A nova exequibilidade da sentença em face do Novo CPC

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1 A nova exequibilidade imediata da sentença no novo CPC O processo civil contemporâneo inegavelmente se preocupa mais com a efetividade e se afasta de filigranas acadêmicas despidas de utilidade concreta e empreende maiores esforços na busca de soluções para que a atividade jurisdicional alcance melhores resultados práticos. Assim, o Judiciário estará apto a tutela o direito material não somente no plano das ideias mas sobretudo no contexto real e fático. Diante da frenética multiplicação das relações sociais e se tornaram cada vez mais complexas, o que fez surgir novos interesses e necessidades, sendo o Direito o principal responsável por disciplinar todas as situações de forma rápida e satisfatória (ou seja, de forma célere e segura). Destaca-se a importância dos princípios da razoável duração do processo e do acesso à justiça ambos de origem constitucional conforme os incisos LXXVII e XXXV do art. 5º.

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A nova exequibilidade imediata da sentença no novoCPC

O processo civil contemporâneo inegavelmente se preocupa mais com a efetividade e se afasta de filigranas acadêmicas despidas de utilidade concreta e empreende maiores esforços na busca de soluções para que a atividade jurisdicional alcance melhores resultados práticos.

Assim, o Judiciário estará apto a tutela o direitomaterial não somente no plano das ideias mas sobretudo no contexto real e fático.

Diante da frenética multiplicação das relações sociais e se tornaram cada vez mais complexas, o que fez surgir novos interesses e necessidades, sendo o Direito o principal responsável por disciplinar todas as situações de forma rápida e satisfatória (ou seja, de forma célere e segura).

Destaca-se a importância dos princípios da razoável duração do processo e do acesso à justiçaambos de origem constitucional conforme os incisosLXXVII e XXXV do art. 5º.

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Já alertava Jeremy Bentham1 no que fora reprisado por Ruy Barbosa que a justiça tardia é justiça negada (ou nenhuma). Afinal, o tempo é o arqui-inimigo da eficácia da prestação jurisdicional, e opositor declarado e incansável do processo como verdadeiro instrumento de justiça.

E a possibilidade de execução provisória corresponde a uma excelente ferramenta que deve ser manejada para se vencer essa batalha.

É sabido que o ordenamento processual brasileiro vigente abre ao titular de um direito lesado ou

1 Jeremy Bentham (1748-1832) foi filósofo, jurista e um dos derradeirosiluministas a propor a construção de um sistema de filosofia moral,não apenas formal e especulativa, mas com a preocupação radical dealcançar uma solução prática a ser exercida pela sociedade de suaépoca. No fundo as suas propostas possuem, portanto, caráterfilosófico, reformador e sistemático. Juntamente com John Stuart Mille James Mill fora tradicionalmente considerado o difusor doutilitarismo que corresponde a teoria ética normativa que se objetivaa responder a todas as questões acerca do fazer, admirar e viver emtermos da maximização da utilidade e da felicidade. É atribuído à elea idealização do Panopticon, ideia que teria sido extraída de cartasredigidas e direcionadas pelo jurista em Crecheff, na Rússia, em 1787,destinadas a um amigo. Considerava que o direito penal era um crucialramo jurídico, devido a sua particularidade na abordagem da psicologiahumana. E a partir do pensamento utilitarista, o direito penal seriainstrumento perfeito para que o governo conseguisse conduzir ascondutas de seus cidadãos. Isso porque, por meio de penas bemcalculadas, o indivíduo poderia buscar a otimização de sua felicidadee chegaria à conclusão de que desrespeitar as regras do Estado nãoseria uma conduta vantajosa. As críticas ao Common Law tecidas porBentham vão todas nesse sentido de evidenciar a insegurança que talsistema trazia à população. Por não possuir leis escritas, e os juízesterem ampla capacidade de criação, os interesses individuais não eramcristalizados, dificultando o processo de alcançar uma sociedade ondeos desejos de cada indivíduo estivessem representados, sociedade esta,ideal para o utilitarismo de Bentham.

