A FEIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROJETO DO NOVO CPC

44
A FEIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROJETO DO NOVO CPC Humberto Dalla Bernardina de Pinho Professor da UERJ e da UNESA. Promotor de Justiça no RJ RESUMO: O texto aborda o perfil do Ministério Público no Projeto do Novo CPC, e examina não só as diferentes versões do Projeto já apresentadas, como também empreende análise comparativa com o ordenamento em vigor, além de identificar as principais questões teóricas e o posicionamento mais recente dos Tribunais Superiores sobre a matéria. PALAVRAS-CHAVE: MINISTÉRIO PÚBLICO. PROJETO. NOVO. CPC. PERFIL. SUMÁRIO: 1. Considerações iniciais. 2. Perfil Constitucional do Ministério Público. 3. O Ministério Público no CPC de 1973. 4. O Ministério Público no Projeto do Novo CPC. 4.1. Dispositivos genéricos. 4.2. Dispositivos específicos. 5. Considerações Finais. 6. Bibliografia. 1. Considerações Iniciais. Neste texto vamos examinar os dispositivos do Projeto do Novo CPC que tratam do Ministério Público. A fim de estabelecer a delimitação objetiva da

Transcript of A FEIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROJETO DO NOVO CPC

A FEIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROJETO DO NOVO CPC

Humberto Dalla Bernardina de PinhoProfessor da UERJ e da UNESA.

Promotor de Justiça no RJ

RESUMO: O texto aborda o perfil do Ministério Público no

Projeto do Novo CPC, e examina não só as diferentes

versões do Projeto já apresentadas, como também empreende

análise comparativa com o ordenamento em vigor, além de

identificar as principais questões teóricas e o

posicionamento mais recente dos Tribunais Superiores

sobre a matéria.

PALAVRAS-CHAVE: MINISTÉRIO PÚBLICO. PROJETO. NOVO. CPC.

PERFIL.

SUMÁRIO: 1. Considerações iniciais. 2. Perfil

Constitucional do Ministério Público. 3. O Ministério

Público no CPC de 1973. 4. O Ministério Público no

Projeto do Novo CPC. 4.1. Dispositivos genéricos. 4.2.

Dispositivos específicos. 5. Considerações Finais. 6.

Bibliografia.

1. Considerações Iniciais.

Neste texto vamos examinar os

dispositivos do Projeto do Novo CPC que tratam do

Ministério Público.

A fim de estabelecer a delimitação objetiva da

abordagem, optamos por estudar apenas os artigos que se

encontram na Parte Geral do Projeto, dividindo a

abordagem quanto aos artigos genéricos, ou seja, os que

estão inseridos no capítulo do Ministério Público, e aos

específicos, assim entendidos aqueles que fazem parte de

outros capítulos e que tratam de uma função peculiar do

M.P..

Utilizamos como documento base o Projeto de Lei

8046/10 e traçamos quadros comparativos com a legislação

atual e as diferentes versões do Novo CPC.

Nesse passo, abordaremos as questões que nos

parecem mais controversas e que foram recebendo

tratamento diverso desde a primeira versão do Projeto

(PLS 166/10), passando pelo Substitutivo n° 1 do Senado

(elaborado sob a Coordenação do Sen. Valter Pereira),

pelo referido PL 8046/10 e chegando, finalmente, ao

relatório tornado público pelo então Relator, Dep. Sergio

Barradas, hoje substituído pelo Dep. Paulo Teixeira. No

momento em que este texto estava sendo concluído, ainda

não havia sido apresentado o relatório final da Câmara

dos Deputados, razão pela qual foi utilizado o relatório

do então Dep. Barradas, sempre em perspectiva comparada

com as versões anteriores e com o texto do atual CPC1.

Incidentalmente, apresentaremos algumas questões

doutrinárias e indicaremos a posição dos Tribunais sobre1 Em meados de julho, chegou a nosso conhecimento a compilação frutodo trabalho das Relatorias Parciais e da Comissão de Juristas queassessorou a Câmara dos Deputados. No que se refere ao MinistérioPúblico e ao texto ora apresentado, não há alterações significativas,salvo a renumeração dos artigos, razão pela qual optamos por manterno corpo desse ensaio as referências ao chamado Relatório Barradas.

as mesmas.

2. Perfil Constitucional do Ministério Público

O texto constitucional contempla a organização do

Ministério Público na Seção I (Do Ministério Público) do

Capítulo IV (Das Funções Essenciais à Justiça) do Título

IV (Da Organização dos Poderes).

O art. 127 assim dispõe:

“Art. 127 – O Ministério Público é instituição permanente, essencialà função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa daordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais eindividuais indisponíveis”;

Primeiramente, devemos observar que, conforme a

própria definição dada pelo legislador, o Ministério

Público é uma Instituição. Não tem personalidade

jurídica, embora seja dotado de legitimidade para propor

medidas administrativas e judiciais.

É oportuno salientar que o art. 127, caput, se

subdivide em duas partes: uma, correspondente ao conceito

da Instituição e outra, aos seus objetivos funcionais ou

institucionais.

No tocante à primeira parte, ou seja, o con-

ceito, devem ser feitas algumas observações.

Quando o art. 127 da Constituição da

República de 1988 utiliza a expressão “instituição permanente”,

cria uma cláusula pétrea, que não pode ser suprimida pelo

poder constituinte derivado (art. 60, §4º, da Carta).

Já no concernente à expressão “essencial”, sig-

nifica dizer que, nas hipóteses em que sua intervenção

for obrigatória, se o mesmo não for chamado, será caso de

nulidade absoluta do processo (art. 246 do Código de

Processo Civil), isto é, não poderá haver jurisdição

válida.2

A atuação do Ministério Público como custos

legis, ou seja, fiscal da lei, encontra assento constitu-

cional neste referido artigo que faz menção à defesa da

ordem jurídica. Já a atuação do Parquet em todos os pro-

cessos de natureza eleitoral está fundamentada na defesa

do regime democrático, também contido nesse dispositivo.

A participação3 do Ministério Público pode se

dar de duas formas no processo: através de sua atuação ou

por meio de sua intervenção. A participação seria, por-

tanto, gênero que comportaria em si duas espécies. Fala-

se em atuação quando o M.P. age como parte no processo

promovendo a ação. A intervenção refere-se às hipóteses

em que o Ministério Público funciona como fiscal da lei,

como custos legis em uma ação que foi proposta por outrem.

Modernamente vem se entendendo que, mesmo

nas hipóteses em que o Ministério Público participa do

processo como parte, ele também o faz como fiscal da lei.

A participação do M.P. como parte não acarreta a impossi-

2 Neste sentido, vide decisão expressa no Resp 186.006-PE, QuintaTurma, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 28/09/1999. (Informativonº 34 do STJ), disponível na Internet no seguinte endereço:http://www.stj.gov.br. Contudo, com será demonstrado abaixo, aJurisprudência vem atenuando esse rigor, devendo a essencialidade sercompreendida hoje, primordialmente a partir das funções do M.P. comoparte, tanto na esfera cível como na criminal.3 Posição originalmente sustentada por ROCHA. Clóvis Paulo da. OMinistério Público como Órgão Agente e como Órgão Interveniente no Processo Civil, inRevista do Ministério Público da Guanabara, vol. 17, 1973, pp. 03/14.

bilidade de, simultaneamente, agir o Parquet como fiscal

da lei.

Hoje, portanto, não é mais possível conside-

rar-se qualquer participação do Ministério Público apenas

como parte em um processo. Na verdade, é certo que todas

as vezes em que o Ministério Público atuar como órgão

agente, ele estará atrelado à sua função fiscalizadora,

até mesmo por obediência ao objetivo precípuo que lhe é

atribuído pelo art. 127, caput, da Constituição Federal4.

No art. 127, §1º, da Carta Magna estão elen-

cados os princípios institucionais do Ministério Público:

princípios da unidade, da indivisibilidade e da indepen-

dência funcional.

Prever, como princípio institucional, o

princípio da unidade, também chamado de princípio da coe-

são vertical, significa dizer que o Ministério Público é

uno. Em outras palavras, trata-se de uma instituição

única, abstratamente considerada, na qual os seus membros

oficiam nos processos em nome da instituição a que são

ligados, conforme a Teoria do Órgão, já mencionada ante-

riormente.

O princípio da indivisibilidade ou princípio

da coesão horizontal é decorrência lógica do princípio da

unidade e consiste na possibilidade de os membros da ins-

tituição se substituírem sem que haja prejuízo para a

mesma ou para a sociedade.

