A ação revisional de parcelas já quitadas de contratos bancários

21
A AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATOS E O ADIMPLEMENTO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS Leonard Ziesemer Schmitz 1 Resumo: O presente artigo pretende identificar, na adoção de cláusulas abertas como a função social do contrato e a boa-fé objetiva, as origens do cabimento de ações para rever cláusulas contratuais. A abusividade de cláusulas, em especial em relações de consumo, é também objeto de estudo, para tratar especificamente de contratos de financiamento bancário que possam ser objeto de revisão. Mais detalhadamente, é analisada a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça a respeito de ações que pretendem rever parcelas ou cláusulas já quitadas, ou objeto de novação, ou de confissão de dívida. Por fim, são examinados alguns aspectos processuais das ações revisionais. Palavras-chave: Ação revisional; função social do contrato; cláusulas abusivas; Súmula 286/STJ. Riassunto: Questo articolo cerca individuare, nell'adozione di clausole aperte, come la funzione sociale del contratto e la buona fede oggettiva, le origini del cabimento di azioni revizionali di clausole contrattuali. L'abusività delle clausole, in particolare nelle relazioni di consummo, è anche un oggetto di studio, per affrontare in modo specifico con i contratti di finanziamento bancari che possono essere oggetto di revisione. In particolare, si analizza la giurisprudenza dell Corte Superiore di Giustizia in materia di azioni che intendono rivedere disposizioni adempiute, oppure che sono state oggeto di novazione o riconoscimento di debito. Infine, sono esaminate alcuni aspetti procedurali delle azioni revisionali. Parole chiavi: azione revisionale; funcione sociale del contratto; clausule abusive; “súmula 286/STJ”. Sumário: 1. Notas introdutórias sobre a origem do equilíbrio contratual: as cláusulas abertas 2. O microssistema de equilíbrio contratual no Brasil: a função social do contrato e a boa-fé objetiva 3. A interpretação conjunta dos institutos: a nulidade de cláusulas ilegais ou irrazoáveis 4. O Código de Defesa do Consumidor e as cláusulas abusivas 5. A ação revisional e o cumprimento de cláusulas contratuais 6. Notas conclusivas: alguns aspectos processuais da ação revisional de contratos 7. Bibliografia. 1 Mestrando em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Graduado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Advogado.

Transcript of A ação revisional de parcelas já quitadas de contratos bancários

A AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATOS E O ADIMPLEMENTO DE CLÁUSULAS

CONTRATUAIS

Leonard Ziesemer Schmitz1

Resumo: O presente artigo pretende identificar, na adoção de cláusulas abertas como a função

social do contrato e a boa-fé objetiva, as origens do cabimento de ações para rever cláusulas

contratuais. A abusividade de cláusulas, em especial em relações de consumo, é também objeto

de estudo, para tratar especificamente de contratos de financiamento bancário que possam ser

objeto de revisão. Mais detalhadamente, é analisada a jurisprudência do Superior Tribunal de

Justiça a respeito de ações que pretendem rever parcelas ou cláusulas já quitadas, ou objeto de

novação, ou de confissão de dívida. Por fim, são examinados alguns aspectos processuais das

ações revisionais.

Palavras-chave: Ação revisional; função social do contrato; cláusulas abusivas; Súmula 286/STJ.

Riassunto: Questo articolo cerca individuare, nell'adozione di clausole aperte, come la funzione

sociale del contratto e la buona fede oggettiva, le origini del cabimento di azioni revizionali di

clausole contrattuali. L'abusività delle clausole, in particolare nelle relazioni di consummo, è

anche un oggetto di studio, per affrontare in modo specifico con i contratti di finanziamento

bancari che possono essere oggetto di revisione. In particolare, si analizza la giurisprudenza dell

Corte Superiore di Giustizia in materia di azioni che intendono rivedere disposizioni adempiute,

oppure che sono state oggeto di novazione o riconoscimento di debito. Infine, sono esaminate

alcuni aspetti procedurali delle azioni revisionali.

Parole chiavi: azione revisionale; funcione sociale del contratto; clausule abusive; “súmula

286/STJ”.

Sumário: 1. Notas introdutórias sobre a origem do equilíbrio contratual: as cláusulas abertas – 2. O microssistema

de equilíbrio contratual no Brasil: a função social do contrato e a boa-fé objetiva – 3. A interpretação conjunta dos

institutos: a nulidade de cláusulas ilegais ou irrazoáveis – 4. O Código de Defesa do Consumidor e as cláusulas

abusivas – 5. A ação revisional e o cumprimento de cláusulas contratuais – 6. Notas conclusivas: alguns aspectos

processuais da ação revisional de contratos – 7. Bibliografia.

1 Mestrando em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Graduado

em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Advogado.

1. Notas introdutórias sobre a origem do equilíbrio contratual: As cláusulas abertas

No direito brasileiro contemporâneo, é sabido ser ampla a possibilidade de revisão de

cláusulas contratuais judicialmente. Essa flexibilização das disposições de um contrato é uma

decorrência direta da adoção, pelo Direito Privado, de características antes próprias do Direito

Público. Em última análise, trata-se da influência do direito constitucional sobre as leis civis. A

lição de Caio Mario da Silva Pereira é clara: “Diante da primazia da Constituição Federal os

direitos fundamentais passaram a ser dotados da mesma força cogente nas relações públicas e nas

relações privadas”.2

Especificamente no âmbito do direito contratual, a questão resume-se em reconhecer

que o princípio pacta sund servanda merece ser mitigado em decorrência de outros valores

jurídica e socialmente relevantes. O que importa estabelecer, aqui, é que a origem dessa

possibilidade – de sopesamento entre institutos jurídicos – é a utilização, pelo legislador, de

cláusulas abertas, para inserir no ordenamento textos normativos propositalmente mais

plurívocos que unívocos em sua interpretação.

Historicamente, e dentre as codificações civis modernas, é de reconhecer ao

Burgerlisches GesetzBuch (BGB), o Código Civil alemão de 1900, o pioneirismo nessa técnica

de redação legal. O §242 do BGB assim dispõe:

§242: O devedor deve (está adstrito a) cumprir a prestação tal como o exija a boa-fé,

com consideração pelos costumes do tráfego jurídico.3

O dispositivo do código, no entanto, era ainda fruto da “Jurisprudência dos

Conceitos” (Begriffsjurisprudenz), escola de pensamento equivalente à École de’léxègese

francesa, que vigorou no final do século XIX na Alemanha. Essa “ciência dos Pandectas”,

influenciada em grande parte por Friedrich Carl Von Sagivny e Bernard Windscheid, apostou em

códigos altamente sistemáticos e coerentes, e o conteúdo do direito repousava em raciocínios

2 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. Contratos. Vol.III. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p.

10. 3 No original: “Der Schuldner ist verpflichtet, die Leistung so zu berwirken, wie Treu und Glauben mit Rücksicht

auf die Verkehrssitte es erfordern".

lógico-dedutivos entre conceitos que a própria lei fornecia, partindo do geral para o particular.4 O

juiz, à época, não tinha margem alguma de criação judicial; o ato de julgar era meramente uma

descoberta mecânica, abarcada pelo método pandectista.