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ameaçado a via judicia, para a correção da injuridicidade, mas o que dificulta são os diversos obstáculos, muitos destes, sem qualquer justificativa pautada na necessidade de assegurar os direitos fundamentais dos demandados.

O que é agravado severamente quando é proferida a sentença, ato que esgota o procedimento de cognição exauriente e, ao qual deve, naturalmente seguir-se a realização do direito determinado peloEstado-juiz.

Apontou Ovídio Baptista o modelo processual que sempre se seguiu, de diversos recursos para múltiplas instâncias, tudo em atenção rigorosa e ampla fidelidade ao princípio da suspensividade damaioria destes (art. 497 do CPC/73), especialmentea apelação, onde vige o duplo efeito do recurso, que é quebrado em raras exceções explicitadas no Código de Processo Civil. Mas que representa sérioobstáculo a celeridade da prestação jurisdicional para que seja mais efetiva e contemporânea.

É óbvio que o atual procedimento recurso brasileiro da apelação é por demais vagaroso, dotado de rito protocolar da dupla verificação de admissibilidade e, se opera em franco desfavor da parte vitoriosa na primeira instância, exceto quando houver a atribuição de efeito suspensivo pelo juízo a quo, após ao primeiro exame de admissibilidade.

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O Conselho Nacional de Justiça - CNJ, em seu relatório “Justiça em Números”2 revelou precisamente o exagerado número de recursos novos submetidos à análise dos tribunais brasileiros.

Em 2010 ingressaram no segundo grau de jurisdição aproximadamente 2,9 milhões de processos e se encontravam pendentes, no mesmo ano, 2,6 milhões de processos, resultando num total de 5,4 milhões de processos em tramitação no segundo grau duranteo mesmo ano. Indicadores revelaram que cada magistrado em segundo grau reuniu em 2010 em média2.819 processos possíveis de julgamento, que variam de 1.877 processos na Justiça do Trabalho, até 11.896 processos na Justiça Federal, apontandoa elevada carga de trabalho nos Tribunais Regionais Federais.

2 A respeito do aprimoramento do relatório "Justiça em números" vide olink:http://www.cnj.jus.br/poder-judiciario/2015-01-14-19-46-18/aprimoramento-do-relatorio-justica-em-numeros. Atualmente, tramitam na JustiçaBrasileira (Relatório de 2014 – dados de 2013) cerca de 95.139.766milhões de processos (estoque antigo e casos novos). Tomando por basea projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)para o número de habitantes no Brasil (200 milhões), conclui-se quepara cada dois brasileiros está em tramitação nos tribunais um (1)processo. Desse total de processos, 78% (74,2 milhões) são (foram) decompetência da Justiça Estadual (JE); 12% (11,4 milhões) da JustiçaFederal (JF); 8% (7,6 milhões) da Justiça do Trabalho (JT); e,finalmente, cerca de 2%, nos demais tribunais (Superior Tribunal deJustiça, Tribunal Superior do Trabalho, Justiça Eleitoral e JustiçaMilitar). Dessa forma, pode-se ainda observar que, tomando por base apopulação brasileira, na JE, há um processo para cada 2,6 habitantes;na JF são 17,5 pessoas para um processo; e na JT, há um processo paracada grupo de 26,3 indivíduos, taxa superior em relação a outrospaíses.

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A taxa de congestionamento judicial serve para se aferir, em certo ano, o percentual dos processos em tramitação que ainda não foram baixados definitivamente.

Em média, a taxa de congestionamento no segundo grau da Justiça foi de cinquenta por cento (indicando precisamente que a metade dos processosque tramitaram acumularam para o ano seguinte). Especificando a estatística, verifica-se que as taxas de congestionamento no segundo grau, por ramo da Justiça, correspondem a quarenta e oito por cento na Justiça Estadual, a sessenta e oito por cento da Justiça Federal e vinte e oito por cento da Justiça do Trabalho.

