A PENHORA DE QUOTAS E AÇÕES DA SOCIEDADE LIMITADA
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A PENHORA DE QUOTAS E AÇÕES DA SOCIEDADE LIMITADA
Ana Flávia Abreu Bezerra dos Santos
Victor Nogueira de Figueiredo
Sumário: Introdução; 1. A Penhora noCódigo de Processo Civil; 2. A discussãosobra a penhorabilidade das cotassociais; 3. Dos atos de alienação do bempenhorado e do direito de preferência dosócio na adjudicação; ConsideraçõesFinais
RESUMO
O presente paper objetiva dissertar acerca do instituto da
penhora em face da execução por quantia certa contra devedor
solvente. Analisa-se a penhorabilidade, em especial das cotas das
sociedades empresárias quando em face de dívida particular de
sócio. Apesar da recente lei de 2011 ter previsto a
penhorabilidade de tais cotas, visa-se aqui considerar instituto
do direito empresarial, que presa por princípios como o affectio
societatis, e que com a nova sistemática podem ser desrespeitados,
podendo prejudicar substancialmente o corpo social, contribuindo
muitas vezes para sua dissolução.
PALAVRAS-CHAVE
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Penhora – Quotas Sociais – Desdobramentos – Adjudicação –
Sociedade Limitada
Introdução
De início, busca-se esclarecer acerca do instituto da
Penhora. Lembrar também que em primeiro lugar e antes de penhorar
as quotas do sócio da sociedade limitada, buscam-se outros bens
que estejam em nome do devedor. A penhora somente recairá sobre
os bens do sócio devedor se não houverem bens suficientes para
solver sua dívida. Portanto, a ideia é a de que não haverá
afetação da sociedade se o devedor tiver bens suficientes.
Abordar-se-á acerca do entendimento ainda não pacífico de
que as cotas sociais podem ser penhoradas, já que não estão
enquadradas dentre os bens considerados impenhoráveis. Essa
posição é tendência ultimamente, mas ainda não consolidada.
Quanto ao artigo 649, I, do CPC que proíbe a alienação dos bens
impenhoráveis, surgem aqueles que defendem ser de tal
característica as cotas sociais. Aqui, abordaremos a existência
de correntes doutrinárias que divergem acerca desse entendimento,
que envolve muito mais do que processo e sim direito de empresa.
Embora ainda latente, muitos acreditam que essa discussão
está ultrapassada e que a lei dá respaldo suficiente para a
realização da penhora. O que buscam a doutrina e a
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jurisprudência, superada a fase de se cogitar cotas sociais como
impenhoráveis, são meios que não afetem o affectio societatis, quando
da imposição de um terceiro estranho ao corpo da empresa. Aqui
reside o objetivo do trabalho, qual seja, o de apontar soluções
como as previstas no artigo 1117 à 1119 do CC, que estabelece o
direito de preferência aos sócios quando da aquisição das cotas,
dentre outras soluções.
1. A Penhora no Código de Processo Civil
A penhora foi criada para satisfazer o crédito do
executado por meio da apreensão de bens. A satisfação pode ser
direta, que ocorre quando o próprio executado adquire o bem por
meio da adjudicação, e indireta, se o bem for alienado e o
pagamento for só assim, repassado ao exequente. Segundo Didier,
et. al (2013, p. 552), a penhora serve para individualizar a
responsabilidade patrimonial do devedor e enquanto esta sujeita o
devedor de forma genérica e potencial, aquela atuaria de forma
efetiva e específica de bens passíveis de execução. Luiz Fux
(2008, p. 388) afirma que essa responsabilidade patrimonial
vincula o Estado à busca e convertimento dos bens do devedor em
dinheiro, para que assim seja satisfeita a pretensão do
exequente. O rumo aqui percorre o da “execução por expropriação”,
justamente pela condução do processo à busca de uma quantia
certa. Para Fux (2008, p. 389), “A execução por quantia certa
está para o processo de execução como o procedimento ordinário
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para o processo de conhecimento”, por ser tal execução genérica e
substituir as específicas quando frustradas, já que todas poderão
se converter em dinheiro. Importante destacar que essa espécie de
execução se refere a uma obrigação que a outrem foi garantida por
meio de um bem móvel ou imóvel, com característica de penhorável
e será realizada em face de título extrajudicial, sendo portanto,
auto-executável, e devendo por isso ser obrigação líquida, certa
e exigível (p. 390-391).
