A investigação-ação em educação e a melhoria da eficácia escolar
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Doutoramento em EducaçãoEspecialidade – Liderança Educacional
UC: Seminário em Investigação-Ação eProblemática de Investigação em Liderança
Educacional - SIA 2015
Artigo
A investigação-ação em educação e amelhoria da eficácia escolar
Trabalhorealizado por
Maria Manuela Baião
julho, 2015
A investigação-ação em educação e a melhoria da eficácia escolar
Resumo (Abstract)
O presente artigo apresenta como objetivo principal
contribuir para a reflexão e debate sobre a relação que é
possível estabelecer entre a liderança educacional, a
investigação-ação e a melhoria da eficácia escolar.
Apresenta-se como um trabalho de natureza teórica onde são
abordadas três temáticas centrais, nomeadamente: o
movimento das escolas eficazes, a investiga-ação e a(s)
liderança(s) nas escolas. Em jeito de síntese final,
apresentam-se algumas considerações que procuram evidenciar
o contributo que a investigação-ação pode dar para a
condução de processos de melhoria das práticas de liderança
e de transformação da escola.
Palavras-chave: eficácia escolar, investigação-ação,
liderança educativa, desenvolvimento qualitativo e
sustentabilidade das escolas
Introdução
1
Na atualidade, é reconhecido por diversos autores que a
investigação-ação assume um papel cada vez mais
significativo no âmbito do desenvolvimento profissional dos
professores e qualitativo da escola, em todas as suas
dimensões. (Arends, 1995, Barros, 2009, Hine & Lavery,
2014, Ioannidou-Koutselini & Patsalidou, 2015, Pires, 2010,
entre outros).
O artigo que apresentamos decorre do estudo efetuado no
Seminário de Investigação-Ação e Problemáticas de
Investigação em Liderança Educacional do Curso de
Doutoramento em Educação da Universidade Aberta de Lisboa.
Para o organizarmos, tomámos as seguintes questões
orientadoras: O que já se sabe sobre processos de
eficiência e eficácia nas escolas? Em que medida pode a
investigação-ação contribuir para uma efetiva
sustentabilidade de boas práticas educativas e de liderança
educacional?
Dada a natureza teórica e finalidade deste trabalho,
apresenta-se estruturado por pontos: no primeiro,
procuramos clarificar os conceitos de eficácia e eficiência
escolar e fazer uma breve abordagem sobre o movimento das
escolas eficazes; em seguida, debruçamo-nos, de forma
sucinta, sobre a investigação-ação como instrumento
potenciador da melhoria da escola e do desenvolvimento
integral dos seus atores; e, por fim, refletimos sobre a
problemática da(s) liderança(s) nas escolas, tendo sempre
como base a perspetiva de diferentes autores. Em jeito de
síntese final, registamos algumas considerações, procurando
2
evidenciar o contributo da investigação-ação para a
melhoria das práticas de liderança e da eficácia escolar.
1. Da eficácia e eficiência escolar: o movimento das
escolas eficazes
A eficácia escolar tem sido objeto de preocupação de
políticos, docentes e investigadores em todo o mundo,
tendo-se verificado um incremento de produção de trabalhos
nesta área a partir de meados do século XX. Deste modo,
observa-se como a sociedade tem procurado compreender e, ao
mesmo tempo, explicar por que há comunidades educativas que
apresentam melhores resultados escolares, enquanto outras,
em condições idênticas, traduzem dificuldades na
concretização da sua missão, enquanto instituições
educativas.
Segundo Torrecilla e Castilla (2011), foi na década de 70
do século XX que surgiu a linha de investigação ligada à
eficácia escolar, apesar de se registar o surgimento de uma
corrente focada nesta problemática, desde os finais do
século XIX.
Importa referir que, na segunda metade século XX, quer na
Europa quer nos Estados Unidos da América, começou a
crescer o interesse pela avaliação das escolas, facto que
levou também à criação/construção de instrumentos para esse
efeito (Dionísio, 2010).