O terceiro e último princípio institucional

4 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito Processual Civil Contemporâneo,vol. 1, Rio de Janeiro: Saraiva, 2012, p. 329.

é o da independência funcional. Segundo este, os membros

do Parquet têm que atuar apenas de acordo com dois parâme-

tros: a lei e sua consciência.

É importante salientar a conclusão de que,

em virtude de tal princípio, estamos diante de agentes

políticos, pois só estes gozam de independência funcio-

nal.

3. O Ministério Público no CPC de 1973

Vista a amplitude das normas constitucionais

relativas ao Ministério Público, passa-se a examinar -

alguns dispositivos alocados no Código de Processo Civil.

No desempenho de suas funções, pode o M.P. atuar

como parte ou como fiscal da correta aplicação da lei,

embora essa função fiscalizatória sempre tenha despertado

algum desconforto na doutrina especializada5.5 Nesse passo, Calamandrei, já em sua época, advertia: “Mas no processocivil, em que normalmente a legitimação para acionar e para contradizer compete aosparticulares, é mais difícil definir qual possa ser a posição do Ministério Público como partepública colocada também, e não com exclusão, das partes privadas, às quais estãoreservadas neste processo as posições primárias e predominantes. Não obstante, seolharmos bem, a razão primordial em virtude da qual em certos casos introduz a lei oMinistério Público como parte pública no processo civil, não é distinta daquela pela qual nosordenamentos penais o sistema da acusação privada tem cedido inteiramente o terreno aoda acusação – função do Ministério Público no processo civil – pública exercitada peloMinistério Público; efetivamente como a substituição da ação pública à ação privada noprocesso penal tem sido sugerida pelo interesse público em que a observância das normasde direito penal não se remeta à iniciativa dos particulares nem se deixe a mercê de seusinteresses individuais, assim no processo civil a participação do Ministério Público tem afinalidade de suprir a não iniciativa das partes privadas ou de controlar sua eficiência,sempre que, pela especial natureza das relações controvertidas, possa temer o Estado que oestímulo do interesse individual, ao qual está normalmente encomendado o ofício de darimpulso à justiça civil, possa ou faltar totalmente ou se dirigir a fins distintos do daobservância da lei. Tanto no processo penal como no civil, então, a presença do MinistérioPúblico responde em substância a um interesse público da mesma natureza: fazer que,frente aos órgãos julgadores que para manter intata sua imparcialidade e, pelo tanto, suaindiferença inicial, não podem menos de ser institucionalmente inertes, se despregue emforma correspondente aos fins públicos da justiça a função estimuladora das partes”.

Em regra, no processo civil, seus membros atuarão

como fiscais da lei6 nas hipóteses do art. 82 do CPC:

“Art. 82 – Compete ao Ministério Público intervir:I – nas causas em que há interesses de incapazes;II – nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder,tutela, curatela, interdição, casamento, declaração de ausência edisposições de última vontade;III – nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terrarural e nas demais causas em que há interesse público evidenciadopela natureza da lide ou qualidade da parte”.

Nos termos do art. 83, intervindo como fiscal da

lei, o Ministério Público:

a)terá vista dos autos depois das partes, sendo

intimado de todos os atos do processo;

b)poderá juntar documentos e certidões, produzir

prova em audiência e requerer medidas ou diligências

necessárias ao descobrimento da verdade.

(CALAMANDREI, Piero [tradução de Luiz Abezia e Sandra Drina FernandesBarbery]. Direito Processual Civil, São Paulo: BookSeller, 1999, p.335/336). Entretanto, este mesmo autor afirma que o interesse públicoque motiva a intervenção do Ministério Público não é a tutela social,mas sim a tutela da legalidade dentro do ordenamento jurídico, razãopela qual não é ele o titular daquele interesse público,restringindo-se a velar pela sua correta tutela. Daí afirmar, à p.42, “que o Ministério Público é o encarregado de vigiar pela observância do direito objetivoem todos aqueles casos em que a iniciativa dos interessados não é suficiente garantia de ditaobservância: o qual acontece, em geral, em todas as causas sobre relações não disponíveis,mas pode acontecer também, excepcionalmente, em causas a respeito de relaçõesdisponíveis, segundo se vê através do último apartado do art. 70, segundo o qual oMinistério Público pode intervir, não só nas categorias de causas determinadas pela lei,senão em toda outra causa em que ele contemple um interesse público”.6 Conforme o art. 82, CPC, o MP deve intervir obrigatoriamente nosprocessos em que haja interesse de incapaz, nos concernentes ao esta-do da pessoa, poder familiar, curatela, interdição, casamento, decla-ração de ausência, litígios que envolvam posse da terra rural.Todavia esse rol não é taxativo, como se observa pelo disposto noart. 1.105, CPC, que regula os processos de jurisdição voluntária.Mais a frente falaremos mais sobre esse ponto, ao abordar aRecomendação n° 16 do CNMP.

Quando a lei considerar obrigatória a intervenção

do Ministério Público, a parte deve promovê-la, sob pena

de nulidade do processo. Esta é a regra do art. 84 do

CPC, que deve ser combinado com o art. 246 que diz ser

nulo o processo, quando o Ministério Público não for

intimado a acompanhar o feito em que deveria intervir.

Por outro lado, sua atuação como parte ocorrerá

nas hipóteses de ajuizamento da ação, quando a lei assim

o permitir (como no caso da ação civil pública, regula-

mentada pela Lei nº 7.347/85, da ação de investigação de

paternidade, regulamentada pela Lei nº 8.560/92, e tantas

outras mais).

O art. 81 determina que o M.P. exercerá o direito

de ação nos casos previstos em lei, cabendo-lhe os mesmos

poderes e ônus aplicáveis às partes. Assim como os juí-

zes, o membro do M.P. deve observar as regras de impedi-

mento e suspeição, previstas nos art. 134 e 135 do CPC.

O art. 85 dispõe que o órgão do Ministério

Público será civilmente responsável quando, no exercício

de suas funções, proceder com dolo ou fraude. Ademais,

pode o M.P. interpor recurso, mesmo nas causas em que

funcione como fiscal da lei (art. 499, §2º, CPC), ainda

que não haja recurso voluntário das partes (Verbete de

Jurisprudência predominante nº 99 do STJ).

Tem, ainda, legitimidade para ajuizar ação resci-

sória quando não foi ouvido no processo em que sua inter-

venção era obrigatória ou quando a sentença é fruto de

colusão entre as partes com o fim de fraudar a lei (art.

487, inciso III, CPC).

4. O Ministério Público no Projeto do Novo CPC.

O projeto do novo Código de Processo Civil apenas

alterou topograficamente as disposições gerais sobre o

Ministério Público, para tratá-lo em um novo título, após

os auxiliares da Justiça, antes da Defensoria Pública,

já que no código atual seu tratamento era em local

diverso, logo após o título das partes e de seus

procuradores.

Contudo, algumas regras específicas sofreram

grande alteração. Neste item do trabalho, primeiro

abordaremos as disposições genéricas, ou seja aquelas que

se encontram entre os artigos 154 a 159 do Projeto, para,

então, examinar os dispositivos específicos, que se

encontram espalhados pelo texto.

4.1. Dispositivos genéricos

Antes de ingressar nos comentários, apresentamos

um quadro comparativo, contendo as três redações em exame

(CPC atual, PL 8046 e Relatório Parcial da Câmara).

CPC Atual Projeto do NCPC (PL

8.046/2010)

Relatório Parcial

da Câmara (Dep.

Sergio Barradas)

Sem

Art. 154. O

Ministério Público

atuará na defesa da Sem alteração

correspondente ordem jurídica, do

regime democrático e

dos interesses

sociais e

individuais

indisponíveis.Art. 81. O

Ministério

Público

exercerá o

direito de ação

nos casos

previstos em

lei, cabendo-

lhe, no

processo, os

mesmos poderes

e ônus que às

partes.

Art. 155. O

Ministério Público

exercerá, em todos

os graus, o direito

de ação em

conformidade com

suas atribuições

constitucionais.

Sem alteração

Art. 82.

