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ABRIL = NS. 12-15

Anno VI Muni- JLfc 1 de Abril

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0 BRAZIL-MEDICORevista Semanal de Medicina e Cirurgia

SUMMARIO

Patholocha Intertropical : — Ankylostomiase ou hypoemia in-tertropical, pelo Dr. Azeredo Sodié.

Clinica Gynecologica : — 0 hematocéle peri utertno, pelo prof es-sor Duplay.

Syphiligraphia: — Syphilis ter ciaria do testículo, pelo professorFournier.Imprensa Medica Estrangeira: — Amblyopia quinica, pelo Dr.

Panas.— Sobre a pericystite lacrymal, pelo Dr. Parinaud.Formulário Pratico : —¦ Preparações tônicas e espectorantes contra

á pneumonia e a grippe.Chronica e Noticias.

PATHOLOGIA INTERTROPICAL

Ankylostomiase ou hypoemia intertropicalpelo Dr. Azevedo Sodrê

Professor substituto, encarregado do curso de Pathologia Interna

(Continuado da pag. 15)Senhores :O diagnostico da ankylostomiase é fácil desde

que o clinico se disponha a fazer um exame com-pleto e minucioso do doente que reclama seuscuidados, e desde que conserve bem na mentetodas as peripécias da historia npsologica destaaftecção. Eu vos apontarei os principaes elementosde diagnose, aquelles que deveis ter sempre bempresentes ao espirito e que vos servirão de excel-lentes meios de differenciação quando na praticavos tiverdes de pronunciar a respeito. Nem sempreencontrareis reunidos todos estes elementos;alguns delles, porém, são tão concludentes quebasta a simples presença para poder-se afürmarcathegoricamente a existência da ankylostomiase.

Em primeiro logar temos as desordens gastro-intestinaes com vômitos, dores no epigastrio e naszonas já descriptas do abdômen; as alteraçõesquantitativas e qualitativas do appetite, compre-hendidas a alliotrophagia e a geophagia; o desço-ramento das mucosas e a pallidez do tegumentocutâneo; o cansaço e a opressão; as palpitaçõescardíacas e os symptomas objectivos fornecidospelo apparelho cardio-vascular que já conheceis;a ausência de engorgitamento permanente e outrasalterações para o lado do figado e baço (a não serno ultimo período da moléstia); a ausência, emidênticas condições, de albumina nas urinas; aexistência de infiltrações e derrames, iniciando-sepelo intumecimento do rosto.

Em segundo logar temos os dados fornecidospela anamnese e referentes á etiologia e á marcha

(1) Lições professadas na Faculdade de Medicina do Rio deJaneiro, resumidas e revistas pelo professor.

da moléstia:—a vida no campo, o uso de águascontaminadas ou susceptíveis de o ser; as profis-soes de trabalhador rural, tijolleiro, oleiro, ope-rario de constrücção de estradas de ferro, tunneis,etc.; a moléstia iniciando-se por desordens gastro-intestinaes e a anemia processando-se em seguidasem que uma outra causa a motivasse; ou então aevolução rápida de uma anemia coincidindo comessas desordens em indivíduo que se alimenta beme sem que houvesse outra causa capaz de justi-fical-a.

Finalmente, e como elemento dos mais impor-tantes para o dignostico differencial, ahi está apresença do dochmius, de seus ovos ou larvas nasfezes ou matérias vomitadas. Em um caso de du-vida deveis sempre recorrer ao exame das fezes.Ainda como meio de confirmação podeis lançarmão da therapeutica, aconselhando os antihel-minthicos.

Tendo bem presentes ao espirito estes elemén-tos de diagnose vos será sobremaneira fácil dia-gnosticar a ankylostomiase, differençando-a napratica das outras moléstias do quadro nosologico,capazes de com ella se confundirem. Assim eume dispenso de entrar em grandes detalhes acercados symptomas differenciaes destas diversas aífec-ções, limitando-me a apontar aquellas que seassemelham mais da hypoemia.

Como já sabeis, em um certo período da anky-lostomiase podem-se encontrar reunidos os sym-ptomas de uma insuficiência valvular funccional.N'estas condições o diagnostico differencial deveser estabelecido, podendo vosso espirito hesitarentre a hypoemia de um lado e uma cardiopathiavalvular primitiva de outro.Deveis então por á mar-gem os symptomas cardio-vasculares propriamenteditos e appellar para os outros elementos de diagnose que esclarecerão forçosamente o diagnostico.

O elemento etiologico, a marcha da moléstia eo exame microscópio do sangue e das fezes bastampara dissipar qualquer duvida que existisse comrelação ao diagnostico differencial entre a opilaçãoe a chlorose, anemia simples, anemia perniciosa eleucocythemia.

A precedência de accessos febris de typointermitente ou remitente, a residência em logarpaludoso, o augmento persistente de volume dobaço e figado, a meianemia, a ausência de ovos oularvas do dochmius nas fezes, a ausência dasperturbações qualitativas do appetite, etc faliamem favor do paludismo chronico ou cachexiapalustre.

A ausência da albumina nas urinas, dossymptomas prodromicõs do brightismo, da hyper-tensão-arterial, do ruido de galope, das pertur-bações retinianas, etc vos fará desde logo eliminara idéa de uma nephrite «nb qualquer forma queesta se apresentasse.

O beriberi em sua forma mixta, a dilataçãodo estômago, a dyspepsia gastro-intestinal, a

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hemato-chyluria, as cachexias consecutivas a eer-

tas affecções orgânicas, cachexia cancerosa, tuber-

culosa, syphilitica, etc, alguns envenenamentoschronicos, o diabetes, etc, podem offerecer algumasanalogias com a ankylostomiase; basta, porem,passar em revista os elementos de diagnose desta

ultima moléstia para que qualquer confusão nao

perdure por muito tempo em vosso espirito.— Besta-me para finalisar dizer-vos algumas

palavras sobre o tratamento da ankylostomiase, e

o faço tanto mais satisfeito quanto acredito queesta affecção, tão freqüente no interior do nosso

Brazil, onde ao par de vidas preciosa que ceitainntilisa para o trabalho da lavoura muitos opera,rios validos, é uma das poucas entidades nosolo-

gicas sobre os quaes a acção do clinico e do thera-

peuta exerce-se com efficacia incontestável. Eu 3avos disse que, com os recursos poderosíssimos dahygiene moderna, a ankylostomiase era uma

affecção susceptível de desapparecer, ou pelomenos de ser evitada. Yos direi agora que com os

recursos da therapeütica hodierna é ella umà

moléstia susceptível, ao menos na grande maioriados casos, de ser curada; e para comprovar esteasserto basta-me relembrar-vos as estatísticas de

Graziadei, Parona e Lutz que eu referi-vos a pro-posito do prognostico.

O tratamento da ankylostomiase quadra-seperfeitamente aos preceitos e regras da therapeu-tica pathogenioa, ou antes do methodo especifico.Sublata causa tollitur effectus-eis a nossa divisa

quando tivermos de medicar uni opilado. Ora, estacausa é conhecida e susceptível de ser removida, éum helmintho, e portanto o primeiro cuidado doclinico deve ser promover a moite e a expulsão dosvermes, que têm por habitat o duodeno e jejuno.Si este simples preceito preenchido consegue ac-carretar a cura em alguns casos benignos, o mesmonão suecede na grande maioria ; com a morte doankylostoma não se finda a missão do clinico,tendo elle forçosamente de intervir para corrigiros estragos produzidos pelo parasita, para auxiliaro organismo na reconstituição que emprehendelogo após a retirada daquelles hospedes impor-tunos. E' então que deveremos recorrer ao methodo

% das medicações, lançando mão dos poderosos eeficazes recursos que nos fornece a medicaçãoanti-anemica.

A ankylostomiase é uma anemia especifica, decausa animada; portanto duas indicações geraesdevem presidir o seu tratamento : — eliminar o

parasita e reconstituir o organismo depauperadopelas pequenas sangrias iatestinaes. Para preen--1 ~:«.«, /NflP/-.«Ârti^_r»r.e t\ ai»ac.Tiíil f*T* prnrvpri Hp.n

de promover a expulsão dos parasitas intestinaes.Os médicos brazileiros sectários da doutrina animadada opilação aconselhavam estes medicamentos, tãoafamados no interior das nossas ex-provincias, ecitavam casos de cura com o seu emprego.

O leite da figueira branca, gamelleira ou fi-

gueira brava (fleus doliaria de Martius), era

prescripto do seguinte modo : uma a duas colheresde sopa de leite, exposto previamente ao sereno,era administrado ao doente pela manhã, em mix-tura com maior quantidade de água ou leite devacca. Produz em similhante dose effeito purga-tivo pronunciado. No fim de alguns dias repetia-seo purgante que era depois sequido do emprego deferruginosos e tônicos. O leite de jaracatiá (caricadodecaphyla) era prescripto do mesmo modo.

Ao lado de algumas curas, obtidas com o em-

prego destes preparados, muitos insuecessos foramreferidos. Eu tive occasião de observar algunsdoentes, qus usaram pelo processo popular do leiteda gamelleira e nos quaes a moléstia continuou aevoluir; actualmente mesmo, tenho em tratamentoum que ha dous annos atraz fez uso do leite defigueira, obtendo pequenas melhoras. O Dr. Lutzrefere a historia de tres doentes que usaram doleite de jaracatiá e nos quaes ao lado da anemiaconsiderável encontrou elle ovos do dochmius nasdejecções. Este mesmo collega fez experiênciasdirectas e demonstrou que as larvas podiam per-manecer vivas por muitas horas dentro dessessuecos leitosos.

Sendo estes remédios populares muito conhe-cidos no interior do Brazil, onde se encontrammuitos casos chronicos de hypoemia, terminadosalguns fatalmente, parece isso em contradiçãocom a sua pretendida efficacia. De facto a fre-

quencia e a gravidade da ankylostomiase entre anossa população rural que em geral faz, quandoaffectada, uso do leite da gamelleira ou do jara-catiá depõem contra os apregoados bons effeitosdestes medicamentos. Eu não nego que esses suecosleitosos promovam occasionalmente a eliminaçãode ankylostomas; não acredito, porem, que tenhamacção certa e efficaz, e não vos aconselho o seuemprego.

O illustrado pharmaçeutico, Sr. TheodoroPeckolt, a quem a matéria medica brazileira deveserviços dos mais revelantes, depois de algunsestudos sobre a figueira brava conseguiu retirar-lhe o principio activo ao qual denominou doliarina.Este distincto investigador associando a doliarinaao ferro prepara uns pós de doliarina ferruginososque são largamente empregados entre nós no tra-

pelas pequenas »augiwa f^wuftw- _. «.«-.^-v.-- ^-~ --o- - .,. _cher a primeira offerèce-nos o arsenal therapeutico tamento da opilação. Tem-se regLstrado em alguns

^i__ «. „*.% *u~iw*í«t.v.:«^r. stoosta a üvTMilanr*» rins n-nlrvlnstorriíia o.cwm n am-o numeroso grupo dos agentes anti-helminthicos.Antes da epidemia do São Gothardo, antes,

portanto, de se imprimir orientação scientifica aotratamento da ankylostomiase, já no interior doBrazil o povo usava do leite da figueira e do jaca-ratiá, productos estes considerados como capazes

casos a expulsão dos ankylostomas com o em-prego da doliarina. Bozzolo, por exemplo, contou16 vermes eliminados por dous doentes, submet-tidos a essse tratamento. Baumler encontrou 30 ex«emplares em quatro dejecções provocadas por esteremédio. Em compensação Lutz em um doente de

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sua clínica não viu a eliminação de um só verme ;este mesmo doente depois do uso de 12 grammasde ácido thymico evacuou mais de 500 ankylos-tomas ficando completamente curado.

Eu tenho empregado muitas vezes a doliarinaPeckolt e posso -vos assegurar que o opilado comesse medicamento melhora quasi sempre; sejadevido ao principio activo do leite da gamelleira,seja em conseqüência do preparado ferruginosoque com elle vem associado, o facto é que quasitodos os meus hypoemicos que fizeram uso dadoliarina melhoraram. Pode-se, porem, obter comesse medicamento empregado exclusivamente acura completa e difinitiva? E' possivel porquealguns factos tem sido assignalados; pela minhaparte, nunca a consegui, tendo muitas vezes insis-tido em seu emprego durante longos mezes. Acre-dito que com o uso da doliarina o doente eliminealguns ankylostomas; considero, porem, a acçãodeste preparado muito pouca enérgica como anti-helminthico, e aconselho-o aos meus doentesdepois do emprego de antihelminticos mais pode-rosos.

Parona e Grassi experimentaram a santonina,associada aos calomelanos e á jalapa. Em umdoente houve eliminação de 400 exemplares; emoutro de 60 apôs o emprego de 15 centigrammasde santonina e 20 de calomelanos. Em outros casoso insuccesso foi completo.Lutz e Perroncito empre-garam em muitos doentes, nunca conseguindoresultado satisfactorio. De sorte que devemosconcluir que si estes agentes medicamentososalgumas vezes promovem a eliminação dos anky-lostomas, na maioria dos casos mostram-se ineffi-cazes não merecendo portanto nossa confiança.O mesmo eu vos poderei dizer com relação aoemprego dos alcoólicos em alta dose, ao da gommagutta e do extracto de tannacete, experimentadoe aconselhado por Parona.

O primeiro medicamento, empregado poroceasião da epidemia do São Gothardo, e queconseguio determinar a eliminação completa dosankylostomas foi o extracto de feto macho, jáanteriormente conhecido como excellente tenifugo.Bozzolo, Perroncito, Grassi o Parona publicaramnumerosas observações de cura completa, conse

guida pelo emprego do feto macho. Estas obser-vações foram confirmadas por Graziadei, Campi-glio, Schoenbachler e, entre nós, por AdolphoLutz. Ao lado, porem, d'estes resultados benéficosforam referidas observações de insuecessos comple-tos que explicam-se pela inconstância extraordi-naria d'este preparado. E' raro encontrar se dousextractos de feto macho de proveniencia diversaanálogos, e diílicilmente se encontra um que possuaos caracteres descriptus por Parona e pelospharmacologistas como indispensáveis a um extra-cto activo. Como vedes, coistitue esta circum-stancia grande inconveniente para o emprego dofeto macho. Accresce que este medicamento possue

sabor desagradável, provocando náuseas, vômitose repugnância invencível, o que constitue outroinconveniente digno de ser attendido.

Prescreve-se habitualmente o extracto de fetomacho, puro ou diluído, em dose macissa; dá-se10 grammas de uma só vez ou divididas emduas doses com intervallo de 2 horas. Costuma-seprescrever um purgativo brando no dia antecedente,fazer jejuar o doente na tarde d'este dia e admi-nistrar o extracto pela manhã cedo do dia seguinte.Quando o extracto é bom, raras vezes ter-se-ánecessidade de repetir a dose. Nos casos em queha grande anemia e fraqueza do doente convémadministrar o extracto de feto macho em dosesfraccionadas, a exemplo de Parona, prescrevendo-se de 2 a 4 grammas por dia. Este modo de admi-nistraçao tem o inconveniente de facilitar aabsorpção do medicamento, o que devemos evitare o conseguimos sempre com o emprego de dosesmacissas que provocam diarrhéa expellindo oexcesso de extracto. E' aliás de boa pratica aprescripção de um purgativo sempre que as eva-cuações tardem depois do emprego de doses fortesde extracto de feto macho.

O ácido thymico ou thymol, empregado aprincipio por Bozzolo e depois por todos os médicositalianos e, entre nós, por Lutz, é sem duvidaalguma o medicamento que melhores resultadostem dado no tratamento da ankylostomiase. Como seu emprego consegue-se a expulsão completados helminthos, desde que se tenha em vista unstantos cuidados indispensáveis. Methodos dilfe-rentes foram propostos para a boa administraçãodo thymol; Bozzolo, Graziadei e Perroncito acon-selham-n'0 em doses e processos diversos. Lutz,indagando acerca das vantagens e desvantagensd'estes processos, bem como estudando os inco-venientes que pode trazer a absorpção do thymol,formulou um methodo para a administração d?estemedicamento. Com o emprego d'este methodoconseguio elle, removendo todos os inconvenientes,obter sempre suecessos completos..

Eis em que consiste o methodo de Lutz para aadministração do ácido thymico: — O doente tomauma refeição ao meio dia; duas lioras depois come-ça elle a preparação do intestino e para isso pres ¦creve :

Calomelanos . . .... 50 centigr.Folhas de senne em pó . . 2 grams.Para dividir em 4 doses, tomando uma de

hora em hora.A' tarde, depois dos primeiros eífeitos pur-

gativos o doente toma uma alimentação compostade substancias de fácil digestão e que deixempoucos resíduos. Pela manhã do dia seguinte, logobem cedo, elle faz uso de duas a tres doses dethymol de 2 grammas cada uma, com intervallo do2 horas de uma para outra. Entre as doses podetomar café ou caldo de carne. Si algumas lioras

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depois o doente nã(| iáp^fa,:#rescre^-sé-lhe um

purgativo brando. Os doentes fracos devem per-manecer uq leito. ¦%%..* \

Conseguida com, % emprego de feto macho emelhor ainda do thymol, a expulsão dos helmin-thos, deveis preoccupar-vos com a realisação dasegunda indicação que formulei, isto é, com otratamento da anemia. Para isto tendes no arsenaltherapeutico recursos poderosíssimos que vos sãofornecidos pela medicação anti-anemica. O pri-meiro cuidado a realisar é a remoção do doente

para fora do foco da infecção, afim de evitar umanova importação. Deveis em seguida aconselharuma boa alimentação e o uso do vinho generoso,do leite, dos bons caldos, etc, e quando fôr pos-sivel uma alimentação ainda mais substancial.

Si houverem infiltrações e derrames deveiscombatel-os pelos meios adequados; quando asdesordens cardíacas o justificarem podereis lançarmão da digital e da cafeína, sobretudo da primeiraque encontra em certos períodos do ankylosto-miase indicações bem formaes. Qu|ndo existirdiarrhéa não vos esquecereis dos adstringentes, dobismutho e do ópio.

Finalmente, senhores, tereis de aconselhar osferruginosos que contam no tratamento da anky-lostomiase um dos seus melhores successos Não

posso entrar em minudencias—nem mesmo per-tence isto á alçada desta cadeira—sobre as van-tagens dos diversos preparados de ferro. Eu. tenho,como já vos disse, tirado excellente resultado doemprego dos pós de doliarina e ferro ; tenho em-pregado também eficazmente o peptonato de ferrosob a forma de licor, preparado pelo pharmaceuticoWerneck, o sub-carbonato de ferro, o pyro-phos-phato de ferro citro-ammoniacal, sob a fôrma devinho de Robiquet, etc.