Para Bolívar (2012, p. 17), “a questão central da
investigação tradicional da eficácia da escola foi (…)
explicar as diferenças dos resultados dos alunos, tendo em
3
conta o seu contexto de origem”. Este autor chama a atenção
para a necessidade de se diferenciar dois conceitos: o da
“tradicional melhoria escolar” (School Improvement, Bolívar,
2012, p. 17) e o de “melhoria da eficácia escolar”
(Murillo, 2005, citado por Bolívar, 2012, p. 17). Neste
sentido, assinala que, no âmbito do movimento das escolas
eficazes, é possível identificarmos duas gerações: a
primeira marcou os anos 70 do século XX e focou a sua
atenção na criação de condições internas nas escolas para
favorecer a concretização de mudanças, a resolução de
problemas e o desenvolvimento das organizações escolares; a
segunda emergiu a partir dos últimos anos da década de 80
do século passado e centrou a sua atenção numa abordagem
sobre a “dinâmica da efetividade educativa ou numa melhoria
da eficácia escolar” (Bolivar, 2012, p. 17). No entanto,
desde 1989, reconhece-se que ambos os movimentos
convergiram, tal como afirma Townsend (2007, citado por
Bolívar, 2012).
Já a linha de investigação relacionada com a eficácia
escolar (Torrecilla e Castilla, 2011) apareceu ancorada no
pressuposto de que, identificando os fatores associados às
escolas tidas como eficazes, seria e/ou é possível
operacionalizar transformações nas comunidades educativas.
Deste modo, segunda esta perspetiva, seria viável trabalhar
em prol da promoção da melhoria da qualidade da educação e
do ensino na sociedade e mundo atuais.
Tendo constatado que os termos eficácia e eficiência
escolar são usados, por vezes, como expressões sinónimas,
4
não poderíamos deixar de referir igualmente a sua
conceptualização, com o intuito de contribuirmos para a
clarificação e delimitação de conceitos, uma vez que estes
nos remetem para distintos campos de estudo em educação.
Neste sentido, é de sublinhar que a eficácia escolar está
associada a um “conceito formal e imaterial” (Scheerens,
2004) que tem conduzido à realização de trabalhos de
investigação de cariz pedagógico, focados em processos
educativos que ocorrem e se desenvolvem na escola.
Reconhece-se que a preocupação com a eficácia nas escolas
pode responder à necessidade sentida de concretização dos
princípios da equidade e da justiça social em educação. Já
a eficiência escolar remete-nos para uma conceptualização
relacionada com a produtividade escolar, ou seja, ligada a
aspetos económicos a considerar no campo da educação e do
ensino. (Scheerens, 2004; Torrecilla, 2006; Torrecilla &
Castilla, 2011).
Assim, verificamos que para Scheerens (2000, citado no
Observatório de Melhoria e da Eficácia da Escola, 2010, p.
4) refletir sobre a eficácia de uma escola implica estudar
o “(…) grau em que a Escola consegue resultados constantes
e positivos (embora nem sempre quantificáveis), durante um
determinado período de tempo, em toda a comunidade
educativa”
Torrecilla & Castilla (2011) assinalam que a investigação
sobre a eficácia escolar não pode ser encarada como um
campo homogéneo e fazem notar a diversidade de estudos que
podemos encontrar sobre esta problemática, destacando que
5
estes traduzem perspetivas ideológicas de investigadores
científicos, pragmáticos e humanistas.
Para estes autores, defensores de uma abordagem humanista e
progressista, o movimento das escolas eficazes caracteriza-
se pela atenção dedicada às questões relacionadas
especificamente com a concretização da equidade em todas as
organizações escolares. Neste sentido, estes autores
propõem uma definição de escola eficaz e consideram que
assim se poderá designar toda a organização escolar “(…)
que consigue un desarrollo integral de todos y cada uno de
sus alumnos mayor de lo que sería previsible, teniendo en
cuenta su rendimiento previo y el nivel social, económico y
cultural de las familias (Murillo, 2005: 30, citado por
Torrecilla, F. & Castilla, R., 2011, p. 5). Refletindo
sobre esta conceptualização, constatamos que o valor
acrescentado, a formação integral de todos os alunos e a
defesa da equidade são tomados como os elementos centrais
que caracterizam uma escola eficaz.
