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, ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO I Behaviorismo social: uma ciência do homem com liberdade e dignidade * 1. Nota do tradutor ARTHUR W. STAATS ** 1. Nota do tradutor; 2. Introdução; 3. O homem é mais do que um "animal"; 4. A aprendizagem humana é cumulativa para o indivíduo e para o grupo; 5. O homem tem personalidade; 6. O homem tem criatividade; 7. O homem tem um futuro e atua intencionalmente; 8. O ho- mem se autogoverna; 9. O homem tem responsabilidade; 10. O homem conhece a liberdade; 11. Behaviorismo e digni- dade humana; 12. Planejamento de cul- tura; 13. Behaviorismo e ciência social. Como bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) estagiei, durante o ano de 1976, no Departamento de Psicologia da Universidade do Hawaii, EUA, sob a orientação do Prof. Arthur W. Staats. Sua concepção de um behaviorismo não estrito, que percebera no seu livro Comportamento humano complexo, orientou-me, de uma certa forma, para esta escolha que também atendia à minha formação filosófico-científica. Durante aquele ano pude constatar o quanto difere o behaviorismo social de Staats das proposições do behaviorismo radical de B. F. Skinner. Staats in titula-se um representante do que chama a * Tradução c nota do tradulOr de Antonio Ribeiro de Almeida, da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto. (Apresentado à redação em 18.10.78.) ** Da University of Hawaii. Arq. bras. Psic., Rio de Janeiro, 32 (4): 97-116, out./dez.1980

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, ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO I

Behaviorismo social: uma ciência do homem com liberdade e dignidade *

1. Nota do tradutor

ARTHUR W. STAATS **

1. Nota do tradutor; 2. Introdução; 3. O homem é mais do que um "animal"; 4. A aprendizagem humana é cumulativa para o indivíduo e para o grupo; 5. O homem tem personalidade; 6. O homem tem criatividade; 7. O homem tem um futuro e atua intencionalmente; 8. O ho­mem se autogoverna; 9. O homem tem responsabilidade; 10. O homem conhece a liberdade; 11. Behaviorismo e digni­dade humana; 12. Planejamento de cul­tura; 13. Behaviorismo e ciência social.

Como bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) estagiei, durante o ano de 1976, no Departamento de Psicologia da Universidade do Hawaii, EUA, sob a orientação do Prof. Arthur W. Staats. Sua concepção de um behaviorismo não estrito, que percebera no seu livro Comportamento humano complexo, orientou-me, de uma certa forma, para esta escolha que também atendia à minha formação filosófico-científica. Durante aquele ano pude constatar o quanto difere o behaviorismo social de Staats das proposições do behaviorismo radical de B. F. Skinner. Staats in titula-se um representante do que chama a

* Tradução c nota do tradulOr de Antonio Ribeiro de Almeida, da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto. (Apresentado à redação em 18.10.78.)

** Da University of Hawaii.

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Arq. bras. Psic., Rio de Janeiro, 32 (4): 97-116, out./dez.1980

terceira geração de behavioristas e que deve ultrapassar as duas anteriores, com­postas, respectivamente, por Ivan P. Pavlov, 10hn B. Watson, Edward Thorndike e Clark L. Hull, B. F. Skinner e Edward C. Tolman. Constatei, por outro lado, como em nosso país se identifica o behaviorismo com Skinner, e como são pouco conhecidas as contribuições dos behavioristas nã'o-operantes. Suspeito que este viés no conhecimento tem sido a causa de muitas e improfícuas discussões em torno do behaviorismo, já que poucos conseguem acompanhar o seu desenvolvi­mento na análise experimental do comportamento. Et pour cause, as discussões que ocorrem nos meios acadêmicos sã'o precárias e passionais, como se o problema pudesse ser tratado com os radicalismos das discussões de uma tarde de futebol no Maracanã'. Ao traduzir esta conferência que Staats proferiu, como convidado espe­cial da American Psychological Association na ReunüIo Anual de 1972 tive a intençã'o de mostrar o quanto sua abordagem difere da skinneriana. Sua confe­rência repercutiu intensamente nos meios acadêmicos porque significou uma crí­tica severa às proposições de Skinner. Ela é melhor compreendida se atentarmos para o fato de que, naquele mesmo ano, Skinner publicara o seu Beyond freedom & dignity, e constitui, de uma certa forma, uma resposta àquele livro. Resposta bem-sucedida em alguns pontos mas insatisfatória em outros. Conceitos da psico­logia cognitiva como, por exemplo, personalidade, criatividade, intencionalidade, responsabilidade e liberdade têm lugar no modelo de Staats, que faz, de cada um, um novo e original tratamento. A conferência é, no seu todo, muito bem escrita e provocante. Acredito que aqueles que a lerem ficarã'o surpresos com o Staats que descobrirao. Se a filosofia do behaviorismo social é aqui apresentada, com os seus inúmeros pontos coincidentes com uma concepção humanista do homem e da sociedade, uma 'exata compreensão do que é o behaviorismo social só pode ser conseguida com o estudo do último livro de Arthur W. Staats, Social behaviorism, publicado em 1975 pela Dorsey Press.

Com relação à proposta de Staats de que sua teoria seja, num futuro breve, um novo paradigma a orientar toda a Psicologia, prefiro fazer, como os fenomenologistas husserlianos, uma "suspensão de juízo" e esperar que o poste­rior desdobramento do behaviorismo social seja em termos experimentais ou na própria formulação dos seus conceitos e novos princípios. Mas não há nenhuma dúvida de que, seja qual for no futuro o papel reservado pelos historiadores ao behaviorismo social, ele surgirá como um marco de uma necessidade que está no zeitgeist de nossa época, isto é, a da unificação da Psicologia consigo própria, e de maior interaçã'o com as outras ciências na constituiçã'o de uma ciência do homem mais satisfatória.

2. Introdução

As revoluções são feitas, geralmente, contra os grupos que estão no poder. As exigências de uma revoluçã'o conduzem, naturalmente, à seleçã'o dos homens que

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sabem fazer oposição. Eles demolem a velha ordem e não se preocupam em separar o que existe de certo ou errado na mesma. Estão preocupados com os erros da velha ordem, os problemas que eles causaram e a nova ordem que os libertará de todos aqueles problemas. Diminuiria a força de uma revolução o fato de se dar alguma atenção ao que foi feito na velha ordem. Desta forma, as revo­luções tendem a cair nos extremismos. Antes que esses extremismos passem, podem ser necessárias várias gerações de líderes, após o que as coisas serão aceitas pelo seu próprio valor, sem se considerar mais se foram ou não conquistas da velha ordem. Temos um exemplo desta seqüência de coisas na história da União Sovié­tica e na sua mudança de liderança.