CLINICA GYNECOLOGICA

O hemotocele peri-uterino

PELO PROFESSOR DUPLA Y

Senhores.O acaso trouxe ao mesmo tempo para as

nossas enfermarias varias doentes acommettidasde hematocele, affecção qne, como sabeis, é aindamuito rara.

A mulher de que desejo fallar-vos hoje tem38 annos de idade, é lavadeira, e entrou a 30 deNovembro. Os antecedentes de familia nada apre-sentam de notável. Foi menstruada aos 18 annosmuito diííicilmente, e foi só* ao cabo de um annoque regularisou-se o corrimento menstrual.

Ha quatorze annos, nossa doente pariu ; acriança veiu antes de termo, a 7 1/2 mezes, e oparto prematuro sobreveio sem causa apparente.Em 1888, depois de um retardamento de setesemanas, e depois de um esforço, produziu-se umaperda qne durou muito tempo e que era pro-vavelmente indicio de um segundo aborto. Ha

dous annos sobre vieram dores de ventre e a doenteentrou para este serviço, dirigido então pelo Dr.Trélat. Fez-se-lhe uma raspagem, e ella sahiu emtão bom estado que ponde continuar a trabalhar.

No anno passado, apresentando-se de novo áconsulta, disseram-lhe que estava acommettida desalpingite e prescreveram-lhe um tratamento me-dico. No mez de Junho deste anno teve umaperda depois de um retardamento de quatro dias.Emfim, no mez de Novembro, a doente foi sor-prendida por uma má noticia por oceasião dasregras, que ficaram retardadas de oito dias. Con-tinuou a trabalhar durante o periodo menstrual e,uma tarde, sahindo da lavanderia, foi acommet-tida de uma dôr brusca no ventre, de fraqueza, deperturbações na micção, etc. Depois de ter ficadode cama alguns dias, decidiu-se a entrar para ohospital,

O tocar vaginal permittiu-nos verificar que outero estava deslocado: notavelmente abaixadoao mesmo tempo que recalcado para diante demodo muito nitido. Era fácil reconhecer a presençade um tumor oecupando o fundo do sacco pos-terior da vagina e que muito facilmente se attingiaem virtude da diminuição de profundidade do canalvaginal. O tumor tinha mais ou menos o volumedo punho, regularmente convexo e apresentavauma fluetuação das mais nítidas. Comprimindo ocentro com o dedo, sentia se mui facilmente ochoque de retorno de um liquido. Combinando opalpar hypogastrico com o tocar vaginal, era fácilverificar que o utero era independente do tumor eque havia entre os dous um sulco appreciavel; deresto, a matriz não estava immobilisada e podia-se imprimir-lhe movimentos com o dedo introdu-zido na vagina. Principalmente atraz do utero,havia um empastamento resistente em relaçãoimmediata com c tumor do fundo do sacco pos-terior. O tocar rectal fornecia indicaçõos con-cordes.

Não era máo o estado geral; a febre poroceasião da entrada, não passava de 38° e diminuiarapidamente, ao mesmo tempo que as dores.

Em resumo, era evidente que nos achávamosem presença de um tumor liquido, francamentefluetuante. Este tumor oecupava o fundo de saccodo peritoneo situado entre o recto e o utero, isto é,o fundo de sacco de Douglas.

Em presença de uma collecção liquida, póde-setratar de serosidade, sangue ou pus. Qual era anatureza do liquido contido no tumor de nossadoente? Pôde existir uma collecção serosa nostumores do ovario, nos kystos da trompa. Maisgeralmente, porem, as producções que venho decitar-vos têm marcha chronica, só depois de teremattingido um grande desenvolvimento, é que adoente reconhece-lhes a existência, visto como,nesta oceasião, ellas comprimem os organs ciroum-visinhos, sobretudo a bexiga ou o recto. E' muitoraro haver phenomenòs súbitos e bruscos como emnossa doente. Delia, pois, devemos aífastar a idéade uma affecção antiga. Não se pôde do mesmomodo pensar nos kystos hydaticos que Charcotobservou nesta região, porisso que o seu desenvol-vimento é acompanhado de symptomas muitodifferentes.

Estaríamos acaso em presença de uma collecçãopurulenta ? A' vista das dores de que a doentesoffria ha longo tempo e da recrudescencia sobre-vinda ha seis semanas, podia-se pensar em umapelviperitonite, que suppurava. Mas a marcha damoléstia e os signaes physicos que podemos veri-ficar devem fazer aífastar esta hypothese.

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' A marcha foi muito rápida. Depois das perdas,das dores, sobrevieram accidentes muito agudos.Tão prompta evolução só se vê na peritonite puer-peral. A pelvi-peritonite, quando evolue para asuppuração é acompanhada de febre alta : ora, emnossa doente, a temperatura apenas passou de 38°.

Pelo tocar e o pai par, verificámos, como vosdeveis lembrar, a existência de um tumor fluc-tuante, approximando-se muito, por esta fluctua-ção, de um tumor kystico. Não ha empastamento,endurecimento peri-nterino ; toda a lesão parececircumscripta ao fundo de sacco de Douglas. Ora,isto não acontece na pelvi-peritonite que determinaa producção de adherencias muito extensas, comfalsas membranas mais ou menos espessas.

Àttendendo a todos os elementos que recolhemos, e depois de ter discutido o diagnosticosomos pois levados a admittir que se trata de umtumor sangüíneo. E' nestes casos a moléstia queos autores descrevem com o nome de hematoceleperi-uterino, ou melhor, retro uterino, fazendo-seo derrame sangüíneo quasi sempre atraz do utero.

Este derrame occupa o fundo de sacco deDouglas e sobe mais ou menos na cavidade x>eri-toneal, cujas adherencias depressa lhe impedem oaccesso.

Nosso diagnostico foi confirmado pela operaçãoque ultimamente praticámos. Uma puneção feitano fundo de sacco vaginal, e seguida de limaincisão, deu sahida a sangue negro, viscoso, fila-mentoso. A's vezes encontra-se grandes coalhosmais ou menos transformados.

De onde provém o sangue? Como são mui-tiplas as origens da hemorrhagia, vamos suecinta-mente passalas em revista.

Cumpre antes de tudo saber bem porque osangue se coagula no fundo do sacco de Douglas.Normalmente o peritoneo são se comporta, empresença do sangue physiologico, do seguintemodo : este ultimo se reabsorve rapidamente, eisto, tão facilmente que se propoz fazer a trans-fusão do sangue injectando directamente esteliquido na serosa. Depois de uma laparotomia,não faço empenho na toilette do peritoneo quandotenho a certeza de que nelle só se encontra sanguenão alterado ; fecho o ventre e não tenho acci-dentes/Si, no hematocele, o sangue se collecta emvez de ser absorvido, deve-se admittir ou que estáalterado, ou que ha lesões do peritoneo. Com todaa verosimilhança a chegada do sangue alterado nopei/toneo daria logar a phenomenos de infecção, eesfeí bem estabelecido que quasi sempre ha ai te-ra^ão provável do peritoneo, quando se produz ohimatocele. O tumor se fôrma em virtude dojpparecimento de adherencias entre as azas intes-rinaes levantadas e a superfície parietal da serosa.Em outros casos, o derrame faz-se em um fundode sacco já fechado. Schroeder pensa mesmo que ohematocele é sempre precedido desta separaçãoem septos, o que explica com a maior facilidade oenkystamento da collecção sangüínea. Ha certa-mente casos em que as cousas se passam comoindicou Schroeder, mas talvez assim não aconteçaem todos.

Occupemo-nos agora, de estabelecer as causasdo hematocele.

Pode o derrame apparecer consecutivamenteá ruptura das veias plexiformes do ligamento largoou plexo pampiniforme. Eis ahi uma causa rara,e, alem disso, pareceria, de accordo com algumasexperiências, que o derrame consecutivo á ru-ptura deste plexo teria sobretudo tendência afazer-se fora do peritoneo. Emfim, na maioria doscasos, é considerável a hemorrhagia, a tal ponto

que os doentes sucumbem no meio dos pheno-menos do *derrame sangüíneo interno, sem quepossa se desenvolver unf «verdadeiro* hematocele,uma vez que este sangue se doMecci<|na a principiono fundo do sacco de Douglas simplesmente porser a parte a mais declive da serosa.

Em outros casos, ainda raros, o hematocelesobrevem consecutivamente a uma apoplexia ova-riana que se produz no decurso de degeneraçõesdiversas da glândula.

O refluxo do sangue derramado no utero atra-vez de uma trompa pode ainda determinar o acci-dente de que nos oecupamos. Este accidénteproduz-se era conseqüência do estreitamento con-genito ou adquirido do canal cervical. O sanguedas regras não pode então circular na vagina echegar ao peritoneo si as trompas se acham livres.

Pode-se ainda invocar como causa diversasperturbações do processo da ovulação. Physiolo-gicamente, a trompa, neste memento, appiica-sesobre o o vario; mas si, por qualquer causa, hadeslocamento do ovario ou adherencia do pavilhão,a trompa deixa de oecupar sua posição normal, ea hemorrhagia que tem lugar na superfície doovario se faz no fundo de sacco de Donglas.

Chegamos agora a causas que produzem ohematocele muito mais freqüentemente do queaquellas de que nos oecupámos até aqui.

Grallard demonstrou a influencia da rupturaprecoce de uma prenhez extra-uterina tuba ria.Esta ruptura engendra hematoceles que sobemmuito e adquirem um grande volume.

Mui freqüentemente o hematocele depende delesões da trompa, quer se trate de estreitamento,de dilatações, de hematosalpinx, muitas vezes compelviperitonites. Por occasião das regras, as trom-pas rupturamse e derramam seu conteúdo naserosa. Ou o derrame cáe em um peritoneo são, ouo fundo do sacco de Douglas já se acha divididopor septos, podendo mesmo haver ahi kystos comliquido seroso ou pus. E' a salpingorrhagia intra-peritoneal, causa habitual dos hematoceles cata-meniaes. Trata se, nestes casos, de affeccões simul-taneas das trompas e do peritoneo.

Pode enfim tratar se de uma pelviperitonitehemorrhagica que é muitas vezes difficii de. dis-tingnir clinicamente da hemorrhagia de origemtubaria. Para adimittir-lhe a existência partiu-seprincipalmente das analogias que existem entre a

' pelvi-peritonite chronica e as inflammações damesma natureza que se produzem para a lado dasmeningese da vaginal. Quando uma destas serosasse infiamma chronicamente, os vasos das falsasmembranas, sob a influencia de um ligeiro trau-matismo, de uma congestão viva, se rompem edão lugar a uma apoplexia intersticial ou a umahemorrhagia livre. Isto é tão freqüente para avaginalite chronica que Bernutz comparou comrazão, em um parallelo interessante, a pelvi-peri-tonite á vaginalite do homem. A ruptura do vasose faz sobretudo facilmente no momento das con-gestões catameniaes ou sob a influencia de umtraumatismo qualquer.

Em nossa doente, deve-se admittir que setenha produzido uma salpingorrhagia, visto comoos phenomenos agudos produziram^se subitamenteno momento das regras, e foram precedidos deesforços (fadiga ou trabalho). Ella teve accidentesanteriores de endometrite, é verdade, mas não lheencontramos signal algum de pelvi-peritonite.

(L'a Union Mêdicale.)

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CLINICA SYPHILIGRAPHICA

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Syphilis terciaria do testiculoPELO PROFESSOR FOURNIER

Senhores:Como já tive occasião de vol-o dizer, ha duas

fôrmas de syphilis terciaria do testiculo. Em uma,depõe-se no orgam uma gomma que, como todasas gommas, se amollece e se elimina em um mo-mento dado ; em outra, o tecido fibroso, que existenormalmente na glândula prolifera, adquire umgrande desenvolvimento e acaba por determinara atrophia do testiculo ; sua ultima fôrma ô aesclerose, de que tendes presentemente um certonumero de exemplos no serviço.

A esclerose testicular de origem syphiliticarecebeu diversos nomes. Designou-se-a com os deesclerose albuginea, sarcocele hyperplasico escle-roso ou ainda orchite intersticial. E' uma lesãoterciaria, que indica o iodureto de potássio, que,mais commummente apparece no segundo ou terceiroanno da syphilis e algumas vezes no primeiro anno.Entretanto, pôde também se mostraFmui tardia-mente, vinte e sete, vinte e nove, trinta annosdepois da infecção.

Ora, e este facto se produz apenas na quartaparte dos casos, o epididymo é acommettido aomesmo tempo que o testiculo, ora, é este ultimoapenas o compromettido. A affecção é sempremono-testicular originariamente, mas também osegundo testiculo é invadido si o doente não setrata convenientemente.

A regra é achar a glândula augmentada devolume; mas este augmento apenas lhe dá di-mensões duplas ou triplas das normaes.; nos casosaccentuados, póde-se comparar o testiculo a umovo de perua. .Não ha modificações, na fôrma,parecendo com a lente que se trata de um testículonormal. A superfície apresenta ás vezes algumassaliências periformes, emfim a densidade do orgamfoi comparada a da madeira.

Seccionando-se a glândula, verifica-se facilmenteque ha um espessamento notável da albuginea queé coriacea e resistente ; o parenchyma deixa de tero aspecto de uma polpa molle, de cor de camurçamas apresenta-se sob a apparencia de um tecidobranco roseo ou branco lei toso. Os septos queseparam os lobulos são muito espessos e revestiramo aspecto de verdadeiros tendões. Entre ellesverifica-se freqüentemente a existência de núcleosbrancos, verdadeiros focos de apoplexia fibrosa.

Os elementos nobres do orgam desapparecem,suffocados pela esclerose. Ao microscópio, é fácil ve-rificar a existência da proliferação cellular; os tubosseminiferos não são mais tangentes uns aos outros,mas separados por tecido fibroide. Desappnrece oèpithelio dos canaliculos, ao passo que se hyper-trophiam as paredes e as artérias se obliterampouco a pouco.

Depois de um certo tempo, á phase de hyper-plasia suecede a de cura, e as cousas se passamcomo na cirrhose do ligado.Então o orgam diminuede volume e se retráe. Esta diminuição de volumeé parcial nas escleroses parciaes que produzemdepressões na superfície; é total quando orgamfoi acommettido em seu conjuneto, e o testículochega a parecer uma ameixa passada. E' o hari-coce.le de Bicord. A glândula fica então perdidanas bolsas, e o coto testicular torna-se um verda-deiro fibroma.

A vaginal, espessada, encerra muitas vezesum exsudato seroso fibrinoso e nella encontra-semui freqüentemente falsas membranas, principal-mente no fundo de sacco superior. O epididjmofica comprehendido na trama conjunetiva e e ne-cessado disseccal-o si se deseja isolal-o, mais-commummente o canal é obstruído, ou porque oorgam foi invadido pelo processo syphilitico, ouem virtude da compressão.

O que ha de mais notável na symptomatologiada orchite esclerosa, é que a intumeceucia testi-cular é fria, indolente, aphlegmasica, não deter-minando reacção. A's vezes mesmo a affecçãopermanece latente, tão silenciosa é ella. Começa adespeito do doente que a descobre por acaso epôde mesmo ignorar-lhe a existência emquanto omedico não a tiver encontrado. Como dizia Ricord,o cirurgião deve se oecupar com o testículo deseus syphiliticos, mais do que elles próprios seoecupam. • . .

O tumor qne resulta do desenvolvimento daorchite esclerosa é de pequeno ou de médio vo-lume (ovo de gallinha ou de perua); é ovoide elembra a fôrma do testiculo normal. E' notável aindolência quando se explora o orgam; emfim, éfácil verificar uma dureza geral e endurecimentosparciaes. Pode-se tratar de verdadeiras placas quenão excedem a superfície geral da glândula, outrasvezes tem-se a sensação de grãos de chumbo. Nãoha saliência exterior, e eis ahi, senhores, um excel-lente signal sobre o qual de resto insistira Eicorde que não se encontra em nenhuma outra moléstia.

A fôrma esclerosa da syphilis testicular podeofferecer algumas variedades. A orchite bilateral,como já vos disse, é muito freqüente, e as duasglândulas não são por igual acommettidas. Nestecaso, diminue a potência viril; as erecções são rarase incompletas, e finalmente, pode-se verificar aausência dos espermatozoides no produeto daejaculação.

O hydrocele se encontra na terça ou quartaparte dos casos e x.ermaneee pouco abundante; éfácil, atra vez do derrame, sentir a superfície dotesticulo.

Quando o epididymo é acommettido, cobre otumor como uma espécie de capacete ; já não éentão a fôrma ovoide que se verifica, é a fôrmaachatada.

Em casos excepcionaes, o começo da affecçãose faz no meio de uma pequena infiammaçà^ quedura alguns dias; depois, as cousas readquiremseu curso normal. \

A moléstia caminha mui lautamente e p)depermanecer estacionaria durante mezes; então, ipba influencia do tratamento, a resolução faz^eprogressivamente e termina pela cura; ou entfosi o doente não se trata, produz-se a atrophiavNunca ha abeesso, suppuração nem inflammação.\

E' muito grave o prognostico da orchite escle- \rosa, quando não ha tratamento, porquanto ellaconduz fatalmente á impotência. Felizmente amoléstia é mui facilmente curavel e cura-se semprequando combatida em tempo; mesmo, quando jáé muito tarde, ella é ainda curavel, obtendo-se ásvezes resultados inesperados.

E' fácil o diagnostico na grande maioria doscasos. Servir-lhe-ão de guia os antecedentes dodoente, o inicio insidioso, a bilateralidade, oscaracteres do tumor, a acção resolutiva do ioduretode potássio.

A epididymite blennorrhagica é acompanhadade phenomenos inflammatorios.

Na tuberculose, encontra se nodulos e, no-

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epididymo, grandes bossas nodosas; a próstata éóommummente invadida, do mesmo modo que asvesicnlas seminàes.

Tem-se confundido algumas vezes com o tumormaligno, do que tem resultado a pratica de cas-trações inúteis. No câncer velho, é característicaa presença de tumefacções ulceradas, mas, nocâncer recente, servirão de base a unilateralidade,as dores lancinantes, a desigualdade da consistemcia. Deve-se sempre experimentar o tratamentoiodurado antes de propor a castração.

