos possuem dimensões únicas e necessitam de

ser abordados com soluções à medida»Knud Bartels,

Presidente do Comité Militar da NATO

O Futuro de PortugalAdriano Moreira

«A Defesa constitui o último esteio do Estado e a garantia

final de que ele consegue exercer a sua autoridade»

Loureiro dos Santos

Europa – Política Comum de Segurança e Defesa

ou Potência Civil?José Pereira da Costa

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Esta edição tem o patrocínio da e o apoio do

DirectorJosé Manuel Anes

Director AdjuntoAntónio Silva Ribeiro

Presidente Conselho EditorialAdriano Moreira

Conselho ExecutivoFigueiredo Lopes | Garcia Leandro | Jorge Silva Carvalho | Loureiro dos Santos | Mendes Dias | Vieira Matias

Conselho EditorialAgostinho Branquinho | Agostinho Lopes | Alexandre Caldas | Alice Feiteira| Almeida Bruno | Ana Paula Garcês | Ângelo Correia | António Vitorino | António Neto da Silva | António Nunes | A. Rebelo de Sousa | Armando Carlos Alves | Armando Dias Correia | Armando Marques Guedes | Arménio Marques Ferreira | Cândido da Agra | Carlos Henrique Chaves | Carlos Rodolfo | Casimiro Morgado | Conde Rodrigues | Cristina Soeiro | Dalila Araújo | Espírito Santo | Fernanda Palma | Fernando Negrão | Fernando Reinares (Espanha) | Filipe Costa | Francisco Rodrigues | Freire Nogueira | Heitor Romana | Helena Magalhães | Hermínio Duarte‑Ramos | J. Telles Pereira | J. Bacelar Gouveia | João Alvelos | João Ataíde das Neves | João Alberto Correia | João Domingues | João Rebelo | João Portugal | Jorge Braga de Macedo | José Esteves Pereira | José Ferreira de Oliveira | José Fontes | José Lamego | José Manuel Canavarro | José Silva Cordeiro | Luís Bernardino | Luís Fonseca de Almeida | Luís Neves | Luís Tomé | Luís Trindade dos Santos | Manuel Pechirra | Maria do Céu Pinto | Maria Francisca Saraiva | Mário Morgado | Mateus Silva | Miguel Monjardino | Miguel Sanchez de Baena | Miranda Calha | Mónica Ferro | Oliveira Marques | Oliveira Pereira | Paulo Gorjão | Paulo Pereira de Almeida | Paulo Valente Gomes | Paulo Viseu Pinheiro | Pezarat Correia | Pedro Clemente | Pedro G. Barbosa | Pedro Salreu | Pedro Sousa | Pinto Ramalho | Proença Garcia | Reginaldo de Almeida | Reis Rodrigues | Ricardo Pires | Rui Paulo Figueiredo | Ruth Costa Deus | Teodósio Jacinto | Teresa Botelho | Vasco Franco | Vitalino Canas |

Editor: Paulo Noguês. Propriedade: Diário de Bordo, Lda. Rua Pedro Álvares Cabral, n.º24, 6.º A, Infantado, 2670‑391 Loures. Tel.: 213 256 722 Fax: 707 314 370 www.diariodebordo.pt. NIF: 507580222 E-mail: [email protected]. www. www.segurancaedefesa.pt Redacção: Sofia de Carvalho. Assinaturas e Circulação: Francisca da Franca. Fotografia: Marques Valentim. Design e Paginação: Jorge Vicente Impressão: Simões e Gaspar, Lda. Carregado. Tiragem: 5000 exemplares. ISSN: 1646‑6071. Registo ICS: 125005. Depósito Legal: 250319/06

| editorial | 06_ EDITORIAL

| apresentação 08_ «AS ASSIMETRIAS SOCIAIS PõEM EM CAuSA da S&D 24 | uM DOS PILARES DA SEGuRANçA E DA

DEFESA NACIONAL»

| entrevista | 16_ «TODOS OS CONFLITOS POSSuEM DIMENSõES úNICAS E NECESSITAM DE SER ABORDADOS COM SOLuçõES à MEDIDA»KnuD BartelS

| artigos | 22_ O FuTuRO DE PORTuGALaDrIanO MOreIra

26_ GuERRA IRREGuLAR EM AMBIENTE TECNOLOGICAMENTE SOFISTICADOFrancIScO PrOença GarcIa

32_ RECONSTRuINDO A INDúSTRIA DE DEFESABenny SPIewaK

| entrevista | 34_ «A DEFESA CONSTITuI O úLTIMO ESTEIO DO ESTADO E A GARANTIA FINAL DE quE ELE CONSEGuE ExERCER A SuA AuTORIDADE»lOureIrO DOS SantOS

| notícias | 38_ PRIMEIRO MINISTRO DEFENDE SER O «MOMENTO DE

ACçãO» NA REFORMA DAS FORçAS ARMADAS

NOVA TECNOLOGIA DETECTA quANTIDADES íIMAS

DE ExPLOSIVOS

| índice | | 25 |

MINISTRO GARANTE CAPACIDADE DAS FORçAS

DE SEGuRANçA APESAR DOS CORTES

NAVIOS CHINESES EM LISBOA PARA «TROCAR

ExPERIêNCIAS» DEPOIS DE MISSãO NA SOMÁLIA

OBAMA AFASTA INTERVENçãO MILITAR DOS EuA NA SíRIA

PSP DESTRóI 3 MIL ARMAS à GuARDA DO ESTADO

LONDRES RECEBE FORENSIC EuROPE ExPO E COuNTERTERROR ExPO

NOVA ROTAçãO DO CONTINGENTE PORTuGuêS NO AFEGANISTãO

I SEMINÁRIO SOBRE DIREITO MILITAR «O DIREITO, A

SEGuRANçA E A DEFESA NACIONAL»

MILITARES DA GNR CONTESTAM AuMENTO DA IDADE DA PRé‑REFORMA

| artigos | 44_ AFRICAN RESTLESS LEVERAGE AGAINST IMPuNITy (IN NON‑INTERNATIONAL ARMED CONFLICTS) JOSé leanDrO

64_ uMA VISãO CONCEPTuAL SOBRE A NOVA CONFLITuALIDADE AFRICANAluíS BernarDInO

72_ EuROPA ‑ POLíTICA COMuM DE SEGuRANçA E DEFESA Ou POTêNCIA CIVIL?JOSé PereIra Da cOSta

| formação | 76_ PóS‑GRADuAçãO CONSTRóI PONTES ENTRE ARquITECTuRA E SEGuRANçA

| notícias | 80_ MAIS DE 10 MILHõES DE EuROS PARA OBRAS EM PRISõES

SEGuRANçA REFORçADA DuRANTE O VERãO

BRASIL E ANGOLA VãO COOPERAR NA INDúSTRIA DE DEFESA

EuA TESTAM «CANHãO LASER» PARA ABATER AVIõES

VERBAS DE MuLTAS COBRADAS NOS AçORES APLICADAS NA REGIãO

SALVAMENTO MARíTIMO REFORçADO COM MAIS DuAS EMBARCAçõES

FORçAS ARMADAS CHINESAS COM MILHãO E MEIO DE EFECTIVOS

SEGuRANçAS PRIVADOS VãO TER NOVOS CARTõES PROFISSIONAIS

FARMÁCIAS PORTuGuESAS LIGADAS A FORçAS DE SEGuRANçA

NOVO HOSPITAL DAS FORçAS ARMADAS CuSTARÁ 16 MILHõES

SyNERGy ASSINA CONVéNIO DE COOPERAçãO COM COTECMAR

THALES PORTuGAL FORNECE SISTEMAS DE INFORMAçãO PARA A íNDIA

| estante | 86_ DIVuLGAçãO DE LIVROS E REVISTAS

IMAGEM

| editorial |

Uma «quadratura» difícil…mas não impossível

Neste período de cortes nas diversas áreas do Estado – que se verificam quer em Portugal quer na Europa - é im-portante que eles não ponham em risco aquilo que é sua obrigação relativamente aos cidadãos, os quais pagam os seus impostos para usufruírem dessas dimensões de solidariedade do Estado. Segurança, Defesa, Saúde, Educação, Segurança Social, etc. são questões essenciais nesse domínio. É claro que não podemos ter tudo, que talvez não possamos ter tudo o que tínhamos e que também é preciso racionalizar e evitar sobreposições e duplicações – terá de haver algumas mudanças –, mas tudo isso tem de ser visto com ponderação e sem ser perigosamente fracturante nesses diversos domínios. Todas elas são importantes mas no que nos diz respeito, a Segurança e Defesa são áreas que nos preocupam directamente, embora a deterioração das condições sociais e económicas seja também factor de preocupação para aquelas duas dimensões.

Estamos certos que está a ser feito – e continuará a ser feito! – todo o possível para não por em risco o edifício nacional no que diz respeito a todas estas dimensões. As obrigações do Estado face ao estrangeiro determinam em grande parte as nossa Finanças, mas é importante ouvir outras vozes de pessoas sábias em diversas áreas e elas são várias, no que diz respeito à Segurança e à Defesa, de entre os membros do Conselho Editorial e os colabo-radores desta revista – como aliás refere o Sr. General Loureiro dos Santos em entrevista que amavelmente nos concedeu neste número. O equilíbrio entre Finanças e Economia, entre as obrigações financeiras face ao estran-geiro e as obrigações do Estado face aos seus cidadãos tem de ser encontrado sob pena de pormos em risco a nossa Identidade e futuro como Nação.

*

Um perigo que renasce sob velhas e novas formas

Para além do regresso em força dos islamistas radicais e jihadistas no Afeganistão e no Afeganistão, do perigo de um outro «Iémen» no norte do Mali – que referimos no nosso último editorial – que poderá por em perigo não só o Norte de África e a África Ocidental, mas também o sul da Europa, temos a confirmação de que a 3ª. Geração da Jihad – que Gilles Kepel refere no seu livro «Terreur et Martyre» – está em pleno curso. Depois de Mohammed Merah em Toulouse/Montauban, temos agora (entre outros exemplos felizmente mal sucedidos) o caso dos atentados de Boston realizados pelos dois irmãos Tsarnaev – que nos levaram a ter sido solicitados, na semana dos atentados, por diversos canais de TV (TVI 24, Sic Notícias, RTP Informação, CM Tv, Canal Q), por diversos jornais (jornal i, Jornal de Notícias e Diário de Notícias) e numa entrevista dada ao programa Olhar o Mundo, gravada em 26/4 e transmitida nos dias 28 e 30 de Abril.

| editorial |

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Sobre o recrudescimento da actividade jihadista, saliento dois notáveis artigos: o recente de Fernando Reynares publi-cado, há algumas semanas, no «El País» e o do Gilles Kepel sobre a terceira geração da Jihad, este publicado em 30 de Abril no «Le Monde». Neste último o autor reage contra os que qualificaram estes terroristas de «lobos solitários» pois o mais importante enquadramento deste fenómeno é no quadro dessa 3ª. Geração da Jihad – e que pode ser realiza-da por um ou mais indivíduos – a qual foi proclamada, em 2005, num texto de 1000 páginas, o Apelo à Resistência Islâmica Mundial de Setmanian Al-Suri, sírio casado com uma espanhola e que teve participação na facilitação dos atentados de Madrid em 2004. Estudada por Marc Sageman no livro «Leaderless Jihad», esta Jihad «espontânea e sem líder» – desencadeada por factores identitários e de falta de integração que a explicam mas não desculpam - é muito perigosa por ser dificilmente detectável pois os seus actores raramente mostram sinais do processo de radica-lização que decorre no seu interior - o terrorista de Toulouse era adepto de carros com «tunning» e apreciava música moderna e o irmão mais novo dos terroristas de Boston ia a festas e bebia álcool - embora eles, em algum momento, dêem sinais dessa radicalização na internet o que leva à necessidade de uma maior monitorização desse espaço virtual.

**

Neste número chamamos a atenção dos nossos leitores para uma excelente entrevista – em exclusivo - feita por Elsa Páscoa ao General Chairman do Comité Militar da NATO, onde se analisam questões importantes relativas à partici-pação de Portugal naquela importante Aliança e também as tarefas da NATO no quadro de conceitos como a «smart defense» e as «connected forces». A não perder!

***

O último número da SD foi apresentado no habitual almoço-conferência em que o orador convidado foi o Prof. Luís Fontoura, político experiente e académico de relevo, que presidiu à Comissão de especialistas encarregada de elaborar o Novo Conceito Estratégico de Segurança e Defesa Nacionais. Lamentavelmente as condições de saúde do Prof. Fontoura têm-se agravado nos últimos tempos e têm limitado a sua actividade. Embora não tenhamos recebido o texto da conferência com que nos brindou – certamente pelas razões já aqui indicadas -, não queremos deixar de pu-blicar a sua fotografia na capa deste número da nossa revista, como homenagem à sua pessoa, à sua figura de político e académico e à sua coragem de resistente face à doença que o atormenta. As suas melhoras, Professor!

José Manuel Anes

7.

«AS ASSImETRIAS SoCIAIS PõEm Em CAUSA Um DoS PILARES DA SEgURANçA E DA DEFESA NACIoNAL»

O prof. Dr. Luís Fontoura, que presidiu à Comissão para a Revisão do Conceito Estratégico de Defesa e Segurança, foi o convidado de honra do almoço-debate que marcou a apresentação do n.º 24 da «Segurança&Defesa».

| entrevista || Apresentação da S&D 24 |.8

Na sessão, que decorreu nas instalações da antiga Cooprativa Militar, em Lisboa, o antigo dirigente social-democrata defendeu que as «assimetrias sociais põem em causa um dos pilares da segurança e da defesa nacional».

«O país não pode continuar a ser deficientemente estruturado do ponto de vista social. Não é possível mantermos por muito tempo

mais as assimetrias sociais, a má divisão da riqueza nacional, assistir ao empobrecimento sucessivo do povo português». Apontando o «desenvolvimento económico e social» como o «principal pilar da segurança e defesa nacional», Luís Fontoura comentou: «Quando os portugueses entenderem que não vale a pena serem portugueses, toda esta conversa deixa de ter sentido».

9.

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11.

Os decisores militares necessitam de soluções de TI inova-doras que os ajudem a otimizar a gestão das suas operações com vista a promover sistemas mais eficientes e processos mais eficazes, ao mesmo tempo que prestam suporte a uma das cadeias de fornecimento mais complexas do mundo. A colaboração com um número crescente de organizações de todo o mundo, bem como a nível interno, significa que uma abordagem centrada na logística integrada visando uma gestão mais eficaz do fluxo de dados em toda a ca-deia de fornecimento é hoje mais importante do que nun-ca. Consequentemente, as organizações de logística militar procuram cada vez mais a ajuda da Microsoft e dos seus parceiros no setor da defesa – incluindo a Atos, Eurostep e HP – no sentido de otimizarem as suas operações e atin-girem os objetivos das suas missões sem descurar aspetos como a economia de tempo e a redução dos custos.

“O desafio permanente para o setor consiste na disponi-bilização de meios com maior rapidez, precisão e econo-mia”, afirma Eric Lagracie, gestor de soluções de negócio de transporte aéreo na Atos. “Isto significa a otimização da co-laboração com os parceiros (clientes, fornecedores e autori-dades) e com os diversos serviços internos de uma empresa, sendo a gestão minuciosa do ciclo de vida do produto como um todo de igual modo fundamental.”

Entretanto, os desenvolvimentos em matéria de atuação das forças armadas conduziram a uma abordagem mais coope-rante entre as organizações militares em diferentes partes do mundo, bem como no seio de alianças mundiais como a NATO, contribuindo a um tempo para o alargamento, mas também para a complexidade, da cadeia de fornecimento. “No domínio da condução de operações de logística militar, a congregação e partilha de recursos entre países tenderá a tornar-se uma abordagem cada vez mais comum”, sustenta Raymond Bierens, responsável pelo departamento Global PHT Defence and Security Portfolio Management na Atos.

A par do destacamento cada vez mais frequente de tropas em missões conjuntas e integradas em forças de interven-ção multinacionais em todo o mundo, há uma necessidade crescente de que a partilha de dados se processe de forma segura, não só a nível interno como com organizações ex-ternas. Todos estes objetivos têm de ser alcançados num contexto de redução constante dos orçamentos de defesa e na presença de sistemas legados pesados que, muitas vezes,

não têm capacidade para facultar uma partilha de dados se-gura e disponibilizar aos decisores militares as informações relevantes quando delas necessitam. As organizações tam-bém precisam de garantir que os sistemas em que investem propiciarão o devido retorno do investimento (ROI), o que significa que a abordagem de TI centrada no princípio da remoção e substituição não constitui uma opção.

“Para os setores caracterizados por ciclos longos e sujeitos à pressão dos custos, qualquer alteração em termos de pro-cesso ou sistema deve demonstrar o ROI”, declara Lagracie. “O ERP faz parte da solução, mas a questão é saber como integrar sistemas de negócio específicos (de operações em tempo real, por exemplo) e ERPs, sabendo de antemão que esses sistemas são, por sua vez, provenientes de diversas organizações”.

A Atos presta suporte a inúmeras soluções de logística militar ERP, desde a implementação de soluções SAP no Ministério do Ambiente (Instituto Hidrográfico) do Reino Unido; Forças Armadas da Dinamarca, Finlândia e Alemanha; e Ministério da Defesa da França, Reino Unido e Países Baixos; às solu-ções Microsoft na OTAN. Isto significa que a Atos está parti-cularmente bem posicionada para proceder à sincronização e atualização do ambiente SAP base para organizações de defesa e segurança. Ligar sistemas legados em vigor a uma implementação ERP como, por exemplo, o SAP coloca desa-fios no que toca a prestação de esclarecimentos em matéria de logística integrada aos decisores militares.

Gestão da complexidade

“A complexidade é mais que muita; cada Ministério da Defesa dispõe de sistemas legados próprios, muitos dos quais em funcionamento há anos e com métodos de implementação completamente distintos para acomodar processos defini-dos localmente”, afirma Håkan Kårdén, CEO na Eurostep. “Em seguida, as organizações tentam extrair os dados des-tes sistemas legados e integrá-los no SAP, que é suposta-mente um sistema padrão da indústria. Esta abordagem não está a resultar, visto que os sistemas ERP não conseguem processar dados logísticos avançados nem possibilitam a partilha de dados segura. Além disso, as organizações não podem fornecer acesso às informações armazenadas inter-namente em sistemas como SAP a empresas externas, na medida em que tal representa um risco de segurança.”

“O vasto leque de implementações do Dynamics AX atesta a capacidade de adaptação e solidez do conjunto de ferramentas junto do cliente, tendo em conta a tendência de as instituições de defesa se basearem na experiência comprovada.”

Mike SchaeferHP

A solução Share-A-space da Eurostep – relativamente à qual a Atos pode servir como integradora de sistemas – reúne as condições que permitem esta partilha de dados de uma forma segura e totalmente integrada em toda a cadeia de fornecimento. Tem por base a norma de informação PLCS (Product Life Cycle Support), introduzida em 2005 para aju-dar a fazer face aos requisitos de informação no ciclo de vida do produto. Desde então, a PLCS tem vindo a ser reco-mendada pela OTAN enquanto norma para os esforços de colaboração no STANAG 4661. Tem por objetivo estabelecer a troca e partilha de dados estruturados com vista a prestar suporte aos meios ao longo de todo o seu ciclo de vida. Preserva a consistência, durabilidade, permutabilidade e continuidade dos dados, independentemente dos sistemas utilizados. O Ministério da Defesa francês tornou recente-mente pública a sua intenção de adotar a PLCS/Stanag 4661 como interface entre o ministério propriamente dito e os setores da indústria.

“A Eurostep participou intensivamente no desenvolvimento do PLCS e à medida que a norma foi conhecendo novos avanços foi sendo incorporada de forma cada vez mais sus-tentada no produto Share-A-space”, refere Kårdén. “A so-lução Share-A-space integra-se com os sistemas existentes das organizações militares, o que anula a necessidade de enveredar por um dispendioso processo de substituição do sistema. A solução está preparada para importar e exportar dados de outros setores da indústria que, à partida, os sis-temas legados não teriam como processar devido a preocu-pações de segurança.”

A Share-A-space já presta o seu contributo na gestão e par-tilha segura dos dados de organizações de logística mili-tar. A título de exemplo, a empresa de defesa BAE Systems pretendia encontrar um modelo de colaboração mais eficaz com os seus parceiros de negócio. Neste sentido, colabo-rou com a Eurostep de modo a implementar a sua solução Share-A-space, utilizada por engenheiros e designers para partilhar informações em segurança. A Eurostep também ganhou um contrato junto da Kongsberg Protech Systems para a sua plataforma Share-A-space tendo em vista a cola-boração empresarial. A Share-A-space é igualmente útil nos Ministérios de Defesa a nível interno. A Administração de Material de Defesa do Governo Sueco (FMV) já faz uso da Share-A-space desde 2009, mantendo configurações de sis-temas de material, incluindo as pessoas destacadas respon-sáveis por cada sistema.

Desenvolvida em torno da tecnologia Microsoft, a Share-A-space está apta a assegurar os elevados níveis de segurança de que as organizações militares necessitam. A solução tem por base o Microsoft .NET Framework, que integra o ASP.NET, Windows Communication Foundation e Windows Identity Foundation (WIF), e é compatível com o SQL Server 2012.

“Tanto o WIF como outras funcionalidades de segurança da Share-A-space são elementos muito importantes porque permitem às organizações limitar o acesso dos utilizadores exclusivamente às informações que, de facto, desejam par-tilhar com eles”, afirma Kårdén. “A ideia é extrair apenas os dados que se pretende partilhar e disponibilizá-los no am-biente altamente seguro da Share-A-space.”

“Tanto o WIF como outras funcionalidades de segurança da Share-A-space são elementos

muito importantes porque permitem às organizações limitar o acesso dos utilizadores exclusivamente às informações que, de facto,

desejam partilhar com eles.”

Håkan KårdénEurostep

Segurança Nacional

Logística Militar

As soluções da Microsoft e dos seus parceiros permitem uma colaboração e partilha de dados seguras, e uma melhor visibilidade dos meios para as organizações de logística militar. Martin Slijkhuis, conselheiro para o setor da Segurança Nacional e Pública na Microsoft Western Europe, debruça-se sobre o assunto

Os decisores militares necessitam de soluções de TI inova-doras que os ajudem a otimizar a gestão das suas operações com vista a promover sistemas mais eficientes e processos mais eficazes, ao mesmo tempo que prestam suporte a uma das cadeias de fornecimento mais complexas do mundo. A colaboração com um número crescente de organizações de todo o mundo, bem como a nível interno, significa que uma abordagem centrada na logística integrada visando uma gestão mais eficaz do fluxo de dados em toda a ca-deia de fornecimento é hoje mais importante do que nun-ca. Consequentemente, as organizações de logística militar procuram cada vez mais a ajuda da Microsoft e dos seus parceiros no setor da defesa – incluindo a Atos, Eurostep e HP – no sentido de otimizarem as suas operações e atin-girem os objetivos das suas missões sem descurar aspetos como a economia de tempo e a redução dos custos.

“O desafio permanente para o setor consiste na disponi-bilização de meios com maior rapidez, precisão e econo-mia”, afirma Eric Lagracie, gestor de soluções de negócio de transporte aéreo na Atos. “Isto significa a otimização da co-laboração com os parceiros (clientes, fornecedores e autori-dades) e com os diversos serviços internos de uma empresa, sendo a gestão minuciosa do ciclo de vida do produto como um todo de igual modo fundamental.”

Entretanto, os desenvolvimentos em matéria de atuação das forças armadas conduziram a uma abordagem mais coope-rante entre as organizações militares em diferentes partes do mundo, bem como no seio de alianças mundiais como a NATO, contribuindo a um tempo para o alargamento, mas também para a complexidade, da cadeia de fornecimento. “No domínio da condução de operações de logística militar, a congregação e partilha de recursos entre países tenderá a tornar-se uma abordagem cada vez mais comum”, sustenta Raymond Bierens, responsável pelo departamento Global PHT Defence and Security Portfolio Management na Atos.

A par do destacamento cada vez mais frequente de tropas em missões conjuntas e integradas em forças de interven-ção multinacionais em todo o mundo, há uma necessidade crescente de que a partilha de dados se processe de forma segura, não só a nível interno como com organizações ex-ternas. Todos estes objetivos têm de ser alcançados num contexto de redução constante dos orçamentos de defesa e na presença de sistemas legados pesados que, muitas vezes,

não têm capacidade para facultar uma partilha de dados se-gura e disponibilizar aos decisores militares as informações relevantes quando delas necessitam. As organizações tam-bém precisam de garantir que os sistemas em que investem propiciarão o devido retorno do investimento (ROI), o que significa que a abordagem de TI centrada no princípio da remoção e substituição não constitui uma opção.

“Para os setores caracterizados por ciclos longos e sujeitos à pressão dos custos, qualquer alteração em termos de pro-cesso ou sistema deve demonstrar o ROI”, declara Lagracie. “O ERP faz parte da solução, mas a questão é saber como integrar sistemas de negócio específicos (de operações em tempo real, por exemplo) e ERPs, sabendo de antemão que esses sistemas são, por sua vez, provenientes de diversas organizações”.

A Atos presta suporte a inúmeras soluções de logística militar ERP, desde a implementação de soluções SAP no Ministério do Ambiente (Instituto Hidrográfico) do Reino Unido; Forças Armadas da Dinamarca, Finlândia e Alemanha; e Ministério da Defesa da França, Reino Unido e Países Baixos; às solu-ções Microsoft na OTAN. Isto significa que a Atos está parti-cularmente bem posicionada para proceder à sincronização e atualização do ambiente SAP base para organizações de defesa e segurança. Ligar sistemas legados em vigor a uma implementação ERP como, por exemplo, o SAP coloca desa-fios no que toca a prestação de esclarecimentos em matéria de logística integrada aos decisores militares.

Gestão da complexidade

“A complexidade é mais que muita; cada Ministério da Defesa dispõe de sistemas legados próprios, muitos dos quais em funcionamento há anos e com métodos de implementação completamente distintos para acomodar processos defini-dos localmente”, afirma Håkan Kårdén, CEO na Eurostep. “Em seguida, as organizações tentam extrair os dados des-tes sistemas legados e integrá-los no SAP, que é suposta-mente um sistema padrão da indústria. Esta abordagem não está a resultar, visto que os sistemas ERP não conseguem processar dados logísticos avançados nem possibilitam a partilha de dados segura. Além disso, as organizações não podem fornecer acesso às informações armazenadas inter-namente em sistemas como SAP a empresas externas, na medida em que tal representa um risco de segurança.”

“O vasto leque de implementações do Dynamics AX atesta a capacidade de adaptação e solidez do conjunto de ferramentas junto do cliente, tendo em conta a tendência de as instituições de defesa se basearem na experiência comprovada.”

Mike SchaeferHP

A solução Share-A-space da Eurostep – relativamente à qual a Atos pode servir como integradora de sistemas – reúne as condições que permitem esta partilha de dados de uma forma segura e totalmente integrada em toda a cadeia de fornecimento. Tem por base a norma de informação PLCS (Product Life Cycle Support), introduzida em 2005 para aju-dar a fazer face aos requisitos de informação no ciclo de vida do produto. Desde então, a PLCS tem vindo a ser reco-mendada pela OTAN enquanto norma para os esforços de colaboração no STANAG 4661. Tem por objetivo estabelecer a troca e partilha de dados estruturados com vista a prestar suporte aos meios ao longo de todo o seu ciclo de vida. Preserva a consistência, durabilidade, permutabilidade e continuidade dos dados, independentemente dos sistemas utilizados. O Ministério da Defesa francês tornou recente-mente pública a sua intenção de adotar a PLCS/Stanag 4661 como interface entre o ministério propriamente dito e os setores da indústria.

“A Eurostep participou intensivamente no desenvolvimento do PLCS e à medida que a norma foi conhecendo novos avanços foi sendo incorporada de forma cada vez mais sus-tentada no produto Share-A-space”, refere Kårdén. “A so-lução Share-A-space integra-se com os sistemas existentes das organizações militares, o que anula a necessidade de enveredar por um dispendioso processo de substituição do sistema. A solução está preparada para importar e exportar dados de outros setores da indústria que, à partida, os sis-temas legados não teriam como processar devido a preocu-pações de segurança.”

A Share-A-space já presta o seu contributo na gestão e par-tilha segura dos dados de organizações de logística mili-tar. A título de exemplo, a empresa de defesa BAE Systems pretendia encontrar um modelo de colaboração mais eficaz com os seus parceiros de negócio. Neste sentido, colabo-rou com a Eurostep de modo a implementar a sua solução Share-A-space, utilizada por engenheiros e designers para partilhar informações em segurança. A Eurostep também ganhou um contrato junto da Kongsberg Protech Systems para a sua plataforma Share-A-space tendo em vista a cola-boração empresarial. A Share-A-space é igualmente útil nos Ministérios de Defesa a nível interno. A Administração de Material de Defesa do Governo Sueco (FMV) já faz uso da Share-A-space desde 2009, mantendo configurações de sis-temas de material, incluindo as pessoas destacadas respon-sáveis por cada sistema.

Desenvolvida em torno da tecnologia Microsoft, a Share-A-space está apta a assegurar os elevados níveis de segurança de que as organizações militares necessitam. A solução tem por base o Microsoft .NET Framework, que integra o ASP.NET, Windows Communication Foundation e Windows Identity Foundation (WIF), e é compatível com o SQL Server 2012.

“Tanto o WIF como outras funcionalidades de segurança da Share-A-space são elementos muito importantes porque permitem às organizações limitar o acesso dos utilizadores exclusivamente às informações que, de facto, desejam par-tilhar com eles”, afirma Kårdén. “A ideia é extrair apenas os dados que se pretende partilhar e disponibilizá-los no am-biente altamente seguro da Share-A-space.”

“Tanto o WIF como outras funcionalidades de segurança da Share-A-space são elementos

muito importantes porque permitem às organizações limitar o acesso dos utilizadores exclusivamente às informações que, de facto,

desejam partilhar com eles.”

Håkan KårdénEurostep

Segurança Nacional

Logística Militar

As soluções da Microsoft e dos seus parceiros permitem uma colaboração e partilha de dados seguras, e uma melhor visibilidade dos meios para as organizações de logística militar. Martin Slijkhuis, conselheiro para o setor da Segurança Nacional e Pública na Microsoft Western Europe, debruça-se sobre o assunto

A capacidade de partilhar estes dados de modo seguro permite que as organizações tenham uma noção exata e atualizada dos meios e provisões, bem como do nível de prontidão do equipamento para as missões. Com as forças muitas vezes a operar em zonas remotas e inóspitas, são necessárias ações de manutenção e reparação constan-tes a fim de manter o desempenho destes meios. As or-ganizações de logística militar esperam, da parte dos seus sistemas, uma aptidão exemplar para disponibilizar o equi-pamento certo, no local certo, à hora certa visando a máxi-ma eficiência operacional.