Mas revoluções também ocorrem em outras áreas que nã'o sejam políticas e econômicas, como, por exemplo, na área científica. Esta dinâmica pode ser clara­mente percebida na história da Ciência. Na história da Psicologia, o behaviorismo foi uma revoluçãO que alcançou sua autoconsciência com John B. Watson, funda­do que foi sobre a descoberta dos dois princípios básicos da aprendizagem: o condicionamento clássico, descoberto por Pavlov, e o condicionamento instru­mental, descoberto por Thorndike. Uma forte característica do behaviorismo foi a sua oposição ao paradigma que era vigente na psicologia da época. Antes do aparecimento do behaviorismo, o método fundamental para a Psicologia era o da introspecção. Por algum tempo os psicólogos pensaram que a tarefa da Psicologia era investigar os conteúdos, a estrutura e o funcionamento da mente, realizando o sujeito um auto-exame e relatando sua experiência. A orientação básica da Psico­logia daquela época era a de estudar o que existe de interno no homem: suas percepções, seus sentimentos, sua consciência, suas cognições, sua personalidade, instintos, enfim, o subjetivo. Pensava-se que os pensamentos determinavam o com­portamento humano. Havia muito pouco interesse no estudo do comportamento humano, no que ele - o homem - faz, já que isto era somente uma mani­festação de importantes processos internos. Além disto, e por causa destas concepções, havia muito pouco interesse no estudo sistemático dos princípios pelos quais eventos ambientais afetavam o comportamento humano. O comporta­mento animal era igualmente interpretado adotando-se o conceito de consciência humana. Era um caso de generalização do nível humano para o nível animal, justamente o oposto do que tem sido uma característica do behaviorismo radical de Skinner, isto é, generalizar do animal para o humano. O behaviorismo foi uma revolução contra os excessos da época. Muitos conceitos tradicionais eram circula­res. O comportamento da pessoa ou do animal era observado e, então, inferido algum processo interno que supostamente explicava o comportamento. Ainda não se havia percebido que para se explicar o comportamento era necessária a identifi­caçã'o de uma série de eventos independentes. Além disto, o método de intros-

. pecção que era usado como um meio de investigaçã'o da "mente" era muito precário. Nos seus 50 anos de existência, verificamos que a introspecção não produziu nenhum conjunto de fatos importantes e não-ambíguos, mas apenas inúmeras exposições filosóficas.

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Watson percebeu o valor de se estudar o comportamento por sua própria importância. O behaviorismo foi uma revolução contra a introspecção. Watson rejeitou tudo que se relacionava com a consciência e com os vários conceitos mentalísticos que circulavam tanto na linguagem popular como na profissional. Seu programa era o do estudo do comportamento. das condições ambientais e dos princípios dos quais o comportamento era uma função. Isto. considera-se. repre­senta um behaviorismo básico. Ainda que esse programa tenha sido uma correção para os abusos da época ele foi, entretanto, radical e por isto mesmo rejeitou importantes áreas de estudo. estendendo esta rejeição aos termos e métodos da introspecção.

Com Watson representando a primeira geração revolucionária tivemos, mais tarde, uma segunda geração de behavioristas constituída por homens como Hull, Tolman, Guthrie e o jovem B. F. Skinner. Existia um contexto para este grupo que possuía duas características importantes. Em primeiro lugar, havia uma grande rivalidade sobre que teoria melhor expressaria a aprendizagem animal. O contexto era único e nele cada um dos principais behavioristas tentou construir uma teoria separada das outras teorias. As teorias eram elaboradas com diferentes conceitos; eram usados diferentes métodos de pesquisa, adotadas diferentes filosofias da ciência.

Skinner, por exemplo, caracterizou sua abordagem mudando o termo condi­cionamento clássico para condicionamento respondente. Foi enfatizado apenas o uso daqueles aspectos do campo da aprendizagem que existiam numa teoria. Os skinnerianos, por exemplo, empregariam a caixa de Skinner para o estudo do condicionamento instrumental, mas não um labirinto. Esta competição concorreu para o desenvolvimento de abordagens isoladas e super-simplificadas. Enquanto as teorias tradicionais da aprendizagem, incluindo a de Skinner. faziam relevantes contribuições - parte de um trabalho que, como já se sugeriu, será classificado entre as grandes realizações da ciência - elas estavam, no entanto, cerceadas por características que impediriam o desenvolvimento posterior do próprio behavio­rismo.

Em segundo lugar, a revolução behaviorista encontrou uma forte oposição por parte das várias orientações teóricas existentes na própria Psicologia, em outras ciências sociais e nas disciplinas humanas. Ainda que todos aceitem que o compor­tamento humano é, em grande parte, aprendido, os princípios da aprendizagem ou os estudos comportamentais têm tido pouca aceitação nas ciências sociais ou ainda em outras áreas relevantes da Psicologia. Os pesquisadores destas outras áreas têm-se recusado, sistematicamente, a admitir que os princípios de causa e efeito da aprendizagem animal, e que foram colhidos em laboratórios, possam ser aplicáveis ao homem. E muitas vezes o behaviorismo é atacado por seus opositores das ciências sociais. Este contexto, que é atual, serve para que seja continuado o clima de oposição no qual o behaviorismo nasceu.

O trabalho de Skinner pode ser considerado no contexto dos problemas que enfrentou a segunda geração de behavioristas. Primeiro, a abordagem de Skinner

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manteve o extremismo da revoluç[o original ~e Watson. Esta abordagem rejeita, sem maiores exames, os métodos, conceitos, princípios e observações das ciências sociais. No trabalho de Skinner ver-se-á pouca referência aos dados das ciências sociais ou de outras áreas da Psicologia. Ele n[o elabora princípios que considerem a forma pela qual os seres humanos diferem dos animais. N[o existe evidência de que o conhecimento social de qualquer outra espécie tenha sido sistematicamente formulado e tenha valor. Além disto, Skinner n[o aceita conceitos como atitude, personalidade, autodireç[o, originalidade, inteligência etc. Este behaviorismo radi­cal está ainda em conflito com o mentalismo, a introspecça'o, a intenç[o, e isto significa, na prática, que qualquer outra coisa que não seja o condicionamento operante ou que não possa ser explicada como tal, incluindo muito do próprio behaviorismo, é rejeitada. Esta abordagem considera todos os outros conceitos sobre o homem, todas as outras áreas de estudo do homem, todos os outros princípios do comportamento humano, todos os demais métodos de estudo do homem como supérfluos ou incorretos. Uma característica central desta aborda­gem é a de ser um sistema fechado. São seus constituintes os princípios do condi­cionamento operante, o equipamento de condicionamento operante (caixa de Skinner), o uso dos métodos de pesquisa com um único organismo, a freqüência de resposta como um dado básico, a extensão do equipamento para outras situa­ções, como, por exemplo, a máquina de ensinar, e a sua filosofia da ciência (a análise experimental do comportamento). Skinner não reconhece outros elemen­tos, o que não deixa de ser irônico, desde que grande parte do trabalho que está sendo realizado atualmente pelo behaviorismo não surgiu destes elementos. Por exemplo, o princípio geral do reforçamento, que estabelece que um comporta­mento que é recompensado será fortalecido e ocorrerá com mais freqüência, tem sido empregado produtivamente em muitas situações experimentais que não usam métodos operantes e derivadas de formulações não operantes.