Compete ao

Ministério

Público

intervir:

I - nas causas

em que há

Art. 156. O

Ministério Público

será intimado para,

no prazo de trinta

dias, intervir como

fiscal da ordem

jurídica:

I – nas causas que

Art. 156. O

Ministério Público

será intimado para

intervir como

fiscal da ordem

jurídica:

I – nas causas que

envolvam interesse

interesses de

incapazes;

II - nas causas

concernentes ao

estado da

pessoa, pátrio

poder, tutela,

curatela,

interdição,

casamento,

declaração de

ausência e

disposições de

última vontade;

III - nas ações

que envolvam

litígios

coletivos pela

posse da terra

rural e nas

demais causas

em que há

interesse

público

evidenciado

pela natureza

da lideou

qualidade da

envolvam interesse

público ou interesse

social;

II – nas causas que

envolvam o estado

das pessoas e o

interesse de

incapazes;

III – nas causas que

envolvam litígios

coletivos pela posse

de terra rural;

IV – nas demais

hipóteses previstas

em lei ou na

Constituição da

República.

Parágrafo único. A

participação da

Fazenda Pública não

configura por

si só hipótese de

intervenção do

Ministério Público.

público ou

interesse social;

II - nas causas

que envolvam o

interesse de

incapazes;

III – nas causas

que envolvam

litígios coletivos

pela posse de

terra rural ou

urbana;

IV – nas demais

hipóteses

previstas em lei

ou na Constituição

da República.

Parágrafo único. A

participação da

Fazenda Pública

não configura por

si só hipótese de

intervenção do

Ministério

Público.

parte.Art. 83.

Intervindo como

fiscal da lei,

o Ministério

Público:

I - terá vista

dos autos

depois das

partes, sendo

intimado de

todos os atos

do processo;

II - poderá

juntar

documentos e

certidões,

produzir prova

em audiência e

requerer

medidas ou

diligências

necessárias ao

descobrimento

da verdade.

Art. 157. Nos casos

de intervenção como

fiscal da lei, o

Ministério Público:

I – terá vista dos

autos depois das

partes, sendo

intimado de todos os

atos do processo;

II – poderá juntar

documentos e

certidões, produzir

prova em audiência,

requerer medidas e

recorrer.

Sem alteração

Art. 84. Quando

a lei

Art. 158. O

Ministério Público,

Art. 158. O

Ministério

considerar

obrigatória a

intervenção do

Ministério

Público, a

parte promover-

seja como parte,

seja como fiscal da

lei, gozará de prazo

em dobro para se

manifestar nos

autos, que terá

Público, seja como

parte, seja como

fiscal da ordem

jurídica, gozará

de prazo em dobro

para se manifestar

lhe-á a

intimação sob

pena de

nulidade do

processo.

início a partir da

sua intimação

pessoal mediante

carga ou remessa.

Parágrafo único. Findo o

prazo para

manifestação do

Ministério Público

sem o oferecimento

de parecer, o juiz

requisitará os autos

e lhe dará

andamento.

nos autos, que

terá início a

partir da sua

intimação pessoal,

nos termos do

parágrafo único do

art. 106.

Parágrafo único. Findo

o prazo para

manifestação do

Ministério Público

sem o oferecimento

de parecer, o juiz

requisitará os

autos e lhe dará

andamento.

Art. 85. O

órgão do

Ministério

Público será

civilmente

responsável

quando, no

exercício de

suas funções,

proce-der com

dolo ou fraude.

Art. 159. O membro

do Ministério

Público será

civilmente

responsável quan-do,

no exercício de suas

funções, proceder

com dolo ou fraude.

Art. 159. O membro

do Ministério

Público será civil

e regressivamente

responsá-vel

quando, no

exercício de suas

funções, agir com

dolo ou fraude.

O art. 154 do projeto do novo Código reforça a

dicção do art. 127 da Constituição Federal, enquanto o

art. 155 trata da atuação do Ministério Público em todos

os graus, remetendo ao art. 130 da Constituição ao

afirmar que o direito de ação do Parquet deve ser exercido

de acordo com suas atribuições institucionais.

O art. 156 do projeto trata das hipóteses de

intervenção do M.P. como fiscal da lei que, atualmente,

estão previstas no art. 82 do CPC, destacando, em seu

parágrafo único, que a hipótese de participação da

Fazenda Pública, por si só, não configura hipótese de

intervenção do Ministério Público.

Neste artigo, três considerações são relevantes:

a primeira delas é que o novo código fixa o prazo de

trinta dias para manifestação do M.P. Esta hipótese

atualmente não possui prazo. A fixação do prazo para

instituição se manifestar é importante para evitar a

morosidade dos processos, tentando garantir que a

prestação jurisdicional ainda seja efetiva já que, em

alguns casos, a urgência pode ser tanta que, ao ser

fornecida a prestação jurisdicional, o dano já poderá ter

ocorrido.

O artigo não prevê o que acontecerá após esse

prazo, mas, seguindo-se a tendência do destino da fixação

de prazo, tal como previsto no parágrafo único do art. 12

da Lei nº 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança) e do

próprio parágrafo único de seu art. 158, os autos serão

requisitados pelo juiz e terão andamento normal, sem que

a não intervenção do Ministério Público configure

nulidade, uma vez que foi dada à instituição a

oportunidade de se manifestar, esta que não o fez nos

termos da lei.

Outra questão relevante e até criticável é o

inciso I do art. 156, que dispõe que o Ministério Público

intervirá nos casos de interesse público ou social.

Temos aqui, em verdade, duas questões. A primeira

diz respeito às eventuais discordâncias entre o Juiz e o

Membro do MP quanto à necessidade ou não de intervenção.

A solução que existe hoje, ou seja, interposição de

agravo, não será mais viável no Novo CPC, em razão da

drástica redução das hipóteses de cabimento desse

recurso. Por outro lado, também não parece razoável fazer

uso do mandado de segurança, eis que não estaria

configurado o direito líquido e certo in casu.

Melhor seria, a nosso ver, trazer para o CPC a

solução que já existe hoje nas Leis Orgânicas dos

Ministérios Públicos Estaduais e da União (artigo 26,

inciso VIII da Lei nº 8.625/93, e artigo 6º, inciso XV da

Lei Complementar nº 75/93), nos quais há regra expressa

no sentido de que a intervenção7 deve se dar nos casos em

7 Mesmo aqueles que reconhecem ao Poder Judiciário a titularidadepara aferição da presença ou não do interesse público no casoconcreto, são forçados a concluir no sentido de que “não há meios para secoagir o órgão ministerial a participar, de forma que a sua decisão pela negativa vale comopalavra final quanto à inexistência de interesse público”. (MACHADO, Antônio Cláudioda Costa. A intervenção do Ministério Público no Processo Civil Brasileiro, 2ª edição,São Paulo: Saraiva, p. 389).

que o Membro do M.P. visualizar8 o interesse público.

Mas ainda que adotada tal solução, cairíamos num

segundo problema: a discricionariedade e a independência

funcional de cada Membro fariam com que não houvesse um

padrão, um parâmetro de intervenção, o que geraria

instabilidade e insegurança no exercício das funções do

Ministério Público.

Com efeito, as expressões “interesse público” e

“interesse social” se inserem na tipologia dos conceitos

jurídicos indeterminados. Desta forma, se não houver um

conjunto de diretrizes básicas que orientem

Com efeito, em abril de 2010, o Conselho Nacional

do Ministério Público editou a Recomendação nº 16, com o

objetivo de regular a intervenção do MP no processo

civil9.

8 Moniz de Aragão, em célebre passagem, assenta que “o Juiz ou o Tribunalnão são senhores de fixar a conveniência ou a intensidade e profundidade da atuação doMinistério Público. Este é que mede e a desenvolve. A não ser assim, transformar-se-ia oMinistério Público, de fiscal do Juiz na aplicação da Lei, em fiscalizado dele no que tange àsua própria intervenção fiscalizadora”. (ARAGÃO, Moniz de. Comentários ao Código deProcesso Civil, volume II, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 284).9 CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. RECOMENDAÇÃO n° 16, de 28de abril de 2010, publicada no DJU, seção única, 16.06.2010, p. 08).Dispõe sobre a atuação dos membros do Ministério Público como órgãointerveniente no processo civil. Disponível emhttp://www.cnmp.gov.br, acesso em abril de 2012.

Interessante observar os consideranda10 adotados no

introito do ato administrativo normativo, que apesar de

estabelecer uma série de critérios objetivos, ressalva

que deve ser respeitada a independência funcional dos

membros da Instituição, razão pela qual o ato é expedido

sem efeito vinculativo.

