A FEIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROJETO DO NOVO CPC
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A FEIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROJETO DO NOVO CPC
Humberto Dalla Bernardina de PinhoProfessor da UERJ e da UNESA.
Promotor de Justiça no RJ
RESUMO: O texto aborda o perfil do Ministério Público no
Projeto do Novo CPC, e examina não só as diferentes
versões do Projeto já apresentadas, como também empreende
análise comparativa com o ordenamento em vigor, além de
identificar as principais questões teóricas e o
posicionamento mais recente dos Tribunais Superiores
sobre a matéria.
PALAVRAS-CHAVE: MINISTÉRIO PÚBLICO. PROJETO. NOVO. CPC.
PERFIL.
SUMÁRIO: 1. Considerações iniciais. 2. Perfil
Constitucional do Ministério Público. 3. O Ministério
Público no CPC de 1973. 4. O Ministério Público no
Projeto do Novo CPC. 4.1. Dispositivos genéricos. 4.2.
Dispositivos específicos. 5. Considerações Finais. 6.
Bibliografia.
1. Considerações Iniciais.
Neste texto vamos examinar os
dispositivos do Projeto do Novo CPC que tratam do
Ministério Público.
A fim de estabelecer a delimitação objetiva da
abordagem, optamos por estudar apenas os artigos que se
encontram na Parte Geral do Projeto, dividindo a
abordagem quanto aos artigos genéricos, ou seja, os que
estão inseridos no capítulo do Ministério Público, e aos
específicos, assim entendidos aqueles que fazem parte de
outros capítulos e que tratam de uma função peculiar do
M.P..
Utilizamos como documento base o Projeto de Lei
8046/10 e traçamos quadros comparativos com a legislação
atual e as diferentes versões do Novo CPC.
Nesse passo, abordaremos as questões que nos
parecem mais controversas e que foram recebendo
tratamento diverso desde a primeira versão do Projeto
(PLS 166/10), passando pelo Substitutivo n° 1 do Senado
(elaborado sob a Coordenação do Sen. Valter Pereira),
pelo referido PL 8046/10 e chegando, finalmente, ao
relatório tornado público pelo então Relator, Dep. Sergio
Barradas, hoje substituído pelo Dep. Paulo Teixeira. No
momento em que este texto estava sendo concluído, ainda
não havia sido apresentado o relatório final da Câmara
dos Deputados, razão pela qual foi utilizado o relatório
do então Dep. Barradas, sempre em perspectiva comparada
com as versões anteriores e com o texto do atual CPC1.
Incidentalmente, apresentaremos algumas questões
doutrinárias e indicaremos a posição dos Tribunais sobre1 Em meados de julho, chegou a nosso conhecimento a compilação frutodo trabalho das Relatorias Parciais e da Comissão de Juristas queassessorou a Câmara dos Deputados. No que se refere ao MinistérioPúblico e ao texto ora apresentado, não há alterações significativas,salvo a renumeração dos artigos, razão pela qual optamos por manterno corpo desse ensaio as referências ao chamado Relatório Barradas.
as mesmas.
2. Perfil Constitucional do Ministério Público
O texto constitucional contempla a organização do
Ministério Público na Seção I (Do Ministério Público) do
Capítulo IV (Das Funções Essenciais à Justiça) do Título
IV (Da Organização dos Poderes).
O art. 127 assim dispõe:
“Art. 127 – O Ministério Público é instituição permanente, essencialà função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa daordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais eindividuais indisponíveis”;
Primeiramente, devemos observar que, conforme a
própria definição dada pelo legislador, o Ministério
Público é uma Instituição. Não tem personalidade
jurídica, embora seja dotado de legitimidade para propor
medidas administrativas e judiciais.
É oportuno salientar que o art. 127, caput, se
subdivide em duas partes: uma, correspondente ao conceito
da Instituição e outra, aos seus objetivos funcionais ou
institucionais.
No tocante à primeira parte, ou seja, o con-
ceito, devem ser feitas algumas observações.
Quando o art. 127 da Constituição da
República de 1988 utiliza a expressão “instituição permanente”,
cria uma cláusula pétrea, que não pode ser suprimida pelo
poder constituinte derivado (art. 60, §4º, da Carta).
Já no concernente à expressão “essencial”, sig-
nifica dizer que, nas hipóteses em que sua intervenção
for obrigatória, se o mesmo não for chamado, será caso de
nulidade absoluta do processo (art. 246 do Código de
Processo Civil), isto é, não poderá haver jurisdição
válida.2
A atuação do Ministério Público como custos
legis, ou seja, fiscal da lei, encontra assento constitu-
cional neste referido artigo que faz menção à defesa da
ordem jurídica. Já a atuação do Parquet em todos os pro-
cessos de natureza eleitoral está fundamentada na defesa
do regime democrático, também contido nesse dispositivo.
A participação3 do Ministério Público pode se
dar de duas formas no processo: através de sua atuação ou
por meio de sua intervenção. A participação seria, por-
tanto, gênero que comportaria em si duas espécies. Fala-
se em atuação quando o M.P. age como parte no processo
promovendo a ação. A intervenção refere-se às hipóteses
em que o Ministério Público funciona como fiscal da lei,
como custos legis em uma ação que foi proposta por outrem.
Modernamente vem se entendendo que, mesmo
nas hipóteses em que o Ministério Público participa do
processo como parte, ele também o faz como fiscal da lei.
A participação do M.P. como parte não acarreta a impossi-
2 Neste sentido, vide decisão expressa no Resp 186.006-PE, QuintaTurma, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 28/09/1999. (Informativonº 34 do STJ), disponível na Internet no seguinte endereço:http://www.stj.gov.br. Contudo, com será demonstrado abaixo, aJurisprudência vem atenuando esse rigor, devendo a essencialidade sercompreendida hoje, primordialmente a partir das funções do M.P. comoparte, tanto na esfera cível como na criminal.3 Posição originalmente sustentada por ROCHA. Clóvis Paulo da. OMinistério Público como Órgão Agente e como Órgão Interveniente no Processo Civil, inRevista do Ministério Público da Guanabara, vol. 17, 1973, pp. 03/14.
bilidade de, simultaneamente, agir o Parquet como fiscal
da lei.
Hoje, portanto, não é mais possível conside-
rar-se qualquer participação do Ministério Público apenas
como parte em um processo. Na verdade, é certo que todas
as vezes em que o Ministério Público atuar como órgão
agente, ele estará atrelado à sua função fiscalizadora,
até mesmo por obediência ao objetivo precípuo que lhe é
atribuído pelo art. 127, caput, da Constituição Federal4.
No art. 127, §1º, da Carta Magna estão elen-
cados os princípios institucionais do Ministério Público:
princípios da unidade, da indivisibilidade e da indepen-
dência funcional.
Prever, como princípio institucional, o
princípio da unidade, também chamado de princípio da coe-
são vertical, significa dizer que o Ministério Público é
uno. Em outras palavras, trata-se de uma instituição
única, abstratamente considerada, na qual os seus membros
oficiam nos processos em nome da instituição a que são
ligados, conforme a Teoria do Órgão, já mencionada ante-
riormente.
O princípio da indivisibilidade ou princípio
da coesão horizontal é decorrência lógica do princípio da
unidade e consiste na possibilidade de os membros da ins-
tituição se substituírem sem que haja prejuízo para a
mesma ou para a sociedade.
O terceiro e último princípio institucional
4 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Direito Processual Civil Contemporâneo,vol. 1, Rio de Janeiro: Saraiva, 2012, p. 329.
é o da independência funcional. Segundo este, os membros
do Parquet têm que atuar apenas de acordo com dois parâme-
tros: a lei e sua consciência.
É importante salientar a conclusão de que,
em virtude de tal princípio, estamos diante de agentes
políticos, pois só estes gozam de independência funcio-
nal.