Nesse contexto, a boa-fé, que foi notadamente o primeiro conceito indeterminado de

grande relevância do século XX, não ganhou verdadeira força normativa até a edição da “Lei

Fundamental de Bonn” (1949), a Constituição alemã do pós-guerra, que reconheceu a

importância da intromissão de valores no direito e deu ao judiciário um maior poder de, em cada

caso concreto, aferir o conteúdo exato das expressões contidas no texto normativo.

Assim, “dotadas de grande abertura semântica, não pretendem as cláusulas gerais dar

resposta, previamente, a todos os problemas da realidade, uma vez que estas respostas são

progressivamente construídas pela jurisprudência”.5 Essa nova abordagem do direito dinamiza e

modifica os elementos de um texto normativo; a clássica divisão entre suporte fático e preceito,6

nas cláusulas abertas, perde sentido, pois apenas a facticidade e o caso concreto darão completo

significado aos seus termos. Nas palavras de Luigi Mengoni:

“[as cláusulas gerais] são uma técnica de formação judicial da régua a ser aplicar no

caso concreto, sem um modelo de decisão pré-constituído de um suporte fático

normativo abstrato. Nesse sentido, as cláusulas gerais são normas incompletas,

fragmentos de norma: não têm um próprio e autônomo suporte fático, sendo destinadas

a concretizar-se no âmbito dos programas normativos de outras disposições”.7

Em última análise, a inserção de cláusulas gerais acabou por resgatar facticidade (o

“mundo real”) nos termos jurídicos, já que a adoção de disposições dessa natureza abriu espaço

4 É fácil constatar como os nossos Códigos Civil e Penal são, também, fruto dessa concepção teórica. Basta perceber

que, para compreender o que é, por exemplo, uma “doação em contemplação a casamento futuro” (art. 546 do

CC/2002), o intérprete precisa percorrer um caminho lógico entre os conceitos de capacidade civil (art. 1º), negócio

jurídico válido (art. 104), condição suspensiva (arts. 121 e 125), para aí saber o que é doação em sentido amplo (art.

538) e, finalmente, a doação em espécie. O equívoco da Jurisprudência dos Conceitos foi acreditar que esse

raciocínio dedutivo seria suficiente para dar soluções adequadas aos casos concretos. 5 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado. São Paulo: RT, 1999, p. 299.

6 O “suporte fático” de Pontes de Miranda (MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico: plano da

existência. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 74), que equivale à fattispecie dos italianos ou o Tatbestand alemão, é

exatamente a descrição das hipóteses de incidência que fazem com que uma determinada situação seja juridicamente

relevante e se enquadre nos casos concretos correspondentes. 7 No original: “sono una tecnica di formazione giudiziale della regola da applicare al caso concreto, senza un

modello di decisione preconstituito da una fattispecie normativa astratta. In questo senso le clausole generali sono

norme incomplete, frammenti di norme: non hanno una propria autonoma fattispecie, essendo destinate a

concretizzarsi nell’ambito dei programmi normativi di altre disposizioni” (MENGONI, Luigi. Spunti per una teoria

delle clausole generali. In: Quaderni della scuola superiore di studi universitari e di perfezionamento, v. 3. Milano:

Giufrè: 1985, p. 10.)

interpretativo para novas possibilidades de aplicação da lei. Passa-se, assim, a dar real valor à

norma, que é o resultado de um raciocínio jurídico que observa os fatos e os textos normativos

conjuntamente. Assim, “a aplicação [do direito], de modo decisivo, vai além do texto normativo;

não vai, porém, além da norma, cuja normatividade concreta deve justamente ser salientada

apenas para o caso particular”.8

No Brasil, já há algumas décadas notou-se um esforço no sentido de combater a falta

de um equilíbrio objetivo nos contratos. Fala-se, aqui, da função social do contrato, valor que

preza pela igualdade e veda discrepâncias entre os contratantes. Como consequência, o código

civil de 2002 adotou expressamente as cláusulas gerais como técnica legística, tornando mais

complexa e mais rica a interpretação judicial dos contratos. Segundo Teresa Arruda Alvim

Wambier, “a adoção, pelo Código Civil, de cláusulas gerais e de conceitos indeterminados

“incrementou – e em muito – os poderes do magistrado entre nós por causa da sua indisfarçável

necessidade de interpretação-aplicação-criação pelo juiz.”9

O que houve, paradigmaticamente, foi uma reviravolta conceitual inclusive na teoria

e na concepção de Estado de Direito. Isso, porque desde a época pós Revolução Francesa, com o

Code Napoleón (1804), “o indivíduo – contratante – era visto de forma isolada em relação ao

meio em que vivia, de tal sorte que sua vontade, em acordo com a vontade de outro indivíduo,

igualmente visto de forma isolada, era bastante à formação do liame contratual”.10

Historicamente, quando a legislação civil consagrava a “autonomia privada” como

axioma de um liberalismo jurídico, pretendia-se que as declarações de vontade fossem livres

entre os contratantes, prestigiando o individualismo da época. Isso significava, por si só, que os

contratantes eram havidos como iguais entre si, pois gozariam de iguais condições de livremente

expressarem e declararem suas vontades. Em outras palavras:

“esse princípio do pacta sunt servanda, nos quadros do liberalismo, assumia que os

contratantes eram iguais – todos são iguais perante a lei –, e os negócios ou o confronto

dos indivíduos haveria de ocorrer dentro desse espaço amplo de liberdade, pressuposta

sempre a igualdade dos contratantes. Nessa quadra histórica não se cogitava de

contratantes forte e fraco, dado que, por causa da igualdade formal, que permeava os

8 MULLER, Friedrich. Teoria estruturante do direito. São Paulo: RT, 2011, p. 192.

9 “WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recurso especial, recurso extraordinário e ação rescisória. São Paulo: RT,

2008, p. 152/153. 10

NASSER, Paulo Magalhães. Onerosidade excessiva no contrato civil. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 41.

sistemas jurídicos, o legislador assumia que todos eram iguais (formalmente iguais) e

assim os tratava”.11

Essa prevalência da autonomia de vontade foi, gradativamente e a partir do século

XX, sendo limitada por razões de ordem social, através de leis de ordem pública: “O legislador

foi intervindo na ordem jurídica e remodelando, vamos dizer, redefinindo e suprimindo campos

da autonomia privada, em setores que se vieram a revelar críticos; em setores em que uma

autonomia privada ilimitada veio a revelar-se socialmente indesejável”.12

O aspecto liberalista que regia o direito contratual sofreu uma remodelação quase

completa, alvo da invasão do direito constitucional. É com base nesse novo panorama de direito

privado contratual, especialmente após a Constituição de 1988, que se pode afirmar que uma

avença bilateral que desrespeite o equilíbrio apurado pela função social do contrato, ou que

constitua uma violação à boa-fé objetiva por uma das partes, é passível de declaração de

invalidade.