O referido congestionamento gera a quantidade de 5.872 processos, em sede de recurso, aguardando julgamento há de dois anos no Tribunal Regional Federal da segunda região, que é conhecido por suagrande e expressiva produtividade nas metas traçadas pelo CNJ.

Com tais números que efetivamente surpreendem a qualquer cidadão comum, sublinha-se a gritante necessidade de uma atuação mais eficaz num dos pontos3 que obstam o acesso à justiça.3 Para compreensão dessa situação, usamos outra pesquisa doDepartamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ), do CNJ, de 2011, queaponta quem são os maiores litigantes em nível nacional. Esserelatório demonstra que o setor público federal como autor ou réu

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O evidente “gargalo” originado pelo enxame numérico de recursos pendentes de julgamento, a ausência de eficácia imediata da sentença que protelada em demasia a efetivação do direito em grande parcelo dos casos já definido.

De forma que a mudança trazida pelo NCPC militará em benefício do acesso à Justiça. Após o transcurso pelo Senado Federal, o então projeto deLei 8.046/2010 na Câmara dos Deputados, recentemente, foi elaborado o relatório geral do Deputado Sérgio Barradas Carneiro.

Então, o já alcunhado Código Fux em seu art. 908 rompeu radicalmente com o modelo do Código Buzaid,dispondo que, in verbis: “Os recursos, salvo disposição legal, em sentido diverso, não impedem a eficácia da decisão”.

§1º A eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se demonstrada a probabilidade de provimento do recurso.

§2º O pedido de efeito suspensivo durante o processamento do recurso em primeiro grau será dirigido ao tribunal, em petição autônoma que terá

litiga em 38% das ações; os bancos também litigam em 38% das ações, osetor público estadual litiga em 8% das ações, as empresas detelefonia litigam em 6%, o setor público municipal litiga em 5%, eoutros litigantes chegam a 5%. Isto significa reconhecer que, em maisde 90 milhões de processos, estão envolvidos os Poderes Executivos, emtodos os seus níveis, os bancos e a telefonia, deixando-se apenas 5milhões para outros atores – litigantes.

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prioridade na distribuição e tornará prevento o relator.

Estabeleceu-se a regra da eficácia imediata das decisões à míngua de disposição legal em contrário, assegurando-se ao recorrente a apresentação de “pedido de efeito suspensivo” diretamente ao Tribunal, em petição autônoma.

Assim, no NCPC é do relator a incumbência de decidir conforme o caso concreto sobra a suspensãoda eficácia da decisão recorrida, tanto na apelação quanto no agravo de instrumento4.

Havia previsão de efeito suspensivo ope legis5 no recurso extraordinário e no recurso especial interpostos contra a decisão proferida em 4 O agravo de instrumento passou de exceção à única modalidade previstapara impugnar as decisões interlocutórias, prevê que “concluída ainstrução, caso necessário a resolução de questão incidente, a mesmaserá resolvida por decisão interlocutória impugnável por agravo deinstrumento.

5 No ordenamento jurídico pátrio, são dois os critérios de atribuiçãodo efeito suspensivo aos recursos. O primeiro deles, o efeitosuspensivo "ope legis", decorre automaticamente da previsão legislativa,há previsão legal para tanto. Não há, neste caso, qualquerdiscricionariedade por parte do julgador ou pressuposto para a suaconcessão, salvo nas hipóteses excepcionais previstas nos incisos doart. 520, do atual CPC. O grande exemplo é a própria apelação. Já oefeito suspensivo "ope judicis" é aquele que depende de análise econcessão judicial. Não é automático. Diante desse critério, a parte,preenchidos pressupostos que paralisem a eficácia da sentença,requererá ao órgão judicante o seu deferimento. O grande exemplo é oagravo de Instrumento, onde o des. relator, após minuciosa análise,concede ou não a suspensividade.

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incidente de resolução de demandas repetitivas (art. 905).

Desta forma, o novo CPC reproduz o sistema italiano que adota a regra da exequibilidade imediata da sentença, conforme prevê o art. 337, primeiro parágrafo do CPC Italiano6.