“Os meios militares revestem-se de importância vital tendo em conta o impacto direto e imediato que exercem nos ní-veis de prontidão das forças”, refere Mike Schaefer, diretor na Defence Logistics Practice da HP. “As atenções têm esta-do voltadas para as capacidades do material que dá suporte às missões das unidades, aos exercícios de treino e à apti-dão de reagir com rapidez, bem como de despoletar o po-der máximo das forças numa dada situação – seja em pleno campo de batalha ou em resposta a uma catástrofe natural. As unidades a quem é confiada uma missão dependem do equipamento que lhes é atribuído – desde o equipamen-to militar individual, ao equipamento de manejo de mate-rial e transporte, sem esquecer os sistemas de armamento. Compreender o estado do material é o mesmo que ter um perfeito conhecimento das condições das forças para apoiar a estratégia nacional.”

Apesar de haver ainda muitas organizações de logística militar que tentam basear-se nos respetivos sistemas lega-dos para gerir os seus meios, outras já deram os primeiros passos em busca de uma nova solução que lhes permita transformar o seu ambiente de TI, aumentar as eficiências operacionais e reduzir os custos. Todavia, estas organiza-ções necessitam de uma solução que possa ser implemen-tada sem demora e que não implique um longo programa de transformação de informações.

“No universo das forças de defesa de grande dimensão há um historial de procura de soluções de TI em larga escala”,

sustenta Schaefer. “Os processos de seleção, conceção e implementação são orientados por programas de lon-ga duração, que por vezes abarcam uma ou mais déca-das. A vontade inicial que traça como objetivo a eficiência e a obtenção de valor acaba por se diluir com o evoluir do programa. Porém, nos últimos anos, a HP Enterprise Services tem sido confrontada com as necessidades dos seus clientes do ramo das forças de defesa em matéria de modernização das tecnologias, mas de uma forma rápida, adaptável e ágil, que crie produtividade a partir das TI com rapidez e proporcione valor em termos de responsabiliza-ção da logística e poupança na gestão de materiais com maior rapidez ainda.”

É aqui que o Dynamics AX entra em cena. A oferta de ERP da Microsoft integra-se facilmente com outros sistemas, é segura e simples de instalar e utilizar. A solução inclui fun-cionalidades para planeamento orçamental e gestão finan-ceira; execução e cadeia de fornecimento; gestão de ativos empresariais e avaliação financeira. «O Microsoft Dynamics AX é uma ferramenta desenvolvida para dar resposta às ne-cessidades dos processos empresariais e fornecer valor de forma rápida», declara Schaefer. «O vasto leque de imple-mentações do Dynamics AX atesta a capacidade de adapta-ção e solidez do conjunto de ferramentas junto do cliente, tendo em conta a tendência de as instituições de defesa se basearem na experiência comprovada. Os utilizadores po-dem tirar partido das capacidades de toda a força na toma-da de decisões relacionadas com as ferramentas e processos novos. Por sua vez, as chefias podem estar certas de que todos os subordinados conseguirão assimilar rapidamente a metodologia do AX. Uma maior familiaridade leva a uma adoção célere, o que conduz a melhorias mais rápidas e a um valor acrescido.»

Graças ao valor acrescentado proporcionado pelo Dynamics AX e pelas soluções de parceiros Microsoft como a Atos, a Eurostep e a HP, as organizações de logística estão aptas a conquistar as competências de que necessitam para trans-formar a vantagem da informação em vantagem operacio-nal competitiva.

Logística Militar

IMAGEM

«ToDoS oS CoNFLIToS PoSSUEm DImENSõES úNICAS E NECESSITAm DE SER AboRDADoS Com SoLUçõES à mEDIDA»

«Durante os dois dias em que permaneceu em Portugal, o General Knud Bartels concedeu uma entrevista exclusiva à «Segurança&Defesa», no decorrer da qual passou em revista o momento presente da organização e traçou algumas perspectivas futuras. As filosofias «smart defense» e «connected forces iniciative» foram alguns dos pontos abordados numa troca de impressões que abordou, entre outros pontos, a evolução do conceito estratégico aprovado em Lisboa em 2010»

| KNUD bARTELSPresidente do Comité militar da NATo |

| entrevista |.16

«é ExTREMAMENTE IMPORTANTE quE OS PAíSES MAIS PEquENOS FAçAM ESCOLHAS CRITERIOSAS E PROCuREM MAxIMIzAR OS RESuLTADOS DESSAS ESCOLHAS»

como observa e analisa o papel de estados mem-bros da natO com a dimensão de Portugal, nomea-damente no âmbito da filosofia de «smart defense» da organização?

Em primeiro lugar, há que levar em consideração que 17 dos 28 países NATO têm menos de 15 milhões de cidadãos. Ou seja, representam a maioria de estados--membros, se for entendido que esse número ajuda a definir os países como pequenos. Por outro lado, os parceiros com estas características têm, por defini-ção, orçamentos mais limitados, quando comparados com nações maiores. Assim sendo, é extremamente importante que os países mais pequenos façam esco-lhas criteriosas e procurem maximizar os resultados dessas escolhas. Tal significa a aplicação, no maior grau possível, de sistemas de cooperação nos campos da aquisição, manutenção, desenvolvimento e gestão dos activos.

e qual é o papel da natO no sistema?

Entendo a NATO como um facilitador do processo de «smart defense», ao aconselhar e auxiliar a criar o enten-dimento necessário entre os parceiros. A aplicação dos sistemas de «smart defense» não necessita de envolver em simultâneo os 28 países NATO. Pode concretizar-se através da decisão comum de um conjunto de estados que, por razões industriais, operacionais, geográficas ou uma combinação de todas elas, decidem partilhar um projecto e caminho, tornando mais acessível a cada país a aquisição destas capacidades. Em suma, trata-se de obter mais pelo mesmo dinheiro ou pagar menos pelas mesmas capacidades.

e cabe à natO construir essas pontes de entendimen-to entre os parceiros?

Certamente, facilitando os processos.

a organização é composta por parceiros de dimen-sões muito diferentes. é mais fácil edificar essas pon-tes entre países que se equivalem em termos de peso geográfico e populacional?

Não necessariamente. Não se trata apenas de uma ques-tão de dimensões. Pode perfeitamente ser uma questão geográfica ou de interesses comuns a determinar a liga-ção específica entre dois ou vários países. O que significa que as pontes podem ser múltiplas.

continua a natO a defender o conceito de «niche ca-pabilities» ou existe uma nova orientação que cor-responda melhor às compreensíveis aspirações dos estados-membros em manter um sistema de formas minimamente equilibrado?

Em primeiro lugar, todos os países que compõem a NATO têm as suas necessidades nacionais.

Que são específicas para cada um.

Exactamente. Acima disso, o processo de planificação de defesa da NATO procura assegurar que, por um lado, não existe qualquer duplicação de capacidades e, por ou-tro, que é dado o máximo uso a essas capacidades.

especialmente no actual contexto económico internacional?

Certamente que esse contexto não é o último dado da equação a levar em conta. Atrevo-me a dizer que se trata de princípios de boa gestão interna, que hoje são defi-nitivamente mais importantes nos dias de hoje, em que um bom número de países NATO enfrenta grandes difi-culdades económicas. E tal acontece em estados grandes, médios e pequenos.

a natO continua a ser a mais poderosa aliança militar jamais existente, mas esse estatuto advém principal-mente da participação dos eua. concorda?

Não há dúvida que a contribuição dos Estados Unidos é muito, muito substancial. E uma das metas futuras no desenvolvimento da organização é a de que nenhuma na-ção contribua com mais de 15% das capacidades totais da NATO. O que, em outras palavras, implica que os EUA vão passar a contribuir menos e os outros parceiros mais.

como avalia o fosso de capacidades militares, que não cessa de se alargar, entre as forças armadas americanas e as europeias? certamente que a crise financeira que afeta tantas nações não vai ajudar a es-treitar esse mesmo fosso num futuro próximo..

É esse precisamente o papel fundamental do conceito de «smart defense», que permite às nações com limita-ções orçamentais garantirem as capacidades necessárias. A «smart defense» é muito importante, assim com a ini-ciativa «connected forces». Tudo porque são os treinos em conjunto, realizados no âmbito total de operações,

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que nos permitirão operar em conjunto e retirar vanta-gens das forças dos nossos parceiros, construindo assim capacidades comuns.

é a procura de novas soluções para novos desafios. De que forma os presentes constrangimentos econó-micos e financeiros se reflectem nas perspectivas de trabalho em conjunto que refere?

Não há qualquer dúvida que a crise económica, que hoje afecta quase todas as nações de forma substancial, apre-senta impactos negativos. Mas creio que é possível traçar um caminho, desenhando as prioridades mais apropria-das e mantendo o foco na vontade política em obter resultados. Acredito que com as estratégias de «smart de-fense» e «connected forces iniciative» será possível com-pensar, em certa medida, os efeitos adversos da actual evolução económica. Mais. Penso que é mesmo possí-vel afirmar que a importância desta missão estratégica é, precisamente, reforçada pela crise económica.

LIGAçõES ExTERNAS

não obstante o dinamismo que a natO tem mostra-do na procura e aprofundamento de algumas parce-rias, no que respeita ao relacionamento com a união europeia não se têm observado progressos relevan-tes com impacto operacional.

Primeiro que tudo deixe-me destacar os laços que man-temos com a União Europeia. Por exemplo, no Kosovo, a NATO e a UE mantêm uma estreita colaboração no âmbito da KFOR, com resultados visíveis nos campos policiais e do desenvolvimento dos sistemas judiciais,

ambos absolutamente centrais para o futuro daquele país. Repito: existe uma boa cooperação geral entre as duas organizações. Em paralelo, tanto a NATO como a UE têm os seus próprios mecanismos de tomada de de-cisões, os quais implicam consensos e acordos, especial-mente no que respeita aos processos de alargamento de actuação. Apenas posso dizer que caberá às duas organi-zações tomarem, no futuro, as decisões necessárias para irem mais além futuramente. Certamente que o farão logo que seja possível. Existe também um excelente ní-vel de cooperação entre a NATO e a UE – não em terra mas no mar – no âmbito da actuação das forças maríti-mas EUNAVFOR ATALANTA e do escudo operativo NATO na Costa da Somália.

Onde têm participado navios portugueses.

Actualmente está presente naquelas águas um navio de pavilhão português. Trata-se da fragata Álvares Cabral, que saiu de Lisboa em Março e se encontra a comandar a operação ATALANTA.

apesar destas ligações de cooperação que refere, não haverá necessidade de rever os mecanismos de cooperação criados em 2001, na sequência do esta-belecimento de relações formais entre as duas or-ganizações, dentro do princípio da não-duplicação de estruturas? Por exemplo, a disponibilização das estruturas de comando da natO como alternativa à criação de comando europeu.

Volto a dizer que as duas organizações têm os seus pró-prios processos de tomada de decisões. E quando am-bas chegarem à conclusão de que é o tempo apropriado para se tornarem mais próximas, certamente que o farão. Não me cabe dizer quando nem de que forma isso acontecerá.

Mas certamente que reconhece que há um longo ca-minho a percorrer.

Há sempre um longo caminho a percorrer.

INTERIM BALLISTIC MISSILE DEFENCE CAPABILITy»

Poderia explicar a que é que corresponde concreta-mente a «Interim ballistic missile defence capabili-ty», declarada na cimeira de chicago, na sequência da decisão tomada em lisboa para alargar a capacidade

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de defesa de «deployed troops» à proteção de todo o território e populações de países natO europeus? O que se espera, nesta área, para o futuro próximo?

A «Interim ballistic missile defence capability» implica que o comando de um determinado número de capa-cidades norte-americanas do Air Command Ramstein foi transmitido – por decisão do Presidente dos EUA – para a NATO. Estas capacidades encontram-se ope-racionais, mas é evidente que o processo de constru-ção de uma «ballistic defense missile» é um processo de longo prazo, tanto devido à complexidade com aos elevados custos. Mas estamos no caminho certo e a capacidade operacional interna está no lugar.

não se verificam atrasos no processo?

Neste momento, não.

Mesmo tendo presentes as dificuldades económicas mundiais?

Mesmo assim. Trata-se de uma combinação de custos que os países têm vindo a assumir e a partilhar.

a «connected Forces Initiative» foi também aprovada na cimeira de chicaço tendo em vista a criação das chamadas «natO Forces 2020». Poderia esclarecer alguns pontos desta iniciativa?

A necessidade de uma estratégia como a «Connected Forces Initiative» ficou patente durante o processo in-terventivo nos Balcãs e principalmente no Afeganistão. Temos vindo a criar a inter-operacionabilidade entre as nossas forças que não possuíamos durante a Guerra Fria. Também criámos um corpo de capacidades que não detínhamos anteriormente e a principal inten-ção da «Connected Forces Initiative» é assegurar que as capacidades e a inter-operacionalidade das forças NATO são mantidas e desenvolvidas ao mais alto ní-vel. Queremos assegurar-nos de que tudo o que liga as nossas forças – formação teórica, treino e exercícios – é maximizado. Ser essa «ponta de lança» dessa evolução é a resposta da NATO.

Ou seja, construir outro tipo de pontes.

Pode dizer-se isso. A NATO tem como missão construir pontes, a todos os níveis, entre as forças armadas dos seus 28 estados-membros.

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como avalia a intervenção militar da natO na líbia, por ocasião do conflito que levou à queda de Kadhafi, e ensinamentos podem ser retirados dessa experiên-cia? Poderá esta intervenção vir a constituir um mo-delo para futuras actuações?

Não acredito que os conflitos se repitam exactamente da mesma maneira. Assim, há que ter extremo cuida-do em prepararmo-nos para algo que parecerá já ter acontecido na Líbia, mas que, na realidade, não se re-plicará. O que devemos ter em mente quando falamos do que ocorreu naquele país é que as dimensões aéreas e navais da campanha foram da responsabilidade da NATO, a dimensão terrestre foi assumida pelas for-ças líbias que se opunham ao regime de Kaddafi e a coordenação foi assumida por um conjunto de países NATO e parceiros como o Qatar, os Emirados Árabes Unidos e a Jordânia. Estes estados actuaram no terreno e auxiliaram-nos na coordenação de forças. Em suma, aprenderam-se diferentes lições nos campos aéreo e marítimo e também sobre a forma com a campanha multidimensional foi coordenada. Estas lições servirão para serem desenvolvidas e aplicadas futuramente na estrutura de comando da NATO.

São princípios passíveis de ser aplicados em diversas situações?

Na minha perspectiva, todos o conflitos possuem dimen-sões únicas e necessitam de se abordados com soluções à medida. Por exemplo, o que retirámos da experiência na

Líbia foi importante, mas não implica procurar duplicar os acontecimentos que ocorreram nessa ocasião. Há que ter extremo cuidado na abordagem a futuros conflitos e procurar refutar a crença de que apenas necessitamos de duplicar o passado.

O PóS‑LISBOA 2010

como avalia o momento presente no processo de evolução da natO, iniciado após a aprovação do novo conceito estratégico na cimeira de lisboa em 2010?

A aprovação do Novo Conceito Estratégico tem vindo a motivar um número significativo de revisões no interior da NATO. Uma das consequências mais visíveis diz res-peito ao processo de unificação das estruturas de coman-do. Há que referir que grande parte dos nossos esforços têm sido dedicados ao Afeganistão mas com a prevista redução da presença até à retirada final, apontada para 2015, veremos a NATO concentrar-se cada vez mais nos princípios da sua nova estratégia.

Pode especificar?

A organização vai concentrar-se em manter a inter-ope-racionabilidade das suas capacidades globais, seguindo uma filosofia de contingência, mais do que se dedicar a uma campanha específica. Vai preparar-se para actuar no espectro alargado de operações, desde as de alta intensi-dade à marcadamente analíticas e de pesquisa.

«A APROVAçãO DO NOVO CONCEITO ESTRATéGICO TEM VINDO A MOTIVAR uM NúMERO SIGNIFICATIVO DE REVISõES NO INTERIOR DA NATO.»

DOIS DIAS EM PORTuGAL

Knud Bartels, que assumiu funções em Janeiro de 2012, sucedendo ao almirante italiano Giampaolo di Paola deslocou-se a Lisboa nos dias 28 de Fevereiro e 1 de Março. O programa oficial teve início com uma visita no Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Belém, onde prestou homenagem aos combatentes portugueses. De salientar ainda os encontros que realizou com o Ministro da Defesa Nacional, José Pedro Aguiar-Branco e com o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, General Luís Araújo, de quem partiu o convite para a visita. Antes do cargo actual, o general dinamarquês era chefe das Forças Armadas do seu país desde Novembro de 2009, servindo como principal conselheiro militar do governo.

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Para abordar esta questão complexa que se enuncia com a fórmula de simples leitura – O futuro de Portugal – tem de lembrar-se que a pergunta, – sempre angustiante e não tranquilizadora – foi mais de uma vez colocada na história, longa de séculos, de um país que frequen-temente teve de avaliar a relação de capacidade com a efetivação de um Projeto Estratégico Nacional.

Tenho insistido, na análise do tema, em que nesse pro-cesso esteve sempre presente a necessidade de um apoio externo, procurado na circunstância variável de cada épo-ca, frequentemente em mudança mais acelerada do que o acompanhamento desafiante com que o Estado portu-guês deveria procurar redefinir e fortalecer o equilíbrio e relação entre a sua capacidade efetiva de manter ou alte-rar o interesse permanente do seu conceito estratégico nacional e a redefinição do apoio externo necessário.

Na fundação do Reino, Afonso Henriques foi na Santa Sé que procurou esse apoio, aceitando uma definição de vassalagem; na Dinastia de Avis a busca acrescentou a Aliança Inglesa que ainda hoje vigora sem esquecer uma pesada contabilidade de custos não apenas materiais, mas também de dignidade nacional; e depois de 1974, findo o Império Euromundista e com ele a parcela por-tuguesa desse Império, a União Europeia foi o apoio que ultrapassou as dúvidas soberanistas, na construção de um pensamento de unidade sem forma final definida, mas com um conceito estratégico dominado pelo ob-jetivo da paz e cooperação, pregado ao longo de séculos pelos Projetistas da Paz, em que se destaca Kant, e que na história portuguesa tem mais de uma manifestação,

talvez encontrando no Infante D. Pedro, o que morreu em Alfarrobeira, uma referência.

Entre nós, e no século XX, não posso esquecer o Centro Europeu de Informação (CEDI), sem alongar a referên-cia, mas apenas porque em regra é omitido, e nele parti-cipei durante anos.

Desta feita, porém, o movimento político de 1974, que teve como fator determinante a fadiga causada por um esforço militar assumido para dar tempo à implantação pelo governo de uma solução política que acompanhasse com razoabilidade o fim do Império Euromundista, o que não aconteceu.

Com a perturbação inevitável numa mudança política imposta por revolução, neste caso militar, a adoção da adesão à União Europeia foi sobretudo dominada pela organização do Estado segundo o modelo democrático ocidental, pela aquisição pelos cidadãos dos direitos ine-rentes e derivados da Declaração Universal dos Direitos do Homem da ONU, pela liberdade de circulação, e pela mudança em paz civil que permitiu o acolhimento sem reservas dos que foram chamados retornados.

Não vamos recordar o trajeto histórico dentro da União, para não alongar a referência à evolução que nos condu-ziu à crise presente, no quadro que tem como premissa a lembrada necessidade histórica de apoio externo. A evo-lução da Europa, antes de o globalismo se perfilar como o desafio do presente, implicou que Portugal fosse por vezes envolvido nas consequências de decisões em que

ADRIANO MOREIRA* o FUTURo DE PoRTUgAL

| artigos |

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não participou, como aconteceu com as guerras de 1914-1918 e 1939-1945, a primeira com efeitos traumáticos na Flandres, e graves em Moçambique e Angola, a segunda com a invasão de Timor, fazendo com que repetidamente o Estado se configurasse como Estado exógeno; a entrada na União Europeia, com o reflexo do seu liberalismo ins-pirador de um novo-riquismo que conduziu à distância entre os recursos e as despesas, levou a comunidade portu-guesa à situação de Estado exíguo; o agravamento desta distância, por factos externos (exógenos) vindos inicial-mente dos EUA, e internos derivados do novo-riquismo, fizeram com que a fronteira da pobreza, que tanto inquie-ta a temática do PNUD (Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento) se deslocasse do Sul do Sara para o Norte do Mediterrâneo pelo que a situação de protetorado é o ponto esdrúxulo da exiguidade a que chegamos.

A entrada do III Milénio vem desafiada pela circuns-tância de estarmos fundadamente preocupados com o Conceito Estratégico de Segurança e Defesa Nacional sem termos Conceito Estratégico Nacional, porque o antigo se esgotou em 1974, nesta Europa que também está hesitante na definição do seu próprio conceito estraté-gico, abrangida pela decadência geral do Ocidente.

O trajeto que percorremos, desde parceiro glorioso do Império Euromundista até à atual condição de proteto-rado, não tanto da própria União, mas dos poderes de facto que emergiram, incluindo sinais de ambicionado Diretório de péssimo passado, encontra-nos na situação que Steinbech descreveu nas Vinhas da Ira, com a so-ciedade civil a manifestar-se, sem referências partidárias, contra essa mestiça gestão de governo eleito e de pode-res externos, que vão semeando o panorama nacional de algumas Casas Grandes e múltiplas sanzalas (Gilberto Freyre), com os cidadãos a caminhar para a condição de escravos de ganho (de novo Gilberto), perante a ex-propriação pelo Estado da maioria dos seus rendimentos quando o desemprego crescente não os elimina, quando a tentação de reinterpretar a Constituição em função de um paradigma de mercado cresce, e finalmente o êxodo dos mais qualificados anuncia um consequêncialismo mais severo do que as perdas de competência sofridas com a expulsão dos judeus, pelo que a primeira exigên-cia da definição de um futuro português com dignidade humana e nacional, está no imperativo de recuperar um lugar igual na comunidade internacional. Foi assim no fim da Primeira Dinastia, foi assim em 1640, foi assim depois do Ultimatum de 1890, é assim nesta entrada no terceiro milénio.

Temos para isso em conta a mudança acelerada da cir-cunstância internacional, da qual destacamos alguns aspetos, tais como: a mudança de hierarquia das potên-cias, que aconselha a rever as prioridades das ligações diplomáticas, parecendo inevitável aceitar que aquela mudança obriga a regionalismos, dos quais o projeto europeu foi paradigma esperançoso; projeto que amea-ça ruturas desde que a fronteira da pobreza emigrou para o Norte do Mediterrâneo; visto ainda o mal eu-ropeu, que é a falta de firmeza num conceito estratégico que implica solidariedade, esta em risco demonstrado pelo renascimento dos demónios que historicamente multiplicaram os conflitos internos: parece-nos que a Europa perderá voz no mundo se não conservar a uni-dade, e por isso a defesa desse regionalismo é funda-mental; isto não dispensa assumir que é o Ocidente que está em crise, que o Atlântico é um lago ociden-tal, exigindo que os EUA, sem perder a vocação do Pacifico, tirem lição suficiente de duas guerras mun-diais para compreenderem que o Atlântico não é a sua retaguarda, e que a solidariedade ocidental é vital: nisso estamos envolvidos, nas ameaças e nas seguranças, pela posição geográfica que nos dá um poder funcional se participarmos no processo decisório, e que nos conde-na à situação exógena de sofrer o consequencialismo das decisões que outros tomem, sem a nossa participação, com experiência suficiente recolhida com o trajeto dos Açores na evolução da circunstância internacional.

Tudo, e o muito que fica para mais informados e sabe-dores alinharem, faz da capacidade diplomática, articu-lada com um conceito realista de defesa, uma prioridade que tão claramente foi entendida pelo Padre Vieira em emergência gravíssima de Portugal, exigindo a refor-ma interna em primeiro lugar. No Sermão do Terceiro Domingo da Quaresma, pregado no ano de 1655, avi-sou: «Antigamente estavam os ministros às portas das cidades: agora estão as cidades às portas dos ministros… E o sangue do soldado, as lágrimas do órfão, a pobreza da viúva, a aflição, a confusão, a desesperação de tantos miseráveis?». A resposta é que ou a sociedade civil salva a solidariedade nacional, e a partir dela impõe a refor-ma da governação, em função de um conceito estratégi-co nacional, ou não haverá lágrimas que parem, ao que também se referia o Padre.

É neste ponto que se encontra a pedra fundamental da resposta ao Cisne Negro que colocou em crise a ordem sonhada na Carta da ONU, e foi o globalismo que ainda espera por análises mais ricas do que as já conseguidas,

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mas que torna visíveis algumas exigências de responsabi-lidades assumidas e inadiáveis.

Começaremos por indicar algumas das mudanças radi-cais que a Carta da ONU não previu. Primeiro, que a descolonização daria a todas as áreas culturais do globo uma liberdade de intervenção que nunca tinham pos-suído; depois, que a hierarquia definida no Conselho de Segurança deixou de corresponder à realidade, servindo de exemplo o facto de a França e a Inglaterra ainda dis-porem de direito de veto, que deveria pertencer à Europa unida e respeitada; segue-se que o globalismo manifesta centros de poder que nenhum tratado legítimo, como acontece com o G20, centros de poder atípicos ou não identificado; que as fronteiras geográficas, antes sagra-das, são hoje ultrapassadas pelas fronteiras dos interesses e de segurança, e também pelas fronteiras da pobreza; que os valores instrumentais superaram os valores fundamen-tais, pondo o preço das coisas no lugar do valor das coisas; que as lideranças ocidentais são pouco dotadas da voz encantatória que no passado possuíram; que o valor da confiança, que deve existir entre eleitorado, governança, e ambiente internacional, está enfraquecido; que a fome é uma ameaça tão grave como as armas de destruição ma-ciça; que a maior parte dos Estados existentes não tem se-quer capacidade para responder aos desafios da natureza, como tsunamis, tornados, inundações, epidemias, e ao consequêncialismo político e social.

Posto isto, quando olhamos para a situação de Portugal, parece-me evidente que o conceito estratégico da Nação, igual na comunidade internacional, exige pelo menos um patamar de defesa e consolidação institucional, que apoie a definição de futuro que tal conceito incorpora.

Quanto ao primeiro patamar parece fundamental defen-der e consolidar a solidariedade da sociedade portuguesa e não adotar políticas que suscitam as divisões e confli-tos entre gerações, entre regiões, entre funções, reparan-do nas quebras de solidariedade que despontam, dentro dos Estados europeus, como a Espanha, a Inglaterra, a República Checa e a Eslováquia, a Bélgica, e assim por diante; teremos atenção ao facto de que, sem esquecer a evolução do conceito das fronteiras, terra que não se pisa e mar que não se navega, tendem para não ser nossos, pelo que é necessário reabilitar o conceito estratégico de reserva alimentar que antes se ensinava na escola pri-mária; para tanto., reformular a política agrícola e defi-nitivamente cuidar de integrar a plataforma continental no território nacional, por isso reforçando de seguida a

diplomacia económica para evitar repetir a experiência das companhias majestáticas, de que sofremos no anti-go ultramar. Quanto ao segundo patamar, admitir que, pela exigência estrutural de apoio externo, a defesa da Constituição da Europa, faz parte da defesa do futuro do próprio Ocidente e do lago da Atlântico Norte que lhe pertence e que os EUA devem considerar um elemento fundamental do seu conceito e não como retaguarda; recuperar, deste modo, o lugar igual no Regionalismo Europeu, que agora está afetado.

É de primeira evidência que assumir todos estes fatores como essenciais para a definição de um conceito estra-tégico nacional, sem o qual não tem não consistência lógica o conceito estratégico de defesa nacional, tem o desafio de conseguir recursos financeiros, e portanto sair da condição de protetorado, que teve origem no neo-ri-quismo que invadiu a prática governativa e contagiou a sociedade civil.

Ora o esmagamento da sociedade civil pela carga dos impostos que ultrapassam a linha da expropriação, e dão sinais de um drama em curso que faz lembrar que a fome não é um dever constitucional, implica um constrangi-mento da liberdade do Estado que, sem revisão de tal condicionalismo, durará gerações, e arrastará uma de-gradação eventual crescente das esperanças de um futuro digno para as gerações que vão receber o legado.

Teremos presente que a crise devida à teologia de mer-cado, que desencadeou um movimento de ganância in-ternacional sem controlo, esta uma das lamentações de Bento XVI, é uma crise mundial, e que para encarar tal situação existe um Conselho Económico e Social da ONU que nunca foi convocado. E todavia, os Relatórios do PNUD, até à data em que a fronteira da pobreza avan-çou para o norte do Mediterrâneo, insistiram no perdão das dívidas para os países carentes porque os juros pagos somavam um valor superior aos empréstimos recebidos. Não foi feito, pode ser feito, estamos no caminho de re-produzir no Norte do Mediterrâneo a mesma situação.

Os países da União em dificuldades, já hoje consti-tuem um grupo suficientemente e infelizmente nume-roso – Grécia, Itália, Espanha, Portugal, Chipre – para exigirem da União o cumprimento dos princípios da solidariedade e de respeito pela dignidade dos povos, para exigirem que o caminho da constitucionalização da União seja mantido prioritário, e que as medidas de apoio, contenção da ganância, regulação dos encargos

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financeiros para salvaguarda do crescimento económi-co sejam prioritariamente assumidos: a crise da unidade europeia não vai beneficiar nenhum membro atual da União em crise, nem manter a voz europeia no mundo. As ilusões do centro rico, que faz ressuscitar o limes dos romanos, agora com a forma de fronteira da pobreza, são a maior das ameaças para a totalidade da Europa, e da ameaça no mundo.

Repor a importância das humanidades no ensino da juventude e na memória dos que já assumem as res-ponsabilidades, fará encontrar nas raízes desse passado um impulso coletivo para suportar a crise nos limites impostos aos poderes de facto, ou não cobertos pela legalidade dos tratados, como o G20, em nome da dig-nidade humana, para repor a capacidade de reentrar como atores positivos na construção de um novo futu-ro da casa de todos que é a terra, e na de cada um que é a sua comunidade nacional.

A história é mestra da vida, mas apenas prega o exemplo à responsabilidade das gerações que se sucedem. As obriga-ções assumidas devem ser cumpridas, mas o respeito pelos valores que constituem o património comum da humani-dade limitam a legitimidade das obrigações impostas em estado de necessidade. A busca de um paradigma comum para todos, que a Carta da ONU imaginou conseguir, e que o incansável Kung procura, terá essa dignidade dos homens e dos povos como elemento estruturante.

Esta é a luta em que Portugal tem de assumir-se, para salvação própria e de todo o Ocidente a que pertence, em cujo património imaterial a maneira portuguesa de estar no mundo ocupa notável espaço, e para que uma nova ordem mundial, e um novo constitucionalismo do regionalismo europeu, abram novos espaços ao conceito de que, como Paulo VI pregou na ONU, o desenvolvi-mento é o novo nome da paz.

Ao longo dos tempos, Portugal perdeu o primeiro im-pério, que era o da Índia, em Alcácer Quibir, e o Estado estava falido; perdeu o segundo império com a indepen-dência do Brasil, e este Estado estava falido; abandonou, com a Europa, a sua parte do Império Euromundista em 1974, e o Estado está falido, atingido pela crise mundial.