10 “CONSIDERANDO a necessidade de racionalizar a intervenção do Ministério Público noProcesso Civil, notadamente em função da utilidade e efetividade da referida intervenção embenefício dos interesses sociais, coletivos e individuais indisponíveis;CONSIDERANDO a necessidade e, como decorrência, a imperiosidade de (re)orientar aatuação ministerial em respeito à evolução institucional do Ministério Público e ao perfiltraçado pela Constituição da República (artigos 127 e 129), que nitidamente priorizam adefesa de tais interesses na qualidade de órgão agente;CONSIDERANDO a justa expectativa da sociedade de uma eficiente, espontânea e integraldefesa dos mesmos interesses, notadamente os relacionados com a hipossuficiência, aprobidade administrativa, a proteção do patrimônio público e social, a qualidade dosserviços públicos e de relevância pública, a infância e juventude, as pessoas portadoras dedeficiência, os idosos, os consumidores e o meio ambiente;CONSIDERANDO a iterativa jurisprudência dos Tribunais pátrios, inclusive sumuladas, emespecial dos Egrégios Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça;CONSIDERANDO a exclusividade do Ministério Público na identificação do interesse quejustifique a intervenção da Instituição na causa;” (Resolução CNMP nº 16/10)

Nesse sentido, a Recomendação elenca as hipóteses

nas quais, em regra, é desnecessária11 a intervenção do

M.P..

A última consideração deste artigo é que a

intervenção da Fazenda Pública, por si só, não enseja a

intervenção do Ministério Público. A função do M.P. em um11 "Art. 5º. Perfeitamente identificado o objeto da causa e respeitado o princípio daindependência funcional, é desnecessária a intervenção ministerial nas seguintes demandase hipóteses:I - Intervenção do Ministério Público nos procedimentos especiais de jurisdição voluntária;II - Habilitação de casamento, dispensa de proclamas, registro de casamento in articulomortis – nuncupativo, justificações que devam produzir efeitos nas habilitações decasamento, dúvidas no Registro Civil;III – Ação de divórcio ou separação, onde não houver cumulação de ações que envolvaminteresse de menor ou incapaz;IV - Ação declaratória de união estável, onde não houver cumulação de ações que envolvainteresse de menor ou incapaz;V - Ação ordinária de partilha de bens;VI - Ação de alimentos, revisional de alimentos e execução de alimentos fundada no artigo732 do Código de Processo Civil, entre partes capazes;VII - Ação relativa às disposições de última vontade, sem interesse de incapazes, excetuada aaprovação, cumprimento e registro de testamento, ou que envolver reconhecimento depaternidade ou legado de alimentos;VIII - Procedimento de jurisdição voluntária relativa a registro público em que inexistirinteresse de incapazes;IX - Ação previdenciária em que inexistir interesse de incapazes;X - Ação de indenização decorrente de acidente do trabalho;XI - Ação de usucapião de imóvel regularmente registrado, ou de coisa móvel, ressalvadas ashipóteses da Lei n° 10.257, de 10 de julho de 2001;XII - Requerimento de falência ou de recuperação judicial da empresa, antes da decretaçãoou do deferimento do pedido;XIII - Ação de qualquer natureza em que seja parte sociedade de economia mista;XIV - Ação individual em que seja parte sociedade em liquidação extrajudicial;XV - Ação em que for parte a Fazenda ou Poder Público (Estado, Município, Autarquia ouEmpresa Pública), com interesse meramente patrimonial, a exemplo da execução fiscal erespectivos embargos, anulatória de débito fiscal, declaratória em matéria fiscal, repetiçãode indébito, consignação em pagamento, possessória, ordinária de cobrança, indenizatória,anulatória de ato administrativo, embargos de terceiro, despejo, ações cautelares, conflito decompetência e impugnação ao valor da causa;XVI - Ação de desapropriação, direta ou indireta, entre partes capazes, desde que nãoenvolvam terras rurais objeto de litígios possessórios ou que encerrem fins de reformaagrária (art. 18, § 2º, da LC 76/93);XVII - Ação que verse sobre direito individual não-homogêneo de consumidor, sem apresença de incapazes;XVIII - Ação que envolva fundação que caracterize entidade fechada de previdência privada;XIX - Ação em que, no seu curso, cessar a causa de intervenção;

Estado Democrático de Direito não é ser defensor do

erário, mas sim da ordem jurídica, do regime democrático

e dos interesses indisponíveis.

Contudo, como observado no início deste item, o

Relatório parcial apresentado pela Câmara dos Deputados

no mês de abril de 2012, inseriu modificações pontuais no

caput e nos incisos II e III deste artigo 156.

No caput, foi retirado o prazo de 30 dias, e a

justificativa apresentada no texto do Dep. Barradas se

baseia no fato de que a fiscalização exercida pelo M.P.

se dá ao longo de de todo o processo, e não numa única

oportunidade. Desse modo, seria despeciendo fixar um

prazo para tal providência.

No caso do inciso II, foi retirada a expressão

"estado das pessoas". Na mesma linha de raciocínio da

Recomendação do CNMP, o Relator entendeu que não se

justifica a intervenção do MP apenas pelo estado da

pessoas e que isso seria um resquício do ordenamento pré

Constituição de 1988. A circunstância que justificaria a

intervenção do M.P. seria, tão somente, a presença de um

XX - Intervenção em ação civil pública proposta pelo Ministério Público;XXI - Assistência à rescisão de contrato de trabalho;XXII - Intervenção em mandado de segurança."

incapaz12 num dos pólos da relação processual13.

Por fim, no inciso III foi inserida a hipótese de

intervenção quando houver conflito coletivo de terra

urbana

O art. 157 do Projeto repete a previsão do art.

83 do Código atual, enquanto o art. 158 inova ao trazer12 Mesmo nesses casos, o STJ vem atenuando o rigor da sanção do art.246 do CPC quando não há a intervenção no momento próprio. Veja-se,nesse sentido: INCAPAZ. PARQUET. INTERVENÇÃO. PREJUÍZO. COMPROVAÇÃO. Nahipótese dos autos, o Ministério Público (MP) estadual interpôs recurso de apelação paraimpugnar sentença homologatória de acordo firmado entre as partes – uma delas, incapaz –em ação expropriatória da qual não participou como custus legis. Nesse contexto, aTurma entendeu que a ausência de intimação do Parquet, por si só, não enseja adecretação de nulidade do julgado, sendo necessária a efetiva demonstração de prejuízopara as partes ou para a apuração da verdade substancial da controvérsia jurídica, segundoo princípio pas de nullités sans grief. Ressaltou-se que, mesmo nas hipóteses emque a intervenção do Parquet é obrigatória, como no caso, visto que envolve interesse deincapaz, seria necessária a demonstração de prejuízo para reconhecer a nulidadeprocessual. Na espécie, o MP não demonstrou ou mesmo aventou a ocorrência de algumprejuízo que legitimasse sua intervenção. Consignou-se, ademais, que, no caso, cuidou-se dedesapropriação por utilidade pública, em que apenas se discutiam os critérios a seremutilizados para fixação do montante indenizatório, valores, inclusive, aceitos pelosexpropriados, não se tratando de desapropriação que envolvesse interesse público para oqual o legislador tenha obrigado a intervenção do MP. Assim, não havendo interesse públicoque indique a necessidade de intervenção do Ministério Público, como na espécie, aintervenção do Parquet não se mostra obrigatória a ponto de gerar nulidade insanável.Precedentes citados do STF: RE 96.899-ES, DJ 5/9/1986; RE 91.643-ES, DJ 2/5/1980; do STJ:REsp 1.010.521-PE, DJe 9/11/2010, e REsp 814.479-RS, DJe 14/12/2010. REsp 818.978-ES,Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 9/8/2011. (Informativonº 480 do STJ).13 Contudo, é preciso registrar que a jurisprudência parece, porvezes, vacilante. Em situação envolvendo idosos, apesar do espíritoda Lei nº 10.741/03, os Tribunais Superiores vem limitando alegitimidade do M.P. Por outro lado, em se tratando de menor compretensão alimentícia, reforça-se a regra do art. 201, inciso III doECA, apesar da possível colidência com a norma inscrita no art. 129,inciso IX da Carta de 1988, como se pode ver dos precedentes adiantereferidos: BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. IDOSA. INTERVENÇÃO. MP. Discute-se no REsp aobrigatoriedade de intervenção do Ministério Público (MP) em processos em que idososcapazes sejam parte e postulem direito individual disponível. Nos autos, a autora, que figuraapenas como parte interessada no REsp, contando mais de 65 anos, ajuizou ação contra oInstituto Nacional do Seguro Social (INSS) para ver reconhecido exercício de atividade ruralno período de 7/11/1946 a 31/3/1986. A sentença julgou improcedente o pedido e o TJmanteve esse entendimento. Sucede que, antes do julgamento da apelação, o MPF(recorrente), em parecer, requereu preliminar de anulação do processo a partir da sentençapor falta de intimação e intervenção do Parquet ao argumento de ela ser, na hipótese,

um prazo para o membro do Ministério Público se

manifestar nos autos, seja como parte, seja como fiscal

da lei. O seu correspondente no atual CPC é o art. 84,

que trata apenas dos casos em que a intervenção da

instituição é obrigatória, sob pena de nulidade, sem

qualquer menção a um prazo para manifestação.