É alvissareiro então o novo CPC ao abolir a regra do Código Buzaid que exibia franco desprestígio à decisão do juízo de primeiro grau, posto que faziaaguardar pela revisão dos órgãos superiores.

Assim em homenagem ao princípio da economia processual constitucionalizado pela E.C.45/2004 e explícito no inciso LXXVIII do art. 5º que prevê o

6 Vide o art. 282 do Codice di Procedura Civile italiano, que conduziu a reformaportuguesa de 2003 e a proposta do art. 949 da PLS nº 166/2010brasileira (para um novo CPC) e art. 997 com redação na Câmara (PL8046). Perceba-se que a adoção da executividade imediata da sentençaexige a análise de dados estatísticos das taxas de reforma dassentenças. Caso haja baixas taxas, a opção seria aconselhável, casocontrário não. Esta é uma constatação da importância do primeiro graue da necessidade de seu reforço para geração de resultados comlegitimidade. No Brasil, não contamos com dados fidedignos acerca datemática, mas os parcos dados indicam taxas superiores a 20%Vide oart. 282 do Codice di Procedura Civile italiano, que conduziu areforma portuguesa de 2003 e a proposta do art. 949 da PLS nº 166/2010brasileira (para um novo CPC) e art. 997 com redação na Câmara (PL8046). Perceba-se que a adoção da executividade imediata da sentençaexige a análise de dados estatísticos das taxas de reforma dassentenças. Caso haja baixas taxas, a opção seria aconselhável, casocontrário não. Esta é uma constatação da importância do primeiro graue da necessidade de seu reforço para geração de resultados comlegitimidade. No Brasil, não contamos com dados fidedignos acerca datemática, mas os parcos dados indicam taxas superiores a 20%.

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uso racional dos diversos graus de jurisdição já percorridos.

As estatísticas oficiais nos informam que apenas quarenta por cento dos processos na Itália aportamfinalmente na prolação de sentença, pois todo o sistema processual acaba por induzir aos litigantes até à resolução mais célere que possível.

Assim, a decisão final é reconhecida com l’extreme ratio. O que serve como demonstração de qua ante a ausência do efeito suspensivo dos recursos, há sincero estímulo para a rápida autocomposição entre os litigantes, bem como impedido o abuso de direito por parte da defesa.

Destaca-se assim a tendência do processo contemporâneo para a mediação e a conciliação e, não mais propriamente para o julgamento. Mas, em ocorrendo, dá-se maior prestígio à sentença, atribuindo-lhe maior poder e estabilidade, premiando devidamente vencedor da demanda em primeiro grau de jurisdição.

Também não se compactua com a sua espera ad aeternunpelo provimento final, criando-se um filtro às instâncias superiores.

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Diante de novo panorama das fases de cognição processual e de execução, cogita-se em um dever doEstado de prover imediatamente o interesse do jurisdicionado, assim que prestada a tutela. Não éjusto que só caiba ao autor o ônus da demora da duração do processo devendo a lei processual garantir a efetiva e imediata eficácia da obrigação e da lei, por meio de mecanismos de cumprimento provisório de sentença.

O caso Hornby versus Grécia perante a Corte Europeia de Direitos Humanos que fora julgado em 19.03.1997 no qual se teve o entendimento de que odireito à execução dos julgamentos é também uma das garantias do processo justo, cuja falta acarretaria na existência de um acesso à Justiça meramente abstrato e esvaziadamente teórico.

O relatório da Câmara brasileira de Deputados sobre o tema ressaltou que a celeridade não trará prejuízos ao demandado, posto que seu direito estará resguardado no caso concreto.

Em relação a apelação, o NCPC retira do juízo a quo o exame de admissibilidade recursal, conforme consta no art. 926. No Senado brasileiro, o Projeto de Lei 166/2010 inovou, contemplando o denominado “pedido de efeito suspensivo”, protocolado pelo apelante diretamente no Tribunal sendo que seu medo protocolo impede a eficácia da sentença até que o recurso seja finalmente

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apreciado pelo relator (art. 949, terceiro parágrafo).