Este medicamento é o especifico da tubercu- tlose testicular; poder-se-á com vantagem associar- jlhe o mercúrio quando se tratar de casos antigos.Localmente, são inúteis as pomadas, bastandoaconselhar ao doente o uso de um suspensorio.

(X' Union Mcdicale.)

IMPRENSA MEDICA ESTRANGEIRA

AmWyopia aninioa pelo Dr. Panas (Revue Gene*vale de Clinique et de Thêrapeutique). Uma moça de 25annos de idade, em estado de prenhez adiantada, cônsul-tou ao autor a respeito de uma amblyopia dupla muitopronunciada; comquanto vendo para ler, só com grandetrabalho podia andar na rua.

Eis em poucas palavras a sua historia. Durante aprenhez, foi acommettida de enxaquecas muito violentas,para as quaes um medico receitou sulfato de quinina. Haquatro mezes mais ou menos, a doente, notando que suasdores de cabeça não diminuiara, tomou de uma vez, pelas10 horas da noute, dez grammas de sulfato de quinina.

Passada uma hora, notou que não via, que estavasurda, e logo depois perdeu os sentidos durante 24 horasconsecutivas.

Voltando a si, observou que a visão e a surdez per-maneciam como na véspera; no dia seguinte, recuperavacompletamente a audição mas a visão permanecia mais oumenos o que é ainda hoje. A doente nunca experimentoucousa alguma para o lado do olfacto ou do gosto.

Trata-se pois de uma amblyopia quinica, questão queinteressa não só aosophthalmologistas, como aos médicoscm geral. .

A amaurose quinica só foi assignalada depois dadescoberta dos saes de quinina. Viu-se que a acção da¦quinina se exercia sobre o systema nervoso e que o nervoacústico era de preferencia influenciado; d'onde se podeconcluir que é um agente bulbar, por causa das origens donervo acústico.

O nervo óptico nasce também do mesocephalo, aonivel dos tuberculos quadrigemeos, mas tem igualmenteduas outras raizes, uma que vai até a raedulla espinhal,c a outra por fibras radiantes estendendo-se até á codeacerebral, que hoje se sabe ser a sede do centro visual

psychico. ,A questão que deve primeiro interessar é a seguinte:

«obre que parte actua a quinina ? E' sobre o tronco donervo óptico? A retina? Os tuberculos quadrigemeos?Ou a codea cerebral .

Só o ophthalmoscopio e a anatomia pathologica nos

podem esclarecer. ' ,A anatomia pathologica infelizmente nada adianta,

por falta de autópsias.O exame ophthalmoscopico, ao contrario, mostra que

-com grande rapidez a pupilla empallidece e toma o as-

pecto de uma atrophia branca, de origem cerebral, sem

passar pelo periodo de nevrite, absolutamente como naintoxicação alcoólica, com a differença que nos alcoohstasé preciso muito tempo, ao passo que na intoxicação pelosulfato de quinina, a amaurose se estabelece por assimdizer bruscamente, como nesta doente que, uma horadepois da absorpção, notou que não via mais.

A amblyopia quinica é moléstia rara, tanto que eo segundo caso que se apresenta ao autor. O primeiro

doente era um impaludado, cuja historia é mais ou menosa mesma que a do doente era questão.

Mas se os symptomas são os mesmos que na intoxi-cação alcoólica, a etiologia diff er^g essencialmente. Comeffeito, aqui, foi necessária uma dose massiça de agentetóxico para agir, ao passo que nos alcoolistas é a acçãolenta e continua do agente tóxico que actua, por assina,dizer, molécula a molécula, donde a difficuldade em pro-duzir a amblyopia tóxica alcoólica nos animaes.

Outra differença: o alcoolismo actua sobre o nervoóptico só, ao passo que a quinina actua a principio sobreo nervo acústico e, excepcionalmente, sobre o nervoóptico. O symptoraa commum é a pallidez da pupilla, ri5opassando pelo periodo inflamraatorio.

Tomando o campo visual, o sentido chromático e aagudez visual, ainda aqui se nota differenças cora a into-xicação alcoólica.

Na doente de que se trata, o campo visual ó estrei-tado de modo concentrico e symetrico para os dous olhose o sentido chromático permanece normal na parte conser-vada do campo visual. Quanto á agudez visual central,é igual a 1.

De todos estes signaes, e particularmente da atrophiaóptica, se pode deduzir que a lesão não está localisada nacodea cerebral. Força é pois procural-a entre a retina e ostuberculos quadrigemeos, e, attendendo á acção do venenosebre o nervo acústico, admittir uma localisação bulbo-protuberancial.

Mas qual é a alteração intima do systema nervoso ?E' ainda o ophthalmoscopio que mostra tratam-se de umaischemia por estenose dos vasos arteriaes centraes. Nestadoente, as veias são quasi normaes, ao passo que as arte-rias sâo filifonnes. E' esta a lesão primordial.

Os ophthalmologistas que viram intoxicados nocomeço,notaram sempre que era este o primeiro symptoma.Esta acção da quinina sobre os vasos é de resto conhe-cida, e Piorry insistia sohre a rápida diminuição do baçonos impaiudados que tomam quinina. Physiologicamenteo facto não está menos provado, visto como, pulverisandoo inesenterio da rã com sulfato de quinina, vê-se ao mi-croscopio que os vasos se retrahem.

Nas outras partes do olho, não se encontra lesãoalguma, prova cie que o oiho se limita ao nervo óptico eá retina.

A doente se queixa ainda de outro symptoma, a he-meralopia, absolutamente como na retinite pigrnentariacongênita, onde, em virtude de outro processo, as artériastornadas filiformes provocam a ischemia da retina e donervo óptico.

Uma particularidade digna de interesse consiste nofacto do nervo óptico, uma vez intoxicado pela quinina,só se reparar incompletamente, quando é o contrario jus-tamente quesuccede com o nervo acústico.

Não é conhecida a razão desta differença, sobretudoestabelecida como está a acção electiva que exerce a qui-nina sobre este ultimo nervo.^

O tratamento, aliás muito racional, que a doenteseguiu: correntes continuas, injecções de strychnina, nãoparece ter determinado melhora. Si não fosse o estado degravidez adiantada, poder-se-ia experimentar a hydrothe-rapia e a massagem geral. O autor, porém, limitou-se aprescrever tônicos (poção de tartrato ferro-potassico enoz-vomica). Tem-se tentado nestes casos o nitrito deamyla que tem por fim dilatar os vasos estenosados, mas aexperiência mostrou que elle não actuava eflicazruente.

O prognostieo e serio, sobretudo nesta mulher que,pelo facto de seu estado, se acha exposta a perder sangueno momento do parto.

De modo geral, impõe-se grande reserva, sempre quese está em presença de uma amblyopia por intoxicaçãoquinica. E' um ponto que convém nunca esquecer.

Sobre a pericystite lacrymal, pelo Dr. Parinaud(Annales de Oculistique 1891.)

Sob esse nome designa o autor os áccidentes inflam-matorios agudos ou chronicos que se desenvolvem emtorno do sacco lacrymal, sob a influencia de um estreita-mento do canal nasal. Este estreitamento determina ainflammação do tecido cellular que cerca o sacco, sem

fttfí'

oe *

tumor lacrymal. Si a inflammação existe, é que o púsirrompe do exterior para a cavidade do sacco. Desenyol-vese então uma pericystite, cujos symptomas variamseguiido a forma aguda ou chronica.

Quando a affecção tem uma marcha chromca écaracterisada por tumefacção profunda, simulando umaperitonite. A inflammação na forma aguda assemelha-se auma lymphangitè e pôde ser confundida com uma erysipela, tanto mais quanto a tumefacção que simultaneamenteaffecta as palpebras pode se mostrar do lado opposto.

O autor affirma que muitas erysipelas catáraeniaesnão sâo outra cousa sinão a pericystite lacrymal. Observouaté doze insultos de pericystite declarando-se antes oualguns dias depois das regras. As reincidências foramevitadas com um largo desbridamento com a faca deStilling.. Na pericystite primitiva e na phlegmasia quecomplica um tumor lacrymal, deve-se sempre procurar oponto de partida na emigração das bactérias penetrandono tecido que cerca o sacco atravez uma aranhadura do«epithelio da mucosa das vias lacrymaes. E' o estreptococoque dá a affecção o caracter erysipelatoso; encontra-se-ono phleimão sub-cutaneo, ao passo que no catarrhochronico do sacco apenas se encontra o estaphylococobranco e dourado.

Basta isto para provar que ha ahi desenvolvimento«de um foco inflammatorio para fora do sacco. No trata-mento da pericystite recommenda o autor sobretudocombater o estreitamento do canal nasal; o catheterismopôde fazer abortar a inflammação.

FORMULÁRIO PRATCIO

Preparações tônicas e expectorantes contra a pneumoniae agrippe

35) Extracto molle de quinaTinctura de canellaAcetato de ammoniay*Xarope de cascas de laranjas amar-gas

Hydrolato de melissaPara tomar ás colheres de sopa de

36) Extracto molle de quinaAcetato de ammoniaPoção de Tood*Para tomar ás colheres de sopa de

2 grammas

5 a 10 "

30120

hora em hora.

2 a 4 grammas5 a 10 "

150hora em hora.

37) Alcoolato de melissa composto..Xarope de quinaÁgua de hortelan pimentaÁgua commumPara tomar _ás colheres de sopa de hora em hora.

5 grammas25 "30 "90

1 a 2 grammas

5>

38) Carbonato de ammoniaXarope de morphina

de balsamo de tolúde gomma

Aguardente de canna **.Água de flores de larangeiraPara tomar ás colheres de sopa de hora em hora.

1520253040 5J

39) Gomma ammoniaca.Xarope de morphina...Emulsão de amêndoas.

40) Oxydo branco de antimpnio I a 2 grammasXarope de digital 1*Xarope de balsamo de tolú 25Infuso de polygala. 125

"

Para tomar ás colheres de sopa de hora em hora.

41) Extracto de belladona . 10 centigr.Kermes mineral... 20Xarope de Désessartz.............. 50Infuso de Hysope 150Para tomar ás colheres de sopa de hora em hora.

(Progrês Medicai.)

-<*

CHRONICA E NOTICIAS

Sociedade de medicina e cmuRGiA. — Foram eleitos para adirectoria que tem de funccionar em 18&2 ; presidente, conselheiro|Dr. Catta Preta ;i 1« Vice-presidente, Dr. Marcos Cavalcanti;

2o Vice-presidente, Dr. Azevedo Sodré;lo Secretario Dr. Guedes de Mello;

• £°, Dr. Barros Barreto ;£o Dr. Joíío Drumond :

\ Redactor dos boletins, Dr. Monte Mór ;\ Bibliothecario, Dr. Avellar Andrade ;

Director do Musèo, Dr. Daniel de Almeida ;Tliesoureiro, Dr- Werneck Machado.

2 grammas20 "• •••••••• émt\J

90 »Para tomar ás colheres de sopa de hora em hora.

40) Oxydo branco de antimonio 1 a 2 grammasXarope de digital 15Xarope de balsamo de tolú 25Infuso de polygala 116Para tomar ás colheres de sopa de hora em hora.

»

Necrológio—Em um wagon da estrada de ferro Minas e Riofoi encontrado morto, ao que parece, em conseqüência de umasyncope, o Dr. Paulino Franklin do Amaral, Barão de Ca-nindé, que seguia com destino ás Águas de Lambary. Natural doCeará, formou-se em medicina pela Faculdade do Rio, estabele-cendo-se depois como clinico nesta capital. Dedicou-se á especia-lidade de moléstias da garganta e ouvidos e grangeou grande clien-tela, Representou no parlamento brazileiro, como deputado, o seuestado natal. Fez parte também do jornalismo politico, sendo pormuito tempo proprietário do Diário de Noticias.

Da Europa chega-nos a noticia do fallecimento do Dr.João Alvares Soares de Souza, medico intelligente e illustrado,membro de uma das mais distinctas familias do Estado do Rio,filho do Visconde de Uruguay, e irmão do Conselheiro Paulino déSouza e do nosso collega Luiz Paulino de Souza. Formou-se emmedicina pela Faculdade de Paris, vindo depois para o Rio deJaneiro onde estabeleceu-se. Vivia já ha muitos annos retiradoda clinica.

Falleceu nesta cidade o Dr. Francisco de Paula Ta-vares, clinico antigo e conceituado, formado pela Faculdade doRio, tendo se estabelecido e feito carreira no Estado de Minas.Exercia actualmente o logar de medico-director do Hospital deS. Sebastião, onde contrahiu a fatal enfermidade que o levou aotúmulo.

Xarope de HYPOPHOSPHITOS COMPOSTODE FELLOWS

De Cândido Benicio, Doutor em Medicinapela Faculdade do Rio de Janeiro ; Delegado deHygiene em Jacarepaguá.

Attesto que tenho empregado e considero umbom preparado o Xarope de HypophosphitosComposto de Fetxows ; com muita vantagem pre-conisado aos convalescentes de febres, aos ane-micos, e aos indivíduos enfraquecidos por enfermi-dades prolonga cias.

Rio de D 'HÍro 24 de Setembro de 1891.(Asai-nado) Dr; Cândido Benicio. ¦.$¦

O GERENTE—Dr. Álvaro db Ójiveira

Anno VI Muni. i.4, 15 de Abril

0 BRAZIL-MEDICORevista Semanal de Medicina e Cirurgia

SUMMARIO

Pathologia Intertopicàl : — Da hemato-cliyluria ou liemato-lymphuria, pelo Dr. Azevedo Sodré.

Clinica de Moléstias Nervosas ; — Paraplegia espasmoãica e mo-lestia ãe Little, peloDr. Déjérin.

Socieda de Medicina e Cirurgia : — Sessões em 15, 22 e 29 deMarço de 1892.

Registro Clinico : — Estenose e insufficiencia mrtraes ãe origemendocarãica ; Asystolia hepatica, pelo Dr. Pedro de Magalhães 'e interno Sylvio Freire.

Imprensa Medica Estrangeira : — A salipyrina e suas inãica-ções no rheumatismo, pelo Dr. Ch. Eloy.

Formulário Pratico : — Tratamento ãa tenia nas crianças: —Tratamento geral ãa escrophula.

Çhronica e Noticias.

Aos nossos assignantes em atrazo prevenimosque de 1 dc Maio em diante scr-llics-á suspen saa remessa do «Brazil-Mcdico». Pedimos-lhcs,pois, o especial obséquio de mandarem quantoantes satisfazer a importância dc suas assigna-turas, Ou nos cscrcTercm cm tempo declarandoquerer continuar a assignar a nossa revista,

PATHOLOGIA INTERTROPICAL

Da hemato-chyluria ou hemato-lymphuria

pelo Dr. Azevedo SodréProfessor substituto, encarregado do curso de Pathologia Interna

Senhores :Na minha lição de abertura de curso, oecu-

pando-me de um modo geral com a espécie noso-lógica e sua seriação, fallei-vos das familiasmórbidas, e, como exemplo, citei-vos este grupode moléstias que modernamente se designa com onome de filariose. Eu vos disse então que adescoberta do factor etiologico commum — a fila-ria — viera estreitar ainda mais os laços existentesentre estas diversas entidades nosologicas.

Antes mesmo de cliegar-se a um accôrdoscientifico e positivo no tocante á pathogenia dosdifferent.s membros d'esta família mórbida, já osobservadores clinicos tinham estabelecido suasrelações de parentesco, relações firmadas nasanalogias e afinidades etiolpgicas, symptomatolo-

" gicos e anatomo-pathologicas.Em seu excellente tratado das moléstias dos

paizes quentes, Corre dá a estas diversas aífecçõesa denominação geral de Lymphatexia endêmica,que elle define do seguinte modo: " uma affecçãodo symtema lymphatico, caracterisada por coagu-lações, derrames ou corrimentos de lympha, pordilatações, engorgitamentos ou inflammações dosgânglios e vasos lymphaticos, que se produzem

(1) Lições professadas na Faculdade dc Medicina do Rio deJaneiro, resumidas e revistas pelo professor.

principalmente nos membros e orgams externosda geração (testiculos, escroto, grandes lábios eseios), affecção commum em certos paizes quentese torridos, muitas vezes em connexão cora o para-sitismo filariano, porém engendrada sob influenciasclimato-somaticas e susceptível de revestir, sobinfluencias infectuosas— malária, typhismo, etc.—tendências graves e infectuosas.

A este grupo pertencem, segundo Corre: —Io. As dilatações varicosas dos vasos e gânglioslymphaticos (angio e adeno-lymphoceles), astromboses lymphaticas e certos edemas particu-lares, provalvemente de natureza lymphatica; —2o. Lymphangites e erysipelas de marcha especial;3o. Engorgitamentos do testículo e do cordão, atéaqui confundidos com diversas moléstias; 4o. Cor-rimentos e derrames de lympha ou de liquidolymphoide; lymphuria e hemato-lyrnphuria. Entreas lymphangites e erysipelas de marcha especialcomprehende Corre a. lymphangite simples ouadenolymphangite, a erysipela do Rio de Janeiro,a erysipela branca, a erysipela vermelha, a lym-phatite erysipelatosa, a febre perniciosa de fôrmalymphatica, a lymphangite palastre, etc.

Alguns dos nomes que eu acabo de citar-vossão mais ou menos synonymos, servindo paradesignar a mesma affecção; outros, como lympha-tite perniciosa, lymphangite palustre, febre per-niciosa de forma lymphatica, etc. referem-se aentidades mórbidas que não podem pertencer ámesma família. Devo desde já — valendo-me d'es*ta opportunidade—prevenir-vos que lymphatiteperniciosa e febre perniciosa de forma lymphaticasão denominações dadas á mesma moléstia, sendoesta ultima imprópria, visto como não está abso-lutamente provada a natureza paludosa d'estagrave enfermidade que epidemicamente tem reina-do em algumas cidades do Brazil e que tão bemestudada foi sob o ponto de vista clinico pelosnossos compatriotas.

Corre, seriando as affecções do apparelholymphatico, pouco se preoecupou com o ponto devista etiologico, ou antes preoecupou-se mal por*quanto sob a denominação geral de lymphatexiaendêmica comprehende affecções "muitas vezesem connexão com o parasitismo filariano e sempreengendradas sob influencias climato-somaticas,podendo ser modificadas por influencias infe-ctuosas extranhas (malária, typhismo, etc). Nãoadmira, pois, que abrangesse em uma só famíliaentidades tão distinetas como a lymphatite perni-ciosa e a hemato-chylnria.