O Relatório Parcial da Câmara altera a redação da

parte final deste art. 158, ao fazer referência ao art.

106, que, por sua vez, foi alterado para substituir o

sistema da "vista pessoal" pelo da "intimação pessoal".

obrigatória, o que foi negado pelo TJ. Daí o REsp do MPF, em que alega ofensa aos arts. 84do CPC e 75 da Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso). Destacou o Min. Relator que, no casodos autos, não se discute a legitimidade do MPF para propor ação civil pública em matériaprevidenciária; essa legitimidade, inclusive, já foi reconhecida pelo STF e pelo STJ. Explica, naespécie, não ser possível a intervenção do MPF só porque a parte autora é idosa, pois ela édotada de capacidade civil, não se encontra em situação de risco e está representada poradvogado que interpôs os recursos cabíveis. Ressalta ainda que o direito à previdência socialenvolve direitos disponíveis dos segurados. Dessa forma, não se trata de direito individualindisponível, de grande relevância social ou de comprovada situação de risco a justificar aintervenção do MPF. Diante do exposto, a Turma negou provimento ao recurso. REsp1.235.375-PR, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em12/4/2011. (Informativo STJ 469). ALIMENTOS. LEGITIMIDADE. MP. O menor quenecessita dos alimentos em questão reside com sua genitora em comarca não provida dedefensoria pública. Contudo, é certo que o MP tem legitimidade para propor ações dealimentos em favor de criança ou adolescente, independentemente da situação em que seencontra ou mesmo se há representação por tutores ou genitores (art. 201, III, da Lei n.8.069/1990 – ECA). Já o art. 141 desse mesmo diploma legal é expresso ao garantir o acessoda criança ou adolescente à defensoria, ao MP e ao Judiciário, o que leva à conclusão de queo MP, se não ajuizasse a ação, descumpriria uma de suas funções institucionais (a curadoriada infância e juventude). Anote-se que a Lei de Alimentos aceita a postulação verbal pelaprópria parte, por termo ou advogado constituído nos autos (art. 3º, § 1º, da Lei n.5.478/1968), o que demonstra a preocupação do legislador em garantir aos necessitados avia judiciária. A legitimação do MP, na hipótese, também decorre do direito fundamental deacesso ao Judiciário (art. 5º, LXXIV, da CF/1988) ou mesmo do disposto no art. 201 do ECA,pois, ao admitir legitimação de terceiros para as ações cíveis em defesa dos direitos dosinfantes, reafirma a legitimidade do MP para a proposição dessas mesmas medidas judiciais,quanto mais se vistas as incumbências dadas ao parquet pelo art. 127 da CF/1988. Aalegação sobre a indisponibilidade do direito aos alimentos não toma relevo, visto não setratar de interesses meramente patrimoniais, mas, sim, de direito fundamental de extremaimportância. Precedentes citados: REsp 510.969-PR, DJ 6/3/2006, e RHC3.716-PR, DJ 15/8/1994. REsp 1.113.590-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,julgado em 24/8/2010. (Informativo STJ nº 444).

Nesse sentido, o parágrafo único que deve ser

inserido neste art. 106 determina que "a intimação pessoal far-

se-á por carga, remessa ou meio eletrônico" e a justificativa

apontada para esta mudança é que a vista pessoal cria um

privilégio exagerado e contribui para a demora no

processamento.

O Projeto parece estar preocupado que essa

atuação do M.P. não traga prejuízo à parte, atribuindo

sim a necessidade de sua intervenção, mas com a fixação

de prazo: a prerrogativa do prazo em dobro, que começa a

contar da sua intimação pessoal. É mais uma medida do

código para conferir celeridade ao processo, evitando-se

demoras sem qualquer fundamento para manifestação e, se a

manifestação não ocorrer no prazo previsto, os autos

terão andamento, sem que possa ser alegada nulidade

processual.

Por fim, o art. 159 repete a previsão do art. 85

do atual CPC, trazendo as hipóteses de responsabilidade

do membro do Parquet, quando agir com dolo ou fraude no

exercício de suas funções.

O Relatório da Câmara acrescentou o termo

"regressivamente", esclarecendo importante questão que

havia ficado obscura na redação anterior. Com efeito, em

sede constitucional, o art. 37, § 6º estabelece que a

responsabilidade civil do funcionário público é

regressiva14.14 “Responsabilidade objetiva do Estado por atos do Ministério Público (...). A legitimidadepassiva é da pessoa jurídica de direito público para arcar com a sucumbência de açãopromovida pelo Ministério Público na defesa de interesse do ente estatal. É assegurado odireito de regresso na hipótese de se verificar a incidência de dolo ou culpa do preposto, que

4.2 Dispositivos específicos

Passaremos a examinar, a partir de agora, alguns

dispositivos que regulam a atividade do M.P. no Projeto

do Novo CPC e que se encontram dispersos ao longo do

texto. Novamente utilizaremos os quadros comparativos

para tornar mais clara a abordagem. Na coluna da esquerda

estará a redação do PL 8046, ao passo que na da direita a

redação proposta pelo Relatório Parcial da Câmara dos

Deputados.

a) Arguição de incompetência relativa pelo MP.

Art. 65. Prorrogar-se-á a

competência relativa, se o

réu não alegar a

incompetência em

preliminar de contestação.

Parágrafo único. A

incompetência relativa

poderá ser suscitada pelo

Ministério Público nas

causas em que atuar como

parte ou como

interveniente.

Art. 65. Prorrogar-se-á a

competência relativa, se o

réu não alegar a

incompetência em

preliminar de contestação.

Parágrafo único. A

incompetência relativa

poderá ser suscitada pelo

Ministério Público, nas

causas em que atuar.

Não há grande alteração entre as duas redações. A

Justificativa apresentada pela Câmara foi apenas no

sentido de um aprimoramento do texto. Contudo, o

atua em nome do Estado.” (AI 552.366-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 6-10-2009, Segunda Turma, DJE de 29-10-2009.) Vide: RE 551.156-AgR, Rel.Min. Ellen Gracie, julgamento em 10-3-2009, Segunda Turma, DJE de 3-4-2009.

dispositivo é de grande relevância institucional, pois

esta era uma das questões tormentosa quanto aos limites

da intervenção do MP.

Com a nova regra, fica claro que o M.P. pode

suscitar ambas as formas de incompetência, e

independentemente da modalidade de sua participação no

processo (ou como parte e fiscal da lei, ou apenas como

fiscal da lei). Obviamente, intervindo como custos legis, não

ofertará contestação e, nesse caso, a incompetência

deverá ser suscitada em sua manifestação (cota ou

parecer).

Apesar da redação do dispositivo, uma

controvérsia certamente surgirá em breve. E se o Promotor

não suscita em sua primeira manifestação? Haveria também,

aqui, a ocorrência da prorrogação da competência,

fazendo-se uma interpretação sistemática com a regra do

caput? Arrisco uma resposta afirmativa, eis que o

parágrafo único que cuida da participação do M.P. está

diretamente ligado ao que está determinado na cabeça do

artigo.

Mas poderíamos, ainda, ir mais longe. E se a

hipótese é de incompetência relativa, o réu não alega na

contestação, e o MP a enfrenta em sua primeira

manifestação, assim que tem vista dos autos?

Por questão de coerência, penso que deve o juiz

acolher a promoção do MP e determinar a remessa dos autos

ao juízo competente, eis que a Comissão de Juristas, ao

permitir que o Promotor "custos legis" suscite tal

questão, acabou criando hipótese de legitimação

concorrente. Assim, a inércia de um legitimado não deve

impedir que a providência seja efetivada por outro, a

menos que haja exceção no texto legal, o que não me

parece ser o caso.

c) Curadoria Especial e Intervenção do M.P.

Art. 72. O juiz nomeará

curador especial:

I - ao incapaz, se não

tiver representante legal

ou se os interesses deste

colidirem com os daquele;

II - ao réu preso, bem

como ao revel citado por

edital ou com hora certa.