A insistência de Skinner sobre a realizaça'o de pesquisas com um único orga­nismo, ao invés de se trabalhar com grupos de sujeitos, foi uma contribuição válida para a Psicologia. Ela possibilitou a realizaçã'o de pesquisas que, de outra forma, não teriam sido realizadas. No entanto, a limitação da pesquisa a este tipo de pesquisa, como Skinner e seus seguidores (Sidman, 1960) insistem, é restritiva e improdutiva. A caixa de Skinner que emprega uma resposta (pressionar a barra ou bicar o disco) que pode ocorrer rapidamente e muitas vezes oferece um tipo de dado que é de muito valor. O organismo, pressionando uma barra ou bicando um disco, produz um registro contínuo. Isto permite que sejam programadas várias contingências e observados os seus efeitos sobre o comportamento. Este equipa­mento permitiu a realização de vários tipos de estudos, como, por exemplo, as drogas que afetam o comportamento, os efeitos da estimulaçã'o cerebral e outros semelhantes. Mas restringir a pesquisa ao uso apenas deste equipamento (a caixa de Skinner), e isto tem sido feito, é bastante improdutivo em muitas situações e cômico em outras. A freqüência de resposta é o dado básico de Skinner e ele considera ser o único válido. Ele rejeita outros tipos de dados que são usados na

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Psicologia porque não são freqüências de respostas (Skinner, 1969, 75-8). Isto é bastante irônico desde que muitos progressos realizados no campo de modificação comportamental e terapia não foram obtidos usando-se como medida a taxa de resposta. Desta forma, e ainda que isto não tenha sido percebido, muitas pesquisas realizadas na área de modificação do comportamento não são de condicionamento operante (Staats, 1975).

Estes exemplos foram dados para mostrar que o trabalho de Skinner tenta perpetuar estas características únicas e sempre revelam rejeição por qualquer outra coisa que surja sob outro nome. Fiel a esta orientação, Skinner (1971a, 1971b) radicalizou o conflito entre o behaviorismo e as ciências sociais e humanidades no que se refere à concepção do homem. Diz-se, comumente, que um general sempre faz a última guerra planejando a próxima. Parece que esta observação é válida no presente caso. As necessidades atuais não são mais aquelas que caracterizavam a época de Watson, isto é, da aguda competição que marcou a segunda geração de behavioristas. Agora, é mais do que reconhecida a importância de se estudar o comportamento. Os princípios do comportamento são usados 1)0 tratamento de problemas clínicos, educacionais e sociais. Atualmente, há uma difusíto destes princípios comportamentais - seja do condicionamento clássico como do instru­mental - em todas as grandes divisões da Psicologia. Neto há, hoje, nenhuma necessidade do behaviorista lutar para que os princípios da aprendizagem sejam aceitos pela comunidade psicológica. Eles têm o seu lugar ao sol. Esta aceitação deve ser usada para novas conquistas ou acontecerá um novo fracasso, como aconteceu no tempo de Watson.

O behaviorismo de Wats-on fracassou porque não considerou as pesquisas do comportamento humano que seguiam outras orientações, e não pôde, portanto, usar os seus resultados. Fracassou porque, na sua rejeiçeto dos componentes neces­sários para uma teoria compreensiva do comportamento humano, foi considerado muito simplista, mecanicista e somente relevante para o estudo do comporta­mento animal. Era incompleto e subdesenvolvido.

Sugere-se que, agora, o próximo passo da revolução, o novo horizonte, seja o da reaproximação da nova ordem com a velha ordem. Isto implica uma evolução por parte do behaviorismo radical que tem sido, até hoje, auto-suficiente e separa­tista, para uma abordagem que seja geral nos princípios e conceitos que incorpora, nas observações que realiza, nas metodologias que utiliza e nos problemas que estuda. Seria um obstáculo para esta evolução limitar-se ao behaviorismo radical de Skinner e à filosofia social que propõe considerando-os como st:ndo o behavio­rismo. Para evoluir é preciso que o behaviorismo assimile os vários ramos do conhecimento humano.

A separação, o isolacionismo, a divisão, que são tão evidentes na Psicologia e no behaviorismo, como também nas ciências sociais, precisam ser urgentemente supe­rados. Nós necessitamos de uma abordagem que seja flexível e capaz de integrar os resultados e os métodos de estudos não behavioristas com os resultados e métodos do behaviorismo. Hoje, precisamos integrar e unir áreas de conhecimento. Preci-

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samos buscar o que é comum. Precisamos de um paradigma que conduza à unida­de todo este esforço científico no estudo do homem. Finalmente, o que pre­cisamos é de uma terceira geraçã'o de behaviorismo, o behaviorismo social. Antes, contudo, de expor as características do behaviorismo social é oportuno descrever um pouco mais a limitada concepçã'o que Skinner tem do homem e que é apre­sentada no seu livro Beyond freedom & dignity. A mensagem de Skinner é dupla. Ele nega os conceitos geralmente aceitos de que o homem pode se auto dirigir, é dotado de espontaneidade, comportamento intencional, criatividade, como os conceitos relativos à sua liberdade e dignidade. Diz ele: "Nós não precisamos investigar a personalidade, estado da mente, sentimento, traços de caráter, planos e intenções do homem para realizarmos uma análise científica do compor­tamento" (Skinner, 1971b, p_ 39). Ele acredita que o comportamento humano possa ser compreendido por intermédio do princípio do reforçamento. "Uma criança, escreve ele, começa a adquirir um repertório de comportamento sob contingências de reforçamento ... " (Skinner, 1971b, p. 63). Neste nível tão básico do desenvolvimento, não é dada nenhuma importância ao condicionamento clássico e à formaçã'o do sistema individual, e a como, na criança, as suas emoções afetam o seu modo de comportar-se. Continua Skinner argumentando que "Outras pessoas propiciam muitas contingências que são, de fato, o que chamamos uma cultura, ainda que geralmente o termo seja definido de diferentes formas" (Skinner, 1971b, p. 63).

Negando as outras perspectivas do comportamento humano que não envol­vam o princípio do reforçamento e fazendo uma análise do homem e da cultura muito simplista e incompleta, Skinner propõe que adotemos esta "ciência do comportamento humano" para o planejamento de uma cultura.

"Uma cultura é muito semelhante ao espaço experimental que nós usamos na análise do comportamento. Ambos são lugares de contingências de reforçamento. Uma criança nasce numa cultura como um organismo é colocado num espaço experimental. Planejar uma cultura é como planejar um experimento; nós progra­mamos as contingências e observamos os seus efeitos. Num experimento estamos interessados no que acontece; planejando uma cultura, no como ela funcionará. Esta é a diferença entre a ciência e a tecnologia" (Skinner, 1971b, p. 72).

Esta sugestão é inadequada, isolada e radical e não pode ser considerada para orientar o desenvolvimento do behaviorismo social, que é capaz de orientar melhor o estudo do homem e uma concepção do mesmo que servirão de base para decisões sociais. Uma concepção do homem não pode ser derivada apenas dos princípios obtidos em laboratório com animais e extrapolados - como faz Skinner - para explicar o mais complexo dos seus comportamentos e suas características culturais. É necessário um nível de concepçã'o que trate da personalidade do homem, de seus sentimentos, seus projetos, suas resoluções e intenções e do papel que estas coisas exercem no seu comportamento. É necessário combinar uma compreensão dos prinCÍpios de como o homem adquire seu comportamento com o conhecimento do que ele adquire e de como esta aquisiçã'o exerce um papel

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causativo no seu comportamento posterior. O behaviorismo radical de Skinner somente pode ser criticado quando comparado com uma abordagem mais com­plexa, como será aqui ilustrado.