A este propósito, Lima (2008) refere também que o valor que
uma escola acrescenta a cada um dos seus alunos,
independentemente dos seus percursos de vida e situações
económico-sociais das famílias, deve ser tomado como o
critério para se avaliar a eficácia de uma instituição
escolar. A posição assumida por este autor aparenta estar
em consonância com as referidas por Murillo (2005),
Torrecilla e Castilla (2011). Não obstante, parece-nos que
Lima (2008) enriquece a abordagem relativa ao “valor
acrescentado” criado pelas e nas escolas, relevando a
6
necessidade de construção de uma escola democrática. Isto
é, uma escola inclusiva, que assegure educação e ensino de
qualidade a todos. Neste sentido, este autor introduz a
expressão escola em melhoria, apresentando-a com o mesmo
valor semântico que escola em crescimento qualitativo.
Por conseguinte, e reconhecendo que “(…) a escola ou
estabelecimento de ensino influenciam a qualidade da
educação prestada(…) (Bolívar, 2012, p. 19), releva-se que
o movimento das escolas eficazes veio tornar viável a luta
contra “o pessimismo sociológico e o determinismo
estrutural e cultural (…)e trouxe uma nova esperança e uma
fonte de auto-estima aos profissionais do ensino, levando-
os a acreditar que são capazes de fazer alguma diferença na
vida dos alunos” (Lima, 2008, p . 420).
Note-se que, no entanto, tem havido alguma preocupação com
a evolução desta corrente ligada ao movimento das escolas
eficazes. Se, por um lado, alguns autores reconhecem que
veio incrementar a atenção dada à avaliação externa e
interna das escolas, bem como sublinhar a importância das
suas dinâmicas internas e do papel do professor para a
melhoria dos processos educativos e dos resultados
escolares, por outro, trouxe questões que exigem o
aprofundamento do debate sobre a educação, o ensino e a
escola de hoje. Neste quadro, há a considerar as
alterações, de vária ordem, que se observam neste mundo
cada vez mais “globalizado” (aspas nossas) e na sociedade
de conhecimento, factos que marcam, sem dúvida, esta época
histórica em que vivemos. Deste modo, torna-se pertinente
7
refletir sobre a educação, o ensino e a formação que se
oferece aos jovens, dada a necessidade urgente de mudanças
significativas em educação, a todos os níveis - do macro ao
micro -, a fim de se criar efetivamente as condições para a
melhoria da escola, ou melhor, a sua transformação.
(Bolívar, 2012; Fullan,2007; Lima, 2008; entre outros).
A este propósito, é de sublinhar que a transformação da
escola exige mudanças nas culturas e clima de trabalho e,
entre outros aspetos, destaca-se a necessidade de se
promover “o trabalho em equipa em torno de um projeto
comum, o desenvolvimento curricular baseado na escola, as
oportunidades de desenvolvimento profissional e formação
baseadas na escola, a assessoria à escola como unidade
básica, etc. (Fullan, 2002, citado por Bolívar, 2012, p.
19). Neste sentido, Moreira e al. (2012, p. 87), recorrendo
a estudos de diferentes autores, apontam igualmente algumas
estratégias que têm sido identificadas como potenciadoras
da melhoria da eficácia da escola, nomeadamente o
“(…)desenvolvimento profissional dos professores (ex.
Reynolds, Hopkins, Potter & Champman, 2001; Reynolds,
Teddlie, Creemers, Scheerens & Townsend, 2001), ênfase
nos processos de ensino/aprendizagem e a existência de
uma estratégia clara da escola orientada para padrões
de excelência (ex. Hopkins, 2001; Reynolds e col.,
2001), liderança adequada dos administradores (ex.
Harris & Muijs, 2003) e professores orientados para a
eficácia educativa (ex. Harris & Muijs, 2002).
8
Em jeito de síntese, parece-nos ser possível referir que,
apesar de existirem inúmeras definições de eficácia
(Scheerens, 2004), o conceito de eficácia escolar deve ser
encarado associado aos resultados obtidos e apresentados
por uma escola, tendo em conta a concretização dos seus
objetivos e metas, nas suas diferentes dimensões. Este é o
tomado por nós neste artigo. Note-se, no entanto, que a
eficiência escolar traduz a consecução desses objetivos com
os menores custos possíveis, isto é, numa escola a
“eficiência é sinónimo da eficácia a custo mínimo”
Scheerens (2004, p. 16).