Parágrafo único. A função

de curador especial será

exercida pela Defensoria

Pública, salvo se não

houver defensor público na

comarca ou subseção

judiciária, hipótese em

que o juiz nomeará

advogado para desempenhar

Art. 72. O juiz nomeará

curador especial:

I - ao incapaz, se não

tiver representante legal

ou se os interesses deste

colidirem com os daquele,

enquanto durar a

incapacidade;

II - ao réu preso revel,

bem como ao réu revel

citado por edital ou com

hora certa, enquanto não

for constituído advogado.

§ 1º A função de curador

especial será exercida

pela Defensoria Pública,

salvo se não houver

defensor público na

comarca ou subseção

judiciária, hipótese em

que o juiz nomeará

aquela função.

Sem correspondente

advogado para desempenhar

aquela função.

§ 2º Nas causas em que o

Ministério Público atuar

como substituto processual

do incapaz, não se nomeará

curador especial para o

substituído.

O art. 72 trata da curadoria especial e

corresponde ao atual art. 9º do CPC. Não há diferença

quanto às hipóteses de cabimento, sendo certo que o

Relatório da Câmara criou limites para as hipóteses dos

dois incisos (“enquanto durar a incapacidade”, no inciso

I, e “enquanto não for constituído advogado”, no inciso

II)., mas há uma definição sobre quem deve exercer esse

papel, no parágrafo único do art. 72.

Como cediço, o curador especial é uma figura

suis generis que intervém no feito a pedido do juiz, para

garantir os princípios da ampla defesa e do contraditório

sempre que, por conta de determinados incidentes

processuais, uma das partes fica em situação de

inferioridade. É um corolário da igualdade no sentido

material e que se manifesta apenas nas estritas hipóteses

previstas pelo Código.

Pela nova redação do parágrafo único do art.

72, a curadoria especial deve ser exercida por defensor

público ou por advogado dativo, na ausência do primeiro.

Este dispositivo está em consonância com o art. 4º,

inciso XVI da Lei Complementar no 80/94, com redação dada

pela Lei Complementar no 132/09.

Numa primeira leitura, parece não haver

qualquer dificuldade na compreensão e interpretação deste

dispositivo. Ocorre que, na prática, algumas questões têm

surgido, sobretudo nos casos em que a Defensoria Pública

requer sua intervenção no feito, invocando condição de

curador especial, mesmo quando a hipótese não está

expressamente prevista no art. 9º do CPC, e o M.P. já

está intervindo no feito regularmente.

Isso tem ocorrido, recentemente, em alguns

procedimentos na área da infância e juventude no Estado

do Rio de Janeiro, o que tem provocado algumas

consequências processuais danosas às partes.

Nesse sentido, é preciso que fique claro que as

hipóteses de curadoria especial são exaustivas, e

dependem, necessariamente, de provocação judicial. Não

custa lembrar que o processo envolve apenas as partes

interessadas. Terceiros e outras figuras vêm ao processo

apenas em hipóteses pré-definidas pelo legislador,

cabendo ao juiz avaliar a sua aplicabilidade ao caso

concreto.

Nem mesmo o Ministério Público, diante de seu

gigante papel constitucional, pode intervir

aleatoriamente em qualquer feito, sob pena de desvirtuar

o modelo legal e causar um desequilíbrio naquela demanda.

Imagine o caos que se instalaria se o M.P.

resolvesse intervir em determinados processos, sob o

pretexto da ampliação do alcance da expressão interesse

público contida no inciso III deste dispositivo.

De se notar, ainda, que a curadoria especial

não é uma forma de intervenção de terceiros, e muito

menos se assemelha à assistência prevista do art. 50 do

Código. E ainda que se buscasse uma eventual

interpretação analógica, seria necessário demonstrar

interesse jurídico no feito e obter a concordância do

assistido, demonstrando que sua intervenção é positiva,

ou seja, vai contribuir para a melhoria da qualidade da

prestação jurisdicional, e não gerar confusão, incidentes

desnecessários e uma superposição de papeis

constitucionais que devem ser mantidos separados.

Ao contrário do que pode parecer inicialmente,

neste caso, o fato de haver duas instituições tutelando o

mesmo interesse não significa uma proteção maior. Isto

porque o processo é algo complexo por natureza.  Quanto

mais pessoas são integradas à relação processual, mais

atos são necessários, e maior é a quantidade de recursos,

providências e incidentes cabíveis.

O abuso do instituto leva, portanto, à

interferências indevidas, quer na seara da advocacia

privada, quer no âmbito de atuação do Ministério Público.

Não se pode esquecer que o art. 134 da

Constituição desenha as atribuições da Defensoria Pública

de forma a não colidir e muito menos invadir a esfera de

atribuições das demais instituições.

É recente a discussão sobre a legitimidade da

Defensoria Pública para as ações coletivas, fruto da Lei

no 11448/07. A extensão dessa legitimidade permaneceu

controversa durante dois anos, tendo dado azo, inclusive,

a propositura de uma ADIN no STF. A questão só foi

pacificada com a LC 132/09, que no art. 4º, incisos VII e

VIII, limitou o uso dos processos coletivos às hipóteses

do art. 5º, inciso LXXIV da Constituição da República,

observado o interesse de grupo de pessoas

hipossuficientes15.

Talvez seja a hora de se amadurecer a

necessidade de um mecanismo que recoloque a curadoria

especial dentro dos limites buscados originalmente pelo

legislador, pois, caso tais práticas continuem, o abuso

da curadoria especial, ao invés de contribuir para a

efetivação de um processo justo, levará à embates

institucionais e prejudicará, justamente, aquele que se

pretendia, inicialmente, auxiliar.

15 Para maiores informações sobre essa questão, remetemos o leitor aPINHO. Humberto Dalla Bernardina de. A Legitimidade da Defensoria Pública paraa propositura de ações civis públicas, in Revista de Direito da DefensoriaPública do Estado do Rio de Janeiro, vol. 22, 2007, pp.137/154.

Na linha do que está sendo ponderado aqui, o

Relatório16 parcial da Câmara insere o § 2° no art. 72 do

Projeto, resolvendo a controvérsia.

Ainda no mesmo sentido, colhemos precedente do STJ17

de março de 2012, que examina a questão com clareza e

precisão.

d) Despesas de atos requeridos pelo M.P. e prova

pericial

Art. 93. As despesas dos Art. 93. As despesas dos

16 A Justificativa apresentada no relatório é a seguinte: “Adesnecessidade da nomeação do curador especial nessas hipóteses está no fato de que oMinistério Público é a parte no processo é já possui atribuição constitucional para a tutelados direitos do incapaz. A nomeação de curador especial seria desnecessária e inútil. Alacuna legislativa sobre essa questão vem afetando inúmeros processos, com nítidosprejuízos para a tutela de crianças e adolescentes, tendo havido edição de enunciadosjurisprudenciais pelos Tribunais de Justiça dos Estados do Rio Grande do Sul e do Rio deJaneiro, estando a matéria sob apreciação do Superior Tribunal de Justiça, com decisõesmajoritárias no sentido da proposta ora formulada”.17 DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. AÇÃO AJUIZADA PELO MP. DEFENSORIA PÚBLICA.INTERVENÇÃO. A Turma firmou entendimento de que é desnecessária a intervenção daDefensoria Pública como curadora especial do menor na ação de destituição de poderfamiliar ajuizada pelo Ministério Público. Na espécie, considerou-se inexistir prejuízo aosmenores apto a justificar a nomeação de curador especial. Segundo se observou, a proteçãodos direitos da criança e do adolescente é uma das funções institucionais do MP, consoanteprevisto nos arts. 201 a 205 do ECA. Cabe ao referido órgão promover e acompanhar oprocedimento de destituição do poder familiar, atuando o representante do Parquet comoautor, na qualidade de substituto processual, sem prejuízo do seu papel como fiscal da lei.Dessa forma, promovida a ação no exclusivo interesse do menor, é despicienda aparticipação de outro órgão para defender exatamente o mesmo interesse pelo qual zela oautor da ação. Destacou-se, ademais, que não há sequer respaldo legal para a nomeação decurador especial no rito prescrito pelo ECA para ação de destituição. De outra parte,asseverou-se que, nos termos do disposto no art. 9º do CPC, na mesma linha do parágrafoúnico do art. 142 do ECA, as hipóteses taxativas de nomeação de curador especial ao incapazsó seriam possíveis se ele não tivesse representante legal ou se colidentes seus interesses comos daquele, o que não se verifica no caso dos autos. Sustentou-se, ainda, que a naturezajurídica do curador especial não é a de substituto processual, mas a de legitimadoexcepcionalmente para atuar na defesa daqueles a quem é chamado a representar.Observou-se, por fim, que a pretendida intervenção causaria o retardamento do feito,prejudicando os menores, justamente aqueles a quem se pretende proteger. Precedentecitado: Ag 1.369.745-RJ, DJe 13/12/2011. REsp 1.176.512-RJ, Rel. Min.Maria Isabel Gallotti, julgado em 1º/3/2012. (Informativo STJ 492).

atos processuais efetuados

a requerimento da Fazenda

Pública serão pagas ao

final pelo vencido, exceto

as despesas periciais, que

deverão ser pagas de plano

por aquele que requerer a

prova.

atos processuais efetuados

a requerimento do

Ministério Público ou da

Fazenda Pública serão

pagas ao final pelo

vencido, exceto as

despesas periciais, que

deverão ser pagas de plano

por aquele que requerer a

prova.