3. O homem é mais do que um "animal"

Existem pessoas que fazem esta afirmação fundamentadas numa posição filosófica e usando conceitos que são antitéticos a uma visão científica. Mas esta afirmação pode ser feita dentro de um behaviorismo mais complexo, e de uma maneira que seja aceitável dentro dos conceitos usados nas ciências naturais, como pelos huma­nistas. Esta é uma integração mais produtiva.

É importante que os behavioristas compreendam que não é possível genera­lizar os princípios elementares do comportamento, obtidos em laboratório com animais, para uma concepção mais geral do homem.

Várias considerações devem ser acrescidas aos princípios elementares. Uma, por exemplo, é a de que o homem é mais do que um animal nas suas potencia­lidades de aprendizagem. Parece que os princípios da aprendizagem são os mesmos para o homem e para os organismos inferiores. Mas o grande potencial do homem para a aquisição do fantástico e complexo repertório intelectual, artístico, emo­cional, literário, social e motor é quase infinito e distingue-o dos animais. É rele­vante, pelo menos em parte, estudar os princípios elementares da aprendizagem no laboratório com animais, mas este estudo revela-nos somente os meios pelos quais o homem chegou a ser o que é, e não o que é ou o que pode vir a ser. O estudo do .que é humano deve, portanto, incluir outras coisas.

4. A aprendizagem humana é cumulativa para o indiv{duo e para o grupo

Um dos princípios que não aparece no laboratório nos estudos com animais - um princípio básico - é o relativo à aprendizagem cumulativa-hierárquica. Os princí­pios de aprendizagem estudados no laboratório, as respostas, como as situações estimuladoras, são simples. A aprendizagem é de breve duração. Mesmo na situa­ção naturalística, o que um animal aprende raramente é passado para a geração seguinte. Não existe, ao longo das gerações, acumulação. Existe, isto sim, alguns poucos skills que o animal adquire, enquanto a aquisição destes ski/ls por parte do homem (sendo que um serve de base para o seguinte numa progressão onde não vemos o limite) é uma das suas características fundamentais. A aprendizagem humana ocorre durante um longo período de tempo e ela é cumulativa e hierár· quica para o indivíduo (Staats, 1971). A criança começa muito cedo a adquirir um repertório complexo de skills que permite que ela adquira outros repertórios ainda mais complexos. Estes repertórios são seqüências cumulativas-hierárquicas que se

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podem desenvolver ao longo de toda a sua vida. A criança aprende, por exemplo, a emitir e a responder à linguagem.

Este fato torna possível sua adaptação ao ambiente. Ela se beneficiará da ex­periência, aprenderá novos skills, se, primeiro, adquiriu a linguagem. A partir da sua aquisição lingüística ela pode aprender a ler, o cálculo etc. Então, sobre a base do seu repertório de leitura, ela pode aprender outros skills adicionais, que, por· seu turno, constituirão a base para a aquisição de outros skills. Somente com­preendendo esta aprendizagem hlerárquica-cumulativa é que as habilidades huma­nas podem ser caracterizadas, compreendidas e manipuladas.

Além disto, o homem aprende da sua hlstória e este processo de geração de aprendizagem pertence à sua evoluçã'o social. Um skill original pode ser aprendido através de um processo laborioso, impreciso e que leva tempo. Historicamente, pode ser visto este desenvolvimento comportamental complexo em áreas como as da música, do atletismo, da religiã'o, dos negócios, do governo, da linguagem, da ciência etc. (Staats, 1975). Como um exemplo deste desenvolvimento - que o autor seguiu ao longo de sua vida - ofereço o skill atlético do pulo com varas. Na evolução deste skill distingo as seguintes fases: primeiro, o atleta executava o seu pulo em forma de tesoura; depois, o pulo era executado de uma forma circular; já por último, nas Olimpíadas de 1968, o atleta corria em direçã'o à barra, girava em torno e lançava-se de costas. Todas estas variações no comportamento objetivaram a melhora do desempenho do atleta.

Naturalmente, a criança - que é muito diferente de um animal- não precisa progredir através do método de ensaio e erro. Ela pode ser treinada logo para um ski/l mais avançado. Foram necessários muitos séculos para que os cientistas elabo­rassem uma teoria de que muitas doenças são causadas por microorganismos, mas, hoje, ela faz parte dos skills gerais de linguagem que apresentam as crianças da nossa geraç!1'o e que sã'o formados, informalmente, quando a criança aprende a linguagem. A aprendizagem cultural-cumulativa é relativamente fácil e rápida.

Os princípios básicos da aprendizagem, obtidos em laboratório, nas pesquisas com animais, e que formam· a base do behaviorismo radical, não nos esclarecem sobre este processo individual ou cultural da aprendizagem cumulativa-hierárquica. Precisamos sair do laboratório para, nas condições reais de observações sociais, derivar este princípio.

5. O homem tem personalidade

É tradicional, no behaviorismo, ignorar o conceito de personalidade. A persona­lidade é considerada como uma palavra que se refere à maneira como uma pessoa se comporta. O behaviorismo simplesmente pressupõe que a personalidade (leia-se comportamento) é um efeito, e, como tal, deve e pode ser explicada pela história individual de aprendizagem. Esta pressuposiçã'o afasta o conceito de personalidade de qualquer consideraçã'o. No behaviorismo radical não é considerada, sistemati-

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camente, a possibilidade de que a personalidade tem um papel causal sobre o que o indivíduo faz, no que ele experimenta e no que ele, mais tarde, se torna.

Todavia, o fato é que muitas pessoas que têm estudado de forma sistemática o comportamento humano estão convencidas de que toda pessoa tem caracterís­ticas, uma personalidade que a auxilia no como ela determina suas ações, expe­riências e resultados ao longo de sua vida. A área de medidas psicológicas está fundamentada sobre a pressuposição de que as características da personalidade podem ser descritas, de que a avaliação de tais características oferece informação relativa aos processos causais que acontecem na vida do indivíduo. Skinner excluiu tudo que se refira a este nível de pesquisa, e, de fato, rejeitou que tal atividade seja importante para a construção de uma ciência do comportamento. (Skinner, 1969, p. 77). Este é um bom exemplo da metodologia de exclusão que tem caracterizado esta abordagem. Mas é difícil uma teoria científica ter sucesso quando rejeita os fatos. E é um fato que as características de personalidade que são medidas pare­cem ter um status causativo. Grupos de crianças podem ser separadas, por exem­plo, de acordo com os seus resultados num teste de inteligência. Observar-se-á, então, que o grupo de crianças que apresenta um alto QI (quociente intelectual) terá, no futuro, um desempenho melhor e executará melhor muitas atividades que exigem aprendizagem. Como outro exemplo podem ser usados testes de interesse para separar dois grupos de pessoas: aquelas com interesses semelhantes às pessoas que tiveram sucesso numa tarefa e aquelas cujos interesses são diferentes daquelas pessoas. Outra vez, os testes parecem medir uma causa, porque os interesses que foram medidos predirão o sucesso dos grupos na execução daquela atividade par­ticular.