Nestas dificuldades nasceu o Sebastianismo, e sempre me pareceu inexplicável colocar a esperança de novo futuro num Rei vencido. Prefiro a inspiração de ho-mens como Bartolomeu Dias, que partiu três vezes para

a Índia, e morreu no mar sem lá chegar. O futuro de-monstrou que a persistência dos marinheiros que morre-ram teimando, foi recompensada. São melhor inspiração para a desafiante crise que enfrentamos: a salvação do constitucionalismo europeu, é o apoio externo de que sempre necessitamos, a base das janelas de liberdade que nos estão abertas: são elas a CPLP, organização de que nenhum antigo poder imperial tem equivalente, e o Mar, com a maior plataforma continental do mun-do, e de que temos de evitar o esbulho. Pelo saber, e pelo saber fazer, mantida a vontade da sociedade civil, retomaremos a prestação para o património comum da Humanidade, em que sempre estivemos presentes. Mas sem perder a consciência de que o globalismo desafiou o Ocidente, a Europa a que pertencemos, e o Portugal em que decidimos ficar. Porque o desastre, que destruiu a ordem mundial, também continua no horizonte.

*Presidente do Instituto de Altos Estudos da

Academia das Ciências de Lisboa.

Presidente do Conselho Geral da Universidade Técnica de Lisboa

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» Vicente Verdu, El estilo del mundo, La vida en el capi-talismo de ficción, Anagrama, Barcelona, 2003

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No actual Sistema Internacional a ameaça que manti-nha coordenadas de espaço e de tempo bem definidas, desapareceu, dando lugar a um período de anormal ins-tabilidade, com uma ampla série de riscos e perigos, uns novos, outros antigos, que apenas subiram na hierarquia das preocupações dos Estados.

A comunidade internacional foi forçada a aceitar que para além do Estado existem outros actores que empregam a força como instrumento nas Relações Internacionais, situação que influencia decisivamente o fenómeno da Guerra a partir da última década do século XX, e hoje a violência global é assimétrica e permanente, não tem uma origem clara e pode surgir em qualquer lugar.

De uma maneira muito genérica, é comum classificar as guerras como regulares e irregulares. As primeiras, tí-pica do anterior Sistema Internacional, têm como ato-res os Estado, as Forças Armadas e uma determinada População.

As Guerras irregulares contemporâneas, acentuadamen-te depois de 1945, tornaram-se cada vez menos entre Estados e passaram a contemplar outros actores, infra--estatais, que perseguem múltiplos e diversos objectivos, que obedecem a lógicas e a racionais também diferen-tes, verificando-se uma extrema plasticidade dos seus ac-tuantes, assemelhando-se muitas vezes a uma luta pela sobrevivência, sem regras, sem objectivos claramente definidos. Os Estados podem entrar em guerra contra uma rede terrorista, uma milícia, um movimento inde-pendentista, um exército rebelde ou ainda contra o cri-me organizado. As guerras irregulares podem também

ser travadas entre dois ou mais grupos organizados, não envolvendo nenhum Estado.

Na História existiram diversas entidades que não eram sequer políticas nem detentoras de soberania. Não pos-suíam governo, Forças Armadas nem população, mas de-frontavam-se em guerras e campanhas bem organizadas.

Assim podemos considerar que o mundo está a enfren-tar uma situação de neo-medievalismo, ou mesmo um eventual regresso ao primitivo, favorecendo o falhanço do Estado e o crescimento da violência internacional não-estatal, em casos extremos, privatizada, perdendo o Estado o uso exclusivo da Força.

Passou a haver uma desmilitarização da guerra, no sen-tido em que os objectivos civis não se distinguem dos militares e a violência extrema é exercida contra não--combatentes e sobre todos os domínios da vida social.

Como os actores são outros, o carácter da Guerra teve que evoluir: são guerras irregulares, estrutural ou temporariamente assimétricas, sem frentes, sem cam-panhas, sem bases, sem uniformes, sem respeito pelos limites territoriais, de objectivos fluidos, de combate próximo, estando os combatentes misturados com a população que utilizam como escudo e, se necessário, como moeda de troca.

Estas guerras de hoje não são apenas mais comuns do que no passado, mas são também estrategicamente mais importantes e desenvolvem-se em Teatros de Operações urbanos; são travadas, essencialmente, em ambiente operacional de cariz subversivo.

Francisco Proença Garcia* gUERRA IRREgULAR Em AmbIENTE TECNoLogICAmENTE SoFISTICADo

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A Guerra hoje em dia aparece-nos muito associada às principais novas ameaças transnacionais: o fracasso dos Estados, o crime organizado transnacional e o terroris-mo transnacional

Na definição tradicional de Jean Bodin, o Estado é su-premo na ordem interna e independente na ordem ex-terna, ou seja, decide

por si mesmo como irá enfrentar os seus problemas in-ternos e externos, incluindo se quer ou não procurar a assistência de outros e, ao fazê-lo, limitar a sua liberdade chegando a compromissos com eles.

Os conceitos que nos aparecem associados à definição de Estados Fracassados são inúmeros, bem como diver-sos são os seus critérios de classificação, sejam eles indi-cados por académicos de renome como Fukuyama ou Zartman, ou ainda institucionais como a USAID.

Porém, entendemos operacionalizar um conceito como instrumento útil. Assim, dentro do conceito de Estado Fracassado, latu censu, inserem-se três categorias que nos aparecem de uma forma gradativa:• Estado fraco - aquele cujos órgãos de soberania e

as suas instituições não conseguem exercer a sua actividade plena em toda a extensão do território, são incapazes de garantir os serviços básicos à po-pulação e, perante esta é tido como ilegítimo. A sua Elite política, tem uma visão patrimonial do Estado, transformando-se, no fundo, em gestores de um complexo sistema de relações sociais, que premeia o indivíduo em função da lealdade, punin-do os tidos por desleais ou por competidores.

• Estado falhado, e numa escala de insucesso su-perior, é aquele que na ordem interna não tem o monopólio da legítima violência, ou seja, surgem outras entidades como milícias, exércitos privados ou uma qualquer organização subversiva, nas suas variadas tipologias, que competem com o poder formal, por vezes controlando partes significativas do território e da sua população.

• Estado colapsado aparece-nos no fim desta escala crescente de inviabilidade do Estado, o poder for-mal simplesmente não existe, os órgãos de sobera-nia e as instituições num determinado território, que no passado já possuiu os atributos tradicio-nais de um Estado, colapsaram; ou seja, no caos jurídico, legislativo e administrativo prevalece a lei do mais forte.

Nestes Estados surgem ou subsistem diversas formas de organização social e comunitária, que possuem capaci-dade de exercer a força e conduzir operações armadas, e que controlam e exercem alguma forma de responsabili-dade social sobre as populações residentes.• lumpen - Estrutura informal e horizontal, que

podem emergir e obter sucesso contra um Estado fraco. São bandos armados ligeiramente organi-zados. A sua energia irradia da rua e não pelo desenvolvimento intelectual de uma ideologia, a actuação militar precede a conceptualização dos motivos, em vez de emergir deles, e é rea-lizada sobretudo em áreas rurais. A disciplina assenta na brutalidade extrema, com utiliza-ção profusa de estupefacientes e de bebidas al-coólicas, onde o apoio da população surge pela mera questão de sobrevivência, uma vez que os elementos das unidades lumpen sistematicamen-te agridem e exploram as populações; a perten-ça ao grupo, para além da sobrevivência, é uma questão de identidade, sendo o recrutamento forçado.

• etno-linguística - São muito idênticas na actuação às forças lumpen, lutando sobretudo por recursos e, cada vez mais, numa perspectiva de enriquecimen-to. No entanto, as lealdades assentam na genealo-gia e a pertença não é uma opção. A organização é definida pelos laços familiares das estruturas que podem ser mobilizadas para o conflito em unida-des militares primitivas e que são capazes de efec-tuar pequenas acções, contudo, não um combate sustentado.As suas Forças são a manifestação da sua cultu-ra e a liderança é indicada pelos membros, de onde lhe advém o ascendente pelos pares e a boa aceitação pelos mais velhos, de quem dependem na angariação de fundos e recrutamento. A sua perenidade deve-se à necessidade individual de sobrevivência. A base etno-linguística para a or-ganização social surge em locais como a Somália e o Afeganistão

• Tipologia Popular - As Forças Populares distin-guem-se das lumpen e das etno-linguísticas pela sua ideologia mais elaborada e pela proximidade das populações que apoiam essa ideologia, tenden-do para uma organização militar mais consolida-da. Na forma tradicional, podemos dizer que tem um período pré-insurreccional e um insurreccio-nal. Surgem de uma organização em segredo que pode evoluir e conduzir operações prolongadas no

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tempo. Tendem para adquirir uma componente política autónoma em relação à militar. Exemplo é o dos movimentos independentistas, como aqueles que o poder português enfrentou em África.

O fracasso do Estado pode e deve ser relacionado com as outras ameaças aqui referidas, pois, não possuindo poder, ficam permeáveis a que dentro de si germinem e se desenvolvam as mais diversas formas de terrorismo e de criminalidade organizada.

A al Qaeda, ou aquilo que ela representa no nosso ima-ginário, apresenta uma maleabilidade, uma plasticida-de e um oportunismo nas suas ligações, efectuando sempre alianças coerentes mas sobretudo convenientes, juntando grupos que pretendem a derrota do inimigo longínquo, o Ocidente e Israel, com grupos que apenas pretendem a autonomia local, ou mesmo com grupos mais moderados.

Esta estrutura descentralizada cuja trajectória políti-co- operacional é, do médio prazo para diante, uma incógnita, parece assim estar a evoluir para uma maior descentralização, num conjunto de redes de base regio-nal, formando uma «rede de redes», com uma dimensão e estrutura variável, complexa e flexível , apoiando-se os grupos radicais mutuamente, constatando-se ainda a existência de uma rede de solidariedade activa que se estende da Chechénia ao Sudão, passando igualmente pela Europa.

Esta subversão demonstra uma capacidade de actuação global, atacando inclusivamente o coração de grandes poderes, como fez em Nova Iorque, Madrid e Londres, conseguindo sobreviver a intensas contra-medidas. A sua capacidade de sobrevivência advém-lhe sobretudo da sua capacidade de aprendizagem organizacional.

Uma vez que o terrorismo transnacional, tem intenções, objectivos, fuinanciamento, recrutamento e organiza-ção globais, consideramos o fenómeno como uma acção subversiva global.

As OCT possuem objectivos lucrativos muito bem de-finidos, uma capacidade de planeamento ao nível estra-tégico e de condução de conflitos armados, envolvendo um inimigo ou uma rede de inimigos, socorrendo-se muitas vezes das mais modernas tecnologias, desenvol-vendo a sua actividade criando um ambiente subversivo, não visando, no entanto, a tomada técnica do poder.

As OCT associadas aos conflitos armados que surgem no contexto da globalização, têm uma dimensão eco-nómica, quer na origem, quer nas consequências. As suas actividades são das mais diversas, todas altamente lucrativas sendo o tráfico de estupefacientes das mais rentáveis. Com as verbas geradas as OCT adquirem um nível de poder que compete com o dos Estados. Exprimem-no pela capacidade de criar diversas formas de instabilidade nos países onde operam, instabilidade de amplo espectro, da social à económica, da política à psicológica.

Com a finalidade de intimidar o poder instituído de forma a garantirem completa liberdade de acção nas suas actividades criminosas, alguns grupos estão dis-postos a usar elevados níveis de violência armada e, chegam a administrar partes significativas de um de-terminado território, assumindo para si os fins de segu-rança, bem-estar social e por vezes até de administrar a justiça, substituindo-se plenamente ao Estado, colo-cando ao mesmo tempo os conceitos tradicionais de soberania e integridade territorial em causa.

As guerras típicas das sociedades pós-modernas têm por base as forças da Transformação e estão ligadas so-bretudo aos grandes poderes e à NATO.

As forças da Transformação apresentam as seguintes características.• Uso de tecnologia da sociedade da informação, uti-

lização do espaço, novas tácticas e composição or-gânica das unidades, o modelo de organização das tecnologias existentes e já disponíveis mesmo no mercado civil, e a partir das quais é possível criar novas e diferentes capacidades num sistema de sis-temas, o papel dos media e da opinião pública e a civilinização.

Face à esmagadora superioridade tecnológica e às operações baseadas nos efeitos, as baixas tendem a ser zero, ou a aproximar-se do zero, pelo menos de um dos lados. E é importante que assim seja dada a necessidade essencial de conter a violência dentro de limites políticos, éticos e estratégicos aceitáveis pela comunidade internacional. O objectivo já não é ani-quilar, mas imobilizar, controlar, alterar e moldar o seu comportamento de forma a criar um novo am-biente político com perdas controladas, mesmo para o inimigo, evitando reacções negativas da opinião pública.

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No actual ambiente operacional, o mais importante é o domínio da informação, mais precisamente, o acesso, o controlo e o respectivo processamento com o objectivo de obter a sua transformação em conhecimento e depois partilhá-lo em tempo útil.

O novo campo de batalha está dominado por um siste-ma de sistemas, com base no C2W, constituindo uma 5.ª dimensão da guerra, onde a manobra informacional se sobrepõe, e por vezes substitui a manobra do terreno.

Nestas guerras a supremacia dos meios e sistemas de comunicações é um factor imperioso. Na maior parte dos casos o espaço tende a ser entendido como a quarta dimensão da guerra. Quem tiver capacidade para do-minar o espaço dominará o mundo. Com a colocação de sistemas de armas de intervenção global o espaço será militarizado, criando uma nova forma de dissuasão. Estes conceitos implicam um outro, um conceito geo-político para o espaço.

Ao nível estratégico a guerra de informação implica um domínio do ciberespaço, uma vez que os ciberataques não podem ser descurados. Esta diferente forma de guerra implica uma política de segurança e defesa para o ciberespaço, pois este impôs uma nova dimensão geopo-lítica, a do próprio ciberespaço.

Uma Nova Geração de Armas• Miniaturização• Maior alcance• Actuação inteligente• Furtividade• UAV• Robotização• Novas formas de energia

Revisão de doutrinas e organização• Unidade de esforço• Flexibilidade de emprego e organizacional• Modularidade• Iniciativa• Interoperabilidade

Em breve, a psicotecnologia disponibilizará novos ins-trumentos capazes de influenciar os «corações e as men-tes», o que incrementará ainda mais o papel da guerra psicológica e dos guerreiros da informação que nas suas operações psicológicas e de informação aprendem a implantar falsas realidades e a induzir movimentos

psico-culturais e políticos, em prol de determinados in-teresses nacionais, criando uma realidade virtual quando a realidade efectiva contradiz os imperativos estratégicos de momento. No fundo, uma verdadeira GUERRA DE REPRESENTAÇÕES.

Nesta ordem de ideias, um outro elemento a ter em consideração nas guerras da actualidade é a presença e a actuação dos media. Estes hoje ajudam os guerreiros da informação a gerir as diversas percepções que as po-pulações têm da situação. Há uma realidade percebida/construída, diferente da realidade efectiva.

O indicador de um novo tipo de FA surge com a alte-ração significativa na estrutura das FA e leva ao emergir da Civilinização, ficando a distinção entre civil e militar esbatida. Com a Civilinização tende-se para uma pri-vatização da actividade militar, onde assumem grande relevância as modernas EMP, que prestam serviços e ta-refas de natureza militar.• A privatização do conflito e o uso de mercenários

não são um fenómeno novo. Porém, hoje o con-texto é substancialmente diferente e as Corporate Warriors têm um enquadramento jurídico distin-to dos mercenários tradicionais. Podemos con-siderar como elementos de diferencialidade das EMP em relação aos mercenários; a sua estrutura organizacional com directores e accionistas, serem legalmente registadas, prestarem contas ao fisco e à segurança social, visarem o lucro a longo prazo, operarem em vários Teatros e para vários clientes ao mesmo tempo, ou seja, são organizações priva-das de natureza comercial, cujo objecto é o forneci-mento de um largo espectro de serviços de natureza militar e de segurança a entidades nacionais e não- nacionais, apresentando-se assim como alternativa aos serviços tradicionalmente consagrados às FA dos Estados.

• A actuação destas empresas é hoje global, estando contabilizadas mais de 250 companhias que funcio-nam em mais de 50 países nos diversos continentes.

• O caso norte-americano é paradigmático. No Afeganistão há 90 mil contractors para 99 mil sol-dados e no Iraque 64 mil para 45 mil soldados. No CENTCOM, os custos por ano fiscal atingiram perto de 30 mil milhões em 2008.

• As EMP vendem os seus serviços a multinacionais, ONG’s, OI, contando como seus principais clientes os Estados. Em termos financeiros, e só para se ter uma pequena ideia dos montantes envolvidos, entre

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1994 e 2002, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos negociou contratos no valor de 300 mil mi-lhões de dólares e estima-se que o rendimento desta indústria atinja este ano o valor de $200 mil milhões.

O crescimento destas empresas e a diversificação dos ser-viços por si prestados não foi no entanto acompanha-do pela regulamentação internacional específica. Apesar desta não existir, não podemos considerar que haja um vazio legal, pois há um conjunto de legislação nacional e internacional que directa ou indirectamente cobre esta actividade.

DA CRISE ECONóMICA à CRISE DE SEGuRANçA?

Em 2008 fomos assolados no Ocidente por uma das maiores crises financeira e económica de sempre, o que tem implicado uma redefinição das prioridades orça-mentais nos diversos países da Europa e mesmo dos EUA, com a Sequestration a entrar em vigor no início deste mês de março.1

Mas o problema dos investimentos europeus em capaci-dades para a defesa não é de hoje, já vem de há uns anos a esta parte. Por exemplo, na NATO há o compromisso dos 2% do PIB dos estados- membro serem destinados à Defesa, contudo apenas 5 países cumprem esse desígnio. Neste sentido desde o fim da Guerra-Fria, os gastos em defesa efetuado pelos países europeus da NATO caíram quase 20%.

No mesmo período, o PIB combinado cresceu cerca de 55%. Se compararmos os gastos de defesa da Europa com a dos EUA, o contraste também é grande: até ao final da Guerra Fria, em 1991, os gastos de defesa em países euro-peus representaram quase 34% do total da NATO, com os EUA e o Canadá a fornecer os restantes

66%. Desde então, a parcela dos países europeus caiu para 21%.

Esta situação coloca em risco a possibilidade futu-ra de se realizarem operações combinadas dentro da Aliança. As Forças da Transformação da NATO criam

1 Immediately reduce military spending by 8 percent, with more than $500 billion in cuts to defense spending over 10 years divided equally among the military branches

um fosso entre as capacidades militares, ameaçando a interoperabilidade.

No atual ritmo de cortes, é difícil ver como a Europa poderá manter as suas capacidades militares suficientes para sustentar as operações semelhantes no futuro.

Depois dos EUA, é ainda a Europa a deter as capacida-des militares mais avançadas do mundo. A questão, no entanto, é se a Europa será capaz de manter essa vanta-gem durante os próximos dez ou 20 anos.

Isto é particularmente preocupante quando o centro de gravidade do poder económico mundial mudou do Atlântico Norte para o Pacífico, e se considera a redistri-buição contínua do poder militar global, uma mudan-ça incorporada no declínio relativo dos gastos de defesa europeia comparada com a das potências emergentes ou dos EUA.

São os designados países emergentes que continuam a ocupar o espaço deixado pela Europa, e aumentaram as suas despesas com a defesa. Entre 2000 e 2009, os gastos de defesa da China triplicaram e o da Índia cresceu 59%. Isso implicou uma transformação das FA desses países e a aquisição de novos sistemas de armas.

Os membros NATO (sem EUA) gastam coletivamente mais de 300 mil milhões de dólares por ano em defesa. Estes, se alocados estrategicamente poderiam comprar uma quantidade significativa de capacidade militar utili-zável. Em vez disso, os resultados são significativamente menores do que a soma das partes.

Devemos enveredar por uma Smart Defense que privi-legie abordagens multinacionais de programas e capa-cidades. Este é o caminho para se evitar a possibilidade muito real de irrelevância militar coletiva, competindo aos Estados-Membro também a responsabilidade da partilha equitativa do fardo com a defesa comum.

Há uma preocupação crescente de duas fações na Aliança, aqueles que estão dispostos e aptos a pagar o preço de suportar encargos e compromissos, e aqueles que apreciam os benefícios da adesão da NATO, mas têm dificuldades em compartilhar os riscos e os cus-tos, postura que é inaceitável para os EUA, que assume atualmente 75% de todos os gastos militares da Aliança.

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O melhor exemplo reside na operação Unified Protector (Líbia). Esta operação, a primeira iniciada desde a crise financeira global, veio no entanto pôr a nu as deficiên-cias em termos de capacidades militares europeias e de vontade política, que têm o potencial de prejudicar a capacidade da Aliança realizar uma campanha integrada, efetiva e sustentada, sendo evidentes as lacunas, causadas sobretudo por falta de financiamento.

Participaram nas operações menos da metade dos alia-dos, e menos de um terço estiveram dispostos a parti-cipar em missões de ataque. Muitos dos aliados foram espectadores não porque não quisessem participar, mas simplesmente porque não podiam participar, não ti-nham capacidades militares.

Para o ex-Secretário de Estado norte-americano, Robert Gates, a realidade nua e crua é que deixará de haver von-tade nos EUA para assumir encargos em nome das nações que não estão dispostas a alocar os recursos necessários para serem verdadeiros parceiros; nações que parecem apenas aguardar que os contribuintes norte- americanos assumam esses encargos com a segurança. Gates acrescen-ta ainda, que se as tendências atuais para a diminuição das capacidades de defesa europeias não forem alteradas, fu-turos líderes políticos dos EUA, para quem a Guerra Fria não foi uma experiência formativa, podem considerar que o retorno do investimento na NATO, não valha a pena.

Os EUA esperam agora uma participação europeia di-ferente, devendo a Europa assumir responsabilidades pela sua própria segurança regional. Mas se os cortes nos gastos da defesa europeia continuam, a capacidade da Europa para ser uma força estabilizadora, mesmo na sua vizinhança irá rapidamente desaparecer.

E o que é que Portugal tem a ver com isto? O real pro-blema para os pequenos poderes é o de saber se tencio-nam ou não desenvolver forças capazes de participar ao mais elevado nível com a Aliança. Saber qual a relevân-cia estratégica que tencionam ter.

No atual contexto de partilha de soberania, a capacida-de de participação na decisão de qualquer Estado só vai até onde alcançar a sua efetiva capacidade de operações combinadas. Se a opção for não ter forças capazes, não teremos voz nem faremos valer a nossa opinião no ní-vel de decisão correspondente. Pelo contrário, se tiver-mos, a voz será ouvida, mesmo não participando nas operações militares.

Hoje a nossa soberania, em regime de tutela inter-nacional, em parte está ao serviço da Comunidade Internacional, não se tratando apenas da salvaguarda da integridade do território e populações contra ameaças externas (conceito passivo); hoje na Europa Ocidental, a soberania é essencialmente a capacidade de manter a forma de vida e os valores livremente escolhidos por um povo, o que aponta para uma ação ativa e cooperativa com os aliados, e que em certos casos pode passar por operações militares a milhares de quilómetros do terri-tório. Um Estado que não se faça ouvir ao nível supe-rior da decisão, tem a sua soberania ainda mais limitada, mesmo amputada.

Assim, Portugal é, e deve querer continuar a ser um produtor de Segurança Internacional com contributos ativos nas OI que integra, pelo que temos de possuir um núcleo adequado às nossas dimensões, de primeiro nível, que garanta a interoperabilidade para fazer ope-rações combinadas e ainda alguma capacidade autóno-ma, em áreas como a Cyber Defesa, ISTAR e Operações Especiais, conjugado com outras forças para responder a um amplo leque de missões, em proveito da segurança humana e do bem estar das populações.

Assim, precisamos de uma conceção clara de qual o pa-pel que pretendemos na cena internacional, estar atento aos desenvolvimentos, de forma a não perder o barco, sem esquecer que a melhor maneira de apanhar o barco é quando ele ainda está no porto.

A questão principal hoje, é como modernizar as forças num período de fortes restrições financeiras, de modo que possam cumprir de forma mais eficaz as novas missões como forças expedicionárias, mantendo uma capacida-de autónoma suficiente para enfrentar uma contingên-cia nacional importante que poderá surgir de repente?

Porque os desafios económicos que o país enfrenta são imensos, não devemos excluir um quadro estratégi-co mais amplo. Desenvolver uma defesa mais coeren-te, fortalecendo o link- transatlântico, e melhorando as ligações europeias é o único caminho para evitar que a crise económica e financeira se torne numa crise de segurança.

* Adjunto do Chefe Estado Maior do Exército

e Professor Universitário

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elSa cOnSeGueS Outra FOtO

Depois de anos de sucateamento, a indústria brasileira de Defesa começa a renascer das cinzas. Há já alguns anos, o governo federal aprovou a Estratégia Nacional de Defesa (END), que estabelece a necessidade de trans-ferência de tecnologia para o reequipamento das Forças Armadas. Com isso, o Brasil deixa de comprar «de prate-leira» equipamentos sofisticados, como aviões e subma-rinos, por exemplo, e aprende a fabricá-los aqui. O país entra assim em uma nova era, deixando de atuar apenas na compra e venda e passando a inovar, desenvolvendo novos produtos, sistemas e tecnologia.

Dando sequência à Estratégia Nacional de Defesa, o go-verno federal sancionou recentemente a Lei de fomento à Base Industrial de Defesa. Através do Decreto nº. 7970, de 28 de março de 2013, que regulamenta dispositivos da Lei 12.598/2012, o novo marco legal institui novas regras para as compras, as contratações e o desenvolvimento de produtos e sistemas de Defesa no país. Um dos objeti-vos da nova regulamentação é o de diminuir o custo de produção de companhias legalmente classificadas como estratégicas e estabelecer incentivos ao desenvolvimento de tecnologias indispensáveis ao país.

A indústria nacional de Defesa ganhou, assim, um pla-no de incentivo à inovação e competitividade. O decre-to também garantiu às empresas estratégicas de Defesa acesso a financiamentos para programas, projetos e ações relativas a bens de Defesa Nacional. O decreto também garante às empresas estratégicas de defesa acesso a finan-ciamentos para programas, projetos e ações relativas a bens de defesa nacional.

A regulamentação deve avançar em questões tributárias, mas permite que empresas brasileiras desenvolvam capa-cidades tecnológicas e construam vantagens competiti-vas na área de defesa.

Exemplo de projeto que compõe essa nova concepção foi o processo de escolha do submarino francês Classe Scorpène pela Marinha brasileira. Os submarinos serão construídos no Brasil e adaptado por nossos engenhei-ros navais. O índice de nacionalização da produção é bastante elevado, havendo em cada um mais de 36 mil itens, produzidos por empresas brasileiras. O acordo com a França prevê ainda a transferência de tecnologia para a construção do primeiro submarino a propulsão nuclear do Brasil.

A reconstrução da indústria de Defesa Nacional pos-sibilitará a recuperação da capacidade operacional das Forças Armadas. Somos um país pacífico e não temos inimigos, mas temos que ter capacidade dissuasória para proteger nossas vastas riquezas naturais.

*Advogado. Sócio responsável pelas áreas de Defesa, Propriedade

Intelectual, Life Sciences e Tecnologia do escritório ZCBS

– Zancaner Costa, Bastos e Spiewak Advogados, especialista em

Propriedade Intelectual e Tecnologia pela Fundação Getúlio Vargas

de São Paulo (FGV-SP), especialista em Propriedade Intelectual e

Transferência de Tecnologia pelo The Franklin Pierce Law Center

(Concord, EUA) e mestre em Direito da Propriedade Intelectual

(LLM), formado pela The George Washington University.

Benny Spiewak* RECoNSTRUINDo A INDúSTRIA DE DEFESA

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Presença global em todas as frequências.Quatro áreas de negócios, um objectivo - tornar as comunicações de hoje mais rápidas, potentes e à prova de falhas. Razão pela qual podemos encontrar sempre um produto R&S ao longo dos últimos 75 anos de existência onde quer que haja um sinal de rádio. Alguns exemplos:

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❙TV analógica e digital: emissores para mais de 80 países

❙Controlo de tráfego aéreo e comunicações seguras: equipamento rádio para mais de 200 aeroportos; soluções rádio e de encriptação para as Forças Armadas e autoridades em todo o mundo

❙Regulação: equipamentos e sistemas de radiomonitorização para cerca de 150 países

Para manter a liderança nestes sectores, estamos muito próximos de importantes mercados e clientes - com representações em mais de 70 países, e centros de desenvolvimento nos EUA, Ásia e Europa.

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«A DEFESA CoNSTITUI o úLTImo ESTEIo Do ESTADo E A gARANTIA FINAL DE qUE ELE CoNSEgUE ExERCER A SUA AUToRIDADE»

O município de Sabrosa vai acolher o futuro Centro de Estudos e Investigação de Segurança e Defesa de Trás-os-Montes e Alto Douro (CEISDTAD). O general Loureiro dos Santos, natural da região e um dos principais impulsionadores deste projecto, revela em entrevista o que esteve na base da decisão de criar esta nova estrutura académica.

| gENERAL LoUREIRo DoS SANToS |

| entrevista |.34

a decisão de sediar o ceISDtaD na sua terra natal é um acto de generosidade. Há mais alguma razão que tenha motivado esta decisão?

Não existe nenhum Centro de Estudos e Investigação de Segurança e Defesa que sirva uma universidade por-tuguesa neste domínio no âmbito dos conflitos arma-dos. Por outro lado, Sabrosa situa-se numa região que abrange grande parte do terreno mais propício à guer-ra de guerrilhas no nosso país, como aliás a História confirma. Acresce que nessa região existem duas uni-dades do Exército, em Vila Real e em Lamego, (com outras duas relativamente próximas, situadas em Viseu e Chaves). Em Lamego encontra-se o Centro de Tropas de Operações e Especiais, a unidade portuguesa onde se formam os combatentes das forças com esta especia-lidade e, com base em Vila Real, em Chaves e Lamego, são frequentes os exercícios de treino final das Forças Nacionais Destacadas do Exército para diversos teatros de operações onde poderão conduzir principalmente operações de contra-subversão.A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), localizada em Vila Real, surge como a Universidade em condições de ensinar matérias rela-cionadas com os conflitos armados, particularmente, os conflitos assimétricos, nomeadamente em cursos de pós-graduação, e efetuar a investigação sobre as-suntos pertinentes em que o Exército português esteja interessado. É assim que nasce o Centro de Estudos e Investigação de Segurança e Defesa de Trás-os-Montes e Alto Douro (CEISDTAD), através de um protocolo entre a Câmara Municipal de Sabrosa, a UTAD e o Exército de Portugal.

este projecto está em articulação com alguma univer-sidade ou outro organismo para poderem beneficiar dos seus ensinamentos e do seu acervo?

Conforme referi atrás, a UTAD é a instituição que ficará com as tarefas de estudo do Centro e onde se desen-volverão as linhas de investigação que forem necessárias no âmbito da segurança e defesa, sempre que necessário em associação com outros Estabelecimentos de Ensino Universitário, especialmente com os das Forças Armadas como poderão ser os casos da Academia Militar e do Instituto de Estudos Superiores Militares.

nestes tempos de crise tudo parece impelir à acção imediata. ainda haverá lugar e tempo para a reflexão?