Adiante, em seu quarto parágrafo, o mesmo dispositivo legal afirma ser irrecorrível a decisão do relator que conceder o efeito suspensivo.

O NCPC utiliza o termo “impede” de forma imprecisajá que os efeitos da sentença se produzem desde a sua prolação. É criticável a redação pois o sucumbente conforme acontece na maioria dos casos,peticionará requerendo a suspensão dos efeitos da sentença e, o relatório, sempre que possível, procederá ao julgamento monocrático do próprio recursos (art. 888, III, IV e V do PL 8.046/2010) reputando prejudicado o pleito de suspensão.

Será, portanto, admissível a concessão de tutela de urgência ou de evidência na própria sentença, cujos efeitos não serão obstados. Cumpre ainda lembrar que no vigente regime processual brasileiro, diversos doutrinadores sustentam ser possível a concessão de tutela antecipada na sentença, exatamente com o fim de contornar o efeito suspensivo da apelação.

O relatório geral do Senado brasileiro veio informar que eliminou-se a possibilidade de concessão de efeito suspensivo pelo relator quandofor provável o futuro provimento do recurso

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impetrado. Ocorre, portanto, nítido retrocesso, aoassociar duas figuras independentes, como a tutelade urgência e a tutela de evidência7.

Deduz-se que tão logo a sentença seja prolatada poderá ser imediatamente cumprida, a despeito da interposição recursal. O regime de apelação por instrumento consiste na interposição do recurso deapelação diretamente ao Tribunal ad quem, onde verificará o juízo de admissibilidade, com a necessidade de protocolo de petição no juízo a quoinformando sobre a existência de recurso contra a sentença proferida.

7 Valquíria Lima de Souza leciona: "A tutela de urgência e daevidência, foco deste estudo, seguindo esta linha constitucional-processual é permeada pelas garantias processuais fundamentais, asquais, apresentam-se atreladas. A verdade é que em determinadassituações de direito material as garantias processuais fundamentais daefetividade e celeridade da tutela jurisdicional se revelamindissociáveis para realmente se concretizarem na prática.

Em termos práticos significa dizer, que em determinadas situaçõesconcretas se a tutela jurisdicional não for prestada de forma célerepelo Estado-juiz, por consequência lógica, não será efetiva. Estaimprescindibilidade da celeridade processual para o alcance daefetividade da tutela jurisdicional fica evidenciada justamente noâmbito das tutelas de urgência (cautelar; satisfativa; da evidência);Prestando a tutela cautelar para acautelar o estado de pessoa oucoisa assegurando o resultado útil do processo, tutela de urgênciasatisfativa, para satisfazer o direito subjetivo em risco de dano ouperecimento, incluindo-se nesta última a tutela inibitória (tutelapreventiva) e de remoção do ilícito, e por fim a tutela da evidência,cujo direito subjetivo alegado que se revela evidente, por isso,denominada tutela da evidência." (Vide emhttp://valquirialimasouza.jusbrasil.com.br/artigos/112110619/tutela-de-urgencia-e-evidencia-sob-a-otica-moderna acesso em 20.04.2015).

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Com essa novidade ocorreria maior celeridade dos atos processuais, pois vige atualmente quatro juízos de admissibilidade distintos.

Um ponto positivo se associa à doutrina instrumentalista do processo é a previsão contida no terceiro parágrafo do art. 1.032 que determina a intimação do apelante para instruir o processo com cópias que o relator entenda como relevantes (observe-se que não se distingue mais as cópias obrigatórias das facultativas).

A execução realmente representa um difícil desafiopara os processualistas, principalmente porque boaparte da teoria pode se tornar inócua se for insatisfatório o resultado concreto desejado pelo exequente, que é quem detém crédito reconhecido por um título executivo judicial ou extrajudicial.