Tais fatos e o interesse na personalidade e na sua mensuração não deveriam ser antitéticos a um behaviorismo mais complexo. A divisão entre os dois campos é uma conseqüência dos conflitos causados pela revolução behaviorista, mas não está envolvido nenhum princípio nesta divisão. A reaproximação entre a teoria tradicional da aprendizagem e a teoria tradicional da personalidade é possível quando se aceita que existem personalidades individuais. As características da personalidade ajudam a determinar os comportamentos presentes e futuros do indivíduo. Mas as características da personalidade, ainda que gerais, duradouras e causativas são também aprendidas. É possível descrever os comportamentos que compõem as diferentes características da personalidade e se elas são também aprendidas. O autor tem feito isto para a inteligência como também para outros traços gerais da personalidade (Staats, 1975). Quando são descritos os ski/ls com­portamentais complexos de um traço de personalidade é possível ver como os skills funcionam como causas na experiência posterior do indivíduo. Um exemplo disto é a maneira como uma criança aprende a responder a um estímulo verbal, que pode ser vista como um aspecto da inteligência. Ela precisa aprender um grande repertório de palavras. Muitas situações sociais envolvem interações nas qulUS as palavras ae uma pessoa devem controlar uma resposta apropriada de outra pessoa. Situações de aprendízagem envolvem, geralmente, a apresentação de pala-

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vras para o indivíduo que devem eliciar respostas apropriadas se o indivíduo aprendeu. Entretanto, como em outros tipos de aprendizagem, existem muitas diferenças por parte dos indivíduos no modo como eles aprendem esses repertó­rios. Algumas crianças aprenderão esses repertórios muito cedo e com muitos elementos, outros aprenderão vagarosamente, com poucos ou nenhum elemento. Trabalhando com estes dois grupos de crianças, em qualquer situação de aprendi­zagem, estas diferenças se mostrarão bem claras. Os testes de inteligência medem estes repertórios. Isto explica por que quando temos o resultado dos testes de inteligência de uma criança podemos prever como será, provavelmente, o seu desempenho na escola.

Uma abordagem que rejeita o estudo de tais repertórios de personalidade é incompleta e parcial. Por esta razão, nós devemos usar ambos, isto é, os conceitos da teoria da personalidade e os princípios e métodos do behaviorismo para reali­zarmos um estudo mais profundo dos vários traços de personalidade, incluindo como são aprendidos e como atuam (Staats, 1975).

6. O homem tem criatividade

Uma das características centrais do behaviorismo é a de que é impossível, para ele, abordar os problemas da originalidade e da criatividade. Se o comportamento humano é aprendido, como pode o homem ter comportamentos originais, isto é, comportamentos que não foram aprendidos? No entanto, qualquer observação sistemática do homem mostra que ele emite, continuamente, comportamentos novos e originais que ninguém pode ter-lhe ensinado porque não existiam antes. De fato, os comportamentos originais estão entre aqueles que são os mais impor­tantes para nós. É, entro, fundamental que uma concepção do homem inclua conceitos e princípios que revelam interesse por este atributo especial do homem, mas isto não será feito por um behaviorismo radical. O behaviorismo radical rejeita tudo que se refira à criatividade do homem, porque a criatividade implica alguma coisa que vem de dentro.

Esta separação, porém, n[o precisa existir. A criatividade pode ser conside­rada pelos princípios da aprendizagem (Staats, 1968, 1975). Para que isto seja feito é necessário uma teoria que considere, num "nível de personalidade", os complexos repertórios que o homem adquire e os efeitos destes repertórios. Como um exemplo de criatividade, consideremos o caso de um explorador que descobre uma nova terra. Digamos que os complexos skills que conduzem a uma descoberta possam ser aprendidos. Eles, por seu turno, conduzirão o explorador a um novo ambiente de condições de estímulo. Quando ele descreve estas condições, funda­mentado no repertório lingüístico que aprendeu, ele produzirá comportamentos originais que não foram aprendidos. Estas descrições poder[o ser muito importan­tes para outras pessoas e trazer grande benefício social.

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Sugere-se, para estabelecer um dos princípios básicos que regulam comporta­mentos originais, que nós aprendemos componentes do comportamento sob controle de um estímulo particular. Quando enfrentamos novas combinações de estímulos - isto é, quando estamos numa situação nova - o estímulo exige, de nossa parte, novas combinações de respostas. Um exemplo muito simples é o de uma criança que pode ter aprendido a dizer "correndo" quando vê um cão correr. Ele pode também ter aprendido a classificar um estímulo-homem como "ho­mem". Quando, contudo, ela perceber os dois estímulos juntos e falar, por exem­plo: "O homem está correndo" ou "Correndo está um homem", serão ambas as respostas verbais uma combinação original.

Quando consideramos o caso do adulto, que adquiriu milhares de respostas aprendidas, o número de combinações diferentes que podem ser causadas pelas diferentes combinações de eventos externos e internos é infinito. Geralmente, fazemos muitas combinações originais de respostas da fala no transcorrer de um dia. Muitas combinações não têm grande valor social e não são contribuições significativas. Em alguns casos, no entanto, o indivíduo aprende os componentes comportamentais que tem uma outra pessoa. Este indivíduo pode, então, ser confrontado com experiências que são de outra pessoa. O resultado será uma combinação bastante diferente dos comportamentos que foram emitidos pela outra pessoa. Quando a combinação tem um grande e alto valor social ela é considerada um ato de criatividade.

Estes são apenas alguns exemplos. Muitos outros tipos de comportamentos aprendidos podem ser considerados como um ato de criatividade ou de originali­dade. Algumas vezes, tal ato inclui mais do que uma pessoa. Na ciência, por exemplo, o ato original de uma pessoa pode fornecer estímulo que constituirá a base para alguma outra combinação original. A descoberta de uma pessoa pode ser, para outra, o estímulo para uma pesquisa. A questão é que tais características do comportamento humano, que têm sido de tradicional interesse para o homem, não podem ser rejeitadas pelo behaviorismo no desenvolvimento de uma filosofia social, a fim de atender aos interesses de uma concepção restrita. Uma concepção geral e aceitável do homem deve considerar a criatividade e a originalidade.

7. O homem tem um futuro e atua intencionalmente

Outro cisma que tem distanciado o behaviorismo das concepções humanísticas do homem se refere ao problema da intencionalidade. É o homem apenas um orga­nismo que responde e que apenas reage às condições ambientais, ou o futuro o afeta? Planeja para o futuro? Atua intencionalmente?

Nas pesquisas com animais, em laboratório, não há lugar para a intencio­nalidade. Dizer que um rato que corre num labirinto tem uma meta em mente, que obter comida é o seu fim, é supérfluo e falso. Um evento que não aconteceu ainda não pode afetar o que está acontecendo ou aconteceu. Os eventos causais são

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os de que um animal que correu no labirinto, e, no passado, recebeu comida, atuará assim novamente quando colocado no labirinto. Seu passado explica seu comportamento presente e não a comida que ele está ainda para receber.