3. O Ministério Público no CPC de 1973
Vista a amplitude das normas constitucionais
relativas ao Ministério Público, passa-se a examinar -
alguns dispositivos alocados no Código de Processo Civil.
No desempenho de suas funções, pode o M.P. atuar
como parte ou como fiscal da correta aplicação da lei,
embora essa função fiscalizatória sempre tenha despertado
algum desconforto na doutrina especializada5.5 Nesse passo, Calamandrei, já em sua época, advertia: “Mas no processocivil, em que normalmente a legitimação para acionar e para contradizer compete aosparticulares, é mais difícil definir qual possa ser a posição do Ministério Público como partepública colocada também, e não com exclusão, das partes privadas, às quais estãoreservadas neste processo as posições primárias e predominantes. Não obstante, seolharmos bem, a razão primordial em virtude da qual em certos casos introduz a lei oMinistério Público como parte pública no processo civil, não é distinta daquela pela qual nosordenamentos penais o sistema da acusação privada tem cedido inteiramente o terreno aoda acusação – função do Ministério Público no processo civil – pública exercitada peloMinistério Público; efetivamente como a substituição da ação pública à ação privada noprocesso penal tem sido sugerida pelo interesse público em que a observância das normasde direito penal não se remeta à iniciativa dos particulares nem se deixe a mercê de seusinteresses individuais, assim no processo civil a participação do Ministério Público tem afinalidade de suprir a não iniciativa das partes privadas ou de controlar sua eficiência,sempre que, pela especial natureza das relações controvertidas, possa temer o Estado que oestímulo do interesse individual, ao qual está normalmente encomendado o ofício de darimpulso à justiça civil, possa ou faltar totalmente ou se dirigir a fins distintos do daobservância da lei. Tanto no processo penal como no civil, então, a presença do MinistérioPúblico responde em substância a um interesse público da mesma natureza: fazer que,frente aos órgãos julgadores que para manter intata sua imparcialidade e, pelo tanto, suaindiferença inicial, não podem menos de ser institucionalmente inertes, se despregue emforma correspondente aos fins públicos da justiça a função estimuladora das partes”.
Em regra, no processo civil, seus membros atuarão
como fiscais da lei6 nas hipóteses do art. 82 do CPC:
“Art. 82 – Compete ao Ministério Público intervir:I – nas causas em que há interesses de incapazes;II – nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder,tutela, curatela, interdição, casamento, declaração de ausência edisposições de última vontade;III – nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terrarural e nas demais causas em que há interesse público evidenciadopela natureza da lide ou qualidade da parte”.
Nos termos do art. 83, intervindo como fiscal da
lei, o Ministério Público:
a)terá vista dos autos depois das partes, sendo
intimado de todos os atos do processo;
b)poderá juntar documentos e certidões, produzir
prova em audiência e requerer medidas ou diligências
necessárias ao descobrimento da verdade.
(CALAMANDREI, Piero [tradução de Luiz Abezia e Sandra Drina FernandesBarbery]. Direito Processual Civil, São Paulo: BookSeller, 1999, p.335/336). Entretanto, este mesmo autor afirma que o interesse públicoque motiva a intervenção do Ministério Público não é a tutela social,mas sim a tutela da legalidade dentro do ordenamento jurídico, razãopela qual não é ele o titular daquele interesse público,restringindo-se a velar pela sua correta tutela. Daí afirmar, à p.42, “que o Ministério Público é o encarregado de vigiar pela observância do direito objetivoem todos aqueles casos em que a iniciativa dos interessados não é suficiente garantia de ditaobservância: o qual acontece, em geral, em todas as causas sobre relações não disponíveis,mas pode acontecer também, excepcionalmente, em causas a respeito de relaçõesdisponíveis, segundo se vê através do último apartado do art. 70, segundo o qual oMinistério Público pode intervir, não só nas categorias de causas determinadas pela lei,senão em toda outra causa em que ele contemple um interesse público”.6 Conforme o art. 82, CPC, o MP deve intervir obrigatoriamente nosprocessos em que haja interesse de incapaz, nos concernentes ao esta-do da pessoa, poder familiar, curatela, interdição, casamento, decla-ração de ausência, litígios que envolvam posse da terra rural.Todavia esse rol não é taxativo, como se observa pelo disposto noart. 1.105, CPC, que regula os processos de jurisdição voluntária.Mais a frente falaremos mais sobre esse ponto, ao abordar aRecomendação n° 16 do CNMP.
Quando a lei considerar obrigatória a intervenção
do Ministério Público, a parte deve promovê-la, sob pena
de nulidade do processo. Esta é a regra do art. 84 do
CPC, que deve ser combinado com o art. 246 que diz ser
nulo o processo, quando o Ministério Público não for
intimado a acompanhar o feito em que deveria intervir.
Por outro lado, sua atuação como parte ocorrerá
nas hipóteses de ajuizamento da ação, quando a lei assim
o permitir (como no caso da ação civil pública, regula-
mentada pela Lei nº 7.347/85, da ação de investigação de
paternidade, regulamentada pela Lei nº 8.560/92, e tantas
outras mais).
O art. 81 determina que o M.P. exercerá o direito
de ação nos casos previstos em lei, cabendo-lhe os mesmos
poderes e ônus aplicáveis às partes. Assim como os juí-
zes, o membro do M.P. deve observar as regras de impedi-
mento e suspeição, previstas nos art. 134 e 135 do CPC.
O art. 85 dispõe que o órgão do Ministério
Público será civilmente responsável quando, no exercício
de suas funções, proceder com dolo ou fraude. Ademais,
pode o M.P. interpor recurso, mesmo nas causas em que
funcione como fiscal da lei (art. 499, §2º, CPC), ainda
que não haja recurso voluntário das partes (Verbete de
Jurisprudência predominante nº 99 do STJ).
Tem, ainda, legitimidade para ajuizar ação resci-
sória quando não foi ouvido no processo em que sua inter-
venção era obrigatória ou quando a sentença é fruto de
colusão entre as partes com o fim de fraudar a lei (art.
487, inciso III, CPC).
4. O Ministério Público no Projeto do Novo CPC.
O projeto do novo Código de Processo Civil apenas
alterou topograficamente as disposições gerais sobre o
Ministério Público, para tratá-lo em um novo título, após
os auxiliares da Justiça, antes da Defensoria Pública,
já que no código atual seu tratamento era em local
diverso, logo após o título das partes e de seus
procuradores.
Contudo, algumas regras específicas sofreram
grande alteração. Neste item do trabalho, primeiro
abordaremos as disposições genéricas, ou seja aquelas que
se encontram entre os artigos 154 a 159 do Projeto, para,
então, examinar os dispositivos específicos, que se
encontram espalhados pelo texto.
4.1. Dispositivos genéricos
Antes de ingressar nos comentários, apresentamos
um quadro comparativo, contendo as três redações em exame
(CPC atual, PL 8046 e Relatório Parcial da Câmara).
CPC Atual Projeto do NCPC (PL
8.046/2010)
Relatório Parcial
da Câmara (Dep.
Sergio Barradas)
Sem
Art. 154. O
Ministério Público
atuará na defesa da Sem alteração
correspondente ordem jurídica, do
regime democrático e
dos interesses
sociais e
individuais
indisponíveis.Art. 81. O
Ministério
Público
exercerá o
direito de ação
nos casos
previstos em
lei, cabendo-
lhe, no
processo, os
mesmos poderes
e ônus que às
partes.
Art. 155. O
Ministério Público
exercerá, em todos
os graus, o direito
de ação em
conformidade com
suas atribuições
constitucionais.
Sem alteração
Art. 82.