É a arquitetura traçada pelo processo de execução que se constrói a ponte entre a legislação e a realidade fática. Onde as regras, normas, princípios, doutrina e jurisprudência são experimentadas num autêntico teste de performance diante dos fatos.

Será inútil todo o conteúdo normativo, doutrinárioe jurisprudencial se o credor não obtiver o pagamento que tem direito do devedor, ou que o inadimplemento não seja sando pelo processo judicial.

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Teori Albino Zavascki8, atualmente ministro do STF nos ensina: “a função de todo processo é a de dar a quem tem direito tudo aquilo e exatamente aquiloa que tem direito”.

No que se refere especificamente a execução que seorigina invariavelmente em razão de estado de fatocontrário ao direito, sua finalidade é a de modificar esse estado de fato, reconduzindo-o ai estado de direito e, desse modo, satisfazer ao credor. Este, por sua vez, tem interesse em que a satisfação se dê em menor tempo que possível e, por modo que se assemelhe a execução forçada ao cumprimento voluntário da obrigação devida pelo devedor.

É crucial a lição de Miguel Garcia Medina ao exporque a “execução forçada tem por finalidade a satisfação do direito do exequente e, não a definição, para o caso concreto, do direito de umadas partes”. É pois uma tutela jurisdicional de resultado que corresponde a entrega do bem devido ao exequente.

8 Teori Albino Zavascki é um magistrado e professor brasileiro. Éministro do Supremo Tribunal Federal desde 29 de novembro de 2012,tendo sido nomeado pela presidente Dilma Rousseff a fim de substituira vaga deixada pela aposentadoria de Cezar Peluso. Antes disso, foiministro do Superior Tribunal de Justiça de 2003 a 2012, indicado porFernando Henrique Cardoso e nomeado pelo então presidente Lula. Éformado em Direito pela UFRGS e professor da UnB.

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Também o processo de execução é geralmente palco para acalorados conflitos entre os que defendem o princípio da máxima eficiência de atos executivos (art. 612 do CPC) e os que advogam em prol do princípio da menor onerosidade para o executado (art. 620 do CPC). Obter o equilíbrio hermenêuticoentre os referidos princípios não é tarefa fácil eidentificamos a existência de correntes doutrinárias e jurisprudenciais antagônicas quandoo tema seja a interpretação de institutos diferentes atinentes à tutela executiva.

De toda forma, compreender toda as mudanças legislativas na execução ocorridas desde de 200 e,ainda a traçadas pelo novo CPC, faz-se necessário fixarmos a certeza de que o legislador encara o grande desafio de tornar a tutela executiva mais eficiente, o que vem a atender ao clamor popular em se obter um Judiciário mais efetivo e mais respeitado.

A efetividade processual é preocupação cotidiana que igualmente atinge os juristas estrangeiros como é o caso do Projeto Unidroit American Law Institute que resultou nos chamados princípios do processo civil transnacional que estão presentes na obra publicada em 2006 pela Cambridge University Press e teceo desafio de reunir normas expressivas tanto do common law como do civil law do processo civil que devem estar uniformemente presentes em todos os sistemas jurídicos do mundo.

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Destaca-se entre estes, a preocupação com a justiça pronta e célere, com o dever das partes deevitar as lides temerárias9 e o abuso de processo, com o dever dos litigantes agirem de forma justa econforme o dever de cooperação.

O que não é diferente no Brasil, onde o novo CPC insiste na busca de um processo efetivo e mais eficaz. Há o direito ao prazo razoável do processo, com os fins sociais do processo, e da preocupação ética de os litigantes agirem de acordo com a boa-fé objetiva10.

O princípio da efetividade é enaltecendo já na exposição de motivos no NCPC e com as garantias constitucionais do Estado Democrático de Direito.

9 A lide temerária não constitui crime. Apesar de ser bem próxima dalitigância de má-fé que é uma punição aplicada ao litigante, podendoser aplicadas nos próprios autos. No entanto, quando o advogado, emconluio com o cliente, altera a verdade dos fatos ao propor a ação,responderá por lide temerária e, o cliente responderá por litigânciade má fé.