Nestes momentos de crise, justifica-se, mais do que nun-ca, a meditação. Só a reflexão profunda, a partir de da-dos objetivos e não de intenções não fundamentadas na realidade, permitirá efetuar as alterações consideradas mais adequadas às estruturas essenciais ao Estado, ou seja as reformas necessárias para responder aos desafios do presente e do futuro. Isto, sem criar mais problemas aos que já existem e nos afligem, em vez de apresentar as soluções que os resolvam.

nesta crise nacional e europeia, a Defesa ainda deve ocupar as preocupações dos políticos e das populações?

A Defesa constitui o último esteio do Estado e a garantia final de que ele consegue exercer a sua autoridade. Por outro lado, é o baluarte da manutenção da estabilidade no país e, portanto, um fator fundamental da confian-ça dos portugueses no seu futuro e da credibilidade dos atores internacionais, que nos é essencial – organizações internacionais a que pertencemos, países aliados e cre-dores, entre outros. Finalmente é o instrumento essen-cial da nossa soberania. Todas estas razões são suficientes para justificar a preocupação dos políticos, afim garantir a segurança das populações.

na onda de cortes nos diversos sectores do estado, até onde poderão ir os cortes na Defesa?

Terão de parar no limite acima do qual a Segurança Nacional poderá ficar comprometida. O que deve ter em conta os resultados do ciclo de programação estraté-gica em curso. Note-se que o ambiente estratégico que nos envolve é bem mais exigente do que aquele que se verificava ainda há pouco tempo. Isto porque são paten-tes os riscos de vizinhança que nos podem afetar: pro-blemas soberanistas em Espanha e grave turbulência no Norte de África, Sahel e Médio Oriente, em associação com a modificação do posicionamento estratégico dos EUA em relação aos conflitos que atingem diretamente a Europa resultante da sua mudança do esforço estraté-gico militar para a Ásia/Pacífico combinado com a redu-ção de despesas com a Defesa que estão a levar a efeito, e,

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finalmente, a incerteza da evolução da União Europeia. Na situação de crise atual não se pode excluir uma pro-funda racionalização da área da Defesa, mas sem colocar em causa o produto operacional que, eventualmente, terá de ser superior ao atual; no mínimo, nunca poderá ser inferior.

Pedia-lhe uma reflexão final que desejasse deixar aos nossos leitores.

A Revista de Segurança e Defesa, aparecida em boa hora, constitui-se num dos mais importantes órgãos de comu-nicação social que se focalizam nos assuntos que nos in-teressam neste campo. O seu trabalho tem contribuído e está a contribuir para o debate e a reflexão aprofundada das questões relacionadas. Estas reflexões deverão ajudar os responsáveis políticos a processar a reforma do setor,

de modo a evitar que, às sucessivas crises (financeira, económica, social e, até certo ponto, política) com que nos estamos a confrontar, seja acrescentada mais uma crise: a crise segurança.

ASSINATuRA DO PROTOCOLO DE COLABORAçãO PARA CRIAçãO DO CENTRO DE ESTuDO E INVESTIGAçãO DE SEGuRANçA

Decorreu no dia 4 de Março, em Sabrosa, a cerimónia de assinatura do protocolo de colaboração para a cria-ção do Centro de Estudos e Investigação de Segurança e Defesa de Trás-os-Montes e Alto Douro (CEISDTAD), pelas três entidades fundadoras: Câmara Municipal de Sabrosa, Exército Português e a UTAD.As instituições fundadoras foram representadas pelas suas máximas autoridades: o Presidente da Câmara Municipal de Sabrosa, o Chefe do Estado-Maior do Exército e o Reitor da UTAD.

A cerimónia decorreu no Auditório Municipal de Sabrosa, que recebeu uma exposição de temática mi-litar, e teve a participação de numerosas entidades mi-litares e civis que se associaram ao CEISDTAD como membros fundadores. Foi patente, por ocasião dos discursos, a forma dinâmica como as três instituições perspectivam o Centro de Estudos, ao projectar acções futuras a desenvolver. Esta jornada terminou na UTAD, com a realização do I Seminário do CEISDTAD: «A Guerra Irregular em ambiente tecnológico avançado», evento que teve como oradores o então Secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional, o Tenente Coronel Francisco Proença Garcia, especialista nesta área e o General Loureiro dos Santos, inspirador do CEISDTAD.O CEISDTAD constitui-se assim como um centro de investigação inter e transdisciplinar que terá como temas de estudo eventos e fenómenos relacionados com as alterações decorrentes das implicações do de-senvolvimento científico e tecnológico, em conflitos de diversos tipos, em ambientes de guerra irregular, e simultaneamente funcionará como repositório da memoria histórico-militar de Trás-os-Montes e Alto Douro acolhendo o espólio, militar e académico, do General Loureiro dos Santos.

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PrIMeIrO MInIStrO DeFenDe Ser O «MOMentO De acçãO» na reFOrMa DaS FOrçaS arMaDaS

O primeiro-ministro defendeu a 28 de Abril que «chegou o momento da ação» na reforma das Forças Armadas. Durante uma visita ao Ministério da Defesa – realizada ainda antes da substituição do secretário de Estado adjunto e da Defesa Paulo Braga Lino por Berta Cabral, Pedro Passos Coelho afirmou que, após o «período de diagnóstico e de planeamento» é chega-do «o momento de executarmos o que planeámos, de realizarmos as metas que traçámos», considerando que, «implementadas as bases da reforma, interessa agora aumentar o seu ritmo e concretizar metodicamente os restantes objetivos».O primeiro-ministro referia-se à aprovação do novo Conceito Estratégico de Segurança e Defesa e das li-nhas gerais da reforça da defesa nacional e das Forças Armadas, intituladas «Defesa 2020», que preveem uma diminuição do número de militares e civis a tra-balhar neste setor e uma fusão de organismos. O chefe do Governo PSD/CDS-PP sustentou que não é possí-vel «escapar» aos objetivos de «redimensionamento das Forças Armadas» e de «racionalização e integração de infraestruturas comuns ou equiparáveis nos diversos ra-mos, que se devem traduzir numa economia de recursos humanos, materiais e financeiros».No seu entender, «deste esforço de reforma resultará um

aumento dos padrões de eficiência, acompanhan-do, de resto, idêntico es-forço que está a ocorrer há já algum tempo em todos os setores do país, quer estejamos a falar da Administração Pública, do setor empresarial do Estado, ou do setor privado».Passos Coelho elogiou «o patriotismo e o senti-do de serviço ao interesse comum» dos elementos das Forças Armadas e manifestou aos militares

destacados no estrangeiro o seu «mais profundo reco-nhecimento pelo seu serviço exemplar» a Portugal e à segurança internacional.

REFORMA APROVADA EM CONSELHO DE MINISTROS

Dias antes, a 11 de Abril, Reunião Ministros tinha aprova-do as «linhas de orientação» da reforma «‘Defesa 2020». O projecto prevê uma redução do número de efectivos militares, que actualmente rondam os 38 mil, para entre 30 mil e 32 mil e do pessoal civil das Forças Armadas e do Ministério da Defesa dos atuais 7 mil para 5 mil.Para além disso, haverá uma fusão de direcções-gerais e a criação a médio prazo de um único instituto de es-tudos militares. As Forças Armadas serão organizadas em três conjuntos: forças nacionais destacadas, forças para missões de interesse público, e forças para uma intervenção rápida.Na ocasião, o ministro da Defesa, Aguiar-Branco as-sinalou que esta reforma «resulta de um trabalho que estava a ser elaborado há cerca de um ano em conjunto com as chefias militares» e tem como objectivos «au-mentar a capacidade operacional, um rácio mais equi-librado entre despesas com pessoal, com investimento e com operações, e um planeamento mais estável». Em resposta à comunicação social, o governante afirmou que «não vai haver nenhuma estrutura de missão» para a aplicação desta reforma, mas que «uma comissão irá ser em breve constituída», por despacho seu, da qual depois dará nota pública.Questionado sobre o contributo que a reforma do sec-tor da defesa dará para a redução da despesa pública este ano, Aguiar-Branco respondeu que essa pergunta «não tem directamente a ver com a reforma das Forças Armadas». Em seguida, o ministro referiu que, quando foi avançada a intenção do Governo de cortar 4 mil mi-lhões de euros na despesa pública até 2014, indicou que, «no âmbito da Defesa Nacional, haveria a considerar como base de trabalho cerca de 218 milhões de euros», dos quais «cerca de 40 milhões de euros» poderiam ser aplicados já neste ano de 2013.

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nOva tecnOlOGIa Detecta QuantIDaDeS MínIMaS De exPlOSIvOS

Um aparelho portátil com tecnologia ótica avançada per-mite detetar quantidades mínimas de explosivos a uma distância de 20 metros, prometendo ajudar forças de se-gurança na prevenção de atentados bombistas, anunciou a Comissão Europeia (CE), que financiou o projeto. O dispositivo, que já foi testado em laboratório e em am-bientes externos consegue detetar quantidades inferiores a um miligrama de explosivos a uma distância de 20 de me-tros, estando ainda previstos mais estudos para aumentar a sensibilidade, precisão e robustez do sistema antes de ser disponibilizado às forças de segurança europeias. Desenvolvido por um consórcio de empresas e univer-sidades europeias liderado pela multinacional espanhola Indra, o Sistema de Deteção Optix «utiliza a mais avança-da tecnologia ótica», pode ler-se no comunicado da CE: «Nenhuma outra organização ou empresa conseguiu, até à data, atingir resultados semelhantes, o que coloca a in-dústria europeia numa posição inédita de oferecer tecno-logia ao mercado», adianta ainda o comunicado. Com um financiamento de 2,4 milhões de euros da CE, o protótipo utiliza lasers que podem identificar, de forma precisa, a estrutura atómica e molecular dos explosivos.O sistema combina duas tecnologias para a deteção de explosivos: a ‘espectroscopia LIBS’, que identifica a ru-tura elementar (atómica e molecular) gerada após exci-tação com um laser de alta energia; e a espectroscopia de Raman, que mede as variações dos estados de vibração das moléculas excitadas com um laser, o que permite identificar a sua estrutura molecular. Desta forma, o aparelho consegue identificar vestígios de explosivos em carros, malas ou qualquer recipiente opaco, o que se torna útil na deteção de explosivos, mas também na investigação forense, já que «é virtualmente impossível pegar em explosivos e transportá-los sem dei-xar rasto» porque os resíduos aderem às superfícies dos objetos que os transportam. «A deteção de vestígios de explosivos vai aumentar a segurança em todos os cenários. Não só a segurança será reforçada, como os inconvenientes para os cida-dãos serão significativamente reduzidos através do uso de um sistema de deteção de explosivos sem perigos e

não-invasivo» explica Alberto Calvo, diretor de seguran-ça na Indra, citado no comunicado. O dispositivo será integrado numa plataforma com rodas, que poderá ser transportada em qualquer carrinha para a área a ser patrulhada, movendo-se depois na zona e anali-sando superfícies onde os vestígios possam estar presentes. Um operador poderá controlar a plataforma remotamen-te, recebendo de imediato os resultados obtidos. Especialistas em deteção e neutralização de explosivos da Guardia Civil espanhola, dos Mossos d’Esquadra catalães e da Ertzaintza basca, bem como das forças policiais da Roménia, Polónia e Itália, já foram envolvidos «ativa-mente» em sessões de demonstração do protótipo, «para garantir o sucesso do programa», informa ainda o comu-nicado. A comercialização do sistema, conclui a CE, «terá a dupla vantagem de melhorar a segurança dos cidadãos e a competitividade da indústria europeia, tornando o con-tinente menos dependente de tecnologia importada». Liderado pela Indra, o consórcio inclui a Agência Sueca de Investigação e Defesa, a PME Ekspla (Lituânia) e a Avantes (Holanda), bem como as universidades técni-cas Clausthal e Dortmund (Alemanha) e a Universidade de Málaga (Espanha). Envolve ainda a unidade de explosivos da Guardia Civil espanhola.

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MInIStrO Garante caPacIDaDe DaS FOrçaS De SeGurança aPeSar DOS cOrteS

O ministro da Administração Interna assegurou que a capacidade operacional das forças de segurança será mantida, apesar dos cortes anunciados no orçamen-to dos ministérios. Miguel Macedo garantiu que esta «ajustamento orçamental» não resultará em «cortes cegos». «Cuidamos de salvaguardar aquilo que é a ca-pacidade financeira e o enquadramento orçamental necessário para a capacidade operacional das forças», explicou. O governante assegurou ainda que continua-rá a ser feito o «ajustamento importante que temos feito na contratação de serviços, nos chamados consumos in-termédios e racionalizar algumas estruturas para poder poupar algum dinheiro».

navIOS cHIneSeS eM lISBOa Para «trOcar exPerIêncIaS» DePOIS De MISSãO na SOMálIa

A 13ª. esquadra da Marinha chinesa chegou a 15 de Abril a Lisboa para uma visita de cinco dias destinada a «apro-fundar o intercâmbio», entre as armadas dos dois países, e «trocar experiências», disse o comandante Li Xiaoyan. A esquadra realizou a visita a Lisboa depois de uma mis-são de quatro meses no Golfo de Aden - uma das passa-gens navais mais perigosas do mundo devido à ação dos piratas somalis -, em que prestou serviço a mais de cinco mil navios de todas as nacionalidades, afirmou o contra--almirante Li, numa declaração à imprensa, depois de atracar na capital portuguesa.As fragatas Huangshan, Hengyang e o navio de abas-tecimento Qinghaihu estiveram atracados na capital portuguesa de segunda a sexta-feirae durante dois dias estiveram abertos a visitantes. Na segunda deslocação desta esquadra a Lisboa - a primeira foi em 2002 -, o comandante Li manteve contactos com homólogos por-tugueses, responsáveis governamentais e apresentar as operações antipirataria efetuadas nos últimos quatro anos ao largo da Somália.

Fotos: Marques ValentiM

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OBaMa aFaSta IntervençãO MIlItar DOS eua na SírIa

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afir-mou que não vê para já a possibilidade das forças mili-tares norte-americanas intervirem no conflito da Síria, apesar de reconhecer que não pode excluir qualquer cenário enquanto líder militar dos EUA. «Regra geral não excluo coisas como líder militar porque as circuns-tâncias mudam e quero ter a certeza que tenho sempre todo o poder dos Estados Unidos à nossa disposição para defender as necessidades americanas da segurança nacional. Dito isto, não prevejo um cenário onde botas americanas a pisarem terreno sírio não só fosse bom para a América mas também fosse bom para a Síria», afirmou. Barack Obama respondia assim à especulação que tem vindo a crescer de que os EUA podiam estar a preparar--se para mudar a sua posição de não fornecer armas aos rebeldes sírios após a Casa Branca ter afirmado que o regime do presidente Bashar al-Assad teria usado armas químicas contra o seu próprio povo.

PSP DeStróI 3 MIl arMaS à GuarDa DO eStaDO

A PSP destruiu em Abril cerca de três mil armas que per-tenciam ao Estado no seguimento de processos crimes ou por terem sido entregues voluntariamente pelos donos ou achadores, revelou aquela polícia. O Departamento de Armas e Explosivos destruiu «2.742 armas de fogo e 156 armas brancas» que tinham sido apreendidas por entidades policiais em acções de natureza preventiva e de investigação criminal ou que tinham sido entregues voluntariamente ao Estado.«Dado o estado de degradação em que se encontram as pistolas, revólveres, espingardas, punhais, navalhas, es-padas, que constituíram a quase totalidade do lote das armas destruídas, e a sua inutilidade para a actividade operacional, formativa, cultural, museológica ou outra das forças de segurança, decidiu o Director Nacional da Polícia de Segurança Pública mandar proceder à sua ade-quada e preventiva destruição», explicou a PSP.Já no início do ano, a 15 de Janeiro de 2013, a PSP tinha levado a cabo uma operação semelhante, tendo destruí-do 2.787 armas de fogo e 210 armas brancas. No total, até agora, foram destruídas este ano 5.529 armas de fogo e 366 armas brancas.

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lOnDreS receBe FOrenSIc eurOPe exPO e cOunterterrOr exPO

O pavilhão de exposições de Olympia/Kensington, em Londres, recebeu a 24 e 25 de Abril, duas importantes exposições e conferências. O director da «S&D» esteve presente nos eventos.

FORENSIC EuROPE ExPO

Em virtude de o Governo britânico ter decidido termi-nar o Forensic Science Service, as indústrias fabrican-tes de material e instrumentação de ciências forenses, com a colaboração da Forensic Science Society, or-ganizaram a exposição das últimas novidades tec-nológicas acompanhada de conferências e debates com especialistas. Alguns dos temas principais foram:• protecção das bases de dados de ataques

informáticos;• soluções laboratoriais mais económicas;• material e procedimentos para o trabalho na cena

do crime; • lofoscopia e bases de dados;• fotografia (DSC);• análise instrumental química, física e biológica

(ADN).

COuNTERTERROR ExPO

Com o objectivo de prevenir ataques terroristas, de mi-tigar essas ameaças, de proteger as infraestruturas críticas e de compreender as novas ameaças, esta exposição e as

conferências realizadas foram de grande utilidade e ac-tualidade. Salientamos:• protecção de portos, aeroportos, barcos e aviões,

suas rotas e suas cargas e passageiros;• ciber-segurança e ciber-ataques;• protecção de lugares cheios de pessoas;• vigilância electrónica e digital; intercepção de

comunicações; data e text-mining• veículos blindados e métodos de travagem de

veículos ameaçadores;• neutralização e protecção contra IED.

nOva rOtaçãO DO cOntInGente POrtuGuêS nO aFeGanIStãO

O primeiro grupo de 148 militares do 6.º contingente português da Força Internacional de Apoio à Segurança no Afeganistão (ISAF) partiu a 3º de Abril para aquele país, indicou o Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA). «Com a partida destes militares, inicia-se a rotação dos efetivos que atualmente constituem a Força Nacional Destacada (FND) no Teatro de Operações do Afeganistão», lê-se no documento.

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I SeMInárIO SOBre DIreItO MIlItar «O DIreItO, a SeGurança e a DeFeSa nacIOnal»

A Academia Militar organizou em Abril, através do seu Departamento de Ciências Sociais e Humanas o I Seminário sobre Direito Militar subordinado ao tema «O Direito, a Segurança e a Defesa Nacional».Como instituição de ensino superior que forma os futu-ros oficiais do Exército e da GNR, a Academia Militar entendeu ser o momento para reunir um conjunto de es-pecialistas a fim de refletir sobre uma temática de grande atualidade e importância para o cumprimento das mis-sões das Forças Armadas e da GNR. O seminário ocorreu no pequeno Auditório do Aquartelamento da Amadora – tendo por presidente o Comandante da Academia Militar, Major-General Dias Coimbra – e contou com a presença de cerca de meia centena de alunos.O seminário teve como objetivo principal refletir sobre

o Direito Militar e ainda sobre o Direito, a Segurança e a Defesa Nacional, seguindo-se um debate envolvendo um leque alargado de participantes, desde alunos a pro-fessores, com a colaboração de reputados especialistas nacionais, militares e civis.A sessão teve início com um painel subordinado ao tema: «Perspectivas diferenciadas sobre a temática» e teve como moderador o Professor Doutor Fernando José Gautier Luso Soares e os conferencistas: Juíza Desembargadora Dr.ª Maria Margarida Blasco Martins Augusto e o Sr. Coronel de Artilharia Rui Manuel Ferreira Venâncio Baleizão. Após o debate, procedeu-se à Conferência Final, tendo como presidente o Professor Doutor José Fontes e o Conferencista Professor Doutor Jorge Bacelar Gouveia. No final do seminário foi feita uma síntese do debate pelo Sr. Tenente-Coronel Carlos Manuel Mendes Dias.

MIlItareS Da Gnr cOnteStaM auMentO Da IDaDe Da Pré-reFOrMa

O Governo quer aumentar de 55 para 58 anos a idade da pré-reforma dos militares e dos membros das forças de segurança, medida que tem vindo a ser contestada por organizações representativas do sector. A Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR) considera «irresponsável» esta proposta, com o seu presidente, César Nogueira, argumentando que os militares da GNR «trabalham muito mais horas», comparativamente a outros profissionais e, por isso, têm «um desgaste maior no final da carreira». César Nogueira invocou que, na prática, os profissionais da GNR «não têm horário de trabalho» e chegam a trabalhar «90 horas por semana».

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In war crimes trials most of the indicted individuals when seating before the court waiting for justice to be served seemed to have no hint of what they had done. When confronted with facts they simply couldn’t understand the sense of their actions or they grieved in shame and remorse. Nonetheless, for the victims, especially the hopeless Africans that witnessed the brutal lack of dignity, they were living ghosts looking at the last glimmer of hope.

1. INTRODuCTION

«L’umanità, come l’ índividuo, ricorda alcune cose e ne dimantica molte altro...»

Benedetto Croce1

Whatever happens, the days of impunity are numbered in Africa. Firstly and foremost, to set the scene of this es-say, is necessary to mention that it addresses the African

1 Breviario di estetica, sesta edizione Milano 2005, pg 232.

related extreme internal armed conflict situations, where brutal living conditions and inhumane acts of unspeak-able violence are behind of an orgy of insane madness to harm the most humble human existence.

Secondly, the scope of this investigation is to call at-tention to the remarkable contribution of the African Continent to the fight against war crimes impunity of those individuals who carried out such horrifying acts in the context of non-international armed conflicts mostly within failing States. Furthermore, our goal is to review the role of the United Nations and the African Union, the action of the International Crime Court, the International Crime Tribunal for Rwanda, and other special courts, bearing in mind the case law that established an effective contribution to fight against impunity.

Finally, the review will address specifically the crimi-nal responsibility of individuals holding civilian power positions and military commanders, the criminal re-sponsibility of armed group leaders and media agents. The analysis will be based on international treaty-law, customary and case-law, criminal law, and also on the United Nations, regional and individual contributions.

José Leandro* AFRICAN RESTLESS LEvERAgE AgAINST ImPUNITy (IN NoN-INTERNATIoNAL ARmED CoNFLICTS)

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Africa stays forever in our hearts and minds, once you’ve understood how remarkable and unique is it’s fragrance of peace. We believe the fight against impunity in war crimes is the right tool to avoid the mistakes and un-bearable violence of the past and to pave the way to bring Africa to its place among peaceful and developing nations, and back to its original dignity.

2. THE ESTABLISHMENT OF THE CRIMINAL JuRISDICTIONS AND THE POLITICAL MESSAGE

«Who throws the stone forgets; Who is hit remembers forever».

Angolan Proverb

Justice is not and it will never be revenge. Jus post bel-lum in terms of individual accountability is part of the healing process leading to a steady peace. Individual justice is neither about forgiveness, nor about mercy or compassion. Those are individual feelings that only the victims might consider. Individual justice is a stand to depart in order to bring back together the havoc civil society. Justice in this perspective is above all reconcilia-tion. Individual justice is part of the transitional process, a very important part, which should be taken seriously by all citizens of the State, with support of the interna-tional community.

We are living historical days in terms of international accountability. Since the very beginning of the establish-ment of the international criminal law the jurisdiction was left exclusively at domestic level, except in a very few cases. However, after the World War II, the interna-tional community has moved more and more towards the development of a criminal system of international jurisdictions, complementary to that of domestic courts, to account people accused of the most serious violations, namely genocide, war crimes and crimes against human-ity. For a long time, the question of international im-plementation of criminal law was approached from the viewpoint of the need to prevent possible interference with State sovereignty and not from that of the need for coordinated struggle and cooperation in the fight against international crimes2. The hard concept of national sov-

2 Bernhard Graefrath, Universal Criminal Jurisdiction and an International Criminal Court, pg.73.

ereignty prevented the balance of different solutions. Nevertheless, nowadays, seeking that equilibrium be-tween State sovereignty and implementation of inter-national criminal law, the international community has implemented a multiple jurisdiction system. In fact, a mix of national and international tribunals has emerged to overcome the political and jurisdictional obstacles hampering prosecution of individuals accountable for the most serious violations specially when committed during the use of armed force. Firstly, the system relies on regular national courts existing prior to the con-flict or established after the conflict but applying in-ternational standards or if it will be the case on hybrid courts. These courts are mandated under national law to try domestic and international human rights abusers in accordance with international treaty obligations and evolving legal doctrine of «universal jurisdiction».

Secondly, the structure includes hybrid courts that are created by agreement between the United Nations and a host nation. These tribunals are composed of both national and international judges, attorneys and staff and permit national justice systems, with assistance from the international community, to try cases of seri-ous abuses occurring within their borders. In this type of jurisdiction African Continent took the lead by es-tablishing the very first hybrid court, the Special Court for Sierra Leone (SCSL) (http://www.sc-sl.org/). The SCSL3 was also the first international criminal tribu-nal to be funded entirely from voluntary contributions from governments. The SCSL was set up jointly by the Government of Sierra Leone and the United Nations. It is mandated to try those individuals who bear the greatest responsibility for serious violations of interna-tional humanitarian law (the word serious bears a legal dimension) and Sierra Leonean law committed in the territory of Sierra Leone since 30th of November 1996. As of July 2011 the three cases4 heard in Freetown have

3 (http://www.sc-sl.org/LinkClick.aspx?fileticket=CLk1rMQtCHg%3d&tabid=176) Agreement between the United Nations and the government of Sierra Leone on the establishment of a special court for Sierra Leone has been signed in Freetown, on 16th of January 2002.

4 The Prosecutor vs. Brima, Kamara and Kanu (AFRC Case); the Prosecutor vs. Sesay, Kallon and Gbao (RUF Case); and Prosecutor vs. Fofana and Kondewa (CDF Case).

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been completed, including their appeals. The trial of former Liberian President Charles Taylor is nearing completion in The Hague.

Thirdly, it also depends on the establishment of ad hoc courts and other internationalized tribunals established after a conflict. These courts work on a temporary ba-sis (a certain period of time) and are established by the United Nations Security Council based on ratione loci, ratione temporis and ratione materiae,  when national courts are unable or unwilling to try suspects charged with war crimes and other serious offences committed during specific conflicts. They are staffed by interna-tional jurists and other international personnel and they apply international standards. Among this type of tri-bunals the International Criminal Tribunal for Rwanda5 (ICTR) (http://www.unictr.org/) is particularly remark-able in what concerns non-international armed con-flicts. The purpose of this measure enforced by UNSC was to contribute to the process of national reconcilia-tion in Rwanda and to the maintenance of peace in the region. The ICTR was established for the prosecution of persons responsible for genocide and other serious vio-lations of international humanitarian law committed in the territory of Rwanda between 1st of January 1994 and 31st of December 1994.

Finally, the system of criminal jurisdictions also includes the International Criminal Court (ICC), which had been established by an international biding and open treaty. The ICC (http://www.icc-cpi.int) is the world’s

5 The ICTR was established by UNSR 955 dated of 8th of November 1994, acting under UN Chapter VII.

first permanent criminal tribunal mandated to try in-dividuals charged with serious international law viola-tions in States recognizing ICC jurisdiction or caused by citizens of those States. Cases may be referred to the court by participating States, the Security Council or the ICC prosecutor. As of 22nd of June 2011, 116 coun-tries are States Parties to the Rome Statute of the ICC. Out of them 32 were African, 15 were Asian, 18 were Eastern European, 26 were Latin American and Caribbean, and 25 were Western European and other States.

Nowadays, we should look at the multiple jurisdiction system sat in motion by the international community, as an instrument which is paving the way to the end of impunity of the most serious crimes committed by men against other men. It provides the legal instrumentation to serve justice, which the ultimate goal is to bring sta-bilization and long lasting peace solutions. But beyond that, there is an extremely important political message. In fact, the existence of this type of multiple jurisdiction system that doesn’t applies one-solution-fits-all, but de-livers a tremendous individual message to all individuals bearing criminal responsibilities due to their executing authority: they are accountable!

Currently, four well known cases are at the stake in the African Continent: • (SCSL) As mentioned previously the trial of

Charles Ghankay Taylor, the former President of Liberia, indicted on 7th of March 2003. The indict-ment was announced on 4th of June 2003 on his first trip outside Liberia. In August 2003 Charles Taylor resigned as president and went into exile in Nigeria. He was transferred to the Special Court on 29th of March 2006. Due to concerns about re-gional security the Special Court arranged for the trial to be held at The Hague in the Netherlands6;

• (National Courts) Less than six months after step-ping down in the face of a massive uprising against his rule, former Egyptian President Hosni Mubarak is set to become one of the few Arab leaders in re-cent history to be put on trial by his own people;

• (ICC) As mentioned by the Time Magazine recent-ly7, «... What is clear is that by launching a campaign

6 Source: http://www.sc-sl.org/CASES/Prosecutorvs CharlesTaylor/tabid/107/Default.aspx

7 18th of July 2011, pg 20.

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of terror against unarmed villagers, al-Bashir’s soldiers are committing crimes against humanity and by tar-geting civilians they are guilty of war crimes». In fact a second warrant of arrest8 against Omar Hassan Ahmad Al Bashir has been issued on 12nd of July 2010;

• (ICC) The United Nations Security Council Resolution nr 1973 (2011) refers the situation in the Libyan Arab Jamahiriya to the Prosecutor of the International Criminal Court9, stressing that those responsible for or complicit in attacks targeting the civilian population, including aerial and naval at-tacks, must be held to account. As consequence a warrant of arrest against Muammar Mohammed Abu Minyar Gaddafi has been issued on 27th of June 2011.

All in all, the real meaning of the criminal accountabil-ity message lies on the fact that for the first time, the system has been designed to create the perception and to build the conviction of serving justice and not revenge. Serving international justice after any armed conflict should be addressed as part of the healing process that moves towards a long term sustainable peace time. To serve justice is an important step paving the transition process, regardless the type and the level of the armed conflict. «There can be no reconciliation unless individual guilt for the appalling crimes of the last few years replaces

8 Five counts of crimes against humanity: mur-der - Article 7º (1)(a); extermination - Article 7º (1)(b); forcible transfer - Article 7º (1)(d); torture - Article 7º (1)(f ); and rape - Article 7º (1)(g); two counts of war crimes: intentionally directing attacks against a civilian population as such or against individual civilians not taking part in hostilities - Article 8º (2)(e)(i); and pillaging - Article 8º (2)(e)(v); three counts of genocide: genocide by killing (article 6º-a), genocide by causing se-rious bodily or mental harm (article 6º-b) and genocide by deliberately inflicting on each target group conditions of life calculated to bring about the group’s physical des-truction (article 6º-c).

9 The decision passed on 15th of February 2011 as mentio-ned on UNSCR 1973 (2011), pg. 2.

the pernicious theory of collective guilt on which so much racial hatred hangs»10.