Compete ao
Ministério
Público
intervir:
I - nas causas
em que há
Art. 156. O
Ministério Público
será intimado para,
no prazo de trinta
dias, intervir como
fiscal da ordem
jurídica:
I – nas causas que
Art. 156. O
Ministério Público
será intimado para
intervir como
fiscal da ordem
jurídica:
I – nas causas que
envolvam interesse
interesses de
incapazes;
II - nas causas
concernentes ao
estado da
pessoa, pátrio
poder, tutela,
curatela,
interdição,
casamento,
declaração de
ausência e
disposições de
última vontade;
III - nas ações
que envolvam
litígios
coletivos pela
posse da terra
rural e nas
demais causas
em que há
interesse
público
evidenciado
pela natureza
da lideou
qualidade da
envolvam interesse
público ou interesse
social;
II – nas causas que
envolvam o estado
das pessoas e o
interesse de
incapazes;
III – nas causas que
envolvam litígios
coletivos pela posse
de terra rural;
IV – nas demais
hipóteses previstas
em lei ou na
Constituição da
República.
Parágrafo único. A
participação da
Fazenda Pública não
configura por
si só hipótese de
intervenção do
Ministério Público.
público ou
interesse social;
II - nas causas
que envolvam o
interesse de
incapazes;
III – nas causas
que envolvam
litígios coletivos
pela posse de
terra rural ou
urbana;
IV – nas demais
hipóteses
previstas em lei
ou na Constituição
da República.
Parágrafo único. A
participação da
Fazenda Pública
não configura por
si só hipótese de
intervenção do
Ministério
Público.
parte.Art. 83.
Intervindo como
fiscal da lei,
o Ministério
Público:
I - terá vista
dos autos
depois das
partes, sendo
intimado de
todos os atos
do processo;
II - poderá
juntar
documentos e
certidões,
produzir prova
em audiência e
requerer
medidas ou
diligências
necessárias ao
descobrimento
da verdade.
Art. 157. Nos casos
de intervenção como
fiscal da lei, o
Ministério Público:
I – terá vista dos
autos depois das
partes, sendo
intimado de todos os
atos do processo;
II – poderá juntar
documentos e
certidões, produzir
prova em audiência,
requerer medidas e
recorrer.
Sem alteração
Art. 84. Quando
a lei
Art. 158. O
Ministério Público,
Art. 158. O
Ministério
considerar
obrigatória a
intervenção do
Ministério
Público, a
parte promover-
seja como parte,
seja como fiscal da
lei, gozará de prazo
em dobro para se
manifestar nos
autos, que terá
Público, seja como
parte, seja como
fiscal da ordem
jurídica, gozará
de prazo em dobro
para se manifestar
lhe-á a
intimação sob
pena de
nulidade do
processo.
início a partir da
sua intimação
pessoal mediante
carga ou remessa.
Parágrafo único. Findo o
prazo para
manifestação do
Ministério Público
sem o oferecimento
de parecer, o juiz
requisitará os autos
e lhe dará
andamento.
nos autos, que
terá início a
partir da sua
intimação pessoal,
nos termos do
parágrafo único do
art. 106.
Parágrafo único. Findo
o prazo para
manifestação do
Ministério Público
sem o oferecimento
de parecer, o juiz
requisitará os
autos e lhe dará
andamento.
Art. 85. O
órgão do
Ministério
Público será
civilmente
responsável
quando, no
exercício de
suas funções,
proce-der com
dolo ou fraude.
Art. 159. O membro
do Ministério
Público será
civilmente
responsável quan-do,
no exercício de suas
funções, proceder
com dolo ou fraude.
Art. 159. O membro
do Ministério
Público será civil
e regressivamente
responsá-vel
quando, no
exercício de suas
funções, agir com
dolo ou fraude.
O art. 154 do projeto do novo Código reforça a
dicção do art. 127 da Constituição Federal, enquanto o
art. 155 trata da atuação do Ministério Público em todos
os graus, remetendo ao art. 130 da Constituição ao
afirmar que o direito de ação do Parquet deve ser exercido
de acordo com suas atribuições institucionais.
O art. 156 do projeto trata das hipóteses de
intervenção do M.P. como fiscal da lei que, atualmente,
estão previstas no art. 82 do CPC, destacando, em seu
parágrafo único, que a hipótese de participação da
Fazenda Pública, por si só, não configura hipótese de
intervenção do Ministério Público.
Neste artigo, três considerações são relevantes:
a primeira delas é que o novo código fixa o prazo de
trinta dias para manifestação do M.P. Esta hipótese
atualmente não possui prazo. A fixação do prazo para
instituição se manifestar é importante para evitar a
morosidade dos processos, tentando garantir que a
prestação jurisdicional ainda seja efetiva já que, em
alguns casos, a urgência pode ser tanta que, ao ser
fornecida a prestação jurisdicional, o dano já poderá ter
ocorrido.
O artigo não prevê o que acontecerá após esse
prazo, mas, seguindo-se a tendência do destino da fixação
de prazo, tal como previsto no parágrafo único do art. 12
da Lei nº 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança) e do
próprio parágrafo único de seu art. 158, os autos serão
requisitados pelo juiz e terão andamento normal, sem que
a não intervenção do Ministério Público configure
nulidade, uma vez que foi dada à instituição a
oportunidade de se manifestar, esta que não o fez nos
termos da lei.
Outra questão relevante e até criticável é o
inciso I do art. 156, que dispõe que o Ministério Público
intervirá nos casos de interesse público ou social.
Temos aqui, em verdade, duas questões. A primeira
diz respeito às eventuais discordâncias entre o Juiz e o
Membro do MP quanto à necessidade ou não de intervenção.
A solução que existe hoje, ou seja, interposição de
agravo, não será mais viável no Novo CPC, em razão da
drástica redução das hipóteses de cabimento desse
recurso. Por outro lado, também não parece razoável fazer
uso do mandado de segurança, eis que não estaria
configurado o direito líquido e certo in casu.
Melhor seria, a nosso ver, trazer para o CPC a
solução que já existe hoje nas Leis Orgânicas dos
Ministérios Públicos Estaduais e da União (artigo 26,
inciso VIII da Lei nº 8.625/93, e artigo 6º, inciso XV da
Lei Complementar nº 75/93), nos quais há regra expressa
no sentido de que a intervenção7 deve se dar nos casos em
7 Mesmo aqueles que reconhecem ao Poder Judiciário a titularidadepara aferição da presença ou não do interesse público no casoconcreto, são forçados a concluir no sentido de que “não há meios para secoagir o órgão ministerial a participar, de forma que a sua decisão pela negativa vale comopalavra final quanto à inexistência de interesse público”. (MACHADO, Antônio Cláudioda Costa. A intervenção do Ministério Público no Processo Civil Brasileiro, 2ª edição,São Paulo: Saraiva, p. 389).
que o Membro do M.P. visualizar8 o interesse público.
Mas ainda que adotada tal solução, cairíamos num
segundo problema: a discricionariedade e a independência
funcional de cada Membro fariam com que não houvesse um
padrão, um parâmetro de intervenção, o que geraria
instabilidade e insegurança no exercício das funções do
Ministério Público.
Com efeito, as expressões “interesse público” e
“interesse social” se inserem na tipologia dos conceitos
jurídicos indeterminados. Desta forma, se não houver um
conjunto de diretrizes básicas que orientem
Com efeito, em abril de 2010, o Conselho Nacional
do Ministério Público editou a Recomendação nº 16, com o
objetivo de regular a intervenção do MP no processo
civil9.
8 Moniz de Aragão, em célebre passagem, assenta que “o Juiz ou o Tribunalnão são senhores de fixar a conveniência ou a intensidade e profundidade da atuação doMinistério Público. Este é que mede e a desenvolve. A não ser assim, transformar-se-ia oMinistério Público, de fiscal do Juiz na aplicação da Lei, em fiscalizado dele no que tange àsua própria intervenção fiscalizadora”. (ARAGÃO, Moniz de. Comentários ao Código deProcesso Civil, volume II, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 284).9 CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. RECOMENDAÇÃO n° 16, de 28de abril de 2010, publicada no DJU, seção única, 16.06.2010, p. 08).Dispõe sobre a atuação dos membros do Ministério Público como órgãointerveniente no processo civil. Disponível emhttp://www.cnmp.gov.br, acesso em abril de 2012.