A penhora é considerada o primeiro ato expropriatório
nessa chamada execução por quantia certa contra devedor solvente.
Quando o devedor é insolvente, o procedimento da execução se
baseia em comprovar o estado de insolvência do executado e logo
após se estabelece o concurso de credores, como expressam os
artigos 761 e 751, III do CPC. Já quando em face da solvência do
devedor, Ernane Fidélis Santos (2011, p. 168) diz tal se realizar
no exclusivo interesse do credor.
De início, consiste em apreender bens em juízo que
responderão pela execução. Vale ressaltar que será apenas
considerada realizada em presença de efetivo depósito da coisa
(art. 664), pois tal sem depósito configura ato incompleto.
Poderá ela recair, sob disciplina do 671 e 677, sobre créditos ou
outros direitos patrimoniais, estabelecimento comercial ou
agrícola, semoventes ou edifício em construção (SANTOS, 2011, p.
168-169)
Fora os casos de impenhorabilidade, quaisquer bens do
devedor poderão ser objeto de penhora, estejam eles em mãos do
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devedor ou de terceiros. E serão considerados bens do devedor
também os daqueles que hajam sucedido ou por causa mortis ou inter
vivos (BARBOSA, 2012, p. 239)
Didier; et. al (2013, p. 552) afirmam que a penhora tem
sempre três funções, que é de individualizar e apreender o bem,
depositá-lo e conservá-lo, e atribuir direito de preferência ao
credor. O primeiro ato da penhora é, portanto, sempre a busca por
bens penhoráveis. Assim que estes forem individualizados e
apreendidos, responderão à satisfação do crédito. Aqui, vale
ressaltar mudança importante no que tange à nomeação dos bens.
Com as leis 11.382 e 11.232, de 2006 e 2005, respectivamente, a
nomeação deixou de ser um direito e passou a ser dever do
exequente. Ele mesmo na petição inicial os nomeará, e apenas se
pelos meios cabíveis, houver dificuldade em destacá-los, é que o
magistrado requererá que o próprio executado os nomeie em 5 dias.
Didier (p. 553) afirma que apesar de tais bens estarem destinados
à expropriação, isso não significa que se perderá o domínio ou a
posse, que se permanecem, mesmo que sobre eles, se tornarem
ineficazes atos relativos à disposição dos mesmos.
Após essa fase, os bens são destinados a um depositário,
que ficará responsável pela guarda e conservação dos bens, assim
como de seus acessórios. Em relação à terceira função, que é a de
conferir direito de preferência sobre o bem ao exequente, Didier
deixa claro (p. 554) que não se exclui preferências anteriores
sobre o mesmo bem, e que apenas quis beneficiar o credor mais
“diligente” na busca pelo seu direito de crédito.
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A natureza jurídica da penhora também é objeto de
divergência doutrinária. É vista como ato cautelar, misto ou
executivo. Didier (2013, p. 554) não a vê como cautelar porque
apesar de sua função “conservativa”, ela não busca apenas
preservar. Isso é apenas o início de todo o processo da penhora.
Além do fato de que para ser cautelar, deveria preencher a
eventualidade e acessoriedade, não precisa, da mesma forma,
realizar-se em face do periculum in mora nem do fumus boni iuris, e é
portanto, tese improcedente.
Quanto ao fato de ser misto, por ter natureza cautelar e
executiva, Didier (p. 555) também discorda pelos motivos já
expostos. É de predominante entendimento, considerar o ato
executivo, pela característica de apreender o bem e fazer com que
a responsabilidade patrimonial se efetive e recaia sobre bens.
2 A discussão sobre a penhorabilidade das cotas sociais
É necessário, antes de se discutir acerca da
penhorabilidade de cotas da sociedade limitada, distinguir
sociedade de capital e sociedade de pessoas. A de pessoas seria
aquela em que se dá especial valor ao affectio societatis, onde o lucro
não é a única persecução dos sócios da empresa, sendo de suma
importância a afinidade pessoal entre eles. Consequentemente, o
ingresso de terceiros é vedado. Por outro lado, a sociedade de
capital negligencia fatores subjetivos, bastando apenas que cada
membro desenvolva sua contribuição material com o objeto social
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da empresa. Com isso, fica simples a conclusão de que permitindo
a livre cessão de cotas na sociedade de capital permite a penhora
e o exequente apenas passa a figurar no quadro social da empresa.