Convém que se passe, agora, a delinear brevemente qual o conteúdo jurídico da

função social do contrato e da boa-fé objetiva, no direito brasileiro.

2. O microssistema de equilíbrio contratual no Brasil: a função social do contrato e a boa-fé

objetiva

O legislador civil do século XX esteve diante do impasse que contrapunha a

necessidade de segurança com as diversas situações de injustiça causadas por uma excessiva

onerosidade a um dos contratantes. Esse problema foi enfrentado, primeiramente, pelo codice

civile italiano (1942),13

ao prever a possibilidade de resolução ou adequação do contrato em

casos de desequilíbrio entre as partes envolvidas:

11

ALVIM, Arruda. A função social dos contratos no novo código civil. In: Revista dos Tribunais, vol. 815,

set/2003, p. 20. 12

Idem, p. 21. 13

No original: “Articolo 1.467: Nei contratti a esecuzione continuata o periodica ovvero a esecuzione differita, se la

prestazione di una delle parti è divenuta eccessivamente onerosa per il verificarsi di avvenimenti straordinari e

imprevedibili, la parte che deve tale prestazione può domandare la risoluzione del contratto [...] La parte contro la

quale è domandata la risoluzione può evitarla offrendo di modificare equamente le condizioni del contratto.”

Artigo 1.467: Nos contratos de execução continuada ou periódica, ou de execução

diferida, se a prestação de uma das partes tornar-se excessivamente onerosa pela

verificação de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, a parte que deve tal

prestação pode requerer a resolução do contrato (...) a parte contra a qual é requerida a

resolução pode evitá-la, oferecendo a modificação equitativa das condições do contrato.

No Brasil, a evolução legislativa apontou no mesmo sentido (basta notar como a

redação do artigo do código italiano é quase idêntica à dos nossos artigos 478 e 479, do

CC/2002).14

Assim, “o princípio da socialidade atua sobre o direito de contratar em

complementaridade com o de eticidade, cuja matriz é a boa-fé, a qual permeia todo o novo

Código Civil”.15

A linguagem de que se utilizou o legislador é permeada por cláusulas gerais,

que carregam consigo núcleos de plurissignificância valorativa, mas cujo preenchimento

demandará necessariamente das circunstâncias do caso concreto.

Dentre estas diretrizes ou conceitos indeterminados está a ideia de que a liberdade de

contratar deve respeitar certos limites objetivos de equilíbrio. O contrato, instrumento de

realização de negócios jurídicos e de circulação de riquezas, perde sua característica de puro

fruto de uma manifestação de vontades, e passa a ser inserido em (ou enxergado a partir de) um

contexto socioeconômico.16

Quer dizer, à luz da Constituição, o contrato precisa ser visto como

um negócio jurídico dentro de um sistema regido por valores maiores, de ordem pública.17

Nessa

perspectiva é que surge o artigo 421, do Código Civil: “A liberdade de contratar será exercida

em razão e nos limites da função social do contrato”.

A interpretação desse instituto implica reconhecer que a teoria dos contratos recebeu

limites que inserem a vontade dos contratantes em um contexto social típico do Estado de Direito

14

Deve-se observar que no caso da onerosidade excessiva, diante de um contrato que nasceu sadio, se sobrevier

desequilíbrio no campo da comutatividade, tornando-o muito oneroso ao devedor e correlatamente favorável ao

credor, tal fato leva à possibilidade de revisão contratual. Ou seja, até mesmo um desequilíbrio não provocado pelo

credor, leva à possibilidade de supressão desse desequilíbrio, em prol da comutatividade. 15

REALE, Miguel. História do novo código civil. São Paulo: RT, 2005, p. 268 16

A esse respeito, veja-se o seguinte trecho, extraído de julgado do e. STJ: “O Código Civil de 1916, de feição

individualista, privilegiava a autonomia da vontade e o princípio da força obrigatória dos vínculos. Por seu turno, o

Código Civil de 2002 inverteu os valores e sobrepôs o social em face do individual. Desta sorte, por força do Código

de 1916, prevalecia o elemento subjetivo, o que obrigava o juiz a identificar a intenção das partes para interpretar o

contrato. Hodiernamente, prevalece na interpretação o elemento objetivo, vale dizer, o contrato deve ser interpretado

segundo os padrões socialmente reconhecíveis para aquela modalidade de negócio (REsp 627.424/PR, Rel. Ministro

LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/03/2007, DJ 28/05/2007, p. 287). 17

“o princípio pacta sunt servanda, a força obrigatória dos contratos, porquanto sustentáculo do postulado da

segurança jurídica, é princípio mitigado, posto sua aplicação prática estar condicionada a outros fatores, como, por

v.g., a função social, as regras que beneficiam o aderente nos contratos de adesão e a onerosidade excessiva” (AgRg

no REsp 838.127/DF, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/02/2009, DJe 30/03/2009).

Constitucional, pois “a função social do contrato veta seja o interesse público ferido pelo

particular”.18

Dizer que o contrato possui uma função social significa conjugar sua compreensão

com a dos diversos conceitos vagos,19

que tratam dos limites à liberdade de contratar. Nesse

sentido, o artigo 421 do código civil contém em si, na verdade, a essência de todos os artigos que

buscam equilibrar as relações contratuais. Arruda Alvim, em artigo monográfico sobre o tema,

ressalta:

“Esta é uma norma de ordem pública, é ela uma norma que dá um conteúdo necessário

do contrato a que se refere. Trata-se, assim, de um comando que ex lege há de reputar-se

inserido no contrato e que, portanto, não pode ser afastado pela vontade das partes. Há

algumas normas do Código que procuram assegurar um equilíbrio contratual, o que, em

linhas gerais, é a função social do contrato.”20

Com conteúdo exato indefinido (propositadamente, como se vê), então, o bom

desempenho da função social do contrato é uma consequência do equilíbrio contratual.