If we understand international justice in the sense of rec-onciliation and transition to a new phase of a State, and if we understand that impunity gives a major contribu-tion to that development, thus is likewise important to emphasize the role of media in terms of communication to account. In fact, in non-international conflicts, tradi-tional media might play an active role in the armed con-flict, which as to be accounted during the transitional period, but media might also play an important role by working as a denouncing mechanism in particular in the early stages of the transitional process, namely by mas-sively using the so called «social networks», one of the most powerful communication assets in use nowadays.

3. THE INDIVIDuAL CRIMINAL RESPONSIBILITy

State responsibility & individual criminal liability

«In modern international law, the State no longer owns the individual; rather, the individuals collectively own the State. With the privilege of that new status, the people who constitute the modern State must willingly accept their share in State responsibility, not try to shirk it».

Thomas Franck11

As pointed out by Oppenheim, acts committed by in-dividuals as agents of the State constitute quite separate wrongs of the principal and the agent. Those acts are directly, and not merely vicariously12 attributable to the State which authorized, permitted, or failed to take reasonable measures to prevent or punish those acts...

10 Hartley Shawcross, Let the Tribunal do its Job, New York Times, May the 22th, 1996.

11 Professor of Law Emeritus, New York University School of Law (1931-2009).

12 Vicarious liability is often called «imputed liability,» and stands for a sort of attachment of responsibility to an individual (or entity) for harm or damages caused by another individual (or entity) in a criminal prosecution.

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These «preventive and remedial obligations of the State . . . are themselves obligations for the breach of which . . . the State bears direct responsibility.»13 Here lies a fundamen-tal distinction between the international responsibility of the State and the criminal liability of an individual. When a field commander, a political leader, a head of a State detention facility or even a leader of an armed group acts unlawfully it might generates two types of international responsibility: • The one regarding the breach of a State solemn

legal obligations towards other States14 (When a State deliberately leads, helps, trains, arms, clothes, pays and inspires those who carry out international crimes);

• The one related to the criminal action carried out by the individual.

Consequently, the same fact might involve the breach of quite separate obligations and there must be sepa-rate remedies for both kinds of wrong doings. In ad-dition, is due to consider the domestic responsibility. This essay aims only at the second type of responsibil-ity (international individual criminal responsibility), based on contribution departed mostly from African non-international armed conflicts. Thus, bearing in mind the aim of this conference, which is the preven-tion and resolution of conflicts in Africa, the most significant case-law and the latest political develop-ments in terms of non-international armed conflicts, we’ve selected 7 topics to be addressed. They represent a sort of curse preventing the deliver labour of every transition process towards peace. These issues repre-sent either the main contributions or the deepest con-cerns regarding individual accountability. In fact, we understand that impunity stands as one of the most

13 Lassa Oppenheim, Oppenheim’s International Law 501–02, Sir Robert Jennings & Sir Arthur Watts ed., 1992, (1905).

14 State International Responsibility - Responsibility of States for Internationally Wrongful Acts 2001, Text adop-ted by the Commission at its fifty-third session, in 2001, and submitted to the General Assembly as a part of the Commission’s report covering the work of that session. Text reproduced as it appears in the annex to General Assembly Resolution nr 56/83 of 12 December 2001, and corrected by document A/56/49 (Vol. I)/Corr.4. sour-ce: http://untreaty.un.org/ilc/texts/instruments/english/draft%20articles/9_6_2001.pdf

effective instruments to halt/control the use of armed force and consequently to support the rebuilding of societies:

1 Media & direct participation in armed conflicts;2 Children soldiers & children labour in armed

conflicts;3 Anti-personnel landmines or random killers;4 Internal Displaced People & Refugees (R2P);5 Natural environment protection;6 Sea piracy;7 Armed group leaders’ accountability.

1. MEDIA & DIRECT PARTICIPATION IN ARMED CONFLICTS

«War reporting is not a military activity... the line which separates the war reporting from active participation in the war effort is now thinner than ever».

Hans-Peter Gasser15

One of the most remarkable ex novo contributions to war crimes impunity has been delivered by the ICTR and it regards to media participation in armed con-flicts. The issue might be taking into account in three different perspectives: firstly, the use of media in armed conflicts to deliver a criminal message and as a result to instigate or to assist serious violations of interna-tional law (media of hate); secondly, the use of media in armed conflicts to promote the awareness of a seri-ous international law violations being committed by personnel under the effective control (the expression effective control bears a legal dimension) of State official or an individual vested in a position of authority; and lastly, the possibility to bring media agents before the court of law as witnesses to testify as a form of evidence in criminal proceedings.

In regard to the promotion of the serious violations awareness and the call of media agents to deliver a tes-timony before an international court of justice, the

15 Year Book of International Humanitarian Law, 2003, pg. 385 & 388.

.48

main contribution has been made by the International Criminal Tribunal for the former Yugoslavia (ICTY)16.

In what concerns the media of hate, the problem lies with the distinction of what is indeed a «neutral infor-mation activity» and what might be a direct participation into a hostile act, which deliver an effective contribution to military action by media (the expressions direct par-ticipation17, hostile act18 and effective contribution to mil-itary action19 are bearing a legal dimension). Antonio Cassesse quotes20 Robert H. Jackson in his report to the US President Harry S. Truman (on 6th of July 1945) on the works for the prosecution of major German war criminals: «Today, more so than in the past, it is State officials and in particular senior officials that commit International crimes. Most of the time they do not perpetrate crimes directly. They order, plan instigate,

16 ICTY case-law Stanislav Galić (IT-98-29-T, 2003), §704 «... finding in view of the circumstances which prevailed during the conflict, the notoriety of certain of the incidents scheduled in the indictment and the systematic character of these criminal acts which exten-ded over a prolonged period of time, in conjunction with the media coverage of which the SRK Corps com-mand was aware, renders the accused’s professed ignoran-ce untenable.»; ICTY case-law T-99-36-A, Decision on Interlocutory Appeal, 11th of December 2002, Rađoslav Brdanin & Monir Talic (also known as Randal Case) §50. «In view of the foregoing, the Appeals Chamber hol-ds that in order for a Trial Chamber to issue a subpoena (compulsory notification to testify) to a war correspondent a two-pronged test must be satisfied. First, the petitioning party must demonstrate that the evidence sought is of direct and important value in determining a core issue in the case. Second, it must demonstrate that the evidence sought cannot reasonably be obtained elsewhere».

17 Article 51º §3 - Additional Protocol I to 1949 Geneva Conventions.

18 Article 79º §2 - Additional Protocol I to 1949 Geneva Conventions.

19 Article 52º §3 - Additional Protocol I to 1949 Geneva Conventions.

20 International Criminal Law, Oxford Press University, 2008, pg 307.

organize, aid abet, or culpably tolerate or acquiesce, or willingly or negligently fail to prevent or punish inter-national crimes. This is why superior responsibility has acquired such importance since Yamashita (1946)». In fact, Robert Jackson summarized the main problem of the fight against impunity in war crimes and some-how prepared the way to analyse the responsibility of using media to order, to organize or to instigate major violations of international law. The ICTR case law in particular the Prosecutor v. Nahimana et al., Case Nr. ICTR-99-52-T21, Judgment (December the 3rd, 2003) in which the criminal responsibility of Ferdinand Nahimana and Jean-Bosco  Barayagwiza  related to the Radio  Télévision  Libre  des Mille  Collines  (RTLM) broadcastings; the criminal responsibility of Hassan Ngeze  on the grounds of the publication of the  Kangura  newspaper, and the criminal responsibil-ity of Jean-Bosco Barayagwiza’s  for his involvement in the Coalition pour la Défense de la République (CDR) directly addressed the issue as follows:

«...Therefore, the Trial Chamber did not erroneously modify the constituent elements of the crime of direct and public incitement to commit genocide in the context of the mass media... In the opinion of the Appeals Chamber, the Trial Chamber did not err in holding that it was necessary to consider the potential impact of words in their particular context in order to determine whether those words constitute direct and public incitement to commit genocide... Lastly, the Trial Chamber should have mentioned more clearly the broadcasts which, in its opinion, amounted to direct and public incitement to commit genocide; by failing to do this the Trial Chamber erred... However, the Appeals Chamber is of the view that the Trial Chamber did not err in finding that certain RTLM programmes broadcast after 6 April 1994 constituted direct and public incitement to genocide... After this analysis, the Appeals Chamber concludes that certain articles published

21 The Prosecutor V Ferdinand Nahimana, Jean-Bosco Barayagwiza and Hassan Ngeze, Case No. ICTR-99-52-T Trial (Dec. 3, 2003). The trial decisions were later con-firmed by the Prosecutor v. Nahimana et al., Case No. ICTR-99-52-A, Appeal (Nov. 28, 2007).

49.

in Kangura in 1994 directly and publicly incited the commission of genocide...»22

Complementary, we should mention that ICC status provides a specific provision on this issue, in terms of individual responsibility: article 25º paragraph 3 e) In respect of the crime of genocide, directly and publicly incites others to commit genocide.

The study regarding the criminal responsibility for use of media in armed conflicts is by no means limited to the ICTR case-law. Among many important documents, we should mention another contribution to define this type of criminal responsibility (out of the present study) which is the Final Report to the Prosecutor by the Committee Established to Review the NATO Bombing Campaign Against the Federal Republic of Yugoslavia (8th of June 2000)23. However, Africa will remain the place were for the first time an international criminal court addressed the issue and delivered this type of crim-inal responsibility to the perpetrators of a crime in time of an armed conflict, for using media as a tool of war.

22 Prosecutor v. Nahimana et al., Case nr. ICTR-99-52-A, Appeal (November the 28th, 2007).

23 Especially the §47, §55, §74 and §76.

2. CHILDREN SOLDIERS & CHILDREN LABOuR IN ARMED CONFLICTS

«We send new kids like you in first to clear the way because it´s better for the cause that you step on the mines – we don’t want to lose a soldier with more experience.»

Roméo Dallaire24

The use of children as soldiers in armed conflicts is probably one of the most difficult issues in terms of in-ternational criminal law and consequently in terms of fighting against the impunity of those who engage chil-dren to conflicts. The subject faces indeed a double chal-lenge. On one hand, we have to bring to justice those who engage themselves in the activity of conscripting or enlisting children under the age of fifteen years old25 and using them to participate actively in hostilities26; on the other, we have to deal with the appropriate answer once these children are engaged in the direct participation in the armed conflict, which has been designated the «hor-rible option» by Roméo Dallaire27. This essay will discuss the first challenger and diverts the second one for an-other opportunity, in view of the extensiveness and the legal features of the topic.

To really understand the dimension and the impor-tance of the issue is enough to say that half of the chil-dren soldiers in the world are fighting for armed groups in failed States across Africa. Nevertheless, Africa has

24 «They fight like soldiers – they die like children», Walker & Company, New York, 2011, pg 78.

25 The African Charter on the Rights and Welfare of the Child adopted by the Organization for the African Unity (now the African Union), which came into force in November 1999, considers a child every human being below the age of 18 years (Article 2º). Furthermore, the provision of article 22º 2) mention the following: States Parties to the present Charter shall take all necessary mea-sures to ensure that no child shall take a direct part in hos-tilities and refrain in particular, from recruiting any child.

26 Article 8º 2. b) xxvi) ICC Statute.

27 Gen Roméo Dallaire, «They fight like soldiers, they die like children», 2010, pg 225.

.50

made a remarkable contribution to better understand the problem, taking the lead on creating the conditions towards «the impossible change28». The turning point took place on 26th of August 1996 with the report to the General Assembly of the United Nations (UNGA) by Graça Machel29, which addressed the impact of armed conflict on children. Specific recommendations to States were laid down on the UNGA working ta-ble regarding the raising of the minimal recruitment age for 18 years. In 1998, the issue was addressed by the United Nations Security Council (UNSC) for the first time and a specific provision was included in the ICC Statute drafted in Rome. But again, Africa made anoth-er important contribution though the SCSL, when on 16th of January 2002 it delivered the first international conviction (latter confirmed in appeal on 20th of June 2007) on charges related to child soldiers30, setting an important precedent. Let’s focus on the following quote taken from that Judgment:

44. With regards to the recruitment and use of child soldiers, the Trial Chamber recalls that the young victims were abducted from their families, often in situations of extreme violence, often

28 This expression was used for the first time in this con-text by Gen Roméo Dallaire in his book «, 2010, pg. 261.

29 Graça Simbine Machel Mandela  is a  Mozambican political  and  social activist  for  human rights, mos-tly for  children’s rights.  She is the widow of the late Mozambican president  Samora Machel  who died in 1986. She is now married to  Nelson Mandela,  the for-mer South African president. In  1994, UN Secretary-General Boutros Boutros-Ghali  appointed Graça as an independent expert in charge of producing the UN Report on the Impact of Armed Conflict on Children, and Graça spent 1994-96 travelling to investigate the pli-ght of children in countries beset by war. The subject had never before been studied in depth and Graça’s report was ground-breaking. As a result of her report, the General Assembly authorized the Secretary-General to appoint a Special Representative on the impact of armed conflict on children, source: http://www.africansuccess.org/visu-Fiche.php?id=443&lang=en

30 Prosecutor vs. Brima, Kamara and Kanu (AFRC Case), 20th of June 2007: Alex Tamba Brima - Judgement §6; Ibrahim Bazzy Kamara – Judgement §70 2, §74; Santigie Borbor Kanu - Judgement §94 vi.

drugged and forcibly trained to kill and to commit crimes against innocent civilians. These children were robbed of their childhood and many lost the chance of an education.

For the very first time an international court recog-nized the essence of the problem, considering the child soldiers not as combatants tout court, but as a special group included among the victims of an armed con-flict. In reality, this concept is the starting point to deal with the accountability of those engaged in the recruit-ing activities, those that plan and use children in the hostilities, and those who have to face in the battlefield a child soldier firing at them.

Furthermore, the ICC issued on 8th of July 2005 a warrant for the arrest of Joseph Kony31, leader of the Lord’s Resistance Army (Uganda) on charges of war crimes, including the forcible recruitment and use of child soldiers in hostilities32, again mentioning the brutal circumstances in which the type of recruitment took place. In addition, on 26th of January 2009 the ICC began the trail of Thomas Lubanga Dyilo33 on the charges of enlisting and conscripting children under the age of fifteen as soldiers and using them to partici-pate actively in combat between September 2002 and August 2003.

Additionally, on 13th of August 2007 the Special Representative of the Secretary General for children and armed conflicts reported to the UNGA, includ-ing the Machel 10-year strategic review. Radhika

31 Uganda - ICC-02/04-01/05 Case - The Prosecutor v. Joseph Kony, Vincent Otti, Okot Odhiambo and Dominic Ongwen.

32 Count Thirteen - (Enlisting of Children at REDACTED IDP Camp Constituting War Crimes) - On REDACTED 2004, ordering the commission of war crimes which in fact occurred, namely, the enlisting, through abduction, of residents of REDACTED IDP Camp REDACTED District, Uganda (articles 8º (2)(e)(vii) and 25º (3)(b) of the Statute).

33 Democratic Republic of the Congo - ICC-01/04-01/06 Case - The Prosecutor v. Thomas Lubanga Dyilo.

51.

Coomaraswamy34 emphasized that «… adults are respon-sible for environments of conflict and violence», calling spe-cial attention to the situation for the recruitment of girls.

Finally, in 2010 Gen Roméo Dallaire book «They fight like soldiers, they die like children» was published, which we see as the «Memory of Solferino» on the subject of protection of children in armed conflicts, due to the fact that it uniquely drew the international community attention for the problem. Impressed by the worth and comprehensiveness of his report, he educated us on this special field of recruiting girls to fight in armed con-flicts, mentioning the following: «a resilient child soon learns that it is better to endear herself to one soldier with a gun and the power to protect her, than to be a commu-nal sex object. The more power the adult soldier has, the better off the girl will be… girls with or women who had no «husbands» suffered physical hardship, lack of food, and frequent rapes35… a young mother who loves her child may feel her child’s future is brighter if she stays where she is, rather than trying to go home36».

In conclusion, child soldering are indeed a serious threat to the transitional process and to build a long standing peace time, once fighting is everything they have, they probably tend to fight during more years than adults. Again, Africa has shown initiative and determination to push forward the accountability instruments to fight against impunity.

34 Radhika Coomaraswamy was appointed by UN Secretary-General Kofi Annan as Under-Secretary-General, Special Representative for Children and Armed Conflict in April 2006. She was reappointed by the UN Secretary-General Ban Ki-moon in February 2007. In this capacity, she serves as a moral voice and independent advo-cate to build awareness and give prominence to the rights and protection of boys and girls affected by armed conflict. Ms. Coomaraswamy, a lawyer by training and formerly the Chairperson of the Sri Lanka Human Rights Commission, is an internationally known human rights advocate who has done outstanding work as Special Rapporteur on Violence against Women (1994-2003) – source: http://www.un.org/children/conflict/english/radhikacoomaraswamy.html. 

35 Gen Roméo Dallaire, «They fight like soldiers, they die like children», 2010, pg 133.

36 Gen Roméo Dallaire, «They fight like soldiers, they die like children», 2010, pg 177.

3. ANTI‑PERSONNEL LANDMINES OR RANDOM kILLERS

«Landmines not only kill or maim victims; they also affect the nearby communities… We may yet eliminate the fear of mines for generations to come.»

Maya Chendke (age 15)37

Jean-Marie Henckaerts and Louise Doswald-Beck are the authors of the reference compendium of the cus-tomary international law published by the ICRC in 200938. They mentioned that the customary rule 81º is applicable either to international or to non-interna-tional conflicts and in relation to anti-personnel land-mines is biding the States, which have not yet adopted

37 http://www.fazeteen.com/issue02/landmines.html.

38 First published in 2005 and reprinted with corrections in 2009.

.52

a total ban on their use39. The rule 81º stands as follows: «when landmines are used, particular care must be taken to minimize their indiscriminate effects»40. The expres-sion «particular care» leads to the following statement «… the practice means that it cannot be said at this stage that the use of anti-personnel landmines is prohibited un-der customary international law.»41 However, consider-ing the State practice regarding the implementation of the Convention on Certain Conventional Weapons (re-viewed in 2001 with no controversy), there is a tendency to consider the international customary law applicable in non-international conflicts and the expression «par-ticular care» on the use of landmines, is viewed as an

39 Treaty Law applicable to landmines: Protocol II to the The United Nations Convention on Certain Conventional Weapons (CCCW) on prohibitions or restrictions on the use of mines, booby-traps and other devices, 1980; Protocol on Prohibitions or Restrictions on the Use of Mines, Booby-Traps and Other Devices as amended on 3rd of May 1996 (Protocol II to the 1980 Convention as amended on 3rd of May 1996) (as of 1st of August 2010, 97 States are par-ties on Protocol); and the Convention on the Prohibition of Anti-personnel Mines, 1997. The most well-known treaty in the area of mine action is the 1997 anti-person-nel mine ban treaty («Ottawa Convention» - The official title of the treaty is the  Convention on the Prohibition of the Use, Stockpiling, Production and Transfer of Anti-personnel Mines and on their Destruction). The «Ottawa Treaty» was the result of the so-called «Ottawa Process» launched by the Government of Canada following the First Review Conference for the 1980 Convention on Conventional Weapons which was unable to adopt far-rea-ching prohibitions or restrictions on anti-personnel mines. In October 1996, at the closing session of an international strategy Conference of pro-ban States «Towards a Global Ban on Anti-Personnel Mines», Canada’s Foreign Minister called upon States to return to Ottawa in December 1997 to sign a treaty totally prohibiting anti-personnel mines. The anti-personnel mine ban treaty entered into force on 1st of March 1999. As of 1st of August 2010, 156 States had ratified or acceded to the treaty – source: http://www.icrc.org/ihl.nsf/INTRO/580. 

40 Customary International Humanitarian Law, ICRC, Cambridge, 2009, pg. 280.

41 Customary International Humanitarian Law, ICRC, Cambridge, 2009, pg. 282.

enforcement mechanism to minimize indiscriminate af-fects and indiscriminate attacks.

The international practice seems to agree on the main problems of the use of landmines, namely the poten-tial to produce indiscriminate damages, the likelihood to violate of the principle that obliges to discriminate between combatants and non combatants and to dis-tinguish between military targets and civilian objects, and the application of the principle of proportional-ity. It also seems to be consensual that the suffering caused by anti-personnel mines is horrific, and when peace conquers its place, anti-personnel landmines are still haunting for many years ahead. Landmines and especially anti-personnel landmines are harm-ing every transitional process after an armed conflict ended, prolonging the social and economic recovery to an unacceptable extend. Understanding this context, the African Continent led the initiative called Nairobi Action Plan (2005-2009)42, which aimed to end the suffering caused by anti-personnel mines by promoting the universal adherence to the anti-personnel mine ban treaty. The initiative was the cradle of the Cartagena Action Plan (2010-2014), which commits the States parties to undertake a range of specific actions during the next five years in order to strengthen implementa-tion of and also promoting universal adherence to the anti-personnel mine ban treaty.

Finally, we have to stress that the fighting against the use of anti-personnel landmines has been mainly re-garded as a State responsibility. Within the new treaty law instruments together with the implementation of the ICC Statute43, a new dimension is being careful-ly added. In fact, the time to account nationally and internationally those individuals who stock, produce, transfer, plan, order, and use anti-personnel landmines has arrived, just because the idea of having landmines claiming one victim every twenty minutes (an having 110 million landmines existing in 65 States), is indeed unbearable. This is indeed, a very important step in particular to African States.

42 http://www.mineaction.org/downloads/1/Nairobi_Action_Plan%5B1%5D.pdf.

43 Especially article 8º b) xx).

53.

4. INTERNAL DISPLACED PEOPLE & REFuGEES & (R2P);

«As we flow over Goma, I could see the massive movements of people crossing the border… the number of refugees would soon hit one million.»

Romeo Dallaire44

The responsibility to protect (R2P) acknowledges that the primary responsibility in this regard rests with the State concerned, and that it is only if the State is unable or unwilling to fulfill this responsibility, or is itself the perpetrator, that it becomes the responsibility of the in-ternational community to act in its place45.

Nowadays, it is largely accepted that «R2P concept» en-compasses all the activities aiming at obtaining the full respect for individual rights in accordance with the rel-evant bodies of law such as human rights, international humanitarian law and refugee law. Protection means above all to recognize that individuals have rights and those exercising the authority on behalf of the State, non-State or international actors have obligations. The international law instruments are many: general treaty law46, specialized treaty law47, regional instruments48,

44 Shake Hands with the Devil, 2004, pg. 469.

45 Report of the International Commission on Intervention and State Sovereignty, 2001, pg. 17 – source: http://www.iciss.ca/pdf/Commission-Report.pdf.

46 Such as the International Covenant on Civil and Political Rights and the Covenant on Economical, Social and Cultural Rights of 1966.

47 Such as the Convention on the Rights of the Child, 1989 or the Convention against Torture and Cruel, Inhuman or Degrading Treatment or Punishment of 1985.

48 Such as the African Charter on Human and People’s Rights of 1986.

international humanitarian law49, and international law on refuges and international displaced people (IDP). For the purpose of this essay, we would like to focus only on the protection of refugees and IDP.

As defined in the  1951 United Nations Convention Relating to the Status of Refugees  (the Refugee Convention), a refugee is defined as a person who «owing to a well-founded fear of being persecuted for reasons of race, religion, nationality, membership of a particular social group or political opinion, is outside the country of his nationality, and is unable to or, ow-ing to such fear, is unwilling to avail himself of the pro-tection of that country or return there because there is a fear of persecution...». Thus, when we discuss the problem of the rights and obligations of refugees, we are mainly referring and obligation imposed by law to third State towards an individual not belonging to that State. On the contrary, when we address the problem of rights and obligations of IDP, which is a special category of people who may have been forced to flee their homes for the same reasons as refugees but they have not crossed an international border, we are referring the obligations of their own national State. Thus, unlike refugees, IDP have not crossed an international border to find sanctuary but have re-mained inside their home countries.  Forced to flee from their homes, IDP also experience specific forms of deprivation, such as loss of shelter, and often face heightened or particular protection risks. These risks may include: armed attack and abuse while fleeing in search of safety; family separation, including an increase in the number of separated and unaccom-panied children; heightened risk of sexual and gen-der-based violence, particularly affecting women and children; arbitrary deprivation of land, homes and other property; and displacement into inhospitable environments, where they suffer stigmas, marginali-zation, discrimination or harassment50.

49 Such as the Convention on the Prevention and Punishment of the Crime of Genocide, 1948 and the Geneva Conventions of 1949, especially its common arti-cle 3º - and the two Additional Protocols of 1977.

50 Source: Hand book for the protection of IDP, pg. 3 http://www.unhcr.org/4c2355229.html.

.54

At this stage we wish to call your attention to a very important African event, which took place in October 2009 in Kampala (Uganda). In fact, Uganda hosted a remarkable meeting between heads of State and gov-ernment aiming to developed a plan of action through the adoption of a milestone Convention for the pro-tection of IDP across Africa. The participants adopted the African Union Convention for the Protection and Assistance of Internally Displaced Persons in Africa51, which is the first legally binding international instru-ment on internal displacement having such broad regional scope. The Convention will provide a compre-hensive regional framework governing the protection and assistance of IDP - before, during and after dis-placement. The phenomenon of internal displacement continues to expand on the African continent, even as refugee numbers progressively decline. At the beginning of 2011, Africa was home to an estimated 11.6 million IDP, or about 45% of the world’s IDP. The continent also has some 2,659,000 refugees and asylum-seekers. Some 2 million people were newly displaced during the course of last year52.

In the foreword by the Under-Secretary-General Mr. Sérgio Vieira de Mello to the Guidelines Principles of Internal Displace People, is mentioned the following: «… these principles will assist governments in pro-viding for security and well being of their displaced population»53.

All in all, and despite of the existing legal instruments en-forcing the IDP protection, African Union Convention for the Protection and Assistance of Internally Displaced Persons paves the way to the State accountability but also to the individual responsibility, moving a step ahead of the Guidelines Principles of Internal Displace People, once is a legal biding instrument and directly foresees the individual responsibility for acts of arbitrary dis-placement, in accordance with applicable domestic and international criminal law (article 3º g)). Moreover, it also represents a serious endeavor to ensure the account-ability of non-State actors, including multinational

51 Source: http://www.internal-displacement.org/kam pala-convention

52 Source: http://www.unhcr.org/pages/4ad6d6f31c8.html.

53 Source: http://www.unhcr.org/43ce1cff2.html, pg. 3.

companies and private military or security companies, for acts of arbitrary displacement or complicity in such acts (article 3º h)).

5. NATuRAL ENVIRONMENT PROTECTION

«… the environment is not an abstraction but represents the living space, the quality of life and the very health of human beings, including generations unburned.»

International Court of Justice, 199654

When it comes to environment protection in non-inter-national armed conflicts, Africa seems to have a long way to go. The reasons are numerous. We believe that this fact is one of the causes behind the slow pace of the tran-sitional processes, once halted the use of armed violence across the African Continent. Many years of individual impunity led to the ordinary perception that harming the environment during armed conflicts is a fair part of the game, and the common price to pay latter is accept-able due to the especial circumstances. We do consider the environment protection is multidimensional and it holds an exponential harmful potential to reinforce the toughest side of any transitional process. To ignore the environmental impact of the use of armed violence is a win-lose situation, which impact on the long term com-munity development. Let’s now review few legal aspects bearing in mind the contribution to change this «status quo» given by the fight against impunity.

The natural environment protection in non-interna-tional conflicts is, indeed, a special case. In fact, the rules governing the protection of the natural environ-ment are less developed than those governing interna-tional armed conflicts, due to the fact that victims in general are less protected too. The article 3º common to the Geneva Conventions neither provides international legal protection, nor calls the States to implement other domestic environment protective measures. Therefore, the remaining legal instruments are the customary in-ternational humanitarian law, the Additional Protocol II to the Geneva Conventions, and the treaty law bidding

54 Advisory Opinion on the legality of the threat or use of nuclear weapons, ICJ Report 1996, pg. 226 et seq., (241 §29).

55.

certain States. Moreover, the problem faces a double challenge: the environment protection rules applicable to the conduct of hostilities or the so called methods of warfare, and the environment protection rules appli-cable to the use of «environment weapons» as a mean of warfare.

Firstly, the customary international humanitarian law encompasses several rules as norms of customary inter-national law applicable in non-international armed con-flicts55. As mentioned previously, Jean-Marie Henckaerts and Louise Doswald-Beck in their compendium of the customary international law referred the rule 43º, rule 44º, and rule 45º as costmary law established by State practice in the following aspects:• Rule 43º - The general principles on the conduct of

hostilities apply to the natural environment:a. No part of the natural environment may be at-

tacked, unless it is a military objective;b. Destruction of any part of the natural environment

is prohibited, unless required by imperative mili-tary necessity;

c. Launching an attack against a military objective which may be expected to cause incidental damage to the environment which would be excessive in re-lation to the concrete and direct military advantage anticipated is prohibited.

• Rule 44º - Methods and means of warfare must be employed with due regard to the protection and preservation of the natural environment. In the conduct of military operations, all feasible precau-tions must be taken to avoid, and in any event to minimize, incidental damage to the environment. Lack of scientific certainty as to the effects on the environment of certain military operations does not absolve a party to the conflict from taking such precautions.

• Rule 45º - The use of methods or means of warfare that are intended, or may be expected, to cause wide-spread, long-term and severe damage to the natu-ral environment is prohibited. Destruction of the natural environment may not be used as a weapon.

In Africa the main concern on the subject of the ap-plication of this set of customary rules is related to the

55 The applicability in non-international conflicts is ar-guably as stated by the authors. For more details, refer to pg. 151.

principle of distinction (which is also a customary rule) and the destruction of property not justified by military necessity, especially if we consider the property com-posed by natural environment from where life direct-ly and immediately depends upon. The International Court of Justice recognized the safeguard of the State’s ecological balance was an «essential interest56» and the en-vironment must be protected57.

Secondly, the Additional Protocol II to the Geneva Conventions of 12th of August 1949 contains no pro-visions aiming the environment protection if we con-sider the means of warfare. Nonetheless, regarding the methods of warfare, the article 14º on the protection of objects indispensable to the survival of the civilian population, has a direct impact on the environment protection, explicitly on the following legal aspects:• Determination/definition of the military objective

(identifying target area);• The implementation of the principles of distinction

and discrimination of the target (To select impact zones/points inside the target area);

• The compulsory obligation to mitigate the collater-al damages foreseen (measure to be implemented);

• The balance to evoke the military necessity princi-ple (as a legal exception);

• The determination of the proportionality (bearing in mind the direct military advantage anticipated).

Considering the examples provided by the article 14º, to be precise, foodstuffs, agricultural areas, crops, live-stock, drinking water, supplies and irrigation works, those are the kind of assets bearing an outstanding im-portance within the context of African armed conflicts. Likewise, the same idea applies to article 15º, which aims to protect «works and installations containing dan-gerous forces». These provisions are applicable in the event of non-international armed conflicts and their scope and content stays in line with the articles 52º, 54º and 56º of Protocol I, applicable in international armed conflicts.