A grande celeuma se encontra quando da penhorabilidade das cotas
da sociedade de pessoas, já que a doutrina diverge, com uns
afirmando que as cotas fazem parte do patrimônio da sociedade e a
dívida a ser executada faz parte do patrimônio do sócio, não
devendo haver, portanto, alcance de um no outro (SARAIVA, 2008).
A penhorabilidade das cotas sociais de sociedade limitada
é hoje permitida com a Lei n. 11.382 de 2006 e prevista no artigo
655, VI do CPC. Antes disso, no entanto, apesar do CPC de 1939
não ter disposição nesse sentido, grande parte da doutrina
convergia para a possibilidade de penhorar essas cotas. A outra
vertente não a permitia sob a justificativa de que seria
necessária expressa previsão no estatuto social para que as cotas
fossem alienadas sem que os outros sócios precisassem anuir
(DIDIER JR.; et.al, 2013, p. 592-593).
Quando o Código de 1939 em seu artigo 930, V admitia
expressamente a penhora sobre “direitos e ações”, sendo tais
considerados as dívidas ativas, vencidas ou vincendas, constantes
de documentos; as ações reais, reipersecutórias, ou pessoais para
cobrança de dívidas e por fim, as quotas de herança em inventário
e partilha e fundos líquidos em sociedade comercial ou civil,
Alexandre Freitas Câmara (2008, p. 285) afirmou ser tais fundos
líquidos não apenas o saldo presente de direito do sócio, mas
também a parte de sua cota apurada quando da liquidação da
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sociedade. Segundo ele, isso não seria o mesmo que fundo social.
A ideia que se pode inferir do dispositivo do Código de 1939 é de
que os fundos sociais seriam impenhoráveis, mas não os fundos
líquidos.
No entanto, Câmara (2008, p. 286) afirma que o posterior
Código de 1973, por ter se omitido acerca de qualquer previsão
sobre a penhorabilidade das quotas de sociedade limitada, exigiu
do intérprete que discussões sobre a legislação anterior e
Direito comparado, exigissem a correlata possibilidade da penhora
das quotas.
A penhorabilidade das cotas sociais também vem
regulamentada por meio do art. 1.026 do Código Civil, que dispõe
acerca da possibilidade de credor do sócio, em face da
insuficiência de bens do devedor, executar o que cabe a este nos
lucros da sociedade ou na liquidação desta.
O parágrafo único complementa a possibilidade do credor
também requerer que a cota seja liquidada, caso a sociedade não
esteja dissolvida. Didier (2013, p. 593) desnuda nesse
dispositivo uma relativização dessa penhorabilidade, haja vista o
fato do credor apenas estar autorizado a requerer liquidação de
cota nos casos de insuficiência de lucros, pois tais, se
existentes, são os que deverão ser objetos de penhora. Isso tudo
devido ao princípio da menor onerosidade, não configurando opção
do exequente. Portanto, em busca à garantia do adimplemento da
obrigação, as cotas são penhoráveis apenas em caráter eventual,
podendo até mesmo o juiz, diante do caso concreto, rejeitar
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pedido de liquidação, se julgar prejudicial ao cumprimento da
função social da empresa.
É importante salientar também que nas sociedades
constituídas intuitu personae, os sócios também podem se
responsabilizar pelas dívidas de seus sócios perante terceiros.
Quando a lei permite que bens dos sócios do executado respondam
com seus bens na execução, a razão é que a penhorabilidade dos
bens de terceiros atendem à responsabilidade executiva do dono do
bem. Entre os casos previstos em lei, temos o fiador judicial, o
responsável tributário, o cônjuge do devedor, o adquirente do bem
alienado em fraude de execução, e o sócio (BARBOSA, 2012, p.