Assim, falar de escolas eficazes implica não só referir uma
corrente ou movimento que tem evoluído ao longo dos tempos
mas também estudar e analisar as características que as
identificam, tomando-as como eixos estruturantes de toda a
escola que trabalha em prol da sua melhoria (Bolivar, 2012;
Fullan, 2007; Moreira & al., 2012; Sammons, Hillman e
Mortimore, 1995, citados por Lima, 2008; entre outros). Nos
dias de hoje, reconhece-se que as escolas designadas como
eficazes não se podem preocupar apenas com o
desenvolvimento integral de todos os seus atores e da
própria organização escolar; estas devem procurar responder
também, de uma forma mais adequada, à necessidade de
formação dos cidadãos que a sociedade necessita. Isto é,
devem criar condições que contribuam, de forma
significativa, para a formação de indivíduos mais
proactivos, participativos e críticos, ou seja, cidadãos
capazes de saber agir nas diferentes esferas da vida na
9
sociedade, de forma a contribuir efetivamente para o
desenvolvimento contínuo das comunidades a que pertencem e
do mundo atual (Lima, 2008).
No ponto seguinte, iremos abordar a investigação-ação,
procurando estabelecer a relação com a melhoria da eficácia
das escolas, ou seja, da concretização dos seus objetivos e
metas, nas diferentes dimensões.
2. A investigação – ação em educação e o
desenvolvimento da escola e dos seus atores
A atenção dedicada à metodologia de investigação-ação
cresceu, desde os finais do século passado, facto que
ocorreu a par do “(…) aumento do interesse pelas pedagogias
que promovem a criatividade, o pensamento crítico e o
aprender a aprender” (Noffke e Someck, 2010, citados por
Pires, 2010, p. 68).
Para Coutinho et al. (2009), este crescente interesse pela
investigação-ação ocorreu nas últimas décadas porque tem
sido sublinhada a necessidade de realização de mudanças em
educação, dadas as transformações que se vivenciam no mundo
atual.
Considerando a revisão de literatura efetuada sobre esta
problemática, parece-nos ser possível registar, de forma
sintética, que a investigação-ação apresenta as seguintes
características principais: i) é um processo cíclico que se
desenvolve em espiral; ii) operacionaliza-se através de
etapas de planeamento, observação, reflexão, que se
complementam, e são conjugadas com avaliação contínua; iii)
10
exige a implicação, compromisso, envolvimento, participação
e colaboração de todos; iv) permite a procura de respostas
para problemas identificados; v) e, por fim, favorece a
intervenção nas comunidades a que os atores pertencem,
viabilizando a assunção de posições críticas e a promoção
de processos de mudança nesses meios ou ambientes. (Barros,
2009, 2012; Caetano, 2004; Esteves, 2008; Noffke, 2009,
entre outros)
É de relevar que, apesar das limitações que lhe são
reconhecidas e críticas a que tem estado sujeita,
nomeadamente as relacionadas com a validade e generalização
dos seus resultados bem como com a ética e objetividade do
investigador, a investigação-ação (doravante designada IA),
veio permitir, em contexto educacional, responder a
problemas concretos e ultrapassar o “fosso intransponível
existente entre o conhecimento teórico produzido pela
investigação tradicional e as necessidades da prática”
(Máximo-Esteves, 2008, p. 15).
Ioannidou-Koutselini e Patsalidou (2015) assinalam que a IA
deve ser encarada no centro de uma “perspetiva meta-
moderna” da educação. E, neste sentido, evidenciam que
permite criar condições para a promoção de trabalho nas
escolas de forma contextualizada e emancipatória, bem como
para a construção de um saber agir dos professores com
apropriação do sentido da mudança e intencionalidade
pedagógica. Assim, e considerando os resultados dos seus
estudos, entendem a IA como um “instrumento” (aspas nossas)
que pode não só favorecer mas também provocar a mudança de
11
crenças e de práticas pedagógicas dos professores, levando-
os a considerar na sua ação outras perspetivas
educacionais, como a construtivista, “freireana” e “vigotskyana”
de educação. Ou seja, a terem em conta os pressupostos
psicopedagógicos nos processos de ensino e de aprendizagem
da aprendizagem participativa e reflexiva defendida por
Paulo Freire e a encararem a construção e enriquecimento de
conhecimentos como processos que ocorrem nas interações
pessoais que se estabelecem em contextos sociais.