Mas o homem tem o poder de representar o futuro no seu presente, quando, então, o futuro pode ter um efeito causal sobre o seu comportamento presente. O homem tem o seu poder bastante aumentado por intermédio da linguagem. Um jovem estudante pode dizer para si mesmo que, se trabalhar meio expediente enquanto freqüenta a universidade, terá condições de economizar o suficiente para comprar um automóvel. Ter um carro e sonhar com as atividades sociais que um jovem bem pode imaginar são eventos futuros. Eles podem não determinar o comportamento do jovem e, de fato, nunca ocorrer. Mas seu pensamento sobre eles com palavras e imagens pode constituir uma poderosa fonte de causação sobre o comportamento atual do jovem. No entanto, seu pensamento pode ser estudado - e o tem sido muito produtivamente - dentro do behaviorismo social (Staats, 1975). Mas o behaviorismo radical continua criticando as concepções mentais e a introspecção, teimando no estudo do comportamento humano como uma função apenas de princípios elementares, tais como o do reforçamento e que tanto ocupa a atenção de Skinner. Esta supersimplificação nega alguma coisa que é muito clara para todos e produz, em grande escala, uma rejeição do behaviorismo.

O homem é um projeto. Seu comportamento atual está, em parte, determi­nado por sua concepção do futuro. Não é, contudo, apropriado adotar para o comportamento animal os comportamentos conceituais do homem - atribuir intencionalidade ao animal, por exemplo. Também não é adequado tentar cons­truir um modelo do homem tendo, por base, apenas os princípios e observações colhidos em laboratório com animais. Finalmente, não se pode dar nenhuma credibilidade a uma concepção do homem que não reconheça a intencionalidade.

8. O homem se autogoverna

No início, o behaviorismo foi produtivo ao enfatizar que nada é espontâneo na ciência. Espontâneo significa não-causado. Não se pode pensar no comportamento humano como não-causado. Também não é aceitável atribuir ao homem uma série de processos internos e espontâneos com os quais ninguém pode entrar em con­tato, e que, supostamente, explicam o comportamento humano.

É também um fato que o homem não é um mero responde dor ao ambiente externo. Assim, por exemplo, pessoas colocadas em momentos diferentes, na mesma situação, conhecendo as mesmas conseqüências para os seus comporta­mentos, comportar-se-ão de diferentes maneiras. Talvez o antagonismo mais difícil de ser resolvido seja o relativo ao "objetivismo" do behaviorismo radical e ao "subjetivismo" da concepção humanista adotada pelas ciências sociais. O subjeti­vista considera que os determinantes do comportamento humano residem dentro do organismo e que esse é autodeterminado. Como é possível reconciliar esta

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concepção com uma visão científica do homem? Uma reaproximação destas posi­ções é necessária, possível e produtiva. Uma concepção geral do comportamento humano deve mostrar como o comportamento humano é causado pelas condições que o indivíduo experimenta, mas, ao mesmo tempo, mostrar como a "natureza" do indivíduo contribui para o seu comportamento. A maneira como ocorre esta autodeterminação ou autogoverno é fundamental para uma concepção geral do comoortamento humano.

Os elementos que permitem esta concepção de autodireção foram apenas sugeridos aqui em parte, mas eles estão descritos com mais detalhe em outros trabalhos (Staats, 1968, 1971). Basicamente, deve ser aceito que o comporta­mento é ambas as coisas: um efeito (das condições de aprendizagem) e também uma causa. Este aspecto dual do comportamento é que os teóricos das tradicionais teorias da aprendizagem não percebem, e por causa disto é que não foram indi­cadas as implicações do papel dual do comportamento para uma concepção da natureza humana. É em função desta omissão que as pessoas que acreditam na liberdade, na autonomia e na autodeterminação pessoal têm tido, há longo tempo, um sério conflito com os behavioristas radicais que acreditam que o comporta­mento humano é externamente determinado. No entanto, pode ser dito que o comportamento humano é aprendido, mas uma vez aprendido ele é um causador do comportamento posterior - assume, portanto, o papel de causa. Neste sentido, pode ser dito que o indivíduo causa o seu próprio comportamento.

Por exemplo, o comportamento de falar é, primeiro, aprendido por inter­médio do reforçamento e de outras condições de aprendizagem causadas por outra pessoa. Mas uma vez aprendido o falar, ele pode facilitar o ajustamento da criança, mediando comportamento apropriado não só para o mundo social como para o não-social. Neste ponto da sua evolução, a criança não é mais objeto de um "programa de treinamento" administrado pelos pais. Seu comportamento mani­festo e auto dirigido pode propiciar seu próprio reforçamento. Esta independência dos pais ou de outra pessoa para obter o seu reforçamento, quando a criança tem autonomia lingüística, pode ser vista, por exemplo, por ocasião de uma ocorrência não-social. A criança vê o céu escuro e diz para si: "Parece que vai chover. É melhor, então, que eu apanhe alguns livros para ler porque não poderei brincar fora de casa". Ela auto dirige o seu comportamento, escapa ao aborrecimento ajustando-se aos eventos físicos, mas preparando-se para uma situação de recom­pensa.

Assim agindo, a criança surge como um organismo que está dirigindo seu próprio comportamento. Esta "liberdade" no comportamento da criança não começa a aparecer a não ser por volta dos quatro anos de idade, quando ela já aprendeu os necessários e diversos aspectos do seu repertório lingüístico. A aqui­siçã"o da linguagem e de outros repertórios cognitivos permite ao homem muito de autodireçã"o. É fundamental que tais repertórios de comportamento sejam estu­dados não somente nas condições e princípios pelos quais eles foram aprendidos, mas, também, pela função que exercem no indivíduo, o qual dirige seu próprio

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comportamento por meio de tais repertórios. O behaviorismo radical tem-se preocupado apenas com um dos lados do problema; as abordagens subjetivas, com o outro lado. Mas ambos podem ser assimilados organicamente numa mesma teoria, e ela poderá constituir uma aceitável concepção do homem. Propõe-se aqUi um behaviorismo humanístico que pode fundamentar uma filosofia social aceitá­vel (Staats, 1975).

9. O homem tem responsabilidade

Skinner, rejeitando que o homem seja livre, rejeita também o conceito de respon­sabilidade. Esta é outra área que precisa ser estudada mais profundamente ao invés de ser meramente rejeitada, como faz o behaviorismo radical.

Originariamente, o conceito de responsabilidade veio de uma simples crença de que o comportamento humano era divinamente inspirado. Se o comporta­mento era bom, ele o era porque o indivíduo era divinamente inspirado a realizar aquele comportamento, tal fato causando admiração. Se o comportamento era indesejável, o era por causa do pecado pessoal e da influência do demônio, sendo, portanto, passível de punição. Apenas como um exemplo, o comportamento psicopatológico já foi tratado sujeitando-se o paciente a procedimentos de terror na tentativa de exorcizar o demônio que nele hahitava.