239). Tal hipótese se encontra prevista no artigo 592, n° II do
Código de Processo Civil, podendo, no entanto, exigir que
primeiro sejam excutados os bens da sociedade. A responsabilidade
de terceiros em execução está também prevista no Código
Tributário Nacional, artigo 134 e também enquadra os sócios, em
caso de liquidação da sociedade de pessoas. Ernanis Fidélis dos
Santos (2011, p. 117) entra no mérito de analisar o que gera a
responsabilidade desses sócios. Entende ser correto o
posicionamento de que a responsabilidade do terceiro depende
sempre de averiguação de um fato por meio de um processo de
conhecimento. Parece ser mais viável e talvez por isso seja
jurisprudência dominante do STF entender que não há necessidade
de apurar tal responsabilidade em âmbito administrativo, podendo
tal ação ser movida independentemente de procedimento. Tal ação,
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no entanto, teria de alegar o motivo que gerou tal
responsabilidade (SANTOS, 2011, p. 118).
Para Ernane Fidélis dos Santos (2011, p. 170), as ações
das sociedades por ações poderão ser penhoradas devido ao fato de
constituírem bens de sociedade de caráter impessoal. O autor acha
mais lógica a corrente doutrinária que embasada pelo artigo 720,
entende que as quotas sociais compõem a sociedade mas que também
são propriedade dos sócios, e por isso, devem responder por suas
dívidas. Chega ao extremo da opinião de ver a sociedade extinta e
liquidada, em caso de alteração no quadro social da empresa.
Câmara (2008, p. 286) também partilha da opinião de que a
lei 11.382 de 2006 dirimiu quaisquer dúvidas sobre essa penhora,
pois segundo ele, admitir sua não existência era apenas retirar
do sócio devedor sua responsabilidade patrimonial por um bem não
afastado de seu campo de incidência, já que pelo artigo 591, o
executado responde pela obrigação com todos os seus bens. O autor
também afirma que o ato de um terceiro ou do próprio exequente de
adquirir a quota penhorada do sócio devedor não retira a
característica da affectio societatis, pois, quando expropriadas e
posteriormente adquiridas, darão face à que o adquirente ou até
mesmo os sócios remanescentes promovam a dissolução e liquidação
da sociedade. Com a lei, Câmara vê agora impossível que devedores
mal intencionados cheguem a constituir empresa de
responsabilidade limitada somente com o intuito de transferir
seus bens apenas em quotas que nesse caso não seriam atingidas.
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Quanto à ordem de pagamento, a lei chega a nomear uma
ordem de preferência, que apesar de não obrigatória, e não
vincular na prática que assim seja realizada a penhora, a ideia é
que, de acordo com o artigo 655 na redação da Lei 11382, virão em
primeiro lugar o dinheiro, em espécie, depósito ou aplicação em
instituição financeira, veículos, bens móveis, imóveis, navios e
aeronaves, ações e quotas de sociedade empresária, percentual no
faturamento de empresa devedora, pedras e metais preciosos,
títulos da divida pública dos entes federativos, títulos, valores
mobiliários e outros direitos (BARBOSA, 2012, p. 240).
Não obstante os argumentos supracitados por grande parte
da doutrina brasileira, há ainda correntes que vêem nas quotas
sociais das sociedades de pessoas a característica da
impenhorabilidade. O motivo é o fato de a quota fazer parte do
capital social da empresa e que, portanto, é desligada da pessoa
do sócio, além do que a penhora de tais quotas desnaturaria o
sentido da sociedade, levando as vezes à extinção da sociedade ou
alteração no quadro societário. Essa corrente entende que
penhoráveis seriam apenas os fundos líquidos atribuídos ao
devedor em sua parte delimitada (SANTOS, 2011, p. 170).
Portanto, mesmo tendo em vista a satisfação do crédito
exequendo, a lei no entanto, prevê imunidade a certos bens, os
impenhoráveis. Para José Carlos Barbosa Moreira (2012, p. 237),
isso deriva da inutilidade da apreensão por óbice legal, por
motivo maior que é o de não privar o devedor de bens não só dele,
mas que necessários à subsistência da sua família, por exemplo.
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Além disso, têm-se os bens de valor apreciável por motivos
personalíssimos e aqueles que por terem destinação social
relevante, busca-se evitar a “pertubação excessiva”.