A construção histórica que deu origem ao que hoje é a boa-fé contratual é

semelhante. Conforme já se viu, a Alemanha foi o berço dessas modificações, tendo o § 242 do

BGB assumido o primeiro lugar, dentro das cláusulas gerais, em função dos valores da Lei

Fundamental de Bonn, que vieram a exercer um papel importante no direito civil:

“O Código Civil colocou a cláusula geral da boa fé [objetiva] no topo do direito das

obrigações. Todas as relações obrigacionais dependem dessa cláusula geral; não deve

mais haver relações obrigacionais insuscetíveis de alterações. (…) é a prescrição de

1948 [a Lei Fundamental de Bonn] que fez nascer uma nova função: o § 242 assume o

primeiro lugar e por seu intermédio penetram no Código Civil os valores da

Constituição”.21

No Brasil, a cláusula da boa-fé, constante do artigo 113 do Código Civil e trazendo

forte influência da cultura alemã, estabelece: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados

18

REsp 1062589/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 24/03/2009,

DJe 06/04/2009. 19

Os conceitos vagos em material contratual são frequentes na nossa legislação civil, como por exemplo as noções

de onerosidade excessiva (art. 478), investimento considerável (art. 473, parágrafo único), etc. 20

Alvim, Arruda. Cit, p. 26. 21

No original: “Das BGB hat den Grundsatz von Treu und Glauben an die Spitze des Schuldrechts gestellt: Alle

Schuldverhältnisse sollten diesem Grundsatz unterstehen; es sollte also keine strengrechtlichen Schuldverhältnissie

mehr geben. (…) Allerdings ist die Vorschrift nach 1948 eine neue Funktion zugewachsen: § 242 steht an erster

unter derjenigen Generalklauseln, mit derem Hilfe die Wertungen des Grundgesetz in das bürgerliche Recht Eingang

finden” (MEDICUS, Dieter. Schuldrecht I, Allgemeiner Teil. Munique: C. H. Beck, 2004, pp. 76).

conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.” De outra parte, quanto à matéria de

contratos, há estipulação específica:

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato,

como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

O sentido empregado pelo nosso Código Civil é o mesmo que motivou a legislação

germânica. Boa-fé, no caso ora considerado, tem conotação objetiva, e quer representar uma

“regra de conduta fundada na honestidade, na retidão, na lealdade e, principalmente, na

consideração para com os interesses do ‘alter’, visto como um membro do conjunto social que é

juridicamente tutelado”.22

A tarefa do juiz em relação à boa-fé objetiva demanda que procure identificar o

comportamento de uma parte em relação à outra, cabendo-lhe proteger ou defender aquela que

possa ter sido vítima de comportamento desleal.

Assim como a função social do contrato guarda relação com o equilíbrio, a boa-fé

objetiva é muito próxima da noção de probidade nos atos da vida civil. Como consequência,

outra faceta assumida pela boa-fé objetiva pode ser a de elemento identificador da função

econômico-social pretendida no negócio jurídico quando da sua celebração. Nas palavras de

Judith Martins-Costa,23

a boa-fé objetiva faz, sob esse prisma, o papel de norma ordinatória da

atenção ao fim econômico-social do contrato, com o que se quer dizer que a não observância da

finalidade buscada pelo contrato (=economia da contratação) fere deveres de diligência, boa-fé e

lealdade, o que equivale a um comportamento negocial não lícito. Quanto a isso, os deveres de

lealdade e de equilíbrio são interpretados complementarmente.

3. A interpretação conjunta dos institutos: a nulidade de cláusulas ilegais ou irrazoáveis

Em correspondência à amplitude valorativa dada aos juízes em função das cláusulas

abertas, a possibilidade de invalidade de cláusula contratual que desrespeite esses textos

normativos é, por isso mesmo, igualmente ampla. É o que dispõe o art. 2.035, parágrafo único,

do Código Civil brasileiro:

22

MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado. São Paulo: RT, 2000, p. 412. 23

Judith Martins-Costa, op. cit., p. 415.

“Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como

os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos

contratos”.

Essa “nulidade aberta”, que tem por base a violação a princípios e valores, é diferente

da nulidade tradicional, regida pelo art. 166 do Código Civil. Ali, há tipificação e taxatividade,

com o elenco específico das causas de nulidade. No art. 2.035, parágrafo único, similar ao art.

51, caput, do Código de Defesa do Consumidor, há uma maior gama de possibilidades

interpretativas, devendo a invalidade ser averiguada em cada caso concreto, tendo sempre em

vista a manutenção do equilíbrio contratual entre as partes.

Em um primeiro momento, haverá de atribuir-se à função social do contrato um

significado autônomo, não necessariamente dependente da boa fé, até porque, “se o legislador

cuidou de disciplinar separadamente os dois princípios foi porque lhes reconheceu

individualidade”.24

No entanto, tudo leva a crer que esses dois institutos, complementares que

são um ao outro, possam ser conjugados para evitar uma falta de razoabilidade contratual, seja

pelo desequilíbrio, seja pela deslealdade, seja ainda por uma somatória desses fatores.

O código civil holandês, por exemplo, relaciona diretamente a “bona fides clause”

com os conceitos abertos de razoabilidade e justiça:

Artigo 6:248, par. 2: Uma regra a ser observada pelas partes como resultado do contrato

não é aplicável se, dadas as circunstâncias, for inaceitável devido a padrões de

razoabilidade [reasonableness] e justiça [fairness].25

Por isso mesmo é que o princípio da boa-fé assume, na Holanda, uma função

“restritiva” ou “derrogatória” de cláusulas irrazoáveis:

A boa-fé pode, em um determinado caso, extinguir regras que prevaleçam entre as

partes, ou excluir sua aplicação. [...] uma estipulação de normas gerais pode ser anulada

(tanto por uma declaração informal de uma parte para a outra ou por julgamento) se,

levando em consideração as circunstâncias do caso, for irrazoavelmente onerosa para a

outra parte.26

24

THEODORO JR., Humberto. O contrato e sua função social. Rio de Janeiro: forense, 2003, p. 46. 25

Da versão traduzida para o inglês: “A rule, to be observed by parties as a result of their agreement, is not

applicable insofar this, given the circumstances, would be unacceptable to standards of reasonableness and fairness”. 26

No original: “So good faith may, in a given case, extinguish rules prevailing between the parties or exclude their

application. […] a stipulation in general conditions may be annulled (either through an informal declaration by a

party to the contract adressed to the other party or by judgment) if, taking into consideration all the circumstances of

the case, it is unreasonably onerous to the other party.” (HARTKAMP, Arthur S. Judicial discretion under the new

O que se quer dizer é que os institutos jurídicos consagrados no Brasil no Código

Civil de 2002 como normas de ordem pública, visando a uma interpretação mais equitativa dos

contratos, são, sim, passíveis de revogar, invalidar, ou anular disposições contratuais que violem

princípios e valores constitucionais de igualdade e razoabilidade. Os tribunais brasileiros, aliás,

têm assim decidido:

“É permitida a revisão das cláusulas contratuais pactuadas, diante do fato de que o

princípio do pacta sunt servanda vem sofrendo mitigações, mormente ante os princípios

da boa-fé objetiva, da função social dos contratos e do dirigismo contratual”.27

Em síntese, e de acordo com o entendimento do STJ:

“A função social apresenta-se hodiernamente como um dos pilares da teoria contratual.