10 Um comportamento de acordo com a boa-fé objetiva, pois, é aquele quenão trai a confiança razoavelmente depositada, revela a lealdade quese pode esperar de um homem médio, mantém-se nos limites dos critériosde razoabilidade que, em dado momento, são os predominantes nacomunidade integrada pelo agente e, por tudo isto, gera estabilidade esegurança. É a esta boa-fé, a boa-fé objetiva, que o legislador deveexpressar, claramente, no novo CPC, a sua reverência. E tal reverênciaexige que o enunciado esteja inserido em um dos dispositivostopologicamente integrantes do conjunto dos enunciados que proclamamas bases em que o intérprete deve se ancorar quando se debruçar sobreuma norma processual.

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Há cinco objetivos cruciais do NCPC, a saber:

1.Estabelecer expressa e implicitamente a verdadeira sintonia fina com a CF/1988;

2.Propiciar as condições para que o juiz pressa decidir de forma mais próxima que possível à realidade fática subjacente à causa;

3.Simplificar, reduzindo o busílis dos subsistemas, como por exemplo, o recursal;

4.Dar o máximo rendimento possível a cada processo em si considerado;

5.Imprimir maior grau de organicidade ao sistemajurídico, fornecendo-lhe assim coesão.

Na Idade contemporânea ocorre a explícita fase de interpenetração de civilizações, resultando o NCPCpor força de escola racional pautada nos cinco objetivos retromencionados, com a obtenção de sentença que resolva o conflito, mediante o respeito e atendimento aos direitos fundamentais do menor tempo possível, materializando o interesse público da atuação da lei material.

É na busca do processo efetivo que deve nortear a compreensão de todas as mudanças sofridas pelo processo de execução. A Lei 11.232/2005 trouxe significativas alterações na execução de título judicial e modificou a unificação procedimental das ações executivas, distinguindo-se apenas as matérias que poderiam ser alegadas nos embargos à execução. Abandonou-se a unificação procedimental originalmente adotada pelo Código Buzaid.

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Ao alterar o cumprimento de sentença eliminou-se adicotomia existente entre o processo de conhecimento e o de execução, criando-se o processo uno e sincrético por meio do qual a parteseria capaz de obter através do único processo a condenação e a consequente satisfação da obrigaçãoexecutada.

Consequentemente extinguiram-se os embargos para fins de defesa contra o recém-criado cumprimento de sentença que passa a ser fase sucessiva no processo de conhecimento, e criou-se então a impugnação ao cumprimento da decisão como forma dedefesa do executado.

A separação entre a execução de título judicial e o extrajudicial que antes havia deixado de existircom o Código Buzaid retornou. As principais alterações trazidas pela Lei 11.232/2005 ao cumprimento da sentença foram, a saber:

1.O processamento da execução por meio de mera fase processual, sem necessidade de novo processo de execução ex vi o art. 475-J do CPC;

2.Multa coercitiva de dez por cento sobre o valor da condenação em caso de pagamento não voluntário no prazo de quinze dias, retirando-se do executado a prerrogativa de indicar bensà penhora (art. 475-J, in fine CPC);

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3.A inexistência em geral do efeito suspensivo para a impugnação ao cumprimento da sentença11;

4.A própria impugnação de cumprimento da sentença, ex vi o art. 475-J, primeiro parágrafoe art. 475-J do CPC;

5.Nova regulamentação do cumprimento provisório da sentença ex vi o art. 475-M do CPC;

Muitas dúvidas surgiram com as novas regras a começar por questionar o começo do prazo de quinze dias previsto no caput do art. 475 do CPC.Veio a posteriori, o STJ solidificar definitivamente, em acórdão proferido no REsp 940.274 quando entendeu que os quinze dias