Lastly, the treaty law which binds States on a volun-tary basis considers the environment protecting mainly

56 ICJ, Gabčíkovo-Nagymaros Projec Case, Judgement §121.

57 ICJ, Nuclear Weapons Case, Advisory Opinion, §120.

.56

through the limitations on the means of warfare. Among many others, two international conventions are setting the African58 scene in terms of international law:• The Convention on the prohibition of military

or any other hostile use of environmental modi-fication techniques opened for signature in 1977 (ENMOD Convention) – As of August 2011, 48 States are parties (among them only 8 are African States59). The scope of this Convention is to ban the use of the environment as a weapons and out-laws damages to the environment resulting from the use of methods of war;

ccw

aMenDeD artIcle 1(Scope of application)

PrOtOcOl I( non-detectable

fragments)

aMenDeD PrOtOcOl II(Mines, booby-traps, other

devices)

PrOtOcOl Iv(Blindng laser weapons)

PrOtOcOl III(Incendiary weapons)

PrOtOcOl v(explosive remnants of

war)

PrOtOcOl II(Mines, booby-traps, other

devices)

• The Protocol II, III, and V of the Convention on prohibitions or restrictions on the use of certain conventional weapons which may be deemed to be excessively injurious or to have indiscriminate effects, as amended on 21st of December 2001

58 The legal issues related to the ban on nuclear and mass destruction testing programmes are not mentioned.

59 Portugal is not part, but Cape Verde and S. Tomé e Principe are States Parties.

(CCW60), usually referred as the Convention on Certain Conventional Weapons (CCCW)61 – As of August 2011, 113 States are parties62. As the Protocol II has been mentioned previously, deserves special attention the Protocol V63 (explosives remnants of war), which recognizes the serious post-conflict hu-manitarian problems caused by explosive remnants of war and addresses post-conflict remedial meas-ures of a generic nature in order to minimize the oc-currence, effects and the risk of explosive remnants of war. This threat cannot be handling successfully by the local communities acting on their one.

To sum up the environment protection in armed con-flicts needs to be taken more seriously by the States be-longing to the African Continent, not only through the implementation of existing jus in bello, but also by the accession to the available treaty law instruments, as a departure mechanism to account individually those who bear effective control of armed forces or armed groups.

SEA PIRACy

«Sea piracy is an old desperate act carried out by new desperate people».

Author unidentified

African events are leading to new legal solutions to fight piracy. In effect, as the international community faced the growing threats on commercial vessels harming the sea lines of communications, especially since 2008, there was a call for new international legal solutions, depart-ing from the following fundamental areas: the concept

60 Photo source: http://www.unog.ch/80256EE600585943/(httpPages)/4F0DEF093B4860B4C1257180004B1B30?OpenDocument

61 It is also known as the Inhumane Weapons Convention.

62 Angola, Mozambique, Guinea, East-Timor, S. Tomé e Principe, and many other African States are not parties of the CCCW.

63 As of August 2011, 93 States were parties to Protocol II, 107 States were parties to Protocol III, and 72 States were parties to Protocol V.

57.

of piracy & terrorism, the sovereignty & jurisdiction is-sues and enforcement of human rights standards.

Piracy and terrorism concepts64 – The first legal problem is to know if these types of actions are acts of piracy or acts of terrorism or, perhaps both. The UN Convention on the Law of the Sea defines piracy as «any illegal acts of violence or detention, or any act of depredation, com-mitted for private ends by the crew or the passengers of a private ship or a private aircraft.»65 Notwithstanding the fact that the UN has several multilateral conven-tions on terrorism, none of them has a generally well accepted, single, definition of terrorism. In the United States the expression terrorism means «premeditated, politically motivated violence perpetrated against non combatant targets by sub national groups or clandestine agents»66. Peter Chalk has written in 2008 analysis for the RAND Corporation67 that pirates are out for ma-terial gain, while terrorists are «assumed to be seeking the destruction of the global maritime trade network as part of their self-defined economic war against the West.» On the contrary, Murphy asserted in a 2007 article for the Naval War College Review that: «There is no worth-while evidence, despite the speculation, of any cooperation

64 Based on Stephanie Hanson – Combating Maritime Piracy, 2010. Source: http://www.cfr.org/france/combating-maritime-piracy/p18376.

65 Piracy is defined by the United Nations Convention on the Law of the Sea (article 101º) as follows: (a) any illegal acts of violence or detention, or any act of de-predation, committed for private ends by the crew or the passengers of a private ship or a private aircraft, and directed: (i) on the high seas, against another ship or aircraft, or against persons or property on board such ship or aircraft; (ii) against a ship, aircraft, persons or property in a place outside the jurisdiction of any State; (b) any act of voluntary participation in the operation of a ship or of an aircraft with knowledge of facts making it a pirate ship or aircraft; (c) any act of inciting or of in-tentionally facilitating an act described in subparagraph (a) or (b).

66 United States Law Code (Title 22, Ch. 38, §2656 f (d)).

67 http://www.rand.org/pubs/monographs/2008/RAND_MG697.pdf.

between pirates and insurgent/terrorists68.» The legal solu-tion might see these actions performed by non-State ac-tors, overlapping both concepts. As Douglas R. Burgess Jr. argued in a New York Times69 op-ed, «Both crimes in-volve bands of brigands that divorce themselves from their nation-States and form extraterritorial enclaves; both aim at civilians; both involve acts of homicide and destruction, as the United Nations Convention on the High Seas stipu-lates, ‘for private ends.» In addition, the current defini-tion of piracy is rather narrow, as it includes only action on the high seas and only action undertaken by one ship against another ship. So forms of violence conducted in the territorial sea as well as without the involvement of two ships, such as, for instance, the violent taking of control of a ship by members of its crew or passengers, even when the follow-up consists of holding to ransom the ship and its crew and passengers, are not included. Correctly, taking control by hijackers embarked as pas-sengers on the Portuguese ship Santa Maria (1961) and on the Italian cruise ship Achille Lauro (1985), which had extensive press coverage, was not considered to be pi-racy70. These difficulties are probably among the reasons why the UNSC uses often the expression «piracy and armed robbery at sea against vessels off the coast of …71 »

Sovereignty dimension and jurisdiction issues – It deals with two different types of problems. First, the activity of capturing ships and holding them and their crews for ransom since the 1990 has been carried out by armed groups acting mostly in the territorial sea and claiming to protect fishing resources, which were in effect pillaged by foreign fishermen, and the coast-al waters, which were used as a dumping ground for waste in the absence of a government able to enforce

68 http://www.nwc.navy.mil/press/review/documents/NWCRSU07.pdf.

69 Piracy is terrorism, 2008. Source: http://www.nytimes.com/2008/12/05/opinion/05burgess.html?_r=1&ref=opin

70 The European Journal of International Law Vol. 20 nr 2, EJIL 2009, Piracy, Law of the Sea, and Use of Force: Developments off the Coast of Somalia, Tullio Treves, pg. 42.

71 UNSCR nr 1838 (2008), §9; UNSCR nr 1814 (2008), §2; UNSCR nr 1950 (2010), §1 and §4.

.58

the law72. Surprisingly, according to the Law of the Sea, piracy must occur on the high seas (outside territorial boundaries), and outside the jurisdiction of any State. Consequently, the legitimacy of such acts is arguable, particularly if consider them acts of piracy. Secondly, the Security Council has linked the activities of pirates off the coast of Somalia with the notion of a threat to inter-national peace and security. Since the Security Council passed the Resolution nr 733 (1992), (§5) it has been routinely invoked the chapter VII. Moreover, the use of the expression «take the necessary measures (including the use of force)» by the UNSC73 and the European Union Council Joint Action nr 2008/851 (article 2º (d)74), is making the way to an international intervention aiming at the use of armed force, legitimating an international armed presence in the State territorial waters75. That fact leads to the problem of exercising jurisdiction over the seizures and detainees, taking into account the arti-cle 105º of the United Nations Convention on the Law of the Sea (UNCLOS)76. In this provision is foreseen the possibility of a State exercise jurisdiction, by the use of the expression «… may decide upon the penalties to be imposed…»

72 The European Journal of International Law Vol. 20 nr 2, EJIL 2009, Piracy, Law of the Sea, and Use of Force: Developments off the Coast of Somalia, Tullio Treves, pg. 400.

73 UNSCR nr 1851 (2008), §6.

74 Source: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2008:301:0033:0037:EN:PDF

75 UNSCR nr 1816 (2008), §7 (a); UNSCR nr 1846 (2008), §10 (a).

76 Article 105º - Seizure of a pirate ship or aircraft - On the high seas, or in any other place outside the jurisdic-tion of any State, every State may seize a pirate ship or aircraft, or a ship or aircraft taken by piracy and under the control of pirates, and arrest the persons and seize the property on board. The courts of the State which car-ried out the seizure may decide upon the penalties to be imposed, and may also determine the action to be taken with regard to the ships, aircraft or property, subject to the rights of third parties acting in good faith.

Human Rights - «Seizing States are reluctant to exer-cise the powers on captured pirates granted by the United Nations Convention on the Law of the Sea and Security Council Resolutions (as we have seen). Their main concern is the human rights protection of the captured individuals. Agreements77 with Kenya by the USA, the UK, and the EU seek to ensure respect for the human rights of these individuals surrendered to Kenya for prosecution»78. But why this act of reluctance per-formed by the States to account captured sea pirates? The reasons are as follows:• Pirates risked torture and the death penalty or oth-

er abuses if handed over soon after the capture to those individuals/groups acting as local authorities;

• To take pirates before a national court and to de-port them back to those acting local authorities af-ter their sentences were served, they would also risk death penalty or other abuses;

• If the State decides to take the detainees before a national court of justice, there is an effective pos-sibility that these individuals would claim for asy-lum, based on human rights violations regarding the legal proceedings. In effect, there are well in-ternationally accepted procedures regarding the capture and detention criminals. Those standards might be difficult to follow, once to bring a crimi-nal before a national court localized far away from the area of operations, might take too long time.

77 To enable suspected pirates to be prosecuted regionally, the UK Government signed a bilateral Memorandum of Understanding (MOU) with Kenya for the trans-fer of pirates on 11th of December 2008. The Kenyan Government has also signed transfer agreements with the European Union and United States. The Government of the Seychelles signed a bilateral Memorandum of Understanding with United Kingdom on 27th of July 2009 to accept the handover of pirate suspects. Source: http://www.fco.gov.uk/en/global-issues/piracy/prisoners

78 Tullio Treves Piracy, Law of the Sea, and Use of Force: Developments off the Coast of Somalia, The European Journal of International Law Vol. 20 nr 2, 2009 - Available at http://ejil.oxfordjournals.org/content/20/2/399.full.pdf+html

59.

The European Court of Human Rights (ECtHR) has delivered a specific case-law79 on the issue.

In summary, the fight against impunity for sea piracy in Africa is carving a new path, finding the best legal solu-tions to the new problems. Despite of the challenge and the long way ahead, we see a strong determination of the international community and a common will to pros-ecute those individuals acting violently as sea pirates.

6. ARMED GROuP LEADERS’ ACCOuNTABILITy IN MODERN CONFLICTS

«To my mind, their crimes had made them inhuman, turned them into machines made of flesh that imitated the motion of being human.»

Roméo Dallaire80

In the context of armed groups’ accountability, there are three different dimensions: the responsibility of the State when they operate under its jurisdiction, the li-ability of the armed groups as such, and the responsi-bility of the armed group leaders. We see last category

79 This problem has been addresses by ECHR in Rigopoulos and Medveyev cases decided on 12th of January 1999 and 10th of July 2008 respectively, requests 37388/97 and 3394/03 Source: www.echr.coe.int/ECHR/English/Case-Law/HUDOC. As explained by Tullio Treves Piracy, Law of the Sea, and Use of Force pg. 409, the question submitted to the Court was whether detention on the arresting naval vessel for about two weeks was compa-tible with Article 5º (3) of the European Convention on Human Rights according to which, inter alia, arrested or detained persons ‘shall be brought promptly before a judge or other officer authorized by law to exercise judicial power’. The Court, even though in both cases it decided that the circumstances were exceptional enough to justify an affir-mative answer, stated clearly that the principle was that such a long period of detention was not compatible with the provision in question. Consequently, States parties to the European Convention may, in different circumstan-ces, be confronted by a decision finding a violation of the human rights of the detained criminal (be it a drug trafficker or a pirate). Source: www.echr.coe.int/ECHR/English/Case-Law/HUDOC

80 Shake Hands with the Devil, 2004, pg. 457.

of responsibility particularly important in the African context. Thus, by international armed group leaders’ ac-countability we specifically envisage the act of bringing before an international court of law81, in an context of jus post bellum, an individual vested of a «special» posi-tion which allow him to exercise an effective control (the expression effective control bear an legal dimension) over the members of an armed group, and allegedly criminally responsible for serious breaches82 of interna-tional humanitarian law. Moreover, in Africa command-ers and other superiors hold a particular responsibility in controlling the activities of their forces, once the nature of the societies and the armed conflicts tent to represent commanders and other superiors as the only source of information, authority and power. That is the main rea-son why armed group leaders play a decisive role, before, during and after every combat operation, in order to en-sure the observance of international humanitarian law.

Correspondingly, within this particular African context, by modern armed conflicts, we understand asymmetric clashes, wagging acts of armed violence in a context of … a resort of protracted armed violence between govern-mental authorities and organised armed groups or between such groups within a State 83, living behind the classical inter-state confrontation.

To summarize the concept we shall say that armed groups leaders’ accountability is a special type of indi-vidual responsibility (superior responsibility), in which an individual vested with an effective authority to con-trol their subordinates, might be accountable for actions committed by his subordinates during armed violence

81 This expression may also be understood as any other form of exercising justice according to international stan-dards, namely a special or hybrid national court.

82 This expression should not be understood as «grave breaches».

83 International Criminal Tribunal for the Former Yugoslavia, Prosecutor v. Duško Tadić a/k/a «DULE», Case n. ° IT-94-1-A72, Appeals Chamber, 2nd of October 1995, § 70 (1994-1995); International Criminal Tribunal for the Former Yugoslavia, Prosecutor vs Radomir Kovač, Case n. ° IT-96-23 & IT-96-23/1-A, Appeals Chamber, 12th of June 2002, §50.

.60

between States84, governmental authorities and organised armed groups or between such groups within a State. On the grounds of article 43º AP I and the applicable case law85, an armed group is broadly characterised, by display-ing capacity to exercise an individual responsible command86, which entails the capacity to impose discipline87, to exercise a certain degree of organization, and to the ability to effectively plan and conduct armed actions». If

84 The statute and the case law of the ICTY, ICTR, ICC, SCSL show that the nature of the conflict (internal or non--international) is irrelevant for the question of superior responsibility (Liesbeth Zegveld, Non-State actors and IHL, 32º IIHL Round Table, 2009, pg. 110).

85 International Criminal Tribunal for Rwanda, The Prosecutor V Jean-Paul Akayesu, Case n. ° ICTR-96-4-T, Judgement, 2nd of September 1998: §625. … Under Additional Protocol II, the parties to the conflict will usually either be the government confronting dissident armed forces, or the government fighting insurgent organized armed groups. The term, armed forces’ of the High Contracting Party is to be defined broadly, so as to cover all armed forces as described within national legislations. § 626. The armed forces opposing the government must be under responsible command, which entails a degree of organization within the armed group or dissident armed forces. This degree of or-ganization should be such so as to enable the armed group or dissident forces to plan and carry out concerted military operations, and to impose discipline in the name of a de facto authority. Further, these armed forces must be able to dominate a sufficient part of the territory so as to maintain sustained and concerted military operations and to apply Additional Protocol II. In essence, the operations must be continuous and planned. The territory in their control is usually that which has eluded the control of the government forces. International Criminal Tribunal for Rwanda, The Prosecutor V Alfred Musema, Case n. ° ICTR-96-13-A, Judgement 27th of January 2000: §256. The concept of armed conflict has already been discussed under the above section pertaining to Common Article 3. It is sufficient to recall that an armed conflict is distinguished from internal disturbances by the level of intensity of the conflict and the degree of organization of the parties to the conflict. Under Additional Protocol II, the parties to the conflict will usually either be the government confronting dissident armed forces, or the government fighting insurgent organized armed groups. The term «armed forces» of the High Contracting Party should be understood in the broadest sense, so as to cover all armed forces as described within national legislation. §257. Furthermore, the armed forces opposing the government must be under responsible command. This requirement implies some degree of organization within the armed groups or dissident armed forces, but this does not necessarily mean that there is a hierarchical system of military organization similar to that of regular armed forces. It means an organization capable of, on the one hand, planning and carrying out sustained and concerted military operations- operations that are kept up continuously and that are done in agreement according to a plan, and on the other, of imposing discipline in the name of the de facto authorities.

86 International Criminal Tribunal for the Former Yugoslavia, Prosecutor v.Sefer Halilović, Case n. ° IT-01-48-T. Judgement, 16th of November 2005: §39. The Trial Chamber recalls that the purpose behind the concept of command responsibility is to ensure compliance with the laws and customs of war and international humanitarian law generally. The principle of command responsibility may be seen in part to arise from one of the basic principles of international humanitarian law aiming at ensuring protection for protected categories of persons and objects during armed conflicts. This protection is at the very heart of international humanitarian law. Ensuring this protection requires, in the first place, preventative measures which commanders are in a position to take, by virtue of the effective control which they have over their subordinates, thereby ensuring the enforcement of international humanitarian law in armed conflict. A commander who possesses effective control over the actions of his subordinates is duty bound to ensure that they act within the dictates of international humanitarian law and that the laws and customs of war are therefore respected.

87 ICRC Commentary to article 87º (duty of commanders) Additional Protocol I, p. 1018, § 3550: «the role of com-manders is decisive […] the necessary measures for the proper application of the Conventions and the Protocol must be taken at the level of the troops, so that a fatal gap between the undertakings entered into by Parties to the conflict and the conduct of individuals is avoided. At this level everything depends on commanders, and without their conscientious supervision, general legal requirements are unlikely to be effective.»

61.

obligations created by international humanitarian law apply not just to States but to individuals and non-State actors88, consequently those who are in position to effectively display capacity to control, impose disci-pline, exercise a certain degree of organization within an armed group, are bearing the superior responsibility corresponding to that position. Apart from the national application89, the doctrine of superior responsibility had a tremendous contribution to be positively affirmed as a rule belonging to the category of customary law coming from ICTY, and especially from ICTR90 and is now part of the ICC Statue.

Bearing in mind that the International Crime Court Statute is not part of the International Humanitarian Law91, and considering it a piece of the International Criminal Law, this essay is mainly focused on the scope of its provisions, based two main grounds. On one hand, the high number of States Parties (and among them are 32 African States) and purpose of the Statute on «affirming that the most serious crimes of concern to the international community as a whole must not go unpunished… and determined to put an end to im-punity… and thus to contribute to the prevention of

88 The Handbook of Humanitarian Law in Armed Conflicts, Oxford University Press, 2007, pg.76.

89 United States, East Timor, Canada, Argentina, UN Commission of Truth in 1993 - El Salvador, etc.

90 Jean-Paul Akayesu, Case n. ° ICTR-96-4-T, Judgement, 2nd of September 1998: §702; The Prosecutor V Clement Kayishema and Obed Ruzindana, Case No. ICTR-95-1-T, 21st of May 1999: § 209. The principle of command responsibility is firmly established in interna-tional law, and its position as a principle of customary international law has recently been delineated by the ICTY in the Celebici Judgement. The clear recognition of this doctrine is now reflected in article 28º of the Rome Statute of the ICC. ICTR-96-4-T, Judgement, 2nd of September 1998: §625.

91 Marco Pedrazzi, The Status of Organized Armed Groups in Contemporary Armed Conflicts, Non-State Actors and International Humanitarian Law, International Institute of Humanitarian Law, Milan 2010, pg. 74

such crimes» 92 support the perception related to the need of investing in the fighting against impunity as an instrument to promote prevention; on the other, the most serious crimes of concern to the interna-tional community are, in fact, crimes derived from the incorporation of International Humanitarian Law, from the Hague Regulations and from International Human Rights Law. Thus, revisiting the individual ac-countability of leaders of organized non-state armed groups appears to work directly for the sake of the International Humanitarian Law implementation, es-pecially in the context of the protection peacekeeping forces and other protected entities. Nonetheless, the application of the ICC Statute is mentioned as a refer-ence, bearing in mind that different solutions might be found in the context of the multiple jurisdiction system previously mentioned.

The provision of the article 28º of the ICC Status es-tablishes the responsibility of commanders and other superiors for criminal acts carried out by subordinates under their effective control, as a result of a failure to exercise control properly. The purpose of the provi-sion is not to account commanders and other supe-riors as perpetrators, instigators or assistants: that lies with individual criminal responsibility. The scope of this provision is to compel commanders and other superiors to take steps on the prevention of the most serious breaches of international law. Therefore, the attribution of a criminal responsibility to an armed group leader depends, among other conditions, from the evidence establishing the grounds for the exist-ence of an effective control. Once again, the African Continent made a noteworthy contribution through the SCSL by pointing out that «in a conflict charac-terized by the participation of irregular armies or re-bel groups, the traditional indicia of effective control provided in the jurisprudence may not be appropri-ate or useful93». As mentioned by Guénaël Mettraux94: «the Brima Chamber thus came up with a list of specific indicia which might tend to indicate that the leaders of

92 Rome Statute of the International Criminal Court, Preamble, Rome, 17th of July 1998.

93 The Prosecutor vs. Brima, Kamara and Kanu (AFRC Case), Trial 20th of June 2007, §787.

94 The Law of Command Responsibiliy, 2009, pg. 167.

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irregular armed or informal groups were in fact able to exercise effective control over the members of such organi-zations» and those against finding that the accuse had effective control. We quote only the first set95:• The superior had the first entitlement to the prof-

its of war, such as looted property and natural resources;

• The superior exercise control over the fate of vul-nerable persons such as women and children;

• The superior had independent access to and/or control of the means to wage war, including arms, ammunition and communication equipment;

• The superior reward himself or herself with posi-tions of power and influence;

• The superior had the capacity to intimidate subor-dinates into compliance and was willing to do so;

• The superior was protected by personal security guards, loyal to him or to her, akin to a modern praetorian guard;

• The superior fuels or represents the ideology of the movement to each the subordinate adheres;

• The superior interacts with external bodies or indi-viduals on behalf of the group.

To review the main aspects of the African contribution to the concept of armed group leaders’ responsibility, we might organize three different areas: firstly, the practice input to the consolidation of the rule as a customary provision; secondly, the active participation on detail-ing aspects of the general definition and associated key concepts; and finally by being the continent with the larger States party to the ICC statute, in which the supe-rior responsibility represents a essential tool to account individuals.

95 The Prosecutor vs. Brima, Kamara and Kanu (AFRC Case), Trial 20th of June 2007, §788.

7. FINAL REMARkS

In Africa as in elsewhere, Human Rights are the borderline of dignity.

The fight against criminal impunity is, indeed, the last glimmer of hope for all African people. Africa has made and is making its way progressing towards the fairness provided by the multiple jurisdiction system. We believed, the latest initiatives promoted by the African Union with the creation of new jurisdictional entities96, will increase the pace towards the protec-tion of individuals rights, emphasizing the role of the African Commission on Human and Peoples’ Rights (http://www.achpr.org/). In addition, the most impor-tant seemed to be, as mentioned by Fernando Loureiro Bastos97 the social maturity of the African men show-ing a large commitment to create conditions to develop peace within the African Continent.

Nevertheless, individual criminal responsibility and the particular case of superior responsibility will re-main an essential tool, in the areas of accounting pi-racy, environment protection, protection of children and internal displaced people, the fight against the anti-personnel landmines, and the media direct par-ticipation in armed conflicts. This mechanism will give a tremendous contribution to have steadier African transitional processes and longer lasting peace time. Justice is and will be foremost fairness. Fairness is a good part of the legitimacy concept. Thus, we see jus-tice after war in general and individual accountability in particular as a hallmark of hope in every legitimate transition to peace.

Florence (Italy) & Carcavelos (Portugal), 11th of September 2011

* Lt Col, PhD

96 African Court on Human and Peoples’ Rights (http://www.african-court.org/en/ ) and African Court of Justice.

97 Marcolino Moco, Direitos Humanos e seus Mecanismos de Protecção: as particularidades do sistema africano, Almedina, 2010, pg. 9 & 217.

63.

«…so-called ethnic conflicts are really political wars triggered by «influential individuals» who attempt to harness political and economic forces to their own agendas, thereby strengthening their supporters and weakening their opponents…»

Paul D. Williams, «War & Conflict in Africa», George Washington University, p.127

INTRODuçãO

No início do século XXI a conflitualidade no mun-do e mais concretamente no continente Africano vem alterando-se substancialmente, não só por causa das alterações conjunturais e das dinâmicas geopolíticas e geoestratégicas da globalização a que temos vindo a assistir na ordem internacional e mais concretamente neste continente, mas também pelo complexo quadro

de ameaças e riscos transnacionais que lhes estão asso-ciados. Os elementos que a caracterizam têm sido estu-dados por políticos, diplomatas, académicos e militares, entre outros, pois os conflitos persistem como um fe-nómeno transversal na nossa sociedade a nível local e regional, mas cada vez mais, com uma influência global.

Neste contexto, a análise e a identificação das princi-pais características da conflitualidade, como fenómeno social, passaram a ser dificilmente entendíveis e não tão facilmente previsíveis, como acontecia no período da guerra-fria. Complicaram-se assim os fenómenos da po-lemologia, pois as causas são agora multidimensionais, os atores são transnacionais e como refere Joseph Ney «…as fontes são diferentes…» mas, por outro lado, pensamos que as novas ideologias sociais das correntes neo-liberais e neo-construtivistas contribuíram para melhor clarifi-car e compreender essas análises e mais adequadamente entender esses fenómenos (2002, pp. 274-275).

Luís Bernardino* UmA vISÃo CoNCEPTUAL SobRE A NovA CoNFLITUALIDADE AFRICANA

.64

Segundo este prisma ideológico, constatamos que o es-tudo dos recentes conflitos internacionais e mais con-cretamente das guerras ou crises regionais africanas contemporâneas, têm permitido sistematizar, interpretar (como fenómeno social através do estabelecimento de correlações) e identificar as principais causas e assim sis-tematizar explicações multidimensionais para estes fenó-menos, procurando alicerçar-se numa moderna «teoria dos conflitos». Esta racionalização tem levando os acadé-micos a criar um conjunto de modelos de análise dos conflitos regionais, matrizes de comparação e a definir níveis de decisão estratégica associado a sistemas de pre-venção e resolução de conflitos, no intuito de mais fa-cilmente compreender, analisar e, se necessário, intervir.

Neste artigo académico propomos desenvolver uma re-flexão conceptual sobre a forma como podem ser anali-sados (e entendidos) os fenómenos da nova polemologia1 africana, artigo que intitulamos «Uma visão conceptual sobre a nova conflitualidade Africana».

A TIPOLOGIA DE CONFLITOS NO ESPAçO AFRICANO. O ESTADO COMO ELEMENTO CENTRAL

A análise da atual conflitualidade, principalmente a da matriz africana e nomeadamente a vertente subsaa-riana, e enquadra-se como um modelo de abordagem sistémico que enquadra numa conjuntura, as diferen-tes causas e consequências estratégicas dos conflitos re-gionalizados que se procura interpretar e compreender (de uma forma académica) de acordo com as suas prin-cipais características conjunturais e históricas. Neste contexto, a investigação sobre a temática da conflitua-lidade neste continente surge no contexto das Relações Internacionais como um dos fatores mais enigmáticos, desafiantes e relevantes para a interpretação da atual

1 Polemologia ou «Polemologie» é um termo criado por Gaston Bouthoul (1896-1980) para designar o estudo socio-lógico dos conflitos e dos fenómenos da guerra, segundo o qual se considera que a guerra tem como base a hetero-fobia, ou seja, a tendência que cada ser humano tem para temer o outro, por este ser diferente e antagónico. Uma heterofobia, considerada genericamente como um fator de agressividade negativo, assumindo uma definição ins-trumental de guerra, designando-a sinteticamente como «...luta armada e sangrenta entre agrupamentos organiza-dos...» (Sousa, 2005, p.144).

conjuntura geopolítica Africana e com reflexos na análise regional e global da conflitualidade.

Se atendermos a uma caracterização mais sintética e abrangente da conflitualidade no mundo, embora fo-cando-nos especialmente na segunda metade do século XX, podemos constatar que, ao longo desse período, se-gundo Loureiro dos Santos «… o [mundo] encontrava-se dividido por duas lideranças que se digladiavam, delimi-tando dois campos em cujas fronteiras ocorriam, por «dele-gação», os conflitos entre os respetivos centros políticos…». Segundo este paradigma, os designados «… conflitos por procuração…» foram o resultado de uma bipolarização do globo em esferas de influência geopolítica que resul-taram numa dispersão crescente de conflitos regionais, embora, segundo o mesmo autor, mantendo-se uma di-visão geoestratégica entre um «Mundo Ocidental» (lide-rado pelos EUA) capitalista e defensor das liberdades e da Democracia e um «Mundo Oriental» (representado pela ex-URSS) apologista do comunismo e defensor da luta pela igualdade de classes (2006, p.11).

Este mecanismo de constante «…auto regulação…» da conflitualidade mundial, que consistia no equilíbrio político-estratégico da guerra-fria, era caracterizado globalmente por um ambiente de relativa «…precaução estratégica…» entre potências mundiais, que contribuía para uma relativa estabilidade e contenção dos confli-tos interestatais no mundo, sem ter contudo alcançado resultados muito visíveis em África. O quadro geopolí-tico global, apesar de subordinados à bipolaridade e ao supracitado «…equilíbrio estratégico…» os movimentos de libertação, descolonização e de autodeterminação, bem como outros fenómenos político-sociais tipica-mente intraestatais, proliferaram um pouco por todo o globo, mas principalmente no continente africano. Assim, constatou-se que o ruir da «velha ordem» condu-ziu a uma assimetria global nas relações entre os atores da cena internacional, tendo-se assistido ao surgimen-to de novas ameaças transnacionais e inovadoras formas de produzir o terror. A mais relevante, pela dimensão global e mediática que alcançou, o 11 de setembro de 2001, momento em que o designado «terrorismo interna-cional» passou a ser, segundo a opinião de Loureiro dos Santos, uma das principais preocupações no contexto da segurança global, com especial incidência ao nível da proliferação de grupos radicalizados associados a célu-las terroristas de dimensão transnacional, que em África têm conquistado o seu espaço de influência (2006, pp. 211-214) (Pourtier, 2010, pp. 154-159).

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Estes fatores tiveram e têm influência direta na desig-nada nova conflitualidade Africana e reflectem-se na alteração da natureza e no propósito dos conflitos, afe-tando as estruturas de distribuição do poder no sistema internacional, e criando uma crescente tensão entre os processos de integração social e de afirmação ideológica, derivando normalmente na consequente desagregação institucional das entidades «Estado» que «…ocupavam o lugar da confrontação estratégica e ideológica do período da guerra-fria…» (Maltez, 2010, pp. 235-237).