É um princípio determinante e fundamental que, tendo origem na valoração da

dignidade humana (art. 1º da CF), deve determinar a ordem econômica e jurídica,

permitindo uma visão mais humanista dos contratos que deixou de ser apenas um meio

para obtenção de lucro. Da mesma forma, a conduta das partes contratantes deve ser

fundada na boa-fé objetiva, que, independentemente do subjetivismo do agente, as

partes contratuais devem agir conforme o modelo de conduta social, geralmente aceito

(consenso social), sempre respeitando a confiança e o interesse do outro contratante.”28

Trata-se de decorrência da "nova concepção do Direito Civil, que impõe o diálogo

entre a autonomia privada, a boa-fé e a função social do contrato."29

4. O Código de Defesa do Consumidor e as cláusulas abusivas

A revisão de cláusulas contratuais, plenamente possível pelos termos do Código

Civil, é ainda mais facilmente constatada quando se está diante da aplicação de regras

consumeristas. Isso porque o CDC, marcado por uma presunção de disparidade econômica entre

as partes, proíbe expressamente a estipulação de cláusulas abusivas, no seu art. 51, IV:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao

fornecimento de produtos e serviços que:

civil code of the Netherlands. Centro di studi e ricerche di diritto comparator strainero. Disponível em:

<http://www.trans-lex.org/123700 >, acesso em 29/09/2013). 27

AgRg no Ag 1394166/SC, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 08/05/2012, DJe

04/06/2012. 28

AgRg no REsp 1272995/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado

em 07/02/2012, DJe 15/02/2012. 29

REsp 866.343/MT, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 02/06/2011, DJe

14/06/2011

(...) IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o

consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a

eqüidade;

Note-se que o inciso acima é, mais uma vez, exemplo de cláusula aberta.

Sinteticamente, podemos conceituar abusividade de cláusulas consumeristas da seguinte

maneira:

“A cláusula abusiva é essencialmente aquela que vem marcada pela unilateralidade, que

é resultado da posição de força, de superioridade de uma das partes contratantes,

impondo um desequilíbrio contratual, de vantagens e riscos, que a ordem jurídica

corrige ou, antes, impede”30

A polaridade forte-fraco, presumida em relações de consumo, é acentuada quando se

fala de contratos de adesão, que são firmados massificadamente, sem maiores detalhismos, ou

sem que se possa estabelecer claramente, em cada avença, o elemento da declaração de vontade

de ambas as partes. São contratos reproduzidos mecanicamente, cujos termos e disposições

variam muito pouco ou quase nada, e que abrem uma possibilidade relativamente grande para o

exercício de poder econômico. O aderente, consumidor, frequentemente sai prejudicado nessas

situações. Assim, como diz Antonio Jeová Santos:

“os contratos em série deixam de ser expressão da autonomia contratual e, por

consequência, da liberdade de contratar, para converter-se em algo muito similar à lei,

que vincula seus destinatários, apenas pela presunção de que todos a conhecem”.31

Nesse contexto, a parte que contrata é, mais por necessidade que por conveniência,

tolhida de sua livre manifestação de vontade, que, classicamente, apoia-se em três pilares ou

aspectos fundamentais:32

a) a liberdade de celebrar, ou não, um contrato; b) a liberdade de

escolher o tipo e a espécie de contrato que será celebrado; e c) a liberdade na estipulação do

contrato, permitindo-se aos contratantes ajustar o seu conteúdo de acordo com a sua vontade. Os

contratos de adesão são, portanto, fruto de certo desnivelamento entre potências econômicas,

com uma das partes claramente mais livre para decidir como a avença será firmada.

Por isso mesmo, em decorrência da função social do contrato e da boa-fé objetiva,

modernamente, é preciso restabelecer a verticalidade do fiel da balança da Justiça quando

30

GODOY, Claudio Luiz Bueno. Função social do contrato. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 49. 31

SANTOS, Antonio Jeová. Função social: lesão e onerosidade excessiva nos contratos. São Paulo: métodos, 2002,

p. 88. 32

COSTA, Mario Julio de Almeida. Direito das obrigações. Coimbra: Alamedina, 1994, p. 196

confrontam fortes e débeis, porque estes (os mais fracos), pressionados pela necessidade, estão

obrigados a querer o que os mais fortes são livre para impor.33

Os contratos de financiamento e firmados com bancos, sem dúvida os que mais

frequentemente são objeto de ações revisionais, não escapam a essa lógica, com a pacífica

configuração da relação de consumo, estabelecida inclusive pelo verbete n. 297 da Súmula do

STJ: “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.

Essa aplicação é imperativa mesmo quando se tratar de pessoas jurídicas

contratantes, pois a finalidade do CDC é justamente a proteção contra a imposição de poder

econômico:

No direito do consumidor, há uma relação jurídica típica, a relação jurídica de consumo.

O que a peculiariza entre as demais relações jurídicas são seus sujeitos, não o objeto.

Tratando-se de um direito especial, o direito do consumidor é centrado na figura da

pessoa que ele busca proteger. O risco de não identificá-la corretamente corresponde ao

erro que se comete em descaracterizar a relação jurídica de consumo, aplicando o

Código de Defesa do Consumidor fora de sua destinação constitucional, que é garantir a

defesa dos vulneráveis no contexto da ordem econômica”.34

O que importa reconhecer é que o CDC, e a nulidade de cláusulas abusivas,

apresentam-se como mais um elemento no microssistema formado entre a função social do

contrato e a boa-fé objetiva do Código Civil.

5. A ação revisional e o cumprimento de cláusulas contratuais

O cabimento de ação para rever cláusulas ainda não cumpridas, diga-se

primeiramente, é uma decorrência lógica da função social do contrato e da boa-fé objetiva. Nesse

contexto, o caminho percorrido por este artigo é uma justificativa teórica para o seu ponto

central: a discussão sobre o cabimento de ação revisional de cláusulas contratuais quando o

contrato, objeto da demanda, já foi parcialmente quitado, ou foi renovado, ou de qualquer

maneira as obrigações a serem apreciadas judicialmente já foram cumpridas, ou confessada a

dívida, pelo contratante.

33

ALTERINI, Atílio; CABAÑA, Roberto López. La autonomia de la voluntad em el contrato moderno. Buenos

Aires: Abeledo Perrot, 1989, p. XXXXX (confirmar) 34

PASQUALOTTO, Adalberto. O destinatário final e o ‘consumidor intermediário’. Revista de Direito do

Consumidor, vol. 74, abr. 2010, p. 12.

Na realidade, é mais importante delinear o porquê dessa possibilidade, do que

efetivamente questionar se é, ou não possível, tendo em vista que o Superior Tribunal de Justiça

editou, em maio de 2004, o verbete n. 286 de sua Súmula:

“A renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a

possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores”.