O Ministério Público foi inserido no art. 93

agora no Relatório da Câmara e, segundo a justificativa

que consta do texto, trata-se de sugestão encaminhada

pelo Ministério da Justiça e pela Casa Civil.

O dispositivo precisa ser esclarecido a fim de

se especificar quem vai arcar com as despesas das

diligências requeridas pelo MP se ao final este ficar

vencido nas ações por ele promovidas. Ou seja, será

necessário criar uma dotação orçamentária própria para o

M.P. ou o Estado arca com esse custo?

No caso da prova pericial, sobretudo nas ações

coletivas, me parece que tal exigência vai fazer com que

o M.P. se aparelhe e especialize cada vez mais,

contratando por concurso público um corpo técnico e

pericial de excelência, de modo a não ter que se sujeitar

ao pagamento de pesados honorários periciais.

Ou, como já ocorre em alguns casos, o M.P. já

instrui a inicial com um laudo pericial assinado por um

dos membros de seu corpo técnico. Ocorre que, nesses

casos, a parte contrária certamente arguirá que a prova

foi produzida sem a observância do contraditório.

Mesmo assim, me parece que o juiz pode admitir

a prova pericial pré processual, ainda que como prova

documental, cabendo a parte interessada, se assim

desejar, requerer e pagar antecipadamente a prova

pericial.

e) Impedimento e suspeição do Membro do M.P.

Art. 128. Aplicam-se

também os motivos de

impedimento e de

suspeição:

I - ao membro do

Ministério Público, quando

atuar na condição de

fiscal da ordem jurídica;

Art. 128. Aplicam-se

também os motivos de

impedimento e de

suspeição:

I - ao membro do

Ministério Público;

Realmente, nesse ponto, assiste integral razão ao

Relatório parcial da Câmara. É cada vez maior o número de

casos nos quais o M.P. ajuíza a ação, ao passo que as

hipóteses de intervenção vem sendo reduzidas, como vimos

acima, nos exatos termos da Recomendação do CNMP.

Nesse sentido, não seria mesmo razoável

restringir os casos de suspeição às hipóteses de

intervenção, deixando sem qualquer tipo de controle de

imparcialidade toda o leque de causas de atuação do

Parquet.

Como bem ressalta a justificativa do Relatório,

há muito as leis orgânicas do Ministério Público já

tratam da matéria (art. 43, VII, da Lei n. 8.625/1993 e

arts. 236, VI, e 238 da Lei Complementar nº 75/1993), de

forma que a redação do PL 8046 significaria verdadeiro

retrocesso.

f) Prazo para manifestação do M.P.

Art. 191. Transcorrido o

prazo, extingue-se,

independentemente de

declaração judicial, o

direito de praticar ou

emendar o ato processual,

ficando assegurado,

porém, à parte provar que

o não realizou por justa

causa.

Sem alteração

§ 1° Considera-se justa

causa o evento alheio à

vontade da parte e que a

impediu de praticar o ato

por si ou por mandatário.

Sem alteração

§ 2° Verificada a justa

causa, o juiz permitirá à

Sem alteração

parte a prática do ato no

prazo que lhe assinar.§ 3° O disposto no caput

se aplica ao Ministério

Público inclusive quando

atuar como fiscal da

ordem jurídica.

Suprimido

Mantendo consonância com a supressão do prazo

de 30 dias que antes constava do caput do art. 156, agora

o § 3° do art. 191 desaparece, reforçando a ideia de que

não há razão para prever preclusão temporal para a

manifestação do Ministério Público na condição de fiscal

da ordem jurídica.

g) Nulidade pela falta de intervenção do M.P.

Art. 254. É nulo o processo

quando o membro do

Ministério Público não for

intimado a acompanhar o

feito em que deva intervir.

§ 1º Se o processo tiver

tramitado sem conhecimento

do membro do Ministério

Público, o juiz o anulará a

partir do momento em que ele

deveria ter sido intimado.

Art. 254. É nulo o processo

quando o membro do

Ministério Público não for

intimado a acompanhar o

feito em que deva intervir.

§ 1º Se o processo tiver

tramitado sem conhecimento

do membro do Ministério

Público, o juiz o anulará a

partir do momento em que ele

deveria ter sido intimado.

§ 2º A nulidade só pode ser

decretada após a oitiva do

Ministério Público, que se

manifestará sobre a

existência ou a inexistência

de prejuízo.

Sem correspondente

§ 2º A nulidade só pode ser

decretada após a intimação

do Ministério Público, que

se manifestará sobre a

existência ou a inexistência

de prejuízo.

§3.º A falta de intimação de

membro do Ministério Público

que atue no primeiro grau

poderá ser suprida pela

intervenção de seu membro

que atue no segundo grau.

Embora o art. 246 do atual CPC (correspondente

do art. 254 do Projeto) sempre tenha sido usado para

ilustra hipótese de nulidade absoluta, a jurisprudência

há muito vinha relativizando o vício, exigindo a

demonstração efetiva de prejuízo para o reconhecimento do

vício.

Agora parece que o texto do Projeto vai

prestigiar o entendimento dos Tribunais; não só o M.P.

deverá ser intimado a fim de que se manifeste sobre

eventual prejuízo advindo de sua não intervenção no

passado, como o texto do § 3°, inserido pelo Relatório

parcial prevê a possibilidade de suprimento do vício pela

manifestação de seu próprio órgão que atua em sede

recursal.

De certa forma, o dispositivo é coerente.

Embora caiba ao M.P. decidir em que hipóteses deve

intervir (art. 26, inciso VIII da Lei nº 8.625/93),

parece realmente um exagero criar uma presunção absoluta

de que a falta de intervenção gera, automaticamente e por

si só, vício que contamina todo o ato e demanda a sua

anulação, sem possiblidade de sanatória.

O dispositivo também vem ao encontro da ideia,

já referida anteriormente, de se reduzir as hipóteses de

intervenção do Ministério Público nos processos cíveis.

h) Contestação por negativa geral e M.P.

Art. 329. Incumbe também ao

réu manifestar-se

precisamente sobre os fatos

narrados na petição

inicial, presumindo-se

verdadeiros os não

impugnados, salvo se:

(...)

II - a petição inicial não

estiver acompanhada do

instrumento público que a

lei considerar da

substância do ato;

Parágrafo único. O ônus da

impugnação especificada dos

Art. 329. Incumbe também ao

réu manifestar-se

precisamente sobre as

alegações de fato

constantes da petição

inicial, presumindo-se

verdadeiras as não

impugnadas, salvo se:

(...)

II - a petição inicial não

estiver acompanhada do

instrumento que a lei

considerar da substância do

ato;

Parágrafo único. O ônus da

fatos não se aplica ao

defensor público, ao

advogado dativo, ao curador

especial e ao membro do

Ministério Público.

impugnação especificada dos

fatos não se aplica ao

curador especial e ao

advogado dativo.

Além de eliminar a restrição a instrumentos

públicos e excluir os defensores públicos (salvo quando

age como curador especial) do rol de instituições

dispensadas do ônus da impugnação específica dos fatos, o

inciso II do art. 329 suprime a referência ao M.P..

A alteração vem em boa hora. Desde a Carta de

1988, a função de realizar a defesa de outros órgãos

deixou de ser pertinente às funções do M.P. (art. 129,

inciso IX)18.