Interessante observar os consideranda10 adotados no
introito do ato administrativo normativo, que apesar de
estabelecer uma série de critérios objetivos, ressalva
que deve ser respeitada a independência funcional dos
membros da Instituição, razão pela qual o ato é expedido
sem efeito vinculativo.
10 “CONSIDERANDO a necessidade de racionalizar a intervenção do Ministério Público noProcesso Civil, notadamente em função da utilidade e efetividade da referida intervenção embenefício dos interesses sociais, coletivos e individuais indisponíveis;CONSIDERANDO a necessidade e, como decorrência, a imperiosidade de (re)orientar aatuação ministerial em respeito à evolução institucional do Ministério Público e ao perfiltraçado pela Constituição da República (artigos 127 e 129), que nitidamente priorizam adefesa de tais interesses na qualidade de órgão agente;CONSIDERANDO a justa expectativa da sociedade de uma eficiente, espontânea e integraldefesa dos mesmos interesses, notadamente os relacionados com a hipossuficiência, aprobidade administrativa, a proteção do patrimônio público e social, a qualidade dosserviços públicos e de relevância pública, a infância e juventude, as pessoas portadoras dedeficiência, os idosos, os consumidores e o meio ambiente;CONSIDERANDO a iterativa jurisprudência dos Tribunais pátrios, inclusive sumuladas, emespecial dos Egrégios Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça;CONSIDERANDO a exclusividade do Ministério Público na identificação do interesse quejustifique a intervenção da Instituição na causa;” (Resolução CNMP nº 16/10)
Nesse sentido, a Recomendação elenca as hipóteses
nas quais, em regra, é desnecessária11 a intervenção do
M.P..
A última consideração deste artigo é que a
intervenção da Fazenda Pública, por si só, não enseja a
intervenção do Ministério Público. A função do M.P. em um11 "Art. 5º. Perfeitamente identificado o objeto da causa e respeitado o princípio daindependência funcional, é desnecessária a intervenção ministerial nas seguintes demandase hipóteses:I - Intervenção do Ministério Público nos procedimentos especiais de jurisdição voluntária;II - Habilitação de casamento, dispensa de proclamas, registro de casamento in articulomortis – nuncupativo, justificações que devam produzir efeitos nas habilitações decasamento, dúvidas no Registro Civil;III – Ação de divórcio ou separação, onde não houver cumulação de ações que envolvaminteresse de menor ou incapaz;IV - Ação declaratória de união estável, onde não houver cumulação de ações que envolvainteresse de menor ou incapaz;V - Ação ordinária de partilha de bens;VI - Ação de alimentos, revisional de alimentos e execução de alimentos fundada no artigo732 do Código de Processo Civil, entre partes capazes;VII - Ação relativa às disposições de última vontade, sem interesse de incapazes, excetuada aaprovação, cumprimento e registro de testamento, ou que envolver reconhecimento depaternidade ou legado de alimentos;VIII - Procedimento de jurisdição voluntária relativa a registro público em que inexistirinteresse de incapazes;IX - Ação previdenciária em que inexistir interesse de incapazes;X - Ação de indenização decorrente de acidente do trabalho;XI - Ação de usucapião de imóvel regularmente registrado, ou de coisa móvel, ressalvadas ashipóteses da Lei n° 10.257, de 10 de julho de 2001;XII - Requerimento de falência ou de recuperação judicial da empresa, antes da decretaçãoou do deferimento do pedido;XIII - Ação de qualquer natureza em que seja parte sociedade de economia mista;XIV - Ação individual em que seja parte sociedade em liquidação extrajudicial;XV - Ação em que for parte a Fazenda ou Poder Público (Estado, Município, Autarquia ouEmpresa Pública), com interesse meramente patrimonial, a exemplo da execução fiscal erespectivos embargos, anulatória de débito fiscal, declaratória em matéria fiscal, repetiçãode indébito, consignação em pagamento, possessória, ordinária de cobrança, indenizatória,anulatória de ato administrativo, embargos de terceiro, despejo, ações cautelares, conflito decompetência e impugnação ao valor da causa;XVI - Ação de desapropriação, direta ou indireta, entre partes capazes, desde que nãoenvolvam terras rurais objeto de litígios possessórios ou que encerrem fins de reformaagrária (art. 18, § 2º, da LC 76/93);XVII - Ação que verse sobre direito individual não-homogêneo de consumidor, sem apresença de incapazes;XVIII - Ação que envolva fundação que caracterize entidade fechada de previdência privada;XIX - Ação em que, no seu curso, cessar a causa de intervenção;
Estado Democrático de Direito não é ser defensor do
erário, mas sim da ordem jurídica, do regime democrático
e dos interesses indisponíveis.
Contudo, como observado no início deste item, o
Relatório parcial apresentado pela Câmara dos Deputados
no mês de abril de 2012, inseriu modificações pontuais no
caput e nos incisos II e III deste artigo 156.
No caput, foi retirado o prazo de 30 dias, e a
justificativa apresentada no texto do Dep. Barradas se
baseia no fato de que a fiscalização exercida pelo M.P.
se dá ao longo de de todo o processo, e não numa única
oportunidade. Desse modo, seria despeciendo fixar um
prazo para tal providência.
No caso do inciso II, foi retirada a expressão
"estado das pessoas". Na mesma linha de raciocínio da
Recomendação do CNMP, o Relator entendeu que não se
justifica a intervenção do MP apenas pelo estado da
pessoas e que isso seria um resquício do ordenamento pré
Constituição de 1988. A circunstância que justificaria a
intervenção do M.P. seria, tão somente, a presença de um
XX - Intervenção em ação civil pública proposta pelo Ministério Público;XXI - Assistência à rescisão de contrato de trabalho;XXII - Intervenção em mandado de segurança."
incapaz12 num dos pólos da relação processual13.
Por fim, no inciso III foi inserida a hipótese de
intervenção quando houver conflito coletivo de terra
urbana
O art. 157 do Projeto repete a previsão do art.
83 do Código atual, enquanto o art. 158 inova ao trazer12 Mesmo nesses casos, o STJ vem atenuando o rigor da sanção do art.246 do CPC quando não há a intervenção no momento próprio. Veja-se,nesse sentido: INCAPAZ. PARQUET. INTERVENÇÃO. PREJUÍZO. COMPROVAÇÃO. Nahipótese dos autos, o Ministério Público (MP) estadual interpôs recurso de apelação paraimpugnar sentença homologatória de acordo firmado entre as partes – uma delas, incapaz –em ação expropriatória da qual não participou como custus legis. Nesse contexto, aTurma entendeu que a ausência de intimação do Parquet, por si só, não enseja adecretação de nulidade do julgado, sendo necessária a efetiva demonstração de prejuízopara as partes ou para a apuração da verdade substancial da controvérsia jurídica, segundoo princípio pas de nullités sans grief. Ressaltou-se que, mesmo nas hipóteses emque a intervenção do Parquet é obrigatória, como no caso, visto que envolve interesse deincapaz, seria necessária a demonstração de prejuízo para reconhecer a nulidadeprocessual. Na espécie, o MP não demonstrou ou mesmo aventou a ocorrência de algumprejuízo que legitimasse sua intervenção. Consignou-se, ademais, que, no caso, cuidou-se dedesapropriação por utilidade pública, em que apenas se discutiam os critérios a seremutilizados para fixação do montante indenizatório, valores, inclusive, aceitos pelosexpropriados, não se tratando de desapropriação que envolvesse interesse público para oqual o legislador tenha obrigado a intervenção do MP. Assim, não havendo interesse públicoque indique a necessidade de intervenção do Ministério Público, como na espécie, aintervenção do Parquet não se mostra obrigatória a ponto de gerar nulidade insanável.Precedentes citados do STF: RE 96.899-ES, DJ 5/9/1986; RE 91.643-ES, DJ 2/5/1980; do STJ:REsp 1.010.521-PE, DJe 9/11/2010, e REsp 814.479-RS, DJe 14/12/2010. REsp 818.978-ES,Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 9/8/2011. (Informativonº 480 do STJ).13 Contudo, é preciso registrar que a jurisprudência parece, porvezes, vacilante. Em situação envolvendo idosos, apesar do espíritoda Lei nº 10.741/03, os Tribunais Superiores vem limitando alegitimidade do M.P. Por outro lado, em se tratando de menor compretensão alimentícia, reforça-se a regra do art. 201, inciso III doECA, apesar da possível colidência com a norma inscrita no art. 129,inciso IX da Carta de 1988, como se pode ver dos precedentes adiantereferidos: BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. IDOSA. INTERVENÇÃO. MP. Discute-se no REsp aobrigatoriedade de intervenção do Ministério Público (MP) em processos em que idososcapazes sejam parte e postulem direito individual disponível. Nos autos, a autora, que figuraapenas como parte interessada no REsp, contando mais de 65 anos, ajuizou ação contra oInstituto Nacional do Seguro Social (INSS) para ver reconhecido exercício de atividade ruralno período de 7/11/1946 a 31/3/1986. A sentença julgou improcedente o pedido e o TJmanteve esse entendimento. Sucede que, antes do julgamento da apelação, o MPF(recorrente), em parecer, requereu preliminar de anulação do processo a partir da sentençapor falta de intimação e intervenção do Parquet ao argumento de ela ser, na hipótese,
um prazo para o membro do Ministério Público se
manifestar nos autos, seja como parte, seja como fiscal
da lei. O seu correspondente no atual CPC é o art. 84,
que trata apenas dos casos em que a intervenção da
instituição é obrigatória, sob pena de nulidade, sem
qualquer menção a um prazo para manifestação.