Primeiramente, é de se notar que não é o contrato, em sua totalidade, que terá sua

legalidade averiguada; apenas algumas de suas cláusulas, potencialmente ilegais, o que significa

que mesmo o contratante tem plena intenção de manter o contrato hígido:

“na ação de revisão, em que o autor apenas pede a modificação do ato acoimado de

lesão, é porque quer manter o contrato íntegro, com exceção da anormalidade da

prestação. Interessa ao autor o objeto do contrato. Somente discrepa da prestação que se

tornou vantajosa para a outra parte”.35

Em outras palavras, quem contrata insurge-se, mas se sente obrigado de qualquer

forma a cumprir o contratado. Veja-se que, caso se impedisse a rediscussão de parcelas pagas, ou

novadas, haveria um forte estímulo ao não cumprimento dos contratos que, de uma forma ou

outra, pudessem vir a ser anuladas futuramente. É como entende o STJ, em voto até hoje

paradigmático do Ministro Ruy Rosado de Aguiar:

“O fato de o obrigado cumprir com a sua prestação prevista em contrato de adesão não o

impede de vir a Juízo discutir a legalidade da exigência feita e que ele, diante das

circunstâncias, julgou mais conveniente cumprir. Se proibida a sua iniciativa, estará

sendo instituída, como condição da ação no direito contratual, a de ser inadimplente, o

que serviria de incentivo ao descumprimento dos contratos. Além disso, submeteria o

devedor à alternativa de pagar e perder qualquer possibilidade de revisão, ou não pagar

e se submeter às dificuldades que sabidamente decorrem da inadimplência”.36

O teor da súmula 286 vem a garantir que quem apenas cumpre o que contratou pode,

ainda assim, ver restabelecido o equilíbrio em um contrato de adesão. Nas palavras de Miguel

Reale:

“A atribuição de função social ao contrato não vem impedir que as pessoas naturais ou

jurídicas livremente o concluam, tendo em vista a realização dos mais diversos valores.

O que se exige é apenas que o acordo de vontades não se verifique em detrimento da

coletividade, mas represente um dos seus meios primordiais de afirmação e

desenvolvimento".37

35

SANTOS, Antonio Jeová, cit, p. 207 36

STJ, REsp n. 293.778/RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, 4ª Turma, julgado em 29/05/2001. 37

REALE, Miguel, cit, p. 268.

O fato é que, se há uma ilegalidade, ou abusividade, na estipulação de certas

cláusulas do contrato, não há porque impedir que elas sejam judicialmente revistas, mesmo após

seu adimplemento ou a confissão, pelo devedor, da dívida correspondente. A construção

jurisprudencial sobre o tema é pacífica nesse sentido, e já em 1998 o Ministro Ruy Rosado de

Aguiar havia constatado: “não encontro no ordenamento jurídico regra que determine a extinção

do direito de anular cláusulas contratuais como resultante automática do pagamento da prestação.

Há, certo, prazos de decadência ou prescrição”.38

Na verdade, o que houve foi um reconhecimento, em especial pelo STJ, da

necessidade de restabelecimento do equilíbrio negocial objetivo, em detrimento da suposta

declaração de vontade das partes, que consistiria na base clássica da formação dos contratos.

Veja-se o seguinte trecho de voto, de relatoria do Min. Luis Felipe Salomão, em uma ação

revisional de uma escritura pública de confissão de dívida bancária:

“O princípio do pacta sunt servanda não pode servir de escudo à prevalência de

estipulações leoninas, não sendo motivo a impedir que o Judiciário declare a ineficácia

das cláusulas abusivas, mesmo para contratos em que tenha ocorrido a novação ou a

quitação, pois preceitua o art. 367 do Código Civil de 2002 que não são objeto de

novação obrigações nulas ou extintas”.39

Esse julgado pode ser tomado paradigmaticamente, por sua completude na análise da

questão. Concluiu-se, no caso, e em referência ao posicionamento do próprio tribunal, o

seguinte: “a jurisprudência desta Corte quanto à possibilidade de revisão dos contratos firmados

com a instituição financeira desde a origem, de modo que a renegociação de mútuo bancário ou

a confissão de dívida não seria óbice à discussão acerca de eventuais ilegalidades, nos termos

da Súmula nº 286 deste Superior Tribunal de Justiça”.

O raciocínio utilizado pelo STJ é, portanto, que não é possível que o contratante

confesse dívida fundada em abusividade ou ilegalidade – e perceba-se como, aqui também, há

uma nítida influência de diretrizes de ordem pública sobre a liberdade privada de contratar. O

mesmo se pode dizer de um contrato que tenha sido objeto de novação (art. 360, do CC/2002), já

que não há como crer que obrigações resultantes de cláusulas ilegais, ou abusivas, sejam

validadas em renegociações. É também assentada no STJ a ideia de que “os contratos bancários

38

REsp 176.459/RS, 4ª Turma, julgado em 23/11/1998. 39

STJ, REsp n. 1.114.049/PE, 4ª Turma, julgado em 04/04/2011.

são passíveis de revisão judicial, ainda que tenham sido objeto de novação, pois não se pode

validar obrigações nulas”.40

A renegociação ou novação de um contrato, então, não significa automaticamente um

sepultamento da análise de legalidade das cláusulas anteriores; em outras palavras, o que já foi

pactuado, só pela repactuação, não perde a potencialidade de ser alvo de inconstitucionalidades

ou abusividades. O Ministro Aldir Passarinho Junior, ao relatar recurso especial que abordava

esse tema, deixa claro que, se as inovações da renegociação contratual forem meramente fruto de

declarações de vontade e versassem sobre a liberalidade de “contratar prazos maiores ou

menores, descontos, carências, taxas compatíveis e legítimas (...) Até aí, em princípio, uma

novação seria espécie de pá de cal sobre o que ficou para trás”. Prossegue o ministro:

“Todavia, se a controvérsia gira exatamente em torno da ilegalidade ou

inconstitucionalidade da inserção de encargos, exsurge evidente que a matéria

transcende o momento da repactuação, retroagindo para que seja apreciada a

legitimidade do procedimento bancário durante o tempo anterior, em que por atos

sucessivos foi constituída a dívida novada.”41

A respeito de quais, mais comumente, são as ilegalidades constatadas e revistas pelo

Judiciário, tome-se como paradigma o julgamento do recurso especial repetitivo n.

1.061.530/RS, de relatoria da ministra Nancy Andrighi, de 22/10/2008. Ali, são delimitadas

questões que diariamente são levadas a juízo envolvendo juros remuneratórios,42

configuração de

mora,43

inscrição em cadastros de inadimplentes,44

dentre outros temas relevantes.

40

AgRg REsp n. 623.278/RS, Rel. Min. Castro Filho, julgado em 21/02/2006. Aplica-se, aí, o artigo 367, do Código

Civil (reproduzindo o antigo art. 1.007 do código de 1916). 41

REsp n. 470.355/RS, 4ª Turma, julgado em 18/02/2003. 42

a) As instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros remuneratórios estipulada na Lei de Usura

(Decreto 22.626/33), Súmula 596/STF; b) A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só,

não indica abusividade; c) São inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições

do art. 591 c/c o art. 406 do CC/02; d) É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações

excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz de colocar o consumidor em

desvantagem exagerada – art. 51, §1º, do CDC) fique cabalmente demonstrada, ante às peculiaridades do julgamento

em concreto. 43

a) O reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período da normalidade contratual (juros

remuneratórios e capitalização) descaracteriza a mora; b) Não descaracteriza a mora o ajuizamento isolado de ação

revisional, nem mesmo quando o reconhecimento de abusividade incidir sobre os encargos inerentes ao período de

inadimplência contratual. 44

a) A abstenção da inscrição/manutenção em cadastro de inadimplentes, requerida em antecipação de tutela e/ou

medida cautelar, somente será deferida se, cumulativamente: i) a ação for fundada em questionamento integral ou

parcial do débito; ii) houver demonstração de que a cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e em

jurisprudência consolidada do STF ou STJ; iii) houver depósito da parcela incontroversa ou for prestada a caução

fixada conforme o prudente arbítrio do juiz; b) A inscrição/manutenção do nome do devedor em cadastro de

6. Notas conclusivas: alguns aspectos processuais da ação revisional de contratos

Para que se conclua o raciocínio aqui exposto, e de maneira a sintetizar o que foi

dito, é importante ressaltar como a jurisprudência vem tratando certas questões processuais,

relativas às ações revisionais. O intuito deste artigo, que foi justificar o cabimento e a razão de

ser dessas ações, completa-se com esta breve análise prática.