Ferreira (2007) acredita que o grande problema no que
tange a penhorabilidade das quotas reside no momento em que tal
cláusula deveria estar inclusa no contrato social da sociedade,
prevendo justamente a impenhorabilidade das mesmas. A inclusão
dessa cláusula é defendida pelo fato da importância que a
interferência de um terceiro em uma sociedade que presa pelos
atributos pessoais de cada um influencia na consecução do objeto
social da empresa. Portanto, o autor defende que permitir tal
penhorabilidade sustenta-se apenas em casos de omissão no
contrato social, pois tal cláusula, estando presente, impede a
penhora. O autor ainda defende que mesmo havendo omissão, ainda
restam aos sócios insatisfeitos com a penhorabilidade a
possibilidade de que para solver a dívida do credor, tais sócios
realizem o pagamento da quantia, ficando sub-rogados nos direitos
do credor satisfeito, como expressa o artigo 347 do Código Civil.
A solução vista é que não havendo o pagamento do sócio devedor
aos outros que se sub-rogaram nos direitos, é que se poderá
liquidar a cota parte do sócio devedor, quando só assim não
haverá prejuízo à empresa nem ao capital social.
Observa-se, para tanto, o que já dispõe decisão do
próprio TJ-SP: II A previsão contratual que proíbe à livre alienação dascotas de sociedade de responsabilidade limitada não impedea penhora de tais cotas para garantir o pagamento de dividapessoal de sócio. Tal constrição não encontra vedação legal
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e nem afronta o princípio da affectio societatis, não ensejando,necessariamente, entrada de novo sócio. (Apelação APL1421304320058260000 SP 0142130-43.2005.8.26.0000)
Dessa forma, se observa plena e clara a possibilidade da
utilização do instituto da penhora sobre os as quotas sociais,
haja vista que tal prática não inclui terceiro algum na sociedade
existente, mas sim se trata apenas de uma garantia à qual o
credor terá para o cumprimento da obrigação instituída.
3 Dos atos de alienação do bem penhorado e o Direito de
Preferência do sócio na adjudicação
Conforme se pontuou anteriormente a controvérsia acerca
da penhorabilidade das cotas sociais fora expressamente superada
com a edição da Lei 11.382/2006 que, alterando a redação do
artigo 655, VI do Código Processual Brasileiro, elencou as quotas
empresariais dentre os bens passives de sofrer a constrição
judicial para satisfação de determinada obrigação inadimplida.
Nesta esteira, “inadmitir tal penhora implicaria retirar da
responsabilidade patrimonial um bem que não se encontrava
expressamente afastado de seu campo de incidência.” (CÂMARA,
2008, p. 286).
No contexto do atual processo executivo a avaliação dos
bens penhorados ocorre na mesma oportunidade da penhora, e é
conceituada como “ato que prepara a expropriação, consistente em
perícia pela qual se define o valor dos bens penhorados”.
(WAMBIER, 2006, p. 187).
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Assim, passamos nesta fase do presente estudo ao passo
exatamente subsequente ao momento da penhora e avaliação dos bens
penhorados, os denominados desdobramentos da penhora, quais
sejam: a Adjudicação; a Alienação por Iniciativa Particular; e
Alienação em Hasta Pública. Estes desdobramentos, também
denominados de ‘’atos de expropriação’’, são, inclusive, o ponto
nodal no que se refere às quotas de sociedades empresárias,
conforme se objetiva demonstrar adiante.
Para efeito de melhor explanação da ideia que aqui se
pretende deduzir, começaremos discorrendo sobre o último ato
expropriatório a ser intentado em determinada fase processual
executiva, a Alienação em Hasta Pública. Isso porque este tipo de
alienação do bem penhorado somente deve ser praticado se tais
bens não houverem sido adjudicados ou alienados. (CÂMARA, 2008,
p. 293).
O consagrado processualista Humberto Theodoro Júnior
procura sintetizar a conceituação deste ato em verdadeira
licitação, “onde os bens penhorados serão retirados do patrimônio
de seu proprietário e irão incorporar ao patrimônio de quem os
arrematar, sendo o arrematante aquele que der a melhor oferta
pelos bens.” (THEODORO JÚNIOR, 1997, p. 227).