Deixando também de lado o ponto de vistaetiologico Mahé propoz o nome de Lymphosespara o conjuneto de todos estes estados mórbidos;e Bourel-Roncière designou-o com a denominaçãobem imprópria de Helminiliiase. Eu prefiro onome genérico Filariose de Wucherer, pela pri-meira vez empregado pelo meu distineto collegao Dr. Pedro Severiano de Magalhães, e que alémde ser bem fundamentado porquanto implica a

toe

noção etiologica, aquella que liade futuramenteprevalecer em nosologia, tem a grande vantagemde constituir justa homenagem ao famoso invés-tigador da Bahia, ao qual tanto deve a Pathologiainter tropical.

A filariose de Wucherer representa, pois, umafamília nosologica constituída por todos os estadosmórbidos que reconhecem por causa a presença daFilaria Wucliereri e de suas progenitoras no corpohumano. Da intensidade, duração e localisaçãodas alterações motivadas por esse parasita depen-dem as modalidades clinicas resultantes. Além das

que já vos mencionei a propósito da lymphatexiade Corre, poderemos accrescentar ainda outrasaffecções que, segundo as investigações modernas,reconhecem o mesmo factor p a th o g e n ic o,apresentando, pois, as mesmas afinidades. Entreestas figuram a elephantiases dos Árabes ouelephancia, ocraw craw, a moléstia do somno, etc.

Com excepção da moléstia do somno, todasas demais modalidades clinicas da filariose deWucherer têm sido observadas no Brazil e podemfigurar na nossa pathologia indigena. Eu desejavapassar em revista todas estas entidades mórbidas,de maneira a fazer um estudo completo da família,estudo que se me afigura indispensável para osmédicos que clinicam no Brazil. Infelizmente aexiguidade do tempo e o atrazo em que se acha onosso curso não me permittem a realisação d'estedesejo; e, para dar-vos uma idéia geral acercad'esta importante família nosologica eu vou occu-par-me um pouco mais detalhadamente de umadas muitas affecções que a constituem, e, quefio-ura no programma do professor d'esta cadeira.Refiro-me á hemato-chyluria, cujo estudo con-stituirá assumpto da minha lição de hoje.

* A hemato-chyluria, também conhecida pelasdenominações de chyluria, hemato-lymphuria,urinas leitosas ou galacturia, hematuria gordurosa,

porém, parecem apocryphos e tudo nos leva acrer que a moléstia em questão é desconhecidan'aquella parte do velho continente, sendo oscasos alli observados de proveniencia exótica. NaChina, no Indostão, na Indo-China ella desenvol-ve-se com alguma freqüência, e segundo Bouchar-dat também é encontrada na ilha de Java.

Reina epidemicamente nas ilhas de Bourbon eMauricias, em Madagascar, onde foi assignaladapor Le Roi de Méricourt; na colônia do Cabo eno Egypto também foi observada. A sua existênciana Oceania acha-se cabalmente demonstrada pelosimportantíssimos trabalhos de Brancoft na Aus-tralia e pelas observações de Guyot em Taiti.

Na America a hemato-chyluria foi encontradaao norte do Equador, nas Antilhas, sobretudo nailha de Cuba, na Guadelupe, na Martinica, emS. Domingos, na Goyana ingleza, na Goyana f ran-ceza, em Porto Cabello na Venezuela e em Vera-Cruz.

Segundo Juvenot ella tem sido observada nasmargens do Prata e de seus afluentes, no Chile eno Ptrú. Médicos de nomeada de Montevideo eBuenos-Ayres asseveram que a moléstia nem éconhecida nestas cidades. O Dr. Pereira Gnima-rães, professor jubilado desta Faculdade, que naqualidade [de medico militar fez a campanha doParaguay demorando-se nas cidades de Montevi-déo, Buenos-Ayres, Comentes, Bella Vista, Ro-sario, etc, nunca observou nm só caso de hemato-chyluria.

No dizer de Juvenot a chyluria é tão freqüenteno Brazil que os nossos ciinicos são chamadosquotidianamente para trataba. Nada menos exactoque similhante asserção : ha 6 annos que eu clinicoaqui no Rio de Janeiro e durante este tempoapenas tive occasião de observar três casos dessaaffecção e durante o meu internato de quatro annosno hospital da Misericórdia não vi um só caso. Emsua these de concurso referiu o finado professor

polyuria caseosa, diabetes chylosa, pymeluna João Silva que durante os longos annos que elle eendêmica dos paizes quentes, albumino-pymeluria, %pyurea láctea, urinas butyraceas, lymphorrhagiado apparelho uropoietico, etc, etc. é uma affecçãoendêmica nos climas quentes, produzida pelafilaria Wucliereri, e caracterisada pela emissãomais ou menos intermittente de urinas ora brancascomo leite, ora vermelhas como sangue, ora apre-sentando colorações intermediárias.

Não se*pode dizer positivamente que a hemato-chyluria seja uma moléstia exclusiva das zonasinter tropicaes; ella tem sido observada alem dostrópicos e seus limites de destribuição geographicapodem ser comprehendidos entre o parallelo de30 gráos de latitude norte e o de 35 de latitude sul.Em todo o caso ella é mais freqüente nos climasquentes e nas zonas temperadas visinhas dostrópicos.

William Roberts, Bird, Bouchut e Proutfaliam de indivíduos affectados de hemato-chyluria,sem nunca terem sabido da Europa; estes factos,

seu irmão o professor José Silva exerceram a clinicanesta cidade só puderam colligir 14 observações deindivíduos affectados de hemato-chyluria. Em seulongo tirocinio clinico civil e nosocomial o saudosomestre Torres Homem só observou 14 casos.

Na Bahia o illustrado Dr. Wucherer apenasconseguiu colleccionar 28 observações. O Dr. Car-neiro da Rocha que durante algnns annos exerceua clinica no Amazonas nunca observou um só caso.Segundo o Dr. Martins Mendes, medico da colôniaItajahy, esta moléstia é rara no Estado de SantaCatharina. O Dr. Felicio dos Santos, que durante10 annos clinicou no norte do Estado de Minas nãoobservou caso algum de hemato-chyluria.

Em compensação o Dr. Castro Rabello diz queno Pará e Maranhão o clinico muitas vezes teráensejo de verifical-a, e o Dr. Noronha Gonzagaassevera ser ella muito freqüente em Minas Geraes,onde affecta de preferencia os velhos.

Faltam nos informações sobre a freqüência da

IO*

chyluria nos outros estados do Brazil; não possui-mos também os dados precisos para afíirmar demodo cathegorico que esta moléstia existia entreos habitantes primitivos do nosso paiz ou que paracá foi importada com os africanos ou em conse-quencia das nossas relações marítimas com asAntilhas.

Outr'ora a hemato-chyluria era sem duvidaalguma muito mais freqüente na cidade do Rio deJaneiro, do que o é hoje. Pelo menos é < o quepodemos inferir das discussões a esse propósitotravadas nas nossas associações scientificas e doque ainda verbalmente me têm referido clinicosantigos d'esta cidade. Prefaciando a memória deMartins Costa sobre " a albumino-pymeluria "escrevia o professor Torres Homem: " A chyluriaé uma moléstia própria dos climas intertropicaes,muito freqüente no Rio de Janeiro,..." No entre-tanto 10 annos depois, quando publicou as suaslições de clinica medica, este illustrado professorpensava de modo contrario e escrevia: " A chylurianão é muito freqüente entre nós, como demons-tram as estatísticas, é mesmo rara relativamenteás outras affecçoes peculiares ao nosso clima."

Tudo isto prova o que eu vos dizia: que ahemato-chyluria tem diminuído de anno em annode freqüência entre nós; o que bem pensado con-tribue para julgarmos um pouco menos exageradaa proposição deJuvenotque eu vos citei. Qual acausa ou quaes as causas que têm concorrido paraa menor freqüência d'esta affecção no Rio deJaneiro ? Eis um problema qne se offerece á invés-tigação dos clinicos e que merece ser sol vido. Cer-tamente que estas causas são as mesmas quecontribuíram para a diminuição extraordinária defreqüência das erysipelas brancas, da elephanciae de outras modalidades clinicas da filariose ou-ti'ora tão communs entre nós.

Deveis saber, por tradição, como eram ire-quentes antigamente as erysipelas e a elephanciano Rio de Janeiro. Eu vou ler um trecho do Dr.Antônio Joaquim de Medeiros, escripto em 1798em resposta a um programma proposto pelosenado da câmara d'esta cidade, e por elle pode-reis vos ajuizar da freqüência das erysipelas: "Aserysipelas, a ninguém, nem mesmo aos réeem-nas-cidos, como en tenho observado, poupam. Raris-simas são as pessoas d'esta cidade que não sofframinsultos erysipelatosos, e por isso os naturaes dopaiz já não. reputam enfermidade a erysipela. Cu-ram-se com os seus remédios domésticos, sem oauxilio da arte; tão vulgar se tem feito estamoléstia."

Houve um largo período de tempo de 1830 a1845 em que as erysipelas e os lymphangitesdiminuíram consideravelmente a ponto de sup-pôr-se terem desapparecido. O Sr. Dr. Barão doLavradio, que tão bem historiou as epidemias doRio de Janeiro, commentando este facto inclina-sea acreditar na influencia da humidade das casas J

como causa d'estas affecçoes. De facto no anno de1845 em conseqüência dos trabalhos feitos para onivelamento da cidade, muitas casas ficaram comos porões e parte dos andares inferiores abaixo donível das ruas. Acredita pois, aquelle notávelepidemiologista que foi devido a esse excesso dehumidade que as lymphangites reappareceram em1845 no Rio de Janeiro.

Alguns clinicos, que acreditam ainda ser aelephancia produzida por erysipelas e lymphan-gites repetidas, filiam sua menor freqüência hojeá diminuição das erysipelas e lymphangites. Corrioexplicarão elles a diminuição de freqüência dahemato-chyluria e de outras modalidades clinicasda filariose de Wucherer? Afignra-sé-me maisrazoável procurar causas que possam abranger oudizer respeito a todo o conjuncto mórbido; e, assimpensando creio que ellas devem ser procuradasnas condições de vida, reproducção e propagaçãodo parasita productor de todas as affecçoes quereunimos sob a denominação geral de filariose deWucherer.

Não posso entrar em maiores detalhes sobreeste assumpto, que aliás é bem interessante. Emtodo o caso a hemato-chyluria ainda existe noRio de Janeiro e durante vosso tirocinio clinicotereis de enfrentar com casos d'essa entidademórbida. Convém, pois, que tenhaes a respeito desua historia nosologica noções firmes e exactas.

{Continua)

CLINICA DE MOLÉSTIAS NERVOSAS

Faraplegia espasmodica e moléstia de LittlePELO DE. DÉJÉRIXE

Senhores :O doente que eu vos apresento, idoso de 49

annos, nada tem em seus antecedentes hereditáriosque mereça ser assignalaclo. Aos 19 annos de idadecontrahiu uma syphilis que foi imperfeitamentetratada. Quatro annos mais tarde notou qne tinhadifficuldade para urinar, que era obrigado a fazeresforços para esvasiar sua bexiga. Alem disso,perdia, de noite sobretudo, algumas gottas deurina, e esta incontinencia reproduzia-se duranteo dia quando passava muito tempo sem urinar.

Estes phenomenos urinarios existiam já desdequatro ou cinco dias quando subitamente, fsemmotivo apreciável, experimentou elle violentasdores na região lombar. Teve logo que procurar oleito e com sorpreza, no dia seguinte ao desx^ertar,viu que era-lhe impossível fazer o menor movi-mento—tinha uma paraplegia completa. No fimde algum tempo notou que seus dous membrosinferiores tornavam-se rígidos, e depois de unsdez mezes poude começar a andar, quer com mol-letas, quer com o auxilio de uma bengala, comoainda o faz actualmente.

Nenhuma modificação sobreveiu em seu estadodurante os vinte e alguns annos que dura suaaffecção e vós vereis que o que nelle domina é arigidez esj)asmodica dos membros inferiores, sendo

tos

ella a causa desta attitude especial que o doenteanresenta durante a marcha.P

Com effeito, vêde-o dar alguns passos: suasuernas muito rígidas deslocam-se diflic.lmente ;cada membro para avançar executa um movimentode rotação antes de poder levantar o pe ; e aindaSe attrita o solo, descrevendo um pequeno arcode circulo. De resto, este movimento acompanha-sede um balancear especial do tronco, de uma espéciede desarmamento; para caminhar o doente e obri-

gado a abaixar a bacia do lado opposto ao membronnp elle subleva para levar adiante.q Esta contractura dos membros inferiores e muiaceusada. Collocai um dos seus membros em ex-tensão élle torna se excessivamente rígido sendo-vos absolutamente impossível flexional-o, A con-lequencia desta contractura é que seu pe esta emequinismo, sendo os dedos dos artelhos estendidose afastados por causa da contractura combinadado extensor commum dos artelhos e dos inter-ósseos Esta contractura, si a abandonardes, per-siste durante algum tempo, e não e smao no fimde alguís instantes que_o doente poderá collocarseu membro em semi-fiexão.

Parallelamente a esta contractura, venficareisum exagero dos reflexos tendinosos e o phenomenodo pé; isso, porem, somente quando tiverdes o cm-dado de procurar esses symptomas em nm momentoem aue o doente esteja em repouso desde algumZão, como pela manhan ao despertar No casoaue os procurardes quando o doente acaba de mar-char 011 de pôr em acção seus musculos, nao os en-contrareis por causa da contractura destes mus-culos.que a menor excitação basta para determinar.

Ê' sem duvida alguma a contractura e nao a-naralvsia que motiva esta attitude especial docaminhar que eu vos descrevi, porque o doenteconservou toda a sua força muscular e pôde fácil-mente supportar um fardo pesado sobre as espaduas na estação de pé ; pôde igualmente caminhardurante muito tempo, não adiantando-se sinaolentamente pelo facto mesmo de sua contracturaque exagera-se muito por oceasião do f unccionardos musculos que servem para a marcha. .

Tambem a designação paraplegia espasmodianue serve para determinar a affecção apresentadapor este doente é imprópria, visto como própria-mente fallando não ha paralysia.

Esta affecção, assignalada por Ollivier d An-írers sob o nome de paralysia espastica, descriptadepois em 1875 por Erb e Charcot, é caractensadapor contracturas dos membros inferiores. Durantemuito tempo pensou se que a lesão que a produziaera uma esclerose primitiva dos cordões lateraes ;esta lesão ainda não foi demonstrada e pela minhaparte ainda não a encontrei, apezar de ter autopsiadoiá cinco casos ; e, com effeito, encontra-se semprenestes casos um foco de myelite transversa que emgeral é de origem syphüitica. ;

A olho nú descobre-se em um ponto do trajectoda medulla uma mancha parda que marca a sededa lesão ; pelo exame microscópico encontra-seneste nivel uma esclerose localisada produzida poralteração vascular (artente syphüitica) ; abaixodeste ponto existe uma esclerose dos feixes pyra-midaes, ao passo que acima é o cordão de Goll eo feixe cerebelloso que são esclerosados, porem ocordão cerebelloso só é affectado quando a lesãoassesta-se acima da região dorso-lombar da me-dulla. '.^ 7,

O foco de myelite e as mais das vezes primi-tivo- desenvolve-se sobretudo na syphilis. E' assimque'sobre os numerosos casos de paraplegia es-

uasmodica que actualmente tenho em meu serviço,só ha um que não é syphilitico. Estes focos podemevoluir de dous modos, quer subitamente, quer aorontrario progressivamente, e neste ultimo caso osdoentes apresentam a principio fraqueza ou ean-saco rápido depois da marcha, installando-se emseguida a paraplegia pouco a pouco

Acontece algumas vezes, no mal de Pott, queos mesmos phenomenos podem se apresentar, e eentão a compressão da medulla pela pachymenm-o-ite que determina uma myelite transversa secun-daria • tambem nunca deixeis de examinar atten-tamente o estado da columna vertebral nos doentesque vos apresentarem com paraplegia espasmo-

Podeis ainda encontrar este syndroma emcertos casos de fôrma anômala de esclerose emnlacas sem os outros signaes (nystagmus, emba-raco da palavra, etc.) que formam o quadro clinicodesta affecção. E' que então as placas de esclerosesão unicamente localisadas ou predominam muitoem um ponto da região dorso-lombar.

Assim myelite transversa primitiva na sy-ühilis e secundaria no mal de Pott, ou esclerose emplacas de localisaçâo predominando no segmento

1 dorso-lombar, taes são as lesões que determinam aparaplegia espasmodica. São em summa as lesõesque podem interromper a conduetibihdade damedulla espinhal e exaltar por conseqüência suaspropriedades reflexas.

Não insistirei sinão sobre o prognostico : aincurabilidade tão freqüente da myelite transversaprimitiva explica a gravidade das fôrmas que aella se prendem ; ao contrario, a cura, posto querara, é possivel nas myelites transversas eonse-cutivas ao mal de Pott. : \

Ao lado da paraplegia espasmodica que euacabo de vos descrevar, existe uma outra fôrmade tabes espasmodico, tambem denominada ngid ezcongênita dos membros, cuja descripção foi pe Iaprimeira vez feita por Little em 1863 ; d'ahi onome de moléstia de Little sob o qual dever-se- ia

. descrever esta affecção. #>Eis um exemplo característico: Trata-se de

um homem de 45 annos de idade ; desde os pri-meiros dias de sua existência verificou-se que eracompletamente rigido ; quando começou a cami-nhar seus membros eram rígidos ; não foi, deresto, sinão muito tarde que começou a andar, eseu desenvolvimento cerebral foi muito tardio.

Actualmente elle apresenta uma rigidez espas-módica dos quatro membros, sendo, porem, menosaceusada do que no caso precedente; existe em todosos membros sem predomínio algum, a não ser certatendência para o equinismo dos pés. Desde quequer fazer um movimento, sua rigidez permanenteaugmenta; si experimenta caminhar offerece oquadro da paraplegia espasmodica : anda com osjoelhos apertados um contra o outro, é digitigrado;si quer repousar sobre o calcanhar seus membrosinferiores são logo affectados de tremor : realisaassim o phenomeno do pé. Nos membros supe-riores existe a mesma contractura em um gráo umpouco menos marcado.

Os movimentos provocados apresentam algu-mas particularidades; não vão exactamente aofim que se lhes assignala: são inteiramente irre*gulares ; foram denominados movimentos choreo-athetosicos.