Em primeiro lugar, e por razões de técnica processual para impedir o ajuizamento de

demandas genéricas, veja-se que é necessário que o autor, contratante aderente que pretende

rever cláusulas contratuais, instrua sua petição inicial com o contrato em si, qualificando

exatamente quais cláusulas pretende submeter a apreciação, e por quê. É sobre isso que trata, por

exemplo, o Enunciado n. 34, do Fórum dos Juízes das Varas cíveis de Pernambuco, para evitar a

reprodução mecânica de teses jurídicas pelos advogados:

“a petição da ação de revisão deve ser instruída com cópia do contrato bancário,

devendo o autor apontar uma a uma as cláusulas que entende abusivas, juntando,

quando for o caso, demonstrativo da evolução da dívida e da efetiva ocorrência de

práticas ilegais, sob pena de ser indeferida”.

Como consequência, acredita-se que não é possível formular-se, nas iniciais de ação

revisional, pedido de tutela antecipada para que a instituição financeira apresente o contrato.

Demócrito Reinaldo Filho elucida o motivo:

“Com a chegada de novos documentos, cujo teor ainda não se conhece, ele teria que

ajustar o seu pedido às novas provas produzidas no processo, desmantelando toda a

ordem processual, o que, evidentemente, não pode ser admitido. Com efeito, o autor

teria que, a partir daí, ajustar o seu pedido a uma efetiva e concreta causa de pedir,

consistente em eventuais abusos efetivamente comprovados nos novos documentos, não

somente modificando teses jurídicas e incluindo outras, como possivelmente

modificando o próprio pedido. Evidentemente, não há como permitir que o processo se

desvirtue a esse ponto.”45

Há casos, no entanto, em que a parte não dispõe do contrato – e perceba-se que passa

a ser complicado rever cláusulas quando não se sabe exatamente seu teor. A jurisprudência do

inadimplentes decidida na sentença ou no acórdão observará o que for decidido no mérito do processo.

Caracterizada a mora, correta a inscrição/manutenção. 45

REINALDO FILHO, Demócrito. Da ação de revisão de contrato bancário. In: FONTES Marcos Rolim Fernandes

& WAISBERG, Ivo (coord). Contratos bancários. São Paulo: Quartier Latin, 2006, p. 347.

STJ, para sanar as situações em que o contrato não é juntado, tem, tem presumido a incidência de

juros com base na “taxa média de mercado nas operações da espécie”.46

É ainda de ser lembrado que, como consequência lógica de ser admissível rever

cláusulas de contratos já cumpridos, é de se reconhecer que na mesma ação revisional é cabível

formular pretensão de repetição de indébito, relativo às parcelas abusivas ou ilegais:

“É firme a orientação jurisprudencial do STJ em admitir a compensação de valores e a

repetição do indébito na forma simples, sempre que constatada cobrança indevida do

encargo exigido, sem ser preciso comprovar erro no pagamento. Tal regra funda-se na

necessidade de evitar o enriquecimento ilícito da parte beneficiada.”47

Ao evitar o enriquecimento ilícito, passa a ser desnecessária a comprovação de erro

no pagamento, como comandaria o art. 877, do CC/2002.48

Isso decorre do cálculo unilateral das

parcelas pelo credor, e do caráter leonino, de adesão, dos contratos que se busca revisar.

Especificamente quanto a contratos de abertura de crédito bancário – exemplo máximo da

unilateralidade na estipulação de cláusulas –, há o verbete sumular n. 322 do STJ, descartando a

necessidade de prova do erro para repetição de indébito.49

Por óbvio, quando for o caso de ação

de revisão onde for reconhecida a relação de consumo, a repetição de indébito poderá ser

requerida em dobro, nos termos do p. único do art. 42, do CDC.

Também relativamente à vedação de enriquecimento ilícito, veja-se que não há como

se falar em mora do devedor, relativamente às cláusulas que, em sede revisional, são

consideradas ilegais ou abusivas. Isso, “pois o reconhecimento da cobrança de encargos

abusivos no período de normalidade afasta a culpa do mutuário pelo inadimplemento da

obrigação, acarretando a descaracterização da mora debitoris”.50

Em uma grande parte das situações de pedido de revisão contratual, o próprio

contrato poderá ser objeto de execução de título extrajudicial. No tocante a estas parcelas

46

AgRg no AREsp 54.913/RS, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, 4ª turma, julgado em 19/02/2013. 47

REsp n. 84.842/RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, 3ª Turma, julgado em 25/06/2013. 48

“Art. 877. Àquele que voluntariamente pagou o indevido incumbe a prova de tê-lo feito por erro”. 49

“Para a repetição de indébito, nos contratos de abertura de crédito em conta-corrente, não se exige a prova do

erro.” 50

Ag.REsp n. 258.453/SC, Rel. Min. Gastaldi Buzzi, 4ª Turma, julgado em 12/03/2013.

controversas (que serão o objeto da ação revisional), no entanto, é possível suspender a

execução, contanto que o valor incontroverso tenha sido depositado em juízo.51

No entanto, essa suspensão não é, e nem poderia ser, automática. Não se pode fazer

confusão, aqui, entre as hipóteses do art. 265, IV, do CPC – que tratam de prejudicialidades à

sentença em processo de conhecimento – e as do art. 791, específico para o processo de

execução:

“O legislador, na enumeração que fez dos casos de suspensão (efetivada no seu art.