O Relatório Parcial da Câmara altera a redação da
parte final deste art. 158, ao fazer referência ao art.
106, que, por sua vez, foi alterado para substituir o
sistema da "vista pessoal" pelo da "intimação pessoal".
obrigatória, o que foi negado pelo TJ. Daí o REsp do MPF, em que alega ofensa aos arts. 84do CPC e 75 da Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso). Destacou o Min. Relator que, no casodos autos, não se discute a legitimidade do MPF para propor ação civil pública em matériaprevidenciária; essa legitimidade, inclusive, já foi reconhecida pelo STF e pelo STJ. Explica, naespécie, não ser possível a intervenção do MPF só porque a parte autora é idosa, pois ela édotada de capacidade civil, não se encontra em situação de risco e está representada poradvogado que interpôs os recursos cabíveis. Ressalta ainda que o direito à previdência socialenvolve direitos disponíveis dos segurados. Dessa forma, não se trata de direito individualindisponível, de grande relevância social ou de comprovada situação de risco a justificar aintervenção do MPF. Diante do exposto, a Turma negou provimento ao recurso. REsp1.235.375-PR, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em12/4/2011. (Informativo STJ 469). ALIMENTOS. LEGITIMIDADE. MP. O menor quenecessita dos alimentos em questão reside com sua genitora em comarca não provida dedefensoria pública. Contudo, é certo que o MP tem legitimidade para propor ações dealimentos em favor de criança ou adolescente, independentemente da situação em que seencontra ou mesmo se há representação por tutores ou genitores (art. 201, III, da Lei n.8.069/1990 – ECA). Já o art. 141 desse mesmo diploma legal é expresso ao garantir o acessoda criança ou adolescente à defensoria, ao MP e ao Judiciário, o que leva à conclusão de queo MP, se não ajuizasse a ação, descumpriria uma de suas funções institucionais (a curadoriada infância e juventude). Anote-se que a Lei de Alimentos aceita a postulação verbal pelaprópria parte, por termo ou advogado constituído nos autos (art. 3º, § 1º, da Lei n.5.478/1968), o que demonstra a preocupação do legislador em garantir aos necessitados avia judiciária. A legitimação do MP, na hipótese, também decorre do direito fundamental deacesso ao Judiciário (art. 5º, LXXIV, da CF/1988) ou mesmo do disposto no art. 201 do ECA,pois, ao admitir legitimação de terceiros para as ações cíveis em defesa dos direitos dosinfantes, reafirma a legitimidade do MP para a proposição dessas mesmas medidas judiciais,quanto mais se vistas as incumbências dadas ao parquet pelo art. 127 da CF/1988. Aalegação sobre a indisponibilidade do direito aos alimentos não toma relevo, visto não setratar de interesses meramente patrimoniais, mas, sim, de direito fundamental de extremaimportância. Precedentes citados: REsp 510.969-PR, DJ 6/3/2006, e RHC3.716-PR, DJ 15/8/1994. REsp 1.113.590-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,julgado em 24/8/2010. (Informativo STJ nº 444).
Nesse sentido, o parágrafo único que deve ser
inserido neste art. 106 determina que "a intimação pessoal far-
se-á por carga, remessa ou meio eletrônico" e a justificativa
apontada para esta mudança é que a vista pessoal cria um
privilégio exagerado e contribui para a demora no
processamento.
O Projeto parece estar preocupado que essa
atuação do M.P. não traga prejuízo à parte, atribuindo
sim a necessidade de sua intervenção, mas com a fixação
de prazo: a prerrogativa do prazo em dobro, que começa a
contar da sua intimação pessoal. É mais uma medida do
código para conferir celeridade ao processo, evitando-se
demoras sem qualquer fundamento para manifestação e, se a
manifestação não ocorrer no prazo previsto, os autos
terão andamento, sem que possa ser alegada nulidade
processual.
Por fim, o art. 159 repete a previsão do art. 85
do atual CPC, trazendo as hipóteses de responsabilidade
do membro do Parquet, quando agir com dolo ou fraude no
exercício de suas funções.
O Relatório da Câmara acrescentou o termo
"regressivamente", esclarecendo importante questão que
havia ficado obscura na redação anterior. Com efeito, em
sede constitucional, o art. 37, § 6º estabelece que a
responsabilidade civil do funcionário público é
regressiva14.14 “Responsabilidade objetiva do Estado por atos do Ministério Público (...). A legitimidadepassiva é da pessoa jurídica de direito público para arcar com a sucumbência de açãopromovida pelo Ministério Público na defesa de interesse do ente estatal. É assegurado odireito de regresso na hipótese de se verificar a incidência de dolo ou culpa do preposto, que
4.2 Dispositivos específicos
Passaremos a examinar, a partir de agora, alguns
dispositivos que regulam a atividade do M.P. no Projeto
do Novo CPC e que se encontram dispersos ao longo do
texto. Novamente utilizaremos os quadros comparativos
para tornar mais clara a abordagem. Na coluna da esquerda
estará a redação do PL 8046, ao passo que na da direita a
redação proposta pelo Relatório Parcial da Câmara dos
Deputados.
a) Arguição de incompetência relativa pelo MP.
Art. 65. Prorrogar-se-á a
competência relativa, se o
réu não alegar a
incompetência em
preliminar de contestação.
Parágrafo único. A
incompetência relativa
poderá ser suscitada pelo
Ministério Público nas
causas em que atuar como
parte ou como
interveniente.
Art. 65. Prorrogar-se-á a
competência relativa, se o
réu não alegar a
incompetência em
preliminar de contestação.
Parágrafo único. A
incompetência relativa
poderá ser suscitada pelo
Ministério Público, nas
causas em que atuar.
Não há grande alteração entre as duas redações. A
Justificativa apresentada pela Câmara foi apenas no
sentido de um aprimoramento do texto. Contudo, o
atua em nome do Estado.” (AI 552.366-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 6-10-2009, Segunda Turma, DJE de 29-10-2009.) Vide: RE 551.156-AgR, Rel.Min. Ellen Gracie, julgamento em 10-3-2009, Segunda Turma, DJE de 3-4-2009.
dispositivo é de grande relevância institucional, pois
esta era uma das questões tormentosa quanto aos limites
da intervenção do MP.