Do lado da face, observareis movimentos ana-logos ; de facto, no estado de repouso sua physio-nomia nada revela a não ser um estado psychico in*

I ferior;e,si sabe ler, nunca poude aprender a escrever;

toe

mas si o interrogardes vereis sua face animada demovimentos por sua vez choreicos e espasmodicos;faz numerosas caretas, e, ao mesmo tempo sua vozé escandida e todos os membros de seu corpo ani-mados de movimentos.

Emfim, a exploração da sensibilidade geral edos sentidos especiaes nada revela de anormal;os esphyncteres são intactos e o foram sempre.

Este doente offereoe-uos um quadro de rigidezespasmodica congênita, tal qual foi descripta porLittle em 1863 e 1872, e por Adams em 1866, comisso de particular—e que falta na moléstia deLittle pura—a saber a presença de movimentoschorec-athetosicos por occasião dos movimentesvoluntários.

Os doentes affectados da moléstia de Littleapresentam desde a primeira semana de sua exis-tencia uma rigidez dos membros, attitudes viciosas,principalmente a approximação dos joelhos, eeqninismo. Quando começam a caminhar, no duo-décimo ou décimo quinto mez, os phenomenos de<3ontractura são mais fáceis para verificar-se emais marcados nos membros inferiores ; algumasvezes mesmo estes são os mais affectados. Osdoentes têm todos um equinismo muito pronun--ciado e quasi todos são digitigrados.

O jogo de sua physionomia é muito menosrápido do que no estado normal ; é isto devido aque os músculos da face estão todos em estado derigidez espasmodica. Nunca se observam pertur-bações da sensibilidade geral e especial e os es-phyncteres são sempre intactos.

Sob o ponto c\e vista do estado da intelligenoiadistingue-se duas formas; uma forma-espinJial,na qual não ha symptoma algum cerebral e ondea impotência é a resultante das contracturas ; euma forma-cerebr ai, na qual observam-se todos osgráos de desenvolvimento do intellecto, desde oindividuo simplesmente acanhado até o idiota maiscompleto.

Qual é pois a lesão em relação com esta affec-cção %

Vimos que a paralysia espasmodica do adultoresultava de uma lesão em foco da medulla espi-nhal. Na forma espinhal da malestia de Littlenenhuma autópsia veio até hoje indicar a lesão;e, como na etiologia, não se assignalou outrosfactores a não ser o nascimento antes de termo, a7 ou 8 mezes, ou um parto laborioso, pensou-se-em invocar uma parada do desenvolvimento doscordões; latteraes ou uma esclerose destes cor-does ; porém como por occasião do nascimentoo feixe pyramidal não se acha ainda desenvolvidoeque, no entretanto, na moléstia de Little as crian-ças nascem com este estado de rigidez caracteris-tico, deve-se dizer que a causa que produz estaoontractura nos recém-nascidos nos é absoluta-mente desconhecida e está ainda por determinar.

O mesmo não acontece com a forma cérebro-espinhal na qual o exame microscópico reveloulesões da convexidade na zona motora, quer escle-roses lobares, quer focos de parencephalia, e estaslesões sempre muito accentuadas e muito extensasfornecem-nos a explicação do desvio do funeciona-lismo cerebral mais ou menos aceusado, concur-rentemente com a impotência ligada ás contra-cturas. Permittem-nos igualmente suppor, poranalogia, que a forma espinhal é devida provável-mente ora a uma x^arada de desenvolvimento doscentros corticaes motores e do feixe pyramidal,ora a lesões corticaes insignificantes consecutivasa um parto difficil.

Na forma cérebro-espinhal, o prognostico é

dos peiores; trata ge de uma affecção incurável;os casos de cura, publicados até hoje e referentesa indivíduos de 12 e 15 annos, pertencem á formaespinal pura e a formas clinicas nas quae^estessymptomas de rigidez eram apenas em estado deesboço e puderam desapparecer com os progressosdo desenvolvimento. A duração da moléstia deLittle é illimitada e a morte sobrevem sempre emconseqüência de uma moléstia intercurrente; osdoentes podem, pois, atingir idade bastante avan-cada e podeis ser chamados para diagnosticar estaaffecção tanto na criança como no adulto.

Era uma criança que apresentar rigidez nosprimeiros dias de sua existência, a persistênciamesmo desta rigidez vos permittirá estabelecer anatureza da affecção. Com effeito, a ausência dosoutros symptomas da esclerose em placas—affecçãorara, de resto na criança—vos permittirá eliminaresta ultima affecção, e a hemiplegia cerebal infantildupla se distingue da moléstia de Little porquenesta ultima não ha paralysia e sim apenas con-tracturas.

Quanto á paralysia hysterica das crianças, éfácil de distinguir-se- assim como Adams o esta-beleceu já em 1866—da moléstia de Little emvirtude das alterações da sensibilidade e da pre-sença dos outros estigmates da nevrose.

Finalmente si acontecer terdes de distinguira moléstia de Little da paralysia espasmodica doadulto em falta de commemorativos, a integridadedos esphyncteres permitte caracterisar a moléstiade Little.

Devo, terminando, vos assignalar uma varie-dade bastante freqüente da moléstia de Little,variedade na qual os doentes em repouso apre-sentam movimentos choreo-athetosicos. Esta varie-dade é relativamente bastante commum, sobretudonos idiotas.

(JRevue Gen. de Clinique et de Therap.)

SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIA

SESSÃO EM 15 DE MARÇO DE 1892Presidente Dr. Marcos Cavalcante. Secretários Drs. Guedes de

Mello e Barros Barreto.

Presentes mais os Drs. Daniel de Almeida,Júlio Rocha, Monte-Mór^ Moreira Guimarães, Ur-bano Figueira, Avellar Andrade e Lucas CattaPreta é aberta a sessão.

O expediente constou do seguinte:Uma carta do Dr. Hilário de Gouvêa assim

concebida: "Meu digno coliega Secretario daSociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Ja-neiro—Não podendo comparecer a sessão de hojeda nossa sociedade venho pedir-lhe o obséquio decommunicar aos dignos consocios que, dando cum-primento ao mandato da sociedade tenho promo-vido quanto posso a adhesão do Governo do Braziiá convenção internacional de Genebra da CruzVermelha e que esta adhesão está de facto resol-

vida e só depende da approvação do poder legisla-tivo o que deverá acontecer logo nas primeirassessões do corrente anno.

Tenho a honra de remetter a esta sociedadealguns volumes do 2o fasciculo do 2o CongressoBrazileiro de Medicina e alguns números da Chro-nica Medico Cirúrgica de Havana que têm sidodirigidos ao meu escriptorio.

lio

'*.

Motivos ponderosos impedem-me de compa-recer á sessão de hoje. .

Queira dispor, etc, etc—Hilário ãe Crovea,15 de Março." ,. ,

Foram recebidos os exemplares do boletim aaSociedade relativo ao 2o semestre de 1891.

São propostos sócios effectivos e aceitos una-nimemente os Srs. Drs. Modesto Guimarães, Ray-mundo Mello, Bernardino Franco e AdolphoPossolo. ,

O Sr. Presidente diz que a presente sessãohavia sido convocada com o fim de eleger-se anova directoria, mas em virtude do disposto noart 7o dos Estatutos não pôde ser realisada essaeleição, pelo que autorisa o 2o secretario a fazersegunda convocação para proceder-se a reíendaeleição, com qualquer numero de sócios presente,conforme preceituam os ditos Estatutos.

Dr, Barros Barreto,Redàctor dos Boletins,

6 votos5 "

2a SESSÃO EM 22 de MARÇO DE 1892

Presidência do Dr. Marcos Cavalcanti—Secretorios Drs. Guedesde Mello e Barros Barreto.

Presentes mais cs Drs. Daniel de Almeida,Modesto Guimarães, Moreira Guimarães, JúlioBocha, Monte Mór, Godoy, Possolo, e João Dru-mond, é aberta a sessão.

Lida a acta da ultima sessão (15 de Março) esem debate approvada.

JExpeãientei-Constou de alguns números daltibuna Medica; do Correio Medico; A-xJtevueãe Laryngologie; do Bulletin de Ia Societe de IaCvoix Rouge. . n i

O Dr. Presidente annuncia o fim da presenteAssemblèa Geral e declara que em face do art. 7dos Estatutos vae proceder-se a eleição da Dire-ctoria que tem de servir durante o anno de IblZ.

Procedendo-se a eleição nominal dá o seguinteresultado: . ,

Presidente Conselheiro Dr. Catta Preta setevotos (7). ...

Dr. Benjamin Rocha Faria, quatro votes. (4).Eleito o Conselheiro Dr. Catta Preta.

Io Vice-Presidente.Dr Marcos Cavalcante. . . 10 votosDr. Rocha Faria 1 voto.Eleito vice-presidente o Dr. Marcos Cavai-

cante.2a Vice-Presidenêe:Dr. Oliveira Aguiar. ... 5 votosDr. Azevedo Sodré. . . . 5Dr. Moreira Guimarães. . . 1 voto.Tendo havido empate procede-se á segunda

votação dando o seguinte resultado:Dr. Oliveira Aguiar. . ; . 5 votosDr. Aguiar Sodré. .... 6Eleito o Dr. Azevedo Sodré.Io^secretario'.Dr. Guedes de Mello. . . 6 votosDr. Avellar Andrade; ... 4 ?>Dr. Pereira das Neees ... 1 voto.Eleito o Dr. Guedes de Mello.2o secretario:Dr. Barros Barreto . . . V 8 votosDr. João Drumond .... 3 7yReeleito o Dr. Barros Barreto.

3° secretario :Dr. João Drumond (seis) . .Dr. Moreira Guimarães . . .Eleito o Dr. João Drumond.Thezoureiro.Dr. Wernech Machado. . • 8 votosDr. Oscar Godoy. ... 3 votosEleito o Dr. Werneck Machado.Redàctor dss boletins.Dr. Monte Mór ..... 10 votosDr. Modesto Guimarães . 1 voto.Eleito o Dr. Monte Mór.Bibliothecario.Dr. Avellar Androde ... 11 votosEleito o Dr. Avellar Andrade.Director do museu.Dr. Daniel de Almeida. . . 7 votosDr. Moreira Guimarães. . . 4 "Eleito o Dr. Daniel de Almeida.Finda a eleição o Dr. Presidente proclama a

seguinte Directoria eleita para servir no correnteanno.

Presidente—Conselheiro Dr. Catta Preta.Io Vice-Presidente— Dr. Marcos Cavalcanti.2o Yice-Presidente—Dr. Azevedo Sodré.Io Secretario—Dr. Guedes de Mello.2o secretario—Dr. J. Barros Barreto.3o Secretario—Dr. João Drumond.Thezoureiro—Dr. Wernech Machado.Redàctor dos boletins—Dr. Monte Mór.Bibliothecario—Dr. Avellar Andrade.Director do museu—Dr. Daniel de Almeida

eem seguida levanta a sessão marcando o dia 29do corrente para a posse da nova Directoria.

Dr. Bareos Barreto.O redàctor interino dos boletins,

3a SESSÃO, EM 29 DE MARÇO DE 1892

Presidência do Dr. Marcos Cavalcante, Secretários Drs, Guedesde Mello e Barros Barreto

Presentes mais os Drs. Monte Mór, MoreiraGuimarães, Avellar Andrade, João Drumond,Júlio Rocha, Lucas Catta Preta e João UrbanoFigueira é aberta a sessão.

E' lida a acta da sessão anterior e sem debateapprovada.

O Dr. Barros Barreto pede a palavra paraagradecer a sua reeleição para o logar de 2o secre-tario, solicitando, porém, dispensa desta novaprova de confiança que acaba de dar-lhe a socie-dade tanto mais quanto durante o anno passadojá fez parte da Directoria tão somente para corres-ponder á bondade de seus collegas.

O Dr. Presidente depois de lembrar os bonsserviços prestados pelo Sr. secretario consulta acasa sobre o pedido feito.

O Dr. Moreira Guimarães concordando como que disse o Sr. Presidente é de opinião que acasa não deve acceder ao pedido, a vista dos esta-tutos, que só aceitam motivos ponderosos e deoutra ordem.' Consultada a casa é regeitado unanimementeo pedido do Sr. 2o secretario, que diz então ser-lhèum verdadeiro sacrifício a sua permanência nocargo, mas que em agradecimento aos collegasretira o seu pedido.

O Sr. Presidente dá como empossada a novaDirectoria que tem de servir em 1892. '

ttt

O Dr. Moreira Guimarães», pela ordempede alguns esclarecimentos sobre a marcha dostrabalhos da sociedade e extranha não haver oDr. Presidente da ultima Directoria, como precei-tuam os Estatutos, apresentado o relatório dostrabalhos do anno de 1891 e finalisa lembrando aconveniência da convocação de uma assembléa^eral para rever os ditos Estatutos.

Dr. Monte Mór(Redactor dos boletins.)

REGISTRO CLINICO

Estenose e insuficiência mitraes de origem endo-cardica—Asystclia hepatica.

Manoel dos Santos Miragaia, portuguez, (Aveiroj,de 24 annos de idade, branco, solteiro, engarrafador, mo-rador a rua do Cosme Velho n. 86.

Antecedentes pessoaes—Até a idade de 12 annos dizMiragaia não ter sonrido de moléstia alguma digna denota. Com esta idade foi acommettido de rheumatismopoly-articular sub-agudo, o qual percorreu-lhe todas aspriucipaes articulações dos membros superiores e infe-riores. A moléstia prolongou-se, por espaço de 9 mezes,forçando o doente a guardar o leito e impedindo-lhe com-pletamente a locomoção. Quando se declararam os pri-meiros symptomas do rheumatismo achava-se Miragaiaem Portugal, onde trabalhava na preparação do sal, pio-fissão que o obrigava a ter as mãos e os pôs constante-mente molhados. Não se recorda de ter apresentado febresem qualquer período da affecção rheumatica.

Desapparecida esta, apezar de se achar em condiçõesde continuar a exercer a sua profissão, notava que eraacommettido de grandes palpitações e fortes dyspneas,por oceasião dos esforços a que era por vezes obrigado.Aos 20 annos manifestou-se o primeiro ataque de asys-tolia. Foi então acommettido de fortes batimentos car-diacos acompanhados de considerável dyspnea, edema dosmembros inferiores e dores na região hepatica. A gían-dula ampliou-se consideravelmente, chegando a levantara parede abdominal; dahi a sensação de pezo, de que sequeixava o doente para o lado do hypochondrio direito.Por essa época habitava Miragaia o Rio de Janeiro paraonde tinha vindo, havia um anno. Aconselhado a tornar aPortugal, esteve 8 dias no Lazareto de Lisboa, onde «raçasi\o repouso e aos medicamentos que lhe foram prescriptos,attenuaram-se os phenomenos asystolicos, desapparecendoo edema dos membros inferiores e diminuindo a intensi-dade da dyspnea e a freqüência das palpitações.

Deixou o lazareto bastante melhor. Aqui na Capitalescolheu a profissão de engarrafador de vinhos, a qualexerceu sem interrupção até pouco tempo. Novo ataquede asystolia se apresentou desde cerca de ò mezes: raani-sestou-se o mesmo quadro mórbido que anteriormente,reapparecendo a edemacia dos membros inferiores, a dvs-pnea e as palpitações. A despeito da gravidade de taesmanifestações, continuou Miragaia a trabalhar; mas sen-tindo-se alquebrado, resolveu no dia 20 de Fevereiro de1892, procurar abrigo neste hospital.

Estado cio doente por oceasião do exa?ne—Homempallido, bastante emmagrecido; conjunetivas descoradas.

9Na região latteral esquerda do thorax, vestígios de umaerupção que o doente affirma ter sido zona (cobreiro.)Os membros inferiores desde os pés até a parte media daspernas edematosos.

Coração—O orgam choca a parede thoracica commaior intensidade na altura do 6o espaço intercostal; ochoque entretanto não se limita a esta parte, diffundindo-se pelo .5° e mesmo 4o espaço intercostaes. E' um choqueconoide e bastante forte. O ponto em que se realizu como máximo de força dista 15 centímetros da linha messo-esternal e acha-se a 6 centímetros para esquerda da linhamamillar ea 9 centímetros abaixo da sede do mamillo.

Applicando-se a polpa digital sobre a região dochoque sente-se um manifesto frêmito felino, perfeita-mente presystolico. Ha batimentos na região epigastrica.A ausculta deixa perceber no foco mitral a principio umruflo diastolico, começando pouco tempo depois da 2"bulha—ruflo que se reforça na presystole com a adjuneçãode um sopro muito prolongado,-sopro devasta ária depropagação sendo o raio principal delia na direcção daaxilla, sopro agudo—ouvido até na metade posteriordireita do thorax.

Já na ponta percebe-se o desdobramento da 2a bulha,o qual se apprehende com maior facilidade na base, pareceque o estalido aortico precede o pulmonar.

Figado—Muito augmentado de volume, invadindoem grande extensão o hypochondrio esquerdo. A altura daglândula na linha mamillar é de 19 centímetros, e na linhamesso-eternal 16 centímetros. A borda superior do orgamacha-se a 6 centímetros abaixo do mamillo, e a inferio*a 10 centímetros abaixo da reborda costal, isto na linhamamillar.

Por meio da apalpação verifica-se, que a glândula éresistente; mas não granulosa, sendo por esse meio per-feitamente delimitavel a sua borda inferior. A pressãoexercida sobre o orgam desafia dor não muito aguda.Ha ligeiros batimentos do figado, perceptiveis pela infe-cção feita tangencialmente á parede abdominal.

Baço— Augmentado de volume. A mensuração feitana direcção do diâmetro longitudinal aceusa 16 centime-tros de comprimento.

Pulmões—Os pulmões tanto á percussão como á aus-culta nada revelam de anormal, sendo de attribuir-sè atosse seccade que se queixa o doente á irritação do phre-nico pelo figado muito congestionado.

JAngua — A lingua mostra-se coberta de saburraesbranqu içada.

Pulso—Molle, pouco amplo, irregular 72 pulsaçõespor minuto.

Sphygmogramma—A' simples inspecção do traçadoreconhece-se a irregularidade do pulso: não ha perfeitasymetria entre as revoluções arteriaes. A linha de ascençãoem umas mais elevada que em outras, apresenta uma certaobliqüidade e pouca amplitude. Attingido o ponto culmi-nante dessa linha, apparece um traço descendente oblí-quo, que forma com ella um angulo quasi recto; a esseangulo segue-se a grande ascenção dicrotica e emfim umaserie de pequenas oscillações—a indicarem que a elasti-cidade arterial permanece integra.