Ainda permanecem vestígios desta perspectiva na criminologia que interferem com a adoção de um tratamento mais científico dos criminosos. roi um passo atrás, sob certos aspectos, considerar o comportamento do homem como deter­minado. Esta perspectiva faz dele um ser moralmente irresponsável. O princípio de punição "olho por olho, dente por dente" deriva desta concepção Simples da moral. Uma outra orientação do tratamento pode ser derivada de uma concepção ambientalista. Mas parece que alguma coisa já está perdida numa concepção am­bientalista simples. Não seria apropriado perguntar se a crença numa responsa­bilidade pessoal, de origem religiosa, não tem tido uma função? O religioso não faz certas coisas que são, de outra forma, atrativas, porque as considera más e ele é moralmente responsável.

Pelas mesmas razões, ele pode também fazer coisas que não deseja fazer. Além disto, e em função de sua experiência pessoal, pode indicar que, atualmente. aumentou o sentimento de auto-indulgência para coisas como drogas e sexo, e que diminuiu a crença na moral religiosa e na responsabilidade pessoal.

Talvez o conceito de responsabilidade pessoal tenha tido uma função na nossa concepção do homem, e as análises behaviorísticas deveriam analisar a função deste conceito, e - se for o caso - descobrir esta função numa concepção cien­tífica do homem. Enquanto o conceito de responsabilidade moral não pode ser mantido dentro de uma visão científica do homem, uma responsabilidade causal pode ser mantida. Os conceitos já desenvolvidos são, na nossa teoria, importantes. Em geral, o que acontece ao indivíduo numa época anterior é, freqüentemente,

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responsável pelo que ele faz mais tarde. O indivíduo que não atende às exigências da vida é responsável pelo que experimenta mais tarde. O jovem que foge de uma educação no colégio pode, mais tarde, ter que enfrentar a vida com poucas oportu­nidades. Um indivíduo que é odioso aos seus colegas e que, mais tarde, é tratado odiosamente pelos outros, é responsável pelas suas relações sócio-emocionais serem desagradáveis. O indivíduo que perde sua moral religiosa e passa a ter uma vida sexual desregrada pode ter uma relação menos agradável com sua esposa. O criminoso que causa algum dano à sociedade e que é punido por aquela contribuiu para estas circunstâncias.

Isto não implica uma moralidade baseada num tipo de responsabilidade "olho por olho, dente por dente". Isto implica que a noção de responsabilidade pessoal é, muitas vezes, simplificada por um ato que sugere que somente o ambiente está errado e não a maneira de o indivíduo agir. Já um conceito como o de responsabili­dade causal indica que os repertórios de personalidade de um indivíduo têm um efeito causal. O indivíduo não pode fugir à 'responsabilidade pelo seu comporta­mento - pois ele produz efeitos sistemáticos sobre outros indivíduos e sobre a sociedade.

Existem muitas coisas na vida que são atrativas, mas que mais tarde revelam-se indesejáveis, para nós mesmos ou porque elas são indesejáveis para o próximo. Precisamos de mecanismos de autocontrole e de mecanismos que nos levem a fazer coisas que atualmente são indesejáveis, mas cujos resultados, no futuro, serão recompensadores para nós. A concepção de responsabilidade das nossas ações, nos termos dos efeitos que estas ações terão sobre os outros e dos efeitos que terão, mais tarde, sobre nós mesmos, é extremamente importante na decisão pessoal. Outra vez, a simples rejeição de um conceito, por parte do behaviorismo radical, não parece ser suficiente. Aqui, o que se pede é uma outra atitude, isto é, a de considerar a finalidade do conceito, e de oferecer em seu lugar um outro conceito que satisfaça esta finalidade - pode-se, finalmente, acrescentar um conceito que seja aceitável para a ciência.

10. O homem conhece a liberdade

Todos os eventos são determinados por outros eventos materiais e naturais, de acordo com a ciência. Nada é espontâneo, caprichoso, não-causado ou sobrena­turalmente causado. Isto é verdade para uma abordagem científica do comporta­mento humano, como também para quaisquer outros eventos que sejam estudados pela ciência. Se estamos interessados no comportamento humano, pesquisamos as leis de causação que nele estão envolvidas. Os princípios da aprendizagem, do condicionamento clássico, são, por exemplo, tais leis. Liberdade pessoal, autodire­ção, criatividade e aspectos espontâneos do comportamento humano são objetos de consideração à medida que ampliamos nossa aprendizagem passada, como tam­bém o é, por exemplo, a original combinação de comportamentos que não apren-

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demos. Em resumo, liberdade, autodireçélo e espontaneidade sélo coisas que nós conhecemos. Nós somos nossos repertórios. Eles sélo nossas personalidades, nossa maneira de ser. Não podemos, evidentemente, recordar as infinitas situações de aprendizagem que modelaram nossos repertórios. O que nós experimentamos ou conhecemos são os nossos repertórios.

Para nós, nossos skills comportamentais são causas originais - eles sélo dados. Nós conhecemos nossas decisões, nossos planos, nosso raciocínio, enfim, todos os complexos repertórios de respostas aprendidas - como causas do noss,? comporta­mento. E estas são as causas, no sentido desta discussão, ainda que elas sejam compostas de repertórios de skil/s comportamentais, previamente aprendidos, e sejam afetadas pelas condições correntes de estímulo.

Além disto, o indivíduo causa o seu próprio comportamento em outro sen­tido. Ele faz coisas porque decide fazê-las. A maneira como decide será uma funça'o da sua experiência passada, mas esta experiência passada também foi afe­tada por muitas das decisões que tomou anteriormente. Antes que um indivíduo se torne adulto, seu próprio comportamento de tomar decisões terá afetado sua experiência, e a experiência, por sua vez, afetará suas últimas .decisões, e assim por diante numa cadeia quase infinita. Estas combinações são tantas e tã'o complexas que o indivíduo, com o seu conhecimento de senso comum, nélo pode traçar a seqüência causal original delas. A contribuiçélo do próprio comportamento do indivíduo terá sido tão extensa que, na vida adulta, ele pode ser considerado - por diversas razões - como dirigindo sua própria vida, ser único, espontâneo e livre.

No entanto, Skinner diz: "Uma pessoa não atua sobre o mundo; o mundo é que atua sobre ela." (1971b, p.80). Esta é uma perspectiva simplista. Ela não inclui as contribuições do indivíduo para o processo causal. Skinner concebe o homem como um receptáculo passivo da estimulaça'o ambiental. O behaviorismo radical não reconhece que o comportamento do homem é tanto uma causa como um efeito, ou as implicações desta característica humana. Mas, muito pelo con­trário, este aspecto causal do comportamento humano é tão fundamental - ini­ciando-se tão cedo, isto é, tã'o logo a criança adquira autonomia, produzindo skills e aumentando ao longo de sua vida e sendo télo penetrante - que nélo pode ser ignorado. Uma fIlosofia social que é fundamentada nas noções simplistas de Skinner está numa direçélo oposta a uma fIlosofia social que observa e considera a autonomia do homem.