A Hasta Pública poderá ser realizada através de duas
espécies: a praça (para expropriação de bens e imóveis) e o
leilão (para bens móveis). Deverá ainda ser publicado um edital,
contendo todos os elementos dispostos no artigo 686 do Código
Adjetivo Brasileiro:
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Art. 686. Não requerida a adjudicação e não realizada aalienação particular do bem penhorado, será expedido oedital de hasta pública, que conterá: I - a descrição do bem penhorado, com suas característicase, tratando-se de imóvel, a situação e divisas, comremissão à matrícula e aos registros;II - o valor do bem;III - o lugar onde estiverem os móveis, veículos esemoventes; e, sendo direito e ação, os autos do processo,em que foram penhorados;IV - o dia e a hora de realização da praça, se bem imóvel,ou o local, dia e hora de realização do leilão, se bemmóvel;V - menção da existência de ônus, recurso ou causa pendentesobre os bens a serem arrematados;VI - a comunicação de que, se o bem não alcançar lançosuperior à importância da avaliação, seguir-se-á, em dia ehora que forem desde logo designados entre os dez e osvinte dias seguintes, a sua alienação pelo maior lanço(art. 692).
Outra possibilidade de expropriação do bem penhorado
consiste na Alienação por Iniciativa Particular. Trata-se de
expediente conhecido no Direito Italiano, através do qual o
exequente poderá requerer que seja os bens penhorados alienados
por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor
credenciado perante a autoridade judiciária.(CÂMARA, 2008, p.
292). Art. 685-C. Não realizada a adjudicação dos benspenhorados, o exequente poderá requerer sejam elesalienados por sua própria iniciativa ou por intermédio decorretor credenciado perante a autoridade judiciária. § 1º O juiz fixará o prazo em que a alienação deveser efetivada, a forma de publicidade, o preço mínimo (art.680), as condições de pagamento e as garantias, bem como,se for o caso, a comissão de corretagem. § 2º A alienação será formalizada por termo nosautos, assinado pelo juiz, pelo exeqüente, pelo adquirentee, se for presente, pelo executado, expedindo-se carta de
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alienação do imóvel para o devido registro imobiliário, ou,se bem móvel, mandado de entrega ao adquirente. § 3º Os Tribunais poderão expedir provimentosdetalhando o procedimento da alienação prevista nesteartigo, inclusive com o concurso de meios eletrônicos, edispondo sobre o credenciamento dos corretores, os quaisdeverão estar em exercício profissional por não menos de 5(cinco) anos.
Tal instituto surgiu na esteira destas ondas reformistas
com o escopo de conferir maior efetividade e celeridade aos meios
expropriatórios. O objetivo da Alienação particular, trazida com
a edição da Lei nº 11.382/2006, é, portanto, completar um ciclo
voltado ao aperfeiçoamento da tutela jurisdicional executiva.
(KOZIKOSKI, 2007).
Vale ressaltar que, conforme leciona o mestre Araken de
Assis, “a alienação particular possui caráter negocial e público,
pois eventual convergência entre as partes quanto ao conteúdo das
propostas, nas condições fixadas pelo poder judiciário, conferem
pluralidade ao negócio.” (ASSIS, 2009, p. 800).
Outro ponto importante sobre este estatuto que vale ser
discorrido é sua preferência em relação a Alienação em Hasta
Pública. Isso porque, em hasta pública as pessoas comparecem com
o intuito de fechar um grande negócio, pretendendo adquirir bens
por preço inferior á avaliação. Enquanto que as pessoas que
procuram corretores especializados na alienação de certos tipos
de bens já estão propensas a pagar pelos bens que lhes interessam
o valor que realmente valem. (CÂMARA, 2008, p. 293).
A última hipótese de desdobramento da penhora que aqui
iremos tratar é a Adjudicação. Este, aliás, é o preferencial meio
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de alienação dos bens penhorados desde a edição da Lei nº.
11.382/2006. É ato executivo através do qual se entrega ao
exequente o bem outrora penhorado. Os bens expropriados do
patrimônio do executado são diretamente transferidos ao
patrimônio do exequente.
Luiz Guilherme Marinoni assim conceitua o instituto da
adjudicação:
“Corresponde ao recebimento do bem penhorado peloexequente, descontando-se o valor da execução do valor dacoisa. Trata-se de forma de pagamento de dívida executada,pelo qual há transferência direta de patrimônio do devedorpara o credor. A responsabilidade patrimonial, poder-se-iadizer, é linear, autorizando o credor a tomar parte dopatrimônio do devedor por conta da divida nãopaga.”(MARINONI, 2007, p. 315).