No dia seguinte ao de sua entrada para o serviço odoente fez uso de um purgativo drástico—água viennenselàxativa com 16 grammas de tinetura de jalapa composta.

atac

Em seguida prescreveu-se o infuso de digital em doses

crescentes. No dia 10 de março suspendeu-se a digitei

prèscreveú-se o iodureto de sódio.

URINAS

DIASl

Fev.

2526272829

Mço.1234567

8

I qtjantid.

300 grs.125 —

3500 —4000 —2100 —

2100 —1700 —

400 —2000 —

800 —450 —

1000 —

REACÇ

ácida

DENS. COR

1400 — —

10211019100610091010

1008101210121012101610201018

1015

9 55010 1000

vermelhaamarella

clara

amarellavermelha

amarelladave-imelha

sujavermelhacarregadavermelha

OBSERVAÇÕES

Tomou digital.

Tomou digital.

Para tomar uma colher de sopa de meia em meia.

hora dissolvida em um quarto de copo com água morna.

Bepete-Iè a mesma dose no dia seguinte, e os acci-

dentei oculares attennando-se depois <U^«^medTcatcontinua-se a manter o doente sob a influencia^io medica

mento pela administração quotidiana de uma ou duas-írrammas de salipvrina durante oito a dez dias.g No rheumafsmo articular chronicp açonselha-se o-

methodo de doses crescentes: Nos. primeiros dias uma

prescripção de 4 grammas ; si o effeito therapeutico nao

^produz angmenta-se a dose de unia gramma. Havendo-

attenuação d! arthrite emprega-se doses decrescentes di-

^Totl^t^gias e enxaquecas *«£-£nrescreve-se doses quotidianas de 2 grammas ou 2 ca-

psulas? paia tomal-as com o intervallo de quatro horas

uroa V outra. Depois da sedaç&o ^ôr, mmto

je«j-ranida convém, segundo aconselha Henmg, continuar

ainda durante algunf dias o uso do medicamento em dosea

fracas.

111213

500700500

14 1000 — —1516171819202122232.425

500500 -400 •450 ¦550500500

1400725

1200250

26 100028 1000

— 101910221023102010221023101810201023101310201019101310051013

I 101310091010

' 1018

amarelladaavermelhada

amarella

amarella escuraclara

amarella

ciara

amarella

T. digital. Tra-ços de albumina

(reacç. de Esbach

T. de albumina.

T. de albumina.

FORMULÁRIO PRATCI0

T. de albumina.

Tomou digital.

Miragaia teve alta no dia 28 de Março. Os ruídos

cardíacos conservavam-se; o choqne precordial mostrava-se

no 6- espaço inter-costal. O figado, menos duro, apresen-

tava-se diminuto no diâmetro longitudinal.Não havia mais edemas.

Dr. Pedro de A. Magalhães (assistente de clinica).Sylvio Moniz (interno.)

Tratamento da tenia das crianças

43) Oleo ethereo de feto macho. 50 a 80 centigramma*'

Calomelamos de patente.... 20 a 40 centigrammaaÁgua aaAlsucar pulverisado 10 grammasGlycerina *!• *• ,Para tomar em três ou quatro doses pela mannan em

jejum.Tratamento geral da escrophula

(Baumel)Prescrever diariamente uma dose de 50 a 75 centi-

erammas de iodureto de potássio, e conjunctamente :M\ Oleo de fmado de bacalháo 15 grammas

Hypophosphito de sod io 15 centigrammasde cálcio 30

Glycerina ;•• ^ grammasPara tomar três colhéres de chá por dia.

CHRONIGA E NOTICIAS

¦.".-¦

MPRENSA MEDICA ESTRANGEIRA

A salipyrina e suas indicações no rheumatismo,pelo Dr. Ch. Eloy (Bem Gen. de CUn. et Therap. Fevr.1892.)

Como o seu nome o indica este medicamento e o sa-licylato de antipyrina que Spica (de Padua) obteve haalguns annos, pela mixtura de 73 partes de ácido salicy-lico e 100 de antipyrina. .

Sua acção physiologica participa da da antipyrina edado ácidosalicylico.Traduz-sepor effeitos antithermicos,analgésicos e vasculares sendo estes últimos como os daantipyrina sob a forma de exantbemas.

E' indicada para diminuir a hyperthernia e a dor norheumatismo articular agudo ; todavia sua acção anti-thermica é de curta duração. Deve-se prescrevel-a, pois,em doses massiças, sob a forma de pó ou na mixtura deHennig:

Salipyrina pulverisada 1 grammaPara uma cápsula. Tome quatro a seis por dia com

intervallo de meia hora.

Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. —No dia 9

do corrente realizou-se sessão da Congregação, sendo lida e una-

nimemente approvada a memória histórica dos acontecimentos do

anno de 1891, redigida pelo Dr. Francisco de Castro. Foram

igualmente approvados os programmas das differentes cadeiras e

o horário das aulas organisado pela commissão respectiva.Pela Congressfio foram designados: o professor substituto

Dr. Azevedo Sodré para reger a cadeira de Pathologia Interna,

durante o impedimento do respectivo professor Dr. Peçanha da

Silva; o professor Dr. Francisco de Castro para cumulativamentereger' a 1- cadeira de Clinica Medica, durante o impedimento do

respectivo professor Conselheiro Nuno de Andrade.Acham-se abertas na secretaria da Faculdade as inscripções

de matricula, devendo as aulas começar no dia 18 do corrente.

Salipyrina 4GlycerinaXarope de f ramboezas...Água distillida

a 6 grammas1520 "40

Xarope de HYPOPHOSPHITOS COMPOSTODE FELLOWS

Do Dr. Benjamin T. Moss, capitão medico doexercito brazileiro.

Attesto que o XAROPE DE HYPOPHOS-PHITO COMPOSTO DE FELLOWS tem sidopor mim empregado em grande escala e com grandeproveito, e como tenho obtido sempre os melhoresresultados, passo o presente attestado.

Porto Alegre, 14 de Julho de 1891.(Assigriado) Dpw. Benjamim T. Moss.

O GERENTE—Dr. Álvaro de Ojiveira

Anno VI Num. 15 22 de Abril

0 BRAZIL-MEDICORevista Semanal de Medicina e Cirurgia

SUMMARIÒClinica Medica: —Um ensaio de tratamento especifico da febreamarella, pelo Dr. Miguel Couto.Clinica Therapeutica : - Nota sobre a applicacão do lactato dc

stroncio nas nephntes chronicas, pelo professor Au custo RochaSociedade de Medicina e Cirurgia : — Blenorrhaqia e cancros„ | venereos em urn menino de 8 annos, pelo Dr. Daniel d'Almeida —Gangrena espontânea da perna esquerda no decurso da cachexiapalustre, pelos Drs. Daniel d'Almeida e Modesto Guim. rftes —

• U™ caso de Myasis, bic7ieira das fossas nasaes, pelo Dr. Danield Almeida.-- lctencia praxe, pelos Drs. Daniel d'Almeida Oli-veira Aguiar, Monte-Mor, Moreira Guimarães e Modesto Gui-marfles.Registro Clinico : — Sobre um caso de myelite chronica anterolateral assestada na região dorsal inferior pelo Dr. Pedro de Maga-Ibflese interno Sylvio Freire.Imprensa Medica Estrangeira : — Parada Jo soluço pela pressãosobre o nervo p7ir em co, pelo professor Leloir.— Prolapsus do rectotratado pela colopexia, peloDr. Berger.

CLINICA MEDICA

Uni ensaio de tratamento especifico dafebre amarella

pelo dr. Miguel CoutoEx-inteino de Clinica Medica

Para o hospital de S. Sebastião entramos nocomeço da actual epidemia, na attractiva esperan-ça de realisar um pequeno programma de estudos,no qual recopilamos questões diversas concer-hehtes á febre amarella e ao nosso ver ainda nãode todo elucidadas.

Nâo nos illudindo um só momento sobre ovalor da nossa palavra em matéria scientifica,pensávamos em procurar a solução de uns tantosproblemas clinicos e anatomo-pathologicos com ointento único de nma utilisação inteiramentepessoal. Desde logo vimos, porém, que nem essepouco nos seria dado conseguir, pela absolutaimpossibilidade de conciliar as exigências daclinica civil,— inclemente nesta quadra para todosos médicos do Rio de Janeiro —, com as necessi-dades, em solicitude e attenção, de uma vastaenfermaria, e ainda obter sobras de tempo parainvestigações por sua natureza morosas, quandosó em transito para o hospital se escoavão, per-didas, duas longas horas. Comtudo, da observaçãodiária de muitas dezenas de doentes nos ficou,para nosso uso, um grande numero de pequenasacquisições clinicas, e, sobretudo, a confirmação dojuízo que já fazíamos dos diversos tratamentos dafebre amarella.

Não somos como a maioria dos nossos collegas,que curão em admirável proporção os seus doentesde typho ictheroide. Interessante é, entretanto,de ver-se entre esses, os que dão salicylato desódio incriminarem os que dão quinina, que pro-voca, segundo elles, a ataxoadynamia e apressa aanuria; — e estes aquelles, porque administrãouma substancia que diminue, dizem, a urinação eataca a musculatura cardíaca, abatendo a tensãoarterial; os que prescrevem naphthol não crêem nosalol, porque lhes têm falhado os resultados com

o ácido salicylico e o ácido phenico, e não confiãona integridade da funcção pancreatica necessáriaao desdobramento d'aquella substancia. Ha osque não relaxão os vomitivos, e os que os contra-indicão em absoluto; ha os que ligão considerávelimportância á medicação eliminadora dos primei-ros dias e os que lhes perguntão o %ue ella afinalelimina, porquanto a diurese não se augmentaassim em poucas horas e em plena açtividade deum processo febril, — no suor n£o descobrirãoainda mais do que elle normalmente encerra, epela evacuação sahem apenas fezes; e, se confir-mada a hypothese, até agora inteiramente gratuitada locahsação do agente pathogenico no duodenoou outra região do tubo intestinal, podesse elleser expulso mediante um simples pnrgativo, afebre typhoide e o cholera passarião a ser duasmoléstias banaes do quadro nosologico. O micróbionão é qualquer corpo estranho que seja levado emem^urros, mas um elemento dotado de vida, queluta pela existência, e cuja força biocratica não éassim annulada pela primeira inutilidade que lheatirem.

Não ha muitos dias um coilega nos mostravauma formula importada da America do Norte e deum effeito verdadeiramente espantoso applicadanos primeiros dias do acommettimento amaril;avidamente lemos a sua composição: infuso decamomilla, cremor de tartaro solúvel, espirito denitro doce, bromureto de potássio, tinctura deaconito e xarope de manná !

Mutuamente »e accusando do empreo-o desubstancias nocivas ou inúteis, apresentão Iodosnas suas estatísticas um activo admirável afavordo tratamento estabelecido.

Doce illusão ! Santa ingenuidade, que nosleva a acreditar que realmente curamos o doentesempre que elle se salva, e não nos obriga a accei-tar a reciproca, que o deixamos morrer quandoelle morre !

Do ensaio largo, consciencioso, e desappai-xonado das diversas medicações preconisadas notratamento da febre amarella, chegamos á seguinteconclusão, que, escrevendo em um jornal scienti-fico, nenhum motivo nos impelle a occukar: oscasos benignos e de media intensidade da moléstiacurão-se qualquer que seja o tratamento empre-gado, e muitas vezes apezar d'elle; os verdadei-ramente graves, alguns dos quaes nascem ja com ocunho inilludivel de letalidade, esses zombão dosesforços mais bem dirigidos, da mais dedicadasolicitude e da medicação a mais scientifica.

Muito mais animado do que nós não se revelana sua excellente these de concurso o nosso illus-trado amigo Dr. Azevedo Sodré.

Só unia intervenção nos tem parecido real-mente efficaz e poderosa, quando não ha urnahyperdyscrasia sangüínea: õ a que visa sustar ashemorrhagias, capazes mesmo nos casos benignosde anniquilar o doente, mas passíveis, mesmo nos

lt 4

casos graves, de serem dominadas por meios ener-

oícos e insistentes. ,Possuido desta convicção, licito nos era e ate

de rigoroso dever, experimentar todos os proces-

sos dftratamento que se apre sentassem ac.nosso

espirito com apparencias de raciona idade sa

tSazendo, a pleno, a condição previa de mo-

-^üm delles, por traduzir um ponto de vista

novo, deducçâo talvez precipitada de recentes tra-

hallvòs experimentae% tomamos a liberdade de

Íetrir apeíar de não ti fornecido resultados positi-vos Fazendo-o, exprimimos a nossa crença de que,

<£m>mesmas'investigações bacteriológicas donde

partimos/continuadas com perseverança e sabe-

doria, há de nascer a luz que esclarecera o pro-

_____ therapeutico das moléstias infectuosas,

firmando o principio básico das medicações espe-

CÍflCEm Dezembro de 1890 os Srs. Kitasato e _*jh-

republicaram no Deutsche medicimsche Wo-

chíschrift uma nota previa contendo a descripçao'

de interessantes experiências relativas a immuni-'

dide do tétano (1). Quando em um coelho tornado

refractario ao tétano pelo processo dos autores,

riniecções sub cutâneas de trichlornreto de orno),

se iniecta 10 c. c. de uma cultura do bacillo de

Êloliér, da qual aliás 5 c. c. bastam para matar

um animal testemunha, verifica-se que este coelho

nao apresenta o menor symptoma de tétano. U

mesmo acontece si, em logar de fazer-se a inocu-

Jaçâocom uma cultura do bacillo de Nicolaier se

inocula no animal refractario uma quantidade de

toxinas do tétano cuja vigésima parte bastaria

para matar um animal novo.O sangue extrahido da carótida de um coelho

serviu para as seguintes experiências: Dous coe-

lhos da índia receberam na cavidade abdominal

uma iniecção de 2 e de 3 cc. deste sangue. Vinte

e ouatro horas depois estes dous animaes e dous

outros testemunhas foram inoculados com uma

cultura do bacillo do tétano. Os animaes testemu-

nhas morreram tetanicos, emquanto que os dous

vaccinados continuaram s&os. Experiências ana-Was feitas com o serum sangüíneo do coelho vae-

cinado deram resultados idênticos aos obtidos com

o sangue.Tetanisando alguns animaes destes e l/ies

inoculando na cavidade abdominal o serum de

um coelho vaccinaão os A. A. conseguiram impe-dir o curso do tétano nesses animaes e obter a

sua cura. mTJm grande numero de experiências de contra-

prova feitas com o sangue e o serum de coelhos

não vaccinados, assim como com o serum de bois,vitellos, cavallos e carneiros, forneceram^ todasresultado negativo tanto sob o ponto de vista daimmunidade como da acção therapeutica.

(1) Kitasato e Behring—L'immunité du tetanos—La SemaineMedicale 1890-p. 452.

O professor Lister que assistiu a estas expe-

rienciaí feitas no laboratório de Koch, ficou con--

vencido do eífeito curativo de taes inações

segundo affirmou em uma lição feita no King 3

Oollefre Hospital de Londres (1)O? trabalhos de Kitasato e Behring; foram

confirmados pelo professor Tizzom e Mlle. Cattani,

que, de numerosas experiênciasfei .sempomboscães, coelhos e ratos, puderam concluir. Os resul

tados por nós obtidos não são somente uma sim-

pies confirmação dos de Behring e Kitasato, nao

só pela desigualdade de condições das expenen-

cks como porque ellas demonstram factos novos

a saber, Io que o serum sangüíneo de um animal

tornado refractario pôde, mesmo em muito, pe-

quena quantidade e em um tempo ™nlt° cu.r£'

.nnular a toxidade das culturas de tétano filtradas,

o que toma muito verosimel a hypothese de que a

substancia activa deste serum é um fermento, e 9

que o facto muito interessante da transmissão da

immunidade contra o tétano por meio da trans-

missão do sangue ou do serum sangüíneo de um

animal tornado refractario não se verifica indis-

tinetamente para todos os animaes.55 (2) .E' approximadamente a opinião de Behrnig e

Nissen (3). Estes experimentadores procuraramverificar si as propriedades bactericidas do sangue

affirmadas por Nutall, Podor, Wissokovntsch,

Buchner e outros, variam em face de uma espécie

bacteriana segundo a susceptibilidade maior ou

menor que apresentam os animaes relativamente a

moléstia causada por essa espécie pathogemca.Dos seus estudos chegaram á conclusão de

que existem certas relações constantes entre a

immunidade e as propriedades bactericidas do

serum. Assim, nenhum animal sensivel ao carbun-

culo dá serum tão bactericida como o rato, animalmuito refractario. Da mesma forma o serum da

cobaia não vaccinada não exerce nenhuma acçao

sobre o vibrião de Metschnikoff, emquanto que o

da cobaia vaccinada é muito bactericida para elle.Para explicar os casos onde o serum do^ animalvaccinado não possue propriedades antimicrobia-nas, os autores emittem a hypothese de que nãose trata nesse caso de substancia chimica, ou então

que ella não passa no sangue.Tizzoni e Schwartz conseguiram destruir in,

vitro o virus rabico pelo serum de coelhos vacci-nados por elles segundo uma modificação do pro-cesso de Pasteur. (4)

Bakoumine e Boccardi observaram que osangue de pombos, que, como é sabido, são refra-

(1) Lister on ___och's treatment of tuberculosis The Laucet.—Lecture 1890—p. 1259.

(2) Tizzoni e Cattani. Sur Ia maniére de conferer a certainsanimaux 1'immunité contre le tetanos. — Arch. ital. de biolo-gie—1891—p.148. ... , a

(3) Behring e Nissen—Sur les proprietés bactencides aesdifferentes especes de serum du Sang.— Annales de micrographie1892-p. 43. .

(4) Tizzoni e Schwartz. Le serum du sang des animaux vae-cinés contre Ia rage, son role dans 1'immunité de cette malaaie.—Archives de meaic. experiment. 1891—Dez. p. 694.

115

etários ao carbúnculo destróe rapidamente, invitro, a bacteridia carbuncolosa; emquanto que osangue destes mesmos animaes submettidos ãinnanição que os torna muito sensíveis ao carbun-culo, perde esta propriedade destruetiva. (1)

Emmerich e Mastbaum (2) chegaram a vae-cinar contra o rouget dos porcos e mesmo a curaros animaes já acommettidos, por meio de substan-cias extrahidas dos animaes vaccinados.