Com a nova regra, fica claro que o M.P. pode
suscitar ambas as formas de incompetência, e
independentemente da modalidade de sua participação no
processo (ou como parte e fiscal da lei, ou apenas como
fiscal da lei). Obviamente, intervindo como custos legis, não
ofertará contestação e, nesse caso, a incompetência
deverá ser suscitada em sua manifestação (cota ou
parecer).
Apesar da redação do dispositivo, uma
controvérsia certamente surgirá em breve. E se o Promotor
não suscita em sua primeira manifestação? Haveria também,
aqui, a ocorrência da prorrogação da competência,
fazendo-se uma interpretação sistemática com a regra do
caput? Arrisco uma resposta afirmativa, eis que o
parágrafo único que cuida da participação do M.P. está
diretamente ligado ao que está determinado na cabeça do
artigo.
Mas poderíamos, ainda, ir mais longe. E se a
hipótese é de incompetência relativa, o réu não alega na
contestação, e o MP a enfrenta em sua primeira
manifestação, assim que tem vista dos autos?
Por questão de coerência, penso que deve o juiz
acolher a promoção do MP e determinar a remessa dos autos
ao juízo competente, eis que a Comissão de Juristas, ao
permitir que o Promotor "custos legis" suscite tal
questão, acabou criando hipótese de legitimação
concorrente. Assim, a inércia de um legitimado não deve
impedir que a providência seja efetivada por outro, a
menos que haja exceção no texto legal, o que não me
parece ser o caso.
c) Curadoria Especial e Intervenção do M.P.
Art. 72. O juiz nomeará
curador especial:
I - ao incapaz, se não
tiver representante legal
ou se os interesses deste
colidirem com os daquele;
II - ao réu preso, bem
como ao revel citado por
edital ou com hora certa.
Parágrafo único. A função
de curador especial será
exercida pela Defensoria
Pública, salvo se não
houver defensor público na
comarca ou subseção
judiciária, hipótese em
que o juiz nomeará
advogado para desempenhar
Art. 72. O juiz nomeará
curador especial:
I - ao incapaz, se não
tiver representante legal
ou se os interesses deste
colidirem com os daquele,
enquanto durar a
incapacidade;
II - ao réu preso revel,
bem como ao réu revel
citado por edital ou com
hora certa, enquanto não
for constituído advogado.
§ 1º A função de curador
especial será exercida
pela Defensoria Pública,
salvo se não houver
defensor público na
comarca ou subseção
judiciária, hipótese em
que o juiz nomeará
aquela função.
Sem correspondente
advogado para desempenhar
aquela função.
§ 2º Nas causas em que o
Ministério Público atuar
como substituto processual
do incapaz, não se nomeará
curador especial para o
substituído.
O art. 72 trata da curadoria especial e
corresponde ao atual art. 9º do CPC. Não há diferença
quanto às hipóteses de cabimento, sendo certo que o
Relatório da Câmara criou limites para as hipóteses dos
dois incisos (“enquanto durar a incapacidade”, no inciso
I, e “enquanto não for constituído advogado”, no inciso
II)., mas há uma definição sobre quem deve exercer esse
papel, no parágrafo único do art. 72.
Como cediço, o curador especial é uma figura
suis generis que intervém no feito a pedido do juiz, para
garantir os princípios da ampla defesa e do contraditório
sempre que, por conta de determinados incidentes
processuais, uma das partes fica em situação de
inferioridade. É um corolário da igualdade no sentido
material e que se manifesta apenas nas estritas hipóteses
previstas pelo Código.
Pela nova redação do parágrafo único do art.
72, a curadoria especial deve ser exercida por defensor
público ou por advogado dativo, na ausência do primeiro.
Este dispositivo está em consonância com o art. 4º,
inciso XVI da Lei Complementar no 80/94, com redação dada
pela Lei Complementar no 132/09.
Numa primeira leitura, parece não haver
qualquer dificuldade na compreensão e interpretação deste
dispositivo. Ocorre que, na prática, algumas questões têm
surgido, sobretudo nos casos em que a Defensoria Pública
requer sua intervenção no feito, invocando condição de
curador especial, mesmo quando a hipótese não está
expressamente prevista no art. 9º do CPC, e o M.P. já
está intervindo no feito regularmente.
Isso tem ocorrido, recentemente, em alguns
procedimentos na área da infância e juventude no Estado
do Rio de Janeiro, o que tem provocado algumas
consequências processuais danosas às partes.
Nesse sentido, é preciso que fique claro que as
hipóteses de curadoria especial são exaustivas, e
dependem, necessariamente, de provocação judicial. Não
custa lembrar que o processo envolve apenas as partes
interessadas. Terceiros e outras figuras vêm ao processo
apenas em hipóteses pré-definidas pelo legislador,
cabendo ao juiz avaliar a sua aplicabilidade ao caso
concreto.
Nem mesmo o Ministério Público, diante de seu
gigante papel constitucional, pode intervir
aleatoriamente em qualquer feito, sob pena de desvirtuar
o modelo legal e causar um desequilíbrio naquela demanda.
Imagine o caos que se instalaria se o M.P.
resolvesse intervir em determinados processos, sob o
pretexto da ampliação do alcance da expressão interesse
público contida no inciso III deste dispositivo.
De se notar, ainda, que a curadoria especial
não é uma forma de intervenção de terceiros, e muito
menos se assemelha à assistência prevista do art. 50 do
Código. E ainda que se buscasse uma eventual
interpretação analógica, seria necessário demonstrar
interesse jurídico no feito e obter a concordância do
assistido, demonstrando que sua intervenção é positiva,
ou seja, vai contribuir para a melhoria da qualidade da
prestação jurisdicional, e não gerar confusão, incidentes
desnecessários e uma superposição de papeis
constitucionais que devem ser mantidos separados.
Ao contrário do que pode parecer inicialmente,
neste caso, o fato de haver duas instituições tutelando o
mesmo interesse não significa uma proteção maior. Isto
porque o processo é algo complexo por natureza. Quanto
mais pessoas são integradas à relação processual, mais
atos são necessários, e maior é a quantidade de recursos,
providências e incidentes cabíveis.
O abuso do instituto leva, portanto, à
interferências indevidas, quer na seara da advocacia
privada, quer no âmbito de atuação do Ministério Público.
Não se pode esquecer que o art. 134 da
Constituição desenha as atribuições da Defensoria Pública
de forma a não colidir e muito menos invadir a esfera de
atribuições das demais instituições.
É recente a discussão sobre a legitimidade da
Defensoria Pública para as ações coletivas, fruto da Lei
no 11448/07. A extensão dessa legitimidade permaneceu
controversa durante dois anos, tendo dado azo, inclusive,
a propositura de uma ADIN no STF. A questão só foi
pacificada com a LC 132/09, que no art. 4º, incisos VII e
VIII, limitou o uso dos processos coletivos às hipóteses
do art. 5º, inciso LXXIV da Constituição da República,
observado o interesse de grupo de pessoas
hipossuficientes15.
Talvez seja a hora de se amadurecer a
necessidade de um mecanismo que recoloque a curadoria
especial dentro dos limites buscados originalmente pelo
legislador, pois, caso tais práticas continuem, o abuso
da curadoria especial, ao invés de contribuir para a
efetivação de um processo justo, levará à embates
institucionais e prejudicará, justamente, aquele que se
pretendia, inicialmente, auxiliar.
15 Para maiores informações sobre essa questão, remetemos o leitor aPINHO. Humberto Dalla Bernardina de. A Legitimidade da Defensoria Pública paraa propositura de ações civis públicas, in Revista de Direito da DefensoriaPública do Estado do Rio de Janeiro, vol. 22, 2007, pp.137/154.
Na linha do que está sendo ponderado aqui, o
Relatório16 parcial da Câmara insere o § 2° no art. 72 do
Projeto, resolvendo a controvérsia.