Dada a natureza de “construção social” da IA (Noffke,
2009), revemo-nos na linha de pensamento de diversos
autores que assinalam como mais-valias da IA o facto desta
permitir promover, na realidade, o desenvolvimento da
escola, bem como contribuir para a valorização do
conhecimento profissional dos professores e até da
profissionalidade docente. (Barros, 2012; Coutinho et al,
2009; Noffke, 2009; entre outros). Releva-se que uma das
grandes vantagens reconhecida à investigação-ação em
educação por diversos autores nacionais e estrangeiros é a
de contribuir efetivamente para a construção de escolas
mais eficazes e mais sustentáveis. Neste sentido, permite
que as escolas se tornem melhores organizações aprendentes,
reforçando a sua capacidade de aprender, dada a ênfase
colocada nos processos de questionamento, reflexão e
avaliação contínua em que envolve todos os atores-
investigadores.
Assim, não podemos deixar de referir que acreditamos, tal
como destacam diversos autores, que a IA pode ser encarada
12
como um “poderoso instrumento para reconstruir as práticas
e os discursos”, uma vez que potencia não só a melhoria do
desempenho dos professores, dos processos de ensino e de
aprendizagem dos alunos, mas também a compreensão do
sentido do trabalho escolar e do(s) contexto(s) em que este
ocorre e/ou se desenvolve. (Coutinho et al., 2009, p. 363).
Como se pode inferir a partir do citado anteriormente, a
utilização de procedimentos da IA em educação, como a
reflexão individual, coletiva e colaborativa dos e entre os
professores, proporciona, entre outros aspetos, condições
para a (re)construção de conhecimentos, a “desconstrução”
de mitos e crenças e alteração de representações sobre o
“ofício de professor” (Perrenoud et al, 2001), além de
reforçar as motivações e favorecer a evolução profissional
contínua dos docentes. Assim se entende por que se
considera igualmente que a IA tem um grande impacto no
desenvolvimento das competências autorreguladoras dos
professores, devendo, por isso, ser tida como estratégia de
intervenção, no âmbito da formação contínua e em serviço
dos docentes (Ioannidou-Koutselini & Patsalidou, 2015).
Importa salientar que se reconhece na atualidade, tal como
refere Sanches (2005, p. 131) que“A investigação-acção, com a sua componente reflexiva e
actuante, em função de situações concretas e objectivas, para as
transformar, no sentido de melhorar a qualidade da escola
(Hopkins, 1985), da educação (Ainscow, 2000) e a vida das
pessoas (Bogdan e Biklen, 1994), é uma atitude a desenvolver nos
professores do século XXI, para poderem dar resposta à
diversidade dos seus públicos e aos grandes desafios de uma
13
educação inclusiva, promotora do sucesso de todos e de cada um
(Carta do Luxemburgo, 1996)”
Neste sentido, parece-nos que a IA tem vindo a ser cada vez
mais referenciada, dado que se torna necessário (re)pensar
o crescimento qualitativo e sustentável da escola, em todas
as suas dimensões, tomando-a como “(…) o lugar mais
apropriado para desenvolver melhorias
escolares(…)”(Caetano, 2004, p. 101) e atuar no campo da
formação de professores-investigadores, mais reflexivos e
líderes. Ou seja, a IA contribui para a formação de
docentes mais interventivos e capazes de (re)pensar de
forma crítica os processos de ensino, de aprendizagem e a
escola e a si mesmos, professores capazes também de assumir
atitudes críticas, tomar decisões sustentadas e adequadas
ao seu quotidiano pedagógico, agindo de uma forma mais
consciente, autónoma e responsável na transformação da
comunidade educativa a que pertencem, sem deixarem de ter
presentes também as exigências éticas da sua profissão.