Sacrificavam estes últimos, retalhavam os seus

serum. Em dous typhicos, ao contrario, a injecçãonão produziu effeito algum sobre a temperatura.

IS ão foram estes os únicos casos em que osresultudos de tão interessantes experiências foramtransportadas com suecesso para o dominio daclinica.

Tizzoni e Cattani alcançaram de seus fecundosestudos isolar do serum sangüíneo de cães ecoelhos vaccinados contra o tétano, a antitoxinadessa moléstia, já quatro vezes applicada com o

órgãos em pequenos pedaços, extrahiam por meio 1 melhor êxito no homem. Destes casos, dous aindade uma prensa hydraulica todo o sueco nelles con- não foram, segundo cremos, detalhadamente pu-tido, e faziam-n'o passar em seguida em um filtrode Chamberland. Resultou de suas experiênciasque coelhos e ratos inoculados com grande quantidade de cultura muito virulenfca não morriamquando se lhes injectavam simultaneamente oumesmo meia hora depois 2 ou 3 c. c. de sueco ousangue filtrado do coelho refractario.

Animados por este resultado Emmericli eFowitscky (3) emprehenderam análogos estudosem relação á pneumonia, e obtiveram por meio deinjecções intravenosas em doses pequenas de umacultura muito virulenta de estreptococos lanceo-lados, a vaccinação de coelhos contra a pneumonia;e com o macerato dos músculos e vísceras destesanimaes, submettido a uma pressão de 300 a 400athmospheras fizeram um sueco curativo que nãosó conferia immunidade como produzia a cura decoelhos com signaes indiscutíveis de pneumonia.

Para verificar estes trabalhos Klemperer (4)procedeu a um grande numero de experiências queo levaram a àffirmar que o serum sanguineo decoelhos vaccinados contra pneumonia pôde nãosomente vaccinar os animaes contra uma infecção

possível como restabelecer os animaes doentes.Entre outras fez a seguinte experiência: um coelhoé inoculado pelo pneumococus ; vinte e quatrohoras depois apresenta uma febre de 41,0 e o seusangue inoculado em outro coelho determina-lhea morte por pneumonia. Ao primeiro coelho seinjecta nas veias 8 c. c. de serum de um animalvaccinado e eile cura-se. Apoiado nestes dados edepois de ter ensaiado em si próprio a injecção sub-cutânea de uma cultura virulenta do micróbio pneu-monico e do serum antitoxico, Klemperer entrouno dominio da medicina pratica e experimentou oseu tratamento em seis doentes, procurando provocar uma crise artificial; em todos a febre cahiu6 a 12 horas depois da injecção hypodermica do

blicados ; dos outros dous podemos resumir a se-guinte noticia. O Io concerne a um menino de 15annos que apresentou os symptomas clássicos dotétano em conseqüência de uma ferida contusa.O tratamento pelo chloral, banhos quentes e in-jecções de ácido phenico, segundo o processo doprofessor G. Bacelli, foi empregado sem o menorresultado. Foi então que o Dr. Scharz ensaiou aantitoxina de Tizzoni: os redobramentos foramdiminuindo de freqüência, e as contracturas des-apparecendo,—o somno voltou proptamente, afebre desappareceu, etc. ; finalmente o doentedeixou o hospital completamente curado depoisde ter recebido 1,05 de antitoxina em cinco in-.jecções.

A 2a observação é de um menino de 11 annosque adquiriu o tétano depois de um esmagamentoda mão direita por uma machina. O tratamento

11) Bakoumine e Boccardi—Recherches sur Ia propricte ba-c tericide du sang dans les divers etats de rorgan.isme-Ibidem

P* 694 . y y -(2) Emmerich e Mastbaum-La cause de Fimmunité Ia gne-

risondes maladies infectueuses en partic ulier de rouget du poroet une. nouvelie methode de vaccination-,1^^ de Micrograpie,1892, p. 09.

/q\ PTTnnrrich c Fowitsky— Sur 1'immimite contre Ia pneu-monfi JK? guérison do cette maladic- Arck. áiiMeãic. E,pc-riment, 1891-, p. C93.

tt\ Klemperer De l'immunitó et Ia guérisòn de Ia pueumonie—Mcim de Mcdic. Experim., 1891, p. 694.

especifico começou no terceiro dia de moléstia pelaantitoxina preparada com o serum do cão, sof-frendo o doente todos os dias uma injecção hypo-dermica de 15 a 20 centigrs. dissolvida em 3 c. c.de água esterilisada. No fim de algum tempo foiesta antitoxina substituída pela do coelho, repu-tada mais activa, e que administrada na dose de10 a 20 centigrs. restabeleu o doente.

Na enumeração dos trabalhos e dos factos quenos despertaram a idéa de sua applicação praticano tratamento da febre amarella não podemosesquecer os estudos de Charrin sobre o bacillopyocyanico, de Roux e Chamberland, sobre o vi-brião septico, de Chantemesse e Widal sobre obacillo de Eberth, e sobretudo as memoráveisexperiências de Chauveau e de Pasteur,—os funda-dores da doutrina geral da immunidade que estasuovas investigações tendem a confirmar e que vãose concretisando na concepção das — proteínasdefensivas ou alexinas.

De toda a pfecitada série de experiênciaspóde-se tirar a seguinte conclusão : o serum san-o-uineo dos animaes em condições de immunidadeocontra uma dada moléstia infectuosa, tem proprie-dades prophylaticas e therapeuticas e em relaçãoa essa moléstia, sobretudo se os animaes forem damesma espécie.

Ora, um individuo qu ba de passar portoda a evolução da febre k\ trèllà pondo departe as excepções de toda a regra, tem as maisseguras garantias de immunidade contra essa aí-

ne

feçção: natural seria, portanto, inferir-se que o seu;sangue adquirira ipso facto um verdadeiro poder!therapeutico em face dessa espécie mórbida, ej

provavelmente tanto mais activo e efficaz quantomais próximo o convalescente estivesse da termi-nação da moléstia e quanto mais grave tivesse sido

ella.Foi o que pensamos.Praticar, porém, a phlebotomia para obter o

serum sangüíneo em quantidade suficiente paraas nossas experiências in anima nobili, seria uma!crueldade á vista do estado de depauperamentoem que ficam os convalescentes do mal de Sião ;.alem de que. mesmo na hypothese de êxito, seriaum Jprocesso geral de tratamento inexequivel por-que* bem poucos altruístas haveria que cedessemo seu próprio sangue em beneficio de ontrem.

Fomos levados, por conseqüência, a imaginaroutro meio. Em um indivíduo em convalescença,de uma febre amarella grave, applioavamos, sob

qualquer pretexto, um vesicatorio, e recolhíamoscom cautelas absolutas de antisepsia todo o liquidocontido nas pjhlyctenas. Com este liquido, con-stituido em sua quasi totalidade pelo serum san-

guineo, fazíamos, servindo-nos da seringa de Kochou dade Pravaz esterilisada, injecções subcutaneasnos doeates escolhidos para este ensaio.

Os nossos estudos começaram no dia 4 deFevereiro. Tres foram os indivíduos que forne-ceram o serum e oito os inoculados, aos quaes eramfeitas varias vezes por dia, durante o curso damoléstia, duas injecções hypodermicas, isto é,dous grammas de liquido pro dosi. Dos inocula-dos, dous falleceram e seis curaram-se. Ora, sóeste resultado já dá uma media de mortalidadeigual a 25 °/0, que não é certamente para assombrar;ainda mais, porém, em todos os casos a moléstiaseguiu a sua evolução natural, não nos tendo sido

possível observar nenhuma modificação apreciável,como nexo de causa a effeito, na marcha da tem-

peratura, na albuminuria, nos vômitos, no estado

geral, etc, e nem mesmo no ponto da inoculação.Em uma palavra, o organismo dos doentes nuncareagiu ás injecções, quando, ellas deveriam ser,

para assim dizel-o, abortivas.Será que a propriedade curativa que suppo-

zemos, por analogia lógica, no serum sangüíneodos convalescentes de febre amarella em relação aessa moléstia, tenha se extinguido na sua filtraçãoatravez do derma, ou pela sua permanência no in-terior dos phlyctenas % (1) Ou será que realmenteelle não possua tal propriedade % E' muito possívelesta ultima hypothese, mas não julgamos im pro-

vavel que estudos pacientes moldados sobre asexperiências que referimos, terminem na desço-berta da antitoxina da febre amarella,

Antes de concluir, os nossos agradecimentosaos distinetos doutorandos, internos do hospitalde S. Sebastião, Lima Barreto e Araujo Vianna,que de tão boa vontade se associaram aos nossosfrustrados trabalhos, e uma palavra de saudade erespeitosa homenagem ao pranteado Dr. Franciscode Paula Tavares, director daquelle hospital, co-lhido em pleno campo de batalha contra a febreamarella.

CLINICA THERAPEUTICA

(1) E' sabido que certas matérias secretadas por micróbios per-dem as suas propriedades atravessando um filtro, como acontececom certos fermentos solúveis que tornam-se inertes depois de teratravessado o filtro de porcellana.

Arloin"-, por exemplo, faz passar no filtro de porcellana a cul-tura do micróbio da peripneumonia epizootica e nüo observa de-doís de sua iniecçfto phenomeno apreciável ; passada em papel defiltro de modo a se poder affirmar que está desembaraçada de todoo micróbio, a mesma cultura éphlogogena.

Nota sobre a applicação do lactato de stroncionas nephrites chronicas

PELO PROFESSOR AUGUSTO ROCHA

Ha tempos que se vem recommendando aapplicação dos saes de stroncio no tratamento devarias moléstias. Desde que se reconhecera expe-rimentalmente que este metal e alguns dos seuscompostos, o lactato, o brometo, o iodeto, o tar-trato, o azotato, principalmente gosavam de grandeinocuidade, sendo tolerados perfeitamente peloorganismo dos animaes superiores, os clínicosmetteram mãos á obra, applicando-os de variadasmaneiras e a moléstias de differente natureza.

Dos compostos, que nos últimos tempos têmsido mais freqüentemente applicados e insisten-temente preoonisados, relevamos o brometo e olactato. Limitamo-nos agora a exprimir as nossasimpressões clinicas acerca do lactato nas nephritesintersticiaes e parenchymatosas.

Para a experiência clinica não usámos deprodueto fornecido pelo commercio. Devemos áamabilidade do nosso amigo, o sr. Sanctos e Silva,abalisado Chefe dos trabalhos práticos do Labo-ratorio Chimico, a preparação de uma quantidadede lactato, chimicamente puro. Este preparado,em comparação como produeto corrente no com-mercio, convenceu-nos de que este não, pôdemerecer muita confiança, devendo achar-se inqui-nado de impurezas diversas de diíflcil determinação,que em todo o caso o tornam impróprio para aadministração pharmaceutica.

Temos, pois, administrado o lactato de stron-cio nas doses recommendadas, não excedendocomtudo quatro grammas nas vinte e quatrohoras.

Um dos doentes escolhidos estava affectado denephrite parenchymatosa, e entrara na eschola declinica anasarcado. Já se haviam eliminado osedemas, e a percentagem dealbuminas coagulaveis(febrina e globina) descera de dezeseis a oitogrammas por litro sob a influencia da dieta lácteaquasi exclusiva. Então já no uso de uma dietamenos exclusiva, applicou-se-lhe o lactato, e viu-secom grande satisfação que a percentagem de albu-mina desceu rapidamente a tres grammas. Estaapparente melhora foi de pouca duração. Dentroem breve a percentagem de albumina subiu paranove grammas e ahi se manteve, sendo precisopara reduzil-a a seis grammas restaurar a dietaláctea.

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IST'outro doente, que estava também infiltrado,viu-se logo elevar a percentagem de albumina, e oseffeitós foram tão perniciosos, que houve necessi-dade de sustar o medicamento. Cousa similhanteaconteceu n'outros doentes.

A nossa impressão, pois, não é animadora paraoutros ensaios clinicos. Bem sabemos que o nu-mero de casos tratados é limitadíssimo e queportanto o valor dos ensaios o é egualmente. Se,porém, reílectirmos nas condições somáticas quese apresentam nas nephrites, e nas propriedadesphysiologicas que os therapeutas attribuem aostroncio, não devemos admirar-nos de que o seueffeito seja negativo.

Qualquer que seja a theoria adoptada paraexplicar a formação das nephrites, o facto é quedepois de constituídas, existem alterações da sub-stancia constitutiva do rim, cuja eliminação ourestauração deve ser a condição sine qua non dacura. Ora esta influencia reparadora da lesão éque ninguém observou no stroncio. Antiputrido,antifernientescivel, diuretico, tônico, esimilhantesdotes são os que se lhe attribuem, mas nem eliminadepósitos formados, nem reduz neoformações con-junctivaes, nem restaura os epithelios atacados.Comprehende-se que os effeitós benéficos sobre oselementos somáticos se produzissem indirectamentepela vis medicatrix sollicitada pelas energiasgeraes restauradas; mas a therapeutica e a clinicadispõem de alguns meios efíicazes para restauraressas energias com acção aliás muito limitada nasnephrites. De sorte que esta interpretação, theoricanão se abona em factos concorrentes.

A precária situação actual da therapeutica emfrente do problema obscuro dos processes nephri-ticos explica, se não justifica o engodo dos clinicosna applicação dos saês de stroncio. A existência deseries benignas, ou antes a pausada indecisão noestabelecimento das phases definitivas dos pro-cessos anatomo-pathologicos, explica as appa-rencias de cura de que faliam clinicos enthusiastas.A nossa experiência pessoal, porém, apezar delimitada, nem sequer é favorável á continuaçãode ensaios, que afinal podem prejudicar os doentes,porque nas nephrites de qualquer natureza ogrande remédio ainda agora é o leite; a questãoestá em fazel-o tolerar. Ainda agora temos debaixode observação un doente que entrou na enfermariacom os signaes de nephrite intersticial, poliuria,urinas límpidas, citrinas, um gramma de albuminapor litro, anasarca, edema da retina com ambiiopia,en'um estado tal, que presagiava um fatal desen-lace em breve prazo.

A dieta láctea determinou para logo a dimi-nuição considerável dos edemas, e até do edemaretiniano. Ha bastantes dias que o doente abor-receu o leite, mas o impulso para uma melhoraaccentuada é tal, que, apezar de mudança de dieta,a poliuria sobe, os edemas desappareceram, avisão apura-se, o appetite restaura-se, as forçasresurgem, e tudo faz presentir o relativo resta-belecimento do enfermo. Um ponto negro entre-tanto se divisa; a percentagem de albumina, denm gramma por litro, persiste invariável. Atéagora do lactato de stroncio não vimos cousa,sequer comparável ao que tantissimas vezes temosobservado com a dieta láctea auxiliada devida-mente, a que devemos casos de cura porventuraapparente, mas entretanto muito persistente, parapermittir a restauração ad integrum dos tecidoslesados.

{Ext. da Coimbra Medica).

SOCIEDADE DE MEDICINA E CIRURGIA

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1 '* '•

1 W

4a SESSÃO, EM 5 DE ABRIL DE 1892Presidência do Dr. Guedes de Mello, servindo de secretários os

Drs. Barros Barreto e Modesto Guimarães

Presentes mais os Drs. Júlio Rocha, Monte-Mór, Daniel de Almeida, Moreira Guimarães,Oscar Godoy-e Oliveira Aguiar é aberta a sçssão.

Lida e approvada a acta da ultima sessão pas-sa-se á ordem do dia.Blenorrhagia e cancros venereos em um menino

de 8 annosO Dr. Daniel d'Almeida refere o caso de um

menino de 8 annos em que fezja operação de phy-mosis, auxiliado pelo Dr. Modesto Guimarães. Estemenino achava-se affectado de blenorrhagia e can-cros venereos. O orador acha interessante este casopelo facto da tenra idade do doente.

Gangrena espontânea da perna esquerda no de-curso da cachexia palustre

O Dr. Daniel d'Almeida observou dois casosdesta affecção ; no Io tratava-se de um rapaz de14 annos de idade cujo estado miserável do orga-nismo fazia crer entretanto que era mais moço.Morador em logar pantanoso, tinha contrahido amalária que levou-o a um gráo extremo de cache-xia, a ponto de ser considerado perdido pelo seumedico, o Dr. Alexandre Calaza.

O doente apresentava os ossos da perna es-quprda completamente denudados e a gangrenatinha invadido o joelho.

Sendo consultado pelo Dr. Calaza o oradoropinou pela amputação da coxa, sendo esta pra-ticada com todos os cuidados que a cliloroformi-sação, principalmente, exigia. .

Era notável a infiltração aquosa dos tecidosmolles e a facilidade com que se destacava operiosteo. A ferida cicatrisou por 2" intensão edous mezes depois o doente achava-se restabele-cido.

O segundo caso diz respeito a uma mulher de30 annos de idade, igualmente victima do impalu-dismo inveterado e cujo estado de cachexia erabem evidente. Referi o a doente que, sem causaapparente, começou a perder pouco a pouco asensibilidade e o calor da perna esquerda e quedentro de pouco tempo a gangrena se manifestava.

Amputado o membro a cic|jtrisação deu-se porIa intensão.

O orador acredita tratar-se aqui de gangrenadeterminada por embolia devida ás modificaçõesda crase do sangue oceasionadas pelo impalu-dismo. Quanto a sede da lesão, que nos dous casosassestavase na perna esquerda, pergunta se nãohaverá alguma disposição anatômica que expliqueo facto.

O Dr. Modesto Guimarães.—Acredita antesque a gangrena, nestes casos de alterações profun-das da crase sangüínea, é devida a nutrição máa que ficam condemnados os elementos anatomi-cos dos membros inferiores, principalmente, nãòsó porque a circulação do sangue é morosa e omembro acha-se asphyxiado pelo edema, comotambém porque o sangue é pobre.

Quanto á predileção da affecção para o mem-bro abdominal esquerdo pensa que isto pode serdevido ao facto de passar a artéria illiaca esquerda

tis

sobíe a veia, trazendo para esta um certo gráo de

compressão.Um caso de myasis, Mcheira das fossas nasaes

VvW Daniel i)E Almeida teve oceasião de

obseívS um caso desta affecção, pouco commum

g_gggâ&£O tratamento consistio em lavagem com subh-

IxíellidoTlarvas em numero extraordinário, íi-expeiiiu.ua do terrível incommodo.CanaOs0e8t0ragos

provido" nas fossas nasaes pelosPerigosos parasitas foram bem consideráveis, pro-

Misericórdia.Ictericia grave

"' O De Daniel de AiMEiDA-Refere haver

sido chamado á noite para ver »^f f f |ütinha narido ás 8 horas da manha e que as 2 üoiasdâTarde Cia cahido em estado de somnolenciaão anal quando sahia tornava-se muito imtave ,Socnrava1 levantar-se do leito e recusava ingerirímalouer medicamento ou alimento.^ A teinperatura era de 37°, o utero bem retra-WAooSento lochial nada offerecia de nota-™?