Por outro lado, assistimos nas últimas décadas, nomea-damente após o final da segunda guerra mundial, a uma crescente importância dos conflitos intraestatais e regio-nais, em detrimento de conflitos à escala mundial, em que o Estado ocupa ainda um papel fundamental e cen-tral na gestão da conflitualidade, embora, como refere Adriano Moreira este «…venha ocupando cada vez menos um papel de ator preponderante nas relações no Sistema Político Internacional…», como constatamos com o protagonismo crescente das Organizações Regionais Africanas na prevenção e resolução de conflitos no con-tinente Africano (2002, pp. 374-376).

A conflitualidade e o Estado parecem assim assu-mir uma crescente interdependência no contexto das Relações Internacionais, em que a par da Diplomacia e do Desenvolvimento, da Economia e das Finanças, do Estado de Direito ou da Justiça, são os principais eixos de expansão transversal em qualquer modelo de análise da conflitualidade. Uma diálise conflitual permanen-te entre Estados, Organizações e outros atores (ONG, OIG, atores transnacionais e individuais) em zonas de valor estratégico acrescido, conduziu ao surgimento de uma inovadora mentalidade na abordagem dos conflitos regionais africanos. Esta importante temática passou a constituir assunto obrigatório, vital e por esse motivo, a constar em todas as análises académicas, conferências e nas agendas internacionais, uma vez que o «…Sistema Internacional atualmente é caracterizado por uma apa-rente contradição: por um lado, uma fragmentação e por outro, a globalização crescente…», tornando-se numa das características da conflitualidade na matriz identitária da nova ordem mundial.

Neste quadro, constatamos que a globalização crescente trouxe, em determinadas regiões do globo, a fragmenta-ção do poder instituído e das sociedades, nomeadamente em África, onde se assistiu a uma desagregação e deterio-ração do poder do Estado e ao contínuo surgimento de

marcantes clivagens sociais, religiosas, políticas e milita-res entre as elites governamentais e político-militares e a desamparada população (Kissinger, 2002, p. 17).

Esta alteração radical da natureza dos conflitos veio mostrar que estes deixaram de ser plenamente com-preendidos pela polemologia, que enumerava mate-maticamente as principais causas e consequências das guerras e alinhava os riscos e ameaças principais, típi-cos da guerra-fria, para enfrentar agora uma lista de novas ameaças transnacionais e assimétricas, que com-plicaram um melhor entendimento e uma abordagem teórico-conceptual destes fenómenos, que não sendo novos, são mais complexos. Nesta abordagem inova-dora haverá porventura a necessidade de incluir uma renovada conceptualização sobre a polemologia e abrir o leque a novas teorizações dos conflitos que separando conceitos e ideologias, tornem mais claros o entendi-mento da conflitualidade atual como fenómeno social e num contexto de globalização crescente.

Quanto à estrutura de distribuição do poder e prin-cipalmente aos processos de desagregação dos Estados Africanos, Adriano Moreira salienta que são causa e efeito dos mesmos problemas, na medida em que a multiplicação de Estados ditos «frágeis», «falhados», «inviáveis» ou «exíguos», associado à falta do apoio das ditas superpotências, conduziu em África a uma «…proliferação dos conflitos no interior desses estados e ao consequente crescimento dos conflitos regionais, uma cons-tatação do globalismo crescente das sociedades atuais…» e tem reflexo na conjuntura atual neste continente (2002, p. 380).

Segundo este paradigma, as principais ameaças à paz no mundo, com algumas exceções (Bósnia, Kosovo, Iraque, Afeganistão, Israel e Palestina) traduziram-se num ligeiro declínio da matriz global dos conflitos no mundo, em que «…as crises internacionais tornaram--se menos comuns e foram sendo resolvidas preferencial-mente por via da diplomacia, em detrimento do emprego da força…», o que veio introduzir inovadores paradig-mas de abordagem da conflitualidade. Neste contexto, salientam ainda os autores, que a evolução atual dos conflitos fez evoluir reciprocamente a dimensão dos diálogos para a paz e nomeadamente da «diplomacia preventiva» e assim da negociação e da mediação, pro-curando-se, ao nível regional, resolver pela via pacífica e diplomática, os conflitos que proliferam nestes es-paços, sendo esse também um dos aspetos principais

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característicos de uma nova conflitualidade no mundo e em África (Marshall e Gurr, 2005, p.20).

Existem nas bibliotecas «on-line» uma vasta documenta-ção sobre a análise, distinção e catalogação dos conflitos no mundo. Contudo, o relatório anual elaborado pela University of British Columbia, designado por «Human Security Report»2 constitui em nossa opinião, uma boa referência académica sobre a evolução da conflitualidade no mundo, apresentando alguns dados estatísticos que permitem, confirmar uma tendência para um decrésci-mo geral da conflitualidade, e constatar uma predomi-nância dos conflitos intraestatais e ainda identificar uma significativa alteração na distribuição geográfica, na ti-pologia e móbil dos conflitos regionais atuais.

Assim, quando analisamos os conflitos armados entre potências e blocos de nível mundial, associando-se a guerras interestatais (característico da guerra-fria) vi-mos que deram lugar a conflitos intraestatais de baixa e média intensidade, que proliferam agora a um nível regional e local, trazendo a conflitualidade para den-tro das fronteiras dos Estados, em que nem sempre ou quase nunca, os principais atores são esses Estados. O supracitado relatório salienta mesmo que após a queda do muro de Berlim «…a conflitualidade mundial global decresceu cerca de 16%, atingindo em finais de 2004, o nível mais baixo de conflitualidade desde 1950...» (Idem).

Estes indicadores, independentemente dos racionais matemáticos que o justificam, mostram-nos global-mente uma tendência do decréscimo da conflitualida-de no mundo, o que não quer dizer necessariamente que o mundo esteja mais seguro, nomeadamente no continente Africano, onde se verifica o oposto. Neste quadro, constata-se atualmente uma tendência para um decréscimo generalizado do índice de conflituali-dade no mundo, verificando-se uma diminuição dos confrontos intraestatais e uma relativa tendência para a estabilização no número de lutas interestatais, apesar da ameaça de conflitos inter-Estados e ou com coliga-ções, serem ainda hoje uma realidade e apresentarem uma forte preponderância em África, onde como sa-lienta Roland Pourtier «…depuis la fin de la breve pax colónica, l’Áfrique noir en’a pas connú une seule période de paix générale…» (2010,p. 154).

2 http://hsrgroup.org/docs/Publications/HSR2012/2012Human SecurityReport-FullText.pdf

Segundo este panorama, a prevalência do envolvimento das organizações de carácter «universalista», procuram congregar esforços na tentativa da resolução estratégi-ca dos conflitos localizados, conferindo uma dimensão transnacional e global aos conflitos regionais, aspeto que derivava ainda do confronto direto entre as potências do oriente e do ocidente no espaço Africano. Lutava-se nes-te quadrante pelo acesso ao poder, por questões de posse territorial ou por traçados de fronteiras, pelo acesso a recursos minerais estratégicos e travam-se lutas de cariz ideológico, racista ou religioso, constituindo também estes factores os principais ignidores da conflitualidade contemporânea neste continente.

A ABORDAGEM DA CORRENTE NEO‑LIBERAL E NEO‑CONSTRuTIVISTA DA CONFLITuALIDADE EM ÁFRICA

A análise dos fenómenos socioeconómicos relaciona-dos com os conflitos e com a segurança e o desenvol-vimento sustentado não são fenómenos inexplicáveis ou ocasionais e não parecem surgir por mero acaso. Pelo contrário, as correntes neo-liberais e neo-constru-tivistas defendem que ambos são fenómenos gerados e influenciados por indutores próprios e intrínsecos na dinâmica das sociedades. John Keegan, em linha com esta ideia, refere a este propósito que «…a história co-nhecida do mundo é, em grande parte, uma história de guerras, porque os estados em que vivemos nasceram atra-vés de conquistas, combates cívicos, conflitos ou lutas pela independência…». Neste âmbito e corroborando uma teoria positivista pura assume-se que a matriz geopo-lítica dos conflitos no mundo se considera como uma necessidade e inevitabilidade na relação social entre os homens e que, segundo o mesmo autor «…os conflitos evoluem com a Humanidade e a Humanidade cresce com os conflitos…» (2006, p.505).

Ainda segundo estas Escolas do pensamento de Relações Internacionais pós-modernas, os conflitos são fenóme-nos de natureza cíclica, com periodicidade variável e que embora possam ser algo imprevisíveis, estão omni-presentes e marcam a História da Humanidade, sendo afectados por fatores endógenos geoconjunturais, tais como o acesso e a luta pelo controlo de determinados recursos naturais estratégicos (especialmente energéti-cos ou geradores de recursos financeiros avultados) o controlo de determinada porção de território, o aces-so ao poder ou por motivos ético-religiosos. Mas tam-bém podemos e (devemos) considerar alguns fatores

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exógenos (exteriores ao conflito e independentemente dos interesses/objetivos dos atores, mas que influen-ciam diretamente o desenrolar do mesmo) tais como a conjuntura regional e internacional do momento, o ní-vel e a forma de intervenção da sociedade internacional e as tendências geopolíticas e geoestratégicas da região onde ocorrem. Razões pelas quais os conflitos africanos devem ser considerados acontecimentos conjunturais, processos dinâmicos ligados a atividades e processos que variam, entre outros aspetos, em função do tempo, do espaço, dos interesses vigentes, dos atores envolvi-dos e das condições conjunturais associadas, podendo degenerar em crises e violência localizada e numa fase mais aguda, evoluir para uma crise geral ou escalar para uma situação de guerra, afetando tudo e todos, pois a globalização introduziu este inovador, problemático e ambíguo paradigma na conflitualidade em África no século XXI.

A matriz da «nova» conflitualidade que temos vindo a abordar apresenta, em suma e segundo estas correntes do pensamento, como principais tendências conjuntu-rais, um declínio dos conflitos interestatais relativamen-te ao aumento de conflitos intraestatais (no interior dos Estado), assistindo-se a uma concentração maior destes conflitos regionais no continente Africano. Como vi-mos, estes fenómenos apresentam uma principal inci-dência em África, onde o seu aparecimento surge como o resultado do processo de construção, falência e fracas-so das estruturas dos Estados e da incapacidade destes em assegurarem as suas principais funções, tais como garantir a segurança das populações e a soberania dos espaços, aspetos que constituem um fator de apreensão para a sociedade internacional.

Por outro lado, os conflitos que marcam a atualidade são, em simultâneo, causa e consequência das razões de fundo que lhes estão associados, nomeadamente por-que esses conflitos ocorrem maioritariamente em países «abandonados» pelas ditas grandes potências do após guerra-fria e derivam da inconsistência e inexperiência dos regimes políticos entretanto criados, que não pude-ram (ou não souberam) fazer a transição de países co-lonizados para Estadosdemocráticos, desenvolvidos e desejavelmente livres. Estes países apresentam algumas características comuns e que têm justificado uma atenção acrescida da sociedade internacional, principalmente no que concerne ao desenrolar das suas atividades basilares como «Estado», pois estão imersos numa profunda crise económica e social, não garantindo os serviços sociais

mínimos, apresentando um tecido social desmembrado e, nalguns casos extremos, repressão política, religiosa e social. Fatores que de forma isolada ou normalmente em interação, vêm adquirindo maior relevância regional e mundial, afetando não só a estabilidade dessas regiões, mas nomeadamente a segurança global. Constata-se as-sim que,em suma, a instabilidade a sul se reflete, dire-ta ou indiretamente, num maior grau de insegurança a norte e que a segurança a norte é conseguida pela aposta na consolidação da segurança sustentada a sul.

Os fatores apontados para a concentração de tão dis-tintas causas em espaços exíguos, estão também asso-ciados à influência dos fatores locais e internos, onde se salientam as tensões demográficas, os aspetos de natureza ideológica, religiosa, racial e política, bem ainda como elementos relacionados com a inseguran-ça das populações, que levam a sociedade internacio-nal, como vimos, a criar modelos de análise para os conflitos, em paridade com o que se faz noutras par-tes do globo. Contudo, a fragmentação regional do continente Africano, a busca de identidade cultural e civilizacional e a «manipulação» das populações, quer seja por pressão política, económica, racial ou religio-sa, são para Vicenç Fisas, os aspetos geopolíticos mais relevantes que levam ao surgimento de conflitos nestes Estados e nestas regiões (2004, pp. 52-62).

Sublinha-se ainda o facto de se constatar uma militari-zação crescente ao estilo ocidental em África nas décadas que se seguiram após 1950/60, constituindo-se num fe-nómeno diretamente associado ao crescimento da con-flitualidade no continente. Facto que se tornou num dos principais catalisadores dos conflitos regionais africanos e que, devido ao facto de ter havido «…despesas excessivas em armamento, subordinação dos valores civis aos milita-res, proeminência das elites militares auto proclamadas e mesmo o recurso à guerra…», e que contribuíram para potenciar, segundo John Keegan e Roland Pourtier, en-tre outros autores, o recrudescimento da forma marginal da violência entre povos, etnias, governos e Estados nes-te continente (Keegan, 2010, p. 505) (Pourtier, 2010, pp. 156-157) (Gazigo, 2010, p. 119).

Todavia, os conflitos armados parecem ter agora em co-mum a ausência direta e única da resultante militar no seu epílogo, que não terminando apenas com uma vitó-ria militar e que «…acabam [normalmente] por via da ne-gociação pacífica, da diplomacia, ou por desfecho político, simplesmente por inanição…», aspeto que, embora possa

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parecer contraproducente, se deve também a uma maior intervenção da sociedade internacional nestes fenóme-nos e ainda a uma alteração significativa dos mecanis-mos de gestão dos conflitos, com reflexos na segurança regional e no apoio ao desenvolvimento sustentado. Este fator aponta para que a evolução verificada na outra face da moeda dos conflitos (realização da paz) tenha tam-bém evoluído grandemente, associado ao objetivo de criar mecanismos operacionais tendentes a resolver, de uma forma mais eficaz e eficiente, as contendas regio-nais. Neste contexto, assume especial relevância como vimos, a diplomacia preventiva (nas suas múltiplas vertentes) e a intervenção articulada de Organizações Internacionais e Regionais (credíveis) como agentes da paz e instrumentos da consolidação do Estado e com um papel fundamental ao nível da Reforma do Sector da Segurança e do Sector da Defesa, associada à par-ticipação na designada «Arquitetura de Paz e Segurança Africana» (Bernardino, 2010, pp. 169-195).

De especial relevância é também o aparecimento de no-vas ameaças de natureza global, com destaque para as diversas formas de ameaças transnacionais, em que se desenvolvem os conflitos assimétricos, podendo salien-tar-se de entre outros, o terrorismo, o tráfico de armas e de pessoas, a proliferação de armas de destruição mas-siva e ainda o surgimento de estratégias conducentes ao genocídio e à desestruturação da segurança humana. São estas as causas mais gravosas desta «nova» conflitua-lidade africana, mas não pudemos esquecer os aspetos relacionados, como vimos, com a evolução dos confli-tos que também estão diretamente relacionados com o crescimento do investimento nos sistemas militares e na aquisição de armamento. Estes tem um reflexo direto no Produto Interno Bruto (PIB) dos países na região, em que a introdução de inovadores sistemas de armas mais letais e com maior potencial contribuíram também para criar uma perspetiva inovadora e mais real da evolução dos conflitos no mundo e obviamente da relação direta entre o instrumento militar e a segurança, entre a criação de Forças Armadas e a consolidação da paz.

Nos conflitos regionais «integrados», onde se cruzam múltiplos objetivos, novos atores e interesses (para além dos tipicamente já conhecidos), congrega-se uma amálgama de agentes e fatores desestabilizadores que conferem a África o epíteto de um dos continentes mais perigosos do mundo, constituindo a «segurança» uma das prioridades estratégicas para a Comunidade Internacional. Singular aspeto que conduziu, à luta

pela identidade cultural e civilizacional que devido à manipulação das populações pelas pressões políticas, económicas, raciais ou religiosas, levou ao surgimento de conflitos no interior destes Estados, constituindo-se num dos aspetos geopolíticos primordiais característicos da «nova» conflitualidade, que se transferiu do domínio global para o regional e vice-versa.

Na nossa perspetiva, uma «globalização» mais liberal e regionalizada (em vários aspetos) dos conflitos, com des-taque para os fatores económicos, militares, sociais e re-ligiosos, constitui-se numa das principais características do mundo atual, originando uma crescente polarização e hierarquização à luz da Comunidade Internacional en-tre os interesses conjunturais dos países e das organiza-ções, que nas regiões de elevada tensão estratégica são potenciadoras de conflitos regionais.

Em suma, cremos que no contexto mundial, África vem assumindo um maior grau de importância geoestraté-gica, assistindo-se a um incremento do interesse da ati-vidade de atores estatais e não estatais, constituindo-se como espaço de oportunidades (económicas e financei-ras) que vem conduzindo a uma intervenção crescente dos atores globais à escala regional. Neste contexto, a pressão sobre as economias, os recursos naturais estra-tégicos, as elites sociais e militares, os governos e em último rácio, sobre as desamparadas populações, têm contribuído para uma instabilidade regional crescente nestes espaços, conduzindo a um incremento da confli-tualidade regional e à dificuldade em apostar estrategi-camente num desenvolvimento e segurança sustentada para o continente no século XXI.

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CONCLuSõES

Salienta-se em conclusão que os recentes fenómenos ocorridos no Sistema Internacional tiveram reflexos diretos na nova ordem global, traduzindo-se no pe-ríodo pós guerra-fria, numa alteração na forma de se abordar a conflitualidade no mundo, não só relativa-mente à sua intensidade, mas principalmente à sua tipologia, envolvência regional/global, às motivações e muito em especial, na influência que introduziram nos aspetos geopolíticos e geoestratégicos conjuntu-rais, constatando-se que são atualmente fenómenos mais complexos e que embora não se circunscrevam a uma região, são cada vez mais, problemas do nosso mundo globalizado

Verifica-se neste contexto que os conflitos evoluíram tendencialmente para o interior dos Estados, passan-do a incluir novos atores e outras dimensões para o problema, acrescentando complexidade de análise e dificultando a intervenção da sociedade internacional, pois os conflitos de raiz intraestatal passaram a ser vis-tos pela sociedade como uma das principais ameaças ao desenvolvimento sustentado regional/global, care-cendo, segundo os especialistas, de uma intervenção mais estruturada, multidisciplinar, integrada e acima de tudo, estrategicamente global. Esta realidade, em particular em regiões como a África Subsariana, de-ram-nos a conhecer um novo grau de complexidade dos conflitos regionais e das dificuldades encontradas pela Comunidade Internacional numa prevenção e re-solução mais concertada e principalmente mais efectiva e eficaz.

Neste quadro, assistimos ao surgimento do que alguns atores designam de uma «nova» ordem para os confli-tos, onde se salienta a crescente importância dos con-flitos regionais, em detrimento dos conflitos à escala mundial, onde tudo estava previsto, regulado e estra-tegicamente estudado, onde se conjugam agora novos atores, com motivações geoestratégicas e geopolíticas inovadoras. Estes conflitos de menor escala, apresen-tam ocasionalmente uma taxa de mortalidade signifi-cativa no contexto mundial e, afetam e são afectados, como vimos, por fatores endógenos ao próprio confli-to, nomeadamente a luta pelo acesso a recursos natu-rais estratégicos, os interesses dos atores em disputa, o litígio por territórios e fronteiras, o acesso ao poder ou a influência religiosa e por fatores exógenos, como a conjuntura internacional e a geopolítica do momento.

Por esses motivos, são considerados acontecimentos conjunturais sistémicos, processos dinâmicos que estão ligados a atividades que variam em função da políti-ca dos interesses em causa, dos atores envolvidos, da geoeconomia global, da conjuntura internacional do momento, assumindo atualmente uma especial inci-dência e acrescido grau de importância e pertinência no espaço Africano.

Em suma, em África, os fenómenos associados à glo-balização trouxeram acrescidas consequências e atores para a conflitualidade regional, conferindo-lhe um im-pacto de dimensão mundial, tendo uma crescente re-levância devido aos efeitos imediatos, mais duradouros e bem evidentes na economia e na segurança global.

*Major de Infantaria do Exército, habilitado com o Curso de

Estado-Maior Conjunto. Pós- graduado em Estudos da Paz e

da Guerra nas Novas Relações Internacionais pela Universidade

Autónoma de Lisboa. Mestre em Estratégia e Doutorado em

Ciências Sociais na especialidade de Relações Internacionais

pela Universidade Técnica de Lisboa. É investigador de Pós-

Doutoramento no Centro de Estudos Africanos do Instituto

Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa.

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Num interessante artigo publicado na edição do jornal Le Monde de 20 de Janeiro de 2013, com o título Culture contre fanatismes, Elie Barnavi, historiador e antigo em-baixador de Israel em França, escreve que «il y a de moins en moins de conflits armés de par le vaste mon-de, et, pour imparfaits qu’ils soient, des mécanismes in-ternationaux de prévention et de contrôle existent, et il leur arrive de réussir». Não sem antes ter afirmado que a cultura não é um antídoto ao fanatismo e à barbárie, como se viu durante a Segunda Guerra Mundial, quan-do se enviavam seres humanos para as câmaras de gás, ao som da música de Beethoven. O ser humano é pois «uma criatura híbrida, nem anjo nem animal, ou talvez os dois, capaz do melhor e do pior». Mas concluindo, com a afirmação acima, que as organizações interna-cionais estão, melhor ou pior, a desempenhar as suas funções, numa linha que contesta a corrente Realista das Relações Internacionais, segundo a qual em Política Internacional não há senão o interesse dos Estados que impera, inviabilizando objectivamente toda a cooperação entre eles.

Vem isto a propósito da convocação que Robert Schumann, Ministro dos Negócios Estrangeiros fran-cês, fez em 9 de Maio de 1950, (a partir daí conside-rado como o Dia da Europa), para que a Alemanha, tendo readquirido no ano anterior o estatuto de entida-de política, se juntasse à França na gestão conjunta das produções de carvão e aço, principal base, à época, da

actividade económica das nações industrializadas. A que se juntariam a Itália e os três países do Benelux, que já haviam criado a sua própria associação. Donde nasceria a CECA, Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, a primeira das comunidades europeias.

Na nossa obra, com o título acima, editada pela Cascais Editora, grupo PRINCIPIA, em Outubro de 2012, ex-plicamos como já nessa altura o projecto europeu tinha contornos não apenas económicos, mas também secu-ritários e políticos. Pela análise das memórias de Jean Monnet, principal obreiro da criação da CECA e pri-meiro Presidente da Alta Autoridade da instituição, cargo equivalente ao que ocupa hoje Durão Barroso, pode inferir-se da dramaticidade dos momentos que se viveram no início da década de 1950, com o começo da guerra-fria, que, com rigor, deve ser datado de Fevereiro de 1948, data da tomada do poder pelos comunistas na Checoslováquia, que ficou na história como «Golpe de Praga». Depois de vários pedidos franceses e ingleses para que os americanos aceitassem alianças militares bi-laterais com os respectivos países, destinadas não apenas à defesa em relação à União Soviética, mas também a um possível rearmamento da Alemanha, que o Ministro dos Negócios Estrangeiros inglês, Ernst Bevinå, afirmara te-mer mais do que a primeira, Washington acede por fim às pretensões dos europeus, com a criação do Tratado da Aliança do Atlântico Norte, NATO, assinado em Abril de 1949. Nesse ano de 1950, a Coreia do Norte invade o

José Pereira da Costa* EURoPA - PoLíTICA ComUm DE SEgURANçA E DEFESA oU PoTêNCIA CIvIL?

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território da Coreia do Sul, com o beneplácito da União Soviética dirigida por Estaline. No Ocidente, segundo Monnet, pensa-se que se trata de um ensaio para uma invasão dos soviéticos da Europa Ocidental. Europeus e americanos fazem conjecturas sobre a necessidade de um reforço do seu dispositivo militar, mas estes últimos es-tão comprometidos com a resposta à invasão da Coreia do Sul, a que a China também adere. Os franceses en-frentam graves problemas na Indochina e os ingleses têm muitas das suas forças dispersas pelo seu vasto império. Resta a Alemanha. Washington pretende a criação de vá-rias divisões alemãs, considerando que devem participar na sua própria defesa. Mas neste país há também uma forte oposição interna à criação de um novo exército ale-mão. É então que surge o Plano Pleven, do Primeiro-Ministro francês, de criação de um exército europeu, como sucedâneo ao desejo dos americanos de recriar um exército alemão. Trata-se do projecto da Comunidade Europeia da Defesa, onde se integraria uma força militar alemã para defender a Europa. Monnet trabalha nesse projecto a par com a CECA. Mas em Agosto de 1954 o parlamento francês rejeita o Tratado CED, que tinha sido aprovado pelos SEIS, mas não ainda ratificado por todos. Tratava-se, como Monnet descreve nas suas me-mórias, de uma verdadeira União Política, com duas Câmaras, uma eleita directamente por sufrágio uni-versal e um Senado eleito pelos parlamentos nacionais, um Conselho executivo de cinco membros, incluindo um responsável pela Defesa, com um Presidente eleito pelo Senado e responsável perante as duas Câmaras, um Conselho de Ministros nacional, assegurando, como na CECA, a ligação entre o executivo europeu e os gover-nos nacionais, e ainda um Tribunal de Justiça.

Depois de vários governos que se sucedem em pouco tempo, devido à instabilidade própria da IV República Francesa e à guerra de independência dos povos da Indochina, cabe ao Primeiro-Ministro Pierre Mendès-France organizar no parlamento a ratificação do Tratado CED. Entretanto tinha-se dado, alguns meses antes, o desastre de Diên Biên Phu, com mais de dois milhares de mortos do lado da França e vários milhares feitos prisioneiros pelo Vietminh. Mendès-France es-tava empenhado, prioritariamente, em fazer sair o país do atoleiro da Indochina e contava com a oposição for-tíssima ao tratado de gaulistas e comunistas. Este foi, assim, rejeitado a 30 de Agosto de 1954, dando lugar a um interregno de três anos na construção europeia, que culminaria na criação da Comunidade Económica Europeia, CEE, e da EURATOM, em 1957.

A Europa militar e política ficaria assim suspensa du-rante todo o período de 40 anos da guerra-fria. A sua segurança seria realizada pelos Estados Unidos no seio da NATO e o seu objectivo principal o de construir, apenas, um Mercado Comum. Paradoxalmente, seria numa altura em que a União Soviética já não constituía ameaça que renasceria, com o Tratado de Maastricht, em 1992, a Europa Política e da Defesa.

Com efeito, com a implosão da URSS, os Estados Unidos tornaram-se na única superpotência e aprovei-taram bem o momento para o confirmarem, ao inva-direm o Iraque, pela primeira vez, sob a presidência de George Bush-pai, em Fevereiro de 1991, alguns meses antes de Mikhail Gorbatchev dar por finda a existên-cia da União, em 25 de Dezembro do mesmo ano. Em Julho, tinha-se extinguido o Pacto de Varsóvia e che-gou a pensar-se que o mesmo aconteceria à NATO. Mas logo surgiram graves problemas e conflitos de cariz étnico em algumas das antigas repúblicas so-viéticas, assim como nos países da Europa de leste, onde diversas minorias nacionais viviam integradas em países vizinhos. O fim da «paz soviética» iria de-sencadear violentíssimas guerras, desde os Balcãs até ao Cáucaso.

É nesta década de 1990 que se projecta, pois, não só a manutenção da NATO, como até a criação de um pilar europeu em seu apoio, para o qual se pensou na UEO, organização europeia da defesa criada logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, que nunca chegou a funcionar na prática. Um dos pilares do Tratado de Maastricht, neste campo, era o da Política Externa e de Segurança Comum, PESC, sucedânea da incipien-te Cooperação Política Europeia, criada na década de 1970. Como explicamos em toda a I Parte do nosso trabalho, há todo um passado de avanços e recuos na construção europeia e especialmente no que respeita à colaboração militar entre as duas principais potên-cias, França e Reino Unido. O certo é que a Política de Defesa e a colaboração extensiva aos outros Estados membros, depois dos diversos alargamentos da União, é, para alguns estudiosos, mais efectiva do que aquela alcançada no campo da Política Externa. Não apenas porque essa colaboração existe, desde há muito, no seio da NATO, mas até porque, segundo Monnet, ela vem já do período da Primeira Guerra Mundial, quando as Comissões Executivas dos Aliados permitiram que es-tes combatessem «como uma só e mesma força organi-zada», e assim fizessem pender a sorte das armas para

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o seu lado. Colaboração que renasceria em Londres, a partir de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial.

Na II Parte do nosso estudo tratamos do tema Multilateralismo ou Império Americano?, sobre as condi-ções de funcionamento das relações internacionais de-pois do fim da guerra-fria. Partindo do clássico de Jonh Ruggie Multilateralism Matters, publicado em 1993, e em seguida do também clássico République Impériale, de Raymond Aron, analisamos as duas tendências que sempre existiram na política externa dos Estados Unidos da América, desde a guerra com o México, em 1846, passando pela guerra com a Espanha em 1898, em que esta perdeu as suas últimas colónias das Caraíbas, Cuba e Porto Rico, mas também, na Ásia, as Filipinas e Guam, a saber, multilateralismo versus unilateralis-mo. No final, acrescentamos uma análise das mudan-ças geopolíticas produzidas essencialmente na primeira década do novo milénio, quando as acções militares desencadeadas pelo Presidente George W. Bush tive-ram um efeito contrário ao desejado, qual seja o de não consolidar uma hegemonia americana que se dese-nhava desde o final da guerra-fria, mas a que também a ascensão económica dos chamados países emergentes e a crise financeira despoletada em 2007 contribuíram para a sua não realização.

Por fim, na III Parte desenvolvemos o tema central do nosso trabalho, que enunciamos na Introdução Geral, ou seja o da definição e aclaramento do conceito de Europa Potência Civil e o da sua viabilização ou não com a Política Comum de Segurança e Defesa, tal como foi enunciada no Tratado de Maastricht, no âmbito da PESC, e depois desenvolvida no Tratado de Lisboa, com a criação do Serviço Europeu para a Acção Externa. Política de Defesa que foi levada à prática com missões em três continen-tes, a partir de 2003, depois dos Conselhos Europeus de Colónia e Helsínquia, em 1999, terem viabilizado a sua concretização. Para o que contribuiu muito, na altura, a definição da Estratégia de Segurança Europeia, publici-tada num documento do então Alto Representante para a Política Externa, Javier Solana, em Dezembro de 2003. De um ponto de vista teórico, sobre este tema socorremo--nos dos trabalhos dos mais importantes representantes das correntes Cosmopolitista, Construtivista e Neo-Regionalista das Relações Internacionais, onde sobres-saem Ulrich Beck e Jean-Marc Ferry, Alexander Wendt e Björn Hettne, respectivamente. Dedicamos algumas pági-nas à criação da Organização das Nações Unidas em 1945, à crise porque passou aquando da segunda intervenção

americana no Iraque em 2003, momento em que não poucos, inclusivamente em Portugal, pugnaram pelo fim da ONU e até pela criação de uma nova organização in-ternacional para a substituir, a Liga das Democracias, que os neoconservadores, no auge da sua influência sobre o governo americano, tentaram lançar. Descrevemos a ori-gem do conceito de Europa Potência Civil e, aproveitan-do o trabalho teórico do italiano Mario Telò, professor na Universidade Livre de Bruxelas, desenvolvemos ampla-mente as repercussões e consequências, a nível global, de uma eventual aplicação do conceito no estado actual das relações internacionais.