(Barros, 2012; Caetano, 2004; Day, Leithwood, Kenneth,
Sammons & Pam, 2008; Ioannidou-Koutselini & Patsalidou,
2015; Noffke, 2009; Perrenoud et al, 2001; Sanches, 2005;
entre outros).
Em suma, e face ao já referido, parece-nos ser de relevar
que a IA cria condições para uma melhor gestão das
dinâmicas e tensões internas das escolas, incluindo a
gestão de conflitos decorrentes da materialização de
políticas educativas do país, uma vez que “(…) combina o
processo investigativo e a reflexão crítica com a prática
de ensino, tornando esta mais informada, mais sistemática e
14
mais rigorosa” (Moreira, 2001, citada por Sanches, 2005, p.
130). Logo, contribui efetivamente para a melhoria da
eficácia das escolas.
Segundo Day (2001, p.16, citado por Barros, 2009, p. 710),
“a própria natureza do ensino demanda que os professores se
empenhem, ao longo de toda a sua carreira, num processo de
desenvolvimento profissional contínuo que implica uma
aprendizagem permanente e significativa.”. Neste sentido, a
IA também sobressai como estratégia formativa dos docentes,
apresentando-se como uma metodologia que favorece o
desenvolvimento humano e profissional de cada professor,
além de contribuir para o reforço da sua satisfação,
autoconfiança e das relações de colaboração que cada
docente estabelece com os seus pares (Alarcão, 2003, citado
por Barros, 2009; Máximo-Esteves, 2008). Além disso, como
analisaremos em seguida, poderá favorecer a melhoria de
práticas de liderança e, decorrente das mesmas, a da
eficácia das escolas na atualidade.
3. Liderança(s) nas escolas e a melhoria da eficácia
escolar
Na atualidade, a liderança é um tema que “(…) está outra
vez na moda” (Harris, 2003, 125, citado por Perillo, 2008,
p. 189), traduzindo, em grande medida, uma preocupação
dos sistemas educativos. Neste sentido, esta problemática,
além de recorrente, é pertinente no século XXI, uma vez que
vivemos uma época em que a sociedade clama por uma “cultura
de mudança” na escola (Bolívar, 2012; Fullan, 2003). A este
15
propósito, Fullan (2003, p. 14) enfoca que liderar não pode
significar apenas “(…) mobilizar os outros para resolverem
problemas que nós já sabemos como resolver, mas antes
ajudá-los a enfrentar problemas que nunca foram
resolvidos”. Neste sentido, Harris e Lambert (2003:20,
citados por Bolívar, 2012, p. 77) destacam também cinco
pressupostos fundamentais nos quais consideram dever
assentar a nova visão de liderança, nomeadamente:” i) a
liderança não é uma teoria de traços; ii) a liderança
baseia-se na aprendizagem; iii) todos os intervenientes têm
o potencial e o direito de trabalhar como líder; iv) a
liderança é um esforço partilhado e forma a base da
democratização das escolas; e, por fim, v) a liderança
requer distribuição de poder e de autoridade”.
Para Bolívar (2012, p. 47), a melhoria da escola “(…)
requer que os diretores assumam um papel pedagógico nos
estabelecimentos de ensino”, pelo que falar de liderança
significa abordar a “(…) forma de determinar uma direção(…)
e exercer influência.” Assim, e dada a missão da escola, a
liderança educativa ou pedagógica deve traduzir-se, segundo
este autor, na congregação de esforços para se contribuir
para a melhoria dos processos educativos e dos resultados
escolares dos alunos, ou seja, da eficácia escolar.
Perillo (2008), ao analisar a importância da liderança na
escola, refere que esta deve ser encarada como um processo
de "moldagem social" e uma “prática ilimitada” (traduções
nossas). Além disso, salienta a natureza dos processos de
formação da(s) liderança(s) e das suas redes nas escolas e
16
assinala que estes devem ser o foco da nossa atenção. Neste
sentido, assinala que não basta identificar um conjunto
geral de variáveis para se determinar ou prever a(s)
liderança(s) nem a sua eficácia, dada a complexidade da
mesma e diversidade de práticas. Considerando o facto da
liderança educativa nas escolas não estar centrada na
figura do líder, mas sim nos processos que ocorrem em
contextos e espaços físicos diversos, envolvendo pessoas e
artefactos, Perillo (2008) destaca uma conceptualização de
liderança que nos remete para uma atividade realizada em
rede, um processo multidimensional e relacional. Tendo em
conta esta perspetiva, torna-se necessário analisar
relações, padrões de comportamento, ideias, valores e
expectativas que se observam nas escolas, quando se
pretende estudar práticas de liderança vivenciadas por
diferentes atores.