Ainda no mesmo sentido, colhemos precedente do STJ17
de março de 2012, que examina a questão com clareza e
precisão.
d) Despesas de atos requeridos pelo M.P. e prova
pericial
Art. 93. As despesas dos Art. 93. As despesas dos
16 A Justificativa apresentada no relatório é a seguinte: “Adesnecessidade da nomeação do curador especial nessas hipóteses está no fato de que oMinistério Público é a parte no processo é já possui atribuição constitucional para a tutelados direitos do incapaz. A nomeação de curador especial seria desnecessária e inútil. Alacuna legislativa sobre essa questão vem afetando inúmeros processos, com nítidosprejuízos para a tutela de crianças e adolescentes, tendo havido edição de enunciadosjurisprudenciais pelos Tribunais de Justiça dos Estados do Rio Grande do Sul e do Rio deJaneiro, estando a matéria sob apreciação do Superior Tribunal de Justiça, com decisõesmajoritárias no sentido da proposta ora formulada”.17 DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. AÇÃO AJUIZADA PELO MP. DEFENSORIA PÚBLICA.INTERVENÇÃO. A Turma firmou entendimento de que é desnecessária a intervenção daDefensoria Pública como curadora especial do menor na ação de destituição de poderfamiliar ajuizada pelo Ministério Público. Na espécie, considerou-se inexistir prejuízo aosmenores apto a justificar a nomeação de curador especial. Segundo se observou, a proteçãodos direitos da criança e do adolescente é uma das funções institucionais do MP, consoanteprevisto nos arts. 201 a 205 do ECA. Cabe ao referido órgão promover e acompanhar oprocedimento de destituição do poder familiar, atuando o representante do Parquet comoautor, na qualidade de substituto processual, sem prejuízo do seu papel como fiscal da lei.Dessa forma, promovida a ação no exclusivo interesse do menor, é despicienda aparticipação de outro órgão para defender exatamente o mesmo interesse pelo qual zela oautor da ação. Destacou-se, ademais, que não há sequer respaldo legal para a nomeação decurador especial no rito prescrito pelo ECA para ação de destituição. De outra parte,asseverou-se que, nos termos do disposto no art. 9º do CPC, na mesma linha do parágrafoúnico do art. 142 do ECA, as hipóteses taxativas de nomeação de curador especial ao incapazsó seriam possíveis se ele não tivesse representante legal ou se colidentes seus interesses comos daquele, o que não se verifica no caso dos autos. Sustentou-se, ainda, que a naturezajurídica do curador especial não é a de substituto processual, mas a de legitimadoexcepcionalmente para atuar na defesa daqueles a quem é chamado a representar.Observou-se, por fim, que a pretendida intervenção causaria o retardamento do feito,prejudicando os menores, justamente aqueles a quem se pretende proteger. Precedentecitado: Ag 1.369.745-RJ, DJe 13/12/2011. REsp 1.176.512-RJ, Rel. Min.Maria Isabel Gallotti, julgado em 1º/3/2012. (Informativo STJ 492).
atos processuais efetuados
a requerimento da Fazenda
Pública serão pagas ao
final pelo vencido, exceto
as despesas periciais, que
deverão ser pagas de plano
por aquele que requerer a
prova.
atos processuais efetuados
a requerimento do
Ministério Público ou da
Fazenda Pública serão
pagas ao final pelo
vencido, exceto as
despesas periciais, que
deverão ser pagas de plano
por aquele que requerer a
prova.
O Ministério Público foi inserido no art. 93
agora no Relatório da Câmara e, segundo a justificativa
que consta do texto, trata-se de sugestão encaminhada
pelo Ministério da Justiça e pela Casa Civil.
O dispositivo precisa ser esclarecido a fim de
se especificar quem vai arcar com as despesas das
diligências requeridas pelo MP se ao final este ficar
vencido nas ações por ele promovidas. Ou seja, será
necessário criar uma dotação orçamentária própria para o
M.P. ou o Estado arca com esse custo?
No caso da prova pericial, sobretudo nas ações
coletivas, me parece que tal exigência vai fazer com que
o M.P. se aparelhe e especialize cada vez mais,
contratando por concurso público um corpo técnico e
pericial de excelência, de modo a não ter que se sujeitar
ao pagamento de pesados honorários periciais.
Ou, como já ocorre em alguns casos, o M.P. já
instrui a inicial com um laudo pericial assinado por um
dos membros de seu corpo técnico. Ocorre que, nesses
casos, a parte contrária certamente arguirá que a prova
foi produzida sem a observância do contraditório.
Mesmo assim, me parece que o juiz pode admitir
a prova pericial pré processual, ainda que como prova
documental, cabendo a parte interessada, se assim
desejar, requerer e pagar antecipadamente a prova
pericial.
e) Impedimento e suspeição do Membro do M.P.
Art. 128. Aplicam-se
também os motivos de
impedimento e de
suspeição:
I - ao membro do
Ministério Público, quando
atuar na condição de
fiscal da ordem jurídica;
Art. 128. Aplicam-se
também os motivos de
impedimento e de
suspeição:
I - ao membro do
Ministério Público;
Realmente, nesse ponto, assiste integral razão ao
Relatório parcial da Câmara. É cada vez maior o número de
casos nos quais o M.P. ajuíza a ação, ao passo que as
hipóteses de intervenção vem sendo reduzidas, como vimos
acima, nos exatos termos da Recomendação do CNMP.
Nesse sentido, não seria mesmo razoável
restringir os casos de suspeição às hipóteses de
intervenção, deixando sem qualquer tipo de controle de
imparcialidade toda o leque de causas de atuação do
Parquet.
Como bem ressalta a justificativa do Relatório,
há muito as leis orgânicas do Ministério Público já
tratam da matéria (art. 43, VII, da Lei n. 8.625/1993 e
arts. 236, VI, e 238 da Lei Complementar nº 75/1993), de
forma que a redação do PL 8046 significaria verdadeiro
retrocesso.
f) Prazo para manifestação do M.P.
Art. 191. Transcorrido o
prazo, extingue-se,
independentemente de
declaração judicial, o
direito de praticar ou
emendar o ato processual,
ficando assegurado,
porém, à parte provar que
o não realizou por justa
causa.
Sem alteração
§ 1° Considera-se justa
causa o evento alheio à
vontade da parte e que a
impediu de praticar o ato
por si ou por mandatário.
Sem alteração
§ 2° Verificada a justa
causa, o juiz permitirá à
Sem alteração
parte a prática do ato no
prazo que lhe assinar.§ 3° O disposto no caput
se aplica ao Ministério
Público inclusive quando
atuar como fiscal da
ordem jurídica.
Suprimido
Mantendo consonância com a supressão do prazo
de 30 dias que antes constava do caput do art. 156, agora
o § 3° do art. 191 desaparece, reforçando a ideia de que
não há razão para prever preclusão temporal para a
manifestação do Ministério Público na condição de fiscal
da ordem jurídica.
g) Nulidade pela falta de intervenção do M.P.
Art. 254. É nulo o processo
quando o membro do
Ministério Público não for
intimado a acompanhar o
feito em que deva intervir.
§ 1º Se o processo tiver
tramitado sem conhecimento
do membro do Ministério
Público, o juiz o anulará a
partir do momento em que ele
deveria ter sido intimado.
Art. 254. É nulo o processo
quando o membro do
Ministério Público não for
intimado a acompanhar o
feito em que deva intervir.
§ 1º Se o processo tiver
tramitado sem conhecimento
do membro do Ministério
Público, o juiz o anulará a
partir do momento em que ele
deveria ter sido intimado.
§ 2º A nulidade só pode ser
decretada após a oitiva do
Ministério Público, que se
manifestará sobre a
existência ou a inexistência
de prejuízo.
Sem correspondente
§ 2º A nulidade só pode ser
decretada após a intimação
do Ministério Público, que
se manifestará sobre a
existência ou a inexistência
de prejuízo.