Claro que na edição recente desta nossa obra não po-deríamos deixar de ter em conta a crise com que se de-bate a Europa actualmente, introduzindo um prefácio diferente do anterior, que datava de Março de 2011, aquando da sua apresentação como tese de doutora-mento. Com efeito, somos daqueles que não atribuem à Europa a culpa do que se passa no continente, mas sim aos seus políticos actuais e, de uma forma muito vigoro-sa, à Comissão Europeia. Como afirmou recentemente o Professor Adriano Moreira, num programa televisivo, «o espírito europeu data pelo menos do século xiv». Ao lon-go de numerosas páginas, introduzimos também alguns exemplos seculares desse mesmo espírito e da ideia de Europa. Como é sabido, as ideias não morrem. Podem desaparecer por algum tempo, mas cedo ou tarde aca-bam por renascer. Para quem viveu 15 anos no centro da Europa, muitas são as imagens que o comprovam, como o caso singelo de ver uma criança de três anos a falar três línguas europeias. Ou a do filósofo e resistente ao nazismo Karl Jaspers, que numa frase que tomámos para epígrafe afirma, em 1960, «que a ideia de Estado nacional é hoje a infelicidade da Europa e de todos os continentes». Quis o malfadado destino que fosse no exercício da presidência da Comissão Europeia por um português, povo dos mais cosmopolitas do mundo, que desaparecesse o espírito europeu da principal instituição da União, que precisamente o deveria manter mais vivo, como durante a presidência de Jacques Delors, que re-sistiu a forças não menos contrárias a esse espírito como a de Margaret Thatcher, a que tivemos oportunidade de assistir pessoalmente.

*Funcionário da Comissão Europeia em Bruxelas de 1989 a 2002.

Doutorado em Relações Internacionais pela Universidade Nova de

Lisboa, sobre o conceito de Europa Potência Civil.

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PóS-gRADUAçÃo CoNSTRóI PoNTES ENTRE ARqUITECTURA E SEgURANçA

Fazer a ponte entre a realidade operacional das forças no terreno e quem é responsável pela nova vida das instalações e aquartelamentos é o objectivo da primeira edição da Pós-graduação em Infraestruturas e Segurança. Uma iniciativa conjunta da Direcção-Geral de Infra-Estruturas e Equipamentos do MAI, da Escola da Guarda e do Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna. Os destinatários são profissionais de arquitectura e engenharia distribuídos por todo o país.

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Os mundos da Arquitectura, Engenharia e da Segurança – em especial no âmbito das forças presentes no terreno – parecem estar diametralmente distantes. No entanto, foi a convicção de que, na realidade, têm vários pata-mares em comum que levou à criação da primeira Pós-graduação em Infraestruturas e Segurança, cuja edição inicial se encontra na recta final.

A iniciativa para a criação desta formação avançada é tri-partida e pertence à Direcção-Geral de Infra-Estruturas e Equipamentos do Ministério da Administração Interna (DGIE), ao Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna (ISCPSI) e à Escola da Guarda (EG).

«Avançámos para esta pós-graduação com a convicção de que ela será um instrumento bastante útil no pro-cesso de requalificação de infra-estruturas das forças de segurança, que tem vindo a acontecer um pouco por todo o território nacional». As palavras são do Professor Doutor Arqº João Alberto Correia, Director Geral de Infra-Estruturas e Equipamentos, que assim faz a apre-sentação do projecto.

«Os participantes são, maioritariamente, profissionais nas áreas da Arquitectura e Engenharia que, por um lado, têm experiência nos campos da reabilitação de edi-fícios e outros equipamentos e, por outro lado, mantêm contactos com os orgãos de poder local, a quem cabe a operacionalidade das intervenções e obras», refere o mesmo responsável.

É de facto às autarquias, nomeadamente às Câmaras Municipais, que cabe o papel de gestoras dos muitos projectos de reabilitação de infra-estruturas ao lon-go do território nacional, como esquadras da PSP e aquartelamentos da Guarda Nacional Republicana. «Havia a noção, porém, de que faltava formação e informação aos operadores sobre as condicionantes específicas deste tipo de trabalhos e intervenções», afirma João Correia, exemplificando: «uma requalifi-cação que seja projectada para um edifício de uma for-ça de segurança tem de respeitar exigências próprias e únicas dessa mesma força, que podem ir das áreas úteis à distribuição das diversas dependências e mesmo a os equipamentos».

Com esta pós-graduação, que reuniu três dezenas de téc-nicos de várias regiões do país, é possível assegurar que «os futuros projectos assinados e levados a cabo por estes profissionais, no âmbito de equipamentos de segurança,

são da mais alta qualidade e respeitam os requisitos es-senciais a uma actuação mais eficaz das forças no terre-no», conclui o Director-Geral.

PONTOS DE PARTIDA

«As infra-estruturas físicas das forças de segurança são os pontos de partida, as bases de apoio, da operaciona-lidade no terreno. Assim sendo, quando melhor forem adaptadas às necessidades dos efectivos e também às so-licitações da população, melhor servirão os seus propósi-tos». O Major-General Agostinho Dias, Comandante da Escola da Guarda, sumariza assim as razões que levaram a instituição que dirige a associar-se à pós-graduação.

«A Guarda Nacional Republicana está presente em 95% do território nacional, com mais de meio milhar de aquartelamentos. Utilizar o esforço de reabilitação e reestruturação dessa rede de um modo eficaz – em ter-mos financeiros e da própria concepção arquitectónica – é promover um acréscimo na qualidade da missão», defende o mesmo graduado.

«Uma vez que os encargos são tão significativos, torna-se essencial que quem vai conceber e executar os projectos conheça os aspectos subjacentes às infra-estruturas que albergam forças de segurança, em dados aparentemente tão díspares como as necessidades de defesa do períme-tro, a exposição ao exterior, a exposição à luz, as áreas destinadas aos efectivos, as áreas destinadas aos contac-tos com a população… são especificidades que – quando planeadas de forma deficiente – aumentam as dificulda-des no terreno e os encargos», advoga Agostinho Dias.

«Numa segunda linha de análise, poderá também dizer--se que esta pós-graduação transmite também aos for-mandos noções que lhes vão ser úteis em qualquer tipo de projecto que venham a assumir. Não é só às forças de segurança que estes princípios servem: quem pensa espaços, sejam eles públicos ou privados, ganha em saber de que forma pode promover níveis sólidos de segurança que sirvam a sociedade e os cidadãos», conclui.

BEM TRANSVERSAL

«A segurança é um bem transversal e começa também na forma como se edifica ou se intervém nas infra--estruturas. A importância desta formação de topo

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radica no facto de promover melhores condições de operacionabilidade para a funções policiais» relata, por sua vez, o director do ISCPSI, superintendente Pedro Clemente.

«A criação desta pós-graduação teve como principal ob-jetivo dotar os arquitetos e engenheiros que, direta ou indiretamente, estão envolvidos na construção ou rea-bilitação de infraestruturas de forças ou serviços de se-gurança, com um conjunto de conhecimentos que lhes permita compreender o sistema de segurança interno, o funcionamento dos serviços e forças de segurança, bem como, um conjunto de problemáticas referente à segu-rança dos cidadãos», prossegue o mesmo responsável.

O ISCPSI «teve como principal missão a coordenação científica e pedagógica desta pós-graduação, garantin-do a sua qualidade. o público alvo é muito específico, facilitando as discussões mais técnicas e colocando um enorme desafio para a organização de um fórum de dis-cussão, em ambiente académico, sobre temas essenciais à compreensão da segurança. A realização de diversas visitas de estudo a instalações das forças e serviços de segurança, permitiu que os alunos observassem e trocas-sem algumas impressões com os elementos operacionais das forças de segurança. O equilíbrio e a articulação das matérias de segurança com o urbanismo e a arquitetura constituiram os grandes desafios deste curso».

O plano de curso foi dividido em cinco unidades curri-culares: Reabilitação do Edificado Urbano; Cidadania e Seguridade; Sistema de Segurança Interna; Arquitetura e Urbanismo como fator de segurança e Metodologia do Trabalho Científico. Os trabalhos produzidos pelos alu-nos desta pós-graduação serão reunidos numa coletânea que permitirá partilhar conhecimento e práticas nesta área de encontro entre o Urbanismo e a Segurança.

A partir de uma visão panorâmica da segurança foram discutidos vários temas, entre os quais a reabilitação de edifícios das forças e serviços de segurança; os programas funcionais de uma instalação; características gerais dos equipamentos; a inserção urbana e aspetos institucio-nais; análise do Sistema de Segurança Interna; Políticas Públicas de Segurança e ainda Prevenção e crime nas áreas metropolitanas.

O envolvimento de um público muito particular permi-te angariar novos esforços para a produção de seguran-ça, não só através da melhoria de processos relacionados

com os projetos e construção de edifícios das forças e serviços de segurança, mas, também, com o envolvimen-to dos diversos atores da comunidade na coprodução de segurança.

«Esta dinâmica constitui uma importante estratégia para melhorar o trabalho da PSP e das restantes forças e ser-viços, bem como melhorar a relação entre os diversos atores do Sistema de Segurança Interna e o cidadão. Por outro lado, a melhoria das instalações aumenta a capa-cidade das forças e serviços de segurança, melhorando as condições para uma melhor prestação de serviço aos cidadãos. Iniciativas como esta promovem uma profun-da reflexão sobre temas relacionados com a segurança, promovendo uma cultura de segurança, envolvendo di-ferentes setores da sociedade numa coprodução de segu-rança. Esta ação em particular, a curto e médio prazo vai dotar os profissionais responsáveis pela construção e rea-bilitação do edificado das forças e serviços de segurança com conhecimentos que lhes permitem melhorar a con-cepção das infraestruturas», considera o superintendente Pedro Clemente.

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IMAGEM

MaIS De 10 MIlHõeS De eurOS Para OBraS eM PrISõeS

A Direcção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) revelou que está em curso um programa de intervenções «mais urgentes e prioritárias» em 11 esta-belecimentos prisionais, num investimento de 10,4 mi-lhões de euros (ME). Em reacção ao relatório do Comité Europeu para a Prevenção da Tortura, que aponta de-ficiências nas prisões portuguesas, o DGRSP refere que «a conservação das instalações prisionais e a me-lhoria das condições materiais da reclusão constituem uma preocupação».Por isso, a DGRSP refere que está «desenhado um pla-no de obras a realizar no período de 2103 a 2016 com financiamento através do Fundo de Modernização da Justiça para intervenções consideradas mais urgentes e prioritárias nos Estabelecimentos Prisionais, com vista à melhoria das condições de funcionamento». «Está em causa a reabilitação de instalações degradadas que, con-comitantemente, contribuirá para o aumento da lotação prisional», salienta o organismo estatal, que está a inter-vir nos estabelecimentos prisionais de Caxias, Coimbra, Porto, Vale de Judeus, Funchal, Évora, Pinheiro da Cruz, Santa Cruz do Bispo, S. José do Campo, Leiria e Montijo. Além dos melhoramentos, o programa con-sagra a aquisição de equipamentos e é complementa-do por «um plano muito sério para aumentar de modo

significativo a capacidade do sistema prisional e, deste modo, aliviar a sobrelotação existente» em quase metade dos 51 estabelecimentos prisionais.Esta matéria foi alvo de recomendação por parte do co-mité do Conselho da Europa e a DGRSP esclarece que «está a ser construído, encontrando-se já em fase final de obra, um novo Estabelecimento Prisional em Angra do Heroísmo» e que se está a «proceder a obras de remode-lação e de ampliação de espaços prisionais em São José do Campo, em Viseu, e nos Estabelecimentos Prisionais de Alcoentre, Caxias, Linhó e Leiria».Outras das recomendações inscritas no relatório qua-drienal tem que ver com a escassez de guardas prisionais. Sobre este assunto, a DGRSP assinala que se encontra «em fase de conclusão um trabalho de levantamento rigoroso, feito estabelecimento prisional a estabeleci-mento prisional, dos vários postos que devem ser preen-chidos». Este levantamento permitirá «detectar no final que estabelecimentos prisionais têm guardas a mais ou guardas a menos, assegurando-se, assim, uma boa gestão do corpo da Guarda Prisional». Acrescenta ainda a DGRSP que só após «a finalização deste trabalho, associado ao novo modelo de horário de trabalho que se encontra em processo negocial com as estruturas sindicais, será possível saber se são necessários mais guardas, quantos e onde». A DGRSP refere ain-da que o empenho do Estado no aumento do quadro de guardas prisionais e referiu que «foi feito um esforço para a admissão de 250 novos guardas, cujo curso se con-cluiu recentemente (Outubro de 2012) com a aprovação de 238 formandos».O relatório do Comité Europeu para a Prevenção da Tortura, divulgado hoje, resulta de seis visitas de uma delegação a Portugal, a última das quais de 07 a 16 de Fevereiro de 2012. Neste documento é referido que há sobrelotação em prisões portuguesas, alegadas agres-sões no corpo e na cabeça de detidos e no transporte destes para instalações de forças de segurança e estabe-lecimentos prisionais, situações de violência exercida so-bre presos, falta de médicos nos hospitais psiquiátricos para reclusos e medicação insuficiente ou inexistente a pacientes.

| notícias |

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SeGurança reFOrçaDa Durante O verãO

Cerca de mil militares da GNR vão reforçar as ações de segurança no país durante o Verão, dos quais cerca de um terço serão destacados para o Algarve. O refor-ço nacional permanente da GNR para o período de 1 de junho a 15 de setembro será de 480 efetivos (150 dos quais para o Algarve), sendo o reforço adicional não per-manente - para atuação em eventos desportivos ou mu-sicais de grande dimensão -, de 682 homens (224 para o Algarve). O reforço permanente de 150 militares para o Algarve dividir-se-á por dois pelotões de manutenção da ordem pública (60 homens), igual número de guar-das recém-formados, duas equipas da patrulha de apoio ao turista, seis binómios cinotécnicos (homem e cão) e duas esquadras de cavalaria. Relativamente ao reforço não permanente para a região, serão destacados 78 mi-litares para a concentração de motos, 46 para o torneio internacional do Guadiana, 50 para Odeceixe devido à realização do Festival do Sudoeste e igual número para um festival de música em Sagres.De acordo com o segundo comandante-geral da GNR, Samuel Mota, o objetivo daquela força de segurança é garantir um tempo de reação aos incidentes inferior a 30 minutos. Relativamente à PSP, o reforço definitivo para o Algarve será de 34 agentes, o que permitirá ele-var para 873 o número de efetivos do comando de Faro daquela polícia.Após a sessão em que foram adiantados os números do reforço policial, foi ainda apresentado o projeto «Algarve – Destino Seguro», que envolve o Comando de Faro da PSP, o Turismo do Algarve e a Universidade do Algarve (UAlg). O programa prevê a realização de inquéritos aos turistas e à população residente, que serão depois vali-dados pela UAlg, e o desenvolvimento de uma aplica-ção para «smartphones», pela Faculdade de Ciências e Tecnologia daquela universidade.

BraSIl e anGOla vãO cOOPerar na InDúStrIa De DeFeSa

Os ministros da Defesa de Angola e do Brasil compro-meteram-se, após reunião no Rio de Janeiro, a coope-rar no desenvolvimento da indústria de defesa angola-na, divulgou o Ministério da Defesa brasileiro. O en-contro entre o angolano Cândido Pereira dos Santos e o brasileiro Celso Amorim (na foto) ocorreu correu no âmbito da LAAD, a maior Feira de Defesa e Segurança da América Latina, que se realizou no RioCentro, na zona oeste do Rio de Janeiro. Após a reunião, os ministros firmaram uma declaração de intenções na qual se formaliza o interesse em man-ter as parcerias para «alavancar» a indústria de defesa e a produção nacional em Angola. No comunicado, am-bos ressaltam que a cooperação tem colaborado para o desenvolvimento e geração de emprego no país, bem como para a redução da dependência externa das Forças Armadas Angolanas na aquisição de equipamentos e meios logísticos. De acordo com o Ministério da Defesa brasileiro, ficou definida a realização de novos encontros empresariais com representantes da indústria de defesa brasileira e representantes do setor em Angola.

eua teStaM «canHãO laSer» Para aBater avIõeS

A marinha norte-americana testou com sucesso um ca-nhão a laser capaz de abater pequenos aviões ou mísseis. A primeira arma foi montada num navio que está ancora-do no Golfo Pérsico. O laser consegue atingir e incendiar os alvos a quilómetros de distância. As Forças Armadas norte-americanas pretendem implementar a utilização de canhões de laser em 2014. A ideia vem reduzir custos pois dispensa métodos de defesa típicos, como mísseis.

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verBaS De MultaS cOBraDaS nOS açOreS aPlIcaDaS na reGIãO

O Governo Regional dos Açores, a PSP e a GNR assina-ram um protocolo que permite afetar 30% da receita pro-veniente das multas rodoviárias aplicadas na região para investimentos, aquisição de viaturas e equipamentos in-

formáticos naquelas for-ças de segurança. «Este protocolo visa resolver diversas carências que as forças de segurança, no-meadamente a Policia de Segurança Pública (PSP) e a Guarda Nacional Republicana (GNR) sentem na região», ex-plicou o presidente do Governo Regional, Vasco Cordeiro, na assinatu-ra dos protocolos entre o Fundo Regional dos Transportes e responsá-veis das duas forças de segurança.O protocolo afeta a pro-jetos de investimento um montante corresponden-

te a 30 por cento da receita global proveniente das con-traordenações rodoviárias nos Açores para investimentos

da PSP e GNR, entre eles a aquisição de viaturas de pa-trulhamento, viaturas de transporte para equipas de in-tervenção rápida, viaturas de transporte de pessoal, além de equipamento informático e equipamento destinado a salas de formação.Vasco Cordeiro frisou que não se trata apenas de afetar aquela percentagem, acrescentando que o documento permite ao Governo Regional tratar de «todos os pro-cedimentos de natureza administrativa» para concreti-zar estes investimentos na PSP e GNR. O presidente do Governo Regional disse que as soluções anteriores se revelaram «incapazes de dar resposta às necessidades» das forças de segurança na região».«As forças de segurança na região chegam à situação a que chegam não por uma questão de escassez de recursos, por-que estes recursos existiam e foram transferidos para as entidades competentes ao nível da República, chegam a esta situação em alguns casos pelo desinteresse, pela inope-racionalidade e pela incapacidade da estrutura central do Estado de prover à satisfação destas necessidades», indicou.Para o presidente do Governo dos Açores, o protocolo agora assinado é uma «grande lição de autonomia e da-quilo que pode e deve ser a autonomia político-admi-nistrativa das Regiões», garantindo que o seu executivo está «disponível» para continuar a ajudar em «todas as matérias que caibam nos recursos, competências e possi-bilidades das autoridades regionais».

SalvaMentO MarítIMO reFOrçaDO cOM MaIS DuaS eMBarcaçõeS

A Marinha vai receber duas novas embarcações semir-rígidas para salvamento marítimo de média capacidade através de um investimento de 330 mil euros. O concur-so público para a construção das duas embarcações foi lançado em Março pelo ministério da Defesa sendo estes meios, com cerca de nove metros de comprimento por três metros de largura, semelhantes aos que estão ao ser-viço das capitanias dos portos de Cascais e do Funchal.«Esta aquisição encontra-se incluída num projeto ini-ciado em 2007, num total de 15 embarcações, definido

e aprovado pela tutela governamental, e que tem como objetivo a substituição gradual dos meios de salvamen-to marítimo das estações salva-vidas do continente e regiões autónomas», explicou a fonte. Ainda segun-do a Marinha, trata-se de um investiento «em linha com o tipo de missão a desenvolver e incrementando o desenvolvimento tecnológico, apetrechando o dis-positivo do salvamento marítimo com unidades mais modernas, mais velozes e com superior capacidade de socorro».

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SeGurançaS PrIvaDOS vãO ter nOvOS cartõeS PrOFISSIOnaIS

A PSP começou a enviar para os vigilantes de segu-rança privada os novos cartões profissionais, modelo aprovado há quatro anos mas que por dificuldades técnicas e legais ainda não tinham sido emitidos. O Departamento de Segurança Privada da PSP é o ser-viço responsável pela emissão de alvarás, licenças e autorizações de entidades de segurança privada, bem como de cartões profissionais que habilitam o exercício profissional da atividade.Numa nota enviada à imprensa, a PSP refere que fo-ram «ultrapassados alguns morosos mas imprescindíveis procedimentos legais, bem como algumas dificuldades

de caráter técnico». Segundo a Polícia de Segurança Pública, a impressão e emissão dos novos cartões é efe-tuado de «forma gradual e articulado» com Imprensa Nacional Casa da Moeda.A PSP estima que no prazo de alguns meses todos os seguranças de segurança privada vinculados a uma em-presa possam deter na sua posse este novo documento. A PSP não está a emitir, há cerca de quatro anos, novos cartões profissionais, estando a substitui-los por guias. As associações do setor já tinham manifestado preocu-pação com a não emissão de cartões profissionais, consi-derando que as guias de fácil falsificação.

FOrçaS arMaDaS cHIneSaS cOM MIlHãO e MeIO De eFectIvOS

As forças armadas da China têm cerca de um milhão e meio de efetivos, segundo o Livro Branco sobre a Defesa difundido em Pequim e que revela, pela primeira vez, a organização interna do poder militar chinês. O Exército é o ramo mais numeroso, com 850.000 efetivos, seguin-do-se a Força Aérea (235.000) e a Marinha (235.000). Com uma fronteira terrestre de mais de 22.000 qui-lómetros e 18.000 quilómetros de costa, a China é também «um dos países com mais vizinhos e as mais ex-tensas fronteiras», salienta o referido Livro Branco a pro-pósito dos «múltiplos e complexos desafios» enfrentados pela China no âmbito da segurança. «A China nunca procurará a hegemonia, não se comportará de maneira hegemónica, nem se empenhará numa expansão mili-tar», proclama o documento. Oficialmente, as Forças Armadas chinesas mantêm o nome herdado da revolu-ção comunista: Exército Popular de Libertação (EPL).Além dos três ramos tradicionais (Exército, Marinha e Força Aérea), o EPL integra uma Segunda Força de Artilharia, descrita como «o núcleo da dissuasão estraté-gica» do país e composta sobretudo por mísseis nucleares e convencionais, cujos efetivos não foram quantificados. O referido Livro Branco sobre a Defesa é o oitavo do género difundido pelo governo chinês desde 1998, mas «o primeiro a revelar o número de efetivos do Exército,

Marinha e Força Aérea» e a sua organização interna, real-ça o documento.Relativamente ao Exército, o ramo mais numeroso das Forças Armadas chinesas, o Livro Branco indica que os seus efetivos estão organizados em sete comandos re-gionais: Shenyang, Pequim, Lanzhou, Jinan, Nanjing, Cantão e Chengdu. A Força Aérea tem também um comando próprio naquelas sete regiões militares e a Marinha, que recebeu no ano passado o primeiro porta--aviões, dispõe de três esquadras: Beihai (norte), Donghai (oriente) e Nanhai (sul). A Segunda Força de Artilharia está equipada com mísseis balísticos «Dong Feng» e mísseis de cruzeiro «Chang Jian».«A edificação de um forte sistema de de-fesa nacional e de poderosas armadas correspondem ao estatuto internacio-nal da China e às necessidades da sua segurança e desenvol-vimento», sustenta o Livro Branco.

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FarMácIaS POrtuGueSaS lIGaDaS a FOrçaS De SeGurança

Cerca de 13% das farmácias portuguesas estão ligadas ao sistema de alarme que permite contactar as forças de se-gurança de forma rápida em caso de assalto, segundo dados divulgados à agência Lusa.O programa Farmácia Segura, que resulta de um proto-colo entre o Ministério da Administração Interna (MAI) e a Associação Nacional de Farmácias (ANF), permite que as farmácias aderentes tenham um dispositivo de alerta rápido para contactar as forças de segurança, sem-pre que sejam alvo de assalto. Actualmente são 356 far-mácias, das 2.768 filiadas na ANF, as que estão ligadas à PSP com este sistema de alarme, indicam dados do MAI enviados à Lusa, quando se completam dois anos sobre a assinatura do protocolo.Durante o ano de 2012, foram registadas dez situações de emergência em que foi accionado o alarme para as for-ças de segurança, tendo a PSP dado resposta. Segundo o MAI, foram registados, o ano passado, 78 alarmes falsos, ds quais 70 motivaram uma resposta policial através da deslocação de meios. O Relatório Anual de Segurança Interna de 2012 indica que se registaram 82 roubos a far-mácias, menos 23,4 por cento do que em 2011.O programa Farmácia Segura consiste num sistema de alerta em tempo real que permite às forças de segurança georreferenciar, de imediato, qualquer farmácia aderen-te sempre que esta esteja a ser alvo de acção criminosa.

nOvO HOSPItal DaS FOrçaS arMaDaS cuStará 16 MIlHõeS

O novo Hospital das Forças Armadas, que deverá estar a funcionar em pleno no verão de 2014, vai ter um custo de cerca de 16 milhões de euros, disse à Lusa fonte ofi-cial do Ministério da Defesa. Segundo a mesma fonte, a concentração dos hospitais dos três ramos numa única estrutura - o Hospital da Força Aérea, no Lumiar - vai permitir poupar em 2013 quase cinco milhões de euros e foi «a solução mais adequada e exequível na actual conjuntura das contas públicas».O custo estimado para a instalação completa do novo hospital será de cerca de 16 milhões de euros, sete mi-lhões a mais do valor mínimo fixado pelo Governo, de 9 milhões de euros. O anterior programa funcional do Hospital das Forças Armadas, definido no segundo Governo do PS liderado por José Sócrates, apontava para construção de um novo edifício, o que custaria cer-ca de 60 milhões de euros, mas o processo da reforma da saúde encontrava-se suspenso aquando da tomada de posse do Governo PSD/CDS-PP.O Ministério da Defesa anunciou em Novembro de 2011 a concentração dos hospitais militares no hospital da Força Aérea, que fica no Lumiar, dando mais um passo num processo que nunca foi pacífico nos três ra-mos das Forças Armadas. O antigo ministro da Defesa Nuno Severiano Teixeira chegou a assumir num livro publicado no fim do seu mandato (em 2009) que a re-forma não avançou por encontrar fortes resistências na instituição militar.

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SynerGy aSSIna cOnvénIO De cOOPeraçãO cOM cOtecMar

A empresa brasileira Synergy Defesa e Segurança (SDS) e a colombiana COTECMAR (Cooperação de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento da Indústria Naval, Marítima e Fluvial) assinaram um convénio de coope-ração comercial. Com este acordo, a SDS será a repre-sentante legal da COTECMAR no Brasil para assuntos comerciais e de demanda de embarcações civis e milita-res. Lançada no ano passado, a SDS foi concebida para participar do fortalecimento da base industrial de defesa do país, em consonância com a Estratégia Nacional de Defesa adotada pelo Governo Federal. Uma das empre-sas do grupo, o estaleiro EISA, já está a construir para a Marinha brasileira cinco navios-patrulha de 500 tonela-das classe Macaé. O primeiro navio deverá ser entregue até o final de 2013; a partir daí, está prevista a entrega de um novo navio a cada seis meses.A SDS pertence ao Grupo Synergy, que opera no Brasil e na maioria dos países da América Latina. É um dos maiores conglomerados empresariais da região, atuando nas áreas de Defesa, Engenharia, Exploração de Petróleo e Gás , Agricultura e Turismo. A SDS coordena as ati-vidades do grupo nas áreas de Defesa e Segurança, que compreende quatro empresas: a AEQ – Aeroespacial, Química e Defesa; o EISA – Estaleiro Ilha S.A; a DIGEX Aircraft Maintenance S.A e a Turbserv Engenharia e Manutenção Ltda.

tHaleS POrtuGal FOrnece SISteMaS De InFOrMaçãO Para a ínDIa

A Thales Portugal assinou recentemente novos contra-tos para a concepção, integração e instalação de siste-mas avançados de Informação ao Passageiro para várias extensões de metro na Índia. Em Deli, o acordo vai ser visível nas extensões da linha, integrado na 3ª Fase do plano de expansão da rede de metro da cidade. Nos últimos 12 anos a Thales forneceu à DMRC Sistemas de Informação ao Passageiro para as Fases 1 e 2. Este novo projecto irá abranger um total de 16 estações (nove de superfície e sete subterrâneas), distribuídas em três seções da linha, com uma extensão total de 23 km. A entrada ao serviço deste projecto está programada para Fevereiro de 2015.Em paralelo, a Thales Portugal assinou contrato com a Delhi Metro Rail Corporation LTD (DMRC), respon-sável pela implementação do novo Metro de Jaipur, para o fornecimento do Sistema de Informação ao Passageiro. Este contrato surge na consequência da implementação bem-sucedida desta solução no metro de Nova Deli para a 1ª, 2ª e 3ª Fase do projecto.O metro de Jaipur é um sistema rápido de transporte urbano que está a ser construído na cidade de Jaipur, na India. Quando concluído, será considerada uma das maiores redes de metro/ferroviárias, seguida de Kolkata, Delhi, Bangalore, Chennai e Hyderabad.O sistema de informação ao passageiro é uma interface audiovisual entre os operadores de transportes e os seus utilizadores, fornecendo informações atempadas e preci-sas sobre a viagem, contribuindo assim para um maior conforto e segurança do passageiro. A solução integra de forma sincronizada o sistema de informação audiovisual e um sistema de informação horária.

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Chamamos a atenção dos nossos leitores para um conjunto de revistas de grande interesse sobre temas que ameaçam a segurança internacional, das quais destacamos:• POLÍTICA EXTERIOR (Marzo/Abril 2013) –

com um número principalmente dedicado às con-sequências da “Primavera árabe” e à intervenção francesa no Malim, com o título de capa “EL Sahel necessita de um plan de la EU”

• NEW AFRICA/Le Magazine d’Afrique” (Mars/Avril 2013) - com o título “Sahel - les raisons de la guerre” (um dossier de 50 páginas)

• ALTERNATIVES INTERNATIONALES” (Trimestrel – Mars 2013) – com um grande dos-sier intitulado “Que veulent les salafistes: Egypte, Tunisie, Mali, France…” e ainda um artigo intitu-lado “Afrique – Hollande Chef de guerre”

• Le Monde/BILAN GÉOSTRATÉGIE (Édition 2013) com chamadas à capa como “Lónde de choc syryenne”, “La France en guerre au Mali”, “Le désengagement américain”, “Drones et armes de demain”,…

• DIPLOMATIE – L’ÉTAT DES CONFLITS 2013 (février/mars 2013 – “Un monde en guerre”, “L’état des confits au Moyen-Orient”, “L’état des conflits en Afrique”, “L’état des conflits en Asie”, são os seus principais capítulos.

Boas leituras!

José Manuel Anes

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