É importante referir que Lambert (2002, 2003, citado por
Perillo, 2008, p. 194) faz notar que a noção de
aprendizagem construtivista pode ser aplicada à liderança
educativa e, a este propósito, destaca que o significado da
liderança, sendo construído e apropriado na prática, pode
ser feito e refeito ao longo do tempo.
Não obstante, registamos que há um corpo bem conhecido de
conhecimentos que posiciona a liderança dentro de um quadro
de mudança cultural (Hargreaves e Bascia 2000; Fullan 2001,
2005; Hargreaves et al. 2001; Hargreaves 2005, citados por
Perillo, p. 193) e aponta a resistência cultural como um
fator que prejudica a eficácia da liderança. Destaca-se que
17
Perillo (2008) faz sobressair também a necessidade de se
criar condições nas escolas para se favorecer a construção
de uma cultura de trabalho colaborativo e cooperativo,
devendo considerar-se igualmente formas colegiais de
trabalho. Deste modo, reconhece-se ser possível assegurar a
geração de cenários promotores de boas práticas de
liderança, ou seja, lideranças capazes de contribuírem
efetivamente para a melhoria da eficácia escolar,
integrando “(…) o sentido de eficácia
colectiva(…)”( Rosinha, A, p. 65).
Também para Day et al. (2008), a liderança educativa
reflete-se nos resultados dos alunos, na melhoria da escola
e na sustentabilidade da sua eficácia. Estes autores
entendem que o diretor de uma escola, enquanto líder
educativo, particularmente em meios desfavorecidos, é o
“Primus” entre os pares, ou seja, o principal responsável
pela condução dos processos de mudança(s) na escola. Além
de associarem a liderança do diretor à eficácia escolar,
assinalam que os líderes educativos necessitam possuir uma
visão da escola como todo. Para estes autores só assim é
possível promover a melhoria da eficácia escolar e a
sustentabilidade de boas práticas educativas, as quais
exigem também a mobilização e envolvimento de todos os
atores da comunidade na vida da organização escolar. Neste
sentido, Day et al (2008) manifestam-se em consonância com
o pensamento de outros autores (Bolívar, 2012; Fullan,
2003, 2007, entre outros).
18
Day et al. (2008) sublinham também que o líder eficaz
exerce influência ao nível da cultura e clima de escola, da
qualidade das práticas de ensino, da mobilização e
envolvimento efetivo dos alunos nos processos de
aprendizagem e na vida escolar, atuando de foram
diferenciada, após diagnósticos previamente realizados.
Para estes investigadores, estas práticas de liderança são
percebidas pelo “staff” como estando focadas nos seguintes
aspetos: i) criação e suporte de culturas de trabalho com
expectativas elevadas; ii) distribuição de
responsabilidades e utilização da prestação de contas; iii)
incentivo e apoio à uma colegialidade sólida; iv) promoção
de boas relações entre e com o “staff” e alunos; v)
estabelecimento de relação entre os comportamentos dos
alunos na escola, na sala de aula e os seus resultados
escolares; e, por fim, vi) o estabelecimento de parcerias e
redes com agentes externos, de modo a trazer mais
benefícios para a instituição escolar e todos os seus
membros.
Deste modo, enfatiza-se a importância atribuída à liderança
distribuída no quadro da melhoria da eficácia escolar, uma
vez que estas práticas de liderança, tal como as
relacionadas com a liderança transformacional, implicam a
mobilização de todos os atores desde a planificação à
operacionalização e avaliação de processos que visam a
melhoria da qualidade da educação e do ensino na escola
(Leithwood et al., 1999, Spillane et al., 2004, citados por
Timperley, 2005, p. 397). Note-se que, no entanto, o termo
19
liderança distribuída é utilizado por diferentes autores
com diferentes significados (Timperley, 2005); por esta
razão, Perillo (2008) faz notar que a sua conceptualização
ainda não está terminada.