791), repetiu os incisos I a III do art. 265, mas parou até aí, não produzindo a mesma

repetição em relação ao seu inc. IV. O legislador, portanto, indeferiu claramente no

sentido de afastar peremptoriamente a concorrência de ações como motivo de suspensão

do processo executivo”.52

Para que os trâmites entre ações sejam concatenados e para evitar decisões

conflitantes ou prejudiciais, é imprescindível que as causas sejam reunidas, e é “possível a

reunião do processo de conhecimento e da execução posteriormente ajuizada, por razões de

ordem prática, e, se garantido o Juízo, dá-se à ação de revisão o tratamento de embargos com as

conseqüências daí decorrentes”.53

Embora possa existir a reunião de processos de execução e conhecimento entre si, o

mais adequado, acredita-se, é que os embargos à execução (ação autônoma de impugnação, que

poderá inclusive versar ela mesma sobre as abusividades de cláusulas) sejam reputados conexos

à ação revisional:

“Proposta ação de conhecimento pelo devedor onde se postula a revisão judicial de

cláusulas constantes de título executivo extrajudicial, ou do contrato que o originou, e

opostos, posteriormente, embargos do devedor à execução movida pelo credor com

lastro no título executivo objeto da ação revisional, a identidade de partes e de pedido

autoriza a reunião dos processos em consideração à carga de conexidade existente entre

eles e por razões de ordem prática, desde que ambos ainda não tenham sido apreciados

no primeiro grau de jurisdição”.54

Nem sempre, portanto, haverá estrita identidade entre o pedido formulado nos

embargos e na revisional. No entanto, em outras situações de defesa, o devedor poderá formular

51

Há vários julgados nesse sentido. Cite-se, por todos: REsp 594.244/PR, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes

Direito, 3ª turma, julgado em 07/12/2004. 52

REINALDO FILHO, Demócrito, cit, p. 364. 53

REsp 800.880/PE, Rel. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, 3ª Turma, julgado em 05/10/2006. 54

REsp 514454/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, 3ª Turma, julgado em 02/09/2003.

pretensões semelhantes àquelas de uma ação de revisão, até mesmo na forma de reconvenção. É

o caso das ações de busca e apreensão:

“Assim, pode-se concluir que é admitida a ampla defesa do devedor no âmbito da ação

de busca e apreensão decorrente de alienação fiduciária, seja pela ampliação do objeto

da discussão em contestação, a partir do questionamento a respeito de possível

abusividade contratual; seja pela possibilidade de ajuizamento de ação revisional do

contrato que deu origem à ação de busca e apreensão, que, por sua vez, deve ser reunida

para julgamento conjunto com essa. Nessa linha de entendimento, nada impede – e é até

mesmo salutar do ponto de vista processual – o cabimento de ação revisional na forma

de reconvenção à ação de busca e apreensão decorrente de alienação fiduciária.”55

Sobre o valor da causa nestas ações, parece irrazoável que ele seja o valor do inteiro

contrato, já que apenas algumas de suas parcelas ou cláusulas serão objeto da demanda. Assim, o

valor da causa deve corresponder ao proveito econômico que ela almeja:

A ação em que o autor pede a revisão de um contrato bancário não envolve o contrato

por inteiro, referindo-se apenas a determinadas obrigações, dentre outras estipuladas, daí

porque não pode o valor da causa corresponder ao valor global da avença. Nesse tipo de

ação, o valor da causa deve equivaler à diferença entre o valor exigido pelo banco e

aquele que o autor entende como devido”.56

Por fim, cabe mencionar a recentíssima lei n. 12.810, de maio de 2013, que inseriu o

art. 285-B, ao texto do CPC, da seguinte forma:

“Nos litígios que tenham por objeto obrigações decorrentes de empréstimo,

financiamento ou arrendamento mercantil, o autor deverá discriminar na petição inicial,

dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, quantificando o

valor incontroverso.

Parágrafo único. O valor incontroverso deverá continuar sendo pago no tempo e modo

contratados”.

O artigo, a uma primeira vista, está mal inserido no código, pois apresenta feições de

requisito específico para determinadas petições iniciais. Caberia melhor como, digamos, um

artigo “282-A”, havendo pouca lógica em posicioná-lo como um adendo ao art. 285, que cuida

do caso em que a petição inicial está em ordem para prosseguimento do feito. Além disso, uma

vez que a correta identificação da lide é, desde sempre, um requisito da petição inicial (art. 282,

IV), parece estranho que o autor deva aduzir, além daquilo que pretende, aquilo que não

pretende – foge, parece-nos, da lógica processual civil.

55

REsp 801.374/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, julgado em 06/04/2006. 56

REINALDO FILHO, cit, p. 358.

O Projeto de Novo Código de Processo Civil (atualmente em trâmite na Câmara dos

Deputados como PL 8.046/2010) não contempla disposição equivalente, o que nos leva a crer

que o artigo não sobreviverá à reforma do CPC.

A jurisprudência, de qualquer forma, tem caminhado firme no sentido de identificar

abusividades em contratos de adesão, e permitir uma ampla revisão de seus termos. A conclusão

a que se pode chegar após a exposição de como se tem decidido ultimamente é que a função

social do contrato, interpretada conjuntamente com a boa-fé objetiva, conduz a uma inexorável

necessidade de equilíbrio objetivo entre contratantes, e permite que os casos concretos – em suas

particularidades – possam ser solucionados adequadamente.

7. Bibliografia

ALTERINI, Atílio; CABAÑA, Roberto López. La autonomia de la voluntad em el contrato

moderno. Buenos Aires: Abeledo Perrot, 1989.

ALVIM, Arruda. A função social dos contratos no novo código civil. In: Revista dos Tribunais,

vol. 815, set/2003.

COSTA, Mario Julio de Almeida. Direito das obrigações. Coimbra: Alamedina, 1994.

GODOY, Claudio Luiz Bueno. Função social do contrato. São Paulo: Saraiva, 2004.

HARTKAMP, Arthur S. Judicial discretion under the new civil code of the Netherlands. Centro

di studi e ricerche di diritto comparator strainero. Disponível em: <http://www.trans-

lex.org/123700 >, acesso em 29/09/2013).

MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado. São Paulo: RT, 2000.

MEDICUS, Dieter. Schuldrecht I, Allgemeiner Teil [Direito das Obrigações I. Parte Geral],

Munique: C. H. Beck, 2004.

MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico: plano da existência. São Paulo: Saraiva,

2007.

MENGONI, Luigi. Spunti per una teoria delle clausole generali. In: Quaderni della scuola

superiore di studi universitari e di perfezionamento, v. 3. Milano: Giufrè: 1985.

MULLER, Friedrich. Teoria estruturante do direito. São Paulo: RT, 2011.

NASSER, Paulo Magalhães. Onerosidade excessiva no contrato civil. São Paulo: Saraiva, 2011.

PASQUALOTTO, Adalberto. O destinatário final e o ‘consumidor intermediário’. Revista de

Direito do Consumidor, vol. 74, abr/2010.

PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. Contratos. Vol. III. Rio de Janeiro:

Forense, 2006.

REALE, Miguel. História do novo código civil. São Paulo: RT, 2005.

REINALDO FILHO, Demócrito. Da ação de revisão de contrato bancário. In: FONTES Marcos

Rolim Fernandes & WAISBERG, Ivo (coord). Contratos bancários. São Paulo: Quartier Latin,

2006.

SANTOS, Antonio Jeová. Função social: lesão e onerosidade excessiva nos contratos. São

Paulo: métodos, 2002.

THEODORO JR., Humberto. O contrato e sua função social. Rio de Janeiro: forense, 2003.

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recurso especial, recurso extraordinário e ação rescisória.

São Paulo: RT, 2008.