5. Considerações Finais.

Nesse momento final de nossa reflexão, não

obstante as inovações técnicas propostas e comentadas,

gostaria de chamar a atenção para a questão da18 Assim dispõe o texto da justificativa do Relatório parcial: “Por suavez, a menção ao Ministério Público, se se justificava em 1973, não se justifica mais. Naquelaépoca, ao Ministério Público cabia, em certas situações, a defesa de pessoas em estado dehipossuficiência, atribuição hoje cometida à Defensoria Pública. O Ministério Público poderia,por exemplo, promover a defesa do interditando (CPC, art. 1.182, § 1o; CC-1916, art. 449). Oatual perfil constitucional do Ministério Público é incompatível com tal tipo de atuação, poisa ele cabe a legitimidade para a defesa de interesses da coletividade. O parágrafo único doartigo 329 do PL nº 8.046, de 2010, ao reproduzir o parágrafo único do artigo 302 do atualCPC, refere-se ao Ministério Público como representante do réu, inserindo-o na mesmacondição do curador especial e do advogado dativo. Se o Ministério Público for réu – como,por exemplo, numa ação rescisória contra sentença proferida em processo por elepromovido – terá de observar ônus da impugnação especificada dos fatos. (...) De igualmodo, a exceção aberta no parágrafo único do artigo 329 do PL nº 8.046, de 2010, não devemais ser aplicada ao membro do Ministério Público, exatamente porque este não atua maisna defesa de outras pessoas que figurem no polo passivo da demanda, tal como fazia em1973. Não há, assim, razão para a manutenção da referência ao defensor público, nem aomembro do Ministério Público.”

racionalização da intervenção do Ministério Público nos

feitos cíveis.

Sem querer repetir tudo o que já foi dito

nas linhas acima, e ao mesmo tempo, sem pretender esgotar

o assunto, tenho para mim que este é o ponto central da

questão.

Se, de um lado, se fala na necessidade de

trabalhar com filtros ao Acesso à Justiça, de se

sumarizar a tutela, sobretudo nos casos de demandas

repetitivas, de se criar precedentes de observância

obrigatória e de se limitar o acesso aos Tribunais

Superiores, também no âmbito do Ministério Públicos deve

haver o amadurecimento das reais prioridades da

instituição, sempre tendo em vista a mais ampla proteção

ao interesse público.

Em tempos de neoconstitucionalismo e pós

modernidade as instituições tem que rever seus próprios

alicerces, se reinventar, auscultar a opinião pública,

discutir aberta, pública e amplamente sua natureza e

função, e, por fim, orientar a sua atuação para o futuro.

Num passado positivista, com instituições

estatais imponentes e sujeitas a pouco controle, e ainda

com a sociedade civil desorganizada e fraca, realmente

era necessário ter um Ministério Público com amplo

espectro de intervenções em feitos cíveis. Se a regra era

a observância estrita do texto legal, por certo

deveríamos ter um órgão que fiscalizasse se todas as leis

estavam sendo devidamente cumpridas.

Nos dias atuais, contudo, observa-se que as

próprias estruturas governamentais já tem se

reestruturado, por bem ou por mal. Temos conselhos de

fiscalização, ouvidorias, instâncias administrativas e

judiciais de controle, e a opinião pública tem cada vez

mais vez e voz.

Ainda sim, é certo que ainda há muito a ser

feito, e nosso ordenamento ainda precisa de um fiscal.

Contudo, parece haver um consenso, tanto dentro

como fora do Ministério Público, que neste momento a

sociedade precisa mais de um órgão agente do que de um

interveniente. Há maior demanda de ações a serem tomadas

do que simplesmente de uma postura fiscalizatória do que

já está sob o crivo do Judiciário.

Se ainda há tanto a se fazer nas áreas do meio

ambiente, consumidor, improbidade administrativa, crime

organizado, infância e juventude, idosos, portadores de

deficiências e violência doméstica, o caminho é a

racionalização das funções interventivas a fim de

possamos nos focar nos pontos em que os direitos de

primeira e segunda dimensão ainda não estão

suficientemente protegidos.

Desse modo, o Projeto do CPC mantém, com alguns

pequenos ajustes, a regra genérica da intervenção do

M.P., mas não especifica, a fundo, as hipóteses.

Bem andou o legislador, pois esta matéria não é

afeta ao objeto do Projeto. Ao mesmo tempo, essa opção

legislativa preserva a independência funcional da

Instituição, eis que cabe ao CNMP, ouvidos todos os

órgãos de classe (como aliás tem sido feito), disciplinar

de forma minudente tais situações.

Mesmo assim, o ato normativo expedido pelo CNMP

não deve ser dotado de caráter vinculativo, vez que

impende respeitar a independência funcional individual de

cada Membro. Os membros, por sua vez, num primeiro

momento devem seguir a orientação do CNMP, prestigiando o

Princípio da Unidade. Contudo, caso verifiquem que,

naquele caso concreto, diante de uma situação peculiar,

devem adotar outra postura, poderão tranquilamente fazê-

lo.

6. Bibliografia.

1.ARAGÃO, Moniz de. Comentários ao Código de Processo

Civil, volume II, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense, 1998.

2.BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A Justiça no Limiar do

Novo Século. In Temas de Direito Processual, Quarta Série,

São Paulo: Saraiva, 1994.

3.CALAMANDREI, Piero. Eles, os Juízes, Vistos por nós, os

Advogados, 7ª edição, Lisboa: Livraria Clássica Editora,

1992.

4.CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. O Ministério Público

no Processo Civil e Penal - Promotor Natural - Atribuição e Conflito, Rio de

Janeiro: Forense, 1995.

5.___________. A Atuação do Ministério Público na Área Cível,

Rio de Janeiro: Forense, 1996.

6.FERRAZ, Antonio Augusto Mello de Camargo

(Coordenador). Ministério Público - Instituição e Processo, São Paulo:

Atlas, 1997.

7.FERREIRA, Sérgio de Andréa. Princípios Institucionais

do Ministério Público. Rio de Janeiro: s/ editora,1996.

8.GRECO, Leonardo. Instituições de Direito

Processual Civil, volume I, Rio de Janeiro: Forense,

2009.

9.MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. A intervenção do

Ministério Público no processo civil brasileiro. 2ª ed. São Paulo:

Saraiva, 1998.

10. MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria Geral do

Processo, 2ª ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2007.

11. MAZZILLI, Hugo Nigro. Funções Institucionais do

Ministério Público, São Paulo: Associação Paulista do

Ministério Público, 1991.

12. _________. O Acesso à Justiça e o Ministério Público,

São Paulo: Saraiva, 1998.

13. PACHECO, José da Silva. Evolução do Processo

Civil Brasileiro, 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1998.

14. PINHO. Humberto Dalla Bernardina de.

Direito Processual Civil Contemporâneo, vol. 1, Rio de Janeiro:

Saraiva, 2012.

15. _____. Princípios Institucionais do Ministério Público

– Legislação Compilada, 4ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,

2007.

16. ____. A Legitimidade da Defensoria Pública para a

propositura de ações civis públicas, in Revista de Direito da

Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, vol. 22,

2007, pp.137/154.

17. _____. A Importância da Atuação Extrajudicial do

Ministério Público na Tutela do Interesse Coletivo. In Boletim

Informativo MP em ação, ano 1, nº 3, p. 04, novembro de

2000, editado pelo Centro de Estudos Jurídicos do

Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.

18. ______. Comentários ao novo CPC postados

no blog http://humbertodalla.blogspot.com, acesso em

abril de 2012.

19. ______. Aula ministrada na FEMPERJ –

Fundação Escola do Ministério Público do Estado do Rio de

Janeiro, em abril de 2012, disponível em

http://facebook.com/humberto.dalla, acesso em 10 de junho

de 2012.

20. ROCHA. Clóvis Paulo da. O Ministério Público

como Órgão Agente e como Órgão Interveniente no Processo Civil, in

Revista do Ministério Público da Guanabara, vol. 17,

1973.

21. SAUWEN FILHO, João Francisco. Ministério

Público Brasileiro e o Estado Democrático de Direito, Rio de Janeiro:

Renovar, 1998.

22. SILVA, Ovídio Batista da. GOMES, Fabio

Luiz. Teoria Geral do Processo Civil. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 1997.

23. VIGILAR, José Marcelo Menezes. MACEDO

JUNIOR, Ronaldo Porto (organizadores). Ministério Público II –

Democracia, São Paulo: Atlas, 1999.

24. ZANON, Nicolò. Pubblico Ministero e Costituzione,

Milano: Cedam, 1996.