§3.º A falta de intimação de
membro do Ministério Público
que atue no primeiro grau
poderá ser suprida pela
intervenção de seu membro
que atue no segundo grau.
Embora o art. 246 do atual CPC (correspondente
do art. 254 do Projeto) sempre tenha sido usado para
ilustra hipótese de nulidade absoluta, a jurisprudência
há muito vinha relativizando o vício, exigindo a
demonstração efetiva de prejuízo para o reconhecimento do
vício.
Agora parece que o texto do Projeto vai
prestigiar o entendimento dos Tribunais; não só o M.P.
deverá ser intimado a fim de que se manifeste sobre
eventual prejuízo advindo de sua não intervenção no
passado, como o texto do § 3°, inserido pelo Relatório
parcial prevê a possibilidade de suprimento do vício pela
manifestação de seu próprio órgão que atua em sede
recursal.
De certa forma, o dispositivo é coerente.
Embora caiba ao M.P. decidir em que hipóteses deve
intervir (art. 26, inciso VIII da Lei nº 8.625/93),
parece realmente um exagero criar uma presunção absoluta
de que a falta de intervenção gera, automaticamente e por
si só, vício que contamina todo o ato e demanda a sua
anulação, sem possiblidade de sanatória.
O dispositivo também vem ao encontro da ideia,
já referida anteriormente, de se reduzir as hipóteses de
intervenção do Ministério Público nos processos cíveis.
h) Contestação por negativa geral e M.P.
Art. 329. Incumbe também ao
réu manifestar-se
precisamente sobre os fatos
narrados na petição
inicial, presumindo-se
verdadeiros os não
impugnados, salvo se:
(...)
II - a petição inicial não
estiver acompanhada do
instrumento público que a
lei considerar da
substância do ato;
Parágrafo único. O ônus da
impugnação especificada dos
Art. 329. Incumbe também ao
réu manifestar-se
precisamente sobre as
alegações de fato
constantes da petição
inicial, presumindo-se
verdadeiras as não
impugnadas, salvo se:
(...)
II - a petição inicial não
estiver acompanhada do
instrumento que a lei
considerar da substância do
ato;
Parágrafo único. O ônus da
fatos não se aplica ao
defensor público, ao
advogado dativo, ao curador
especial e ao membro do
Ministério Público.
impugnação especificada dos
fatos não se aplica ao
curador especial e ao
advogado dativo.
Além de eliminar a restrição a instrumentos
públicos e excluir os defensores públicos (salvo quando
age como curador especial) do rol de instituições
dispensadas do ônus da impugnação específica dos fatos, o
inciso II do art. 329 suprime a referência ao M.P..
A alteração vem em boa hora. Desde a Carta de
1988, a função de realizar a defesa de outros órgãos
deixou de ser pertinente às funções do M.P. (art. 129,
inciso IX)18.
5. Considerações Finais.
Nesse momento final de nossa reflexão, não
obstante as inovações técnicas propostas e comentadas,
gostaria de chamar a atenção para a questão da18 Assim dispõe o texto da justificativa do Relatório parcial: “Por suavez, a menção ao Ministério Público, se se justificava em 1973, não se justifica mais. Naquelaépoca, ao Ministério Público cabia, em certas situações, a defesa de pessoas em estado dehipossuficiência, atribuição hoje cometida à Defensoria Pública. O Ministério Público poderia,por exemplo, promover a defesa do interditando (CPC, art. 1.182, § 1o; CC-1916, art. 449). Oatual perfil constitucional do Ministério Público é incompatível com tal tipo de atuação, poisa ele cabe a legitimidade para a defesa de interesses da coletividade. O parágrafo único doartigo 329 do PL nº 8.046, de 2010, ao reproduzir o parágrafo único do artigo 302 do atualCPC, refere-se ao Ministério Público como representante do réu, inserindo-o na mesmacondição do curador especial e do advogado dativo. Se o Ministério Público for réu – como,por exemplo, numa ação rescisória contra sentença proferida em processo por elepromovido – terá de observar ônus da impugnação especificada dos fatos. (...) De igualmodo, a exceção aberta no parágrafo único do artigo 329 do PL nº 8.046, de 2010, não devemais ser aplicada ao membro do Ministério Público, exatamente porque este não atua maisna defesa de outras pessoas que figurem no polo passivo da demanda, tal como fazia em1973. Não há, assim, razão para a manutenção da referência ao defensor público, nem aomembro do Ministério Público.”
racionalização da intervenção do Ministério Público nos
feitos cíveis.
Sem querer repetir tudo o que já foi dito
nas linhas acima, e ao mesmo tempo, sem pretender esgotar
o assunto, tenho para mim que este é o ponto central da
questão.
Se, de um lado, se fala na necessidade de
trabalhar com filtros ao Acesso à Justiça, de se
sumarizar a tutela, sobretudo nos casos de demandas
repetitivas, de se criar precedentes de observância
obrigatória e de se limitar o acesso aos Tribunais
Superiores, também no âmbito do Ministério Públicos deve
haver o amadurecimento das reais prioridades da
instituição, sempre tendo em vista a mais ampla proteção
ao interesse público.
Em tempos de neoconstitucionalismo e pós
modernidade as instituições tem que rever seus próprios
alicerces, se reinventar, auscultar a opinião pública,
discutir aberta, pública e amplamente sua natureza e
função, e, por fim, orientar a sua atuação para o futuro.
Num passado positivista, com instituições
estatais imponentes e sujeitas a pouco controle, e ainda
com a sociedade civil desorganizada e fraca, realmente
era necessário ter um Ministério Público com amplo
espectro de intervenções em feitos cíveis. Se a regra era
a observância estrita do texto legal, por certo
deveríamos ter um órgão que fiscalizasse se todas as leis
estavam sendo devidamente cumpridas.
Nos dias atuais, contudo, observa-se que as
próprias estruturas governamentais já tem se
reestruturado, por bem ou por mal. Temos conselhos de
fiscalização, ouvidorias, instâncias administrativas e
judiciais de controle, e a opinião pública tem cada vez
mais vez e voz.
Ainda sim, é certo que ainda há muito a ser
feito, e nosso ordenamento ainda precisa de um fiscal.
Contudo, parece haver um consenso, tanto dentro
como fora do Ministério Público, que neste momento a
sociedade precisa mais de um órgão agente do que de um
interveniente. Há maior demanda de ações a serem tomadas
do que simplesmente de uma postura fiscalizatória do que
já está sob o crivo do Judiciário.
Se ainda há tanto a se fazer nas áreas do meio
ambiente, consumidor, improbidade administrativa, crime
organizado, infância e juventude, idosos, portadores de
deficiências e violência doméstica, o caminho é a
racionalização das funções interventivas a fim de
possamos nos focar nos pontos em que os direitos de
primeira e segunda dimensão ainda não estão
suficientemente protegidos.
Desse modo, o Projeto do CPC mantém, com alguns
pequenos ajustes, a regra genérica da intervenção do
M.P., mas não especifica, a fundo, as hipóteses.
Bem andou o legislador, pois esta matéria não é
afeta ao objeto do Projeto. Ao mesmo tempo, essa opção
legislativa preserva a independência funcional da
Instituição, eis que cabe ao CNMP, ouvidos todos os
órgãos de classe (como aliás tem sido feito), disciplinar
de forma minudente tais situações.
Mesmo assim, o ato normativo expedido pelo CNMP
não deve ser dotado de caráter vinculativo, vez que
impende respeitar a independência funcional individual de
cada Membro. Os membros, por sua vez, num primeiro
momento devem seguir a orientação do CNMP, prestigiando o
Princípio da Unidade. Contudo, caso verifiquem que,
naquele caso concreto, diante de uma situação peculiar,
devem adotar outra postura, poderão tranquilamente fazê-
lo.
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Fundação Escola do Ministério Público do Estado do Rio de
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