11 Mais uma importante inovação consta do novo CPC, em tema deimpugnação ao cumprimento da sentença. Hoje, o Código em vigor permitearguir, na impugnação, a inexigibilidade do título executivo fundadoem lei declarada inconstitucional pelo STF, ou em interpretação tidapelo STF como incompatível com a Constituição (art. 475-L, § 1º). Aposição do novo codex é mais restritiva: admite a arguição deinexigibilidade da condenação fundada em lei declaradainconstitucional, desde que tal tenha ocorrido em controle concentradode constitucionalidade ou quando a norma tiver sua execução suspensapelo Senado Federal (art. 522, § 10). Ficam, assim, excluídas asinconstitucionalidades ou interpretações incompatíveis com aConstituição, que apenas tenham sido reconhecidas pelo STF em controledifuso, enquanto o Senado Federal não lhes retirar a executividade.

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começam mediante a intimação12 do advogado da parte condenada ao cumprimento da decisão.

Fixou-se também não ser cabível a multa de dez por cento prevista no caput do art. 475-J do CPC no cumprimento provisório de sentença.

A intimação para o cumprimento da sentença será realizada na pessoa do advogado do litigante condenado. Ponto interessante do NCPC é a possibilidade de ser a sentença levada a protesto, sendo condenatória e transitada em julgada conforme prevista no art. 531, como uma nova forma de compelir o executado ao adimplemento da obrigação executada.

12 In: art. 527 do NCPC - § 2º O devedor será intimado para cumprir asentença: I – pelo Diário da Justiça, na pessoa do seu advogadoconstituído nos autos; II – por carta com aviso de recebimento, quandorepresentado pela Defensoria Pública ou não tiver procuradorconstituído nos autos; III – por meio eletrônico, quando, sendo casodo §1º do art. 246, não tiver procurador constituído nos autos; IV –por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel nafase de conhecimento. § 3º Na hipótese do § 2º, incisos II e III,considera-se realizada a intimação quando o devedor houver mudado deendereço sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto noparágrafo único do art. 274.

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O art. 532 do NCPC13 determina que as questões atinentes à validade no cumprimento da sentença e dos atos executivos nos próprios arguidas peloexecutado nos próprios autos e nestes serão decididas pelo juiz.

Aduz ainda o parágrafo único que contra a decisão proferida na fase de cumprimento de sentença cabe agravo de instrumento; se essa decisão implicar na extinção do processo, caberáapelação.

Outro relevante ponto do NCPC reside na desnecessidade da penhora ou garantia de juízo para que o executado oponha a impugnação. O décimo-segundo parágrafo do art. 539 do NCPC trouxe relevante esclarecimento no tocante à figura da coisa julgada inconstitucional, deixando claro que essa matéria poderá ser objeto de impugnação14 se a Suprema Corte fixou

13 Art. 532. Todas as questões relativas à validade do procedimentode cumprimento da sentença e dos atos executivos subsequentes poderãoser arguídas pelo executado nos próprios autos e nestes serãodecididas pelo juiz.Parágrafo único. Contra decisão proferida na fase de cumprimento desentença cabe agravo de instrumento; se essa decisão implicarextinção do processo, cabe apelação."

14 A apresentação de impugnação não impede a prática dos atosexecutivos, inclusive os de expropriação. O juiz poderá, entretanto,a requerimento do executado e desde que garantido o juízo compenhora, caução ou depósito suficientes, atribuir à impugnação efeitosuspensivo, se relevantes seus fundamentos e o prosseguimento daexecução seja manifestamente suscetível de causar ao executado gravedano de difícil ou incerta reparação. A concessão de efeitosuspensivo não impedirá a efetivação dos atos de substituição, dereforço ou redução da penhora e de avaliação dos bens.

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interpretação antes do trânsito em julgado da sentença executada.

Precisamos recordar que toda obra humana está sempre sujeitas as imperfeições e não poderá sero remédio para todos os males que afligem a Justiça brasileira e notadamente a tutela executiva brasileira.

Cabe a todos envidar sinceros esforços no sentido de formar uma nova cultura jurídica baseada na arbitragem, mediação e a conciliação que devem integrar a grade disciplinar dos currículos dos cursos de Direito no país.

Referências

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