Mais uma vez, uma abordagem simplista é um obstáculo ao progresso. É necessária, portanto, uma filosofia social que inclua ambas as tradições, tanto a comportamental como a humanista.

11. Behaviorismo e dignidade humana

A abordagem behaviorista faz do homem o que o animal não é. Deve-se reconhe­cer que urna coisa é estudar o comportamento animal no laboratório, pesqui-

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sando-se os princípios elementares do comportamento, e outra coisa é usar esta experiência para estabelecer, diretamente, uma filosofia social, que é o que Skinner tenta. Para que estes princípios básicos fundamentem uma filosofia social eles devem, primeiro, desenvolver-se dentro das situações humanas e incluir outros princípios e conceitos que n[o aparecem no laboratório.

Para ilustrar, no laboratório é manipulada alguma circunstância ambiental, e estudado o seu efeito sobre o comportamento animal. O experimentador é o controlador e ele analisa os efeitos ordenados do ambiente sobre o compor­tamento. Mas ele trabalha com comportamentos que n[o têm significância por si mesmos, e, procedendo desta maneira, considera o organismo como um receptor passivo das manipulações ambientais. O mesmo é verdade com relaç[o aos estudos de crianças em laboratório, e para os estudos de modificaçã'o do comportamento de adultos. Condições ambientais s[o manipuladas pare remover comportamentos indesejáveis ou para treinar o indivíduo em comportamentos desejáveis.

Estes estudos não investigam a maneira como os repertórios humanos com­plexos, uma vez adquiridos, determinam como o indivíduo responderá em muitas situações diferentes; como ele diferirá dos outros; como a experiência do indiví­duo diferirá como uma conseqüência de como ele tem respondido; como ele afetará os outros e será afetado, por sua vez, pelos outros. Nossos estudos em laboratório e que têm sido conduzidos numa linha behaviorista, por mais impor­tantes e úteis que sejam - e eles o s[o - n[o podem, por si mesmos, servir de base para uma concepção do homem ou de uma filosofia social.

O homem n[o é um passivo receptor de comportamentos arranjados para ele seja pelas contingências ambientais, pela natureza ou por um ou mais controla­dores. Os repertórios que o homem aprende lhe d[o aquela espontaneidade, a liberdade do imediato, a criatividade e a individualidade que vemos à nossa volta. Os repertórios que a criança aprende a tornam, progressivamente, menos e menos uma receptora passiva, e cada vez mais um agente ativo na interação com os outros. Acredito que n[o é fantasioso dar ao homem, dentro de uma filosofia social, uma dignidade que seja proporcional a estas características não-usuais.

12. Planejamento de cultura

Skinner sugere, freqüentemente, que devemos "planejar uma cultura", realizar uma "análise experimental", ter uma "ciência do comportamento". Mas ele n[o faz estas sugestões num sentido geral, como outros especialistas têm sugerido. Por análise experimental do comportamento ele entende usar exclusivamente o seu método. Por uma ciência do comportamento, ele 'entende o uso do condiciona­mento operante. Mas o condicionamento operante n[o é a principal fonte do que conhecemos a respeito do comportamento humano, mesmo na área de modifi­cação do comportamento e terapia comportamental.

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Skinner espera que as pessoas aceitem a necessidade de se planejar uma nova cultura. Descreve, doutra parte, o que chama de "fanática oposição" às suas práticas relativas ao controle do comportamento, e sugere que esta oposição tem a instabilidade de um comportamento neurótico ou psicótico. Como um destes casos cita a crítica de Arthur Koestler ao condicionamento operante, lamentando que este tradicionallibertário tenha se engajado nesta campanha. (Skinner, 1971b, p.74).

Esta controvérsia exemplifica a abordagem de Skinner. No seu radicalismo, ele tenta afastar os pesquisadores de outras áreas relativas ao comportamento humano.

Mas entre os tradicionais libertários encontram-se alguns que est[o efetiva­mente interessados em produzirem mudanças que melhorem nossa cultura; indivíduos que são críticos mais severos das práticas atuais que produzem o tra­balho humano. É curioso observar que, nas suas controvérsias com estes autores, Skinner não faz nenhum esforço para considerar o pelo que estes indivíduos lutam, lamentando apenas o fato de que eles não est[o informados corretamente sobre a sua abordagem. Skinner não considera a possibilidade de que eles tenham uma contribuiç!o a dar para uma maior compreensão do comportamento humano e para o planejamento de uma cultura. Ele não percebe que muito da oposição que se faz a uma ciência do comportamento humano é causada por sua convicção de que a sua contribuição é a.única. É bastante claro, no trabalho de Skinner, este traço messiânico de não reconhecer nenhum outro. Assim é que as questões gerais do seu livro Beyond freedom & dignity são em torno de questões como: "Quem fará o planejamento cultural? Quem controlará? " Os questionadores sabem que a resposta implícita de Skinner é: "Skinner".

13. Behaviorismo e ciência social

Se o homem é criativo, responsável, planeja, dirige a si próprio e de diversas maneiras "sabe" que tem liberdade, entãó em que lugar se encontra Skinner? Com a terceira ser"ação do behaviorismo, pronta para uma nova revolução, ele é um anacronismo. A fIlosofia social do behaviorismo radical não precisa ser empre­gada como base para decisões sociais mais amplas e também é desnecessária para a construção de uma ciência do comportamento humano.

O problema com a sugestão de Skinner para o planejamento de uma cultura é o que ele desejaria planejá-la. É pacificamente aceito que necessitamos melhorar nossas maneiras tradicionais de conduzir as coisas, mas o problema que existe e o relativo à sua implantação. A sugestão que deixo é a de que a ciência social deveria ser liberada desta tarefa. Os princípios do behaviorismo têm um lugar nesta tarefa - a da reforma da sociedade - mas que seja um behaviorismo social e não um behaviorismo radical. Um behaviorismo que seja capaz de reconhecer o conheci­mento e os produtos de outras áreas científicas que estudam o homem e de

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interagir com eles. Esta nova abordagem precisa das observações, conceitos e princípios de pesquisa que são oriundos da Sociologia, da Psicologia social, da História, da Antropologia, da Ciência Política, da clínica, da educação, das huma­nidades, das várias observações naturalísticas.

Os princípios do behaviorismo original de Watson e seu desenvolvimento contemporâneo muito contribuíram em termos de especificar, organizar e sistema­tizar tais observações e conceitos, auxiliando na rejeição dos que não são verdadei­ramente funcionais, oferecendo métodos e procedimentos de pesquisa e ajudando no estabelecimento dos princípios básicos e numa análise mais ampla. Mas isto não pode ser uma tarefa fechada, isto é, de uma "igrejinha". As várias áreas têm suas divisões de conhecimento especial. Para prosseguir no desenvolvimento de uma ciência do comportamento humano é necessário ter uma concepção do homem que estabeleça uma base que unifique. O condicionamento operante de Skinner não tem a amplitude necessária para esta tarefa. Mas é possível que um behavio­rismo social tenha esta condição e que se harmonize com os interesses humanístIcos.

A revolução de hoje deve ser em direção a um behaviorismo humanístico.

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