Na Adjudicação, “a entrega do bem penhorado para o credor
simplifica a execução, e permitir-lhe ficar com o bem em troca da
dívida ou aliena-lo fora do processo. Desta forma o exequente não
é obrigado a se contentar com o valor obtido a partir da
alienação judicial do bem, podendo incorporá-lo ao seu patrimônio
ou vende-lo na forma que lhe aprouver, sem a presença da
jurisdição.” (MARINONI, 2007, p. 314).
Art. 685-A. É lícito ao exequente, oferecendo preço nãoinferior ao da avaliação, requerer lhe sejam adjudicados osbens penhorados.
Não obstante, no que se refere especificamente à penhora
de quotas de sociedade empresária limitada, nenhuma das três
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hipóteses de desdobramentos se apresenta como alternativa
adequada.
A sociedade limitada é “aquela em que duas ou mais
pessoas se reúnem para a obtenção de lucro comum, limitando sua
responsabilidade à soma do capital social.” (REQUIÃO, 1993, p.
263). Tal tipo societário apresenta como principais
características o caráter Intuitu Personae e a Affectio societatis.
Isso significa dizer que a sociedade limitada pressupõe um
vínculo já existente entre seus sócios, pauta-se, essencialmente,
na qualidade pessoal dos sócios e não em fatores econômicos e
financeiros necessários à formação do capital. A Affectio societatis é a
pretensão dos sócios de se unirem, com semelhantes interesses e que
colaboram na consecução do objeto social.
Deste modo, nota-se que qualquer das três formas de
alienação do bem penhorado – na hipótese de quotas de sociedades
limitadas – significaria a entrada de um terceiro absolutamente
estranho à relação de confiança existente entre os sócios e
essencial à manutenção da sociedade empresária.
Ademais, Maria Helena Diniz, interpretando o artigo 1.025
do Código Civil, explica que se alguém adquirir a condição de
sócio após a sociedade já estar constituída, assumirá ele todas
as obrigações passivas existentes à época de sua admissão.Essa regra é uma decorrência do princípio daresponsabilidade ilimitada, segundo o qual os sócios devemsuportar os ônus e obrigações perante terceirosindependentemente do momento em que se associaram. Já nocaso do sócio que se retira da sociedade, suaresponsabilidade subsistirá pelo prazo de dois anos após asua saída (ai. 1.003, parágrafo único), em carátersolidário com o sócio que ingressou.
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Isto implicaria dizer que o novo sócio antes credor, ou
ainda o terceiro de boa-fé, que arrematou as quotas da sociedade
do devedor em hasta pública passa as ser devedor na dívida da
empresa em que se tornou sócio, sem ao menos ter tido a
oportunidade de saber as condições reais das dívidas da empresa,
mesmo porque era “estranho” à sociedade até então.
Desta forma, entendemos que surge como única alternativa
ao presente caso é a aplicação do direito de preferência na
Adjudicação. Assim, sendo o exequente, pessoa que não ostenta a
condição de sócio, será intimada da penhora a própria sociedade,
e será garantido o direito de preferência dos demais sócios, que
poderão pleitear a adjudicação das mesmas.
Tal Direito possui previsão no parágrafo 4º do artigo
685-A do Código de Processo Civil:
Art. 685-A. É lícito ao exequente, oferecendo preço nãoinferior ao da avaliação, requerer lhe sejam adjudicados osbens penhorados.§ 4º No caso de penhora de quota, procedida por exequentealheio à sociedade, esta será intimada, assegurandopreferência aos sócios.
Assim, a efetivação do Direito de Preferência previsto no
mencionado dispositivo legal garantiria, de um lado, o exaato
adimplemento da dívida objeto da execução, uma vez que o sócio
interessado pagaria justamente o valor da avaliação pelas quaotas
penhoradas, e de outro lado garantiria, outrossim, a preservação
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do affectio societatis e do caráter intuitu persoane, características
inerentes ás sociedades empresárias do tipo Limitada.
REFERÊNCIAS
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