' a peíe e as conjunetivas apresentavam-se

amarellas, o fígado parecia pouco augmentado deVOlTse

circamstantes referiram que toda a prenhezconera sem aocidente algum, apenas 3 ou 4 diasantes do parto, notaram que as urinas da doenteeram muHo amarellas e que os olhos apresentavamfm^sma coloração.Havia edema das extremidades.

T vista do quadro exposto o orador estabe-leceu o diagnostico de Hepatite ãiffusa aguda oudeatnerescencia amarella do fígado.9 Tornando- se difficil a administração dos medi-

icamentos pela bocea, prescreveu clysteres deC °No

dia seguinte a côr icterica era mais pro-nunciadae as urinas mais amarellas ainda, lnje-ccões vaginaes com creolina; um purgativo com-Xtode

8calomelalcs, jalapa e rhuibarbo e 1 hora

depois 10 grammas de óleo de anda-assu.Deu-se o effeito purgativo durante a tarde e

noite e a 1 hora da manhã seguinte era o orador denovo chamado para ver a doente que se acuavacom 42°, face vultuosa, lingua projectada parafora das arcadas dentárias, pulso cheio e duro.' '

A' vista deste quadro e de accordo com o Dr.Cotrim lançou mão da lanceta e extrahio cerca de400 gr. de sangue.. Após a sangria a temperaturabaixou a 39° para elevar-se mais tarde a 40... ,

Vesicatorios, clysteres purgativos, antipyrmaforam empregados sem conseguir baixar a tempe-ratara- o estado comatoso accentuava-se e a doentefàlleceu ás 7 horas da noite com 41°.

ODr. Oliveira Aguiar julga que o factonarrado por seu dis;tincto collega, da doente falle-

•cida soba influencia de nm estado icteroide, eumfacto duplamante importante, ja como caso clinicocomo'ainda porque deve chamar a attencão dos

colleaas sobre estas súbitas e nfto poucas vezesLte! infecções biliares motivadas PJ^kw;bismo natural ou accidental do tubo gastro-mresMal sobretudo pelo microbismo duodenal e pnn-dnaímente peloP micróbio ãuoãenale commune.

P As suas observações e meditações sobre taes

factos dè longos tempos já, o levaram a conside-íaf como factor altamente importante, serio eerave muito principalmente na patologia inter-fronica™ o elemento biliar, perturbado, alteradoonSo de microbismo, quando em fins do annomssado lhe veio ás mãos a importantíssima obraSe Dupré sobre essa questão, obra que o oradoraprecia no mais elevado gráo e que veio corrobo-rar as suas convicções sobre a matéria.

O orador não hesita em crer no caso de seudistiucto collega, que se trata ahi defuma dessasinfeccões bil;ares por elementos figurados em mfecção ascendente

Pdo canal choledoco do meioinfectante encontrado no microbismo duodenal.

Essa infecção pôde ter sido gerada por ele-mentos pathogenicos ahi existentes no estado la-tente de que foi despertado pela evolução do meio

puerperio)! que lhe trouxe a Captação

ou podeainda prender-se a esse microbismo, filho de umestado pathologico a que talvez fosse suieito ante-riormente a dotnte em questão, microbismo queZXngo tempo silencioso e inoffensivo, desper-He infectante, virulento, sobas.«o vas condiçõesdo organismo. A moderna historia das febres ty-nhoides, das febres eruptivas, etc, encerra em seusannàes factos perfeitamente filiados a esse mododê ser : as concreções biliares quantas vezes naoterão preparado as mais dessas surprehenden esinfeccões que nesses tempos passados tantas n-cognitas deixaram após si atropellando o espiritode nossos antecessores clínicos.

Hoie essas hyper ou hypothermias, seguidasou não de morte/essas hyper ou hypothermias asvezes súbitas e surprehendentes sao mais plausi-

. veímente comprehendidas em . seu mecanismo ;reste-nos porem ainda outras incógnitas e entre

1 estas não estarão os nossos estivas accessos perm-Pingos ou antes, pseudo-perniciosos . entre essasincógnitas nTo estarão as modalidades diversas dos

PM» de febre amarella, que os medicobrazileiros apprehendem nas suas mais ligeirasmodificações symptomaticas e que tao poderosa-mente infiuem na>erapeutica a seguir, obrandoa que se acclame, unico e intallivel este ou aquelletratamento, por maior que seja a fortuna que oacompanhe Vo „:.

As ictericias tèm ultimamente, em sua pa-thogenia, ganho elementos de estudo com a novaéra que se inicia com o árduo e diflicimo estudobacteriológico das aflecções hepathicas.

As ictericias graves e entre ellas a impro-priamente appellidada moléstia de Veü, sao in-fecções biliares a que se juntam as naturaes ecorrelativas, as previstas e forçadas conseqüênciasuremicas, ultimo termo dessas evoluções patno-thologicas. . ,. ol

A vida parasitaria do tubo gastro-intestinaie sobretudo a sua vida microbica, encerra myste-rios de que se maravilha e tanto se intriga o espi-rito humano! #

A biologia, a pathologia e a physiologia ahise perdem muitas vezes em meandros que lnecavam os micróbios.

A Historia ? digestão ahi esta a porfia doschimicos e dos Yysiologistas em nos affirmar osácidos da digestão, ve erguer-se ante si, destruindoem parte, as suas antigas concepções, o mundo

fttO

altamente activo e poderoso dos infinitamente pe-quenos, que tanto nos protegem quando collaboramem nosso proveito, quanto nos suffocam e abafamquando em Iucta, na Iucta pela vida, disputam aosnossos tecidos, aos nossos meios, os elementos do•seu viver."

O Dr. Monte-Mor diz que a communicaçãodo Dr. Daniel encerra um problema que elle qui-zera ver formulado pelo illustre collega e apresen-tado á Sociedade como o lado mais interessante daquestão, quer se referir ao diagnostico, que nãolhe parece firmado, comquanto o collega o consi •dere fora de contestação.

O quadro symptomatico apresentado não é ohabitual na ictericia grave. A não ser a suffusãoicterica notada tres dias antes do parto, f ai tãocompletamente os phenomenos que quasi infalli-velmente constituem o período prodromico. A dorhepathica tão freqüente e tantos outros pheno-menos que se passão para o lado do apparelhodigestivo não forão referidos.

A icteria grave é moléstia que accommette asmulheres grávidas na phase media da prenhez,emquanto que aqui ella surgio depois do parto.

Não seria um caso de eclampsia ?O orador cada vez mais se inclina a admittir a

theoria éliminadora de Auvard e Rivière paraexplicar a pathogenia da eclampsia, e assim nãolhe repugna ver no caso Referido symptomaspatentes desta moléstia; sem pretender, entretanto,affirmar que a doente em questão fosse umaeclamptica, pensa que os dados fornecidos sãoinsuficientes para estabelecer com segurança odiagnostico de hepatite parenchimatosa.

Quanto á pathogenia da ictericia grave, pensaque não ha necessidade de appellar para o micro-bismo intestinal, pois que o fígado das mulheresgrávidas, como os seus glóbulos de gordura aoredor da veia central do lobulo, acha se em immi-nencia de uma perturbação trophica importanteque pode trazer como conseqüência o embaraço nocurso da bile e a asphixia de todo o órgão.

O Dr. Moreira Guimarães acha< muitorápida a evolução da moléstia para ser consideradahepatite parenchimatosa. Refere um caso queobservou: um doente de arterio-sclerose genera-lisada apresentou-se com uma ictericia bastantepronunciada que tinha evoluído rapidamente; dir-se-hia um caso de atrophia aguda do fígado, entre-tanto a autópsia apenas revelou as lesões própriasda diathese fibrosa.

O Dr Modesto Guimarães não acha razoávelo Dr. Moreira Guimarães em contestar o diagnos-tico pelo facto da evolução rápida, diz que estamoléstia pode apparecer sem prodromos, havendoinesperadamente o paroxismo ultimo, a ascençaoda temperatura o coma e a morte.

Em relação ao abaixamento da temperaturaapós a sangria, diz que isto se dá independente-mente da sahida de princípios tóxicos, e nm factodemonstrado pela physiologia experimental e de*vido unicamente á emissão sangüínea; este abai-xamento é seguido de uma elevação thermicaquepode attingir o algarismo inicial ou excedel-omesmo, como demonstra Hayem.

Dr. Monte-Mor(Redactor dos Boletins)

REGISTRO CLINICO

Sobre nm caso da myelite chronica antero -lateralassestada na região dorsal inferior

•a;¦ %

Veríssimo Pinto, portuguez, de 36 annos de idade,branco,solteiro, trabalhador.

Antecedentes hereditários. — Pouco importantes. Os

pães já mortos, nunca apresentaram quasquer manifes-tações nervosas. O doente tem irmãos vivos. Gosamsaúde.

Antecedentes p>essoaes — Na idade de 10 annos co-meçou Pinto a ser accomraettido de attaques que seassignalaram por perda de sentidos e quedas, era conse-

quencia dos quaes o doente ainda hoje conserva cicatrizesna região frontal. Esses attaques que raais de uma vezsorprehenderara Pinto na via publica erão acompanhadosde um estado coramatoso mais ou menos duradouro e deemissão involuntária de urinas e matérias fecaes. Livreaos 12 annos de taes attaques conservou-se o doente embora estado de saude até aos 15 annos de idade em que,morando ern Portugal foi accommettido de variola. Poucodepois apresentou eólicas sobre cuja natureza não foi

possível colher noção exacta. Aos 18 annos achando-se noBrazil teve febre amarella. Ha cerca de 2 annos teve ma-nifestações venerias, constituídas por cancros molles com-

plicados de bubões de que ainda hoje se verificam as cica-trizes na região inguinal, e por um corrimento blemorrha-

gico, aoqual devemos ligar o apparecimento de uma vioien-ta conjunetivite que durante 3 mezes impediu Pinto detrabalhar, causando-lhe agudissiraas dores.

Essa conjunetivite foi tratada na enfermaria a cargodo Dr. Pires Ferreira. Nega Pinto quasquer manifestaçõesarticulares ou cutâneas. Ha cerca de um anno teve febres

palustrès de forma intermittente.Historia da moléstia actual. — Faz Pinto datar de

4 annos o apparecimento dos primeiros symptomas damoléstia que o traz ao Hospital. Por essa época começa-ram a manifestar-se dores na columna vertebral comfocos máximos na região dorsal inferior e lombar, doresacompanhadas de fraqueza dos membros inferiores os

quês furtavam-se a sustentar o doente quando este tentavaandar. Essa fraqueza foi precedida de sensação de for-mi^amento localisado nas extremidades — pós e terçoinferior das pernas — Com a debilidade dos membrosabdominaes coincidio o apparecimento de espasmos. Negao doente ter tido qualquer edema nos membros enfra-

quecidos, do mesmo modo que quaesquer pertubaçõestrophicas. Pinto aecusa apenas a completa ausência desecrecção de suor nas extremidades d'aquelles membros.

Nunca houve sensação de faixa.Estado do doente no momento do exame. — Reflexos

rotulianos muito exagerados. Phenomeno do pé. Fraqueza,tanto dos extensores da perna sobre a coxa, como dosflexores, verifica-se a üexão ou extenção dos músculosindicados oppondo-se a flexão ou extensão do membroreferido. Flexores e extensores do pé sobre a perna tam-bem enfraquecidos. Não ha pitd bot. Não ha atrophia dosmúsculos da coxa e perna. Circumferencia das pernasno 3.# médio 32 centímetros. Não ha myalgia á pressãodos gastro-cnmios e não aecusa dor alguma.

Os pés do doente apresentam uma temperaturainferior ás outras partes do corpo; verificada com o ter *l

i$o

mometro de Peter essa temperatura é de 34", enquanto

que a da região hypogastrica é de 35ü,4 *

Marcha — Solicitado o doente a andar nota-se queelle difficilmente pode levantar a ponta do pé; esta arras-

tà-se pelo solo, e à perna é agitada de um pequeno tremor.A força de ambas as mãos medida do dynamometro

éde 19.O reflexo dos flexores dos dedos, bem como o do biceps

iim pouco vivos. Igualmente um pouco augmentado o

reflexo do triceps brachial.íntelligencia — nenhuma pertubação, bem como da

palavra.Sentidos — sãos.Pupilla. — de reacção normal á luz e á accommo-

dação.Funcção vesical. — integra. Habitual constipaçao

de ventre.Pnncção genital.— enfraquecida, erecçôes raras.Coração. — Ponta sob a 5- costella, a 10 centime-

tros da linha messo-esternal. Choque precordial fraco.

Bulhas fracas sem sopro.Figado. — 12 centímetros de altura na linha ma-

millar, borda superior na altura da 5* costella, e a infe-rior acompanhando a reborda costal.

Pulmões. — sãos.Lingua. — coberta de saburra esbranquiçada.Appetite diminuído.Sensibilidade do pharinge. — perfeita.Tratamento. — O tratamento consistiu na appli-

cação de pontas de fogo ao longo da columna vertebral,e na administração internamente do centeio espigado emfoima pilular combinado com a seguinte poção.

• ^Hydroláto de alface 120 grams.Broniureto de potássio 4 grams.Tiuctura de feella dona 1 gram.Xarope de flores de laranjas 30 grams.Posteriormente foi substituído o centeio espigado

pelo iodureto de potássio na dose 1 gramma diariamente.Durante o tratamento foi recommendado grande re-

pou*»o.Minorado o estado de excitação medullar o doente

pediu instantemente alta a qual lhe foi concedida no dia20 de Fevereiro de 1892.

Entrou para esta enfermaria no dia 3 de Fevereirode 1892.

Dr. Pedro de A. Magalhães (assistente de clinica)Stlvio Moniz (interno de clinica)

(•¦X IMPRENSA MEDICA ESTRANGEIRA

Parada do soluço pela pressão sobre o nervcphrenico, pelo professor Lelloir (Journ. de Med. etchir. prat. 182).

A'Academia das Sciencias de Pariz referio o pro-íessor Lelloir (de Lille) ter sido consultado por uma

. menina de 12 annos, aífectada havia ja ura anno de.soluço incoercivel, produzindo-se todos os meios minutos,perturbando o somno, a nutrição e acarretando o depau-peramento da criança. Tjnha-se-lhe debalde prescripto.os antispasmodicos. Teve elle a idéia de comprimirfortemente o nervo phrenico esquerdo, entre as duasinserções esterno-claviculares do músculo esterno-cleido-mastoideu. A compressão digital bastante dolorosa, durou

utres minutos; findo este tempo, o soluço completamenteSdesapparecêra, e não se reproduziu mais desde esta época.

O professor Lelloir, depois d'isto, empregou grandenumero de vezes este methodo para fazer desaparecersoluços chronicos ou agudos, que resistiam aos outros-tratamentos, e sempre conseguio explendido resultado,comprimindo durante alguns minutos, alguns segundos,em certos casos, o nervo phrenico no ponto indicado.

E' um meio de fácil execução e que parece bemproveitoso mormente nos casos tão freqüentes de soluçosrebeldes e prolongados.

Prolapsus do reoto tratado pela oolopexia pelo. Berger {Pragres Medicai 27 Fevereiro 1892)

A' Sociedade de Cirurgia de Paris communicouBerger um interessante facto cujo resumo damos em

Dr

seguida:Um homem de 27 annos, foi ha cerca de 2 annos

affectado de um epithelioma do recto; sòffria já desdevários mezes e apresentava hemorrhagias. Sobre a faceposterior do recto encontrou-se um tumor ujeerado; aface anterior era indemne. Este tumor subia*ía .5 centi-metros e descia até a margem do ânus.

Berger extirpou-o depois de resecção de coccyx e deuma porção do sacro, porém não poude suturar o recto,que não se abaixava, á pelle do anús; teve de fazer ura'ânus artificial sacro, acima da dobra inter-nadegueira. Acura foi conseguida. Tempos depois houve prolapso dorecto que — coisa admirável — não poderia ser abaixadono curso da intervenção, e apparecimento de uma ulce-ração sobre a parte prolapsada, ulcéração de origemmecânica.

Para curar tudo isso Berger julgou dever recorrer á,colopexia pelo methoda.de Jeannel:— fez um ânus con-tra-natureza na fossa ilfiaca esquerda, em dous tempos,depois de ter reduzido o prolapso completo do recto. Umanno depois o doente, curado, pedio que se o libertasse doseu ânus illiaco. Para realisal-o Berger destruio a princi-pio, com o auxilio de uma applicação de enterotomo, oesporão que se formara, fechando depois o intestino pormeio da enterorrhaphia. Ha seis mezes mais ou menos queesta operação foi feita. O doente que Berger apresenta aSociedade tem de novo um ligeiro gráo de prolapso,devido sem duvida ao facto de se ter destruído poroccasião da anterorrliaphia um certo numero de adhe-rencias.

Este casoé notável: Io porque se trata de um câncerdo recto em indivíduo de 27 annos apenas, não sendo acura seguida de reincidência; — 2° porque não era pos-sivel recorrer aqui á rectopexia posterior; — Io em virtudedo modo porque se tratou o ânus contra-natureza; 4" porqueeste facto demonstra que um doente prefere ter um ânussacro, mesmo com incontinencia das matérias fecaes, doque um ânus illiaco, e que em todo o caso elle julgadeplorável ter dous ânus ao em vez de um sé.

QUINA EâüUuUl baseS o extracto de qnina,é rico em alcalóides e encerra os princípios tannicoscompletamente inalterados.

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Xarope de HYPOPHOSPHITOS COMPOSTODE FELLOWS

De Agapito Veiga, doutor em medicina pelafaculdade do Rio de Janeiro.

Attesto que tenho empregado com vantagem oXAROPE DE HYPOPHOSPHITO COMPOSTODE FELLOWS, como reconstituinte nos casos emqne acham inteira indicação os preparados de taesmedicamentos.

E' o que afíirmo sob a fé de mea gráo.Rio de Janeiro? 18 de Setembro de 1891.(Assignado) Dr. Agapito da Veiga.

O GERENTE—Dr. Álvaro de Ojiveira