Para finalizar este ponto, parece-nos ser de sublinhar que
urge efetivamente refletir e aprofundar o debate sobre a
liderança nas escolas, dada a sua complexidade, bem como a
dos processos de mudança, e o papel crucial que assume na
promoção da melhoria da eficácia escolar e sustentabilidade
de boas práticas educativas. (Fullan, 2003, 2007)
Considerações finais
Ao longo do nosso trabalho procurámos refletir sobre a
problemática da eficácia escolar na atualidade, sublinhando
a necessidade de se promover o desenvolvimento humano e
profissional de todos os professores, incluindo os líderes,
para ser possível criar as condições para a melhoria das
práticas de liderança e da escola de hoje.
Dada a revisão de literatura efetuada, e considerando os
princípios, pressupostos e “gramática” (aspas nossas) da
IA, parece-nos poder referir que esta apresenta-se como uma
metodologia que pode contribuir efetivamente para o
surgimento e/ou reforço de uma cultura profissional focada
no desenvolvimento da qualidade dos processos educativos
que ocorrem e se desenvolvem na escola (Bolívar, 2012,
Ioannidou-Koutselini & Patsalidou, 2015). Neste sentido,
julgamos que a IA favorece a melhoria das práticas de
liderança, tornando-as mais eficazes e eficientes, na
20
medida em que promove o desenvolvimento de uma postura
indagatória e reflexiva dos professores nas comunidades
escolares em que estão inseridos e contribui para a
formação de novos líderes. Se reconhecemos que a IA
permite, a partir da identificação de situações-problema,
fazer a ponte entre a teoria e a prática através de um
processo reflexivo e investigativo, individual e coletivo,
somos levados a admitir também que esta metodologia
contribui para o surgimento e produção de novas formas de
compreensão e de atuação sobre distintas situações e
contextos específicos nas escolas. Além disso, dadas as
suas características, proporciona condições para se
cultivar climas positivos nas escolas, construir e reforçar
culturas de trabalho de colaboração e cooperação, assentes
em relações saudáveis de partilhas e suporte entre todos
(Barros, 2009; Fullan, 2003, 2007; Noffke, 2009).
Ora, se a melhoria da eficácia escolar deve passar, nos
dias de hoje, pela transformação da escola (Lima, 2008),
parece-nos que a IA pode efetivamente contribuir para a
emergência de práticas de liderança mais sustentadas e
desenvolvidas “em rede” (Perillo, 2008), bem como focadas
nas aprendizagens dos alunos (Silva & Lima, 2011). Neste
sentido, parece-nos que poderá possibilitar uma melhor
articulação e concertação de iniciativas, gestão e
organização dos espaços, bem como definição de ações
estratégicas para tornar as escolas mais eficazes. Julgamos
que pode favorecer igualmente o exercício de práticas de
liderança que contribuam para a valorização e realização
21
individual dos professores, reforçando simultaneamente o
sentimento de pertença dos atores educativos em relação
à(s) comunidade(s) em que estão inseridos.
Gostaríamos de destacar que acreditamos que a IA,
contribuindo para a formação de professores mais reflexivos
e críticos, apresenta-se como uma metodologia eficaz para a
emergência da mudança emancipatória de atitudes e da
renovação pedagógica das práticas educativas e dos
professores (Ioannidou-Koutselini & Patsalidou, 2015). Ou
seja, convocar a investigação-ação para a reflexão sobre a
liderança educacional, conduz-nos ao reconhecimento e
valorização do papel dos professores líderes, a diferentes
níveis, e à co-responsabilização coletiva de todos os
atores na promoção do crescimento qualitativo da escola.
Deste modo, estar-se-ia a contribuir para uma efetiva
melhoria do desempenho de cada um e, simultaneamente, da
eficácia das práticas de liderança distribuída, e até
transformacional (Bolívar, 2012; Perrillo, 2008; Timperley,
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